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Cap.

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Em Campos dos Goitacazes com o dinheiro ganho na outra cidade o trio
alugou uma casa, onde deveriam passar uma semana e meia: tempo para levantarem um
bom dinheiro com o novo personagem de Elias. A figura do Médium Bezerro das Rezes
era tão estranha quanto ridícula, era uma mistura de peão de rodeio com médico. Calça
branca e camisa gola polo da mesma cor. Chapéu de abas largas. Cinturão com fivela
enorme onde cintilava a cara de um touro, em alto relevo. Para completar botas de canos
longos, da marca ‘Paragom’. Não perderiam tempo e o Médium deveria começar suas
cirurgias o mais rápido possível, Paulete interpretaria sua assistente, L seria sua filha e
recepcionista do Falso Centro Espírita. Logo começaram a surgir os primeiros enfermos
para serem operados. Bezerro das Reses não cobrava pelas consultas e nem pelas
cirurgias, mas pedia donativos para o aluguel do imóvel onde ficava a Clínica
Mediúnica. Também pedia dinheiro para a sustentação material dos assistentes do
espírito: afinal, os espíritos não precisavam de dinheiro, mas os médiuns que eram seus
funcionários, sim!

Os dois últimos dias foram os mais movimentados e só resolveram partir da


cidade em função de uma Cliente que lhes trouxe problemas. Aconteceu que a fila de
enfermos era enorme e Bezerro das Reses atendia a todos tentando ser o mais breve
possível. Entrou um idoso na sala de cirurgia mediúnica, queria ser operado de
hemorroidas. O espírito disse que o ancião baixasse as calças e retirou um pequeno
pedaço de seu ânus com a lâmina do canivete enferrujado. Elias e Paulete estavam tão
atarefados que, se esqueceram de fechar a porta durante a cirurgia. A paciente anterior
ao idoso operado de hemorroidas entrou; disse que seu problema era odontológico: um
dente infeccionado. Quando a mulher viu que seria operada com um canivete sujo,
usado para aparar hemorroidas, reclamou da falta de higiene do espírito.

A ‘entidade’ disse a paciente que não se preocupasse, ele era um espírito


operando e seu canivete também não pertencia a este mundo: era um espírito metálico,
se materializando apenas no instante das operações. A mulher não quis ser operada,
disse que era funcionária da Vigilância Sanitária e iria fechar aquela Clínica: por expor
a saúde pública a todos os tipos de doenças. Um médico ainda que fosse um fantasma
não poderia usar uma ferramenta daquelas para operar, pois as pessoas corriam os
perigos de contraírem um tétano, AIDS, hepatite e muitas outras infecções. Perguntou
ao médium quanto tempo o Doutor Bezerro das Reses havia morrido, ele respondeu que
há uns 40 anos. Ela lhe disse que um médico morto há 40 anos deveria aposentar-se ou
ter o diploma caçado, mas operar com canivete enferrujado de jeito nenhum: isso era
um crime contra a Saúde Pública!

Depois de serem ameaçados pela vigilância sanitária, baixaram as portas da


Clínica Mediúnica. Elias comprou um carro de um dos clientes de Bezerro das Rezes,
pagou com um cheque sem fundos e partiram para a cidade de Nova Friburgo no Rio de
Janeiro. Lá Elias seria Mãe Pretinha do Tucum, uma mãe-de-santo na terceira idade que
jogava búzios e fazia trabalhos de feitiçaria. Nos dois primeiros dias no Rio de Janeiro
ficariam num hotel, depois alugariam uma casa que serviria de terreiro de umbanda,
onde aplicariam seus golpes.

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