Os cavalos não paravam de relinchar do lado de fora da taverna.
Eles pareciam anunciar perigo e implorar ajuda. O inverno havia chegado, os ventos eram impiedosos e as feras estavam sedentas. Não se sentia conforto nem mesmo dentro daquela espelunca. Mas cavaleiros carregando a cruz no peito fingiam esquecer sua missão, bebendo, gargalhando e sussurrando indecências nos ouvidos das meretrizes. Enquanto os outros se embriagavam e fornicavam em plena vista, um dos cavaleiros se mantinha em silêncio, observando a neve pela janela. Ao o ver só, uma das garotas se pôs a caminhar em sua direção, ainda subindo a alça da camisa e ajeitando o cabelo. “Nunca havia visto um homem tão sozinho, o que achas de um pouco de companhia? ”, falou a moça com um tom ébrio enquanto repousava sua mão entre as coxas do homem. “Tire suas mãos de mim sua vadia, ou eu as corto fora”, o homem disse lançando um olhar quase sorridente para a meretriz. “Ora Elliot! Por que tão mal-humorado? Divirta-se hoje, sim? Não se vê beldades como estas lá em Winchester, e em um frio como este, pense em como vai se aquecer esta noite”, Arvid falou em tom jocoso enquanto insinuava dançar com a menina. Arvid era o encarregado de liderar a inquisição, sua idade já pesava os joelhos, mas era um grande guerreiro. Suas vitórias eram contadas nos campos de treinamento. “Arvid, o pune lobos”, ”Arvid, a cruz de aço”. Entre outros apelidos mais. Era um amigo de longa data de Elliot, e foi quem o ajudou a se tornar um inquisidor. Fanfic para a Ana Sofia “Acho que finalmente ficaste senil velho, esqueceste que estamos procurando por bruxas? Seremos um alvo fácil se ficarmos aqui parados. ”, Elliot segurou nos ombros do senhor e moveu seu rosto para longe. “E maneire na bebida, estás fedendo a hidromel”. Arvid solta uma gargalhada rouca e dá tapinhas na costa do homem. Elliot vira o olhar para trás sorrindo, só para ver o senhor entornando mais uma caneca, e um pouco mais atrás, o resto dos seus companheiros se divertindo. “Fique aí pensando no bicho papão, eu pretendo aproveitar o quanto eu conseguir, eu até poderia aconselhar-te a fazer o mesmo, mas quanto mais moçoilas sobrarem, melhor para mim”, Arvid dá uma última sacudida nos ombros de Elliot, e volta para a festa. Elliot continua olhando pela janela, o escuro, a neve, as árvores, a calmaria, tudo aquilo estava estranho demais. O suficiente para fazer ele dar mais alguns goles no seu hidromel. Ele se levanta do banco em que estava sentado e ajeita o cinturão onde estava presa a sua espada. Coloca seu escudo na mão esquerda e pega o elmo com a direita. Dá uma última olhada no salão, e sobe as escadas da taverna para dormir. Ele tinha um pressentimento ruim sobre aquela madrugada. Ele pensou nisso a noite inteira. “Tem algo lá fora” Ele chegou no quarto, tirou sua bainha e apoiou sua espada em uma bancada, deixou seu escudo e seu elmo no chão. Tirou suas botas e luvas, e deitou no feno. Ficou olhando para o teto de madeira podre por horas, e não eram só os gemidos das garotas que o mantinham acordado, ele estava se sentindo angustiado, como se fosse uma mosca presa em uma teia de aranha. Se sentou e começou a coçar sua barba, que estava por fazer. Ele se encosta na parede e toca na cicatriz que tem em seu rosto. Cicatriz Fanfic para a Ana Sofia essa que vai da testa até a bochecha, passando pelo seu olho direito. Elliot ganhou aquela cicatriz quando ainda era criança. Ele estava tentando salvar seu pai. Uma bruxa havia destruído grande parte da vila, havia posto fogo nas casas e matado as pessoas que ali viviam. O pai de Elliot foi apenas mais um que tentou contê-la, mas em poucos segundos, ele se encontrava debaixo de um cavalo. Seu corpo estava parcialmente esmagado, seus órgãos já estavam quase escorrendo pelo chão. E Elliot estava lá, tentando levantar o cavalo para seu pai sair. “Vá embora criança, se salve”, o pai falou enquanto jorrava sangue pela boca. “Pai, por favor”, o menino chorou súplicas, como se aquilo não fosse real. “Por favor, fica comigo”. “VÁ EMBORA MOLEQUE”, gritou o pai enquanto balançava uma adaga para assustar seu filho. O que por acidente, cortou o menino. Uma pessoa chegava perto enquanto aquela situação ocorria, uma mulher, ruiva e nua. Caminhou calmamente até o menino. Ao ver ela, o pai tentou falar, mas o sangue já tinha tomado toda a sua garganta. Elliot vê a moça vindo e percebe que ela era a bruxa. “Tu podes ajudar, não pode? Tens magia não tens? Salva o meu pai por favor, ele se machucou e eu não sei o que eu vou fazer sem ele”, Elliot implorou enquanto enxugava as lágrimas e o sangue do corte recém-aberto em seu rosto. A mulher olhou para criança com um olhar indiferente, quase comovido, mas ainda inexpressivo, e continuou caminhando como se tivesse dado de ombros. O menino olhou sem entender, mas aquilo pelo menos o distraiu de ver o pai se afogando no próprio sangue. Elliot se levantou da lama para ver que tudo aquilo que Fanfic para a Ana Sofia ele conhecia e amava, tinha sido destruído e queimado por uma pessoa só. Não, não era uma pessoa, aquilo era um demônio. Elliot acorda suado e ofegante, mais um pesadelo, como quase toda noite ele tem. Ele se senta no feno e olha ao redor no quarto, vê dois dos cavaleiros jogados no chão e três mulheres ao redor deles. “A noite foi interessante”, pensou enquanto se levantava limpando a palha das calças. Andou pelo corredor do andar de cima e foi em direção a escada, e ao passar por uma janela algo o chama atenção, ele volta para ver o que tinha sido aquilo. Ao olhar pelo vidro, se depara com um rastro de sangue na neve, que ia da parte de trás da taverna até as profundezas da mata. Ele retorna ao seu quarto correndo, começa a coletar os pedaços da sua armadura que estavam na bancada, e grita com os homens que estavam dormindo “Acordem seus bebuns! Os cavalos morreram! Ficamos presos nessa mata ”. Do lado de fora do quarto é possível ouvir o tilintar das armaduras sendo postas. Elliot corre até o andar debaixo, e encontra todas as portas abertas e janelas quebradas. “Finalmente terei mais uma história para contar, imagine minha mãe ouvindo, Olav, o mata bruxa, ela ficaria orgulhosa”, falou Olav enquanto descia a escada apertando seu escudo no braço esquerdo. Olav era um meio dinamarquês, sua mãe era danesa e seu pai inglês. Ele era um homem assustador, tendo quase dois metros de altura. E contava com um repertório de histórias de vida um tanto quanto questionáveis, mas ele afirmava até a morte que eram reais. Após chegar da Dinamarca por uma embarcação, ele foi caçado pela igreja acusado de heresia, mas Arvid o acolheu, e o ensinou o Fanfic para a Ana Sofia caminho de Cristo. Ensinou a lutar com a espada e se proteger com a cruz. “Estamos condenados! Ó pai, tende piedade de mim senhor! ”, suplicou Caleb, que estava do lado de fora da taverna, ajoelhado na neve, que estava derretendo por causa do sangue quente dos cavalos. “Ainda não sei o motivo de terem o designado para a inquisição, é apenas uma garotinha assustada”, Olav debocha de Caleb para Elliot. Elliot caminha em direção a saída da taverna, “Ele é o mais sábio entre nós, preferiu seguir o caminho das letras ao do sangue”, Elliot se agacha ao lado do garoto chorando. “Levante-se homem, hoje não será o dia de sua morte. E deposite mais confiança nos homens, porque Deus não o ajudará hoje”. Caleb o olha confuso. “Se preparem soldados! A missão agora é outra, precisamos retornar a Winchester para conseguirmos mais espadas. Sobreviveremos hoje para morrer um outro dia! ”, Grita Arvid enquanto sai da taverna. Os soldados se mantiveram em silêncio, alguns por medo, outros por respeito. “Sim!?”, o velho grita mais uma vez. “Sim, senhor! ”, os cruzados respondem em harmonia. “Viu? Não há motivo para preocupações” Elliot consola Caleb enquanto segura seu braço para erguê-lo do chão. Elliot coloca seu escudo nas costas e olha para a estrada que leva a Winchester. Arvid o vê parado e vai em sua direção. “O que te aflige garoto? ”. “Se elas quisessem nos matar, já o tinham feito. Algo está muito errado”, respondeu. “Devem estar nos subestimando, acham que os wendigos e os lobos são o suficiente para nos matar”, disse o velho. “Não, não é isso”.