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Copyright © 2023 Juliana Souza

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The characters and events portrayed in this book are fictitious. Any similarity to real persons, living or
dead, is coincidental and not intended by the author.

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permission of the publisher.

Capa : Magnifique Designer


Revisão : Isa Oliveira e Claudyanne Ferreira
Diagramação : Juliana Souza
Ilustração : Tacyla Priscila

ISBN-13: 9781234567890
ISBN-10: 1477123456

Cover design by: Art Painter


Library of Congress Control Number: 2018675309
Printed in the United States of America
Oie jujubas!

Antes de começarmos nesse universo conhecido, gostaria de dizer


que é um imenso e lindo prazer te ver por aqui!

Espero que se apaixone, se entregue e se renda a paixão de Manuella


e Rocco novamente!

Deveria ter sido apenas um conto de Natal e agora e estamos aqui


em uma Duologia rsrs

Tenham uma excelente leitura.


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Aos amores inesquecíveis.
A quem nunca desistiu.
A quem buscou sua felicidade.
A quem amou a imperfeição.
Você é incrível.
É fácil amar alguém quando tudo está perfeito. É manter este amor
nos momentos imperfeitos que o torna incondicional.

Karen Berg
Rocco

— Você vai ser pai."


Tec... Tec... Tec...

"— Estou grávida de quase 3 semanas. Vamos ter um bebê."

Tec... Tec... Tec...

"Vamos ter um bebê."

Tec... Tec... Tec...

— Rocco? — Solto a caneta, franzindo o cenho ao olhar para Jonathan e


os seis médicos presentes na sala de reunião que me encaram. — Está tudo
bem?

— Sim, onde estávamos? — Me ajeito na cadeira e relaxo os ombros.

— Está tudo bem, mesmo? — Natália se aproxima de cenho franzido.

— Está sim. — Dou um sorriso fraco, pego a xícara e sorvo um gole


generoso do café ainda fumegante. — Depois de um plantão de 26 horas
você fica um pouco aéreo.

— Ah, não me fale. — Balança a cabeça rindo.


Estamos em uma rápida reunião sobre os plantões. Passamos por duas
cirurgias longas e dormi apenas 5 dessas vinte e seis horas que estive de
plantão.

Jhon está na ponta da mesa explicando algumas normas e sobre os alunos


que estão voltando essa semana para os estágios e residências.

Mas minha cabeça não está focando em nada disso.

Fecho os olhos e torno a abri-los após alguns segundos. Uma semana


absorvendo a notícia e acho que a ficha ainda não caiu.

— Acho que por hoje deu. — John gira na cadeira de um lado para o
outro. — Alguma dúvida?

Olho-o ouvindo o coro de negativas ecoar.

Natália ajeita o jaleco e tira. Fernanda ri falando algo com o marido, mas
nem presto atenção, estamos apenas nos quatro na sala agora.

Engulo em seco, os fitando.

Não fazem ideia de que daqui a alguns meses serão avós.

Manuella e eu não contamos. A semana foi intensa tanto para mim, quanto
para eles. John revendo papeladas e cirurgias.

E ela ainda está em processo dos estágios, provas e trabalhos.

Mordo o lábio, passando a mão pela testa.

— Preciso apenas de um banho quente e descansar. — Fernanda passa a


mão na nuca.

— Duas. — Natália concorda. — Preciso apenas de descanso e qualquer


coisa que faça os pés ficarem para cima.

— Manuella já chegou em casa? — John me olha esperando uma resposta.


— Faz 4 dias que não a vejo.
— 5 dias, na verdade. Ela passou lá em casa correndo mas nem nos
chamou. — Fernanda completa.

— Vou buscar ela na faculdade daqui a pouco. Está atolada de trabalhos e


provas. — Engulo em seco. — Vamos jantar com vocês no próximo final de
semana.

— Assim espero, precisamos conversar. — John diz um pouco sério e


Fernanda o olha. — Digo, com vocês dois.

— Aconteceu alguma coisa?

Natália solta um pigarro e se levanta.

— Vou tomar um café, a gente se encontra depois. Beijos! — Segura a


bolsa, dá um beijo rápido na prima e sorri.

— Beijos, Nat. — Fernanda fala.

— Nada demais, só cuidados de pai. — Engole em seco, com os olhos


azuis fixos aos meus. — Preocupação com Manuella.

Umedeço os lábios, ainda o olhando.

Mesmo fazendo meses do meu relacionamento com Manuella, ainda


continua difícil para John toda essa situação, mas eu não o julgo por isso.

"— Manuella não vai se casar até estar pronta. Não ouse engravidar
minha filha!"

As palavras bombardeiam minha mente.

Ele vai me culpar por estragar a vida dela?

— Ela está bem. — Garanto, vendo-o assentir com as mãos nos bolsos do
jaleco. — Estou indo buscar ela na faculdade. O carro ainda está na oficina e
não quero que pegue Uber ou algo assim. O trânsito do Rio é muito caótico.
— Certo. Mande um beijo para ela, estou com saudades.

— Estamos. — Fernanda corrige o marido e eu sorrio enquanto pego a


mala, então saio da sala.

Estou exausto e com a mente pior que o corpo.

Entro no carro e suspiro profundamente. Olho para o celular verificando a


hora, o trânsito lento e demorado me faz encostar o braço na janela e
observo a orla da praia movimentada esse horário.

O campus fica a meia hora do hospital e faz mais de um dia que não nos
vemos. Não foi a semana de estar fazendo estágio, ou o que chamamos de
internato. Os alunos precisam encarar essa etapa para concluir o curso e ter o
diploma em mãos.

Agora não fazemos ideia do que vamos fazer e de como vamos seguir.

Todo o processo de formação, a faculdade, os estágios e a rotina pesada de


estudos não são fáceis.

Mordo o lábio ao estacionar em frente ao campus e vejo o movimento de


alunos na saída, em grupos risonhos típico de faculdade. Coloco a mão no
queixo e franzo o cenho.

Ela já deve estar saindo. Trocamos mensagens rápidas entre uma cirurgia e
seu horário disponível. Estou com saudades.

O celular vibra insistentemente e o pego, vendo o número da minha mãe


piscar na tela, bloqueio, decidindo ligar para ela assim que chegar em casa.
Aperto o volante quando vejo-a surgir sorridente ao lado de Ana Júlia e
alguns amigos.

Franzo o cenho, não contendo a sombra do sorriso que me toma mesmo


sem eu querer.

Os cabelos soltos e o macacão curto a deixa parecendo mais jovem do que


já é. Gargalha alto quando um garoto fala algo para todos do grupo que ela e
a amiga estão.
Eu não queria que isso tivesse me incomodando tanto quanto me
incomoda.

Ela está com pessoas da idade dela. Garotos jovens. Construindo um


futuro.

Não com bagagens e pesos do passado.

Aliás, é um grupo de jovens e amigos dela.

Observo em silêncio e ela ainda não notou que eu estou há poucos metros,
apenas esperando. Isso me espezinhou. Judiou.

Ela poderia estar marcando de ir à uma balada. Poderia estar livre para
fazer o que quiser com pessoas de sua idade.

A culpa castiga e a insegurança bate. Ela ri ainda mais alto, como se


ouvisse uma piada incrível, e eu odiei sentir tanto ciúmes dela.

Me odiei por não controlar o sentimento de posse.

Me odiei por ter o dobro de sua idade e desejar tanto ela que chega a doer.

Poderia mandar uma mensagem, mas a porra da infantilidade me fez


descer do carro, e eu nunca desci quando vim buscá-la. Bato a porta com um
pouco mais de força, chamando a atenção dos alunos ali presente.

Ela vira o pescoço e eu cruzo os braços quase sorrindo.

Tudo em mim se revira ao olhá-la. Seus olhos grudam aos meus como se
nada fosse mais importante do que nós dois.

E talvez não seja.

Venço a pequena a distância, me aproximando de onde está e é comum os


olhares voltados em nossa direção, mas nesse momento pouco me importa.
O grupo de jovens me olha e não escondem a surpresa nos olhares
curiosos.

— Ei! — Se aproxima sorrindo e eu beijo sua testa. — Por que não me


avisou que já estava aqui?

— Quis fazer surpresa. — Manuella me olha balançando a cabeça. —


Como vai, Ana Júlia?

— Bem. — Ela sorri e eu cumprimento os rapazes com apenas um aceno


de cabeça. — A gente se vê amanhã, né? — Pergunta a Manu.

— Sim. Amo você!

— Também te amo. — Se abraçam. — Tchau, Rocco. Até amanhã, Manu.

Ela se despede de todos e entrelaça os dedos aos meus. Vejo-a me encarar


com uma sombra de sorriso no canto dos lábios.

— O que foi? — Pergunto sério.

— Você nunca desce quando vem me buscar... Está com ciúmes, doutor
Rocco? — Andamos devagar até o carro e então paramos, eu franzo o cenho
e ela cruza os braços.

— Ciúmes? Só por que estava rindo para colegas da sua idade? — Seu
sorriso aumenta e eu continuo sério. — Não estava com ciúmes.

— Não? Então esse mau humor e cara amarrada é o que? Posso saber?

Seguro em seu queixo, o erguendo.

— Sou assim por vida. — Falo baixo, vendo seu sorriso aumentar
enquanto enlaça meu pescoço e ri contra minha boca.

O corpo pequeno é quase engolido pelo meu tamanho.

— Seu ranzinza. — Esfrega o nariz ao meu. — Estava com saudades.


— Muita? — Ela assente. — Mentirosa. Estava rindo aos quatro ventos
como se eu nem existisse.

— Isso é porque não estava com ciúmes. — Debocha e me beija.

— Não estava. Eu estou. — Falo sério, vendo seu sorriso sumir do rosto.
— Sou louco e ciumento quando se trata de você. Possessivo.

Ela morde o canto do lábio e eu passo o polegar pelo mesmo, captando o


movimento.

— Não precisa, você sabe que sou sua.

— É? — Semicerro os olhos.

— Você sabe que sim. — Esfrega o nariz ao meu e arfa como uma gata.
Assim ela faz o que quer comigo. — Vamos sair daqui. — Diz baixo contra
minha boca, espalmando a mão sobre meu peito. — Por favor.

A respiração se torna lenta e tudo parece queimar ao nosso redor.

— Minha peste.

O vapor da água quente embaça o vidro do box quando desligo o


chuveiro. Não resisti a um banho morno e me joguei embaixo da água assim
que chegamos em casa.

Casa.
Sorrio sem querer.

Enrolo a toalha na cintura e com a outra saio secando os cabelos úmidos.

Trazer Manuella para morar comigo foi um passo e tanto. Jamais pensei
que sentiria vontade de dividir o mesmo teto com alguém novamente, mas
agora já não imagino isso aqui sem ela.

Sem os tapetes cor de rosa espalhados pelo apartamento, sem a escova de


cabelo, sem os cremes e maquiagens pela bancada da pia do banheiro. Paro
na soleira da porta e rio, vendo-a deitada sobre a enorme cama, ainda com o
roupão que saiu do banho há poucos minutos.

A cobertura fica no Leblon e não é tão longe assim da casa dos seus pais.
É um meio termo.

Manuella preencheu minha vida e minha casa, ela é meu furacão. Mas ao
contrário, não veio bagunçar, e sim para arrumar tudo o que tinha
desorganizado em mim.

Ela abre os olhos e encontra os meus, então sorri daquela forma sapeca.

— Ver você nu devia ser um atentado, doutor. — Estica os braços e eu


balanço a cabeça.

— Posso dizer o mesmo de você.

Me aproximo e ela fica de joelhos e se arrasta até a beira da cama onde eu


estou. O roupão quase aberto e nó frouxo deixa a barriga amostra, assim
como um dos seios.

Desato o nó e espalmo a mão em sua cintura, revelando seu corpo inteiro.


Os seios fartos e com os bicos enrijecidos colados em meu peito são a minha
ruína.

Enfio os dedos entre os fios loiros do coque, desfazendo e arqueio seu


pescoço, dando beijos leves. Ela geme, arranha meu peito e aperta meus
braços.
— Meu desejo por você é algo surreal. É tanto que queima de dentro para
fora, Manuella. — Sussurro, a beijando com saudade e desespero dessas
longas horas que ficamos sem nos ver.

É sempre essa ânsia. O desespero. O desejo. O tesão.

Passar horas longe dela é um martírio. Mesmo sabendo que as vezes é


bom nos distanciar para ela ter seu espaço para fazer o que quer. Mas mesmo
assim é desesperador.

— Minha garota.

Me afasto para olhá-la e é o suficiente para perder o ar dos pulmões


quando retira o roupão dos ombros, o fazendo cair na cama e fica
completamente despida. Desço o olhar pelas curvas generosas, então eu paro
com o cenho franzido.

A barriga antes completamente lisa ganhou uma imperceptível curvatura.


Apenas olhando bem dá para perceber.

5 semanas.

Engulo em seco e volto a olhar para ela, vendo o sorriso fraco na boca
avermelhada.

— Está dando para perceber? — Assinto quando ela leva as mãos até a
barriga e espalma, então me olha com os olhos brilhando. — É tão lindo...
Saber que tem alguém crescendo aqui dentro, não é?

Franzo o cenho e vejo o sorriso leve que solta.

— É. — Engulo o bolo que se formou na garganta.

Ainda estou me acostumando. É tão surreal pensar que em tão pouco


tempo ela derrubou tudo que eu pensei estar resolvido em minha vida.

— Vou fazer uma ultrassonografia... Mas a correria e tudo mais nos


atrapalhou a contar e...
— Vamos contar, seu pai está preocupado. No final de semana vamos lá e
contaremos. — Afasto os cabelos do rosto e ela assente, enlaçando meu
pescoço.

Os olhos piscam demoradamente e eu sorrio.

— Ele vai ficar uma fera. — Diz baixo.

Eu sei que sim.

— Não pense nisso.

Beijo a ponta do seu nariz e a encaixo em meu quadril, ergo-a da cama,


me sento e a trago para mim completamente nua, sem absolutamente nada
cobrindo seu corpo.

Do jeito que eu amo.

— Eu te amo. — Suspira me olhando e eu seguro em seu pescoço fino,


sem colocar força mas o suficiente para deixa-la parada.

— Eu também te amo, minha pequena. — Encosto a testa na sua e respiro


fundo, sentindo o cheiro do hidratante doce.

Meu corpo reage de imediato, como se reconhecendo o cheiro e toque em


um desespero latente por ela. Como sempre, desde a primeira vez.

Aqui não existe inseguranças, medos e nada que não seja nosso amor e o
quanto nossos corpos se desejam.

O quanto eu enlouqueço por ela.

Arqueio seu pescoço e ouço o gemido baixo que escapa dos seus lábios.

— Rocco. — Rebola devagar, já me sentindo duro. — Por favor.

— Como se precisasse pedir por favor, Manuella. — Digo entre dentes e a


beijo com desespero.
Seguro seu pescoço com firmeza e espalmo a mão na sua cintura,
fundindo nossos corpos como se fossem um só.

Ou talvez, já sejamos um só há muito tempo.

Tomo sua boca e gememos juntos em um beijo faminto. A ergo ainda


enlaçada em minha cintura, agarrada em meu pescoço enquanto chupa meus
lábios e língua. Arfo, segurando sua bunda e já sentindo a toalha cair em
meus pés.

Meu pau lateja e o tesão golpeia quando a coloco sobre a cama. Apoio
meu corpo para não colocar todo meu peso em cima dela assim que as
pernas enlaçam meus quadris.

Meu coração bate forte, a boca seca e meu pau lateja.

Enfio os dedos em seus cabelos, agarro sua cabeça com firmeza e a beijo
com desespero. Com tanto desejo que chega a doer no íntimo.

Me afasto apenas para olhar para o corpo nu jogado no meio dos lençóis
emaranhados, com os seios firmes e redondos subindo e descendo. O corpo
esguio. A barriga lisa carregando uma parte minha e dela.

— Amor. — Me olha com olhos tombados quando faço como um animal e


abro suas pernas, a ergo e faço seu quadril elevar um pouco da cama,
expondo a bunda e a boceta, deixando-a bem escancarada na minha cara.

Sorrio vendo os lábios carnudos e inchados. Toda rosadinha. Sem pelos


algum. Toda arreganhada.

É minha loucura.

Ela é minha loucura mais linda.


Manuella

— Tão linda minha pequena. — Engulo em seco, fixando os olhos aos


seus.
Nem respiro. Estou presa no olhar hipnotizante, com as pernas abertas
próximas ao seu rosto e meu quadril erguido da cama.
— Tudo que sai de você é meu, Manuella. Seus sorrisos, gemidos... Tudo!
Entendeu?
Assinto rápido, com um desespero latente fervendo dentro de mim.
— Quero que me diga em alto e bom som... De quem você é?
Está tão sério, com a cara fechada e a barba cerrada, fazendo o maxilar
parecer mais quadrado. Engulo em seco e pisco devagar. Ele não parece estar
brincando.
Mas eu amo brincar com o perigo.
— Vai me castigar, titio? — Mordo o lábio e ele semicerra os olhos.
Ajeita o corpo grande e másculo e fica de joelhos na cama. Desço os olhos
pelo abdômen trincado e pelo peito largo. Ele é todo grande. O pau ereto,
grande e grosso esticado. As veias saltando. A glande babando com o pré
gozo.
Pronto para me arregaçar inteira, e eu amo senti-lo com tudo dentro de
mim.
O provoco durante o dia inteiro só para comer com ódio durante a noite.
E assim o faz.
— Não me provoque assim, Manuella. — Diz sério, enfiando as mãos em
meus cabelos, me fazendo arquear o pescoço para olhar em seus olhos.
— Está se mordendo de ciúmes. — Arfo um sorriso perto da sua boca e
sinto-o rosnar contra meus lábios.
Rosnar.
— Sabe o que faz com esses ciúmes? — Coloco a mão em seu queixo,
sentindo a aspereza da barba entre meus dedos e beijo o pescoço, subindo
pela orelha. — Você sabe que eu sou sua, então pode, por favor, me comer
agora? Antes que eu tenha um colapso desesperado de tanto desejo.
— Estou com vontade de te dar uma surra por ser tão abusada, Manuella.
Rio baixo no seu ouvido e paro de repente, soltando um gemido alto de
surpresa quando seu dedo me penetra e eu arqueio o corpo, fixando o olhar
ao seu.
Rocco está realmente me punindo por ciúmes?
— Eu não fiz... Nada. — O dedo entra devagar e eu fecho os olhos, me
abrindo lentamente. — Rocco.
Ele tira o dedo, mas então o enfia de novo. Dois dessa vez.
— Certeza? — Pergunta bravo.
— Ah! — Abro a boca, sentindo-o acelerar e logo após ir lentamente. Me
preenchendo. Estou excitada demais. — Rocco, você...
Me abro toda, sentindo palpitar nos dedos que com certeza estão todos
melados e abro as pernas agoniada, desejando mais. A mão firme em meu
cabelo e minha cabeça arqueada, sem tirar os olhos dos seus e do que faz.
— Você. Tem. Certeza. Manuella?
Pergunta pausadamente, indo fundo e eu fecho os olhos quando um
gemido alto quebra o silêncio do quarto.
— ABRE OS OLHOS, PORRA!
Abro os olhos e as pernas também. Ele mete os dedos no fundo e tira
devagar, só para meter novamente. Me perco no tesão, agarro seus cabelos e
procuro sua boca, enfio a língua e entrelaço a dele, então gememos juntos.
O agarro como se minha vida dependesse disso, sento em seu colo com ele
ainda de joelhos na cama, ainda com o beijo possessivo, me tomando toda.
Como se eu já não fosse dele o suficiente.
Abro bem as pernas e sinto a cabeça melada do pau encostar de leve. Ele
segura em minha bunda e me pressiona para se enterrar dentro de mim.
— Você. É. Minha. Ouviu? — Fala pausadamente com o rosto colado ao
meu. — Eu não aceito. Não quero e não permito que qualquer ser humano
que pise nessa terra... Te deseje e te queira tanto quanto eu.
Seus olhos queimam e todo meu corpo incendeia.
— Não vai ter uma única parte do seu corpo que não tenha me tido,
Manuella. Que não me pertença. Eu sou louco, eu sou apaixonado por
você... Sua peste atrevida e abusada.
Os braços estão enlaçados em minha cintura, me mantendo firme. Abro a
boca, sentindo-o entrar devagar, mas com urgência. Agarra meu cabelo, me
segura firme e me beija com urgência. Gemo e rebolo o quadril em seu colo,
sentindo-o todo enterrado dentro de mim.
— Ah, Rocco! Eu... — Falo alucinada, recebendo as investidas brutas sem
pena nenhuma. — AH! PORRA, ROCCO!
Sobressalto quando sinto o tapa da sua mão grande na minha bunda e
voltar a meter bruto. Sinto o pau me preencher toda, me arregaçando inteira
e eu adoro senti-lo assim.
— Está sentindo, amor? Como sua boceta se abre todinha para mim? —
Chupa meus lábios e os mordisca. — Porque ela é minha! Só minha!
— É sua... Inferno de homem ciumento. — Seguro em seu queixo e quico
em seu colo. O barulho de corpos molhados se chocando. Minha boceta
escorregando enquanto ele me fode e sinto as bolas batendo em minhas
coxas, me fazendo só gemer agarrada a ele. — Eu sou toda sua. Sempre fui!
Colo a testa na sua e o beijo, sentindo o orgasmo vir forte, sabendo que ele
sente o mesmo. Meu corpo treme e minha boceta lateja, estrangulando o pau
sem parar de me foder até o talo em investidas brutas.
Viramos uma bagunça. Um nada. Gemendo feito loucos. Ouço quando ele
geme meu nome, me segura e se enterra até gozar até o fim dentro de mim.
Fecho os olhos e colo a testa a sua, sentindo a respiração se acalmar.
Nossos corpos melados de suor e gozo. Somos uma loucura dentro e fora
do quarto. Sempre.
Afago sua barba, passeando os dedos pelos fios brancos e contorno a boca
com a ponta dos dedos, sentindo seu olhar sobre mim.
— Está sentindo alguma coisa? — Franze o cenho. — Deveríamos ter ido
devagar.
— Estamos bem. Nada que já não tenhamos feito. — Vejo-o piscar
devagar e suspiro. — Olhe para mim, Rocco.
Fixo o olhar ao seu quando ele volta a me encarar com aquela seriedade e
o misto de preocupação que ronda sempre sua mente e seus olhos quando o
assunto é minha gravidez.
Eu sei que ele ainda está se acostumando com a ideia. Que toda essa
situação é recente para ele.
Mas é para mim também.
Sei que não vibrou de felicidade com a notícia, e talvez seja o medo da
reação que meus pais terão pela imprudência que tivemos.
Também sei que ser pai nunca foi seu sonho, sua realização e talvez, nem
faria parte dos seus planos, já que se considerava "velho" demais para isso.
Meu coração parece que vai se partir. Sei que a notícia nos pegou de
surpresa e foge de tudo o que meus pais e até que ele mesmo tinha pensado e
idealizado para o meu futuro.
Não engravidei propositalmente, ainda estou assustada com as
possibilidades.
As mudanças no meu corpo já começam a aparecer, assim como em meu
interior também. Rocco está parado, me olhando fixamente e eu franzo o
nariz, sentindo-o afastar as mechas dos meus ombros e do meu rosto.
— Desculpa se pareço tão insensível e ausente. Estou colocando...
— Podemos tentar juntos. É tudo novo para mim também, amor.
— E é isso que me mata, Manuella. — Segura em meu queixo. — Saber
que é tudo novo demais para você, minha pequena. Que poderia não estar
preparada, que poderia...
— Desistir do que temos?
— Se arrepender lá na frente.
O encaro com o cenho franzido, me solto e me levanto, sentindo o suor
ainda pelo meu corpo e o quentura dele sobre o meu. Pouco me importo de
estar nua a sua frente, pouco me importei de ter porra descendo por entre
minhas pernas.
— Achei que já tivesse superado a sua crise de idade, Rocco. Achei que
tivesse superado o que dentro da sua cabeça parece ser um fogo de palha.
Ele suspira e se levanta também, então o olho fixamente erguendo o
queixo.
— Você disse que me ama há poucos minutos nessa cama. — Aponto o
lugar. — Que não vive sem mim, que estava com ciúmes e sabe lá Deus por
qual motivo.
— E eu te amo. Você sabe que eu te amo, Manuella. — Diz bravo,
passando a mão pelo rosto.
— Desse jeito? — Nego com a cabeça. — Estamos juntos há quase oito
meses, Rocco. Pode não significar tanto para você e...
Não queria chorar, mas sinto meus olhos lacrimejando e queimando.
— Você é minha vida, Manuella. — Fala baixo e eu fecho os olhos,
sentindo uma lágrima rolar, mas a limpo depressa. — Só estou preocupado e
idiota em achar que...
— Tem uma vida dentro de mim agora. Vocês e os meus pais queiram ou
não. Ela está crescendo bem aqui. — Espalmo a mão no ventre, o olhando
bem séria com os olhos lacrimejados. — Sua idade nunca foi um problema
para mim, Rocco. Nunca. Pouco me importa se tem o dobro da minha ou o
triplo! Eu quis e quero você independente do cacete da sua idade, seu
imbecil!
— Manuella. — Dá um passo à frente mas eu me afasto dando outro para
trás. — Não se estresse, minha pequena. Por favor.
— E você se importa?
— Está sendo imprudente.
— E você sendo um babaca, senhor Maldonado! — Rebato trêmula. —
Acha que eu flerto com outros homens? Acha que eu desejo outros? Acha
que eu quero que outros me toquem?
— Não, eu confio em você. Eu não confio é neles, Manuella! Porque
apenas a porra de ideia de ter alguém perto de você, de estar te querendo
tanto quanto eu te quero, apenas o caralho da ideia de alguém... Roubar você
de mim me deixa desnorteado!
Sopra o ar e eu o encaro.
— Eu sou egoísta quando se trata de você, Manuella! E mesmo assim
chegar a olhar para trás e ver que está presa a um velho de 43 anos... Que
quer aproveitar a sua vida, que quer sair para se divertir e conhecer jovens da
sua idade.
Mordo o lábio, deixando uma lágrima rolar.
— Eu vou te deixar ir! Vou te deixar ir porque mesmo sendo um caralho
de um egoísta tendo o dobro da sua idade, eu quero que você VIVA! Eu não
quero ser o culpado da sua infelicidade, e mesmo que eu queira arrancar um
braço do que admitir... Eu abriria mão de você se fosse sua vontade me
deixar, porque eu não quero te prender.
Fungo com o queixo trêmulo, vendo-o balançar a cabeça.
— Não quero te prender, mesmo desejando com todas as forças ter você
aqui, Manuella. Porque aqui é o seu lugar, minha pequena.
Continuo parada, observando-o se aproximar, segurar em meus braços e
encostar a testa na minha, então eu só fecho os olhos e fungo.
— Tenho crise de idade quando se trata de você porque é a porra de um
martírio pensar que você pode se cansar de mim.
— Rocco. — Sussurro, sentindo-o me apertar contra seu peito. — Você...
Ele segura em meu queixo, me fazendo olhá-lo. Seu rosto está mais
relaxado, mas ao mesmo tempo preocupado e meu interior se aperta.
— Sou um idiota e louco de ciúmes de você. Ainda estou aceitando a ideia
de ser pai, mas isso não quer dizer que... Que eu não queira. — As mãos
seguram meu rosto, me fazendo encará-lo. — Ter um filho... Um elo meu e
seu para sempre, uma mini cópia sua.
— Seu imbecil. Você... Você é um imbecil, Rocco! — Tento empurrá-lo,
mas ele me segura mais forte e me abraça, me fazendo enterrar o rosto em
seu peito enquanto me aperta.
— Não sou tão maduro assim e talvez isso trate apenas porque estou com
você. Me torno um idiota possessivo e ciumento! Me preocupo com seu
bem-estar, com suas vontades e desejos, e principalmente com esse ser
minúsculo crescendo aí dentro.
— É tudo novo para mim também. — Confesso baixo, sentindo o polegar
massagear minhas costas levemente.
Me sinto tão frágil e idiota por estar chorando. Poderia culpar os
hormônios da gravidez, o meu estado com tudo e mais um pouco, mas é o
emocional mesmo.
Suspiro pesadamente, sentindo-o me erguer do chão e passar o braço por
baixo dos meus joelhos e nas minhas costas. Beija minha testa e captura
minha boca em um beijo lento e demorado. Ele toma meu ar e ameniza o
aperto que está em meu peito.
— Eu sei, minha pequena. Nós vamos fazer isso juntos, lembra?
Assinto e ele me leva em direção ao banheiro, eu o olho curiosa.
— O que vai fazer, Rocco?
— Dar um banho na minha mulher. — Pisco devagar balançando a
cabeça. — Fui um ogro insensível, um namorado ciumento e um pai
desnaturado.
— Foi tudo isso e mais um pouco. Estava me punindo porque estava com
ciúmes?
— Sim. Queria surrar sua bunda, odeio sua teimosia.
Ele me coloca na banheira ainda vazia e entra em seguida, liga as torneiras
e coloca alguns sais de banho. Me aperta em seus braços e cola o rosto em
minha testa. Passando a barba por minha pele.
— Você é um tremendo idiota, doutor Rocco.
— Mas eu sou todo seu, Manuella. Desde que te vi pela primeira vez,
minha peste.
Mordo o lábio quando o polegar passa roçando, separando-os e suspiro.
— Eu amo você, Manuella.
— Eu também te amo. Mesmo querendo esganar você por ser tão idiota e
ranzinza! — Seguro em seus ombros. — Você é o coroa mais chato e
rabugento que já vi em toda minha vida Rocco Maldonado.
Vejo-o umedecer os lábios e ficar sério com o olhar fixo ao meu.
— Vou te ensinar como respeitar os mais velhos.
Manuella

— Não tem estágio e nem aula mais tarde? — Tiro o cinto de


segurança assim que o carro estaciona no campus da faculdade.

— Não.

— Vou levar uns documentos para o seu pai, não tenho que voltar para o
hospital a não ser para uma emergência.

— Certo.

Assinto, segurando a bolsa. Por insistência dele, está vindo me trazer e


buscar todos os dias. Eu poderia vir com Júlia ou até mesmo de Uber, sem
problemas algum, mas ele prefere fazer isso.

Acordei bem enjoada essa manhã mas não falei nada. Ainda vou começar
o pré-natal e estou apenas cuidando da minha alimentação. Não estamos
mais brigados, mas é inevitável não sentir àquela discussão que tivemos
ontem à noite.

É inevitável não sentir...

— Eu venho te buscar depois da aula, vou estar com o celular no bolso. —


Fala, me fazendo encará-lo. — Se sentir qualquer coisa me ligue.

Ele usa uma camisa polo branca assim como a calça moldando o corpo e
com os cabelos bem penteados. De óculos escuro da para ver que está sério e
calado.
— Certo. — Seguro a bolsa, abro a porta do carro mas quando vou descer
sinto sua mão segurar a minha.

— Vai me dar tratamento de silêncio agora? — Pergunta e eu encosto a


cabeça no banco. — Trocou meia dúzia de palavras comigo durante todo o
trajeto.

Nego devagar, fecho os olhos e torno a abri-los rápido para olhá-lo.

Tentei o máximo descansar e dormir bem, mas foi quase impossível.


Aquele sentimento apertando meu peito e me sufocando de uma forma que
eu não sabia explicar. Isso não faz bem nem para mim e nem para o meu
bebê.

— Manuella...

— Eu te ligo para vir me buscar ou se eu sentir alguma coisa. Tenho um


trabalho para entregar agora. — Volto a apertar a bolsa na mão, o fitando
com a mão no queixo sério. Sério até demais.

Desço do carro, bato a porta devagar e ergo o queixo, saindo sem olhar
para trás, ou tenho certeza de que iria chorar agora e eu não quero que ele
veja. Continuo andando calmamente e fecho os olhos quando ouço o carro
dar partida e sair.

Mordo o lábio ao ver Júlia andar na minha direção com um sorriso largo,
que se desfaz em questão de segundos quando me olha.

— Ei, o que houve? Manu?

A abraço e desabo entre soluços, deixando as lágrimas e o bolo formado


na garganta se desfazer. Mordo o lábio e fecho os olhos enquanto as lágrimas
grossas rolam pelo meu rosto. Ela me solta apenas para me olhar.

Vamos para um lugar mais reservado na faculdade. Seguro o copo com


água e sorvo goles devagar enquanto Júlia aperta minha mão e brinca com
meus dedos. Ela é meu porto seguro, minha confidente.
— Manu, fale comigo! Por favor, não me deixe aflita! — Pede com o
cenho franzido.

— Eu sei que ele não está radiante com a gravidez e eu também estou com
medo, Ju. Sei que íamos conversar e planejar tudo depois que eu terminasse
a faculdade... Mas aconteceu, Júlia!

— Eu sei disso. Eu sei, Manu.

— Sabia que ele não ia soltar fogos e comemorar, mas está aqui dentro e
ele parece não entender, Júlia!

— Homens são um pouco burros e ele está sendo um insensível sem


tamanho com você. Nossa, eu quero chutar o saco dele. — Grasna, torcendo
as mãos como se enforcasse alguém. — Quero esganar ele com todas as
forças que existem dentro de mim.

Limpo o rosto e apoio as mãos sobre a mesa de pedra que estamos.

— Você sabe que não está sozinha nisso, você tem a mim. — Ela sorrir
devagar. — Eu te amo e amo essa sementinha aí dentro... Estamos juntas.
Esse doutor que não cruze o meu caminho ou eu juro que ninguém me
segura de dizer poucas e boas para ele. Você está grávida, caralho! Não
merece estar passando esse nervoso.

— O que!? Grávida? — Thales aparece nos olhando. — Você está


grávida?

— Thales. — Levanto franzindo o cenho.

— Cala a boca seu idiota do caralho! Boca de apito! — Júlia fica na sua
frente.

Ele continua parado, me encarando fixamente.

— Não conta para ninguém, por favor. Meus pais não sabem ainda e...

— É claro que eu não vou contar M&M. — Se senta piscando várias


vezes e coloca a mão sobre o queixo. — Caralho, o velhote te engravidou.
Puta que pariu!

— Vai guardar segredo, não é ? Por favor, Thales.

— Se ele abrir essa boca eu a deixo sem dentes para contar! — Júlia
ameaça e ele a fita.

— Manu também é minha amiga, meu doce de limão. — Volta a me olhar.


— É claro que não vou contar até que você esteja pronta. Está se sentindo
bem? Está tudo bem?

— Estou. É só... Enjoo e... Está tudo bem. — Sorrio, apertando sua mão e
sinto o beijo estalado na minha mão.

— Você vai ser uma mãe foda pra caralho! — Segura em meu queixo. —
Conta comigo para o que precisar M&M. Agora vai ter trocar fraldas do
velho e do bebê.

Júlia o empurra e ele massageia o braço.

— Agressiva. — Me dá um abraço apertado. — Você é incrível! Sabe que


estarei aqui para o que precisar, né?

— Obrigada. — Vejo-o se erguer e olhar para Júlia o encarando séria.

— Se abrir a boca eu te caço e dou um chute no meio de suas bolas. —


Coloca o dedo em riste, o fazendo rir. — Ouviu?

— Que medo Juju.

Passa por ela rindo e dá uma leve piscadela enquanto Júlia apenas mostra
o dedo do meio em sua direção.

— Soca fofo.

Balanço a cabeça, vendo-a se sentar novamente.

— Acha que ele vai guardar segredo?


— Vai sim. — Puxo o ar e solto devagar. — Vamos para a aula, preciso
ocupar a cabeça.

— Tem certeza de que quer ir?

— Tenho. Vamos, estou bem melhor.

Não estou nada.

Ainda sinto aquele aperto no âmago, mas não vou deixar tomar conta de
mim.

Vou para a sala de aula e tento ao máximo me concentrar na matéria.

O estágio vai começar na próxima semana e eu preciso me preparar para


isso.

Tento comer alguma coisa mas parece que o bolo formado na garganta não
desce por nada. Tomo apenas um suco de laranja natural e aviso a Júlia que
vou para casa descansar um pouco. Após insistir para ir comigo, a convenci
que está tudo bem e peguei um Uber, já que meu carro ainda está na oficina.

Paro na orla da praia de Copacabana, tiro os tênis e os seguro. O sol está


intenso, a praia lotada e eu fico encarando o mar por alguns minutos.

Me sento no banco sentindo o vento balançar meus cabelos e olho a


paisagem como se fosse a primeira vez. Peço uma água de coco e tomo
devagar enquanto balanço as pernas.

Tantas pessoas andam com pressa, sempre em movimento.

Mordo o lábio inferior e suspiro me levantando, então sinto o baque do


meu corpo com o de outra pessoa.

— Mil perdoes. — Pede rapidamente. — Sinto muito, estava ao telefone.

— Tudo bem, não foi nada. — Sorrio.


Mesmo falando o português claramente, é impossível não reconhecer o
sotaque americano.

— Ainda me acostumando com a cidade. — O sorriso doce se expande no


rosto. — E falando com a babá do meu filho que parece tão perdida quanto
eu. Deus! Aqui é uma loucura imensa.

— Eu imagino. — Sorrio educada. — Nunca tinha vindo ao Brasil?

— Há uns anos. Fui casada com um brasileiro, mas estou me


familiarizando com o país. — Ela suspira e franze o cenho de repente. —
Você está bem? Esta um pouco pálida.

— Sim, é só um mal-estar. — Digo rapidamente, vendo seu olhar fixar ao


meu.

Uma mulher madura com o rosto jovem e tão leve. Deve ter quase a
mesma idade da minha mãe. É muito bonita e tem um sorriso doce, assim
como os olhos amendoados.

— Acho que tive há poucos meses esse mesmo mal-estar e nasceu um


menino lindo. — Sorri e eu assinto devagar. — Está de quantas semanas?

— Cinco. — Falo baixo, vendo-a assentir. — É só um carocinho ainda.


Minúsculo.

— E já conseguem captar toda energia ao nosso redor, sentem tudo que


sentimos. — Vejo-a sorrir como se lembrasse de algo. — É uma experiência
única. A maternidade nos transforma. Você é jovem, tudo vai ficar bem.

— Obrigada. — Digo sincera, vendo-a sorrir enquanto assente com a


cabeça. — Eu espero que fique.

— Vai ficar, acredite. Tudo vai valer a pena quando tiver seu bebê nos
braços.

Engulo em seco quando ela acena segurando a bolsa e sai pelo calçadão.
Continuo parada, sentindo o coração apertado, então o celular vibra na
bolsa e eu o pego, vendo o nome de Rocco na tela. Bloqueio, colocando-o
dentro da bolsa novamente.

Rocco

— Mas que inferno! — Ralho entre dentes, coloco o aparelho no bolso da


calça e saio da sala.

Vim no hospital apenas deixar os documentos que John pediu e acabei


atendendo uma emergência inesperada para um eletrocardiograma. Fiquei
preso praticamente a manhã inteira e entrar em contato com Manuella está
impossível.

É a sexta ligação durante o dia que não obtive resposta.

Não precisa de muito para saber que está magoada comigo. O trajeto essa
manhã foi feito em silêncio, assim como quando acordou, estava silenciosa.

— Já está indo? — John me fita assim que cruzo o corredor.

— Sim. Passei rapidamente e acabei ficando preso aqui. — Aperto o botão


do elevador.

Os olhos azuis me encaram.

— Queria conversar com você sem Manuella por perto, pode ir lá em casa
para conversamos?

— É alguma coisa...

— Não, só precisamos conversar sem ela por perto. Te espero. — Assente


e enfia as mãos no bolso do jaleco, se virando.

O elevador chega e entro na caixa de metal passando as mãos pelos


cabelos. Aposto que nasceu alguns fios brancos esses últimos meses.
Pego o carro de imediato sem comer nada mesmo e vou direto para a
faculdade. Com toda certeza ela já deveria ter saído a essa hora. Não foi
surpresa ver que não tem sinal algum dela e nem de seus amigos.

Tento novamente o celular e mais uma vez cai na caixa postal.

Ouço o barulho da moto parar ao meu lado e me viro com o celular ainda
no ouvido, fitando o moleque tirar o capacete.

— Se perdeu ou veio buscar a Manu com medo dela ter fugido de você?

O fito de cima a baixo, vendo seu sorrisinho de canto.

O infeliz é o mesmo que estava rodeando-a na época em que cheguei.


Davi Werneck.

Parece não ter engolido muito bem que Manuella está comigo e sempre
que me vê faz questão de deixar isso muito claro.

Eu só ignoro. É um babaca mimado e insignificante.

— Qual foi, tio. — Me encara. — Ela já cansou de você?

— Já tive sua idade e realmente é um porre quando levamos um fora, o


ego fica ferido, mas tenho mais o que fazer. Com licença.

Viro de costas e abro a porta do carro, mas quando estou prestes a entrar
escuto ele falar.

— Cuidado, não tem mais idade para estar nervoso, tio. Nem para dar
conta de uma mulher tão nova quanto Manuella.

Meu pescoço se vira sozinho e eu o olhando fixamente, vendo seu sorriso


aberto.

Ele ergue os braços rindo e eu quase o arranco da moto no soco.

— Diz para ela que mandei um beijo. — Coloca o capacete e sai em


disparada.
— Filho da puta. — Digo entre dentes e bato a porta, fazendo um barulho
maior do que eu esperava. — Que desgraça!

Ela não está em lugar nenhum.

Liguei para Ana Júlia mas ela disse apenas que a Manu saiu mais cedo.
Liguei para a casa dos pais dela e não está lá, mas temendo preocupar eles,
só inventei uma desculpa qualquer.

Ela não atendeu a porra do celular e agora ele está desligado, já que sequer
chama. Estou puto, preocupado e enlouquecendo.

Ando de um lado para o outro me sentindo uma animal enjaulado.

Pego o telefone e infelizmente vou ter que avisar a John para tentar
encontrar alguma solução para o meu desespero. Ele poderia saber onde ela
está.

Mas o que eu vou falar para ele?

Que não faço ideia de onde minha mulher está?

Que estamos...

Ah, Deus!
A porta se abre e eu para olha-la entrar devagar com o rosto pálido e
levemente avermelhado.

— Onde diabos você estava? Quer me enlouquecer, Manuella? — Me


aproximo em passos largos.

Ela coloca as chaves no aparador e passa as mãos pelo rosto.

— Liguei feito um doido para seus colegas e ninguém sabia onde você
estava. Fui na faculdade e nem sinal de você. Custava ter atendido a porra do
seu celular? Me avisar onde estava?

Continua em silêncio, coloca a bolsa no sofá e tira os tênis, isso tudo sem
me olhar em nenhum momento. A olho passar por mim, indo em direção ao
quarto.

— Estou falando com você, Manuella! — A seguro pelo braço apenas


para fazê-la me olhar, sem impor força alguma. — Fale comigo, inferno! Eu
estava enlouquecendo de preocupação sem saber onde estava ou como
estava!

— Como se você se importasse. — Se desvencilha e reparo nos olhos


magoados brilhando e no rosto avermelhado. — Eu quero tomar um banho e
ir dormir, não quero conversar, não quero brigar e nem discutir. Estou
cansada, só cansada.

Franzo o cenho.

Ela passa por mim, entra no quarto e apenas ouço a porta do banheiro se
fechar.

Engulo em seco, sentindo o coração palpitar.

Ela vai me deixar?

Giro nos calcanhares e entro no quarto, indo para onde está, abro a porta
do banheiro em um solavanco e a vejo dentro do box de costas e nua. A água
molhando todo seu corpo.
Sem esperar por qualquer reação de sua parte, entro com tudo no espaço
molhado e a viro para mim, vendo as lágrimas descendo por seu rosto.

— Minha pequena. — Seguro em seu rosto, sentindo-a se debater. — Não


faça isso comigo. Por favor, Manuella me perdoe.

— Você é um idiota, Rocco! Um idiota! — Tenta afastar minhas mãos.

— Eu sou, eu sei que sou um idiota. Você tem razão de estar cansada de
mim, de querer me afastar e de achar que sou um insensível!

— Você é! Você é um insensível. Um... Um... — Soca meu peito e eu


seguro em seus braços enquanto ela arfa brava e magoada.

A água molha nós dois ao mesmo tempo e seus cabelos grudam no rosto.

A encurralo na parede, vendo-a fechar os olhos enquanto encosto a testa a


sua.

— Eu sou um egoísta, minha pequena. Olhe para mim. — Peço com o


rosto colado ao seu. — Olhe para mim, por favor.

Ela abre os olhos marejados e a culpa me engolfa.

— Me dê uma chance de concertar o que eu tenho feito. Eu me preocupo


com você e com a gravidez.

— Nosso filho. — Ergue o queixo. — É nosso filho.

— Com nosso filho. — Suspiro e desligo o chuveiro, cobrindo seu corpo


com o meu.

— Você disse que não ia sair do meu lado! Que íamos fazer isso juntos,
mas você não está fazendo isso, Rocco! — Umedece os lábios. — Não está
fazendo! Você prometeu, mas está falhando!

— Eu sei. — Assumo com dor no peito. — Me dê uma chance de


concertar. Manuella eu não posso te perder. Eu não posso, eu amo você
minha pequena. Eu amo você.

Ela continua calada com o queixo trêmulo e me olhando com os olhos


brilhando e a respiração acelerada.

— Me dê uma chance de concertar.

Ela engole em seco e limpa o rosto, fixando o olhar ao meu.

Está trêmula. Ofegante. Brava. Magoada.

— Escute bem o que vou te falar, Rocco. — Ergue o rosto e fixo o olhar
ao seu. — É tudo novo para mim também. Eu não esperava uma gravidez e
nem planejei isso, mas tem um bebê crescendo aqui dentro. Eu sinto muito
se não era isso que queria.

Dá uma pausa e o remorso me engolfa.

— Mas bebês acontecem quando se transa e nós fazemos muito isso.

— Eu sei, Manuella. Eu sei que não estou sendo o que...

— Ou fazemos isso juntos, ou eu faço sozinha. — Me corta com a voz


embargada. — E juro que eu saio da sua vida sem olhar para trás.

— Manuella. — Ela fecha os olhos e eu seguro em seu queixo.

— Eu juro, Rocco.

Meu âmago se aperta enquanto seguro seus braços para olha-la com meu
rosto a centímetros do seu. Arfando.

— Me perdoe, minha pequena. Por favor, me perdoe. — Quase imploro.


— Por favor.

— Não quero palavras, doutor. Eu quero atitudes.


Rocco

A olho por alguns segundos quando se desvencilha querendo se afastar


de mim e vira de costas, voltando a ligar o chuveiro em total silencio.
Engulo em seco, observando a água molhar os cabelos e descer pelo corpo.

Tiro minha roupa e as jogo no canto do banheiro. Manuella se vira e eu


pego o frasco de sabonete líquido, coloco na mão e espalho.

— Sei fazer isso sozinha.

— Eu sei que sabe. Vira. — Vejo-a negar e suspiro pesadamente. — Não


estou pedindo, Manuella.

— Você acha que é sempre assim, não é? — Murmura ofendida. —


Vamos brigar, depois transar e vai ficar tudo bem.

— Não disse que vamos transar. Vou apenas te dar um banho, como faço
sempre.

— Não quero, posso fazer isso sozinha. — A prendo na parede, sentindo o


corpo colar ao meu e ela ergue o rosto quando seguro seu pescoço com uma
mão e com a outra afasto suas pernas.

Manuella engole em seco, sem quebrar o contato dos olhos um no outro.

— Fique quietinha para eu dar um banho em você. Me obedeça, peste. —


Sussurro em seu ouvido e passo o sabonete devagar.
Começo espalhando a espuma pelo pescoço e desço para os vão entre os
seios. Manuella olha calada cada movimento que minha mão faz nas suas
curvas, passando pela cintura e envolvendo a barriga com mais delicadeza
do que penso.

Engulo em seco quando ela fecha os olhos.

"Tem um bebê crescendo aqui dentro."

Franzo o cenho quando ela abre os mesmos e as íris cor de mel se fixam
em mim. Espalmo a mão na curva da cintura e desço sob o olhar curioso e
lânguido que me lança.

Ela fecha as pernas, prendendo minha mão quando a desço. Sei que é
apenas afastá-la e pronto.

— Abre as pernas. — Peço contra sua boca e ela nega. — Por favor.

— Não.

— Manuella. — Espalmo sua bunda com a mão livre, apertando-a e ela


arqueia as costas, soltando um gemido sôfrego e baixo. — Abra as pernas,
amor, não me faça perder a paciência.

— Perca, eu quero que perca mesmo. — Desafia, me fazendo segurar em


seu queixo e o erguer.

— Abra. Os. Olhos. Agora. Inferno!

A última palavra sai como um rosnado e a peste ri como a demônia que é.


Afasto suas pernas usando a mão que estava presa e Manuella arfa,
arqueando as costas. Afundo o rosto na curva do seu pescoço a cheirando e a
beijo. Ela me enlouquece.

A água gelada nos molha e meu pau lateja de encontro ao ventre. Arrasto a
barba na carne do pescoço e em seu colo. Ela tenta se desvencilhar, é uma
peste. Os bicos dos seios ficam intumescidos, raspando em meu peito e eu
seguro em seus braços, a olhando.
— Não se negue a mim, amor. — Pressionei a perna entre suas coxas,
abrindo-as e ela geme alto quando a cabeça do pau babando passa pela
umidade da boceta que eu sei que vai me engolir se eu forçar mais. — Seu
corpo me pertence, minha pequena. Tudo que tem aí dentro é meu e você
sabe disso.

— Nem parece que acha isso. — Fala rude com o rosto a centímetros do
meu e eu passo os dedos devagar pelas dobras dos lábios. Ela está tão
excitada quanto eu. — Saia.

— Nem por um caralho, minha pequena. — Esfrego os dedos tocando o


clítoris e Manuella geme alto, segurando minha mão. — Está tão
molhadinha.

Arfa e fecha os olhos quando penetro um dedo no canal apertado e quente.


Chupo seu queixo, mordisco e ela se abre, ficando na ponta dos pés e se
arreganhando para meus dedos irem mais fundo.

— Eu sou um idiota, mas não duvide nunca de que sou louco por você. —
Fixo o olhar ao seu, mordiscando seus lábios. — Sou louco por você.
Alucinado. Maluco.

Meto dois dedos, vendo-a tremer com a boca entreaberta e gemendo


quando fecha os olhos.

A pele se arrepia por inteira e os bicos dos seios tão pontudos onde passo
a língua devagar, ouvindo-a gemer ainda mais. Enfio o seio todo em minha
boca e chupo, intercalando entre um e outro. Manuella treme, se abrindo
cada vez mais com os olhos lânguidos enquanto se abre. Meus dedos se
banhando na lubrificação natural que solta enquanto goza, esfregando-se em
mim.

— Não feche as pernas. Abra os olhos e me obedeça, Manuella. — Não


paro de fodê-la com os dedos um segundo sequer e quando grita alto se
sacudindo, a seguro para não cair.

Ela se arqueia gemendo alto, sem tirar o olhar do meu enquanto a penetro
mais e mais fundo, lambuzando-a, fazendo um barulho gostoso e molhado.
A beijo forte, saqueando a boca e enfiando a língua, mordiscando seus
lábios. Colo a testa a sua e retiro os dedos devagar.

Passo a língua sentindo o gosto salgado, quente e delicioso. É minha


loucura. Minha insanidade.

— Rocco.

Volto a beijá-la com desespero, colocando a coxa envolta do meu quadril e


sem esperar a penetro, entrando lento e fundo e ela geme alto e arfa, me
agarrando.

— Desculpa. — Peço baixo. — Machuquei você?

Meu coração salta e meu pau dói. Quando enlaça meu pescoço, desce
devagar rebolando e sorrio, sentindo-a me engolir. É tão apertada, caralho.

— Entendeu que você é minha, inferno? — Meto fundo meu pau, a


fodendo forte enquanto estoco o quadril, sentindo-a se arreganhar inteira. —
Essa boceta é minha, Manuella! Está sentindo-a sendo arregaçada por mim?
Mostrando a quem pertence.

Enfio a língua em sua boca como enfio o pau em sua boceta. Rápido.
Tomo tudo. Enfio a mão na bunda, abrindo-a e a acaricio após estalar um
tapa forte, marcando a carne.

— Ainda vou te foder bem aqui. — Nega devagar enquanto passo o dedo
lentamente. — Vai amar tanto dar essa bunda para mim, minha pequena. —
Olho bem no fundo nos seus olhos, vendo a excitação e o medo. — Vou te
preparar antes, Manuella e depois vai me dar tanto esse cuzinho que vai ficar
viciada igual a sua boceta.

— Ah! — Geme alto quando meto sem parar, abrindo bem suas pernas.
Os lábios esticando ao redor do meu pau e eu gemo junto em sua boca,
sentindo-a me apertar enquanto a fodo sem parar.

As mãos em meus cabelos me puxam, minhas bolas batem em sua bunda e


eu gozo tão fundo dentro dela, chamando seu nome como um mantra. Meus
músculos enrijecendo e tudo vira um caos. Tremo encostando a testa a sua.
Manuella desce se encostando ao azulejo e respira fundo.

— Posso terminar meu banho agora?

Observo em silêncio ela engolir em seco e morder o lábio.

— Onde esteve o dia inteiro? Fui na faculdade e você não estava.

— Fui passear, não estava com cabeça para mais nada. — Está sentada na
cama com as pernas dobradas, usando uma das minhas camisas, com os
cabelos soltos e ainda úmidos.

— Não faça mais isso, fiquei preocupado. — Me sento na cama e ela


assente.

Saímos do banho e o inferno de silêncio continua, parece que nada mudou


e estamos de volta a estaca zero.

— Vamos comer alguma coisa?

— Eu já comi, vou tomar um suco depois se sentir fome.

— Já marcou a consulta?

— De que? — Arqueia a sobrancelha.


Passo as mãos pelo rosto e suspirando, olhando em seus olhos.

— Manuella.

— Disse algo de errado? Se estiver falando da consulta com a obstetra,


vou marcar no hospital. Só estou esperando você criar coragem e contar ao
meu pai.

Ela ri e dá de ombros.

— Mas não se preocupe, eu te aviso quando marcar com a médica.


Podemos ver a sua agenda e se tiver um horário disponível você comparece
para ver o bebê. — Levanta-se da cama e passa por mim. — Talvez caia a
ficha que ele realmente vai nascer e você aceite de uma vez por todas.

Viro o pescoço para olhá-la parada no meio do quarto.

—Se estivéssemos nos Estados Unidos, talvez eu marcasse uma consulta


diretamente com uma clínica de...

— Não fale uma merda dessas, Manuella. — A corto de imediato e franzo


o cenho. — Não abra a sua boca para falar um achismo desse. Não imagino
que pode pensar que eu faria isso.

Seus olhos lacrimejam e ela limpa rapidamente.

— Quer me insultar? Faça. Me chame de covarde ou de qualquer merda


dessas, mas não ouse abrir sua boca para falar que eu te levaria em uma
clínica para fazer uma coisa dessas.

— Está ofendido? Mas é isso que eu sinto toda vez que me olha. —
Umedece os lábios e fecha os olhos. — Eu me sinto assim.

Sai batendo a porta atrás de si e me deixa parado no meio do quarto vazio.

Manuella
Me remexo na cama devagar, sentindo os lábios molhados em meu
pescoço e pisco, sentindo os arrepios provocados pela barba áspera. Abro
um olho, me acostumando com a claridade do quarto.

O olho por entre as pálpebras entreabertas.

Dormimos sem nos falar ontem a noite após toda a discussão. Por mais
que todo meu corpo e mente estivessem a mil por hora, o cansaço falou mais
alto e depois de tomar um suco me deitei e apaguei em seguida.

Não queria mais brigar e nem discutir.

A bandeja de café de manhã está na beira da cama e ele me encara. A


camisa branca de mangas dobradas até o antebraço colada no corpo enorme.
Está todo lindo.

Me sento devagar coçando os olhos, o fitando de cenho franzido.

— Sei que está brava comigo, minha pequena e tem todos os motivos para
isso, mas quase entrei em surto de loucura quando não te encontrei em lugar
nenhum e te vi chegar daquele modo.

Mordo o lábio inferior, vendo-o negar com a cabeça.

— Apenas a ideia de pensar em te perder me machuca. Você me disse que


não queria mais palavras e sim atitudes, então vou me esforçar para isso,
porque não é fácil, Manuella.

Sorri de lado sem humor, vejo os olhos brilharem e ele os abaixa.

— Tenho problemas com a idade, com a sua principalmente... Se prender


a mim deveria ser um fardo que não deveria carregar, mas pensar em ficar
sem você é um castigo. — Engole em seco e me encara. — Eu não queria ser
egoísta, mas quando se trata de você eu consigo ser tudo isso e mais um
pouco, e idiota também. Eu sou um idiota, Manuella, por te querer com um
desespero insano.

Passa os dedos pelos cabelos, semicerrando os olhos.


— E por estar aceitando aos poucos essa nova fase, mas isso não quer
dizer que eu não a queira.

Engulo o bolo formado na garganta, o olhando se erguer ajeitando a


camisa e os cabelos.

— Trouxe seu café da manhã, tente comer, por favor. Vou te deixar na
faculdade ou se preferir...

Continuo o olhando fixamente sem falar absolutamente nada.

— Como quiser.

Vira de costas e eu tiro o cobertor pesado, vencendo a maldita distância


quando ele me encara. O abraço pelo pescoço e enterro o rosto em seu peito,
sentindo-o afagar meus cabelos.

— Seu idiota! Você é um idiota, doutor! — Coloco a mão em seu rosto e


fecho os olhos, sentindo o beijo em minha testa. Seguro em sua camisa,
sentindo o cheiro do perfume e as mãos me agarrando forte. — Não me
deixe ir, Rocco. Não me deixe ir.

— Não deixo. Eu te quero tanto, Manuella! — Afasta meus cabelos e


segura meu rosto. — Ah, minha peste. Meu furacão em forma de gente.
Minha insanidade, minha loucura.

— Por que é tão estupido? Tão... Inferno de homem ranzinza! — Bato em


seu peito e fico na ponta dos pés para beijá-lo.

Como uma súplica e um desesperado tão parecido com o meu, ele me


agarra forte e eu arfo em sua boca, o beijando. Enfio os dedos em seus
cabelos e acaricio a barba que ele esfrega em mim.

— Vai se atrasar. — Digo contra seus lábios.

— Você acha que eu me importo?

Sorrio, ajudando-o a tirar sua camisa com a mesma rapidez que a minha é
tirada e descartada do meu corpo.
Após cairmos na cama agarrados um ao outro, desesperados de uma saudade
que nem tinha porquê sentir.

O carro estaciona e o olho assim que tiro o cinto. Estamos atrasados.


Muito. Não tivemos mais noção de nada quando caímos na cama e fizemos
amor lento e gostoso. Rocco não quer me perder e eu não quero deixá-lo.

— Mantenha esse celular ligado e não me mate de preocupação, por favor.


— Assinto.

Meu coração palpita e eu o beijo segurando em seu rosto.

— Sim, senhor. Me avise se ficar de plantão, vou almoçar com meu irmão
hoje. Vamos contar ao meu pai e resolver o que tivermos que resolver.

Rocco assente e me beija novamente.

— Vá logo ou vai se atrasar mais do que já está. Boa aula.

— Bom trabalho, doutor. — Abro a porta sentindo a mão segurar a minha.

— Te amo, peste.

Sorrio balançando a cabeça.

— Também te amo.
Ando rápido e apenas quando cruzo os portões ouço o carro dar partida.
Acho que finalmente vamos no resolver e enfrentar o que vier pela frente.
Sorrio mordendo o lábio. Sei que estou super atrasada e preciso chegar no
laboratório logo.

— Manuella. — Paro quando Davi me fita da cabeça aos pés. — Como


vai?

Me dá um beijo na bochecha e o encaro.

— Bem, mas estou super atrasada. Com licença, Davi. — Passo por ele
não querendo prolongar qualquer tipo de assunto, mas sinto apenas a mão se
fechar em meu antebraço.

— Seu titio não permite que converse comigo? Ou está realmente fugindo
de mim?

Encaro os olhos negros e me desvencilho do aperto.

— Não tenho motivos para fugir de você, Davi. Apenas quero ir para
minha aula. — Falo paciente e reviro os olhos.

Desde que soube do meu relacionamento com Rocco, sempre fica com
esse olhar acusador e piadinhas idiotas sobre a nossa diferença de idade. Faz
sempre questão de tentar me constranger em frente aos nossos colegas.

Não tivemos um envolvimento tão sério assim, nós apenas trocamos


alguns beijos e só.

— Você mudou muito depois que começou a andar com o da terceira


idade.

— Davi, me erra! Por gentileza! — Saio caminhando, o deixando plantado


no meio do jardim.

Inferno.

A aula no laboratório acabou de começar e Júlia me olha assim que me


aproximo, me sento ao seu lado e estalo um beijo em sua bochecha.
— Ao menos está sorrindo hoje. Como está?

— Estou bem, vai tudo se resolver, Juju. — Pisco mordendo o lábio.

O semblante da minha amiga suaviza e sei que está tão aliviada quanto eu.
Júlia sempre foi meu elo e meu porto seguro em todos os momentos e sei
que nesse não seria diferente.

Será sempre.

Sai da faculdade logo após o fim da última aula. Fiquei com Júlia no
intervalo, onde conversamos um pouco e contei o que aconteceu. Ela me
apoiou e disse que vai estar ao meu lado seja qual for a minha decisão.

Comemos juntas e eu insisti para que fosse comigo até a casa dos meus
pais, já que vou almoçar com meu irmão e queria sua companhia também,
mas ela disse que é um momento nosso e apenas me deixou no condomínio,
falando que vamos nos ver mais tarde.

Vou conversar com Felipe e contar da minha gravidez antes de falar aos
nossos pais.

Tiro os óculos de sol assim que entro pelos portões caminhando devagar.

— Manu, minha querida! Que saudades da minha menina. — Arlete fala


quando a abraço.
— Parece que faz anos que nos vemos.

— Mal vem aqui agora. Fiquei feliz quando ligou falando que vinha
almoçar. Fiz escondidinho de frango, do que jeito que gosta.

— Só você, Arlete. Que saudade da sua comida. Felipe chegou?

— Sim. Está na piscina com o amigo que não se desgrudam. Vai lá, vou
esquentar a comida e pôr na mesa.

Assinto, indo direto para o jardim nos fundos.

A gargalhada do irmão se torna mais alta quanto mais me aproximo de


onde está. Sorrio, vendo-o sentado na borda da piscina com as pernas
balançando dentro da água. Thiago, ao contrário do meu irmão, está com a
cabeça do lado de fora e os braços apoiados.

— Você estava com uma cara de idiota, Felipe. Rindo à toa e eu não
acreditei.

— Mentiroso, eu nem estava olhando. — Balança a cabeça rindo.

Só então percebe minha presença e ele me encara, levantando-se de


repente.

— Manu! — O abraço. — Lembrou que tem irmão?

— Sentiu saudades, fedelho? — Seguro em sua mão quando ele volta a


me abraçar.

Observo Thiago sair da piscina meio sem jeito e o encaro. Eles têm a
mesma idade e são melhores amigos, inseparáveis.

— Como vai, Thiago?

— Bem, e você?

— Ótima.
Os dois se olham e eu os encaro.

— Eu... Eu já vou. — Segura a toalha no pescoço.

— Almoça com a gente, Thiago.

Felipe me olha e sorri, voltando a encarar o amigo.

— É, almoça com a gente.

— Tá bom. — Concorda sem jeito.

Mordo o lábio e volto a abraçar meu irmão, o beijando na bochecha.

— Está lindo! Vamos?

— Está diferente ou é impressão minha? — Repara assim que enlaço seu


pescoço e vamos caminhando para dentro de casa.

— Você faz perguntas demais, irmãozinho. — Bagunço seus cabelos,


vendo Thiago sorrir nos olhando. — Vamos almoçar.
Manuella

— Nossa que delícia, Arlete! — Gemo de olhos fechados. — Que


saudade da sua comida! Isso aqui está perfeito, mulher!
— Ah! Que bom que gostou minha menina. Vou pegar a sobremesa.
— Estava trancada no porão ou estava presa? Comeu como se não
houvesse comida no apartamento do Rocco. — Felipe ri e eu mostro a língua
brincando.
— Não igual a comida da Arlete, seu bobo. — Beberico o suco.
Preferimos vir almoçar na mesa do jardim, o dia está muito lindo para
ficarmos na sala de jantar dentro de casa e a mesa é enorme apenas para nós
três. Thiago está ao lado de Felipe, que se encontra a minha frente.
— Estão no vôlei ainda, né? — Os dois me encaram.
— Sim, três vezes por semana. — Meu irmão responde.
Assinto levemente.
Thiago e ele têm a mesma idade e são inseparáveis. Os cabelos negros,
assim como os olhos dele me encaram e eu sorrio. Ele é gentil e parece um
pouco tímido, assim como Felipe sempre foi. Às vezes.
— Achei que Júlia viria com você hoje. — Felipe mexe no prato e nego.
— Ela vem outro dia. — Suspiro, me servindo mais suco de laranja. —
Mas... Me falem, como estão? Parecem tímidos comigo ou é impressão
minha?
Os dois se olham e Thiago ri para o meu irmão.
— Estamos bem. Felipe que está calado, ele normalmente fala pelos
cotovelos.
— Estamos falando, não? — Passa os dedos pelos cabelos e franze o
cenho assim como papai faz. — Manuella que fala mais que todos nós
juntos.
— Às vezes você também faz isso quando está nervoso.
— Eu? — Felipe o encara rindo. — Você que as vezes fica calado demais
e eu tenho que puxar o assunto.
— Porque gosto você quando fala.
Olho de um para o outro sobra a borda do copo.
Felipe enrubesce e seu rosto toma uma tonalidade vermelha que me faz
sorrir. Thiago balança a cabeça e deposito o copo na mesa devagar quando
Arlete se aproxima segurando a taça com a sobremesa.
— Temos companhia. Seus pais chegaram agora, junto com a dona Natália
e o senhor Rocco. — Ajeita a mesa e olhamos para trás quando os quatro se
aproximam.
— Só assim para ver a minha princesa. — Papai vem logo a frente e abre
os braços assim que se aproxima, então eu levanto e o abraço. — Que
saudade da minha pequena.
— Estive aqui há quatro dias, papai. Exagerado.
— Lembrou dos pais e do irmão? — Mamãe me abraça e eu a beijo.
— Fugiram do hospital? — Pergunto os encarando e Rocco vem logo
atrás, segura em minha mão, me puxa e deposita um beijo em minha testa.
— Como está?
— Bem. — Espalmo a mão em seu peito.
— Saudades da comida da Arlete. — Tia Natália se senta. — O cheiro está
perfeito.
— Aproveitamos, já que ficamos sabendo que estava aqui em casa. —
Papai se senta sorrindo e olha para Thiago e Felipe. — Como vão os dois?
— Bem. — Respondem em uníssono.
Nos sentamos
— Meu bebê. — Mamãe se aproxima do meu irmão e o beija. — Já
comeram?
— Bebê não, mãe. — Felipe diz sério, nos fazendo ri ao mesmo tempo.
— Aposto que a mãe do Thiago faz a mesma coisa com ele. — Mamãe
segura em sua bochecha e o beija. — Sempre vai ser o bebê da mamãe.
— É o poder de toda mãe constranger. Pense pelo lado positivo, filho não
é na frente das namoradas.
Encaro Felipe e ele abaixa os olhos e Thiago sorri assentindo.
Rocco me encara, aperta meus dedos devagar e leva até a boca, os
beijando. É impossível não sorrir quando meu pai franze o nariz o olhando.
Mesmo tendo e levado nosso relacionamento numa boa, ainda tem crises de
ciúmes e raiva.
O que é normal, já que é "coisa de pai", como ele diz.
— Vai ter plantão, hoje? — Rocco nega.
— Não, só se John decidir me deixar de castigo.
— Eu adoraria te deixar trabalhando de dia e de noite só para se ocupar.
— Papai o encara e eu sorrio. — E parar de estar monopolizando o meu
bebê.
— Está um pouco pálida ou é impressão minha, Manuella? — Mamãe me
olha depositando a taça na mesa.
Pisco devagar rindo e Rocco se ajeita desconfortável.
— Também estou achando, será que está com anemia? — Tia Natália
completa.
— Acho que estou tomando pouco sol. — Desconverso, engolindo em
seco.
— Os exames estão todos em dia. Em falar nisso, não esqueça de ir fazer
o resto dos exames para colocar o chip.
Sinto um frio na espinha quanto assinto.
— Claro, vou sim. Só as coisas da faculdade que estão me deixando...
Sobrecarregada.
Mordo o lábio e olho para Rocco com o braço descansando na cadeira,
sério e completamento calado. Talvez esse fosse o melhor momento para
contar de uma vez por todas.
— Descanse o máximo que conseguir, os estágios começam na próxima
semana, não é?
— Sim. — Olho para o meu pai e ele segura meu queixo rindo.
— Espero que esteja cuidando muito bem da minha princesa, sabe que
esse pico de intensidade da faculdade e dos estágios nos deixam
sobrecarregados, Rocco.
— Me lembrou de quando estava grávida da Manuella, o nervoso e a
carga que passei. Deus! — Mamãe suspira e ri. — Tive que trancar a
faculdade ou ia enlouquecer.
— Lembro como se fosse hoje a Fernanda desesperada para dar conta de
tudo. — Tia Natália balança a cabeça.
Umedeço os lábios que parecem ter ficado ressecados de repente.
— Vou ao banheiro, com licença. — Rocco afasta a cadeira e se retira, eu
sequer consigo olhar em sua direção.
Agradeço em silêncio por entrarem em um assunto qualquer e mordo o
lábio, sentindo o olhar de Felipe preso ao meu quando ergo o rosto. Seu
cenho está franzido e um pouco sério.

Ficamos conversando enquanto meus pais almoçam e o assunto não


poderia ser outro além de trabalho. A transferência da nova pediatra é uma
delas. Será mais uma profissional excelentes passando pelo hospital.
— Vão fazer algo para recebê-la aqui? Um jantar de boas-vindas?
Papai balança a perna cruzada e encara mamãe que pisca repetidamente.
Estou sentada no braço da poltrona onde Rocco está sentado.
— É o que fazemos, não é?
— Qual o nome dela mesmo? Não percebi vocês falando.
— Estou indo deixar o Thiago em casa, tenho que pegar meus cadernos
que ficaram lá. — Felipe desce as escadas. — Temos um trabalho da escola,
eu volto logo.
— Tá bom, filhote.
— Venha mais vezes, Thiago. — Papai o encara e ele sorri.
— Pode deixar, até mais. Até logo, Manu.
— Até mais, Thiago. — Aceno, vendo-os saírem lado a lado.
— Está tudo bem, Rocco? — Mamãe pergunta e ele assente, dando um
suspiro. — Está calado.
— Uma dor de cabeça, apenas. — Diz baixo e segura em minha mão,
passando o polegar devagar.
Eles vão voltar para o hospital em seguida, só pararam para almoçar. O
movimento pós almoço voltou com tudo por lá.
— Está tudo bem mesmo? Estou te achando tão diferente. — Papai afaga
meu rosto e eu sorrio quando ficamos apenas nós dois na sala.
— Estou, papai. É só o cansaço. — O abraço e enterro o rosto em seu
peito, sentindo-o me apertar e pousar o queixo na minha cabeça.
O cheiro do seu perfume me invade e eu fecho os olhos.
— Está se alimentando bem? Manuella, não quero te ver doente nem com
alguma fraqueza por conta da faculdade ou má alimentação. Arlete pode ir
fazer as comidas no apartamento.
Franzo o cenho e ergo o rosto.
Você vai ser vovô.
— Estou bem. — Ele segura em meu queixo e passa o polegar por minha
bochecha. — Te amo.
— Não mais do que eu, minha princesa. Papai está aqui para tudo, ouviu?
— Diz sério e ri. — E eu odeio o fato de saber que tenho que dividir você
com esse idiota.
— Olha o estresse, John. Faz mal para o coração. — Ri, colocando os
óculos de sol. — Sua sorte é que seu genro e um excelente cardiologista.
Me abraça e meu pai fecha o semblante o olhando.
— Preferia não ter um genro.
— Supere, meu sogro. — Rocco brinca, enlaça minha cintura e beija o
topo da minha cabeça.
— Sai da minha casa. — Papai fala sério, o fuzilando com o olhar. —
Idiota.
Ele me dá um beijo e se afasta. Vejo Rocco me olhar com o cenho
franzido.
— Em casa conversamos?
Apenas aceno quando sinto o beijo rápido em meus lábios e continuo de
braços cruzados, o olhando se afastar e falar algo com meu pai que já está
entrando no carro. Tia Natália foi na frente por causa de uma emergência
notificada.
Mamãe se aproxima segurando a bolsa no antebraço e me abraça, beija
minha testa e ajeita meus cabelos com a mão livre.
— Te amo. Juízo e não esqueça de realizar os exames antes de sua
menstruação descer.
A olho e assinto sem saber ao certo o que falar.
— Te amamos muito. Beijos.
— Também te amo. — Sorrio, vendo-a entrar no carro junto com meu pai
e saírem logo após Rocco dar partida.
Cruzo os braços vendo Felipe subir os degraus me olhando com o cenho
franzido. Me sento no sofá mordendo o canto do lábio e ele faz o mesmo
quando se senta ao meu lado.
Observo os cabelos cor de mel mais escuros que os meus.
— O que foi? Está se sentindo bem?
Seguro em sua mão, apertando-a entre as minhas e sorrio de lado. Aperto
firmemente os dedos, tomando um pouco da coragem que parece me faltar.
— Manu?
— Estou grávida, Felipe.

Rocco

— Vou pedir um ecocardiograma, senhor Walter. Deu umas alterações


no holter. A presença de uma arritmia e um bloqueio cardíaco.
— Coração velho sempre dá esses problemas, não é novidade.
— Vou pedir apenas por garantia, o senhor vai fazer o eco e assim que
estiver pronto, trás para mim que vou analisar e vamos seguir o melhor
tratamento possível. — Ele balança a cabeça impaciente. — Pense que é a
melhor solução tratar o mais cedo possível.
— Estou vendo. — Resmunga e eu sorrio, entregando a prancheta para a
enfermeira.
— A radiografia da senhora Ferreira já está em sua sala, doutor
Maldonado.
— Já estou indo olhar, Eliza. Obrigado. — Assino a alta do paciente e saio
da sala.
Enfio as mãos nos bolsos, passando pelo longo corredor do hospital. A
movimentação começando a ficar intensa na urgência. John está em
atendimento desde que chegou do almoço e foi ideia dele ir até em casa.
Acho que o instinto de pai está gritando em seu interior. Foi apenas
descermos estacionando no hospital que me perguntou.
— Certeza de que a Manuella está bem? Achei ela tão estranha e a
Fernanda também achou.
Passo as mãos pelos cabelos.
— Vocês estão bem? Está acontecendo alguma coisa, Rocco?
— Estamos bem. — Paro a sua frente, vendo-o me encarar fixamente.
Os olhos azuis estão fixos aos meus.
— Você tem uma promessa que fez questão de fazer quando assumiu sua
relação com minha filha, mesmo contra minha vontade.
— Eu sei John.
— Não quero nada atrapalhando os estudos e a vida de Manuella. Você fez
questão de prometer isso e eu espero que você cumpra. — Cerra o maxilar,
estalando a língua em seguida. — Vocês decidiram morar juntos e eu aceitei,
mas ela tem apenas vinte e dois anos, antes de ser sua mulher, ela é minha
filha. Se tiver qualquer problema eu não quero ficar de fora, entendeu?
— Claro, eu sei exatamente o que está falando.
Sua filha está grávida, porra.
Ele passa os dedos pelos cabelos, assentindo.
— Cuide bem dela, entreguei um dos meus tesouros em suas mãos e não
vou te perdoar se machucar ela. Estamos, entendidos?
— Antes de ser pai da mulher que eu amo, você é meu melhor amigo.
Temos total liberdades para conversar e nós precisamos.
— Tem razão, precisamos conversar e não pode passar de hoje.
Infelizmente nossa conversa foi interrompida por uma emergência que
John precisou ir às pressas para a sala de cirurgia e eu não ia sair desse
hospital sem ter uma conversa franca e transparente com ele.
Vou falar sozinho com ele e Fernanda sobre a gravidez de Manuella,
mesmo sabendo o quão importante seria ela estar aqui. Mas já está tão
sobrecarregada e estressada com tudo, comigo principalmente.
Vou para uma das salas de descanso assim que ouço o celular vibrar.
Minha mãe.
Me sento na poltrona deslizando a tela colocando sobre o ouvido.
— Mãe? Como estão a coisas aí?
— Que saudades, filho. Tudo ótimo e por aí? Está tudo bem?
Coloco o estetoscópio no pescoço e saio da emergência razoavelmente
controlada no momento. Foi uma tarde bem mais agitada que as outras.
Pouco mais de oito horas de noite, mandei uma mensagem para Manuella
que já está em casa.
Fernanda vem andando no corredor e eu suspiro com a mão no pescoço.
Ela passa a mão no rosto e me encara balançando a cabeça.
— Parto difícil? — Ela sorri de lado.
— Um parto lindo de gêmeos. — Seus olhos brilham. — Incrível o quanto
parece ser o primeiro de vários que já tive o prazer de trazer ao mundo.
Sempre me deixam de coração transbordando.
— Imagino. — Solto um pigarro, andando ao seu lado e passando os
dedos pela ponte do nariz. — John está na sala de reunião?
— Ele quer conversar com você. Queremos, na verdade. — Aperto o
botão do elevador e entramos.
Vamos direto para a sala de reunião onde John já nos espera. Ele está de
pé na ponta da mesa e Fernanda se senta ao seu lado enquanto eu puxo a
cadeira a sua frente.
Está sério e apoia as mãos na mesa de vidro, me encarando.
— Enrolei ao máximo e não faço ideia do porquê estava tão ressentido em
te contar, mas talvez eu saiba. — Começa e eu não consigo entender qual
assunto o deixa tão nervoso dessa forma. — Antes de ser seu melhor amigo,
agora me tornei seu sogro e isso não me agrada em absolutamente nada.
Sorrio.
— John. — Fernanda o olha.
— Fiz contato com o hospital de Washington para uma transferência da
nova pediatra. Estava tudo planejado para ela vir, mas ouve um problema e
foi me enviado outra proposta que aceitei por ser uma indicação de um
amigo e profissional exemplar.
— Não estou entendendo. Onde quer chegar com isso, John? — Olho
entre ele e Fernanda.
— Não foi proposital, eu não imaginava até receber o nome da médica. —
Ajeita a manga da camisa.
— Estamos com receio, mas espero que não faça diferença...
As batidas leves na porta o fazem olhar de imediato e Fernanda se ergue,
indo atender.
Levanto quando os saltos ecoam e os olhos fixos aos meus me fazem
franzir o cenho incrédulo.
O sorriso largo me faz olhá-la e eu sorrio sem acreditar.
— Alisson?
Rocco

Um misto de confusão e surpresa me toma de imediato.


Faz quase dois anos desde a última vez que nos vimos.
Engulo em seco e balanço a cabeça vendo-a me encarar enquanto anda
calmamente.
— Eu peço desculpas, cheguei adiantada? — Olha entre John e
Fernanda.
— Bem na hora.
— Meu Deus. — Sorrio e dou a volta na mesa para abraçá-la. — Como?
Você e... — Paro e ela me olha da forma que sempre fazia.
Está diferente mas ao mesmo tempo ainda é a mesma Alisson de sorriso
largo e doce que sempre mantinha no rosto. Está muito bonita.
— Sou eu. Quanto tempo! Você ainda é... Você. — Ri e franze o cenho,
umedecendo os lábios. — Que felicidade te ver.
— É um prazer te ter aqui oficialmente, Alisson. Nos perdoe pelo
horário, mas tive que receber a documentação do antigo hospital onde você
estava trabalhando. — John estende a mão e ela o cumprimenta.
— O prazer continua sendo meu, estou imensamente feliz por fazer parte
da equipe.
Fernanda sorri, a cumprimentando educadamente e agora eu entendo o
porquê pareciam tão nervosos e apreensivos com a contratação da nova
pediatra. Tenho tantas perguntas, mas isso sequer chegou a passar por minha
mente.
Alisson era chefe da pediatria no hospital de Seattle e agora deveria estar
em Washington ou... Eu não faço ideia do que está acontecendo.
— Nós daremos um jantar de boas-vindas no próximo final de semana na
nossa casa. Seremos uma equipe, então nada melhor do que um jantar de
recepção.
— Me sinto lisonjeada, muito obrigada. — Os olhos brilham e se fixam
aos meus por uns segundos.
Estou completamente surpreso com a sua contratação. Ela é uma exímia
profissional e com certeza não esperaria menos que uma indicação do diretor
geral do hospital.
— Oficialmente você começa na semana que vem. A ala pediátrica será
sua nova casa por enquanto.
— Já me sinto em casa. — Segura a mão de John novamente e logo em
seguida a de Fernanda. — Darei o meu melhor como profissional e como
pessoa para contribuir com a grande equipe do San Vinlage Monteiro.
— Bem-vinda a nossa família, doutora Alisson.

Encaro John assim que saímos da sala de reunião, pouco mais de 21h.
Fernanda e Alisson saíram na frente.
— Por que não me contou antes? —Olho-o tirar o jaleco. — Eu Alisson
não temos problema algum, nosso término foi em comum acordo e nos
damos melhor do que pensamos que nos daríamos.
— Você viu a forma como ela te olhou? Essa mulher ainda te ama,
Rocco. — Diz sério e eu franzo o cenho. — Infelizmente quando soube que
a médica contratada era sua ex esposa, não pude mais voltar atrás, já que
seria muito antiético da minha parte.
— Jhonatan...
— Sei que somos adultos e responsáveis, mas você passou dez anos
casado com ela e é nítido que Alisson ainda tem sentimentos por você. Esse
foi um dos motivos de eu não ter te falado antes. — Balanço a cabeça. —
Espero do fundo do meu coração que...
— Parece que não me conhece há mais de vinte anos, John. Meu
casamento com Alisson acabou e agora somos bons amigos, nada mais.
— Eu espero que realmente seja só isso. Converse com a Manuella sobre
essa transferência, não deixe ela ser pega de surpresa sobre a identidade da
Alisson. — Bate em meu ombro e eu assinto.
— Não vejo motivos para esconder isso dela. — Falo firme e ele sorri de
lado.
— Espero.
Conheço meu melhor amigo muito bem para saber o quanto deve estar
preocupado com essa transferência de Alison para cá, o que não tem
cabimento algum esse sentimento.
Mesmo tendo sido um término em acordo comum, pelo fim ter sido um
pouco conturbado já que partiu dela o primeiro passo para o divórcio, agora
somos amigos, apenas.
Tenho um carinho e admiração imensa por ela, por tudo que fez por mim
em meus piores momentos e pelos incríveis dez anos que passamos juntos.
Infelizmente, não fui capaz de fazê-la feliz como ela merecia, de não ter
dado tudo de mim como ela fez, mas é um ciclo encerrado e já não existe
mais nada, a não ser um grande respeito e carinho.
Alisson surge no corredor quando saio da minha sala após pegar uns
exames, me encara por alguns segundos antes de parar a minha frente.
— Era a última pessoa que pensou em encontrar aqui, não é? — Balança
a cabeça, segurando a bolsa no antebraço.
— Sem sombra de dúvidas. — Sorrio. — Você sempre foi surpreendente.
— Um desafio que precisei enfrentar. Você está tão diferente. — Aponta
com a mão.
— Posso dizer o mesmo. Onde está morando? Quando chegou?
— Faz menos de cinco dias. Estou morando aqui ao lado, o hospital está
custeando tudo. — Me explica enquanto andamos lado a lado e entramos no
elevador. — Apenas até eu me estabilizar, nunca imaginei mudar de país
assim, mas confesso que ter sido casada com um brasileiro facilitou o
português.
— Que está perfeito, diga-se de passagem. — Ela me olha atentamente.
— Vamos tomar um café? Tenho tantas perguntas.
— Claro, vamos. Não vou te atrapalhar?
— Não, a lanchonete do hospital é aberta a noite inteira. Vamos.
Alisson é apenas dois anos mais nova que eu, mas nunca perdeu a
essência jovial que a rodeia.
Seguimos para a lanchonete, onde nos sentamos na mesa reservada do
canto, com ela a minha frente e eu me acomodo.
— Mariane me aconselhou a vir. Eu queria ter te ligado e falado que
estava vindo ao Brasil, e iria fazer... Mas jamais pensei que viria trabalhar no
mesmo hospital que você, te juro que não pensei em tamanha coincidência.
— Leva a xícara de café aos lábios. — Quando cheguei aqui, lembrei do
sobrenome do seu amigo e ele aparentemente soube do meu também... Foi
uma surpresa e tanto para nós dois.
— Eu imagino que tenha sido. A decisão de vir para cá foi repentina e
decisiva também, você sempre soube da minha amizade com John.
— Ah, como esquecer do amigo que sempre falou com tanto carinho?
Ele tem uma família linda, a esposa e... — Suspira me olhando. — Tem um
carinho enorme por você pelo modo que fala.
Um estalo vem em minha mente e a olho.
— E o seu filho? A última vez que nos falamos você me disse estar...
Grávida.
Seu sorriso se alarga de imediato. Realmente a maternidade caiu bem.
— Minha mãe veio comigo e está cuidando dele. Foi a decisão mais
linda que já tomei em toda minha vida, Rocco. — Morde o lábio e suspira,
eu sorrio e engulo em seco. — A melhor de todas elas.
As incontáveis brigas que tínhamos de repente me tomam e eu baixo os
olhos, focando na fumaça fumegante do café.
— Esperar o que Rocco? Há quantos anos estamos insistindo no mesmo
assunto com você esperando o melhor momento? Quando vai ser o melhor
momento!?
Ergo os olhos. As lágrimas descem por seu rosto e ela as limpa com as
costas das mãos.
— Eu não estipulei uma data para ter filhos, Alisson! A rotina no
hospital está um inferno e minha cabeça está uma confusão! Não vê que um
filho agora seria...
— Uma perda de tempo? Você vê o quanto prioriza tudo, menos o que é
importante de verdade!? Menos a sua vida pessoal.
Abro os olhos e volto a fitá-la.
— Queria que o conhecesse. — A voz doce dela me faz assentir. — Seu
medo de crianças já passou? Ou ainda as teme?
O tom sai em modo divertido e isso me dá um desconforto imenso.
— Desculpe.
— Não precisa se desculpar. Vou adorar conhecer seu filho.
— Mariane me contou que está com uma pessoa, mas não me deu muitos
detalhes e não procurei saber. Está namorando?
Tomo um gole do café e deposito a xícara devagar.
— Estamos juntos desde que cheguei ao Brasil. — Me adianto, vendo a
surpresa em seus olhos. — Estamos morando juntos.
Alisson abre a boca, então torna a fechar e ri assentindo.
— Uau!
— Manuella é filha do John e da Fernanda.
Seus olhos se arregalam de imediato e ela desequilibra a xícara e a
seguro junto com ela. É óbvio que seria um choque imenso.
Lembro de uma época que cheguei a mostrar uma foto de Manuella junto
de John. Alisson pisca diversas vezes.
— Isso me pegou de surpresa. E-eu fico muito feliz por você e... Quantos
anos ela tem? — Volta a beber o café.
— Vinte e dois anos. É chocante, acredite. Até eu aceitar foi complicado.
— Eu imagino. Uma menina. — Sorri sem jeito e percebendo, se corrige.
— Pela idade, mas deve ser uma mulher incrível. Desculpe, não estava
esperando por isso.
— Não se desculpe. E você? Como está? Se casou novamente?
— Não, não penso nisso. Não sei se estou pronta para tal coisa. — Fala
sem jeito. — Ela trabalha aqui? A sua namorada.
— Manuella está na faculdade, mas logo vai começar a estagiar aqui
também.
— Ah! Faculdade. — Ri, passando a língua pelos lábios. — Você está
me surpreendendo muito. Tem mais surpresas, Rocco Maldonado?
Sorrio e me ajeito a cadeira, apoiando uma perna na outra. Nego sob seu
olhar curioso e com toda deve mesmo ser um choque e tanto.
Mas com toda certeza não será o maior.
— Bem-vinda ao Brasil, Alisson. Sabe que pode contar comigo para o
que precisar.
— Digo o mesmo. — Seus olhos brilham de repente e ela pisca devagar
enquanto me levanto.
— Boa noite.
— Até mais, Rocco. É um prazer estar aqui e saber que posso contar com
você.
Levanta também e eu a abraço gentilmente, me despedindo e então saio
em passos largos em silêncio.

Manuella

Fecho o notebook e os cadernos e coloco dentro da bolsa. Tivemos um


trabalho de epidemiologia, onde precisei estudar por quase toda a
madrugada.
Meu estômago está revirando, acordei enjoada e com um gosto terrível na
boca.
Júlia se aproxima e me entrega um copo com água de coco.
— Orgulho de você que mesmo passando mal se manteve firme. Bebe
tudo.
— Precisávamos fazer isso. — Sorvo um gole e rio.
— Já marcou a consulta com a obstetra? Precisamos saber como está o
bebê e você também. Fazer exames...
— Vou marcar. Se eu for no hospital, mamãe e papai vão saber de cara.
— Desenho no suor do copo. — E dona Fernanda vai surtar.
Júlia morde o lábio.
— E o Rocco, já reagiu? Você não vai esconder essa gravidez para
sempre, Manu. A barriga vai começar a crescer.
— Eu sei. — Coloco as mãos no rosto e suspiro. — Vamos contar. Só
não é fácil, entende?
— Eu sei, Ma... Mas precisa contar. Até para começar o pré natal logo.
Passo a língua pelos lábios e assinto.
A noite anterior foi mais tranquila. Ele não estava de plantão e chegou
mais tarde um pouco. Jantamos juntos e ele me ajudou a estudar para o
trabalho, estava mais leve do que parece normalmente. Me trouxe para a aula
e depois foi para o hospital. Meu carro já está pronto mas mesmo assim ele
insiste para me levar e buscar após as aulas.
— Vamos contar. — Repito e sorri quando sinto sua mão afagar meus
cabelos.
As aulas terminaram e finalmente posso ir para casa comer algo e tentar
dormir por algumas horas, mesmo sabendo que vou ter que estudar mais um
pouco.
Ficamos com alguns colegas na parte de fora depois que mandei uma
mensagem para Rocco avisando que já estou esperando.
— M&M, olha o que trouxe para você. — Olho para o lado quando
Thales estende um brigadeiro em minha direção.
— Ah, Thales, que fofo. — Pego o doce na mão. — Meu preferido,
obrigada!
As meninas saem e fica apenas nós três.
— Para não passar vontade. — Beija minha bochecha e depois ele e Júlia
se encaram. — Se você fosse mais amável comigo eu traria um pra você
também, Juju.
— Prefiro comer sabão. — Revira os olhos.
— Você é tão amarga, Ana Júlia. Fere meu coração desse jeito.
— Você não tem coração, Thales. Você é um estrupício.
Coloco a mão na boca rindo e mordo o doce.
— Que delícia.
— Eu tenho um coração sim e é muito grande, igual o meu...
— Thales! — Grito, o batendo. — Seu idiota!
Gargalho alto, vendo Júlia o olhar irritada.
— SEU IMUNDO! — Júlia franze o nariz. — Sai daqui por que não te
chamamos na conversa, animal! Você é tão cretino, Thales. Seu porco!
— Eu vim por causa da Manu, ela também é minha amiga! — Passa o
braço ao redor do meu pescoço e me dá um beijo na bochecha. — Fala para
ela que se não fosse o velhote estaríamos juntos e casados M&M.
Júlia arregala os olhos.
— Mas a Manuzita preferiu o mingau de aveia e trocou o mucilon viril e
gostoso.
— Sério? Não me diga. — A voz grossa e raivoso soa atrás de nós e eu
fecho os olhos.
Thales se vira devagar e Júlia coloca a mão na testa, suspirando.
— Seu imbecil! — Ouço-a dizer entre dentes.
Olho para trás e vejo Rocco parado a poucos centímetros de nós com a
cara fechada e o maxilar cerrado enquanto tira os óculos escuros.
— Podem continuar, eu estava achando interessante a conversa.
— E aí? Beleza? — Thales cumprimenta rindo e Rocco o encara sério.
— Nós já vamos. — Júlia o puxa com força e me olha. — Qualquer
coisa me liga, beijo.
— Beijo.
— Tchau M&M. — Thales me beija na bochecha, olhando Rocco. —
Cuide bem dela em.
— Tchau, Thales. — Murmuro, vendo-o ser arrastado pela camisa por
Júlia.
Engulo em seco e me viro de frente, vendo-o me encarar de braços
cruzados, com as sobrancelhas arqueadas e o maxilar cerrado.
Está puto.

Entramos em caso e todo o trajeto é feito em total silêncio. Assim que


entro em casa jogo a bolsa no sofá e o olho tirar os sapatos, a camisa e ir
para a cozinha, onde abre a geladeira e pega a garrafa de água, sorve um
gole e eu continuo observando suas costas largas e os músculos bem
definidos. As tatuagens na costela e no braço deixando-o tão gostoso e
grande... Tinha uma bunda incrível e bem redondinha.
— Vai ficar emburrado por causa de uma brincadeira do Thales, é sério?
— Jogo os braços para o alto, parando perto da ilha. — Você sabe que ele
tem essas brincadeiras idiotas e não tem o menor interesse em mim.
Rocco vira devagar e coloca o copo com um pouco mais de força na
pedra.
— Somos amigos desde muitos anos.
— Todos os seus amigos te beijam, Manuella?
— Ele me deu um beijo na bochecha, meu Deus! Thales é como um
irmão para mim!
Ele ri de um jeito frio e debochado, então fica sério em questão de
segundos e me encara fixamente.
— Você já transou com ele, se tem uma coisa que você e ele não são...
— Modo de dizer! — Balanço a cabeça e é minha vez de rir. — Você
está com ciúme desnecessário.
Suspiro incrédula, cruzando os braços.
— Não seja tão ranzinza e mal-humorado, Rocco.
Ela vai para o quarto e eu rio em suas costas. Está com raiva.
Tira a calça, fica apenas com a boxer preta e eu o observo em silêncio.
— Vai me ignorar agora? — Me aproximo e paro na sua frente, seus
olhos se fixam aos meus. — Sério?
— O que é, Manuella?
— Não fique assim. — Desço os dedos pelo peito e mordo o lábio. —
Faz mal para o seu cora...
As palavras morrem na garganta quando sinto a mão grande em meu
pescoço me empurrando na parede. Nada que me tire o ar, mas me deixa
desnorteada por uns segundos.
Seu corpo cobre o meu em questão de segundos e o nariz quase
esfregando ao meu.
O corpo me encurrala e seus olhos fixos aos meus.
— Fale, Manuella. — Pede baixo e eu sorrio, sentindo o aperto se tornar
mais firme.
— Faz mal para o... Seu coração.
— Sabe o que faz mal para o meu coração, sua demônia?
Engulo em seco, sentindo os olhos queimando feito brasa, assim como
todo seu corpo parece queimar. Seus dedos firmam em minha garganta e eu
tremo por dentro. O olhar bravo, raivoso, ciumento e possessivo.
Amo provocar ele.
— Saber que ele tocou em você. — A mão direita continua fixa em
minha garganta. — Que ele teve a audácia de encostar em você. Minha
vontade era de socar ele, Manuella.
Abro a boca mas torno a fechar quando o aperto intensifica.
— Não quero te ver perto desse moleque, nem de qualquer outro naquela
maldita faculdade. Você entendeu, CARALHO?
O olho com as sobrancelhas arqueadas e mordo o lábio devagar.
— Se eu souber que deixou qualquer outro homem tocar em você, te
beijar, te abraçar... Eu não me responsabilizo por meus atos, Manuella.
Sorrio devagar e toco em seu rosto, acariciando sua barba e o maxilar
cerrado, então seguro no punho, sentindo a mão ainda em meu pescoço. O
corpo cobre o meu, não está sendo delicado em esfregar o quadril, me
mostrando a intensidade e o quanto está duro.
— Pois trate de ficar bem calminho. Você não manda em mim, doutor e
eu não sou sua propriedade. — Ergo o queixo, sentindo os olhos me
fulminar. — Me ame em atitudes, não em palavras.
— Manuella. — O homem rosna em meu ouvido e eu engulo em seco.
— Acha que eu tenho medo de você?
— Deveria. — Ofega e eu puxo o ar.
— Me mostre porque eu deveria temer você.
Manuella

— O jeito que brinca com fogo, Manuella... — Raspa a barba em meu


pescoço, me fazendo sentir os pelos ásperos arranhando e eu gemo e rio
sentindo a respiração em meu ouvido. — Sabe as consequências disso, não
sabe?

— Talvez eu goste de me queimar. — Arfo e arqueio a sobrancelha.

— Gosta, Manuella?

O fato de sempre falar meu nome nesse tom faz um arrepio passar por
minhas entranhas e gemo descontrolada quando me beija. Sinto os dedos no
meu pescoço intensificar para eu não me mexer, só para lamber, chupar e
mordiscar meus lábios do jeito que quer.

O peito musculoso esmaga meus seios e sinto o pau duro em meu ventre,
me fazendo gemer e o agarrar, me dando por inteira. O olhar se torna mau
quando para o beijo para me encarar e o fito segurar em meu queixo,
arqueando meu pescoço sem tirar a mão do mesmo.

— A vontade de surrar você, de te comer com tanto ódio que não consiga
andar e nem deixar de me sentir em cada passo que der é enorme. — A voz é
raivosa e profunda. A corrente do tesão, da adrenalina e do desejo correm
por minhas veias como brasa. — Tem noção do que sinto vontade de fazer
com você, Manuella?

Seu olhar me queima bravo e possessivo e eu arquejo trêmula.


— De te arregaçar, garota! De meter tanto nessa bocetinha que não vai
saber onde ela começa e onde termina. — A mão direita continua em meu
pescoço, me prendendo e a direita desce por meu colo sem qualquer
delicadeza.

Sinto o polegar roçar no bico intumescido sob o tecido da blusa, ele aperta
entre o polegar e o indicador.

Em questão de segundos a peça é retirada do meu corpo, fazendo os seios


saltarem. Rocco desce o olhar cru, se abaixa e tira minha calça com pressa.
A peça passa por minhas pernas junto com a pequena calcinha cor de rosa,
sendo descartada e eu o encaro engolindo em seco.

— Gosta de brincar com fogo, Manuella? — Sua mão sobe por minha
coxa e eu solto o ar preso. — Responda, peste.

Estou tão concentrada no toque que mal consigo raciocinar.

Não foi difícil deslizar o dedo que brincava no meio dos lábios vaginais
para dentro de mim e meus músculos se fecham de imediato ao redor, o
sugando para dentro.

— RESPONDA, CARALHO!

Arquejo quando ele ergue uma de minhas pernas e coloca em seu ombro,
me segurando trêmula. Rocco mete o dedo bem fundo e tira quase todo,
apenas para enfiar novamente.

— Ah! Inferno.

— Que boceta gulosa, Manuella. Está vendo como te deixo? Como seu
corpo reage ao meu? — Olha em meus olhos fixamente, metendo o dedo do
meio e deixando a mão bem espalmada. Está todo dentro. — Porque a sua
boceta é minha. Seu corpo é meu!

— Ah, porra! — Seguro em seus cabelos, vendo-o sorrir e tirar o dedo,


apenas para colocá-lo mais fundo.
É meu martírio. Eu não aguento e tremo desesperada, abrindo mais ainda
as pernas.

— Só eu posso comer essa boceta e só eu te faço gozar. VOCÊ


ENTENDEU, MANUELLA? — A voz sai brava e eu arfo, o encarando. —
Quero que diga se entendeu.

— Entendi. — Sorrio, sentindo o tremor por meu corpo. — Só que não te


obedeço, doutor. Nem cama e muito menos fora dela!

Posso ver a faísca em seus olhos e o maxilar cerrado quando ele se ergue
como um felino prestes a atacar a presa. Eu sou a presa. Me mantém presa
novamente, com as mãos firmes em meus quadris e me faz virar de costas
em um único movimento.

Me faz apoiar as mãos espalmadas nas paredes e abre minhas pernas com
as suas.

— Vamos ver se me obedece agora. — Sobressalto ao sentir o tapa em


minha bunda.

Ardeu.

— Que filho da puta! — Disparo, vendo o sorriso tomar seu rosto.

O olho por cima do ombro, sério e compenetrado quando acerta outro


tapa.

— Vou te deixar toda marcada, só para saber a quem você pertence. Te


lamber... — Afasta meus cabelos e o enrola no pulso, fazendo meu pescoço
arquear. — Te morder... Te chupar... Aí quem sabe você aprenda a lição.

Mordo o lábio, sentindo-o segurar meu rosto e virar, capturando minha


boca em um beijo profundo e faminto. Um calor se espalha por meu corpo e
suas mãos descem segurando meus seios e apertando os bicos.

Beija meu pescoço, desce por minha espinha e mordisca cada pedaço de
pele que encontra no caminho.
— Eu sou maluco nessa bunda. Tem noção da vontade que eu tenho de me
enfiar aqui, Manuella? — Sinto a mão afastar uma das bochechas da minha
bunda e passar o dedo por minha boceta, espalhando toda lubrificação.

— Nunca vai se enfiar aí, já viu o tamanho do seu pau? — Falo séria,
balançando a cabeça. — Não vai enfiá-lo em meu cu.

Antes que eu termine de falar, sinto a língua entre minh bunda e um grito
fino de tesão se espalha, quebrando o silêncio do quarto. Jogo a cabeça para
trás, presa em um desejo insano, sentindo a língua e os lábios sugando tudo.
Beija cada dobrinha, suga meu clítoris e o dedo úmido rodeia meu cu,
molhando-o.

— Que coisa mais linda. — Ouço-o sussurrar e voltar a me chupar com


desespero, enfiando a cara na minha bunda e a língua fazendo o restante do
trabalho, me fazendo tremer, gemer e ondular. — Amor, eu vou foder esse cu
ainda. Sabia?

Nego, umedecendo os lábios e sentindo-o rodear com a língua e fazer a


mesma se enfiar ali...

— Oh!

Um tapa estalado faz a pele arder e eu tremo, gozando em sua boca e


língua. Rocco não para nem um segundo de me chupar e eu gemo alto,
sentindo o espasmo do orgasmo quando ele volta a me segurar firme,
ficando de pé.

— Você é minha na cama e fora dela, entendeu, Manuella? Ou precisa de


mais?

O olho por cima do ombro, rindo da sua expressão fechada, da cara de


mau e das sobrancelhas franzidas.

— Preciso de mais.

— Ah, sua filha da puta endiabrada! — Agarra meu cabelo, puxa para trás
e saqueia minha boca com a dele. — Vai levar tanto pau nessa boceta e nesse
cu.
Sorrio, abrindo a boca e sentindo-o encaixar a glande em minha entrada.
Estou toda melada, o que facilita e eu gemo alto, fechando os olhos ao senti-
lo deslizar.

Os dedos enterrados em meus quadris enquanto estoca fundo, metendo


descontrolado. A mão em meu pescoço e a boca em meu ombro enquanto
não para um segundo de me comer com voracidade.

— Ah, porra! — Digo entre os dentes, sentindo as socadas cada vez mais
rápidas e o barulho de pele melada se chocando uma na outra enquanto sinto
o pau me arregaçar, tomando tudo que é dele.

A mão acaricia meus seios, desce e aperta meu quadril, me deixando


completamente empinada, para então investir em metidas mais bruscas e
selvagens.

Estou acabada e exausta.

Rocco roça meu clitóris com o dedo anelar e sussurra baixo em meu
ouvido, sem deixar de me foder.

— Goza no meu pau.

Desabo enquanto ele me fode com voracidade e rosna, gozando também


em seguida.
Coloco um pijama folgado logo após sair do banho. Um conjunto de short
e blusa de alcinha, já que o calor está insuportável. São pouco mais de 17h,
almocei logo após a sessão de ciúmes sem necessidade e então dormi um
pouco.

O ciúmes de Rocco é algo sem fundamentos.

Não nego que adoro quando manda em mim, mas óbvio que eu não
obedeço, só gosto de fazê-lo achar que manda.

Ele está sentado no sofá com notebook no colo, daquele modo


concentrado com a mão no queixo e cenho franzido.

— Não vai para o hospital hoje? — Me aproximo de suas costas e coloco


a mão em seu ombro.

— Só se tiver uma emergência, vou tirar a tarde de folga. Mas vou estar de
plantão até sábado. — Beija meus dedos e eu sorrio quando ergue o rosto. —
Por que não dormiu mais?

— Estou com fome. — Franzo o nariz. — Quero comer algo bem


calórico, gorduroso e quente, um doce bem gostoso também.

Me afasto vendo seu olhar acusador em minha direção.

— Não me olhe com esse olhar de médico, eu sei que faz mal, mas eu
preciso comer algo bem calórico. — Abro os braços. — Vou pedir um
combo.

Pego o celular e me sento ao seu lado.

— Quero um sanduíche, uma batata e um refrigerante. Um milkshake e


também uma tortinha de maçã. — Passo o dedo colocando na sacola
sorrindo.

Rocco continua me encarando fixamente.

— Prontinho.
— Isso é uma bomba. — Diz sério. — Deveria comer uma fruta, tomar
um iogurte.

— Estou com vontade. — Largo o celular e ele balança a cabeça. — As


vezes tenho a impressão de que esquece que estou grávida, Rocco.

Cruzo os braços, vendo-o passar os dedos pelos cabelos.

— Não é algo que dê para esquecer, Manuella.

— Então esse é seu modo de agir? Fingir que não lembra? — Pergunto
magoada. — Por que as vezes juro que parece que tenta não tocar no assunto
e que isso vai passar.

Engulo em seco, franzindo o cenho e ele apoia o braço nas costas do sofá.

— Como se sua ficha não tivesse caído ainda, é isso? Não caiu?

Ele passa a mão pelo rosto e suspira.

— O fato de eu não tocar no assunto não quer dizer que eu tente não
lembrar, Manuella.

— Então por que não age como um...

— Pai? — Completa a frase de repente. — Porque o embrião tem o


tamanho da cabeça de um alfinete e...

Ele para quando me ergo.

A vontade de chorar me invade e eu pisco para afastar as lágrimas que


teimam em descer sem eu me dar conta.

— Não chame meu filho de embrião, é um bebê! Tem um coração


começando a bater dentro dele, ouviu? O doutor Rocco fica no hospital e
aqui dentro eu só esperava o pai do meu bebê, mas acho que é impossível,
não é?

— Manuella. — Levanta e eu aponto o dedo na sua direção.


— Cala a boca! — Disparo e engulo em seco, deixando as lágrimas
descerem. — Você está sendo um idiota, Rocco. Um idiota dos piores.

— Me ouça...

— Não ouço! Se abrir sua boca para falar do meu filho assim... Você não
tem coração dentro do seu peito! Tem a porra de uma pedra. Meu corpo só
serve para você foder? É isso?

Ele se aproxima mas eu me afasto. Estou tremendo de raiva.

— O meu corpo está carregando um bebê, coloque isso dentro da sua


cabeça, seu animal! Seu insensível. Na hora de transar você me endeusa,
mas na hora... Na hora de abrir sua boca para falar do seu filho, você coloca
a medicina no meio! Que tipo de pai é você?

— Me perdoe. Me perdoe, por favor. Eu não quis dizer de uma forma...


Manuella!

— Me deixe sozinha, por favor. Não sou capaz de olhar para sua cara
nesse momento de tanto ódio que estou sentindo, Rocco.

Fecho os olhos, me viro e saio pisando em passos largos até o quarto,


fechando a porta em um estrondo.

Rocco

Praguejo com as mãos enfiadas nos cabelos e fecho os olhos, sentindo


ódio de mim. Inferno, que ódio estou sentindo.

Respiro fundo solto o ar devagar.

Fui um idiota e agi feito a porra de um animal.

Tudo veio em uma intensidade incapaz de ser controlada, todos os


sentimentos bombardeando minha mente em mil e uma emoções diferentes.
O medo sendo a principal delas.
O medo de falhar. Medo ser incapaz.

O que merda estou fazendo?

Por que diabos eu não consigo controlar?

São perguntas que parecem rodear minha mente sem uma resposta
concreta para finalizar essa angústia que assombra.

O fato de achar que Manuella não merece estar passando por isso e que eu
estou sendo incapaz de todas as maneiras.

Vou em direção ao quarto e ouço o choro baixo do outro lado da porta e a


culpa corrói e me espezinha, fazendo meu peito doer de uma forma absurda.
Giro a maçaneta, mas a porta está trancada.

— Manuella, abra por favor. — Peço, batendo levemente. — Por favor.

Nenhuma resposta.

Encosto a testa na madeira, fecho os olhos.

— Por favor, minha pequena. — Engulo o bolo formado na garganta que


impede voz de sair firme. — Brigue comigo, me xingue ou faça o que quiser,
mas só abra essa porta.

O silêncio permanece.

— Brigue comigo e jogue em minha cara o idiota que eu sou. Fui um


insensível, um animal..., mas por favor, fale comigo.

Passo a mão pelo rosto com a voz embargada. Só ouço a respiração


acelerada e o fungado do nariz. Temo que passe mal então corro até a sala e
pego a chave reserva da porta do quarto. Coloco a mesma na fechadura e
abro em um movimento brusco de repente.

Ela nem se move. Está deitada com as pernas dobradas e aos prantos.
Meu coração fica em pedaços.

— Manuella. — Chamo, me sentando ao seu lado.

— Não. Encoste. Em. Mim. — Afasta minha mão e a apunhalada dói mais
ainda. — Acha que... Vai me tocar e vou abrir as pernas para você e então
vai ficar tudo bem?

— Eu...

— Você nem tem mais argumentos, Rocco! Sabe por que? São todos
vagos, como o amor que você diz ter por mim. — Se senta na cama e limpa
o rosto avermelhado pelas lágrimas.

— Eu amo você.

— Amar em palavras? Amar em palavras é o que você sabe! Fazer uma


mulher se sentir amada é mais importante do que dizer que a ama, e nesse
momento, a última coisa que eu consigo sentir é esse amor que você tanto
fala.

Paraliso, vendo seu queixo tremer.

— Estou ficando cansada, Rocco. Estou...

A seguro forte, vejo seus olhos brilhando e nego veemente.

— Manuella, está desistindo de nós? Está...

— Você está me fazendo desistir de tudo.

— Olhe para mim. — Seguro em seu queixo, a fazendo me encarar


fixamente. — Meu amor, nã-não me... Não vou desistir da gente, Manuella.
Ouviu?

A abraço, sentindo-a soluçar e se encolher, mas só a aperto forte, como se


assim ela não fosse escapar e engulo em seco, com o coração socando a
porra do peito.
— Me perdoe, meu amor. Por favor! O fato de pensar em te perder me
deixa louco. — Seguro em seu rosto para olhá-la e limpo a lágrima que
desce, a beijando. — É tanta coisa que se passa ao mesmo tempo em minha
cabeça. O fato de você ser tão nova e estar passando por isso...

— Eu quero passar com você, inferno! Acha que eu quis engravidar?


Acha que eu quis? Mas aconteceu, Rocco! Gravidez acontece o tempo
inteiro.

— Não te culpo por isso, minha pequena! Eu só queria que tivesse sido
em um momento melhor da sua vida.

Ajeito os cabelos que caem sobre seu rosto e a beijo, sentindo a mão em
meu peito.

— Acha que eu queria estar passando por isso? E você não... Não está ao
meu lado!

— Manuella, eu estou aqui! — Encosto a testa na sua. — Estou aqui do


seu lado.

— Não está, não! Eu estou sozinha. Estou sozinha!

Balanço a cabeça, franzindo o cenho e entendendo o motivo do choro


descontrolado. Eu realmente estou deixando-a passar por tudo sozinha.

A abraço e coloco o rosto em meu peito, apertando-a e assim ficamos por


incontáveis minutos.

Não saio do seu lado até ouvir a respiração ficar lenta e colocá-la devagar
sobre a cama, onde pega no sono profundo.

Afasto os fios loiros da testa e a beijo.

— Estou tão preocupado em não te deixar infeliz, que é justamente o que


estou fazendo.

Sinto meus olhos queimarem e sem ao menos perceber uma lágrima rola,
me fazendo limpá-la.
— Ah, Manuella.

Passo a mão pelo rosto, vendo-a dormir e me levanto devagar. Deixo o


quarto inteiro em meia luz, vou até a sala com uma mão no bolso e passo a
outra pelos cabelos.

Pego o celular, coloco no ouvido e espero a chamada completar do outro


lado.

— Meu filho! Como estão as coisas por aí? — Sua voz soa animada e eu
me aproximo da janela, olhando para a cidade movimentada.

Solto o ar e sorrio de lado.

— Liguei apenas para dar a novidade em primeira mão. A senhora vai ser
avó, Manuella está grávida.
Rocco

— Conversaram? — John segura um copo de café enquanto andamos


lado a lado pelo corredor do hospital.

— Não, vamos conversar mais tarde. — Beberico o líquido e passo as


mãos pelos cabelos quando paramos ao lado da sala de descanso.

— O jantar é no próximo sábado e não quero que seja pega de surpresa.

— Não vai, ela só não...

Umedeço os lábios quando ele me encara com as grossas sobrancelhas


franzidas, a preocupação se instalando rapidamente.

— O que ela tem?

— Só estresse dos trabalhos da faculdade. Está tensa e... — Desconverso,


tentando amenizar.

A culpa me engolfa, eu balanço a cabeça e suspiro. Depois de toda aquela


discussão ela não saiu do quarto e nem me quer ao seu lado.

A voz da minha mãe do outro lado denunciou o quanto ficou feliz com a
novidade.

Mamãe vibrou com a notícia e riu do outro lado da linha com muito
carinho e amor.
— Seu pai sentiria tanto orgulho de você, meu filho! O tanto que pedi
para termos um netinho e agora... Agora você vai ser pai!

Fico paralisado com o celular no ouvido.

— Ah, meu Deus, estou tão feliz! De quanto tempo ela está? Ela é tão
jovem e...

— Está infeliz. Eu estou deixando-a infeliz. — Me adianto e ouço apenas


o silêncio do outro lado da linha.

— Rocco.

— Podemos nos falar depois, mãe? Só peço para guardar segredo, por
favor. Depois nos falamos e vou te deixar avisada sobre tudo.

Me adiantei para desligar o aparelho assim que me despedi.

Desci para pegar o lanche que ela pediu e insisti para que comesse, então
depois de muita insistência ela comeu apenas um pouco e logo após correu
para o banheiro e vomitou absolutamente tudo.

Preocupado, entrei no banheiro mesmo sob seus protestos para que saísse.

— Pode sair. — Nega, fechando os olhos e sentada no azulejo frio. Os


cabelos desgrenhados caindo sobre o rosto avermelhado. — Não preciso de
um médico agora.

— Não estou aqui como um. — Afasto as mechas e os olhos caídos


quando põe a mão sobre a boca e volta a vomitar debruçada sobre o vaso
sanitário.

Ergo seus cabelos, sentindo a mão me afastar, mas só ignoro seus


protestos e continuo onde estou. Apenas quando se recompôs eu me afastei.
Levantei, fui até a pia, peguei a toalha de rosto, molhei e passei na sua boca
e rosto.

— Vamos tirar essa roupa. — A ergo devagar e sento-a na borda da


banheira.
— Sei fazer isso sozinha.

— Não foi um pedido. — Tiro sua blusa do pijama e sinto seus olhos fixos
aos meus.

— Não. — Nega arfando e se levanta com o olhar pesado.

— Não vou sair daqui, Manuella.

Ela ri sem humor, me encarando enquanto tira o short e entra no box. Liga
o chuveiro e se enfia embaixo da água morna, fazendo o vidro embaçar com
o vapor.

Fico paralisado, a fitando de costas.

Os cabelos caindo feito uma cortina úmida enquanto os fios colam na


pele.

Ela se vira e me olha parado no mesmo lugar. Os olhos se abrem e ergue o


queixo, passando a mão pelo rosto.

Fiquei em silêncio, observando-a me encarar sem esboçar nenhuma reação


e nada do que eu falasse agora ia adiantar.

Pego o roupão estendendo-o e ela o segura sem muita cerimônia. Eu me


controlei para não abraçar ela.

Volta a se deitar e vira para o outro lado, se enfiando embaixo das


cobertas.

Eu estava agindo como um estúpido por um medo irracional que insistia


em tomar minha mente, como se fosse maior do que eu.

— De demonstrar sentimentos? — Anda de um lado para o outro na


enorme sala, passando as mãos pelos cabelos. — Parece que estou casada
com uma pedra de gelo!

Junto o indicador e o polegar, passando na ponte do nariz.


— O problema sou eu? Sou eu, Rocco?

Umedece os lábios e seu rosto está avermelhado. Olho para a aliança em


meu dedo anelar e a rodo devagar.

Alisson suspira e eu a olho quando diz baixo.

— Quero o divórcio.

Franzo o cenho, vendo-a suspirar com o queixo erguido quando tira a


aliança do dedo e a coloca sobre a mesa de centro.

— Sinto muito, Alisson. — A fito morder o lábio.

— Engula isso! — Dispara brava e eu continuo no mesmo lugar, vendo-a


engolir em seco. — Engula esse sentimento, não preciso que sinta muito!

Puxa o ar e assinto rapidamente.

— Se for capaz... Eu espero que ame alguém de verdade, Rocco. Que sinta
esse amor te rasgar de dentro para fora e não consiga controlar o
sentimento.

— Alisson...

— Mas não a destrua. Não a torne vazia como me tornou. Não a impeça
de viver seus sonhos. — Soluça com a mão no rosto.

— Eu nunca quis te tornar vazia, Alisson.

Ela coloca a mão sobre o rosto, abafando o choro que teima em escapar
de sua garganta.

— Mas me tornou e espero que trate a sua próxima mulher melhor, se for
capaz.

Levanta e sai batendo a porta em seguida, me deixando sozinho.

Sou capaz de fazer uma mulher feliz?


— Rocco? — A voz de John me tira dos devaneios e eu passo a mão pelo
rosto depois de descartar o copo na lixeira. — Está com a mente longe?

— Só fui para longe. — Ele me encara e eu balanço a cabeça. — Manuella


está bem.

— Espero que esteja. — Diz sério e olha no relógio de pulso. — Troquei


seus plantões. Fernanda entrou na sala de parto agora e vai ficar lá por
algumas horas. Eu tenho uma reunião marcada e já não vejo a hora de
terminar.

— Está precisando de umas férias, irmão.

— Pensando seriamente nisso, viajar e aproveitar a minha esposa. — John


arqueia a sobrancelha. — Temos que inovar, vinte e dois anos de casados
não é para qualquer um, mas não deixamos a rotina do hospital atrapalhar
nossa relação.

Sorri e cruzo os braços.

— Eu percebo isso. — Falo sério. — As sumidas que vocês dão. Seu


idiota.

— É o fogo do amor, não é para qualquer um lidar com aquela mulher.


Sexo na mesa do escritório apimenta a relação.

— É... Eu sei. O proibido.

Rio balançando a cabeça e John fecha o semblante de imediato.

— O que? — Pergunto ao sentir o empurrão.

— O proibido? Era assim que fazia com minha filha quando ela vinha
para cá? Seu porco!

— Deixe de ser idiota e supere! — Bato em seu ombro e me afasto, o


deixando no meio do corredor.
Sorrio balançando a cabeça.

Passei na padaria perto do hospital assim que sai. Não teria que enfrentar
as longas horas de plantão, já que John conseguiu trocar e a doutora Castro
ficará em meu lugar. Apenas se tiver uma emergência muito grave que eu
vou retornar.

Odeio a espera da fila e agradeço por não estar imensa. Pego apenas uns
frios, geleia e o pão sem casca que Manuella tanto adora. Não nos falamos
nesse dia exaustivo e tenho quase certeza que deve ter passado o dia
estudando.

O trânsito está tranquilo e não demoro muito a chegar em casa.

Paro na porta do apartamento ao ouvir as risadas do corredor. Giro a chave


abrindo e encontro os olhares se voltarem todos em minha direção.
Manuella, Felipe, Thiago e Ana Julia me encaram fixamente.

Todos sentados no tapete da sala com vasilhas de pipoca e latinhas de


refrigerante espalhadas ao redor.

— Boa noite. — Minha voz sai mais grossa e rouca enquanto fecho a
porta.

— Boa noite. — Felipe e Thiago respondem juntos.


Ana Júlia me encara arqueando a sobrancelha e Manuella continua do
mesmo modo.

— Espero não ter atrapalhado, fiquem a vontade. — Seguro as sacolas,


olhando-a. — Trouxe umas coisas que você gosta.

Ela franze o cenho.

— Vou tomar um banho, fiquem a vontade. — Falo e saio para a cozinha.

Felipe sorri, dando um aceno leve.

Ana Júlia semicerra os olhos, me fitando sem falar uma palavra sequer,
fazendo eu me sentir pior do que eu já estou.

Manuella

— Certeza que vai ficar bem? — Felipe segura em minha mão. — Sabe
que eu posso dormir aqui na sala.

Nego, afagando seu rosto e passo as mãos pelos cabelos que caem na sua
testa.

— Não estou sentindo nada, Feh, foi apenas vontade de estar com meus
amigos. — Explico e o abraço, ouvindo-o suspirar. — Pode ir para casa
tranquilo.

— Ela sabe que a qualquer momento pode nos ligar e voltamos correndo.
— Júlia morde o lábio com a mão na cintura. — Não é?

— Sem pensar duas vezes. — Confirmo quando Felipe coloca a mão em


minha barriga, me fazendo o olhar.

— Seja lá o medo que estiver sentindo, nada disso é maior do que o amor
que a gente sente um pelo outro e desse ser que cresce aqui dentro.

— Ah, fofo! — Júlia dispara rindo.


— Eu te amo. — Seguro em seu rosto. — Meu amor, eu te amo muito!

— Eu amo vocês! — Fecho os olhos, o abraçando.

Felipe está sendo meu porto seguro desde que contei da gravidez. O
choque inicial da notícia foi substituído pela felicidade em saber que terá um
sobrinho ou sobrinha. Eu ri e chorei ao mesmo tempo abraçada a ele.

Sempre fomos tão ligados e unidos. A base um do outro.

Não contei da insegurança de Rocco e nem como estou me sentindo,


apenas Júlia sabe os últimos acontecimentos e a cara de fúria dela ao vê-lo
não deixou dúvidas. Não consegui ir à aula hoje porque estava muito
enjoada e tonta.

Assim que a aula acabou ela veio correndo e ficou o resto do dia comigo.
Me abri e conversamos e chorei deitada em seu colo sentindo o afago em
meus cabelos. Malditos hormônios.

Liguei para Felipe e ele perguntou se poderia vir até aqui com Thiago para
me ver, então aproveitamentos para ver filmes juntos e assim aquela angústia
foi embora antes que eu me desse conta.

— A gente te ama. — Júlia beija minha testa. — Qualquer coisa me liga.

— Pode deixar, amo você.

— Tchau, Manu. — Thiago acena e eu sorrio, o olhando encarar Felipe


me abraçar.

— Eu te amo, pirralho. — Brinco, vendo-o revirar os olhos. — Não tem


nada para me contar? — Sussurro em seu ouvido apenas para que ele escute.

Felipe se afasta e franze o cenho, fica vermelho e nega rapidamente

— Vocês querem carona meninos?

— A gente pega um Uber, não é?


— Claro. — Meu irmão concorda.

Me despeço acenando encostada na porta, vendo eles entrarem no


elevador e jogo um beijo assim que se fecha, então suspiro entrando no
apartamento. Organizei tudo com a ajuda deles, então só dobro os cobertores
e paro ao sentir o maldito cheiro do perfume tomar a sala.

Não qualquer cheiro.

O cheiro da loção da barba, do sabonete e do perfume amadeirado.

Estou com tanta raiva! Uma raiva com um misto de mágoa e chateação.

Umedeço os lábios e me viro para encara-lo.

Os cabelos úmidos caindo sobre a testa e as gotículas de água escorrendo.


Sem camisa, apenas com a bermuda e descalço. A barba parece mais cheia e
ele me olha descendo de cima a baixo. Ergo o queixo e o encaro enquanto
cruza os braços.

Me odeio por querê-lo com tanto desespero.

Me odeio por amá-lo de uma forma absurda.

Mas amo muito mais meu bebê e nós dois somos um só agora. Então, ou
ele ama a nós dois, ou não ama nenhum.

Amor não se implora.

— Seu pai vai dar um jantar no próximo sábado e vamos até lá. — Dá um
passo à frente, na minha direção e eu continuo no mesmo lugar. — Vamos
conversar com ele quando estiverem a sós, a casa vai estar cheia e...

— E vamos esperar meu pai e minha mãe tomarem as rédeas, não é? —


Descruzo os braços, assentindo. — Decidir o que vai ser melhor, como se
não fôssemos adultos.

Rio sem humor.


— Mamãe vai falar o quanto estraguei minha vida e com o futuro
brilhante que ela preparou para mim. Papai que vai te julgar por ter me
engravidado como se eu fosse uma adolescente sem saber absolutamente
nada da vida.

Continuo sentindo-o se aproximar me olhando fixamente.

— Eu vou lutar pelo meu filho e se não fizer o mesmo, eu já te disse... Eu


faço sozinha! Eu sou jovem e tenho 22 anos, mas sabe o que tenho também?

Engulo em seco com o dedo em riste batendo em seu peito.

— Tenho afinco para lutar pelo que eu quero! Coisa que você não teve e
parece que não vai ter. Então, Rocco Maldonado, reaja! Porque está
perdendo a sua mulher e o seu filho! Você deveria estar sendo nosso apoio e
também nossa base.

Ele me encara franzindo o cenho e com o maxilar cerrado, prestando


atenção em cada palavra que eu digo.

— Ele tem o tamanho de uma semente e já tomou meu corpo e meu


coração de tanto amor! Por essa sementinha aqui eu sou capaz de qualquer
coisa, inclusive de mandar o pai dele ir a merda e assumir tudo sozinha!

Bato em seu peito arfando.

— Você quer me perder? Quer me ver indo embora da sua vida? Quer a
gente saia da sua vida?

Ele me encara fixamente e eu volto a bater em seu peito.

— Reaja, inferno! Reaja, porque eu não quero mais lutar sozinha por isso!

Ele segura em meus braços, me fazendo encará-lo e me puxa para seu


peito. Eu fecho os olhos e encosto a testa na muralha de músculos.

— Porque está me perdendo! Está nos... Nos perdendo, seu idiota! —


Murmuro, erguendo o rosto para fitá-lo.
Seus olhos estão lacrimejados, fixos aos meus.

— Me rendi a você sabendo que não seria fácil, e realmente não é,


Manuella. Não é. — Segura em meu queixo. — Não menti quando disse que
seu beijo é a calmaria no fim do meu dia... Ele é.

Passa o polegar por meu lábio.

— Você é o furacão na minha vida pacata e sem graça, mas minha


calmaria ao mesmo tempo. Você está me fazendo quebrar promessas, o que
eu jamais pensei que iria fazer.

Ele para e me olha fixamente.

— Manuella, te querer dói desesperadamente, mas a menção de pensar em


te perder me destrói, minha pequena. — Fecho os olhos sentindo o polegar
passar por minha bochecha. — Vamos fazer isso juntos, mesmo eu não tendo
ideia do que fazer.

Segura em meu rosto com ambas as mãos, me fazendo encara-lo.

— Já me disse isso e...

— Eu quero essa sementinha minúscula. Eu quero você. — Passa o nariz


ao meu. — Sou um insensível, um péssimo namorado e estou longe de ser o
príncipe que você merece, minha pequena.

Vejo-o engolir em seco e pisco devagar.

— Eu sou um egoísta por te querer tanto que dói. Tenho o dobro da sua
idade, odeio barulho, odeio balada e... Às vezes odeio gente também. Tenho
ciúmes de qualquer ser humano que olhe em sua direção e me faz quase
infartar de tanto ódio ao menor sinal de interesse. Eu odeio o fato de ser tão
velho para você.

— Isso não importa para mim, nunca importou.

— Você nasceu para mim, Manuella. Você nasceu para mim.


Suspiro devagar e coloco a mão em seu rosto, passando os dedos pela
barba.

— Rocco...

— Manuella Monteiro, quer se casar comigo?


Manuella

Pisco devagar, meu coração sacolejar no peito e sinto-o parar alguns


segundos, apenas para voltar a bater acelerado.

— Case comigo, minha pequena. — Segura meu queixo e encosta a testa


na minha.

Eu sorrio e franzo o cenho.

Umedeço os lábios rindo, sentindo as mãos em meus cabelos afagando-os


e espalmo o peito largo, sentindo o polegar roçar minha bochecha devagar e
fecho os olhos, suspirando. Colo o corpo ao seu e sua mão desce por meu
queixo, entrelaçando os dedos aos meus.

— Es-está falando sério? Rocco, não brinque comigo.

— Não estou brincando, Manuella. — Nega devagar enquanto eu


contorno o maxilar com minhas mãos. — Eu preciso de você, entende?

Seus olhos brilham presos aos meus. É uma loucura o quanto mexe com
meu coração e o quanto o amo com uma força absurda.

— Tenho quarenta e três anos, Manuella e me sinto idiota como um


adolescente, confuso e perdido, mas eu sou louco por você.

— Ah, meu Deus! Como eu te amo! — Pulo em seus braços, rodeando os


quadris com minhas pernas, sentindo suas mãos me agarrar e o beijo
sofregamente. — Seu idiota!
Sinto-o me apertar, tomando minha boca enquanto me segura firme. Beija
meu queixo, volta a beijar meus olhos e eu sorrio com o coração acelerado
de tanta felicidade.

— Eu te amo tanto, Rocco! Amo você desesperadamente.

— Eu que te amo, minha pequena. Você é minha insanidade, Manuella.


Meu furacão. — Ri quando enlaço seu pescoço. — Você é minha vida.

Seguro seu rosto com ambas as mãos e o beijo.

— Somos, não é?

— Isso, você e nosso filho são.

— Nosso filho... — Murmuro rindo. — Ah, Rocco!

Toma minha boca em um beijo feroz e faminto e eu não resisto. Saqueia


minha boca, arqueando meu pescoço e mordiscando-o devagar. Nos
beijamos com aquela necessidade um do outro que só nós dois entendemos.
Estou extasiada.

Arfo, arqueando as costas quando ele me coloca na cama e segurou minha


perna em seu quadril, acariciando-a.

— Não vou te perder. — Sussurra contra meus lábios. — Não vou.

Volta a me beijar e dessa vez não tem pausa nem nada para quebrar o
nosso desespero. Tira minha roupa sem parar de me beijar e eu gemo alto
quando me penetra. Não foi tão rude e nem tão lento, foi na medida. Me
desesperei sentindo cada arremetida enquanto sugava os bicos dos meus
seios, deixando-os pontudos e sensíveis, intercalando entre um e o outro com
uma fome inexplicável.

O seguro fincando as unhas em suas costas e me arreganhando inteira,


sentindo os tremores apertando seu pau grande e duro que entra até o fundo.
Beijo seu ombro e sinto o olhar ao meu, me fazendo sorrir quando volta a me
beijar com tanta paixão.
— Eu te amo, minha pequena. — Sussurra meio sorrindo e meio gemendo
em meu ouvido. Firmo as mãos em seus quadris, sentindo-o se movimentar
com força ao meu encontro, a pélvis batendo na minha.
— Sou louco por você, Manuella.

— Eu te amo. — Encosto a testa na sua, sentindo os movimentos se


tornarem ágeis. — Ah! Como eu te amo!

Sinto meu interior convulsionar quando gemo ainda mais alto, gozando e
o levando junto. Seus músculos se enrijecem sob meu toque e sinto o pau
pulsar preso dentro de mim. Fomos loucura. Insanidade. Paixão.

— Passou o enjoo? — Pergunta assim que saio do banheiro pela segunda


vez seguida essa noite. Assinto, me sentando na cama e sentindo-o me puxar
para deitar-se em seu peito. — E lá se foi todo o seu jantar.

— Causando um reboliço aqui dentro. — Estalo a língua rindo e ergo o


rosto para olhá-lo. Seu cenho está franzido e eu acaricio a barba cerrada,
vendo os fios grisalhos. Eu amo. — O que você acha que é? O sexo do bebê.

Ele pisca devagar.

— O que você acha?

— Um menino. — Suspiro, mordendo o lábio inferior. — Posso estar


enganada, mas eu acho. Você tem cara de pai de menino.
Rocco me encara balançando a cabeça rindo.

— O que?

— Pensei o que seria de mim com uma mini versão sua. — Fica sério de
repente e eu arqueio a sobrancelha.

— O que quer dizer com isso?

— Que você sozinha já me deixa de cabelos brancos, uma versão sua me


faria infartar aos cinquenta, tem noção disso?

— Coitadinho do meu coroa ranzinza e idoso aos cinquenta. — Digo de


imediato, vendo-o semicerrar os olhos e ficar sério.

— Idoso, Manuella? - Segura em meu queixo. — O idoso te satisfaz muito


bem na cama, não é?

— Quem tem problemas com a sua idade é você, eu não reclamei de nada.
— Agarro seu pescoço e o beijo enquanto sorrio.

Rocco me olha fixamente e volta a ficar sério quando me puxa para seu
colo. Ele está sentado com as costas apoiadas na cabeceira.

— O que foi? Ficou sério.

— Precisamos conversar sobre uma coisa que acabei esquecendo. —


Abana a cabeça segurando em minha mão e entrelaça os dedos aos meus. —
Vamos conversar com seu pai e sei que pode ser complicado para John e
Fernanda também. Sabemos o quanto foi complicado para eles aceitarem
nossa relação e ainda mais agora.

— Sou maior idade e dona das minhas escolhas.

— Eu sei, meu amor. Mas são seu pais querem o melhor para você,
independentemente de qualquer coisa. — Diz baixo, desenhando um círculo
imaginário em minha coxa.

— Eu sei.
— Mas esse não é o ponto da conversa. — Tira uma mecha da franja que
cai sobre meu rosto e ajeita a sua camisa em meu corpo. — Sabe a
transferência que seu pai está há meses conversando? Da nova pediatra que
vem de Washington?

— Sim, o que tem?

— Seu pai estava receoso e por isso não nos falou antes.

— Receoso? Por que? — Pergunto sem entender.

Rocco puxa o ar e solta devagar.

— A médica... É a Alisson.

Franzo o cenho, vendo-o me encarar.

— Alisson? — Puxo o nome em minha mente, sem associar a ninguém


mas de repente vem um flash de memória.

" — Alisson queria muito mais do que eu podia dar no momento."

— A sua... Sua ex-mulher? — Gaguejo, sem conter a surpresa. Quando


Rocco assente, pisco repetidas vezes sem deixar de olhar para ele. — Sua ex
esposa foi contratada... Pelo meu pai para trabalhar no hospital?

Rocco sempre falou muito pouco do seu antigo casamento e eu também


não o enchia de perguntas sobre. Sei apenas o básico, que terminaram o
casamento e o divórcio partiu dela pela falta de interesse e atitude dele em
construir uma família.

— Não diretamente. Foi uma indicação do diretor do hospital


de Washington. Alisson era chefe da pediatria lá e seu pai jamais imaginou
que seria ela a ser contratada. Foi uma coincidência.

O encaro devagar, sem conter o aperto no peito que se instalou de repente.


— Alisson me disse que foi uma surpresa imensa quando percebeu que
John era o meu melhor amigo. Não faziam ideia um do outro.

— Te disse? - Questiono tentando não transparecer o incômodo. — Se


encontrou com ela?

Rocco franze o cenho.

— Minha pequena, Alisson e eu não temos mais nada. Somos divorciados


há mais de dois anos. Seu pai precisava de uma profissional qualificada para
o cargo, ela está no Rio e foi até lá. Não sabia quem era até que a vi no San
Village.

Ele me olha e tento ignorar o incômodo instalado em meu coração e o


ciúmes idiota me pegando de uma forma absurda.

— Seu pai vai dar um jantar e não queria te pegar de surpresa. Estava
preocupado e...

— Ele tem motivos de estar preocupado? — O interrompo, mordendo o


lábio.

— Manuella.

— Ele tem motivos para se preocupar com a sua ex-mulher estar


trabalhando no mesmo ambiente que você?

— Claro que não! Somos amigos agora, nosso término foi em comum
acordo. Eu e Alisson não temos mais nada.

Suspiro e mordo o lábio, vendo-o balançar a cabeça.

— Eu juro. — Me confirma, enfiando a mão em meu cabelo por trás. —


Não há motivos para se preocupar ou qualquer coisa do tipo, ouviu?

Assinto e suspiro.

— Seu pai se preocupou por bobagem. O jantar vai ser no sábado e depois
que ficarmos a sós vamos conversar com ele, certo?
Ele beija minha bochecha, meus olhos e a ponta do meu nariz.

— Eu amo você, minha pequena.

— Eu também.

Parece loucura as perguntas que rodeiam minha mente e o aperto no


âmago. Não tem motivo algum para sentir isso. Tento pensar que os
hormônios me fazem sentir tudo em enormes proporções, apenas isso.

Mas no fundo me senti incomodada em saber que seria. O fim do


casamento partiu dela, mais de dois anos separados.

Não há motivos.

— Nada vai mudar, meu amor.

Rocco

O resto da semana foi uma loucura insana.

Plantões com cirurgias marcadas e de emergência foram o pico do meu


cansaço. Nada que fugisse do que estou acostumado, da rotina e do que eu
amo fazer. Estar na sala de cirurgia é minha terapia e meu conforto.

Mas confesso que nada se compara ao que eu tenho quando chego em


casa.

Manuella.

Mesmo com a rotina pesada da faculdade, a cobrança dos estudos e tudo


mais, ela é minha calmaria no fim do dia e a exaustão vai embora em um
piscar de olhos.

Depois da nossa conversa sobre a transferência de Alisson, foi impossível


não perceber o quanto ficou abalada, então tratei de tirar qualquer
sentimento do seu coração, não tem motivo algum para isso.
Pedir ela em casamento foi apenas a confirmação do que eu queria e
sentia, não conseguiria viver sem tê-la em minha vida. Não posso perdê-la. É
óbvio que a insegurança ainda ferve em minhas veias, me espezinhando e eu
odeio

A rotina está tão pesada que me culpo em vê-la tão sobrecarregada. Está
enjoando com mais frequência e mais sonolenta a cada dia que passa, então
mais uma semana é concluída.

Manuella está de seis semanas e três dias.

É inacreditável ainda.

Olho o relógio no pulso, erguendo o rosto quando ouço os saltos ecoarem


pelo piso do corredor, a fito de cima a baixo enquanto segura a bolsa em
baixo do braço, colocando um brinco.

— Estou pronta. — Sorri, ajeitando os cabelos. — Vamos?

Já sinto o sangue correr com mais força nas veias e solto um pigarro
baixo, semicerrando os olhos.

— Não está esquecendo de nada, Manuella? — Suspiro com o cotovelo


apoiado no braço do sofá.

Ela para abrindo os braços.

— Não, o que?

— O resto do seu vestido. — Faço um gesto com a mão livre de cima para
baixo, procurando o restante da peça.

Ela cruza os braços rindo e revira a porra dos olhos.

— Deixe de ser bobo, nem está tão curto assim. — Dá uma voltinha e eu
quase desfaleço no mesmo instante.
O vestido preto é justo na parte de cima, tem detalhes delicados e um
decote singelo à frente, já que as costas estão nuas. A saia é rodada, solta e
mal chega na metade das coxas. As pernas torneadas equilibradas em saltos
altos da mesma cor.

— É o único que me deixa confortável. — Fala enquanto eu levanto


passando a mão pelo cabelo. — Podemos ir?

— Você faz um teste cardíaco em meu coração, parabéns. — Segura em


minha mão, me arrastando para fora do apartamento.

O jantar começa às 20h e praticamente toda a equipe do hospital vai estar


presente. Com toda certeza eu odeio estar entre tantas pessoas. Não costumo
ser tão sociável. Os boatos da contratação de Alisson já se espalham pelos
corredores do San Vilage e nosso passado também são motivos.

Ela vai começar oficialmente na segunda-feira e já posso imaginar o que


vão falar, mas pouco me importo, para falar a verdade.

O caminho até o condomínio é feito em poucos minutos. A noite está


agradável e o clima por incrível que pareça mais ainda. Estaciono o carro no
jardim já percebendo a movimentação.

— Marquei a ultra na clínica, não marquei no hospital porque com toda


certeza mamãe e papai saberiam. — Manuella me olha assim que tiro o cinto
de segurança. — Vai comigo, não é?

— Claro, me fale o dia e o horário.

— Na terça. — Morde o lábio devagar.

— Certo. Você está linda.

— Você também. — Me dá um beijo rápido e eu desço do carro, dando a


volta para abrir a porta e ajudando-a a descer.

Entrelaço os dedos aos seus e subimos os degraus. Uma equipe de garçons


circula dentro e fora da casa. Entramos na sala e eu cumprimento algumas
pessoas que já estão presentes.
— Vovó! — Manuella abraça Vitória, que a recebe de braços abertos.

— Minha princesa, como está linda! — A olha de cima a baixo e segura


em seu rosto. — Que saudades.

— Eu estava mais.

— Vitória. — A beijo e ela espalma a mão em meu peito.

— Como vai? — Me encara fixamente daquela forma que parece ler a


minha alma.

— Melhor agora em sua companhia e você?

— Maravilhosamente bem, meu filho. — Sorri carinhosa e aponta para a


escada onde John, Fernanda e Rodolfo descem.

— Chegaram! Como vai, meu amor? — Beija Manuella na testa. — Papai


estava com saudades.

— Nos vimos ontem.

— O que parece uma eternidade. — Fernanda suspira e a abraça. — Felipe


ainda não desceu, minha sogra?

— Desceu, deve estar no jardim.

— A casa está impecável.

Olho ao redor e realmente está incrível, com flores delicadas espalhadas


nos enormes vasos colocados em lugares estratégicos. Alguns médicos
chegam preenchendo a sala e eu os cumprimento rapidamente.

Ana Júlia chega com os pais e vai diretamente abraçar a amiga, me olha e
dá um leve aceno de cabeça.

Felipe apareceu logo após, junto com amigo, onde ficaram juntos com os
amigos da irmã. Peguei um copo, servi gelo e apenas dois dedos de whisky,
vou dirigir e não pretendo beber mais que o permitido.

Olho para trás e vejo Thales chegar acompanhado dos pais, sorri e vai na
direção de Manuella para cumprimentar ela. Fecho o semblante no mesmo
instante.

Que maravilha.

— Manuella, já decidiu a especialização?

— Pediatria. — Diz sorrindo e o pai a olha orgulhoso.

Estamos conversando na sala de estar e eu estou ao seu lado com o copo


em uma das mãos.

— E Felipe? — A senhora mais velha pergunta.

— Certeza que vai seguir neuro, assim como o pai. — Fernanda o abraça e
ele nos encara.

— Não vimos sua namorada por aqui Felipe, não tem ainda?

Vitória o encara e ele nega veemente.

— Não.

— Só se dedica aos estudos, graças a Deus os meus dois filhos são


dedicados. Não é John?
— Graças a Deus ainda iremos levar o legado da família. — Sorri nos
olhando.

Manuella se vira para me encarar e eu beijo sua testa.

— Amo você. — Diz sem emitir som algum.

— Eu também. — Imito seu gesto.

— Vou ao banheiro, volto já.

— Certo. — Me beija e sai com Júlia de braços entrelaçados.

Sorrio dobrando as mangas da camisa e vejo Vitória se erguer e vir em


minha direção.

— Manuella está diferente, não é? — O olhar fixa ao meu.

Engulo em seco.

— Acha?

— Sim, o rostinho redondo de menina e corpo de mulher. Vocês estão


bem? — Pergunta delicada e eu tomo um gole generoso do líquido.

— Estamos sim.

Vitória assente e volta a atenção para frente, onde Fernanda conversa com
os amigos. Felipe está ao lado atento ao que a mãe e o pai falam. Seu amigo
se aproxima e fala algo em seu ouvido, o fazendo rir.

Vejo Vitória com o olhar fixo e então volta a me olhar.

— Amo minha nora, mas as vezes Fernanda exagera em achar que pode
controlar as vontades e desejos dos filhos. — Suspira. — Me deixe ir salvar
o meu neto antes que o pobrezinho surte.

Sai rapidamente e segura Felipe pela mão, dizendo algo para Thiago que a
acompanha de imediato.
John para de repente e sorri vindo em minha direção.

— Ela chegou. — Assinto e me viro para ver Alisson cruzar a porta de


entrada.

O olhar encontra o meu e eu sorrio vendo-a se aproximar.

— Boa noite, Alisson. Seja bem-vinda. — Fernanda a cumprimenta


educadamente.

— Muito obrigada. — O sorriso largo toma seu rosto.

— Como vai, Alisson?

— Maravilhosamente bem. - Ajeita o vestido e me olha. — Como está?

— Bem e você? — A abraço. — Achei que sua mãe viria.

— Ela ficou com Owen. — Os olhos fixam aos meus.

— Alisson, esses são meus pais. Rodolfo e Vitória Monteiro.

Os cumprimenta e Fernanda oferece a taça que ela segura bebericando


delicadamente. Está radiante como sempre.

— É um prazer imenso conhecê-los, estou muito feliz em estar aqui hoje.


— Alisson sorri e morde o lábio, conversando com Vitória e sendo
apresentada a alguns médicos.

— Onde está Manuella? — John pergunta e eu me viro para olhar ela se


aproximar com Júlia.

Vem sorrindo sem se dar conta e me encara de repente, entrelaçando os


dedos aos meus.

— Oi. — Sorri ao meu lado.

— Filha, essa é a Alisson. — Fernanda se aproxima. — Alisson, essa é a


Manuella.
— Muito pra...

As duas se olham de imediato.

— Oh! — Manuella a encara e eu a fito.

Alisson a encara e apenas ouço o barulho da taça escorregando pelos


dedos finos e se espatifando no chão.
Manuella

— Há uns anos fui casada com um brasileiro, mas estou me


familiarizando com o país."

Pisco devagar, mordendo o lábio quando ela se afasta e passa as mãos pelo
vestido vermelho. Um modelo realçando as curvas do corpo, mas nada
vulgar, com os cabelos soltos e a maquiagem leve.

" — Acho que tive há poucos meses esse mesmo mal-estar e nasceu um
menino lindo."

É ela. É a mesma mulher.

— Me desculpem. Eu... — Balbucia e me olha atentamente. — Me


perdoe.

— Muito prazer, Alisson. — Estendo a mão a sua frente e ela a olha antes
de segurar e apertar levemente. Está gelada.

Os olhos escuros fixam aos meus e ela pisca, posso ver um brilho que logo
é afastado pelas piscadas rápidas.

— O prazer é todo meu, Manuella. — Solta um pigarro. — Peço


desculpas pela taça, escorregou de minha mão e... Eu sinto muito.

O sotaque é forte mas em um português impecável.


— Calma, não se preocupe. Arlete, por favor. — Mamãe suspira,
chamando com um aceno e nos afastamos dos cacos de vidro espalhados.

Rocco espalma a mão em minhas costas e eu o encaro com um misto de


confusão. Volto a olhar para ela, agora me olhando com uma indagação
estampada em sua cara.

— Seja bem-vinda e espero que fique a vontade.

— Obrigada. — Morde o lábio e olha entre Rocco e eu.

— Alisson, me deixe te apresentar minha prima, Nathalia Godoy. —


Mamãe sorri enquanto se aproxima com minha tia. — Nat, essa é a Alisson.
Alisson, essa é a Nathalia.

— Como vai? Muito prazer.

Tia Nathalia ajeita os cabelos e sorri apertando sua mão.

— O prazer é todo meu. Desculpem o atraso, o trânsito está uma loucura.


— Abana a cabeça e olha em minha direção. — Como vai, amor?

— Tudo bem, tia. — A beijo.

O clima parece ter ficado mais pesado e eu não faço ideia do motivo, ou
talvez seja o fato de ter duas mulheres que fizeram parte da vida de Rocco
presentes no mesmo lugar. Ele me encara e eu sorrio de lado, mordendo o
lábio.

— Vem aqui. — Sussurra em meu ouvido e eu assinto quando entrelaça os


dedos aos meus. — Seja bem-vinda novamente, Alisson. Fique a vontade.

Ela o encara apertando as mãos firmemente uma na outra.

— Obrigada.

— Venha conhecer o restante da nossa equipe para se familiarizar. —


Papai quebra o clima e me olha sorrindo.
Conversamos sobre o assunto e acredito que não fez de propósito ao
contratar Alisson, foi uma coincidência e sei que papai sempre cuidou muito
bem das contratações do hospital. Excelentes profissionais e com toda
certeza ela deve ser uma profissional e tanto.

Nossa conversa foi tão rápida e significativa.

— Eu juro que não fazia ideia que era a ex esposa do Rocco. — Explica
segurando em minha mão. — Você sabe que o começo do seu
relacionamento foi um pouco difícil de aceitar, mas desde que esteja feliz é o
que sempre vai ser importante para mim, entendeu?

— Não precisa se preocupar, papai. Não vejo motivos para achar que eu
pensaria algo assim. — Franze o cenho e beija o dorso da minha mão.

— Eu te amo, minha princesa. Sua felicidade é a minha e sempre vai ser.

— Eu sei. — Acaricio seu rosto e o beijo. — Eu te amo muito.

A brisa da noite me invade assim que saímos de casa e paramos no jardim.


A casa está movimentada com pessoas andando para um lado e para o outro.

Rocco segura em minhas mãos e afaga meu rosto.

— Esta tudo bem? — Pouso a mão em seu peito e assinto.

— Eu a vi. — Conto sem rodeios, o fazendo me encarar com o cenho


franzido. — A vi na praia umas semanas atrás, esbarrei sem querer e... Ela
tem um filho. Você...

Rocco semicerra os olhos e como se lesse meus pensamentos, dispara.

— Alisson fez uma fertilização in vitro. — Explica sério e eu assinto. — É


mãe de produção independente.

— Porque você nunca quis filhos. — Concluo.

Sinto um aperto no coração e engulo o bolo que se forma na garganta.


Ele continua sério e volta a apertar meu queixo.

— Não achava o momento certo.

— Continua não achando até hoje. — Olho para o lado mordendo o lábio,
sua mão segura meu queixo, me fazendo voltar a encara-lo. Está sério, com
as sobrancelhas unidas e os lábios cerrados. — Ela sabe que estou grávida,
quando nos esbarramos eu não estava tão bem, então ela percebeu e eu disse.

Me observa atento.

— Ela sabe que estou esperando um filho seu.

— Tudo bem. — Fala despreocupado mas eu posso jurar ter visto


apreensão em seu rosto. — Não vamos esconder a sua gravidez, só estamos
esperando para contar ao seu pai.

Assinto e sinto a mão enlaçar minha cintura. Ergo a cabeça e fixo o olhar
ao seu, mas mesmo com o salto preciso olhar mais alto para o encarar. A
camisa azul marinho está com alguns botões abertos no peito e as mangas
dobradas até os cotovelos, deixando os braços fortes amostra. A calça social
o deixa mais sério e tão mais gostoso.

— Odiei esse vestido. — Sussurra em meu ouvido. — Se não ficou claro,


estou falando em alto e bom som agora.

Sorrio e passo os braços por seu pescoço.

— Não vi nada demais nele. — Enfio as mãos pelos fios dos cabelos e os
puxos levemente.

— Porque não viu a maneira que esses imbecís estão olhando para sua
bunda e para suas pernas sempre que anda.

— Que coisa feia! Homens que tem a idade de ser meu pai me comendo
com os olhos. — Afago sua barba e desço pelo pescoço, sentindo-o respirar
fundo. — Não acha muito feio, doutor?

Escondo o sorriso quando sinto sua mão apertar minha cintura.


— Em casa a gente conversa e eu te mostro o quão feio é.

— Em casa? Achei que fosse mais ousado. — Engulo em seco, fixando o


olhar ao seu.

Me sinto queimar de dentro para fora com o olhar fulminante que Rocco
me lança.

— Você é uma peste, Manuella. — Fala contra meus lábios e eu sorrio. —


O que eu faço com você, menina?

Afago seu rosto e mordisco seus lábios com os dentes.

— Adivinha... Titio?

— Por que você me trata assim, Ana Júlia? O que eu te... Uepa! — A voz
de Thales ecoa e eu olho para o lado, vendo-o parado com um sorriso no
rosto, ao lado de Júlia.

Rocco o encara e se ajeita rapidamente.

— Por isso eu te trato assim, seu idiota! Sai do meu pé, Thales que coisa
chata! — Júlia ralha, o fazendo rir ainda mais.

— Vou para dentro. Vem? — Pergunta me olhando.

— Vou já. — O beijo e ouço o pigarro de Thales que está de braços


cruzados com um riso largo no rosto.

— Não demore.

— Lá dentro só tem velho. — Dispara, fazendo Rocco parar para encará-


lo. — Digo, maduros. Vou cuidar da M&M's para o senhor.

Rocco o fita e passa como uma foguete e eu o encaro cruzando os braços.

— Se ele te der um soco você sabe que vai parar lá na casa do caralho, né
seu idiota? — Júlia acerta um tapa em seu ombro. — Você é tão ridículo,
Thales!

— Precisa ficar lembrando da idade dele sempre? — Pergunto e ele


gargalha.

— É hilário ver a cara dele, como se fosse pular no meu pescoço. Ele acha
que eu te quero de verdade? — Ri balançando a cabeça e se aproxima de
mim. — Eu te tenho como uma irmã M&M's.

— Então para de ser tão idiota e de provocar ele.

— Prometo que vou tentar, mas é maravilhoso.

— Queria que ele te desse um soco. — Júlia o fita de cima a baixo.

— E você ia cuidar de mim, meu bombom de limão? — Thales arqueia a


sobrancelha.

— Não faço medicina veterinária para cuidar de animais.

— Eita! Essa doeu, Ana Júlia! — Coloca a mão no peito e suspira.

— Vamos parar com a briga de quinta série? — Cruzo os braços e seguro


na mão de Júlia quando se aproxima de mim.

— Que torta de climão, em? — Morde o lábio e eu assinto. — Como você


está?

— Bem, mas ainda estou incrédula. — Explico para os dois o que


aconteceu e a cara de ambos é de tanta surpresa quanto a minha.

— Você já contou para os tios que está grávida? — Thales me olha e eu


nego veemente.

— Vou contar. É só que... Eu sei que não vai ser fácil.

— E nem o fim do mundo. — Ele dá de ombros com a mão no queixo.


— Odeio falar isso, mas concordo com o Thales. Não é o fim do mundo,
Manu. E o Rocco?

Contei para Júlia do pedido de casamento e o quanto estou radiante com


isso, o quanto essa decisão foi um passo importante para nós dois. Não
somos só nós dois agora, temos um bebê a caminho.

— Queria uma animação nessa festa, só tédio. — Thales fala depois de


uns minutos. — Podíamos fazer uma festinha ali atrás, né? Topa, Juju?

Sorrio, vendo-o fitar Júlia de cenho franzido.

— Sai de perto de mim, Thales. Agora. Cai fora.

Entramos de volta na sala de estar, Júlia com o braço entrelaçado ao meu.


Cumprimento seus pais que conversam com tia Nathalia e assim como todos
os outros presentes parecem muito entretidos nos assuntos, como sempre
fazem nos jantares aqui em casa.

Vejo Alisson com uma taça na mão próxima aos meus pais. Sorri, passa a
mão na testa e volta a acariciar a nuca, então desvia o olhar para Rocco
quando ele diz algo que não dá para entender.

Os olhos procurando os seus e um brilho aparece.

— Ela ainda parece gostar...

— Não coloca paranoia na cabeça. — Júlia me corta e eu engulo em seco.


Ela deita a cabeça no ombro e se vira sorrindo de lado.

— As vezes fico pensando... Como aguenta esse homem desce tamanho


em cima de você. — Arregala os olhos, me fazendo rir. — Você tão pequena,
Manu. Deus!

— Ele me arregaça, Ju. — Mordo os lábios vendo sua cara e olhos


arregalados. — Você que perguntou.

— Sua suja.

Sorrio e a abraço.

Rocco

Sorvo um gole do whisky que tem mais gelo do que bebida. John fala
sobre o desenvolvimento do hospital e Alisson o escuta concentrada. Seu
português sempre foi perfeito e ela soube desenvolvê-lo com maestria ao
longos dos anos que passamos juntos.

Não posso negar que sinto o olhar prender ao meu repleto de dúvidas e
talvez perguntas. Fiquei surpreso em saber que ela e Manuella se
encontraram e conversaram.

— Com licença. — Felipe se aproxima falando com Fernanda e John. —


A gente vai ficar ao redor da piscina, sem fazer barulho.

— Tudo bem, amor. — Fernanda acaricia seu rosto e o beija. — Meu filho
é um príncipe, não é?

— Mãe. — Felipe a encara balançando a cabeça.

— Vá se divertir e sem barulhos. - John reforça o fazendo sorrir e ele se


vira, saindo com Thiago.

— São inseparáveis. Me lembra Rocco e John quando tinham essa idade,


não se desgrudavam por nada nesse mundo.
— Ele que não saia do meu pé. — Me encara e eu semicerro os olhos.

— Você que quase morreu de saudades quando fui embora. — O olho pela
borda do copo, rindo e revirando o olhar.

Manuella está com Vitoria e as duas conversam animadamente.

— Você pretende ter mais filhos, Alisson?

A encaro, até então estava em silêncio e ela sorri, negando com a cabeça.

— Não, meu sonho já se realizou, acho que já passei da idade. — Aperta a


taça entre os dedos.

John me encara por cima da borda do copo que leva aos lábios.

— Sempre amei família grande e só não tivemos mais filhos porque


Fernanda não quis.

— Já temos um casal e está perfeito.

O clima parece ter ficado pesado ou apenas foi pura impressão pelo
silêncio que tomou. Uma funcionária se aproxima e fala algo para Fernanda,
que pede licença e se retira.

Mordo o lábio, franzindo o cenho.

— Filho, pode vir até aqui? — Rodolfo chama John.

— Com licença, só um momento.

Engulo em seco, encarando Alisson que beberica o líquido da taça


devagar. Os olhos fixam aos meus de repente e ela aperta a taça entre os
dedos, segurando a bolsa com a mão livre.

— Manuella me disse que se viram na praia.

— Uma grande e surpresa coincidência. — Sorri e não consigo captar


emoção alguma. — Não acha?
— Muita. — Assinto, vendo-a morder o lábio e olhar para a frente. —
Não fazia ideia que...

— Ela é linda. Muito linda e... Jovem. Tem um rosto de menina.

Assinto, sentindo o olhar preso ao meu.

— Você vai... Vai ser...

— Vou. — Confirmo com a cabeça e ela suspira, sem precisar completar a


frase que eu sei muito bem qual seria o final.

— Mariane sabe?

— Sim, mas John e Fernanda não sabem ainda, se puder por favor...

Me encara mordendo o lábio com o cenho franzido. Assente e volta a


beber o resto do líquido na taça de uma única vez.

— Alisson, eu...

— Não vou ser a ex ressentida, não sou a megera que voltou para se
vingar ou qualquer coisa do tipo, Rocco.

— Eu sei que não, nunca pensaria isso de você.

Fecha os olhos e torna a abri-los e me encarar após uns segundos.

— Parabéns, fico muito feliz por você.

Deposita a taça vazia no aparador e sai.


Passo a mão pela testa e suspiro pesadamente, me viro e vejo Vitoria me
encarando fixamente.

Franzo o cenho.

Vou para perto do bar e coloco o copo vazio apenas para encher com um
pouco mais de whisky. Acho que apenas assim vou conseguir suportar essas
horas enfadonhas que ainda faltam para o fim do jantar.
Me aproximo da enorme janela que dá acesso ao jardim e percebo a
movimentação que está tendo próximo a piscina, todos reunidos
conversando animadamente. Jovens e filhos de alguns dos médicos
presentes.

Observei Manuella que tinha entrado e passado poucos minutos ali dentro
comigo, não me incomodou o fato de não estar ao meu lado, estou odiando
essas conversas também.

Está com Ana Júlia, sentadas enquanto algumas meninas de pé falam algo
que as fazem rir. Felipe está um pouco mais afastado com os amigos.

— Espero que não esteja pensativo com sua crise de idade agora. —
Vitória sorri e eu a olho parar ao meu lado. — Está?

— Fica tão na cara, assim?

— Em letras gritantes. — Brinca com os anéis em seus dedos. — Gostei


muito da Alisson. Simpática e delicada, parece ser uma pessoa incrível.

— Ela é. — Afirmo, sentindo os olhos azuis fixarem aos meus.

— Imagino. Presumo que esse seu silêncio não seja apenas pela crise de
idade que insiste em te rodear, não é?
— Não, não é. Mas você pode ficar depois do jantar? Queria conversar
uma coisa com todos vocês.

Vitoria sorri de lado.

— Ah, meu querido Rocco! Te conhece desde a adolescência e parece que


nada mudou. — Bate em meu peito devagar e eu a olho sem entender. —
Você as vezes se preocupa tanto em não magoar a pessoa errada, que
esquece quem realmente não se deve magoar.

Toca em meu rosto com carinho.

— Eu e Rodolfo estaremos aqui.

Dá uma leve piscada e me deixa a sós no mesmo lugar.

O resto do jantar segue com leveza. Tentei ignorar ao máximo Thales


fazendo questão de me alfinetar sempre que tinha a oportunidade. Ainda vou
esganá-lo.

Manuella se mantém ao meu lado durante o tempo que estamos na mesa,


sorridente e participativa como sempre é. Alisson se manteve afastada e em
silêncio, apenas interagindo com os outros quando era solicitada, mas
sempre com o sorriso largo no rosto.
Estou me sentindo sufocado e não sei, nem entendo o que diabos está me
deixando assim. Pedi licença e segurando a porra do copo que foi meu
companheiro durante toda a noite, subi as escadas e fui para o andar de cima.

Entro no escritório de John sentindo aquele burburinho cessar quando


fecho a porta e me sento
na poltrona. Suspiro, dobrando a perna e pousando em cima da outra,
afrouxando os botões da camisa no pulso.

Fixo o olhar na maçaneta quando gira e a porta se abre.

Então o motivo do meu surto, do meu desespero e da minha insanidade


surge com um sorriso largo no rosto.

Manuella me encara ao fechar a porta atrás de si, ajeita o pedaço de pano


que ela julga chamar de vestido e se aproxima tirando o copo quase vazio da
minha mão, colocando-o ao lado e se senta em meu colo sorrindo.

— Sua bateria social, acabou?

— Se eu tivesse uma. — Afasto os cabelos dos seus ombros e ela coloca a


mão em meu peito. — Achei que estivesse lá fora.

— Estava entrando e vi que você estava subido. — Afaga minha barba


com a ponta dos dedos, aproximando o rosto do meu. — Deduzi que estava
entediado.

A encaro colocar a mão em meu peito por baixo da camisa e dedilhar meu
peito.

— Manuella. — Digo baixo, vendo seu sorriso aumentar. — Não me


provoque aqui.

— Ou vai fazer o que? — Morde o lábio devagar, me fazendo suspirar. —


Me pôr de castigo?

Cerro o maxilar e seguro em seu rosto com a mão livre, tomando a boca
em um beijo sufocante, enfiando a porra da língua em sua boca com um
desejo absurdo e intenso. Afasto a boca, seguro seus pulsos e me encosto na
cadeira com a expressão séria.

Quero foder ela. Arrancar essa porra de vestido e fodê-la. Estou duro e
sinto a porra do meu pau querer se enterrar dentro dela como eu preciso do
ar para respirar, mas me contenho. Não vou transar com Manuella aqui, com
tantas pessoas lá embaixo.

— É melhor descer ou vão perceber que... Estamos sumidos. — Minha


voz sai mais rouca do que pensei e ela sai do meu colo, mas quase a puxo de
volta.

Ela se afasta equilibrando as pernas nos saltos altos e rebolando o quadril,


se encosta na porta, gira a chave, trancando-a e se vira sorrindo.

— Manuella...

Enfia as mãos por baixo do vestido e observo o movimento dos polegares


quando desce a calcinha, segura o pedaço de pano e joga em minha direção.
A pego no ar.

Sorrio mordendo o lábio assim que a levo ao nariz, cheirando-a e o cheiro


dessa boceta é minha morte.

— Você não tem jeito, não é peste?

— Não sou boa em seguir ordens, se ainda não percebeu, doutor. Agora
me deixe tirar essa tensão de você.
Rocco

Observo ela caminhar de volta até onde eu estou, olhando-a de cima a


baixo lentamente. É uma coisinha linda. O rosto tomando uma cor
avermelhada, os olhos arredondados e a boca rosada pelos dentes que
raspam os lábios.

Parece um anjo.

Um anjo de pecado e luxúria.

— Você fica muito tenso. — Apoia as mãos em minhas coxas e se ajoelha


devagar. — E com uma cara de malvado.

Encenação de excitação pura.

— É um tesão te ver assim. — Diz baixo, com a mão em meu queixo e


desce por meu pescoço e peito, as mãos espalmando.

Não tiro os olhos dos seus um segundo sequer e já sinto o tesão correndo
nas veias com força, concentrando principalmente em meu pau, esticando-o
e querendo rasgar o tecido da calça de tão duro que está.

Manuella sorri.

Me ajeito na poltrona, erguendo os quadris enquanto ela puxa minha


camisa. Observo os movimentos ágeis das mãos ao abrir meu cinto, descer o
zíper e encarar o pau quando salta para fora. A mão delicada o envolve
segurando com firmeza, tentando rodeá-lo sem esforço.
Passa o polegar pela glande babando com o pré-gozo, se ajoelha entre
minhas pernas e não quebro o contato dos nossos olhos em momento algum,
aqui ela faz o que bem entende comigo e eu adoro.

Passa a língua pelos lábios devagar e eu agarro seu cabelo, arqueando o


pescoço.

— Você é uma ninfetinha atrevida, Manuella.

— E você adora. — Ri apoiando as mãos em minhas pernas, eu seguro


meu pau e bato levemente em seu rosto.

A cabeça robusta melando os lábios entreabertos. Manuella geme e a


líbido dispara junto com o coração e sorri.

— Abra a boca, meu amor.

— Sim, senhor. — Abri devagar, me engolindo com a boca macia, os


lábios se fechando na glande e cabeça até onde aguenta. Nem na metade,
quando se engasgou e saiu.

— Filha da puta do caralho, Manuella! — Abro as pernas gemendo,


agarrando seus cabelos em um rabo de cavalo e gemo feito um louco vendo-
a engasgar sorrindo. — Você vai me matar.

Arfa com o pau na boca, passando a língua devagar, desceu até onde
aguenta e volta novamente. Um filete de baba desce pelo canto do queixo,
com os olhos lacrimejando e o rosto avermelhado.

— Fica olhando para mim. — Peço rouco, sentindo o olhar ao meu. —


Quero ver você engolindo meu pau.

— Não viu nada ainda, doutor. — Morde o lábio segurando o pau e coloca
pressionado em minha barriga.

Fica esticado com a mão pequena, segurando e passa a língua por toda
extensão, o deixando mais duro do que já está.
— Manu...ella! — Puxo o ar, sentindo a língua passar pela glande até em
as bolas pesadas e ela leva a boca, sem parar de me masturbar com mão. —
Que filha da puta!

Solta e leva a outra a boca, passando a língua, eu engulo em seco, sentindo


o espasmo do tesão e desejo tomando conta de mim. Seguro seu queixo e
vejo o sorriso devasso tomar conta do rosto.

Chupa feito uma gata no cio, descendo a língua pelos testículos e eu a


encaro fixamente. Desceu devagar, indo para o períneo e é a porra da
devassidão. O tesão filho da puta que só ela provoca, meio tímida e ousada.

— Ah, caralho! Manuella! — Seguro firme em seus cabelos e ergo o


quadril quando sua boca volta a engolir meu pau, levando a garganta. —
Atrevida, né?

Meu pau está todo babado de lubrificação e saliva, sento a garganta se


fechar, a fazendo engasgar e sorrio, tirando-o e deixando só a glande entre
seus lábios.

— Olha para mim, sua filha da puta! Quero ver entalada no meu pau...
Esses olhinhos gulosos. — Agarro seu rosto e movo a cabeça devagar, ela
geme sem deixar de me engolir até o talo. — Vou gozar na sua boca.

Ela vai me matar, certeza.

— Olha para mim e engole minha porra! — Ela assente e minha voz sai
trêmula, assim como meu corpo. Fico descontrolado de puro tesão e
desespero e ela geme quando o primeiro jato sai grosso.

Engole tudo, gulosa, arrancando um gemido desesperado do fundo da


minha garganta até arrancar a última gota com sua língua.

Foi desesperador e ainda sinto os espasmos do orgasmo me invadir de


dentro para fora. Balanço a cabeça e a puxo para meu colo.

— Você vai me matar um dia desses. — Senta abrindo as pernas em meu


colo. — Tem noção que estão todos lá embaixo enquanto estamos aqui
fodendo no escritório do seu pai, sua peste?
— Até parece que não sabem o que fazemos. — Morde meu lábio e toma
minha boca.

A beijo desesperado e a penetro sem cuidado, vou até fundo, ouvindo o


gemido agoniado e sentindo a boceta se apertar ao redor. Se apoia em meus
ombros e ajudo a quicar em meu pau.

— Puta que pariu, Manuella! — O vestido está erguido enquanto rebola


ensandecida. — Filha da puta! Você é perfeita para mim. Todinha!

Gememos juntos um na boca do outro e ela desce rebolando e volta a


quicar em meu colo. Chupo seu queixo e mordisco os lábios, sentindo nossos
gostos se misturarem. É loucura. O corpo suado colado ao meu, o barulho da
pélvis batendo junto da minha.

— Ah... seu... — Abre a boca, torna a fechar e eu a como loucamente.


Abrindo a bunda empinada, socando fundo, sentindo a carne se abrir e se
arreganhar para me receber a cada arremetida que dou.

Estremecemos juntos, o desejo aflorando a cada metida brusca. Os seios


estão esmagados contra meu peito e eu a seguro pela cintura, a prendendo
tomando sua boca e abafando os gemidos.

— Cala a boca ou todos vão ouvir seus gemidos, inferno! — Rosno contra
os lábios entreabertos.

— Você acaba comigo! — Diz rindo, balançando a cabeça.

Desço a boca sugando seu queixo e não paramos um segundo sequer.


Espalmo as mãos em suas costas e gozo novamente dentro dela, sentindo a
tensão se esvair junto com o orgasmo.

Manuella encosta a testa na minha, respirando ofegante.

— O que faço com você, garota? — Balanço a cabeça rindo. — Devem


estar sentindo nossa falta.
— Estavam tão ocupados... — Diz baixo, afagando minha barba e fecha
os olhos.

— Vamos descer, peste. — Tiro os cabelos do seu rosto e a beijo.

Saímos do escritório alguns minutos depois. Ajudei Manuella a se limpar


rapidamente no banheiro, foi uma loucura das mais insanas. Ajeitei a camisa,
passei os dedos pelos cabelos e entrelacei os dedos aos seus. É óbvio que foi
apenas descer as escadas que alguns olhares vieram em nossa direção.

— Será que estamos com tanta cara de pós foda assim? — Manuella ri
encostando a cabeça em meu ombro.

— Peste. — Tento manter a seriedade, mas é quase impossível com ela me


olhando dessa forma.

— Estou com fome, vou comer alguma coisa. — Me dá um beijo rápido


nos lábios e assinto, vendo-a sair em direção a cozinha.

Ela para perto do avô e fala algo, o fazendo sorrir. Fito-a balançar os
cabelos e pego um copo com água da bandeja que o garçom passa servindo,
sorvo um gole e olho para Alisson, que desvia o olhar na hora.

Está sentada com as pernas cruzadas, assentindo como se prestasse


atenção na conversa, mas é óbvio que o não faz. Está com o olhar vago.
John aparece dobrando as mangas da camisa e me olha sorrindo.

— Onde se meteu?

— Fui tomar um ar. — Minto, ficando sério e vendo ele semicerrar os


olhos. — Idiota.

— Tomar um ar.

Escondo o sorriso, balançando a cabeça.

Volto a encarar Alisson que nos olha atenta, voltando a atenção para
Vitória que diz algo apertando sua mão e ela assente, sorrindo levemente. É
um desconforto estranho ver esse olhar, como se estivesse lendo todos os
meus pensamentos e atitudes.

Volto a olhar para John e solto um pigarro.

— John... — Chamo e ele me olha sério. — Preciso falar com você.

— Sobre?

O fito franzir o cenho e os olhos azuis fixam aos meus.

— Eu...

— Jonathan, você não acredita no que houve! — Um dos médicos se


aproxima e ele me encara.

— Depois a gente conversa. Quando todos saírem.

Manuella

Tiro uma fatia do bolo de cenoura, comendo na mão mesmo. Fecho os


olhos gemendo e sorrio, lambendo a ponta do dedo. Delicioso. A cozinha é o
lugar menos movimentado e dou graças a Deus por isso.
Remexo as pernas, sentindo aquele incômodo gostoso no meio delas.
Ainda posso sentir a ardência pós foda que me deixa ainda mais excitada e
eu adoro.

Estou faminta. Deus!

— Quer um suco? — Arlete oferece e eu assinto.

— Esse bolo está uma delícia. — Gemo segurando o copo de suco de


maracujá. — Combinação perfeita.

— Sempre adorou. — Balança a cabeça. — Quer mais um pedaço?

Assinto e ela corta outra fatia, me entregando.

— Estou faminta, Arlete. Meu Deus, tem um oco em meu estômago me


fazendo comer desesperada a cada dez minutos.

Ela semicerra os olhos e sorri.

— Deu para perceber que está comendo sem parar, está até com o rostinho
mais redondo e os quadris também. — Arlete para fixando o olhar e me viro,
encontrando mamãe parada.

Engulo em seco e tomo o suco enquanto ela se aproxima me olhando


daquela forma que eu conheço muito bem.

— Que fome desesperada é essa, Manuella? — Coloco o pedaço de bolo


de volta no prato. — Todas as vezes que entrei nessa cozinha estava aqui
agarrada com algo.

— Estava com saudades da comida da Arlete. — Não a olho ou sei que


me entregaria.

Sinto o olhar sobre mim.

— Vou procurar a Júlia. — Digo rápido e saio da cozinha pela porta dos
fundos, indo para o jardim.
Não sei se ela estava olhando como médica ou como mãe, mas sei que não
é tola.

Fecho os olhos, ouvindo as risadas perto da piscina, onde tem alguns


amigos reunidos conversando. Fomos para lá após Thales dar a ideia apenas
para nos divertir, já que é um tédio sempre que tem esses jantares.

Procuro Júlia do outro lado da piscina com uma de nossas amigas.

— Deixa eu arrumar seu cabelo, está caindo nos seus olhos. — Thiago
mexe nos cabelos do meu irmão. — Fica todo despenteado.

Felipe sorri e me encara, só então percebendo que eu os observo.

— A gente tava te procurado.

— Estavam? — O olho sorrindo. — Eu tava lá em cima.

Mexo as mãos e Thiago olha entre mim e ele.

— Vou pegar um suco, querem?

— Não, obrigado. — Nego e Felipe faz o mesmo.

Sai, nos deixando sozinhos e o fito morder o lábio, abanando as mãos.


Está lindo com uma camisa azul escura e uma calça jeans. Eu me aproximo e
o abraço, beijando sua testa.

— Sabe que eu te amo, né?

Ele assente, me encarando.

— E que pode contar comigo sempre?

— Sei. — Franze o cenho, assentindo. — Eu sei.

Volto a confirmar com a cabeça e o beijo na bochecha.

— Não tem o que temer sobre nada, está ouvindo? Você sabe que tem a
mim. — Observo-o engolir em seco e assentir, dando um sorriso de canto.
— Eu te amo mais que tudo.

— Eu também. — Sussurra e eu afago seus cabelos, saindo na direção de


Júlia.

Me sento ao seu lado, vendo-a me olhar de cima a baixo.

— Foi matar o doutor?

Mordo o lábio e bato em seu ombro.

— Está vivíssimo, eu juro.

— Alisson, foi um prazer te receber e mais uma vez seja muito bem vinda.

— Eu que agradeço pelo jantar incrível e pela recepção. — Aperta a mão


da minha mãe, que a olha sorrindo.

A casa está quase vazia, para a minha felicidade. Rocco está ao meu lado
enquanto eu beberico um copo de água, tentando amenizar o enjôo que
parece ficar insuportável a cada minuto.

— Foi um prazer. — Alisson sorri e olha em minha direção. — Prazer


conhecê-la, Manuella.

— Igualmente. — Seguro em sua mão levemente.

Sinto a vertigem e suspiro.


Vovó me encara e eu solto um pigarro baixo quando tia Natália
cumprimenta Alisson.

— Está pálida, querida. Está tudo bem? — Olho para todos os olhares que
se voltam em peso para mim.

Me senti um peixinho sangrando em cima de um tanque de tubarões.

Uma roda de médicos é um péssimo lugar para sentir qualquer mal estar.

— Manuella? — Papai chama e eu sorrio.

— Acho que é o calor. — Solto outro pigarro. — Se me dão licença.

Sorrio, olhando para Rocco, que me encara com o cenho franzido.

— Vou ao banheiro, com licença.

Subo as escadas e entro no meu antigo quarto, suspiro e tento fazer a ânsia
passar, sentindo o suor frio e suspiro pesadamente. Entro no banheiro, passo
a toalha em meu rosto devagar e tudo parece girar, me causando uma náusea
horrenda.

Puxo o ar e solto devagar, repito umas três vezes, sentindo a ânsia


amenizar.

Saio do banheiro com a mão sobre a testa e paraliso ao encontrar o olhar


da minha mãe. Está parada no meio do quarto de braços cruzados.

— Era o calor, Manuella? — Sorri, se aproximando em passos largos.

Não a encaro, só fico olhando para os pés e engulo em seco o bolo que se
formou na garganta.

— Olhe para mim. — Pede baixo naquele tom autoritário.

Continuo de cabeça baixa e mordo o lábio, prendendo a respiração.


— Manuella! — Segura em meu queixo, me fazendo encara-la. — Eu
mandei olhar para mim!

— Está me machucando! — Digo entre dentes, sentindo os olhos fixos aos


meus. Ela está séria, me encarando.

Solta o meu rosto sem deixar de me fitar.

— Achou que poderia insultar o meu conhecimento, Manuella?

Vira de costas com a mão na cintura.

— Não pode ser. Não... Você não seria tão imprudente. — Repete como se
fosse para si mesma, ainda de costas. — Deus, tem convidados lá embaixo
ainda! Todos com um diploma... e anos de profissão!

Se vira com os braços abertos, passando a mão pelo rosto.

— Você não... Não... — Balança a cabeça de um lado para o outro rindo.


— Manuella.

Continuo em silêncio, a olhando.

Pisco devagar e ela se aproxima, vencendo a distância que nos separava e


segura em meus braços, apertando-os.

— Eu quero que saia da sua boca! Abra a boca e fale, porque não posso
acreditar que foi tão idiota, tão imprudente ao ponto...

— Vai me machucar? — Afasto suas mãos dos meus braços. — Seus


convidados podem escutar e não acreditar na perfeição que você tanto quer
passar!

Arfo e me afasto, a olhando de cima a baixo.

— Não vou falar o que você já sabe e está esperando apenas uma
confirmação da minha boca! — Ergo o rosto e vejo seus olhos se arregalar.
— Era isso que queria ouvir?
— Onde enfiou a merda da sua cabeça, sua inconsequente! — Esbraveja,
negando veemente.

— No mesmo lugar onde estava com a sua quando engravidou de mim!

A porta se abre e vovó entra de repente.

— O que está acontecendo?

— Fernanda? — Papai nos encara e eu limpo o rosto com as costas das


mãos, o olhando. — Estamos ouvindo os gritos lá de baixo! O que houve?

Rocco entra logo atrás e me olha.

— A sua filha... — Mamãe aponta em minha direção.

— Fernanda. — Vovô a segura e ela me encara fixamente.

— O que está acontecendo? — Papai pergunta entre dentes e ela me olha.

— Diga! Diga ao seu pai, Manuella! Fale, sua imprudente! — Aponta em


minha direção.

— Minha filha?

Ele me encara e eu fecho os olhos.

Abro a boca, mas não é a minha voz que sai. Rocco dispara com a voz
arrastada, ficando a frente do meu pai que olha entre mamãe e eu.

— Manuella está grávida, John.


Manuella

— Grávida? — Fecha os olhos e demora alguns segundos para abri-


los. — Grá-grávida?

Umedeço os lábios e engulo em seco, limpando o rosto.

O quarto parece ter ficado pequeno para tantas pessoas, o clima pesou e o
silêncio tomou conta de tudo. O olhar de mamãe recai sobre mim e vovó dá
um meio sorriso, eu só continuo estática no mesmo lugar.

— Estávamos esperando o melhor momento para falar. — Rocco


continua.

— Ah, meu Deus! — A risada ecoa pelo quarto e minha mãe parece fora
de si. — Melhor momento? Qual seria o melhor momento?

— Fernanda, por favor. — Vovô a segura e ela se sobressai, voltando a me


encarar.

— Como pôde ser tão... Tão idiota ao ponto de não ter se cuidado,
Manuella? Meu Deus! — Passa as mãos pelos cabelos.

— Fernanda, isso não é o fim do mundo! — Vovó toma a frente.

— Não é o fim do mundo? Ah, por favor, Vitória! Ela está no auge da vida
dela! — Berra com o dedo em riste. — O que tem na sua cabeça? O que
pensa que é a vida, Manuella?
— Fernanda. — Rocco se aproxima e ela estende a mão.

— Estou falando com a minha filha! — O corta rapidamente. — Não fui a


favor do relacionamento de vocês e sabe bem disso! Ela é uma menina! Uma
vida inteira pela frente, uma profissão e um futuro... Mas agora? E agora,
Manuella?

— Está se ouvindo? A minha vida não acabou! — Altero a voz e puxo o


ar que parece não vir. — Está agindo como se eu fosse uma...

— Uma menina que não sabe nada da vida!

— Manuella. — Rocco segura em meu braço mas eu me desvencilho sem


deixar de olha-la.

Estamos arfantes e meu avô a segura.

Eu tremo da cabeça aos pés, com as lágrimas descendo copiosamente pelo


rosto enquanto a olho.

— Fernanda.

— Você sempre tentou me moldar a sua perfeição, e para que? Para provar
que a grande doutora Maria Fernanda Monteiro é a mulher mais perfeita do
mundo! Que tem filhos incríveis e obedientes... Que não falhamos! —
Disparo, sentindo as lágrimas descerem. — Não somos robôs, mamãe! Eu
sinto muito se você se frustrou, se te desapontei por escolher viver a minha
vida da forma QUE EU QUERO!

— CALE A SUA BOCA! — Berra. — Eu quero o melhor pra você!

— Não, você acha que sabe o que é melhor. — Soluço, sentindo os braços
me segurarem. — Mas não sabe.

Nego veemente, a olhando pela névoa de lágrimas que se formam.

— Não está vendo como ela está abalada, Fernanda! — Vovó ofega.
Ela me olha com o cenho franzido.

— Se você acha que engravidando vai prender ele a você...

— Fernanda. — Papai que até então estava em silêncio, fala baixo e eu o


encaro, sentindo o queixo tremer.

— Porque se estiver pensando isso, foi a maior burrice da sua...

— O que!? — Disparo.

— Manuella, pare. — Rocco pede me segurando, mas eu me desvencilho.


— Me ouça!

— Fernanda, pare!

— Você...

— EU MANDEI VOCÊ PARAR, FERNANDA! — O grito de papai ecoa


e ela o encara.

— Vai passar a mão na cabeça dela? — O olha apontando em minha


direção. — Vai dizer que ela está certa, Jonathan?

— Gritar não vai resolver absolutamente nada. Ficar barrando aos quatro
ventos não vai resolver!

Puxo o ar que não quer vir de modo nenhum, sentindo Rocco me abraçar e
afundo o rosto em seu peito. O soluço escapa da garganta sem eu controlar.

— Se acalme, por favor.

— Olhe o estado em que está a menina! — Vovó toma a frente. — Deus!


Manuella não é mais uma adolescente e muito menos o Rocco! São um
homem e uma mulher! Vocês estão fora de si?

— Mamãe.
— Não passe a mão na cabeça da Manuella, ela deveria estar focada na
faculdade!

— Aconteceu o mesmo com você, Fernanda! E olhe onde está hoje, uma
obstetra renomada e incrível. Pare e pense! Sua filha nesse momento não
precisa de julgamento e sim de amor! Amparo!

Ofego baixo, com o entalo na garganta que me impede de respirar.

— O que está acontecendo? — A voz de Felipe ecoa e eu o olho.

— Ela estragou o futuro dela! Foi isso que ela fez.

— Fernanda, eu disse que já chega! — Papai rebate e meu irmão se


aproxima de mim.

— Manu.

Rocco me encara e volta a olhar para meus pais a frente, soltando um


pigarro baixo.

— Fernanda, eu sinto muito que esteja desapontada, e acredite... — Ele


começa e me olha. — Ninguém aqui nessa sala se sente mais culpado por
isso do que eu.

Meu pai o olha.

— Sinto muito se quebrei a promessa que te fiz, John, mas aconteceu. Eu


sinto muito por achar que estraguei o futuro dela, deveríamos ter nos
protegido. Aconteceu. Não vou fugir de nenhuma responsabilidade se é isso
que teme.

— Acha que é isso? — Dispara. — Nos conhecemos há muito tempo,


Rocco. Você nunca quis nada disso, não é verdade?

Isso doeu como um tapa.

— Fernanda.
Ouço o riso baixo dela ecoar e fecho os olhos.

— Fernanda, ainda tem alguns convidados no andar de baixo e.... — Tia


Natália aparece e olha entre todos nós. — O que houve?

Sinto os dedos de Felipe entre os meus e ele me abraça.

— Quer uma água?

Nego veemente e mamãe me encara suspirando.

— Manuella está grávida. — Diz com a voz arrastada.

A boca dela se abre e fecha, me olhando e piscando freneticamente.

— Parece que é o fim do mundo. Meu Deus. — Vovó a olha. — Fernanda,


você está agindo como se ela fosse uma adolescente engravidando de um
namoradinho de escola! Está ridícula essa sua atitude!

— Quando ela estiver voltando para essa casa com um bebê nos braços e
infeliz, espero que entendam o que estou falando. Com licença.

Passa por nós e sai do quarto sem olhar para trás.

— Eu vou atrás dela. — Tia Natália sai logo após.

Limpo o rosto e engulo em seco, mordendo o lábio e olhando meu pai. Os


olhos azuis se fixam aos meus e eu choro baixo, vendo-o se aproximar.

— Pare de chorar. — Segura em meu rosto, o erguendo. — Vai passar mal


desse jeito. Olhe para mim.

Suspiro pesadamente, sentindo o polegar limpar as lágrimas das minhas


bochechas.

— Se acalme. — Franze o cenho. — Está tudo bem, minha princesa.

O abraço, sentindo o afago em meus cabelos e não consigo controlar o


choro que me domina. O soluço escapa da garganta agoniado, enquanto ele
m aperta, pousando o queixo em minha cabeça.

Não sei ao certo os sentimentos que tomam conta de mim nesse momento,
é um misto de tantas coisas. Raiva. Medo. Tristeza.

O olhar de mamãe sobre mim parecia gravado na mente de uma forma


absurda. Não esperava risos e abraços de sua parte, aliás, tudo que sempre
fez foi nos pressionar a sermos perfeitos, como se nossas vontades partissem
de suas escolhas.

Sinto vovó me abraçando forte, repetindo que não era necessário tudo
isso, que mamãe está nervosa e falando tudo da boca para fora. Me sento no
sofá com Felipe ao meu lado apertando meus dedos.

O olho com os olhos lacrimejando. Acho que é o mesmo medo que eu


estava sentindo há alguns minutos. Ficamos apenas nós dois no quarto.

Sendo o que sempre fomos, o apoio um do outro.

— Manu! — Júlia abre a porta ao lado de Thales e me ergo de repente


quando ela se aproxima. — Não podia ir embora sem ver você, escutamos os
gritos no andar de baixo e...

— Está precisando de alguma coisa?

Nego devagar e a abraço.

— Ainda bem que estão aqui. — Suspiro e mordo o lábio, os olhando.

— Tia Fernanda ficou muito brava. Oh M&M's, te ver assim acaba com o
meu coração de manteiga. — Thales balança a cabeça. — Faz mal ficar
assim.

Sorrio, limpando o rosto.

— Ainda bem que tenho vocês aqui.

— Cadê o velhote?
— Está com papai no escritório. Vocês viram o Thiago? — Felipe
pergunta. — Não o vi.

— Ele está lá embaixo. — Júlia aperta minha mão.

— Vou me despedir dele. Vai ficar bem?

— Vamos ficar com ela até as coisas se acalmarem.

— Vai ficar tarde, Ju. — Ele nega veemente. — Seus pais já foram e...

— Eu a levo em casa. — Thales afirma sorrindo. — Não vamos sair daqui


M&M's.

— Não vamos embora. — Coloco a cabeça em seu ombro. — Estamos


aqui com você.

Rocco

— Fernanda precisa colocar na cabeça que a vida do Felipe e da Manuella


não é governada por ela! Aconselhar é diferente de mandar e desmandar, ela
age como se eles não tivessem vontade própria! — Vitória abre os braços. —
As coisas que ela disse a Manuella, no estado em que a menina está... Meu
Deus!

— Fernanda sempre teve esse jeito explosivo, mas isso foi demais John.
— Rodolfo suspira sentado no sofá. — Estava fora de controle.

— A amo como se fosse minha filha, mas não vou admitir que trate minha
neta dessa forma! Manuella não precisa de repreensão, ela é uma mulher!
Deus... Agindo como se isso fosse o fim do mundo!

Estou de pé e fito John, que está em silêncio, sentado na poltrona solo com
a mão pousada no queixo, sem falar muito desde que entramos aqui.
Fernanda realmente disse coisas grotescas demais e não consigo deixar de
pensar.

Um futuro inteiro pela frente.


O encaro balançar a cabeça devagar.

— Vou ver como minha neta está. Eu espero realmente que Fernanda se
contenha e converse com Manuella como deveria ter feito. — Vitória ajeita
os cabelos passando as mãos devagar. — Venha, Rodolfo. Acho que Rocco e
John precisam conversar.

— Vocês sabem que agora tem um elo muito maior que os prendem, não
é? — Olhamos para ele, que sorri de lado. — Saibam ver isso.

O silêncio volta a se instalar quando a porta bate devagar e ficamos apenas


nós dois.

Estávamos nos despedindo dos convidados no andar de baixo e de repente


só ouvimos as vozes alteradas. É óbvio que já fazia ideia do que era pela
forma que Fernanda me olhou quando Manuella subiu as escadas.

John se levanta e anda até o aparador, enche o copo com o líquido âmbar e
sorve tudo em um gole só, acabando com a bebida e volta a depositar o copo
vazio no mesmo lugar.

— Não tenho muito o que dizer, esperei o melhor momento para vir
conversar com vocês e... Acho que estava procurando não o momento, mas
as palavras certas. — Começo franzindo o cenho. — Eu te prometi que não
ia ter bebês ou casamento antes dela se formar, eu não quis atrapalhar a vida
dela ou...

— Ela está feliz? — Pergunta de repente.

— O que?

— Ela está feliz? — Torna a perguntar um pouco mais alto e eu continuo


sem entender.

Engulo em seco quando ele se ajeita na poltrona apoiando os cotovelos


nas pernas.
— Estou perguntando de pai para pai, porque o que pouco me importa
agora é a faculdade, a formatura ou qualquer outra coisa que não seja a
felicidade da minha filha. — Suspira sério. — Nada é mais importante que a
felicidade dela, por isso estou te perguntado... Manuella está feliz?

O encaro e assinto rapidamente.

— Então é isso que importa. Aconteceu e não temos mais o que fazer, não
vou falar que estou radiante, mas estarei tranquilo se ela estiver bem, porque
mesmo nunca querendo... Nunca tendo vontade e desejo, eu sei que você vai
se esforçar para ser um ótimo pai.

Ri de lado, franzindo o nariz.

— Porque agora você é responsável pela vida que ela carrega e eu espero
do fundo do meu coração que você faça o que eu fiz quando soube que ela
estava a caminho. Eu me transformei. — Sorri e percebo-o limpar o rosto. —
É um sentimento tão forte, é uma coisa que te faz ficar de joelhos só para vê-
los de pé.

Balança a cabeça, sorrindo levemente.

— Quando a peguei nos braços pela primeira vez, eu só queria protegê-la


de tudo e de todos e prometi que ia fazer até onde pudesse... E eu vou.
Então, não me importa a faculdade, a formatura ou o que vão pensar e falar,
eu só me importo com a felicidade dela.

Levanta-se e vira de costas, passando as mãos pelos cabelos.

— Eu também, John. — Digo em um fio de voz. — Acredite, a felicidade


dela é só que importa agora.

Continua parado no mesmo lugar e tanta coisa passa por minha mente. O
medo da impotência, de falhar.

"Quando a peguei nos braços pela primeira vez, eu só queria protegê-la


de tudo e de todos."

É surreal pensar em tal sentimento.


Se vira após alguns minutos e eu o olho, me erguendo.

— Vou me casar com ela. Não apenas pela gravidez ou...

— Não vou agir como o século passado, mas acho justo. — Cruza os
braços. — É meu neto. Eu quero que tenha o melhor e não estou falando do
lado financeiro, Rocco.

— Eu sei, John. — Confirmo levemente e ele coloca as mãos na cintura.

— Eu queria te dar um soco muito forte agora.

— Tenha certeza de que eu sei.

Olho para o lado e ele passa as mãos pelos cabelos.

— Vou ser avô do seu filho, meu Deus! Meu bebê vai ter um bebê. —
Repete entre dentes, engolindo em seco. — Meu bebezinho vai ter um bebê.

Assinto quando ele me encara fixamente.

— Escute o que vou te falar. — Coloca o dedo em riste. — Espero que


cumpra sua promessa de fazê-la feliz, porque eu não vou admitir que a faça
sofrer! Você sempre teve esse seu jeito desapegado, sei também que o fim do
seu casamento com Alisson foi por isso.

— São situações diferentes, John. Nunca sonhei realmente com a


paternidade, nunca tive esse desejo que você sempre me falava. Mas estou
aqui e vou cumprir, não sou um adolescente.

— Espero que estejamos conversados, Maldonado. Porque se magoar a


minha filha, você vai ter um inimigo para o resto da sua vida.

Ele desfaz os botões do punho.

— Ela está se cuidando? Já sabe com quantas semanas está? O que está
tomando? O que está usando?
— Vai começar o acompanhamento médico e está tudo bem. — Ele
assente levemente. — Vou ver como ela está.

— Eu também. Deus! Eu vou ser avô aos 45 anos. — Passa a mão pelo
pescoço. — Avô. — Me olha sério e balança a cabeça. — Avô. — Repete
como se não acreditasse. — Vou te matar, eu juro!

Parece que o clima apaziguou. Saímos do escritório e sinto a cabeça latejar


em um ponto específico a cada passo que dou pelo corredor até o quarto que
está com a porta entreaberta.

Manuella está sentada conversando com a avó segurando em suas mãos e


algumas pessoas presentes no quarto. Ela ergue o olhar e a encaro.

— Está se sentindo bem? — Ela se levanta assentindo.

Os olhos avermelhados, assim como o rosto ainda úmido.

— Não está sentindo nada? Jura? — John pergunta logo atrás de mim.

— Estou bem.

— Venha cá! Deus! — Ele suspira a abraçando. — Você as vezes testa o


coração do seu pai, sabia? Sempre foi assim, desde que nasceu.

Sorri devagar, segurando em seu rosto.

— Eu te amo, minha princesa. Você não está sozinha.

Vitória me encara dando um leve sorriso e assentindo. Júlia me olha de


relance.

A culpa me dá uma espezinhada de uma certa forma por me preocupar


com tantas coisas e esquecer do principal: a felicidade dela.

— Precisa se cuidar e cuidar desse bebê aí dentro. Sua mãe está de cabeça
quente.
—- Ela sempre foi assim. — Manuella morde o lábio e posso ver a aflição
em seu rosto quando me olha.

— Só foi pega de surpresa. Porque não ficam aqui hoje e amanhã vão? Já
está tarde e você bebeu, não vai dirigir bêbado com minha filha grávida.

— Fique também, Júlia. Durma no quarto de hóspedes. — Manuella pede


para a amiga.

— Não precisa, Thales vai me deixar e...

— Fiquem. Mando Arlete preparar os quartos, foi uma noite e tanto.

— Concordo, vão descansar, por favor. — Vitória assente levemente.

Acabamos decidindo ficar, já passa de 2h e eu estou exausto. Olho o


quarto ficar vazio e Manuella me encara quando estendo a mão e segura, se
aproximando. A mão espalma em meu peito.

— Você acha que eu engravidei só pra te prender? Acha isso? — Pergunta


baixo, erguendo o rosto.

— Claro que não. Sua mãe falou aquilo da boca para fora, minha pequena.

Morde o lábio devagar e eu seguro em seu queixo.

— Sinto muito se não te dei escolha e...

— Shhh. — Falo baixo, a apertando em meu peito. — Pare de pensar


bobagens e me ouça.

Deito a cabeça, encontrando seus olhos ainda brilhando pelas lágrimas.

— Eu te amo. Você nasceu para mim, minha pequena e não quero mais te
fazer chorar. Nunca mais.
Rocco

— Doutor Rocco, os exames do senhor Gabriel foram concluídos. —


Alana me entrega a prancheta.
— Como suspeitei. — Passo a caneta pela folha, analisando os resultados
dos exames. — Vamos lá.
Passo as mãos pelos cabelos andando pelo longo corredor do hospital.
Está uma loucura esses últimos sete dias que passaram. Tudo deu um giro de
360° com os últimos acontecimentos.
A gravidez de Manuella caiu como uma bomba em todos os aspectos,
razões e circunstâncias desde a noite do jantar na casa dos seus pais. Ela não
está falando com a mãe e se nega a ter qualquer tipo de contato com ela.
Chorou praticamente a noite inteira e me deixou sem saber o que fazer e o
que dizer. Estava tão frágil e sensível. Não quis comer, não quis sequer
trocar de roupa. Saímos cedo e apenas se despediu do pai, dos avós, da
amiga e do irmão, então saímos.
Ela não estava bem e era nítido o quanto toda aquela confusão a deixou
magoada. Por partes eu sinto que é culpa minha também. Tentei conversar
com Fernanda, mas com toda certeza foi em vão, então respeitei seu
momento de não aceitar.
Não sei ao certo o que fazer ou o que falar para tentar amenizar. Talvez,
não tenha como.
Essa semana foi de altos e baixos. Ela marcou a ultrassonografia para a
semana seguinte, que no caso será hoje a tarde, finalmente. Não queria vir ao
hospital, então escolheu uma clínica próxima e vamos na parte da tarde.
Entro no quarto onde o paciente está, dou o resultado dos exames e o
diagnóstico, que como previsto é uma pericardite que pode ter surgido após
o infarto do miocárdio. Explico os mínimos detalhes e entraremos com o
tratamento, que é apenas de alguns medicamentos que vão aliviar a
inflamação na membrana.
Me despeço, ajeitando o estetoscópio no pescoço enquanto saio da sala.
Estou em um plantão de 24h e só parei para descansar de madrugada, que foi
o horário mais tranquilo do hospital.
Enfio as mãos no bolso do jaleco e ando pelo corredor, ergo o olhar
quando Alisson vem em minha direção.
— Corrido por aí também? — Sorri, ajeitando o estetoscópio cor de rosa
com um patinho grudado no jaleco da mesma cor.
— Insano. — Franzo o cenho e suspiro. — Está de plantão?
— Sim, a pediatria está uma loucura. Meus minis pacientes estão a todo
vapor. — Umedece os lábios e ajeita o rabo de cavalo. — Vai para a sala
agora?
— Vou tomar um café, antes que eu enlouqueça.
— Somos dois. Posso ir com você?
— Claro.
Passo as mãos pelos cabelos e caminhamos até a lanchonete do hospital.
Encontrar Alisson nos corredores se tornou uma rotina desde a sua entrada
no hospital. Foi muito bem recebida por todos e a ala pediátrica parece mais
leve desde a sua chegada. Ela tem esse poder de leveza e felicidade, sempre
foi assim.
Manuella imediatamente me vem à mente. Com toda certeza ela não será
diferente quando se formar. No fim de semana já vai começar a estagiar, que
mais uma vez foi adiada, só que agora por John, já que ele queria saber
como estava a gravidez. Será até melhor e me deixará menos preocupado
também.
— Já está se adaptando bem? — Aperto o copo de café nas mãos quando
nos sentamos na pequena mesa. — Sempre te pergunto isso.
— Estou sim, é um desafio vencido a cada dia. — Rasga o envelope de
adoçante e coloca na xícara, mexendo em seguida. — Mas já me sinto em
casa as vezes.
— Costume, também me senti assim quando cheguei.
Me encara por cima da borda da xícara e volta a depositar a mesma,
mexendo-a.
Franze o cenho e morde o lábio.
Conversamos apenas o básico e desde a noite do jantar não trocamos mais
que duas palavras direito. Eu respeitei o seu momento também.
Baixo o olhar, observando a fumaça sair do copo.
— Está tudo bem? Estou te achando tão calado. — Ergo o olhar,
encontrando o seu.
— Estou. — Confirmo com a cabeça em um leve aceno. — Só cansaço e
pensando em algumas coisas.
Alisson assente.
— E Manuella? Ela está bem? — Me olha fixamente, o rosto ruborizando
de repente, o que a faz se ajeitar na cadeira e dá um pigarro.
— Está sim.
— Só estou perguntando. Sabe como é os boatos nos corredores.
— Ela está bem, e claro que eu sei. — Arqueio a sobrancelha. — Você
ainda estava presente no jantar quando...
Ela assente.
— Estava. — Confirma. — Espero que ela esteja bem, de verdade.
— Está sim. Vai fazer a ultrassonografia e...
Ela ri, baixando a cabeça de repente e a olho quando ergue o rosto,
encontrando o meu.
— Desculpe. É que nunca imaginei que fosse te ver no papel de pai. —
Segura a xícara. — Achei que esse dia nunca ia chegar.
Me calo e cerro o maxilar, voltando a encará-la. Não sei ao certo o que
dizer. Que também nunca pensei? Que não faço ideia de que sentimento é
esse?
O que esperar? O que fazer? Como agir?
Sua recepção no hospital foi incrível, a melhor impossível. Alisson já é
querida por todos os funcionários e até pacientes.
Mexe nos cabelos soltos e morde o lábio. Parece me ler a cada frase não
dita.
Franze o cenho, abre a boca mas torna a fechar, balançando a cabeça.
— O que foi? — Pergunto baixo, vendo o sorriso de lado.
— Nada. — Umedece os lábios e suspira. — Preciso voltar para... Eu
preciso ir para a ala pediátrica.
Levanto junto e ela passa as mãos pelo rosto.
— Vamos, preciso pegar a liberação de uns exames. — Assinto, saindo da
lanchonete.
Andamos em silêncio pelo corredor que dá acesso às salas. O movimento
tranquilo é até um pouco estranho a essa hora. Continuamos em silêncio,
entramos no elevador e assim descemos alguns andares.
— Rocco? — Alisson chama e eu a olho.
As portas se abrem e seguimos saindo da caixa de metal. Estamos no
andar de nossas salas.
— Olhe quem está aí. — Natália aponta em minha direção e os cabelos
dourados são a primeira coisa que vejo quando Manuella se vira para me
olhar.
Me encara piscando devagar e eu me aproximo.
Está linda.
Parece o sol iluminando tudo com sua presença.
— Não deveria estar na faculdade? — Franzo o cenho.
— É bom te ver também. — Finge seriedade e me abraça.
— Ah, o amor! — Natália suspira e ri.
Manuella me encara e volta a atenção pra Alisson, que está há poucos
metros de nós. Sorri, engolindo em seco.
— Como vai, Manuella?
— Bem e você?
— O trabalho me chama, até já. — Natália se despende e sai.
— É, eu também vou indo, com licença. — Alisson nos encara e eu aceno,
vendo-a se virar e sair em passos largos.
— Estava ocupado? — A voz baixa me faz descer o rosto para olhar ela.
— Para você, nunca. — Seguro em seu queixo, franzindo o nariz. — Vem
cá.
Entrelaço os dedos aos seus e abro a porta da minha sala. Ela piscar os
olhos, mordendo o lábio e fazendo a boquinha ficar com um bico lindo. Está
parecendo ainda mais jovem com o vestido amarelo de alças finas, os
cabelos soltos e o tênis branco.
O coração soca o peito quando a olho.
— Onde estava?
— No andar de cima, na emergência. — Vejo seus olhos brilhando. — Por
que?
— Nada. — Nega e sorri de lado, espalmando a mão em meu peito. — Já
disse que fica um tesão com esse jaleco e esse estetoscópio?
Afaga minha barba rindo.
— Você não toma jeito, né? — Falo entre os lábios e ri, negando.
— Você sabe que não. — Esfrega o nariz ao meu e eu enfio as mãos por
entre os fios, a beijando e sentindo o corpo minúsculo colar ao meu. Parece
que tudo se esvai. Todo o cansaço e toda a angústia. A ergo e coloco-a sobre
a mesa, ficando entre suas pernas.
Suas mãos agarram a lapela do jaleco.
A observo de cima a baixo com as bochechas rosadas, os lábios
entreabertos e a respiração ofegante.
Eu sou alucinado por ela. Maluco. Louco. Insano.
Apaixonado.
Passo o dedo pelo queixo, apertando-o e ela segura em minha mão, fecha
os olhos e quando torna a abrir, se fixam aos meus. Encosto a testa na sua e
seguro seu rosto com ambas as mãos, a beijando tão forte que não sei de
onde surgiu tanta necessidade e vontade.
Manuella tem tudo de mim.
Manuella:
— Precisei vir deixar uns papéis da faculdade para o estágio. — Explico e
ele assente.
Ainda estou sentada em sua mesa e ele na enorme cadeira. Afago sua
barba, sentindo espetar meus dedos e é incrível o quanto ainda fica enorme
mesmo sentado.
As mãos estão pousadas em minhas coxas lado a lado do seu corpo.
Tentei afastar o ciúmes que me invadiu quando o vi sair do elevador com
Alisson. A forma que ela o olhava me deixa um pouco incomodada e com
uma sensação estranha. Pode ser apenas impressão, ou estou vendo demais,
mas sinto que o olhar dela é de quem ainda...
Pare com isso, Manuella.
Pare com isso.
— Vou voltar para a faculdade e a gente se encontra na clínica? — Ele
assente.
— Sim, meu plantão acaba meia hora antes, por isso não posso ir te pegar
para irmos juntos. Vamos nos encontrar lá.
— Tá bom. — Sorrio quando ele encosta a cabeça em meu peito e as mãos
enlaçam minha cintura. Afago seus cabelos e ergo seu rosto. — A carinha de
cansado.
— Mais ou menos. — Beijo a ponta do seu nariz, o queixo e tomo sua
boca. — Você é a cura do cansaço e da exaustão.
Sorrio, sentindo-o me apertar.
Estou me sentindo mais leve nesses dias que se passaram. Não brigamos
mais, ou qualquer coisa do tipo. Acho que após a descoberta dos meus pais
tudo ficou mais leve e o peso parece ter saído dos ombros dele. Não que as
palavras da minha mãe ainda não doam, pois elas doem só em lembrar.
Já sabia que sua reação não seria das melhores, só nunca esperei que seria
tudo aquilo.
Não estamos nos falando e eu até prefiro assim, evito quando preciso
resolver alguma situação da qual sei que ela deveria estar presente. Vovó me
liga todos os dias para saber como está a gravidez e meu pai também,
conversamos todos os dias.
Afago as mãos grandes em minha cintura, as colocando em minha barriga.
Está pequena e eu não vejo a hora dela crescer.
Rocco me encara e eu sorrio.
— Ansioso para me ver, papai? — Ele encara a barriga imperceptível com
as mãos ainda pousadas e afaga devagar. — Não vejo a hora de sentir mexer.
— Vai demorar um pouco. — Franze o cenho. — Devia fazer a ultra aqui.
— Não, não quero fazer com minha mãe.
— Tem outra médica, Manuella. Você sabe que seu pai prepararia tudo
para te receber aqui. —- Volto a negar veemente.
— Só essa primeira ultra quero fazer em outro lugar, depois eu faço aqui.
— Explico e ele assente.
— Como quiser.
Volto a olhá-lo e arqueio as sobrancelhas.
— Você não respondeu se está ou não ansioso para vê-lo. — Lembro.
— S-sim. — Assente. — E-estou.
Ele olha para minha barriga com as mãos ainda espalmadas.
Sorrio.
As batidas na porta nos fazem olhar e a voz grossa e rouca do meu pai
ecoa do outro lado, me fazendo rir quando Rocco levanta, abre a porta e ele
me encara de imediato.
— Desça da mesa! Quer se machucar? — Entra na sala e eu logo desço o
olhando. — Está sentindo o que?
Segura em meus braços, me olha de cima a baixo e eu olho para Rocco.
— Como deixa ela ficar nessa mesa e descer desse jeito? Pode se
machucar! Você não está cuidando da minha filha. — Ralha, segurando meu
rosto. — Como está se sentindo, meu bebê? Está com dor?
— Papai, eu estou bem!
— Ela está ótima. — Rocco estende o braço.
— Certeza? O que está fazendo aqui então? — Volta a me olhar sério com
o cenho franzido.
— Os documentos do estágio, papai. Precisava vir deixar.
Ele suspira como se só então lembrasse e balança a cabeça.
— Pensei que estava sentindo alguma coisa. — Volta a me abraçar e beijar
minha testa. — Está tudo bem mesmo? Jura para o papai?
— Estou ótima. — Seguro em suas mãos e ele assente.
— Você deveria estar cuidando dela! — Aponta para Rocco. — Diga que
ela não vai estagiar agora, que não precisa no momento.
— Papai, consigo fazer normalmente. Estou saudável e o bebê também.
— Bebê. — Coloca a mão na testa. — Meu bebê vai ter um bebê. Deus!
— John. — Rocco segura em seu ombro. — Respira, ou vai infartar
irmão.
— Culpa sua! — Dispara e volta a me abraçar, me fazendo rir com a
cabeça em seu peito. — Oh, meu bebê. Papai está aqui. Quer alguma coisa?
Quer comer?
— Não, só vim deixar os documentos e vou voltar para faculdade.
Ele me solta e franze o cenho. Os olhos azuis brilham e beija minha testa.
— Vai voltar sozinha?
— Júlia está me esperando. Estamos bem. — Beijo sua bochecha,
sentindo-o me abraçar. — Se acalme.
— Está nervoso atoa. — Rocco me encara balançando a cabeça.
Pego a bolsa, entrego os papéis que preciso para estagiar e meu pai recebe
de semblante fechado.
— Você não precisa disso agora.
— Mas vai ser por uns meses, por favor? — Junto as mãos e pisco os
olhos. — Por favor, papai.
— O que me pede chorando que eu não faço sorrindo, minha princesa?
O abraço e sinto o beijo em minha testa.
— Eu te amo.
— Eu também.
Olho para Rocco de braços cruzados e sorrio, mordendo o lábio.
— A gente se vê a tarde?
— Claro. — Beija minha testa demoradamente. — Amo você.
— Eu também.
— Vá logo. — Papai acena sério.
Sorrio saindo da sala e paro ao ver mamãe se aproximar com tia Natália.
Ela me encara fixamente e eu engulo em seco, olhando meu pai e Rocco
parados na porta.
Volto a andar sentindo o olhar em mim e sigo.
Será assim agora.

— Podíamos ir para um pub essa semana, marcar com todo mundo como
fazíamos antes. — Pâmela bate palmas animada. — Que tal?
Estamos reunidos no pátio da faculdade. Já almocei no restaurante com
Júlia e voltamos para concluir um trabalho, agora estamos livres
conversando com os amigos.
— Aquele bar na lapa, podemos ir lá. — Camila ergue a mão.
— Vamos, Manu? Sentimos sua falta nos acompanhando.
— Talvez nos encontremos lá. — Mordo o lábio, vendo Júlia assentir.
— Manu ainda pode sair com a gente? — Olho para trás quando Davi se
aproxima segurando o capacete.
Reviro os olhos de imediato.
— Nossa, Davi você é cuzão em! — Thales vem em nossa direção. —
Solta o anjo da Manuzita!
— Falei alguma mentira, Manu?
— Falou merda. — Júlia ri sem humor. — Aliás, supera Davi.
— É porra! — Thales abre os braços. — Manu não pode ter estresse que
faz mal para o bebê dela.
O silêncio se instala e todos os olhares se voltam para mim.
— Ah, boca de sacola! — Júlia o encara. — Tem a boca vazada, né?
— Você está grávida? — Davi dispara. — O velhote te engravidou?
— Que eu saiba, duas pessoas têm que transar para poder fazer um bebê,
não sabe aula de anatomia?
— Não vê que ele te engravidou para te prender a ele?
— Davi, vai dar um passeio na casa do caralho! Maior cuzão! — Thales o
olha. — O que você tem a ver com a vida da M&M's? Tá grávida sim e você
não é o pai!
— Cala a boca, Thales! — Davi dispara e me olha de cima a baixo. — O
que foi que viu nesse homem? Está perdendo toda sua vida com um vovô!
Sério, Manuella? Um bebê do velhote?
— Ah, vai se foder! — Júlia entra na minha frente. — Vem, Manu!
— Sai da minha frente! — Peço, saindo junto com Júlia. Me despeço das
meninas e aviso que depois conversamos.
Já está praticamente no horário de ir para a clínica, então só aproveitamos
para sair logo.
— Esse Davi está me dando nos nervosos. Que garoto babaca! — Júlia
balança a cabeça enquanto sorvo um gole de água. — Está tudo bem?
— Sim. — Umedeço os lábios. — Que idiota.
— Me desculpa! — Thales aparece. — Você sabe que quando estou bravo
só sai besteira e acabei falando demais.
— Só quando está bravo? Era uma coisa que partia da Manu falar e não de
você! — Júlia rebate.
— Foi sem querer, M&M's.
— Tudo bem, Thales. Davi que consegue ser um idiota.
— Não escuta nada que ele tem pra falar. Me perdoa tá? — Sorri e eu
assinto, vendo-o olhar para Júlia. — E você não perde a oportunidade de me
maltratar né?
— Sai da minha frente.
— Doce de limão!
Balanço a cabeça rindo enquanto entramos em seu carro. Ela vai me
deixar na clínica, já que eu voltaria com Rocco.
Ou ao menos foi o que pensei.
Ele não atendeu o celular e não respondeu as trinta mensagens que deixei.
Olho para Júlia aflita segurando minha mão a cada minuto e hora que
passamos na clínica.
— Ele não vai vir. — Diz baixo e eu mordo o lábio.
Se tiver acontecido algo?
Meu coração palpita em mil e uma maneiras e pensamentos diferentes.
Liguei para o hospital, mas ele não sabia dizer onde estava.
Sorrio triste quando Júlia segura em meu rosto para me olhar.
— Não viemos aqui atoa. Depois você descobre o que aconteceu, agora
vamos ver nosso bebê.
Seguro o choro preso na garganta e assinto quando a médica nos chama
após longas horas de espera.
Foi um martírio, me senti sozinha.
Respondi todas as perguntas que me fizeram e eu parecia responder no
automático. Quando me deitei na maca e o gel espalhou por minha barriga,
eu fechei os olhos.
— Estou aqui com você. — Júlia sussurra e tento ao máximo não chorar.
Mas é impossível me conter.
A lágrima desce rolando por meu rosto ao ver o borrão na tela surgir aos
poucos. O bolo se forma e eu fecho os olhos, tornando a abri-los marejados e
sorrio.
Não estou mais sozinha. Agora entendi tudo.
Digo baixo quando um soluço rompeu da garganta:
— Oi pontinho...
Rocco

Puxo a touca e solto o ar pesado que parece sufocar o peito.


— Deu tudo certo, doutor Rocco. — Alana assente, tirando a máscara.

Assinto devagar, ainda sentindo o surto de adrenalina correndo por minhas


veias. Estava de saída quando de repente o hospital é bombardeado por
gritos e choros desesperados.

Larguei absolutamente tudo para trás.

Um adolescente de 18 anos em uma parada cardiorrespiratória. A mãe


chorava agarrada ao filho que era trazido pela equipe de SAMU. Corremos
desesperados com a ressuscitação cardiopulmonar já sendo feita,
intercalando com o desfibrilador.

Pedi espaço, tomando o controle da situação e vendo o menino pálido,


praticamente sem vida.

— Salve meu menino, doutor! Por favor!

Pareço ouvir os gritos chorosos e desesperados dos pais correndo na


direção da ala emergencial do hospital. Foram minutos angustiantes de
massagens e carregando o desfibrilador até os sinais vitais voltarem.
Tivemos que monitorar a pressão arterial, a saturação de O2 e a frequência
cardíaca.
Pedi com emergência eletrocardiograma, radiografia de tórax e exames
laboratoriais.

Ele vai ficar em observação e esperar o resultado dos exames.

Me encosto, engolindo em seco e sorvo um gole de água. Mesmo estando


há mais de vinte anos exercendo a profissão e vendo absolutamente de tudo,
é impossível não ficar abalado e não se sentir esgotado, como se a morte
tivesse o tempo inteiro passando e beirando as espreitas.

É uma luta. Segundos preciosos e cruciais podem mudar vidas e decidir


destinos.

Fecho os olhos e suspiro pesadamente.

Olho para o relógio. Foi impossível sair do hospital, então saio às pressas,
praguejando baixo e mordendo o lábio. Não teve como avisar, nem como
mandar a porra de uma mensagem, já que celular é a última coisa que eu
penso em pegar nesses momentos.

Passo as mãos pelos cabelos, entrando em minha sala e reviro a mesa,


pegando o aparelho com incontáveis ligações e mensagens.

Rocco? Estou aqui, cadê você?

Deslizo o dedo, lendo as mensagens e fecho os olhos, suspirando.

Rocco????
Não vou mais te esperar!

Cada mensagem é uma facada no peito. Posso sentir a angústia nas letras.

Deslizo o dedo e coloco o aparelho no ouvido.

— Inferno, Manuella! Atende! — Peço baixo, andando pela sala.

A dúvida entre ir na clínica e saber que não está mais lá ou ficar aqui,
sendo que poderia vim ou vai estar em casa. A chamada cai na caixa postal
para o meu desespero e angústia.
E assim é na terceira, quarta e na quinta chamada. Ela não vai atender.
Não vai me perdoar.

O aperto no âmago se instala e ouço as batidas leves na porta, só falo


"entre". Alisson surge assim que a porta se abre, já não usando mais o jaleco,
provavelmente no fim do seu plantão.

— Soube da emergência agora a tarde. Estava em atendimento na ala


pediátrica. — Explica baixo e eu assinto, me sentando no sofá com as mãos
no rosto. — Você não foi na ultrassonografia com a Manuella?

— Não, e agora ela deve estar pensando alguma besteira. — A fito de


cenho franzido, passando as mãos pelos cabelos.

Alisson caminha devagar e se senta ao meu lado.

Nego, rindo para o nada.

— E ela tem razão em pensar? — Pergunta, me fazendo encará-la.

As mãos estão pousadas nas pernas, com o sorriso singelo no rosto.

— Você é a última pessoa com quem eu deveria estar desabafando,


Alisson. — Mesmo sério, a voz sai em tom leve.

— Por que fomos casados? — Diz o óbvio. — Rocco, eu te conheço


muito bem para saber o que está sentindo. Fomos casados por 10 anos.

Engulo o bolo formado na garganta de repente e ela pisca.

— E eu nunca te vi olhar para... Para alguém como olha para ela. — A


sombra do sorriso paira no rosto. — Aquele olhar como se nada no mundo
existisse, além dela.

Franzo o cenho, vendo-a piscar várias vezes.

— Ela sente a mesma coisa por você. O jeito que a Manuella te olha...
Vocês vão ter uma família, Rocco.
A fito morder o canto do lábio sem tirar os olhos dos meus e fica um
silêncio incômodo. Não deveríamos estar tendo essa conversa, não sabendo
que o motivo do nosso término foi exatamente esse.

— Se eu te falar que não doeu, estaria sendo hipócrita. Aliás, isso foi o
que me fez pedir o divórcio.

Alisson para, olhando em volta, então me olha de novo.

— Mas eu não vou me impressionar... Não vou me impressionar, porque


ela é o amor da sua vida. Não vou me impressionar em ver você fazendo
com ela tudo que eu pedi que fizesse comigo.

— Alisson.

— Estou dizendo o óbvio e eu precisava falar. Eu não sou a ex que vai


transformar a sua vida em um inferno ou qualquer coisa do tipo. Sabe por
que? Porque você não me ama. Você nunca me amou. Nosso casamento foi
cômodo. Você foi se acostumando e foram longos 10 anos nisso.

Ri triste e limpa as lágrimas que começam a descer.

— Não lutei por você, porque não se pode lutar sozinha. Não fiz isso antes
e não farei isso agora. — Sorri e dá de ombros. — Mas se eu puder te falar e
se quiser me ouvir...

— Eu te ouço.

— Lute por ela, lute por sua família. Não deixe seus medos e inseguranças
te fazerem perdê-la. Você a ama, você é apaixonado por ela, e é recíproco,
Rocco. — Sua voz ainda está embargada. — Só desejo que lute por seus
sonhos e por seu filho. Tenha a coragem que não teve de lutar por nós dois.

Encaro-a sorrir sem jeito.

— Não precisa dizer que sente muito... Eu sei que sente, mas não precisa.
Você vai ser pai.
— E eu não sei o que fazer. — Levanto sem olha-la, desabafando o que
está em meu peito e na minha mente. Continuo de costas, com as mãos nos
quadris. — Eu não sei o que fazer para não deixar ela infeliz.

Balanço a cabeça e me viro para encarar Alisson que se ergue.

— Você sabe o que deve fazer, Rocco. É seu filho.

— E se eu não souber ser pai, Alisson? Se eu não... Se eu não conseguir


dar atenção e viver para essa criança?

Ela me olha de cenho franzido.

— Minha vida é minha profissão. Eu amo o que faço e amo me dedicar a


isso. Me envolver com Manuella fugiu de tudo que estava em meus planos,
mas eu a quis... Eu a quis e passei por cima do que achei certo. Ela está
infeliz.

— Você está deixando-a. Tivemos tantas brigas em relação ao modo que


se dedica ao hospital, o quanto sempre o colocou acima de tudo, não acha
que está na hora de olhar ao redor? Vai perdê-la e vai perder o seu filho.

Mexe nas mãos e eu a olho fixamente, com o peito apertado e o coração


batendo em ritmo frenético.

— Ela está com os hormônios aflorados. Ela vai se arrepender, Alisson.

— É uma incógnita, Rocco não podemos afirmar.

— Não fui capaz de fazer você feliz, imagine uma menina da idade dela!
Ela deveria estar curtindo o auge da juventude e não grávida. Os planos da
faculdade, a carreira brilhante que os pais dela idealizaram e eu não consigo
entender que amor paterno é esse que tanto falam.

Nego veemente com o cenho franzido e paraliso, dando de cara com o par
de olhos fixos aos meus, parada perto da porta.

O rosto avermelhado e úmido. Segura uma pasta nas mãos e me encara


fixamente. Ana Júlia está logo atrás.
Alisson abaixa a cabeça de imediato.

— Não se preocupe, minha intenção não era atrapalhar a conversa e o


desabafo. — Sorri lentamente e uma lágrima rola pela face. — Achei que
tivesse acontecido algo para que não tivesse ido, mas já vi o que aconteceu
realmente.

— Manuella. — Dou um passo na sua direção.

Ela limpa o rosto com as costas das mãos.

— Mas eu vi que o que realmente aconteceu. Não se preocupe, Rocco a


partir de agora você não tem mais responsabilidade nenhuma com essa
criança que eu carrego.

— Manuella, me deixe explicar. — Dou um passo a frente e ela dá outro


para trás.

— A mim? Você não estava se explicando para mim! — A voz sai


embargada e fecho os olhos.

— Manuella, eu peço desculpas.

— Você não precisa me pedir nada. — Diz sem olhar para Alisson, com os
olhos fixos aos meus. — Não me deve nada.

— Eu estava preso na emergência. — Disparo. — Me ouça, eu juro.

— O juramento de um mentiroso não vale nada! — O queixo treme


enquanto as lágrimas descem pelo rosto e ela volta a limpar. Dou mais um
passo à frente, sentindo-a ir para trás. — A maneira que veio tratando essa
gravidez em segundo plano na sua vida, o quanto não demonstra
absolutamente nada. Nada!

— Manuella. — Nega veemente, me olhando. — Minha pequena, me


ouça.
— Você age como se ele nem existisse, como se não estivesse aqui dentro!
— Soluça desesperada. — E agora vejo que é isso que sente! Você não sente
nada!

— Eu fiquei preso, Manuella. Eu não tinha como sair de uma emergência!


Eu não poderia deixar tudo largado!

— Mais me deixou lá largada enquanto estava aqui! — Aponta para o


nada e sei exatamente o que está passando em sua cabeça. — Eu estava lá
sozinha! Eu estou fazendo isso sozinha! Você não vê que estou fazendo isso
desde o começo?

Ergue o queixo e deixa as lágrimas rolarem, morde o lábio e fecha os


olhos. Me calo observando-a, porque não sei o que dizer e nem como agir.

Quero abraçar ela e me desculpar, mas nem me acho digno de fazer tal
coisa.

— Você não está sozinha.

— Não. Não estou porque Júlia estava comigo, segurando minha mão!
Porque o pai do meu filho se preocupa com tudo, menos com a existência
dele! — Diz brava, balançando a cabeça e empurrando a pasta em meu peito,
que seguro para não cair. — Você não se importa, eu já entendi, então está
livre disso! Está livre dessa responsabilidade que não quer, mas saiba de uma
coisa.

Engole em seco com o queixo trêmulo.

— Eu não o fiz sozinha!

— Manuella, por favor, me ouça! — Chamo, vendo-a negar veemente e


soluçar baixo.

A culpa me engolfa, o desespero, a raiva e tudo que mais quero é ter a


chance de concertar essa merda toda.

— Para que? Para pedir desculpas e daqui dois dias fazer a mesma coisa?
— Ri entre as lágrimas grossas. — EU NÃO QUERO SUAS DESCULPAS!
Sabe por que, Rocco?

Continuo parado, segurando a pasta nas mãos, vendo-a fechar os olhos e


tornar a abri-los.

Está magoada e tem toda razão.

— Porque desde o início você nunca tomou iniciativa de nada. A sensação


que tenho é que se não fosse eu, isso não existiria! Porque você é um
covarde. Um covarde que se esconde atrás de sua idade, para julgar a minha!
— Aponta o dedo em meu peito. — Que acha que minha juventude é o
problema, quando na verdade é a sua falta de coragem, doutor!

A encaro soluçar.

— Quem precisa crescer aqui é você!

— Manuella.

— Você preferiu desabafar com a sua ex-mulher do que comigo, sobre O


NOSSO FILHO! Você me deixou quando eu mais eu precisava que estivesse
ao meu lado! — Arfa trêmula, deixando as lágrimas rolarem e eu me
aproximo, a segurando.

— Me deixa te explicar.

— Explicar o que, SEU IDIOTA? Que estava desabafando com sua ex


sobre o nosso filho? Que você não quer ele? Que você não sabe como agir?
— Me empurra, se desvencilhando. — Eu te dei tantas oportunidades de
conversar comigo, Rocco, mas não, você sempre me usa no final das nossas
brigas como depósito de porra, porque pra você tudo se resolve na cama.

Nego veemente, sentindo-a me encarar. Está tremendo tanto que tenho


medo de sentir alguma coisa.

— Mas sabe, Rocco? Eu cansei e você não vai rejeitar meu filho. Sim, ele
é meu, porque ele não precisa de um imbecil como você, que não sabe se vai
querer ele ou não.
Morde o lábio e eu sinto o soco no estômago das palavras me atingindo.

— Nossa conversa acaba aqui, não me procure mais.

Manuella

Abro a porta, não conseguido respirar direito nem ver o que está a minha
frente. Sinto as mãos de Júlia me agarrarem e nego veemente. Puxo o ar,
apenas para o soluço escapar mais alto do que eu gostaria que tivesse saído.

— Manu, se acalme! — Pede baixo.

— Me tire daqui, Júlia. Por favor.

Uma confusão na mente e no coração. Me sentindo tão machucada, como


nunca pensei que ficaria.

"Só desejo que lute por seus sonhos e por seu filho. Tenha a coragem que
não teve de lutar pela gente."

Fecho os olhos, deixando as lágrimas rolarem.

"E se eu não souber ser pai, Alisson? Se eu não... Se eu não conseguir dar
atenção e viver para essa criança?"

Ouvi tudo desde o início, cada palavra daquela conversa.

Sai da clínica com Júlia e o coração apertado por não tê-lo ali comigo
naquele momento, pensando que poderia ter acontecido mil e uma coisas, e
aconteceu. Ele estava desabafando com ela. Desabafando com a mulher que
ainda é apaixonada por ele.

Sobre o nosso filho.

— Manu, você está tremendo! — Júlia segura em meus braços.

— Manuella! — A voz rouca dele me faz fechar os olhos.


— Saia de perto de mim! — Digo entre dentes.

Nesse momento não me importo com os olhares de algumas pessoas no


corredor do hospital e só saio pisando firme. A ânsia de vômito, o choro
preso na garganta e todo meu corpo treme como se eu não tivesse controle
sobre ele.

— Ela vai passar mal, deixe-a! — Ouço Júlia falar e paro encarando
minha mãe andar na minha direção.

O cenho franzido.

— O que houve?

Suspiro pesadamente e fungo com o queixo tremendo.

— E você se importa? — Digo entre as lágrimas. — Você não se importa


com nada disso!

— Manuella, o que aconteceu? O que está sentindo? Fale comigo!

— Para que? Para dizer que me avisou? Que está feliz me vendo assim?
— As palavras saem atropeladas e trêmulas.

Fecho os olhos, sentindo as lágrimas grossas descerem.

— Manuella!

— Não finja que se preocupa. Você e ele são iguais!

— Tia Fernanda, ela vai passar mal! Por favor, Manuella! — As mãos me
seguram e eu não sei se estão frias ou é meu corpo.

— Chame o Jonathan! — Ouço-a pedir e não consigo mais controlar o


choro. — Rocco, o que aconteceu com a minha filha? O QUE HOUVE?

Não quero vê-lo. Não quero.


Desabo, enfiando o rosto na curva do pescoço de Júlia, chorando
copiosamente o que nunca chorei em toda minha vida.

"E se eu não souber ser pai, Alisson? Se eu não... Se eu não conseguir dar
atenção e viver para essa criança?"

Está doendo em dores absurdas.

Fui levada para um dos apartamentos do hospital na ala mais reservada e


observo Júlia entrar em silêncio, sorrindo e entrelaçar os dedos aos meus.
Não faço ideia de quanto tempo estou aqui nessa cama. Minha pressão ficou
um pouco alterada e senti dor de cabeça.

Meu pai parecia fora de si e não disse mais nada, apenas me ergueu do
chão, me colocando nos braços enquanto eu só conseguia chorar em seu
peito.

Podia ouvir a voz de Rocco logo atrás e eu só repetia que não queria vê-lo.

Parecia anestesiada, e talvez eu estivesse.

Estou com medo pelo meu bebê e não o perdoaria se acontecesse alguma
coisa com ele.

— Ele está lá fora. — Minha amiga conta.

— Não o deixe entrar.


— Nem se eu quisesse. Tio John está uma fera lá fora também. — Senta-
se ao meu lado.

— Fica aqui comigo, por favor. — Peço baixo, vendo-a sorrir enquanto
estala a língua.

— E você acha mesmo que eu vou sair daqui, sua boba?

Volto a abraçá-la forte enquanto afaga meus cabelos.

— Ele não vai chegar perto do meu bebê. Ele não vai chegar perto dele.

Repito baixo e ouço a porta se abrir e papai entrar. Ele tirou o jaleco e está
apenas com a camisa azul de mangas. Me olha e posso ver a expressão
fechada no rosto.

— Eu vou beber uma água. — Júlia se levanta e sai, nos deixando a sós.

— Está mais calma? — Assinto, vendo-o se sentar.

Ele fica em silêncio, passa a mão pelos cabelos e suspira quando me


ajeito, o abraçando.

— Você tem a mim, não está sozinha, ouviu? — Sussurra e eu assinto. —


Minha princesa. Por que você cresceu, Manuella? Eu poderia te proteger
quando cabia nos meus braços.

Sinto os olhos lacrimejando e o aperto.

— Me desculpe. — Ergue meu queixo e o fito.

— Não peça. — Passa o polegar por minhas bochechas. — Você é minha


garotinha corajosa. Sempre foi.

Talvez eu não seja tanto assim.

Volto a pousar a cabeça em seu peito e brinco com os botões da sua


camisa.
O aperto em meu peito, o coração apertado e esse sentimento que vou
acordar a qualquer momento e descobrir que foi apenas um sonho ruim.
Tinha tudo para ser um dia feliz, está tudo perfeito com o bebê de quase 8
semanas.

Ele é a única coisa que me importa nesse momento e será por ele que vou
lutar para ficar bem.

Eu me basto sozinha.
Rocco

Levanto em um salto quando John sai e fecha a porta atrás de si, ajeita as
mangas da camisa com os olhos fixos aos meus. Ele ficou longos minutos no
quarto da área mais reservada do hospital com Manuella.

A maneira que ela ficou me deixou desnorteado por alguns segundos.


Ainda posso sentir os olhos magoados presos aos meus, fazendo eu me sentir
um merda e é o que está sendo durante todas essas semanas.

— Me deixe falar com ela. — Peço rápido e ele ri de lado com as mãos na
cintura.

— Ela não quer falar com você. — Ana Júlia que até então estava calada
se ergue e para na minha frente. — Me desculpe, tio John mas ela não quer
falar com ele.

Jonathan a encara e ela assente, volta a me olhar e respira fundo.

— Tudo que Manuella queria era apenas que fosse sincero. Minha amiga
estava infeliz e não era por sua idade, mas pela maneira que vem tratando
como se o bebê não existisse. Então, por favor, não finja que se importa
agora. — Ana Júlia suspira, limpa o rosto e olha para John.

Fernanda está em silêncio, de braços cruzados, ainda não falou


absolutamente nada.
— Não se preocupe, Ana Júlia. Ela está dormindo, vai descansar. — John
não tira os olhos dos meus.

— Vou ficar com ela, com licença. — Vira e entra no quarto.

Continuamos nos olhando.

Batemos boca alguns minutos atrás, mas agora parece que ele vai socar a
minha cara a qualquer momento e eu não revidaria se o fizer, estou
merecendo.

— Você só tinha uma missão e falhou miseravelmente. Você tem noção da


merda que está fazendo com a minha filha?

Diz sério, com as sobrancelhas unidas, fazendo-o parecer mais sério e


bravo.

— Que merda você fez, Rocco? — Abre os braços. — A única coisa que
eu te pedi foi para fazê-la feliz!

Fernanda nos olha ao lado de Natália, que parece prever uma catástrofe e
logo se aproxima.

— John, não acho que esse seja o melhor momento para discutirem. —
Diz baixo. — Por favor!

— Fernanda, é a nossa filha!

— Eu sei! Acha que eu não estou preocupada com ela?

— Está mesmo? Tem certeza? — Fernanda arregala os olhos.

— Ela é minha filha também, Jonathan! O que está insinuando?

— John! — Nathalia segura o braço da prima e ele balança a cabeça,


voltando a me fitar.

— Nesse momento meu lado paterno está aflorado, então escute bem o
que vou te dizer... Se tivesse acontecido alguma coisa com a minha filha e
com o meu neto, eu juro por Deus que eu te arrebentava no soco, Rocco! E a
vontade está vindo com muita força nesse momento.

— Eu mereço, estava sendo um idiota e tudo que mais quiser falar. Porque
temi tanto em deixá-la infeliz, que era o que estava fazendo! Sim, John, eu
estava! Mas eu amo a sua filha.

— Não, não ama. Porque não se machuca quem ama e você fez isso em
dobro com ela e o com o bebê que VOCÊ colocou lá dentro! Se não o
queria, tivesse coberto seu pau, tivesse alertado ou não tivesse transado!
Porque é isso que acontece quando se tem descuido! Eu fui pai aos 24 anos e
assumi a responsabilidade, Rocco. Você sabe disso porque estava ao meu
lado!

Diz com ira, mantendo o olhar preso ao meu e eu engulo em seco, com o
punho cerrado.

— Eu a amei desesperadamente, com uma força descomunal. Eu a amo e


ela sentiu isso desde o ventre da mãe dela! Ou você acha que o seu filho não
sente a rejeição que está tendo? Ele sente!

Me calo ao sentir o impacto das palavras como um soco no estômago, me


deixando completamente estático.

— Ela está em uma fase delicada da gestação, ou vocês esqueceram que


os três primeiros meses são os mais delicados? — Olha para o lado,
encarando Fernanda. — Ou estou errado?

Ela o olha e pisca lentamente.

— John... — Começo, mas ele aponta o dedo em minha direção.

— Vire homem, porra! Vire homem, seu caralho! — Dispara. — Ela está
magoada com você e eu mais ainda! Então contorne essa situação se a ama
como diz.

— Eu a amo mais que tudo.


— Pois se mexa, seu merda! Porque se continuar fazendo a minha filha
sofrer, eu acabo com sua vida! — Passa por mim batendo em meu ombro e
sai do corredor em passos largos.

Fecho os olhos quando Fernanda me encara e sai logo atrás. Passo as mãos
pelos cabelos e Natália bufa, descruzando os braços.

— Deus. — Coloca a mão na boca. — Que caos.

Minha cabeça lateja e continuo parado, sem me mover um músculo.

— O melhor a se fazer é esperar acalmar os ânimos, Rocco. Os


sentimentos estão aflorados, então o melhor para Manuella agora é
descansar.

— Não vou sair daqui, eu preciso vê-la. Preciso conversar com ela.

— Ela não vai ouvir. — Natália caminha devagar. — Manuella é geniosa,


além disso está magoada demais, Rocco. O melhor a se fazer é esperar e
deixar ela se acalmar.

— Não vou sair daqui, Natália. Vou ficar plantado aqui até falar com ela.

Ela balança a cabeça mordendo o lábio e franzindo o cenho.

E eu faço o que falei.

Não movi um músculo de onde estava. Ana Júlia se manteve a noite


inteira no quarto junto com Manuella. A enfermeira entrava e a porta era
fechada rapidamente. John voltou pela madrugada e passou direto, entrando
no quarto e assim foi durante toda a noite.

Estou acabado e detonado, mas não saí.

Pouco me importa se estou virado sem dormir e o cansaço se espalha pelo


meu corpo. Eu só preciso vê-la nesse momento.

Mas não aconteceu.


— Ela quer que você saia daqui.

— Não saio. — Digo sério e John suspira. — Não saio até falar com ela.

— Vai sair, sim. Deixe Manuella descansar e depois você conversa com
ela, se ela quiser. Mas nesse momento ela não quer, então cai fora.

— Me deixe falar com ela, eu imploro John. Por favor! — Peço com um
misto de cansaço e desespero que jamais pensei sentir.

— Ela não quer, pode respeitar a vontade da minha filha?

Saltos ecoam pelo corredor e Fernanda nos encara.

— Vão começar a brigar aqui como dois adolescentes? — Olha entre nós
dois com as mãos enfiadas no jaleco. — Como médica, eu coloco os dois
para bem longe desse corredor.

— Ela não quer ver você também. — Fernanda assente.

— Eu sei, por isso vou respeitar, para não a deixar mais nervosa do que
está. — Ergue o queixo. — Podem dar licença agora?

John me encara e eu solto o ar preso, o olhando fixamente.

— Não vou desistir de conversar com ela. Vou respeitar, apenas, mas avise
a ela que não vai se ver livre de mim.

Vencido, derrotado e exausto, eu viro as costas e saio do corredor, mas a


vontade é de voltar e entrar naquele quarto para que ela me escutasse.

Mas o que eu vou falar?

Que eu sou um idiota?

Que eu a magoei desde sempre?

São perguntas que eu sei muito bem quais são as respostas.


Entro na minha sala passando as mãos pelo rosto e suspirando
pesadamente. Me sento no sofá com as mãos enfiadas nos cabelos, olhando
para o chão, então vejo o envelope caído e me ergo para pegar. As mãos
suam quando tiro o lacre e puxo as folhas devagar.

Fito a ultrassonografia com a imagem congelada e borrada daquele ser


minúsculo e franzo o cenho, pisco devagar e mordo o lábio superior.

Leio rápido e tudo parece embaçar.

Oito semanas.

Fecho a pasta e coloco sobre a testa, fechando os olhos com força.

Que merda eu fiz?

O vazio de casa só não é maior que o meu interior.

Nos meus 43 anos de vida nunca senti um vazio tão infernal quanto nessas
duas semanas desde que ela me deixou.

A primeira semana eu entendi que ela precisava de um tempo e respeitei,


mesmo desejando mais do que tudo vê-la.

Na segunda semana, a insistência bateu furiosa. Fui até a casa de John e


ele foi bem claro ao me olhar e falar:

— Ela disse que vocês não tinham mais nada para conversar.
Manuella me deixou.

Senti desespero, medo, raiva. Vários sentimentos ao mesmo tempo me


bombardeando e nenhum deles bons.

— Me deixe apenas vê-la.

— Ela não quer.

Era o fim?

Seria mesmo o fim?

Não vou me convencer até ouvi-la dizer com a própria boca.

Na segunda semana, ela se manteve fiel a sua palavra. Eu já estava louco,


insano de saudade. A casa vazia, sem seu cheiro, sem ela caminhando de
toalha ou com uma das minhas camisas após o banho. Ela não estava em
lugar nenhum.

Foi um inferno.

Conversei com Alisson e ela parece ter se sentido tão culpada quanto eu,
pediu desculpas a John e Fernanda e parecia ressentida ao vir falar comigo.

— Me desculpe por ter...

— A culpa não foi sua, Alisson o único culpado sou eu. — Me encosto na
parede, pousando a cabeça na mesma. — Eu que estraguei tudo, meu medo
irracional e idiota acabou com tudo.

Ela franze o cenho e suspira.

— Lute por ela. Não a deixe achar que tudo se perdeu, Rocco. — Diz
baixo, me fazendo olhá-la. — Não desista.

E eu não desisti.
Fiquei plantado na porra da faculdade, esperando-a durante todo o dia,
mas nenhum sinal dela. Nada. O desespero aflorou e tudo se revirou dentro
de mim. Era como se não estivesse em lugar nenhum.

Foi quando vi Ana Júlia passar pelos portões junto com colegas e desci do
carro, sem aguentar mais a angústia que me deixa cego, louco e morto de
saudades da minha peste. Ela pareceu surpresa e raivosa quando me viu,
arqueando a sobrancelha e segurando os livros.

— Manuella não veio?

— Está vendo ela aqui? — Sorri sem humor.

— Preciso falar com ela, Ana Júlia. Por favor.

— Uma pena, doutor. Quando ela quis conversar, você não estava
disponível. Tente novamente mais tarde. — Sua voz soa baixa e enraivecida.

— Eu sei que errei feio, mas estou enlouquecendo sem notícias dela. Sem
saber como ela e o bebê estão.

— Tente novamente mais tarde, doutor.

— O que a terceira idade está fazendo aqui? — Thales vem na nossa


direção e para na minha frente. — Ele está te aborrecendo, meu doce de
limão?

— Não, sai de perto de mim. — Ana Júlia se afasta e volta a me encarar.


— Ele já está de saída.

— Veio atrás da Manu, né? — O insolente cruza os braços me encarando.


— Viagem perdida, tiozão. Achei bem-feito o pé na bunda que levou dela.
M&M's é uma mulher do caralho para ficar com um merda que não sabe o
que quer.

Por pouco não acertei seu queixo com um soco, mas só dei meia volta,
entrei na porra do carro xingando meio mundo de tanto ódio me
consumindo, soquei o volante, praguejando com aquela coisa na garganta
impedindo a voz de sair.
Eu juro que ia matar um.

Vou morrer de saudades.

A saudade já é insana e insuportável demais para ser contida. Estou


vivendo no automático. A única função feita com cem por cento de mim é a
medicina, é o que me desliga. Aquele botão da emoção e da razão que eu
aciono e pronto.

A máquina volta a fazer o que sabe: trabalhar!

As notícias de Manuella são apenas o que John fala. Algo superficial e


apenas depois de eu praticamente me humilhar. Fui até a casa de Vitória e
pedi até pelo amor de Deus, pelo amor que ela tinha pela neta que me falasse
onde ela estava.

— Estou louco de preocupação, de saudades e... Ela não pode ter sumido.
Eu sei que vocês sabem.

— Sabemos, mas estamos respeitando a escolha dela, Rocco. — Cruza as


mãos sobre as pernas. — Manuella precisa de um tempo.

— São dois meses, Vitória. — Falo baixo suspirando e ela assente. — Ela
quer me punir? Já conseguiu.

— Você acha isso? Acha que ela quer punir você?


— Não sei mais o que pensar, eu só quero vê-la. Eu preciso vê-la. — Peço
em tom de súplica, a olhando sorrir de lado. — Estou desesperado. O bebê...

— Está crescendo saudável e bem. — Diz apenas e eu engulo em seco.

Eu realmente mereço estar vivendo nesse inferno pessoal. É todo meu.

Não mereço esse inferno.

Três meses.

Três malditos e infernais meses sem ela.

Consigo vê-la em todos os lugares e ao mesmo tempo em lugar nenhum.


Meu apartamento está vazio, assim como meu coração. É um misto de
preocupação, saudade e loucura. Tudo ao mesmo tempo, sem dar espaço.

É sufocante.

Eu trabalho feito um louco porque é a única maneira de me livrar desse


tormento. Chegar em casa e não vê-la deitada no sofá, passeando ou deitada
em nossa cama me mata.

Não sei absolutamente nada.

Nada dela nem da gravidez. Nada.


Fecho os olhos e abro, encarando John girando na cadeira calmamente,
com a mão apoiando no braço da mesma.

— Estou enlouquecendo. — Arfo e rio sem humor. — Estou vivendo um


inferno, John.

Ele continua calado, me olhando fixamente.

— Você sabe disso. Peça para ela voltar, John. Mande-a vir gritar na
minha cara que eu sou um ranzinza insuportável. Mande-a me xingar. Só por
favor, peça para ela voltar. — Coloca as mãos na cabeça. — Estou
desesperado sem notícias, você não fala absolutamente nada e eu...

— Você quer notícias de que? — Pergunta calmamente. — Você não


queria o seu...

— Escute aqui, Jonathan! — Bufo irritado, espalmando a mão na mesa e


com o dedo em riste. — Eu venho aguentando calado porque eu sei que
mereço cada semana que ela passou longe, mas já chega ouviu?

Umedece os lábios e posso jurar ver uma sombra de sorriso no seu rosto.

— É meu filho e eu tenho o direito de saber o que está acontecendo! Eu


tenho direitos, Jonathan!

Ele se ergue calmamente e coloca as mãos nos bolsos da calça.

— Ela está com vinte semanas. — Diz baixo.

— Eu sei, John! Sei fazer contas. — Digo exasperado, sentindo o peito


apertar. — Qual o sexo do meu filho?

Se vira devagar e suspira pesadamente.

— Se quiser mesmo descobrir, vai ter que lutar por isso. Desculpe.

— É o meu filho, Jonathan!


— É a minha filha que está gerando-o! — Dispara franzindo o cenho. —
E se for a escolha dela, eu vou respeitar!

Assinto, soltando o ar preso nos meus pulmões.

— Tá bom. Avise a sua filha que se vingar de mim usando meu filho é um
golpe muito baixo! — Aponto para o peito e ele continua parado.

— Sempre foi geniosa. — Me olha dando um risinho que dá uma vontade


de socá-lo até a alma.

Eu tenho certeza de que estou repleto de cabelos brancos de tanta raiva e


preocupação que senti nesses últimos dias.

Saio da sala praguejando e paro no corredor, sentindo o suor descer de


tanta raiva.

Você vai me pagar, peste. Eu juro por Deus.

Deliro e anseio estar dentro dela. Como uma doença.

E não é apenas a falta de sexo, porque nunca achei que na minha idade eu
ia ter que bater punheta para amenizar a vontade de transar.

Vou estraçalhar Manuella quando a pegar.

Ouço uma movimentação estranha e franzo o cenho para o corredor. Meu


humor não está dos melhores. Internos e estagiários. Que ótimo. Vejo Ana
Júlia caminhar e a fito me encarar de cima a baixo. Ela começou a estagiar
há algumas semanas, com Thales logo atrás. Que maravilha.

Os dois param me olhando.

— Perderam algo? — Pergunto.

— O que você perdeu. — Thales dispara e ri.

— Vem, idiota. — Ana Júlia sai o puxando, parecendo mais tensa que o
normal.
Falam alguma coisa baixo que não consigo identificar, então saio puto,
passando feito um furacão pelo corredor, quando um mini ser humano vem
correndo e me faz parar de imediato. O menino paralisa com o dedo na boca
e bochechas rosadas.

O fito sorrir, olhando para cima.

Não é normal crianças correndo por essa área.

— Mamã!

Então tudo acontece de repente quando Alisson surge e segura o bebê no


colo. Me encara sorrindo e eu pisco diversas vezes.

— Owen, não saia correndo dessa forma! — O beija. — Ele saiu


correndo, desculpe.

Arqueio a sobrancelha, dando um meio sorriso quando o bebê me fita


rindo.

— Owen, esse é o tio Rocco. Dê olá. — Diz carinhosa e o menino ri


mostrando os dois dentinhos.

Solto um pigarro, segurando em sua mão.

— Oi Owen. — Olho para ela. — Ele parece muito com você, Alisson.

Seu sorriso se abre e ela o aperta nos braços.

— Ele é o amor da minha vida, né filhote? — Ri. — Estava na consulta e


acabou fugindo. Está tudo bem?

Pisco, assentindo.

— Está sim. — Suspiro pesadamente.

O menino continua olhando e agora segura o estetoscópio da mãe,


balbuciando palavras desconexas em sua língua de bebê.
É estranho e reconfortante ao mesmo tempo olhá-lo. Felicidade por
Alisson ter realizado seu maior sonho, mesmo estando sozinha.

E se Manuella decidir fazer o mesmo?

Puta que pariu!

— Rocco? — Chama e eu franzo o cenho.

— Eu vou resolver uma coisa, nos falamos depois. Foi um prazer, Owen.

Alisson sorri e eu dou meia volta, indo para a sala de John novamente, em
passos apressados.

Ele vai me falar onde ela está.

Viro o corredor e dou de cara com Ana Júlia, que paralisa ao me ver e
arregala os olhos.

— Doutor.

Semicerro os olhos.

— O que foi?

— Está fazendo o que aqui? — Thales dispara, ficando a minha frente. —


Não estava terminando seu plantão?

Encaro os dois e meu peito acelera ao olhar para a porta fechada.

— Sai da minha frente. — Peço baixo, com uma falsa calma.

— Ou vai fazer o que, tiozão?

— Thales, não dá um de corajoso agora porque ele te desmonta em três.


— Ana Júlia o segura.

— Vem para cima! — Ergue o queixo.


Sorrio de lado e o empurro sem muita delicadeza, abrindo a porta em um
solavanco.

John me encara de repente e Manuella se vira para me olhar. A fito


sentindo o ar esvair dos meus pulmões ao olhá-la de cima a baixo.

A barriga redonda e enorme que ela segurava com ambas as mãos.

— Manuella...
Manuella

Foram longos e incontáveis dias.


Semanas que parecem ter se arrastado.

Três meses.

Três longos meses.

Precisei ir embora para ficar bem e ter uma gestação saudável.

Apesar de amar Rocco com toda minha alma e meu coração, meu bebê
sempre vem em primeiro lugar.

Fiquei no apartamento dos meus pais no início, revezando entre a casa dos
meus avós também. Júlia e Thales iam me ver todos os dias junto com
Felipe. Fiz todos os trabalhos online e foi a melhor decisão que tomei.

Tive que organizar a mente, meu corpo e principalmente meu coração.

Passei uns dias na casa de Angra e meu papai ficou louco achando que eu
poderia sentir alguma coisa, mal sabia ele que eu já estava sentindo. Os
frangalhos do que restou do meu coração.

As palavras de Rocco ficavam na minha mente, me causando um buraco


no peito que nada fazia passar. A traição de ter procurado sua ex para
desabafar sobre nosso filho ainda martelava e sentia a apunhalada nas costas.
Me cuidei, fiz todos os exames e ultrassonografias possíveis.

Meu bebê está saudável, perfeito. Crescendo a cada semana, me fazendo


sentir um amor inexplicável, capaz de me fazer chorar só de falar.

Mas ele não estava lá quando o bebê chutou pela primeira vez.

Não chorou e riu junto comigo sentindo aquele movimento incrível.

A vida dentro de mim.

Ele não estava lá quando eu descobri o sexo do nosso bebê.

Ele não estava.

Só que precisava voltar a minha vida e foi exatamente isso que eu fiz. Não
me escondi, nem fugi, apenas protegi a vida que eu carrego. Vou começar a
estagiar por poucas horas, apenas para compensar e cumprir a carga horária
que a faculdade precisa.

Pensei em voltar a trabalhar com a internet, mas estou preferindo me


guardar nesse momento, quem sabe depois eu retomo, mas no momento
apenas o bebê é minha prioridade, ponto.

Thales e Júlia foram me buscar e eu avisei ao meu pai que ia assim que
Rocco saísse do plantão, não queria vê-lo agora, não queria olhar para ele.
Fiquei na sala, apenas esperando o sinal de Júlia para que eu pudesse entrar.

Mas foi apenas ouvir o burburinho do outro lado da porta e a mesma se


abrir com brusquidão que meu coração acelerou. Despencou. Prendi a
respiração.

Espalmo a mão na barriga, sentindo o chute leve, como se estivesse


sentindo a mesma corrente de adrenalina e pisco devagar, o olhando.

O jaleco solto, a camisa branca com alguns botões abertos e barba por
fazer marcando o rosto. Parece mais magro e com o rosto abatido.
Fixo o olhar ao seu, erguendo o rosto.

— Manuella...

— Mas que caralho! — Papai pragueja, ficando a minha frente.

— Cala a boca, John! — O timbre da voz rouca me invade como uma


corrente elétrica. Seu cenho está franzido, o maxilar cerrado e sério como o
inferno. — Estava aqui esse tempo inteiro e não me falou?

Se dirige diretamente para mim, mesmo com papai no meio de nós dois e
eu assinto.

— Você volta e nem me fala? É isso, Manuella?

Umedeço os lábios entreabertos e os olhos dele descem lentamente,


parando sobre minha barriga, que espalmo e sinto o chute novamente.

Dou um passo para trás.

— Não tenho motivos nenhum para te dar satisfações. — O encaro. —


Nenhum.

— Rocco. — Papai chama, mas ele não tira os olhos dos meus.

— Não? — Nega de cenho franzido. — Não tem, Manuella? Você não


teve coragem de me fazer uma ligação sequer!

— Está falando de coragem por que? Isso é coisa que você não tem! — O
corto, rindo sem humor. — Não tenho motivos para te ligar, para te avisar ou
te dar satisfações da minha vida!

— Você tem sim, porque é o meu filho que está carregando!

— Ah! Seu filho? Aquele que até ontem você nem aceitava? Aquele que
você não tem sentimento paterno nenhum?

— Manuella, por favor! — Papai se vira para mim. — Filha.


Mordo o lábio, encarando Rocco parado. A raiva ainda está presente, com
um misto de mágoa enquanto o olho fixamente.

— Posso falar com ela a sós, John? Por favor.

— Não é a mim que você tem que pedir, Rocco.

Continuo o encarando.

— Posso falar com você a sós, Manuella? — Cruzo os braços, erguendo o


queixo.

Papai me encara e eu dou um leve aceno com a cabeça.

— Estou aqui fora. — Sorri, me beija e volta a olhá-lo. — Cuidado.

Rocco não se mexe e eu também continuo no mesmo lugar quando ouço a


porta se fechar e ficamos a sós. Me sinto encurralada com o tamanho dele
parecendo preencher toda a sala. Me encosto na mesa e ele fica olhando
fixamente para minha barriga.

Uso um vestido marcado que a deixa maior do que está. Eu amo.

Ele dá um passo, mas eu nego com a cabeça veemente.

— Fique aí.

— Vivi em um inferno sem você, minha pequena. — A voz sai arrastada e


eu o olho franzindo o cenho. — Estou vivendo ainda, Manuella.

— Está? — Não consigo controlar o deboche na voz. — Desde quando?

Passa as mãos nos cabelos e suspira.

— Me perdoe! Por favor, eu imploro.

— Perdoar pelo que? — Engulo em seco. — Por ter ignorado meu bebê?
Por ter ido desabafar com sua ex sobre ele? Por não o amar? Pelo que
exatamente está me pedindo perdão, Rocco?
— Por tudo! Por ter sido um babaca, um idiota e insensível com você e
com nosso filho! Eu estava enlouquecendo com tantas coisas, Manuella!
Com o fato de achar que pode se arrepender lá na frente.

Seu cenho está franzido e ele suspira.

— Eu sou um covarde! Estava tão preocupado em não te fazer infeliz, que


já estava fazendo. Porque sou um burro e inseguro quando se trata de você,
Manuella. Que tenho medo que lá na frente se arrependa de ter se envolvido
comigo.

O observo limpando meu rosto.

— Eu quero nosso bebê. Não quero que ele sinta que... Que o pai dele não
lutou por ele. Eu quero vocês. Eu preciso de vocês.

— Tarde demais, não acha? — Mordo o lábio, negando com a cabeça. —


Tarde demais para me dizer isso.

— Não é.

— É sim! Eu queria ter ouvido isso meses atrás, mas não, você preferiu
desabafar com sua ex sobre nosso bebê! Preferiu se abrir com ela do que
comigo, do que com a mãe do seu filho! Essa que você diz tanto amar!

— E eu amo! Eu te amo com uma força descomunal, Manuella.

— Amar em palavras? Amar da boca pra fora? Não quero seu amor! —
Meu queixo treme enquanto o olho se aproximar de mim. — Você me traiu,
Rocco. Me traiu quando não conversou comigo, quando não se abriu
comigo!

— Eu estava com medo, Manuella!

— Eu também estava com medo, Rocco! Eu também! — Empurro seu


peito mas ele nem se mexe. — Só que poderíamos fazer isso juntos! Mas
não, eu estou fazendo sozinha o que você não teve coragem de fazer comigo,
então não venha se achar no direito de exigir nada que diga respeito a essa
gravidez!

Ele segura em meus braços, me fazendo colar em seu corpo, com os olhos
fixos aos meus.

— É meu filho também e eu não vou abrir mão dele!

— O filho é meu, você não tem direito nenhum!

— Tenho sim!

Seu rosto está a centímetros do meu, eu arfo e tento empurrá-lo quando a


mão afaga meu rosto e fecho os olhos.

— Você sabe que eu tenho, minha pequena. Que ele é tão meu quanto seu.

— É meu. Esse bebê é só meu. — Abro os olhos. — E estamos muito bem


sem você.

O empurro, me desvencilhando do seu aperto e dou um passo atrás.


Espalmo a mão na barriga quando o chute vem mais forte. Está sentindo a
mesma coisa que eu.

— Você acha que pode me negar o meu próprio filho?

— É meu filho! — Coloco a mão no peito. — Ser pai é muito mais do que
colocar seu esperma, doutor! E foi só isso que fez!

Ele continua me encarando e solto o ar.

— Voltei para levar a vida que estava levando antes e isso não vai incluir
nós novamente. Acabou. Essa sua crise de terceira idade já me encheu a
paciência, essa merda nunca foi um problema para mim e você sabe disso.
Vinte anos não nos separaram, quem fez isso foi você, Rocco!

Nega devagar.

— Viva como estava vivendo e me deixe em paz com meu bebê!


Viro de costas para sair o mais rápido possível e sinto-o em minhas costas
assim que seguro na maçaneta. Ele se encosta, coloca a mão sobre a minha e
sinto sua respiração em meu pescoço enquanto espalma a mão em minha
cintura.

— Um caralho que vai seguir sua vida. — Sussurra em meu ouvido. — Eu


senti tanta saudade de você, minha peste. Dessa sua língua afiada, dessa sua
rebeldia.

— Supere. — Falo entre dentes, fechando os olhos.

Seus dedos me acariciam e me viro de repente, erguendo o rosto para ficar


cara a cara com ele.

— Supere, pois você nos perdeu.

Ele nega segurando em meu queixo. Estou encostada na porta, com a


muralha me cercando. Ele se encosta e a mão desce acariciando meus braços
até parar em minha barriga.

— Não. — Sussurro.

Paraliso. Seus olhos descem e vejo a mão grande espalmando-a inteira.

Quantas noites ansiei por seu toque.

— Não perdi. — Diz contra meus lábios. — Me dê uma chance,


Manuella. Por favor, minha pequena.

Nego veemente, sentindo o peito acelerar e então o inesperado acontece, o


bebê chuta forte, causando um rebuliço e fazendo Rocco arregalar os olhos
para mim. Aproveito a distração para o afastar, abrir a porta e sair o mais
rápido possível.

Júlia levanta, Thales me encara e papai pergunta no mesmo instante.

— O que foi?
— Nada. — Nego rapidamente.

Meu coração está acelerado, batendo em um ritmo descompassado quando


Júlia me olha como se soubesse o que acabou de acontecer.

Não queria ter voltado para casa, só o fiz realmente por insistência de
papai e Felipe. Minha relação com minha mãe ainda não está das melhores e
eu não faço questão de mudar isso.

Não nos falamos nesse período, mas ela mandou algumas mensagens, que
apenas ignorei e deixei sem resposta.

Sai do hospital logo após sair da sala, ainda trêmula e ofegante, desejando
apenas ficar o mais longe possível dele.

O corpo é traiçoeiro demais, mas eu sou mais forte que ele.

— Você devia ter ficado quieta e não ter chutado para ele te sentir. —
Digo baixo, sentada na cama, olhando ao redor do meu antigo quarto. Bom,
agora é meu de novo. — Ele te sentiu. Se bem que ele parece uma pedra de
gelo, aquele idiota.

Estalo a língua, voltando a afagar a barriga sorrindo.

— Seu pai é um idiota dos maiores. Passou esse tempo inteiro e acha que
vou perdoá-lo agora? — Balanço a cabeça. — Vamos dar um gelo nele. E
você, sua pequena traidora, não mexa quando ele estiver perto.

Paraliso e nego.

— Não, pode mexer sim, mamãe fica preocupada quando você não mexe.
— Afago-a devagar, sentindo o peito inflar de tanto amor. — Minha
princesinha.

Sorrio levemente.

Descobri o sexo há umas semanas pelo exame de sexagem fetal. Júlia


ficou responsável por guardar o segredo e trouxe um balão com bolo para a
casa dos meus pais junto com Thales. Mesmo brigando feito cão e gato, os
dois se "suportam" apenas por mim.

Fiquei paralisada uns segundos quando estouramos o balão e a cor rosa


tomou conta.

Chorei de felicidade e tristeza também.

Desejei tanto que estivesse ali, mas ele não estava.

— Somos nós duas. — Suspiro. — Ouviu, amor?

— Achei que éramos três. — Olho para a porta e vejo Felipe parado, então
levanto da cama quando ele entra.

— Isso, somos sim. — O abraço apertado e beijo seu rosto.

— Senti sua falta aqui nesse quarto. — Aperta minha mão. — Não é a
mesma coisa sem você aqui.

— Só você para me fazer ficar aqui. — Afago seus cabelos, vendo-o


sorrir.

— E nossa princesa, como está?

— Crescendo a cada dia. — Ele ri.


Felipe vibrou quando recebeu a notícia, estava tão feliz que mal conseguia
conter o sorriso largo no rosto.

Nos deitamos e puxamos o edredom, como costumávamos fazer antes de


eu sair de casa, ficávamos conversando até pegar no sono e nunca perdemos
essa mania.

Jantamos no quarto mesmo, Arlete fez questão de trazer um jantar


reforçado. Papai subiu para nos ver em seguida e nos deu um beijo de boa
noite. Me fez perguntas sobre a conversa com Rocco, mas apenas mantive a
palavra que o que tínhamos para conversar foi dito.

Ele veio a noite, mas não quis falar com ele e nem desci.

Vai ter que aguentar seja lá o que tiver sentido.

Papai deu boa noite, saiu e ficamos deitados olhando para o teto em
silêncio.

Felipe se mexe e eu giro o pescoço.

Ele está deitado de lado me encarando e faço o mesmo, ficando frente à


frente com ele.

— Não ficou com medo da reação da mamãe e do papai quando


descobriram que estava com o Rocco?

Franzo o cenho. A luz de abajur acesa me deixa ver seu rosto com
perfeição.

— São riscos que temos que correr, não dava para guardar esse segredo.
— Ele assente. — Não dava para disfarçar o que eu estava sentindo,
entende?

Assente devagar sorrindo e eu mexo em seus cabelos devagar.

Voltamos a ficar em silêncio e engulo em seco, mas então pergunto.

— E o Thiago?
— O que tem ele?

— Como ele está?

— Está bem.

— Estão no vôlei ainda?

— Sim. — Responde rápido e assinto.

— Ele não veio mais aqui? — Sondo e ele assente.

— Sim.

Continuo o olhando sem falar mais nada, mexendo nos fios claros dos
cabelos, ajeitando-os e afasto uma mecha que cai em sua testa.

— Você e ele...

— Estou com sono. — Diz repente. — Vamos dormir, por favor.

Não insisto, apenas assinto e beijo sua bochecha.

— Eu te amo.

— Eu também amo você. — Sorri de lado, fechando os olhos quando


volto para onde eu estava.

Continuo o fitando sem deixar de afagar os cabelos. Ele abre os olhos,


encontra os meus e volta a fechar novamente.

— Seu bobo.
Desço as escadas ouvindo os burburinhos na sala de jantar. Dormi
tranquilamente essa noite, melhor do que pensei do que seria. Felipe já está
na mesa de café da manhã posta, papai sentado na cabeceira e mamãe ao seu
lado.

Seus olhos fixam aos meus de imediato.

— Venha tomar café.

— Vou para a faculdade. — Aviso a papai, mas ele nega, apontando com o
dedo para a cadeira ao seu lado.

Me aproximo e me sento devagar. Felipe sorri, sorvendo um gole de suco


e faço o mesmo.

— Quer que eu te leve?

— Não precisa, consigo dirigir ainda. — Ele assente e posso sentir os


olhos da minha mãe presos em mim.

Levo o garfo com um pedaço de bolo a boca e mastigo devagar. Apenas o


barulho dos talheres é ouvido.

— Estou realmente atrasada, mas mais tarde estarei no hospital. —


Levanto sorrindo e papai me olha.

— Cuidado. Sabe que me liga a hora que quiser, né?


— Sei sim, papai. Até mais tarde. Vem comigo, Felipe?

— Vou aproveitar a carona. — Beija mamãe e papai, então saímos da sala


de jantar juntos. — O clima ainda está pesado, né?

— Você nem imagina. — Balanço a cabeça.

Tenho que voltar a rotina pelo tempo que conseguir.

Deixo Felipe na escola como nos velhos tempos, já que fica no caminho e
então sigo para a faculdade. Não demoro muito para estacionar e ajeito os
cabelos enquanto coloco os livros na bolsa e desço do carro.

Júlia acena, me encarando do outro lado, mas paro bruscamente ao ouvir a


moto estacionar ao meu lado. Davi tira o capacete e eu o olho.

— Voltou, meu anjo? Achei que tivesse trancado o curso.

— Não, ainda sigo. — Cruzo os braços quando ele me olha de cima a


baixo. — Pode dar licença para eu passar?

— O velhote te deixou? — Pergunta sem rodeios e eu sorrio. — Só te


engravidou e caiu fora? Que belo pai foi arrumar para teu filho em.

Cruza os braços ainda sentado na moto. Júlia já caminha em nossa direção


e eu posso ver a fumaça saindo do seu nariz de tanta raiva que está sentindo.

— E o que você tem a ver com isso? Não te interessa! — Engulo em seco.
— Por que não me deixa em paz? Sério! Ainda não superou?

— Não acho justo uma mulher como você perder sua vida com aquele
velhote e ainda mais te deixou grávida!

— O que esse otário está falando aí? Davi, pelo amor de Deus, segue reto
e vai para a casa do caralho, meu filho! — Júlia aponta.

— Estou conversando com a Manu que ela não precisa daquele coroa! Eu
posso criar seu filho se você deixar.
— O que? — Eu e Júlia falamos juntas.

— O que? — Uma terceira voz soa e olhamos para Thales se aproximando


de onde estamos. — Davi, você não cria nem você e quer criar a mini
M&M's? Aqui não, colega! Rala peito que essa menina é minha!

Eu e Júlia nos olhamos e então olhamos para os dois.

— Será que eles beberem vodka no café da manhã?

— Ou bateram a cabeça na cabeceira. — Completo.

Seria cômico se não fosse trágico.

— Vamos sair daqui, Manu. É cada doido nessa faculdade.

— Estou falando sério, Manu. — Davi me olha.

— Vai se foder! Eu já disse a Manu que se o velho ficar de crise de


terceira idade eu crio a mini M&M's.

— Vocês dois parem! O que pensam que...

— Sinto muito acabar com a festa e disputa de quem vai criar a minha
filha, mas ela tem pai.

A voz de Rocco ecoa atrás de mim e eu paraliso.


Manuella

— Sua filha? —Thales fica na frente de Rocco. — Mas você não


estava ao lado dela esses meses porque foi um imenso babaca, tiozão!

— Um grande e imenso babaca! — Davi desce da moto rindo de lado. —


Por que não deixa ela em paz?

— Estão todos olhando, dá para pararem! — Júlia segura o braço de


Thales.

— Me solta, doce de limão! Esse velhote vai aprender...

— Esse prazer é meu!

Rocco ri balançando a cabeça e eu sei que está prestes a pular no pescoço


dos dois. Acho que apenas um soco dele acaba com Davi e Thales de uma
única vez. É o dobro do tamanho e da massa muscular dos meninos.

— Vamos chamar a polícia para vocês. — Júlia avisa e eu entro no meio


dos três.

— Parem agora. — Empurro Thales e Davi. — Que cacete!

Me viro para Rocco e ele fulmina os dois com o cenho franzido, punho
cerrado e o maxilar trincado.

— O que está fazendo aqui? — Ergo o queixo.


— Quero falar com você.

— Perdeu seu tempo, eu disse que não temos mais nada para conversar. —
Cruzo os braços na altura do peito.

— Ouviu o que ela disse? Sai fora! — Thales fala atrás de mim.

— Cala a boca cão! — Ouço a voz de Júlia.

— Ela não conversa com você se não quiser. — Davi continua.

Viro o rosto, os encarando.

— Saiam os dois, eu me resolvo com ele!

— Ouviram a Manu? Caiam fora! Que inferno! — Minha amiga abana as


mãos, puxando Thales por um braço e Davi pelo outro.

— Velho ancião! — Thales xinga. — Você viu, Juju?

— Eu vou ver a minha mão na sua cara! — Diz brava. — Davi seu
encrenqueiro, cai fora também, ninguém te chamou aqui!

As pessoas pararam para olhar, mas graças aos céus já começam a circular.
Volto a olhar para Rocco passando a mão pela barba enquanto me olha. Está
com olheiras enormes, mas veste uma camisa polo azul grudada no peito
musculoso.

O xingo mentalmente por ser tão gostoso.

— Minha aula já vai começar.

— É uma menina? — Me olha fixamente com o cenho franzido.

Viro o rosto mordendo o lábio, não querendo encará-lo.

Sinto o entalo na garganta quando sinto ele segurar meu queixo e me virar
para a frente, seus olhos brilhantes presos aos meus.
— O nosso bebê é uma menina? — Pergunta quase em um sussurro e eu
suspiro, tirando sua mão do meu rosto.

— É minha, só minha. — O olho limpando uma lágrima que teimou em


descer com as costas das mãos. — Ela é só minha.

Me afasto sentindo o queixo tremer enquanto nos olhamos. Ele está sério e
compenetrado em todas as minhas reações.

— Você não ia me contar? — Eu suspiro. — Tive que saber da boca


daqueles dois imbecis que estão disputando quem vai criar a minha filha... É
isso que quer?

— Eu queria o pai dela ao meu lado! — Disparo, fazendo-o se calar. — E


eu te pedi para não me deixar ir embora, Rocco, mas você me deixou! Você
escolheu isso, então não venha se achar no direito de exigir alguma coisa.

Sinto as lágrimas descendo copiosamente por meu rosto e fungo.

— Manuella. — O olho sob a visão nublada, sentindo um entalo na


garganta. — Minha pequena...

— Não temos mais nada para conversar. Não vou deixar ninguém criar
minha filha, farei isso sozinha, como estou fazendo! Agora tenho que ir para
a minha aula.

Me viro mas sinto sua mão segurar em meu antebraço, me puxando e


espalmo a mão em seu peito de repente. Sinto o coração acelerado e a
respiração próxima a minha.

— Acha que vai se livrar de mim assim? Você acha que vou deixar você
sair da minha vida?

— Já sai. — O encaro. A testa colada a minha e ele passa o nariz pelo


meu, me fazendo suspirar. — Você sabe que sai.

— Um caralho que saiu, minha pequena! Você me queria e você me teve.


Não pense que vou deixar nenhum desses idiotas assumir a minha filha!
— Ela é minha! — Digo baixo, quase sussurrando, com nossas bocas
próximas. — E-ela é minha.

— É nossa. Minha e sua! Feita com todo amor e desejo que existe entre
nós dois! — Arfa contra meus lábios entreabertos, mas eu o empurro,
juntando o resto de sanidade que tenho.

— Vá para o inferno, doutor! — Saio pisando firme, atravessando os


portões com a mão no peito para acalmar as batidas desesperadas do meu
coração.

Ajeito os cabelos, fitando Júlia andar de um lado para o outro e parar


assim que me vê.

— E aí?

— Ele se acha no direito de exigir alguma coisa! — Pego a garrafinha que


ela estende e abro, sorvendo um gole.

— Mas infelizmente ele tem, Manu.

— Eu sei. Eu sei, amiga. — Suspiro, balançando a cabeça e sorrio. — Mas


não vou facilitar de jeito nenhum.

— Manu, pelo amor de Deus! Amiga, esse homem está parecendo um


maluco! Você está grávida, se esse coroa te pegar com a raiva que ele está,
ele te arrebenta, Manu!

Sorrio de lado.

— Vou tirar o juízo dele, Júlia. Vou fazê-lo enlouquecer de uma maneira
que ele nem imagina.

— Manuella! — Passa as mãos pelos cabelos. — Ele não é o soca fofo do


Thales!

— Soca fofo? — Ele aproxima a olhando. — Por que você me chama de


soca fofo? — Olha para mim com a boca aberta. — Manu, por que ela está
me chamando de soca fofo?
Escondo a risada e Júlia revira os olhos.

— Porque você tem cara de soca fofo. — Dá de ombros.

— Eu tenho cara de soca fofo? — Pergunta horrorizado, olhando entre nós


duas. — Manu, você falou que eu socava fofo?

— Não me meta nessas brigas de vocês. — Ergo as mãos. — Sério!

— Me sinto ofendido, Ana Júlia! Muito ofendido. Eu soco muito forte.


Fala para ela, M&M's.

— Não me mete nisso, Thales.

Ele vira para Júlia, vendo-a de braços cruzados.

— Às vezes eu acho que você tem muito tesão reprimido por mim,
docinho de limão. — Franze o cenho.

— Ficou ofendidinho foi? Ah, bebezão! Vai chorar?

Thales semicerra os olhos em sua direção e me encara, voltando a olhar


para Júlia sorrindo

— Quem vai chorar é você quando eu tirar essa sua marra de gata brava
com uma surra de pau tão grande, Ana Júlia, que vai ficar de pernas bambas
por três dias. Aí você vai ver quem soca fofo, docinho de limão.

— Docinho de limão é a pu...

— Xinga mesmo, que o tesão só aumenta. Gata brava!

— Soca fofo!

— Bombomzinho.

— Sabe quando eu abriria as pernas para você? No dia de são nunca!


Ele ri e ela bufa. Estão frente à frente e eu olho de um para o outro,
escondendo o sorriso que toma meu rosto.

— É isso que vamos ver, Jujuba.

— Cretino! Vai se foder!

— Se fode comigo.

Júlia estira o dedo do meio e ele ri.

— Eu arrebento sua cabeça se não sair da minha frente!

— Passa por cima de mim, meu bombom!

— Meu Deus... — Balanço a cabeça, não contendo a risada que escapa da


minha garganta.

Chego no hospital pouco depois de três da tarde, junto com Júlia.


Oficialmente estou começando meu estágio hoje. É a primeira fase de
atuação de qualquer carreira.

É claro que nessa etapa o auxílio de profissionais já formados e mais


experientes ajuda todo o processo. Somos divididos em grupos e ficamos de
semanas a meses alocadas em uma delas, depois mudamos para a próxima
experiência.
Júlia está sendo auxiliada por minha mãe na área da obstetrícia e Thales
por Rocco, na cardiologia. Ainda vou descobrir a minha auxiliar e residente.
Entramos direto para a troca de roupa, fazendo toda a higienização
recomendada.

Alguns olhares em minha direção são apenas por dois motivos: a gravidez
e por ser filha do dono do hospital.

Mas pouco me importa as duas situações.

Os pijamas cirúrgicos são de uma cor mais neutra, assim ajuda a


diferenciar dos médicos e residentes. Ajustei o meu para o mais confortável
possível, uma calça de algodão com elástico na cintura e a blusa um pouco
marcada e maior que meu tamanho.

— Nos esbarramos por aí. — Júlia sorri enquanto caminhamos pelo


corredor. — Ah! Vai ter uma comemoração da Yana lá no PUB da barra.
Vamos?

Sorrio, parando com as mãos nos bolsos.

— Não esqueci que está grávida, bobinha. Mas é só para distrair um


pouco. Vai ser um barzinho, vamos ficar sentadas. Só quero ir se você for. —
Faz um beicinho e eu suspiro.

— Vou pensar. Quem sabe.

— Pensa com carinho! — Pisca sorrindo e assinto, jogando um beijo em


sua direção. — Boa sorte com a doutora Fernanda.

Júlia ri.

— Boa sorte com a sua...

Me viro devagar, paralisando ao ver Alisson na minha frente, segurando


uma pasta nas mãos e automaticamente a olho engolindo em seco.

Um estalo vem de repente em minha mente.


— Manuella. — Diz baixo, me olhando e desce o olhar por minha barriga.

Que maravilha.

— Você é minha auxiliar. — Constato o óbvio, vendo-a assentir.

— Pediatria. — Sorri sem jeito e assinto. — Vamos lá?

— Claro.

Não sinto raiva de Alisson pela situação de tudo o que aconteceu. Sei que
é uma profissional incrível e me apego a isso para prestar atenção em todas
as explicações que me dá da área pediátrica. Apenas fui vendo o básico, já
que é a primeira experiência aqui como uma profissional.

Lembrei das inúmeras vezes que corri pelos corredores do hospital quando
vinha visitar meus pais e o quanto amava pular na cadeira do meu avô, que
me esperava com um sorriso.

Agora estou aqui e daqui a alguns anos estarei formada e minha filha
fazendo o que eu fazia.

— Manuella? — Olho para Alisson, que me encara ajeitando o


estetoscópio no pescoço. — Sua carga horária foi reduzida a pedido do seu
pai, por causa da sua gestação.

— Ele me disse.

— Nos podemos conversar, por favor? Não tomarei mais do que cinco
minutos.

A olho morder o lábio.

Tenho uma maturidade imensa para não instigar uma rivalidade entre nós
duas, poderia recusar apenas por educação, mas eu realmente quero ouvi-la,
mesmo sabendo que ela não terá nenhuma desculpa a me dar.

Vamos para a sua sala, já que os olhares na lanchonete do hospital seria


algo incômodo. Ela fecha a porta devagar enquanto me sento no sofá
vermelho, olhando-a pousar as mãos sobre os joelhos.

— Aproveitei que hoje está mais calmo. Quer beber alguma coisa?

Nego e ela assente.

Ela é incrivelmente bonita e madura. Os cabelos estão presos em um rabo


de cavalo e a maquiagem simples realça a beleza natural que tem.

— Não sei ao certo o que devo te dizer, mas vou tentar ser breve. — Cruza
as mãos, ajeitando a postura. — Naquele dia em que entrou na sala do Rocco
e nos viu conversando, foi apenas um desabafo da minha parte e que gerou
sendo um dele também.

A observo em silêncio se remexer devagar

— Entendo exatamente o que sentiu, Manuella. Não sei até onde ouviu
nossa conversa, e posso repetir tudo que falamos, mas de todo o meu
coração... — Morde o lábio, franzido o cenho. — Não pense que voltei para
atrapalhar a vida de vocês, que vou ser um estorvo ou qualquer coisa do tipo.

Engulo em seco.

— Fui casada por dez anos com Rocco e realmente esperei por uma coisa
que ele não estava pronto para me dar. Porque não teve amor, Manuella. Ele
nunca me amou e eu demorei para entender isso. — Sorri sem humor. — Eu
achei que era amor e ele achou confortável e foi ficando. Foi tudo, menos o
que chamam de amor.

Pisco lentamente, a olhando balançar a cabeça.

— Ele te ama, Manuella. Tenha certeza disso. É complicado, não sabe se


expressar em palavras e... Acha que não é suficiente, mas ele a ama e eu
soube disso desde a primeira vez que vi vocês juntos. A forma que ele te
olha, que ele te observa quando você não está olhando...

Sinto sinceridade em suas palavras e ao mesmo tempo um pesar de tristeza


pairando. Ela ainda o ama.
— Eu me mudei de Seattle para Washington assim que nos separamos e lá
fiz minha fertilização. Owen é a minha maior realização e eu fiz isso
sozinha. Realizei meu maior sonho... Sozinha. Sou uma mulher de quarenta
e um anos e apenas agora sei o que é o amor de verdade. Meu filho.

Limpa o rosto sorrindo.

— Eu só quero que saiba que de todo meu coração, eu quero que sejam
felizes e que criem o bebê de vocês juntos. Se dêem uma chance de serem
felizes. Rocco te ama, assim, como você o ama também. — Suspira,
mordendo o lábio. — Conversem e pensem no bebê de vocês. Me desculpe
ter tomado seu tempo, mas eu precisava dizer que torço muito por vocês
dois.

Levanta e eu faço o mesmo, sem saber ao certo o que falar.

— Você é muito corajosa, Alisson. Realizou seu sonho sozinha. — Digo


baixo e ela sorri de lado. — Espero que seja feliz também. Obrigada.

Limpa o rosto rapidamente.

Ela assente enquanto vou em direção a porta. Giro a maçaneta e paro,


olhando para trás.

— É uma menina. Ele descobriu hoje pela manhã e está surtando porque
acha que meu ex-namorado vai assumi-la. — Vejo-a rir. — Vou deixá-lo de
castigo por uns dias, até ele aprender.

Alisson me olha e sorri balançando a cabeça.

— Parabéns, Manuella. Deixe-o na linha.

— Até mais, Alisson.

Rocco

Os sintomas de infarto as vezes são confundidos com ataques e crises de


ansiedade. É uma sensação de aperto ou dor no peito, no pescoço, nas costas
ou nos braços, bem como fadiga, tontura, batimento cardíaco anormal. Em
geral, a dor é um aperto no peito acompanhado de mal-estar. A intensidade
da dor pode levar a pessoa a cair no chão e a desmaiar.

Interessante, não?

E eu juro que se não conhecesse perfeitamente os sintomas, eu diria que


estou tendo um infarto e ia cair desfalecido em instantes.

Fixo o olhar em Manuella gargalhando, sentada em uma mesa na


lanchonete do hospital acompanhada de residentes, uns quatro garotos com
idade entre vinte e sente e trinta anos estão se achando um máximo. Ana
Júlia está ao seu lado, rindo igual a amiga.

A peste está de lado tomando um suco e mexe nos cabelos enquanto sorri,
balançando a cabeça de um lado para o outro.

É uma rotina encontrá-la aqui, já que está em processo de estágio, mas não
sei se me sinto aliviado por vê-la todos os dias ou se sinto desespero porque
ela sequer dirige a palavra a mim.

Quatro semanas.

Quatro semanas que ela voltou e continua me ignorando. A barriga que


parece ficar cada vez maior a cada semana está tão redonda e a deixa linda,
como se fosse possível ficar ainda mais. Está com um brilho e uma
felicidade diferente no olhar.

Minha filha.

É inacreditável que tem uma mini Manuella crescendo a cada dia.

Descobrir o sexo do bebê na situação em que soube me deixou


desnorteado, sem saber o que agir e como falar. Ficou entalado na garganta
aquela emoção que eu nem sabia que existia.

Xinguei John por não ter me contado, por ter ajudado a esconder de mim.
Mas também não o julgo.
Está tudo um caos e eu estou furioso.

Furioso por ela não me deixar participar de absolutamente nada que diz
respeito a nossa filha. E eu faço de tudo. Nem consigo senti-la mexer,
porque ela não me deixa toca-la.

Manuella acena, se despedindo dos abutres e sai com Ana Júlia que ri
falando algo com ela.

Fixo o olhar ao seu enquanto ela vem em minha direção, usando um


pijama cirúrgico cor de rosa que marca bem a barriga.

Me ergo, parando a sua frente.

— Oi doutor, posso ajudar? — Diz inocente, piscando os olhos


exageradamente.

— Pode vir até a minha sala, Manuella?

— Não, meu auxiliar não é o senhor. — Sorri.

Solto um pigarro, juntando o resto de paciência que eu nem tenho e seguro


em seu braço sem colocar força alguma.

— Vem comigo. Agora. — Saio a levando e ela faz de tudo para se soltar,
mas a mantenho presa perto de mim.

— Dá para me soltar, seu homem das cavernas? Seu bruto, eu estou


grávida! — Diz entre dentes enquanto passamos pelo corredor.

— Só não te coloco nos ombros exatamente por isso! — Saímos sob o


olhar de algumas enfermeiras e cumprimento todas com um quase sorriso de
lado.

A coloco para dentro e fecho a porta da minha sala.

Manuella cruza os braços.


— Já chega, ouviu? Quer me enlouquecer, sua demônia? É isso que você
quer? Estou respeitando a porra do seu tempo, mas está sendo uma infantil
do inferno não me dando abertura alguma para me aproximar e acompanhar
a gravidez da minha filha!

— Está estressado, doutor? — Morde o lábio.

— Estou prestes a colocar esse hospital abaixo e socar cada maldito


interno que se aproxima de você com sorrisos abertos! Queria me ver louco?
Você conseguiu, Manuella! Parabéns!

Balança a cabeça sorrindo e revira os olhos.

— O mundo não gira em torno de você, doutor. Estou grávida e não


morta, minha vida continua!

— Continua? Experimenta! Só experimenta, sua...

—Vai fazer o que? Me colocar de castigo? — Debocha e eu sorrio sem


humor.

— Me provoca, Manuella. Você não vai ficar grávida para sempre.

— Está me ameaçando?

— Estou fazendo uma promessa, sua atrevida! — Suspiro, passando as


mãos pelos cabelos exasperados.

Estou desesperado. Louco. Perturbado.

— Preciso voltar, saia da minha frente.

A mão espalma na barriga e Deus... Como eu queria senti-la.

— Como ela está?

— Ótima, saudável. Era só isso? — Ergue o queixo e eu assinto.


Ela logo sai, me deixando sozinho na sala. Sento na cadeira, jogando o
peso sobre a mesma e fechando os olhos até arderem. Tudo parece prestes a
explodir, mas me contenho no último momento.

Eu me sinto muito cansado e sozinho.


É um inferno que parece não passar nunca.

Passei o dia inteiro entre uma emergência e outra, estava extremamente


cansado e naquele pico alto de estresse. Não encontrei Manuella novamente
e não sei se foi bom ou ruim.

Estava de saída do hospital depois de tomar um banho rápido, apenas para


sair. São pouco mais de 22:00h, vou comer alguma coisa e dormir, minha
cabeça está prestes a explodir.

Fernanda estava ao celular quando cruzo a porta, andando de um lado para


o outro.

— É uma irresponsabilidade da parte dela! Ela está grávida de 24


semanas! Como ela sai para sabe lá Deus onde e... — Para ao me ver,
franzindo o cenho. — Certo. John está em cirurgia.

— O que aconteceu?

Nossa relação está amena pelas circunstâncias, a sua com Manuella nem
tanto. É geniosa.

Fernanda ajeita os cabelos loiros e me encara.


— Manuella falou alguma coisa para você?

— Sobre?

— Saiu mais cedo e estava em casa. Liguei para Arlete para saber como
ela está e fico sabendo que saiu com Felipe, Ana Júlia e Thales para
um PUB na barra. A gravidez dela é extremamente saudável, mas ela precisa
descansar, se cuidar... E eu estou preocupada!

Sinto meu olho direito tremer levemente e puxo o ar uma, duas, três vezes
seguidas.

— John está em cirurgia e claro que acha que ela precisa sair para
desopilar a mente, mas é uma gravidez!

Ela saiu para o Pub com a minha filha.

Meu Deus, vou ter um infarto.

— Rocco? — Ouço Fernanda me chamar enquanto aperto o botão do


elevador com força. — Rocco? O que está fazendo?

— Vou buscá-la agora! Ela não vai sair carregando minha filha para cima
e para baixo.

Dessa vez você não escapa, Manuella.


Rocco

O trajeto que é feito em vinte minutos, foi concluído em quinze.


Com cuidado e uma agilidade que não me reconheci no trânsito caótico
para um sábado à noite. Fernanda me passou o endereço pelo celular e segui
diretamente para o barzinho.

Paro o carro no estacionamento coberto e desço em seguida. Percebi a


movimentação e fico sem saber se eu odeio mais a música ou as pessoas
tumultuadas dançando e bebendo como se fosse o fim do mundo.

Eu odeio lugares barulhentos. Odeio gente e tumulto. Tudo junto então é


uma maravilha.

Ando firme ao entrar, a buscando com o olhar. Um som infernal toca,


pessoas conversando e gargalhando alto.

Bufo irado de ódio.

A música parece vinda do inferno.

Sinto os olhares em minha direção, possivelmente estranhando um homem


de roupa formal no meio dessa algazarra cheio de jovens. Que se fodam!
Passo no meio da multidão sentindo o maxilar doer de tanto que o aperto.

Então paralisei quando a vejo. Está sentada, sorrindo e balançando a


cabeça, sugando a bebida em uma taça. Ana Júlia está ao seu lado,
gargalhando enquanto um rapaz diz algo em seu ouvido. Mas não foi isso
que me chamou atenção, e sim a maneira que Manuella ria, tão jovem e
feliz.

Um infeliz que está em um canto a observa com atenção e ela mexe o


canudo, franzindo o cenho e olhando para a amiga.

Só fico parado, a olhando.

Deveria da meia volta e deixá-la aqui. Aliás, é livre e pode fazer o que
quiser.

Mas meu gênio, meu ciúme, meu amor e meu descontrole não me
permitiram.

Em três passos largos e ágeis como um felino estou perto da mesa. O


rapaz que tentou e pensou que se aproximaria, paralisa quando o olho de
cima a baixo.

Manuella franze o cenho para mim.

— O que está fazendo aqui?

— Vim te buscar, isso não é lugar para uma grávida estar. — Falo alto,
voltando a atenção ao rapaz que me encara ainda de pé perto da mesa. —
Perdeu alguma coisa?

— Na-não, eu...

— Ela é minha mulher e está grávida! — Digo sem rodeios quando


Manuella se levanta.

— Eu... Me desculpe, não sabia.

— Agora está sabendo. — Volto a olhar para ela. — Vamos.

— Não vou. — Engole em seco. — Está louco?

— Quem enlouqueceu foi você! Sair grávida para um barzinho? Você


ficou maluca?
— Estou perfeitamente bem! Eu só vim deixar o Felipe e encontrei... Ah,
não interessa o que vim fazer!

— Interessa quando está carregando a minha filha! — Disparo, fazendo


ela me olhar.

— Manu... — Ana Júlia suspira.

— Vem comigo agora ou eu coloco essa porra abaixo, mas te levo


comigo! _ Digo entre os dentes.

— Pois coloque abaixo, eu quero ver.

Sorrio, virando o pescoço.

É uma atrevida do caralho.

— O que o tiozão está fazendo aqui? — A voz de Thales grasna enquanto


se aproxima.

— Manu, amiga...

Me aproximo de Manuella e ela continua me encarando fixamente. O


vestido preto justo não deixa perceber a barriga, um modelo mais ousado
sem deixar aparecer demais.

— Vem agora. — Peço e não preciso falar muito para saber que só vou
sair daqui com ela.

— Eu levo o Felipe. — Ana Júlia assente e me olha quando arqueio a


sobrancelha.

— Certeza que vai? — Thales pergunta e ela assente, pegando a bolsa


pequena e colocando sobre o ombro.

Dou espaço para que passe saindo marchando à frente com pressa e raiva e
então a sigo logo atrás, como um cachorro desgraçado, louco e babando por
ela. O ciúmes me espanca.
Estamos prestes a sair desse lugar infernal quando Manuella para e o tal
do Davi olha entre ela e eu.

— Já vai, Manu?

— Não está vendo? — Falo.

— Perguntei a ela, não a você tio. Aliás, meio tarde para estar fora...

O resto da porra do controle que eu não pensei que ainda tinha vai para
puta que pariu. O seguro pela camisa e faço me encarar.

— Escuta aqui, seu molequezinho filho de uma puta! Minha vontade é de


acertar meu punho nesse seu queixo e descolar ele do lugar, mas preste
atenção, porque só digo uma vez... Continue babando em cima da minha
mulher e eu te arrebento sem piscar!

— Inferno! — Manuella segura em meu braço, me fazendo o soltar. —


Você está maluco? O que diabos você tem?

— Acha que eu tenho medo de você?

— Davi, cala a boca! — Dispara e me puxa pela camisa. — E você vem


comigo, que inferno!

Pragueja alto e ouço-o resmungar. Garotinho infernal.

Estou com ódio, sentindo todos os nervos tremendo em uma carga de raiva
pura e distinta.

Chegamos no estacionamento deserto, passando pessoas apenas na frente,


onde têm acesso ao bar. Manuella desce a saia do vestido, ajeitando-o e
balançando a cabeça.

— O que pensa que está fazendo? Ficou maluco? Está agindo como um
louco!
— Porque estou! Queria ouvir isso... Ótimo! Estou louco, alucinado e
completamente fora de mi, e isso é tudo culpa sua!

— Minha? Eu não te pedi para vir até aqui e agir como um animal. — Me
olha de cima a baixo. — Não me trate como se eu fosse uma responsável,
jamais colocaria minha filha em risco!

— Então estava fazendo o que aqui? Você está grávida, inferno!

Minha voz ecoa pelo estacionamento e agora já estamos perto do meu


carro.

— Deveria estar descansando, mas olha onde está. Será que vou ter que te
trancar na porra de um quarto até ela nascer?

— Ouse, Rocco! Ouse e eu ponho fogo no quarto e em você! — Ameaça e


eu a encaro de olhos semicerrados.

— Põe? — Suspiro.

— Sim. — Assente.

— Eu quero ver se coloca mesmo. — Venço a distância que nos separa,


enlaçando a cintura e enfio as mãos nos cabelos, a puxando para tomar a
boca em um beijo insano.

A beijo com vontade, saudade, tesão, ciúmes e raiva. Me sinto vivo,


completo e desesperado. O beijo nos consome, suas mãos estão em meu
peito, agarrando minha camisa e eu mordo os lábios entreabertos, ouvindo o
gemido baixo.

— Estou louco sem você, minha pequena. Desesperado. — Digo entre os


beijos espalhados e volto a enfiar a língua em sua boca, tomando inteira para
mim. — Essa boca é minha. Você é minha.

Meus dedos firmam na garganta e desço o olhar pelo rosto avermelhado, o


peito subindo e descendo com a respiração acelerada.
— Rocco. — Geme, mordendo o lábio. Está com as costas grudada no
carro e eu me aproximo, segurando com ambas as mãos o rosto pequeno. —
Você...

— A gente põe fogo onde quiser. Onde estiver. — Mordisco seu lábio
inferior. — Você me queria peste e você me teve, e vai me ter. Ouviu,
Manuella?

Fecha os olhos e torna a abrir, umedecendo os lábios entreabertos.

A barriga impede o contato corpo a corpo, mas não o calor e o tesão que
nos corrói de dentro para fora e o mesmo. Não foi difícil vira-la com as mãos
apoiadas no carro, o estacionamento está escuro e o carro bem afastado.

— Rocco.

— Vai tomar meu pau caladinha aqui e depois a gente se resolve na cama
em casa, de onde nunca mais vai sair. Entendeu, Manuella? — Sussurro em
seu ouvido, segurando seus cabelos e enfiando a mão por baixo, sentindo o
tecido da calcinha enfiado no meio da boceta.

— Você ficou louco. Você... Ah, porra! — Geme quando enfio os dedos.

— Está toda melada, amor! Que ninfetinha atrevida. — Sorrio,


acariciando os lábios inchados que quase engolem meu dedo. — Espalma as
mãos na porra desse carro e abre as pernas.

— A gente vai ser pego. — Sussurra meio gemendo e meio rindo.

— O tesão só aumenta. — Me abaixo, ficando de joelhos, enfiando as


mãos enganchando os dedos na porra da calcinha, passando pelas pernas
torneadas equilibradas nos saltos não muito altos. Sorrio, a levando ao nariz,
sentindo seu cheiro, enlouquecendo, me inebriando. — Você vai me pagar,
Manuella.

— O que vai fazer?

Sorrio feito um animal ao bater na sua bunda.


— Cala a boca ou todos vão saber que vai dar esse cu para mim em um
estacionamento.

— Eu não vou...

As palavras morreram em sua boca quando seguro, afastando as


bochechas da bunda e enfiando a língua bem no meio. Ela pende a cabeça
para trás, reprimindo um gemido e eu me farto.

Acaricio a bocetinha com o dedo, não deixando de lamber o cuzinho que


pisca em cada investida da minha língua. Goteja em meu dedo quando
brinco com o clítoris, esfregando-o devagar e Manuella geme palavras
desconexas quando a penetro com o dedo.

— Ah, porra! — Solta grunhidos baixos. Salivo, lambendo-o e esfregando


meu nariz de cima a baixo.

O tiro ainda úmido de gozo e dos fluídos que saia o empurrando para
dentro do seu cu que contraiu meu dedo enquanto gemia.

Beijo as pernas, voltando a subir. Ela está empinada, com as mãos


espalmadas no teto do carro. Meu pau lateja, babando e eu tiro o dedo
devagar, Manuella me encara arfando.

Abro o cinto e desço o zíper, afastando a cueca e tirando o pau todo


babado. Masturbo, fazendo o pré gozo espalhar, deixando-o todo babado
enquanto tomo sua boca em um beijo quente, enfiando a língua e tirando.

— Não vai ter uma parte do seu corpo que não tenha me tido. Vou
arregaçar seu cu, Manuella.

Ela franze o cenho, abrindo as pernas e se jogando para trás.

— Fode, então.

— O que? — Seguro em seu pescoço quando se joga para trás.

— Meu cu, doutor. Foda.


Manuella

Tremo inteira, da cabeça aos pés.

Esse homem atrás de mim como uma muralha de músculos, puto e raivoso
vai acabar comigo.

Espalmo a mão, empino a bunda e me equilibro nos saltos.

— Vou estraçalhar esse cuzinho, meu amor!

Devia sentir medo, mas apenas o tesão toma conta quando ele me beija
forte. Mordisco seus lábios e me apoio, sentindo-o passar a glande devagar,
forçando a entrada.

Mordo o lábio.

Sinto a ardência preencher todo meu interior e gemi baixo, sentindo-o


forçar e eu sei que ele está me rasgando. Eu sinto. Fecho os olhos e suspiro,
ouvindo falar em meu ouvido cada putaria. Começa a acariciar meu clítoris e
eu palpito na frente e atrás.

— Caralho, Manuella! Está vendo como seu cuzinho engole meu pau,
amor? — Sussurra, me fazendo gemer. A fricção em um misto de dor e
prazer.

— Você está me... Ah! Acabando comigo. — Digo entre dentes, o ouvindo
rir.

Achei que não fosse aguentar isso. Relaxei, sentindo a dor gostosa e louca
e suas mãos afagando meu corpo.

— Entrou até o talo. Que cuzinho gostoso você tem, minha peste atrevida
e abusada! Eu vou meter tanto nesse rabo, sua filha da puta!

Afasta minha bunda com ambas as mãos e eu viro para olhá-lo por cima
do ombro.

Sorria de lado.
Começou a se mover e a loucura se fez completa, em penetrações que me
alargam e melam. Eu estou ensandecida. Louca.

Volta a aproximar a boca do meu ouvido, sem deixar de penetrar lento.

— Você é tão gostosa. Que cu apertado, Manuella.

— Seu filho da puta! — Xingo entre os dentes, sentindo a mão enlaçar


meu pescoço, sem apertar, mas firme.

Fecho os olhos, sentindo seu quadril se mover.

Gememos juntos. Me sinto preenchida. Rasgada. Fodida. Tudo vira


loucura. Foi insano. Ele meteu firme e forte, arrancando os gemidos e
palavrões da minha boca sem que eu nem me atentasse.

Estremeço sem controle, adorando o modo como me fode.

— Vou gozar dentro dessa sua bunda e ver minha porra escorrendo por
entre suas pernas, sua desgraçada!

— Ah! — Ele fode firme, mas sem impor força.

Me perco no tesão, no toque, na boca em meu pescoço e quando ele geme


firme, eu sinto o gozo quente me preencher.

Suspiro acabada e fraca, sentindo as pernas fraquejar, sendo sustentada


apenas pelo corpo grande atrás de mim. Ele foi cuidadoso ao tirar e senti um
filete do gozo descer por entre minhas pernas.

Rocco me vira de frente e me beija enquanto espalmo a mão em seu peito.

— Me perdoe, por ter demorado tanto. — Afaga meu rosto e sei que não
se refere ao tempo de me buscar aqui. — Me perdoe.

Franzo o cenho, sentindo sua mão espalmar em minha barriga.

— Você demorou tanto.


— Mas eu estou aqui, minha pequena. Estou aqui. — Afago sua barba,
fecho os olhos e encosto a testa na sua.

— Vai me prender em um quarto? — Sussurro contra seus lábios e ele ri,


segurando em meu queixo.

— Eu prometo que me tranco lá dentro com você.

Não tive planos de sair realmente naquela noite, tinha apenas decidido
levar Felipe na comemoração de um amigo. Não iam ficar até tarde, já que
são menores de idade. Por insistência de Júlia e Thales, tomei um suco de
frutas vermelhas.

Já ia embora quando o vi ali, me bombardeando de sentimentos, me


varrendo da cabeça aos pés.

Agora estamos dentro da banheira repleta de espumas. Ele me deu um


banho assim que entramos no apartamento e logo a colocou para encher,
deixando a água morna do que jeito que eu amo. Como eu senti saudade de
tudo.

— Liguei para John e avisei que está aqui e daqui você não sai mais.

Estou enroscada em seus quadris, meus seios esmagados em seu peito,


enquanto a mão acaricia minhas costas lentamente. Afago a barba e ele
pisca, beijando minhas mãos.
— Como eu senti sua falta, meu amor. O quanto essa casa ficou vazia sem
seu cheiro, sem você... — Diz baixo, me olhando fixamente. — O quanto eu
fiquei vazio, Manuella.

Franze o nariz e eu contorno os traços com a ponta dos dedos.

— Porque você me completa. Você alegra meus dias. Você é o ar que


respiro. Você é minha metade. Você é meu amor! Você é perfeita para mim!
Você nasceu para mim! — Encosto a testa na sua, segurando em seu rosto e
sentindo uma lágrima rolar, mas ele a limpa rapidamente. — Você é meu
oxigênio, Manuella Monteiro.

Meu peito acelera, sentindo as mãos enormes espalmar em minha barriga,


a fitando sem esconder o sorriso de lado.

— Eu senti tanto medo de não ser para ela o que merece. O que vocês
merecem. — Vejo-o engolir em seco o bolo formado na garganta. — Senti-la
mexer foi... A coisa mais linda que eu já senti em toda minha vida.

— Essa traidora. — Brinco.

— Por favor, me perdoe. Eu juro que a compensarei por todos os dias da


minha vida. Eu só preciso de vocês duas. Só de vocês.

— E a gente de você. Meu Deus, não me deixe ir embora nunca mais. Não
me deixe ir embora nunca mais, Rocco!

— Nunca mais, meu amor! — Soluço, deixando a lágrima descer sem eu


ter controle, sentindo-o me beijar. — Me perdoe, por favor.

Meu queixo treme enquanto o encaro.

— Eu tive tanto medo. Eu...

— Estou aqui agora. Meu Deus! Como eu me odeio por ter te feito chorar,
minha pequena. — Limpa uma lágrima que desce rolando e eu suspiro
pesadamente.
Meu peito se enche de um misto de sensações indescritíveis.

Saudade. Amor. Paixão. Desejo.

Ele me tira da água e sinto a toalha ser passada por meus braços e pernas,
me secando. Me levou no colo até a cama e me deitou devagar. Fiquei de
olho, vendo afagar seus cabelos, sentindo-o me beijar na testa, nas
bochechas e nos olhos.

Abro a boca sorrindo.

— Eu vou cuidar de vocês. Eu prometo. — Os olhos estão fixos aos meus


e vejo ele se ajoelhar na cama, afastando o roupão que me cobre.

A barriga redonda ficou amostra e eu sorrio, espalmando as mãos sobre a


mesma.

— Seu pai é um idiota.

— Ela sabe. — Balança a cabeça, encostando a testa na minha barriga,


fechando os olhos por alguns segundos.

Afago seus cabelos, enfiando os dedos sobre as mechas castanhas,


mesclados com os fios grisalhos e me encara fixamente, então franzo o
cenho.

— Rocco.

— Vocês são a minha vida, Manuella.

Levanta e eu enlaço seu pescoço, o beijando.

— Seu coroa ranzinza e insuportável! Como eu te amo, seu idiota. Deus!


Como eu te amo!

— Não mais que eu, minha pequena.


Manuella

Algumas semanas depois...

— A cara de quem passou a noite inteira dando igual uma cadela no


cio. — Júlia balança a cabeça me olhando e eu gargalho. — Você é tão
vagabunda, Manuella.

— Eu? — Coloco a mão no peito quando ela semicerra os olhos. — Muito


bem comida, diga-se de passagem. Ajuda muito para o parto.

— Ordinária. Não deu para matar a saudade ainda não?

Nego devagar e suspiro com a mão no queixo.

— Júlia... Esse homem está me macetando. Um fogo do inferno, juro.

— E você bem que gosta, sua suja!

— Eu amo.

— Ordinária! Não quero ficar perto de você, Manuella. — Gargalho


segurando em seu braço e a beijo, ouvindo resmungar.

— Te amo, sua estressada.

Realmente ainda não deu para matar a saudade de meses separados.


Estamos em nossa melhor fase, vivendo a melhor e mais linda de todas as
elas. É visível a mudança de Rocco, mas claro que não deixa de ser o
ranzinza e as vezes chato.

Só que é notável a preocupação, o cuidado e principalmente o amor por


nós duas.

Está menos focado no trabalho e pediu a papai para diminuir os plantões


para ficar mais tempo com a gente. Claro que o hospital é sua vida, mas
agora nós duas estamos em primeiro lugar, e confesso que chorei muito ao
ouvir ele falar isso.

— A sua carreira é sua vida, amor.

— Minha vida são vocês. Tem outro cardiologista lá. Ainda trabalho no
hospital, só que com uma carga horária menor.

Minha voz embarga quando espalmo a mão em seu peito.

— Não quero que fique sozinha a noite. Minha prioridade é vocês.

— Pare com isso! — Desabo em um choro alto, ouvindo-o rir enquanto


afaga meus cabelos. — Deus... O que fez com meu coroa ranzinza?

-— Ele está aqui, mas com outras prioridades agora. — Segura meu
queixo e me beija. — Entendeu?

Assinto, enlaçando seu pescoço e espalhando beijos na bochecha, na boca


e por todo o rosto. Ele me abraça afagando minha cintura e eu olho para a
mão espalmada em minha barriga, eu amo senti-la ali. Amo ver essa mão
enorme a envolvendo.

Como se a pequena traidora sentisse o mesmo que eu, ela começa a se


movimentar. É uma sensação indescritível senti-la mexer, os movimentos
estão mais ágeis, perceptíveis e doloridos também.

— Ela sente quando você a toca, vai gostar mais de você do que de mim.

Rocco fica sério e percebo sua expressão mudar sempre que a sente. É um
misto de sentimentos que passa por seus olhos.
— Será?

— Certeza que vai.

Não nos desgrudamos mais.

Estou na lanchonete do hospital junto com Júlia, estamos no horário de


descanso e eu posso dizer que estou me sentindo extremamente exausta. A
rotina está cada vez mais puxada, então vou encerrar as atividades tanto da
faculdade quanto do hospital na próxima semana. Por papai, Rocco e a
minha mãe, eu nem estaria mais aqui.

Já havia encerrado há duas semanas, mas não consigo ficar parada.

Minha gravidez está saudável e perfeita, mas claro que o desânimo e o


sono excessivo ainda são frequentes. Mas estamos ótimas, é o que importa.
Minha menininha cresce lindamente e estou completando 29 semanas de
gestação.

É um sonho saber que está perfeitamente saudável e eu não vejo a hora de


tê-la em meus braços. Eu acredito estar vivendo um sonho do qual não quero
acordar.

— Sua sogra chega amanhã de viagem?

— Sim, estou nervosa. — Sorvo um gole do suco. — Mamãe vai fazer um


jantar. Se ela não gostar de mim?

— Para com isso, Manu. Ela já te ama por aguentar o filho dela. — Júlia ri
e eu bato em seu braço.

Estou ansiosa para conhecer minha sogra, nos falamos pelo telefone e ela
parece ser incrível, também está radiante com a minha gravidez e vai ficar
com a gente por alguns meses, até depois do nascimento.

Me ergo, sentindo uma dor insana nas costas e Júlia me ajuda sorrindo.

— Essa menina está grandona! — Beija minha barriga. — Sapeca.


— Estou me sentindo enorme também.

— Você está linda. Só é teimosa, já deveria estar em casa, Manu.

— Último dia amanhã, prometo. — Entrelaço o braço ao seu enquanto


saímos da lanchonete. — Viu o Thales?

— Deve estar atrasado, como sempre. Só não perde a cabeça porque está
grudada no pescoço. — Estala a língua e revira os olhos.

Paro assim que Rocco vem caminhando em nossa direção, sorrindo de


lado e o olho enfiar as mãos no bolso do jaleco. Está no modo médico, o que
me deixa completamente surtada de tanto desejo.

Claro que evitamos contato mais íntimos pelos corredores, já que a regra
era válida para todos os funcionários, mas não contenho o sorriso que me
toma.

— Oi doutor. — Me aproximo sorrindo quando segura em minha mão.

— Minha deixa para ir, doutor Fonseca me espera. Beijos!

Me despeço de Júlia e Rocco beija minha testa.

— Como está? Se sentindo bem?

Assinto.

— Vamos na minha sala, quero te mostrar uma coisa. — Diz sério e eu


arqueio a sobrancelha quando entramos no elevador.

Sinto a mão espalmar em minhas costas, acariciando-a e mordo o lábio.

— Vai me comer em cima da sua mesa? Ou naquele sofá?

— Manuella... — Fica sério, me fazendo dar uma pequena gargalhada. —


Pare de me provocar, peste.
— E você adora quando eu te provoco. — Seguro na lapela do jaleco, o
beijo e espalmo a mão em seu peito. — Não é?

Me encara com aquele olhar como se fosse me comer viva e eu suspiro.

Claro que nos tornamos mais cuidadosos na cama agora, ainda tem a
mesma intensidade, mas sem tanta emoção por causa da barriga que chega a
atrapalhar algumas posições. Mas ainda faz loucuras com a língua.

Sorrio quando o elevador para antes do andar e nos afastamos.

Alisson ergue a cabeça e pisca rapidamente.

— Desculpe. — Diz sem jeito e sorrio.

— Pode entrar. — Ela assente e meio sem jeito entra no elevador.

— Obrigada.

Nossa convivência é apenas necessária. Nos falamos normalmente, não há


motivos para desavença entre nós. Rocco a cumprimenta, ainda próximo a
mim.

O elevador volta a subir e para novamente. As portas se abrem e tia


Natália ergue o olhar para nos encarar.

— Eu... Com licença. — Entra suspirando. — Tudo bem, Alisson?

— Tudo bem. — Alisson a cumprimenta. — E com você?

— Igualmente. Manu. — Me olha.

— Tia.

— Rocco.

— Natália.

O silêncio fica ensurdecedor e encaro Rocco, que está olhando o chão,


ainda com as mãos espalmadas em minhas costas.
Mesmo não tendo motivos, o clima parece pesar.

A porta se abre finalmente no andar e damos de cara com Thales quando a


se abre.

Olha para Natália, para Alisson e para mim.

Já prevejo abrindo a boca para falar alguma atrocidade.

Ele apenas ri, balançando a cabeça.

— Melhor eu ir de escada.

Entramos na sala e Rocco fecha a porta em seguida, fica de costas para a


mesma e me puxa, me beijando demoradamente e enfiando as mãos em
meus cabelos. Afago sua barba com os dedos.

— O que foi?

— Deu saudade, muita saudade. — Encosta a testa na minha, espalhando


beijos leves. — Louco para chegar em casa, tirar essa roupa e te comer
gostoso e lento.

Engulo em seco, sentindo o beijo em meu queixo se tornar uma


mordiscada leve.

— A gente pode aquecer...


— A sala do seu pai é aqui do lado. — Rocco lambe meus lábios e eu
gemo.

— A gente já fez isso aqui.

— Queria te foder mesmo, mas não vou. Com calma, lembra? — Espalma
a mão em minha barriga e eu engulo em seco. O contato faz uma corrente
elétrica passar por meu corpo. — Seu corpo está gerando nossa filha e é a
casinha dela agora.

Engulo o bolo que se forma e sorrio, sentindo o queixo tremer.

— Vai chorar, minha pequena?

— Vou. Porque nunca pensei que você ia amar ela assim como eu... E
nos... — Desabo em um choro lamentável, ouvindo-o rir e encosto a testa em
seu peito soluçando.

— Vocês são a minha vida. — Segura em meu queixo, erguendo-o. —


Entendeu?

Assinto, sentindo-o passar o polegar, limpando a lágrima que cai.

— Eu te amo. Aí Deus! Eu te amo, seu idiota. — Sorrio, voltando a


fungar.

— Quero que veja uma coisa. — Diz baixo e eu assinto, limpando o rosto.

Ele vai até a mesa extremamente organizada, abre uma das gavetas e volta
com algo em uma caixa minúscula.

Franzo o cenho quando ele se aproxima.

— Sei que tínhamos conversado sobre nomes e você me falou de um que


gostou. — Está sério e eu mordo o lábio. — Eu fiquei pensando nele... Mas
se quiser trocar eu entendo.

Abre a caixa devagar e eu coloco a mão na boca.


Sorrio entre as lágrimas quando toco o pingente dourado com pedrinhas.

Três letras. Um significado.

— Rocco! — O encaro sob a névoa de lágrimas. — Mia...

-— Nossa Mia, se quiser.

Pulo em seus braços enlaçando seu pescoço e o beijo. Ele me aperta rindo.

— Gostou?

— Eu amei, meu Deus! — Limpo o rosto, vendo-o pegar a jóia nas mãos.
Coloca junto com o pingente que me deu de aniversário que eu carrego
comigo desde então. — Nossa Mia.

Me beija sorrindo.

— Nossa Mia. — Repito, afagando sua barba e coloco a mão por cima da
sua que está afagando minha barriga. — Eu amo você.

— Eu amo mais vocês.

Rocco

O dia foi menos estressante do que imaginei que seria. Passa das 19h
quando estaciono em frente a casa de John. Minha mãe chegou mais tarde do
que o previsto, já que o vôo atrasou. Fui buscá-la no aeroporto e matamos
um pouco da saudade que pareceu mais forte quando a vi.

Mariane Maldonado tem o sorriso largo, os cabelos curtos e não aparenta


já ter passado dos sessenta anos.

— Estou nervosa. — Manuella morde o lábio.

— Pare de besteira, ela está ansiosa para te conhecer. — Ela ajeita os


cabelos longos e loiros soltos em cachos lindos.
Incrível como fica cada dia mais linda.

A gravidez a deixou com um brilho, uma luz e uma coisa indescritível que
eu não sei explicar sempre que a olho. Está radiante e posso dizer que cada
vez mais gostosa.

Não canso de elogiar seu corpo. Cada pedacinho dele que gera a nossa
filha.

Nunca pensei que sentiria tanto desejo por uma grávida, mas não é
qualquer uma... É minha mulher.

Ajeita o vestido azul solto com um decote ombro a ombro e encaro os


seios bem maiores, com as veias saltando e engulo em seco. Minha boca
encheu d'água e fixo o olhar ao seu, vendo-a sorrir de lado.

— Vamos descer. — Desço e dou a volta para abrir a porta e ajudá-la.

Segura em minha mão, entrelaçando os dedos aos meus e seguimos,


subindo os degraus devagar. Percebemos de imediato a movimentação na
casa, vai ser um jantar pequeno e íntimo, mas óbvio que com um intuito que
será inesquecível.

O pingente com o nome de Mia não foi a única jóia a ser escolhida. Fui
com John e ele me encarou quando contei o nome da minha filha, tentou
disfarçar e desviou o olhar do meu, mas percebi limpar o rosto rapidamente.

— Mia.

— Ela escolheu. — Assinto sorrindo enquanto os olhos azuis fixam aos


meus. — Mia.

Balança a cabeça.

— É lindo.

A porta se abre, me tirando dos devaneios e Manuella sorri, indo abraçar


os avós.
— Chegamos na hora. — John fala descendo as escadas. — Mariane.
Chegaram.

Mamãe suspira, vindo em nossa direção com os olhos marejados.

— Ah, Deus! Ela é uma boneca. — A abraça. — Como vai, meu amor?
Que barriga mais linda, meu Deus!

— Estou ótima e a senhora? É um prazer conhecê-la, Mariane.

— O prazer é todo meu. — Segura em suas mãos, limpando o rosto. —


Não sabe o quanto esperei por isso. Ah, como você é linda!

— Eu disse. — A fito enquanto me abraça segurando em meu rosto.

— Você é um teimoso, Rocco! Ah, Vitória, quem diria que nossas famílias
iam se juntar dessa forma?

— Eu percebi de imediato, Mari. Nasceram um para o outro!

John franze o cenho, cruzando os braços.

— Foi muito difícil, Mariane. — Diz sério. — Ele seduziu minha


princesinha.

Manuella sorri, sendo abraçada pelo pai.

— Eu que fui seduzido. — Entro na brincadeira, a olhando.

— Ah, mas tem uma carinha de anjo. — Mamãe segura em seu rosto. — E
nossa menina? Como está?

— Perfeitamente bem.

Fernanda olha, entrando no assunto. Sua relação com Manuella ainda é


delicada, mas as duas aos poucos parecem ter se entendido. Felipe vem em
nossa direção, nos cumprimenta e abraça a irmã.
Mamãe não desgruda um segundo, está feliz e radiante com a neta, e eu
me sinto mais feliz ainda por tê-las aqui.

— Mariane irá ficar conosco, faço questão. — Vitória fala. — Temos que
colocar todos os assuntos em dia.

— Faço questão, minha amiga. Temos que preparar tudo para a chegada
da nossa menina.

Estamos sentados na sala de estar Manuella sorri ao lado de mamãe.


Parecem ter se entendido de primeira.

Estou próximo a janela e John se aproxima com um copo de whisky com


uma das mãos nos bolsos.

— E aí? — Sorrio de lado.

— Parece que voltei a ter vinte anos. — Confesso, tomando o copo de sua
mão e bebendo um gole.

— Sei bem como é a sensação. — Aponta com o queixo em direção a


Fernanda. — Complicada demais, mas é o amor da minha vida.

Assinto devagar.

— Mãe dos meus filhos. A mulher que quero passar o resto dos meus dias.

Diz baixo e o observo franzir o cenho, voltando a me encarar.


— E você, já namora? Ou apenas estuda? — Mamãe pergunta para Felipe.

— Apenas estudo. Entro para a faculdade no próximo ano.

— Thiago não veio, amor? — Vitória pergunta e ele nega.

— Não, tinha um trabalho.

— O melhor amigo dele, tipo Rocco e John quando tinham essa idade. —
Fernanda ri, beijando o filho.

Manuella olha para a avó.

— Imagino o orgulho. Vocês têm filhos maravilhosos, fico muito feliz


pela família que formaram e agora meu filho está formando a dele.

Segura em minha mão e eu a beijo.

Manuella me encara e eu solto um pigarro, levantando devagar.

— Então... Aproveitar a noite incrível em família e falar o quanto estou


feliz em ter todos aqui. — Engulo em seco e mordo o lábio. — Então eu não
vejo momento melhor para isso.

John me encara e eu suspiro o olhando.

— Um dia te disse que casaria com sua princesa e a faria minha rainha.
Sinto o bolo tomar minha garganta, mas continuo.

— Tivemos uma conexão incrível John, de melhores amigos e irmãos.


Fecho os olhos e ainda posso ver você chegando com a notícia que seria pai.

Ele e Fernanda me encaram e sorrio de lado.

— Não fazia ideia de que vinte e dois anos depois eu estaria sendo pai da
sua neta. — Manuela me olha, limpando o rosto. — Não sou o genro que
desejou e sonhou para a filha de vocês, acreditem, eu lutei para isso. Mas
não se pode lutar contra o destino, e ela é o meu.

Seguro em sua mão quando se ergue.

— Você é o amor da minha vida, Manuella. Você virou tudo de cabeça


para baixo, me fez sonhar sonhos que jamais imaginei. Então, tinha feito um
pedido informal e agora posso dizer...

Tiro a caixinha do bolso e a abro devagar.

— Aceita se casar comigo, minha pequena?

— Você sabe a resposta! Como eu te amo! — Enlaça meu pescoço, me


beijando rapidamente.

Beijo sua testa e limpo as lágrimas que descem.

— Nunca pensei que fosse vê-lo tão feliz, meu filho! Meu Deus! —
Mamãe nos abraça, rindo entre o choro. — Seu pai estaria tão orgulhoso de
você!

— Que eu seja um terço do pai incrível que ele foi.

— Você vai, porque se não for eu te caço. — John me olha. — Eu te caço.


Minha princesinha...

— Papai!

— Eu te amo tanto.
Fernanda me olha, assentindo devagar.

— Cuide bem das minhas meninas.

— Pode deixar. — Assinto vendo-a sorrir e abraçar Manuella.

— Eu sentia que isso ia acontecer. Ah, Rocco. — Rodolfo bate em meu


ombro. — Manuella não poderia ter alguém melhor para cuidar dela.

— Foi amor à primeira vista. — Vitória me abraça. — Estou radiante por


vocês.

— Ah, vovó!

Manuella me encara sorrindo quando a aliança fina desliza por seu dedo e
a beijo apaixonadamente.

— Você é o amor da minha vida, peste.

— Eu te amo, seu coroa insuportável. Eu te amo.

E vou repetir sempre que puder o quanto eu vou lutar para fazê-la feliz.

Voltamos para casa um pouco mais tarde após comemorarmos juntos e em


família a nossa felicidade. Natália chegou um pouco depois,
cumprimentando mamãe com beijos e abraços. Está feliz por nós.

Chegamos em casa aos beijos, desesperados como se fosse a primeira vez.


Fizemos amor lentamente na cama. Beijei cada parte do seu corpo sem
deixar de repetir o quanto a amo e o quanto a adoro. Que nossa filha é o
fruto do nosso amor mais lindo e insano.

Ela chorou em meu peito e Deus... Eu nunca pensei que sentiria uma coisa
tão forte por um ser que nem chegou ao mundo ainda.

É inexplicável e eu não faço ideia de como colocar isso para fora.


Manuella se encaixou em meus quadris, beijei seu queixo, os ombros e
voltei a beijar a boca com uma fome insana. Ela gemeu lindamente em cada
investida que eu dava, preenchendo cada parte daquele corpo, a fazendo
minha, como eu sou dela.

Como sempre fui dela e sempre serei.

A deixei na faculdade na manhã seguinte e por pouco não a deixei


dormindo para não ter que fazê-la levantar, mas tem um trabalho a ser
entregue e eu não vejo a hora de finalmente pegar o recesso para não ir mais
às aulas.

Vou pegá-la a tarde ou ela vai vim com Júlia para o hospital, já que tem
uma ultrassonografia com Fernanda, que a acompanha depois de insistir e
Manuella permitir. Fico feliz pela aproximação das duas.

Seguro o copo de café quando Alisson se aproxima sorrindo.

— Vim apenas desejar os parabéns. Fico muito feliz pelo noivado. — Me


olha fixamente, mordendo o canto do lábio. — De todo meu coração.

— Eu sei. Obrigado, Alisson. — Ela sorri de lado.

— Sua garotinha chega em poucos meses, qual a sensação?

— De medo. — Digo, fazendo-a gargalhar. — Se chamará Mia.

— Mia... Lindo e delicado. Parabéns mais uma vez em dobro.


— Obrigado novamente.

Ajeita o jaleco enquanto sai devagar, se equilibrando nos saltos.

Está tudo calmo e eu me surpreendi.

Ou quase.

Às 16:45h tudo mudou e ficou de cabeça para baixo.

Estávamos na sala de reunião resolvendo as escalas de plantão e a porta se


abriu de repente, fazendo Fernanda e John levantar-se assim como o resto da
equipe.

Emergência. Só pode ser.

— Doutor Monteiro! — Alana arfa pálida, olhando entre todos os


presentes.

— Emergência?

Ela suspira com a mão no peito e me olha.

Cardiologia.

Levanto-me.

— Alana! — John a encara e ela balança a cabeça nervosa, mexendo as


mãos. Está pálida.

— Ouve um acidente no campus da faculdade. Alguns alunos foram


feridos...

Foi o suficiente para abrir o chão sob meus pés.

Senti o entalo no peito e pisquei devagar.

— Não sabemos ao certo o que houve.


John sai às pressas da sala de reunião, com Fernanda logo atrás.

Tudo parece se mover em câmera lenta quando me sinto ser arrastado para
fora. Tudo pareceu se mover lentamente enquanto eu corria pelos corredores.
Ouço meu nome. Ouço um desespero.

Nada me faz parar enquanto meus pés deslizam pelos corredores, apenas
seguindo o extinto.

Sirenes ecoam.

Todos os profissionais correndo feito flecha em direção a porta de entrada.

Foi quando senti meu chão. Meu coração. Meu ar travar.

Não sei se foi meu grito ou de John que ecoou pelo hospital quando Davi
entrou com ela nos braços, carregada complementa imóvel.

— MANUELLA!
Manuella

Algumas horas antes...


— Estou morta de fome! Vamos comer logo? — Júlia chama e eu
assinto, entrelaçando o braço ao seu.
— Também estou. — Mordo o lábio e suspiro.
Saí da aula e estou extremamente cansada. Tecnicamente é meu último dia
antes do recesso que estou tirando da faculdade e do hospital. Vou sentir
saudade da rotina corrida e da adrenalina dos estágios, mas nada vai me
fazer mais feliz do que a espera pela minha filha.
Olho para a mão sorrindo, vendo o anel em meu dedo anelar. Estou nas
nuvens. Vou me casar!
Júlia comemorou insanamente quando percebeu a jóia. Nada disso compara
a jóia mais preciosa que eu carrego, mas comemoramos rindo e tão felizes
como nunca estivemos.
— A sua felicidade é a minha e você sabe disso. — Afagou meu rosto e eu
aperto sua mão. — Estou feliz por você e espero que esse doutor ranzinza
cuide muito bem de vocês duas, ou eu vou chuta-lo daqui
até Seattle novamente.
A abraço apertado e rindo.
— Ele está cuidando muito bem de nós duas. A gente te ama muito.
— Eu amo vocês mais ainda.
— Ah! Me deixem participar desse abraço também. — Olho para Thales se
aproximando e Júlia o encara de cima a baixo. — Eu amo abraços.
— Abraça um cacto. — Ela responde rindo.
— Nossa, Juju por que me trata assim? — Semicerra os olhos.
— Sai fora, Thales!
— Está vendo M&M's? Ela só me dá patada! — Enlaça meu pescoço e
sorri, me dando um beijo na bochecha. — Ainda bem que você me ama.
— Ela vai casar, seu bocozão! — Júlia o olha e Thales paralisa, vira o rosto
em minha direção e segura em minha mão.
— Vai casar? Vai casar mesmo? — Assinto. — Caralho, Manuella! O
velhote te pegou de jeito. Primeiro um menino e a agora as algemas!
— Seu idiota! — Rio, puxando minha mão da sua.
— Você partiu meu pobre coração! — Arfa, fingindo limpar o rosto. _ Eu
jurei que íamos nos casar e ter filhotinhos, mas você me trocou pelo mingau
de aveia!
— Dá para você parar de ser tão idiota?
— Ele nasceu assim. — Júlia balança a cabeça.
— Estou feliz por você, me convida para o casamento.
— Casamento? — Davi aparece logo atrás com o capacete na mão e
ajeitando os cabelos.
Ele me encara e eu franzo o cenho quando os olhos pousam na aliança.
Abaixo a mão devagar, meio sem jeito pelo olhar que me lançou. Não
tivemos nada tão intenso e sei que o que Davi sente é apenas dor de
cotovelo. Tivemos apenas uma atração imediata, momentânea e nada mais.
— Vai se casar?
— Vai. — Thales responde. — Ela está feliz e a Mini M&M's merece.
Davi me olha por uns segundos e Júlia continua o olhando.
— Parabéns, Manu.
— Obrigada.
Logo depois faço meu prato com Júlia e comemos devagar na lanchonete.
Vamos ter duas aulas ainda, então sairemos um pouco mais tarde. Tomei um
suco de morango enquanto conversamos.
Falei com Felipe por mensagens logo após o almoço e ele disse que quer
conversar comigo mais tarde, pareceu ser urgente. Coloco o celular na bolsa
e sigo com Júlia para o laboratório onde vamos assistir a aula.
Assim foi durante toda a tarde.
Mia está agitada, mexendo o tempo inteiro enquanto comia uma rosquinha
de brigadeiro.
— Vamos para o hospital, né?
— Tenho consulta com mamãe. — Limpo os dedos no guardanapo.
Nossa convivência está melhor que antes. Talvez pela insistência de vovó e
papai, ela está acompanhando toda minha gestação de perto e eu não poderia
me sentir mais segura.
— Vou pegar água. — Assinto e Júlia se afasta enquanto espero perto dos
portões de saída.
Está aquele movimento de saída de faculdade, com alunos espalhados pela
saída, entrando em seus carros, comprando algo dos vendedores ambulantes
ou batendo papo com os colegas.
Vejo Davi se aproximar e o encaro. A mochila nas costas, a camisa preta
colada ao corpo e o capacete no antebraço. O típico bad boy.
— Achei que estivesse de saída já.
— Esperando a Júlia, e você?
Olha para os lados e volta a me encarar.
— Estava esperando o Matheus. — Me olha de cima a baixo. — Vai se
casar mesmo?
— Vou. Mas se for para falar uma de suas piadas idiotas, pode guardar para
você, Davi. Já tenho pessoas demais criticando minha relação com Rocco,
como se para se apaixonar precisasse de um rótulo para seguir. — Disparo e
ele semicerra os olhos. — Sim, temos uma grande diferença de idade, mas
isso não importa. Eu o amo e ele é o pai da minha filha.
— No começo eu realmente achei estranho. Ele tem idade de ser seu pai.
— Davi balança a cabeça e eu fecho o semblante. — Mas não é, já sei. Tem
um passado com sua idade e...
— E nada disso importa.
— Percebi. Se está feliz, é isso que importa. — Assente e eu confirmo com
um leve aceno de cabeça quando Júlia se aproxima olhando entre nós dois.
— É o que importa. — Repito, ouvindo ele dar um leve suspiro.
— Está tudo bem? — Minha amiga para na minha frente, olhando-o de
cima a baixo.
— Está. — Sorrio.
— Vou pegar a moto.
Davi está a minha frente e Júlia ao seu lado, mas de repente vejo o
movimento de alunos e gritos.
— DAVI! — Thales vem em nossa direção correndo e gritando em plenos
pulmões. — A MANU! TIRA A MANU DAQUI!
Novo o pescoço sem entender nada do que está acontecendo.
— JÚLIA! — Ele grita alto, a puxa e se joga por cima dela, então um
barulho alto ecoa.
Tudo acontece muito rápido.
-— MANUELLA! — Ouço Júlia berrar.
O cantar dos pneus surge tão perto e gritos histéricos, barulhos de coisas
sendo arrastadas e tudo vira um vulto. Sinto os braços de Davi me puxando
para o lado e vejo Júlia ao chão, embaixo de Thales.
Um carro desgovernado invade a calçada.
Todo mundo corre. Gritos. Vultos.
Puxo ar, sentindo-o faltar.
— MANU! — Sinto-o se agarrar a mim enquanto nós dois caímos ao chão.
E tudo vai ficando longe demais.
As vozes. A visão turva.
— Manuella... Manuella... — Ouço-o sussurrar, mas apenas tombo a
cabeça, deixando a escuridão me tomar.
Minha filha.

Rocco

Nunca fui de ter medo.


Trabalhar em hospital durante toda uma vida te faz deixar de sentir
algumas coisas, e o medo foi uma delas.
Fazemos o possível e o impossível para salvar uma vida, vivemos em uma
luta frenética pela sobrevivência.
No hospital ouvimos e vemos de tudo.
Paredes que ouvem preces mais honestas do que em igrejas.
Despedidas e beijos mais sinceros que em aeroportos.
O desespero me tomou e socou o ar que eu tanto puxei para vir.
Ela é colocada na maca, completamente pálida, com arranhões pelo braço e
rosto. John gritou pedindo espaço, com as mãos enfiadas nos cabelos
desesperado. Atônito. Perdido.
— O QUE ACONTECEU? — Minha voz sai alta do fundo da garganta,
sem saber ao certo para quem eu grito.
— Posicione-a deitada de lado. O bebê vai se deslocar e ajudar na
passagem de sangue para o cérebro. Ela não está sangrando.
A olho ainda desacordada e John segura seu rosto.
— Manuella! Minha filha, pelo amor de Deus! Manuella, fale comigo!
Manuella, pelo amor de Deus!
Treme descontrolado.
A olho de cima a baixo e quase desabo.
— Levem ela para a sala! AGORA! — Fernanda berra e posso ver suas
mãos trêmulas. — AGORA!
— Um carro desgovernado... Invadiu a calçada. Ela estava na minha frente.
— Ouço Davi falar, mas sequer consigo prestar atenção ou me atentar ao que
está acontecendo.
— Ela foi atingida?

— Não. Eu cai e a puxei, mas ela desmaiou e eu...


— VEM! Leva ela para sala agora!
Tudo começa. O caos. A confusão. O medo.
— Eu te proibido de me deixar. Ouviu, peste? Está ouvindo?
A sigo pelo corredor sem soltar os dedos frios presos aos meus, sem saber
o que pedir e o que falar.
É desespero. Loucura.
— Jonathan, eu preciso fique aqui e me deixe fazer o que preciso! —
Fernanda diz séria, colocando as luvas.
— Não, não vou ficar aqui sem saber. Não vou!
— Escute, confie em mim!
— Eu confio! Mas não me peça para não entrar, ela é minha filha.
— É nossa! Me deixe fazer o meu trabalho, por favor. Você fica aqui
também. — Diz séria, mas eu nego veemente.
— Mas eu não fico mesmo. — Entro na sala sem esperar por sua
autorização.
Coloco as luvas e a touca rapidamente quando invadimos a sala da
obstetrícia.
— Verifica concussões. Ela não está sangrando, mas preciso verificar se
não está saindo líquido amniótico. — Fernanda suspira. — Fazer um
ultrassom de urgência.
John assente e me olha.
Fecho os olhos por uns segundos quando uma equipe de enfermeiros entra.
Tudo ao mesmo tempo. Fui bombardeado de tensão e desespero.
Ela é examinada dos pés a cabeça, John procurando um mínimo ferimento
sequer.
Por favor, que esteja tudo bem.
Por favor.
Peço em silêncio, sem saber para quem ao certo. A barriga está
completamente dura quando Fernanda ergue o vestido e espalha o gel. Me
aproximo com as mãos trêmulas.
— Vamos lá, Mia. Vamos lá. — Fernanda repete baixo, colocando o
transdutor na barriga. — Vamos lá, garotinha.
Não consigo falar. Nada sai.
Olho para o monitor desesperado.
Então sinto as pernas fraquejar quando a imagem turva aparece no monitor.
— Como ela está...
Fernanda moveu de um lado para o outro o aparelho.
— Não tem descolamento. — O alívio em sua voz é nítido. — Os
batimentos dela...
Meu coração soca o peito, fazendo-o doer de uma maneira que jamais
pensei que fosse possível. É um sentimento de desespero que tomou meu ser.
— Ela está bem? Pelo amor de Deus, Fernanda!
— Estão ótimos. — Completa sorrindo. — Nossa garotinha está bem.
John passa as mãos pelo rosto, limpando-o e eu enfiei os dedos entre meus
cabelos.
— A pressão dela está um pouco alta, doutora.
Me debruço sobre a maca segurando o rosto entre as mãos e a beijo. O
medo ainda presente, o desespero fazendo todo meu corpo tremer da cabeça
aos pés.
— Ela está bem. — Sussurro, fechando os olhos. — Nossa menininha está
bem, amor. Ouviu? Ela está bem.
Minha voz sai embargada. Arrastada. E meu Deus, eu nunca senti tanto
medo em toda minha vida.
Sai da sala alguns minutos depois ao lado de John, que se encostou na
parede para tomar ar. Pareceram minutos agoniados, desesperadores e
angustiantes. Fernanda está apenas reforçando alguns exames e eu não
conseguia sair do seu lado um segundo sequer.
— Eu vou matar esse infeliz! — John diz entre dentes. — Se ele não tiver
ido para a cadeia, quem vai sou eu!
— Vamos juntos.
— Como ela está? Por Deus! — Vitória vem em nossa direção. — Meu
filho!
— O que aconteceu, meu filho? — Mamãe vem em minha direção e segura
em meu rosto. — A bebê está bem? Manuella?
— Viemos correndo. O que houve? — Rodolfo pergunta nervoso, olhando
entre nós dois.
— Elas estão bem. Foi um susto. — Balanço a cabeça, suspirando. —
Estão bem.
— Meu Deus, que desgraça! — Vitória suspira com a mão no peito.
Eu não sei ao certo o que estou fazendo e sentindo. Parece tudo automático
e desesperado. A emergência está uma loucura, mas nada mais grave
aconteceu. Apenas ferimentos leves. Mas não aplacou o desespero que
invadia os pais.
Thales fraturou o braço, está sendo atendido. Júlia tem apenas leves
arranhões e precisou suturar a perna. Precisei vê-la e falar que Manuella está
bem. Ela estava desesperada e aos prantos. Ainda estamos tentando entender
o que aconteceu, mas nem eles sabem ao certo.
Estão todos nervosos e preocupados. Tentamos deixá-los tranquilos, mas é
quase impossível.
Polícia e jornalistas estão em frente ao hospital, deixando tudo um caos
ainda mais infernal.
— Rocco. — Alisson vem em minha direção. — Como ela está? Pelo amor
de Deus! O bebê!?
— Estão bem, foi um susto. Vim ver se estão precisando de algo e... —
Balanço a cabeça e ela assente com a mão no peito.
— Graças a Deus! — Alisson suspira. — Estávamos ajudando na sutura de
alguns alunos. Está tudo uma loucura. Ela acordou?
— Ainda não. — Passo as mãos pelo rosto.
— Doutora Alisson! — A enfermeira abre a porta da sala de curativos. —
Pode fazer a sutura do paciente? Ele se recusava a fazer, mas a testa está
sangrando muito.
Entro na sala junto com Alisson e vemos Davi deitado na cama com a um
pano grudado na testa. Está pálido, com a camisa rasgada e com leves
arranhões.
— Precisamos cuidar dessa testa. — Alisson fala e ele nega veemente, sem
erguer o rosto. — Vai me dizer que tem medo de agulhas?
— Davi? — O chamo e ele me encara.
— Manuella está bem? A bebê? — Salta da cama.
— Estão. — Aceno. — Obrigado, Davi. Por tê-la salvado.
Ele franze o cenho.
— Eu faria tudo de novo.
— Eu sei.
Ele larga o pano e dá uma cambaleada, mas Alisson o segura de repente e
eu dou um passo a frente para ajudá-la.
— Opa, garotão. Está perdendo sangue.
Ele pisca devagar, a olhando enquanto ela sorri.
— Quem é você? — Pergunta com a voz arrastada.
— Sua salvadora, agora vamos cuidar dessa testa. Você foi o herói, né?
Davi franze o cenho, piscando devagar.

O incidente foi provocado por um irresponsável bêbado ao volante, a


polícia apurou todos os fatos. O infeliz perdeu o controle, invadindo a
calçada, esbarrando nos vendedores ambulantes e em quem estava pela
frente.
Poderia ter sido mais grave, mas foi apenas um terrível e grande susto.
Felipe não saiu do lado da irmã um segundo sequer, assim como os avós e
minha mãe.
Ela está dormindo no quarto na ala de apartamento do hospital e estou ao
seu lado, olhando-a. O acesso no braço esquerdo e ela mexe devagar o dedo,
me levanto e seguro sua mão, a beijando lentamente.
Ela abre um olho, franze o cenho e sorri.
Piscou lentamente. Uma. Duas. Três vezes seguidas até me encarar.
— Oi meu amor.
Seu queixo treme e eu a abraço, afagando os cabelos e apertando-a.
— Está tudo bem, minha pequena. Passou.
O soluço se rompe, fazendo o corpo sacolejar e fecho os olhos.
— Passou.
— Eu tive tanto medo. — Diz entre soluços agoniados enquanto seguro o
rosto com as mãos. — Por ela. Por mim.
— Ela está bem, ouviu? — A acalmo, sentindo o choro entalado na
garganta.
— O Davi, o Thales e a Júlia... Como...
— Ei, olhe para mim. — Peço, vendo-a tremer. — Eles estão bem, não
aconteceu nada. Estão bem.
— Jura? Ele me salvou, se não...
— Manuella. — A chamo. — Estão todos bem, se acalme. Já passou
nervoso demais. Está tudo bem, amor.
Ela assente ainda nervosa quando Fernanda entra na sala com John logo
atrás, a abraçando e vendo se está realmente bem. A preocupação ainda
presente latejando e o medo de algo pior ter acontecido rondando.
— Você ainda vai me matar, meu Deus! — John a abraça, a beijando. — Se
estiver sentindo qualquer coisa, nos avise. Vou deixar aquele marginal mofar
na cadeia e no inferno!
— Calma, John!
Fiquei em silêncio, observando-a enquanto Felipe beijava sua testa,
sentado na cama hospitalar. Manuella ainda está com o rosto avermelhado do
choro. Natália entra alguns minutos depois, suspirando nervosamente. Era
seu dia de folga e apenas ficou sabendo do que aconteceu.
Júlia veio logo depois e sabíamos que não conseguiriam descansar sem
notícias uma da outra.
— Não vou sair daqui, fique tranquilo. — Aperto o ombro de John.
— Não vou conseguir descansar. — Passa as mãos pelo rosto.
— Eu sei. — Digo baixo e ele sorri me olhando. — Mas tente. Já tivemos
adrenalina demais e seu coração pode não aguentar.
Fica sério, me olhando de cima a baixo.
— Vai se foder, Rocco.
— Vou cuidar das mulheres da minha vida agora. Vá descansar.
É quase impossível e sei que ele não vai pregar o olho essa noite.
Me despedi da minha mãe, que pareceu mais tranquila, assim como Vitória
e Rodolfo. Entro no quarto me aproximando e Manuella me olhou sonolenta.
Beijo sua testa demoradamente.
— Descanse, não vou sair daqui.
— Promete? — Assinto.
— Prometo. — Seguro sua mão, espalmando a outra na barriga e olhando-
a. — Eu senti tanto medo. Como nunca senti em toda minha vida.
Pisca devagar e os olhos nublam, colocando a mão por cima da minha.
— Eu também tive.
Encosto a cabeça devagar na barriga e fecho os olhos.
— Não tenho mais idade para fortes emoções, filha.
Ouço a risada entre lágrimas que Manuella solta. Os dedos se enfiam em
meus cabelos e eu colo a testa devagar.
— Teimosa igual a mãe.
Ergo o olhar, encontrando os seus.
— Vou te trancar no quarto e pôr barras nas janelas, você não vai sair para
lugar nenhum, ouviu? — A puxo para o meu peito.
— Só fico se você ficar dentro dele comigo. — Ergo o queixo com o dedo,
passando o polegar pelas bochechas.
Esfrego o nariz ao seu e sussurro contra seus lábios:
— Essa é a intenção, minha pequena.
Manuella

— Fiquei com medo. Por você e pela Mia.


—Estamos bem, meu amor. Foi só um susto. — Acaricio os cabelos de
Felipe que me encara sorrindo.

Tinha chego a poucos minutos e veio correndo suspirando de alivio


quando me viu, me abraçou e ouvi chorar baixo. O acalmei falando que
estávamos bem.

Tinha sido uma noite tranquila depois do susto que passamos. A


enfermeira veio com algumas vezes verificar a minha pressão que estava um
pouco alta, mas fora a isso não estava sentindo nada. Havia sido apenas um
terrível susto.

Rocco passou a noite ao meu lado dormindo na cama auxiliar, sorri assim
que acordei vendo-o dormir.

Estava todo preocupado me enchendo de perguntas a todo momento se eu


sentia algo. Mordi o lábio devagar vendo as mãos grandes pousadas sobre o
rosto.

— Está sentindo alguma coisa? — Se ergueu de repente e neguei devagar.

— Estava só te olhando. Estamos bem...

Beijou minha testa franzindo o cenho. A camisa estava amassada e alguns


botões abertos. Ajeitou os cabelos que caiam sobre o rosto.
— Vou chamar Fernanda, vai comer alguma coisa e tomar um banho.
Certeza que não está sentindo, nada?

— Certeza, meu amor.

Não demora muito para mamãe entrar na sala fazendo as mesmas


perguntas, sorri carinhosa e retribuí do meu jeito. Papai me encara e poderia
fazer a ruga de preocupação na testa. Eu imagino o susto que passaram.

— Vou chamar a Alana para te ajudar no banho, não quero que se esforce.
— Papai assente. — Pedir um café da manhã bem reforçado. Está sentindo
alguma coisa? Pode falar. Dores nas costas? Ela já mexeu?

— John... — Mamãe o olha. — Amor, acabei de examiná-la.

— Sim, só estou reforçando. — Dá de ombros.

— Não precisa de enfermeira, eu dou o banho nela. — Rocco para no


meio do quarto e papai se vira para olhá-lo. — Tenho mais forças para
segura-la.

— Eu consigo. — Me ajeito na cama. — Estou bem.

— Não. — Papai nega, olhando-o de cima a baixo. — Esse brutamontes


faz isso. Deus! O preço que eu tenho que pagar é alto demais para ouvir o
Rocco falar que vai dar banho no meu bebê.

Escondo o sorriso, ouvindo sua revolta.

— Supere, John. — Mamãe balança a cabeça, batendo em seu ombro. —


Trouxe umas coisas suas e mais tarde vamos fazer mais uma ultra, apenas
por precaução, então assino sua alta.

Assinto, a olhando sorrir.

— Cuidado no meu bebê. Mantenha suas mãos longe, Rocco. Ela está
debilitada.
— Sai daqui, John!

Escondo o sorriso quando os dois saem do quarto e Rocco se aproxima me


olhando.

— Vamos tomar um banho bem gostoso agora e alimentar a nossa


menininha, para ver como está.

— Sim, doutor. — Me ajeito na cama para me levantar e sou surpreendida


quando ele afasta o lençol, passa os braços por minhas pernas e me ajeita no
colo. — Consigo andar.

— Não vai fazer esforço.

Escondo o rosto em seu peito quando me leva ao banheiro. Estou


realmente me sentindo bem, mas ao mesmo tempo com muito cansaço.

Ele me dá um banho demorado, lava meus cabelos e espalha sabonete por


todo meu corpo com cuidado.

Os olhos presos aos meus por segundos quando passeou por minha
barriga, seios e braços.

Franzi o cenho, vendo-o tão concentrado. Sério.

— Rocco. — Chamo, vendo-o negar devagar a cabeça quando me olha. —


Fale comigo.

— Não sei o que falar, Manuella. — Sua voz sai arrastada após uns
segundos de silêncio.

— Fale qualquer coisa. — Peço, limpando o rosto. — Só fale.

— Quando eu te vi desmaiada, sendo carregada... Senti o chão se abrir sob


meus pés. — Fala baixo, desligando o chuveiro. — Eu senti tanto medo,
Manuella. Um medo absurdo que em meus quarenta e três anos de vida
jamais pensei sentir.

O fito sorrir sem humor, passando o roupão por meus braços.


Continuo o olhando.

— Medo de perder nossa filha.

— Rocco. — Afago seu rosto, passando os dedos pela barba enquanto


beija a mesma devagar. — Meu amor, estamos aqui. Nós duas!

— Eu sei... Só que nunca senti isso, Manuella. Eu sei que já não tenho
mais idade para ficar dependente de alguém.

Encosto a testa a sua. Meus cabelos úmidos ainda e sua camisa molhada
pelas gotas de água que caiam.

— Mas eu não consigo pensar em um dia ficar sem vocês.

— Você não vai, Rocco! — Encosto a testa em seu peito, não conseguindo
mais segurar o choro. — Não vai.

O agarro, sentindo-o me apertar, com o queixo pousado no topo da minha


cabeça.

Me beija devagar, erguendo meu queixo sério e concentrado.

Sinto o ar faltar.

— Eu te amo tanto, Manuella. Tanto que chega a doer aqui dentro. —


Coloca minha mão em seu peito por dentro da camisa. — Cada batida aqui
dentro é sua, minha pequena.

Passo a ponta dos dedos, sentindo os batimentos acelerados e sua pele se


arrepiar sob meu toque.

— Eu te amo. Me apaixonei perdidamente por você quando te vi e lutei


achando que era o certo. Você me resgatou sem saber. Você é minha sorte
disfarçada de pessoa, Manuella Monteiro.

Mordo o lábio, sorrindo.


— Você me fez desejar uma coisa que eu nem sabia que poderia querer e
eu prometo que quando ela chegar eu vou ser o melhor pai desse mundo.

— A gente te ama muito. Nós duas te amamos. — Encosto a testa na sua,


o beijando. — Eu faria tudo de novo, seu coroa ranzinza!

— Minha loirinha endiabrada.

É um amor incondicional. Inesquecível.

Me levou para a cama novamente e me ajudou a trocar de roupa, todo


preocupado e atencioso. A enfermeira trouxe o café de manhã e me ajudou a
comer, mesmo eu falando que não precisava.

Felipe chegou e Rocco nos deixou a sós para ir trocar de roupa.

Olho meu irmão por alguns minutos, vendo-o tirar os cabelos do rosto. Os
olhos azuis fixos aos meus, mas as batidas na porta nos fazem olhar para a
mesma que se abre e sorrio.

O buquê de flores é a primeira coisa que vejo quando Thales, Davi e Júlia
entram no quarto.

— Surpresa! — Dizem baixo e rindo.

Thales está com o braço imobilizado e alguns arranhões espalhados. Júlia


levou pontos na perna e Davi foi o menos machucado. Está com um curativo
no supercílio e perto do queixo.

Não sei o que teria acontecido comigo e com Mia sem a ajuda deles.

— Viemos te ver. — Beijo Júlia.

— Quebrados e capengas. — Thales ergue o braço.

— Ainda não sei como agradecer a vocês. Nos salvaram.

— Fizemos o que qualquer amigo faria.


— Foi horrível. — Minha amiga estala a língua, balançando a cabeça e
olhando para Thales. — Não sei o que teria sido de mim sem você também.

Ele sorri de lado.

— Quer me dar um outro abraço?

— Não, fica longe. Já te agradeci.

— Eles se abraçaram. — Felipe entrega, me fazendo rir.

— Fui agradecer! — Júlia se explica, balançando a cabeça.

Olho Davi de braços cruzados encostado na parede, usando uma camisa


preta colada, assim como a calça e coturnos.

Sorrio quando ele me olha.

— Obrigada, eu e Mia agradecemos por ter nos salvado.

— Ver vocês bem é o que importa, eu faria tudo de novo.

Felipe segura em minha mão e graças a Deus não teve mais feridos tão
graves. Rocco entra na sala alguns minutos depois com tia Natália, que veio
me ver e saber como estamos.

— Desculpa atrapalhar. — A porta se abre e Alisson entra me olhando. —


Vim ver como está.

Está com as mãos dentro do jaleco e sorri de lado para mim.

— Pode entrar. — Rocco do espaço.

— Que susto em. Como estão?

— Estou quebrado, mas continuo de pé. — Thales responde.

— Quero te ver na pediatria ainda. — Volta a me olhar. — Está tudo bem?

— Estamos. — Assinto e ela suspira.


— Fico muito feliz, só vim ver vocês. — Da meia volta e para, olhando
Davi.

— Doutora. — Ele cumprimenta sério.

Ela solta um pigarro.

— Garoto problema.

— Garoto problema? — Thales indaga.

Rocco está ao meu lado e franze o cenho.

— Me deu um trabalho ontem para suturar a testa. Medo de agulhas. —


Alisson ri e ele a encara fixamente. — Espero que esteja melhor.

— Estou, pronto para a próxima.

— Até mais. Minhas crianças me esperam.

Ela acena, saindo da sala rapidamente.

— Ela é legal. — Júlia assente me olhando.

— É, além de linda para caralho. — Thales dispara e olha para Rocco. —


Você é amigo dela igual eu sou da Manu. Maturidade.

— Ex? — Davi indaga. — Sua ex-mulher?

— Eita boca grande. — Júlia o encara.

— Sim. — Rocco assente. — Ex.

Felipe, que estava preso na tela do celular, ergue o olhar nos encarando e
eu sorrio.

— Vou pegar uma água. — Davi sai de repente, fechando a porta em


seguida.
— Viram o Davi babando no decote da doutora, ou foi impressão minha?
— Thales ri e o olhamos.

— Às vezes eu sinto vontade de costurar sua língua, Thales! — Júlia


balança a cabeça.

Rocco me olha e sorri de lado.

É, está tudo voltando ao normal.

Tive alta algumas horas mais tarde no mesmo dia.

Mamãe e papai insistiram para eu ficar na casa deles, mas preferi ir para o
apartamento de Rocco, onde íamos ficar mais confortáveis. Mariane vai ficar
com a gente por uns dias.

Tive mil e um recomendações do que deveria fazer e ter o máximo de


repouso possível.

Mia está bem e é apenas isso que importa. Vai chegar em menos de oito
semanas e eu vou fazer de tudo para mantê-la bem para vir ao mundo
saudável.

Então é isso que faço durante todos os dias.

Estou me sentindo cada vez mais enorme, mas linda ao mesmo tempo.
Rocco diminuiu a carga horária no hospital apenas para ficar com nós duas e
eu amo tê-lo o tempo inteiro comigo. Com a gente.
Júlia vem me visitar todos os dias e algumas vezes até Thales também.
Felipe está sempre ao meu lado e com as provas da escola fica cada vez mais
tenso em relação a tudo. A todos os seus sentimentos guardados.

Agora falta pouco e estamos loucos para segurá-la nos braços.

Menos de duas semanas para Mia vir ao mundo.

Minha gestação está saudável, ela estava perfeita e pode vir a qualquer
momento. Quando quiser. Quando estiver pronta.

Eu estou.

Rocco finge que também está, mais é notável o seu desespero.

Passo as mãos pelo berço montado no quartinho projetado que está pronto
para recebê-la. As cores em tom pastel de rosa, lilás e amarelo. Passo o dia
inteiro aqui dentro segurando cada ursinho de pelúcia como se fosse ela.

Sorrio de lado, o olhando enquanto Rocco está parado na soleira da porta.

Rocco

A olhei de cima a baixo, cruzando os braços.

Poderia ser uma obra de arte. Das mais valiosas. Raras e especiais.

A barriga enorme moldada pela camisola de seda cor de rosa, está


descalça e com os cabelos soltos. Manuella sorri enquanto me aproximo,
ficando logo atrás do corpo pequeno.

— Falta muito para ela nascer. — Faz um biquinho e se vira erguendo a


cabeça.

— Já esperamos tanto, agora falta pouquinho.

Nega devagar e suspira.


Está uma coisa linda, sexy e mais gostosa do que poderia imaginar. Eu não
me canso de falar isso para ela. De elogiar. Enaltecer. Os seios estão
enormes, com veias azuladas se preparando para a amamentação.

Suspiro e beijo sua testa demoradamente.

O quarto está lindo e escolhemos tudo juntos, mas não vamos ficar aqui
por muito tempo. Optamos por uma casa maior e está faltando apenas alguns
detalhes, vamos ficar aqui por alguns meses até nos mudar.

Minha rotina mudou por completo e eu nunca me senti tão feliz e


realizado em toda minha vida.

E assustado também.

Deus. Eu estou surtando.

Estou com medo, nervoso e completamente desesperado por não saber


exatamente o que eu vou fazer. Como vou agir.

Amo sentir minha filha mexer, são movimentos intensos que fazem
Manuella gemer com dores. Converso com ela todas as noites e é tão incrível
vê-la responder com um chute.

Eu mereço mesmo tudo isso?

Mereço as duas?

— Está com sono? — Pergunto quando entramos no quarto e ela se senta


a cama.

— Não. Estou agitada.

Franzo o cenho, umedecendo os lábios.

— Eu tento te poupar, mas você não me ajuda.

— Fazer sexo é ótimo, relaxa. — Morde o lábio, me fazendo sorrir.


— Você continua uma peste. — Digo contra seus lábios, vendo-a sorrir e
morder a porra dos lábios avermelhados.

— Por isso você me ama.

— Por esse e outros mil motivos. — Saqueio a boca, ouvindo o gemido


baixo.

Meu corpo reage ao seu de imediato, não precisa de muito para Manuella
despertar meus desejos insanos. A vontade é de fodê-la até cair de exaustão,
mas eu sei controlar.

Fazemos amor lentamente, adoro beijar cada parte do seu corpo antes de
me enterrar dentro da bocetinha com lábios inchados pela gravidez.

Seu corpo inteiro foi modificado pela gestação e eu estou apaixonado.

Enfio a cara, boca e língua no meio de suas pernas, separando os lábios e


me fartando. Manuella geme toda arreganhada na cama. É um espetáculo
com as formas curvilíneas e a barriga linda guardando nossa maior
preciosidade.

Subo beijando suas pernas, coxas e seios. Enfio um biquinho enrijecido na


boca, prendendo-o e seu gemido ecoa pelo quarto inteiro.

— Coisa mais linda, amor. — Gemo, intercalando entre um seio e o outro.

Ela geme alto quando a penetro, o canal apertado da boceta sufocando


meu pau que entrou devagar, mas resistente. Tomo a boca suspirando e
gemendo seu nome. O quanto a amo.

É meu paraíso. Meu delírio. Minha loucura.


Mia teve pressa.

Com 37 semanas e seis dias ela resolveu dar indícios que queria vir ao
mundo.

Às 02:45h Manuella gritou, se erguendo na cama e fazendo meu coração


quase parar.

A bolsa estourou.

Foi apenas tempo suficiente para ligar para John, que atendeu no primeiro
toque, como se estivesse esperando a qualquer momento. A peguei no colo,
vendo-a fechar os olhos e puxar o ar.

Eu tremi. Enlouqueci. Surtei.

Chegamos no hospital em dez minutos.

— Vai ficar tudo bem, sua menininha vai chegar. — Mamãe segura em
meu rosto, mas eu não consigo falar absolutamente nada.

— Vamos? — John bate em meu ombro e eu assinto.

Vitória sorriu e seguimos para a sala de centro cirúrgico. Uma cesariana


por escolha de Manuella e recomendação de Fernanda. Vai ser ótimo,
independente da escolha de como ela vai chegar.
Me aproximo devagar, sentindo os dedos trêmulos quando ela me olhou
sonolenta.

John ao lado e Fernanda conversando baixinho, com toda a equipe pronta.

— Está nervoso?

— Acho que não tem não ficar. — Confesso, afagando seus cabelos.

Uma lágrima desce rolando por seu rosto e eu a limpo devagar.

— Nossa garotinha.

— Nossa. — Repito, tentando controlar o tremor que me invade.

— Vamos lá. — Fernanda respira fundo e tudo na sala fica em silêncio.

Ou eu deixei de ouvir.

O choro estridente quebrou o silêncio. Os bracinhos erguidos me fizeram


paralisar para olha-la.

John sorriu, fechando os olhos.

Fernanda suspirou.

Aquela coisa minúscula, brava e reclamona veio parar em meus braços.

A segurei com mãos trêmulas, olhando-a e encostei em meu peito.

Eu ri. Ela chorou.

Meu coração deu uma cambalhota. Estremeceu. Sacolejou.

Nunca pensei que poderia ter tantos sentimentos ao mesmo tempo.

— Oi minha pequenininha. — Rio, ouvindo o choro bravo e impaciente.


— Seja bem-vinda, Mia.

Ela pisca os olhos preguiçosos e se mexe brava. É linda. Perfeita.


Nem em todos os meus sonhos poderia imaginar tal coisa.

— Me deixe vê-la. — Manuella pede aos prantos e a coloco em cima do


seu peito. — Oi meu amor. Meu amor!

Estou hipnotizado.

Me aproximo olhando as duas mulheres da minha vida.

— Eu amo vocês. — Falo baixo, fechando os olhos e deixando uma


lágrima rolar por meu rosto. — Meu Deus, eu amo tanto vocês!

— Ela é linda... Ela é...

Sorrio, beijando Manuella entre lágrimas.

Nossa filha.

Aos quarenta e três anos eu me vejo conhecendo um sentimento que


jamais pensei que seria possível sentir:

O coração batendo fora do peito.

— Parece que estou segurando Manuella nos braços. — John segura o


pacotinho cor de rosa nos braços e limpa o rosto. — Ela é tão linda quanto a
mãe.
Sorri de lado.

— Oi vovô.

Não quer desgrudar um segundo dela.

Alisson chegou poucos minutos depois e tomou a frente, fazendo todos os


exames necessários em Mia. Sorriu feliz, parabenizando Manuella e eu.
Estou nas nuvens.

Seguro a mãozinha que agarrou meu dedo e John me encarou. Os olhos


azuis presos aos meus.

— Cuide bem delas.

— Vou dar a minha vida se preciso.

Ele assente e volta a conversar com Mia dormindo tranquila nos seus
braços.

Minha mãe está no paraíso com a neta. Vitória e Rodolfo choraram e riram
ao mesmo tempo quando a seguraram.

Eu estou extasiado.

Fernanda a segurou no colo, acariciado os cabelinhos escuros.

— Ela é perfeita. Minha bonequinha.

— Por que não tivemos mais uns dois desses? — John pergunta, a fazendo
rir.

A olho encantado enquanto dorme tranquila e nem parece que estremece o


hospital com os berros.

Minha menininha.
— Ela é perfeita, né? — Sussurra sonolenta enquanto Mia mama
desesperada no seio.

Afago seus cabelos, a beijando.

— Como você.

— Ela é sua cara. — Olhou entre nós dois rindo. Está cansada e mesmo
assim não deixa de sorrir. — Meu amor.

— Nosso amor. Não acredito que me deu uma coisinha dessas. — Segurei
a mãozinha que parece uma miniatura comparada a minha.

Manuella me olha piscando devagar.

— Não imaginei que uma viagem ia me trazer tantas coisas. Que ia me


trazer você. — Sussurro, vendo-a morder o lábio. — Mas eu sabia que nunca
mais seria o mesmo, e realmente não sou.

— Vai me fazer chorar?

— Desde o primeiro momento eu senti que seria você, Manuella. Meu


coração te escolheu.

— Rocco...

— Só quero que saiba que é você. Sempre foi você. Você nasceu para mim
e me refez nascer.
— Eu te amo. Eu te amo tanto! — Encosta a testa na minha sorrindo. —
Nós te amamos.

O medo de viver me fez temer por algo que eu sempre soube que estava
pronto.

— Você me deu uma filha linda, Manuella Monteiro e eu sou


completamente apaixonado por você... Minha peste.

Sorri preguiçosa, encostando a testa a minha.

— Eu te disse que você não me escapava, doutor.


Rocco

Cinco meses depois...

— Prometo amar, honrar e cuidar de você todos os dias da minha vida.


Você me faz sentir completo de uma maneira que nunca imaginei possível. É
a razão da minha existência.

As palavras saem e a fito sorrir de lado.

Está linda. Perfeita.

Deslizo a aliança pelo dedo anelar, beijando-a.

— Prometo sempre o respeitar e amar incondicionalmente durante todos


os dias da minha vida. Prometo amar, honrar e cuidar de você todos os dias
da minha vida.

Os dedos deslizam o aro dourado e sinto os lábios encostando-o em um


beijo lento.
— De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim,
de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro
casados. Pode beijar a noiva.

Seguro em seu rosto, vendo-a sorrir enquanto a beijo devagar.

— Eu te amo, senhor Maldonado.

— Eu te amo muito mais, Senhora Maldonado.

Ela pousa a mão em meu peito e a olho apaixonado. Ela está linda com os
cabelos soltos, o vestido de noiva feito uma segunda pele no corpo
curvilíneo a deixam parecendo uma sereia. Minha sereia.

Mas não foi as palmas ecoando pelo salão que nos chamou atenção e sim a
gargalhada que faz nossos corações disparar de um amor incondicional. John
e Fernanda se aproximam segurando Mia balançando os bracinhos e pernas
em nossa direção.

A pego nos braços e nós dois a beijamos.

— Oi, meu amor! — Ela sorri para a mãe esfregando o nariz ao seu.

Olho para as duas mulheres da minha vida, não conseguindo explicar a


sensação que é tê-las.

Fernanda nos abraça, nos felicitando. Vitória, Rodolfo e mamãe se


aproximam de imediato, nos abraçando juntos. É um dia incrível. Está tudo
perfeito.
Foi tudo preparado em poucos meses e não queríamos esperar muito para
oficializar nosso casamento. Mia está fazendo cinco meses essa semana e
não poderia ter data melhor.

Minha vida se transformou com sua chegada e eu me considero o homem


mais feliz da face da terra, ela é a coisa mais linda e perfeita que eu já fiz.

Minha felicidade tem cabelos escuros, bochechas rosadas e um sorriso


banguela.

O salão foi reservado em um dos hotéis mais requisitados de Copacabana,


para 200 convidados e está perfeito. Nunca imaginei que passaria por isso
novamente e não consigo conter o sorriso que estampa meu rosto.

Cumprimento os convidados. Manuella e eu somos abraçados por Júlia e


pelos amigos de faculdade e funcionários do hospital, não nos desgrudamos
um segundo sequer. Mia está tempo inteiro em meu colo sorridente,
encantadora e roubando a atenção que é apenas dela nesse momento.

— Parabéns novamente! — Alisson sorri segurando Owen no colo,


batendo palmas eufórico apontando para Mia que o olha encantada.

— Obrigada, Alisson. — Manuella a abraça e Owen se joga em seus


braços, a fazendo rir.

— Mimi! — Aponta.

— É a Mia... Ela gosta de você também!

Ela me olha dando um leve sorriso e eu sei que é o mais sincero possível.
Está radiante e feliz, e eu mais ainda por saber que ela está bem.
— Meu Deus! Te entreguei a minha garotinha. — John bate em meu peito.
— Nunca vou superar. Nunca.

— Supere. — Olho para Mia segurando em meu rosto. — Te dei uma


coisinha linda também.

— Só por isso eu te perdôo. Não é, vovô? — Faz uma voz fina e puxa
Manuella para abraçar. — Papai te ama.

— E eu te amo mais! — Responde rindo e me olha. — Amo vocês dois!

— Venha com a vovó para os seus pais dançarem. Aproveitem. —


Fernanda segura Mia quando se joga no seu colo rindo.

— Vamos lá para a primeira dança, minha querida esposa!

— O seu pedido é uma quase ordem. — Segura em minha mão e vamos


para o meio do salão.

Os acordes da música começam a soar devagar. Sua mão está em meu


peito e eu a beijo.

— Estou tão feliz. Por tudo. Por nós dois e pela família que construímos.

— Foi você que me deu tudo, Manuella. — Olho para Mia brincando com
Fernanda. — Você me deu tudo. Tudo!

Rewrite The Stars/ James Arthur & Anne Marie


E se nós reescrevermos as estrelas?
Diga que você foi feita pra ser minha
Nada poderia nos manter separados
Você será aquela que eu deveria encontrar

Sorri e espalmo a mão nas costas, sentindo a renda do vestido.

— Estava escrito, meu amor. Você nasceu para mim, Manuella.

Seus olhos piscam devagar, encontrando os meus.

E como reescrevemos as estrelas?


Diga que você foi feito para ser meu
E nada pode nos manter separados
Porque você é a pessoa que eu deveria encontrar

— Estava escrito. — Repete baixo, com a boca colada a minha e a


respiração arfante. — Eu nasci para você, Rocco.

— Sua peste.

— Ranzinza.
A festa está apenas começando e eu nunca imaginei que estaria adorando
o caos que se tornou. Mia pegou no sono no meu colo logo após Manuella
amamentá-la em uma sala reservada, a levamos para o andar de cima onde
preparamos para que ela descansasse.

— Boa noite, minha princesa. — Afago os cabelos, vendo-a dormir


tranquila.

Manuella sorri a beijando.

— Como fizemos uma coisinha tão linda dessas? — Me olha segurando a


mãozinha que agarrou em seu dedo.

— Quer mesmo que eu diga? — Sussurro.

Ela trocou o vestido longo por outro mais curto e não deixa de ser branco,
sorri sem jeito quando saímos do quarto, deixando Mia aos cuidados de
Nana. É nossa babá apenas em momentos de necessidade.
Manuella e eu cuidamos em tempo integral da nossa filha. Os melhores
momentos.

A encosto na parede, vendo-a sorrir e morder o lábio.

Está uma mulher linda, gostosa e sexy para o inferno após a gestação. Está
mais encorpada.

— Está me olhando como se fosse me devorar, marido.

— E você acha que eu vou esperar essa festa acabar para te comer,
Manuella? — Ergo seu queixo.

— A gente vai transar aqui? — Engole em seco.

Olho para o longo corredor repleto de portas e sorrio, a puxando. Pouco


me importa se nossa falta vai ser notada. O desejo é maior que qualquer
coisa.

Manuella continua sendo minha insanidade.

A empurrei contra parede no fim do corredor, os beijos se tornando


famintos e desesperados. Somos um misto de loucura, tesão e desespero. As
mãos se enfiam na minha camisa, abrindo os botões, depois desce o zíper da
calça e sorri.

— Você é uma filha da puta, sabia? — Mordo o lábio, vendo-a se ajoelhar


e assentir.

-— E você ama desesperadamente essa filha da puta, não é?


Agarro seu cabelo quando segura meu pau, abocanhando com uma fome
absurda. Gemo. Não sou delicado. Enfio até o fundo da garganta, sentindo-a
engasgar. O filete de baba escorre, lágrimas nos olhos e o sorriso da filha da
mãe estampado no rosto.

— Lá fora eu te endeuso, te venero e é a minha rainha. — Tiro o pau,


passando pelos lábios que Manuella entreabre rindo. — Mas na cama você é
minha putinha, uma ninfetinha atrevida que leva pau calada.

Dou umas batidinhas com o pau na sua cara e ela volta a passar a língua
pela glande babada.

— Eu vou te foder tanto garota! Abre essa boca, sua filha da puta.

Meto fundo na boca, ouvindo seus gemidos enquanto engasga, é


descontrole puro. Não temos pudor ou reservas. Somos insanos.

A ergo, encosto-a na parede e afasto a calcinha, passando os dedos na


boceta molhada, fazendo-os deslizar.

— Ah..!

— Que boceta linda, amor. Vou arregaçar ela.

— Como se já não fizesse isso. Ah! — Geme alto quando meto um dedo.
— Ah, porra!

— A porra vai entrar já já. — Sorrio quando abraça meu pescoço e as


pernas envolvem minha cintura, começando a rebolar devagar. — Você é
uma safada, Manuella.
Olho os seios altos e são minha perdição. Inferno! Tão cheios. Ah, foda-
se! Tudo que sai dessa mulher é meu. Gozo. Suor. Leite.

Não sou delicado ao descer o decote do vestido e seus peitos pulam para
fora com os bicos enrijecidos, fartos. Coloco um deles na boca e mamo com
desejo. Manuella geme, se agarrando em mim e é apenas o tempo de enfiar o
pau dentro dela com tudo.

Sugo o mamilo, sentindo o gosto do leite na ponta da língua. Ah, porra! É


uma delícia.

— Rocco... Ah, Deus! — Gemeu ensandecida e é a minha perdição.

Não solto o bico um segundo sequer, mamando e metendo na boceta com


força, arregaçando-a.

— Minha ninfetinha atrevida! Eu vou te comer pelo resto da minha vida!


— Vou para o outro seio, uma gotícula de leite brilha una pontinha e passo a
língua devagar, circulando-o e voltando a chupar.

Gemo ouvindo os seus gemidos. Essa menina sendo a tentação viva para
acabar com meu juízo que eu não tenho. É uma devassa.

Tomo sua boca novamente e meu quadril fodendo-a forte. Arrebentando a


boceta em estocadas vigorosas.

Uma loucura insana veio em minha mente quando os olhos fixam aos
meus.

Afasto os cabelos da testa sorrindo.


— Quero... — Sussurro contra sua boca. — Vou meter outro filho em você
agora.

Ela me encara e sinto a carne me apertar, causando um tremor e beijo sua


boca, segurando seu rosto e fodendo forte. Em estocadas brutas.

É meu fim.

Manuella

— Você quer? — O encaro de cenho franzido, ajeitando o vestido em meu


corpo.

Rocco abotoa a camisa com dedos ágeis e sorri me olhando.

— Você não?

— Ela está tão pequena... — Digo rindo quando ele se aproxima para me
beijar. — Está brincando comigo?

— Não. Sei que precisa se concentrar nos estudos e já está atrasada com
tudo. Mas eu quero outro.

Meu peito sacode no peito.

— Estou velho. Você pode me dar outro antes dos cinquenta?

Seguro seu rosto, afagando a barba com a ponta dos dedos.


Estar grávida foi uma experiência única e incrível, mesmo com tudo que
aconteceu. Mia é a razão da nossa existência. Somos apaixonados por nossa
filha.

Rocco se transformou por nós duas.

— Quando Mia fizer um ano. — Mordisco seus lábios e ele afasta meus
cabelos. — Ou antes.

Agarro seu pescoço e ele ri contra minha boca.

Esses cincos meses de vida da nossa pequena só me fez ter certeza de que
fiz a escolha certa. Ele ainda tem seus problemas com nossa diferença de
idade, mas acho que é normal sua insegurança.

Voltamos para a festa com a desculpa que Mia deu trabalho para dormir.
Tadinha.

Tia Natália me encarou como se soubesse muito bem o que estávamos


fazendo, mas sorriu ao lado do seu namorado. Pedro. Estão juntos há alguns
meses.

Vovó conversa com mamãe e papai na mesa, Felipe me olha enquanto está
perto de Thiago, que ajeita sua camisa discretamente. Arqueio a sobrancelha
sorrindo.
Estou feliz, mas preocupada pelo meu irmão.

Felipe me confidenciou o que eu já desconfiava desde o início.

— Eu não queria ser assim! Não queria sentir isso. Não queria, Manu! —
Chora com as mãos enfiadas nos cabelos.

— Felipe! Pare com isso e olhe para mim! O que está acontecendo? Meu
amor.

Limpa o rosto, voltando a me encarar.

— Papai vai me odiar. Mamãe também. Porque eu sou assim! Mas eu não
consigo...

— Felipe, olhe para mim! — Seguro em seu rosto. — A gente te ama


independente de qualquer coisa, pare com isso!

— Eu sou diferente, Manu. Eu não sou como os outros garotos. Eu não...


Eu não gosto de meninas!

— E você acha que nosso amor vai mudar por isso? — Nego veemente.
— Meu amor.
— Eu estou com medo Manu. Estou com medo.

Não será fácil quando nossos pais descobrirem, mas estarei ao seu lado.

Pisco devagar, olhando Júlia vir em minha direção. Ela está linda e foi a
minha madrinha de casamento. Thales vem logo atrás falando algo que a fez
revirar os olhos.

— Oh, meu docinho de limão!

— Sai de perto, que inferno! — Rebate, se aproximado de mim. —


Mande-o sair de perto de mim, Manuella!

— Thales! — Ele estala a língua, ajeitando a camisa de mangas longas.

— É o casamento da nossa amiga, custa você dançar comigo, Juju?

— Custa. Sai fora, Thales.

— Não vem de ciúmes quando me ver dançando com as meninas. —


Pisca.

— Espera sentado, porque em pé vai se cansar, seu bocó.


— Essa sua língua afiada, Julinha.

— Julinha é o caralho!

— Vamos dançar! — A puxo para a pista de dança rindo.

Papai, Rocco, mamãe e meus avós estão na mesa conversando e rindo.


Minha sogra conversa animada com a mãe de Alisson, uma senhora mais
seria, porém muito educada.

Alisson subiu para pôr Owen no quarto ao lado onde Mia está dormindo.

Danço com Júlia, segurando uma taça de bebida nas mãos e ficamos por
uns minutos na pista, então saímos para ir ao banheiro juntas.

— Vocês viram o Davi? — Thales vem na nossa direção e eu nego.

— O vi há poucos minutos.

Nos tornando bons amigos e ele até está mais tranquilo em relação a
Rocco e suas piadas sem sentido.
— Para de me perseguir, por Deus! — A voz de Alisson ecoa e paramos
os três quando ela sai de uma das salas.

Está com os cabelos desgrenhados, o vestido amassado e a boca borrada


de batom.

Paralisa nos olhando.

— Doutora?

— Ah, Deus! — Coloca a mão no peito, eu e Júlia nos olhamos. — Eu...


Eu estava... É...

— A senhora foi atacada? — Thales dispara e o olhamos. — Com todo


respeito.

— Eu... por favor! Eu... — Gagueja e percebo as marcas avermelhadas em


seu pescoço e colo. — Eu preciso tomar um ar, com licença.

Sai em passos largos, passando por nós ajeitando o vestido.

— Gente, ela estava... — Júlia sussurra e se cala de repente, olhando para


frente.

Thales abre a boca e o fito.

Davi sai do mesmo local ajeitando a camisa branca repleta de marcas de


batom. Arranhado. Desgrenhado.
— Davi?

Ele solta um pigarro nos olhando.

— Ah, meu Deus!

— O que foi? — Diz com as mãos nos bolsos, cerrando o maxilar.

— Você estava transando com a doutora no banheiro?

— Thales! — Júlia rebate, batendo em seu peito.

Davi suspira e fica em silêncio.

— Pagando a língua, né Davi seu fuleiro! Tava se lambuzando no mingau


de aveia igual a Manu!

— Cala a boca, Thales!

— Esta ficando com a Alisson? — Pergunto quando ele para na nossa


frente.

Está sério e sorri de lado, então sem dizer nada passa por nós.

Meu Deus.
— Amor da minha vida

Daqui até a eternidade

Nossos destinos foram traçados

Na maternidade

Rocco canta baixo, sussurrando em meu ouvido. Estamos no meio da pista


de dança, suados e completamente cansados de tanta dançar e cantar.

Curtimos o máximo que pudemos porque é nosso dia.

Dancei com papai e com Felipe.

Até com Thales.


— Paixão cruel, desenfreada

Te trago mil rosas roubadas

Pra desculpar minhas mentiras

Minhas mancadas

Mordo o lábio, o fitando. Os botões da sua camisa abertos.

Lindo.

— Exagerado

Jogado aos teus pés

Eu sou mesmo exagerado

Adoro um amor inventado

— Eu te amo. — Sussurro contra sua boca.

— Eu te amo mais, minha peste.

Não poderíamos estar mais felizes e realizados.

E é apenas o começo da nossa história.


Ufa, chegamos a mais uma história concluida! Rsrs

Tantas emoções e eu só tenho que agradecer a todas as minhas


leitoras por sempre me apoiarem, pela paciência e por tanto carinho!

Agradecer a Deus por sempre colocar as pessoas certas que estão


sempre dispostas a me ajudar.

Espero que possamos nos ler muito em breve…

Irei adorar ler sua avaliação e saber que conseguiu sentir todas as
emoções presentes e o que ainda está por vir…

Muito obrigada Jujubas!

Um beijo cheio de amor e já sabem né ?

A gente se ler em breve!


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