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Contos Lésbicos

rebecca nobre

Published: 2023
Source: https://www.wattpad.com
Maldita Coincidência

Chloe acordou com batidas insistentes na porta de seu quarto. Foi difícil
abrir os olhos mesmo com o quarto estando parcialmente escuro pela cortina
que cortava toda a luz externa. Que horas seriam? Não fazia a mínima ideia,
mas com certeza não era cedo.
Com os cabelos bagunçados ela se sentou e sem abrir os olhos direito,
bocejou.
- Quem é? - sua voz se arrastou e esperava que, quem quer que fosse,
entendesse de primeira.
- Sou eu! - era Victor, seu melhor amigo. - Posso entrar?
- Não! Espera! - Chloe tinha mania de dormir sem roupa então essa não
era uma boa ideia, nem de longe.
Tentando deixar de lado sua preguiça, ela se levantou e pegou uma blusa
qualquer em seu guarda roupas e uma calça moletom, e sem muita
preparação abriu a porta, ainda com careta de sono.
- O que você tá fazendo aqui?
- Feliz aniversário! - o garoto a abraçou, animado.
Deus, se fosse qualquer outra pessoa ela teria empurrado pra longe e
mandado se catar, mas Victor era um doce com ela. Uma amizade que saiu da
escola para a vida, o que era uma coisa rara.
- Valeu, Vic, agora me solta por favor? - Chloe disse, sorrindo
timidamente.
- Quais os planos pra hoje? Você está fazendo aniversário em um sábado,
não pode ficar sem fazer nada. - ele finalmente a soltou.
- Eu vou tocar no The Match até às nove com a banda, depois disso tô
livre.
Fazer aniversário não era a coisa favorita de Chloe, cada ano que se
passava ela se sentia cada vez mais inútil, sem propósito e sem ter nada de
importante em sua vida. Nem ninguém. E isso era uma merda. Ali estava ela,
completando 25 anos e nunca sequer teve um relacionamento sério, ao
contrário de todos os seus amigos.
Tentando ignorar sua depressão aniversariante, Chloe pegou um cigarro
em suas coisas e o acendeu, logo se jogando em seu puff inflável.
- O que tem de bom rolando hoje? - ela perguntou sob uma nuvem de
fumaça.
- É seu café da manhã? - Victor perguntou, rindo.
- Não enche. - ela riu um pouco sem graça, sabia que aquela merda não
fazia bem, mas a esse ponto da vida, não se importava.
- Hoje a noite tem um luau lá na praia, vai rolar música ao vivo, fogueira,
esse tipo de coisa. - Victor a respondeu.
- Por mim, pode ser. Quem vai?
- O pessoal de sempre e eu pensei em chamar uma garota que eu tô
conhecendo.
- Ih, já tá apaixonado de novo?
Ele riu.
- Não é nada disso. Mas ela é... legal. A gente vem conversando há alguns
dias e seu aniversário é a desculpa perfeita pra convidar ela pra sair.
- Manda ver, tigrão.
- Tenho umas coisas pra resolver agora, então a gente se encontra na praia
mais tarde. Me avisa quando terminar a apresentação no The Match! - Victor
saiu do quarto e fechou a porta.
Mas antes de sair de seu apartamento, Chloe pôde ouvir ele gritando:
- E toma um banho!
Chloe apenas revirou os olhos e gastou o resto do seu dia jogando em seu
computador, olhando as redes sociais e no final do dia foi se encontrar com
sua banda. Talvez essa fosse a coisa mais legal que ela fazia em seu dia a
dia, fazer parte de uma banda e tocar em bares. A grana não era lá essas
coisas, mas era uma ajuda extra, como tudo que ela fazia.
Chloe vivia de trabalhos avulsos. Ela fazia de tudo um pouco e isso a
ajudava a nunca ficar parada.
No início da noite, depois de um banho Chloe se vestiu como se vestia
quase todos os dias, nada de especial nesse dia, então pegou seu violão e foi
para o The Match.
A noite estava nublada e fria, mas felizmente não chovia, o que facilitou
para ela ir andando até o local. Quando chegou, ela se organizou com o
pessoal de sua banda que já estavam lá e começaram a montar o pequeno
palco. Alguns momentos depois eles começaram a tocar. Chloe era a voz e o
violão e o tema de hoje eram músicas calmas e tristes, o que era bem irônico
para ela.
O público não era dos melhores, mas eles também não estavam em seus
melhores dias, então era justo.
Algum tempo depois, ela notou uma mesa com três mulheres em um canto,
pois era a única mesa que aplaudia sempre que terminavam uma música.
Uma das mulheres lhe chamou mais a atenção. Ela tinha cabelos
ondulados e escuros, e uma franja rala como um visual dos anos 70, e com
certeza tinha por volta de sua idade. Contudo o que mais chamou sua atenção
foi seu olhar impactante. Sem dúvida alguma era uma das mulheres mais
lindas que ela já havia visto em sua vida.
Enquanto cantava, Chloe não pôde evitar olhar para ela algumas vezes e
sempre era surpreendida com um olhar de volta e um pequeno sorriso.
Aqueles pequenos flertes fizeram Chloe ganhar sua noite, fazendo seu bom
humor voltar, até mesmo esquecendo que era seu aniversário.
Ela ficou um pouco nervosa quando a garota se levantou e foi andando em
sua direção. Ela fez uma pequena pausa e deu um gole na cerveja que tinha
sido servida para ela como cortesia, apenas para molhar a garganta para
falar com a garota.
- Posso pedir uma música? - ela perguntou com um tom de voz que Chloe
poderia jurar que era provocador.
Ela sorriu de canto, devolvendo a malícia.
- Claro.
A garota lhe entregou um pedaço de papel e depois de um sorrisinho ela
voltou para sua mesa, deixando Chloe com um frio na barriga sem
explicação.
Abrindo o papel dobrado que obviamente era um guardanapo, Chloe
encontrou um número de telefone anotado e um nome em baixo: Kat.
Chloe ficou sem graça, mas não demonstrou, apenas voltou a cantar e a
olhou com um meio sorriso e guardou o papel com todo cuidado em seu
bolso, lhe dando uma piscada rápida de um olho só para dizer que entendeu
perfeitamente o recado. E simples assim, esse já estava sendo o melhor
aniversário de sua vida.
O tempo passou rápido, mais rápido do que ela esperava. Chloe se
divertia trocando olhares maliciosos com Kat até que a última música
acabou de ser tocada. Enquanto terminava de organizar os fios e a bagunça
pós apresentação, Chloe ainda se divertia trocando olhares com a garota de
franja, até que viu ela se direcionar ao banheiro depois de lhe enviar um
olhar fulminante.
Ela entendeu o recado. Sorrindo sozinha, Chloe se apressou para terminar
de organizar sua parte e também foi ao banheiro, na esperança de ganhar o
melhor presente de aniversário possível para hoje.
Chegando lá, ela viu a garota em frente ao espelho, arrumando seus
volumosos cabelos como se precisasse disso.
- Hey. - Chloe se aproximou, sorrindo maliciosamente. - Kat.
A garota se virou para ela, devolvendo o malicioso sorriso e encostando
na pia.
- Hey... Cantora.
Ela deu uma risadinha quando chegou mais perto.
- Chloe.
- Prazer em te conhecer. Adorei sua voz.
- Você é muito gentil. Obrigada pela força lá... foi a melhor pessoa
daquela plateia gigantesca. - ela tentou ser engraçada.
Kat deu uma risadinha que ela não achou nada menos que sensual.
- Não precisa agradecer, vocês mereceram. Principalmente você.
- Ah, é? - Chloe se aproximou um pouco mais.
- Sim...
E esse foi o máximo de conversa fiada que ela conseguiu ter, então foi
direto ao ponto que queria. Se aproximou ainda mais, colando seu corpo
contra o de Kat e apoiando suas mãos na pia, a deixando entre seus braços e
contra seu corpo. Em resposta, Kat fechou seus olhos e chupou seus lábios
devagar, dando um breve spoiler de como era o gosto do seu beijo.
Chloe sentiu todo seu corpo se arrepiar com aquele breve contato, então
encaixou seus lábios nos dela, a beijando lenta e sedutoramente,
pressionando sua língua contra a dela devagar algumas vezes e brincando
com a mesma durante o lento e delicioso beijo que se formou. Ela apertou
suas mãos na pia quando sentiu a necessidade de tocá-la, mas se controlou,
não sabia até onde Kat queria levar aquilo.
Mas ficou difícil manter esse controle quando as mãos dela subiram para
seu rosto e deslizaram para sua nuca, entrelaçando seus dedos em seus
cabelos a fazendo arrepiar da cabeça aos pés. Aqueles toques foram o
suficiente para Chloe ficar excitada e sentir um frio intenso na barriga.
As cabeças viraram de lado e o beijo ficou mais intenso, seus lábios se
pressionaram com mais força e ficaram mais famintos, com muitas chupadas
e respirações ofegantes. Fazia anos que Chloe não sentia esse encaixe
perfeito em um beijo, e se Kat quisesse, ela a beijaria a noite inteira sem
pensar duas vezes, e não estava falando apenas de sua boca...
Alguém saiu de uma das cabines privadas do banheiro, tirando seu
raciocínio por um momento e infelizmente Kat parou o irresistível beijo com
um estalo. Ela quase reclamou e pediu por mais, mas não fez.
- Eu preciso ir... Mas você tem meu número, não é?
- É... Tenho. - Chloe respondeu ainda tentando processar o que tinha
acontecido ali e o quão delicioso tinha sido aquele rápido beijo.
Kat sorriu quando percebeu que ela estava um pouco desnorteada e deu
mais um breve beijo em seus lábios, dessa vez de despedida.
- Então me liga depois e quem sabe eu te dê mais do que um beijo da
próxima.
Porra. Chloe ofegou quando ela falou aquilo, mas não teve tempo de
respondê-la. Quando Kat saiu, ela se encostou na pia e tentou recuperar a
consciência que tinha ido pra bem longe depois daquele beijo. Se olhando no
espelho por um momento, ela respirou fundo e sorriu para si mesma. Maldita
sortuda.
Antes que tivesse a chance de perder aquele papel, Chloe salvou o
número dela em seu celular e mandou uma mensagem rápida para ela salvar
seu número, então foi embora, ainda se sentindo nas nuvens e revivendo
aquele momento gostoso em sua mente várias e várias vezes.
Ela foi andando para a praia onde encontraria seus amigos para uma breve
comemoração sem sentido, mas ela estava tão extasiada que nada
conseguiria estragar isso, nem mesmo seu aniversário.
Depois de trocar algumas mensagens com Victor para o encontrar, ela
finalmente chegou onde ele e o grupo de pelo menos dez pessoas estavam.
E quase teve um infarto.
Kat estava lá.
Ao lado de Victor.
Seu coração acelerou tanto que ela teve que respirar fundo. Merda.
Merda. Merda. Chloe desanimou completamente nesse momento. Aquilo
tinha mesmo sido bom demais para ser verdade. Kat era a garota que Victor
havia falado mais cedo... Quais as chances disso acontecer? Ela passou em
poucos minutos de ser garota mais sortuda para ser a mais azarada do
mundo.
Depois de alguns cumprimentos de feliz aniversário, Victor a apresentou.
- Chloe, essa é a Katherine.
Chloe engoliu seco e como se nunca tivesse a visto antes, ela estendeu a
mão para a cumprimentar.
- Prazer.
- Pode me chamar de Kat. - ela apertou sua mão com firmeza, mas Chloe
não deixou o contato durar muito. - Feliz aniversário.
- Valeu. - ela respondeu com um sorriso sem graça, sem conseguir sequer
olhar de volta para ela por muito tempo.
Agora Chloe só queria que esse dia terminasse logo. A noite não poderia
estar mais estranha e desconfortável para ela, que tentava ignorar o fato que
a garota que seu melhor amigo estava saindo tinha lhe dado um dos melhores
beijos de sua vida há apenas alguns minutos atrás, então focou em conversar
com todo mundo apenas para o tempo passar mais rápido e ela ter uma
desculpa para ir embora.
Em certo momento Chloe ficou mais separada do grupo dando uma
desculpa de que tinha que resolver uma coisa em seu celular, mas ela apenas
precisava de algum espaço. Ainda estava muito confusa vendo Kat e Victor
flertando e conversando de forma íntima. Depois de alguns minutos sozinha
olhando coisas aleatórias em seu celular, ela ouviu uma voz familiar.
- Eu não fazia a mínima ideia... - Kat falou, baixo, rindo da coincidência.
Chloe teve que rir de sua própria situação.
- Pois é... Cidade pequena. - ela guardou seu celular. - Mas não se
preocupe, eu não vou te ligar.
- Deveria. - Kat enviou um fodido olhar penetrante que deixou Chloe
totalmente desconcertada.
Ela negou com a cabeça e esfregou os olhos, respirando fundo.
- Não, eu não deveria.
- É... você provavelmente está certa. - Kat sorriu e logo voltou para o
grupo.
Chloe bufou e olhou para o mar, se odiando por estar fodidamente atraída
por aquela mulher que ela mal conhecia.
A noite foi passando, Chloe acabou ficando mais do que planejava. Talvez
no fundo ela gostasse de toda aquela tortura que era ver o que ela não
poderia ter, então só bebeu mais e tentou curtir a noite com seus amigos.
No fim da festa, Victor tinha passado do ponto mais que qualquer um
porque não tinha o costume de beber tanto. Ele precisou sair de lá
praticamente carregado por Chloe e Kat, as únicas pessoas sóbrias o
suficiente para o ajudarem a chegar em casa. Lá, o colocaram em sua cama e
ele apagou, dormindo como uma pedra instantaneamente.
- Merda, esqueci meu violão no bar, preciso ir lá buscar. - Chloe falou
para alguns de seus amigos que moravam com o Vic.
- Eu posso ir com você. - Kat se ofereceu.
- Ah, não precisa, eu vou passar lá rápido e vou pra casa, moro perto.
Ela se despediu rapidamente e saiu antes que Kat tivesse a chance de dar
uma resposta. Mas depois de alguns metros, ela ouviu alguém a chamando.
- Chloe!
Fechando os olhos por um momento, ela suspirou e parou de andar, se
virando para a voz. Claro que era Kat.
- Eu vou com você e de lá vou embora, está tarde pra você andar sozinha
por aí.
- Sério, não precisa...
- Não é grande coisa, eu estou sem sono e com certeza sou a mais sóbria
dali, não queria ficar.
Chloe respirou fundo quando se encontrou sem saída.
- Tudo bem... - ela concordou.
Elas foram conversando o caminho inteiro e Chloe ficou impressionada
com a quantidade de gostos que elas tinham em comum. A conversa fluía
naturalmente, Kat era engraçada e ao mesmo tempo sedutora, mas Chloe
tentou ignorar esse segundo fato.
Não demorou muito e elas chegaram no bar, mas não tinha mais ninguém
no local.
- Porra. - Chloe xingou enquanto tentava abrir a porta da frente.
- Você não pode pegar amanhã?
- Amanhã eles não abrem.
Kat ficou um pouco pensativa, mas logo deu a ideia mais louca que Chloe
poderia ouvir em sua vida.
- E se a gente entrar por alguma janela?
Chloe teve que rir.
- Você acha mesmo que eles deixariam as janelas destrancadas?
- Aqui tem dezenas de janelas, com certeza alguém vacilou em alguma,
vamos tentar.
Antes que Chloe pudesse responder, Kat foi até as janelas e começou a
tentar abrir uma por uma e acabou encontrando uma delas aberta, nos fundos
do bar.
- Chloe! Achei, vem! - ela tentava falar baixo.
Chloe correu até ela, que já havia entrado. Essa garota é maluca, foi a
única coisa que ela conseguiu pensar naquela hora, mas logo entrou atrás
dela.
O local estava vazio e escuro, algumas poucas luzes tinham sido deixadas
acesas, mas apenas no salão principal. Elas haviam entrado pela despensa
onde havia amontoados de caixas de bebidas e alguns freezers.
Kat olhou para Chloe com um olhar malicioso.
- Bebida grátis.
Chloe sorriu e Kat percebeu que ela estava na mesma sintonia que a dela.
Elas pegaram uma garrafa de bebida colorida que Chloe não se importava
qual era e começaram a beber da própria garrafa.
- Oh meu Deus, isso é forte. - Kat falou depois de fazer uma careta após
um longo gole, enxugando a boca.
- Vai com calma. - Chloe pegou a garrafa e deu um longo gole e teve a
mesma reação. - Porra... É realmente forte.
Ela foi em direção à porta que dava acesso ao salão principal e teve a
desagradável surpresa de encontrá-la fechada.
- Porra! - ela deu um chute na porta como se isso fosse resolver o
problema. - Tá trancada.
Chloe pôde ouvir Kat rindo baixinho e quando se virou ela estava sentada
em cima de um dos freezers enquanto tirava seu casaco.
- Você é sempre tão estressada assim?
Chloe deu de ombros e bebeu mais um gole da garrafa.
- Talvez. - a este ponto ela já não estava mais tão sóbria quanto antes.
Chloe se aproximou e entregou a garrafa para Kat, que bebeu.
- O que achou do Victor? Gostou dele? - Chloe perguntou apenas para Kat
lembrar desse assunto e não tentar mais nada com ela.
- Ele é ótimo. Divertido, atencioso, um amor de pessoa.
Chloe deu um pequeno sorriso.
- Ele é mesmo.
- Mas, eu não sei... - Kat suspirou.
- Não sabe de quê?
- Não sei se vai passar disso.
- Ah, qual é, ele só bebeu demais, você vai ver o quanto ele é ótimo.
- Eu gostei mais de você. - Kat falou sem hesitar.
Chloe engoliu seco e logo a olhou, se sentindo a pior amiga do mundo por
estar realmente tentada a fazer coisas que não deveria.
- Não fala isso.
- É a verdade.
Ela negou com a cabeça e desviou o olhar, mas antes que pudesse falar
qualquer coisa, Kat a interrompeu. Enquanto descia e voltava para o chão,
ficando de frente para ela.
- Eu não sou namorada dele, Chloe.
- Eu sei, mas... Ele é meu melhor amigo...
- Você também gostou de mim. - aquilo não era nem de longe uma pergunta
e sim uma afirmação.
Que era corretíssima, mas Chloe não iria assumir, simplesmente não
podia.
Ela suspirou e ficou um pequeno tempo apenas olhando para Kat. Merda...
Ela não podia fazer mais isso ou então ia ser arrastada para a maldita
tentação de beijá-la novamente.
- Vamos embora. - Chloe falou com firmeza quando se endireitou no chão,
tentando resistir à iminente atração.
Mas em resposta, Kat a puxou pelo rosto e trouxe sua boca até a dela, a
beijando imediatamente. Chloe tentou resistir por um segundo, mas quando a
língua de Kat lambeu a sua, ela foi fraca e se encontrou beijando-a
intensamente de volta. Simplesmente não podia resistir à deliciosa boca de
Kat, ainda mais depois de ter provado há apenas algumas horas atrás.
Seus lábios eram tão suaves e macios que Chloe foi incapaz de não chupá-
los, provando ainda mais seu sabor adocicado. As mãos de Kat bagunçavam
seus cabelos e arranhavam sua nuca suavemente enquanto ela pressionava
cada vez mais sua boca na dela, e agora foi impossível não tocá-la.
As mãos de Chloe foram rigorosas e firmes ao apertar seu corpo contra o
dela e parando em sua bunda, onde não controlou os toques intensos, fazendo
o vestido que cobria sua pele subir, dando a ela um breve spoiler do que
estava ali embaixo.
Em resposta, Kat ondulou seu corpo e suspirou entre o delicioso beijo.
Segurando a nuca de Chloe como se ansiasse mais de seus toques. Em um
momento de consciência Chloe parou o beijo, sua respiração estava ofegante
e quente, assim como a de Kat, que não parecia ter gostado de sua reação.
- Não... Isso não é... - Chloe tentou falar enquanto a soltava.
Kat a puxou de volta e a beijou deliciosamente, dando mais do que Chloe
realmente queria, mas não podia ter.
- Eu sei que você quer tanto quanto eu... - Kat murmurou de forma
sedutora entre um beijo e outro.
Aquilo era realmente torturante. Chloe estava completamente fodida,
porque sabia que a este ponto, não importa o quanto ela tentasse, ela não
conseguia mais resistir.
- Porra... Porque você tem que beijar tão bem? - Chloe falou com voz
rouca, cedendo.
Após uma risadinha de Kat, o beijo voltou a se formar. E dessa vez sem
pensar nas consequências, Chloe se deixou levar completamente. Aquilo era
muita tentação para ela aguentar. O álcool também não havia ajudado nada e
agora ela estava querendo tê-la de todas as formas possíveis.
Ela abriu os botões da frente do vestido de Kat que a ajudou, afastando o
tecido para os lados e expondo seus peitos redondos e pequenos.
Enquanto os massageava deixando seus mamilos endurecidos, Chloe
salivou por antecipação, querendo chupá-los até deixar marcas. E foi isso
que ela fez. Um momento depois ela fez um belo trabalho chupando os peitos
perfeitos de Kat, deixando marcas avermelhadas na pele dela, como se ela a
pertencesse, esquecendo o resto do mundo.
Kat gemia de uma forma deliciosa de se ouvir e a este ponto Chloe estava
totalmente fora de controle. O prazer por aquele momento quente havia
tomado conta dela e ela já não podia pensar com clareza ou em qualquer
outra coisa. Sem esperar demais, ela ajudou Kat a se sentar em um freezer e
praticamente arrancou a calcinha que ela usava, a deixando pendurada em
um de seus pés.
Um momento depois, ela estava com a cabeça entre as pernas de Kat, que
ofegava de antecipação, e após subir o tecido leve de seu vestido, começou
a chupá-la.
Chloe pôde sentir o gosto doce e a carne quente em sua língua cada vez
que ela descia mais e lambia a entrada, e com o desejo urgente de fodê-la
ela penetrou um de seus dedos. Sua língua deu atenção total ao clitóris que a
este ponto já estava avermelhado e inchado. Quando Kat gemeu alto, ela deu
o melhor de si naquele momento, a chupando e brincando sua língua ali
enquanto entrava e saía dela com seu dedo.
- Oh meu Deus... - Kat gemeu em meio às respirações ofegantes enquanto
se abria ainda mais, com as pernas dobradas.
Quando a ouviu gemer daquele jeito, Chloe podia jurar que poderia gozar
ali mesmo. Kat era a mulher mais sensual e atraente que ela já havia visto em
sua vida e estava ali, aberta para ela, gemendo seu nome enquanto ela a
chupava e isso era delirante.
- Isso, me fode... - Kat provocou.
Chloe soltou um grunhido pela garganta enquanto a chupava com ainda
mais gosto e investiu bem seus dedos nela, a fodendo como ela queria e
pedia, e a encarando com um olhar faminto e feroz.
Observando Kat, ela estava simplesmente irresistível. Suas feições
entregavam o quanto ela estava excitada e entregue naquele momento. Suas
bochechas estavam rosadas e sua boca estava avermelhada e inchada pelos
beijos intensos de pouco tempo atrás e pelas mordidas que ela mesma dava.
Seus peitos pequenos balançavam a cada fodida e ela se apoiava como
podia com as mãos no freezer. Porra... Ela era perfeita.
Chloe a chupou com toda vontade do mundo, se deliciando e passeando
sua língua por aquela buceta deliciosa que, Deus... ela iria viciar.
Quando Chloe percebeu que ela estava prestes a gozar, parou devagar as
investidas com seus dedos e foi diminuindo o ritmo das chupadas. Kat a
olhou com as sobrancelhas franzidas enquanto seu peito subia e descia com
suas respirações ofegantes. Ela estava prestes a reclamar quando Chloe a
tirou dali, descendo seu corpo e fazendo ela ficar de pé na sua frente. Um
beijo rápido se formou, apenas para calar sua boca, já que ela sabia que Kat
iria protestar por ela ter parado.
Com um movimento rápido, Chloe a virou de costas, fazendo ela deitar
metade de seu corpo no freezer enquanto seus pés continuavam no chão. Kat
apenas gemeu e Chloe fez com que ela separasse mais as pernas.
- Oh, Deus... - Kat ofegou com o rosto colado na tampa do freezer de
chão.
Chloe subiu o tecido do vestido dela, deixando sua bunda nua totalmente
exposta. Ela não demorou para fodê-la ali, naquela posição. Ela penetrou
dois dedos sem pudor, a outra mão separando sua bunda e deixando sua
buceta mais aberta.
- Ai... Caralho... - Kat gemeu de forma manhosa e arrastada.
Ela podia sentir sua carne se contrair e apertar seus dedos durante alguns
espasmos, enquanto ela a fodia.
Sem avisar, Kat gozou em seus dedos. Chloe soube disso quando seus
gemidos ficaram frenéticos, seu quadril dava espasmos e seus dedos ficaram
encharcados. Enquanto ela ia retomando suas forças, Chloe ia parando as
investidas até retirar seus dedos dela, com pesar. Ainda na mesma posição,
Kat foi relaxando seu corpo, mas parecia estar sem forças para se levantar.
Chloe ainda estava ofegante pelo esforço e fodidamente excitada por tudo
que tinha feito com ela, mas logo a ajudou a se erguer novamente e se virar
pra ela.
- O que... - Kat tentava reorganizar as palavras em sua mente. - O que
acabou de acontecer?
Elas deram uma risadinha baixa e trocaram alguns beijos lentos só com os
lábios.
- Só fiz o que você estava pedindo... - Chloe falou com a voz arrastada.
- Você acabou comigo, isso sim.
- Vou levar isso como um elogio. - Chloe lambeu seus lábios devagar.
- E foi. - Kat mordiscou seu lábio inferior. - Me deixou louca.
Quando um som de um molho de chaves foi ouvido, elas se apressaram e
tentaram se organizar o mais rápido possível. Alguém estava chegando ali.
Pegando a bebida aberta e seu casaco, Chloe teve o reflexo de puxar Kat
para trás de uma portinha que tinha ali. Quando elas entraram, Kat ficou na
sua frente e por algum instinto, Chloe tampou sua boca com a mão,
encostando seu corpo no dela.
Elas descobriram que era um armário de depósito que por sorte tinha
espaço o suficiente para escondê-las ali. A porta era daquelas de madeira
com várias frechas de abertura, mas por estar escuro ali dentro, ninguém iria
conseguir vê-las. Elas estavam camufladas. O problema era se alguém
resolvesse pegar algo ali, o que esperava ser improvável dado a hora.
Um homem entrou, Chloe identificou ele e soube que era o gerente do
local. Kat respirava ofegante e em silêncio, enquanto segurava o braço dela
que a mantinha calada e quieta ali.
Kat soltou um suspiro.
- Shhh... - Chloe sussurrou em seu ouvido com sua respiração quente. -
Não faz barulho.
Talvez fosse todo aquele perigo, talvez fosse sua excitação ainda presente,
ou talvez fosse puro fetiche, mas a reação de Chloe naquele momento foi
chupar o lóbulo de sua orelha e deslizar a mão que não estava na boca dela
por um de seus peitos.
Quando Kat apertou sua mão por cima da dela, Chloe sentiu seu sexo
palpitar como se seu coração estivesse batendo no lugar errado.
Enquanto o homem organizava algumas coisas no local, talvez procurando
algo, Chloe continuou provocando Kat ali, deslizando a mão por cima de seu
vestido até fazê-lo subir um pouco e tocou sua buceta. Puta que pariu, ela
estava encharcada, tanto que lhe escorria pela perna.
A respiração de Kat estava cada vez mais ofegante saindo pelo nariz, já
que sua boca estava interditada. Em resposta ao seu toque, Kat jogou a
cabeça pra trás, a apoiando em seu ombro e rebolou devagar.
Caralho...
Chloe continuou as provocações, a masturbando com delicadeza e
provocação enquanto elas estavam naquele momento de tensão e perigo de
serem descobertas a qualquer momento. Kat parecia estar se deliciando, seu
quadril se movia suavemente, sua buceta pulsava e seu peito arfava devagar.
Quando o homem fez uma cara de desconfiança, Chloe gelou e Kat voltou
a olhar pelas brechas. Ele pegou algo no chão e ergueu. Porra. Era a calcinha
de Kat.
- Droga... - Chloe murmurou e afrouxou a mão, a tirando da boca dela, que
continuou em silêncio.
Elas estavam tensas e congeladas ali, tentando ficar imóveis e não fazer
nenhum ruído. O homem pegou a peça, colocou em seu bolso e não demorou
para entrar no estabelecimento pela porta que antes estava trancada.
- Janela. Corre. - Chloe murmurou.
Kat não demorou para obedecer e saiu correndo carregando suas coisas,
tentando ser silenciosa. Elas foram até a janela que haviam entrado e sendo
discretas a abriram e saíram dali sem serem vistas. Elas correram por alguns
metros, rindo e sem acreditar no que tinha acabado de acontecer.
- Ele guardou minha calcinha! Eu não acredito nisso. - Kat gargalhava no
meio do caminho, enquanto desacelerava seus passos.
- Bizarro. - Chloe ria com ela, mas logo parou de supetão. - Meu violão!
Kat parou de correr e se aproximou dela, ofegante.
- Você quer ir buscar?
- Vou aproveitar que ele está lá, preciso pegar.
- Tudo bem, vamos.
Kat voltou a vestir seu casaco e elas voltaram para o bar, dessa vez pela
porta da frente. Chloe bateu na porta e esperou, com seu coração acelerado,
mas ela tentava transparecer naturalidade.
- Chloe! - o cara falou depois de abrir a porta, quando a reconheceu.
- Oi... É... Eu vim buscar meu violão, esqueci aqui depois da
apresentação.
- Ah... Tudo bem, vou pegar pra você, um momento.
Um momento depois e tudo já estava resolvido, Chloe estava com seu
violão e elas estavam sã e salvas, sem nenhum flagra indesejado.
- E agora? - Kat perguntou enquanto elas andavam sem rumo.
- Vamos pra minha casa?
Kat sorriu.
- Vamos.
A noite foi longa, mas de uma forma prazerosa. Com certeza aquele foi o
melhor aniversário da vida de Chloe. E mesmo que elas nunca mais fossem
repetir isso, ela jamais esqueceria das loucas aventuras que viveu com Kat
em apenas um dia.
Despedida

Erin realmente não queria ir para esta excursão. Uma viagem cheia de gente
hetero não era algo que estava em sua lista de desejos, mas sua irmã, Nora,
havia insistido para ela a acompanhar até ela ceder, depois de muita
chantagem emocional.
Foram quatro longas horas de viagem, mas ao menos ela conseguiu
descansar durante o trajeto, pois sua irmã foi a motorista da vez. Enquanto
tirava as malas do carro, Erin olhou ao redor. O lugar era realmente bonito,
mais do que o que ela esperava. Era uma cabana na beira de um largo rio,
ela só esperava não ficar entediada, porque ao redor daquela casa bonita não
havia nada além de centenas de árvores.
Ao entrarem na cabana, elas foram recepcionadas por algumas pessoas do
trabalho de Nora que já haviam chegado há um tempo no local. Elas foram
levadas a um dos quartos para se acomodar. O humor de Erin quase foi
embora quando ela notou que não teria muita privacidade ali. O quarto era
compartilhado por pelo menos mais cinco pessoas que ela sequer sabia o
nome.
- Por favor, tenta se enturmar. Eu vivo falando bem de você no trabalho,
eles são legais, eu juro. - Nora pediu quase chorando, sabendo do humor que
sua irmã estava nesse momento.
Erin suspirou e jogou suas malas na cama que foi designada para ela.
Seriam longos sete dias.
- Tudo bem... Não se preocupe comigo. Tendo comida e um bom vinho eu
vou ficar bem.
Nora sorriu de forma meiga e Erin decidiu que iria deixar seu lado
rabugento de lado e tentar se adaptar a esse novo e estranho grupo de
pessoas.
Durante o dia, todos se juntaram para organizar e limpar a cabana para
aproveitarem melhor. Erin era uma ótima chef de cozinha e pelo jeito todo
mundo ali sabia disso, pois logo a designaram para fazer alguma comida
para o grupo. Duas pessoas a ajudaram e foram as primeiras pessoas que ela
teve algum tipo de contato direto.
Billy e Amber eram bem comunicativos, o que facilitou para Erin, que não
tinha esse seu lado muito aflorado, mas ela logo se enturmou com os dois.
Algumas horas na cozinha e agora eles pareciam ser melhores amigos,
apesar de Erin ainda se sentir um pouco retraída.
Na hora do jantar, todos da casa se reuniram na gigantesca mesa. Eram
cerca de quinze a vinte pessoas, Erin não se deu ao trabalho de contar. Os
sons de pratos e garfos se misturavam entre as gargalhadas e conversas que
ela tentava acompanhar. Muitos elogios pela comida também a fizeram se
sentir mais confortável e o jantar não foi tão ruim quanto ela esperava.
Um par de horas depois, metade do grupo, incluindo sua irmã, tinham ido
dormir para descansar para algumas atividades que começariam cedo no dia
seguinte, mas como Erin era apenas acompanhante de Nora ela não
precisaria acordar tão cedo quanto todos os outros, então pegou uma cerveja
e se sentou em uma cadeira na varanda.
A noite estava fria o suficiente para sair fumaça de sua boca a cada
respiração, mas Erin gostava desse tipo de clima. Mais na frente, na beira do
lago, ela viu um pequeno grupo de pessoas bebendo, rindo e jogando pedras
na água como se fossem adolescentes, o que a fez rir sozinha.
- Parecem crianças, né?
Erin se assustou um pouco com a voz perto dela. Era Amber.
- Acho que todos nós temos um lado criança.
Amber sorriu.
- Verdade. - ela se sentou em uma das cadeiras ao seu lado. - A comida
ficou deliciosa, a Nora sempre falou que você era uma chef incrível, mas
provando a gente percebe que não era só bajulação de irmã.
Erin sorriu envergonhada, mesmo com trinta anos de idade, ela ainda não
sabia lidar com elogios desse tipo.
- Obrigada. Vocês me ajudaram muito, o que é uma chef sem seus
assistentes?
Amber riu baixo.
- Há quanto tempo você trabalha com isso? - ela perguntou, curiosa. -
Você comentou mais cedo que está trabalhando em um restaurante grande.
- Ah, sim, eu trabalho na cozinha há pelo menos dez anos. Nesse
restaurante eu estou há dois anos, mas pretendo abrir meu próprio restaurante
futuramente.
- Quando abrir me avisa, que eu mando meu currículo pra você me
contratar como assistente.
Erin teve que rir, mas antes que um silêncio desconfortável se formasse,
Amber continuou com sua curiosidade aguçada.
- Você é casada?
Erin suspirou, lembrando de sua mãe que sempre perguntava quando ela
iria arranjar alguém e se casar, mas sua carreira sempre esteve em primeiro
lugar em sua vida. Ela simplesmente não tinha tempo pra esse tipo de
comprometimento.
- Não, não sou. - ela tomou mais um gole. - Pensei que a Nora tinha falado
tudo da minha vida pessoal também.
Amber riu mais uma vez.
- Ah, ela comenta algumas coisas.
- É? Que tipo de coisa?
Erin pôde notar que Amber ficou corada e sem jeito, o que ela achou
adorável.
- Que você... - Amber pigarreou. - Que você é lésbica.
Erin teve que dar uma risadinha pela forma que ela falou aquilo, sentindo
como se estivesse invadindo sua privacidade ou algo do tipo.
- Ah, isso ela falou. - Erin falou com um tom risonho. - É, eu sou lésbica.
Não é segredo desde que eu tinha quatorze anos.
- Que bom. - Amber respondeu rapidamente. - Quer dizer. Eu... - ela
começou a gaguejar e Erin percebeu que ela não sabia o que dizer, mas a
deixou se perder nas palavras. Era realmente adorável. - Desculpa, eu nem
sei o que eu estou falando mais.
Amber respirou fundo e colocou as mãos sobre as bochechas que
provavelmente estavam pegando fogo de vergonha ou algo do tipo.
- Tudo bem. - Erin riu. - Não tem muito o que falar sobre isso.
Dessa vez foi a vez de Erin quebrar o silêncio, ou talvez Amber sairia
correndo dali há qualquer momento pelo constrangimento.
- Mas e você?
- Eu? - Amber ofegou. - Eu não... Eu não sou... Eu sou...
Erin começou a rir quando percebeu a confusão dela e se retratou.
- Ah, não, desculpe. Eu quis dizer: Você é casada?
- Ah. - Amber riu, visivelmente aliviada pela pergunta ser essa. - Não. Na
verdade eu terminei meu namoro algumas horas antes de vir pra cá.
- Eu sinto muito.
- Está tudo bem, realmente não quero falar sobre isso. Estou aqui pra
relaxar, não vou pensar em nada negativo.
- Essa é uma boa estratégia.
Por mais estranho que essa conversa parecesse, elas não pararam de
conversar. Muito pelo contrário, conversaram por mais uma hora ou mais,
até que Amber precisou ir descansar para o dia seguinte. Erin também foi se
deitar e percebeu que elas estavam ficando no mesmo quarto, junto com mais
algumas pessoas. Uma despedida rápida e silenciosa e elas logo se deitaram
em suas respectivas camas.
Os dias passaram. Erin e Amber conversavam por vários momentos e Erin
estava começando a se acostumar com aquelas pessoas. Era divertido
assistir as atividades e gincanas que as pessoas da empresa estavam
participando, ela até torcia pra alguns em alguns jogos, especialmente para
sua irmã.
Os dias eram divertidos e as noites eram mais tranquilas, o que Erin
realmente estava adorando. Se Amber e Nora estivessem dormindo, ela
procurava se distrair lendo livros e observando a natureza silenciosa a noite.
Algumas vezes ela bebia umas cervejas com algumas pessoas na beira do
lago, agora fazendo parte do grupo com alma adolescente que jogava pedras
nas águas do rio.
Essa era sua última noite ali. Todos já haviam ido dormir pois viajariam
cedo pela manhã, mas Erin preferiu aproveitar o último dia de tranquilidade
que ela teria antes de voltar para o caos da cozinha em que trabalhava. Então
decidiu tomar um vinho enquanto observava mais uma vez a noite quieta. Os
sons dos grilos e das folhas das árvores batendo contra o vento era algo que
ela sentiria muita falta, pensou. Depois de uma garrafa inteira, uma chuva
forte começou a cair. Ela não se importaria, mas o vento estava trazendo a
chuva para a varanda onde estava e os trovões estavam ficando intensos. Ela
decidiu que era hora de descansar e foi para o quarto, iria voltar para casa
logo cedo e dessa vez ela quem iria dirigir.
Apesar de estar camuflada pelo barulho da tempestade, ela tentou ser
silenciosa ao fechar a porta depois de entrar e ao se direcionar com
dificuldade até sua cama. O quarto estava completamente escuro e sua vista
demorou para se adaptar, mas ela logo conseguiu se situar e chegar em sua
cama.
Erin ficou confusa quando percebeu que tinha alguém deitado ali. Talvez
ela tivesse se confundido e parado na cama errada, pois uma garrafa de
vinho era o suficiente para deixá-la confusa. Ela olhou ao redor, mesmo sem
conseguir enxergar nada e pegou seu celular para ter uma visão melhor. Ela
não havia se confundido, aquela era sua cama.
- Erin? - a pessoa sussurrou e quando se virou, Erin percebeu que era
Amber, então se sentou na beira da cama.
- Você está bem? - ela sussurrou de volta. - Confundiu as camas? - Erin riu
o mais baixo que pôde. - Não se preocupe, eu posso ir dormir na sua.
- Não. - Amber segurou seu braço antes que ela se levantasse e partisse,
então se ajeitou, sentando na cama. - Eu... - Amber se aproximou mais e
enrolou seus braços ao redor do pescoço de Erin, a abraçando, então voltou
a falar no tom mais baixo que podia. - Eu vou sentir sua falta...
Ela engoliu seco ao ouvir aquilo. Deus, ela realmente esperava não estar
entendendo isso da forma errada. Ela e Amber haviam criado algum tipo de
amizade confusa durante esses dias que Erin não sabia explicar. Em alguns
momentos ela tinha certeza de que Amber estava interessada nela de forma
romântica ou sexual e em outros momentos ela tentava se convencer que era
tudo fruto de sua imaginação. Amber não tinha interesse em mulheres. Por
isso tudo estava confuso agora.
- Também vou sentir sua falta, Amber.
- Posso ficar deitada com você um pouco? - Amber sussurrou em seu
ouvido, fazendo toda a sua pele se arrepiar.
Erin hesitou, mas logo concordou com a cabeça e se ajeitou com ela na
cama, se deitando ao seu lado. Amber a cobriu com o grosso edredom que a
aquecia, se aconchegando nela. Ela parecia perceber que Erin ainda estava
tentando entender o que estava acontecendo ali e quais eram suas intenções e
tentava deixar claro enquanto a puxava e a fazia lhe abraçar.
Erin sentiu o corpo de Amber embaixo das cobertas e sentiu mais um
arrepio lhe percorrer quando instintivamente segurou a cintura. Quando
Amber levou seu quadril um pouco mais pra frente, Erin desceu sua mão
institivamente, acariciando seu quadril e sua bunda. Agora ela entendeu qual
tipo de roupa Amber estava vestindo naquele momento. Era uma camisola
muito pequena, provavelmente de seda, que deixava metade de sua bunda de
fora.
- Amber... O que você está fazendo aqui assim? - Erin perguntou
sussurrando bem perto de seu rosto.
Amber demorou um pouco para responder, mas logo respondeu com um
tom sedutor.
- O que você acha?
Erin se arrepiou pela milésima vez e esperava que fosse pelo frio e não
pelas loucas sensações que aquela mulher a fazia sentir. E antes que ela
pudesse reagir ou responder, Amber a beijou. Sua boca macia e quente
percorreu a sua de forma deliciosa e delicada, a beijando devagar, fazendo o
corpo de Erin se acender completamente naquele momento.
Ela não conseguiu mais se conter e retribuiu o beijo da melhor forma que
pôde e da forma mais silenciosa que podia naquele momento. Sua mão
passeou pelo corpo surpreendentemente quente de Amber, principalmente
naquela bunda redonda e na coxa nua.
O vinho que ela tinha bebido tinha feito seu trabalho em seu organismo e
Erin estava sentindo seu corpo pegar fogo. Já que Amber estava ali disposta
daquela forma, ela não negaria e não pegaria leve. Não com toda essa
vontade guardada que ela tinha. Então sua mão continuou passeando pela
pele sedosa dela sem receio, sem pudor, indo de suas costas para sua bunda,
onde apalpou com vontade.
Amber suspirou quase como um gemido e se posicionou em cima dela,
como se estivesse sentando em uma cela. Encaixe perfeito. O beijo ficou
mais intenso, as mãos de Erin apertavam sua bunda enquanto ela se
esfregava em cima de seu corpo, com movimentos ondulados e deliciosos
pra frente e pra trás com seu quadril.
Erin queria poder fazer tudo que queria com ela naquele momento, mas
isso resultaria em acordar todo mundo que dormia naquele quarto com o
barulho de tapas e gemidos, então se controlou para fazer o máximo de
silêncio possível apesar do tesão que sentia. Um momento depois, Erin
baixou a alça da camisola que Amber vestia e se sentou sem desfazer o
encaixe de seus corpos, apenas para conseguir alcançar um de seus peitos
com sua boca. Então chupou com toda vontade que tinha. Alguns estalos
foram ouvidos e Amber puxou seus cabelos pela nuca, a fazendo parar.
As respirações estavam ofegantes, as duas estavam completamente
excitadas, mas ter que fazer silêncio estava sendo torturante.
- Shhh... - Amber sussurrou em seu ouvido. - Devagar pra não acordar
ninguém...
- É difícil... - ela sussurrou de volta.
- Eu sei... - Amber sussurrou provocando, roçando seus lábios quentes no
ouvido de Erin e chupando o lóbulo de sua orelha. - Me fode devagar.
- Porra... - Erin segurou um gemido.
Nesse momento Amber não parecia ser aquela garota tímida que corou
somente em falar a palavra "lésbica".
Erin não queria mais esperar para senti-la, então colocou a mão entre seus
corpos e, afastando o tecido fino de sua calcinha, ela a tocou. Sua buceta
estava quente e muito, muito molhada. Amber gemeu baixinho em seu ouvido
e apertou suas mãos nela, uma em seus cabelos e a outra cravando as unhas
em seus ombros. Depois de provocá-la um pouco, Erin penetrou um dedo,
que entrou com facilidade.
Amber segurou um gemido com todas as suas forças, mas não segurou um
xingamento naquele momento.
- Ai, caralho... - ela sussurrou junto com um ofego em seu ouvido.
Erin podia sentir a buceta úmida latejar ao redor de seus dedos, o que
quase a deixou fora de si. Ela mordeu sua própria boca para segurar as
respirações e gemidos que ela estava guardando para não fazer barulho. Se
não fosse o barulho da chuva, com certeza elas já teriam acordado o quarto
inteiro. Mas quando Amber começou a cavalgar em seus dedos bem devagar
ela quase soltou os gemidos presos.
- Por favor, vamos para outro lugar. - Erin sussurrou perto de sua boca.
Amber tentou responder, mas quando Erin começou a fodê-la como ela
tinha pedido por simplesmente não aguentar esperar pela resposta, ela
apenas gemeu em sussurros e começou a mover seu quadril freneticamente.
Erin sentiu seu íntimo latejar quando percebeu que Amber estava prestes a
gozar e foi fraca demais para parar tudo e levá-la para outro lugar naquele
momento.
Amber a abraçou com força e deixou a boca colada em seu ouvido
enquanto seu quadril se contorcia por cima de Erin, que sentia seus dedos
cada vez mais encharcados por sua excitação.
- Não acredito que já vou gozar... - Amber disse sorrindo em meio a
gemidos abafados e deliciosos. - Meu Deus...
- Queria que fosse na minha boca. - Erin se pegou respondendo em seu
ouvido.
- Oh meu Deus, Erin...
Ela sentiu mais uma vez as contrações em seus dedos e dessa vez Amber
gozou, sua boca esmagada contra a pele de seu pescoço para abafar os
gemidos, seu quadril indo e vindo de uma forma frenética e deliciosa, e sua
buceta ficando ainda mais molhada. Quando os movimentos foram se
acalmando, Erin ainda estava sedenta por ela, queria mais dela, queria
chupá-la, queria beijar sua boca sem receio do barulho. Queria muito mais.
- Eu quero te chupar. - Erin falou em seu ouvido quando Amber terminou
de gozar.
Ela gemeu baixinho mais uma vez e Erin sentiu sua buceta se contrair
algumas vezes em seus dedos. Aquilo era tortura. Pura tortura.
- Então me chupa... - Amber rolou seu quadril em cima dela ainda com
seus dedos penetrados.
E lá se foi a sanidade de Erin. Principalmente quando a boca gelada e
molhada de Amber alcançou a sua e a beijou devagar.
- Por favor... - Erin murmurou entre o beijo. - Vamos pra outro lugar.
Alguém tossiu e se mexeu, o que fez as duas congelarem por um momento,
esperando uma reclamação ou algo do tipo, mas nada aconteceu. Obrigada,
chuva.
- Vamos. - Amber finalmente concordou. - Ou seremos expulsas.
- Vamos para o último banheiro? - Erin sugeriu, se elas fossem para um
dos banheiros sociais poderiam ser atrapalhadas, já no último banheiro
(como ele ficou conhecido por estar nos fundos da casa) elas teriam mais
privacidade. Ninguém ia lá.
- Vai na frente, eu não posso sair assim, preciso me vestir.
Com muito pesar, Erin se separou dela e então foi, ansiosa para ter mais
do que ela tinha pra oferecer. Ela ainda estava confusa e extasiada com tudo
que estava acontecendo, parecia uma fantasia, era tudo o que ela não
esperava que pudesse acontecer nessa viagem que ela sequer queria ir.
Erin chegou ao banheiro e para aquecer o local e disfarçar com o barulho
da água, ela ligou a ducha quente. Não demorou muito e Amber entrou,
trancando a porta atrás dela. A luz do ambiente era amarela e fraca, o que
ajudava ainda mais o clima, como se elas precisassem.
Amber estava vestindo um roupão e Erin se apoiou na pia, a observando
enquanto ela se aproximava e abria a peça, desfazendo o laço e separando as
lapelas, até o tecido cair no chão. Nua. Ela estava completamente nua.
Erin suspirou e a observou.
- Você é perfeita... - ela murmurou enquanto a apressava para seu caminho
final, segurando sua mão e a puxando para si.
- Porque não fizemos isso antes? - Amber falou baixo, com a boca quase
colada na dela. - Teríamos aproveitado muito mais...
Erin percorreu seu corpo com suas mãos ousadas, acariciando a pele de
suas costas e descendo até sua bunda.
- Eu não fazia a mínima ideia que você queria isso...
- Eu te dei vários sinais.
- Eu não notei, infelizmente. Eu realmente não sabia. Eu pensei que você
era...
- Mas agora você sabe. - Amber a interrompeu, colocando a boca na dela.
- E espero que você nunca esqueça dessa noite.
- Nem se eu tentasse.
- Ótimo. - ela sorriu de visível satisfação. - Agora me faz gozar de novo. -
Amber chupou seu lábio de forma sensual e Erin não esperou nem um
segundo.
Ela trocou de posição com Amber, a apoiando no balcão da pia e a sentou
ali. Antes de descer para o destino que ela tanto queria, Erin a beijou de
forma intensa, demonstrando toda sua vontade através daquele beijo quente e
molhado.
Amber se preparou, abrindo suas pernas e apoiando um pé sobre o balcão,
ficando completamente aberta e exposta para ela.
Erin foi sedenta ao chupá-la, não conseguia se controlar. Ela estava
completamente excitada a este ponto e levar as coisas com calma não estava
em seus planos. Amber não pareceu reclamar quando gemeu de forma
manhosa e segurou seus cabelos enquanto ela se deliciava.
- Ah... Que delícia... - Amber gemeu e Erin quase enlouqueceu ao ouvi-la.
Erin a encarou com um olhar selvagem enquanto sua cabeça não parava
ali, sua língua brincava por toda a carne molhada e a deixava ainda mais
molhada com sua saliva e suas mãos apertavam a parte interna de sua coxa,
mantendo-a aberta.
Ela parou apenas para lamber dois de seus dedos e penetrá-la. Amber
gemeu alto e saltou quando seu centro pulsou, seus peitos lindos se
balançando com o movimento. Eles continuaram balançando quando Erin a
fodeu ali naquela pia enquanto a saboreava com sua língua.
As caras e bocas que Amber faziam eram simplesmente torturantes. Ela
mordia seu próprio lábio algumas vezes e os lambia enquanto ficava com
aquela expressão de dor, sem parar de olhá-la.
- Não para, Erin, não para... - ela continuou gemendo. - Meu... Deus...
Os gemidos ficavam cada vez mais arrastados e longos e foi quando Erin
soube que ela estava próximo de seu ápice.
- Goza na minha boca. - Erin se pegou pedindo.
Amber jogou sua cabeça pra trás, soltando um gemido alto e expondo a
pele de seu pescoço que estava com as veias saltadas. Erin sentiu em seus
dedos e em sua língua as contrações dela.
- Eu tô gozando... - mais um daqueles gemidos arrastados e longos e
Amber gozou pela segunda vez da noite, enquanto se contorcia como podia e
tentava se controlar pra não cair de cima da pia.
Quando os espasmos foram passando e seu corpo relaxando, Erin subiu
voltou a ficar de pé, a tirando da pia para dar um descanso para suas pernas,
que estavam nitidamente fracas agora.
- Oh, Deus... - Amber murmurou enquanto se apoiava nela, enrolando os
braços em seus ombros.
Erin sorriu e manteve o abraço, dando alguns beijos suaves por seus
lábios e seu rosto enquanto lhe dava um tempo para se recuperar.
- Você é tão deliciosa... - ela se pegou falando enquanto distribuía os
beijos pelos lábios de Amber, seu corpo ainda estava pegando fogo.
- Você achou? - Amber falava com a voz fraca e baixinha.
- Porra... Sim... Muito.
- Eu posso te chupar também? - Amber pediu enquanto seus olhos
voltavam a fitá-la.
Aquele pedido pegou Erin totalmente desprevenida, mas causou um
arrepio incontrolável por toda sua pele.
- Você quer me chupar? - Erin perguntou com a voz rouca.
- Quero... - Amber ofegou. - Quero te fazer gozar também.
Erin sentiu seu íntimo pulsar com aquela frase e sentiu a necessidade de
sentir aquela boca delicada e molhada a chupando. Ela chupou seus lábios
com vontade e deslizou sua língua por eles, deixando eles ainda mais
molhados.
- Então me chupa. - ela murmurou em seu ouvido.
Amber vibrou ao ouvi-la e começou a tirar sua camisa. Erin a ajudou e um
momento depois também estava completamente nua. Com seu corpo colado
no dela. Ela se aproveitou um pouco naquele momento, encostando seu corpo
completamente no de Amber e sentindo seus peitos se encontrarem e
deslizarem uns nos outros pelo suor e pelo vapor que saía do chuveiro que
ainda estava ligado.
Amber a conduziu até uma parede e fez Erin se encostar, depois de beijá-
la de uma forma deliciosa e sensual, ela sussurrou:
- Eu nunca fiz isso antes, então me desculpa se não for bom...
Erin acariciou os lábios molhados e respondeu:
- Tenho certeza que vai ser uma delícia sentir sua boca em mim.
Amber sorriu com malícia e passou a língua no polegar que Erin a
acariciava, então desceu. A língua dela foi tímida ao lhe lamber, mas fez
Erin estremecer e ofegar. Aquele fodido olhar também não parava de lhe
torturar. Amber começou a chupá-la devagar, mas trabalhava bem sua língua
nela. Erin não segurou um gemido que se arrastou por sua garganta e segurou
os cabelos dela, os juntando em uma mão só.
Deixando mais a timidez de lado, Amber deu mais intensidade as
chupadas e lambidas, o que deixou Erin quase fora de si naquele momento.
Ela acompanhou com a mão em seus cabelos o movimento que a cabeça de
Amber fazia ali embaixo, a deixando pulsando e a ponto de explodir. Erin
puxou um pouco sua cabeça e fez ela se separar apenas por um momento.
Com a mão livre, ela acariciou os lábios de Amber com o polegar e ela
colocou a língua molhada e macia pra fora, a lambendo.
- Que boquinha gostosa você tem...
Amber sorriu mais uma vez de satisfação e chupou o dedo dela devagar.
- Estou fazendo direito? - Amber perguntou com os lábios separados e
aquela voz manhosa.
- Caralho, sim... Está. - Erin ofegou e voltou a aproximar a boca dela de
sua buceta, a guiando com a mão em seus cabelos, segurando firme.
Amber a lambeu com mais vontade dessa vez, passando sua língua com
ousadia e maestria. Erin gemeu e quase perdeu as forças quando sentiu o
orgasmo a invadindo. Ela gozou mais rápido do que esperava, enquanto a
boca delicada de Amber a chupava deliciosamente. Enquanto ela ofegava e
tentava reorganizar suas respirações, soltou os cabelos de Amber e a ajudou
a se levantar.
Amber sorriu, provavelmente orgulhosa de ter causado esse efeito nela, o
que não era pouco.
Sem demora, Erin a beijou mais uma vez, o gosto de sexo em suas bocas
se misturando e as línguas se chocando com delicadeza e sensualidade. Sem
querer se despedir, Erin a levou para o chuveiro, onde tomaram um banho
juntas enquanto trocavam carícias e beijos.
Deus... Não podia acreditar que isso tinha acontecido somente em seu
último dia. Em seu maldito último dia naquele lugar. Ela fez Amber gozar
mais uma vez ali naquele chuveiro enquanto elas relaxavam e faziam de tudo
para não se despedirem, porque era simplesmente difícil demais.
No outro dia Erin voltou pra casa com aquela mulher em sua cabeça,
tendo deliciosos flashs daquela noite que ela nunca mais iria se esquecer,
nem ter novamente...
Trabalho de Química

Violet não havia gostado nenhum pouco do grupo que acabou se formando
para realizar aquele infeliz trabalho.
A única pessoa que ela tinha algum tipo de aproximação era Zac, um
colega de classe que não era insuportável como praticamente todos os
outros. Um grupo de quatros pessoas foi formado, além dela e de Zac,
também haviam Tommy e Amélia.
Tommy era o típico nerd quatro olhos e Amélia era sua melhor amiga, a
perfeitinha da turma que sempre sabia o que responder e tirava as melhores
notas. Era bajulada pelos professores e até pela diretoria. Além de ser a
mais bonita, claro.
Como ela havia parado no mesmo grupo que Amélia? Essa era fácil:
Amélia estava tendo um romance não assumido com Zac. Era nítida a
aproximação deles em alguns momentos, os olhares e os sorrisos. Não
precisava ser um Sherlock Holmes para desvendar esse mistério.
Como além de tudo, Amélia era a mais mimada, todo mundo concordou
que o trabalho seria feito na casa dela e seria dividido em dois dias para
finalizar. O que não agradou V nem um pouco foi a distância que a casa dela
ficava da sua.
Zac e Tommy moravam bem perto de Amélia, então eles não tirariam mais
que quinze minutos para chegar lá m, mas V precisou sair duas malditas
horas mais cedo pra chegar no horário combinado.
Ela só havia topado participar porque era o último trabalho do ano e a
nota era importantíssima para o fechamento das médias. Maldito curso
preparatório, fazia o ensino médio concluído há uns bons dois anos parecer
fichinha.
Depois de uma hora que saiu, V notou que iria se atrasar. Houve um
problema em um dos trens que ela teria que pegar para chegar ao destino e
levou mais de meia hora para ser resolvido.
Ela mandou uma mensagem para Zac para avisar que iria se atrasar, mas
antes mesmo de sua mensagem ser enviada, seu celular descarregou. E era só
isso que faltava. Por sorte, V tinha uma memória muito boa e havia decorado
o endereço de Amélia, então conseguiria chegar lá de toda forma. Só
esperava que ninguém a culpasse pelo atraso.
Quando faltavam vinte minutos para ela chegar, V notou que uma
tempestade nada agradável estava se formando. Nuvens espessas e escuras
estavam deixando a tarde escura e os trovões não eram um bom presságio do
que viria.
Pouco depois, uma chuva pesada começou a cair e os comentários das
pessoas não estavam ajudando a deixá-la mais tranquila. Alguém falou de um
alerta de tempestade severa e ela só pensou no quanto estava fodida para
voltar para casa.
Quando finalmente chegou no lugar certo, ela colocou seu casaco, tentando
proteger sua mochila com ele e sua cabeça com o capuz, e correu até a casa
de Amélia que ficava há uns dez minutos do ponto do último ônibus que ela
havia pego.
Número 614, só poderia ser ali.
Toda ensopada e embaixo de uma chuva impiedosa, V correu até a
gigantesca casa e finalmente saiu da chuva quando chegou na varanda. Ela
tentou dar um jeito nos seus cabelos os jogando para trás, mas nada ajudaria
nesse momento a não ser uma toalha. E roupas secas.
V tocou a campainha e esperou.
Amélia abriu a porta e a olhou com o olhar mais desconfiado do mundo.
V suspirou, antecipando sua chateação.
- Eu sei que estou atrasada, mas você não vai acreditar no caos que eu
enfrentei pra chegar aqui.
- Você não recebeu a mensagem? O Zac disse que te avisou, o trabalho foi
adiado pra outro dia por causa da tempestade.
A cara de V ficou travada. Sem reação alguma. Isso só poderia ser uma
brincadeira de mal gosto.
- Tá falando sério? - ela perguntou, rindo com um pouco de desespero.
- Sim... O Zac disse que te avisou.
- Puta que pariu... - V passou as mãos no rosto, tentando tirar o excesso de
água, mas advinha só? Suas mãos também estavam ensopadas. - A porra do
meu celular descarregou no meio do caminho, eu não vi essa mensagem. Saí
de casa cedo porque moro muito longe.
- Oh... - Amélia ficou sem reação por um momento. - Você quer entrar e
deixar ele carregando?
- Sim, por favor.
Quando entrou, V tirou seu casaco e sua mochila e pendurou em um
cabideiro na entrada.
- Você quer uma toalha também? Acho que umas roupas secas também vão
ajudar, se não você vai pegar um resfriado.
V respirou fundo quando percebeu a situação que estava, ainda pior do
que esperava. Não havia um centímetro de suas roupas que estivessem
enxutas.
- Pode ser...
- Vem.
Amélia se virou e V a seguiu, tentando enxugar seu celular com as roupas
molhadas, o que era idiotice. Ainda bem que ele era à prova d'água. Amélia
entrou em seu quarto e V esperou no lado de fora.
- Pode entrar, Violet!
Ela entrou, ainda um pouco desconfortável.
- Pode me chamar de V.
- Só V?
- Sim.
- Porque? Não gosta do seu nome?
- É. - V riu. - Algo do tipo.
- Tudo bem então, V. - ela falou com ênfase na última letra. - Tá aqui, uma
toalha limpa e roupas secas, pode ir no meu banheiro. Me dá seu celular que
eu deixo ele carregando ali.
Amélia apontou para uma porta próxima e V se direcionou ao banheiro
depois de entregar seu celular para ela, finalmente se secando e
aproveitando para tomar um banho quente.
Quando se vestiu, ela se surpreendeu com a escolha de roupas que Amélia
fez. Não era nada do que ela imaginava. Uma blusa larga e uma calça
moletom, nada que ela havia visto Amélia vestir antes, mas ela
provavelmente teve essa preocupação de lhe dar algo que ela se sentisse
confortável, já que ninguém nunca viu e nunca a verá com roupas apertadas e
curtas.
Quando saiu do banheiro, Amélia estava organizando seu quarto, como se
já não estivesse perfeitamente organizado.
- Você pode estender essas roupas molhadas na cadeira e no espelho.
- Obrigada.
V fez o que ela sugeriu e logo se sentou em uma das cadeiras, olhando ao
redor do quarto gigantesco. Finalmente parando para observar o quanto o
lugar era bonito.
- Bela casa.
- Obrigada. - Amélia sorriu. - Ficou muito grande depois que meu irmão
casou e que meu pai foi embora, mas minha mãe não quer sair daqui por
nada.
- Nem deveria, é uma casa incrível.
Elas trocaram algumas conversas fiadas, mas logo o som da tempestade
piorando cada vez mais chamou a atenção.
- Estou fodida. - V suspirou e soltou um gemido de frustração.
- Eu acho que você vai ficar ilhada por um tempo também. Minha mãe
acabou de me mandar mensagem dizendo que não vai conseguir voltar pra
casa hoje, vai dobrar o plantão no hospital por causa da tempestade.
V apenas bufou e murmurou algum palavrão que nem ela mesma decifrou.
E quando ela achou que não dava pra ficar pior, a energia foi embora e a
casa inteira ficou sem luz.
Apesar de ainda não ter anoitecido, o dia estava escuro por causa da
tempestade, deixando apenas um vislumbre de luz, que não era muito.
- Oh meu Deus. - Amélia se assustou e correu em direção a ela.
V riu, mas tentou se conter.
- Tem medo do escuro?
- Não. - Amélia mentiu descaradamente. - Só... me assustei.
- Espero que volte logo, preciso carregar meu celular.
Amélia puxou uma outra cadeira que estava ali perto e se sentou, ainda
perto de V, mexendo em seu celular.
- Acho que vai ficar complicado para você voltar pra casa hoje, acabou
de sair uma notícia de que o metrô foi interditado com risco de alagamento.
- O quê? - V não poderia estar mais frustrada, então se derramou um
pouco mais na cadeira e depois de um grunhido, escondeu o rosto com as
mãos. - Porra... - ela falou com a voz abafada. - Que dia de merda...
Amélia a olhou e V se ajeitou na cadeira.
- Não se preocupe com isso, você pode ficar aqui até as coisas se
acalmarem.
- Eu não quero ser inconveniente.
- Não é como se fosse culpa sua.
V respirou fundo quando se viu sem saída.
- Caralho, que inferno... - V alisou os cabelos, os passando para trás e os
segurando por um momento.
- Que boca suja você tem.
V já não estava em seu melhor humor e Amélia não estava ajudando
nenhum pouco. Mas como estava em sua casa e precisando deste grande
favor, ela apenas a enviou um olhar furioso, mas não retrucou.
Cerca de uma hora havia se passado e nada de energia.
V bufou pela milésima vez. Além desse problema, ela não estava nada à
vontade ali, por mais que Amélia tentasse puxar assunto elas não tinham
muita coisa em comum.
Talvez fosse culpa de V por estar em um humor terrível naquele momento.
- Quer comer alguma coisa? - Amélia ofereceu.
- Não. Estou bem.
Um segundo depois e a barriga de V roncou tão alto que deu pra ouvir
claramente. Amélia riu e negou com a cabeça.
- Vem, vamos lá na cozinha.
V não tinha argumentos para negar naquele momento, então foi com ela.
Por sorte Amélia estava com seu celular bem carregado e usava a lanterna
dele para iluminar o caminho, pois o dia ficava cada vez mais escuro.
Amélia fez um rápido sanduíche para cada uma e serviu um suco.
Enquanto comiam encostada no balcão da cozinha usando o celular de
Amélia como lanterna, elas não falaram nada por um momento, mas Amélia
quis quebrar o gelo.
- Ficou bom?
- É... - V falou de boca cheia. - Ficou sim, obrigada.
Mais um silêncio.
- Então... - Amélia se ajeitou no chão enquanto tomava um gole de seu
suco. - É verdade o que dizem sobre você?
V ficou curiosa, franzindo as sobrancelhas.
- O que dizem sobre mim? - ela perguntou antes de mais uma mordida.
- Ah... Você não sabe? - Amélia sorria, travessa.
- Talvez. - a voz saiu abafada por causa da boca cheia.
Amélia deu uma risadinha que deixou V confusa.
- Então deve ser verdade.
- Se você não falar, eu não vou saber se estamos falando da mesma coisa.
- Que você gosta... de garotas.
V teve que dar uma risadinha quando ela falou daquela forma.
- É... Pode ser que seja verdade. - V a fitou e Amélia pareceu ficar sem
graça com seu olhar fixado. - Pode ser que não. Nunca saberemos. - ela
brincou.
Amélia riu um pouco nervosa, colocando uma mecha de seus cabelos
castanhos para trás da orelha. E por um momento V a observou.
Que ela era bonita, não era uma novidade, mas era a primeira vez que ela
parava para observá-la daquela forma... Amélia tinha traços latinos,
sobrancelhas grossas e desenhadas, a pele bronzeada e os cabelos ondulados
desciam como duas cascatas banhando seus seios.
Quando seus olhos começaram a descer e perceber seu decote, V se
deteve e desviou o olhar.
- É verdade sobre o que dizem de você também? - V perguntou.
- O que? - Amélia ficou tensa e quase arregalou os olhos, provavelmente
achando que também falaram algo do mesmo tipo sobre ela, o que foi
divertido de ver.
- Que você e o Zac estão se pegando.
Amélia deu uma risadinha baixa e rápida. E logo foi aumentando o ritmo
dela, gargalhando baixinho.
- É isso que estão falando de mim?
- Não é de se estranhar...
- Meu Deus, não... - Amélia ainda ria, parecendo que estava ouvindo uma
coisa absurda. - Não mesmo...
Quando V ficou confusa, ela explicou.
- O Zac é gay, sabia?
V piscou algumas vezes e levantou as sobrancelhas, surpresa.
- É sério?
- Uhum. - Amélia ainda ria enquanto mastigava. - Somos só amigos.
- Eu não fazia ideia...
- É que todo mundo tá acostumado com o homem gay afeminado, sabia que
existem gays que não são?
- Sim, mas.... Eu realmente não fazia ideia que ele era. - V ainda estava
tentando juntar as peças em sua cabeça e absorver aquela informação.
A partir daí, o clima não ficou mais tão estranho. Amélia havia roubado
uma garrafa de vinho do gigantesco estoque de sua mãe e elas voltaram para
o quarto.
- Ela não vai sentir falta disso? - V perguntou intrigada.
- Não. - Amélia riu. - Eu sempre pego e ela nem nota, tem muitas garrafas.
Ela se sentou em sua cama e dobrou as pernas, formando um oito.
- Senta aqui, vamos jogar um jogo.
V franziu as sobrancelhas pela milésima vez. O que Amélia esperava com
aquilo? Percebendo sua hesitação, ela perguntou curiosa:
- Você não quer?
V respondeu com atitude, indo até ela e se sentando na cama na mesma
posição, de frente para ela. Amélia tirou o tampão da garrafa e depois de um
"pop" deu um gole, logo entregando para V que fez o mesmo.
- Responde ou paga. Eu faço uma pergunta e se você não quiser responder,
vai precisar fazer um desafio.
- Tipo verdade ou desafio? - V riu.
- Mais ou menos.
- Tudo bem...
Amélia pegou a garrafa de sua mão e deu mais um gole.
- Com quantas garotas você já transou?
Alguém estava muito curiosa sobre sua sexualidade... V arqueou uma
sobrancelha, percebendo qual rumo aquele joguinho levaria.
- Hum... Acho que cinco. Seis? Algo por aí...
Amélia pareceu surpresa.
- Seis? Eu conheço alguma?
V teve que rir.
- Não era uma pergunta por vez?
- Tá, tudo bem, tem razão. - Amélia colocou mais uma mecha atrás da
orelha. - Sua vez então.
- Com quantas pessoas você já transou? - V perguntou sem criatividade,
praticamente copiando a pergunta que Amélia havia feito.
Ela pareceu congelar nesse momento, o que foi estranho.
- Se eu não quiser responder... Qual o desafio?
V pensou por um momento e deixou com que sua malícia guiasse a partir
dali. Era o objetivo, não era?
- Tirar a blusa.
- Eu... - Amélia respirou fundo, um pouco desconcertada. - Acho que
prefiro. - disse ela finalmente, apoiando a garrafa de vinho entre suas pernas
para conseguir se mover.
Ela se colocou de joelhos na cama por um momento e V ficou tensa. Ela ia
realmente fazer o desafio e não responder uma pergunta tão simples? Parecia
que sim...
Amélia segurou a barra de sua camiseta e começou a tirar ela, puxando
para cima. V queria não gostar do que estava vendo, mas não podia tirar os
olhos dela. Sua barriga apareceu, logo depois o tecido preto de seu sutiã, o
decote volumoso... Ela jogou a peça no chão e parou por um momento,
encarando V com um olhar que ela não soube descrever.
Deus, agora ela realmente estava tentada, mas não faria nada.
Amélia voltou a se sentar.
- Porque preferiu tirar a roupa pra não responder?
- Uma pergunta por vez, lembra?
V sorriu só com os lábios.
- Sua vez então.
Amélia lambeu seus próprios lábios e desviou o olhar.
- O que você mais gosta de fazer quando... - ela voltou a olhá-la. -
...quando está ficando com uma garota?
Aquilo era uma provocação, não era? V não estava percebendo as coisas
errado, não podia ser. Mas ela não ia responder, não tinha uma forma de
revelar aquilo sem ser muito explícita.
- Acho melhor eu não responder isso.
- Porquê não?
- Bom... Porque eu vou precisar ser muito explícita.
- Seja. - ela deu de ombros.
Ao mesmo tempo que tinha um olhar inocente, Amélia tinha uma malícia
naquelas feições. V sorriu maliciosamente e resolveu responder, mesmo com
seu rosto pegando fogo.
- Eu gosto de chupar.
Amélia hesitou um pouco e V pôde notar sua garganta se movendo quando
ela engoliu seco.
- Chupar o quê? - ela perguntou num tom baixo enquanto a encarava.
Por um momento, V imaginou o que poderia acontecer ali agora se ela se
aproximasse e a beijasse, mas não faria isso até ter a plena certeza de que
não estava entendendo errado.
Isso havia acontecido uma vez com ela, uma garota havia lhe provocado e
quando V avançou o sinal, ela não quis e lhe deu um belo tapa na cara.
Passos de formiga, era assim que ela fazia depois desse dia constrangedor.
- Uma pergunta por vez.
Amélia respirou fundo e deu mais um gole na garrafa de vinho, a
entregando para V que também tomou um belo gole, tentando apagar o fogo
que estava crescendo dentro dela, mas ela tinha suspeitas de que o vinho só
estava piorando sua situação.
- Porquê não quis responder à minha primeira pergunta?
Amélia mordeu seu lábio, não de forma provocativa, mas de forma
preocupada e desviou seu olhar.
- Eu... - ela arranhou a garganta e esticou a coluna, como se estivesse se
preparando para dar uma notícia bombástica. - Eu sou virgem.
- Oh... - V não soube o que falar naquele momento.
- Não conta pra ninguém.
- Porquê eu faria isso?
- Eu não sei...
- Isso é um problema pra você? Ser virgem?
- Não, eu só... - Amélia respirou fundo mais uma vez. - Quantas garotas
virgens você já conheceu? Eu estou prestes a fazer 19 anos e nunca fiz sexo.
Ninguém que eu conheça nessa...
- Eu também sou virgem. - V a interrompeu.
Amélia ficou boquiaberta.
- O quê?
- É. Eu nunca transei com um homem na minha vida e sabe... Nunca
aconteceu mesmo ficando com garotas. Não me importo com isso.
- Eu acho que o fato de você já ter transado, independente do sexo da
pessoa, já não te deixa mais na categoria "virgem".
- Tecnicamente falando, deixa sim.
- Eu nunca nem passei dos beijos com alguém.
Bom, nesse quesito V realmente não podia se comparar. Ela já havia
transado com algumas meninas e apesar de nada ter entrado nela, ela já havia
feito coisas indecentes, digamos assim.
- Você nunca quis? - V estava curiosa. - Ou nunca teve oportunidade?
- Já tive várias oportunidades, mas... Eu nunca... senti essa vontade com
ninguém que eu fiquei.
V estava ficando ofegante com toda essa conversa. Sua mente estava
viajando em fantasias que ela jamais imaginou que teria com aquela garota.
- Talvez um dia você tenha... Vontade. - V engoliu seco quando sentiu seu
rosto queimar com aquele olhar que Amélia estava lhe enviando.
- É... Talvez... - ela falou baixinho, fazendo V suspirar.
Mais um gole. Longo. Deus... Era impressão sua ou o clima estava
literalmente esquentando? Apesar da tempestade não estar dando nenhuma
trégua lá fora, V sentia como se tivesse um sol só pra ela naquele momento.
Ela precisou respirar fundo e passar seus cabelos para trás com uma alisada
para tentar se controlar de alguma forma.
- Sua vez. - V falou.
- Você ficaria comigo? - Caralho... Foi o que V quis responder, mas
hesitou. - Bom, se eu... Se eu gostasse de garotas. - Amélia se justificou.
Ou ao menos tentou.
- Claro... Se por um acaso você gostasse. Eu ficaria.
Amélia sorriu maliciosamente e desviou o olhar. Ela apoiou seus braços
pra trás na cama o que fez uma das alças de seu sutiã cair. Ela também
esticou as pernas deixando um pé tocando em sua perna. V a olhou e viu suas
pernas torneadas de fora quando percebeu que sua saia havia subido um
pouco mais, quase mostrando sua calcinha. Deus, isso era algum tipo novo
de tortura?
- E o que você faria comigo? - seu tom era baixo e provocador.
Era o vinho. Tinha que ser o vinho que estava deixando ela com todo
aquele fogo crescente em seu interior. V colocou a garrafa no chão, mas logo
voltou a se ajeitar na mesma posição, sentada na cama.
- Amélia... - V a olhou com um olhar de aviso. - Cuidado com o que fala.
- Ou o quê?
- Ou eu vou te jogar nessa cama e te mostrar o que eu gosto de chupar. -
não era mais a V que estava ali.
Não seu lado quieto, no entanto. Agora era seu lado selvagem e se Amélia
não facilitasse as coisas, ele iria tomar conta.
Ao ouvi-la, Amélia soltou um suspiro muito parecido com um pequeno
gemido e moveu suas pernas, fazendo uma leve fricção de uma coxa contra a
outra.
V imaginou como ela deveria estar ali embaixo...
Quando percebeu que estava olhando por tempo demais, ela subiu seu
olhar para os olhos de Amélia novamente.
- E se eu quiser? - Amélia provocou.
Porque aquele tom de voz estava sendo tão torturante?
- Eu faço. - V respondeu de prontidão, sentindo seu interior doer de tanta
excitação.
Amélia acariciou a perna de V com seu pé e ela a tocou ali, acariciando o
pé pequeno e delicado enquanto a fodia com seu olhar. E seus pensamentos.
- Promete ser gentil? - Amélia mordeu seu próprio lábio e dobrou uma
perna, se abrindo mais e dando para V uma visão incrível de seu sexo
coberto com a calcinha.
Caralho... Apesar do quarto escuro, a luz da lanterna do celular que estava
na cama lhe ajudava com a visão. Dava pra ver o tecido encharcado ali no
meio, o que fez a boca de V salivar automaticamente.
V quase esquece de responder, mas depois de engolir sua saliva, fez.
- Prometo.
Amélia sorriu de forma doce e safada, como alguém conseguia fazer isso?
V não sabia.
Ela se deitou na cama e levantando seu quadril, começou a tirar sua
calcinha. Quando finalmente se livrou da peça, Amélia se abriu devagar,
acariciando de seu sexo até sua barriga.
V suspirou com aquela visão extasiante. Ela estava molhada e brilhante,
assim como V tinha imaginado. A fenda entre suas pernas aumentando a cada
centímetro que ela afastava as pernas.
Lambendo seus próprios lábios de antecipação, V se aproximou e
começou a provocá-la.
Ela deu lentos e suaves beijos no interior de uma das coxas enquanto a
mantinha com as pernas bem separadas com suas mãos. Amélia suspirou
quando sua boca tocou em sua pele e a observou enquanto ela ia para o tão
esperado destino.
A língua de V foi suave ao tocá-la ali. Ela a chupou devagar e com
gentileza, assim como ela havia pedido. Amélia gemeu de forma manhosa o
que quase, quase, fez V gozar ali mesmo. Seu sabor era doce e V estava
insaciável, queria mais. Então deslizou sua língua gulosa até a entradinha da
buceta, onde brincou.
- Oh... Meu Deus... - Amélia sussurrou entre gemidos.
O que só deu mais gás para V. Ela começou a lhe chupar com mais
vontade, mas mantendo a delicadeza em seus toques. V já não sabia mais o
que era saliva e o que era resultado do prazer de Amélia enquanto a lambia e
chupava, se deliciando e tendo um breve questionamento de se isso estava
mesmo acontecendo.
Ela sentiu Amélia pulsar na sua língua e brincou em seu clitóris com ela, a
fazendo gemer ainda mais.
- Minha nossa... - Amélia falou baixinho, sem parar de gemer.
V se afastou um pouco apenas para lamber seus próprios lábios e olhar
para o que estava se deliciando. Amélia estava encharcada, muito disso por
culpa sua. Sua carne brilhosa estava inchada e continuava a latejar. Deus...
Ela amava fazer aquilo, de verdade.
Automaticamente V levou seus dedos até aquela buceta e deslizou nela.
Mas antes de penetrá-la, se lembrou que ela era virgem, então não quis
assustá-la. Ela voltou a chupar enquanto seu dedo apenas brincava na
entrada, fazendo ameaças que ela mesma esperava resistir.
Amélia gemeu ainda mais alto e a olhou com um olhar de súplica.
- Eu quero... - ela murmurou.
V sabia exatamente do que ela estava falando, mas mesmo assim quis se
certificar.
- Quer? - ela perguntou entre as chupadas e lambidas.
- Sim... Devagar.
Puta que pariu, V iria perder sua sanidade a qualquer momento. Nunca
imaginou que Amélia era assim... Tão gostosa e irresistível.
Atendendo ao seu pedido, V começou a penetrá-la devagar enquanto sua
língua ainda a provocava. Ela estava apertada e pulsante e aquilo era a coisa
mais deliciosa do mundo. Amélia gemeu alto quando seu dedo entrou
completamente.
- Doeu? - V se pegou perguntando, a olhando.
- Não... - ela gemeu mais uma vez e rodou seu quadril, rebolando devagar.
- Não para, V...
V continuou a penetrando e voltou a olhar para seu centro. Seu dedo
estava sendo esmagado por ela, apertada do jeito que era, o que era
fodidamente torturante. Sem conseguir mais se conter, V começou a fodê-la
devagar, tirando seu dedo até a metade e voltando a penetrá-lo, sem força
para não causar nenhum desconforto, por mais difícil que fosse.
Depois de se deliciar com a vista, V não conseguiu mais ficar longe de
seu sabor e voltou a chupá-la. Sua língua exigente e ao mesmo tempo
delicada, passando de cima a baixo enquanto seu quadril se movia devagar.
- Eu acho que vou gozar...
Foi a vez do sexo de V pulsar. Ouvir ela falando naquele tom já era tortura
o suficiente, mas falar aquilo? Era outro nível...
- Caralho... - V ofegou quando sentiu que provavelmente iria gozar
também sem nem precisar de nada. - Goza pra mim.
Amélia começou a gemer freneticamente de forma manhosa e deliciosa
enquanto gozava na sua boca e em seu dedo, parecendo estar num completo
êxtase, se contorcendo e agarrando o lençol da cama com suas mãos. V
gozou junto com ela. Um orgasmo atravessando seu corpo e causando
pulsações fortes em sua buceta, a levando ao delírio enquanto sentia aquele
sabor delicioso em sua boca.
Quando a onda foi passando, ela olhou para seu dedo que ainda estava
dentro de Amélia. Ela pulsava descontroladamente até que foi se acalmando.
Quando tirou seu dedo, V viu ela escorrendo e a chupou novamente. Com
toda certeza do mundo aquele tinha sido o melhor oral que ela já tinha feito
em alguém, pelo menos pra ela.
- Jesus Cristo, V... - Amélia suspirava e ofegava, tentando controlar sua
respiração.
V lambeu seus próprios lábios, limpando todos os resíduos e subiu seu
corpo, se encaixando entre suas pernas.
Se apoiando com os braços na cama ela a olhou. Bem perto.
- Fui gentil? - ela perguntou num tom de voz rouco e baixo.
- Sim... Foi... - Amélia respirou fundo e a olhou nos olhos. - Muito melhor
do que eu imaginava.
- Ah, é?
- Sim... - Amélia acariciou suas costas por baixo de sua camisa. - Eu
sempre fui afim de você, sabia disso?
V riu baixinho. Não, ela não sabia.
- Tá falando sério?
- Sim... Esse seu jeitinho marrento... - Amélia suspirou. - Acaba comigo.
Eu estaria mentindo se dissesse que nunca imaginei isso acontecendo.
Ok, agora V estava total e completamente surpresa com essa informação.
- Eu... Eu nunca imaginei. Eu pensei que você ficava com o Zac.
Amélia deu mais uma risadinha e dobrou suas pernas, deixando o encaixe
mais perfeito.
- Mas era você quem chamava minha atenção.
- Eu nunca iria desconfiar disso.
- Tudo bem... Não tinha como. Eu sempre fui discreta.
- Menos hoje... O que mudou?
- Eu iria me arrepender se eu não aproveitasse essa chance. Eu e você
sozinhas na minha casa? Nunca imaginei.
V deu uma risadinha.
- É... Nem eu.
- E você... Gostou de ter feito isso comigo? - Amélia perguntou um pouco
tímida, um pouco maliciosa.
- Tá brincando comigo? Eu gozei só em te chupar.
- Como isso é possível? - Amélia pareceu surpresa em meio às risadinhas.
- Acredite, é muito possível. Você me deixou com muito tesão...
Amélia soltou um suspiro baixinho e mordeu seu próprio lábio.
- Deixei?
- Sim... - V se aproximou quando sentiu a necessidade de beijá-la, mas
apenas esfregou seus lábios com os seus e passou a ponta da língua neles.
- Me beija, V. - Amélia pediu com os olhos fechados e as mãos agora
segurando e acariciando seu rosto.
V a beijou e foi ainda mais gostoso do que pensava. O beijo se encaixou
perfeitamente, a língua de Amélia era macia e tímida, mas V se aproveitou
como pôde, passando sua língua na dela algumas vezes e intercalando com
chupadas em seus lábios.
Quando Amélia gemeu baixinho, V soube que tudo que ela estava sentindo
era recíproco, e isso era bom pra caralho.
Estocolmo - Parte 1

SKY
Que droga de trabalho.
Foi o que Sky pensou enquanto se preparava. A missão de hoje era nada
mais nada menos que sequestrar uma garota. E não, ela não estava de acordo
com isso, mas não estava em posição para recusar, não era como se ela
tivesse alguma escolha. Ela não tinha. Ou fazia ou fazia. Simples.
Enquanto limpava sua arma e acoplava o silenciador, ela pensou em como
tinha parado nessa situação. Não teve muitas escolhas quando seu pai a
internou numa escola militar. Como ela treinava incansavelmente para
distrair sua cabeça da vida de merda que levava, Sky se destacou em todas
as aulas práticas e obviamente isso não passou despercebido.
Apesar de ser uma aluna de destaque, ela foi abandonada naquele local.
Não tinha amigos, seu pai havia sumido da face da terra desde que a colocou
lá, não tinha nenhum parente conhecido, então ela não tinha nenhum
privilégio naquela droga de lugar. Até completar 18 anos e ser recrutada
pelo sargento para fazer o trabalho sujo que acontecia debaixo dos panos.
Trabalhos "extra-oficiais" como ele havia nomeado para não ter que usar a
palavra "criminosos". Que outra escolha ela tinha? Não teria um futuro ali
porque era uma ninguém vindo de lugar nenhum, então só aproveitou a
oportunidade que lhe foi oferecida.
Ela treinou por anos, se destacou por sua força física e por sua habilidade
praticamente impecável com armas, fruto de uma vida inteira de treinos. E
foi assim que ela se tornou a melhor.
Agora, com 30 anos, Sky estava em sua milésima missão ou algo do tipo.
Por muitas vezes fantasiava como seria sua vida se ela tivesse uma família
decente, mas apesar de seu trabalho ilegal, Sky não desgostava de sua vida
atual. Ganhava muito dinheiro, com isso não precisava se preocupar.
Colocava em risco sua vida em cada tarefa e por isso era bem
recompensada. Mas vez ou outra ela se imaginava em outra vida, outra
realidade, longe de treinos, de armas, de sangue e de perigo iminente. Uma
fantasia que ela tentava não alimentar.
De volta à missão, por mais controverso que parecesse, era para proteção
do alvo. Ela deu uma última olhada na ficha, como se já não tivesse
decorado cada página do arquivo. Rachel Bishopp. Uma garota de 20 anos
que estava correndo perigo e por algum motivo que não lhe foi revelado, ela
era valiosa.
Prós: seria uma missão rápida e limpa. Era como ela planejava. Remover
a garota do ponto A, conduzi-la ao ponto B, mantê-la por um tempo e quando
fosse seguro, levá-la ao ponto C.
Contras: ela foi a pessoa encarregada de ficar responsável pela garota por
uma semana inteira para garantir sua segurança.
Ela havia passado pelo inferno para estar onde estava e bancar a babá não
era realmente o que ela estava almejando para os próximos dias.
- Tudo pronto? - Judy, a nova Sargento, filha de seu ex chefe, chegou na
sala de armas exatamente no momento em que ela terminou de se armar,
preenchendo cada um de seus coldres com uma arma ou faca especial que
provavelmente não precisaria usar. Seria uma missão simples.
Com uma rápida continência apenas por costume, Sky se virou e acenou
com a cabeça.
- Sim, senhora.
- Ótimo. Lembre-se. Extração limpa. Não queremos chamar atenção e nem
assustá-la. E não ceda aos caprichos dessa garota. Ela pode ser... difícil de
lidar.
- Tenho certeza que não terei problemas. - Sky se mantinha de pé, em
postura, segurando as mãos atrás de seu corpo e o queixo erguido.
Apesar de não ter a experiência que ela tinha em campo, Judy estava no
comando agora, substituindo seu pai e usando suas habilidades para
interesse próprio, muito disso devido aos seus privilégios e ao nepotismo,
mas Sky não a invejava. Ela tinha uma vida tão fácil, com marido e filhos,
que se Sky estivesse em seu lugar provavelmente enlouqueceria. Mesmo que
fantasiasse uma vida tranquila, Sky sabia que precisava de toda aquela
adrenalina para manter sua sanidade mental em dia. Era sua terapia.
Por mais que a formalidade estivesse presente, Sky estava relaxada.
Apesar de seu cargo de poder, Judy não a intimidava. Muito provavelmente
isso estava atrelado ao fato delas terem um caso secreto.
- E volte inteira. - Judy completou com meio sorriso e um sussurro
sedutor.
- Isso não será um problema, senhora.
Judy se aproximou dela enquanto seus olhares estavam fixados.
- Sei que não. - Judy agarrou sua camisa e a puxou para um beijo rápido.
Sky não moveu mais que sua cabeça enquanto retribuía o beijo quente. As
mãos se mantiveram atrás de seu corpo e a postura continuou a mesma. Era
isso ou ela se atrasaria caso passeasse suas mãos pelo corpo de Judy, porque
muito provavelmente não conseguiria se conter e teria que arrancar seu
fardamento ali mesmo.
- Os homens encarregados já estão à postos, esperando sua capitã.
Aquele era um cargo fantasioso para sua posição, mas como eles
precisavam de uma hierarquia até para missões ilegais para sempre lembrar
quem estava no comando, Sky acabou aceitando esse fardo.
- Então é melhor eu me apressar.
- Me procure quando retornar.
- Sim, senhora.
***
O trajeto foi longo. Sky e mais dois homens seguiram até o ponto A, onde
ocorreria a extração. Era um hotel barato de beira de estrada pouco
movimentado, o que ajudaria no quesito "não chamar atenção".
Sua primeira - e esperava que única - estratégia seria convencer a garota a
ir com ela usando apenas sua persuasão. E caso não funcionasse, bom, ela
tinha tudo o que precisava para retirá-la dali à força. Só queria acabar logo
com isso.
Usando sua patente falsa, ela passou facilmente pela recepção do hotel e
seguiu para o terceiro andar usando as escadas de ferro, pois não havia
elevador. Quarto 302. Sky deu três batidas na porta e aguardou.
Houve um momento de hesitação, mas ela logo ouviu a voz abafada do
outro lado da porta.
- Quem é?
Sky revirou os olhos. Como ela se apresentaria sem assustá-la?
- Serviço de quarto.
- Um momento!
Houve um momento de silêncio, logo sons de passos apressados como se
ela estivesse correndo de um lado ao outro e foi aí que Sky percebeu o que
estava acontecendo. Ela sacou uma arma e com apenas um chute, pôs a porta
do quarto abaixo. O que viu confirmou sua teoria: Rachel havia fugido pela
janela.
- Droga! - Sky murmurou quando percebeu que ela daria mais trabalho do
que o esperado. - Fiquem à postos! Ela fugiu pela saída de incêndio. Não
saiam do carro para não chamar mais atenção, eu dou conta. - ela falou com
o ponto de contato que estava em seu ouvido enquanto corria escada abaixo.
- Sim, capitã. - ela ouviu os caras responderem.
Sky correu com facilidade e enquanto descia os lances de escada, pôde
ver a garota descendo com dificuldade as escadas de incêndio com seu tênis
all star surrado e uma mochila nas costas.
Obviamente ela chegou primeiro e se direcionou até os fundos do hotel,
onde seria o destino final da garota e se manteve escondida até que ela
estivesse com os pés no chão. Quando Rachel se posicionou no último lance
de escadas para chegar ao chão, Sky viu que ela não teria uma boa
aterrissagem. Estava longe demais do chão e provavelmente quebraria um pé
ou os dois e isso significava mil vezes mais trabalho para ela. Que plano
estúpido.
A garota se pendurou com as duas mãos e pareceu estudar a altura.
- Porra. - Sky murmurou quando percebeu que teria que intervir, então
correu em sua direção.
No momento em que chegou, Rachel soltou suas mãos e Sky foi hábil em
segurá-la e impedir o impacto. A garota gritou e ao perceber que estava
sendo segurada começou a se contorcer para escapar.
- Me solta! - Sky era estapeada e empurrada enquanto tentava conter a
menina raivosa e quando sentiu um par de unhas arranharem seu rosto ao
ponto de queimar, ela percebeu que era a hora de usar suas habilidades para
acabar com aquilo de uma vez por todas antes que chamasse mais atenção.
- Quieta! - Sky tentou fazer silêncio enquanto empurrava a garota contra a
parede mais próxima e segurava suas mãos acima de sua cabeça, a
imobilizando com facilidade.
Mas Rachel não desistia, suas pernas se sacudiam e tentava chutá-la e ela
só parou quando viu uma arma apontada bem na sua cara.
- O que você quer comigo? - Rachel ofegou, mas apesar de ter parado de
se contorcer por causa da ameaça, a olhava com um olhar furioso e
destemido.
- Eu até daria alguma satisfação se você tivesse cooperado, mas adivinha
só? Quem me dá trabalho fica sem respostas. - Sky estava ofegante pelo
esforço, mas falava de forma firme entre os dentes. - Agora, você vem
comigo, quieta e calada. Se não eu te mostro um jeito de te manter assim que
você não vai gostar. Entendeu, Rachel?
- Eu não lembro de ter me apresentado.
- Calada. - Sky bateu o cano do silenciador no rosto dela como um tapinha
de aviso. Duas vezes. - Agora vou te dar mais uma chance. Vou te soltar e
você vai vir comigo bem tranquila, ou eu uso aquele jeito secreto, ok?
A garota hesitou, mas logo concordou com a cabeça rapidamente,
finalmente levando Sky a sério. Que droga de trabalho.
Ela soltou as mãos de Rachel e enquanto guardava sua arma, avisou:
- Não faça nenhuma besteira.
- Ta! - a garota insolente respondeu enquanto massageava seus próprios
pulsos. - Que droga.
- Está tudo bem aqui? - um homem apareceu na esquina, parecendo
preocupado.
Sky entrou em estado de alerta e se colocou na frente da garota, a guiando
para trás de seu corpo com um braço.
- Sim, estamos bem. - Sky respondeu o observando.
- Ela tá tentando me sequestrar!
Puta que pariu, que garota desgraçada! Ela deveria ter levado mais a sério
o conselho de Judy.
O cara se moveu para sacar uma arma e foi aí que Sky percebeu que
aquela não era uma tentativa de ajuda. Ele foi rápido ao sacar e atirar em
direção à Rachel que já havia saído de sua cobertura, mas Sky foi mais
rápida ao empurrar a garota, fazendo ela cair no chão e desviar do tiro.
Um segundo depois, ela estava com sua arma silenciada em punho firme e
acertou o filho da puta no joelho fazendo ele gritar e se contorcer, caindo no
chão e derrubando sua arma.
- Vamos! - Sky gritou enquanto segurava Rachel pelo braço, a erguendo do
chão com toda pressa do mundo.
- Ele tentou me matar?! - Rachel gritou enquanto era arrastada pelo braço.
- É o que parece. - Sky falou num tom firme enquanto corria com ela em
direção ao carro e aproveitava para desmaiar o cara com um chute forte no
rosto e roubar sua arma. - Ele não deve estar sozinho, corre!
E quando estavam há dez metros do carro, mais tiros foram disparados na
direção delas e foi pura sorte elas chegarem ilesas. Muito disso se devia a
um dos caras que estavam com ela que atirava de volta pela janela do
passageiro, lhe dando cobertura. Sky empurrou Rachel para dentro do carro
que a esperava com a porta traseira aberta e pulou para dentro logo em
seguida. O motorista foi ágil ao dar partida cantando pneu e ela fechou a
porta com pressa enquanto ouvia algumas balas ricocheteando contra a
lataria blindada do carro.
- Você está ferida? - Sky perguntou, ofegante.
- Não, eu acho que não. Oh meu Deus. - a garota estava encolhida com as
mãos na cabeça, como se ainda tentasse se proteger dos disparos.
- Você está segura agora.
- Quem é você?!
Sky a ignorou por um momento para focar na missão.
- Podemos estar sendo seguidos, não vá direto para o ponto B, corte
caminho e despiste, entendido?
- Sim, capitã!
O rapaz era um motorista muito hábil, Sky já havia ido para algumas
missões com ele antes, então ficou mais tranquila, principalmente quando
depois de alguns quilômetros notou que eles não estavam sendo seguidos.
Alguns minutos depois os nervos se acalmaram e um silêncio
ensurdecedor tomou o carro e apenas o som do motor rangendo era ouvido.
- Pra onde vocês estão me levando? - Rachel perguntou.
Apesar de estar mais calma, ela estava tentando absorver tudo que estava
acontecendo naquele momento.
- Para um lugar seguro.
- Eu não posso saber onde é?
- Não. - Sky não tirava os olhos da estrada, sempre atenta a qualquer
imprevisto.
- Não! Para o carro.
Sky não deu importância ao que ela falava e se manteve atenta ao trajeto.
- Ei! Tô falando com você! Para o carro! - Rachel gritou.
- Isso não será possível.
- Tá, valeu por salvar minha vida e tal, mas eu nem sei quem é você!
Sky finalmente a fitou com os olhos raivosos.
- Nem eu quem é você, só estou fazendo meu trabalho, então fique quieta e
não torne isso ainda mais complicado.
- Aposto que isso tem a ver com a droga do meu pai.
Mais uma frase para Sky ignorar com sucesso. Não era de sua conta. Ela
fazia seu trabalho sem perguntas. Se nenhuma informação tinha sido passada
para ela, é porque deveria ser assim.
- Vocês vão me matar?
- Você está segura agora. - Sky repetiu voltando sua atenção para a
estrada.
- Segura?! Você está me sequestrando! - a garota continuava, mas Sky
pouco se importava. - Me deixa sair agora! - ela começou a empurrar e dar
chutes no banco do motorista e tentava abrir a porta várias vezes e foi aí que
Sky chegou em seu limite.
Ela a imobilizou, amarrou suas mãos atrás de suas costas com habilidade
enquanto a garota gritava e a xingava sem parar. Então colocou uma faixa em
sua boca, a amarrando e finalmente fazendo ela se calar e pra finalizar
amarrou seus pés.
- Bem melhor.
O olhar que a garota agora imobilizada a enviava era feroz, mas a fez
sorrir. Agora ela era como uma onça enjaulada que só poderia rosnar, mas
não seria libertada.
- E se continuar a se contorcer eu dou um jeito de você ir dormindo até lá.
Rachel finalmente se aquietou. Uma pequena vitória.
Durante o trajeto, o corpo de Rachel foi cedendo ao cansaço e por mais
que tentasse lutar contra o sono chegou o momento em que ela simplesmente
não conseguiu mais. Seu corpo foi deslizando até se deitar e apoiar a cabeça
na perna de Sky.
Ela pensou em afastá-la, mas aquela garota já tinha tido uma noite muito
longa, então merecia ao menos um pouco de descanso. Sky voltou sua
atenção para a estrada e quando finalmente a adrenalina foi saindo de seu
sistema, sentiu seu rosto arder. Unhas afiadas. Ela pensou enquanto voltava a
observar Rachel deitada em seu colo.
Tentando ser discreta, Sky soltou a amarra de sua boca para dar um pouco
mais de conforto para ela dormir.
Algumas horas depois eles finalmente chegaram no ponto B. Era uma
cabana no meio do nada com eletricidade reduzida e janelas cobertas com
madeira, tudo para parecer uma casa abandonada, apesar de estar a
quilômetros de distância de qualquer outra.
- Acorda.
Sky puxou a garota que ainda estava dormindo em seu colo. Ela acordou
ainda tentando entender onde estava e como parecia estar mais calma Sky
liberou seus pés das amarras, de toda forma ela teria que andar.
- Chegamos. - Sky saiu do carro e a puxou para fora.
Mas não soltou suas mãos, não confiava nessa garota nem de longe e a
manteria assim por um tempo até ter a certeza de que ela iria se comportar.
Algumas instruções foram trocadas entre ela e os rapazes antes de se
despedirem e entrarem. Sky ligou uma lanterna e depois de trancar tudo em
cima, guiou Rachel até o andar de baixo que era um porão gigantesco, onde
estavam seus suprimentos e tudo que elas iriam precisar em questão de
conforto e alimentação para os longuíssimos 7 dias que vinham pela frente.
Dois colchões limpos, com travesseiros e lençóis que pareciam
aconchegantes, uma geladeira, um fogão, uma dispensa, um armário e um
banheiro nos fundos. Além do arsenal de armas que estava devidamente
trancado, havia uma mesa e uma poltrona confortável. Apesar de ter tudo o
que precisavam para sobreviver, seriam 7 tediosos dias, Sky pensou.
Ela guiou Rachel até um dos colchões e com facilidade a derrubou
fazendo ela cair sentada ali, ainda com suas mãos presas para trás.
- Não vai me soltar? - Rachel perguntou indignada.
- Se você sequer ousar pensar em fugir ou fazer qualquer besteira, eu vou
te manter presa durante esses sete dias, me entendeu?
- Sete dias? - ela franziu as sobrancelhas. - Vamos ficar aqui por sete
dias? Tá de brincadeira comigo...
- Me entendeu? - Sky perguntou pausadamente.
Quando se viu sem saída, Rachel apenas assentiu com a cabeça. Sky se
agachou e sacou uma pequena faca de um de seus coldres, cortando as
amarras das mãos dela e finalmente a liberando.
- Obrigada.
- Eu vou tomar um banho, não se mova daí. Lembre-se que tem gente atrás
de você pra colocar uma bala nessa sua cabecinha. - Sky deu batidinhas na
têmpora dela e logo se direcionou ao banheiro, obviamente levando as
chaves e suas armas consigo.
Estocolmo - Parte 2

RACHEL
Quando viu a mulher alta e musculosa se distanciar dela, Rachel tentou
organizar sua mente. Ok. Ela estava sob custódia de uma ogra insensível que
tinha salvado sua vida há algumas horas atrás, mas agora a tratava como um
saco de lixo. Quais eram suas outras opções? Tentar escapar e correr por
quilômetros no escuro de uma floresta desconhecida? Fora de cogitação.
Além dos perigos naturais, agora ela sabia que tinha alguém tentando acabar
com sua vida. Quem era? Não fazia a mínima ideia.
Apesar de também não saber quem era sua sequestradora/salvadora. De
alguma forma ela sabia que isso tinha alguma ligação com seu pai que ela
não via há bons dois anos. Mas não entendia qual a motivação disso tudo.
Salvar sua vida? Isso parecia mais uma consequência do que um plano para
ela. Precisava arrancar informações dessa mulher, mas não sabia nem como
começar. Ela não parecia ser nada flexível ou simpática para lhe passar as
informações que precisava, então não seria uma tarefa fácil.
Mas de uma coisa ela sabia: não podia ficar vulnerável. Obviamente
aquela mulher era super treinada como uma soldado ou assassina
profissional e se precisasse enfrentá-la não teria a mínima chance, mas ela
não podia simplesmente ficar de mãos abanando durante todos esses dias.
Ficando de pé, ela deu uma volta no cômodo e viu um armário grande que
estava trancado, provavelmente tinha armas ali dentro, mas ela não teria
como pegá-las. Então teve que pensar em outra estratégia.
Enquanto ouvia o som de água corrente devido ao chuveiro, Rachel se
direcionou ao banheiro e abriu a porta por apenas 5 centímetros. O vapor
vindo do box deixava tudo meio turvo, mas ela pôde ver a mulher de costas.
Os braços fortes estavam apoiados na parede de cerâmica em sua frente
enquanto a água quente da ducha caía diretamente em sua cabeça baixa. Por
algum motivo seus olhos deslizaram para as costas dela, os músculos eram
marcados e nítidos, assim como algumas cicatrizes e uma tatuagem de um
símbolo a qual ela não reconhecia. Aquelas cicatrizes... eram muitas. Rachel
se pegou imaginando como elas haviam parado ali.
Mas logo voltou à realidade e focou em seu objetivo: conseguir algo para
se defender.
Abrindo mais a porta, notou que as roupas e os coldres que ela usava por
todo seu corpo estavam agora em cima de um balcão. Enquanto se
aproximava para pegar uma faca que parecia estar fácil de se alcançar, ela
ouviu o barulho da água cessar e seu coração deu um pulo.
Quando virou seu rosto para a mulher, viu que ela a encarava com o olhar
furioso.
- O que pensa que está fazendo?! Saia!
Frustrada e de mãos vazias, Rachel correu para fora do banheiro e voltou
para seu colchão, com o coração batendo a mil por hora sabendo que
provavelmente agora vinha mais um castigo por sua ousadia. Mas que droga!
Porque ela havia perdido tanto tempo olhando para aquela mulher?
Rachel se encolheu contra a parede e abraçou suas próprias pernas
enquanto esperava ela sair do banheiro e voltar para castigá-la.
Poucos segundos depois, a mulher saiu e se direcionou para ela com
aquele olhar feroz de sempre e passadas largas.
- Não!
Rachel gritou quando ela agarrou uma de suas mãos e colocou uma algema
em seu pulso, a prendendo em um cano de ferro que estava ali próximo ao
colchão.
- Desculpa! - Rachel tentou.
- Cansei de te dar chances, agora vai ser do meu jeito!
E já não estava sendo? Rachel se perguntou.
- Eu prometo que não vou tentar fazer mais nada!
- Isso não vale nada pra mim. Agora cala essa boca antes que eu cale.
Rachel se viu sem saída nesse momento. Sabia que ela não a ouviria
mesmo se ela usasse toda sua habilidade de conversação, o que não seria
nada útil agora, então apenas ficou quieta. Desanimada e sem energia,
aceitou seu terrível destino.
***
Rachel acordou com um estrondo e seu corpo se retesou. Ela viu um par
de botas surradas e um prato de comida em seu campo de visão e quando
olhou para cima, viu a mulher a olhando séria.
- Coma. - ela se afastou.
Rachel sentou com dificuldade e quando tentou alcançar o prato, se
lembrou que estava com uma das mãos algemadas e utilizou apenas a mão
livre para alcançar a comida e se alimentar.
Do outro lado do cômodo, a mulher a encarava enquanto ela comia com o
mesmo olhar de sempre enquanto limpava uma de suas armas.
Quando terminou de comer, arrastou o prato pelo chão, o afastando de si e
a mulher se levantou de prontidão, pegando o objeto e o levando para a
mesa.
Um dia inteiro se passou nesse mesmo clima de desconfiança e olhares
raivosos, mas Rachel se comportou. Ela não tentou fazer nada quando a
mulher a soltou apenas para ela usar o banheiro e logo voltou a prendê-la.
Ela queria que a mulher confiasse nela pelo menos um pouquinho, assim ela
teria alguma chance de conseguir as informações que queria e de pelo menos
ser solta daquela algema.
- Qual o seu nome? - foi a primeira coisa que Rachel falou com sua
sequestradora naquele lugar a não ser pedidos de comida e banheiro.
Como já era de se esperar, ela não respondeu e continuou calada.
- Se vamos passar mais seis dias aqui vamos ter que nos distrair, ou o
tempo não vai passar.
Mais silêncio.
- Mary? Sandra? Victoria? - ela insistiu. - Já sei. Você tem cara de
Barbara.
A mulher finalmente a olhou. Isso só poderia ser um bom sinal, não é?
- Amber? Ou seria Beth?
- Porque não volta a ficar calada?
Rachel bufou de decepção.
- Só estou tentando ocupar nossas mentes para não enlouquecer.
Ela tentou puxar algum tipo de conversa com a mulher, mas ela estava
inflexível. Mais um dia se passou e sua derrota foi ainda maior. A mulher só
se dirigia a ela para dar ordens ou falar coisas básicas como: Coma.
Levante. Rápido. Não. Anda. Calada.
No terceiro dia, ela estava se sentindo estranhamente acostumada com
aquilo. O silêncio, as algemas, as paredes manchadas, o som metálico de
Barbara limpando suas armas. Bom, provavelmente esse não era seu nome
verdadeiro, mas Rachel começou a chamá-la assim em sua mente apenas
para ter um conforto mental.
- Não vai me soltar hoje?
- Não.
- Eu já aprendi a lição, ok? Eu só estava assustada e desesperada...
- Não me importo. Não confio em você.
Rachel bufou mais uma vez e se virou de bruços no colchão, abatida. O
movimento fez com que a roupa que vestia subisse e revelasse metade de sua
bunda. O olhar furioso de Barbara desviou apenas um segundo para o que
tinha sido revelado e desviou.
Foi nesse um segundo que Rachel notou o que já estava escrito na testa de
sua carrasca: ela gostava de mulheres. Além de seu jeito nada feminino
convencional e seus cabelos curtos, Rachel estava estressada demais para
estudá-la, mas agora que havia notado esse pequeno desvio de olhar,
percebeu que poderia usar esse fato como uma forma de seduzi-la e
conseguir o que queria.
Colocando esse novo plano em prática, Rachel se moveu mais um pouco,
o que fez sua pele ficar ainda mais exposta, então agarrou um travesseiro e
fingiu estar dormindo. Mas na penumbra do lugar, ela manteve os olhos bem
baixos, mas abertos, somente ao ponto da mulher não notar que estava sendo
observada de longe. E sua desconfiança foi confirmada: ela voltou seu olhar
para seu corpo e dessa vez - sem perceber que Rachel estava acordada - se
fixou nela por alguns segundos. Rachel sorriu inconscientemente enquanto
ela ficava desconcertada e deslizava uma mão pelo rosto tenso.
Então ela se levantou e fez o que Rachel não esperava: a cobriu com um
edredom, escondendo o que ela deliberadamente havia mostrado para
provocá-la. Droga. Isso seria mais difícil do que ela pensava. Pensativa e
entediada, Rachel acabou dormindo, colocando em sua mente que usaria toda
sua tática de sedução nos próximos dias.
Quarto dia.
Depois de fazer a rotina do dia de tomar banho, comer e voltar a ser
algemada, Rachel decidiu que estava na hora de tentar seduzi-la. Ela não era
muito boa com esse tipo de coisa, mas se esforçaria como nunca antes, era
uma questão de honra.
- Ainda não quer me dizer seu nome? - ela falou num tom calmo quando
Barbara voltou a se sentar na poltrona em sua frente.
- Não.
- Então como vou te agradecer por ter me salvado?
- Não precisa. Só estava fazendo meu trabalho.
- Entendi.
Hoje Rachel havia vestido uma das camisas longas de botão que estavam
no armário e não colocou nada por baixo além de uma calcinha. Se suas
palavras não eram o suficiente para chamar sua atenção, talvez seu corpo
fizesse o trabalho.
- Está calor hoje. - Rachel afastou a coberta de suas pernas e esfregou uma
na outra.
- Está fazendo 10 graus.
- Então deve ser meu corpo que está quente. - ela falou em um tom baixo.
Barbara não respondeu, mas Rachel pôde notar uma pequena contração
em seu rosto. Estava funcionando.
Ela desabotoou dois botões de cima da camisa e afastou um pouco o
tecido, depois tirou seus cabelos longos da frente e se espreguiçou, apenas
para a camisa subir mais um pouco em suas pernas.
- Me responde uma coisa? - Rachel a encarava. - Prometo que não vou
perguntar qual o seu nome de novo.
Ela se deitou de barriga pra cima e dobrou um de seus joelhos, o
mantendo erguido enquanto balançava a perna de um lado para o outro,
abrindo e fechando.
- O que? - Rachel considerou a curiosidade dela como um ponto positivo.
- Depois desses sete dias... alguém vai me matar?
Ela franziu a testa parecendo estranhar a pergunta.
- Não se depender de mim.
Ok, aquilo lhe causou um arrepio.
- Ótimo.
Os olhares se mantiveram fixos um no outro por um momento.
Rachel começou a sentir um calor subir entre suas pernas quando se pegou
imaginando o que a mulher faria com ela caso conseguisse seduzi-la.
Imaginou as mãos firmes passando por seu corpo e levando consigo o tecido
de sua camisa e depois pressionando seus peitos, imaginou aquele olhar
feroz a olhando bem de perto enquanto suas respirações se misturavam,
imaginou aqueles dedos ágeis que limpavam uma arma com precisão tocando
seu íntimo, o que fez ela suspirar inconscientemente.
Espera... ela realmente estava excitada com aquilo? Precisava focar. O
plano era seduzir e não ser seduzida. Sua mente estava tentando sabotar seu
plano e ela não podia permitir isso.
- O que está olhando? - a mulher perguntou com a testa franzida enquanto
mantinha aquela pose de poder, as pernas afastadas, os braços apoiados na
poltrona e a expressão de quem iria matar alguém a qualquer momento.
- Você.
Ela apertou as mãos por um momento nos braços da poltrona e ficou ainda
mais séria, como se isso fosse possível.
- Pare com isso.
- Isso o que? - Rachel perguntou usando toda a sensualidade que tinha em
sua voz enquanto deslizava a ponta de seus dedos na pele de sua coxa
exposta.
- Você sabe.
- Não. Eu não sei.
Vendo que estava causando o efeito que queria nela, Rachel lambeu seus
próprios lábios por uma estranha antecipação e separou um pouco mais suas
pernas.
Os olhos famintos de Barbara desceram por seu corpo e ela sentiu sua
pele pegar fogo e um arrepio percorrer toda sua pele, deixando seus mamilos
rígidos. Ela ignorou toda a reação que seu corpo estava tendo debaixo
daquele olhar e focou em sua pequena missão naquele momento.
Quando percebeu ela engolindo forte, ousou um pouco mais. Seus dedos
passearam devagar até irem em direção a seu sexo e colocando a mão por
baixo do tecido da calcinha, ela se tocou brevemente, apenas deslizando seu
dedo rapidamente em sua fenda que estava estranhamente úmida.
Rachel precisou morder seu próprio lábio para conter um gemido e
quando a mulher se levantou e se aproximou, ela ofegou. Isso. Era isso que
ela queria. E por um momento se esqueceu do porquê de querer aquilo tão
desesperadamente.
Com firmeza, a mulher puxou a mão de Rachel de onde estava e a ergueu
sobre sua cabeça. Enquanto aquele olhar fodido a encarava bem perto,
Rachel sentiu seu centro pulsar e seu quadril rodar involuntariamente quando
um instinto desconhecido tomou conta de seu corpo. Só de imaginar tudo que
ela poderia fazer com seu corpo...
- Pare com isso. - ela falou com a voz firme e profunda.
Rachel se adiantou e passou seus lábios sobre os dela, e pôde sentir sua
boca e sua respiração quente, o que deixou ainda mais complicada a situação
entre suas pernas. Sem perder tempo sua língua a lambeu de forma erótica e
a mulher pareceu estremecer com aquele breve contato.
Então, deixando Rachel completamente ofegante e confusa, ela se afastou.
E foi aí que ela notou que estava presa agora com as duas mãos.
- O que? - ela ofegou olhando para cima e vendo suas duas mãos presas
nas algemas contra o cano.
Ela voltou a olhar para a mulher enquanto estranhamente seu corpo ainda
pegava fogo.
- Porque fez isso?
- Pra você parar de me provocar antes que eu faça algo que eu ou você se
arrependa.
- Por favor... - Rachel não entendeu o motivo de sua súplica.
Parte dela queria que ela soltasse as algemas, mas outra parte só queria
ser saciada e ela não sabia qual das partes estava tomando conta de seu
corpo nesse momento.
- O que você quer?
Ah, essa não era uma pergunta muito complexa? Mas naquele exato
momento, Rachel sabia exatamente o que queria, e não era sair dali.
Rachel olhou para seu próprio corpo como se tentasse entender o que
estava acontecendo ali. A este ponto, seu coração palpitava, mas em um
local diferente, como uma súplica por uma atenção que não podia ter.
- Me responda. - quando voltou a olhar para cima, Rachel a viu desatando
as amarras dos coldres que estavam presos em seu dorso enquanto a
encarava com aquele maldito olhar.
Aquela cena só fez Rachel a desejar ainda mais. Era como se aquela
sensação torturante a deixasse embriagada. Estava fora de si e necessitava
ser tocada, chupada, ou qualquer coisa que ela quisesse fazer naquele
momento. Já não se importava em estar presa ali, contando que suas
necessidades fossem supridas.
- Você sabe o que eu quero.
- Quero que me diga.
- Quero sentir sua boca em mim. - Rachel se pegou respondendo sem
hesitar.
Ela se livrou de suas armas rapidamente e as deixou no chão, ainda
encaixadas no coldre. Enquanto ela descia em sua direção, Rachel sentiu um
frio na barriga de antecipação. O que diabos estava acontecendo com ela por
querer tanto aquilo? Não sabia explicar, e no momento, não se importava.
Quando ela se pôs de joelhos entre suas pernas, a mulher cuidou de abrir
sua camisa branca com apenas uma mão, sem gentileza alguma, fazendo os
botões se descosturarem e saírem pulando. E aqueles malditos olhos...
Estavam acabando com ela. E foi só nesse momento que Rachel notou que
eram azuis. Profundos olhos azuis.
- Tem certeza? Porque se eu começar, não sei se vou ser capaz de parar. -
apesar de provavelmente ser a frase mais longa que ela a ouviu falar nesses
últimos dias, não havia nenhuma simpatia em seu tom, mas não era isso que
Rachel estava procurando, não naquele momento.
- Sim, tenho. - ela tentou ser firme, mas sua voz entregava o quanto ela
estava derretida e entregue.
Cortando seus pensamentos, as mãos firmes afastaram o tecido da camisa
e espalmaram seus peitos pequenos. As mãos dela eram tão grandes que os
cobriu sem dificuldade alguma e quando sentiu leves beliscadas em seus
mamilos, Rachel gemeu.
O prazer que invadiu seu corpo a este ponto era colossal. Fazia sua
respiração ofegar e seu sexo ficar ainda mais molhado para aquela estranha.
Rachel fechou os punhos presos e teve uma falha tentativa de levar suas
mãos até ela quando ela se adiantou e desceu sua cabeça em direção a seus
peitos.
A boca estava quente e molhada, a língua provocando um de seus mamilos
foi ágil e precisa, como se ela já tivesse feito algo desse tipo incontáveis
vezes. Quando ela chupou seu peito, suas costas se arquearam e ela soltou
mais um gemido involuntário enquanto seu corpo respondia aquela
provocação abrindo mais suas pernas, querendo sentir aquela mesma boca
em outras partes de seu corpo. As mãos passeando pelas laterais de seu
corpo com o toque pesado só aumentava mais toda sua vontade.
- Por favor... Me diz seu nome. - Rachel se pegou suplicando entre
respirações e gemidos entrecortados.
Queria gemer para ela, queria gemer seu nome enquanto gozava e o fogo
que estava em seu interior indicava que isso não seria muito difícil de
acontecer.
A mulher a olhou e se separou de seu peito com uma última chupada, o
deixando ali, rígido e úmido. A próxima coisa que sentiu foi a boca quente
dela contra a sua quando ela murmurou:
- Sky.
Rachel ofegou quando seu íntimo se animou com a possibilidade de beijá-
la e quase precisou que ela repetisse, pois a tensão era tanta que a deixou
desconcentrada.
- Me beija, Sky.
Ela quase não deixou Rachel concluir sua frase quando a invadiu com sua
língua. Um beijo quente se formou, a língua de Sky era faminta contra a sua e
sua boca tão exigente quanto foi em seu peito. Rachel não controlou mais um
gemido enquanto o beijo surpreendentemente bem encaixado se desenrolava,
a deixando quase sem fôlego.
Rachel se pegou pensando qual a última vez que tinha sido beijada dessa
forma, com tanto desejo e tanto fogo, talvez nunca. É, definitivamente nunca.
Ela pensou enquanto Sky devorava sua boca e pressionava seu quadril entre
suas pernas, fazendo uma fricção que quase levou Rachel até as estrelas. Seu
corpo era tão grande que praticamente cobria o seu enquanto estava em cima
dela daquela forma, mas ela se mantinha apoiada com uma mão no colchão
apenas para não esmagá-la com seu peso.
Quando Sky se separou de sua boca, ela quase reclamou, mas soube que o
que vinha a seguir seria melhor ainda quando ela se ergueu e se pôs de
joelhos novamente, puxando sua calcinha para baixo com avidez, a tirando
por suas pernas.
A seguinte coisa que Rachel sentiu foi os dedos dela tocarem sua buceta,
deslizando na carne molhada e faminta. Os olhares voltaram a se encontrar e
Rachel se perguntou como era possível alguém se sentir literalmente fodida
com apenas um olhar. Seu quadril se ondulou contra os dedos dela e as
pernas se afastaram ainda mais, lhe dando a visão que ela queria e
oferecendo tudo o que tinha.
Sky a tocou deliciosamente, seus dedos subindo e descendo
acompanhando os movimentos de seu quadril, intercalando entre seu centro e
sua entrada, o que deixava Rachel no limite de sua sanidade mental. Mas ela
não a chupava, não a penetrava, apenas a torturava com seus dedos,
brincando em seu sexo e manteve aquele maldito olhar a devorando.
- Vai me fazer implorar?
- O que você quer? - ela perguntou novamente e Rachel quase lhe xingou.
Maldita.
- Sky... - ela gemeu. - Por favor, não me tortura.
- O que você quer? - ela perguntou mais uma vez, dessa vez pausando
cada palavra enquanto as pontas de seus dedos ameaçavam penetrá-la.
- Quero que me chupe. E me coma. Na ordem que você quiser, eu não me
importo.
Assim que terminou de falar, Rachel sentiu os dedos dela a penetrarem,
arrancando um gemido longo de sua garganta e a fazendo puxar as mãos nas
algemas, ecoando um som metálico de ferro contra metal por todo o cômodo.
Aquilo era uma tortura, não era? Era seu castigo por não ter se comportado.
Rachel não soube quantos dedos haviam entrado nela, mas se sentiu
completamente preenchida. Principalmente quando ela começou a fodê-la.
Ansiando por mais, seu quadril se manteve erguido, afastando sua bunda
do colchão enquanto os dedos dela iam e vinham num ritmo que a deixou
com lágrimas nos olhos, mas não por um motivo triste. Quando seus dedos se
encaixaram de alguma forma dentro dela e começou a se mover
freneticamente em seu interior, Rachel soube que ela estava em seu ponto G.
O gemido que ela soltou foi mais parecido com um grito do que qualquer
outra coisa, ela simplesmente não aguentaria muito mais tempo daquela
terrível e deliciosa tortura. Uma onda avassaladora de prazer se espalhou
por seu corpo, começando em sua buceta que latejava incontrolavelmente
fazendo seu corpo todo se estremecer e levando-a ao delírio.
Quando achou que estava prestes a gozar, com apenas um movimento Sky
tirou seus dedos dela rapidamente. Rachel se surpreendeu quando um jato
molhado saiu de seu interior involuntariamente, provavelmente molhando o
colchão e a calça de Sky.
Ela realmente tinha tido um squirt? Deus... Aquelas mãos eram
fodidamente mágicas, pensou.
Enquanto Rachel ondulava todo seu corpo com as mãos presas acima da
cabeça, Sky a adorou com seu olhar faminto enquanto suas mãos deslizavam
por sua cintura nua. Seu olhar deixava claro que Sky estava tão extasiada
quanto ela naquele momento e isso era a coisa mais sexy que Rachel já viu
em sua vida.
Enquanto seu centro pulsava implorando por atenção, ela a viu descer e
levar seu rosto entre suas pernas. Mais uma vez, Rachel não conseguiu só
esperar e avançou seu quadril levando sua buceta na direção de sua boca.
Quando Sky pegou o que estava sendo oferecido e a chupou, Rachel se sentiu
em outra dimensão.
E como esperava, a língua foi faminta e hábil, os lábios quentes contra sua
carne e o olhar em sua direção. Aquilo era demais. Estava sendo fisicamente
impossível segurar o orgasmo que não demorou muito para chegar.
- Sky... Eu vou gozar. Eu vou gozar! - ela repetiu mais algumas vezes
enquanto sentia o orgasmo cada vez mais próximo causando tremores em
suas pernas abertas.
Rachel gemeu freneticamente, uma mistura de gemidos e palavras que ela
não conseguia decifrar enquanto a onda avassaladora lhe varria. Seu corpo
se contorcia como podia e suas pernas se descontrolavam em algumas
tentativas inconscientes de se fechar enquanto ela gozava naquela boca. Ela
se sentiu encharcada e Sky não se afastou nenhum segundo enquanto ela
gozava.
E aquele com certeza foi o orgasmo mais intenso de toda a sua vida.
Com um último gemido longo e com sua respiração descontrolada, Rachel
retomava os sentidos enquanto sentia seu centro pulsar na língua que agora a
lambia devagar, parecendo se aproveitar daquela sensação em seu toque.
- Oh... Meu Deus... - ela se ouviu falar de forma arrastada enquanto
tentava controlar sua respiração. - Agora... Acho que vamos ter o que fazer
durante esses três dias que ainda faltam, não é?
Aquela foi a primeira vez que Rachel viu seu sorriso, o que a fez derreter.
Mas se lembrou de seu objetivo principal. Ela soube naquele momento,
vendo aquele sorriso malicioso, que conseguiria qualquer coisa dela agora.
Tinha funcionado.
- Pode me soltar agora?
Melhor Amiga

MIA
- Cadê sua amiga? - alguém perguntou entre as conversas que estavam
acontecendo naquela mesa de bar.
Mia revirou os olhos quando respondeu:
- Atrasada, como sempre. Mas disse que está chegando. - ela tomou um
gole de sua cerveja e olhou para o lado.
George estava olhando para ela com um olhar encantado enquanto
segurava sua mão e a acariciava com os dedos. Ela sorriu de volta para ele
apenas para não deixá-lo no vácuo e quando percebeu a maldade que era
pensar assim, soube que teria que colocar um ponto final nisso.
Eles se conheceram há algumas semanas no novo trabalho de Judy e as
coisas foram acontecendo sem ela perceber. Ela não estava apaixonada por
ele nem nada do tipo, mas às vezes isso - o que quer que estivesse rolando
entre eles - era melhor do que estar sozinha. E era isso que a mantinha
naquele "relacionamento" que estava longe de ser oficial ou exclusivo. Não
estava em seus planos subir para esse tipo de patamar com ninguém,
principalmente com ele, mas não podia mentir que era uma boa distração
para sua cabeça.
- Oi, oi, foi mal o atraso. - Cass finalmente chegou, cumprimentando todo
mundo com um sorriso gigante nos lábios. - E aí, cara. - ela cumprimentou
George com pouca simpatia, o que já era de se esperar e abraçou Mia que
permaneceu sentada enquanto recebia um beijo no topo da cabeça.
- Estava aprontando por aí, não é? - Mia deu um tapinha em seu braço e
sorriu.
Quando Cass soltou uma risadinha e a soltou, bebeu toda a cerveja que
ainda restava no copo quase cheio de Mia e se sentou na cadeira vazia do
seu lado.
- Desculpa, tava com sede. Garçom! Mais duas por favor!
Mia sacudiu a cabeça enquanto ria e falou para uma de suas colegas de
trabalho:
- Sim, antes que perguntem, ela é sempre assim. Folgada, hiperativa e está
sempre atrasada pra tudo.
- Não escutem o que essa garota está falando, meninas. - Cass as serviu
quando o garçom trouxe as duas cervejas que havia pedido. - Se eu contasse
o que aconteceu comigo, vocês não iriam acreditar.
- O que? Foi abduzida por um alienígena? - Mia perguntou risonha.
- Como você adivinhou...? Espera, você é um deles?!
Todos da mesa começaram a rir e não foi difícil para Cass se enturmar.
Aquele era para ser um encontro apenas das pessoas que trabalhavam na
mesma empresa que Mia, mas ela não saía sem Cass e todos haviam
concordado que cada pessoa poderia chamar algum amigo. O que foi bom,
pois apenas ela, George e mais três garotas do trabalho tinham comparecido.
- Pensei que você não viria, Cass. - George comentou.
- Pra sua infelicidade, aqui estou eu. - Cass falou descaradamente e ergueu
o copo em sua direção com um sorriso irônico, tomando um grande gole.
George levou aquele comentário ousado como uma brincadeira, mas Mia
sabia muito bem que Cass não tinha simpatia por ele. Desde a segunda vez
que Mia havia ficado com ele e contado para ela o que tinha acontecido - ou
seja, que eles haviam transado -, Cass alimentou um desgosto por George e
sempre que eles se encontravam soltavam faíscas um para o outro.
Cass era uma amiga ciumenta, disso Mia já sabia, mas apesar de não
gostar dele Cass tentou se comportar e a noite se desenrolou muito bem.
Depois de algum tempo, Cass convenceu todo mundo a ir para uma festa
em uma balada que estava acontecendo perto dali.
Era a primeira vez que Cass e George passavam tanto tempo juntos na
mesma noite, mas Mia não precisou apaziguar a situação entre eles, pois
Cass estava ocupada demais com uma de suas colegas de trabalho, Hannah,
que Mia sequer imaginava que tinha interesse em garotas.
Como já era de se esperar, quando chegaram à balada Cass já estava
bêbada e foi aí que Mia quis dar um tempo na bebida. Se Cass passasse dos
limites, ela era a única pessoa que poderia cuidar dela, mas esperava de
verdade que não precisasse chegar a este ponto.
Todo mundo estava animado, inclusive George. Ele parecia estar
querendo marcar território ficando colado à Mia o tempo todo, a beijando,
abraçando, flertando, o que sinceramente estava a sufocando um pouco.
Cass pareceu notar seu incômodo, pois depois de mais um beijo, quando
Mia tentou se afastar dele, ela se aproximou e sem pedir licença a puxou
para dançar.
Mia respirou fundo quando o ar pareceu ter ficado mais leve, apesar da
quantidade de pessoas que havia no local. Embaixo das luzes piscantes
coloridas e da luz negra, Mia e Cass dançaram animadas algumas músicas ao
ponto dela praticamente esquecer que George estava ali.
Em certo momento, Cass enrolou os braços ao seu redor e a tirou do chão,
girando um pouco. Em meio a gargalhadas, Mia deu tapas no ombro de Cass
para ela a soltar e pouco tempo depois ela estava com os pés no chão
novamente.
Ignorando as reclamações divertidas de Mia, Cass riu e beijou seu
pescoço com pequenos beijinhos rápidos e depois seu rosto. Uma troca de
carinhos que não era incomum entre elas, apesar de algumas pessoas já
terem estranhado e comentarem que elas pareciam mais um casal do que
apenas amigas, chegando até a duvidar disso.
- Ele tá te incomodando? - Cass perguntou no ouvido de Mia, tentando
falar alto o suficiente para ela o ouvir por baixo da música alta.
- Ele só está com ciúmes de você. Ele é carinhoso e um pouco pegajoso,
mas hoje ele está exagerando. - Mia riu baixinho quando deu uma olhada de
relance para George, que olhava para elas com um olhar nada agradável,
mas sorriu forçadamente.
- Porquê você ainda tá com esse cara? Ele nem faz seu tipo. - Cass a olhou
com as sobrancelhas franzidas.
- Eu não "tô" com ele. É só que... às vezes é melhor do que ficar sozinha.
- Mas você nunca tá sozinha, eu tô sempre com você.
Mia teve que rir.
- Tô com ele pelo mesmo motivo que você fica com várias garotas por aí,
assim fica mais fácil pra você entender?
- Carência? Ou vício em sexo?
Mia gargalhou mais uma vez e passou a mão na cara dela, como se
reprovasse o que ela tinha falado.
- Cala a boca, garota.
- Mas sério. Se ele tiver te incomodando me diz que eu dou um jeito nesse
babaca.
- Cass! Você precisa parar de implicar com todo mundo que eu me
envolvo.
- Eu tenho ciúmes de você, cara! Não quero te perder pra nenhum
marmanjo.
- Ei... - Mia acariciou seu rosto rapidamente. - Você é minha melhor
amiga, nada nem ninguém vai mudar isso. Eu prometo.
Cass fez um biquinho de desaprovação e abraçou Mia novamente,
deixando o rosto perto de seu pescoço e voltando a dançar, colocando um
ponto final naquela conversa.
- E pega leve com a bebida, não quero ter que te levar pra casa
desmaiada!
Elas riram juntas, com os rostos bem próximos e Cass beijou sua testa.
Mia não era a pessoa que ficava muito à vontade com toque físico em
público, mas era confortável ficar assim com Cass. Sentindo o cheiro do seu
perfume amadeirado e seus toques cuidadosos.
- Não prometo. - Cass falou com uma voz arrastada.
- Eu te mereço. - ela revirou os olhos. - Agora vou me sentar um pouco.
Cass fez um pequeno drama segurando a mão de Mia enquanto ela se
afastava e ela só percebeu que estava com o maior sorriso que tinha quando
se aproximou de George e precisou desmanchá-lo um pouco.
Sem falar nada, ela apenas se aproximou do bar e se sentou em um dos
banquinhos altos. George se aproximou com aquela feição de quem tinha
comido o que não gostou e a olhou fixamente, com o rosto na mesma altura
que o seu.
- Eu não sei se um dia vou me acostumar com isso.
- Com o que? - Mia perguntou intrigada, apesar de saber exatamente do
que ele estava falando.
- Com isso entre você e a Cass.
- Ah, para com isso, sempre fomos assim.
Ele a olhou desconfiada e tomou mais um gole de sua bebida.
- Tem que assumir que é no mínimo estranho esse ciúmes que ela sente de
você. Te puxou como se eu nem estivesse aqui com você. Sem falar nos
comentários sem noção que eu sou obrigado a levar na brincadeira pra não
deixar ninguém desconfortável.
- George. - Mia se endireitou no banquinho, ficando com a melhor postura
que tinha para passar confiança. - Ela é minha melhor amiga, faz muito tempo
que eu não me envolvo com alguém, é normal ela sentir ciúmes. Ela só se
preocupa comigo e não quer que eu me machuque de novo, só isso.
Ele pareceu pensativo por um momento enquanto ainda a olhava.
- Vocês já ficaram?
- O quê? Não! Qual parte do "somos amigas" você não entendeu? Eu
nem... gosto de garotas. - ok, aquilo tinha saído com menos firmeza do que
ela esperava, mas não tentou se explicar muito mais que isso.
- Sei lá, é que o jeito que ela olha pra você...
Mia respirou fundo e fez a única coisa que ela sabia que iria fazer ele
parar de falar sobre aquilo naquele momento: o puxou pela camisa e o
beijou. Mesmo que rapidamente.
- Chega desse assunto, ok?
- Tudo bem. - George pareceu ceder. - Tudo bem, se você falou, eu
acredito. Não vou mais falar sobre isso, não quero te chatear. - Bingo.
- Obrigada.
Ele se encaixou ainda mais nela, entrando entre suas pernas enquanto ela
permanecia sentada no banquinho e buscou sua boca. Como Mia queria
desviar a atenção dele para outra coisa que não fosse aquele ciúmes de
Cass, o beijou de volta.
Sem nem saber o porquê, enquanto beijava George, Mia abriu os olhos e
procurou por Cass. Não foi uma surpresa quando ela a viu olhando para eles.
Cass fez uma imitação de arma com os dedos e fingiu estar estourando os
próprios miolos enquanto fazia uma careta, o que foi até engraçado.
Ela ficou ali com George por um tempo para tentar agradá-lo um pouco
mais depois de todo o desconforto que causou. Sinceramente ela só não
queria mais ouvir aquela teoria absurda que ele criou dela e de Cass, então
quis mantê-lo ocupado.
Em meio a conversas fiadas e a flertes quase sem graça, Mia se pegou
olhando para Cass mais vezes do que esperava, como se a espiasse e ficasse
de olho nela. Em algumas olhadas ela era retribuída, mas em uma delas, Mia
viu Cass beijando Hannah.
E tudo bem, não era como se ela nunca tivesse visto Cass beijando uma
pessoa antes, mas dessa vez um pequeno incômodo se instalou dentro dela.
Um incômodo que ela preferiu ignorar.
Cass parecia estar dando tudo de si naquele beijo. Dava pra ver sua língua
lambendo a de Hannah com vontade enquanto ela segurava sua nuca. Era um
beijo exagerado, mais exagerado do que o normal. Bem diferente dos beijos
que ela trocava com George. Tinha muita luxúria e desejo ali. Talvez ela
estivesse só se exibindo, o que fez Mia quase revirar os olhos.
E durante aquele beijo performático Cass olhou diretamente para Mia,
parecendo sorrir com os olhos de uma forma bem malvada enquanto
mantinha sua boca ocupada na de Hannah. Enquanto devolvia o olhar sem
que George percebesse, pois estava ocupado demais falando alguma coisa
em seu ouvido e beijando seu rosto e pescoço, Mia cerrou os olhos para
Cass, com uma carinha de desaprovação que ela não conseguiu controlar.
E aquela cena ficou pior do que Mia esperava.
Enquanto Cass e Hannah se beijavam, havia outra garota ali perto delas. E
contrariando tudo o que Mia esperava ver, Cass, Hannah e outra garota
desconhecida se beijaram. As três de uma vez. Depois intercalaram entre
uma e outra. Uma confusão que deixou Mia quase aterrorizada.
Ela precisou desviar o olhar e só não saiu daquele lugar porque não
poderia deixar Cass sozinha. Ou com aquelas duas.
Não.
De jeito nenhum.
Ela tentou não olhar mais para Cass porque ver aquela pouca vergonha
estava levando seu bom humor pra bem longe.
Então ela fez o que podia fazer naquele momento para desviar sua atenção
e se distrair enquanto Cass se divertia: ficou com George.
CASS
Apesar de estar se divertindo muito, Cass não conseguia ignorar aquela
cena: Mia e George se beijando. Sua vontade real era de ir lá e arrancar o
filho da puta de perto dela, mas não queria arrumar confusão, não naquela
noite.
Ela precisou respirar fundo quando viu a mão ousada dele passeando pela
coxa de Mia, e só aí se lembrou que estava no meio de um beijo. Com duas
garotas.
Mas Cass logo finalizou aquilo.
- Vou pegar mais bebida. - Cass informou as duas garotas com um sorriso
simpático.
- Vou com você. - Hannah se entrelaçou em seu braço e como Cass não
queria demorar muito para separar Mia e George, foi até o bar com ela.
- E aí! - Cass falou bem alto e bem perto do casal mais sem sal do ano,
querendo atrapalhar o clima. - Vamos tomar uma tequila? - Cass falou com o
sorriso grande mais falso que tinha quando George olhou para ela com pouca
alegria. - Ou você é frouxo demais pra isso? - ela deu a cartada final.
O que ela planejava? Deixar aquele cara tão bêbado que ele não teria nem
a chance de ir pra cama com Mia.
- Vamoooos! - Hannah se animou.
George acabou concordando e eles viraram uma dose. Houve uma segunda
e uma terceira dose para ela e George que entraram em uma pequena
competição de não fazer careta, mas nessas duas últimas Cass havia fingido
que havia tomado e jogado o líquido por trás de seu ombro sem que ninguém
notasse.
- Agora quer uma cerveja? Pra lavar? - Cass perguntou animada.
- Garçom, me traz duas cervejas por favor. - George pediu com aquela voz
de embriaguez que deixou Cass satisfeita.
Quando eles foram servidos, Cass pegou a cerveja que George havia
pedido para ela e se direcionou para Mia.
- Você tá tentando matar ele de tanto beber? - Mia perguntou num tom
baixo.
- O que? Você sabe que eu não faria esse tipo de coisa. - ela respondeu
com ironia, mas Mia a conhecia bem o suficiente para não acreditar em uma
só palavra que ela estava falando, apenas a olhava com aqueles olhos
castanhos cerrados. - Eu não estou obrigando ele a beber. Ele não tem 15
anos. - Cass falou no ouvido dela.
Ela tinha a desculpa da música alta para justificar aquela proximidade,
mas na verdade ela só queria uma desculpa para ficar bem perto de Mia.
Além do bônus de deixar George se mordendo de ciúmes. Isso é, se ele
sequer notasse a partir de agora dado seu estado.
- Estou de olho em você, Cassandra. - Mia falou também perto de seu
ouvido, o que causou um arrepio em Cass.
- Não me chame assim. - ela falou com um sorriso sacana. - Sabe que eu
gosto.
Mia soltou uma risadinha que foi no mínimo torturante, mas logo elas
foram atrapalhadas por Hannah e George, que ainda estavam ali próximos a
elas, quem diria?
- Eu amo essa música! - Hannah falou animada.
- Mais uma dose? - Cass sugeriu com aquela animação de sempre,
querendo colocar seu plano maquiavélico em prática.
George nem hesitou. O bom da masculinidade frágil é que o cara busca
qualquer forma de auto-aprovação, mesmo se isso ferrar com ele. E foi
exatamente o que ele fez, afinal, ele não seria mais fraco na bebida que uma
garota, não é?
Quatro doses mais tarde e George estava completamente bêbado, com
piscadas lentas e tendo que se concentrar para não perder o equilíbrio com
os dois pés no chão.
- Gente, o George não tá bem. Alguém vai ter que levar ele pra casa. -
Hannah falou num tom preocupado.
Cass se aproximou de Mia e usou todas as suas habilidades teatrais para
se fazer de mais bêbada do que realmente estava, colocando o braço sobre
seus ombros.
- Eu acho que essa tequila... Tava estragada. - Cass fez uma cara de
enjoada. - Também não tô muito bem.
- Eu sabia que você ia ficar assim! - Mia deu uma bronca nela, pois
realmente acreditava que ela estava transtornada, então tudo se encaixou
perfeitamente.
Hannah concordou em ajudar George a voltar para casa já que Mia
precisava ajudá-la.
Agora Mia era toda sua.
Bom, ao menos figurativamente.
- Vamos, sua bêbada, você não vai beber mais. - ela tentou pegar a garrafa
de sua mão, mas Cass desviou.
- Não, eu tô bem!
- Aham, está sim, agora me dá aqui essa garrafa.
Ela desviou mais uma vez.
- Mia! Tô falando sério. - ela riu. - Olha pra mim. Acha mesmo que eu tô
muito bêbada? Você me conhece.
Mia a olhou como se a observasse com um olhar desconfiado.
- Então você não está passando mal?
- Não. - mais uma risadinha. - Eu só queria que eles fossem embora. Eu
nem bebi aquelas doses todas, eu joguei tudo fora.
Mia cruzou os braços, contrariando o que Cass esperava que fosse sua
reação.
- Porque você fez isso?
- Você não estava confortável com ele. Então... - ela fez uma reverência
rápida. - De nada.
Mia ficou parada olhando para ela por alguns segundos que deixou Cass
muito confusa, mas logo sacudiu a cabeça de forma negativa e se virou,
andando em direção a saída.
- Mia! - ela chamou entre a música alta e o som da multidão.
Mia a ignorou e continuou seguindo até finalmente estar do lado de fora e
Cass a seguiu o mais rápido que pôde.
Quando o som da música ficou longe e a luz dos postes quase a cegaram,
Cass precisou apressar os passos para alcançá-la.
- Ei! - ela segurou Mia pelo braço, fazendo ela olhá-la. - O que foi?
- Isso não foi certo, Cass. - ela puxou seu braço e se soltou do agarre.
- Mas... Eu...
- Eu quem deveria decidir até quando quero ficar com alguém. Não você!
Você não tem o direito de fazer isso comigo.
- Mia, você claramente não queria ficar com aquele cara! Eu fiz um favor
pra você...
- Você fez um favor pra VOCÊ! Não pra mim.
Cass franziu as sobrancelhas e se calou.
- Não venha me dizer que estava pensando em mim quando decidiu
embebedá-lo. Você estava pensando em você mesma e em seja qual for a sua
motivação. Isso não é justo.
Cass se manteve calada quando soube que isso era verdade. Não pensou
no que Mia queria, só estava pensando nela mesma e no ciúmes que tinha
dela. Isso era inegável.
Vendo a falta de sua resposta, Mia continuou.
- Quando você estava beijando aquelas duas garotas eu não me envolvi!
Não era da minha conta, era coisa sua. Mas fingir que estava bebendo só pra
incentivar alguém a ficar bêbado? Isso é outro nível, Cass. Você manipulou
todo mundo somente pra satisfazer seu ego. Você é egoísta, é isso que você é.
Cass fechou os olhos por um momento quando aquela frase lhe doeu como
uma facada e precisou respirar fundo.
- Tem razão. - ela se pegou falando. - Você tem razão. - Cass finalmente
abriu os olhos novamente e olhou para Mia que estava com os olhos
marejados de lágrimas, mas firmes como duas pedras sobre ela. - Eu não
pensei em você, só nos meus motivos, me desculpe por isso.
Mia respirou fundo e continuou negando com a cabeça.
- Você não é o centro do universo.
- Eu sei... - ela falou num tom baixo, aceitando sua derrota enquanto
encarava o chão.
- Então porque fez isso?! - quando Mia aumentou seu tom, ela voltou a
olhá-la.
Cass não demorou para dar a resposta mais óbvia de todas:
- Porque eu te amo!
Mia congelou e mudou sua feição instantaneamente ao ouvir aquilo.
Não era a primeira vez que Cass falava que a amava, mas Mia soube e
também sentiu que dessa vez ela falava de um sentimento diferente, dava
para ver em seu olhar perplexo. Cass não planejava falar nada daquilo, mas
as palavras já estavam tão ensaiadas em sua mente que simplesmente
escorregaram para fora.
- Desde a primeira vez que eu te vi, Mia, eu me apaixonei por você. - não
tinha mais volta. Cass sabia então decidiu soltar tudo o que guardava por
tanto tempo. - Você foi sempre tão doce comigo, tão adorável, mas logo foi
ficando claro que você não... - ela respirou fundo porque assumir aquilo era
simplesmente doloroso demais. - Você é hétero. E eu tentei deixar isso pra
lá. Respeitei você, moldei o que eu sentia aqui dentro pra construir nossa
amizade, principalmente quando você começou a namorar com aquele
babaca do Josh. Foi torturante ver você passar por um relacionamento de
merda enquanto eu estava ali, disposta a te dar tudo o que nenhum desses
caras poderia te dar. Eu sofri com você, enxuguei suas lágrimas, sempre
estive do seu lado e te apoiei em tudo, porque eu te amo tanto que preferi
passar por essa tortura do que perder você de vez e não ter nem sua amizade.
Mas... Já fazem dois anos que a gente se conhece, Mia, e eu tô cansada. Me
acostumei a ver você se envolvendo com alguns caras depois que terminou
com o Josh, mas por algum motivo que eu não sei qual é, você tava se
envolvendo demais com o George. Ficando só com ele e repetindo a dose
várias vezes. Eu não queria que você namorasse com ele, não por tudo o que
eu sinto por você, mas porque eu sei que você não ia ser feliz com ele, eu sei
que ele não é o cara certo pra você só pela forma que você olha pra ele e
você sabe disso!
Quando terminou de falar, Cass estava ofegante. Seu coração estava há mil
por hora e ela achou que teria uma taquicardia a qualquer momento, se é que
já não estivesse tendo.
Tudo o que ela havia acabado de despejar em cima de Mia era a mais
pura verdade. Ela guardou por tanto tempo essa paixão, esse sentimento, que
estava começando a lhe fazer mal e a afetar aquela amizade. Cass nunca
achou que um dia abriria o jogo para ela e falaria tudo o que sente, mas não
haveria momento melhor que esse para falar. Foi a oportunidade perfeita,
apesar das circunstâncias.
Quando Mia permaneceu calada e com aquela cara de choque total, Cass
se virou e começou a andar sem rumo, mas se deteve no meio do caminho e
fez uma careta de dor quando se voltou para ela.
- E sabe qual a maior merda disso tudo? - ela falou enquanto chamava um
carro por um aplicativo de carona. - É que eu não posso simplesmente me
virar e ir embora como eu queria fazer agora. Tenho que engolir tudo isso e
te deixar em casa porque me preocupo com você. - Cass terminou a bebida
de sua garrafa e jogou o objeto dentro de um lixeiro, tão forte que quebrou.
- É esse o carro? - Mia falou finalmente.
Quando Cass concordou e se direcionou até ao carro e abriu a porta para
ela entrar, Mia parou perto dela.
- Quando a gente chegar no meu apartamento você vai subir comigo, ok?
Cass ficou confusa com aquilo, não sabia o que esperar, mas apenas
concordou com a cabeça e entrou depois dela.
O silêncio durante o trajeto foi ensurdecedor e doloroso, assim como a
distância entre elas. Cass olhava vez ou outra para Mia que olhava fixamente
pela janela do carro, calada e sem reação, como se ainda estivesse
absorvendo tudo o que ela havia falado. Ou como se simplesmente não
quisesse ter ouvido nada daquilo.
Droga. Se ela tivesse o poder de voltar no tempo só uma vez, essa seria a
vez que ela gastaria esse poder. Sem sombra de dúvidas. Nunca deveria ter
aberto a boca pra falar o que realmente sentia por Mia, deveria continuar
engolindo tudo até um dia superá-la, se é que isso fosse possível.
O mesmo clima e silêncio se manteve quando elas chegaram. Enquanto
entravam no edifício. Dentro do elevador até o maldito sétimo andar. E
quando finalmente estavam dentro do apartamento, o cachorro de Mia,
Benny, pulou em cima de Cass com toda a felicidade do mundo.
- Oi, neném! - ela falou com uma voz modificada para causar ainda mais
alegria nele. - Também senti saudades de você. - ela pegou o Shih-tzu
pequeno e peludo no braço e começou a dar carinho e beijos, recebendo
lambidas pelo rosto em resposta. - Quem é a bolinha de pelo mais linda do
mundo? Sim, é você.
- Benny-Benny! Vem cá, filho. - Mia chamou e Benny começou a se
sacudir no braço de Cass para ir para sua mamãe. Cass o soltou e ele correu
desesperado para os braços dela. - Eu e a tia Cass precisamos conversar,
você vai ser um bom garoto, não é?
Ele latiu como se tivesse entendido o que ela havia falado.
- Isso mesmo, meu garotão esperto. - Mia falou com voz de neném
enquanto levava Benny até seu próprio quarto.
Sim, ele tinha um quarto só pra ele. Aquele cachorro era mais mimado que
qualquer criança que Cass já havia visto em sua vida.
- Quer beber alguma coisa? - Mia perguntou quando voltou.
- Uma água.
Mia foi até a cozinha e Cass foi atrás dela, o que era apenas um costume.
Não porque ela estava sendo grudenta ou algo do tipo.
Quando Mia lhe entregou o copo cheio de água gelada, ela se encostou em
um balcão e bebeu o máximo que pôde enquanto Mia a encarava.
- A gente pode só fingir que eu nunca falei nada daquilo pra você, tá? -
Cass falou enquanto encarava o copo em sua mão que agora estava meio
vazio. Assim como seria sua vida se Mia se afastasse dela por causa de tudo
aquilo. - Eu não quero que nada mude. Eu já... Aceitei e está tudo bem. - ela
terminou de beber a água apenas para se ocupar e finalmente olhou para Mia.
- Você sabe porquê eu estava me envolvendo cada vez mais com o
George? - ela perguntou com a voz baixa.
Cass baixou as sobrancelhas ainda mais e negou com a cabeça.
- Porque eu não queria ficar sozinha enquanto você ficava com várias
garotas por aí. - ela continuou naquele mesmo tom baixo. - Era simplesmente
demais pra mim ver você... - ela respirou fundo como se só a ideia de
completar aquela frase fosse muito para ela. - Quando eu vi você com
aquelas duas garotas hoje eu tive vontade de me aproximar e te tirar de lá.
Cass soltou uma risadinha rápida enquanto seu cérebro se acostumava
com a ideia de que talvez, só talvez, Mia sentia a mesma coisa por ela.
- Porquê? - Cass perguntou. - Porquê você queria me tirar de lá?
- Porque eu estava morrendo de ciúmes, Cassandra.
Cass ofegou involuntariamente e sua barriga se encolheu quando Mia se
aproximou dela.
- Porque eu queria estar no lugar delas. Só eu. - Mia completou, deixando
Cass praticamente derretida enquanto se apoiava no balcão em suas costas. -
Eu sempre fui confusa em relação a você, mas... Quando eu ouvi você
falando tudo aquilo... Eu soube.
- Você sabe... Que não tem volta, não é? - Cass olhou diretamente nos
olhos dela. - Que se a gente cruzar essa linha agora tudo vai mudar, de uma
forma ou de outra.
- Você também sabe disso, mas o que você quer fazer?
O coração de Cass estava acelerado e sua respiração estava da mesma
forma. Ver Mia falando daquele jeito era algo que ela imaginava muito, mas
nunca esperava que realmente fosse acontecer.
- Eu quero te beijar. - Cass falou finalmente. - Foda-se tudo, eu quero te
beijar, Mia.
Ela olhou pra sua boca de uma forma que Cass nunca viu antes. Com uma
vontade que ela achava que era inédita.
- Então beija.
Cass não demorou nem um segundo mais para puxá-la pela cintura e levar
sua boca até a dela. O beijo se encaixou instantaneamente, como se já tivesse
acontecido antes. Os braços se entrelaçaram uma na outra e as línguas se
amorteceram com sincronia.
- Você não faz ideia do quanto eu esperei por isso... - Cass ofegou e
sussurrou entre o beijo.
- Eu também... - Mia murmurou antes de voltar a beijá-la.
O beijo foi muito mais delicioso do que Cass imaginou. As carícias e
toques que elas trocavam entre o beijo só deixava tudo ainda mais gostoso.
Por se conhecerem a tanto tempo e terem tanta intimidade, não houve receio
ali. As mãos de Cass passeavam pelo corpo dela sem pudor, a apertando e a
puxando contra seu corpo.
Um momento depois, Cass virou Mia e foi a vez dela ficar encostada no
balcão. Mia ofegou e gemeu baixinho quando ela apertou um de seus peitos
por cima de suas roupas.
Ela parou o beijo por um momento e mordeu o próprio lábio antes de
perguntar:
- E agora? A gente vai transar?
Cass sorriu rapidamente, com seu corpo ainda reagindo a todo aquele fogo
crescente.
- Você quer? - ela se pegou perguntando depois de chupar seus lábios.
- Eu acho que nunca estive tão excitada assim na minha vida, então sim, eu
quero. - quando Mia falou isso, Cass precisou fechar os olhos por um
momento quando um arrepio atravessou seu corpo.
Cass a levantou e usando toda a sua força fez com que ela se sentasse
sobre o balcão com as pernas separadas e se encaixou entre elas. Mia foi
decisiva ao puxar sua blusa e Cass a ajudou, depois fez o mesmo com a dela.
Os lábios de Cass não se saciaram só com a boca dela e logo deslizaram
para o decote. Abrindo espaço para ela saboreá-la, Mia se livrou de seu
sutiã e quando Cass chupou um dos mamilos com vontade, ela gritou. E
enquanto Cass se deliciava, ela soltava gemidos deliciosos e provocativos
enquanto acariciava e arranhava sua nuca.
Ver e ouvir Mia tão excitada assim e por ela era como um sonho
realizado. Um sonho erótico, diga-se de passagem.
Instintivamente, Cass começou a descer ainda mais sua cabeça enquanto
sua boca se deliciava pela pele dela, beijando, chupando, lambendo, criando
um rastro molhado pela barriga e depois pela parte interna da coxa. A
calcinha foi somente afastada para o lado e Cass a separou com sua língua.
O gemido longo que Mia soltou a empolgou ainda mais. Cass deu seu
melhor quando começou a chupá-la enquanto ela estava sentada naquele
balcão. Sua língua deslizava na buceta molhada com suavidade, trabalhando
para deixá-la ainda mais excitada e se mantendo no ponto em que ela gemia
mais alto. Mia puxou seus cabelos e apoiou um de seus pés no balcão, dando
mais espaço para Cass chupá-la com mais liberdade, e foi o que ela fez.
Usando sua língua e seus lábios, Cass a chupou, lambeu e brincou como
pôde, fazendo Mia se contorcer ali e soltar gemidos cada vez mais
descontrolados. Quando a olhou, Cass teve a cena mais linda do mundo. Mia
estava com os cabelos bagunçados, os lábios inchados de tanto se morder e
os olhos baixos enquanto a olhava de volta.
- Você vai... Me matar. - Mia falou entre os gemidos entrecortados e com a
voz fraca.
Por mais que quisesse continuar lhe chupando, Cass sentiu a necessidade
de beijá-la novamente, apenas para ter certeza de que não estava só
sonhando. Ela subiu seu corpo e passou a mão na boca antes de beijá-la.
O beijo foi intenso dessa vez, selvagem e faminto, muito disso por culpa
de Mia que parecia estar em um estado surreal de prazer, graças ao que Cass
tinha acabado de fazer.
Ela não soube como aconteceu, mas um momento depois Mia estava com
os pés no chão e as pernas separadas enquanto ela a masturbava. Os gemidos
eram abafados pelo beijo que não parava nem por um segundo. Quando Cass
a penetrou com um dedo, Mia gritou mais uma vez e a prendeu com uma
perna em sua cintura.
Cass a fodeu com vontade, seu dedo entrando e saindo sem pudor
enquanto a excitação de Mia se espalhava por sua mão e a lubrificava.
- Ai, Cass... - ela gemeu enquanto segurava seu rosto e mantinha suas
bocas bem próximas.
Por um momento Cass se perguntou se tinha a machucado de alguma
forma, mas nenhuma de suas reações indicava isso, então ela não se
preocupou mais. Cass teve uma surpresa boa quando sentiu a mão ágil de
Mia entrar em suas roupas e seus dedos separarem seu sexo, deslizando. O
gemido saiu arrastado por sua garganta e ela não conseguiu mais ficar de
olhos abertos, pelo menos por alguns segundos.
Ela se deliciou naquele toque mútuo, no novo nível de intimidade que elas
estavam criando naquele momento, o prazer intenso no mesmo nível e os
gemidos se misturando enquanto as bocas não se decidiam se respiravam ou
se beijavam.
A este ponto, Cass estava tão excitada que estava quase fora de si. A mão
que não a fodia foi até os cabelos de Mia, pela nuca, e os puxou com
firmeza, fazendo ela erguer a cabeça e expor o pescoço para ela. Sua língua
passeou pela veia dilatada e chupou a pele fina, deixando marcas
avermelhadas que provavelmente seria um tópico de discussão, mas no
momento Cass estava pouco se fodendo para isso.
Ela era sua.
Pelo menos naquele momento.
O orgasmo que atravessou o corpo de Cass foi inesperado, mas ela se
entregou. Gozou nos dedos delicados de Mia enquanto ela lhe tocava com
delicadeza, os gemidos saindo de sua boca sem sua permissão, os olhos se
revirando e se fechando e a testa tão franzida que chegou a doer.
Mas isso não a parou. Quando a onda foi se acalmando e seus sentidos
voltando, Cass voltou a se dedicar em dar prazer a Mia. Pouco se importava
se tinha gozado ou não, o que importava para ela, era dar prazer para aquela
mulher maravilhosa. O prazer que ela merecia receber, nada como o sexo
sem graça que ela devia ter com esses caras que passavam por sua vida.
Depois de um beijo rápido, Cass a virou de costas e Mia estava tão
entregue que só se deixou ser guiada. Quando Cass posicionou um dos
joelhos dela no balcão, Mia se empinou e gemeu de antecipação.
Ela não demorou para tocá-la ali naquela posição, mas não foi rígida.
Enquanto a mão esquerda espalmava um dos peitos, seus dedos foram
delicados ao deslizarem pela carne exposta e aberta, espalhando a excitação
que a cobria por completo e dando atenção ao clítoris inchado e sensível.
Cass colou seu corpo ao dela por trás como pôde e sua boca ficou colada
ao ouvido.
- Você é tão gostosa... - Cass se pegou murmurando para ela com a
respiração ofegante.
Mia sorriu entre os gemidos e levou uma mão para trás, alcançando sua
nuca e a mantendo ali enquanto a acariciava.
- Você... Ah...! - Mia tentou falar, mas perdeu a concentração quando Cass
começou a intercalar os toques com penetrações suaves. - Meu Deus... - ela
falou em forma de gemido.
Mia se contorcia em seus toques e ela deu mais atenção ao clítoris,
brincando seus dedos e dando alguns tapinhas provocativos que arrancavam
gemidos diferentes dela. Cass queria continuar com calma, de verdade, mas
o desejo de fodê-la era maior. Queria entrar nela de novo, queria sentir a
buceta se contraindo em seus dedos, queria ouvi-la gritando enquanto
gozava, e só de imaginar tudo isso, seu corpo pegou fogo.
Os dedos deslizaram até a entrada e dois a penetraram. Mia gemeu alto e
arqueou o corpo para trás. A outra mão de Cass desceu pelo corpo dela
quando saiu de seu peito e começou a tocá-la enquanto a fodia. Agora suas
duas mãos estavam nela, lhe dando prazer, sentindo sua excitação.
Enquanto Mia gemia e rebolava seu quadril para acompanhar os
movimentos, Cass se pegou sussurrando em seu ouvido mesmo sem direito
nenhum:
- Você é toda minha.
Mia gemeu mais alto e jogou a cabeça para trás.
- Sou toda sua... - ela respondeu de forma manhosa enquanto Cass sentia
seus dedos encharcados. - Toda sua...
Cass a fodeu com mais vontade aí. Como se isso confirmasse o que elas
tinham acabado de falar. Dois de seus dedos entrando e saindo por trás dela
enquanto outros dois dedos da outra mão faziam movimentos circulares em
seu clítoris.
Ela sentiu Mia se contraindo descontroladamente em seus dedos quando
começou a gozar. Os gemidos desesperados e altos, o quadril indo e vindo
com alguns espasmos involuntários e as unhas arranhando sua nuca com
força foi um bônus à parte.
Quando ela foi se acalmando, Cass a manteve em seus braços. E quando o
corpo dela foi cedendo ao cansaço pós-orgasmo, ela a tirou da posição
desconfortável e a virou para ela. O abraço formado foi instantâneo e
recíproco, assim como a troca de carícias.
- Isso acabou mesmo de acontecer? - Mia falou com uma voz baixa e um
sorriso em seus lábios avermelhados.
- Espero que sim. - Cass respondeu com um tom divertido, mas também
baixo.
- E agora? - quando ela a olhou, Cass acariciou seu rosto com delicadeza.
- Que tal a gente pensar nisso só amanhã? - ela selou seus lábios. - Hoje
eu só quero você.
Mia pareceu derreter em seus braços e Cass espalhou mais alguns beijos
por seu rosto e seus lábios.
- Combinado. - Mia concordou.
A ida ao banheiro para um banho quente juntas foi natural. Assim como a
ida à cama, onde elas fizeram amor mais uma vez.
Cass tentou não pensar em como seria dali pra frente. Só sabia que não
podia perdê-la.
Nunca.
Mão-De-Obra

Trabalhar. Era só nisso que Quinn precisava focar hoje. Depois de terminar
um relacionamento que ela não estava engatada, ouvir xingamentos e surtos
de sua ex não a deixava com o melhor dos humores. Graças a Deus seu
trabalho era muito braçal e não lhe dava tempo para pensar muito e era um
motivo para ignorar as inúmeras ligações de seu celular, que ela fazia
questão de manter longe.
Quinn trabalhava em uma empresa de "faz-tudo" na qual ela era a única
mulher, mas os rapazes sempre a respeitaram. Muito disso talvez se desse
por seus 1,80 de altura e de sua estrutura física e força, que deixava muitos
marmanjos no chinelo. Principalmente quando eles se juntavam para fazer
pequenas competições saudáveis de força como marinheiros, abdominais ou
levantamentos de peso, que Quinn ganhava a maioria delas.
Hoje um grupo de quatro mãos-de-obra, como eles se chamavam, estavam
fazendo esse serviço em uma casa gigantesca, mas infelizmente estavam
quase terminando o serviço, fazendo apenas os últimos retoques e vistorias.
- Consegui um trabalho em uma outra casa nessa rua. - Raul, um de seus
colegas comentou enquanto pintava os cantos de uma parede. - É coisa
simples. Dá pra ser feito em uma semana ou menos. Apenas revitalizar os
muros de um quintal, mas não vou poder fazer. O chefe me escalou pra o
serviço dos Dubeux, vai ser pesado demais e nos dias de folga eu não vou
conseguir ir. Alguém se interessa? É dinheiro puro, por fora, sem
porcentagem. O chefe não vai nem ficar sabendo.
- Eu não posso, todo tempo livre que estou tendo preciso ficar com a
Maria, ela está prestes a ter bebê. - um deles comentou.
- E eu preciso descansar, tô morto. - um segundo comentou.
- É, eu também. - foi a vez do terceiro.
- Quinn? - Raul perguntou.
Quinn suspirou quando finalizou uma parede e pegou um pedaço de pano
para limpar as mãos.
- Quanto?
- Três mil. Mas você precisa levar o material.
Quinn deu de ombros.
- Tenho de sobra na minha casa. - ela pensou um pouco e decidiu aceitar,
tudo o que ela estava precisando era de mais trabalho e ficar fora de casa o
máximo possível durante esse tempo que Ray, sua ex, estava em surtos. - É,
tô dentro. Posso ir nos dias da minha folga.
- Ótimo. Vou te mandar os detalhes do trabalho e passar seu contato pra
esposa desse cara que fechou o serviço comigo. Ele vai estar viajando a
trabalho e deixou ela cuidando de tudo. Não tem crianças na casa, vai ser um
serviço tranquilo. Mas é pra começar amanhã.
- Ok. Fechado.
No final do dia, quando tinha chegado em casa e se preparava para um
banho, Quinn recebeu uma mensagem de texto de um número desconhecido:
Rua Silvester, n 7687. Amanhã 9h. Att. Miranda Miller.
Ela respondeu com um "ok" e antes de enviar a mensagem precisou
recusar mais uma chamada de Ray, sua ex. Colocando o celular no modo
"não perturbe", Quinn tomou um banho e depois de comer algo, se deitou. O
cansaço mental e físico tomou conta e ela logo adormeceu.
No dia seguinte, ela se levantou cedo. Tomou seu café da manhã
reforçado, se exercitou e depois de separar todo o material que precisaria
para aquele primeiro dia, o colocou em sua caminhonete e partiu para o
serviço. Meia hora foi o tempo que ela levou para chegar ao destino e
depois de pegar umas latas de tinta foi até o portão de entrada da casa
destinada, ela precisaria dar mais algumas viagens para levar todo o
material necessário, mas quanto mais ocupada, melhor, não é mesmo?
Ela tocou a campainha e aguardou.
Quando a porta foi aberta, ela viu a mulher mais linda que seus olhos já
avistaram. Era uma mulher jovem, devia ter algo perto dos trinta anos. Ela
era alta, quase da sua altura e tinha cabelos escuros, cheios e longos, além
dos olhos azuis piscina e uma boca carnuda. Todo o conjunto de feições
parecia ter sido esculpido por um anjo ou algo do tipo, mas Quinn manteve o
profissionalismo, apesar da atração instantânea.
- Pois não? - a mulher falou ao cruzar os braços e foi aí que Quinn notou
um par de seios grandes, mas o contato visual não durou nem um segundo.
Ela não queria ser demitida antes mesmo de começar o trabalho.
- Sra. Miranda? Vim fazer o serviço do quintal. Sou Quinn.
- Por favor, nada de "senhora". Você quem deveria ser o Quinn?
- A Quinn, sim, sou eu. - ela a corrigiu.
- Não era o que eu esperava, mas... Não importa. Pode entrar.
Ela abriu espaço com o corpo, saindo do caminho e apesar de ficar um
pouco desconfortável com esse primeiro contato, Quinn entrou.
- Obrigada.
- Por aqui. - a mulher começou a andar, sem olhá-la, a guiando para o
local do serviço.
Enquanto ela andava, um robe de seda pura voava para trás e revelava
suas pernas torneadas, que Quinn olhou meio que involuntariamente, mas não
manteve o olhar. Não queria ser desrespeitosa.
Elas chegaram em um grande quintal, onde havia uma piscina gigantesca,
algumas cadeiras de sol, mesinhas, uma churrasqueira, plantas bem cuidadas
e etc. Um quintal bem decorado e com tudo que você precisava para relaxar
se sua conta bancária passasse de seis dígitos, coisa que nem de longe era a
realidade dela.
- Bom, creio que você já sabe o que precisa ser feito. Então, se precisar
de algo e se for urgente, estarei lá dentro, basta tocar a campainha. Vou
deixar os portões da entrada e do quintal abertos, fique à vontade. - ela se
virou e saiu de sua vista.
Ok, aquela não era a mulher mais simpática do mundo, o que para Quinn,
tirava metade de sua beleza, ou mais que isso. Mas isso não importava, não é
mesmo?
Ela terminou de descarregar todo o material de sua caminhonete depois de
mais duas viagens e finalmente conseguiu focar no trabalho. Levou umas
boas três horas somente preparando as paredes para receberem retoques de
argamassa e de pintura, coisa que ela só teria como finalizar daqui há alguns
dias, o quintal era maior do que ela esperava. Mas não reclamaria.
Enquanto passava a espátula em uma das paredes, sem delicadeza alguma,
Quinn percebeu que estava próxima a uma das gigantescas janelas que dava
a visão interna da casa. Olhar para dentro não estava em seus planos, mas
ela fez mesmo assim.
A mulher, Miranda, estava apoiada na bancada da cozinha, tomando uma
taça de bebida que ela podia apostar que era vinho, dos mais caros que
houvesse com certeza. Os cotovelos dela estavam apoiados na bancada
baixa, o que a fazia ficar inclinada e com a parte de trás de seu corpo
empinada. A mão que segurava a taça girava o líquido gaseificado de dentro
enquanto ela olhava para o nada. Ela era sexy... Pena que era uma dondoca.
Como se sentisse que estava sendo observada, Miranda a olhou. Apesar
de estar olhando para ela, Quinn não parava de fazer o que estava fazendo
naquela parte da parede, então ela desviou o olhar por apenas um segundo e
voltou a olhá-la, sem saber direito qual olhar estava enviando, mas
provavelmente não era um inocente.
A encarando, Miranda tomou o que restava em sua taça e quando se
endireitou, parou de olhá-la, fechando seu robe e saindo de sua vista.
Quinn riu sozinha e negou com a cabeça sem motivo quando voltou a se
concentrar no trabalho que faria nesse dia.
Quando bateu a meta de seis horas trabalhadas, Quinn juntou seu material
em um canto seguro do quintal e foi até a porta principal da casa, tocando a
campainha. Quando foi atendida, ela foi direta.
- Terminei o serviço por hoje. Deixei o material que ainda vou precisar lá
atrás, depois de amanhã estarei aqui de novo. No mesmo horário?
- Sim.
- Ok. - Quinn assentiu com a cabeça e a olhou por um momento, mas logo
se virou e foi embora.
Por algum motivo, Quinn não tirava aquela mulher da cabeça. O dia e
meio que se passou até que ela estivesse de volta na mansão pareceu uma
eternidade, mas finalmente havia chegado.
Dessa vez, Miranda não falou uma só palavra ao recebê-la além de um
"bom dia" sem graça. Ela já era de casa, não é mesmo? Mas só de vê-la foi
um colírio para os olhos de Quinn, que pelo jeito não tinha um pingo de amor
próprio. Típico.
Hoje Quinn começou a pintar os muros, dando a primeira demão para
depois dar mais duas, o que novamente levaria mais alguns dias, além de
alguns retoques que ela precisaria fazer em partes com infiltração.
Enquanto se dedicava pintando uma das paredes no sol de meio dia, Quinn
bebeu um gole de sua garrafa d'água. Esses seriam dias bem quentes, pelo
que a previsão do tempo avisou. Esperando que Miranda não se importasse,
ela tirou a blusa suada que vestia e ficou vestida com um top nadador, na
tentativa de não desidratar de calor.
Um tempo depois, enquanto Quinn estava sentada em um banquinho
tirando dez minutos de descanso depois de ter comido dois sanduíches que
trouxe de casa, Miranda passou por ela rapidamente, indo em direção à
piscina segurando uma garrafa de vinho e uma taça nas mãos. Ela parou
perto de uma espreguiçadeira e de uma das mesas, onde apoiou o que
segurava e tirou o roupão que vestia.
Novamente Quinn não planejava ficar olhando para ela, mas ficou
hipnotizada enquanto ela abria o nó do tecido em sua barriga e tirava a peça,
expondo uma roupa de banho de uma peça só que decotava bem seus seios
fartos e seu quadril largo. Depois de repousar o roupão na mesinha, ela se
serviu de uma boa quantidade de vinho e se acomodou na espreguiçadeira,
onde se deleitou no sol enquanto bebia de forma elegante e até boçal, com
seus óculos escuros da Gucci, Prada, ou seja lá que diabos de marca fosse
aquela.
Quando Miranda abaixou os óculos escuros pelo nariz e a olhou de forma
curiosa, Quinn se enrijeceu com aquele olhar.
- Não estou te pagando pra você ficar sentada aí olhando pra mim! - a
mulher falou alto o suficiente para que ela a ouvisse, fazendo um movimento
com a mão.
Que filha da puta... Quinn xingou mentalmente enquanto a fitava com raiva,
então se levantou e voltou ao trabalho. Depois de tomar mais um belo gole
d'água, ela voltou a se dedicar pintando uma parte da parede, tentando
ignorar a presença da mulher ali.
Poderia ser impressão sua, mas enquanto estava trabalhando, Quinn podia
jurar que Miranda não desviava o olhar dela. Apesar de seus olhos estarem
bem camuflados naqueles óculos escuros, ela sentia sua nuca queimar com
aquela sensação de estar sendo observada, mas se convenceu de que ela
apenas estava de olho no serviço para verificar se estava sendo bem feito.
Afinal de contas uma mulher como aquela jamais se interessaria por alguém
como ela. Principalmente pelo pequeno detalhe de ela ser outra mulher.
Quinn parou de observá-la durante as horas restantes daquele dia, ao
menos tentou não fazer isso. Seu humor não estava dos melhores quando ela
terminou, então decidiu sequer avisar para Miranda que havia terminado e
foi embora no horário combinado.
Dois dias depois e ela estava de volta, dessa vez sem ânimo algum.
Felizmente Miranda não havia saído para um banho de sol nesse dia, então
elas teriam quase nenhum contato, ou com muita sorte, nenhum.
Algum tempo depois, Quinn ouviu um grito feminino vindo do lado de
dentro da casa. Ela franziu a testa em alerta e sua primeira reação foi ir até
uma das janelas e olhar para dentro. Havia sangue no chão. Pegadas de
sangue.
Não se meta. Quinn repetiu para si mesma mentalmente. Não é da sua
conta. Reforçou quase em voz alta. Enquanto andava com passos apressados
em direção à entrada, continuou tentando se convencer para não fazer nada.
Para deixar para lá. Mas quando menos esperava, ela estava do lado de
dentro, seguindo seus instintos e as pegadas de sangue com uma ansiedade
crescente dentro dela.
As pegadas a guiaram até um cômodo de porta aberta que ela entrou sem
pensar duas vezes, com seu corpo rígido e pronto para o que quer que
encontrasse ali. Ela viu a mulher sentada na beira de uma banheira de
cerâmica branca, enquanto segurava uma pinça ou algo do tipo e com as
mãos trêmulas encarava o pé visivelmente cortado.
- Você está bem? - Quinn perguntou preocupada, se aproximando.
Miranda a olhou com um pouco de desdém e voltou a olhar para seu pé.
- Eu pareço bem? - ela falou com um tom baixo, apesar da grosseria.
- Na verdade não, o que aconteceu?
- Ontem à noite eu deixei cair uma taça no chão e acabei de descobrir que
não fiz um bom trabalho varrendo os destroços porque agora tem um pedaço
de vidro dentro do meu pé! Que eu não consigo tirar!
Quinn se aproximou ainda mais e olhou para o estrago. O pedaço pequeno
de vidro estava camuflado num monte de sangue e ela franziu a testa.
- Deixa eu te ajudar. - ela estendeu a mão, pedindo a pinça.
Depois de uma hesitação, Miranda entregou o objeto e Quinn se agachou,
segurando o pé com cuidado e observando. Ela não era nenhuma expert, mas
já havia se envolvido em inúmeros acidentes de trabalho, de cortes no pé à
pregos atravessando uma mão, não a sua -felizmente-.
- Preciso lavar pra ter uma visão melhor. - ela se esticou e abriu a torneira
da banheira próxima e a ajudou, guiando o pé ensanguentado para baixo da
água fria.
A mulher sibilou e sugou o ar com o contato dolorido.
- Está gelada!
- Isso ajuda a conter o sangramento.
Ela gemeu mais uma vez e ficou quieta, apesar de tensa. Quando teve uma
visão melhor, Quinn a posicionou e tirou com facilidade o pequeno pedaço
de vidro de menos de dois centímetros de sua pele, erguendo e mostrando
para Miranda como se fosse um prêmio de consolação.
- É só isso? - ela perguntou com uma voz fraca, parecendo decepcionada.
- Pequenas coisas podem fazer grandes estragos, acredite. - Quinn jogou o
pedaço de vidro dentro da pia para retirar depois. - Tem um kit de primeiros
socorros por aqui?
- Sim, naquela gaveta. - a mulher apontou, com a expressão mais
indignada do mundo.
Quinn não precisou sair da posição para alcançar a pequena maleta.
Miranda soltava alguns protestos de dor apesar do corte ter sido bem
superficial. E tão focada quanto um cirurgião, Quinn fez um belo serviço ali,
limpando o sangue, estancando o sangramento com gaze e um medicamento e
fechando a pequena ferida com um curativo adesivo.
- Você vai ficar bem. - Quinn falou num tom baixo quando finalizou o
curativo, passando o polegar por cima da fita cor bege como uma carícia
sem motivo algum, então repousou o pé dela no chão novamente.
Elas se entreolharam por um momento, algo que Quinn não soube decifrar.
Quando ela ficou de pé, Miranda desviou seu olhar, parecendo
desconcertada ou descontente, ela não soube decifrar, então suspirou ao
olhar para a bagunça que estava no chão. Manchas de sangue para todo lado,
além das pegadas do lado de fora.
- Pode me ajudar a ir para meu quarto?
- Claro. - Quinn estendeu a mão que ela aceitou de prontidão.
Ela a guiou até o quarto, com Miranda usando seu braço como muleta para
se apoiar a cada passo sofrido que dava. Quando Miranda finalmente se
sentou na cama mais cara que Quinn já esteve perto, ela moveu o pé,
rodando de um lado para o outro como se isso fosse ajudar em algo.
- Posso limpar o sangue do chão, se quiser. - Quinn se ofereceu.
- Não, você não precisa fazer isso.
- Não vai ser nenhum problema. Eu não estou mancando. - ela sorriu
simpaticamente para aliviar o clima tenso, mas não pareceu adiantar muito.
Miranda não dava um sorriso nem esboçava nenhuma reação positiva, mas
dessa vez ela não julgaria.
- Só me dizer onde está o material de limpeza. - Quinn completou.
- No armário embaixo da escada.
Quinn assentiu e fez o que havia se prontificado para ajudar. Limpou o
chão e a banheira da melhor forma que conseguiu, talvez até ficando mais
limpo do que antes de toda aquela bagunça vermelha. Quando finalizou e
guardou tudo o que havia pego, ela voltou para o quarto, batendo na porta
aberta antes de entrar.
Miranda estava deitada na cama, com três ou quatro travesseiros apoiando
suas costas e as pernas longas e esbeltas esticadas na cama enquanto lia um
livro. Porque ela tinha que ser tão linda -e gostosa-?
Ela arranhou a garganta sem motivo e se manteve na entrada da porta,
segurando a maçaneta.
- Está feito. Agora vou voltar para o serviço no quintal, posso te ajudar
com mais alguma coisa?
- Não, estou bem. - ela tentou se ajeitar na cama.
Quinn assentiu com a cabeça e quando se posicionou para sair, ouviu ela
chamando seu nome, o que a desconfigurou um pouco.
- Quinn.
- Sim?
- Obrigada. - Quinn ouviu ela falar e percebeu que foi a palavra menos
grosseira que ouviu Miranda falar desde que se conheceram, o que a fez
sorrir, pelo menos um pequeno sorriso de canto.
- Sem problemas.
Quando saiu da casa, Quinn precisou respirar fundo e por algum motivo o
trabalho não foi mais tão maçante e seu humor havia voltado. As horas que
restaram passaram até mais rápido do que ela esperava, o que foi uma pena.
Mais um dia finalizado e ela mal podia esperar para voltar para a casa de
Miranda mais uma vez. Nem que fosse para olhá-la de longe, o que já
valeria a pena.
Quando finalmente mais um dia de serviço chegou, ela fez questão de
bater na porta para anunciar sua chegada. Mas, por mais que ela tivesse
esperado para esse momento chegar, era o último dia de Quinn naquele
serviço. O que era uma pena.
Quando Miranda abriu, Quinn sorriu, mas não foi retribuída.
- Bom dia. Como está o pé?
- Ainda dói. Mas pelo menos não estou mais mancando. - Miranda falou
com secura. - Precisa de algo hoje?
Ok, foi uma pergunta inesperada.
- Ah... Acho que não... Hoje é o último dia, então só devo estar
finalizando tudo. - merda, ela estava desconcertada. Assim, tão fácil.
- Tudo bem, se precisar de algo sabe onde me encontrar.
Quinn assentiu e queria não ter sentido uma pitada de malícia naquela
frase, mas talvez isso fosse somente fruto de sua imaginação e de sua atração
platônica.
Quando Miranda fechou a porta ela precisou respirar fundo. Duas vezes.
Então começou o último dia de trabalho. Algum tempo depois, como se lesse
seus pensamentos e ouvisse sua barriga roncando, Miranda apareceu no
quintal com um prato de comida bem servido numa pequena bandeja, com
direto a um suco natural e um chocolate de sobremesa.
- Trouxe pra você para agradecer pela gentileza do outro dia. Espero que
esteja com fome. - apesar da gentileza, Miranda não sorria e nem
demonstrava simpatia, como já era de se esperar, mas aquilo foi realmente
uma surpresa agradável.
Quinn agradeceu e aceitou a refeição.
- Se preferir pode comer lá dentro. - Miranda falou sem olhá-la,
observando o trabalho de Quinn com os olhos julgadores e os braços
cruzados.
- Ah, não, obrigada. Prefiro comer aqui. Estou toda suja de tinta. - ela não
queria parecer a gata borralheira comendo na frente de uma madame como
ela, então preferiu continuar do lado de fora.
Quinn apoiou a bandeja em cima de um banquinho e aguardou ela finalizar
os olhares nos muros, enquanto a olhava desconfiada e limpava as mãos com
um pano.
- Último dia, você disse? - Miranda comentou num tom indecifrável.
- Sim. Só vou precisar ficar um pouco mais para finalizar, mas hoje
mesmo estará tudo pronto.
Miranda continuou analisando o local, com um olhar preocupado e uma
feição tensa, mas logo assentiu com a cabeça.
- Bom, vou estar lá dentro se precisar de algo.
- Ok...
Miranda se virou e Quinn a observou ir, dessa vez muito consciente do
que estava fazendo. Os quadris largos se movendo com graciosidade a cada
passada, os cabelos balançando contra o vento da tarde, os pés seguindo
praticamente uma linha reta em seu caminho. Miranda era toda elegância e
classe, tudo o que ela não era, mas isso estranhamente a atraía.
Quando ela sumiu de sua visão, Quinn respirou fundo e percebeu que isso
acontecia toda vez que Miranda se aproximava dela, mas não pensou muito
sobre isso. Era seu último dia naquela casa e Quinn guardou toda aquela
fantasia e atração platônica dentro dela, era apenas coisa de sua cabeça e
permaneceria ali. Então focou toda sua energia para terminar o serviço e
seguir sua vida. Lógico, depois de comer.
Mais tarde, depois da última pincelada, Quinn jogou o pincel em um balde
e olhou para seus braços e mãos sujas de tinta sem motivo algum. Então era
isso. Ela iria embora e nunca mais veria Miranda de novo. Mais uma vez
sem pensar muito, ela apenas se dedicou à limpeza e levou todo o material
restante para a caminhonete. Quando finalmente finalizou tudo, percebeu que
estava anoitecendo.
Pegando sua mochila e a bandeja que Miranda trouxe para ela, agora só
com o prato e o copo vazio, Quinn foi até a porta principal para comunicar a
ela sobre a conclusão do serviço e duas batidas depois, foi atendida.
Ela se desconcentrou um pouco ao vê-la com um robe de seda preta - ela
deveria ter uma coleção dessa coisa - mesmo que fechado na frente de seu
corpo dava uma boa visão do decote e do contorno de seu corpo. Se
contendo, Quinn voltou ao foco.
- O serviço está concluído. Acho que está meio escuro para ver os
detalhes de como ficou, mas você tem meu número para qualquer
eventualidade.
- Certo. Hoje mesmo a transferência será feita.
- Ah, e obrigada pela comida, estava ótima. - Quinn entregou a bandeja
para a mulher.
- Não foi nada. - ela pegou o objeto. - Precisa de mais alguma coisa?
Quinn olhou para as mãos e os braços sujos de tinta e teve a brilhante
ideia de enrolar mais um pouco para ir embora.
- Na verdade, seria ótimo se eu pudesse usar seu banheiro. O externo está
sem a chave e eu realmente preciso dar um jeito nessa bagunça. - sim, o
detalhe da chave era mentira, mas o que ela tinha a perder?
Franzindo a testa, mas sem confrontá-la sobre a pequena mentira, Miranda
abriu espaço para ela entrar.
Bingo.
- Claro.
Quando Quinn passou por ela, sentiu o cheiro doce de seu perfume e
esperava que ela não sentisse o cheiro de seu suor.
Quando ela ouviu o "clique" da porta, se virou mesmo sem ser chamada.
- Vou estar no meu quarto. - Miranda comentou.
O coração de Quinn deu uma acelerada de excitação ao ouvir aquilo, mas
talvez ela estivesse sendo otimista demais por achar que essa frase tinha
sido algum tipo de convite. Ainda processando o que tinha acabado de ouvir,
ela apenas assentiu com a cabeça e continuou se direcionando ao banheiro.
Ela não conseguiu evitar mais uma respiração profunda quando se trancou.
Quinn tirou a roupa suja de tinta e pegou a toalha e a roupa reserva que
estava em sua mochila. Depois de um banho bem tomado e de ter tirado todo
o resíduo de tinta de sua pele, ela se vestiu e passou a mão nos cabelos
molhados enquanto olhava seu reflexo.
Se encarando, ela bagunçou os cabelos curtos e bufou enquanto sua mente
era invadida por fantasias e coisas que jamais aconteceriam entre ela e
Miranda. Principalmente agora que ela não tinha mais nada pra fazer ali.
Droga, sequer fazia algum sentido ela se sentir atraída daquele jeito. Mas ela
era assim, não é? Amava uma dificuldade.
Afastando toda aquela merda da cabeça para não se frustrar se algo não
acontecesse, Quinn guardou suas roupas sujas e sua toalha na mochila e saiu.
Quando se direcionou até o quarto para se despedir de uma vez, notou a
porta entreaberta. Ela deu três batidas suaves na madeira e esperou. Mas não
precisou esperar muito.
Miranda abriu a porta e Quinn quase ofegou ao vê-la tão perto. Ela a
encarava com aquele maldito olhar que a fez esquecer o que diabos ela
estava fazendo ali... Ah, sim, se despedir. O que era uma merda.
- Bom. Eu já vou ind...
- Estive pensando... - Miranda a interrompeu num tom baixo enquanto se
mantinha perto de Quinn, o que a deixou confusa pra caralho, mas não se
afastou.
- Em que? - ela perguntou com a voz rouca quase falha, olhando pra sua
boca.
- Olhei pela janela e não sei se estou satisfeita com a cor dos muros.
Ela a encarava nos olhos e Quinn torcia para que não estivesse
imaginando coisas. Mas quando ela passou uma mão nos cabelos compridos
os jogando para um lado e olhou para sua boca, Quinn soube que isso não
era um engano de sua mente fantasiosa. Não... ela também a queria.
- Seu marido pediu especificamente por essa cor. - ok, o comentário sobre
o marido havia sido proposital, como um aviso: Não brinque comigo,
Miranda. É isso mesmo que você quer? Lembre-se que você é casada. Com
um homem. Era o que ela falaria se tivesse coragem, mas queria ver até onde
isso iria. E sinceramente? Estava pouco se fodendo para o marido dela.
Como já era de se esperar, a feição de Miranda endureceu, ficando mais
tensa.
- Eu me resolvo com meu marido. - por alguma razão doentia de sua
mente, Quinn sorriu. - Azul marinho. Acho que ficaria melhor. De quanto
tempo você precisaria para finalizar essa mudança?
- Dois ou três dias... talvez.
- Hum. - Miranda olhou de novo para sua boca e Quinn retribuiu a olhada,
encarando os lábios cheios. - Faça a mudança. - Miranda começou a falar e
Quinn precisou se concentrar para entender o que ela estava falando, pois
sua mente estava ocupada demais imaginando coisas explícitas. - Sei que vai
mudar o orçamento por causa disso, mas não será um problema.
- Você quem manda. - Quinn falou com um pequeno sorriso sacana em seus
lábios enquanto a encarava.
- Ótimo. - ela continuou a encarando, intercalando os olhares entre seus
olhos e sua boca, o que era um tipo novo de tortura para Quinn.
- Tem mais algo para pedir? - Quinn comentou num tom propositalmente
malicioso.
Miranda hesitou, mas respondeu.
- Não.
Quinn sorriu mais uma vez e também hesitou ao responder.
- Então nos vemos depois de amanhã.
- Ok. - Miranda engoliu a saliva com força depois de falar, o que foi no
mínimo curioso.
A este ponto a vontade de beijá-la era quase insuportável, mas a última
coisa que Quinn queria era levar um tapa na cara e uma demissão, então
preferiu ter certeza antes de avançar o sinal. Ah, não vamos esquecer do
pequeno detalhe do casamento.
- Pode ir. - Miranda comentou num tom baixo, com sua boca entreaberta.
- Você não parece querer que eu vá.
- Não pareço? - a respiração de Miranda estava visivelmente alterada
com toda aquela tensão e proximidade e Quinn se perguntou quanto tempo
mais ela aguentaria essa maldita tentação.
Quinn se aproximou ainda mais, quase colando seus lábios, mas se deteve.
- Não. Você parece querer que eu fique.
- Eu qu...
Quinn não conseguiu mais se segurar e antes mesmo de Miranda finalizar a
sentença, ela a puxou pela cintura e a beijou, trazendo a boca dela para a sua
e a penetrando com sua língua faminta.
Miranda gemeu como se desejasse isso há muito tempo assim como ela e a
beijou de volta, um beijo intenso, com os corpos colados e as respirações se
misturando. Quinn sentiu as mãos dela envolverem sua nuca e a puxarem
mais para perto e quando se deu conta estava a conduzindo para a cama
gigantesca.
Ela não soube onde sua mochila foi parar, mas isso não importava.
Apenas um segundo depois ela havia deitado Miranda em sua cama luxuosa
e se encaixado entre suas pernas, sem parar o beijo quente.
A sensação de ter Miranda embaixo dela, seus corpos roçando e suas
línguas se chocando era simplesmente extasiante. O prazer a este ponto
parecia que iria lhe rasgar ao meio e Miranda não parecia estar diferente.
Ela ondulava seu corpo por baixo dela, como se estivesse sedenta da mesma
forma e soltava pequenos gemidos torturantes.
A boca de Quinn não se contentou em ficar somente naquele beijo, por
mais delicioso que fosse. Ela queria sentir mais dela, mais do sabor de sua
pele, de seu corpo, de seu sexo. Queria explorá-la. Então deslizou o beijo
até o pescoço liso de Miranda, a saboreando da mesma forma que fez com
sua boca. Em resposta ela gemeu mais uma vez e sua respiração ofegante
ficou audível saindo de sua boca.
Quinn não soube quem se adiantou primeiro, ela ou Miranda, mas um
momento depois as mãos abriram o tecido preto e suave do robe que ela
vestia e Quinn guiou a mão - ou foi guiada - até a fenda entre suas pernas. O
tecido fino da calcinha não foi nem de longe um obstáculo, ela o afastou e a
tocou, sentindo seu dedo deslizar pela buceta molhada com facilidade.
As duas gemeram e Quinn salivou ao senti-la daquele jeito. Quando
Miranda se contorceu e abriu ainda mais as pernas, Quinn a fodeu,
rapidamente, agora que a tinha não hesitaria nem um maldito segundo, um
dedo entrando e saindo dela após sua mão encontrar o apoio perfeito ali.
Tudo estava uma bagunça, os lençóis, os travesseiros, as respirações se
misturando, as mãos de Miranda por todos os lugares, os gemidos dela, seu
corpo se contorcendo de prazer e suas pernas que não decidiam se iriam
abrir ou fechar. Uma excitante bagunça.
Quando Quinn se ajoelhou entre suas pernas, cessando todos aqueles
toques por um momento, Miranda a olhou, com a respiração descontrolada, o
rosto corado e a boca avermelhada, então passou a mão na testa como se
tivesse tentando entender de onde vinha tanto prazer. Quinn tirou a calcinha
dela, arrastando o tecido delicado pelas pernas longas e ela afastou os
tecidos do robe ainda mais, expondo seus seios fartos e livres, nus, sem
nenhum sutiã ou algo do tipo por baixo. Era como se ela estivesse vestida
para a ocasião, como se esperasse que isso fosse acontecer, ou como se já
soubesse de fato.
- Você é tão linda. - Quinn se pegou dizendo, por baixo de sua própria
respiração ofegante.
Miranda sorriu de satisfação e Quinn percebeu que era a primeira vez que
ela via aquele sorriso. E era lindo. Alinhando e branco, como se ela tivesse
um plano com o melhor dentista da cidade, o que não era improvável.
- Hm... Sou?
Quinn sorriu e mordeu o próprio lábio.
- Sabe que sim.
Miranda abriu ainda mais o sorriso e Quinn teve o breve pensamento de
que isso combinava com ela. Era realmente uma pena que ela não sorrisse
sempre, talvez ela tivesse que lhe dar mais noites como essa para arrancar
mais sorrisos como aquele...
- Gosto de ouvir. Não ouço sempre.
Então seu marido é um idiota. Quinn pensou, mas não estragaria o clima
falando do cara agora. Quando Miranda gemeu mais uma vez, Quinn
percebeu que estava a penetrando novamente com seus dedos, dessa vez
mais devagar, aproveitando a vista que era o corpo perfeito dela. O pescoço
longo, os peitos empinados pra cima a cada respiração, a barriga se
contraindo, os quadris largos se movendo sedutoramente e o sexo brilhoso
em seus dedos.
Perfeita.
Antes que ela pudesse se aproximar e voltar a beijá-la, Miranda a puxou e
o beijo voltou a acontecer. Dessa vez mais íntimo, com toques mais suaves,
apesar das línguas não estarem nenhum pouco tímidas enquanto se enroscava
uma na outra. Quinn não se lembrava da última vez que tinha recebido um
beijo gostoso assim e com os dedos tão molhados assim.
Com mais um movimento surpresa, Miranda a virou e a deixou deitada na
cama, não um movimento brusco, mas um movimento gracioso, como se ela
fosse uma bailarina. Os dedos continuaram dentro dela e o beijo continuou.
Quando Miranda começou a mover seu quadril, Quinn quase foi às
estrelas. Os movimentos que ela fazia eram firmes e suaves ao mesmo
tempo, o quadril subindo e descendo enquanto ela sentia seus dedos entrarem
e quase saírem dela. A mão livre de Quinn não ficou parada. Ela acariciou a
coxa, a bunda, as costas, com o toque pesado e ansioso, querendo sentir cada
centímetro de sua pele de uma vez.
Miranda gemia de uma forma torturante, seu sexo ficando cada vez mais
molhado e seu corpo dando sinais de que ela estava em êxtase. Quinn se
pegou pensando há quanto tempo ela não era saciada assim, e se dependesse
dela, ela nunca deixaria aquela mulher na vontade.
O beijo foi desfeito, o que foi triste, mas uma coisa ainda melhor veio
quando Miranda se sentou sobre ela e lhe deu a vista incrível de seu corpo
por cima dela, rebolando, sentando, ondulando, com uma sincronia perfeita.
Quinn olhou para onde seus dedos estavam, a pele lisa e recém depilada -
o que lhe deu a confirmação de que tudo isso foi premeditado por ela-, a
carne rosada e molhada fizeram sua boca encher de água.
- Você realmente gosta disso, não é? - Miranda falou com um tom tão
sedutor quanto tudo que ela fazia.
Quinn a olhou com um olhar faminto e feroz, para ela não ter dúvida de
sua resposta.
- Eu amo. - Quinn falou quase sem voz.
Miranda gemeu e rebolou mais uma vez, como uma provocação.
- Dá pra ver no seu olhar.
O corpo de Quinn estava pegando fogo e manter a concentração na
conversa estava ficando cada vez mais difícil, principalmente com a fricção
molhada que estava bem ali na sua mão. Mas devagar, Miranda fez com que
Quinn tirasse seus dedos dela. Quando Quinn franziu as sobrancelhas para
reclamar, percebeu que ela estava guiando sua própria mão até a sua boca, e
querendo sentir o gosto dela, Quinn chupou seus próprios dedos.
- Gosta mesmo? - Miranda perguntou num tom provocativo.
Quinn até sentiu uma pequena raiva de toda aquela provocação, mas esse
era o melhor tipo de tortura. E ela sabia que Miranda era bastante malvada.
Quando retirou os dedos, Quinn respondeu com firmeza:
- Sim, eu quero te chupar.
Miranda não hesitou quando começou a subir seu corpo, andando com os
joelhos e as mãos na cama, subindo em direção à sua boca. Quinn apressou o
caminho, descendo seu corpo até finalmente ficar com o rosto entre suas
pernas. Não houve demora. Sua língua saiu de sua boca e a lambeu,
provando o gosto adocicado dela e a textura suave e quente.
Os gemidos que Miranda começou a soltar não eram mais contidos, eram
altos e longos. E ela sabia o que fazia quando ergueu seu corpo e apoiada
somente com os joelhos começou a se mover, levando o quadril pra frente e
pra trás, dando a Quinn o que ela estava sedenta por receber.
Ela a chupou da melhor forma que podia e queria enquanto segurava suas
coxas, explorando cada centímetro daquela buceta com sua língua e seus
lábios, a saboreando e ao mesmo tempo a devorando. Seus olhos sequer
ousaram piscar enquanto ela olhava Miranda se contorcendo em seu rosto, os
peitos balançando, os cabelos se bagunçando, os olhos fechados e o suor
brotando de sua testa franzida. A boca era um espetáculo à parte, os lábios
abertos e intercalando entre gemidos e mordidas.
Quinn gemeu e se ajeitou para conseguir subir suas mãos e massagear os
peitos cheios e pesados, suas mãos sendo preenchidas e seus polegares
circulando nos mamilos. Nesse momento Miranda começou a se mover
freneticamente, os gemidos indo na mesma velocidade e as pulsações que ela
sentia em sua língua da mesma forma.
Sua língua deslizou e deu atenção ao ponto certo quando ela começou a
gozar, as mãos dela apertando os peitos por cima das mãos de Quinn e a
cabeça sendo jogada para trás. Os espasmos que seu quadril dava, se
contorcendo enquanto gozava, foi a coisa mais gostosa que Quinn já sentiu na
vida.
Quando Miranda foi se acalmando, ela não saiu dali, apenas desceu o
suficiente para se desencaixar da boca de Quinn e olhou para baixo. Quinn
sorriu de satisfação por ter lhe dado um orgasmo daqueles e lambeu seus
próprios lábios ainda com o gosto dela. Para sua sorte, Miranda esboçou um
sorriso e acariciou seus lábios e seu queixo molhado com as pontas dos
dedos.
- Você sabe mesmo usar isso... - Miranda falou num tom baixo e manhoso,
o que foi outra surpresa.
Em resposta, Quinn chupou a ponta do dedo dela e deu um suave beijo na
parte interna de sua coxa.
- E você é uma delícia...
Miranda sorriu mais uma vez e dessa vez saiu da posição e desceu seu
corpo, se sentando em cima de seu quadril. As mãos delas foram ágeis ao
abrir o botão da calça de Quinn e descer o zíper.
- É a sua vez.
Quinn se apoiou com os cotovelos na cama e ficou observando aquilo.
Miranda tirou sua calça e a calcinha shorts que ela usava, descendo seu
corpo gracioso até se deitar na cama e ficar com a boca próxima ao sexo de
Quinn.
Ela sorriu antes de começar, o que foi um prêmio, então começou a chupá-
la devagar. Quinn, que a este ponto estava quase morrendo de tesão, gemeu e
franziu a testa ao sentir o primeiro contato. A boca suave e a língua quente
deslizaram com delicadeza e Quinn não soube se era ou não a primeira vez
que ela fazia isso. Mas cortando todos os seus pensamentos, Miranda
continuou a chupando naquele ritmo tortuosamente lento e ela sentiu que
infelizmente não duraria muito.
A mão de Quinn desceu para o rosto dela e Miranda parou por um
momento somente para chupar seu polegar, o que foi maldade pura, e ela
quando voltou a chupá-la, Quinn segurou seus cabelos com delicadeza,
torcendo para que todo aquele tesão não fizesse ela puxar os fios com força
entre seus dedos.
Quando Miranda a olhou, aqueles olhos lindos brilhando num fogo que ela
jamais imaginaria ver, Quinn gemeu e sentiu seu corpo retesar. A língua de
Miranda saiu de sua boca e começou a brincar ali, ainda devagar,
provocando e a levando ao delírio.
Quinn gozou sem aviso, sem conseguir segurar um só segundo, sentindo
aquela língua suave e ousada brincando daquele jeito. Quando seu corpo
relaxou, ela soltou os cabelos de Miranda de seus dedos e se deitou na cama,
com a respiração ofegante.
O corpo deitando por cima dela e se encaixando em seu quadril foi a
milésima surpresa boa daquela noite. Assim como o beijo suave que recebeu
nos lábios. Quando sua respiração finalmente se acalmou, ela se pegou
trocando carícias delicadas, Miranda deitada em cima dela, com o rosto
escondido em seu pescoço e o peso de seu corpo por cima do seu, mas isso
estava longe de ser um problema.
- Preciso te confessar uma coisa. - Miranda murmurou em seu ouvido, o
que causou um breve arrepio em seu corpo inteiro.
- O quê?
- Quando pedi para meu marido contratar sua empresa, eu não estava
interessada na reforma. Eu queria um amante. Meu marido viaja muito e não
me dá muita atenção... Eu tinha visto o Raul trabalhando em uma casa nessa
rua e me interessei por ele, então fiz meu marido contratá-lo. - Quinn fez uma
caretinha só em pensar que no seu lugar poderia ser seu amigo Raul, é, não
foi uma sensação boa. - Quando ele cancelou e me falou que você viria no
lugar, eu fiquei frustrada, eu não teria tanta sorte de outro homem atraente
vim fazer o serviço. Imagine minha surpresa quando abri a porta e te vi. Eu
não esperava que Quinn fosse uma mulher.
Quinn deu uma risadinha mesmo sem motivo.
- É, meu nome é unissex.
Miranda ergueu o rosto e a olhou, quase a intimidando. Que mulher...
- Geralmente eu não me interessaria por uma pessoa do mesmo sexo. Mas
quando eu vi você trabalhando quando fui tomar sol, sem camisa, os braços e
as costas fortes, as mãos firmes e você me olhando daquele jeito... - ok,
Quinn fez uma nota mental de tentar ser mais discreta com seus olhares. -
Algo despertou em mim. Fiquei nervosa e mandei você voltar a trabalhar e
parar de me olhar. - Miranda voltou a esconder seu rosto na dobra do seu
pescoço e voltou a sussurrar em seu ouvido: - Mas enquanto você fazia seu
trabalho eu não parava de imaginar você me tocando, me beijando, me
olhando daquele jeito... E quando você foi embora eu me toquei pensando
em você.
E fácil assim Quinn ficou excitada de novo. Os olhos se fecharam e o
próprio lábio foi mordido enquanto ela ouvia aquela mulher sedutora falando
aquelas coisas em seu ouvido, suas mãos também não ficaram paradas e
começaram a acariciar aquele corpo por cima do dela.
- Desde a primeira vez que eu te vi eu te achei a mulher mais linda que já
vi na vida. - Quinn começou a falar no mesmo tom. - A atração foi
instantânea pra mim. Eu só nunca imaginei que você me daria alguma
abertura.
Miranda voltou a olhá-la.
- Eu tinha desistido da ideia de um amante então quando me peguei
pensando em você... Foi uma surpresa pra mim.
- Valeu a pena?
- Muito. - Miranda respondeu sem hesitar. - Eu tinha expectativas altas e
você superou.
- Posso dizer o mesmo de você...
- Então não vai ser um problema se eu te manter aqui por mais uns dias,
não é? - Miranda mordeu o lábio inferior.
- Na verdade, vai ser um prazer.
O beijo voltou a acontecer e mais uma transa foi inevitável. Mesmo sem
planejar, Quinn passou a noite inteira com Miranda e quando pensou em ir
embora, ela não deixou. E quem era ela para desobedecê-la?
E aquela com certeza foi a semana mais intensa e feliz da vida de Quinn.
Garota de Programa

A vida não era como ela havia planejado. Nada nunca foi fácil para Anna,
não seria diferente em outro país. Ela havia largado tudo em seu país de
origem para tentar a sorte sozinha na Itália. No começo tudo parecia que
estava dando certo, até o destino lhe dar uma rasteira e ela ser demitida de
seu primeiro trabalho por pura xenofobia. E foi difícil se manter depois
disso.
Em seu agora antigo trabalho, ela conheceu Gaia, uma colega que por um
acaso tinha vindo do mesmo país que ela, mas há mais tempo. As coisas
também nunca foram fáceis para Gaia, que acabou lhe confessando o que
fazia para ganhar um dinheiro extra.
Gaia era acompanhante de luxo. Mas como ela ainda tinha um trabalho,
não precisou optar por nada além disso. Em uma conversa, Gaia havia
apresentado para Anna o site em que ela se inscreveu para fazer esses extras,
não como um convite, mas como uma opção. Opção essa que Anna se viu
incapaz de recusar, dada sua situação atual.
O plano era fazer o mesmo que Gaia, trabalhos de acompanhante, apenas
para levantar dinheiro, pagar as contas e se manter até conseguir outro
emprego. Mas a necessidade falou mais alto. Até que um de seus clientes, um
muito rico, havia oferecido dois mil euros para ir para cama com ela. Seu
primeiro instinto foi negar, mas isso seria três meses de aluguel adiantado,
então no fim ela cedeu à tentação do dinheiro necessário e aceitou a oferta.
E não parou por aí.
Sua clientela foi aumentando e o dinheiro foi aparecendo. No começo não
foi fácil, muitos orgasmos fingidos e pedidos inusitados que ela era obrigada
a fazer, mas com o tempo ela foi se habituando e colocando limites no que
ela fazia e não fazia. Em sua grande maioria, seus clientes eram homens
ricos - pois ela não cobrava barato -, casados e velhos. Qualquer coisa que
não fosse a esposa já era um fetiche para esses caras, então ela não passava
por muita dificuldade, nada além do que ela já estava acostumada.
E assim sua vida foi ficando mais fácil, apesar da forma nada
convencional que ela achou para resolver os problemas financeiros.
Seis meses se passaram e ela já estava totalmente habituada a sua nova
realidade, e sinceramente, não tinha planos de parar. Ela já não se
preocupava com dinheiro nem com achar um emprego que com toda certeza
lhe pagaria dez vezes menos do que ela ganhava. Ela havia se mudado para
um ótimo apartamento com uma linda vista, tinha um carro popular e até
conseguia ajudar sua família financeiramente.
Apesar de não ser seu sonho perfeito concretizado, tudo ia bem. Hoje ela
havia tirado o dia para relaxar sozinha e foi o que ela fez. Colocou sua
depilação em dia, lavou e hidratou os cabelos, fez uma skin care dedicada e
um almoço delicioso. Ela finalizou o dia com uma garrafa de vinho rosé e se
deitou em seu sofá para assistir um filme aleatório de ficção científica.
Uma notificação chegou em seu celular e ela sabia o que isso significava:
trabalho. Mas não se preocupou em responder. Teria tempo para isso
amanhã. Mais uma notificação chegou e ela pegou o celular sem propósito
algum, apenas para olhar o banner e ter certeza de que era apenas mais um
trabalho.
"Está disponível hoje?"
Um cliente corriqueiro havia mandado.
Não, não estou. Hoje eu sou só minha. Anna pensou. Mas antes que ela
pudesse largar o celular, mais uma mensagem chegou, dessa vez de uma
outra pessoa.
"Boa noite. Você atende mulheres?"
Anna franziu a testa e ficou curiosa com aquela segunda mensagem.
Pausando o filme, ela desbloqueou seu celular e foi direto para essa
mensagem. Antes de responder, ela vasculhou o perfil da pessoa e como
todos os outros perfis desse site, não tinha nada que revelasse algo
importante.
Abigail S. Claro que o sobrenome era censurado. Além disso, nenhuma
foto do rosto, o que não era incomum. A biografia era simples e pequena:
Turista de passagem para trabalho.
Profissão: Empresária. Idade: 31 anos. Nacionalidade: Mexicana.
Altura: 1,75m. Cor do cabelo: Castanho. Cor dos olhos: Verde. Fumante:
Não. Blá. Blá. Blá. Mais um monte de informação que não era relevante, mas
o mais importante. Tipo de Perfil: Cliente - Identidade verificada. Era a
única coisa que Anna exigia para seus clientes como uma forma de segurança
para ela.
Voltando para a mensagem, ela leu atentamente mais uma vez.
Ela nunca havia atendido uma mulher antes. Não por falta de interesse,
mas por falta de clientes. Anna nunca foi a pessoa que tem preferência de
gêneros para qualquer coisa, mas nesse universo era muito difícil uma
mulher lhe procurar para um trabalho, mas pelo visto, não era impossível.
"Boa noite. Sim. As informações de valores estão no meu perfil."
"Está disponível hoje? Pago o dobro por hora."
E foi nesse momento que Anna quase engasgou com o vinho e se
endireitou no sofá. O dobro?! Hoje sou só minha uma ova! Anna se levantou
e respondeu rapidamente:
"Sim, estou disponível. Tem algum pedido especial?"
"Nada específico. Apenas seja você mesma. Me informe um endereço
para meu motorista lhe pegar."
Motorista particular e pagando em dobro? Anna torceu para que isso não
fosse bom demais para ser verdade.
"Trabalho com metade do pagamento adiantado e metade no final."
A mensagem seguinte que Anna enviou foi o endereço que ela geralmente
usava para situações como essa, que eram raras. Obviamente não era o
endereço de sua casa.
Mais uma notificação chegou e dessa vez foi o pagamento integral do
trabalho em seu perfil profissional. Em dobro. Animada, Anna transferiu o
dinheiro para sua conta do banco para ter certeza de que nada daria errado e
quando o dinheiro entrou instantaneamente ela correu para o quarto para se
organizar.
"Ele estará no endereço às 21h."
"Ok, estarei esperando."
Largando o celular, Anna abriu a porta de seu guarda roupas e olhou para
a infinidade de roupas. Apenas seja você mesma. O que diabos isso queria
dizer? Anna nunca era ela mesma em seus trabalhos. Nem em suas roupas,
nem em seu jeito, nem em sua atuação sexual, nada. Até mesmo seu nome era
outro. Não seria diferente hoje.
Ela pegou um vestido curto de cetim vinho, uma meia calça preta, um
casaco de pelos falsos preto e um salto alto. Não. Ela não seria ela mesma.
Apesar de que ela nem sabia mais o que seria isso...
Depois de um banho caprichado e de hidratar seu corpo com o hidratante
mais caro que tinha, Anna se vestiu e se maquiou. Ela pegou tudo o que
precisava, o que era seu corpo e sua bolsa e foi até o endereço que havia
indicado para sua cliente, Abigail. Era um hotel há duas quadras de onde ela
morava e ao chegar lá, do outro lado da calçada tinha um carro gigantesco.
Um Cadillac Escalade preto de vidros escuros. Seria esse?
Quando o motorista buzinou e baixou o vidro, Anna permaneceu parada.
Não se aproximaria até ter certeza. O homem que apareceu era um cara de
meia idade, com rugas por todo seu rosto e cabelos grisalhos bem penteados.
E acenou para ela.
Anna atravessou a rua e se aproximou.
- Hola! - o homem falou num tom simpático com sotaque espanhol. - Sou o
motorista da Señorita Abigail. Entre, por favor. - graças a Deus suas notas
foram boas em espanhol na época da escola, Anna pensou.
- Só pra você saber, sempre compartilho minha localização com uma
amiga. - ela mentiu.
- Sí! Você faz muy bien! - ele sorriu. - No se preocupe. Apenas a levarei
até a Señorita Abigail.
Ela não soube dizer o porquê, mas sentiu uma segurança naquele homem
que nunca havia sentido antes. Anna assentiu com a cabeça e entrou no carro.
Ele era ainda mais gigante por dentro e com certeza era o carro mais
confortável do mundo. Todo coberto de couro bege, cheirava bem e tinha
botões para todos os lados.
- Ual. - ela murmurou baixinho enquanto colocava o cinto de segurança.
- Como está aí atrás? Podemos? - o homem falou naquele tom amigável.
- Sim, tudo bem, podemos.
- Vamos adelante! - ele sorriu e começou a dirigir. - Espero que tenha tido
um dia agradável. Me chamo Juan e voy ser su motorista hoje, e claro,
sempre que a Señorita Abigail solicitar.
Anna sorriu sem motivo algum.
- Muito obrigada, Juan. Quanto tempo vamos levar para chegar?
- Não mais que trinta minutos! A Señorita Abigail me pediu para dirigir
com cuidado para levar você.
- Que gentileza.
O simpático Juan não parava de falar por um só segundo e Anna se
esforçou para entender as expressões em espanhol, o que foi bom, pois os
quase trinta minutos que levaram para eles chegarem ao destino passaram
voando. Agora Anna sabia de toda a vida de Juan, um mexicano casado e
apaixonado por sua esposa e três filhos, todos homens e bem educados,
segundo ele. Ele trabalhava há quase vinte anos para a família de Abigail e
agora era seu chofer particular. Mas infelizmente essa foi a única coisa que
ela conseguiu saber de sua cliente misteriosa. Apesar de ser um tagarela,
Juan sempre desviava do assunto quando se tratava de sua chefe, então Anna
não insistiu e se deixou levar pela simpatia do homem.
- Llegamos! - Juan estacionou em frente a um edifício moderno. - Aquí,
pegue esta tarjeta. Como se diz... Ah! Cartão. Você vai passar pela portaria
eletrônica com ele e subir para a cobertura. Com esse mesmo cartão você
abre a porta principal. A Señorita Abigail lo siente mucho pelo atraso, mas
mandou uma mensagem dizendo que chega em pouco tempo, tenho certeza
que ela a compensará por isso!
Anna pegou o cartão que Juan lhe deu e hesitou antes de sair.
- Obrigada pela viagem agradável, Sr. Juan.
- Oh, não! Señor es solo o nosso señor e salvador Jesus Cristo! - ele
exclamou com aquele sotaque carregado. - Por favor, me chame só de Juan.
Ou Mister J, como mis amigos me chamam. - ele gargalhou. - Estou
brincando. Tenha uma noite agradável, señorita. Nos vemos quando yo vier
lhe devolver para seu endereço. Buenas noches! Boa noite!
- Boa noite, Mister J! - Anna riu. - Nos vemos em breve então.
Anna riu e quando saiu teve o breve pensamento de que fazia anos que não
conversava com uma pessoa assim, descontraída e simpática. Aquela
pequena viagem com o Sr. Juan - ops, Mister J - tinha realmente aquecido
seu coração. Ah, se todos os homens fossem gentis e respeitosos como ele...
Provavelmente ela não teria nenhum cliente.
De bom humor, Anna se adiantou para o edifício e entrou. Ela passou pela
portaria sem problemas e logo seguiu para o elevador. Levou um tempo até
que ela chegasse à cobertura e o número de andares passava dos 20. Quando
entrou no apartamento, Anna suspirou. Era uma cobertura gigantesca,
mobiliada com muito bom gosto, com móveis caríssimos e ambientada com
luzes confortáveis, com certeza um trabalho bem feito por algum arquiteto e
designer de interiores.
Anna andou discretamente pela sala de estar e viu um paredão de janelas
de vidro que mostravam uma bela piscina e pela fumaça que pairava sobre a
água calma, era aquecida. Olhando ao redor ela viu uma escada e ficou
tentada para subir, mas esperaria por Abigail.
A cozinha estilo americano moderno ficava no andar de baixo, onde ela
estava, então exploraria por ali. Passando os dedos nos impecáveis balcões
de mármore preto, ela ficou admirando cada detalhe daquele lugar e notou
que tudo estava impecavelmente limpo e organizado. Mais que o normal. O
local todo parecia apenas ser decorativo para compradores de imóveis ou
algo do tipo, o que não era estranho.
Com certeza Abigail não morava ali. Era muito comum seus clientes mais
ricos terem um apartamento apenas para esse tipo de finalidade, mas ela
nunca tinha visto nada assim. Nem de longe. Com certeza só um mês de
aluguel desse lugar pagaria um ano inteiro de seu apartamento. Ou dois.
Seu celular tocou e ela viu uma notificação.
"Chego em dez minutos, me perdoe pelo atraso. Fique à vontade e se
sirva de uma bebida."
A forma que Abigail lhe escrevia, direta, gentil e ao mesmo tempo
mandona era simplesmente encantadora. Ela não via a hora de conhecê-la e
estranhou isso. Ela nunca ficava ansiosa para conhecer nenhum cliente.
Talvez fosse todo esse mistério por trás dela que estava lhe deixando assim.
Mais alta que ela, de cabelos escuros e olhos verdes... Anna se pegou
imaginando como ela seria enquanto tirava seu casaco e ia até o mini bar
para se servir de uma taça de vinho.
Quando estava servida com uma generosa taça, à vontade e sentada em
uma confortável poltrona, Anna ouviu a porta abrindo. Um clique e ela se
colocou de pé para conhecer Abigail.
E quase perdeu o fôlego quando a viu.
Abigail era linda. Tinha cabelos curtos penteados para trás, olhos verdes
claros estonteantes, a pele bronzeada e estava perfeitamente vestida com um
conjunto social de blazer que Anna podia apostar que era tão caro quanto
todos os móveis desse lugar.
Antes que parecesse uma tonta de boca aberta, Anna sorriu e ajeitou os
cabelos. Droga, ela deveria ter se olhado no espelho antes, esperava que
estivesse tudo em ordem com seu cabelo e maquiagem.
- Olá. - Abigail sorriu enquanto tirava o blazer que vestia e o pendurava
em uma arara de metal. - Espero que não tenha ficado entediada me
esperando. - ela tinha um sotaque, mas não era nada tão carregado quanto o
do Sr. Juan.
- Ah, não, esse apartamento é maravilhoso. - do que diabos ela estava
falando?
- Obrigada, eu mesma o projetei para quando eu estiver aqui na Itália. -
ela se aproximou e Anna se sentiu nervosa como uma maldita adolescente. -
Você é ainda mais linda pessoalmente. - Abigail afastou uma mecha de seus
cabelos para trás de seu ombro e Anna ficou hipnotizada a vendo de perto.
Além de tudo ela cheirava tão bem...
- Obrigada. - ela sentiu seu rosto queimar por algum motivo, mas manteve
o olhar fixo no dela. - Você também é... linda.
Abigail apenas sorriu sem mostrar os dentes e olhou para baixo, para seu
corpo. Geralmente Anna era uma mulher confiante, mas dessa vez se pegou
pensando se tinha algo de errado com ela...
- Então essa é sua versão de você mesma? - Abigail perguntou, em
referência ao seu pedido: "Apenas seja você mesma".
Anna olhou para sua própria roupa rapidamente, passando uma mão sobre
seu vestido como se isso fosse resolver todos os problemas do mundo.
- Sim, geralmente. - ela mentiu descaradamente.
Abigail piscou lentamente e voltou a olhá-la nos olhos. Era impressão sua
ou ela estava ainda mais perto? Anna engoliu forte quando ela se afastou sem
falar nada e foi até o minibar, se servindo de alguma bebida.
Ela precisou respirar fundo para se recompor e tomou um belo gole de
vinho para acalmar um pouco mais seus nervos. Anna não se lembrava da
última vez que tinha se sentido assim por alguém. Anos? Décadas? Não
sabia dizer. Mas nunca por um cliente. Nunca, jamais. Até hoje. E fazia
apenas alguns minutos que elas haviam se conhecido.
O que diabos estava acontecendo com ela? Se recomponha. Ela se
ordenou mentalmente.
Quando ouviu um som arranhado e uma música calma meio abafada
tocando, Anna percebeu que Abigail havia ligado um toca discos. Ela se
virou em sua direção e depois de tomar um gole de seu copo, estendeu uma
mão para ela e se aproximou.
Anna tomou um pequeno gole de vinho, que olha só, ainda estava em sua
mão, e também se aproximou, aceitando a mão estendida. Abigail a puxou
com delicadeza e levou seu corpo até o dela, pousando sua mão nos ombros
dela enquanto a guiava em uma dança lenta e sensual, talvez até romântica.
Os rostos ficaram lado a lado, o que as impediam de se olhar, mas aquela
proximidade era intimidade o suficiente para aquele momento.
Anna tentou relaxar enquanto se deixava ser guiada, dando passadas lentas
de um lado para o outro de acordo com Abigail. Ela se pegou fechando os
olhos enquanto sentia o cheiro bom dela bem de perto e o calor do contato
próximo de seus corpos. A mão percorrendo suas costas com delicadeza
causou um arrepio involuntário por todo o seu corpo que Anna esperava que
ela não notasse.
- Qual o seu nome? - Abigail sussurrou sedutoramente em seu ouvido, sem
parar a dança.
Anna abriu os olhos quando se sentiu tentada em dizer seu nome real, mas
não o fez.
- Lily. - Anna respondeu no mesmo tom, esperando que ela não fosse um
detector de mentiras humano.
- Qual o seu nome verdadeiro? - Abigail insistiu.
O coração de Anna deu um pequeno salto e ela precisou morder seu
próprio lábio por algum motivo. Ela jamais disse seu nome verdadeiro para
seus clientes, na verdade ninguém nunca se interessou nisso. Alguns sequer
se lembravam de seu nome fictício.
- Anna. - ela respondeu quase involuntariamente.
Ela não planejava ser sincera, mas seu subconsciente estava lhe pregando
peças.
- Anna... - Abigail sussurrou em seu ouvido, com aquele sotaque mexicano
que deixava a situação toda ainda mais quente. - Belo nome.
Em resposta, Anna apenas suspirou e precisou segurar um gemido
involuntário quando Abigail a pressionou ainda mais contra seu corpo e
passou os lábios quentes na pele de seu pescoço.
- Me diga, Anna... - ela nunca havia gostado tanto de ouvir seu nome como
hoje. - Você me permite te beijar?
A regra era universal: sem beijos para trabalhos. Mas Anna estava
completamente derretida a este ponto e só de imaginar sua boca na dela, um
frio cresceu por sua barriga, tanto que ela precisou encolher.
- Sim... - Deus, como ela queria aquilo.
Quando ela sentiu uma chupada delicada em seu pescoço, o trabalho de
segurar o gemido falhou. Abigail foi deslizando os lábios por sua pele e
pareceu uma eternidade até que ela finalmente chegasse em sua boca. Mas
chegou. E um beijo lento e calmo se iniciou. Apesar da calmaria, Abigail a
explorava com precisão, a cabeça se movendo enquanto sua língua
saboreava a dela e intercalava com algumas chupadas deliciosas nos lábios.
Anna retribuiu aquele beijo da melhor forma que pôde e tentou se lembrar
da última vez que tinha beijado alguém. Um de seus clientes pagou um extra
por isso, mas ela não havia gostado nenhum pouco, apenas fingindo. Mas
dessa vez... Não, não era fingimento. Ela estava entregue. E Abigail não foi
incisiva, não colocou a mão em sua bunda, não a apertou com força, não
mordeu seus lábios sem delicadeza, nada disso, ela teve todo o cuidado do
mundo enquanto se dedicava para dar a Anna o beijo de sua vida. O beijo foi
melhor do que o esperado e terminou mais rápido do que ela desejou, o que
foi uma pena.
Quando seus lábios se afastaram, Anna estava ofegante e seu corpo inteiro
estava pegando fogo. Ela se adiantou um pouco mais, inconscientemente,
para beijá-la novamente, e Abigail sorriu antes de atendê-la. Lhe beijou mais
uma vez, tão deliciosamente quanto a primeira, as línguas se enroscando num
ritmo perfeito e os lábios se encaixando em chupadas sincronizadas. Sim,
com certeza aquele era o beijo de sua vida.
Abigail parou o beijo mais uma vez e a olhou bem de perto, com os lábios
avermelhados e molhados. A este ponto o corpo de Anna estava pegando
fogo e desejando mais, muito mais do que aqueles beijos. Sentindo um calor
crescente entre suas pernas, ela ofegou e falou baixo:
- O que quer fazer agora? - Anna perguntou, ansiosa para o que quer que
seja que viesse a seguir.
- Sente-se.
Quando Anna olhou para baixo, viu que estava próxima a uma poltrona.
Ela sequer notou que havia andado durante o beijo. Obedecendo, ela se
sentou e apertou os braços da poltrona chique com força, sentindo o tecido
aveludado em seus dedos. Seu peito subia e descia de acordo com sua
respiração ofegante enquanto ela via Abigail se ajoelhar na sua frente.
Suas pernas se afastaram automaticamente e ela lambeu os lábios só de
imaginar o que Abigail poderia fazer com aquela boca. Com gentileza
Abigail tirou a taça de suas mãos e a colocou no chão, junto com seu próprio
copo. Ela se endireitou e voltou a ficar em sua frente, de joelhos.
- Posso te chupar?
Nesse momento a intimidade úmida e quente de Anna pulsou, como se
soubesse que estava falando dela.
- Sim. - ela ofegou e quase pediu por favor. Na verdade, ela quase
implorou.
- Levante seu vestido e venha mais pra frente.
Anna obedeceu e fez o que ela pediu. As mãos dela se encaixaram em suas
coxas e ela a abriu ainda mais. A boca quente de Abigail deslizou pela parte
interna de sua coxa, dando beijos suaves e chupadas onde o tecido da meia
calça não cobria, levando ondas de prazer diretamente para seu centro
ansioso.
- Afaste sua calcinha e segure.
Quando Anna fez, Abigail a chupou devagar. O contato quente de sua
língua e seus lábios em seu sexo fizeram Anna gemer alto. E não ficou mais
fácil a partir daí. A língua dela deslizou com habilidade por sua buceta, a
lambendo e provando cada centímetro de sua intimidade, levando Anna a um
patamar de prazer que ela jamais havia sentido antes. Não com alguém lhe
chupando. Os gemidos já não saíam controladamente de sua garganta, suas
pernas se contorciam um pouco e seu centro pulsava naquela língua
deliciosa.
- Me avise quando for gozar, ok? - Abigail murmurou entre as chupadas.
Anna responderia se tivesse algum fôlego, mas ela não deu chance para
ela respirar. As chupadas ficaram mais intensas, apesar de delicadas, e Anna
soube que pela primeira vez não precisaria fingir um orgasmo. Ela gozaria a
qualquer momento. Gozaria de verdade. E estava tão perto...
Quando ela sentiu um dedo a penetrar e depois outro, Anna gritou e se
contorceu ainda mais. Abigail a fodeu devagar enquanto a chupava naquela
poltrona. Seu corpo já havia se derretido ainda mais, seus cabelos deviam
estar uma bagunça e segurar a calcinha para lhe dar espaço estava virando
uma tarefa árdua. Mas ela não se preocupou com nada disso. Estava apenas
aproveitando aquela sensação que era tão rara em sua vida.
Anna sentiu a ponta da língua brincando rapidamente em seu clítoris e
esse foi seu limite. Suas pernas se separaram ainda mais e ela quase
esqueceu de avisar.
- Eu vou gozar... - ela falou sem força entre os gemidos.
Abigail gemeu enquanto a chupava e penetrou seus dedos ainda mais
fundo, levando Anna para um limite desconhecido.
Anna gozou feito louca ali, gemendo alto, tentando manter suas pernas
abertas e sentindo sua intimidade pulsar descontroladamente. Ela havia
perdido os sentidos por um momento e quando tudo foi se acalmando, ela
abriu os olhos e olhou para Abigail.
Ela estava lhe olhando com um olhar devastador, cheio de tesão e até um
pouco de admiração. Um olhar que Anna nunca havia visto em nenhum de
seus clientes nem em nenhum de seus parceiros de relacionamentos - que não
foram muitos -.
Os dedos saíram dela devagar e Anna se sentiu vazia por um momento.
- Venha, vamos lhe deitar até seu fôlego voltar. - Abigail levantou e
estendeu sua mão para ela.
Tentando se recompor, Anna aceitou sua mão e se levantou, dando um
jeito em sua calcinha, seu vestido e seus cabelos que estavam todos fora do
lugar. Com cuidado, Abigail a guiou para o andar de cima e Anna estava
extasiada demais para notar a arquitetura e a mobília do lugar dessa vez.
Quando estava próxima a cama, Anna se sentou, suas pernas realmente
estavam fracas depois de um orgasmo daqueles.
- Quer um pouco de água?
- Não, estou bem. - Anna respirou fundo e se acomodou ainda mais na
cama, se encostando no mar de travesseiros confortáveis.
Abigail se sentou perto de seus pés e começou a tirar seus sapatos
devagar, desatando o fecho de um e tirando o salto de seu pé, repetindo com
o outro. As mãos dela envolveram um pé por cima do tecido da meia calça e
deslizaram com firmeza, como uma massagem relaxante. Deus... O que
estava acontecendo? Tudo isso era uma novidade para ela. Uma atração
surreal, um orgasmo verdadeiro, um cuidado inesperado... Anna estava
extremamente chocada com tudo aquilo, mas estranhamente feliz.
Afinal de contas, quem não gostava de ser bem tratada? E ainda ser paga
por isso. Em dobro.
Hoje deveria mesmo ser seu dia de sorte. Finalmente.
- Vamos tirar isso. - Abigail se ajeitou e se aproximou, o que lhe deu uma
ansiedade gostosa.
Ela começou a tirar a meia calça de suas pernas. Esquerda e direita. E
logo depois voltou para seus pés, os massageando com firmeza e cuidado,
deixando Anna completamente relaxada ali.
Talvez ela tivesse algum fetiche com isso, mas não parecia ser nada fora
do normal. Essa explicação era apenas o cérebro confuso de Anna tentando
achar uma explicação plausível para todo aquele carinho e cuidado
espontâneo, que não acontecia com frequência.
Depois de se dedicar naquela massagem, Abigail se levantou e foi até um
dos armários do quarto.
- Tire sua roupa, por favor. - ela falou baixo por cima de seu ombro.
Enquanto ela estava de costas mexendo no armário, Anna fez o que lhe foi
pedido com prazer. Tirou o vestido, o sutiã e a calcinha, ficando
completamente nua na cama gigantesca e confortável. Pronta para dar a
Abigail o que ela quisesse. E estava ansiosa por isso.
- Agora vire de costas, fique de quatro pra mim.
Com seu sexo completamente ansioso novamente, Anna obedeceu. Ela
pegou alguns travesseiros para lhe acomodar e quando se posicionou como
foi pedido, esperou. Fechando os olhos, ela mordeu seus próprios lábios
quando sentiu o prazer se empoçar em seu sexo, que não via a hora de senti-
la novamente.
Seu coração acelerou quando ela sentiu o peso de Abigail no colchão se
aproximando dela que estava ali, submissa, exposta e pronta para recebê-la.
- Vou foder você, ok?
Anna gemeu em concordância e contorceu os pés de antecipação. Que tipo
de pergunta era aquela? Ela pensou. Apesar de se tratar de mais um trabalho,
se ela tivesse uma escolha nesse momento, estava claro o que ela escolheria.
Escolheria ser fodida por Abigail. Com força. Ou devagar. O que ela
quisesse.
As mãos suaves acariciando sua bunda afastaram seus pensamentos
confusos e Abigail abriu espaço. Ela sentiu algo encostar na entrada de seu
sexo e soube exatamente do que se tratava. Ela estava usando um strap-on.
Anna se preparou para o impacto, mas não aconteceu. Abigail foi gentil ao
penetrá-la devagar, o que não foi uma surpresa por tudo o que ela tinha visto
e experimentado até agora. Um gemido manhoso e longo se arrastou de sua
garganta enquanto ela se sentia sendo preenchida e ela se deliciou naqueles
movimentos lentos de vai e vem que ela fazia, enquanto se acostumava com o
tamanho em seu interior.
- Está doendo? - Abigail perguntou num tom baixo e rouco.
- Não... - Anna respondeu entre um gemido e outro. - Não está. Está
gostoso...
Em resposta, Abigail a penetrou completamente e ela quase gritou de
prazer. Ou tinha gritado? Já não tinha tanta noção de suas reações nesse
momento. Ela ouviu a respiração ofegante de Abigail e isso lhe deixou com
ainda mais tesão.
Ela a fodeu naquele ritmo torturante, devagar, mas profundo, indo e vindo,
deixando suas pernas fracas e trêmulas a cada penetrada. Anna teve um
breve pensamento de que não queria que isso acabasse tão cedo. E mais uma
vez se pegou comparando a todos os seus clientes homens, ninguém nunca foi
tão gentil assim, principalmente a fodendo naquela posição.
O ritmo foi aumentando. Cada estocada fazia o corpo de Anna se sacudir e
um gemido sair de sua boca. As mãos a mantendo no lugar e a acariciando
era um bônus que a deixava ainda mais excitada. Os olhos continuaram
fechados enquanto ela aproveitava aquela deliciosa sensação e ela sentiu
que estava próxima a mais um orgasmo.
- Vem aqui... - Abigail falou, a tirando daquele transe.
Ela a puxou com cuidado, fazendo seu corpo se erguer e ficar de joelhos
junto com ela. O encaixe continuou no lugar, assim como os movimentos,
dessa vez mais lento enquanto as mãos suaves de Abigail exploravam a parte
da frente de seu corpo, deslizando por seus peitos e os massageando, dando
a atenção que ela queria e precisava nos mamilos.
A respiração dela perto de seu ouvido era uma tortura diferente. Anna
começou a gemer freneticamente enquanto acompanhava os movimentos que
Abigail fazia, seu quadril indo a seu encontro e fazendo ela a penetrar ainda
mais forte e mais fundo. E nesse momento ela quase gozou novamente.
Abigail pareceu ter notado isso, pois a próxima coisa que ela falou em seu
ouvido foi:
- Me avise...
- Estou tão perto... Oh meu Deus... - Anna estava fora de si nesse
momento.
Quando uma das mãos de Abigail desceram para seu sexo e brincaram em
seu clítoris com suavidade, ela viu estrelas. Literalmente. Seus sentidos a
enganaram e ela já não podia enxergar com clareza de tanto prazer que
estava sentindo naquele momento.
Anna jogou sua cabeça para trás e a apoiou no ombro de Abigail enquanto
se segurava nela como podia. Com aquele cuidado de sempre ela levou a
mão de seu peito até sua garganta, mas não apertou. Apenas acariciou com o
toque pesado e soltou uma respiração quente em seu ouvido.
- Goze pra mim... - ela ouviu Abigail a torturar com a boca colada em seu
ouvido, com aquele sotaque e aquele tom que a deixava à beira da loucura.
Anna sentiu sua buceta se contrair várias vezes quando começou a gozar
pela segunda vez da noite.
- Hm... Eu tô gozando! - ela gemeu.
- Isso... - Abigail continuou lhe torturando com aqueles toques enquanto
ela se entregava completamente ao orgasmo intenso.
Como se isso fosse possível, o segundo orgasmo foi ainda mais intenso
que o primeiro. Seu corpo todo se retesava e contraía, assim como seu sexo,
e quando as ondas passaram, seu corpo cedeu. Se não fosse pelos braços de
Abigail a segurando, ela teria caído na cama como um saco de batatas. Ela a
ajudou a se deitar na cama com cuidado e Anna se acomodou de forma
confortável.
Ela viu Abigail retirando a cinta e a deixando no canto da cama antes de
se deitar ao seu lado.
- Você quer que eu faça alguma coisa...
- Não. - ela a interrompeu.
- Mas... Você precisa...
- Não se preocupe comigo. Fiz o que eu queria ter feito com você. - ela foi
interrompida mais uma vez. - Apenas descanse.
Abigail acariciou uma mecha de seus cabelos e Anna se pegou
observando ela detalhadamente. Ela era ainda mais bonita de perto. Os
cabelos antes bem penteados agora estavam meio bagunçados e algumas
mechas caiam em sua testa, a pele apesar de suada era perfeita e os olhos
brilhando num verde ainda mais aceso que antes, como se isso fosse
possível. Mas o que a intrigava de verdade era seu jeito. Esse mistério que
pairava em sua cabeça e que agora só ficou ainda mais confuso. Ela havia
pagado o dobro para sequer gozar também? Isso não fazia sentido...
- Posso te tocar se você quiser. - Anna tentou, num tom baixo.
- Já disse, não se preocupe comigo. Eu também gozei.
Anna franziu a testa.
- Eu não percebi.
- Não tinha como você perceber na posição que estava.
Anna se pegou sorrindo timidamente. O que não era normal. Então parou
de insistir. Ela não soube quem iniciou, mas um beijo aconteceu naquele
momento. Abigail parecia se deliciar em seus lábios com carinho, apesar da
malícia com a língua. Deus... Que beijo bom ela tinha.
Após algum tempo, o interfone tocou e Anna descobriu depois que era
uma entrega de uma comida deliciosa que elas aproveitaram bastante.
Depois de satisfeitas, Anna foi para um banho que Abigail recusou
participar, mas ela não levaria para o coração.
Enquanto ela se deliciava na água quente, ouviu batidas suaves na porta e
fechou o registro do chuveiro.
- Pode entrar!
A porta foi aberta, mas Abigail não entrou, apenas a olhou de onde estava.
Ela estava toda vestida novamente, o que fez Anna franzir a testa.
- Eu preciso ir.
E aquele foi o único ponto baixo daquela noite.
- Precisa? - Anna perguntou com desânimo.
- Sí. Mas não tenha pressa. Fique até amanhecer e descanse, quando você
acordar o Juan virá te buscar. Deixei o número dele anotado na mesinha de
cabeceira. Você precisa de alguma coisa?
Sem respondê-la, Anna abriu a porta de vidro do box que deslizou com
facilidade para o lado e saiu do enquadrado de mármore branco. Pegando
uma toalha, ela se enrolou e foi na direção dela.
- Você precisa mesmo ir? Posso ficar mais tempo... Você pagou o dobro,
pode ter me ter em dobro. - ela ofereceria isso mesmo se esse não fosse o
caso.
- Eu realmente preciso ir. - Abigail se endireitou quando percebeu sua
proximidade. - Mas não se preocupe com o pagamento. Eu fiquei satisfeita
com você.
- Ficou?
- Sí. Se cuide.
Anna ficou o mais perto possível e olhou para sua boca. E contrariando
todos os seus votos pessoais e profissionais, ela a beijou mais uma vez
porque era simplesmente difícil demais ficar longe de seus lábios.
Felizmente Abigail retribuiu o beijo e com a mão em sua nuca molhada pelo
banho, a beijou deliciosamente.
Mais uma vez o beijo não decepcionou. Ela queria beijá-la até amanhecer,
queria que ela a chupasse de novo e a fodesse até o sol raiar, mas tudo o que
era bom realmente durava pouco, não é? Assim como esse beijo.
Quando Abigail se afastou, ela suspirou e guardou cada toque de seus
lábios em suas lembranças, para o caso de não vê-la novamente. E a
possibilidade disso acontecer deixou um vazio dentro dela que ela não
conseguia explicar.
- Gracias, Anna, tenha uma boa noite. - Abigail falou bem perto de sua
boca com aquele bendito sotaque carregado e a voz rouca.
- Você também. - ela sorriu quando notou que não queria se despedir.
Anna soube nesse momento que passaria mais uma noite com ela sem
pensar duas vezes e nem aceitaria o pagamento. Ela não estava fazendo por
obrigação, a este ponto já não era mais o dinheiro que importava. Ela abriria
mão de tudo isso para ter mais uma noite com aquela mulher... Ou duas. Ou
várias. O que ia contra tudo o que ela estava acostumada.
Quando Abigail se foi, Anna não se apressou para ir embora. Ela aceitou
o convite e ficou mais tempo naquele lugar maravilhoso. Mesmo depois de
ter tomado banho, ela foi para a piscina aquecida e mergulhou nua na água
quente, desejando que Abigail ainda estivesse ali com ela. Talvez isso
estivesse passando dos limites, mas ela nunca tinha sentido algo assim antes
por nenhum cliente, muito menos por uma mulher.
E mais tarde, deitada nos lençóis ainda bagunçados e com o cheiro de
Abigail nos travesseiros, ela adormeceu.
Pela manhã, quando acordou, ela pegou o envelope que Abigail havia
deixado na mesinha de cabeceira da cama e tirou de dentro um pedaço de
papel com o número do Sr. Juan e cinco notas de 100 euros como gorjeta.
Anna ficou até um pouco ofendida com aquilo, como se ela precisasse de
mais dinheiro além do dobro que ela havia pagado, mas aceitaria de bom
grado.
Quando finalmente estava pronta para ir, ela combinou com Sr. Juan e
alguns minutos depois o prestativo senhor havia chegado para buscá-la.
Quando ela entrou mais uma vez naquele carro, teve a sensação de que não
queria ir embora.
- Olá, señorita! - ele a cumprimentou animado. - Espero que tenha tido
uma noite agradável, sí?
Anna respirou fundo. Uma das melhores noites da minha vida. Ela queria
dizer, mas isso seria detalhes demais para um senhor de idade.
- Sim, Mister J. - ele deu uma risadinha ao ouvi-la. - Tive uma noite muito
agradável.
- Bueno! Podemos?
- Sim, podemos ir.
O carro começou a se mover.
- A Señorita Abigail me pediu para passar em um mercado e comprar
umas coisas para você tomar café da manhã, sí? Está no porta malas.
Anna a odiou um pouco por ser tão prestativa. Com mais uma suspirada,
ela se sentiu realmente frustrada por ter que ir embora e não vê-la
novamente, mas teria que esperar seu contato para que ela pudesse contratá-
la de novo. Ela jamais passaria para a linha pessoal se não tivesse abertura
para isso.
- Ela é casada? - Anna se pegou perguntando para o simpático motorista.
- Oh. - o homem pareceu espantado com a pergunta. - Não, não casada.
Bom, isso era um ponto positivo. Como se contar pontos fosse ajudá-la
com alguma coisa.
- Señorita, se me permite fazer um comentário. Puedo? - a expressão dele
mudou completamente, ela conseguia ver pelo retrovisor enquanto ele se
concentrava no caminho.
- Claro. - ela confirmou, curiosa.
- Não vá por esse caminho. A Señorita Abigail não está para eso. Se
enamorar por ela não vai ser bom para você. Comprendes? Entendes?
Anna franziu a testa. Ela não estava apaixonada, de jeito nenhum, mas
aquilo a deixou curiosa.
- Como assim?
- Ela é uma mujer muy ocupada. Trabalha viajando pelo mundo inteiro e
em todos os lugares que passa ela contrata una chica... como você.
Comprendes? Aqui en Itália ela tinha outra chica contratada, mas se cansou
dela e encontrou você. Não se enamore.
De uma forma estranha aquilo tinha ferido o ego de Anna de muitas
formas. Então uma hora ela iria cansar dela, descartá-la e encontrar outra
garota para os trabalhos. E era assim em todos os lugares do mundo que ela
viajava. Quando seu peito ardeu de ciúmes, decepção e mais algum
sentimento que ela não conseguiu descrever, Anna concordou com Sr. Juan e
ficou calada durante o trajeto. E como se soubesse o que ela estava sentindo,
o simpático senhor se calou também.
Quando finalmente chegaram no destino, dessa vez Anna deu o endereço
de sua casa, ela pegou as cinco notas de 100 euros que Abigail havia lhe
dado.
- Me dê sua mão, por favor, Juan.
- Quê? - meio confuso, o homem estendeu a mão para trás.
Ela colocou as notas na mão dele e a fechou com força.
- Gracias. Por tudo. - ela falou numa voz meiga.
Quando o homem notou o que estava em sua mão, ele tentou devolvê-la,
mas ela já estava saindo do carro.
- Señorita! Não puedo aceitar.
- Pode sim. E fique também com as compras que fez. Foi um prazer, Juan!
Antes que ela se apegasse ainda mais ao senhor amoroso e a toda aquela
situação, Anna saiu e fechou a porta do carro. Enquanto ia em direção a seu
apartamento, sua mente estava uma confusão.
Era apenas mais um trabalho. Mais um programa. Não tinha sentido ela
estar se sentindo assim. A partir daí ela bloqueou todo e qualquer
pensamento bom sobre Abigail e sobre aquela noite. Se ela voltasse a lhe
procurar, ela não sabia o que iria fazer. Não sabia se seria fraca e aceitaria -
de forma totalmente profissional - ou se deixaria seu orgulho falar mais alto
e negaria.
O que restava para ela agora? Esperar para ver. Talvez Abigail a
procurasse novamente antes de viajar para outro país. Talvez não.
Ou talvez ela nunca tivesse a resposta disso.
Amor de Verão - Parte 1

BEATRICE
- Dá pra largar o celular e aproveitar a viagem?
Beatrice riu quando ouviu sua amiga falando enquanto dirigia.
- Só estou vendo se está tudo em ordem no consultório.
- Blá, blá, blá, é, eu sei. Me dá aqui. - ela agarrou o celular dela e o
escondeu entre as pernas.
Beatrice tentou evitar o agarre, mas ela foi rápida demais.
- Ágata!
- Qual é, Bea, são as primeiras férias que você tira em quatro anos, será
que não dá pra desgrudar um pouco disso? O consultório vai sobreviver sem
a gente, estamos planejando isso há meses.
Beatrice bufou e cruzou os braços sobre o peito e o cinto de segurança.
- Quanto tempo falta pra chegar?
- Três, quatro, cinco horas, não sei. Cala a boca e aproveita a paisagem.
- Alguém já te disse que você é insuportável?
- E alguém já te disse que você vai ter um burnout se não relaxar? Ah, sim,
EU DISSE. - Ágata apertou um botão e uma música começou a tocar.
Post Break-Up Sex do The Vaccines era a última música que ela gostaria
de ouvir no momento dado sua situação atual e ao seu relacionamento recém
terminado, mas ela cansou de reclamar sobre tudo então tentou seguir o
conselho de sua amiga insuportável e relaxar, mesmo parecendo uma missão
impossível.
O vento quente do verão bagunçando seus cabelos e secando sua boca a
estava irritando, o sol do fim de tarde cegando seus olhos não ajudou em
nada e quando Ágata começou a cantar a plenos pulmões, tudo ficou ainda
pior.
Seriam sete longos dias.
Respirando fundo para tentar controlar seu mau humor constante, Beatrice
fechou os olhos e tentou desassociar-se de toda aquela irritação. Ela só não
via a hora de chegar, tomar um banho quente e deitar para descansar.
Pareceu uma eternidade até que elas chegassem, mas finalmente
aconteceu. Já era noite quando se acomodaram na casa alugada e ao menos o
local não decepcionou. Era tão bonito e aconchegante quanto às fotos
mostravam ser, talvez até um pouco mais. Uma casa moderna e pequena, mas
aconchegante, com uma varanda com uma vista completa para o mar.
Depois de um banho relaxante, Beatrice colocou um pijama e se jogou na
cama e desbloqueou seu celular. E foi nesse exato momento que Ágata
entrou.
- O que acha que está fazendo?
Quando Beatrice a olhou, viu Ágata toda arrumada, com direito a
maquiagem e vestido longo.
- Descansando...
- Não, nem pensar, vamos sair pra jantar.
- Amiga, juro que a partir de amanhã eu faço o que você quiser. Vou pra
onde você quiser. Sem reclamar. Eu só preciso descansar hoje. Tô sem
energia pra sair, preciso repor.
Ágata bufou de decepção, mas acabou concordando. O que foi bom, pois
ninguém tiraria Beatrice daquela cama essa noite.
- Tá bom, mas amanhã às sete vamos estar saindo, entendeu?
- Sim, senhora! - Beatrice fez um gesto de sentido e Ágata revirou os
olhos e deu uma risada antes de sair.
Feliz pela pequena vitória, Beatrice se agarrou com um travesseiro e
descansou o máximo que pôde.
***
Como já era esperado, Ágata estava pontualmente às sete da manhã
batendo na porta do quarto de Beatrice, que por já conhecer sua amiga e sua
pontualidade, já estava de pé e de biquíni posto.
Meia hora de organização depois, elas finalmente saíram, mas não
precisaram andar muito para chegar na praia, apenas descer as escadas da
varanda, trancar um portão de madeira e estavam com os pés na areia.
- Pra onde você tá indo? - Beatrice perguntou quando viu Ágata se
afastando demais de onde elas estavam.
- Aqui não tem ninguém, vamos pra aquele lado, onde tem mais pessoas!
- Aqui não está bom não? - Beatrice andava com dificuldade na areia
quente, como se estivesse na beira de um precipício ou algo do tipo.
- Não! Aqui está um deserto! Eu quero comer, beber, ver pessoas!
- Beber? São sete e meia da manhã... - ela respondeu desanimada
enquanto andava na mesma direção que sua amiga, cedendo.
- Exato! Não vamos perder tempo. - Ágata deu saltos de alegria enquanto
andava que fizeram um monte de areia voar exatamente na direção do rosto
de Beatrice, que precisou cuspir os grãos que entraram em sua boca.
Ao menos os óculos escuros protegeram seus olhos. Devemos focar no
positivo, não é mesmo?
- Ai, Deus me ajude... - Beatrice murmurou para ela mesma enquanto
ainda sentia alguns grãos de areia em sua boca.
Longos, longos, loooongos metros depois, Ágata achou a multidão que
procurava. O que não passava de pequenos grupos de pessoas em alguns
guarda-sóis, mais um grupo jogando bola, outros pequenos grupos dentro do
mar... Era uma quinta-feira, então já era de se esperar que o local não
estivesse lotado, o que foi um pequeno alívio para Beatrice.
Sem sombra de dúvidas ela se identificou com o grupo que ficava sentado
debaixo do guarda-sol descansando, e foi isso que ela fez.
Para sua alegria, Ágata não se opôs a isso, mas quis ficar mais próxima do
mar. O que não foi um problema para Beatrice, ela só queria sentar e relaxar.
Ou ao menos tentar.
Quando ela e Ágata finalmente estavam acomodadas, com seus drinks
bonitos e exageradamente enfeitados nas mãos e sentadas em cadeiras
dobráveis, Beatrice decidiu que iria se entregar ao descanso. Ela merecia
isso e quer saber? Aquele tanto de areia não era de todo desagradável.
Escondendo os dedos dos pés na areia quentinha, Beatrice se encostou e
fechou os olhos por um momento por baixo do óculos de sol. Aquele foi o
momento que ela aceitou suas merecidas férias e soube que estava realmente
precisando daquilo...
- Bea! Cuidado! - Ágata gritou.
Quando ela abriu os olhos já era tarde demais. Algo que ela não conseguiu
identificar naquele segundo atingiu sua mão com força e fez com que sua
bebida quase intocada caísse inteira no chão de areia.
Beatrice demorou um pouco para entender o que tinha acontecido. Suas
mãos estavam pousadas no ar enquanto ela juntava as peças em sua mente...
Uma bola de futebol bem ao lado do que era um drink delicioso há apenas
alguns segundos atrás.
- Não acredito nisso. - Beatrice bufou.
Ela olhou para Ágata e viu a amiga com um ar de riso e a boca aberta,
também sem reação a não ser a surpresa estampada em sua cara.
- Moça! Me desculpa! - ela ouviu alguém se aproximar, mas estava tão
chocada que sequer olhou para onde vinha a voz. - Você se machucou?
- Não, mas meu copo não pode dizer o mesmo!
A pessoa se jogou de joelhos ao lado dela e pegou o que restava do drink,
colocando em cima da mesinha, e isso se resumia apenas ao copo de plástico
com um mini guarda-chuva rosa de papel agora amassado e pedaços de
frutas sujos de areia.
- Me desculpa, eu vou comprar outro pra você, ok? Não, um não. Vou
comprar dois. Só me dizer o que estava bebendo, resolvo agora.
Beatrice finalmente olhou para a pessoa e se surpreendeu ao ver uma
garota de cabelos curtos. Pela silhueta e tom de voz ela poderia jurar que era
um rapaz adolescente ou algo assim, mas era uma mulher.
- Vocês deviam prestar mais atenção. - ela falou finalmente enquanto
tentava limpar a sujeira que o impacto fez em suas mãos, uma mistura de
areia, pedaços de morango e bebida.
- Sim, você tá coberta de razão, vamos ficar bem longe de vocês agora, eu
prometo. Agora deixa eu te compensar, o que você estava bebendo?
- Gin. - Beatrice ainda estava puta com o acontecido e esperava que ela
sumisse da sua frente naquele exato momento e trouxesse os dois drinks
prometidos.
- Ok, frutas vermelhas não é? Já volto! - a garota se levantou com pressa e
correu até o bar que ficava próximo a elas.
- Eu vou furar essa bola. - Beatrice murmurou entre os dentes ao pegar a
bola cheia de areia e apertar com suas unhas, mas obviamente aquela era
uma ameaça vazia, já que a porcaria era feita de um couro duro.
Ágata gargalhou quando Beatrice jogou a bola para os rapazes que
estavam esperando estatelados perto dali enquanto olhavam para ela com
medo.
- Vão pra bem longe daqui!
Eles começaram a se mover e gargalhar enquanto se afastavam com a bola
de volta aos pés e ela quase se levantou quando algum deles gritou de volta
"A praia é pública!" e saíram correndo de perto, mas não valia a pena o
desgaste.
- Garotos insuportáveis.
- E garota. - Ágata comentou ainda rindo.
- É, tanto faz, só quero minha bebida e ficar em paz. Parece que o universo
não quer que eu relaxe!
- Ah, não exagera amiga, foi só um drink. E a garota simpática ainda vai te
compensar com o dobro.
- É o mínimo que ela tem que fazer! Dez centímetros para cima e ela
acertaria minha cara!
- Pois é, você teve sorte.
- Você chama isso de sorte? Não quero saber o que significa azar pra você
então.
Ágata se recostou e bebeu seu próprio drink.
- Ah, quem sabe isso não tenha acontecido por um motivo? E se vocês se
apaixonarem e ela for o amor da sua vida? Nunca se sabe.
Beatrice gargalhou com ironia.
- Tá maluca, garota? É isso que dá beber de manhã cedo, já começou a
delirar.
- Agora já estou imaginando vocês duas de mãos dadas se olhando
apaixonadas.
- Dá um tempo, Ágata. Eu não sou lésbica, ta maluca?
- Ah, eu também não, mas eu achei ela uma gracinha.
Beatrice fez um movimento com as mãos como se estivesse se livrando de
alguma coisa.
- Toda sua!
- Olha lá. - Ágata apontou com o rosto. - Ela trazendo seus drinks com o
maior cuidado do mundo. Vai me dizer que você também não achou ela uma
gracinha?
Franzindo as sobrancelhas, Beatrice virou o rosto e viu a garota se
aproximando com passos cuidadosos enquanto segurava um drink de frutas
vermelhas em cada mão.
Seus olhos foram para a barriga dela por algum motivo. Ela era sarada,
isso era um fato. Com divisões marcadas e uma entrada que levou seu olhar
até a bermuda curta que ela usava. Quando percebeu que talvez estivesse
olhando o que não devia, Beatrice olhou para seu rosto.
Ela estava queimada de sol, mas não aquele tipo de queimadura que
alguém como ela teria se ficasse um dia inteiro na praia sem a proteção
adequada. Não. Era como se aquele bronze tivesse levado anos para chegar
naquele tom dourado natural, um tom que daria inveja naquelas influencers
de redes sociais que gastavam uma fortuna em bronzeamento artificial.
Os cabelos dela tinham as pontas queimadas, provavelmente pela
exposição exagerada de água salgada e sol, uma coloração que ela só havia
visto nos surfistas do canal Off que seu ex namorado sempre assistia. Os
olhos castanhos claro brilhavam enquanto ela se aproximava e o sorriso
meio torto dava um charme inesperado para ela.
Ok, talvez ela estivesse olhando demais. Mas se convenceu que era culpa
de sua amiga por ter plantado uma semente em um solo que provavelmente
ainda era fértil.
- Prontinho. - a garota sorriu mais abertamente ao se aproximar e deixar
os dois drinks em cima da mesinha delas. - Mais uma vez, me desculpa. - ela
juntou as mãos agora livres e quase se ajoelhou. - Não vai acontecer
novamente, eu prometo.
- Está tudo bem, obrigada. - Beatrice se pegou respondendo enquanto
ajeitava seus próprios cabelos por um motivo desconhecido.
- Ela vai superar. - Ágata deu uma risadinha ao falar.
A garota abriu um sorriso para Ágata que fez Beatrice entender
exatamente o que estava acontecendo ali: um interesse mútuo.
- Vejo vocês por aí. E por favor, não me odeiem. - ela sorriu mais uma vez
e piscou antes de ir embora correndo em direção à seus amigos.
- Viu? Uma gracinha. - Ágata comentou.
- Ela gostou de você.
- Bom, não fui eu que ganhei dois drinks.
- E quase levou uma bolada na cara, realmente, não foi.
Apesar desse incômodo imprevisto, Beatrice e Ágata aproveitaram
bastante aquele dia. Beberam mais alguns drinks, comeram, e Beatrice até
deu um mergulho no mar, quem diria? O tempo não demorou muito para
passar, o que foi uma coisa boa. Depois de um lindo pôr-do-sol, elas
voltaram para a casa para descansarem um pouco antes de saírem para jantar
à noite.
Depois de um breve cochilo e de algum tempo se arrumando, Beatrice e
Ágata foram para o mesmo bar e restaurante de antes, que ficava na beira do
mar. Parecia que aquele era o ponto mais movimentado e badalado daquela
pequena cidade turística, segundo Ágata.
Durante a noite o local era ainda mais bonito. Apesar da vista para o mar
não ser nada além de uma imensidão escura, o bar tinha uma linda varanda
parecida com um deck todo feito de madeira e com luzes penduradas.
Simples, mas aconchegante. Além da música animada que tocava.
- Eu acho que não tem mais nenhuma mesa no deck. - Beatrice falou
desanimada quando elas entraram.
- Vamos lá ver.
Ágata se adiantou e Beatrice a seguiu, como sempre.
- Olha nossa amiga ali! - Ágata falou enquanto acenava para alguém, com
um sorrisão.
Quando Beatrice olhou, viu a garota da praia novamente, dessa vez
completamente vestida e até um pouco elegante.
Ela acenou de volta.
- Amiga, não, vamos ficar aqui dentro mesmo, talvez ela esteja esperando
por alguém.
- Ah, vamos só dar um oi, vai que cola. - Ágata chegou na mesa da garota.
- Oi! Lembra da gente? Você quase jogou a bola na cara da minha amiga mais
cedo. - ela falou com simpatia.
A garota riu.
- Como esquecer? Querem se sentar? Essa é a melhor mesa daqui.
- Ah, não, a gente não quer atrapalhar você. Só viemos dar um oi. -
Beatrice respondeu antes que Ágata falasse o "SIM" mais animado de sua
vida.
- Ah, não, eu estou sozinha hoje. Levei um bolo. - ela riu um pouco
desanimada.
- Ah, é sério? - Ágata fez uma expressão triste enquanto se sentava e se
acomodava na mesa.
Beatrice respirou fundo, mas acabou fazendo o mesmo. Era realmente a
melhor mesa do local.
- É, acontece. - ela não desmanchava o sorriso. - Como vocês se chamam?
- Eu sou a Ágata, essa aqui que você já conhece é minha amiga, Beatrice.
- Muito prazer, meu nome é Zara.
As duas franziram a testa.
- Como a loja?
- É, exatamente como a loja. - elas engataram em algumas risadas e uma
conversa simpática foi se desenrolando.
Ágata não calava a boca. Mesmo com as tentativas de Zara de puxar
assunto com ela, Ágata sempre tinha o que falar e não parava. Nem quando
as bebidas chegaram, nem quando os petiscos estavam na mesa.
Beatrice não se incomodou com isso. Ela apenas aproveitou seus drinks,
as comidas e a vista, se perguntando quando havia sido a última vez que ela
tinha feito algo assim. Fazia muito, muito tempo. E mesmo com o falatório
incansável de Ágata, aquilo tudo era muito agradável.
- Eu vou ao banheiro. - Ágata se levantou.
- Quer que eu vá com você? - Beatrice se ofereceu, esperando que a amiga
recebesse o recado e entendesse que ela não queria ficar sozinha ali com
uma pessoa que ela mal conhecia.
- Ah, não. Vai ser coisa rápida, já volto. - ela saiu e não deu tempo de
Beatrice responder ou dar a desculpa de que também precisava ir.
Agora era tarde demais. Ela estava sozinha com aquela garota. Para
ocupar suas mãos ela pegou sua bebida e deu um gole no canudo, seguido de
outro, e outro...
- Você não é muito de falar, não é? - Zara perguntou enquanto a olhava
com um meio sorriso nos lábios.
Beatrice engoliu antes de responder e colocou o copo em cima da mesa.
- É, eu acho que me acostumei com a Ágata sempre falando demais, então
acho que faço mais o tipo ouvinte. - ela sorriu sem jeito, por algum motivo.
- É, ela é bem simpática, gostei dela. - Zara sorriu, mas não desviou o
olhar dela um só segundo.
Beatrice se perdeu naquele olhar por um momento. Ela tentou decifrar o
que aquele olhar significava... Não era um olhar inocente, o que a
surpreendeu. Zara intercalava entre sua boca e seus olhos, o que deixou
Beatrice extremamente confusa... O alvo não era Ágata?
- Eu acho que ela também gostou de você. - Beatrice desviou o olhar por
um momento, dando mais um gole em seu drink. - E, sim, ela está solteira,
antes que você me pergunte.
Zara se aproximou um pouco mais.
- E você?
Beatrice franziu as sobrancelhas quando sentiu um pequeno frio na barriga
que ela não soube explicar e voltou a olhá-la, cada vez mais confusa.
- Eu o quê?
- Está solteira?
- Ah... E-eu... Eu... não... - ela deu uma risadinha nervosa quando
percebeu que sua dicção tinha ido pra bem longe e girou o copo na mesa
como se isso fosse ajudar seus pensamentos a se organizarem. - Eu não... É
que... Eu não curto...
- Mulheres?
- É. - Beatrice precisou respirar fundo quando seu corpo inteiro ficou
tenso e suas mãos suadas.
- Isso é uma pena.
- É, pois é... - Beatrice já não sabia o que estava falando nem o que falaria
a seguir.
Onde diabos estava Ágata quando ela precisava?!
- Eu poderia mudar isso.
O sorriso que ela deu foi malvado. Nada mais nada menos que isso. E o
coração de Beatrice acelerou... ou já estava acelerado? Agora ela sentia
cada batida e a sua respiração ficando ofegante foi algo que ela não
esperava.
Beatrice abriu a boca para falar. Então fechou. Respirou fundo mais uma
vez e desviou o olhar, deixando Zara sem resposta enquanto ela absorvia
aquele mar de sensações novas dentro dela.
- Não sei se ficou claro... - Zara voltou a falar enquanto o coração de
Beatrice parecia querer sair pela boca. - Mas é em você que eu estou
interessada, não na sua amiga.
Beatrice franziu as sobrancelhas.
- Ela claramente está mais disponível do que eu.
- Talvez por isso eu queira você ainda mais.
Os olhares se fixaram por um momento. Até que o olhar sedutor de Zara
desceu para seus lábios, e Beatrice se pegou fazendo o mesmo, olhando para
a boca dela. Os lábios entreabertos, rosados e meio úmidos... Beatrice
engoliu seco quando se pegou imaginando como seria beijá-la. Sua mente a
levou longe, bem longe, tão longe que ela sentiu um calor subir entre suas
pernas e a deixar úmida...
- Voltei.
A voz de Ágata a tirou do transe e ela se ajeitou na cadeira, jogando seus
cabelos para trás de seus ombros e abanando seu pescoço com uma mão
como se o clima tivesse esquentado pelo menos dez graus naquele meio
tempo.
Ela não ousou olhar para Zara. Não depois disso... E quando Ágata
voltou, foi como se nada daquilo tivesse acontecido. Zara voltou a conversar
de forma simpática e Beatrice percebeu que o tom que ela falava com Ágata,
era totalmente diferente daquele tom que ela havia ouvido há pouco tempo...
Não tinha aquela malícia, aquela tensão, aquele desejo... E ela não parou de
pensar nisso um só segundo durante aquela noite.
Em dado momento, quando Zara se levantou para buscar mais bebidas
para elas, Beatrice ficou sozinha com Ágata.
- Eu acho que ela está muito afim de mim. - Ágata falou baixo.
Como se Beatrice pudesse ficar mais desconfortável do que já estava?
Obrigada destino.
- Você acha? - Beatrice comentou sem animação.
- Tá na cara, amiga. Eu nunca fiquei com uma mulher assim antes, uma
lésbica de verdade, sabe? Só dei uns beijos em algumas amigas em festas
quando eu tinha meus dezoito anos e os hormônios à flor da pele.
- Hum... - Beatrice não sabia o que falar naquela situação constrangedora,
então bebeu o gelo que estava em seu copo.
- Eu acho que vou ficar com ela.
Beatrice engoliu forte e tossiu, mesmo sem vontade.
- Acha?
- É, me deu muita curiosidade. - Ágata riu baixinho. - Você ficaria
chateada se eu fosse pra outro lugar com ela ou se você voltasse pra casa
antes? Só pra, você sabe, ter um pouco mais de privacidade.
O incômodo que cresceu dentro de Beatrice foi doloroso de certa forma,
mas ela não podia responder outra coisa a não ser:
- Não, claro que não. Eu vou voltar, estou cansada mesmo.
Ágata deu uma apertadinha em seu braço.
- Te devo uma.
Esse foi o limite de Beatrice. Ela não conseguia ficar mais um segundo
ali, então se levantou.
- Você se importa em pagar e depois eu te transfiro? - ela ajeitou sua saia
quando reposicionou a cadeira.
- Claro amiga, não se preocupa. E, obrigada, tá? Prometo que vou te
compensar depois.
- Ah, não, tá tudo bem. - Beatrice sorriu sem graça. - Provavelmente vou
estar apagada quando você chegar, então a gente se vê amanhã, tá? Se
divirta.
- Está bem, beijos!
Quando adiantou seus passos para ir embora, Beatrice odiou quando
sentiu sua bexiga quase estourando e desviou o caminho para ir ao banheiro
antes de sair do bar, sem olhar para ninguém. Não queria ter que encontrar
com Zara no caminho e ficar mais desconfortável do que já estava, se isso
fosse possível.
Depois de usar o banheiro e de lavar suas mãos, Beatrice se olhou no
espelho e respirou fundo, ajeitando as ondas naturais de seus cabelos
escuros, jogando umas mechas para o lado. Ela nunca se considerou uma
pessoa atraente. Ok, ela não era feia, mas não se considerava irresistível ao
ponto de alguém falar daquele jeito com ela, com tanto desejo... Como se ela
fosse a única mulher no mundo.
Ela passou a mão no rosto quando sentiu suas bochechas queimarem ao
lembrar de como Zara havia olhado para ela...
- Ei.
Ela ouviu a voz inconfundível de Zara e se virou instantaneamente. E
como já era de se esperar, seu coração saltou ao vê-la.
- Oi... Eu... Eu vou ter que ir agora.
- Não ia se despedir de mim?
A cada passo que Zara dava, Beatrice perdia um pouco do seu fôlego.
- Eu ia sim, eu só... Tive... Um...
- Porquê você vai embora? - Zara perguntou com um misto de decepção e
tristeza naquele olhar.
A este ponto ela estava tão perto que Beatrice podia sentir seu cheiro.
Amadeirado. Ela teve a sensação de que sempre que sentisse esse perfume
se lembraria dela.
- Eu... - Beatrice arranhou a garganta. - Eu... estou cansada.
- Posso te ver amanhã, então?
- Eu não acho que seja uma boa ideia...
- Porquê não?
- A Ágata, ela... - Beatrice perdeu o raciocínio quando sentiu seu corpo
bater em algo e empurrar devagar a cada passo que ela dava para trás...
Talvez fosse a porta de uma das cabines?
- Eu quero você, não ela. - Zara falou com firmeza enquanto a guiava para
dentro de uma das cabines e fechava a porta atrás dela.
Com seu peito subindo e descendo de acordo com a respiração cada vez
mais pesada, Beatrice se pegou olhando para a boca dela novamente. E foi
impossível não imaginar tudo aquilo de novo... Seu beijo, o sabor da sua
língua contra a dela, seu corpo pressionando o seu, sem roupa de
preferência...
- Não faz isso... - as mãos de Beatrice subiram para o ombro dela para
tentar pará-la, mas ao invés de empurrá-la, ela a segurou pela camisa.
- Um beijo.
- O quê? - Beatrice ofegou como se estivesse ouvindo coisas.
- Me deixa te beijar, só uma vez. - agora Zara sussurrava de uma forma
irresistivelmente sensual. - Se você não gostar ou não quiser me ver depois
disso, eu vou respeitar.
Beatrice franziu as sobrancelhas como se aquela fosse a proposta mais
absurda que ela já havia ouvido em sua vida. Não, ela não queria aquilo.
Não queria que ela se afastasse, não queria que ela não a visse mais... Mas
não podia.
Oh, merda... Porque diabos nada dava certo para ela?
Zara lambeu os próprios lábios rapidamente como se estivesse se
preparando para prová-la, o que foi uma pequena tortura para ela.
Beatrice ofegou quando sentiu seu sexo quente novamente e uma umidade
crescente ali. Deus... Ela estava excitada. Tão excitada que doía um pouco.
E sua respiração entregava seu estado atual.
- Um beijo... - Zara se aproximou e passou seus lábios nos dela.
Beatrice fechou os olhos quando uma onda de prazer percorreu seu corpo
inteiro. Sem pensar, ela separou seus lábios e encostou sua cabeça onde seu
corpo estava sendo pressionado, dando a permissão que Zara procurava.
Ela não demorou para beijá-la. E quando Beatrice sentiu a textura de sua
língua na dela, foi fraca para resistir.
Com um gemido baixo e involuntário, Beatrice retribuiu o beijo delicioso
que Zara lhe deu. Ela a saboreava com fome e desejo, beijando Beatrice de
uma forma que ela nunca tinha sido beijada antes. As línguas se encontravam
perfeitamente, formando um laço molhado e sedoso, os lábios se esfregavam
deliciosamente, fazendo com que Beatrice se esquecesse do resto do mundo
por um momento.
Só havia aquele beijo e nada mais.
Com um suspiro, Beatrice sentiu seu corpo pegar fogo enquanto as mãos
ousadas de Zara passeavam pelo seu corpo. E seguindo apenas seus instintos
ela separou mais as pernas e ondulou seu corpo, como se estivesse se
oferecendo por completo.
Zara não demorou para pegá-la. Sua mão desceu entre suas pernas e ela a
tocou por cima de sua calcinha, pressionando seus dedos em seu centro,
fazendo Beatrice gemer. Talvez mais alto do que deveria.
Ao se ouvir gemer, em um momento de constrangimento e consciência,
Beatrice voltou para a dura realidade.
Parando o beijo quente e qualquer toque que estivesse acontecendo ali,
ela empurrou Zara sem força, apenas o suficiente para que ela se afastasse
dela.
Ofegante e com os lábios avermelhados, Zara a olhava com desejo e
decepção, e Beatrice odiou conseguir ler seus olhares. Quando Zara passou
seus próprios cabelos pra trás como se tentasse se recompor, Beatrice
ergueu as mãos como um sinal para ela ficar longe.
- A gente não pode fazer isso. - ela descobriu que também estava ofegante
quando a frase saiu com dificuldade. - A Ágata está te esperando na mesa...
E eu preciso ir.
Demorou um pouco, mas logo Zara respondeu.
- Ok... Tudo bem. - ela respirou fundo mais uma vez e limpou sua boca
com uma mão.
O que quebrou o coração de Beatrice um pouquinho. Parte dela esperava
que Zara insistisse, a beijasse de novo, ou falasse que queria ela, e não a
Ágata, mas ela não fez nada daquilo. Talvez fosse melhor assim. Sim, era
melhor assim.
Trêmula, confusa e com o corpo inteiro em chamas, Beatrice saiu da
cabine e saiu do bar com passos apressados.
A pressa foi tanta que ela chegou na casa em poucos minutos, caminhando
com rapidez pela praia, tentando tirar de sua mente tudo o que tinha
acontecido naquele bar.
Chegando na casa, ela praticamente correu para seu quarto e se trancou.
Seu peito ainda subia e descia com intensidade. Em partes pela sua pressa e
por seus passos ansiosos, em partes por tudo o que Zara a fez sentir com
aquele beijo e aquele breve toque...
Desanimada e tão confusa quanto nunca antes em sua vida, Beatrice foi até
a grande cama e se deitou, jogando sua bolsa de lado. Seria um momento
perfeito para ela tomar um banho e se deitar para dormir e esquecer que essa
noite aconteceu, mas parte dela não queria esquecer, não queria tirar o
cheiro do perfume amadeirado de Zara de suas roupas, de sua pele...
Enquanto sua respiração se acalmava, ela fechou os olhos e sua mente foi
invadida com as lembranças vívidas.
Inconscientemente ela levou seus dedos até seus lábios e acariciou. Se ela
se concentrasse o suficiente ainda poderia sentir a língua de Zara provando a
sua, os toques fortes de suas mãos em sua cintura, as respirações se
misturando e os dedos firmes em sua calcinha...
Quando seu corpo inteiro se arrepiou, Beatrice sentiu seus mamilos
rígidos e doloridos, como se implorasse por atenção e de repente seu corpo
todo estava aceso, como se ela estivesse de volta naquela cabine.
Dobrando os joelhos e separando suas pernas, ela sentiu seu sexo pulsar
como se tivesse um coração próprio. Mordendo seus próprios lábios ela
imaginou aquilo que não tinha acontecido...
Imaginou aqueles dedos ágeis de Zara afastando o tecido de sua calcinha e
lhe tocando, deslizando em sua carne e sentindo como ela a deixava... Bem
molhada. Imaginou o suspiro que ela daria ao sentí-la daquele jeito... E
quando um gemido saiu por sua garganta, ela soube que estava se tocando.
Mas em sua cabeça aqueles não eram seus próprios dedos. Não... Eram os
dedos de Zara deslizando ali, por baixo de sua calcinha, a deixando cada vez
mais molhada e sensível.
Sem esperar, Beatrice estava completamente entregue aquele prazer
inesperado. Seu quadril ondulava e se movia de acordo com os toques, a
outra mão apertava um dos seios sensíveis e as pernas intercalavam entre
abertas e fechadas com certo desespero pela excitação.
Os olhos permaneceram fechados imaginando cada detalhe daquela
mulher... A boca deliciosa e habilidosa, o olhar fodidamente selvagem e o
corpo esbelto...
"Eu quero você..." ela ouviu em sua mente a voz de Zara falando aquilo
para ela.
Beatrice gemeu alto ao se acariciar no ponto certo, o clitóris sensível e
inchado, toda sua intimidade encharcada de prazer, e quando gozou forte ela
gritou. Uma onda ensurdecedora de prazer invadiu seu corpo e a deixou sem
sentidos, a única coisa que ela sentia era aquela dor deliciosa do orgasmo e
seu sexo latejando em seus dedos parados e pressionados contra sua buceta.
Quando a onda finalmente passou, Beatrice se esparramou na cama e
esperou sua respiração se acalmar para se levantar.
Deus... fazia anos que ela não sentia algo assim. Se arriscava até em dizer
que nunca havia sentido. Aquela atração, aquela excitação, aquele fogo era
algo fora de seu normal. Algo que ela se sentiu triste por um momento por
não ter tido antes, e mais triste ainda por provavelmente nunca mais ter
depois.
Tentando não pensar sobre o que tinha acabado de fazer, Beatrice se
levantou e tomou um banho, sentindo seu corpo inteiro sensível e ainda
quente por uma pessoa que ela não poderia ter.
Se sentindo péssima e com o coração apertado por provavelmente ser a
pior amiga de todas, ela se deitou para dormir, imaginando uma realidade
que ela nunca teria além de sua imaginação.
Amor de Verão - Parte 2

ZARA
Quando Beatrice saiu do banheiro com pressa, Zara sentiu seu ego ferido.
Ser largada sozinha no banheiro depois de um beijo daqueles não era o que
qualquer pessoa gostaria que acontecesse. Mas tudo bem... talvez ela
estivesse confusa, afinal de contas, ela não gostava de mulheres, não é?
Então não insistiu para que ela ficasse. Já havia insistido demais até aqui.
Negando com a cabeça e respirando fundo para se recompor, ela saiu da
cabine e voltou para o bar para pegar as bebidas que tinha deixado lá
quando foi correndo atrás de Beatrice no banheiro.
Ela pegou apenas dois dos três drinks que havia pedido e pediu para o
bartender que era um amigo seu, dar o outro pra alguém. E sem ânimo algum
ela voltou para a mesa em que estava. A amiga de Beatrice estava lá e no
segundo em que Zara se sentou novamente, ela voltou a falar pelos
cotovelos.
Não havia nada de errado com isso nem com aquela garota, mas desde o
momento em que ela viu Beatrice na praia depois de derramar sua bebida
sem querer, ela havia se encantado. E que surpresa agradável foi vê-la no
bar naquela noite depois de ter levado um bolo de seu encontro.
Ela nunca imaginou que a noite acabaria daquela forma, mas beijar
Beatrice foi de longe a melhor coisa que aconteceu com ela nos últimos dias.
Semanas. Ok, talvez meses.
Enquanto bebia mais um gole de sua bebida ela se perguntou se teria
algum jeito de conseguir o contato dela. Talvez pra pedir desculpas, talvez
pra tentar vê-la novamente... Se ela quiser, é claro.
- E você e a Beatrice, são amigas há muito tempo? - Zara tentou ser
discreta ao introduzir Beatrice na conversa.
- Ah, sim, muitos anos. Trabalhamos juntos em um consultório.
- São enfermeiras?
Ágata franziu a testa como se tivesse se ofendido.
- Médicas.
- Ah, legal... E quanto tempo vocês vão ficar por aqui?
- Temos mais seis dias. Mas eu falei pra ela que por mim a gente ficaria
mais, mas a Beatrice é tipo viciada em trabalho, não consegue ficar longe do
consultório por muito tempo.
- Eu imagino. - mais um gole casual. - Escuta, você poderia me passar o
número de vocês. Conheço muitos locais incríveis daqui que são tipo o
segredo da cidade, nenhum turista sabe. Posso ser a guia turística de vocês.
- Sério? Nossa, isso seria incrível.
Zara sorriu e tirou seu celular do bolso. Ágata passou seu número, mas
não passou o de Beatrice, mas Zara não descansaria até conseguir.
- Me diz o número da sua amiga também pra caso haja algum imprevisto
com seu celular ou algo assim, a gente não perder contato.
- Ah... Claro.
A cada número que ela falava, uma ansiedade crescia na barriga de Zara,
como se ela estivesse ouvindo os números de seu ticket da loteria.
- Perfeito... Obrigada. - Zara guardou seu celular com vitória.
- Me passa o seu número também. - Ágata comentou.
- Ah... Sim, claro. Anota aí.
Quando salvou seu contato em seu celular, ela sorriu de satisfação.
- Então... - Ágata arranhou a garganta e se endireitou na cadeira. - Você
quer ir pra outro lugar? - ela perguntou com uma malícia inconfundível em
seu tom.
Claro, ela iria, se Beatrice não existisse. Zara não pensava em mais nada
a não ser naquele beijo, foi como um maldito feitiço. Mas, claro, ela não
seria grosseira com Ágata.
- Eu adoraria... Mas eu preciso ir agora. Já está na hora do meu gato
comer. - não, ela não tinha um gato.
- Ah, que pena... Tudo bem.
Ela não ter se oferecido para ir para sua casa foi um baita alívio. Zara fez
questão de pagar a conta para ela como compensação de não lhe dar o que
ela queria, então elas saíram do bar.
- Bom, eu vou andando naquela direção, estamos ficando em uma casa
aqui perto, se quiser me acompanhar...
- Claro, vamos lá. - existiram dois motivos para Zara aceitar esse convite.
Motivo um: ela não deixaria uma garota andar sozinha à noite em um local
que ela não conhecia, até odiou um pouco o fato de Beatrice ter ido embora
assim, mas achou que ela pegaria um carro por aplicativo ou táxi. Motivo
dois: ela queria ver onde ela e Beatrice estavam ficando e quem sabe vê-la,
nem que fosse de longe, para garantir que ela estava bem e segura.
Alguns minutos de caminhada pela areia e algumas conversas aleatórias
depois, Ágata parou.
- É aqui. - ela apontou com o rosto. - Eu te convidaria pra entrar, mas seu
gato...
Ok, se Zara não tivesse inventado a história do gato ela teria mais chances
de ver Beatrice de novo, mas não sabia se era o momento certo pra isso,
então, salva pela mentirinha. Mas Zara notou que a intenção de Ágata não foi
apenas convidar ela para entrar e tomar uma cerveja ou algo do tipo. Pelo
seu tom de voz, era muito provável que ela a levasse direto para seu quarto.
E nada de Beatrice por hoje.
Não, obrigada.
- É... Quem sabe outro dia.
Ágata sorriu e se adiantou para ela, a beijando. Zara foi pega
completamente de surpresa, e não deixou aquele beijo passar de uma
chupada rápida nos lábios e se afastou.
- Boa noite. - ela sorriu de forma simpática para que Ágata não
reclamasse do contato cortado.
- Tá legal. - Ágata riu sem graça. - Já entendi, você não quer ficar comigo.
- Olha, não é nada com você, é que... Eu estou interessada em outra
pessoa.
- É a Beatrice?
Zara congelou. Não sabia como ela havia chegado nessa conclusão.
Talvez ela não tivesse disfarçado o suficiente ou talvez ela nem tivesse
tentado. Mas nessa situação ela não podia mentir. Se ela falasse que não era
a Beatrice isso com certeza chegaria aos ouvidos dela e as coisas se
complicariam ainda mais, talvez até zerando suas chances com ela. Não que
ela tivesse alguma, mas não podia arriscar.
- Desculpa... Eu...
- Tudo bem. - Ágata levantou uma mão como sinal de pare, a
interrompendo. - Não precisa se explicar. É sempre assim. Eu sou a mais
legal, mas a Beatrice é a mais bonita. A irresistível. Já sei o que você vai
falar. O problema não sou eu e blá blá blá. Claro. Não é a primeira vez que
eu ouço isso, sabe? Foi a mesma coisa com o David. "Ah, eu estou gostando
da Beatrice e vamos ter que parar por aqui" - ela imitou uma voz masculina.
- Tô cansada de ser apagada sempre.
Zara abriu a boca pra falar, mas desistiu. Aquele problema era muito mais
profundo do que ela jamais imaginou e ela tinha certeza de que qualquer
coisa que ela falasse, só pioraria a situação.
- Boa noite. - Ágata se virou, nada feliz, e apressou seus passos para
entrar na casa.
- Boa noite... - Zara respondeu para o vento.
Zara olhou ao redor e passou a mão nos cabelos enquanto respirava fundo.
Que noite louca. Quando sem motivo algum ela olhou para a casa, seu
coração quase parou.
Beatrice a olhava por uma das janelas.
Pela distância ela não enxergou direito para conseguir ler sua expressão,
mas dada a forma que ela fechou a cortina, não deveria ser nada boa.
Droga.
Passando a mão na boca, ela esperou não ter estragado nada entre elas.
Não que houvesse alguma coisa...
Sem pensar muito, ela agarrou seu celular e abriu o aplicativo de
mensagens. Criando uma nova conversa, ela tocou no contato de Beatrice e
digitou:
Podemos conversar?
Ela não desgrudou o olhar da tela até ver que Beatrice estava online e sua
mensagem havia sido lida. Três bolinhas apareceram se movendo como se
Beatrice estivesse escrevendo. E parou. Três bolinhas novamente. E
finalmente uma resposta.
Quem é?
Zara respirou fundo e sentiu seu coração acelerado só de ter uma resposta
dela.
Sou eu, Zara.
Novamente o jogo dos pontinhos voltou. Se movendo. Parando. Duas
vezes. Isso era um novo tipo de tortura?
Ah, acho melhor não.
Mais um suspiro, dessa vez de decepção.
Tudo bem... Se mudar de ideia, esse é meu número.
Não estou disponível pra você, Zara. Continue ficando com a Ágata.
Zara franziu a testa até que se lembrou do beijo rápido que Ágata havia
lhe dado, o que provavelmente Beatrice havia assistido.
Não era ela que eu queria beijar.
Beatrice demorou um pouco, mas respondeu.
Boa noite, Zara.
E então ela ficou offline.
Amaldiçoando, Zara olhou novamente para a janela de Beatrice e viu a luz
se apagar. Ela respirou fundo, duas vezes, mas logo saiu dali. Ela não
conseguiria nada agora, principalmente pelo fato de Beatrice ter
testemunhado aquele beijo sem graça que Ágata lhe deu sem perceber o
contexto da curta conversa que aconteceu depois disso.
Talvez ela tivesse mais sorte amanhã. Ou talvez elas nunca se falariam de
novo.
***
No dia seguinte, Zara acordou ofegante. Passando a mão na testa, ela
tentou se lembrar do que tinha acabado de sonhar e uma cena explícita veio
em sua cabeça: Beatrice nua em sua cama. Droga, toda essa merda estava
passando dos limites, talvez fosse a hora de pisar no freio a partir de agora.
Esperava conseguir.
Depois de um banho frio para acalmar seus nervos e de um café da manhã
reforçado, ela tentou tirar toda aquela situação da cabeça e se vestiu para
encontrar com seus amigos. Todos os dias pela manhã eles jogavam bola na
praia, sempre no mesmo lugar. Ela tentou ignorar o fato de que esse lugar foi
onde ela viu Beatrice pela primeira vez.
O dia se passou tranquilamente. Com a ajuda de seus amigos ela
conseguiu se distrair e tirar todo aquele drama da noite anterior de sua
cabeça. Mas quando ela percebeu que durante uma das partidas, eles
estavam próximos a casa que Beatrice estava, ela não podia parar de olhar.
Parando o jogo e pegando a bola com as mãos, ela se aproximou de um de
seus amigos.
- Acho melhor a gente voltar pra onde a gente estava, ou alguém vai
acabar jogando a bola em uma das casas e quebrando uma janela.
Ele concordou com a cabeça e gritou:
- Aê, galera! Vamos voltar um pouco mais e ficar longe das casas pra não
acontecer nenhum acidente, ok?!
Quando seu grupo se reuniu e começou a se afastar, Zara não resistiu e
olhou para a casa uma última vez.
E congelou.
Beatrice estava na varanda, chorando muito e com o telefone no ouvido. O
que diabos tinha acontecido?
Sem pensar muito ela jogou a bola para seus amigos e disse:
- Ei, vão indo lá! Eu vou resolver uma coisa antes.
Eles não insistiram muito e logo foram andando.
Zara correu devagar até se aproximar da varanda e com o olhar
preocupado, esperou que Beatrice a visse.
- Você está bem? - ela falou quase sem som, apenas com os lábios para
que Beatrice lesse e não a atrapalhasse em sua ligação.
Quando ela a viu, seu olhar mudou completamente. De tristeza para fúria.
O que deixou Zara completamente confusa. Ela tirou o telefone do ouvido e
segurou na cerca de madeira da varanda, se inclinando para baixo e gritando
com ela.
- Você! O que você falou pra ela?!
As sobrancelhas de Zara nunca estiveram tão franzidas em toda sua vida.
- O que... Do quê você tá falando?
Beatrice fez uma careta de raiva e se virou. Mas ela não entrou. Ela
correu em direção a escadaria e desceu com passos apressados. Ver Beatrice
se aproximando dela deveria ser uma coisa boa, mas a forma que ela andava
e sua expressão de raiva não era algo que Zara esperava ver.
- O que você falou pra Ágata?!
- Beatrice, calma. - ela ergueu as mãos e se aproximou dela devagar,
apressando o encontro. - Me conta o que aconteceu.
- Ela foi embora! Ela me deixou aqui e foi embora!
- O quê?
- Ontem quando ela chegou ela bateu no meu quarto e a gente brigou feio!
Ela me falou umas coisas sem sentido dizendo que eu não pensava nela, que
eu era egoísta e me achava o centro do universo! O que porra você falou pra
ela, Zara?!
Ela ainda estava absorvendo todas aquelas informações e juntando com o
que Ágata havia falado ontem, ela não chegou em uma boa conclusão.
- Eu não falei nada... Eu... Ela perguntou se eu estava interessada em você
e foi isso.
- O que você falou?! - Beatrice era uma mistura de desespero e raiva, o
que quebrou o coração de Zara.
- Eu não falei nada, ela não deixou.
- Como eu vou voltar pra casa agora?!
- Calma, você precisa se acalmar...
- Agora ela não me atende. Ela me deixou aqui, como ela pôde fazer isso
comigo? - o tom de Beatrice mudou de raiva para tristeza profunda em
apenas alguns segundos enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto.
- Eu não sei... - Zara se aproximou um pouco mais, com cuidado, como se
ela fosse uma bomba que poderia explodir a qualquer momento. - Eu posso
te ajudar, mas primeiro você precisa se acalmar.
- Eu... Eu não sei o que fazer.
- Que tal subir um pouco, beber uma água e se sentar? E aí a gente
conversa melhor e vemos o que podemos fazer.
Beatrice a olhou nos olhos e demorou um pouco, mas logo assentiu com a
cabeça.
- Vamos lá. - Zara a guiou pelos ombros com cuidado e em pouco tempo
elas entraram na casa.
Quando Beatrice se sentou em uma cadeira alta de um balcão da cozinha,
Zara se virou e pegou um copo d'água para ela. Beatrice pegou o copo com a
mão trêmula e bebeu um pequeno gole.
- Eu nunca faria isso com ela. Eu nunca faria isso com ninguém! - ela
falava com a voz engasgada pelo choro enquanto tentava controlar suas
lágrimas.
- O que ela falou pra você antes de ir embora?
- Nada, ela só foi. Quando eu acordei ela já tinha ido. A gente discutiu
ontem, mas eu achei que pela manhã a gente pediria desculpas uma pra outra
e tudo ficaria bem... Eu não sei o que aconteceu. O que ela te falou ontem?
- Quem é David? - Zara se pegou perguntando.
Beatrice a olhou com a testa franzida e pausou as lágrimas por um
momento.
- É meu ex namorado, porquê? O que ela falou?
Zara respirou fundo sabendo que o que ela falaria a seguir provavelmente
quebraria o coração de Beatrice ainda mais.
- Bom... Ela falou que era sempre assim. Que estava acostumada a ser
colocada em segundo plano por causa de você e que aconteceu a mesma
coisa com o David. Ela praticamente falou que ele deu um fora nela porque
começou a gostar de você. E o tom que ela falou... Ela não gosta de você,
Beatrice.
- O quê...? - Beatrice parecia incrédula com essa informação. - Ela e o
David... Ficavam?
- Pelo jeito, sim... E ela não superou isso até hoje. Parece que ela está
criando uma competição interna com você nessas questões. Foi o que eu
achei.
Beatrice deixou o olhar perdido por um momento enquanto parecia
encaixar pequenas peças de quebra-cabeças em sua mente. Depois ela deu
um sorriso sem graça e negou com a cabeça.
- Eu sou mesmo muito idiota...
- Eu não acho que seja o caso. Me desculpa, mas ela que é uma péssima
amiga pra você.
- Parece que eu não conheço mais ela. - Beatrice a olhou com um olhar
triste que Zara retribuiu.
- Eu sinto muito...
- Eu não. - Beatrice se levantou do banquinho em que estava e enxugou as
lágrimas com as mãos. - Quer saber? Foi bom isso ter acontecido. Quem
sabe assim eu deixo de ser idiota.
- Você não é idiota...
- Inocente, o que seja. Eu nunca mais quero ver essa garota na minha
frente. Todo o conjunto do que ela fez... Mentir pra mim e me largar sozinha
em uma viagem que a gente planejou há meses sem ao menos querer
conversar comigo, isso é imperdoável.
- Talvez vocês ainda possam conversar...
- Não. Pra mim já chega.
- O que você vai fazer?
- Você disse que podia me ajudar.
- Sim... Eu tenho alguns contatos que trabalham com viagem, posso falar
com um deles pra te levar.
- Seria ótimo, obrigada.
Zara assentiu com a cabeça quando se sentiu um pouco triste por ter que se
despedir dela.
- Mas eu não vou hoje. Foda-se a Ágata, o David, o mundo. Eu vou ficar e
vou aproveitar minhas férias. Eu mereço esse descanso e esse tempo pra
mim, não vou deixar ela estragar isso.
Zara sorriu. Abertamente.
- Sim. Com certeza você merece.
- Conhece algum lugar bom pra me levar além dessa praia?
Ela sorriu ainda mais.
- Sim, conheço. Posso te levar agora se quiser.
- Então eu vou me trocar e vamos. Tudo bem por você?
- Claro. Te espero aqui?
- Sim, não vou demorar.
Os minutos que se seguiram foram os mais felizes da vida de Zara. Ok,
talvez ela estivesse exagerando, mas ela estava feliz demais pra pensar
direito.
Pouco tempo depois, Beatrice saiu do quarto, vestida com um biquíni azul,
uma saia amarrada na cintura, óculos de sol e um boné na cabeça. E ela
estava sorrindo, o que foi a coisa mais bonita do seu look.
Elas saíram e Zara a levou até sua loja de aluguel de Buggys, um pequeno
negócio local que ela tinha e que andava muito bem por aquela ser uma
cidade turística. Ela escolheu o modelo mais confortável e depois de pegar a
chave com uma de suas funcionárias, elas foram.
Vinte minutos dirigindo foi tudo o que ela precisou para levar Beatrice
para seu lugar secreto. Uma praia que era pouquíssimo frequentada por
causa de suas ondas violentas, mas o que quase ninguém sabia era que
entrando por um túnel dava para chegar em uma praia privada com piscinas
naturais e águas calmas que os hóspedes de um hotel próximo nunca
exploravam.
Dirigindo o Buggy pela areia e seguindo pelo túnel, Zara estacionou há
alguns metros da água e ajudou Beatrice a descer.
- Nossa... Que lugar lindo. - ela disse enquanto olhava para as formações
de pedras acima e voltava a olhar para a vista da praia privativa mais na
frente.
- É meu lugar secreto. Venho aqui quando quero ficar sozinha. Podemos
deixar as coisas aqui no carro e dar um mergulho.
- É seguro? Não vamos ser atacadas por um mega tubarão ou algo do tipo?
Zara teve que rir e tentou não olhar para ela igual uma psicopata enquanto
ela tirava todas as peças de roupa, exceto pelo biquíni. O que foi uma pena.
- Não, não tem nada disso aqui. Confia em mim. Vem...
Zara segurou sua mão e Beatrice entrelaçou os dedos nela, segurando
como se elas fossem um casal. E aquele foi o ponto alto daquele dia. Bom,
pelo menos até agora.
Ela guiou Beatrice até a água e elas entraram devagar.
- É quente...
- Sim. O melhor banho de mar que você vai tomar na sua vida vai ser
aqui, acredite.
- Eu não duvido.
Quando elas chegaram com a água na altura da cintura, Beatrice parou.
- Acho que aqui está bom.
- Vai pelo menos mergulhar? - Zara perguntou enquanto se abaixava e
mantinha seu corpo submerso na água.
- Talvez...
- Você não vai se arrepender.
Beatrice sorriu e se abaixou também, mas não manteve a cabeça fora
d'água. Ela mergulhou rapidamente e voltou, com seus cabelos
completamente molhados e estirados em suas costas.
- E aí?
- Mágico...
Igual seu sorriso, Zara pensou.
- Eu te disse. - Zara riu baixinho e elas se entreolharam por um momento
enquanto se mantinham abaixadas, com a água na altura do pescoço.
- Obrigada por... Isso. - Beatrice falou baixo, a olhando.
- Você merece relaxar, depois de tudo.
- É... - ela respirou fundo. - Acho que mereço.
- Olha... - Zara começou a falar. - Me desculpa por... Por ter te
encurralado daquele jeito no bar. Eu tinha bebido e bom... Eu queria muito te
beijar, mas eu não deveria ter forçado nada.
- Você não forçou. Eu te beijei porque eu quis.
E ouvir aquela frase causou um arrepio em toda a pele de Zara, quem
diria? E ela se pegou olhando pra boca dela mais uma vez.
- Você gostou? - Zara se aproximou um pouco ao sentir a tensão
crescendo.
- Eu... - Beatrice engoliu. - Eu gostei muito. Você me deixou... - ela
interrompeu a frase com uma risadinha, talvez quando percebeu que estava
falando mais do que planejava.
Mas Zara não deixaria ela parar por aí.
- Te deixei o quê? - Zara se aproximou mais e ficou tão perto que pôde
perceber a forma que a respiração dela já estava alterada.
Beatrice hesitou antes de responder, mas depois de olhar para sua boca e
deixar os lábios entreabertos, finalmente falou, embora que em um tom
baixo.
- Excitada.
A próxima coisa que Zara notou foi de estar com a boca colada na dela.
Um beijo intenso e quente se formou automaticamente e apesar da pitada de
gosto salgado por causa de toda aquela água, foi ainda mais delicioso que a
primeira vez.
Elas ficaram de pé para a água não atrapalhar o contato e colaram seus
corpos. Beatrice a agarrou pela nuca e as mãos de Zara foram
instintivamente para a cintura dela, a puxando cada vez mais. Ela queria ser
forte para não explorá-la com suas mãos, mas não conseguiu. Enquanto suas
línguas se encontravam em um beijo delicioso e excitante, as mãos de Zara
desceram pela pele deslizante e molhada dela, sentindo primeiro a alça da
roupa de banho de baixo e depois deslizando pela bunda lisa.
Beatrice suspirou com aquele contato e deu ainda mais intensidade ao
beijo. E, caralho, aquele era o melhor beijo que Zara já ganhou em sua vida.
Elas se encaixavam perfeitamente, parecia que aquela boca tinha sido feita
para beijá-la e nada mais.
Quando Beatrice chupou seu lábio inferior e se afastou por um momento,
elas se olharam, bem de perto.
- Você beija tão bem... - Zara ouviu ela falar contra seus lábios.
- Eu poderia te beijar pra sempre. - Zara riu ao ouvir o que ela mesma
tinha acabado de falar sem filtro algum.
- Eu iria gostar disso.
- Ah, é?
O beijo voltou, mais intenso do que antes. As línguas deslizando uma na
outra, assim como os lábios. E tudo o que Zara queria nesse momento era
deitá-la em qualquer lugar e fazer ela gozar. Mas ela só se apressaria assim
na sua mente. Sabia que Beatrice merecia conforto e deitar ela em um mar de
areia ou em um Buggy de aluguel não seria seu plano ideal para a primeira
transa delas. Isso é, se Beatrice quisesse ir tão longe quanto ela.
Em certo momento o beijo se desfez e Beatrice se afastou. Mas nada como
o primeiro afastamento. Elas ficaram ali naquela água por muito tempo,
mergulhando, conversando, rindo, brincando e claro, trocando vários beijos
quentes.
Depois de algumas horas, a fome as venceu e elas precisaram voltar. Zara
levou Beatrice para o melhor restaurante da cidade e elas almoçaram juntas
enquanto conversavam sem parar, uma conhecendo a vivência da outra sem
se preocupar com o futuro ou o passado. A troca que elas tiveram até aquele
momento já tinha valido muito mais do que qualquer transa que Zara havia
fantasiado em sua cabeça. E isso não era normal para ela.
No fim da tarde, ela estava com Beatrice na varanda da casa em que ela
estava. Elas bebiam uma cerveja enquanto olhavam o pôr-do-sol apoiadas na
cerca. Zara se pegou observando detalhadamente o rosto lindo de Beatrice
banhado pela luz dourada e ela parecia estar feliz. E relaxada.
Zara sorriu feito idiota quando teve o breve pensamento de que mesmo se
tudo aquilo não passasse de mera diversão e beijos, ela já estava feliz por
ter conhecido aquela mulher.
Beatrice a olhou de volta quando provavelmente se sentiu observada e
sorriu com os olhos.
- Acho que vou tomar um banho.
Zara olhou para seus lábios enquanto ela falava e percebeu que estava
viciada em beijá-la quando sentiu uma vontade incontrolável de fazer isso de
novo. Ela se adiantou e beijou seus lábios rapidamente, somente com um
breve estalo.
- Tudo bem...
- Vem comigo. - Beatrice sussurrou.
E ela não precisou chamar duas vezes.
Elas deram as mãos, entrelaçando seus dedos e foram em direção à suíte
do quarto dela. Enquanto Beatrice a guiava, Zara admirava seu corpo. O
biquíni bem apertado e talvez comprado em um número menor moldava seu
corpo e deixava sua bunda quase que completamente nua, os seios estavam
controlados embaixo do tecido e ela não via a hora de tirar aquilo dela.
Quando chegaram no banheiro, Beatrice as trancou como se elas não
estivessem sozinhas e então ligou a ducha quente.
Ela entrou primeiro no box de mármore e vidro e enquanto a água descia
por seu corpo, ela começou a tirar o pouco que vestia. Começando pela
parte de cima, desatando o nó em suas costas e pescoço, fazendo a peça
simplesmente deslizar até o chão. Depois foi a vez da parte de baixo,
desatando um lado e depois o outro.
Zara se arrepiou ao ver sua pele lisa e nua e não esperou nenhum segundo
a mais para entrar ali com ela. Ela tirou toda sua roupa e no próximo
segundo já estava embaixo do chuveiro com Beatrice, seus corpos nus e
molhados se acomodando um no outro.
As mãos delicadas de Beatrice deslizaram com timidez por seus peitos e
os acariciaram com delicadeza, como se fosse a primeira vez que ela fazia
isso. Mas Zara não precisaria de muito para se satisfazer com ela, sabia
disso.
Zara a beijou e se deliciou naquela boca, chupando os lábios e a língua
enquanto a encostava na parede de mármore. Beatrice suspirou e apertou sua
nuca com força.
- O que você vai fazer comigo? - ela perguntou como se não soubesse
como isso funcionava com duas mulheres.
Foi nesse momento que Zara soube que precisaria ir com calma
- Posso te tocar? - ela falou contra sua boca, deslizando seus lábios.
- Sim... - Beatrice ofegou enquanto segurava sua mão e a guiava para o
local certo. - Aqui?
- Isso... - Zara quase derreteu ao senti-la quente e deslizante em seus
dedos e Beatrice gemeu com o primeiro contato.
Apesar de estar molhada pela água da ducha, ao separar os lábios de seu
sexo ela podia sentir que aquela umidade era diferente. Era quente e cremosa
e a textura que ela sentia enquanto seus dedos deslizavam pra cima e pra
baixo era diferente da água que saía do chuveiro.
As pernas de Beatrice se separaram um pouco mais e ela se contorceu,
movendo seu quadril e fazendo mais pressão em seus dedos, o que quase fez
com que o autocontrole de Zara fosse embora.
Ela deslizou um dos dedos até a entrada dela e a penetrou devagar, só com
a ponta do dedo, como se pedisse permissão. Permissão essa que foi
concedida sem demora. Beatrice empurrou sua mão ali e fez com que ela a
penetrasse fundo.
O grito que ela deu foi nada menos que torturante e Zara gemeu com ela
quando a fodeu.
- Meu Deus... - Beatrice ofegou entre os gemidos. - Isso é tão gostoso...
Zara gemeu ao ouvi-la e suspirou contra sua boca.
- Você vai me enlouquecer.
- Me fode...
Zara fez o que ela pediu. Devagar. Sentindo a textura de sua carne contra
seu único dedo que estava dentro dela e girou. O gemido manhoso que
Beatrice soltou quase a fez gozar ali mesmo.
Seus lábios se esfregando enquanto os gemidos saíam foi uma tentação a
mais para Zara, que estava a ponto de romper a barreira do controle, mas
usou todas as suas forças para ir com calma. Isso durou pouco, pouquíssimo,
somente até Beatrice falar:
- Mais forte.
- Ah, meu Deus...
Zara beijou os lábios dela com delicadeza, como uma desculpa antecipada
pelo que ela iria fazer agora, apesar de ter sido pedido.
Antes de virá-la, Zara a fodeu forte, três ou quatro vezes, não contou. E
quando Beatrice gritou, ela a virou, colocando seu rosto contra o mármore
frio e puxando seu quadril para trás. Antes de penetrá-la novamente, Zara
deslizou seus dedos nela e lhe deu um segundo ou dois para reconsiderar,
mas tudo o que ela falou foi:
- Não para... - seguido de um gemido manhoso.
E lá se foi o autocontrole que Zara tanto estava lutando para manter.
Ela a fodeu forte. Como ela havia pedido. Até um pouco mais que isso.
Dois de seus dedos entrando e saindo por trás enquanto Beatrice se
empinava e implorava por mais. Os gemidos que saíam da boca dela eram
altos e arrastados, no mesmo ritmo das estocadas que ela lhe dava. A outra
mão de Zara foi automaticamente para os cabelos molhados dela, onde
segurou com firmeza, mantendo seu rosto no lugar, pressionado contra a
parede.
Aquela cena fez com que Zara ficasse louca e tirasse uma fotografia
mental. Ela jamais iria esquecer.
Sua mão desceu de seus cabelos por suas costas até chegar na bunda
empinada, onde ela distribuiu tapas e apertões, deixando a pele dela
avermelhada e com as marcas de seus dedos.
Beatrice arranhou o mármore liso com as duas mãos e revirou os olhos
quando começou a gozar. Os gemidos e as respirações estavam irregulares e
isso foi sexy pra caralho. Enquanto desacelerava as investidas e sentia sua
mão encharcada por sua excitação, Zara se perguntou como alguém
conseguia ser tão gostosa assim.
Droga, ela estava ferrada.
Muito ferrada.
Quando tirou seus dedos dela devagar, Zara se encostou em suas costas e
beijou seu rosto com delicadeza. O total contraste do que ela tinha acabado
de lhe dar naquela posição.
- Ual... - Beatrice sorriu e ofegou, tentando controlar sua respiração e
deixando seus braços caírem. - Isso... Foi... Ual.
- Você é perfeita. - Zara sussurrou em seu ouvido o que fez Beatrice dar
outros daqueles sorrisos lindos.
Depois de se recuperar mais um pouco, Beatrice se virou e deu a Zara um
dos melhores beijos de sua vida. Toda vez que ela a beijava se sentia dessa
forma, o que estava virando um costume.
Elas tomaram um banho sem pressa, uma ajudando a outra, o que foi o
suficiente para mais beijos e carícias começarem de novo. Mas dessa vez,
Zara a levou para a cama, onde elas passaram horas transando e
aproveitando cada momento extasiante.
***
Os dias foram se passando lentamente, o que foi uma coisa boa. Zara já
não dormia mais em sua própria casa. Ela passou a dormir com Beatrice
naquela casa alugada, onde elas aproveitaram cada dia, cada hora, cada
minuto juntas. Beatrice já não se lembrava de todo o estresse que ela passou
com sua amiga e toda a situação constrangedora, o que foi uma coisa boa.
Pelo que ela havia lhe contado, ela realmente precisava descansar sua mente
e fugir um pouco de sua realidade.
Por mais que tentasse não pensar sobre isso, Zara sabia que estava
apaixonada por ela. Cada dia que se passava, cada momento que elas
compartilhavam, cada risada e cada orgasmo estavam levando elas para um
caminho sem volta. Caminho esse que ela não queria pensar em como
terminaria.
Até que o último dia chegou.
O coração de Zara estava apertado. Aquela semana intensa pareceu
meses. Ela estava tão apegada a Beatrice que sentia uma angústia toda vez
que lembrava que ela teria que ir embora.
Todos aqueles dias, os momentos juntas, o sexo, e até mesmo os filmes
que elas viam juntas e abraçadas, tudo aquilo, valeu por uma vida inteira.
Zara não havia se preocupado em se entregar e mergulhou fundo em tudo
aquilo, sem pensar na breve consequência que elas teriam que enfrentar: a
despedida.
E esse maldito dia tinha chegado.
Quando Zara acordou e se virou para abraçá-la, Beatrice já estava de
olhos abertos, como se já estivesse acordada há muito tempo.
- Ei... Bom dia. - Zara sorriu tristemente ao acariciar seu rosto.
Sem falar nada, Beatrice se escondeu em seu pescoço e se acomodou em
seu abraço embaixo das cobertas. Ela não precisava falar nada para que
Zara soubesse exatamente o que ela estava sentindo, porque sentia o mesmo.
Não queria se despedir.
- Eu vou sentir sua falta... - Beatrice murmurou com a voz abafada em seu
pescoço.
Zara apertou e fechou os olhos quando aquela frase doeu mais do que
qualquer facada. Ela não conseguiu falar nada, ou seria banhada com uma
tristeza profunda.
- Você vai lembrar de mim? - Beatrice sussurrou, ainda sem olhá-la.
- Todos os dias. - Zara respondeu com a voz rouca, sem hesitar.
E não estava mentindo.
Beatrice respirou fundo e a abraçou com mais força, forçando sua pele
contra a dela.
- Eu nunca vou me esquecer de tudo isso, de você... E de tudo que me fez
sentir nestes últimos dias. - enquanto Beatrice falava, Zara percebeu que ela
estava chorando.
Droga. Ela não queria chorar. De verdade. Mas seus olhos já estavam
ardendo e avermelhados de tanto segurar aquela tristeza dentro dela. Ela não
entendia o porquê de estar se sentindo assim, sendo que desde o início de
tudo elas sabiam que tudo isso seria passageiro, mas a emoção e a
intensidade das duas a fizeram esquecer desse pequeno detalhe.
- Eu nunca vou esquecer de você, eu prometo... - Zara falou com a voz
fraca enquanto acariciava sua cabeça e se embebedava no cheiro bom de
seus cabelos.
Beatrice soluçou ao ouvi-la e fungou algumas vezes.
Deus... Apesar da dor, ela não se arrependia de nada, de nenhum segundo
que ficou ao lado daquela mulher. Ela faria tudo de novo sem pensar duas
vezes. Como era possível se apegar a alguém assim em tão pouco tempo?
Ela não sabia explicar, mas pouco se importava. Ela estava prestes a se
despedir da mulher mais incrível que ela havia conhecido em sua vida e
talvez nunca mais vê-la, não se torturaria com mais um pensamento intrusivo,
aquele sofrimento já era o suficiente.
Elas não se desgrudaram o dia inteiro. Beijos e choros foram trocados e
quando a hora da despedida finalmente chegou, Zara se sentiu destruída.
Depois de deixar suas malas no carro que ela havia contratado para a
viagem de volta, Beatrice voltou para ela, que estava encostada em uma
parede próxima.
- Promete manter contato? - Beatrice falou baixo, com a voz triste
enquanto sorria de lado.
- Claro... Fala comigo também, ok?
- Sempre.
Elas se abraçaram. Forte. E quando se soltaram um último beijo se
formou. Zara a beijou com delicadeza, decorando a textura de seus lábios e
de sua língua, decorando o sabor de sua boca e a sensação dos toques de
suas mãos em seu rosto. Quando uma lágrima escorreu de seu rosto, ela falou
aquilo que ela jamais se imaginou falando pra alguém, principalmente em tão
pouco tempo assim. E foda-se a lógica, foda-se esse maldito destino e foda-
se o mundo.
- Eu te amo. - ela falou sem medo, finalizando o beijo com um selinho.
Beatrice fechou os olhos quando soluçou e voltou a chorar, encostando a
testa na dela.
- Eu também te amo. Muito.
Quando Beatrice se afastou sem olhá-la e entrou no carro aos prantos,
Zara sentiu que um pedaço dela tinha ido com ela. Um grande pedaço. E
cara... Como aquilo doeu.
A cada metro que o carro se afastava, ela se sentia ainda mais destruída e
se perguntou se um dia isso ia passar ou se ela sentiria essa agonia pra
sempre.
Passando a mão em sem peito para ver se aliviava a dor de alguma forma,
Zara respirou fundo e foi para casa, sem se importar com as lágrimas que
não paravam de descer por seu rosto.
Aquela semana havia marcado sua vida pra sempre. De uma forma
maravilhosa e terrível ao mesmo tempo.
Deus... ela esperava vê-la de novo. Pelo menos uma vez.
Saudade - Parte 1

SAMANTHA
- ... e depois que isso aconteceu eu perdi totalmente a confiança nela,
entende?
Enquanto tomava o último gole de seu Blue Lagoon, Samantha ouvia, sem
ânimo, a mulher bonita que estava em sua frente falar.
Em um momento de devaneio ela se perguntou o que diabos ela estava
fazendo da sua vida. Na verdade, ela não queria estar ali. Não queria estar
em um encontro com uma mulher que conheceu em um aplicativo e não
parava de falar da ex namorada, não queria ter dado like nela, não queria ter
instalado a porcaria do aplicativo, mas ela se viu obrigada a seguir em
frente.
Há oito longos meses ela havia passado por um divórcio complicado.
Burocraticamente falando não houve nenhum problema, provavelmente foi o
divórcio mais fácil que aqueles dois advogados já intercederam. Mas toda
aquela situação a destruiu de várias formas.
Ela ainda amava sua ex-mulher, Evelyn, e tinha a sensação de que sempre
a amaria, apesar de tudo.
Elas haviam se casado muito novas e tudo era empolgante e excitante no
começo, mas o passar do tempo colocou seu peso naquele relacionamento. O
casamento de oito anos já não era mais o mesmo no final. E ela sabia que
muito daquilo havia sido culpa sua. Talvez tudo.
Samantha havia se acomodado e hiper focado no trabalho, deixando sua
esposa e filha pequena como segunda opção em sua vida, mesmo sem
perceber. Quando ela tentou consertar as coisas, infelizmente para Evelyn já
era tarde demais e o pedido de divórcio veio mesmo que ela achasse que
ainda poderia dar um jeito naquela situação.
Droga... às vezes ela só queria ter uma máquina do tempo e voltar para o
começo de tudo. Fazer certo dessa vez e fazer Evelyn se sentir amada como
ela merecia. Assim ela não perderia o amor de sua vida e o sonho de
construírem uma família grande juntas ainda seria uma realidade. Mas ela
não podia fazer isso, não é? Estava além das habilidades de uma mera
gerente de banco.
- Oi? - quando ouviu a mulher perguntando, Samantha voltou para a dura
realidade.
- Sim, desculpa. Eu te entendo. - ela suspirou. - Olha, eu não estou me
sentindo muito bem... podemos deixar isso pra uma outra hora?
A... Pamela? Amanda? Droga, ela sequer conseguia se lembrar do nome
dela. A mulher encostou na cadeira do restaurante chique e cruzou os braços.
- Claro. - ela respondeu sem alegria alguma, claramente frustrada.
Mais uma para a longa lista de pessoas que Samantha havia decepcionado
em sua vida. Uhu.
Samantha tirou a carteira do bolso e deixou em cima da mesa o valor da
conta, da gorjeta e do Uber da mulher, como uma forma de compensá-la.
Enquanto se levantava, ela se desculpava, mas apesar da decepção que a
mulher estava tendo naquele momento, ela não se obrigaria a fazer isso.
Ela não estava pronta para aquela baboseira, por mais que seus amigos a
aconselhassem. Ela não queria investir todo seu tempo e energia em pessoas
desconhecidas, não queria iniciar um relacionamento novo, não queria
começar do zero com ninguém.
Ela não estava pronta para deixar Evelyn ir. Apesar de saber que
provavelmente nunca a teria de volta.
Quando ela chegou em casa e abriu a porta, se deparou com seu
apartamento novo mortalmente silencioso e arrumado, o que fez seu coração
doer. Tudo estava no mesmo lugar que ela deixou quando saiu. Os móveis, as
almofadas, as cortinas, todos em seus devidos lugares. Sem riscos nas
paredes e sem brinquedos espalhados pela sala. Sem cheiro de comida vindo
da cozinha e sem roupas para dobrar em cima da cama. Nada.
Deus... ela daria tudo para chegar em casa e ouvir sua pequena gritando
"Mama!" enquanto corria para a abraçar depois de um dia exaustivo. Ela
nunca mais teria aquilo, não é?
Com seu rosto queimando pelas lágrimas que ela não tentou controlar,
Samantha sequer trancou a porta quando se direcionou para seu quarto e se
deitou. Ali não tinha nada para um ladrão, assim como não tinha nada para
ela.
Com essa triste conclusão, ela adormeceu naquela noite fria e solitária.
***
Apesar de tudo, hoje seria um bom dia e esse seria um ótimo final de
semana. Era seu final de semana com sua pequena Emily e esses dias eram
os únicos em que ela não sentia um vazio existencial. Isso até ela precisar
levá-la de volta e ficar longe dela por duas semanas inteiras.
Samantha deixou tudo pronto para recebê-la. Ajeitou o quarto que tinha
montado para ela e deixou um presente embrulhado em cima da cama
pequena de lençóis rosa. Então se apressou para buscar sua filha.
Ela estacionou próximo ao seu antigo prédio e se encostou no carro
depois de mandar uma mensagem para Evelyn avisando que havia chegado.
Ela se recusou a ficar nostálgica enquanto olhava ao redor, na rua tranquila.
Tinha sido assim nos primeiros meses depois da separação, mas agora ela
estava começando a se habituar com sua triste realidade, apesar de todo
sofrimento que passou.
Aquela não era mais sua rua, aquele não era mais o prédio em que ela e
sua família moravam. Agora ela morava em outra cidade, há mais de uma
hora de distância. Longe de tudo aquilo e de qualquer lembrança de sua
antiga vida e isso realmente ajudava.
Poucos minutos depois ela viu as duas pessoas que ela mais amava no
mundo aparecerem no hall de entrada do prédio, saindo do elevador.
Samantha sorriu ao imaginar que levaria as duas para um passeio, coisa
que elas nunca faziam, e elas passariam o dia inteiro juntas, se divertindo e
sendo a família que elas tanto planejaram ser.
Ela se aproximou da porta de vidro e esperou, sentindo seu coração bater
forte.
Era a primeira vez que ela via Evelyn desde o divórcio. Até esse dia, não
era ela quem levava Emily para Samantha e sim sua mãe, como uma
intermediadora. O que quebrou o coração de Samantha em mil pedaços, mas
ela respeitou seu espaço.
Ela estava diferente. Havia pintado os cabelos, agora estava ruiva, o que
destacava ainda mais seus olhos azuis claros. Deus... ela estava linda.
Radiante. E parecia estar vestida para sair. Um encontro, talvez?
- Mama! - Emily deu pulinhos ao vê-la e largou a mão de sua mãe,
correndo até a porta de vidro que ainda estava fechada.
O pequeno ser humano que tinha um poder tão grande de deixar tudo na
vida de Samantha melhor, começou a dar pulinhos enquanto olhava pra cima,
para ela, com alegria. Emily estava com os cabelos lisos e de franjinha
presos em duas marias-chiquinhas e vestia uma blusinha de unicórnio e uma
saia de frufru lilás. Adorável.
O coração de Samantha se enchia de amor só de olhar para ela.
- Ei, minha pequena! - Samantha sorriu ao vê-la e deu batidinhas no vidro,
ansiosa para pegá-la no colo. - Você está tão linda!
Evelyn liberou a porta apertando um botão e as bases duplas se
separaram. Emily se jogou nos braços de Samantha que já estava pronta para
tirá-la do chão e a apertar em um abraço. Os bracinhos pequenos e finos
rodearam seu pescoço e a apertaram com toda força, o que era quase nada, e
Samantha se pegou olhando para Evelyn e seu novo visual.
- Ela está tomando remédio de verme. - e aquela foi a primeira frase que
Evelyn falou depois de meses sem vê-la. - Os vidrinhos estão na bolsa, um
por dia, tá? - ela se aproximou segurando a pequena mala de Emily com tudo
o que ela provavelmente precisaria para dois dias e muito mais.
- Ok, tudo bem. - Samantha equilibrou a pequena Emily em um braço só e
pegou a malinha com a mão livre. - Gostei do cabelo, combinou com você.
- Obrigada. - Evelyn sorriu timidamente e passou a mão nos cabelos
sedosos na altura dos ombros.
Deus, como ela sentia falta dela.
Elas se olharam por um curto momento, que durou uma vida inteira para
Samantha. Era bom vê-la, mesmo que rapidamente. Quando Samantha abriu a
boca para falar aquilo, Evelyn se adiantou:
- Como você está? - ela perguntou, a olhando com... o que era aquilo?
Preocupação? - Não está comendo direito? Você emagreceu.
- Ah... Eu... - Samantha suspirou quando sentiu sua voz embaralhar. - Eu
estou bem, só... Você sabe...
Evelyn a enviou um olhar triste que com certeza estava sendo retribuído.
- É, eu sei...
- Mas vai ficar tudo bem. - Samantha tentou se convencer falando aquilo
em voz alta. - Você está bem?
- Estou... - Evelyn suspirou e colocou uma mecha de cabelo atrás de uma
orelha.
Elas se entreolharam por mais um momento, mas Evelyn não deixou esse
momento durar muito e piscou algumas vezes, desviando o olhar
rapidamente.
- Ah... Você precisa trazer ela de volta no domingo cedo porque vamos
viajar.
Samantha franziu as sobrancelhas.
- Viajar?
- Não é longe, só vamos passar uns dias na praia. - Evelyn cruzou os
braços como se estivesse se preparando para uma discussão ou para rebater
qualquer coisa que Samantha poderia falar contra aquilo.
- A gente vai pra casa do tio Alex. - a pequena Emily se intrometeu com
uma voz empolgada, batendo palminhas.
- Quem é o tio Alex? - Samantha perguntou, mesmo com medo da resposta,
enquanto seu coração acelerava.
- É o namorado da mamãe. - a menina falou com uma voz meiga, trocando
o "R" por um "L".
E foi nesse momento que a dor atravessou seu peito.
- Emily! - Evelyn chamou a atenção dela como se ela tivesse falado sem
permissão.
Samantha piscou algumas vezes enquanto processava o que tinha acabado
de ouvir saindo da boca de sua filha de três anos.
- O que? - ela falou baixo, talvez tão baixo que ninguém a ouviu.
Evelyn pareceu vacilar, abrindo a boca e provavelmente procurando
palavras para falar algo naquele momento constrangedor.
- Seu namorado? - Samantha perguntou a olhando nos olhos. - É sério?
- Ah... Eu... Não, ele não é namorado da mamãe. - ela olhou para Emily
somente para não ter que olhar diretamente para Samantha.
- É sim! Ele deu um beijo na sua boca! Eu vi! E a vovó me falou. - Emily
falou com a voz animada e inocente.
Apesar de sua mente estar girando com mil pensamentos ao mesmo tempo,
Samantha não soube o que falar. Ela precisou olhar para baixo para ter
certeza de que não tinha uma faca ou uma estaca atravessando seu peito.
Não. Tudo estava no lugar. Mas a dor estava ali.
Vendo sua confusão, Evelyn olhou para ela.
- Olha, a gente conversa depois, ok? Agora não é um bom momento... - ela
falou desanimada.
Samantha baixou a cabeça e encarou o chão por um momento quando
aquela nova realidade começou a aparecer diante de seus olhos... Um
homem? Deus... Ela não sabia como reagir àquela informação. Ela sabia que
Evelyn provavelmente deveria sair com outras pessoas, mas um homem?
Aquilo feriu seu ego de uma forma estranha. Mesmo sem direito algum.
- Acho que a gente não precisa mais conversar. - Samantha se pegou
falando com um sorriso triste, sem conseguir olhá-la nos olhos.
- Sam...
Samantha bloqueou qualquer sentimento que ela poderia ter ao ouvir
Evelyn chamando ela daquele jeito.
- Vamos, princesa? - ela focou em Emily. - Tá com fome?
- Tô! - Emily levantou os bracinhos, animada, sem fazer a mínima ideia do
que estava acontecendo ali.
E fingindo que nada daquilo tinha acontecido, Samantha olhou para
Evelyn.
- Qualquer coisa eu mando mensagem.
Evelyn se adiantou para falar algo, mas ela se virou e saiu dali. Com sua
filha nos braços e seu coração quebrado de uma forma que ela sabia que
nunca mais iria se colar novamente.
Saudade - Parte 2

EVELYN
Quando viu Sam se afastar com Emily nos braços, o coração de Evelyn se
apertou. Droga, não era pra ter acontecido daquela forma. Mas ela sabia que
cedo ou tarde Emily iria contar para sua outra mãe sobre o Alex. Mas que
outra escolha ela teria a não ser seguir em frente? Principalmente depois de
saber por uma amiga que Sam estava tendo encontros com outras mulheres.
A diferença é que ela agora namorava um homem.
Bom, tecnicamente, Alex e ela não namoravam. Mas depois de três meses
de encontros e de apresentá-lo para sua filha, ela tinha que assumir que as
coisas estavam indo para um patamar mais sério, por mais que ela fingisse
que não.
Evelyn tentou ir com calma, mas sabe aquela velha história de que
mulheres lésbicas se emocionam muito rápido e querem logo se casar? Bom,
ela descobriu que em relacionamentos heteroafetivos isso era ainda pior,
quem diria?
Ela nunca achou que um dia se interessaria por algum homem, mas ela era
muito nova quando começou a se relacionar com Sam e de seus dezoito anos
até agora ela não havia explorado muito sua sexualidade e estava pronta para
se entender melhor.
Isso nunca tinha sido uma necessidade para ela. Enquanto estava com
Sam, Evelyn sequer pensava em ficar com outras pessoas. Ela estava
satisfeita com sua mulher e sua sexualidade, até as coisas começarem a
esfriar.
Gradativamente, Sam começou a se afastar dela como mulher, se
esquecendo dela e focando apenas em seu trabalho, chegando ao ponto de
passarem mais de um mês sem fazer sexo e isso foi demais para Evelyn.
Ela queria se sentir desejada, bonita, amada. Queria se sentir uma mulher
de verdade e não apenas uma mãe e uma dona de casa como estava sendo
nos últimos anos. Ela merecia isso, merecia alguém que a visse dessa forma.
Antes de decidir se divorciar, Evelyn tentou fazer com que Sam abrisse os
olhos e a enxergasse da forma que ela queria. Mas era muito humilhante se
preparar depois de um dia cansativo sendo mãe e cuidando de uma casa
sozinha, tomar um banho caprichado, chegar na cama e ver a pessoa que
deveria lhe desejar dormindo profundamente. Esse foi o dia em que Evelyn
decidiu que não esperaria mais.
Não esperaria Sam começar a valorizá-la magicamente, isso nunca
aconteceria e Evelyn se manteve firme quando ela lhe disse várias
promessas de melhoras somente quando percebeu que havia lhe perdido. Era
tarde demais. Ela teve muitas oportunidades para fazer tudo aquilo que havia
prometido e muito mais, mas não aproveitou.
E por mais difícil que fosse se escolher, Evelyn fez.
Agora, oito meses depois, era difícil ver Sam naquela situação. Por isso
preferiu não vê-la até hoje, isso iria matá-la aos poucos. Então buscou ajuda
de sua mãe para intermediar as visitas, mas hoje ela quem precisou levar
Emily pois sua mãe havia viajado com uma de suas tias. O que foi bom.
Evelyn não poderia evitar Sam para sempre. Elas tinham uma filha juntas,
pelo amor de Deus. Estava na hora de ser madura e encarar a realidade de
frente.
Só que ela não achou que seria tão difícil vê-la de novo.
Apesar de não perder nada de sua beleza, Sam estava um caco. Evelyn a
conhecia como ninguém e nunca havia visto Sam dessa forma. Ela havia
perdido bastante peso, tinha olheiras fundas e o seu sorriso não era mais o
mesmo. Seu coração se partiu ao vê-la daquele jeito.
E era esse tipo de sentimento que ela queria evitar, mas não podia fugir
para sempre.
Respirando fundo, Evelyn voltou para seu apartamento, tentando evitar
todos aqueles sentimentos e sensações novas e antigas que viera à tona ao
ver Sam novamente.
Ao entrar, viu Alex sentado em seu sofá. Por um momento ela havia
esquecido de que ele estava ali e desejou ter um momento sozinha para
absorver tudo aquilo que estava sentindo, mas isso não era encarar as coisas
de frente, não é?
Ela sorriu para ele, mas não foi até lá, se direcionou para cozinha e se
ocupou mais do que o necessário para beber um copo d'água.
- E aí, como foi? - ela ouviu Alex se aproximando.
- Tudo certo. - ela forçou um sorriso para ele que já havia chegado na
cozinha, enquanto voltava a beber.
- Ela falou alguma coisa quando você falou da viagem? Você estava
preocupada que...
- Não. Não falou nada. - Evelyn o cortou. - Está tudo certo.
Alex franziu a testa.
- Tem certeza que está tudo bem?
- Sim, tenho. - ela colocou o copo meio vazio no balcão. - Vou só pegar
minha bolsa e saímos para almoçar, está bem? - mais um sorriso forçado.
Quando ele assentiu, ela foi para o quarto e pegou sua bolsa. Sem pensar
em nada ela voltou para ele e logo saíram.
***
A tarde foi agradável, o almoço foi ótimo e o restaurante era perfeito, mas
Evelyn não conseguia tirar da cabeça o sorriso triste que Sam deu para ela
ao falar que elas não precisavam mais conversar.
O que ela estava pensando? Que se elas parassem para conversar tudo iria
se ajeitar magicamente? Não, elas realmente não precisavam conversar
sobre nada daquilo. Nem sobre nada. Sam estava certa.
Sem perceber, Evelyn ligou seu piloto automático e quando ela percebeu
já era noite. Ela estava de volta em seu apartamento com Alex, deitada na
cama depois de um longo banho relaxante, esperando ele sair do banheiro.
Ela se pegou pensando que não queria que ele estivesse ali. Só hoje ela
queria um tempo para ela mesma, para lidar com algumas coisas internas e
organizar seu coração e seus pensamentos, que eram todos uma bagunça
imensa.
Foi triste perceber que mesmo depois de tudo que ela havia passado, ela
ainda não tinha aprendido a se colocar em primeiro lugar. Ali estava ela,
deitada em sua própria cama, esperando um homem que ela havia conhecido
há três meses sair de seu banheiro e transar com ela na sua cama, mesmo sem
vontade.
O que droga ela estava fazendo de sua vida?
Seu telefone tocou na mesa de cabeceira, cortando seus pensamentos e ela
gelou ao ver o nome de Sam na tela.
Ela se sentou rapidamente e pegou o celular, atendendo rapidamente.
- Sam? Está tudo bem?
- Ah, oi, é... Não foi nada sério, mas eu estou no hospital com a Emily. -
ela ouviu a voz calma de Sam do outro lado da linha.
- O que?! O que aconteceu?
- Foi um pequeno acidente, eu estava brincando com ela no playground do
condomínio e ela tropeçou e bateu a testa em um dos brinquedos.
- Oh, meu Deus. Cadê ela, Samantha?!
- Fica calma, ela está levando alguns pontos e vai fazer uns exames...
- Pontos?! Em qual hospital você está?! - Evelyn perguntou já se
levantando da cama e apoiando o celular entre o rosto e o ombro, pegando a
primeira roupa que apareceu em seu guarda-roupas para vestir por cima da
lingerie sensual.
- Perto de onde eu moro, no Harmony Grove, fica muito longe daí e...
- Ok, estou indo.
- Evelyn, você não precisa vim, é mais de uma hora dirigindo. Eu só
queria te dizer o que tinha acontecido, ela vai ficar bem. Não foi nada sério.
- Não interessa, eu vou. Quando eu chegar te ligo.
Ela não esperou uma resposta e desligou, se organizando o mais rápido
que pôde e procurando as chaves de seu carro.
- Ei, está tudo bem? - Alex saiu do banheiro enrolado em uma toalha.
- A Emily se acidentou, eu preciso ir para o hospital. - Evelyn estava
frenética e com as mãos trêmulas enquanto calçava os sapatos e vestia o
casaco, os dois ao mesmo tempo.
- O que houve? Ela está bem?
- Sim, mas vai precisar levar uns pontos na testa e fazer uns exames.
- Deixa que eu levo você.
- Não. - Evelyn parou tudo por um momento, mas quando percebeu que
tinha sido muito rude em sua resposta, tentou amaciar. - Não precisa, eu
prefiro ir sozinha, tudo bem? A Sam está lá. - ela não deu mais nenhuma
explicação. Ele era grandinho o suficiente para entender.
Alex fez uma cara de frustração que a este ponto Evelyn não deu a mínima.
- Tudo bem... Eu vou voltar pra casa, mas se precisar de mim me liga, está
bem?
- Sim, claro, pode deixar. - ela respondeu automaticamente.
E com a mente frenética, ela saiu.
O trajeto foi mais longo do que parecia. Apesar das multas de alta
velocidade que ela provavelmente receberia depois, ela não se importava.
Ao menos havia chegado no hospital meia hora antes do esperado.
Quando finalmente estava na recepção, ela deu o nome de sua filha e de
Sam e esperou a lenta atendente lhe dar alguma informação.
- Você é da família?
- Sim, sou mãe da Emily.
A mulher franziu a testa.
- Ela está com a mãe dela, aqui diz... Samantha.
Evelyn estava sem paciência alguma quando entregou a certidão de
nascimento de Emily e sua carteira de identidade para a recepcionista.
- É, ela tem duas mães, bem vinda ao século 21.
A mulher verificou duas vezes a certidão e a identidade até finalmente
deixá-la entrar, lhe dando o adesivo de identificação de acompanhante.
- Leito 403, quarto andar. Elevador à esquerda.
Evelyn pegou sua documentação de volta e praticamente correu para o
elevador e enquanto esperava, mandou uma mensagem para Sam avisando
que estava subindo.
Chegando no quarto andar, ela olhou para os lados e a viu no corredor do
lado direito, e correu até ela.
- Sam! Cadê ela? Como ela está?
- Ei! Calma. Ela está dormindo. - Sam falou com a voz baixa e calma, a
segurando pelos ombros rapidamente. - Já levou os pontos e fez o curativo.
Estou aguardando o resultado do exame. Por enquanto ela está em
observação.
Evelyn respirou fundo.
- Quero vê-la.
- Vem.
Sam a guiou até o quarto 403 e quando ela entrou, viu sua pequena deitada
numa cama confortável, dormindo coberta com um edredom até o pescoço e
com um pequeno curativo na testa.
Evelyn se aproximou e afastou os fios de sua franja do curativo.
- Ela foi muito forte, nem chorou quando a médica deu os pontos.
Evelyn se pegou sorrindo enquanto olhava para a pequena versão de Sam
na sua frente.
- Ela é mesmo muito forte, não é?
- É sim.
- Eles falaram em quanto tempo sai o resultado dos exames?
- Não me deram um prazo, mas...
Antes de finalizar a frase, uma médica entrou no quarto.
- Com licença, é aqui que está a princesa Emily?
- Sim, doutora. É o resultado dos exames? - Evelyn se aproximou, com o
coração acelerado. - Ela está bem?
- Ah, sim, mais que bem. Ela tem uma cabecinha bem dura. Sem
concussões, apenas um corte superficial que já foi suturado. - a doutora
entregou alguns papéis para ela. - Aqui está a alta, os exames e a receita das
medicações para dor. Não precisam se preocupar, amanhã ela já vai ter
esquecido que isso aconteceu e vai estar pulando de novo.
- Ah, graças a Deus. - Evelyn ofegou. - Então podemos ir?
- Sim, estão liberadas. Bom descanso para vocês, mamães.
- Obrigada. - as duas falaram ao mesmo tempo antes da médica sair.
Evelyn entregou o amontoado de papéis para Sam e foi até Emily que
ainda dormia profundamente.
- Vamos para casa... - ela murmurou para ninguém enquanto tirava as
cobertas do corpinho com cuidado e a trazia para seus braços.
- Você não vai levar ela embora, vai? Eu não passei nem um dia com ela.
- É, e olha o que aconteceu.
- Ok, agora você não está sendo justa.
Evelyn respirou fundo e acomodou Emily em seus braços, deitando a
cabecinha dela com cuidado em seu ombro.
- Me desculpa, eu sei que não foi culpa sua. Eu só... Acho melhor levar
ela embora.
- Por favor, deixa eu ficar com ela. - Sam pediu de forma calma, mas logo
voltou a ficar firme. - É meu direito, eu também sou mãe dela. E sei cuidar
dela.
- Sam... - ela tentava manter a voz baixa para não acordá-la.
- Você não vai ficar mais de uma hora sozinha com ela em um carro, ela
precisa descansar. E você ouviu a médica, amanhã ela vai estar ótima. Não
leva ela embora.
Evelyn se calou por um momento enquanto decidia, mas percebeu que não
podia tirar o direito de Sam de ser tão mãe quanto ela naquele momento, se
colocando em seu lugar. Como ela quem havia gerado Emily, ela tinha a
maior parte da guarda, mas sabia o quanto Sam era cuidadosa e amorosa
com ela e apesar de não ter sido uma boa esposa no final... Ela era uma boa
mãe.
- Por favor. - Sam finalizou.
E Evelyn finalmente cedeu.
- Tá, tudo bem.
Os ombros de Sam cederam como se tivessem sido liberados de uma
prisão.
- Obrigada...
- Você veio de carro?
- Não, eu chamei um Uber. Tive que ficar estancando o sangramento.
- Aqui. - Evelyn se virou um pouco de lado. - A chave do meu carro está
aqui na minha bolsa, pode pegar. Vamos, eu te ajudo a levar ela. Você dirige.
E tudo aconteceu muito rápido. Sam pegou a chave do carro, a malinha de
Emily e elas desceram, saíram do hospital e entraram no carro. Evelyn não
quis largar Emily por um só segundo e manteve ela em seus braços enquanto
Sam dirigia, mesmo que isso lhe causasse uma multa, além das de
velocidade que ela provavelmente receberia.
Depois de passar em uma farmácia e comprar as medicações que Emily
precisaria, elas chegaram no prédio em que Sam agora morava e ela não
pensou muito sobre isso até estar no elevador, com a pequena ainda
adormecida em seus braços e Sam acariciando a pequena cabeça dela.
Quando a porta metálica se arrastou para o lado, elas saíram e Sam abriu
a porta do seu apartamento. O lugar estava organizado, apesar de sem vida,
mas ela não estava ali para dar uma de crítica de design de interiores.
- Onde eu deixo ela?
- Aqui, vem. - Sam a guiou até um quarto muito enfeitado e decorado com
coisas cor de rosa, diferente do resto do apartamento.
Evelyn acomodou Emily em sua pequena cama e quando foi tirar seus
sapatos viu que ela já estava sem, então só a cobriu e a aconchegou, dando
um beijinho em sua cabeça.
Quando se virou, Sam estava olhando para elas com o olhar mais doce do
mundo, um que ela não se lembrava a última vez que tinha visto.
Quando saíram do quarto, Evelyn olhou ao redor e cruzou os braços.
- Gostei do seu apartamento.
- Obrigada... - Sam fechou a porta do quarto de Emily com cuidado. -
Quer beber alguma coisa?
- Um pouco de água seria bom.
Quando Sam foi em direção à cozinha, ela a acompanhou.
- Está com fome? Posso preparar alguma coisa...
- Não, estou bem, obrigada.
Pouco tempo depois ela estava com um copo d'água na mão e olhava para
Sam que estava encostada na geladeira, de braços cruzados e olhando de
volta para ela. Apesar de estar calada, Evelyn sabia que aquele olhar falava
muito. Sobre muitas coisas.
- Há quanto tempo você tá saindo com ele? - ela ouviu Sam perguntar num
tom baixo e firme, apesar de triste.
Evelyn respirou fundo e apoiou o copo em um balcão e teve uma sensação
de déjà vu, mas dessa vez não era Alex ali, era Sam, quem diria?
- Três meses. - ela respondeu sem olhá-la.
- Eu nunca imaginei que você se interessaria por homens.
- Eu nunca tive tempo para explorar isso. Você sabe que foi minha
primeira em tudo, eu não tinha muita experiência antes do nosso
relacionamento, começamos tão novas...
Sam assentiu com a cabeça e desviou o olhar por um momento.
- Bom, espero que tudo dê certo pra vocês. - ela voltou a olhá-la.
Evelyn a observou por um momento e deu uma risadinha involuntária.
- Não seja mentirosa.
Ela sorriu quando viu o sorriso de Sam, apesar das circunstâncias
estranhas que tinham levado elas até esse momento, era bom vê-la sorrir.
- É, talvez eu esteja sendo. - Sam falou com meio sorriso.
Depois de um curto momento de silêncio, Sam endireitou os pés no chão.
- Olha, você não precisa ir embora hoje. Pode dormir na minha cama e eu
fico no sofá. Já está tarde e com certeza a Emily vai gostar de te ver quando
acordar depois de tudo isso.
Evelyn olhou para o Cassio em seu pulso e se surpreendeu quando viu que
já se passavam da meia noite. Mas mesmo assim, ela negou.
- Não precisa... Não quero tirar sua privacidade.
- Foi uma noite longa e nossa filha está no quarto com três pontos na testa,
pode ter certeza que a última coisa que eu estou me preocupando agora é
com a minha privacidade. - ela sorriu mais uma vez. - Fica e descansa,
amanhã você volta pra casa.
Sim, Evelyn sabia a resposta que ela tinha que dar. Sabia que não deveria
passar a noite ali para o bem de todos os envolvidos, mas a resposta que ela
deu foi totalmente contrária do que planejou:
- Tudo bem. Vou ficar, se não for incômodo.
- De jeito nenhum. Vou organizar a cama pra você. - Sam falou com uma
animação nítida em seu tom enquanto abria um dos armários da cozinha e
tirava uma garrafa de dentro. - Enquanto me espera, acho que você vai gostar
disso aqui.
Evelyn viu a garrafa de seu vinho favorito em cima do balcão e logo uma
taça de cristal foi colocada ao lado dela. Ela suspirou e sorriu quando soube
que seria fraca demais para negar a cortesia. Ela estava realmente
precisando relaxar um pouco, apesar da ironia que era estar ali naquele
apartamento.
Sam a deixou ali por um momento e saiu para fazer o que tinha dito.
Quando ela voltou, metade do vinho já tinha ido embora e Evelyn se servia
de mais enquanto Sam se apoiava no balcão de frente para ela, cruzando os
braços.
Apesar de mais magra, ela ainda estava em forma. Dado seu estado de
espírito, Evelyn sabia que ela não deveria mais estar treinando pesado como
antes, mas ainda restava alguma massa muscular por ali. Agora que ela
estava vestindo uma camiseta, os braços e os ombros marcados e torneados
estavam aparentes. Isso era uma coisa que Evelyn costumava achar muito
sexy. Pelo jeito ainda achava.
Droga, porque ela tinha que ser tão bonita? Ela se odiou por ainda sentir
uma maldita atração por aquela mulher.
- Então, como andam as coisas? - Evelyn perguntou despretensiosamente,
tentando desviar o olhar daquele conjunto bonito de músculos magros.
Sam deu de ombros e suspirou.
- Tem sido difícil.
- Como chegamos a esse ponto? - Evelyn se pegou perguntando, olhando
fixamente para Sam, que lhe enviou um olhar desanimado.
- Foi culpa minha. Eu sei disso. Só que quando notei já era tarde demais.
Eu já tinha perdido vocês.
- É... - Evelyn suspirou. - A gente se amava tanto. É estranho ver que
estamos assim agora.
- Você sabe que eu ainda te amo. Nunca deixei de amar.
Aquela frase pegou Evelyn de uma forma que ela não esperava. Sim, ela
sabia, mas ouvir ela falando aquilo era um nível muito mais superior do que
somente saber.
- Não fala isso, não agora.
- É a verdade. - aquele olhar que Sam a enviava não era nada justo com
ela, não depois de tudo.
Ela a olhava com paixão, desejo, amor, tudo que ela sempre quis. Só que
agora era tarde demais pra isso, não era...?
Era o que ela pensava, até perceber que Sam estava se aproximando dela
e deixando seus rostos bem perto, perto demais. Então se pegou olhando
para a boca dela. Ela não se lembrava mais de como era seu beijo, o que foi
bem triste na verdade.
Quando sentiu a mão de Sam em sua nuca e seus dedos se entrelaçando
entre os fios de seus cabelos, Evelyn se sentiu incapaz de manter seus olhos
abertos. Aquele toque, aquele perfume, aquela sensação, tudo aquilo era tão
familiar e ao mesmo tempo tão estranho que ela não soube como reagir.
Seu rosto foi erguido e sua boca ficou entreaberta involuntariamente. Ou
teria sido voluntariamente? Não sabia de nada naquele ponto. Só sabia que
queria sentir de novo a boca de Sam contra a sua, sua língua a saboreando e
relembrar seu beijo.
Como se quisesse lhe torturar, Sam passou os lábios nos dela suavemente,
mas não a beijou, mesmo quando a língua de Evelyn se adiantou para seus
lábios com a esperança de beijá-la. E aquela pequena tortura fez com que
sua barriga se encolhesse quando ela se excitou.
Elas se entreolharam. Sam parecia lê-la naquele momento, observando
suas feições e suas reações corporais, que a entregavam.
Quando Sam olhou fixamente para sua boca, Evelyn se odiou por ser tão
fácil para ela. Era o primeiro dia que elas se viam depois do divórcio e olha
onde elas estavam. Era tudo isso que ela temia que acontecesse, e ali estava
ela, sendo a maior hipócrita de todos os tempos.
- Eu acho melhor... Eu ir deitar. - Evelyn falou, mesmo sem vontade. Só
sabia que era o certo a se fazer.
Em resposta, Sam segurou seu rosto com as duas mãos e baixou ainda
mais o seu em sua direção, colando seus lábios e chupando os seus.
O beijo aconteceu naturalmente, por mais estranho que fosse. Era como se
suas línguas tivessem imãs e fosse fisicamente impossível não se colarem
naquele momento, e o encontro foi perfeito. A língua de Sam foi suave contra
a sua, os lábios chupando os seus com delicadeza e fogo foi uma mistura que
ela não sentia há muito, muito tempo. Nem com o Alex, nem com as poucas
outras pessoas que ela ficou antes dele e depois de Sam.
Mas não era justo, era? Sam sabia exatamente de tudo que ela gostava,
sabia como beijá-la melhor do que ninguém, ela conhecia cada detalhe de
seu corpo e sabia como provocá-la da forma certa, e foi isso que ela fez.
O beijo ficou mais intenso e carnal, os rostos virando de lado de forma
sincronizada, as mãos por todos os lugares ao mesmo tempo e os corpos
grudados. Um beijo que ela não se lembrava da última vez que tinha
ganhado.
Evelyn notou que era aquilo que ela estava procurando depois que elas se
separaram. Inconscientemente ela buscava Sam em outras pessoas, buscava
aquele exato beijo, aquela paixão, aquele fogo, mas não havia encontrado.
Até agora.
Ela não iria encontrar isso em mais ninguém, não era? Droga...
Em um momento de consciência, Evelyn parou tudo aquilo e por mais que
sua respiração e a umidade entre suas coxas a contrariasse, ela afastou Sam.
- Eu... - ela engoliu forte enquanto tentava organizar seus pensamentos e
sua respiração. - Eu vou me deitar, está bem?
Com a boca avermelhada e as bochechas rosadas, Sam estava da mesma
forma que ela, excitada e frustrada, mas era melhor assim. Ao menos ela
tentou se convencer de que era.
- Boa noite, Sam.
Sam apenas assentiu rapidamente e ela saiu dali sem falar mais nada,
antes que fizesse algo que mudasse completamente o rumo de sua vida.
Ou talvez já tenha feito.
Confusa e excitada, Evelyn foi para o quarto de Sam e graças a Deus tinha
um banheiro ali.
Ela lavou seu rosto com água fria e esperava que o choque térmico fizesse
seu trabalho e a trouxesse de volta para a realidade, mas foi difícil.
Com sua mente a mil, ela se trocou para dormir mais confortável. Depois
de tirar sua roupa e vestir uma camisa de Sam que tinha seu cheiro bom
impregnado nela, ela apagou as luzes e se deitou, se aninhando em um
cobertor.
Quinze minutos se passaram e ela não havia grudado os olhos nem por um
minuto. Na verdade, ela estava sem sono algum. Seu corpo ainda pegava
fogo porque as sensações e lembranças do que tinha acabado de acontecer na
cozinha ainda estavam em sua mente. Vívidas.
Evelyn criou um impasse entre querer mais, muito mais do que aquele
beijo, ou se arrepender amargamente por ter se deixado levar e isso a estava
deixando louca e tirando sua paz. Porque ela sabia exatamente o que estava
sentindo e não era arrependimento.
Seu celular vibrou e se acendeu na mesa de cabeceira, e ela viu que era o
Alex ligando. Soltando uma lufada de ar, ela desligou a ligação. Não estava
com cabeça para falar com ele agora, então somente lhe mandou uma
mensagem resumindo tudo o que tinha acontecido e que a Emily estava bem.
Obviamente ela deixou de fora o detalhe de que passaria a noite na casa de
sua ex-esposa, mas não queria ter que lidar com ciúmes dele agora.
Agarrando um travesseiro, ela fechou os olhos e tentou relaxar. Sem sua
permissão, seus pensamentos viajaram novamente para o beijo que Sam
havia lhe dado e Evelyn imaginou um cenário totalmente diferente do que
tinha acontecido.
E se ela não tivesse parado? Se o beijo continuasse até elas tirarem todas
as roupas do corpo, o que ela perderia com isso? Droga... Ela queria Sam.
Queria muito, mas não podia fazer isso.
Ela ouviu a porta se abrindo devagar e se virou para Sam, que estava
parada ali.
- Oi... Posso deitar com você? - ela falou baixo.
O corpo inteiro de Evelyn se arrepiou com aquela possibilidade.
Não. Melhor não.
- Sim. - ela respondeu.
Enquanto Sam entrava e fechava a porta atrás dela, Evelyn sentia seu
coração acelerando de antecipação e sua respiração começando a ficar
ofegante. Mas que droga, porque ela não sentia isso por nenhuma pessoa
além dela?
Evelyn se virou e engoliu forte quando Sam se deitou na cama e entrou nas
cobertas junto com ela, a abraçando por trás.
Um braço de Sam a prendeu com firmeza e a puxou mais para trás,
zerando a distância entre seus corpos. O calor daquele contato fez com que
Evelyn fechasse os olhos e ela suspirou. Ela sentiu Sam esfregar o nariz em
seus cabelos suavemente como se estivesse se deliciando em seu cheiro, até
parar com a boca bem perto do seu ouvido.
A este ponto não havia um centímetro de sua pele que não estivesse
arrepiada.
- Eu sinto sua falta. - Sam sussurrou com aquela voz baixa e profunda em
seu ouvido, fazendo seu corpo inteiro se derreter.
- Isso não é justo, sabia? - Evelyn comentou ainda com os olhos fechados,
se deliciando naquela sensação louca que era estar assim com Sam
novamente.
- Eu sei... - ela a apertou ainda mais naquele abraço. - Mas queria que
você soubesse. - a mão dela começou a passar por seu corpo, começando
por suas costelas, descendo pelo quadril até parar em uma de suas coxas, a
apertando e acariciando ao mesmo tempo. - Senti falta de te sentir assim.
Sem perceber, Evelyn mordia seu próprio lábio como se tentasse resistir à
tentação iminente, mesmo já sendo tarde demais. A mão quente de Sam
entrou por baixo da camisa que ela vestia, subindo por sua pele e finalmente
acariciando um de seus peitos. Seus mamilos se enrijeceram
instantaneamente quando ela acariciou com o polegar e respirou em seu
ouvido mais uma vez.
Ela continuou com os toques ousados, dando muita atenção à sua bunda,
acariciando e sentindo o tamanho e caimento de sua calcinha ali.
Estava difícil segurar os gemidos, principalmente quando a mão exigente e
delicada de Sam separou suas coxas, acariciando a parte interna e indo em
direção à sua virilha.
Quando se abriu ainda mais, Evelyn soube que estava completamente
excitada e entregue naquele momento. Tão excitada como nunca esteve com
outra pessoa. Seu sexo ansiava pelos toques que com certeza viriam a seguir
e ela não quis mais resistir. Ela sentia tanta saudade daquela sensação, da
forma como Sam a tocava e a beijava e infelizmente ninguém fazia nada
daquilo como ela.
Sam continuou lhe torturando antes de tocá-la. Sua mão desceu em direção
à calcinha, mas só acariciou a pele lisa de sua virilha, afastando o tecido,
mas não o suficiente para senti-la.
Ela teria que implorar?
- Sam... - Evelyn falou como um sussurro.
- Oi, amor... - Sam sussurrou de volta, ainda com a boca colada em seu
ouvido.
Ela era uma maldita, não é mesmo?
- Me toca, por favor. - Evelyn pediu sem um pingo de orgulho.
Finalmente a atendendo, Sam colocou a mão dentro do tecido fino de sua
calcinha e a tocou. Devagar. Separando sua buceta e deslizando um dedo
entre os lábios dela. Quando sentiu a respiração quente de Sam ofegar em
seu ouvido, ela gemeu e ondulou seu quadril, rebolando contra aquele toque
delicado.
De olhos fechados, ela se deliciou. Os toques começaram daquela forma
delicada, mas Sam logo foi se mostrando faminta por ela. Esfregando seus
dedos no ponto certo, espalhando sua excitação e ameaçando penetrá-la
algumas vezes.
Ela tentava segurar os gemidos, que saíam com dificuldade e de forma
manhosa, mas quando sentiu os dedos de Sam a penetrarem, ela gemeu alto.
Seu corpo todo tremeu e ela olhou para baixo para ver quantos dedos
estavam nela, mas tudo o que viu foram movimentos embaixo do edredom.
Sam conseguiu deixar sua mão bem encaixada entre suas pernas e seus
dedos começaram um movimento frenético e constante de entrar e sair, o que
quase fez com que Evelyn gozasse. Mas ela fechou as pernas rapidamente e
gemeu, segurando os dedos de Sam por um momento.
- Abre... - Sam sussurrou de uma forma exigente e sedutora.
- Mas eu já vou gozar... - Evelyn gemeu baixinho algumas vezes enquanto
sentia seu centro se contrair com os dedos de Sam dentro dela.
Ao ouvi-la, Sam soltou um grunhido meio selvagem em seu ouvido e
tentou mover sua mão.
- Goza pra mim, eu quero sentir. - ela respondeu depois de uma curta
hesitação.
Evelyn teve um pensamento intrusivo de que gostaria que aquela sensação
durasse pra sempre, aquele limbo de prazer que a deixava extasiada antes do
orgasmo. Ela finalmente se abriu de novo e Sam voltou a fodê-la, devagar
dessa vez.
Os dedos deslizando para dentro dela e ecoando um som molhado a cada
investida. Quando os movimentos foram aumentando novamente, ela revirou
os olhos e os apertou. Deus, ela estava tão perto... Tão rápido.
A língua de Sam passeou em sua orelha e foi até seu pescoço, onde ela se
deliciou dando beijos molhados e algumas chupadas.
Evelyn levou a mão para trás e alcançou sua nuca, a mantendo ali,
beijando e respirando entre seu ombro e seu pescoço enquanto a comia
devagar e com paixão. E naquele momento tão íntimo e tão familiar, Evelyn
sentiu arrependimento.
Ela não queria ter desistido de Sam, não queria ter desistido de tudo o que
elas haviam construído juntas, de sua família. Ela só não poderia deixar as
coisas do jeito que estavam. Ela soube ali que ainda a amava, sempre a
amou.
Não foi a falta de amor que as afastaram, mas a falta de demonstração.
Sam cortou seus pensamentos quando pediu mais uma vez:
- Goza pra mim.
Evelyn gemeu e apertou o músculo de sua nuca enquanto sentia seu corpo
se sacudir. Sam aumentou a velocidade de seus dedos e foi nesse momento
que ela delirou.
O orgasmo veio tão forte que ela perdeu todos os sentidos por alguns
segundos. Os gemidos saíam altos de sua garganta e suas pernas tremiam
enquanto ela se esforçava para mantê-las abertas. A onda a varreu de forma
violenta, fazendo seu corpo dar alguns espasmos até finalmente se acalmar.
- Porra, Evelyn, que saudades disso... - Sam ofegou enquanto tirava seus
dedos melados e espalhava o que tinha saído dela durante o orgasmo.
Evelyn gemeu quando sentiu seu sexo contrair, agora vazio e sorriu
enquanto esperava alguns segundos para sua respiração se acalmar. Quando
recuperou um pouco do seu fôlego, ela se virou devagar em direção ao amor
de sua vida e a beijou sem hesitar.
As respirações se misturavam enquanto ela sentia o gosto bom e
conhecido do seu beijo. Sem separar a boca da dela um só segundo, Evelyn
subiu em seu quadril, a montando, e elas ficaram assim por um momento.
Apenas se beijando e se acariciando como se nunca tivessem se beijado
antes e estivessem se conhecendo de novo.
Evelyn não soube quem se adiantou primeiro, mas os dois pares de mãos
começaram a tirar a calça que Sam ainda vestia até ela estar nua da cintura
pra baixo. Instintivamente, Evelyn desceu e apenas um segundo ou dois
depois, sua boca estava nela.
Sam gemeu ao sentir sua língua a separar e a lamber devagar e quando
sentiu seu gosto em sua boca, Evelyn se excitou completamente de novo,
sentindo seu centro pulsar.
Sim, fazia muito tempo que ela não fazia aquilo, podia estar sem prática,
mas ela se lembrava de como Sam gostava, e fez assim. Enquanto sua língua
passeava no clitóris sensível, Evelyn olhou para cima e viu Sam com a
expressão mais sensual do mundo.
As sobrancelhas tão franzidas que estavam quase coladas, a boca
entreaberta soltando gemidos baixos e os ombros tensos e duros enquanto ela
começava a juntar seus cabelos em um nó só. Evelyn sentiu sua cabeça sendo
guiada naquela pegada em seus cabelos e colocou a língua pra fora da boca
enquanto lhe dava prazer.
Sam parecia estar no limite ali. As veias de sua testa e garganta estavam
dilatadas e o suor brotava em seu rosto.
Evelyn se empinou enquanto a chupava, apoiando os dois joelhos na cama
e dando uma bela visão para Sam, que a encarava de uma forma selvagem.
Foi exatamente nesse momento em que ela viu e sentiu Sam gozar. A
cabeça se curvou para trás enquanto ela gemia e se abria mais, uma mão
apertando e puxando os cabelos de Evelyn em seu amarre e a outra
segurando e mantendo sua cabeça ali.
Evelyn quase gozou de novo junto com ela. Aquilo tudo era muito, muito
superior do que qualquer experiência nova que ela tinha tido com homens.
Nada nunca se compararia aos toques, carícias e beijos de uma mulher,
principalmente daquela mulher... E fazê-la gozar era simplesmente surreal.
Quando as coisas se acalmaram, Evelyn subiu seu corpo novamente e se
encaixou por cima de Sam, que a acomodou perfeitamente, a puxando e
acariciando seu corpo.
- Eu também senti sua falta. - Evelyn falou finalmente. - E eu... ainda te
amo. - essa última parte não foi planejada, mas ela estava extasiada. E além
de tudo, aquela era a pura verdade.
Ela pôde sentir Sam derretendo debaixo dela, seu corpo inteiro relaxando
depois que ela soltou um suspiro, provavelmente de alívio.
- Volta pra mim... Vamos tentar de novo. - Sam falou de olhos fechados
enquanto elas trocavam carinhos e carícias nos rostos.
Evelyn se pegou sorrindo, mesmo sem mostrar os dentes. Era como se
magicamente toda tensão tivesse saído de seu corpo e então ela teve uma
clareza naquele momento.
Ela não queria ficar sem Sam.
Ela só tinha uma resposta pra dar naquele momento e estranhamente não
tinha medo algum de que as coisas pudessem dar errado novamente. Quando
estava com Sam, ela sentia que tudo se encaixava, que tudo estava como
deveria estar. E essa sensação ela não tinha com mais ninguém e não queria
ter. Ela a amava. Amava sua família. E sentia falta da parte boa que um dia
foi o seu relacionamento.
Depois de tudo isso, ela não viveria em paz sem saber que tentou de novo.
- Por favor... Não me deixe escapar das suas mãos de novo.
- Nunca. Eu não quero te perder. - Sam finalmente abriu os olhos e ela se
olharam. - Eu só... te amo demais.
Mais um beijo se formou, um beijo diferente dos outros. Aquele beijo foi
como o selamento de um pacto. Um pacto que só elas entenderiam e só elas
poderiam cumprir. E Evelyn se sentiu verdadeiramente feliz, como há muito
tempo não sentia.
Quem diria?

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