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Sumário dos Livros
Livro 1
Livro 2 – Ainda não Lançado
Livro 3 – Ainda não Lançado
Livro 1
Sumário
1. Laços de família
2. Sequestrada
3. Uma traição real
4. Masmorras e pesadelos
5. Viagem ao Clã
6. Os desafios
7. Alguém muito especial
8. Instintos carnais
9. Porta do Destino
10. Encontro com as sombras
11. Veneno Oculto
12. Levada para a ilha
13. Reunião de família
14. Nas profundezas do submundo
15. Ilha do Fogo
16. A Grande Fuga
17. Protegendo o portal
18. Retorno ao Clã
19. Xeque-mate
20. Sonhos Estranhos
21. Memórias perdidas
22. O Rei Vampiro
23. Subterfúgio
24. Humilhação pública
25. Fit For A King
26. A Rainha Desaparecida
27. Bem-vinda ao lar
28. O homem dentro da besta
29. Uma batalha pela eternidade
30. Marcada
Capítulo 1
LAÇOS DE FAMÍLIA
Belle

Foi assim que o mundo acabou.


O rei dos lobos, o monstro mítico, o homem majestoso que eu aprendi a
amar e desejar com todas as minhas forças estava lá., sangrando ao lado de
seu trono. Morrendo.
Ao lado dele estava um demônio sorridente... o Lorde Demônio. Ele
apontou para mim com um dedo longo, preto e fino.
— Você é minha agora, — ele resmungou, com fogo cuspindo de sua boca.
— Annabelle... minha princesa das trevas...
Eu caí de joelhos e gritei de angústia. Mas enquanto as lágrimas
escorriam pelo meu rosto, eu as senti... borbulhando... fervendo... derretendo a
minha pele. Eu gritei, arranhando meu rosto, tentando fazer aquilo parar.
Mas não havia como parar o que eu estava me tornando. Eu ouvi a
gargalhada do Lorde Demônio enquanto as minhas lágrimas se tornaram
cicatrizes negras, meus olhos vazios, meus lábios... que nunca sentiriam o
gosto dele novamente... o Rei Lobisomem que eu amava...
Ele estava perdido.
Eu estava perdida.
O mundo estava perdido... Apenas a escuridão reinava agora...
***

Acordei assustada, tremendo, hiperventilando, mas o mundo ainda


estava escuro.
— O quê? — Eu disse, enlouquecendo. — O que está acontecendo?
Percebi que estava usando uma venda sobre os olhos e, assim que a
tirei, pude ver que estava sã e salva em meus aposentos. Ufa.
Esse maldito sonho de novo. Ele se repetia há semanas. Mas toda vez
que eu acordava, não conseguia me lembrar de nenhum detalhe. Apenas
o terror, o pavor, a sensação de que algo importante estava por vir. Mas, o
quê?
Uma batida forte na porta me fez pular da cama.
— Querida?
Eu me virei e vi o meu pai. Só isso. Controle-se, Belle, repreendi-me.
— O que foi, pai?
— Precisamos conversar sobre uma coisa importante.
Ele veio e se sentou na minha cama. O meu pai era o alfa do nosso
bando, rígido como uma parede de tijolos, mas com uma bondade
silenciosa em seus olhos castanhos que não dava para negar. Ele era
intensamente dedicado à família, e é por isso que o que ele disse a seguir
me chocou profundamente.
— Anabelle, — disse ele, baixando os olhos. — Eu não sei como dizer
isso, mas chegou a hora de você deixar a matilha para trás.
Meus olhos se arregalaram. — O quê?
— A sua mãe e eu estamos enviando você para um lugar... seguro.
Agradável. Bem longe daqui.
— Do que você está falando? — Eu disse, levantando-me, recuando.
— Esta é a minha casa! Eu não posso deixar a matilha. Eu pertenço...
— Você pertence onde eu digo que você pertence! — ele gritou, e eu
Fiquei quieta.
O meu pai raramente levantava a voz. Isso significava que ele estava
falando sério. Ele, o alfa do nosso bando, estava com medo de alguma
coisa. Mas, o quê?
— Por quê... por que você está fazendo isso? — Eu perguntei, e as
lágrimas brotaram dos meus olhos. Pensei em meu irmão, Sean, em meus
melhores amigos, Joshua e Danny, e acima de tudo, em Gregory, o
homem com quem eu acreditava estar destinada a ficar. Como eu iria
viver sem eles? O que estava acontecendo? Meu mundo estava
desmoronando sobre a minha cabeça.
— Não consigo explicar, — disse o meu pai. — Mas você deve
entender, Annabelle. É para te proteger.
Proteger de quê? Isso estava relacionado àquele sonho maldito? Se eu
pudesse me lembrar dos detalhes. Mas eu não estava com medo disso...
seja lá o que isso fosse. Não. Esta era minha casa. E nada, ninguém, iria
tirar isso de mim.
— Annabelle, — meu pai disse, parecendo capaz de ler os meus
pensamentos. — Não...
— Tente me impedir, — eu disse.
E antes que ele soubesse o que estava acontecendo, saí correndo para
fora da casa em direção à floresta o mais rápido que meus pés
conseguiram.
***

Eu estava correndo pela minha vida. À distância, eu podia ouvir a voz


estrondosa do meu pai. — Volte aqui, Annabelle!
Mas de jeito nenhum eu iria parar. Me virei e senti um calor familiar
infiltrar-se na minha pele. Meus braços e pernas se esticaram, uma
camada de pelo avermelhado emergiu do meu corpo, me cobrindo como
um cobertor grosso.
Agora de quatro, fui em direção ao meu local secreto na floresta. Eu o
descobri quando era bem mais jovem. Sean, meu irmão mais velho, havia
me provocado incessantemente, o que me fez fugir chorando para a
floresta.
— Você não é minha irmã! — ele gritou. — Volte para onde você veio!
— Ele era cinco anos mais velho do que eu, e tudo que eu mais queria era
ser amada por ele.
Naquela noite, tropecei exausta na clareira, mas a lua cheia olhou
para mim, cegando-me com sua majestade fluorescente. Ela falou
comigo silenciosamente, acalmando minhas preocupações. Era minha
amiga secreta quando me perdi na escuridão.
Eu estava correndo para lá, na esperança de encontrar o mesmo
consolo e conforto que senti pela primeira vez, há treze anos. Ser
mandada embora significava que eu também teria que deixar para trás a
minha clareira especial. Eu não conseguia suportar essa ideia.
Onde eu poderia me transformar? Onde eu poderia ficar sozinha? Oh,
querida Deusa da Lua, não permita que esse seja o meu destino. Não deixe o
meu pai me mandar embora!
— Belle, pare! Espere por mim, — gritou Sean. As nossas diferenças
foram resolvidas pelo tempo, agora nós somos próximos. Eu sabia que ele
se importava, mas algo dentro de mim se recusou a parar de correr. Eu
precisava ficar longe de todos.
Eu o ouvi se transformar atrás de mim, o seu corpo gigante de quase
dois metros se transformando em um enorme lobo cinza que era tão
rápido quanto forte. Ele me alcançaria a qualquer momento, já que sou
uma loba pequena e fraca.
Quando eu me transformei pela primeira vez aos quinze anos, pensei
que minha loba ficaria maior, mas nunca ficou. Ao contrário do resto da
minha família, ela permaneceu pequena e esquelética.
O que me tomou mais fácil de ser pega.
O lobo de Sean pulou nas minhas costas, me prendendo no chão.
Tentei me desvencilhar, mordendo suas pernas, mas não adiantou. O
Sean rosnou e cravou as unhas na minha pele.
Cedendo sob a dor, me transformei de volta na minha forma humana
e ele me deixou levantar. Uma vantagem em ser uma loba pequena? Eu
era a única na matilha que conseguia manter as minhas roupas humanas
enquanto me transformava em loba.
— Precisamos conversar, — disse Sean, vestindo a sua camisa.
— Eu não vou a lugar nenhum, — falei. — Se o papai te mandou atrás
de mim...
— Você tem que obedecê-lo, Belle. É a única maneira.
— Eu não acredito que você está do lado dele, — eu respondi. — Pelo
amor da Deusa da Lua, você vai me dizer que diabos está acontecendo?
Sean desviou o olhar. Eu senti que devia ser algo sério. Ele não era de
evitar confrontos. Na verdade, ele tinha a reputação na matilha de
nocautear qualquer um que olhasse para ele de forma errada. Ou
qualquer pobre coitado que olhasse para mim, para ser sincera.
— Ele está vindo atrás de você, Belle, — Sean disse calmamente. —
Ele sabe onde você está. Você não pode estar aqui quando fizer dezoito
anos.
— Ele? Do que você está falando? Quem é ele?
— Não posso te dizer. Se o papai achasse que você deveria saber...
— É a minha vida, Sean! — Eu gritei. — Eu mereço saber se alguém
está atrás de mim. Por favor? Diga-me. Quem é ele? Quem está vindo
atrás de mim? É outro alfa?
— Não, ele não é um lobisomem. Ele é... ele é outra coisa.
— Outra coisa? O que você quer dizer? Não há outras coisas. Apenas
humanos e lobisomens.
— Tem muita coisa que você não sabe, Belle... — Eu senti como se o
mundo que eu conhecia e amava estivesse desmoronando e nem mesmo
a minha clareira secreta poderia me proteger do que estava por vir.
— Olha, você se lembra daquele dia em que fugiu na floresta porque
eu estava provocando você e ninguém conseguiu te encontrar o dia todo,
e a mamãe ficou louca?
— E então você ficou de castigo por uma semana? — Eu respondi. —
Sim, claro. Eu te odiei naquele dia.
— Claro, eu também teria me odiado, — Sean disse impaciente, como
se eu o estivesse impedindo de chegar a uma conclusão. — Mas, você se
lembra do que eu estava dizendo antes de você fugir?
— Você disse... você disse que ninguém me amava, e mamãe e papai
estavam mentindo para mim. Você era um verdadeiro idiota naquela
época, sabia? Você fez da minha vida um inferno.
— Eu também disse que você foi encontrada na fronteira da manada.
— E daí? Essa é uma piada estúpida que todo irmão mais velho faz. O
que isso importa? — Mas o meu corpo traiu os meus verdadeiros
sentimentos. Eu podia sentir o meu coração batendo forte dentro do
peito. Uma revelação estava por vir — eu podia sentir.
Sean olhou para mim com olhos pesados e soltou um suspiro
profundo. — Isso não foi uma piada, Belle.
Eu silenciosamente implorei para ele sorrir ou piscar, qualquer coisa
que indicasse que ele estava só brincando comigo. Em vez disso, o seu
rosto permaneceu sério.
— Lembro-me de uma noite, o papai voltou com um pacote nos
braços e ele e a mamãe discutiram. Eu nunca tinha ouvido eles
discutirem assim. Então, Cheguei mais perto e comecei a escutar. A
mamãe queria ficar com você, mas o papai estava preocupado.
— Ele ficava dizendo que devia haver mais coisas nessa história. Ele
disse que alguém voltaria por você, um dia. Corri escada abaixo para ver
do que eles estavam falando. E foi quando eu vi você pela primeira vez,
enrolada naquele cobertor. Você era tão pequena e frágil, Belle.
— É por isso que eu senti raiva por tanto tempo. Eu estava com medo
de te amar porque pensei que você poderia ser tirada de nós e eu não
suportava a ideia de perder a minha irmãzinha. Demorei um tempo para
perceber, não importava se alguém viesse, porque essa pessoa não era da
sua família. Nós éramos a sua família.
Era coisa demais para processar de uma vez só. Eu não sabia por onde
começar. Olhei para meu irmão, meu protetor, meu amigo. Isso estava
matando-o por dentro.
— É por isso que você é tão super protetor? — Eu perguntei.
— Eu não consigo evitar, — ele disse, balançando a cabeça. — Eu
prometi que nunca deixaria nada de ruim acontecer com você. É por isso
que você tem que voltar para casa comigo, entendeu?
— Primeiro, me conte, — eu disse. — Quem é ele? Quem está atrás de
mim?
Sean suspirou, olhando para baixo. Eu sabia que as respostas estavam
por vir, embora, suspeitei, elas não tomariam a situação mais clara..
— Na semana passada, o rei recebeu um ultimato. Dizia para devolver
você ou então a guerra seria declarada contra todos os lobisomens.
— O rei? Uma guerra? — Eu gaguejei. — O que isso tem a ver comigo?
— Belle, — disse Sean, segurando-me com firmeza. — Não sabemos
muito. Mas sabemos que ele é o governante da sua espécie. Nós sabemos
que ele se chama... Lorde Demônio.
Um flash de imagens horríveis me deixou paralisada. Um dedo preto e
fino apontou diretamente para mim. Uma boca ardente e tagarela. O
sonho.
Era com ele que eu tinha sonhado. O Lorde Demônio.
— Eu queria ter mais informações, — disse Sean. — Tudo o que
sabemos é que ele é muito perigoso. E ele está disposto a ir para a guerra
se isso for trazer você de volta.
Estava difícil respirar, as minhas mãos ficaram úmidas. Eu me senti
como se estivesse sufocando.
— Por quê? Por que eu? O que ele quer comigo? — — Belle... — disse
Sean, olhando nos meus olhos. — Eu acho que você é... eu acho que é de
onde você veio. Você pertence a ele.
Eu dei um passo trêmulo para trás, os olhos arregalados,
hiperventilando. Tudo começou a ficar borrado e parecia que o meu
corpo estava flutuando. Eu estava caindo.
E agora, estava ouvindo a sua voz novamente... a voz do meu sonho...
— Annabelle, minha princesa das trevas...
O Sean estava gritando; ele estava tentando me alcançar. Mas ele
estava longe demais. Era tarde demais. A minha clareira secreta,
iluminada pela lua, estava sumindo na escuridão, as estrelas piscando,
uma por uma.
E enquanto tudo escurecia... enquanto o mundo desmoronava ao
meu redor... tudo que eu podia ver era o outro homem do meu sonho, o
Rei Lobisomem, deitado em uma poça do seu próprio sangue.
— Belle, — Eu observei seus lábios silenciosamente. — Eu te amo.
E então, a escuridão tomou conta de tudo.
Capítulo 2
SEQUESTRADA
Belle

— Você está bem? Me responda, Belle! — Eu ouvi uma voz distante


que parecia a do meu irmão. Aquele era o Sean? Minha cabeça latejava
com tanta força que eu nem conseguia pensar direito. Mas então, através
da vista embaçada, eu o vi olhando para mim.
— O que aconteceu? — Eu perguntei.
Sean suspirou. — Quando você recuou, você tropeçou e caiu. Você
deve ter batido a cabeça em uma pedra ou algo assim, porque ficou
inconsciente.
Tentei me sentar, mas ainda me sentia tonta.
Passei meus dedos sobre o calombo que se formou na minha cabeça,
lembrando-me de flashes da nossa conversa e do sonho.
O Lorde Demônio.
O Rei Lobisomem.
A verdade sobre quem eu realmente era.
Eu balancei a cabeça. Era muita informação para processar tudo de
uma vez. Eu olhei ao redor e percebi que estava de volta ao meu quarto,
deitada na minha cama.
— Você me trouxe de volta?
Sean acenou com a cabeça. — Mamãe e papai estão te esperando lá
embaixo. Quando você estiver pronta.
— Eu não quero vê-los, — eu disse, irritada. — Eu não acredito...
— Eu sei, — disse Sean, me puxando para um abraço apertado. —
Mas, Belle, eles ainda são seus pais. Mesmo que não sejam biológicos.
Eles amam você.
Amor. Isso me fez lembrar do sonho novamente... do Rei Lobisomem.
Ele me disse algo? Não importa. O que importa é que tudo que eu sempre
acreditei era mentira.
Quem eu era realmente, me perguntei. Sempre me vi como a filha de
um alfa de uma matilha forte. Uma loba comum. Agora, o tamanho tão
pequeno da minha loba fazia sentido, eu acho. Fazia sentido porque eu
não parecia nem com a minha mãe e nem com o meu pai.
Mas a ideia de que eu... pertencia... ao Lorde Demônio? Que ele estava
disposto a declarar guerra a todos os lobisomens para me ter de volta?
Isso eu não conseguia entender.
Só havia uma maneira de descobrir mais. Respirei fundo, olhei para
Sean e assenti.
— Tudo bem, — eu disse. — Vamos vê-los.
***

Meus pais estavam esperando por nós na sala, lá embaixo. Os dois


tinham expressões sérias, e eu me joguei em uma cadeira.
— Querida, estamos tão felizes que você está bem, — meu pai
começou.
— Você não deveria ter fugido assim, — mamãe disse, séria. — Não
depois do...
— Do ultimato do Lorde Demônio? — Eu interrompi, observando as
expressões chocadas dos dois.
— Sim, o Sean me contou tudo.
— Sean! — Mamãe gritou.
— Me desculpem, pessoal, — disse Sean, olhando para o lado. — Mas
ela tem o direito de saber. Ela já tem quase dezoito anos.
— O que, aparentemente, é tipo uma data limite? — Eu perguntei. —
Será que vocês podem explicar? Mãe? Pai? Ou a partir de agora eu tenho
que chamá-los pelo primeiro nome?
Papai olhou para baixo, eu nunca tinha visto os seus olhos tão tristes.
Eu não gostava de machucá-los assim, mas depois de ser enganada por
tanto tempo, eu estava com raiva e precisava atacar. Qualquer coisa.
Qualquer um. Os dois simplesmente estavam ali para eu descontar.
— Você tem o direito de ficar com raiva, — disse a minha mãe. —
Mas, saiba que mantivemos a história de como te encontramos em
segredo por um motivo.
— Para me proteger, eu sei. O papai já me falou disso.
— Mas não para te proteger do Lorde Demônio.
Nós sabíamos que um dia... ele voltaria... de uma forma ou de outra.
Isso estava prestes a acontecer.
— Então, para me proteger de quê?
Mamãe e papai se entreolharam, preocupados. Então, papai se
inclinou para frente.
— A verdade é que o nosso Rei nem sempre é o cara mais bondoso.
— Você quer dizer que... você estava me protegendo do Rei
Lobisomem? Por quê?!
— Ele nunca teria aprovado a sua adoção, — disse papai. — Teria te
expulsado da matilha anos atrás, se ele soubesse.
— E agora?
— É por isso que estamos mandando você embora, Belle, — disse a
minha mãe. — Para ele não pegar você primeiro.
— Você acha que ele realmente me entregaria? Para o Lorde
Demônio?
— Se isso significasse proteger todos os lobisomens do mundo? —
Papai disse, balançando a cabeça. — Eu acho que sim. Esse é o jeito do
Rei Keith. Tudo pelo bem maior.
Eu balancei a cabeça, sem acreditar naquilo. E eu tinha pensado que
só teria que me preocupar só com um inimigo poderoso. Mas meus pais
estavam dizendo que ambos eram ruins?
Mamãe começou a chorar e papai segurou a mão dela, com ternura.
O jeito que eles se olharam me lembrou o quanto esses dois são
importantes para mim. Era um olhar de amor puro. Depois de todos
esses anos, eles ainda estavam loucamente apaixonados.
Às vezes, eu não conseguia acreditar que a chama deles ainda
permanecia tão viva e forte. Eu queria me apaixonar assim, um dia. Mas
nenhum dos meus contos de fadas se tomaria realidade se o Rei
Lobisomem e o Lorde Demônio estivessem atrás de mim.
Como eu poderia encontrar o meu prometido quando a minha vida
estava desmoronando?
— Faça as malas, Belle, — papai finalmente quebrou o silêncio. — Nós
partiremos logo de manhã.
— Não terei tempo para... me despedir? Aos meus amigos?
Eles se entreolharam novamente, então mamãe balançou a cabeça.
— Eu acho que não, Belle. Não dessa vez.
Eu podia sentir as lágrimas surgindo. A ficha da gravidade da minha
situação não tinha caído até agora. Mamãe se inclinou para me abraçar e
eu recuei.
— Não faça isso. Apenas... me deixe em paz.
Mamãe e papai assentiram, levantaram-se e saíram da sala, deixando
Sean e eu em silêncio. Ele apertou meu ombro.
— Ei, — ele disse. — Você pode dizer adeus a uma pessoa, pelo
menos.
— Você? Sem ofensa, Sean, mas eu estava pensando mais em...
— Eu não. — Ele piscou. E então, houve uma batida forte na porta da
frente. Meus olhos se arregalaram e Sean sorriu.
— Relaxe, — disse Sean, caminhando para atender a porta. — O
Lorde Demônio não bate.
Muito engraçado, Sean.
Ele foi até a porta, e é claro que ele abriu para o Gregory... o garoto
por quem eu estava loucamente apaixonada. Aquele que sempre imaginei
sendo o meu prometido.
— Ei, Belle, — disse ele, corando e olhando para longe.
Gregory era o filho do beta da nossa matilha. Ele era tímido, mas de
um jeito meio fofo. Ele tinha cabelos pretos encaracolados que caíam até
os ombros e olhos verdes brilhantes, com cílios longos. Eu adorava ver
como as mechas faziam uma voltinha na nuca ou como ele mordia a
parte interna da bochecha sempre que estava nervoso.
Ele tinha um corpo delicioso, que eu havia cobiçado em muitas
ocasiões, mas ele o carregava com a incerteza de um adolescente magro,
curvando os ombros largos e mantendo o queixo abaixado.
Nunca entendi porque ele era tão inseguro tendo uma aparência tão
incrível.
Sean sabia que nós éramos próximos, mas não sabia o que eu
realmente sentia em relação a Gregory. Ou, pelo menos, eu achava isso.
Alguma coisa no seu sorriso irônico sugeria o contrário.
Então eu disse — O que te traz aqui, Gregory?
— Eu acho, uh, eu só queria ver como você está... Eu ouvi sobre o, uh,
ultimato.
Aproximei-me de Gregory, para beijar a sua bochecha e mostrar a ele
o quanto o seu cuidado era importante para mim, pensando — esta pode
ser a minha última chance — quando ouvimos uma comoção do lado de
fora.
Os lobos uivavam. Eu podia ouvir suas patas arranhando enquanto
circulavam pela casa. Antes que eu pudesse perguntar o que estava
acontecendo, o meu pai desceu correndo as escadas e saiu voando pela
porta. Sean e Gregory o seguiram de perto.
— Onde você está indo? — Eu perguntei em vão. Então, avistei a
minha mãe, o seu lindo rosto estava repleto de preocupação.
— Ele está aqui, — ela disse em um sussurro trêmulo.
— Quem? O Lorde Demônio?
— Não. Orei.
Eu não gostei de como todos estavam assustados. A aparição do Rei
Lobisomem em nossa casa era um evento muito raro. Depois do que
meus pais me disseram, eu sabia que só poderia significar uma coisa.
Eu saí e meu pai estendeu o braço para me impedir.
— Chegamos tarde demais, — disse ele, impotente. Não aguentei ver
tanto desespero em seu rosto. Ele era o alfa do bando, e qualquer emoção
além da confiança suprema era motivo para preocupação.
Eu tenho que ser forte por todos nós. Mesmo que eu não seja a filha
biológica desse homem, eu fui criada como um filhote alfa e sei agir como
um.
— Está tudo bem, pai. Leve-me para conhecer o Rei.
— Eu não vou deixar ele tirar você de nós. Eu juro para você, Belle.
Mas essa era uma promessa que nós dois sabíamos que ele não
poderia cumprir. O Rei Lobisomem era o alfa de todos os alfas, e
ninguém, incluindo o meu pai, tinha o poder de desobedecê-lo.
Eu respirei fundo e segui em frente, passando pelo meu pai. As
minhas pernas tremeram quando a adrenalina invadiu o meu corpo.
Sean e Gregory já haviam se transformado para as suas formas de
lobo, enquanto outros membros da manada começaram a aparecer em
pequenos grupos, entrando em frenesi, mostrando os dentes e
mordiscando uns aos outros. Os seus uivos emocionantes subiram aos
céus, prestando homenagem à Deusa da Lua, pedindo por força e
bravura.
Quando me viram, correram para o meu lado, formando um escudo
feroz de presas e rosnados selvagens. Eles eram um bando de soldados
leais e dariam as suas vidas para proteger a filha do alfa.
Se eles soubessem a verdade.
— Isso tudo é muito nobre, mas eu desistiria se fosse vocês...
O aviso veio de uma voz com um timbre profundo. Atrás do escudo
de lobos, eu não conseguia ver quem tinha falado, mas a voz por si só foi
o suficiente para fazer o meu coração tremer e minhas pernas
fraquejarem. Eu fiquei tonta.
Ele está fazendo isso comigo ou é coisa da minha cabeça?
— Por favor, meu rei, — meu pai implorou. — Ela é a minha filha. Nós
não podemos...
— Afaste-se! — gritou o rei, desta vez emitindo um comando alfa que
nem mesmo a mente mais forte poderia suportar.
Em segundos, todos os lobos, exceto Sean e meu pai, se curvaram,
inclinando a cabeça.
Meu irmão e meu pai estavam resistindo à ordem com todas as suas
forças. Eles lutaram para tolerar a dor explosiva em suas cabeças.
Meu pai pressionou os dedos nas têmporas, virando a cabeça de um
lado para o outro como se sua mente estivesse sendo destruída por
dentro.
Eu não conseguia ver minha família assim. Eu me empurrei para
frente e ergui as mãos.
— Pare! Pare por favor! Eu vou com você. Mas não os machuque
mais! — Eu gritei.
Sean uivou, caindo no chão, finalmente livre da tortura que o rei
fizeram com ele. Olhei para o meu pai, que estava imóvel na terra.
— Ele vai ficar bem, — o Rei rosnou. — Agora, venha aqui, garota.
Deixe-me vê-la.
Finalmente me virei para ver o rei em toda a sua maravilha colossal.
Ele tinha olhos negros assustadores com tal profundidade, que
parecia que você poderia cair e continuar caindo neles para sempre. Seus
cílios eram grossos, a mandíbula esculpida como se fosse de pedra.
Eu me vi atraída por ele por algum poder misterioso, querendo
conhecê-lo em todos os níveis. Seus ombros largos, tórax musculoso e
abdômen trincado se moviam com cada respiração. Eu não conseguia
parar de olhar, sentir, imaginar...
Espere. O que diabos está acontecendo comigo?!
Eu me sacudi para sair dessa paranoia. Ele era o inimigo. Veja o que
ele fez com o meu pai e meu irmão! Ele estava aqui para me levar embora.
— Então, você é a Belle, não é? — ele perguntou.
Tudo que eu pude fazer foi acenar em resposta. Havia um leve sorriso
em seus lábios, um brilho em seus olhos, como se ele soubesse algo sobre
mim que eu não sabia.
Por um segundo, me lembrei do sonho em que o Rei Lobisomem
estava morrendo, sussurrando quatro palavras para mim: — Belle, eu te
amo.
Como poderia esse homem, essa besta, esse rei me amar? Era
impossível. Sem falar mais nada, ele se transformou no maior lobo que
eu já vi. Então, ele me deu uma patada letal, que me arremessou de
costas.
Eu era impotente, não podia resistir a ele. Eu me virei e vi Sean e meu
pai uivando de coração partido. Mas não tinha nada que eu pudesse
fazer.
De repente, percebi que estava voando pelo ar.
As árvores passaram por mim rapidamente, como um borrão,
enquanto eu agarrava o pelo do rei, desesperadamente.
Eu não fazia ideia para onde ele estava me levando... mas eu sabia
que, de agora em diante, a minha vida nunca mais seria a mesma.
Capítulo 3
UMA TRAIÇÃO REAL
Belle

Eu não consegui me despedir.


Eu só pensava isso enquanto o Rei Lobisomem cavalgava, me levando
para o meu futuro misterioso. Meu pai, minha mãe, meu irmão — eu não
sabia se voltaria a vê-los algum dia.
Para piorar, a última coisa que eu disse para eles foi que eles não eram
minha família de verdade. Isso me deixou muito brava comigo mesma. Se
eu apenas tivesse falado para eles como realmente me sentia... que eu os
amava. Que eles eram tudo para mim.
Agora, não me restava mais nada a não ser segurar no pelo das costas
do rei.
O rei. Como eu o desprezava. A sua aparência maravilhosa não me
enganava; esse homem era a definição pura de assassino. Ele estava
disposto a livrar-se de qualquer um que estivesse no seu caminho.
Incluindo eu.
Depois de horas agarrando-me nele para salvar a minha vida, eu já
não sabia até que ponto eu conseguia suportar.
Eu estava exausta e faminta. Em alguns momentos, eu pensei em
soltar, cair e quebrar o pescoço, qualquer coisa valia a pena para escapar
do destino que estava à minha frente.
Mas eu não tive coragem de morrer. Hoje não. Finalmente,
felizmente, o rei parou e, antes que eu conseguisse descer, ele começou a
se transformar. Em questão de segundos, eu estava em seus braços,
olhando para aqueles olhos negros. Seu peito nu e poderoso se ergueu
com esforço. Em seus olhos, pensei ter visto um traço de compaixão. De
interesse.
Mas então ele piscou e me jogou de lado, agarrando um par de calças
para vestir, dirigindo-se aos seus homens. De volta aos negócios.
— Nós vamos descansar aqui! Montem o acampamento! — ele gritou.
Tentei fugir para longe, para encontrar abrigo na escuridão fria da
noite, mas senti uma mão agarrar meu braço.
— Nem pensar, — disse o rei. — Onde você pensa que vai?
Eu me virei para ele, de repente me lembrei do que ele fez com o meu
pai e Sean, comigo, e senti uma raiva explosiva borbulhar dentro de mim.
— Me solta, — eu cochichei.
— Você ousa dar ordens ao seu rei?
— Nenhum Rei meu teria agido da maneira que você agiu. Contra os
seus próprios homens.
Contra o seu próprio alfa.
Seus olhos se estreitaram e as narinas dilataram. — Você acha que
sabe de tudo, não é?
— Eu sei para onde você está me levando. Você vai me entregar ao
Lorde Demônio. Para manter a paz. Em nome de um bem maior. '
— Você prefere que eu deixe todos os lobisomem morrerem? Para que
você possa viver?
Quando ele colocou dessa forma, eu não soube o que dizer. Eu olhei
para o lado e me senti envergonhada. Egoísta.
— Não, — eu admiti. — Você tem que fazer o que é certo.
— Belle.
Eu me virei, surpresa ao ouvir meu nome saindo de seus lábios. Na
primeira vez, foi puramente burocrático; só uma forma de confirmar a
minha identidade. Mas desta vez...
Desta vez, eu não sabia o que deveria sentir.
— Eu não sou um monstro, — disse ele. — Eu sei que devo parecer
isso para você. Mas eu te garanto... Eu só machuco aqueles que me
desafiam. Afinal, eu sou o rei. Eu não posso recuar. Nunca.
— E se eu não quiser recuar perante você? — Eu disse, olhando
diretamente nos olhos dele.
— Então você me obrigaria a agir.
— Você me machucaria.
— Eu não gostaria de fazer isso.
Sem conseguir me controlar, levei a mão ao seu rosto para dar um
tapa nele. Ele era tão rápido que nem pude ver ele se mover. Mas a sua
mão estava ao redor do meu pulso, segurando-o com força — tão forte
que... doeu.
— Por favor, — eu implorei.
— Eu te avisei, não avisei? — ele rosnou.
Por um segundo, pensei que ele fosse quebrar o meu pulso ao meio.
Seus olhos queimaram com uma raiva que me surpreendeu, pois eu não
sabia que ele era capaz.
Eu caí de joelhos. Nunca tinha sentido uma dor tão insuportável em
toda a minha vida. Mas me recusei a deixar uma única lágrima cair dos
meus olhos.
Eu não daria a ele esse gostinho.
Quando pensei que não aguentava mais, ouvi uma voz ao longe.
— Keith, solte-a. Ela já aprendeu a lição!
O rei olhou para o homem que gritou. Mas, para o meu alívio, ele
finalmente me soltou.
Eu passei a mão no meu pulso, que já estava inchando. Então, ele se
virou bruscamente e saiu batendo o pé.
— Você está bem? — perguntou um dos guerreiros do rei, com uma
bondade inesperada em seus olhos. — Você deveria controlar essas
explosões se quiser permanecer viva. Nunca o empurre.
— Ele é uma besta, — explodi.
— Isso, ele é, — ele suspirou. — Mas é isso que o torna tão bom em
ser o nosso rei. Desculpe, eu esqueci de me apresentar. Eu sou o Xavier.
Quando tentei dizer meu nome, ele me interrompeu com um gesto.
— Eu sei quem você é. Você é a garota misteriosa que o Lorde Demônio
quer. — ele riu.
— É tipo isso. — eu disse.
Ele me entregou um cobertor e eu me cobri, agradecida.
Eu ia perguntar a ele para onde iríamos quando o rei voltasse. Ele
tinha se lavado. Seu cabelo estava molhado. Pequenas gotas caíram em
cascata pelo seu peito esculpido, descendo pelo seu torso antes de
desaparecer sob suas calças e...
Não, não! Está acontecendo de novo. Controle-se, Belle!
Ele me pegou olhando e deu um sorriso malicioso. Eu imediatamente
desviei o olhar, sentindo nojo de mim mesma. Como eu podia me sentir
atraída pelo homem que machucou o meu irmão, o meu pai e a mim
mesma, apenas alguns momentos atrás?
Mas um desejo incontrolável dentro do meu peito me atraiu para ele.
Me fez desejar o seu toque; fez as partes mais íntimas de mim pegarem
fogo de desejo.
— Venha, — disse ele, acenando para mim. — Você vai dormir na
minha tenda essa noite.
Eu dei um passo para trás, com os olhos arregalados.
— Para que eu possa ficar de olho em você, — ele corrigiu a minha
linha de pensamento. — Não podemos deixar você fugir agora, podemos?
— Ele acenou com a cabeça para Xavier, em agradecimento, então me
acompanhou até uma grande tenda. Eu estava esperando ver um cenário
muito chique adequado para um rei, mas os adornos eram simples e
rústicos.
Ele se enxergava, primeiro, como um guerreiro, estava claro.
— Você vai dormir aqui, — disse ele, apontando para uma pequena
cama. — Não tente escapar. Os meus guardas estão vigiando a tenda.
Então, sem dizer mais nada, o rei desabou em sua cama maior e
pegou no sono quase imediatamente. A corrida deve ter deixado ele
esgotado.
Olhando para ele — quieto, em paz — eu senti o nojo e a raiva
diminuindo... e a curiosidade crescendo dentro de mim.
Quem era esse Rei Lobisomem, afinal? Ele era aterrorizante em um
momento, e atencioso logo na sequência.
Ele era lindo e monstruoso. Poderoso e lamentável. Uma contradição
que eu queria compreender a fundo.
Mas não essa noite.
Não. Quer os guardas estivessem vigiando ou não, essa noite, eu
pretendia escapar...
Esperei o guarda que estava em patrulha dobrar uma esquina antes de
sair correndo da tenda em direção às árvores.
Eu tinha planejado bem. O Rei Lobisomem e os seus guerreiros nunca
me encontrariam.
Eu conseguiria escapar e ver a minha família essa noite.
Ou foi o que eu pensei.
Porque, quando parei ao lado de uma árvore para recuperar o fôlego,
eu os vi. Na escuridão, havia vários olhos vermelhos brilhando ao redor.
O que são?!
Eles pareciam me cercar, com as peles untadas com uma substância
oleosa e brilhante.
Por um segundo, eles quase pareciam...
Mas não podiam ser, não é? O Lord Demônio esperaria até que eu
tivesse dezoito anos. Certamente, ele não estaria enviando os seus servos
atrás de mim agora... estaria?
Mas então, eu vi uma das criaturas sorrindo de modo demoníaco,
com os olhos fixos em mim.
Ele se aproximou. Chegou mais perto. Ele estendeu a mão na minha
direção e, embora ele estivesse a dez metros de distância, o braço
continuou a se esticar, bizarramente longo e elástico, até que a sua mão
negra e oleosa estava prestes a rasgar o meu rosto.
Eu estava perdida.
Eu estava prestes a me transformar na minha forma de lobo e tentar
escapar, quando uma mandíbula gigante se fechou ao redor do seu
pescoço, rasgando a sua garganta. Uma meleca verde espirrou pelo ar.
O rei veio me socorrer. E de repente, os homens do rei estavam por
toda parte, lutando contra cada demônio à vista.
Por um segundo, eu quase Fiquei grata. Até que me lembrei que foi
ele quem me meteu nessa confusão, em primeiro lugar.
Quando todas as criaturas foram eliminadas, eu saí das sombras e me
aproximei de Xavier.
— Você está bem? — ele perguntou.
— Estou, — eu respondi. — Eles eram...? — Eu esperava que Xavier
terminasse a frase.
— Demônios, — ele acenou com a cabeça.
— Eles vieram aqui para me pegar?
— Provavelmente. Você nunca os viu antes? Espere até ver uma ninfa!
No começo, eu achei que Xavier estava brincando. Mas a sua
expressão deixou claro que ele não estava.
Fiquei tão atordoada que não conseguia falar.
Havia mais seres neste mundo do que eu imaginava. E um deles tinha
tentado me matar. — Estamos saindo. — o rei rosnou, se aproximando
de mim. — A menos, é claro, que você queira tentar escapar novamente.
O idiota nem me perguntou como eu estava. Mas então, um
pensamento passou pela minha cabeça.
— Por que você lutou por mim? — Eu perguntei. — Por que não
deixou que eles me levassem?
O rei desviou o olhar.
Ele mudou de ideia? Será que ele não iria me entregar ao Lorde
Demônio, afinal? Por qual outro motivo ele teria lutado tão ferozmente
para me defender?
Talvez houvesse mais coisas no rei do que ele aparentava.
Enquanto o sol lançava seus tons vividos de laranja e amarelo no céu.
aparecendo lentamente no horizonte, nós finalmente paramos na base de
um castelo majestoso.
O rei gritou para os lobisomens de guarda, e o enorme portão diante
de nós se abriu, revelando uma linda mulher, que correu em nossa
direção com seu cabelo grosso e ruivo voando atrás dela.
Ela se jogou nos braços do rei, envolvendo as pernas ao redor de sua
cintura e colando a sua boca na dele, enfiando as mãos no seu cabelo
preto e espesso.
Não sei por que, mas isso me fez arder de ciúmes. Eu queria arrancar
o coração dessa mulher.
Deusa da Lua, por que isso continua acontecendo?
Eu não desejava o rei. Longe disso. Mas, no entanto, o meu corpo
parecia ter vida própria.
— Xavier, — eu perguntei, virando-me para o guerreiro. — Quem é
ela? Essa vadia?
— Essa vadia é a minha irmã, Zena, — Xavier riu. — Não se preocupe,
ela é mesmo uma vadia, — ele falou, depois de ver o olhar envergonhado
no meu rosto.
Zena deixou uma trilha de beijos ao longo da mandíbula do rei,
fazendo o meu estômago se contorcer de inveja e nojo. Eu não
acreditava. Na verdade, estava ficando com náuseas.
Ela se virou e me olhou de cima a baixo.
— Quem é a garota?
Ele me olhou profundamente, e por um momento, eu pensei que por
trás dos seus olhos cheios de luxúria ele estava imaginando o que poderia
fazer comigo.
— Uma pessoa... peculiar, — ele disse.
Zena não pareceu gostar dessa resposta porque ela se afastou e
franziu a testa. — Peculiar, como?
— Ela é a primeira mulher a me desafiar.
Agora Zena entendeu, e seus lábios se curvaram em um sorriso cruel.
— Ela fez o quê?
— Ela até tentou escapar de mim, você acredita?
— Imperdoável.
— Eu não sei, não, — o Rei murmurou, com um brilho brincalhão em
seus olhos. — Mas um tempinho na masmorra vai resolver.
— O quê?! — Eu gritei.
— Keith, isso é realmente necessário? — Xavier protestou.
O rei nem respondeu. Ele se virou e continuou a beijar sua mulher.
— Tomara que a Deusa da Lua destrua você, seu animal sem coração!
— Eu chorei, enquanto dois de seus guerreiros me arrastavam pelos
braços.
Tentei chamar a atenção de Xavier, mas ele não olhou para mim.
Eu olhei de volta para o miserável Rei uma última vez. A sua boca
estava enterrada no pescoço de Zena. mas os seus olhos me observavam,
sem piscar.
E por um segundo, o olhar do Rei Lobisomem estava claro como a lua
cheia acima de nós.
Ele desejou estar beijando a mim...
Capítulo 4
MASMORRAS E PESADELOS
Belle

Gota.
A umidade do teto caía no chão, ecoando nas paredes escuras da
masmorra. O cheiro era quase insuportável, um lembrete de minhas
circunstâncias atuais.
Gota.
As lágrimas escorreram pelo meu rosto e se juntaram à umidade
fedorenta no chão. Até que combinava. Tudo o que eu sabia antes de hoje
estava de ponta cabeça.
Ser uma loba significava ser livre, selvagem e fazer o que era do
melhor interesse de sua matilha. Isso não era o melhor negócio para
ninguém, exceto para o rei monstro que me mantinha aqui.
Mas, por quê?
A resposta escapou enquanto outros medos enchiam a minha mente.
Eu queria que alguém me notasse e me tirasse dessa situação.
É pedir demais que os meus desejos se tomem realidade?
Minha família devia estar preocupada. A filha do alfa ser levada no
meio da noite não era um bom sinal para os outros membros da matilha,
mesmo o meu sequestrador sendo o Rei Lobisomem.
Sean sem dúvida estava chateado, a sua irmã mais nova foi levada e
ele foi incapaz de fazer qualquer coisa. Ele procuraria pelo meu cheiro
em qualquer lugar que fosse.
Mas isso os traria até aqui? Fazia alguma diferença, agora que o rei me
tornou prisioneira?
Estremeci na masmorra fria, permitindo que as paredes me
envolvessem em seu abraço frio. Era melhor do que estar perto do
monstro.
Quando a memória de cavalgar em suas costas veio na minha cabeça,
ao mesmo tempo um calor ardente cresceu lentamente no meu corpo.
Confesso. Havia algo mais do que apenas calor.
Desejo.
Luxúria.
Eu podia ouvir nós dois nos beijando.
Eu podia ver as nossas línguas se entrelaçando.
Eu me revoltei com a ideia de querer alguma coisa com ele.
As lágrimas começaram a cair novamente, mais rápido e com mais
força. Eu encheria essa masmorra com minhas lágrimas e flutuaria até o
topo, para fora do castelo, e o riacho me levaria para casa.
Mas, e se essa fosse minha casa?
Fechei os olhos, sentindo mais lágrimas aquecerem as minhas
bochechas. A escuridão era o meu consolo, agora. E eu deixei isso me
levar para um sono profundo.
***

Os sons de gotejamento quase abafaram os passos que se


aproximavam.
O instinto me tirou do sono e me fez assumir uma posição sentada.
Enxuguei as lágrimas, mas elas não estavam mais lá.
As minhas bochechas estavam secas e esfoladas, provavelmente
estavam vermelhas.
Eu sabia como era o meu estado, e a ideia de ele me ver assim me dava
ânsia.
Uma figura apareceu, carregando o que parecia ser uma lanterna.
A luz era amarelada e suave, mas os meus olhos não conseguiam se
ajustar com rapidez suficiente à nova sensação. Eu protegi a luz com a
minha mão e olhei novamente.
Ele era menor do que o rei. mas pelo corpo eu sabia que era um
homem.
Alto.
Forte.
Frio. Como essas paredes.
Eu ainda tentaria lutar? Para quê?
Ele me observou como eu o observei, mas não se aproximou.
— Annabelle, — disse uma voz. Foi como um trovão na pequena
masmorra, mas gentil e curioso. — Eu trouxe algumas coisas.
A lanterna foi levantada mais alto e meus olhos se ajustaram. Agora
eu pude ver o seu rosto.
Era o Xavier! E na outra mão, ele segurava alguns cobertores
dobrados.
— Você está bem? — ele perguntou.
Ótima pergunta...
— Eu pareço bem? O chão de pedra dá um toque medieval agradável,
mas tenho certeza que os cobertores vão ajudar.
Xavier riu. Ele era caloroso e simpático. Eu queria deixar aquela risada
se fechar ao meu redor para me dar forças.
— Eu não quero rir.
— Então me diga o que está acontecendo. Pela Deusa da Lua, eu exijo
saber! — Meus gritos ecoaram pelas paredes, com os fantasmas da minha
raiva girando ao nosso redor.
Eu pude ver um sorriso em seu rosto. Se não fosse pela tristeza em
seus olhos agora visíveis, eu teria gritado novamente.
— Ele está preocupado que você não seja um lobisomem.
Agora foi a minha vez de rir.
— Você exige que eu deixe a minha mochila e vá com você, me joga
em um porão e, em seguida, se recusa a acreditar que eu sou capaz de me
transformar?
Fechei meus olhos e tentei me transformar.
Nada.
A escuridão úmida parecia esfriar todos os meus instintos, jogando a
minha força de vontade contra mim. Eu só conseguia olhar para ele,
impotente.
O que ele pensaria de mim? Este homem lindo e gentil observando
um membro tão fraco da espécie, incapaz de fazer o que era natural.
— Nós sabemos que você pode se transformar. Mas existem outros
seres que possuem tais poderes.
Como as bruxas.
Bruxas?!
Ele estava me zombando! A risada borbulhou por dentro, saindo pela
minha garganta.
— Obrigada. Foi bom finalmente rir. Pensando bem, esta masmorra
até parece um pouco aconchegante.
— Keith está fora de si. Ele está convencido de que, se o Lorde
Demônio está atrás de você, deve haver mais coisas em você do que
aparenta.
Eu olhei para ele novamente.
— Obrigada. Isso é um verdadeiro elogio para o meu ego.
A expressão em meu rosto mudou, tornando-se gentil e suave. Eu
esperava que ele pudesse ver. Se ao menos o monstro que chamavam de
Rei fosse mais parecido com o Xavier.
— E você? O que você acha? — Eu perguntei.
Xavier andou de um lado para o outro, se sentindo desconfortável.
— Não cabe a mim decidir.
Claro que não.
— Mas eu não teria ficado aqui com você por tanto tempo se achasse
que você é mesmo um perigo para nós. Eu realmente sinto muito por
tudo o que você está passando. Rezo para que a Deusa da Lua nos mostre
o caminho certo.
Eu balancei a cabeça e acenei para ele. Foi um gesto de desprezo para
a única alma gentil que eu conhecia, mas foi tudo que pude fazer naquele
momento.
— Em breve te trarão comida.
— Eu não quero.
Eu era uma péssima mentirosa. A ideia de trazerem comida parecia
incrível. Meu estômago confirmou esses pensamentos com um ronco
alto que Xavier certamente ouviu.
— Mas você não comeu o dia todo, — ele retrucou.
— E eu não vou. Agora me deixe em paz. Eu preciso de um pouco de
paz e sossego.
A dor em seu rosto deixou claro que eu havia ferido seus sentimentos.
— Muito bem. Mas eu juro, você não tem nada a temer. Nós
queremos saber o que está acontecendo tanto quanto você.
Eu só queria me afastar dele.
— Eu te entendo. Eu prometo a você isso... Vou fazer o meu melhor
para tentar colocar um pouco de bom senso na cabeça dele. Mas há uma
razão pela qual ele tem sido o Rei Lobisomem por tanto tempo. Você
deve se lembrar disso também.
Eu realmente tinha um aliado aqui?
Queria voltar ao passado e mudar tudo o que havia dito a ele.
Quando me virei, ele havia sumido. Os seus passos desapareceram
escada acima, afastando-se cada vez mais até que eu ouvi o barulho da
porta fechando. Uma fechadura deslizou, garantindo que eu continuasse
presa.
Com a quantidade de cobertores que Xavier me deu, consegui fazer
uma camada para deitar, uma para cobrir o corpo e um travesseiro para
descansar a cabeça.
Diminuí a luz da lanterna para um ponto mais baixo, para garantir
que duraria. As sombras cresceram pelas paredes, me forçando a lembrar
o pesadelo em que agora me encontrava.
Parecia impossível dormir. Tantas coisas aconteceram, não parecia
real. O decreto de que eu deveria me acasalar com o Lorde Demônio, o
ataque aos lobisomens e a vitória deles. E ver o Keith beijando ela!
Meu sangue começou a ferver, então fechei os olhos com força.
Pequenos pontos de luz cintilaram na minha visão escurecida, como
estrelas de brilho nesta masmorra escura.
Eu não achava que ia conseguir pegar no sono. Recusei-me a pensar
que encontraria calma nessa turbulência.
CLIK.
Acordei no meio da noite. Novas sombras encontraram o seu
caminho pelas paredes da masmorra, mudando em diferentes formas
com cada piscar de meus olhos, ainda se ajustando.
Acendi a luz da lanterna e olhei em volta. Nada.
O sono puxou minhas pálpebras para baixo, quase me levando de
volta ao mundo dos sonhos.
Então, eu ouvi outra coisa...
CREEK.
As dobradiças de uma porta se abrindo.
— Quem está aí? — Eu gritei, a minha voz mostrando mais pânico do
que eu pretendia. Não recebi resposta, peguei a lanterna e fui em direção
à escada.
As pedras estavam frias sob meus pés enquanto eu subia cada degrau,
um por um. Segui o caminho em espiral até que mais luz chamou minha
atenção. O que vi no topo era surreal demais para acreditar.
A porta estava aberta!
Isso é uma armadilha? Eu não sabia e não pretendia descobrir. Mas
uma voz profunda e ressonante chamou o meu nome e garantiu que eu
não descesse. Ainda não.
Annabelle.
Eu odiava esse nome e balancei a minha cabeça. Eu queria voltar para
baixo e me enrolar no calor dos meus cobertores. Mas os meus pés
tinham vida própria.
Com apenas mais alguns passos, eu estava passando pela porta!
Longos corredores iluminados por lanternas nas paredes pareciam ser
imensos, sem fim.
Annabelle.
O meu corpo virou involuntariamente, puxado pelos sons suaves da
voz.
Logo, uma grande porta apareceu na minha frente. Uma porta de
madeira maciça, com entalhes ornamentais.
Uma energia que nunca senti antes puxou a minha mão para frente.
Como um ímã atraindo ferro, eu não tinha opção a não ser me deixar
levar por essa força invisível. Parecia ser o meu destino.
A sala do trono era vasta e vazia. O verdadeiro sonho de um
minimalista: nada além de lanternas emanando uma luz cansada que caía
sobre faixas de cor vermelha.
No meio havia um grande trono feito de madeira escura.
Mais uma vez, eu mal pude acreditar nos meus olhos. Alguém estava
sentado no trono!
Um fogo invadiu o meu corpo mais uma vez.
Mas não era o mesmo de antes. Desta vez, parecia diferente.
Meus pés me levaram para mais perto. Era tarde demais para voltar
agora, embora eu soubesse por que não parecia o mesmo fogo.
Sentado no trono não estava Keith, o Rei dos Lobisomens.
Esta é outra pessoa.
Alguém cuja energia era mais escura, mais feroz. Esta pessoa não fazia
parte de nenhuma matilha.
Ele olhou para mim e meu sangue congelou — o mesmo sangue que
estava queimando momentos antes.
O Lorde Demônio estava olhando para mim com um grande sorriso
no rosto.
— Lá está ela. Meu amor. Minha Annabelle.
Tentei gritar, mas o seu sorriso maligno sugou o ar dos meus
pulmões.
A lanterna caiu das minhas mãos.
Assim que atingiu o chão, as chamas explodiram.
As chamas cercaram o trono e o Lorde Demônio, dando-lhe poderes
repentinos que alimentaram o fogo, atirando-o em direção ao teto.
Senti a minha pele ferver e o meu corpo aterrissou com um baque ao
pé do trono.
Capítulo 5
VIAGEM AO CLÃ
Belle

Vidro quebrando.
Chamas envolvendo o trono.
Os olhos vermelhos brilhantes do Lorde Demônio.
***

Acordei tão assustada que parecia que estava levitando.


Mas a minha realidade era outra.
Não havia nenhum Lorde Demônio.
O trono não estava queimando.
E eu ainda estava na masmorra do Rei Lobisomem com nada além de
uma lanterna e alguns cobertores.
Isso resume a minha situação.
Sem mencionar o cheiro horrivelmente pútrido que penetrou em
minhas narinas. Quase vomitei no chão, mas consegui segurar.
Talvez tenha sido uma boa ideia eu não ter comido.
As formas continuaram mudando com o brilho da lanterna. O suor
escorria pela minha testa.
Mas algo parecia errado. Então, novamente, caiu a minha ficha.
— Isso não parecia um sonho, — eu disse em voz alta.
Eu me levantei e me estiquei, sentindo os meus músculos doerem. Os
cobertores de Xavier deixaram o chão mais fofo. Isso ajudou a melhorar
um pouco a minha energia, mas não muito. Algumas vértebras estalaram
quando me levantei, apoiando as mãos no chão..
CLIQUE.
Creek
A porta se abriu com um grunhido e ouvi passos pesados nos degraus
de pedra.
— Ótimo. Está acordada. Temos muito a fazer e um caminho longo a
percorrer, — disse Keith.
Keith olhou para mim com os seus olhos escuros, fazendo a minha
cabeça girar e meu estômago dar um salto mortal.
Se ele não era o meu prometido, como ele possuía essa atração sobre
mim? Eu queria envolver os meus braços em volta de seus ombros largos
e sentir a sua língua emaranhada com a minha.
Mordi meu lábio para tentar parar esse poder que ele tinha sobre
mim.
— E para onde você acha que está me levando? — Eu perguntei.
Eu podia ver o fogo invisível queimar atrás de seus olhos. Ele deu um
passo à frente com um rosnado profundo e bateu com o punho na
parede de pedra.
— Por que você me desafia? Eu nunca na minha vida...
— Nunca, o quê? Conheceu uma mulher que não cumpria todas as
suas ordens, como Zena? Vai ser um desafio. Mas, enquanto eu estiver
aqui, você terá que se acostumar com isso.
Ele me olhou duramente, saboreando a insubordinação, embora isso
o irritasse.
Eu me virei, sentindo outro toque de luxúria que eu não queria. Isso
eu não podia controlar.
— Você não é a minha prometida. — Suas palavras me perfuraram
com uma dor tão afiada quanto as suas garras. — Ainda assim, você
provoca algo incontrolável dentro de mim. Algo que nunca senti.
— Então, me diga por que você é tão terrível para alguém da sua
própria espécie?
Sua risada ecoou, penetrando mais fundo do que suas garras jamais
poderiam.
Um cavalheiro!
— A linhagem de sangue dos lobisomens remonta a séculos. E eu sou
um dos mais antigos de minha espécie.
— Nossa espécie, — eu disse.
Por que ele não conseguia enfiar isso na sua cabeça dura? Eu era um
deles!
— Você não é um lobisomem.
Não pude evitar que o meu punho acertasse seu peito.
O rei riu e agarrou minha mão. A dor percorreu meu braço e atingiu
meu cérebro.
Ele se inclinou para frente. Eu inalei seu cheiro de almíscar, e a dor
começou a diminuir.
— Você tem uma magia poderosa, eu tenho que confessar. Quando
você se transforma, pode enganar os outros, mas eu sei.
Ele se inclinou para frente e inalou. Seu sorriso perfeito era perverso e
atraente, cativando-me mesmo nesse momento de perigo.
— Eu posso sentir o cheiro dos outros. Eles são como eu. Mas em
você... o seu cheiro me diz que você não é uma de nós.
Ele jogou longe a minha mão e eu a segurei.
Fui avisada das consequências de desafiá-lo. A dor era insuportável,
mas me recusei a deixar que ele me visse assim.
Com um sorriso aflito, mostrei a minha força enquanto ele subia os
degraus.
Dois guardas se moveram para me conduzir para a frente. Eu os
afastei com uma cotovelada e dei os passos por minha própria conta,
sentindo sua presença durante todo o caminho.
Xavier estava fora do castelo com um grupo de homens. Ele me viu
sair e acenou com a cabeça.
Meu coração se encheu de calor e a dor em meus músculos foi
melhorando. Quem teria adivinhado os poderes de cura da sua bondade?
O sentimento não durou muito, enquanto Keith gritava mais ordens.
— Nós visitaremos a Sacerdotisa Wiccan. Será uma longa jornada,
mas devemos ser rápidos. Sem parar. Para nada. — Seus olhos se
voltaram em minha direção.
Eu abri a boca, mas vi Xavier parado atrás de Keith, balançando a
cabeça, não.
Vou agradecer à Deusa da Lua se eu conseguir sair dessa sem perder a
minha língua... Pensei novamente em Zena chupando a língua dele, e isso
causou arrepios na minha espinha.
Mas eu tinha questões mais urgentes para me preocupar no
momento.
— Quem é essa Sacerdotisa Wiccan, e por que eu deveria me
importar? — Eu perguntei.
Alguns dos homens riram, mas a mandíbula cerrada de Keith os
calou.
— A Sacerdotisa é um dos seres mais antigos da terra. Ela é uma
bruxa e seu conhecimento é vasto.
Estamos buscando respostas.
— Então, você quer ver se ela pode notar o meu cheiro? Já que você
não consegue localizá-lo? — Minha língua estava ainda mais afiada hoje.
— Já estamos atrasados. Essa briga não pode esperar a gente descobrir
por que o Lorde Demônio está atrás dela? — Xavier disse, parando o
monstro em seu caminho.
Ele estava certo. Havia questões mais urgentes. E o que pareceu uma
longa jornada.
Ainda mais longa por estar perto do monstro.
Não pude deixar de pensar na minha família. Eu sentia falta do
cuidado teimoso de Sean. A orientação gentil e sábia de minha mãe e
meu pai. O que eles diriam neste momento? Quase pude ouvi-los falando
comigo. Me acalmando.
Mas esses pensamentos foram repentinamente arrancados quando
Keith entrou na minha frente. — Está na hora. Faça sua mágica, bruxa.
Mas não pense que você pode escapar. Se transforme e tente
acompanhar.
Eu cerrei meus dentes de raiva enquanto observava o Rei se
transformar em um enorme lobisomem, duas vezes o tamanho de
qualquer coisa que eu esperava me tornar.
Essa percepção só me irritou mais.
Eu me concentrei, e em instantes, cabelos ruivos cobriram meu
corpo. Eu rugi para o céu.
Era hora de mostrar a eles quem eu realmente era.
***

BUM!
Nosso grupo rugiu pelas vastas planícies. Cada passo batia no chão
como um trovão no céu.
Minhas garras rasgaram o chão, fazendo pedaços de grama voar atrás
do meu rastro.
Não fui tão rápido quanto eles, mas consegui me manter por perto.
No começo foi divertido, quase relaxante. Meus músculos ainda
estavam doloridos da masmorra, mas cada passo oferecia mais e mais
alívio.
Até continuarmos correndo...
Minha respiração ficou sufocada. Eu podia sentir o esforço dos meus
pulmões, por ter cada vez menos oxigênio.
A visão que nunca me falhou começou a ceder, deixando manchas
escuras que turvaram minha visão.
Eu tropecei, mas me segurei. A humilhação de ser deixada para trás
era grande demais para ser superada depois. Eu não perderia. Eu não
podia!
Foi quando perdi a sensação nas pernas.
Tropeçando uma última vez, vi a matilha à distância, antes de sentir
meu corpo atingir o chão.
***

Annabelle. Volte parei mim.


Seus olhos vermelhos e brilhantes queimavam na escuridão enquanto
as chamas aumentavam.
Annabelle. Sou eu. O seu prometido.
Eu não iria para ele. Eu não podia!
E então abri meus olhos para vê-lo.
Aquele que nunca foi gentil comigo.
O próprio Rei Lobisomem, os lábios a apenas alguns centímetros de
tocar os meus.
Ele percebeu meus olhos abertos e um sorriso apareceu em seu rosto.
— Eu pensei que tinha perdido você. E eu não posso deixar isso
acontecer, — ele murmurou.
Isso era tudo que eu sempre quis ouvir. Mas não vindo do próprio rei.
Eu sorri. Foi a única coisa que pude fazer.
Naquele momento, quase pude sentir seus lábios pressionados contra
os meus com uma ternura que nunca havia sentido.
Seria exatamente como eu sempre imaginei. Com um beijo, ele
poderia consertar o que antes estava quebrado.
Eu era a única lobisomem que podia se transformar sem perder a
roupa e ficar completamente nua. Era um talento especial que ninguém
podia menosprezar.
Mas mesmo com as minhas roupas, eu podia sentir sua pele nua. Seu
falo, desinibido, pressionou contra minha coxa.
Ele me segurou em seus braços, e eu ansiava que ele explorasse o meu
corpo, passando os dedos suavemente sobre os meus seios.
Em poucos instantes, eu estava de costas, deitada na grama. Minha
bunda doeu com a queda, então eu a esfreguei, fazendo uma careta.
Keith rugiu para o céu.
Seu corpo nu estava tenso, com os músculos flexionados em sua
capacidade total. Isso mostrou o quão bonito ele era.
E isso me fez desejar sentir o seu corpo pressionado contra o meu.
mais uma vez.
Mas o nosso momento acabou.
Ele rapidamente vestiu suas roupas e se virou para mim com raiva no
rosto.
— Nenhum ser possui tais poderes sobre mim.
Nenhum. Isso é impossível.
— Ei, era você que tava em cima de mim, — eu o lembrei.
Ele socou uma árvore próxima com toda a sua força. Seu punho
deixou um buraco aberto no tronco.
Ele se virou novamente para mim. — Eu pensei que você estava
ferida. Mas agora eu vejo, era apenas fraqueza.
Ele sabia mesmo como me machucar. O bom era que eu também
sabia como machucá-lo.
— Da próxima vez que você me segurar assim, me diga quem é o
fraco, — eu disse com um sorriso.
Os olhos de Keith se arregalaram de frustração. Antes que ele pudesse
retaliar, Xavier me salvou mais uma vez.
— Keith, encontramos o cheiro do clã Wiccan. mas vamos precisar do
seu nariz para encontrar a entrada, — exclamou Xavier com uma voz
cansada.
— Se prepare. Assim que entrarmos, haverá muitos desafios no nosso
caminho, — disse Keith enquanto olhava para mim.
— Estou pronta para tudo. — Isso era mentira, mas eu disse com
plena convicção.
Ele não conhecia a minha força, mas eu iria mostrar a ele o quão
poderosa eu poderia me tornar.
— Ótimo. Então, prove, — ele retrucou.
Keith seguiu seus homens em direção a um desfiladeiro. De repente,
eu podia sentir os cabelos da minha nuca se arrepiarem.
Eu balancei minha cabeça e espantei os pensamentos. Eu nunca havia
sentido esse tipo de raiva antes.
Mas não era apenas raiva. Foi algo muito mais poderoso.
E queimou mais quando vi a ele
Eu tinha que admitir, até que gostei. Esse tipo de poder era algo com
o qual eu poderia me acostumar.
Mas enquanto eu caminhava na direção do desfiladeiro, uma
sensação de pavor me invadiu, lentamente substituindo o poder que eu
começava a sentir.
Keith estava parado no meio de um campo aberto. Seus homens
estavam alertas, prontos para qualquer coisa.
Keith olhou para mim mais uma vez, com um olhar frio. — Nós
chegamos. Se prepare. Os desafios que temos pela frente podem ser
mortais!
Capítulo 6
OS DESAFIOS
Belle

O Rei Lobisomem estava no meio da clareira, com uma mão


levantada no ar.
Não podia ser Corremos todo esse caminho para vir até uma clareira no
meio da floresta?
Um vento suave desceu pelo desfiladeiro e entrou na clareira. Isso fez
com que as folhas das árvores tremessem e meu cabelo balançasse.
O que eu vi a seguir foi hipnotizante.
Do nada, um portal começou a se formar... negro como a noite,
girando com uma intensidade desconhecida que me assustou. Em
segundos, o portal giratório se transformou em uma porta!
— O que é aquilo? — Eu perguntei. O medo estava evidente em
minha voz, assim como uma curiosidade que não consegui mais conter.
Keith se virou para mim com um olhar severo. Seus olhos mostraram
que ele falava sério. E me incluía na aventura.
Este dia está cada vez melhor.
— Esta é a entrada para o Clã Wiccan. Prepare-se. Agora, os testes vão
começar, — ele disse com uma satisfação presunçosa em sua voz.
Eu não sabia nada sobre testes. Se você me perguntasse, toda essa
jornada foi um teste difícil com o qual eu não queria fazer nada. Parte de
mim queria me transformar e simplesmente sair correndo. Se ele me
pegasse, não importaria. Pelo menos eu não estaria indo para onde esse
portal vai nos levar.
Mas e se ele estiver certo? Talvez isso nos dê respostas às nossas perguntas
mais profundas.
Posso saber quem foram meus pais biológicos? Eu não queria jamais
substituir a única família verdadeira que conhecia, mas a possibilidade
era atraente para mim.
Antes que eu pudesse compreender a magnitude de nossa situação, os
homens de Keith abriram a porta e começaram a pular, um por um.
Uma mão agarrou o meu braço e me puxou. Então, o mundo
escureceu ao meu redor. E que sensação foi essa? Estávamos voando?
***

ESCURIDÃO.
SILÊNCIO.
Foi ensurdecedor. Eu senti como se pudesse ouvir tudo e nada ao
mesmo tempo.
Eu estava flutuando. Ou caindo.
Todos nós estávamos. Eu não poderia dizer isso com certeza absoluta.
Mas todos nós pulamos pela mesma porta para este mundo escuro.
Meus sentidos não podiam fazer nada ali. Isso me lembrou de algo
que aconteceu muito tempo atrás, mas eu não tinha certeza do que era.
Essa incerteza agora tinha voltado e se alojava na boca do meu
estômago.
Eu tentei puxar o ar, mas não parecia ser o suficiente.
Keith.
Xavier.
Eu não conseguia nem sentir as palavras se formando na minha boca.
Não adiantaria continuar tentando.
Esse foi um dos desafios sobre os quais fui avisada? Nesse caso,
parecia muito mais psicológico do que físico...
Procurei em minha memória alguma coisa que pudesse me ajudar.
O sorriso e a risada de Sean inundaram a minha mente, me
mandando de volta alguns anos no tempo, quando havia um desafio
muito diferente a ser superado...
Naquele dia em particular, depois de anos de luta, os meus instintos
naturais decidiram entrar em ação. Com a ajuda e orientação de Sean, fui
capaz de me transformar para minha verdadeira forma de loba.
Foi um milagre.
Deusa da Lua seja louvada, foi tudo graças ao meu irmão.
Pensei em como ele me deu os parabéns. Claro, ele não poderia fazer
isso por mim, mas suas palavras foram muito importantes para mim ***
Sean: Eu sabia que você conseguiria!

Belle: Não minta. Isso não combina com você Sean: Sério!
Demorou bastante, mas todos nós tínhamos fé.

Belle: A sorte é que eu tive um bom professor... Obrigada por


acreditar em mim.

Sean: Não só eu. Todo mundo também acreditou. Somos uma


família. Nós cuidamos uns dos outros.

Belle: Mesmo quando eu te irrito?

Belle: A sorte é que eu tive um bom professor... Obrigada por


acreditar em mim.

Sean: Não só eu. Todo mundo também acreditou. Somos uma


família. Nós cuidamos uns dos outros.

Belle: Mesmo quando eu te irrito?

Sean: Mesmo se você for a menor loba da matilha.

Belle: rsrs

Sean: Lembre do que eu te disse. Acredite nos seus poderes... não


importa qual é a luta, você pode fazer qualquer coisa!

Acredite em seus poderes.


E nunca desista.
Eu me concentrei no vazio ao meu redor e respirei lentamente.
Comecei a mover meus braços e pernas, nadando nas marés de ar
parado que me mantinham flutuando.
Aos poucos, pude ver a escuridão iluminando-se. O meu corpo estava
mais pesado, mas foi uma sensação boa. Quem poderia imaginar isso?
Meus braços ainda estavam cansados de correr, mas eu ignorei a dor.
Só mais um pouco...
***

A caverna se encheu com um rugido ensurdecedor quando todos nós


pousamos no chão. Eu abri meus olhos e vi uma luz fraca. As sombras se
moveram.
— Xavier! Belle! — A voz ensurdecedora de Keith reverberou na
caverna.
Ele parecia diferente do que antes. Quase com medo.
Eu sorri. Essa mudança sutil no monstro era nova. Talvez ele não
fosse tão forte, afinal.
Isso seria interessante...
Minha visão se ajustou e eu vi o rei e seus homens deitados no chão.
Eu me aproximei.
Seus olhos estavam fechados, mas se movendo.
Como cachorros sonhando. Filhotes gigantes e fortes.
Até mesmo Xavier parecia estar no meio de um pesadelo, incapaz de
acordar.
— Pelos poderes da Deusa da Lua, o que está acontecendo? — Eu
sussurrei.
Keith e os seus homens pularam de pé. descendo com força. Seus
olhos estavam abertos, mas suas pupilas permaneceram escondidas atrás
de nuvens brancas.
Eles ainda estavam sonhando!
— Eu vejo as criaturas! — um dos soldados gritou. — Elas estão
rastejando nas paredes!
— Prepare-se para o ataque! — Keith gritou.
Olhei ao redor da caverna, mas não vi mais ninguém. Nós estávamos
sozinhos.
Seus homens começaram a se atacar. Eles balançaram
descontroladamente, os punhos acertando carne e osso.
Eu assisti com horror enquanto aqueles que foram enviados para me
proteger nesta jornada, em vez disso, lutavam ao meu redor.
Tentei esquivar dos punhos e chutes rebeldes, e encontrei uma bolsa
no chão. Dentro havia uma lanterna. Verifiquei se estava quebrada.
O vidro estava intacto, assim como a lâmpada. Ainda deve emitir luz!
Eu liguei. O fluído de dentro se transformou. A luz estava fraca no
início. Girei o botão e lentamente, deliberadamente, a luz cresceu.
— Eu não posso pará-los. São muitos! — A voz de Keith rosnou.
Toquei seu braço e ele se encolheu.
— Keith! — Eu gritei.
Ele soltou um rugido enorme que atravessou a caverna e perfurou os
meus tímpanos. Era tão poderoso que até os seus homens pararam de
lutar uns contra os outros.
O seu corpo mudou. Seus olhos se abriram e pude ver as suas pupilas.
Suas grandes mãos roçaram levemente meu rosto.
— Belle? — ele perguntou.
— Olhe em volta. Não há inimigos aqui. Estamos sozinhos, — falei.
Estávamos em uma caverna escura cercada por nada além de pedras
entalhadas.
— Não são inimigos do corpo físico. Mas eles atacaram nossas
mentes, — ele rosnou.
Percebi que Xavier estava de volta ao normal. Ele ajudou os outros
homens, que ainda lutavam para se orientar, tropeçando enquanto se
moviam em seu estado grogue.
Então eu vi algo.
— Lá! Olhem! — Eu exclamei.
Apontei para três túneis do outro lado da caverna. Eles se sentaram
em uma fila, acenando para alguém explorar.
— Como você viu isso? Tudo o que pude ver foi escuridão antes de
você apontá-los, — ele disse, com uma voz confusa.
Eu sorri. Isso era definitivamente interessante.
— Nem tudo pode ser derrotado com força bruta. — Toquei seu braço
e senti a eletricidade passar entre nós. — Você deve se lembrar disso.
Havia suavidade em seus olhos. Ele lambeu os lábios, e eu não queria
nada mais do que encostar aquela língua na minha.
— Só uma bruxa poderia dizer uma coisa dessas, — disse ele, e foi
embora.
Eu fiquei observando, chateada por ele poder dizer algo assim.
Os seus homens estavam olhando para os túneis, farejando, tentando
encontrar o cheiro certo.
— Cuidado. Um passo errado e você pode acabar em queda livre. E
você pode não ter uma bruxa para ajudá-lo a sair disso, — Keith avisou.
Ele sem dúvida gostou da dor que estava me causando. Pensei em
pular por um dos túneis, só para forçá-lo a descer atrás de mim.
Foi quando eu vi a luz tremeluzir. Foi só por um momento. Tão
rápida, fugaz, como um coelho correndo de cova em cova.
Veio do túnel à esquerda!
— Qual nós escolhemos? — Eu ouvi Xavier perguntar.
— O que você vê? — Keith me perguntou.
— Tem certeza de que deseja seguir o conselho de uma bruxa? — Eu
perguntei.
Ele rosnou, esticando a pele ao longo de sua mandíbula esculpida,
mostrando seus belos dentes. Eles ainda estavam na forma de presas,
apenas um pouco mais curtas.
A resposta de Keith foi ordenar a um de seus homens que entrasse no
túnel à direita.
O soldado deu um passo à frente.
Eu suspirei.
— A esquerda! É o da esquerda, — avisei.
Keith olhou para mim mais uma vez. O rosnado mudou para um
sorriso completo.
Ele se virou e acenou com a cabeça para o soldado. Ele foi para o túnel
da esquerda, desconfiado do que poderia encontrar.
Seu corpo desapareceu na escuridão.
A tensão aumentou nos momentos em que ele estava longe. Então,
algo aconteceu.
Ele voltou para a caverna.
— Por aqui! — ele exclamou.
Logo, todos haviam atravessado o túnel, exceto eu e Keith. Ele
estendeu o braço, impedindo minha entrada.
— Obrigado, — disse ele gentilmente.
Sua educação direta me tirou o fôlego. Não que houvesse muito ar
nesta caverna, para ser sincera...
Eu olhei em seus olhos, sem saber o que dizer.
— Você salvou os meus homens. E, por isso, você me salvou de
cometer um erro terrível, — admitiu. — Pense no que aconteceria se
você me ouvisse o tempo todo, — eu disse timidamente.
Sua linguagem corporal era diferente. Mais aberta, receptiva.
Eu me vi dando um passo em direção a ele. Sua atração magnética era
quase irresistível, não importa o quanto eu tentasse.
Seus olhos se fixaram nos meus enquanto nossos lábios se moviam
um em direção ao outro. Mais uma vez, senti aquela sensação de queda.
Foi inesperado, mas de alguma forma, eu aceitei.
Então, ele se afastou.
— Que diabos? — Eu disse, a frustração óbvia em minha voz.
— Eu não sei o que você faz comigo, — ele rosnou.
— Por que isso importa? — A questão era tanto para mim quanto para
ele.
— Porque não pode ser. Não deveria ser. Mas não sei o que mais isso
poderia significar. Nunca senti isso antes. Com nenhuma outra mulher.
Ele quis dizer isso, mesmo? Eu tive o desejo de pular em seus braços.
— O que quero dizer, Belle, é que acho que você pode ser minha...
Sua voz foi cortada quando um flash de luz alcançou a caverna.
Uma voz feminina encheu nossos ouvidos, causando arrepios nas
minhas costas.
— Bem, se não é o Rei Lobisomem.
Eu me virei para olhar para a dona da voz. Ela era bonita. Esbelta e
frágil, com cabelos brancos que quase pareciam emanar sua própria luz.
— Tessa. Estou feliz em ver você. Nós precisamos da sua ajuda.
Ele disse o nome dela, e o calor que senti em meu estômago se
transformou em lava derretida.
Agora, ele precisa da ajuda dela?!
Meu corpo ficou rígido. Perdi a sensação de meus pés tocando o chão.
Os olhos de Keith estavam arregalados de admiração. Achei que podia
até ver uma centelha de medo. Tessa olhou com um sorriso.
Isso me irritou ainda mais.
Levitei mais alto do chão, flutuando como um balão pronto para subir
às nuvens. Uma pulsação em meus membros combinava com a batida de
meu coração.
Eu podia ver minhas veias ficando azuis. Elas se contorceram como
cobras sob minha pele. Então, comecei a brilhar com uma luz
sobrenatural.
— Parece que ela vai explodir! — Keith engasgou. Seu medo
alimentou a minha força.
O fogo ardente no interior do meu corpo começou a passar pela
minha pele.
Um flash ocorreu, invadindo toda a caverna com o meu incêndio.
Naquele momento, como o clarão de uma bomba, tudo ficou branco.
Capítulo 7
ALGUÉM MUITO ESPECIAL
Keith

A luz estava me cegando. Eu cobri os meus olhos para protegê-los do


flash.
Eu mal podia acreditar no que estava vendo. Mas nós já havíamos
passado por tanta coisa.
No entanto, lá estava ela.
Levitando.
Fogo azul emanando de suas veias e pele, pulsando ao som de um
tambor invisível.
— Interessante. — Tessa, a Sacerdotisa Wiccan, olhou como se isso
fosse puro entretenimento.
— O que está acontecendo? Pare com isso! — Eu implorei.
— Em tempo. Tudo no seu tempo, — disse ela.
— Nós não temos tempo a perder! — Eu avisei.
Eu vi Tessa levantar as mãos e começar a cantar. As palmas das mãos
estavam abertas, apontadas para Belle. Suas palavras retumbaram, mas eu
nunca fui capaz de decifrar os cantos.
Lentamente, o brilho que saía dela começou a diminuir. Eu pude
finalmente olhar para Belle e ver toda a sua glória.
Ela era de tirar o fôlego. Meu desejo de estar com ela estava mais forte
do que nunca. Meu coração batia com tanta velocidade que eu me
perguntei se havia absorvido algo dela.
Quando ela se aproximou do chão, suas veias voltaram ao normal.
Sua pele vibrante e brilhante se tornou o que eu já conhecia... tão bonita
como sempre.
Peguei o seu corpo em meus braços enquanto ela flutuava
suavemente para baixo.
Seus olhos estavam abertos, mas ela estava cansada, esgotada por
causa dessa explosão.
Eu queria beijá-la, tirá-la desse estupor e trazê-la de volta ao mundo
real.
Eu podia sentir Tessa olhando para nós.
— O que acabou de acontecer? — Eu perguntei.
Tessa continuou a olhar, com um leve sorriso esboçado em seus
lábios.
— Nós acabamos de testemunhar algo incomum, — disse ela.
— Não me diga! Por quê você acha isso? — Eu gritei.
Os olhos de Tessa encontraram os meus. Eles eram penetrantes. Mas
eu sabia que conseguia manter o meu olhar firme.
Eu precisava de respostas.
— Quando dois seres poderosos se unem, pode haver uma grande
reação. Alguns efeitos colaterais, digamos assim.
— Isso foi apenas um efeito colateral?
Minha mente estava a milhão. Nenhum lobisomem poderia fazer isso.
Então, novamente, eu sabia que ela não era um lobisomem.
Eu sentia a diferença nela. Era algo escuro e sinistro, fazendo com que
os meus sentidos se agitassem em alarme, a cada nova respiração.
Seria possível que ela tivesse magia negra pulsando nas veias?
Enquanto eu observava Belle, pude ver uma névoa clara em seus
olhos. Ela primeiro olhou para mim, com cautela. Então, começou a
sorrir.
A sua mão se estendeu para acariciar o meu rosto.
Enterrei meu queixo nela.
O toque enviou arrepios por todo o meu corpo.
Cada vez que nos tocávamos, era uma sensação elétrica.
Depois de ver aquela cena, era como se eu pudesse seguir o caminho
de cada elétron conforme ele passava pelo meu ser.
— Eu sinto muito. Eu nunca vou deixar isso acontecer novamente, —
eu disse a ela.
— Se há algo que aprendi com isso, é que nunca podemos dizer
nunca. — Ela sorriu de novo e meu coração pulou no peito.
Sua fria incerteza em relação a mim estava começando a derreter? Eu
podia sentir as mesmas emoções acontecendo por dentro.
Eu a queria.
Precisava dela.
Eu balancei a minha cabeça para espantar esses pensamentos, e a voz
de Tessa ecoou, matando o meu devaneio.
— Siga-me até os meus aposentos. Temos muito o que discutir, —
disse Tessa, antes de desaparecer pelo túnel, seguida dos meus homens.
Eu podia ver os olhos de Belle se fechando na névoa, cheios de
cansaço.
Seguindo Tessa dentro do túnel, eu agarrei minha Belle com força,
não querendo nunca soltá-la.
Os aposentos de Tessa cheiravam a mel e baunilha com toques de
canela.
Belle estava deitada em uma espreguiçadeira que era quase maior que
ela. Sem dúvida, era muito mais confortável do que o último lugar em
que a forcei a dormir.
A minha própria incerteza e medo a enviaram para a masmorra. Se o
Lorde Demônio estava procurando por ela, nenhum lugar poderia ser
seguro. Nem mesmo o meu castelo.
Como pude tratá-la assim?
Não era a segurança dela que me preocupava, mas a minha.
Os lobisomens confiaram no meu instinto, determinação e
implacabilidade. Eu segui meu instinto, como sempre faço.
Mas agora as coisas estão incertas, e aqui estava eu, nos aposentos de
uma sacerdotisa Wiccan, observando a minha...
Não! Ela não era minha. As minhas próprias ações provaram isso.
Eu sabia que os meus homens estavam seguros. Passamos por eles no
caminho e os ouvi conversando na sala jovial onde haviam comido e
estavam descansando, desfrutando da pequena pausa antes da próxima
parte de nossa jornada.
Sem dúvida, seria tão assustador.
Eles estavam lutando por uma causa perdida? Eu tentei afastar a
minha ansiedade e inalei o aroma calmante que encheu a sala.
— A energia dela está baixa, — disse Tessa.
— Depois do que vimos, estou apenas grato que ela esteja viva, —
respondi.
Tentei lavar minhas preocupações com um gole de água. Matou
minha sede, mas não diminuiu o mal-estar.
— Isso foi apenas uma amostra do que está dentro dela, — Tessa disse
com um sorriso.
Eu ouvi as palavras e meus olhos se arregalaram. — Aqueles não são
os poderes completos dela? — Tessa balançou a cabeça, mexendo seus
longos cabelos brancos de um lado para o outro. Como alguém que
parecia tão jovem poderia saber tanto?
— Não me enrole. Não podemos perder mais tempo, — insisti.
— Meu querido, querido Keith. Ela está descansando, — ela me
assegurou.
— E o Lorde Demônio está procurando por ela. Não quero ver o que
vai acontecer se ele a encontrar. — A minha voz mostrava a urgência da
situação.
— Claro que você não quer ver o que vai acontecer. Mas você vai, —
disse Tessa.
Que bruxa mais presunçosa.
— Quando eu olho para ela, a atração da prometida é quase
insuportável, — eu disse, sentindo o medo cada vez mais profundo pelo
meu corpo.
Eu não conseguia mais conter os meus sentimentos. Se houvesse
respostas, eu precisava saber.
O futuro de toda a nossa espécie pode estar em jogo.
Tessa não respondeu imediatamente, então continuei. — Ela não é
um lobisomem. Até aí, eu já sei. Eu consigo sentir o cheiro da minha
própria espécie. Mas ela...
Eu olhei para aquela beleza angelical dormindo na espreguiçadeira.
— Ela é algo diferente. — Tessa tirou as palavras da minha boca.
Eu balancei a cabeça e me inclinei para frente. — Se o que eu sinto é
correto e ela é minha prometida... como isso é possível? Nunca houve um
vínculo entre espécies diferentes.
Tessa olhou para Belle, examinando o seu corpo da cabeça aos pés. O
suspense foi difícil de suprimir, pois eu também me vi observando a bela
mulher que estava descansando na minha frente.
Tessa finalmente olhou para mim, os seus olhos não revelavam nada.
Ela simplesmente deu de ombros.
— Isso depende exatamente do que ela é.
Belle

Nunca diga nunca.


Parecia tão clichê. Mas às vezes as coisas mais clichês continham o
maior mistério.
Acordei da névoa dos sonhos deitada em uma espreguiçadeira, dentro
de uma sala pitoresca iluminada por velas e cheirando a paraíso.
Eu morri?
Rolei e vi uma pequena mesa com comida e bebida. A visão fez a
minha boca salivar. Deusa da Lua, fazia muito tempo desde a última vez
que comi.
Eu levantei e percebi uma movimentação.
Sentada no canto da sala estava a mulher de cabelos brancos. Keith a
chamava de Tessa.
Eu podia sentir o sangue ferver sob minha pele. Isso me fez pensar. O
que acabou de acontecer comigo? Parecia que há momentos atrás eu
estava...
Levitando.
Levantei-me da espreguiçadeira e a minha cabeça girou. Depois de
tropeçar um pouco, me vi sentada de volta na espreguiçadeira.
— Por favor. Não se preocupe. Sem pressa.
Você já passou por muita coisa, — Tessa disse calorosamente.
Eu zombei de suas gentilezas, mas o latejar da minha dor de cabeça
denunciou os meus verdadeiros sentimentos.
Eu me senti cansada. Exausta, para ser sincera.
Mas, ao mesmo tempo, eu poderia dizer que havia uma nova presença
em meu ser — algo quente e satisfatório, embora um pouco inquieto. Eu
tinha acabado de ganhar na loteria mundial e não sabia o que fazer a
seguir.
— Posso comer um pouco? — Eu perguntei.
Tessa sorriu. — Por favor. E seu. Faça o que achar melhor.
Seu cabelo branco a fazia parecer experiente e majestosa, mas o seu
rosto era diferente. Emanava juventude e vida.
Eu sabia que havia mais complexidade nela. Afinal, essa era a lendária
Sacerdotisa Wiccan. Aquela que alguns arriscam a vida para ver.
Mas o que ela realmente sabia? Eu não refleti muito, e deixei esse
pensamento escapar.
Nada que eu achasse importava mais. Eu vivia em um mundo onde
todos precisavam de algo de mim, mas eu não tinha voz.
Parece certo...
A minha boca não conseguia impedir a entrada de comida e bebida.
Eu estava faminta. Comi até o meu estômago não aguentar mais.
Tessa assistiu em silêncio.
Ela sempre olha com tanta precisão e compreensão?
Quando terminei de encher o bucho, afastei meu prato e olhei para
Tessa.
— Não é educado ficar encarando, — eu disse friamente.
Aquele sorriso fino se espalhou pelo seu rosto. Pensei em Keith
dizendo o nome dela e cerrei meus punhos com raiva.
— Encarar significaria que estou vazia, de olhos arregalados. Estou
apenas te observando, — respondeu ela.
— E eu estou simplesmente chateada.
Olhe parei mim! O que aconteceu dentro de mim que me deu uma força
sobrenatural?
Pensei na explosão de Keith e não pude deixar de sorrir. Talvez ele
estivesse encantado por mim.
— Keith está com os seus homens planejando a próxima etapa da
jornada de vocês. Ele vai voltar em breve, — ela me assegurou.
— Como você sabe? — Eu retruquei.
Tessa se levantou. Eu pulei da cadeira instintivamente. Se ela quisesse
uma luta, eu estaria pronta.
— Você fez uma exibição e tanto para nós, mais cedo. Esgotou toda a
sua energia. Espero que você tenha achado essa comida rejuvenescedora.
— Cinco estrelas, — eu disse com um sorriso.
— Apenas cinco estrelas... dentre as incontáveis que estão espalhadas
por todo o nosso universo? — Os olhos de Tessa mostraram uma
curiosidade genuína, mas o seu sorriso constante me disse que ela
sempre sabia mais do que aparentava.
Ela encolheu os ombros. — Bem, acho que cinco estrelas bastam.
Eu gostava da companhia dela, mas sentia que a minha paciência
estava se esgotando.
— Eu quero ver o Keith, — exigi.
— Eu te disse, ele vai voltar em breve. Mas eu também gostaria de ver
algo. Mostre-me o seu lobisomem.
Eu não podia acreditar que essa bruxa iria me dar ordens. Se um
lobisomem era o que ela queria, então ela teria.
Eu me concentrei com força e encontrei a energia que havia se
dissipado horas atrás. Em poucos instantes, eu tinha me transformado de
uma mulher ruiva para um lobisomem.
Eu rugi com toda a força dos meus pulmões.
— Oh, nossa! — ela engasgou.
Eu me deliciei com a sua surpresa. Essa era a minha verdadeira forma,
e eu queria que ela visse. Eu queria que ela tivesse medo.
Mas aquele sorriso voltou tão rápido para o rosto dela, que fiquei
pasma.
— Bem, você não é um lobisomem, — ela disse calmamente.
Cada grama de coragem foi sugada do meu corpo. Flexionei os meus
músculos novamente e dei um rugido ainda mais alto. As minhas presas
pingavam saliva enquanto eu olhava para a Sacerdotisa Wiccan.
— Mas devo dizer que você dá uma impressão muito boa. Diga-me, se
você é um lobisomem, como consegue manter as suas roupas? — ela
perguntou.
É verdade, eu era o único lobisomem que conhecia que conseguia se
transformar e ficar totalmente vestida. Não foi um acaso. Eu era
simplesmente muito boa.
— Eu chamo isso de habilidade. — Agora, foi minha vez de sorrir,
mais uma vez mostrando as minhas presas.
— É uma habilidade maravilhosa. Mas isso não vem de um
lobisomem. Nem mesmo uma bruxa poderia fazer isso. Não. o seu poder
vem de algo totalmente diferente. Algo que eu nunca vi em todos os
meus anos de vida.
O espanto em sua voz me pegou desprevenida.
Eu não conseguia compreender as palavras que ela dizia. Mas o que
veio a seguir me atingiu como um touro bravo.
— Você é única, Belle. Alguém muito especial.
Capítulo 8
INSTINTOS CARNAIS
Keith

Ela estava flutuando no ar.


Brilhante.
SPLASH!
Peguei água de uma pequena bacia e joguei no rosto. Foi legal,
refrescante. As gotas correram pelo meu rosto, como se pudessem lavar
as memórias.
Mas elas ainda estavam lá. Flutuando em minha cabeça. Assim como
ela tinha estado naquela caverna...
Eu podia sentir a minha respiração ficando pesada. O sangue
congelava pelo meu corpo só de pensar naquele brilho.
E agora, eu não conseguia nem respirar sem pensar nela.
Meus aposentos estavam vazios. Havíamos conversado sobre a
próxima etapa da nossa jornada e o que isso poderia significar.
Xavier me disse que vários dos homens tiveram visões ruins. Flashes
de algo mal invadindo os seus pensamentos.
Não poderia ser pior do que o que vimos na caverna. Ou melhor, o
que não vimos...
Eu era impotente para fazer qualquer coisa por eles. Nós estávamos
nos atacando, acreditando que as sombras de nossos próprios camaradas
eram o inimigo.
Eu não poderia imaginar o que teria acontecido se não Belle não
tivesse nos salvado...
Ainda assim, o rosto que eles disseram ter visto... olhos vermelhos
brilhantes pendurados acima de um sorriso sinistro. Dentes brancos os
seduzindo, chamando para perto.
Eu disse a eles para descansarem, que essas visões eram apenas efeitos
colaterais do nosso desafio anterior.
Eles entenderam que esse poderia ser o nosso único descanso antes
que as coisas realmente ficassem feias. Todos nós precisávamos tirar as
nossas mentes do presente.
Eu sabia que isso me incluía.
Mas eu simplesmente não conseguia afastar esse sentimento. Ver a
Belle assim me surpreendeu como nunca. Eu nunca soube que era
possível sentir isso por outro ser.
E quando ela olhou nos meus olhos...
Quando ela estendeu a mão e tocou o meu rosto...
ROAR!
Eu bati meus punhos na mesa de madeira, a bacia caiu e derramou o
resto da água.
Como eu poderia proteger os meus homens e me preparar para o pior
quando não conseguia nem mesmo controlar os meus próprios desejos?
Eu precisava pensar, então saí da sala e vaguei pelo labirinto que era
esse clã.
Apesar do clã ser povoado por várias bruxas, eu tinha os corredores
vazios só para mim e logo me perdi.
Minhas narinas entraram em modo de alerta, tentando detectar o
mais leve cheiro que poderia me dar uma pista para onde ir. Meus vastos
sentidos foram capazes de dividir as partículas, me fazendo separar cada
cheiro uns dos outros.
Madeira Baunilha. Mel. Lavanda. Cardamomo.
Esses eram todos os produtos básicos que eu sentia enquanto
caminhava por esses corredores. Alguns cheiros de vegetais salteados.
Um odor aleatório de perfume...
Mas outra coisa invadiu minhas narinas. Um cheiro terrivelmente
familiar.
Estranho.
Segui algumas curvas nos corredores antes de encontrar uma porta
aberta.
A luz tremeu dentro das chamas oscilantes das velas. Contra o meu
próprio pressentimento, empurrei para dentro.
O quarto era muito parecido com o de Tessa: pitoresco e
aconchegante, com um toque rústico. Uma estrela Wiccan estava
pendurada na parede oposta. Abaixo dela, sobre uma mesa de madeira,
havia um livro aberto.
Um livro de magia.
Fui até o livro e quase toquei nas páginas, mas retirei a minha mão.
Uma versão mais jovem de mim teria sido muito curiosa. Ele teria tocado
as páginas e sido submetido a qualquer feitiço que protegesse este objeto.
— Parece que o meu desejo se tornou realidade, — disse uma voz de
mulher.
Virei-me para ver uma mulher esguia e bonita com olhos azuis
inebriantes. O cabelo dourado caía sobre um dos ombros em uma trança
esticada, serpenteando pelo peito.
— Olá. Daisy, — eu disse, tentando esconder a paixão crescendo
dentro de mim.
Eu não a via há anos. Tínhamos nos encontrado na primeira vez em
que fui incumbido de encontrar o clã e participar dos desafios.
Daisy tinha o dom de manipular a mente... se é que se pode chamar
isso de dom.
Ela se encarregou de nos dar os desafios antes de sermos autorizados
a entrar.
E agora, ela estava sorrindo. Que linda.
Mas tudo que eu conseguia pensar era no corpo de Belle, flutuando
com a energia. Como ela nos salvou de nossos pesadelos...
— Você está procurando por algo? Ou alguém...? — Ela perguntou,
movendo-se mais para dentro da sala.
Seus grandes quadris balançavam com os seus passos. Eu podia sentir
o cheiro dos feromônios exalando de seu corpo.
— Eu não conseguia dormir e pensei que uma caminhada rápida seria
suficiente. — Isso era verdade.
Sim, eu tinha seguido o meu nariz. Assim como sempre sigo meus
instintos.
Mas o que exatamente me trouxe até aqui?
— Ler sempre ajuda a me acalmar, — disse ela com ar de satisfação.
Com o aceno de um dedo, o livro se fechou.
Daisy se aproximou. A cada passo que ela dava em minha direção o
meu desejo aumentava ainda mais.
— Espero que os desafios não sejam muitos. Achei que um pequeno
teste psicológico seria suficiente. Na verdade, por um momento
pensamos que você não sobreviveria, — ela brincou.
— Uma bruxa se preocupando com um lobo? — Eu respondi.
— Não com qualquer lobo. O rei, — ela disse, com luxúria palpitando
em sua respiração.
Enquanto ela circulava pela sala, eu encarava os seus movimentos.
Daisy sempre foi de flertar. As poucas vezes que nos encontramos sempre
foram uma aula magistral de sedução.
Era difícil resistir a ela.
— Felizmente, você e seus homens tinham aquela garota para ajudar.
Quem sabe o que teria acontecido se não fosse por ela... — ela disse,
astutamente.
Eu agarrei seus ombros suavemente e abaixei meu rosto para
encontrar o dela. Nossos lábios se tocaram. Ela devolveu o beijo,
intensamente.
Suas mãos tocaram o meu corpo. Nossas paixões se misturaram, se
multiplicando.
Eu a beijei com mais força.
Foi quando eu pude sentir o cheiro de outra coisa.
Meus olhos se abriram e vi uma forma nos observando da porta.
Belle

Passei a escova no cabelo, observando cada mecha penteada.


Sim, era o mesmo cabelo. Se o espelho mostrava a verdade, eu me via.
E o meu rosto era o mesmo.
Cada centímetro do meu corpo externo, na verdade, permaneceu
inalterado.
Mas algo lá no fundo de mim estava lentamente subindo à superfície.
Era como se minhas moléculas estivessem se remodelando com uma
força sobre a qual eu não tinha controle.
Acima de tudo, era bom.
Larguei a escova e me levantei para ir em direção à porta. Tudo
aconteceu tão rapidamente.
A minha explosão brilhante.
Sendo carregada em seus braços.
O poder que senti quando Tessa me disse que eu era única.
Não pude deixar de pensar na minha família. Apenas alguns dias
atrás, eu era a filha do lobisomem alfa da matilha.
Eu podia ver o sorriso estúpido de Sean enquanto ele ria da minha
forma fraca de lobisomem.
Ele costumava correr no máximo de sua velocidade, olhando para trás
com uma expressão zombeteira enquanto eu me arrastava, fazendo o
meu melhor para mantê-lo à vista.
Depois de finalmente me recuperar, ele me deixava descansar com ele
enquanto mastigava a presa que já havia caçado enquanto esperava pela
minha chegada.
E agora, nem uma sacerdotisa Wiccan poderia explicar o que eu era.
Ou ela estava escondendo algo? Não parecia, mas depois desta noite,
eu passei a especular.
Às vezes, a vida era simplesmente estranha.
Eu me vi sozinha nos corredores. Havia uma luz fraca emitida de uma
sala no final de um longo corredor.
Talvez eu pudesse ver um rosto amigável para distrair a minha mente
do ciclone que havia se tornado minha vida.
Ao me aproximar, ouvi barulhos. Fracos no início, mas eles ficavam
mais fortes a cada passo que eu dava.
Quando Cheguei à porta aberta, espiei e segurei a respiração.
Duas figuras, uma masculina e uma feminina, estavam deitadas em
um sofá, no meio da sala. Seus membros estavam entrelaçados enquanto
eles se beijavam apaixonadamente.
Eu podia sentir as minhas pupilas dilatarem e a saliva encheu a minha
boca.
Uma parte de mim queria estar com eles. Para esquecer o pouco que
eu sabia e me perder nos desejos carnais que vinha sentindo cada vez
mais, ultimamente.
Mas havia algo no homem que me parecia familiar. Seus rosnados
apaixonados encheram o meu cérebro e fizeram os meus pensamentos
ficarem confusos.
Eu me peguei entrando na sala por uma atração irresistível que não
consegui evitar. Fiquei quieta, mas não o suficiente.
O homem se afastou da mulher.
Os olhos de Keith encontraram os meus.
O monstro!
Naquele momento, eu fugi da sala. Meu corpo ainda estava cansado,
mas meus pés me carregaram rapidamente, corredor após corredor.
Lágrimas surgiram nos meus olhos, tornando os meus movimentos
repentinos ainda mais incertos. Eu não me importei.
Aquele bastardo não estava longe de mim há mais do que algumas
horas e já havia encontrado outra pessoa para apaziguar os seus desejos
insaciáveis.
Eu podia ouvi-lo correndo atrás, chamando meu nome.
Depois de mais uma curva, encontrei um lance de escada e subi até o
topo.
Eu entrei em uma sala. Estava vazia.
Ótimo, que sorte a minha!
Pensei no que poderia dizer a ele. Como gostaria que minhas mãos
apertassem a garganta daquela bruxa.
Então, eu vi a porta.
Estava encostada na parede oposta da sala. Ela sempre esteve lá?
Dei alguns passos à frente e observei com admiração enquanto ela se
abria.
Os passos de Keith fizeram barulho nos degraus atrás de mim. Eu
podia ouvi-lo tentando abrir a maçaneta, mas por algum motivo, ela
estava trancada.
BAM!
Eu podia ouvi-lo batendo na porta.
Meus pés continuaram. Essa força invisível que eu sentia estava me
puxando mais uma vez.
À distância, pensei ter visto pontos vermelhos brilhantes, como olhos
flutuando na escuridão. Eles estavam acompanhados por um sorriso
lindamente perverso.
Mas eu já tinha passado pela porta. Ele havia se fechado atrás de mim.
E assim, como se o sol tivesse sido soprado do pavio de uma vela, eu
estava na escuridão total.
Keith

A porta estava trancada, mas eu sabia que ela estava lá dentro. Eu


podia sentir o cheiro dela, e isso me deixou louco.
Eu traí os meus próprios sentimentos por ela. Tentei afogá-los usando
os beijos de outra mulher.
Ao fazer isso, eu decepcionei a única pessoa com quem realmente
desejava estar.
Tentei arrombar a porta jogando o peso do meu corpo sobre ela.
BAM!
A porta tremeu, mas permaneceu intacta. Pela primeira vez, a minha
força parecia ter me deixado na mão.
Eu cerrei meus dentes e me joguei mais uma vez. Com uma explosão
extra de raiva, a porta explodiu.
Eu caí na sala e, em seguida, tropecei nos meus próprios pés. Uma
porta do outro lado se fechou com um clique.
Corri até essa porta, mas para minha surpresa, ela não estava mais lá.
Quando olhei em volta, pude sentir meu coração derreter.
Não havia mais porta.
A sala estava completamente vazia.
Annabelle se foi.
Capítulo 9
PORTA DO DESTINO
Keith

Especial?
Eu podia ouvir essa palavra ecoando em meu cérebro.
— Você disse que ela era especial? — Eu questionei Tessa quando ela
se sentou na minha frente.
Eu não acreditava no que estava ouvindo. A Sacerdotisa achou que
era uma boa ideia dizer à Belle, a recompensa premiada do submundo,
que ela era especial?
Uma bruxa é capaz de bagunçar até mesmo o mais simples dos
planos.
— Você mesmo viu. Negar não vai adiantar nada, — disse Tessa, com
um traço de aborrecimento em sua voz.
A raiva correu pelo meu sangue, mas com ela veio também uma
compreensão inquietante.
Não foi a Tessa que empurrou Belle para longe. Eu sabia que tinha
sido eu...
— Acalme-se, Rei, — Tessa avisou. — A raiva não vai te ajudar agora.
Precisamos trabalhar juntos para encontrá-la.
Foi a primeira vez que ela pareceu honesta desde que chegamos. Se eu
a pressionasse, talvez pudesse obter mais informações.
Eu preciso de mais.
— Fale-me de novo sobre essa porta que você viu, — ela perguntou.
Havia um borrão na minha mente, mas fiz o meu melhor para contar
tudo o que aconteceu.
Como Belle me viu com Daisy, fugiu pelo corredor com uma
velocidade repentina que eu não consegui alcançar, e a porta mágica se
fechou no momento em que entrei na sala.
Então, ele desapareceu bem diante dos meus olhos.
Tessa olhou para mim com uma admiração genuína. Algo brilhou
atrás de seu olhar, e eu sabia que ela entendia mais do que estava
deixando transparecer.
— Diga-me o que você fez com ela, ou vou derrubar todo este lugar!
— Eu disse com um rosnado. — E você sabe que eu consigo.
— Mas você não vai, — ela me assegurou.
Sua resposta direta me pegou desprevenido.
Tentei encontrar uma réplica, mas a raiva afastou as palavras.
— Você veio nos pedir ajuda. Você precisa de nós para encontrar
Annabelle. E não temos motivo para não te ajudar. É do nosso interesse
encontrá-la, e rapidamente.
Louvada seja a Deusa da Lua! Pela primeira vez, Tessa estava
realmente fazendo algum sentido.
— Então, traga a porta de volta e vamos encontrá-la! — Eu insisti,
com uma esperança crescendo na minha voz.
— Meu caro Keith, não havia nenhuma porta lá, — ela disse,
simplesmente.
Eu podia sentir a minha boca aberta, emudecida por esse comentário.
Talvez não houvesse uma porta lá agora, mas eu tinha visto uma. De
que outra forma ela poderia ter atravessado?
— Que diabos isso significa? Você não acredita em mim? Eu não estou
mentindo. Eu não sou louco.
Eu vi com meus próprios olhos!
— Você não é louco. Eu acredito que você realmente viu a porta. Mas
nós não a colocamos lá e a passagem não pode ser aberta. Por ninguém
daqui, — disse ela.
Essa frase não fazia sentido. Agora, eu estava começando a me
perguntar quem era realmente louco!
Mesmo com meus olhos perplexos olhando para ela, ela continuou.
— Aquela porta que você viu é a Porta do Destino. Foi colocada lá
pela Deusa da Lua e não pode ser aberta ou fechada a menos que isso seja
ordenado pelo destino.
— Como você sabe disso? — Eu perguntei, duvidando.
Tessa olhou para mim com um peso que eu nunca tinha visto em
nenhuma Sacerdotisa.
Seus olhos revelaram muitos anos de tristeza reprimida que se
espalhou pela sala enquanto estávamos sentados, olhando um para o
outro.
— Eu sei disso porque já aconteceu antes. A Porta do Destino se
mostrou a nós apenas uma outra vez. Essa foi a última vez que eu vi a
minha filha, Shea.
A voz de Tessa vacilou e seus olhos desviaram o olhar.
Suas palavras se acomodaram em meus ombros com um peso que
pensei que não pudesse suportar. No entanto, era algo com que ela
conviveu todos os dias pelo resto de sua vida.
E a vida de uma bruxa era algo que não acabava facilmente.
A compostura de Tessa era impressionante. Por que eu não conseguia
mostrar esse autocontrole quando as coisas ficavam complicadas?
Eu podia ouvir o comentário que a Belle fez mais cedo.
Nem tudo pode ser derrotado com força bruta.
Então, por que essa é a única coisa que eu sei usar?
Tessa continuou com a sua história.
— Procurei por ela em todos os lugares. Todas nós tentamos. Até dei
meu sangue à Deusa da Lua como um sacrifício pelo retorno seguro de
Shea. Como último recurso, eu trouxe meu irmão Tannon para ajudar na
busca. Seus poderes como feiticeiro são imensos e incomparáveis.
O olhos dela desviaram dos meus. Uma lágrima brilhou, mas não caiu
pela sua bochecha.
Essa compostura de aço mais uma vez...
— Mas, nem mesmo ele poderia ajudá-la, — disse ela com tristeza.
Finalmente, ela olhou para mim e eu não aguentei mais. Levantei-me
e flexionei todos os músculos do meu corpo, esperando que o esforço
aliviasse minha tensão.
Não funcionou.
— Então, acho que você está me dizendo que acabou? — Eu
perguntei, sentindo a raiva subir pela minha garganta. Eu podia sentir o
gosto na boca, ácido como bile.
— Não. Esperamos muito por Shea, pensando que algum tempo era
tudo o que precisávamos. Quando a busca começou, já era tarde demais.
— Mas Belle apenas desapareceu. Se você conseguir chegar a Tannon,
ainda há uma chance de encontrá-la.
— Se eu conseguir chegar ao Tannon? — Eu repeti. Isso não parecia
bom. — Onde exatamente ele está?
Tessa se levantou de sua cadeira, mantendo-se com uma postura que
apenas uma bruxa poderia possuir.
— Meu irmão pode ser encontrado nos Alpes. Mas já te aviso, não
será fácil.
Eu não pude deixar de rir. Nada nunca foi fácil...
— Esta jornada apenas começou, Rei Lobisomem. Annabelle está no
caminho. Agora, é hora de você seguir o seu próprio destino.
Belle

Eu não poderia dizer para onde aquela porta tinha me levado. A


escuridão, aquela amiga que eu aprendi a reconhecer, me envolveu assim
que a porta se fechou.
Com um movimento lento, a luz começou a preencher a escuridão.
Mas não foi natural. Algo sobre o brilho me fez sentir como se eu
estivesse em um sonho.
Uma névoa moveu-se com vida própria. Como uma neblina fresca
soprando pela terra, permiti que ela me engolisse.
O vento soprando puxou as mechas do meu cabelo. Eu fui em direção
a essa sensação e logo me encontrei em uma clareira gigante.
Um sol invisível lançou sua luz de cima, fazendo com que o prado
brilhasse.
Mas isso não podia ser real. Deve ser um sonho! O sonho mais
realista que já tive.
Foi quase revigorante.
A beleza infinita desse campo foi coroada por um lago, bem no meio
de tudo. A brisa que eu seguia antes já tinha sumido.
A água do lago estava tão parada quanto as rochas em sua margem.
Eu me movi em direção à água, de repente, sentindo muita sede. Se ia
haver uma chance de me refrescar, tinha que ser agora.
Ao me aproximar, percebi algo novo.
Algo chocante.
Uma sombra estava flutuando sobre a água. Eu esfreguei os meus
olhos. A sombra parecia ter a forma de uma criança pequena, pairando
alguns centímetros sobre o centro do lago.
Ela sentiu a minha presença. Eu podia sentir isso me observando,
estudando. A cabeça da criança-sombra — se é que cabeça fosse a palavra
certa — estava inclinada para o lado.
— Você veio, — ela gritou para mim em uma voz sobrenatural, mas
infantil.
Olhei em volta por instinto, embora soubesse que estava sozinha.
Algo dentro de mim me disse para me aproximar, mas a água garantiu
que eu me mantivesse à distância.
— Não sei onde estou, — disse eu.
Talvez ela possa me mostrar o caminho.
— Você está aqui, — ela me assegurou.
Bem, isso era bastante evidente.
Ela continuou: — Está destinada que você seja prometida.
Meus ouvidos se aguçaram com o som dessa palavra.
Prometida.
Eu estava tão desorganizada mentalmente, que quase esqueci o que
me trouxe até aqui.
Eu pude ver o Keith em cima daquela bruxa e meu sangue começou a
ferver. Eu segurei a minha raiva, respirando fundo.
— Quem será o meu prometido?
Por favor. Meu corpo anseia por ouvir o nome do homem que me
capturou.
Que me empurrou para sua masmorra e, de alguma forma, conseguiu me
conquistar várias vezes com seu toque.
Seu olhar.
Seu cheiro.
— Você vai se juntar a um grande rei, — a criança sombra disse.
O ritmo do meu coração aumentou. Então, a profecia não era
mentira! Se eu fosse ficar com um rei. isso poderia significar apenas uma
coisa, não é mesmo?
— Um rei. Você quer dizer Keith? — Eu perguntei, com urgência.
A criança-sombra acenou com a cabeça.
Eu estava tão perto da resposta. Eu quase podia sentir o gosto da
língua daquele monstro na minha.
Se eu o visse novamente, eu o abraçaria com força, nunca deixaria o
seu cheiro sair do meu corpo.
Então, a sombra começou a balançar a cabeça.
— Ou o Rei Demônio... Ou o Rei Vampiro... Quem marcar você
primeiro.
Meu coração revirou na boca do estômago. Afastei-me da criança e
pude ver algo no horizonte.
Estava escuro, contra a luz brilhante do céu. A escuridão se
aproximou e ficou claro que o que eu estava vendo eram mais sombras.
A presença delas foi ótima. À medida que se aproximavam, o brilho do
sol começou a diminuir, transformando o dia em noite.
Logo percebi que a nuvem no céu era feita de sombras, assim como a
criança na água.
E aquelas sombras estavam voando direto para mim!
Todas as minhas esperanças afundaram, como uma pedra no fundo
do lago.
— Corra, — a criança sombra disse.
As palavras mal haviam chegado aos meus ouvidos antes de eu fazer
exatamente isso.
O meu corpo balançou para trás enquanto meus pés se agitavam,
tentando me levar para um lugar onde eu pudesse me esconder.
Eu corri em direção às árvores densas enquanto as sombras se
aproximavam.
Capítulo 10
ENCONTRO COM AS SOMBRAS
Keith

As minhas garras rasgaram a neve, deixando pegadas fundas no meu


rastro.
Eu tinha me transformado para a minha forma de lobisomem depois
de passar por um portal para este mundo frio e miserável.
O clã me preparou o melhor que pôde para essa jornada. Se eu
encontrasse Tannon, ele teria que estar sozinho.
Meus homens teriam cuidado, mas não era com eles que eu me
preocupava.
Tessa me entregou um pergaminho antigo que Tannon deu a ela.
Continha receitas de feitiços que importavam muito menos do que esta
missão.
Eu o mantive no bolso da minha calça, que agora estava pendurada na
minha boca. O cheiro da carta me levaria até o feiticeiro.
Daisy havia colocado o portal o mais próximo possível de Tannon.
Não que isso tenha ajudado a aliviar a minha tensão.
Afinal, foi minha fraqueza que mandou Belle para longe, em primeiro
lugar.
Agora, ela estava perdida, e cabia a mim salvá-la.
Eu não pude evitar, mas continuei pensando sobre o que Belle tinha
nos mostrado. Os seus poderes adormecidos literalmente a levantaram
do chão.
No final, quem realmente precisa ser salvo?
Tentei afastar esse pensamento da minha mente enquanto avançava.
Os picos das montanhas passavam ao meu redor como facas
dentadas. Um pouco de cobertura oferecida por pinheiros me permitiu
correr sem muito medo de ser visto.
Não que houvesse alguém aqui. Muito menos ela, cuja imagem em
minha mente era a única coisa que me fazia continuar...
O vento uivou em meus ouvidos.
Meu pelo grosso me manteve aquecido enquanto eu galopava pelas
vastas planícies de neve e gelo.
Parei para olhar a paisagem desolada. Essa beleza fria era de tirar o
fôlego. Eu teria que voltar depois para visitar, quando chegassem tempos
mais pacíficos.
Então, o vento mudou e com ele veio um cheiro familiar. Seu odor
lembrava o pergaminho que me deram para ajudar a encontrá-lo.
Só que. desta vez, o cheiro era muito mais forte.
Tannon deve estar por perto!
Depois de atravessar algumas colinas grandes, me vi parado
novamente em um penhasco largo.
Três cabanas, idênticas, uma do lado da outra. Era como se estivessem
esperando a minha chegada. Voltei para a minha forma humana,
coloquei as roupas para me preparar para o nosso encontro. Comecei a
me mover para frente, mas logo me obriguei a parar. O que elas me
avisaram no clã?
Tannon era uma pessoa que não queria ser encontrada.
Olhando para a minha localização atual, pude verificar que era
verdade.
Elas também me disseram para estar ciente das ilusões.
Eu olhei mais de perto para as três cabanas. Mesmo sendo idênticas
em todas as formas, deve haver algo mais.
Eu me arrastei para frente.
Minhas narinas inspiraram grandes quantidades de ar. mas o cheiro
estava se misturando, me levando a muitos lugares diferentes.
Pensei em Belle na caverna e como ela impediu que os pesadelos
consumissem a mim e aos meus homens. Ela usou a sua intuição e
sentidos aguçados.
Isso exigiria mais do que força — eu tinha certeza.
Crunch.
Eu dei mais um passo em direção às cabines. Minhas narinas inalaram
novamente, enchendo os pulmões.
Crunch.
Meus pés grandes quebraram os cristais de gelo. Felizmente, o vento
uivante encobriu o barulho. Ou, foi o que pensei.
Como se fosse uma deixa, o vento diminuiu e virou um leve sussurro.
Uma última inspiração e...
Lá estava!
A cabana do meio era o meu destino, eu tinha certeza disso. O cheiro
que emanava daquela direção era inconfundível.
Minha hipótese foi confirmada quando vi a porta aberta. Uma figura
alta e esguia estava parada na porta, iluminada por trás, de modo que eu
não pude ver seu rosto.
Era o Tannon.
Ele está esperando por mim.
***

O interior não era diferente do clã que eu tinha acabado de deixar.


Era rústico e habitável, mas sem qualquer aconchego.
Sentamos em uma grande sala de estar cercada por rolos e livros
antigos.
Tannon deu um gole em uma xícara de chá. Um grande cajado
decorado com Lapiz Lazuli estava ereto ao lado dele, como um cachorro
sentado ao lado de seu dono.
O clã tinha me avisado de outra coisa...
Tudo em seu tempo.
Eu tentei o meu melhor para não apressá-lo, mas a energia ansiosa
dentro de mim borbulhou para fora do meu corpo e atingiu a cabana.
— Você está sentindo prazer nisso aqui? Em forçar o Rei Lobisomem a
esperar enquanto você toma o seu chá, perdendo tempo? — Eu disse.
Tannon ergueu as sobrancelhas, mas não disse nada. Finalmente,
depois de um último gole esvaziar a xícara, ele a pousou e respirou
fundo.
— Posso senti-los se mexendo lá embaixo, — disse ele, sem esclarecer
nada.
Eu olhei para o chão de madeira sob meus pés. Minhas sobrancelhas
levantaram em um arco questionador.
Como se fosse uma deixa, a cabine balançou levemente. Era quase
imperceptível, mas os meus sentidos aguçados sentiram essa
perturbação.
— Minha irmã não lhe deu muitos detalhes, — disse ele, sorrindo.
— Você realmente é um velho feiticeiro e sábio, — eu disse, com
rancor em minha voz.
O sorriso de Tannon fez o meu sangue ferver. Estava ficando cada vez
mais difícil conter o crescente desespero.
— Somos uma família boa de manter segredos. Mas parece que você
precisa de algumas explicações. — Ele cruzou uma perna sobre a outra
enquanto me observava.
Eu apertei a cadeira em que me sentei, tentando me segurar.
— Sim, feiticeiro. Acho que estou precisando de muitas explicações,
— eu disse, com os dentes cerrados.
Ele acenou com aprovação.
— Meu único dever nesta terra é guardar a barreira entre o nosso
inundo e o que está abaixo. O que nós chamamos de submundo, —
respondeu ele.
Outro tremor sacudiu a cabana, dessa vez, um pouco mais forte.
— Você consegue sentir isso. Os demônios estão se mexendo. Eu
acredito que o Lorde Demônio encontrou a sua Annabelle.
Minha Annabelle.
Essas palavras pareciam tão atraentes que eu quase perdi o foco do
que estava sendo dito.
— Ela está atualmente presa no mundo entre os mundos. Onde
moram as crianças das sombras.
Mas ela não vai ficar lá por muito tempo.
Cheguei tarde demais!
Levantei-me para sair, mas Tannon estendeu a mão.
— Nós temos que resgatá-la, — eu disse. Era urgente.
— Os súditos já entraram em ação. Eles estão perto de pegá-la.
Eu bati meu pé no chão de madeira. Mesmo com toda a minha força,
a cabana não tremeu.
Ou eu estava perdendo as forças ou os estrondos vindos de baixo
deviam ser muito, muito fortes.
— Por favor! Eu não faço isso nunca... mas eu imploro a você. Use os
teus poderes e traga Belle de volta. Devemos salvá-la!
O feiticeiro contemplou, em silêncio. Finalmente, seus olhos
encontraram os meus.
— É possível, sim. Mas não será fácil.
Belle

Corra.
Só corra e...
Não faça isso.
Olhe.
Volte.
As palavras mal passaram pela minha cabeça quando eu desobedeci
ao meu próprio conselho e olhei para trás.
Tentando não tropeçar enquanto corria para frente, virei a cabeça.
O horror quase me parou no meio do caminho.
Enxames de crianças das sombras voavam ao meu redor, apagando
todos os sinais de luz. Algumas desceram, mirando na minha cabeça.
Consegui me esquivar da primeira rajada.
Quando a próxima onda veio, eu não tive tanta sorte.
Fiquei surpresa e pude sentir o meu corpo girar.
O lago passou rapidamente abaixo de mim. A criança-sombra no
centro parecia estar olhando para cima, me observando flutuar para
longe.
De cabeça para baixo, carregada pelos meus pés, continuei subindo.
Uma das crianças das sombras se agarrou ao meu rosto, me cegando de
tudo.
Parecia que apenas uma coisa era certa. Não haveria escapatória dessa
vez.
CRACK
POP.
O cheiro de lenha queimando me assegurou de que eu não estava em
uma masmorra. E se eu estava, pelo menos havia calor.
De repente, a sombra foi tirada de meus olhos.
Eu finalmente pude ver!
As chamas queimavam em uma lareira de pedra profunda, enquanto
faíscas e fumaça subiam das toras.
Eu estava em uma grande sala rodeada de livros, bustos esculpidos e
pinturas opulentas. No meio da sala, a poucos metros de mim, havia um
grande trono.
Então, eu vi alguém sentado nele.
A figura se levantou e se aproximou.
— Eles não te machucaram, não é? — perguntou a figura. Sua voz era
mais gentil do que eu esperava para um Lorde Demônio.
— Bem, minha cabeça dói com todo o sangue que se acumulou
enquanto eu estava voando de cabeça para baixo, mas fora isso, estou
estupenda.
Eu queria que meu sarcasmo o atingisse como uma flecha afiada, mas
na minha posição atual, só poderia roçar a superfície.
— Bom, eu realmente sinto muito, — disse ele.
A pessoa que estava diante de mim tinha um queixo quadrado, testa
alta e cabelos castanhos longos e cacheados que roçavam suavemente
seus ombros.
Não era a imagem de quem eu esperava sequestrar mulheres jovens
com um enxame de sombras.
— Você deve ser o Lorde Demônio, — eu disse, certificando-me de
que ele pudesse ouvir o ódio em minhas palavras.
Seu rosto se encolheu e a raiva passou por suas sobrancelhas.
— Não. Agradeça à Deusa do Sol. Eu nunca serei ele. Nunca! — A
potência em sua voz me assegurou que ele estava dizendo a verdade.
— Meu nome é Derek, e eu sou o líder dos filhos das sombras.
Aqueles que trouxeram você ao meu covil, — ele disse.
Dei outra olhada no quarto. Até que era bonita para um covil.
— Por que você me sequestrou? — Eu perguntei.
Derek encolheu os ombros e se virou, olhando fixamente para o fogo
enquanto falava. — Eu não sequestrei você. Pelo menos, eu não dei a
ordem.
— Ainda assim, da última vez que verifiquei, levar alguém contra a
vontade é sequestro, — eu disse.
Ele não respondeu, então continuei. — Você trabalha para o Lorde
Demônio?
— Não por escolha própria, — disse ele, antes de desviar o olhar do
fogo e voltá-lo diretamente para mim.
Tentei ver a expressão em seus olhos, mas eles estavam mascarados
por sombras.
— O Lorde Demônio levou o meu irmão mais novo como refém. Ele
era apenas uma criança.
Eu deveria estar grata por não ser o Lorde Demônio me levando
como sua prometida. Mas saber que ele tomara uma criança como
refém... A raiva que senti só foi ofuscada pelo medo. Um medo mais
profundo que eu já tinha sentido.
— Eu sinto muito. — Minha voz falhou enquanto eu tentava
transmitir minha simpatia.
Não era todo dia que dois seres podiam se unir para descobrir que os
reis deste mundo escuro adoravam sequestrar. Eu era a prova viva.
Derek continuou.
— Ele ameaçou torturar o meu irmão se eu não entregasse você. No
começo, eu recusei. Meus homens sofreram ameaças semelhantes e
sobreviveram para contar a história. Mas depois de ouvir os gritos de
uma criança...
Derek enxugou as lágrimas que se formaram em seus olhos.
— Eu não tive escolha.
Eu fechei minhas mãos, em punhos. Meus dedos estavam
entrelaçados com tanta força que pude ver minhas juntas ficarem
brancas.
Quem poderia fazer uma coisa dessas com uma criança? Suponho que
alguém que se autodenomina o Lorde Demônio, claro. Mas, mesmo
assim...
Que razões ele poderia ter para me querer tanto, a ponto de fazer
uma coisa dessas?
Um ruído alto nos tirou de nossa conversa.
Passos pesados ecoaram nos ladrilhos do outro lado da porta. Alguém
estava chegando. E estava se movendo rapidamente.
A porta da sala do trono se abriu. Então, ele entrou.
Meu suposto prometido. Aquele que decretou que eu devo ser dele,
virando meu mundo de cabeça para baixo.
Ele se aproximou, levantando os braços para se apresentar a mim.
— Meu amor, — disse o Lorde Demônio.
— Finalmente, nos encontramos. Tem sido uma tortura absoluta não
ter você ao meu lado.
Capítulo 11
VENENO OCULTO
Belle

Tortura.
Dor.
Fogo ardente.
Sofrimento eterno.
O nome Lorde Demônio realmente não trouxe nenhum outro
pensamento à minha cabeça!
Sempre que ouvia esse apelido, era assombrada pelas visões sombrias
de fogo, sangue e carne queimando.
Mas quando olhei para o seu sorriso de marfim, não consegui pensar
em nenhuma dessas palavras. Ele era lindo, diferente de qualquer ser que
eu tinha visto antes — incluindo demônios.
Como a bela coloração de um sapo, o cabelo curto e espetado do
Lorde Demônio alertava sobre o veneno escondido dentro dele.
Seus olhos vermelhos contrastavam bem com seu cabelo, pele pálida e
roupas pretas. Exalava uma vibração assustadoramente sexy que eu não
pude deixar de achar atraente.
Ele sorriu novamente, e uma covinha se formou no seu queixo.
Embora eu mesma tivesse ouvido os rumores, estava tendo
dificuldade em acreditar que aquele homem era mesmo um demônio.
— Meu amor, eu tenho uma fome voraz que chega tão alto quanto a
lua nesta noite gloriosa, — ele disse com desejo.
Meu queixo caiu.
Eu esperava fogo e enxofre. Talvez até mesmo algumas dezenas de
lacaios demoníacos invadindo, destruindo tudo à vista.
Não havia caos deixado em seu rastro. Sem corpos em chamas ou
membros decepados.
O ser que estava na minha frente não era nenhuma dessas coisas. Não
acreditava no que eu estava vendo.
Não pude evitar ser pega de surpresa.
Um formigamento se formou dentro do meu peito, espalhando-se
por todo o meu torso. Ele se moveu em direção aos meus pés e braços,
entorpecendo meus dedos enquanto eu os fechava em punhos ao meu
lado.
— Por favor, não tenha medo, — ele ronronou.
— O homem que supervisionou minha captura enviando os seus
súditos atrás de mim de repente quer ser amigável? Acho que já passamos
desse ponto, — eu disse, com raiva na minha voz.
Seu sorriso ainda estava lá. maliciosamente brilhante. Foi difícil
desviar o olhar.
— Eu sei que você deve ter tido um longo dia. meu amor. Então, vou
perdoar a confusão. Mas eu não sou tal homem, querida Annabelle. Meu
nome é Lazarus e vim para te levar para casa.
Ele sorriu.
Ainda mais surpresas em uma noite já inesperada.
— Não entendo. Você vai me levar para a minha família? — Eu
perguntei.
Sua risada retumbou, barulhenta e alta. Pensei em proteger os meus
ouvidos do som, mas mantive o pouco de compostura que me restava.
O Lorde Demônio olhou para Derek, que estava rígido e imóvel.
— Ela tem um senso de humor maravilhoso, essa aqui... Em certo
sentido, sim, você estará com a família. Sua nova família.
— Eu vim para te levar para a nossa casa, onde governaremos o
Submundo juntos. Afinal, foi ordenado, você é minha prometida, — disse
ele, enquanto tocava meu ombro com a mão.
Seus dedos transferiram um calor ardente que permaneceria no meu
corpo por muito tempo depois de sua mão partir.
Eu estremeci e me afastei, tentando manter um espaço entre nós.
— Nós tínhamos um acordo. Você já tem o que queria. Agora, onde
está meu irmão? — Derek perguntou, com mais do que apenas um toque
de irritação em sua voz.
Eu quase tinha me esquecido de seu irmão mais novo!
O sorriso de Lazarus vacilou e, naquele momento, vi algo. Ele tentou
o seu melhor para esconder, mas era inconfundível.
Naquele momento, eu pude ver uma rachadura na máscara que
escondia as suas verdadeiras e tortuosas intenções.
— Seu irmão estará ao seu lado assim que eu tiver Annabelle comigo,
— Lazarus sibilou, enquanto olhava para mim.
— Se ela não vier de boa vontade, você cumpriu apenas metade do
seu dever.
O corpo de Derek balançou com tristeza. Eu podia ver a dor e a raiva
gravadas em seu rosto.
A segurança de seu irmão mais novo estava pendurada por um fio que
seria determinado pela minha própria escolha.
Dei um passo à frente e os dois se viraram, olhando diretamente para
mim.
— Eu vou com você. Mas só se eu souber que o menino está seguro,
— eu disse com determinação.
— Isso é tudo que eu precisava ouvir, meu amor — Lazarus disse
gentilmente.
Lazarus fez uma breve reverência e, com um aceno de mãos, a porta
da sala do trono se abriu mais uma vez.
Uma criança pequena correu para a sala e saltou para os braços
abertos de Derek.
— Jason! Você está bem! — Derek chorou de alívio. Lágrimas
escorreram por seu rosto sorridente enquanto Jason o abraçava com
força.
— Eu não estava com medo, eu juro, — Jason assegurou ao seu irmão
mais velho.
Derek acariciou seu rosto enquanto verificava Jason por qualquer
sinal de dano.
— Você é um garoto tão forte, — ele disse, dando um beijo na testa de
Jason.
Lazarus observou essa troca, incapaz de conter seu desprezo.
— O menino foi entregue são e salvo. Assim como prometi.
Então, ele olhou para mim e deu uma piscadela.
— Eu sempre mantenho as minhas promessas. Em breve, você verá
isso.
Derek se levantou, mantendo Jason por perto.
— Nosso negócio está terminado, Lazarus. Você tem o que queria.
Não há mais nada entre nós.
Derek olhou para mim ao dizer isso, franzindo as sobrancelhas com
tristeza.
— Você foi maravilhoso. Derek. Eu não poderia ter pedido mais nada.
E eu não terei que...
Lazarus olhou para mim novamente. Seus olhos brilharam com uma
luxúria ardente.
— Contanto que eu tenha minha Annabelle ao meu lado.
— Porque a maneira mais fácil de cortejar uma mulher é sequestrar
uma criança pequena. Certo?
Eu sabia que não era inteligente atacar o Lorde Demônio, mas o que
eu tinha a perder?
Memórias de minha família inundaram minha mente. Eles ainda
eram parte de mim, mas por quanto tempo eu seria capaz de dizer isso?
— Uma maneira bem revigorante. Você deve gostar de ser perseguida.
E acredite em mim, eu amo a perseguição. Mas é ainda mais delicioso
pensar sobre o que acontecerá depois que a minha presa for capturada.
Presa capturada. Para Lazarus, eu era apenas uma criatura a ser
caçada.
O pensamento me repeliu, mas não consegui me livrar dele.
Eu não queria ser caçada? Para alguém olhar para mim e me perseguir
com a mesma ânsia que o Lorde Demônio agora mostrou?
Não pude deixar de comparar Lazarus ao Rei Lobisomem.
A crueldade e ousadia de Keith sempre me pegavam desprevenida,
especialmente quando comparada com o desejo que eu sentia a cada
toque seu.
Lazarus tinha uma gentileza que minou as suas ações monstruosas.
Ele controlava seu mundo com uma mão suave, não o poder e a
destruição que eu conhecia do Rei Lobisomem.
Mesmo que essa suavidade exigisse que uma criança pequena fosse
mantida como refém...
Mas ele devolveu o menino ileso. Havia algo de louvável nisso, não é?
Eu nem mesmo acreditei nas desculpas que estavam se formando na
minha mente.
Se eu fosse ser a prometida do Lorde Demônio e cumprir todas as
suas ordens, não parecia que os meus próprios pensamentos
importavam.
Olhei para sua covinha no queixo e senti que as minhas preocupações
começaram a enfraquecer. Ele não era difícil de olhar, eu tinha que
admitir.
Lazarus estendeu a mão, ajoelhando-se sobre uma perna.
— Se você quiser, meu amor, devemos seguir o nosso caminho. — ele
murmurou.
— Onde estamos indo? — Eu perguntei. Eu estava tão perdida em
meus pensamentos que esqueci por que ele tinha vindo, em primeiro
lugar.
— Para sua nova casa na Ilha Demoníaca. Os demônios estão ansiosos
pelo nosso retorno, — ele me assegurou, com um sorriso.
— Não devemos deixá-los esperando para conhecer a sua nova
rainha.
Keith

Um enorme vazio.
Isso é tudo que eu pude ver enquanto estava ao lado de Tannon,
olhando para a vista de montanhas e neve.
Tannon assumiu uma postura ampla e entoou palavras que mal pude
ouvir, muito menos entender.
O cajado ao seu lado começou a brilhar com um brilho que
combinava com o poder que vi antes, emanando de Belle.
Com cada canto entoado de sua boca, eu podia sentir seu poder
ficando mais forte.
De repente, a visão diante de mim cedeu e eu pude enxergar outra
coisa.
Um campo de força imperceptível brilhou diante dos meus olhos,
estendendo-se até o horizonte.
— Este é o portão que você tem procurado. Você encontrará
Annabelle do outro lado.
Era tudo que eu precisava ouvir!
Eu me joguei para frente, batendo no portão translúcido. Eu podia
sentir a energia pulsando, impedindo qualquer coisa de entrar ou sair.
Tannon gritou um feitiço e bateu com o cajado no chão.
Como uma bola de boliche caindo na água, pude ver o efeito cascata
do poder de seu bastão.
A explosão me atingiu e fui jogada para o lado por uma rajada de
vento. Limpei a neve do meu corpo.
— Que diabos? — Eu rosnei.
Os olhos de Tannon eram penetrantes. Eu ainda não o tinha visto tão
irritado. Eu imediatamente fiquei de pé.
— Seus métodos irão apenas quebrar a barreira e permitir que os
demônios passem pelo buraco, fundindo nosso mundo com o deles.
— Bom! Então, vou rasgar até o último demônio até que todo o
sangue manche esta terra, — eu avisei. Tannon balançou a cabeça com
desgosto. — Se isso acontecer, essa guerra eterna entre as espécies nunca
vai acabar. Belle irá embora para sempre. Esta não é a maneira de salvá-
la.
— Então como? Diga-me! Devemos nos apressar antes que seja tarde
demais, — eu insisti.
— Tudo em seu...
Eu o cortei antes que ele pudesse terminar. — Tudo no seu tempo,
sim, entendi! Mas se este não for o caminho, mostre-me qual é. Eu farei
qualquer coisa para recuperá-la, — eu disse, com uma voz suplicante.
Tannon contemplou isso antes de olhar para mim e acenar com a
cabeça.
— Devemos subir as montanhas e recuperar um pergaminho da
Deusa da Lua. Só então seremos capazes de abrir a barreira com
segurança, — disse ele, como se estivesse em um devaneio.
Minha raiva e dúvida lentamente se transformaram em esperança.
Com Tannon ao meu lado, tínhamos uma chance de encontrar Belle.
De salvá-la e acabar com esta guerra miserável.
Um estrondo constante, mais forte do que qualquer um que eu senti
antes, sacudiu o chão sob nossos pés. Ele nos alertou sobre os perigos que
espreitam no submundo.
Uma sensação de peso atingiu meu coração. Algo nessa sensação me
disse tudo que eu precisava saber.
Chegamos tarde demais? Belle já poderia estar nas garras do Lorde
Demônio, nas profundezas do submundo.
Eu cravei meus dedos das mãos e pés no chão, pronto para empurrar
o portal com uma força explosiva.
Não importa os perigos que me aguardavam ou para onde eles
levaram Belle, eu iria encontrá-la.
Eu tinha certeza disso.
Capítulo 12
LEVADA PARA A ILHA Belle
Bomp.
O bater das asas do demônio bateu no mesmo ritmo do meu coração
acelerado.
Momentos depois de o Lorde Demônio anunciar a nossa jornada para
a ilha, fomos recebidos pelo que parecia ser uma grande carruagem sem
rodas.
Era negra como a noite, mas extravagante, ao mesmo tempo bela e
assustadora.
Era transportada por grandes demônios parecidos com morcegos
com asas enormes, puxando pela frente com rédeas que normalmente
seriam presas aos cavalos.
No geral, era uma engenhoca aterrorizante, mas que parecia deixar o
Lorde Demônio bem orgulhoso.
Bomp.
Havíamos viajado por um mar sem fim pelo que pareceram horas. À
medida que rastejamos acima das ondas infinitas, uma ilha começou a se
formar no horizonte.
Um sol poente enviou raios de luz através da água, iluminando a ilha
com uma aura etérea e inquieta.
Das colinas verdes exuberantes surgiu uma grande estrutura. Na
verdade, eram muitas estruturas ligadas entre si para formar um
complexo.
Bomp.
Eu podia ver a mansão de quatro andares erguida como uma
sentinela. Edifícios menores a cercavam, formando uma linda
comunidade no meio de uma ilha remota.
Eu engasguei com o seu esplendor.
Lazarus ouviu. Como ele poderia não saber?
Ele esteve ao meu lado durante toda a viagem, tocando a minha pele,
acariciando meu cabelo, beijando minhas mãos sempre que eu permitia.
Eu tinha me arrastado para o outro lado da carruagem, mas ele ficou ao
meu lado.
Eu era incapaz de me mover — sua caça, presa, sem nenhum lugar
para ir.
Pude perceber por sua carência que ele não gostou das minhas
respostas frias. Lazarus queria uma mulher que ele pudesse chamar de
sua e desfilasse com ele pela ilha.
Ele queria alguém que se submetesse e se curvasse a todos os seus
desejos. Talvez ele soubesse que logo eu não seria capaz de me afastar.
O que ele não sabia é que eu faria tudo ao meu alcance para não
desistir!
Mas então, eu a vi alto, acima da ilha ao redor. Todos os meus medos
e incertezas começaram a se dissipar com a visão da mansão.
— Bem-vinda ao lar, meu amor, — disse-me ele com um sorriso,
quando a carruagem começou a descer.
Era bonita. Mas eu poderia pensar nesse lugar como o meu lar?
— Esta é a sua Rainha. Curvem-se a ela, — ele gritou severamente.
A infinidade de servos se ajoelhou como um só. Lazarus ficou
satisfeito com a exibição e mostrou sua aprovação com aplausos.
— Belo truque. Eles rolam? — Eu podia ouvir a angústia em minha
voz, e isso me preocupou. Eu não gostava de quem estava me tornando,
minha natureza cínica irrompendo.
Mas foi tudo que consegui dizer. O medo me envolveu como uma
capa e eu precisava mostrar que tinha uma máscara de determinação.
— Eles vão se fingir de mortos, se for o que você deseja, — disse ele
com um sorriso.
Conheço alguém que adoraria te ver morto, pensei, enquanto
continuávamos nosso tour pelo complexo.
Caminhamos pelos grandes corredores, nossos passos ecoando no
piso de mármore. Era luxuoso, cada pequeno detalhe examinado com
perfeição.
O diabo está nos detalhes.
Eu tive que segurar minha risada. Lazarus estava muito ocupado
exibindo a sua fortuna e não percebeu.
Ou talvez ele tenha percebido...
— Isso é todo seu, meu amor. Cada partícula desta ilha será sua assim
que eu marcá-la como minha. Então, você se tornará minha rainha, — ele
sussurrou em meu ouvido.
Eu me levantei, hipnotizada, um pouco irritada. Eu não tinha pedido
nada disso. Mas não havia como negar que ele era fascinante.
— O que vem a seguir... a masmorra? — Eu perguntei. Quando Keith
me tomou como sua para me — proteger — do Lorde Demônio, a
masmorra era a minha morada fria e humilde.
Agora que o Lorde Demônio me tinha nas suas mãos, eram mansões e
servos, não mofo e escuridão.
— Você me hipnotiza... — ele disse.
Percebi que ele estava olhando de perto para mim. Quando encontrei
seu olhar, isso me assustou. Não por medo, mas pela honestidade que vi.
Eu me virei, na esperança de esconder a vermelhidão crescendo em
minhas bochechas.
— Isso tudo é tão... bom. Mas por que você está fazendo isso? — Eu
perguntei.
Lazarus deixou o olhar amolecer. Ele não estava gritando para eu
parar de manipular sua mente. O Lorde Demônio estava realmente me
ouvindo.
— Porque é o nosso destino, meu amor. Comigo nesta ilha, podemos
ter tudo. Ninguém jamais dirá que você é muito fraca. Que você está
muito quieta. Que você não merece mais.
Ele passou a mão pela minha bochecha. Seus dedos traçaram minha
pele, movendo-se lentamente pelo meu pescoço e pelo meu peito,
parando no meu umbigo.
— Juntos, poderemos governar o mundo, — ele disse. Lazarus se
inclinou para dar um beijo em minha bochecha. Foi tudo muito, muito
rápido.
Meu coração estava disparado e eu não conseguia controlar a torrente
de emoções que tomava conta de mim.
Mas havia outra coisa, um buraco vazio em meu desejo que nunca
veio à tona com o toque de Keith. A atração invisível que senti em torno
do Rei Lobisomem não era a mesma.
Era muito mais forte.
— Eu não sei, Lazarus. Isso tudo é coisa demais.
— Nós podemos fazer isso. Juntos. É mais do que apenas destino,
querida Belle. É o sangue poderoso e antigo correndo em suas veias.
Eu olhei para ele. O sorriso que surgiu no seu rosto ao ouvir minhas
dúvidas anteriores agora disparou em seu rosto. Naquele momento, pude
ver sua benevolência.
— O que você sabe sobre o meu sangue? — Eu perguntei, em
descrença.
— Mais do que qualquer outra pessoa. O Lorde Demônio tem suas
maneiras de descobrir as coisas.
Ele circulou, inspecionando cada centímetro de mim enquanto eu
estava lá, incapaz de me mover.
— Só eu conheço sua verdadeira origem. Você não quer esse
conhecimento, meu amor? Se eu fosse você, gostaria de saber a verdade.
Eu gostaria de ver a minha família verdadeira.
Keith

O vento estava uivando mais alto do que qualquer coisa que eu


pudesse escutar.
Eu segui os passos de Tannon. pela encosta da montanha. Para um ser
tão antigo, ele era surpreendentemente ágil.
Eu precisava da maior parte de minha energia para simplesmente me
segurar a uma altura tão grande, quanto mais para manter o ritmo.
Estava muito frio, mesmo para seres como nós. Eu podia sentir o suor
se acumulando na minha pele.
Ele me contou sobre a próxima parte de nossa missão. Devíamos
escalar o pico mais alto e invocar a Deusa da Lua.
O que aconteceria a seguir não dependia de nós, Tannon avisou. Ela
nos encontraria apenas se fosse o nosso destino.
Eu sabia que o olhar em meu rosto dizia a ele tudo que eu precisava
saber. Eu faria qualquer coisa para ver Belle. Era inegável agora que ela
tinha estado longe por tanto tempo...
Ela era minha verdadeira prometida. A rainha que me ajudaria a
governar a minha terra e meu povo.
Mesmo que ela não fosse um lobisomem, ela seria aceita como um
dos nossos.
Eu tinha certeza disso.
Eu olhei para cima novamente e Tannon havia sumido.
Meu coração começou a bater mais rápido. Seria algum truque?
Eu vi sua cabeça pular da encosta de um penhasco a apenas alguns
metros de distância. Sua mão se abaixou e eu agarrei. Ele não era apenas
ágil, mas também forte!
Com ajuda, puxei meu corpo para cima e sobre a saliência em um
pequeno platô. Tínhamos ido tão longe quanto possível. Este era o pico.
— Você é surpreendentemente rápido em escalar montanhas,
feiticeiro, — gritei por cima do uivo do vento.
Ele sorriu. Esta foi a primeira vez que vi esse lado dele. Parecia que a
jornada havia limpado sua mente das tarefas assustadoras que tinha pela
frente.
— Escalei esta montanha muitas vezes. Nem sempre tive sucesso em
alcançar a Deusa da Lua. mas sempre foi um desafio pelo qual eu ansiava.
Seu rosto voltou ao seu estoicismo de antes.
— Agora é a hora.
Tannon fechou os olhos. Quase parecia que ele estava descansando.
Mas eu sabia que ele estava em um estado de estupor, invocando os
poderes internos.
O vento diminuiu. Eu podia ouvir os flocos de neve caindo aos nossos
pés.
O cajado de Tannon mais uma vez se encheu de luz. mas desta vez,
ela percorreu seu corpo.
Ele abriu os olhos e um poderoso brilho branco irrompeu, brilhando
no topo da montanha como um farol forte.
Seu corpo tremia, embora tudo ao nosso redor estivesse congelado.
Eu não conseguia acreditar nos meus olhos.
Algo estava começando a se formar do nada. Foi um borrão de
partículas se unindo para criar uma massa maior. Então, ele começou a
tomar a forma de uma mulher.
Eu podia ver a curva de seus quadris e os lábios macios de sua boca.
Seus olhos se transformaram e ela olhou para nós.
Ela era linda.
Ela era a Deusa da Lua.
— Qual é o seu motivo para me convocar para este plano terreno,
feiticeiro? — perguntou a Deusa da Lua.
Os olhos de Tannon não brilhavam mais. Ele havia sido quebrado de
seu transe e estava ajoelhado sobre uma perna. Ele parecia humilhado
pela presença da Deusa da Lua.
Eu olhei para minhas próprias pernas e imediatamente me ajoelhei.
— Viemos em busca de sua orientação, Deusa da Lua, mãe das
crianças da noite. O Rei Lobisomem deve saber sua profecia, — disse
Tannon.
Ela olhou de Tannon para mim. Eu podia sentir seus olhos
penetrando meu corpo, atingindo a minha alma.
— Você é o Rei Lobisomem? — ela perguntou.
Para qualquer outro ser, eu teria desafiado essa resposta, me
transformando para minha forma de lobisomem e mostrando o meu
verdadeiro poder.
Mas para a Deusa da Lua, eu mal conseguia abrir a boca, muito
menos olhá-la nos olhos.
— Sim. Eu sou Keith, Rei dos Lobisomens. Vim para saber do meu
destino para poder ajudar outra pessoa. Minha prometida.
A Deusa da Lua flutuou para mais perto. Em sua mão apareceu um
pergaminho murcho. Ele se desenrolou e flutuou para fora de sua mão.
pairando no ar entre nós.
Quando ela falou em seguida, sua voz ressoou por todo o meu ser.
— Uma híbrida nascerá
A primeira de muitos
Ela será o destino
de muitos governantes
mas, será reivindicada por
apenas um rei
Ela trará escuridão
entre meus filhos
fogo e destruição consumindo o mundo
a menos que um dos Reis
sacrifique o seu destino
para a paz de todos.
Seus significados ocultos estavam além do meu alcance. Eu olhei para
encontrar seus olhos, tentando entender o que a profecia significava. Mas
ela se foi.
Nós estávamos sozinhos.
O uivo do vento aumentou mais uma vez. Gritei minhas palavras
quando a neve cegante atingiu meu rosto.
— Não entendo. O que ela quis dizer? — Eu implorei.
Tannon olhou para mim com os olhos cheios de tristeza.
— Você está destinado a ficar com ela, — ele gritou.
Suas palavras me encheram de uma paz estranha, eu não esperava por
isso. Era verdade! Nós deveríamos ficar juntos. A atração que senti
sempre foi verdadeira.
Então, ele disse mais.
— Mas se você marcá-la como sua prometida, Keith, a guerra
estourará. E desta vez, a guerra nunca vai acabar, — alertou.
Isso não pode ser verdade. Tudo o que senti e fiz foi para estar com
ela, não para afastá-la!
Minha prometida ou guerra eterna... essa era realmente a escolha que
eu seria forçada a fazer?
A próxima resposta de Tannon respondeu aos meus piores medos.
— Se você quer salvar o seu povo... se você realmente deseja paz...
você não pode escolhê-la como sua prometida.
Capítulo 13
REUNIÃO DE FAMÍLIA Belle
Respiração pesada.
Passos fortes.
Visão turva.
Eu senti como se tivesse corrido uma maratona.
A mansão era enorme, mas os meus pés me empurraram para frente.
O Lorde Demônio mencionou minha família e começou a me levar
em direção a uma grande sala perto dos fundos da mansão.
Ele havia me prometido um sonho e eu mantive a esperança de que
ele não mentisse. Sim, ele era um demônio, mas tudo que eu tinha
ouvido e tudo que vi com meus olhos eram lados opostos da mesma
moeda.
Em sua presença, eu apenas me senti adorada, não desconfiada.
Assim que saímos da carruagem e entramos no complexo, não fui
acorrentada. Em vez disso, eles me deixaram andar livremente, mesmo
com a ameaça da minha fuga presente no fundo de suas mentes.
Agora, eu ia ver minha família. Depois de tanto tempo, estaríamos
reunidos!
Quando ele apontou para as grandes portas duplas e sorriu, não pude
mais conter minha empolgação. Corri para frente com toda a velocidade
possível.
Os servos ficaram boquiabertos com minha ousadia, mas pude ouvir
Lazarus rindo de alegria. Ele gostou de ver sua nova posse disparar por
toda a mansão, como um cachorrinho adotado descobrindo seu novo lar.
— Olhe para essa energia. Só posso esperar que seja igual esta noite,
— disse ele, fazendo com que os outros rissem.
Senti os pelos de meus braços se arrepiarem, mas não tive tempo para
pensar em seus comentários indecentes. Nada importava agora que eu
sabia que a minha família estava aqui...
Eu entrei pelas portas.
O sorriso no meu rosto começou a desaparecer. Minha família não
estava ali. A sala parecia vazia.
Um movimento na esquina chamou minha atenção e me virei para
ver...
Gregory!
O garoto da minha matilha, o melhor amigo de Sean, ficou parado
sem olhar para mim. Ele agia exatamente como se estivesse em casa,
tímido e desavisado.
Eu olhei para ele, embora seus olhos estivessem cautelosos em
encontrar os meus.
— Gregory. Não acredito que você está aqui! — Eu gritei de alegria.
Corri para ele e joguei meus braços em volta de seus ombros.
Seu corpo ficou tenso ao sentir o meu toque. Eu não liguei! Foi tão
bom finalmente ver alguém com um rosto familiar.
Especialmente alguém por quem tive uma queda por tantos anos.
— Onde está a minha família? — Perguntei de novo.
Eu olhei para ele mais uma vez e. desta vez, seus olhos encontraram
os meus.
— Sinto muito, Belle, — disse Gregory, sua voz cheia de tristeza.
Ele se desculpa de quê?
Eu olhei para ele de cima a baixo.
Definitivamente era Gregory. Seus longos cabelos castanhos
pendurados como uma coroa de cachos em torno de sua cabeça. A cada
movimento de seu corpo, eles balançavam para frente e para trás.
Certa vez, fiquei hipnotizada por esse jovem diante de mim. Agora, eu
estava feliz em saber que ele estava seguro.
Mas e a minha família? Por que ele pedia desculpas?
— É bom te ver. — A voz de Gregory estava baixa, incerta.
— Que reunião perfeita, — ouvi Lazarus dizer da porta.
Ele tinha estado lá o tempo todo, observando.
Afastei-me de Gregory e olhei para o Lorde Demônio.
— Você me disse que minha família estava aqui! — Eu gritei.
— E eu sempre mantenho minhas promessas, — Lazarus me
assegurou.
Eu olhei mais uma vez para Gregory.
Ele mastigava o interior da boca, como fazia quando estava nervoso.
Claro, eu entendia. Era estressante ser levado da única casa que você
conhecia, de estar na presença de Lazarus.
Mas seu tique nervoso me fez pensar que outra coisa estava em jogo.
— Gregory é parte da minha matilha, mas ele não é minha família, —
eu disse.
Lazarus se moveu mais para dentro da sala. Ele parecia gostar da
minha confusão e do joguinho em questão.
— Você foi deixada na fronteira quando criança, não foi? E sua família
a adotou como um deles, — disse ele, com alegria absoluta em sua voz.
Esse jogo de adivinhação pode ser divertido para ele, mas eu não
estava brincando.
Eu balancei a cabeça em concordância.
— Você não estava sozinha. Houve outro que foi deixado para trás na
fronteira — Lazarus sibilou alegremente.
Os olhos de Gregory encontraram os meus. Seus dentes cerraram
com força e seus ombros caíram. Eu não conseguia acreditar em meus
olhos, muito menos em meus ouvidos.
— Isso não pode ser...
O mesmo garoto que eu tão ingenuamente acreditei que seria meu
prometido estava agora diante de mim, como minha família?
— Gregory é seu meio-irmão, — disse Lazarus.
Senti minhas pernas virarem gelatina e cederem. Gregory tentou me
pegar, mas meu peso morto o derrubou no chão.
Ele ficou em cima de mim e, por um momento, ficamos ali. olhando
um para o outro, sem acreditar.
***

Gregory me segurou do jeito que eu sempre imaginei. Havia uma


gentileza em seu toque, quase como se ele me conhecesse desde sempre;
ele era. de alguma forma, uma parte de mim.
Lembrei-me da primeira vez que ele foi incluído no chat em grupo da
minha família. Meus pais sugeriram uma noite de cinema e nos disseram
para convidar os nossos amigos.
Os meus sempre pareciam encontrar uma desculpa para pular
eventos sociais, mas Gregory aceitou o convite ansiosamente.
Sean: Pensando em alguns lanches para a noite de cinema.
Alguma sugestão?

Mãe: Pipoca!

Sean: Bem, é claro.

Pai: Alguém mais está com vontade de comer tacos hoje à noite?

Belle: Comemos tacos ontem...

Pai: E?

Mãe: Seu estômago vai derreter...

Belle: Que nojo... O que você acha Gregory?

Gregory: Alguma coisa de chocolate seria incrível!

Belle: Sean, pegue uma barra para a gente dividir!

Pai: Chocolate e flores!

Sean: As pessoas estão esquecendo que Gregory é meu amigo.


NÃO um prometido em potencial.

Pai: Gregory faz parte da nossa família. Não se esqueça do


chocolate!

Mãe: E nem das flores!


Sean: >_<

— Eu não sabia, Belle, eu juro, — Gregory explicou. — Pouco depois


de você partir, fui levado sozinho. Eles me trouxeram aqui e me
contaram tudo. No começo, eu não acreditei, mas... — Sua voz sumiu.
Aquele menino doce e inocente por quem eu estava apaixonada por
tanto tempo estava bem na minha frente. E ele estava tão confuso...
Gregory balançou a cabeça e procurou por alguma compreensão em
mim. — Ele sabe coisas sobre mim que eu não sabia, — disse ele. antes de
cair ao meu lado.
Nunca senti seu corpo tão perto do meu, a menos que estivéssemos
sentados no sofá. E mesmo assim, Sean faria questão de ficar entre nós.
Sentir seu toque era tudo que eu queria...
Mas esta não era uma noite de cinema inocente na minha casa. Era o
covil do Lorde Demônio.
Gregory se afastou e se levantou. Ele me ofereceu a mão. mas Lazarus
estava lá primeiro, agarrando meus pulsos e gentilmente me levantando.
— Isso é impossível, — eu disse com incerteza.
— Com tudo o que você aprendeu nos últimos dias, espero que você
entenda, nada é impossível. Principalmente comigo, — disse Lazarus.
Lazarus segurou minha mão e me deu beijos, movendo-se lentamente
pelo meu braço. Eu puxei meu braço para longe de seus lábios frios.
— Eu preciso de espaço! — Gritei com Lazarus. — Se você quer que
eu comece a aceitar todas essas mudanças repentinas, você tem que me
dar algum tempo. Ou então você pode cair fora — eu disse, com uma
confiança crescente.
Eu me senti encorajada, especialmente com Gregory ao meu lado.
Mas eu ainda estava desconfiada da resposta de Lazarus.
Seus olhos brilharam vermelhos, mas sua boca mostrou apenas um
sorriso. — Claro, meu amor, que bobo da minha parte — Lazarus
respondeu.
— Explique isso para mim. Ou você gosta de manter sua prometida
no escuro? — Eu disse.
— Só se eu estiver ao seu lado, meu amor — Lazarus disse
sedutoramente.
Ele tentou se mover em minha direção novamente, lambendo os
lábios.
Eu queria dar um soco em seu rosto presunçoso. Pela minha
experiência com Keith, eu sabia que uma demonstração de força neste
momento só pioraria as coisas.
— Quem sou eu? Diga-nos, Lazarus, o que você sabe sobre nossos
pais? — Eu exigi.
— Vocês são filhos de Balal, o grande comandante do Demônio, —
disse ele.
Eu olhei para Gregory. Seu rosto mostrou mais compreensão do que o
meu, mas eu ainda podia sentir uma profunda confusão.
— Tínhamos mães diferentes? — Eu me peguei perguntando.
Lazarus lambeu os lábios mais uma vez. — A sua mãe, meu amor, era
uma bruxa poderosa.
Uma bruxa?! Eu me sentia tonta e insegura quanto à minha própria
capacidade de ficar de pé.
Gregory envolveu um braço em volta de mim, me segurando com
força.
Lazarus nos observou com inveja.
— Quem era ela? Qual era o nome dela? — Eu me ouvi perguntar.
Lazarus sorriu novamente. — Eu não sei essa informação. Balal teve
muitas amantes, mas a julgar por sua própria força oculta, presumo que
suas habilidades superassem muitos de seus pares. Afinal, ele só tinha
olhos para o melhor... Isso faz de você um híbrido, meu amor. O primeiro
de sua espécie.
Eu estava tentando colocar a minha cabeça no lugar, com tantas
revelações inesperadas.
Eu só queria ver a minha mãe. meu pai e Sean.
Eu queria abraçá-los e avisá-los que eu estava bem, que havia
aprendido muito desde nosso último encontro.
Mas agora, eu realmente entendi que isso não aconteceria.
Não tão cedo.
Senti uma mão frágil tocar meu ombro.
— Eu sinto muito. Eu não sei onde eles estão. Mas eles devem estar
seguros. Devem, sim. — Gregory tentou acalmar meus nervos, mas isso
só me deixou com mais raiva.
Eu me afastei dele e fui agarrada por Lazarus, que estava esperando
atrás, pronto para interceptar.
— Você já descobriu muito esta noite, meu amor. Acho que é melhor
descansarmos um pouco.
A expressão no rosto de Lazarus ao dizer isso deixou claro que não
haveria descanso esta noite.
***

Luz brilhante de velas.


Sussurros sedutores.
Beijos calorosos.
Minha cabeça continuou a girar enquanto eu deitava na cama na
suíte master de Lazarus. Ele fingiu conforto, garantindo-me que uma boa
noite de descanso era tudo que eu precisava.
Pensei em Gregory e minha confusão só aumentou. Ele sabia disso,
ou essa revelação repentina foi tão surpreendente?
Sua linguagem corporal mostrava incerteza. Ele sempre foi tímido e
inseguro. Mas sua falta de choque ao ouvir sobre o nosso pai me disse
que a informação não era totalmente nova.
SMACK.
Lazarus subiu com os lábios pelo meu braço, pela minha clavícula e
pelo pescoço. Eu podia sentir o rastro deixado por seus beijos molhados.
SMACK.
O som ecoou pelas paredes, nos cercando enquanto estávamos
envoltos em uma suave luz de velas.
Eu me virei, mostrando minhas costas para ele.
Seus dedos tocaram minha espinha, movendo-se para baixo,
enviando arrepios por todo o meu corpo.
Talvez fechar os olhos para ele tenha sido uma má ideia. Eu me
empurrei até a borda, mas senti que ele me seguiu.
— Eu sei que esta é uma grande revelação para você. Eu sentiria o
mesmo choque, — Lazarus tentou se relacionar comigo, mas de alguma
forma, eu não conseguia imaginar um Lorde Demônio sentindo metade
das emoções que estavam pulsando em minhas veias.
Ele continuou: — Mas se te conforta, isso prova o nosso destino. Você
é um ser diferente de qualquer outro. Eu sei como satisfazer os seus
desejos mais profundos e sombrios. Você pertence aqui comigo.
Eu me virei para encará-lo. dando-lhe a chance de subir em cima de
mim.
Péssima ideia.
Os olhos de Lazarus queimavam com um vermelho profundo que eu
ainda não tinha visto. Seu cabelo estava em pé, como de costume, mas as
pontas pareciam mais afiadas, prontas para cortar qualquer coisa que
ousasse tocá-las.
— Por favor, estou tão cansada... — eu disse, com uma pitada de sono
na minha voz.
— Deixe-me encher você de energia, meu amor. É tudo o que eu
sempre quis, — ele disse, enquanto lambia os lábios mais uma vez.
Eu senti meu sangue gelar.
Capítulo 14
NAS PROFUNDEZAS DO SUBMUNDO
Keith

Visões de chamas dançaram em um campo de batalha ensopado de


sangue e dilacerado pela guerra.
Demônios, bruxas e lobisomens estavam amontoados.
Uma guerra eterna desencadeada pelo meu desejo mais profundo de
tê-la como minha rainha.
Eu estava diante da barreira para o submundo. Assim que a Deusa da
Lua deixou Tannon e eu no pico da montanha, eu não conseguia nem
imaginar o que poderia acontecer a seguir.
Era como se cada desejo que eu já senti por Belle se multiplicasse dez
vezes.
Ela era tudo em que eu conseguia pensar.
Ela era tudo que eu queria.
E se eu fosse marcá-la como minha prometida, isso seria a ruína do
nosso mundo.
Tannon me observou em silêncio. Ele ficou tão chocado com a
revelação quando a ouviu pela primeira vez.
Agora, ele estava ao meu lado com a mesma expressão estoica que eu
aprendi a conhecer e respeitar.
— Estou pronto, — eu disse em voz alta.
Meus dentes cerrados e punhos me enganaram, pensando que eu
poderia parar tudo isso. A batida inquieta do meu coração me fez saber o
que eu não queria entender...
Isso não seria fácil.
— Tem certeza de que é isso que você quer? — Tannon perguntou,
embora ele já soubesse a resposta.
Eu balancei a cabeça em resposta, meus músculos flexionando
enquanto pensava na jornada à frente. — Assim que o portão estiver
aberto, você deve se apressar. Vou conter qualquer mal que tente passar
pelo portal, mas a minha força não durará muito. Você terá apenas três
horas. Depois disso, eu vou selar o portão novamente para garantir a
segurança do nosso mundo, — alertou.
Três horas. Não é muito, mas teria que ser suficiente.
O poder dentro de mim que estava esperando para explodir me
garantiu mais uma vez que eu era capaz de lidar com esta missão.
Meu coração acelerou, mas eu ignorei, enviando minhas
preocupações para a boca do estômago.
Eu não falharia nesta missão. Não importa o que acontecesse, eu
salvaria Belle.
— Nada pode me deter agora. Eu vou ter sucesso em meu destino. Eu
tenho que fazer isso, — eu disse.
Um sorriso cresceu no rosto de Tannon enquanto ele analisava a
minha determinação.
— Eu tenho fé em você, Rei Lobisomem. Mas você deve saber que os
seus poderes não serão os mesmos depois que você fizer a passagem. Use
sua força com moderação... — Tannon disse.
Eu sabia o que ele estava tentando dizer. Era o mesmo sinal que Belle
havia me dado antes de desaparecer, não muito tempo antes.
Devo confiar em minha inteligência e intuição. Haveria muito tempo
para lutar mais tarde — a profecia prometia isso.
Tannon assumiu uma postura ereta e ergueu os braços no ar. Seu
cajado estava pendurado em suas mãos, o condutor de grande parte de
seu poder. Ele olhou para mim novamente, com um brilho mais severo
atrás de seus olhos.
— Você pode não ser capaz de salvar Annabelle por conta própria, —
advertiu ele.
RUGIDO!
Eu deixei minha raiva explodir, gritando ao céu laranja que brilhava
acima de nós.
— Abra o portão! — Eu gritei.
Tannon continuou de pé, imóvel.
— O Lorde Demônio espera por você. Eu posso senti-lo, — disse
Tannon. — Ele e seu irmão Azazel são fortes, incrivelmente poderosos.
Azazel? Seu irmão?!
Procurei em minha memória uma resposta e me lembrei da imagem
de uma espada flamejante. Eu não tinha conhecido nenhum desses
demônios, mas sabia de seus poderes.
Lazarus era conhecido por ser suave e manipulador.
Azazel, por outro lado, era conhecido como o Senhor da Morte. Ele
poderia ser considerado um tipo forte e raivoso.
Excelente. Haveria mais de um Lorde Demônio para ser derrotado.
Eu podia ouvir a cautela na voz de Tannon, mas minha convicção só
cresceu.
— Essa conversa acabou. Está na hora, — eu ordenei.
Tannon olhou para frente. Seus olhos começaram a brilhar com
aquela luz misteriosa, muito parecida com a do pico da montanha.
O brilho começou a emanar de seu cajado e olhos. Eu podia sentir
isso acontecendo.
O portal para o submundo estava começando a se abrir.
Belle

Eu podia sentir seu hálito quente no meu pescoço enquanto ele se


atrapalhava desesperadamente com a minha calça. Ele havia contido seu
desejo o máximo que pôde.
Eu imaginei que tivéssemos demorado mais do que ele estava
acostumado.
— Está na hora, meu amor, — ele gaguejou enquanto sua luxúria
crescia.
Eu podia ver seu falo, inchado e duro, tentando arrebentar as suas
calças. Estremeci com o pensamento e, naquele momento de nojo, caí da
cama.
Eu caí no chão com um baque e um suspiro.
A cabeça de Lazarus apareceu na beirada da cama.
Seus olhos ainda ardiam, como se uma chama tivesse sido acesa
dentro de sua cabeça. Ele estava faminto, morrendo de desejo de me ter.
Eu recuei, tentando fugir.
— Você me disse que eu veria a minha família. Você mentiu para
mim! — Eu gritei, tentando tirar ele do foco.
Seus lábios formaram um sorriso que rapidamente se transformou em
raiva.
Eu podia ver seus dentes perfeitos brilhando entre os lábios. Eles
eram mais afiados do que eu me lembrava, pequenas facas prontas para
cortar a minha carne pálida.
— Fiz o meu melhor absoluto, meu amor, para permitir que a sua
chegada aqui ocorresse no seu próprio ritmo. Mas acabou. Você é minha.
Está destinado. Esta noite, vou marcá-la como minha. Amanhã, você será
minha rainha.
Eu tentei fugir, mas bati na parede e tive que parar. Não havia para
onde ir.
— Pare, não estou pronta.
Para minha surpresa, Lazarus parou.
Realmente era só isso que eu tinha que dizer?
Talvez eu estivesse errada. Talvez ele me desse mais tempo.
Uma luz acesa surgiu atrás de Lazarus. Seu sorriso cresceu mais
amplo.
Eu agora podia ver manchas de sangue em seus dentes. Alguma
vítima infeliz não foi capaz de retardá-lo como eu.
Quando olhei para o sorriso, senti náuseas. Tentei desviar o olhar,
mas a queimação continuou a crescer até que pude sentir o calor de suas
chamas. Contra toda a minha vontade, olhei para a frente e engasguei em
choque.
Uma figura apareceu dentro das chamas. Parecia Lazarus. mas havia
algo muito mais sinistro no brilho ardente.
Minha boca caiu.
Essa era a imagem que eu tinha visto em meus sonhos. A figura
horrível que espreitava nas bordas dos meus pesadelos, me observando.
Sorrindo para mim na escuridão.
Esse pesadelo se tornou real. Ele estava bem na minha frente.
E para piorar as coisas, ele foi envolvido pelas chamas.
— Eu gostaria que você conhecesse a minha própria família, amor.
Este é meu irmão, Azazel. Diga olá a Azazel, o Senhor da Morte.
Eu não conseguia acreditar no que eu estava vendo. As coisas estavam
ficando cada vez mais surreais.
Mas o calor que eu sentia emanando de seu corpo me disse que aquilo
não era uma ilusão.
Meus pesadelos vieram para me assombrar nesse novo mundo onde
eu agora habitava.
O Senhor da Morte estava ao lado de seu irmão, cara de um focinho
do outro, se não fosse pelas chamas. Ele não falou, mas seus olhos
infernais me disseram tudo que eu precisava saber.
— Isso não pode ser real.
Lazarus riu.
Isso desencadeou um efeito dominó em Azazel, que riu também,
disparando fogo de sua boca.
Olhei para a sala ao meu redor e uma vertigem repentina tomou
conta de mim.
Meu olhar ficou turvo. A imaculada suíte master começou a
estremecer e se mexer.
Comecei a entender o que estava acontecendo. Este não era o mundo
real que eu esperava.
Foi uma miragem!
Eu rastejei para uma janela próxima e observei a vegetação
exuberante da ilha arder em chamas.
Os servos mudaram suas roupas de trabalho e revelaram suas
verdadeiras formas — demônios sem atributos distintos.
Eles eram simplesmente substitutos pálidos de seu senhor, olhos
vermelhos acompanhados de cabelos brancos espetados.
— Se você não se entregar só para mim... talvez se entregue para nós
dois juntos, meu amor?
O Lorde Demônio e o Senhor das Trevas estavam lado a lado. Lazarus
lambeu os lábios, enquanto Azazel estalou os nós dos dedos.
Um...
CRACK.
Por um...
CRACK.
Por um...
O estalo de seus dedos misturado com a conflagração de seu corpo
oprimiu os meus sentidos.
Eu podia sentir um leve puxão, mais forte agora porque os dois
estavam juntos, dobrando a sensação no meu corpo.
Ele tinha sido tão gentil, tão compreensivo...
Como pude me enganar e acreditar que esse poderia ser o meu final
feliz?
Eu podia ouvir uma anedota imaginária de meus pais ricocheteando
nas paredes do meu crânio...
Todos os homens são iguais... eles só querem uma coisa. Certifique-se de
que sua primeira vez seja especial. Certifique-se de que é o que você deseja.
Bem, não era assim que deveria ser a minha primeira vez. Não era
assim que alguém deveria experimentar um dos melhores momentos de
sua vida.
Eu me encolhi enquanto a paisagem infernal rugia ao meu redor.
Não foi assim que eu imaginei...
Eu estava no inferno.
Keith

Observei a barreira invisível se abrir lentamente, como um furo de


alfinete virando uma cratera.
O corpo de Tannon tremia com toda a energia necessária para abrir o
portal.
Fiquei grato pelas suas contribuições. Sem ele, eu nunca teria
chegado tão longe, e Belle certamente estaria perdida no submundo.
— Espere, Belle, — eu sussurrei para mim mesmo enquanto
continuava observando o portal ficar maior.
— Agora. Você deve ir agora! — Eu ouvi Tannon gritar acima do som
da massa girando, circulando diante de nós.
— Lembre. Três horas! Você só tem esse tempo!
Eu balancei a cabeça em compreensão e fui para a porta.
— Obrigado, — eu disse a ele. antes de voltar minha atenção para o
portal a apenas alguns centímetros do meu corpo.
Quando comecei a passar por ele, pude sentir um medo profundo se
espalhar por mim.
A imagem de Belle cercada por chamas encheu minha mente.
Quase tropecei, mas recuperei a compostura.
Tannon estava correto; Eu já podia sentir a minha força
enfraquecendo.
— Estou indo, Belle! — Eu gritei, enquanto avançava na escuridão
incerta que estava à minha frente.
Capítulo 15
ILHA DO FOGO
Keith

Silêncio.
Silêncio absoluto.
E por que eu só conseguia ver o branco?
Eu havia atravessado o portal e entrado em um mundo com uma
brancura cegante e nenhum som. Eu balancei minha cabeça e tentei
bocejar, estalando minhas orelhas.
Elas levaram um momento para se ajustar.
CHIRP.
Eu podia ouvir o assobio dos pássaros escondidos no alto das árvores.
Esfreguei meus olhos e os abri novamente.
O brilho estava em toda parte, envolvente.
Tentei encontrar a fonte da luz sobrenatural, mas não consegui. Ela
vinha de todos os lugares e ainda não tinha um ponto de origem.
Finalmente, o branco mudou para algo menos áspero e eu pude ver o
mundo ao meu redor.
Eu estava em um campo pacífico cercado por árvores altas. No centro
deste mundo verde exuberante havia um grande lago.
Era majestoso, mas inquietante em sua beleza.
Eu me perguntei quais perigos se escondiam na névoa.
Meus dedos ficaram brancos.
A água se moveu. Algo estava curvado, brincando na beira da água.
Era pequena e frágil, quase como uma criança coberta por sua própria
sombra.
Aproximei-me com cautela. Meus instintos entraram em ação. Isso
me lembrou de quando eu caçava, perseguindo minha presa com uma
rapidez furtiva e letal.
Mas a sombra me ouviu e virou a cabeça. Não consegui encontrar
seus olhos, mas senti que ele me observava.
— Quem é você e por que veio aqui? — perguntou com uma voz
vacilante e infantil.
— Eu sou o Rei Lobisomem e vim procurar Annabelle. Ela é minha
prometida, — eu respondi.
Assim que disse essas palavras, pude ouvir a profecia ecoando em
minha cabeça. Uma guerra eterna seria o preço final para o nosso amor.
Pensar nela agora, enquanto eu estava nesta clareira, só reforçou a
minha necessidade de encontrá-la.
Eu não desistiria de procurar, custe o que custar. A criança-sombra
balançou a cabeça e olhou para mim novamente.
— O Rei das Sombras está pronto para vê-lo. Ele estava te esperando,
— disse.
Ela estendeu o braço e estendeu a mão para mim. Pensei em recuar.
E se isso fosse uma armadilha?
Você terá apenas três horas.
Eu pensei sobre o que Tannon havia dito.
Haveria outros momentos de incerteza. Agora, eu precisava seguir em
frente.
Respirando fundo, segurei a mão da criança-sombra.
Meu estômago embrulhou quando fomos ultrapassados por uma
massa rodopiante. A criança sombra abriu um portal para nós viajarmos.
Não sabia o nosso destino nem quem me esperava no final. Não
importava, contanto que eu encontrasse Belle.
Mordi meu lábio enquanto uma escuridão pesada sugava toda a luz
do meu mundo.
Um grande fogo queimava em uma lareira de pedra.
O cheiro de madeira fumegante encheu as minhas narinas.
A luxuosa sala era bem diferente do que eu imaginava que um Rei das
Sombras possuiria.
Seu trono estava orgulhosamente exibido no meio da sala, brilhando
com o fogo aceso.
A criança-sombra tinha me teletransportado aqui segundos depois de
tocar as mãos. Com a mesma rapidez, ela havia desaparecido, me
deixando sozinho.
Ou, então eu pensei...
Um movimento chamou a minha atenção. Eu me abaixei, pronto para
atacar se necessário.
Consegui distinguir duas figuras sentadas perto do fogo.
Enquanto as chamas dançavam, vi os rostos de uma criança e de um
homem adulto. Eles estavam lendo à luz do fogo.
De repente, o homem olhou para mim e se levantou. Seu cabelo
comprido balançou em seu rosto, tampando a sua expressão.
O menino também se levantou, segurando o livro perto do peito.
— Meu nome é Derek, o Rei das Sombras. Seja bem-vindo ao meu
castelo. Rei Lobisomem. É bom te ver.
Sua voz era gentil e acolhedora.
Mais uma coisa para me pegar desprevenido!
Ele não era um monstro que sequestrou uma mulher inocente.
Eu rapidamente olhei ao nosso redor para ter certeza de que não
havia mais ninguém — ninguém à espreita.
— Onde ela está? — Eu perguntei com raiva.
O menino se agarrou com mais força ao Rei das Sombras. Não tive a
intenção de assustá-lo, mas não consegui conter a minha frustração.
— O Lorde Demônio está com ela, — respondeu ele.
Abri minha boca e soltei um rugido ensurdecedor.
O Rei das Sombras deu um passo à frente, erguendo as mãos para
impedir o que quer que eu fizesse a seguir.
— Ela salvou o meu irmãozinho! O Lorde Demônio o sequestrou e só
o devolveria se eu a encontrasse, — ele explicou.
Eu dei um passo à frente e respirei fundo. Precisei me controlar ao
máximo para não atacá-lo.
— Então, foi você quem a entregou? — Eu perguntei, a raiva em
minha voz era inconfundível.
— Ela foi de boa vontade. Para salvar a vida dele, — disse Derek.
O menino tentou se esconder atrás do Rei, para se proteger da minha
raiva.
Eu dei alguns passos para trás, dando mais espaço entre nós.
— Diga-me como encontrá-la. Rei das Sombras.
Não tenho tempo para jogos, — avisei.
— O Lorde Demônio não joga. Ele vai torturar qualquer um até
conseguir o que quer. Eu sei que seu tempo é precioso. Eu prometo, eu
quero derrubá-lo tanto quanto você, — Derek disse.
Seu rosto estava sério, mostrando nada além de determinação.
Senti minha coragem crescer.
— Bom — eu disse. — Então, o que você sugere que façamos a seguir?
Belle

Eu não conseguia me mexer. A minha respiração estava irregular,


meus pulmões incapazes de se encher de ar.
Lazarus segurou minhas mãos com força, e seu corpo me prendeu no
chão.
— Eu te dei a chance de fazer isso da maneira mais fácil, — ele disse,
enquanto eu lutava embaixo dele.
Certo.
A maneira mais fácil...
Eu só tinha que me entregar ao Senhor de todos os Demônios e ao
seu irmão psicopata. Tudo o que eles queriam era me usar para a sua
própria diversão sexual doentia.
Não é grande coisa...
Então, eu chutei e soquei, tentando atacá-los mais de uma vez.
Lazarus retaliou como esperado, mas foi a sua força que me
surpreendeu.
Agora, eu estava encurralada, pois dois demônios muito poderosos
procuravam me tomar como sua prometida relutante.
Para minha total surpresa, Azazel falou pela primeira vez. Sua voz
cortou meus ouvidos como uma faca afiada corta carne.
— Tanta energia. Isso é muito revigorante. Na verdade, estou ansioso
para provar a sua carne, — ele sibilou.
Minha pele ficou quente quando senti o corpo em chamas de Azazel
se aproximando.
Orei silenciosamente para a Deusa da Lua. Este não poderia ser o
meu destino!
A porta se abriu de repente, pegando todos nós de surpresa.
Um grande lobo estava no batente da porta, seus dentes pingando
saliva. Notei a cor de seu pelo e o formato de seus olhos.
Era Gregory! Ele mudou para sua forma de lobisomem e quebrou a
barreira.
Ele veio me resgatar!
Eu sorri ao pensar em sua bravura e então imediatamente engasguei.
Se ele fosse meu meio-irmão, seus poderes seriam iguais aos meus.
Ele poderia mudar, mas ele não seria um verdadeiro lobisomem. Ele
seria fraco e aberto a ataques.
Gregory correu em direção aos dois irmãos, e mesmo em
desvantagem, ele conseguiu assustá-los, encurralando contra a parede
oposta.
Eu estava finalmente livre!
Eu o vi dar um bote, e então ele congelou no ar como se o tempo
tivesse parado.
Lazarus estava sorrindo enquanto estendia o punho cerrado.
— Bem, olhe só quem é — Lazarus sussurrou baixinho. — Vocês
realmente são irmãos.
O lobo de Gregory foi atirado para o outro lado da sala, contra a
parede.
Azazel voou com tanta velocidade que mal pude ver o seu corpo se
mover. Em um piscar de olhos, ele estava em cima de Gregory.
Uma espada flamejante começou a se formar do nada, o cabo
crescendo direto da mão estendida de Azazel.
— Isto vai ser divertido.
Lazarus se juntou ao irmão e eu desviei meus olhos. A porta aberta
estava me chamando para sair.
Eu estava de pé e fora da porta em segundos, correndo o mais rápido
que meus pés e pulmões permitiam.
A outrora bela ilha agora queimava com a intensidade de um violento
incêndio florestal.
As chamas rugindo abafaram todos os sons, distorcendo os meus
sentidos. Mas havia algo mais no barulho...
Um gemido horrível.
Eu olhei para cima e vi gaiolas balançando no ar, pairando sem
correntes ou cordas presas.
Membros pendurados nas laterais, empurrando as barras de metal
para encontrar qualquer tipo de consolo disponível.
Suas carnes foram queimadas e fervidas.
Respirei várias vezes para acalmar meus nervos e quase vomitei. O
cheiro de carne e cabelo queimados encheu meu nariz.
Eu não pensei que pudesse me mover, mas as minhas pernas se
agitaram por vontade própria.
Isso me forçou a me afastar dessas visões e cheiros horríveis.
Passei por mais e mais almas torturadas. Os campos brilharam ao
meu redor.
Este fogo não diminuía.
Eu podia sentir o suor encharcando minha pele. Água jorrava do meu
corpo, mas tudo o que pude fazer foi seguir em frente.
De repente, não havia nada mais na minha frente.
Eu tinha corrido tão longe quanto este mundo me permitiu.
Diante dos meus olhos havia um enorme fosso, um buraco que meteu
ainda mais medo em meus ossos.
Era isso. O verdadeiro poço do inferno que me levaria direto para a
minha condenação eterna.
Eu me virei para ver Lazarus e Azazel se aproximando.
Parecia que eu tinha duas opções: tentar a sorte no fosso
desconhecido ou me entregar aos dois homens que acabaram de matar o
garoto que já tinha sido a minha paixão.
Essa escolha foi fácil...
Fechei os olhos e me preparei para pular.
Meu estômago se contraiu e pude sentir outra coisa além do medo.
Foi uma atração familiar que me deu esperança.
RUGIDO!
Eu abri meus olhos e mal pude acreditar no que via.
Um lobisomem, enorme e assustador, corria através das chamas
ardentes. Eu já tinha visto esse lobisomem antes.
Era o Keith!
De repente, eu entendi aquela atração familiar.
O meu prometido veio atrás de mim.
Capítulo 16
A GRANDE FUGA Belle
Fogo dançante.
Fumaça girando.
Presas pingando.
— Keith! — Eu gritei com todas as minhas forças.
Eu ansiava por vê-lo, temendo nunca mais ter outra chance.
Dizer seu nome em voz alta me deixou feliz.
Saber que ele ouviu, que também podia me ver, aumentou a minha
esperança.
Eu assisti Keith rasgando o chão enquanto ele saltava em direção aos
meus sequestradores.
Três homens diferentes lutavam para me tomar como sua prometida.
Agora, eles lutariam entre si até o fim para ver quem seria o vencedor.
Eu afastei esse pensamento da minha cabeça.
Eles lutavam pelo meu amor! Isso significava que, no fim, a escolha
era minha.
Não importa o que eles queriam de mim, só eu tinha o poder de
decidir.
Eles seriam sábios se lembrassem disso.
Eu dei um passo para trás e pude ouvir pedras caindo da borda do
poço.
Um único passo em falso e eu poderia cair no abismo profundo.
— Belle! — Keith gritou, enquanto se lançava no ar.
Meu coração saltou com ele.
Os dois Lordes Demônios tomaram as suas posições, preparando suas
armas e poderes.
O derramamento de sangue era a única opção.
Esta batalha logo terminaria, mas a guerra eterna estava só
começando.
Keith

Keith!
Eu ouvi Belle gritar o meu nome, e isso me encheu com ondas de
energia.
Foram as minhas próprias ações que a enviaram para longe de mim.
iniciando esta busca frenética. Finalmente, eu poderia corrigir os meus
erros.
Eu pulei no ar e caí com força sobre os dois Lordes Demônios.
Eles estavam esperando, mas o meu tamanho e impulso para frente
estavam a meu favor.
Pousei com força em cima deles e deslizei pelo chão de brasas.
— Esperávamos ver você. Rei Lobisomem — Lazarus disse enquanto
se levantava.
Seus olhos ardiam com mais paixão do que o mundo infernal ao
nosso redor. O cabelo espetado em sua cabeça começou a reverberar de
um lado para o outro com uma energia poderosa.
— Eu não suportaria que a minha rainha perdesse a sua morte —
Lazarus sussurrou de alegria.
Azazel sacou sua espada flamejante, do nada, e as chamas que o
cercavam dançavam com vontade própria.
— Agora que você veio, ela pode assistir você morrer, — Azazel
assegurou.
Eu sorri, deixando minhas presas pingarem saliva quente. Fiquei
apoiado nas patas traseiras, elevando-me sobre os dois demônios.
Eles eram poderosos, sim. Mas eu tornaria a vida deles muito difícil
nessa luta.
Uma explosão de energia me derrubou para trás.
— Você não é páreo para nós! — Lazarus riu.
Outra onda me pegou e me fez girar como um redemoinho.
Eu me equilibrei e balancei a cabeça. Nossa, isso foi inesperado!
Eu pulei para o lado quando a espada de Azazel desceu, com força. Ela
perfurou o local onde eu estava, apenas alguns momentos antes.
A terra já queimada borbulhava com o calor inimaginável emitido
pela sua lâmina diabólica.
— Você tem que fazer melhor do que isso! — Eu rugi.
Eu ataquei com todas as minhas forças, alternando entre punhos
fechados e garras abertas.
Azazel saltou para trás e para longe, escapando apenas por alguns
centímetros de uma patada que poderia ter rasgado o seu peito.
— Cuidado! — O aviso de Belle mal chegou aos meus ouvidos, mas foi
o suficiente para me salvar.
Eu podia sentir uma presença se aproximando rapidamente por trás e
rolei para o lado.
Uma grande explosão abriu um buraco no chão, enviando pedaços de
terra escaldante em todas as direções.
Saltei e rolei várias vezes seguidas, tentando me distanciar do perigo.
SLASH
Eu caí no chão, as minhas pernas cederam.
Um grande corte se abriu, de repente, na minha coxa. O cheiro de
pelo chamuscado fumegou até as minhas narinas enquanto eu mordia
meu lábio, cheio de dor.
A ferida estava cauterizada...
Eu fui cortado pela espada de Azazel.
Eu vi o Demônio em chamas voando pelo ar e ele deu uma
cambalhota sobre o meu corpo, posando atrás de mim. Meus dentes
afundaram na carne de seu ombro.
Eu podia sentir as chamas queimando a minha pele, então apertei a
mandíbula ainda mais forte e rasguei a pele dele com todas as minhas
forças.
RUGIDO!
As chamas queimaram o meu rosto. Eu as esfreguei com uma pata. O
corpo em chamas de Azazel era uma armadura natural.
Eu assisti enquanto Azazel pressionava o seu ombro que agora
gotejava com sangue preto.
Eu sabia que a única maneira de vencer era correr riscos. Mas até que
ponto eu poderia chegar?
BOOM!
Eu caí no chão com um estrondo.
Lazarus. mais uma vez, circulou atrás de mim. O Lorde Demônio
usou a agressividade de seu irmão como uma distração.
As minhas costelas estavam machucadas e eu podia sentir as minhas
costas doendo com a explosão dessa energia negra.
Pelo sangue antigo que corria em minhas veias, eu sabia que as feridas
iriam curar com o tempo. Isso sempre acontece.
Mas Tannon avisou que os meus poderes não eram tão fortes neste
reino. Eu balancei a minha cabeça sem querer acreditar, mas ele
realmente estava certo.
Virei de costas e estremeci.
Lazarus estava parado perto de mim. Azazel logo ficou do seu lado.
— Seu tempo acabou, Rei Lobisomem — Lazarus disse, com um
sorriso.
Azazel se inclinou para o chão e estendeu a lâmina de fogo em direção
ao meu peito.
— Não se preocupe, nós cuidaremos bem dela, — ele me assegurou,
com veneno exalando pela sua voz.
Belle

Eu o observei cair no chão. Seu ataque foi bem-sucedido, mas a


explosão de energia o pegou desprevenido.
Agora, ele estava prestes a ser destruído, massacrado pelos mesmos
homens que haviam massacrado Gregory.
Toda a minha esperança estava prestes a ter um fim repentino e
violento.
Tentei buscar dentro de mim alguma ajuda dos meus poderes
adormecidos — mas estar presa neste mundo fez alguma coisa comigo.
O inferno tinha uma maneira única de incinerar até mesmo o menor
vislumbre de esperança.
Azazel ergueu sua espada, e me esforcei para obter qualquer sinal de
força interna.
— ATACAR
Eu ouvi esse grito e olhei para cima.
Uma sombra pesada estava voando pelo céu. aproximando-se com
uma velocidade impressionante.
Eu olhei para a escuridão e vi um rosto familiar nas sombras.
Derek! O Rei das Sombras!
Ele tinha um exército de crianças das sombras seguindo seu rastro,
voando pelo ar enquanto os seus gritos retumbavam por todo o inferno.
Lazarus e Azazel cambalearam para trás, em choque.
Eles já esperavam o ataque de Keith, sabiam que o seu desejo por mim
o traria aqui.
O que eles não esperavam era o apoio do Rei das Sombras.
Pensei no jovem Jason e em como ele tinha medo de Lazarus. A
alegria que ele teve ao ver Derek era tudo que eu precisava para me
entregar ao Lorde Demônio.
Derek retribuiu o meu sacrifício na mesma moeda, atacando quando
eles menos esperavam.
Eu vi as sombras descerem e logo começarem a se despedaçar, uma
por uma.
O Lorde Demônio e o Senhor da Morte eram muito poderosos.
Eu não aguentava assistir a isso. Todo esse ataque seria em vão.
Então, os meus pés deixaram o chão e fui arrebatada por um
emaranhado de cabelos e músculos.
Keith aproveitou essa distração para vir atrás de mim. Fui jogada em
suas costas e o segurei como se minha vida dependesse disso, enquanto
ele corria pelos campos ardentes do inferno.
— Você veio me buscar! — Gritei para Keith, enquanto ele batia em
retirada, com toda a rapidez.
— Claro, eu vim, — ele disse, enquanto olhava rapidamente para
mim, por cima do ombro.
Nossos olhares se cruzaram e o meu coração derreteu. Mas suas
próximas palavras fizeram com que esse calor esfriasse.
— Vamos torcer para que ainda tenhamos tempo.
Keith

Belle agarrou-se ao pelo das minhas costas com todas as suas forças
enquanto eu corria.
Os músculos dos meus braços e pernas estalaram com potência,
enrijecendo com a pressão.
Recusei-me a desacelerar, nem que fosse por um segundo. Mesmo se
não estivéssemos correndo contra o relógio, este mundo não era um
lugar para fazer pausas e apreciar a paisagem.
Eu torci meu nariz, que ainda ardia do fogo de Azazel. Se Belle e eu
íamos sobreviver, precisávamos sair pelo portal.
A imagem do cajado brilhante de Tannon veio à minha mente. Eu me
perguntei se ele conseguiu manter o portão aberto e lutar contra
qualquer demônio que tentasse sair.
As nossas vidas dependiam disso.
Eu ri do meu egoísmo. Não éramos apenas Belle e eu que
precisávamos dos poderes do feiticeiro para permanecer vivos.
O destino do mundo todo dependia disso.
Eu podia sentir o seu abraço cedendo, mas não ousei tropeçar ou
parar.
Estávamos nos aproximando do local por onde eu entrei nesse
mundo infernal. Apenas mais alguns segundos e ela não precisaria mais
se segurar.
Eu a carregaria através do portal para o nosso mundo...
Meus pés cravaram no chão e paramos.
Eu olhei para a esquerda e para a direita. Para cima e para baixo.
Minhas narinas se encheram de ar enquanto eu tentava perceber o
cheiro de Tannon.
Este tinha sido o lugar! Eu tinha certeza!
Mas nós estávamos sozinhos.
Tannon havia fechado o portal, sentenciando oficialmente as nossas
almas à condenação eterna no inferno.
Belle

— Não está aqui!


Eu podia sentir o pânico na voz de Keith.
— O portal está fechado. Tannon mentiu para mim!
Keith bateu na barreira invisível, enviando ondas de choque em todas
as direções. Seu corpo caiu e ele se transformou de volta para sua forma
humana.
Ele não era mais a versão tão temida do Rei Lobisomem.
Agora, ele era simplesmente um homem nu, lentamente percebendo
que tudo estava perdido.
Eu vi seus olhos olharem para os meus. Eles estavam cheios de
tristeza.
— Não queria que acabasse assim, — disse ele, com uma sinceridade
que raramente se ouvia na voz dele.
— É por isso que você estava deitado com Daisy naquele sofá? Você só
a estava beijando para ter certeza de que ela sabia que você me amava? —
Eu perguntei em descrença.
Eu chutei o chão, enviando pedras contra a barreira.
A raiva que senti quando estava de pé, na beira do poço, voltou com
tudo. Por que meu destino deveria ser pré-determinado? Eu tinha os
meus desejos.
Meu corpo tinha desejos que precisavam ser satisfeitos. E nenhuma
outra pessoa me diria como atender a essas necessidades.
Por que eu deveria me entregar a qualquer homem?
É
— Sinto muito, Belle. É tudo culpa minha, — reconheceu.
Eu ri com essa ideia e balancei a cabeça. — Você está certo.
— Eu estava com medo. A sensação que senti por dentro nunca
aconteceu com mais ninguém. Era tudo novo e eu não sabia o que fazer,
— admitiu.
— Então a culpa é minha? Você procurou alguém que não te deixasse
tão confuso. É isso? Eu não me entreguei rápido o suficiente, então você
encontrou uma outra mulher muito mais disposta.
Keith se levantou e tentou se aproximar.
Eu dei alguns passos para trás.
— Eu sou um tolo teimoso. Mas eu sei o que eu sinto. Essa sensação
aqui dentro... é por você, e somente você Belle, você é minha prometida,
— ele disse.
Suas palavras acenderam o desejo ardente em meu interior, que eu
queria suprimir. Ele deu alguns passos, e estava bem na minha frente.
Nossos olhos se encontraram.
A tensão ao nosso redor aumentava cada vez mais, à medida que
nosso tempo juntos diminuía.
Ele me beijou na boca com força e o meu corpo ficou dormente.
Nosso primeiro beijo! Desta vez, ele não fingiu atração antes de, num
passo rápido, virar as costas para mim. Não, desta vez, ele finalmente
cedeu aos desejos que ambos sentimos por tanto tempo.
Nossas línguas se conectaram em um emaranhado de paixão.
Eu podia sentir o calor dentro do meu corpo crescendo, se unindo
com as chamas que estavam prestes a nos consumir.
Capítulo 17
PROTEGENDO O PORTAL
Tannon

Nem dois minutos se passaram desde que Keith desapareceu pelo


portal quando a dúvida e a ansiedade me dominaram.
Por que eu abri a porta para o submundo sabendo muito bem as
consequências que isso acarretaria?
Eu fiquei lá, com o meu cajado na mão, joelhos dobrados, braços
abertos, pronto para usar a minha magia para fazer qualquer demônio
morrer.
Se algo de ruim acontecer agora, seria minha responsabilidade
garantir que parasse imediatamente.
Já era um risco abrir este portal para Keith, que dirá mantê-lo aberto
para que ele trouxesse a sua prometida.
Quanto mais eu esperava que algo acontecesse, mais dolorosa a
minha ansiedade se tornava, já que apenas um enorme silêncio entrava
pelo portal.
Meia hora se passou... depois uma hora... e então, eu senti.
Matéria escura persistente se aproximando de mim, do outro lado da
parede.
— As portas! Elas estão abertas!, — uma voz me assustou.
— Liberdade! — um segundo gritou.
O pensamento de vários demônios especulando do outro lado deste
portal me fez entrar em pânico. Quantos eram?
Não ouvi passos, mas várias vozes abafadas estavam se aproximando
do portal.
Era isso. É hora de trazer mais propósito à minha vida.
Nenhum demônio se espremeu pelo buraco. Em vez disso, vi três
tipos diferentes de entidades flutuando em nosso mundo.
Eu só tinha lido sobre esses seres, fascinado por suas estruturas
etéreas que se moviam com o vento, como nuvens tóxicas que sopram
suas energias drenantes em minha direção.
Sem mais hesitação, bati meu bastão no chão e entoei um canto
familiar.
— Thondra! — a minha voz retumbou, ecoando pela paisagem.
O canto, combinado com meu poderoso bastão, criou uma energia
mágica que ondulou em direção aos seres em forma de nuvem,
destruindo a sua forma.
Uma onda de adrenalina inesperada, porém familiar, correu pelas
minhas veias.
Fazia muito tempo desde a última vez em que eu tinha usado a minha
magia como uma arma, mas uma sensação familiar invadiu o meu corpo.
Essa repentina excitação durou pouco. O feitiço só parecia piorar as
coisas!
Eles lutaram, usando uma energia sombria para puxar a minha força
vital.
Em questão de segundos, me senti mais fraco e frágil. Até a força da
gravidade parecia crescer com cada batida do meu coração, trabalhando
contra o meu corpo.
A força em meus joelhos começou a falhar, e com ela, o mesmo
aconteceu com o resto de meus membros. Logo, até mesmo o meu
bastão parecia mais pesado em minhas mãos.
Mas eu ainda podia ver o portal aberto e isso me deu esperança para
continuar de pé.
Só eu poderia abrir o portal e prometi que o nosso mundo
permaneceria seguro. Eu teria que cumprir essa missão — ou morrer
tentando.
Então, eu vi. A força vital dessas entidades.
Uma fina camada de vapor escuro as rodeava, crescendo à medida que
sugavam a minha própria energia.
As suas verdadeiras formas estavam escondidas atrás de uma cortina
de fumaça, mas eu as descobri!
Eu redirecionei o meu foco e reuni outra explosão de poder dentro de
mim. Batendo meu bastão no chão mais uma vez, gritei o meu cântico.
— Thondra!
Desta vez, a ondulação energética da minha magia rasgou o seu vapor
fino, destruindo-os enquanto gritavam em agonia.
Eu tinha saído vitorioso, mas não sem sofrer algumas perdas.
Quando olhei de volta para a fenda aberta na parede, fiquei mais
cansado.
A parede havia mudado. Rachaduras se formaram e se ramificaram
como gelo começando a derreter. Olhei a abertura que Keith mal havia
conseguido atravessar. Seu tamanho quase dobrou.
Eu convoquei os meus poderes de cura e comecei a reparar as
rachaduras, protegendo a parede do colapso total.
Com o tempo, a minha confiança nessa situação começou a se
deteriorar lentamente, junto com a parede.
Cada vez que fechava uma fenda, outra maior aparecia, junto com
mais uma ou duas sombras cheias de energia para a batalha.
O que faltou a elas em força, ganharam em quantidade. Uma por
uma, eu peguei sua força vital, mas em troca, elas também roubaram uma
parte de minha energia.
Quanto mais isso acontecia, mais eu lutava e menos estável me
tomava.
BOOM!
Uma forte explosão de energia me atacou por trás. Fui jogado vários
metros para a frente e o cajado caiu da minha mão.
Deitado de bruços, comecei a notar o leve cheiro de fumaça
carbonizada.
A explosão não apenas me derrubou, mas também chamuscou as
minhas roupas e minha pele!
Lutei para torcer meu corpo e me virar, mas não encontrei nenhum
sinal do meu atacante.
A dor foi inesperadamente profunda e me deixou imóvel. Eu não
conseguia me mover.
Eu só pude assistir enquanto a parede lentamente lascava e
desmoronava.
A imagem de Keith brilhou em minha mente, seu corpo rígido de
determinação, enquanto ele berrava em direção ao céu.
Se o Rei Lobisomem tinha me ensinado alguma coisa, era a nunca
desistir.
Com respirações irregulares e uma dor paralisante, usei toda a minha
energia para rastejar em direção ao meu cajado.
Durante séculos, eu protegi essa parede. De jeito nenhum eu
permitiria que ela desmoronasse!
Eu tinha dado a minha palavra de protegê-la do mal ou morrer
tentando. E eu cumpriria essa promessa acima de todas as coisas.
Quando os meus dedos finalmente alcançaram o cajado, mais seres
flutuaram através da barreira.
Respirei fundo, reunindo o máximo de ar e energia que pude. De
repente, minhas pernas vacilantes me levantaram do chão e eu consegui
assumir uma postura adequada.
— THONDRA! — Eu gritei, batendo o cajado no chão.
Os seres, que mais pareciam nuvens, caíram do céu.
Exaltando o resto da minha energia, eu cantei, — Thatcha kendist
granh. Manthra yur manthra dankki.
Cada palavra tirou mais poder de mim, e embora os meus olhos
estivessem se fechando e meus sentidos turvando, eu me esforcei para
articular as últimas três palavras do feitiço.
— Manthra grunhe sin.
Usei o que restava de minha energia nessas palavras. Enquanto meu
corpo desmantelava de exaustão completa, meus olhos se fecharam,
junto com a abertura gigante na parede.
Então, tudo ficou preto.
Belle

Afastar-se dos lábios de Keith me deu falta de ar.


O nosso abraço parecia ultrapassar os limites do tempo, como se a
única coisa que importasse agora era que estávamos juntos.
Mas algo não estava certo. Por que me senti tão leve, como uma bolha
flutuando no ar?
— Belle! Você é... você... — Keith gaguejou, me acordando do meu
devaneio.
Então, eu abri meus olhos para um mundo literalmente em chamas.
Eu olhei para Keith e não pude deixar de notar que os meus pés
estavam fora do chão!
— Uau. o que está acontecendo?! — Eu perguntei, com ansiedade se
acumulando dentro de mim.
— Você está voando! — ele disse, maravilhado.
Fechei meus olhos em pânico enquanto continuava subindo.
E se eu não conseguisse controlar isso? E se eu flutuasse além de seu
alcance?
— Não. não. Pare! — Eu gritei.
E assim, meu corpo flutuante congelou no ar. Abrindo meus olhos,
notei meus braços pulsando com veias azuis.
Meus poderes estavam voltando!
— Venha aqui, Belle! — Keith gritou.
Uma sensação repentina de excitação percorreu meu corpo. — Eu
posso levitar! Isso é tão legal!
Tentei direcionar os poderes, mas mal me movi. Parecia nadar contra
uma corrente forte demais, que queria me manter no lugar.
Olhei ao nosso redor e o desespero substituiu toda a sensação de
excitação.
Eu podia ver o fogo queimando ao nosso redor, avançando mais perto
a cada segundo que passava.
— Merda... — Comecei a entrar em pânico. Eu precisava descer.
Conforme a minha preocupação crescia, eu novamente comecei a
subir. Keith agarrou meus pés para garantir que eu não subiria mais, mas
parecia que seu esforço era inútil.
— Belle! Este não é o momento para praticar técnicas de voo! — Keith
gritou, com preocupação crescendo em sua voz.
— Você não acha que eu sei disso? — Eu gritei sarcasticamente. — Me
deixa pensar um pouco!
Respirei fundo e fechei os olhos, permitindo que todos os meus
pensamentos se concentrassem para me levar de volta até o chão.
— Abaixe-se, — eu murmurei, enquanto imagens de pés em solo
sólido enchiam minha mente.
Um novo sentimento logo me dominou. Foi como se um grande peso
se instalasse no topo do meu corpo, me empurrando para baixo.
Logo, senti o chão sob meus pés.
Keith me pegou em seus braços e me puxou para perto. Eu queria
ficar assim para sempre, mas um calor queimando mais forte do que
Keith foi capaz de me puxar de volta à realidade.
O fogo estava mais perto do que nunca. O suor brilhava em nossa
pele enquanto as chamas envolviam todo o espaço ao nosso redor.
— Não sei o que aconteceu, mas não temos tempo para nos
preocupar com isso, — disse Keith, com seriedade.
O seu rosto mostrava medo, mas seus olhos estavam cheios de uma
esperança calorosa.
Nosso tempo juntos ainda não havia acabado. Eu tinha certeza disso!
— Você é uma bruxa — você acha que pode tentar falar com Tannon
telepaticamente? — Keith perguntou.
Eu refleti sobre isso. Eu poderia levitar e ficar azul, mas essas coisas
aconteceram involuntariamente, quase como uma reação.
Como eu poderia ativar voluntariamente um poder que não sabia se
possuía?
Tannon. Tenho que me concentrar no Tannon.
Foi difícil porque eu nunca o vi antes. Como eu poderia imaginar
como ele era?
Fechei os olhos e me concentrei em repetir seu nome na minha
cabeça. De novo e de novo e de novo...
— BELLE! — Keith gritou, sua voz reverberando em meus ossos.
Eu sabia pelo som de sua voz que o fogo estava se aproximando.
Tentei ignorar seus gritos e continuei a me concentrar em Tannon.
Havia muito em jogo.
E tudo estava nas minhas mãos!
Belle: Tannon... Tannon... Se você puder me ouvir... Precisamos da
sua ajuda...

Belle: Tannon! 0 fogo vai nos consumir. Por favor. Tannon! Abra o
portal, precisamos de ajuda!

Mas a única resposta foi o silêncio...


Tannon: Belle?

Belle: TANNON!

Belle: Tannon! Por favor!!

BAM!
Uma explosão de energia disparou, saindo do meu corpo. Abri os
olhos com esperança, mas não vi nenhuma mudança em nosso entorno.
Então, notei Keith olhando para mim, e antes que meus olhos
seguissem os dele, eu já podia sentir uma diferença por dentro.
Minhas veias estavam pulsando, azuis, e meu corpo emitia um brilho
intenso. Tentei sentir o chão sob meus pés, mas percebi que estava
flutuando de novo!
— Seus poderes... — Keith me olhou pasmo, talvez até um pouco
assustado.
Fechei meus olhos mais uma vez e reuni toda a energia que pude.
Uma voz ecoou em minha mente.
A barreira está se abrindo, Belle. Você tem apenas alguns segundos...
THWACK!
Abri meus olhos e vi Keith olhando para a barreira invisível.
Eu segui seus olhos e notei um pequeno orifício, do diâmetro de um
lápis, que começou a se abrir.
— Belle, está funcionando! — Keith gritou, enquanto um sorriso
surgiu em seus lábios.
— Temos apenas alguns segundos para passar! — Eu respondi com
urgência.
WHOOSH!
O súbito buraco na barreira permitiu que um ar inesperado
alimentasse o fogo. Ele girou ao nosso redor como um ciclone gigante de
chamas e calor.
Keith pressionou seu corpo contra o meu enquanto nosso espaço
seguro diminuía ainda mais, com o avanço do fogo.
O buraco finalmente cresceu o suficiente para que passássemos um
de cada vez.
— Agora! — Keith gritou.
Com uma explosão de força, consegui passar pelo buraco com
facilidade.
Eu podia sentir Keith se espremendo atrás de mim e fiquei feliz em
vê-lo desabar no chão ao meu lado, sentindo a terra fria pressionada
contra seu rosto.
Não muito longe de Keith estava o corpo amassado do que eu só
poderia supor ser o guardião da barreira.
— Tannon! — Eu chamei, enquanto nós dois corríamos para o seu
lado.
O frágil feiticeiro parecia murcho e quebrado, mas olhou para mim
com suavidade em seus olhos violeta antes de desmaiar.
Ele deu toda a sua força vital para nos salvar.
— Precisamos de ajuda, — declarei, com a voz trêmula. — Ele não
pode morrer! — Eu gritei.
Eu olhei para Tannon, um feiticeiro imortal. Morrendo diante dos
meus olhos.
Assim como Gregory morreu.
Eu não poderia deixar isso acontecer. Ele deu tudo por mim e eu faria
o mesmo por ele.
— Estamos muito longe de Tessa. Mesmo se eu mudasse para a
minha forma de lobo, levaria horas para chegar até ela, — afirmou Keith.
— NÃO! Temos que ir até Tessa agora! PODEMOS fazer isso! — Eu
gritei.
Levantei-me e na mesma hora senti meu pé chutar algo duro.
Eu mal podia acreditar que estava olhando para o cajado de Tannon
caído no chão, aos meus pés.
Por instinto, eu o peguei, sentindo todo o poder ao redor e dentro de
mim.
Toquei o chão com o bastão três vezes, enquanto uma frase na parte
de trás da minha cabeça me chamava.
— Leve-nos de volta, — eu disse, sem me direcionar a ninguém em
particular.
Uma porta sinistra apareceu de repente à nossa frente, com uma
energia preta e branca em torno dela.
— Vamos, — eu disse, com o cajado firmemente na minha mão,
enquanto eu avançava.
— Não, Belle! E se for uma armadilha? — Keith me avisou, agarrando
meu pulso com força.
Eu o encarei bem nos olhos e puxei o braço. Uma energia passou por
mim — era algo familiar, mas tão poderoso que deve ser novo.
— Eu sei exatamente aonde isso vai me levar, — eu disse com certeza.
— Pegue-o e carregue-o. Nós precisamos ir.
Capítulo 18
RETORNO AO CLÃ
Belle

Entramos no portal enquanto toda a luz do inundo atrás de nós


desaparecia.
Eu fiquei em dúvida. Keith estava certo de que isso poderia ser apenas
mais uma armadilha?
Obriguei-me a dar um passo à frente antes que meus pensamentos
pudessem girar ainda mais.
Um brilho suave começou a emanar do cajado de Tannon,
preenchendo a escuridão como a luz do sol dando boas-vindas a uma
nova manhã. Um novo começo...
Com mais alguns passos, passei pelo portal e entrei no quarto de
Tessa.
Graças à Deusa da Lua!
Algo na sala gemeu, trazendo minha esperança de volta à terra.
Tinha vindo de Tessa, que estava sentada em sua cama, dobrada de
dor.
— Belle, você está bem! — ela gritou, tentando conter a mágoa em
sua voz.
Ela mal tinha falado antes de Keith entrar na sala segurando o corpo
mole de Tannon em seus braços.
Os olhos de Tessa se arregalaram de tristeza.
— Ele foi atacado, — afirmou Keith. — Eu não sei como ou por quê.
Nós o encontramos assim quando atravessamos o portal.
Keith deitou Tannon na mesma espreguiçadeira onde eu havia me
recuperado, não muito tempo atrás. Tessa, rígida com sua própria dor,
moveu-se lentamente para o lado de seu irmão.
— Eu sabia que algo estava errado, — ela choramingou. — Estamos
conectados por mais do que sangue. Sempre que ele é dominado pela dor
ou alegria, física ou emocional, eu sinto o que ele sente. Não consigo
nem começar a descrever o que ele passou.
Eu vi a dor em seu rosto e ouvi a tristeza em suas palavras. Dando um
passo à frente, coloquei as minhas mãos em seus ombros.
— Ele nos salvou. Sem ele, teríamos sido queimados vivos, — eu disse,
esperando que minhas simples palavras pudessem fornecer algum
conforto.
As feições de Tessa suavizaram quando ela acenou com a cabeça em
compreensão. Ela moveu uma mão sobre o corpo de Tannon da cabeça
aos pés, examinando-o com poderes misteriosos.
— Ele está fraco, mas tem pulso estável. Ele não está lutando para
respirar agora, mas se ele não começar a melhorar...
Tessa olhou para o irmão em silêncio, segurando as lágrimas dos
olhos.
Keith se aproximou de mim e segurou a minha mão.
Assistimos juntos enquanto Tessa passava os dedos levemente em sua
bochecha. Um sorriso apareceu no seu rosto.
— Você deixou as suas costas desprotegidas, irmãozinho... — Tessa
suspirou, enquanto colocava as duas mãos diretamente acima de seu
abdômen.
Uma energia azul clara surgiu conectando os dois.
— Eu o importunei sobre isso por séculos, e ele nunca me deu
ouvidos.
Eu me afastei, não sendo mais capaz de ver uma irmã cuidando de seu
irmão.
Gregory deu sua vida pela minha fuga, e eu nunca seria capaz de
cuidar dele assim. Eu nunca poderia vê-lo novamente.
Cobri meu rosto com a mão, para esconder minha tristeza.
Keith percebeu mesmo assim e estendeu a mão e eu senti um toque
suave. Foi quente e reconfortante, exatamente o que eu estava
precisando.
— Eu fui convidada para essa reunião? — uma voz familiar chamou.
Daisy estava parada na porta com os seus quadris largos, cabelos
dourados e olhos azuis inebriantes olhando diretamente para nós.
Ela olhou para Keith e lambeu os lábios como uma leoa esperando
para atacar a sua presa.
Depois de alguns passos oscilantes dentro da sala, ela percebeu o
corpo murcho de Tannon e parou.
Ela parecia querer ir embora, mas ficou no lugar, olhando para ele.
— Deusa da Lua! É o...? O que aconteceu com o Tannon? — ela
perguntou.
— Ele foi atacado enquanto nos salvava, — disse Keith.
Eu pude ver que ele estava fazendo um esforço para não olhar na
direção dela. Ela percebeu e se aproximou.
— E pensar que você precisava ser salvo em primeiro lugar, — disse
ela, com um brilho nos olhos. — Você está bem? Você parece muito
cansado...
Cerrei os dentes, mas Keith a afastou antes que eu pudesse responder.
— Estou bem, — disse ele, ficando mais perto de mim.
— Teria sido bom se você estivesse lá para nos ajudar a sair do portal.
Mas é claro, você nunca está por perto quando necessário, — eu disse,
com um toque extra de ironia em minhas palavras.
Tessa se levantou de seu lugar ao lado de Tannon. Todos voltaram sua
atenção para ela enquanto ela nos olhava com desespero.
— Daisy, reúna alguns dos outros e traga-os aqui. Precisaremos de
toda a ajuda que pudermos obter, — disse Tessa em tom de ordem.
Daisy acenou com compreensão e deu uma última olhada para Keith
antes de sair.
Eu sorri para ele e senti a sua mão sobre a minha, apertando-a
suavemente.
Ele rapidamente olhou para mim e sorriu de volta.
Tessa colocou as mãos sobre nós dois e nos deu um sorriso
tranquilizador.
— Ele está bem agora, mas há muito o que fazer. Isso deve ter sido
feito por um demônio de alto escalão. Aquele cujo poder quase poderia
se igualar ao nosso, — ela disse, com um pouco de preocupação em sua
voz.
Um demônio poderoso o suficiente para pegar um feiticeiro de surpresa?
Keith e eu olhamos um para o outro, mas não dissemos nada.
— Vou precisar mais tempo antes de chegar a uma conclusão...
Enquanto isso, vocês dois deveriam comer e descansar um pouco, —
disse Tessa calorosamente.
Meu estômago respondeu com um ronco.
— Estou morrendo de fome, — falei, enquanto agarrava a mão de
Keith. — Talvez possamos conseguir algum serviço de quarto...?
Eu dei um abraço nele quando saímos, mas não pude deixar de olhar
para trás.
Eu podia ver Tessa sentada ao lado de Tannon, segurando sua mão
enquanto cantava baixinho para ele.
Keith e eu compartilhamos a nossa primeira refeição juntos, sozinhos.
Felizmente, Daisy entendeu a dica e nos deixou sozinhos, por enquanto.
A comida era deliciosa e a bebida refrescante.
Tentamos conversar, mas nenhum assunto parecia importante o
suficiente para tirar o foco do nosso banquete.
Comi como uma criatura faminta, engolindo qualquer coisa que
estivesse à minha frente.
Keith tentou me acompanhar e ficou claramente impressionado com
minha fome inesperada. — Talvez você realmente seja um lobisomem, —
ele disse, arrancando um sorriso de mim.
O tempo parecia passar devagar e, depois que o meu apetite foi
saciado, eu pude sentir os meus olhos ficando pesados.
Pensamentos desagradáveis começaram a surgir nos cantos da minha
mente, uivando na noite enquanto o fogo brilhava no horizonte. Eu não
conseguia ver a fonte de luz, mas sabia que não era o sol.
Como se ele pudesse ler os meus pensamentos, senti Keith estender a
mão sobre a mesa para pegar na minha.
— Você está segura agora, Belle. — disse ele.
Eu abri meus olhos e olhei para ele. Eles estavam tão penetrantes
como sempre, mas uma nova empatia surgiu por trás deles.
Eu queria acreditar que estávamos seguros, realmente queria. Mas
nos últimos tempos, não havia garantia de nada.
Não estava perto de terminar.
— Ele ainda está lá fora, — eu murmurei.
— E eu estou bem aqui, — disse Keith. inclinando-se mais para que
eu pudesse ver a honestidade em suas palavras.
Eu apertei sua mão e forcei um sorriso, mas não consegui sustentar.
Ele sabia o que eu realmente sentia.
— Gregory se foi, — eu disse. — Meu irmão de sangue. Morto pelas
mãos de dois demônios.
Keith retirou a mão e exalou.
Eu olhei para ele e pude ver a dificuldade que ele tinha em expressar
seus sentimentos. Ele me pegou encarando e deu um sorriso fraco.
— Sinto muito, Belle, — disse ele.
As palavras de Keith me pegaram de surpresa.
— Ontem, eu teria te dito que nesta vida, todo mundo morre um dia.
Olhe para Tannon... Mesmo os imortais não têm garantia de vida eterna.
Ele tomou um gole para molhar a língua e organizou seus
pensamentos.
— Mas hoje, vendo seu poder de novo... Foi incrível. E isso nos salvou.
Ele estendeu o braço sobre a mesa e segurou minha mão. O toque era
familiar agora, e continuava me dando a sensação de ele ser o meu
prometido.
Lágrimas encheram meus olhos. Eu tinha perdido a minha família,
Gregory, e possivelmente ainda perderia muitos entes queridos. Mas este
momento com Keith diminuiu toda essa dor.
Parecia que eu o conhecia há um milhão de anos, não apenas alguns
dias.
Eu só sabia que Gregory era meu irmão por um breve período e não
consegui aproveitar isso ao máximo.
Quão diferente seria a vida se eu soubesse disso o tempo todo?
— Belle? — Keith me trouxe de volta ao momento presente.
Eu olhei para ele, e um calor encheu meu coração.
— Obrigado por me encontrar, =, — falei com sinceridade.
— Não tive escolha, — disse Keith. — Se eu não posso protegê-la,
então que tipo de rei eu sou?
— Mas eu pensei que você não era meu rei? — Eu perguntei,
lembrando de como ele tinha se esforçado para se livrar da atração que
sentia por mim, antes.
— Eu posso não ser seu rei agora, mas... — Ele sorriu enquanto
pegava as minhas duas mãos nas suas, massageando-as com os polegares.
O fogo em seus olhos acendeu uma chama dentro de mim, muito
forte para ignorar.
Por que devo ignorar isso? Se a vida realmente fosse tão frágil, seria
importante aproveitar ao máximo o tempo que passamos juntos.
Inclinei-me e beijei seus lábios, sentindo sua língua pressionada
contra a minha.
— Faça o que quiser, — eu disse. — Quem sabe se teremos outra
oportunidade de novo.
Capítulo 19
XEQUE-MATE
Keith

Quando nossas roupas caíram no chão, nossos corpos se


encontraram.
Sob os lençóis limpos, estávamos nus e vulneráveis. Entrelaçando
nossas partes íntimas de forma tão complexa que não consegui definir a
linha de onde eu começava e ela terminava.
Meus lábios percorreram os braços e clavícula dela, então lentamente
subiram pelo pescoço enquanto minhas mãos percorriam o seu corpo...
um corpo feminino divino.
Mordisquei a orelha dela, inalando seu cheiro enquanto meus quadris
colidiam com os dela. Seu gemido suave me encheu de mais desejo.
— Marque-me, — ela sussurrou em meu ouvido.
Oh, como eu queria marcá-la. Eu me afastei e olhei em seus olhos
cheios de desejo.
Mas então, um tom azul claro chamou minha atenção. As minhas
calças, que eu tinha jogado no chão, estavam brilhando!
Então, eu me lembrei...
O pergaminho.
A profecia.
Você está destinado a ficar com ela, as palavras de Tannon ecoaram na
minha cabeça.
Mas se você marcá-la como sua prometida, Keith, a guerra estourará. E
desta vez, ela nunca vai acabar.
Eu parei tudo.
— Isso é um erro, — eu disse, inclinando-me e pegando minhas
roupas.
— O que? Foi algo que eu fiz? — ela perguntou.
Enquanto ela puxava os lençóis para se esconder, mordi minha língua
sem dizer uma palavra.
Não havia nada no inundo que eu queria mais do que jogar fora
aqueles lençóis e nunca mais vê-la esconder a sua beleza.
Mas seria o fim da nossa espécie. Possivelmente o fim de todas as
espécies, se o Lorde Demônio não tivesse o que queria...
Eu tinha sido tolo em deixar isso chegar tão longe! Meus desejos mais
uma vez venceram as minhas emoções e controlaram todos os meus
pensamentos.
Eu balancei a cabeça enquanto colocava o resto das minhas roupas e
hesitei, na porta.
Pude vê-la me olhando com grande remorso. Mais uma vez, eu tinha
prometido a ela algo, para logo depois negar.
— Keith, o que foi? — ela perguntou.
Se eu dissesse qualquer coisa, ela me convenceria do contrário. Se eu
não dissesse nada, ela nunca iria falar comigo novamente.
Mas, será que ela acreditaria na profecia da Deusa da Lua?
Eu queria que ela soubesse?
— Por favor. Não saia por essa porta, — sua voz implorou.
— Isso não vai funcionar. Sinto muito, Belle. Desculpe, — eu disse,
evitando seus olhos enquanto saía rapidamente do quarto.
Belle

Como isso pôde acontecer? Eu pensei que ele queria me ter por
inteiro... O seu corpo não mentia, especialmente depois do que
passamos.
Ele passou por todos esses problemas para me reivindicar, apenas
para depois ir embora?
Eu esperei ali, como uma tola por dez minutos, esperando que ele
voltasse e dissesse que isso era uma piada de mal gosto.
Mas ele não fez isso, então deixei minhas lágrimas caírem, sem
enxugá-las.
Fui paciente com a minha vulnerabilidade. Eu sabia que no momento
em que parasse de chorar, eu prometeria a mim mesma não deixar
ninguém me deixar nua e sozinha em sua cama novamente.
Enquanto descia a escada, a minha mente ainda vagava pelas várias
mudanças de humor de Keith. Tive vontade de sair e arrancar as pétalas
de uma flor para ver se ele me amava ou não.
Melhor ainda, tive vontade de invocar os meus poderes e queimar até
a última flor da Terra com uma gigante labareda de fogo azul.
Eu tentei espantar esses pensamentos e me concentrar. Não foi
minha culpa e eu sabia. Mas por que ele fez isso?
E por que eu ainda me importava?
Sem ter mais o que fazer, andei pelos corredores até me encontrar em
frente à porta do quarto de Tessa.
Entrei e encontrei Tessa sentada em um sofá aconchegante de feltro
verde, bebendo chá. Parecia que ela tinha um tempinho para conversar.
— Como vão as coisas? — Eu perguntei a ela, sentando no sofá de
frente para ela.
Tessa olhou para mim com olhos cansados e um sorriso fraco.
— Ele vai ficar bem. querida. Eu fiz um feitiço de cura nele, mas a sua
saúde estava muito fraca. Vai demorar, mas ele já está começando a se
recuperar.
— Mais cedo você disse que podia sentir a dor dele, é verdade? — Eu
perguntei.
— Sim, nós temos uma conexão mágica. Embora gêmeos não sejam
uma ocorrência comum entre as bruxas, nosso poder compartilhado
parece ser maior do que a maioria.
— Sabemos quando o outro está sofrendo porque também nos
sentimos parte dele. Eu doei um pouco da minha força vital para que eu
pudesse amenizar a sua dor, e assim ele poderia ter uma parte da minha
saúde, — explicou ela.
— Uau, — eu disse com admiração.
Sua franqueza foi revigorante, mas me lembrou das minhas próprias
falhas. Sean e eu não conseguíamos compartilhar nem uma barra de
chocolate quando éramos mais jovens, muito menos uma força vital
inteira.
Tessa olhou para mim com tristeza. — Eu não deveria falar sobre os
meus problemas quando você conhece tanta dor. Sinto muito pela sua
perda.
Eu balancei minha cabeça, tentando afastar as emoções.
Gregory tinha sido meu verdadeiro irmão, mesmo que só por algumas
horas. Ele nunca iria substituir Sean, mas eu lamento por ele do mesmo
jeito.
Ninguém precisava dizer a ela que o Gregory havia morrido para que
ela soubesse e sentisse a dor que consumia o meu coração. Ela entendeu
e não me ignorou.
Bem quando eu pensei que não tinha mais lágrimas para chorar,
novas gotas apareceram, mais e mais fortes desta vez.
Tessa se aproximou e me deixou chorar em seu ombro.
Depois que as lágrimas morreram. Tessa olhou para mim e acariciou
o meu cabelo.
— Sabe... você me lembra a minha filha, — ela disse calorosamente.
— Eu nem sabia que você tinha uma filha! — Eu disse, surpresa.
— Não tenho. Pelo menos, não mais, — ela respondeu, seus olhos
desviando dos meus.
Meu coração afundou no meu estômago.
Eu olhei para cima, horrorizada. Perder uma filha é algo que ninguém
deveria viver. No entanto, ela parecia afetada.
— Perder um ente querido é difícil, eu entendo, — disse Tessa, com
um leve sorriso em seu rosto. — Aproveite este momento para valorizar
as memórias que você teve com ele e honrar o seu espírito.
— Sinto muito, Tessa, — eu disse.
Ela encolheu os ombros. — É a vontade da Deusa da Lua.
Abaixei a minha cabeça em compreensão. A Deusa da Lua cuidava de
seus filhos, isso poderia ser verdade.
Mas o que aconteceu quando ao invés de cuidar, a Deusa decreta que
deve levar um deles?
— O que aconteceu com ela? — Eu perguntei hesitante. — Se você
não se importa que eu pergunte.
Tessa suspirou. — É difícil dizer. Ela desapareceu atrás de uma porta
semelhante à que você entrou, mas nunca foi encontrada.
— Passei décadas procurando aquela porta para descobrir aonde ela a
levou. Parte de mim sente que a sua alma está perdida, vagando para
algum lugar, para nunca mais ser encontrada, mas isso me assusta mais
do que sua morte.
Um pensamento passou pela minha mente Uma alma perdida? Eu me
perguntei...
— Tessa... quando eu entrei por aquela porta, eu fui levada para um
lugar, — eu disse.
— Bem. eu simplesmente não pude deixar de pensar... e se Shea se
tornou um deles? — Eu perguntei.
Tessa cruzou uma perna sobre a outra e colocou o chá na mesa
enquanto se virava para mim. — Eu acho que é uma suposição e tanto.
Belle, — ela disse para mim.
Meu coração afundou. Eu me senti estúpida por pensar nessa
possibilidade.
— Claro, eu ainda não sei de tudo, e se todas as crianças-sombras são
sombras... É uma possibilidade...
Depois de uma longa pausa, ela suspirou rapidamente e se levantou
com certa dificuldade.
— Eu deveria ir verificar como está o meu irmão. Não vá abrir
nenhuma outra porta, hein?, — ela brincou.
Eu sorri e a observei sair. Embora eu a conhecesse há pouco tempo,
Tessa era a mulher mais forte e mais corajosa que eu já Conheci.
Ter nem que fosse uma pequena fração do poder que ela possuía seria
algo inimaginável.
Keith
Me transformei para a minha forma de lobo e comecei a correr — isso
era só uma solução de curto prazo para liberar tanta energia sexual
reprimida.
Eu ainda podia sentir o calor do corpo dela. Aquele perfume doce e os
lábios macios. A maneira como seus quadris se encaixam perfeitamente
nos meus.
Pelo amor da Deusa da Lua. POR QUE seus quadris tinham que ser
tão perfeitos?
Eu fui completo idiota por acreditar que poderia possuir a Belle essa
noite.
Marque-me...
Sua voz envolveu a minha mente, reverberando com tons celestiais
bem na minha consciência, aquilo era demais para mim.
Ela queria que eu a marcasse. Para reivindicá-la como minha e eu
como dela.
E eu saí do quarto como um completo covarde e idiota. Quem eu
pensava que era para tê-la quando isso significava criar uma guerra?
Parte de mim não se importava se houvesse uma guerra, mas isso
significava arriscar a vida dela.
Como pude dedicar tanto tempo para salvá-la, apenas para vê-la
morrer?
Eu corri rápido o suficiente para perder de vista os meus arredores e
ficar tonto. Com uma velocidade fugaz, para fazer o sangue correr no
meu corpo e me deixar exausto.
Eu caí no chão e me transformei novamente para a minha forma
humana.
Fiquei ali nu, pensando em contar tudo a ela.
Eu queria dizer a ela porque tive que fugir antes de consumar o nosso
ato.
Mas o meu medo foi maior e agora eu a perdi, e ela já não tem
nenhum motivo para me aceitar de volta.
Eu não sou assim.
Mas repetir essa mesma frase, ao longo dos anos, me afastou ainda
mais do homem que eu gostaria de ser para ela.
Eu me levantei e fiz o caminho de volta para o clã. Da escada, pude
ver Belle dormindo no sofá.
Parte de mim queria acordá-la. Pedir desculpas a ela, agarrá-la e levá-
la embora.
Mas isso seria egoísmo.
Eu fiquei cabisbaixo e comecei a subir a escada.
Logo parei, por instinto, quando notei uma luz azul se espalhando
pelas frestas de uma porta.
Era o quarto de Daisy. Que tipo de feitiçaria poderia estar
acontecendo a esta hora?
Eu me arrastei até a porta e entrei em seu quarto, silenciosamente.
Ela estava parada na parede oposta, com um livro mágico nas mãos.
Ela estava convocando algo.
Algo maior do que eu!
— Venite ad me porta numine parcae! — Ela gritou.
— Daisy! O que você está fazendo? — Eu gritei.
Emergindo da luz havia uma porta semelhante à que Belle conjurou.
Mas essa porta estava banhada de vermelho, jorrando sangue ao se abrir.
Daisy se virou para mim com um sorriso travesso. Seus olhos eram
malignos e cheios de sadismo.
— Talvez em outra vida, nós poderíamos ter algo bonito.
— Daisy, NÃO! — Eu gritei.
Antes que eu pudesse me mover, ela acenou com a mão em minha
direção, lançando um feitiço rápido que me jogou no chão.
Senti o meu corpo se dobrar e se contorcer de dor enquanto eu a
observava entrar na escuridão, atrás da Porta do Destino.
Capítulo 20
SONHOS ESTRANHOS
Belle

Meu amor, é hora de você voltar para mim...


Minha mente estava repleta de pensamentos.
Nesse sono profundo e agitado, eu não conseguia acordar. Estava
escuro, o meu corpo parecia estar apertado.
Eu podia sentir um formigamento nas pernas e braços. Tentei me
mover, mas algo me impediu.
Você me deixou por tempo demais e causou uma grande bagunça.
No início, registrei esses pensamentos como um sonho. Mas eles não
eram meus!
Venha para mim!
Eu não conseguia ver onde eu me encontrava nesse pesadelo. Estava
escuro, frio e eu senti uma sensação de pavor que permeou os meus
ossos.
Lutando mais, comecei a tatear o espaço com os dedos e identifiquei
o aço frio que se fechava ao meu redor.
Eu não conseguia me mover porque estava enjaulada!
— Quem está aí? — Eu gritei, mas a minha voz trêmula me traiu.
— Você já se esqueceu de mim?
A figura de um homem apareceu na minha frente. Ele estava alto e
confiante, caminhando com indiferença.
Antes que a sua aparência fosse visível para mim, eu já podia sentir
aquela sensação de peito pesado crescendo dentro de mim.
— Lazarus... — Eu grunhi.
— Isso mesmo, minha querida — Lazarus zombou de mim enquanto
andava em círculos. Ele andava lentamente, provavelmente só para minar
a minha confiança.
Estava funcionando.
— Enquanto estivermos destinados um ao outro, eu não vou
descansar até que você seja minha. Vou despedaçar o coração daquele
vira-lata sarnento em um milhão de pedaços se é o que eu preciso fazer
para ter você. — Ele sorriu exageradamente.
— NÃO! — Eu gritei em protesto. — Você nunca me terá. Eu não te
quero e nunca te quis!
O sorriso de Lazarus se transformou em um rosnado enquanto ele
caminhava até a minha jaula, encostando o rosto nela. Ele inalou
profundamente, sentindo o meu cheiro.
— Fazer joguinho não tem graça, meu amor. Por que perseguir um
lobo estúpido que não te marcou? Ele nunca quis você, para começo de
conversa. O que te faz pensar que ele realmente quer você agora?
Lazarus exibiu um sorriso maligno.
Um nó na garganta dificultou a minha respiração. Eu engoli em seco e
tentei manter a calma enquanto a jaula me pressionava.
Suas palavras doeram como adagas, fazendo eu me sentir
completamente inútil.
— Você não precisa se sentir assim, — ele murmurou no meu ouvido,
enquanto continuava a circular a gaiola. — Deixe-me entrar e eu vou
mostrar o amor de verdade.
A voz do Lorde Demônio viajou por todo o meu corpo, envenenando
as minhas células com sua ideia ilusória do que o amor significava.
Ele enfiou a mão pela gaiola, estendendo-a para alcançar o meu
coração. Tentei me afastar, mas atrás de mim encontrei apenas barras de
metal frio.
Seus dedos roçaram o meu pescoço e se moveram em direção à minha
clavícula. Incapaz de me mover, cuspi no seu rosto.
— Não se atreva a me tocar! — Eu gritei.
A determinação estava começando a brilhar no meu sangue, e eu
podia sentir a clareza de pensamentos lentamente me inundando.
Lazarus ficou chocado com a minha reação. Até eu me surpreendi.
— Você será minha! — ele sibilou.
Um brilho começou a preencher aquele espaço escuro e, à medida
que se intensificou, pude sentir o frio sendo substituído pelo calor.
Lazarus sorriu, mostrando as suas presas afiadas como navalhas,
pingando baba.
— Você nunca deve desobedecer ao Lorde Demônio, — uma voz
profunda e áspera gritou atrás de mim.
De repente, o meu corpo foi consumido por um fogo abrasador me
fez gritar com todas as minhas forças.
O corpo em chamas de Azazel apareceu bem ao lado de seu irmão.
Ele se aproximou da gaiola e olhou para mim com olhos brilhantes
que penetraram todo o meu corpo.
— Desobedecer ao meu irmão é me desobedecer, e você não quer
fazer isso, garota ingênua, — Azazel falou.
Ele enfiou a mão na gaiola e agarrou o meu punho. Seu calor era
insuportável e eu podia sentir a minha pele fervendo e o meu cabelo
começou a exalar um cheiro chamuscado.
Eu gritei. Foi tudo o que consegui fazer.
A dor era imensa e parecia que nunca iria parar.
Finalmente, ele soltou meu punho e voltou para o lado de seu irmão.
— Agora, você entende que eu estou falando sério?, — perguntou
Lazarus.
Eu agarrei a gaiola e sacudi com todas as minhas forças. — Essa
garota ingênua vai matar vocês dois.
Então, eu apontei para Azazel e vi o seu sorriso vacilar. — Vou me
certificar de enterrá-lo em uma cova úmida.
Os dois irmãos explodiram em gargalhadas, enchendo a sala com suas
vozes terríveis, ecoando pela eternidade.
— Até breve — ronronou Lazarus. antes de voltar para as sombras.
Azazel também desapareceu, mas as suas chamas permaneceram. Elas
estavam mais fortes agora e queimavam com um calor intenso.
Eu não conseguia respirar. Cada inspiração se tornou mais dolorosa; a
cada expiração, mais sufocante.
Eu me contorci e tentei me manter longe do metal das gaiolas
enquanto elas ardiam com o mesmo calor que Azazel...
Acordei suando, em pânico.
Sem gaiola.
Nenhum Lorde Demônio.
Sem queimaduras severas em meu corpo.
Em vez disso, eu estava no sofá da sala de estar onde adormeci,
completamente enrolada em meu cobertor.
Eu exalei, e quando o ar saiu dos meus pulmões, o terrível pavor que
havia se apoderado de mim também sumiu.
Como eles conseguiram penetrar minha mente com tanta facilidade?
Eu lentamente me levantei do sofá, usando as costas da minha mão
para limpar todo o suor da minha testa.
Havia um espelho ali. onde pude inspecionar o meu corpo e me
assegurar de que tudo tinha sido só um sonho. Mas foi diferente de
qualquer sonho que eu já tinha tido.
Soltei um longo suspiro rançoso e me afundei na minha miséria. Foi
apenas um sonho, eu disse a mim mesma de novo, e de novo.
Mas então, por que as palavras do Lorde Demônio me abalaram
tanto?
— Você está bem, querida? — A voz de Tessa perguntou, saindo das
sombras.
Gritei de choque e Tessa respondeu com um salto. Ela riu do nosso
pequeno momento estranho, eu ainda não tinha presenciado ela rindo.
O som de sua risada me encheu com uma esperança que eu estava
precisando desesperadamente.
— Oh, desculpe, pensei que você tinha me ouvido, — disse ela,
avançando para o interior da sala.
— Eu não queria ficar nervosa, mas tive um sonho estranho, — eu
disse estremecendo.
O sorriso de Tessa se transformou em uma carranca. — O que
aconteceu?
Contei a Tessa todos os detalhes ameaçadores do meu sonho horrível.
Mesmo que parecesse estúpido acreditar que era real, eu não conseguia
afastar a dor que sentia.
— Eles não podem te machucar agora, — disse Tessa.
— Então, por que eu me sinto assim? — Eu perguntei, embalando
meus próprios braços.
— Porque eles prenderam a sua mente, querida. Só por um breve
momento, felizmente. Mas quando você presta atenção nesses ataques,
você está entregando o seu poder a eles, — disse Tessa.
Eu passei os dedos pelas mechas do meu cabelo, tentando pensar
sobre o que ela queria dizer. Eu não pretendia dar a eles nem uma
partezinha da minha mente.
Mas eles estavam me roubando!
Ela percebeu a confusão no meu olhar e suspirou.
— Eu esqueci que apesar de tudo que você passou, você tem apenas
dezoito anos de idade, — disse Tessa, saindo da sala.
— E daí?! — Eu protestei.
Segui Tessa até a cozinha enquanto ela colocava a chaleira no fogo
para mais chá.
— O que a minha idade tem a ver isso!? Eu posso dizer que aprendi
muito na última semana, — eu a lembrei.
Eu havia passado por tanta coisa e estava viva para contar a história.
Isso era uma coisa que muitos outros não podiam dizer.
Lembrar dos mortos me fez parar, mas eu não podia lamentar por eles
agora. Não quando ainda havia tanto a fazer.
— Não diga o que eu sei e o que não sei, — acrescentei.
Ela se sentou e sorriu para mim. — Você me lembra muito a minha
própria filha.
— Você já disse isso, — respondi.
— E eu falo sério. Ambas são tão... rápidas para responder e se
defender. Mesmo que você não saiba por que está se defendendo, em
primeiro lugar. Isso até que é bastante cativante, — disse ela com um
sorriso, enquanto derramava água na xícara para fazer o chá.
— Obrigada, — eu disse, confusa. — Mas me ajude a entender. Eu não
quis dar a eles o meu poder. Eles vieram até mim em um sonho, e eu não
sabia como sair, — confessei.
— Isso é o que eles querem que você pense. E na maioria das vezes,
eles conseguem fazer tudo o que querem... — Tessa disse, antes de parar
e olhar para mim.
Quase pude sentir as suas palavras antes de ouvi-las. Não foi uma
surpresa quando a vi balançando a cabeça como se ela estivesse lendo os
meus pensamentos.
— Exatamente, — ela comentou, embora eu não tenha dito nada.
— Você é mais poderosa do que você acredita. Isso inclui ter o
controle sobre a sua própria mente.
Como esse sonho acabou? — ela perguntou, com genuína
curiosidade.
— Eu cuspi na cara deles, — falei, incapaz de conter o sorriso.
Tessa riu de novo, enchendo a sala inteira com a sua energia
cativante.
***

Subi a escada, procurando por Keith. Se eu pudesse encontrá-lo e


contar a ele sobre o meu sonho, talvez pudéssemos recomeçar tudo do
zero.
Acho que não precisávamos estar tão chateados um com o outro,
embora eu tenha sentido raiva na noite passada.
Ele poderia dar uma explicação melhor para o motivo de ter me
abandonado.
Parte de mim não queria ouvir a sua explicação. Mas eu queria vê-lo,
precisava vê-lo.
E isso era tudo o que importava no momento.
Eu estava na frente da sua porta, incapaz de abri-la. Memórias da
risada de Tessa encheram a minha cabeça e me deram um certo conforto.
Eu exalei e lentamente abri a porta do nosso quarto... e encontrei-o
completamente vazio.
Ele foi embora? Ele iria mesmo me abandonar?
Com os ombros caídos, fui até o quarto de Tessa, onde Tannon estava
se recuperando.
Tannon estava descansando pacificamente — assim parecia —
deitado de costas, e o quarto estava vazio. Observei sua respiração
empurrar seu peito raso para cima e para baixo.
Meus olhos começaram a ficar cansados. Queria voltar para o quarto
e dormir, mas não queria ficar sozinha.
Parte de mim sabia que se eu o visse novamente, seria apenas dor de
cabeça.
A primeira vez que nos encontramos, eu o odiei. Ele me arrancou da
minha família, da minha manada, e me forçou a entrar em seu mundo.
Então, eu me apaixonei por ele.
E agora?
Desci por um corredor desconhecido. A minha mente estava tão
preocupada que meus pés me levaram para onde eles desejaram.
Mas eu já havia percorrido esse corredor antes e sabia que a porta na
outra extremidade do corredor levava ao quarto da Daisy.
A porta estava ligeiramente aberta, mas a sala estava mal iluminada.
Algumas velas tremiam, mas todo o resto estava banhado em sombras.
Um som farfalhante me chamou a atenção. Tentei ouvir, mas não
consegui identificar os ruídos. Eu já tinha visto a pior visão nesse quarto,
quando encontrei Keith e Daisy juntos. O que mais poderia ser tão
terrível?
Empurrei a porta e dei um passo à frente. Uma mão cobriu a minha
boca antes de eu poder gritar.
Keith estava lá! Ele estava sozinho e em sua forma de lobo, hostil e
rolando no chão!
— Keith! — Eu gritei.
Sua forma de lobo se transformou rapidamente e me viu. Ele rolou
até ficar de pé e soltou um rosnado feroz.
— Keith! O que está errado? O que você está fazendo aqui? — Eu
perguntei.
Ele subiu mais alto nas pernas traseiras. Eu já o tinha visto assim
antes, mas ainda era um choque.
— Sou eu! Annabelle! — Eu gritei, mas a minha voz já estava muito
menos confiante.
Ele se manteve firme e todos os pelos de seu corpo se arrepiaram,
como uma besta territorial se preparando para atacar uma ameaça
invasora.
Eu levantei as mãos em sinal de rendição e inclinei a cabeça em
submissão, para mostrar que eu não era uma ameaça.
Eu olhei ao redor em busca da Daisy. mas o resto do quarto estava
vazio.
Tanto o medo quanto a raiva possuíam a sua forma de lobo. Eu podia
ver em seus olhos e ouvir em seus grunhidos.
— O que aconteceu com você? — Eu perguntei, abaixando
lentamente as minhas mãos. — Vou buscar a Tessa...
Quando dei um passo para trás em direção à porta, ele latiu para
mim, alto o suficiente para me assustar.
— Tessa!! — Eu gritei, enquanto me joguei até a porta e então, corri
pelo corredor.
Em segundos, Keith havia rasgado o batente da porta e estava
cambaleando pelo corredor, avançando direto para mim!
Virei a esquina de outro corredor e me empurrei para frente. Eu podia
ouvir os seus passos batendo no chão de pedra atrás de mim.
Em um flash de luz, Tessa apareceu na minha frente.
O flash confundiu Keith, diminuindo seus movimentos.
Com um canto rápido e um aceno de mão, Tessa arremessou o corpo
de Keith na parede.
— O que aconteceu? — ela perguntou com medo.
— Eu não sei! — Eu respondi, tremendo incontrolavelmente. — Eu o
encontrei no quarto da Daisy agindo assim!
Tessa desafiou Keith e balançou os braços com um gesto esquisito e
coreografado, evocando a luz branca de suas palmas e direcionando-a
para Keith.
Um vapor negro saiu do seu corpo enquanto a luz branca o rodeava.
Ele tentou lutar e emitiu um rosnado de gelar o sangue, mas as suas
pernas vacilaram.
Segundos depois, ele se transformou de volta para a sua forma
humana e caiu no chão.
— Keith, explique-se, — Tessa exigiu, sua voz estava severa e séria.
Keith parecia desorientado. Ele ainda estava consciente, mas não
conseguia se concentrar em nada.
Contra o bom senso de Tessa, corri até ele e segurei a sua cabeça em
minhas mãos.
— Deusa da Lua, por favor nos ajude, — orei em voz alta. — Você está
bem? Você está me ouvindo?!
Os olhos de Keith focaram o suficiente, até conseguirem me olhar.
— Me largue! — ele gritou, mas não foi capaz de se mover.
— Keith, estou aqui agora. Fale comigo, — eu disse com esperança.
Ele olhou para mim mais uma vez e rosnou. — Quem é Você?
Belle

Quem é você?
Eu olhei nos olhos do meu amante e vi um estranho olhando para
mim.
Ele não conseguia lembrar de nada sobre mim.
Nosso tempo que passamos juntos, a jornada que nos mudou tanto,
agora era completamente inexistente para ele.
Tessa e eu demos privacidade para ele se trocar enquanto nos
reunimos na cozinha.
— Você poderia ver através da mente dele? Encontrou alguma coisa
da sua memória? — Eu perguntei a ela.
— Eu não posso mexer em nada que ele não esteja ciente, Belle. Só
uma deusa pode fazer isso, — ela suspirou. — Estou longe de ser uma.
— Bem, o que vamos fazer? — Eu perguntei a ela. — Não podemos
simplesmente deixar as coisas assim.
Tessa levou um momento para tomar mais um gole de seu chá. Pelo
amor da Deusa da Lua! Esta mulher e seu bendito chá!
Tentei conter a preocupação que borbulhava dentro de mim
enquanto a observava engolir e se mexer.
As ervas flutuavam na sua xícara e os aromas chegaram às minhas
narinas. Toques de cardamomo, canela e algo mais que não consegui
decifrar.
Foi adorável e reconfortante, acalmou um pouco os meus nervos.
— Eu acredito que Keith deve voltar ao seu trono, — ela disse. —
Estar lá pode refrescar a memória dele.
— Mas todas as memórias que ele criou comigo foram bem longe de
seu trono! — Eu disse.
— Ele precisa estar em um lugar em que se sinta confortável primeiro.
Keith tem uma conexão com o trono que pode quebrar o poder desse
feitiço. Espero que seja o suficiente para que a magia desapareça. Você
deveria ir com ele, — disse Tessa.
— Mas ele não se lembra de mim! — Eu disse.
— Ele é seu prometido. Em breve, essa sensação voltará para ele, se é
que já não voltou. Seja paciente, — disse Tessa.
— E quanto ao Tannon? E a porta de entrada para o submundo?
Quem vai proteger isso? — Eu perguntei, me sentindo cada vez mais
oprimida.
Tessa sorriu com as minhas perguntas e ergueu as mãos, para me
acalmar.
— Tannon ficará bem, sob minha supervisão. Vou pedir a Daisy para
guardar o portal, — disse Tessa.
Revirei os olhos e murmurei: — Certifique-se de que ela realmente
faça o seu trabalho.
Eu odiava como a Daisy fazia eu me sentir. A atmosfera que ela
exalava era tóxica e eu tinha dúvidas de que ela ajudaria em alguma coisa.
Havia algo sinistro que ela mantinha por baixo dos panos. Como uma
maçã vermelha madura que era podre por dentro.
— O que é que foi isso? — A voz de Keith ecoou atrás de mim.
— Você vai levar Belle de volta ao castelo, — explicou Tessa. — Eu
acho que isso vai te ajudar a recuperar as suas memórias.
Keith

Eu queria me lembrar de tudo. Eu queria saber por que essa jovem


que eu estava dando uma carona em forma de lobo alegava ser a minha
prometida.
Não me lembro por que estava naquela sala, ou por que estava no clã
das bruxas.
Essa garota era uma bruxa?
Como uma bruxa pode ser minha prometida?
Tentei pensar no passado e juntar imagens que pudessem ajudar a
tornar as coisas mais coerentes. Eu tinha acordado em uma sala
desconhecida na minha forma de lobo, pronta para lutar contra qualquer
coisa em meu caminho. Eu estava com raiva e assustado, mas nada na
minha memória provocou tal reação.
Houve dor. Uma fonte escura tentou me sugar para dentro, e eu
resisti.
Ou tentei resistir...
Corri por horas. Quanto mais eu tentava recuperar as minhas
memórias, mais rápido elas me escapavam. Me enfurecia não ter
nenhuma lembrança das pessoas ao meu redor.
Isso era algum tipo de piada cruel?
Mas algo sobre essa moça parecia aconchegante. Eu queria estar perto
dela, embora mal me lembrasse de seu nome.
Annabelle.
Eu podia senti-la nas minhas costas, tentando se manter a salvo
enquanto eu acelerava.
O pôr do sol me perseguiu durante a última hora e logo ele
desapareceu além do horizonte. Precisávamos encontrar um lugar seguro
para dormir.
Enquanto caminhávamos por uma pequena floresta, minhas narinas
captaram um cheiro úmido. Passei por entre as árvores e atravessei um
pequeno riacho, por instinto.
Havia uma caverna perto, eu quase podia sentir.
— Eu não acho que vou me acostumar com isso, — Belle murmurou,
com a mão sobre o estômago, depois de sair de cima de mim.
Por um momento, me perdi em seus olhos. Eles eram como imãs,
puxando toda a minha energia, e eu não conseguia impedir isso.
Algo em mim não queria que isso parasse...
Ela quebrou o contato visual primeiro e olhou ao redor da área. —
Isso não se parece com o seu castelo.
— Você já esteve no meu castelo? — Eu perguntei a ela.
Ela se aproximou. — Você realmente não se lembra de nada, — ela
disse tristemente.
— Não importa o quanto eu tente. Não é bom ser um rei quando você
nem consegue se lembrar do seu reino, — eu confessei.
Eu pude ver que ela queria se aproximar, mas se manteve à distância
de um braço.
— Você deve estar cansada. Podemos descansar na caverna durante a
noite. Ainda faltam algumas horas antes de chegarmos a minha casa, —
eu resmunguei.
— Vai fazer frio. Devíamos fazer uma fogueira, — disse ela, enquanto
caminhava em direção à abertura da caverna e olhava para as árvores ao
redor.
— Deve haver gravetos suficientes para nos ajudar a passar a noite.
Uma brisa soprou da abertura da caverna, e eu senti o seu cheiro.
Doce e salgado ao mesmo tempo.
Um desejo profundo invadiu o meu peito, afetando a minha
respiração. Eu não conseguia acreditar na influência que ela exercia sobre
mim.
Quem era esta criatura? Algum dia eu me lembraria?
Belle
Demoramos um pouco para juntar gravetos e galhos para fazer a
fogueira.
Entramos na caverna e encontramos um local profundo o suficiente
para impedir que o vento apagasse o fogo.
Keith acendeu o fogo sem nenhuma dificuldade. A chama o queimou,
fazendo-o cair de bunda.
Tentei esconder minha risada, mas ela acabou escapando, ecoando
por toda a caverna.
— Há algo que você gostaria de me dizer? — ele perguntou
rispidamente.
— Relaxa. Eu estava apenas observando as suas maravilhosas
habilidades de sobrevivência.
Mesmo se a sua memória se foi, seu ego está longe de ter se perdido,
— eu disse com um sorriso malicioso. — Depois de tudo o que passamos,
não é uma surpresa que você tenha medo de fogo.
Eu queria que ele se arrependesse por não se lembrar de tudo o que
tínhamos feito juntos, mas esse comentário só serviu para irritá-lo.
— Depois de tudo que passamos... Como é que uma bruxa pode ser
minha prometida? — ele perguntou.
— Eu sou um híbrido de demônio-bruxa. O primeiro de todos, para
ser exato. Isso significa que eu poderia ser a sua prometida, do Lorde
Demônio ou do Rei Vampiro, — eu expliquei sem entusiasmo.
Eu poderia dizer que ele estava com ciúmes ao ouvir o nome dos
meus outros pretendentes, mas, novamente, ele manteve a calma.
— Isso é ridículo, — ele disse.
— O que? Que eu poderia ser sua prometida? — Eu perguntei.
— É ridículo eu brigar por uma prometida que não é um lobisomem,
com dois outros reis. Não quis dizer que é ridículo que seja você, — ele
retrucou.
Eu não poderia dizer se eram as chamas ou os seus próprios desejos,
mas algo em seus olhos estava aceso. Ouvir essas palavras de Keith me fez
corar, mas tentei esconder.
Talvez pudéssemos aproveitar tudo isso, mesmo que tivéssemos que
fazer novas memórias.
Keith pegou alguns coelhos que havia caçado enquanto procurava
lenha e os colocou em um espeto acima do fogo.
Em minutos, o cheiro de carne assada fez meu estômago roncar.
— Eu também não entendo, — eu admiti. — Apenas alguns dias atrás,
eu era uma pessoa normal com uma matilha normal. Agora... você está
preso a mim.
Tentei sorrir, mas parecia falso, então olhei para os meus pés.
— Como nos conhecemos? — ele perguntou.
Pensei no caos daquele primeiro dia. quando minha família me avisou
sobre o futuro. Ele era rude e teimoso, beirando a violência.
Não foi exatamente o Príncipe Encantado conhecendo sua princesa...
mas, a vida não é um conto de fadas.
— Eu não tive escolha. Você veio à minha casa e me tirou da minha
família, — eu disse com tristeza.
— Oh — ele respondeu.
— É por causa da atração, — acrescentei. — Você me sentiu e quis me
reivindicar antes que o Lorde Demônio pudesse fazer isso. Você
praticamente me salvou, eu acho.
Eu sorri para ele. — Então, eu deveria te agradecer.
Ele não respondeu imediatamente, mas depois de algum tempo, ele
olhou para cima e encontrou os meus olhos.
— Pelo que ouvi, você também me salvou. E por isso, devo te
agradecer.
Fiquei surpresa com a sua bondade. Nossa viagem anterior fez com
que algo em sua memória se esclarecesse?
Ele não disse mais nada e, em vez disso, tirou os coelhos fumegantes
do espeto. Comemos em silêncio e deitamos para descansar para seguir a
nossa jornada.
— Belle...
Eu ainda não estava dormindo, mas pude sentir essa voz puxando a
minha consciência.
A caverna tinha esfriado, e os arrepios na minha carne me deixavam
alerta. Sentei-me e olhei para Keith.
— Algo está errado? — Eu perguntei.
— Está ficando frio, — disse ele. — E não há mais nada para fazer
fogo.
Eu estava prestes a me levantar e a contragosto fazer meu caminho
para a entrada da caverna quando senti uma mão agarrar o meu braço,
me parando.
Eu olhei para o rosto de Keith, e havia uma suavidade que eu não via
há muito tempo.
Sua mão desceu pelo meu braço e deslizou para a minha mão. Ele
parecia quase envergonhado, uma emoção que eu não pensei que ele
pudesse sentir. — O que você acha de dormirmos juntos? Talvez
pudéssemos nos manter aquecidos..., — sua voz foi sumindo.
Lembrei-me do que tinha acontecido da última vez que deitamos
juntos e pensei melhor.
Mas aquela atração invisível estava de volta e mais forte do que
nunca.
Eu me peguei me aproximando dele e não fiquei nem um pouco
surpresa com o quão bem nossos corpos se encaixaram nesta posição.
Ele colocou um braço sobre meu corpo e me puxou com força. Eu
podia sentir o seu hálito quente no meu pescoço e percebi que ele estava
sentindo o meu cheiro.
Era inebriante saber que ele também podia sentir essa atração.
Meu corpo formigou com a ansiedade pelo que poderia acontecer a
seguir.
Ele se levantou para olhar por cima do meu ombro.
— Belle.
Nossos olhos se encontraram e eu percebi uma clareza nele que não
estava lá antes.
Ele se lembra de mim agora?
Keith
Deitamos no chão frio e rochoso, corpo contra corpo. Meu braço, em
volta dela, continuou puxando-a para mais e mais perto.
Eu não me importei. Parecia a coisa certa.
Como se o corpo dela fizesse parte do meu, e tudo que eu podia sentir
era que ela era o oxigênio alimentando o meu fogo.
Eu olhei por cima do ombro e disse o nome dela.
— Belle.
Quando ela olhou para mim, foi como um relâmpago antes do
estrondo de um trovão.
Então, eu me lembrei.
Marque-me.
Sua voz soando na parte de trás da minha cabeça.
Eu senti seu cheiro novamente apenas para lembrar que ela não podia
se unir ao meu corpo.
— Por que eu não marquei você? — Eu perguntei.
Senti seu corpo murchar em uma sensação de afundamento e ficar
tenso ao mesmo tempo.
— Não sei, — disse ela.
Queria saber mais, mas decidi não pressionar.
Quando pensei que nossos sentimentos haviam se perdido, ela
agarrou a minha mão e apertou-a contra o peito.
Eu podia ouvir a sua respiração acelerada e não queria nada mais do
que beijar a sua nuca.
Minhas memórias não me permitiam lembrar dela agora, mas com o
tempo, novas memórias se formariam e poderíamos começar tudo de
novo. Ela se virou de costas e olhou para mim com uma paixão oculta. Eu
estava tão perdido em seus olhos que deixei um barulho escapar...
Um leve ronco ecoou do chão.
— Desculpe... — ela gritou nervosamente. — Ainda estou com um
pouco de fome.
Eu ri. meu corpo inteiro sacudindo o dela enquanto eu a segurava,
fazendo-a rir. Nós enchemos a caverna inteira de risadas, e foi tão leve.
Então, outro ronco soou.
Desta vez, atrás de mim.
— Você também está com fome? — Belle perguntou brincando.
Eu imediatamente me levantei e prendi a respiração. Eu podia ver
muito pouco e semicerra os olhos para tentar ver através da escuridão.
— Oh, estou com fome... mas seu sangue não é para eu beber, — uma
voz desconhecida gritou das sombras.
Belle gritou e eu pulei.
— Quem é Você? MOSTRE-SE! — Eu rosnei.
Ouvimos passos ao nosso redor quando uma segunda voz gritou: —
Nossa rainha! Nossa rainha vampira! Viemos por você!
Eu rosnei alto, sentindo cada grama do meu corpo enrolando de
raiva.
Havia mais de um, e a julgar pelo seu cheiro nojento e avinagrado, eu
não precisava de mais nenhuma dica para saber quem estava nos
cercando.
Era apenas uma questão de tempo antes que os vampiros viessem
atrás dela.
Capítulo 21
MEMÓRIAS PERDIDAS
Belle

Quem é você?
Eu olhei nos olhos do meu amante e vi um estranho olhando para
mim.
Ele não conseguia lembrar de nada sobre mim.
Nosso tempo que passamos juntos, a jornada que nos mudou tanto,
agora era completamente inexistente para ele.
Tessa e eu demos privacidade para ele se trocar enquanto nos
reunimos na cozinha.
— Você poderia ver através da mente dele? Encontrou alguma coisa
da sua memória? — Eu perguntei a ela.
— Eu não posso mexer em nada que ele não esteja ciente, Belle. Só
uma deusa pode fazer isso, — ela suspirou. — Estou longe de ser uma.
— Bem, o que vamos fazer? — Eu perguntei a ela. — Não podemos
simplesmente deixar as coisas assim.
Tessa levou um momento para tomar mais um gole de seu chá. Pelo
amor da Deusa da Lua! Esta mulher e seu bendito chá!
Tentei conter a preocupação que borbulhava dentro de mim
enquanto a observava engolir e se mexer.
As ervas flutuavam na sua xícara e os aromas chegaram às minhas
narinas. Toques de cardamomo, canela e algo mais que não consegui
decifrar.
Foi adorável e reconfortante, acalmou um pouco os meus nervos.
— Eu acredito que Keith deve voltar ao seu trono, — ela disse. —
Estar lá pode refrescar a memória dele.
— Mas todas as memórias que ele criou comigo foram bem longe de
seu trono! — Eu disse.
— Ele precisa estar em um lugar em que se sinta confortável primeiro.
Keith tem uma conexão com o trono que pode quebrar o poder desse
feitiço. Espero que seja o suficiente para que a magia desapareça. Você
deveria ir com ele, — disse Tessa.
— Mas ele não se lembra de mim! — Eu disse.
— Ele é seu prometido. Em breve, essa sensação voltará para ele, se é
que já não voltou. Seja paciente, — disse Tessa.
— E quanto ao Tannon? E a porta de entrada para o submundo?
Quem vai proteger isso? — Eu perguntei, me sentindo cada vez mais
oprimida.
Tessa sorriu com as minhas perguntas e ergueu as mãos, para me
acalmar.
— Tannon ficará bem, sob minha supervisão. Vou pedir a Daisy para
guardar o portal, — disse Tessa.
Revirei os olhos e murmurei: — Certifique-se de que ela realmente
faça o seu trabalho.
Eu odiava como a Daisy fazia eu me sentir. A atmosfera que ela
exalava era tóxica e eu tinha dúvidas de que ela ajudaria em alguma coisa.
Havia algo sinistro que ela mantinha por baixo dos panos. Como uma
maçã vermelha madura que era podre por dentro.
— O que é que foi isso? — A voz de Keith ecoou atrás de mim.
— Você vai levar Belle de volta ao castelo, — explicou Tessa. — Eu
acho que isso vai te ajudar a recuperar as suas memórias.
Keith

Eu queria me lembrar de tudo. Eu queria saber por que essa jovem


que eu estava dando uma carona em forma de lobo alegava ser a minha
prometida.
Não me lembro por que estava naquela sala, ou por que estava no clã
das bruxas.
Essa garota era uma bruxa?
Como uma bruxa pode ser minha prometida?
Tentei pensar no passado e juntar imagens que pudessem ajudar a
tornar as coisas mais coerentes. Eu tinha acordado em uma sala
desconhecida na minha forma de lobo, pronta para lutar contra qualquer
coisa em meu caminho. Eu estava com raiva e assustado, mas nada na
minha memória provocou tal reação.
Houve dor. Uma fonte escura tentou me sugar para dentro, e eu
resisti.
Ou tentei resistir...
Corri por horas. Quanto mais eu tentava recuperar as minhas
memórias, mais rápido elas me escapavam. Me enfurecia não ter
nenhuma lembrança das pessoas ao meu redor.
Isso era algum tipo de piada cruel?
Mas algo sobre essa moça parecia aconchegante. Eu queria estar perto
dela, embora mal me lembrasse de seu nome.
Annabelle.
Enquanto caminhávamos por uma pequena floresta, minhas narinas
captaram um cheiro úmido. Passei por entre as árvores e atravessei um
pequeno riacho, por instinto.
Havia uma caverna perto, eu quase podia sentir.
— Eu não acho que vou me acostumar com isso, — Belle murmurou,
com a mão sobre o estômago, depois de sair de cima de mim.
Por um momento, me perdi em seus olhos. Eles eram como imãs,
puxando toda a minha energia, e eu não conseguia impedir isso.
Algo em mim não queria que isso parasse...
Ela quebrou o contato visual primeiro e olhou ao redor da área. —
Isso não se parece com o seu castelo.
— Você já esteve no meu castelo? — Eu perguntei a ela.
Ela se aproximou. — Você realmente não se lembra de nada, — ela
disse tristemente.
— Não importa o quanto eu tente. Não é bom ser um rei quando você
nem consegue se lembrar do seu reino, — eu confessei.
Eu pude ver que ela queria se aproximar, mas se manteve à distância
de um braço.
— Você deve estar cansada. Podemos descansar na caverna durante a
noite. Ainda faltam algumas horas antes de chegarmos a minha casa, —
eu — Deve haver gravetos suficientes para nos ajudar a passar a noite.
Uma brisa soprou da abertura da caverna, e eu senti o seu cheiro.
Doce e salgado ao mesmo tempo.
Um desejo profundo invadiu o meu peito, afetando a minha
respiração. Eu não conseguia acreditar na influência que ela exercia sobre
mim.
Quem era esta criatura? Algum dia eu me lembraria?
Belle

Demoramos um pouco para juntar gravetos e galhos para fazer a


fogueira.
Entramos na caverna e encontramos um local profundo o suficiente
para impedir que o vento apagasse o fogo.
Keith acendeu o fogo sem nenhuma dificuldade. A chama o queimou,
fazendo-o cair de bunda.
Tentei esconder minha risada, mas ela acabou escapando, ecoando
por toda a caverna.
— Há algo que você gostaria de me dizer? — ele perguntou
rispidamente.
— Relaxa. Eu estava apenas observando as suas maravilhosas
habilidades de sobrevivência.
Mesmo se a sua memória se foi, seu ego está longe de ter se perdido,
— eu disse com um sorriso malicioso. — Depois de tudo o que passamos,
não é uma surpresa que você tenha medo de fogo.
Eu queria que ele se arrependesse por não se lembrar de tudo o que
tínhamos feito juntos, mas esse comentário só serviu para irritá-lo.
— Depois de tudo que passamos... Como é que uma bruxa pode ser
minha prometida? — ele perguntou.
— Eu sou um híbrido de demônio-bruxa. O primeiro de todos, para
ser exato. Isso significa que eu poderia ser a sua prometida, do Lorde
Demônio ou do Rei Vampiro, — eu expliquei sem entusiasmo.
Eu poderia dizer que ele estava com ciúmes ao ouvir o nome dos
meus outros pretendentes, mas, novamente, ele manteve a calma.
'Isso é ridículo, — ele disse.
— O que? Que eu poderia ser sua prometida? — Eu perguntei.
— É ridículo eu brigar por uma prometida que não é um lobisomem,
com dois outros reis. Não quis dizer que é ridículo que seja você, — ele
retrucou.
Eu não poderia dizer se eram as chamas ou os seus próprios desejos,
mas algo em seus olhos estava aceso. Ouvir essas palavras de Keith me fez
corar, mas tentei esconder.
Talvez pudéssemos aproveitar tudo isso, mesmo que tivéssemos que
fazer novas memórias.
Keith pegou alguns coelhos que havia caçado enquanto procurava
lenha e os colocou em um espeto acima do fogo.
Em minutos, o cheiro de carne assada fez meu estômago roncar.
— Eu também não entendo, — eu admiti. — Apenas alguns dias atrás,
eu era uma pessoa normal com uma matilha normal. Agora... você está
preso a mim.
Tentei sorrir, mas parecia falso, então olhei para os meus pés.
— Como nos conhecemos? — ele perguntou.
Pensei no caos daquele primeiro dia, quando minha família me avisou
sobre o futuro. Ele era rude e teimoso, beirando a violência.
Não foi exatamente o Príncipe Encantado conhecendo sua princesa...
mas, a vida não é um conto de fadas.
— Eu não tive escolha. Você veio à minha casa e me tirou da minha
família, — eu disse com tristeza.
— Oh — ele respondeu.
— E por causa da atração, — acrescentei. — Você me sentiu e quis me
reivindicar antes que o Lorde Demônio pudesse fazer isso. Você
praticamente me salvou, eu acho.
Eu sorri para ele. — Então, eu deveria te agradecer.
Ele não respondeu imediatamente, mas depois de algum tempo, ele
olhou para cima e encontrou os meus olhos.
— Pelo que ouvi, você também me salvou. E por isso, devo te
agradecer.
Fiquei surpresa com a sua bondade. Nossa viagem anterior fez com
que algo em sua memória se esclarecesse?
Ele não disse mais nada e, em vez disso, tirou os coelhos fumegantes
do espeto. Comemos em silêncio e deitamos para descansar para seguir a
nossa jornada.
— Belle...
Eu ainda não estava dormindo, mas pude sentir essa voz puxando a
minha consciência.
A caverna tinha esfriado, e os arrepios na minha carne me deixavam
alerta. Sentei-me e olhei para Keith.
— Algo está errado? — Eu perguntei.
— Está ficando frio, — disse ele. — E não há mais nada para fazer
fogo.
Eu estava prestes a me levantar e a contragosto fazer meu caminho
para a entrada da caverna quando senti uma mão agarrar o meu braço,
me parando.
Eu olhei para o rosto de Keith, e havia uma suavidade que eu não via
há muito tempo.
Sua mão desceu pelo meu braço e deslizou para a minha mão. Ele
parecia quase envergonhado, uma emoção que eu não pensei que ele
pudesse sentir.
— O que você acha de dormirmos juntos? Talvez pudéssemos nos
manter aquecidos..., — sua voz foi sumindo.
Lembrei-me do que tinha acontecido da última vez que deitamos
juntos e pensei melhor.
Mas aquela atração invisível estava de volta e mais forte do que
nunca.
Eu me peguei me aproximando dele e não fiquei nem um pouco
surpresa com o quão bem nossos corpos se encaixaram nesta posição.
Ele colocou um braço sobre meu corpo e me puxou com força. Eu
podia sentir o seu hálito quente no meu pescoço e percebi que ele estava
sentindo o meu cheiro.
Era inebriante saber que ele também podia sentir essa atração.
Meu corpo formigou com a ansiedade pelo que poderia acontecer a
seguir.
Ele se levantou para olhar por cima do meu ombro.
— Belle.
Nossos olhos se encontraram e eu percebi uma clareza nele que não
estava lá antes.
Ele se lembra de mim agora?
Keith

Deitamos no chão frio e rochoso, corpo contra corpo. Meu braço, em


volta dela, continuou puxando-a para mais e mais perto.
Eu não me importei. Parecia a coisa certa.
Como se o corpo dela fizesse parte do meu, e tudo que eu podia sentir
era que ela era o oxigênio alimentando o meu fogo.
Eu olhei por cima do ombro e disse o nome dela.
— Belle.
Quando ela olhou para mim, foi como um relâmpago antes do
estrondo de um trovão.
Então, eu me lembrei.
Marque-me.
Sua voz soando na parte de trás da minha cabeça.
Eu senti seu cheiro novamente apenas para lembrar que ela não podia
se unir ao meu corpo.
— Por que eu não marquei você? — Eu perguntei.
Senti seu corpo murchar em uma sensação de afundamento e ficar
tenso ao mesmo tempo.
— Não sei, — disse ela.
Queria saber mais, mas decidi não pressionar.
Quando pensei que nossos sentimentos haviam se perdido, ela
agarrou a minha mão e apertou-a contra o peito.
Eu podia ouvir a sua respiração acelerada e não queria nada mais do
que beijar a sua nuca.
Minhas memórias não me permitiam lembrar dela agora, mas com o
tempo, novas memórias se formariam e poderíamos começar tudo de
novo.
Ela se virou de costas e olhou para mim com uma paixão oculta. Eu
estava tão perdido em seus olhos que deixei um barulho escapar...
Um leve ronco ecoou do chão.
— Desculpe... — ela gritou nervosamente. — Ainda estou com um
pouco de fome.
Eu ri, meu corpo inteiro sacudindo o dela enquanto eu a segurava,
fazendo-a rir. Nós enchemos a caverna inteira de risadas, e foi tão leve.
Então, outro ronco soou.
Desta vez, atrás de mim.
— Você também está com fome? — Belle perguntou brincando.
Eu imediatamente me levantei e prendi a respiração. Eu podia ver
muito pouco e semicerrei os olhos para tentar ver através da escuridão.
— Oh, estou com fome... mas seu sangue não é para eu beber, — uma
voz desconhecida gritou das sombras.
Belle gritou e eu pulei.
— Quem é Você? MOSTRE-SE! — Eu rosnei.
Ouvimos passos ao nosso redor quando uma segunda voz gritou: —
Nossa rainha! Nossa rainha vampira! Viemos por você!
Eu rosnei alto, sentindo cada grama do meu corpo enrolando de
raiva.
Havia mais de um, e a julgar pelo seu cheiro nojento e avinagrado, eu
não precisava de mais nenhuma dica para saber quem estava nos
cercando.
Era apenas uma questão de tempo antes que os vampiros viessem
atrás dela.
Capítulo 22
O REI VAMPIRO
Belle

— Quão forte você atingiu a pobrezinha?


Uma voz desconhecida surgiu na minha consciência.
Tentei me mover, mas tudo doía, principalmente a minha cabeça. Um
gemido escapou dos meus lábios enquanto eu tentava me virar, sem
sucesso.
— Viu! Ela ainda está viva! Isso é um bom sinal, certo? — uma
segunda voz perguntou.
'Claro que sim — o primeiro respondeu.
Com um grunhido pesado, eu finalmente sentei no e fui capaz de usar
minhas mãos para me levantar do chão.
Senti um tecido macio embaixo dos meus pés e pude ouvir o zumbido
de uma luz, ao longe. Uma dor lancinante na minha cabeça me forçou a
abrir os olhos.
Eu pude ver que estava em um tapete. Era caro e complexo, as cores
dançando em meu campo de visão, embaçando tudo.
— Aí, que diabos...? — Eu murmurei, enquanto meus olhos se
ajustavam à forte luz fluorescente da sala.
Eu olhei ao meu redor, completamente confusa sobre como e quando
Cheguei aqui.
A sala em que eu estava tinha um loft muito aberto com tetos altos e
ventiladores girando lentamente acima de mim.
Era um grande upgrade da caverna em que Keith e eu tínhamos
dormido.
Então, eu percebi, Keith não estava em lugar nenhum.
— Keith!? KEITH! — Eu gritei.
— Ele não está aqui, — disse uma voz, assustando-me.
— Deusa da Lua! — Eu disse, tentando me levantar e correr.
Minha cabeça girou em confusão, fazendo meu corpo desabar de
volta no tapete.
Olhei para a minha direita e notei um menino talvez dois ou três anos
mais novo do que eu sentado em um sofá amarelo e brilhante.
— Olá. Annabelle. Desculpe por uma recepção tão... intrusiva, — ele
disse, bebendo vinho tinto em um copo grande.
Ele estava bem vestido, com cabelo preto brilhante caído para trás,
que destacavam os seus olhos verde-limão.
— Meu nome é Samuel, — disse ele com um floreio.
Só quando ele colocou sua taça de vinho na mesa que notei que o
líquido envolto era muito mais espesso do que vinho, quase viscoso.
Enquanto ele me encarava, pude ver como o líquido manchou seu
lábio superior e meu estômago embrulhou.
— Você está bebendo sangue? — Eu perguntei, tentando segurar
dentro do estômago os últimos pedaços de coelho que comi no jantar.
A expressão de Samuel caiu em um suspiro ímpio. Ele se recompôs e
lambeu o sangue de seus lábios.
— Sim, eu estou... Afinal, eu sou um vampiro.
— O Rei Vampiro. — eu disse, olhando para ele com admiração.
Samuel acenou com a cabeça e deu uma pequena palmada. — Aí está
você... Certo.
Dei outra olhada ao redor da sala e não pude deixar de notar que
estávamos sozinhos. Claro, eles sempre quiseram ficar sozinhos comigo.
— O que você fez com o Keith? — Eu exigi.
— Nós o deixamos para trás. Ele não é uma ameaça para mim...
contanto que ele não faça nada estúpido, — declarou Samuel.
— Isso é uma ameaça? Ele virá atrás de mim, — eu disse, sem
confiança.
Eu sabia que Keith não se lembrava mais de mim e não saberia por
onde começar a me procurar.
Tentei afastar esses pensamentos, mas não consegui imaginar que
isso acontecesse de outra forma. Se ele tivesse me marcado...
— Então, você acha que serei sua prometida também? — Eu
perguntei com um suspiro.
A risada de Samuel me pegou desprevenida.
— Não. de jeito nenhum, — ele assegurou. — É verdade, eu deveria
estar acasalando com você. Talvez pudesse ser interessante... mas eu não
sou um homem monogâmico.
— Você é mais jovem do que eu, — eu gargalhei.
Samuel soltou outra gargalhada amarga e balançou a cabeça. — Oh,
meu Deus, não, estou décadas além do seu tempo, mas eu te perdoo por
essa gafe.
Algo em sua energia era excêntrica e suave ao mesmo tempo. Ele
falou comigo como um poeta fala com a sua musa.
Mas havia outra coisa, um sentimento subjacente...
Tentei limpar meus pensamentos e quebrar a atração que sentia
vindo de Samuel. Ele não me queria como os outros. Talvez fosse por isso
que parecia tão mais forte...
— Estou aqui para lhe oferecer algo diferente... algo que não posso
imaginar que alguém rejeitaria.
Você é uma mulher livre, essa é a sua ruína, — disse ele, com um silvo.
— Se eu sou uma mulher livre, por que você me trouxe aqui à força?
— Eu perguntei.
— Você teria vindo se soubesse que o Rei dos Vampiros queria a sua
atenção? — Samuel rebateu. Fiquei sentada em silêncio. Ele interpretou a
minha pausa como uma resposta.
— Exatamente, — ele disse, bebendo do seu copo de sangue mais uma
vez. — É verdade, não queríamos nos arriscar com o Rei Lobisomem.
Mas não era a minha intenção que você se machucasse.
Acima, através do duto de ventilação, um baque metálico fraco
farfalhou para frente e para trás, quase rítmico.
Olhei ao redor da sala em busca de respostas quando Samuel acenou
com a mão desdenhosa.
— Reformas. Os operários estão constantemente batendo e cortando,
mas precisamos expandir se realmente vamos ter uma nova rainha, —
disse ele sedutoramente.
Samuel se sentou em um velho piano de cauda que ficava no canto da
sala.
— Você gosta de música? — ele perguntou, acariciando algumas teclas
de maneira divertida. Eu balancei a cabeça, incapaz de me livrar dos sons
que seu piano fazia.
Ele sorriu e começou a tocar mais notas, fundindo-as em acordes
suaves que carregavam uma melodia pacífica por toda a sala.
Eu não pude deixar de balançar minha cabeça com os sons sensuais.
— Minha oferta para você... bem, o que você quiser. Com a minha
marca, você poderia ter paz, fortuna e uma voz neste mundo.
Embora meu coração estivesse voltado para Keith, não pude deixar de
ouvir o seu discurso. Era algo em que Lazarus era tão bom, tentando me
vender um sonho quebrado.
E, no entanto, não era isso que eu queria? Seguir meu próprio
caminho e não responder a mais ninguém...?
— Como você pode me dar tudo isso? — Eu perguntei a ele.
— Mostrando quem você realmente é, — respondeu Samuel,
cruzando uma perna sobre a outra.
Algo em seu olhar estrelado me trouxe muita inspiração. Ele estava
disposto a me ajudar a ser eu?
Eu ri da ideia, mas ainda era uma possibilidade. Sem nenhum
comportamento violento, sem uma devoção obsessiva em me ter em sua
cama, nada de interesse.
Keith havia perdido a memória e eu precisava entender que havia a
possibilidade de que ele nunca a recuperasse.
— Então, o que você acha? — Samuel perguntou, me trazendo de
volta ao momento presente. Ele parou de tocar música e olhou para mim
com olhos penetrantes.
— Antes de eu tomar qualquer decisão, o que você ganha com tudo
isso? — Eu perguntei a ele.
Samuel encolheu os ombros. — Bem, eu ouvi sobre a briga de seu
amante com o Lorde Demônio e...
— Não foi uma briga, foi um inferno. Ele iria me marcar à força! E
você sabia que ele tem um irmão? Porque isso era novidade para mim
também, — eu rebati.
— Ok... — Samuel se levantou de sua cadeira e caminhou em direção
às janelas. — Eu tinha ouvido falar sobre a sua grande saída do
submundo e fiquei intrigado.
Ele olhou pela janela, girando seu copo como se estivesse querendo
arejar o sangue.
— Ninguém o enfrentou desse jeito, e eu não diria que estou do lado
dos lobisomens, mas admiro sua disposição de ficar por conta própria, —
ele admitiu, tomando mais um gole de sangue.
Ele piscou para mim e eu pude sentir a minha pele corar. Tentei
disfarçar me virando, mas Samuel de repente estava ao meu lado.
— Se você for a minha rainha, podemos garantir que o Lorde
Demônio e todo o submundo fiquem bem longe do nosso, — disse ele,
apontando uma mão para o quarto.
Eu balancei a minha cabeça e de repente pude ouvir as notas de sua
música tocando por toda a sala.
Ele agarrou minha mão e começamos a dançar lentamente.
— Pense no poder que teríamos sobre eles, — continuou.
— Haveria mais do que apenas uma barreira separando os dois. Se eu
fosse te marcar... se você me deixasse te marcar... seria mais provável
estabelecer a paz entre todos os outros clãs.
Paz.
Depois de todo o horror que eu tinha visto nos últimos dias, isso
parecia uma façanha impossível. Mas se fosse possível, não seria algo a se
considerar?
Eu me afastei da nossa dança e me sentei no sofá.
Enquanto eu estava correndo em círculos com Keith, lutando contra
o Lorde Demônio e Azazel a todo custo, Samuel estava planejando algo
duradouro.
Algo que me desse mais propósito.
A Rainha dos Vampiros...
Eu saí do meu torpor. — Se você me marcar, isso significa que não
poderei mais sair de casa.
— Sim, mas você aprenderia a se acostumar, como todos nós fizemos,
— disse Samuel.
— Realmente não faz diferença estar no submundo. Temos tudo que
você precisa aqui. E se não fizermos isso, vou me certificar de encontrar e
trazer para você — ele disse com uma voz exaltada.
Eu olhei em seus olhos e senti a atração do prometido crescer entre
nós.
Isso me fez sentir como se a sala ao nosso redor tivesse deixado de
existir, como se o tempo tivesse parado, e éramos nós que estávamos no
controle.
Precisei esforçar cada pedacinho do meu corpo para quebrar o
contato visual.
— E se eu disser não? — Eu perguntei.
Samuel não vacilou, embora eu olhasse bem em seus olhos, na
esperança de encontrar qualquer vestígio de falsidade.
— Você estará livre para ir.
— Eu não sei o que te dizer, Samuel, — eu disse confusa. — Eu estou
apaixonada pelo Keith...
Ouvir essas palavras saírem da minha boca me fez sentir várias coisas
ao mesmo tempo.
Me incomodava o quanto eu queria estar perto dos seus lábios, suas
mãos, do corpo inteiro!
Samuel me avaliou e observou meu corpo. — Mas ele não marcou
você.
Meu coração se afundou. Samuel estava certo.
O problema não era só a sua perda de memória. Antes ele tinha me
iludido e me deixou nua e sozinha.
Eu tinha começado a ver uma mudança de comportamento na
caverna, mas quanto tempo isso demoraria até que ele assumisse seus
velhos hábitos?
— Estamos apenas esperando a hora certa, — respondi.
— Quando você vai aprender, querida Belle, que qualquer tempo
gasto com você é sempre a hora certa?
Keith

WHACK!
Uma dor lancinante percorreu todo o meu corpo como o que deve ter
sido o centésimo açoite de um chicote cheio de espinhos.
Eu estava pendurado no teto, pendendo, por correntes de prata que
queimavam os meus pulsos.
WHACK!
O chicote cortou a minha pele, deixando outro vergão saliente,
escorrendo sangue.
— O QUE VOCÊ QUER!? — Eu gritei.
— Chega, — uma voz escorregadia gritou, vindo das sombras.
O chicote parou de me atacar e eu ouvi passos se aproximando.
Uma figura emergiu das sombras, era um menino com uma postura
imaculada.
Ele sorriu para mim com sua expressão distorcida e inclinou a cabeça.
— Olá, Keith. Há quanto tempo não nos vemos.
Rosnei para o menino parado abaixo de mim.
Posso ter perdido a minha memória, mas o seu sorriso de comedor de
merda fez a minha raiva ferver.
— Eu acredito que você até que tem algum valor. Este pequeno
inconveniente deve lembrá-lo de como eu sou persistente para conseguir
o que quero, — disse ele com um sorriso.
Meu sangue ferveu a ponto de eu nem sentir as correntes de prata
perfurando os meus pulsos.
Eu nunca fui inimigo dos vampiros, não que minha mente débil
pudesse se lembrar. Mas era óbvio que nunca fomos amigos também.
Os vampiros só faziam o que convinha aos seus interesses e eram
bons em manipular.
— Por que estou aqui? — Eu rosnei.
— Você tem algo que eu quero. Ou melhor, alguém... — disse Samuel.
— Belle? — Eu perguntei. — O que você fez com ela?!
— Acredite em mim, eu tratei Belle como uma rainha, — ele disse.
— Eu quero que você a liberte. Diga para ela que você a esqueceu, que
ela não vale o seu tempo, e eu te deixarei ir embora. É simples assim, —
ele sugeriu.
— Eu não confio em você! — Eu rosnei. — Você só se preocupa com
você mesmo e eu não vou dar ouvidos às suas mentiras!
Tentei novamente me soltar das correntes, mas só consegui machucar
ainda mais meus pulsos.
Samuel riu da cena. — Eu sei que você não confia em mim. Mas você
deve confiar nisso... Se eu não conseguir o que quero... você não será o
único ser sangrando em carne viva.
Capítulo 23
SUBTERFÚGIO
Belle

Acordei em uma cama enorme, sozinha e confusa. A minha cabeça


ainda girava, mas desta vez, felizmente, não foi por causa de um golpe.
Tentei me lembrar de alguma coisa nos meus sonhos que me
consolasse, mas tudo que eu conseguia visualizar eram umas correntes
ensanguentadas e chicotes golpeando.
A noite anterior havia terminado com alguma esperança, mas no meu
estado grogue, tudo parecia apenas um monte de promessas vazias.
Eu tinha ouvido as propostas e histórias tentadoras de Samuel
tomando uma garrafa de vinho — e, felizmente, não era sangue.
Samuel me deu um quarto de hóspedes privado, para eu ficar o tempo
que quisesse, e parte de mim queria nunca mais sair dali.
Tudo sobre este reino subterrâneo parecia tão emocionante e seguro.
E a cama... oh, a cama era a mais confortável em que eu já dormi.
Só me fez desejar estar de conchinha com o Keith, como estávamos
naquela caverna.
Eu poderia jurar que ele se lembrou de mim só pelo olhar em seus
olhos.
Mas isso não traria o resto de suas memórias de volta?
Testei o meu equilíbrio colocando os pés no tapete e ficando de pé.
Eu vacilei um pouco, mas me segurei na cama. Eu já sabia que esse
seria um longo dia.
***

Encontrei o Samuel no salão do trono. Ele estava numa plataforma


mais alta, olhando alguns papéis sobre a mesa.
Quando me aproximei dele, ele os juntou de forma organizada e
rápida.
— Dormiu bem? — ele perguntou, com um sorriso.
— Samuel, este lugar é lindo, e você é uma pessoa muito legal... — eu
disse.
Ele manteve a compostura enquanto eu continuei.
— Mas vou precisar de um tempo para pensar sobre as coisas.
Samuel ergueu uma sobrancelha. — Está esperando por outro resgate
milagroso?
— Não. eu já desisti de lutar, — eu admiti.
Pensar em tudo o que foi perdido apenas para me manter segura fez a
minha pele queimar e meu estômago embrulhar.
— Mesmo? — Samuel perguntou, sua expressão estava ligeiramente
corada. — Bem, eu já ofereci paz, se você assim escolher.
— Eu sei, e não posso agradecer o suficiente pela sua hospitalidade. É
por isso que eu vou ficar e pensar sobre isso, — eu disse debilmente.
Não sabia por quanto tempo mais eu queria ficar, mas sabia que ir
embora só colocaria a mim e aos outros em perigo.
Samuel moveu-se com entusiasmo para o meu lado e conduziu-me
até a janela.
— Explore o reino. Descubra tudo o que temos a oferecer, — disse ele
com entusiasmo.
Eu olhei para os campos tão diferentes e as belas estruturas góticas.
Pelo menos não estava coberto de fogo.
As batidas abaixo de nós começaram novamente, interrompendo o
nosso momento juntos.
— Por favor, você deve sair e tomar um pouco de ar fresco, — disse
ele, rindo.
Eu olhei para Samuel e felizmente me rendi.
Por que eu deveria ir atrás de alguém quando sabia que era bem-vinda
aqui?
Eu vaguei pelo reino pelo que pareceu uma eternidade, procurando
algo para comer.
Claro, o reino dos vampiros não teria nenhuma comida de verdade —
era estúpido da minha parte pensar o contrário.
O terreno era lindo e parecia um ambiente bem natural.
A cidade tinha ruas de paralelepípedos e edifícios modernos
intercalados por estruturas góticas que eram cheias de detalhes.
A luz parecia brilhar de um sol no céu, mas eu sabia que era melhor
não acreditar nisso.
Um cidadão me viu olhando para o céu e explicou que ele foi
construído assim para ajudar a imitar o sol. mas sem seus efeitos nocivos
para os vampiros.
Eu não pude deixar de rir, maravilhada.
Como seria se eu fosse uma vampira...? Eu mudaria muito?
Ser um híbrido de bruxa-demônio já era complicado, mas adicionar
um vampiro à mistura? Fiquei preocupada com o fato de que nem tudo
iria acontecer tão pacificamente como Samuel prometeu.
Certamente, uma das espécies retalharia. Eu já tinha visto o que
acontecia quando as promessas eram quebradas.
Algum dos meus pretendentes poderia acabar sendo atingido.
No caso do Samuel, só daria certo se ele fosse atingido com uma
estaca...
Belle.
Ao passar por um dos becos, ouvi uma voz fraca me chamando. A voz
era familiar, mas eu não consegui identificá-la.
Continuei e estava prestes a dobrar a esquina quando soou
novamente.
Belle... espere!
Dei uns passos para trás e localizei uma figura escondida nas sombras.
— Quem está aí? — Eu gritei.
— Belle, — ele chamou novamente. A voz familiar soou na minha
cabeça e eu dei um passo à frente.
Uma figura nas sombras se moveu. Meu corpo ficou rígido, pronto
para fugir ao primeiro sinal de perigo.
Mas eu rapidamente percebi que a figura não estava nas sombras.
Elas eram as sombras!
— É você! — Eu gritei.
A criança-sombra se aproximou, agora certa de que tudo estava
seguro.
— O que você está fazendo aqui? — Eu perguntei.
— Eu não tenho muito tempo, mas você deve saber que o Keith está
aqui neste reino, — a criança-sombra explicou.
— O quê!? — Eu gritei. — Eles me disseram que ele foi deixado para
trás.
— Isso é o que eles querem que você pense, — a voz explicou. — Vá
até ele antes que seja tarde demais, Belle.
— Onde ele está? — Eu perguntei.
— Em um lugar mais abaixo da superfície. Use a sua magia e deixe o
seu coração guiá-lo até ele, — explicou a criança-sombra. — Eu devo ir
agora, mas se cuide.
Antes que eu pudesse agradecer, a criança-sombra desapareceu,
dissolvendo-se na escuridão.
Eu caminhei mais para dentro do beco, na esperança de alguma
forma encontrá-la, mas nada. — Onde você está, Keith? — Murmurei
baixinho. — Por favor. Se você está aqui...
Demorou um momento para eu me recompor. Samuel me disse que
ele tinha sido deixado sozinho.
Por que ele mentiria?
Eu olhei para as minhas mãos e tentei focar a mente em encontrar
Keith.
Pensei nas imagens de nosso tempo juntos, visualizando as suas
feições.
Seus ombros largos, a sua mandíbula bem desenhada e aquele olhar
que ele me lançava quando sabia o que queria.
As coisas que ele faz com o meu corpo...
Quando abri meus olhos, as veias nos meus braços estavam brilhando
em um tom azul.
— Leve-me até o Keith, — murmurei baixinho.
Eu pensei na última vez que ele me beijou e como o nosso toque
parecia mais quente do que brasas em chamas...
O brilho em seus olhos quando ele olhou para mim...
Senti uma energia pulsante crua se expandindo pelo meu peito e
viajando pelas minhas mãos. Magia azul vibrante saia de mim, criando
um portal.
Sem duvidar nem por um segundo, eu atravessei. Este portal era
diferente das outras portas ocultas. Isso me fez sentir náuseas, era quase
como viajar nas costas do Keith.
Quanto mais eu pensava nele, mais parecia que o meu corpo estava
sendo reorganizado de dentro para fora.
TUM!
Eu caí no chão com tudo.
Estava em um porão escuro e assustador, onde apenas uma lâmpada
pendurada balançava para frente e para trás ameaçadoramente, piscando
como se quisesse sair dali.
CLANG.
CLANG.
CLANG.
O mesmo som que ouvi na sala acima estava agora a apenas alguns
metros de distância.
Eu rapidamente corri pelas sombras, passando por várias jaulas de
metal vazias.
Então, eu o encontrei.
Ele estava pendurado por duas correntes enormes como um boneco
de pano, pingando sangue enquanto a cabeça estava baixa. Eu mal
conseguia distinguir suas feições, mas sabia que era Keith.
— Keith! Oh, Deusa da Lua, o que eles fizeram com você?! — Eu
entrei em pânico.
Keith lentamente levantou a cabeça e olhou para mim.
— Belle? Não! Saia! — ele avisou.
— Eu não vou te deixar assim, — eu disse, enquanto as minhas mãos
tocavam suavemente seu rosto.
Procurei ao redor, mas não encontrei nada que me ajudasse a alcançar
as correntes.
Fechando os olhos, concentrei-me na imagem de suas algemas
destrancadas. Era uma ideia simples, mas foi tudo o que consegui pensar
em fazer.
Comecei a sentir uma pulsação retumbando nas minhas veias e,
quando abri os olhos, percebi que os meus braços estavam azuis.
Focando minhas mãos na direção das algemas, empurrei para frente e
uma luz azul rasgou o ar, cortando as correntes como uma faca afiada.
Keith desabou no chão e eu corri até ele.
— Oh, Keith, suas mãos! — Eu entrei em pânico.
Elas estavam inchadas e vermelhas. Quando as toquei, ele estremeceu
e gemeu, era um som que eu nunca tinha ouvido ele fazer antes.
Ele olhou nos meus olhos e, mesmo sentindo uma dor insuportável,
tentou sorrir.
— Eu não pensei que veria você de novo, — ele sussurrou com uma
voz áspera e tensa.
— Eu não achei que você queria me ver, — eu admiti.
Keith ainda não se lembrava totalmente de mim, eu sentia.
Mas era bom saber que mesmo nos nossos momentos mais sombrios,
eu ainda conseguia fazê-lo sorrir.
— Por que eles fizeram isso com você? Ele me prometeu que eles só
queriam paz, — eu perguntei enquanto me levantava.
Eles viriam atrás de Keith em breve.
— Eles podem ser neutros em uma guerra, mas ainda precisam de
informações. Este é apenas um dos muitos métodos para obter, — disse
ele, enquanto cuspia sangue no chão.
— De que informações eles precisam? — Eu perguntei, tentando
lembrar de todas as coisas que eu tinha aprendido.
Nada parecia tão importante para eles irem atrás de Keith.
Ele olhou para mim e, novamente, deu um sorriso fraco.
— Eles acham que eu sei onde está a barreira para o submundo, —
disse Keith, com uma risada. — Que pena para eles, eu não me lembro de
nada.
Ajudei Keith a se levantar do chão, oferecendo meu corpo para ele se
apoiar, como uma muleta.
— Como vamos tirar você daqui? — Eu perguntei.
— Você não sabe, — uma voz serpentina chamou das sombras.
Ouvir sua voz enviou um choque pelo meu corpo que afetou o meu
controle sobre Keith. Ele começou a escorregar e eu não pude fazer nada
para segurá-lo.
Novamente, eu o observei cair no chão. Desta vez, eu não seria capaz
de ajudá-lo a levantar.
Samuel saiu das sombras, batendo palmas humildemente.
— Bravo. Parece que você me enganou direitinho.
— Você mentiu para mim! — Eu gritei com toda a força.
Samuel riu de mim enquanto observava o corpo imóvel de Keith.
— Poderíamos ter sido tão felizes juntos, — disse ele. — Mas,
infelizmente, você fez a sua escolha. Agora, tenho que fazer uma coisa
que eu não queria.
Samuel se ajoelhou ao lado de Keith e olhou para o seu rosto
machucado. Um sorriso rastejou pelos seus lábios, mostrando as presas
escondidas.
— Fique longe dele! — Eu exigi, movendo-me em direção aos dois.
Samuel acenou com a mão e, em um piscar de olhos, me jogou contra
uma cela vazia.
— Eu queria confiar em você. Para te dar o meu amor. Para trazer paz
ao mundo... — Ele colocou um pé no rosto de Keith, pressionando-o
contra o chão duro.
Tentei me levantar, mas fui mais uma vez arremessada de lado pelos
poderes de Samuel.
Seus olhos verdes se transformaram e ficaram vermelhos quando ele
olhou para o meu corpo dolorido.
— Mas agora eu percebo, só pode haver paz quando vocês dois
estiverem mortos.
Capítulo 24
HUMILHAÇÃO PÚBLICA Belle
CLANG!
Eu podia ouvir as correntes amarradas aos meus pulsos enquanto elas
se chocavam.
Tentei olhar ao redor, mas a luz fraca me deixou ver apenas o chão
sob meus pés.
Keith havia sido levado embora e agora eu estava pendurada no lugar
dele, presa com novas algemas que neutralizam a minha magia.
Samuel fez questão de nos avisar que a nossa execução seria
testemunhada por todos os vampiros do reino.
Ele estava orgulhoso de ser o líder do entretenimento que estava por
vir.
Mais uma vez, deixei a confiança no homem errado me derrubar.
Nem sempre foi assim. Meu pai. Mark, era o alfa de nossa matilha e
governava com mão pesada e um coração gentil.
Sean sempre me irritou, mas no final, ele estava lá para mim, não
importa o quê.
Tentei pensar neles para me dar esperança. Uma família deve
permanecer unida nos bons e maus momentos.
A nossa não era diferente.
Imagens de uma conversa imaginária passaram pela minha mente...
Sean: Você vai deixar eles fazerem isso?

Belle: Eu não tenho escolha! Eu confiei nele e fui enganada.


Agora, ele quer destruir tudo que é importante para mim.

Mãe: Nós te educamos direito!

Belle: Mas eu não sou uma de vocês. Eu nunca fui...


Pai: Mentira! Nós te criamos como uma de nós. Você tem o poder
e a força de vontade para fazer qualquer coisa acontecer, não
importa o quão difícil seja.

Sean: Todos aqueles anos com a matilha... as lições sobre a nossa


herança e como ninguém será deixado para trás... Você realmente
vai se entregar e morrer?

Mãe: Nós te amamos, querida. E queremos que você saiba que é


amada.

Uma lágrima rolou pelo meu rosto e caiu no chão duro abaixo.
Tudo isso estava só na minha cabeça, mas parecia real. Não importa o
problema, a minha família sempre esteve lá para ajudar.
Estava parecendo que eu nunca iria vê-los novamente.
Se eu quisesse ver novamente aqueles que eu amava, precisava de um
milagre.
Tessa!
Ela era a minha única esperança.
Mantendo a minha mente afiada e os olhos fechados, concentrei-me
em sua essência.
Eu tinha conseguido estender a mão com minha mente antes, mas
sem correntes neutralizando a minha magia.
Eu tinha que tentar. Desistir não era uma coisa que estava no meu
sangue!
Tessa. Por favor. Estamos presos. O Samuel vai nos matar. Ajude-nos,
Tessa.
Se funcionar corretamente, ela deve receber a mensagem em breve.
Mas será que teremos esse tempo?
Eu ouvi uma trava se abrir e passos se aproximando.
Enquanto eu estava pendurada ali. indefesa, mais lágrimas surgiram
dos meus olhos e caíram no chão.
Por favor, que dê tempo...
Keith

Eles me carregaram até um palco de madeira elevado a vários metros


do chão.
Era óbvio que o Rei Vampiro amava um show, e ele estava prestes a
dar o maior show de todos ao seu reino.
Fui levado a uma estrutura onde minhas mãos e pescoço foram
presos. Para garantir, eles amarraram meus pés com uma corda grossa.
A multidão era grande e crescia cada vez mais. Vários vampiros já
estavam ficando inquietos, então eles decidiram atirar comida estragada,
bebida e cuspe em mim.
E diziam que os vampiros eram neutros.
Para o meu desdém, uma grande guilhotina foi colocada ao meu lado.
A lâmina afiada brilhava na luz artificial, mas eu jurei que ainda podia
ver nela algumas manchas de sangue das últimas vítimas infelizes.
Um rugido da multidão me fez pensar que eles tinham acabado de ver
a guilhotina, mas eu estava errado. Eu podia sentir uma porta à minha
direita sendo aberta, e foi então que a vi.
Annabelle!
Embora nós dois tivéssemos sido amordaçados com panos, seus
grunhidos estremecidos e abafados partiram meu coração.
A multidão agora estava agitada na praça do lado de fora do castelo,
torcendo para que nós morrêssemos.
O show estava prestes a começar.
Belle

Eu queria falar com o Keith, contar a ele tudo o que sentia, mas o
pano em minha boca só me permitiu grunhir e gemer.
Uma fruta podre explodiu na minha bochecha, levando a multidão a
um frenesi. Eles rugiram com gargalhadas, embriagados de sangue.
Então, todos eles ficaram cada vez mais quietos.
Samuel saiu do seu castelo, dando uma caminhada longa e lenta entre
a multidão de pessoas.
A multidão permaneceu em silêncio, quase em devaneio.
— Olá. meus súditos! Vocês estão prontos para se divertir!? — ele
perguntou.
Eles começaram a gritar de novo, e a minha pele estava úmida e fria.
Samuel se virou para mim, com um sorriso. — O que posso dizer?
Essa multidão gosta de um show. Seria muito rude da minha parte
desapontar o meu povo.
Seus lábios se separaram e as presas afiadas brilharam como a lâmina
de uma guilhotina.
Eu olhei para Keith, que compartilhou comigo um olhar temeroso.
Eu não conseguia imaginar a quantidade de dor que havia sido
infligida a ele. As chicotadas deixaram mais do que marcas vermelhas por
todo o corpo.
Também haviam consumido a sua energia e paixão, sugando-o até
secar.
— Estamos reunidos aqui hoje para nos despedirmos, — disse
Samuel.
— Adeus a uma ideia do que poderia ter sido.
Muitos de nós vivemos lamentando por causa das escolhas que temos
muito medo de fazer.
Ele fez uma pausa para olhar para mim, e pude ver que ele estava
fazendo questão de me envergonhar por causa da minha escolha.
— Eu digo que é uma vida longa para nós, então não há necessidade
de gastá-la sobrecarregados com o que simplesmente poderia ter sido.
Ele tocou meu rosto com a mão. como se o admirasse.
Keith soltou um grunhido sufocado através da mordaça.
— Pedimos a ela para ser nossa rainha. Em vez disso, ela tentou salvar
esta besta e nos destruir. — Samuel fez uma pausa para causar efeito e
então me olhou nos olhos.
— Mas devo dizer que, se nós não somos desejados, eles também não
são.
A multidão rugiu de alegria, mais uma vez.
Comecei a chorar quando dois dos guardas me forçaram a levantar e
me acompanharam até a guilhotina. O rosnado abafado de Keith se
intensificava a cada passo que eu dava.
Fiquei de joelhos com a cabeça voltada para baixo, esperando a
lâmina cair sobre mim.
— Alguma última palavra. Annabelle? Samuel perguntou.
Eu preciso de um milagre...
Eu olhei para cima novamente, procurando algum sinal — algo que
eu pudesse me garantir que a morte não seria tão ruim.
Mas as lágrimas turvaram a minha visão, me lembrando que nem
todas as histórias terminavam como um conto de fadas.
— Agora ela está sem palavras, hein? — Samuel brincou.
A multidão riu com ele.
Então, eu ouvi... um uivo agudo que logo foi acompanhado por
muitos mais.
Keith

Seus uivos levantaram todos os pelos do meu corpo e fizeram a minha


carne queimar de excitação.
Uma mancha enorme de pelo cinza e preto desceu pelas ruas,
derrubando tudo em seu caminho.
Deve ter sido o exército inteiro, despedaçando a multidão.
Consegui cuspir o pano da boca e soltei um uivo alto.
— Mate-a agora! — Samuel gritou com o carrasco que demorou a
perceber o perigo que se aproximava rapidamente.
De repente, senti algo aos meus pés e a corda que me prendia foi
cortada ao meio.
Uma mão forte me puxou para cima, dando-me um corpo para me
apoiar.
O rosto parecia familiar, mas eu não conseguia lembrar de nada sobre
o lobo ao meu lado.
Ele me entregou uma bolsa de couro com água e eu bebi apenas
alguns goles.
Corri em direção à Belle, mas ela já havia sido libertada. Dei-lhe a
bolsa e ela bebeu alegremente.
— Vai! — Belle me disse, enquanto limpava a boca.
— Deixe-os sentir a ira do Rei Lobisomem.
Suas palavras me encheram de um poder avassalador.
Apesar da minha condição patética, reuni até a última gota da minha
energia.
Em poucos instantes, eu tinha me transformado na minha forma de
lobo e me juntei ao pandemônio nas ruas.
Belle

Eu assisti enquanto Keith rasgava os vampiros que estavam em seu


caminho.
Samuel, por outro lado, estava cercado por seus súditos, tentando
com todas as suas forças voltar para o castelo.
Eu observei quando ele correu para o outro lado e foi forçado a voltar
para o palco.
Um lobo parado ao meu lado se transformou para a forma humana.
Era o Xavier!
— Você não está segura aqui, Belle! — ele gritou.
— Não estou segura em lugar nenhum! Deixe-me ajudar, — eu disse,
segurando as minhas algemas.
Com uma força inimaginável, ele conseguiu quebrar as minhas
amarras, liberando meus poderes.
Uma explosão me atingiu por trás e me pôs de pé.
Eu me virei e vi Samuel parado na beira do palco.
Seu grupo de vampiros havia se dispersado e estava lutando contra os
lobos que estavam tentando me proteger.
— Isto é tudo culpa sua! — ele gritou, apontando um dedo
ameaçador. — E eu farei você pagar!
Samuel investiu contra mim, com suas presas para fora, pronto para
rasgar o meu pescoço.
Com medo e raiva crescendo por dentro, convoquei uma onda de
energia e enviei uma explosão de luz cegante em direção a ele.
Samuel ficou atordoado quando ela o atingiu bem no peito, atirando-
o de volta para a guilhotina.
Ele conseguiu pousar onde a minha cabeça estava apenas alguns
segundos antes, e a força de sua queda soltou a lâmina.
Com um timing perfeito, a lâmina da guilhotina desceu sobre o Rei
Vampiro, cortando-o ao meio.
Um grande lobisomem terminou o trabalho e se certificou de que ele
estava morto, rasgando seu corpo, partido membro por membro.
Eu olhei para a multidão, onde vampiros e lobisomens estavam
travando batalhas violentas.
Senti raiva dentro do meu coração, expandindo-se por todo o meu
corpo. Meus braços e pernas brilharam em azul, iluminando todo o
palco.
Uma explosão disparou de minhas palmas e subiu para a terra acima
que separou o reino dos vampiros da luz do dia.
Atingiu como uma tonelada de dinamite e, em segundos, uma seção
inteira começou a desmoronar. Pedaços de pedra e minerais caíram com
força no chão.
A luz do verdadeiro sol começou a se espalhar sobre todo o reino,
queimando cada vampiro até a morte, em poucos segundos.
— Belle! Eu não acredito que você fez isso! — Xavier gritou, correndo
até mim para me abraçar.
Ele estava na sua forma humana, totalmente nu, mas ver qualquer
rosto familiar agora era o suficiente para mim.
Keith logo se juntou a nós e me deu um abraço forte, que me levantou
do chão.
Seu toque era tudo que eu queria sentir, mas não pude evitar de
pensar no caos ao nosso redor. Eles deram as suas vidas para ter certeza
de que sobreviveríamos.
Uma verdadeira família, desistindo de desejos egoístas e fazendo
sacrifícios pelo bem da matilha.
Eu poderia dizer que Keith pensava a mesma coisa enquanto eu
observava seu olhar pesaroso cair sobre os corpos espalhados pelo chão.
Ele estendeu a mão para Xavier, que aceitou de bom grado.
— Obrigado, amigo. Posso não me lembrar do seu nome, mas sempre
me lembrarei da sua bondade.
No início, Xavier riu com a ideia de seu rei não conhecer o seu
próprio braço direito. Então, ele olhou para mim e a sua expressão
mudou.
— Você realmente não se lembra de mim? — Xavier perguntou.
Eu coloquei a mão em seu ombro. — Keith foi atingido por um
poderoso feitiço das trevas. Isso apagou sua memória.
Xavier olhou mais uma vez para Keith.
— Você se lembra de algum de nós, Rei Lobisomem? — ele
perguntou.
Keith olhou para as pessoas reunidas ao redor. Todos ficaram em
silêncio, com confusão estampada em seus rostos.
O que eles fariam com um rei que nem mesmo se lembrava de seu
povo?
— Keith! — uma voz feminina gritou.
Zena empurrou os outros e colocou os braços em volta de Keith.
dando um beijo em seus lábios que fez meu sangue ferver.
Antes que Keith pudesse responder, ela o beijou novamente.
Desta vez, observei quando ele cedeu ao sentimento, puxando-a para
mais perto.
Capítulo 25
FIT FOR A KING
Keith

Eu não sabia o que doía mais: a dor lancinante da corda que ainda
queimava a minha pele, ou o fato de que eu não conseguia me lembrar de
nada.
A cada rosto que passava, eu me sentia cada vez mais perdido em um
mar de estranhos.
Todos me tratavam com gentileza, mas eu ainda podia sentir a tensão
quando passei.
Como se eu fosse alguém que deveria ser temido...
O Rei Lobisomem que mal conseguia se lembrar dos seus nomes,
nem sabia como governar um trono.
Lembrei de estar preso na cela, torturado por aquele idiota arrogante
do Samuel. Ele teve uma morte que foi justificada por suas mentiras e
manipulação.
Mas se as histórias que me contaram estivessem corretas, havia muito
mais coisas lá fora esperando, prontas para fazer o mesmo conosco...
Belle manteve distância desde a batalha. Não a culpei por querer espaço,
mas não podia mentir para mim mesmo sobre os meus sentimentos.
Quando Zena me beijou, despertou uma sensação que eu não
esperava. Depois de tanta perda, seus beijos apaixonados reviveram os
meus ossos cansados.
Zena ficou presa ao meu quadril durante toda a corrida para casa,
embora ela soubesse que eu não conseguia me lembrar dela. Quando
chegamos de volta ao castelo. Belle havia praticamente desaparecido.
Algo me dizia que era ela que eu queria ter do meu lado, mas eu não
conseguia entender por que me importava tanto com uma espécie
híbrida.
Belle não era uma de nós, mas o seu espírito era mais fiel à forma de
lobisomem do que qualquer um gostaria de admitir.
Quando entramos no castelo pela primeira vez, fui derrubado pelo
cheiro delicioso de comida. Pão recém-assado, cordeiro e o aroma de
torta de maçã estavam me chamando.
Cada cômodo por que passei sacudiu algo dentro de mim que parecia
um déjà vu.
As pessoas lá dentro eram reais, mas eram tão estranhas para mim
como um enigma de um sonho.
Fui conduzido ao meu quarto e imediatamente fui para o chuveiro.
RUGIDO!
A água quente queimou todas as feridas abertas nas minhas costas. Eu
queria parar aquela dor sem fim, mas sabia que as feridas precisavam ser
limpas antes de cicatrizar.
Finalmente terminei, manquei até a cama e caí de cara no colchão. Os
lençóis limpos pareciam o paraíso contra a minha pele nua.
Eu ouvi um barulho e fiquei surpreso quando notei Zena parada na
porta.
Ela também havia tomado banho recentemente.
Eu podia sentir o cheiro do frescor de sua pele e o seu perfume no ar.
Ela caminhou até mim e estendeu um pequeno frasco de bálsamo.
— Achei que você pudesse precisar de ajuda, — disse ela, abrindo o
pote.
Suas mãos tocaram as feridas e elas começaram a pegar fogo. Mas o
bálsamo era calmante e rapidamente suprimiu a dor.
— Você se lembra desse lugar? — Zena perguntou, interrompendo os
meus pensamentos.
— Vagamente, — eu disse. Seus dedos massagearam suavemente as
lacerações, cuidando de todos os ferimentos.
— Está tudo bem. meu rei. Dê um tempo e você se lembrará. — Zena
sorriu enquanto me beijava na bochecha. — Eu vou fazer você se lembrar
de tudo.
Belle

Esperei que ele dissesse algo, mas ele nunca disse.


A viagem de volta para o castelo foi quase insuportável, mas
conseguimos voltar sem incidentes, e era isso o que importava.
Tudo o que aconteceu no Reino dos Vampiros parecia um borrão.
No começo, eu vaguei pelos corredores, saudada pelos outros lobos
que não tinham mais certeza se eu era sua futura rainha ou apenas a
Belle.
Eu sentia falta de ser apenas a Belle. Apenas um membro normal da
matilha de lobos da minha família, onde eu não era tratada como realeza
ou um objeto a ser repassado.
Alguma coisa voltaria ao normal?
Eu vaguei até a sala do trono vazia e sentei-me.
O trono em si era grande o suficiente para caber Keith e eu nele. Era
feito de pedra fria.
Eu imaginei que o meu trono ficaria à sua direita. Suspirei e descansei
os meus braços, sentindo todo o trono enquanto inclinei minha cabeça
para trás e fechei os olhos.
Uma voz familiar e terrível ecoou do fundo da minha mente.
Certamente, você merece coisa melhor do que gente como ele.
Eu tirei a voz de Samuel da minha cabeça, mas o pensamento já havia
me invadido. Se Keith continuava me tratando como um item de
segunda categoria, por que eu deveria ficar?
Embora o Rei Vampiro fosse um manipulador cruel, eu não podia
negar essa lógica.
Talvez o Keith nunca recupere a sua memória.
E mesmo se ele recuperasse, isso não poderia tirar de mim todas as
coisas que eu lembrava.
Toda a dor que ele inicialmente me fez passar...
A porta da sala do trono se abriu, e eu dei um pulo.
— Pela Deusa da Lua... você me assustou! — Eu disse.
Xavier sorriu para mim e curvou-se ligeiramente. — Você tem
permissão para ficar aqui, Belle, não se preocupe.
Eu sentei de volta no trono.
Quando a porta atrás dele se fechou, ele se aproximou de mim como
se eu fosse uma rainha.
— Não deve ser fácil para você, vê-lo assim.
— Não. — eu disse, passando minha mão pelo braço, sentindo a sua
textura áspera. — Imagino que não seja fácil para ninguém.
— Eu tentei dizer a Zena para deixá-lo de lado, mas quando estamos
falando do Keith, ela ignora completamente o que eu digo, — Xavier
suspirou. — Talvez seja melhor assim... — eu disse. — Se ela o faz feliz,
então por que eu deveria me importar?
— Belle, você sabe tão bem quanto qualquer um, isso não é verdade.
Você o faz mais feliz que qualquer uma. Ele só não se lembra disso agora.
— E se ele nunca se lembrar? — Eu gritei.
Xavier respirou fundo, organizando os seus pensamentos. — Se
alguém pudesse trazer as memórias dele de volta, seria você.
— Eu sei disso, — disse com tristeza, — mas estou começando a me
perguntar o quanto eu quero isso.
Então, pulei do trono e corri para fora da sala, deixando Xavier
chocado atrás de mim.
Empurrei minhas pernas o mais rápido que elas podiam pelos
corredores largos, seguindo um passo após o outro, até que me encontrei
fora do quarto de Keith.
A porta estava aberta, então olhei para dentro e quase gritei.
Keith estava deitado na cama enquanto Zena esfregava as feridas em
suas costas.
Pela expressão no seu rosto, foi a melhor coisa que lhe aconteceu em
um bom tempo.
Eu me empurrei contra a parede, torcendo para que eles não tivessem
me visto. A julgar pela falta de reação, consegui passar despercebida.
Meu batimento cardíaco acelerou e eu pude sentir aquela queimadura
familiar fervendo no meu sangue.
Tentei pensar no que fazer a seguir e só pude visualizar o meu corpo
aceso em chamas azuis, queimando o quarto e tudo o que tinha lá
dentro.
Mas eu sabia que era melhor do que isso e respirei fundo várias vezes
para me acalmar.
Era isso.
Eu sabia o que tinha que fazer.
Eu queria ver a minha família — precisava ver a minha família.
Nenhum destino predeterminado me impediria.
Eu iria embora esta noite, enquanto o castelo inteiro dormia, e nunca
mais olharia para trás.
Keith

Acordei no meio da noite de um pesadelo que repetia a minha tortura


no reino dos vampiros.
Era uma das poucas memórias que eu tinha, então parecia apropriado
que preenchesse meus sonhos, com horror.
Havia algo mais que roía o meu estômago, me dizendo que nem tudo
estava bem.
Eu me virei e olhei para Zena enquanto ela dormia ao meu lado.
Ela estava em cima de mim ontem à noite com seus movimentos
sensuais.
Foi difícil resistir a eles, mas eu estava tão cansado que tudo o que
conseguimos fazer antes de dormir foi dar um beijo.
O que estava errado comigo?
Lentamente, para não acordá-la, saí da cama. Eu sabia que precisava
dormir, mas a minha mente não me deixava descansar.
Saí da sala sentindo frio enquanto vagava pelo castelo, na esperança
de despertar pelo menos uma pequena memória.
Eu passei as minhas mãos ao longo das paredes, desejando que elas
me contassem as histórias que eu sabia que elas possuíam.
Depois de algumas voltas, encontrei-me em frente à porta do quarto
da Belle. Eu sabia pelo cheiro que este quarto era dela, mesmo que o
cheiro estivesse fraco e sumindo.
Eu queria abrir a porta e olhar para dentro para ver o seu rosto, só
para saber se ainda sentia a mesma atração de todas as outras vezes.
Decidi não fazer isso e deixei os meus pés me guiarem.
Logo, eu me encontrei dentro de uma grande sala. Pelo cheiro e pela
aparência, esta era a minha sala do trono.
Aproximei-me dele e me sentei, sentindo a pedra fria contra a minha
pele.
Houve uma vibração fraca que começou nos meus pés e se moveu
pelo resto do meu corpo.
Eu podia sentir que já havia sentado nesta cadeira muitas vezes antes
e, ao esfregar as mãos ao longo dos apoios de braço, tive uma sensação
avassaladora de conforto.
— Aí está você! — uma voz sussurrou.
Eu olhei para a porta e vi Zena parada lá. Seus quadris balançavam
para frente e para trás quando ela se aproximou de mim.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela encontrou o meu
corpo.
— Zena, agora não, estou muito cansado, — eu disse fracamente.
— Me dê alguns segundos e o cansaço vai embora, — ela sussurrou no
meu ouvido.
Ela conseguiu montar em mim, e a força de seus beijos quase me
tirou o fôlego.
Tentei me levantar, mas ela usou seus quadris para me empurrar de
volta para baixo.
Por mais que eu quisesse dizer não, eu podia sentir o meu corpo
dizendo o contrário.
Zena percebeu isso também, e roçou os dedos sobre meu falo,
inflamando as emoções que eu queria suprimir.
Ela beijou meu pescoço suavemente, enviando arrepios pela minha
espinha.
O calor de seu corpo era insuportável e descobri que meus dedos lhe
retribuíam o favor.
Ela gemeu em minha boca com prazer quando nossos lábios se
recusaram a se separar.
Eu coloquei as minhas mãos na sua cintura e puxei-a para mais perto
de mim, sentindo seus quadris começarem a se esfregar lentamente nos
meus.
Ela estava completamente vestida, mas não demoraria muito para um
de nós simplesmente rasgar as roupas.
Ela continuou se esfregando enquanto nossos lábios permaneciam
unidos. Para a frente e para trás, mais rápido e mais forte.
Eu não queria que ela parasse nunca.
Nossos corpos queriam tanto se tornar um só que eu quase tinha
esquecido as vibrações de antes.
Eu podia senti-las novamente, e desta vez, dava para separar as
sensações da minha luxúria por Zena e a pulsação que começou quando
eu me sentei no trono.
FLASH!
Estou em uma caverna vendo Belle ser envolvida por uma incrível chama
azul...
Zena continuou se movendo enquanto seus beijos desciam pelo meu
queixo e pelo pescoço...
FLASH!
Belle está fugindo de mim. Quando eu entro na mesma sala, ela
desaparece de repente por uma porta desconhecida...
Zena tentou sussurrar palavras doces em meu ouvido, mas a sua voz
estava silenciosa...
FLASH!
Belle surge das chamas invasoras, levitando diante dos meus olhos...
Zena arrancou suas calças e agarrou meu pau ereto...
FLASH!
Os lindos olhos de Belle olhando nos meus.
Marque-me...
Suas palavras sacudiram meu corpo com um espasmo.
Eu me levantei, jogando Zena no chão.
— BELLE! — Eu gritei, enquanto toda a minha memória veio à tona.
Mas aquela atração familiar não estava mais lá. Tinha sumido
completamente e eu sabia o que significava.
Belle não estava mais no meu castelo. Ela se foi.
Capítulo 26
A RAINHA DESAPARECIDA Keith
— Belle! Onde você está?! — Gritei uma última vez para o céu
noturno.
Minha voz estava se perdendo na gritaria da multidão, mas eu não
pararia até encontrá-la, mesmo que isso significasse perder toda a minha
voz.
Depois de encontrá-la desaparecida há quase duas noites, ordenei aos
meus homens que vasculhassem todo o reino.
Mas, por culpa do destino, não havia nenhum vestígio dela. Seu
cheiro havia se dissipado há muito tempo.
Ainda assim, eu me perguntei, há quanto tempo ela tinha ido
embora? Se eu descobrisse que Lazarus a tinha levado mais uma vez, iria
rasgá-lo em pedaços usando apenas os meus dentes!
Mas eu temia que o seu desaparecimento não fosse pelas mãos de
outra pessoa, mas sim pelas próprias mãos.
— Ela se foi, meu rei, — disse Xavier. — Procuramos em todos os
lugares.
Ele estava esperando por mim no salão principal do meu castelo junto
com uma dúzia de homens do meu exército.
— Bem, para onde ela poderia ter ido? NINGUÉM a viu sair? — Eu
gritei.
Todos olharam ao redor da sala. Eles eram inúteis, todos eles!
Eu marchei de volta para o meu quarto e fechei a porta, na esperança
de encontrar um pouco de paz.
Zena não estava mais lá, mas o seu cheiro permaneceu no ar, fazendo
meu estômago revirar.
Não foi culpa dela eu ter perdido a minha memória. Mas agora eu
entendi que nunca iria deixá-la chegar tão perto de mim novamente.
Se eu não pudesse encontrar Belle, ninguém iria... Se não fosse pelo
corpo sensual de Zena, eu me perguntei se algum dia eu teria recuperado
a minha memória.
O desejo que ela provocou em meu corpo enquanto eu estava sentado
no trono deu origem a uma conexão que reviveu cada memória que eu
possuía.
E eu entendi por que Belle foi embora. Eu tinha entendido desde o
início, mas me recusei a acreditar que as minhas ações estavam erradas.
Um rei não comete erros...
Eu ri de um pensamento tão estúpido. No pouco tempo que Conheci
Belle, parecia que eu só cometia erros.
Nem tudo estava ruim. Houve um tempo antes de a magia me afetar
que eu quase a marquei como minha rainha...
Meus olhos se arregalaram quando perdi o chão e tive que me sentar.
A magia!
Eu tinha me lembrado de tudo, mas com o desaparecimento
repentino de Belle, algumas das memórias foram deixadas de lado.
A última pessoa que me lembro de ter visto foi Daisy!
Eu tinha que avisar Tessa.
Quando peguei a minha bolsa e voltei para o corredor principal, me
convenci de que ir para a casa de Tessa ajudaria na minha missão.
Encontrei Xavier no corredor e acenei para ele. — Eu preciso ver a
Tessa, — eu disse. — Precisamos começar a nossa jornada agora.
Xavier se moveu rapidamente para reunir homens para a viagem.
Mordi meu lábio e decidi não esperar.
Me transformei para a forma de lobo e corri a toda velocidade à
frente. Quanto mais rápido eu pudesse viajar, mais rápido seria capaz de
avisar Tessa sobre a Daisy.
Certamente, ela seria capaz de me ajudar a encontrar Belle em troca
deste aviso.
Então, eu poderia levar Belle para casa, onde ela deveria ficar.
Comigo.
Tannon
Eu me olhei no espelho e estremeci.
Nunca fui de me preocupar com coisas superficiais, como a minha
aparência... mas tenho que admitir, eu parecia muito melhor do que
estava alguns dias antes.
Uma força me atingiu com tudo, sem aviso, tirou meus pés do chão e
quase tirou a vida do meu corpo.
A sensação que tomou conta de mim foi semelhante à que senti
quando era muito mais jovem.
Aprendemos feitiços na escola, praticando-os uns nos outros. A
diferença era que eles eram implementados em doses menores.
O que quer que tenha me atingido foi uma versão muito mais
potente.
A última vez que fui atacado de forma tão brutal, aconteceu quando
Tessa e eu estávamos fazendo experiências com magia negra no início do
século XVII.
Eu tinha ficado muito arrogante naquela época e não tinha medo de
me exibir.
Tessa me avisou que a minha arrogância só terminaria em dor. Ela
sabia que eu nunca cuidei das minhas costas e estava preocupada que
isso pudesse ser minha ruína.
Logo aconteceu...
Eu tinha me gabado demais uma noite, e um colega estudante,
bêbado de hidromel, me pegou com uma explosão na parte de trás da
minha cabeça.
Foi totalmente minha culpa, mas a dor quase me destruiu.
Fiquei inconsciente por semanas, e ela dobrou-se, quase imóvel
devido à nossa conexão mágica.
Eu havia me recuperado e estava mais forte do que nunca, mas magia
negra não era algo para ficar cutucando.
Principalmente quando você era ingênuo, tinha seiscentos anos e
vivia no auge dos avistamentos de bruxas entre os humanos.
Quem quer que tenha me derrubado agora tinha conhecimento
suficiente de magia negra para se aproximar furtivamente de mim e era
forte o suficiente para me derrubar.
Por séculos, eu não queria acreditar que uma bruxa desertar para o
submundo fosse possível — nenhuma de nosso clã.
Mas parecia cada vez mais possível que tivéssemos perdido um dos
nossos para o Lorde Demônio.
— Sua vez! — A voz de Tessa soou na sala. — Você está parecendo
melhor a cada dia que passa.
Ela foi até uma cadeira e se sentou, tomando cuidado para não
derramar o chá.
Ela ainda parecia tão jovem quanto eu. mas seus olhos tinham
inúmeras olheiras que os circundavam.
Tessa usou muito de sua própria força vital para curar a minha.
— O que aconteceu? — Eu perguntei, olhando ao redor da sala.
— Nada hoje, querido irmão... — Tessa disse, com sua voz sumindo.
— Mas você tem aquele olhar, irmã, — eu disse, com um toque de
satisfação.
Eu sempre poderia dizer quando algo estava em sua mente, mesmo
que nem sempre pudesse ler.
— Temo que estejamos apenas testemunhando a calmaria antes da
tempestade, — ela admitiu. — Você se lembra do que te atacou?
Pensei por um momento se deveria contar a ela sobre as minhas
preocupações e decidi que ela descobriria mais cedo ou mais tarde.
Eu já podia ver seus olhos perfurando o meu corpo.
— Não sei o que foi... mas me preocupa que seja alguém próximo a
nós, — disse eu, com uma pitada de sigilo. — O que quer que tenha me
atingido, quem quer que tenha me atingido, usou magia negra.
Tessa levou um tempinho para digerir isso, junto com outro gole de
seu chá.
Já fazia muito tempo desde a última vez que tínhamos nos visto, mas
uma coisa que provavelmente nunca mudaria era o nosso amor pelo chá.
Hoje, ela estava bebendo em uma xícara que comprei para ela no
século XV. Eu não esperava que durasse tanto, mas fiquei lisonjeado por
ela tê-la guardado todos esses anos.
É
— Magia negra? — Perguntou Tessa. — É uma suposição e tanto,
Tannon. Mas não posso dizer que não senti matéria escura em sua aura
enquanto a limpava...
Ela se perdeu em pensamentos profundos enquanto olhava para o
chão.
— Mas quem faria algo assim?
— Quem está guardando o portão para o submundo agora? — Eu
perguntei.
— Daisy, — disse Tessa.
Em segundos, seus olhos se encheram de dúvida. — Você não acha...?
Antes que eu pudesse responder, meu cajado ficou ereto e disparou
pela sala, direto para a minha mão.
Eu peguei por instinto e olhei para Tessa com os olhos arregalados.
Ela assentiu com a cabeça, com uma pitada de medo gravada em seu
rosto.
— Precisamos alertar os outros.
Daisy

Eu não conseguia acreditar como tudo era fácil.


Destruir Belle e Keith, ganhar a confiança da velha bruxa e me
esgueirar por trás de Tannon.
Levou anos para tudo isso ser feito, mas parecia que levou apenas
algumas horas para finalizar.
Tudo o que eu precisava fazer era garantir que eles me vissem em
casa, comer com eles e fingir que tinha algum tipo de ligação com eles.
As bruxas eram espertas — eu sabia disso em primeira mão.
Anos de servidão à Deusa da Lua e o comportamento passivo de
nossa Sacerdotisa Tessa embotaram os seus sentidos. Isso me permitiu
cumprir as minhas obrigações diárias sem ser notada.
E sempre que eu ia embora? Elas nem pareciam se importar...
Meu Lorde Demônio ficaria tão orgulhoso de mim. Eu ansiava pela
sua recompensa.
Era ele que eu desejava desde o momento em que nos conhecemos,
quase cinquenta anos atrás.
Ficamos intrigados com as diferenças um do outro, sempre voltando
para o nosso único interesse comum: trazer de volta a magia negra.
Aprendi só um pouco disso durante meu tempo na escola. Eles se
recusaram a nos dar mais do que poderíamos suportar.
Mas tudo mudou depois de nosso encontro casual, quando sabíamos
que não queríamos nada além de estar um com o outro.
Lazarus me ensinou muitas coisas que me deram um poder que as
outras bruxas não podiam nem sonhar em possuir.
Precisei de um pouco de tempo e muita concentração, mas consegui
abrir o portal.
Eu ri ao pensar em Tannon, o grande feiticeiro, estendido no chão
estatelado.
Eu ainda não era tão poderosa quanto ele, embora pudesse sentir a
minha força crescendo a cada segundo.
Eu pisei no limiar entre os mundos e senti uma sensação de
consciência intensificada correndo nas minhas veias. O poder que me
esperava estava chamando por mim.
Eu podia sentir a magia negra puxando a minha energia, ansiando
pelo meu corpo ser usado como seu instrumento.
De repente, um estrondo fraco à distância soou, me aproximando do
reino do submundo.
Numerosos demônios galopavam pelas planícies ígneas às centenas,
todos esperando para cruzar.
Logo, os dois mundos se tornariam um só, e eu reinaria invicta ao
lado do meu único amor verdadeiro. Nada poderia ficar em nosso
caminho.
— Você se saiu tão bem, Daisy, — ouvi-o chamar antes de vê-lo.
Aquela voz lindamente trabalhada que eu tinha aprendido a cobiçar
me causava arrepios toda vez que ele dizia meu nome.
Os demônios abriram uma clareira quando Lazarus entrou em meu
espaço com puro deleite em seus olhos.
Ele olhou em volta, para os seus subordinados.
— É hora de retomar o que sempre foi nosso! — ele gritou,
espumando. — Vamos unir o submundo com o mundo humano e
reivindicar a nossa liberdade!
Ele apontou um dedo para frente e os demônios avançaram pela
barreira aberta.
Fiquei maravilhada com a visão dos demônios aplaudindo e
inundando a abertura, saindo para a luz do dia.
Enquanto eles se distanciavam, eu fiquei parada com Lazarus, com
uma paixão ardente em meus olhos.
— Eu fiz o que você me pediu, meu Senhor, — eu disse, enquanto
tocava seu peito. — Você vai cumprir sua promessa e finalmente me
tornar sua?
O Lorde Demônio ficou com uma postura estoica, os braços cruzados
enquanto ele considerava isso. — Você não é minha prometida, Daisy,
você sabe disso, — disse ele. — Seu propósito está cumprido. Agora, você
tem a liberdade de reinar onde quiser. I!
— O quê?! — Eu perguntei, em estado de choque. — Mas você disse
que me marcaria! Isso é tudo que eu sempre quis de você!
Lazarus olhou profundamente em meus olhos. — Enquanto Belle não
estiver marcada, ela é minha, — ele disse e me dispensou com um aceno
de mão.
Lazarus começou a caminhar em direção à abertura do portal como
se eu nunca tivesse estado ao seu lado.
— Aquela garota estúpida provavelmente está morta! — Eu gritei. —
E há quantos de vocês lutando por ela?
Lazarus parou em seu caminho e se virou para me encarar.
— Você prometeu que me marcaria. Que eu reinaria ao seu lado como
Rainha! — Eu gritei com ódio.
— Faça isso ou vou avisá-los sobre o que você fez!
Lazarus riu e esse som me tirou o fôlego.
— De quem você acha que eles vão ficar com raiva... de mim ou de
você? — ele disse com um sorriso de escárnio.
Senti minha raiva crescendo e avancei.
Ele havia previsto isso e se moveu com uma velocidade sobrenatural.
Eu senti o sangue antes que pudesse ver.
Coloquei a mão na minha garganta e senti um corte ao longo do meu
pescoço.
Sua lâmina atingiu como um raio e me deixou sem palavras.
Tentei falar, mas as palavras não se formavam na minha boca.
— Menina tola. Como você ousa me desafiar?! — ele gritou. — Mas
não tenha medo, meu amor... você será lembrada pelo seu sacrifício.
Eu caí no chão carbonizado, tentando cobrir a ferida no meu pescoço.
Minha mente procurou por um feitiço que parasse com isso, mas eu
já tinha perdido muito sangue e mal conseguia organizar os meus
pensamentos.
Eu estava morrendo mais rápido do que poderia me curar.
Quando dei meu último suspiro e fechei os olhos, fui consolada pelo
meu ódio eterno por Belle.
Eu esperava que ela vivesse uma vida de miséria e rezei para encontrá-
la novamente, no inferno.
Capítulo 27
BEM-VINDA AO LAR
Belle

O sol nasceu no horizonte, iluminando o céu com um tom rosa-


alaranjado enquanto eu subia os degraus da frente da minha casa.
Bati na porta, achando que ninguém estaria acordado tão cedo mas,
quando ela abriu, não me surpreendi ao encontrar o meu pai parado do
outro lado.
— Belle! — ele chorou. Seu rosto se iluminou com tanta alegria que
pude ver nos seus olhos as lágrimas fracas que ele nunca gostou que a
gente visse.
Ele me puxou e me deu um forte abraço.
— Graças à Deusa da Lua você está segura.
A quantidade de amor que senti naquele momento foi mais forte do
que qualquer medo ou dúvida que pairava sobre a minha cabeça.
Pela primeira vez em muito tempo, me senti à vontade.
***

Meu pai sempre acreditou que as palavras tinham poder, mas a


ausência de palavras continha a verdade.
Ele não falava muito e, por isso, eu achava que ele era uma entidade
onisciente com uma intuição infalível.
Imaginei que outros acreditavam nisso também, já que ele era o alfa
da matilha.
Para a minha surpresa, ele agiu como um adolescente ansioso pelas
últimas fofocas.
— Onde você dormiu? O que você comeu? Alguém te machucou?! —
ele deixou escapar, sem perceber que eu não poderia responder, porque
eu estava explodindo de rir.
Era coisa demais para absorver, para nós dois, e era eu quem tinha
todas essas informações exclusivas.
Quando ele começou a preparar um café da manhã que poderia
alimentar toda a aldeia, pensei no que dizer a ele primeiro.
Como eu poderia explicar que estava destinada a me acasalar com o
Rei Vampiro, cujo reino eu destruí?
Ele se importaria em saber que a memória do Rei Lobisomem foi
apagada por magia negra?
Eu não sabia como começar, e algumas das informações pareciam
desanimadoras demais para comentar.
Parte de mim queria manter os elementos mais sombrios em segredo,
como o Lorde Demônio, cuja obsessão por mim era igualada apenas pela
obsessão de seu irmão em me torturar.
Então, havia a informação mais importante que eu poderia ter
aprendido sobre mim mesma: eu era uma bruxa-demônio-híbrida com a
habilidade de levitar, me teletransportar e convocar energia.
Assim que ele colocou uma panqueca fresca no meu prato ao lado de
um monte de bacon e um muffin, ouvi passos descendo as escadas.
Era o Sean!
No início, ele quase não me notou, pois ainda estava esfregando os
olhos, com sono.
— Por que você acordou tão cedo, pai? — ele perguntou.
Eu não pude conter minhas risadas quando percebi que seu cabelo
estava uma bagunça completa.
Então, ele me viu e seu queixo caiu.
— Belle! Oh, Deusa da Lua!
Eu rapidamente me levantei e corri até ele, praticamente pulando
sobre ele, com meus braços tão abertos quanto poderiam estar.
— Uau, estou tão feliz por você estar viva, — disse Sean, enquanto
lentamente nos separamos do abraço.
Ele esfregou os olhos novamente e. desta vez, vi que eram lágrimas,
não sono, das quais ele queria tanto se livrar.
— Você não pode se livrar de mim tão facilmente, — sorri para ele.
Ele me deu um último abraço e um esfregão na cabeça antes de correr
escada acima.
— Eu tenho que acordar a mamãe, isso é inacreditável! — disse ele.
desaparecendo de vista. Mas o volume de sua voz já era alto o suficiente
para acordar a nossa mãe e toda a vizinhança.
Eu me joguei na comida, sem perceber a minha fome, até que a
segunda garfada de panquecas entrou na minha boca.
Salivei com as salsichas e os ovos que estavam a caminho da mesa
quando Sean desceu as escadas com a nossa mãe.
— O meu Deus! — ela chorou. Lágrimas de alegria vieram junto com
um grito estridente.
Quando nos abraçamos, parecia que ela ia espremer cada grama de ar
dos meus pulmões. Eu podia sentir o seu coração batendo rápido, junto
com o meu.
Eu não percebi o quanto eu precisava voltar para casa, para as pessoas
que eu acreditava serem a minha verdadeira família.
Sentamos e tomamos o nosso café da manhã juntos, como
costumávamos fazer.
Por um breve momento, parecia que nada havia mudado.
Mas eu podia dizer nos olhos de meu pai, na postura curvada de Sean
e nas constantes lágrimas de felicidade de minha mãe, que esse tempo
tinha sido difícil para todos nós.
Não adiantava mais tentar evitar as perguntas.
Assim que finalmente larguei meu garfo e finalizei o meu café da
manhã com uma xícara de café, voltei a minha atenção para eles.
Levei muito tempo para descobrir como explicar tudo.
A minha história começou com um ar de incerteza, mas ao relembrar
os eventos e ver as reações nos seus rostos, a minha voz ficou mais forte.
Quando eu expliquei pela primeira vez que tinha três reis para
acasalar, meus pais ficaram horrorizados.
Sean fez uma piada sem graça sobre saber que eu atrairia essas
escolhas estranhas, mas eu o lembrei de algumas das mulheres que ele já
tinha trazido para casa.
Todas as memórias eram tão vívidas, mas quando faladas em voz alta,
pareciam saídas diretamente de um sonho.
Eles pareciam se sobrepor um ao outro, então eu quase não consegui
evitar que eles se tornassem um borrão completo.
Quando falei sobre o tempo que passei com Samuel, meu pai não
aguentou mais.
— Você explodiu o Reino dos Vampiros? — ele bufou.
— Bem... eu meio que não tive escolha, — eu disse.
— Eles virão atrás de você e de qualquer pessoa associada a você! —
ele perdeu a cabeça.
Minha mãe pigarreou e o chutou por baixo da mesa, seus olhos mais
pareciam adagas.
— Você tinha todo o direito de fazer isso. Acredite em mim... se eu
soubesse o que eles estavam tentando fazer com você, teria sido muito
pior, — disse minha mãe em tom tranquilizador.
Percebi que Sean estava mais silencioso do que o normal desde que
Cheguei, e meu coração ficou pesado ao notar isso.
Eu me estiquei sobre a mesa e agarrei o seu braço. — Gregory deu
tudo o que podia para me salvar, — eu disse. — Ele sabia tão pouco
quanto eu. E ele só ficou sabendo para que o Lorde Demônio pudesse
tentar me manter lá.
Ele olhou para mim e as lágrimas começaram a brotar de seus olhos.
— Eu nem consegui dizer adeus, — ele admitiu.
A dor em sua voz fez o meu coração partir pela milionésima vez. Eu
tinha visto tanta morte e destruição que quase tinha esquecido como as
notícias poderiam ser tão doloridas.
Como algo de outro mundo que nunca visitaria este refúgio pacífico.
— Você mencionou que Lazarus lhe contou sobre os seus pais
verdadeiros, — meu pai perguntou.
Sua voz tentou me fazer pensar que ele só tinha pedido para mudar
de assunto, mas a admiração e a incerteza em seus olhos revelaram algo a
mais...
Eu não pude evitar, mas franzi a testa.
— Meu pai biológico está morto e era um demônio poderoso. Eu
ainda não sei quem é a minha mãe, mas eu sei que ela era uma bruxa, —
eu disse, com uma pontada de incerteza.
A expressão dos meus familiares mudou desajeitadamente enquanto
eles se sentavam lá, absorvendo as últimas informações.
Era muito para assimilar, mas ninguém havia explodido ainda, então
isso era um ponto positivo...
Minha mãe se esticou sobre a mesa para pegar a minha mão enquanto
sorria para mim.
— Podemos não ser bruxas e demônios...
— E graças à Deusa da Lua não somos vampiros, — meu pai entrou
na conversa.
Minha mãe pigarreou. — Mas nós te amamos como se você fosse uma
de nós. Isso nunca vai mudar. E eu prometo, faremos o nosso melhor
para ajudá-la de qualquer maneira que pudermos.
Eu apertei a mão dela e sorri suavemente.
Olhar ao redor da mesa e ver o apoio amoroso que a minha família
me deu foi uma bênção inesperada. Eu senti que realmente tinha tudo de
que precisava aqui, agora.
— Onde está o Keith? Ele praticamente nos deu um aneurisma só
para te levar ao reino dele, — meu pai perguntou.
— A memória dele ainda está apagada... eu não sei, eu não poderia vê-
lo fazer novas memórias com outra pessoa, — eu disse.
— Sempre há espaço para novas memórias, irmã, — Sean mencionou,
enquanto pegava os nossos pratos e caminhava até a pia.
Mas eu não queria novas memórias.
Eu queria Keith e tudo o que vinha com ele — o bom, o ruim e o feio.
Eu queria a minha besta, e não havia como encontrá-la em outra
pessoa.
Naquele instante, três batidas agressivas soaram na porta.
Meu pai e Sean imediatamente se levantaram.
— Fique aí, — ordenou meu pai.
Eu esperei na cozinha com a minha mãe enquanto os dois se moviam
para a porta da frente e espiavam pelo olho mágico.
Depois de alguns segundos, a porta se abriu, mas eu não pude ver
quem estava do outro lado.
— Você tem muita coragem de aparecer aqui, — foi tudo o que meu
pai disse.
O medo encheu o meu coração enquanto corria em direção ao
corredor. Eu ouvi uma voz profunda responder, e mesmo que eu não
pudesse ouvir suas palavras, eu sabia a quem aquela voz pertencia.
Eu mal conseguia ver por cima dos ombros de meu pai e de Sean, mas
lá estava ele, do lado de fora, com uma expressão de remorso no rosto.
Aqueles olhos. Aqueles olhos hipnotizantes e de partir o coração.
Meu prometido — meu verdadeiro prometido — voltou para mim.
Capítulo 28
O HOMEM DENTRO DA BESTA Keith
Voltar para a casa do homem cuja filha eu roubei apenas para
implorar por tê-la novamente foi muito mais doloroso do que as
chicotadas que levei.
Mark Tesner era o alfa da matilha nesta área, nunca tinha feito nada
de errado e ele parecia um homem íntegro.
Ele ficou bravo, com os braços cruzados e a mandíbula cerrada,
olhando para mim com um olhar ousado.
Ao lado dele estava seu filho, quase do mesmo tamanho, talvez
estivesse ainda mais furioso com minha presença.
— Estou procurando pela Belle, — eu disse, mantendo uma expressão
firme e dominadora.
Eu ainda era o Rei dos Lobisomens e não deixaria meus subordinados
me intimidarem.
— Estou surpreso por você não ter arrombado a porta de novo, — ele
me disse, com os olhos estreitos.
Eu apertei a minha mandíbula e segurei a língua. Normalmente, eu
não toleraria um comentário tão desrespeitoso, mas eu não estava aqui
para dominar.
Eu estava aqui por Belle.
— Traga-a para mim, — eu disse afirmativamente.
O menino cruzou os braços para imitar o pai. Eles pareciam muito
semelhantes, exceto pelos olhos.
— Você se lembra quem ela é, agora? — o menino perguntou.
Eu podia sentir as minhas unhas pressionando em minhas palmas
enquanto as mãos se apertavam em punhos. Mais uma vez, respirei
fundo e mantive a calma.
— Eu me lembro de tudo... incluindo o quanto ela significa para mim,
— eu admiti.
Então, eu ouvi sua voz, e toda a minha raiva desapareceu.
— Keith? — A voz de Belle surgiu atrás deles.
Ela estava se arrastando atrás deles para ver se era eu quando,
finalmente, avistei os seus olhos.
Esses olhos de um azul profundo me atraíram, assim como na
primeira vez que nos conhecemos.
— Belle! — Eu disse hipnotizado. — Eu preciso falar com você.
No início, seu rosto se iluminou. Ela estava animada e eu queria que
ela pulasse em meus braços naquele momento.
Mas ela parou por um momento. Seus braços se cruzaram da mesma
maneira que os de seu pai.
— O que você deseja dizer, meu rei? — ela perguntou, com uma
sobrancelha levantada.
Por que ela estava sendo tão rancorosa?
— Belle, por favor, venha aqui e fale comigo em particular, — eu
grunhi.
Mas ela permaneceu onde estava, desafiadora e imóvel.
— Belle! — Eu disse, enquanto me colocava entre o pai e o irmão dela.
Eles me empurraram de volta com uma força inesperada.
Eu sabia que eles estavam apenas protegendo a ela. mas não pude
conter um grunhido que arrepiou todos os pelos do meu corpo.
Como eles ousam ficar entre mim e minha preciosa prometida?!
— Eu me lembro... — eu disse a ela.
— O que você lembra?, — o irmão dela me perguntou. Isso foi
humilhante. Um rei sendo tratado como um camponês! Eu queria me
transformar para a minha forma de lobo e mostrar o meu verdadeiro
poder.
Mas eu parei enquanto olhava para eles e sabia que isso só iria piorar
as coisas.
Depois de tudo que passamos, pelo menos isso eu aprendi.
Mas eu precisava que ela soubesse.
— Eu te amo, Belle, — eu forcei as palavras para fora da minha boca,
sufocada pela minha própria vulnerabilidade.
Mark e Sean não esperavam essas palavras de mim.
Ninguém esperava.
Mesmo a compostura dura de Belle se suavizou ao ouvir minhas
palavras.
Mas eu as disse, e eu quis dizer.
Eu fiquei lá totalmente vulnerável enquanto eles continuavam a olhar
fixamente, em descrença.
Belle

— Eu te amo, Belle.
Palavras dele, não minhas.
Elas não eram do Lorde Demônio ou do Rei Vampiro... Essas palavras
vieram dos belos lábios de Keith.
Por mais simples que fossem essas palavras, eu não acreditei nelas até
que foram ditas.
Sean e meu pai olharam para mim, dolorosamente desconfortáveis,
pois não sabiam mais como lidar com a situação.
— Mark? Sean — Keith gritou para eles, inclinando levemente a
cabeça. — Reconheço meu comportamento indecente desde o momento
em que Cheguei para buscá-la pela última vez. Peço desculpas.
Fiquei chocada. Meu pai e Sean ficaram chocados.
O Rei Lobisomem, se desculpando com um de seus subordinados...
isso era inédito.
Acenei para eles, libertando-os de seus deveres familiares. Eles
rapidamente entraram.
Quando a porta se fechou atrás de mim, dei um passo para mais perto
de Keith, cujos olhos brilhantes permaneceram fixos nos meus.
— Você está falando sério? — Eu perguntei.
E se isso fosse apenas algum outro feitiço doentio que alguém
colocou nele? Nesse ponto, eu não conseguia dizer e estava com medo de
descobrir.
Mas pude ver uma clareza em seus olhos que me disse que ele não
estava mentindo.
— Sim, Belle. Eu amo Você. Eu soube desde o momento em que
coloquei os olhos em você pela primeira vez, — ele implorou.
Eu ri com essa ideia. Ele me separou da minha família com garras
frias e nenhum fiapo de calor amoroso.
— Eu sei que a maneira como me comportei foi horrível, mas você me
mudou mais do que eu poderia imaginar. Somos perfeitos juntos, posso
sentir isso! — ele insistiu.
— Então, por que você não disse nada naquela época? — Eu rebati,
me surpreendendo.
— Como vou saber que você não vai sair com Zena, ou Daisy, ou
alguma outra garota, no momento em que as coisas ficarem difíceis?
Foi uma pergunta honesta, e a cara de Keith me deu uma resposta
honesta. Ele mostrou remorso pelas ações que podia ou não lembrar.
Todas elas.
— Porque eu não tenho mais medo! — ele gritou.
Agora, ele me surpreendeu. O Rei Lobisomem, com medo?
Ele esperou que eu preenchesse os espaços em branco, mas cruzei os
braços, precisando de mais explicações.
Keith abaixou a cabeça mais uma vez e suspirou.
— Você me fez sentir tantas coisas novas, coisas que eu nunca tinha
experimentado antes. A atração que você exerce sobre meu corpo às
vezes era incontrolável. Exatamente como agora.
Eu queria abraçá-lo, mas também queria me mostrar séria.
E algo ainda me mantinha a uma certa distância do homem que
estava parado diante de mim.
Ele organizou os seus pensamentos e respirou fundo.
— Quando eu fui para a minha sala do trono, tudo voltou para mim
em uma enxurrada de memórias. Eu sei o que eu fiz. E eu prometo a você,
Belle, nunca mais eu vou fazer você passar por isso! — Eu notei a sua
autenticidade e senti os últimos medos derreterem com o sol da manhã.
Ele parecia sentimental e sincero.
Era difícil ficar com raiva dele...
Então, tive a suspeita repentina de que estávamos sendo espionados.
Embora eu tive que usar cada grama de minha energia para fazer isso,
eu me afastei dele e olhei para trás, avistando minha mãe e Sean nos
observando através das janelas salientes.
— Oh, Deusa da Lua... Vamos dar um passeio, — eu disse.
Keith esperou até que estivéssemos em outro quarteirão antes de
segurar a minha mão.
No início, ficamos em silêncio, aproveitando a brisa da manhã bem
cedo e experimentando a companhia um do outro.
— Tenho saudades disso desde o momento em que você saiu, — Keith
quebrou o silêncio.
Eu olhei em seus olhos simpáticos e ele olhou de volta nos meus.
— Eu estava tão perdido e confuso, e em vez de falar com você sobre
isso, eu simplesmente me afastei. Fui covarde.
— Você teve a sua memória apagada. Não foi sua culpa, — eu
assegurei a ele.
— Sim, foi! — ele disse. — Naquele dia em que saí correndo do
quarto...
Meu estômago se contraiu enquanto prendia a respiração. Esse dia
despedaçou a minha alma. — Eu estava assustado. Eu queria te marcar,
mas me lembrei da profecia, — admitiu.
— Que profecia? — Eu perguntei.
Bem ali, no meio do meu bairro tranquilo, Keith me contou tudo.
A Deusa da Lua deu a ele o pergaminho e um decreto simples: se ele
me marcasse como sua prometida, uma guerra eterna estouraria.
Naquela noite, quando estávamos em seu quarto juntos, lembrei-me
de ter visto uma luz brilhando suavemente, mas não entendi.
Eu não poderia ter entendido naquele momento.
O peso de sua revelação afundou em meus ombros, e tentei não
deixar transparecer — mas nunca fui boa em esconder as minhas
emoções. E aqui estava eu, pensando que ele simplesmente não me
queria. Eu não sabia o quanto estava em jogo se eu fosse ou não marcada
por ele.
Em vez disso, ele não queria que o mundo acabasse por causa do
nosso destino...
— O que diabos eu fiz para ser a razão da destruição completa!? — Eu
gritei, arrancando uma risada de Keith. — Você está ferrado se me
marcar, e está ferrado se não me marcar.
Keith deu um passo à frente e gentilmente pegou as minhas mãos nas
suas.
— Não, de jeito nenhum. Eu percebo agora, eu estava ferrado por não
seguir os meus verdadeiros sentimentos. E se você tivesse sido levada
embora para sempre...
Ele parou e deixou a sua voz sumir.
Eu sorri para ele e apertei as suas mãos. Seus olhos continuaram a
brilhar e seus lábios me deixaram tonta.
— Então o que fazemos agora? — Eu perguntei.
— Eu não sei, — ele murmurou. Estávamos perdidos nos olhos um do
outro, procurando uma conclusão à qual nenhum de nós poderia chegar.
Começamos nossa caminhada novamente e finalmente contornamos
o quarteirão, parando na frente da minha casa.
— É errado eu te querer mais do que tudo? Mesmo que isso signifique
guerra...? — Eu perguntei.
Seus olhos eram um sonho. Eu poderia me afogar neles e morrer feliz.
Claro, eu queria paz para todos, mas parecia que a guerra já havia
começado, independentemente de onde estivéssemos.
E não importa o que fosse acontecer daqui em diante, eu queria ficar
com ele.
— Belle, passei a minha vida inteira pensando que alguém como você
era impossível para mim, — disse ele. — Que como Rei, eu nunca poderia
encontrar minha verdadeira rainha.
Você me deu empatia e me mostrou que o amor é mais do que uma
fraqueza. Isso constrói força por dentro, e eu estaria realmente
condenado se perdesse você para qualquer outra pessoa novamente.
Suas palavras me fizeram sentir como se eu estivesse levitando, mas
os meus poderes não estavam ativados, e meus pés estavam plantados no
chão.
Esta era uma magia própria dele.
Ele me puxou para um abraço caloroso. Eu podia sentir a sua
respiração em meus lábios e eu queria.
Tudo dele.
Keith podia sentir a minha determinação e eu podia sentir a dele.
— Esses mundos já estão em guerra... eles sempre estiveram. Então,
se vou lutar, vou lutar. Mas, pelo amor da Deusa da Lua, quero você lá
comigo.
Naquele momento, meus joelhos dobraram.
O meu pai estava errado. A verdade não foi encontrada em silêncio;
foi encontrada quebrando o silêncio. Bem diante de mim, eu
testemunhei o poder que essa verdade tinha.
Esta besta que eu amava havia se tornado o homem que estava
destinado a mim, e nada, nem mesmo uma guerra, poderia impedir isso.
— Bem. então, é claro... me marque, — eu disse.
Capítulo 29
UMA BATALHA PELA ETERNIDADE
Belle

Guerra eterna...
Ou felicidade eterna...?
Pode parecer uma escolha fácil para alguns, mas quando o destino do
mundo depende da sua decisão de casar, tudo acaba sendo mais
complicado.
Eu estava nervosa, e poderia dizer que Keith também estava. Mas com
cada olhar tranquilizador, a minha confiança em nossa decisão só
cresceu.
Quando me mudei para o meu quarto. Keith me seguiu de perto, para
não me perder de vista.
— Minha Belle, — disse ele, puxando-me para mais perto.
Eu segurei seu rosto em minhas mãos e beijei seus lábios macios.
— Meu Keith, — eu respirei entre beijos.
Ele puxou a minha camisa e eu flutuei em direção a ele com
entusiasmo. Com um simples puxão, senti o tecido da camisa deslizar
para fora do meu corpo.
Keith me girou na cama e roçou meu pescoço com os lábios, deixando
um rastro de beijos até a minha boca.
Suas mãos encontraram a minha cintura e avançaram ao longo da
minha barriga, finalmente descansando quando alcançaram os meus
seios.
Eu gemi baixinho.
Ele pressionou seus lábios nos meus, e de repente eu senti uma
sensação estranha que me deixou nervosa.
Estamos na casa da minha família.
— Não vamos fazer barulho, — sussurrei.
Keith olhou para mim e ergueu uma sobrancelha. — Nós podemos
tentar.
Ele piscou, beijando-me nos lábios mais uma vez, desta vez mordendo
meu lábio inferior. Pequenos espasmos agitaram o meu corpo.
Eu gemi de novo — mais alto, desta vez.
A necessidade repentina de ficar quieta me deixou com mais tesão
ainda. Algo sobre o sigilo intensificou cada toque.
CRASH!
Um som alarmante de vidro quebrado nos separou.
Pulamos da cama e descemos as escadas correndo.
A porta deslizante estava completamente quebrada. Meu pai já havia
mudado para a forma de lobo e estava em uma luta brutal com um
demônio.
— Que diabos?! — Keith latiu.
Um segundo demônio entrou e atacou o Keith. Sua rápida reação
lançou o demônio ao chão, urrando de dor.
Então, outro demônio entrou na casa. E outro.
O medo atingiu meu peito. Logo, seríamos oprimidos pelas suas
forças.
Por instinto, levantei os meus braços, em defesa.
A pulsação das minhas veias e o brilho azul dos meus braços
começaram a iluminar a sala. Senti uma grande força quando a minha
poderosa magia enviou uma onda de choque pela casa.
Os demônios que se infiltraram em nossa residência foram todos
derrubados ao chão, se contorcendo em agonia.
Minha família ficou me olhando, estupefata. Mas agora não era o
momento de ficar pasmos com meu poder.
— O que está acontecendo? — Eu gritei.
— Não sei, — admitiu meu pai. — Como os demônios entraram em
nosso mundo?
— É impossível! — Sean disse, ao lado de nossa mãe. Corri para a
porta deslizante que agora estava completamente destruída e passei por
ela.
— Belle, o que você está fazendo!? — Keith gritou, correndo atrás de
mim.
Eu não respondi. Eu estava muito ocupada olhando para o céu
enquanto centenas de sombras desciam sobre a casa.
— Oh, Deusa da Lua, ele está aqui, — entrei em pânico, enquanto
corria de volta para dentro.
— Quem? — minha mãe perguntou.
— O Lorde Demônio! — Eu gritei.
Keith

Eu uivei, deixando a minha voz ultrapassar a terra.


Por um momento, esperei uma resposta dos meus homens, que
estavam escondidos na periferia da vizinhança.
Mas eles não responderam.
Eu assisti enquanto vários demônios desceram sobre a casa, e a minha
esperança começou a despencar.
Esta batalha seria absolutamente brutal...
A família inteira de Belle se transformou para suas formas de lobos e
estavam começando a lutar contra os demônios enquanto os braços de
Belle continuavam brilhando.
Ela correu pelas ruas do bairro e eu a segui.
Era impossível ver qualquer coisa, pois a luz do dia se tornou nublada
por um enxame de demônios.
Eu assisti com medo enquanto os demônios circulavam ao redor de
Belle. Ela usou sua magia para desviar os ataques e derrubá-los de costas.
Cravei minhas garras no chão e corri para ficar ao lado dela, mas ela
não precisava da minha ajuda, não mais.
Mais três demônios tentaram emboscar por trás, mas foram
imediatamente jogados de lado com uma rajada de fogo.
Seus corpos queimaram enquanto eles estavam deitados no chão, se
contorcendo em agonia.
Ela havia encontrado os seus verdadeiros poderes e era capaz de usá-
los à vontade!
Seus olhos encontraram os meus quando parei ao lado dela. Ela
acenou com a cabeça e eu retribuí o gesto.
A guerra havia começado e estávamos prontos para lutar.
Então, eu ouvi o som que eu estava esperando...
O uivo!
Do outro lado da colina, vários lobos desceram para a vizinhança.
Meus homens finalmente chegaram e bem na hora.
Xavier galopou para o meu lado e pude ver sangue fresco em seu pelo.
— Fomos emboscados! — ele gritou. — Mas fomos capazes de
rechaçá-los. É um banho de sangue, — admitiu.
Eu apertei seu braço e balancei a cabeça. — Exatamente como
gostamos, — eu disse com segurança.
Eu não sabia se sobreviveríamos ou quantos sobrariam, mas este era o
momento certo para darmos tudo o que tínhamos.
No passado, eu tinha medo.
Não tenho mais.
Mais lobisomens vieram em nosso auxílio das casas vizinhas,
provavelmente eram parte da matilha que vivia aqui.
Todos foram alertados do perigo e caíram na batalha, prontos para
proteger os seus entes queridos.
Eu senti o orgulho crescer em meu peito. Isso era o que realmente
significava ser parte de uma matilha: ajudar aos outros quando o pior
acontecesse.
BAM!
Uma explosão poderosa me derrubou e me jogou para longe.
Lutei para me levantar e percebi que não era um demônio normal.
— Olá, Rei Lobisomem. — o Lorde Demônio deslizou. — Bem-vindo
à festa.
Seu sorriso era sinuoso e seus olhos pulsavam em um violento tom de
vermelho. Dava para ver que ele estava cheio de sede de sangue, e apenas
a morte o deteria.
Levantei-me, lutando para manter o equilíbrio, quando ouvi o grito
ensurdecedor de Belle.
Através de um aglomerado de demônios, pude vê-la caindo de
joelhos, com dor.
Um homem envolto em fogo caminhou até ela.
Azazel!
— Lá está ela! — O Lorde Demônio sorriu, chamando minha atenção.
— De joelhos. Exatamente como ela deveria estar.
Gritei de raiva e rapidamente rolei para o lado quando outra explosão
abriu uma cratera no chão, bem onde eu estava.
— Meu amor! Faz muito tempo que ela está longe de mim... — disse
Lazarus, se aproximando lentamente de mim. — E agora, ela vai ver o
quão patético você realmente é.
— Afaste— sede lá! — Eu rosnei.
Eu caí para frente em uma tentativa fracassada de atacar o Lorde
Demônio.
Mais uma vez, caí no chão enquanto vários demônios caíam do céu,
arranhando a minha cabeça e costas.
Lazarus riu da minha dor enquanto eu lutava para afastar os
demônios.
— Um vira-lata tão simples e estúpido. Pense bem, levei anos para
chegar aqui e apenas alguns minutos para destruí-lo, — Lazarus riu.
Eu rastejei para frente, com as minhas garras e dentes destruindo
tudo em meu caminho.
— PARE! — Belle gritou. Sua voz estava cheia de dor, e eu não
suportaria ouvi-la assim.
Eu tinha que salvá-la...
Minhas pernas fraquejaram e caí no chão, enquanto Lazarus pairava
sobre mim.
— Nós nunca iremos parar... não até que cada um de vocês seja
destruído. Exterminados desta terra, — Lazarus disse.
Eu olhei para cima mais uma vez e vi Belle lutando pela sua vida
enquanto Azazel erguia a sua espada flamejante.
Meu coração saltou no peito.
Tentei gritar, mas tudo que pude fazer foi choramingar, quando
Lazarus me jogou no chão mais uma vez.
— Seu tempo acabou, Rei, — Lazarus sibilou, enquanto se abaixava ao
meu nível. — Mas não se preocupe. Eu vou cuidar bem do seu reino.
Belle

Eu podia ouvir os gritos de Keith enquanto ele lutava contra Lazarus.


Eu queria ir até ele. mas o enxame de demônios me impediu de fazer
qualquer coisa, exceto defender e contra-atacar.
Depois de algumas rajadas fortes de minha energia, consegui liberar
espaço. Virei-me para Keith, mas de repente caí de joelhos mais uma vez,
com a minha cabeça latejando.
Os demônios aplaudiram quando Azazel se aproximou. Sem dúvida, a
dor na minha cabeça era devido aos seus poderes telepáticos.
Tentei libertar minha mente, mas não adiantou...
Eu senti o calor quando ele se aproximou. Seu corpo foi engolfado
por um fogo violento que não podia ser apagado.
Ele desembainhou a sua espada flamejante e a ergueu no ar.
— Você nos desafiou pela última vez, garota, — ele zombou. — Meu
irmão insistiu para que eu deixasse você ilesa, mas com alguns truques,
fui capaz de mudar a sua mente.
Eu atirei uma rajada de energia rápida em Azazel, mas a sua espada
cortou a minha magia, tornando-a inútil enquanto eu sentia meu corpo
ficar mais fraco.
Ele riu de novo, e os demônios ao seu redor o seguiram.
— Você não é párea para mim, — ele sibilou.
As chamas saíram de sua boca, revelando o seu desejo intenso.
Eu olhei em volta e, para o meu horror, vi minha casa transformada
em um campo de batalha.
Lobos e demônios continuaram a lutar, cada vez mais corpos caíam
pelo chão.
Keith lutou para manter Lazarus à distância, enquanto meu pai estava
dominado por demônios. Um corpo humano ensanguentado,
amontoado no chão, me fez chorar de dor. Eu conhecia essa pessoa como
a palma da minha mão.
Era o Sean!
A julgar pelo seu retorno à forma humana, ele devia estar
inconsciente, ou pior...
Azazel acertou o meu rosto com um soco certeiro.
Meu lábio abriu, espirrando sangue pela minha camisa e pela grama
verde.
— Não se preocupe, pequena, eu só vou te machucar um pouco. A
morte seria uma resposta muito rápida para o seu destino, — ele disse,
erguendo a espada no ar.
Eu não poderia deixar isso acabar assim, a minha família e amigos
dolorosamente destruídos, tudo por causa de um destino que eu não
escolhi.
A minha pele começou a brilhar mais forte, e aquela pulsação familiar
passou pelo meu corpo cansado.
Não. eles não eram a minha família biológica, mas eram tudo que eu
sempre quis. Eles eram tudo que eu precisava!
Eu gritei com todas as forças, e até mesmo Azazel congelou de
surpresa.
O poder que senti ao destruir o reino dos vampiros não era nada em
comparação com a fúria que eu queria entregar ao mundo dos demônios.
Concentrando cada gota de energia que eu poderia reunir em Azazel,
eu liberei a minha fúria e observei o seu rosto se encher de medo.
WHAM!
A explosão foi imensa e o flash quase me cegou. Eu podia sentir um
poder inimaginável disparando de minhas mãos.
O impacto intenso tirou Azazel do chão e o atirou pelos ares.
Parecia que o mundo inteiro parou para vê-lo se desintegrar com a
força da minha explosão enquanto suas cinzas continuavam voando pela
estratosfera.
— MEU IRMÃO! — o Lorde Demônio guinchou.
Lazarus olhou com tanta raiva e hostilidade que eu mal pude ver a sua
transformação.
Ele começou a mudar sua própria forma. Algo que eu nunca tinha
testemunhado antes, e isso me fez apertar todos os músculos com
ansiedade.
Ele parecia estar um metro mais alto, seus braços estendidos, com
afiadas garras amarelas, e sua pele ficou vermelha como o fogo.
— Eu vou destruir você por isso! — ele gritou, com uma voz horrível e
demoníaca.
Ele começou a se mover em minha direção, mas parou de repente.
Eu não percebi até que ele notou, mas o mundo ao nosso redor estava
muito mais silencioso do que há muito, muito tempo.
Os demônios estavam fugindo!
Lazarus percebeu o que estava acontecendo, e sua nova forma
monstruosa parecia muito menos ameaçadora quando os lobos restantes
começaram a se aproximar.
Ele deu uma última olhada na destruição que ele havia causado e me
deu um sorriso malicioso que queimava de ódio.
— Eu voltarei pra acabar com você! — ele gritou. — E eu tenho
certeza que você vai queimar.
Os lobisomens atacaram o demônio, mas não adiantou. Seus poderes
o levantaram do chão e o enviaram voando pelo ar a uma velocidade
bizarra.
Em segundos, ele se foi. mas as suas palavras ainda ecoavam na minha
cabeça.
— Nós ganhamos! — uma voz gritou da multidão, e foi seguida por
uma ovação ensurdecedora.
Eu não queria nada mais do que participar da comemoração, mas
sabia que ainda havia muito trabalho a ser feito.
Em poucos segundos, eu estava do outro lado do campo, junto do
corpo imóvel do meu irmão.
Ele ainda tinha um pulso fraco, mas a sua respiração era superficial,
quase inexistente.
— Sean, — eu chorei, enquanto as lágrimas enchiam meus olhos.
Murmúrios se espalharam pela multidão quando eles perceberam o
que estava acontecendo. Recusei-me a permitir que outro membro da
família morresse por causa do meu destino.
Lembrei-me de quando Tessa curou Tannon e imediatamente tentei
recriar os seus poderes.
Meu corpo começou a brilhar novamente, mas desta vez, o poder não
era para atacar.
Desta vez, eu o usaria para curar.
Fechando meus olhos e focalizando minhas mãos acima de seu corpo,
imaginei a dor e o sofrimento sendo sugados lentamente dele.
O barulho da multidão começou a ficar mais alto e eu poderia dizer
que estava funcionando.
Meu corpo ficou mais fraco a cada momento que passava enquanto o
veneno infligido pelos demônios saía dele e desaparecia no ar.
Fiquei nessa posição até sentir uma mão tocar a minha.
Meus olhos se abriram para ver o rosto sorridente de Sean.
— Nós ganhamos? — ele perguntou, com uma expressão atordoada.
A única coisa que pude pensar em fazer foi abraçá-lo com força
enquanto ele retribuía o gesto.
Eu podia ouvir a multidão aplaudindo de alegria, e então outra mão
pressionou meu ombro.
Eu vi Keith parado sobre mim em sua forma humana nua e o abracei.
Quando nos separamos, ele pegou na minha mão.
— Está na hora.
Não precisei perguntar o que ele quis dizer... meu corpo já sabia a
resposta.
Capítulo 30
MARCADA
Belle

A batalha acabou, mesmo que a guerra apenas tivesse apenas


começado.
Os membros da minha manada foram às ruas quase imediatamente
para limpar os horrores indescritíveis que se abateram sobre as suas
casas.
Eles queriam comemorar, e comemoraram mesmo. Mas só depois
que eles se certificaram de prestar seus respeitos aos mortos...
Voltamos para o reino de Keith, tendo conseguido sair da casa dos
meus pais e evitar a forma tradicional de marcação.
Nós dois sabíamos o que queríamos, e nada sobre um lobisomem e
um híbrido de bruxa-demônio era tradicional.
— Você está pronta? — Keith me perguntou, com a voz sensual.
Ele fechou a porta e deixou cair a sua bolsa no chão enquanto eu me
aproximei dele.
— Estou pronta há um bom tempo, — eu disse, pressionando meus
lábios nos dele.
Ele estendeu a mão para a fechadura para se certificar de que não
seríamos mais interrompidos.
Ele então agarrou meus quadris e me puxou para cima.
Eu apertei minhas pernas ao redor de seu torso enquanto nossos
lábios se encaixaram de tal forma que parecia impossível que eles se
separassem.
Caímos na cama, seu corpo estava sobre o meu.
Passei meus braços em volta do seu pescoço enquanto seus quadris
pressionavam os meus, prendendo-me na cama. A sensação era quase
insuportável, e mordi seu lábio para conter a minha paixão.
Mas paixão era exatamente o que ele sentia quando seus lábios
encontraram o meu pescoço. Suas mãos deslizaram por baixo da minha
camisa, envolvendo meus seios, suavemente.
Eu gemia de prazer e podia senti-lo estremecer.
A minha camisa foi arrancada do meu corpo, revelando meus seios
nus, mamilos duros com uma vulnerabilidade repentina.
Em seguida, ele tirou a minha calça, e eu estava louca por retribuir o
favor, abrindo os botões de sua calça e rasgando o zíper.
Ele arrancou a camisa e chutou as calças, revelando seu corpo
lindamente esculpido.
Com fome em seus olhos, ele apenas olhou para mim com admiração.
— O quê? — Eu perguntei, nervosamente cobrindo meu corpo.
— Você é linda, — disse ele, enquanto puxava as minhas mãos para
longe do meu corpo.
Ele então se inclinou para me beijar novamente com um olhar
lascivo.
Ele prendeu as minhas mãos na cama enquanto beijava cada seio,
sugando suavemente meus mamilos, enviando choques de eletricidade
por todo o meu corpo.
Eu podia sentir a umidade se espalhar entre as minhas pernas e sabia
que estava mais pronta do que nunca.
A minha respiração acelerou quando uma onda de energia me
oprimiu. Minhas veias pulsaram com magia enquanto seus lábios
desciam pelo meu abdômen em direção aos meus quadris.
Todos os pelos do meu corpo se arrepiaram enquanto eu estava lá
observando, vendo seu rosto desaparecer entre as minhas pernas.
Sua língua era quente e gentil, separando meus lábios para que ele
pudesse se deliciar com a doçura pegajosa que eu só queria que ele
provasse.
Senti um desejo estrondoso por ele.
Eu ansiava por ele.
A maneira como ele se deliciava com o meu corpo me deixou louca
pelo que poderia vir a seguir.
Uma onda de excitação tomou conta de mim quando coloquei as
minhas mãos na sua cabeça, pressionando o seu rosto ainda mais na
minha virilha.
Sua língua se moveu mais rápido, procurando os pontos certos. Meus
gemidos aumentaram, enchendo a sala com a nossa paixão.
Finalmente, tive um espasmo, incapaz e sem vontade de impedir o
meu corpo de tremer com uma alegria que eu nunca tinha conhecido.
Depois de terminar, ele fez o seu caminho de volta pelo meu corpo
com um sorriso.
Coloquei as minhas mãos em seu rosto e senti a suavidade de sua
pele. Eu queria falar, mas as palavras não seriam capazes de revelar os
meus sentimentos, então deixei meu corpo falar.
Eu passei a mão pelo seu abdômen esculpido e pude sentir seu corpo
estremecer de excitação.
Ele queria me penetrar mas eu o virei, empurrando-o de costas.
Minhas coxas envolveram a sua cintura enquanto suas mãos se
entrelaçaram, até apertar a minha bunda com força.
Eu me movi para frente e para trás sobre a pele de seu pênis ereto,
provocando-o a ponto de ele não aguentar mais.
Ele rosnou de desejo e, naquele momento, deixei que ele encontrasse
o seu caminho dentro de mim. Meu cérebro explodiu com uma sensação
que eu nunca tinha conhecido.
Cada nervo do meu corpo latejava de excitação quando senti, pela
primeira vez, um homem... meu prometido... penetrar no meu corpo.
Movi meus quadris lentamente no início, deixando-os ondular
enquanto ele fechava os olhos aproveitando essa sensação inacreditável.
A cada movimento, eu podia sentir o meu corpo ficando cada vez
mais incontrolável.
Eu nunca pensei que poderia me sentir assim, e depois de ver o rosto
feliz de Keith alcançar o êxtase, eu não queria que isso parasse nunca.
Eu me concentrei em seu corpo enquanto as minhas mãos tocavam as
cicatrizes ao longo de seu peito e braços.
A sensação de sua pele me deixou em um frenesi ainda maior, então
eu passei meus braços ao redor de seu pescoço e empurrei meus quadris
para baixo o máximo que pude.
Ele se sentou, envolvendo os braços em volta da minha cintura, me
puxando para tão perto que pensei que de alguma forma eu havia me
fundido com ele.
Era tudo o que eu sempre quis, e tentei recuperar o fôlego enquanto
meus espasmos atingiam outro crescendo.
Eu ofeguei em seu peito enquanto meus pensamentos ficaram
confusos de puro deleite. Quando recuperei a compostura, ele ergueu
meu queixo com a mão e me beijou suavemente.
Desta vez, foi a vez dele me virar de costas.
Ele entrou em mim lentamente, mas empurrou com força,
penetrando meu âmago.
— Me come, — eu gemi em seu ouvido. — Me fode como se eu fosse a
sua rainha.
Keith sorriu com uma paixão perversa.
Ele mordeu meu mamilo com uma gentileza que eu nunca tinha visto
nele enquanto empurrava seu pau inchado e latejante para dentro e para
fora do meu corpo.
Seus movimentos me fizeram chegar a um orgasmo sobrenatural.
Nossos membros emaranhados sob os lençóis, seu corpo se juntou ao
meu e eu o segurei com força, não querendo que ele se libertasse.
Cada novo impulso enviava uma onda de euforia pelo meu corpo,
curvando meus dedos das mãos e dos pés.
O tempo parou enquanto continuamos, trocando nossa energia por
meio do toque, por meio da nossa respiração, por meio de nossos
orgasmos.
Eu gozei mais uma vez, e mais uma vez, e mais uma vez cada vez mais
forte do que a anterior.
No auge de nossa intensa relação sexual, pouco antes de eu lhe dar a
última gota de amor que possuía, ele mordeu o meu pescoço.
Doeu no começo, mas entendi o gesto.
Ele estava me marcando!
Eu o senti empurrar o pau dentro de mim uma última vez enquanto
ele estremecia de prazer, e eu o deixei lamber o sangue do meu pescoço.
Nesse momento, um grito terrível soou sobre a Terra.
Os outros reis haviam perdido a sua garota do destino. Eles nunca me
teriam como a sua rainha.
Eu sorri ao perceber que agora eu era total e incondicionalmente dele.
Quando tudo finalmente acabou, eu deitei de costas, olhando para o
teto, com Keith ao meu lado.
Estávamos exaustos, cheios de felicidade e uma nova compreensão
um do outro.
Eu sabia que ele sentia o mesmo.
Depois de mais alguns momentos, Keith rolou e expressou os
sentimentos que eu sabia que ele possuía.
— Eu te amo, Belle, — ele disse entre respirações.
— Eu também te amo, — eu disse, entrelaçando as minhas mãos nas
dele.
Tannon

Demorou vários dias até que eu finalmente voltasse para a minha casa
nos Alpes.
Tessa e eu encontramos problemas com os portais. A magia negra no
reino etéreo estava nos impedindo de ir para onde precisávamos estar.
Era algo que eu nunca tinha experimentado antes e percebi que uma
força poderosa deve estar envolvida.
Eu estava com medo do que isso poderia acarretar. Se Daisy tivesse
tomado o meu lugar e ela me explodisse com a sua magia, havia muito
pouca esperança de que o portal permanecesse fechado.
— O que faremos se o portal for aberto? — Tessa me perguntou.
Normalmente, era eu quem tinha todas as respostas, mas desta vez,
não consegui responder nada.
— Depende se alguma coisa cruzou, — eu admiti debilmente.
— Se chegarmos lá a tempo, talvez apenas alguns demônios tenham
conseguido passar. Eu posso lacrá-lo novamente, mas não há como
adivinhar o que pode ter sido liberado.
Finalmente chegamos ao ponto da parede que eu sempre protegi,
apenas para encontrá-lo completamente dissolvido.
Em seu lugar havia um buraco largo o suficiente para passar uma
casa.
— Oh não, — disse Tessa.
O buraco não mostrou nenhum sinal de presença demoníaca do
outro lado. Todos eles haviam saído de seu mundo?
Me uni a Tessa enquanto fazíamos o possível para selar o portal, mas
sabíamos que já era tarde demais.
O Lorde Demônio e Azazel eram apenas uma parte do submundo que
conhecíamos.
Era um mundo sem fim, com toneladas de magia negra.
— Você sabe o que isso significa, — eu disse a Tessa depois de selar o
portão.
Tessa suspirou e acenou com a cabeça. — Temos que alertar Belle e os
outros.
Eu senti um fracasso no fundo do meu coração. Este portal foi
esticado e destruído por forças mais fortes de alguém tão jovem como
Daisy.
A morte estava próxima e não havia como parar o que seria
desencadeado.
Keith

Eu nunca tinha experimentado um amor assim em toda a minha vida.


A paixão que ela instigou em mim era indescritível.
Nenhuma outra mulher me fez sentir tão voraz por amor como Belle,
e nenhuma outra mulher jamais faria.
Eu queria deitar ao lado dela para sempre, mas sabia que nosso
devaneio teria que acabar.
Depois de tomar banho e comer um lanche rápido, voltei para
encontrar Belle na minha varanda, com vista para o lindo sol nascendo
sobre a nossa terra.
Ela estava parada em um relaxamento feliz.
Ouvir-me dizer eu te amo abriu um novo nível de confiança em Belle
que ela nunca tinha me dado.
Também me fez perceber que eu não queria machucá-la, nunca mais.
Aproximei-me dela e toquei a marca em seu pescoço.
Belle se encolheu, voltando a atenção para mim.
— É lindo, — ela admitiu.
— Assim como você, — respondi.
Ela sorriu e olhou profundamente nos meus olhos. Naquele
momento, eu soube que ela viu cada emoção que eu sentia.
— O que está errado? — ela perguntou com um sorriso. — Achei que
me marcar era tudo o que você mais queria.
Inclinei-me e beijei-a nos lábios, saboreando o gosto.
— Era. Era mesmo... — Minha voz sumiu.
Ela percebeu e colocou a mão gentilmente na minha bochecha. —
Então fale comigo.
Eu balancei a cabeça e procurei as palavras.
— Agora que você foi reivindicada, começamos uma guerra que não
vai acabar. Não sem causar mais sofrimento, — eu a lembrei.
Ela acenou com a cabeça em compreensão, e então eu vi outro sorriso
cruzar seus lábios.
— Pelo menos iremos para a guerra juntos. Com nosso amor e poder,
ninguém pode nos impedir.
Eu olhei para ela com admiração nos olhos.
— Minha Rainha, — eu disse, totalmente pasmo com a mulher na
minha frente.
Ela sorriu e me beijou suavemente na boca.
— Meu Rei, — ela respondeu, inundando meu coração e meu reino
com uma alegria incomparável.
O tempo pioraria antes de melhorar, mas eu sabia que, com ela
reinando ao meu lado, teríamos uma chance real de fazer a diferença.
Voltamos a nossa atenção para o lindo dia. de mãos dadas.
Conforme o sol forte aquecia as nossas peles nuas, uma grande
nuvem começou a se formar à distância, ameaçando encobrir a luz.
Eu tinha a minha rainha e ela tinha o seu rei. Haveria felicidade
agora...
Mas nem tudo estava resolvido.
Logo, muito em breve, uma escuridão inimaginável voltaria para
nossa terra.
Continua no Livro 2…
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