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__É Coronel... O Elias deu muito trabalho pra nóis encontrar, investigamos
muito, o senhor sabe como é essa coisa de prender malandro! Sabe por que a gente é
colega...
__Nunca mais diga que somos colegas, eu não sou colega de Policial Civil! Pra
isso eu uso farda e faço honra a ela sem precisar investigar nada e sem obedecer
Delegado que nunca nem segurou um revólver!
__Não repara o que o Dasilva disse não ‘Seu Coronel’ __falou o Investigador
Daniel desculpando-se pelo colega __é que ele só quis dizer que o senhor deveria saber
como é mexer com gente à-toa igual o Elias!
__Vocêis tão querendo mais o quê? É mais dinheiro é? Não tem 260 reais
divido pros quatro?
__Têm sim Coronel, mas bem que o senhor podia dar mais um cafezinho pra
nóis!
__Some da minha frente Daniel, você e seus colegas são iguais a filhotes de
gato e só querem mamar deitados... Sumam da minha frente!
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Um instrumento brilhou nas mãos do Coronel e Elias reconheceu de imediato
um canivete que parecia afiadíssimo. Era uma arma de bolso muito simples: marca zebu
e cabo de madeira. Sua lâmina em aço carbonado e um sistema de trava no cabo não
deixavam dúvidas, era uma ferramenta usada na castração de animais.
O Coronel estava calado e indiferente a sua vítima, enquanto afiava ainda mais
seu instrumento de tortura. Sentindo que alguma parte de seu corpo seria machucada,
Elias resolveu dizer:
O Coronel respondeu:
__Eu sei que vingança não é justiça, é satisfação pessoal! “Aquele que comete
uma vingança já está com a metade de um direito: pois jamais se vingaria se não tivesse
sido ofendido primeiro”!
__Mas é que...
Com os olhos frios e inexpressivos o Militar o interrompeu com uma voz seca,
como era seu costume fazer com seus interlocutores:
__É normal você demonstrar remorso, é o medo! O medo é bem pior que
qualquer morte, pois faz um homem morrer várias vezes sem nunca ter morrido e faz
seres que só merecem o paraíso viverem a realidade de um inferno que jamais virá! Não
tenho mais raiva de você por ter me enganado, Elias! Eu vou te perdoar e você me
perdoa pelo que eu vou te fazer!
__Eu também tenho filhos, Elias, eu também tenho uma esposa que eu amo e
que me ama também! Vocês malandros da pior espécie veem a nós da Polícia como
bichos monstruosos, assassinos da pior laia! Você pensa que eu e minha família
queríamos que eu fosse assassino? Eu sou Policial porque eu preciso matar sem ser
interrompido e se eu mato é porque essa foi à missão que Deus me deu aqui na terra!
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__Deus não quer a morte de um ímpio, mas eu não preciso roubar, eu sou um
homem rico! Se o senhor me deixar ir embora eu vou cuidar da minha vida e ainda
posso te ajudar com uma parte do meu dinheiro!
__Eu não preciso de dinheiro, Elias! Isso porque eu sou o Anjo Justiceiro dessa
cidade! Eu trabalho por justiça e se mato com prazer é porque a sabedoria diz que não
devemos fazer só o que gostamos, mas aprender a gostar do que fazemos!
__Mas eu mudei...
__Não mudou não Elias! A prova de que você continua o mesmo é que apesar
de ter feito um grande roubo em São Paulo ainda continuou roubando e mentindo! Você
vai morrer mentiroso e ladrão! Pois mesmo a beira da morte você continua mentindo pra
mim que mudou e tentando me roubar o prazer de matar mais um ladrão!
__Mas...
__Não tem ‘mas’ e nem mais Elias, você quer viver e confunde isso com
arrependimento! Se eu te deixar ir embora, eu te garanto que quando o medo deste dia
sumir e sumirá em breve, você vai voltar a fazer as mesmas cosas!
A resposta que o Coronel recebeu de sua vítima veio em forma de uma lágrima
solitária e medrosa. O sofrimento de Elias e os ferimentos profundos que foram
deixados por seu interrogatório pareceram comover o Coronel que parou e pensou para
depois dizer:
__Porque não?
__A sua resposta foi boa, mas a minha notícia pra você é que vai parecer ruim,
porque eu vou te entregar nas mãos de Deus! Eu vou te castrar e te deixar aqui, mas não
vou te deixar algemado, você vai ficar livre! Se conseguir chegar até o Bairro
Residencial das Flores antes de sangrar até morrer, lá alguém talvez te socorra! Isso é o
máximo que eu posso fazer por um bandido e conseguir conviver com o remorso de o
ter ajudado!
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Certa vez ao visitar a fazenda de sua avó Ordália em companhia do Pastor ele
viu uma castração suína. A vítima do canivete foi um porco gordo chamado Hulk e o
castrador foi um peão da fazenda: Seu Zé. Como o animal era muito grande tiveram que
reunir uns quatro operários do lugar para segurar o bicho que esperneou e gritou até Seu
Zé terminar o trabalho. Tantos anos depois a lembrança de um porco grande, com a
bolsa escrotal aberta vinha em sua memória. Depois da castração o capador jogou sal
grosso no machucado. Já a pele foi costurada para que o suíno não sofresse hemorragia
através do ferimento. O castrador de Elias não teria o mesmo cuidado em costurar seu
ferimento.
__Pode ficar tranquilo Elias que você vai ser tratado com misericórdia dupla!
Eu vou amolar bem minha ferramenta de capador pra não doer muito e depois vou
costurar sua capação! Se por um acaso você morrer antes da chegar ao Residencial das
Flores, eu não vou querer que você olhe pra mim lá do céu com raiva: dizendo que não
foi tratado nem igual um porco de engorda!
O Coronel caminhou até Elias e enfiou a sua mão esquerda dentro da cueca de
sua vítima. Retirou calmamente o órgão genital e parou com ele entre os dedos como se
tivesse se esquecido de alguma coisa.
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