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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


FACULDADE DE PSICOLOGIA
Docente: Breno Pena

João Victor Soares de Araújo


Evanilze dos Santos Couto
Tulio Amoras Pinho da Silva
Wanderson Clecius Santos Cardoso
Érika Amorim da Silva
Monique Rodrigues
Monique Rodrigues

Trabalho de Psicopatologia: Casos


Transtorno de Personalidade Esquizotípica
Transtorno de Personalidade Antissocial

Belém, 2021
Transtorno de Personalidade Esquizotípica
Caso 1: Willy Wonka de A Fantástica Fábrica de Chocolates

Quando criança, o pai de Willy Wonka disse a ele que “doce era perda de tempo e que
nenhum dos seus filhos seria um chocolateiro”, depois disso, Willy dizia que fugiria para a
Suíça ou Bavária, as capitais mundiais do chocolate. Em uma determinada cena do filme,
Willy Wonka apresenta os anões Oompa-Loompa dizendo que vieram da Ompalândia, porém
o pai de uma das crianças, que é professor de geografia, afirma não existir este país, então
Willy passa a descrever o país com suas especificidades que conheceu quando buscou os
anões.

No momento em que Willy vai receber as crianças que encontraram os bilhetes


premiados, ele prepara uma apresentação de bonecos a fim de recepciona-los na visita à
fábrica, mas esta é uma apresentação assustadora e tenebrosa para todos os participantes,
menos para Willy Wonka que se diverte de maneira incomum com estímulos externos e reais,
isso volta a se repetir todas as vezes em que as crianças estão passando por estranhos
acidentes. Em outra cena, o avô de uma das crianças relata ao neto que as histórias de Willy
Wonka são invenções e bizarras, como a criação de chocolate que vira um pássaro, o sorvete
que nunca derrete e a construção do castelo de chocolate para um príncipe indiano.

Willy Wonka é também um personagem desconfiado, quando o avô da criança fala


para ele que já havia trabalhado na fábrica antes que Willy a fechasse, este então responde
“então você é um daqueles espiões desprezíveis que todos os dias tentavam roubar a obra da
minha vida e vender para aqueles parasitas imitadores de meia tigela?” Durante o filme
identifica-se cenas que revelam o tipo de afeto do personagem, como a cena em que ao se
apresentar aos convidados permanece no primeiro momento calado, com extrema dificuldade
de contato e depois inicia seu discurso de apresentação gaguejando. Além disso, ainda
verificamos cenas nas quais Willy Wonka ao conduzir os convidados pela fábrica se esquiva
de qualquer contato mais íntimo.

A aparência e o comportamento excêntrico são caracterizados pela forma peculiar de


se vestir do personagem, como o uso de cartolas, luvas, casacos coloridos e compridos e
óculos exagerados. Há também cenas que caracterizam a ansiedade social excessiva, onde
Willy reabre a sua fábrica de chocolate sem nenhum operário, apenas com os anões Oompa-
Loompa, devido a desconfiança e medo, visto que no passado ele realmente teve sua receita
roubada.
Caso 2: Caso real - R, 42 anos

R. de 42 anos, nasceu e foi criado em São Paulo. O pai morreu quando R. estava com
18 anos e a mãe é dona de casa. R. trabalha há 15 anos como motorista para o sistema de
correios. Relata que nos últimos meses vinha tendo uma sensação como tivesse algo
rastejando por baixo da pele, que melhorava temporariamente depois de coçar, essa sensação
era tão intensa que não conseguia mais dormir à noite, pela necessidade de coçar.

É filho único e, observa, recebeu muita atenção. Fala que amava muito os pais,
embora “fossem estranhos”, acrescentando, “eram como eu, diferentes, sabe?” R. nunca se
casou, explica que “gostava de garotas e tudo isso”, mas nunca conseguiu estabelecer um
relacionamento permanente. “Sempre fico nervoso com mulheres e tudo isso”, portanto para
satisfazer seus desejos costuma visitar prostitutas, em encontros sistematizados, se recusa a
entrar em detalhes, por que, segundo ele a mãe lhe ensinou que “nunca se deve falar de coisas
sujas”.

R. também investe grande parte da sua energia em longas caminhadas, costuma sair
para andar todas as noites, às vezes, até por 5 horas. Os vizinhos ficam preocupados, tendo
chamado à polícia em diversas ocasiões. Porém, no último tempo R. vem perdendo o
interesse nessas caminhadas, porque “a rua é muito perigosa”. É muito religioso da vida toda,
frequenta um templo regularmente. Igualmente, está envolvido numa série de atividades
comunitárias, sendo apreciado pela comunidade, embora achem ele um tanto estranho. R.
passa seu tempo livre sozinho, assistindo TV (especialmente o canal dedicado a casos
criminais) e armando modelos militares de plástico.

Nos dois últimos anos, os colegas de trabalho foram percebendo mudanças graduais
na conduta de R. Embora sempre achassem ele algo estranho, nos últimos anos as suas
interações sociais começaram a parecer confusas e inadequadas: sorri quando está zangado e
fica estressado e agitado quando os demais estão rindo. Um colega que o conhece bem
começou a suspeitar que poderia estar usando alucinógenos, fato que R. nega.

Nesse contexto de mudanças gradativas, teve um acontecimento muito dramático que,


aparentemente, exacerbou a situação. R. tinha as entregas agendadas, como de rotina, mas ao
invés de levar uma certa caixa na loja indicada, entregou ela para uma pessoa qualquer na
rua, falando, “É um presente de Deus, por favor, guarde ele para sempre”. A pessoa em
questão, sem entender, relatou o incidente para o supervisor de R. No dia seguinte, R. não
lembrava o que tinha ocorrido e não conseguiu dar qualquer explicação. Por ter sido um
acontecimento isolado, o supervisor o deixou passar, com uma simples advertência.
Infelizmente, todo mundo na agência ficou sabendo, e R. virou alvo de zombaria pelos
colegas durante várias semanas.

Por isso, desde então, tornou-se extremamente cuidadoso, a fim de evitar qualquer
erro possível: checa duas vezes as entregas e até volta para cada loja para verificar ter feito a
entrega correta. Nos últimos 6 meses, começou, também, a checar as fechaduras de sua casa
todas as noites. Embora more num bairro residencial, afirma que os jovens da área não
gostam dele e planejam assaltar a sua casa. Igualmente desliga o telefone à noite, para evitar
ligações com ameaças.

Finalmente, nos últimos meses, R. também vem insistindo em que tem cirrose
hepática. Embora os exames laboratoriais foram todos negativos, ele afirma que sente o
fígado apodrecer. Essa ideia parece ter aparecido depois de que R. assistiu um programa na
TV sobre os efeitos do alcoolismo.

Transtorno de Personalidade Antissocial


Caso 1: Caso real - Adolescente, 18 anos.

Paciente de 18 anos, masculino, branco, solteiro, não estuda ou trabalha, sem religião. Nível
de escolaridade: ensino fundamental completo. Fuma 1 maço/dia há um ano e uso diário de
maconha por 18 meses, tendo parado abruptamente há 1 mês. Faz uso de bebidas alcoólicas
cerca de 2 ou 3 vezes por semana, em bares perto de onde mora. Ao ser questionado sobre
como adquire as drogas para consumo, ele afirma utilizar o dinheiro que ganha do pai ou do
avô. Nega furtos ou outro envolvimento criminoso.

Apresentou alteração do comportamento e agressividade, com diagnóstico prévio e em


tratamento de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) desde os 9 anos
de idade. Desde cedo apresenta isolamento social, agitação e dificuldade de relacionamento.
Há um dia teve uma discussão com o irmão caçula que não queria deixá-lo entrar em casa e,
quando foi contrariado, o paciente começou a quebrar os objetos ao seu redor, mas não
chegou a agredir ninguém. Meses antes, ele diz ter ficado irritado com um cachorro no sítio
do avô que ficava andando atrás dele e, por isso, o agrediu e o queimou com cigarro.

Afirma ter sido o único episódio de agressão a animais e diz estar arrependido. Agrediu o
vizinho (com socos no rosto) e o porteiro do prédio (com pedradas) porque ambos o
provocavam e faziam piada dele. Desses episódios não se arrepende, afirmando que ambos
mereceram por não gostarem dele. Ele também coloca que tem péssimo relacionamento com
o padrasto, com quem morou desde os 3 anos de idade, e teve vontade de matá-lo mais de
uma vez. Entretanto, o máximo que chegou a fazer foi esfaquear a parede.

Atualmente mora sozinho em um apartamento pequeno em frente à casa da mãe, mantido


pelo pai, com quem tem pouco contato. Nunca morou com seu pai, apenas com a mãe. Seu
ambiente familiar é conturbado devido ao temperamento agressivo tanto do paciente, como
do marido da mãe, o que resultou em conflitos frequentes, surras e castigos, quando pequeno.

A mãe afirma que o paciente tinha muito ciúme do relacionamento do irmão caçula com o
padrasto (pai biológico da criança) e que a maioria das discussões envolviam a
“superproteção” e as regalias concedidas ao segundo filho e não a ele. O paciente também
apresentou problemas na escola tanto de relacionamento (os colegas o chamavam de louco)
quanto de aprendizagem (repetiu o 1º e o 7º anos). Após explanação do tema para o paciente
e sua responsável, assim como estabelecidas as regras e sigilos, o mesmo assinou o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.

Embora não haja citação na literatura de que Transtorno de Déficit de


Atenção/Hiperatividade (TDAH) seja um diagnóstico diferencial para Transtorno de
Personalidade antissocial, eles podem aparecer concomitantemente. Como mencionado
anteriormente, nosso paciente foi diagnosticado, aos 9 anos de idade, com TDAH

Caso 2: Michelangelo Merisi – O famoso pintor Caravaggio

Caravaggio começou a trabalhar com apenas 13 anos, como aprendiz de um pintor em Milão.
Adolescente, tinha já perdido pai e mãe, mas não foi exatamente de tristeza que sofreu.
Caravaggio era tão briguento que logo vendeu os bens da família para pagar fianças. Na
bancarrota aos 18 anos, decidiu tentar a sorte em Roma. E, para ser visto como um menino
prodígio, não economizou na mentira. Dizia ter dois anos a menos. Logo isso atraiu um
mecenas, que o sustentou para pintar quadros provocantes (com insinuantes meninos
seminus). Aos 25, se deu bem de novo: começou a pintar para a Igreja e logo se tornaria o
artista mais conhecido de Roma.

Só que outra característica deste transtorno é o vício em perigo. Mesmo em seus quadros
religiosos, Caravaggio usava meretrizes para representar a virgem Maria e ladrões para os
santos. Imagine sua satisfação ao saber que a corte papal estava recebendo a pintura de uma
prostituta para ser adorada como santa. Caravaggio não se casou nem teve filhos – um
escândalo para a época. Atrasava a entrega dos quadros e recebia multas. Mas era esperto:
sempre que se metia em briga, tinha contatos para sair da prisão.

Certa vez, alguém denunciou que suas obras para a Igreja eram impuras. Caravaggio desferiu
um golpe de adaga no infeliz. Quase matou outro por ter dormido com a sua prostituta
preferida. Num jantar, o garçom não lhe deu suficiente atenção e ele lhe jogou um prato de
alcachofras fervente na cara. E as coisas pioraram. Um dia quebrou a cabeça de um sargento.
Mas jurou no julgamento que “uma pedra caíra de um telhado”. Não demorou muito tempo
na prisão: subornou os guardiões e fugiu com a ajuda de um cardeal. Até que assassinou um
homem a punhaladas numa briga.

Foi condenado à pena capital, mas fugiu para Malta, onde, para pôr a cereja em sua carreira
psicopática, foi condecorado com o título de cavaleiro da Sagrada Ordem dos Hospitalários.
Claro, se envolveu numa briga, foi preso, fugiu… até que, aos 39 anos, apareceu morto numa
praia.

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