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Fanfic para a Ana Sofia

Parte 1

Os cavalos não paravam de relinchar do lado de fora da taverna.


Eles pareciam anunciar perigo e implorar ajuda. O inverno havia
chegado, os ventos eram impiedosos e as feras estavam sedentas.
Não se sentia conforto nem mesmo dentro daquela espelunca. Mas
cavaleiros carregando a cruz no peito fingiam esquecer sua
missão, bebendo, gargalhando e sussurrando indecências nos
ouvidos das meretrizes.
Enquanto os outros se embriagavam e fornicavam em plena vista,
um dos cavaleiros se mantinha em silêncio, observando a neve
pela janela. Ao o ver só, uma das garotas se pôs a caminhar em
sua direção, ainda subindo a alça da camisa e ajeitando o cabelo.
“Nunca havia visto um homem tão sozinho, o que achas de um
pouco de companhia? ”, falou a moça com um tom ébrio enquanto
repousava sua mão entre as coxas do homem.
“Tire suas mãos de mim sua vadia, ou eu as corto fora”, o
homem disse lançando um olhar quase sorridente para a meretriz.
“Ora Elliot! Por que tão mal-humorado? Divirta-se hoje, sim?
Não se vê beldades como estas lá em Winchester, e em um frio
como este, pense em como vai se aquecer esta noite”, Arvid falou
em tom jocoso enquanto insinuava dançar com a menina.
Arvid era o encarregado de liderar a inquisição, sua idade já
pesava os joelhos, mas era um grande guerreiro. Suas vitórias
eram contadas nos campos de treinamento. “Arvid, o pune lobos”,
”Arvid, a cruz de aço”. Entre outros apelidos mais. Era um amigo
de longa data de Elliot, e foi quem o ajudou a se tornar um
inquisidor.
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“Acho que finalmente ficaste senil velho, esqueceste que
estamos procurando por bruxas? Seremos um alvo fácil se
ficarmos aqui parados. ”, Elliot segurou nos ombros do senhor e
moveu seu rosto para longe. “E maneire na bebida, estás fedendo
a hidromel”.
Arvid solta uma gargalhada rouca e dá tapinhas na costa do
homem. Elliot vira o olhar para trás sorrindo, só para ver o senhor
entornando mais uma caneca, e um pouco mais atrás, o resto dos
seus companheiros se divertindo.
“Fique aí pensando no bicho papão, eu pretendo aproveitar o
quanto eu conseguir, eu até poderia aconselhar-te a fazer o
mesmo, mas quanto mais moçoilas sobrarem, melhor para mim”,
Arvid dá uma última sacudida nos ombros de Elliot, e volta para a
festa.
Elliot continua olhando pela janela, o escuro, a neve, as árvores, a
calmaria, tudo aquilo estava estranho demais. O suficiente para
fazer ele dar mais alguns goles no seu hidromel. Ele se levanta do
banco em que estava sentado e ajeita o cinturão onde estava presa
a sua espada. Coloca seu escudo na mão esquerda e pega o elmo
com a direita. Dá uma última olhada no salão, e sobe as escadas
da taverna para dormir. Ele tinha um pressentimento ruim sobre
aquela madrugada. Ele pensou nisso a noite inteira. “Tem algo lá
fora”
Ele chegou no quarto, tirou sua bainha e apoiou sua espada em
uma bancada, deixou seu escudo e seu elmo no chão. Tirou suas
botas e luvas, e deitou no feno. Ficou olhando para o teto de
madeira podre por horas, e não eram só os gemidos das garotas
que o mantinham acordado, ele estava se sentindo angustiado,
como se fosse uma mosca presa em uma teia de aranha. Se
sentou e começou a coçar sua barba, que estava por fazer. Ele se
encosta na parede e toca na cicatriz que tem em seu rosto. Cicatriz
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essa que vai da testa até a bochecha, passando pelo seu olho
direito.
Elliot ganhou aquela cicatriz quando ainda era criança. Ele estava
tentando salvar seu pai. Uma bruxa havia destruído grande parte
da vila, havia posto fogo nas casas e matado as pessoas que ali
viviam. O pai de Elliot foi apenas mais um que tentou contê-la,
mas em poucos segundos, ele se encontrava debaixo de um
cavalo. Seu corpo estava parcialmente esmagado, seus órgãos já
estavam quase escorrendo pelo chão. E Elliot estava lá, tentando
levantar o cavalo para seu pai sair.
“Vá embora criança, se salve”, o pai falou enquanto jorrava
sangue pela boca.
“Pai, por favor”, o menino chorou súplicas, como se aquilo não
fosse real. “Por favor, fica comigo”.
“VÁ EMBORA MOLEQUE”, gritou o pai enquanto balançava
uma adaga para assustar seu filho. O que por acidente, cortou o
menino.
Uma pessoa chegava perto enquanto aquela situação ocorria, uma
mulher, ruiva e nua. Caminhou calmamente até o menino. Ao ver
ela, o pai tentou falar, mas o sangue já tinha tomado toda a sua
garganta. Elliot vê a moça vindo e percebe que ela era a bruxa.
“Tu podes ajudar, não pode? Tens magia não tens? Salva o
meu pai por favor, ele se machucou e eu não sei o que eu vou
fazer sem ele”, Elliot implorou enquanto enxugava as lágrimas e o
sangue do corte recém-aberto em seu rosto.
A mulher olhou para criança com um olhar indiferente, quase
comovido, mas ainda inexpressivo, e continuou caminhando como
se tivesse dado de ombros. O menino olhou sem entender, mas
aquilo pelo menos o distraiu de ver o pai se afogando no próprio
sangue. Elliot se levantou da lama para ver que tudo aquilo que
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ele conhecia e amava, tinha sido destruído e queimado por uma
pessoa só. Não, não era uma pessoa, aquilo era um demônio.
Elliot acorda suado e ofegante, mais um pesadelo, como quase
toda noite ele tem. Ele se senta no feno e olha ao redor no quarto,
vê dois dos cavaleiros jogados no chão e três mulheres ao redor
deles. “A noite foi interessante”, pensou enquanto se levantava
limpando a palha das calças.
Andou pelo corredor do andar de cima e foi em direção a escada, e
ao passar por uma janela algo o chama atenção, ele volta para ver
o que tinha sido aquilo. Ao olhar pelo vidro, se depara com um
rastro de sangue na neve, que ia da parte de trás da taverna até as
profundezas da mata.
Ele retorna ao seu quarto correndo, começa a coletar os pedaços
da sua armadura que estavam na bancada, e grita com os homens
que estavam dormindo “Acordem seus bebuns! Os cavalos
morreram! Ficamos presos nessa mata ”. Do lado de fora do quarto
é possível ouvir o tilintar das armaduras sendo postas. Elliot corre
até o andar debaixo, e encontra todas as portas abertas e janelas
quebradas.
“Finalmente terei mais uma história para contar, imagine
minha mãe ouvindo, Olav, o mata bruxa, ela ficaria orgulhosa”,
falou Olav enquanto descia a escada apertando seu escudo no
braço esquerdo.
Olav era um meio dinamarquês, sua mãe era danesa e seu pai
inglês. Ele era um homem assustador, tendo quase dois metros de
altura. E contava com um repertório de histórias de vida um tanto
quanto questionáveis, mas ele afirmava até a morte que eram
reais.
Após chegar da Dinamarca por uma embarcação, ele foi caçado
pela igreja acusado de heresia, mas Arvid o acolheu, e o ensinou o
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caminho de Cristo. Ensinou a lutar com a espada e se proteger
com a cruz.
“Estamos condenados! Ó pai, tende piedade de mim senhor! ”,
suplicou Caleb, que estava do lado de fora da taverna, ajoelhado
na neve, que estava derretendo por causa do sangue quente dos
cavalos.
“Ainda não sei o motivo de terem o designado para a
inquisição, é apenas uma garotinha assustada”, Olav debocha de
Caleb para Elliot. Elliot caminha em direção a saída da taverna,
“Ele é o mais sábio entre nós, preferiu seguir o caminho das letras
ao do sangue”, Elliot se agacha ao lado do garoto chorando.
“Levante-se homem, hoje não será o dia de sua morte. E deposite
mais confiança nos homens, porque Deus não o ajudará hoje”.
Caleb o olha confuso.
“Se preparem soldados! A missão agora é outra, precisamos
retornar a Winchester para conseguirmos mais espadas.
Sobreviveremos hoje para morrer um outro dia! ”, Grita Arvid
enquanto sai da taverna. Os soldados se mantiveram em silêncio,
alguns por medo, outros por respeito. “Sim!?”, o velho grita mais
uma vez. “Sim, senhor! ”, os cruzados respondem em harmonia.
“Viu? Não há motivo para preocupações” Elliot consola Caleb
enquanto segura seu braço para erguê-lo do chão.
Elliot coloca seu escudo nas costas e olha para a estrada que leva
a Winchester. Arvid o vê parado e vai em sua direção. “O que te
aflige garoto? ”. “Se elas quisessem nos matar, já o tinham feito.
Algo está muito errado”, respondeu. “Devem estar nos
subestimando, acham que os wendigos e os lobos são o suficiente
para nos matar”, disse o velho. “Não, não é isso”.

Fim da parte 1.
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