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Sinopse

Lyla vai até o coração do Mississippi com uma fraca esperança de


encontrar seu companheiro. Achar um par é uma coisa rara, e
sinceramente Lyla ficaria contente com o seu namoradinho de infância.
Quando a temporada começa sob a lua cheia, Lyla segue um uivo
arrepiante para encontrar o seu verdadeiro companheiro — Sebastian, o
Alfa Real. Será que Lyla aceitará o seu destino como parte da Matilha
Real ou escolherá o seu primeiro amor?
Classificação etária: 18+
E-book Produzido por: SBD e Os Lobos do Milênio
Sumário
1. Última Noite a Fora
2. Misturando e Entrosando
3. Esperançosos e Desesperados
4. A Cúpula
5. Chamada de Acasalamento
6. Companheiros Verdadeiros
7. Pensamentos Sóbrios
8. Tensão Real
9. Uma Verdade e Meia
10. Conheça os Greens
11. Controle de Danos
12. Jantar para Três
13. O Lugar Favorito de Sebastian
14. Jogos de Jacaré
15. O Amor é Sujo
16. Escolha Certa
17. Olho por Olho
18. O Segredo do Alfa
19. Perto do Limite
20. Problemas Depois da Meia-Noite
21. Libertando o Vapor
22. Parceiros de Dança
23. Corações Rebeldes
24. Presságios do Luar
25. Vínculo Quebrado
26. Verdades Turvas
27. Uma Reviravolta do Destino
28. Sangue da Noite
29. Dentro do Labirinto
30. Uma Escolha Impossível
1
ÚLTIMA NOITE A FORA Lyla
— Beije-me com mais força — eu exigi.
Caspian obedeceu, pressionando seus lábios contra os meus. Nossas
línguas se entrelaçavam em prazer.
Ele estava em cima de mim, seus quadris pressionados com força nos
meus. Eu podia sentir seu volume crescendo, e isso me deixava louca de
desejo.
— Porra, Lyla.
A perna de Caspian deslizou entre minhas coxas, seu pau pulsando
através de seu jeans. Parecia tão certo, mas o momento estava errado.
Talvez eu não devesse ter concordado em vê-lo uma última vez antes
de nossa grande viagem no dia seguinte...
Um grito perfurante irrompeu pelo carro, fazendo com que minha
cabeça batesse na de Caspian.
— É só o filme — disse ele, esfregando a mancha vermelha que se
formava em sua testa.
Respiração pesada.
Passos rápidos.
Um rosnado horrível.
O terrível filme de terror exibido na tela gigante... uma história
estúpida sobre criaturas horríveis invadindo uma pequena cidade.
Eu olhei para Caspian e sorri.
— Isto é o que você recebe por me trazer aqui. Você sabe que eu não
suporto filmes de terror.
Ele se inclinou e me deu um beijo rápido.
— E o que é mais assustador do que ver um filme de terror com um
lobisomem? — Seu sorriso maligno ficou maior, e eu fingi estar
assustada.
Caspian era meu namorado e o filho do beta da nossa alcateia.
Ele e eu éramos amigos desde pequenos... mas eu sempre tive uma
queda por ele. E eu não era a única.
Desde que consigo me lembrar, minhas amigas estavam rabiscando
Caspian em seus cadernos.
Ele era o palhaço da turma e tinha esta energia magnética que atraía
as pessoas para ele.
Mas nunca admiti minha queda por ele. Mantive meus sentimentos
em segredo, provavelmente porque percebi, já naquela época, o quanto
eles eram sérios.
Assim, em uma noite fatídica há dois anos, quando Caspian me disse
que também tinha sentimentos por mim, eu era a garota mais feliz do
mundo.
E desde aquele momento, somos inseparáveis.
Embora seu pai, o beta da alcateia, não aprovasse, éramos muito
felizes juntos.
Nunca me cansei da maneira como ele me olhava com aqueles olhos
castanhos acolhedores.
Ou a maneira como ele beijava meu pescoço assim. Enquanto a
heroína gritava na tela, eu sentia uma adrenalina.
Caspian continuou a beijar minha clavícula até que minha camisa o
parou. Sua mão adentrou meu sutiã, acariciando meus mamilos duros.
Seus quadris se moviam para frente e para trás, aplicando uma suave
pressão. Senti um suspiro escapar dos meus lábios.
— Aqui não — eu adverti enquanto puxava seu corpo para mais perto
do meu.
— Por que não? — Ele murmurou no meu ouvido. — Você é tudo em
que eu penso...
Dei-lhe um beijo e tirei sua mão de debaixo da minha camisa.
— Você me ama ou ama a ideia de me foder?
— Ambas. Elas não são mutuamente exclusivas.
— Nesse momento, eu diria que são.
Embora estivéssemos juntos há dois anos, não tínhamos transado.
Não era que eu não quisesse, mas eu respeitava os costumes da minha
cultura.
Caspian e eu éramos lobisomens da Matilha da Lua Azul. E como
lobisomens, estávamos ligados pelo destino a nossos verdadeiros
companheiros, que — se tivéssemos a sorte de encontrá-los — estariam
para sempre ao nosso lado.
Nas últimas décadas, no entanto, havia se tornado cada vez mais
difícil encontrar um verdadeiro companheiro. Isto havia deixado
centenas de lobos sem seus companheiros, forçados a terem
relacionamento após relacionamento, sabendo que eles não estavam com
sua destinada cara metade.
A Cúpula foi criada em resposta a isso, reunindo o maior número
possível de alcateias. Todos os anos, um ritual de acasalamento acontecia
com o objetivo de conectar os verdadeiros companheiros.
E nós acabamos nesta posição, os quadris pressionados juntos no
banco de trás de seu carro, porque estávamos perdendo a esperança.
Observei como os olhos de Caspian encaravam o meu corpo. Ele
estava banhado pela luz cintilante da tela de cinema; um caleidoscópio
de cores manchando sua pele.
— Vamos oficializar. Aqui e agora — insistiu ele, com seus olhos
voltados para os meus.
— A Cúpula começa neste fim de semana.
— Mas eu te amo.
Eu suspirei. Foi tão bom ouvir estas palavras. Mas o momento não
poderia ser pior.
— O ritual de acasalamento é daqui a uma semana, e já esperamos
todo esse tempo. Não faz sentido fazer nada até termos certeza de que
não temos companheiros.
Caspian gemeu e pressionou seus quadris contra os meus quadris
uma última vez.
Senti a queimadura familiar... aquele desejo inelutável de sentir sua
pele...
Ele desabotoou meu jeans. Logo, o zíper estava para baixo e sua mão
estava dentro da minha calcinha.
Depois de um começo desajeitado, seus dedos encontraram o ponto
certo, esfregando suavemente, ainda sem entrar dentro de mim.
Minha deusa.
Apertei meus dedos, cavando em seus ombros.
— Não preciso de nenhum ritual para me dizer o que já sei — ele
sussurrou no meu ouvido. — Você é a única para mim, Lyla.
— Concordamos em esperar — respondi sem fôlego.
Seus lábios beijaram os meus, e eu senti meu corpo tremer.
Eu queria ter tanta certeza quanto Caspian, mas cada vez que estive
perto de ceder, ficava difícil respirar.
E se meu verdadeiro companheiro estiver por aí?
É melhor esperar até termos a certeza. Não é?
— Eu sabia, porra!
A porta traseira se abriu, e meus olhos de cabeça para baixo viram
Teresa, minha melhor amiga. Ela estava me encarando com um olhar de
louca.
Ela tirou um fio de cabelo escuro do rosto e sorriu, sua pele marrom
clara acentuando seu sorriso brilhante.
— Você está atrasada para dormir — disse ela, encostada à porta.
Tirei Caspian de cima de mim e abotoei rapidamente minhas calças.
— Obrigado, Teresa. Você realmente sabe como arruinar um bom
momento — resmungou Caspian.
— Eu acredito que NENHUM momento com você possa ser muito
bom — respondeu ela.
— Ei… — eu a avisei com um olhar de lado.
Ela levantou as mãos em rendição e se afastou do carro, indo em
direção ao seu próprio, convenientemente estacionado a apenas algumas
vagas de distância.
Teresa e Caspian se odiavam desde que eu consigo me lembrar.
Já era irritante o suficiente que eu não pudesse estar perto de meus
dois melhores amigos ao mesmo tempo, mas era particularmente
incômodo considerando que seus pais eram alfa e beta.
— Eu te amo — disse ele novamente ao ajustar seu volume.
— Também te amo — respondi, dando-lhe um beijo na bochecha. —
Até amanhã. — Eu saí do carro e me inclinei para poder vê-lo. — E
descanse um pouco. Podemos retomar de onde paramos.
A porta do carro se fechou, deixando-me com uma pancada de
arrependimento.
Eu sabia que deveria estar feliz — a Cúpula poderia ser o começo de
uma vida totalmente nova.
Mas isso foi o que mais me assustou.
E se eu não quiser uma vida nova?
Caspian

Eu assisti Teresa roubar minha namorada, me deixando sozinho com


meu tesão e um filme de terror drive-in idiota.
A única coisa a fazer era ir para casa e me preparar para a Cúpula.
Tenho certeza que papai ficaria encantado se eu encontrasse minha
verdadeira companheira.
Uma pancada de aborrecimento me atingiu enquanto eu pensava na
famosa cerimônia. A voz do meu pai ecoou em minha mente, um
discurso que ele não cansava de me dizer: A Deusa da Lua lhe mostrará
sua verdadeira companheira, Caspian. Não se apegue a Lyla. Há coisas
melhores para você lá fora.
Eu não precisava da Deusa da Lua para me dizer o que eu queria.
Eu sabia exatamente o que, ou quem, era.
Mas infelizmente Lyla estava tão obcecada com a Cúpula quanto meu
pai estava.
Nós já nos amávamos.
Isso era tudo o que eu precisava saber.
Mas aparentemente não era suficiente para Lyla...
Eu suspirei, colocando meu carro em marcha ré e indo embora do
cinema drive-in antes que eu pudesse ficar deprimido.
Se isso a faz feliz, eu vou passar pelas moções.
Hoje em dia, ninguém encontra seu companheiro na Cúpula...
Lyla

Teresa e eu chegamos à minha casa bem depois da hora de dormir


habitual dos meus pais. Fiquei surpresa ao vê-los sentados com sorrisos
no rosto enquanto entrávamos na cozinha.
— Vocês não precisavam esperar por nós — disse eu.
— Queríamos nos despedir hoje à noite, já que você vai sair bem cedo
— disse minha mãe, sonolenta.
Eu me perguntei sobre seu primeiro ritual. Como eles devem ter
ficado assustados — a incerteza de um futuro sozinho pairando sobre
suas cabeças.
Meus pais eram namorados do colegial antes de serem companheiros.
Eles sempre esperavam que fossem destinados um ao outro.
E foram.
A Cúpula tinha confirmado o que eles sempre souberam. Suas vidas
não tinham sido nada além de amor e felicidade. Era tudo o que eles
conheciam como companheiros.
Eles já tinham passado exatamente pelo mesmo que eu e o Caspian
estávamos passando.
Mas também seremos felizes para sempre?
Eu amava Caspian. Desde que éramos crianças, parecia destinado que
estaríamos juntos.
A Deusa da Lua verá as coisas da mesma maneira e nos mostrará que
somos companheiros?
Caspian parecia pensar assim...
— Vou me certificar de cuidar muito bem da Lyla — disse Teresa. —
Eu sei que ela vai deixá-los orgulhosos.
— Vocês duas nos deixarão orgulhosos — respondeu minha mãe.
Eu estava tão envolvida em minhas próprias preocupações que quase
tinha esquecido como o ritual de acasalamento era importante para
todos os envolvidos.
O resultado da Cúpula significaria tanto para toda a alcateia quanto
para cada lobo individualmente.
Ninguém da nossa alcateia tinha acasalado nos últimos dez anos.
Menos pares de casais significava menos crianças. Especialmente
porque era incomum para um casal acasalado ter mais de um filhote.
Meus pais foram uma exceção, e minha irmã de nove anos, Skye, era o
membro mais jovem de nossa alcateia.
Nosso futuro coletivo dependia da união de companheiros para
ajudar nossa espécie a sobreviver.
Meus pais nos deram um último abraço e um beijo antes de
desaparecerem lá em cima.
Teresa os assistiu ir com um sorriso.
Observando minha melhor amiga, percebi que meu relacionamento
com o Caspian não era a única coisa que era uma incerteza.
E se as coisas mudarem entre nós quando encontrarmos nossos
companheiros?
A semana seguinte era um grande ponto de interrogação.
Então Teresa se virou e sorriu maliciosamente para mim, e eu sabia
que uma coisa era certa: estaríamos sempre lá uma para a outra. Não
importava o que o ritual da próxima semana pudesse trazer.

— Acho que vou ficar doente — resmunguei quando o carro adentrou


outro caminho de terra.
Tínhamos começado cedo, e Teresa tinha insistido em dirigir o dia
todo.
No início, eu tinha deixado facilmente; minha mente estava focada
em muitas outras coisas. Mas depois de algumas horas, eu me arrependi
de ter concordado com ela.
— Oh, sua grande bebê — disse ela, pressionando o acelerador. — Se
não chegarmos logo, vamos nos atrasar para os comentários de abertura!
Meu estômago dava voltas enquanto ela acelerava por um semáforo.
— Você está sempre atrasada — disse eu com os dentes cerrados.
Eu não poderia culpar a Teresa por tudo isso. A Cúpula inteira me
deixou doente do estômago. Eu não fazia ideia do que esperar.
Caspian, Teresa e eu fizemos 21 anos recentemente, e esse é o
primeiro ano em que você era autorizado a participar.
Na verdade, quase todos os lobos da Matilha da Lua Azul estariam
indo pela primeira vez.
Mas a maioria de nós voltaria sozinha.
Pelo menos não serei a única a ficar sem um companheiro...
— Aí está! — Teresa suspirou, e eu segui seus olhos até o fim da
estrada.
Escondida atrás de vários tipos de árvores altas, em uma colina com
vista para a área, estava uma mansão de arquitetura antebellum.
— A Casa da Matilha Real? — Eu adivinhei.
Teresa havia visitado uma vez, anos atrás, em negócios da alcateia
com seu pai, e havia afirmado que havia se apaixonado.
Não apenas pela casa, mas também pelo alfa, Sebastian. De acordo
com ela, ele era o — homem mais sexy vivo.
— Não é lindo? — Teresa suspirou. — Quem acasalar com o alfa real
será uma cabra sortuda.
— Talvez ele não encontre uma companheira.
— Esse tipo de conversa é deprimente — disse Teresa com desdém. —
Pense em pensamentos felizes. Se um solteirão real não é motivação, eu
não sei o que é.
Eu revirei os olhos e decidi satisfazer suas fantasias, mesmo que
apenas durante a semana. — Você é a próxima na fila para ser a alfa da
nossa alcateia. Se alguém tem uma chance com Sebastian, é você.
— Você nunca sabe — disse ela, piscando o olho. — Talvez eu esteja
chamando você de Royal Luna até o final da Cúpula.
Eu ri. Até parece...
Eu era provavelmente a única garota na Cúpula que não estava
interessada em Sebastian. A Deusa da Lua teria que ter um senso de
humor doentio para me colocar junto com o Alfa Real.
— Tanto faz. Já chegamos lá?
— Deus, sim. Acalma a franga — disse Teresa, enquanto ela fazia
outra curva.
Como se fosse mágica, uma grande mansão convertida em estilo
italiano apareceu em nossa frente. Um pequeno pântano diretamente
atrás dela lhe dava uma verdadeira sensação de Mississippi.
O Hotel Fleur de Lis.
Estacionamos em uma vaga de estacionamento e saímos para esticar
nossos corpos.
— Eu te disse que nos traria aqui a tempo — vangloriou-se ela.
— E inteiras também! — Exclamei, tirando minha mala do porta-
malas.
Olhei ao redor do estacionamento, tentando identificar qualquer
carro familiar. O carro do Alfa Hugo não estava longe do nosso. E o do
Beta Alexander estava estacionado ao lado dele.
Isso significava que Caspian já estava lá.
Talvez na próxima semana, quando tivermos certeza de que não
pertencemos a mais ninguém, possamos finalmente ter algum tempo
sozinhos.
Então ele estará se curvando para trás me agradecendo por fazê-lo
esperar tanto tempo.
Eu sorri ao pensar em deixar tudo isso para trás e voltar à minha
antiga vida e rotinas. Isso aliviou a preocupação presente no meu
estômago.
Entramos pela porta da frente, chegando até o lobby, e fomos
atingidas por uma onda de atividade ansiosa.
O Alfa Hugo e o Beta Alexander estavam no centro da agitação,
expressões sérias enquanto ladravam ordens.
— Pai? — Teresa disse ao nos aproximarmos, todo o seu ser mudando
para o modo alfa-em-treinamento.
— Oh, meninas, graças à Deusa. — Alfa Hugo jogou seus braços ao
nosso redor. — Estávamos ficando preocupados.
— Por quê? — Perguntou Teresa. — O que está acontecendo?
— Convoquei uma reunião de emergência — explicou ele. — Faça o
check-in do seu quarto, depois junte-se a nossa alcateia no salão
principal. Houve um ataque às fronteiras da Matilha Real.
— Um ataque? — Eu perguntei.
— Explicaremos mais tarde — disse Alfa Hugo. — Vá agora, encontre-
se com os outros.
Teresa e eu fomos até o salão principal, nos espremendo entre a
massa de outros lobisomens esperançosos. Havia muitas outras alcateias
reunidas ali, e todas elas tinham ouvido a notícia.
Teresa cutucou meu braço e desviou minha atenção para o topo de
uma grande escadaria.
— Bem, vejam quem é — ela ronronou.
Levantei-me na ponta dos pés, girei o pescoço sobre a multidão para
conseguir ver alguma coisa.
O alfa real.
Sebastian.
Teresa estava certa. Ele era um gato.
Seus cabelos loiros foram escovados para trás, sua apertada camiseta
preta mal limitava os músculos ondulantes por baixo e sua linha da
mandíbula podia cortar pedra.
E seus olhos...
Eles eram azuis elétricos, e eu senti um choque quando nos
entreolhamos.
Ele sorriu para mim, e sua atitude convencida me fez sentir uma
emoção que desceu pela minha coLuna.
Oh, Deusa.
De repente, a notícia de um ataque rebelde não era a coisa mais
urgente em minha mente.
Porque havia uma nova sensação de pressão entre minhas pernas.
Como se toda esta situação não pudesse ficar mais complicada...
2
MISTURANDO E ENTROSANDO
Lyla

— Como a maioria de vocês já ouviram, houve um ataque às fronteiras


da Matilha Real — anunciou Alfa Hugo à Matilha da Lua Azul. — Mas
Alfa Sebastian garantiu-me pessoalmente que a ameaça foi neutralizada,
e o ritual continuará como planejado.
Os assobios e os gritos dos membros de nossa alcateia encheram a
sala.
— Agora, como todos sabem, esta semana pode ser o momento mais
importante de suas vidas — continuou Alfa Hugo. — As festividades
começam com um coquetel esta noite, e a chamada de acasalamento será
daqui a duas noites. Lá você saberá se a Deusa da Lua o abençoou ou não
com um companheiro.
Ele olhou à nossa volta e sorriu para todos nós.
— Estou orgulhoso de todos e cada um de vocês. Sejam vocês
mesmos. Tentem não ficar nervosos, porque o plano da Deusa da Lua
está fora de suas mãos. Divirtam-se esta semana.
Sim, é claro.
— Mais uma coisa antes de irem — Beta Alexander entrou, dando um
passo à frente. O olhar dele se fixou no meu. — Se você está atualmente
em um relacionamento com outra pessoa presente, por respeito a este
evento sagrado, por favor, mantenha suas demonstrações de afeto a um
mínimo.
— Cas — eu murmurei quando a multidão começou a se dissipar ao
nosso redor. Removendo seu braço, dei um passo atrás para colocar
algum espaço entre nós. — Acho que seu pai está certo — eu lhe disse. —
Talvez devêssemos ir devagar.
O sorriso de Caspian diminuiu. — Você quer dar um tempo durante a
Cúpula?
— Sim — respondi com um estremecer, na esperança de arrancar as
palavras como um band-aid. — Não é que não possamos passar tempo
juntos, mas acho que devemos ser amigos, não.. amantes.
Caspian mordeu o lábio e acenou com a cabeça.
— É apenas uma semana. Quão difícil pode ser? — Eu me apressei.
— Acho que você não quer que eu responda a isso — respondeu ele.
Ao olhar fixamente para meu namorado, percebi que ele tinha razão.
Se um de nós encontrasse um companheiro na Cúpula, então nunca
mais estaríamos juntos novamente.
Eu poderia nunca mais beijar Caspian.
Só o pensamento fez meu estômago girar.
— Ei. — A voz do Caspian me trouxe de volta. Ele havia recuperado
sua compostura e tocou meu braço. — Eu entendo o que você quer dizer.
Conseguiremos superar isto, está bem?
Ele me deu aquele sorriso fácil que eu amava.
Embora Caspian estivesse machucado e confuso, ele se certificou de
me consolar.
E isso significou mais do que eu poderia dizer.
— Obrigada — eu sussurrei.
Ele puxou sua mão para trás e me deu um último sorriso antes de se
virar.
Vi Caspian se afastar, me perguntando por que parecia que ele estava
levando um pedaço do meu coração com ele.

Mais tarde, Teresa e eu descemos a grande escadaria do hotel. A festa já


estava em pleno andamento.
Mas eu estava mais do que ansiosa.
— Olhe para isto, Ly! — Teresa disse. O lobby havia se transformado
completamente. Uma bola de discoteca refletia o mármore branco e os
acentos dourados, e o espaço estava cheio de lobos se divertindo.
Desejei que eu pudesse ser descontraída assim.
Muitos lobos fizeram questão de permanecer solteiros até sua
primeira cerimônia de acasalamento para evitar as emoções confusas
com as quais eu estava lidando neste momento.
Teresa entrelaçou seu braço com o meu e me arrastou em direção ao
bar.
Enquanto ela pedia nossas bebidas, eu observava a cena ao nosso
redor.
Eu estava a apenas algumas horas de carro de minha cidade natal,
mas me senti como se estivesse em um mundo totalmente novo.
Um mundo de riqueza, poder... e possibilidades.
Um quarteto de jazz tocava perto do bar, e o baixo na música de
dança pulsava do outro lado da sala.
O evento se espalhava até o pátio traseiro, que estava coberto por um
dossel de luzes cintilantes. A multidão era jovem e deslumbrante. Apesar
de todos vivermos nos EUA, os outros convidados pareciam exóticos.
Havia um grupo de caras bronzeadas com cabelos longos e colares de
conchas de puka que reconheci imediatamente como a Matilha do Mar.
Observei como uma menina nerd-chic se juntou à conversa deles. Ela
tocou seus óculos de arame e corou por apenas um momento.
A Matilha Nova Inglaterra, eu adivinhei.
Senti olhos em mim, então me virei para a grande escadaria... e depois
congelei.
Sebastian, o Alfa Real, não vacilou quando nossos olhos se
encontraram. Mas seu olhar azul gelado me pegou de surpresa.
Seus braços fortes estavam cruzados, as mangas de sua camisa de
botão enroladas até os cotovelos. Eu não conseguia desviar o olhar,
imaginando por que alguém pareceria tão sério em uma festa.
Então o olhar de Sebastian se moveu para outro lugar na multidão.
Tentei recuperar minha compostura, amaldiçoando meu coração
acelerado. O alfa não estava olhando para mim, ele estava apenas
distraído.
Eu respirei fundo. Relaxa, Lyla. Havia centenas de pessoas na festa.
Muito mais para ver do que um alfa temperamental.
Uma eclética tropa de espíritos livres cobertos de lantejoulas e tintas
coloridas vagueou do pátio, e eu me perguntava quem eles eram.
— Matilha Adrenalina, fora de Las Vegas.
Eu me virei para ver os olhos marrons sorridentes do Caspian.
Meu coração errou uma batida. Caspian me viu olhando para
Sebastian?
— Acabei de dar um trago no baseado deles no pátio — acrescentou
ele com um piscar de olhos.
Eu vou tomar isso como um não.
Eu dei uma risada. Qualquer nervosismo que eu senti ao vê-lo aqui
desapareceu imediatamente.
— Oi Caspian — disse Teresa, passando-me uma bebida
chocantemente verde.
— Teresa, você até que não está feia — respondeu Caspian e Teresa
revirou os olhos. — O que é a bebida?
— A coisa mais forte que eles tinham. Eles o chamam de 'o pântano'.
Tomei um gole e engasguei. Não era apenas forte, era radioativo.
— Eu preciso de um desses também — murmurou Caspian enquanto
se voltava para o bar.
Levantei meu copo até o de Teresa.
— À melhor semana de nossas vidas — ela brindou.
— Aos amigos que nos fazem passar por isso — respondi.
Cada uma de nós voltou a beber, embora eu só conseguisse tomar um
gole.
— Oh, minha deusa, os caras da Matilha Estrela Solitária têm que ser
os mais gatos — Teresa exclamou enquanto encarava um grupo de
cowboys de jeans. — Eles estão indo para a pista de dança!
Teresa me arrastou pela mão e Caspian nos seguiu.
A música eletrônica ficou mais alta quando chegamos à porta, e então
entramos em um grande espaço repleto de lobisomens dançantes.
As luzes nos rodeavam enquanto Teresa levantava minha mão e me
girava.
Enquanto dançávamos, comecei a me soltar e tomei outro gole
radioativo.
— Parece que encontrei meu povo — alguém gritou sobre a música.
Abaixei minha bebida e observei a garota na minha frente. Ela era
alta, loira, bonita, e claramente extrovertida. Ela parecia uma
supermodelo.
— Eu também sou uma garota do pântano — explicou ela com um
sorriso autodepreciativo, segurando sua própria bebida verde nuclear. —
Eu sou Magnolia!
Ela estendeu sua mão livre e eu a peguei. Seu aperto foi firme.
— Lyla — eu gritei em resposta — e esta é Teresa e Caspian. —
Caspian levantou seu copo e os dois brindaram.
— Bem-vindo à Matilha Real — disse ela.
Ela faz parte da Matilha Real... então... é por isso que ela é tão perfeita...
— Vocês têm uns cômodos legais — Teresa exclamou.
— Obrigada, garota! — Magnolia gritou enquanto dançava.
Com a mudança da canção, as luzes foram diminuindo e os
estroboscópios se tornaram mais intensos. Eu não sabia se era a sala
quente ou a bebida forte, mas precisava apanhar um pouco de ar.
Teresa e Caspian estavam se divertindo com Magnolia, então eu me
afastei.
Desci um corredor estreito e entrei em um quarto vazio.
Puxando a porta de vidro deslizante, pisei em um pequeno terraço
sobre o gramado escuro e prístino.
Sentei-me em uma das cadeiras e suspirei.
A festa era apenas o início da Cúpula, e eu já estava sobrecarregada.
Nesse momento, a porta se abriu atrás de mim.
Alguém se juntou a mim no pátio, e eu me virei para ver quem era.
E depois esqueci de respirar. Era ele.
Sebastian. Parecendo tão preocupado como antes.
Quando ele me notou, parou de repente.
Claramente, ele não estava esperando encontrar ninguém aqui.
Mas a porta já estava fechada atrás dele. Já era tarde demais.
Estava sozinha com o Alfa Real.
— Oh. Olá — disse Sebastian. Então ele se afastou de mim em direção
à paisagem escura diante de nós.
— Oi — respondi, tentando parecer casual. Como se eu não tivesse
me assustado com o fato de que o Alfa Real me pegou bisbilhotando a —
Fleur de Lis.
Sebastian suspirou, e eu vi os músculos de seus largos ombros
relaxarem sob sua camisa.
O que ele está pensando? Ele era um mistério para mim. E, por alguma
razão, eu queria descobri-lo.
— Importa-se que eu me sente com você?
A voz de Sebastian me trouxe de volta à realidade.
— Seja meu convidado — eu respondi. — Bem, na verdade, eu sou sua
convidada.
Ele esboçou um sorriso enquanto se sentava. Fazer o alfa sorrir
parecia uma realização. Ele parecia ser um cara tão sério.
— Bem-vinda. O que você acha da Matilha Real? — Perguntou ele.
Por que o Alfa Real deve se importar com o que eu penso?
— Hum, é legal. — Ele levantou uma sobrancelha, como se me
encorajasse a falar sério. — Quero dizer, eu nunca estive em um hotel
melhor. É que, a Cúpula é, uh... sufocante.
— Nem me fale — respondeu ele com um suspiro.
— Você sabia que na Cúpula do ano passado apenas cinquenta laços
de acasalamento foram formados durante a chamada?
Eu abanei a cabeça. É claro, eu sabia que os números tinham
diminuído ano após ano. Mas apenas cinquenta novos laços de
acasalamento? Apenas uma centena de lobos acasalados?
Isso significava que as probabilidades deste ano eram sombrias.
— É quase como se a Deusa da Lua estivesse brava conosco —
prosseguiu ele. — Entre os números ruins e os malfeitores deste ano, me
faz pensar se deveríamos nos preocupar com a Cúpula.
Ele olhou para suas mãos. Eu mal podia acreditar que ele estava sendo
tão franco comigo.
— Se não houvesse a Cúpula, aqueles 50 lobos não teriam encontrado
seus companheiros — eu disse suavemente.
Ele reencontrou meu olhar. — Isso é verdade. Este é o seu primeiro
ano?
Eu acenei, me perguntando como ele sabia disso. Talvez porque eu
soasse jovem e ingênua. Mas suas próximas palavras me pegaram
desprevenida.
— Foi o que eu pensei. Eu a teria reconhecido — disse ele, com um
sorriso malicioso em seus lábios.
Oh, minha deusa. O Alfa Real está FLERTANDO comigo?!
Meu coração estava acelerado.
Eu imaginava Sebastian como o tipo sério, mas agora eu me
perguntava se havia muito mais nele do que se vê.
— Lyla! O que você está fazendo aqui fora? Tenho te procurado por
toda parte...
Eu me virei para ver Caspian atravessando a porta deslizante. Seu
semblante mudou quando ele reconheceu Sebastian.
Se eu não estava nervosa antes, agora eu definitivamente estava.
— Acho que este lugar não é tão secreto se vocês dois o encontraram
— disse Sebastian.
— Oh, desculpe. Eu não quis dizer... — Eu me apressei.
— Estou brincando. — O alfa franziu a testa. — Sebastian.
Caspian estreitou seus olhos, analisando o alfa.
— Caspian. Eu sou o namorado de Lyla.
— Hmm — Sebastian murmurou desdenhosamente. Ele olhou para
mim, e havia algo ilegível em sua expressão.
Senti-me corada.
E então, nenhum de nós disse nada e o silêncio incômodo se
estendeu, um segundo doloroso atrás do outro.
— Vamos voltar para a festa? Teresa está nos esperando na pista de
dança, — disse Caspian.
— Claro — Sebastian e eu respondemos ao mesmo tempo,
levantando-nos de nossas cadeiras.
O alfa passou pela porta e Caspian tocou meu braço.
— Ele parece... estranho — sussurrou ele, e eu olhei para Caspian com
um olhar de advertência Quando voltamos, a festa estava ainda mais
agitada.
Atravessamos a sala em direção à pista de dança, e foi fácil identificar
Teresa. Ela estava dançando com Magnolia no fundo da multidão, se
divertindo como nunca.
— ALFA SEBASTIAN! — Magnolia gritou.
Quando nos aproximamos, a linda loira atirou seus braços em volta
dele.
— Vejo que você já conheceu meu noivo — gritou ela.
Olhei para Teresa e tentei esconder minha expressão chocada.
O Alfa Real tinha uma noiva?! Isso era algo inédito para alguém que
iria participar de um ritual de acasalamento.
— Parabéns pelo noivado! — Caspian respondeu, parecendo um
pouco feliz demais por eles.
Eu, entretanto, tinha uma sensação estranha em meu estômago.
— Vamos tomar outra bebida? — Eu disse no ouvido de Teresa.
— Garota, você nem precisa perguntar! — Ela respondeu, arrastando-
me para o bar. — Outro pântano?
— Isso mesmo.
Ia precisar dele para conseguir sobreviver a esta festa.

Caspian: Bom dia cabeça sonolenta


Caspian: Que tal explodirmos esta barraca de picolé?

Caspian: Podemos ir para uma aventura

Caspian: Como amigos... ;)

Caspian: Eu já estou com o carro aqui na frente

Lyla: Me dê 15 minutos

Eu sorri para o meu telefone, balançando a cabeça. Olhei para Teresa na


outra cama do quarto do hotel, roncando enquanto ela dormia durante
toda a manhã.
Infelizmente, eu nunca conseguia dormir quando estava de ressaca.
E a sugestão do Caspian não era exatamente relaxante, mas pareceu
divertido.
Após um rápido banho e troca de roupa, abri a porta do passageiro do
fiel Ford de Caspian e me afundei no banco.
— Para onde? — Eu perguntei.
Ele sorriu para mim, e eu o vi piscar o olho através de seus óculos
escuros. Sua barba por fazer estava adorável e seu cabelo estava
despenteado por causa da janela aberta.
— Isso é para eu saber, e para você descobrir.
Meia hora depois, paramos em um estacionamento de terra batida. A
viagem tinha ajudado minha ressaca e eu estava pronta para algumas
explorações.
Ao sair do carro, um sinal chamou minha atenção.
— Cypress Swamp — li em voz alta, balançando minha cabeça. —
Você simplesmente não se cansa do pântano, não é, Cas?
— É minha nova bebida favorita — respondeu ele, enrolando seu
braço em torno da minha cintura. Encostei-me nele, depois me lembrei
de nosso acordo.
Merda! Esta coisa de amigos é mais difícil do que eu pensava.
Eu me afastei e ele levantou as mãos, fingindo inocência.
— Parece que os pântanos são a única coisa que eles têm por aqui —
disse ele.
Começamos por uma trilha florestal. O sol entrava pelas copas das
árvores, e éramos as únicas pessoas ao redor.
— O que você achou da festa de ontem à noite? — Eu perguntei.
Ele encolheu os ombros.
— Foi okay. Não sei, não estou muito interessado na cena da Cúpula.
Muitas pessoas novas, muita pressão. Prefiro estar só com você.
Considerei suas palavras, pensando se Alfa Sebastian era uma das
novas pessoas que Caspian preferia evitar.
Parte de mim concordava com ele. A noite passada também me fez
sentir sobrecarregada, e eu não entendi totalmente o porquê.
Havia pressão para você se arriscar, para fazer novas conexões.
E, claro, para fazer uma conexão importante... para encontrar um
companheiro.
O caminho nos levou a uma passarela de madeira suspensa sobre um
pântano verde néon.
Continuamos, apontando aves e répteis uns para os outros, quando
eventualmente ouvi um estranho murmúrio.
— Isso foi um jacaré? — Eu me perguntava em voz alta.
— Era meu estômago — respondeu Caspian. — Faltei ao café da
manhã e tudo...
— Vamos então dar a volta e encontrar comida para você! — Eu
respondi. — O que você quer? Gumbo? Lagostas?
Eu nomeei todos os pratos regionais que conhecia.
— Eu só quero um hambúrguer — admitiu Caspian.
Retornamos pelo mesmo caminho. O tempo passou rapidamente,
como sempre fez quando estávamos juntos.
Não precisávamos falar o tempo todo. Apenas desfrutávamos da
companhia um do outro.
Até mesmo eu estava novamente com fome com o passar do tempo,
então eu só podia imaginar como Caspian se sentia.
— Puta que pariu! Lyla, espere! — Caspian agarrou meu cotovelo e eu
parei na hora.
— Você quase me causou um ataque cardíaco, em que mundo é que
você está...?
Caspian parecia que tinha visto um fantasma. Ele apontou para o
chão diante de nós... e então o chão se moveu.
Era uma serpente!
— Na verdade, é meio fofa — disse eu.
— Shhhhh! — Caspian me puxou para perto dele, enrolando seus
braços em torno de mim.
Um baixo ruído de chocalho encheu meus ouvidos.
— É uma... ? — Perguntou Caspian.
— Cobra cascavel — respondi.
Sim, elas eram venenosas. Mas se você não as incomodava, elas não te
incomodavam.
Os braços fortes de Caspian me abraçaram ainda mais. — Shhhh, —
ele sussurrou no meu ouvido, me confortando... quando ele era o único
que estava aterrorizado.
Eu sorri contra seu peito, fingindo ser uma donzela em apuros.
Eu olhei a serpente. Ela abanou sua língua comprida e bifurcada, seu
chocalho mantido alto no ar.
E então ela deslizou, para dentro da floresta.
— Consegui! — Disse Caspian, com os olhos arregalados de
admiração.
Eu joguei meus braços ao redor dele.
— Como você sabia o que fazer?! — Perguntei, massageando seu ego
só um pouquinho.
— Eu não sei — admitiu ele. — Eu estava aterrorizado, porra.
Eu recuei, e talvez tenha sido a maneira como ele olhou para mim...
Mas eu não pude resistir. Eu o beijei profundamente, sem reservas. E
ele me beijou de volta.
Ele se afastou, e o olhar em seus olhos âmbar era tão intenso que meu
coração errou uma batida.
— Lyla, que se foda isto. A Cúpula, a chamada do acasalamento...
todas as coisas que nos mantêm separados.
Meu peito doía pela sinceridade em sua voz.
— Eu amo você, Lyla. Eu te escolho. Eu não preciso da Deusa da Lua
para me dizer. Vamos fugir. Agora mesmo... podemos deixar toda essa
besteira para trás.
Caspian lutou para recuperar seu fôlego. Ele parecia tão bonito, tão
certo.
E por que eu não deveria ter certeza também?
Eu amava o homem que estava diante de mim. Eu o conheço.
E no ano passado, apenas cinquenta laços de acasalamento foram
formados na Cúpula.
Por que eu precisava da aprovação da Deusa da Lua quando eu tinha
tudo o que precisava para ser feliz aqui mesmo em meus braços?
Engoli o caroço na minha garganta e encontrei o olhar de Caspian.
Poderia eu realmente fugir com ele?
3
ESPERANÇOSOS E DESESPERADOS
Lyla

Meu coração batia forte no meu peito enquanto as palavras de Caspian


ecoavam em minha mente.
Vamos fugir juntos.
O tempo parecia ter parado enquanto nos encarávamos.
A luz do sol poente brilhava através da copa dos ciprestes acima de
nós, sua luz dourada transformando o pântano em um lugar mágico.
O balançar das folhas ao vento e o murmúrio das águas lentas que
corriam era como o canto da natureza.
As palavras de Caspian pairaram no ar entre nós, carregadas de
esperança. Eu me vi sendo atraída por seus olhos e desviei meu olhar dele
antes que pudesse me afogar neles.
— Se pudéssemos. — Eu sorri, tentando afastar com um riso as
borboletas vibrando em meu estômago.
— Nós podemos — Caspian disse. — O que está nos impedindo?
— Tantas coisas... — Afastei-me dele e olhei para o pântano. — Este
lugar é um lar, Cas. Para onde iremos? Não é como se pudéssemos
simplesmente voltar para nossa alcateia e fingir que nada aconteceu.
A Cúpula era uma cerimônia de lobisomem rica em tradição.
Nenhum lobo escolheria abandonar voluntariamente sua verdadeira
companheira. Era um tabu. Ele estaria rejeitando o presente da Deusa da
Lua.
E isso colocaria um alvo na Alcateia Lua Azul.
— Não podemos simplesmente fazer isso com nossas famílias — eu
disse.
Caspian se aproximou de mim e pegou minhas mãos nas dele. Seu
toque era quente. Confortável.
— Claro, nosso bando pode ter que lidar com as consequências por
um tempo — Caspian começou. — Mas só um pouquinho. A Alcateia
Real tem problemas muito maiores do que dois lobos que fugiram.
Seu sorriso fácil suprimiu um pouco do medo em mim, e de repente
não parecia uma ideia tão ruim.
— Imagine isso, Lyla — Caspian sussurrou. — Só eu e você. Em
qualquer lugar do mundo.
Meu coração disparou com esse pensamento. Podemos fazer as malas
e sair daqui amanhã de manhã.
Para onde iremos?
O que faríamos?
— Eu estava pensando que poderíamos ir para a França primeiro —
disse Caspian. — Ver a Cidade Santa.
— Nós vamos fazer algo seriamente tabu, e a primeira coisa que você
faria é ir para a Cidade Santa dos lobisomens? — Eu perguntei, rindo.
Os olhos de Caspian brilharam com malícia.
— Sim. Eu apertaria a mão da Deusa da Lua e diria a ela 'obrigado por
nada!'
Eu revirei meus olhos. Eu poderia imaginar Caspian fazendo isso com
um sorriso de merda nos lábios.
— E depois que eles o libertarem da prisão, o que acontecerá? — Eu
perguntei.
— Então faríamos uma turnê pela Europa — disse ele. — Ou talvez
Ásia. Ou ambos, por que diabos não? — Ele sorriu e pressionou sua testa
na minha. — Eu não me importo para onde vamos, Ly. Desde que
estejamos juntos.
Fechei meus olhos e me entreguei à fantasia.
Tudo parecia terrivelmente romântico.
A coisa de que os sonhos são feitos.
Quem não gostaria de viajar pelo mundo e passar o resto de seu
tempo com o amor de suas vidas?
Mas é exatamente isso.
Caspian é o amor da minha vida?
Um espinho em minha mente estourou a bolha agradável do meu
sonho.
Um arrepio no fundo do meu coração.
— Não podemos, Cas — eu disse, meu coração pesado com as
palavras.
Caspian suspirou, a frágil felicidade saindo dele com a respiração.
— Você não está curioso? — Eu perguntei, pensando sobre a Cúpula.
— Você não quer ter certeza?
— Eu não diria que estou curioso... — Caspian se afastou de mim, e
eu já sentia falta do calor de seu toque.
— Eu sinto muito. — Eu me senti péssima. — Eu só preciso saber,
para que eu possa deixar tudo isso para trás.
— OK.
— Por favor, acredite em mim, nada me faria mais feliz se
descobríssemos que somos verdadeiros companheiros um do outro — eu
disse. — É apenas...
— Pare, Ly, — Caspian me cortou com um sorriso gentil. — Não se
sinta culpada. Você não é má pessoa por querer saber com certeza. Somos
lobisomens. Está em nossa natureza.
Caspian apertou os olhos contra o brilho do sol poente.
Eu me afastei do brilho também.
Estranho, alguns momentos atrás eu achei o pôr do sol lindo.
Agora só machucou meus olhos.
— Eu também quero descobrir — ele admitiu. — Mas estou mais
assustado do que curioso. Acho que estava apenas tentando evitar.
— Com medo de não estarmos verdadeiramente acasalados? — Eu
perguntei.
— Isso, mas mais do que significaria se não fôssemos. — Ele fez uma
pausa para organizar seus pensamentos. — Isso significaria que tudo o
que tínhamos era uma mentira? Que meus sentimentos por você não
eram reais?
Eu engasguei quando senti meu coração quebrar.
— Não! — Corri até ele e passei meus braços em torno dele.
Pressionei meu rosto em seu peito. — Nunca.
Senti as lágrimas brilhando em meus olhos, mas as pisquei para
dentro. Eu olhei para Caspian quando tive certeza de que elas não
transbordariam.
— Eu te amo, Cas. E nada vai mudar isso... laço de acasalamento ou
não, você sempre será importante para mim.
— Obrigado. — Nós sorrimos um para o outro, olhos enevoados. —
Você também.
Eu me estiquei e fiquei na ponta dos pés, e pressionei meus lábios nos
dele.
Ficamos assim nos braços um do outro por um tempo, nenhum de
nós querendo nos soltar.
— Droga — Caspian disse eventualmente. — Isso ficou sombrio bem
rápido.
— E de quem é a culpa?
— Desculpe, bebê, mecanismo de defesa. — Ele de repente franziu a
testa. — Bem, se o pior acontecer e minha verdadeira companheira for
outra pessoa... Espero que ela seja gostosa, pelo menos.
Eu ri e bati no peito dele.
— Idiota.
Ele sorriu para mim.
O sol tinha se posto atrás do horizonte quando o crepúsculo começou
a se pôr. O chilrear das cigarras e sapos-touro ecoou ao nosso redor.
— É melhor voltarmos — disse Caspian. — Grande dia, amanhã.
— Sim. Grande dia.
Ele pegou minha mão e juntos caminhamos de volta para a casa da
Alcateia Real.
De uma forma ou de outra, toda essa incerteza acabaria amanhã.
Eu só podia esperar que fosse um final feliz.
Sebastian
— Nervoso?
Virei-me quando Caius se sentou ao meu lado no telhado do hotel
Fleur de Lis.
— Tremendo nas minhas botas — eu disse, impassível. Eu olhei para
o pântano que cercava a mansão. Eu examinei a terra que era minha. As
famílias e bandos que viviam naquela terra.
Todas as pessoas pelas quais era responsável.
— Como se eu tivesse tempo para ficar nervoso com a Cúpula.
— Tenho um bom pressentimento sobre este ano — ponderou Caius.
— Foi isso que você disse no ano passado.
— Sim. — Caius acenou com a cabeça solenemente. — Mas este ano,
com certeza.
— Sei.
Eu lancei um olhar de soslaio para o meu beta estoico. Ele tinha sido
o beta do meu pai antes de ser meu. Eu o conhecia desde criança.
Ele nunca foi o tipo de entreter bobagens, mas ele estava inflexível de
que eu encontraria minha verdadeira companheira em cada Cúpula.
Todo ano ele estava errado.
— Você é um romântico incurável, não é? — Eu perguntei a ele.
Ele apenas olhou para mim em resposta, seu olhar sem emoção era a
única resposta que eu precisava.
— Por que você insiste tanto nisso, então? — Eu perguntei.
— Você é o Alfa Real — Caius me lembrou.
Como se eu pudesse esquecer.
— E a matilha precisa de uma Luna.
— Estou noivo de Magnolia.
— Isso é diferente.
Suspirei e dei um tapa em um mosquito incômodo que mordeu meu
pescoço.
— Como é diferente, Caius? Magnolia é perfeita para o papel. Ela é
inteligente e ferozmente leal. Ninguém na Alcateia Real contestaria isso.
— Você tem razão. — Caius acenou com a cabeça. — Magnolia seria
perfeita para a alcateia.
— Então, qual é o seu ponto?
Ele olhou para mim, seus olhos escuros ilegíveis.
— Mas ela não é perfeita para você.
Pisquei, desarmado pela franqueza repentina de Caius.
— Eu me importo muito com Magnolia — eu disse. — Ela é uma das
minhas amigas mais próximas.
— Mas ela não é sua companheira. Sua verdadeira companheira.
Afastei-me dele e olhei para o terreno do hotel. Algumas pessoas
ainda estavam do lado de fora, aproveitando os últimos minutos da luz
do dia para se preparar para a Cúpula de amanhã.
Homens e mulheres ansiosos percorriam os campos, misturando-se e
conversando, na esperança de ver seu verdadeiro companheiro.
Eu podia sentir a ansiedade deles. A excitação nervosa. A única
preocupação deles era se eles seriam ou não abençoados pela Deusa da
Lua amanhã.
Eles não ligavam para a política. Para logística econômica ou relações
entre alcateias.
Eles viveram vidas simples e felizes.
Que bom.
— Infelizmente, nem todos nós temos o luxo de esperar por nossas
verdadeiras companheiras. — Eu fiz uma careta. — Eu fiquei bem todos
esses anos sem uma.
— Tenha um pouco de fé, Sebastian. — Caius se levantou e colocou a
mão no meu ombro. — A alegria de conhecer uma verdadeira
companheira não é algo que você deva descartar tão rapidamente.
Meu beta me deixou sozinho no telhado para meditar.
Eu examinei os esperançosos da Cúpula abaixo de mim.
Poderia uma delas realmente ser minha verdadeira companheira?
Mas quanto mais eu olhava, menos esperançoso me sentia.
Ninguém que eu vi me interessou.
Se ela realmente estivesse lá, eu pelo menos sentiria algo quando a
visse, mesmo antes da cerimônia.
Certo?
Suspirei e me levantei, esticando minhas pernas.
Caius estava errado. Este ano não seria diferente.
Assim que me virei para sair, algo chamou minha atenção. Duas
figuras emergiram do pântano, caminhando de volta para a casa das
alcateias.
Lyla e seu namorado.
Meu olhar foi atraído para ela como uma mariposa para uma chama.
Ela me notou no telhado e fez um pequeno aceno, e de repente me vi
sorrindo.
Eu balancei a cabeça para ela enquanto as palavras de Caius se
repetiam em minha mente.
Este ano, com certeza.
Lyla me deu um sorriso enquanto desaparecia dentro do hotel.
Eu balancei minha cabeça, voltando à realidade.
— Não tenha muitas esperanças, Sebastian — eu murmurei baixinho
para mim mesmo. — Outro ano, outra Cúpula.
4
A CÚPULA
Caspian

— Você está ouvindo, Caspian?


Pisquei e olhei para cima, saindo do meu devaneio.
Meu pai e Alfa Hugo estavam olhando para mim, na expectativa.
Oh, não. Desculpe. Você poderia repetir isso?
Teresa sorriu para mim e eu lancei um olhar feroz para ela.
Meu pai franziu a testa, inclinando-se para a frente na mesa.
— Você será beta um dia. Você tem que levar essas coisas a sério.
— Beta dela? — Eu balancei a cabeça para Teresa. — Desculpe, mas
prefiro arrancar meu próprio pé.
— Caspian! — Meu pai me advertiu.
— É melhor se acostumar com isso, amigo — disse Teresa.
Hugo riu.
— Ah, a paixão dos jovens.
Meu pai olhou para o alfa, se desculpando.
— Como estávamos dizendo — meu pai continuou, mudando de
assunto — não houve indícios de outro ataque rebelde nas fronteiras da
Alcateia Real, mas precisamos ficar alertas. A Alcateia Lua Azul enviou
algumas pessoas para ajudar na vigia.
— Você e Teresa têm que estar extremamente vigilantes durante a
Cúpula — acrescentou Hugo. — Nós sabemos que é um grande dia para
vocês dois, mas você tem a responsabilidade de manter seus
companheiros lobos seguros. Está entendido?
— Sim, Alfa — Teresa e eu entoamos.
Nossa reunião continuou por mais alguns minutos, mas, por mais que
tentasse, não consegui manter o foco.
Hoje eu descobriria se Lyla era minha companheira ou não.
Como eu deveria prestar atenção a uma reunião chata quando o amor
da minha vida seria decidido — ou não decidido — esta noite?
Os outros se levantaram e eu segui o exemplo, um passo atrasado.
Um brilho perverso brilhou nos olhos de Alfa Hugo. Ele avaliou
Teresa e eu.
— E se vocês dois acabassem sendo verdadeiros companheiros?
— Ai credo! — Teresa gritou. — Nem mesmo brinque sobre isso!
Meu pai e Hugo deram uma olhada no meu rosto e riram. A sensação
de puro horror que eu estava experimentando provavelmente
transpareceu.
— Bem, é melhor você torcer para que a Cúpula me dê asas também,
porque irei pular de um penhasco — eu murmurei.
— Eu vou segurar sua mão no caminho até o chão, companheiro —
Teresa disse.
— Está vendo isso — meu pai cantou. — Eles concordaram em algo.
Depois de outra rodada de gargalhadas, Alfa Hugo colocou a mão nos
meus ombros e de Teresa.
— Bem, boa sorte esta noite — disse ele.
— Não coloque isso em nós — Teresa olhou para ele.
— Ei, você nunca sabe — ele brincou. — A Deusa da Lua age de
maneiras misteriosas.
Meu pai e eu saímos da reunião. Arrastei meus pés enquanto seguia
meu pai de volta ao nosso quarto.
— Teresa não seria uma má companheira, sabe — disse papai.
— Você também não — eu gemi. — Cale a boca, velho.
— Ela é perspicaz e muito inteligente — papai continuou. — Ela vai
ser uma excelente alfa.
— Talvez se ela tirar a cabeça da bunda — eu murmurei. — Por que
você está insistindo nisso? Não é como se tivéssemos qualquer poder
sobre quem são nossos verdadeiros companheiros.
— E nem todo mundo consegue um companheiro verdadeiro — meu
pai disse, ficando sombrio. — Se as coisas não derem certo esta noite, e
vocês dois ficarem sem companheiros...
— Isso é sobre Lyla, não é? — Eu interrompi.
Meu pai não respondeu.
Eu sabia disso, porra.
Entramos em nosso quarto e fechei a porta atrás de mim.
— O que você tem contra ela? — Eu exigi. — Eu a amo.
— Não. Você pensa que a ama. — Meu pai suspirou. — É por isso que
os lobos não namoram antes de sua primeira Cúpula.
— Não me diga como me sentir, porra — eu rosnei. Eu me afastei
dele, precisando me acalmar. Entrei no banheiro e joguei um pouco de
água fria no rosto.
Esta noite não pode vir rápido o suficiente.
Lyla

— Estou me vestindo para matar! — Teresa exclamou de alegria.


Sentei-me na cama enquanto ela puxava as roupas cuidadosamente
dobradas da mala e as jogava em nosso quarto, procurando a roupa certa.
— Você sabe que todos nós ficamos nus de qualquer maneira, certo?
— Eu disse aborrecida.
— Bem, claro. Mas estive pronta para isso durante toda a minha
vida... Estou mais preocupada em como ficarei depois da festa — ela
retrucou, olhando fixamente para o espelho enquanto passava várias
roupas pelo corpo.
Ela sorriu e parou em um lindo vestido que eu já poderia dizer que
abraçaria todas as suas curvas. Fiquei com um pouco de ciúme de como
ela estava animada.
Com o vestido pela metade, Teresa fez uma pausa e me observou pelo
espelho.
— Você pode pelo menos fingir que está animada? — Ela perguntou
com um sorriso.
Eu abri um sorriso cheio de dentes para ela, tentando esconder
minhas verdadeiras emoções. Era impossível — ela era minha melhor
amiga e me conhecia melhor do que ninguém.
— Esqueça.— disse ela. — Essa foi uma ideia terrível. — Eu gemi e caí
de volta na cama. — Eu só queria que já tivesse acabado.
O nariz de Teresa se contorceu em desaprovação. — Você pode ter
um companheiro até o final da noite, Lyla. Como isso não é empolgante?
— Eu realmente não acho que isso vai acontecer — eu suspirei. —
Não quero ter muitas esperanças. Além disso, tenho Caspian.
— Você pode ter alguém muito melhor do que o Asspian.
Ignorando seu comentário, me apoiei nos cotovelos, segurando o
olhar de seu reflexo.
— Não importa o que aconteça, eu cansei de esperar. Parece que
nossas vidas inteiras ficaram em espera por nossos companheiros. Eu
cansei dessa merda. Posso assumir o controle do meu próprio destino.
— Aí está a fodona que eu conheço — Teresa sorriu. — Agora venha e
fique sexy para estar pronta para o que quer que o destino jogue em você.
Claro que não trouxe nada sexy. Eu não tinha nada que valesse a pena
usar em todo o meu guarda-roupa.
Então meus olhos encontraram uma calça jeans deitada na cômoda.
— É sua? — Eu perguntei, desdobrando-as.
— Ela costumava ser. Mas ela está muito apertada em mim. Acho que
ficará bem em você. Dê uma chance a ela — ela disse com interesse.
Eu a coloquei e não pude acreditar. Mesmo que Teresa e eu tenhamos
praticamente vivido do guarda-roupa uma da outra por anos, eu nunca
tinha experimentado aquele par de jeans específico.
E por que não?!
Eles abraçaram meus quadris e coxas de uma forma que me fez
questionar se eu ainda estava olhando para a mesma jovem.
Encontrei um top preto simples que combinava muito com o jeans e
fiquei boquiaberta com a pessoa no espelho.
— Porra — Teresa assobiou.
— Acho que você está certa — admiti. — Talvez esta noite seja a hora
de mostrar o que tenho.

A lua cheia estava alta no céu quando passamos pelas últimas árvores até
uma clareira na floresta.
Ela brilhava forte, iluminando a massa crescente de corpos nus que se
formavam em um círculo. O ritual começaria quando todas as nossas
roupas fossem jogadas em seu centro.
Dei um passo para trás ao ver tantos amigos e estranhos nus.
Não estava em meus genes ser tão aberta com meu corpo.
Eu sei, nada típico de uma loba.
— Não sei se consigo fazer isso... — murmurei, dando alguns passos
para trás.
Como um lobisomem, era meu direito permitir que meus instintos
animalescos assumissem o controle — correr solta e me fundir com a
natureza e o mundo ao meu redor.
Mas não pude deixar de me encolher com o pensamento.
— Claro que você pode — ouvi Teresa dizer ao meu lado. — Carpe
diem e tudo mais, lembra?
Ela enfatizou sua declaração e me lembrou que eu estava atrasada
para a festa enquanto ela se movia para um local aberto no círculo, sua
bunda nua capturando meu olhar.
Este era o seu elemento — ela tinha um grande corpo e o tipo de
personalidade que deixava você saber disso. Ela olhou para mim e deu
um aceno rápido.
Enquanto a multidão se acalmava, eu rapidamente tirei minhas
roupas, perdendo o equilíbrio algumas vezes quando meu jeans prendeu
em meus pés.
Eu deslizei meu corpo nu para o lado de Teresa, um braço
escondendo meus seios enquanto minha outra mão escondia minha
virilha.
— Você está incrível, — ela disse baixinho, tentando me inspirar
confiança.
Eu olhei em volta para os vários corpos, e meu olhar se fixou em
Caspian, a alguns metros de distância. Foi a primeira vez que o vi
totalmente nu.
Meu queixo caiu com a visão.
Ele era magro, mas musculoso, seus braços e tórax mais esculpidos do
que eu poderia imaginar. E quando meus olhos passaram pelas linhas em
V em seus quadris, minha respiração ficou presa na garganta.
Eu tinha sentido através de suas calças em mais de uma ocasião, mas
finalmente ver isso na minha frente...
Eu cometi um erro ao não ir até o fim? E se ele encontrasse sua
verdadeira companheira, e eu fosse deixada para sofrer sozinha até que
ficasse enrugada e velha e ninguém me quisesse?
Ele chamou minha atenção enquanto eu o cobiçava. Ele piscou.
Meu peito apertou e a respiração ficou mais difícil.
Isso é um erro. É tudo um grande erro... Meus pensamentos estavam
acelerados.
Mas era tarde demais para voltar.
A multidão ficou ainda mais silenciosa, exceto por alguns sussurros
abafados. Então eu vi dois lobisomens enormes se moverem para o
centro do círculo.
— Aquele é… ? — Eu perguntei.
— Duh — Teresa respondeu, e a realização me atingiu.
Eu estava olhando para o alfa real e o beta real.
— O mais alto é Caius — ela disse simplesmente. — Aquele com o
pelo preto... esse é Sebastian.
Desta vez, ela lambeu os lábios.
Sebastian...
Seu nome ecoou na minha cabeça enquanto eu ficava tão quieta
quanto os outros, observando a bela criatura na minha frente.
Tínhamos conversado na festa, mas pensar que até mesmo seu lobo
poderia ser tão impressionante...
Acho que ele é o alfa real por uma razão.
— Ele não é magnífico... ? — Teresa bajulou, já sabendo a resposta à
sua pergunta.
Eu não pude negar. Ela estava certa. Ele era absolutamente lindo — e
o lobo mais imponente que eu já vi.
O pelo que cobria seu corpo era como a encarnação da escuridão, e a
mancha branca sobre seu olho direito brilhava como uma estrela no céu
da meia-noite.
Eu mal tinha percebido que os outros, um por um, estavam
começando a mudar. Senti uma sensação de alívio sabendo que meu
corpo nu logo estaria coberto de pelos quando me transformasse em meu
lobo.
Levei apenas alguns segundos para mudar. A pontada de dor que eu
normalmente sentia em meus ossos e músculos mudando de forma não
estava mais lá.
Eu só podia sentir o medo e a incerteza tomando conta enquanto
estávamos no círculo, prontos para a próxima parte do ritual.
Beta Caius deu um passo à frente, ergueu o focinho para o céu e
soltou um uivo áspero que me abalou profundamente.
A Cúpula havia começado.
Pronta ou não, meu destino estava me chamando.
5
CHAMADA DE ACASALAMENTO
Lyla

Assim que o uivo de Caius rasgou a noite, todos os lobos presentes se


espalharam pela floresta.
A força do meu lobo me impulsionou como um míssil através da
escuridão, enquanto eu voava pela selva ao meu redor.
Isso também fazia parte da cerimônia.
Deveríamos vagar sozinhos pela escuridão da floresta, longe da luz da
lua.
Quando não pudéssemos mais suportar a solidão, uivaríamos e
esperaríamos que nosso chamado fosse atendido.
Era tudo muito dramático.
Eu não pude deixar de me perguntar por que não podíamos
simplesmente uivar quando estávamos todos juntos na clareira... isso
tornaria toda a cerimônia muito mais rápida.
Haveria menos espera... menos incerteza.
Acho que a Deusa da Lua é uma rainha do drama.
Eu vaguei pelo mato e realmente descobri que estava me confortando
no silêncio.
Os lobos eram criaturas sociais. Nós andávamos em bandos. Estava
em nossa natureza.
Mas estar longe de todos e de tudo aqui na escuridão... longe das
expectativas, da culpa e das decisões...
Era estranhamente reconfortante.
Minha mente vagou de volta para quando Alfa Hugo nos avisou sobre
o ataque rebelde alguns dias atrás.
É assim que é ser um rebelde?
É
É esta a paz pela qual lobos decidem fugir de suas alcateias?
Um galho se mexeu bem acima de mim e eu hesitei enquanto olhava
para cima, verificando se havia ameaças.
Uma coruja pousou em um galho acima de mim, seus olhos grandes
olhando para mim na escuridão.
Eu balancei minha cabeça tristemente.
Estar sozinha pode ter sido bom no momento, mas eu sabia que não
tinha sido feita para esse tipo de vida.
Eu nunca poderia viver a vida de um rebelde.
E eu estava honestamente com medo de ficar sozinha.
Um uivo cortou meus pensamentos, o som surpreendentemente
próximo. Nem um momento após, outro uivo respondeu, e uma onda de
felicidade cresceu dentro de mim.
Alguém encontrou seu companheiro.
Curiosa, avancei em direção ao som.
Eu me esgueirei pela vegetação rasteira, tomando muito cuidado para
não ser vista e interromper o momento especial.
Enfiei meu rosto em alguns arbustos e lá estavam eles.
O novo casal feliz.
Teresa!
Ela estava beliscando e acariciando um lobo que eu nunca tinha visto
antes. Ele devia ser membro de uma alcateia diferente.
A maneira como eles se olhavam nos olhos parecia tão íntima e
privada que me senti errada por ter vindo dar uma espiada.
Eles correram juntos para a clareira, prontos para solidificar seu novo
vínculo sob a luz da lua.
Eu podia ver agora que o ritual não era apenas uma tradição estúpida.
Ele tinha verdadeiro poder sobre nós.
Teresa nunca teria conhecido seu companheiro se não fosse pela
Cúpula.
Agora, com sorte, meu verdadeiro companheiro está mais perto de casa...
Outro uivo soou na noite.
E depois outro.
Foi uma reação em cadeia ao passo que os lobos soltavam seus
próprios gritos, enchendo a noite com uivos estremecedores.
Escutei com atenção, meu coração batendo forte na garganta.
Mas os uivos do meu companheiro não faziam parte da multidão.
Algumas chamadas tiveram resposta.
Outros se repetiam continuamente, seu desespero se tornando cada
vez mais aparente.
Seus uivos ficaram sem resposta.
Eles não iriam encontrar seu verdadeiro companheiro esta noite.
Mais uma vez, a Deusa da Lua parecia amaldiçoar as alcateias,
deixando muitos para trás para tentar continuar uma vida de solidão
enquanto seus amigos e familiares começavam de novo.
Uma pontada de medo me apunhalou.
Essa seria eu?
Eu teria que viver o resto da minha vida sozinha?
A incerteza e a solidão tornaram-se insuportáveis.
Eu podia sentir um uivo borbulhando dentro de mim, incapaz de ser
reprimido.
Eu gritei minha própria chamada noite adentro, esperando receber
uma resposta. Coloquei minha alma nela, uivando para que todos os
lobos do mundo pudessem ouvir.
Receberei uma chamada em troca?
Será do Caspian?
Contei um fôlego.
Dois.
Contei os batimentos cardíacos até ouvir meu companheiro me
chamando.
Mas minha única resposta foi o silêncio frio da noite.
Meu companheiro não era Caspian.
Meu companheiro nem estava aqui.
Eu balancei minha cabeça. Talvez ele simplesmente não tenha me
ouvido.
Reuni minhas forças para uivar novamente, mas só consegui deixar
escapar um gemido vacilante.
Eu estava me enganando. Não havia como meu companheiro não ter
ouvido o meu chamado.
Deprimida, cansada e insegura, abaixei minha cabeça. Esta noite só
fortaleceu minha crença de que nunca encontraria um companheiro.
Haveria outros rituais, mas será que eu ainda gostaria de fazer a
caminhada em busca do amor ano após ano, apenas para ser humilhada
pelo silêncio que se seguiria ao meu chamado...
Pelo menos eu ainda tinha minha família e Teresa — mas temia que
seu novo companheiro substituísse todos os papéis em sua vida,
especialmente o papel de melhor amiga.
Eu estava prestes a desistir e voltar à minha forma humana quando
finalmente ouvi...
Um uivo agudo...
Foi mais poderoso do que eu jamais poderia imaginar — me abalou
mais profundamente do que qualquer outra chamada.
Por instinto, eu uivei de volta, minha voz mais forte do que eu
percebi.
O uivo veio mais uma vez e a esperança ganhou vida dentro de mim.
O desespero que eu estava sentindo se transformou em pura alegria.
Eu não estava imaginando isso. Esse era meu companheiro.
E ele estava esperando por mim.
Eu corri pela floresta, meu corpo se movendo puramente por instinto.
Corri mais rápido do que jamais corri em toda a minha vida. Desviei das
árvores e saltei sobre arbustos. Eu era um míssil em busca de calor,
prestes a acertar meu alvo.
Quem é?
Minha mente disparou.
É o Caspian?
O rosto de outro homem apareceu em minha mente e meus olhos se
arregalaram.
É... outra pessoa?
Eu atravessei as árvores até chegar em uma clareira menor e cavei
minhas patas no chão para desacelerar.
Lá estava ele.
Meu companheiro.
Esperando por mim.
E eu não conseguia acreditar para quem estava olhando.
Você só pode estar brincando.
Eu olhei para meu companheiro, meus olhos arregalados em choque.
Eu só podia ver suas costas, mas a cor de seu pelo era inconfundível...
Preto como a noite nos envolvendo.
Mas isso não poderia estar certo... O lobo na minha frente certamente
não era meu verdadeiro companheiro.
Ele se virou e meu coração errou várias batidas.
Meus medos se agravaram quando notei a mancha branca de pelo
acima de seu olho direito.
Ele era meu oposto completo.
Meu lobo tinha pelo branco e uma mancha preta sobre meu olho
esquerdo.
Eu era o yin para o seu yang.
Nossos olhos se encontraram e, naquele momento, comecei a
entender...
O ritual funcionou.
E por causa disso, minha vida e tudo que eu conhecia nunca mais
seriam as mesmas.
Sebastian, o alfa real.
Líder dos lobisomens.
Ele não era mais apenas o alfa real...
Daquele momento em diante, ele era meu companheiro.
O alfa real me olhou de cima a baixo, seu nariz se contraindo
enquanto ele sentia o meu cheiro.
Ainda não tínhamos mudado para nossas formas humanas, e por isso
eu era grata. O mundo parecia girar ao nosso redor na velocidade da luz.
Todo o meu ser parecia desequilibrado e perfeitamente alinhado ao
mesmo tempo.
Mesmo como um lobo, meu companheiro era lindo de se olhar, e o
novo cheiro que eu captei estava me deixando louca.
Eu me perguntei o que ele pensava de mim enquanto eu observava
seu nariz se contrair.
Antes que eu pudesse me preocupar muito com isso, Sebastian
mudou para sua forma humana, completamente nu.
Tentei desviar meu olhar dele, mas era impossível. Quando homem,
ele era esculpido como uma estátua grega, os músculos esculpidos como
se fossem formados de mármore.
— Mude, — ele disse para mim, sua voz profunda e rouca.
Fiz o que ele disse, o desejo de falar com meu novo companheiro em
forma humana era insuportável.
Comecei a mudar, e o pelo branco que cobria meu corpo desapareceu,
expondo minha pele pálida.
Meus braços e mãos imediatamente cobriram meus seios e sexo, meu
olhar abaixado.
Eu podia sentir seus olhos famintos percorrendo meu corpo.
Ele gosta do que vê?
— Olhe para mim, — ele ordenou.
Meus olhos se ergueram para encontrar os dele e fiquei sem fôlego.
De alguma forma, ele era ainda mais bonito de perto.
Seus incríveis olhos azuis queimavam com a mesma intensidade
incomparável de quando ele estava na forma de lobo.
Seus pelos faciais estavam aparados, deixando apenas uma barba por
fazer para acentuar suas maçãs do rosto salientes e nariz estreito.
Seu cabelo loiro estava penteado para cima e para trás, destacando a
linha acentuada de sua mandíbula.
— Eu não acredito — ele disse suavemente.
— Es-essa é a minha fala — eu gaguejei.
Seus olhos vagaram para cima e para baixo no meu corpo, e seu olhar
deixou um rastro de arrepios ao longo da minha pele.
Quando conheci o Alfa Real no jantar, nunca, em meus sonhos mais
loucos, teria esperado que ele fosse meu companheiro.
Seu olhar pousou em minhas mãos, que cobriam as partes mais
íntimas de mim.
— Por que você está se escondendo de mim, Lyla?
— Desculpe. Não estou acostumada a ficar nua na frente dos outros...
— admiti.
Ele sorriu, mostrando seus dentes perolados.
— Você é uma lobisomem. Sempre existe a possibilidade de ficarmos
nus.
Desesperadamente, olhei para baixo, meu olhar passando por seu
torso musculoso.
Eu engoli em seco, e uma vibração que se originou no meu estômago
desceu pelo meu corpo.
Um rubor aqueceu minhas bochechas quando uma umidade
repentina se espalhou entre minhas pernas, apenas aumentando meu
desejo por roupas.
Já era ruim o suficiente estar exposta, mas estar exposta e excitada era
algo que eu não estava totalmente pronta para lidar...
Certamente ele pode cheirar meu desejo?
O sorriso que se espalhou por seu rosto confirmou minha
preocupação.
Eu não esperava que nosso primeiro encontro como companheiros
fosse tão intenso.
E pelo jeito que os olhos de Sebastian me devoraram...
Eu engoli em seco.
As coisas estavam prestes a ficar muito mais selvagens.
6
COMPANHEIROS VERDADEIROS
Lyla

Eu estava lá, completamente nua diante do Alfa Real.


Meu companheiro.
Fiquei tonta só de pensar nisso.
Os olhos de Sebastian queimaram os meus, e eu poderia dizer que ele
sentiu minha incerteza.
— Eu quero que minha companheira se sinta confortável perto de
mim. Mas isso só pode acontecer se você permitir… — disse ele
calmamente.
Com cada grama de força que pude reunir, forcei minhas mãos ao
meu lado, revelando tudo o que eu era.
Eu o ouvi respirar rápido enquanto as batidas de seu coração se
aceleravam.
Mesmo em nossas formas humanas, tínhamos a maioria de nossos
instintos de lobo.
Sentime bem em saber que o afetava da mesma forma que ele a mim.
— Você é absolutamente linda.
Nunca antes essas simples palavras fizeram todo o meu corpo
queimar de desejo.
Dei um passo em direção a ele, a necessidade de estar perto dele era
primordial.
— Obrigada — eu me forcei a dizer. — Você é… uhhh...
Minha voz sumiu enquanto eu procurava as palavras que me
escaparam.
A floresta ao nosso redor estava carregada de uma sensação que eu
nunca havia sentido antes. Pelo menos não tão intensamente.
Meu corpo doía para tocá-lo e minha mente estava muito disposta a
obedecer.
Eu dei mais um passo à frente.
Sebastian estendeu a mão, sua palma voltada para cima no pequeno
espaço entre nós.
Uma oferta.
Uma pergunta.
Mas antes que eu pudesse segurá-la, um rosnado feroz irrompeu de
seus lábios e ele me puxou para trás.
Um gemido baixo me escapou quando seus dedos roçaram meu
pulso. Minha pele queimou com seu toque. Meu desejo por ele pulsou
mais forte.
E então o momento se quebrou de uma vez.
— Lyla? — uma voz veio das árvores.
Eu estava tão hipnotizada pela flexão e puxão do músculo nas costas
poderosas de Sebastian que quase não escutei.
Sacudindo a luxúria da minha mente, olhei por trás do ombro do meu
novo companheiro.
Sebastian soltou outro grunhido, estendendo um de seus braços
musculosos para me impedir de passar.
Meus olhos focaram na forma pálida ao longo da linha das árvores.
Meus olhos se arregalaram quando reconheci quem estava ali.
— Caspian?
Caspian

Eu vaguei pela floresta, humilhado pelo silêncio que se seguiu ao meu


chamado.
Meus piores medos haviam se tornado realidade.
Lyla e eu não éramos companheiros.
Não só isso, mas minha companheira não estava na Cúpula.
Lyla encontrou seu companheiro?
Meu coração doeu com o pensamento.
Eu estava vagando pela floresta, voltando para a clareira quando a vi.
Ela estava em sua forma humana em uma clareira, quando de repente um
rosnado feroz irrompeu de onde ela estava.
Avancei, querendo proteger minha namorada.
Mas então eu vi que ela não estava sozinha.
Ela estava com o alfa real.
Ela estava com seu companheiro.
E meu coração se partiu em um milhão de pedaços minúsculos.
Lyla

— Desculpe, — Caspian murmurou. Ele olhou para o chão quando


percebeu o que viu. — Vou deixar vocês dois sozinhos.
— Caspian, espere! — Chamei. Mas ele já havia partido, afastando-se
na escuridão da floresta.
— Deixe-o ir — Sebastian rosnou. Ele se aproximou de mim e passou
os braços em volta de mim. Seu cheiro acendeu a luxúria dentro de mim.
Foi tão intenso que fiquei impotente sob o sentimento.
Um desejo tão intenso que quase me consumiu.
É assim que é estar acasalado?
As mãos de Sebastian deslizaram para meus quadris. Seu toque era
quente e gentil, mas eu não podia negar a energia sexual que estava
surgindo entre nós.
Eu saí de seus braços.
— Eu sinto muito. Mas tudo isso está acontecendo rápido demais.
Não estou acostumada com isso.
— Você não está feliz por ter me encontrado? — Sebastian perguntou.
Eu recuei devagar.
— Claro que estou! Mas eu não esperava encontrar meu
companheiro... muito menos...
Minha mente estava girando.
Tudo parecia tão novo, intenso e repentino...
Fechei meus olhos e vi o choque e a dor no rosto de Caspian.
Oh, Deusa... o que eu vou fazer?
Senti Sebastian colocar seus dedos embaixo do meu queixo, e ele
segurou meu rosto até que eu abri meus olhos para olhar para ele.
A feroz intensidade em seu olhar se foi. Foi substituído por algo mais
macio.
Mais gentil.
— Eu consigo entender como isso pode ser um choque para você —
ele começou. — Esta é sua primeira Cúpula, correto?
Eu balancei a cabeça, meu coração batendo forte na minha garganta.
— E é claro que você não pode simplesmente esquecer a vida que
você tinha antes... — Sebastian suspirou. — Tenho certeza de que
Caspian significou muito para você.
— Significa — eu o corrigi.
A mandíbula de Sebastian apertou e eu pude ver a raiva queimando
em seus olhos. Mas ele fechou os olhos e respirou fundo, desejando se
acalmar.
— Nós somos verdadeiros companheiros. A Deusa da Lua se
certificou disso. Mas não vou forçá-la a ser minha Luna. — As palavras
que ele falou soaram robóticas. Como se ele estivesse se esforçando para
dizer essas coisas.
Meus olhos se arregalaram.
Luna? Eu?
— Então, isso significa...? — Eu comecei.
— Isso significa que isso não é obrigatório até que marquemos um ao
outro. Significa que tentarei conter o desejo que sinto de tomá-la em
meus braços e reivindicá-la.
Senti meu sexo apertar de desejo com suas palavras.
— Isso significa que você ainda tem uma escolha, Lyla. Caspian ou eu.
Senti meu mundo desabar ao meu redor.
Como diabos eu devo decidir sobre algo assim?
— Vamos nos preparar para seu futuro papel de Luna enquanto isso
— ele continuou. — Mas você tem até o final da Cúpula para decidir.
Entendeu?
Eu apenas acenei com a cabeça, e depois de um olhar final, Sebastian
afastou seus olhos dos meus.
O vácuo que se formou ao nosso redor pareceu estourar. A floresta
voltou à vida mais uma vez.
— Venha — ele disse suavemente.
Eu só pude segui-lo, para fora da floresta e sob a luz da lua.
Eu apertei os olhos e observei seu brilho prateado, minha mente em
completa desordem.
O que devo fazer agora?

Puta merda.
Isso foi tudo que pude pensar enquanto olhava para a grande mansão
que estava diante de nós.
A Casa da Alcateia Real era ainda mais impressionante de perto.
Banhada pelo luar, a arquitetura de pedra era misteriosa e de tirar o
fôlego.
As janelas iluminadas pareciam calorosas e acolhedoras, mas me
lembrou que outros estavam esperando lá dentro para conhecer a nova
companheira de seu alfa.
O sorriso de Sebastian me arrancou do meu devaneio.
Ele estendeu a mão e eu aceitei, permitindo que ele me ajudasse a sair
do carro, empurrando para baixo a onda de desejo que o toque causou.
Ocorreu-me a ideia de que os outros deveriam voltar logo da
cerimônia. Eu os imaginei voltando ao Fleur de Lis, celebrando os casais
bem-sucedidos com comida, bebida e dança.
Imaginei que o alfa real estava isento dessa tradição.
Senti minhas pernas enfraquecerem enquanto nos aproximávamos
dos grandes degraus que conduziam às portas da frente da casa da
alcateia.
— O que estamos fazendo aqui?
— Esta é sua nova casa — Sebastian explicou. — Você vai ficar aqui.
— Isso é um pouco presunçoso da sua parte — eu disse a ele, puxando
com mais força a mão que ele estava me guiando. — E a minha mochila?
O aperto de Sebastian ficou mais forte.
— Nós informamos sua alcateia sobre a mudança nos planos — ele
disse com naturalidade.
Estava claro que ele estava acostumado a ter qualquer coisa com um
estalar de dedos.
— A Alcateia Lua Azul já começou a se mudar para uma ala separada
desta mansão durante a Cúpula. Como sua alcateia de origem, eles serão
homenageados.
Soltei um suspiro de alívio sabendo que veria rostos familiares
novamente em breve.
— Obrigada. Vou precisar falar com eles. E as minhas coisas?
— Mandei alguém para recolher todos os pertences necessários.
Minha frustração aumentou.
— Você enviou um estranho para vasculhar meus pertences pessoais?
Eu arranquei minha mão da dele, interrompendo o progresso de
nosso desembarque pouco antes das enormes portas da frente.
— Sim, eles serão colocados em nosso quarto.
— Nosso quarto?!
Foi tudo demais para mim.
Isso porque estávamos — indo devagar,
Em menos de duas horas, deixei de ter uma relação de confiança e de
longo prazo com alguém que escolhi, para ser lançada a um estranho
pelo destino.
Não só isso, mas meu novo companheiro havia sido territorial,
possessivo e mandão desde o segundo que nos conhecemos.
Minhas emoções cruas e hormônios cozidos juntos em um coquetel
tóxico.
Tudo parecia fora de controle.
Eu não conseguia respirar.
Senti meu braço subir e tentei me conter, mas era tarde demais.
WHAP!
A queimadura se espalhou pela minha palma enquanto eu estava em
estado de choque, mortificada por ter acabado de dar um tapa no rosto
do alfa real...
Sebastian soltou um grunhido profundo, passando a mão pelo cabelo
agora desgrenhado.
Eu abri minha boca para me desculpar. Ou talvez para me defender.
Eu não tive a chance de descobrir antes que Sebastian me
pressionasse entre as portas da Casa da Alcateia Real e seu corpo.
Seu peito estava colado ao meu. Seus olhos cheios de fúria estavam
me mantendo presa no lugar junto com suas mãos.
Eu engasguei com a proximidade repentina. Com a sensação de seus
quadris pressionando meu estômago.
É isso que é ter um companheiro?
Este constante empurrão e puxão de domínio. Esta chicotada da raiva
para a luxúria?
Nesse caso, eu não tinha ideia de por que desejei isso por tanto
tempo.
Talvez eu apenas tenha tido azar. Eu certamente nunca vi meus pais
se comportarem dessa maneira.
Ou talvez a Deusa da Lua cometeu um erro?
— Você já terminou? — A voz de Sebastian era um estrondo profundo
e perigoso.
Eu podia ouvir a batida irregular de seu coração.
Senti o desejo sob sua raiva.
Pelo menos eu não era a única lutando para controlar meus
sentimentos.
Eu balancei a cabeça uma vez.
— Sebastian — uma voz chamou.
Nossas cabeças se viraram para encarar um homem mais velho que
apareceu no patamar ao nosso lado.
Ele olhou para nós dois, uma emoção ininteligível em seus olhos
enquanto ele acariciava sua barba grisalha.
— Precisam de você na fronteira leste.
Meu pulso acelerou por um novo motivo quando Sebastian se afastou
de mim.
— Os bandidos estão de volta? — Eu disse.
— Fique aqui — Sebastian ordenou, ignorando minha pergunta.
Ele e o homem mais velho desceram os degraus, se transformando
antes de atingirem o chão e adentrarem a noite.
Encostei-me na porta.
O que devo fazer agora?
Ele realmente espera que eu fique no degrau da frente até que ele volte?
Do interior do quarto, bateram na porta.
— Você gostaria de entrar, madame?
Eu pulei para longe da porta, e ela se abriu lentamente para revelar
uma mulher no que parecia ser uma fantasia de empregada doméstica
francesa.
Eu quase bufei. É claro que ele faria sua equipe se vestir assim.
— Fui instruída a levá-la ao seu quarto — disse a empregada,
segurando a porta aberta.
— Meu quarto? — Eu disse, acrescentando ênfase extra à primeira
palavra. — Mas Sebastian disse...
— Alfa Sebastian acaba de me informar via link mental que você
prefere sua própria suíte. Isso está correto?
Surpresa com a mudança repentina, senti minhas defesas caírem.
— Bem... sim, isso seria ótimo, obrigada.
Com uma respiração final para me acalmar, eu pisei na soleira.
Era hora de reagrupar antes que meu companheiro voltasse para casa.
Sebastian
Eu pairava fora de sua porta, hesitante em bater.
Eu fiz uma careta com a sensação estranha no meu estômago. Eu
estava nervoso. Nenhuma mulher me fez sentir assim antes.
Mas Lyla era diferente.
Ela é minha companheira. Minha futura Luna.
Eu parei e balancei minha cabeça.
Se ela decidir ser.
Juntei minha coragem e bati.
— Posso entrar? — Perguntei.
— Sim — foi a resposta.
Apenas o som de sua voz me deixou louco de desejo. Respirei fundo
para me recompor.
Passos de bebê.
Entrei e a vi sentada na cama, vestindo nada além de seu fino pijama
de seda.
Deusa me ajude.
— O quarto é do seu agrado? — Eu perguntei rigidamente.
Eu era o alfa da Alcateia Real; o alfa que estava acima de todos os
outros.
E ainda assim, esta plebeia da Alcateia Lua Azul me deixou no limite,
com suas explosões repentinas e sua ardente vontade irritante e atraente
ao mesmo tempo.
A bênção da Deusa da Lua é uma maldição tanto quanto é um presente.
— Sim, obrigada por me permitir meu próprio espaço — ela rebateu.
Lá estava ele novamente.
Uma parte de mim queria dar um passo à frente e eliminar esse
espaço entre nós. Eu queria empurrá-la para baixo no colchão macio e
sentir sua pele macia sob meus dedos.
Eu repreendi esses pensamentos.
Ela não estava pronta ainda, isso estava claro.
— Ficou muito claro antes que era importante para você — eu disse,
enfiando as mãos nos bolsos para que não ficasse tentado a estender a
mão para ela. — Não estou acostumado com as pessoas me dando
ordens.
Lyla inclinou a cabeça com as minhas palavras, refletindo sobre elas.
Eu não era bom em desculpas, mas essa foi a melhor tentativa que
pude fazer.
Ela deixou o silêncio se estabelecer entre nós, e eu me perguntei
como exatamente poderíamos fazer isso funcionar.
Se este emparelhamento da Deusa foi um desafio, foi um bom
desafio.
Mas fui criado para ser um alfa.
Estava no meu sangue.
Eu nunca desisto de um desafio.
Ou perco um.
Suspirei e atravessei a sala.
Lyla puxou o cobertor grosso da cama para cobrir o peito, ainda em
guarda.
Eu me inclinei contra uma das coLunas da cama enquanto olhava
para ela.
— Você está desapontada que a Deusa me escolheu como seu
companheiro? — Eu perguntei.
Um flash de surpresa coloriu seus olhos. Parecia que ela estava
pensando da mesma forma que eu. Sempre imaginei que, quando
encontrasse minha verdadeira companheira, as coisas iriam
instantaneamente se encaixar entre nós. Que nos apaixonaríamos
profunda e incontrolavelmente imediatamente.
Mas a realidade nunca é tão simples.
Mesmo quando se trata de laços místicos com seu suposto —
verdadeiro companheiro.
Lyla parou por um momento para pensar sobre minha pergunta e
uma pontada de incerteza atingiu meu estômago.
E se ela não quiser isso?
Lyla
Eu olhei para Sebastian por um momento, sem saber como formular
minha resposta.
Ele me perguntou algo semelhante antes. Naquele momento, eu não
havia entendido a intenção por trás da pergunta.
Agora, com suas defesas baixas, pude ver que ele se importava com a
resposta.
Que ele se importava muito.
— Eu... — Sua intensidade repentina me fez tropeçar em minhas
palavras. — Eu acho que eu pensei que a Deusa tinha nos abandonado.
Fiquei desiludida com tudo isso. Estou surpresa. Não fiquei desapontada.
Ele pareceu considerar minhas palavras por um momento, então
pigarreou. Foi alívio o que vi em seu rosto?
— Sua alcateia chegou e eles estão se acomodando enquanto
conversamos — ele disse, mudando de assunto sem muita sutileza.
— Obrigado, Alfa Sebastian.
— Só Sebastian está bom.
Eu balancei a cabeça, aceitando a pequena permissão e decidi
aproveitar sua generosidade atual para obter mais informações.
— O homem que veio atrás de você, ele disse que você era necessário
na fronteira. Houve outro ataque?
Sebastian cerrou a mandíbula. Eu poderia dizer que ele estava
lutando para decidir quanta informação me dar.
— São apenas alguns bandidos testando nosso tempo de reação —
disse ele. — Tentando encontrar buracos em nossas defesas. Nada que
minha equipe não consiga lidar.
Eu me endireitei, animada por ele estar falando. Essa foi a melhor
comunicação que conseguimos até agora.
O movimento fez com que os cobertores caíssem até minha cintura.
Os olhos de Sebastian caíram para o meu peito e eu tive que lutar
contra o desejo de me cobrir novamente.
Eu sabia que a seda fina do meu pijama fazia pouco para me cobrir.
Não havia dúvida em minha mente que ele podia ver meus mamilos
duros através do material.
A onda simultânea de constrangimento e excitação era muito
confusa.
Ele era meu companheiro. Ele deveria me desejar, e eu a ele.
Mas ele também era um estranho. Nossa necessidade um do outro
não foi construída sobre nada. Não houve uma vida inteira de história
nos unindo.
Em vez disso, fomos apanhados por uma tempestade de luxúria e
frustração, como se ambos tivéssemos engolido poções do amor
defeituosas.
O leve alargamento nas narinas de Sebastian me disse o que eu já
sabia.
Ele gostou do que viu.
E eu não podia fingir que sua luxúria por mim não era atraente.
Rosnei e arrastei meus pensamentos nebulosos e hormonais de volta
à ordem.
— O que você espera de mim como Luna?
Sebastian arqueou uma sobrancelha.
— Você é obrigada a ser minha escrava sexual e produzir meu
herdeiro.
Eu engasguei, minha boca aberta.
— Você não pode estar falando sério.
De repente, a exposição foi demais e eu agarrei as cobertas, puxando-
as de volta sobre meu peito.
Sebastian abriu um sorriso luminoso.
— Sou conhecido por fazer piadas ocasionais.
— Isso foi maldade — eu disse, jogando uma das cinco milhões de
almofadas decorativas do quarto nele.
Sebastian a pegou facilmente e se sentou na beira da cama.
— Você vai ser minha segunda no comando. O coração da alcateia.
Eu balancei a cabeça, tentando não deixar a pressão de suas palavras
me esmagar. Eu sabia o que era uma Luna, mas nunca esperei me tornar
uma.
— E meu papel como sua companheira? — Eu perguntei baixinho,
meu batimento cardíaco acelerando.
Ele respirou fundo.
— Isso você decide.
Nossos olhos se encontraram, o cheiro inebriante de desejo
engrossando em torno de nós mais uma vez.
— Eu quero que isso funcione, você sabe — eu admiti.
Ele sorriu.
— Eu não posso te convencer a ficar no meu quarto, posso?
— Sem chance.
— Então, boa noite, Lyla.
Eu caí de volta na minha cama quando a porta se fechou atrás dele.
Talvez minha primeira impressão não esteja certa.
Talvez o destino não esteja sendo tão cruel comigo, afinal.
Talvez o alfa real seja um homem melhor do que eu pensava
originalmente.
7
PENSAMENTOS SÓBRIOS
Lyla

O dia seguinte foi um borrão.


A notícia se espalhou. O Alfa Real encontrou uma companheira.
Eu fui de ninguém para a fofoca do mundo dos lobisomens em uma
única noite.
Todos da Alcateia Lua Azul haviam se mudado para a Casa da Alcateia
Real, e todos estavam em êxtase. Principalmente Teresa. Ela se
emocionou sobre o quão sortuda eu era — mas obviamente não tão
sortuda quanto ela.
O nome de seu companheiro era Reed. Eu achei fofo que ela já estava
perdidamente apaixonada por ele.
Se ao menos meu vínculo de acasalamento com um certo alfa fosse
tão simples...
Eu não tinha visto Caspian desde aquela noite.
Eu estava muito preocupada, mas, por mais que tentasse, não
consegui encontrá-lo.
Entre inúmeras apresentações e tentando aprender tudo o que podia
sobre a Alcateia Real, eu mal tinha tempo para mim.
Já era tarde da noite e finalmente consegui respirar para ficar sozinha
com meus pensamentos. Eu caminhei pelos jardins atrás da casa da
alcateia, apreciando o perfume das flores na brisa noturna.
De repente, alguém me agarrou por trás.
Meu cérebro entrou automaticamente em modo de luta, meus
instintos de lobisomem entrando em ação.
Com todas as minhas forças, dei uma cotovelada em meu atacante.
Eu era forte e bem treinada, mas ele tinha o benefício da surpresa.
— Ai — ele gritou.
Aproveitei seu atordoamento momentâneo para rolar para fora de seu
alcance... e então percebi que meu atacante não estava revidando.
Balançando a cabeça, olhei para o corpo esparramado na terra diante
de mim.
— Caspian?!
Ele acenou fracamente com um braço em resposta. Por seus olhos
vermelhos como sangue e o cheiro de gim em seu hálito, eu poderia dizer
que ele estava bêbado.
Como diabos isso aconteceu?
Com toda a comemoração desde o ritual, não teria sido difícil para ele
encontrar álcool.
— O que diabos você está fazendo aqui? — Eu exigi.
— Indo para o meu quarto — ele disse simplesmente. Então, com
mais emoção: — Sozinho Eu bufei, me levantando do chão. — Bem,
vamos lá, vou ajudá-lo a entrar.
— Oh, não — disse ele, balançando a cabeça. — Eu não moro onde
você mora.
— O que você quer dizer? — Eu disse, oferecendo a ele minha mão.
Caspian aceitou, deixando-me colocá-lo de pé. Uma vez de pé, ele
cedeu contra mim.
— Você não sabe? Vou ficar no Fleur de Lis.
Dei um passo em direção a casa da alcateia, tentando não cambalear
sob seu peso.
— Não, Cas. Você se mudou para cá com o resto do nosso bando.
Caspian balançou a cabeça novamente.
— Não — disse ele, enfatizando o o. — O alfa real disse que eu não
era permitido.
Eu parei no meio do caminho, quase derrubando Caspian.
— Ele o quê?
Meus dentes cerraram-se. Fechei os olhos, respirando fundo e me
acalmando.
Um problema de cada vez.
— Até que parece um elogio... ser considerado uma ameaça pelo alfa
real — ele disse com um arroto.
— Acredite em mim, você não é uma ameaça.
Ele olhou para mim com o coração partido, e eu sabia que tinha me
expressado errado. Mas se ele pudesse se ver naquele momento, ele teria
concordado.
Eu me arrastei para frente novamente.
— Vamos.
Seus olhos se arregalaram quando ele tropeçou ao meu lado.
— Não estou procurando mais problemas.
— Então você não vai encontrar nenhum — eu disse, afastando o
cabelo de sua testa. — A Alcateia Lua Azul é minha família. E minha
família fica na minha casa. Além disso, não posso carregá-lo de volta para
o hotel.
Os olhos de Caspian pareceram focar, perfurando a névoa de álcool.
Ele me deu um abraço. Eu devolvi, desejando que Sebastian pudesse me
ver. Sebastian tinha me dito que eu tinha até o final da Cúpula para
decidir se eu queria me comprometer a ser sua companheira. No
entanto, ele já estava agindo como se fosse meu dono.
Será que ele realmente acha que banir Caspian de ficar aqui ajudará em
seu caso?
Que um simples método O QUE OS OLHOS NÃO VÊEM, O CORAÇÃO
NÃO SENTE vai me conquistar?
Banir Caspian da casa da alcateia foi oficialmente a cereja do bolo
hipócrita de mentiras de Sebastian.
Eu não era do tipo vingativa, mas o mau comportamento do meu
companheiro estava desencadeando algo dentro de mim. Ele precisava
confiar em mim e nas pessoas que escolhi para conviver.
De repente, senti o forte desejo de lhe dar uma lição...
— Venha comigo para o meu quarto — eu disse para Caspian. —
Precisamos limpar você.
Caspian

— Tudo vai mudar entre nós — eu disse.


Lyla tinha me arrastado pela casa da alcateia e, mesmo em meio à
minha névoa de embriaguez, fui capaz de ver os olhares desconfortáveis
que as pessoas estavam nos dando.
A futura Luna da Alcateia Real levando um homem até seu quarto
não era bem-visto. Ainda assim, Lyla parecia despreocupada.
Estávamos sentados juntos em sua cama e eu podia ouvi-la respirar
um pouco pesadamente depois de praticamente ter que me carregar até
lá.
— Ainda vamos nos ver — ela rebateu, embora parecesse incerta.
— Sim. Como se a Luna real tivesse tempo para velhos amigos.
Seu silêncio praticamente confirmou meu ponto.
Em apenas alguns dias, nossas vidas seriam totalmente diferentes.
Claro, eu acabaria me tornando o beta da Alcateia Lua Azul, mas isso
estava muito longe da realeza.
Muito longe de ser capaz de competir com o alfa real — seu verdadeiro
companheiro.
— Eu arranjei tempo para você agora — ela disse. — E olhe desta
forma... pelo menos seu pai ficará feliz com os acontecimentos recentes.
— Eu nunca me importei como ele se sentia em relação a você — eu
disse, minha voz engrossando.
Eu não sabia se era o álcool ou apenas puro desespero, mas coloquei
minha mão sobre a de Lyla. Eu queria sentir o calor de seu toque...
mesmo que não fosse mais meu para desfrutar.
Para minha surpresa, ela não se afastou. Ela olhou para mim, seus
olhos verdes transbordando de emoção.
— Eu conheço você — eu disse. — Sebastian é um lobo sortudo. Ele
pode te dar tudo o que eu nunca poderia dar.
— Exceto por um relacionamento construído por anos de confiança e
amor... — Suas palavras me atingiram como um soco no estômago.
Mas, em vez de dor, o sentimento que evocava era muito pior.
Esperança.
— Lyla...?
Ela respirou fundo antes de se virar para mim, seu rosto a apenas
alguns centímetros do meu. Seus lábios brilharam à luz da lâmpada.
— Sebastian me disse que eu tenho até o final da Cúpula para tomar
uma decisão. Ele não quer me forçar a ser sua Luna se eu não quiser.
— Mas ele é seu verdadeiro companheiro — meus lábios traidores
disseram. — Por que você não iria querer?
Eu queria quebrar minha própria cabeça para parar de falar.
Por que estou argumentando A FAVOR de Sebastian?
— Porque ele é um completo estranho — disse Lyla, — mesmo que a
Deusa da Lua diga que fomos feitos um para o outro.
Eu engoli em seco, minha boca de repente seca. Inclinei-me, minha
voz quase um sussurro.
— Essa é realmente a única razão? — Eu perguntei.
Lyla

Os olhos de Caspian encontraram os meus, brilhando com uma mistura


de esperança e arrependimento. Eu podia sentir a nostalgia borbulhando
por dentro e me lembrei da última vez que estivemos sozinhos.
Meus olhos foram para os lábios de Caspian e minha respiração ficou
presa na garganta.
Conhecer Sebastian não apagou as memórias do meu tempo com
Caspian.
Mas as coisas nunca podem ser as mesmas... certo?
Uma pergunta silenciosa pairou no ar entre nós. Um para o qual eu
não tinha certeza se sabia a resposta.
— Minha descoberta sobre Sebastian não apagou tudo que tínhamos
juntos — Caspian disse.
Eu desviei o olhar. Eu não estava pronta para essa conversa.
— Você ainda está uma bagunça — eu disse, me levantando. — Eu
acho que você precisa se lavar. Ninguém mais deveria ver você nesta
condição.
Caspian olhou para mim da cama, seu rosto ilegível. O silêncio
enfatizou a tensão na sala. Eventualmente, ele suspirou e se recostou,
passando as mãos pelos cabelos.
— Você tem certeza disso? — Ele perguntou.
— O que você quer dizer?
— Eu estar aqui? Nu? No seu quarto? — Ele disse.
— Nu no chuveiro — eu o corrigi, puxando-o para fora da cama com
um sorriso malicioso.
Eu mostrei a ele o banheiro — era maior do que o meu quarto inteiro
em casa — e me certifiquei de que ele tinha tudo que precisava.
Enquanto Caspian olhava em volta nervosamente, puxei a cortina do
chuveiro e abri a torneira.
Em nosso caminho para cá, eu me certifiquei de que outros nos
tivessem visto, até mesmo parando para pedir roupas limpas a um criado.
Tínhamos atraído muita atenção, para grande consternação de Caspian.
Eu queria a atenção de Sebastian, mas não o deixaria machucar
Caspian. Não sem passar por mim primeiro.
Ele precisava processar seus sentimentos em vez de explodir de raiva
ou recorrer à violência.
Ele também precisava entender meus limites. Que eu não estava
prestes a ser um capacho.
TOC
TOC
Deixando Caspian no chuveiro, abri a porta do meu quarto e fui
cumprimentada por um servo segurando roupas limpas. Ele me olhou
desconfortavelmente quando aceitei as roupas e fechei a porta.
BAQUE
— Oh, merda — Caspian disse sobre a água corrente.
— Você está bem? — Abri a porta do banheiro e entrei para colocar as
roupas no balcão.
— Sim, acabei de deixar cair o shampoo — disse ele.
Através da cortina de chuveiro parcialmente aberta, avistei o corpo nu
de Caspian. A água caia em cascata sobre seus ombros largos e pela curva
de suas costas musculosas.
Quando ele se abaixou para pegar o shampoo, me vi olhando para sua
bunda tonificada.
Teresa sempre o chamou de — Asspian — como um insulto, mas eu
tinha que admitir...
É uma bunda ótima.
Caspian espiou pela cortina e jogou um pouco de água na minha
direção quando me notou.
— Ei! Que diabos?
Eu vacilei.
— Apreciando a vista? — Ele perguntou maliciosamente. — Você é
bem-vinda para se juntar a mim.
— Hum, acho que você tem idade suficiente para se lavar — respondi
sarcasticamente, tentando mascarar meu constrangimento.
Ele mostrou a língua para mim, um sorriso bobo no rosto.
— Lembra quando costumávamos tomar banho juntos?
— Isso foi quando éramos crianças — eu disse.
— Sim, bem, você ainda é muito imatura — ele brincou. Ele pegou o
chuveiro e apontou para mim.
Eu gritei e tentei desviar do spray.
— Oh, olha quem fala! — Eu ri. Peguei uma toalha e comecei a torce-
la para que estalasse quando eu a jogasse nele. — Você pediu... prepare-se
para...
QUEBRA!
A porta do quarto se abriu, explodindo em cacos de madeira.
Sebastian estava lá, rígido, olhando para mim da porta, seus músculos
pulsando com o desejo de se transformar.
— Qual o significado disso? — Ele disse com um rosnado.
Atrás de mim, ouvi a água desligar e a cortina do chuveiro abrir.
Caspian procurou por uma toalha, praguejando baixinho.
De repente, fiquei sem palavras.
O que eu fiz?
Sebastian olhou para Caspian, e seus olhos azuis ficaram vermelhos.
Ele começou a mudar para sua forma de lobo.
Meu queixo caiu quando sua forma cresceu, ocupando toda a porta.
— Sebastian! Não é o que parece! — Eu gritei, incapaz de acreditar em
minhas próprias palavras.
Eu queria desafiá-lo. Para machucá-lo por machucar meu namorado.
Por não confiar em mim. Por manter segredos de mim.
Mas agora que eu tinha feito isso, eu não tinha tanta certeza se
poderia parar o que estava por vir.
Ele iria despedaçar o único homem que eu já amei bem diante dos
meus olhos!
Estendi a mão para tocar meu companheiro, para detê-lo, com medo
que já fosse tarde demais...
8
TENSÃO REAL
Sebastian

Não é o que parece!


Eu ouvi a voz de Lyla, mas meu corpo se recusou a ouvir,
transformando-se na besta que queria se tornar.
Disseram-me que Lyla tinha uma visita em seu quarto, e meus
temores se concretizaram quando pude sentir o cheiro dele por todo o
corredor, almiscarado com um forte traço de bebida alcoólica.
Mas eu não esperava isso...
Meu sangue ferveu enquanto Lyla olhava boquiaberta para mim.
Caspian estava no chuveiro, uma toalha protegendo seu corpo. A visão
dele alimentou minha raiva.
Em alguns momentos, eu seria incapaz de parar meus instintos mais
primitivos. Eu mostrei minhas presas e deixei o desejo quente de matar
tomar conta da minha pelagem da meia-noite.
Lyla cruzou a sala e fechou a mão desesperadamente em volta de
minha pata dianteira. Eu queria sacudi-la, mas o toque foi elétrico,
chocando meus sentidos e me paralisando.
— Isso não é culpa dele — ela disse, olhando profundamente nos
meus olhos. — Por favor, acalme-se... Vamos conversar no seu quarto. —
Ela se virou e fechou rapidamente a porta do banheiro. Com Caspian fora
de vista, minha raiva começou a diminuir.
Alguns segundos depois, eu estava de volta à minha forma humana,
completamente nu, minhas roupas rasgadas espalhadas pelo chão.
Eu queria gritar com ela, fazê-la sentir vergonha de suas ações. Mas
eu sabia que isso só pioraria as coisas.
Lyla avançou e me envolveu em um grande abraço, me
surpreendendo com a força de seu pequeno corpo.
Lyla

A caminhada até o quarto de Sebastian foi carregada de silêncio.


Entramos e estremeci quando a porta se fechou atrás de nós.
Eu estava pronta para aceitar minha punição...
Mas para minha surpresa, Sebastian apenas foi se deitar em sua cama,
um olhar cansado em seu rosto.
Com a prática, a mudança para a forma de lobo não era muito
cansativa. Mas mudar motivado à raiva drenava a energia mais rápido do
que o normal.
Com cuidado, sentei-me na beira da cama, ao lado de seus pés.
— Precisamos estabelecer uma trégua — eu disse. — Eu nunca fui
assim. Eu não quero ser. Você me deixa em um frenesi.
— Você tem um efeito semelhante em mim — Sebastian disse com
um sorriso fraco. Ele riu e pegou minha mão, beijando-a suavemente.
Lembrei-me da porta do quarto explodindo e balancei a cabeça em
concordância. Nunca ninguém veio me procurar com um esforço tão
agressivo — como se me perder para outra pessoa fosse feri-lo tão
profundamente.
Isso fez meu coração palpitar, saber que ele se importava tanto.
Aproximei-me, permitindo que meu corpo descansasse ao lado do
dele. O calor que compartilhamos era inegável.
— Primeiro você me diz que tenho até o final da Cúpula para lhe dar
uma decisão. Então eu ouvi que você proibiu meu ex de ficar aqui com o
resto do nosso bando. — Minha voz foi sumindo enquanto minha raiva
desaparecia como um sonho ruim.
Sebastian grunhiu e se virou, deitado de costas. Eu segui o exemplo e
olhei para o teto branco e calmo.
Ele ainda estava nu, e eu estava tentando muito ignorar esse fato e me
concentrar na conversa.
— As coisas estão acontecendo tão rapidamente... — Sebastian
admitiu. — Na semana passada eu tinha certeza de que nunca
encontraria minha companheira...
Ele se virou de lado, seus penetrantes olhos azuis encontrando os
meus. Borboletas vibraram em meu estômago.
— Eu me sentia da mesma forma — eu disse.
— Nunca fui bom em compartilhar.
— Eu não sou sua para compartilhar ainda — eu o lembrei
suavemente.
— Mas ainda posso te perder — disse ele.
— Você não me perdeu. — Eu sorri.
Ele sorriu de volta.
— Você está falando sério?
— Claro que sim. Esperei tanto para encontrar meu companheiro. Se
pudermos encontrar uma maneira... eu quero fazer isso funcionar.
Sua mão grande acariciou suavemente minha bochecha,
inadvertidamente me puxando para mais perto.
— Sério?
— Sério — eu disse. — Mas, por favor, tenha a cortesia de ser honesto
comigo. Chega de segredos.
— Chega de segredos.
Os olhos de Sebastian dispararam para meus lábios e ele se
aproximou.
Minha respiração ficou presa na minha garganta.
No momento em que nossos lábios se tocaram, eu me senti leve, meu
espírito flutuando para cima e para fora do meu corpo.
Para um homem tão grande, o beijo de Sebastian foi
surpreendentemente terno. Mas depois do constante fogo e fúria entre
nós, ternura não era o que eu procurava.
Eu retribuí o beijo, forçando-o a ficar de costas. Fiquei surpresa
quando ele me permitiu assumir o controle.
Minha língua encontrou a dele, carregando meu corpo com uma nova
vida.
Ele me puxou completamente para cima dele, sua força absoluta me
pegando de surpresa.
Gostei da ousadia e beijei-o com força novamente. Meus quadris
montaram nos dele.
Com minhas mãos apoiadas em cada lado de sua cabeça, pressionei
minha virilha firmemente na dele, sentindo seu pau crescer a um
tamanho chocante.
Mesmo com meu short, eu podia sentir a circunferência de seu eixo
preencher o espaço entre minhas pernas; eu estremeci de alegria.
Suas mãos deslizaram ao redor de cada bochecha da minha bunda,
dedos curiosos me massageando por trás, me fazendo pular para frente.
Ele gemeu de prazer.
Eu tirei meu short antes de me reposicionar sobre seus quadris,
dando a ele um acesso mais fácil.
Os dedos de Sebastian pressionaram o algodão leve da minha
calcinha, massageando o feixe de nervos no ápice das minhas coxas.
Um suspiro escapou da minha boca quando seus dedos deslizaram
sob o algodão, massageando meu centro úmido, enviando espasmos de
êxtase a minhas veias.
Foram apenas alguns segundos de paixão, mas eu podia sentir que
estava chegando perto do orgasmo.
E era para ser só um beijo.
O toque de Sebastian era tão diferente do de Caspian.
O toque de Caspian era um calor baixo e constante — um que se
acumulava lenta e confortavelmente — que me deixava sem fôlego e
tonta.
O toque de Sebastian era um inferno escaldante, cada pequeno
movimento era um choque em meu sistema. Era emocionante e
assustador ao mesmo tempo.
Eu não queria impedir o que estava por vir.
Mas eu sabia que precisava.
Tínhamos acabado de nos conhecer. E embora meu corpo desejasse
Sebastian, meu coração não estava pronto.
Ainda precisávamos aprender muito um sobre o outro.
— Devemos ir mais devagar — eu ofeguei, inclinando minha testa
contra a dele.
— É insuportável — ele gemeu. — Só consigo pensar em fazer você...
— Shh — eu disse, de repente envergonhada.
Meu dedo cobriu seus lábios, forçando suas palavras a desaparecer
nas sombras de seu quarto.
— Eu quero isso também... mais do que qualquer coisa... mas não
agora. É muito rápido — eu admiti.
— Então me diga, o que posso fazer? Como posso te fazer feliz?
A intensidade de sua pergunta me jogou para trás.
— Hum — eu disse timidamente, empoleirada em cima de suas coxas
—, há algo na verdade. Não tenho certeza se você vai gostar.
— Diga — Sebastian insistiu, apoiando-se nos cotovelos.
— Deixe Caspian ficar aqui com os outros. Você estaria ajudando
alguém que é muito importante para mim. Pense nisso como uma
proposta de paz.
— Muito bem — ele admitiu, erguendo o queixo. — Mas também
tenho um pedido.
Meu estômago embrulhou e eu mordi meu lábio, balançando a cabeça
uma vez.
Se ele me fizesse prometer ficar longe de Caspian, eu não sabia o que
faria.
— Fique comigo. Aqui. No meu quarto.
Eu não pude evitar o sorriso que se espalhou pelo meu rosto.
— Não vejo que outra opção tenho desde que alguém transformou a
porta do meu quarto em palha.
Sebastian rosnou de brincadeira, e antes que eu pudesse piscar, ele me
prendeu no colchão.
— Está resolvido então. Você vai ficar comigo esta noite e depois irá
ao encontro do meu conselho pela manhã.
Eu congelei embaixo dele.
Conhecer seu conselho?
Eu só podia esperar que não houvesse mais ex-namoradas entre eles...

— Eles devem ser aniquilados! Eliminados da face da terra! — Uma voz


profunda gritou com raiva.
Sebastian me levou a uma sala onde vários de seus conselheiros reais
estavam esperando. Meu primeiro instinto foi recuar, me esconder dos
novos rostos. Mas Sebastian segurou minha mão, encorajando-me
quando entramos na discussão.
Fui imediatamente bombardeada pelos olhares de cada pessoa na sala,
me julgando silenciosamente antes mesmo de eu ter a chance de falar.
— Estes são meus conselheiros de confiança — Sebastian disse,
acenando com a mão.
Um par de gêmeos com ombros largos, cabelos dourados e músculos
protuberantes veio em minha direção.
A mulher era impressionante e tinha uma longa trança que ia até as
costas.
Seu irmão usava o cabelo curto e tinha uma barba por fazer que lhe
caía bem.
— Eu sou Tonya — disse a mulher rispidamente, estendendo a mão.
Aceitei e quase fui dominada pela dor quando ela apertou minha mão.
— E eu sou Titus — disse o homem, substituindo um caloroso aperto
de mão por um tapinha ainda mais forte nas costas.
Minha cabeça balançava a cada golpe, liberando qualquer teia de
incerteza sobre como eu seria aceita pelos outros.
— Eles são os gamas da Alcateia Real — Sebastian disse, sorrindo.
— Temos que treinar os jovens para lutar — gabou-se Tonya.
— E estamos animados para ver o que você consegue fazer — Titus
acrescentou com um aceno de cabeça.
Olhei para atrás dos gêmeos e vi Caius observando silenciosamente a
interação, estoico e silencioso. Era como se ele não tivesse nenhum
desejo de participar da reunião e só estivesse lá por obrigação.
Eu podia sentir o corpo de Sebastian ficar tenso e vi um movimento
com o canto do olho.
Magnolia havia se juntado à reunião. Ela evitou olhar para Sebastian e
eu, mas sua presença me fez cerrar os dentes.
Eu deveria ter esperado que ela estivesse lá. Ela tinha sido a Luna não
oficial da Alcateia Real até dois dias atrás. Mas eu não poderia dizer que
estava feliz com isso.
Já era difícil saudar a todos com minha timidez paralisante; tê-la ali
era quase insuportável.
Eu queria ordenar que Magnolia deixasse a sala — não, toda a Casa da
Alcateia Real! — e fosse morar em alguma ilha deserta a um milhão de
milhas de distância de mim e do meu companheiro.
Afastei o impulso e, em vez disso, envolvi meu braço em torno de
Sebastian, puxando-o para mais perto.
Fizemos uma trégua. Eu poderia me comportar.
Uma batida forte chamou minha atenção para a cabeceira da mesa,
onde estava um homem mais velho com cabelo grisalho. Ele bateu na
mesa com o punho e caminhou em minha direção.
— É um prazer conhecê-la, tenho certeza. Mas temos assuntos mais
importantes para discutir — ele disse rispidamente, me lançando um
olhar duro.
— Não ligue para ele. Ele está sempre estressadinho. — Sebastian se
inclinou para sussurrar em meu ouvido, sua respiração enviando arrepios
por toda a extensão de meu corpo. — Esse é meu tio, Tibério. Ele é um
pouco chato, mas não sei o que faria sem ele — disse ele, com um toque
de emoção na voz.
Eu queria pressioná-lo mais sobre o assunto, mas a atenção de todos
havia se voltado para Tibério.
— Devemos contra-atacar — o velho lobo exigiu. — Do contrário,
pareceremos fracos e vulneráveis. Desta vez, tivemos a sorte de não
perder ninguém.
Sebastian olhou ao redor da mesa, confuso.
— Houve outro ataque?
Os olhos de Tibério desviaram o olhar, com vergonha de responder.
Ele simplesmente acenou com a cabeça.
— Ainda não levaram nada? Ninguém está ferido? — Sebastian
perguntou. — O que isso significa?
— Significa que tivemos sorte. Mas eu não acho que isso acontecerá
novamente.
Eu podia sentir a tensão crescendo na sala.
— É o Silas? — Sebastian perguntou, os olhos arregalados.
— Não temos nenhuma razão para acreditar no contrário — Tiberius
respondeu.
Sebastian encontrou meu olhar curioso e, pela primeira vez, pude ver
o medo por trás daqueles olhos azuis brilhantes.
— Quem é Silas? — Eu perguntei.
A sala ficou em silêncio. Sebastian olhou para os outros antes de
encontrar sua resposta.
— Silas é um lobo rebelde que tem mordido humanos e os
transformado em lobisomens contra sua vontade — Sebastian disse
friamente.
Eu mal conseguia entender a situação. Um lobo rebelde estava
criando mestiços e os usando para atacar A Cúpula? Por quê?
Imediatamente pensei em minha alcateia, aliviada por eles terem sido
trazidos para a mansão. Sem dúvida, a segurança extra os manteria
seguros.
— Quais são os próximos passos? — Sebastian perguntou.
— Temos uma voz extra aqui. Por que não perguntamos a ela? —
Tonya disse com um sorriso.
— O que você acha, Lyla? — Perguntou Tibério. — Por favor, nos
entretenha...
Pega de surpresa com a franqueza de sua pergunta, eu me atrapalhei
com as respostas em minha cabeça.
— Precisamos encerrar a Cúpula — disse Magnolia com fria certeza
antes que eu tivesse a chance de falar. — Não podemos arriscar que mais
lobos se machuquem ou morram. Seria para sempre uma mancha no
nome da Alcateia Real.
Um murmúrio de apoio cresceu em torno da mesa. Eu assisti Tiberius
acenar com a cabeça com entusiasmo.
Parecendo satisfeita consigo mesma, seus olhos brilhantes pousaram
em mim.
A tensão era palpável e os outros ficaram desconfortáveis.
Então, antes que eu pudesse me conter, estava rejeitando seu
argumento.
— Eu tenho que discordar. Eu conheci lobos que esperaram suas vidas
inteiras por este evento. Encerrar agora, interromper sua celebração, isso
vai esmagar o espírito das alcateias...
Fiz uma pausa, olhando ao redor da sala para os outros. Foi uma
mistura de respostas: alguns pareciam felizes por eu estar falando,
enquanto outros pareciam irritados por eu sequer considerar dar minha
opinião sobre um tópico tão importante.
— Você realmente acredita que vale a pena nos arriscarmos apenas
para dançar, beber e jogar? — Tiberius questionou. Seu olhar era intenso
e eu estava mais do que um pouco intimidada. — A Cúpula é importante,
mas eles sobreviverão se for interrompida.
— A cerimônia da segunda chance ainda está para acontecer —
acrescentei, tentando evitar que minha voz tremesse. — Ter a
oportunidade de encontrar seu companheiro de segunda chance é tão
importante quanto a cerimônia principal.
— E se um daqueles mestiços nojentos que o rebelde está criando
romper nossa hierarquia? Devemos convidá-lo para jantar? — Tibério
respondeu com uma risada.
Eu não tinha certeza de como minhas respostas seriam aceitas, mas
como Luna era meu trabalho ter uma opinião e tentar ajudar a alcateia
de todas as maneiras que pudesse.
Como Luna real, era meu trabalho ajudar todos de nossa espécie.
— Por que não? — Eu disse. — A maioria dos lobos mestiços foram
transformados contra sua vontade. Não podemos julgá-los por obedecer
a um mestre que impõe sua vontade aos outros! Eles não sabem de nada.
Com a nossa ajuda...
— As festividades continuam — Sebastian interrompeu, um tom de
finalidade em sua voz. — Mas se você avistar um mestiço, deverá matá-lo
assim que o vir.
Com essas palavras, ele saiu da sala sem sequer olhar em minha
direção.
Eu fiquei em estado de choque, incapaz de me mover.
O que diabos aconteceu?
Tibério encerrou rapidamente a reunião e os outros começaram a
sair. Comecei a caminhar atrás de Sebastian, mas senti uma mão pesada
em meu ombro.
Eu me virei para ver Tiberius olhando para mim.
— Seria sensato se educar antes de falar — disse ele com tristeza. — A
mãe e o pai de Sebastian... meu próprio irmão... foram assassinados por
aquelas merdas mestiças que você estava defendendo.
Eu me virei para a porta de onde Sebastian tinha saído, sem saber se
deveria segui-lo.
Ugh! Eu nunca teria dito nada se soubesse! E logo quando eu estava
finalmente fazendo progresso com o bando — com Sebastian — eu
estraguei tudo...
9
UMA VERDADE E MEIA Lyla
Como Teresa diria com tanto amor: — Você estragou tudo de novo.
A sala comum da ala sudoeste estava cheia de membros da Alcateia
Lua Azul. Cumprimentei rapidamente os presentes e procurei qualquer
sinal da minha melhor amiga.
Ela saberá como consertar isso.
Se for possível consertar...
Como não encontrei nenhum vestígio dela lá, fui em busca de seu
quarto e bati três vezes na porta quando cheguei. Eu podia ouvir ruídos
através da parede e reconheci sua voz.
Eu empurrei a porta e...
— Foda-me! — Teresa gemeu.
Tentei tirar meus olhos de suas costas nuas, mas era como tentar
desviar o olhar de um acidente de carro.
Ela se sentou em cima de alguém que eu presumi ser seu
companheiro, quicando para cima e para baixo.
A sala estava cheia de seus cheiros, e eu quase podia sentir o gosto do
suor em sua pele.
Seu companheiro, escondido por seu corpo nu, estava gemendo de
prazer enquanto ela fodia com vigor.
Eu senti a cor sumir do meu rosto.
— E-eu não queria… — gaguejei.
— Você poderia fechar a porta? — Ela perguntou, olhando para mim
por cima do ombro enquanto ela continuava a cavalgar em cima de seu
companheiro como se estivesse em um rodeio.
Ela não precisou perguntar duas vezes. Eu me virei e bati a porta.
Sentindo algo entre nojo e admiração, eu estremeci.
Então, aceitando a derrota, lentamente deslizei pela parede até que
estava sentada no chão, minha cabeça entre os joelhos.
Acho que vou esperar até que ela termine.
Sempre esperei que fosse fácil. Eu encontraria meu companheiro, nos
apaixonaríamos instantaneamente e então viveríamos o resto de nossas
vidas em felicidade conjugal.
Em vez disso, eu senti como se tivesse trabalhado em meu
relacionamento com Sebastian por anos ao invés de apenas alguns dias.
Sebastian e eu simplesmente não parecíamos nos encaixar.
Por que a Deusa nos colocou juntos? Suponho que essa seja uma
pergunta para a qual eu nunca teria uma resposta.
Eu apenas teria que confiar que ela estava certa. Só tenho que tentar
fazer funcionar.
Afinal, ele era meu destino.
— Achei que iria encontrar você com o rabo entre as pernas — disse
uma voz acima de mim.
Eu estava tão envolvida em meus pensamentos que não tinha ouvido
ou cheirado ela vindo em minha direção.
Soltei um suspiro e virei minha cabeça para olhar para Magnolia.
— Posso ajudar?
— Não — ela mostrou seu sorriso perfeito. — Mas eu posso te ajudar.
Para meu completo choque, ela se ajoelhou no chão do corredor ao
meu lado, dobrando as pernas sob ela e alisando a saia.
Seu nariz enrugou delicadamente quando ela percebeu o THUMP!
THUMP! THUMP! Vindo da sala atrás de nós.
— Isso é...
— Sim.
— Encantador.
— O que você está fazendo aqui, Magnolia?
Ela suspirou.
— Sebastian e eu nos falamos...
Eu a cortei com um grunhido e ela revirou os olhos.
— Calma, garota.
Mordi minha bochecha, tentando suprimir o desejo de envolver
minhas mãos em seu pescoço.
— Seb e eu falamos — ela começou novamente. — E me fez perceber
que não tenho tratado você bem.
Eu levantei uma sobrancelha para ela, não acreditando.
— Eu sei o que você está passando. A coisa do companheiro. A coisa
da Luna. Eu fiz tudo. Eu posso ajudar.
A palavra — companheiro — despertou meu interesse:
— Explique.
Ela suspirou e colocou os braços em volta do torso.
— Eu só tive dois amigos: Alex e Sebastian. Alex eventualmente se
tornou meu companheiro, e éramos muito felizes juntos.
Ela disse — eram — eu percebi, meu estômago afundando.
— Estávamos prestes a tentar ter um filhote quando o primeiro
ataque de Silas aconteceu dois anos atrás. Perdi Alex e uma parte de mim
naquele dia.
— Sinto muito — eu sussurrei.
A dor que ela suportou teria sido devastadora. Perder um
companheiro era perder metade de si mesmo.
E eu não fui nada além de mesquinha com ela...
Eu não podia deixar o passado triste de Magnolia me distrair de
chegar ao fundo disso, no entanto.
Já era hora de entender com o que, exatamente, estava lidando. O
quadro completo — chega de meias-verdades. Sem mais mentiras.
— Quando as coisas mudaram entre você e Sebastian?
Magnolia inclinou a cabeça, seu olhar azul brilhante segurando o
meu.
— Éramos nada mais do que amigos até o início deste ano.
Eu inalei bruscamente. Foi tão recente. Alguns meses de diferença e
tanta dor, tanta confusão poderiam ter sido evitados.
— Vá em frente — eu encorajei.
— Ele precisava de uma Luna, e eu precisava de algo para me ajudar a
continuar. Eu estava me afogando em minha solidão e dor. Nós dois
estávamos.
Os olhos de Magnolia pareciam vidrados. Não com lágrimas, mas
com memórias.
— Quanto mais tempo passávamos perto um do outro, mais as
pessoas começavam a achar que éramos mais do que amigos. Nem ele
nem eu dissemos nada para dissuadi-los.
As maçãs do rosto dela ficaram rosadas, alertando-me para o fato de
que ela estava prestes a me dizer algo que eu realmente não gostaria.
— Uma noite, estávamos trabalhando até tarde em seu escritório e eu
o beijei, pegando-o completamente de surpresa.
Eu engoli em seco, meu peito começando a doer. Magnolia se virou
para mim e me ofereceu um pequeno sorriso. Quase um pedido de
desculpas pela dor que ela sabia que estava me causando.
— Eu queria tanto sentir algo que ignorei o que aquele beijo
imediatamente me disse e o beijei novamente. E de novo. Até que eu
comecei a chorar. Não havia nada entre nós. Absolutamente nada.
— Sebastian me puxou para seus braços e disse que tudo ficaria bem.
Poucos dias depois, ele me pediu em casamento e para eu me tornar sua
Luna. Dois meses depois, aqui está você.
Um silêncio caiu sobre nós quando ela terminou sua história. Ela
esperou, me deixando processar minhas emoções. Me dando tempo para
as sentir.
— Por que ele simplesmente não me disse isso? — Eu perguntei,
ficando com raiva.
— Ele é um bom homem, seu companheiro. Ele sentiu que era minha
história para contar.
Eu exalei, e a tempestade de dor, frustração e desejo se reorganizou
dentro de mim novamente.
Sebastian não a amava. Nunca amou.
Não admira que ele tivesse tanto medo de Caspian.
Sebastian
Por que diabos eu achei que seria uma boa ideia enviar Magnolia para falar
com ela?
Eu bati meu punho na minha mesa, espalhando papéis e canetas pelo
chão.
Tinha sido uma ideia terrível pra caralho trazer Lyla para a reunião
naquela manhã. Mas quando ela piscou seus olhos de corça para mim na
noite anterior, eu queria dar a ela a lua.
Uma reunião comum parecia uma fronteira mais acessível.
— Uma proposta de paz — ela disse. Algo que a integrasse mais na
minha vida. Em seu papel. Algo que mostrasse a ela que eu estava
tentando. Que eu a queria. Que eu confiava nela.
Em vez disso, só me fez parecer ainda mais um idiota.
Sim, vamos massacrar todos os mestiços; que romântico.
Quando Magnolia veio até mim sugerindo que uma conversa entre
garotas tornaria as coisas melhores, eu hesitei.
Lyla parecia mais propensa a arrancar a cabeça de Magnolia do que
ter uma conversa de boa vontade com ela.
Mas Magnolia tinha insistido.
E eu me peguei concordando. Pelo menos era uma chance a menos
para eu estragar outra conversa com Lyla.
Abaixei minha cabeça até minha mesa, descansando minha testa
contra ela em derrota.
Eu já tinha estragado tantas coisas em uma tentativa vã de manter
Lyla protegida. Para mantê-la em minha vida. Em vez disso, eu apenas a
afastei.
De repente, detectei levemente seu cheiro e pulei da minha mesa.
Ela estava vindo. Lyla estava chegando.
Rapidamente, juntei as coisas que tinha derrubado da mesa, jogando-
as na gaveta de cima antes de sentar novamente.
Por um longo momento, ela ficou do lado de fora da minha porta sem
bater.
Timidamente, entrei em contato com nosso vínculo.
Preocupação.
Frustração.
Determinação.
Ela bateu na porta.
— Sim? — Eu disse e imediatamente me arrependi.
Quão difícil é falar 'Entre'?
Lyla entrou, seus olhos vagando pelos mapas e livros encadernados
em couro que cobriam as paredes; a coleção de charutos do meu pai
empilhada em uma prateleira no canto.
Ela parou na frente da minha mesa, enrolando uma mecha de seu
cabelo ruivo no dedo.
Era algo que ela fazia, eu percebi, quando estava nervosa.
— Eu queria me desculpar — ela disse — pelo que eu disse esta
manhã... sobre os mestiços. Eu não fazia ideia...
Suas palavras foram como um soco no estômago. Eu deixei minhas
emoções levarem o melhor de mim. Tratei-a desrespeitosamente e foi ela
quem se desculpou.
— Venha aqui — eu disse, estendendo meus braços. Seus olhos se
arregalaram um pouco de surpresa, mas ela contornou a mesa e pulou
para se sentar em sua superfície.
— Fale comigo — disse ela. — Diga-me o que você está pensando.
Eu podia ouvir a mágoa em suas palavras. A preocupação.
Eu a fiz sentir que ela não era o suficiente.
— Eu só fico pensando em como sou sortudo por ter encontrado você
— eu admiti, e fui recompensado com um pequeno rubor aquecendo seu
rosto.
Incentivado, continuei:
— Não consigo deixar de pensar em como meus pais ficariam
orgulhosos. Especialmente sabendo que acabei com alguém tão incrível
quanto você.
— Você vai me dizer o que aconteceu com eles? — Ela perguntou
suavemente.
A dor familiar disparou dentro de mim.
A culpa.
A traição.
Foi esmagador.
Mas eu engoli.
Ela merecia saber.
— O ritual de acasalamento nem sempre é tão gratificante. Meu
melhor amigo, Silas, descobriu isso da maneira mais difícil — comecei.
Era mais fácil me concentrar nele do que em meus pais — ou em
mim.
Lyla se inclinou, ansiosa para entender.
— Depois da primeira Cúpula, ele ainda estava esperançoso. Mas
assim que passamos por nossa segunda, ele tinha se decidido.
Eu respirei fundo, lutando contra fantasmas de memórias.
— Ele pensava que a única maneira de encontrar sua companheira
era se rebelando... transformando mulheres humanas em lobisomens
mestiços contra sua vontade, na esperança de que ele pudesse encontrar
alguém que atendesse seu chamado.
Eu podia me lembrar nitidamente dele naquela noite em meu quarto
enquanto ele me contava seu plano. O zelo em seus olhos. O desafio.
— E funcionou? — Lyla perguntou.
Eu concordei.
— Demorou várias tentativas, mas sim, finalmente funcionou.
Estendi a mão e coloquei minha mão em sua coxa. Não houve
demanda no toque. Sem expectativa. Eu simplesmente queria extrair
alguma força da firmeza da minha companheira.
Para sentir que ela estava lá. Isso ela entendeu.
Lyla não decepcionou. Ela enfiou seus dedos finos e ágeis nos meus
grossos e calejados.
— Meus pais souberam de suas ações e ficaram indignados — eu
continuei. — É contra nossas leis mudar os humanos, seja contra sua
vontade ou não. E quando meus pais encontraram Silas e seus mestiços...
Minha voz sumiu.
— Então o quê? — Ela pediu.
Essa foi a parte difícil. A meia verdade.
A parte que eu não estava pronto para ela saber.
A parte que ninguém realmente sabia.
— A companheira de Silas ainda era selvagem. Instável. Transformar
humanos raramente vai bem... e ela matou meus pais. — Eu respirei
fundo, a dor do passado deslizando em meu coração como uma adaga.
— A companheira de Silas também foi morta. As pessoas que mais
significavam para nós... se foram. — Eu engoli, esperando que fosse o
suficiente. Esperando que ela não precisasse de mais detalhes.
Porque se ela os tivesse, ela não teria escolha a não ser acreditar que
eu era um monstro.
O alívio me inundou quando Lyla jogou os braços sobre meus
ombros, me segurando contra ela.
Fiquei congelado por um momento, mas depois me levantei,
envolvendo meus próprios braços em torno de seu corpo minúsculo.
Refugiando-se no cheiro de seu cabelo e no som de seus batimentos
cardíacos.
— Eu nunca deveria ter dito nada sobre mestiços — ela murmurou
em meu peito. — Foi estúpido e ingênuo. Eu sinto muito.
Eu me afastei, enganchando meu dedo sob seu queixo, direcionando
seu olhar para o meu.
— Não é sua culpa. Seu coração é puro e você se importa muito.
Inclinei-me, capturando seus lábios em um beijo, sabendo muito bem
que menti.
Que eu estava escondendo dela um segredo.
Um segredo final que pode destruir tudo.
Se Lyla descobrir a verdade, ela sairá da minha vida para sempre.
10
CONHEÇA OS GREENS
Lyla

Acordei no meu próprio quarto na Casa da Alcateia Real, felizmente com


uma porta nova.
Tentei me imaginar aqui a longo prazo, mas ainda parecia um hotel
para mim.
Esta é a sua casa, eu me lembrei. Ou, pelo menos, pode ser...
A perspectiva era emocionante e assustadora.
Enquanto eu cambaleava para fora da cama em direção ao banheiro,
fui interrompida pela vista fora da minha janela.
A luz do sol banhava o gramado, o deixando com um brilho
cintilante. Os galhos finos de um salgueiro-chorão varriam a grama no
ritmo da brisa.
Foi o suficiente para fazer até mesmo minha mente frenética se sentir
em paz.
Abri a água quente no chuveiro, tirei meu pijama surrado e fiquei
embaixo da cachoeira.
Enquanto eu lavava meu corpo, meus pensamentos se voltaram para
o dia anterior. Meu estômago se revirou de vergonha e arrependimento.
A vergonha da reunião do conselho persistiu, mesmo depois de
Sebastian e eu termos feito as pazes. Eu sabia que ele não me culpava,
mas o assunto ainda era uma ferida aberta para ele.
Sua dor era intensa, impenetrável.
Mas ele ainda estava tentando me deixar entrar.
Seu desejo era inebriante. E ele me disse que era tudo para mim.
Desliguei a água. Enquanto eu secava meu corpo e colocava meu
jeans skinny e camiseta, pensei em minha antiga vida.
Tudo era tão simples. Tive uma sorte inacreditável sem saber.
Não conseguia me lembrar da última vez que me senti envergonhada
como no dia anterior. Meu relacionamento com Caspian tinha sido
estável. Eu nunca tive que me preocupar em saber meu papel.
Agora minha vida era tão imprevisível e intensa.
Eu sabia que estava onde a Deusa da Lua queria que eu estivesse, mas
me perguntei se minha nova vida — e novo homem — poderia ser tão
confortável quanto a anterior.
Eu percebi que estava sentindo falta de Caspian; sentindo falta de
nossa vida simples juntos...
Pare de ruminar e vá para fora ou você enlouquecerá!
Coloquei meu telefone no bolso de trás e desci correndo as escadas
até a entrada da frente. Adentrando o quente dia de primavera, corri em
direção ao estacionamento onde mais membros da minha alcateia logo
estariam chegando.
Não passou despercebido por mim que, uma semana atrás, uma
pequena parte de mim estava animada com a ideia de encontrar meu
verdadeiro companheiro — mesmo que não fosse Caspian.
Eu ingenuamente presumi que se isso acontecesse, tudo se encaixaria.
Eu pensei que a Deusa da Lua agia no interesse de nós mortais.
Agora eu não tinha tanta certeza.
Estar acasalada com o alfa real era mais do que eu esperava.
Meus passos se aceleraram quando dobrei a esquina. Carros pararam
e estacionaram em um campo, deixando convidados, presentes e malas.
Parecia um acampamento de verão.
Procurei pela minivan verde da minha família e localizei minha irmã
primeiro. Seu cabelo loiro brilhava ao sol quando ela passou para minha
mãe um enorme buquê de rosas cor de rosa.
Oh, Deusa. Aqui vamos nós.
Corri em direção a eles. Minha mãe me viu primeiro. Ela sorriu para
mim, e então sua expressão mudou para apreensiva.
Meu coração apertou. Claro. Para um pai, a única coisa mais
aterrorizante do que seu filho se mudando com um novo companheiro
era a possibilidade de eles não encontrarem nenhum.
Peguei Skye de surpresa, envolvendo seu pequeno corpo em um
abraço de urso. Ela tinha apenas nove anos e era magra como uma vara.
Ela gritou e se virou para me abraçar de volta. Eu respirei o cheiro
familiar do shampoo que compartilhamos e de repente fui tomada pela
emoção.
Eu só estava pensando em como meu novo companheiro afetaria
minha vida. Eu não tinha considerado como Skye sentiria minha falta
quando eu me mudasse.
Eu olhei para meus pais. Os olhos da mamãe estavam marejados de
lágrimas e papai esfregava as costas dela enquanto me olhava de forma
significativa.
— É tão bom ver você de novo, Ly, — disse ele, revelando que os
últimos dias foram longos para eles também.
Skye olhou para cima e minha família inteira estava olhando para
mim com expectativa. Minha garganta fechou.
Eles estavam esperando para ouvir sobre os poucos dias mais
importantes da minha vida. E eu não conseguia falar.
Meus pais sempre oraram para que eu fosse acasalada com alguém da
Alcateia Lua Azul. Tendo sido os primeiros amores um do outro antes de
se tornarem companheiros, eles queriam o mesmo para Caspian e eu.
— Como está, querida? — Mamãe perguntou, tentando soar casual. O
buquê parecia pesado em seus braços.
— Você tem um companheiro? — Skye foi direto ao assunto, sorrindo
inocentemente.
Eu balancei a cabeça, e meus pais relaxaram visivelmente.
— Lily! Colin! Que bom ver vocês. — Eu reconheceria aquela voz em
qualquer lugar: Caspian.
Eu me virei para vê-lo caminhando em nossa direção como se ele não
se importasse com o mundo — seu comportamento mal-humorado dos
últimos dias se foi completamente.
Caspian sempre se deu muito bem com meus pais. Ele realmente
gostava de passar tempo com eles, mas eu não acho que isso ainda se
aplica...
— Oh! — A exclamação de minha mãe me tirou de meus
pensamentos, e me virei para ver que ela havia deixado cair o buquê de
pura emoção.
Oh não...
— Eu sempre soube que vocês dois estavam destinados a ficar juntos!
— Lágrimas escorriam de seus olhos.
Meu queixo caiu de horror.
— Venha aqui, filho! — meu pai gritou, passando por mim para
encontrar Caspian.
— Mãe, eu... é... hum — eu me atrapalhei.
Skye estava pulando para cima e para baixo alegremente, e minha
mãe me sufocou em um abraço caloroso.
Oh, Deusa. O que eu fiz?
Caspian

Colin me abraçou com entusiasmo incomum, me dando um tapinha nas


costas.
— Bem-vindo à família, Caspian. Agora posso dizer isso oficialmente!
— Ele se afastou e seus olhos brilharam de emoção por trás dos óculos.
Eu pisquei.
Esperei anos para ouvir essas palavras, mas agora não as merecia.
Em meu estado de confusão, me virei para olhar para Lyla. Seus
braços estavam frouxos com o peso de um enorme buquê de rosas, e seu
rosto era a imagem do remorso.
Era o suficiente para partir o coração de qualquer cara.
Não que o meu precisasse de ajuda nesse departamento.
Quando Lyla me disse que tomaria sua decisão no final da Cúpula,
fiquei cheio de esperança. Aquilo deu um impulso ao meu passo e aliviou
meu coração dolorido.
Mas essa piada cruel? Isso me fez sentir pior do que antes. E eu não
conseguia descobrir por que Lyla estava jogando comigo.
— Espere, Colin — eu comecei. — Eu acho que você entendeu
errado...
— Caspian! — Lyla interrompeu, dando-me um olhar que só poderia
significar — Não diga uma palavra.
O que está acontecendo com ela?
Eu queria ficar com raiva de Lyla, mas eu só conseguia sentir
compaixão por qualquer dor e confusão que ela estava sentindo.
— Oh, Caspian! Colin e eu conversamos sobre como seria
conveniente colocar mais uma ala na casa! — Lily me abraçou.
Eu arregalei meus olhos para Lyla e ela empalideceu.
— Não vamos nos precipitar aqui — eu fiz uma careta.
Eu me desvencilhei da mãe de Lyla e me aproximei de Lyla, pegando o
buquê como desculpa para ficar ao lado dela.
Seus pais estavam conversando animadamente, então tivemos um
momento para nós mesmos.
— O que é tudo isso, Ly? — Sussurrei, sem me preocupar em
esconder a dor em minha voz.
— Sinto muito, Caspian. — Doeu apenas olhar em seus olhos. — Eles
apenas presumiram, e...
— Me empolguei, — eu inferi.
Lyla suspirou como se o peso do mundo estivesse em seus ombros.
Talvez ela achasse que sim, mas eu era o único com o coração partido.
— Você tem que dizer a eles a verdade... o mais rápido possível — eu
disse, olhos baixos. — Como se Sebastian precisasse de mais motivos
para me odiar.
— Claro — ela respondeu. — Isso é tão fodido. Eu realmente sinto
muito. Eu resolvo isso.
Ela mordeu o lábio com determinação. Quando ela estendeu a mão
para pegar o buquê de mim, seus dedos roçaram meu braço.
Calor e conforto imediatos.
O toque a afetou do jeito que me afetou? Eu nunca saberia. E mesmo
que isso tornasse tudo mais fácil, eu não poderia ficar com raiva dela.
— Não perca as esperanças, ok? Ainda quero ajudá-lo a encontrar o
lobo que você ouviu. Ainda há a cerimônia do companheiro da segunda
chance — Lyla continuou.
Eu zombei internamente. A única pessoa que eu queria era ela.
— Como se isso não fosse ainda mais raro do que encontrar um
verdadeiro companheiro. — Eu odiava o desprezo patético em minha
voz. — Tudo por uma conexão mais fraca.
Eu balancei minha cabeça, odiando o quão distante eu me sentia dela.
Eu precisava sair dali.
— Caspian. — Sua voz dizendo meu nome me atingiu como um
choque elétrico. — Tenho até o final da Cúpula para tomar minha
decisão.
Ela me deu um pequeno sorriso, me lembrando que eu não a tinha
perdido completamente.
Minha mente estava girando, mas eu a ouvi alto e claro.
Então eu estava sorrindo. Mas eu ainda tinha que me afastar dos pais
de Lyla até que ela lhes contasse a verdade... sobre quem era seu
verdadeiro companheiro.
Eu saí e corri de volta para a casa da alcateia, a esperança florescendo
em meu peito.
Lyla

Eu estava prestes a contar a verdade à minha família, realmente estava.


Mas então Beta Caius apareceu.
— Bem-vindos ao território da Alcateia Real, sr. e sra. Green — ele
disse, amigável como sempre. — Permita-me mostrar-lhe a casa da
alcateia.
Minha mãe riu de alegria e agarrou meu braço quando Caius
começou a ajudar com a quantidade absurda de bagagem da minha
família.
— Como conseguimos este tratamento VIP? — ela sussurrou.
— Há algo que preciso lhe contar — respondi.
Então eu olhei para cima e parei no meio do caminho. Sebastian
estava me observando, seus braços cruzados.
Ele estava na beira do gramado amplo e bem cuidado, acenando
quando chamou minha atenção.
— O alfa real está acenando para você — minha mãe gritou.
— Deve ser meu dia de sorte — respondi com os dentes cerrados.
— Sr. e sra. Green! — Sebastian chamou, sua voz exalando charme.
Ele deu um passo à frente e pegou a mão do meu pai, um sorriso
significativo em seu rosto perfeito. Então ele pegou a mão da minha
mãe... e beijou-a.
— Que esta seja a primeira de muitas visitas à Casa da Alcateia Real
— Sebastian disse alegremente.
Meus pais ficaram claramente lisonjeados, embora confusos.
— Olá, sr. Alfa — Skye sussurrou, olhando para ele com olhos
arregalados.
— Olá. Você deve ser a Skye. — Sebastian deu a ela um sorriso
vencedor e Skye visivelmente derreteu.
Meu coração estava disparado.
ESTA é minha oportunidade!
— Mãe, este é...
— Nós sabemos, querida — mamãe interrompeu. — Alfa Sebastian,
que prazer em conhecê-lo. Obrigada pela recepção calorosa.
A expressão de meu pai me disse que ele não foi conquistado tão
facilmente, mas Sebastian não se incomodou.
— Eu gostaria que meus próprios pais estivessem aqui conosco hoje
— disse ele melancolicamente —, mas tenho certeza de que eles estão lá
em cima, sorrindo para nós.
Um momento estranho passou; desta vez, até Sebastian percebeu.
— Lyla, gostaria de caminhar comigo? — Ele perguntou. — Vejo vocês
em breve, tenho certeza.
Corri para o lado dele. Sebastian deu longas passadas pelo gramado e
eu corri para acompanhá-lo.
Ele definitivamente sabe, entrei em pânico. Ele sabe que eu não contei
aos meus pais sobre nós, e ele está furioso.
— Eu acho que eles são um grupo um pouco difícil, hein? — Ele
perguntou com uma carranca. — Mas eles parecem gostar bastante de
Caspian.
Espere um minuto. Ele não sabe?
— Eles o conhecem há muito tempo — respondi, mantendo minha
guarda alta.
— Mas tenho certeza de que eles ficaram felizes em ouvir sobre nós.
— Não havia dúvida em sua voz.
Oh, Deusa, ele não sabe!
Meu coração bateu forte enquanto corria para alcançá-lo. Ele não
olhou para mim e eu não sabia o que ele estava sentindo.
— Muito feliz — eu disse, mas minha voz falhou.
Ele alcançou a grande porta da casa da alcateia e a segurou aberta
para mim.
Eu entrei antes dele. Ele colocou a mão nas minhas costas, me
conduzindo pelo corredor envidraçado para a esquerda, longe da
agitação da entrada.
Agora que ele estava me tocando, recuperar o fôlego seria impossível.
— Perdoe-me — disse ele em voz baixa. — Não estou acostumado
com essas... emoções intensas... que você tira de mim.
Eu olhei para ele, chocada. Eu imaginei que ele sempre foi tão
intenso.
— Me incomoda quando você fala com ele — ele elaborou.
Eu senti um lampejo de raiva.
— Ele era meu amigo muito antes de sermos um casal — eu o
lembrei. Sua mão envolveu protetoramente minha cintura na última
palavra. — Além disso, você não é meu dono — arrisquei.
Com isso, nossos corpos cambalearam para trás e fui empurrada
contra a parede. Seus dedos estavam na pele nua da minha barriga
enquanto minha camisa se levantava e eu estava delirando com a
privação de oxigênio.
Seu rosto estava ilegível. Sério, mas de alguma forma brincalhão e
zangado. Ele se inclinou em direção ao meu ouvido.
— Mas você não quer que eu possua você?
Os músculos profundos em meu núcleo se contraíram. Minhas
pernas cederam quando eu lancei meus braços ao redor dele. Estávamos
nos beijando profundamente, cheios de necessidade. Era a única maneira
que qualquer um de nós sabia como lidar com o que sentíamos um com
o outro. A única maneira de fazer sentido.
Ele gemeu baixinho quando agarrei sua garganta. O som fez algo
comigo, e a próxima coisa que eu soube, meu corpo estava agindo antes
que minha mente pudesse entender.
Minhas pernas enroladas em sua cintura, suas mãos seguraram minha
bunda e Sebastian de repente era a única coisa no mundo.
Ele cambaleou por uma porta aberta, batendo-a com força atrás de
nós.
Eu engasguei quando ele me empurrou contra uma cômoda, mais
forte desta vez, suas mãos viajando sobre cada parte da minha bunda,
acariciando meu centro sensível através do meu jeans.
Eu puxei seu cabelo, puxando sua cabeça para trás para que eu
pudesse ter um momento para pensar. Ele rosnou com luxúria pela
minha força.
Seu pomo de adão balançou enquanto ele lutava para recuperar o
fôlego... tudo por minha causa.
Lambi aquele lugar perfeito, e então minha língua deslizou para onde
sua mandíbula encontrava seu pescoço.
— Lyla?!
Meu coração parou...
Porque essa era a voz da minha mãe.
Minhas mãos congelaram no cabelo de Sebastian, e as dele
congelaram na minha bunda.
Eu virei minha cabeça para ver minha família e Caius parados na
porta, suas bagagens a reboque.
Minha mãe estava cobrindo os olhos de Skye. Meu pai estava
segurando a barriga como se fosse vomitar.
Oh, Deusa...
Eu tinha algumas explicações sérias a dar.
11
CONTROLE DE DANOS
Lyla

O queixo de minha mãe estava praticamente no chão. Seus olhos


viajaram das minhas mãos emaranhadas no cabelo de Sebastian para
minhas pernas enroladas em sua cintura.
Skye se contorceu, puxando as mãos da minha mãe de seus olhos.
— Eu quero ver o que Lyla está fazendo!
Oh, Deusa.
Não olhei para Sebastian quando ele soltou minha bunda. Quando
meus pés finalmente estavam no chão, dei alguns passos para longe dele.
Skye, finalmente capaz de ver, fez uma careta porque ela perdeu o
show. Ela seria muito difícil quando ficasse mais velha.
— Você nos deve uma explicação, mocinha, — meu pai exigiu. Ele não
era normalmente um disciplinador, mas em tempos desesperados...
— Sim. Então. Bem, isso é o que eu estava tentando dizer a vocês lá
fora, — eu comecei, correndo para encontrar as palavras certas. — Este é
Sebastian. Ele é...
— Ele é o alfa. Você já nos disse isso — minha mãe se intrometeu. —
Claro, ele é muito bom para os olhos, mas como você poderia trair
Caspian?
A conversa não poderia ser pior. Não ousei olhar para Sebastian, que
estava quase definitivamente explodindo naquele ponto.
— Ele não é mais apenas seu namorado, Lyla, — meu pai continuou
de onde minha mãe havia parado. — Ele é seu companheiro. — Ele
balançou a cabeça em desgosto.
Amaldiçoei-me por me colocar nessa situação horrível e pensei em
como poderia resolver isso.
Mas antes que eu pudesse encontrar uma solução a voz fria e rouca de
Sebastian comandou toda a atenção na sala: — Acho que houve um mal-
entendido.
Eu o espiei por entre os dedos. Sua mandíbula estava dura, mas seus
olhos eram suaves. Ele olhou entre minha mãe e meu pai, irradiando
postura e charme.
Dizer que fiquei chocada seria um eufemismo massivo. Eu também
fiquei impressionada.
— Caspian e Lyla não estão mais namorando, e a Deusa da Lua não os
destinou a serem companheiros, — ele continuou, naturalmente
exigindo respeito com cada palavra.
— Eu sou o companheiro de Lyla, — ele concluiu.
Ele se virou para mim e sorriu, e meu coração parou.
O que ele está realmente pensando por trás dessa fachada calma?
— Lyla é a nova Luna da Alcateia Real, — ele anunciou triunfante.
A sala ficou em silêncio por um momento. Eu encarei Sebastian,
hipnotizada pelo pequeno e orgulhoso sorriso em seus lábios que
permaneceu ali após ele me reivindicar como sua.
— Espere um minuto. — O tom do meu pai me encheu de pavor. —
Lyla é a companheira de Caspian. É simples assim! Ela mesma nos disse,
pelo amor de Deus.
Eu engoli em seco. O sorriso de Sebastian havia desaparecido e ele se
virou para mim com os olhos estreitos.
— Você disse a eles o quê? — Ele demandou.
Eu olhei para meus pais.
— Eu disse que tinha um companheiro! — Eu corrigi meu pai. — E
então Caspian chegou, e vocês presumiram que era ele, e então quando
eu tentei dizer a verdade, vocês não me deixaram falar! — Percebi que
estava gritando. Minha voz soou chorona e imatura em meus ouvidos.
Não ajudou que meu pai estivesse balançando a cabeça em descrença.
— Então sim. Este é meu companheiro. Sebastian, — eu disse,
gesticulando para ele um tanto pateticamente.
Então, desesperada para que a situação acabasse, caminhei em
direção a Sebastian, agarrei sua mão e o conduzi para fora da sala.
— Explicarei tudo mais tarde, — disse a meus pais com um sorriso
cansado. — Talvez durante o jantar?
Eu olhei para Sebastian, me perguntando se ele tinha planos mais
importantes... como nunca falar comigo novamente.
— Seria uma honra recebê-los no restaurante do Fleur de Lis esta
noite, — disse ele, o que me inundou de alívio.
— Oito horas? — minha mãe perguntou.
— Perfeito. Estou ansioso para conhecê-los adequadamente, sr. e sra.
Green.
Skye praticamente desmaiou quando Sebastian deu a ela seu sorriso
vencedor. Mas meus pais trocaram olhares exasperados...
Abri a porta e mais uma vez fiquei sozinha com meu companheiro.
Sebastian

Senti os olhos de Lyla em mim. Ela me observou com atenção, como se


eu fosse um predador imprevisível.
— Explique-se, — eu disse. Minha voz não era mais a voz medida de
um político.
Eu a levei escada acima para o quarto dela. Ela se atrapalhou com a
chave na fechadura. Ela estava nervosa por ficar sozinha comigo.
Fechei os olhos, respirando fundo, como minha mãe sempre me
aconselhou a fazer.
Eu não queria explodir com ela. Eu não queria assustá-la.
Mas apenas vinte minutos atrás, parecia que ela e eu éramos as únicas
pessoas no mundo. E agora Caspian estava entre nós mais uma vez.
Finalmente, ela abriu a porta e eu a segui para dentro. Sentamos na
ponta da cama dela, sem nos tocar.
Ela respirou fundo.
— Devo desculpas a você, — ela começou. — Você não merece nada
disso.
— Muitas mulheres ficariam animadas em dizer a suas famílias que
estão acasaladas com o alfa real. — Minha voz estava baixa e perigosa.
A raiva era a mais confortável de todas as emoções confusas que eu
sentia. Também havia mágoa e medo... que ela não estava animada para
encontrar seu companheiro.
— Minha família não é exatamente normal. Talvez você tenha
notado. — Lyla colocou a cabeça entre as mãos. Ela suspirou e olhou para
mim timidamente. — E não pense que não estou animada com você.
Meu coração inchou com sua expressão séria.
— Meus pais sempre oraram para que eu encontrasse um
companheiro em nossa alcateia, como eles fizeram, — ela continuou. —
Eu sabia que iria partir o coração deles pensar que eu iria me afastar deles
e começar uma nova vida... sem eles.
Ela fez uma pausa e pude ver que a ideia de deixá-los também era
dolorosa para ela.
— Eu vou cuidar de você aqui, — eu prometi. — Eles têm um lugar na
casa da alcateia sempre que quiserem.
Lyla pegou minha mão, acariciando minha pele com os dedos. Nossa
conversa acalmou tanto seu medo quanto minha raiva.
— Obrigada, — ela disse suavemente. — Mas eu acho que não é tudo.
Eles sempre esperaram que eu terminasse com Caspian.
A raiva explodiu dentro de mim e me afastei de seu toque.
— Não estou acostumado a sentir ciúmes desse jeito, — admiti. —
Mas, novamente, ninguém me testou do jeito que você faz. — Suspirei.
— Eu nunca quis ninguém do jeito que eu quero você. Fui construído
para te querer e te querer para mim. Por que você tem que tornar isso tão
difícil?
Eu sabia que dizer isso a afastaria, mas não aguentava mais. Recusei-
me a ser pisado ou a ser o segundo a qualquer homem.
Sua expressão tornou-se cautelosa.
— Caspian é meu amigo desde que éramos crianças. Estivemos juntos
por dois anos.
Eu me levantei, querendo sair da sala. Querendo sair da minha
própria pele. Mas ainda assim, eu não queria deixá-la.
— Não estou dizendo isso para aborrecer você. Só quero que você
entenda, — disse ela.
Andei até o centro da sala, de costas para ela, concentrando-me na
minha respiração para não perder o controle.
— Você pode vir aqui? — ela perguntou.
A suavidade em sua voz fez minha raiva derreter, mesmo que apenas
por um momento. Voltei para a cama e ela colocou os braços em volta de
mim.
— Meus pais vão gostar de você, — ela disse suavemente. — Mas
Caspian é um dos meus melhores amigos. Ele vai estar na minha vida.
Eu encarei minhas mãos. Metade de mim queria sair furioso da sala,
mas a outra metade não conseguia suportar a ideia de deixá-la.
Ela despertou uma tempestade de sentimentos erráticos em mim,
emoções que eu nunca havia sentido antes.
Sempre tive certeza de mim mesmo, como líder, homem e amante.
Pela primeira vez, eu não tinha certeza se teria o que seria necessário
para conquistar seu coração. Eu nunca me comparei a outro homem,
mas como poderia competir com alguém que conhecia Lyla desde
sempre?
Apertando meus lábios com força, prometi a mim mesmo não perder
mais tempo me sentindo inseguro.
Eu sou o alfa. Eu sei que tenho o que é preciso para fazer Lyla feliz.
Tudo que eu precisava fazer era encantar seus pais. Se eu tivesse a
aprovação deles, o resto se encaixaria.
Senti Lyla esperando minha resposta. Virei-me para encará-la e fiquei
intoxicado pela proximidade de seus lábios.
Eu toquei sua bochecha com a ponta dos dedos e a beijei com
confiança.
Eu provaria a ela que era o único que ela queria. Então eu me afastei,
quebrando o feitiço entre nós.
— Venho buscá-la antes do jantar, — prometi, e então a deixei
sozinha.
Lyla

Fiquei na frente do espelho, alisando a saia do meu vestido preto. Eu até


passei um pouco de delineador líquido junto com meu rímel, o que me
fez sentir glamourosa.
Teresa ficaria orgulhosa. Senti uma pontada de tristeza por sentir
falta dela. Antes de nós duas termos encontrado nossos companheiros,
ela estava ao meu lado enquanto eu me preparava para cada ocasião
especial.
Eu borrifei um spray corporal no meu cabelo e a campainha tocou.
Meu coração deu um pulo.
Sebastian.
Passei a tarde pensando nele. Eu sabia que as coisas não eram fáceis
para ele e apreciei o quanto ele estava tentando entender.
Eu estava ansiosa por aquela noite, quando poderia me concentrar
nele. Em nós. Juntos.
Eu abri a porta. Ele estava vestindo uma camisa de botão e um blazer
cinza claro. Ele tinha acabado de se barbear e parecia incrivelmente
sexy... de uma forma limpa.
Meus pais não resistiriam.
Ele estendeu uma única margarida para mim, o que me fez rir.
Ele sorriu e se inclinou para beijar minha bochecha. Por um
momento, me perdi no cheiro de sua colônia.
Quando ele estendeu o braço, agarrei-o.
Estar com Sebastian era como um conto de fadas. Ele era um
cavalheiro por completo. Ele sabia como encantar uma mulher.
Descemos a grande escadaria. As pessoas circulavam pela entrada,
desfrutando de um coquetel. Eles sorriram para nós com aprovação.
Percebi que estava desfrutando da pompa e circunstância,
imaginando como seria descer para jantar naquela bela casa todas as
noites...
Passamos pela entrada principal e pela varanda, passando pelo
gramado. Caminhamos pela noite quente até o hotel. Meu braço
permaneceu enfiado no de Sebastian o tempo todo.
A anfitriã nos cumprimentou calorosamente quando entramos no
restaurante do Fleur de Lis. Então viramos a esquina e meu sorriso
sumiu.
Meus pais e Skye acenaram para nós. Mas eles não eram os únicos à
mesa.
Caspian se virou e ergueu seu copo de uísque como forma de
saudação, com um sorriso malicioso que me disse que ele não se
comportaria à mesa.
A mão de Sebastian se fechou em punho e um rosnado baixo escapou
de seus lábios.
Eu engoli em seco. Ambos os meus amantes estavam lá.
Seria uma noite dramática.
12
JANTAR PARA TRÊS
Lyla

Parei em frente à mesa de jantar, sem saber o que seria pior: sentar entre
Caspian e Sebastian, ou eles se sentarem um ao lado do outro.
Olhei para Sebastian e decidi. Seu olhar para Caspian era cortante, e
Caspian ergueu as sobrancelhas enquanto tomava um gole de uísque. Eu
sentei no assento no meio de meus dois pretendentes. Do outro lado da
mesa, Skye estava fingindo que seu garfo e colher estavam se beijando. Eu
dei a ela um olhar exasperado.
— É difícil ter dois namorados, Lyla? — ela perguntou com inocência
fingida.
Eu sabia que meus pais não iam tornar isso fácil para mim, mas Skye
também não estava ajudando.
— Eu não tenho dois namorados, — eu respondi definitivamente. Eu
não sabia o que tinha exatamente, mas isso não vinha ao caso.
Suspirei enquanto um garçom colocava um pouco de vinho na minha
taça, e Sebastian recusou educadamente.
— Você não gostaria de uma bebida, Sebastian? — Caspian
perguntou. — Você deveria descansar. Você parece estressado.
Percebi que ninguém se comportaria bem naquela refeição. Dependia
de mim garantir que nossa mesa não queimasse o Flor de Lis até o chão.
— Caspian estava recomendando alguns pratos do menu para nós, —
minha mãe disse. — Como guisado de jacaré e a fervura de lagostim.
— E, se me permitem, o filé mignon com manteiga de trufas é
incrível, — Sebastian acrescentou, reclinando-se em sua cadeira e
colocando o braço em volta de mim.
— Colin tem colesterol alto e Lily o evita por solidariedade, —
Caspian disse com um estremecimento falso. — Mas como você seria
capaz de saber disso? — Ele escondeu seu sorriso atrás de seu copo de
uísque.
Meu queixo caiu. Não era típico de Caspian ser tão idiota. Mais cedo
naquele dia ele parecia tão ferido. Talvez fosse o uísque falando.
— Eu adoraria o filé mignon, — eu disse a Sebastian.
— Jacaré parece nojento, — Skye adicionou.
Minha mãe se inclinou para frente. Estava claro que ela estava se
divertindo.
— Então, querida, enquanto caminhávamos à beira do rio mais cedo,
encontramos Caspian. Quando soube que ele estava sozinho, insisti em
que viesse jantar conosco. Eu sabia que você não se importaria, querida.
— Ele não está sozinho, — rebati.
— Certo, estou com você, Ly — Caspian disse.
— E sua família, e a alcateia..., — eu continuei, olhando timidamente
para Sebastian. Eu percebi que ele mal estava segurando sua compostura,
e ainda não tínhamos feito nossos pedidos.
Caspian

Era quase fácil demais. A fachada de cavalheiro sulista de Sebastian não


me enganava. Ele era um alfa, não um homem de família.
— Lembra daquela vez em Beaver Creek? Quando fizemos rafting? —
Eu perguntei. Lily já estava bufando de tanto rir. O que eu poderia dizer?
A mulher me amava.
— O incidente da parte inferior do biquíni! — Skye aplaudiu.
— Oh, não... — Lyla começou.
— Não se preocupe, Ly. Estar nua não é nada para se envergonhar. —
Eu sorri diabolicamente para Sebastian, que olhou de volta.
Eu não poderia me importar menos com ele. Eu queria que ele
soubesse que eu conhecia o corpo de Lyla muito melhor do que ele.
— Nunca esquecerei a expressão em seu rosto, — disse Colin entre
gargalhadas, — quando ela saiu da água depois daquela queda, e a calça
de seu maiô tinha desaparecido!
Eu ri até que lágrimas se formaram em meus olhos.
— De jeito nenhum ela iria encontrá-los, — Lily relembrou
melancolicamente.
— Eu estava tão envergonhada! — Lyla interrompeu.
— É por isso que eu te dei minha roupa de banho, bebê, — eu disse
com um sorriso astuto. — Para que todos não vissem sua adorável marca
de nascença.
O rosto de Lyla ficou vermelho de raiva ou de vergonha renovada,
mas um olhar para Sebastian me disse que meu comentário tinha
acertado o alvo. Sua mandíbula se contraiu com raiva controlada.
— Ela teve sorte de você ter usado roupa de baixo! Você sempre foi
um cavalheiro! — A mãe de Lyla deu uma risadinha.
Arrisquei mais um olhar exultante para Sebastian.
Dois podem jogar esse jogo, Alfa.
— Nós com certeza passamos por muita coisa juntos, hein, Ly? — Eu
perguntei.
— Tantos bons momentos! — Colin gritou. — Eu sempre disse que
você era o filho que eu nunca tive, Caspian...
— Pai! — Lyla avisou.
Ao lado dela, Sebastian estava lutando para manter sua compostura
rígida. Se ele não fosse um bastardo tenso, eu poderia ter me sentido mal
por ele.
— Sebastian, talvez você possa nos contar mais sobre a Casa da
Alcateia Real, — Lyla ofereceu.
O alfa se inclinou para frente, certificando-se de ter toda a atenção de
Lily e Colin. Aproveitei para pedir outro whisky com gelo.
— Como todos sabem, a Alcateia Real é a mais antiga da América do
Norte. Esta terra está na minha família desde que foi colonizada pelos
colonizadores.
Eu queria tirar aquele sorriso arrogante de seu rosto.
— Quando meu pai era um menino, ele ajudou seu pai a construir a
casa de da alcateia com as próprias mãos.
— Naquela época, os rapazes sabiam o que era trabalhar duro! —
Colin gritou.
— Isso é o que meu pai sempre disse também, — Sebastian
respondeu.
Sim, certo.
Aposto que esse cretino real teve tudo entregue a ele em uma bandeja de
prata — bem, se os lobisomens não tivessem aversão à prata.
Talvez Colin pudesse ser conquistado pela educação digna de
Sebastian. E daí?
— Meu pai sabia que queria criar sua família na casa da alcateia, e
estou esperando para começar minha própria família lá. — Sebastian
pegou a mão de Lyla e meu estômago embrulhou.
Eu odiava vê-lo tocá-la. Foi a pior sensação do mundo.
Mas então Lyla sorriu timidamente. Ok, essa foi a pior sensação do
mundo.
Lyla não gostava de toda aquela pompa e circunstância. Não era quem
ela era. Então, por que ela estava sendo tão tímida?
Minha dor se transformou em raiva.
— Nós entendemos, Sebastian, — eu disse amargamente, — você é
um membro da Alcateia Real.
— O alfa da Alcateia Real, — ele corrigiu.
— Certo! Como eu poderia esquecer? É a única coisa sobre a qual
você fala, — prossegui, sabendo que estava chegando a um ponto sem
volta, — e estou começando a me perguntar se é o único pensamento que
passa por sua cabeça dura.
Sebastian

Quase engasguei com minha água gelada. Finalmente, Caspian estava


mostrando suas verdadeiras cores.
Isso me deixou com raiva, é claro, mas também me fez sentir um
pouco mal por ele. Era uma exibição patética e o cara estava bêbado.
Mas quando Colin bufou de tanto rir, e o peito de Caspian inchou
com orgulho, eu não pude mais me conter.
— Cuidado, Caspian, — eu disse, minha voz baixa e perigosa. — Só
porque a Deusa da Lua não o considerou digno de uma companheira,
não significa que você pode roubar a de outra pessoa.
— Sebastian! — Lyla repreendeu.
— Eu não preciso roubar Lyla. Ela é minha namorada — Caspian
revidou.
— Esse relacionamento terminou no momento em que ela ouviu meu
chamado de acasalamento, — respondi. — Eu teria cuidado, Caspian.
Todo mundo sabe o que acontece quando um beta testa um alfa.
Senti a mão de Lyla na minha perna, um aviso.
— Você quer dizer, todo mundo sabe o que acontece quando um alfa
se sente ameaçado, — ele rosnou.
— Oh, por favor. Você não me ameaça, — eu respondi. — Eu posso
dar a Lyla o mundo e muito mais. Eu sou o líder da alcateia mais
poderosa da América do Norte.
À medida que nossa discussão aumentava, os pais de Lyla ficaram
quietos.
— O que você tem para oferecer? — Eu exigi. — Você nem mesmo é o
companheiro dela!
Minha voz ecoou pela sala. Agora, não era apenas a nossa mesa que
estava quieta. Todo o restaurante estava em silêncio, nos observando.
Lyla

Com as últimas palavras de Sebastian, eu estava farta.


Eu estava esperando o fim da pior refeição da minha vida, mas era
hora de resolver o problema com minhas próprias mãos.
Empurrei minha cadeira para trás e me levantei. Eu estava tão
chateada que nem me importei que todos na sala estivessem olhando
para mim.
— Vocês são tão cheios de merda! — Eu gritei. — Vocês agem como se
quisessem o melhor para mim, mas vocês só pensam em vocês mesmos.
Vocês não poderiam se importar menos com o que eu quero.
Com isso, eu me virei e saí da sala de jantar, em seguida, saí do hotel.
Lágrimas ardiam em meus olhos enquanto eu me inclinava sobre o
parapeito da varanda. Eu não queria chorar.
O gramado se estendia diante de mim, fios de luz cintilando
enquanto a luz do dia desaparecia. A noite que viria era para ser repleta
de risos e comemorações.
Era para ser o momento mais feliz da minha vida.
Todos os outros lobos recém-acasalados estavam celebrando e
desfrutando da companhia um do outro.
No entanto, lá estava eu, presa entre dois homens. E eu quase não tive
espaço para respirar, muito menos para tomar uma decisão tão
importante.
Claro, minha família não ajudou. Eles sabiam a vida que eles queriam
para mim. Todo mundo tinha sua própria opinião, o que tornava muito
mais difícil encontrar a minha.
Suspirei, olhando para o céu rosa. A lua já estava aparecendo,
minguando, mas grande e branca e brilhante.
Deusa da Lua, por que você fez isso comigo? Eu perguntei ao céu
noturno, mas a única resposta foi o coro constante do chilrear das
cigarras.
— Lyla.
Eu sabia que era Caspian antes de me virar para vê-lo. Ele estava lá
com sua camisa amassada de botão, suas defesas abaixadas.
O calor e a compaixão voltaram aos seus olhos castanhos. Sua
expressão era de pesar.
— Sinto muito pelo drama, — ele começou. — Não quero tornar isso
mais difícil para você do que já é.
Ele nunca desviou o olhar, seus olhos transmitindo o amor
incondicional que ele sentia há anos.
— Mas eu não vou desistir disso. Eu vou lutar por você.
Mordi meu lábio enquanto as lágrimas continuavam a queimar.
— Eu sei que não tenho dinheiro ou prestígio, e eu sei que não sou
um alfa real. Mas eu conheço você, Ly. E eu te amo. Sempre amei e
sempre irei. E mesmo que você não seja minha verdadeira companheira,
isso é o suficiente para mim.
Quando ele terminou, ele olhou para suas mãos e então me deu um
sorriso que partiu meu coração.
Ele iria lutar por mim. Isso estava claro.
E Sebastian também.
Mas a questão que queimava nos cantos da minha mente era...
Posso evitar que esses dois cabeças quentes se destruam?
13
O LUGAR FAVORITO DE SEBASTIAN

Lyla: Ei T

Lyla: Alguma chance de você estar livre


agora?

Lyla: Eu realmente gostaria de um tempo


de garotas.

Teresa: Meu Deus, eu também

Lyla: Graças à porra da Deusa da Lua

Lyla: Espere, isso é blasfêmia?

Teresa: Tanto faz. Não ligo

Teresa: Dia longo?

Lyla: Você não tem ideia


Lyla: Drama de garotos me deixando louca

Teresa: Não diga mais nada

Teresa: Onde você está?

Teresa: Chegando e tenho vinho

Lyla
Suspirei de alívio. Finalmente, algo estava indo bem essa noite.
Eu disse a ela para me encontrar sob o salgueiro-chorão perto do rio,
então me deitei e olhei para os galhos balançando.
O céu estava tingido de rosa com o pôr do sol e a temperatura era
amena. Foi uma noite perfeita. Se eu pudesse aproveitar...
Todo mundo disse que eu era a garota mais sortuda. Eu estava
acasalada com o alfa real.
Eu sabia que não era justo ficar chateada quando muitas pessoas não
tinham um companheiro. De certa forma, meus problemas eram
invejáveis.
Mas para mim, estar dividida entre dois homens era quase pior do
que não ter ninguém.
— Ei irmã. — Teresa puxou a cortina de galhos flutuantes.
Ela estava usando um vestido de verão, assim como eu. Ela me passou
a garrafa de vinho branco e dois copos de plástico e estendeu um
cobertor no chão.
Rolei para o tecido de lã macio e ela se sentou ao meu lado, deitando-
se de costas e soltando um suspiro enorme.
— Parece que você está se sentindo da mesma forma que eu, — eu
disse, servindo-lhe uma taça de vinho.
— Oh, Deusa. Jantar com os sogros, certo? — Ela gemeu, antes de
perceber seu erro e se levantar sobre um cotovelo. — Merda, eu sinto
muito. Esqueci que os pais de Sebastian estão...
— Tudo bem. Mas tudo isso poderia ser mais fácil se eu pudesse
conhecê-los, — eu meditei.
— Então, se não são seus sogros te chateando, são seus pais? — ela
perguntou.
Tomei um gole do vinho frio.
— Você não acreditaria, T. Eles convidaram Caspian para jantar esta
noite.
Teresa engasgou, amando o drama.
— De jeito nenhum! Mama Lily com o golpe baixo. Então foi um
desastre?
— Você não tem ideia — eu gemi. — Caspian e Sebastian são tão
competitivos, e isso trouxe o pior de ambos.
— Eu posso imaginar, — ela disse, erguendo as sobrancelhas. — Mas
não é como se houvesse muita competição, certo? Quer dizer, Sebastian é
o alfa real. E seu companheiro.
Fechei meus olhos e pressionei minhas têmporas. Eu sabia que Teresa
estava certa, em teoria. Sebastian poderia me prometer uma vida com a
qual muitas garotas só poderiam sonhar.
Mas eu... eu não tinha tanta certeza.
— Como se ele já não fosse o espécime masculino mais gato da terra,
— acrescentou Teresa com um suspiro.
Eu não sabia como explicar que não teria apenas que desistir de
Caspian... Eu também teria que desistir da vida que poderia ter tido com
ele. A vida que sempre quis e tudo o que conhecia.
E embora Teresa não fosse entender, eu sim, ainda amava Caspian. Ele
tinha sido minha vida até aquele ponto. Estar com ele era uma segunda
natureza para mim.
Por outro lado, Sebastian era intenso. Fogoso. Depois que ficamos
juntos, me senti exausta. Mesmo que fosse um bom tipo de exaustão, eu
poderia viver assim para sempre?
Teresa tocou meu braço e me virei para ver sua expressão aberta e
calorosa.
— Eu sei que posso não entender, mas você pode me dizer qualquer
coisa, sabe, — disse ela com um sorriso. — Eu amo demais você para
julgá-la.
Inclinei-me para seu toque e levei suas palavras a sério.
— Quero dizer, Sebastian é incrível e insanamente sexy, obviamente,
— eu comecei. — Mas tudo com ele é tão intenso. Ele é territorial e
controlador.
— Ele é um alfa. — Ela fez uma pausa, tomando um longo gole. —
Você já considerou que esta situação poderia estar trazendo à tona essas
partes dele?
— Você está certa, — eu admiti. — E eu quero dar uma chance, só eu
e ele. Mas agora meus pais estão aqui, e eles amam Caspian...
— É muita coisa para equilibrar, Ly, — afirmou Teresa. — Vai ficar
mais fácil. Apenas tente se concentrar em você, ok? O que você quer.
— Obrigada, — eu disse enquanto envolvia meu braço em volta de
seus ombros magros. Sua pele ainda estava quente do sol. — Eu
realmente precisava desse conselho.
Teresa beijou minha bochecha dramaticamente antes de sair do meu
abraço e encher nossas taças de vinho.
— Ok, agora por favor me conte tudo sobre o seu companheiro, — eu
disse.
A última vez que os vi juntos, eles estavam fodendo os miolos um do
outro. Tirei essa imagem mental da minha mente.
— Oh minha deusa, Lyla. Reed é incrível. Eu nunca teria adivinhado
olhando para ele, mas ele é uma aberração! Deixe-me apenas dizer, ele
sabe exatamente o que está fazendo.
Ela suspirou com adoração.
— Mas eu te entendo, — ela continuou. — Agora que os pais dele
estão aqui, tudo é mais intenso. E, claro, meu pai acha que ninguém
jamais será bom o suficiente para mim.
Eu fiz uma careta. Alfa Hugo não facilitaria as coisas para Reed, isso
era certo.
— Estou ansiosa para quando seremos apenas Reed e eu, — disse ela
com um sorriso melancólico. — Ele já concordou em se mudar comigo
de volta para Lua Azul.
— Estou tão feliz por você, Teresa, — eu disse, falando sério.
Ficamos em silêncio por um momento, bebendo nosso vinho
enquanto o pôr do sol se refletia no rio diante de nós.
Pensei no que Teresa devia estar sentindo. Ela estava cheia de
entusiasmo e tinha certeza sobre seu futuro.
Fiquei feliz pela minha amiga, mais do que qualquer coisa. Mas eu
não podia negar que havia uma parte de mim que sentia ciúmes... Eu
queria que minha própria vida fosse tão simples.
O telefone de Teresa tocou, me tirando do meu devaneio.
— Reed está se perguntando onde estou, — disse ela. — Acho que
acabaram os dias em que éramos apenas nós contra o mundo.
— É para o melhor, — respondi com um sorriso triste, embora não
soubesse se realmente era melhor para mim. — Vou acompanhá-la até a
casa.
Peguei o cobertor e, enquanto me levantava, minha cabeça girava. Do
vinho, provavelmente, ou do jantar mais longo que já tive.
Teresa e eu voltamos para a enorme mansão de pedra. Quando nos
separamos do lado de fora do meu quarto, eu soprei um beijo para ela.
E então abri minha porta e quase tive um ataque cardíaco.
Sebastian
— Ah não! Eu não queria te surpreender! — Corri para o lado de Lyla
enquanto ela se apoiava contra a porta.
Ela começou a rir e fiquei aliviado por ela estar feliz em me ver.
— Sem ofensa, mas por que você está aqui? — ela perguntou.
Nossos olhos se encontraram então, e eu esqueci por que vim, além
de ficar sozinho com ela. Tudo era simples agora que éramos apenas nós.
— Eu queria te mostrar uma coisa, — eu disse uma vez que reuni
meus pensamentos. — Venha comigo.
Ela sorriu preguiçosamente, e eu soube que ela estava bêbada. Ela
estava de bom humor, então não me importei.
— Deixe-me trocar de roupa. Eu vou, hum, te encontrar no corredor?
— ela perguntou.
— Não tenha pressa, — respondi.
Quando eu saí de seu quarto, ela balbuciou: — Eu estarei com você,
sr. Cavalheiro.
Eu me peguei sorrindo, feliz por nós dois termos tido algum tempo
para nos acalmar desde o jantar. Eu não podia culpar Caspian por todo o
desastre, embora parte de mim quisesse.
Eu não estava orgulhoso da maneira como agi. Mas eu estava
preparado para fazer as pazes com ela.
Poucos minutos depois, Lyla abriu a porta vestindo uma muda de
roupa casual, mas com o mesmo sorriso malicioso.
Descemos em silêncio as escadas dos fundos, saímos pela porta lateral
e adentramos a noite quente.
— Para onde você está me levando? — ela perguntou.
— Para o meu lugar favorito.
Cruzamos o gramado, passamos pelo salgueiro-chorão e descemos ao
longo do rio até o cais.
O pequeno barco a remo balançou na água e eu desfiz a corda que o
prendia. Peguei a mão de Lyla, mantendo-a firme enquanto ela
encontrava seu assento no barco para duas pessoas.
Eu sentei no lugar oposto a ela — o lugar do remador — e manobrei
com os remos até que estivéssemos em mar aberto.
Lyla estava mais bonita do que nunca ao luar, e eu pensei na noite em
que nos conhecemos, quando tudo havia começado.
— Eu te devo desculpas por mais cedo, — eu disse. O esforço físico do
remo me acalmou e me senti pronto para uma conversa difícil.
Ela ficou quieta por um minuto, me observando, tentando me
entender.
— Sei que tudo isso também não é fácil para você, — continuei, — e
essas decisões são suas.
— Que decisões? — ela perguntou.
— Com quem você... ficará, — eu consegui dizer. Concentrei-me em
remar por um momento, atravessando o pântano e chegando em águas
mais estagnadas e pantanosas.
Árvores se ergueram ao nosso redor, bloqueando a lua e tornando a
noite brilhante mais escura.
Senti um aperto desconfortável na garganta. Eu não queria admitir o
quão desconfortável a situação me deixava.
Eu não estava acostumado a me sentir inseguro. Mas a intuição me
disse que a honestidade era a única maneira de me aproximar dela.
Ela não disse nada, mas eu podia sentir que ela estava me observando.
— Não posso negar... Estou preocupado com o quão próxima você é
de Caspian. — Remei, puxando-nos para a frente. — E eu quero que você
saiba que eu não sou apenas o alfa real. Eu sou seu companheiro. Isso é
ainda mais importante para mim.
Continuei a remar. Lyla olhou para mim e eu sabia que ela estava
contemplando minhas palavras.
Logo, fomos iluminados pela luz da lua. Havíamos entrado em meu
lugar favorito e observei a boca de Lyla se abrir, maravilhada.
A quebra das árvores acima do pântano permitiu que a luz entrasse.
As algas cresciam em abundância ali e, à noite, o local se transformava
em um lugar mágico.
O luar penetrava por entre as árvores e a superfície da água brilhava
com o verde das algas.
Eu senti como se o tempo tivesse parado. Até que ela respondesse, até
que eu soubesse o que ela estava pensando, o tempo iria parar para
sempre.
Lyla

Eu não queria falar. Eu não queria estragar o momento.


Sebastian estava me dizendo tudo que eu queria ouvir. Eu não tinha
ideia de como tive tanta sorte.
— Eu quero fazer memórias com você também, Lyla, — ele disse.
Atravessei o espaço entre nós e descansei minha mão em seu joelho.
— Obrigado por dizer tudo isso, — eu sussurrei. — Significa muito
para mim.
Eu olhei para a vista diante de mim. Era de outro mundo — um
pântano de neon banhado pelo luar verde-claro. Com Sebastian, me senti
segura.
— Este é o seu lugar favorito? — Eu perguntei, embora eu já soubesse
a resposta.
— Eu queria vir aqui com você porquê... — ele começou. Sua voz era
tão suave quanto a minha.
Um vaga-lume passou perto da minha cabeça. Talvez fosse o zumbido
persistente do vinho, ou a cena de sonho, mas estendi a mão para agarrá-
lo, totalmente sem medo.
Quando o pequeno barco começou a balançar, Sebastian gritou: —
Lyla, espere, você vai...
Eu perdi meu equilíbrio. Eu me ouvi gritar, e a próxima coisa que
percebi foi que estava submersa na água.
Braços fortes se estenderam e me envolveram.
Sebastian.
Nunca me preocupei por um segundo que pudesse me machucar. Seu
corpo estava lá, me segurando na água, me puxando para perto dele.
Minha cabeça chegou na superfície e respirei fundo. Tudo estava
escuro.
— Acho que estamos embaixo do barco, — disse Sebastian com uma
risada exasperada.
Privada de todos os sentidos, exceto o toque, eu só podia senti-lo; ele
era a única coisa real para mim.
Agarrei-me ao seu corpo, não só porque precisava dele para me
manter à tona, mas também porque precisava... para mim.
Sua respiração estável estava no meu rosto. Eu estava intoxicada por
ele — por sua vulnerabilidade em contraste com seu grande poder; sua
honestidade e franqueza...
Eu não conseguia vê-los, mas sabia que seus lábios estavam bem
diante dos meus. Inclinei-me para frente, pronta para fechar o espaço
entre nós e reivindicá-lo como meu.
Mas, naquele exato momento, senti um leve puxão na minha perna.
Depois, um mais forte.
Algo estava segurando minhas calças soltas e estava determinado a
me derrubar...
Abri a boca para gritar, mas meus pulmões se encheram
instantaneamente de água pantanosa e meus gritos foram abafados.
Olhando para baixo, vi uma pele escamosa brilhando ao luar
enquanto algo monstruoso me arrastava para baixo da água escura.
14
JOGOS DE JACARÉ
Sebastian

Por um momento, ela estava comigo na escuridão fria e silenciosa do


barco a remo virado para cima. Seu corpo estava pressionado firmemente
contra o meu na água, e ela estava segura.
Quando dei por mim, ela havia partido. Ela foi arrastada para baixo.
Tendo vivido naquele pântano minha vida inteira, eu sabia contra o
que estava lutando.
Um jacaré.
Eu mergulhei na água, desesperado para encontrá-la.
Mas, por mais que tentasse, sentia apenas algas marinhas. Eu abri
meus olhos, mas meus sentidos estavam falhando. Eu não conseguia ver
nada na água turva do pântano.
Comecei a entrar em pânico.
Saí para a noite enluarada, virando-me para me certificar de que nada
escaparia de mim.
E então eu vi: uma cauda espinhosa de prata refletiu a luz da lua.
Eu nadei atrás dele, já começando a mudar para minha forma de lobo.
— Sebastian!
A voz de Lyla ecoou sobre a água. Ela conseguiu colocar sua cabeça
acima da superfície, mas eu não poderia depender disso por muito
tempo.
Eu mergulhei em direção a ele, meus músculos inchados rasgando as
costuras da minha camisa. Garras saíram de meus dedos enquanto eu me
lançava para a besta.
Afundei minhas garras na pele de couro da cauda do jacaré.
Ele soltou um silvo frustrado, girando suas mandíbulas alinhadas
como navalha para me encontrar.
Bom, pensei comigo mesmo. Isso significava que havia libertado Lyla.
Ela estava segura, e isso era tudo que importava.
Eu bati meu punho contra o lado sensível do jacaré, na esperança de
poder espantá-lo. Mas a besta cambaleou em minha direção na água.
Não desistiria sem lutar.
Rosnei enquanto estendia a mão para agarrar e subjugar a besta,
confrontada com suas mandíbulas impiedosas.
Uma boca cheia de dentes irregulares esperando para apertar minha
carne.
O jacaré fechou seus dentes a alguns centímetros para a esquerda da
minha orelha. Queria meu crânio em sua boca, isso estava claro.
Mas eu não permitiria isso.
Eu grunhi, meus olhos logo acima da linha d'água. Então eu me lancei
para frente, cravando minhas garras nos olhos da besta, deixando-a cega.
A ideia era louca. Eu sabia. Mas eu era um alfa e não tinha um
momento a perder. Se minha companheira estivesse com problemas, eu
faria de tudo para salvá-la.
Eu subi nas costas da besta e alcancei sua boca, segurando os lábios
escamosos em cada uma de suas mandíbulas. Eu separei meus braços, de
modo que todos os seus dentes ficaram à mostra.
Puxei e puxei — até que suas mandíbulas estivessem estendidas ao
máximo. A besta lutou embaixo de mim, mas a luta foi inútil.
Com um puxão final, um som horrível de rasgar permeou o pântano
quando suas mandíbulas estalaram e afrouxaram. Derrotado, o jacaré
borbulhou ao afundar na água escura.
— Sebastian! — Lyla gritou por mim enquanto lutava para alcançar o
solo.
Nadei na água com todas as minhas forças.
Quando a alcancei, retirei minhas garras e a embalei em meus braços.
Finalmente, chegamos à beira da água e eu a coloquei em segurança em
solo firme.
Cobri seu corpo com o meu, aquecendo-a enquanto ela estremecia. A
grama abaixo de nós estava lamacenta e emaranhada.
— Você está machucada? — Eu perguntei, minhas mãos
ensanguentadas viajando sobre sua pele suavemente, procurando por
feridas.
— Eu acho que não, — ela sussurrou em resposta. — Você está?
— Não, — eu respondi, pressionando minha bochecha suavemente
contra seu cabelo molhado. Ela me segurou com força. Nossos peitos
estavam pesados enquanto lutávamos para recuperar o fôlego.
Ela estremeceu embaixo de mim, seu corpo ainda em choque com o
ataque do jacaré. O tenso jantar no início da noite parecia uma vida
inteira de distância.
A única coisa que importava agora era que ela estava segura e nós
estávamos juntos.
Eu gentilmente a levantei, para que ela pudesse descansar com
segurança no meu colo.
Sua mão embalou meu rosto e então seus lábios estavam bem diante
dos meus. Seu hálito quente me incendiou, embora eu estivesse com frio
e molhado.
Ela me beijou com paixão desprotegida e meu corpo reagiu. Eu
pressionei mais perto dela quando ela caiu para trás, empurrando minha
coxa entre suas pernas enquanto ela as abria embaixo de mim.
Meu corpo pulsou quando ela empurrou seus quadris nos meus,
gemendo em minha boca. Seus dedos se enrolaram em meu cabelo,
puxando-me em sua direção, embora dificilmente pudéssemos estar mais
perto.
O tempo passou enquanto ficamos ali, nos beijando e nos
contorcendo. Eu queria ficar assim para sempre, mas lentamente, a
realidade voltou para mim. Lyla precisava de atenção médica, mesmo que
não estivesse ferida.
Eu me afastei dela. Os olhos de Lyla brilharam na escuridão.
— Este ainda é seu lugar favorito? — ela perguntou.
— Gosto ainda mais agora, — respondi.
Comecei a me levantar, mas a impedi enquanto ela tentava se juntar a
mim.
— Não se mexa, — avisei, — até que o médico dê uma olhada em
você.
Eu a levantei em meus braços.
— Não vou me opor a isso, — disse ela, segurando meu peito.
Saímos da floresta.
Lyla deu uma risadinha e eu olhei para baixo para ver seus olhos
brilhando para mim.
— Você disse que queria fazer memórias juntos, — disse ela. — Bem,
esta é uma grande memória.
Lyla

— Enfermeira, outro cobertor, por favor. Ela está tremendo. — Sebastian


levou uma caneca de chá aos meus lábios enquanto o médico continuava
a verificar meus sinais vitais.
— E você? — Eu exigi. — Eu já tenho três cobertores, e você ainda
está com a roupa molhada.
Sebastian considerou minha pergunta indigna de resposta,
estudando-me com a testa franzida. Ele segurou a caneca fumegante
diante de mim. Suspirei e tomei um gole.
— Bem, srta. Green, — disse o médico, deslizando para longe de mim
em seu banquinho, — além de algumas escoriações e hematomas, você
conseguiu escapar do jacaré ilesa.
A enfermeira voltou e colocou um cobertor no meu colo já bem
coberto.
— Eu acho que você teve sorte de o alfa real estar com você, — o
médico continuou.
Eu estava perdida nos olhos de Sebastian. Sua expressão permaneceu
inalterada, apesar das tentativas flagrantes de lisonja do médico. Ouvir
que eu estava bem era aparentemente tudo o que ele precisava.
Eu sorri para ele timidamente, puxando um dos cobertores em volta
dos meus ombros e apertando bem.
Algo mudou entre nós desde nossa aventura juntos. Mesmo nas luzes
brancas estéreis, a magia do pântano brilhante permaneceu.
Eu podia ver isso em seus olhos azuis calmos e perscrutadores. Ele
estava me olhando como se não pudesse acreditar que eu estava lá, ou
que tínhamos passado pelo que passamos.
De minha parte, não pude acreditar como ele havia neutralizado uma
situação tão louca.
Ele salvou minha vida com tanta facilidade e confiança.
Mesmo quando fui puxada para a água escura por uma força invisível,
tive uma sensação de calma. Eu sabia que podia confiar em Sebastian
para me manter segura, e ele provou que eu estava certa dez vezes.
Ele colocou a caneca na mesa ao lado dele, nunca desviando o olhar
de mim.
Sebastian pegou minha mão e desenhou pequenos círculos em minha
palma com o polegar.
Parecia tão íntimo, mas um momento depois, a paz foi interrompida
quando Caspian abriu a porta, entrando no quarto com a enfermeira em
seus calcanhares.
Caspian congelou quando me viu. Ele olhou feio para Sebastian,
então correu para o outro lado da cama e ajoelhou-se ao meu lado.
— Vim assim que soube que você estava ferida, — disse ele, sem
fôlego.
— Não estou ferida, Caspian, — respondi. — Você não precisa se
preocupar comigo.
— Eu sempre me preocupo com você, — Caspian disse. Seus olhos
analisavam meu rosto freneticamente. Ele ainda estava claramente
perturbado. — E quando eu soube que um jacaré pegou você...
— Eu sei, — respondi. — Sebastian me ajudou. Mas obrigada. — Nada
parecia ser a coisa certa a se dizer, mas fiquei comovida com sua
preocupação.
Peguei a mão de Caspian, na esperança de ajudá-lo a se acalmar, e
senti Sebastian recuar do meu outro lado.
De repente, me senti exausta. Estar com os dois homens no mesmo
lugar me deixava exausta porque eu nunca seria capaz de dizer a coisa
certa... ou fazer os dois felizes.
— Ele salvou você, é? — Caspian cuspiu, olhando por cima de mim
para Sebastian. — Ele é quem a colocou em perigo em primeiro lugar.
— Na verdade, fui eu quem tombou o barco a remo, — corrigi.
Mas nem ele nem Sebastian estavam me ouvindo. Era como o jantar
infernal novamente.
— Lyla nunca estará em perigo quando ela estiver comigo, —
Sebastian rosnou.
Caspian bufou.
— Ela acabou de estar, seu idiota arrogante.
Os dois homens se inclinaram para frente. Eles se encararam por
cima das minhas pernas; era como se eu nem estivesse lá.
— Se você algum dia colocá-la em perigo novamente, Alfa, eu juro
pela Deusa que vou fazer você se arrepender.
— Caspian, pare! — Eu exigi, mas minhas palavras foram ignoradas.
— Eu não acredito que você tenha o que é preciso para me fazer
qualquer coisa, seu filhote beta.
— Sebastian!
— Ah é? Eu diria que você está blefando, porque te deixei com ciúmes
desde o momento em que nos conhecemos. Porque sua companheira me
ama.
— Parem! — Eu gritei. O médico, que estava se distanciando cada vez
mais do conflito, saltou com o meu tom áspero.
Finalmente, Sebastian e Caspian reconheceram minha presença. Eles
eram tão competitivos, isso me deixava louca.
Espere um minuto...
Só então, tive uma ideia.
Eles querem transformar tudo em uma competição... então por que não
deixá-los competir?
Seria a oportunidade perfeita para colocar os dois em seus lugares.
— Se vocês estão tão decididos a competir, guardem isso para os Jogos
da Cúpula. O torneio de luta de porcos é amanhã.
Afastei minhas mãos de ambos e cruzei os braços sobre o peito.
Os dois homens se voltaram um para o outro, com olhares furiosos e
motivação renovada.
— Vamos aumentar as apostas, hein, Alfa? — Caspian apostou com
um sorriso malicioso. — Quem pegar aquele porco pode levar Lyla para
um encontro.
Ele ainda teve a coragem de inclinar a cabeça na minha direção. Como
ele ousa!? Caspian estava agindo como se eu fosse um prêmio a ser ganho.
— Ei, eu tenho algo a dizer — eu comecei.
Mas o brilho determinado nos olhos azuis de Sebastian disse tudo.
— Fechado, — ele concordou.
E então meus dois pretendentes apertaram as mãos.
A competição só poderia ter um vencedor... e isso se aplica a mais do
que apenas a luta de porcos.
Apenas um homem poderia vencer a luta pelo meu coração.
Mas se apenas um pudesse vencer...
Caspian ou Sebastian...
Para quem eu vou torcer?
15
O AMOR É SUJO
Caspian

Vadear em um poço de lama pode não ser a ideia de diversão de todos.


Mas eu?
Eu amei.
Eu nunca estive mais pronto para lutar contra um enorme porco
barrigudo amante da lama em minha vida.
O sol beijava a pele nua do meu peito e braços. A parte de baixo do
meu short estava coberta de lama.
Eu estava pronto para me sujar em nome do amor.
Os outros competidores ocuparam seus lugares ao meu redor em um
grande círculo no campo lamacento. A maioria de nós éramos alfas ou
betas, determinados a honrar nossas alcateias sendo os primeiros a pegar
o porco.
Esse era o meu plano também, mas eu estava lutando por mais do que
honra. Eu estava lutando para ter minha garota de volta.
Eu protegi meus olhos do sol enquanto olhava para as arquibancadas
cheias. As alcateias estavam sentadas juntas, bebendo limonada
enriquecida e torcendo por seus competidores.
Eu podia ver Lyla com um boné de beisebol, sentada com seus pais,
Skye e Teresa. Eu acenei para ela.
— Vaiiii Caspian! — A mãe de Lyla gritou, mas Lyla nem mesmo
acenou de volta.
Mas isso não iria diminuir meu bom humor. Talvez ela não pudesse
admitir que queria que eu ganhasse, mas eu tinha a sensação de que ela
queria.
Nada era melhor do que os encontros que tínhamos em casa. Lyla não
se esqueceria disso.
Por outro lado, eu sabia que ela não gostava que Sebastian e eu a
tratássemos como um prêmio.
Mas eu não estava muito preocupado. Eu já sabia exatamente o que
queria fazer para o nosso grande encontro.
Tudo que eu precisava fazer era vencer.
Uma grande mão agarrou meu ombro e me virei para ver Alfa Hugo.
— Você está pronto para levar para casa esta vitória para Lua Azul,
filho? — ele perguntou.
— Mais do que você imagina, Alfa, — respondi. Embora Teresa e eu
tivéssemos nossas diferenças, o pai dela sempre foi um mentor para mim.
Apertamos as mãos e ele encontrou uma posição inicial atrás de mim.
Eu senti alguém me observando.
Do outro lado do círculo, Sebastian olhou carrancudo em minha
direção. Eu sorri com bom humor. O alfa mostrou uma aparência dura,
mas achei que ele estava pelo menos um pouco intimidado.
Eu o observei enquanto os gêmeos, Tonya e Titus, se aproximavam
dele para uma conversa estimulante. Era quase estranho como eles eram
iguais. Tonya foi a única mulher a participar do evento.
Poucas garotas na Alcateia Real estavam dispostas a brincar na lama,
mas Tonya era um soldado por completo.
Talvez ELA seja minha maior competição, pensei, ainda mais do que
Sebastian.
Claro, eu não era um alfa. Mas eu era forte e inteligente. E se isso não
bastasse, eu estava determinado a mostrar a Lyla o quanto me importava
com ela.
Eu precisava de toda a ajuda que pudesse conseguir para ficar perto
da minha namorada.
— Bem-vindos, senhoras e senhores... à competição mais digna de
todos os Jogos da Cúpula! — Beta Caius gritou através de um megafone
com uma risada autoconsciente.
A multidão aplaudiu.
— O primeiro a pegar este porco barrigudo de 78 quilos coberto de
banha de porco será declarado o vencedor da... luta de porcos deste ano!
— Todo mundo enlouqueceu.
— E aí vem nossa própria Magnolia com... o homem do momento!
Golias! O mais escorregadio — e maior — porco barrigudo deste lado do
rio Mississippi!
Todos levantaram de seus assentos, esticando o pescoço para ver
Golias.
Do lado da arquibancada, o porco apareceu. Tinha manchas pretas
nas costas largas e rosadas. Ele guinchou ao puxar a corda que o prendia.
Magnolia apareceu cambaleando, rindo enquanto recuperava o
equilíbrio. Ela jogou o cabelo loiro sobre um ombro e gesticulou
amplamente para Golias.
Ela era uma verdadeira beldade sulista, linda e charmosa. Ela
caminhou graciosamente pela lama com botas de cowboy até a coxa.
Todos aplaudiram enquanto ela puxava com toda a força a corda de
Golias, levando-o para o centro da arena.
Eu encarei os olhos negros e redondos da besta enquanto ela bufava
de ansiedade.
Mal sabia o que o esperava...
Naquele momento, Magnolia aproximou-se do porco gigante e
cortou a corda de seu pescoço.
Finalmente, chegou a hora.
— Em suas marcas... preparem-se... VAI!
Um tiro foi disparado.
— Que o homem mais forte ganhe! — Beta Caius gritou.
Percebendo que estava preso, o porco se encolheu e então disparou...
direto para mim.
E eu disparei como um lobo na caça.
Aqui, porquinho. É hora de levar o bacon para casa.
Lyla

— Vai Caspian! — Minha mãe gritou em uma oitava desumana.


Eu assisti enquanto Golias, a pobre criatura, avançava direto para os
braços de Caspian.
Eu queria não me importar com o evento. Eu realmente queria. Mas
admito que meu coração estava na minha garganta. Parte de mim queria
que ele pegasse o porco gigante.
Mas, infelizmente, o animal era muito gorduroso e passou pelos
braços de Caspian.
— Não! — minha mãe chorou.
— Isso!, — Teresa aplaudiu baixinho.
Eu bati em seu braço, embora soubesse que não poderia esperar que
ela fosse imparcial.
— Torça pelo seu homem, ok? — Eu disse. — Porque nenhum dos
meus merece vencer agora.
— Oh, por favor! — Teresa estava usando óculos escuros, mas eu
sabia que ela estava revirando os olhos. — Todos nós sabemos qual dos
seus homens vai ganhar isso.
Eu olhei para o campo de batalha lamacento diante de mim.
Sebastian foi fácil de identificar entre os concorrentes. Ele era o mais
forte de todos os homens.
Seus bíceps e peitorais protuberantes brilhavam como se ele estivesse
oleoso, assim como o porco.
Ugh. Claro que ele era lindo mesmo coberto de lama.
Mas eu estava frustrada por ele ter participado do jogo bobo de
Caspian de que quem quer que ganhasse a luta de porcos também me
ganharia.
Eu não fiquei feliz com isso. Eu não era apenas um prêmio a ser
ganho.
Aparentemente, Golias, o porco, estava se sentindo da mesma
maneira. Ele rompeu uma parede de homens que esperavam por ele e
correu ao redor do poço de lama gritando.
Eu me senti mal por ele. Caspian e Sebastian estavam lutando na
minha frente, mas eu esperava que Golias vencesse.
Observei com admiração enquanto Golias percorria a circunferência
do poço de lama. Tonya e Titus entraram em formação de bloqueio.
Golias os atacou. Eles foram capazes de conter a enorme besta por
alguns momentos, agarrando seu corpo escorregadio... até que o porco
fugiu para longe.
Todos gritaram de agonia. Mesmo aqueles que não eram membros da
Alcateia Real queriam que Tonya, a única mulher no campo lamacento,
vencesse.
O que me deu uma ideia...
Enquanto Golias disparava em direção a Sebastian, e Sebastian, em
modo de defesa total, se preparou para receber a força adversária, eu tive
uma ideia...
Talvez eu não deva apenas ASSISTIR esta competição.
Sebastian

Saí da sujeira, coberto de lama.


A besta gordurosa escapou direto pelos meus braços. Isso não era
apenas diversão e jogos. Meu orgulho estava em jogo.
Era mais do que apenas uma luta de porco para mim.
Se eu perdesse a competição para Caspian, ele iria a um encontro com
minha companheira. E isso simplesmente não era algo que eu poderia
permitir.
Eu ia pegar aquele porco, nem que fosse a última coisa que fizesse.
O enorme animal avançou em direção ao outro lado do círculo, em
direção a Caspian e a floresta atrás dele.
Saí correndo, mesmo com a lama sugando minhas pernas. Eu me
movi rapidamente através do caos enquanto os homens caiam uns em
cima dos outros.
Outros alfas rolaram pela lama.
Mas eu não. Meu passo permaneceu firme.
Eu avancei, mesmo quando o porco guinchou e desviou, passando por
Caspian e Alfa Hugo.
Caspian me chamou, mas eu nem ouvi o que ele disse. Eu não estava
me concentrando na minha competição. Tudo o que pude ver foi o
prêmio.
Golias.
O porco parou na barreira de plástico. Minha intuição animal me
disse seu próximo movimento.
Todo o barulho ao meu redor desapareceu.
Eu precisava canalizar meus sentidos de lobo na minha forma
humana. Então, quando Golias deu meia volta, eu estava lá.
O porco percebeu que estava encurralado. Eu me preparei para o
golpe...
Golias correu para mim, esperando usar sua força absoluta para me
derrubar.
Seu corpo gorduroso escorregou pelos meus braços. Peguei suas patas
traseiras. Mas o porco chutou descontroladamente e eu perdi o controle.
A multidão aplaudia, mas não me importava se os aplausos eram a
meu favor ou contra mim.
Limpei minhas mãos engorduradas na calça enlameada e voltei para a
ação mais uma vez.
Golias estava percorrendo o perímetro do ringue mais uma vez. Até
mesmo alguns dos alfas mais fortes caíram na contagem, lutando para
recuperar o fôlego ou sendo sugados pela lama.
Pelo canto do olho, vi um homem correndo atrás do porco.
Caspian.
Ele tinha uma vantagem, estar mais perto do porco do que eu. Mas se
eu desse a volta no cerco, poderia interceptar Golias antes que Caspian o
alcançasse...
Corri, arrancando minhas pernas da lama a cada passo difícil.
Fiquei de olho em Golias e em meu competidor.
Finalmente, eu estava diretamente no caminho de Golias. O porco
gritou, olhou para trás e percebeu que estava preso em ambos os lados.
Golias estava exausto. Essa foi minha chance.
Não havia um momento a perder, mas meu tempo precisava ser
preciso.
Sobre as costas do porco untado, Caspian espelhou meus
movimentos. Ele se abaixou, pronto para atacar.
Com um grito de guerra final, eu me lancei para frente.
Eu sabia que estava um passo à frente. Enquanto eu voava no ar, eu
sabia que eu pegaria o porco.
Mas assim que alcancei o animal, o impensável ocorreu.
Lyla

Bem a tempo, pulei da arquibancada. Passei por cima da cerca de plástico


que separava o público dos competidores...
E eu agarrei Golias em meus braços!
Afundei na lama úmida e esmagadora. Um momento depois, fui
arremessada para frente.
Golias me arrastou e eu segurei seu pescoço para salvar minha vida. A
lama estava por toda parte. No meu cabelo, nas minhas axilas, na minha
boca.
A multidão rugiu.
Eu não conseguia parar agora. Eu só esperava que logo o porco ficasse
exausto.
Ele cambaleou para a direita e eu caí na lama com meu ombro direito.
Eu estremeci, mas mantive meu aperto.
Finalmente, o porco diminuiu a velocidade. Timidamente, eu dei um
tapinha em seu pescoço, deixando-o saber que ele poderia relaxar.
— Não vou machucar você, porquinho, — sussurrei para que apenas
Golias pudesse ouvir.
O porco grunhiu e se deitou ao meu lado.
Enquanto eu continuava a dar tapinhas em seu lado, o porco relaxou
em meus braços.
Oh, minha deusa. Eu consegui!
Eu levantei um punho enlameado no ar. Eu estava triunfante. A
multidão gritou meu nome.
Sebastian caminhou até mim e se abaixou, balançando a cabeça e
rindo enquanto me puxava da lama.
Um momento depois, Caspian passou os braços em volta de mim, me
dando um grande abraço.
— Você conseguiu, Ly! Você venceu todos nós, — ele gritou por cima
do barulho da multidão.
Eu olhei para os rostos animados. Eu me senti no topo do mundo.
Eu não queria ser um prêmio, então ganhei o jogo.
— Vou tomar minhas próprias decisões, meninos — regozijei-me,
virando-me entre Caspian e Sebastian. Esperançosamente, agora eles
sabiam que não podiam lutar por mim como garotos de escola.
— Então tome, Ly.
Os braços enlameados de Caspian estavam cruzados sobre o peito.
— O que? — Eu perguntei.
— Sim, tome uma decisão, Lyla. Aqui e agora. — Os olhos de
Sebastian queimaram com malícia.
— Com quem você quer sair?
16
ESCOLHA CERTA Lyla
Todo mundo estava olhando para mim.
Eu peguei o porco. Eu ganhei, conseguindo exatamente o que pensei
que queria.
A escolha era minha agora. Mas eu não tinha planejado fazer assim —
naquele momento e ali, e na frente de tantas pessoas.
— Caspian, Sebastian! Caspian, Sebastian! — à multidão aplaudiu,
consumindo o drama que se desenrolava no ringue.
Eu olhei inquieta para a minha direita. Sebastian acenou para a
multidão, então encontrou meu olhar com seu sorriso de parar o
coração. Ele estava em seu elemento de destaque.
A lama manchada em suas bochechas deixava seus olhos azuis ainda
mais lindos.
Oh, Deusa.
E então, do meu outro lado, a expressão de Caspian era séria e
vulnerável. Estávamos no meio de um grande evento, mas eu sabia que
era a única coisa que ele via.
Todos estavam esperando pela minha decisão.
Talvez devesse ter sido fácil. Eu poderia apenas ter escolhido meu
companheiro. Meu lindo e adorável companheiro alfa.
Mas isso é realmente o que meu coração quer?
Parte de mim ansiava por ficar fora dos holofotes. Eu sentia falta da
minha velha vida tranquila, onde éramos apenas Caspian e eu, e tudo era
simples.
Os gritos da multidão atingiram um nível febril.
Não pude tomar uma decisão então. Não tinha como. Eu precisava de
tempo para pensar.
Acenei meus braços e a multidão se acalmou.
— Tomarei uma decisão ao anoitecer!
Meu anúncio foi recebido com resmungos e reclamações.
Certamente, a Alcateia Real estava desapontada que alguém tão fraco de
espírito e indeciso fosse sua única esperança de uma Luna.
E minha família e amigos da Alcateia Lua Azul provavelmente
estavam se perguntando se eu poderia deixar para trás tão rapidamente o
lugar de onde vim...
Eu saí com dificuldade do poço de lama, pulei a barreira de plástico e
parti para a floresta.
De repente, fui oprimida pela decisão na minha frente. Era muito
mais do que apenas um encontro. Tratava-se de escolher com quem eu
queria passar minha vida...
E enquanto eu estava decidindo, estava arrastando dois homens para
o passeio. Quanto mais eu demorasse, mais dor causaria. Não importa o
que aconteça, eu quebraria o coração de alguém com quem me
importava profundamente.
Lágrimas encheram meus olhos enquanto a dura realidade desabou
sobre mim.
— Lyla! — Sebastian chamou. Eu me virei para ver Caspian e
Sebastian vindo em minha direção, querendo ajudar.
Eu levantei minha mão, esperando mantê-los longe. Ver os dois ao
mesmo tempo foi mais do que eu poderia suportar.
— Sinto muito, — eu resmunguei. — Eu preciso de algum tempo para
pensar.
Suas expressões mudaram ao mesmo tempo em que eles também
perceberam que sua aposta estúpida era muito mais do que um jogo.
Dando as costas a eles, saí pela floresta, tentando muito não imaginar
o que cada um deles estava sentindo.
Em pouco tempo, comecei a amar Sebastian. Eu sabia que ele estava
esperando por muito tempo para encontrar sua verdadeira companheira.
Agora ele me encontrou, e eu não poderia nem mesmo me comprometer
totalmente com ele.
Por outro lado, Caspian estava ao meu lado há anos. Ele sempre se
importou com o que tínhamos mais do que encontrar um verdadeiro
companheiro. Era nosso próprio tipo de vínculo especial.
E agora ele pode acabar sozinho.
Eu respirei trêmula, encostando-me em uma árvore coberta de
musgo. Eu precisava sair da minha cabeça.
Que bom que eu sei exatamente como fazer isso. Mudei para o meu lobo,
deixando minhas roupas lamacentas rasgadas no chão da floresta. Então
eu decolei. Eu corri entre as árvores, em direção ao pântano que estava à
minha frente.
A floresta fervilhava de vida. Minhas pernas rasgaram o solo quente e
úmido e respirei a fragrância inebriante do mundo natural.
Corri até meu corpo ficar exausto, mas minha cabeça estava calma.
Então eu segui o cheiro da casa da alcateia até que encontrei meu
caminho de volta. Atravessei o gramado em minha forma de lobo e
apenas me transformei perto da entrada dos fundos que levava ao meu
quarto.
A maioria dos lobos ali não teria pensado duas vezes em cruzar o
gramado da casa da alcateia nus.
Mas me sentir exposta era a última coisa que eu precisava naquele
momento.
Depois de um longo banho, desci a mesma escada de volta para o
gramado. Todo mundo estava lá fora aproveitando a noite quente.
Fui até a varanda e suspirei de alívio quando encontrei apenas minha
família e Teresa sentadas juntas. Naqueles dias, visitantes surpresa
haviam se tornado uma nova norma.
— Lyla! — Skye largou seus lápis de cor em cima do caderno diante
dela e correu para me abraçar. — Lyla é a rainha dos porcos. Isso foi o
mais legal de todos.
Skye sorriu para mim e eu ri enquanto alisava o cabelo loiro de sua
testa.
Deu-me um pouco de paz pensar sobre os acontecimentos do dia
através dos olhos da minha irmã mais nova.
— Sente-se ao meu lado, Ly! — Teresa chamou, dando tapinhas no
deck de madeira ao lado dela. — Você quer um cachorro-quente?
Do outro lado do gramado, enormes churrasqueiras assavam
hambúrgueres e espigas de milho.
— Estou bem por enquanto, — respondi, sentando-me ao lado dela.
Mesmo que eu me sentisse melhor do que antes, meu estômago ainda
estava em nós. Minha mãe sorriu para mim educadamente, o que eu
sabia significava que ela desaprovava minha interferência na corrida dos
porcos.
— Fico feliz em ver que você conseguiu se limpar, — ela disse
enquanto tomava um gole de chá doce.
Decidi que aquele comentário não merecia uma resposta.
Meu pai, por outro lado, estava orgulhoso. Ele ergueu sua cerveja para
mim.
— Onde está Reed? — Perguntei a Teresa, na esperança de desviar a
atenção de mim.
— Ele está com seu bando, — ela respondeu. — Eu disse a ele que ele
deveria passar um tempo com eles agora, já que ele vai voltar para Lua
Azul comigo quando tudo isso acabar.
— Não é adorável? — minha mãe perguntou. Teresa me lançou um
olhar de desculpas. Nós duas sabíamos o que viria a seguir.
— Imagine como seria simples, Ly, simplesmente voltar para Lua Azul
e continuar sua vida conosco.
— Eu não sei sobre vocês, mas não estou ansiosa para deixar este
lugar, — Teresa disse melancolicamente.
Eu segui seu olhar, olhando para o gramado verde e inclinado. O
salgueiro-chorão balançava com a brisa, e a luz rosa do pôr do sol
brilhava no pântano.
Era uma espécie de paraíso, ali no coração do Mississippi. Eu nunca
teria imaginado, mas combinava perfeitamente com o meu lobo. Tempo
quente, bela luz do sol e muito espaço para vagar.
— É como o paraíso, não é? — meu pai respondeu.
— Crescer aqui certamente deixaria uma pessoa mole, — disse minha
mãe. Claramente, a conversa havia se tornado muito otimista para ela.
— E estar sempre no centro das atenções! Isso não é jeito de um
homem ser. Os alfas reais são sempre presunçosos e pomposos. Eu não
quero isso para você, Lyla.
Suspirei.
— Bem, mãe, a decisão não é sua. — Eu sabia que ela podia ouvir o
cansaço em minha voz.
Ela se eriçou e tomou um gole de seu chá gelado.
— Se Lyla morasse aqui, você poderia vir e me visitar sempre que
quisesse, — Teresa lembrou a meus pais. — E, além disso, como você
poderia dizer não a esta mansão, Ly? Mesmo se seu companheiro não
fosse um alfa lindo?
— Obrigada pessoal, por sua contribuição inestimável, — eu disse
impassível.
Levantei-me e sentei ao lado de Skye, minhas pernas balançando
sobre a borda do convés. Até mesmo Teresa não estava me dando uma
chance.
Skye ergueu os olhos de seu desenho e ergueu seu copo de chá doce.
Eu tomei um gole. O gosto era bom, como o verão.
— Exatamente o que eu precisava, — eu disse a ela.
Ela sorriu para si mesma enquanto voltava ao desenho. Um lobo, é
claro.
— Adivinha quem estou desenhando, Lyla — disse ela sem erguer os
olhos.
Era apenas o contorno, mas pude distinguir um círculo ao redor do
olho direito do lobo.
— Alfa Sebastian? — Eu perguntei com um suspiro. Mas Skye olhou
surpresa. — Não, boba! É você!
Eu me peguei sorrindo e o alívio tomou conta de mim. Claro que o
lobo era eu. Eu também tinha uma mancha no olho.
Eu balancei minha cabeça maravilhada.
— Obrigado por isso, Skye.
— Pelo o que?
— Você me ajudou a lembrar de pensar em mim, não em todo mundo
o tempo todo.
Skye continuou a desenhar, mas ela acenou com a cabeça sabiamente.
— Você tem que descobrir o que você quer, Lyla. A escolha é sua, você
sabe.
Eu mal podia acreditar que minha irmã mais nova era quem estava
me dando o conselho de que eu precisava.
— Você é uma garota inteligente, sabia disso? — Eu perguntei a ela,
despenteando seu cabelo.
— Claro! — ela respondeu.
Eu sorri para o pôr do sol. O mundo estava claro para mim naquele
momento.
Skye me ajudou a perceber que eu precisava descobrir quem eu
queria, não o que todo mundo queria de mim.
Essa era a única maneira de eu ser feliz, e era a única maneira de fazer
qualquer outra pessoa feliz.
— Acabei! — Skye disse ao meu lado.
Eu me virei para ver um lobo todo branco com uma mancha preta. O
lobo estava sorrindo e sua língua estava para fora.
— Obrigado, Skye. Você é minha irmã favorita.
— Essa era a nossa piada, porque, claro, éramos a única irmã uma da
outra. Mas ainda assim nos fez sentir bem.
Skye se lançou no meu colo, tirando minha respiração com seu
abraço.
— Minha irmã favorita, — ela murmurou.
Quando a noite começou a cair, os acontecimentos do dia me
pegaram e me senti completamente exausta.
Aproveitei para fugir para o meu quarto, mandando beijos de boa
noite para minha família e Teresa.
Subi a escada de trás com dificuldade, minhas pernas parecendo
pesadas, mas meu coração parecendo leve.
Pela primeira vez desde o ritual de acasalamento, tive uma sensação
de clareza. Eu precisava de mais tempo para decidir com quem estaria,
mas agora tinha um roteiro.
Eu precisava decidir o que eu queria. E a única maneira de fazer isso
era passar um tempo de qualidade comigo mesma.
Virei a chave na fechadura, animada para fazer exatamente isso.
Empurrei minha porta e acendi a luz. E então meu coração parou.
Cobri minha boca, sufocando com o cheiro horrível que permeava o
ar. O cheiro da morte.
Golias, o porco gigante, estava pendurado no teto por seus próprios
intestinos.
O piso de madeira estava escorregadio com seu sangue, que pingava
dele como se saísse de uma torneira, pingando nas rachaduras da
madeira.
Ele havia sido cortado, sua pele espalhada para os lados em uma
matriz grotesca. O sangue coagulado me fez vomitar.
Quem diabos faria algo assim?
Os olhos da pobre criatura foram arrancados e gravadas em sua pele
havia cinco palavras sangrentas.
Palavras que fizeram meu sangue gelar.
Olho por olho.
17
OLHO POR OLHO
Lyla

Um ruído involuntário deixou minha garganta enquanto eu engasgava


com o ar momo.
Isso era mais do que uma brincadeira doentia. Isso era uma ameaça.
Alguém mutilou este animal e o deixou para que eu o encontrasse.
Mas por quê?
O que diabos eles querem de mim?
Um grito rasgou meu corpo quando o choque começou a passar. Meu
coração havia parado, mas agora estava batendo em dobro.
Um momento depois, Caspian entrou no meu quarto, envolvendo os
braços em volta de mim.
— Lyla, você está...?
Mas quando ele viu a carcaça de Golias, esculpida e pingando sangue,
ele fez uma pausa.
Ele puxou meu rosto em seu peito, protegendo-me do sangue
coagulado na nossa frente.
Fechei meus olhos, respirando o cheiro familiar dele. Eu sabia que se
eu focasse apenas em Caspian, poderia me sentir segura.
Seu corpo parecia um lar para mim. Firme e seguro.
Mas como ele pode me salvar de quem enviou esta mensagem horrível?
De repente, estava desesperada para sair do meu quarto. Eu queria
ficar o mais longe possível do animal morto.
Afastei-me de Caspian para ver outra figura na porta.
Sebastian estava congelado no lugar, olhando para o porco. Sua
compostura usual se foi, seu queixo caído e seus olhos traindo o medo.
Ele parecia ter visto um fantasma.
— Sebastian, — eu disse, minha voz rouca. Só então ele se virou para
olhar para mim. — Você sabe quem fez isso? — Eu perguntei.
Sebastian

Em vez de responder a Lyla, me virei e sai da sala. Eu avancei pelo


corredor.
— Reunião do Conselho. Imediatamente. — Eu disse no link mental da
Alcateia Real.
— Sebastian! — Lyla chamou.
— Por favor, fique aqui com os guardas! — Eu respondi sem me virar.
Eu precisava saber que ela estaria segura.
Meu coração disparou no meu peito e minha visão estava vermelha.
As palavras que foram gravadas na carne do porco ficaram gravadas em
minha mente.
Olho por olho.
Por mais que não quisesse acreditar, sabia quem era o responsável.
O homem que queria vingança e que nada pararia para me fazer
sofrer.
Silas.
Desci as escadas dos fundos até o andar térreo e continuei pelo
corredor até a sala de conferências, onde as reuniões do conselho eram
realizadas.
Eu seria o primeiro a chegar, mas esperava que os outros estivessem lá
logo em seguida.
O que eu não esperava era ver Lyla do lado de fora da porta, ofegante
ao recuperar o fôlego. Ela deve ter descido correndo a escada principal
para chegar primeiro.
— Eu quero entrar na reunião, — ela explodiu.
— Isso é impossível, — respondi.
— Por que? Já estive em uma antes!
— Fique com sua família. Isso não diz respeito a você. — Lamentei ter
ferido os sentimentos de Lyla, mas algo mais importante estava em jogo:
sua segurança.
Os olhos de Lyla ardiam de determinação.
— Mas eu deveria ser sua Luna, — ela disse, fechando o espaço entre
nós.
— Lyla, agora não é hora para essa conversa. — Minha voz era baixa e
ameaçadora. Olhei para atrás dela, para o quarto vazio. — Por favor, dê-
me licença. Eu tenho uma alcateia para proteger.
Eu esperei por um momento, me perguntando o que mais eu teria
que dizer para fazê-la ir embora. Mas eu a vi balançar a cabeça de
frustração.
— Eu só posso estar aqui para você se você me deixar, — ela disse.
Então Lyla saiu do meu caminho antes que eu pudesse pensar em
uma resposta.
Sem olhar para trás, entrei e fechei a porta.
Eu sentei na cabeceira da mesa e massageei minhas têmporas. Mas
não ajudou a acalmar minha mente confusa.
Não havia como negar agora. A invasão e os ataques foram todos
obras de Silas.
De alguma forma, ele foi capaz de passar pelo sistema de segurança
superior da Alcateia Real. Ele tinha entrado no quarto de Lyla, pelo amor
de Deus.
— Fale comigo, Alfa. — Caius não perdeu tempo quando entrou na
sala e se sentou ao meu lado.
— Outra invasão, — comecei. Mas um momento depois, os outros
entraram.
Tonya e Titus se inclinaram sobre a mesa ansiosamente; Tiberius
sentou-se do meu outro lado e imediatamente começou a respirar no
meu pescoço.
Magnolia fechou e trancou a porta, então se abaixou em seu assento,
seus olhos brilhando de preocupação.
— O porco foi encontrado mutilado no quarto de Lyla, — comecei,
sem perder tempo. — Em sua pele estava gravada a frase: 'Olho por olho'.
Magnolia engasgou. De repente, todos estavam falando ao mesmo
tempo.
— Silas. Tem que ser.
— Ele já penetrou em nossas defesas! — Tonya bateu com o punho na
mesa. — Ele conseguiu entrar na casa com Golias e não o vimos.
— Precisamos enviar mais tropas, Alfa. Imediatamente, —
acrescentou Titus.
Eu balancei a cabeça, dando-lhes sinal verde.
— Então, as invasões sempre foram Silas, — Caius raciocinou. — Não
podemos perder mais tempo.
— Os rumores são verdadeiros. Silas voltou, — Magnolia disse
suavemente.
— Então não há dúvida em minha mente. A Cúpula deve ser
cancelada imediatamente, — Tiberius anunciou.
Todos ficaram em silêncio, esperando ouvir minha opinião.
— Cancelar a Cúpula só vai espalhar medo e pânico. O festival deve
continuar. Devemos continuar como de costume e manter as aparências.
Fiz uma pausa antes de entregar os detalhes da minha estratégia.
— Devemos continuar como de costume e manter as aparências. Nos
bastidores, aumentaremos nossas defesas. Continuaremos em guarda
para quaisquer violações de segurança adicionais.
Tibério não gostou da decisão e Caius também parecia constrangido.
Mesmo assim, ninguém ousou desafiar meu julgamento.
Permanecemos em silêncio por mais um momento.
— Obrigado, conselho. Reunião encerrada. — concluí.
Lyla

Mordi meu lábio atrás das cortinas pesadas. Eu mal podia acreditar que
meu plano funcionou tão bem.
Quando Sebastian me disse para ir embora, eu não o obedeci. Eu
tinha pulado atrás das cortinas da janela do corredor oposto à sala de
reuniões. Para minha surpresa, consegui ouvir tudo.
Mas minha cabeça estava girando. De alguma forma, Sebastian tinha
certeza de que Silas era o responsável pelo porco mutilado.
Silas matou os pais de Sebastian. Ele já não tinha feito o suficiente?
Eu não conseguia afastar a sensação de que havia algo que Sebastian
estava escondendo de mim.
A porta se abriu e os membros do conselho saíram em fila.
Prendi a respiração, esperando que todos fossem embora
rapidamente.
— Sebastian. — Sua voz doce como mel raspou em meus ouvidos.
Magnolia.
Eu balancei minhas costas contra a parede. Através da fratura nas
cortinas, eu só fui capaz de ver Sebastian fazer uma pausa.
Magnolia correu até ele e colocou a mão em seu antebraço. O ciúme
me atingiu como um soco no estômago.
Eu não conseguia respirar. A maneira como ela o tocou... a intimidade
entre eles... era quase demais para suportar.
A ironia da situação não passou despercebida.
Deve ser assim que Sebastian se sente em relação a Caspian...
— Você está bem? — Magnolia perguntou, sua voz baixa. Como se ela
estivesse apenas esperando para ficar a sós com ele. Eu cerrei minhas
mãos em punhos.
Sebastian assentiu, parecendo relaxar um pouco na presença dela.
— Estou bem. Eu só quero deixar o passado para trás, mas estou
começando a pensar que isso nunca será possível.
Magnolia é outra coisa que eu gostaria que você deixasse para trás,
pensei amargamente. Mas, enquanto pensava mais nisso, me perguntei o
que Sebastian queria dizer.
O que aconteceu entre ele e Silas?
— Não importa o que aconteça, estou sempre aqui para você. —
Magnolia sorriu para o meu homem.
— Eu aprecio isso, — Sebastian disse com um suspiro.
Então Magnolia estendeu a mão e colocou os braços em volta dos
ombros largos de Sebastian, e por um segundo seu corpo relaxou no
abraço.
Foi doloroso ver a conexão óbvia entre os dois.
Como posso competir com a história que eles compartilham?
Eu balancei minha cabeça, desejando parar esses pensamentos
insanos. Sebastian me queria. Ele havia deixado isso bem claro.
Era eu quem precisava tomar uma decisão.
Uma decisão difícil.
Fiquei chocada com o quão completamente o medo de perdê-lo
nublou meu julgamento.
— Seb. — Eu estremeci com o apelido e o fato de que Magnolia ainda
estava abraçando ele.
— Sim, Magnolia?
— Você sabe que não se trata apenas de Silas se rebelando. Isso é
pessoal, — Magnolia disse, sua voz baixa e intensa.
— Eu entendo, — Sebastian se afastou dela. Claramente ela não o
estava confortando mais.
— Ouça-me, — Magnolia exigiu, e Sebastian fez uma pausa mais uma
vez. — Veja. Silas nem deixou o porco no seu quarto. 'Olho por olho?' O
aviso foi sobre Lyla.
Fiquei tonta de repente, e não era apenas por prender a respiração.
— Estou cuidando disso, — Sebastian disse rispidamente.
Ele se afastou de Magnolia e subiu as escadas.
Comecei a entrar em pânico, minha respiração pesada e alta assim
que fiquei sozinha. Eu cambaleei para o corredor.
Percebi que Magnolia era a menor das minhas preocupações. Até a
minha decisão mais importante — escolher o homem com quem passaria
o resto da minha vida — empalideceu em comparação com o que acabara
de aprender.
Magnolia tinha acabado de me dizer o que Sebastian nunca diria:
Silas queria me matar.
18
O SEGREDO DO ALFA
Lyla

Na última hora, experimentei um verdadeiro coquetel de sentimentos


terríveis.
Nojo, confusão, ciúme e medo.
Mas enquanto eu estava no corredor, tentando me recompor, uma
emoção superou todas as outras.
Raiva.
Avancei pelo corredor e entrei no corredor principal. Os olhos de Beta
Caius se arregalaram quando ele me viu, e ele correu para me alcançar,
deixando um lobisomem bem-intencionado falando sozinho.
Corri para o outro lado e desci outro corredor, direto para o escritório
de Sebastian. Eu abri a porta e fiquei lá lutando para recuperar o fôlego.
Seu escritório era todo de madeira escura. Retratos de alfas do
passado pairavam pela sala.
Sebastian estava curvado sobre a mesa, segurando a cabeça entre as
mãos. Quando ele olhou para mim, foi como se ele tivesse envelhecido
dez anos.
Foi quase o suficiente para me fazer sentir mal por ele.
Quase.
— Você estava planejando me dizer que seu ex-melhor amigo está
tentando me matar? — Eu exigi.
— Lyla, feche a porta. — Sua voz era firme e severa. Se eu não
estivesse com tanta raiva, poderia ter sido intimidada por ele.
Fechei a porta e cruzei os braços sobre o peito.
— Você ouviu a reunião? — ele perguntou lentamente.
— Tenho todo o direito de saber o que está acontecendo! O porco
estava no meu quarto! — Eu gritei.
Ele respirou fundo e fechou os olhos, como se estivesse tentando
conter seu próprio temperamento.
— Você agiu pelas minhas costas ao ouvir aquela conversa. Confie em
mim quando digo que isso é algo com que posso lidar.
Eu estreitei meus olhos. Eu sabia exatamente o que Sebastian estava
fazendo.
Ele estava fazendo o que fazia de melhor. Sendo o líder frio e não
afetado. O alfa.
— Sebastian. Como posso confiar em você quando Silas mutilou um
animal no meu quarto? — Eu não conseguia acreditar que estava tendo
aquela conversa.
Ele deixou escapar outro suspiro profundo e se levantou. Parecia que
ele havia baixado suas defesas.
— Lyla, — disse ele enquanto caminhava em minha direção. Ele
parou bem na minha frente, seu peito perto o suficiente para tocar se eu
estendesse minha mão. Eu senti a familiar adrenalina.
A sensação de estar perto de seu verdadeiro companheiro.
— Se algo acontecesse com você, não sei o que faria. — Sua voz era
baixa. — Minha vida iria acabar.
Seu rosto era tão sincero que quase doeu olhar em seus olhos.
— Sinto muito por não ter te contado, mas saiba que estou fazendo
de tudo para ter certeza de que você está segura. Você é a coisa mais
importante para mim agora. Eu sempre vou te proteger. — Ele pegou
minha mão e me puxou para mais perto.
Por um momento, não consegui pensar em nada além do espaço
entre nós.
Ele se inclinou para ficar ainda mais perto de mim. Seu corpo era
grande e forte; seu rosto ficou ainda mais bonito em sua vulnerabilidade.
Ele era o alfa da alcateia mais intimidante do mundo.
Não posso simplesmente confiar que estarei segura com ele?
Mas então tudo voltou para mim. As palavras gravadas nas costas do
porco morto... o resto do conselho argumentando que Silas era uma
ameaça muito grande para ser ignorada...
Sebastian insistindo em continuar de qualquer maneira... e então
Magnolia.
— Eu não posso, — eu sussurrei, me afastando. — Sebastian, há algo
que você não está me dizendo. O que realmente aconteceu entre você e
Silas?
Sebastian

Era isso. Eu sempre temi o momento em que teria que contar para minha
companheira o que tinha feito. Meu segredo mais sombrio.
Resisti a contar a Lyla porque as coisas já estavam muito instáveis
entre nós. Eu temia que meu segredo pudesse ser a gota d'água...
Se ela soubesse a verdade, ela poderia me deixar para sempre.
— Há... mais nessa história, — eu consegui dizer.
Lyla ficou a alguns passos de distância, me olhando com incerteza.
Recuei até estar encostado na minha mesa.
Era bom apoiar meu peso em algo.
— Anos atrás, quando Silas encontrou sua companheira, houve uma...
complicação. — Minha voz soou estranha para mim e minha visão estava
turva também. Eu não conseguia me concentrar e percebi que estava
ficando tonto.
É isso, pensei comigo mesmo. Você vai perder sua companheira antes
mesmo de tê-la.
— Ela era uma humana, e Silas a transformou. O processo funcionou
para seu corpo, mas sua mente travou.
Soltei um suspiro trêmulo, lembrando-me dela. Ela parecia uma
mulher, mas sua mente era a de um animal.
— Eu sabia que algo estava errado quando Silas não me disse mais
nada sobre ela. Ele não me deixou conhecê-la. Ele parou de atender
minhas ligações. E meus pais...
Minha voz falhou. Minha mãe e meu pai sempre tiveram uma noção
clara do que era certo. Eles fizeram parecer fácil liderar uma alcateia.
— Meus pais sabiam que Silas estava transformando mulheres
inocentes. Eles foram procurá-lo.
Lyla se aproximou e colocou a mão no meu braço. Sua compaixão
quase me fez sentir pior, porque logo ela perceberia que eu não merecia
isso.
— Silas conheceu meus pais com sua companheira. A mulher era
selvagem, raivosa. Ela havia perdido sua humanidade na mudança,
mesmo em sua forma humana. Tudo o que restou foi a pior parte de um
lobisomem... a sede de sangue. O desejo de violência.
Lyla se aproximou. Eu não conseguia olhar para ela.
— Ela matou meus pais. — Minhas mãos tremiam naquele momento.
O que veio a seguir foi a parte que eu escondi de Lyla — a parte que
eu esperava tão desesperadamente que ela não precisasse saber.
— Eu não tive escolha. Eu a rastreei e a matei.
As memórias terríveis inundaram minha mente. Uma coisa é matar
um lobo. Mas uma mulher humana...
O que eu tinha feito assombrava meus sonhos até aquele dia.
Lyla ainda estava me tocando, mas eu nunca me senti tão longe dela.
O silêncio pairou entre nós, pesado com minha vergonha.
— Você acha que eu sou um monstro? — Eu sussurrei.
Antes de Lyla responder, ela se afastou de mim. O gesto disse mais do
que palavras jamais poderiam. — Você não é um monstro, — ela disse
finalmente. — Mas você mentiu para mim.
Eu me virei para ela, incrédulo.
Ela poderia realmente perdoar o que eu fiz?
Mas sua expressão era fria.
— Sebastian, eu entendo o que você fez naquela época, — ela disse. —
Você matou a companheira de Silas. Isso me torna seu alvo natural. Você
sempre soube que havia um risco... mas eu não sabia.
Ela balançou a cabeça.
— Eu mereço saber disso. E mesmo depois de ele me ameaçar, você
não me contou o que aconteceu. Você me disse para não me preocupar.
Sua expressão mudou entre confusão e raiva. Ela parecia mais
distante a cada momento que passava.
— Eu deveria ser sua Luna! E ainda assim você não confia em mim
com a verdade. — Ela me olhou exasperada, esperando minha resposta.
— Você é minha Luna, Lyla? — Eu surtei. — Porque eu ainda não sei,
e parece que você também não. Como posso confiar em você se você não
quer se comprometer comigo?
Minhas palavras afundaram no ar diante de mim. Ao ouvir minhas
próprias palavras, percebi que soava na defensiva e que estava
choramingando.
Por que isso está acontecendo assim?
Lyla zombou de mim, dizendo:
— Você sabe o que torna tudo isso pior? Magnolia ganhou sua
confiança. Ela está mais atualizada sobre as ameaças à minha segurança
do que eu!
Seus olhos estavam selvagens agora. Eu me afastei da mesa,
precisando me mover. A raiva passava por mim.
Nós dois diríamos mais coisas das quais nos arrependeríamos. Mas eu
sabia que havia passado do ponto sem volta.
Lyla

— Magnolia é uma velha amiga minha, — Sebastian rosnou. — É claro


que ela sabe coisas sobre meu passado.
Ele soltou uma risada.
— E não é irônico que você esteja com ciúmes?
Minhas bochechas queimaram. Ele estava certo. Claro que ele estava.
Sebastian se afastou de mim, balançando a cabeça.
Eu sabia que era loucura sentir ciúme de Magnolia. Sebastian havia
terminado seu relacionamento.
Ele estava pronto para se comprometer comigo, e ele tinha me dito
isso muitas vezes. Eu era a única que estava no nosso caminho.
Mas nossa discussão era mais do que ciúme. Era uma questão de
honestidade.
Eu estava com raiva e magoada.
Ainda assim, eu estava preocupada em estar levando as coisas longe
demais. Parte de mim queria esquecer isso e perdoá-lo por guardar
segredos, por tudo.
Mas eu não poderia continuar assim, protegida da realidade. Mantida
longe da verdade.
Ser companheira de Sebastian significava que minha vida estava em
risco, e ele escondeu isso de mim.
— Você não está sendo honesta também, — ele disse. — Você nem
consegue decidir entre mim e Caspian!
— Isso não se trata dele! — Eu gritei de volta.
— Você está certa, Lyla. Não se trata dele. Isso é sobre nós. E talvez se
você estivesse mais interessada em ser Luna do que em passar um tempo
com Caspian, haveria um 'nós'.
As mãos de Sebastian estavam fechadas em punhos. Eu sabia que ele
nunca me machucaria. Mas eu me preocupei que ele pudesse ir embora.
Ele pode se cansar de esperar que eu me decida e vá embora para sempre.
Então, reagi da única maneira que conhecia.
Tornando tudo pior.
— Caspian é um 'velho amigo', — eu cuspi suas próprias palavras de
volta para ele.
A mandíbula de Sebastian estava firme.
— Você é uma pessoa difícil, sabia disso? — ele perguntou. Com um
último olhar consternado, ele voltou para sua mesa e se sentou. — Eu
preciso de você fora daqui. Se você vai agir como uma criança, vou tratá-
la como uma.
— O que isso significa?! — Eu gritei.
Sebastian não respondeu imediatamente, em vez disso se concentrou
bastante, como se estivesse silenciosamente ligando a mente de alguém.
Uma batida repentina na porta me fez pular.
— Você ficará em lockdown por alguns dias. Para sua própria
segurança.
Guardas musculosos entraram na sala, parecendo se desculpar
quando agarraram meus braços. Tentei me afastar deles, mas foi inútil.
Ele está realmente me colocando em prisão domiciliar.
— Você pode me trancar, mas nunca me controlará! — Eu gritei para
Sebastian.
O alfa nem mesmo ergueu os olhos de sua mesa enquanto eles me
arrastavam para longe.

Uma hora depois, eu havia me acalmado um pouco, mas não o suficiente


para dormir.
O dia foi um dos mais longos da minha vida. Provavelmente era por
isso que minha mente não parava quieta.
Continuei repetindo minha luta com Sebastian em minha cabeça. No
início, senti pena e vergonha. Então, me senti injustiçada.
Eu deveria ser uma Luna, não uma adolescente que precisava ser
castigada.
Fiquei olhando para o meu novo quarto. Era quase idêntico ao meu
antigo, o que me lembrou da sensação que tive quando cheguei a casa da
alcateia: de ficar em um hotel em vez de uma casa.
Do lado de fora da minha janela, a lua brilhava sobre o gramado, e eu
podia ver meu salgueiro-chorão favorito, suas folhas brilhando ao luar.
Eu puxei minhas cobertas. Eu estava farta de ficar deitada na cama.
Eu queria sair.
E naquele momento, havia apenas uma pessoa que poderia me fazer
sentir melhor.
Tirei meu pijama e coloquei uma calça jeans. A intuição me disse que
um guarda estava esperando do lado de fora da minha porta, então abri a
janela.
A noite estava quente e clara. Clima perfeito para uma aventura.
Exceto que um guarda, em forma de lobo, estava rondando o
perímetro abaixo de mim.
Esperei que ele virasse a esquina e fiz minha jogada.
Abaixo da minha janela havia uma saliência na rocha exterior do
edifício, e eu pisei nela e fiz meu caminho lentamente até a esquina.
Foi fácil descer e, antes que eu percebesse, meus pés estavam na
grama.
Mas meu destino estava do outro lado da casa da alcateia. Eu me
esgueirei perto do prédio, virando a esquina escura, movendo-me na
direção oposta do guarda.
Eu não teria muito tempo antes que ele fizesse outra ronda.
Pegando uma pedra, mirei na janela que queria.
Alguns momentos depois, Caspian abriu a janela e se inclinou para
fora, esfregando os olhos.
— Ly? — ele perguntou com uma surpresa encantada.
— Ei, — eu chamei, mantendo minha voz baixa. — Você quer ir
naquele encontro?
19
PERTO DO LIMITE
Caspian

Eu me senti como uma criança de novo. Eu realmente me sentia.


Era como se eu tivesse dezesseis anos, convidando Lyla para o baile de
boas-vindas, e ela disse sim.
Era uma sensação que eu não poderia comparar com nada. A melhor
coisa do mundo, e eu só a sentia com Lyla.
Coloquei uma calça de moletom e uma camiseta. Eu poderia muito
bem abrir minha porta e usar a entrada principal, mas fui arrebatado pelo
jogo de Lyla.
Era uma aventura e eu queria continuar.
Escalei a lateral do prédio e pulei, rolando dramaticamente na grama.
Lyla desatou a rir, mas abafou a risada com o punho do moletom.
Seus olhos brilharam ao luar. Ela nunca pareceu mais bonita para
mim.
Talvez tenha sido a hora ímpia, ou o ar de travessura, ou o olhar em
seus olhos... mas a realidade parecia muito distante. Naquele momento,
eu não precisava compartilhar Lyla com ninguém.
Ela era minha namorada novamente, e eu planejava viver essa
fantasia ao máximo.
— Para onde agora? — Eu perguntei, pegando sua mão. Eu não
conseguiria parar de sorrir se tentasse.
— Achei que poderíamos dar um mergulho noturno, — respondeu
ela, — no Fleur de Lis.
Eu ri alto. Ela puxou meu braço, me puxando para frente pelo
gramado.
Descemos a calçada e depois seguimos para o pântano. Não
conversamos nem nada. Eu estava apenas curtindo sua companhia e a
noite quente de verão.
O hotel se erguia diante de nós, enorme e imponente com degraus de
mármore rosa.
— Lar doce lar, — eu suspirei. Faz apenas alguns dias que fui
instalado lá, mas parecia uma vida inteira de distância.
Lyla riu e deu um soco no meu braço. A situação toda parecia algo de
que poderíamos rir naquele momento.
Fomos para a parte de trás do prédio, onde uma piscina gigante ficava
atrás de portões de madeira. Espiamos pelas fendas juntos.
A piscina foi construída com ladrilhos de um azul profundo e as luzes
estavam acesas. A água estava tranquila e convidativa. Grandes árvores
nos cercavam. Estávamos basicamente sozinhos.
— Você quer uma mãozinha? — Eu perguntei.
Eu entrelacei minhas mãos para formar um degrau, e ela colocou seu
peso em mim, empurrando para cima. Com um salto gracioso, ela estava
do outro lado.
Eu me levantei facilmente, pulei e cai suavemente no deque da
piscina.
Lyla já estava agachada à beira da piscina, mergulhando os dedos na
água.
— Como está a temperatura? — Eu perguntei.
— Perfeita.
Ela se levantou e havia algo malicioso em seu sorriso. Não usávamos
roupas de banho, mas eu poderia dizer que não precisaríamos delas.
Tirei minha calça de moletom, então estava apenas de boxer, e parei
na beira da piscina por um momento antes de mergulhar.
A água sussurrou sobre minha pele, perfeitamente fria. Quando saí,
Lyla estava com suas roupas de banho, de pé onde eu havia pulado.
— Venha aqui, — eu sussurrei. E então ela mergulhou também.
Observei seu corpo sob a água. Seu cabelo esvoaçava atrás dela em
uma linha perfeita e brilhante. Seus quadris se torciam enquanto ela
chutava.
Sua cabeça rompeu a água e ela alisou o cabelo para trás do rosto
antes de abrir os olhos.
Ela encontrou meu olhar, então desviou o olhar. Isso me machucou
— o quão bonita ela era. Mas também, algo havia mudado no ar noturno.
Como se rompendo a superfície da água tivesse estourado a fantasia de
que estávamos sozinhos.
Eu não podia negar que Lyla não era mais minha.
Lyla tombou de costas, chutando com as pernas e suspirando alto
para as estrelas. Parecia que ela queria se manter ocupada ou evitar falar,
com medo de que algo desagradável pudesse surgir.
Eu submergi minha cabeça na água, pulando da parede e nadando até
meus pulmões queimarem. Lyla estava apoiando os braços na beira da
piscina, olhando para o hotel diante de nós. Eu mergulhei na água
novamente, lancei-me em sua direção e cutuquei o lado de seu corpo.
— Ataque de tubarão! — Eu gritei quando voltei à superfície.
— Não, você não vai fazer isso, — ela respondeu, colocando as mãos
na minha cabeça e me empurrando para baixo.
Eu saí da água, alcançando sua cintura e fazendo cócegas no lugar que
eu sabia que era o mais sensível dela.
Ela se afastou de mim e, por um momento, ficamos separados um do
outro enquanto recuperávamos o fôlego.
Enquanto nós nos observávamos, eu sabia que nenhum de nós
poderia mais manter a ilusão de que tudo estava bem.
O sorriso de Lyla se desvaneceu. E naquele momento, fui dominado
pelo meu amor esmagador por ela. Ele tomou conta de mim como um
maremoto.
Eu sabia que, embora não fosse o que ela queria ouvir, eu precisava
contar a ela. Eu precisava colocar tudo para fora ou então me
arrependeria para sempre.
— Você se lembra quando eu disse que queria evitar a Cúpula? — Eu
perguntei.
Lyla estava quieta.
— Eu disse que não me importava com o que a Deusa da Lua tinha
reservado para mim, — eu disse, — porque eu tinha você. Eu queria
escolher meu próprio destino. Eu não me importava com o que as
estrelas tinham a dizer.
Lyla desviou o olhar, olhando para seu reflexo ondulante na água.
— E eu recusei, — disse ela em voz baixa.
— Esse não é o ponto, Ly, — respondi, não querendo fazê-la se sentir
mal. — Eu só fico pensando...
Eu me pergunto se, naquele momento, eu tinha a sensação de que
não éramos companheiros de verdade.
Eu encarei a lua enorme e insensível.
— Mas o pior é que, agora que tenho certeza, ainda não me importo,
— disse eu. — Amo você, Lyla. Eu escolhi você como minha pessoa, como
minha alma gêmea, mesmo que a Deusa da Lua não o tenha feito.
Lágrimas se acumularam nos olhos de Lyla. Havia uma guerra feroz
dentro dela, puxando-a em duas direções.
Eu não poderia lutar essa batalha por ela. Eu sabia disso.
— Como seria? — Eu perguntei quando o pensamento me ocorreu. —
Se não tivéssemos vindo aqui; se nunca descobríssemos quem são nossos
verdadeiros companheiros...
Respirei fundo e fiz a ela a pergunta que me atormentava desde a
cerimônia de acasalamento:
— Você acha que seríamos felizes juntos?
Lyla

O rosto de Caspian estava tão expressivo, tão amoroso, que tive que
desviar o olhar.
Suas palavras passaram pela minha mente várias vezes.
Seríamos felizes juntos?
A resposta veio de dentro de mim e tive quase certeza de que era
verdade.
— Eu acho que sim, — eu sussurrei. Quando voltei meu olhar para
Caspian, seus olhos estavam arregalados de alívio. — Mas temo que esse
não seja realmente o problema...
Eu me movi pela água, de volta ao lado da piscina, apoiando meus
braços contra ela.
Eu me perguntei: Como seria minha vida se eu não tivesse conhecido
Sebastian?
Nesse momento seria mais fácil — eu tinha certeza disso. Mas apenas
o pensamento de perdê-lo me encheu de tristeza.
E se eu tiver que perder Caspian... Meu coração torceu dolorosamente.
Eu tinha certeza que Caspian e eu poderíamos ser felizes juntos.
Poderíamos voltar ao lugar que ambos conhecíamos e amávamos.
Minha vida seria o que sempre imaginei.
Mas Sebastian representava um futuro além dos meus sonhos mais
selvagens. Paixão, poder, privilégio...
Só de pensar nisso, minha cabeça girou.
Meus dois futuros possíveis se expandiram diante de mim como dois
caminhos não trilhados. Eu sabia que, uma vez que começasse a
caminhar por um, o outro desapareceria para sempre.
Eu me virei para Caspian. Ele estava recostado na lateral da piscina,
me olhando com preocupação.
Fiquei impressionada com sua paciência, seu amor constante. E
enquanto eu olhava para o homem que estava ao meu lado desde que eu
conseguia me lembrar, não havia dúvida em meu coração de que eu o
amava.
Eu não sabia se isso era o suficiente para sempre, mas era o suficiente
para o agora.
Eu me movi em direção a Caspian e seus braços se abriram para mim.
Ele me abraçou e eu inclinei meu peso sobre ele, confiante de que ele me
apoiaria.
Isso não é suficiente? Eu me perguntei. Não é esse sentimento de
aceitação tudo que eu sempre quis?
As mãos de Caspian eram fortes contra minhas costas. A pele de seu
peito estava quente na água. Enquanto eu sentia o cheiro dele, o abraço
se tornou outra coisa. Seu corpo era mais do que apenas conforto para
mim.
Foi elétrico. Eu reajustei minhas mãos sobre seu peito duro e liso, e
seu corpo enrijeceu. Meu coração começou a bater descontroladamente
de ansiedade.
Quando olhei para cima, Caspian já estava lá, esperando. Meus lábios
encontraram os dele facilmente, e paramos por um momento, respirando
a respiração um do outro. Deixando que o sentimento fosse construído
entre nós.
Seu beijo foi terno e suave, como se nós dois fôssemos frágeis.
Realmente, nós dois éramos. Mas então eu me inclinei contra ele com
mais força, e ele me encontrou com uma paixão desprotegida. Ele me
puxou para mais perto e então percebi: eu não era feita de vidro.
Naquele momento, não precisava ser tratada com cuidado. E ele
também não.
Suas mãos estavam por toda parte, me segurando. Eu podia sentir o
amor em cada toque, o que me deixava tonta de desejo.
Eu confiei no homem diante de mim completamente. Eu o beijei
profundamente como se pudesse beber dele.
Ele me pegou em seus braços e me carregou em direção aos degraus
da piscina, para fora da água. Ele me deitou suavemente em uma
espreguiçadeira.
À nossa volta, a noite fervilhava de grilos e sapos. A copa das árvores
nos escondeu. Estávamos totalmente sozinhos.
Estremeci, mas foi mais por antecipação do que pela brisa fresca.
— Vou mantê-la aquecida — Caspian prometeu.
Eu olhei para ele, seus olhos amorosos que me aceitavam exatamente
como eu era. Toquei as gotas de água em seu peito perfeito, brilhando ao
luar.
Então eu agarrei sua nuca, puxando-o para baixo em cima de mim,
em um beijo profundo.
Ele respondeu com igual paixão, colocando uma de suas pernas entre
as minhas para que eu pudesse sentir sua ereção crescente contra minha
coxa.
Minha respiração estava ofegante enquanto passava minhas mãos por
seu corpo. Meu corpo estava reagindo antes de minha cabeça.
Mas eu não queria pensar. Isso parecia certo, e eu não queria lutar
contra isso.
Alcancei sua cueca, acariciando a pele macia de seu membro duro
como pedra. A respiração de Caspian ficou irregular.
— Porra, Lyla, — ele engasgou.
Abaixei sua cueca para que pudesse vê-lo. Seu abdômen ondulou,
chegando até seu pau perfeito, que se flexionou em minha mão.
Sem pensar, puxei minha calcinha para o lado, desesperada para
senti-lo.
Ele se inclinou em minha direção, então o comprimento dele estava
contra o meu sexo quando eu abri minhas pernas.
Meus músculos internos se contraíram de desejo enquanto movia
meus quadris contra ele.
Estávamos tão perto. Estávamos a apenas um movimento de
distância. Eu estava delirando de luxúria, já perto do orgasmo.
Suas mãos em mim eram gentis e fortes. Eu podia sentir que ele tinha
certeza: eu era tudo o que ele sempre quis; tudo o que ele sempre iria
querer.
Essa seria a sensação de fazer amor com Caspian, eu teria certeza
disso então.
Ele iria me adorar, aceitar todas as falhas e me dar tudo o que tinha.
Eu queria aceitá-lo, mais do que qualquer coisa.
Caspian abriu os olhos e olhou nos meus com uma intensidade
ardente. Era uma pergunta — uma que eu não sabia se poderia
responder.
Esta é a hora?
Vou finalmente perder minha virgindade?
20
PROBLEMAS DEPOIS DA MEIA-NOITE
Lyla

Eu empurrei meus quadris, sentindo o comprimento do pau de Caspian


deslizar sobre a minha abertura.
Minha cabeça estava quente e pesada. Eu estava consumido pelo
ritmo de nossos corpos. O calor de sua pele no ar frio da noite.
Caspian beijou meu pescoço e eu engasguei para respirar. Ele se
abaixou, movendo seu pau para o lado e, em vez disso, empurrou um
dedo dentro de mim.
Eu gritei. Ele me acariciou como já havia feito tantas vezes antes.
Mas de alguma forma isso não me aproximou do meu limite.
Em vez disso, me fez pensar em Sebastian. Da última vez que estive
sozinha com ele, nua.
Lembrei-me de como me senti animada, hipnotizada por ele. Por
quão forte e poderoso ele era, pelo que eu poderia fazer com ele...
Caspian gemeu no meu pescoço e fui trazida de volta à realidade.
Lá estava eu com Caspian, o homem que me amava completamente,
que eu sabia que faria qualquer coisa por mim, e estava pensando em
Sebastian.
Eu não estava mais me movendo no ritmo de Caspian, mas ele não
percebeu.
Tive vergonha de mim mesma por não estar presente com ele no que
poderia ter sido um momento tão crucial.
Eu estava tão em conflito — lá com Caspian, mas com Sebastian em
minha mente.
Não.
Eu não poderia perder minha virgindade assim. Caspian merecia
coisa melhor.
— Sinto muito, — eu engasguei.
Caspian parou e tirou o rosto do meu pescoço para olhar para mim.
Lentamente, seu dedo saiu de mim.
— O que há de errado? — ele perguntou. Seus olhos estavam cheios
de preocupação e amor, como se eu não pudesse fazer nada de errado.
Se ele soubesse o que estava passando pela minha cabeça... A culpa
era quase insuportável.
— Eu não posso ir mais longe que isso, Caspian — eu disse
suavemente. Eu me senti tão mal por desapontá-lo. Por estar tão confusa.
— Foi algo que eu fiz? — ele perguntou.
Meu coração se partiu um pouco com a dor em sua voz.
— Não, não, — eu me apressei. — De jeito nenhum. Só... não é o
momento certo.
Caspian suspirou. Enquanto ele entendia as palavras que eu havia
dito tantas vezes, pude sentir algo mudar em sua expressão.
Seus olhos de mel, que estavam tão abertos, tomaram-se cautelosos.
Ele se deitou ao meu lado e eu me inclinei para que ambos ficássemos
espremidos na espreguiçadeira.
Arrumei meu sutiã e ele puxou a cueca de volta.
De repente, parecia que estávamos a quilômetros de distância,
quando, poucos momentos atrás, quase... nos tornamos o mais próximo
que duas pessoas podem ficar?
Pressionei meus olhos com as mãos e estremeci durante a noite.
Por que eu arrastei Caspian para isso?
Meu egoísmo me surpreendeu.
Eu ainda não sabia o que queria. E eu tinha aproveitado a paciência
de Caspian e seu amor incondicional.
— Haverá um momento certo, Ly? — Caspian perguntou após um
longo silêncio. A decepção em sua voz era clara.
Eu não sabia como responder a isso. Eu não tinha ideia se algum dia
seria o momento certo para nós.
Eu tinha apenas alguns dias restantes da Cúpula — apenas alguns dias
para tomar uma decisão impossível.
Do outro lado da piscina, nossas roupas se espalhavam pelo convés.
Eu sabia que ainda devia a Caspian uma resposta à sua pergunta. Mas
quando me virei para olhar para ele, seu queixo estava tenso.
— Vamos voltar para a casa da alcateia, — ele disse sem olhar em
minha direção.
Claramente, meu silêncio disse o suficiente.
A noite mágica que compartilhamos havia acabado.
Esta é a gota d'água para ele? Eu me perguntei ansiosamente. Mas não
ousei perguntar. Eu já o tinha machucado tentando acalmar minha
mente perturbada.
Caspian se levantou da espreguiçadeira e estendeu a mão para mim.
Eu a peguei e caminhamos juntos em silêncio em direção às nossas
roupas.
Sebastian

Girei o globo vintage que pertenceu ao meu pai, observando os países do


mundo voar diante dos meus olhos em um redemoinho de cores
desbotadas.
Era uma espécie de ritual para mim.
Acalmava minha mente pensar no espaço. Todos os lugares em que
estive; todos os lugares que eu só tinha visto nos livros.
Ouvi uma batida na porta sobre o disco clássico girando em cima do
toca-discos, que também era de meu pai.
Gostava de estar rodeado de coisas dele. Isso me lembrou dele e me
permitiu canalizar sua liderança lúcida.
— Entre, — eu chamei.
A porta se abriu e Magnolia entrou na sala.
— Uh-oh. Uísque e uma sinfonia melancólica composta por...
provavelmente um Wolfgang ou algo assim. Acho que as coisas não estão
indo muito bem, Seb. — Sua voz provocou, mas ela sorriu com empatia.
— Você adivinhou, — respondi, já caminhando para o frigobar
enquanto lhe ofereci um copo. — Quer se juntar a mim?
— Sempre, — ela disse.
Entreguei a ela um copo do líquido escuro e nos acomodamos em
duas poltronas de couro.
Magnolia tomou um gole enquanto observava o globo girar
lentamente.
Era normal para ela estar naquela cadeira, compartilhando uma
bebida comigo em qualquer noite. Éramos amigos de longa data,
amantes de curto prazo.
Mesmo antes de encontrar Lyla, ficou claro para mim e Magnolia que
não poderíamos iniciar um relacionamento romântico por necessidade
mútua.
Agora que eu encontrei minha companheira, não havia nem mesmo
um indício de atração. Desde que Lyla e eu nos conhecemos, meu mundo
inteiro girava em torno dela.
Isso era parte do motivo pelo qual toda a situação com Caspian era
tão difícil para mim. Ela foi a única que vi. Mas mesmo depois de me
encontrar, ela sentiu uma conexão com seu ex.
Uma conexão, pela qual vale a pena colocar em risco tudo que
tínhamos juntos...
Outra parte de mim temia que Caspian não fosse nosso único
problema. Nossa briga no início da noite me convenceu de que Lyla era
imatura e irracional.
Claro que ela era a única coisa que eu queria, mas como eu poderia
ter uma Luna assim?
— Você e Lyla tiveram uma briga, suponho? — A voz de Magnolia me
tirou dos meus pensamentos. Eu quase tinha esquecido que ela estava na
sala comigo.
Eu concordei.
— Ela ficou brava quando eu disse que ela não poderia comparecer à
reunião do conselho esta manhã. Em vez de me ouvir, ela ouviu a coisa
toda, — comecei.
Magnolia ergueu as sobrancelhas. Ela quase pareceu impressionada.
— Então ela invadiu aqui, lívida e disse que eu estava escondendo
coisas dela. Então eu contei a ela... a história completa sobre eu e Silas.
Eu não encontrei o olhar de Magnolia.
— E aí Lyla me perdoou por isso. Imediatamente. — Eu balancei
minha cabeça em descrença. — Mas ela estava brava por eu não ter
contado a ela antes!
Eu bati na minha testa. Apenas dizer tudo isso em voz alta me deixou
exasperado.
— Eu sei que isso não é o que você quer ouvir, Seb, mas ela tem razão,
— Magnolia disse.
Eu olhei para ela, confuso.
— Ela é sua Luna, Sebastian. Ela pode comparecer a qualquer reunião
que quiser. E ela definitivamente tem o direito de saber sobre o que
aconteceu com você e Silas, porque ela é o alvo óbvio.
Eu murchei com suas palavras.
— Mas esse é todo o problema, Magnolia. Ela ainda não é minha
Luna. Não até que ela me escolha.
Magnolia acenou com a cabeça, absorvendo essa informação.
— Entendo, — respondeu ela. — Mas você não pode culpá-la por
fazer você esperar. Isso só vai afastá-la. E, há algo admirável nessa
demora dela, eu acho.
Ela elaborou: — Ela provavelmente quer se recompor para que possa
se comprometer completamente. Para que ninguém se machuque mais
do que o necessário.
Eu fiz uma careta. Eu estava começando a me preocupar que ela tinha
razão.
— E você gostaria se alguém te trancasse no seu quarto? — ela
perguntou.
— Você viu isso? — Eu respondi timidamente.
— Havia guardas do lado de fora da porta dela, Sebastian! Qualquer
um poderia ver isso. — Ela suspirou. — Olha.
Magnolia baixou o copo e se inclinou na minha direção.
— Você precisa confiar nela o suficiente para deixá-la ficar ao seu lado,
não atrás de você. De que outra forma ela saberia o que realmente é ser
sua Luna?
Por um momento, senti a raiva crescer dentro de mim. Eu já tinha
tentado fazer isso e não funcionou.
Mas então percebi que a raiva vinha de um lugar de medo. E se eu fizer
tudo que posso e Lyla ainda não me escolher?
— Oh, Deusa, — eu gemi, deixando minha cabeça cair em minhas
mãos. — Obrigado pelo conselho, Magnolia. Dói ouvir isso, mas acho
que você tem razão.
— Eu sei, — ela respondeu.
Eu estava tão exausto. O que deveria ser a melhor experiência da
minha vida estava se tornando a mais exaustiva.
— É que sempre pensei que tudo faria sentido quando conhecesse
minha Luna... mas agora, está tudo mais complicado do que nunca.
Magnolia atravessou o espaço entre nós e apertou minha mão.
— Eu sei, — disse ela, — mas esta é a pior parte. O não saber. Não se
preocupe, Seb. Mostre a ela como seria ser sua Luna, de verdade. Eu não
acho que nenhuma garota poderia dizer não a isso.
Seu sorriso era genuíno, sem ciúme ou más intenções. Foi realmente
incrível como nosso relacionamento evoluiu ao longo dos anos.
Eu sabia que ela só queria o melhor para mim.
— Ok, Alfa. — Magnolia se levantou de seu assento. — Eu vou
dormir. Você vai buscar sua garota. E deixe-a sair daquele quarto, seu
idiota!
Ela sorriu.
— Boa noite, — chamei, aliviado por meu humor ter mudado tanto
desde que ela entrou. — Obrigado pela conversa.
Ela acenou com a cabeça uma vez e fechou a porta atrás dela.
Fiquei sentado, girando o uísque em meu copo. As palavras de
Magnolia me encheram de esperança renovada.
Em vez de mostrar a Lyla como nossa vida poderia ser, eu a estava
punindo por me afastar daquela felicidade. Isso não era justo. E não era
assim que eu iria conquistá-la, de uma vez por todas.
Eu me levantei, abandonando minha bebida pela metade.
O corredor estava vazio, exceto pelos guardas no quarto de Lyla.
— Eu os liberto de suas funções aqui, — eu disse enquanto me
aproximava deles, e os dois homens acenaram com a cabeça antes de
seguirem para a escada.
Bati na porta de Lyla e de repente fiquei nervoso.
Ela ficará feliz em me ver?
Já era tarde — ela estava quase definitivamente dormindo. Eu
esperava que ela não se importasse que eu a acordasse. Mas eu queria
pedir desculpas imediatamente.
Não houve resposta. Ela estava dormindo, certamente. Eu lentamente
abri a porta.
— Lyla, sou eu, — disse eu no escuro. — Sebastian, — eu acrescentei.
Ela tem um sono profundo, pensei. Então eu acendi a luz e percebi com
um sobressalto que a cama dela estava vazia.
Ela não está no quarto.
Meu coração disparou e eu estava prestes a chamar os guardas
novamente. Silas deve ter entrado na sala.
Minha garganta fechou. Ele pegou minha companheira.
Mas então, com um grunhido, Lyla colocou metade de seu corpo no
quarto, subindo pela janela..
Ela parou de andar e olhou para mim, sua boca um perfeito o.
Então a brisa agitou as cortinas e fui abordado por um cheiro vil.
Todo pensamento racional, toda boa intenção que eu tinha, deixou
minha mente de uma vez.
O ciúme me percorreu, puro instinto animal. Senti meus músculos
incharem com o desejo de mudar e garras saltaram de meus dedos.
— Lyla, — eu rosnei, precisando me expressar antes de perder toda a
aparência de controle.
— Eu consigo cheirar Caspian em você...
21
LIBERTANDO O VAPOR
Lyla

Por um breve momento, eu pensei em apenas me jogar pela janela.


Eu ainda estava na metade do caminho, uma perna do outro lado do
peitoril da janela. Seria fácil cair de costas no meio da noite.
O chão muito, muito abaixo parecia ser mais indulgente do que
Sebastian.
Provavelmente seria uma morte mais rápida e menos dolorosa também.
— Entre, — Sebastian disse, sua voz mortalmente séria. — Agora !
— Ou o que? Você vai me acorrentar à cabeceira da cama também?
Você mandará mais guardas para me ver dormir?
Minha raiva explodiu como um mecanismo de defesa. Eu fui pega em
flagrante.
— Na verdade, eu estava vindo aqui para dispensá-los! — Sebastian
rugiu, e isso me parou. — Eu vim aqui para me desculpar, e agora peguei
você entrando furtivamente com... — Ele parou e fechou os olhos.
Eu podia ver suas mãos cerradas em punhos, os nós dos dedos
brancos com a tensão.
Ele estava tentando não mudar.
— Apenas entre... antes que você se machuque, — Sebastian
murmurou, seus olhos ainda fechados.
Eu cuidadosamente entrei, andando na ponta dos pés em direção à
cama como se estivesse navegando em um campo minado.
Só que isso era muito mais mortal.
Sebastian começou a andar com raiva na minha frente quando me
sentei na beira da cama, minhas costas retas, meus músculos tensos.
Eu estava pronta para...
O quê, exatamente?
Para correr?
Para me defender?
Eu realmente pensava que Sebastian iria me atacar?
Olhando para ele então, ele certamente parecia um animal selvagem.
Seus olhos estavam injetados, havia um rosnado constante crescendo em
seu peito, e eu praticamente podia ver o vapor saindo de seus ouvidos.
Mas não importa o quão bravo Sebastian estava, ele nunca me
machucaria. Eu sabia que ele se importava muito comigo para fazer isso.
Ele continuou andando, e mudou de rápido e agitado para lento e
sombrio. Ele se sentou na cama — o mais longe que pôde de mim — e
olhou para o teto.
A expressão em seu rosto passou de fúria para...
Dor.
Eu podia ver a dor em seus olhos, e era muito pior do que raiva.
A culpa começou a surgir em minha mente.
— Você me deu tempo para tomar minha decisão, lembra? — Eu
disse, tentando me livrar da sensação horrível em meu peito.
Eu sabia que tecnicamente eu não tinha feito nada de errado.
Sebastian e Caspian concordaram em me dar espaço para tomar uma
decisão.
Mas tudo ainda era um furacão confuso de emoções conflitantes.
Estávamos todos nos machucando.
E não importava quem eu escolhesse, alguém ficaria infeliz.
Eu acabei de voltar de machucar Caspian... e agora eu era a razão do
olhar de agonia no rosto de Sebastian.
Era como se minha pele estivesse coberta com lâminas de barbear. Eu
machucava tudo que tocava.
— Ainda não somos oficiais, — continuei quando ele não respondeu.
— Eu não sou sua Luna.
Sebastian finalmente olhou para mim então, e o que ele disse em
seguida rasgou meu coração ao meio.
— Eu nem sei se quero que você seja minha Luna mais.
Ele se levantou e saiu, fechando a porta apaticamente atrás de si. De
alguma forma, o clique suave da porta fechando doeu muito mais do que
se ele a tivesse batido.
Pelo menos a raiva mostrava energia.
A raiva mostrava que ele se importava.
Quando Sebastian saiu, ele parecia apenas cansado.
Cansado de mim.
Recostei-me na cama, sentindo como se um vazio se abrisse em
minha mente e eu caísse nele.
Por alguma razão, sempre achei que Sebastian esperaria por mim até
que eu tomasse minha decisão. Que ele sempre estaria lá se eu
finalmente decidisse que queria ficar com ele.
Mas naquela noite, a verdade fria e dura me atingiu no rosto.
Se eu não fizesse uma escolha logo...
Eu poderia perdê-lo.
Sebastian
Eu dei um chute no soco de pancada, usando o ímpeto de Titus contra
ele enquanto o deixava espalhado pela grama.
Voltando rapidamente minha atenção para sua gêmea, me abaixei
bem a tempo de evitar o chute de Tonya em minha cabeça, levantando
sua outra perna de baixo dela, para levá-la ao chão também. Eu pulei para
longe antes que os gêmeos pudessem se recuperar, o ar frio da manhã
esfriando minhas roupas de treino encharcadas de suor.
— Novamente! — Eu exigi.
Eu não tinha conseguido dormir na noite anterior.
Sempre que fechava os olhos, tudo que conseguia ver era Lyla e
Caspian. Eu vi suas mãos sobre ela, seus braços em volta de seu pescoço...
Com um rugido furioso, avancei e os gêmeos me encontraram de
frente.
Eles sabiam o que fazer.
Lutar contra meu estresse era uma ocorrência bastante comum.
Titus e Tonya se abaixaram, um em cada lado de meu corpo, os
gêmeos se movendo como se fossem um lutador só. Eles desencadearam
uma enxurrada de ataques com um tempo impecável que tornou
impossível para mim defender todos eles.
Eles estavam encarregados de treinar os soldados da Alcateia Real por
um bom motivo.
Mas eu era o alfa. Eu também não era desleixado.
Eu impulsionei seus ataques, desencadeando uma torrente de golpes
em meu contra-ataque.
A dor e a adrenalina me deixavam precisamente focado. Nada mais
existia.
Não havia responsabilidades alfa me pesando.
Não havia bandidos espreitando nas fronteiras de nossa alcateia.
Não havia uma companheira problemática, fugindo para encontrar
seu antigo amante e fazendo sabe-se lá o quê...
SLAM!
A próxima coisa que percebi foi que estava de bruços na grama, o
orvalho da manhã se misturando ao meu suor.
— Você deveria ter previsto nosso movimento, — Titus disse acima de
mim.
Tonya ofereceu a mão para me ajudar a levantar.
— De novo, — eu disse, determinado a afastar os pensamentos vis da
minha cabeça.
— Na verdade, — disse Tonya, olhando por cima do meu ombro. —
Acho que estamos sem tempo.
Olhei para trás e vi Caius e Tiberius se aproximando da casa da
alcateia.
Ótimo, pensei. O que foi agora?
Limpei-me enquanto Titus e Tonya saíam para nos dar um pouco de
privacidade. Eles tinham alguns filhotes para continuar treinando, de
qualquer maneira.
E se os bandidos em nossas fronteiras ficassem mais ousados...
precisaríamos de todos os lutadores saudáveis que pudéssemos
conseguir.
— É bom ver que você está usando seu tempo com sabedoria, — disse
Tiberius. — Rolar na terra bem cedo pela manhã é uma ótima maneira de
começar o dia.
— Fale logo, — eu murmurei.
— É sobre Lyla, — disse Caius.
Eu imediatamente fiquei com raiva.
Meus braços tremiam de fúria, o desejo de mudar quase
incontrolável.
Mas ele sumiu quase tão rápido quanto veio.
Foi substituído por um cansaço profundo. Um que me fez querer
apenas me enrolar na cama e esquecer que o mundo fora dos meus
cobertores existia.
— Eu não quero falar sobre ela.
— Ainda temos que falar, — Tiberius continuou, implacável, — a
Alcateia Real precisa de uma Luna. Especialmente agora que estamos
sendo ameaçados no meio da Cúpula.
— Ela não é do seu agrado? — Caius perguntou.
— Não, — eu disse.
— Você cometeu um erro durante a cerimônia? — Perguntou Tibério.
— Ela é minha verdadeira companheira, — eu disse com os dentes
cerrados.
— Então por que você ainda não a marcou? — Meu tio exigiu. — Por
que você está perdendo tempo quando...
— Porque eu não quero forçá-la! — Eu rugi.
Os dois olharam para mim, intimidados pela minha explosão de raiva.
— Não quero uma Luna acorrentada a mim pelo destino, —
expliquei. — Eu quero uma que queira estar ao meu lado.
Caius e Tiberius ouviram com expressões pensativas em seus rostos.
— O que há de errado com aquela garota? — Tiberius se perguntou.
Seu tom era insensível, mas ele também parecia genuinamente confuso.
— Um verdadeiro companheiro não é suficiente?
— Ela já estava em um relacionamento antes de me conhecer, — eu
disse, vindo em sua defesa.
— Você também, — Caius me lembrou.
— Magnolia era diferente; vocês dois sabem disso.
Nós três ficamos em silêncio.
Eu me perguntei o quão diferente minha situação seria se eu tivesse
sentimentos românticos genuínos por Magnolia.
Se eu realmente visse um futuro com ela e a visse sob uma luz romântica,
eu ficaria tão em conflito quanto Lyla está agora?
Eu hesitaria, mesmo se soubesse que Lyla era minha verdadeira
companheira?
— Magnolia é diferente, — Tiberius concordou eventualmente. — Ela
seria muito melhor para a Alcateia Real.
Virei para Tiberius, mas antes que pudesse explodir com ele, uma voz
cortou minha raiva.
— Olhem para vocês, fofocando como um bando de velhas donas de
casa. — Nós nos viramos para encontrar Magnolia caminhando em nossa
direção, seu cabelo loiro brilhando platinado ao sol.
— Não estamos fofocando, — disse Tiberius. O velho parecia
ofendido por ser comparado a uma velha dona de casa.
— Peguei em um ponto fraco? — Magnolia brincou. — Saia daqui.
Tenho certeza que vocês dois têm outras coisas para fazer.
Tiberius olhou para Caius, e meu beta deu de ombros com
indiferença.
— Tudo bem, — Tiberius concedeu. — Talvez você possa colocar
alguma razão na cabeça de Sebastian.
— É no que eu sou boa, — Magnolia disse, me olhando de soslaio.
Vimos meus dois conselheiros mais próximos se afastarem, e o
aborrecimento que vinha crescendo dentro de mim começou a
desaparecer.
Eu entendi que eles só queriam, de coração, o bem da alcateia.. Mas
deusa-maldita eles poderiam ser irritantes pra caralho.
Voltei minha atenção para Magnolia.
— Então? O que vai ser? Você vai me dizer que eu preciso me apressar
e marcar Lyla também?
— Você pode fazer o que quiser, Sebastian, — ela disse. — Mas eu não
gosto de ver você fugir de seus problemas.
— Eu não estou fugindo.
— Sim, você está, — Magnolia insistiu. — Você fica na defensiva
quando alguém sequer menciona o nome dela.
Eu a encarei por um momento antes de suspirar em derrota.
— Eu só preciso espairecer, — eu admiti. — Eu realmente não quero
falar sobre ela agora... e a Deusa sabe que eu não suporto nem vê-la
também.
Magnolia balançou a cabeça lentamente e parecia que estava prestes a
me contar uma piada particularmente doentia.
— O que? — Eu perguntei.
— Você esqueceu o que acontece amanhã?
— Uh...
Eu não tinha ideia.
— É o Cotilhão, seu idiota, — disse Magnolia.
Fiquei atordoado em silêncio.
Oh merda.
— Por que não estou surpresa? — Magnolia suspirou. — É apenas um
dos eventos mais importantes da Cúpula...
Ela estava certa. O Cotilhão era a — estreia — oficial de todos os
novos pares abençoados pela Deusa da Lua. E isso significava...
— Estamos celebrando a bênção de verdadeiros companheiros da
Deusa da Lua, — Magnolia continuou. — E você e Lyla são o evento
principal.
22
PARCEIROS DE DANÇA Lyla
— Minha nossa, eu estou linda, — Teresa exclamou.
Eu tive que sorrir com o quão atrevida minha melhor amiga era. Ela
sempre foi uma garota confiante e tinha bons motivos para ser.
Ela estava deslumbrante em seu vestido de coquetel cor de vinho. O
tecido abraçava sua cintura e a saia se alargava para mostrar suas pernas
bem torneadas.
Teresa deu um pequeno giro, e eu ri de como ela estava animada.
— Reed é um lobo sortudo, — eu disse.
Ela ergueu uma sobrancelha para mim pelo espelho.
— Você está me enganando, Green? Porque eu toparia, apenas
dizendo.
— Nojento. Eu não quero os restos desleixados de Reed, — eu ri, e o
sorriso largo de Teresa suavizou para um sorriso caloroso.
— Aí sim, — disse Teresa. — Você ficou deprimida o dia todo.
Fiquei um pouco surpresa por Teresa ter notado. Achei que estava
escondendo bem.
— Estou um pouco nervosa, — admiti.
— Menina, por quê? — Perguntou Teresa. — Você tem o pedaço de
carne mais quente para exibir na festa — além de Reed, é claro.
Revirei meus olhos para ela.
— Bem, as coisas estão um pouco complicadas agora...
— Problemas no paraíso?
— Você nem sabe da metade.
Ela cruzou o quarto e sentou-se ao meu lado na cama, dando-me toda
a atenção.
— Conte-me, garota.
Eu dei a ela a versão resumida.
Ela não precisava saber todos os pequenos detalhes desagradáveis. Só
a Deusa sabe o que Teresa faria com essa informação.
Mas foi bom tirar as coisas do meu peito. Dizendo essas coisas em voz
alta, parecia que eu era capaz de me remover um pouco de tudo o que
estava acontecendo.
— Você ainda está obcecada por Asspian, hein? — ela perguntou.
— Teresa... eu avisei.
Ela ergueu as mãos em um gesto de paz. — Tanto faz. Mas eu não
consigo acreditar que Sebastian disse que não sabe se ele ainda quer que
você seja a Luna. Você está apenas jogando pelas regras que ele deu a
você, certo?
— Eu acho, — eu disse. — Ainda assim, não é como se ele tivesse que
gostar que eu ainda goste do Caspian...
— Bem, não há tempo como o presente para fazê-lo reconsiderar, —
disse Teresa, pulando da cama.
Sempre me surpreendi com a rapidez com que Teresa agia. Ela nunca
foi do tipo que ficava sentada pensando em um problema. Ela seria um
alfa incrível um dia.
— E o primeiro passo para fazê-lo reconsiderar... — disse Teresa,
saltitando em direção ao armário. — É o seu vestido.
— A Alcateia Real já me forneceu um, — eu disse. Eu enruguei meu
nariz. — Eu tenho que ter uma aparência adequada, afinal.
Teresa emergiu com o gigante nos braços.
O vestido era enorme — cheio de babados e rendas
superdimensionadas. Parecia que a Alcateia Real havia de alguma forma
sequestrado uma nuvem e a forçado a vestir um vestido sob a mira de
uma arma.
O rosto de Teresa parecia estar segurando um barril de lixo químico.
— Eles esperam que você apareça neste vestido?
— Tradição é tradição. — Dei de ombros.
— Oh, nuh-uh. — Teresa abanou a cabeça. — Não na minha frente. —
Ela pegou uma tesoura e um kit de costura do nada.
— O que você vai fazer com isso? — Eu perguntei, meus olhos se
arregalando em pânico.
— Alguns ajustes, — Teresa disse inocentemente.
— Você não pode simplesmente ajustar um vestido passado pela
tradição!
— Garota, você sabia que vai haver uma dança no baile? — Perguntou
Teresa. — Você realmente acha que será a Pequena Senhorita Dançarina
nesta monstruosidade? Você vai tropeçar em sua estreia!
— E?
— E você não pode ir a uma festa sem um presente, se você me
entende.
— Teresa, o evento é literalmente o oposto disso, — eu disse. —
Vamos aparecer com nossos companheiros — Tanto faz. — Teresa sorriu
enquanto cortava com sua tesoura, um brilho assustador em seus olhos.
E como uma cientista maluca em sua mesa de operação, ela começou a
trabalhar.

Caius chamou o nome de Teresa do outro lado das portas duplas


ornamentadas.
Estávamos de volta ao Fleur de Lis.
A Alcateia reservou todo o salão de baile e todas as mulheres
esperaram pacientemente para serem apresentadas.
Elas desapareceram atrás das portas lindamente trabalhadas, uma
após a outra, até que ficamos apenas eu e Teresa.
E agora ela estava indo embora.
Ela deu um aperto final em minhas mãos antes de desaparecer lá
dentro.
— Você está incrível, Lyla, — ela me assegurou. — Arrase, garota.
Qualquer um teria que ser cego para não notar.
Respirei fundo, olhando para um espelho no corredor.
Eu tinha que admitir, Teresa fazia milagres. Ela de alguma forma
transformou meu antigo vestido abominável em algo elegante, moderno
e bonito.
A silhueta do vestido tinha sido reduzida para exibir meu corpo, mas
não de uma forma excessivamente sexualizada.
O decote era de bom gosto, o corpete era elegante e as mangas eram
entrelaçadas em um padrão de renda que era moderno e elegante em um
estilo secular que me deixou sem fôlego.
A seda da saia praticamente flutuava no ar.
Mas Teresa não foi capaz de resistir a criar uma longa fenda frontal
que expôs todo o caminho até a parte superior da minha coxa.
Um presente, como ela colocou.
— Lyla Green! — A voz estrondosa de Caius ecoou pelas portas.
Eu respirei fundo enquanto caminhava.
É agora ou nunca.
Caspian

A Alcateia Real realmente não poupou nenhuma despesa.


O salão de baile do Fleur de Lis tinha uma decoração luxuosa. Tudo
praticamente gotejava com riqueza — dos lustres de diamantes
brilhantes à fonte de champanhe espumante.
Todo mundo estava vestido com esmero também, e eu me mexi um
pouco desconfortavelmente no meu terno. Olhei para a orquestra ao vivo
tocando no canto.
Eu estava fora do meu elemento.
Isso definitivamente não era uma festa. Parecia mais uma ópera ou
algum evento de salão super chique.
— Lyla Green!
Meus pensamentos descontentes desapareceram quando Caius
anunciou Lyla.
Todo o salão de baile ficou em silêncio enquanto todos os olhos
estavam voltados para as portas no topo da grande escadaria.
Todos estavam ansiosos para ver a nova Luna da Alcateia Real.
Bem, a Luna não oficial, ainda.
E vai continuar assim, se eu puder impedir.
As portas se abriram e ela entrou. Um suspiro coletivo surgiu de todos
dentro.
Dizer que ela estava linda seria o eufemismo do século. Era difícil
acreditar que a mulher que vi descendo as escadas era a mesma garota
com quem cresci.
Pensei em nosso momento aquecido juntos algumas noites atrás, e
meu coração doeu de saudade. Se eu tivesse uma maneira de convencê-la
do quanto ela significava para mim...
Sebastian

Era como se a própria Deusa da Lua tivesse entrado por aquelas portas.
Lyla desceu a grande escadaria com pose e graça, seu vestido branco
esvoaçando ao seu redor como o luar.
Ela era o ser mais lindo que eu já vi.
Ela parecia uma Luna.
Eu queria me chutar por dizer algo tão estúpido como não querer que
ela fosse mais minha Luna.
Especialmente quando havia outro que a queria tão
desesperadamente...
Eu olhei para Caspian. Ele estava observando cada movimento de
Lyla, e eu podia ver o desejo em seus olhos. Eu podia ver o amor que ele
sentia por ela, e isso me fez querer arrancar os cabelos.
Eu olhei para o teto, uma mensagem silenciosa para a Deusa da Lua
em minha mente: Deusa, por que você tem que me torturar assim?
Lyla

Terminei de descer as escadas e olhei em volta sem jeito, enquanto todos


continuavam a me encarar.
Devo fazer um discurso ou algo assim?
Avistei Teresa no meio da multidão e ela fez um gesto enfático com o
polegar para cima, com uma taça de champanhe na outra mão.
— Um... eu comecei.
Mas de repente uma música animada começou a tocar, salvando-me
de ter que me dirigir à multidão. Eu olhei e fiquei surpresa ao encontrar
uma orquestra ao vivo na sala.
Eles trocaram seus instrumentos orquestrais por violinos, gaitas e
banjos. A música clássica abafada deu lugar a algo mais animado e
vibrante. Perfeito para uma boa dança sulista.
Bem, isso é uma cena que você não se vê todos os dias.
Senti alguns dedos se entrelaçarem com os meus e me virei para ver
Caspian parado ao meu lado. Sem dizer uma palavra, ele me girou para
entrar na pista de dança enquanto as pessoas começavam a formar pares
para a quadrilha.
A música começou a ficar mais intensa, mas em vez de quadrilha,
Caspian me puxou para perto de seu peito.
— Ei, — ele disse.
— Oi. — Meu coração martelou no meu peito.
Nós nos abraçamos por um momento antes de nos juntarmos ao
resto da multidão, nossos pés se movendo facilmente em um ritmo
praticado.
Caspian e eu costumávamos dançar quadrilha o tempo todo, e a
memória trouxe um sorriso ao meu rosto.
Sempre foi fácil estar com Caspian.
Sem esforço.
Mas então suas próximas palavras estouraram minha pequena e
confortável bolha.
— Você tem me evitado desde o hotel... — Ele olhou para mim, seus
olhos eram piscinas quentes de mel.
— Eu... só precisava de um tempo para pensar...
— Olha, eu sei que as coisas estão estranhas entre nós agora, —
Caspian continuou. — Mas ainda amo você, Lyla. Acho que podemos
fazer isso funcionar.
— Caspian, — comecei, minha mente acelerada pensando no que
dizer. — Eu acho que...
De repente, eu estava girando enquanto todos na quadrilha trocavam
de parceiros. O salão de baile ao meu redor ficou borrado em uma
cascata de luzes até que de repente eu estava olhando para o rosto do
meu novo parceiro.
Sebastian.
Ele apenas olhou nos meus olhos, seu olhar azul elétrico acendendo
um fogo dentro de mim. Eu tive que morder meu lábio e desviar o olhar.
Eu não sabia se queria dar um soco nele ou pular em seus ossos.
— Sinto muito, — disse ele.
Como se as coisas não pudessem ficar mais confusas.
— O que?
Nós giramos em círculos, mas o mundo fora de seus braços
desapareceu.
— Eu não quis dizer o que eu disse na outra noite, — Sebastian disse.
— Eu estava tão zangado e confuso. Espero não ter estragado as coisas
entre nós.
— Eu também sinto muito. — Eu balancei minha cabeça. — Não
estou tentando machucar você com meu relacionamento com Caspian.
Tudo está acontecendo tão rápido.
Sebastian deu uma risada triste enquanto observava as festividades ao
nosso redor, e eu não pude deixar de admirar o corte severo de sua
mandíbula.
— A Cúpula é uma bagunça meio caótica, não é? — ele perguntou em
voz alta. Ele olhou para mim e eu quase vacilei com a intensidade em
seus olhos. — Mas nós não temos que ser.
Eu queria responder, mas estava girando e girando de novo, e desta
vez meu novo parceiro era um velho gentil.
Ele me deu um sorriso largo e sem dentes, e eu estava com medo de
segurá-lo com muita força. Ele provavelmente se transformaria em pó.
— Vamos, jovem! — ele gritou por cima da música. — Continue ou
vou te deixar para trás!
— Ok, vovô. — Eu ri enquanto era pega em seu ritmo frenético.
Os próximos minutos foram um borrão de pessoas e rostos, todos eles
me elogiando, dizendo como eles tinham sorte por sua nova Luna ser tão
bonita.
Eu me escondi atrás de um sorriso o tempo todo. Eu não merecia o
elogio deles.
Eu nem era tecnicamente a Luna deles ainda.
De repente, a pista de dança clareou e a música de alta energia mudou
para algo mais lento. Mais gentil e romântico.
Éramos apenas Sebastian e eu enquanto todos formavam um círculo
ao nosso redor.
Meu coração saltou na minha garganta.
A dança do alfa e da Luna...
Eu avistei Caspian no meio da multidão, e eu percebi que ele gostaria
que fosse ele na pista comigo. Sebastian se aproximou de mim,
absolutamente elegante em seu terno, e me ofereceu sua mão. Ele olhou
para mim, seus olhos cheios de esperança.
Eu encarei sua mão e esperei que minha indecisão não estivesse tão
clara em meu rosto.
Senti os olhos da Alcateia Real em mim, os olhos de Caspian, os olhos
dos meus pais...
Olhos, olhos, olhos.
Um holofote estava literalmente brilhando sobre mim, e eu senti que
essa dança era a analogia perfeita para meus problemas de
relacionamento. Era uma valsa confusa sobre a qual eu não tinha
controle. Em um minuto eu estava nos braços de Caspian, e no próximo,
nos de Sebastian.
Era uma dança que eu ainda estava aprendendo — uma dança para a
qual eu não sabia todos os passos.
Serei capaz de encontrar meu ritmo? Eu me perguntei.
Ou vou cair de cara no chão para que todos vejam?
23
CORAÇÕES REBELDES
Sebastian

Lyla hesitou por um momento...


Então ela pegou minha mão, enviando uma onda de alívio pelo meu
corpo.
Nosso público gritou e gritou, mas todos eles desapareceram quando
eu envolvi minha companheira em meu abraço e a música começou a
aumentar.
Isso é tudo que eu preciso.
Não importa o quão caótico o mundo ao nosso redor fosse, não
importa os perigos que ameaçassem a alcateia, eu sabia que poderia
enfrentar tudo se tivesse Lyla ao meu lado.
E porque ela aceitou a dança...
Posso pensar que ela também quer isso?
Dançamos em um círculo lento, nossos corpos se movendo
naturalmente ao ritmo da música.
— O resto da alcateia deve estar aliviada, — Lyla disse baixinho para
que só eu pudesse ouvi-la. Sua cabeça descansou contra meu peito, então
eu não pude ver seus olhos.
— Por que diz isso?
— Afinal, isso é o que se espera de nós, — ela continuou. — O alfa e a
Luna precisam ter uma aparência adequada.
A pequena e florescente esperança dentro de mim se desvaneceu e
morreu.
— É por isso que você aceitou essa dança? Para o bem das aparências?
Seu silêncio foi resposta suficiente para mim.
A raiva começou a queimar dentro de mim, mas não era dirigida a
Lyla.
— Olhe para mim, — eu exigi.
A esmeralda de seus olhos encontrou os meus, estreitando-se com o
meu tom. Sem dúvida ela esperava uma luta.
E depois de tudo que passamos? Eu não a culpo.
— Eu já disse a você, Lyla, e vou dizer de novo. — Controlei minha
raiva e, em vez de deixar que ela me consumisse, canalizei-a em minhas
palavras, tentando mostrar meu ponto de vista.
Lyla esperou pacientemente.
— Eu não quero forçar você a ser minha Luna. Se a única razão pela
qual você está dançando comigo agora é por causa do nosso vínculo, por
causa da Deusa da Lua... — Eu respirei fundo. — Então, foda-se, a Deusa
da Lua.
Lyla

As palavras de Sebastian foram um choque tão grande que tropecei nos


pés.
Eu teria morrido de vergonha se caísse no chão, mas Sebastian girou
casualmente, meu tropeço se transformando em um mergulho elegante e
florescer.
A multidão ao nosso redor bateu palmas em agradecimento.
— Tem certeza que deve dizer isso? — Eu perguntei, desarmada por
sua intensidade. — Você não vai ser atingido por um raio ou algo assim?
— Eu aguento, — disse ele com confiança e muito, muito a sério. —
Eu quero que você seja feliz, Lyla. E se a sua felicidade não está aqui em
meus braços...
Seu aperto em torno de mim começou a afrouxar, e uma onda de
pânico irracional cresceu dentro de mim. Parecia que meu coração era
um mar tempestuoso e Sebastian era meu barco salva-vidas.
Eu o agarrei com mais força e imediatamente ele devolveu o favor.
Eu balancei minha cabeça para mim mesma.
O que diabos há de errado comigo?
Sebastian olhou para mim e a raiva em seus olhos se foi. Tudo o que
pude ver foi paciência.
E amor.
Meu coração se partiu em dois.
Quem sou eu para merecer o carinho de Caspian e Sebastian?
Os dois eram pessoas incríveis, e qualquer outra garota no mundo
contaria suas estrelas da sorte por ter qualquer um deles.
Por que eu?
Parecia mais uma maldição do que um presente.
Por que minha felicidade tem que vir às custas de um deles?
— Honestamente, quando você me disse pela primeira vez que eu
tinha até o final da Cúpula para decidir, pensei que era apenas uma
formalidade, — disse eu.
Sebastian ficou quieto enquanto pensava nas minhas palavras.
— No começo... provavelmente era, — ele admitiu. — Mas então eu
comecei a conhecer você. Além do vínculo fatídico entre nós, além da
luxúria e da necessidade e do desejo, eu pude conhecer você.
Ele me girou enquanto dançávamos, e eu me senti leve em seus
braços.
— E, honestamente, eu sinto que teria me apaixonado por você
mesmo sem a ajuda da Deusa da Lua.
Eu derreti sob seu olhar firme.
Sebastian sempre foi essa figura alfa insensível e intimidante. Ele
tinha um temperamento explosivo e o usava como uma armadura.
Mas agora ele estava diante de mim, se expondo para que eu pudesse
olhar.
E gostei do que vi.
— Mas o que a alcateia vai fazer? Se... — Eu tropecei nas palavras. —
Se eu escolher não ser sua Luna... o que aconteceria?
Os olhos de Sebastian brilharam de dor com a hipótese.
— Estou disposto a ir contra a vontade da Deusa da Lua, — disse ele,
tentando manter o tom leve. — Eu acho que posso lidar com a ira de
Caius e Tiberius com bastante facilidade.
O alfa real estava disposto a colocar minha felicidade acima das
necessidades de sua alcateia. Isso era admirável? Isso era uma tolice?
Eu não fazia ideia.
Tudo que eu sabia era que isso me fazia sentir mais valorizada do que
nunca.
Eu inclinei minha cabeça contra seu peito e sorri quando pude sentir
a batida frenética de seu coração, batendo em conjunto com o meu.
Caspian

Eu assisti Lyla e Sebastian dançarem. Seus passos perfeitamente


sincronizados pisaram em todo o meu coração.
Mas por alguma razão mórbida, não consegui desviar o olhar.
Eu queria vomitar. Não porque eles eram péssimos dançando, ou
porque eles pareciam péssimos juntos. Na verdade, foi exatamente o
oposto.
A maneira como ela se dobrou em seus braços; a maneira como eles
se olhavam nos olhos... Era como assistir duas peças de um quebra-
cabeça se encaixando perfeitamente.
E isso rasgou a porra do meu coração.
Eu podia ver a atração magnética entre eles — como se alguma força
divina estivesse desejando os dois juntos. Todos podiam.
E o pior era que havia uma força divina fazendo exatamente isso.
Eu bebi o resto da minha delicada taça de champanhe e virei para o
céu.
Obrigado pela ajuda, Deusa da Lua.
Como devo competir contra ISSO?
Sebastian era seu companheiro predestinado. Seu parceiro destinado.
E eu era apenas seu antigo namorado.
— E aí, idiota. — Teresa ficou ao meu lado, assistindo a dança.
— Vadia, — eu respondi como forma de saudação. — Onde está seu
companheiro?
Teresa bateu em seu copo vazio.
— Pegando mais uma.
Ficamos um ao lado do outro em silêncio, e eu estava esperando pelo
eventual golpe. Mas isso nunca aconteceu.
— O quê, você não vai jogar na minha cara? — Eu perguntei
eventualmente, acenando para Sebastian e Lyla.
— Nah. Eu não sou tão megera assim. — Ela finalmente olhou para
mim. — Mas nunca pensei que você fosse do tipo masoquista.
— Descubro algo novo sobre mim todos os dias, — murmurei,
levando meu copo aos lábios apenas para lembrar que estava vazio.
— Honestamente, eu nunca gostei de você e Lyla como um casal, —
disse ela.
— Surpresa surpresa.
— Mas, pelo que vale a pena, — ela continuou, — você está lutando
bem, Cas.
— Que diabos você está falando?
Ela ergueu a sobrancelha, como se estivesse falando com um idiota.
O que, para ser justo, ela provavelmente estava.
— Sebastian é o seu verdadeiro companheiro. A manteiga de
amendoim para sua geleia. A maçã para sua torta. O pau para sua...
— Cale a boca, já entendi.
— Sim. E Lyla ainda tem uma queda por você. Você é tão importante
para ela que ela está pensando em desafiar a porra da Deusa da Lua.
Isso me parou.
Olhei para Lyla e Sebastian novamente. Eles pareciam tão perfeitos
juntos. Tão certo. E de alguma forma, por algum milagre, Lyla ainda
tinha uma queda por mim.
Fui eu quem atrapalhou o final de seu conto de fadas.
Eu não sabia se me sentia feliz ou culpado.
— Acho que vou me afogar em um pouco de bourbon, — eu disse.
Teresa ergueu o copo vazio para mim.
— Bon voyage, marinheiro.
Abri caminho no meio da multidão, ignorando os olhares irritados e
os murmúrios descontentes. Eu precisava ficar o mais longe possível
daquele lugar.
O barman estava muito ocupado assistindo a dança, então eu apenas
deslizei atrás dele e tirei uma garrafa de uísque da prateleira.
Saí para a parte de trás do Fleur de Lis e me sentei na varanda. Eu
poderia ter minha própria festa lá, com muitos parceiros de dança: a lua,
a floresta e a garrafa.
Eu abri a rolha e tomei um gole, apreciando a queimadura suave
enquanto descia pela minha garganta. O líquido âmbar acendeu um fogo
na minha barriga, e o calor lentamente começou a preencher o vazio que
eu sentia dentro de mim.
A garrafa espirrou ruidosamente quando a tirei dos lábios.
— Não quero ouvir, — respondi à garrafa.
Ela balançou novamente, e eu estreitei meus olhos para ela.
Não estava gostando do tom.
A brisa noturna balançava ao meu redor, e o farfalhar das folhas ao
longe apenas tinha que dar sua opinião.
— Você fica fora disso! — Eu gritei de volta.
Tomei outro gole profundo e o brilho do luar emergiu de trás de uma
nuvem perdida. Eu me senti exposto de repente — como se todo mundo
pudesse ver o quão patético eu era.
Eu olhei para a lua.
— Nem me fale de você.
O mundo estava contra mim.
E meus novos parceiros de dança eram críticos pra caralho.
Esta festa é uma merda.
— Sozinho, parceiro?
Uma voz profunda e retumbante me chamou, e eu apertei os olhos
para a garrafa em minha mão. Eu estou tão bêbado? Mas então eu percebi
que a voz não era uma invenção da minha imaginação bêbada.
Um homem se aproximou de mim na varanda e se sentou no degrau
ao meu lado.
Ele parecia um verdadeiro cavalheiro sulista, completo com um terno
preto, botas de cowboy pretas com esporas e um sorriso diabólico que se
escondia atrás de uma barba escura.
Um colete estiloso estava cuidadosamente enfiado por baixo de seu
terno, a corrente dourada de um relógio de bolso brilhando ao luar.
— Sim, — respondi depois de outro gole de uísque, — eternamente.
Ofereci um gole ao estranho e ele aceitou gentilmente, tomando um
pequeno gole antes de devolver a garrafa para mim.
— Não se preocupe filho, eu conheço o sentimento.
— Você experimentou seu quinhão de desgosto? — Eu perguntei a
ele.
— Mais do que o meu quinhão, eu diria. — Ele pescou um par de
charutos de seu casaco e ofereceu um para mim. — Parece que você
precisa de companhia.
Normalmente eu não era de me abrir com estranhos. Mas havia algo
no jeito honesto do cara de falar que me desarmou.
Além disso, quem recusaria um charuto grátis?
— Sou Caspian, — eu disse enquanto pegava um.
O homem acendeu o charuto, soltando algumas baforadas antes de se
virar para mim.
— É um prazer conhecê-lo. — Ele sorriu, o branco perolado de seus
dentes aparecendo por baixo de sua barba bem aparada. — O nome é
Silas.
24
PRESSÁGIOS DO LUAR
Caspian

— Então você está me dizendo que sua garota foi roubada na Cúpula? —
Silas estava inclinado para a frente, os olhos arregalados de choque.
— Sim, — eu disse, dando uma baforada descontente do charuto
entre meus dedos.
— Droga. A Deusa da Lua pode ser uma garota inconstante às vezes,
hein?
— Isso é verdade.
Tomei um gole da garrafa meio vazia, entregando-a a Silas, que fez o
mesmo. Era fácil conversar com ele. E foi bom conversar com alguém
sobre toda aquela merda.
Liberação.
Talvez fosse porque ele era um estranho. Eu sabia que provavelmente
não veria o homem nunca mais depois daquela noite, o que tornou mais
fácil abrir o bico.
Muito mais fácil do que conversar com amigos e familiares, isso era
certo.
Eu não estava procurando por piedade, e Silas não ofereceu nenhuma.
Ele era apenas um cara com quem eu poderia desabafar.
— O que é pior, — continuei, — é que não foi qualquer um que
acabou se revelando seu companheiro. Foi o alfa. O alfa real. Você pode
acreditar nisso, porra?
O sorriso descontraído foi subitamente apagado do rosto de Silas.
Seus olhos brilharam sombrios, e seu comportamento de repente mudou
de aberto e convidativo para algo mais escuro.
Mas sumiu tão rápido quanto veio, e me peguei me perguntando se
tinha imaginado a coisa toda.
— Não, eu realmente não posso acreditar nisso, — disse ele
calmamente.
— Eu também não queria, — admiti. — Mas a realidade é uma merda.
Ficamos em silêncio por um tempo, revezando-nos para tomar um
gole da garrafa e fumar nossos charutos.
— Por que você não está lá dentro? — Eu perguntei eventualmente.
— Você não tem ninguém esperando por você?
— Não, — disse Silas. — Como eu disse, tive meu quinhão de
problemas do coração. E me chame de bastardo, mas não suporto ver
outras pessoas felizes com seus companheiros. Me faz sentir todo torcido
por dentro, sabe?
— Eu entendo, — eu concordei. — Por que eles ficam felizes quando
estou me sentindo uma merda?
— Amém, irmão. — Silas deu uma risadinha.
— Mas o que aconteceu com você? — Eu perguntei. — Você sabe
muito bem a minha história. Qual é a sua?
— Ah, bem, não gosto de falar muito sobre isso... — O rosto de Silas
escureceu novamente e, dessa vez, tive certeza de que não estava
imaginando. — Eu perdi minha companheira em uma terrível tragédia.
Ela foi tirada de mim muito, muito cedo.
Eu podia sentir o peso de suas palavras e tive a sensação de que meus
problemas atuais empalideceram em comparação com o que ele havia
passado.
— Mas mantenha a cabeça erguida, filho, — disse Silas. — Você ainda
tem a cerimônia da segunda chance chegando.
Tossi uma baforada de fumaça de charuto. Eu tinha me esquecido
completamente dessa parte da Cúpula.
Uma companheira de segunda chance...
A cerimônia tinha um certo estigma em torno dela.
Alguns viam isso como uma misericórdia concedida pela Deusa da
Lua, mas outros também viram como uma ninharia.
Todos os lobos não marcados entravam automaticamente na
cerimônia. Era visto como uma chance para aqueles que, por qualquer
motivo, não conseguiram encontrar seu verdadeiro companheiro.
Talvez seu verdadeiro companheiro simplesmente não estivesse na
Cúpula. Talvez seu verdadeiro companheiro tivesse falecido e essa fosse
sua segunda chance de uma vida cheia de amor.
— Hm... eu não tenho certeza disso, — eu disse relutantemente.
— Os rumores de que seu companheiro de segunda chance não é 'tão
bom' quanto seu verdadeiro companheiro não são tudo o que eles dizem
ser, — disse Silas. — Amor é amor, e uma vida sem ele é realmente muito
sombria.
— Como você saberia? — Eu me perguntei.
— Minha companheira era uma espécie de companheira de segunda
chance, — disse Silas com um sorriso triste. — E ela era a luz da minha
vida. — Eu olhei para Silas. As linhas duras de seu rosto suavizaram
enquanto ele pensava em seu amor perdido. Ele parecia feliz com as
memórias que sem dúvida estava revivendo.
— Talvez eu pudesse tentar..., — eu disse duvidosamente.
— Faça isso, filho. — Silas deu uma última tragada no charuto antes
de jogá-lo na grama. Ele se levantou e me deu um tapinha no ombro. —
Eu sei que parece impossível, mas talvez você encontre alguém especial
como a sua garota encontrou.
Eu levantei a garrafa quase vazia em direção a ele.
— Obrigado pela conversa.
— Não se preocupe, — disse ele.
Ele começou a caminhar na noite, mas parou e olhou para trás para
uma palavra final. — Se você encontrar sua companheira, segure-a com
força. Nunca a deixe ir. Porque você nunca sabe quando o destino a
levará embora.
Sebastian

A dança do alfa e da Luna estava finalmente chegando ao fim.


A música atingiu seu crescendo final, e os aplausos estrondosos de
nosso público tomaram seu lugar.
Eu sorri para Lyla e fiquei feliz em ver que, embora seu rosto estivesse
vermelho como uma beterraba, ela não tirou sua mão da minha.
A dança era exatamente o que precisávamos para nos entendermos.
Mesmo sendo um evento muito público, no momento parecia algo
privado e especial, apenas entre nós dois.
— Isso marca o fim do Cotilhão! — Caius anunciou, sua voz soando
no salão de baile. — Sintam-se à vontade para desfrutar das instalações
do hotel e, por favor, tomem cuidado ao voltar para seus quartos.
Algumas pessoas vieram nos cumprimentar por mostrar a eles uma
dança tão linda, e aceitei o elogio com um sorriso.
Eu geralmente não era do tipo que tolerava tais sutilezas, mas o
Cotilhão não tinha sido tão ruim. Eu senti como se tivesse me
aproximado um pouco mais perto de Lyla.
Mesmo assim, não fiquei muito satisfeito.
Olhei por cima do ombro e vi alguns membros da Alcateia Lua Azul
vindo em nossa direção — os pais de Lyla em particular.
Eu poderia dizer que eles não tinham se entusiasmado comigo ainda,
e eu não queria que eles arruinassem o clima agradável entre nós.
— Ei, — inclinei-me e sussurrei no ouvido de Lyla. — Venha comigo.
Eu quero te mostrar algo. — Ela olhou para mim, um brilho malicioso
nos olhos. — Não deveríamos ficar um pouco? Provavelmente existe
alguma regra que diz que o alfa e a Luna têm que se despedir dos
convidados.
Eu zombei.
— Podemos fazer nossas próprias regras.
Ela riu, e juntos corremos para a porta, acenando rapidamente para
todos que nos chamavam.
Escapamos noite adentro, correndo pelos campos iluminados pela lua
que cercavam o Flor de Lis.
— Onde estamos indo? — ela perguntou.
Olhei por cima do ombro e vê-la me deixou sem fôlego.
Achei que ela estava linda sob as luzes brilhantes do salão de baile,
mas sob o brilho suave da lua ela parecia divina. Quase sobrenatural.
— Um dos meus lugares favoritos no terreno do hotel. Muitas pessoas
não sabem disso.
Contornamos a orla do pântano até chegarmos à cortina de folhas de
um salgueiro-chorão isolado. Eu o afastei para revelar um banco de
madeira que pendia de um dos galhos da árvore.
Lyla engasgou ao passar.
— É como uma fuga secreta, — ela se maravilhou.
— Você é a única pessoa a quem mostrei isso, — admiti.
— Lindo, — ela sussurrou.
— Você é, — eu concordei.
Lyla revirou os olhos, mas o rubor em suas bochechas a denunciou.
— Eu sempre amei salgueiros-chorões, — ela disse suavemente. —
Vê-los balançar na brisa me deixa tranquila.
Sentamos juntos, o rangido da madeira soando quando o banco
balançou suavemente sob nosso peso.
O pântano se espalhou diante de nós, a suave mística da natureza um
pano de fundo deslumbrante.
— Por que você quis me trazer aqui? — ela perguntou.
— Eu encontrei este lugar quando ainda era um menino. — Dei de
ombros. — Acho que só queria que você me conhecesse um pouco mais.
— E você não mostrou a nenhum dos seus amigos? — ela perguntou.
— Quer dizer, eu não posso ser a única pessoa a quem você mostrou.
Eu balancei minha cabeça.
— Isso pode ser um choque para você, mas eu realmente não tinha
muito amigos.
— Não! — ela engasgou, sua boca formando um pequeno o surpreso.
— Har, har. — Eu sorri enquanto ela ria, o som era a música em meus
ouvidos. — Como você era? — Eu perguntei. — Quando você era
pequena, quero dizer.
Lyla pensou por um momento, olhando para a água.
— Eu era uma criança bem normal, eu acho, — ela começou. —
Brincava muito fora. Eu gostava de pegar sapos.
Eu bufei.
— Sapos?
— Ei, eles são legais, certo? — ela riu. — Minha mãe sempre ficava
louca quando eu trazia um para casa. Ela diria que eu teria verrugas se
tocasse muito nos sapos... e se ela me visse trazer um para casa de novo,
ficaria de castigo para sempre.
— Não me diga, — eu disse.
— Comecei a escondê-los no banheiro.
Eu a encarei, esperando o final da piada.
— É isso, — disse ela. — Nem preciso dizer que quase causei um
derrame na minha mãe na próxima vez que ela foi ao banheiro.
Nossa risada sacudiu o balanço do banco abaixo de nós. Eu não ria
assim há anos.
— Então, o que você fez durante toda a sua vida de castigo? — Eu
sorri. — Espere, devo trazê-la de volta para casa? Você está quebrando as
regras agora?
— Nós fazemos as regras, certo? — ela sorriu de volta. — Mas eu
peguei um livro, eu acho. Sempre gostei de ler, mas depois que fui
forçada a entrar, essa se tornou minha única fonte de entretenimento.
— Oh? — Eu sorri, imaginando uma Lyla menor enrolada sob o sol, o
nariz em algumas páginas. — Que tipo de livros?
— Uh, bem... contos de fadas, eu acho.
— Aha! Então, é por isso que você gostava tanto de sapos. Você estava
procurando por seu príncipe, — eu provoquei. Eu estava apenas
brincando, mas seu silêncio constrangedor falou muito. — Lyla...?
— Eu acho que é um milagre meus lábios não estarem cobertos de
verrugas, — ela murmurou.
Tentei manter o rosto sério enquanto ela me encarava, desafiando-me
a rir. Mas eu não consegui segurar. Eu rugi de alegria, lágrimas de alegria
escorrendo dos meus olhos.
— Oh, vamos lá, não é tão engraçado.
— Espere, — eu engasguei. — Espere. — Eu me levantei do banco. —
Deixe-me pular no pântano. Posso ser capaz de encontrar seu príncipe
agora.
— Vai se ferrar, idiota. — Ela riu. — Eu vou jogar você em vez disso.
Talvez isso ajude.
Nós finalmente nos acalmamos, e parecia que uma onda de
eletricidade correu direto para o meu coração quando Lyla encostou a
cabeça no meu ombro.
— Então... você já o encontrou? — Eu perguntei baixinho.
— Quem?
— Seu príncipe.
Ela inclinou a cabeça para cima para olhar para mim, seus olhos fixos
nos meus.
Seus lábios brilharam ao luar.
Inclinei-me lentamente aproximando meu rosto do dela.
— Talvez..., — ela respirou.
Lyla

Meu coração martelou no meu peito quando me inclinei em direção ao


beijo de Sebastian.
Era como se meu corpo estivesse se movendo por conta própria. Uma
atração magnética me trouxe para mais perto dele, e eu não tentei lutar
contra isso.
Eu só tinha visto vislumbres desse lado de Sebastian antes. O homem
despreocupado e tranquilo que se escondia atrás da máscara do alfa real.
Talvez toda essa coisa de Luna pudesse dar certo afinal...
Nossos lábios se tocaram, suavemente no início, uma chama baixa
ganhando vida. Senti sua língua traçar ao longo do meu lábio inferior e
aprofundamos o beijo.
Eu gemi quando sua língua se enredou na minha, o desejo quente na
minha pele.
Eu estendi a mão, meus dedos correndo por seu cabelo...
De repente, um rosnado feroz rasgou o ar, e Sebastian e eu nos
separamos.
Eu automaticamente fui para a defensiva, supondo que estávamos
enfrentando os bandidos que estavam ameaçando as fronteiras da
Alcateia Real.
O vento soprou ao nosso redor, afastando a cortina de folhagem do
salgueiro-chorão. Eu fiquei tensa, pronta para lutar contra o inimigo.
Mas quando meus olhos focaram no intruso, em vez disso encontrei
um rosto familiar.
— Caspian... — disse eu.
Seus olhos estavam injetados, sua camisa desabotoada e ele segurava
uma garrafa de uísque vazia em uma das mãos.
— Tire suas patas imundas dela, seu filho da puta, — Caspian
balbuciou para Sebastian.
Eu vi uma veia pulsar na têmpora de Sebastian, mas ele estava
fazendo um trabalho surpreendentemente bom em controlar seu
temperamento.
— Caspian, você está bêbado — disse ele com os dentes cerrados. —
Acalme-se antes que eu tenha que...
Sebastian nunca conseguiu terminar a frase, porque naquele
momento Caspian se lançou para frente, mudando no ar.
— CASPIAN, NÃO! — Eu gritei.
Mas era tarde demais.
Suas presas expostas brilharam ao luar... e estavam indo direto para a
garganta de Sebastian.
25
VÍNCULO QUEBRADO
Sebastian

Lyla tentou pular entre nós, mas Caspian era um caso perdido.
Ela só se machucaria.
E se Caspian machucasse Lyla... então nenhuma quantidade de
autocontrole me impediria de matá-lo.
Eu a empurrei de lado, esquivando-me sob a estocada de Caspian
quando ele bateu no balanço do banco, arrancando-o de suas correntes.
Lyla tropeçou nas raízes da árvore, caindo de costas na grama. Isso
poderia deixar um hematoma, mas era melhor do que ficar no caminho
de um lobisomem bêbado.
A raiva me alimentou, meus ossos quebrando e os músculos se
expandindo enquanto eu assumia minha forma completa de lobo.
Caspian girou e se lançou novamente, e eu desviei para fora de seu
alcance.
Rosnei um aviso, mas o idiota continuou vindo.
Eu golpeei seu rosto, minhas garras se retraíram para que eu não o
deixasse com uma cicatriz. Mas o tapa não fez nada para detê-lo.
Isso vai ser complicado.
Se fosse uma luta normal, eu teria rasgado sua garganta naquele
momento. Mas o filho da puta estava bêbado. Ele não estava em seu juízo
perfeito.
E eu sabia que, se o machucasse, machucaria Lyla.
Puta merda.
De repente, ele se lançou para frente em um movimento imprudente
e suicida que deixou sua garganta completamente exposta. Mas não
consegui aguentar a abertura. Eu não queria matá-lo...
Suas mandíbulas apertaram meu ombro e eu gritei de dor.
Caspian

O sangue jorrou em minha boca, quente e salgado.


Meu cérebro estava nublado com sede de sangue, e eu recuei e
arranquei Sebastian com minhas garras. O carmesim se espalhou pelo ar
quando me aproximei, pronto para terminar o trabalho.
Se ele está morto, então definitivamente... definitivamente...
— CASPIAN!
A voz de Lyla cortou minha sede de violência. Eu me virei para ela
enquanto ela marchava em nossa direção. Ela parecia mais furiosa do que
eu já a tinha visto antes.
— MUDE DE VOLTA. AGORA!
Eu mudei, a raiva bêbada nocauteada do meu sistema pela maneira
que Lyla estava olhando para mim.
Como se eu fosse uma espécie de monstro.
Ela passou correndo por mim em direção a Sebastian.
Ele havia mudado de volta para sua forma humana e estava sangrando
muito.
Puta merda. Que porra estou pensando?
Eu caminhei em direção a eles.
— Merda, Sebastian, eu sinto muito...
— Não se aproxime! — Disse Lyla.
Eu parei no meio do caminho. Foi como se suas palavras tivessem me
dado um tapa na cara.
— Lyla, não foi isso que eu quis dizer, — eu disse. Minhas palavras
soaram vazias e sem sentido, até para mim. — Bebi muito e não estava
pensando direito, e...
— Apenas saia daqui, Caspian. Ela nem estava olhando para mim. —
Ela estava rasgando o vestido e usando-o para estancar algumas das
feridas de Sebastian.
— Eu posso ajudar, — eu disse, desesperado para compensar meu
erro.
— Não. — Ela olhou para mim, seus olhos frios como gelo. — Você já
fez o suficiente, Caspian. Saia.
Senti um abismo se abrir entre mim e Lyla.
Um que eu não tinha certeza se poderia ser cruzado.
A raiva cresceu dentro de mim, mas era dirigida a mim mesmo. Eu me
virei e corri, a dor que eu sentia era demais para suportar.
Eu mudei enquanto corria, esperando que os instintos mais básicos e
primitivos do meu lobo me salvassem de chafurdar na autopiedade. Mas
mesmo isso não conseguiu conter a agonia.
Corri pela floresta, um furacão de músculos e dentes uivantes.
Transformei pedregulhos em pó, cortei troncos de árvores como se
fossem feitos de papel.
Mas não foi o suficiente.
Nada foi suficiente.
Lyla

Eu ignorei o uivo enlouquecido da floresta e me concentrei em Sebastian,


que estava deitado no chão diante de mim.
Ele sorriu cansado para mim, seu rosto coberto com respingos de seu
próprio sangue.
— Eu teria ganhado, — ele brincou fracamente.
— Cale a boca, idiota, — eu disse suavemente. — Não fale agora.
Eu não era de forma alguma uma médica treinada, mas passei muitos
dias ajudando na casa do curandeiro local na Alcateia Lua Azul.
Eu analisei criticamente as feridas de Sebastian... e suspirei de alívio.
Ele vai ficar bem.
A cura natural de um lobisomem já estava começando lentamente,
parando o pior do sangramento.
Mas se Sebastian fosse humano... ele já estaria morto.
Peguei meu telefone, com a intenção de ligar para alguém pedindo
ajuda, mas Sebastian estendeu a mão e colocou a mão sobre ele.
— Não, — disse ele.
— Agora não é hora para sua dureza machista, — eu disse, mas ele
balançou a cabeça.
— Não é isso. Se os outros descobrirem que Caspian me atacou, eles
vão matá-lo. Toda a Alcateia Lua Azul ficaria envergonhada... talvez até
exilada.
Suas palavras foram como um respingo de água fria no rosto.
Era fácil ficar envolvida demais em nosso pequeno triângulo amoroso
estranho. Eu estava olhando para isso do ângulo de um ex ciumento e
bêbado.
Mas Caspian atacou o alfa real.
Motivo de execução fácil. E facilmente motivos para condenar toda a
minha alcateia... exilar todos nós para a vida de bandidos.
Mesmo enquanto ele estava sangrando em meus braços, Sebastian
estava pensando nos outros.
— Eu não posso simplesmente deixar você aqui, — eu disse, com
lágrimas de repente brotando dos meus olhos. Eu pisquei de volta
ferozmente.
Por que diabos estou chorando?!
— Bem, talvez possamos entrar em um dos quartos do hotel até que
minhas feridas cicatrizem, — Sebastian disse. — Seria mais confortável
do que aqui na grama.
Eu balancei a cabeça e com muito cuidado o ajudei a se levantar,
suportando a maior parte de seu peso. Sebastian sibilou de dor enquanto
suas feridas esticavam com o movimento.
Voltamos lentamente para o hotel, escolhendo as entradas dos fundos
para que ninguém nos visse.
Ficamos quietos o tempo todo, e o silêncio me permitiu chafurdar em
meus pensamentos.
Caspian havia atacado Sebastian.
Por minha causa.
Ele estava bêbado, mas isso não era desculpa.
Eu estava começando a perceber que talvez houvesse mais em jogo do
que apenas dor emocional.
Eu olhei para as minhas mãos encharcadas de sangue. A dor se tornou
muito real.
Os lobos podem ser intensamente territoriais. Eu mesma
experimentei isso quando vi Magnolia tocando Sebastian.
Eu queria sufocá-la.
Expulsá-la da alcateia.
Se isso se arrastar por muito mais tempo... quem sabe o que alguém
poderia fazer.
Depois de passar um cartão-chave na recepção, o usamos para entrar
em uma das suítes do Fleur de Lis.
Eu coloquei Sebastian na cama. Depois disso, fui ao banheiro e peguei
todos os trapos e toalhas extras. Eu vasculhei o frigobar do quarto em
busca de bebida.
Sentei-me ao lado dele, ensopando uma toalha de mão em vodca.
— Isso pode doer um pouco, — eu disse. — Mas temos que limpar
suas feridas.
— Eu sou um menino grande, — Sebastian disse. — Eu aguento —
ow!
Eu tive que rir de sua atuação ruim. Mesmo assim... ele estava
tentando me alegrar.
Suas feridas já estavam quase fechadas naquele ponto, os cortes largos
se tomando cortes mais finos.
Guardei o pano encharcado de vodca e passei outra toalha na água
quente. Limpei o sangue e a sujeira dele, lentamente limpando os
músculos de seus braços e seu peito nu...
De repente, eu estava ciente de quão nu Sebastian estava diante de
mim.
Ele ficou em silêncio, seus olhos azuis me observando atentamente
enquanto eu o limpava.
Algo em seu olhar fixo enviou uma onda de calor pela minha espinha.
Em algum momento, a toalha em minhas mãos havia caído e, em vez
disso, eram meus dedos que deslizavam por sua pele.
Fiquei maravilhada com o quão duros seus músculos pareciam —
com o quão grossos, pesados e poderosos eles eram sob meus dedos.
Sebastian rosnou de desejo, e o baixo profundo parecia ir direto para
o meu núcleo, fazendo minhas paredes apertarem de necessidade.
De repente, eu estava montando nele e nossos lábios se encontraram.
A fortaleza de seus braços me envolveu, prendendo-me em seu peito.
Senti seu pau endurecido inchar e esfregar contra minha bunda e
gemi de prazer.
Eu estava sufocando com seu beijo e me afastei, ofegante.
Sebastian moveu seus lábios para o meu pescoço, a barba por fazer
em seu rosto enviando arrepios de prazer ao longo da minha pele.
O som de tecido rasgando preencheu o ar enquanto ele desmontava
meu vestido arruinado.
— Sebastian, — eu engasguei quando ele apertou minhas nádegas,
abrindo-as.
Eu podia sentir minha luxúria escorrendo pelas minhas coxas,
escorrendo em seu pau enorme...
Oh Deusa, eu quero tanto...
Comecei a direcionar meus beijos para baixo.
Comecei em seus lábios, até sua mandíbula, sobre seu pescoço.
Eu beijei seu peito; tracei seu abdômen com minha língua...
Quando meu corpo deslizou para trás em suas coxas, seu pau se
alojou entre meus seios.
— Porra, Lyla, — ele gemeu, e o som de sua voz rouca me enviou a um
frenesi sexual. Seu cheiro almiscarado me dominou enquanto eu
arrastava meus lábios cada vez mais para baixo...
Mas de repente eu senti algo escorregadio e úmido nas palmas das
minhas mãos.
Não era suor.
Era sangue.
Eu me inclinei para trás e vi que as feridas de Sebastian haviam
reaberto.
Sebastian e eu congelamos por um segundo. Nenhum de nós
percebeu no calor do momento.
— Merda, — ele disse simplesmente.
E começamos a rir. Rimos para afastar toda a tensão acumulada, e
embora o riso não fosse exatamente a liberação que eu esperava,
funcionou da mesma forma.
Eu levei alguns minutos para limpá-lo novamente, então nos
deitamos na cama um ao lado do outro, cobertos com os lençóis extras
que eu tinha encontrado no armário.
— Nós provavelmente teremos que queimar isso para que ninguém
descubra, — Sebastian disse, acenando com a cabeça para as toalhas
ensanguentadas no canto da sala.
— Ou podemos deixá-los, — eu disse, seguindo seu olhar. — Talvez
comece um mito urbano na Flor de Lis. O maldito fantasma.
Ele riu baixinho, o som balançando suavemente a cama debaixo de
nós.
— Você não tem que fazer isso, você sabe, — ele disse,
repentinamente sombrio. — Você não tem que cuidar de mim.
Olhei para Sebastian e não vi nada além de honestidade em seus
olhos. Ele estava falando sério sobre o que havia dito antes.
Ele não queria que eu estivesse ao seu lado apenas por causa da Deusa
da Lua.
É por isso que ele pensa que estou aqui? Porque eu deveria ser sua Luna?
— Não estou aqui porque tenho de estar, — disse eu.
Eu ouvi uma pequena inspiração e seus olhos brilharam de esperança.
Meu coração parecia que ia explodir, estava batendo tão rápido.
— Estou aqui porque quero estar, — continuei. — Estou aqui
porque... porque eu escolhi estar aqui com você, Sebastian.
26
VERDADES TURVAS
Lyla

Fiquei olhando para as partículas de poeira flutuando na luz do


amanhecer que vazava pelas janelas.
Fazia um dia inteiro desde que Sebastian e eu escapamos da Fleur de
Lis e voltamos para a Casa da Alcateia Real.
Ele foi levado para as reuniões do conselho, e eu fui cercada pela
minha família e amigos da Alcateia Lua Azul.
A Cúpula iria chegar ao fim em breve.
E isso significava que eu teria que dar a Sebastian minha decisão
oficial.
Eu gemi e enterrei meu rosto no travesseiro, minhas bochechas em
chamas. Eu mal tinha conseguido dormir na noite anterior. Fiquei
repetindo mentalmente aquele momento que tivemos no hotel.
O que Sebastian achou das minhas palavras?
Elas foram muito vagas?
Muito diretas?
Eu ao menos sabia o que queria dizer com elas?
Eu gemi de novo, rolando na minha cama muito grande.
Uma batida na porta do meu quarto me salvou de cair em uma espiral
de dúvidas. Eu me arrastei para fora das cobertas e caminhei até a porta.
Eu a abri e minha respiração ficou presa na garganta.
Era Sebastian.
— Bom dia, — disse ele.
— Oi, — eu gritei.
Esperei que ele dissesse algo, mas ele parecia estar hesitando. Ele
tinha a mesma energia nervosa que eu, e o momento estava rapidamente
se tornando muito estranho.
Eu vi as bolsas sob seus olhos e me perguntei se ele teve tantos
problemas para dormir quanto eu.
— Vista-se, — Sebastian disse de repente. Ele parecia ter se decidido
sobre algo. — Há algo que eu quero mostrar a você.
Eu olhei para o meu pijama.
— Este não é um traje apropriado? — Eu perguntei.
— Vamos dar uma pequena caminhada, — disse ele. — Eu não acho
que seus chinelos vão aguentar.
— Uma caminhada? — Minha curiosidade foi aguçada. — Para onde?
— Você verá, — ele disse misteriosamente. — Vou esperar por você lá
embaixo.

— Acho que precisamos redefinir sua ideia de uma 'pequena caminhada',


— gritei.
Sebastian olhou para baixo do topo da colina, um sorriso no rosto. —
Você não me disse que gostava de curtir a vida ao ar livre quando criança?
— Quando criança! — Eu gritei de volta, enxugando o suor da minha
testa. — Isto é mais uma prova do que uma caminhada!
— Estamos quase lá, — Sebastian disse, sorrindo para mim. — Vai
valer a pena, eu prometo.
Eu me arrastei atrás dele, a inclinação íngreme fazendo minhas coxas
queimarem com o esforço.
Agora, eu era uma garota em forma. Meu sangue de lobisomem me
tornou naturalmente atlética. Eu também malhava muito regularmente.
Mas aquele caminho sinuoso através da floresta que cercava a casa da
alcateia era difícil.
Atravessando penhascos íngremes e ravinas íngremes, estávamos
caminhando...
Eu olhei para o sol diretamente acima. Tínhamos partido ao
amanhecer.
Há muito tempo.
Sebastian esperou por mim no topo da colina, a floresta ao nosso
redor brilhando ao sol. Ele estendeu a mão e eu peguei, tentando não
respirar muito forte.
— Quer que eu carregue você, princesa?
— Certo. — Minha voz estava cheia de sarcasmo. — Depois de toda
essa caminhada, é melhor você me levar para o meu castelo mágico.
Sebastian deu uma risadinha.
— Algo parecido.
Continuamos por mais alguns minutos até chegarmos ao que parecia
ser uma caverna escondida na parede rochosa de um penhasco.
— Ta-da, — Sebastian disse. — O castelo mágico, Sua Alteza.
Eu olhei para a escuridão da caverna.
— Você está brincando.
— Não.
— É aqui que você pula em mim e rouba todos os meus órgãos ou
algo assim?
Sebastian de repente agarrou meu pulso e me puxou para seu peito,
seu outro braço serpenteando em volta da minha cintura.
— Só se você não se comportar, — ele rosnou.
Borboletas explodiram em meu estômago, e eu tive que apertar
minhas coxas enquanto meu sexo apertava com seu movimento
repentino.
Ele sorriu diabolicamente e me soltou, entrando na caverna.
— Vamos, — ele chamou, acendendo uma lanterna.
Eu olhei para suas costas enquanto o seguia para dentro.
Ele se acha tão engraçado...
A caverna estava sombria e úmida. Nossos passos ecoaram na
escuridão. Havia uma descida suave à medida que nos aventurávamos
mais fundo no subsolo.
O som da água correndo começou a ficar cada vez mais alto.
Onde diabos ele está me levando?
À
À medida que continuamos em frente, a escuridão lentamente
desapareceu enquanto a luz do sol derramava do fim do túnel.
Sebastian desligou sua lanterna e se virou para pegar minha mão.
— É lá em cima, — disse ele. — Está pronta?
Eu balancei a cabeça ansiosamente. A antecipação estava me
matando.
Caminhamos para a frente e eu engasguei de surpresa.
Era como se tivéssemos entrado em um mundo completamente novo.
Diante de mim estava uma cachoeira escondida.
Eu olhei para cima para ver que o interior da caverna se abria para o
céu enquanto a luz do sol se derramava, brilhando e se refratando na
água.
A grama exuberante cercava o lago no centro da caverna e flores
silvestres floresciam ao nosso redor. Vinhas selvagens pendiam baixas em
faixas verdes, balançando suavemente com a brisa fresca.
— É lindo... — eu disse.
Sebastian

— Este lugar é um território sagrado para a Alcateia Real, — expliquei


enquanto os olhos verdes brilhantes de Lyla se arregalaram e observaram
nosso entorno.
— As águas aqui fluem para o resto das terras da alcateia. É a força
vital da floresta e a força vital de nossa alcateia. — Eu apertei a mão de
Lyla e ela olhou para mim. — É onde o alfa e a Luna vão para solidificar
seus laços.
O rosto de Lyla ficou vermelho, mas ela não desviou o olhar.
— Eu posso sentir isso no ar, — ela disse sem fôlego. — Este lugar é
especial.
— Você poderia chamar de mágica. — Eu sorri. — Quer que eu te
mostre?
Ela assentiu, ansiosa para ver.
Soltei sua mão e fui até a beira do lago. Eu lentamente movi meus
dedos para que minhas garras saíssem, então cortei suavemente minha
palma.
Algumas gotas do meu sangue caíram nas águas cristalinas.
Uma rajada soprou ao nosso redor — uma brisa sobrenatural que fez
meus nervos formigarem. E de repente minha mente se encheu de visões.
Fui levado de volta ao passado, para quando meus pais me mostraram
aquele lugar pela primeira vez. Eu vi seus sorrisos, ouvi o som de nossas
risadas ecoando na caverna.
Então eu tive visões de Lyla.
Ela desceu do céu noturno acima de mim, como um anjo vindo das
estrelas. O luar a envolveu em um casulo de luz, formando um vestido
etéreo.
Ela parecia graciosa.
Ela parecia minha Luna.
Abri meus olhos, uma sensação de serenidade e segurança brilhando
dentro de mim.
Eu me virei para Lyla.
— Você gostaria de tentar?
Lyla

Eu dei um passo à frente e coloquei minha mão na de Sebastian.


Eu tinha certeza de que ele podia sentir meu coração pulsando na
ponta dos dedos.
— O que eu vou ver? — Eu perguntei a ele.
— Sua verdade, — ele disse simplesmente. — Você está pronta?
Não.
— Vamos fazer isso, — eu disse.
Sebastian gentilmente virou minha mão para que minha palma
ficasse levantada e, lentamente, ele passou uma garra sobre minha pele.
O ato foi estranhamente íntimo. Eu olhei em seus olhos enquanto
sentia meu sangue inchar do pequeno corte, contas vermelhas caindo na
água. Observei as ondas do meu sangue se espalharem pela superfície
vítrea da lagoa, se compondo e se multiplicando até que a água estava
viva com o movimento.
Eu podia sentir a energia do lugar crescer como uma maré subindo,
um redemoinho se formando ao meu redor. Parecia tentar conter uma
tempestade dentro da minha mente.
Talvez isso tenha sido um erro.
Mas então tudo ficou quieto e eu não estava mais na caverna com
Sebastian.
Eu era criança novamente. Eu estava afundada até os joelhos no
pântano perto da Alcateia Lua Azul, caçando criaturas para trazer para
casa. Caspian estava ao meu lado, seu sorriso brilhando à luz do sol.
De repente, ficamos mais velhos e estávamos nos beijando.
Nossa firme amizade de infância floresceu em um romance, e eu me
lembrava de ter me perguntado se ele seria meu verdadeiro
companheiro. Aquele que eu estava destinada a amar pelo resto da minha
vida.
Então eu estava em uma clareira na floresta, o luar brilhando sobre
meu corpo nu.
E antes de mim estava Sebastian. Ele uivou, o som arrancando minha
alma. Isso me agarrou como nenhum outro antes, a chamada do destino
alta e clara.
Mas até ele desapareceu.
Baixei os olhos para as minhas mãos e elas se encolheram até se
tornarem os pequenos punhos rechonchudos de um bebê. O bebê era eu,
e eu estava estendendo a mão para um homem que nunca tinha visto
antes...
Seu rosto estava obscurecido pela luz que brilhava pela janela.
Mas ele usava uma armadura de platina e uma espada ornamentada
estava embainhada em sua cintura.
Ele estendeu um dedo e eu o agarrei.
Seus olhos enrugaram tristemente enquanto ele sorria.
— Eu gostaria de não ter que deixar você, minha doce Lyla. — Sua voz
parecia distorcida, como se eu a estivesse ouvindo através de um longo
túnel. — Mas fui chamado pela Deusa para servir...
Eu queria gritar, para impedir o homem misterioso de partir. Ele era
importante para mim. Ele era familiar.
Mas eu nunca o conheci antes na minha vida...
— Lyla?
A voz de Sebastian quebrou o feitiço. Eu estava em seus braços, um
vento intenso diminuindo repentinamente quando percebi que ainda
estava na caverna.
— Você está bem? — ele parecia em pânico, seus olhos azuis
arregalados. — Eu nunca vi o ritual afetar alguém tão intensamente
antes... O que você viu?
Tentei pensar no turbilhão de visões.
Caspian... Sebastian... aquele homem...
— Eu... eu não sei, — eu disse. Eu balancei minha cabeça, tentando
limpar minha confusão. A incerteza estava me deixando nauseada. — E
você? O que você viu?
Sebastian trouxe seus dedos para debaixo do meu queixo e inclinou
meu rosto para ele.
— Eu vi você, — ele disse, seus olhos queimando com uma paixão
ardente. — Você é minha verdade. — Ele me beijou, e a sensação de seus
lábios nos meus me tirou o fôlego. Talvez fosse a magia daquele lugar,
mas me senti mais conectada a Sebastian do que nunca.
Era fácil imaginar uma vida com ele.
Era fácil me imaginar como Luna ao seu lado.
Ele se afastou, mas seu olhar prendeu o meu como um torno. Suas
mãos pareciam ferros de marcar contra minha pele.
— Lyla — disse ele, a voz ardendo de desejo. — Eu quero marcar você.
Aqui. Agora.
27
UMA REVIRAVOLTA DO DESTINO
Lyla

Caímos no chão musgoso enquanto nosso beijo ficava mais intenso.


Era difícil dizer onde eu terminava e Sebastian começava. Estávamos
enredados no auge da paixão, mãos agarrando e lábios errando.
Minha cabeça estava confusa de desejo.
Sebastian queria finalmente me marcar.
Eu seria dele e ele seria meu.
Senti sua ereção lutando contra suas calças, pressionando quente e
pesada contra meu sexo. Imaginei como seria incrível tê-lo dentro de
mim, sentir seus caninos finalmente marcando meu pescoço...
Mas as visões me incomodavam.
Tentei me concentrar em Sebastian: a maneira como suas mãos
deixaram rastros de fogo em minha pele... mas não consegui.
Sebastian tinha me dito ele mesmo.
Eu veria minha verdade.
Mas então por que eu vi Sebastian E Caspian? Eu me perguntei.
Quem era aquele homem misterioso que era familiar e um estranho para
mim?
Eu empurrei suavemente o peito de Sebastian. Eu nunca teria sido
capaz de movê-lo com minha força, mas ele se inclinou para trás,
sentindo meu desconforto.
— O que há de errado? — ele perguntou, sua respiração rouca e seus
olhos tempestuosos.
Quase cedi a ele ali mesmo.
Eu me contorci debaixo dele e me sentei. Ele fez o mesmo, sentando
na minha frente. Reservei um momento para olhar ao nosso redor mais
uma vez.
— Este lugar é realmente mágico, — eu disse seriamente. — Obrigado
por me mostrar.
— Mas...? — Sebastian perguntou, seus ombros caindo.
Meu coração se partiu.
Ele já sabia o que estava por vir... Isso é uma coisa tão comum comigo
agora?
— Eu quero me comprometer, Sebastian, eu realmente quero...
— Então por que não se compromete? — ele perguntou. Ele estava
tentando ao máximo esconder a frustração em sua voz. Eu podia ver a
dor enterrada bem no fundo de seus olhos.
Mas eu não poderia dizer a ele que também tinha visto Caspian em
minhas visões. Eu não tinha coração.
— Simplesmente não é o momento certo, — eu disse
desesperadamente, tentando fazê-lo entender. — Ainda não. Só... saiba
que estou tentando, ok? Eu realmente estou.
Sebastian não respondeu. Em vez disso, fechou os olhos e pareceu se
retrair por um momento.
Eu esperei, ouvindo o barulho da cachoeira e vendo o sol brilhar em
suas profundezas.
— Ok, — Sebastian disse, abrindo os olhos. Mas agora eles pareciam
vazios.
— Sebastian, eu...
— Nós devemos ir, — ele disse. — Temos uma longa caminhada de
volta.
Sebastian me ajudou a ficar de pé e seguiu em frente, acendendo sua
lanterna.
Eu não tive escolha a não ser seguir desanimadamente atrás dele.
Olhei de volta para a cachoeira uma última vez antes de me aventurar
mais fundo na escuridão.
As visões deveriam esclarecer tudo.
Então por que estou saindo daqui mais confusa do que nunca?
— Você viu o labirinto de milho?!
Skye pulou para cima e para baixo animadamente na minha cama, o
sol poente pintando-a com uma luz dourada.
— Calma gafanhoto, — eu disse, minha voz tremendo a cada salto. —
Você vai pular pela janela.
— Mesmo se eu caísse, não seria uma queda tão grande, — Skye disse
desafiadoramente.
Eu balancei minha cabeça. Uma queda de dez metros não era nada
para se zombar.
— Claro, mas então mamãe e papai vão te ver, e você vai ter que
ajudar os outros a se preparar para a cerimônia mais tarde esta noite. Eles
vão fazer você fazer todas as tarefas.
Skye deu um salto final, cruzando as pernas no ar, então caiu de
bunda para se sentar na cama.
— Tudo bem, — ela fez beicinho. — Mas você viu o labirinto de
milho?
— Eu vi. — Eu ri. — É com isso que você está animada? Não é com a
cerimônia de segunda chance?
— Qual seria o motivo da animação? — ela desafiou. — Eu sou muito
jovem para ter um companheiro. E você já tem Sebastian.
Bom argumento.
Eu sufoquei uma tosse assustada.
— Simples assim, hein? — Eu perguntei, principalmente para mim
mesma.
Skye olhou para mim e revirou os olhos, deixando escapar um gemido
enorme e exagerado. Ela começou a rolar na cama.
— Lyla está pensando em meninos denoooovo!
Eu bati nela com um travesseiro.
— Shhh, calada!
Ela riu, equipando-se com sua própria arma fofa.
— Você declarou guerra! — ela gritou de alegria.
E que guerra foi essa.
Depois de um ataque de riso e um massacre de penas felpudas, minha
irmã e eu deitamos esparramados em minha cama do tamanho do
campo.
— Você precisa se alegrar, Lyla, — Skye disse. — Mamãe disse que
você vai ficar com rugas logo no início, com toda essa preocupação que
você sente.
Soltei um longo suspiro, rolando para olhar para minha irmã mais
nova.
— Alguma outra palavra de sabedoria, oh, grande Skye?
Ela se sentou e cruzou as pernas, pressionando o polegar e os dedos
médios enquanto ela cantarolava e estalava os dedos.
Eu me perguntei brevemente quais vídeos estranhos do WolfTube ela
estava assistindo.
Seus olhos se abriram e um sorriso malicioso curvou seus lábios.
— Pegue as maçãs cristalizadas rapidamente, — disse ela. — Tenho a
sensação de que elas vão acabar muito rápido.
Caspian

Eu vaguei sem rumo pelo terreno da Alcateia Real, encontrando qualquer


desculpa para adiar a cerimônia da segunda chance.
Os amplos campos verdes ao redor da casa da alcateia haviam se
transformado em uma espécie de carnaval.
Barracas de comida, cabines de jogos e barracas coloridas estavam
todas montadas juntas; fios que pendiam com lâmpadas emaranhadas
entre eles.
O cheiro de salsicha e algodão doce encheu o ar. Ocasionalmente, o
POP! POP! De uma pistola de ar ou o tilintar de garrafas de vidro caindo
no chão irrompeu entre os gritos e as risadas.
A Cúpula estava chegando ao fim, e acho que eles queriam um final
digno.
Mas eles tiveram que transformar todo o lugar em uma porra de
circo?
Eles até montaram um maldito labirinto de milho. Eu olhei em volta
para meus companheiros lobisomens, todos eles felizes e rindo sem
nenhuma preocupação no mundo.
E aqui estou eu — o bastardo miserável e solitário entre eles.
Eu olhei para cima e de repente percebi que me distanciei um pouco
das festividades e entrei em uma reunião mais silenciosa.
Um palco de madeira foi montado, simples e sem adornos. A lua
parecia brilhar um pouco mais forte no palco, e um punhado de
lobisomens estava lá em sua luz.
Muitas das alcateias se reuniram diante do palco, e todos eles
olhavam com olhos esperançosos.
Mesmo quando estava tentando evitar o lugar, não consegui.
Como uma mariposa por uma chama, fui atraído por ela.
A cerimônia da segunda chance.
Parecia um pouco inapropriado realizar algo tão sagrado perto de um
carnaval. Mas então me dei conta e tive que sorrir com a ironia.
Era apenas mais um dos jogos do carnaval.
A cerimônia da segunda chance é uma piada.
E aparentemente, eu também sou pensei enquanto me pegava andando
para frente, meus pés traidores subindo nos degraus de madeira um de
cada vez.
Como se o mundo estivesse esfregando sal em minhas feridas, vi
Sebastian parado ao lado em um pequeno pódio. Parecia que ele
presidiria a cerimônia.
Faz sentido.
Afinal, ele era a porra do alfa real.
Sebastian ergueu os braços e a multidão se acalmou. A cerimônia da
segunda chance estava prestes a começar.
Eu olhei em volta para o punhado de outros esperançosos no palco.
Os outros que não estavam marcados, que não haviam encontrado seus
verdadeiros companheiros.
Minha companheira está aqui no palco comigo?
Eu olhei para cada um deles, mas nenhum deles me fez sentir
absolutamente nada. Nenhum deles me fez sentir como Lyla fazia.
Eu olhei para a multidão e vi Lyla de pé com o resto da Alcateia Lua
Azul. Ela estava olhando na minha direção, mas eu não conseguia
distinguir sua expressão à distância.
Eu me perguntei o que ela estava pensando.
Ela tem pena de mim?
Ela está esperançosa de que eu encontre uma companheira de segunda
chance para que eu possa irritar e deixar ela e Sebastian sozinhos?
Ou ela se importa?
Suspirei e de repente uma onda profunda de exaustão me dominou.
Eu gostaria de poder voltar no tempo, antes da Cúpula. Quando
estávamos juntos. Quando a vida era simples.
De pé naquele palco, com a lua iluminando minha miséria, eu só
tinha certeza de uma coisa: As coisas nunca mais serão tão simples.
Lyla

Sebastian começou a recitar as orações ritualísticas, mas suas palavras


não tinham nenhum significado para mim.
Eu estava muito nervosa.
Eu olhei por cima das cabeças das pessoas que estavam na minha
frente, tentando ter uma visão melhor de Caspian.
Ele parecia abatido.
Ele parecia magoado.
Não nos falamos desde que ele atacou Sebastian. Até aquele
momento, eu ainda estava furiosa com ele. Mas vê-lo parecer tão perdido
e sozinho no palco...
Meu coração doeu para ir confortá-lo, mas eu sabia que isso só
pioraria as coisas.
Fechei meus olhos e orei para a Deusa da Lua.
Orei para...
O quê, exatamente?
Para Caspian encontrar sua companheira de segunda chance? Para ele
ficar feliz depois da cerimônia?
Mesmo que não seja comigo?
Suspiros explodiram das pessoas ao meu redor, e eu abri meus olhos.
Raios de luz poderosos caíram da lua para iluminar certos indivíduos no
palco. Eles olharam em volta, seus olhos arregalados e esperançosos.
Os feixes de luz que os envolviam dispararam para frente,
conectando-os a seus parceiros.
Aplausos irromperam da multidão.
Parecia que eu estava testemunhando algo sagrado.
Eles estavam encontrando seus companheiros!
De repente, outro raio de lua desceu do céu.
À direita de Caspian.
Ele parecia em estado de choque, uma expressão de pura descrença
em seu rosto.
Eu engasguei, minha mão cobrindo minha boca. Meus olhos
começaram a arder com lágrimas enquanto diferentes emoções
guerreavam dentro do meu coração.
Felicidade.
Alívio.
Ciúme?
Com o canto do olho, vi Sebastian observando Caspian de perto
também. Estávamos todos esperando que a Deusa da Lua revelasse quem
era sua parceira.
Outro feixe de luz disparou de Caspian.
Prendi minha respiração.
Ele disparou por todos os outros participantes no palco...
... além de todo o palco...
... e foi direto para...
MIM?!
28
SANGUE DA NOITE
Lyla

Isso não pode estar acontecendo.


A cerimônia ficou mortalmente silenciosa.
Era como se todos estivéssemos congelados no tempo. Um retrato de
alguma piada cruel e distorcida.
Eu fechei meus olhos com força, esperando ter sido pega em um
pesadelo. Mas, mesmo com minhas pálpebras fechadas, eu podia ver o
brilho prateado do raio de lua brilhando ao meu redor.
Era real.
Caspian era meu companheiro de segunda chance.
Mas como?!
Eu vi Sebastian me olhando de seu pódio, seu rosto congelado de
horror.
Ele era meu verdadeiro companheiro.
Como posso ter um companheiro de segunda chance ao mesmo tempo?!
Eu não conseguia entender isso.
Mas então eu percebi.
A cerimônia era para lobos não marcados.
Mesmo que eu tivesse encontrado Sebastian, ele não tinha me
marcado ainda. E pensar que tínhamos acabado de voltar da cachoeira.
Ele quase me marcou lá...
A verdade da situação era como um caco de gelo se enterrando em
meu coração.
Foi por isso que vi Sebastian e Caspian em minhas visões.
Meu vínculo com Sebastian não havia sido finalizado.
E, como resultado, eu agora tinha DOIS companheiros.
Eu olhei entre os dois. Os dois homens estavam paralisados pelo
choque. Suas expressões transmitiam mais ou menos o mesmo
pensamento que estava passando por minha mente.
O que diabos vamos fazer agora...?
— De jeito nenhum... — Teresa murmurou ao meu lado.
Suas palavras quebraram o feitiço.
O silêncio atordoado explodiu em um caos frenético.
De repente, fui cercada por pessoas — tanto curiosos quanto
escandalizados. Suas palavras se misturaram em uma confusão de ruído.
Ao meu redor havia olhos julgadores e mãos agarradas. Eu me senti
tonta: presa em um redemoinho de dedos apontando, olhos fixos e bocas
sussurrantes.
Foi avassalador.
Eu tenho que ir embora...
Eu cambaleei para trás e Teresa segurou meus ombros, me firmando.
— Vamos tirar você daqui, — ela disse.
Meus pais também estavam por perto e pude vê-los tentando acalmar
as pessoas. Alguns dos membros da Alcateia Real pareciam
completamente furiosos, e meu pai teve que recorrer a empurrar alguns
deles para trás.
Espero que as coisas não saiam do controle...
Sebastian
A Alcateia evoluiu para um alvoroço. Muitos deles se aglomeraram ao
meu redor — todos gritando, todos tentando chamar minha atenção.
Um alfa era o símbolo da força do bando. O alfa real era o alfa que
estava acima de todos os outros.
Então, o que significava se o alfa real não pudesse manter sua
companheira? Se a própria Deusa da Lua — considerasse dar à verdadeira
companheira do alfa real uma segunda chance?
O alfa real não era digno?
A Alcateia Real estava condenada?
O luar, uma vez gentil e amável, se transformou em um brilho áspero
e zombeteiro. Eu olhei para a lua, fria e indiferente no céu.
Então é assim que você vai me punir?
Acho que mereci.
Eu disse — foda-se a Deusa da Lua.
Parecia uma resposta natural, sua maneira de dizer — vá se foder —
de volta.
Eu vi Caius e Tiberius dirigindo alguns guardas da Alcateia Real
enquanto eles tentavam manter a paz. Depois de dar algumas instruções
curtas, eles começaram a empurrar a multidão em minha direção.
Eu cerrei meus dentes.
Eu não estava com humor para suas palestras. Sem dúvida, eles
estavam a caminho para me dar uma bronca sobre como eu já deveria ter
marcado Lyla.
Afastei-me deles e avaliei a situação.
Precisávamos acalmar a todos antes que as coisas escalassem fora de
controle. A Cúpula estava chegando ao fim. Terminar assim seria um
desastre.
Mas então eu vi Caspian pular do palco e começar a andar em direção
a Lyla, e todos os pensamentos de controle de danos foram embora.
Ele acha que só porque ele é seu companheiro de segunda chance, ele pode
tirá-la de mim?
Senti um rosnado crescendo em meu peito.
Sobre meu cadáver
Caspian

Eu não posso acreditar nisso.


Se isso fosse um sonho, eu não queria acordar.
Eu empurrei a multidão me sentindo mais leve do que antes, desde
que toda a maldita Cúpula começou.
Lyla e eu estávamos destinados a ficar juntos.
Ela era minha companheira. Eu sabia disso o tempo todo.
Houve uma pequena parte do meu cérebro que se perguntou o que
isso realmente significava.
Se Lyla era minha companheira de segunda chance, isso significava
que eu nunca tive uma verdadeira companheira? Ou ela estava lá fora em
algum lugar?
Pensei brevemente na primeira noite da Cúpula. Para a ligação que eu
tinha certeza que tinha ouvido. Aquilo era realmente minha imaginação?
Mas nada disso importava mais.
Lyla era minha e eu dela.
Até a maldita Deusa da Lua pensava assim!
Finalmente avistei Lyla. Teresa estava forçando um caminho para ela,
gritando com as pessoas e empurrando quem chegasse perto.
— Lyla! — Eu chamei por cima do caos.
Nossos olhos se encontraram do outro lado da multidão e eu senti
uma onda de eletricidade passar por mim. O tempo pareceu desacelerar
por um momento e eu senti algo em meu coração se encaixar.
Como se eu tivesse quebrado e agora estivesse consertado.
Qualquer dúvida que eu tinha antes se foi. Estávamos destinados a
estar juntos.
Lyla havia parado de se mover e eu podia ver a agonia em seu rosto.
Ela parecia querer chorar.
A visão fez meu coração despencar até a sola dos pés.
O que há de errado?
Corri para frente para diminuir a distância entre nós, mas de repente
esbarrei em alguém que estava bloqueando meu caminho.
Eu tropecei para trás e estava prestes a me desculpar e me mexer
quando vi quem era: Sebastian.
Ele olhou para mim, um olhar de hostilidade aberta em seu rosto.
Algo me disse que eu teria que passar por ele se quisesse chegar até Lyla.
Eu me ergui e olhei fixamente em seus olhos.
— Mova-se, — eu exigi.
— Não, — ele rosnou.
O desafio em sua voz fez meu sangue bombear. Avancei, o lobo
dentro de mim implorando para ser liberado.
— Não vou pedir de novo. — Minha ameaça era clara.
Sebastian estreitou os olhos e baixou a postura, preparando-se para
uma luta.
— Ela é minha companheira, — disse ele, sua voz gotejando com a
promessa de violência.
Eu sorri, agachando-me para encará-lo.
Senti as convulsões familiares ondularem pelo meu corpo.
Meus músculos cresceram.
Meus ossos racharam e dobraram.
Lembrei-me do gosto do sangue de Sebastian de duas noites atrás,
quando eu o ataquei bêbado.
Agora minha cabeça estava clara.
E eu não arrancaria apenas seu ombro.
— Não, — eu disse, minha voz embargada enquanto eu me mexia. —
Ela é minha.
Lyla

Está acontecendo de novo.


— Sebastian! — Eu gritei. — Caspian! Não!
Mas eles não estavam ouvindo.
Eles estavam prestes a lutar, mas desta vez não era apenas uma briga
movida a álcool.
Desta vez era intencional.
Desta vez era mortal.
E é tudo por minha causa.
Os laços de acasalamento eram venenosos.
Quão cruel poderia ser a Deusa da Lua?
É realmente isso que ela quer?
Ela me deu dois companheiros apenas para que eu pudesse vê-los se
destruindo?
Corri para frente, desesperada para ficar entre eles antes que fosse
tarde demais. Mas eu tropecei e caí, minhas mãos raspando
dolorosamente contra o chão.
Um grito agudo perfurou o ar da noite no mesmo momento em que
um uivo selvagem ecoou pelo terreno.
Eu pulei de pé, meu coração na minha garganta.
Algum deles se machucou?!
Mas eu vi Sebastian e Caspian parados um na frente do outro,
nenhum deles totalmente mudado. Eles olharam em volta, procurando a
origem do uivo.
Um coro de uivos estourou ao nosso redor, rapidamente seguido pelo
som de patas batendo e rosnados ferozes. Olhei em direção à linha das
árvores que delimitava a casa da alcateia e vi: Uma massa de formas
grandes e escuras correndo em nossa direção.
Rebeldes.
Estamos sob ataque.
Sebastian estava de repente ao meu lado, seus braços poderosos ao
meu redor.
— Pegue sua família e entre, — ele disse com urgência.
— Mas...
— AGORA!
E ele se foi, mudando no ar enquanto avançava para encontrar nossos
agressores. Muitos guardas da Alcateia Real correram com ele, ambos os
lados em rota de colisão um com o outro.
Eu vi Caspian passar correndo por mim. Nossos olhos se encontraram
por um momento que pareceu tanto um segundo quanto uma
eternidade. E então ele avançou junto com os outros, mudando para
lutar contra os invasores.
A noite logo estaria manchada de violência e sangue.
Corri em direção aos meus pais, a adrenalina correndo em minhas
veias. Eu tinha que colocá-los em segurança. Então eu poderia ajudar
Sebastian e Caspian.
Meu coração não seria capaz de aguentar se eu perdesse qualquer um
deles.
Meus pais estavam com outros membros de nossa alcateia. Teresa já
estava gritando e encurralando todos em direção à casa da alcateia.
Minha mãe agarrou meus ombros, seus olhos selvagens e em pânico.
— Skye?! — ela me perguntou. — Você viu Skye?!
Meu coração quase parou. Ela deveria estar aqui conosco...
O labirinto de milho.
— Eu vou buscá-la, — eu disse a ela. — Obedeça à Teresa.
Eu não esperei por sua resposta. Corri pelo terreno da manada em
direção ao labirinto de milho, esquivando-me e ziguezagueando pela
massa de pessoas em pânico correndo em direção à casa da alcateia.
— SKYE! — Eu gritei, mas minha voz foi abafada pelos rosnados da
batalha ao meu redor.
Por favor, fique bem. Por favor, fique bem.
— SKYE! — Eu tentei de novo.
... — La!
Eu parei no meio do caminho, apurando meus ouvidos para ouvir. Eu
pensei ter ouvido...
— Lyla!
Pronto!
Eu olhei para a multidão e vi minha irmã mais nova.
Mas ela estava sendo arrastada para o labirinto de milho por um
homem que eu nunca tinha visto antes.
Ele estava vestindo um terno preto azeviche e botas de cowboy pretas,
o brilho dourado de uma corrente espreitando de seu colete. Ele ergueu
os olhos para mim e, mesmo àquela distância, pude distinguir um sorriso
diabólico.
Ele murmurou algo para mim, sua mensagem fazendo meu sangue
esquentar de fúria.
Venha buscá-la.
E ele desapareceu no labirinto com Skye.
Eu avancei para frente como uma flecha de um arco. Mudei para o
meu lobo, meus músculos poderosos me impulsionando para frente
enquanto eu sentia o cheiro de Skye.
Eu não sabia quem era aquele homem. Mas se ele machucasse um
único fio de cabelo da cabeça da minha irmã...
Nem mesmo a porra da Deusa da Lua será capaz de identificar seu
cadáver.
29
DENTRO DO LABIRINTO
Lyla

— Lyla! Ajuda!
A voz de Skye estava sumindo, mesmo com a ajuda dos meus sentidos
aguçados de lobo.
Corri para o labirinto, meus olhos vasculhando o chão em busca de
rastros. Eles estavam perto. Eles não poderiam ter ido longe.
E então eu os ouvi, bem do outro lado da parede.
— Lyla! — Skye gritou.
Corri para frente, com a intenção de romper o labirinto, mas bati em
uma parede de malha de metal grossa.
Pensei em pular sobre ele, mas os pés de milho tinham cinco metros
de altura e outra rede de fios de metal cobria todo o labirinto.
Obviamente, foi construído para impedir que lobos imprudentes ou
bêbados trapaceassem ou arruinassem o labirinto para todos os outros.
Mas naquele momento eu queria pegar quem quer que tivesse desenhado
o labirinto e dar um soco na cara deles.
Eu arranhei e mordi selvagemente o metal, mas ele não se moveu.
— Venha nos encontrar, Lyla. — Um profundo sotaque sulista
zombou de mim do outro lado da parede. — A pequena Skye está tão
assustada.
— Eu não estou com medo de você, seu idiota — A voz de Skye foi
abafada de repente.
Soltei um rugido cruel. Eu não precisava de palavras para deixar
minha ameaça clara.
Machuque-a e você morre.
O homem riu, sua voz sumindo.
— Depressa, Lyla, — ele chamou. — O tempo dela está se esgotando...
Corri como um lobo possuído, disparando pelo labirinto. Cheguei a
beco sem saída após beco sem saída, a risada zombeteira do estranho
enchendo o ar ao meu redor.
— Sinto pena de você, — disse a voz. Parecia que ele estava falando
bem ao meu lado. Eu me virei, atacando com minhas garras, mas ele não
estava lá.
Meus sentidos estão me enganando?
— Se você tem que culpar alguém pelo que aconteceu esta noite,
culpe a Deusa da Lua. Ela usa todos nós para seu entretenimento. — Sua
voz era como fumaça, entrando e saindo, constantemente girando ao
meu redor. Eu balancei minha cabeça. Não fazia sentido ouvir o que ele
tinha a dizer.
Continuei a correr pelo labirinto. Eu podia sentir que estava
chegando mais perto.
— O destino é cruel, — disse ele. — Eu só quero que você saiba que
você não fez nada de errado. Não tenho qualquer má vontade em relação
a você ou sua irmã... mas não tenho escolha.
Virei em uma esquina e vi o centro do labirinto à frente.
Espere, Skye. Estou quase lá...
Sebastian

Minhas mandíbulas cerraram-se sobre a garganta do ladino, sangue


quente jorrando pelo meu.
Meu inimigo se debateu por um momento antes de ficar imóvel. Eu
joguei o corpo de lado, girando para enfrentar meu próximo oponente.
Meu corpo se moveu por conta própria, instinto e anos de
treinamento me permitindo lutar sem pensar sobre isso. Eu cortei ladino
atrás de ladino, minhas garras uma extensão da minha fúria.
Mas minha mente estava acelerada.
Se os ladinos estavam atacando tão diretamente, isso significava que
seu líder não poderia estar muito longe.
Silas... onde diabos você está?
De repente, um uivo distante cortou minha sede de sangue.
Mesmo que fosse fraco — quase imperceptível por causa do som
estridente da batalha ao meu redor — eu teria reconhecido aquele uivo
em qualquer lugar.
Lyla.
Lembrei-me do aviso sinistro deixado no quarto de Lyla.
Olho por olho.
E eu soube imediatamente o que estava acontecendo.
O ataque foi apenas uma distração.
Silas estava lá por mim.
E ele estava usando Lyla para chegar até mim.
Eu avancei pelo campo sangrento, desesperado para chegar até minha
companheira. Se ela se machucasse por causa de meus pecados
anteriores, eu nunca me perdoaria.
Acelerei, incitando meus músculos a me carregar mais rápido. Os
segundos pareceram horas.
Eu só podia esperar ter chegado a tempo.
Caspian

Eu circulei o ladino, cujas presas estavam vermelhas com o meu sangue.


Eu ignorei a dor lancinante em meu lado, focando no inimigo diante
de mim.
Este é rápido.
Eu precisava cuidar dele para poder encontrar Lyla. Quando eu a
deixei pela primeira vez, ela estava indo em direção à casa da alcateia
com seus pais. Achei que ela estaria segura.
Mas então eu peguei um vislumbre dela correndo em direção ao
carnaval, entrando cada vez mais fundo na luta.
Eu nunca deveria ter deixado ela.
Eu vi os músculos do ladino ficarem tensos e me preparei para seu
próximo golpe.
De repente, um borrão de músculos e pele preta passou por mim,
batendo direto no ladino na minha frente.
A besta rasgou sua garganta com um golpe de sua enorme garra e foi
embora antes que o ladino pudesse atingir o chão.
Que porra foi essa?
Eu segui o movimento e percebi que era Sebastian.
Ele estava correndo através da briga sem se preocupar com sua
própria segurança. E havia apenas uma coisa em que eu conseguia pensar
que faria o alfa real enlouquecer daquele jeito.
Sua companheira está com problemas.
Aumentei o ritmo, tentando alcançá-lo.
Eu tinha acabado de encontrar minha companheira.
Eu não vou perdê-la na mesma noite.
Lyla

Eu irrompi no centro do labirinto. Era uma grande abertura circular que


se dividia em vários caminhos. Parado diante de mim estava o estranho,
uma garra presa na garganta de Skye.
Skye tentou se debater e se contorcer para fora de suas garras, mas ela
não estava nem perto de ser forte o suficiente. Seus olhos se arregalaram
quando ela me viu, e eu pude ver as lágrimas brilhando neles.
— Lyla! — ela chamou.
Eu rugi com fúria, avançando para arrancar a cabeça dele de seus
ombros.
— Uau, — ele disse, pressionando sua garra parcialmente deslocada
com mais força no pescoço de Skye. Skye congelou. — Não faça algo que
você vai se arrepender agora.
Eu derrapei até parar, minhas patas empurrando o chão aos meus pés.
— Boa garota, — disse o estranho com aprovação.
Olhei minha irmã de cima a baixo, verificando se ela estava ferida. Ela
parecia bem. Skye estava tentando parecer corajosa, mas eu podia ver o
medo em seus olhos.
Afinal, ela era apenas uma criança.
E este psicopata a tinha feito refém.
— Mude, — ele comandou.
Eu não me mexi.
— Agora. — Seu aperto aumentou em tomo de Skye, e eu a vi
estremecer.
Eu não tive escolha.
Eu mudei de forma, o ar da noite frio contra minha pele nua.
Eu me cobri o melhor que pude enquanto olhava para o estranho.
— Se você fizer qualquer coisa com ela, eu vou...
— Salve suas ameaças, — disse ele. Ele olhou para mim, e eu esperava
ver seu olhar pervertido vagar pelo meu corpo.
Mas seus olhos nunca quebraram o contato com os meus. Ele acenou
com a cabeça para um espantalho que estava pendurado em um poste de
madeira. Estava usando um saco de estopa.
— Você pode ir em frente e usar aquilo se quiser. Afinal, sou um
cavalheiro.
Eu lentamente caminhei até o espantalho, nunca tirando meus olhos
dele. Se ele se distraísse mesmo por um segundo...
Tirei o saco de estopa e coloquei na cabeça. O tecido era áspero
contra a minha pele, mas era melhor do que ficar nua.
— O que você quer com minha irmã? — Eu exigi.
— Esta fritada aqui era apenas uma isca para os peixinhos, — disse
ele.
— Ok, então você me atraiu... Agora, o que diabos você quer comigo?
— Eu rosnei.
Ele sorriu e pude ver a luz da loucura em seus olhos.
— Você é a isca para o peixe grande... Estou tentando fisgar uma
maldita barracuda.
— Chega desses jogos! — Eu gritei. — Quem diabos é você?
— Claro. Onde estão minhas maneiras? — O homem acenou para
mim, tirando um chapéu imaginário. — O meu nome é Silas.
Meu sangue gelou.
Tudo fez sentido.
Ele queria machucar Sebastian.
E ele me usaria para fazê-lo.
— Ah. — Seus olhos se estreitaram quando ele viu minha expressão.
— Então ele te falou sobre mim. Nesse caso, não há motivo para
prolongar isso. Pega.
De repente, ele jogou Skye para o lado, e minha irmã gritou enquanto
ela voava pelo ar.
Corri para frente, pulando para pegá-la em meus braços. Eu me virei
para amortecer sua queda, o chão cavando dolorosamente em minhas
costas enquanto pousávamos.
— Skye? — Eu perguntei, desesperada para saber se ela estava bem.
Ela estava desmaiada — provavelmente desmaiou de choque.
— Seu bastardo... — Eu olhei para cima, mas Silas não estava mais lá.
De repente, em um redemoinho de fumaça roxa, ele estava atrás de
mim, seu aperto poderoso me arrancando de minha irmã. Tentei escapar
de suas mãos, mas ele era muito forte.
Senti sua garra pressionar minha jugular e congelei.
— Calminha. — Sua respiração estava fria e enjoativa contra meu
pescoço. — Não se apresse. O convidado de honra ainda nem chegou.
Ele me arrastou para o meio do círculo, colocando a outra mão na
minha boca.
Como diabos ele ficou atrás de mim? Eu me perguntei.
Nenhum lobo poderia se mover tão rápido.
Mas não tive tempo para pensar nisso. Porque naquele momento,
destruindo a malha de metal do labirinto, estava Sebastian.
Seu pelo estava rasgado e ensanguentado por causa da força bruta
utilizada na passagem pelo metal, mas ele nem parecia perturbado. Ele
travou os olhos em mim, e um rosnado ensurdecedor irrompeu de sua
boca quando ele olhou para Silas.
— Sebastian! — Silas chamou, sua risada zombeteira alta no meu
ouvido. — Fico contente que você pôde se juntar a nós.
Sebastian

— Mude sua forma agora, ou vou quebrar o pescoço dela como um talo
de milho, — Silas ameaçou.
Lá estava ele. O homem que eu traí.
Meu melhor amigo.
E ele estava com suas garras na garganta de Lyla.
Eu mudei minha forma, a luta saindo de mim.
Era isso.
Era aqui que eu pagaria por meus pecados.
— Silas, não faça isso, — eu disse. Eu levantei meus braços, minha
pele rasgada e ensanguentada de correr através do labirinto. — Por favor.
Ela é minha companheira.
Silas soltou uma risada áspera, seu rosto se contorcendo de alegria
enlouquecida.
— Você matou minha companheira. — Ele pressionou levemente o
pescoço de Lyla, tirando sangue. — Eu te disse antes... olho por olho.
Tentei me mover para frente, mas o aperto de Silas em Lyla
aumentou. O grito abafado de dor de Lyla me parou no meio do
caminho.
Seus olhos verdes brilhantes encararam os meus, brilhando
desafiadoramente mesmo naquele momento.
— Não se preocupe comigo, — seu olhar disse.
Mas ela estava pedindo o impossível.
— Você tirou minha Ella de mim... — A voz de Silas aumentou para
um tom febril.
— Silas...
— VOCÊ A TIROU DE MIM!
Silas se recompôs.
— Agora você vai sentir minha dor.
— Não faça isso, — eu implorei. — Mate-me ao invés. Por favor.
— Oh, eu vou, — disse Silas. — Depois de ver a vida sumir dos olhos
da sua companheira. Depois de segurá-la em seus braços enquanto ela
está morrendo, incapaz de fazer qualquer coisa para impedir. Só então
vou te matar.
Eu me preparei para mudar. Eu nunca conseguiria, mas tinha que
tentar.
— Lembre-se, Sebastian, — Silas disse, um tom de finalidade em sua
voz. — Isso é sua culpa.
De repente, outro lobo entrou correndo no labirinto, um borrão de
músculos e pelos. Meu ânimo melhorou, a entrada surpresa me
arrastando para fora do desespero.
— Caspian! — Chamei.
Silas se virou e viu o lobo, um lampejo de reconhecimento em seu
rosto. Eles se conhecem?
Mas isso não era importante.
Silas tirou os olhos de mim por um segundo.
E isso era tudo que eu precisava.
Eu avancei para frente enquanto mudava, cada grama de poder que
eu mantinha em meus músculos me impulsionando em direção a ele.
Silas se virou para mim, suas garras prestes a cravar na garganta de Lyla.
Eu consegui a distração de que precisava tão desesperadamente.
Mas será o suficiente?!
30
UMA ESCOLHA IMPOSSÍVEL
Sebastian

Silas desapareceu em um emaranhado de fumaça roxa.


Lyla caiu no chão depois de ser solta de repente.
Fiquei ao lado dela protetoramente, verificando se ela estava ferida.
Ela olhou para mim e deu um aceno rápido.
Ela está bem.
— Vá pegar aquele bastardo, — ela disse, veneno em sua voz. Ela
correu até um pequeno corpo no chão a alguns metros de distância. Era
sua irmã, Skye.
Eu nem tinha notado ela até aquele ponto.
Silas... você foi longe demais.
Eu me virei para ver Silas reaparecendo a alguns metros de mim, fios
daquela fumaça roxa formando seu corpo.
Meus olhos se arregalaram.
Lobisomens não eram capazes de fazer coisas assim, mas eu sabia que
criaturas eram.
Bruxas.
— Isso mesmo, — disse Silas quando viu a compreensão surgirem em
meus olhos. — Eu encontrei alguns novos amigos... Meus amigos antigos
tinham a tendência de me apunhalar pelas costas.
Caspian veio ficar ao meu lado. Seu pêlo se eriçou e fios de saliva
pingaram de sua boca aberta. Sem um olhar, nós dois começamos a
circular Silas, medindo-o.
— Dois contra um? — Silas zombou. — Isso não é justo...
Esse filho da puta está de verdade falando sobre JUSTIÇA depois de usar
minha companheira como refém?
— Não é justo para vocês. quero dizer. — Ele sorriu.
Foda-se.
Eu me lancei, indo direto para a garganta. Caspian me espelhou,
lançando um ataque do outro lado.
No último segundo, Silas desapareceu em outro redemoinho de
fumaça. Caspian e eu tentamos reverter nosso ímpeto, mas era tarde
demais.
Batemos dolorosamente um no outro, então lutamos para nos
desembaraçar.
Dor de repente explodiu no lado de meu corpo. Foi um corte afiado
que enviou uma onda de fogo através do meu corpo.
Caspian também uivou de dor quando nós dois sofremos uma onda
repentina de ataques.
Eu pulei para trás, tentando entender a situação.
Silas havia mudado.
Seu lobo parecia exatamente como eu me lembrava. Seu pelo era de
um cinza escuro fosco com um choque de branco ao redor do focinho.
Mas agora tentáculos de fumaça roxa vazavam de seu corpo em uma
aura sinistra. A fumaça girava em torno dele, movendo-se como se
tivesse vontade própria.
ROOOAAAAAAR!
Silas berrou em desafio, a voz de seu lobo distorcida com magia negra.
Eu dei a Caspian um olhar rápido, uma mensagem implícita passando
entre nós dois.
Estávamos prontos para a luta de nossas vidas.
Lyla

Eu quase tropecei nos meus pés quando o rugido dividiu o ar ao meu


redor.
Queria voltar atrás e ajudá-los, mas não pude. Eu tinha que tirar Skye
da luta.
Ela estava bem, graças à Deusa da Lua.
Tudo isso faz parte do plano dela também?
Será que toda essa angústia, dor e alívio são uma fração de algum grande
projeto?
Eu olhei para o rosto de Skye. Seus olhos estavam fechados, a
inspiração e expiração constantes de seu corpo minúsculo eram um
conforto para meus nervos em frangalhos.
Ela estava segura, por enquanto.
Corri para fora do centro do labirinto e para um caminho vazio,
colocando Skye suavemente no chão. Os sons da batalha ainda eram
altos na noite ao meu redor.
Pensei nos estranhos poderes de Silas, o olhar perigoso e confiante
em seus olhos. Eu só podia confiar que Sebastian e Caspian poderiam
lidar com ele.
Um espasmo de terror passou por mim com o pensamento de perder
os dois.
Uma imagem passou pela minha mente.
Silas estava coberto com o sangue de Sebastian e Caspian, e meus
companheiros estavam mortos a seus pés.
Eu balancei minha cabeça para me livrar da imagem horrível, lutando
contra as lágrimas que ardiam em meus olhos.
Por favor, fiquem bem...
Caspian

Este filho da puta luta como um demônio.


Eu desviei do caminho quando as garras de Silas erraram por um
centímetro. A fumaça roxa que o rodeava disparou de suas garras,
batendo no chão com uma rajada de vento intensa.
Esquece.
Este filho da puta é um demônio.
Sebastian e eu nos abaixamos e contornamos Silas, tentando
encontrar uma abertura. Mas aquela maldita fumaça lutou contra nós
também, nos jogando para trás como um furacão, afiando-nos para nos
cortar como uma espada.
Eu rosnei de dor quando fui cortado na perna, a fumaça enrolando de
volta como um chicote.
Precisávamos pensar em algo rápido.
Caso contrário, Sebastian e eu éramos um par de lobos mortos.
Sebastian

Eu ofeguei, tentando lutar contra a exaustão. Silas estava separando


Caspian e eu. Ele estava brincando com a gente.
Ele poderia ter nos matado cinco vezes agora... Do que diabos ele está
brincando?
De repente, Silas saltou para trás, voltando à sua forma humana.
Caspian e eu o observamos com cautela, imaginando que outros
truques ele tinha na manga.
Ele inclinou a cabeça para o lado e parecia estar ouvindo algo que só
ele podia ouvir. Ele suspirou e nos lançou um olhar de pena.
— Vocês são patéticos, — disse ele. — Mas parece que nosso tempo
acabou. — Ele recuou quando a fumaça roxa começou a girar em torno
dele, obscurecendo-o como uma cortina de fumaça.
— Eu não terminei com você, Sebastian, — ele continuou. — Matar
você é fácil. Você precisa sofrer antes de morrer... E você — ele voltou o
olhar para Caspian — prazer em vê-lo novamente. Espero que você tenha
encontrado sua companheira.
E com isso, ele desapareceu.
Isso é algum tipo de truque? Eu me perguntei. Ele está esperando que
baixemos nossas guardas para que possa nos emboscar?
Mas então os sons da luta nos campos ao redor da casa da alcateia
também pararam. A luta realmente acabou.
Eu me mexi de volta, repentinamente cansado.
Caspian se mexeu ao meu lado também, e ele estava imediatamente
na minha cara, exigindo respostas.
— Que porra foi essa? — ele gritou. — Como você o conhece? O que
ele quer com Lyla?
— Como você o conhece? — Eu rebati.
— Eu o conheci no Cotilhão, — disse Caspian. — O cara disse que
perdeu sua companheira.
— Ele perdeu muito mais do que sua companheira, — eu disse, minha
voz pesada com pesar. — Ele perdeu o coração e a alma e não vai parar
até que se vingue...
Eu olhei para a lua pálida no céu.
— Não o vimos pela última vez.
Lyla

Enfiei a última mala no porta-malas e o fechei com força.


A Cúpula finalmente acabou.
E que Cúpula agitada foi essa.
A Alcateia Real tinha se saído bem contra o ataque rebelde duas
noites antes. Enquanto muitos lobos foram feridos, notavelmente
ninguém morreu.
Papai ligou o carro enquanto mamãe e Skye saíam da casa da alcateia.
Eu dei um abraço em todos eles enquanto se preparavam para voltar para
casa.
— Veremos você em casa em breve? — Mamãe me perguntou.
Foi uma pergunta carregada. As coisas entre Sebastian, Caspian e eu
ainda não foram resolvidas.
— Veremos, — eu disse, incerta.
— Sebastian... — meu pai disse. — Ele é um cara bom.
Eu o encarei como se de repente ele tivesse outra cabeça.
— Ele ajudou a salvar Skye. — Meu pai encolheu os ombros. — Não
pode ser tão ruim.
Minha irmã me deu outro abraço, apertando com força.
— Eu quero ficar com você, — ela disse, sua voz abafada contra minha
camisa.
— Vejo você em breve, — eu assegurei a ela. — Promessa.
Acenei quando o carro saiu da garagem, um sorriso estampado no
meu rosto.
Suspirei, deixando meus ombros caírem assim que eles sumiram de
vista.
O que eu vou fazer...?
Caspian

Encontrei Lyla sentada sozinha na varanda do lado de fora da casa da


alcateia.
Mal tínhamos tido a chance de falar depois do ataque rebelde.
Fui até ela, mas ela estava tão perdida em seus pensamentos que nem
percebeu. Eu a admirei por um segundo, maravilhado com a forma como
a luz do sol tornava seu cabelo dourado.
Ela realmente é linda.
Então me sentei ao lado dela e ela finalmente olhou na minha
direção.
Nós não falamos. Nós apenas olhamos nos olhos um do outro, e eu
pude ver a confusão e indecisão nos olhos dela.
Eu realmente não poderia culpá-la.
As coisas estavam muito fodidas.
Enfiei minha mão na dela.
Ela não se afastou.
— O que acontece agora? — Eu perguntei suavemente.
Ela não respondeu. O silêncio estava me matando. Cada batida do
meu coração parecia uma eternidade.
— Não tenho certeza... — admitiu Lyla. — Mas nós vamos descobrir
isso... juntos. Como sempre fazemos.
Lyla
Caspian sorriu para mim e de repente as coisas pareciam mais simples.
Era como se estivéssemos em casa, sentados em sua varanda e
descansando o dia todo. Eu podia até ouvir o zumbido dos insetos e o
chilrear dos pássaros, e sentir o sabor do chá doce e fresco na minha
língua.
Olhando para trás, percebi como aqueles dias eram especiais.
E aqueles dias também podem ser o meu futuro.
Parecia tão natural: minha mão dobrada com a de Caspian.
Ele era meu companheiro de segunda chance.
E talvez o companheiro que eu realmente precisava...
— Lyla Green, — uma voz profunda gritou de repente atrás de nós.
Nós nos viramos e vimos Caius, seus olhos ilegíveis enquanto observava
nós dois. — O conselho pede a sua presença, se você estiver tão
agradecida.
O conselho?
O que eles querem?
Eu compartilhei um olhar com Caspian. Ele acenou com a cabeça,
apertando minha mão.
Eu me levantei e segui Caius. Eu senti como se tivesse deixado uma
parte de mim mesma naquela varanda ao lado de Caspian. Por que isso
parece tão ameaçador?
Meu coração disparou no peito e minhas mãos ficaram úmidas de
suor.
Entrei nas câmaras do conselho atrás de Caius. A sala ficou em
silêncio. Todos olharam para mim quando entrei.
Eu olhei nos olhos de Sebastian e tentei lhe dar um sorriso.
Mas ele não sorriu de volta.
Ele estava estoico e ilegível. A tensão na sala era tão densa que mal
conseguia respirar.
O que está acontecendo?
— Você tem uma decisão a tomar, Lyla, — disse Caius. — Bem aqui.
Agora mesmo.
Meu coração quase parou de bater.
— O que você está falando?
Mas eu já sabia.
— Foi dado a você até o final da Cúpula para se comprometer com
seu status de Luna da Alcateia Real... Hoje é esse dia.
Olhei para os outros membros do conselho, mas cada um deles estava
tão impassível quanto Caius.
— Então diga-nos, — Caius continuou. — Você rejeitará seu
companheiro de segunda chance e se comprometerá totalmente com o
alfa?
Tentei engolir o nó na garganta.
Olhei para Sebastian, mas seu rosto estava sério, sua boca uma linha
fina. Suas mãos estavam amarradas. Ele me deu tanto tempo quanto
podia.
Nem mesmo o alfa real poderia me ajudar.
Eu respirei fundo, instável.
Eles estavam me pedindo para fazer uma escolha impossível.
Eu abri minha boca... e nem mesmo eu tinha certeza de qual nome eu
diria.
Devo escolher Sebastian?
Ou Caspian?
Continua no Livro 2…
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Galatea Livros
Star Books Digital
Os Lobos do Milênio

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