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Apesar de estar usando uma cueca, Elias sentia-se como se estivesse nu diante
dos outros homens que o conduziam. O carro ficou estacionado a entrada da clareira,
entre o Agente Luís e o Investigador Daniel ele foi sendo levado até uma árvore grande
no meio do descampado. Retiraram suas algemas e no tronco imponente de um angico
centenário ele foi amarrado com fios de náilon. O Agente Jusvaldo vinha um pouco
atrás carregando uma maleta grande e encapada de couro: abriu a maleta e Elias
reconheceu de imediato os instrumentos de tortura. Já tinha visto aqueles apetrechos e
sofrido com eles. Viu um pequeno aparelho de choque elétrico chamado “Henriqueta”,
este era movido a uma bateria de alta amperagem e ligada às partes íntimas da vítima.
Viu pequenas agulhas de acupuntura que eram introduzidas embaixo das unhas, não
deixavam marcas aparentes, mas causavam dores lancinantes no supliciado. Viu vidros
de pimenta e soda cáustica (era comum um ‘Policial Torturador’ violar as partes íntimas
dos suspeitos e depois esfregar estes líquidos, numa tentativa de intensificar a dor).
Nas mãos do Investigador Daniel, Elias viu um dos instrumentos mais temidos
nos interrogatórios Policiais: o “Esculachador”, este era feito com uma arma de fogo
antiga e barulhenta, como por exemplo, uma garrucha ou espingarda. Eram armas sem
cartuchos, carregadas manualmente, apenas com a pólvora que causaria o estampido e a
espoleta que detonaria o tiro. Nos interrogatórios em que o esculachador era utilizado o
supliciado recebia o som de um disparo ao lado do ouvido. Os decibéis do tiro eram tão
fortes que machucavam os tímpanos do torturado até que sangrassem.
O Agente Luís chegou seu rosto bem perto ao de Elias e fez a pergunta:
__O quê? Curau... Ah! Porque não me perguntou isso antes Seu Luís? Você
quer saber onde está o curau? Deve tá lá na pamonharia! É nas pamonharias que se
encontram essas coisas feitas de milho!
Elias não teve tempo de rir da piada de improviso, pois foi socado no estômago
pelo Agente Luís. O murro dado com bastante força o fez tossir, depois foi à vez de
fazer vômito. Ainda com a boca escancarada e tentando vomitar, ele sentiu sua língua
presa e puxada por um alicate. O seu novo torturador era o Agente Jusvaldo que
apertava sua língua e sorria de maneira sádica.
O Agente Jusvaldo foi interrompido pelo Investigador Daniel que deu uma
palmadinha em seu antebraço para interrompê-lo, enquanto dizia entre gargalhadas:
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__Ah ah ah! Cuidado com a língua do Elias, Jusvaldo! Tadinho dele coitado...
Se ocê continuar mexendo na língua dele vai acontecer duas coisas: ele num vai poder
conversar com a gente e ainda vai apaixonar por você! Elias precisa da língua... Mas eu
acho que eu vou brincar um pouquinho com um dos ouvidos dele!
Ney era um bandido de Anápolis que trabalhou com Elias e ficara surdo do
ouvido direito, depois de uma sessão de tiros de esculacho. O tiro também parecia ter
paralisado o seu lado facial machucado. Todo lado esquerdo de sua cabeça parecia que
ia explodir na dor intensa que o afligia. Ele entendeu o porquê de a morte ser um sonho
para um supliciado. Se a morte chegasse naquela hora e o levasse, não viria em melhor
instante.
O Investigador Daniel trazia algo em suas mãos que Elias não conseguia
distinguir, então ele fez a mesma pergunta que já tinha feito:
Elias decidiu-se que daquele momento em diante iria fazer de tudo para o
matarem: foi por isso que ao ver uma aliança no dedo do Policial resolveu dizer um
verso indecente onde à mãe e a mulher do outro apareciam:
__Seu Daniel é meu amigo e meu colega, mas sua Mãe é uma cadela e sua
Mulher é uma égua! Ouro e prata não são baratas, quem quiser joias que faça de latas!
__Eu sou um homem adulto e não vou guardar rancor disso que você falou da
minha mãe e da minha esposa... Pode ficar tranquilo, Elias: nós ainda vamos brincar o
dia todo antes que eu te mate! Tá pensando o quê? Até a morte tem um preço: diz o que
a gente quer saber e isso será a paga duma boa morte pra você; com direito a uma bala
na cabeça e um sono profundo!
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tipos de interrogatórios, se alcançarem um nível de sofrimento tão grande que partes
obedientes de nosso corpo deixam de nos obedecerem. O aparelho urinário e o esfíncter
se afrouxam, diante de uma dor muito acima do normal, então a urina e as fezes tornam-
se as testemunhas de nossas limitações.
Passaram-se horas onde os mais bizarros meios de tortura foram usados para
fazê-lo dizer aquilo que queriam saber. Elias recebeu pelo menos cinco descargas
elétricas de Henriqueta nos testículos. Sua bolsa escrotal estava tão inchada que sentia
não poder andar de outro modo que não fosse de pernas abertas. Suas pernas já não o
obedeciam e o que ainda o mantinha de pé eram as amarras que o prendiam ao tronco
do angico. Aos poucos seus olhos não o obedeceram e ele desmaiou devido aos maus-
tratos. Nem soube por quanto tempo ficou desacordado, mas acordou com o Agente
Jusvaldo que tocava seu rosto com o bico do sapato. Não tinha mais forças para andar e
por isso foi arrastado pelo Investigador Daniel e pelo Agente Luís, até as bordas de um
precipício.
Os homens o vestiram com duas calcinhas e Elias entendeu que fariam à tortura
do “Entra Cueca”. Neste tipo de interrogatório o supliciado era vestido com duas ou
mais calcinhas e erguido por dois homens que seguravam nas bordas das peças íntimas,
mantendo a vítima suspensa por estas. O efeito deste meio de tortura era machucar os
testículos e o ânus do sujeito que ficava suspenso no ar. Duas cordas foram atadas às
calcinhas e Elias ficou suspenso e encostado às paredes do despenhadeiro: sentindo
como se as tiras finas do tecido fossem penetrar em sua carne. Depois de brincarem com
ele num balanço de tortura, puxaram-no para a beirada do despenhadeiro onde ele ficou
sentado, tomando fôlego.
O vento que vinha do meio das matas tocou em seu rosto de uma forma
deliciosa: fazendo as dores de seus ferimentos encontrarem um pouco de alívio. O
Agente Luís deu uma palmadinha em seu ombro para que olhasse e visse alguma coisa:
ao virar se deu de encontro com o Investigador Daniel, girando a garrucha presa ao dedo
como se imitasse um cowboy dos antigos filmes de faroeste. O Agente Luís e o Agente
Jusvaldo levantaram-no do lugar em que estava. Ele entendeu o que viria a seguir. A
garrucha esculachadora tinha dois canos e como recebeu apenas um tiro, o outro seria
dado naquele momento. O Investigador Daniel sorriu com seu sorriso tranquilo e
assustador, colocou o terrível instrumento de suplício ao lado da orelha ferida do
torturado apertando o gatilho.
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primeiras chuvas de outubro, quando as enxurradas levariam a terra que os soterraria
para sempre. O lugar era de difícil acesso: o fundo era coberto por arbustos e árvores de
pequeno porte. Somente uma equipe de resgate e investigação empenhada descobriria os
corpos. Jamais as pessoas que soubessem dos assassinatos teriam a coragem de
delatarem a Polícia da cidade: acidentes aconteciam todos os dias e pessoas morriam
disso... Os mortos da Cascalheira eram criminosos indigentes, sujeitos que os amigos e
parentes já conheciam o final. Ninguém iria querer entrar para a lista negra dos Policiais
Assassinos: por causa de vítimas, cujos corpos nunca seriam encontrados.
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