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CASO CLÍNICO

Identificação: A. T. B.; paciente do sexo masculino, 27 anos, solteiro, formado em


Publicidade e Propaganda há 3 anos.

Encaminhamento: Foi encaminhado por psiquiatra.

Queixa Principal: O paciente A. procurou serviço de saúde mental há 2 meses em


função de um término de relacionamento então há 3 semanas. A partir do término, A.
relata que começou a ter dificuldades para dormir (insônia inicial e intermediária) e
para comer (sem apetite). Tem muita dificuldade de se concentrar, falta de vontade
em fazer qualquer coisa e muita irritabilidade com amigos e familiares que não
entendem sua situação.

História Atual: No momento o rapaz mora apenas com seu irmão que é 2 anos mais
velho. Sua mãe faleceu em decorrência de complicações de COVID há 3 semanas.
Não possui vínculo empregatício, mas consegue uma renda regular de cerca de 3
salários mínimos com trabalhos como prestador de serviços. Mesmo assim, A. tem
grande dificuldade de gestão financeira e atualmente luta para pagar as contas de
faturas atrasadas do cartão de crédito. A. diz que acorda pensando que o dia precisa
acabar logo, com baixa motivação para realizar suas ocupações laborais e evita pegar
seu telefone celular ou computador. Normalmente, fica cerca de 2 horas na cama pela
manhã em devaneios e ruminações antes de levantar-se. Neste período, avalia sua
situação atual como péssima, diz ficar cada vez mais evidente que sua vida deu
errado. Imagina que sua mãe estaria decepcionada ao saber que ele não foi capaz de
fazer nada de bom da sua vida. Normalmente, seu irmão acaba entrando no seu quarto
para pegar algo emprestado e A. se levanta para afugentar seu irmão com gritos e
palavrões, “ele está pegando minhas coisas, vai torrar tudo com maconha e cocaína”.
A partir disso, com muito esforço, A. consegue encarar suas tarefas de trabalho.
Normalmente, trabalha cerca de 2 horas e meia com muitas interrupções. Relata que
na última terça, estava respondendo a uma cliente no Whatsapp quando recebeu em
seu telefone uma notificação de uma memória de um ano atrás. Era uma foto dele com
sua namorada e sua mãe em um final de semana na praia. Ao ver a foto, A disse para
si mesmo: “perdi tudo isso; não fui capaz de proteger minha mãe e salvar meu
relacionamento”. Em seguida, A. fica inquieto e raivoso andando em seu apartamento
sem saber o que fazer. Inicia a arrumar o banheiro, mas desiste. Vai para cozinha
preparar o almoço e não tem vontade de comer nada, tudo parece sem graça e sem
gosto. Acaba se deitando um pouco mais e assiste TV, por vezes, cochila. O paciente
conta que normalmente seus amigos da faculdade deixam para ligam à tarde, para não
perturbar A. Porém, nos últimos meses, percebem que A. tem sido mais ríspido ao
atender às ligações. “Eles me ligam do nada, sempre atrapalhando meu trabalho ou o
meu descanso. Sabem que eu tenho dificuldades para dormir, ai quando eu consigo
dormir, alguém estraga tudo com uma ligação.”, diz o paciente. Seu irmão volta para
casa à tardinha e normalmente o convida para fumar maconha na lavanderia. A.
normalmente aceita o convite pois pensa que o dia já foi tão sofrido que ele merece
um pouco de alegria.

História Passada: A. é o filho caçula de um casal que ficou 6 anos casados. A mãe
de A. ficou com ele e seu irmão após o divórcio e foi a única responsável por
sustentar e cuidar de seus filhos. O pai de A. era músico e mudou-se para outro país
com sua banda em função de seu emprego. Procurava seus filhos eventualmente
através de cartas ou ligações. Normalmente se viam presencialmente uma vez ao ano,
no inverno. A. relata que acha que seu pai é como um amigo mais velho, mas um
amigo que “não conhece muito da minha vida”. A mãe de A. foi para o estado em que
A. mora em função do casamento, conseguiu um emprego em uma instituição
financeira da cidade e ficou a vida toda por lá. O paciente relata que sua mãe sempre
foi muito rígida e cobrava muito dos dois filhos para ajudarem em casa. Mesmo
assim, ela fazia tudo dentro da casa, cozinhava, fazia supermercado, lavava roupas,
passava, guardava, limpava e organizava a casa toda. A. se queixa que a mãe não
conversava muito com ele nem com seu irmão, “era difícil dela saber as coisas que a
gente fazia certo. Só aparecia quando a gente errava.” O paciente lembra que uma
vez, quando tinha cerca de 10 anos, decidiu fazer um almoço para sua mãe e seu
irmão pois eles estavam dormindo até tarde. Quando sua mãe acordou, foi até a
cozinha e repreendeu A. por ter sujado muito a cozinha e por estar fazendo a comida
de um jeito errado. O paciente relata que na adolescência passava a maior parte do dia
fora de casa. Pensava que quanto menos gastasse e menos gerasse problemas para sua
mãe, melhor seria. Teve muita dificuldade em relação a escolha profissional, não
gostava particularmente de fazer nada e de nenhum assunto específico. Escolheu seu
curso pois seu melhor amigo do cursinho iria fazer a mesma graduação na mesma
instituição e seu irmão disse que devia ser uma profissão bacana. Nunca foi muito de
namorar e de sair de noite. Não achava que tinha jeito para fazer amigos e nem
mesmo de ser atraente para uma mulher.
O rapaz conheceu sua ex-namorada quando estava próximo de se formar. A moça era
amiga de seu irmão e sempre quis ficar com A. mas ele nunca havia percebido. Na
época o paciente estava mais esperançoso com seu futuro. Tinha planos de mudar de
cidade para fazer um curso de pós-graduação e conseguir um emprego em uma
agência que tinha conhecidos. Contudo, no final do mesmo ano, o rapaz perdeu o
prazo de inscrição na pós-graduação e depois achou que não valeria a pena se mudar
de cidade. Nos dois anos seguintes aconteceu algo similar. Em uma oportunidade A.
estava doente no período de inscrições e acabou esquecendo. No ano seguinte, a
empresa em que ele conseguiria o emprego encerrou suas atividades. A namorada de
A. mudou-se para a cidade em que o rapaz iria durante o segundo ano de namoro pois
conseguiu um emprego por lá. Durante o namora à distância cresceu dentro de sua
nova empresa. A então namorada de A. queixava-se da procrastinação do rapaz em
diversas atividades pessoais e profissionais. Além disso, o rapaz era agressivo
verbalmente quando a moça cobrava uma atitude mais adulta. Ela sinalizava que ele
era muito bom em suas tarefas profissionais mas precisava aprender a ter mais
disciplina.

Diagnóstico Ateórico:
Transtorno Depressivo Maior Recorrente Grave com sintomas ansiosos
Transtorno por uso de Cannabis: Leve

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