Você está na página 1de 16

Estudos Comparados da Literatura Ocidental

Tarsilla Couto de Brito


2023.2

Da mandíbula
ao útero
Arquian Diógenes Alves do Nascimento
Gisella Ferreira de Sousa
Jasmim Luz Celeste Milano Bento
Luiza Vieira Maximiano Metzcker
introdução
01 Introdução

02 Fundamentação retórica

03 Menstruação (unidade de análise)

04 Análise (aproximação e diferenciação

05 Resultado e considerações finais


fundamentação teórica
O ciclo menstrual constitui um dos poucos fenomenos
ciclicos que se repete em todas as mulheres do mundo,
sem distinção de etnia, posição socio econonomica ou
crença. Inevitavelmente as simbologias e figurações que
a menstruação adquiriu, estabeleceram relações de Sardenberg (1994) argumenta sobre como
genero e poder , no papel da mulher na sociedade e na símbolos e representações sondam a
cocepção seus corpos. Como resultado destas
menstruação (a primeira menstruação e a
figurações estabelecidadas pelo pensamento da
antiguidade grega, cristã e patriarcal, a mulher tem sido menopausa) qualificando corpos femininos (mas
entedida como agente poluidor e de perigo. também masculinos) e contribuindo para um
ordem de gênero, identidades e funções sociais e,
em especial, um contexto de integralização à
comunidade, uma aceitação social.
menstruação
O lugar da menstruação no horizonte
axiológico, dos valores, dos símbolos, das
construções de sentido da imagem do
sangue limpo, (a) no grupo das meninas
em Mandíbula e (b) no grupo das “A menstruação pode ser muuuuito assustadora
mulheres da aldeia em Yo, cocodrilo. De dependendo da atmosfera [...]. Nós sabíamos bem o que
forma geral, é a ressignificação do era a menstruação, mas o creepy não é saber ou não
estigma da menstruação nos dois objetos saber, e sim o ambiente onde acontecem as coisas que
literários de análise.
são, não sei, naturais. Existem ambientes que fazem com
que o natural pareça não natural e também sobrenatural.
Assim, acho que foi isso que aconteceu.” (Ojeda, 2022, p.
266)
“Sua beleza residia, nas palavras de Annelise, seus horrores insinuados em como era facil
desembocar em abismos ou encontrar cobras marrons, iguanas mortas e cascas
esmigalhadas pelo chão. Fernanda gostava de ver como a natureza ia recobrindo de vida o
que estava morto. “O caos divino devora a ordem humana”, disse a elas. “A natureza viva
devora a natureza morta”, traduziu Annelise, enquanto observava como a hera abria
passagem pelas paredes do primeiro andar e os insetos de instalvam em seus cantos.”
(Ojeda, 2022, p. 20)

“’O que acontece quando vemos algo branco?”, perguntou Annelise a Fernanda sem esperar
resposta. “Sabemos que vai manchar”, disse ela, com um sorriso esbranquiçado” (Ojeda,
2022, p. 98)
“Toda mulher e todo homem carrega denro de si um novo round da luta mítica
entre a lógica da mente e a lógica dos sentidos”, disse uma vez a suas alunas, mas
naquela época não entendia o verdadeiro alcance da experiência material. Para
entendê-lo, teve de se ver reduzida à sua carne, como os torturados; aqueles
seres de artérias de ossos, saliva, snague... Tão cheios de si e aind atão
incompletos aos olhos dos outros.” (Ojeda, 2022, p. 103)
“É verdade que eu o ajudei a torna-lo assim, porque pintei o quarto de branco, mas naquela
época era apenas um quarto, não um lugar onde a Anne contava suas horror stories sobre a
idade branca e o Deus Branco e blá blá blá. Então, ele se tornou um ambiente doentio,
como se fosse deformado, e das paredes começou a sair uma umidade preta sob a pintura
que estufava e vertia a água.” (Ojeda, 2022, p. 144)
“1. Você nunca entrará de pé, mas nas quatro pernas de
“Yo lo vi todo una vez. Sabía que las llevaban a la choza de
seu nome. la curandera. Ella les quitaba la ropa, y las mujeres le abrían
2. Você nunca tocará ou encostará nas paredes. las piernas a las niñas y las niñas lloraban y chillaban como
3. Durante a cerimônia, pelo menos uma vez você deve animal que va a ser matado y la curandera cortaba con un
cuchillo un pedazo de carne, del tamaño de una oreja, allí
varrer o chão com o cabelo.
de donde salen las aguas del cuerpo. Y la sangre brotaba
4. Você aceitará que, lá dentro, qualquer coisa pode
roja, en abundancia. Y no había manera de pararlo, ni con
acontecer com seu corpo. emplastos de barro ni con mezclas de yerbas. Y las niñas
5. Você não abrirá os olhos na hora errada. no tomaban brebajes ni polvos para aliviar sus dolores,

6. Você não chorará, mesmo que doa. nada más eran sujetadas por su propia madre, por su
hermana mayor, mientras otra les cortaba las partes y la
7. Você não gritará, mesmo que dê medo.
cosían con cáñamos y agujas de la planta de las espinas.”
8. Você não sairá do quarto até que a cerimônia termine.
(Escudos, 2019, p. 2)
9. Você sempre rezará com os joelhos no chão.
10. Você aceitará a Deus no fundo branco de sua
consciência.
11. Você menstruará todo dia santo de seu nome.”
(Ojeda, 2022, p. 155)
“Fiorella se mantém do lado de fora e treme. Sabe que se não entrar vai enfurecer Fernanda: vai enfurecer Annelise. Sua irmã e
as outras formam o circulo para a cerimonia. Estão possuídas pela febre. As vezes ela também ficam, mas não essa tarde, pois
teve pesadelos. Viu rostos tirando a pintura branca das paredes. Viu crocodilos. Viu leite. Natalia, Ximena, Analía e Fernanda
baixam a cabeça e os cabelos cobrem seus rostos banhados de suor e frenesi. Não quer ir para a cama com medo, Não quer
sonhar com o que vão fazer. Elas fizeram isso muitas vezes. Quinze vezes. Vinte vezes. Ela sabe que vai doer, porque sempre
dói. Sabe que vai imaginar coisas, pois Anne fará com que as imagine. Fiorella quer que pareça infantil, como quando fizeram
pela primeira vez. “Você vai rezar ou caçar?” Agora, em vez disso, a brincadeira parece adulta demais para ela.” (Ojeda.,2022, p.
271)

“No me gustaba ser humana. Prefería mis horas de cocodrilo. Madre había sido clara. Me dijo, “tienes que someterte
al ritual”. Y yo le decía “no, prefiero ser cocodrilo”. Madre me tiraba al piso, me gritaba. Todas las mujeres hablaban
conmigo. Me decían que tenía que hacerlo, que no temiera, que todas lo hacían. Yo lloraba. No quería oírlas. Ponía
mis manos sobre mis oídos y lloraba. Sabía de los gritos de las niñas cuando iban al ritual. Sabía de las que morían
después.” (Escudos, 2019, p. 1)
“Yo lo vi todo una vez. Sabía que las llevaban a la choza de la curandera. Ella les quitaba la ropa, y las mujeres
le abrían las piernas a las niñas y las niñas lloraban y chillaban como animal que va a ser matado y la
curandera cortaba con un cuchillo un pedazo de carne, del tamaño de una oreja, allí de donde salen las aguas
del cuerpo. Y la sangre brotaba roja, en abundancia. Y no había manera de pararlo, ni con emplastos de barro
ni con mezclas de yerbas. Y las niñas no tomaban brebajes ni polvos para aliviar sus dolores, nada más eran
sujetadas por su propia madre, por su hermana mayor, mientras otra les cortaba las partes y la cosían con
cáñamos y agujas de la planta de las espinas.
Prefería ser cocodrilo, indigna, impura.” (Escudos, 2019, p. 2)
”[...] quando vi Analía chorando e tremendo numa poça de xixi com sangue. Sim, xixi com sangue! A Anne
estava num canto, coroada com a mandíbula de tubarão que roubou da biblioteca, e não fazia nada, só
olhava para a Analía com um pouco de medo. [...] o que sei é que corria onde Anne estava e a empurrei.
Gritei muito com ela, like crazy. Gritei perguntando o que ela tinha feito com a Analía, embora soubesse que
ela não tinha feito nada. Eu tinha certeza que Analía tinha ficado menstruada, como Carrie White, e era isso,
porque ela era a única de nós que ainda não tinha menstruado, e que talvez tenha ocorrido durante uma das
histórias do Deus Branco ou do círculo que aas vezes faziamos de mãos dadas e ficamos em silêncio.” (Ojeda.
2022. p 265-266)
“Eran ellas las que hacían todo. Las que cortaban, obligaban, mantenían las
piernas abiertas.
Madre murió y yo la vi morir, pero no sabía que su hija era yo, cocodrilo.”
(Escudos, 2019, p. 2)

“A: Qual é o único animal que nasce da filha e dá à luz a mãe?


F: A mulher.
A: Nós somos mulheres?
F: Não! Que nojo. Nós somos siamesas.
A: Siamesas unidas pelo Quadril.”
(Ojeda, 2022, p. 295)
considerações finais
Dessa maneira, em vista do apresentado aqui, observamos como há a articulação de
diversos elementos na cultura ocidental que transformam processos naturais de
mulheres em imagens abjetas, poluidoras, nojentas e repulsivas. Contudo, na
literatura escrita pelas autoras, fora de uma lógica eurocentrica, podemos observar a
ressignificacao de um processo feminino como ele sempre foi: natural. Através do
grotesco e de elementos ficcionais, tanto fantasticos, tanto de horror, as autoras
teorizam contra a não naturalidade do processo menstrual e as ressignificam
estéticamente através da literatura.
1 2 3 4

Diferenciaçã Símbolos, Menstruar
Ritualização valores e
o de gênreo
representações
maternidade
bibliografia
ESCUDOS, Jacinta. Yo, cocodrilo. In: ESCUDOS, Jacinta. El
Diablo sabe mi nombre. España: Consonni, 2019.

OJEDA, Mónica. Mandíbula. Belo Horizonte: Autêntica


Contemporânea, 2022.

SARDENBERG, Cecília Maria Bacellar. De Sangrias, Tabus e


Poderes: a menstruação em uma perspectiva sócio-
antropológica. Revista de Estudos Feministas, [Salvador, BA],
Ano 2, 2° semestre, 1994. p. 314-344.

UMPIÉRREZ BARRIOS, Sara et al. La sangre y la


subordinación de las mujeres: análisis antropológico de la
menstruación. 2021.
obrigado
pela atenção!

Você também pode gostar