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Aquele amor que

nunca poderemos
amar

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Laís Magalhães

Aquele amor que


nunca poderemos
amar

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Rebecca, carinhosamente apelidada de Becca, era
uma menina doce e sonhadora, criada no interior do
Paraná, pela mãe – basicamente. Adorava a cor
vermelha (nos batons e roupas principalmente),
porém sua cor preferida era azul. Teve uma infância
calma, exceto nos momentos em que seus pais
estavam brigando, e ela ficava tão nervosa que
começava a vomitar.

Começou um relacionamento aos 14 anos, com um


garoto que tinha 15. Era um relacionamento muito
bonito, a princípio, e arrisco dizer que foi real
enquanto durou. Nessa época o pai dela ficava
pouquíssimo em casa, enquanto a mãe dela só ficava
em casa, literalmente não saía pra nada, e vivia
sempre triste. O namorado de Becca ficava lá o
tempo todo, praticamente morava com as duas,
enquanto a mãe dizia gostar porque a casa ficava
“mais cheia”.

Desde que Becca nasceu, a mãe abandonou a


carreira como enfermeira e ficou em casa cuidando
dela. O estilo dona de casa não fazia muito a cara
dela, mas em conjunto com o marido acabaram
optando por isso (mais da parte do marido, que

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dela). Tinham medo que ela fosse criada sozinha e
sem amor – ou algo do tipo – mas ela amava a
enfermagem e era muito boa no que fazia, era amor
e ternura em pessoa, parecia ser muito errado terem
tomado aquela decisão.

Quando Rebecca tinha 16, a mãe já estava em


depressão profunda, 10 quilos mais magra, não
comia, não dormia... enfim decidiram ir ao médico,
após a filha insistir demais.

Muitos exames foram feitos, alguns antidepressivos


receitados e lá estava ele, um câncer que começou
no intestino, mas que estava com metástase por
quase todo o corpo. Os médicos deram menos de um
ano como expectativa. Naquela altura do
campeonato, havia restado apenas Becca, a mãe e o
namorado, porque o pai aparentemente havia se
esquecido que tinha família e nunca estava presente
na vida delas.

8 meses depois, treze de dezembro de 2013, dia do


seu aniversário de 17 anos, a menina acordou bem
cedo, lavou toda a casa, foi ao quarto da mãe, abriu
a janela e disse sorrindo: “acorda dorminhoca, hoje é
o meu dia, lembra?”, nenhuma reação. Tocou sua

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pele pálida que também estava fria, suas mãos
estavam sob sua cabeça, seu semblante era calmo,
mas ela já não estava mais lá.

Naquele instante, ela presenciou seu mundo inteiro


cair, sentia como se fosse morrer também. Parte do
coração de Becca foi dilacerado com a perda da mãe,
parte essa que nunca seria reconstituída e aquele
vazio nunca seria preenchido.

Becca acabou criando forças na fraqueza, todos os


dias lembrava da mãe e de saudades o peito
apertava miúdo, ela chorava por um tempo, mas
logo depois se recompunha.

— Sou eu por mim, não tenho o direito de me


deprimir, não posso e não vou me permitir ficar
assim.
Era o que ela sempre dizia, pois sabia que depois
dos ventos fortes sempre vem a calmaria, e ela já
havia passado por tantos.

A partir disso, seguiram os dois namorados,


sozinhos e destemidos, dois adolescentes solitários
parecendo estarem se bastando. É, ele esteve lá nos
momentos que ela mais precisou, a segurando

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quando caiu, dando o ombro todas as vezes que ela
precisou chorar, foi suporte até mesmo quando ela
não se suportou.

Ele esteva com ela em todos esses momentos, e ela


se sentia muito grata a ele por todo esse
companheirismo.

A verdade dura e cruel, é que tudo aquilo com o


passar dos anos, foi ficando cada vez mais
repetitivo... como dois irmãos morando na mesma
casa, não pareciam mais um casal, eram jovens,
mas deitavam e simplesmente dormiam todas as
noites, não tinha mais fogo e paixão. Ela trabalhava
desde os 15, sempre foi muito independente,
destemida e pés no chão, o que a fez conquistar uma
boa experiência e construir carreira.

Quando a mãe dela se foi, venderam a casa delas no


interior e pegaram o carro, indo viver uma vida
diferente na capital. Ela conseguiu um emprego que
a fazia bem, que a mantinha ocupada o tempo todo,
e se dedicava cem por cento, não sobrando tempo
para lamentações.

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Pegou a empresa numa situação muito complicada,
estruturou o departamento que atuava, e colocou
todos os pontos e virgulas que eram necessários.
Ficava ocupada a maior parte do tempo com a
empresa.

Ele abriu um negócio no ramo da beleza masculina,


começava às 6 e saia às 23, praticamente não a
via... aquele era exatamente o momento em que ele
começava a se firmar em alguma coisa, sem a ajuda
de Becca, depois de tanto tempo.

Trabalhava muito para conquistar suas próprias


coisas, como jamais havia feito antes, e Becca
entendia totalmente essa vontade que ele tinha de
ser suficiente, afinal ele morava na casa dela desde
que começaram a namorar, antes disso morava com
a tia porque seus pais morreram em um acidente de
moto quando ele era bem pequeno (a ponto de não
conseguir se lembrar deles), era o momento que ele
tinha para se reconhecer e se bastar.

Quando tudo na empresa que Becca trabalhava


estava pronto enfim, redondo e funcionando, as
coisas começaram a ficar um pouco estranhas, como

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se não fizessem mais questão que ela estivesse ali. E
poxa, ela era foda no que ela fazia, e eles sabiam.

Outras empresas a cobiçavam, mas ela não era do


tipo que desistia por qualquer coisa, fez questão de
se manter por lá mais um pouco. Em contrapartida
as situações foram a cansando muito, ela era a
única mulher da gestão, ganhava menos que todos
os homens na mesma posição que ela, era tratada
com indiferença e por diversas vezes sofreu abusos –
sutis, outros nem tanto – de aspectos moral e
sexual.

Começou a estar sempre estressada demais, exausta


demais com relação a tudo, o que a fez abrir os olhos
e voltar seus pensamentos para a própria vida que
levava, e pensar onde e como queria estar nos
próximos 2 anos.

Sentiu então que era hora de o relacionamento


morno e sem graça acabar. Agora que seu namorado
estava mais independente, seria mais fácil deixar
com que ele fosse embora, sem que ela se
preocupasse sobre como ele viveria a partir disso
tudo. Ela não era mãe dele, era hora de ser um
pouco egoísta naquele momento e deixar com que

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ficasse por perto apenas aquilo que a fazia bem.
Aliás, tudo o que fosse diferente de brasa ou gelo
deveria sair de ação. Se não fosse extremo não
valeria a pena ficar.

O dia era 27 de julho de 2018, ela estava prestes a


pedir conta do trabalho que só a sugava e fodia com
ela, e também tinha terminado há suas semanas
com o namorado, porque o babaca não fodia com
ela. Ironia? Talvez. Sinal de que estava vivendo
errado? Com certeza!

Para acabar de completar, ela se sentia


completamente perdida o tempo todo e cogitava
chutar o balde, com relação a tudo que restou, do
tipo cortar o cabelo bem curto e se mudar de país.
Naquele dia, saiu do trabalho mais cedo, para como
ela disse: “não morrer de desgosto, de raiva ou coisa
do tipo”.

Foi pra casa, se arrumou, e fez o que toda pessoa


ferrada na vida não deveria fazer, mas sempre faz:
sair pra beber. Ignore o fato de que ainda eram 16

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horas, porque momentos de desespero pedem
medidas desesperadas.

Deixou os cabelos pretos lisos e soltos, colocou uma


mini saia vermelha de couro - que valorizava as suas
pernas brancas grossas e evidenciava ainda mais a
sua bunda grande - junto com um top cropped preto
- que mostrava seu decote e marcava a cintura fina -
com um salto preto, não tão alto, só pra ajudar a
não a deixar do tamanho das crianças de 10 anos,
devido aos 1,57 de altura.

O bar era recém inaugurado, um estilo norte


americano com prateleiras espelhadas ao fundo. Se
aproximou do balcão, pediu um martini, sentou e
ficou se encarando no espelho da prateleira
enquanto o barman espetava as azeitonas e
entregava o drink.

— Meu Deus, como eu consegui entrar nessa


roubada, ou melhor, nessas roubadas? O que eu
estou fazendo da minha vida? – pensou.
E também pensou sobre como poderia sair disso
sem causar maiores estragos em sua cabeça.
Inocente era ela, o problema ainda nem havia
começado.

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Seu pensamento foi interrompido, quando ao seu
lado uma voz marcante pede ao barman um uísque
sem gelo, e outro martini para a moça bonita de saia
vermelha. Ela olhou então, vagarosamente, já
sentindo as bochechas queimarem, e sorrindo como
quem agradecia, porém queria recusar.

— Eu insisto.
Disse ele, sem que ela falasse sequer uma palavra.

— Obrigada... Senhor?
Respondeu, de imediato.

— Thomas!
Ele completou sorrindo, e se sentou ao lado dela no
balcão.

Naquele momento, ela não pode deixar de notar a


aliança que reluzia muito forte, devido a pedra de
brilhante que estava ao topo. Ele estava com roupa
social – como se acabasse de sair de uma reunião
importante – 1,85 de altura, cabelo preto penteado
de lado e aparentava ter uns 36 anos de idade.

— O que traz essa moça ao bar, a essa hora, nesta


capital que nunca para?

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Era uma tarde quente e agitada em Curitiba, o céu
estava limpo e as pessoas já se preparavam para o
final de semana.

— Problemas no trabalho
Ela respondeu.

— E em todo o resto também.


Riu do que disse, olhou vagamente para frente, e
pediu um drink mais forte.

Ele a olhava falar, e sem que ela perguntasse nada,


ele soltou essas palavras após dar três grandes goles
e secar completamente seu copo.

— Te entendo, moça. Mais do que gostaria, talvez


menos do que deveria. Estou na cidade há mais ou
menos um mês e meio, comecei um desafio novo em
uma empresa. Minha mulher e meus dois filhos
ficaram em Minas Gerais enquanto eu organizo tudo
aqui para eles se mudarem também. Sabe como é
né? Escola, casa confortável e perto de tudo, enfim...

A princípio, ela acabou mais ouvindo que falando.


Primeiro porque não costumava falar sobre a vida
dela com estranhos, e segundo porque o achou um
tanto quanto solitário e precisando conversar.

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Compreensível, deve ser muito complicado chegar
em um lugar em que não conhece ninguém e tentar
se adaptar ao ambiente, às pessoas, a nova rotina...
Pensava ela, enquanto se imaginava pela milésima
vez estando nessa situação, e pensando que esse era
exatamente o motivo de acabar sempre de auto
sabotando, desistindo e se privando de fazer a
mudança que sempre julgou necessária fazer. Mas
também ouviu porque, além da conversa ser
interessante, o cara era muito gostoso.

Falaram sobre como choraram feito crianças lendo a


culpa é das estrelas, sobre como nirvana era a
banda favorita de ambos, comentaram sobre Velozes
e Furiosos 8 ter sido lançado e alcançado milhões
em bilheteria, ele disse que não gostava de nada que
fosse de mentira, irreal, sem um proposito e ela
disse que a coisa que mais odiava era traição, de
qualquer aspecto, e como isso poderia destruir
pessoas.

Falaram sobre tudo um pouco, vontades, medos,


sonhos, curiosidades. Ambos eram apaixonados por
música, ele tocava guitarra e bateria, ela tocava
violão e cantava. Sentiram que se identificaram, e de

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alguma forma, naquele pequeno instante foram
capazes de se conectar um com o outro.

O ato de conversar sempre a conduziu para o


encanto... o timbre da voz, a entonação, o conteúdo,
o encaixe das palavras e de pensamentos. Sim, ela
observava tudo, sempre atenta. Se o cara tivesse
isso, podia correr, pois era perigo na certa... E esse
cara tinha tudo isso!

E por mais que ela estivesse levemente embriagada,


ainda era capaz de escutar cada frase dita,
interpretar e responder de forma clara – talvez
embaralhando duas palavras ou três – o que fazia o
papo ficar mais interessante e engraçado.

Ele percebeu a quão bonita, engraçada e inteligente


ela era. Era também muito madura, apesar de
apresentar pouca idade, e a forma com que ela fazia
as palavras parecerem poesia era muito atrativa.

— Eu conversaria o dia todo com você.


Disse ele, dando pequenos goles em seu uísque.

Enquanto ele falava sobre os filhos que tinham 12 e


15 anos, sobre como era orgulhoso dos meninos e
sentia que tinha que dar o exemplo, ela olhou pra

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dentro de si e se imaginou nessa situação (tendo um
filho agora, aos 21 anos).

Sempre foi algo bem desenhado em sua mente,


acreditava poder cumprir o desafio em tempo e a
hora, mas do nada a sua vida parece ter acelerado
sem freio, mudado completamente o rumo, ela não
parecia ter mais o controle da direção.

Sim, nos planos dela, aos 21 já deveria estar casada


e com um filho, porque ela é apressada demais, mas
ao contrário disso, ela está sentada no bar, sem um
relacionamento, quase sem seu trabalho,
conversando com um estranho e bêbada as 17
horas.

— Gozado, porque então fazemos tantos planos?


Se perdia nesses pensamentos, enquanto perdia
uma parte da fala do Thomas sobre família.

O movimento dos seus lábios carnudos e sexys, a


forma como passava a mão no cabelo, o jeito como
seus olhos brilhavam ao falar sobre tudo – havia
sentimento no que era dito – o conjunto da obra
estava conseguindo a excitar.

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Se não fosse o fato de o brilho da aliança passar pelo
rosto dela a cada segundo enquanto ele gesticulava
a mão ao falar (e ele gesticulava muito), ela
provavelmente o teria o agarrado e beijado. Ah, e
como ela estava precisando que um homem
colocasse as mãos sobre ela, com vontade.

Naquele momento, deixaram de olhar para o reflexo


e viraram um para o outro, focando então no que era
dito, a conversa estava interessante e o assunto
parecia não ter fim.

Eles poderiam facilmente ficar ali por horas e horas


conversando, um papo inteligente, direto, sem
firulas... parecia que enfim conheceram alguém
capaz de os entender, compreender realmente o que
diziam e verdadeiramente se importavam.

Ela começou a se abrir então.

— Chegou um momento que me cansei, sabe? A


gente cansa, de dar e não receber. Ele era frio,
estava sempre comigo, mas só queria a minha
presença física mesmo. Eu era muito sentimental e
trabalhava muito, quase não estava em casa e o filho
da puta me cobrava muito pra estar mais presente,
essa “reciprocidade”, mas não era capaz de fazer um

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meia nove. Nós nem ao menos conversávamos sobre
nada, do que adiantava eu estar presente?

— Reciprocidade de verdade pra mim é meia nove, o


resto é balela.
Disse ele sorrindo, achando graça da situação.

Enquanto ele ria, ela ficou ali vidrada imaginando se


ele seria capaz de chupar sua buceta, com aquela
boca perfeita, e só assim, sem outros métodos, a
fazer gozar.

— Deus, provavelmente ele seria bem capaz e até


poderia agora nesse momento, me sinto pronta.” -
pensou.

Mas o fato de começar a imaginar isso a fez perceber


que era hora de ir pra casa. Abriu a boca pra se
despedir, as luzes se apagaram, um show ao vivo
começou – já era 19 horas, o tempo passou voando.
Ele a chamou pra pista de dança, ela pensou em
recusar, mas também pensou que estava na chuva
pra se molhar... ou melhor, no bar para se divertir.
Não saía há muito tempo, aliás, não se divertia há
anos. Foram então!

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La no centro, onde a música era alta e estava
escuro, nem tentaram dizer nada. Se concentraram
na dança que era lenta, mas não o bastante para se
tocarem... e não agitada o bastante para pularem e
gritarem histericamente. Havia indubitavelmente
uma sinergia única entre eles.

— Vou ao banheiro, já volto”


Ela disse enquanto ia em direção ao banheiro, sem
ter certeza se ele havia escutado.

A fila estava grande, acabou se perdendo na saída e


com isso resolveu ir pra casa... pareceu um sinal.
Assim, sem se despedir, como alguém que deu um
perdido no novo amigo que acabou de fazer, como
uma pessoa mal educada que não teve um pingo de
consideração por alguém que, na intenção de puxar
assunto, pagou o drink e reparou na saia.

Chegou em casa, abriu a porta da sala, já abaixando


o zíper da saia e jogando o sapato pela casa, céus, a
ressaca amanhã seria certeira. Tomou um bom
banho na água gelada, mal se enxugou se deitou,
nua, como todas as outras noites... mas ao colocar a
cabeça no travesseiro, instantaneamente se lembrou
que não havia sequer dito meu nome, mesmo que ele

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já soubesse boa parte do que estava rolando na sua
vida.

— aaaaah, que vontade de morrer”


Ela falava enquanto o celular despertava, e colocava
o travesseiro sobre o rosto. Ela literalmente odiava
acordar cedo pra ir para aquela empresa que, não a
valorizava, e ainda a maltratava psicologicamente. E
disse também, porque estava com dor de cabeça e
vontade de vomitar.

Tomou um banho morno, escovou os dentes e sentia


o gosto do martini subir a garganta toda vez que a
escova tocava sua língua. Se vestiu rápido, colocou
um sapato qualquer, e saiu levemente atrasada.

— Que se dane, foda-se!


Pensava enquanto colocava os óculos escuros e
enrolava um coque mal feito.

Ao chegar na empresa, viu que todos os colegas


estavam ausentes. Seu telefone tocou:

— Rebecca, a reunião começou há 30 minutos, você


vem ou não? Estão todos doidos...
Era a secretária.

— Putz, eu havia me esquecido completamente


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dessa merda, a reunião que eu mesma havia
marcado dias atrás, caralho como eu pude
esquecer?

A apresentação se baseava no “novo” projeto que a


empresa resolveu investir há meses, forçou Becca a
acabar a proposta em três dias surreais, para que
enfim fosse feita uma oferta – mesmo que acabar em
três dias fosse humanamente impossível – fazendo-a
virar as três noites sem dormir... para no final
postergarem a compra sem sequer a comunicarem e
retornarem com essa ideia agora de surpresa.

Quanto ela entrou na sala, o silêncio pairou no ar,


todos se viraram para olhar.

— Desculpe pessoal, estou com enxaqueca!


Justificou os óculos escuros.

— Obrigado por me esperarem, vamos começar


então...
Disse ela, abrindo o arquivo que continha o slide.

O dono da empresa se levantou.

— Pessoal, já que a senhorita Rebecca se atrasou,


vamos pedir para o Marcelo fazer a apresentação da

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proposta, ele vem se preparando para esse
momento, e acredito que é a hora certa de passar
esse investimento para suas mãos.

Naquele momento os olhos dela se reviraram


infinitas vezes, e graças aos óculos ninguém pôde
ver. Se ajustou na cadeira, calada, enquanto assistia
o Marcelo fazer a apresentação da proposta dela.

Para que você possa entender o contexto, Marcelo é


o cara que ela mesma contratou para ser seu
assistente, mas que viu como a empresa era
machista e enxergou a oportunidade de ferrar com
ela, agarrando essa oportunidade com unhas e
dentes.

É aquela pessoa que está sempre pelos cantos


cochichando no telefone, nas salas de reuniões
falando mal de você pro dono da empresa, enquanto
o dono desconsidera os anos que a conhece e
acredita no cara que acaba de entrar. Depois que a
canalhice está feita, ele volta pra sala murcho e sem
graça, como se esses detalhes não o entregassem.

Mas estava tudo bem, a concorrência estava no seu


pé há muito tempo, para que enfim aceitasse a

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oferta deles e assumisse a gerência da empresa,
então ela começou a crer que essa fosse a deixa para
aceitar.

Pensou sobre essa oferta, enquanto ouvia o Marcelo


apresentar de forma totalmente errônea. A vontade
de rir culminava sua mente, segurando o riso
desesperadamente. – O fato dela ser a única mulher
sentada naquela mesa jogava sobre seus ombros
uma pressão grande demais, e o fato de ser jovem só
servia pra dobrar o peso disso tudo.

A reunião acabou, ela se levantou enquanto todos


foram dar os parabéns para o Marcelo pela
qualidade da proposta, aparentemente era ele quem
havia feito as análises, pesquisas de mercado,
consultas e toda a apresentação. O nome dela não
foi sequer citado... deu de ombros e saiu. A vontade
de rir ainda persistia.

Era a vez de ela fazer ligações as escondidas, então


fez. Ligou para o Fred, um grande amigo e dono da
empresa concorrente que havia feito uma oferta
anteriormente e ela havia deixado em standby.

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— Não acredito Becca, que enfim consegui fazer sua
cabeça e te convencer a vir pra cá. Depois de tanto
tempo me iludindo que viria, é uma pegadinha?

Conversaram, negociaram, Fred pediu a opinião


para o novo diretor que acabou de contratar, sobre o
que deveriam fazer nos passos seguintes, entraram
em um acordo e ela fechou com eles.

Pediu uma semana para organizar suas coisas e


então iria para lá. Primeiro juntou as coisas, depois
passou no RH, e não se justificou para ninguém. Já
que não faziam questão dela, ela faria muito menos.
Deixou seus pertences pessoais na portaria do
prédio em que morava, pegou o carro e saiu indo
direto para o shopping, comprou novas roupas, um
pacote de massagem, de hidratação do cabelo e
unhas.

Ela amava uma massagem, era um momento só dela


em que podia enfim esquecer do mundo, momento
em que meditava e não pensava em absolutamente
nada. Sua mente ficava vazia, sem preocupações,
sem problemas, era só ela e ela, enquanto o peso era
tirado dos seus ombros. E tudo o que ela precisava

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naquele momento, era tirar todo aquele peso que
carregou por muito tempo.

Na semana seguinte, quando o sol já entrava no seu


quarto, o celular de Becca despertou e ela acordou
radiante. Uma nova página poderia enfim ser escrita,
em um lugar que ela sabia que seria bom pra ela,
um ambiente que era nada tóxico, e ela teria
realmente um departamento nas suas mãos ... não
somente nas promessas.

Ao pôr os pés na empresa, foi logo recebida com um


café da manhã de boas-vindas, em que as pessoas
escreveram cartões e personalizaram uma caneca e
uma caneta com o seu nome e se sentiu acolhida.

Ao olhar para frente, descendo as escadas, vinha o


novo diretor recém contratado pela empresa. Quase
impossível acreditar, o quão surreal aquilo parecia,
como se o mundo realmente fosse minúsculo e cheio
de surpresas.

La estava ele: Thomas, esbanjando todo o seu


charme e requinte, descendo as escadas como um
galã da novela das nove.

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— Poxa vida, eu sai sem me despedir e sem falar
meu nome.
Becca pensava, envergonhada.

Ele veio se aproximando, com a mão estendida.

— Rebecca, então?
Ele sorriu de canto.

— Prazer em te conhecer.
Ela disse com as bochechas exatamente da cor da
saia que usou quando o conheceu.

Ele piscou de um olho só com a tentativa de a


desestabilizar, bateu nas suas costas sutilmente e
sussurrou:

— Muito bem-vinda.

— Caralho, ele pegou na minha mão a apertando de


uma forma tão firme e confiante, que já foi o
bastante para me desconsertar e me fazer voltar a
ter pensamentos sujos e pecaminosos.
Ela pensava.

Se sentia uma menina boba perto dele, talvez porque


estava sem sexo há tempo demais, e estava se
excitando com os detalhes mais simples que iam
aparecendo naquele cara.

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Alguma coisa nele mexeu muito com ela desde a
primeira troca de olhares e palavras. Ela, muito
cheia de ideias, curiosa pra vida e transbordando
sonhos. Ele estava eufórico de um jeito único, como
se as poucas palavras trocadas desenterrassem um
passado não vivido, não sentido.

Ela foi então se acomodar a sua nova mesa, agora


com uma sala toda só pra ela, mas acabou se
perdendo no tempo e ficando lá até mais tarde.

Já passavam das 20 horas, estava concentrada


conhecendo os procedimentos e o sistema que a
empresa usava, quando escutou um barulho na
porta.

— Atrapalho, moça?

Deu um leve pulo com o susto que tomou. Thomas


dava um jeitinho de chamar sua atenção de uma
forma especial, não tão sutil, mas sempre marcante.

— Achei que eu estivesse sozinha aqui.

— Acabei me enrolado e ficando até mais tarde, nem


percebi o tempo passando.

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Naquele momento, ele deu dois passos para dentro
da sala, fechou a porta e se sentou na frente dela.

— Achei que você tinha ido no banheiro, esperei por


uma hora, percebi que você me abandonou e fui
embora. Não teve pena? Não sentiu remorso de fazer
isso com um amigo que acabou de conhecer?

Ela não pode evitar olhar sem graça para baixo, mas
ele tocou suas mãos que estavam sobre a mesa.

— Brincadeira, não se preocupe.

— Eu estava bêbada, a fila do banheiro era enorme,


não sei o que aconteceu, mas acabei me perdendo
na saída e não te vi, achei que tivesse ido embora e
resolvi ir para casa.

Ele riu de um jeito fofo, a olhou nos olhos e apertou


suas mãos.

— Mas sair sem dizer o nome já é covardia.

— Juro que não foi por querer, aquele dia foi louco e
intenso de um jeito especial para mim. Quando
deitei no travesseiro, pensei em como nossa
conversa foi bacana, foi muito bom ter conhecido
alguém que pensava como eu e pôde me ouvir e

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compreender sem julgar. O papo fluiu naturalmente
de forma clara, conduzimos aquela dança como se já
nos conhecêssemos, isso é raro sabe?

— Engraçado, eu estava prestes a dizer a mesma


coisa, com exatamente essas mesmas palavras.
Nossos corpos conversaram por si só, nossos
assuntos se encaixaram, nós temos algo em comum
Becca, te acho incrivelmente sexy e inteligente, sabe
o que quer. A dança durou bem menos que eu
gostaria. O destino deu um jeito de nos colocar de
novo no mesmo lugar, para continuarmos o papo
que encerrou sem termos acabado de falar.

Nesse momento ele tirou o paletó e abriu dois botões


da camisa.

— Eu ia te beijar naquela noite senhorita, talvez


tenha sido mesmo melhor você ter ido embora sem
me encontrar para se despedir. Eu faria uma
loucura...

Ela suspirou profundo, ele a sentiu ficar tensa e


levemente decepcionada.

— Mas eu também quero muito fazer isso aqui,


agora, dentro da sua sala.

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Ele completou a frase, enquanto ela gelava, e o
encarava vidrada sem soltar nenhuma palavra.

— Fique tranquila, não vou te agarrar. É que eu


senti que era o que você queria lá, e também sinto
que é o que você mais quer agora, e eu não posso
estar tão errado assim com relação a isso...

Ela engoliu a seco, porque realmente era o que ela


queria, mas se conteve principalmente porque a
aliança no dedo dele não era uma ilusão, era real.

Diante desse grande fato, como ela poderia então?


Mas, diante daquele homem gostoso, querendo a
beijar dentro da sua sala – que estava com a porta
fechada, por obsequio – ela só conseguia se imaginar
desabotoando o restante da camisa dele e se jogando
no seu colo, enquanto mordia sua orelha e ele
levanta seu vestido.

Becca suava, arrepiava, tremia. Sentiu que estava


quase chorando, e não era pelos olhos. Precisava ir
embora, sair dali e tomar um ar... antes que seu
corpo agarrasse aquele cara sem ter controle e sabe-
se Deus o que aconteceria depois. Ele levantou antes
dela, deixou o número do celular anotado na folha

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de papel que estava sobre a mesa e saiu com um
sorriso safado na cara.

Ela pegou o carro e chegou em casa bem rápido,


durante todo o caminho pensou sobre como aquele
cara era capaz de despertar dentro dela os desejos
mais sacanas, mesmo depois de os contatos não
terem sido muito longos – mas eram profundos o
suficiente para saberem que estava acontecendo
algo.

Ela havia anotado o número no celular e decidiu


mandar uma mensagem dizendo “oi” e
acompanhada de um emoji com as bochechas rosas.
Menos de um segundo ele respondeu, como se
tivesse esperando. “Becca, minha querida... Posso te
chamar de Becca, né?”

Naquela noite, falaram sobre as paixões vividas não


“concluídas” e sobre como, em toda a vida, seus
corpos só pertenceram a uma única pessoa. Ele
mandou um vídeo tocando guitarra e ela gravou um
de volta, voz e violão.

Ele ligou para ela, conversaram sobre coisas bobas,


do tipo: a cor preferida de ambos era azul, mas em

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tonalidades diferentes; eles amavam comida
japonesa; o suco preferido dele era pêssego e o dela
era de abacaxi...

“Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido


contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,


muito mais que lindas,
essas ficarão.”

Ela ouviu atenta, em silêncio, enquanto ele recitava


Carlos Drummond de Andrade.

— É a sua vez moça! Agora recita um poema pra


mim, enquanto ouço sua voz doce, e sinto a
mensagem te conhecendo um pouco mais através
dos poemas que gosta.

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Ela prosseguiu:

“De tudo, ao meu amor serei atento


Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento


E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure


Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.

Eu possa me dizer do amor (que tive):


Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.”

Ficaram em silêncio por um instante, tentando


entender o que era dito nas entrelinhas. Depois,
trocaram indicações de bandas, citaram o quanto
odiavam jogos de futebol e ainda mais as pessoas
fanáticas, mas que apreciavam no esporte: o tênis e
o vôlei.

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— You take my breath away.
Ele disse, sério, sem risadinha.

— You stir my soul and turn me on...


Ela reagiu respondendo rápido e sem pensar,
seguido de uma pausa para refletir sobre o que
acabou de dizer.

Ela não pode deixar de perceber o quão sexy soava


aquele idioma na voz dele, mesmo que o português
também fosse, tudo saía tão bem quando ele dizia.
Ela levantou do sofá, e foi até a sacada.

— O que te faz sorrir quando vê?


Ele perguntou.

— Admirar o céu a noite.


Ela respondeu enquanto admirava.

— Então sempre que olhar pra cima e o céu estiver


estrelado, pense em mim. Também olharei para ele e
pensarei em você.

Desejaram boa noite e desligaram.

Eles não saberiam explicar o que estavam sentindo


naquele instante, mas de uma coisa ambos tinhas

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certeza: ERA PERIGOSO. Porque, de repente, eles
sentiam aquele nervosismo de novo, acompanhado
de um baita frio na barriga, que há muito tempo não
sentiam.

E por terem estado somente com uma pessoa


durante toda a vida, o fato de sentirem vontade de
transar com outra pessoa meio que os
desconsertavam por completo.

Ela sentia que ele também sentia algo, e ele sabia


que ela queria, mas deixava subjetivo o tesão. Os
dois davam um ar de mistério naquilo tudo, ele
tinha aquele olhar que se demonstrava apaixonado
pela vida, que via beleza nas pequenas coisas, o que
a encantava cada vez mais.

Acabaram conversando por mensagens durante


semanas e ficavam se ignorando pessoalmente. Ou
melhor, eles “tentavam” um ao outro por mensagens,
com um fogo que partia de ambos – qualquer
palavra dita era combustível – falavam basicamente
sobre sexo e sentimentos (eles eram intensos
demais, não havia como não envolver o que
sentiam), e sobre como a química era real, inegável e
irrefutável.

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Mandavam áudios escondidos no meio do dia, da
noite, falando, gemendo, gritando até... Não tinha
hora nem lugar, era vontade pura, puro prazer. Sua
voz grossa a deixava louca, molhada, pedindo.
Geralmente eram acompanhados de fotos do seu
pau que, naquela altura, já estava enorme, duro,
rachando.

Cogitavam como poderíamos concretizar o que, em


suas mentes, já era tão presente e real. Pensavam
nisso durante 24 horas, desde que se conheceram,
era só aquilo que viviam... Estavam meio que presos
nisso, sentiam que tinha que acontecer, era pra ser –
era errado, era proibido, excitante e por isso era tão
gostoso – segredinho único de momentos que jamais
seriam revelados.

Foi quando descobriram então uma reunião que


ambos participariam juntos em um cliente, dentro
de 2 dias, em outra cidade. Foi o bastante para
tremerem nas bases, gelarem o estômago,
adrenalizar a situação.

Fariam a viagem juntos, já estava decidido! Seria a


oportunidade perfeita para o momento que tanto
aguardavam...

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— Você está preparada? Sou superdotado.
Thomas mandou uma mensagem.

Becca riu, e não respondeu nada. Afinal, quem é que


fala isso? Nem existem superdotados... Mas ela era
esperta e racional o suficiente para reconhecer e
admitir que, até onda viu, ele possuía altas
habilidades um tanto quanto peculiares.

Optaram por alimentar suas expectativas em


silêncio, fariam desses dois dias um período
sabático, para refletirem sobre o momento que
estava prestes a acontecer.

Colocariam então todas as vontades na imaginação,


nas fantasias e deixariam fluir ao extremo. Servindo
para que aumentasse o tesão, o desejo, a chama, e
para sentirem enfim o verdadeiro calor chegar e
percorrer pelo corpo todo.

Na noite seguinte, já há 24 horas sem falar com ele,


durante o banho ela se sentou no chão e o imaginou
ali, na sua frente, a encarando, enquanto cada um
se tocava e ela mordia os lábios.

Ele vinha se aproximando lentamente, sorrindo de


canto, a chamando. Ele se sentou ao seu lado, os

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dois corpos molhados se juntavam e deslizavam um
no outro junto à espuma do shampoo. Se deitou, ela
foi por cima e cavalgou nele enquanto sentia que a
água quente caia sobre suas costas.

Com uma mão ele agarrou o pescoço dela – de forma


não tão sutil – e com a outra mão apertava sua
bunda – fazendo com que a pele branca ficasse
vermelha – enquanto acompanhava o movimento de
vai e vem.

Tirou a mão que estava no pescoço e colocou o dedo


indicador na boca dela. Ela o chupou com vontade,
como se estivesse com seu pau na boca, o rosto dele
mostrou contentamento e então aumentou o ritmo.

De repente a virou, sendo a vez dele de ficar por


cima enquanto encarava aquela buceta rosa e
apertada, a penetrou com força, com vontade, tudo...
manteve o ritmo devagar, constante, profundo.

Agora a água quente caía sobre a barriga dela,


enquanto ele a olhava de cima, e seu olhar também
a penetrava a alma...

Gozou tanto, como se ele realmente estivesse ali,


como se realmente tivesse acontecido. Sentiu

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vontade de gravar um áudio no momento, o que o
deixaria excitado e provavelmente o faria bater na
sua porta as 2 da manhã, a jogando no chão e a
comendo lá mesmo.

Ela queria, mas resolveu se controlar...

“prometi fazer o sabático, então manterei a


promessa” – disse.

Enfim chegara à noite da reunião, fontes confiáveis


passaram sem que ela perguntasse, a informação de
que a cadeira dela estava reservada ao lado dele.

Passaram a tarde toda sem se falar, a hora se


aproximava, o que fazia a tensão aumentar – e o
desejo também – até que, de surpresa, ela recebeu
uma daquelas imagens que tiram o fôlego – e que
instantaneamente também a fez molhar a calcinha –
acompanhada de uma mensagem “sentiu saudade
de mim?”.

Ela respondeu imediatamente com um semi nude,


uma foto de lingerie preta num ambiente um pouco
escuro, e um batom vinho – não disse nada – e
recebeu de volta um emoji com cara safada.

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Ao chegar em casa ela tomou um banho, se arrumou
e enquanto passava um batom provocante daqueles
que ela amava e tinha aos montes, ouviu seu celular
tocar.

Era ele, estava com o carro estacionado na porta do


prédio, aguardando que ela descesse. Sentiu que o
coração disparou, respirou fundo, e tentou se
controlar enquanto estava no elevador, não havia
volta pra isso, sem saída, tudo ou nada... o mal
estava feito!

O avistou então, e pôde ver o sorriso que ele abriu ao


vê-la.

— Uau, que gostosa!


Ele disse, enquanto a via vir em sua direção.

Ela estava usando um vestido meia coxa, vermelho e


rodado – que era um tanto arriscado para uma
reunião no cliente, mas ela optou por correr esse
risco.

Deu a volta, ele abriu a porta do carro por dentro,


ela entrou. Foi na direção dele pra cumprimenta-lo
com um beijo no rosto, e também pra cochichar:
“não tenho nenhuma lingerie por baixo”. Nesse

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momento, ela sentiu aquelas mãos grandes tocarem
sua bunda, por baixo do vestido.

— Por favor se controle, precisamos ir.


Foi o que ela disse, mesmo que não fosse nem de
longe o que quisesse dizer, e viu a calça dele fazer
volume – salivou – ele ligou o carro e saíram.

A princípio se mantivemos calados, contidos,


comportados. A via estava escura, haviam poucos
carros na estrada, e de repente a mão dele agarrou a
coxa dela, enquanto ele a olhava com cara de safado,
sorriu de lado como se quisesse a aprovação para tal
ato – ela não revidou.

Deixou que sua mão a tocasse, porque era o que ela


queria há muito tempo, e aproveitou o momento
colocando a mão sobre a coxa dele também.
Percebeu que o volume estava voltando, a mão dele
foi vagarosamente passando por baixo do vestido e
subindo em direção ao “perigo”, enquanto seus
dedos se espaçavam e sua palma larga quase era
capaz de cobrir toda a coxa dela, que sentiu muitas
borboletas baterem asas no estômago – e já estava
se habituando com essa sensação.

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Perto dele me desconcerto, ele percebe, minhas
bochechas ficam ainda mais rosas de vergonha, mas
a sua presença também me passa tranquilidade. É
um misto de carinho, medo, excitação, afeto,
adrenalina e segurança. – Pensava.

Quanto mais vagarosamente sua mão ia subindo,


mais molhada ela se sentia ficar, começou a subir
sua mão também. O volume era farto, sua calça
social colada ajudava a evidenciar o “problema”. Sem
maiores mistérios, sua mão foi sedenta em busca do
que queria, sentiu cada parte.

As pernas dela foram se abrindo naturalmente,


escorregando no banco de couro do carro, enquanto
se concentrava em abrir aquela calça preta dele e, de
um jeito nada tímido, tocar seu pau que estava
muito quente e gostoso.

Aquelas mãos, suaves e macias como veludo,


envolveram cada centímetro, subindo e descendo
vagarosamente, delicadamente, apreciando cada
pulsada e textura diferente que existia ali. Em cima,
em baixo, ponta dos dedos, palma da mão (repete).
Enquanto isso, os dois dedos dele que faziam
movimentos circulares, entraram instantaneamente,

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porém sutilmente, a fazendo parar de respirar por
alguns segundos.

— Que gostoso, não para...


Ele falava, já animado.

E ela olhava pro seu rosto, que estava atendo – mas


nem tanto – na estrada. Ele piscava de forma lenta,
deixava a boca entreaberta mostrando o aparelho
ortodôntico que usava e que por sinal o deixava
infinitas vezes mais sexy...

Estavam aproveitando o momento, dava pra ver,


dava pra sentir. Ela colocou a outra mão sobre seu
peito largo, conseguiu sentir seu coração bater mais
rápido, e ele a olhou sorrindo. Suas pupilas estavam
dilatadas, sua postura estava mais relaxada com as
costas totalmente coladas no banco – gozou.

Na viagem, o caminho parece ter se encurtado,


parece ter passado rápido demais, mas mesmo
assim foi o suficiente. Acabaram chegando 5
minutos atrasados nos clientes, mas estava tudo
bem, ainda não haviam chegado todos os envolvidos.

Cumprimentaram um a um, até precisaram “se


justificar” pra alguns conhecidos sobre o motivo de

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terem ido juntos, para que não parecesse uma
situação muito adversa. Agiram com naturalidade,
tudo normal, exceto pra eles que vivenciaram a
loucura que acabou de acontecer.

Enquanto conversavam com outras pessoas e


aguardavam as demais pessoas chegarem, sorriam
como adolescentes inocentes ao cruzarem os
olhares. Era tudo muito louco, mistura de
sensações.

— Ainda sinto seu toque dentro de mim.


Ela mandou uma mensagem e o olhou.

— Ainda estou duro pensando em você!


Ele respondeu, piscando de um olho só,
disfarçadamente.

Uma hora depois, enfim sala cheia, todos estavam


presentes, começaram. Havia ocorrido um
imprevisto com 3 dos participantes, que por sinal
estavam juntos, o que acabou desandando a
programação. Isso não os preocupou, que a princípio
estavam completamente desfocados, relembrando.

Becca levantou abrindo a reunião, expôs assuntos, –


sua visão periférica acabou mostrando-o pegando o

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celular – apresentou os possíveis cenários, se
sentou. Olhou para o celular, que continha uma
mensagem de texto “sua inteligência me excita”.

Ela respondeu com um emoji tímido e sorriu sem


mostrar os dentes.

Era a vez dele, levantou, começou a falar, explanou


seu ponto de vista sobre os assuntos que foram
expostos anteriormente, discutiu sobre os cenários
que ela apresentou, defendeu a tese abordada,
discordou com ela em um ou dois aspectos, mostrou
outras visões e se sentou. Olhou no celular,
nenhuma mensagem dela. Nesse momento ela
mandou “Concordou muito comigo, Senhor?! Mas
infelizmente teremos que discutir mais tarde esses
dois pontos que infelizmente discordou”.

A perna dele encostou na dela propositalmente,


como se estivesse se abrindo, ele puxou a mão dela
por baixo da mesa.

Nessa altura, não conseguiram mais discutir


nenhum assunto, apenas concordaram com tudo o
que foi dito posteriormente. A vontade deles era

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saírem dali, imediatamente, procurar um cantinho
só deles.

Ela queria deixar que seus braços a envolvessem e


que ele enfim a possuísse. Aguardaram ansiosos que
a reunião acabasse, já era tarde, ficaram com receio
de retornar para casa tão tarde (e também porque
tinham segundas, terceiras e até quartas intenções
em suas mentes).

Era sábado no dia seguinte, então estava “tudo bem”


– bem entre aspas mesmo. Procuraram um hotel, a
recepcionista os chamou de senhor e senhora, que
sorriram e não a corrigiram, mas é provável que ela
tenha percebido quando pediram quartos separados.

Era em vão, pois sabiam que utilizariam apenas


uma cama... Mas não podiam deixar rastros, não
podiam evidenciar o que pra eles era claro, mas
infelizmente era real só para eles.

De certa forma, isso meio que partia o coração dela –


o fato de não poder agarra-lo em público – não que
ela tivesse a necessidade de fazer, mas queria ao
menos poder se sentisse vontade. Subiram as

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escadas, devido ao horário os corredores já estavam
vazios, chegando na porta 15, que era o quarto dele.

Apressados, fecharam a porta com força. Ela o


prensou contra a parede, olhou dentro dos seus
olhos, puderam se beijar enfim. A mão dela puxava
seus cabelos da nuca, enquanto a outra sentia cada
milímetro das suas costas.

Desceu os beijos para o pescoço, aquela boca macia


quase o devorava e ele ficava louco, o cheiro dele
levemente amadeirado e cítrico e a barba arranhava
as bochechas dela de forma gentil. Ela abriu os 9
botões da camisa azul claro vagarosamente e a tirou,
passou as mãos entre seus peitos sutilmente
peludos e desceu pela sua barriga, enquanto as suas
unhas o acariciava, ele contraiu a barriga e toda sua
pele se arrepiou instantaneamente, e então ele
segurou os cabelos dela no topo da cabeça, que se
abaixou. O fecho da sua calça parecia ter vontade
própria pra soltar, pelo volume o zíper desceu quase
que imediatamente, sem muito esforço.

Devagar, quente, molhado, constante, profundo. Em


pé, as pernas dele tremiam e ele gemia baixinho,

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fazendo ela aumentar a intensidade conforme ele
aumentava o tom.

O ar condicionado no máximo, “Pillowtalk” tocando


ao fundo e fazendo daquela cena uma obra de arte,
era digno de um Oscar, mas estava longe de ser
atuação. Já haviam esperado por tanto tempo,
fantasiando aquele momento em suas cabeças,
alimentando aquele ardente desejo.

Expectativas foram criadas de diversas formas, mas


não da forma como tudo aconteceu... Eles não
podiam prever tamanha sincronia, não assim!

Ele a puxou, jogando-a na cama generosamente, se


deitou sobre ela, a penetrou – agora sim a sensação
era real, e era como nos pensamentos – a sensação
era gostosa demais.

Ele a beijava com vontade, aquele beijo que se


encaixou perfeitamente, ele socava com força ...
tudo. As pernas dela envolveram seu corpo, como
um abraço, as mãos dele tocavam seus peitos e a
fazia delirar.

Ela fechou os olhos, sentiu cada detalhe, cada


toque. Memorizou cada sensação, cada cheiro, cada

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jeito, cada momento. Gravou na memória aquele
olhar de predador, as falas que saiam espremidas e
seus gestos. Ela era a presa, e gostava da sensação,
se esqueceu de todos os problemas que existiam lá
fora.

Ele a virou de quatro, colocou as duas mãos naquela


bunda grande como uma criança olhando através do
vidro e a chupou bem lentamente, pois sabia
exatamente o que estava fazendo.

Era um beijo de língua muito molhado e cheio de


vontade. Suas mãos a apertavam, e sua língua
ganhava mais intensidade, assim como os gemidos
dela que, a essa altura, deveriam ter acordado os
hóspedes do 14.

Mas ela não conseguia se conter, a cara dele já


estava toda molhada e mesmo assim parecia não
estar contente e pedia por mais. As mãos dela
agarraram o lençol com tanta força, que os dedos
travaram. É ... ele sabia mesmo o que estava
fazendo.

As pernas dela perderam as forças e fez seu corpo


deslizar sobre a cama, deitando de bruços. Ele

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sentou sobre ela encaixando o pau em direção as
costas, ficou a massageando enquanto se tocava
também... ela se virou e beijou a boca dele enquanto
ainda tinha o gosto dela, o jogou na cama ficando
por cima e encaixou, sentindo que tocou o mais
profundo que dava, inclinou a cabeça pra cima e
seus olhos viraram, o movimento era sincronizado,
como uma dança com passos perfeitamente
ensaiados.

Olhando para ele de cima, ela era capaz de controlar


seu prazer (que já estava muito excitado), resolveu
então pegar pesado. Deixou que sua boca passeasse
pelo corpo todo, não teve sequer um milímetro que
sobrou pra ficar com ciúmes... chupou seu saco, ele
gemeu muito alto, como se a sensação fosse
desconhecida até aquele momento. Desceu um
pouco, ele prendeu a respiração, mas ela seguiu de
forma delicada sem ser impedida.

Aos poucos ele se entregou àquele beijo grego que


estava sendo muito bem executado. Ele então
colocou o travesseiro sobre o rosto, enquanto ela o
assistia delirar, tudo foi prazeroso demais.

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Ele gozou na cara dela, no cabelo, em tudo que
estava na frente. Puderam se esquecer das
imperfeições dos corpos, porque o momento foi
perfeito. Deram 100%, receberam 100% de volta... a
troca foi mútua, o prazer foi mútuo.

Se pudessem definir aquela noite em duas palavras,


seriam: ORGASMOS MÚLTIPLOS.

Ficaram deitados olhando para o teto, respiração


ofegante, os corpos suados, cabelos bagunçados,
suspiros profundos. Ela olhou para o lado, ele estava
com os olhos fechados, um dos braços debruçado
sobre a testa, um semblante tranquilo.

Pareceu que estava em paz com o ocorrido, não se


preocupou em sequer a olhar ou conversar com ela,
permaneceu em silêncio naquela posição enquanto
nem sabia que era observado. Atenta aos detalhes,
ela entendeu o recado (se é que havia um), pegou
suas roupas e sapatos e foi para o 16, não há
desprezo maior que a falta de atenção.

Ela trancou a porta, ligou o chuveiro e agachou


deixando a água cair sobre sua cabeça, na tentativa

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de que, além de lavar por fora, também pudesse
levar embora um pouco do que estava por dentro.

Ela nunca havia feito parte de uma traição por


nenhum ângulo sequer (exceto no papel de filha de
um traidor), como poderia então ter feito o papel de
amante de um homem casado, que claramente
sentia algo por ela – e ela por ele?

E agora, onde ela poderia entrar nessa equação, se


nem ao menos fazia parte dela, na verdade. Estava
entrando no olho de um furacão, e percebendo que
foi ela mesma quem causou... já não sabia como
sair, os ventos eram fortes demais e não tinha
ninguém pra a tirar.

Era como se ela tivesse acabado de perceber que fez


parte de uma mentira, uma história que jamais
poderia ser contada, ninguém saberia que
aconteceu.

Intensa, como sempre foi, acabou deixando isso


acontecer. “Estupida, irresponsável, inconsequente”

51
– ela dizia aos prantos, enquanto a água descia
quente sobre os seus ombros.

— Desde o princípio, eu disse que não abandonaria


meus princípios, me basearia naquilo que acredito,
me manteria fiel ao que sou. Agora estou aqui,
literalmente fodida, sozinha e chorando no banheiro
do hotel. Nem sou capaz de me conhecer, me desfiz
por inteira, me entreguei. Quem eu serei de agora
para frente? Se já não sei quem sou agora...

Saiu do banho e ligou a televisão num canal de


clipes de músicas, colocou o ar condicionado no
máximo e se cobriu da cabeça aos pés. Acabou se
lembrando de quando sua mãe chegava, a
embrulhava fazendo dela um pacote e dizia “boa
noite, te amo, vai ficar tudo bem”.

— Por onde anda você agora, se não aqui, dentro de


mim? O que você diria sobre tudo o que fiz? Você me
perdoaria por ser esse ser humano imundo que me
tornei?

Mesmo depois de ver o papai trai-la múltiplas e


múltiplas vezes, acabar com a nossa família, até
você adoecer e sua saúde se esvair ralo abaixo,

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agora estou aqui nessa situação. Depois que te
perdi... Você passaria a mão nos meus cabelos e
diria que ficará tudo bem? Eu sinto sua falta
mãezinha.

As lágrimas rolaram seu rosto, o escuro parecia


consolar um pouco, mas não o suficiente, na
televisão tocava “Unsteady” – o que deixava tudo
mais agonizante... Adormeceu.

Ao amanhecer, desceu e tomou um café puro,


gelado, amargo, sem açúcar (exatamente como ela se
sentia naquele momento). Quanto ele chegou, ela
permaneceu em absoluto silêncio, sem dizer ao
menos um bom dia, não olhou para ele. Terminou de
tomar o café, subiu para o quarto, se sentou na
cama. Pôde então ouvir três batidas na porta e uma
tentativa de abri-la. Destrancou, se sentou
novamente e ele entrou.

— O que aconteceu? O que eu fiz de errado? Porque


você está assim? Noite passada nem parecia real, foi
surreal na verdade, maravilhoso. Por favor me diga,
de verdade, não seu realmente se fiz algo de errado...
Se fiz, me deixe consertar.
Ele parecia assustado.

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Mas como ela poderia dizer algo? Concordaram em
fazer, foi tudo consensual até de mais, queriam
muito fazer, e o que ela sentia a partir daquele
momento era responsabilidade dela.

Afinal, optaram por deixar acontecer e arcar com as


consequências apenas se um dia elas vierem, para
assim então poderem aproveitar o momento e focar
no que é real, no que está acontecendo aqui e agora,
ao invés de cogitar tanta coisa a ponto de se
travarem e não se permitirem prosseguir. Mas ela
não imaginava que a culpa e os sentimentos viriam
tão rápido, tão pouco tempo assim depois.

Ela se virou para ele, pegou nas suas mãos, olhou


dentro dos seus olhos o mais profundo de sua alma
que conseguiu.

— Não é nada, me desculpa. Vamos embora?

Ele concordou, fizeram checkout e saíram. No carro,


foi necessário colocar música para quebrar o silêncio
que pairava, tocava “i hate u, i love u” na rádio, eles
refletiram na letra que parecia querer dizer algo.
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Ela estava se sentindo muito mal e completamente
perdida com o turbilhão na mente e no coração, sua
visão periférica acabava entregando que ele a olhava
a cada minuto. O caminho de volta parece que
estava muito mais longo.

Grande parte do caminho, ela pensou por onde


andaria seu pai. “Em algum lugar bonito com a
família que ele criou enquanto não ia pra casa ficar
comigo e a mamãe? Em alguma viagem que ele
nunca fez conosco porque nunca sobrava tempo?
Brincando de bicicleta na pracinha, com o filho dele
que agora tem uns 7 anos? Ou fazendo outra
família, enquanto tenta destruir essa que criou em
meio ao caos... enquanto a mamãe morria,
literalmente, de desgosto?”

É, ele realmente não deu nenhuma notícia, nem ao


menos apareceu no velório, como se tivessem as
apagado da memória.

Enfim chegaram na porta do prédio dela, então


dariam fim naquela tortura que era estarem no
mesmo ambiente fechado, o clima estava tenso
demais.

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— É melhor que não façamos isso nunca mais.
Disse ela enquanto se preparava para abrir a porta
do carro.

— Porque assim, do nada, se pareceu que você


gostou tanto na noite passada?

— Com certeza gostei, foi a melhor noite de sexo que


tive, foi o melhor sexo que já fiz. Foi incrível, gostoso
em todos os aspectos, como jamais me aconteceu.
Mas desde o princípio sabíamos que estávamos
vulneráveis e suscetíveis ao sentimento – talvez eu
até mais que você – e estamos longes de sermos
imunes.
Eu sabia, bem lá no fundo, que em algum momento
isso aconteceria. Só não imaginava que fosse tão
rápido, é real, eu tenho sentimentos por você. E eu
não consigo simplesmente ignorar isso dentro de
mim, não consigo separar como se fossem duas
pessoas habitando esse corpo, deixando as emoções
de lado e focando só no prazer, não dá. A corda
sempre arrebenta do lado mais fraco, que nessa
história, sabemos quem é.

56
O fato de pensar que ele pertencia a outro lugar,
outra família, outras pessoas, e que ela nunca
passaria de uma sombra na mente dele, fazia com
que ela se sentisse como um objeto.

Aliás, ela se perguntava se ele não a via somente


como um objeto também... E esse sentimento era
doloroso e sufocante, o fato de não poder
demonstrar o que se sente por alguém é cruel. Poxa,
não há como controlar o que se sente, o máximo que
as pessoas podem fazer é mascarar e fingir que não
está ali.

Talvez ela fosse então imatura, ou chame como


quiser, o fato é que a intensidade dentro dela é
incontrolável. Há dentro dela uma chama que
controla o fogo, mas também há uma chama que
controla a paixão, e uma não liga sem a outra. E ela
definitivamente não poderia se apaixonar por ele,
por Deus, e nem deveria.

Nada mais triste que amar sozinha, remar sozinha,


optou então por se afastar!

Ele fechou os olhos, pegou as mãos macias dela, as


abaixou encostando em seu colo.

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— É inegável que sinto algo por ti, ligo pra você, me
preocupo, penso em você grande parte do meu dia.
Eu sentaria e conversaria por horas, falaria sobre
tudo que você quisesse, te contaria meu passado e
planejaria o futuro ali mesmo, sentado. Mas não
podemos, temos nossos limites... eu tenho a minha
mulher, temos uma família.
Estamos vivendo momentos diferentes, quero um
pouco de diversão e prazer, algo que nunca tive
antes entende? Reviver o passado como uma
juventude que não foi experimentada, jamais vivida
por mim.
Comecei muito jovem, responsabilidades demais,
sonhos interrompidos. Quando te vi e conversei com
você, vi enfim a brecha para ser quem sempre quis
ser, mas tinha certeza que nunca seria... até aquele
momento que percebi que nossas vontades bateram,
que nos completamos de certa forma em vários
aspectos.
Estou no meu melhor momento como homem,
minha carreira está estabelecida, meu casamento
está sólido há décadas, meus filhos estão crescidos e
quase independentes.
Eu queria algo que pudesse me desocupar a mente,

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que aliviasse esse tesão acumulado que tive em você,
realizar as fantasias que não pude antes com a
minha esposa porque ela se contenta sempre com o
“papai-mamãe” e não ousa mudar nunca.
Você já faz sim, parte da minha vida, mas de uma
forma diferente e só nossa. Não quero mais alguém
para brincar de casinha, já tenho alguém para falar
sobre doenças e problemas. Quero você para gritar
no meu ouvido as putarias que tem vontade de falar,
que escute as minhas que existem no meu íntimo,
sem que me julgue e só aprecie.

Ela ouviu em silêncio, aquelas palavras que soavam


como passivas agressivas demais para o seu
coração. Era como se tivesse ganhado um tapa na
cara, porque estava se concretizando tudo aquilo
que ela pensava, ela não era tão inocente assim, e já
esperava.

Mas ela também não queria se sentir como uma


boneca sexual pronta pra ser lavada e reutilizada,
completamente incapaz de produzir sentimentos,
somente sensações físicas, e ao acabar estar pronta
pra fingir que está tudo bem e seguir a vida
normalmente, sendo usada a troco de migalhas de

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um amor que nunca poderiam amar de verdade,
apenas pra senti-lo presente, para fazer parte da
vida dele de alguma forma.

Ela queria ser especial para ele, na verdade. Logo ela


que era independente, tão jovem, graduada,
inteligente e bem sucedida... que nunca precisou de
ninguém. Como pôde deixar chegar a esse ponto, por
fragmentos de algo que ele jamais se permitiria
sentir? Ele não estragaria a vida perfeita que tinha,
de forma alguma, pois ele nem ao menos poderia a
atender se ela precisasse chama-lo.

Bateu a porta do carro e saiu sem se despedir, sem


olhar para trás... em casa, enfim se desprendeu das
amarras que os atavam, tentou desfazer esses nós.
Mas tudo o que ela fazia lembrava ele e remetia à
noite passada, quando enfim se entregaram e se
doaram sem pensar em nada, sem promessas e sem
cobranças.

Se arrepiava inteira ao lembrar que ele socou com


força, com pressão, com vontade. Precisava se deitar
na cama, para que o tempo passasse, para que ao
menos ela desligasse dessa sensação boa e ruim ao
mesmo tempo, por uns instantes.

60
E então o final de semana passou voando, fazendo
com que ela não tivesse tanto tempo assim pra se
ajustar, até ver ele de novo.

Segunda, ao chegar na empresa, ela focou nos


projetos que deveria começar, estava com a equipe
alinhada e engajada, expectativas de acordo com o
que poderiam cumprir, metas reais que poderiam
bater, o time estava forte.

Se reuniu com eles pela manhã, para apresentar o


plano de ação de cada um, os pontos de deveríamos
atacar primeiro e o que iriam atacar em segundo
plano, todos estavam de acordo e animados, ela se
esqueceu completamente dele.

A manhã passou num piscar de olhos, o que foi


ótimo e péssimo ao mesmo tempo. Havia tanto a ser
feito, os prazos estavam apertando, já era setembro
e o fim do ano estava a um pulo dali.

Deveriam acelerar, para cumprir tudo o que foi


proposto, e fecharem com as metas batidas em
200%. O Fred acabou passando pela sala e a

61
chamou para almoçar, disse que ia no restaurante
próximo pois tinha que voltar mais depressa.

Ela aceitou imediatamente a proposta e foi, ele a


perguntou sobre o que estava achando do trabalho e
equipe, deu um feedback sobre como, em tão pouco
tempo, ela já havia feito muito. Ela sentiu que,
enfim, havia encontrado seu lugar, se sentia bem e
confiante com trabalho que fazia novamente, era
bom o suficiente para continuar.

Becca de costas pra rua e de frente para o Fred,


pediram seus pratos ...

— Olha o Thomas com a família vindo aí.

Aquelas palavras saíram como se tivesse acabado de


dar um murro no estômago dela, que olhou sem
graça virando levemente a cabeça, fazendo-a esboçar
uma reação estranha, porém o mais natural
possível.

“É bom demais pra ser verdade” – ela pensou. A


família comercial de margarina estava vindo na
direção deles.

62
— Amor, garotos, esse é o Fred presidente na
empresa onde eu trabalho, e essa é a Rebecca
gerente de aquisições e projetos.

Becca sorria sem mostrar os dentes, forçando um


lábio contra o outro, levantou os óculos escuros e
estendeu a mão em direção da mulher.

— Muito prazer.

Ela era linda naturalmente, e ao mesmo tempo bem


diferente do que ela imaginou que seria.

A esposa abriu um sorriso gigante e a


cumprimentou de volta.

— O prazer é todo meu em te conhecer, Rebecca.


Tão jovem, gerente é?

Ela apenas concordou com a cabeça.

Os olhos da mulher então foram em direção ao Fred,


ela seguia com o mesmo sorriso e o cumprimentou,
em tom de animação. Becca abaixou os óculos,
pegou o canudo e tomou o suco de maracujá, cada
gole descia rasgando.

63
Meu Deus, que loucura, eles estavam ali lado a lado
e Becca fingindo costume com toda essa situação.
Na sua cabeça, ficou se passando a seguinte
apresentação “prazer em te conhecer, enfim. Mas
prazer mesmo eu tive quando chupei o pau do seu
marido o final de semana todo...” era um
pensamento involuntário, que não deixava de ser
engraçado, como quando estamos em um lugar alto
e seguramos nossos objetos com mais força para não
os jogar de lá.

Isso não parava de se repetir, enquanto ela também


imaginava duas possíveis reações da esposa: ela
puxaria seu cabelo, faria um escândalo e bateria
nele, depois se separaria ... ou então sairia em
silêncio, sentaria calada em outra mesa e aguentaria
a situação quieta, porque nem construiu carreira
para poder cuidar do marido e filhos, e seria corna
sem contestar por não ter como sair mais dessa
situação de dependência. Acabaria doente e morreria
como a sua mãe, talvez! O fato é que nas duas
situações ela não conseguia parar de se sentir um
lixo.

64
Comeram às pressas, Fred e ela, pois realmente
tinham que voltar. Ela principalmente, porque não
via a hora de sair daquele ambiente. Seu corpo
estava totalmente inquieto, como numa situação de
perigo, em que a descarga de adrenalina te faz
pronto pra correr a qualquer momento. E ela
provavelmente correria, se não parecesse um ato tão
estranho e desesperado.

A tarde foi tensa, ela ficou pensando em como a


família do Thomas enfim ter vindo pra cidade pode
influenciar no comportamento dele. E claro, por
mais que não estavam se falando, isso não mudava
o que rolou, e também não mudava o fato deles
trabalharem juntos e terem que conviver um com o
outro na empresa.

Ela pensava em como as coisas aconteceram de


forma natural, e em como o tempo poderia ter vindo
em favor deles, os colocando jovens no mesmo
momento e no mesmo local, por exemplo ... se o livro
talvez estivesse na mesma página, tudo isso poderia
dar tão certo, as estatísticas estariam a favor deles.

Provavelmente seriam aquele casal que troca cartas


na escola, palavras doces e sinceras, enquanto se

65
beijariam na saída e iriam para casa de mãos dadas
caminhando. “Porque não foi assim que aconteceu?
Deus, me diz, porque aconteceu agora e dessa
forma? O livro da vida dele está há umas 100
páginas na minha frente, enquanto eu ainda estou
escrevendo o segundo capítulo. Seríamos perfeitos
juntos.” – Ela pensava.

Se passaram algumas semanas, enquanto Thomas e


Rebecca trocavam apenas palavras curtas
obrigatórias, como “bom dia”, e se estranhavam
quando tinham que cumprimentar um ao outro
pegando nas mãos por pura educação, não faziam a
menor questão que existisse ao menos um oi de
forma espontânea, já que não podia existir nada
além daquilo.

Era sexta, 19 de outubro, Fred convocou uma


reunião pela manhã, pra dizer que um dos parceiros
importantes estava precisando da presença deles
para poder realizar uma transação de alto risco,
onde seria necessária uma semana inteira de análise
in loco e levantamento completo dos riscos. O
parceiro ficava em Miami, o dono, Donald, era amigo

66
pessoal de Fred há anos, e eles não poderiam falhar
nessa tarefa.

Fred anunciou que ele iria para rever os amigos e


representar a presidência da empresa, é claro, e que
principalmente Becca iria para fazer quase todo o
trabalho.

— Ótimo, quando vamos?


Ela disse, enquanto suspirava aliviada, porque
precisava sair daquele tumulto que estava
acontecendo naquele ambiente quando era
compartilhado entre ela e Thomas, mas
principalmente pra se esquecer do tumulto que
havia dentro de dela enquanto respirava novos ares.

Eles eram uma empresa que prestavam serviços de


consultoria para outras empresas, e neste ramo que
eles trabalhavam não era muito comum que
houvessem muitas parcerias no exterior,
principalmente pelo fato desta modalidade de
serviços não ser muito conhecida e contratada lá
fora e também porque é necessário muito domínio e
conhecimento do local onde será aplicado.

67
O trabalho feito por eles é, de uma forma
simplificada, analisar por todos os ângulos o negócio
que o cliente deseja investir, olhando desde o tipo de
empresa que eles desejam abrir ou expandir, o tipo
de material a ser fabricado ou revendido e o alcance
que ele terá no mercado consumidor, até o prédio
que deve ser construído com fácil acesso logístico e
do pessoal, público alvo, estruturação do negócio e
também auxiliar nas negociações das aquisições de
ativos imobilizados e algumas vezes na contratação
de mão de obra qualificada.

Era difícil ter clientes no exterior, mas não para


Fred, que era muito carismático e espontâneo e
acabava sempre fazendo amizades por onde passava.
Eles possuíam muitas parcerias fora do Brasil.
Fred conheceu Donald durante um intercâmbio que
fez quando ainda era jovem, durante esse período
eles se aproximaram porque estavam estudando
juntos. Donald havia pego a empresa do seu pai, que
pegou do seu avô e vinha assim há gerações, e agora
juntamente com seu filho Josh pensava em expandir
seus negócios e alcançar novos horizontes.

68
A viagem já aconteceria na segunda, então ela teria o
final de semana para se preparar. As passagens já
haviam sido compradas pelo parceiro, tamanha era
a pressa para que fossem.

Ela tirou a tarde da sexta e foi se organizar,


precisava comprar uma mala nova, algumas roupas
e acessórios. Assim fez, saiu diretamente para o
shopping, estava tudo certo.

Na manhã seguinte, as 5 da manhã, foi pega de


surpresa sendo acordada pelo Fred que tentava falar
em meio a um som de choro desesperado.

— Oi Becca, desculpa o horário, mas é que o irmão


do Carlos, meu namorado, sofreu um acidente de
carro terrível e infelizmente não resistiu. Não posso
viajar, não posso deixa-lo nessa situação sozinho
agora. Eles moravam juntos e eram muito próximos.

Becca naquele instante, pensou que daria conta


sozinha, e é claro que o Carlos precisava de sua
presença, mas seu pensamento foi interrompido.

— Vou ligar para o Thomas, ele vai te acompanhar


para representar a diretoria, você não terá tempo

69
para fazer sala para os clientes e as análises ao
mesmo tempo.

Ela acabou percebendo o quanto estava ferrada


nessa viagem, acabando a partir daquele momento a
paz de espírito que nem ao menos chegou a ter.

— Fred, não se preocupe meu amigo, dará tudo


certo lá e não o decepcionaremos. Mande meus
sentimentos ao Carlos, que situação complicada, ele
precisará muito de você porque a perda é a maior
dor que podemos sentir. Te mantenho informado e
mando suas lembranças no cliente.
Ela desligou.

A partir daquele momento não conseguiu mais


dormir, pensando em como isso aconteceria na
prática. Afinal, eles estavam a mais de um mês sem
se falar, e fariam uma viagem de uma semana para
um lugar legal, seria sim uma viagem legal, apesar
de todo o trabalho pesado.

Acordou, tomou um banho, fez um suco de abacaxi


com hortelã e foi correr. Voltou, deixou as malas
prontas, colocando desde biquini a roupa de neve na
mala, afinal nessa época é outono e ao mesmo

70
tempo que está um clima de sol, pode começar a
nevar. Ela devia estar preparada para qualquer
situação – com relação a tudo.

Num piscar de olhos, domingo passou. O voo saia na


segunda as 3 da manhã, foi quase impossível
dormir. Notebook carregado, ela chamou um taxi e
foi para o aeroporto... Thomas estava um pouco
mais casual, de camisa e calça jeans dessa vez, ao
invés de terno e gravata como sempre.

A calça era colada – ele gostava – deixava em


evidencias partes do seu corpo que ela adorou pôr a
boca e chupar. “Ah não Rebecca, você não pode
pensar nisso agora. Faça-me um favor!” mas ela sem
querer, pensava.

Como já havia feito check in um dia antes pelo site,


foi direto para a fila de embarque. Ele havia passado
tanto perfume, que há um metro de distância dela,
ela conseguia se arrepiar ao sentir. Ele estava logo
atrás, permaneceram sem dizer um A, mas ela
torceu para sua poltrona ser longe da dele. Doce
ilusão, pois era uma ao lado da outra, e ela pegou a
janela.

71
Já dentro do avião, ela colocou uma serie para
assistir, acomodou o headset na cabeça e tentou
ignora-lo. Ela não conseguia focar em nenhuma fala
por completo dos personagens, pois ficava
imaginando em como poderiam estar se dando bem
e batendo altos papos na viagem, como isso poderia
ser proveitoso.

Ele não conseguia pensar em outra coisa que não


fosse falar com ela, saber como ela tem passado,
pegar nas suas mãos e sentir seu calor novamente.
Ela foi se ajeitar na poltrona e acabou escorregando
a mão, que foi parar no colo de Thomas.

Ela olhou para ele sem jeito, pediu desculpas


envergonhada, e se virou para a janela enquanto
pressionava os lábios se contendo pra não rir.

Ele riu e segurou seu braço.

— Bela forma de dizer bom dia, doce e preciosa


Becca.

A pegada dele foi tão forte, que a marca dos dedos


dele ficaram no seu braço por alguns minutos. Se
aquilo não foi uma brecha, eles definitivamente não
sabiam o que foi!

72
Ele se ajustou de forma relaxada, inclinando
levemente sua cabeça sobre os ombros dela, como se
quisesse assistir com ela seja lá o que ela estava
vendo – ele não ligava nada para o que estava
passando, era somente para provocar.

Um dos seus braços a abraçou pela frente, deixando


sua mão sobre a barriga dela e o seu dedão encostou
no peito, de forma sutil, querendo que ela
percebesse, mas sem deixar transparecer segundas
intenções.

Nenhuma reação da parte dela, e pouco tempo


depois com a outra mão, ele pegou uma mão dela e
colocou sobre o pau dele, que já estava duro.

— Senti sua falta, me masturbei todos os dias


pensando em nós. Seu silêncio só me fazia te querer
mais. Você me quis?

Por mais que a vontade dela fosse dizer que sim, ela
olhou para ele, tirou sua mão de lá e fingiu querer
dormir. Quando fechou os olhos, instantaneamente
veio na mente a cena de quando se abaixou e o
chupou, era tão forte, tão grande, tão bom.

73
A boca estava muito molhada, quente, sedenta, e
sempre que a sua língua tocava a ponta, ela sentia
que ele ia estremecer, pulsava muito, as veias
ficavam evidentes.

E por mais que ela quisesse leva-lo para o banheiro


do avião e realizar as fantasias mais sujas e
excitantes, ela também se apegava ao fato de que
estar ao lado dele era suficientemente bom e
reconfortante, só estar ali em silêncio na presença
dele já bastava.

Era um carinho mútuo muito grande, existia sim


muita vontade de foder, mas existia também muita
vontade de cuidar. Uma das mãos dele passou por
trás dela, fazendo com que completasse o abraço, e a
fazendo um cafuné que há muito tempo ela não
sentia, ela só ficou ali acolhida naquele momento, e
queria que fosse possível parar o tempo naquela
imagem.

Se virou para olhar no rosto dele, seus olhos


estavam fechados aproveitando o momento, seu
semblante era de paz. Então colocou a mão na sua

74
nuca e retribuiu o cafuné, também se mexeu para
pegar o celular, ele despertou.

Ela pediu uma foto daquele momento, e por mais


arriscado, complicado e comprometedor que isso
fosse, ele tomou o celular da mão dela e ele mesmo a
tirou. Depois encarou a foto sorrindo com ternura.

— Como você é incrivelmente sexy e linda.


Se virou, olhou elas nos olhos e deram um selinho.

Ela guardaria aquela foto no mais profundo do seu


coração, e provavelmente iria dormir sorrindo ao ver
aquela imagem por várias noites, enquanto ele
estaria deitado ao lado da esposa.

Seguiram então naquela troca de carícias, o coração


ficava quentinho, se sentia parte dele... Mesmo que
não fosse nem de longe. Aquele homem era capaz de
despertar todos os sentidos dela, de deixar cada
centímetro do seu corpo em alerta.

Seus corpos trocavam calor ao simples toque, seus


olhares se cruzavam e diziam tanto ali em silêncio,
pareciam dois jovens encarando o primeiro amor.

75
Mas não estavam com os pés no chão - literalmente,
o que acabava a preocupando um pouco.

Seriam 12 horas de voo, horas essas em que


estariam juntos em “público”, deixando fluir os
sentimentos de forma pura, deixando rolar o que
existia dentro deles, todo o carinho e cuidado que
sentiam um pelo outro, todo fogo e tesão que tinham
também.

A vontade dele naquele momento era dormir de


conchinha com ela, do jeito mais fofinho e cafona
possível.

Chegaram em Fort Lauderdale próximo as 18 horas,


pegaram um taxi para uma viagem de mais ou
menos 45 minutos até Miami. Ele parecia outra
pessoa, talvez por não ter ninguém próximo,
ninguém conhecido, por não ter que fingir o que
sentia.

O hotel que ficariam hospedados era o W Miami,


porque ficava a 5 minutos a pé do cliente. Era um
hotel muito moderno, com esculturas e quadros
para todos os lados, a entrada era cheia de grandes

76
colunas que davam um ar sofisticado ao local, era
tudo muito colorido e alegre lá dentro, com lustres
gigantes e despojados.

Se aproximaram da recepção e falaram sobre a


reserva, dando seus documentos de identificação. A
moça se desculpou, mas disse que só havia uma
reserva em nome dela.

Aparentemente, avisaram ao hotel que o Fred não


iria mais, mas esqueceram de fazer a reserva em
nome do Thomas. Ela sugeriu então de forma
natural, para que os dois ficassem no mesmo
quarto, pois todos os outros quartos estavam
ocupados... teria um evento no hotel naquela noite, e
ao que tudo indicava (o fato do Thomas estar com a
mão no bolso da calça dela, por exemplo) eles eram
um casal. Concordaram e foram para o quarto.

A viagem foi cansativa, ela estava exausta e


precisando de um banho. Entrou no banheiro, abriu
a torneira e deixou a água caindo na banheira,
enquanto colocava o notebook sobre a mesa e o
ligava para ler alguns e-mails.

77
Thomas tirou os sapatos, a camisa, e se deitou na
cama que tinha diversos espelhos na parede por
detrás da cabeceira. O banheiro dava visão para o
quarto, através de umas grades abstratas que
ficavam ali, onde na verdade deveria ser uma parede
separada.

Da mesa, ela conseguiu ver a banheira quase


derramando, fechou o notebook e saiu. Fez um
coque no cabelo, se despiu e entrou... a água quente
em contato com a sua pele a fez relaxar um pouco,
porque ficar próximo do Thomas a fazia estar
sempre em alerta e despertava seus instintos mais
sacanas.

De lá, ela o viu na cama a olhando, como se fosse


uma fera e estivesse pronto para a devorar. Ele tirou
a calça, sempre a olhando, sua cueca box branca
fazia muito volume, ele tinha o olhar safado, uma
boca muito sexy... e bom, ele tinha muitos dotes
únicos e pessoais.

Ela erguia as pernas para se ensaboar, ele levantou


para abrir as cortinas e se deitou novamente. Pela
janela do quarto eles tinham uma bela vista para o

78
mar, para os outros prédios em volta, as luzes da
cidade estavam todas acesas.

Ele começou a se tocar ali, justamente para que ela


visse. Ele queria que ela ficasse excitada, mas ela já
estava, e como ela estava... saiu da banheira, toda
molhada sem se enxugar, e se deitou completamente
nua ao lado dele na cama, de bruços.

Ficou o assistindo naquela sagacidade, olhava fixo


nos olhos dele que estavam pedindo para que ela o
ajudasse. Ela apagou as luzes dos abajures que
estavam ao lado da cama, e o beijou com vontade.

— Como eu senti saudade desse beijo, desse clima.


A essa altura ele já estava muito animado, porque
ela resolveu se entregar ao momento.

— Eu desejei incessantemente que isso acontecesse


de novo, essas mãos grandes sobre mim, nossos
corpos se conectando.

Então ele a puxou, fazendo com que ela passasse a


perna por cima, encaixando... ela estava pronta para
recebe-lo dentro dela, exatamente como quando o
quebra cabeça se completa, a última peça se encaixa
e tudo faz sentido.

79
Ele a abraçou firme, os peitos dela tocaram os dele,
ela beijou seu pescoço e mordeu sua orelha em cima
da pinta que ele tinha e que parecia um brinco, falou
sussurrando enquanto o sentia arrepiar.

— Está bom o bastante para você, senhor?


E tudo que ele conseguiu dizer de volta, também em
forma de sussurro foi:

— Vamos ficar assim a noite toda, está preparada?”.

Ele a virou, a olhou por cima enquanto a corrente de


ouro batia na cara dela, e a beijou sorrindo.

— Na verdade eu ficaria assim a vida toda, minha


menina.
Ele disse p-a-u-s-a-d-a-m-e-n-t-e, e depois deslizou
para baixo, beijou seus peitos que acenderam
instantaneamente, depois socou tudo com força, o
que a fez se sentir ainda mais boba e apaixonada por
ele.

Toda aquela cena, ele se olhando através do reflexo


no espelho a sua frete, as luzes da cidade lá fora, o
mar que estava muito calmo e as palmas do evento
que estava acontecendo no hotel naquela noite, que
mais pareciam ser para o espetáculo que estava

80
acontecendo naquele quarto, como se nada pudesse
os atrapalhar e destruir o que estava sendo
construído naquele momento, aquele pequeno
momento único e só deles.

Porque, no final, sexo é só isso mesmo. O que torna


tudo tão especial e inesquecível é a conexão que você
tem com a outra pessoa, é a troca, a entrega. No
final, tudo acaba em fluídos corporais e respiração
ofegante... mas é o que sobra disso tudo que
realmente importa, é o que resta no coração e na
memória no dia seguinte, quando você lembra e fica
excitado de novo.

O celular dele não parava de vibrar com tantas


mensagens chegando, era a esposa querendo saber
se ele enfim tinha chegado. Ele não a avisou quando
chegou, porque estava entretido demais com aquele
momento: só ele, Becca e Miami para eles.

— Acho que você deveria responder, ela está


preocupada.

— Depois eu respondo, vamos continuar o que


começamos”

81
Mas ambos sabiam que seria melhor responder,
porque não iriam parar de chegar mensagens.
Thomas então parou, pegou o celular e respondeu as
mensagens, falando que estava tudo bem e que
havia chegado há algumas horas. O clima acabou
esfriando, resolveram então que seria melhor ir
dormir, pois no outro dia bem cedo teriam que ir
para o cliente.

Já pela manhã, depois que acordaram e tomaram


café, se prepararam e saíram. Seria um dia muito
produtivo, Becca conheceria mais sobre o
investimento a ser realizado junto com o Josh –
diretor de operações, que também era filho do dono
da empresa, e meio que estava “pegando o bastão”
do seu pai agora.

Um rapaz bem jovem, de uns 25 anos


aproximadamente, e um sotaque britânico muito
fofo. Ele morou com a mãe em Londres praticamente
a vida toda, e veio para os estados unidos trabalhar
com o pai e fazer faculdade.

82
Enquanto Becca e Josh conversavam sobre os
negócios, entendendo um pouco melhor sobre a
economia local, o modelo de negócio que era feito,
sobre o ramo que estavam pretendendo investir
agora e qual o público alvo que seria atingido,
Thomas que conversava com o pai de Josh, não
parava de olhar para os dois.

Sim, ele estava com ciúmes de Becca ali naquele


momento, enquanto ela conversava com um cara da
sua faixa de idade e o instruía sobre o melhor plano
de negócio para começar o investimento. A forma
com que Becca conduzia a sua fala, explicando e
explanando pontos de vistas de forma culta e ao
mesmo tempo de fácil compreensão, mexia com as
estribeiras de Thomas – e ele tinha medo que
também mexesse com as de Josh – ela realmente é
muito inteligente.

Os dois jovens saíram para a cidade, com a intenção


de analisarem o local que o novo negócio seria
construído, falarem com os engenheiros sobre as
obras e entenderem o prazo de construção e
finalização.

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Depois de alinharem tudo, Josh levou Becca para
almoçar em um restaurante beira-mar, e perguntou
se ela queria conhecer um pouco mais da cidade a
noite. Becca, depois de receber o convite, pensou em
como aquilo poderia ser interessante para os
negócios e também para conhecer um pouco mais
sobre os parceiros. Mas ela pensou também sobre
como aquilo poderia deixar Thomas enciumado – o
que reforçava ainda mais a vontade de ir.

— Claro Josh, eu adoraria.


Ela encarava seus olhos azuis como o mar.

Após o almoço, voltaram para a empresa juntos,


colocaram no papel todo o plano que havia sido
montado, com prazos e preços e era a hora de
começar as análises mais profundas.

Ficaram trancados na sala o restante da tarde, Josh


passava a mão nos cabelos loiros de forma sexy com
a intenção de seduzir Becca. Mas ela estava tão
focada no que era feito, que não deu a mínima para
o rapaz. Exceto quando ele falava alguma frase mais
longa, com o sotaque pausado e travado, diferente
dos norte-americanos que falam tudo muito rápido e
comendo as palavras.

84
Becca e Thomas foram para o hotel, ela chegou e
tomou um banho apressado.

— Vamos descer para o restaurante do hotel, e em


seguida irmos para o bar? Estou afim de uns drinks.

Ela sorriu de lado, enquanto vestia sua lingerie cor


de rosa.

— Vou sair com Josh, ele quer me apresentar mais


a cidade.
Seguiu colocando sua roupa.

— Pode me ajudar a fechar o zíper, por favor?


Falou, se virando de costas para Thomas e
apontando para o fecho que ia do bumbum até o
pescoço.

Ele fechou, ao mesmo tempo que fechou sua cara, e


deu de ombros se sentando na poltrona verde que
ficava de frente para a cama.

— Tchau, te vejo mais tarde!


Ela falou, fechando a porta do quarto e saindo.

É que, naquele instante, Thomas havia percebido


que era tarde demais pra controlar o que sentia por
Becca. Mas ele também pensou em como sua vida

85
estava pronta, construída e que outras pessoas
dependiam dele.

Ele que foi criado na igreja, com princípios cristãos e


estava com a esposa há tempo demais. Como ele
poderia encerrar toda essa história, para viver um
amor juvenil com uma mulher muito mais jovem? As
pessoas falariam, provavelmente seus filhos se
afastariam, ele perderia o apoio até mesmo da sua
família.

Todos se voltariam contra ele, que sem querer pôr o


corpo fora, mas sem se culpar pelo que aconteceu,
acreditava fielmente no que existia em seu coração...
e sabia que seu casamento era constituído por
conveniências e aparências, não era por amor há
tempos!

Josh buscou Becca no seu BMW Série 3 branco,


estava vestindo um jeans claro colado, uma
camiseta rosa clara e um tênis branco – parecia
outra pessoa sem suas roupas sociais – a
cumprimentou com um beijo na mão.

86
Seguiram para um restaurante de luxo, no centro da
cidade, ambos pediam um prato que continha
camarão e tomaram champanhe. Saindo de lá,
foram para uma balada que, aparentemente,
frequentavam pessoas mais jovens e de classe média
alta.

Becca pediu um martini, como sempre, e começou a


dançar com Josh, que também pediu um martini
para a acompanhar.

— Te achei muito atraente e inteligente, Rebecca.

Ela fingiu ter entendido, mas na realidade não


conseguiu ouvir nada.

Dançaram um pouco, bebendo três drinks, mas não


falaram sobre quase nada – talvez pelo fato de que o
barulho estava muito alto, ou talvez porque Becca se
sentia um tanto quanto não profissional saindo com
um parceiro de negócios para a balada, que
acabaram ficando apenas nos assuntos mais
profissionais, enquanto ela fugia de perguntas como
“você tem namorado?” e “gosta de Miami a ponto de
morar aqui algum dia?”.
Sim, a resposta para essa primeira pergunta era

87
complicada demais. E para a segunda pergunta, se
fosse há pouquíssimo tempo atrás, ela diria “com
certeza” sem pensar duas vezes, já que era o que ela
sempre quis fazer.

— Vamos embora? Está ficando tarde, e temos


muito trabalho amanhã cedo...
Perguntou Becca, que falava de forma pausada com
medo de que Josh não conseguisse ouvir o que ela
dizia.

Ele fez que sim com a cabeça, deixou o copo sobre o


balcão e saiu com ela. Na porta do hotel, dentro do
carro, Josh inclinou seu corpo sarado para se
despedir de Becca, na tentativa de roubar um beijo
(quem sabe?), enquanto ela deu um beijo em seu
rosto.

— Adorei sair com você essa noite, foi realmente


incrível conhecer um pouco mais a cidade.

— Obrigada por ter aceito o convite, nos vemos


amanhã.
Ficou a observando até que ela entrasse no hotel.

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Becca entrou no quarto, Thomas estava dormindo,
ela tirou suas roupas e se deitou na cama. Ele
acordou.

— Como foi sua noite com o Jovem e bonito Josh?


Perguntou com a voz arranhada.

— Muito boa, na verdade! Jantamos e saímos para


uma balada. Foi divertido...
Enquanto ela respondia, ficou querendo rir daquele
ciúme que estava estampado na cara dele, porém ele
tentava esconder. Nem tinha sido tão bom assim,
mas aquela cena era impagável.

A semana foi passando rápido, mas seguia mais ou


menos um fluxo: Becca e Josh trabalharam o tempo
todo juntos, enquanto ele se demonstrava
interessado na moça, mas ela fingia não perceber
para não causar constrangimento no rapaz, e
também porque não queria envolver sexo ou algo do
tipo com uma pessoa completamente desconhecida
de outro país.

Thomas sentia ciúmes, mas não demonstrava,


porque ela não pertencia a ele, e muito menos ele a

89
ela – não poderiam haver cobranças de nenhuma
espécie e em nenhum lado.

No último dia de trabalho, se reuniram para discutir


sobre a proposta que fora apresentada –
conseguiram fechar o negócio, o investimento foi
concretizado e seguiriam o plano de Becca que
prometia retorno a médio e longo prazo.

Ficaram todos muito extasiados com a notícia,


completamente agradecidos por terem viajado para
concretizar a transação e contentes por terem essa
parceria há tanto tempo.

— Fred, tudo bem? Sentindo nossa falta na


empresa? Adivinha, deu tudo certo como planejado.
Seguimos para o Brasil amanhã à tarde.
Ela dizia para Fred, enquanto Thomas estava do seu
lado ouvindo tudo.

— Oi Becca, bem e você? Voltem logo, precisamos


de vocês aqui. Estou muito contente por ter dado
tudo certo, nunca imaginei o contrário, aguardamos
vocês dois na segunda feira, vamos comemorar.
Disse Fred contente, porém nem um pouco
surpreso.

90
Mais tarde, já no hotel, Thomas puxou Becca pelos
braços.

— Quero fazer amor na praia, aqui, antes de


voltarmos para o Brasil.

Becca beijou sua boca então, com muita vontade,


que o fez interpretar como se fosse um “quero
também”.

Havia uma brisa serena, a areia era macia,


molharam seus pés na água que tinha uma
temperatura agradável. Se sentaram então,
observando o vai e vem das ondas do mar que
estavam calmas, como seus corações naquele
momento.

Todo o conjunto, transmitia paz nos seus corações,


que estavam focados naquele momento e em nada
mais.

Ele a deitou, colocou uma das pernas entre as


pernas dela, uma das mãos sobre o ombro dela, e
pôs a cabeça entre seus peitos.

— Sabe, eu não imaginei que viveria isso de novo...


Eu não imaginei que quisesse viver isso de novo, ou

91
melhor, de novo não, porque a verdade é que nunca
me senti assim.
Nunca houve tanto frio na barriga, tanta vontade de
entrega, tanta espera ao receber de volta. Minha
menina, aqui ouvindo seu coração bater, percebo
que nunca houve dentro de mim algo parecido
antes. E não é culpa de ninguém, sabe?
O que aconteceu antes de acontecer isso, de
acontecer “nós”, não foi um erro, e o que acontece
agora não é culpa de ninguém. Nós não devemos nos
culpar por nos sentirmos assim, há muito
sentimento envolvido, muito carinho, muito fogo. Se
isso é errado, por Deus, o que é certo então?”

— Te escuto falar, querido Senhor, e sinto verdade


em suas palavras, mas não sou capaz de acreditar.
Porque não estamos destinados a seguirmos juntos,
mesmo com tudo isso que há dentro de mim, dentro
de você, e que compõe o nós.
E é claro, não é nossa culpa, mas nos permitimos
viver isso. Nós nos permitimos deixar o sentimento
aparecer, desde a nossa primeira conversa que
pareceu muito inocente, desde ali já havia uma certa
vontade e brecha para que deixássemos acontecer.

92
E se não fosse para ser, se é tão errado assim,
porque Deus nos permitiu então? Porque cruzamos
o caminho um do outro? Acredito fortemente que
ninguém passa em nossas vidas por acaso, todas
trazem um pouco de si e levam um pouco de nós.
Senhor, sua menina ainda olha para o céu estrelado
e lembra de você, é o que está acontecendo agora por
exemplo, enquanto você deita sobre meus peitos e eu
te ouço respirar. Eternizarei esse momento em
minha mente, com toda certeza, e agora permitirei
que entre em mim – com força – da mesma forma e
intensidade que entrou no meu coração.

Eles transaram naquela noite, como se fosse a


última transa de suas vidas. Fizeram com que
valesse cada segundo, cada palavra, cada carícia
trocada.

A medida com que iam trocando de posição, o corpo


ia ficando mais quente e suado, mas não pararam
até que fizessem de todas as formas possíveis. Todas
as sensações foram mais que reais, foram intensas e
profundas. Estavam literalmente conectados, sim,
eles estavam interligados. Viram o sol amanhecer,
deitados, se abraçando.

93
Ao voltar para o hotel, arrumaram as suas malas e
tomaram um banho. Havia areia por toda parte,
seus cabelos estavam bagunçados, mas eles estavam
radiantes e vivos como nunca. Ela o filmou no
quarto, tentando fechar a mala sem organizar as
roupas lá dentro.

— Isso nunca vai dar certo bobinho.


Ela ria, enquanto ele fazia uma cara irônica.

— Vai fechar sim, sem que eu precise de ajuda.

O voo saia as 11:30 daquele sábado, eles precisavam


se apreçar e ir para o aeroporto em Fort
Lauderdale...

A viagem foi tranquila, descansaram enquanto


estavam em voo já que não haviam dormido a noite
toda. Chegaram no Brasil por volta das 2 da manhã
de domingo, se despediram no aeroporto com um
abraço muito apertado, e seguiram cada um para as
suas casas, como se tivessem deixando uma parte
deles irem embora.

94
Com certeza, haveria um vazio dentro deles não
preenchido, depois daquela semana que passaram
juntos de forma tão intensa.

Segunda, 29 de outubro, Thomas e Becca estavam


de volta a empresa. Fred fez questão de recebe-los
com um café da manhã especial em uma reunião.

— Vocês são mesmo incríveis, confesso que esse


negócio era incerto, convocaram nossa presença
justamente por estarem em 50% sobre fazer ou não,
ou seja, tínhamos o não e fomos em busca do sim.
Parabéns pela persuasão, poder de convencimento e
análises bem executadas, são pessoas assim que
temos orgulho em manter no time.

— Becca fez praticamente todo o trabalho sozinha,


sem dúvidas sem ela não teríamos conseguido.
Thomas prosseguiu, orgulhoso e com um grande
sorriso no rosto.

Depois que tomaram café, seguiram cada um em


direção as suas salas, Thomas foi logo atrás da
Becca já que sua sala ficava três portas depois da
dela.

95
Ela entrou, fechou a porta, 5 segundos depois a
porta se abre, ele entra e a fecha rapidamente, ele a
puxa pelos braços e a vira, fazendo seus cabelos
voarem com o movimento. Os dois se olham bem
próximos, suas bocas querem se encostar, fazendo
com que eles se beijem então. Há àquela altura do
campeonato, já não conseguiam mais se contem ao
que sentiam um pelo outro, mesmo que fosse na
empresa.

— Me espere, senhorita, iremos embora juntos hoje.

— E para onde iremos, senhor?

— Preciso te mostrar uma coisa, mas tem que ser


sem roupa.

Becca passou a tarde toda pensando em onde iriam


naquela noite, e ainda mais no que Thomas havia
preparado para eles. Já que ele tinha esse dom de
sempre a surpreender, de chegar de mansinho, mas
com muita presença.

Ela sabia que ele era muito bom nisso – a deixar


desejando-o e pensando nele, com o fogo aceso sem
nunca cessar – ele realmente conhecia a mente dela,
tocava todas as “feridas” com precisão.

96
Havia muito trabalho a ser feito, mesmo não tendo
abandonado 100% a operação do escritório
enquanto estavam fora, o fato de ficarem longe nesse
período acabava acumulando atividades que
requerem uma atenção maior, e no caso deles, eram
executadas apenas por eles mesmos.

Becca reuniu o time, falaram sobre as atividades


desenvolvidas durante sua ausência, estava tudo
surpreendentemente nos conformes.

Final de mês, que possivelmente os faria ficar até


mais tarde na empresa, o que também serviria de
desculpa para Thomas informar a esposa o porquê
de ter chegado tão tarde.

Os dois estavam prontos para foder, e isso também


fodia com a cabeça deles, a ansiedade para se verem
era inevitável. Becca se prendeu no que tinha que
ser feito, focou no trabalho sem maiores distrações,
até que ouviu batendo em sua porta.

— Tchau Becca, até amanhã.


Era Fred, se despedindo.

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Logo em seguida, veio Thomas esbanjando todo o
seu charme e o terno azul escuro novo

— Vamos, minha querida?

É, a hora realmente havia passado depressa. Becca


pegou seu carro, e acompanhou o carro de Fred que
seguia na frente para algum destino. Seguiram por
uns 20 minutos, até que pararam em frente a um
motel, Thomas recebeu uma mensagem em seu
celular.

— Nunca fui a um motel antes.

— Eu sei, doce Becca, para tudo há uma primeira


vez... Se ela for comigo então, é infinitas vezes
melhor.

Cá entre nós, ela ama o jeito com que Thomas se


impõe, maduro, sabe sempre exatamente o que
fazer, o momento certo de dizer as palavras e a
forma com que as coloca, aquele jeito autoritário
sem constranger. Havia sim algumas coisas novas
experimentadas que com ele, sem dúvida, eram
muito melhores.

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Entraram naquele quarto, que estava
completamente escuro, exceto pelas luzes que
vinham da hidromassagem localizada ao fundo. Ela
foi caminhando para frente, ele puxou seus cabelos
a trazendo para perto, pegou na sua cintura e a
virou já tirando sua blusa. Ela abriu o cinto dele,
puxando-o com tudo e desabotoando sua calça. Os
sapatos foram jogados pra cima, as roupas foram
jogadas no chão do quarto, não havia sequer um
minuto a perder.

Ele a jogou nua na cama, enquanto ela olhava os


espelhos no teto, e prendeu suas mãos bem forte
acima da cabeça, usando o cinto que ela mesma
tirou. Beijou cada parte desde o pé até as coxas,
abriu suas pernas segurando firme na parte interna
da coxa, enquanto ela se molhava em seu próprio
desejo. Becca fechou os olhos e sentiu os lábios de
Thomas encontrarem seus grandes lábios, os
pequenos também, que massageavam e a fazia ficar
cada vez mais molhada.

Ela queria poder puxar os cabelos dele enquanto ele


a chupava, mas ele continuava naquela tortura
gostosa e a olhava com cara de safado, ficava cada

99
vez mais excitado enquanto prosseguia, já não se
cabia na cueca.

— Continue movendo sua língua dessa forma.


Ela o encarava dizendo.

Ela se perdia naquele olhar safado totalmente sem


juízo, aquela boca carnuda e macia em conjunto
com a sua língua quente. Cada movimento parecia
ensaiado, a técnica utilizada era capaz de
enlouquece-la em minutos.

— Eu quero você agora.


Sussurrou entre gemidos.

Ainda com as mãos amarradas, Thomas a virou de


quatro, e ela se empinou de forma com que sua
cabeça ficasse deitada entre seus braços, os peitos
tocavam a cama, a barriga se curvava em direção ao
teto, e ela já estava completamente pronta para
recebê-lo – com vontade.

Quando ele enfim a penetrou, ela começou a rebolar


em sincronia com o movimento de vai e vem que ele
fazia, dando mais ênfase ao prazer que era mútuo e
com a mesma intensidade para eles.

100
— Isso, rebola pra mim.

— Estou sentindo você bem forte.

Ela começou a olha-lo por cima do ombro mordendo


os lábios, enquanto o ritmo ia aumentando e seus
corpos iam se esquentando ainda mais. Ele
prosseguiu dando tapas na bunda, e também
deslizava suas unhas nas costas dela deixando
algumas linhas avermelhadas na vertical, enquanto
ela arrepiava com o toque.

Ele parou, a deitou virada para cima e sentou em


sua barriga com o pau entre os peitos dela,
desamarrando suas mãos. Ela começou a toca-lo de
forma rápida, enquanto ele inclinou sua cabeça para
cima e via todo o cenário através do espelho.

Aquilo o deixava excitado ao extremo, era uma zona


segura e a intimidade um com o outro era muito
grande.

Ela o levou para a hidromassagem onde as luzes


azuis faziam seus olhos brilharem de forma
diferente, ela sentou por cima dele e eles deram um
beijo longo, enquanto ele a abraçava forte.

101
— Você beija bem demais.”
Ele disse enquanto passava o polegar nos lábios
dela.

— Meu corpo é todo teu. Me usa do jeito que quiser.


Ela respondeu de forma sincera.

Mesmo ele já sabendo que isso era verdade, sem a


necessidade de ela ter dito, aquelas palavras terem
saído da boca de Becca naquele momento, pareceu
criar mais intensidade dentro do seu peito com
relação ao que ele sentia.

O fato de ela ser fiel a ele, mesmo ele nunca tendo


cobrado isso dela, acabava o deixando mais seguro
com tudo que existia entre eles. Sim, ele tinha uma
esposa, e também tinha um relacionamento com
Becca que não poderia haver cobranças, mas mesmo
assim ela escolhia ficar apenas com ele... isso o fazia
se sentir especial para ela de uma forma única.

Quando eles acabaram, vestiram suas roupas e


recolheram os sapatos que estavam jogados.

— Foi gostoso demais, né?


Ele disse, e deu um beijo na testa dela.

102
Ela fez que sim com a cabeça e saíram cada um em
seu carro. Thomas voltou para casa dirigindo
depressa, pois precisava chegar o quanto antes. Já
Becca dirigia de forma tranquila, ela gostava de
repassar todos os momentos em sua mente mais
uma vez, ela tinha esse costume de guardar cada
memória, pois esses eram os únicos registros que ela
poderia ter e levar consigo até o fim de sua vida.

Mais tarde naquele dia, Becca mandou para Thomas


a foto que tiraram no avião, seguido também pelo
vídeo dele tentando fechar a mala, acompanhado por
uma mensagem “já estou com saudades da nossa
viagem”.

Mas curiosamente, acabou não recebendo nada de


volta. Ela achou muito estranho, já que geralmente
ele respondia no mesmo instante... mas tentou não
se preocupar com aquilo, seguiu achando que estava
tudo bem entre eles!

O mês de novembro chegou, e com ele muito


trabalho a ser realizado. Era o mês de fechamento
das metas gerais, eles precisavam bater os 200%
com relação ao ano passado, pois esse ano estava

103
muito mais favorável aos negócios e na metade do
ano já estavam quase com esse número fechado.

Todo esse trabalho fez com que Becca e Thomas só


se vissem no trabalho, todos da equipe acabavam
ficando até mais tarde, e eles nunca “se pegavam”
pelos corredores ou em suas respectivas salas.

Mesmo existindo toda aquela pressão no trabalho,


falta de tempo, e outros problemas em suas vidas,
também existia expectativa com relação a tudo por
parte de Becca, principalmente pelo afastamento que
já haviam passado antes, e também porque haviam
acabado de reconciliar nesta viagem.

O fato dele não mandar nem uma mensagem, estar


aparentemente frio, acabava a deixando muito mal,
na indiferença ela sempre se entrega. Será que as
pessoas mudam de comportamento porque se
sentem seguras do afeto que o outro sente? Como se
perdessem o interesse depois que conquistassem.

Era quinta feira, 15 de novembro de 2018, havia


uma reunião em que Becca e Thomas teriam que
fazer juntos em um cliente as 14 horas, a pedido de
Fred. Os dois saíram então para almoçar, e de lá

104
iriam para o destino. Durante o almoço, os dois
acabaram não falando sobre muitas coisas. Becca se
lembrou e quis puxar assunto.

— Thomas, naquela noite em que fomos para o


motel, depois que fomos para casa eu acabei te
mandando uma mensagem, porque eu estava me
lembrando de tudo que aconteceu em Miami e
também porque eu queria conversar com você, mas
você não respondeu nada. Eu acabei deixando o
vácuo para lá, mas só queria entender o motivo do
silêncio...

— Me desculpe, mas não me lembro dessa


mensagem! O que você mandou? Sabe que a noite é
perigoso, eu fico em casa com a minha família.

— Eu mandei a nossa foto no avião, e também


aquele vídeo de você fechando a mala.

— Becca, primeiramente eu nunca cheguei a recebe-


las, te juro que não vi essa mensagem, tem certeza
que você as enviou? A não ser que você mandou
enquanto eu tomava banho e meu celular carregava
sobre a escrivaninha.
É possível que a minha esposa tenha pegado o

105
celular, lido e as apagado para que eu não as visse.
E essa possibilidade é a mais provável de ter
acontecido e também a que mais me assusta, porque
realmente aquelas imagens mostravam o quão
próximos somos, estávamos no mesmo quarto.
E se ela viu e não falou nada é perigoso demais que
continuemos com tudo isso. É melhor nos
afastarmos de vez, para sempre!

Becca que a essa altura estava com os olhos cheios


de lágrimas, acabou engolindo a seco todas essas
palavras que saíram da boca de Thomas em um tom
ríspido, uma decisão unilateral de acabar com aquilo
que tinham, e encerrar aquela história.

Ela se importava muito, era muito quente, mas se


tivesse que esfriar ela sabia fazer virar gelo. E
naquele momento, as coisas haviam mais que
congelado em seu coração.

— Ok, Thomas. Certo!

Naquele momento, ela só tinha uma certeza em seu


coração: Nunca deixe chegar a esse ponto, de uma
pessoa ter que dizer pela segunda vez que não te
quer...

106
A reunião durou duas horas, mas parecia que foram
dez. Com o tempo passando lentamente, Becca não
via a hora de sair dali, após as palavras que foram
ditas anteriormente, as coisas perderam totalmente
o sentido.

Enfim, quando voltaram para a empresa, ambos


ficaram trancados cada um em sua sala. Becca,
chorando muito, acabou apagando as imagens e
vídeos do seu celular que constavam o Thomas,
apagou também as mensagens e o número de
Thomas, depois de bloqueá-lo no WhatsApp.

Se era para acabar, que fosse por completo então.


Não haveria brechas para lembranças, exceto em
sua memória que seria trabalhada para esquece-lo
com o tempo.

Enquanto novembro ia passando rapidamente, com


as metas já cumpridas e a empresa em ritmo de
preparação para as férias no mês de dezembro,
Thomas seguia com a sua família.

Estava tentando se aproximar mais da esposa,


tentando fazer com que a chama da paixão
reacendesse na relação. Ele levava buquês de flores

107
quase todas as noites, fazia jantar românticos,
deixava as crianças em casa e saía mais com ela.
Tudo isso era feito com um pouco de remorso, e
também tinha a esperança que ela não tivesse visto
as imagens, mas sabia que tinha visto pois não
tinha outra explicação de terem sumido do celular.

Mesmo tentando essa reaproximação, ele continuava


pensando em Becca e em como tudo isso acabou de
forma trágica, depois de tudo o que eles viveram
juntos. Ele pensava também em como acabou sendo
injusto com ela, e na reação que ela teve de não
dizer absolutamente nada após tudo aquilo que ele
falou, ele havia a machucado profundamente e não
tinha como reverter os estragos.

Quanto eles faziam sexo, ele imaginava que era


Becca quem estava em sua cama, e só assim ele
conseguia gozar. Mas, sabendo que não era ela, seu
coração não disparava, a barriga não gelava, não
travava a respiração. O fogo não era o mesmo, seus
corpos não suavam, não tinha emoção. E por mais
que ele tentasse, sua esposa não era a Becca ... o
que o fez pensar que, infelizmente, Becca não era a

108
sua esposa. E ele nunca havia a imaginado nessa
posição.

Haveria então uma confraternização no auditório da


empresa, na sexta feira dia trinta de novembro, para
os funcionários e fariam um amigo secreto entre
eles, as famílias estavam convidadas. O que deixava
Becca um pouco desconfortável porque,
primeiramente ela não tinha família, e segundo
porque Thomas e a família estariam presentes. Mas
ela participaria, com certeza.

Na noite da confraternização então, Becca usava um


vestido preto de manga longa e uma sandália
branca, de deixava seus pés todo a mostra, e suas
pernas também. Ela ficou junto ao Carlos, namorado
de Fred, o tempo todo. Enquanto Fred conversava
com todos os convidados de forma muito animada.

— Sabe, é isso que eu amo no Fred, ele é assim o


tempo todo. Sempre auto astral, não tem tempo
ruim com ele... ele é uma pessoa otimista demais.
Você é sortudo Carlos, por ter ele ao seu lado. E sem
dúvidas ele é sortudo demais por ter você.

109
— Eu penso sobre isso o tempo todo, Frederico
acorda e vai dormir de bem com a vida. Não é como
se não tivéssemos problemas como um casal, é claro
que temos, mas após a morte do meu irmão ele me
pediu para que eu fosse morar com ele já que nunca
morei sozinho, e posso dizer que essa foi a melhor
coisa que ele poderia fazer por mim naquele
momento. Eu não aguentaria ficar sozinho, eu
provavelmente surtaria, e nosso relacionamento só
se fortaleceu.

Becca percebia nas palavras de Carlos, o quando um


relacionamento saudável fazia bem. Digo, um
relacionamento de verdade, sem sigilos, sem
promessas, sem mentiras. Não aquele que ela um
dia teve, que a aproximação fez com que o
relacionamento um dia esfriasse e se tornasse uma
amizade, apenas. E com certeza não aquele que
tinha com Thomas, porque tudo que soasse como
uma segunda opção rasgava seu peito e a dilacerava
por completo.

110
Jamais poderia ser a parte que complementa o que
falta na vida de alguém, jamais seria a “metade da
laranja” pois, precisava de alguém que estivesse ali
por completo. Alguém que pudesse segurar sua mão
e ela apresentasse naquela confraternização, por
exemplo.

Ela pediu licença ao Carlos, e foi até o banheiro.


Enquanto retocava seu batom, a esposa de Thomas
entrou e ficou ao lado dela também olhando no
espelho.

— Boa noite Becca, como vai? Não a vi quando


cheguei, nem tivemos o prazer de nos
cumprimentar.

— Olá, boa noite. Estou bem e a senhora? Eu estava


conversando com Carlos, estávamos distraídos e
acabei não a vendo também.

A esposa se virou para Becca então, enquanto ela


apenas olhou de canto de olho sem intender porque
ela a encarava.

— Olha menina, não sei o que se passa entre você e


meu marido, mas consigo imaginar algumas coisas.
Ele não sabe que eu sei, e nem ficará sabendo,

111
porque isso que aconteceu entre vocês foi uma
mentira e passageiro. Ou você acha mesmo que ele
deixará tudo que possui por uma menina?
Tudo o que ele perderia com toda essa brincadeira, a
família, os amigos. Seria julgado e condenado por
todos, seu nome iria para o lixo também: “a garota
do trabalho que destruiu um casamento”.
Pensou o que? Que ficariam juntos e viveriam um
romance? Coitada, não se ache importante, não ache
que você fez a diferença na vida do meu marido,
porque você não fez. E se você queria uma aventura
com um cara mais velho, sabe-se lá por qual motivo,
é melhor que acabe aqui, ou faço da sua vida um
inferno!

Becca apenas fechou seu batom e saiu sem olhar


para o rosto da mulher, como se tudo o que acabara
de ouvir fosse um delírio da sua cabeça. Ela torcia
para que fosse, porque toda aquela merda era
surreal. Ela pegou uma taça de gin tônica e voltou
para perto do Carlos.

— Becca, meu amor, está tudo bem? Está pálida,


parece que viu um fantasma.

112
— Carlos, acho que vi sim. Mas está tudo certo. Se
preocupa não.
Disse ela, dando um grande gole na bebida, olhando
para Carlos e sorrindo.

Três batidas na taça, todos os olhares se voltaram


para o centro.

— Pessoal, após cumprimentar um a um, gostaria


primeiramente de agradecer a presença de todos.
Fico honrado que todos estejam aqui e agora, esse
ano foi realmente incrível. Recebemos na nossa
empresa esse ano o privilégio de contratarmos
pessoas tão boas no que fazem, que vieram para
somar e contribuir com o time que já estava aqui, e
que também era maravilhoso.
Conseguimos bater a nossa meta em 200%, tivemos
nossos serviços contratados esse ano em diversos
segmentos e investimentos de alto nível foram feitos,
contribuindo para tal feito. Não tenho nada além
para dizer, senão agradecer por todos vocês, e por
serem quem são. Espero que se renovem, ano que
vem continuamos com tudo!

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Todos bateram palmas, enquanto Fred sorria lá do
meio ainda em êxtase, após dizer todas aquelas
palavras. Eu sentia sobre mim um olhar negativo,
ela não parava de me encarar, talvez pelo fato de eu
sair sem dizer nada, mas aquilo não poderia estragar
a nossa festa. Saímos então para pegar os presentes,
o amigo secreto aconteceria naquele momento.

Fred começou a entrega de presentes, que foi


rodando entre a galera até chegar a vez de Thomas,
ele começou:

— Meu amigo secreto é uma pessoa engraçada,


inteligente, comprometido no que faz, está sempre
alegre e querendo que as coisas deem certo. Uma
pessoa muito madura e delicada, que desejo tudo de
melhor nessa vida e que seja muito feliz.
Foi em direção a Becca, que bebeu todo o restante
do gin que estava na taça e arregalou os olhos,
fingindo não acreditar no que estava acontecendo,
parecia marmelada. Ela pegou a caixinha pequena
de forma sem graça, deu um abraço sem encostar
muito no Thomas, e mostrou ao restante da galera
que era um colar de coração.

114
Thomas achou estranha a reação de Becca, por ficar
muito sem graça ao descobrir que ele era o amigo
secreto, por ficar assustada quando ele foi abraça-la
e por ficar sem reação e hesitante ao mostrar o
presente, já que disfarçar que eles não tinham nada
era algo já normal para os dois.

— Obrigada Thomas! Meu amigo secreto é uma


pessoa simplesmente incrível, um amigo de longa
data que conheci durante uma palestra há alguns
anos, e que naquela noite se aproximou de mim
comentando como havia gostado do meu sapato,
mas principalmente da forma como eu expunha
minha opinião sem impor que a outra pessoa
aceitasse o que era dito.
E meu amigo, pude conhecer muito de você durante
essa vida, mas esses ensinamentos que tive
trabalhando com você com certeza levarei comigo
para sempre. Você é um ser de muita luz, Fred.

Ele foi ao encontro dela, com um sorriso no rosto e


lagrimas nos olhos, deu-lhe um abraço apertado e
pegou a caixa. Era um relógio e uma gravata
colorida, daquelas que ele gostava de usar
casualmente, de forma bem chamativa. E

115
geralmente ele conseguia chamar atenção, todos
adoravam suas gravatas.

Após a abertura dos presentes, Becca continuou


acuada num canto com Carlos e Fred, enquanto
Thomas e a família vinham se aproximando.

Ele olhava para Becca como se ainda a desejasse, a


esposa olhava para ela como se quisesse matá-la, e
os filhos só estavam entediados com aquilo tudo e
querendo ir pra casa jogar vídeo game mesmo.

A medida com que eles chegavam mais perto, o


estomago de Becca ia embrulhando como se
quisesse colocar tudo para fora ali mesmo, uma
mistura de nervosismo e raiva que nem ela sabia
explicar, mas ela segurou.

— Bom pessoal, já estamos indo. Hora de colocar a


criançada na cama. Foi uma confraternização
maravilhosa, nos divertimos bastante, nos vemos
novamente em janeiro então, hein? Boas férias a
todos.

116
— Tchau pessoal, muito bom ver que vocês
gostaram, ficamos felizes.
Disse Fred todo simpático, porém um pouco
embriagado.

As pessoas começaram a sair, até que restaram os


três para tirar o lixo e deixar mais organizado para a
moça da limpeza no outro dia. Depois dali, saíram
para a casa de Fred.

Pegaram as garrafas de gin e vodca que haviam


sobrado da festa e foram. Chegaram lá, rindo de
coisas aleatórias (típico de quem está levemente
bêbado), falando alto e colocaram “La toxica” para
tocar.

— Carlos, você dança muito duro, deixa que eu te


mostro como se faz.
Fred falava, enquanto caia na risada.

Becca pegou uma garrafa de gin e uma lata de


tônica e começou a beber no bico.

— Vocês dois são muito duros, aprendam com a


mestre.
Ela mexia seus quadris de forma sensual e no ritmo
do reggaeton que estava tocando.

117
Se tinha uma coisa que Becca sabia ser era sexy,
sem fazer nenhum esforço, ela algo natural dela.

— Mulher, você é muito gostosa, se eu gostasse com


certeza teria dado em cima de você.
Fred falou, depois olhou para Carlos, e ambos
deitaram no chão de tanto rir.

— Bestas, vocês não valem um real.

Falaram de tudo um pouco esquecendo a empresa, e


comentando sobre coisas do dia a dia.

— Becca, mas conta aí, como está sua vida


amorosa? Desde que se separou nunca te vi com
ninguém, não dá pra ficar tanto tempo sem sexo
assim.
Ela havia se esquecido de como Fred ficava
desbocado quando bebia, e mesmo sabendo que
poderia confiar nele, ainda estava sóbria o suficiente
para decidir não dar com a língua nos dentes.

— Sabe como é ne? A gente nunca fica na mão.


Ela disse, virando gin e tônica na boca ao mesmo
tempo.

118
Fred se levantou para pegar gelo, Carlos olhou para
o vazio e disse:

— Sempre quis beijar uma mulher, nunca beijei


nenhuma para saber como é.

Becca olhou de canto de olho, intrigada, enquanto


estava com a garrafa na boca.

— Cê tá brincando, né? Não pode ser... Me beija


então.
Disse ela já fechando os olhos e fazendo um bico
para frete.

Carlos não pensou duas vezes e deu um selinho em


Becca, depois olharam um para o outro e caíram na
risada.

— Seus babacas.
A voz ecoou pela sala.

Frederico estava encostado na parede enquanto via a


cena. Becca e Carlos ficaram sem graças por
acharem que Fred poderia não ter gostado da
brincadeira (logo ele, que já havia sido casado com
uma mulher por 13 anos)

119
Fred começou a rir do nada, enquanto os dois
olhavam assustados sem entender nada.

— Babacas, larguem de palhaçada, se é para ter


beijo que seja um de verdade, quero ver língua.
Ele se sentou e ficou encarando os dois, aguardando
que tal ato acontecesse.

Carlos tomou a garrafa das mãos de Becca e deu um


grande gole no gin, em seguida deu-lhe um grande
beijo, como alguém que está faminto e acaba de ver
um banquete em sua frente.

— E aí, o que achou?


Perguntou Fred, que já estava com os olhos
arregalados.

Carlos solta um grito curvando-se para trás.

— Boquinha macia, sem barba espetando, gostei.


Acho que amanhã vou me arrepender de dizer isso.

Fred, que era super desapegado com essas coisas,


acabou dizendo: “O meu eu ganho agora também?”

Becca olha em tom de deboche.

— Aaaah pronto, virou barraca do beijo agora, é?

120
Os três se olharam, Becca foi em direção de Fred e
também o beijou, mas logo em seguida começou a
chorar.

— Foi tão ruim assim, é? O meu foi melhor?


Esse era o Carlos tentando quebrar o clima, mas
naquele momento nenhum dos dois entendiam mais
nada, e ela também não queria que eles
entendessem, o que acabou os fazendo ficar em
silêncio por algum tempo... só conseguiam escutar
ela fungando o nariz.

Algum tempo depois, Becca tentou quebrar o climão


que ela mesmo causou, chamando-os para jogarem
um jogo de tabuleiro, mas estavam bêbados demais
para conseguirem concluir, e riram bastante por
isso.

— Vamos para a cama? Já bebemos demais.


Fred se levantou e saiu em direção ao corredor do
quarto, enquanto Carlos se levantava e ajudava
Becca a levantar.

— Vou embora pessoal, já são duas da manhã.


Ela levantou cambaleando, indo em direção a porta.

121
— Não senhora, você não tem condições de dirigir, o
quarto de hospedes está arrumado e a cama está te
esperando dona Rebecca.
Carlos prosseguiu em tom autoritário.

Ela aceitou ficar então, reconheceu que seria o


melhor a se fazer. Pouco tempo depois de deitada, a
cama começou a girar e ela acordou com uma
vontade enorme de vomitar e foi correndo para o
banheiro.

Após passar a náusea seca que estava, e botar tudo


para fora, ela se sentou na cama e pegou a caixinha
que estava na sua bolsa. Aquele presente mexeu
com seus sentimentos, principalmente por que vindo
de Thomas, aquele coração do pingente tinha algum
significado. Ao mexer no colar, ela percebeu que o
pingente de coração abria, e lá dentro viu gravado de
um lado “T” e de outro lado “R”.

Rebecca ficou muito confusa naquele momento,


porque primeiro Thomas termina tudo sem a
possibilidade de ela dizer sequer uma palavra, e
agora dá de presente para ela um colar de coração
que possui as iniciais de seus nomes gravados

122
dentro, como se quisesse eternizar o que sente para
que ela sempre se lembre dele.

Ela ficou muito tempo deitada, imóvel, olhando para


cima e pensando o que tudo aquilo significava, ou
pensando que talvez não significasse nada. Mas já
eram 5 da manhã, ela decidiu que era melhor ir para
casa. Já estava boa o suficiente para sair.

Naquele instante, na sua casa, Thomas não havia


conseguido dormir pensando em como a indiferença
de Becca o machucava, e sobre como após ele ter
acabado com o que havia entre eles as coisas
pareciam mais vazias em seu coração.

Ele olhava para o lado, e ver sua esposa dormir não


lhe causava nenhuma sensação próxima a amor.
Aquele casamento era, na verdade, companhia um
para o outro. Eles estavam presentes um para o
outro nos momentos difíceis, nos momentos bons
também, mas era basicamente isso.

Já era isso antes de conhecer Rebecca, e continuaria


isso mesmo após tê-la conhecido. Ele se sentia mal
com a situação, de ter que abandonar alguém que
faz parte da sua vida há tanto tempo, mas também

123
não queria que Becca simplesmente fosse embora da
sua vida.

Ela era alguém que ele finalmente o conhecia, que se


importava com os mínimos detalhes assim como ele,
que era atenta a tudo que acontecia e o compreendia
de forma única. Era ela quem vinha a sua cabeça,
quando ele pensava em ficar preso numa ilha
deserta, ou pegar o carro e sair sem rumo estrada a
fora.

Estava decidido, ele iria acabar com aquele


casamento. Não fazia mais sentido continuar com
tudo aquilo. Ele deixaria a casa para a esposa e os
filhos, daria total apoio financeiro como sempre foi,
mas não poderia seguir essa farsa por toda a vida.
Ele sabia que não poderia ter as duas coisas, então
ele optou por aquela que acreditava ser a correta, ele
tinha agora essa certeza em seu coração e decidiu
seguir antes que a perdesse de vez.

Enquanto isso, Becca descia do prédio de Fred e


pegava seu carro. Sua casa ficava um pouco distante
dali, e seria necessário acessar uma via mais
movimentada.

124
Mas ela realmente estava bem, já havia dirigido em
situações piores. Com os sapatos jogados no banco
do passageiro, ela ligou seu carro e seguiu. Em
algum momento durante o caminho, sentiu seu
corpo gelar e simplesmente apagou.

Acordou no hospital, com as pernas machucadas,


viu Fred ao lado de sua cama com uma cara de
quem, provavelmente bateria nela mais tarde. Ela
estava no soro, com alguns remédios para dor sendo
injetados, mas não aconteceu nada grave.

— Juro que não sei o que aconteceu, eu estava bem,


mas eu simplesmente apaguei. Acho que desmaiei,
nunca desmaiei antes para saber.

O médico entrou na sala, mesmo ela estando um


pouco drogue, viu quando ele olhou para o Fred.

— O senhor que é o pai?.

Fred e ela então se olharam e caíram na risada,


pensando que o médico estava se questionamento se
ele era pai dela. Os dois se calaram e se olharam
fixamente.

125
— Você não sabia da gravidez, Sra. Rebecca? Por
isso consumiu bebida alcoólica? A gravidez é de
aproximadamente 5 semanas...

E por mais que as pernas dela estivessem


funcionais, naquele instante ela não pôde mais as
sentir. Tudo foi tão doido no mês de novembro, uma
correria gigante na empresa e também o término
com Thomas, que ela acabou não percebendo que a
menstruação estava atrasada.

Era como se a alma estivesse saindo do seu corpo e


cada parte foi gelando vagarosamente. Ficou muito
pálida, Fred se sentou na cama, pegou em suas
mãos e pediu que o médico os desse licença do
quarto por um instante.

Naquele momento, de todas as atitudes que o Fred


poderia ter, de todas as palavras que ele poderia
dizer, ele escolheu apenas a abraçar.

— Meus parabéns! Mas como isso aconteceu?


Sussurrou Fred no ouvido de Becca algum tempo
depois.

126
E mesmo ela não devendo satisfação nenhuma da
sua vida para ninguém, mas não tendo
absolutamente ninguém de verdade em sua vida
além do Fred, e também porque havia guardado esse
segredo com ela por tanto tempo e estando tão
exausta, soltou:

— Por favor não me julgue, Fred. Pessoas


inteligentes, para mim, são um problema. Diante de
todo encantamento, nem vi, já estava sem roupa.
Fred, não espero que entenda, nem que acredite que
não foi carência, mesmo que não tenha sido!
Nós produzimos uma eletricidade que percorre o
nosso corpo todo e arrepia os cabelos. Por favor não
me olhe com outros olhos depois disso... Eu o
conheci no bar num dia turbulento de merda e, de
forma totalmente aleatória e gostosa, nos
identificamos demais.
Thomas é o pai, e não, eu não fazia ideia que ele
trabalhava com você... inclusive nessa época em que
o conheci, você já tinha me feito a proposta, mas eu
insistia naquela empresa de merda que me tratava
feito lixo e posterguei vir trabalhar contigo – que
diga-se de passagem foi a melhor escolha que eu

127
poderia tomar.
O dia de merda era justamente por esse motivo,
aliás. Eu estava pronta pra finalmente sair de lá, me
estressei demais, e sai pra beber a tarde. No meu
primeiro dia, quando eu o vi descer as escadas e vir
em minha direção me dar boas-vindas, eu me
assustei demais.
Primeiro porque eu sai do bar embriagada e sem
dizer meu nome, segundo porque era evidente a
atração que sentíamos um pelo outro.
Muita coisa rolou, Fred. E quando eu digo muita
coisa, estou me referindo as diversas posições que
transamos mas também sobre tudo o que
experimentamos na cabeça e no coração, mesmo ele
negando que sentisse ... mesmo ele não se
permitindo sentir, ou não se permitindo dizer algo
sobre sentimentos porque era “proibido”, ele dizia
que tínhamos nossos limites, acredita? Mesmo
sendo evidente que havia algo ali.
Mas eu entendo, sabe? Eles são um casal perfeito,
do tipo que se conheceram jovens, começaram a vida
jovens e logo tiveram seus filhos. Passaram uma
barra juntos, enfrentaram todos os problemas juntos
e cresceram juntos.

128
Cada um deu uma parte de si, se doaram sim um
para o outro como puderam, cederam e
compartilharam sensações e sentimentos, e agora
estavam colhendo os frutos.
Definitivamente não dava para competir com isso,
não havia espaço para mim em lugar algum – exceto
na cama dele, quando o tesão estava acumulado –
mas eu nunca ocuparia espaço no coração daquele
cara. Merda! Terminamos tudo há algumas
semanas, então não há mais nada a ser dito.

Fred a encarou assustado e com ternura, mas ao


mesmo tempo preocupado. Seu silêncio foi
acalentador como se fosse capaz de dizer tudo que
ela quisesse ouvir, aquele silêncio foi a melhor
resposta que ele poderia dar. Após alguns instantes
calado, ele a olhou firme nos olhos.

— O que você quer fazer com relação a isso?

Naquele momento, Becca pensou: “pronto, 21 anos


com um filho, meta cumprida”, mas também não
deixava de pensar sobre como as circunstâncias
foram erradas, e ela estava tendo um filho que não
poderia ter um pai.

129
— Me consegue um trabalho no parceiro de Miami?
Na viagem estreitei alguns laços, fiz alguns contatos,
mas como você os conhece há muito tempo, com
certeza sua indicação será certeira... E Frederico, me
promete que Thomas não saberá dessa gravidez, me
promete que nossa conversa morrerá aqui. Vou
carregar o fardo e arcar com as consequências
sozinhas.

E então ele apenas sorriu.

— Sozinha não bobinha, estou com você.


Naquele instante Becca sentiu seus ombros
aliviando o peso que havia sobre eles.

— Você é um anjo Fred, muito obrigada!

No outro dia, primeiro de dezembro, já no fim da


tarde, Becca recebeu alta e foi para casa. Fred se
encarregou de busca-la e leva-la em segurança.

— Rebecca, falei com o Josh e ele ficou super


animado com a recomendação que eu fiz. Na
verdade, eu não precisei falar quase nada, apenas
citei seu nome e em seguida ele só disso “Claro” e
sorriu. Acho que ele gostou de você.

130
Becca se sentiu aliviada, porque poderia se mudar e
começar a sua vida do zero em outro lugar, conhecer
novas pessoas e esquecer tudo o que se passou. Ela
colocou na cabeça que dali para frente somente
ficariam em sua vida o que pudesse ser cem por
cento, e tudo que ousasse ser 99,99 ela dispensaria.
Ela usaria o mês de dezembro para se organizar,
resolver com o seguro o assunto do carro, vender
sua casa, arrumar a mudança, ajustar seu visto
para de trabalho e enfim viajar.

Naquele mesmo dia pela manhã, Thomas acordou


decidido que tomaria uma decisão. Ele não poderia
ter tudo, mesmo que quisesse que tudo ficasse
exatamente como era antes: sua família, sua
reputação perante os conhecidos e também o
relacionamento que tinha com Becca, que era
exatamente da forma que ele sempre quis.

Mandou uma mensagem para a Becca que acabou


não chegando em seu celular, não contente ele foi
até a casa dela. O porteiro avisou que ela não estava
em casa, conforme ela havia pedido pra informar a
qualquer um que não fosse o Fred. Ele ligou então

131
para o Fred perguntando por ela, mas ele acabou
respondendo que não sabia dela.

Thomas ficou pensativo com relação ao sumiço dela,


mas também porque ele finalmente queria olha-la
nos olhos e dizer que ficaria com ela, deixando todo
o resto para trás. Ele voltou para casa, criando
coragem para falar com a sua esposa, momento que
seria delicado e complicado... então ele precisava
estar em um bom momento para falar.

Ele entrou no banheiro e começou a imaginar que


Becca estava ali, com ele, e imediatamente ficou
excitado. Em seu pensamento, ela prendia seus
punhos com sua gravata, enquanto o beijava e
pegava no seu pau, fazia dele o que quisesse sem
que ele tivesse nenhuma reação e tivesse que ficar
quieto.

Ela iria fazer dele seu brinquedinho naquela noite, o


usar da maneira como julgasse necessária, o
torturar com excesso de prazer. Se masturbar no
banho pensando nela, só confirmava o que deveria
ser feito, e no outro dia tentaria ligar novamente
para ela, e também criaria coragem para falar com a
sua esposa.

132
A primeira semana de dezembro acabou se passando
então. Becca, que estava ocupada demais pensando
em sua mudança, ficava praticamente o dia todo
fora de casa resolvendo seus assuntos.

Ela estava muito animada também com a criança


que estava por vir, que apesar das circunstâncias
seria muito amada e cuidada por ela – que sempre
sonhou em ser mãe. Os dias foram se passando,
enquanto Thomas seguia bloqueado por Becca, sem
saber de absolutamente nada do que estava
acontecendo, Fred se fazia de desentendido e sempre
respondia para Thomas que não sabia por onde
Becca estava. Até que um dia quando Thomas o
ligou, ele se cansou das perguntas:

— Thomas, querido, estamos de férias. Você tem


algum assunto de trabalho a tratar com a Rebecca
ou é de âmbito pessoal? Realmente não estou
atendendo, ela está viajando, está ocupada e
provavelmente por isso não está atendendo suas
ligações e nem respondendo suas mensagens. Se for
de aspecto profissional, mesmo nestas férias, posso
te ajudar em algo?

133
Thomas ficou sem graça, porque estava desesperado
atrás de Becca, mas como não a encontrava e o
único amigo dela era Fred, realmente não sabia mais
onde recorrer.

— Não é nada, Fred. Obrigada por avisar que ela


está viajando. Boas férias.

Ele realmente ficou mal com aquilo tudo, primeiro


por ter afastado Becca dele e depois por não ter
como falar com ela agora. E se ela ficasse as férias
todas fora da cidade? Era só nisso que ele conseguia
pensar.

Será que ela havia encontrado as iniciais deles


gravadas dentro do coração? Será que ela ainda
sentia algo por ele, mesmo depois do que ele havia
feito? Eram questões que sondavam sua cabeça,
mas que só seriam respondidas após encontrar
Becca e olha-la nos olhos.

Rebecca acordou decidida, animada e confiante.


Agora mais do que nunca, ela tinha certeza que
quando uma história acaba, Deus tem todos os
outros capítulos escritos, já prontos para que ela
começasse a viver.

134
Bom, ela já estava se mudando do país, então não
poderia deixar de cortar o cabelo bem curto.
Mulheres que mudam seus cabelos estão decididas a
mudar de vida, são essas mudanças que geralmente
marcam o fim de um ciclo e o início de outro.

Sabendo disso, Becca prosseguiu sem titubear! Ela é


daquele tipo de gente que se apega ao que idealiza,
que fica imaginando como vai ser por horas, dias e
meses, e quando finalmente acontece deve estar da
forma com que ela sempre imaginou.

E assim ela fez, com zero arrependimentos com


relação a tudo, dessa vez não poderia ser diferente.
Seu cabelo estava tão curto quanto os clássicos
cortes masculinos, ela também pintou seu cabelo de
branco e colocado uma faixa vermelha na cabeça.

E por mais que alguns ventos ousassem soprar ao


contrário, aquela ventania acabou mais ajudando
que atrapalhando, se quer saber. Ela estava leve e
radiante como há tempos não conseguia estar, suas
preocupações eram mínimas, finalmente havia
deixado a vida tocar o barco, nadar contra corrente
era exaustivo demais.

135
Passagem comprada e dentro de um livro, o sorriso
grande no rosto e malas prontas. Naquela tarde
Becca seguiria em direção ao desconhecido – não tão
desconhecido assim. Antes de partir, ela decidiu que
daria uma última volta na cidade, precisava disso
para enfim se despedir de tudo o que viveu, que foi
muito bom por sinal, e marcou também o início de
uma nova fase na vida dela. Caminhando pela rua,
ela se deu conta que estava próximo ao salão do seu
ex namorado. Ao olhar lá para dentro, o viu junto
com a amiga que ele tinha desde quando eles ainda
eram um casal.

Para a surpresa de Becca, os dois se beijaram lá


dentro do estabelecimento, sorrindo felizes,
enquanto ele cortava o cabelo de um menino de 2
anos aproximadamente. Ela achava que aquele tipo
de cena não a incomodaria, mas talvez por conta dos
hormônios da gravidez, ela acabou sentindo um mix
de ciúmes e felicidade por ele enfim ter se
encontrado, por ter seguido em frente.

Mas ao olhar atentamente para a criança que se


encontrava naquela cadeira alta, ela percebeu que
todos os traços do rosto da criança eram exatamente

136
iguais aos dele. Cabelo, olhos, sobrancelha, boca...
não era possível que ela estivesse vendo ali uma
criança filha então dos dois, isso só poderia
significar uma coisa: pela idade do menino, era fruto
de uma traição.

Becca prendeu a respiração involuntariamente


enquanto pensava naquilo tudo, e também apertava
tanto as mãos que o sinal de suas unhas ficou
marcadas nas palmas das mãos. O mundo de
repente girou mais lento, ela acabara de se dar conta
que esteve dos dois lados da moeda afinal – Foi
traída e dessa traição gerou um fruto, fez parte da
traição e o fruto estava agora em seu ventre.

Eles passaram tanto tempo juntos, ela confiava


tanto nele, e nunca pensou que ele fosse capaz de
fazer aquilo.

— É, realmente nos enganamos com as pessoas.”


Ela pensava, e digeria aquela imagem.

Ela abaixou a cabeça e apressou os passos para


passar lá na porta. Os dois não poderiam vê-la, ela
não queria, ela se sentia mal e eles também se
sentiriam provavelmente.

137
— Eu estou com o cabelo curto demais, de óculos
escuros, eles não me notarão.
Ela pensava enquanto dava passos largos e seguia
em diante.

Aquela despedida da cidade acabara de se tornar


estranha e reveladora, mas só servia para provar
quão necessária ela era.

Ao chegar na porta do prédio, Becca nota que


Thomas estava sentado na sala de espera da
portaria, e a aborda com um grande sorriso no rosto.

— Como está diferente, amei o corte de cabelo, você


fica linda assim também. Senti tanto a sua falta,
você sumiu sem dar notícias, me bloqueou do
WhatsApp, né? Mas está tudo bem, fui um grande
filho da puta na nossa última conversa... e por falar
em conversa, podemos conversar?

Becca se sentiu um pouco tonta, primeiro que ainda


estava com aquilo que acabou de ver na cabeça,
depois porque não esperava encontrar com Thomas,
muito menos ali naquele momento prestes a sair de
casa com malas prontas e sem previsão de retorno.
Ela não queria ter que se explicar com ele, nem falar

138
com ele sobre nada... muito menos queria que ele
soubesse da viagem.

— Oi Thomas, que surpresa, não esperava te ver por


aqui. Hm, bem agora eu estou um pouco ocupada,
podemos nos falar amanhã? Realmente agora não
dá...

— Tudo bem Becca, nos falamos amanhã. Eu tenho


mesmo algumas coisas a resolver nessa tarde e que
já precisam estar prontas para nos falarmos
amanhã.

— Ótimo, fica combinado então.

Becca entrou no elevador e subiu com o coração na


boca, torcendo para que Thomas fosse realmente
embora e que ela pudesse descer e ir a caminho do
aeroporto sem ser notada.

A promessa de conversar com ele no dia seguinte


não seria cumprida e ela passaria seus dias em
Miami como se nunca tivesse vivido tudo aquilo
antes. Ao invés de trocar a página ou pular o
capitulo, ela começaria lá a escrever um novo livro
em sua vida.

139
— Eu juro a mim mesma, que vou me esquecer e
nunca mais vou sofrer por tudo isso que está no
passado. De agora em diante sou eu por mim e meu
filho, no final sempre somos nós por nós mesmos, é
necessário deixar o que passou realmente passar,
nenhuma lagrima será derramada por histórias mal
resolvidas e pessoas que não deveriam nem ter
passado, muito menos ficado por um período em
minha vida.

Thomas chegou em casa, chamou sua mulher para o


quarto e fechou a porta. Ele estava com o semblante
sério, porém calmo, confiante do que deveria dizer e
certo das atitudes a serem tomadas.

— Olha, o que tenho para te dizer não é nada fácil.


Eu gostaria que isso não estivesse acontecendo, mas
está, feliz ou infelizmente pois depende do ângulo em
que olhamos, mas isso tudo acaba aqui.
Eu sei o que você pode me dizer, que nosso
relacionamento é longo, que temos uma família, que
nos amamos... e isso tudo é verdade mesmo, eu sei
que é. Mas existe outra verdade dentro do meu
coração há algum tempo que tentei ignorar, tentei
deixar para lá, e simplesmente não consigo.

140
Eu acabei me envolvendo com outra pessoa,
aconteceu de forma natural, nós sabíamos do que
estava por vir, dos riscos que corríamos e
assumimos todos eles. Gostaria de te pedir desculpa
olhando dentro dos seus olhos, nós vivemos tempos
incríveis juntos, éramos jovens quando nos
conhecemos, nós nos gostamos muito, nos amamos
muito, vimos coisas ruins demais e boas demais
juntos, cada momento que existiu enquanto
estávamos juntos foram mesmo reais, eu juro que
permaneci verdadeiro e segui meus princípios por
toda a nossa vida como um casal.
Até que tive que me mudar para essa cidade, que
comecei um novo emprego, que conheci essa pessoa.
Vieram à tona sensações não sentidas antes,
vontades e desejos não realizados antes, que enfim
tive a oportunidade de experimentar.
Não te digo tudo isso para te torturar, ou para te
deixar mal, não é isso. Por favor não confunda as
coisas, o que vivemos foi real e verdadeiro enquanto
durou, mas o que estou vivendo agora também é real
e verdadeiro, não tem nada a ver conosco, não tem
nada a ver com nossa história, é simplesmente uma
nova história a ser vivida e que eu decidi vive-la.

141
Espero que possamos nos darmos bem de agora
para frente, mesmo que não vivamos mais como um
casal, ainda serei pai dos meus filhos, ou melhor,
pai dos nossos filhos. E tudo isso não é culpa nossa,
ou dela, não é culpa de ninguém... é apenas o que
meu coração decidiu que seria melhor, enfim uma
oportunidade de ser alguém melhor.

Enquanto aquelas palavras eram ditas, as lagrimas


rolavam no rosto da mulher de Thomas com uma
expressão não de tristeza ou espanto, e sim de
extremo ódio.

Ela sabia sim do caso que Thomas havia tido com


Becca, mas não acreditava ser capaz que ele a
trocasse por aquela menina, que deixaria sua família
para viver isso que ela chamava de uma simples
aventura.

Se mantendo em silêncio absoluto sem olhar nos


olhos de Thomas, e provavelmente com a vontade de
mata-lo naquele momento, ela gritou para que seus
filhos viessem até o quarto.

— Quero que saibam agora, neste momento, que


seu pai está nos deixando para ficar com aquela

142
mulherzinha... como é mesmo o nome? Becca né, a
é, me lembrei. Se depender de vocês tudo bem, mas
por mim ele não precisa mais colocar os pés dentro
dessa casa mais.

Ela saiu em direção a porta, seus filhos ficaram


parados em pé e imóveis sem entender muito bem o
que estavam acontecendo, mas correram em direção
ao pai para abraça-lo.

— Pai, não se preocupe, independentemente de


qualquer coisa seguiremos te amando.
O mais velho disse, enquanto o mais novo apertava o
abraço.

Thomas entendeu naquele momento que dizer


aquelas palavras foram o suficiente para quebrar por
completo o coração de alguém, mas também foram
fundamentais para retirar dos ombros aquele peso
que ele carregava há quase um ano. Pegou duas
malas que estavam sobre o guarda roupas, pegou
suas coisas que estavam guardadas e depois saiu
leve como uma pluma.

Fred e Carlos chegaram na casa de Becca, haviam


combinado que eles a levariam até o aeroporto.

143
Carlos desceu com uma mala, Fred com outra, e
Becca com uma mochila nas costas e o livro com os
bilhetes na mão. Todos estavam com um grande
sorriso no rosto, mas Fred continha as lagrimas que
estavam presas nos olhos.

Ela estava respirando forte, suspirando intenso, e


com a alma tranquila. Sim, ela tinha noção de que
estava deixando grande parte de quem ela era para
trás, mas também sabia que estava indo em busca
da construção de alguém que ela sempre quis ser e
enfim seria.

Chegando no aeroporto, seu coração foi acelerando


enquanto ficava miúdo, lá dentro os três se
abraçaram em conjunto e deram as mãos.

— Se cuida, querida. E cuide dessa coisinha que


cresce aí dentro.
Carlos disse, sorrindo.

— O que poderia dizer, senão: Seja feliz? O que mais


poderia desejar a você, depois de tudo o que você já
passou nessa vida, hein? Se tem alguém que merece
tudo de melhor nesse mundo, depois de tanta
porrada que já levou da vida, esse alguém é você!

144
Siga em frente de peito cheio e cabeça erguida, com
a certeza que tudo já deu certo... Mas caso você
queira voltar, estaremos aqui pra sempre, por você.
Fred prosseguiu, mas a essa altura já não conseguia
mais segurar o choro.

— Vocês são, literalmente, tudo o que tenho agora.


São a família que não tenho mais, foram e
continuarão sendo parte da minha vida para
sempre. Não pensem que vocês não irão me visitar
nunca, porque não aceito nada menos que uma
visita anual, viu? Vocês não pensem que a distância
vai nos afastar, e aí de vocês se não me ligarem me
contando os babados que estão acontecendo por
aqui. E ah, mais uma coisinha Fred, vou seguir de lá
te arrumando novos clientes porque eu tô aqui pra
te dar trabalho – em todos os sentidos – (risos)
Becca estava radiante, e as lagrimas de felicidade
saiam entre risos.

Ela virou e saiu em direção à fila de embarque,


depois olhou para trás e pode ver Carlos com as
mãos na cintura e Fred com as duas mãos
tampando a boca, enquanto uma delas acenou para
ela e ela sorriu.

145
A viagem seria a mesma que outrora fizera, mas
agora era diferente, ela estava diferente. Era outro
motivo, outro proposito, outro corte de cabelo,
outros sentimentos no peito. Agora era mais
solitário, mas ela continuava acompanhada.

Ao se aconchegar na poltrona, ela colocou seu


headset e abriu o livro na parte em que ela parou:
“É, não podemos escolher se seremos feridos ou não.
Mas podemos escolher quem nos ferirá...” – Já era a
sexta vez que ela lia “A culpa é das estrelas” e
provavelmente era capaz de contar o livro todo,
palavra a palavra, por ter decorado cada parte. Mas
aquela frase nunca pareceu ter feito tanto efeito
como naquele momento.

Seus pensamentos voltaram a Thomas, sem que ela


quisesse, de forma instantânea. Ao mesmo tempo
que ela ficou feliz ao pensar nele, também sentiu um
aperto no peito que pareceu queimá-la de dentro
para fora, ardendo como brasa. Sim, ele havia a
ferido, e ela havia o escolhido.

Ela sabia que uma história inacabada possivelmente


a faria querer voltar, sempre que surgissem
lembranças no meio da noite, que vem como um

146
tsunami e inundam tudo aquilo que existe hoje,
fazendo com que pareça que não existiu nada antes
daquilo, e por onde se olha só tem água... assim
também é com o amor, que era naquela situação,
uma história inacabada.

Becca não era boba, mas naquele momento era só


isso que ela conseguia pensar. Porque, ali naquele
avião indo em busca de algo que parecia certo, ela só
conseguia pensar em como algo que ficou para trás
ainda a marcava e a perseguia.

— Comigo tudo parece acontecer de forma mais


rápida, mais intensa, mais forte por assim dizer.
Tenho apressado meu relógio anos à frente, pois o
tempo que tenho parece não me bastar - quero
sempre mais. E depois descubro que deveria ter ido
mais devagar, céus, qual a fórmula secreta pra
viver... Se penso tanto no futuro e o amanhã pode
nem chegar? Se lembro do passado e deixo o hoje
escapar por entre meus dedos? O que fazer então,
quando não há o que ser feito, senão apenas sentir e
deixar rolar? O que fazer quando deixar rolar pode te
matar lentamente?
A mente de Becca seguia a milhão.

147
Ela fechou os olhos para tentar pensar em outra
coisa, mas começou a tocar “sweater weather”, que
vinha de encontro com o que ela sentia. Estava frio,
ainda teria mais umas 8 horas de viagens, e ela
decidiu que naquele momento desbloquearia
Thomas do Whatsapp.

Ela dormiu, e acordou chegando em Fort


Lauderdale. No aeroporto, de longe, conseguiu
avistar Josh. Ele estava com uma calça social cinza
apertada como rato em guampa, uma camisa social
branca em contraste com o cinto e o sapato preto
que o fazia ficar muito sexy. Primeiro, suas coxas
eram grossas (mas nem tanto), seus óculos escuros
escondiam seus olhos claros, mas seu sorriso estava
a mostra e se abriu ao me ver.

De tudo aquilo que Josh era (inteligente, sexy,


atencioso, interessante, bonito, etc etc) Becca
continuava achando seu sotaque britânico a parte
mais atraente que ele tinha. Ele falava espaçando as
frases, sem atropelar ou abreviar nenhuma palavra,
com a sua voz grossa, mas ao mesmo tempo
aveludada, a vontade dela era puxar assunto para
que só ele falasse.

148
Achando que iria para um hotel, para a surpresa de
Becca Josh havia se antecipado a ela e alugado uma
casa para que ela ficasse. Porque, segundo ele, ela
não merecia nada menos que ter uma casa só para
ela enquanto estivesse ali. Bom, a casa era grande e
ficava bem próxima a empresa, e aquilo funcionava
como um benefício complementando o salário que
ela já receberia.

Josh a levou para comer, afinal o voo havia sido


longo, e por este mesmo motivo ela estava exausta.
Ele comentou com ela o quanto achou bom que ela
fosse trabalhar com eles, e era a primeira brasileira
a fazer parte do time efetivamente falando. Ela
agradeceu mais uma vez a oportunidade, e sabia que
Josh havia se encantado pelo seu trabalho, mas
mais ainda por ela.

Logo que percebeu as olheiras, ela pediu para que


fosse descansar, ele a levou. Chegando em casa,
deixou as malas em um canto e pegou seu celular
para verificar as mensagens e avisar Fred e Carlos
que estava tudo bem. Para a sua surpresa, várias
mensagens estavam em sua caixa de entrada, pois

149
acabaram vindo com o desbloqueio que havia feito
ainda dentro do avião, onde não pegava sinal.

— Becca, precisamos conversar. Posso te encontrar?

— Olha, eu sei que eu errei Rebecca, mas quero


consertar de verdade.

— Becca, por favor, me diz onde você está. Preciso


te ver.

— Por mais que a gente tenha começado errado, que


tenha parecido ser mais errado que certo no começo,
por mais que “só aquilo” tenha se tornado “tudo
isso”, e eu tenha estragado tudo te falando palavras
duras demais enquanto eu tive medo de perder o
que eu já tinha, depois daquele momento eu vi que
não estava perdendo algo porque já nem tinha nada
lá mais... e percebi que na verdade eu não queria
perder aquilo que eu tinha agora, eu não quero
perder você Rebecca, mesmo que eu sinta agora que
acabei perdendo.

— Saí de casa.

150
E essa penúltima mensagem a fez chorar enquanto
lia, mas a última a fez ligar para Thomas
instantaneamente quando acabou de ler.

— Oi? Thomas...

— Oi, Rebecca! Você demorou tanto.

— Pois é, tive algumas coisas a resolver.

— É, eu também, inclusive algumas estão bem mais


que resolvidas, estão acabadas.”

— Olha, eu sinto muito que você tenha feito isso, e


torço para que as consequências sejam menores que
você pensou que seria.

— Podemos nos ver? Estou no hotel Slaviero


Essential

— Até poderíamos, mas estou em Miami...

O silêncio tomou conta do ambiente, ele tentava


entender a situação de um lado da ligação, e ela
tentava se esquivar para não ter que se explicar
demais e com isso acabar se entregando.

— Certo, você volta quando?

151
— Hm, então, acontece que... eu não vou voltar!

O silêncio se estabeleceu novamente, mas dessa vez


foi diferente, porque naquele momento Thomas
acabou percebendo que Becca estava fugindo. E ele
sabia que parte dessa fuga era responsabilidade
dele, o que ele não sabia era o quão maior a situação
era, até aquele momento.

— Thomas, tudo o que precisa saber agora é que me


machuquei bastante, desde o princípio com toda
essa situação, enquanto você fazia de conta que não
sentia, fazia de conta que não queria, fazia de conta
que não se importava, e falava apenas aquilo que
queria quando parecia conveniente.
Você vinha, na maior parte do tempo, quando tinha
interesse... e nós sabíamos que seria assim, eu só
esperava um pouco mais de afeto (quem sabe) da
sua parte, para que eu pudesse me sentir só um
pouquinho menos usada. Nos momentos em que
estávamos sós, você parecia outra pessoa, até que
no dia seguinte a “vida normal” continuava, e você
parecia outra pessoa. Até hoje eu me pergunto,
quase um ano depois, Thomas quem é você?”

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Thomas seguiu em silêncio, porque sabia que tudo
aquilo era verdade, e porque aparentemente ficar em
silêncio era o que ele sabia fazer de melhor
ultimamente. Ele tinha medo de que as palavras não
saíssem como ele gostaria e que pudesse acabar
estragando tudo... como já fez outras vezes. E dessa
vez ele sentia que se estragasse, não tinha volta.

— Vou para Miami, então! Estou de férias ainda,


vou aí, precisamos conversar pessoalmente. Preciso
muito olhar nos teus olhos.

— Você vai o que? Vir pra Miami? Tem certeza?

— Rebecca, você é a única certeza que tenho hoje. E


se ir para Miami é necessário para ter você, vou para
Miami então... Eu iria para onde fosse preciso.

Naquele momento, ela sentiu novamente um frio na


barriga com o que era dito entre eles, mas também
porque não sabia qual seria a reação de Thomas ao
descobrir que ela estava grávida. Na cabeça dela,
aquilo ainda era responsabilidade só dela e ele não
deveria ser envolvido nessa situação... realmente
não sabia o que ele gostaria que acontecesse e ficava
se martirizando com as hipóteses.

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Ela pegou o celular e fez uma chamada de vídeo

— Oi amores, cheguei bem! Tudo certo por aqui,


achei que iria para o hotel, mas o Josh já tinha
alugado uma casa para que eu ficasse.

— Oie, que bom que está tudo bem. Ficamos


apreensivos aguardando você nos avisar. Maravilha
essa notícia, melhor que a encomenda. (risos)

— Fred, eu acabei desbloqueando o Thomas, e nós


conversamos.

Naquele momento o rosto de Carlos e Fred mudaram


de um grande sorriso, para um semblante de
preocupação.

— Ele me contou que saiu de casa e está se parando


da esposa.

— Rebecca, por favor não me diz que...

— Eu contei para ele que estou em Miami, e ele virá


para cá dentro dos próximos dias... Mas calma, ele
ainda não sabe da gravidez.

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E por pior que parecesse a situação, os dois
pareciam aliviados diante da notícia que Becca
acabara de contar. Aliviados, porque, em meio a
tanto caos e problema, finalmente eles teriam a
chance de, pelo menos, tentarem fazer com que
aquilo desse certo.

Em outras palavras, agora o caminho estava livre


para que o romance existisse sem entraves
matrimoniais entre os dois. O problema agora
consistia na gravidez que, sem saber como Thomas
reagiria, ainda havia uma chance de aquilo tudo dar
errado.

Por mais que o sexo tivesse sido a dois, o prazer


tivesse sido mutuo, e o bebe não tivesse sido feito
apenas por Becca, ela sentia que a responsabilidade
daquilo tudo era dela porque ela acabou se
descuidando com um cara casado – o que nunca
havia acontecido enquanto ela teve um
relacionamento serio durante anos, por exemplo.

Durante a viagem de Becca e Thomas, na noite em


que ela saiu para a balada com Josh, ela apenas
chegou no hotel e se arrumou para sair sem tomar
seu remédio, e quando voltou se deitou na cama e

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novamente não lembrou de toma-lo. Por um
descuido ou deslize... Sim, apenas um dia sem
tomar o anticoncepcional, foi o suficiente para que o
“estrago” estivesse feito.

Aquela era a noite em que Thomas estava chegando


a Miami, ela já havia passado o endereço para ele,
que iria diretamente do aeroporto para lá. Ela estava
ansiosa, como na noite em que eles haviam
combinado de se encontrar pela primeira vez. Era
uma mistura de sentimentos dentro do seu peito.

Um carro parando lá fora, ouve-se batidas na porta,


o coração acelera e parece querer pular pela boca.
Ela respira fundo e caminha lentamente para abri-
la. Naquele instante, tudo que ela viu foi um sorriso
sincero e olhos de esperança.

Ele estava segurando uma mala em uma mão, e na


outra estava seu celular. Ambos foram jogados no
chão, e se abraçaram muito forte como se não se
vissem há muitos anos. Aquele abraço continha
respeito, admiração e milhares de outros

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sentimentos que estavam sendo armazenados no
canto esquerdo do peito há algum tempo.

Por tantos outros abraços já dados anteriormente,


com certeza aquele era diferente, naquele havia algo
especial. Os outros, quase sempre, eram carregados
de vontade, mas também eram recheados de
remorso e culpa. Se sentaram no grande sofá branco
que ficava localizado no canto esquerdo da sala.

Thomas segurou as mãos de Becca tão firme, que


ficaram vermelhas. As soltaram vagarosamente, e
ela as colocou dos dois lados do seu rosto, enquanto
ele colocava as mãos em sua cintura. Os dedos de
Becca percorreram da testa até as sobrancelhas, das
sobrancelhas para o nariz, bochechas e boca, um a
um. O toque era macio e cheio de carinho, queria
sentir cada detalhe, até que ela ficou ali encarando
sua boca por alguns segundos e ele a puxou pra
perto lhe beijando.

O corpo de Becca se inclinou sobre o dele, que a


essa altura colocava a cabeça sobre o braço do sofá,
de maneira com que ela pudesse olhar no fundo dos
olhos dele. Uma de suas mãos passou pela nuca e
em seguida subiu, fazendo com que os cabelos dela

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escorressem por entre seus dedos, segurou com
força.

Ela desabotoou sua camisa, sempre o encarando,


enquanto ele a olhava sério mordendo os lábios. Ela
beijou seus peitoral e barriga, descendo para
desabotoar a calça, ele jogou o cabelo dela de lado –
que seguiu bagunçado. Enquanto ela abaixava o
zíper, ele a puxou para cima e a virou, fazendo com
que ela deitasse no sofá e ele ficasse por cima.

Ele subiu seu vestido branco com flores vermelhas e


azuis, mordeu sua calcinha e a tirou com os dentes.
Ela o encarava sorrindo, enquanto ele permanecia
sério. Enquanto ele a beijava, por toda a região da
barriga e descia, Becca começou a chorar.

— Estou grávida!

O silêncio se instalou na sala. Thomas a encarava,


ela sentou.

— É isso, eu estou grávida! Não queria que você


soubesse, as circunstâncias eram difíceis demais.
Até ontem, continuava achando que você não
deveria saber, mas você está aqui agora e é real, está
mesmo acontecendo, vamos ter um bebê.

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Thomas ainda a encarava, vidrado, permanecia
imóvel. Becca não tinha mais nada a falar, começou
a encará-lo também.

— Bom, primeiramente estou surpreso, a ultima


noticia deste tipo que tive foi há muitos anos atrás.
Rebecca, eu sempre senti que estivesse fugindo de
algo, mas não algo deste tipo. Juro que cogitei a
hipótese de estar fugindo de alguma ameaça da
minha ex mulher, até porque depois acabei
descobrindo que ela já sabia de nós dois, e isso me
fez querer ir atrás de você ainda mais.
A essa altura do campeonato, quem somos nós para
questionar alguma coisa? Se somos a prova viva de
que o destino trabalha de forma misteriosa e somos
apenas peças de um jogo muito maior. Quem somos
nós para sermos ingratos e negarmos o que a vida
nos dá? Se a vida me deu você, quem seria eu para
recusa-la? Quem seria eu para negar o inegável,
evitar o inevitável?
Me assusta o fato de você cogitar me esconder uma
história dessas, de imaginar que eu não gostaria de
saber, mas me alivia saber que você pensou melhor
a respeito e me contou. Eu entendo que haja

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insegurança da sua parte, entendo que houve no
passado e que ainda há, afinal passamos por altos e
baixos o tempo todo que estivemos “juntos”... Sei
que recuei, que reaproximei, que quis ditar as regras
e agi algumas vezes como se eu tivesse lhe usando,
estou aqui agora reconhecendo o meu erro e também
estou aqui para lhe pedir perdão por todas as vezes
que quebrei seu coração.
Se você sente que seu lugar agora é aqui, que quer
recomeçar longe de toda aquela loucura em que já
estivemos, ficarei e recomeçarei com você. Eu juro
que ficarei ao seu lado, indo contra o que eu disse lá
no princípio, porque afinal de contas eu já nem sei
mais quem eu era, só me interessa quem serei a
partir de agora com você.

Rebecca soube, naquele momento, que todas


aquelas palavras que saíram da boca de Thomas
eram reais, principalmente porque naquele momento
ele estava aos prantos – e ele nunca havia
derramado sequer uma lagrima perto dela.

Thomas era resistente com o que sentia, preferia


manter um escudo em seu coração a demonstrar o
que havia lá dentro e expor suas fraquezas. Ele sem

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dúvidas não era um homem fácil, mas ele era
alguém que Becca queria deixar ficar – em sua casa,
sua vida, seu coração – e ela abriu então as portas,
para que isso fosse possível.

Ali, olhando um para o outro, não havia como negar:


eles souberam que era amor, desde o primeiro
instante em que seus olhares se cruzaram. Tudo
aconteceu em meio ao caos, mas aqueles minutos
eternos foram repletos de calmaria. Seus corações
palpitaram no mesmo ritmo quando seus lábios se
encostaram, as pernas ficaram bambas no mesmo
instante em que suas peles arrepiaram. Nunca
haviam sentindo algo daquela maneira. Seus
caminhos se cruzaram de tal forma que ambos não
compreendiam, como se o universo tivesse
desenhado um trajeto para que suas vidas um dia
seguissem. Ele, que nunca acreditou muito em
destino. Ela, que não acreditava ser real amor à
primeira vista. Seguiram reforçando em cada suspiro
que amor de verdade não fere, é cura!

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Agradecimentos

Por tanto tempo eu tentei.


Por tantas vezes eu tentei.
E em todas elas eu desisti...

Eu começava e me via lúcida a princípio, mas


acabava me perdendo no meio do caminho e de
repente, já nem conseguia enxergar o fim.
3 livros, essas foram as quantidades de vezes que eu
tentei, mas não concluí!

E sempre que eu tocava nesse assunto, meus olhos


se enchiam de lágrimas, como se eu estivesse
olhando para filhos que abandonei por não ser capaz
de criá-los. Sim, essa era exatamente a sensação
que eu tinha...

Não me peça para descrever com clareza o quão


frustrante isso soava, porque nem ao menos consigo
pôr em palavras. Aliás, é algo que machuca muito
em alguém que realmente acredita que nasceu para
fazer isso: por em palavras todos esses sentimentos,
sensações e percepções que são captadas com uma

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frequência muito alta e com uma sensibilidade
muito grande.

É, realmente eu acredito que nasci para escrever!

Olhando para trás, consigo ver agora porque aquelas


não foram concluídas: Não era o momento! Eu
acredito realmente que eu não tinha maturidade o
suficiente para terminá-los da forma com que
deveria, mesmo que fossem histórias diferentes,
concluir um livro aos 9, 12 e 16 anos não fazia parte
da minha lista de prioridades na época. E olha que
eu persisti por muito tempo, realmente não era para
ser... mas não vou prolongar este lamento.
Digo isso agora, fazendo referência a um livro que
escrevi em exatamente 41 dias, aos 22 anos.
41, você acredita?

Não tenho muito a fazer, muito a dizer, senão


agradecer!
Sou grata a toda a minha vida, cada momento único
que vivi, todas as pessoas que conheci, que puderam
compor minha história até aqui e me fazer chegar
onde cheguei: mais madura, mais humilde e com
certeza mais fiel a mim mesma.

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