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A menina que foi iniciada por Elias no estelionato e em outros tipos de
malandragem: chamava-se L.G. C e foi raptada aos 12 anos em Teixeira de Freitas na
Bahia. Era uma garota pequena para sua idade, mulata de corpo franzino e cabelos
crespos, olhos grandes e espertos que se faziam tristes na hora da dramatização e
rápidos na hora das trapaças. Os dois se conheceram numa praça que ficava ao lado do
colégio onde a menor estudava. Como sabia fazer artesanatos hippies isto o ajudava a
despistar as autoridades dos lugares que visitava, para não levantar suspeita e foi
defronte o pano preto cheio de bugigangas que L parou e ficou admirando o Falso
Hippie trabalhando. A menina perguntou o preço de uma pulseira e recebeu uma
pergunta como resposta. Como era simpático e bom de prosa: em minutos L e Elias já
conversavam como amigos, a diferença é que ela contava sua vida e ele inventava
estórias (bem mais interessantes que tudo que ele já tinha vivido).
Em suas andanças pelo Brasil, Elias viu e ouviu histórias de ladrões e golpistas
que raptavam crianças e as instruíam na prática do roubo e da trapaça. Ela já não era
mais tão criança, mas poderia muito bem ser usada em vários tipos de golpe. Fosse
interpretando uma menina órfã ou uma falsa grávida doente, papéis para uma futura
atriz mirim do estelionato não faltariam neste país. L era um diamante quase lapidado;
pois de prostituta juvenil encenando prazer à golpista, não daria muito trabalho a um
bom professor. Restava o plano para levá-la embora daquela cidade (este deveria contar
principalmente com a colaboração da menina). Não foi difícil fazê-la sentir-se seduzida
com a ideia de uma fuga, afinal, já estava mais que enamorada por aquele que seria seu
raptor. Com a ferramenta das palavras ele construiu a vida feliz que L teria se o
seguisse. Ela por não ter vida melhor a seguir; deu o sim em forma de um beijo
carinhoso, no rosto barbudo do Falso Hippie.
A dificuldade maior não seria fugir com L, mas colocá-la dentro de outros
compromissos e obrigações que já possuía. Elias além de ser casado ainda tinha o
detalhe de ser bissexual e ter um travesti como esposa. O nome do companheiro era
Paulo Sizenando Nunes, ou Paulete.
Um dos desgostos que seu pai sentia era o de ter um filho com tendências
homossexuais. Elias nunca foi efeminado ou passivo nos envolvimentos com pessoas do
mesmo sexo, mas ainda em sua infância sentia os desejos que chamava de ‘coisas’. Foi
seu primo Eli (filho de um tio obreiro na igreja em que seu pai era Pastor) quem o
iniciou na sua primeira experiência gay. Os dois primos tinham a mesma idade e foi Eli
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quem o chamou para uma brincadeira chamada de ‘troca’. Ele por ser inocente aceitou,
terminando a estranha novidade e ainda machucado por ela, pediu o que havia trocado,
recebeu uma risada do outro menino que corria enquanto levantava as calças: dizendo
que naquele tipo de negócio quem dava primeiro, só poderia rir melhor se o que comeu
gostasse de dar... Ora, se Eli era macho não ia dar era de jeito nenhum!
Ainda ferido pela brincadeira o pequeno foi correndo contar a sua Mãe: tomou
uma surra e foi aconselhado pelo pai a orar a Deus todas as vezes que sentisse vontade
de praticar tais atos. O conselho do pai foi um prenúncio do que iria acontecer: aquela
foi sua primeira e última experiência passiva no homossexualismo, no entanto, a
canalhice do primo foi coisa que repetiu com uns cinco garotos que eram de sua igreja.
Depois de saciar as ‘coisas’ que sentia, sempre pedia perdão a Deus, mas depois fazia
sempre às mesmas ‘coisas’.
Seu primeiro relacionamento gay foi com Sérgio, os dois eram adolescentes e
estavam apaixonados. Um mês e pouco tempo depois, Elias conheceu Glória e se
apaixonou de novo sem se desapaixonar de Sérgio. A menina era só um ano mais nova,
então o relacionamento homossexual passou a ser trissexual, dois rapazes, uma menina
e um escândalo que fez um Pastor evangélico e moralista quase ter um infarto e colocar
o filho para fora de casa.
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