Você está na página 1de 467

Sinopse

Quando a jovem fugitiva Quinn é mordida por um lobo na floresta, ela


descobre um mundo que nunca havia conhecido — um mundo de
lobisomens. Agora Quinn deve adaptar-se à sua nova vida no Bando
Sombra da Lua, sob a orientação de um alfa sedutor.
Classificação etária: 18+
E-book Produzido por: SBD e Galatea Livros
https://t.me/GalateaLivros
Sumário de Livros
Livro 1
Livro 2
Livro 3 – Ainda não lançado
Livro 1
Sumário
1. Perdidos na floresta
2. Bem-vinda ao Bando
3. Amigos e mistérios
4. Obrigação Inescapável
5. O Quarto do Alfa
6. Sede insaciável
7. Dia de Treinamento
8. A Cerimônia de Acasalamento
9. Diga Sim
10. Sonho de Lobos
11. Um encontro com o Alfa
12. Inimigos nas Sombras
13. O Ataque Solitário
14. Líder do bando
15. Beijo de Cura
16. Primeiro abraço
17. O Prisioneiro
18. Pecados e segredos
19. As Memórias ressurgem
20. Linhagens
21. Laços familiares
22. O Toque do Alfa
23. Companheiros Entrelaçados
24. Últimas Palavras
25. O Baile do Alfa
26. O Embate dos lobos
27. O Primeiro Turno
28. Fuga Sangrenta
29. O momento da Luna
30. A Marca Alfa
Capítulo 1
PERDIDOS NA FLORESTA QUINN
Mãe: Onde você está?

Mãe: Você deveria ter chegado em casa há


quinze minutos.

Mãe: Logo vai escurecer.

Mãe: Eu vou tirar qualquer privilégio de sair


que você tenha se não estiver em casa em
cinco minutos.

Quinn: Mãe, eu estou bem.

Quinn: Estou apenas na biblioteca.

Quinn: Estou voltando para casa agora


Quinn: Acabei perdendo a noção do
tempo.

Mãe: Isso não é desculpa.

Mãe: Qualquer coisa pode acontecer


depois de escurecer.

Mãe: Você quer acabar como a sua tia


Jodie?

Mãe: Venha para casa neste mesmo


instante.

Quinn: Desculpe, mãe.

Quinn: Estou a caminho.

Mãe: Fique com seu celular na mão


enquanto você estiver andando.
Mãe: E não fale com ninguém.

Quinn: É claro

Quinn: Até daqui a pouco

Enquanto minha montanha de alimentos enlatados, cobertores, baterias


e garrafas de água se moviam pela esteira em direção ao caixa, o
funcionário me olhou com desconfiança.
— Apenas fazendo uma doação para o abrigo dos sem-teto, — sorri
nervosamente.
Droga, eu disse a minha mãe que estava na biblioteca. Se não voltar com
um livro, ela saberá que eu estava mentindo.
Notei um Agatha Christie em brochura desbotado no meio das
revistas e tabloides.
— Vou levar isto também, — disse, jogando na esteira.
Paguei e enchi minha mochila com os suprimentos. Eu teria que
esconder tudo isso em um arbusto antes de voltar para casa.
Esta noite seria a noite.
Eu finalmente faria isso.
Eu finalmente estaria livre.

Minha mãe estava me esperando quando voltei para nossa pequena


cabana no bosque.
Eu agarrei meu livro de bolso contra o meu peito ansiosamente.
Ela estreitou os olhos e bateu com os dedos na mesa de carvalho.
— Isto é inaceitável, Quinn.
— Eu sei, sinto muito... não vai acontecer de novo, — disse,
abaixando minha cabeça.
— Você está certa que não vai acontecer de novo. Porque você não
visitará mais a biblioteca durante as próximas três semanas, — disse ela
com firmeza.
Normalmente eu protestaria. Minhas visitas à biblioteca local eram a
única coisa que me mantinha sã. Minha mãe praticamente me deixava
presa aqui.
Ela me educou em casa até os 18 anos de idade, blindando-me de toda
atividade social externa.
O desaparecimento da minha tia Jodie havia realmente abalado ela.
Eu era muito jovem para me lembrar, mas minha mãe não sorriu desde
então.
Desta vez, eu ficaria de boca fechada. Visitas à biblioteca não
importavam mais.
Depois desta noite, eu seria capaz de fazer o que quisesse.
— Você perdeu o jantar — foi servido quinze minutos atrás, — disse
minha mãe friamente. — Então você vai para a cama sem comer.
Enquanto meu estômago roncava, pensei no meu estoque de comida
enlatada nos arbustos, mas poderia aguentar por mais algumas horas.
Quando comecei a caminhar para o meu quarto, ouvi minha mãe
murmurando sob sua respiração, repetidamente.
— Menina tola. Menina tola, menina tola. Tola, tola, tola, tola.
— Eu não sou a tia Jodie, — eu disse, mas ela não respondeu. Ela
continuou balançando para frente e para trás.

Eu puxei minhas cobertas para cima. A qualquer minuto, minha mãe


deve estar...
Bem na hora certa. Ela abriu a porta rangente do meu quarto e
espreitou, certificando-se de que eu estava dormindo.
Após um momento, ela a fechou, trancando com um clique.
Isso foi bom — eu não sairia pela porta.
Eu tirei minhas cobertas e saí da cama, já totalmente vestida.
Tirei um livro oco da minha estante, que continha um alicate
resistente.
Usei-o para soltar os parafusos da minha janela e levantei-a
silenciosamente. Olhando para baixo, não seria uma queda muito
grande, mas eu não queria arriscar.
Se fugir exigia algo, esse algo era colocar as pernas para trabalhar.
Atei meus lençóis juntos e os joguei pela janela, certificando-me de
que estavam firmemente amarrados em minha cama.
Dei uma última olhada em meu quarto, mas não senti nenhum
sentimento ou nostalgia. Era difícil sentir carinho por uma prisão.

Eu bati minha lanterna contra a palma da mão até que ela piscasse.
Havia bosques em todas as direções. Por alguma razão, minha mãe
sentia que estar em uma cabana remota na floresta era mais seguro, mas
o isolamento só me fazia sentir mais vulnerável.
Era escuro e desorientador, mas eu tinha que começar a me mover.
Quando minha mãe descobrisse que eu estava fora, ela
provavelmente começaria uma caça para tentar me encontrar.
Eu não seria mais uma prisioneira. Eu já havia sacrificado dezoito
anos da minha vida por algo que aconteceu com minha tia que eu mal
conhecia.
Era hora de começar a viver.
Comecei a andar através do bosque, esperando conseguir alguma
distância do chalé antes do sol nascer.
À medida que fui me aprofundando na floresta, pensei em todos os
livros que tinha lido sobre jovens garotas que vagueavam pela floresta.
Desviando do caminho.
Pensei nas palavras de minha mãe...
Qualquer coisa pode acontecer depois de escurecer.

Depois de várias horas, eu estava oficialmente perdida. Todas as árvores


tinham o mesmo aspecto. Cada passo à frente pode ter sido um passo
atrás.
Até onde eu sabia, poderia estar voltando para a cabana.
Minha mochila estava pesada e minhas pálpebras se sentiam ainda
mais pesadas.
Eu teria que encontrar um lugar para montar acampamento e dormir
em algum momento.
Enquanto eu continuava sonolenta, um lampejo de luz me chamou a
atenção.
Vi desaparecer um cabelo comprido, ondulado e louro-branco atrás
de uma árvore.
Havia sido apenas minha imaginação ou realmente tinha mais
alguém aqui?
Ao me aproximar da árvore, uma forma feminina correu para outra
distância.
Eu poderia jurar ter ouvido risadas.
— Ei, quem é você ? — gritei.
Segui a figura dançante enquanto ela fluía de uma árvore para a outra,
obscurecendo seu rosto.
Era tão graciosa e misteriosa, seus longos cabelos me guiavam como
uma luz.
Eu comecei a correr mais rápido. Eu precisava saber quem ela era.
De repente, ela se virou e olhou diretamente para mim. Ela tinha o
rosto mais lindo que eu já havia visto. E os olhos dela...
Eram exatamente da mesma cor cinza prateado que os meus.
Pestanejei e, por um instante, ela se foi. Talvez eu estivesse realmente
vendo coisas.
Encontrei-me em uma pequena clareira perfeita. Comecei a montar o
acampamento, espalhando cobertores no chão e pendurando um sobre
um galho baixo para formar uma tenda improvisada. Eu não sabia se
aquela mulher era real ou uma figura formada pela minha falta de sono e
minha miserável refeição de feijão em lata, mas, de qualquer forma, eu
precisava dormir.
Adormeci, esperando que a manhã me trouxesse a liberdade pela qual
ansiava.

Ar-rooo-ooo!
Eu acordei subitamente ao som de uivos distantes — provavelmente
um lobo.
Ainda estava escuro; eu não tinha dormido muito tempo.
Meus olhos estavam tentando se ajustar à escuridão enquanto ouvia o
barulho das folhas ao longe.
Eu tinha me preparado para muitas coisas, mas não tinha me
preparado para lobos.
Comecei a enfiar tudo de volta na minha mochila. Provavelmente
seria melhor continuar andando. Não sabia a que distância estava, mas
não queria descobrir.
AR-ROOO-OOO!
O uivar fez o dobro do barulho. Estava se aproximando.
Eu precisava de algo para me defender. Rapidamente, cortei o galho
da árvore mais próxima e o segurei na minha frente como uma espada.
Desejei desesperadamente que a mulher misteriosa reaparecesse e me
guiasse em segurança, mas eu estava por minha conta.
Comecei a correr, colidindo aleatoriamente com galhos e silvas. Eu
precisava sair desses bosques.
O som de patas pesadas pisando através das folhas secas começou a
ecoar através da floresta.
Estava se aproximando rápido.
Tentei acelerar meu ritmo, mas tropecei em uma raiz e caí na terra.
Quando me levantei de joelhos, vi um grande lobo rosnando de pé
bem na minha frente com baba pendurada em suas presas afiadas.
Uma cicatriz horrível percorria o lado esquerdo de seu rosto.
Agarrei meu galho e comecei a balançá-lo com força, mas ele não se
incomodou.
Ele investiu contra mim, mas consegui enfiar meu galho em seu nariz,
e ele soltou um berro.
— Fique longe!, — gritei, na esperança de assustá-lo.
Os olhos vermelhos do lobo se estreitaram quando ele começou a
chegar mais perto.
Eu não tinha para onde fugir.
Não havia ninguém para me ouvir gritar.
O lobo se lançou sobre mim e me empurrou de costas, suas garras
cavando em meu peito.
Ah meu Deus, eu irei morrer.
Ele rosnava com fome para mim como se estivesse se alimentando do
meu medo.
As lágrimas começaram a rolar em meu rosto.
Cavei minhas unhas na terra, tentando me afastar, mas o peso do
lobo era muito grande.
Quase parecia que estava sorrindo quando abriu bem as mandíbulas
e...
CRUNCH.
Eu gritei quando a dor mais intensa que já senti percorreu meu corpo.
O lobo tinha afundado suas enormes presas em minha perna.
Ele se soltou e vagou para a escuridão, deixando-me sangrando.
Eu pensava que os lobos geralmente destruíam suas presas, mas este
não parecia se importar.
Minha cabeça começou a girar à medida que o sangue ensopava meu
jeans.
Não havia como me mover. Era ali que eu iria morrer.
Quando minha visão começou a embaçar, outro lobo saiu do mato.
Este era ainda maior do que o outro, com pelos louros acinzentados e
olhos castanhos, mas não estava agindo de forma agressiva.
Em vez disso, ele me aconchegou enquanto meus olhos se fechavam.
Capítulo 2
BEM-VINDA AO BANDO
QUINN

Uma densa névoa envolveu a floresta enquanto eu vagava por ela, passando
minhas mãos através dos galhos de suas árvores.
Todos elas estavam mortas, mas de alguma forma, ainda mais bonitas do
que árvores cobertas de folhagem.
Brancos perolados, macios e esticando-se para o ar tão alto que não
conseguia dizer onde terminavam.
Tudo parecia o mesmo em todas as direções, mas eu não me senti perdida.
Aquilo era estranhamente relaxante.
Eu escutava um zumbido baixo agradável no ar e quando um vento leve
despenteava meu cabelo, parecia que estava sussurrando em meu ouvido.
Eu tive um vislumbre de longos cabelos brancos e louros que já tinha visto
em algum lugar.
Eu corri até eles e uma nuvem de fumaça começou a girar ao meu redor
até se materializar em uma bela mulher Ela parecia tão familiar e quando
apertou minhas mãos, pairando vários metros do chão, eu sabia que podia
confiar nela.
— Quinn, você tem tanto a aprender. — Ela sorriu calorosamente. —
Não vai ser fácil no início, mas há quem ajude a guiá-la em sua jornada.
— Como você? — perguntei.
— Não, criança, eu a levei o mais longe que pude. Meu lugar não é em seu
mundo.
— Eu não entendo... O que vai acontecer comigo? Eu estou viva? —
perguntei confusa.
— Sim, mas quando você acordar, sua vida não será a mesma que era.
Você está destinada a coisas muito maiores, minha criança.
— Quem é você? Como te conheço?
— Você me conhece em seu coração, Quinn. — Ela encostou seus dedos
longos e elegantes no meu coração.
— Lembre-se destas palavras — você saberá em quem pode confiar... —
disse ela, começando a desvanecer-se.
— Espere, que palavras? Não vá ainda!
Estendi a mão para ela, de repente fazendo uma conexão.
— Você é a minha... a minha tia?
— Lupus Paulo, — disse ela suavemente, desaparecendo.

Bip. Bip. Bip.


Bip. Bip. Bip.
O que está acontecendo? Onde estou?
Minha visão estava turva, mas a sala parecia imaculada, toda branca.
— A mordida foi profunda, mas vai curar com o tempo. No entanto, o
processo deve acelerar significativamente após as transições do seu
corpo.
— E quando exatamente será isso, doutor? — perguntou uma voz
profunda e rouca.
— É difícil dizer, mas não deve demorar muito.
Quem são essas pessoas? O que é esse som?
Um cateter intravenoso enfiado em meu pulso e um monitor ao meu
lado apitava lentamente.
É um hospital?
— Você acha que o corpo dela pode aguentar a transição? —
perguntou a voz rouca novamente. — Ela é muito... pequena. Ela pode
ser quebrada ao meio.
— Talvez, meu Alfa, mas o tempo dirá.
Alfa? Transição? Do que eles estão falando? O que ia acontecer comigo
que poderia me quebrar ao meio?
Meu coração começou a bater mais rápido e o sinal sonoro no
monitor também aumentou o ritmo.
Meu cateter intravenoso administrou automaticamente algo em meu
braço que me fez relaxar.
— Você me manterá atualizado sobre o status dela? — o homem
chamado Alfa perguntou.
— É claro, meu Alfa. Entrarei em contato imediatamente se houver
alguma mudança.
Comecei a sair da consciência novamente, mas a bela mulher não
voltou para mim.
Somente suas palavras.
Lupus Paulo.

Quando acordei novamente, eu apertei os olhos por conta das luzes


fluorescentes brilhantes penduradas acima de mim.
Empurrei meus cabelos pretos emaranhados sobre meus olhos para
escondê-los.
A iluminação sempre foi minha parte menos favorita dos hospitais.
Tentei me mover, mas imediatamente percebi meu erro.
Eu me encolhi de dor e cerrei minha mandíbula. Eu não iria a lugar
algum. Olhei para a minha perna enfaixada.
Droga, acho que está torcida.
Eu me perguntava quem havia me trazido até aqui...
Pensei que o lobo estaria se alimentando de mim agora mesmo.
Quando a maçaneta da porta do meu quarto se mexeu, de repente
senti uma onda de medo no fundo do meu estômago.
E se esta fosse minha mãe? O que ela faria comigo? Eu já estava em
uma cama de hospital, mas eu honestamente a temia mais do que o lobo
que me fez parar aqui.
Em vez de minha mãe, a garota mais agradável, fofa e de aparência
gentil entrou, carregando um buquê de rosas lindas.
— Olá, — disse ela com um leve sotaque sulista. — Vejo que você
finalmente acordou.
Seus olhos verdes brilhavam sob seus cabelos louros ondulados e suas
bochechas rosadas eram ainda mais avermelhadas do que as flores.
Ela colocou as rosas ao lado da minha cama e se sentou, me
encarando curiosa.
Por que ela está curiosa? Eu é que tenho perguntas.
— Quem... quem é você? — gaguejei. — E como eu cheguei aqui?
— Eu sou Sky, — disse ela em tom alegre. — Sabe, como o lugar onde
as nuvens, os pássaros e a luz do sol se encontram.
Realmente se parece. Esta garota é tão brilhante que é contagiosa.
— Eu sou a responsável pelas boas-vindas por aqui. — Ela sorriu.
— Pelo que você está me dando as boas-vindas?
— Ao Bando Sombra da Lua, é claro.
Ela deve ter sentido minha perplexidade porque instantaneamente se
engasgou e cobriu sua boca.
— Ah, caramba, eu provavelmente não deveria ter dito nada ainda. Eu
e minha boca grande. Você não tem ideia do que está acontecendo, tem?
— Fui atacada por um lobo e agora estou em uma cama de hospital...
isso é praticamente tudo que sei.
Sky mordeu nervosamente as suas longas unhas ao me ouvir falar
sobre o lobo.
— Meu Deus, como posso explicar isto a uma humana? — murmurou
ela.
Uma humana? Certo, de que diabos ela está falando?
— Você está começando a me assustar, Sky... o que é um Bando
Sombra da Lua?
— Bem, é um tipo de família... uma família que você irá fazer, uh,
parte... após o seu, uh, incidente.
— Ah, meu Deus, você não faz parte de algum tipo de culto, faz? Eu li
muitos livros e isto nunca acaba bem para os fugitivos, — disse,
começando a ficar ansiosa.
Sky, por outro lado, parecia aliviada.
— Ah, não, nada disso. Você deve ter pensado que eu era uma
completa esquisita, — ela riu. — Não, nós somos uma família de
lobisomens, uma alcateia. — Fiquei de boca aberta. Isto era algum tipo de
brincadeira sem graça? Onde estavam as câmeras escondidas?
Ela havia acabado de dizer lobisomens.
Voltei para o lobo no bosque — a maneira como ele me deixou após a
mordida.
E então aquele enorme lobo louro-acinzentado — a forma como me
aconchegou de forma protetora...
O que ela está dizendo pode ser...?
— Sei que é muito para processar, Quinn, mas os lobisomens existem.
Existimos há séculos, estamos apenas escondidos. Sejamos honestos, a
raça humana não lidaria muito bem com essa informação. Eles
provavelmente pegariam as forquilhas e tochas ao primeiro sinal de algo
sobrenatural.
Não. Não. Isto é loucura. Não há como isto ser verdade.
— Ouça, Sky, você parece ser uma pessoa legal, você realmente
parece, mas eu simplesmente não estou interessada em me juntar ao seu
coven de lobisomens ou o que quer que seja. Tem algumas crianças
góticas que fazem dramatizações na biblioteca às sextas-feiras... talvez
você possa se inscrever para...
— Quinn, você é muito engraçada. Os covens são para bruxas. Nós
somos um bando. E você não está se inscrevendo. Você já é um membro,
— disse ela, apontando para a mordida em minha perna.
Havia algo engraçado ali, mas não era eu.
— Na verdade, eu gostaria de falar com o médico, se você pudesse...
A porta se abriu de repente e um homem com cabelos louro-
acinzentados entrou na sala. Seus músculos saltavam de sua fina
camiseta branca e seus olhos dourados eram hipnotizantes.
Nunca havia visto ninguém tão bonito em minha vida e o
magnetismo instantâneo que senti em relação a ele era intoxicante.
Eu fiquei assustada e nervosa ao mesmo tempo. Por que eu me senti
tão atraída por ele? Aquela não era uma sensação normal.
Quando ele falou, eu reconheci sua voz rouca. Ele era o homem a
quem o médico se referia como Alfa.
— Sky, o que você disse a ela ? — disse ele de forma áspera.
Sky de repente parecia pálida.
— Eu estava apenas dando a ela as boas-vindas ao Bando. Eu pensei
que seria um toque mais... gentil, sabe, para facilitar a entrada dela.
— Toque gentil — parecia ser algo em outra língua para este homem.
Seu vocabulário era esmagar, bater e destruir.
— Saia. Preciso falar com ela a sós, — ordenou ele. Sky me deu um
olhar de desculpas quando saiu da sala. De repente, desejei que aquela
garota lobisomem maluca voltasse.
Evitei o contato visual direto com ele. Aqueles olhos dourados
corriam para cima e para baixo do meu corpo e, apesar do desconforto
que sentia, eu gostava da maneira como ele me olhava.
— Seu nome, — disse ele num tom dominador.
— Quinn.
— Quinn..., — disse ele, testando.
— E o seu ? — perguntei nervosamente, ainda olhando para o lado.
Ele não reagiu, mas chegou até a beira da minha cama. Eu podia
sentir um calor irradiando dele e isso me aqueceu de dentro para fora.
— Olhe para mim, — ordenou ele.
Quem ele pensa que é? Gostoso ou não, ele não pode simplesmente me
dizer o que...
Enquanto olhava para cima e olhava diretamente em seus olhos, algo
como um sonho aconteceu. Senti uma conexão indescritível com este
completo estranho. Senti como se ele tivesse acabado de se tornar uma
parte de mim.
A julgar pelo olhar chocado em seu rosto, ele deve ter sentido o
mesmo.
— Como... como isso pode ser? Você ainda nem se transformou, —
disse ele, atordoado.
Seus olhos dourados ficaram presos aos meus olhos prateados,
nenhum de nós conseguiu desviar o olhar.
— Então, você é a minha companheira...
Capítulo 3
AMIGOS E MISTÉRIOS
QUINN

— Companheira? — Eu disse, olhando sem piscar para o homem quase


perfeito que estava diante de mim.
Quero dizer, ele poderia facilmente estar na capa da edição Homens
mais Sexy da People, que eu mantinha escondida debaixo da minha cama
na cabana.
E agora ele estava dizendo algumas besteiras sobre eu ser sua
companheira?
— Como? — repetiu ele novamente. — Você ainda nem se
transformou no seu lobo...
Desculpe-me, mais sexy lobisomem vivo. Oh, Deus, não ele também.
Isto realmente pareceu uma brincadeira elaborada. Uma brincadeira,
onde eu era o ponto de partida.
— Por que você me chamou de sua companheira? — Eu exigi. — Eu
nem sei seu nome.
Senti a raiva pulsando através de minhas veias, fazendo meus
músculos ficarem tensos, minhas mãos tremerem e meus ossos
começarem a se dividir e rachar bem abertos.
Eu estava sentindo uma raiva animal pura, cega e cega.
— Ei, eu lhe fiz uma pergunta! — Eu gritei.
Seus olhos dourados estalaram para mim e eu senti uma onda de
desejo.
Como ele fez isso?
Odiava a facilidade com que ele conseguia me fazer desejá-lo. Eu
nunca havia feito sexo antes. Diabos, eu mal tinha saído do meu quarto.
Os romances sexy da biblioteca eram minha única fonte de prazer.
E agora, aqui estava eu, desejando que o Sr. Tanquinho me comesse
aqui mesmo, nesta cama de hospital.
Minha mão disparou sobre minha boca só de pensar na palavra —
comer.
Por que de repente estou tendo esses impulsos sexuais? É como se meu
corpo estivesse tendo algum tipo de despertar...
Considerando a maneira como seu peitoral duro espreitava de sua
camisa apertada e a maneira como o suor estava se acumulando em sua
testa, eu podia dizer que ele também estava pensando em sexo.
— Você precisa descansar, — disse ele de forma abrupta. — Você
ainda tem que se curar.
— Por que você não me diz seu nome? — perguntei novamente.
— Mais tarde. Falaremos mais tarde, — disse ele, nervoso.
Ao sair da sala, não pude deixar de sentir que, por mais bizarro que
fosse toda essa bobagem de lobisomem, esta quase sobrenatural conexão
que sentia com um completo estranho era ainda mais bizarra.
JAXON

Eu saí do hospital e entrei na minha caminhonete, batendo a porta.


Eu precisava de espaço para pensar. Para arrumar esta bagunça.
Eu não podia acreditar que esta garota, que ainda nem tinha se
transformado, era minha companheira.
— Mas que porra?
Ela não sabia nada sobre nosso mundo. Ela nem sabia o que era um
companheiro.
Como eu lidaria com isso? Ela ainda era uma humana...
Ela não entendia nossos caminhos.
E com sua inevitável transição acontecendo logo...
Ela precisaria estar preparada. Para ser treinada.
Ou seu corpo poderia não ser capaz de aguentar.
Por mais que eu estivesse aborrecido com a situação, havia uma
excitação dentro de mim que eu não conseguia conter.
Meu amigo.
Mas quem era ela? Por que ela estava vagando pela floresta no meio
da noite com uma mochila cheia de suprimentos?
Ela estava fugindo de alguma coisa? Ou de alguém?
Não podíamos arriscar que nosso segredo chegasse aos humanos.
Se alguém viesse à sua procura...
Eu precisaria ensiná-la a controlar suas mudanças antes que isso
acontecesse. Um lobisomem selvagem à solta era a última coisa que
nosso Bando precisava.
Embora eu pudesse dizer que ela me deixaria louco, não conseguia
parar de pensar nela.
— Quinn, — eu deixei o nome rolar para fora de minha boca.
QUINN

— Você precisará andar devagar nos próximos dias até que sua perna
esteja completamente curada, — disse o médico.
Foi um alívio falar com alguém são, para variar.
Ou seja, até perceber que esta visita ao hospital ia custar uma fortuna.
E eu não tinha nada.
— Uh, Doutor, — eu disse hesitantemente, — Eu... eu não tenho
exatamente... seguro. Como devo pagar por tudo isso?
Ele apenas olhou para mim e riu.
— Oh, você não tem que se preocupar com isso, Luna. O seguro de
seu companheiro o cobrirá.
Esta é a maldita Ilha da fantasia. Tenho certeza disso.
Companheiro.
Luna.
Este charlatão é tão louco quanto o resto deles.
Eu nunca tinha ficado tão confusa em minha vida.
Por que todos sabiam o que estava acontecendo comigo, exceto eu?
Era como se todos tivessem um roteiro, e eu estava apenas improvisando.
— Bate, bate, — disse Sky, espreitando ao redor da cortina de
privacidade. — Posso me juntar a vocês?
— Desde que não falemos de lobisomens, claro, — eu suspirei.
— Promessa de dedinho, — disse ela, cruzando seus dedos com os
meus.
Como o Doutor nos deixou sozinhas, eu queria perguntar mais sobre
este místico — Seguro Companheiro — que eu parecia ter, mas senti que
era melhor não perguntar sobre as questões financeiras no momento.
— Estou realmente aqui em uma missão, — Sky sorriu
sorrateiramente. — Para te tirar daqui.
— O que você quer dizer?
Ela olhou para a roupa de hospital que eu estava usando e meus
cabelos emaranhados.
— Você esteve presa aqui dentro o dia todo. Vou levar você às
compras!
Finalmente, alguém está dizendo algo que faz sentido.

Quando eu mancava diante de um espelho, vestindo um vestido de verão


verde escuro, eu sorria para minha aparência.
Minha mãe nunca me comprou roupas ou me levou para fazer
compras no centro comercial próximo, então esta foi uma experiência
totalmente nova para mim. Uma que eu gostei imediatamente.
— Tudo que você quiser, é por minha conta, — disse Sky, calçando
um par de saltos nos quais eu nunca seria capaz de andar.
— Por que você está sendo tão gentil comigo? — Eu questionei.
Sky mordeu o lábio como se quisesse dizer algo, mas ela se conteve.
— Aqui, você tem que experimentar isto, — disse ela, me ajudando a
vestir uma jaqueta de couro cara.
Ela completou o conjunto. Eu nunca soube que poderia ter este
aspecto.
— Vamos levar a roupa toda, — disse Sky a uma vendedora. — E estas
botas também.
Sky segurou um par de botas de couro para combinar com o meu
casaco. Ela deu uma olhada na minha perna desarrumada, e depois na
tala.
— Pensando melhor, vamos apenas pegar uma única bota. Você pode
embrulhar a outra.
Eu tinha que rir. Esta garota era tão estranha, mas eu gostava tanto
dela por alguma razão.
Ela me encarou com cautela, depois agarrou minha mão e me ajudou
a sentar em um sofá.
— Ouça, Quinn precisamos conversar.
— Certo, estou ouvindo. Desde que não se trate de...
— E é, — ela me cortou. — Por favor, apenas escute o que tenho a
dizer.
Estas roupas foram apenas uma estratégia para me atrair para falar
sobre — me unir ao bando?
— Quinn, você foi mordida por um lobisomem. Não um lobo normal.
Um Lobisomem. E você tem muita sorte de ter sobrevivido.
— Sky, isso de novo não...
— Nem todos que são mordidos sobrevivem, — continuou ela. —
Você tem que ter um gene de lobisomem em seu DNA, seja dominante
ou recessivo, caso contrário, a mordida a teria matado. — Acho que
alguém da sua família, talvez distante, ou talvez até alguém que você
conheça, também era um lobisomem.
Certo, o que ela estava dizendo antes era estranho, mas isto estava
ficando fora de controle.
Um gene de lobisomem em meu DNA?
— Isto é uma loucura, — disse eu, começando a ficar furiosa. — Eu
claramente não sou um lobisomem. Eu sou uma humana. Desculpe
desapontar você. Nada de peles ou presas aqui.
— Ainda não, — disse Sky com cautela. — Mas você vai mudar.
Provavelmente, em breve. Talvez em algumas semanas, talvez em alguns
meses, mas quando o gene recessivo se tornar dominante... você não será
capaz de controlá-lo.
Eu tentei me levantar, mas a Sky apertou minha mão.
— Quinn, você precisa nos deixar ajudá-la. Acredite em mim, você
não quer passar por isso sozinha. Você precisará de treinamento para que
seu corpo se torne mais forte, para que possa suportar a transição.
— Agora você está tentando fazer com que eu me inscreva também
para uma academia? — eu disse, incrédula. — Sky, já me cansei disso.
Não entendo a piada e já me cansei disso.
— É um processo extremamente doloroso de mudança, — disse Sky,
num tom sério. — Você acha que seu tornozelo dói? Quando você muda
pela primeira vez, todos os seus ossos quebram. Todos eles. Você acha
que isso é algo que você pode lidar por conta própria?
Essa foi a gota d'água. Isto estava ficando tão confuso.
— Estou indo embora, — disse eu, me levantando e mancando em
direção à porta. — Não me sigam ou gritarei por ajuda.
— Quinn, eu coloquei meu número em seu telefone. Portanto, se
você cair em si e perceber que não pode ir embora, saiba que eu estou
aqui se precisar conversar.
— Não pode ir embora ? — perguntei sentindo-me como se estivesse
sendo levada à loucura. — Do que você está falando, Sky?!
— Você não entende, — disse ela, abanando a cabeça. — Partir é
fisicamente impossível. — Agora que você está ligada ao Alfa, você está
ligada a ele. Para onde você for, ele irá. Seus corpos vão desejar um ao
outro quando estiverem separados e isso se tornará insuportável.
— Sky, eu realmente espero que você receba a ajuda de que precisa. —
Eu realmente espero, de verdade. — Mas eu não posso ajudá-la.
Eu empurrei para fora a porta e me movi tão rápido quanto minha
perna desajeitada me permitia.
Eu não sabia para onde iria, mas seria muito longe daqui. Longe
destes Psicopatas.
De repente me senti sendo levantada e arrastada para uma viela.
Tentei gritar, mas uma grande mão cobriu minha boca.
Ao encostar-me contra a parede, sem nenhum lugar para correr, vi
que era o homem do hospital que me puxara para o beco.
Meu chamado de companheiro.
Ele parecia absolutamente furioso. Eu podia sentir sua fúria dentro de
mim.
Seus olhos dourados começaram a brilhar.
Sua camisa começou a rasgar enquanto seus músculos protuberantes
a rasgavam.
Suas unhas começaram a crescer rapidamente, transformando-se em
garras afiadas.
Presas saindo de sua boca enquanto rosnava.
Oh meu Deus.
Eles são reais.
Capítulo 4
OBRIGAÇÃO INESCAPÁVEL
JAXON

Aonde ela pensava que ia? Essa garotinha que era para ser minha
companheira? Esta... Quinn.
Eu não podia acreditar na coragem dela. Fugindo do hospital quando
ela deveria estar se curando. Fugindo de quem sabe onde, longe do
bando, longe de mim.
Ela sabia que estávamos interligados, e mesmo assim, ela fugiu! Ela
me agitou e me enfureceu. Nunca ninguém ousara me desobedecer
antes. Os membros do meu grupo sabiam que o preço era a morte.
O Alfa deles estava acima de tudo.
Mas esta garota, esta ninguém, esta humana que mal tinha começado
a se transformar, ela pensava que estava acima de mim?
Senti raiva pulsando através de minhas veias, fazendo meus músculos
ficarem tensos, minhas mãos tremerem, meus ossos começarem a se
dividir e rachar bem abertos. Estava saindo de uma raiva animal pura,
cega e cega.
Minhas unhas se partiram enquanto garras longas e afiadas tomavam
seu lugar. Meus caninos arrebentam de minhas gengivas e cresceram.
Minha cabeça sentia como se fosse rachar e abrir. A mudança sempre foi
dolorosa... mas desta vez foi ainda pior. Porque o olhar nos olhos da
garota, o choque neles — não, o terror — estava me fazendo hesitar.
Por alguma razão, eu não queria assustá-la ou machucá-la. Uma
sensação profunda, desconfortável, que eu nunca havia sentido antes,
estava borbulhando dentro de mim. Como uma mistura de luxúria e...
poderia isto ser... afeição?
Embora Quinn não fosse mais do que uma estranha para mim, não
mais do que um pequeno cordeiro perdido que tínhamos encontrado na
floresta, era como se de alguma forma... eu a tivesse conhecido e cuidado
dela toda a minha vida.
Um efeito colateral do vínculo de acasalamento, sem dúvida.
Amaldiçoei-a, apertando os punhos, sentindo as garras se retraírem e
meus dedos voltarem ao normal. Meus dentes de lobo se retiraram para
dentro das gengivas.
Somente meus olhos ainda brilhavam como ouro, um vestígio do
meu animal carnívoro interior. Parte do meu lobo queria despedaçar esta
garota por sua insolência. Enquanto a outra parte...
A outra parte queria que eu rasgasse suas roupas e a tomasse bem
aqui, no meio deste beco abandonado.
Aqueles lábios cheios e trêmulos. Aqueles cabelos longos e pretos. O
corpo, tão jovem, intocado e sedento pelo meu, eu pude senti-lo. O
desejo dentro de mim ameaçava se espalhar a qualquer segundo.
Comecei a andar só para tirar meus olhos dela e para limpar minha
mente. Não estava funcionando.
— Você é realmente... — Quinn sussurrou em incredulidade. — Você
é realmente um lobo...
— Um lobisomem, — rosnei. — Há uma diferença.
— Como...? — perguntou ela, balançando a cabeça, parecendo
sobrecarregada. — Como isso pode ser real? Como isso pode estar
acontecendo?!
Garota tola. Ela era como uma criança.
Era para se pensar, de todas as mulheres dignas do mundo, a Deusa
da Lua havia escolhido esta para ser minha companheira. Era como uma
brincadeira de merda.
No fundo, eu sabia, ninguém, certamente não esta Quinn, poderia
substituir o que eu havia perdido. Eu me livrei do pensamento,
suprimindo-o como sempre fiz para evitar o crescimento emocional.
— Você vai entender em breve, — disse eu. — Uma vez que você
tenha se transformado.
Ela olhou para sua perna enfaixada como se estivesse finalmente
percebendo que isto não era uma brincadeira. Esta era a vida dela agora.
É
É melhor ela se acostumar com isso.
— E se... ? — perguntou ela com fôlego. — E se eu não quiser? Ser
como você?
Eu deixo sair uma risada amarga.
— Tarde demais para isso.
Não havia como reverter a transformação.
Uma vez mordida, ela se tornaria uma de nós ou morreria.
Embora eu me encontrasse consumido de desgosto e repugnância por
tudo o que Quinn representava, sua ingenuidade infantil, seu instinto de
fuga em vez de luta, eu tinha que admitir... eu não queria que ela
morresse.
Talvez tenha sido apenas o vínculo de acasalamento, ou talvez tenha
sido algo mais. Eu não sabia dizer. Mas o que ela disse a seguir me fez
sentir ainda mais confuso.
— Diga-me seu nome, — implorou ela. — Por favor. Eu preciso saber
seu nome.
Por que isso era tão importante para ela? Eu já a havia deixado
esperando no quarto do hospital. Talvez isso a acalmasse só falar de uma
vez.
— Eu sou o Alfa do Bando Sombra da Lua... — Comecei.
— Seu nome, — ela interrompeu.
— Eu estava chegando lá, — eu disse enfurecido. Ela sempre foi assim
tão descarada? — Meu nome é Jaxon.
Ela piscou, suas bochechas corando como se o nome estivesse tendo
algum efeito físico sobre ela.
Talvez tenha sido. Quando ela me disse o dela, aconteceu o mesmo
comigo.
— Jaxon, — disse ela lentamente, testando-o em sua língua.
A maneira como ela disse isso... me deu arrepios. Quanto mais tempo
eu olhava para ela, mais difícil ficava. Meus olhos dourados deixando-a
nua, imaginando como seria tomá-la.
Tentei livrar-me desses anseios. Eles não faziam sentido. Eles eram
instintivos e nada mais. Mas quanto mais eu tentava negá-los, mais fortes
eles se tornavam.
De um sussurro silencioso em minha mente:
Beije-a. Lamba-a. Toque nela.
... A um grito de garganta cheia: — Coma-a. Coma-a! COMA-A!!!
Não, eu mesmo me castiguei. Sem comer ninguém ou nada agora. A
garota precisava ser levada de volta ao hospital antes de tudo.
— Jaxon, você poderia...? — ela disse, parecendo cada vez mais
chateada. — Você vai me deixar ir para casa?
Por um segundo, eu me perguntava se deveria tentar confortá-la.
Colocar meus braços ao redor dela. Dizer a ela que tudo ia ficar bem.
Mas isso foi um capricho patético de sentimento. Não a ação de um
Alfa todo-poderoso.
— Não, — eu rosnei. — Sua casa está entre nosso bando agora. Tente
correr o quanto quiser, você não vai longe. Nossa ligação é como uma
faixa elástica. Quanto mais você se afastar, mais poderosamente sentirá a
vontade de voltar.
Seu lábio se enrolou. Parecia que ela também não gostava muito de
mim.
— Veremos sobre isso, — ela bufou.
Então, antes que eu pudesse detê-la, Quinn se virou e marchou em
direção à rua, longe do hospital. O descaramento desta garota! Eu sabia
que deveria tê-la perseguido e forçá-la a voltar para uma cama de
hospital.
Mas, se estou sendo honesto, gostei de vê-la contorcer-se.
Então, Quinn queria se rebelar?
Deixe-a ver como seria um pouco de rebeldia.
QUINN

Aquele idiota!
Não podia acreditar que alguma vez o achara tão atraente.
Claro, seus olhos dourados eram intoxicantes.
E, sim, seus cabelos louros acinzentados combinavam perfeitamente
sua poderosa linha do maxilar. E, no mínimo, seus músculos, seu
tanquinho, todo seu físico era de dar água na boca. Mas assim que ele
abriu a boca, eu percebi o quão rude e desagradável Jaxon realmente era
como pessoa.
Ou um lobisomem.
Ou o que quer que seja.
Meu cérebro ainda estava girando. Mesmo que eu o tivesse visto se
transformar naquela... naquela besta com meus próprios olhos, eu não
estava totalmente convencida sobre o resto.
A ideia de que eu não poderia ir a lugar nenhum sem ele, por
exemplo. Isso me pareceu uma desculpa maluca para me manter por
perto. Porque me raptar não era suficiente.
E a ideia, a ideia ridícula, a ideia insana, que eu ia me transformar em
um deles? Um lobisomem? De jeito nenhum. Eu me recusei a acreditar
nisso.
Eu deveria ter ouvido você, mãe, eu pensei.
Pensar nela trouxe uma pancada de culpa.
Embora eu tivesse crescido sentindo que era uma prisioneira em
minha própria casa, todos os avisos de minha mãe estavam certos.
Havia algo a temer lá fora no bosque. E a única vez que eu havia
decidido negligenciar os conselhos de minha mãe, foi isto que aconteceu.
Talvez eu o merecesse.
Eu desejava tanto poder voltar ao conforto de meus livros e do quarto
e da cozinha da minha mãe agora mesmo. Mesmo que ela fosse
superprotetora e meio louca, eu a levaria à loucura por causa dessa
loucura.
Fiquei na beira da estrada e estendi meu polegar, esperando que
alguém encostasse e me desse uma carona.
Eu só tinha lido sobre carona em livros, nunca o fiz na vida real, mas
achei que se houvesse alguma chance de voltar para a cabana da minha
mãe, eu teria que tentar.
Um casal em uma perua surrada encostou e a mulher abaixou a
janela, sorrindo.
— Você está indo para o Norte ? — perguntou ela.
Eu acenei com a cabeça, de repente me senti tímida e assustada. Pelo
que eu sabia, estes dois eram assassinos em série. Apesar de parecerem
bastante saudáveis.
— Entre!, — disse ela. — Vamos levá-la até Maysville.
Eu respirei fundo, olhei para trás mais uma vez para o hospital
distante, depois me decidi. Não preciso acreditar numa palavra do que
Jaxon disse. Eu poderia chegar em casa por conta própria.
— Obrigada! — Eu disse, pulando no carro e respirando com alívio
enquanto corria pela estrada que me levava embora.

Estávamos a uma meia hora de distância quando senti a primeira facada.


Foi o que me pareceu. Como se alguém tivesse pegado um garfo e o
tivesse espetado em minha caixa torácica, torcendo os intestinos como se
fossem espaguete.
— Ahhh! — Eu gritei, chocada.
— Você está bem? — perguntou a senhora, voltando-se para olhar
para mim com preocupação.
Eu estava agarrando meu estômago. Outra facada me bateu. Esta
parecia que alguém havia agarrado meu umbigo e o sacudido para cima.
Eu encolhi de dor, agarrando o assento na minha frente, apertando-o
com força. Eu nunca havia sentido nada tão insuportável antes em minha
vida. O que foi isto?!
E então eu os vi. Quando fechei os olhos, seu par de olhos dourados
me passou pela mente.
Jaxon.
Isto era o que ele havia chamado de vínculo de acasalamento.
A distância estava literalmente me separando de dentro para fora. E,
por alguma razão eu não conseguia explicar, misturado com a dor... era
um desejo puro e insaciável dele.
Por suas mãos no meu corpo. Seus lábios contra o meu pescoço. Seu
membro crescendo latejando, pressionando contra mim.
Dentro de mim.
Minhas partes apertaram e ficaram úmidas. Meus olhos estavam
recuando. O que, em nome de Deus, estava acontecendo comigo?!
— Encoste, — eu gritei. — POR FAVOR!

Uma vez que eles pararam e me ajudaram a sair do carro, eu garanti ao


simpático casal que eu ficaria bem e que seria capaz de cuidar de mim
mesma. Mas assim que eles se afastaram, eu me afastei, de repente, tendo
dificuldade para respirar.
À beira da estrada, os olhos de Jaxon não paravam de piscar na minha
mente, repetidamente. E agora, percebi... que era muito mais do que dor
e luxúria.
Era anseio.
O garfo que me apunhalou no estômago era o meu desejo corporal
por seu toque na minha pele. Eu me encontrava imaginando coisas que
nunca havia imaginado sobre nenhum homem, mesmo nos meus sonhos
mais loucos.
Jaxon tirando suas calças.
Jaxon baixando sua cueca.
Jaxon acariciando seu perfeito, enorme...
— PARE! — eu gritei.
Eu não podia acreditar no que havia de errado comigo.
Mas eu sabia que se não voltasse rapidamente para Jaxon, poderia
explodir de mais de um modo...
Capítulo 5
O QUARTO DO ALFA
QUINN

Quinn: Sky, preciso de sua ajuda.

Quinn: É a Quinn.

Sky: Quinn!!!!

Sky: Onde você está????

Sky: Todos no bando estão muito


preocupados!

Quinn: To mandando a localização.

Quinn: Não pergunte por que ou para onde


eu estava indo.
Quinn: Você poderia, por favor, vir me
buscar?

Sky: É claro!!!

Sky: Estou feliz por você estar bem.

Quinn: Bem?

Quinn: Uh.... Não tenho tanta certeza sobre


isso.

Eu estava mais do que aliviada quando a Sky finalmente parou em um


Cadillac SUV, sentada no banco do passageiro, um cara louro ao lado dela
dirigia.
— Aí está você! — gritou ela, me ajudando a entrar no carro. Eu ainda
estava sentindo dor por estar tão longe de Jaxon.
— Eu lhe disse, que você não podia sair, não é mesmo? — ela
repreendeu.
Eu acenei com a cabeça.
— Sim, sim. Eu sei.
O carro começou a se mover e logo estávamos voltando na direção do
hospital. Quanto mais avançávamos, mais a pressão sensual diminuía.
Graças a Deus.
Eu não pensei que meu corpo pudesse pensar de novo em Jaxon sem
suas roupas. Só de lembrar de algumas das imagens que estavam
piscando em minha mente, estava me fazendo corar.
Eu notei os olhos do motorista louro me olhando no espelho
retrovisor.
— Então, esta é a nova Luna, hein ? — perguntou ele, sorridente. —
Bem-vinda à família!
Ele se parecia muito com a Sky por alguma razão. O mesmo biotipo,
estrutura óssea. Somente seus olhos eram diferentes. Enquanto os da Sky
eram verde jade, os dele eram marrom-avermelhado.
Eram olhos bondosos, eu pensei.
— Eu sou Alex, irmão da Sky, — disse ele. — É um prazer.
— Prazer em conhecê-lo, também, — disse eu. Então, franzindo a
testa perguntei, — Desculpe, você acabou de dizer... Luna? O que é isso?
Sky o atingiu no braço de uma forma fraterna, balançando a cabeça.
— Você tinha que abrir sua grande boca, não é mesmo? Não devemos
entrar em detalhes até que ela chegue à casa do bando, idiota!
— Eu sei, eu sei, — disse Alex, estremecendo e esfregando seu braço.
— Espere, — eu disse. — Aonde você disse que vamos?
Sky suspirou e se virou para me encarar.
— Bem, acho que não adianta mais esconder. Vamos para a sede
secreta do Bando Sombra da Lua. Sua nova casa.
Eu engoli em seco. De repente, tudo tinha se tornado muito mais
complicado.

A casa do bando não era de modo algum o que eu esperava. O que a Sky
havia descrito como um esconderijo parecia muito mais um maldito
castelo.
Minha mandíbula bateu no chão enquanto caminhávamos até a
enorme estrutura pitoresca, cercada por todos os lados pela floresta.
Havia uma estranha mistura de equipamentos modernos — carros
estacionados do lado de fora, luminárias — as velhas estradas de
paralelepípedos e a ponte levadiça de outro mundo.
Quando saímos do carro e nos aproximamos da casa do bando, várias
pessoas me olharam fixamente. Algumas delas com confusão. Outras,
defensivamente.
Eu vacilei, sentindo-me imediatamente deslocada e indesejada.
Vi um homem se eriçar, parecendo que ele estava preparado para se
transformar a qualquer segundo e arrancar minha cabeça do meu corpo.
Por sorte, Sky pegou minha mão e acenou com a cabeça para ele.
— Não tenha medo, Quinn, — disse ela calmamente. — Aqui somos
simplesmente protetores. — Ninguém sabe ainda quem você é. Jaxon
pensou que era importante mantermos sua identidade em segredo. Por
enquanto.
— Por quê?
Quinn balançou a cabeça. Mais um segredo que ela não estava
disposta a compartilhar. Durante a viagem até aqui, eu a tinha
maltratado com pergunta após pergunta.
Eu precisava saber o que diabos estava por vir da minha vida agora...
agora que, aparentemente, estava para ser vivida entre lobisomens.
Sky tinha me dito que havia outros seres sobrenaturais escondidos
sob a superfície de nosso mundo, incluindo vampiros e bruxas. Ela havia
me falado sobre o Rei dos Lobisomens, Leon, e sua companheira que
havia fugido.
Ela me falou sobre a Deusa da Lua, a mais santa dos seres do
universo, aquela que mantinha todos os lobos juntos e Sky me assegurou
— nunca comete um erro.
Ela me disse isso e muito mais. Ainda me senti um pouco tonta com a
enxurrada de novas informações.
E agora, ao ver a casa do bando com meus próprios olhos, era todo
um outro tipo de vertigem.
— É tão... — Parei, sem saber como descrever a estrutura tipo castelo
que se elevava sobre mim.
— Eu sei, — disse Sky, sorrindo. — É muita coisa.
Ao mesmo tempo, parecia excêntrico e familiar. Ele irradiava um
brilho de segurança que me fez pensar se havia magia protegendo-o dos
olhos dos curiosos humanos.
De que outra forma isso havia passado despercebido por tantos anos?
Eu estava prestes a perguntar a Sky sobre isso quando senti um
formigamento no pescoço como se eu estivesse sendo observada. Eu girei
para olhar, mas havia simplesmente mais membros do bando entrando e
saindo da área.
Huh.
Foi como se, por apenas um segundo, eu tivesse sentido um flash
daqueles olhos dourados. Talvez apenas um efeito residual da distância
anterior.
Quão excitada e incomodada tinha me deixado... Eu estava fadada a
ter flashbacks, não estava?
Mas eu percebi, considerando que me sentia como eu mesma
novamente, que isso significava que Jaxon deveria estar perto.
Mas onde ele estava?
JAXON

Desde que Alex, Sky e Quinn chegaram à casa do bando, eu os observava


de longe. Primeiro, desde a muralha da torre mais alta da casa de carga.
Depois, da varanda escondida do hall de entrada, quando Sky começou a
visita às nossas instalações.
Fiquei fascinado, vendo Quinn ser empurrada para este novo mundo.
Ela era como um cervo em frente aos faróis. Não que eu tivesse pena
dela. Depois de sua pequena manobra de fuga, eu quase vomitava da
intensidade do anseio. Estar longe de sua companheira era uma tortura.
Tortura total.
O Rei Leon vinha experimentando isso há anos, mas eu nunca havia
compreendido a magnitude da dor e do desejo sexual até agora.
Como o homem sobreviveu, porra?!
Quando Quinn chegou ao ponto de ruptura, eu havia caído no chão
de meus aposentos e me contorcido lá, imaginando seu corpo nu
dançando em cima do meu.
Seus seios generosos inchando. Sua língua lambendo seus lábios. Sua
vagina molhada.
Ugh, isto não era maneira de pensar em uma garota tão obviamente
inocente e com os olhos postos e inúteis como ela. Mas eu não pude me
conter. De alguma forma, esses detalhes me excitaram ainda mais.
Meu corpo e minha mente estavam em guerra. Os desejos carnais de
meu lobo só foram refreados pela lógica do meu cérebro humano.
Eu não sabia por quanto tempo mais seria capaz de resistir a ela, no
entanto. Perseguindo-a enquanto ela examinava cada canto de nossa
fortaleza, eu não conseguia entender o que a tornava tão especial.
Por que havíamos sido unidos?
O que nela que me deixou tão fraco e de joelhos?
Esta menina poderia ser realmente minha companheira?
QUINN

Quando terminamos de ver a casa, eu me senti absolutamente exausta.


Havia tantos nomes e títulos que eu mal conseguia memorizar. Aprendi
que havia uma hierarquia importante entre o grupo e que ninguém era
tão importante quanto o Alfa.
Ou seja, meu companheiro.
Para ser honesta, eu não entendi completamente. O que tornou um
lobisomem mais dominante do que o outro?
Alex, o Beta ou segundo no comando de Jaxon, e Raphael, seu Gama
ou número 3, pareciam igualmente musculosos e fortes.
Na verdade, Raphael, eu pensava, era provavelmente o mais letal de
todo o grupo. Com seus olhos escuros e seus cabelos pretos e
indisciplinados, ele gritava positivamente perigo. Sky havia explicado que
não se tratava da aparência física, mas do que estava dentro do espírito
de um lobisomem que determinava a força.
Enquanto Rafael parecia o mais intimidador, a maior parte de seu
trabalho era ajudar a Luna com tradições e festivais.
Um trabalho bastante de secretariado, se você pensar.
Quando Raphael me conheceu, ele havia curvado a cabeça
educadamente e murmurado, — Minha Luna.
Por um segundo, eu tinha sentido um pouco de desapontamento. Por
que não poderia ter sido acasalada com alguém tão gentil como Alex ou
tão útil como Rafael?
Por que eu estava presa com o chefe rude?
Quem, falando nisso, eu ainda não tinha visto desde que tinha
chegado.
Teria eu feito algo para ofendê-lo? Eu continuava esperando que ele
se materializasse sem aviso, aparecendo como um macaco na caixa, me
assustando.
Fiquei tensa durante todo o tour da Sky, embora quanto mais eu via a
casa do bando, mais confortável eu começava a me sentir aqui.
Por um lado, havia uma linda e enorme biblioteca na Ala Leste. Todos
aqueles livros empoeirados seriam uma boa companhia se eu realmente
acabasse ficando presa aqui.
Neste momento, estávamos subindo uma escadaria aparentemente
interminável, e minha perna, ainda enfaixada e doendo pra cacete, não
estava facilitando a subida.
— Não é muito mais longe, — disse-me Sky, sorrindo. Fácil para ela
dizer; ela parecia ter corrido cinco milhas antes do café da manhã.
— Por que... — Eu perguntei, ofegante — ... há tantas... — Parei para
recuperar o fôlego novamente — ... escadas?
Sky olhou por cima do ombro e os encolheu.
— Culpe o projetista.
Oh, eu culpo, acredite em mim.
Quando finalmente chegamos ao quarto andar, olhei para cima,
aliviada por ver que tínhamos chegado ao fim. Uma grande porta de
madeira estava no final de um corredor, com duas velas vermelhas acesas
de cada lado.
Parecia uma sala importante. Como se fosse adequado a um rei ou a
alguém respeitável.
— Isso é seu, — disse Sky, apontando. Eu fiquei incrédula. Isso era
para mim?
Hesitantemente, começo a caminhar em direção à porta e a abro,
deixando meus olhos observarem o requintado quarto diante de mim.
Não era um quarto, era uma câmara medieval, decorada com arte
antiga e com uma enorme cama com dossel no centro.
O quarto era tão grande quanto a casa de campo inteira da minha
mãe!
— Isto... — Eu disse, olhando com descrença. — Isto é realmente meu
quarto?
Sky acenou com a cabeça, sorrindo.
— Afinal, você é nossa Luna. Você merece apenas o melhor.
Eu estava tão exausta, que não queria mais do que cair naquela cama
e dormir um sono que durasse para sempre. Mas antes que eu pudesse,
Sky agarrou minha mão.
— Esta sala também é dele você sabe? — disse ela.
— O quê? — Eu perguntei, meu rosto ficou pálido. — Você quer
dizer...?
— Você e o Alfa compartilham a mesma cama.
Eu olhei para a cama, em pânico. O que um segundo atrás, tinha
aparecido como uma fuga confortável, agora parecia um instrumento de
tortura.
Como diabos eu deveria compartilhar, de todas as pessoas, uma cama
com Jaxon? Eu nunca havia dormido na mesma cama com um menino
antes.
E o Alfa não era um menino. Ele era todo homem.
Minhas visões de hoje cedo começaram a passar pelo meu cérebro
novamente, e eu engoli em seco...
— Boa noite, Quinn, — disse Sky, fechando a porta. — É melhor se
preparar. Ele estará aqui em breve
Capítulo 6
SEDE INSACIÁVEL
QUINN

A qualquer segundo agora.


Qualquer segundo e Jaxon entraria por aquela porta do quarto.
Nosso quarto.
Eu não estava preparada para isto. Em qualquer nível.
Em primeiro lugar, eu era virgem e sem noção nenhuma quando se
tratava de todas as coisas relacionadas ao sexo. O único homem que eu já
havia beijado era um garoto que vendia legumes no mercado.
Isso foi antes de minha mãe ter sido extremamente rígida em me
deixar sair de casa.
Há anos eu tive uma queda por ele. Eu tinha quatorze anos e ele tinha
dezenove. Ele não parecia ser a pessoa mais inteligente... mas seu corpo
era outra coisa.
Todo o trabalho sob o sol tinha dado a ele um olhar de homem, e eu
me sentia fantasiando com ele à noite sempre que minha mãe e eu
voltávamos das compras.
Então, um dia, antes que eu pudesse me dissuadir, eu corri até ele e
lhe dei uma bitoca na bochecha. Eu não pedi permissão e não fiquei para
ver como ele reagiu. Eu apenas fugi.
Como eu disse, eu não tinha muita experiência.
A segunda questão era que eu mal conhecia Jaxon. Sim, eu não podia
negar, havia alguma... faísca entre nós. Eu tinha sentido isso
visceralmente, dolorosamente quando tentei pedir carona.
Mas isso não significava que eu soubesse alguma coisa sobre ele! Eu
sabia que ele era o Alfa, o que significava que estava encarregado desta
matilha de lobisomens.
Legal, o que mais?
Quais livros ele leu? Ele poderia até mesmo ler?
Ele tinha algum interesse fora das coisas relacionadas com os lobos?
Ele sempre foi um idiota tão carrancudo ou às vezes podia ser doce?
Minhas perguntas poderiam continuar e eu ainda não chegaria nem
perto de entender o homem. O fato de ele esperar que uma estranha
dividisse uma cama com ele era estranho.
Mais do que estranho.
Eu me perguntava novamente se eu deveria tentar escapar.
Obviamente, eu não poderia ir longe por causa deste maldito... vínculo
de acasalamento... ou o que quer que Sky lhe chamasse.
Era como um vício que você não conseguia se livrar fisicamente. E
também não é um vício divertido, não como leitura excessiva ou
chocolate.
Não, o vínculo de acasalamento era uma droga pesada. Ele fluía
através de minhas veias, ameaçando desligar meu corpo se eu ousasse
amarelar.
Então, se eu não pudesse abandonar o vínculo, talvez pudesse ao
menos me esconder em algum lugar próximo onde Jaxon não me
encontrasse?
Provavelmente havia uma certa distância que eu podia sobreviver
confortavelmente por conta própria.
Considerei minhas opções. Havia uma janela no final da sala.
Talvez eu pudesse tentar escapar da mesma forma que escapei da casa
de minha mãe? Amarrar cobertores juntos e escalar meu caminho para
baixo.
Não.
Estávamos no último andar da casa de campo, um prédio muito
maior do que a pequena cabana da minha mãe na floresta.
Mesmo que houvesse lençóis suficientes, isso ainda me deixaria no
interior desta maldita fortaleza. Eu teria outro muro para ultrapassar.
E depois?!
Ugh. Eu me senti tão presa. Cada vez que olhava para a porta,
esperava que o puxador chocalhasse e que Jaxon entrasse.
Eu não podia suportar a ideia do que aconteceria depois disso.
Puxei meu telefone, pensando se Sky poderia me ajudar. Talvez ela
soubesse de um esconderijo...

Quinn: Ele ainda não está aqui.

Quinn: É tarde demais para eu ir embora?

Sky: Sair e ir aonde, boba?

Quinn: Eu não estou pronta para dividir


uma cama com ele

Quinn: Você deve saber de algum lugar


onde eu possa me esconder.

Sky: Quinn, ele é o alfa

Sky: Você não pode se esconder dele.


Quinn: O que você quer dizer com isso?

Sky: Por causa de sua ligação, ele sempre


será capaz de encontrar você.

Sky: Isso não é romântico? ❤ (emoji de


coração)

Eu joguei meu telefone na cama e soltei um suspiro frustrado.


Romântico, não era. Não para mim.
Parecia que Jaxon tinha uma licença gratuita de perseguidor.
Como Heathcliff em O morro dos ventos uivantes, este cara estava
destinado a destruir os dois.
Certamente, tinha que haver alguma saída de todo este arranjo.
Ninguém tinha me perguntado se eu queria ser um lobisomem.
Ninguém tinha me perguntado se eu queria ser companheira do Jaxon.
Ninguém tinha parado para me perguntar nada.
Com esse pensamento horrível em mente, eu me virei nas cobertas e
chorei — chorei — o meu corpo tremendo incontrolavelmente.
Finalmente, superada pela exaustão, senti minhas pálpebras ficarem
pesadas e deixei que a escuridão me empurrasse para o esquecimento...

Passos pesados se aproximaram, acordando-me do meu sono. Eles


estavam subindo as escadas, do outro lado da porta.
Ele estava aqui. O Alfa.
Jaxon.
Meus olhos se alargaram e meu corpo se endureceu de medo
enquanto o puxador girava e a porta se abria lentamente.
Sua estrutura alta e escura ocupou todo o vão da porta. Seus olhos
dourados brilhavam.
Ele estava me olhando fixamente.
— Então, você está aqui, — disse ele, desdenhosamente.
— Me dê espaço. A cama não é toda sua, princesa.
Minhas bochechas ruborizadas com a cor. Ele foi tão
insuportavelmente mal-educado.
Eu queria retrucar, mas antes que eu pudesse abrir minha boca, ele
estava se desnudando. Primeiro, tirando os sapatos, depois jogando fora
sua camisa, finalmente, desabotoando o cinto, e...
Eu não consegui assistir a isto. Rapidamente me virei de lado,
recuando para o extremo mais distante da cama para lhe dar bastante
espaço.
Ouvi suas calças caírem e engoli em seco. Será que ele ia dormir nu ao
meu lado?
Então, ele caminhou, levantou os lençóis e foi para a cama.
Pude sentir seu peso se estendendo para o meu lado. Senti seu calor
irradiando como um forno. Ouvir sua respiração profunda e rouca,
inspirando e expirando.
Eu nunca tinha estado tão perto de um homem antes em minha vida.
Felizmente, Jaxon não disse outra palavra. Ele simplesmente virou
para a mesa lateral e desligou a lâmpada.
Agora estávamos na escuridão.
Eu sabia que não havia como eu adormecer enquanto o Alfa dormisse
ao meu lado. Se ele estivesse mesmo dormindo.
Senti um formigamento estranho nos dedos dos pés, quase como se
eles tivessem adormecido. Ele rastejou dos meus pés até as coxas até
minhas partes íntimas, fazendo-me gemer involuntariamente.
Coloquei uma mão na boca, esperando que ele não tivesse apenas
ouvido isso.
— Você está molhada e eu nem sequer lhe toquei, — rosnou ele.
Ah não. Ele definitivamente me ouviu. E agora ele estava se voltando
para mim.
Apertei minhas pernas para tentar evitar que os sucos fluíssem. O que
estava errado com meu corpo? Por que estava em guerra com minha
mente?
— Você quer que eu te toque, não é, Quinn?
— Não, — eu sussurrei. Mas meu corpo gritava, SIM!
Senti uma das pontas dos dedos dele passeando contra a carne nua da
minha perna, e tremia de alegria. Estava fazendo oitos, dançando através
de mim, me fazendo contorcer.
Tudo o que ele tinha que fazer era trazer aquele dedo mais alguns
centímetros para a esquerda, e...
— Diga-me para parar e eu vou parar. Caso contrário... — rosnou ele,
aproximando cada vez mais sua mão de minhas partes quentes.
Eu queria tanto que ele me tocasse. Eu precisava que ele me tocasse.
Quando seu dedo alcançou meu clitóris, deslizando sob minha
calcinha, pensei que poderia explodir logo ali mesmo.
Ele não o esfregou. Ele não o apertou. Ele apenas deixou o dedo lá,
me deixando ainda mais louca.
— Por favor, — eu suspirei. — Por favor, Jaxon...
— Por favor, o quê?
O bastardo ia me obrigar a dizê-lo. Implorar por isso.
Finalmente, eu me rendi.
— Por favor, me toque.
Não consegui vê-lo, mas juro que consegui ouvi-lo sorrir.
— Seu desejo é uma ordem.
Com isso, ele começou a esfregar fazendo círculos lentos em minha
tenra carne, fazendo minha mandíbula se apertar e minhas costas
arquearem.
Nenhum homem jamais havia colocado suas mãos em mim. Pensar
que este homem de todas as pessoas estava fazendo isso...
Era demais para ser assimilado.
— Por dentro, — implorei, o corpo ainda venceu a guerra contra
minha mente.
Ele fez o que lhe foi dito, deslizando um dedo em minhas partes
quentes enquanto seu polegar continuava a esfregar círculos suaves no
meu clitóris.
Eu me senti paralisada. Como se eu fosse sua prisioneira sexual.
E eu adorei cada minuto disso.
Minha mão, como se tivesse uma mente própria, alcançou-o e sentiu
a ponta de sua masculinidade maciça. Já estava molhada. Isto deve ter
sido pré-gozo.
Eu tinha lido sobre isso em um de meus livros. Eu o usava como
lubrificante, esfregando na palma da mão e o acariciando.
— Oh, meu... — ele gemeu em êxtase. — Não pare, Quinn. Não pare.
Ambos estávamos esfregando e estimulando um ao outro. Seu pau
estava crescendo tanto que continuava pressionando minha perna.
Pensar que eu podia simplesmente rolar em cima dele e ele podia entrar
em mim. Me tomar. Roubar a minha virgindade de uma vez por todas.
Seu polegar circular e seu dedo penetrante começaram a ganhar
velocidade, tirando-me o fôlego. Eu o masturbei mais rapidamente em
resposta.
— Eu quero fazer você gozar, Quinn, — rosnou ele.
Ele ia fazer. Eu queria sentir o seu calor por todo o meu corpo. Só de
pensar nisso, estava me obrigando a fazer cambalhotas na cabeça. Eu
nunca havia sido uma criatura tão sexual antes em minha vida. O que
diabos tinha me dado?
Mas eu não podia parar agora. Eu já tinha ido muito longe.
— Jaxon... — Eu exclamei. — JAXON!
Eu estava tão perto.
A represa estava prestes a romper.
O Alfa estava prestes a me fazer ter um orgasmo.
Acordei com um começo, ofegante, olhando para a esquerda e para a
direita.
Tinha sido apenas um sonho. Um sonho muito vaporoso, mas, graças
a Deus, não era real.
Mas quando olhei para cima, vi Jaxon ali parado em nada além de
suas cuecas, me encarando com prazer carnal. Será que ele sentiu o
cheiro de minha quase libertação?
— Como você dormiu ? — perguntou ele com um sorriso.
Pelo olhar de Jaxon, eu tinha a sensação de que ele estava prestes a
tornar meus sonhos uma realidade.
Capítulo 7
DIA DE TREINAMENTO
QUINN

Para minha surpresa, Jaxon mal me dirigiu uma palavra depois daquela
manhã embaraçosa. Eu havia decidido construir uma parede de
travesseiros para nos separar e, espero, desencorajar mais sonhos
indesejados.
Acho que funcionou. Ou isso, ou o cheiro de minha luxúria óbvia não
tinha excitado Jaxon, porque nas duas últimas semanas ele estava me
ignorando.
Para ser honesta, eu estava meio grata pela falta de atenção. Por mais
quente que aquele sonho sexual pudesse ter sido, eu sabia que aquele não
era o verdadeiro Jaxon. Essa era a versão dos sonhos que eu mesmo havia
criado para me agradar.
Ele nunca seria tão encantador na vida real, eu aposto.
Não, de tudo o que eu podia dizer sobre Alfa Jaxon, ele só se
importava consigo mesmo.
— Foco, Quinn!
Eu pestanejei, tentando tirar minha mente do misterioso Alfa e voltar
ao jogo.
Sky estava ocupada me treinando sobre como me preparar para
minhas novas habilidades de lobisomem.
Ainda era estranho, acostumar-me a estar de quatro, aprender a abrir
corretamente minhas narinas para permitir a entrada de aromas
completos, sentir minhas gengivas começarem a se retrair em
antecipação aos caninos.
Obviamente, nada disto realmente faria efeito até que eu mudasse
pela primeira vez. Mas eu apreciei a ajuda da Sky de qualquer maneira.
— Você está pensando nele de novo, não está? — perguntou ela,
sorrindo.
— Eu não posso evitar, — suspirei. — O homem dorme na mesma
cama que eu e nem sequer diz uma palavra. É tão esquisito.
— Ele pode ser tímido, eu acho, — disse a Sky.
Alex se aproximou e me atirou um pedaço de pão.
— Não se esqueça de alimentar a pobre garota, mana.
— Vá embora, Alex, — disse Sky. — Ele está sempre tentando roubar
o meu momento.
Eu ri. Os gêmeos tinham me conquistado muito desde que eu tinha
chegado. Eles eram a coisa mais próxima que eu tinha de amigos aqui.
Atrás de Alex, notei uma garota que eu tinha visto por perto, mas que
mal dizia uma palavra. Ela estava em seu próprio mundo, treinando
ferozmente, socando sacos de areia e saltando no meio do ar.
Ela me impressionou e me intimidou ao mesmo tempo.
— Quem é essa? — eu perguntei.
— Você ainda não conheceu Harper? — Alex respondeu, surpreso. —
Ela é a nossa valentona residente. — É um pouco reservada na maioria
das vezes. Mas ela é um ótimo membro da alcateia.
Eu estava curiosa porque ela lutava com tanta intensidade contra
esses inimigos invisíveis ao seu redor. Sky deve ter notado o olhar em
meu rosto porque ela falou em voz baixa.
— Ela teve uma entrada mais difícil do que a maioria de nós no
bando. É uma longa história, e não é minha para contar. — Mas... ela
estava em outra alcateia antes da nossa. — E eu não sei o que aconteceu.
Mas ela nunca fala sobre isso.
Eu me perguntava que tipo de tragédia havia acontecido com ela.
Aqui eu pensava que minha vida era dura, sendo mordida e arrastada
para este mundo desconhecido. Mas claramente eu tinha muito mais a
aprender sobre as pessoas ao meu redor.
— Vamos, de volta ao treinamento! — disse Sky, batendo palmas.
Enfiei o resto do pão na minha boca e vi Alex se afastar, rindo.
— A este ritmo, ela vai mudar antes da próxima lua cheia!
— É essa a ideia, Alex, — disse Sky. — Então, ela estará pronta para a
cerimônia a tempo.
— Que cerimônia? — eu perguntei. Mas Sky fechou sua boca. Ela
claramente tinha falado demais.
Agora, eu estava ainda mais curiosa. Mas eu estava me dedicando
totalmente no treinamento para outro propósito inteiramente.
Uma vez que me transformasse, pretendia sair daqui, usando meus
novos poderes de lobo para correr o mais rápido possível.
Possível sendo a palavra-chave.
Se eu me afastasse demais, então a ligação entre Jaxon e eu começaria
a me machucar novamente. Então, eu teria que ficar dentro de um raio
confortável, eu pensei.
Ugh!
Isto era confuso como o inferno. Talvez eu pudesse viver nos
arredores do castelo, fugindo de esconderijo para esconderijo. Não
parecia ser a melhor vida, mas certamente seria melhor do que dormir ao
lado daquele idiota silencioso noite após noite.
Sky ergueu o alvo, e eu golpeei, fingindo que era o rosto de Jaxon.
— Boa! — Sky disse enquanto meu punho fazia contato.
Eu sorri. Se ao menos eu pudesse dar um soco no Alfa na vida real...
JAXON

Eu a observei enquanto ela treinava, impressionado com seu progresso.


Ela era uma garota de grande talento, esta Quinn.
Eu não gostava de manter minha distância, de ficar quieto por aqui —
mas sentia que não tinha escolha.
No que me dizia respeito, esta relação tinha que ser mantida
puramente profissional. Tratava-se dos melhores interesses do bando e
nada mais. Não é o que meu corpo desejava. Não o que meu coração
desejava. Eu já havia passado por esse caminho antes e ele me havia
deixado dilacerado.
Deus, eu odiei ser tão impotente para sentir todas as coisas.
O romance não era para um homem como eu. O Alfa.
E nunca funcionaria entre a Quinn e eu — disso eu estava certo.
Então, eu simplesmente a observei e me preparei para a próxima
cerimônia, sabendo que mais cedo ou mais tarde, eu teria que dar a
notícia para ela.
Raphael se aproximou de mim enquanto eu estava de pé acima do
pátio, parecendo exasperado.
— Alfa, — disse ele. — Não quero continuar incomodando você com
perguntas, mas devo trabalhar com a Luna de perto, e...
— Eu sei, Raphael, — disse eu, interrompendo-o. — Eu vou cuidar
disso esta noite. Você terá tudo o que precisa para se preparar para a
cerimônia.
— Obrigado, meu Alfa, — disse Raphael, acenando com a cabeça e me
deixando em paz.
Eu não queria abordar o assunto tão cedo, mas sabia que não tinha
escolha. Hoje à noite, quando Quinn entrasse no quarto, eu lhe diria o
que deve ser feito.
Só de pensar na Quinn em sua pequena roupa íntima, deitada ao meu
lado, me fez ficar duro. Ainda conseguia me lembrar do distinto aroma
de madressilva de seus sucos enquanto ela fantasiava em seu sono.
Era sobre mim, eu me perguntava? Pensar que eu poderia
simplesmente rolar através daquela estúpida barreira de travesseiros dela
e, em segundos, tornar seus sonhos uma realidade.
Eu queria muito ter um gostinho dela.
Mas não era isso que eu precisava fazer, eu me lembrei. Ficar forte.
Faça seu trabalho. Mantenha platônico.
Como ela iria reagir às notícias não me preocupava.
Ela tinha um trabalho, e um único trabalho: fazer o que eu digo.
Com esse pensamento em mente, deixei Quinn para completar seu
treinamento do dia. Eu a veria em breve.
QUINN

Tomei banho, sentindo-me como um milhão de dólares enquanto a água


quente me limpava do esforço do dia. Saí do quarto sem nada mais que
uma toalha, pensando que estava sozinha, quando ouvi sua voz baixa e
estridente e pulei.
— Já não era sem tempo, — ele rosnou. — Pensei que nunca mais
sairia de lá.
— Então, — eu disse, virando-me para ver Jaxon ali parado, me
olhando de cima a baixo. — Ele fala. O que você quer?
Eu odiava estar tão exposta agora, gotas de água ainda escorriam em
meu corpo nu. Isso me colocou imediatamente em uma posição
defensiva.
— Você precisa aprender a falar adequadamente com seu Alfa, —
respondeu Jaxon, seu lábio contraído. — Não é algo que uma dama faria.
— Isso é engraçado vindo de alguém que nunca sequer abre sua boca!
Além disso, quem é você para me dizer o que é e o que não é uma dama?
Ele deu um passo ameaçador em minha direção, e eu quase deixei cair
a toalha. Seus olhos se iluminaram com isso, famintos pelo que estava
embaixo.
Mas de jeito nenhum eu ia dar uma olhada nele.
Eu não pertencia a ele, não importava o que ele pensasse.
— Eu teria pensado, — disse ele, — de todo seu treinamento, você
poderia ter pegado uma coisa ou duas da Sky.
— Nós treinamos como lutar, não como reverenciar. Para sua
informação.
— Para sua informação, — disse ele em resposta, — Estou aqui apenas
como uma formalidade. Se dependesse de mim, estaríamos muito
distantes, e alguém mais transmitiria esta mensagem.
— O sentimento é mútuo, — eu cuspi.
Mas agora, tive que admitir, eu estava curiosa. Que mensagem? Tinha
a sensação de que o que quer que fosse, não poderia ser bom. Ele não
parecia gostar de ter que ser ele mesmo a anunciá-la. Então, o que eu ia
pensar?
Antes que eu pudesse acompanhar, ele olhou para o lado, quase
desinteressado.
— Amanhã, haverá uma pequena cerimônia dentro do bando,
estabelecendo você como minha Luna. Você não tem escolha no assunto.
Estamos unidos quer queiramos quer não. Está na hora de começarmos a
agir como tal.
Sua. Não há escolha. Agir como tal.
O bastardo não conseguiria ter amarrado juntas uma combinação de
palavras piores se tentasse.
— Você está brincando comigo?! — eu gritei. — Nós não nos
conhecemos. Nós não falamos. Por que, em qualquer mundo, eu iria
querer ser sua Luna?
— Como eu disse, — ele rosnou. — Você não tem escolha. Ou você se
atreve a me desafiar?
Eu me perguntava o que aconteceria se eu o fizesse. Será que ele me
arrancaria esta toalha e me tomaria ali mesmo na cama?
Por que foi a primeira coisa que minha mente estava pensando? Por
que era isso que meu corpo queria que ele fizesse?
— Amanhã, — repetiu ele. — Se você não estiver na cerimônia, eu a
arrastarei pelos cabelos.
Com isso, ele se virou, saiu e bateu à porta atrás dele.
Nossa, Alfa Jaxon, eu pensei. Você sabe mesmo como encantar uma
garota.
Capítulo 8
A CERIMÔNIA DE ACASALAMENTO
Quinn: Por que você não me falou sobre a
cerimônia, Sky?!

Quinn: Não posso acreditar que você me


treinou e deixou isso de fora.

Sky: Eu queria!

Sky: Mas eu não senti que fosse o meu


lugar.

Quinn: Eu não sei como vou passar por isto.

Sky: Não é tão ruim assim, você vai ver!

Sky: Você até pode usar um lindo vestido…


😉 ;)
Quinn: 🙄 (emoji revirando os olhos)

Quinn: Soa como um sonho.

Certo, eu tive que dar o braço a torcer à Sky — o vestido era lindo.
Um vestido de cetim branco etéreo com um xale para combinar... a
coisa parecia mais tapete vermelho do que uma cerimônia de
acasalamento, mas eu não estava reclamando. Acentuou todas as minhas
curvas perfeitamente.
Quando eu saí para Sky me ver, sua boca quase bateu no chão.
— Caramba, Quinn, — disse ela. — Você se parece... tanto com uma
Luna.
— Essa é a ideia, — disse eu, lembrando que isto não era apenas um
vestido divertido.
Hoje à noite, esperava-se que eu estivesse na frente de todo o bando e
fosse oficialmente recebida como sua Luna.
Ou, para ser mais precisa, como a Luna do Jaxon. Eu odiava a ideia de
estar ligada a ele dessa maneira. Depois da maneira como ele havia falado
comigo na noite anterior.
A noite toda, eu tinha virado na cama, tensão, esperando que ele
deitasse na cama ao meu lado. Mas ele nunca veio.
Eu me perguntava se ele tinha a cama de outra garota para mantê-lo
aquecido e me senti arrepiada.
A ideia me causou ciúmes... o que foi uma loucura, porque eu não
queria ter nada a ver com ele. Então, por que eu estava me sentindo
assim?!
Eu caí e me sentei, enquanto a Sky se sentava ao meu lado e pegava
minha mão.
— Vai ficar tudo bem, Quinn, — disse ela, tentando me tranquilizar.
— Você vai ver. Assim que vocês dois estiverem oficialmente acasalados,
tenho a sensação de que tudo vai mudar.
— Quem me dera ter seu otimismo, — disse eu. — Mas você não ouve
como ele fala comigo.
Sky olhou para o lado, perdida em seus pensamentos.
— Talvez ele esteja apenas... confuso. Você já considerou isso? Aqui
está você, uma completa estranha, e espera-se que ele acasale com você
por quê? Biologia. É muito para exigir de uma pessoa. Até mesmo um
Alfa.
É melhor que seja a única coisa que ele espera exigir, eu pensei.
Mas, ao mesmo tempo, eu não havia parado para considerar os
sentimentos de Jaxon em relação a tudo isso.
Eu me vi franzindo a testa. Eu estava sendo egoísta? Agora que eu
estava me tornando um lobisomem e meu destino como Luna desta
matilha estava selado, talvez estivesse na hora de encarar e ser madura.
— Tudo bem, — eu disse finalmente. — Vamos fazer isto.
Sky quase gritou de alegria quando nos levantamos e nos
aproximamos da escadaria. Mas eu sabia que as borboletas no meu
estômago não iam a lugar algum.

Quando saímos para o vigia do castelo, fiquei chocada ao ver que ele
havia sido decorado com milhares de flores e luzes cintilantes. Parecia
um conto de fadas.
O sol estava se pondo e, abaixo, todos os membros do grupo se
reuniram para assistir ao que certamente seria uma cerimônia magnífica.
Fiquei surpresa ao ver que ninguém da família de Jaxon estava lá. Ele
tinha pais ou irmãos? Além dos membros de sua matilha, Jaxon estava
completamente sozinho neste mundo?
Eu o vi de pé no centro da muralha da casa, esperando por mim.
Minha respiração quase me pegou na garganta.
Ele estava usando um terno que parecia antiquado e moderno ao
mesmo tempo. Eu nunca o havia visto tão bem vestido e... maldição.
O homem certamente se arrumou muito bem.
Se ao menos sua expressão facial fosse tão agradável quanto seu traje.
Ele já estava carrancudo, como se este fosse o pior cenário possível em
que ele poderia estar.
Um ancião estava ali, segurando algum tipo de livro estranho. Não era
uma Bíblia, mas parecia velha e empoeirada e acrescentava toda a
vibração de casamento do evento.
Voltei-me para a Sky, nervosa.
— Não tenho certeza se posso fazer isto.
— Você pode! Você vai ficar bem!
Finalmente, os olhos de Jaxon se viraram e encontraram os meus, e
quando ele viu como eu estava vestida, sua expressão mudou.
Não consegui entender o que ele estava sentindo, mas ele não parecia
tão idiota, isso é certo.
Finalmente cheguei a um impasse, a apenas um pé de distância dele.
— Você parece... — ele começou.
Ele estava prestes a me elogiar?
— Uma dama, — ele terminou, tossindo. — Estou feliz que a Sky
tenha feito seu trabalho.
Idiota.
— Você também tem um ar de cavalheiro. É bom que ninguém
consiga ver seu verdadeiro eu.
Pensei que ele iria franzir a testa ou arrancar minha cabeça, mas em
vez disso, o canto da boca dele se torceu, quase como se ele estivesse se
divertindo.
— Vamos, — disse ele. — Vamos acabar com isto.
Com isso, nós voltamos para encarar o ancião da alcateia. Eu respirei
fundo. Este era o momento em que eu deixaria de ser uma zé-ninguém
para ser a Luna da alcateia.
Eu me perguntava se a Sky estava certa. Será que depois eu me
sentiria diferente em relação ao Jaxon?
Resposta curta: NÃO.
Quando a cerimônia de acasalamento foi concluída, e os membros do
grupo aplaudiram e o sol se pôs oficialmente, descemos e nos juntamos a
uma festa comemorativa.
Havia aperitivos, bebidas e um estado geral de folia no ar que deveria
ter me feito sentir grande. Mas todas as pessoas dizendo: "Parabéns!" e,
"Bem-vinda!" não podiam esconder o fato de que no segundo em que a
cerimônia terminou, Jaxon se afastou como se eu não significasse nada
para ele.
Depois de duas bebidas com a Sky, eu o via falando de negócios com
seu Beta, e podia sentir minha raiva crescer.
Ele não poderia ao menos ter feito uma bela declaração? Uma coisa
para aliviar a dor de ter que ser acasalada para o resto da minha vida?
— Uh-oh, — disse Sky, vendo minha expressão. — Talvez devêssemos
retardar estas bebidas?
— Estou bem, — disse eu, terminando o champanhe em um só gole.
— Ele é o único que não está.
Um garçom passou e eu peguei outra taça de champanhe. Eu nunca
havia bebido álcool de verdade antes, por isso já o sentia subir à minha
cabeça.
Mas eu precisava dessa folga agora mesmo.
Eu ia confrontá-lo. Meu Alfa.
Chega de tratamento de silêncio. Chega de ser um idiota.
Se eu fosse sua Luna, era melhor que ele começasse a agir como tal.
— Espere, Quinn! — Sky disse enquanto eu começava a caminhar em
sua direção.
Mas eu estava cansada de esperar e de ser paciente. Eu me aproximei
de seu rosto.
— Qual é o seu problema, Jaxon? Honestamente?
Ele olhou para a taça de champanhe na minha mão, depois voltou
para os meus olhos.
— Não faça uma cena. Você está bêbada.
— Não estou, na verdade, — disse eu, sem me arrastar, graças a Deus.
— Estou apenas me defendendo. Sei que isso é um conceito estrangeiro
para você, mas você precisa me tratar como seu igual agora, se quiser que
isto funcione.
— Meu igual? Não seja ridícula. Você nem mesmo se transformou
ainda. E quem você pensa que é para me dar ordens?
— Novidades, Alfa. Acabei de ser feita a Luna, o que significa que
posso dizer exatamente o que você precisa ouvir. Isso é o que os
companheiros fazem.
Um par de pessoas começou a virar a cabeça, notando a natureza
aquecida de nossa conversa. Estava ficando tenso.
Ele colocou uma mão no meu ombro, tentando me acalmar.
— Certo, por que não continuamos isto...
— NÃO! — Eu gritei, e agora cada cabeça girava para olhar para mim.
— Não serei mais ignorada. Ou você me respeita, ou eu estou fora!
— Quinn, — ele rosnava ameaçadoramente. — Você está
desrespeitando minha autoridade como Alfa na frente de toda a matilha.
Pare. Agora mesmo.
— Ou o quê?
Meus olhos estavam loucos. Minha mão estava agarrando a taça de
champanhe com tanta força que eu me perguntava se ela se partiria na
minha mão.
Eu pude sentir todo o treinamento da Sky culminando em uma briga
com o Alfa bem aqui, na frente de todos.
— Está bem, — sussurrou ele, — Eu a respeitarei. Quando você
estiver sóbria, poderemos discutir com mais detalhes. Por enquanto, vá
tomar um pouco de água.
Com isso, ele se virou e pegou o braço de seu Beta, afastando-se.
Eu não sabia se queria jogar meu copo na cabeça dele ou explodir em
lágrimas. Ao invés disso, eu me virei e me desviei, ignorando os olhares
de todos.
Tudo o que eu queria agora era voltar a ser uma zé-ninguém, vivendo
na casa de campo da minha mãe. Não a Luna. Não a de Jaxon. De Jaxon.
Nada.

Encontrei um canto tranquilo do terreno para terminar meu champanhe


e continuar sentindo pena de mim mesma quando ouvi uma voz
inesperada atrás de mim.
— Quinn, certo?
Eu me virei, surpresa ao ver que era Harper, a garota quieta que eu
havia observado ferozmente no treinamento. O que ela poderia querer de
mim?
— Você se importa se eu me juntar a você?
— Por favor, — disse eu, gesticulando para o banco onde eu estava
sentada. — Não que esta noite possa ficar pior.
Harper sentou-se ao meu lado e fitou a floresta densa ao nosso redor.
Ela tinha uma força tranquila que eu achei fascinante, e estranha, e
totalmente diferente de mim.
— Achei que você deveria saber, — disse ela, — Sky provavelmente
não mencionou isto. Isso vai contra os estatutos da alcateia. Mas eu não
sou desta alcateia, por isso não vejo necessidade de escondê-lo.
— Esconder o quê?
Sentime como se estivesse prestes a saber um segredo enorme e
terrível.
Harper suspirou.
— Eu vi como você estava com Alfa Jaxon. Se não for correto para
você, você deve saber... é possível. Possível cortar a ligação.
— O quê? — Eu perguntei, chocada. — Você quer dizer...?
— Você pode rejeitar seu cônjuge. Você pode deixar este bando. Você
só tem que ter certeza. Você tem certeza, Quinn?
Eu fiquei incrédula. Há momentos atrás, eu teria feito qualquer coisa
para sair daqui para fora. Mas agora que era realmente possível, eu tinha
que me olhar no espelho de uma maneira longa e dura.
Será que eu realmente queria me despedir da Jaxon para sempre?
Capítulo 9
DIGA SIM
QUINN

Fui recebida com elogios e adoração ao voltar para a casa. Sentime mais
bem recebida do que nunca, mas agora estava igualmente dividida sobre
o que fazer.
Eu tinha o poder de rejeitar meu companheiro.
Apesar da cerimônia exagerada que solidificou nossa união, eu
poderia sair a qualquer momento. Era tudo o que eu sempre quis desde
que cheguei aqui.
Toda a ideia de ter um companheiro predestinado soava mal de
qualquer forma. Como um casamento pré-estabelecido onde nenhum
dos cônjuges tinha uma palavra a dizer sobre o assunto.
Esta não era a Inglaterra vitoriana do século XIX. Eu não queria
passar o resto de minha vida acorrentada a alguém que não me
respeitasse ou gostasse de mim. Nem queria estar com um idiota rude e
arrogante que era intolerável de estar por perto.
Oh Deus! Jaxon é meu 'Sr. Darcy'?
Eu nunca mais leria Jane Austen outra vez.
Tudo isso dito, eu ainda me senti ligada ao bando. Ser Luna me deu
um propósito — um papel que eles queriam tão desesperadamente. E
acho que era algo que eu também queria.
Ao contrário de casa, o Bando Sombra da Lua era amável e receptivo.
Eles pareciam genuinamente felizes por eu estar aqui.
Não que minha mãe não me amasse, mas sua obsessão em me abrigar
do mundo exterior era exaustiva. Parecia que eu estava encarcerada.
E a última coisa que eu queria era saltar de uma cadeia para a outra.
Eu não era prisioneira de alguém, e me recusei a ser tratada como tal.
Pensar na minha situação estava fazendo minha cabeça girar. Ou
talvez fosse apenas o champanhe. De qualquer forma, eu não podia
deixar que estes sentimentos se instalassem e apodrecessem. Isso me
deixaria louca.
Eu tinha que tomar uma decisão. Jaxon tinha que tomar uma decisão.
Assim, em vez de entrar de novo na recepção e dar-lhe um ultimato
na frente de todos — o que me soou muito bem agora que pensei nisso
— decidi esperar pelo momento certo quando estivéssemos em
particular para que pudéssemos ter uma boa discussão civilizada.

Eu vi o Jaxon engasgar-se com um pedaço de bife.


Demorou um minuto, mas ele acabou conseguindo tossir de volta.
— Mas que porra?! — respondeu ele.
Decidi contar a ele o que Harper disse na manhã seguinte, quando o
encontrei sozinho na cozinha tomando o café da manhã.
Não preciso dizer, ele não ficou particularmente entusiasmado com a
ideia.
— Rejeição? Onde diabos você ouviu isso? Quem lhe disse? — ele
rosnou.
— A melhor pergunta é, por que você não me disse? — Eu respondi
para ele.
Ele se virou.
— Eu tinha o direito de saber, mas você e todos os outros fizeram
parecer que eu não tinha escolha. Como isso é justo?
— Você tem tido um pé fora da porta desde que chegou aqui. Você
está francamente surpresa com minha relutância em lhe dizer?
— Relutância? Você me escondeu isso.
— Bem, agora você sabe.
Jaxon cortou sua carne em porções muito menores e continuou
comendo. Ele estava tentando me ignorar, então eu me sentei na frente
dele.
— Eu não precisava dizer nada para você, sabe? Eu poderia
simplesmente ter passado pelas moções para quebrar o vínculo e ter
saído pela porta. Mas eu não o fiz. Estou aqui para lhe dar a escolha que
você nunca me deu.
Isso chamou sua atenção. Ele parecia estar ferido.
— Porque você se preocupa comigo. Você ficou por causa do vínculo
de acasalamento. Se você continuar me rejeitando, você sabe que isso vai
me machucar muito.
Fiquei sem palavras.
Se eu me importava com ele? Claro, eu ainda tenho esses estranhos
impulsos sexuais sempre que estava perto dele, mas luxúria não é o
mesmo que amor... não é?
E se o que ele disse era verdade sobre feri-lo, isso significava que ele
tinha sentimentos secretos por mim?
— Estou disposta a dar uma oportunidade a esta relação, por isso
você precisa escolher se quer ou não também. A decisão cabe a você, —
disse eu, antes de seguir em direção à porta.
— Espere... Onde você está indo? — perguntou ele, seguindo atrás de
mim. — Você não pode simplesmente dizer algo assim e ir embora!
Eu me voltei para ele.
— Eu sou a Luna agora, lembra-se? O que significa que agora eu
tenho responsabilidades a cumprir.
— Responsabilidades? Quais responsabilidades? — ele ridicularizou.
— Se você está tão interessado em minhas atividades cotidianas,
então você precisa reavaliar suas prioridades de relacionamento, — disse
eu, continuando em direção à saída.
— Espere, pare! — Ele pegou meu braço, mas eu me afastei dele.
— Não me agarre! Toque-me assim novamente, e eu tomarei a
decisão por você!
Eu bati a porta atrás de mim quando saí.
JAXON
— Por aqui, — Alex me chamou enquanto me conduzia através da
floresta. Estava começando a chover, o que tornava o solo muito mais
traiçoeiro, para meu aborrecimento.
— Quanto falta? — perguntei, seguindo atrás.
— Não muito longe, — respondeu ele.
Parecia que estávamos caminhando há mais de uma hora. Com a
ameaça da Quinn de me rejeitar, eu precisava de algo que me tirasse a
mente de nossa situação. No entanto, isto estava se revelando mais
desagradável do que eu esperava.
— Então, você quer falar sobre o que aconteceu com Quinn? —
perguntou Alex.
Droga.
— Na verdade não, — respondi.
— Vamos, — ele disse, — Eu sei que algo está em sua mente.
— O que há para dizer? Ela me desrespeitou ao me acusar de
desrespeitá-la diante de toda a matilha. E agora a putinha está
ameaçando rejeitar nossa ligação.
Alex se virou para mim com uma expressão séria no rosto. Seus olhos
me diziam: — Isso não é maneira de falar de sua Luna.
E ele estava certo.
Eu estava ultrapassando os limites.
— Você já se perguntou por que ela se sente assim ? — perguntou ele
enquanto continuávamos a caminhar.
— Não é óbvio? Ela é uma filha única e mimada que está acostumada
a conseguir tudo o que quer, — declarei.
— Será...? Tem certeza de que não está falando de outra pessoa? —
disse ele, arqueando a sobrancelha.
— Mas eu sou o Alfa...
— E ela é a Luna! O respeito é uma via de mão dupla. Experimente e
veja o que acontece.
Eu suspirei. Ele provavelmente estava certo. Novamente. Como
sempre.
Foi em momentos como este que eu realmente detestei tê-lo como
meu Beta. Parecia que eu estava recebendo conselhos de um irmão mais
velho — pelo menos, era como eu me sentia. Nunca tive nenhum irmão,
embora sempre me sentisse como se tivesse em algum lugar por aí.
— Vamos lá, — acenou ele, — está bem aqui.
Subimos um pequeno morro e nos encontramos na margem de um
riacho. Alex apontou para um conjunto de pegadas na lama.
Desabotoei minha camisa e mudei meu tronco superior para um
lobisomem. Meus ossos racharam, mas eu estava bem acostumado com a
dor.
Uma vez completo, usei meus olhos de lobo para dar uma olhada
mais de perto.
Havia vários conjuntos de faixas que eu não reconhecia. Um grupo
tinha passado por aqui recentemente. Não recebíamos visitantes em
nosso território com muita frequência sem que soubéssemos. Isto era
estranho.
Abaixei meu focinho e segui as pegadas por pouco tempo, mas não
reconheci nada.
Incapaz de determinar a identidade das pegadas, voltei atrás.
— Alguma coisa? — perguntou Alex.
Eu balancei a cabeça.
— Pelo menos, ninguém que eu conheça, — respondi.
— Acha que temos um 'malfeitor'?
Malfeitores... Os lobisomens enlouqueceriam. Nas últimas semanas,
houve um aumento nos avistamentos. Só de pensar neles, meus cabelos
ficaram de pé.
— Se é um malfeitor, há mais de um, — respondi, o que também foi
muito preocupante. Malfeitores eram tipicamente criaturas solitárias e
suficientemente perigosas por si só... mas um grupo deles? Eu nem queria
pensar sobre isso.
— O que você quer fazer?
Pensei sobre isso por um momento e fiquei surpreso quando uma
onda esmagadora de desejo me inundou. Eu me fixei em uma coisa, e só
em uma coisa.
Mantenha Quinn segura.
Eu nem gostava dela, mas não conseguia tirá-la da minha cabeça.
— Dupliquem as patrulhas, — ordenei, — precisamos de mais olhos
no chão. E vamos melhorar as defesas do castelo.
Posso ter exagerado na minha reação, mas não quis correr nenhum
risco. Especialmente com Quinn, em quem eu não conseguia parar de
pensar.
Será que eu me importava mais com ela do que imaginava?
Quanto mais a via como minha Luna, mais ela se sentia bem.
Antes que eu soubesse, deixei Alex para trás e estava voltando para o
castelo.
Eu tinha que saber que ela estava bem.
QUINN

Se eu fosse ser Luna, eu queria fazer a minha parte. Raphael recomendou


que eu verificasse o berçário quando ele soube que eu lia para as crianças
na biblioteca local.
Parecia um bom lugar para começar, então nos apressamos pela
chuva até chegar a um par de portas brilhantes e coloridas que levavam
ao centro.
Quando entramos, fomos saudados por um coro de vozes infantis
entre dois e dez anos de idade. Para uma sala cheia de trinta ou mais
crianças, elas estavam se comportando muito bem.
A própria sala estava repleta de quadros e várias artes das crianças.
Tinha uma área espaçosa para brincar, uma área para comer ao lado e
uma cozinha na parte de trás para preparar os alimentos.
Uma jovem de cabelos ruivos caminhou até nós. Os olhos dela
estavam voltados exclusivamente para mim.
— Olá, Luna, — ela saudou friamente. — Meu nome é Zara, a
professora principal do berçário. É um prazer finalmente conhecê-la. —
Havia algo desonesto em seu tom.
— Igualmente, — respondi.
Um silêncio incômodo caiu entre nós.
Raphael interveio.
— A Luna quer se envolver mais com a matilha e queria ajudar da
maneira que pudesse.
Ela hesitou.
— Aqui? Oh... Claro que sim, — disse ela relutantemente, — por aqui.
— Então, nós seguimos.
Ela então chamou todas as crianças para o tapete e me apresentou
como sua Luna.
No início, as crianças me olhavam com olhos largos, inseguros de
como responder, mas não demorou muito para que elas me aceitassem
no grupo.
Logo, eu estava lendo histórias, ajudando em projetos de arte,
amarrando sapatos, trançando cabelos... Até troquei algumas fraldas
fedorentas, o que era novidade para mim.
Eu estava começando a me divertir.
Em suma, tudo parecia estar indo bem. Entretanto, quase sempre que
eu e Zara fazíamos contato visual, eu a pegava me dando o olhar mal
cheiroso.
Sério, qual o problema com essa garota?
— Luna, você tem uma visita, — disse a Sra. Olhar fedorento, me
surpreendendo com um projeto de pintura com os dedos.
Quando olhei, vi Jaxon de pé na porta. Ele estava completamente
molhado.
Ele não entrou, então eu fui lá fora e fiquei debaixo do toldo com ele.
— Eu... eu não queria interromper, — disse ele, tropeçando em suas
palavras.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei com desconfiança.
— Não vá.
— Sinto muito?
— Eu disse, não vá embora.
— Isso é uma ordem?
— Não, um pedido. Eu quero que você fique. Quero fazer o que quer
que seja isto funcione... Isto é... se você me permitir, — disse ele nervoso,
lábios tremendo um pouco.
Era difícil dizer se ele era sério ou não, mas ouvir essas palavras me
fez ansiar instantaneamente pelo seu toque. Eu queria passar minhas
mãos por todo o corpo dele e sentir suas mãos por todo o meu.
O desejo aquecido estava implorando para ser liberado... mas eu me
abstive.
Afinal de contas, havia crianças por perto. Mas, mais tarde, quando
estávamos sozinhos, poderia ser uma história completamente diferente.
Quinn! O que há de errado com você? Controle-se!
Rapidamente coloquei esses pensamentos de lado e respondi
indiferentemente: — Ok.
Capítulo 10
SONHO DE LOBOS
QUINN

O vento rasgava meu vestido e minha pele enquanto eu caminhava pelo


ar frio da noite. As nuvens mascaravam a lua, mergulhando meu mundo
na escuridão.
Eu mal conseguia ver um metro e meio à minha frente. Eu não sabia
para onde ia, mas estava correndo pela floresta, voando pelas árvores,
esquivando-me de raízes traiçoeiras.
Senti as folhas molhadas sob meus pés descalços esborrachando na
lama da chuva. Em qualquer outra ocasião, eu teria apreciado o cheiro da
água caindo do céu, mas não nesta noite.
Hoje à noite, eu estava sendo perseguida.
Através do som constante de gotas de chuva que se espalhavam
repetidamente ao redor, eu podia ouvir passos galopantes não muito
atrás.
E eles estavam se aproximando. O que quer que estivesse atrás de
mim, corria de quatro. Eu podia ouvi-lo ofegante.
Eu tropecei em um tronco de árvore caído, mas voltei a me levantar e
continuei correndo. Minha mordida de lobisomem começava a latejar,
mas tive que lutar e ignorar a dor.
Fiquei entorpecida com isso.
AR-ROOO-OOO!
Um uivo rugiu durante a noite. Estava mais perto do que eu
imaginava.
Eu tinha que fazer algo rápido.
Enquanto eu continuava, meus pés ficaram imersos em água gelada
que subia até minhas canelas. Eu tinha passado por um riacho, o que me
deu uma ideia.
Ao invés de cruzá-lo, eu continuaria rio acima para esconder meu
cheiro. Eu não sabia se ia funcionar, mas tinha que tentar.
As rochas subaquáticas estavam escorregadias e eu quase perdi o
equilíbrio mais de uma vez pisando nelas. As corredeiras rasas próximas
ajudaram a mascarar os salpicos que eu estava fazendo.
Estava funcionando? Eu parei para ouvir.
AR-ROOO-OOO!
O uivo parecia mais distante do que antes, quase em desespero, mas
eu continuei. Entretanto, quanto mais eu ia, mais fria ficavam minhas
pernas. A picada aguda da água gelada começava a queimar meus
membros.
Eu tinha que sair.
Então, atravessei para o outro lado e comecei a correr mais uma vez
pela floresta.
— Onde estou?
Até onde eu fui?
Como cheguei até aqui? Nem me lembrava de ter saído da casa do
bando.
Eu não podia deixar que essas perguntas me assombrassem. Tudo o
que eu sabia era que algo — alguém — estava atrás de mim, e eu tinha
que fugir.
AR-ROOO-OOO!
Havia um ar de excitação no grito desta vez, ele havia captado meu
cheiro!
— Merda!
Corri ainda mais rápido.
Por que eu estava sozinha? Onde estava Jaxon?
Cheguei ao lado íngreme de uma colina. De cada lado de mim havia
faces de penhascos, e atrás... o que quer que estivesse me perseguindo.
A escalada era minha única opção.
Eu me puxei para cima de uma pedra próxima e me escalei para outra.
Eu podia sentir as bordas da pedra cortando em meus pés macios, mas
não conseguia parar.
Eu tinha que continuar e continuar para cima.
Pensei que talvez se eu chegasse alto o suficiente, eu poderia enganá-
lo, mas rapidamente percebi que os salpicos de sangue que deixei para
trás eram simplesmente migalhas de pão para que ele me seguisse.
Ouvi o movimento da moita abaixo.
Eu sabia que não deveria olhar para baixo, mas não consegui evitar.
Lá, bem abaixo, vi uma grande figura sombria emergir da floresta. Seus
olhos vermelhos, brilhantes, olhavam em volta freneticamente até que
olharam na minha direção.
AR-ROOO-OOO!
— Ele me viu! Ele correu para as rochas abaixo e começou a se agarrar
a mim. Eu podia ouvir suas garras arranharem e rasgarem na superfície
rochosa enquanto ele se erguia para cima.
Estava ganhando de mim — apressadamente.
Depois de muito esforço, finalmente cheguei ao topo. Meus músculos
estavam exaustos. Eu queria cair no chão, mas tinha que continuar.
Quando me dirigi para a linha das árvores, ouvi a besta alcançar o
topo. Ele estava bem atrás de mim.
A criatura rugiu para mim, avisando-me para não ir mais longe.
Eu congelei.
Ouvi seus pesados passos se aproximarem lentamente.
Voltei-me para ver um monstro gigante, parecido com um lobo, que
pairava diante de mim. Suas feições horríveis rosnaram e latiram. Ouvi
então os ossos racharem e estalarem ao se deslocar parcialmente para a
forma humana para que pudesse ficar de pé sobre dois pés.
— Quinn, — disse a criatura, — tenho andado à sua procura há muito
tempo.
Dei um passo para trás, mas ele me agarrou por seus braços
poderosos e correu em direção ao penhasco. Senti meu estômago na
garganta enquanto ele saltava pela encosta do morro, limitando-se de
uma rocha para a outra com facilidade.
Eu agarrei seu pelo. Não me atrevi a soltar.
Quando chegamos ao fundo, ele me pôs no chão. Eu não poderia ficar
de pé mesmo que quisesse. Meu corpo estava muito cansado.
Quando a luz da lua começou a perfurar através das nuvens, foi
revelando melhor o meu captor. Eu o assisti voltar completamente à
forma humana.
Ele estava nu, um enorme casco de músculos. Uma cicatriz
desagradável corria pelo lado esquerdo do rosto.
Ele também teve uma enorme ereção, o que ouvi dizer que às vezes
acontecia após a transformação. Eu nunca tinha visto uma na vida real
antes. Se eu não estivesse tão aterrorizada com minha situação, eu teria
ficado impressionada com seu tamanho.
Ele veio em minha direção.
— Não me toque! — Eu disse, apertando minhas pernas.
Ele riu.
— Eu não vou me forçar em você, se é isso que você está pensando, —
sua voz profunda roncava, — a menos que você esteja morrendo de
vontade de saber qual é a sensação.
— Fique longe de mim!
Ele inclinou a cabeça e me olhou com curiosidade. Ele zombou:
— Você não é meu tipo, de qualquer forma... muito magra. Eu gosto
de uma mulher com carne nos ossos.
— Quem é você? O que você quer?
— Você pode me chamar de Carl se quiser, mas eu não tenho a
liberdade de dizer o que deve ser feito com você. Somente que uma
pessoa muito importante quer conhecê-la.
— Quem? — Eu ousava perguntar.
— Digamos que ele tem um verdadeiro sabor para garotas como você.
— Ele sorriu diabolicamente. — Mas chega de conversa. Temos uma
longa jornada à nossa frente.
Eu fui para trás enquanto ele se dirigia a mim, mas ele parou ao som
de um estalido de galho. Eu podia ouvir movimento no arbusto.
— Que diabos, — disse ele sob seu fôlego, mas antes que pudesse
reagir, uma grande força o derrubou no chão — alguém com cabelos
louros.
Carl, se esse fosse realmente seu nome, soltou um grito de dor
enquanto uma briga se desenrolava entre os dois.
Vendo minha chance, me pus de pé e voltei para o bosque. Corri o
mais rápido que pude, sem olhar para trás. Não tive tempo para me
preocupar com quem viria em meu socorro; só tinha que sair de lá.
Mas meu impulso foi subitamente frustrado quando senti um galho
de árvore colidir com minha testa. Tudo ficou preto.

Eu ofegava enquanto me sentava na cama. Olhei ao redor do quarto,


confusa, mas depois percebi que estava de volta à segurança na casa do
bando.
Era apenas um sonho. Um pesadelo realmente ruim.
Mas minha cabeça ainda estava latejando. Por que minha cabeça doía?
Você não podia se machucar em sonhos, não é mesmo? Parecia tão real.
Por que eu sonharia algo assim?
— Quinn? — Jaxon perguntou de seu lado da parede do travesseiro.
— Você está bem?
Sem pensar, corri para seus braços e enterrei minha cabeça em seu
peito descoberto. Nunca havia estado tão perto dele antes. Seu cheiro era
intoxicante.
Jaxon ficou tão surpreso quanto eu com minha ousadia, mas ele
manteve seus braços abertos, sem saber como reagir, então eu os agarrei
e os puxei ao meu redor para conforto.
Todos os sentimentos de pavor foram imediatamente lavados.
Levou um momento para que seus músculos relaxassem, o melhor
que seus músculos rasgados podiam. O calor de seu corpo era incrível
contra minha pele fria.
— Você quer falar sobre isso ? — ele perguntou timidamente, ainda
incerto como reagir.
Segurei-me com mais força e abanei a cabeça.
— Foi apenas um pesadelo, só isso... Um pouco mais realista do que
eu gostaria.
Eu soltei um leve gemido quando senti seus dedos correrem pelo meu
cabelo. Seu toque fez com que a dor na minha testa desaparecesse
instantaneamente.
Enquanto ele continuava fazendo isso, minhas pálpebras começaram
a se sentir pesadas. Eu podia adormecer em seus braços.
Mas, de repente, saltei de volta, envergonhada com o que estava
fazendo.
Quando olhei para Jaxon, os eventos dos últimos dias voltaram todos
apressados.
Faz pouco mais de algumas horas que meu companheiro — declarou
que queria estar comigo, e eu já estava desmaiando em cima dele como
uma patética garota fanática.
Ele parecia quase magoado por eu ter me afastado dele. Será que eu
poderia ter realmente quebrado sua barreira?
— Desculpe, — eu disse, — Eu não queria... — Mas eu perdi a
capacidade de falar. Subi para o meu lado da cama e me envolvi no
lençol.
Um silêncio desconfortável caiu entre nós.
Por que eu saltei assim para os braços dele?
— Quinn... — ele finalmente disse. — Amanhã à noite, gostaria que
você me conhecesse.
— Te conhecer? — Eu me sentei de costas, confusa.
— Eu gostaria de fazer algo... juntos. Só nós dois. Acho que já passou
da hora de nos conhecermos melhor.
Senti minhas bochechas vermelhas quando percebi o que ele estava
pedindo.
— O quê? Tipo, um encontro?
Ele sorriu nervosamente.
— Sim, um encontro. O que você diz?
Este era um lado dele que eu nunca havia visto. Ele estava realmente
sendo doce?
— Umm... claro, — eu disse, tentando não parecer muito animada. —
Acho que isso seria ótimo.
— Muito bem, muito bem. Posso pegar você, digamos... às seis horas?
Em frente à casa do bando?
— Claro, — eu respondi.
— Ótimo, — disse ele, com um sorriso grande e idiota. — Vejo você
então.
Cada um de nós se deitou de costas para seus respectivos lados.
Eu cobri minha boca para esconder minha alegria. Eu nunca havia
sido convidada para um encontro antes.
Pela forma como ambos ficaram se revirando pela cama, acho que
nenhum de nós dormiu o resto da noite.
Capítulo 11
UM ENCONTRO COM O ALFA QUINN
Pensei que a Sky ia perder a cabeça quando lhe contei sobre meu
encontro com Jaxon. Nunca havia visto alguém tão entusiasmada com
algo que não tivesse absolutamente nada a ver com ela.
Foi difícil focar no treinamento de autodefesa enquanto a Sky me
fazia mil perguntas.
— Como ele perguntou a você?
— Onde ele fez isso?
— O que ele estava vestindo?
— O que você estava vestindo?
— O que você vai usar?
— É como um jantar e um filme, ou — Ow! Isso dói, — exclamou ela.
Por isso lhe dei um soco um pouco mais forte do que eu pretendia.
Oooops.
— Ei! Pare de tagarelar tanto, — Harper exclamou do outro lado do
campo.
— Você não ouviu? Jaxon vai sair com a Quinn em um encontro, —
disse ela, em voz alta o suficiente para que todas as mais de trinta pessoas
ouvissem. Eu queria rastejar para dentro de um buraco e morrer.
— Você tinha que contar para o mundo inteiro? — perguntei, entre
meus dentes.
— Oh, você está bem! Vocês já estão acasalados um com o outro.
Quem se importa?
Vou bater nela novamente. Juro por Deus...
— Para onde ele está te levando? — Harper perguntou quando ela
veio para cá. — Você está indo para algum lugar agradável?
Seriamente? Até Harper também quer participar?
Por que as pessoas são tão obcecadas com os relacionamentos de outras
pessoas?
Então, depois de deixar completamente de lado qualquer coisa a ver
com treinamento, dei a eles todos os — detalhes — e concordei em
deixá-los me ajudar a me preparar para a grande noite.
Eu estava relutante no início, mas tive que admitir que não sabia nada
sobre a etiqueta para encontros, então aceitei a ajuda delas.

Faltavam trinta minutos para que Jaxon me buscasse.


Sky me deixou usar o quarto dela para me preparar. Ela não achou
que jeans e uma camiseta fossem apropriados para um primeiro
encontro, então ela me fez experimentar todo seu guarda-roupa...
literalmente.
— Ooh! Você também pode ficar bem nisto, — disse ela, segurando
outra roupa.
Ugh.
— O que você acha? Sim ou não?
— Eu não sei o que isso significa, — respondi.
Eu estava começando a ver porque as pessoas odiavam namoro. Não
que eu não quisesse ir. Eu estava realmente entusiasmada.
Sky me deu todos os conselhos que eu nunca quis sobre o que estava
na estação atual e além, enquanto as contribuições de Harper consistiam
de uma série de encolher de ombros e acenos de cabeça.
Ela me pegou.
Eventualmente, eu me acomodei em um — vestido longo — branco
sem mangas, como a Sky o chamou, com padrões florais verdes e lavanda
ao redor das bordas.
Preocupava-me que fosse muito feminino, mas a Sky insistiu que eu
estava ótima. Até Harper aprovou.
— Então, sobre o que exatamente devemos falar? — perguntei
enquanto a Sky estava fazendo minha maquiagem.
— Qualquer coisa, — ela respondeu. — Pergunte coisas sobre seus
interesses e gostos. Algo que o faça falar.
Alfa Jaxon vangloriando-se de si mesmo... que de alguma forma não
parecia ser um problema. Ou talvez eu o estivesse julgando muito
rapidamente.
— Basta ir com o fluxo, você vai descobrir.
Ótimo.
— Sim, como se ele estivesse tentando pegar você, — Harper zombou.
— Espere... é isso que ele está esperando? — perguntei, prestes a cair
do meu assento.
— NÃO! — Sky refutou. — Você não tem que fazer nada disso se não
quiser.
— Mas se você o fizer, — contra-argumentou Harper, — certifique-se
de que ele use camisinha. Você não sabe onde ele esteve.
Harper e Sky falaram tudo sobre o protocolo apropriado para sexo até
que chegou a hora de eu partir. Eu estava mais confusa agora do que
estava aproveitando.
Houve uma batida na porta.
Eu a abri para encontrar Raphael, que me informou que Jaxon estava
me esperando lá embaixo quando eu estivesse pronta.
Eu olhei para Sky e Harper, que me deram algumas palavras de
sabedoria de última hora.
— Apenas seja você mesma, — encorajou a Sky.
— Não faça sexo oral no primeiro encontro, — aconselhou Harper.
Ambas tinham pontos válidos, eu pensei...

Minha mandíbula caiu quando saí da casa do bando para encontrar o


Jaxon encostado a um Mercedes-Benz conversível preto de aparência
elegante. Parecia ter saído dos anos 50 ou 60.
Ele não estava brincando quando disse que ia me buscar.
Ele usava um terno e gravata bem ajustados, um que parecia ter saído
da mesma época que seu carro. Parecia um vovô gostoso. Era estranho
que eu o achasse excitante?
O desejo de que ele me jogasse contra o capô do carro e me pegasse
naquele momento estava gritando na minha cabeça.
Oh, meu Deus... isso soa incrivelmente sexy...
Ele se endireitou e sorriu enquanto eu me aproximava.
— Eu nunca te tomei por um hipster, — disse eu com um sorriso.
— Hipster?, — disse ele, surpreso. — Isto é vintage.
— Bem, de qualquer forma, fica bem em você... muito cavalheiro.
Ele sorriu.
Bem, você se parece muito com uma dama.
Nós acabamos de ter um momento fofo?
Foda-se o encontro, vamos apenas foder!
Mas eu retive esse impulso. Afinal de contas, eu era uma — dama.
Ele abriu a porta para mim e, em breve, estávamos voando pela
estrada. Eu nunca havia estado em um conversível antes. Adorei a
maneira como o vento soprava em meus cabelos.
— Para onde você está me levando? — eu perguntei.
— Você vai ver, — ele respondeu timidamente.
Ele dirigiu por alguns quilômetros antes de sair para uma estrada de
terra. Nós terminamos nosso caminho subindo a encosta de uma
montanha antes dele estacionar.
Ele me conduziu através de uma área arborizada até chegarmos a uma
clareira com vista para o vale abaixo. Ali, iluminado apenas pela luz de
velas, havia uma mesa para duas pessoas cercadas por flores silvestres.
Tive que admitir, era incrivelmente romântico.
Jaxon me guiou até uma mesa maior ao lado, onde tinha sido
montada uma elaborada distribuição de alimentos.
Meu apetite tinha crescido constantemente desde que eu estava com
o bando, então eu empilhei alegremente um monte de comida no meu
prato. Sky disse que era porque meu corpo estava se preparando para
uma nova dieta após a transformação, o que exigiria uma ingestão
calórica maior.
Enquanto uma dieta de 2.000 calorias era boa para os humanos, os
lobisomens precisavam de pelo menos 4.000 apenas para ficarem
moderadamente satisfeitos — o que era bom para mim, porque eu
adorava comer.
— Então, fale-me sobre você, — disse eu no meio da nossa refeição.
Não tínhamos falado muito até este ponto, mas eu senti que deveria pelo
menos tentar.
— O que você quer saber? — Jaxon respondeu enquanto comia com
uma boca cheia de purê de batata e molho.
— Quais são seus gostos, seus interesses? O que você faz quando não
está bancando o Alfa?
— Umm...
Ele não era muito bom nisto.
— Eu gosto de colecionar vinis. Será que isso conta?
— Claro! Minha mãe tinha um antigo toca-discos. Quais são suas
bandas favoritas?
— Bem, eu sempre gostei de rock clássico como AC/DC... Bowie...
Queen... Violent Femmes, mas quando cresci, gostava muito de bandas
como Foo Fighters... White Stripes...
Eu sentia que ele estava falando uma língua estrangeira. Eu não tinha
ideia do que ele estava falando.
— E você? Você gosta de algum deles?
— Tudo que minha mãe sempre me submeteu foi K-Light 106.4, que
consistia principalmente de Kenny G e Josh Groban — não exatamente
rock and roll.
Ele riu.
— Algo mais que você gosta de fazer quando não está ouvindo bandas
das quais nunca ouvi falar? — eu perguntei.
— Para ser honesto, não tenho muito tempo livre fora das tarefas do
bando. É uma espécie de trabalho de vinte e quatro horas. No entanto, eu
gostava muito da Nintendo 64 na época.
— Nintendo 64? Quantos anos você tem?
Ele não diria.
— Então, e você? O que você gosta de fazer, além de vagar pela
floresta sozinha, — perguntou ele, tentando mudar de assunto.
— Como você provavelmente pode ver pelo meu conhecimento
limitado de música, cresci um pouco protegida. Minha mãe quase nunca
me perdeu de vista. A maior emoção que tive foi ir para a biblioteca local
— embora eu adore ler. Sou uma criança educada em casa.
— Era um daqueles lares religiosos malucos ou algo assim?
— Não religioso, mas... protetor. Meu pai morreu quando eu era
muito jovem. Então, minha tia Jodie desapareceu há apenas alguns anos.
Ninguém mais a viu desde então.
— Isso é terrível. Sinto muito em ouvir isso.
Até agora, nós dois já tínhamos terminado nossos pratos.
— Então, sim, éramos só eu e ela. Depois do desaparecimento da tia
Jodie, minha mãe me manteve na rédea curta. Eu não podia fazer nada.
Então, meus melhores amigos foram pessoas como Agatha Christie e
Walt Whitman.
— Quando foi a última vez que você falou com ela?
— Minha mãe? Não desde o dia antes de eu sair de casa.
— Você já pensou em ligar para ela?
Agora que ele mencionou isso, eu não o tinha feito. Isso fazia de mim
uma pessoa má? Como ela reagiria se eu tentasse entrar em contato com
ela? Provavelmente, não bem.
Pela primeira vez desde que parti, tive um sentimento de culpa
avassalador por deixá-la. O que ela deve ter pensado que tinha
acontecido comigo? Meus olhos começaram a marejar.
— Eu não acho que seria uma boa ideia. Pelo menos, não neste
momento, — disse eu, tentando limpar meus olhos de forma indiferente.
— Desculpe, eu não queria me intrometer.
— Não, está tudo bem. Só faz um tempo que não penso que a deixei.
Havia um longo silêncio entre nós. Eu me arrependi imediatamente
de ter falado sobre minha família. Não foi exatamente uma conversa feliz
para um primeiro encontro.
Ele envolveu sua mão sobre a minha.
— Obrigado.
— Pelo quê?
— Por me contar. — Ele ficou de pé, mas não largou. Eu o deixei me
ajudar a levantar e começamos a caminhar pelo terreno. — Eu também
era filho único. Eu também perdi minha família quando era muito jovem,
mas tenho certeza que não se compara ao que você está passando.
A maneira como ele esfregou o polegar suavemente na parte superior
da minha mão enquanto entrelaçamos os dedos lentamente foi suave.
Esta foi a primeira vez que demos as mãos. Foi sutil, mas íntimo.
— Ela provavelmente me odeia, — disse eu, deixando cair uma
lágrima.
Jax a limpou.
— Tenho certeza de que ela não te odeia. Pelo que sei sobre você,
tenho certeza de que ela a ama muito. Você é uma pessoa fácil de...
Ele se deteve.
Oh, meu deus, ele estava prestes a dizer a palavra com "A"?
Eu podia sentir meu coração batendo mais rápido.
— Jaxon... — interrompi nervosamente.
— Me chame de Jax. Jaxon é apenas uma formalidade para os outros.
— Certo... Jax. Há algo que eu queria lhe perguntar...
— Diga-me.
— Sobre querer estar comigo. Por que você mudou de ideia?
Ele parecia nervoso e tomou um momento para pensar no que iria
dizer.
— Tentei impedir que este vínculo crescesse desde que você colocou
os pés aqui pela primeira vez. Mas no dia em que você ameaçou me
rejeitar, eu percebi... eu não queria que isso parasse. Foi preciso quase te
perder para ver isso. Não é o que eu queria e ainda não quero.
Ele nunca havia sido tão aberto comigo antes. Poderia ser realmente a
mesma pessoa?
— Você não é apenas minha companheira, Quinn, — disse ele,
entrando em cena, — você é meu futuro. — Eu senti nossos lábios se
aproximando. Eu podia sentir o seu hálito. — E eu também quero ser isso
para você.
E eu também o fiz.
Uma parte de mim não queria acreditar nisso, mas era verdade. Eu o
queria tanto quanto ele me queria.
A maneira como ele olhou para mim com seu olhar poderoso me
aproximou. Eu queria estar perto dele.
Meu coração batia enquanto ele descansava sua palma contra minha
bochecha. Seu toque era calmante. Senti um anseio por ele começar a
subir de dentro para fora.
Percebi então que meus desejos primitivos não eram mais
consumidos apenas pela luxúria... era algo mais. Eu comecei a tremer.
Enquanto ele se inclinava para mim, eu fechava os olhos e nossa boca
se movia em direção a um abraço inevitável.
Capítulo 12
INIMIGOS NAS SOMBRAS
QUINN

Meus olhos ficaram cegos por um par de faróis que se irradiavam em


nossa direção, impedindo que nossos lábios entrassem em contato. Alex
veio correndo até nós através da floresta.
— Alfa! — gritou Alex.
— QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI?! — Jax rugiu.
— Sinto muito, mas você é necessário na fronteira. Houve outro
incidente.
— Droga! — Jax escarneceu. — Onde?
— Perto da ponte de pedra.
Jax olhou para mim e hesitou, em dúvida sobre o que fazer.
— Leve Quinn de volta para a casa do bando. Encontre-me na ponte
depois, — disse ele, apressando-se para seu carro.
— Espere! — Eu disse, seguindo depois. — O que aconteceu? O que
está acontecendo?
— Não se preocupe com isso. Vai ficar tudo bem, — respondeu Jax.
— Não se preocupe com isso? Depois da noite que tivemos, e você vai
simplesmente sair correndo?
— Eu sei, e sinto muito, — disse ele, pulando para dentro de seu
carro. — Vejo você de volta na casa do bando.
— Não, não faça isso. Eu não sou uma criança, sou sua Luna. Eu
tenho o direito de saber o que está acontecendo.
— Quinn, eu não tenho tempo para lidar com suas besteiras agora. Eu
preciso...
— ME ESCUTA?!
Ele parou.
— Foda-se... Não é isso que eu...
— Eu sou apenas 'besteira' para você?
— Eu não quis dizer dessa maneira. Eu estava apenas dizendo...
— Não, não... você deixou perfeitamente claro, — eu falei de volta. —
Pelo menos sei como você se sente.
Apressei-me para a SUV do Alex.
— Maldição, espere! — gritou ele. Mas eu entrei no veículo e bati a
porta. Eu estava fumegando.
Eu vi Jax gritar pela janela enquanto ele virava o carro e descia a
montanha.
— Quinn, sinto muito, — disse Alex ao entrar, — Eu não queria...
— Cale a boca, Alex!
Alex não disse outra palavra para o resto da viagem de volta para casa.
JAXON

Droga, droga, droga, DROGA.


QUINN

Sky e eu estivemos lutando toda a tarde. Na verdade, descobri que era


terapêutico.
— Ele disse isso para você? — Sky indagou.
Ela parecia profundamente magoada pelo encontro não ter corrido
bem. Ela tinha se esforçado muito para que eu tivesse a noite perfeita,
então, em sua mente, seu fracasso também era um reflexo dela.
Em qualquer outro dia, eu teria considerado egoísta, mas estava
muito zangada com Jaxon para me importar. Além disso, Sky poderia ser
um pouco sem noção, eu viria a descobrir.
Uma vez li sobre um lugar na Califórnia onde você poderia pagar para
quebrar um monte de pratos e copos a fim de deixar sua agressão sair...
Eu me perguntava se eu deveria começar algo assim aqui.
— E você nem beijou?
— Sério, é isso que você está absorvendo disso?
— Basta dizer...
— Eu lhe disse desde o início que se quiséssemos fazer isto funcionar,
ele precisava começar a me tratar como sua igual. Ele disse que estava
disposto a fazer isso, mas depois se vira e ladra para mim como um de
seus subordinados, depois se recusa a me dizer o que está acontecendo.
Como se ele estivesse me protegendo de algo.
Comecei a dar murros com mais força na Sky, que se esforçava para
acompanhar.
— Eu não sou uma boneca de porcelana frágil. Eu não vou quebrar ao
menor toque.
— Eu acredito em você, — disse ela, encolhendo-se aos meus socos na
sua palma da mão.
Alex se aproximou. Ele parecia distante... provavelmente porque eu
quase tinha arrancado a sua cabeça com os dentes na noite anterior.
— Jaxon me enviou para lhe dizer que ele solicita uma audiência com
sua Luna.
— Oh, então agora eu sou a Luna dele!
— Umm... — Alex respondeu.
— O que é que ele quer? — perguntei, tentando manter minha calma.
— Ele não disse... Suas ordens eram que ele precisava vê-la
imediatamente.
— Suas ordens? — perguntei, seguido de uma série de palavrões.
Nunca havia xingado tanto em toda a minha vida. — E por favor, diga-
lhe palavra por palavra. Se ele está tão desesperado para conversar, ele
pode vir até mim.
— Ele não vai querer ouvir isso, — disse Alex, claramente abalado
pelo meu discurso de boca suja. — Onde devo dizer que ele pode
encontrá-la?
Eu o olhei de relance.
— Entendi. Vou passar a palavra.
JAXON

— Ela disse isso?! Que diabos você disse a ela, exatamente?


— Olha, já lidei com abuso verbal suficiente nas últimas vinte e
quatro horas... talvez você devesse... apenas ir falar com ela. Afinal de
contas, você a afastou...
Eu o olhei de relance. De vez em quando eu não me importava com
seus conselhos, mas ele estava me irritando.
— Eu não vou ceder às suas exigências recompensando o mau
comportamento.
— Bem, então, as coisas provavelmente não vão melhorar tão cedo.
Ela está realmente chateada.
— Não me diga.
Pensei sobre isso e suspirei.
Droga!
— Ela ao menos deu alguma dica de onde iria estar?
Alex encolheu os ombros.
Claro que não.
Então, eu deixei meu escritório particular e fui procurá-la.

Três horas depois, perto do pôr-do-sol, encontrei-a enrolada na


biblioteca lendo o livro, Cunt: Uma Declaração de Independência.
Bem, isto ia ser simplesmente uma maravilha...
— Aí está você, — disse eu com a maior indiferença possível. — Eu
deveria saber que a encontraria aqui. Você gosta de ler.
Nenhuma resposta. Ela nem sequer olhou na minha direção.
— Ainda não li este livro. Alguma coisa boa?
Ela me olhou com desconfiança.
— Você lê?, — disse ela, respondendo.
— Quando me convém.
— Realmente...? Qual foi o último livro que você leu?
Pausa desajeitada.
— Olha... a maneira como reagi ontem à noite, eu estava fora de mim.
O que estamos fazendo ainda é novidade para mim. Antes de você
chegar, eu já estava acostumado a...
— Ser um idiota e sempre conseguir tudo do seu jeito?
— Não era exatamente assim que eu ia dizer... mas sim. Eu era um
idiota. Ser o filho do Alfa sempre veio com privilégio e status — não que
seja uma desculpa, é apenas a maneira como cresci. Mas eu não quero ser
isso, especialmente com você... Eu nunca deveria ter falado com você da
maneira que falei. E eu sinto muito. De verdade.
Os ombros de Quinn caíram, e ela baixou seu livro. Ela estava
começando a baixar a guarda, então eu me aproximei mais.
— Por mais difícil que seja acreditar, eu também reagi da maneira que
fiz para mantê-la segura, pelo menos foi assim que pensei. Eu não queria
que você se preocupasse. Mas eu quero que isso mude. Você tem o direito
de saber o que está acontecendo.
— Sobre o quê?, — respondeu ela.
Olhei ao meu redor e notei que mais pessoas começaram a ir e vir ao
nosso redor. Nossa conversa estava se tornando menos privada. Sem
mencionar que minha voz tinha uma tendência a ser alta.
— Vamos dar um passeio e eu lhe contarei tudo, — disse eu,
oferecendo minha mão, mas ela continuou me olhando fixamente. — Por
favor.
Quinn deixou sair uma respiração profunda antes de levantar-se e
veio comigo. Ela não pegou minha mão.
QUINN

Jax me acompanhou através dos corredores da casa do bando. Eu ainda


estava zangada com ele, apesar de meu corpo querer cavalgar nele como
um cavalo no minuto em que ouvi sua voz, mas acreditei que seu pedido
de desculpas era genuinamente sincero.
— O que você sabe sobre os malfeitores, — perguntou ele em tom
abafado.
Eu encolhi os ombros.
— Você pode ser mais específico?
— Malfeitores são lobisomens sem bando. Muitos permanecem sem
companheiros, o que os deixa loucos. Nós, como espécie, estamos
destinados a estar com outros, então se ficarmos isolados por muito
tempo, alguns lobos têm a tendência de perder a cabeça.
Lobisomens insanos? Bem, isso não soou absolutamente aterrorizante...
— Eles são propensos à violência e são incrivelmente perigosos.
— Foi isso que o levou embora ontem à noite? O 'incidente'?
Ele acenou com a cabeça.
— Em um de nossos postos avançados. Vários guardas ficaram
gravemente feridos. Nas últimas semanas, desde que chegaram aqui,
houve um aumento no número de ataques. E não temos certeza do
motivo. É muito incomum.
Eu parei antes de entrarmos no salão.
Estes incidentes tinham acontecido desde que eu cheguei aqui...
Meus pensamentos voltaram imediatamente ao meu sonho na floresta.
Quem era esse 'Carl'? E por que ele estava atrás de mim?
Li uma vez que em sonhos só vemos pessoas que conhecemos na vida
real, mas eu nunca tinha visto esse homem antes. Eu teria me lembrado
dessa cara de cicatriz em qualquer lugar. Eu sabia que era apenas um
sonho, mas parecia tão real.
— O que foi, — perguntou ele, olhando para mim curiosamente.
— Você se lembra do meu pesadelo do outro dia? — Eu disse
timidamente.
— O que tem isso?
— Sei que isto parece estúpido, já que estava tudo na minha cabeça,
mas fui perseguida por um homem — um lobisomem, creio eu — que se
chamava Carl. Ele estava tentando me sequestrar. Disse que ia me levar
até alguém importante.
— Quem?
— Ele nunca disse. Foi apenas um sonho estúpido...
— Não, não descarte o que você viu. Os sonhos são uma forma de
enviar e receber mensagens.
— Espere, você está dizendo que alguém me enviou uma mensagem?
Jax não disse nada. Eu podia dizer que ele estava pensando muito. Ele
parecia querer dizer alguma coisa, mas não conseguia se convencer a
fazê-lo. Um olhar de pavor se espalhou pelo rosto dele.
— O que é isso? O que você acha que significa?
Ele se aproximou e pegou minhas mãos.
— Acredito que você possa estar em perigo, — disse ele com a voz
grave. Pareciam formar-se círculos escuros sob seus olhos. Eu nunca o
havia visto tão preocupado antes.
Devo ficar preocupada?
Senti um calafrio no meu corpo.
— Eu não queria assustá-la. Só espero que agora você entenda como
isto é sério. Mas juro pela minha vida, não deixarei que nada lhe
aconteça, — disse ele, colocando sua mão na minha bochecha. — Você é
tudo para mim... meu Lupus Paulo.
Lupus Paulo?
Era a segunda vez que eu ouvia isso falado. Eu não sabia o que
significava, mas fez meu desejo por ele começar a aumentar.
Esse sentimento além dos meros impulsos sexuais estava começando
a tomar o controle novamente, como se estivesse me chamando.
Eu queria desesperadamente sentir seus lábios contra os meus.
Minha boca apertou e se moveu em direção à dele antes que eu
soubesse o que estava acontecendo, mas antes que minhas necessidades
pudessem ser atendidas, nossa atenção foi repentinamente atraída pelo
som de uma sirene. Começou a soar como algo que se ouvia antes de um
tornado.
Os olhos de Jax se alargaram, assim como os de outras pessoas
próximas. Todos congelaram.
Eu vi Sky da metade da escada. Ela estava absolutamente aterrorizada.
Jax olhou à sua volta de forma selvagem. Eu podia sentir o pulso nas
mãos de Jax começar a acelerar. O que poderia ter feito seu coração
acelerar?
— O que é isso? — eu disse. — O que está havendo?! —
Ele olhou diretamente nos meus olhos.
— Malfeitores!
Capítulo 13
O ATAQUE SOLITÁRIO
QUINN

Malfeitores.
Eu tinha acabado de saber sobre eles, mas já estava paralisada pelo
medo. Julgando pela reação de todos, eu sabia que era sério. Havia pânico
em seus olhos.
E Jax implicando que os ataques poderiam estar ligados a mim
acrescentou outra camada à minha angústia. Fui realmente responsável
pelo que estava prestes a acontecer?
O que é que eles queriam de mim?
Eu não sou nada de especial.
Harper veio correndo até nós.
— Alfa, eles violaram as defesas da fronteira! Estamos sob ataque!
Jax pensou um momento. Eu assisti com fascínio quando ele
começou a dar ordens para o bando.
— Todos em posições defensivas. — Todos os não-combatentes,
cheguem em segurança aos bunkers. Vamos para o bloqueio.
O bando entrou imediatamente em ação.
As pessoas corriam em todas as direções.
As portas e janelas foram fechadas. As luzes foram desligadas para
ocultar nossa presença, enquanto as luzes exteriores iluminavam os
campos e as árvores ao redor do perímetro. Todos aqueles que estavam
fora das paredes do castelo tinham que procurar abrigo em outro lugar.
Era o caos organizado.
Comecei a sentir pelo meu povo e a ter empatia com a situação em
que se encontravam. Fiquei emocionada com a maneira como os fortes e
mais capazes cuidavam dos idosos e muito jovens, e como os guerreiros
se atiravam ao perigo sem pensar duas vezes.
Eu me preocupava genuinamente com a segurança do meu bando.
Era quase como se eu pudesse sentir o que eles estavam sentindo — uma
conexão com eles como eu nunca havia sentido antes.
Sky disse certa vez que meus instintos maternais de nutrir e proteger
começariam a surgir, quanto mais eu abraçasse meu novo papel. Isto era
parte de me tornar Luna?
Alex e Raphael correram até nós, cada um deles armado com armas —
um tipo de besta. Eu não havia treinado com elas antes.
— Alfa, as instalações estão seguras, — declarou Alex.
— Bom. — Tomar posições na torre norte. Irei para o muro acima da
porta principal. Você pode me cobrir de lá.
Ele começou a ir para o muro, enquanto eu ficava ali sem saber o que
fazer.
— Alpha, — chamou Raphael, — devemos levar nossa Luna para um
dos bunkers. — Ela estará muito mais segura lá.
Jax olhou para mim e sorriu.
— Não. Ela vem comigo, — disse ele, estendendo sua mão. — Ela
merece estar ao meu lado.
Meu coração pulou.
Eu fiquei boquiaberta.
A alegria de saber que ele me queria ao seu lado — em um momento
como este — disse-me o quanto ele levava a sério o fato de me tratar
como sua igual. Ele tinha mantido sua palavra.
— Mas Alfa... — Raphael protestou.
— Não está aberto a debate, — disse ele afirmativamente. — Agora,
vá!
E eles foram.
— Bem?, — disse ele, a palma da mão ainda estendida.
Aceitei de bom grado. No momento em que nossas mãos tocaram,
senti uma faísca entre nós.
Então nós fomos.
Meu companheiro me levou por uma escada em espiral estreita até
emergirmos logo acima da porta principal.
Eu nunca tinha estado aqui em cima antes. Nosso ponto de vantagem
entre as ameias nos deu uma visão clara de quilômetros ao redor.
Jax pegou uma besta e a manteve perto enquanto escaneou a área
com um par de binóculos.
Quando perguntei por que eles não usavam apenas armas de verdade,
ele me disse: — Se fosse tão fácil matar um lobisomem, já estaríamos
mortos há séculos.
Seu walkie-talkie crepitava.
— Jax, temos algo se aproximando. Posição de dez horas.
Procuramos. Eu não vi a princípio, mas depois vi uma figura sombria
emergir das árvores.
Estava correndo na nossa direção de forma selvagem, parcialmente
transformada, parecendo mais humana que lobo. Ele balançou seus
braços, cortando o ar com suas garras.
Seu grito meio lobo, meio humano, era de arrepiar o sangue.
— Peguei, — disse Jax, ao carregar um parafuso da besta e puxar para
trás. Ele apontou, e SNAP! A flecha voou e a empalou no peito, mas ele
continuou correndo.
Jax carregou e disparou novamente.
Acertou novamente, mas ainda assim continuou correndo.
— Pelo amor de... — SNAP! Um golpe direto na testa. A criatura foi ao
chão.
Eu fiquei simultaneamente impressionada e horrorizada. Eu nunca
tinha visto ninguém ser morto antes. No entanto, suas características
monstruosas tornou isso mais suportável.
— Temos mais vindo! — o rádio crepitou.
Em seguida, mais três emergiram da floresta. Um foi totalmente
transformado enquanto os outros dois apenas parcialmente. Seus olhos
vermelhos eram hediondos e suas características eram igualmente feias.
Uma série de estalos de besta de vários pontos do castelo se estendeu
até que os três pararam de se mover.
Outros dois malfeitores totalmente transformados vieram correndo
na nossa direção, e foram abatidos com a mesma facilidade.
Eu não podia acreditar que eles se matariam assim. Eu sabia que eles
eram loucos, mas isto era insano.
— Por que eles estão fazendo isso? — perguntei, completamente
confusa.
— Eles estão testando nossas defesas — nos sondando.
— Eles já fizeram isso antes?
Ele balançou a cabeça.
— Eles nunca são tão organizados.
— Alfa! Veja! — o rádio crepitou.
E ali, não muito longe, havia um grande caminhão de carga em nossa
direção com suas luzes apagadas. Passou facilmente através de uma das
barreiras de madeira da estrada.
— Oh, merda! — Jax exclamou.
O caminhão acelerou. Estava vindo direto para nós.
— Apontar para os pneus! — Jax gritou pelo rádio.
Uma salva de flechas atingiu o veículo, mas elas não tiveram nenhum
impacto. As rodas eram protegidas por placas blindadas improvisadas.
Os faróis do caminhão acenderam quando ele entrou no pátio. O
motorista deu ainda mais velocidade aos motores.
— Preparem-se para o impacto! — Jax gritou.
Jax e eu fomos derrubados quando o caminhão bateu contra a porta
principal. Quando nos levantamos e olhamos para cima, pudemos ver
que a entrada havia sido completamente quebrada.
O caminhão fez marcha atrás e parou a poucos metros de distância.
Para meu horror, a porta dos fundos se abriu, e uma dúzia de lobos
completamente transformados saiu correndo para fora. Eles rosnaram e
uivaram enquanto corriam para a porta e entraram.
— Eles estão lá dentro! Eles estão lá dentro! — alguém gritou pelo
rádio. Mesmo daqui de fora, eu podia ouvir gritos que irrompiam pelo
castelo.
— Merda! — Jax gritou, enquanto carregava sua besta de novo. Ele
ordenou que todos voltassem para a casa do bando. — Vamos, — ele me
disse, — temos que ir para o bunker.
Eu não discuti e segui logo atrás.
Quando chegamos lá embaixo, as luzes de emergência tinham
acendido, lançando tudo nas sombras. Eu podia ver os lobos entrando e
saindo da escuridão. Outros membros do grupo já estavam ocupados
com os intrusos.
Eu vi Harper segurando um intruso com um longo bastão, e Alex
lutando com outro até o chão.
SNAP!
Jax derrubou um que estava vindo em nossa direção.
CRACK!
O som que sua espingarda fazia quando ele a batia no crânio de
outro.
— Por aqui, — disse ele, enquanto continuávamos pelo castelo,
verificando todos os corredores antes de passarmos. Eu não podia ver
muito, mas Jax tinha transformado os olhos para poder ver facilmente no
escuro.
Uma figura veio correndo até nós na escuridão. Jax quase atirou nele
antes de perceber quem era.
— Eles encontraram o bunker! — Raphael gritou ao se aproximar. —
Eles estão tentando romper a barreira.
— Oh, meu Deus! — exclamei. — Todas aquelas pessoas!
— É como se eles soubessem exatamente onde encontrá-lo!
Jax fez uma pausa.
— É onde eles pensavam que ela estaria... — ele murmurou sob seu
fôlego.
Meus olhos cresceram.
Ele está falando de mim?
Jax olhou para mim com angústia e depois voltou para Rafael.
— Leve Quinn para o fundo da floresta.
— Você está brincando? O bosque está cheio dessas coisas!
— Aqui não é seguro. É a última coisa que eles esperariam.
Eu não gostei do som disto.
— Não! Não me deixe! — Eu exclamei.
— Eu não vou, mas preciso cuidar do bunker. Eu estarei logo atrás de
você, prometo.
E ele foi embora.
Eu gritei para que Jax não fosse enquanto tentava segui-lo, mas
Raphael era muito forte. Ele me arrastou para fora da casa do bando e
para dentro da floresta.
Nós nos arrastamos entre as árvores e através da vegetação rasteira.
Os galhos se aproximavam sinistramente à nossa volta, lembrando-me de
meu pesadelo.
Não poderia ser coincidência, poderia?
Eu estava começando a tremer.
— E aquelas pessoas lá atrás? — Eu sussurrei: — O que eles vão fazer?
— Jax e os outros cuidarão deles, — respondeu ele. — Tente não
pensar sobre isso. Manter você a salvo é a prioridade.
Mas como eu não poderia pensar nisso? Parecia que eu estava
abandonando-os como se estivesse fazendo algo covarde.
De repente, um lobo saltou para fora e derrubou Rafael no chão.
O malfeitor, com olhos vermelhos letais, rosnou e agarrou-se a ele,
mas Raphael era forte e capaz de se livrar da criatura.
Os dois se olharam fixamente quando voltaram a se levantar, cada um
esperando que o outro desse o primeiro passo.
Então, os olhos do lobo se deslocaram para mim. Ele havia
encontrado uma nova presa.
— Quinn, corra! — disse Raphael.
— Mas...
— Apenas vá!
Eu fiz como ele disse e o malfeitor mudou seu caminho. Vi Raphael
chutar o cachorro em uma árvore pelo canto do meu olho enquanto eu
fugia.
Eu não parei. Continuei minha corrida frenética para dentro da
floresta. Ao contrário do meu sonho, isto estava realmente acontecendo.
A escuridão da noite prejudicava minha visão, e eu estava
constantemente tropeçando nas raízes, nos galhos e em qualquer outra
coisa que aparecia no bosque.
Eu estava com sede. Minha garganta queimou pedindo por água.
Todas as articulações do meu corpo doíam.
Eu não poderia ir muito mais longe. Eu tinha que encontrar um lugar
para me esconder.
AR-ROOO-OOO!
Um uivo veio da minha frente.
Eu parei no meu caminho.
Me encontraram?
E então, outro uivo veio, seguido por outro.
O som de galhos estalando e o barulho de vegetação rasteira vinha de
todas as direções. E foi quando eu vi o clarão dos olhos vermelhos de
todos os lados.
Oh, Deus! Eles me encontraram!
Eles se aproximaram. Um grupo de malfeitores, totalmente e meio
transformados havia me cercado. Eles rosnaram e rangeram os dentes ao
se aproximarem.
Eu estava congelada.
Sozinha.
Não havia para onde ir.
A única coisa que eu podia fazer... era gritar.
Capítulo 14
LÍDER DO BANDO
QUINN

Gritei até que minha voz parecia estar sangrando. A maneira como os
lobos gritavam e ladravam soava como se estivessem rindo de mim.
Seus dentes brilhavam através da escuridão. Seu cheiro era nauseante.
Eles estavam tão próximos agora que eu podia alcançá-los e tocá-los.
Eu não sabia dizer quantos eram, mas sabia que não havia maneira de
combatê-los.
Teria sido tudo em vão? Fazer parte do grupo, ser nomeada Luna,
estar treinando para a transformação, ter encontrado meu
companheiro...? Qual foi o objetivo de tudo isso?
E agora, estes lobos estavam aqui... por mim.
Eles atacaram a casa do bando e machucaram muita gente... por mim.
Eu havia colocado meu bando em risco. Senti-me como se tivesse
decepcionado a todos. Eu estava cheia de arrependimento.
Talvez esta tenha sido a maneira que teve de terminar.
Então, fechei os olhos e esperei pelo inevitável. E durante meus
últimos momentos, quando ouvi as feras se aproximarem, apenas duas
pessoas me passaram pela mente. Minha mãe, e...
Algo grande caiu de cima, me sacudindo de minha paralisia.
Quando abri meus olhos, vi que um grande galho de árvore havia
esmagado três dos malfeitores. E em cima dele estava uma massa que
ressoava poder, força... e virilidade.
— Jax!
Ele estava sobre eles em um instante.
Seus braços e pernas haviam se transformado em algo animalesco, e
ele os rasgou com suas garras.
A garganta de um dos lobos foi cortada, borrifando sangue em todas
as direções.
Outro teve o pescoço partido e foi atirado para o lado como uma
boneca de pano.
Um lobo afundou seus dentes no antebraço do Jax.
Jax rugiu de dor, mas depois esmagou seu crânio em um tronco caído,
matando-o instantaneamente. Os lobos restantes viraram a cauda e
correram para a segurança da escuridão. Jax havia vencido.
Quando o Alfa voltou seu olhar para mim, pude ver que ele era mais
lobo do que homem.
Ele estava cheio de orgulho.
Ele então jogou sua cabeça para trás e soltou um uivo vitorioso.
AR-ROOO-OOO!
Eu perdi todo o controle.
Meus braços estavam ao redor de seu peito firme antes de seu uivo
estar completo. Mesmo como meia criatura, eu o achei absolutamente
lindo. Acho que era o meu próprio lobo interior tentando se libertar.
Eu o queria.
Eu ainda não estava pronta, mas meu desejo era inegável. Os anseios
que eu sentia eram tão fortes que eu queria rasgá-lo e colocá-lo para
dentro.
Sua marca de mordida ainda estava sangrando.
Sem pensar, coloquei meus lábios sobre sua ferida e a beijei
ternamente. Ele se encolheu de dor, mas parecia quase confortado por
ela.
Meus lábios estavam manchados de suor e sangue... Eu podia sentir o
gosto da riqueza do ferro salgado na minha língua.
Não consegui explicar meu raciocínio ou o que me atraiu para sua
carne machucada, mas quando o fiz, senti surgir um fogo de dentro que
me consumiu inteira.
Comecei a beijar seu braço enquanto ele voltava à forma humana. Eu
podia ouvir e sentir seus ossos quebrarem. Logo, eu estava beijando por
cima de seus bíceps e ao redor de seus ombros até alcançar sua clavícula.
Ele soltou um pequeno gemido, o que me assustou. Eu nunca havia
feito alguém fazer isso antes. Eu recuei brevemente.
Olhei-o nos olhos, sem saber o que fazer a seguir. Mas não tive que
decidir.
Uma de suas mãos envolveu minha cintura, enquanto a outra
deslizou pelo meu pescoço e pela parte de trás da minha cabeça,
arrastando-me para perto. E lá, sob a luz da lua, com uivos que chamam à
distância... nossos lábios fechados juntos em um abraço apaixonado.
O fogo no interior tornou-se um inferno que não podia ser apagado.
Eu o agarrei firmemente.
Eu não iria soltar.
Não havia dúvidas em minha mente agora. Ele era meu companheiro.
E sempre seria.
Mas o som de um movimento através do arbusto nos fez voltar à
realidade. Eu quase tinha esquecido nossa situação. Embora ele possa ter
se defendido deste grupo de lobos, ainda havia outros. Ainda não
estávamos livres disso.
E foi quando eu ouvi isso. Um rugido monstruoso da escuridão da
floresta.
Jax ficou na minha frente e enfrentou a direção da qual ele veio. E ali,
logo após as árvores mais próximas, dois olhos vermelhos nos olhavam
fixamente.
Eu dei um passo atrás quando emergiu um grande lobo. Era muito
maior e parecia muito mais feroz do que qualquer um dos lobos que eu
havia visto anteriormente.
Eu ofeguei quando vi seu rosto. Do topo de sua cabeça até o focinho
tinha uma cicatriz longa e profunda.
O lobo dos meus sonhos! É aquele que me mordeu!
Não poderia ser, poderia?
Antes que eu tivesse tempo de dizer alguma coisa, o lobo fez uma
corrida em direção a Jax.
— Fique para trás! — Jax gritou quando começou a se transformar,
mas a criatura o derrubou antes que ele pudesse fazer uma transição
completa.
O lobo cortou e mordeu Jax, arrancando pedaços dele e derramando
sangue por toda parte. Estava criando um novo pesadelo. Jax tentou se
defender, mas a criatura simplesmente se fixou em suas mãos com seus
dentes.
Jax deixou sair um grito de agonia.
Eu me peguei ali parada sem fazer nada, chocada com o que estava
acontecendo. Não parecia real. Eu queria acordar, mas não consegui.
Quinn! Não fique aí parada, faça alguma coisa!
Forçando-me a agir, agarrei um galho de árvore próximo e o esmaguei
nas costas do lobo. Bati nele o mais forte que pude, mas não teve muito
efeito. Se alguma coisa, apenas o irritou ainda mais.
Ele se afastou do Jax e me colocou na mira. A maneira como ele
piscava seus dentes quase parecia que estava sorrindo.
Oh, merda!
— Quinn, corra! — Jax gritou, chamando a atenção do lobo apenas o
tempo suficiente para que eu pudesse escapar.
Mas não por muito tempo.
Logo, ouvi o galope de patas a esmagar na floresta atrás de mim. As
lembranças do meu sonho voltaram todas apressadas.
A maneira como as árvores me agarraram, a maneira como meus pés
afundaram na lama, a sensação de estar perdida, o medo sem fim...
Era inútil?
Era inevitável que sempre me pegasse?
Eu tropecei em um corpo de água, como antes, mas ao invés de um
riacho, eu tinha chegado a um vasto lago que se expandia em todas as
direções. Mesmo se eu quisesse, não havia como atravessá-lo.
Eu fiquei presa.
E foi quando eu vi o lobo com cara de cicatriz emergindo da linha da
árvore. Ele abaixou sua cabeça enquanto seguia na minha direção.
Peguei várias rochas próximas e as joguei. Várias delas o atingiram,
mas o lobo não foi dissuadido. Ele sabia o que queria, e não havia nada
que eu pudesse fazer para mudar isso.
Seu corpo se tensionava à medida que se aproximava. Estava pronto
para atacar.
Procurei desesperadamente qualquer coisa que eu pudesse usar para
me defender, mas não havia nada, por isso recuei para água, sabendo que
era inútil.
O lobo soltou um rugido enquanto precipitava-se em minha direção,
mas antes de alcançar a borda da água, ele foi derrubado no chão por
uma força desconhecida. Quando olhei mais de perto para o indivíduo,
minha mandíbula caiu.
É o mesmo homem louro do meu sonho!
Estou realmente vendo isso?
Eu tentei me convencer de que não era real. Antes eu tinha sonhos
recorrentes, mas meu coração sabia que eu não estava dormindo.
Por que isso estava acontecendo?
Isto não poderia ser apenas uma coincidência.
O lobo rosnou e estalou para o homem, mas ele desviou facilmente o
ataque da criatura e o acertou novamente com seus punhos. Logo, o lobo
desistiu e retirou-se para o bosque.
Ele tinha ido embora.
Eu estava em estado de choque.
Quando meu misterioso salvador se aproximou, eu pude ver melhor
suas características afiadas e seu biotipo poderoso. Ele tinha uma aura
sobre ele que era calorosa e reconfortante.
— Olá, Quinn, — a voz profunda ressoou. — Estou feliz em ver que
você está bem. Deveríamos realmente parar de nos encontrar assim.
— Obrigada, — eu disse silenciosamente, quase um sussurro. Eu
ainda não podia acreditar no que estava acontecendo.
Quem é este estranho, e por que veio em meu auxílio?
Tenho certeza de que ele não faz parte do bando.
— Espere, como você sabe meu nome?, — eu exigi, sentindo-me mais
confiante.
Ele sorriu.
— Você vai descobrir em breve.
E, tão rapidamente quanto ele apareceu, ele se foi.

A casa do bando estava em total desordem. Os lobos malfeitores haviam


sido expulsos, mas haviam deixado um caminho de destruição como
consequência.
O caminhão que eles usaram para quebrar a porta da frente deixou
sérios danos na entrada.
Obras de arte inestimáveis haviam sido arruinadas ou quase
destruídas, e o bunker impenetrável havia sido quase quebrado.
Dezenas de pessoas foram feridas.
O pior de tudo é que dois membros do grupo haviam sido mortos.
Seus nomes eram Josalynn e Bennet. Eles estavam sobrecarregados
tentando defender a entrada do bunker.
Somente no resgate de última hora de Jax é que os outros que
estavam com eles foram poupados. Se não fosse por ele, talvez eu
também não estivesse aqui.
O lobo com cicatriz no rosto realmente deixou sua marca nela. Ele
tinha machucado muito Jax. Raphael o encontrou deitado na floresta,
inconsciente.
Ele havia perdido muito sangue.
Ele foi levado para o mesmo hospital onde haviam me levado
originalmente.
Alex e Sky me levaram até lá, o que nos levou um pouco mais de uma
hora antes de chegarmos. O hospital estava na verdade muito mais perto
do que eu imaginava, mas as estradas isoladas e as trilhas escondidas
mantinham a casa do bando praticamente invisível para o mundo
exterior.
Foi uma coisa boa quando chegamos lá, porque meus desejos e dores
de acasalamento estavam começando a surtir efeito novamente.
Quando o encontrei em sua cama de hospital, ele ainda estava
inconsciente e coberto de lacerações. Os inúmeros tubos que saíam dele
faziam com que ele parecesse quase desumano.
Sufocou-me vê-lo assim, então peguei sua mão e acariciei-a
suavemente, esperando... não sei, que algo pudesse acontecer. Mas não
aconteceu.
— Ele está muito melhor, — disse o mesmo médico que me tratou. —
Acordou há pouco tempo, mas os sedativos que lhe demos para as dores
o deixaram inconsciente. Ele está forte e vai se recuperar.
— Quanto tempo ele vai ter que ficar aqui? — perguntou Alex,
lutando para não se emocionar. Sua lealdade ao seu Alfa era
inquestionável. Estava rasgando-o ver Jax desta maneira.
— É difícil dizer. Talvez uma ou duas semanas, no máximo, —
respondeu o médico.
Não era a notícia que queríamos ouvir. Este era o pior momento
possível para um bando perder seu Alfa.
— O que vamos fazer? — Perguntei a Alex e Sky, que se olhavam
desconcertados.
— Por que você está nos perguntando? — perguntou Sky, perplexa.
Eu estava confusa.
— Nós não somos os líderes do bando... você é. Vocês é a nossa Luna.
Para onde vamos a partir daqui é com você.
Meus olhos se alargaram e minha mandíbula caiu. A gravidade da
minha situação e do meu papel acabou de ficar bem clara.
— Então, quais são suas ordens? — Alex perguntou em antecipação.
Leve-me para o Pronto Socorro. Estou prestes a ter um ataque cardíaco.
Capítulo 15
BEIJO DE CURA
QUINN

Mais de uma semana tinha se passado desde o ataque ao Bando Sombra


da Lua. Desde então, temos trabalhado para que nossas vidas voltassem
ao normal — embora minha vida tivesse sido qualquer coisa menos
normal desde que cheguei.
Os danos na entrada frontal foram extensos, mas nada que não
pudesse ser reparado. A construção já havia começado e nos foi dito que
seria concluída antes do final do mês. Não demorou muito para limpar a
bagunça dentro da casa.
Realizamos um funeral para Josalynn e Bennet — os que perdemos.
Foi difícil para todos, especialmente para suas famílias. Cada um deles
tinha companheiros e filhos que ficaram absolutamente devastados.
Eu cuidei para que as famílias estivessem bem cuidadas. A
alimentação e as refeições deveriam ser fornecidas pelo tempo que fosse
necessário e uma campanha de arrecadação de fundos foi realizada para
pagar quaisquer despesas.
Eu sabia que não iria compensar a perda deles, mas era pelo menos
algo que eu poderia fazer. Eles pareciam gratos.
Foi difícil saber que suas mortes e todos aqueles que foram feridos
poderia ter sido o resultado de minha presença aqui. Fui consumida pela
culpa.
A ideia pesava muito em minha mente, mas eu não podia deixar
transparecer. Tive que colocar minha melhor cara de espírito esportivo
para o bando.
Foi uma sensação estranha ter todos me procurando para orientação.
Eu nunca havia tido tal posição de autoridade antes.
Uma coisa era tê-lo para me apoiar, mas sozinha?
Eu mesmo estava constantemente me questionando.
Achei difícil confiar em meu próprio julgamento, mas continuei me
lembrando, de certa forma, que já tinha feito isso antes.
Além do olhar sempre vigilante de minha mãe, eu tinha sido bastante
independente a maior parte da minha vida e frequentemente tomava
minhas próprias decisões. Mas isso ainda não tornou tudo mais fácil.
Havia ainda a ameaça constante de outro ataque dos malfeitores, por
isso pedi mais patrulhas ao longo da fronteira e acrescentei dias extras de
treinamento para todos — inclusive para mim mesma, do qual eu estava
muito necessitada.
Tinha me sentido inútil na noite do ataque.
Os malfeitores tinham deixado seu caminhão para trás, então instruí
Alex a procurar os números das placas para ver se eles podiam nos dizer
alguma coisa. Eu vi isso uma vez em um filme.
Entretanto, o caminhão foi registrado como roubado, o que não levou
a lugar algum. Mas Alex disse que ainda era uma boa ideia, o que me deu
algum conforto, mas ainda não resolveu quem nos atacou.
Eu esperava que com o tempo tivéssemos as respostas de que
precisávamos.
Mas, apesar desse contratempo, senti que estava começando a pegar o
jeito de ser Luna. Veio mais naturalmente do que o esperado.
Eu só desejava não ser tão dura comigo mesma. Eu estava
constantemente preocupada com o que os outros estavam pensando.
Foi difícil estar longe de Jax por tanto tempo.
Eu queria permanecer ao seu lado, mas sabia que as tarefas do bando
tinham prioridade.
Mas ele estava se recuperando bem. Aprendi que os lobisomens se
curavam muito mais rápido do que os humanos, e que o médico disse
que cortaria dias de sua recuperação.
Infelizmente, sempre que eu ia visitá-lo, ele estava dormindo. Eu
queria contar a ele tudo o que havia acontecido, por isso foi
decepcionante não vê-lo acordado.
Mas eu sabia que era o melhor. Jax, de todas as pessoas, estava
precisando muito de descanso.
Quando eu não estava — sendo Luna, — passei a maior parte do meu
tempo trabalhando com as crianças na creche. Achei meu tempo lá
relaxante. Ajudou a colocar minha mente em paz — minha própria
escapadinha do meu papel de liderança.
Eu gostava de crianças. Eu sempre gostei. Esperava um dia ter
algumas que fossem minhas. A ideia de saber quem poderia ser seu pai
era uma coisa tão estranha de se pensar. Não que eu não quisesse que
fosse o Jax, mas a realidade dessa possibilidade me assustou um pouco.
— Luna Quinn, a brincadeira livre foi há mais de dez minutos, —
disse Zara de forma assertiva. — Agora é hora da história.
Eu desejava que ela não fosse tão fria comigo.
Senti como se ela estivesse minando minha autoridade quando falou
comigo dessa maneira.
Eu supunha, como Luna, que tinha autoridade para cortar a cabeça
dela, mas algo me disse que isso não abriria um bom precedente.
Mas, com toda a seriedade, incomodou-me que eu não fosse bem
recebida por ela.
Eu sei que era pedir muito para ser apreciada por todos, mas senti que
era injusto ela colocar um muro entre nós como tinha feito. Eu não tinha
feito nada com ela... pelo menos, não que eu soubesse. Eu só desejava que
ela me dissesse o que estava errado.
— Por que as pessoas más vieram nos buscar? — perguntou uma das
crianças enquanto eu lia Onde vivem os monstros — Eles virão atrás de
nós novamente?
A dureza da pergunta foi inesperada. Tive dificuldade para formular
uma resposta.
— Umm... bem... ainda não sabemos bem. Aquelas pessoas vieram
para a casa do bando... mas estamos fazendo tudo o que podemos para
que isso não volte a acontecer.
— Eles são bandidos? — perguntou uma menina, levantando a mão.
— Bem... eu não sei sobre isso, mas o que eles fizeram foi uma coisa
ruim.
— Estou com medo, — disse outro.
— Não faz mal ter medo — até os adultos às vezes ficam assustados,
mas isso nos torna mais fortes. — Se ninguém ficasse assustado ou triste,
nunca saberíamos quando ou como ser feliz.
Foi estranho dizer o que eu disse. Era quase como se eu estivesse
chegando a essa realização ao mesmo tempo em que as palavras saíam.
As crianças pareciam responder bem, no entanto. Assim como as
mães que estavam ali voluntariamente.
Quando eu estava preparando alguns lanches, ouvi-os falando de
mim na cozinha.
— Oh, ela está indo tão bem como Luna, — ouvi uma dizer, — com as
crianças, com a alcateia. Todo mundo simplesmente a ama!
— Todos, exceto Zara, — outro contraposto.
— Não é surpreendente, dadas as circunstâncias. Ela ainda se sente
magoada com o que aconteceu. Foi tudo tão trágico.
Isto era novidade para mim. Que circunstâncias? Algo trágico aconteceu
com Zara?
— Você acha que Luna Quinn sabe sobre Katherine...?
Deixei cair uma bandeja de copos de plástico, o que chamou toda a
atenção para mim.
— Oh! Luna! — exclamou uma das mães. — Eu não te vi aí. Aqui,
deixe-nos pegar isso para você. — Eu tentei protestar, mas as mães
insistiram. Acho que era uma das regalias de ser Luna.
Embora eu tenha ficado satisfeita em obter mais informações sobre
por que Zara não gostava de mim, ela ainda deixou mais perguntas do
que respostas.
E Katherine... quem era ela? Eu mesma queria perguntar a Zara, mas
sabia que isso seria um erro. Eu teria que guardar essa linha de perguntas
para outra hora.
JAXON
Eu me sentia péssimo para caramba.
Meu corpo doía por toda parte. Meus braços e pernas pareciam ter
pesos de cem quilos presos a eles. Eu tinha mais cortes e cicatrizes do que
eu podia contar.
Na primeira noite em que acordei, entrei em pânico e tentei arrancar
todos os tubos, então os médicos e enfermeiras tiveram que me amarrar
à minha cama.
Levou oito deles me segurando antes que eles pudessem me prender
no lugar.
Eu tinha entrado e saído da consciência desde que cheguei aqui.
Provavelmente era o melhor. Sempre que acordava, sentia-me como se
estivesse morto.
Eu pedi analgésicos, mas o médico do bando recusou por causa dos
efeitos adversos — que poderiam resultar no meu sangue de lobisomem.
O que eu vou fazer? Dar uma de Hulk para cima deles?
Mas o que mais me doeu foi tentar entender como isso poderia ter
acontecido. Um ataque surpresa descarado tinha sido lançado contra
nós, e muitas pessoas ficaram feridas. Algumas não se safaram.
E estava tudo sob minha responsabilidade.
E pensar que eu disse a Quinn para fugir para a floresta. Fui um
maldito idiota. Ela poderia ter sido morta. Se eu não tivesse chegado lá a
tempo... Nem queria imaginar isso.
Foi humilhante estar aqui. Quinn me visitava quase todos os dias —
pelo menos foi o que me disseram, mas eu fingi estar dormindo sempre
que sabia que ela estava ali.
A vergonha de tudo isso era simplesmente demais. Eu não suportava
enfrentá-la. No entanto, me sentia mais forte quando ela estava por
perto.
O que ela deve pensar de mim?
— Jax! — Eu ouvi uma voz dizer.
Droga! Ela me pegou.
Ela sorriu enquanto se aproximava, mas não queria fazer
reciprocidade.
— Ei! É bom finalmente vê-lo acordado.
Ela me beijou na bochecha. Foi a primeira vez que ela me beijou desde
a noite do ataque. Isso me trouxe alívio imediato.
— Como você está se sentindo?
— Eu já estive melhor, — respondi.
— Os médicos dizem que você deve poder voltar para casa em breve.
Ótimo. Era exatamente o que eu precisava, me sentir humilhado não
apenas diante da Quinn, mas do resto do bando.
Ela podia dizer pelo meu longo silêncio que algo estava errado.
— No que você está pensando?, — perguntou ela.
— Eu decepcionei a todos. Eu deveria ter previsto isto. Estar mais
preparado.
— Não culpe a si mesmo. Os Malfeitores são solitários por natureza,
você mesmo o disse. Como você poderia saber que algo assim
aconteceria?
— Deve ter havido um sinal — alguma indicação de que isto era o que
eles estavam planejando. — Algo que eu perdi, — disse eu, ficando mais
agitado.
— Não podemos controlar tudo o que a vida nos atira, — disse ela,
colocando a mão no meu braço. Fui relaxando ao toque. — Às vezes, a
única coisa que podemos fazer é reagir às situações que nos são atiradas
da melhor maneira possível. Nem sempre podemos prever o que vai
acontecer.
Ela estava certa. As pessoas ao meu redor sempre estavam certas. E eu
estava errado... como sempre.
— Vai ficar tudo bem, eu prometo, — continuou ela. — Estou aqui
para você. E eu não vou a lugar nenhum.
Ela se inclinou e pressionou lentamente seus lábios contra os meus.
A sensação foi extraordinária. Quase tinha esquecido como era a
sensação.
Respirei fundo e inspirei seu cheiro enquanto estendia a mão para
tocá-la, mas esqueci que meus braços ainda estavam amarrados para
baixo.
Quinn notou e sorriu.
— Alguém tem se comportado mal?
— Eu suponho...
O sorriso dela cresceu ainda mais.
— Por que não estou surpresa?
E, pela primeira vez em muito tempo, eu também sorri. Ela me beijou
novamente, e novamente — cada um mais sensacional do que o último.
Eu gostei desta nova Quinn.
Então, minha Luna se afastou e me olhou com curiosidade, como se
estivesse tramando alguma coisa.
— O que é isso? — Eu perguntei, mas ela não respondeu.
Ela simplesmente foi até a porta do meu quarto e a fechou. Quando
voltou, ela puxou a cortina do hospital ao redor da minha cama,
escondendo-nos da vista.
— O que você está...?
— Sshhh! Você fala demais, — disse ela, enquanto subia na minha
cama de hospital.
Capítulo 16
PRIMEIRO ABRAÇO
JAXON

Quinn rastejou lentamente em cima de mim onde eu me deitava na


cama do hospital — não agressivamente, mas docemente. Ela montou
em meus quadris tomando cuidado com meus ferimentos.
A única coisa entre nós era meu cobertor e um vestido de hospital
com camadas finas. Ela nem tinha feito nada, e eu já estava ficando
excitado.
Eu queria alcançá-la e segurá-la, mas meus braços ainda estavam
presos à cama.
— Você vai me desamarrar? — eu perguntei.
Ela sorriu e balançou a cabeça.
— Eu gosto de você do jeito que você está. Fica bem em você.
Nunca tinha visto este lado da Quinn antes... inocente, mas
incrivelmente sexy.
E ela estava me deixando duro para caralho.
Ela então se inclinou enquanto movia sua boca em direção à minha,
mas parou quando eu senti dor.
— Cuidado, — disse eu, — ainda não sarei completamente.
Ela recuou.
— Posso ver?
Inicialmente eu estava relutante, mas depois concordei.
Quinn levantou gentilmente minha roupa de hospital debaixo do
meu cobertor até os meus peitorais.
Eu ainda tinha tubos dentro de mim, então ela não podia puxá-los até
o fim, mas revelou muito dos danos que o lobo tinha feito.
Foi a primeira vez que dei uma boa olhada em mim mesmo. Meu
tronco superior parecia uma zona de guerra. Havia contusões por toda
parte e cortes profundos. Os médicos disseram que eu tinha mais de
trezentos pontos, mas ver isso era uma história totalmente diferente.
Eu não podia acreditar que tinha sido tão maltratado. Eu poderia ter
sido morto.
Eu deveria ter sido morto.
Por que eu não estava?
A memória de tudo isso me fez lembrar do meu fracasso.
Comecei a perder o interesse e estava cada vez menos excitado.
Sentindo vergonha demais para olhar para ela, eu me afastei.
Ela soube imediatamente o que estava errado.
— Ei, está tudo bem, — disse ela, colocando a mão no meu queixo e
me trazendo de volta para ela. — Diga-me onde dói.
— Escolha algum lugar, — eu disse, com mais sarcasmo do que
pretendido, mas ela não foi provocada. Ela simplesmente encontrou um
hematoma no meu abdômen e plantou um beijo nele, causando uma
faísca elétrica que ressoava para fora.
Foi incrível.
Agarrei as barras laterais na cama para evitar que meu corpo se
abalasse enquanto ela continuava pressionando para baixo. Fiquei quase
envergonhado com o quanto eu estava ficando entusiasmado.
Logo esqueci tudo sobre os problemas que me atormentavam e me
senti mais relaxado, mas algo aconteceu que eu não esperava.
Não era apenas o prazer que eu estava sentindo, mas o alívio da dor
de uma maneira geral.
A dor ao redor de onde seus lábios tocaram começou a ser menos
agonizante, como se o ferimento estivesse sendo tirado de mim.
O alívio da dor só afetou a área onde sua boca havia pressionado, e
esta sensação continuou com cada beijo adicional que ela fazia.
Senti-a saltar de um hematoma, de uma escoriação, para o outro,
cada beijo proporcionando alívio enquanto ela se movia pelo meu peito
acima. Eu a senti mais quando ela trabalhou ao redor de minhas
lacerações.
Quando olhei melhor para o meu corpo, fiquei chocado ao ver que as
manchas roxas e azuis que sua boca tocaram haviam literalmente
desaparecido diante dos meus olhos.
No início, eu pensei que estava vendo coisas, até que vi alguns dos
meus pontos se soltarem quando minha pele foi moldada novamente.
Eu não podia acreditar no que eu estava testemunhando.
Não só pude sentir alívio para meus ferimentos externos, mas minha
força de dentro começou a crescer... como se tivesse quase me
reabastecido.
Era assim que era ser acasalado?
Eu ansiava por ela quanto mais distantes estávamos, mas será que
poderíamos estar tão próximos, tão conectados internamente, para
realmente curarmos um ao outro? Eu já tinha ouvido falar de ligações
especiais entre companheiros, mas nada como isto.
Acho que ela não percebeu o que estava fazendo.
QUINN

Eu quase caí da cama quando me sentei e vi Jax curando diante dos meus
olhos. O médico disse que os lobisomens se curavam mais rápido que os
humanos, mas eu não achei que fosse isso que ele estava falando.
— Como você está fazendo isso? — eu perguntei.
— Eu não estou... — disse ele, sem palavras. — Você está.
Eu? Mas como?
— Beije-me novamente, — disse ele, então eu corri os lábios para
cima de um corte profundo em um de seus peitorais firmes. Quando
puxei minha cabeça para trás, eu o vi evaporar diante dos meus olhos,
deixando uma leve marca branca para trás.
Eu beijei outro hematoma próximo e o vi se dissipar tão rapidamente
quanto o último. Beijei cada corte e arranhão que pude encontrar até me
encontrar trabalhando até o pescoço dele, ao longo de sua mandíbula, e
finalmente, até sua boca.
Mas nós não nos beijamos como antes. Desta vez, abri minha boca e
deixei sua língua escorregar para dentro para pressionar contra a minha.
Eu soltei um gemido involuntário enquanto o sentia ir mais fundo.
Esta foi a minha primeira vez beijando desta maneira!
Estava tão quente e úmido... Fui consumida por seu sabor. Eu não
conseguia me fartar do seu gosto.
Eu podia sentir que ele estava mais do que excitado — outra primeira
vez — mas ele não me pressionou, nem eu a ele. Nós apenas deixamos
nossas bocas fazerem o trabalho. Eu podia sentir a energia dentro dele
retornar enquanto passava minhas mãos sobre seu peito e através de seus
cabelos dourados.
Eu saltei de repente quando ouvi a porta aberta, então paramos.
— Alfa Jaxon, — disse a enfermeira por trás da cortina, — está na hora
de você — você está bem aí dentro?
— Sim, só um minuto, estou apenas... usando o penico, — disse ele,
enquanto tentávamos evitar rir.
— Está bem, eu volto mais tarde.
Nós caímos em gargalhadas quando a porta se fechou, e depois
voltamos de onde paramos. Ele estava louco para me tocar, e eu queria
que ele me sentisse também, então eu desamarrei suas amarras e deixei
que suas mãos explorassem meu corpo.
Eu gemi quando suas mãos frias escorregaram sob minha camisa e
nas minhas costas enquanto ele me puxava para perto. Ele não parecia
mais sentir a dor que sentia quando eu subi na cama pela primeira vez.
Senti vontade de ronronar pela maneira como suas mãos ásperas se
moviam para cima e para baixo nas minhas costas.
Nossos lábios e línguas se massageavam durante o que parecia trinta
minutos... possivelmente uma hora. O tempo não importava.
Afastei-me por um momento para olhar fixamente nos olhos dele.
— Estou feliz que você tenha ficado, — disse ele.
— Eu também, — eu respondi.
Enquanto eu me inclinava para beijá-lo novamente, a porta se abria e
o som de vários passos entrava na sala. A cortina foi puxada para trás.
— Alfa, nós... — disse Harper, antes de fechá-la rapidamente
novamente. — Desculpe, eu não percebi...
— Está tudo bem, — disse Jax ao puxar a cortina novamente. Eu saí
de cima dele, um pouco envergonhada. — O que é isso?
— Os malfeitores do ataque...
— O que tem eles?
— Apanhamos um deles.

Esta foi a primeira vez que estive no calabouço. Na verdade, eu nem sabia
que tínhamos um até duas horas atrás.
Parecia tão medieval, mas com o perigo ao redor, o bando precisava
de um lugar seguro para manter seus inimigos, explicou Jax.
Agora que tínhamos um deles, eu poderia finalmente obter a resposta
que desejava em relação ao porquê deles terem atacado e se tinha algo a
ver comigo.
Eu insisti em me juntar à Jax no momento em que ouvimos a notícia.
Ele tinha reservas quanto à minha vinda com ele, especialmente depois
do que aconteceu na floresta, mas ele manteve sua palavra de não
esconder nada e me deixou acompanhar.
— Fique ao meu lado, — disse ele, quase como uma ordem. Eu franzi
a sobrancelha e ele percebeu imediatamente seu erro. — Por favor.
Eu concordei.
Jax havia se recuperado quase completamente de seus ferimentos,
para surpresa de todos.
Ainda era difícil acreditar que tínhamos esse efeito um sobre o outro.
Ele disse que ainda havia algumas dores e machucados, mas de outra
forma, ele se sentia bem.
O calabouço tinha uma atmosfera sombria e ameaçadora ao seu
redor. Estava úmido e cheirava a mofo.
O fedor do sangue permanecia no ar. Definitivamente herdado da
Idade das Trevas.
Jax me conduziu por um corredor de celas sujas, cada uma preenchida
com um único prisioneiro. Eles gemeram e gritaram para nós quando
passamos.
— Quantos guardas prisionais você tem? — perguntei, enervada pelos
cativos aterrorizantes.
— Bastante, — respondeu ele. — Alguns trabalham fora do prédio,
outros dentro. Os prisioneiros mais perigosos estão sob vigília vinte e
quatro horas por dia.
Depois do que parecia uma eternidade, chegamos à escadaria final
onde Raphael nos esperava.
— Por aqui, — disse Raphael, enquanto nos conduzia para baixo.
— Como você o encontrou? — perguntou Jax.
— Eu estava em patrulha quando sentimos um mau cheiro que
reconhecemos do ataque. O encontramos deitado no chão, com uma
ferida na perna. O trouxemos de volta no momento em que colocamos
nossas mãos nele.
— E ele estava sozinho? — eu perguntei.
— Sim, mas o engraçado é que sua lesão foi recente. Parecia quase
auto infligida.
Isto foi estranho. Eu não gostei nada do som disto. Descemos vários
outros lances de escadas até chegarmos ao último andar. As celas aqui
estavam espalhadas, e em vez de barras, havia janelas grossas à prova de
estilhaços.
O prisioneiro malfeitor foi preso no extremo do corredor. Ele estava
sentado em uma cadeira, voltado para trás para que eu não pudesse ver
seu rosto.
Alex já estava lá dentro gritando com ele, mas o malfeitor não vacilou.
Ele parecia calmo e reservado.
Eu fiquei em frente à sua cela e olhei fixamente para o homem. Algo
sobre ele me parecia familiar.
— Ele disse alguma coisa? — perguntou Jax.
— Nem uma palavra, — respondeu Raphael. — Ele não entregará
ninguém. — Alex o tem interrogado desde o momento em que o
trancamos, mas nada parece estar funcionando.
O humor de Jax parecia escurecer enquanto ele olhava para o homem.
O povo deste homem matou dois membros de nosso bando — mais
dezenas de feridos. Os olhos penetrantes de Jax me disseram que ele
queria este homem morto.
— Que perguntas você já fez? — Perguntei a Raphael, mas logo que as
palavras escaparam da minha boca, o prisioneiro se virou e olhou
diretamente para mim.
Meus olhos se alargaram quando vi um corte familiar correndo pela
bochecha esquerda dele. Ele focalizou seu olhar e sorriu enquanto eu
tropeçava de volta, quando percebi quem era.
Carl!
Capítulo 17
O PRISIONEIRO
QUINN

Era ele.
O homem dos meus sonhos. Não havia como negar. Mas como?
Ele era exatamente como eu me lembrava, mas muito mais
aterrorizante. Vê-lo novamente me deu vontade de gritar.
Ele não tirou os olhos de cima de mim. Mesmo quando Alex o
repreendeu por trás da parede de vidro, seu olhar nunca vacilou.
Ele sabia que eu o reconhecia. Ele viu em meus olhos. Eu queria
desviar o olhar, mas não consegui.
Ele sorriu como se soubesse algo que eu não sabia.
Senti o sangue correr das minhas bochechas enquanto meu rosto
ficava branco.
Jax olhou para mim, preocupado.
— Quinn? — Jax chamou.
Mas eu não conseguia desviar o olhar.
— Quinn, — disse ele, mais preocupado.
Meu corpo se sentia rígido.
E foi quando eu ouvi isso. Como um sussurro na minha cabeça.
— Quinn.
— Olá, Quinn. É bom ver você novamente.
Eu engoli em seco ao sair do meu transe.
Eu me virei para Jax, ofegante.
— Quinn? — Jax perguntou: — Você está bem?.
— Desculpe, eu... eu não sei o que me deu, — minha voz tremia. Eu
queria contar a Jax sobre a voz, mas não tinha certeza se o que eu ouvi
era real.
Minha mente estava pregando uma peça em mim?
Jax se voltou para o homem atrás do vidro com ódio em seus olhos.
Havia uma frieza em meu companheiro que eu nunca havia visto antes.
Pelo olhar em seu rosto sombrio, pude ver que as mortes dos guardas
do Sombra da Lua estavam pesando muito sobre ele. Como Alfa, ele
tinha uma profunda conexão com cada um dos lobos da matilha.
Quando um membro sofria, ele também o sentia. Eles faziam parte
dele.
Eu pulei ao som da abertura da porta quando Alex saiu da cela.
— Ele disse alguma coisa? — perguntou o Alfa.
— Nem uma palavra, — respondeu Alex. — O bonitão aqui acha que
pode nos aguentar... teimoso.
— Tem um senso distorcido de lealdade para com sua alcateia, se
quer saber, — ele zombou.
Malfeitores eram conhecidos por serem independentes. Eles não
viviam segundo o código de uma matilha de lobos.
— Ele deve querer algo, — disse Jax, ao se aproximar do vidro.
— Sua vida!
— Sim, mas mais do que isso. Eu posso ver isso em seus olhos.
— E se ele não falar? — eu perguntei.
— Oh, ele vai falar. Você pode ter certeza disso. E quando tivermos as
informações de que precisamos, o mataremos. — Jax olhou para ele,
desafiando-o a falar.
O malfeitor não o olhou nos olhos.
— Grande conversa para um homem que eu incapacitava sozinho, —
Carl zombou enquanto se levantava e caminhava para o vidro. — E você
se chama um Alfa.
Ele ficou cara a cara com Jax.
Jax bateu seu punho contra a parede transparente.
— Cale a boca, malfeitor! — Jax se partiu.
— Oh, então agora você não quer que eu fale? Como queira, — disse.
Ele se virou e se sentou de novo.
Os músculos de Jax se contraíram enquanto ele cerrava seus punhos.
Ele parecia pronto para entrar pela porta e rasgá-lo.
— Você e seus cães mataram dois membros da minha matilha! — Jax
rugiu. — Eles tinham entes queridos, famílias... não que você saiba
alguma coisa sobre isso. Sua espécie é incapaz de empatia.
Nunca tinha visto tanta fúria nele, mas Carl permaneceu calmo.
— Eu sei que você está aqui por uma razão, — prosseguiu Jax. — Você
espera que eu acredite que alguém como você acabou de ser capturado?
— Espere, você acha que ele está aqui de propósito? — eu perguntei.
— Não é óbvio? Quando o encontraram, ele mal resistiu.
Um arrepio correu pela minha coluna. Eu tinha visto o que ele era
capaz de fazer com meus próprios olhos.
Alguém como ele não desistiria tão facilmente. E com Jax ameaçando
executá-lo, ele tinha que saber no que estava se metendo... não é mesmo?
Por que outro motivo ele se colocaria nesse tipo de perigo?
Minha memória voltou ao meu sonho.
Se havia um significado por trás disso, isso significava...
— Ele está aqui por mim!
Senti um caroço na minha garganta.
Carl havia deixado de prestar atenção a Jax e voltou seu foco outra vez
para mim. Ele lançou um sorriso sinistro como se ele soubesse o que eu
estava pensando.
Carl: Você é esperta, não é?
Olhei para o chão, incapaz de encontrar seu olhar.
Estaria realmente ouvindo coisas? Deve ser minha imaginação.
Essa foi a desculpa que eu usei, mas até eu achei difícil acreditar nessa
lógica.
— Então, o que você diz? — Jax disse a Carl. — Você se deixou
capturar, ou você é realmente tão grande assim?
O homem com a cicatriz no rosto esticou seus ombros para trás e
estalou seu pescoço, sem ser afetado pelos insultos.
— Por que você está nos atacando?! — Jax gritou.
— Por que agora?
Mas o Alfa foi recebido com silêncio.
— Isto é inútil, — disse Alex impacientemente.
— Estamos perdendo nosso tempo. Mesmo que ele fale, não podemos
acreditar numa palavra do que ele diz.
Jax suspirou exasperado ao pensar no que fazer.
— Você provavelmente está certo.
— Então devemos matá-lo, — disse Alex avidamente.
— Não... corte-lhe a língua. — Jax sorriu. — Ele claramente não tem
nenhum uso para isso.
— Com prazer, — disse Alex, enquanto soltava sua adaga e se movia
em direção à cela.
Isso chamou a atenção de Carl.
— Espere, — disse o prisioneiro. — Eu vou falar.
Alex parou.
— Oh, agora você está pronto para cooperar? — Alex esbravejou.
— Com uma condição.
— Não temos tempo para estes jogos! — Alex disse, continuando em
direção à cela.
— Espere, — ordenou Jax.
— Ele só está ganhando tempo!
— Estou disposto a ouvi-lo.
— Devemos matá-lo!
— Apenas... espere! — disse Jax, afirmando sua autoridade.
Alex recuou.
Jax se voltou para o malfeitor.
— Bem, continue. Sua condição sendo...?
— Que só vou falar com ela, — disse Carl, acenando em minha
direção.
Meus olhos se alargaram e meu estômago se torceu em nós.
— Quinn? — perguntou Jax, estupefato.
— Aqui dentro, — disse ele, apontando para sua cela.
— Ele está falando sério?
Eu me senti ficando menor a cada segundo. Comecei a me arrepender
de ter vindo até aqui. Mas este homem era um mistério que eu tinha que
resolver. Eu sabia que ele tinha respostas.
O que ele está planejando?
Jax começou a rir incontrolavelmente.
— Você deve estar fora de si se acha que vou deixá-la pisar um pé aí
dentro...
— Eu faço, — disse eu, dando um passo à frente.
Carl pareceu satisfeito com a minha decisão.
— Você está louca? — perguntou Jax, bloqueando meu caminho.
— Se ele nos disser o que precisamos saber, eu vou falar com ele.
— Absolutamente não! — disse Jax. — Eu não posso deixar você fazer
isso.
— Tenho que saber se o ataque teve algo a ver comigo.
Jax ainda não estava convencido.
— Nosso bando está em perigo. Se esta é a única maneira de protegê-
los, precisamos fazer isto. É o que é melhor para a alcateia. Além disso,
você poderá me ver. Com você observando, sei que nada de ruim
acontecerá.
Jax ficou quieto, mas não disse não.
— Diga-me que você não está levando isso a sério, — interrompeu
Alex.
— Não estou pedindo sua aprovação, — continuei, — apenas que
você não se meta no meu caminho.
— Por favor... confie em mim.
Jax estava claramente dividido sobre o que fazer. Senti-me péssima
por colocá-lo nesta posição, mas tinha que ser feito. Muitas vidas
estavam em jogo... mas depois ele cedeu.
— Se você sentir que está em perigo, basta dizer a palavra, e eu estarei
lá num instante, — disse ele, tentando manter a calma. — Só não chegue
muito perto, está ouvindo?
Eu acenei antes de pular em seus braços fortes, muito contente com
sua vontade de me deixar ir.
Jax então me soltou e abriu a porta da cela.
Uma vez lá dentro, ele trancou a porta atrás de mim. Eu estava por
minha conta.
Quando me virei, vi Carl de pé diante de mim.
Éramos apenas nós dois.
Carl deu outro passo à frente, mas parou quando Jax bateu com o
punho mais uma vez na parede. Ele então respirou fundo para inalar o
meu cheiro. E foi aí que eu ouvi...
Carl: É a segunda vez agora que você escapou do meu controle.
Carl: A maioria não tem tanta sorte.
Eu ouvi sua voz! Eu tinha certeza disso. Ele estava falando comigo em
meus pensamentos!
Quinn: Como você está fazendo isso?
Eu também ofegava quando minha voz ressoava na minha cabeça.
Ele riu.
Carl: Você é realmente ingênua, não é...?
Carl: Seu Alfa não lhe ensinou nada.
Cruzei meus braços com raiva e estreitei meus olhos para ele. A
maneira como ele conseguiu entrar em minha cabeça sem minha
permissão me fez sentir violentada.
É quando eu coloco dois e dois juntos.
Quinn: Foi assim que você fez, não foi!
Quinn: Como você entrou no meu sonho.
Carl inclinou a cabeça e bateu palmas condescendentemente.
Carl: Bem, talvez você seja mais esperta do que parece.
Carl: Não que isso lhe sirva de alguma coisa.
Carl: Não vai mudar o que está por vir.
Eu me voltei para Jax, que parecia confuso. Ele não sabia o que estava
acontecendo, mas eu tinha que continuar.
Carl: Não é óbvio?
Quinn: O que você quer de nós?
Quinn: Por que você atacou o bando?
Ele me olhou com ganância, mas eu não recuei. Eu não ia deixá-lo me
atingir.
Carl: Diga-me, Quinn...
Carl: O que aconteceu com seu pai?
Carl: Você sabe onde ele está?
Meu corpo congelou.
Quinn: Ele morreu.
O malfeitor sorriu mais, como se soubesse algo que eu não sabia.
Quinn: Por que?
Quinn: O que você sabe sobre meu pai?
Carl: Eu?
Carl: Nada. Eu nunca ouvi falar de Alistar Michael.
Ele sabia o nome de meu pai!
Carl riu.
Ele sabia algo... mas o quê?
Meu medo restante se transformou em raiva. Eu não consegui segurá-
lo por mais tempo.
— Você realmente acabou de me trazer aqui para falar sobre meu pai?
— eu murmurei. — Porque se você não começar a explicar, haverá sérias
consequências Carl riu ainda mais alto, claramente não intimidado por
mim.
— Você acha que esses lobos me assustam? Ser torturado é uma
segunda natureza, — disse ele, apontando para sua cicatriz facial. — Mas
você está certa. Há algo que eu queria lhe dizer... Chegue mais perto.
— O que você quer?
— Apenas aproxime-se.
Eu não gostei do rumo que isto estava tomando. Eu olhei para Jax,
que balançou a cabeça, mas eu tinha que saber o que Carl queria. Contra
o meu melhor julgamento, eu dei um passo à frente.
— Mais perto, — murmurou ele.
Eu dei outro passo.
— Mais perto, — sussurrou ele, ficando mais animado.
Mais um passo me trouxe bem na frente dele, perto o suficiente para
sentir seu fôlego.
— Estou aqui. Agora, me diga, — eu exigi.
Ele se inclinou de perto, antes de sussurrar,
— Vulpes!
Vulpes?
Antes que eu pudesse perguntar o que isso significava, eu sentia
minha cabeça empurrar para trás enquanto ele agarrava um punhado do
meu cabelo. Minhas unhas se agarraram ao braço dele, mas ele não
soltou.
— Retiro o que disse... você realmente não é muito inteligente, —
disse ele ameaçadoramente. — Eu vou gostar de vê-la morrer.
Sua outra mão se agarrou ao meu pescoço e começou a me sufocar.
Tudo se tornou nebuloso à medida que minha visão se esvaiu no
escuro.
Capítulo 18
PECADOS E SEGREDOS
QUINN

Tossi incontrolavelmente enquanto o ar corria de volta aos meus


pulmões.
Quando minha visão voltou, eu me vi embalada nos braços do Jaxon.
Ele estava me carregando por um corredor. Meus olhos encolheram à luz
do sol quando saímos do calabouço.
— Você está bem? perguntou Jaxon. — Eu estava com medo de te
perder!
Ele parecia abalado.
— O que aconteceu? — perguntei, ainda voltando, mas depois me
lembrei.
Carl.
A cela da prisão.
Meu pai.
A mão ao redor da minha garganta.
E finalmente...
Vulpes.
— Aquele monstro tentou matá-la! — disse Jax, rangendo os dentes.
— Sinto muito! Eu sei que você me disse para não chegar perto...
— Não se preocupe com isso, — ele interrompeu, segurando-me com
mais força. — Estou feliz por você estar a salvo.
Senti lágrimas correndo pelo meu rosto.
Jax me olhou com carinho enquanto suas mãos fortes
cuidadosamente as limpavam.
Eu me senti estúpida. Como pude ter sido tão imprudente? Deixei
meu orgulho levar o melhor de mim.
— Eu deveria saber melhor do que deixá-la entrar sozinha. A culpa é
minha, — disse ele, enquanto colocava meus pés no chão.
— Não, a decisão foi minha. Fui eu quem quis entrar ali.
— Eu poderia tê-la impedido, — disse ele, com certeza. Eu franzi a
sobrancelha, desafiando sua reivindicação. — Embora você parecesse
bastante determinada.
Eu sorri um pouco.
— Sinto muito.
— Não sinta, — disse ele.
Ele então se inclinou e beijou meus lábios. Uma onda de desejo
correu sobre mim, e eu o segurei perto de mim. Eu me senti segura. Eu
não queria soltar.
— Eu preciso voltar, — disse ele, afastando-se. — Ainda temos que
descobrir o que ele sabe.
— Eu posso ir com você...
— Não! — ele retrucou. — Fique aqui. Você já passou por muito.
Meu corpo ficou tenso. Eu não gostei da maneira como ele falou
comigo. Parecia uma ordem, mas eu podia ver em seus olhos que ele
rapidamente percebeu seu erro.
— Por favor, — disse ele num tom muito mais gentil.
Eu deixei minha raiva diminuir e me arrependi.
— Tudo bem...
Ele me beijou na testa.
— Obrigado, — disse ele, voltando ao calabouço.
— Vulpes! — Eu gritei, parando seu impulso. — Essa foi a última coisa
que ele me disse. O que isso significa?
Seu rosto ficou pálido. Ele parecia que tinha visto um fantasma.
— Não se preocupe com isso, — respondeu ele.
Ele começou a se virar.
— Diga-me o que significa, — eu exigi.
— Não é nada para se preocupar...
— Não, por favor, não faça isso comigo. Diga-me! Eu tenho o direito
de saber!
— Quinn!, — gritou ele. — Eu não tenho tempo para me explicar!
Deixe-me tratar disso.
Eu o olhei com desconfiança e apertei meus lábios.
Eu estava lívida.
Ele estava me tratando como uma criança. Justo quando eu pensava
que estávamos progredindo, ele deu uma de macho prepotente de novo.
— Muito bem. Você sabe claramente o que é melhor! Serei apenas sua
pequena Luna submissa como você sempre quis!
Virei as costas para ele e me afastei.
JAXON

Eu atravessei pelo corredor do calabouço, me culpando por tudo.


Como pude ter sido tão estúpido? Deixando Quinn entrar ali assim —
ela poderia ter sido morta! Eu nunca deveria tê-la trazido aqui... mas não
voltaria a cometer um erro como esse.
Cheguei à cela do vilão.
Ele estava amarrado a uma cadeira e não ia a lugar algum. Eu me
certifiquei disso. Seus olhos inchados e seu nariz sangrando eram sinais
do trabalho manual de Alex.
Eu balancei meu punho e bati com ele na mandíbula do malfeitor.
Ele gemeu e cuspiu sangue.
— Como você ousa tocá-la? — Eu rugi, enquanto puxava uma faca e a
segurava em sua garganta. — Dê-me uma boa razão para eu não matá-lo!
— Mas ele não ficou nada perturbado com a minha ameaça. Ao invés
disso, ele começou a rir.
— Se você me quisesse morto, já teria me matado, — disse ele, entre
risos.
Empurrei a borda de minha lâmina com mais força na garganta dele,
mas isso só o fez rir ainda mais.
— Você tem certeza disso? — Eu rosnei.
— Matar-me não vai parar o que já foi posto em movimento.
— É um começo! — Eu me retirei, mas ele ainda estava indiferente.
Depois, suas gargalhadas pararam.
Seu humor se tornou mais sombrio e com um tom de presságio.
— Você não tem ideia do que está enfrentando, — ele rosnou. — Você
não pôde protegê-la de mim na floresta. O que o faz pensar que você
pode protegê-la agora?
— Ela? Você quer dizer, Quinn? O que ela tem a ver com o que quer
que seja?
— Tudo, — ele assobiou. — Outros estão chegando... e não há nada
que você possa fazer para impedir!
— Outros? Que outros? Quem, caramba?!
Mas ele ficou mudo.
Eu sabia então que essa era toda a informação que iríamos obter
dele... por enquanto. No entanto, isso não me impediu de dar-lhe ainda
mais uma surra.

— Você acredita nele? — Alex perguntou enquanto percorríamos o


corredor da prisão.
Tínhamos deixado o malfeitor a apodrecer em sua cela.
— Não sei em que acreditar, — respondi. — Tudo o que sei é que o
ataque deles revelou o quanto somos realmente vulneráveis. Não temos
mão de obra e nossos recursos estão no limite.
— O que você acha que devemos fazer?
Por mais que eu odiasse admitir, eu sabia que não poderíamos fazer
isto sozinhos. Nunca fui de pedir ajuda, mas tive que deixar de lado meu
orgulho e pensar no bando. Suas vidas viriam em primeiro lugar.
— Nós não temos escolha, — respondi. — Devemos estender a mão
aos outros bandos para obter assistência.
— Você tem certeza? — perguntou Alex. — Não para questionar seu
julgamento, mas a última vez que todos eles se juntaram...
— Lembro-me perfeitamente bem do que aconteceu, — voltei a me
lembrar. — Não preciso ser lembrado.
Os bandos como um todo nunca haviam se entendido. Havia sempre
lutas internas. Alguns tiveram rixas que perduraram várias centenas de
anos — até mesmo meu próprio pai teve dificuldade para manter
alianças.
Eles nos consideravam fracos por não termos uma Luna. Mas eu sabia
que ter Quinn aqui iria mudar tudo.
Eu gostava muito dela... só esperava que ela sentisse o mesmo.
— Contate os outros bandos, — eu disse a Alex. — Estamos fazendo
uma trégua.
QUINN

— Eu nunca fui a uma festa na escola, muito menos a um baile! —


exclamei para Sky, enquanto arranjávamos centros de mesa no salão.
Uma semana se passou desde que Jax fez o anúncio, e todos se
apressaram em se preparar para o grande evento.
Preparação de alimentos.
Decorações suspensas.
Compra de quantidades copiosas de álcool.
E assim por diante...
Havia excitação no ar.
Cinco outras matilhas de lobos haviam aceitado nosso convite.
Disseram-me que esta seria a maior reunião do gênero em décadas.
E eu estaria mentindo se dissesse que não estava com medo de ferrar
tudo.
Uma coisa era ser Luna na frente da minha própria matilha, mas na
frente de outros Alfas e Lunas... A pressão me deu vontade de vomitar.
— Você vai ficar bem! — Sky respondeu: — Você só tem que colocar
um pé na frente do outro. — Muito parecido com nosso treinamento, só
que menos violento.
Ó
Ótimo.
— E se você quiser praticar, — continuou ela, — eu ficaria feliz em
ajudar. Eu fiz doze anos de balé!
— Eu não acho que a Dança da Fada Açucarada era o que Jax tinha em
mente, — disse eu, cortando os caules de uma rosa.
Sky riu.
— Você é engraçada, Quinn, você sabia disso?
Eu não tinha certeza se já tinha ouvido "engraçada" e "Quinn" na
mesma frase antes.
— Bem, se você quiser dançar muito, fique à vontade. Eu, por outro
lado, não quero ter nada a ver com isso. Não vou colocar um pé naquela
pista de dança, — eu disse definitivamente.
Minha mãe me levou às aulas de sapateado quando eu era muito
jovem, quando a tia Jodie ainda estava por perto.
Caí de cara no meu primeiro e único recital, e desde então tinha uma
fobia disso.
— Oh, acho que você vai mudar de ideia quando chegar lá.
Rolei meus olhos.
— Pense de novo.
Nesse momento, Harper entrou, carregando um braço cheio de
suprimentos.
— Ei, Harper! — Sky gritou, mas Harper respondeu com um sorriso
sem graça e se sentou em outra mesa. Ela estava se esforçando para ser
antissocial.
— O que há de errado com ela? — eu perguntei.
— Não sei. — Sky encolheu os ombros. — Tem sido assim desde o
ataque. Ela tem se mantido sozinha, principalmente.
Pensando bem, ela tinha sido bem mais distante... mais do que de
costume. Não que eu tivesse algum espaço para julgar. Eu mesma não era
muito extrovertida.
Mas alguma coisa parecia errada. Seus olhos estavam vermelhos e
havia olheiras em baixo.
Ela tem chorado?
— Talvez você devesse ir falar com ela? — Sky sugeriu. — Afinal, você
é a Luna.
— O que eu digo?
— Qualquer coisa!
Ela estava certa.
Eu tinha uma responsabilidade pelo bem estar do meu bando, então
fui até ela.
— Ei, importa-se que eu me junte a você? — eu perguntei, fingindo
um sorriso.
— Se você quiser, — disse ela, fingindo um sorriso logo depois.
Cheguei lá e comecei a cortar os caules das flores.
— Eu realmente gosto do que você fez com o arranjo.
— Obrigada...
Ficamos sentadas em silêncio.
Tentei pensar nas palavras certas para dizer, mas minha mente ficou
em branco. Eu me sentia cada vez mais desconfortável.
— Você não tem que fazer isso, — murmurou Harper. Eu olhei para
ela, confusa.
— Estar aqui comigo, — prosseguiu ela, — sei que é apenas porque
você se sente obrigada. Mas eu estou bem.
— Você não parece bem.
Ela ficou em silêncio.
Eu não deveria ter dito isso.
Tentei continuar trabalhando, mas a tensão se tornou muito grande.
Eu não sabia nada sobre como fazer as pessoas se abrirem.
— Vou te deixar em paz, — disse eu, começando a ficar de pé.
— Minha família foi morta por malfeitores... você sabia disso?
Fiquei atordoada.
— Não, eu não sabia.
— Foi por isso que eu vim aqui. Eu tenho... tinha um irmão... Ele era
tão gentil e bondoso... e meus pais. Eles estavam apaixonados um pelo
outro. Eu os amava tanto. Eles faziam qualquer coisa por mim. E quando
eles morreram, um pedaço de mim morreu com eles.
Isto era novidade para mim. Eu poderia ter sido a única no bando que
sabia.
— Comecei a esquecer o que aconteceu, mas, depois do ataque, tudo
voltou à memória.
Ela começou a lacrimejar.
Partiu-me o coração vê-la com tanta dor. Eu tentei encontrar as
palavras certas, mas ainda não sabia o que dizer.
— Harper, — disse eu, me aproximando dela.
— Não, — ela sufocou, — por favor, apenas... apenas não.
— Está bem, — eu disse, recuando, — eu lhe darei espaço. Mas só
para que você saiba, se alguma vez precisar de alguém para ouvir, estou
aqui.
Eu comecei a me afastar.
— Quinn?
Eu parei, mas antes que eu tivesse a chance de me virar, ela tinha os
braços enrolados em torno de mim. Ela me abraçou com força, mas
apenas por um momento antes de me afastar.
— Obrigada, — sussurrou ela.
— Disponha, — eu sorri de volta.
Ela então respirou fundo e voltou ao trabalho.
Eu a invejava de uma forma estranha. Ela ao menos sabia o que
aconteceu com sua família. O que aconteceu com a minha ainda era um
mistério.
Eu saltei quando uma mão desconhecida tocou meu ombro. Era
Jaxon!
— Você me assustou!
— Desculpe, — ele respondeu. — Você está bem?
— Sim, eu estava apenas... Harper disse algo que me fez lembrar meu
pai.
— Você quer falar sobre isso?
— Não, eu estou bem.
Mas eu não estava bem. O desaparecimento de meu pai pesou muito
sobre mim. Houve um tempo em que pensei que poderia viver com o
desconhecido, mas agora, não conseguia tirá-lo da minha cabeça.
Isso consumiu meus pensamentos.
Havia alguém com quem eu queria falar, mas não era meu
companheiro — alguém que eu conhecia — que tinha respostas sobre
meu pai.
Eu comecei a me afastar.
— Quinn? Onde você está indo?
— Eu vou falar com Carl.
Capítulo 19
AS MEMÓRIAS RESSURGEM
QUINN

— Abra o portão! — Eu gritei para Jaxon.


Ele estava bloqueando a entrada do calabouço.
— Não vou deixar você ir lá embaixo, — disse ele, tentando
permanecer calmo. — Não depois do que aconteceu da última vez.
Durante minha última visita, Carl deu a entender que sabia algo sobre
meu pai — isto é, mesmo antes de tentar me matar. Mas eu não ia
cometer esse erro novamente.
Estava ficando tarde.
Estávamos nisto há mais de uma hora, e eu estava ficando impaciente.
— Você! — Eu disse, apontando para um dos guardas que flanqueia a
porta. — Você deve ter uma chave. — Ele era baixo e estocado — não do
tipo guerreiro atlético que protegia as fronteiras, que provavelmente foi o
motivo pelo qual ele ficou preso a este trabalho.
— Bem, uh... — o guarda murmurou, coçando sua nuca.
— Você tem, ou não tem?
— Claro... mas nossas ordens não são para abrir este portão para
ninguém além do Alfa.
— E eu sou sua Luna! — Eu disse, entrando na cara do guarda. — Isso
não significa nada?
Este não era um comportamento normal para mim, mas eu estava
furiosa. Carl sabia algo sobre meu pai que ele não estava me dizendo, e eu
tinha que saber o que era.
— Umm... — disse o guarda, olhando para frente e para trás entre seu
Alfa e Luna. — Eu realmente não quero me meter no meio disto.
— Isso não é uma resposta, — eu rosnei.
O guarda ficou claramente abalado.
— Seu trabalho é proteger a entrada e mantê-la segura, — disse Jaxon,
— e é mais segura quando a porta está fechada, não é?
— Bem, sim...
— Então mantenha-a trancada!
— Olha, meu turno termina em meia hora, — disse o guarda, em
dúvida sobre o que fazer. — Você não pode simplesmente esperar que o
próximo cara apareça...?
— NÃO! — eu gritei. Voltei para Jaxon. — Preciso lembrá-lo de sua
promessa de me tratar como igual?
— Bem, eu não posso fazer isso se um louco apertar até tirar a vida de
você, — gritou ele de volta.
Ele havia perdido toda a calma.
— Agora, eu tenho sido mais do que paciente, — continuou ele, —
mas isto tem que parar! Você tem que ser razoável.
— Razoável?!
Eu estava fumegando.
Não houve discussão com ele. Ele tinha tomado uma decisão e não ia
recuar. E este guarda tinha muito mais medo de Jaxon do que de mim.
Sem palavras, eu me virei e me afastei.
— Quinn... — Jax me chamou. — Aonde você está indo?
— Fazendo algo ‘razoável’, — eu respondi. — Indo para a cama!
JAXON
Eu bati na porta do quarto.
— Posso entrar? — eu perguntei.
— Você é o Alfa, — disse uma voz fraca. — Você pode abrir e fechar
qualquer porta que quiser.
Isto não ia ser bom.
Entrei e encontrei Quinn deitada na cama, tendo construído sua
parede de travesseiros para dividir novamente o colchão. Ela estava se
tornando uma pedreira muito hábil.
Fui até o guarda-roupa e comecei a me despir.
Ela não olhava para mim.
Eu não me importava o quanto ela estava brava. A segurança dela era
mais importante para mim do que qualquer outra coisa no mundo. E se
isso significasse protegê-la contra ela mesma, então era isso que eu faria.
Quando terminei de me despir, apaguei a luz e escorreguei por baixo
dos lençóis.
Não falávamos pelo que parecia ser uma eternidade.
Não conseguia parar de pensar no perigo no qual a expus.
Fui lembrado do meu passado... sobre como era sofrer a maior perda
imaginável. Eu não podia deixar que isso acontecesse com Quinn. Eu
queria contar a ela, mas tinha medo de como ela reagiria.
Se eu pudesse apenas fazê-la entender.
— Quinn, — comecei, — há algo que eu gostaria de falar com você.
Algo importante.
Isto foi mais difícil do que eu pensava, mas eu sabia que tinha que ser
feito.
— Sobre a abertura do portão?, — perguntou ela, espiando por trás de
seus travesseiros.
— Não, não é isso, é sobre...
— Então não há nada a ser discutido, — ela recuou. Por isso, eu deixei
passar. Quinn não estava com disposição para falar. Mas eu não podia
esconder dela para sempre o que tinha a dizer. Ela teria que saber,
eventualmente.
Eu só esperava que quando lhe contasse, ela não saísse pela porta para
sempre.
QUINN

Jaxon levou muito mais tempo para adormecer do que o normal. Pude
perceber pela maneira como ele sibilou quando roncava.
Levantei-me e coloquei meu roupão, antes de pisar sobre o chão de
pedra, em sua pilha de roupas. Ele nunca as pendurava. Revistei seus
bolsos até encontrar suas chaves.
Eu as puxei lentamente sem fazer muito barulho, depois escorreguei
pela porta do quarto.
A porta rangeu quando eu comecei a fechá-la.
Eu congelei.
Eu o acordei?
O zumbido contínuo de seus roncos indicava que não.
Apressei-me pelo corredor e pelas escadas sinuosas até chegar à
entrada do calabouço. Dois guardas diferentes foram colocados nas
proximidades, então eu joguei meus ombros para trás e me aproximei
deles com confiança.
— Boa noite, Luna, — disse um deles.
Eu acenei de volta enquanto continuava até a entrada.
— Oh, desculpe, — disse ele, pisando na minha frente, — Alfa Jaxon
nos deu ordens estritas para não deixar ninguém descer aqui.
— Está tudo bem, ele me deu as chaves, — eu disse, segurando-as. —
Você mesmo pode falar com ele, se quiser.
Ele olhou para mim com curiosidade. Ele estava acreditando?
— Muito bem então, vá em frente, — respondeu ele. — Se você quiser
uma escolta, eu ficaria feliz em...
— Não há necessidade. Eu ficarei bem.
Foi aí que percebi que não tinha certeza de qual chave usar. Devem
ter sido trinta delas. Eu escolhi a maior coberta de ferrugem e a inseri na
porta.
Destrancou!
A porta era mais pesada do que o esperado, então o guarda me ajudou
educadamente a abri-la. O som dele trancando-a atrás de mim foi
arrepiante.
Eu estava por minha conta.
Eu desci as escadas e percorri o corredor escuro. O cheiro familiar de
mofo me encheu as narinas. Passei por inúmeras portas de celas, cujos
detentos eram tão sombrios quanto o ambiente que os rodeava.
Parecia que este labirinto se prolongava por quilômetros.
Então eu o vi.
Ele estava encostado contra a parede acorrentado na parte de trás de
sua cela. Ele parecia espancado e machucado, mas debaixo de seus olhos
inchados, eu podia ver uma faísca acesa quando ele me viu.
— Quinn, — disse sua voz ressequida, — Pensei que fosse você. Eu
podia sentir o seu cheiro vindo. — Ao ouvi-lo dizer isso, senti-me
violentada.
— Não pensei que voltaria a vê-la depois da última vez, — disse ele.
Foi necessária toda a coragem para abordar o homem que tentou me
matar. Meu coração batia a mil quilômetros por hora, mas eu não deixei
transparecer.
Ele se mostrou pouco, à medida que eu me aproximava.
— Isto não é um zoológico, se é por isso que você está aqui.
— Não é, — eu respondi.
— Deixe-me adivinhar... você está aqui por causa de seu pai. — Ele se
levantou e se aproximou da barreira clara. Eu queria recuar, mas
permaneci firme.
— Sim, na verdade. Você falou como se soubesse o que aconteceu
com ele.
— Você não? — ele sorriu.
Lá em casa, meu pai era um tema doloroso. Eu não sabia muito sobre
ele. Tudo que eu sabia era que um dia, ele saiu de casa e nunca mais
voltou.
Minha mãe e eu raramente discutíamos sobre ele. Eu queria
desesperadamente saber como ele era, mas minha mãe sempre ficava
chateada sempre que eu trazia o assunto.
— Eu sei que ele está morto.
Carl sorriu. Eu podia ver em seus olhos que ele sabia algo que eu não
sabia.
— Como ele morreu?
— Eu não sei... minha mãe disse que foi um acidente.
— Então foi isso que aconteceu?, — perguntou ele ameaçadoramente.
Que diabos ele estava insinuando — que não era?
— Diga-me o que você sabe! — Eu ordenei.
Ele pisou o mais perto que pôde antes que as correntes o segurassem.
Eu não vacilei.
— Você quer mesmo saber? — sussurrou ele.
Eu acenei com a cabeça, com medo do que ele pudesse dizer.
— Diga-me.
— Oh, eu farei mais do que dizer... eu vou te mostrar!
Ele então coçou sua testa e trancou seus olhos com os meus, unindo
nossas mentes novamente. Em um instante, minha mente foi
transportada para outro lugar.
Um turbilhão de imagens encheu minha cabeça até que me vi de pé
dentro de um bosque arborizado. Havia uma fogueira acesa, rodeada por
muitas figuras sem rosto, e uma mulher amarrada a uma árvore. As
figuras ao redor das brasas em chamas estavam rindo... mas de quê?
Enquanto minha mente buscava respostas, percebi que havia alguém no
meio do incêndio. Ele estava gritando. Ele estava amarrado a um poste e
estava lutando para se libertar.
No início, não consegui ver bem, mas depois, entre as chamas que o
rodeavam, consegui ver seu rosto e reconheci imediatamente quem era...
— Pai! — Eu gritei, mas não consegui desviar o olhar. Por mais que eu
tentasse, não conseguia tirar os olhos dele. Carl estava me obrigando a
assistir.
— Faça parar, — eu implorei.
— O que foi isso? — ele provocou.
— Eu disse, FAÇA PARAR!
Mas as imagens de sua tortura não paravam. Minha mente estava em
chamas. Eu podia ouvir Carl rindo de mim. Agarrei minha cabeça e bati
nas minhas têmporas até que finalmente quebrei o elo.
Eu me esforcei para recuperar o fôlego.
Toda a minha vida me perguntei o que aconteceu com ele... e agora eu
sabia, eu quase desejava não saber. Ele não morreu apenas... ele foi
assassinado horrivelmente!
Era como se as paredes da prisão estivessem se fechando sobre mim.
Comecei a hiperventilar.
Eu tinha que sair de lá, então me afastei da cela e comecei a correr.
— Para onde você está indo? — Carl repreendeu. — Partindo tão
cedo?
Corri pelo corredor tão rápido quanto meus pés conseguiam. Não me
atrevi a dar meia-volta.
— Eu sabia que você não poderia lidar com a verdade, — ele me
chamou. — Sua linha de sangue sempre foi fraca. Mas corra, pequeno
lobo! Vejo você novamente em breve! Você pode contar com isso!
Corri mais forte e mais rápido.
Eu queria esquecer, mas não consegui tirar essas visões da minha
mente. Tinham ardido em mim, assustando para sempre a imagem
saudável que eu tinha de meu pai.
Como eles puderam fazer isso?
E porquê?
Não me lembrei dos portões do calabouço se abrirem ou que passei
pelos guardas. Eu não sabia para onde estava indo. Só sabia que tinha que
me afastar o máximo possível de lá.
Quando entrei em outro longo corredor, uma silhueta escura
emergiu das sombras. Ela se aproximou ameaçadoramente ao começar a
me alcançar.
Eu gritei.
Capítulo 20
LINHAGENS
QUINN

Eu caí no chão quando a figura misteriosa se aproximou.


— Quinn?!, — disse uma voz familiar. — O que há de errado? Você
está bem?
Quando seu rosto apareceu na luz, percebi que era meu companheiro.
O alívio foi lavado sobre mim.
— Jax! — exclamei enquanto saltava em seus braços. — Oh, graças a
Deus, é você!
— Acordei e notei que você tinha ido embora. O que aconteceu? Você
está bem?
Tive medo de dizer isto.
Eu sabia que ele ficaria bravo por eu ter desobedecido aos seus
desejos.
Ele escovou suavemente a mão na minha bochecha. Eu estava
encharcada de suor. Eu não conseguia parar de tremer.
— Parece que você viu um fantasma.
— Eu vi... — Consegui me engasgar. — Fui ver Carl...
Seu comportamento tornou-se frio à medida que seu corpo ficava
tenso.
— Você o quê?
— Eu tinha que vê-lo! Então, peguei suas chaves e fui para baixo...
— Você pegou minhas chaves? — ele interrompeu, a raiva cresceu.
— Sim, escute! E quando perguntei sobre meu pai, ele entrou em
minha mente e me mostrou o que aconteceu... Eles o mataram! Ele foi
queimado vivo!
Eu comecei a chorar, incapaz de me conter por mais tempo.
— Então, se você quiser gritar comigo, — eu prossegui, — vá em
frente. Eu mereço isso.
Mas Jaxon não disse uma palavra. Ele apenas olhou para mim em
completo choque.
Depois de um momento, para minha surpresa, ele estendeu seus
braços e me puxou para perto.
Eu o abracei e ele me segurou firmemente contra seu peito. Eu
enterrei meu rosto nele enquanto minhas lágrimas corriam
incontrolavelmente.
Ele passou suas mãos pelo meu cabelo e me beijou na testa. Enquanto
meu choro diminuía, sua palma levantou meu queixo.
Não havia nada além de amor em seus olhos.
— Quinn, lamento muito, muito, pelo que aconteceu. Não consigo
imaginar o que você está passando. Se houver algo que eu possa fazer...
estou aqui.
Era exatamente o que eu queria ouvir. Mas enquanto ele me segurava,
minha mente continuava vagando de volta ao que eu vira. Eu não
conseguia tirar aquelas imagens da minha cabeça.
A dor, o sofrimento...
Comecei a me retirar dos afetos do Jaxon.
Cada toque parecia um pequeno choque elétrico como se eu estivesse
sendo picada com pequenos alfinetes e agulhas que pulsavam por todo o
meu corpo. Eu queria rastejar para fora da minha pele. Afastei-me e corri
minhas mãos sobre meu corpo, tentando fazer com que a sensação
desaparecesse.
— O que é isso? — perguntou ele.
— Não sei, sinto comichão por todo o lado...
A sensação estava ficando pior.
— Bem, e que tal se nós colocássemos outras roupas...?
— Não, está tudo bem...
— Ou tomar um banho...?
— Eu não preciso de um...
— Poderíamos ir dar uma caminhada. Um pouco de ar fresco poderia
lhe fazer bem...
— Eu disse que estou bem! — Eu gritei para ele. Ele parecia
genuinamente ferido. — Olhe... sinto muito. Agradeço o que você está
fazendo...
Ele começou a estender a mão, mas eu me afastei.
— Não! Por favor, eu só preciso ficar sozinha por um tempo.
Eu me virei e corri pelo corredor, sem saber para onde ia.
JAXON

Os passos de Quinn ecoaram pelo corredor enquanto eu a via sair.


Eu estava perdido.
Eu não sabia o que fazer.
Devo ir atrás dela?
Eu comecei a segui-la, mas me parei.
Não, provavelmente não. Ela precisava ficar sozinha.
Comecei a andar.
Eu queria fazer algo. Eu me senti impotente por não poder ajudar.
Como se eu não estivesse fazendo meu trabalho como seu companheiro.
Qualquer coisa que eu faça será suficientemente boa?
Eu não conseguia me lembrar da última vez que me senti tão
desamparado.
Mas ela também havia traído minha confiança. Isso era algo que eu
não podia esquecer.
Embora eu pudesse ter tratado ela melhor, isso não muda o que ela
tinha feito.
Roubar chaves, entrar sozinha no calabouço... Se ela me enganou por
algo tão trivial como abrir uma porta, o que mais ela estava disposta a
fazer pelas minhas costas?
Até onde ela estaria disposta a ir?
Enquanto percorria os corredores, meus próprios demônios voltavam
a mim.
Eu era um hipócrita por pensar tão mal dela quando eu tinha meus
próprios segredos escondidos?
Ela estava se afastando de mim.
QUINN

Na manhã seguinte, eu estava na biblioteca.


Não dormi quase nada.
Fiquei pensando no que Carl me disse pela última vez, sobre a minha
linhagem ser fraca. O que ele quis dizer com isso?
Jaxon nunca veio para a cama.
Eu devo tê-lo magoado.
Eu não queria ser tão desdenhosa, especialmente depois do que fiz.
Ele estava com raiva de mim?
Ele tinha todo o direito de estar. A maneira como passei de 8 a 80,
depois de 80 para 8 novamente... Devo ter parecido uma pessoa louca.
Mas eu não conseguia lidar com isso agora.
Minha mente foi consumida pelas palavras sinistras do vilão.
Esta grande sala de livros havia se tornado um lugar que eu
frequentava. Assim como em casa, a biblioteca me dava conforto. Sempre
que eu não estava treinando ou passando tempo com Jax, eu vinha aqui.
Mas agora mesmo, eu estava em uma missão.
Eu não sabia exatamente o que estava procurando, mas saberia
quando o visse.
Mildred, a bibliotecária, que parecia ter 150 anos, se aproximou. Ela
começou a falar, mas eu a interrompi.
— Estou bem, obrigada, — disse eu, mais severamente do que
pretendia.
Ela se virou, desapontada.
Lamentei imediatamente minha resposta.
Eu estava deixando o Carl me afetar, e eu estava descarregando em
todos os outros.
Passei meus dedos pelas fileiras de livros à procura do certo. Senti
como se estivesse dando voltas pela sala.
Mas então uma capa familiar de um velho livro empoeirado na seção
de História chamou minha atenção. Foi o mesmo usado na minha
cerimônia de acasalamento!
Então, eu o tirei da prateleira. Tinha o título Aqueles contra nós.
Estranho...
Sentei-me em uma mesa próxima e comecei a folhear as páginas
marrons desgastadas pelo tempo.
Havia mapas, linhas do tempo, retratos de pessoas antigas, e capítulo
após capítulo detalhando a vida de muito tempo atrás. Havia até mesmo
uma seção sobre criaturas míticas, como os vampiros!
Eu me lembrei que a Sky os havia mencionado de passagem, mas
achei que ela estava brincando.
Não estava?
Logo percebi que eu não estava apenas olhando para qualquer livro de
história. Mas o livro de história... sobre lobisomens!
Por que eles não o chamaram apenas de "O Livro de História dos
Lobisomens"?
Eu supunha que isso não me soou tão aliciante.
Eu examinei o glossário e me deparei com uma seção intitulada,
Linhagem.
Quando me voltei para ele, encontrei um desenho de uma mulher de
cabelos brancos que parecia estar pairando no céu noturno. Ela me
parecia familiar.
— Selena, a Deusa da Lua, — lê-se na legenda. E então eu me lembrei.
Assim como Sky me disse uma vez quando cheguei aqui pela primeira
vez, o texto dizia que a Deusa da Lua era a criadora de lobisomens, a
divindade todo-poderosa a quem os lobos rezavam. E a lenda dizia que
ela vivia aqui na Terra e se apaixonou por um humano que a traiu.
Com o coração partido, ela criou uma nova espécie que ela esperava
que se elevasse acima dessa mesquinhez: os lobisomens.
Os primeiros de sua raça eram dois irmãos chamados Theodore e
Isabelle, mas eles frequentemente se comportavam de forma selvagem e
eram propensos à violência. Ela não percebeu como suas criações
poderiam ser ferozes e decidiu que precisava de algo para domar suas
bestas interiores, então ela criou almas gêmeas.
Theodore e Isabelle encontraram o amor com companheiros
humanos e tiveram um filho cada. Suas linhas de sangue eram
consideradas praticamente reais.
A Deusa da Lua criou então mais quatro lobos, Edward e Sandra, e
Mattheius e Gillie. Os pares tiveram muitos descendentes cujo sangue
corria através da maioria dos lobisomens vivos hoje.
Fiquei intrigada.
Carl insistiu que minha linha de sangue era fraca... mas de quem era o
sangue que corria nas minhas veias? De quem era a linhagem que ele
considerava inferior?
— Não tem como eu voltar lá embaixo para descobrir.
Eu virei meu pescoço quando percebi algo se movendo com o canto
do meu olho. Achei que poderia ter sido minha imaginação até ouvir o
que parecia um livro caindo no chão.
Foi quando vi alguém me observando de trás de uma estante de
livros, com o rosto obscurecido.
— Olá? — Eu consegui me expressar.
A pessoa correu para longe.
Todos os músculos do meu corpo me diziam para ficar quieta, mas eu
tinha que saber quem estava lá. Levantei-me e lentamente comecei a
explorar, mas não vi nada.
As prateleiras lançavam sombras escuras dos candelabros acima.
Nunca me dei conta de como as bibliotecas poderiam ser assustadoras.
Então, outro flash de movimento me fez eu me virar. Havia uma
familiaridade sobre a figura.
Foi o homem que veio em meu socorro durante o ataque?
Ou... poderia ser outro malfeitor?
Eu engoli em seco.
Eu tentei seguir quem quer que fosse, mas ele não ficava parado.
Cheguei à prateleira dos livros para os quais vi a figura correr pela
última vez, mas não encontrei nada.
E foi quando os cabelos na parte de trás do meu pescoço se
levantaram como se alguém estivesse espreitando atrás de mim, como se
fosse algo fora de uma história de horror.
Meu pulso começou a acelerar.
Eu estava muito apavorada para me mover.
Eu sabia que a qualquer momento uma mão se estenderia e me
tocaria.
Depois, ouvi passos que se aproximavam.
Eles estavam se aproximando cada vez mais — eles estariam perto de
mim a qualquer momento. Eu sabia que não poderia ficar assim
congelada... Eu tinha que agir.
Então, eu segurei meu livro no ar e girei o mais rápido que pude, mas
saltei de volta quando percebi quem era.
A pessoa gritou.
— Sky! — exclamei. — Não se aproxime sorrateiramente de mim
assim.
— Desculpe! — disse ela, tentando recuperar o fôlego. — Eu chamei
seu nome, mas você não respondia.
Estranho.
— Você não estava no salão do baile, — prosseguiu ela. — Não sabia
se você queria me ajudar com decorações.
Pensei nisso por um momento. Pendurar serpentinas parecia trivial
em comparação com o que eu tinha passado nas últimas vinte e quatro
horas, mas talvez esse fosse exatamente o tipo de pausa frívola de que eu
precisava.
— Claro, por que não? — Eu respondi.
E nós estávamos fora da porta.
O mistério do homem na biblioteca teria que esperar. Não poderia ter
sido minha imaginação. Eu sabia que tinha visto alguém. Mas quem?
O livro lançou alguma luz sobre algumas coisas, mas me deu mais
perguntas do que respostas.
Não me disse nada sobre meu pai e por que ele poderia ter sido
morto.
A única pessoa que saberia era um bastardo sádico, e eu não ia lhe dar
o privilégio de me atormentar novamente.
Havia outra pessoa que saberia, mas não havia como eu voltar a
procurá-los. Não depois de tudo o que havia acontecido... será que
poderia?
Eu parei de caminhar pela passagem enquanto pensava no que fazer.
Sky virou-se para mim.
— Você vem?, — perguntou ela.
— Uh... sim... sim... sabe de uma coisa, por que não continua sem
mim? Eu já te encontro.
— O que você quiser.
E ela foi embora.
Quando ela chegou longe o suficiente no corredor, eu me enfiei numa
alcova próxima e tirei meu telefone do bolso de trás.
Eu procurei na minha lista de contatos até chegar ao nome da última
pessoa na Terra com quem eu queria falar.
Mãe.
Capítulo 21
LAÇOS FAMILIARES
QUINN

Passei o dedo em cima do nome dela, mas não consegui fazer uma
chamada.
Talvez isto seja uma má ideia.
Fazia semanas desde que ligara meu telefone pela última vez. Eu
estava usando um telefone pré-pago desde que saí de casa. Ao invés disso,
decidi verificar minhas mensagens de texto.
O ícone na minha tela inicial dizia: — 99+ mensagens não lidas. —
Ninguém em casa jamais me enviou uma mensagem de texto, portanto,
só poderiam ser de uma pessoa.
Eu abri o aplicativo e, com certeza, eu estava certa.

Mãe: Quinn, onde você está?!

Mãe: Você não estava em seu quarto esta


manhã!

Mãe: Para onde você fugiu?

Mãe: ...

Mãe: Quinn, isto não é engraçado.


Mãe: Já passa do meio-dia.

Mãe: Diga-me onde você está!

Mãe: Se você não me responder nos


próximos cinco minutos, você vai estar em
grandes apuros!

Mãe: VOCÊ ENTENDE?

Mãe: Quinn, por favor, responda.

Mãe: Já se passaram 12 horas.

Mãe: Eu chamei a polícia.

Mãe: Estou preocupada com você.

Mãe: Se você está brava comigo, podemos


falar sobre isso.

Mãe: Por favor... apenas me avise que você


está bem.
Mãe: Se algo aconteceu com você...

E assim por diante continuou. Ela me enviou mensagens todos os dias


que eu estive fora. Quanto mais eu lia, mais culpada eu me sentia.

Mãe: Não sei se você está recebendo estas


mensagens Quinn, mas já se passou mais de
uma semana.

Mãe: Eu só queria dizer o quanto lamento...


por tudo.

Mãe: Eu sei que nem sempre fui a melhor


mãe.

Mãe: Eu cometi tantos erros.

Mãe: Mas ter você na minha vida não é um


deles.

Mãe: Você não tem ideia do quanto você


significa para mim.

Mãe: Eu te amo muito.


Mãe: Eu daria tudo para ouvir sua voz
novamente.

Mãe: Por favor, se você estiver por aí...


apenas me avise que você está bem.

Eu não conseguia mais ler. Comecei a chorar.


Eu tinha cometido um erro ao vir aqui? Deixando-a para trás?
Droga!
O mínimo que eu poderia ter feito era deixar um bilhete!
Ela estava sofrendo tanto... eu nunca quis machucá-la. Só agora eu
percebi que tinha feito exatamente o que aconteceu com meu pai e a tia
Jodie... desaparecer sem deixar rastro.
Era a ideia do desconhecido que a estava corroendo. Eu sabia
exatamente o que ela estava passando, o sentimento de agarrar-se à
esperança, mas querendo deixá-la ir...
Eu não poderia deixá-la continuar sem um encerramento.
No mínimo, ela saberia que eu estava bem.
E talvez, só talvez, ela me dissesse algo sobre meu pai.
Era um tiro no escuro, mas eu tinha que tentar.
Então, voltei para o topo do meu aplicativo de mensagens até
encontrar o ícone de áudio.
Meus dedos estavam tremendo, mas eu o pressionei mesmo assim.
O tom de discagem da chamada de saída tocou no meu ouvido.
Eu segurei a respiração.
Cada toque parecia uma eternidade... então eu ouvi um clique.
— Quinn?! — respondeu uma voz fraca. — Quinn? É você?!
— Oi, mãe...
JAXON
— Vou cortar a droga da garganta dele! — Eu disse para mim mesmo
quando entrei no calabouço.
Eu deixara aquele monstro viver por tempo suficiente. Não me
importava que informação ele tinha. Ele machucou Quinn, minha
companheira. Eu deveria tê-lo matado no momento em que ele tocou
nela.
Ele é um homem morto, porra!
Abri a porta da cela do Carl e desembainhei minha lâmina, pegando-o
de surpresa. Aquele sorriso de auto satisfação dele desapareceu.
Ele sabia que eu não estava brincando por causa do fogo nos meus
olhos. Eu percebi pela maneira como ele tropeçou em si mesmo tentando
escapar.
— Espere! — gritou ele, mas eu não esperei.
Eu o chutei no peito e o derrubei no chão.
Ele se agarrou ao chão tentando se afastar, mas eu o agarrei pelo
tornozelo e o puxei logo de volta.
Não haveria nenhum discurso final.
Sem palavras.
Ele sabia o que tinha feito e seria isso.
Puxei seu cabelo para trás como ele fez com Quinn, expondo seu
pescoço.
Encostei a borda de minha lâmina em sua garganta.
— Por favor, não!
— Nem pensar, — eu rosnei.
Meus músculos dos braços se contraíram enquanto eu ia para o
ataque mortal.
— Eu sou seu irmão!
Eu parei.
— Que porra você acabou de me dizer?! — Eu rugia na cara dele.
— Nós compartilhamos o mesmo pai! Eu sou seu irmão!
— MENTIRA!
— Eu juro! É verdade!
E naquele momento, sua mente uniu-se com a minha, e eu fui
atingido por um fluxo de imagens.
Um menino brincando com uma mulher que eu não reconheci.
Um menino sendo colocado na cama e escutando uma história.
Um menino correndo para a porta quando um homem entra. Ele
pegou a criança pequena e lhe deu um abraço. E foi aí que eu vi quem
era... Meu pai!
Eu arfei e afrouxei meu punho.
Mas isso não pode ser!
Isso não é real!
Como poderia ser?
O meu pai nunca teria escondido algo assim... teria ele?
Então, outra memória me passou pela mente.
Um menino chorando, correndo em direção a uma porta enquanto
meu pai a fechava. Ele bateu com seu punho contra ela, mas em vão. A
mulher o puxou para longe, tentando confortá-lo.
Deixei cair a faca de sua garganta e me afastei, libertando-o da morte
certa.
Eu não podia acreditar... depois de todo este tempo...
— Eu não entendo... — Eu disse.
— Seu pai teve uma mulher muito antes de sua mãe — a sua
'companheira' — ter aparecido. — Ele se empurrou do chão e se arrastou
até sua cadeira.
— Ele nos manteve em segredo, — continuou ele, — ele gostou
profundamente de minha mãe, mas sabia que ela não era sua alma
gêmea. E assim que soube, ele nos abandonou! Como se nós nunca
tivéssemos existido. E eu o odiei desde então.
Fiquei sem palavras.
Como meu pai poderia fazer uma coisa dessas?
Todo este tempo... eu nunca soube...
— Então, se você quer me matar... vá em frente. Mas você estará
matando o Alfa legítimo de seu bando!
Isto não pode ser verdade.
Isso é impossível!
— Fui nomeado líder do Bando Sombra da Lua pela própria Deusa!
Você não tem direito ao título!
Seu sorriso apareceu novamente.
— Você tem certeza disso?
Coloquei a faca de volta em sua garganta, mas desta vez, ele não se
esquivou. Seus olhos me desafiaram a fazê-lo... mas eu não consegui.
Isto foi demais.
Eu me afastei dele e saí da cela.
— Você deveria ter me matado! — ele zombou. — Estas paredes não
vão me manter aqui para sempre! Você pode reunir todos os bandos do
mundo, mas ainda não será o suficiente para impedir o que está por vir!
Eu não olhei para trás.
QUINN

— Oh, Quinn... — A voz da mãe estremeceu: — É tão bom ouvir sua voz!
Já se passaram quase três meses!
Três meses? Eu realmente estive ausente por tanto tempo?
— Você está bem? Você está ferida? — ela continuou. — Onde você
está?
— Sim, mãe, eu estou bem. Estou em algum lugar seguro.
— Onde?!
— Não posso lhe dizer... mas estou bem, de verdade. Você tem que
confiar em mim.
— Aconteceu alguma coisa com você? Você foi levada?
— Não exatamente... eu fui por minha livre vontade. Mas fui
encontrada por outros que estão cuidando bem de mim.
Ela ficou em silêncio.
— Outros... — ela sussurrou. — Você quer dizer... as pessoas na
floresta.
Ela sabe do que estou falando?
O quanto meu pai lhe revelou?
— Oh, Quinn! Você tem que sair daí! Essas pessoas são perigosas! Elas
não são... naturais! Eles são os que mataram seu pai! Por favor, volte para
casa!
Eu suspirei.
— Você sabia que ele foi assassinado, e não me disse? — eu perguntei,
levantando minha voz.
— Você era jovem! Eu não queria te assustar! Sinto muito!
— Mas por quê?! — Eu rosnei: — Por que o mataram?
— Por causa de quem ele é... e por causa de quem você é. Ele partiu
para protegê-la!
— De quê?!
— Por favor, volte para casa e eu lhe contarei tudo sobre isso.
Eu a estava perdendo. Ela estava começando a desviar. Eu precisava
pressioná-la mais.
— Como você sabe de tudo isso?! — Eu exclamei. — Eu preciso saber.
— Sua tia Jodie... ela estava lá quando isso aconteceu. Ela viu tudo.
E foi quando eu me lembrei da visão de Carl. Eu vi uma mulher
amarrada e amordaçada, mas não consegui identificar quem era! Tinha
que ser ela!
— Agora, por favor, volte para casa, e eu...
— Você disse que eles o mataram por causa de quem ele é, — eu
interrompi. — Quem sou eu? O que isso significa?
Ela hesitou.
O que quer que a estivesse incomodando, ela tinha medo de dizer.
— O sangue do seu pai é muito especial. É de uma linhagem muito
rara.
— Linhagem especial? De quê?
— De lobo...
Eu suspirei.
Ela sabia!
— E se eles souberem quem você é, eles também vão matá-la.
Então foi por isso que o mataram! Era sobre isso que Carl estava
falando!
— Quinn, peço-te... por favor, volta para casa! Você estará mais segura
se eles não souberem que você existe.
Mas eles sabiam.
O ataque desonesto ao bando... eles viriam atrás de mim. Mesmo que
eu quisesse voltar para casa, eu estaria colocando sua vida em perigo.
Não havia como voltar atrás.
— Quinn? Quinn, você está aí?
— O que torna meu sangue tão especial?
— Por favor, volte para casa... Tive tantas saudades suas.
— Diga-me!
— Por favor, eu quero ver você!
Eu a tinha perdido. Eu sabia que essa era toda a informação que eu ia
obter.
— Eu tenho que ir, mãe.
— Não! — ela gritou.
— É a única maneira de mantê-la segura. Eu te amo.
— Não, espere...
E eu terminei a conversa.
Desligar era mais difícil do que fugir.
Eu joguei o telefone no chão e pisei nele até que estivesse
completamente esmagado. Eu não poderia deixar que ela rastreasse onde
eu estava.
Eu sabia que esta era a coisa certa a fazer, mas não pude deixar de me
sentir atormentada pela culpa.
Eu queria ficar com raiva por todos os segredos que ela guardou, mas
tudo o que senti por ela foi piedade. Eu teria agido de forma diferente se
estivesse no lugar dela?
Talvez eu nunca encontre todas as respostas que estava procurando,
mas estaria condenada se não tentasse.
Capítulo 22
O TOQUE DO ALFA QUINN
Encontrei-me em um campo. Um mar de grama sem fim me cercou. O sol e a
lua estavam ambos no céu — simultaneamente, dia e noite. Estrelas e
galáxias orbitavam por cima, como uma aurora boreal que brilhava sua
grandeza no céu.
Fiquei admirada.
Nunca tinha visto nada parecido... havia algo de mágico neste lugar.
— Quinn, — uma voz familiar chamou.
Virei exatamente quando vi uma nuvem de fumaça aparecer e se
transformar em uma bela mulher Ela pairava a meros centímetros do chão.
Suas feições eram impressionantes, mas elas empalideciam em comparação
com seus olhos prateados penetrantes, como os meus.
— Olá, Quinn, — sua voz me deu boas-vindas.
Era ela!
Aquela que eu já tinha visto antes!
— Você sabe quem eu sou? — perguntou ela, parecendo já saber a
resposta.
Meu queixo caiu quando eu registrei quem ela era.
— Deusa da Lua!
Estava completamente sem palavras.
O que dizer a uma deusa?
— Umm... olá... — Eu disse, a única coisa em que pude pensar.
A deusa riu suavemente.
— Peço desculpas por não ter revelado quem eu era para você mais cedo.
Eu estava esperando o momento certo para lhe dizer, — disse ela, pairando
mais perto.
Foi uma emoção vê-la, mas não fiquei assustada. Ela me fez sentir segura.
Ela sorriu e apontou para o ambiente ao nosso redor.
— Você gosta?, — perguntou ela.
Olhei ao redor novamente e fiquei tão apaixonada como antes. A maneira
como os tons de cor dançavam e rodopiavam uns com os outros... era quase
como se eu estivesse olhando para um quadro de Van Gogh.
— É extraordinário, — respondi, — mas não entendo. O que é este lugar?
Isto é mesmo real?
— Para os mortais, isto não é real no sentido físico. Este é um sonho que
eu conjurei — com sua ajuda, é claro. A maior parte é obra sua. Aparecer
assim para você é a maneira mais fácil de nos comunicarmos.
Eu ainda estava confusa.
— Não se preocupe, tudo fará sentido quando você acordar — Umm...
claro.
Acho que eu acreditei nela. Quero dizer, quem era eu para discutir com
uma deusa?
— Se você não se importa que eu pergunte, por que você está aqui?
Pairou mais perto de mim, depois pegou sua mão e a encostou
suavemente na minha bochecha.
— Porque posso ver que há dúvidas em sua mente, — respondeu ela. —
Como quem você é, quem você deveria ser para os outros...
Você pode dizer isso novamente.
— Mas você deve colocar esses sentimentos para descansar, — prosseguiu
ela. — Há um trabalho muito mais importante pela frente. Você está
destinada a grandes coisas.
Eu não tinha certeza se gostava de para onde isto estava indo.
Pairou de volta e me olhou de cima para baixo como se estivesse
procurando por algo.
— Está quase na hora, — sorriu ela.
— Hora? Hora de quê?
— De se tornar uma pessoa diferente
Ela então pegou minha mão e começou a me guiar através dos campos.
— Tudo em sua vida está prestes a mudar, — continuou ela. — Você vai
se sentir assustada e sozinha... mas não vai estar. Seu companheiro estará lá
para te guiar, mesmo que ele tenha uma maneira estranha de fazer isso.
Isso é colocar as coisas de forma leve.
— É por isso que eu os pareei. Vocês se ajudarão mais um ao outro do que
imaginam.
Então, estarmos juntos não foi um erro!
O pensamento tinha passado pela minha mente, especialmente depois de
tudo que aconteceu recentemente.
A Deusa da Lua parou e olhou por cima dos meus ombros para onde o sol
e a lua estavam se pondo. Ela parecia triste.
— Devo ir agora, Quinn. Já lhe disse tudo o que você precisa saber — Ela
então se inclinou e me beijou docemente na bochecha e começou a
desaparecer — Espere! — Eu chamei. — Tenho tantas perguntas que quero
lhe fazer! Sobre meu pai, sobre 'Vulpes'...
— Tudo em tempo hábil, — ela murmurou. — Você terá que descobrir
isso por conta própria. Adeus, pequena Luna! Fique forte. E confie nos
gêmeos!
Ela desapareceu tão misteriosamente quanto apareceu.

Eu acordei com um solavanco, ofegante.


Verifiquei meus membros para ter certeza de que todos eles ainda
estavam lá... eles estavam. Suspirei em alívio e passei meus dedos pelos
meus cabelos pretos emaranhados.
As palavras da Deusa da Lua ainda estavam frescas em minha mente.
Isso realmente acabou de acontecer?
E os Gêmeos? De quem ela estava falando? Do Sky e do Alex?
— Quinn? — A voz de Jax chamou por trás da parede de travesseiros.
— Você está bem?
Eu estava?
— Sim... estou bem. Eu só... tive um sonho estranho, só isso.
Esta foi a primeira vez que falamos desde a noite no calabouço. Tinha
acabado tão mal que fiquei envergonhada de falar com ele novamente.
— Você precisa falar sobre isso? — perguntou ele, parecendo
preocupado. — Porque se você quiser...
Mas antes que ele terminasse sua sentença, eu retirei os travesseiros e
interrompi seus lábios com um beijo. Todos os sentimentos de
preocupação e pavor se dissiparam instantaneamente no momento em
que nossas bocas se tocaram.
Ele começou a recuar, mas eu peguei seu rosto nas palmas das minhas
mãos e o aproximei.
Ele gemeu de alegria.
Adorava a maneira como seu cheiro almiscarado me enchia.
Senti os lados de seus lábios se curvarem quando ele começou a
sorrir. Eu comecei a sorrir, também.
— Para que é isto? — sussurrou ele entre as respirações.
— Por tudo, — respondi.
Paramos por um momento e olhamos nos olhos um do outro. Não
havia nada além de afeto caloroso me encarando de volta.
Comecei a brincar com seu cabelo.
Este era o mesmo homem de quando eu vim aqui pela primeira vez?
— Jaxon... sinto muito pela maneira como me comportei, — disse eu.
— Não foi justo eu exigir tanto de você. Você tem todo o direito de estar
bravo...
Mas fui eu quem foi então, interrompida com um beijo.
Em um movimento fluido, ele tinha enrolado seus braços fortes em
torno de minhas costas e me girado, gentilmente me colocando sobre o
colchão. Ele pressionou seu corpo firme contra o meu quando
começamos a nos devorar com beijos.
Sua boca começou a beijar ao longo da minha bochecha até chegar ao
meu ouvido.
Ele envolveu seus lábios ao redor do lóbulo da minha orelha e
começou a chupá-lo carinhosamente. Apertei minhas mãos e torci sua
camisa enquanto uma onda de energia se espalhava pelo meu corpo,
estimulando minhas partes.
Ele então se inclinou para trás e puxou sua camiseta sobre sua cabeça.
Seu físico escultural me tirou o fôlego.
Eu quase esqueci como ele era lindo. Eu queria passar minhas mãos
por toda a sua pele nua.
Jax, então, com cuidado, desceu e começou a levantar minha
camisola, expondo minha barriga. Ele parou antes de alcançar meus
seios, seu rosto parecia preocupado.
— O que está errado? Eu fiz alguma coisa...?
— Não, é claro que não. É que... tem sido um dia esclarecedor, só isso.
Tinha muito em que pensar.
Comecei a ficar constrangida.
— Se você prefere não fazer nada, nós não...
— Oh, não. Não era isso que eu queria dizer. Isto tem sido a melhor
coisa que me aconteceu o dia todo. Eu quero isto — isto é, se você quiser,
também.
Eu assenti com a cabeça ansiosamente.
Ele então começou a dar pequenos beijos em minha barriga.
Meu fôlego ficou curto e frenético. Eu sentia que meu coração ia
estourar.
Ele me ajudou a tirar minha camisola pela minha cabeça, mas
rapidamente cobri meus seios antes que ele pudesse vê-los.
Eu sorri nervosamente para ele. Nunca ninguém havia visto meu
peito nu antes.
Eu ainda estava de calcinha, então não estava completamente nua.
Mas depois eu desatei a rir e me afastei dele, envergonhada.
— O que foi?, — perguntou ele.
— Ainda estou de meias, — disse eu, com minhas bochechas ficando
vermelhas.
Nós dois rimos. Ele então virou minha cabeça de volta para ele e deu-
me outro beijo.
— Não se preocupe. Estou trabalhando nisso, — disse ele com
entusiasmo.
Jax levantou minhas pernas uma de cada vez enquanto tirava cada
meia e as jogava pela sala, o que me fez rir mais — será que isso era certo?
Ele não pareceu se importar. Eu podia dizer por seu sorriso que ele
deve ter achado isso cativante.
Meu companheiro engatinhou de volta para cima de mim, cuidando
para não me esmagar sob o peso de seu físico muscular. Ele baixou
gradualmente suas mãos sobre as minhas, que ainda cobriam meus seios.
Ele enrolou seus dedos ao redor dos meus e esperou.
Eu assenti para ele mais uma vez e ele me ajudou a afastar lentamente
as palmas das mãos até eu ficar completamente exposta.
Eu tremia ligeiramente enquanto ele me olhava com amor, como se
estivesse honrado em ser o primeiro a ver.
Era aterrorizante, mas ao mesmo tempo libertador... Era estimulante.
Eu tremia, e ele me olhava, intrigado.
— Estou com frio, — sussurrei. — Me mantém quente?
Senti o peito dele pressionado contra o meu, e imediatamente me
derreti nele enquanto nossos lábios se encontravam novamente. Adorei a
maneira como a pele dele tocava a minha.
Enquanto ele me segurava com um braço, o outro começou a
explorar meu tronco até que eu senti que começava a contornar a borda
do meu peito.
Eu suspirei quando ele começou a massageá-lo completamente.
Cada centímetro de pele que sua mão tocava pulsava com a
eletricidade.
Eu não conseguia parar de ofegar.
Enquanto sua mão continuava, ele lentamente começou a beijar meu
pescoço até alcançar minha clavícula e depois o outro peito.
Eu gemi mais alto e passei minha mão pelo cabelo dele enquanto sua
língua lambia suavemente ao redor de meu mamilo em um movimento
circular, fazendo com que ele endurecesse. Ele então franziu sua boca em
torno dele e começou a chupar gentilmente, fazendo-me gemer ainda
mais alto.
A sensação foi sensacional.
Ele deu igual atenção a ambos os seios com seus lábios.
Minhas pernas se apertaram ao redor dele quando comecei a esfregar
instintivamente meus quadris nos seus.
Ele estava tão excitado quanto eu.
Eu não queria que parasse.
Aos poucos ele foi ganhando velocidade com o que estava fazendo
com a língua... Estava me levando às alturas!
E foi aí que senti — um calor constante que se elevava de meu quadril
e que começava a consumir meu ser.
Envolvi meus braços ao redor do meu companheiro e joguei minha
cabeça para trás enquanto a sensação subia por todos os nervos do meu
corpo até perder todo o controle. Arqueei minhas costas enquanto
soltava um lamento de êxtase que ecoava das paredes da casa do bando.
Não me importava quem me ouvia.
Eu queria que isso durasse para sempre.
Minha voz se enfraqueceu quando o sentimento começou a se
dissipar. Eu nunca soube que esse tipo de estímulo ao peito poderia fazer
com que alguém fizesse isso.
Quando recuperei o controle de meu corpo, Jax se levantou e
começou a me beijar. Foi difícil respirar depois do que acabou de
acontecer, mas eu não queria que ele parasse.
Eu queria mais.
Quando ele puxou sua cabeça para trás, eu me inclinei para perto e
disse: — Quero que você continue.
Seus olhos se iluminaram.
— Você tem certeza? — perguntou ele.
— Mais do que tudo, — eu respondi.
Minhas mãos estavam puxando suas roupas íntimas para baixo antes
que ele pudesse alcançá-las.
Capítulo 23
COMPANHEIROS ENTRELAÇADOS
QUINN

Jax tinha acabado de me proporcionar uma sensação que nunca ninguém


tinha proporcionado antes.
Eu ainda era nova neste tipo de intimidade, mas meu desejo de tê-lo
dentro de mim havia se tornado avassalador.
Minhas coxas estavam úmidas.
Fui consumida pela luxúria.
A esta altura, ele já estava completamente nu. Pude ver seu membro
pela primeira vez enquanto ele se elevava sobre mim e eu me deitava
sobre o colchão. Estava completamente ereto e era muito maior do que
eu jamais imaginei.
Eu poderia realmente aguentar algo tão grande dentro de mim?
Mas havia hesitação em seus olhos. Alguma coisa estava em sua
mente.
— O que foi? — eu perguntei.
— Nada, — respondeu ele.
Ele estava mentindo. Ele permaneceu ali, olhando para mim antes de
descer e sentar-se na borda da cama.
— Devemos esperar, — disse ele com relutância.
— Esperar? Para quê? — Eu disse preocupada.
Fiquei desconfortável e joguei os lençóis sobre mim, me cobrindo.
— É que você ainda não se transformou, — disse ele, devolvendo seu
olhar para mim. — Devemos esperar até que você o faça para que
possamos marcar um ao outro então. Eu quero que sua primeira vez seja
especial.
Meu coração ficou comovido.
Eu não podia acreditar como ele estava sendo atencioso. Isso me fez
querê-lo ainda mais.
— Se for com você, será especial, não importa o que aconteça, — disse
eu, quase implorando.
Ele se virou para mim e sorriu.
— Você é doce.
— Então, você não quer fazer mais nada comigo?
Seu sorriso cresceu exponencialmente.
— Eu nunca disse isso, — disse ele, pegando minha mão. Eu ainda
estava enrolada nos lençóis, ainda com vergonha de estar tão exposta.
Antes de chegar até ele, eu parei e tirei a minha roupa íntima.
Agora eu estava completamente nua por baixo.
Ao me puxar na direção dele, ainda coberta, ele me levantou sem
esforço e me colocou sobre seu colo para encará-lo.
Eu enrolei minhas pernas ao redor dele mais uma vez.
Ele então colocou suas mãos ao redor da minha cintura e guiou meus
quadris na direção dele até que eu pudesse sentir sua ereção
pressionando contra meu lugar especial, fazendo-me gritar.
Nossos lábios se encontraram enquanto ele gentilmente assumia o
controle.
Ele me levantou e começou a me deslizar para cima e para baixo em
seu membro enquanto se pressionava mais entre minhas partes.
A estimulação externa foi sensacional.
Uma sensação de calor pulsou por toda a minha metade inferior. Eu
não conseguia imaginar como seria a sensação real.
Alcancei seus músculos abaulados e me aproximei mais quando meus
quadris começaram a se esfregar contra ele também. Era como se eles
tivessem uma mente própria. Minhas coxas começaram a se apertar com
mais força em torno dele.
Eu não notei quando os lençóis caíram ao redor de mim. Ele enterrou
seu rosto entre meus seios e começou a beijá-los mais uma vez.
Eu podia sentir sua masculinidade começando a vibrar enquanto ele
me pressionava com mais força. Deixei sair outro grande gemido
enquanto me sentia mais molhada conforme mais rápido íamos.
Foi quando eu o vi cerrar os dentes enquanto seus olhos se reviravam.
Estou realmente fazendo ele se sentir assim?
Ele está fazendo isso por minha causa?
Isso me excitou ainda mais, fazendo com que uma outra onda de
euforia passasse em mim mais uma vez.
— Estou chegando... — disse ele entre suas respirações ofegantes.
— Eu também! — Eu gemi.
Sua poderosa mão me segurou perto, enquanto minhas unhas se
enterravam em suas omoplatas. Um grito de paixão encheu a sala
quando gozamos simultaneamente.
Lentamente, a sensação começou a diminuir e ficamos ali sentados,
abraçando o outro com força.
— Eu te amo, — eu disse sem pensar. Fiquei chocada ao ouvir a mim
mesma dizer isso.
— Eu também te amo, — respondeu ele ternamente.
Depois de um tempo, deslizamos de volta para debaixo dos lençóis e
nos abraçando pelo resto da noite.

— Eu não queria ser tão severo quando nos conhecemos. Honestamente,


eu estava apenas assustado, — disse ele com medo, enquanto nos
aproximávamos do berçário, caminhando de mãos dadas. — Eu devo ter
parecido um verdadeiro idiota.
— Você? O Alfa? Assustado pela pequena e velha eu? — Eu provoquei.
— Não diga a ninguém.
Eu o alcancei e o beijei.
— Não se preocupe, seu segredo está seguro.
Nós nos beijamos novamente. Eu pude senti-lo se excitar mais uma
vez enquanto ele se pressionava contra mim. Eu o puxei para trás e lhe
dei um leve tapa no peito.
— Guarde isso! Há crianças, — exclamei, olhando para um grupo de
crianças brincando por perto com outros cuidadores.
Nós rimos.
— Desculpe, não posso evitar. É o que você faz comigo, — brincou
ele.
Eu virei minha cabeça para trás quando ouvi o som de alguém
limpando sua garganta. Foi a Zara. Ela ficou na porta, nos observando.
— É melhor você ir antes que ela nos dê detenção. — eu sussurrei. —
Além disso, a festa é hoje à noite, e você mal fez nada para ajudar.
Ele sorriu.
— Muito bem, nos vemos em breve.
Nós nos beijamos mais uma vez antes de ele partir.
Eu segui Zara para dentro.
— Há algo em que eu possa ajudá-la? — eu perguntei.
— Talvez manter os amassos longe do berçário, — ela respondeu
friamente.
Ai.
Sua hostilidade para comigo nunca terminava.
Por mais educada que eu tentasse ser, tudo o que eu recebia em troca
era uma parede de tijolos de agressão.
— Sim, desculpe. Nós estávamos apenas...
— Está tudo bem, — suspirou ela. — Eu não queria estourar. Apenas...
você poderia simplesmente me entregar meu casaco? — ela disse,
apontando para atrás de mim. — Preciso terminar de preparar as
crianças para sair.
— Hum, claro!
Passei por cima de uma pilha de blocos e a alcancei.
Na verdade, estava bastante frio lá fora, mas como a maioria dos
lobisomens tinha uma temperatura interna mais alta, eles não
precisavam usar agasalhos extremamente quentes.
Eu, por outro lado, estava usando dois pares de meias e um par de
meias térmicas.
Quando tirei o casaco do gancho, notei um pedaço de papel cair de
um dos bolsos e o peguei.
Eu sabia que não deveria estar vasculhando as coisas das pessoas, mas
a curiosidade levou a melhor sobre mim.
Era uma fotografia.
A imagem revelou duas jovens, ambas sorridentes. Uma delas era uma
Zara muito mais jovem. Ela tinha seu braço enrolado nos ombros de
outra garota que eu não reconhecia, que era bastante bonita. As meninas
pareciam ser próximas pela maneira como se abraçavam.
A foto foi subitamente arrancada de minhas mãos.
— O que você está fazendo?! — Zara ladrou, — Como ousa mexer nas
minhas coisas!
Zara ficou enfurecida. Ela segurou a foto de perto.
Eu sabia que não deveria ter feito isso. Não podia acreditar que tinha
enfiado o nariz onde não fora chamada. A foto era obviamente muito
significativa para ela — algo pessoal.
Por que diabos você fez isso, Quinn?!
Eu me senti envergonhada.
— Zara, desculpe-me! Eu não quis...
— Não, — disse ela, me cortando. Eu não sabia o que fazer ou dizer.
— Sabe, na verdade até considerei pedir desculpas pela maneira como
tenho me comportado com você. Eu queria me redimir, mas depois
disto...
Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Ela ia pedir desculpas?
Droga!
E agora eu tinha estragado tudo.
Ela se virou e começou a respirar fundo, como se estivesse se
abstendo de chorar. Ela permaneceu em silêncio, lutando para
permanecer calma.
— Eu deveria ir, — eu finalmente disse. Mas quando comecei a sair...
— Katherine, — ela chamou.
Eu parei.
— Desculpe?
Seria a morte um medo constante, mais do que no mundo exterior?
— Sinto muito, Luna, — disse Zara, dirigindo-se a mim pela primeira
vez pelo meu título. — Eu não queria me comportar de forma
desrespeitosa. Eu estava fora da linha — e não só agora, mas desde que
você chegou.
Eu podia ver que ela ainda estava sofrendo.
Eu queria alcançá-la e abraçá-la, mas não me pareceu apropriado.
— Não, eu é que estava fora da linha. Eu nunca deveria ter olhado
para a foto. Foi uma cagada da minha parte. Não é assim que as amigas se
tratam.
Seus olhos se arregalaram. Ela parecia surpreendida.
— Amigas?
— É claro. Eu sei o que é perder alguém e querer manter qualquer um
e todos longe. Descobri que é apenas uma parte do processo de luto.
Todos nós lutamos contra a morte.
— Posso ir lá fora? — uma das crianças rapidamente chegou e
perguntou.
— Sim, — respondeu Zara, — vá se encontrar com os outros.
O resto das crianças correu porta afora.
Ficamos em silêncio por um momento.
— Há algo que eu deveria lhe dizer, — disse Zara. — Mas eu não sei se
posso. Diz respeito ao Jaxon.
— Está tudo bem. Você pode me dizer qualquer coisa. É para isso que
estou aqui, — disse eu, caminhando na direção dela, mas ela recuou e
começou a andar a passos largos.
O que quer que estivesse em sua mente a perturbava, claramente. Ela
parecia ansiosa.
— Eu não sei se ele ia dizer alguma coisa sobre isso, — continuou ela,
— mas você merece saber... Jaxon teve uma companheira antes de você...
Foi a Katherine.
Tudo parou.
Capítulo 24
ÚLTIMAS PALAVRAS
QUINN

Senti-me como se tivesse sido atingida por um golpe no peito, como se


todo o ar tivesse sido eliminado de mim. Ainda havia muita coisa sobre
Jax que eu não sabia, mas outra companheira?
Como ele pôde esconder algo assim de mim?
— Eu não entendo... — Eu perguntei freneticamente. — Há quanto
tempo? Quando isso aconteceu?
— Um pouco mais de dois anos, — respondeu ela. — Jaxon estava
visitando meu bando não muito tempo depois de perder sua família. Ele
veio propor uma aliança, mas falhou e saiu de mãos vazias, exceto por
uma coisa....
— Eu estava caminhando com Katherine depois do jantar quando ela
de repente ficou sobrecarregada de desejo com o cheiro de alguém.
— Ela estava intoxicada por isso e não conseguia se controlar.
— Então, ela correu o mais rápido que pôde. Ela tinha que descobrir
de onde vinha. Não havia como impedi-la. Tive problemas para me
manter de pé. O cheiro acabou nos levando à beira do território de nossa
alcateia... e foi aí que ela viu Jaxon. Uma faísca se acendeu quando seus
olhos pousaram sobre ela. Eles sabiam instantaneamente que estavam
destinados a ficar juntos.
Zara fez uma pausa.
Ela podia ver que eu estava lutando para permanecer calma. Eu não
conseguia acreditar no que estava ouvindo. Tudo estava acontecendo tão
rapidamente.
— Você está bem, Luna? Eu sei que isto é muita coisa a ser absorvida.
Se você quiser que eu pare...
— Não, — eu disse, — continue.
Eu tinha que saber o que aconteceu.
— Katherine aceitou imediatamente seu convite para se juntar a ele.
Eu também a acompanhei. Na viagem de volta ao Bando Sombra da Lua,
Jax e Katherine agiram como se conhecessem a vida toda. Como
falavam... a maneira como se abraçavam... Eles eram felizes. Mas no dia
seguinte, quando chegamos à casa da Alcateia, foi quando tudo
aconteceu.
A antecipação estava me matando. Eu estava confusa sobre como me
sentir.
— Katherine saiu caminhando por conta própria para explorar
quando foi atacada por malfeitores. Quando a encontramos, ela já estava
no chão, sangrando, quase sem vida. Aqueles monstros fizeram um
estrago com ela...
— Oh, meu Deus! — Eu chorei.
— Jaxon a segurou em seus braços e fez tudo o que podia para salvá-
la, mas era tarde demais. Eu vi minha melhor amiga dar seu último
suspiro e morrer na minha frente. E a dor de Jaxon, a forma como
uivava... era indescritível.
Eu me peguei prendendo minha respiração. Só de ouvir isso fiquei
arrepiada.
— Depois disso, Jaxon se tornou uma pessoa completamente
diferente. Atingido pela dor, ele ficou vazio, desprovido de toda
felicidade, como eu. Ele deixou sua fera atacar qualquer coisa que se
atravessasse em seu caminho. Embora nunca o tenhamos dito em voz
alta, concordamos silenciosamente em nunca mais mencionar o nome de
Katherine.
Fiquei absolutamente horrorizada. Meu coração chorou por aquela
pobre mulher. Não foi culpa dela o que aconteceu com ela.
— A matilha sabia dela, — continuou ela, — mas ela nunca se tornou
Luna. Então, quando você apareceu, todos ficaram extasiados! Você nos
deu esperança. Nossa alcateia pôde finalmente ficar inteira novamente.
Ela enxugou as lágrimas de seus olhos enquanto revivia a memória
aterrorizante.
— Sinto muito por tê-la tratado com tratei... parecia que você estava
substituindo Katherine. — Eu detestava me sentir assim. Eu estava sendo
egoísta. Sua presença aqui é o melhor para a alcateia. Não só isso,
Katherine teria te amado e ia querer que você fosse Luna.
Eu não conseguia mais conter as lágrimas. Eu estava tão confusa
sobre como deveria me sentir.
Jax não só não me falou sobre sua ex-companheira — algo importante
não só para ele, mas para nós — ou qualquer outra pessoa.
Eu estava dividida entre raiva, constrangimento e tristeza.
Eu me sentia traída? Eu não sabia... Eu me sentia perdida.
— Obrigado por me dizer, — consegui dizer, — mas tenho que ir
agora.
— Luna...
Eu saí correndo do berçário antes que ela pudesse terminar o que
tinha a dizer.
Depois de tudo o que havia acontecido ontem à noite, eu queria
gritar. Ele me segurou em seus braços e disse que me amava... Eram
apenas palavras?
Ele realmente quis dizer isso?
Ele alguma vez teria me falado da Katherine?
Havia apenas uma maneira de descobrir.

Entrei na casa do bando e passei por todos que se preparavam para o


grande evento desta noite. Não os olhei duas vezes.
Eles sabiam sobre Katherine e me esconderam isso. Eu não queria ter
nada a ver com eles.
— Quinn, — perguntou Sky inquisitivamente, — o que há de errado?
Mas eu a ignorei e saí andando. Ela sabia, assim como todos os
outros.
Quando cheguei ao escritório particular de Jaxon, abri a porta sem
me dar ao trabalho de bater, fazendo-o saltar.
— Quinn?, — perguntou ele.
— Precisamos conversar, — eu disse firmemente, entrando.
— O que está errado? Você está bem?
Ele rapidamente se levantou e veio para o meu lado, mas de repente
eu me afastei.
— Ei, o que foi?
Por um momento, eu me senti culpada sabendo a dor pela qual ele
passou — vendo seu amor morrer na sua frente. Eu não podia imaginar
como deve ter sido isso.
Se fosse ao contrário e fosse ele nos meus braços, eu não sabia se
conseguiria lidar com isso.
Mas não se tratava disso.
Isto foi uma questão de confiança e honestidade um com o outro — o
que concordamos desde o início. Eu deveria ser sua Luna, mas a maneira
como ele me tratava era tudo menos isso.
Então, respirei fundo e olhei-o nos olhos.
— Eu sei, — eu disse com confiança.
Ele estreitou sua testa, perplexo.
— Você sabe o quê?
— Sobre Katherine.
Jax deu um passo atrás em estado de choque. Ele estava sem palavras.
Seus olhos dispararam ao redor descontroladamente, como se ele tivesse
sido pego em uma armadilha.
— Quem... quem lhe disse? — perguntou ele, tremendo de voz.
— Será que isso importa?
Eu lutei desesperadamente para me manter firme. Jaxon inclinou-se
para trás sobre sua mesa e passou as mãos por seus cabelos louros.
— Por que você não me disse? — Eu continuei.
— Quinn... não posso dizer o quanto lamento. Eu deveria ter sido
sincero com você desde o início. Você tinha todo o direito de saber.
— Então, por que você não foi?
— Eu tentei, realmente tentei — mais do que uma vez — mas sempre
que tentei, você não quis ouvir o que eu...
— Mentira! — Eu gritei de volta, não mais capaz de conter minhas
emoções. — Você não está autorizado a virar isto contra mim! Se você
quisesse que eu descobrisse, eu teria sabido!
— Muito bem! Eu sou o imbecil. Eu admito, — disse ele, de pé, de
costas. — Mas, por favor, entenda, eu também estava com medo de como
você reagiria! Eu temia que você pensasse que eu não a amava tanto —
como se você fosse um prêmio de consolação... Eu tinha medo de que
você me deixasse.
Ele se aproximou lentamente e pegou minha mão.
— Eu não queria perder você, não depois de perder Katherine. Se você
também tivesse me deixado... sinceramente não sei se eu alguma vez me
recuperaria.
Afastei minha mão.
Andei freneticamente pela sala.
— Então, mesmo depois de tudo o que passamos, — eu prossegui, —
você ainda não podia confiar em mim? Essa foi a única coisa que pedi a
você, que confiasse em mim o suficiente para me respeitar como sua
igual.
— Você é minha igual.
— Então comece a me tratar como uma!
De repente, o humor de Jaxon tornou-se sombrio. Seus olhos
começaram a escurecer enquanto seu lobo gritava para ser solto. Ele o
reteve, mas ainda me assustou.
— Você quer falar de confiança? — rosnou ele. — Confiei em você
quando a deixei entrar na cela de Carl, e você quase foi morta. Confiei em
você para ficar longe depois que eu lhe disse explicitamente para não
voltar a vê-lo, mas você não o fez. Você foi deliberadamente pelas minhas
costas, e o que aconteceu? Ele inundou sua mente de pesadelos — quase
o matei por isso!
— E por que você não o fez?!
— Porque ele é meu irmão!
Ambos ficamos em silêncio, paralisados por esta nova admissão. Pelo
olhar em seu rosto, ficou claro que ele não tinha a intenção de dizer isto.
— Seu irmão? — Eu disse, tentando recuperar meu fôlego.
Ele acenou com a cabeça que sim.
— Ele se uniu a mim na última vez que fui lá — mostrou meu pai com
outra mulher, muito antes de minha mãe. Sei que é difícil acreditar...
Ainda estou tentando processar eu mesmo, mas não sabia, eu juro!
Minha cabeça estava girando. Meu mundo inteiro estava caindo aos
pedaços. Será que minha mãe estava certa o tempo todo? Teria eu
cometido o maior erro da minha vida?
Eu me afastei dele e me agarrei à parede para me equilibrar.
— E quando você estava planejando me contar esta nova revelação?
Algum dia? Ou eu teria que descobrir por outra pessoa?
— Quinn...
— Quantos outros segredos você está escondendo?! Há quanto tempo
você sabe?!
— Desde...
— Sabe de uma coisa? — Eu disse, enquanto balançava minhas mãos.
— Eu não quero saber! — Eu me movi em direção à porta. Ele me seguiu
e pegou minha mão.
— Por favor, fique, — implorou ele.
— Solte-me! — Eu disse, arrancando minha mão da dele.
— Eu quero falar com você. Onde você está indo?
— Estou indo embora! Fique fora do meu caminho!
Enquanto eu agarrava a maçaneta da porta, ele me disse algo que me
parou no meu caminho.
— Lupus Paulo...
Eu me voltei para ele.
— Essas foram as últimas palavras que ela disse. Suas últimas palavras
neste mundo...
Eu olhei friamente para ele.
— Eu costumava querer saber o que essas palavras significavam. Mas
agora eu entendo. Elas significam que você ainda a ama. Não a mim.
Eu bati a porta atrás de mim quando saí.
Capítulo 25
O BAILE DO ALFA QUINN
Sky e Harper haviam passado as últimas várias horas comigo se
preparando.
Eles arrumaram meu cabelo, fizeram minha maquiagem e tenho
certeza de que fui forçada a experimentar novamente cada vestido do
bando.
Finalmente nós escolhemos uma bata azul-claro.
Eu nunca havia me vestido para uma festa antes.
Não havia muitas oportunidades de baile para crianças instruídas em
casa, então esta foi minha primeira chance real de ter um. No entanto,
isso ainda não mudou o fato de que eu não tinha vontade de colocar os
pés fora da porta do meu quarto.
— Eu não vou descer lá, — disse afirmativamente à Sky. — Apenas vá
para a festa sem mim.
— Depois de todo o tempo que passamos arrumando você? —
perguntou Sky. — Eu acho que não.
— Eu sou a Luna. Posso fazer o que quiser quando quiser, — disse eu,
tentando puxar o cartão de autoridade. — Se eu não quiser ir a uma festa,
então eu não vou.
— Você vai, — disse Harper, escondida no canto da sala.
Eu suspirei.
Eu sabia que elas estavam certas, eu só estava sendo difícil.
Nós três tivemos uma longa conversa prévia sobre tudo o que
aconteceu com Jaxon. Ambas pediram desculpas profusamente por me
manterem no escuro sobre Katherine.
Sky teve que refazer sua maquiagem três vezes porque ela continuou
chorando, implorando por meu perdão.
Era difícil ficar brava com alguém que tinha rímel preto pingando
pelo rosto como um palhaço gótico triste.
Elas explicaram que não achavam que fosse o lugar delas para me
contar. Elas queriam, mas acharam que era algo entre mim e Jax, o que
eu acho que era compreensível.
Não consigo imaginar como deve ter sido difícil para elas.
Infelizmente, certo alguém nunca me deu essa informação.
Eu ainda não tinha perdoado a decepção de Jaxon. Especialmente
depois que conversamos pela última vez esta manhã. Eu estava com tanta
raiva dele.
Senti que o que trabalhamos tanto para construir entre nós tinha sido
jogado pela janela. Como se tudo isso tivesse sido em vão.
Eu sabia que poderia ter feito mais para ganhar a confiança dele e, por
isso, me senti envergonhada, mas ainda não se comparava ao que ele
tinha mantido escondido.
Pude sentir o ritmo constante da música do salão pulsando de baixo,
lembrando-me dos meus deveres para com o grupo.
A festa estava a todo vapor há quase uma hora.
Pela janela, eu podia ver um fluxo constante de utilitários esportivos
pretos que deixavam membros de bandos de vários lugares. Todos
estavam incríveis.
A pressão de conhecer novas pessoas já era difícil, especialmente com
o que estava em jogo, mas agora, o desentendimento entre mim e Jaxon
era uma coisa a mais.
Mas isso tinha que ser feito.
Agora que eu estava pronta, finalmente ganhei coragem para me
olhar no espelho.
Fui pega de surpresa. Eu mesma mal me reconheci. Será que eu estava
realmente olhando para a mesma pessoa?
O vestido se estendeu ao redor de minhas pernas e deixou meus
braços expostos. Destacou minha figura de uma maneira que eu nunca
havia visto antes. Sua coloração azul elogiou meus olhos cinza prateados.
E a maneira como meu cabelo escuro como um corvo caía
perfeitamente pelas minhas costas nuas... Não podia negar como eu
estava bonita. Eu me senti... linda.
Sky apareceu atrás de mim e colocou uma mão delicada no meu
ombro.
— Você está deslumbrante. Todos estarão lutando para dançar com
você!
Eu voltei meus olhos para ela.
— Ou não... Você pode simplesmente ficar ali.
Olhei para o espelho novamente e respirei fundo.
— Muito bem, vamos fazer isto.

Olhei para o mezanino do salão e observei bandos dos reinos próximos se


misturarem e dançarem.
Centenas de pessoas de smokings e vestidos estavam por toda parte.
Eles pingavam requinte e elegância e carregavam um ar de sofisticação e
graça com eles.
Um tornado de borboletas rodopiou no meu estômago. — Não. Não
era intimidador de forma alguma.
O esquema de cores era branco e dourado.
Tecido drapeado pendia do teto alto e explodia do lustre principal. Os
arranjos florais pareciam suspensos no meio do ar enquanto balançavam
de um jardim de parede vertical. Pequenas árvores brancas flanqueavam
as grandes colunas e subiam a escadaria.
Uma infinidade de cores brilhou das luminárias, fazendo os murais do
teto parecerem dançar junto com as pessoas abaixo.
Era de outro mundo.
Sky e os outros tinham realmente superado a si mesmos.
Enquanto eu examinava a sala, absorvendo tudo, meus olhos
gravitaram até um par de olhos acolhedores no fundo da escadaria.
Jaxon.
Seu smoking preto com ajuste acentuou seus músculos firmes. Seu
cabelo foi penteado para trás com cuidado, longe de sua aparência
desgrenhada habitual.
Ele parecia incrivelmente bonito.
Só o sorriso dele me fez querer derreter em seus braços, mas minha
amargura para com ele voltou rapidamente, e esse desejo logo se
desvaneceu.
— Vá até ele, — Sky sussurrou-me ao ouvido, — e não se preocupe em
cair das escadas.
Eu não estava até que você mencionou isso.
Então, respirei fundo, coloquei minha mão sobre o corrimão e fiz
minha descida. Ao aproximar-me do final, Jaxon estendeu sua mão e me
guiou pelos degraus finais.
Por mais que eu tentasse combatê-lo, o calor de seu toque ajudava a
acalmar meus nervos.
Eu tinha que suprimir todos os sentimentos de animosidade que
sentia em relação a ele. Meu dever como Luna era estar ao seu lado, não
importava o que acontecesse. Se tivéssemos que convencer os outros
grupos para se unirem a nós contra um inimigo comum, teríamos que
ser vistos como uma frente unida.
— Você está absolutamente como uma dama, — disse Jaxon, tentando
ser fofinho.
— Você também está bonito, — eu respondi. Eu não estava com
paciência para ele.
— Estou realmente feliz que tenha vindo. Eu estava preocupado que
você pudesse ter mudado de ideia.
— É o que precisava ser feito, — respondi de fato.
— Olha, sobre esta manhã...
— Eu não quero falar sobre isso, — eu disse secamente.
Ainda bem que havia música, caso contrário, o silêncio incômodo
entre nós teria sido muito mais desconfortável.
— Então... o que você acha? — disse ele, gesticulando para a multidão,
tentando claramente mudar de assunto.
— É espantoso — inacreditável, na verdade. — Eu realmente achava
isso.
Era realmente impressionante, embora eu estivesse cada vez mais
ansiosa pensando em ter que interagir com tantas pessoas.
— O que faremos agora? — eu perguntei.
Ele sorriu.
— Vamos, vou buscar uma bebida para você. Isso vai acalmar seus
nervos.
— Eu fui tão óbvia?
Então, eu o deixei pegar meu braço, e ele me guiou em direção ao bar.
Eu tecnicamente não tinha idade suficiente para beber, mas não é
como se o FBI fosse arrombar as portas e me prender. Além disso, muitos
países europeus permitem que pessoas da minha idade bebam, ou assim
eu já tinha lido.
Mesmo que eu já tivesse bebido um pouco, ainda me fazia sentir um
pouco tonta, como se eu estivesse prestes a fazer algo perigoso.
O barman me perguntou o que eu queria.
— Umm... Eu quero um vinho, por favor, — eu disse com confiança.
— Um vinho, huh? — O barman sorriu.
Oh, Deus... eu realmente disse isso?
— Ela vai querer um Pinot Grigio, — disse Jaxon, vindo em meu
socorro. — Me dê dois.
Não posso acreditar que eu disse isso. Maldita idiota!
Quando o barman os entregou a nós, Jaxon me deu a taça e cada um
de nós deu um gole.
— Bem... — perguntou Jaxon para o meu rosto magoado.
O gosto era impressionante — doce, mas com um forte toque
amargo.
— Não sei... é estranho, — respondi, ainda saboreando o resíduo na
minha boca. — Gostei mais das coisas borbulhantes em nossa cerimônia
de acasalamento.
Jaxon riu.
— O vinho é um gosto adquirido, muito parecido com a cerveja. Você
tem que se acostumar a ele. — Eu esperava que sim, pois não tinha
certeza se conseguiria terminar meu copo. E eu não estava ansiosa para
experimentar a cerveja.
— Venha, deixe-me apresentá-la a todos.
Muito à minha relutância, Jaxon me apresentou aos líderes de todos
os outros bandos. Eu nunca havia conhecido outros Alfas e Lunas antes.
O território de uma alcateia estava baseado no alto das montanhas,
enquanto outra alcateia era uma alcateia marítima que havia desistido de
suas casas para a vida em mar aberto. Eu podia sentir o cheiro do sal
marinho neles.
Apesar do meu desconforto, todos foram muito cordiais e me
trataram com o maior respeito.
Ninguém falou sobre o porquê de estarem aqui. Foi muito: "Olá",
"Como você está?" e "Você está muito bonita", — e assim por diante.
Parecia que eu estava na corte de um rei. Achei que os negócios viriam
mais tarde.
Em pouco tempo, eu estava iniciando conversas com as pessoas sem
nem pensar.
Eu acho que o vinho estava ajudando. Eu estava no meu segundo
copo.
Já não me importava tanto com o sabor. Estava começando a me
acostumar, embora meu estômago estivesse se sentindo um pouco
enjoado.
— Então, os rumores são verdadeiros! — uma voz estrondosa
disparou em nossa direção, — Você está acasalado!
Quando olhei para cima, vi um homem rude com cabelos selvagens se
aproximando. Suas bochechas estavam rosadas. Ele estava claramente se
divertindo.
Jaxon parecia aborrecido.
— Quinn, este é Alfa Anthony do bando Pântano de carvalho. — Por
favor, não preste atenção nele. Ele é um idiota.
— Vai se ferrar, — disse ele ao Jaxon antes de se virar e pegar minha
mão. — É um prazer finalmente conhecê-la. Espero que ele não tenha
dado muito trabalho a você.
— Oh, você não tem ideia, — eu disse sem mais rodeios do que o
pretendido.
O Alfa caiu na gargalhada.
— Oh, Jaxy, eu gosto desta! Ela é uma para casar!
— Por favor, desculpe pelo meu companheiro, — disse uma mulher
loira de olhos verdes. — Ele é assim, mesmo quando está sóbrio.
— Luna Quinn, conheça minha companheira, Luna Melanie.
Trocamos saudações. Ela foi muito adorável.
— Então, o que é tudo isso que ouço sobre um bando de malfeitores?
— Anthony prosseguiu. — Você realmente não acha que há um lá fora,
acha?
Ao ver a comoção, outros Alfas e suas Lunas começaram a se reunir.
— Agora, Anthony, — disse Melanie, — Eu não acho que isso seja
uma conversa apropriada, você acha?
— Por que não? É por isso que estamos aqui, não é mesmo? — disse
ele à multidão, muitos acenando com a cabeça em concordância.
— Você não acha que é possível? — Jaxon perguntou defensivamente.
— A razão pela qual os malfeitores estão fora de si é porque não
fazem parte de um bando. Isso é o que os deixa loucos. Todos sabem
disso.
— Porque eles estão sozinhos, — respondi.
— Exatamente! — o Alfa respondeu. — Ela me entende!
Foi então que Alpha Anthony olhou para o meu pescoço com
curiosidade.
— Por falar em ficar sozinho, não pude deixar de notar que vocês
ainda não se marcaram!
De repente me tornei autoconsciente. Ajustei meu cabelo para que ele
cobrisse meu pescoço exposto.
— É melhor você se apressar e resolver isso, Jaxy... se você sabe o que
quero dizer, — disse ele, empurrando-o, mas Jaxon empurrou Anthony
de volta, batendo-o em várias pessoas próximas.
— Como ousa falar dela dessa maneira? — rugia ele.
A multidão ficou em silêncio. Eles sabiam que Anthony tinha acabado
de cruzar uma linha séria. Os olhos de Jaxon estavam em chamas. Eu já o
havia visto com raiva antes, mas não assim.
Ele estava enfurecido.
Jaxon tinha acabado de ser desrespeitado e humilhado publicamente
na frente de todos os outros Alfas e Lunas — e na própria casa de seu
bando, nada menos que isso.
Vendo a forma como os músculos de Jaxon tensionavam e como ele
ofegava, ficou claro que ele não ia tolerar isso...
Ele estava prestes a se transformar.
Capítulo 26
O EMBATE DOS LOBOS
QUINN

Um vulcão estava prestes a entrar em erupção.


A qualquer momento, Jaxon ia deixar seu lobo tomá-lo
completamente. Ele ia despedaçar o outro Alfa.
Anthony recuperou seu equilíbrio e voltou a ficar bem na cara de
Jaxon.
— Ha! Eu deveria saber que era bom demais para ser verdade, —
exclamou Alfa Anthony. — Foi tudo uma pegadinha! Onde você
encontrou esta garota? No bordel local?
Eu pude ver cada fibra do corpo do Jaxon lutando para manter o
controle.
— Grande conversa para alguém que vive na merda de um pântano,
— respondeu ele.
Isto só enfureceu ainda mais Anthony.
— Anthony, deixe para lá, — sua Luna latiu. — Pare de antagonizá-lo!
— Ei, eu estava apenas me divertindo um pouco! O idiota aqui quase
me derrubou no chão! Sem mencionar, que caluniou o bom nome do
nosso bando!
A esta altura, Alex e outros lobos da Bando Sombra da Lua
começaram a se reunir, assim como os lobos do Pântano de Carvalho
com seu Alfa.
Esta situação estava se agravando rapidamente.
— Não permitirei tal insulto a mim ou a minha Luna, — declarou
meu companheiro.
— Então você é mais tolo do que eu pensava, — respondeu o outro
Alfa.
Ficou claro que nenhum dos dois iria recuar. Ambos eram muito
orgulhosos. Estavam prestes a cruzar um ponto do qual não tinha volta.
Eu tinha que fazer alguma coisa.
Então, olhei para Jax e concentrei minha mente o máximo que pude.
Eu mesmo nunca havia começado isto, mas tinha que tentar.
De repente senti meus pensamentos correrem para os dele.
No início, era caótico. Peças fragmentadas de sua consciência interior
brilhavam ao meu redor. Era difícil de focalizar, mas consegui fazer força
até estabelecer contato.
Quinn: Jax, pare!
Jax: Quinn?
Quinn: Você não pode fazer isso!
Quinn: Você tem que parar!
Jaxon: Você não se transformou!
Jaxon: Como você está fazendo isso?
Quinn: Eu não sei, mas isso não importa!
Quinn: Você não pode deixá-lo te atingir.
Quinn: Você tem que recuar.
Jaxon: Recuar?
Jaxon: Você está louca?
Quinn: Você tem que fazê-lo!
Jaxon: Você tem alguma ideia de quão fraco isso me fará parecer?
Quinn: Se você continuar por este caminho, só há um lugar para onde ele
nos levará.
Quinn: Não podemos deixar isso acontecer.
Quinn: Pense no bando.
Quinn: É isto o melhor para eles?
Pela forma como o corpo de Jaxon se torceu, pude ver que ele estava
em conflito. Ele sabia que eu estava certa, mas será que ele conseguiria
lidar com a humilhação?
Jaxon deu um passo à frente, e o outro Alfa encontrou seu avanço.
— Vá em frente, — Anthony rosnou, — faça alguma coisa!
Eles ficaram ali por um momento, de olhos fixados, prontos para
atacar. Mas então Jaxon quebrou o contato visual e relaxou seus
músculos.
— Alfa Anthony, estou satisfeito que você aceitou nossa oferta para
participar do evento de hoje à noite. Por favor, sinta-se em casa. Divirta-
se. — E então ele se virou e foi embora.
— Isso mesmo, — Anthony ladrou, — fuja como um Beta pela qual eu
sempre o tomei!
Houve suspiros da multidão.
Jaxon parou em seu caminho, mas nunca voltou atrás. Eu podia dizer
que ele estava lutando para resistir, mas ele conseguiu encontrar a força e
continuou a ir embora.
JAXON

Inclinei-me sobre o terraço, olhando do pátio para o meu povo.


Eram eles meu povo?
Nunca me senti tão envergonhado em toda a minha vida. Não só fui
desonrado na frente dos outros bandos, mas deixei que isso acontecesse
em minha própria casa.
Eu sabia que todos me viam agora como uma pessoa inferior. Aos
seus olhos, um Gama tinha mais autoridade do que eu.
Eu posso ter preservado a paz, mas ela veio com um custo.
Valeu a pena?
Eu não sabia como nos recuperaríamos disso.
Carl: Então, irmão, você finalmente vê a verdade.
Jaxon: Carl!
Carl: Que o título Alfa nunca lhe pertenceu.
Jaxon: Você não sabe nada!
Carl: Eu li seus pensamentos, eu vi a maneira como você se curvou na
frente dos outros.
Jaxon: Vá se foder!
Jaxon: Eu deveria ter matado você!
Carl: Mas você não poderia.
Carl: Você não pode.
Carl: É uma vergonha, realmente...
Carl: Arrastar o nome da família para a lama...
Carl: Nos veremos muito em breve.
— Jax?
— Jax?
Eu tirei o elo mental e vi Quinn. Eu me afastei dela, envergonhado.
Ela se estendeu e tocou meu ombro.
— Jax, — disse ela.
— Eu não quero falar.
— Então não o faça. Eu só queria dizer como estou orgulhosa de você,
— disse ela com amor. — Foi preciso muita coragem para fazer o que
você fez. Foi a coisa certa a se fazer.
Eu sabia que ela estava certa, mas mesmo assim não fez eu me sentir
melhor.
— O que você fez foi admirável. Mesmo que você não acredite...
— Por favor, apenas vá embora. Eu preciso ficar sozinho, —
interrompi.
Eu podia dizer que ela estava ferida, mas não queria que ela me visse
assim.
E assim ela o fez.
QUINN

Voltei a entrar no salão de baile e desci as escadas mais uma vez.


Ainda havia uma grande comoção em relação ao que havia acabado
de acontecer. Eu queria fugir, mas sabia que precisava estar lá.
Quando cheguei ao fundo, fui recebida por Alfa Anthony,
acompanhado por sua Luna. Ela claramente trocou algumas palavras
com ele, a julgar pela maneira como ele estava encolhido ao lado dela.
— Luna Quinn..., — começou ele, — em nome do Bando Pântano de
Carvalho, quero pedir desculpas pelo meu comportamento mais cedo.
Não foi correto da minha parte dizer o que eu disse, especialmente tão
publicamente. Eu não tinha este direito.
Eu estava cética no início, mas seu comportamento gentil indicava
que o que ele estava dizendo era sincero.
— Se Alfa Jaxon não tivesse mantido sua compostura, as coisas
poderiam ter acabado em derramamento de sangue. Ele foi o homem
responsável, e por isso lhe devo muita gratidão e respeito.
Ele começou a se dirigir à multidão.
— A segurança de seu bando veio primeiro — um sinal de um
verdadeiro líder. Tal devoção só confirma nossa decisão de dar ao Bando
Sombra da Lua nosso total apoio contra esta ameaça desonesta!
Aplausos irromperam das multidões. Um a um, os outros bandos
também se comprometeram a dar seu apoio.
Eu não podia acreditar. Fiquei sem palavras.
Isso realmente acabou de acontecer?
O DJ começou a tocar música novamente.
— E como símbolo da unidade da nossa matilha, — disse o Alfa,
estendendo sua mão, — você me honraria com uma dança?
Oh, Deus. Ele está falando sério?
— Por favor, eu insisto! — disse Anthony.
O tempo deixou oficialmente demais toda a intenção de não fazer.
De repente, senti náuseas quando todos os olhos se voltaram para
mim. Todos estavam esperando que eu tomasse uma decisão, uma
escolha óbvia em suas mentes.
A pressão estava a toda.
Eu não podia dizer não por medo de causar ofensa, mas não havia
como eu dizer sim.
Então, eu fiquei ali parada.
Congelada.
Como uma idiota.
O Alfa do Bando Pântano de Carvalho estava pronto para dançar
comigo.
— Então, o que você diz? — perguntou ele.
Mas eu tinha que dizer algo.
— Umm..., — eu gaguejei.
Diga alguma coisa, caramba!
— Eu... eu adoraria, mas... mas...
— Mas ela já me prometeu sua primeira dança, — uma voz familiar
chamou por trás.
Todos viraram. Foi o Jaxon!
Ele desceu as escadas e ficou diante de mim.
Alívio imediato!
Meu coração acalmou.
Queria abraçá-lo nesse momento e ali mesmo.
— Claro! — declarou Alfa Anthony. — Eu estava apenas dizendo a ela,
meu bando...
— Eu ouvi. E agradeço seu apoio, — disse ele, pegando a mão do Alfa,
solidificando a unidade de nossa alcateia.
— Agora, se me dão licença, tenho um encontro, — disse ele, pegando
minha mão.
— Muito bem, — admitiu Anthony, — mas eu insisto na próxima
dança!
Jaxon me levou, e antes que eu me desse conta, estávamos na pista de
dança.
Outros dançavam ao nosso redor enquanto Jax e eu olhávamos nos
olhos um do outro.
— Não sei o que estou fazendo, — disse eu, ainda nervosa.
— Não se preocupe. Basta ouvir a batida e me seguir.
Ele enrolou sua outra mão ao redor da minha cintura e me puxou
para perto.
E então... nós começamos.
Meus pés tropeçaram no início, mas meu longo vestido escondeu
meus erros, e os braços de Jaxon me mantiveram estável.
— Concentre-se apenas no ritmo, — disse ele. — Deixe a música fluir
através de você.
Um, dois, três, quatro...
Um, dois, três, quatro...
Um, dois, três, quatro... a música pulsante foi.
Jax estava me liderando em algum tipo de música eletrônica de clube.
Não que eu já tivesse ido a um clube.
Eu podia sentir meu coração bombeando contra meu peito em
sincronia com a música, que começou a tomar o controle do meu corpo.
Eu estava pegando o jeito.
Quando olhei à minha volta, vi pessoas recuando lentamente da pista
de dança para ver o que estávamos fazendo.
Meu coração começou a acelerar novamente a partir da atenção que
estávamos recebendo. Vê-los girar estava me deixando tonta.
Sim, foi o vinho — definitivamente o vinho.
Comecei a me gabar um pouco.
— Olhe para este lado e ignore todos os outros, — disse Jaxon. — Vai
ajudar você a manter o equilíbrio.
E eu fiz. Nossos olhos se fecharam enquanto ele me puxava para mais
perto, e tudo entrou em foco. Consegui ignorar todos os outros ao meu
redor e simplesmente estar lá.
A maneira como ele olhou para mim me fez sentir vulnerável, mas de
uma forma necessária.
Todos os sentimentos de animosidade em relação a ele tinham
desaparecido.
Nossos rostos estavam apenas a alguns centímetros de distância. Eu
podia sentir sua respiração contra meus lábios. A vontade de beijá-lo
estava se tornando cada vez mais sedutora.
Eu não notei que nossos pés haviam parado de se mover.
Antes que eu soubesse, nós nos inclinamos um para o outro e nossas
bocas se tornaram uma só. Ele massageou lentamente meus lábios com
os seus e, uma dose de adrenalina correu através de minhas veias.
Nós nos abraçamos mais.
Eu não queria que ele me soltasse nunca.
Quando a música começou a diminuir, um aumento dos aplausos
pôde ser ouvido.
Quando olhamos em volta, percebemos que éramos os únicos na
pista de dança. Todos estavam observando e torcendo.
Minhas bochechas ficaram vermelhas, assim como as do Jaxon. Foi
fofo.
Eu tinha que admitir... eu podia me acostumar com essa coisa de
dançar.
Quando começamos a sair da pista de dança, comecei a me sentir
novamente desorientada.
— Você está bem? — perguntou Jaxon.
— Sim, — eu disse agarrando minha testa, — estou me sentindo um
pouco indisposta. Acho melhor eu...
De repente, todos os meus sentidos evaporaram de uma vez. Perdi
toda a sensibilidade para meus braços e pernas e desabei no chão.
Todos ofegavam.
— Quinn?! — Jaxon gritou.
Eu soltei um grito de perfurar os ouvidos quando cada parte do meu
corpo começou a queimar.
Meus ouvidos começaram a zumbir, e minha visão ficou embaçada.
— O que está acontecendo comigo?! — Eu perguntei.
Jaxon veio para o meu lado como um olhar de pavor lavado em seu
rosto.
— Você está mudando, — disse ele com a maior calma que pôde.
— Você está se transformando em um lobo.
Capítulo 27
O PRIMEIRO TURNO
QUINN

Era muito cedo. Não deveria ter acontecido tão cedo.


Minha mente estava em completa desordem.
Eu não conseguia me concentrar no que estava acontecendo ao meu
redor.
Senti as mãos me levantarem no ar e me carregarem pelas escadas até
meu quarto.
Jaxon me disse algo, mas eu não consegui ouvi-lo por causa dos meus
gritos. Eu só conseguia me concentrar na dor palpitante que atingia meu
corpo.
Foi horrível, a pior coisa que eu já havia experimentado. Parecia que
tudo tinha ganhado vida e estava me matando.
Meu coração bateu contra meu peito.
Meu sangue parecia que estava pegando fogo. Meu corpo inteiro
ardeu por dentro.
Todos os músculos e ossos do meu corpo estavam em agonia.
Alguém tocou minha pele nua, fazendo com que a dor naquela área
dobrasse.
— Abra a janela! — Eu ouvi alguém dizer quando minha audição
começou a retornar. — Ela precisa da luz da lua!
A agonia começou a diminuir, mas então outra onda de fogo passou
por mim, fazendo-me curvar enquanto meus membros
involuntariamente sofriam espasmos.
Apertei meus olhos e cerrei os dentes para não gritar.
A dor que eu sentia era uma tortura absoluta e esta foi apenas a
primeira etapa. Em seguida, todos os duzentos e seis ossos do meu corpo
se partiriam, o que poderia acontecer a qualquer momento. E por último,
eu me transformaria completamente em lobisomem.
— Eu não posso fazer isso! Eu não estou pronta!
Quando minha visão voltou, vi Sky, Harper, Raphael e o médico todos
reunidos ao redor da minha cama. Era difícil perceber o que eles diziam,
mas parecia que eram palavras de encorajamento.
Eu me encolhi enquanto o médico me iluminava o olho, cegando-me
novamente.
— Bem... — perguntou Jaxon.
— Ela é forte, mas isto está acontecendo muito mais cedo do que
antecipamos, — respondeu o médico.
— O que você está dizendo?
— Estou dizendo que não há mais nada que eu possa fazer. Agora é
com ela.
— Isso é inaceitável! — Jaxon ladrou. — Este é o século XXI! Você tem
que ser capaz de fazer algo!
Ambos os homens estavam de pé, olho no olho. A partir de suas
expressões sérias, parecia que já vinham discutindo há algum tempo.
O médico suspirou.
— Entendo sua frustração, Alfa, — prosseguiu ele. — Eu estava
igualmente preocupado quando minha companheira se transformou,
mas agora mesmo, você estar aqui, fará mais para ajudar do que qualquer
coisa que eu possa fazer. Ela precisa de seu apoio moral para se empenhar
nisso. Além das doses de adrenalina, temos que deixar a natureza seguir
seu curso.
Jaxon olhou para mim com uma preocupação genuína nos olhos. Ele
ofegava quase tão forte quanto eu.
Ele tentou liberar sua energia nervosa, mexendo-se e andando pela
sala.
Ele parecia desamparado... como se quisesse vir em meu auxílio, mas
não sabia como.
Outro inchaço de dor me fez virar de cara para cima do colchão. Eu
agarrei o edredom o mais forte que pude e gritei no travesseiro.
Pensei que sabia no que estava me metendo, mas a dor não era nada
como eu esperava. Antes disso, ter uma pedra no rim era a maior tortura
que eu já havia experimentado, mas o que eu estava experimentando
agora parecia mil vezes pior.
Isso é impossível!
— Eu não sou forte o suficiente! Vai me matar!
Eu me virei de costas.
Por alguns momentos, pude ver todos sentados em silêncio. Os
membros do Bando me olhavam com medo. Harper confortou Sky, que
estava à beira das lágrimas, enquanto Raphael tentava consolar Jaxon.
Meus gemidos e soluços foram as únicas coisas que foram ouvidas.
Eu me sentei e comecei a balançar para frente e para trás.
Foi quando senti alguém esfregando ternamente minha parte inferior
das costas em círculos suaves. Ao contrário da dor que senti ao ser tocada
antes, estas mãos eram frias e me davam conforto.
— Quinn, você está mudando. Seu instinto é resistir, mas você tem
que abraçar a dor, — disse Jaxon, tentando me tranquilizar tanto quanto
ele estava tentando tranquilizar a si mesmo. — Combatê-la só vai piorar
as coisas.
Abraçar a dor? Ele está brincando?
Desejei que alguém simplesmente me livrasse do meu sofrimento.
— Lupus Paulo, — sussurrou Jaxon, apertando bem a mão, — sinto
muito por tudo o que aconteceu entre nós. Eu não tinha o direito de
tratá-la como o fiz. Você é mais do que minha igual, você é minha alma
gêmea.
Ele então me embalou em seus braços e começou a escovar fios de
cabelo da minha testa suada.
— Não posso fazer isso... não posso, — murmurei.
— Sim, você pode. Você não está autorizada a desistir. Vamos passar o
resto de nossas vidas juntos. Além disso, ainda estamos nos conhecendo.
Ele fez um gesto em direção aos outros.
— Você vê aquelas pessoas ali? Eu não lhes disse para estarem aqui.
Eles vieram por sua própria vontade, por sua causa. Eles são sua família.
E eles te amam tanto quanto eu. Ninguém aqui quer te perder.
Quando olhei para todos à minha volta, comecei a esquecer a dor.
Estas pessoas estão realmente aqui para mim?
Fiquei genuinamente emocionada com o amor e a adoração deles. Eu
poderia realmente ter ganho tal devoção em meu curto espaço de tempo
com o bando?
O olhar em seus rostos me disse que eu tinha.
As lágrimas começaram a me inundar dos olhos, mas não de dor —
mal a sentia — mas de saber que tinha encontrado um lugar que eu
poderia chamar de lar.
Jaxon estava certo.
Eles eram minha família.
Percebi então, que não queria deixá-los. Eu não queria morrer, não
quando eu tinha acabado de começar a encontrar meu lugar neste
mundo.
Eu tinha uma responsabilidade pelo bem-estar não só de mim
mesma, mas das pessoas nesta sala — pelo meu bando. Eles precisavam
de mim tanto quanto eu precisava deles.
Jaxon se inclinou e roçou seus lábios contra os meus, fazendo com
que uma frieza se lavasse sobre mim, amortecendo o fogo que se elevava
por dentro.
Eu não queria que isso parasse.
Comecei a estender a mão e tocá-lo, mas então meu corpo de repente
teve um espasmo.
CRACK.
Eu soltei um grande suspiro enquanto sentia meu osso do fêmur
quebrar. O som perfurava meus ouvidos. Foi excruciante.
Este era um nível totalmente novo de dor.
Nunca havia quebrado um osso em minha vida, nem mesmo uma
fratura. O olhar sempre vigilante de minha mãe se certificava disso,
então eu não tinha a menor ideia do que esperar.
Eu queria gritar, mas a sensação de minha outra perna quebrando
arrancou o ar dos pulmões.
Jaxon se afastou para me dar espaço.
Meus ossos da canela vieram depois... e depois meus braços... depois
minha pélvis.
Um a um, cada um dos ossos de minhas mãos e dedos quebrados.
Meu corpo torcido e contorcido. Eu mal sentia as lágrimas correndo
pelo meu rosto.
Eu queria morrer.
— Faça-o parar, — eu supliquei.
Mas ninguém poderia, mesmo que quisesse.
Comecei a me sentir entorpecida.
Minhas pálpebras se tornaram pesadas e minha mente começou a
vagar à medida que a vontade de dormir se tornava cada vez mais
sedutora.
Senti então uma explosão de energia vir de dentro, enquanto uma
dose de adrenalina me acordava de volta.
Senti-me como se tivesse acabado de ser atingida por um trem de
carga quando a dor voltou com tudo.
Eu não iria sair dessa tão facilmente.
JAXON

— É isto, — disse o médico, tirando a agulha do braço da Quinn. — Ela


está entrando na fase final.
Eu queria tomá-la em meus braços, mas precisava deixar a
metamorfose seguir seu curso.
Eu me senti impotente.
Eu já tinha visto pessoas morrerem durante este processo antes, mas
nunca alguém tão querido para mim. Este era o segundo amor que eu
observava deslizar em direção à morte. Acho que não conseguiria
continuar desta vez se ela não conseguisse sobreviver.
Mas eu continuava tendo que me lembrar que ela já tinha chegado
tão longe. Tudo o que ela tinha que fazer era aguentar um pouco mais.
Por favor, não desista.
Não sei o que faria sem você.
Outro grito ecoou pela sala, mas, para minha surpresa, não veio da
Quinn. Ele veio do corredor.
Que inferno?
Todos na sala estavam tão confusos quanto eu, especialmente quando
se seguiram mais gritos.
Alex então irrompeu pela sala com o sangue escorrendo pelo rosto.
Houve três fortes cortes em suas bochechas. Ele caiu de joelhos.
Havia cortes por todos os lados.
— Alex! — gritou Sky enquanto corria para seu irmão. Eu também fui
até ele.
— Alex! O que aconteceu? — eu perguntei.
— É Carl!, — disse ele, sem fôlego. — Ele escapou! Matou dois dos
guardas! Eu tentei detê-lo, mas... — Ele continuou ofegante. — Sinto
muito!
Eu não podia acreditar. Ele tinha sido trancado em nossa cela mais
segura. Devia ter sido impossível para ele sair.
Mas não havia tempo para pensar em como. Ele tinha que ser detido.
Eu fui para a porta, mas Raphael me parou.
— Não! Você precisa estar aqui com ela. Eu irei.
Mas assim que Raphael chegou à entrada, de repente, ele foi para o
chão quando a porta saiu voando de suas dobradiças. Ele não se moveu.
Quando olhei para cima, vi um enorme lobo rosnando do umbral da
porta. Seus olhos brilhavam de vermelho e suas presas rangeram em
minha direção. Uma cicatriz familiar percorria seu rosto.
Era ele.
Capítulo 28
FUGA SANGRENTA JAXON
O lobo Carl entrou na sala, deixando pegadas sangrentas para trás. O
mesmo líquido vermelho manchava o pelo ao redor de suas mandíbulas e
pingava de sua boca.
Ele estava caçando.
E eu era sua presa.
Enquanto eu pensava em uma maneira de me aproximar, senti um
latejar repentino na minha cabeça.
Carl: Eu lhe disse, você não poderia me manter preso para sempre!
Carl: Você deveria ter me matado quando teve a chance...
Carl: Falso Alfa!
Jaxon: Eu cometi esse erro uma vez, mas não vou deixar que isso aconteça
novamente.
Carl: Muita conversa, mas nenhuma ação.
Carl: Esse será o seu legado.
Carl: E quando eu acabar de me desfazer de você, eu farei o mesmo com
ela!
Rapidamente olhei de volta para a Quinn. Seu corpo continuava
torcendo e contorcendo enquanto ela gemia em agonia.
Sua metamorfose estava longe de ter terminado.
Neste estado, ela estava completamente vulnerável, então Sky, Harper
e o médico instintivamente formaram um anel protetor em torno dela.
Raphael e Alex ainda estavam inconscientes.
Me dilacerou vê-la desta maneira. Eu queria pegá-la em meus braços
e aliviar seu sofrimento, mas sabia que não havia mais nada que eu
pudesse fazer.
Mas quando a ameaça se aproximava, comecei a me perder. Não mais
consumido pela dor, mas pela mais pura raiva.
Aquela besta selvagem que eu mantive trancada estava se libertando
de suas correntes.
Eu não ia deixar que nada acontecesse com minha Luna. Nenhum
mal lhe aconteceria. Qualquer pessoa ou qualquer coisa que tentasse
estaria morta.
Jaxon: Você está errado sobre nosso Pai.
Jaxon: Não é que ele o tenha abandonado... ele simplesmente viu o
monstro que vive dentro de você.
Jaxon: Ele sabia, mesmo assim, que seu sangue estava envenenado!
Jaxon: Você foi uma desgraça aos olhos dele.
A boca do lobo se escancarou para revelar fileiras de dentes afiados
antes de jogar a cabeça para trás.
AR-ROOO-OOO!
Seu uivo era transportado por todo o castelo.
Pouco tempo depois, ouvi o som de galopar. Foi aí que percebi que
seu uivo não era um grito de ultraje, mas um chamado às armas.
Cinco outros lobos apareceram ao lado de Carl e eram igualmente
horrendos. Eles escancararam suas mandíbulas e ladraram loucamente
para nós.
Estavam à procura de sangue.
Um intenso latejar atingiu minha cabeça novamente.
Carl: Eu mudei de ideia!
Carl: Sua Luna morre primeiro!
Carl: E você vai me ver matá-la!
O som dos ossos quebrando encheu o ar, mas desta vez, não veio da
Quinn... Veio de mim.
O pelo brotou de minha pele e minhas mãos estiradas em garras.
Minhas roupas arrancadas do meu corpo quando meus ossos caíram no
lugar.
Meu lobo tinha voltado.
Totalmente liberado, eu mesmo soltei um uivo.
AR-ROOO-OOO!
Que foi seguido por um refrão de uivos que respondeu ao meu
chamado.
AR-ROOO-OOO!
Quando olhei para trás, vi que Sky, Harper e o médico também
tinham se transformado. Eles se posicionaram ao meu lado. Agachamos
nossos corpos e rangemos nossas presas contra nossos inimigos.
A vida de nossa Luna estava em jogo.
E com um aceno de cabeça, atacamos os intrusos de frente.
Todos cortaram as garras e partiram os dentes. Pedaços de pelo e
sprays de sangue voaram em todas as direções.
Foi um caos.
À medida que o lobo com cara de cicatriz se aproximava, eu me
agarrava à sua garganta, mas tudo o que conseguia era ar.
Ele não apenas se esquivou, mas ignorou minha mordida enquanto
manobrava com facilidade em volta de minhas costas. Ele se aproximou
da cama.
Quinn!
Eu o persegui e me agarrei em suas pernas traseiras.
Outro lobo tentou interceptar, mas eu afundei meus dentes em sua
garganta e o fiz recuar. Eu não parei.
Carl quase alcançou Quinn antes de eu pular em cima dele e derrubá-
lo no chão.
Quando ele recuperou o equilíbrio, ele pulou na direção dela
novamente, mas eu afundei minhas presas em seu ombro. Ele soltou um
grito e se desvencilhou de mim.
Eu podia sentir o gosto de seu sangue pingando pela minha garganta.
Tive sua atenção. Ele sabia agora que a única maneira de chegar até
ela era através de mim.
Ele se lançou com uma série de estalos de suas mandíbulas, mas eu
consegui evitá-lo.
Ele saltou para o ar e bateu suas garras afiadas, mas minha velocidade
o impediu de entrar em um golpe. Ao contrário de nosso encontro na
floresta, eu estava muito mais preparado desta vez.
Dei outro golpe debaixo do pescoço dele, fazendo com que ele
sangrasse ainda mais.
Nós nos afastamos e começamos a fazer círculos predatórios,
ameaçando o outro com latidos e rosnados ferozes.
Jaxon: Esta não é uma luta que você possa vencer.
Jaxon: Eu lhe darei uma última chance de desistir!
Carl: Você não aprendeu nada ao me deixar viver?
Carl: Sua misericórdia é o que o torna fraco!
Jaxon: Então você não merece a minha misericórdia.
Em apenas um instante eu fui para cima dele.
Deixei que minha fúria se apoderasse de mim enquanto rasgava a sua
carne. Ele conseguiu me dar vários golpes, mas não adiantou. Isso me
revigorou ainda mais.
Quanto mais eu o rasgava, mais fraco ele ficava. Seu corpo começou a
tremer. Havia medo em seus olhos.
Eu era imparável.
Mas ao continuar minha luta, esqueci, por engano, de verificar meu
entorno.
CRUNCH.
Eu gritei de uma dor aguda na parte de trás da minha perna. Um dos
lacaios do Carl estava preso nela.
Estalei meus dentes, o que o fez soltar, mas minha lesão dificultou a
caminhada.
O lobo tinha causado alguns danos graves.
Olhando à minha volta, percebi que estava em desvantagem numérica
de três para um. Harper e Sky estavam preocupados com sua própria
luta.
Na minha raiva cega, eu havia escolhido renunciar ao princípio
fundamental de trabalhar em conjunto como uma matilha e escolhi lutar
sozinho.
E agora, eu estava por minha conta.
Os lobos começaram a se aproximar.
Tentei ficar de pé, mas a dor era muito forte, e fui forçado a recuar.
Logo me vi cercado, preso no canto da sala.
Meus rosnados e estalidos não intimidaram os lobos nem um pouco.
Carl lambeu ao redor de sua boca enquanto observava eu me encolher.
Senti outro latejar na minha cabeça enquanto nos ligamos de novo à
mente.
Carl: Você vê?
Carl: Você nunca teve uma chance.
Carl: Todo o planejamento e preparativos para juntar os bandos...
Carl: Tudo isso foi em vão.
Carl: Sempre foi assim que deveria ter sido.
Carl: Era seu destino falhar.
Carl: Adeus, irmão.
Os lobos de olhos vermelhos baixaram a cabeça para a posição de
ataque e tensionaram seus corpos. Eles estavam prestes a atacar.
AR-ROOO-OOO!
Um uivo ecoou por toda a sala com uma paixão e riqueza que era
como nenhuma outra.
Meus perseguidores também foram cativados por seu chamado.
Quando se viraram, viraram um lobo que nunca tinham visto antes,
elevando-se acima deles na cama.
O lobo foi emoldurado pela janela, com a lua pairando alto sobre a
cabeça. Sua estrutura pequena, porém poderosa, irradiava força. O pelo
da criatura brilhava sob a noite estrelada, dando ao seu pelo um brilho
azul tingido.
A criatura era magnífica.
Reconheci imediatamente a besta por seus olhos cinzentos prateados.
Lupus Paulo!
Era mesmo ela? Eu não podia acreditar.
Quando ela teve a atenção de todos, ela não perdeu tempo em lançar-
se na briga. Ela se moveu com tanta velocidade, tudo o que eu vi foi um
flash prateado e azul.
Os três lobos ao meu redor foram apanhados desprevenidos e não
tiveram tempo para reagir.
CRACK.
Um pescoço foi quebrado, e um lobo malfeitor caiu morto.
THWACK.
Um corpo foi esmagado contra uma parede.
CRUNCH.
Seu pescoço cantou quando ela deu o golpe final.
Os dois lobos que combatiam Sky e Harper fugiram de cena quando
viram seus camaradas caírem, deixando apenas Carl para trás.
Quinn virou-se para ele, orelhas puxadas para trás, e lentamente
perseguiu-o. Um rosnado de barriga baixa ressoou de sua garganta.
O resto de nós também nos movemos em direção a Carl.
Eu pude ver o pânico em seus olhos. Mas antes que pudesse estar
completamente cercado, ele viu uma abertura e escapou pela porta.
Sky e Harper seguiram em perseguição enquanto o médico voltava e
começava a tratar Alex e Raphael.
O lobo de Quinn começou a ir atrás deles, mas ela nunca chegou à
porta.
Seu ímpeto começou a vacilar quando a onda de energia que veio
com a primeira mudança começou a se esgotar — embora, o poder que
ela incorporou fosse algo totalmente diferente... muito mais forte, de
alguma forma.
Ela parecia tonta. Seus movimentos se tornaram instáveis quando ela
começou a perder seu equilíbrio.
Ela estava em colapso.
Muito forte.
Apressei-me até ela tão rápido quanto minha perna ferida me levaria.
Abafei minha cabeça debaixo dela e gentilmente a abaixei até o chão.
Uma vez para baixo, ela voltou à forma humana, e eu também voltei.
Envolvi seu corpo nu em um cobertor e deitei-a na cama do quarto
adjacente. Ela abriu os olhos e olhou em volta, confusa.
— Sinto-me estranha... — disse ela. — O que aconteceu?
— Você sobreviveu a transformação, — respondi.
— Você se lembra?
— Vagamente... tudo aconteceu tão rápido.
Eu sorri e lhe dei tantos beijos que perdi a conta.
— Jax, — disse ela entre as respirações, — não consigo respirar.
Eu ri.
— Desculpe, estou feliz por você estar bem.
— Sinto-me sonolenta, — disse ela quando seus olhos começaram a
se fechar.
— Seu corpo está apenas exausto. Você já passou por muita coisa.
Sky e Harper entraram na sala em forma de lobo.
Harper: Alfa, perseguimos Carl, mas o perdemos na floresta.
Harper: Sentimos muito.
Jaxon: Está tudo bem.
Jaxon: Vão ver Raphael e Alex, depois enviem um grupo de busca para
Carl.
Jaxon: Ele não pode ter ido longe.
Harper: Isso não é tudo...
Harper: Todos estão saindo.
Oh, merda!
Vesti algumas calças e voei para fora da porta.
Corri para o topo das escadas descalço e sem camisa. Olhei para baixo
e vi todos fugindo. Havia pânico em seus olhos.
Eu tinha perdido o controle da situação.
Se eu não conseguisse persuadi-los a ficar, a aliança que acabamos de
fazer poderia ser quebrada.
Eu tinha que agir.
Capítulo 29
O MOMENTO DA LUNA
JAXON

A fuga de Carl e a chegada dos outros lobos deixou todos em um frenesi.


Eles correram freneticamente enquanto saíam correndo pela porta da
frente.
Ouvi pessoas gritarem que o Beta do Bando Pântano de Carvalho
havia sido morto, e pude ver que Alfa Anthony estava ao seu lado com
pesar. Pela maneira como ele lamentou, ficou claro que ele era tão
próximo de seu povo quanto eu era do meu.
Desci as escadas até o foyer tão rapidamente quanto minha perna
ferida permitia. Eu ainda estava sangrando. Alfa Anthony avançou em
mim quando cheguei ao fim das escadas, mas seus lobos o detiveram.
— A culpa é sua, — gritou ele. — Meu Beta está morto por sua causa!
Eu queria argumentar, mas sabia que não haveria como convencê-lo.
Além disso, ele não estava totalmente errado.
— Anthony, não posso lhe dizer o quanto lamento o que aconteceu.
Sei que nada que eu diga pode trazê-lo de volta.
— Tem toda a razão, não pode! — ele ladrou.
— Mas não podemos deixar que o que aconteceu fique entre nós. É
por isso que nossos bandos precisam ficar juntos.
— Que se dane a aliança! — ele cuspiu, tentando se libertar de seus
homens. — Eu falo pelos outros bandos quando digo, o Bando Sombra
da Lua está por conta própria!
Anthony finalmente se libertou e veio ao meu encontro, mas eu não
recuei.
— Vir para cá foi um erro! Lide você mesmo com os problemas do
malfeitor.
Eu o chamei quando ele se virou para sair, mas ele me ignorou. A esta
altura, mais da metade da festa já tinha partido.
— Por favor, espere! Não saia! — Eu tentei mais uma vez, mas foi
inútil. Os bandos tinham se decidido.
Carl estava certo: eu havia falhado.
AR-ROOO-OOO!
Um uivo familiar gritou.
Todos pararam.
Quando viramos, encontramos Quinn de pé no topo da escada ainda
envolta em seu cobertor. Ela havia se transformado parcialmente. Ela
parecia fraca, mas agarrada ao corrimão para se apoiar.
Quando ela teve a atenção de todos, ela voltou completamente à
forma humana.
— Você é tão facilmente assustado por um pequeno punhado de cães?
Vocês mesmos não são lobos poderosos?
Todos olharam em volta, incrédulos.
— Eu perdi um bom homem esta noite! — O Alfa Anthony rugiu.
— E você vai perder mais se não fizer nada. Este ataque foi apenas
uma pequena amostra do que está por vir. Se nossa união se desfizer, eles
simplesmente nos escolherão, um a um. O Bando Sombra da Noite é a
única coisa que fica entre seus reinos e o inimigo. Se nós cairmos, não
haverá nada que os impeça de vir atrás de vocês. — Eu não podia
acreditar no que estava ouvindo. Era realmente a mesma Quinn que eu
conhecia antes? Esta nova força era diferente de qualquer coisa que eu já
tinha visto.
Houve um murmúrio entre a multidão. Seus medos estavam
começando a diminuir.
— Portanto, se você estiver conosco, podemos enfrentar este inimigo
juntos. Se não... vocês serão os únicos que estarão por sua conta.
Os outros Alfas e Lunas olharam em volta, esperando que alguém
desse o primeiro passo. Alpha Anthony parecia profundamente
perturbado, mas foi ele quem deu um passo à frente.
— Digamos que concordamos com o que você está dizendo... O que
você tem em mente?
Um sorriso satisfatório se espalhou pelo rosto de Quinn, assim como
o meu espelhava o dela.
Ela os convencido.
QUINN

Mais tarde naquela noite, os Alfas e Lunas reuniram-se na sala de estar


para discutir os próximos passos para avançar. Jaxon me encorajou a
descansar na cama, mas eu não queria que isso acontecesse. Eu queria
estar ao lado dele, por isso troquei de roupa e o acompanhei.
Eles explicaram que a comunicação direta entre os bandos era
inexistente há muitos anos, então todos concordaram em enviar
emissários para o território uns dos outros.
Se alguma vez houvesse um problema, esses indivíduos poderiam
facilmente transmitir uma mensagem para suas respectivas alcateias.
Também concordamos em estabelecer um programa de treinamento
mensal que enviaria guerreiros de cada reino para trocar técnicas de
combate com outros bandos.
A questão do comércio e da troca de mercadorias também foi
discutida.
Embora nenhum acordo oficial tenha sido alcançado, concordamos
em continuar as negociações em uma data posterior.
A reunião foi muito melhor do que eu jamais imaginei. Nem mesmo o
pai de Jaxon tinha sido capaz de negociar tais termos quando ele era Alfa.
Eu estava preocupada com a fragilidade desta aliança regional, mas
estava confiante de que a união poderia ser preservada. Pelo menos, eu
esperava que isso acontecesse. Tudo ainda era muito novo para mim.
Então, surgiu o tema dos malfeitores.
— Eu ainda digo que um bando malfeitor é um absurdo, —
prosseguiu Alfa Anthony. Ele estava começando a ficar sóbrio, mas não
muito rapidamente.
— Então, como você chama o que acabou de acontecer? — Luna
Sandra, do Bando Topo da Montanha, respondeu. — Você o viu com seus
próprios olhos.
— Olha, não estou negando o ataque, — continuou Anthony, —
simplesmente não faz nenhum sentido. Se existisse, teria que ser dirigido
por alguém mais poderoso do que qualquer um de nós — mais poderoso
do que o Rei. Para não mencionar, como eles entraram?
Eles se estenderam neste assunto por bastante tempo, mas depois eu
me lembrei de algo que eu quase tinha esquecido.
— Vulpes, — eu declarei, surpreendendo a todos. Era a primeira vez
que eu falava desde meu grande discurso. Ainda não conseguia acreditar
que tinha dito o que tinha dito. — É algo que o vilão que nos atacou disse
quando o mandamos prender. Significa alguma coisa para você?
Um olhar preocupado apareceu em muitos de seus rostos.
— É latim, — respondeu Jaxon, — para raposa. — Diz-se que é o
nome de uma sociedade secreta, muito parecido com os contos dos
Illuminati que governam o mundo, mas é apenas isso — um rumor.
Tirei um momento para pensar sobre isso.
'Vulpes' poderia ser o nome do grupo para o qual Carl trabalhou?
Em meu sonho, ele tinha dito que estava me levando ao seu líder, que
ele afirmava ser muito poderoso. E Anthony acabou de dizer que o grupo
de malfeitores teria que ser liderado por uma pessoa poderosa.
— E se Carl estivesse se referindo ao grupo do qual ele fazia parte? —
Eu continuei. — Ele me advertiu para temê-los. Poderiam os Vulpes e os
malfeitores ser o mesmo?
Todos ficaram muito quietos. Eu tinha tocado em um assunto
delicado.
— Não podemos dizer com certeza, — respondeu Jaxon. — Mas é um
começo. Vou levar este assunto pessoalmente ao Rei e ver se ele pode
lançar alguma luz sobre este novo assunto. Enquanto isso, sugiro que
terminemos a noite e que durmamos um pouco. Tem sido um longo dia.
Os outros líderes dos bandos concordaram.
Então, a liga de lobos se separou e se acomodou para passar a noite.
Fiquei impressionada com o bom resultado de tudo, especialmente
depois da noite turbulenta.
Senti pena de Alfa Anthony.
Ele estava claramente perturbado com a perda de seu Beta. Eu assisti
Luna Melanie confortando-o enquanto eles se dirigiam para seus
quartos.
Aqueceu meu coração ver como eles estavam próximos. Eu achei doce
ver o quanto o grande e forte Alfa confiava em sua Luna.
Eu esperava que um dia meu Alfa se sentisse igualmente confortável
em confiar em mim.
Jax e eu seguimos em direção às escadas.
A lesão na perna tinha sido limpa e enfaixada, mas ele ainda tinha
dificuldade para andar.
Meu coração se encheu de alegria, sabendo que ele tinha me
protegido quando eu estava tão vulnerável. Agora eu me sentia mais
perto dele do que nunca, embora ainda sentisse alguma hesitação da
parte dele como se ele não tivesse certeza de como agir.
Eu não o culpei.
Palavras terríveis haviam sido ditas, a maioria das quais veio de mim.
Senti-me terrível pelas coisas que eu havia dito.
Quando chegamos às escadas, ele parou, com a cabeça baixa.
— Se você não quer estar comigo, eu entendo, — disse ele. — Eu não
a culparia. — Mantive segredos escondidos, dificilmente consegui
protegê-la... Em comparação com os outros Alfas, você não está
recebendo muito.
Inclinei-me e o beijei na bochecha.
— Você é mais do que suficiente. Você é o homem mais forte que eu já
conheci. Claro, tivemos alguns problemas, mas todos passam por
momentos difíceis. Eu não mudaria nada em você... Bem, talvez uma ou
duas coisas, — eu brinquei.
Ele tentou lutar contra isso, mas acabou sorrindo.
— Como um sorriso, — eu prossegui. — Você não faz isso o
suficiente. Você está sempre tão sério!
Ele riu.
— Sim, talvez você esteja certa. Vou ter que trabalhar nisso.
Ficamos ali, olhando um para o outro. A maneira como ele olhou para
mim me fez sentir como a única pessoa no mundo. Eu queria mostrar a
ele o quanto eu me importava com ele — o quanto eu o desejava.
— Você sabe... eu mudei completamente, — eu disse.
— Sim, você mudou, — ele sorriu de volta. — Estou tão feliz por você.
— Mas você está feliz comigo?
— Claro, — disse ele com amor, mas ele ainda parecia distante. Eu
podia sentir que ele ainda estava incomodado com alguma coisa.
— Olha, sobre tudo o que aconteceu, — continuou ele, — não quero
continuar falando nisso... e sei que não há nada que eu possa dizer ou
fazer para mudar...
— Está tudo no passado, — eu interrompi. — Estou feliz em tê-lo
como meu companheiro. Quero que você se sinta tão próximo de mim
quanto eu me sinto em relação a você. — E, como eu disse, eu mudei.
Pisei em sua direção e coloquei minha mão em seu peito musculoso
enquanto me inclinava para sua orelha.
— O que significa, você pode me marcar, — eu sussurrei.
Jax foi pego de surpresa. De sua expressão surpresa, era óbvio que ele
não estava esperando que eu dissesse isso. Mas ele acolheu de bom grado
minha proposta.
— Tem certeza? — perguntou ele, tentando mascarar um tremor
nervoso em sua voz. — Eu não queria pressioná-la. Eu queria ter certeza
de que você estava pronta.
Pressionei meus lábios contra sua orelha.
— Bem, estou pronta, — eu disse com confiança.
E eu estava. Não havia dúvidas em minha mente. Os olhos de Jaxon
cresceram com desejo. Enquanto ele me puxava para perto e fechava os
lábios com os meus, eu podia sentir outra coisa crescendo, também. Uma
onda de paixão se acendeu por dentro.
Jaxon me puxou para trás e olhou para cima da escada.
— É um longo caminho para cima, — disse ele, referindo-se à sua
perna ferida.
— Então vamos para outro lugar, — eu disse timidamente.
— O que você tem em mente?
Pensei por um momento.
— Siga-me.
Eu o peguei pela mão e o conduzi pelo corredor. Paramos na frente de
duas portas duplas. Eu estava tremendo, mas tentei não deixá-lo ver.
— Aqui?, — perguntou ele com alegria.
Eu acenei com a cabeça.
— Então, depois de você, — disse Jax, abrindo a porta para a
biblioteca e trancando-a atrás de nós.
Capítulo 30
A MARCA ALFA QUINN
Meu companheiro acendeu os lustres iluminados a gás quando entramos
na biblioteca.
Um frio no ar me deu arrepios, então Jaxon pegou vários troncos que
estavam perto e os jogou na lareira. Ele acendeu uma fogueira e a sala
ficou quente em pouco tempo.
Ele me levou ao sofá, mas rapidamente percebemos que era muito
pequeno para o que havíamos planejado, então Jaxon me levantou pelos
quadris e me levou para uma mesa de leitura robusta.
Vários livros caíram no chão.
Jax se posicionou entre minhas coxas, então envolvi minhas pernas
em torno de sua cintura, e nos aproximamos um do outro.
Nós nos beijamos apaixonadamente, como se não tivéssemos nos
beijado há anos.
Eu o beijei ao longo de seu pescoço quando ele começou a se
pressionar contra meu núcleo externo, mas não foi o suficiente. Eu
queria senti-lo em minhas mãos, então deslizei minhas palmas para
baixo de suas calças e agarrei sua masculinidade.
Ele gemeu de alegria.
Eu não tinha certeza exatamente do que fazer, mas comecei a mover
minhas mãos para cima e para baixo do seu eixo. Ele soltou outro
gemido, então eu assumi que estava fazendo algo certo.
Enquanto fazia isso, senti suas mãos deslizando sob meu vestido e
minhas pernas até que ele alcançou minhas calcinhas. Eu soltei um grito
de choque quando ele as rasgou em duas e as jogou para o lado.
Desabotoei seu cinto e desabotoei suas calças para que ele pudesse soltar
sua ereção.
Agora não havia nada entre nós.
Eu soltei um gemido quando ele começou a massagear seu pênis
entre meus lábios. Minhas coxas se seguraram ainda mais apertadas
enquanto ele continuava a me estimular.
Eu desabotoei os botões da camisa dele e o beijei ao longo da clavícula
e no peito. Não conseguia me fartar do físico muscular dele.
Sem pensar, minha boca se deslocou levemente, de modo que meus
dentes ficaram alongados.
Eu mordi em seu peito firme com meus caninos, mas não o suficiente
para quebrar a pele.
Ele soltou um pequeno suspiro de dor, mas disse que eu podia
continuar, então continuei a fazer pequenos golpes.
Meu desejo por ele estava se tornando avassalador. Eu estava faminta
por mais do que apenas preliminares. Eu podia ver em seus olhos que seu
apetite também estava crescendo.
Então, eu me inclinei no ouvido dele e sussurrei:
— Estou pronta.
— Você tem certeza?, — perguntou ele.
E eu acenei que sim.
Ele pegou meus quadris e os reajustou sobre a mesa. Eu respirei com
pouca profundidade em antecipação.
E foi aí que senti sua ponta deslizar para dentro de mim. Eu soltei um
grito que encheu o grande salão. Eu sentia dor enquanto ele ia mais além,
mas ainda assim me sentia incrível.
Ele parou momentaneamente para que eu pudesse recuperar o fôlego,
mas eu lhe disse que continuasse. Ele deslizou lenta mas ternamente
mais para dentro até ficar completamente dentro. Meu corpo tremeu
com a sensação de êxtase que ressoava por todo o meu corpo.
Ele permaneceu imóvel.
Olhamos nos olhos um do outro enquanto ele me deixava acostumar
com a sensação dele dentro de mim. Nos abraçamos um ao outro. Eu não
queria me soltar.
Em seguida, senti que ele estendia a mão para algo atrás de mim,
enquanto seu outro braço se ajustava mais ao redor do meu pequeno
dorso. Tentei ver o que ele estava tentando alcançar, mas ele não me
deixou olhar.
Pelo som das páginas viradas, pude perceber que ele estava abrindo
um livro.
Ele então se inclinou e começou a ler para mim em um sussurro.
Esta é a forma feminina,
Uma nimbus divina exala da cabeça aos pés,
Atrai com uma atração inegável e feroz,
Eu o reconheci. Folhas de relva!
Sou atraído por sua respiração como se eu não fosse mais que um vapor
indefeso, tudo cai de lado menos eu e ele, Livros, arte, religião, tempo, a terra
visível e sólida, e o que se esperava do céu ou medo do inferno, estão agora
consumidos, Ele se puxou ternamente para fora e depois se empurrou
para dentro, fazendo-me ofegar e gemer ainda mais alto enquanto ele
continuava o movimento repetitivo. Eu não conseguia mais sentir a dor.
Filamentos maduros, rebentos ingovernáveis jogam fora disso, a resposta
também é ingovernável, A mesa começou a balançar enquanto ele
empurrava com mais força e mais rápido.
Pé, peito, quadril, curvatura das pernas, mãos negligentes caindo todas
difusas, as minhas muito difusas, Fluxo picado pelo fluxo e fluxo picado pela
vazante, inchaço da carne do amor e deliciosamente dolorido, Corri minha
boca para cima dele.
Seu aumento da respiração ofegante tornava mais difícil para ele ler.
Jatos límpidos sem limites de amor quentes e enormes, geleia trêmula de
amor, suco branco e delirante, Noite de amor do noivo trabalhando segura e
suavemente na madrugada prostrada, Ondulando no dia do querer e do
ceder,
Perdido na fenda do dia do fecho e do dia do doce-fluxo.
Um inchaço elétrico em minha feminilidade começou a ressoar para
fora à medida que seus impulsos se tornaram mais duros e rápidos. Lutei
para evitar que a sensação continuasse a crescer.
Este núcleo — depois que a criança nasce da mulher, o homem nasce da
mulher, Este é o banho de nascimento, esta é a fusão de pequenos e grandes, e
a saída novamente.
Senti minhas coxas apertarem à medida que a sensação de
arrebatamento crescia. Não conseguiria resistir por muito mais tempo.
Não tenha vergonha das mulheres, seu privilégio encerra o resto, e é a
saída do resto, Ele deixou cair o livro e olhou diretamente em meus olhos.
Vocês são os portões do corpo e vocês são os portões da alma.
Eu perdi todo o controle.
Minhas costas arqueadas e eu soltei um grito de euforia enquanto a
energia do meu sexo explodia em todas as direções.
E a sensação não parou. Continuou.
Eu gritei noite adentro.
E foi aí que eu senti: dois furos afiados no meu pescoço.
Eu suspirei.
Jax me marcou!
A dor era intensa, mas o prazer que veio depois foi extraordinário,
pois outro surto orgástico tomou conta de meu corpo, mais poderoso do
que antes.
Eu gritei até não ter mais voz.
Sentindo seus dentes alongados travados em minha carne, eu
instintivamente movi os meus ainda mais quando envolvi minha boca
em torno de seu pescoço e perfurei sua pele.
Ele soltou um grito de dor e prazer para mim, marcando-o também.
Eu o senti se soltar dentro de mim. Nossos dentes se agarraram
firmemente uns aos outros, afundando ainda mais.
A sensação era sublime.
Eu podia sentir uma pequena corrente de sangue correndo pelo meu
peito.
Depois de vários outros impulsos, ele parou, e nós soltamos as presas
um do outro. Um gosto metálico do líquido vermelho encheu minha
boca enquanto encostávamos nossos lábios por um período de tempo
desconhecido.
Quando separamos nossos lábios, simplesmente olhamos um para o
outro com carinho.
Meu Jaxon.
Meu companheiro.
Mas então meus olhos captaram o movimento por trás dele e eu soltei
um suspiro. Quando Jaxon se virou para olhar, nós dois tropeçamos no
chão.
Diante de nós havia um homem e uma mulher, ambos louros. Seus
corpos pareciam fortes e poderosos... belos.
Eu reconheci o homem como aquele que me salvou na floresta.
Eles sorriram para nós.
— Por favor, — disse o homem, — não pare por nossa causa.

Jaxon e eu estávamos meio vestidos.


Embora inicialmente surpreendidos pelo aparecimento dos
misteriosos estranhos, nenhum de nós se sentiu ameaçado.
— Diga-me quem você é antes que eu rasgue suas malditas gargantas!
— Jaxon gritou.
— Bem, você não é rápido para a violência? — disse a mulher
alegremente. — E tal linguagem! Meu nome é Isabelle, e este é meu
irmão gêmeo Theodore.
Theodore e Isabelle...
Meus olhos se iluminaram quando reconheci quem eles eram.
— Os primeiros lobisomens!
— Muito bem, — respondeu o homem, parecendo genuinamente
impressionado.
Jaxon olhou para mim em confusão.
— Eu li sobre eles. Theodore foi quem me resgatou durante o
primeiro ataque.
Foi quando me lembrei da mensagem crítica da Deusa da Lua para —
confiar nos gêmeos. — Ela deve ter se referido a Theodore e Isabelle.
— O que você está fazendo aqui? — perguntou meu companheiro
com desconfiança. Ele não estava acreditando nisso.
— Viemos aqui para avisá-lo, — respondeu Isabelle.
— Avisar-nos?
— Sobre o perigo dos Vulpes.
— O pacote de malfeitores? — eu perguntei.
— Estamos bem conscientes da ameaça deles, obrigado, — disse Jaxon
com um ar de sarcasmo.
— Há mais deles do que você imagina, — respondeu Isabelle. — Os
Vulpes existem há séculos, liderados por um homem chamado Matheius,
cujo único propósito é destruir a Deusa da Lua.
— Matheius... uma das segundas gerações de lobisomens, — eu
respondi.
Mais uma vez, Jaxon olhou para mim com perplexidade. Ele
realmente fazia uma cara de idiota quando estava confuso.
— Correto mais uma vez, — disse Theodore. — Após a morte da
companheira de Matheius, ele jurou vingança contra a deusa por tê-la
levado embora. — Isabelle e eu a temos protegido desde então. A adição
de malfeitores tem sido um desenvolvimento mais recente.
— Ele usa seu poder sobre eles a fim de matar nossos descendentes,
— interveio Isabelle, referindo-se a si mesma e a Theodore, — mas nossa
linhagem não é a única que eles procuram. — Eles estão atrás da
linhagem da própria Deusa da Lua... e é por isso que eles estão atrás de
você.
Meus olhos cresceram.
Eu acabei de ouvi-los corretamente?
Eu sou parte da divindade?
Isto é irreal.
Senti como se meu coração estivesse prestes a explodir. Como isto
poderia ser possível?
— Você está seriamente implicando que Quinn é parente da Deusa da
Lua?, — perguntou Jaxon.
— Sim, uma descendente direta, — respondeu Theodore. — O fim da
linhagem.
Minha mente enlouqueceu. Comecei a me sentir fraca e me sentei no
sofá.
— Sinto muito termos que dizer assim, mas acontecimentos recentes
nos forçaram a fazer isso, — disse Isabelle. — Você precisava saber.
Matheius.
Os Volpes.
Minha linhagem...
Eu sentia como se minha cabeça estivesse girando, como se estivesse
prestes a vomitar. Estava em muito mais perigo do que eu imaginava.
Jaxon se sentou ao meu lado e esfregou as mãos para cima e para
baixo em meus braços nus para conforto.
— Sei que é muito para lidar de uma vez, — disse Isabelle
calmamente, — mas há mais uma coisa que devo lhe dizer....
— Não! — exclamei. — Não posso mais lidar com essa perturbação!
Por favor, guarde isso para você!
— Você vai querer ouvir isto, — continuou ela. — É sobre a sua tia.
Meus cabelos ficaram em pé quando meu coração começou a acelerar.
Depois de todos esses anos, será que finalmente conheci alguém que
sabia o que havia acontecido com ela? Será que eu finalmente iria obter
algumas respostas?
— O que tem ela? — perguntei com uma expectativa nervosa.
— Ela ainda está viva.
Livro 2
Sumário
1. Mais Sombrio
2. A União Faz a Força
3. Missão
4. Acampamento
5. A Calmaria Antes da Tempestade
6. Reuniões Repentinas
7. Intimidade
8. Retorno à Prisão
9. O Que Todos Merecem
10. Brincando com Fogo
11. Laços Cortados
12. Convidado
13. Descobertas de Tirar o Fôlego
14. Vela
15. Má Ideia
16. Chega de Status Quo
17. Folhas Caindo
18. Reacendido
19. Pesquisa e Apreensão
20. Morte, Não Se Orgulhe
21. Na Caça
22. Reuniões Estranhas
23. Novas Dores de Cabeça
24. Amor em Todos os Lugares Errados
25. Subjugado
26. Identidades
27. Um Novo Dia
28. Exposição Crua
29. Boas-vindas Expiradas
30. Desencantamento
Capítulo 1
MAIS SOMBRIO
Quinn

Tia Jodie... Viva?!


Eu estava com meu companheiro Jaxon ao meu lado. Theodore e
Isabelle, os primeiros lobisomens, estavam na nossa frente, piscando de
volta com expectativa. Mas naquele momento de choque, me senti como
o único ser vivo no universo.
O crepúsculo parecia estar subitamente se fechando sobre mim,
envolvendo-me em uma escuridão totalmente negra: como uma noite
sem lua.
Exceto que aparentemente havia uma lua lá fora. Em mim: a Deusa da
Lua.
Eu era sua descendente, pelo menos. Como minha tia. Que eu
também descobri que estava viva. Em algum lugar por aí, vagando pela
Terra.
Estava ela guiando minha jornada — meu caminho tortuoso e
confuso com todos os seus obstáculos e becos sem saída — esse tempo
todo? Estava ela segura e em boa companhia?
Ou se escondendo?
Ou fugindo?
— Você está bem, Luna? — Isabelle perguntou, seu tom acolhedor e
calmo. — Você gostaria de se sentar, querida?
— Não, está tudo bem. Estou bem, — eu me peguei dizendo
enquanto balançava minha cabeça, mantendo minha posição. — É
apenas muito para absorver de uma vez.
Uma onda de tontura me dominou.
Jax se aproximou de mim, deslizando o braço em volta dos meus
ombros.
— Na verdade, talvez devêssemos nos sentar, — disse ele.
Apoiei-me agradecida em seu peito.
Seguimos os irmãos pela floresta, até um círculo de troncos perto de
um riacho. Todos nós nos sentamos ao redor do que, em algum
momento, fora uma fogueira.
Theodore estalou os dedos para a pilha de carvão e gravetos, e chamas
crepitantes de repente rugiram onde nada existia antes.
Eu pulei para trás de surpresa.
— Theodore, — repreendeu a irmã. — Pelo menos deixe a pobre
garota processar um choque antes de acertá-la com outro.
— Desculpe, — disse Theodore timidamente.
Mas me endireitei, querendo parecer uma líder confiante, não um ser
humano frágil. Porque eu era mais do que isso.
Eu era um lobisomem.
A Luna.
A Deusa da Lua. Lupus Paulo.
Meu coração parou de medo com esses títulos mais novos e mais
pesados. Tanto poder, que eu duvidava que realmente merecesse.
Mas ei, é melhor começar a se acostumar com isso agora.
Meio brincando, eu disse:
— Estou bem. Eu só não sabia que lobisomens podiam ser bruxos ou
feiticeiros ou o que for. É como se todos os livros de fantasia que eu
costumava ler na biblioteca fossem reunidos em um.
— Não, lobisomens não são bruxos. Não nascemos com poderes
mágicos correndo em nossas veias, — explicou Theodore, —
simplesmente temos uma capacidade melhor de aprendê-los em
comparação aos humanos. Estamos mais bem equipados para aproveitar
a magia com prática e paciência.
Eu fiquei boquiaberta com Jax.
Ele sabia disso?
A julgar por seu rosto sereno, ele sabia. Tentei espelhar sua expressão.
Por que nenhum dos livros do palácio mencionou isso? Magia?!
Theodore continuou:
— Reinos e governos típicos, como o seu, não praticam magia. Certo,
Jax?
Jax acenou com a cabeça em concordância.
Ok, então acho que posso relevar sua omissão sobre o assunto.
O fogo nos aqueceu, torrando minha pele nua. Sua luz dançava
tentadoramente sobre as ondulações do riacho.
— É uma prática mais comum, obviamente, entre lobos como nós, —
disse Theodore. — Ou Vulpes. — Ele cuspiu a palavra como se fosse um
veneno, então se recompôs. — Grupos que existem em comunidades
fechadas há gerações. Afinal, tivemos muito tempo, muitos e muitos
anos, para aprender e dominar nossas habilidades.
Isabelle interrompeu:
— Nós, é claro, escolhemos estudar apenas cantos e encantamentos
seguros, úteis e contidos. Vulpes, por outro lado, se intrometem em...
material mais sombrio. — Mudando de assunto, ela juntou as mãos. —
Mas, mesmo assim.
De certa forma, os dois irmãos me lembravam uma versão mais sábia
e madura de Sky e Alex. Eu me perguntei como eles estavam se virando
no castelo.
Theodore abriu a boca para falar, mas Isabelle continuou.
— Fomos enviados aqui devido aos recentes eventos relacionados ao
seu reino e aos Vulpes, — disse Isabelle, — e, especificamente, onde sua
tia se encaixa em tudo isso, Quinn.
Enviados? Por quem?
Onde minha tia se encaixa?
Eu tinha tantas perguntas.
Minha mente ainda estava cambaleando com o que eles tinham
acabado de falar sobre magia.
Cantos e encantamentos?
Magia mais sombria?
Isabelle respirou fundo e trocou um olhar com o irmão, preparando-
se.
Eu também me preparei. O que quer que a mulher estranha estivesse
prestes a revelar, eu aceitaria, graciosamente, com a alma e o espírito de
uma líder. Eu poderia lidar com isso. Eu poderia enfrentar qualquer
desafio.
Por minha tia Jodie.
Confie nos gêmeos.
Finalmente, Isabelle disse:
— Quinn, sua tia está com os malfeitores. Com Matheius e os Vulpes.
Baque.
Outro peso caiu sobre meu coração, que já estava segurando muito.
Uma inspiração aguda de Jax significava que até ele foi pego de
surpresa por esta notícia.
Instintivamente, ele estendeu a mão e pegou a minha. Seus dedos se
entrelaçaram com os meus e ele massageou meu polegar, tentando
acalmar meu pânico crescente.
Theodore suspirou.
— Não temos certeza de até que ponto, se ela está sendo mantida
refém à força ou...
— Ou o que? — eu intimei, recusando-me a permanecer passiva. Era
hora de agir.
— Ou, ao contrário, está com eles por opção. Talvez ela tenha se
oferecido.
Ele se levantou e Isabelle o seguiu. Com um aceno, Theodore
extinguiu o fogo.
— Nós devemos ir, — Isabelle disse.
O quê?! Depois de me contar tudo isso?
— Espere, pare, ainda tenho tantas perguntas, — implorei.
Mas antes que eu pudesse perguntar, uma nuvem de fumaça surgiu
do nada, envolvendo Theodore e Isabelle.
E então eles se foram.
Sky
Eu estava com Alex na sala de estar, fazendo com que ele fizesse alguns
exercícios básicos de fisioterapia. Uma saudação ao sol, tecnicamente.
Ioga.
Tendo sempre sido naturalmente atlético, ele iria parar o que estava
fazendo para condicionamento de força pesado a qualquer momento.
Mas, devido ao recente dano muscular do ataque dos malfeitores,
imaginei que uma abordagem mais suave poderia ser mais eficaz.
— Agora volte. Alongue as costas, sinta a coluna alongar... — eu
instruí, sentando-me nas proximidades em posição de lótus.
Harper sentou-se à mesa de mogno, preparando para si uma nova
arma. A menina adorava fazer coisas com as mãos. Especialmente coisas
altamente perigosas e ameaçadoras.
Ela deveria fazer um Pinterest.
— Isso é chamado de pose de árvore, certo? — Alex disse em uma voz
tensa. Ele estava aprendendo que a ioga era mais complicada do que
parecia. Raphael entrou, os olhos cansados, parecendo completamente
exausto. Ele tinha acabado de passar por um turno de vigia contra os
malfeitores.
Antes que ele pudesse dizer uma palavra, eu estava de pé, em posição
de sentido.
— E aí? Você já viu mais deles?
— Sim. Outros dois, apenas rondando o perímetro. Eles se parecem
mais com tubarões do que com lobos. Sempre circulando... Sempre
esperando.
— Onde diabos está Jax? — perguntou Alex, agora também alerta. —
Eu deveria mandar uma mensagem para ele. Mas onde diabos está meu
telefone?
Ele começou a procurar enquanto murmurava:
— Eu juro, se ele só está por aí fodendo Quinn... Quer dizer, estou
feliz por eles. Adoro eles. Mas...
— Relaxe, Alex, eu assumo, — eu me ofereci.
— Mantenha sua saudação ao sol. A ioga deveria ser calmante.
Da mesa, Harper bufou. Eu olhei de volta para ela.
Alex parecia igualmente não impressionado:
— Sim, tanto faz. — Ele praguejou baixinho enquanto fazia a
transição relutantemente para uma estocada crescente.
Peguei meu telefone.

Sky: Oi, fofa.

Sky: Sinto sua falta.

Sky: Mais malfeitores avistados (emoji


sorriso amarelo)

Sky: Você e Jax voltarão em breve???

Quinn: Ei, Sky. Sim, estamos voltando


agora.

Quinn: Acabei de receber algumas notícias


realmente loucas e avassaladoras

Sky: ??!??

Harper

Com os olhos fixos no meu trabalho, ouvi a pesada porta da sala se


abrindo novamente. Eu olhei para cima e vi Anthony parado lá.
Ugh.
Enquanto os outros não gostavam dele, mas o toleravam, eu parecia
ser a única que o considerava um esquisito completo. Eu podia ver
através de sua simpatia e diplomacia. Ele era como um maldito político.
Alex se levantou para encará-lo.
— O que você quer, Anthony?
— Olá a todos. Minhas desculpas por interromper, — o Alfa
respondeu. — Mas já que todos estão aqui, vocês se importam se nos
sentarmos e conversarmos por um momento?
— Claro, — disse Sky.
— Vou fazer chai, — Raphael ofereceu, indo na direção da cozinha.
Revirei meus olhos para os dois. Eu amava Sky, mas ela era uma idiota
às vezes.
Quando Raphael voltou — com uma bandeja de chá e uma bolsa de
gelo para suas feridas ainda doloridas e curando — Anthony apresentou
sua proposta.
— Estamos todos preocupados com a situação dos malfeitores, certo?
Raphael, Alex e Sky assentiram, murmurando acordos.
— Estou especialmente preocupado em levar meu bando para casa
nessas condições. Os membros do Oak Marsh são rápidos e em forma,
ágeis e estratégicos — mas, além disso, esses malfeitores são implacáveis.
Você não pode ser mais rápido ou ser mais esperto que alguém que não
se importa em arriscar a própria vida.
Ok... Aonde ele está indo com isso?
— O que você está sugerindo? — perguntou Alex, claramente
pensando a mesma coisa.
— Nada especificamente, — Anthony respondeu. — Ainda não. Estou
simplesmente expondo uma preocupação.
Sky pensativamente mordeu o lábio inferior. Então, em seu tom
alegre de marca registrada, ela disse: — Tenho certeza de que podemos
encontrar algo que funcione. Segurança para todos é nossa maior
prioridade.
Resisti ao desejo de alcançá-la e sacudi-la.
Por que — como — ela é perpetuamente tão otimista?
Sim, eu sabia que eu tendia a ser pessimista. Não tanto pessimista
quanto realista, mesmo que isso também significasse que eu era um
pouco cínica.
O que eu poderia dizer? O mundo me ensinou a esperar o pior.
A vida era um campo de batalha e ninguém simplesmente lhe
entregava uma arma para lutar.
Engoli em seco enquanto, inconscientemente, agarrava o cabo da
minha nova adaga.
A vida era sombria. Mas eu tinha a sensação de que as coisas estavam
prestes a ficar mais sombrias.
Capítulo 2
A UNIÃO FAZ A FORÇA Jaxon
Quinn e eu caminhamos para casa em relativo silêncio.
Ela ficou inquieta e olhando ao redor, claramente perdida em
pensamentos.
Chateada? Com medo?
Ainda era tão novo para mim, reconhecer e falar sobre emoções.
Minhas próprias emoções, muito menos as de outra pessoa. Eu me
descobri inseguro sobre o que dizer.
Por fim, achei que uma pergunta básica seria suficiente.
— Você está bem? — Eu consegui.
— Bem. Só pensando.
Claramente.
— O que você propõe que façamos com todas essas informações
extras, Alfa? — ela então perguntou, enfatizando meu título.
— Você tem o mesmo poder de palavra e opinião, Luna — eu disse,
passando o bastão de volta. — Há muito em jogo para nós dois.
— Então, por que você simplesmente não balança uma varinha e faz
tudo desaparecer?
— Não é assim que funciona. Deixe de lado a questão mágica.
Tínhamos uma comunidade para proteger, incluindo nosso reino e os
outros bandos.
Enquanto Quinn e eu provavelmente estávamos na mesma página
sobre o próximo passo lógico neste curso de ação, eu sabia que nenhum
de nós queria admitir isso.
Porque seria difícil. Quase impossível.
— Acho que temos que encontrar minha tia Jodie, — disse Quinn
finalmente.
Lá estava.
— Eu acho que você está certa, — eu concordei.
— Mas por onde começar?
— Não sei, — admiti.
Nem tinha ideia do que diríamos ao meu Beta, Gama e a todos os
outros quando voltássemos. Se eles soubessem que minha Luna era o
alvo dos malfeitores... Que ela era a razão de toda aquela violência e
caos...
— Quinn? Não diga nada sobre isso para o bando.
Ela fez uma pausa, considerando o pedido. Eu sabia que ela se
preocupava com Sky e Harper e gostaria de compartilhar com elas. Mas
Quinn também era leal a mim e confiava em meus instintos.
— OK. Eu não direi, — ela prometeu, seus olhos fixos.
Suspirei, agradecido. Pelo menos eu poderia contar com ela para
tudo. Quinn era a melhor companheira do universo.
Porque a situação com os malfeitores — ou Vulpes — tinha se
tornado muito mais complicada.
Quinn

Quando voltamos ao palácio, uma reunião estava acontecendo na sala. O


Sombra da Lua tinha se juntado ao Alfa Anthony do Pântano de
Carvalho, bem como os líderes do Bando Penhasco Costeiro e do Bando
Montanha Verde.
O que diabos nós perdemos? pensei, considerando as possibilidades.
Mas, quando chegamos, Anthony sorriu educadamente.
— Bem-vindos de volta, Luna e Alfa.
— Chá? — perguntou Raphael.
Depois que cada um de nós pegou uma xícara e se sentou, a discussão
prosseguiu.
— Então, como vocês sabem, Pântano de Carvalho, Penhasco
Costeiro e Montanha Verde estavam planejando deixar Sombra da Lua
amanhã, — Sky começou, para nos atualizar.
— Certo... — eu confirmei lentamente, já não gostando de onde isso
estava levando.
Jax e eu trocamos um olhar nervoso.
— Mas o Alfa Anthony sugeriu que eles acampassem aqui um pouco
mais, então...
— Por enquanto, — interrompeu Anthony, — até que possamos
resolver tudo coletivamente com os malfeitores. Já que você convidou
todos nós para vir aqui, não parece justo nos expulsar tão rapidamente,
quando estar lá fora é tão perigoso.
Expulsar?
Na verdade, eles estavam ultrapassando muito o tempo de serem
bem-vindos. Especialmente Anthony, depois de todo o caos que ele
provocou...
Jax e eu abrimos nossas bocas para protestar, mas Alfa Anthony foi
mais rápido.
— E com todas as mãos à obra, podemos permanecer extremamente
cautelosos e alertas. Mais pessoas para atuar como vigias e guardas.
— Mas não é exatamente isso que Vul... — parei, lembrando-me de
minha conversa com Jax, e corrigi, — não é exatamente isso que os
malfeitores querem? Que nós tenhamos medo, que nos encolhamos em
um canto?
— Não estaremos nos escondendo. Estaremos nos protegendo, — Sky
disse.
Essas duas coisas eram diferentes?
Enquanto isso, Anthony se levantou, caminhou até o bule e voltou
para encher minha xícara.
Forçando-me a ser civilizada, murmurei:
— Obrigada.
Eu bebi solenemente. Era a vez do meu Alfa falar.
Com um suspiro, Jax se virou para encarar todos na mesa. Ele disse,
— Quero que vocês saibam que endosso a segurança, absolutamente. Do
meu bando e de todos os seus. Essa é a preocupação número um.
Ele então encarou Alex:
— Mas e as provisões? Temos comida suficiente para todos nós?
Espaço e suprimentos suficientes?
— Sim, — acenou seu Beta. — Já fizemos um balanço da comida.
Droga, pensei.
Muita coisa aconteceu em nossa ausência.
Desesperada, cruzei os olhos com Sky, tentando comunicar meus
pensamentos.
Vocês realmente concordam com isso? tentei perguntar.
Ela descartou minha dúvida com seu sorriso, cabeça balançando e
olhos brilhantes. Embora, para ser justa, seus olhos estavam sempre
brilhando.
Eu praticamente podia ouvi-la gritando de excitação.
Uma festa do pijama gigante! imaginei ela dizendo.
— Seu palácio é enorme, — acrescentou Anthony. — Há muito
espaço. Na verdade, eu também recomendo que você mude seus filhos do
berçário para cá também — para cuidar deles com segurança durante o
dia. Quem é a garota que cuida do seu berçário?
Ao preparar este discurso, ele claramente fez sua pesquisa.
— Zara, — Sky respondeu. — Vou mandar uma mensagem para ela.
— Ótimo, — respondeu Anthony.
Minutos depois, Zara apareceu. Com a intensidade da cena diante
dela, ela hesitou.
— Uh, oi todo mundo, — ela disse humildemente.
Os olhos de Alex saltavam entre Zara e Anthony.
Zara ficou com os braços cruzados, ocupando o mínimo de espaço
possível.
Anthony, que posava largamente com os punhos na cintura, estava
fazendo completamente o oposto. Era uma daquelas posturas de poder
que deveriam fazer você se sentir confiante.
A questão era: ele se sentia tão confiante quanto parecia?
— Mudar o berçário é uma boa ideia, Anthony, — disse Alex.
Zara, com razão, parecia totalmente perdida.
Anthony sorriu.
— Obrigado, Beta Alex. Este plano beneficia a todos, eu acredito. A
menos que vocês dois possam provar algo diferente. Nesse caso, fico feliz
em ouvi-los.
Todas as cabeças se viraram para Jaxon e eu.
E nós olhamos um para o outro.
Ao ler seu rosto, vi minha própria incerteza.
Eu não conseguia explicar por que não me sentia tão convencida da
decisão. Quer dizer, eu queria colocar outras vidas em risco? De jeito
nenhum. Mas abrigar e sustentar tantas pessoas — dúzias além do que
estávamos acostumados — eram cometimentos gigantescos.
Além disso, eu sabia o que acontecia quando você se sentia confinado
por muito tempo. Na casa da minha mãe, no meu quarto de infância, eu
estava sempre trancada. Acreditando que o exterior era perigoso, mas
querendo fugir de qualquer maneira.
Sentia-me inquieta. Sentia-me impaciente.
Meu quarto parecia uma prisão em vez de um refúgio.
A voz de Sky me trouxe de volta das minhas memórias.
— Que tal uma votação?
— Boa ideia, — disse Jax, embora eu soubesse que ele previa o
resultado. Ainda assim, ele era um líder, e os melhores líderes eram
decisivos, mas democráticos. — Quem vota para um acampamento em
Sombra da Lua?
Todas as mãos na sala se levantaram, exceto a minha e a de Jaxon.
Bem, era isso.
— Vai ser uma sede apertada, — Anthony admitiu.
— Mas ei, a união faz a força, certo?
Justo. Vencida pela maioria e honestamente incapaz de argumentar
contra a segurança, levantei fracamente minha mão também.
— Tudo bem, suponho que isso determina tudo, — disse Jax.
Isso determinou tudo, certamente.
Eu meditei sobre a frase:
A união faz a força.
Depois que a reunião foi encerrada, Jax e eu nos retiramos para nosso
quarto, exaustos e esgotados.
Mas no segundo que ele fechou a porta atrás de nós, Jax me olhou
com aquela energia especial e excitante que só se sente quando se está a
sós.
Ele me puxou para um abraço caloroso.
— Longo dia, — disse ele suavemente, dando beijos na minha testa.
— Longo dia, — eu repeti.
Seus lábios percorreram minha bochecha, meu pescoço, meu peito.
Eu coloquei uma palma em cada lado de seu rosto, puxando-o de
volta para beijar meus lábios. Nossas bocas se abriram, convidando
nossas línguas para brincar.
Ele pressionou meu corpo contra a porta fechada e eu ri.
Era quase como se fôssemos um casal normal depois de um longo dia
de trabalho.
Os dedos de Jax encontraram o botão da minha calça jeans e o
desabotoaram. Em seguida, ele puxou o zíper e colocou a mão dentro.
Ele avançou mais para baixo, por baixo da minha calcinha. Sua junta
roçou minha pele nua.
Mal tinha me tocado, e eu já estava ofegando em antecipação.
Ele habilmente abriu meus lábios e enfiou um dedo dentro de mim, e
eu rolei minha cabeça para trás e soltei um gemido baixo de puro deleite.
Jax lambeu meu pescoço enquanto meus olhos se fechavam.
— Jax... — suspirei.
Em resposta, ele enfiou outro dedo. Ele os bombeava para dentro e
para fora do meu corpo, que estava ficando mole de prazer crescente.
Ele me tocou com maestria, como um músico em um instrumento.
Meus joelhos dobraram e minhas coxas se separaram ainda mais. Eu
mal conseguia ficar de Pé.
Percebendo isso, Jax envolveu seu outro braço firmemente em volta
da minha cintura, me segurando firme enquanto continuava a trabalhar
meu íntimo.
Meu corpo respondeu a seus impulsos, montando sua mão.
Eu me mexia cada vez mais rápido, bem em sincronia com seus
movimentos.
Eu o beijei entre suspiros até que minha respiração se tornou muito
pesada, e eu aninhei meu rosto em seu peito.
— Jax... Jax... — repeti, sem fôlego, perto do clímax.
— Goze para mim, minha Luna, — ele sussurrou.
Eu segui suas ordens.
— Ahhh... — eu gritei, explodindo de paixão.
Mas Jax não desistiu. Ele continuou tocando no meu íntimo sensível
enquanto a onda me carregava, não parando até que eu estivesse
completamente exausta.
Eu me afoguei em êxtase, sentindo a eletricidade até nos dedos dos
pés.
Jaxon

Depois, carreguei Quinn para o nosso colchão e comecei a despi-la para


dormir. Eu finalmente tirei sua calça jeans. Um momento atrás, eu me
senti muito devorado pela luxúria até mesmo para lidar com ela. Quando
tirei sua camisa, ela disse, — Então, tenho pensado...
Como de costume.
Ela se apoiou na cama.
— Com isso, quero dizer, eu tenho uma ideia. Sobre como podemos
saber mais sobre a tia Jodie. Talvez até encontrá-la.
— Estou ouvindo. — respondi secamente.
Eu já tinha passado por uma ideia possivelmente maluca naquele dia.
Ouvir outra não seria fácil.
Mas Quinn parecia particularmente determinada.
Ela limpou a garganta e encontrou meu olhar. Então ela disse
resoluta: — Eu estou indo para casa. Para falar com minha mãe.
Capítulo 3
MISSÃO
Jaxon

Eu não sabia o que dizer.


Para começar, eu não sabia muito sobre a mãe de Quinn, além de que
ela era superprotetora com sua filha e as duas realmente não se davam
bem.
Afinal, essa foi a razão pela qual Quinn fugiu de casa em primeiro
lugar. Então, de uma forma estranha e inadvertida, acho que deveria
agradecer à Sra. Michaels por me apresentar à minha companheira.
Mas isso não significa que eu toleraria minha Luna sacrificando sua
própria saúde mental e emocional apenas para obter algumas respostas.
Poderíamos resolver a situação do Vulpes como uma equipe.
Quinn havia cortado relações com sua mãe por um motivo.
Se ela voltasse para casa, e se sua mãe tentasse prendê-la novamente?
Desta vez com mais cuidado e segurança? E se Quinn arriscasse entrar —
e nunca mais saísse?
O medo pela minha companheira percorreu meu coração. Eu não
poderia deixar isso acontecer.
— Você quer dizer a mãe com quem você não fala há meses? — Eu
perguntei, a descrença ainda audível em minha voz.
— A primeira e única, — respondeu Quinn com escárnio. — Sim, vai
ser estranho, e provavelmente horrível, mas ela pode ser a única fonte
possível de informação sobre minha tia. Minha mãe nunca teve irmãs,
então ela e Jodie ficaram muito próximas.
— Ela não pode ser a única fonte possível de informação, Quinn.
— Bem, não é como se pudéssemos interrogar meu pai, certo?
Isso me calou.
Quinn raramente mencionava a morte de seu pai se ela não
precisasse. Mas por causa de todas as notícias recentes sobre sua tia, ela
teve que enfrentar isso com mais frequência do que o normal.
Quinn abaixou a cabeça nos travesseiros, me encorajando a fazer o
mesmo. Estendi a mão para a mesa de cabeceira, apaguei a luz e me
deitei de frente para ela.
Ela continuou:
— Pelo menos, é meu único caminho até encontrar Jodie por mim
mesma, minha mãe também pode dar dicas. Tudo que eu preciso é a
primeira pista.
Uma pista?
O que diabos ela estava imaginando naquela mente hiperativa? Lupas
e charadas codificadas? Uma busca passo a passo que leva diretamente à
sua tia desaparecida? Máscaras tiradas, vilão revelado, caso encerrado?
— Uma pista? — repeti. — Um caminho? Quinn, este não é algum
livro de mistério policial.
— Eu sei. É mais uma missão.
— Uma missão? — disse eu, incapaz de resistir a repeti-la. Ela
precisava ouvir as palavras ridículas saindo de sua boca. Sempre tão
romântica e ambiciosa.
Raramente lógica ou prática.
Estávamos a apenas alguns centímetros de distância, mas comecei a
falar mais alto, minha voz aumentando com a minha insistência.
— O que você acha que isso é, Senhor dos Anéis? — estourei. — Nós
também não vivemos em uma droga de uma saga de fantasia! Está
seriamente mortal lá fora agora. Você, especialmente, está em perigo.
Quero dizer, inferno, Quinn, você é o que eles querem!
— Então eles não me matariam, — ela retrucou.
— Existem torturas muito piores do que uma morte fácil. Você sabe
disso melhor do que ninguém.
Agora, Quinn recuou no silêncio.
Embora eu me sentisse um pouco culpado por ter chegado a esse
ponto, por citar seu pai e cutucar seu ponto mais sensível, eu mantive
meu posicionamento.
Eu simplesmente não podia perder minha companheira. O amor da
minha vida.
De novo não.
A dor da última vez ainda persistia...
Katherine. Meu antigo amor que um dia foi para a floresta e nunca
saiu.
Pensar na possibilidade de perder Quinn assim de repente reabriu
minha ferida.
— Eu simplesmente não posso deixar você vagando pela selva
sozinha, — eu murmurei, mal percebendo que tinha dito isso em voz
alta.
Mesmo no escuro, Quinn avistou as memórias vulneráveis passando
rapidamente pelo meu rosto. Ela podia sentir a mudança em minha
energia.
Merda.
Ela sabia o que eu estava pensando?
— Eu não sou Katherine, — ela afirmou friamente.
Ao som de seu nome vindo da boca de Quinn, meu estômago
embrulhou.
Claro, ela sabia.
— Eu não quis dizer... — eu comecei.
Mas Quinn virou para o outro lado, não querendo ouvir.
Resoluta, ela disse:
— Eu vou.
— Tudo bem, — eu disse às costas dela, — mas eu vou com você.
— Tudo bem.
— Faremos as malas pela manhã.
— OK.
— E eu sinto muito, — eu admiti.
— Tudo bem.
— Boa noite.
— Boa noite.
Com isso, eu me virei também. Mas eu sabia que não conseguiria
dormir.
Fiquei acordado, de olhos abertos, preocupado com Vulpes e o
acampamento do Sombra da Lua, planejando nossa viagem improvisada
e pensando...
Pensando em Katherine enquanto Quinn ainda estava deitada ao
meu lado.
Quinn

Na manhã seguinte, acordei com o peito apertado de ansiedade. O


nervosismo de me encontrar com minha mãe lutou contra o medo de
que Jax sentisse mais falta de Katherine do que me amasse. Ambas as
ansiedades eram fortes e se enfrentaram agressivamente.
Mas com uma missão pela frente, consegui ignorar todos os meus
conflitos internos. Jax também manteve o foco e cumpriu suas tarefas
com eficiência e diligência silenciosa.
Empacotamos pertences suficientes para dois dias, prometendo um
ao outro que a viagem não iria além disso. Roupas, artigos de higiene e
um pouco de comida.
Partir assim, com o palácio em tal estado de transição, era arriscado.
Mas confiamos em Alex e Sky de todo o coração. Sem mencionar
Raphael, Zara e Harper, que completavam nossa corte, e os outros
Líderes do Bando.
Nós deixamos nosso reino instável sob o reinado de nosso Beta,
sabendo que se alguém poderia estabilizá-lo, seriam eles.
O mais difícil foi justificar nossa saída. Dissemos que tínhamos
negócios a tratar e estaríamos de volta em dois dias, no máximo, mas não
podíamos explicar além disso. Eu me preocupava que eles pensassem que
estávamos indo nos divertir um pouco.
Umas férias. Algum tempo sozinhos na praia ou em uma casa no lago.
Isso foi certamente o que Sky imaginou.
No portão frontal, enquanto preparávamos um SUV escuro e elegante
para nossas viagens, ela e Harper nos deram um adeus relutante.
— Divirtam-se, — disse Sky, mas até eu pude ver a preocupação por
trás de sua positividade.
— Cuidem bem um do outro, — aconselhou Harper, — qualquer um
pode estar por aí, sabe? Fora do nosso território... tudo pode acontecer
agora. — Ela nos entregou uma de suas armas feitas à mão, uma espécie
de adaga.
— Aqui, pegue isso. — Com um sorriso malicioso, ela acrescentou: —
Um presente de bodas.
Ha ha, muito engraçada.
— Obrigada, — eu disse, grata pelo gesto, mas rezando para não
precisar da arma.
Até mesmo Zara me mandou uma mensagem de felicidades do
berçário, que estava, como planejado, sendo transferido para o palácio.
Eu estava usando o telefone antigo de Sky depois de quebrar o meu da
última vez que tentei falar com minha querida e doce mãe.

Zara: Ei, Quinn

Zara: Meio ocupada agora.

Zara: Mas queria dizer boa sorte em tudo o


que você está fazendo.

Quinn: Obrigada, Zara.

Zara: E tenha cuidado. Faça escolhas


seguras.
Quinn: Você é uma mãe 🙄 😉 (emoji
revirando os olhos, emoji piscando o olho)

Quinn: Não é à toa que você cuida do


berçário.

Zara: Estou falando sério, Quinn.

Quinn: Eu sei. Nós teremos.

Quinn: Boa sorte com tudo por aí também.


Eu te vejo em breve.

Eu sabia que, como para Jax, esta viagem o fez lembrar de perder
Katherine. Eu me senti péssima por não ter tido tempo de sair e
conversar com ela recentemente. Ou as outras garotas, por falar nisso.
Mas acho que nos dias de hoje estamos todas muito ocupadas.
Vulpes, Jodie, Carl, Matheius... Esses eram praticamente os únicos
nomes que surgiam no meu cérebro.
E Jaxon, é claro. Como sempre.
— Estamos prontos, — ele anunciou, fechando o porta-malas.
— Onde estão Alex e Raphael? — perguntei.
— Eles estão nas torres de vigia. Precisamos de olhos em nós
enquanto partimos.
Eu concordei. Isso estava começando a parecer menos uma missão
mágica e mais um caminho para a morte a cada minuto que passava.
— Boa decisão.
Eu deslizei para o banco do passageiro enquanto Jax se acomodava ao
volante.
As janelas subiram, com película para que pudéssemos ver o lado de
fora, mas ninguém pudesse ver dentro.
Do lado de fora, Harper e Sky acenaram hesitantes. Embora eu
estivesse praticamente invisível, acenei de volta de qualquer maneira.
— Bem, você está pronta? — perguntou Jax.
Eu me verifiquei:
Eu estava?
Estou?
Estou pronta para enfrentar minha mãe? Possivelmente Vulpes?
Possivelmente a morte?
— Vamos em frente, — decidi.
Ele ligou o motor, colocou o carro em movimento e partimos.
Carl

Corri furtivamente pela floresta, mais como um jaguar ou uma pantera


do que um lobo.
Os trechos de verde e marrom do outono passaram borrados pelos
meus olhos focados.
As folhas e os arbustos sumiram com a brisa da minha velocidade de
torpedo.
Livre e alegremente, mas também exercitando grande precisão, pulei
sobre cada pedra, galho ou poça de lama.
Às vezes eu pensava que tinha memorizado essa selva. Mesmo esta
rota particular. Outras vezes, acreditava em um conceito mais espiritual.
Que a natureza selvagem abriu espaço para mim, acolhendo-me neste
caminho.
Especialmente quando me aproximei do meu destino. Cada vez mais
perto...
Seja qual for o caso, eu me sentia extremamente feliz por estar
voltando para casa. Cada sinapse no meu corpo de lobo, do meu focinho
às minhas garras, crepitava com eletricidade.
Lar.
Certamente foi uma jornada vir do território do Bando Sombra da
Lua. Voltar para casa a pé — mesmo com patas de animal predador —
levou de dois a três dias.
Tive que encontrar um lugar para dormir por duas noites. Eu
explorava, então me estabelecia dentro de uma caverna ou covil, ou sob
uma rocha espessa pendente.
Então caçava para o café da manhã. Carne fresca. Um veado ou uma
cabra montesa, alguma criatura lenta desavisada, com olhos arregalados
e assustados.
A baba pingou da minha língua com a visão.
Passar alguns dias vivendo da terra em forma de lobo distanciava a
alma do pensamento humano mesquinho.
Eu gostava bastante. A calma. A simplicidade.
Mas, ao mesmo tempo, não eram férias.
Porque, ao me desligar do meu eu humano, adotei uma mente mais
nítida, mais animalesca, mais carnívora.
E essa mente me disse:
Eu preciso voltar para ela logo.
Meu propósito me impulsionou mais longe e mais rápido.
Eu preciso...
Voltar para ela.
Em breve.
Capítulo 4
ACAMPAMENTO
Quinn

Sentada no banco do passageiro enquanto cruzávamos pelas estradas de


terra nubladas, por florestas densas e sob um céu azul claro, quase me
senti como se Jaxon e eu fossemos um casal comum. Fugitivos em uma
viagem, vivendo nossa juventude.
Não Alfa e Luna. Líderes.
Apenas Jax e Quinn.
Namorados.
Um casal normal. Inicialmente, isso parecia encantador.
Mas, como costumava acontecer quando em pequenos espaços por
longos períodos, rapidamente fiquei inquieta. Minha mente ameaçou
vagar, entediada, e meu corpo percebeu que estava confinada sem uma
saída.
Jax olhou, percebendo minha inquietação. Segui seu olhar até meu
joelho, que inconscientemente começara a quicar para cima e para baixo.
Meus dedos também se inquietaram no meu colo.
— Você pode colocar música se quiser, — ele ofereceu, apontando
para o cabo conectado ao aparelho de som de alta tecnologia.
Na minha aparente confusão, ele me informou:
— Chama-se AUX.
— Alto?
— Não. A-U-X. Entrada auxiliar.
— Entendo, — eu disse, embora não entendesse.
Então eu balancei minha cabeça.
— Nós dois sabemos que sou uma péssima DJ. O que quer que esteja
tocando agora está bom.
Em silêncio, dirigimos. As melodias indie suaves agiram como a trilha
sonora de um filme enquanto eu olhava pela janela. Manchas de ouro,
laranja e terra queimada pontilhavam as árvores mutáveis. Imaginei que
estava vendo o verão se tornar outono bem diante dos meus olhos.
Comecei a ouvir a música de Jax com seriedade, realmente prestando
atenção nas palavras. Eu gostei desse gênero. Parecia enérgico por fora,
mas tenro e significativo em seu núcleo. Todas as letras eram sobre amor
e luxúria jovens, autorreflexão e aventura.
Perseguir sonhos. Encontrar verdades. Fugir.
Muito longe dos temas que dominavam todas as drogas country
favoritas da minha mãe.
Lembrei-me do nosso primeiro encontro real que Jax gostava de
Bowie. Queen. The Black Stripes ou algo assim. Food Fighters, era isso?
Em uma parte mais calma e instrumental, perguntei a Jax: — O que é
isso, aliás? É um álbum?
— Não, é uma lista de reprodução. Eu a fiz ontem à noite depois que
você adormeceu.
Droga. Eu pensei com uma vibração no meu coração.
Embora Jaxon fosse caracteristicamente um homem de poucas
palavras, seus pequenos gestos às vezes falavam muito.
Eu sabia que ele se sentira péssimo com a nossa conversa ontem à
noite e agora estava tentando me reconquistar.
Até mesmo se oferecer para me levar para casa — concretizar essa
ideia ousada, apesar de todos os riscos e circunstâncias — foi atencioso.
Como eu teria feito de outra forma?
Sentindo-me sem propósito e procurando algo para fazer, decidi me
responsabilizar pela comida. Se nada mais, eu poderia garantir que Jax
estaria tão cheio de combustível quanto o veículo.
— Está com fome? — perguntei. — Quer um lanche?
— Claro, — disse ele.
Inclinei-me em direção à bolsa aos meus pés antes de lembrar que a
tinha jogado no banco de trás. Ops. Soltei o cinto de segurança, me
estiquei para trás para vasculhar a bolsa e, finalmente, peguei alguns
palitos de cenoura, duas maçãs e um saquinho de plástico com mix de
castanhas, cortesia da Sky.
Harper nos deu uma adaga recém afiada, Sky uma mistura doce e
salgada de amendoim, amêndoas e chocolate.
E... passas, eu percebi enquanto colocava um punhado na boca.
Eca.
— Você está bem? — Jax perguntou, respondendo ao meu engasgo.
— Sim. Eu só odeio passas.
— Oh, eu gosto delas. Eu fico com elas.
Eu vasculhei o mix de castanhas e estendi a palma da minha mão,
coberta com as pequenas atrocidades, para Jax. Ele as agarrou
ansiosamente.
— Minha mãe costumava fazer biscoitos de aveia e passas o tempo
todo, — lembrei. — Ela os servia com uma espátula, ainda quentes,
diretamente da assadeira, sempre àquela temperatura morna perfeita.
Eles pareciam incríveis e cheiravam ainda melhor, mas eu nunca
consegui aguentar o gosto.
Depois de polir uma maçã na ponta da minha camisa, usei a arma de
Harper como uma faca para cortá-la. Quem diria que algo tão letal
poderia ser usado tão inocentemente?
Ela nunca teria que saber.
Croc.
Ah. O sabor fresco e ácido da maçã limpou meu paladar e tirou o
gosto da uva passa.
— Eu acho que aqueles biscoitos eram minha comida de prisão. Ou
uma das minhas comidas de prisão — uma sobremesa de que não
gostava. Uma recompensa que eu não queria.
Jax balançou a cabeça.
— Sua mãe parece a bruxa de João e Maria ou algo assim.
— Tipo isso, — respondi.
— Você mandou uma mensagem ou ligou para ela, certo? Para dizer a
ela que estamos chegando?
Hum.
— Sobre isso...
Jax realmente se virou para mim. Eu não sabia muito sobre dirigir,
mas sabia que você deveria manter os olhos na estrada.
— Espere, Quinn, você está falando sério?
— Eu, uh... — Novamente travei, queimando meus neurônios.
Qual é uma desculpa aceitável para isso?
— Era uma coisa quando você não estava planejando voltar. Mas
agora... E se ela nem mesmo estiver lá? E se ela estiver... Você sabe o
quanto isso vai ser pior sem qualquer aviso.
— Eu sei, — confessei, culpada e envergonhada. — Eu vou. Relaxa.
Vou mandar uma mensagem para ela.
— Você deveria, — ele disse severamente.
Engoli em seco e comecei a me remexer novamente.
O telefone no meu bolso de trás de repente parecia pesado como um
tijolo.
Alex

Parecia meio estranho que, quase imediatamente após Jaxon e Quinn


sumirem de vista, nós começamos a reorganizar completamente o
Sombra da Lua. O layout e a organização do palácio e do território
estavam estagnados há anos.
Mas gostei da mudança. E eu estaria mentindo se dissesse que não
estava nem um pouco animado. Pelas últimas duas noites, os outros
membros do bando tinham apenas dormido em camas extras,
espreguiçadeiras e sofás. Agora estávamos criando uma configuração
improvisada mais permanente. Por mais complicado que parecesse.
Beliches estavam surgindo por toda parte. Travesseiros, almofadas e
cobertores extras foram trazidos do depósito.
Sky e Harper montaram um posto temporário de doação, onde os
membros do bando vinham para entregar roupas e sabonetes não usados,
xampu, pasta de dente e pentes. Raphael estava preocupado em juntar
alimentos e ingredientes secos, enquanto alguns lutadores treinados dos
outros bandos se revezavam para vigiar.
Todos corriam para lá e para cá, ocupados com uma tarefa ou outra.
Parecia que estávamos nos preparando para o fim do mundo. Um
apocalipse zumbi ou algo assim.
Gingando, Zara carregava uma caixa de papelão enorme cheia até a
borda. Cheia de livros. Livros infantis. Eu corri até ela.
— Aqui, deixe-me ajudar com isso.
— Não é muito pesada, — disse ela, — apenas pesada.
Mas ela a passou adiante de qualquer maneira e sorriu para mim com
gratidão.
— Obrigada.
— Como você está? — perguntei, seguindo-a pelo corredor em
direção ao pequeno salão e pátio anexo, que decidimos que serviriam
maravilhosamente bem para o berçário.
— Nada mal, — respondeu ela. — Apenas muito para organizar.
— Sim, com certeza. Um passo de cada vez. — Quando passamos por
Anthony, que supervisionava toda a operação, senti minha espinha se
endireitar. Gostava das ideias e do entusiasmo do Alfa, mas sua presença
sempre me deixava constrangido. Ainda mais do que o normal.
— Olá, Beta, — ele me cumprimentou.
Jax nunca me chamou assim. Anthony, sempre.
— Você já pensou sobre o jantar? — ele perguntou jovialmente.
Jantar?
— O que você quer dizer?
— Para todos os nossos hóspedes. Eles conseguiram encontrar
comida pela cidade, mas agora que estamos presos, eles estão ficando
com fome. Precisamos de cozinheiros.
— Oh. Merda, — foi tudo que eu disse. Eu nem tinha considerado
isso.
Mas com um aceno de mão, Anthony então dispersou.
— Pensando bem, aposto que Raphael já está cuidando disso. Ele é
basicamente sua Luna substituta, não é? Engraçado como você não tem
É
uma. É um tanto difícil administrar um palácio sem uma companheira,
não é?
— Jaxon fez isso com sucesso por anos, — Zara apontou, quieta, mas
confiante.
— Sim, bem. Alex não é Jaxon, é?
O Alfa manteve o tom leve, como uma piada, mas as palavras
machucaram.
— De qualquer maneira. Continue, — Anthony disse, movendo-se
para o lado e gesticulando para que passássemos.
Na minha visão periférica, vi Zara me lançar um olhar de soslaio.
Talvez ela esperasse que eu respondesse.
Mas eu não tinha nada a dizer de volta.
Engolindo meu orgulho e seguindo as instruções de Anthony,
continuei andando. Zara fez o mesmo.
Eu sou um Beta. Eu pensei. Um Beta decente. Um bom Beta.
Mas não um Alfa.
Ainda bem que tudo isso era temporário. Apenas dois dias.
Porque se fosse mais...
Eu seria cortado de toda a porra da responsabilidade?
Quinn

Nós dirigimos durante a noite, parando apenas brevemente para ir ao


banheiro e comer nossos sanduíches embalados em um belo mirante.
O sol estava começando a se pôr quando, sem qualquer aviso, Jaxon
de repente desviou para uma saída. Ele nos levou por uma estrada de
terra que mal existia.
— Uh... Para onde estamos indo?
O plano era dirigir até escurecer. Até que Jax não pudesse andar mais
um quilômetro sem adormecer, e então dormiríamos na SUV até
amanhecer.
Mas quando o carro foi estacionado em um trecho de terra, ficou
claro que meu companheiro tinha outra coisa em mente.
— Hum, Jax?
— Eu estava pensando que enquanto todos lá em casa estão
organizando um grande acampamento, poderíamos ter um pequeno
nosso. — Jax saltou do carro e eu o segui empolgada. Ele abriu o porta-
malas, revelando uma coleção de itens que eu não me lembrava de ter
trazido.
— Trouxe todos os suprimentos necessários. Uma barraca, saco de
dormir, jantar. Fluido de isqueiro para iniciar uma fogueira. Já que eu
ainda não dominei a mágica daquele Theodore.
Meu coração deu um salto.
Um acampamento surpresa?
Tão romântico!
— Jax... — suspirei, sinceramente tocada, antes de me controlar. —
Isso não seria incrivelmente perigoso?
Raramente eu era a cautelosa, mas tínhamos que pensar em nosso
bando.
— Quero dizer, foi você quem disse que sou um alvo brilhante.
— Eu vou te proteger, — Jax interrompeu. — Eu vou nos manter
seguros. Eu nunca vou deixar ninguém ou nada tocar em você.
Não havia dúvida da confiança que coloquei em meu companheiro.
Ainda assim, dormir expostos na floresta — em vez de em um carro,
onde poderíamos pelo menos fazer uma fuga rápida...
Eu conhecia os riscos.
Mas a ideia de algum tempo sério a sós com Jaxon, que eu já ansiava
constantemente — e que só se tornaria mais difícil de conseguir nos
próximos dias em Sombra da Lua — era tentadora.
Nossos corpos entrelaçados tão fortemente juntos, compartilhando um
saco de dormir...
— Ok, — eu concordei, incapaz de resistir.
Capítulo 5
A CALMARIA ANTES DA TEMPESTADE
Carl

Depois de fazer um ótimo tempo durante toda a tarde, eu estava quase


de volta. Quase em casa. Apenas mais algumas horas, que eu poderia
executar durante a noite, mas achei que um pouco de descanso seria bom
para mim.
Assim que eu voltasse, começaríamos a trabalhar, finalmente
colocando o plano mestre em ação. Eu queria estar alerta. Eu esperava
ansiosamente ver quanto progresso a equipe havia feito desde que eu
tinha partido.
Embora odiasse admitir, também estava fisicamente cansando. Meus
músculos de lobo estavam começando a tensionar e minhas juntas
começando a doer.
Eu diminuí a velocidade quando me aproximei das minhas cachoeiras
favoritas. Meus cérebros humano e de lobo sentiram suas proximidades.
O som distante de água correndo.
O cheiro de terra fresca suavizada por fontes frias.
Cachoeiras com cavernas feitas para acampamentos ideais. O musgo
agia como um colchão, e as corredeiras barulhentas embalavam você
para dormir. Então você acordava com a cena mais tranquila.
Mas espere...
Qual era aquele outro som? Aquele outro cheiro?
Minhas narinas dilataram e minhas orelhas se contraíram com a
detecção.
Lobisomens.
E especificamente...
Não pode ser.
Sem chance. Isso não era possível.
Eles a teriam trancada segura e protegida em alguma torre alta
daquele palácio, como a porra da Rapunzel. Protegida por um fosso cheio
de crocodilos famintos.
Embora, se eu pudesse escapar do Sombra da Lua, acho que Quinn
poderia escapar também. Mas ela não faria isso. Ela não deixaria seu
precioso Jaxon.
Então, por que sua risada indistinguível estava soando como sinos em
meus ouvidos?
Eu corri mais rápido pela floresta até chegar à clareira no topo da
cachoeira, que tinha uma visão clara de baixo.
Através da névoa, nas pedras ao lado da piscina natural, um casal
estava sentado. Eles estavam acampando. Eles tinham armado uma
barraca, tinham pegado alguns peixes e agora estavam acendendo uma
fogueira.
Certamente...
Quinn e Jaxon.
Minha Deusa da Lua e meu irmão.
Fiz de tudo para não jogar minha cabeça para trás e uivar de alegria
com a hilaridade.
Que diabos?
Quais são as malditas probabilidades?!
O que eles estavam fazendo ali?
Fugindo? Claramente, o estado atual do Sombra da Lua era pior do
que eu pensava...
Se ao menos eles tivessem me encorajado a ficar por perto, pensei,
sorrindo internamente.
Exercendo grande autocontrole, me esgueirei furtivamente atrás de
uma pedra próxima para evitar ser visto. Claro, eu me senti compelido a
lutar contra eles naquele momento. Ou unir nossas mentes e mexer com
eles dessa forma.
Que surpresa isso seria.
Olá de novo, velhos amigos. Muito tempo sem nos encontrarmos.
Mas não, isso não seria inteligente.
Uma nova motivação — voltar para casa, compartilhar esta notícia
com meu bando — agora pulsava em minhas veias. Isso me energizou
novamente, me enchendo de propósito.
Eu lidaria com os dois em breve.
Sentindo-me bem acordado, mesmo quando o sol se escondeu atrás
das cachoeiras, me virei e fui embora.
Jaxon

Nossa noite foi perfeita.


Consegui armar a barraca com apenas alguns atropelos embaraçosos.
Quinn zombou de mim.
— Você é claramente mais um habitante de um palácio do que um
homem da montanha.
Mas ao mudar a parte de cima do meu corpo para a forma de lobo e
usar os dentes de um carnívoro para pegar dois peixes rechonchudos e
frescos, eu provei que ela estava errada. Quinn entrou na água sozinha, e
nos divertimos muito juntos, nadando e jogando água.
E agora, a barraca estava robusta na costa. O fogo rugia vivamente.
Enquanto pegava a lenha, deixei Quinn desfrutar de uma pequena
leitura à beira da água. Seu cabelo úmido grudou em suas costas
enquanto secava. Ela usava apenas jeans rasgados e uma das minhas
camisetas largas.
Ela parecia tão pitoresca e feliz e parecia tão deslumbrante e em paz
que eu nem me importava de fazer todo o trabalho.
Pelo menos, não muito.
Comemos um jantar de peixe chamuscado e todos os petiscos que
havíamos trazido para a viagem. Então surpreendi Quinn com uma
sobremesa especial.
Da minha mochila, tirei marshmallows, biscoitos e uma barra de
chocolate.
— S'mores! — Quinn cantou, abrindo as embalagens.
— Não seria um acampamento sem eles.
— Uau, Jax, — disse ela, olhando para mim impressionada. — Você
realmente deu tudo de si. Isso é ainda melhor do que nosso primeiro
encontro.
— Espero que Alex não interrompa este, — brinquei, mas não me
surpreenderia se acontecesse.
De propósito, deixei meu telefone no carro, para não ficar tentado a
continuar verificando.
Quinn enfiou alguns marshmallows em um palito e pairou o kebab
pegajoso sobre as chamas.
— Por que você fez tudo isso? — ela perguntou.
Sinceramente, não acusadoramente.
Eu sabia que ela estava apenas curiosa, mas fiquei inseguro do mesmo
jeito.
É demais? Eu tinha exagerado?
— Eu não sei, — murmurei. — Para pedir desculpas. E obrigado. E eu
te amo. Tudo isso. — A noite havia caído. Estrelas pontilhavam o céu e
grilos cantavam ao nosso redor.
Quando Quinn não disse nada em resposta, eu rapidamente
acrescentei: — Além disso, as coisas estão ficando sérias, sabe? Estou
prestes a conhecer sua mãe.
Ela riu.
— Oh meu Deus, você não pode realmente ficar apreensivo com isso?
Jax, estamos acasalados. Não estou buscando a aprovação da minha mãe
para você.
— Eu sei, mas ainda assim...
Quinn olhou fixamente nos meus olhos, me silenciando. O fogo
cintilou tão intensamente dentro de suas pupilas escuras.
— Obrigada, Jaxon. Eu realmente aprecio isso, — ela disse
suavemente.
Então ela esmagou os marshmallows meio dourados e meio
queimados entre um pedaço de chocolate — que ela havia quebrado ao
acaso em vez de quebrar pelas linhas da barra — e os biscoitos. Achatou e
esmagou em uma coisa só.
Não era jeito que eu pessoalmente faria para ter um s'more. Mas de
qualquer forma.
Abrindo bem a boca e dando uma mordida enorme, Quinn não
pareceu se importar. Ela e eu obviamente tínhamos abordagens
diferentes para fazer as coisas. Eu era meticuloso, enquanto ela era...
— Estou fazendo uma bagunça, — ela anunciou com uma risada.
Na verdade, migalhas e chocolate derretido cobriam sua boca.
— Me beije, — ela exigiu.
Não pude deixar de dizer:
— Eca.
Quinn usou as costas da mão para limpar o rosto.
— Oh, vá se ferrar.
Ambos sorrindo, nós nos inclinamos e nossos lábios se encontraram.
Mmm.
Ela cheirava a fogueira de acampamento e tinha gosto de s'mores.
Tão, tão doce.
Quinn

Jax envolveu seus braços em volta da minha cintura enquanto eu


colocava os meus em volta do seu pescoço.
Nós nos beijamos, envolvidos por um belo coro de sons da floresta.
O fogo crepitava ao nosso lado enquanto nossas línguas se
encontravam.
Eu torci meus dedos pelo cabelo loiro encaracolado de Jax. Seguindo
minha deixa, ele passou a mão pelo meu cabelo emaranhado enquanto
segurava minha nuca.
Nossas mãos vazias se encontraram.
O momento foi tão agradável. Tão gentil.
Jax se afastou e sacudiu a cabeça em direção à pequena barraca
enquanto murmurava: — Vamos levar isso para o quarto.
Isso me fez rir.
Quando conheci Jaxon, nunca esperei que ele fosse capaz de algo
assim. Me levando em aventuras na floresta, servindo sobremesas
divertidas, contando piadas. Seu comportamento tinha sido tão severo e
fechado.
Isso não era A Bela e a Fera porque eu tinha sido inicialmente má e
fria com ele também. Eu nunca fui louca por ele. Eu não tirei a bondade
de dentro dele.
Eu nunca deixaria ninguém me controlar ou confinar: porque por
dentro e por fora, eu era uma fera. E uma verdadeira fera se recusava a
ser enjaulada.
E Jax respeitava isso.
Mas, eventualmente, em algum lugar ao longo da jornada, nos
encontramos no meio termo. Nós dois nos abrimos, compartilhamos e
nos comprometemos. Vê-lo agora tão confortável era especial.
Depois que Jax apagou o fogo, entramos na pequena barraca e
imediatamente continuamos nossa sessão de amassos.
Ele acendeu uma lanterna e sua pele esticada brilhou na luz.
Ele tirou minha camiseta — ou sua camiseta que eu estava usando
emprestada — e então tirou a sua própria.
Não tínhamos muitas camadas de roupas para tirar.
Eu soltei o cinto de Jax e o ajudei a tirar sua calça jeans.
Eu deslizei para fora do meu short e levantei meus quadris para que
ele pudesse tirar minha calcinha.
Quando eu puxei sua cueca boxer para baixo, sua ereção saltou.
Agora totalmente despido, Jax rastejou por cima de mim, lançando
uma sombra sobre as paredes de náilon da barraca, e posicionou seu
membro na minha entrada.
— Preparada? — ele perguntou. Eu balancei a cabeça afirmando e
imediatamente gemi quando senti meu companheiro me preencher
lentamente.
Tentadoramente.
Tudo dentro. Nós dois estremecemos e suspiramos de prazer.
— Jax... — gemi.
— Quinn, — ele suspirou de volta em meu ouvido.
Ele começou a se mover para dentro e para fora, e meus quadris
subiam no impulso de encontrá-lo.
Ainda devagar. Constantemente. Profundamente. Eu agarrei o peito e
os ombros do meu companheiro para me apoiar, cravando minhas unhas
em sua pele.
Com cada impulso, eu podia sentir o calor crescendo em meu íntimo.
Ele mordeu meu lábio inferior. Eu suspirei e arqueei minhas costas.
Os movimentos de Jax se aceleraram, aumentando em ritmo e
intensidade. Enquanto ele ganhava velocidade, meus olhos rolavam para
trás.
Estávamos tão unidos naquela pequena barraca. O suor começou a
umedecer o cabelo de Jax e formar uma poça na minha clavícula.
Eu me senti chegando mais perto do clímax.
— Estou prestes a... — comecei, enquanto envolvia minhas coxas em
tomo dele.
— Eu também, — ele arfou entre respirações pesadas.
E então, com uma guinada final, o calor em meu íntimo explodiu e se
espalhou por todo o meu corpo.
Ahh...
A sensação nunca deixava de me surpreender. Sempre era tão
poderosa. Sempre tão surpreendentemente fantástica, excitante e
amorosa.
Meu corpo formigou com sensibilidade persistente quando Jax deu
uma fileira de beijos no meu pescoço. Completando a trilha, ele beijou
minha testa.
— Vamos dormir um pouco, — disse ele.
Nus e ainda formigando, entramos no saco de dormir juntos. Era tão
íntimo quanto eu imaginava. Jax me abraçou, enrolando seu corpo
confortavelmente em torno do meu e colocando uma mão na minha
barriga.
— Boa noite, — eu sussurrei, tão feliz em seu abraço caloroso. — Eu
amo você.
— Eu também te amo, Quinn, — respondeu ele. — Bons sonhos.
Eu sorri. Que diferença da noite passada. Logo, sua respiração
desacelerou quando ele adormeceu.
Mas meu cérebro, enquanto isso, estava apenas acelerando.
Meu telefone parecia estar olhando para mim, dizendo:
Mande uma mensagem para sua mãe, covarde.
Mande.
Um uivo soou à distância, me lembrando dos malfeitores.
Com medo, eu me aninhei em Jax. Tive a sensação de que não iria me
juntar a ele na terra dos sonhos tão cedo.
Nos meus ossos, eu podia sentir isso.
Esta é a calmaria antes da tempestade.
Capítulo 6
REUNIÕES REPENTINAS
Quinn

Enquanto Jax roncava levemente atrás de mim, seus braços ainda


agarravam minha cintura como se eu fosse seu bichinho de pelúcia, eu
estava tentando reunir coragem para mandar.
Para mandar uma mensagem para minha mãe.
O relógio do meu telefone marcava dez da noite
Minha mãe provavelmente estava dormindo desde as nove. Uma
mulher de rotina.
Então, pelo menos, se eu mandasse uma mensagem agora, eu poderia
ter certeza de que ela não veria até de manhã.
Eu comecei uma mensagem.
Digitei o número dela, pois não estava salvo.
Então eu saí.
Então comecei de novo.
Um ciclo vicioso.
Por que isso é tão difícil?
Apenas faça, Quinn. Eu me repreendi. Seja uma adulta e mande uma
mensagem para sua mãe!
Voltar para casa me assustava, honestamente.
Só de imaginar aquela cabana isolada, e a testa franzida de minha mãe
quando ela estava com raiva, enchia minhas entranhas de uma ansiedade
turbulenta.
Mas isso era maior do que eu. Isso era para Sombra da Lua.
Minha família que realmente parecia como uma família. As pessoas
que realmente se importavam comigo e confiavam em mim para sair em
missões como esta. As pessoas que me libertavam, mas também
esperavam meu retorno.
Eu respirei fundo.
Determinada a seguir em frente desta vez, digitei o número dela
novamente.
Jeanette

Desde o desaparecimento repentino de Quinn, o centro de despacho da


delegacia de polícia se tornara minha segunda casa. Eu não conseguia me
obrigar a trabalhar, dormir ou comer, por falar nisso.
Cada pensamento meu era consumido pelas possibilidades de seu
paradeiro.
Onde estava minha filha? O que acontecera com ela?
Essas foram as perguntas iniciais dos policiais e detetives, que eles
anotaram obedientemente em seus cadernos espirais e blocos de notas
amarelos, na manhã seguinte.
As minhas giravam mais em torno da motivação.
Por quê?
Porque eu sabia quem eram seus sequestradores. Foram os lobos que
a agarraram durante a noite, direto da segurança de sua cama de
infância.
Esses monstros sinistros, maliciosos e famintos.
Desejando carne humana. Sangue humano.
Por tantos anos, meu marido conseguiu me cegar de suas capacidades
assassinas. Esconder seus poderes sombrios. Mas depois desse incidente,
abri buracos na minha venda como um ladrão. Ninguém suspeitava de
mim. Minha máscara me protegeu e escondeu meu fervor enquanto eu
entrava e saía das cenas de crime. Sob a fita amarela. Em armários de
arquivo trancados.
Arquivos onde os inspetores e a polícia guardavam todas as anotações
que haviam feito; os papéis que eles amassavam como se nada
significassem. Eles não poderiam se importar menos com o que havia
acontecido.
Então, depois da ligação rápida e espontânea de Quinn algumas
semanas atrás, o otimismo explodiu dentro de mim. Talvez ela
finalmente voltasse para casa, pensei, onde ela pertencia: onde ela
poderia ser protegida de todo aquele horror e perigo. Onde minha filha
soube e aprendeu o que era melhor para ela.
Mas então...
Silêncio absoluto. Pior do que antes. Ela não poderia ser rastreada por
telefone.
Ela não deixou absolutamente nenhum vestígio.
Todos no caso, naquele ponto, pensaram que ela estava morta.
Afogada em um rio transbordando após uma forte chuva. Perdida e
faminta na floresta. Maltratada por algum animal selvagem.
Selvagem era um eufemismo.
Claro, eu não poderia contar a eles sobre os lobisomens. Não poderia
mostrar a eles as páginas e páginas que marquei das coleções da
biblioteca ou imprimi da Internet — de um computador velho e
empoeirado que encontrei na beira da estrada. Todas as minhas
pesquisas sobre... seu tipo. Suas espécies bizarras e não naturais.
Se eu fizesse isso, a polícia me trancaria e consideraria o caso como
encerrado. Eles já haviam me designado um psiquiatra que me prescrevia
mais e mais medicamentos a cada consulta. Meu organizador de pílulas
semanal mal fechava.
Portanto, concentrei meus esforços em evidências mais convincentes.
— Olá, Cathy, — eu disse para a secretária na recepção da delegacia
enquanto passava por ela. — Boa noite, não é?
— Hum, Sra. Michaels! Jeanette! — ela chamou atrás de mim. — É
muito tarde. Você sabe que não pode simplesmente entrar aqui! Eu já te
disse isso antes Eu a ouvi levantar, mas eu já estava virando uma esquina
e fora do alcance da voz.
Corri pelo corredor em direção ao escritório da minha investigadora
principal.
Não era típico de mim desprezar tanto a autoridade. Mas havia uma
razão para isso.
Ao contrário da polícia, eu acreditava que minha filha estava viva.
Quando meu marido Brandon morreu, e quando Jodie desapareceu,
me senti atingida por uma onda de tristeza avassaladora. Desta vez foi
diferente. Desta vez, em vez de tristeza, sentia uma energia maníaca.
Uma compulsão inexplicável de continuar tentando. De continuar.
Alguns podem chamar de esperança.
Meu terapeuta chamou isso de desespero e emoções confusas.
Para todos os habitantes de nossa pequena cidade nas montanhas, eu
não passava de um caso perdido. Uma pilha de nervos passando o tempo
todo importunando a polícia sobre um caso obsoleto sem novas pistas.
Mas eu não podia evitar.
Isso era tudo que me restava.
Eu escancarei a porta de seu escritório. Na chegada não anunciada,
minha investigadora apenas suspirou.
Colocando os óculos na cabeça e recostando-se na cadeira, ela disse:
— O que foi agora, Sra. Michaels?
Sinceramente, não era muito. Provavelmente nada que valha a pena
perseguir. Alguns caçadores acabaram de avistar uma garota sozinha em
algum bosque próximo, a duas ou mais horas de distância.
Qualquer depoimento como esse, qualquer coisa possivelmente
relacionada ao caso, eu levava imediatamente para a delegacia.
— É... — comecei, pronta para soltar minha última descoberta
quando meu telefone tocou.
Ping!
Esse era o som que fazia para me alertar sobre uma mensagem.
Estranho, considerando que ninguém me mandava mensagens além
dos meus médicos e terapeutas, e era tarde demais para isso.
Eu o tirei da minha bolsa e olhei para a tela.
Uma mensagem de um número desconhecido.
Apenas duas palavras:
DESCONHECIDO: Ei, mãe.

Meu mundo inteiro congelou. Meu universo ficou suspenso.


Meu coração ficou preso na garganta.
— É...? — perguntou minha investigadora.
É Quinn.
Ping!
Ping!
Ping! Ping! Ping!
Mais uma, duas, três, quatro, cinco mensagens de texto!
Freneticamente, eu deslizei a tela para abri-las.

DESCONHECIDO: É Quinn. Sua, você sabe,


filha.

DESCONHECIDO: Só queria avisar que


passarei em casa amanhã à tarde.

DESCONHECIDO: E vou trazer um menino.

DESCONHECIDO: Por favor, não fique


louca.

DESCONHECIDO: Vejo você em breve.


Minha investigadora pigarreou, exasperada.
— Sra. Michaels? — ela questionou.
Eu tinha esquecido completamente que ela estava ali. Na sala dela. No
escritório dela.
— Oh, um... Oops. É... não é nada.
Ela revirou os olhos.
— Jesus Cristo.
— Desculpe. Eu sinto muito. Eu nem deveria estar aqui agora. Eu
deveria estar na cama. Apenas uma velha e maluca mãe enlutada!
A detetive olhou para mim com uma sobrancelha levantada.
Eu tinha que ir.
— Vejo você em breve! — gritei enquanto girei nos calcanhares para
sair.
— Oh, que alegria, — ela disse categoricamente.
Tinha que preparar a casa.
Eu tinha que me preparar.
Mas como?
Eu não sabia o que fazer, pensar ou responder.
Quinn está... voltando para casa? Amanhã à tarde?!
E... trazendo um menino?!
Jaxon

Ao nascer do sol na manhã seguinte, despertei. Os raios espiaram pelo


náilon da barraca.
Quinn e eu ainda estávamos de conchinha.
E ela ainda estava dormindo profundamente, seu corpo subindo e
descendo contra o meu peito. Devia ser apenas 5 ou 6 da manhã Eu
aninhei meu rosto em seu ninho de cabelo fresco, que cheirava a fogueira
e pinheiro como na noite anterior.
Que noite agradável nós compartilhamos.
Eu planejava voltar a dormir e já estava caindo no sono quando meus
ouvidos detectaram um som peculiar.
Isso foi um... cantarolar?
Eu inclinei minha cabeça, ouvindo com atenção.
Sim, alguém estava cantarolando. Uma canção bonita, suave e
delicada. Uma voz de mulher.
Deve ser uma alpinista em sua caminhada matinal. Ela tinha uma voz
linda, claro, mas...
Com licença, seja você quem for, pensei, mal-humorado. É muito cedo
para cantarolar tão alegremente.
Se eu tentasse o suficiente, provavelmente poderia ter ignorado. Mas
algo dentro de mim me compeliu a fazer o oposto.
Com cuidado para não acordar minha companheira, tirei meu braço
de debaixo dela e sacudi minha ansiedade matinal. Então eu me sentei,
cambaleando, vesti meu jeans e minha camiseta, e lentamente abri o
zíper da barraca, tentando ser o mais silencioso possível. Quinn
estremeceu, mas não acordou.
Eu rapidamente me arrastei de volta para ela e beijei sua testa,
roçando meus lábios em sua pele delicada.
Desde que tudo aconteceu em Sombra da Lua, com Carl, Anthony e a
transição de Quinn, eu me sentia especialmente amoroso e protetor com
a minha Luna.
O cantarolar ficou mais alto.
Que diabos?
Afastando-me de Quinn, saí de nossa barraca e fui encontrar o
amanhecer brilhante e fresco. Eu me alonguei e respirei.
Mas agora, para descobrir a fonte dessa porra de voz irritante, mas
atraente...
Foi como o canto de uma sereia. Uma daquelas sereias que seduzem
os marinheiros com suas canções.
No segundo em que caminhei ao redor da barraca, em direção à água,
eu a vi.
Aquela pele de porcelana, tão pálida que era quase translúcida,
moderadamente pontilhada com sardas. Como manchas em uma corça.
O cabelo longo e ruivo flutuando em torno de seu rosto com a brisa.
Os penetrantes olhos verdes salpicados de ouro.
Olhando diretamente para mim.
Através de mim.
Todas as características que eu reconheceria em qualquer lugar, a
quilômetros e quilômetros de distância.
Mas ela não estava a quilômetros de distância. Ela estava parada ao
lado da piscina natural na base da cachoeira.
E, mais chocante ainda, ela não estava morta.
— Jax? — ela perguntou, timidamente, surpresa.
Em uma voz quase inaudível, eu soltei o nome dela.
— Katherine...
Capítulo 7
INTIMIDADE
Jaxon

O que...?
Enraizado no lugar, eu não poderia me mover mesmo se quisesse. Eu
estava desamparado na presença de Katherine. Ela parecia comandar
toda a floresta ao nosso redor enquanto a água ondulava em torno de
seus tornozelos e o vento leve afastava seus cabelos.
Esses fios vermelhos de fogo, como raios de sol. Ela costumava
trançá-los muito.
E usar roupas para jardinagem ou de caminhadas. Macacões jeans e
botas.
Mas aqui e agora, ela parecia totalmente livre de trabalho.
Cabelo solto. Um vestido de algodão branco, descalça.
— Como... Como você está fazendo isso? — gaguejei, sabendo que
parecia ridículo. — Estou... Estou sonhando, certo?
Mas, depois de dizer isso em voz alta, percebi que estava ciente que
estava sonhando.
Então, isso o tornava um sonho lúcido. Eu nunca tivera um antes,
então por que aleatoriamente agora?
Estresse? Medo? Exaustão?
O que estava causando esse delírio intoxicante e espaçado?
Katherine riu, e meu coração parou no meu maldito peito. Fazia
muito tempo que eu não ouvia aquela risada.
— Eu também sinto que estou sonhando, — disse ela. — Mas se for
esse o caso, então acho que ambos estamos tendo o mesmo sonho. O
mesmo sonho maravilhoso e lindo.
O mesmo sonho maravilhoso e lindo.
A frase parecia ecoar por todo o ar parado da manhã.
— Mas se estivéssemos sonhando, — continuou Katherine, — eu
poderia tocar em você?
Ela poderia...
O quê?
Fiquei sem palavras enquanto ela caminhava em minha direção,
pisando levemente sobre pedregulhos e pedras.
A poucos metros de distância, ela fez uma pausa e estendeu a mão
ligeiramente trêmula.
Eu engoli em seco. Ela me encantou.
E então — Katherine me tocou.
Meu primeiro amor, minha velha companheira...
Tocou-me.
As pontas dos dedos sedosos dela tocaram minha bochecha e, em
seguida, traçaram uma linha formigante ao longo da minha mandíbula. A
eletricidade parecia jorrar de sua mão. Isso me chocou e conectou nós
dois em um espaço que transcende a vida na terra.
O que diabos estava acontecendo comigo?
Eu me senti como se estivesse chapado. Ou viajando forte em
cogumelos ou algo assim.
Foi algo que comi? Tinha que ser.
Mas Quinn e eu compartilhamos a mesma refeição...
— Você poderia me tocar?
Poderia tocá-la?
Ela estava me dando permissão?
Ela acenou com a cabeça, encorajando.
Incapaz de fazer minha mente entender o que estava acontecendo,
meus braços se moveram por conta própria. Uma experiência
transcendental. Avancei, encurtando a distância entre nós e a envolvi em
um abraço caloroso.
Ela cheirava a um buquê de flores silvestres recém colhidas.
O palácio do Sombra da Lua já esteve cheio delas. Katherine as colhia
de manhã e enchia todos os vasos que tínhamos.
Minha mente girou.
Como ela está aqui?
Como ela está viva?
Como ela está...
De volta do mundo dos mortos?
— Como...? — comecei enquanto me afastava, incapaz de fazer
qualquer uma das minhas perguntas candentes. Porque, para ser
honesto, eu estava morrendo de medo das respostas.
Mesmo sabendo que eu estava sonhando, ou talvez alucinando, não
queria ser sacudido para acordar. Eu queria viver e respirar nessa visão
por toda a eternidade. Exceto por...
Quinn... Minha Luna.
Fazendo-me presente novamente, Katherine perguntou:
— Como o quê, Jax?
— Katherine... — Seu nome na minha língua, com seu ser físico bem
na minha frente, parecia tão surreal. Depois de uma pausa muito longa,
perguntei: — Como você está viva?
Uma pergunta casual de atualização.
Katherine abriu a boca, esperando que as palavras saíssem. Esse era
um de seus gestos característicos.
Enquanto Quinn era teimosa, retendo seus pensamentos por trás dos
dentes cerrados e depois liberando-os em uma inundação como uma
represa estourada, Katherine sempre foi muito mais calma.
Quando um pensamento passava por seu cérebro, ela o
compartilhava comigo, de forma simples e clara.
Oh meu Deus.
Eu estava seriamente comparando os dois amores da minha vida?
Pare com isso, seu idiota, eu me repreendi.
— Eu não posso dizer, Jax, — Katherine finalmente murmurou, sua
resposta enigmática me surpreendendo. — Eu sinto muito. Ainda não.
— Bem, quando?
— Da próxima vez que nos cruzarmos, direi a você, — disse ela. —
Agora, vamos voltar a dormir, certo? Ainda é muito cedo. E se bem me
lembro, você não é exatamente uma pessoa matinal.
— Você era.
— Era? Eu ainda sou.
— Certo. Quero dizer, você é, — eu me corrigi, ainda sem acreditar
que ela pudesse estar viva.
Katherine acenou com a cabeça com um sorriso.
— Sim, eu costumava ser o seu sol, lembra? Seu bom dia, todas as
manhãs. E você era meu boa noite.
Com isso, meu coração explodiu.
Isso estava indo longe demais.
Acorde, Jaxon. Acorde... Agora!
Nada.
Mas Katherine não iria forçar. Em vez disso, ela colocou a mão
suavemente no meu ombro e me guiou, passo a passo, de volta para a
barraca.
— Quando eu vou te ver de novo? — eu pressionei, em voz baixa.
Quinn estava dormindo a apenas alguns metros de distância.
— Em breve, — disse Katherine, — eu prometo. Agora volte a dormir.
Sem nada para fazer a não ser seguir suas ordens, ajoelhei-me,
arrastei-me para dentro da barraca e deitei-me em silêncio a alguns
centímetros da minha companheira. Katherine demorou-se na entrada
aberta.
— Boa noite, Jax, — ela sussurrou.
— Bom dia, Katherine, — respondi, incapaz de resistir a voltar à nossa
velha saudação matinal.
Uma pequena piada interna. Uma das malditas milhões.
Ela sorriu para mim. Seus olhos brilharam.
Então, em um flash, ela se foi, de volta para a floresta densa.
Sky
Trabalhamos incansavelmente o dia todo ontem para preparar o palácio
para o confinamento. No geral, a operação correu perfeitamente.
Arrumação dos beliches. Berçário em andamento. Cozinha e
armazenamento de alimentos seguros.
E Raphael adorava ser o encarregado das refeições. Atualmente, ele
supervisionava o café da manhã, que consistia em rabanada, algumas
frutas frescas, café e suco. Delícia!
Decidimos como um grupo, que tentaríamos racionar os alimentos
com cuidado, para que tivéssemos o suficiente para todos por um
período prolongado, se necessário. Claro, o plano era esperar até que os
malfeitores se mudassem, então todos poderiam ir embora.
A situação era apenas temporária. Eu estava otimista quanto a isso.
E enquanto isso, graças ao árduo trabalho, organização e cálculo de
Alfa Anthony, todo o resto estava funcionando como uma máquina bem
lubrificada.
Ele estava se provando incrivelmente valioso para a equipe.
Sentei-me à mesa do café da manhã com meu irmão, Harper e Zara,
que tinha começado a ficar mais conosco.
Ela era introvertida e meio sombria por dentro pelo que eu percebi. A
pobre garota obviamente sofreu algumas perdas graves, que claramente
tiveram um impacto duradouro. Mas ela era gentil, especialmente com as
crianças.
Além disso, eu gostava de passar tempo com pessoas mais caladas.
Significava que eu poderia falar mais.
Anthony estava falando com Raphael. Quando eu encontrei seu
olhar, acenei para ele.
Com um café na mão e um largo sorriso no rosto, o Alfa se aproximou
de nós.
— Bom dia a todos.
Todos nós devolvemos a saudação quando ele puxou uma cadeira. Ele
tomou um gole de café e pigarreou.
— Então, eu estava pensando... — ele começou, logo de cara.
Oh, Deus.
Eu timidamente abaixei minha colher.
Ainda bem que Quinn e Jax não estavam ali para isso. Alfa Anthony
parecia sempre cheio de propostas, o que eu honestamente apreciava,
mas Quinn e Jax não pareciam muito interessados nelas.
— Eu estava pensando, deveríamos dar uma festinha ou algo assim, —
ele continuou. — Bem despojada, simples, só para nos conhecermos.
Todos os bandos.
Uma festa!
— Oh meu Deus, é uma ótima ideia! — gritei.
— Obrigado, Sky. Achei que poderíamos pegar alguns jogos de cartas
e de tabuleiro, talvez fazer um bom jantar. Será uma oportunidade para
todos os vários membros se misturarem e se juntarem. No final, este
confinamento pode ser realmente útil para os relacionamentos
duradouros de nossos bandos, — acrescentou Anthony.
Eu não poderia concordar mais.
Os outros acenaram em aprovação.
— O que os outros Alfas e Lunas pensam sobre isso? — Alex
perguntou. — Dos outros bandos?
Ele estava tentando desempenhar o papel que Jax sempre
desempenhava: cauteloso e diplomático.
— Eles adoram a ideia, — disse Anthony. — Já combinei com eles.
Apenas uma reunião pequena e íntima.
Com excitação crescente, olhei para Harper. Naturalmente, ela não
correspondeu ao meu nível de entusiasmo. Enquanto todos os outros
começaram a conversar sobre a festinha, ela apenas mastigou
estupidamente sua fatia de torrada enegrecida.
Mas eu sabia que assim que as coisas melhorassem, ela também se
animaria.
Quero dizer, quem não ama uma festa?
Ou... uma reunião íntima?
Que mal pode haver com um pouco de intimidade?
Quinn
Bip! Bip! Bip! Bip!
Eu pisquei acordada.
O alarme. Eu odiava alarmes.
Bip! Bip! Bip!
Esfregando meus olhos, me sentei e silenciei meu telefone. Tínhamos
definido o alarme para 8h.
Algumas mensagens de minha mãe encheram minha tela de
notificações, mas eu não estava preparada para lidar com isso ainda.
Estávamos indo em sua direção, gostasse ela ou não.
Eu me virei para Jax, que estava acordando também. Com uma
expressão esgotada em seu rosto, ele parecia meio abalado.
Ainda mais do que o normal.
Acordar cedo com alarmes estridentes não era nossa praia, mas
parecia que outra coisa o incomodava.
— Ei, você está bem? — perguntei.
Jax balançou a cabeça.
— Sim, tudo bem. Apenas um sonho estranho.
— Aw. Lamento ouvir isso. — estendi a mão e massageei seu ombro.
Ele estava vestindo sua camiseta novamente, embora tivéssemos ido para
a cama nus.
Percebi uma mecha de cabelo longa e fina agarrada ao tecido.
Uma longa e fina mecha de cabelo ruivo.
De onde veio isso? eu me perguntei, puxando-a para longe.
Jax, com olhos arregalados, parecia estar pensando a mesma coisa.
Mas quando ele me pegou olhando para ele, ele ergueu uma
sobrancelha e encolheu os ombros.
— Não faço ideia, — disse ele.
Huh.
Estranho.
Capítulo 8
RETORNO À PRISÃO
Quinn

— Bem, estamos quase lá, — anunciou Jax, seguindo o GPS em seu


telefone para lá e para cá ao longo da estrada sinuosa.
Ele não precisava me dizer.
Quando pegamos o caminho de cascalho, eu já estava afundando
profundamente em flashbacks. Meu estômago embrulhou. Eu me remexi
e mordi meu lábio.
— Esta? — ele perguntou.
Eu concordei. Era a única; a única casa em milhas e milhas.
Sem vizinhos: apenas a cabana de madeira solitária e de aparência
triste, emoldurada por duas árvores cujos galhos de outono já estavam
aparecendo, as folhas caídas espalhadas sobre as raízes em montes secos
e empoeirados. Parecia uma espécie de casa mal-assombrada no
Halloween.
Hesitante, estendi a mão e bati com os nós dos dedos na porta.
Quando alguns momentos se passaram sem uma resposta, Jax disse:
— Talvez ela não esteja aqui. Ela mandou alguma mensagem de volta?
— Sim, ela disse que estaria nos esperando. Ela disse para nos
prepararmos para uma recepção calorosa. — Eu podia ouvir a amargura
sobre isso em minha voz.
Eu tentei de novo.
Toc, toc, toc.
Olá...?
Eu meio que esperava que ela estivesse esperando no gramado, pronta
para correr pela grama e se jogar em mim. Para me agarrar com seus
braços e me arrastar de volta para o meu quarto.
Ugh. Mãe, pensei.
Claro, a única vez que preciso que você esteja aqui...
Tínhamos percorrido todo esse caminho e arriscamos deixar Sombra
da Lua durante um período crítico. Perto de desistir, eu me virei para Jax,
me sentindo exasperada e idiota por ter sugerido esta viagem estúpida.
Mas então, a porta se abriu — apenas uma fresta. Os dois, enormes
olhos, como os de uma corça sob faróis, da minha mãe saltaram para nós.
Ela parecia maníaca e ansiosa — como um animal selvagem.
— Mãe, — eu respirei, sem saber o que mais dizer ou fazer.
— Quinn, — ela resmungou de volta.
Caramba. Ela estava bem?
Eu queria perguntar, mas sua atenção fixou-se em Jax. Ele se mexeu
nervosamente ao meu lado, repentinamente tímido. Toda a sua
confiança e postura tranquila desapareceram.
— Este é Jaxon, — eu disse, apresentando-o.
— Olá, Sra. Michaels, — disse ele em voz baixa. Minha mãe olhou
para ele de cima a baixo, examinando-o da cabeça aos pés com suspeita.
Eu sabia que ela o estava imaginando como um homem-lobo volátil,
caçador de seres humanos na floresta. Ela provavelmente esperava que
ele se transformasse completamente em um lobo a qualquer momento.
Eu tossi, assustando-a.
— Podemos... entrar? — perguntei.
— Oh. Ah, com certeza. Desculpe, desculpe. Eu só estava arrumando
um pouco aqui... — ela abriu a porta mais alguns centímetros e
desapareceu lá dentro.
Eu olhei para Jax, que gesticulou para eu ir primeiro.
— Depois de você, — disse ele.
— Oh, muito obrigada, — eu retruquei sarcasticamente.
— Ei, é a sua casa.
— Sim. Esse é o problema.
Eu pisei cautelosamente na soleira. O que vi fez meu queixo cair.
Minha mãe sempre se orgulhou de sua limpeza e organização. Ao
crescer, lembro-me de que cada item tinha seu lugar específico. As coisas
nas prateleiras eram classificadas por cor. Tudo era etiquetado. O lixo era
eliminado imediatamente e simplesmente não existia desordem.
Mas agora...
O lugar era um desastre total — longe da forma ordeira com que ela
costumava mantê-lo. Era como se um furacão de escala cinco tivesse
passado pela sala de estar.
Embalagens plásticas de comida para viagem, copos de papel para
café e caixas de pizza de papelão espalhados pelo sofá, mesas e carpete.
Alguns ainda tinham comida pela metade, café ou gordura pingando.
Roupas e outros detritos aleatórios contribuíram para a bagunça gigante.
E livros. Toneladas de livros. Como se a biblioteca pública tivesse
explodido como uma pinhata. Tudo, desde listas telefônicas e atlas a
edições antigas de revistas e toneladas e toneladas de livros de pesquisa e
referência. Enciclopédias do A ao Z.
Sempre fui a bibliófila de nossa pequena família, então isso foi um
choque e tanto.
— Desculpe, desculpe, — minha mãe se desculpou novamente,
notando minha expressão.
— Tenho estado um pouco ocupada. Um pouco preocupada...
— Parece que sim, — comentei.
Eu guiei o caminho pelo marco zero, abrindo um caminho para Jaxon
seguir. Eu estava com vergonha de olhar em volta e ver seu rosto, mas
tenho certeza de que estava igualmente atordoado.
— Bem, Quinn, você é a única culpada por tudo isso, — mamãe
cortou. — Eu estive tão preocupada. Tão, tão preocupada...
Meu coração vibrou com remorso. Eu tentei o meu melhor para lutar
contra isso, mas não havia como negar a culpa incrivelmente
avassaladora que eu sentia.
Fomos para a cozinha, que não estava menos desarrumada. Por
insistência de minha mãe, nos sentamos ao redor da mesa.
Meu nariz de repente percebeu um cheiro delicioso.
Mmm.
Algo tão amável, tão caloroso e familiar.
O que era isso mesmo?
Mamãe foi até o forno e o abriu. Um aroma saboroso encheu o
ambiente.
— Eu fiz carne assada, — declarou ela, colocando as luvas de forno
tricotadas à mão. — E vegetais assados. E torta de sobremesa.
Claro que ela fez.
Foi um gesto doce, mas tive que evitar cair nessa. Como a bruxa em
João e Maria, a quem Jaxon a comparou antes, minha mãe sabia como
encantar alguém — e então selar a armadilha e trancar a porta.
— Estou tão, tão aliviada por você estar em casa e segura. Aqui, coma.
— disse mamãe.
Ela trouxe as travessas fumegantes e nos serviu. Por alguns minutos,
os únicos sons eram talheres raspando e bocas mastigando.
— Está delicioso, Sra. Michaels, — Jax comentou.
Alegria brilhou em seu rosto.
— Oh, não foi nada. Apenas uma velha receita de família. Uma das
favoritas da pequena Quinn. — Era verdade. A maioria das crianças pedia
pizza ou fast food para o jantar de aniversário. Eu simplesmente amava a
comida caseira da minha mãe.
Ela interrompeu o silêncio novamente:
— Então, Jaxon, hum... O que você faz da vida?
— Eu, uh... — Ele parou, sem palavras. Ele olhou para mim em busca
de apoio.
— Ele faz um trabalho gerencial. Supervisiona grandes grupos de
pessoas. Muito organizacional.
— Como um CEO?
Quase comecei a rir, mas mantive meu rosto sério.
— Ah, sim, tipo isso.
Jaxon permaneceu com o rosto impassível e enfiou na boca uma
garfada cheia de cenouras.
Minha mãe continuou tratando Jaxon como um candidato a uma
entrevista de emprego.
— E... como vocês dois se conheceram, exatamente? — ela perguntou.
Embora seu tom fosse gentil, pude detectar sua desconfiança. Ela estava
muito distante. A linha de confiança entre nós nunca foi exatamente
forte, mas agora estava quebrada em duas.
Ela queria nos receber e impressionar, e eu queria ser grata em troca.
Mas muita coisa já havia acontecido. E muito estava em jogo.
E com cada pergunta, eu sabia onde ela queria chegar. Ela estava
esperando que revelássemos a verdade.
Que eu tirasse o pano do elefante enorme na sala.
Que eu dissesse algo como:
Bem, nos conhecemos quando tentei fugir de casa e compartilhamos uma
conexão única. Somos companheiros para a vida toda, e se eu for para muito
longe dele, fico furiosa com a luxúria e a tristeza. Quão fofo é isso?!
Eu simplesmente tinha que fazer isso. Revelar aquele elefante.
Respirei fundo...
Jeanette

— Ok, eu preciso dizer isso logo, — Quinn falou rapidamente. — Mãe,


estamos aqui para saber mais sobre o papai e a tia Jodie.
Eu paralisei, congelada por dentro.
Meu instinto maternal de proteger meu bebezinho ficou mais forte.
É perigoso! Ela é tão jovem! Ela não deveria — ela não pode — saber
dessas coisas!
Quinn podia ver o medo em meu rosto.
— É realmente mais perigoso para mim se você não me contar.
— Como você sabe o que é mais perigoso? — perguntei, mas eu não
queria uma resposta. Então, eu disse: — Tudo bem, Quinn. Você sabe o
que quer. Eu te conto pela manhã.
Quinn protestou imediatamente.
— Pela manhã?! Mãe, por favor!
— Eu prometo. Eu te conto amanhã. Tudo que você precisa fazer é
passar a noite aqui.
— Mãe...
— Só uma noite, Quinn. Você também pode ficar, Jaxon...
— Ah é muito gentil da sua parte, — Quinn interrompeu.
Desde quando minha preciosa filha era tão franca e teimosa? Quem a
ensinou a se comportar dessa maneira?
Deve ser algo que ela aprendeu dos lobos.
— Você pode ficar, também, — eu terminei, falando com Jaxon, —
embora, é claro, em um andar diferente de Quinn. Mal posso confiar em
vocês dois à vista de todos, muito menos sozinhos a portas fechadas.
Jaxon

Nós nos retiramos para nossos ambientes separados, Quinn para o


quarto dela e eu para a sala de estar. Consegui tirar bagunça suficiente do
sofá para pelo menos me deitar. Ou enrolar-me, o que não foi fácil
considerando minha altura e o tamanho do sofá.
Buzz.
Uma mensagem de Quinn.
Eu a abri:

Quinn: Ei, gostoso, como está aí embaixo?

Jaxon: Haha bem. Está tudo bem.

Quinn: São as melhores acomodações DA


SUA VIDA, você quer dizer?
Jaxon: Sim, melhor do que um hotel 5
estrelas.

Quinn: Desculpe pela minha mãe.

Quinn: Ela pode ser... bastante...

Quinn: Agora você entende por que eu fugi


de casa?

Jaxon: Sim, estou começando a entender.

Quinn: Estar de volta ao meu quarto de


infância me deixa inquieta

Quinn: e rancorosa...

Jaxon: Você quer tentar outra fuga da


prisão?

Jaxon: Eu posso ajudar.


>
Quinn: Não, infelizmente, precisamos
daquela informação sobre a Jodie que ela
está escondendo 🙄 (emoji revirando os
olhos)

Quinn: Mas eu tenho uma ideia melhor...

Jaxon:??

Quinn: Eu quero ter um menino aqui.

Quinn: Mamãe está dormindo.

Quinn: Sobe para me ver? 😉 (emoji


piscando)
Capítulo 9
O QUE TODOS MERECEM
Alex

Droga. Ser o Alfa era exaustivo.


Bzzz.
Eu estava me preparando para dormir, sentindo-me completamente
exausto, quando recebi uma mensagem de Anthony. Ele insistiu que
tivéssemos o número um do outro, em caso de emergência.
Eu fiquei alerta. Era uma emergência?

Anthony: Olá, Beta, como vai?

Não parecia muito urgente. Mais relaxado, respondi:

Alex: nada mal, obrigado Anthony. como


você está?

Anthony: Ótimo, ótimo.

Anthony: Sabe no que eu estava


pensando?
Alex : Em que?

Anthony: E se melhorássemos o nível dessa


festa que estamos planejando?

Anthony: Além dos jogos de tabuleiro e


instrumentos ou qualquer coisa — mais
coquetéis, bebidas alcoólicas, tudo isso...

Anthony: Não é como se você não tivesse o


suficiente no castelo 😉

Anthony: E um banquete completo! Você


sabe o quanto Raphael adoraria essa honra.

Alex: Mas e toda aquela história de


economizar nossa comida?

Pensei que estivéssemos racionando

Anthony: Você sabe o quanto temos de


comida estocada.

Anthony: Raph não te contou?

Raph? Senti uma pontada de decepção. Ele não tinha me contado.


Mas eu não queria que Anthony soubesse disso.

Alex: Sim, ele contou.

Anthony: Então você sabe que eles fizeram


o inventário hoje e planejaram as refeições
da próxima semana. Temos muita. É comida
de sobra.

Anthony: Ou para compartilhar em uma


noite especial, com todos os nossos novos
amigos!

Anthony: Essas pessoas estão presas, elas


merecem um pouco mais de comemoração,
você não acha?

Eu ponderei sobre isso enquanto escovava meus dentes.


Sky explodiria de emoção para planejar uma festa de verdade. Todo
mundo adorava uma boa agitação. Algumas bebidas e uma boa comida
no estômago...
Quem não gostaria?
Pessoalmente, eu estava sempre pronto para algumas cervejas. Me
relaxava. Sempre me fazia sentir um pouco mais confortável e confiante.
Talvez fizesse o mesmo com Zara, que de outra forma ficava bem
quieta. Eu estava descobrindo que gostava quando ela se soltava. Ela
tinha coisas legais a dizer. Talvez com um pequeno empurrão de
relaxamento líquido, ela começasse a se abrir ainda mais.
E talvez, apenas talvez, a festa me ajudasse a conversar com algumas
garotas de outros bandos. Definitivamente havia algumas gatinhas
espalhadas por aí.
Talvez então Anthony parasse de me atormentar por não ter uma
companheira.
Suspirei. Meus dedos pairaram indecisos sobre a tela.
Cara, eu queria tanto conquistar todo mundo. Parecia um pouco
como se eu estivesse em um primeiro encontro — mas com toneladas de
lobisomens para impressionar.
Eu não poderia liderar como Jax liderava. Eu não era um disciplinador
natural, então tive que adotar uma abordagem diferente. Eu não poderia
ser um Alfa durão. Ou um Alfa frio e astuto.
Mas eu poderia ser um Alfa gentil, divertido e amigável.
O tipo de Alfa que dava festas.
Eu me imaginei conduzindo um brinde.
Saúde!
Na minha cabeça, todos levantaram suas bebidas, radiantes com
sorrisos felizes.
Anthony estava certo — eles mereciam.

Alex: Boa ideia.

Anthony: Vou deixar você levar o crédito


por esta 😉

Alex: Obrigado, Alfa.

Anthony: É o mínimo que posso fazer!


Anthony: Sinta-se à vontade para fazer o
anúncio amanhã.

Alex: Farei.

Quinn

Quando Jaxon me mandou uma mensagem dizendo que estava subindo,


do nada, me transformei em uma ninfa. Eu rapidamente tirei todas as
minhas roupas e as joguei em uma pilha.
Então me joguei de volta na cama e tentei parecer uma modelo.
Como a Rose em Titanic quando ela estava sendo pintada ou algo assim.
Antigamente, eu costumava ter fantasias assim. Sonhos sensuais
sobre um homem alto e bonito se esgueirando à noite e me arrebatando.
Oh meu Deus. Tão emocionante.
Passos soaram do lado de fora no corredor. Eles pararam do lado de
fora da minha porta.
A maçaneta girou lentamente.
Meu coração acelerado ficou preso na garganta e, por um segundo, o
medo me consumiu.
E se fosse minha mãe vindo me ver?
Ela iria me matar na hora se me visse assim.
A porta se abriu, centímetro a centímetro.
Suspirei de alívio quando vi quem apareceu por trás dela...
Jax.
Parecendo tão lindo como sempre.
Ao me ver esticada na cama completamente nua, o queixo de Jax caiu.
— Venha, — eu sussurrei.
Ele não precisava que eu dissesse duas vezes.
Meu companheiro entrou rapidamente, chegando até o pé da minha
cama.
Eu o deixei separar meus joelhos enquanto eu me deitava nos
travesseiros.
Com as mãos em volta das minhas pernas, me segurando firme e
aberta, ele beijou toda a parte interna das minhas coxas, chegando cada
vez mais perto do local onde eu ansiava por seu toque...
Ele fez uma pausa, me deixando louca de antecipação.
Então, depois de um momento de suspense, sua língua separou meus
grandes lábios e disparou para dentro, tocando meu íntimo — Ahh, Jax,
oh meu Deus...
Eu arqueei minha espinha e me engasguei com o toque.
Tão frio e liso contra o meu calor. Ele deslizou sua língua
tentadoramente em direção ao meu clitóris, terminando com um
movimento suave que me enviou ao êxtase absoluto.
Eu vi estrelas.
Ele enfiou um dedo dentro de mim, acertando meu ponto G
enquanto sua língua continuava a atacar.
Tãããããããããããããããããããããããão bom...
E a parte mais gostosa?
Eu estava sendo comida na minha cama de infância.
Foda-se essa casa. Foda-se esta prisão.
Uma das minhas mãos agarrou meus lençóis, enquanto a outra se
abaixou para agarrar Jax. Eu emaranhei meus dedos em seus cachos.
Ele olhou para mim. Em voz baixa, ele perguntou:
— Como é essa sensação?
— É uma sensação tão maravilhosamente maldosa, — murmurei de
volta entre suspiros. — Tão sorrateira, sabe? Tão proibida...
— Sim, apenas mantenha-se quieta, — instruiu Jax enquanto mexia a
língua novamente.
Bem, era mais fácil falar do que fazer.
Especialmente quando ele estava tratando meu corpo assim. Tão
adoravelmente... Preciosamente...
— Eu te amo, Quinn, — disse ele de repente.
Meu coração e meu corpo pulsavam juntos, batendo em uníssono.
— Eu também te amo... Eu... Eu... — eu não conseguia falar direito.
Eu tinha que parar de falar ou gritaria noite adentro. Eu acordaria não
apenas minha mãe, mas também os vizinhos a quilômetros de distância.
Vendo isso, Jax sorriu para mim com os olhos. Sua mão deslizou pelo
meu corpo, minha barriga e peito, e pousou na minha boca. Ele colocou a
palma da mão ali para me calar.
Mas isso só me deixou mais louca.
Com um gemido abafado em sua mão e um tremor enorme e
ondulante, eu explodi.
— Mmmm...
— Shhh! — Jax chiou.
As estrelas atrás das minhas pálpebras se transformaram em fogos de
artifício, e eu me atirei direto para o céu com elas, cercada por
eletricidade cintilante. Meu corpo inteiro arqueou e meus dedos do pé se
curvaram.
— Ahhh, Jaxon, — eu suspirei.
Enquanto eu flutuava do auge do prazer, ele se acomodou ao meu
lado e beijou minha bochecha. Eu o beijei de volta nos lábios. Ele colocou
o braço em volta de mim e eu me acolhi em seu peito.
— Obrigada, — eu suspirei.
— Você merece isso.
E enquanto estávamos lá, em um espaço tão privado, eu vi meus
mundos colidirem. Minha casa de infância com Sombra da Lua. Meu
passado com meu presente.
Tornando-se meu futuro.
— Então, — disse Jax, seu olhar vagando ao redor do meu quarto,
absorvendo-o. — O que é isso?
Ele apontou para a parede à nossa frente. Estava coberta de pequenos
pedaços de papel colados com fita adesiva. Minha caligrafia corria em
cada um. Alguns tinham frases. Outros parágrafos completos.
De repente, fiquei tímida e senti minhas bochechas ficarem rosadas.
— Apenas algumas citações. Dos meus livros favoritos. Peguei todos
eles emprestados da biblioteca, então anotei as partes que não queria
esquecer depois de devolvê-los.
Timidamente, eu olhei para Jax.
— Isso não é constrangedor?
— É adorável, — respondeu ele.
— Você já colecionou alguma coisa quando era criança?
Ele pensou por um momento e, finalmente, disse:
— Pedras.
Eu ri.
— Que idiota.
Nós ficamos juntos em nosso abraço, Jax acariciando meu cabelo
enquanto eu arrastava minhas mãos ao redor de seu peito, enquanto eu
imaginava que estava segura. Eu adorava o risco, mas sabia que às vezes
minha mãe acordava no meio da noite para usar o banheiro, então não
queria forçar a barra.
Relutantemente, eu disse:
— Você provavelmente deveria voltar lá para baixo.
— Você provavelmente está certa, — ele concordou.
Com um último beijo prolongado, ele rolou para fora da cama e
caminhou em direção à porta.
— Eu te amo, — eu disse novamente.
— Eu também te amo. Boa noite, Quinn.
— Boa noite, Jax.
Jaxon

Voltei para o meu sofá, deitei-me e tentei contar regressivamente para


adormecer.
100, 99, 98, 97, 96...
Eu cheguei a zero antes de concluir que seria impossível.
Porque eu ainda não conseguia me livrar daquele sonho com
Katherine.
Seu cabelo esvoaçante. Seu vestido macio e transparente. A faísca
quando ela me tocou. Pensar nela então e ali, logo depois de dar prazer a
Quinn nada menos que em sua porra de casa de infância, me fez sentir
doente de culpa. Eu estava sendo um companheiro horrível.
Mas não pude evitar. Cada vez que fechava os olhos, Katherine surgia,
aparecendo tão repentinamente quanto na floresta.
A questão era que eu amava Quinn. Para todo sempre. Por completo.
Ela era minha companheira de vida. Minha Luna.
Então, por que diabos eu era tão fraco?
Enquanto eu guardava Quinn com segurança em meu coração,
Katherine continuou assumindo o controle da minha mente. Por que
minha cabeça estava traindo meu coração assim?
Afinal, foi apenas um sonho. O cabelo ruivo tinha sido um acaso
estranho. Algum resquício de Sombra da Lua ou algo assim.
A menos que, por alguma mágica, Katherine tivesse realmente
sobrevivido. Ou ela foi... ressuscitada?
De qualquer forma, ela estava viva e vagando pela floresta. Com
planos definidos para me ver novamente em breve.
Eu me repreendi.
Pare com isso, Jax. Pare agora.
Repeti isso para mim mesmo até finalmente adormecer.
Capítulo 10
BRINCANDO COM FOGO
Quinn

Acordei com uma manhã nublada, pensando na minha noite com Jax.
Eu me vesti, lavei o rosto e escovei os dentes. Então desci as escadas
para tomar o café da manhã, sentindo-me estranha por seguir essa rotina
como costumava fazer quando morava com minha mãe.
Jax era apenas um sonho? Eu tinha acabado de imaginar os últimos
loucos meses da minha vida?
Quando cheguei ao pé da escada e vi Jaxon sentado à mesa da cozinha
com minha mãe, conclui que estava mais para um pesadelo.
— Bom dia, — eu disse, anunciando minha presença.
Os dois me cumprimentaram de volta, mas eu não estava com
disposição para gentilezas matinais. Virei-me para minha mãe, sentindo-
me como uma policial prestes a interrogar um suspeito.
— Então, pronta para conversar?
Ela franziu os lábios para mim e gesticulou para o que havia colocado
sobre a mesa. Ovos. Torradas. Frutas.
— Eu fiz o café da manhã, — disse ela, parecendo quase ofendida. —
Por que não nos sentamos e apreciamos isso primeiro? Você não vai
querer ouvir o que tenho a dizer com o estômago vazio.
Provavelmente era verdade, mas era uma violação do nosso acordo.
Quanto mais eu soltasse a rédea dela, maior a probabilidade de ela
escapar.
Meu estômago roncou, me traindo.
— Ugh. Certo.
Nós nos sentamos. Enquanto minha mãe saboreava cada mordida,
propositalmente sem pressa, eu comia rapidamente. Jaxon fez o mesmo,
seguindo minhas deixas.
— Agora? — eu perguntei à minha mãe depois de me entupir.
— Que tal vocês dois arrumarem todas as suas coisas primeiro? Então
podemos conversar lá fora, na varanda da frente.
— Jesus, mãe, — eu rosnei, mas Jaxon encontrou meu olhar. Ele
parecia estar me dizendo para relaxar.
Ele não conseguia ver o que ela estava tramando?
Mas eu cerrei meus dentes.
— Tudo bem, — eu me peguei dizendo novamente.
Quantas vezes eu teria que dizer isso antes que ela cedesse?
Joguei meus poucos pertences em minha mochila e desci as escadas
pela segunda vez naquela manhã. Seria a última vez — eu me certificaria
disso.
Da janela da sala, pude ver minha mãe andando de um lado para o
outro na varanda, com a testa franzida. Jaxon esperou por mim no sofá,
sua própria bolsa pendurada em um ombro.
— Você está pronta? — ele perguntou.
Eu concordei.
— Vamos lá.
Juntos, saímos para a velha varanda rangente. Eu contornei minha
mãe.
— OK. Estamos de malas prontas e prontos para partir. — lutando
para manter meu tom de voz enquanto minha exasperação aumentava,
eu exigi: — Conte-nos a história agora.
Ela desviou o seu olhar, olhando para longe.
— Sabe, estive pensando. Você ainda pode ser um pouco jovem para
ouvir a história.
— MÃE.
Ok, era isso.
A frustração ferveu dentro de mim como lava.
Eu não conseguia segurar mais.
Eu estava pronta para explodir.
Jeanette

— Meu Deus, mãe! — Quinn gritou de repente. — Você lida com a dor da
pior e mais patética maneira. Você não aguenta! Você é passiva, o que não
ajuda em nada a sua causa. Apenas sentando-se aqui, construindo uma
parede de bagunça ao seu redor. Isso não pode protegê-la de nada. Você
se tornou uma acumuladora completa!
Eu estremeci com suas palavras duras.
Como eu poderia dizer a ela que não era o caso? Que finalmente
percebi que minha maneira de lidar com a tragédia não tinha sido útil ou
saudável? Que estava fazendo tudo ao meu alcance para deixar de ser
assim?
— Quinn, você não entende, — comecei, mas sabia que ela não queria
ouvir. — O lugar está uma bagunça porque não estive aqui na casa. Eu
estive...
— Papai ficaria desapontado com você, mãe. Sério. — Com isso,
engoli meu orgulho, sem palavras.
Aquilo me quebrou. E doeu.
Principalmente porque eu sabia que ela estava certa.
— Sua vida só gira em torno de mim, — continuou Quinn. Com cada
palavra, sua voz aumentava em volume e poder, como se todas essas
conclusões estivessem começando a surgir para ela. — Em torno de me
manter jovem e precisando de proteção. Cresça e amadureça.
— Quinn... — interrompeu o menino, Jaxon.
Ele parecia muito desconfortável, e com razão.
Foi muita gentileza dele vir em minha defesa.
Quinn ergueu a palma da mão em sua direção, calando-o.
— Fique fora disso, Jax. — Minha filha se voltou para mim, com uma
chama em seus olhos que eu nunca tinha visto antes. Ou eu tinha, mas
na época em que ela costumava contê-la. Agora ela queimava como um
incêndio violento. Queimando minha decisão em cinzas.
Ela nunca me enfrentou assim antes.
Olhando-me bem nos olhos, ela disse:
— Torne-se você mesma, mãe, e por favor, me trate como uma adulta.
Suspirei em rendição.
Lentamente, fiz meu caminho até as cadeiras de balanço, que meu
marido Brandon e eu tínhamos alinhado na varanda muitos anos atrás.
Três seguidas. Para Brandon, eu e Quinn algum dia, nós imaginamos.
Jodie se sentava em uma de vez em quando, enquanto nossa garotinha
brincava no quintal.
Eu me sentei. Jaxon e Quinn me acompanharam.
— Tudo bem, Quinn. Vou te contar tudo que me lembro. Mas não
diga que não te avisei.
Ela se inclinou, ouvindo com atenção. Jax parecia igualmente
interessado.
Eu permiti que minha mente voltasse para uma cena do passado...
Meu relacionamento com Brandon sempre foi estável. E eu gostava
de Jodie, sua irmã, principalmente porque eu nunca tive irmãos. Filha
única, ór ã quando meus pais morreram, eu não tinha família. Eu tive
que cuidar de mim mesma.
Eu apreciava Brandon por seu amor e Jodie por me tratar como uma
irmã. Ela tinha uma natureza rebelde e impulsiva — o que me perturbava
um pouco, mas eu poderia ignorar isso.
Pelo menos, até que ela se envolveu com as pessoas erradas.
Os malfeitores, como eram chamados.
Habitantes do vale além das montanhas ao leste.
Ela se apaixonou por sua escuridão. A adrenalina. A pressa. As
sombras. Eles viviam para criar o caos e eliminar os poucos lobos bons lá
fora. Brandon, é claro, desaprovou Jodie se juntar à gangue deles. Ele
tentou tirá-la deles. Lembro-me dele gritando com ela na cozinha, mas
ela estava decidida.
Sua resistência à adesão de Jodie, no entanto, não agradou aos
malfeitores. Eles temiam que ele pudesse convencê-la a deixar a gangue.
Que ele roubaria Jodie deles.
Então, eles o roubaram.
E anos depois, Jodie também. Ela alegou que aqueles lobos não eram
responsáveis pelo desaparecimento de Brandon, mas eu tinha um
pressentimento. Tinha que ser eles.
Eles levaram minha pequena família especial e...
— Me destruíram, — eu disse, concluindo minha história, atordoada.
Eu me virei corajosamente para minha filha.
— E se você continuar desse jeito, Quinn, você é a próxima. Você está
perseguindo a descarga de adrenalina, gostando de brincar com fogo,
mas se você não parar logo, você vai queimar alguém.
Quinn
Eu me senti tão em conflito.
Não é à toa que minha mãe nunca quis que eu conhecesse os lobos.
Mas não é como se eu tivesse escolhido essa vida.
Jodie tinha escolhido? Por tudo que eu sabia, minha mãe poderia estar
mentindo descaradamente. Os gêmeos nos disseram que Jodie poderia
ser uma refém.
Eu não sabia em que acreditar.
Pelo menos agora tínhamos uma pista. Poderíamos seguir para a
região que ela descreveu, o vale nas montanhas ao leste, e então...
Eu não sabia exatamente. Andar sem rumo até que topássemos com
uma espécie de quartel general? Parecia improvável. Um plano bem sem
plano.
Mas era tudo o que tínhamos no momento.
— Obrigada por compartilhar tudo isso, — eu disse, levantando-me
da velha cadeira de balanço. — Devemos ir agora.
O rosto de minha mãe caiu.
— Tão cedo?
— Sim, mãe, longa viagem de volta.
— Bem. Deixe-me pegar para vocês dois os almoços que preparei para
a viagem. — ela estendeu a mão e apertou o ombro de Jaxon.
— Oh, Sra. Michaels, você não precisava fazer isso.
— Eu insisto. Já arrumei tudo em sacos de papel pardo. Eu já volto, —
ela disse, desaparecendo dentro de casa.
Jaxon e eu olhamos um para o outro, ambos tentando processar tudo
o que ela tinha acabado de revelar.
— Você está bem? — ele perguntou.
— Sim. Só não sei em que acreditar, — confessei. Afastei-me da casa,
com as mãos na grade da varanda, enquanto Jaxon se recostava nela, de
frente para mim. Ele olhou para a porta, esperando pela minha mãe,
enquanto eu olhava para a floresta ao redor.
O que se escondia por trás daquelas árvores que eu nem sabia ainda?
O que eu não sabia sobre minha própria linhagem? Sobre minhas
próprias capacidades, que mal testei?
Eu sou um lobisomem.
Eu ainda estava trabalhando minha mente em torno dessa realidade,
que soava mais como fantasia.
Inspirei e expirei, deixando o ar fresco da montanha circular pelos
meus pulmões.
Desde a última vez que estive nesta varanda, aprendi o suficiente para
uma vida inteira. Mas comparado ao que eu ainda tinha que aprender,
era apenas um fragmento de informação. Uma árvore em uma floresta
inteira.
— Oh meu Deus, — ouvi Jaxon de repente arfar ao meu lado, sua voz
cheia de medo.
Sua pele ficou pálida enquanto ele olhava boquiaberto para a porta.
Eu me virei.
Lá estava minha mãe no batente da porta, segurando um rifle.
Com as mãos trêmulas e os nós dos dedos brancos, ela apontava para
Jaxon e eu.
Puta merda.
A mulher tinha ficado clinicamente louca.
— Você não vai a lugar nenhum, — disse ela com a voz trêmula. — Eu
não vou deixar você voltar lá.
Capítulo 11
LAÇOS CORTADOS
Jeanette

Quinn e Jaxon estavam na minha frente, sem piscar. Pasmos e em


choque total.
Então, depois de um momento, minha filha respirou fundo.
— Sinto muito ter que fazer isso, mãe, — disse ela, me pegando
desprevenida.
O quê? Fazer o quê?
Uma careta apareceu em seu rosto e seus olhos se fecharam com
força. Então...
Craaaack!
Eu ouvi um som parecido com madeira estilhaçando.
Instintivamente, minha mão apertou o rifle ainda mais.
Aquilo era a varanda...? Eu olhei para baixo sob meus pés, esperando
ver os painéis desmoronando embaixo de mim.
Craack... Craaack... Riiiiiiip...
Mas com uma pontada de terror, percebi que não era a varanda.
Os sons estão vindo de Quinn.
O barulho de sua roupa sendo rasgada...
O estalar de seus ossos...
Tufos grossos de pelagem de repente brotaram de seus braços e
pernas, que começaram a se curvar sob um novo tamanho. Os quilos
extras vieram dos músculos tensos ondulando em seu peito e ombros.
Suas orelhas se ergueram em triângulos, seus olhos escureceram em
apenas duas pupilas pretas brilhantes e redondas. Seu nariz e mandíbula
se transformaram em um focinho afiado.
E, por último, seus lábios se tornaram a boca de um lobo. Eles se
separaram para revelar fileiras de dentes brilhantes, pontiagudos e
afiados, que pareciam zombar de mim...
Ela era um lobisomem!
A língua de Quinn, com aquela textura animalesca áspera, deslizou
sobre seus incisivos.
Eu engoli em seco.
Desesperada, me virei para Jaxon em busca de ajuda. Mas ele
começou a se transformar também! Delirando de choque e medo, eu
direcionei a arma para uma das enormes patas dele e disparei, liberando
um som de estalo.
BANG!
A bala esfolou sua pele. Ou melhor, pelagem.
Imediatamente, me senti culpada.
O que eu tinha feito?!
Tentando matar o parceiro querido, aparentemente normal, de sua filha?
Mesmo se ele for um lobisomem, você está sendo irracional, Jeanette.
Mas a ação sequer o perturbou. Ele ergueu a pata, sacudindo-a
ligeiramente, então a firmou com segurança de volta onde estava antes.
Essas criaturas são à prova de balas?!
Os lobos eram ainda mais assustadores do que antes.
— Tudo bem, — eu gritei. — Saiam daqui. Vocês dois. Vão! Apenas
vão!
Eu juro que vi um olhar de culpa — talvez até um quê de desculpas —
nos olhos de lobo da minha filha.
Mas é um pouco tarde para isso, Quinn, pensei.
Se ela queria ser adulta, ela poderia se proteger.
Se ela queria correr com os lobos, que fosse. Mesmo com uma arma,
eu claramente não a estava impedindo.
Com uma voz mais forte que nunca, eu disse:
— Desta vez, nem pense em voltar!
Então eu voltei para dentro, deixando as duas crianças — lobos — na
varanda.
E para mim mesma, murmurei:
— Estou melhor sozinha.
Atrás de mim, a porta de tela se fechou.
Quinn

Bem, eu finalmente cortei laços com mamãe.


Pelo menos o corte era apenas metafórico — não como o fogo real
que destruiu qualquer oportunidade que eu teria de conhecer meu outro
genitor — meu pai.
Será que mamãe sabe como o papai morreu?
Eu não queria pensar sobre isso.
Eu não queria pensar em nada.
Eu precisava me concentrar na missão em questão.
Jaxon e eu partimos atrás da única pista que tínhamos: o vale além
das montanhas do leste. Dirigimos até lá, estacionamos e saímos para
explorar os arredores. Toda a área era linda. Penhascos de rocha
vermelha profundos e recortados, com muitos recantos e fendas.
Muitos lugares para se esconder.
A folhagem era tão exuberante e verde que parecia mais uma selva do
que uma floresta. Enormes plantas frondosas protegiam-nos. Raízes
trançadas no solo. Nós exploramos como guias de safári.
Mas apenas alguns minutos se passaram antes que nuvens cinzentas
surgissem e a chuva começasse a cair. Forte.
Um trovão estourou. Um relâmpago estalou.
A tempestade de início do outono arrancou as primeiras folhas das
árvores.
Voltamos para o SUV na esperança da tempestade passar, observando
as enormes gotas de água escorrendo pelas nossas janelas e batendo
contra o teto e o capô do carro.
Presa, minha mente vagou de volta aos pensamentos de minha mãe e
meu pai...
Eu precisava de uma distração. Rapidamente.
Hum...
Romance!
Sim! Chuva era sempre sexy, certo?
Eu me imaginei empurrando Jaxon do carro para a chuva, arrancando
sua camisa e beijando sua pele molhada.
Sentindo nossos lábios deslizarem juntos, escorregadios, enquanto as
gotas se agarravam aos meus cílios e umedeciam meu cabelo.
Cravando minhas unhas em suas costas e ombros, puxando-o para
mais perto de mim, empurrando-o contra o carro.
Mas não, claramente não era a hora nem o lugar para isso.
Depois de tudo o que tinha acabado de acontecer, nenhum de nós
estava com vontade. Estávamos ambos um pouco mal-humorados,
abatidos e desanimados. Confusos sobre para onde ir ou o que fazer a
seguir.
Sem mencionar que, na transição para lobos bem na frente da
mamãe, nós dois sacrificamos um par de roupas limpas e quentes. O que
agora usávamos era precioso — nossas únicas roupas restantes. A chuva
ameaçava arruiná-las, ou pelo menos nos deixar gelados por horas.
A noite estava chegando e era aquela época do ano em que as noites
começavam a ficar mais longas e mais frias.
— Por que não verificamos o tempo antes de sairmos? — Eu
choraminguei, olhando para o painel. A sujeira ao redor do veículo estava
se transformando em poças de lama viscosa.
— Eu pensei que você tinha verificado, — Jax rosnou de volta.
— Bem, eu pensei que você tinha.
Discutindo como um casal velho e casado há muito tempo. Que
adorável.
Se estivéssemos decididos sobre cumprir o que pretendíamos fazer —
encontrar a tia Jodie — teríamos que acampar novamente. O que tinha
perdido seriamente seu encanto. Chega de brincar na água ao sol ou
assar marshmallows.
Eventualmente, a chuva diminuiu, mas uma névoa fria tomou o seu
lugar. Jax e eu saímos tentativamente do carro.
Silenciosamente, armamos a barraca juntos. Acabou sendo muito
mais fácil da segunda vez. Bom, porque o trovão que ribombou nas
proximidades indicava que mais chuva estava por vir.
Jax afastou-se, admirando nosso trabalho.
— Quer levar o que precisamos para dentro da barraca enquanto vou
procurar um pouco de lenha?
Eu concordei.
— Pode deixar.
Do carro, peguei nossas duas pequenas mochilas, os lanches
restantes, o saco de dormir e a lanterna. Depois de preparar tudo, me
esparramei no saco de dormir, amando a sensação do náilon frio e
farfalhante sob minha barriga. Peguei meu telefone.
Uau. Toneladas de mensagens de texto das meninas encheram minha
tela. Abri a conversa com Sky primeiro.

Sky: eeeeiii garota

Sky: onde diabos vocês estão??

Sky: estão SEGUROS?

Sky: Pensei que vocês estariam de volta esta


manhã, o mais tardar.

Sky: Voltem!!!!
Sky: Hoje à noite vamos ter um festaaa

Sky: Vocês pegam aqueles guarda-chuvas


para coquetéis no caminho para casa?

Uma festa? Que diabos? Quem autorizou isso?


De quem foi essa ideia?
Provavelmente de Anthony.
Pareceu um pouco tolo para mim. Mas, novamente, eu nunca tive
permissão para ir a festas enquanto crescia. Não fui convidada para
nenhuma, aliás.
E o pedido para pegar guarda-chuvas em miniatura enquanto a chuva
continuava a cair cada vez mais forte... Eu ri para mim mesma diante da
ironia.
Decidindo que responderia a Sky mais tarde, rolei para baixo para
minha próxima conversa — com Harper. Ela me enviara tantas
mensagens quanto Sky.

Harper: Ei cara.

Harper: Então, se você ainda não ficou


sabendo (embora eu tenha certeza de que
Sky mandou uma mensagem para você),
aparentemente teremos uma festa?

Harper: Tipo, uma de verdade... Que


loucura, né?
Harper: Odeio ser uma estraga-prazeres,
mas tenho um mau pressentimento sobre
isso.

Harper: Vai acabar com todo o nosso


estoque de comida.

Harper: Tipo, é tudo legal e divertido até


que tenhamos cem pessoas famintas sob o
mesmo teto e sob nossa responsabilidade...

Harper: SOS?

Sky queria acessórios para coquetéis. Harper queria ajuda.


Antes que eu pudesse responder a qualquer uma delas, apareceu
outra mensagem de Alex.

Alex: Oi Quinn.

Alex: Não ouvi nada do Jax, então estou


mandando uma mensagem para você.

Alex: Só queria checar e ter certeza de que


vocês dois estão bem?
Alex: Espero que vocês possam chegar a
tempo da festa hoje à noite (emoji com
óculos de sol)

Senti minha testa franzir enquanto mordia meu lábio inferior, de


repente um pouco nervosa.
O palácio já se encontrava em estado precário. Vulnerável como um
castelo de cartas. Temporário e sensível. Por que agitar?
Arrastei para cima a história do Snapchat da Sky — sempre tão
desnecessariamente longa — e passei pelas fotos. Eles estavam
preparando bebidas. Cozinhando um banquete. Cobrindo os corredores
com decorações improvisadas, fitas e balões.
Parecia que todos estavam ajudando enquanto novos rostos —
membros de outros bandos, eu presumi — continuavam fazendo
aparições. Eles estavam ajudando nos preparativos.
Mais uma vez, meu estômago embrulhou.
Quão barulhento seria o baile acontecendo hoje à noite em Sombra
da Lua?
Jaxon

Eu estava procurando gravetos quando algo vermelho brilhou


rapidamente na minha visão periférica.
Minha cabeça se ergueu.
Algumas fileiras de árvores adiante, entre dois troncos, estava
Katherine.
Minha mente examinou as possíveis explicações:
Esgotamento? Não, estou bem descansado.
Um sonho? Não, tenho certeza de que estou acordado agora.
Uma miragem? Isso não é a porra de um deserto.
Então, ela realmente estava viva.
Como diabos ela estava viva?!
Quando ela percebeu que tinha sido vista, ela disparou rapidamente
para um arbusto espesso.
— Katherine, — eu sibilei, ciente de quão perto estávamos de Quinn e
da barraca.
Um pouco mais alto, chamei seu nome novamente.
— Katherine!
Mas ela tinha ido embora, engolida pela vegetação.
Eu me larguei em um toco e coloquei meu rosto nas mãos.
O que diabos estava acontecendo?!
Capítulo 12
CONVIDADO
Zara

— Senhorita Zara! Senhorita Zara! Conte-nos uma história para dormir!


Exausta após um longo dia, mas também tocada pelo pedido, suspirei.
Todos os rostos das crianças olhavam para mim de seus lugares no
tapete, almofadas ou travesseiros, transbordando de expectativa.
Eu estivera cuidando deles o dia todo, como de costume, mas agora
dentro do palácio.
Tínhamos feito algumas artes e trabalhos manuais, tivemos a hora do
lanche, cortesia de Raphael, e então saímos em um mini passeio a pé pelo
palácio. Mostrei pinturas e esculturas que foram passadas de geração em
geração.
Em seguida, jogamos um jogo clássico de queimada lá fora, no pátio.
Isso foi ideia de Alex. Ele veio com o equipamento e atuou como
árbitro. Mas um não muito severo. Ele praticamente deixou todas as
crianças ficarem no jogo e continuarem brincando.
Ele era muito doce e claramente gostava de estar perto de crianças.
Eu esperava que ele continuasse seu novo envolvimento no berçário,
tanto por ele quanto por mim.
Eu tinha certeza de que isso o ajudou a relaxar, com toda a pressão de
ser um Alfa temporário. Quanto a mim, sempre poderia usar toda a ajuda
que pudesse conseguir.
Felizmente, algumas pessoas de outros bandos se ofereceram para
ajudar. Afinal, alguns dos filhos eram deles.
Era muito a fazer.
Principalmente agora, enquanto eu tentava persuadi-los a dormir
para que seus pais pudessem aproveitar a festa que estava para começar.
Em seguida, os voluntários se revezariam para observá-los — com minha
supervisão regular.
— Por favor, por favor, por favor! — as crianças continuavam a
implorar, todas trabalhando juntas para me conquistar.
Esses pimpolhos eram implacáveis.
Com uma risada suave, eu disse:
— Ok, crianças, acalmem-se. Vou contar uma história. Vocês têm que
ficar quietos primeiro, no entanto.
Com isso, comecei uma das minhas histórias favoritas.
A história da minha melhor amiga, Katherine.
Claro, os poupei dos detalhes sangrentos.
O verdadeiro final de sua história não era exatamente indicado para
menores.
Eu simplesmente vasculhei minhas memórias e relembrei todos os
momentos divertidos que costumávamos compartilhar. Brincando na
floresta. Colhendo frutas silvestres e assando-as em tortas ou doces
frescos.
Incluí cada pequeno detalhe adorável, fiel à história.
Mas nesta versão, a única diferença era que Katherine viveu.
Quando terminei, apenas alguns pares de olhos sonolentos piscavam
para mim. A maioria já havia se fechado, embalada na terra dos sonhos.
Como uma família de criaturas da floresta em hibernação, meus
pequenos estavam todos dobrados e enrolados em nosso grande ninho
improvisado.
Eles eram tão doces; o que agradava meu coração.
— Boa noite, amigos. Durmam bem, — eu sussurrei. Eu olhei e notei
Alex encostado no batente da porta. Ele estava me olhando com um
sorriso enorme.
Eu me vi corando, embora não tivesse ideia do porquê.
Eu andei na ponta dos pés para encontrá-lo, conduzindo-o para o
corredor.
— Ei, bem-vindo de volta, — eu disse.
— Feliz por estar de volta. Eu só queria ter certeza de que a hora de
dormir estava correndo bem.
— Oh, obrigado. Até agora, tudo bem, — eu relatei. — Mas espere
alguns minutos e tenho certeza de que um deles vai acordar chorando ou
gritando por ter que usar o banheiro. O que irá, é claro, desencadear uma
bela reação em cadeia.
Ele sorriu.
— Sim, como dominó, certo?
— Exceto que num volume mais alto e ainda mais difícil de resolver.
— Mal posso esperar para experimentar isso.
Ele estava planejando voltar para o berçário?
Isso era... interessante. Tentei não parecer muito animada.
— Então, uh, está tudo certo aqui, — Alex disse, de repente
parecendo desconfortável. — Você quer ir para a festa?
Uma gaiola cheia de borboletas foi lançada no meu estômago.
Alex, o atual Alfa do Sombra da Lua, estava me convidando
seriamente para ir a uma festa com ele?
Não é possível! Acalme-se, Zara. Haja naturalmente.
Ele não está te convidando para um encontro nem nada.
Inquieta, verifiquei meu relógio. 20h.
— Já começou? — eu perguntei.
Alex meio que acenou afirmativamente com a cabeça, meio que
encolheu os ombros.
— De acordo com a última informação que tenho, Sky e Harper ainda
estavam discutindo sobre as decorações. Mas as bebidas e aperitivos
estão liberados de qualquer maneira, e uma banda folclórica indie do
Montanha Verde está se aquecendo. Há também um grupo eletrônico
hype do Penhasco Costeiro. Dizem que eles vão tocar mais tarde.
— Uau, legal! Parece o Coachella, — eu brinquei.
— Parece mais com uma boa festa de fraternidade de universidade,
para ser honesto. Mas você ainda pode usar uma coroa de flores, se
quiser.
Eu ri.
— Eu adoraria ir à festa com você, — eu disse seriamente. — Mostre o
caminho.
Quinn

Entediada na barraca, desejando estar na festa do Sombra da Lua, decidi


ir encontrar Jax. Ele se sentara em um toco de árvore próximo, de costas
para mim.
Esgueirando-me por trás dele, de repente joguei meus braços em
volta de seu peito largo.
Pressionei meu corpo contra suas costas fortes e aninhei meu rosto
em seu pescoço, beijando atrás de sua orelha. Sua pele estava fria e
úmida, contrastando com o calor da minha respiração.
A julgar por seu salto de alguns centímetros no ar, eu definitivamente
o surpreendi.
— Ka... — ele balbuciou, virando a cabeça para me encarar. — Ah, é
você.
Eu inclinei minha cabeça.
— Uh, sim. Quem você achou que era?
Recuando, notei suas bochechas pálidas. As olheiras sob seus olhos,
que não estavam ali minutos antes.
— Uau, Jax, você está bem? Parece que você viu um fantasma, — eu
disse.
Esfregando os olhos com as mãos, Jax respondeu:
— Acho que acabei de ver.
— Hum, oi?
Ele respirou fundo, firmando-se. Então, as palavras saíram
rapidamente.
— Tenho tido visões estranhas — não sei se são delírios ou
alucinações ou o quê, mas sei que não são sonhos. A menos que eu esteja
sonhando agora. Estou sonhando agora? Bata em mim! É a única
maneira de saber com certeza!
O que...?
Eu nunca tinha visto Jaxon tão perturbado.
— Sério, Quinn, me dê um tapa, — ele insistiu.
— Uh, ok. — Estendi a mão e bati em seu ombro com força.
— Ai! — ele gritou.
Ele se levantou, esfregando imediatamente a mancha já avermelhada.
— Você me disse para fazer isso! — eu respondi. — O que está
acontecendo com você, Jax? Você parece tão distante e distraído
recentemente. Já vi minha mãe mergulhar na loucura hoje. Não posso
perder você para isso também.
Ele suspirou.
— As visões são do quê? — eu perguntei, colocando minhas mãos em
meus quadris. — Doces?
— Se eu te contar, você tem que prometer não ficar muito brava.
Ha. As famosas últimas palavras.
O que ele está escondendo?!
Uma parte de mim já queria explodir apenas por ele guardar segredos,
mas me contive. Eu iria pelo menos ouvi-lo.
— Tudo bem... — eu concordei. — Eu não vou ficar muito brava.
— Quer dizer, não estou tentando imaginar o que estou imaginando,
Quinn. Isso está apenas acontecendo. Como um pensamento intrusivo
que não consigo controlar. Mas, ao mesmo tempo, começo a me
perguntar se talvez não seja um pensamento. Talvez ela seja realmente
real?
— Ela? — eu captei.
— Eu... Eu realmente não deveria estar falando nada, — Jaxon
gaguejou, estourado.
Oh meu Deus, ele estava testando minha paciência.
— Apenas fale! — eu quase gritei.
— Estou vendo a Katherine! — Jaxon balbuciou.
Eu congelei.
Espere. Ele estava o quê?
Lentamente, eu repeti a fala, apenas para ter certeza de que tinha
ouvido direito.
— Você está vendo a... Katherine?
Com o olhar abaixado, ele balançou a cabeça afirmativamente.
Não entendi.
— Vendo como... romanticamente?
— Não! Tipo, alucinações ou algo assim.
Jesus Cristo.
— Jaxon, você não consegue entender o quão insegura isso me faz
sentir? Que de repente você não consegue parar de pensar em sua ex-
companheira de anos atrás, enquanto eu...
Ele parecia enjoado de culpa e ansioso para responder.
Mas de repente, do nada, nós dois fomos interrompidos. Por uma voz.
Falando na minha cabeça. Sacudindo meu cérebro.
Carl: Olá de novo, velha amiga.
Carl: Muito tempo sem nos falarmos.
Eu fiquei enraizada no lugar, colocando minhas mãos sobre minhas
têmporas.
Ele estava de volta.
De volta à minha mente.
Olhando para Jaxon, vi meu companheiro visivelmente perturbado
também.
— Ele está...? — eu comecei.
— Na minha cabeça também, sim, — disse Jax. — Ele disse que posso
ouvir a conversa de vocês, mas ele só quer falar com você.
Ele só quer falar comigo?
Que diabos?
Carl: Sim. Assim como nosso primeiro encontro.
Um arrepio percorreu minha espinha quando a memória veio à tona.
Merda.
— Vá se foder, irmão, — Jax rosnou, olhando ao redor como se Carl
pudesse estar se escondendo atrás de qualquer árvore próxima.
Ele tinha que estar, certo? Ele só conseguia unir mentes conosco
quando estávamos perto.
Carl: Boa menina. Você está certa.
Quinn: Então onde você está? O que você quer?
Carl: Ao contrário do que você provavelmente acredita, não estou aqui
para causar problemas. Na verdade, quero convidá-la para nossa casa.
Carl: Nossa, quer dizer minha, e em breve a sua.
Carl: Fortaleza Vulpes.
Quinn: Estamos perto??
Carl: Tão perto.
Quinn: Então... você vai nos dar alguma instrução ou devemos pesquisar
Fortaleza dos Malfeitores no Google Maps?
Carl: Muito engraçada, Quinn Carl: Caminhe para o leste por trinta
minutos ao longo da base da montanha. Passe por uma cortina de vinhas.
Estamos no desfiladeiro entre as duas montanhas.
Carl: Isso está claro o suficiente para vocês, pessoas com problemas de
direção?
Quinn: Eu estava esperando algum enigma de duende.
Carl: Não há tempo para se divertir desta maneira. Estamos prontos para
você agora.
Prontos para mim?
Quem exatamente estava pronto?
Claro, minha mente vagou para minha tia Jodie. Para minhas
lembranças nebulosas com ela, brincando comigo quando eu era
pequena. Para as fotos que eu segurei dela, com seus olhos e sorrisos
ferozes.
Uma rebelde, segundo minha mãe. E, além disso, a assassina
inadvertida de meu pai — ou, pelo menos, uma espectadora passiva de
sua morte.
Mas quem ela era realmente? E o que ela seria para mim?
Carl: Qual é, Quinn. Você chegou tão longe. Um pouco mais e você
finalmente estará onde pertence.
Carl: Te vejo em breve.
Meu coração começou a disparar, batendo forte no meu peito.
Finalmente estar onde eu pertenço?
As palavras de Carl continuavam voltando para mim, igualmente
difíceis de entender na segunda vez.
Jaxon e eu olhamos um para o outro.
E agora?
Capítulo 13
DESCOBERTAS DE TIRAR O FÔLEGO
Sky

Ah, eu adorava uma festa! Tudo, desde se preparar até reviver ela por
meio de fotos no dia seguinte.
Enrolei meu cabelo loiro para que ele balançasse sem esforço. Eu
também debutei um novo par de calçados. Saltos eram meus amigos
desde que eu era tão pequena.
E agora Harper, Zara e eu estávamos perto do bar improvisado: uma
fileira de banquinhos de frente para uma longa mesa de jantar. Garrafas e
mais garrafas de bebidas boas, todas nas prateleiras de cima, alinhavam-
se à mesa.
Tínhamos muitas batidas, cerveja e vinho também. Era um bar
aberto, no sentido de que você poderia simplesmente chegar e preparar o
coquetel que quisesse.
Era uma cena bem diferente em comparação aos nossos típicos bailes
de salão. Mais solta, mais jovial.
Fiz para mim uma margarita forte. Forte, porque eu realmente não
sabia quantas doses iam em uma margarita.
Só faltou um daqueles guarda-chuvas de papel. Já sentindo a tequila
no meu organismo, eu estava feliz observando as pessoas. Caras e moças
de outros bandos se juntavam e se misturavam, curtindo a música ao
vivo.
Tudo tão atraente. Tão brilhante, fascinante e único.
Cada pessoa no planeta é totalmente única, pensei.
Eu adorava isso.
— Não é bom que ainda não tenhamos companheiros? — eu
perguntei às meninas.
Elas me olharam de volta, suas sobrancelhas levantadas em uníssono.
Zara se sentou ao meu lado com uma taça de vinho tinto. Harper
encostou-se no bar, bebericando algo com uísque.
— Tipo, isso nos permite nos divertir e descobrir o que gostamos e
não gostamos. Podemos ir a encontros e explorar as possibilidades,
sempre nos perguntando quem pode realmente ser o escolhido. É tão
emocionante! — Sempre me perguntei: quando você conhece O Cara,
você simplesmente sabe disso, sem sombra de dúvida? Ou seria o tipo de
coisa que se aproxima abruptamente de você? Uma situação de amizade
que gradualmente, com o tempo, evolui para algo além disso?
Eu tinha ouvido histórias de ambos os lados.
Qual seria a história do meu companheiro?
Romântico ou platônico? Queima lenta ou fogos de artificio
instantâneos?
— Eu tenho que ser honesta. Eu meio que anseio por um bad boy, —
eu disse, tomando um gole de minha bebida.
Harper bufou para mim.
— Oh Deus, lá vamos nós. — Ignorando-a, continuei desenvolvendo
minha fantasia. — Alguém que eu tenho que manter na linha, mas que
vai me proteger e cuidar de mim, sabe? Não de uma maneira sexista e
antiquada. Eu não estaria fazendo o jantar para ele e assando biscoitos
em troca. Faríamos isso juntos. E então encheríamos nossos buchos.
— Então você quer um companheiro idiota para arrastar para a
cozinha? — disse Harper, ainda claramente não-impressionada. — Soa
romântico.
— Pare com isso. Não. Não um idiota. Apenas alguém durão. E talvez,
de alguma forma, meio... proibido, — eu ri, olhando para minha xícara. A
bebida se misturou em um redemoinho.
Claro, parecia estúpido. Mas o coração queria o que o coração queria,
certo?
Eu olhei para cima para avaliar meu público. Zara também parecia
não-impressionada e indiferente, mas, ao contrário de Harper, ela
manteve os lábios fechados.
— Então, o que vocês duas estão procurando em um companheiro? —
perguntei.
Harper achou isso divertido pra caramba.
— O que estamos procurando em um companheiro? Você está
tentando iniciar um serviço de namoro Sombra da Lua ou algo assim?
— Não, só estou curiosa! É divertido, Harper. Como seria o seu
companheiro ideal?
Minha amiga desviou o olhar, repentinamente tímida.
— Uh, eu não sei exatamente. Eu realmente não penso muito sobre
isso.
Sim, certo.
Fomos praticamente criadas com o conceito de companheiros. Cada
garota lobisomem colegial sonhava em um dia se tornar Luna para um
Alfa bonito.
Rabiscando desenhos de seu homem misterioso em um diário
secreto, cercado por corações disparados por flechas.
Daqueles dias em diante, você aspiraria a essa visão. Um homem
grande e forte. Uma bela cerimônia de acasalamento.
Pelo menos era o que eu fazia.
— Oh, por favor! — eu disse. — Vamos, Harps, pense rápido, logo de
cara. Você acorda de manhã ao lado de seu companheiro. Como ele
aparenta? — Harper balançou a cabeça, dispensando-me enquanto
tomava um gole. Ela geralmente considerava essas minhas perguntas
inconstantes e infantis.
Mas, surpreendentemente, ela me respondeu.
— Hum, provavelmente loiro. Não muito alto ou intimidante. Eu
gosto de ser a pessoa assustadora no relacionamento. — Embora seu tom
sugerisse que ela estava brincando, eu sabia que ela estava falando sério.
Essa garota adorava ser a mandona.
— E... olhos brilhantes e cintilantes. Eles são como a janela para a
alma ou algo assim.
Janela para a alma?
Droga.
Harper raramente abaixava seu escudo durão teimoso. Para ela, esse
foi um comentário incrivelmente poético de se fazer.
Seus próprios olhos eram de um castanho chocolate quente, tão
escuros que as íris às vezes se misturavam com as pupilas. Se fossem
janelas, essas estavam definitivamente fechadas — talvez até seladas com
tábuas de madeira.
Ou talvez, apenas talvez, eles sejam mais como buracos profundos em
uma caverna, pensei, sorvendo minha bebida frutada.
Você só precisa explorar para chegar ao interior da alma.
Eu me virei para Zara, para que ela não se sentisse excluída da
conversa.
— O que você acha? Olhos brilhantes como pedras preciosas. Cabelos
dourados, macios e fluidos como um campo de trigo. Baixo. Talvez um
daqueles tipos de ursinhos de pelúcia fofos, para que Harper possa se
sentir como um Ogro em comparação.
Harper zombou de mim.
Mas eu continuei, ouvindo minhas palavras começarem a se arrastar.
— Você, sabe, conhece alguém assim, Zara? Algum pai solteiro
gostoso que passe pelo berçário que possa combinar com a velha Harps?
Posta no centro das atenções, Zara trocou olhares rapidamente com
nós duas.
— Oh, hum...
Harper inclinou o copo para trás.
Com um pequeno sorriso malicioso dirigido a Harper, Zara disse: —
Bem, parece-me que Sky pode ser o seu par perfeito.
Harper

Eu me engasguei com meu uísque.


O que diabos Zara acabou de dizer?
Meu peito se encheu de nervosismo e bebida forte, que engoli pelo
cano errado. Estava queimando meu maldito esôfago.
Sky abriu a boca um centímetro, sem saber como reagir. Uma ocasião
rara — ela estava realmente sem palavras.
Mas então, ela começou a rir.
Lançando a cabeça para trás e jogando seu cabelo longo ondulado, ela
disse: — Isso é hilário. Oh meu Deus, Zara, você é uma garota engraçada,
sabia disso? Quieta, mas engraçada.
— É o que me dizem, — respondeu ela.
— Sky, coloque isso no perfil de namoro de Zara, — eu brinquei,
voltando à conversa, embora minha azia ainda estivesse ardendo. Eu
ainda estava tentando recuperar o fôlego.
— E acho que não preciso mais fazer um para você, Harper. Você já
tem uma alma gêmea aqui mesmo!
Ela fez uma pose sexy, colocando a mão no quadril.
Incapaz de resistir, eu ri também.
— É melhor começar o ritual de acasalamento agora. Zara, você quer
oficiar?
Felizmente, a banda de repente fez uma pausa, salvando-nos da
pressão de continuar com essa parte.
Raphael apareceu em uma cadeira próxima. Ele juntou as mãos.
— Olá a todos, estamos nos divertindo até agora nesta noite?
Ele parecia um apresentador de game show cafona. Mas as pessoas se
aglomeraram ao seu redor, piando e gritando. Amando.
Enquanto isso, eu fazia uma careta.
Todo esse evento me deixou ansiosa. Claro, as festas eram divertidas.
Eu me deleitava com a imprudência tanto quanto qualquer outra garota.
Mas é imprudência realmente o que Sombra da Lua precisa agora?
— Só queria anunciar que o jantar está para ser servido, — disse
Raphael. — Mas antes disso, acho que devemos reconhecer o homem que
tornou esta noite possível.
Com um floreio, ele gesticulou para Alex, que corou sob os holofotes.
— Vamos aplaudir nosso Alfa atual! — Raphael berrou. — Alfa Alex!
Todos aplaudiram.
O acanhamento desapareceu do rosto de Alex, substituído por um
brilho caloroso.
— Tudo bem, vamos fazer isso em estilo buffet.
Ataquem e aproveitem!
Radiante, Alex ergueu seu copo.
— Vamos festejar!
Sky levantou sua margarita. Hesitante, eu me juntei ao brinde.
Todos nós brindamos com os copos e eu engoli meu uísque restante.
Tive a sensação de que essa seria uma longa noite.
Quinn

Jax e eu ficamos em silêncio, processando tudo o que tinha acabado de


acontecer.
Sua confissão. E então o convite de Carl.
Finalmente, Jaxon disse:
— Certo. Que tal deixarmos nossa discussão de lado por um tempo?
Por favor? Eu prometo que vou explicar mais. Eu sinto muito, Quinn.
Suspirei.
— Tudo bem. Quero dizer, você está certo. Você não pode evitar
suas... alucinações, ou o que quer que sejam. E agora, isso é mais
importante.
Afinal, essa foi a missão que nos propusemos a cumprir. Encontrar a
Jodie e os Vulpes.
Como Carl disse, estávamos tão, tão perto.
Seguimos suas instruções: caminhada de meia hora pela montanha.
Fizemos isso em silêncio e superamos o nervosismo.
Eu não tinha ideia do que esperar.
Mas, realmente, logo chegamos exatamente ao lugar que Carl
descreveu. Uma lacuna na base de duas montanhas gigantescas que se
projetavam ao céu.
Uma cortina de trepadeiras estendia-se sobre a entrada.
Jax acenou positivamente para mim.
— Depois de você.
Estendi as mãos trêmulas e afastei a cortina, abrindo o caminho e...
Entrei no lugar mais deslumbrante que já tinha visto na minha vida.
Era um reino de bosque na montanha.
Eu vi casas na árvore conectadas por pontes de corda e roldanas.
Quartos esculpidos diretamente nas paredes de rocha do cânion.
Cordas de lanternas de papel tremeluzentes.
Pessoas apressadas e agitadas em algum tipo de rua principal,
carregando cestas feitas à mão com frutas e vegetais frescos.
Eu mal pude acreditar no que meus olhos viam. Parecia algo saído de
A Família Robinson.
Uma caverna no final do cânion era adornada com decorações
especiais. Tochas flamejantes e gravuras intrincadas em pedra. Aquele
tinha que ser o quartel-general dos malfeitores. O sistema de cavernas
dentro das montanhas provavelmente se estendia por quilômetros.
Na entrada, estava uma garota. Ela parecia muito... Familiar?
Eu apertei os olhos, tentando distinguir suas feições.
E então eu lembrei.
Oh meu Deus.
A garota da fotografia da Zara!
Ex-parceira do meu companheiro.
Não é um fantasma.
Em carne e osso.
Katherine.
Capítulo 14
VELA
Jaxon

Atordoado e sem palavras, fiquei em frente ao meu antigo amor, que até
muito recentemente, eu pensava que estava morta.
Minha atual companheira estava ao meu lado.
Ambas estavam aparentemente muito vivas.
Como diabos isso está acontecendo?
Com uma voz suave, como se fosse um segredo, Katherine disse: —
Bem-vindos à Fortaleza Vulpes.
Quinn estremeceu ao meu lado, parecendo prestes a explodir.
— Oh meu Deus. Você é um... Deles?!
Katherine inclinou a cabeça.
— Deles quem? — ela perguntou inocentemente.
— Um dos Vulpes! — Quinn respondeu rapidamente. — Um dos
monstros que matou meu pai e arruinou minha vida! Um dos idiotas que
talvez esteja mantendo minha tia como refém! — Eu poderia dizer que
ela estava se preparando para atacar a pobre Katherine, que estava
piscando loucamente em perplexidade. Enquanto Quinn obviamente
sabia sobre Katherine, Katherine não conhecia Quinn.
Alguns membros do bando que passavam pararam em suas rotas,
ouvindo com curiosidade. Estávamos atraindo a porra de uma multidão.
Interiormente, eu gemi. Coisas dramáticas como essa não aconteciam
comigo. Parecia um maldito programa de TV.
Como diabos isso está acontecendo?
Estendendo a mão para a minha companheira, eu disse:
— Ok, Quinn, vamos dar um passo de cada vez...
Quinn se virou para mim com fogo nos olhos.
Deixa para lá, então.
Furiosa, ela disse:
— Não me importo com o que minha mãe ou qualquer outra pessoa
diga. Nenhum membro da minha família ficaria aqui entre vocês,
assassinos sedentos por sangue, a menos que fossem forçados a isso
contra vontade!
Ela olhou ao redor da fortaleza, acrescentando em voz baixa: — Não
importa o quão bonito e hipnotizante este lugar seja. — Ela tinha razão.
Com as lanternas brilhando suavemente na luz da noite, a Fortaleza
Vulpes era inegavelmente encantadora.
Katherine me lançou um sorriso conhecido.
— Dá para dizer que ela é uma pessoa noturna.
Eu sorri de volta. Essa era a verdade.
Com um brilho de brincadeira nos olhos, ela disse:
— Estou com muito sono para isso. Está quase na minha hora de
dormir!
Uma risada escapou dos meus lábios.
Ah, Katherine.
Lembrei-me de imagens das camisolas camponesas transparentes que
ela costumava usar... Ela sempre se chamou de velha alma...
Quinn tossiu, tirando-me dessas memórias.
— Hum, com licença?
Seu olhar disparou entre Katherine e eu.
— Isso é uma piada interna? Vocês dois estão... Compartilhando a
porra de um momento agora?
— Jesus.
Quinn quase nunca praguejava. Ela estava absolutamente furiosa.
Culpa e desconforto se misturaram em meu estômago.
Quando Katherine finalmente processou a situação, uma tensão
estranha surgiu entre nós três.
— Permitam-me levá-los à nossa sede. Acho que o Alfa gostaria de ver
vocês.
Alfa.
Carl, eu presumi.
Medo, preocupação e raiva passaram por mim, como acontecia
sempre que meu suposto irmão estava envolvido.
Quinn compartilhava minhas emoções repentinas.
— Na verdade, acabamos de conversar por telefone, — disse ela com
altivez.
Mais uma vez, Katherine parecia completamente confusa.
— Hum, tudo bem então. Por aqui, Quinn. Sigam-me, vocês dois.
Ela se virou, jogando aquele longo cabelo ruivo dela sobre um ombro
nu.
Espere — ela acabou de dizer o nome da minha companheira?
Hmmm. Eu acho que ela sabia quem era Quinn.
Mas como?
Eu engoli em seco enquanto seguia atrás de ambas.
Isso só ficava mais estranho.
Harper

Sky passara a última hora flertando com os rapazes da festa. Fazendo


rondas, como ela dizia. Claro, ela encantou todos os estranhos que
conheceu.
A garota era a alma da festa.
E no início foi uma festa. Comida deliciosa. Música incrível.
Mas com o desenrolar da noite, a vibração passou de comemorativa a
desleixada.
Pequenas discussões entre amigos e casais começaram a surgir. As
discussões se transformaram em brigas. O palácio virou uma bagunça. O
lixo começou a se acumular em todos os lugares.
— É 2019. Quem não recicla, porra? — Eu resmunguei enquanto
pegava uma lata amassada do chão, a apenas alguns centímetros da
lixeira. — Vamos lá, pessoal!
De alguma forma separada de Sky e Zara, eu estava vagando pela festa
sozinha, agindo como uma resmungona.
Fui para um pátio para tomar um pouco de ar fresco. Tínhamos
amarrado os galhos com luzes brancas, e é certo que parecia muito
bonito.
A maioria dos festeiros estava em círculos de fumaça ou se amassando
ao longo do parapeito das janelas ou sob a sombra de árvores.
Parada sem jeito sozinha, peguei meu telefone para enviar uma
mensagem de texto para Sky.

Harper: Ei, Sky.

Harper: Onde diabos você foi, cara?

Harper: Estou...

Sky: Meu Deus, HARP!!!!

Sky: Fico tão feliz em ouvir de voooocê...

Sky: estou TÃO bebido

Sky: *bebida

Sky: *BÊBADA
Sky: Quis dizer bêbada ugh.

Harper: Jesus, você está bem??

Harper: Onde você está eu irei te encontrar

Sky: Não HARPER, estou beemmmmmm

Sky: Eu só tenho que te contar um


SECRETO

Sky: Meu Deus, eu quis dizer um SEGREDO.

Sky: Eca.

Um segredo? Meu coração deu um salto em meu peito.


Pare com isso, coração. Eu disse a ele, confusa.
O que diabos há de errado comigo?

Harper: Ok, o que é Sky?

Sky: Shhh não conte a ninguém, mas...


Sky: Estou com um GAROTOOOOO.

Sky: (3 emojis de macaco fechando a boca)

Agora meu coração se despedaçou. Porque, eu não sabia dizer. Mas de


repente me senti abandonada. Abatida.
Quer dizer, nós fomos à festa juntas, e então ela desapareceu assim
que apareceram pessoas mais interessantes por perto.
Tão irritante, mas tão Sky. Ela era indomável como uma força da
natureza. Ninguém poderia dizer a ela o que fazer.

Harper: Quem???

Sky: Não sei, ele é de outro bando!!!! Ele é


TÃO fofo.

Jesus Cristo.
Colocando meu telefone de volta no bolso, segui em frente,
procurando algum amigo na multidão.
Pronto! Eu localizei a nuca de Zara. Ela estava sentada em um banco
próximo.
— Oh, Zara! — chamei com alívio, abrindo caminho por entre os
aglomerados de pessoas.
Mas quando cheguei um pouco mais perto, notei um par de mãos em
volta de sua cintura.
Mas que...?
Quando dei a volta para conseguir ver melhor, me engasguei. Essas
mãos pertenciam a alguém que eu conhecia.
Alex?!
Oh meu Deus, Zara estava beijando Alex!
Eu empalideci. Esta reunião íntima estava oficialmente fora de
controle.
Confinados e inquietos, e agora abastecidos com muita bebida,
estávamos experimentando o auge da febre do confinamento.
De dentro, veio um estalo, o som de algo quebrando. Provavelmente
uma preciosa herança real, um vaso ou alguma merda. Um coro de
risadas se seguiu. Alex nem se preocupou em erguer os olhos.
Eu odiava as pessoas às vezes.
Aproximei-me de um pequeno grupo de adolescentes fumantes.
— Posso pegar um desses?
Eles passaram um para mim e acenderam.
— Obrigada, — murmurei enquanto me afastava com o cigarro
pendurado nos lábios.
Foda-se tudo isso.
Peguei uma árvore não ocupada, apoiei-me nela para sentar e enrolei
minhas pernas debaixo de mim enquanto dava uma tragada profunda.
Eu estava me sentindo sozinha? Honestamente, com certeza.
Mas mais do que isso, eu estava preocupada.
Eu senti como se estivesse no meio de Além da Imaginação.
Sombra da Lua estava se deteriorando na frente dos meus olhos.
Quinn

Atordoada, segui essa estranha garota chamada Katherine por uma série
de túneis da caverna. Entramos e saímos, de um lado para o outro, nos
abaixamos sob o teto baixo e subimos degraus naturais.
Como o resto da Fortaleza dos Malfeitores, havia tanta coisa para
absorver.
Estalactites e estalagmites pingavam e se projetavam ao longo de
nossos caminhos.
A água escorria em riachos pelas paredes pintadas da caverna e
formava grutas verde-esmeralda.
Pinga... pinga... pinga...
Ecoava no vasto espaço.
Pelo menos eu tinha todas as imagens e sons para me distrair do
aborrecimento que Katherine despertava em mim e do medo iminente
que senti por enfrentar Carl novamente.
Desta vez lembrei a mim mesma, Você está pronta para ele.
Desta vez, eu estava pronta para tudo.
Afinal, encontrar Katherine momentos antes havia deixado meus
padrões de choque bastante elevados.
Eu poderia dizer que Jax queria conversar com ela, mas ele ponderou
melhor. Ainda assim, eles continuavam compartilhando pequenos
olhares que obviamente significavam algo. O tipo de olhar carregado de
história. Ela me fazia sentir como a outra mulher ou algum clichê —
como se pudéssemos sair no tapa a qualquer momento.
Eu tinha me tornado de repente a maldita vela deles?
Aproximamo-nos de uma pesada porta de madeira no fim de um
túnel.
— É aqui que Alfa trabalha, — anunciou Katherine.
Ela se virou abruptamente para mim.
— Você pode querer se preparar para isso.
Preparar-me para quê?
Eu revirei meus olhos. Se eu podia lidar com ela — a ex morta, agora
não tão morta, de Jaxon — quanto pior poderia ficar?
Tomando isso como sinal verde, ela abriu a porta, revelando uma sala
estofada e almofadada, forrada de veludo e iluminada por velas e tochas.
Uma equipe de pessoas estava ao redor de uma grande mesa circular,
todos curvados sobre um mapa. Quando entramos, todos levantaram os
olhares, incluindo uma mulher no centro da mesa. Ela sorriu para mim
com fogo em seus olhos.
Meu queixo caiu.
Poderia ela ser... Alfa...?
— Olá, Quinn, — disse minha tia Jodie.
Capítulo 15
MÁ IDEIA Zara
Meus olhos piscaram lentamente, abrindo um de cada vez.
Eu gemi. Minhas têmporas latejavam com uma forte dor de cabeça.
Meu cérebro parecia estar batendo no meu crânio, querendo explodir,
pedindo uma merecida libertação.
Minha boca parecia áspera como uma lixa. Meu estômago se agitou
como uma máquina de lavar.
Talvez eu devesse ter ficado só no vinho tinto na noite passada. Em
vez de passar para doses como uma lunática de merda.
Talvez eu deva ir ao banheiro, apenas caso...
Mas... onde era o banheiro?
Onde diabos eu estava?
Esta não era minha cama. Esta não era minha casa.
Eu vi cortinas de veludo penduradas na janela. E senti uma fronha de
cetim sob minha bochecha. Gemendo de novo, eu rolei, virando para o
meu outro lado. E me encontrando cara a cara com...
Alex. O Alfa.
Comecei a exasperar de surpresa, mas rapidamente coloquei minha
mão na boca.
Ele ainda estava dormindo!
Shhh, Zara, eu me ordenei.
Felizmente, ele nem se mexeu. Ele continuou cochilando
profundamente e até começou a roncar. A baba escorria de sua boca
aberta.
Ok. Isso tudo é totalmente normal. Fique fria. Fique tranquila.
Eu estava totalmente vestida. Ele estava totalmente vestido.
Estávamos deitados a uma distância confortável um do outro, em
extremidades totalmente opostas da enorme cama king-size.
Dei um suspiro de alívio.
Isso era bom. Isso era muito bom.
Junto com outra onda de minha ressaca iminente, a noite anterior
começou a inundar meus pensamentos.
Alex e eu tínhamos apenas ficado nos amassos. Foi apenas um beijo.
Estávamos apenas conversando, provavelmente sobre nada de
especial. Estávamos bêbados e entediados, então nos beijamos um pouco.
Então ele sugeriu que eu dormisse aqui em vez de caminhar todo o
caminho de volta para casa.
Nada demais.
Mas tive a estranha sensação de que estava esquecendo algo.
Não havia outro lugar onde eu deveria estar? Não em casa, mas...
— Oh meu Deus, o berçário! Eu estou atrasada para o trabalho! —
deixei escapar em voz alta.
Na maioria das vezes, eu tinha que me desafiar a falar mais alto. Mas,
aparentemente, nessa condição, não tive problemas para transmitir meus
pensamentos ao mundo.
Pelo menos eu estava vomitando palavras e não todo o álcool no meu
estômago.
Desta vez, não tive tanta sorte com Alex. Ele acordou com um gemido
baixo e começou imediatamente a esfregar a testa e os olhos, apertando o
dorso do nariz.
Naquele ponto, eu já tinha rolado para fora do colchão — embora não
sem um pouco de tontura — e estava vasculhando o carpete em busca
dos meus tênis. Eu me abaixei para pegar um.
— Uh, ei. Bom dia.
Eu olhei para Alex.
— Oi... — eu disse sem jeito, rapidamente retomando minha procura.
— Por favor, me diga que você está com muita pressa para ir procurar
café e sanduíches para o café da manhã.
Com uma bufada, eu brinquei.
— Sim, só uma corrida rápida com ressaca ao Dunkin' Donuts. Ou,
quem sabe, ao Dunkin' Bêbados.
Alex riu.
Era legal que ele gostava das minhas piadas, mesmo quando eram
terríveis.
Então ele desabou sobre os travesseiros e deu um suspiro.
— Teremos uma tonelada de limpeza para fazer hoje, hein?
Calcei meus tênis, amarrei com força e fiquei de pé com as pernas
trêmulas.
— Você pode dizer isso de novo.
Ele suspirou.
— Você está bem?
— Uh, sim. E você?
— Quero dizer... Mais ou menos. Vou sobreviver. — Sentando-se
novamente, ele perguntou: — Aonde você está indo?
— Para o trabalho, — respondi secamente.
Eu pendurei minha bolsa sobre o meu peito.
— Hum, obrigado pela hospedagem. Cinco estrelas.
Então corri para fora, fechando a porta do quarto atrás de mim.
Alex

A partir do momento em que acordei, já começou a fazer sentido: Dar


aquela festa foi uma péssima ideia.
E depois daquela interação estranha com Zara, fiquei ainda mais
chocado. Mas eu não queria lidar com isso agora.
Quer dizer, eu não conseguiria. Eu tinha prioridades.
Tentando engolir minha própria náusea, vesti embriagado uma calça
de corrida, um moletom e calcei meus mocassins.
Lavei o rosto, passei um pente no cabelo, tomei uma aspirina e desci
para a cozinha e sala de jantar principais.
Cada membro dos bandos, do meu e de nossos convidados, parecia
incrivelmente infeliz. Eles se sentavam ao redor das mesas, curvados,
vestindo moletons e carrancas.
Como eu, eles estavam obviamente de ressaca. Eles também estavam
com fome, mas não tínhamos pensado com antecedência o suficiente
para preparar o café da manhã, de modo que valia para todos.
Eles vasculhavam por sobras. Cereais frios, torradas secas, suco.
Alimentos que seus órgãos podiam aguentar em suas condições
delicadas.
Eu precisava de um café.
Entrei na cozinha, onde os cozinheiros voluntários selecionavam os
ingredientes esparsos. Até mesmo Raphael, que estava praticamente
sempre sorrindo com uma boa vontade divertida, parecia bem
carrancudo.
Liguei a cafeteira e comecei a vasculhar os armários da cozinha em
busca de um bom café expresso.
Raphael me viu e disse solenemente:
— Eu posso fazer para você uma xícara pequena de café instantâneo,
mas o café bom acabou. Me desculpe, cara.
— Que porra é essa? Como?!
Raphael encolheu os ombros.
— Acho que algumas pessoas estavam tentando fazer café irlandês na
noite passada.
— E eles usaram tudo que tínhamos?
— Eles usaram a maior parte, depois espalharam o resto.
— Jesus Cristo.
De mãos vazias, voltei para a sala de jantar. Vi Sky e Harper sentadas
uma em frente à outra. Sky estava tagarelando sobre um garoto do
Pântano de Carvalho enquanto Harper assentia estupidamente,
aparentemente sem ouvir.
Pelo menos nada mudou ali.
— Sky, — Harper resmungou quando me aproximei, — você pelo
menos sabe o nome dele?
— Bem não. Ainda não. Mas ele era tão doce e romântico, e não é
emocionante quão pouco eu sei sobre ele? Temos muito que aprender
um sobre o outro. Eu acho que ele poderia ser meu companheiro!
Por mais que quisesse ouvir a réplica afiada de Harper, comecei a
pegar informações de outras conversas.
— Isso é tudo culpa do Alex, — um membro do bando retrucou. —
Quão tolo um líder tem que ser para deixar algo assim acontecer?!
Espere, o quê?
— Ele está nisso apenas pela popularidade, — disse outro.
— E as garotas! Você o viu se agarrando com aquela garota do
berçário? Quanta classe.
— Ei, uh... Mas... — Eu gaguejei, para ninguém em particular.
O que aconteceu com o entusiasmo de todos? Essas pessoas toparam
tudo quando planejamos a festa e, depois, enquanto estavam brindando
com seus drinques, tomando doses e dançando.
Estão todos falando sobre mim?
— Ele simplesmente não é um Alfa. Ele é um Beta, — ouvi de outra
mesa. — Ele sequer é digno desse título e poder.
Droga.
Aquela doeu.
Anthony de repente entrou na sala, recém-banhado e barbeado. De
calça cáqui e camisa de botão, ele parecia mais estar indo para a igreja do
que com uma aparência infernal de ressaca. Como ele conseguiu isso?!
Espere um segundo...
Agora que pensei nisso, ele estava na festa ontem à noite?
Notei que Anthony estava carregando duas caixas de madeira
gigantes, quase estourando com comida fresca.
Em sua entrada, o silêncio caiu sobre as mesas de café da manhã
cheias de fofoqueiros.
Por que minha entrada não gerou isso?
Anthony colocou as caixas na mesa. Laranjas caíram de cima.
— Este é apenas o começo, — disse ele. — Eu tenho um estoque
completo — frutas, vegetais, ovos. Carne também. Eu saí ontem à noite
para juntar tudo — para deixar à mão apenas no caso de acontecer um
erro como este. Não esperava que fossemos precisar tão cedo. — Ele riu.
— Mas pelo menos nós temos isso.
Ele pegou uma das laranjas rolando e a jogou para uma mulher
sentada nas proximidades.
Todos começaram a expressar suas admirações.
— Ele saiu, enfrentando os malfeitores, por nós?! — Eu ouvi uma
mulher murmurar para suas amigas.
— Que herói!
Cara, foda-se isso!
Eu me virei e marchei para fora da sala. Ninguém disse uma palavra
para me impedir.
Mas eu não me importava, porra.
Meus dias de jogar limpo tinham acabado.
Quinn

Meu corpo inteiro parecia mole.


Eu não sabia o que pensar.
Do jeito que minha mãe havia falado sobre a tia Jodie, uma parte de
mim esperava que ela se parecesse com um monstro.
Olhos maus sob uma sobrancelha grossa e baixa. Um daqueles
penteados clássicos de vilão, com pontas espetadas como se ela o tivesse
feito com uma cadeira elétrica em vez de um modelador de cabelo.
Ou, por outro lado, se ela estivesse sendo mantida em cativeiro, ela
não teria olheiras de exaustão? Ela não estaria vestindo pedaços de
roupas rasgadas e esfarrapadas, seu cabelo em um ninho de rato, com a
pele amarelada esvoaçando de seus ossos aparentes?
Eu tinha me preparado para essa imagem e estava pronta para lutar —
para matar — em nome dela. Eu havia me preparado para uma missão de
resgate. Mas em vez disso, minha tia irradiava nada além de bondade e
um comportamento amigável. Seu cabelo balançava e sua pele brilhava.
O fogo das velas e tochas dançava intensamente, não ameaçadoramente,
ao seu redor.
Ela parecia saudável, positiva e feliz. Ela vivia e prosperava em um
círculo de luz.
Não como uma prisioneira mantida ali à força.
E não como uma criminosa motivada pelo masoquismo.
Então, o que exatamente era minha tia Jodie?
Quem era ela?
E quem eram os Vulpes, realmente?
Apesar de todos os problemas que eles criaram para Sombra da Lua,
será que eles não eram tão ruins?
Tia Jodie sorriu para mim.
— Bem-vinda, Deusa da Lua.
Certo. Deusa da Lua.
Eu não deveria ser um alvo piscante e brilhante para esses caras?
Mas ninguém perto de Jodie parecia ansioso para me matar naquele
momento. Eles pareciam tão acolhedores quanto ela, até mesmo tocados
pela minha presença.
Olhando para Jax, eu vi minha própria perplexidade refletida em seu
rosto. Ele se manteve firme, mas claramente não sabia como reagir
também.
Katherine também o estava observando, avaliando sua resposta.
Ugh. Deixe meu companheiro em paz, eu queria dizer.
Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, minha tia Jodie
se afastou da mesa, abrindo bem os braços enquanto caminhava em
minha direção.
— Oh, venha aqui já, minha sobrinha, — ela disse. — Eu tenho muito
para te contar.
Capítulo 16
CHEGA DE STATUS QUO
Alex

Como isso aconteceu?


Como um filho da puta morador do pântano destruiu minha
respeitabilidade?
Como ele colocou aqueles a quem dei minha vida e proteção contra mim?
Como ele exercerá os poderes crescentes que o povo continua a conceder?
As perguntas me torturavam enquanto eu estava deitado na minha
cama.
Eu não conseguia me lembrar da última vez que passei um dia no
meu quarto vestindo nada além de pijama.
Com a quantidade de desdém cuspido em meu caminho após a
minha fatídica festa, parecia que eu estaria fazendo um favor a mim
mesmo permanecendo fora de vista e fora dos pensamentos deles por um
dia.
Enquanto para alguns um dia preguiçoso de vadiagem pode soar
como uma pausa relaxante, para mim, um Beta cujo sustento é cuidar da
proteção diária de seu bando, era nada menos que uma tortura.
O tédio do dia só foi exacerbado por preocupações persistentes com o
Alfa Anthony.
Todo o comportamento dele mudou ao longo de uma semana.
Ele havia passado de um líder agressivo e temperamental para um
líder totalmente responsável.
Não que eu fosse contra qualquer homem melhorar a si mesmo,
especialmente em casos terríveis como o do Alfa Anthony.
Mas o fato de o Bando Sombra da Lua agora o ter em maior estima do
que seu próprio Beta era alarmante — não apenas pessoalmente, mas
politicamente.
Todos os dias, o autoritário Alfa estava assumindo um pouco mais de
poder do que no anterior.
Desde o acesso a fundos de emergência do tesouro real até a
hospedagem de si e de sua equipe na casa de Alfa Jax, suas presunções
sobre os recursos do bando iam aumentando gradualmente. Ainda mais
perturbador do que seus avanços foi o fato de que os membros do
Sombra da Lua e de outros bandos aliados viam suas ações com
aprovação e adulação.
Ele foi saudado como um líder heroico de grande prudência e
vontade. Conversas sobre sua superioridade até mesmo sobre Alfa Jax
começaram a circular.
Parecia um pouco fácil demais sua ascensão a um Alfa virtualmente
pro tempore e não oficial do bando.
Isso me fez pensar se, quando Alfa Jax voltasse, Alfa Anthony se
afastaria dos poderes de emergência que ele se deu.
Os lobos do Bando Sombra da Lua exigiriam que ele assim fizesse?
Temi que — não — fosse a resposta a ambas as perguntas.
Toc toc toc...
Uma batida suave na porta me tirou de minhas reflexões temerosas.
— Entre, — eu disse o mais casualmente que pude.
Entraram Sky, Harper e Zara com expressões graves sombreando seus
rostos.
Sentei-me na cama.
— O que Anthony fez agora?
A voz de Sky falhou:
— Ele disse que a guerra com os malfeitores é iminente e que os
bandos precisam estar prontos.
— Ele se concedeu autoridade sobre o exército de Sombra da Lua
para 'facilitar o treinamento', — continuou Harper.
O medo se apoderou de mim.
Assumiu o controle de nossos exércitos?
— Isso tem que ser resolvido, — eu disse com urgência.
Não importava o que o bando pensasse de mim neste ponto, eu não
poderia entregar todas as nossas defesas para aquele Alfa iniciante.
Ele tinha ido longe demais desta vez.
Quinn

— Minha querida sobrinha. Como você ficou linda!


Tia Jodie me envolveu em um de seus famosos abraços calorosos.
Fiquei ao mesmo tempo consolada e alarmada.
Foi como abraçar um fantasma.
Por muito tempo, minha mãe e eu presumimos que a tia Jodie estava
morta.
Ela não era do tipo que simplesmente se levantava e deixava sua
família sem dizer nenhuma palavra.
No entanto, aqui estava ela.
Em carne e osso.
Lágrimas de felicidade escorreram pelos nossos rostos.
Era tão bom estar de volta em seus braços quentes.
Todas as memórias calorosas dos tempos que compartilhamos
inundaram minha mente.
Durante uma infância confinada em minha casa, tia Jodie foi uma das
minhas únicas ligações com a normalidade do mundo exterior.
Seu senso de humor era incomparável, e ela sempre tentava provocar
o meu fazendo pegadinhas com minha mãe.
De vez em quando, ela até conseguia contrabandear jogos de
tabuleiro, Gameboys e revistas populares para mim sem minha mãe ficar
sabendo.
Mas o mais memorável e significativo sobre sua presença em minha
vida eram as histórias que ela contava sobre meu pai. Ela falava com
entusiasmo sobre a infância deles crescendo em uma grande casa na
floresta. Foi por meio dela que tive uma noção mais ampla de como meu
pai era como pessoa.
A maneira como ela o descrevia me lembrava de como minha mãe me
via.
Ingênuo, idealista e precisando de proteção.
Como minha mãe, minha tia também era agressivamente protetora.
Mas de uma maneira diferente.
Ela era o tipo de tia que realmente bateria em um namorado se ele
partisse meu coração. Pelo menos, se eu tivesse um namorado quando
ela estava por perto. Eu não a via desde que eu era uma garotinha.
Depois do que pareceram horas passadas nos braços uma da outra,
nos separamos.
Foi então que a realidade do momento voltou para mim.
Minha tia estava literalmente sentada no trono dos malfeitores, ao
lado do homem que tentou matar meu companheiro e destruir nosso
bando.
— Oh Quinn, — minha tia fungou, — é impressionante vê-la
novamente como a mulher que você se tornou. Sua mãe deve estar
orgulhosa.
— Eu... É bom ver... — gaguejei incoerentemente, ainda tentando
processar tudo o que se passava na minha cabeça. Mas não consegui fazer
mais do que chorar lágrimas simultâneas de alívio e perplexidade.
Tia Jodie colocou o braço em volta do meu ombro e ajudou a secar
meus olhos.
— Você deve ter mil perguntas para fazer, — ela me disse com
ternura.
Eu ri em meio às minhas lágrimas e balancei a cabeça
afirmativamente.
— Eu prometo que todas elas serão respondidas a tempo. Mas
primeiro, você deve me responder. Quem é esse jovem de rosto severo
que chegou com você?
— Huh? — eu perguntei, confusa.
Ela apontou para Jax.
Com toda a empolgação, quase esqueci que ele estava aqui.
Ele ficou vários passos atrás com uma expressão preocupada e
confusa no rosto.
Claramente, ele entendia ainda menos do que eu sobre toda essa
situação.
— Oh... — eu disse, enxugando meu nariz com a manga. — Este é
meu companheiro Jax, Alfa do Sombra da Lua.
— Este é o Alfa do Sombra da Lua, — minha tia disse com uma pitada
de incredulidade. — Eu nunca teria adivinhado. Ele é muito mais baixo
que o pai. Com um porte muito menos imponente também.
Jax bufou com o sarcasmo sutil de tia Jodie.
— E então... isso faz de você a Luna do bando? — ela se virou para
mim, com os olhos arregalados.
Eu balancei a cabeça, corando em um rosa brilhante.
Mesmo assim, era lisonjeiro ter esse reconhecimento.
— Que sorte este jovem Alfa tem de ter você ao lado. Uma garota
inteligente como você deve facilitar o trabalho dele, — ela piscou para
mim.
Eu podia ver Jax começar a ficar vermelho de raiva.
— Tia Jodie... o que você está fazendo aqui? — finalmente consegui
retormar a compostura para perguntar.
— Bem, — ela sorriu, — como seu companheiro, eu também sou Alfa.
Meu coração alegre começou a afundar em meu estômago.
— Alfa? Para os malfeitores?
Sua postura endureceu.
— 'Malfeitores' é um termo tão pejorativo. Preferimos usar nosso
nome de bando, — ela olhou para Carl, cujo rosto estava pétreo. —
Vulpes.
A palavra causou arrepios na minha espinha.
Eu não podia acreditar no que estava ouvindo.
Minha tia? Líder dos maiores adversários do meu bando? E orquestradora
da violência contra Sombra da Lua?
Tia Jodie colocou a mão carinhosa em meu ombro quando comecei a
me afastar lentamente de seu lado.
— Eu entendo sua apreensão, e depois do pouco que você viu e
experimentou de meu bando, é completamente justificável. Mas eu
prometo que, se você ficar, verá que suas impressões sobre nós estão
muito mal formadas.
— Temo que não teremos tempo, — Jax interrompeu. — Temos um
bando para o qual retornar.
Minha tia se virou para mim.
Expliquei:
— Disseram-nos que você estava viva e alojada aqui com os
malfeitores. Achamos que você poderia ser uma prisioneira. Mas já que
você é um Alfa...
Tia Jodie olhou para mim com profunda apreciação.
— Eu deveria saber que você iria sair para salvar sua velha tia. Você
sempre foi muito corajosa, Quinn. E verdadeiramente nobre, como seu
pai. Mesmo que sua mãe tenha tentado sufocá-la.
Olhamos em silêncio uma para a outra por um momento.
Seus olhos âmbar brilharam com uma espécie de nostalgia.
Era quase como se ela estivesse me comunicando que, de alguma
forma, eu estava em casa.
E por um breve momento, com ela ali, eu senti isso.
— Pelo menos você deve passar a noite, — disse ela, — vocês devem
estar completamente exaustos depois da longa jornada.
Jax falou:
— Receio que não seria...
— Eu insisto, — disse minha tia com um sorriso. — Você quer ficar,
minha sobrinha? — ela perguntou esperançosa.
Jax balançou a cabeça negativamente com veemência.
Eu sei que deveria tê-lo ouvido.
Nada poderia parecer mais idiota do que dormir sob o teto de seus
inimigos.
Mas algo em mim confiava no vínculo familiar com minha tia.
E minha curiosidade me disse que havia muito mais para saber sobre
essa história e que eu precisava ficar.
— Tudo bem. Vamos passar a noite aqui, — eu disse.
Minha tia jogou os braços em volta de mim novamente.
Por cima do ombro dela, eu pude ver Jax carrancudo. Ele claramente
não gostou da minha escolha.
— Beta Carl, — minha tia acenou para seu estoico colega, — mostre
aos nossos hóspedes seus quartos.

Um relógio sinistro bateu duas da manhã enquanto eu caminhava pelos


túneis cavernosos da fortaleza.
Entre a interminável quantidade de perguntas e a reprovação fria de
Jax por aceitar o convite da minha tia, não havia nenhuma maneira de eu
realmente conseguir dormir naquela noite.
Quando virei uma esquina, encontrei minha tia, sentada em frente a
uma grande lareira esculpida na parede de pedra e folheando um livro.
Ela virou a cabeça para mim e sorriu, quase como se de alguma forma
esperasse que eu estivesse ali.
— Noite em claro, hein? — ela riu.
— Foi um dia e tanto... muito para processar, — eu disse, me
aproximando dela.
Ela ergueu um livro encadernado em couro envelhecido.
— Só de olhar o antigo álbum de família, — ela sorriu, — devo
admitir, Quinn, sua presença aqui me fez sentir saudades daqueles velhos
tempos com seu pai. Meu Deus, você é tão parecida com ele. Até mesmo
o tom sonhador em seus olhos.
Sentei-me ao lado dela no sofá.
— Meu pai, — eu perguntei. — Ele... sabia sobre tudo isso? Sobre você
e os Vulpes? — Tia Jodie suspirou e olhou pensativa para o fogo que ardia
na lareira.
— Há muita coisa que você não sabe sobre o seu pai, Quinn. Tantas
coisas que sua mãe me fez jurar que não te contaria. Mas você está
crescida agora. E é até uma Luna. Acho que é hora de você saber.
— Saber o que? — perguntei, levada pela súbita gravidade no tom da
minha tia.
Ela olhou para mim com agonia nos olhos.
— Como seu pai foi assassinado.
Capítulo 17
FOLHAS CAINDO
Jodie

Raios de luar perfuravam o dossel de galhos nus e nodosos e brilhavam


no chão da floresta.
Folhas mortas rangiam sob nossas patas enquanto meu irmão
Brandon e eu nos abaixávamos e saíamos de trás dos troncos de árvores
caídas, arbustos e pedras espalhadas.
Um forte vendaval de outono arrepiou meu pelo.
O farfalhar de cada galho, o chilrear de cada grilo, o canto de cada
rouxinol me enchia de ansiedade.
Normalmente, eu nunca estaria rondando a floresta nesta hora das
bruxas.
Mesmo para um lobisomem, era tarde.
Era aquela hora nebulosa da manhã em que o mundo ainda tinha que
discernir o fim da noite do início do dia.
As entranhas da escuridão portentosa pareciam ilimitadas — como se
pudessem se estender para sempre no esquecimento.
Meu único consolo nesta noite infernal era a companhia do meu
irmão mais velho.
Sua coragem não conhecia limites.
Mesmo quando criança, nunca o vi recuar diante de qualquer
inimigo: homem, besta ou qualquer outro.
Ele foi talvez o único homem ou lobo que eu já conheci que poderia
manter a compostura perfeita enquanto fugia para salvar sua própria
vida pelas clareiras abissais da floresta.
Embora sua bravura pudesse ter sido sua salvação, era também a
razão pela qual ele era um fugitivo.
Os lobisomens sempre consideram uma lei natural não acasalar com
humanos.
Sempre foi visto como um perigo para a própria existência de nossa
espécie acolher aqueles incapazes da mesma magia que nós.
Se alguém quisesse, ele ou ela deveria transformar seu futuro
parceiro(a) em lobisomem.
Embora isso também tenha sido desaprovado por muito tempo, era
um estilo de vida que, cada vez mais, nossa espécie parecia estar
adotando.
Mas meu irmão desafiou as leis antigas.
Ele se atreveu a amar uma humana: ele gerou sua prole e abandonou
seu bando para viver seu amor por esta mulher entre as fileiras de meu
bando, os Vulpes.
Dentro das barreiras protetoras de nossa cidadela rochosa, ele, sua
esposa Jeanette e a nova filha encontrariam uma vida livre das leis
tiranicamente conservadoras dos velhos bandos.
Sua família iria começar sua vida de uma nova maneira em uma
sociedade que abraçava a comunhão entre homens e lobos de todas as
origens e acolhia a troca e o casamento entre seus conhecimentos,
experiências e habilidades.
Os olhos azuis de aço do meu irmão brilhavam em antecipação a este
novo amanhã enquanto escapávamos por esta última e mais escura noite
de sua opressão.
Ele me cutucou com o focinho e apontou para um riacho parado a
poucos metros de distância.
Por meio de nosso vínculo mental fraterno, ele me orientou:
Andaremos no riacho o mais longe possível para cobrir nossos rastros.
Boa ideia. Chegaremos em casa na próxima meia hora mais ou menos.
Você tem certeza que os Vulpes têm o lugar bem guardado? Se algum
espião de bando está nos rastreando, temo que não teremos chan...
Tudo está em ordem, irmão, ninguém do seu — ou de qualquer outro —
bando vai chegar perto de Jeanette e Quinn.
Meu irmão deu um suspiro enquanto caminhávamos pela água
gelada.
Você realmente acha que seremos capazes de evitar o bando dessa
maneira, Jodie? Eu ainda estou com medo de que esta rota seja muito perto
das terras do bando deles para atraí-los pelo cheiro.
Eu já disse, irmão, esta é a única rota que passa perto o suficiente do
território dos Vulpes para você fazer uma fuga limpa.
Seu olhar preocupado logo se transformou em um sorriso malicioso.
Aposto que você nunca viu seu irmão nervoso como um coelho assustado
antes, viu?
Eu sorri para ele.
Deixando de lado o nervosismo, você ainda é, na verdade, o lobo mais
corajoso que já conheci. Sua esposa e filha são extremamente afortunadas por
ter um homem como você.
Ele fez uma pausa e me olhou amavelmente.
Com todo o caos que foi necessário para tornar essa nova vida possível, eu
realmente não parei para agradecer você adequadamente. Sem tudo o que
você fez. esta minha família nem seria uma possibilidade. Eu devo a você
mais do que eu poderia pagar.
Eu o acariciei ternamente com meu focinho.
Você vai viver sob meu teto agora. Tenho certeza de que vou encontrar
uma maneira de você me agradecer.
Um pouco abaixo do riacho, o brilho suave da luz das velas brilhava
fracamente através das clareiras. Cutuquei meu irmão e direcionei sua
atenção para isso.
Por que diabos eles acendem as velas? ele exclamou. Eles não percebem
que estão revelando suas posições?
Os guardas receberam instruções para manter todas as luzes apagadas.
Não faz sentido.
O horror o petrificou onde ele estava. Ele temia o pior.
Em um instante, ele disparou em direção à casa, deixando-me na
poeira.
Brandon! Espere! Pare!
Gritei por ele desesperadamente, mas sem sucesso.
Como um lobo em caça, ele pulou pela janela.
Eu corri atrás dele.
Quando me aproximei da janela, vi meu irmão envolvido em uma
violenta batalha de dentes e garras com meia dúzia de outros lobos.
Pela precisão em seus ataques, estava claro que esses lobos eram
membros bem treinados das forças do bando deles.
Corri para a porta da frente da cabana para tentar pegar os agressores
do meu irmão de surpresa.
Eu corri pela porta e me encontrei cara a cara com Alfa Galahad, o
líder do Bando Sombra da Lua.
Ele fez uma careta e mostrou os dentes para mim.
E a noite consumiu o mundo inteiro na escuridão.
Quinn

Lágrimas escorriam pelo rosto de minha tia enquanto ela se lembrava do


horror daquela noite, muito tempo atrás.
Dentro do meu peito, senti meu coração ficar pesado.
Bando Sombra da Lua? Ela não poderia querer dizer...
— O que aconteceu depois de tudo isso? — Eu perguntei, sem saber
se queria saber a resposta.
Jodie suspirou,
— Acordei machucada e mordida até quase a morte, dentro da
cabana. Sua mãe parada sobre mim. Seu pai, tinha sido levado.
Capturado por seus ex-parceiros do Bando Sombra da Lua.
O mundo ao meu redor começou a se embaralhar conforme essa
revelação oprimia meus sentidos.
— Sua mãe levou você para se esconder na floresta quando os lobos
chegaram. Quando seu pai chegou, Alfa Galahad e seus lobos estavam
esperando para encurralá-lo.
Eu me senti mortalmente doente, como se pudesse morrer de choque
e consternação ali mesmo.
Meu pai. Morto pelo mesmo bando que eu agora presidia como Luna?
Pelo pai do homem que eu chamava de meu companheiro? Jax sabia alguma
coisa sobre isso? Como o destino pode ser tão cruel?
— Quinn, querida! Você está bem?! — minha tia perguntou alarmada.
— Você está pálida como um fantasma!
Eu desabei em seu colo, soluçando.
Ela passou as mãos pelo meu cabelo, tentando em vão me acalmar.
— Eu sei que isso é difícil, querida, — ela disse suavemente, — e eu
não gosto de dizer a você, especialmente devido a este novo
relacionamento que você tem com Sombra da Lua.
Horas se passaram enquanto eu estava deitada no colo da minha tia
chorando e aceitando esse novo pesadelo.
Eu não podia suportar a ideia de que meu pai tinha morrido tentando
me proteger do bando ao qual me juntei.
Quão nobre lobo ele deve ter sido para lutar até a morte por aqueles
que amava.
E em que causa nobre ele acreditava — a união entre lobisomem e
humano sem a necessidade de transformação.
Certamente não tive escolha na questão.
E embora eu tivesse aprendido a amar minha nova vida como
lobisomem, certamente não era algo para todos.
Minha mãe não poderia ter aprendido, com certeza.
Quantas vidas de outros homens e mulheres foram destruídas por
isso?
Eu nunca imaginei que os malfeitores... que os Vulpes... defendiam a
equidade de relações entre humanos e lobisomens.
Jax sempre os pintou como anarquistas violentos sem sentido.
Mas talvez ele estivesse errado sobre eles.
Eu só esperava não estar errada sobre ele.
Jaxon

— Quinn! Quinn! Onde você está? — gritei pela minha companheira na


escuridão.
— Mentiroso! Cobra na relva! Assassino! — Uma voz familiar, mas
distorcida, respondeu.
Como eu poderia ter nos deixado ficar aqui? Eles a pegaram. Aquela
tia malvada dela e meu irmão vingativo. Eles a levaram!
— Mentiroso! Cobra na relva! Assassino! — As provocações ficaram mais
altas enquanto eu tropeçava no escuro.
Eu tenho que encontrá-la! Eu tenho que salvá-la!
— Mentiroso! Cobra na relva! Assassino! — A voz cresceu para um
estrondo trovejante, seu tom se tornando mais claro e mais reconhecível...
Era a voz de Quinn!
— Quinn! Onde está você? Responda-me! — eu gritei. Mas a voz dela
continuou a gritar.
Quem era esse
— Mentiroso! Cobra na relva! Assassino! — que ela continuava
chamando?
Sua tia? Carl?
Não poderia ser eu, poderia?
— Quinn! — Eu me engasguei acordando do pesadelo torturante.
Esta não foi a primeira vez envolvendo Quinn.
Eu tive muitos sonhos ruins sobre Carl matando-a enquanto eu
assistia impotente.
Neste, porém, quase parecia que ela estava me assombrando.
Acusando-me de algum crime que não cometi.
Estranho pra caralho.
Mas eu sabia que ver Quinn deitada pacificamente ao meu lado
acalmaria meus nervos.
Sempre acalmava.
Mas quando me virei, não encontrei nada além de um espaço vazio ao
meu lado.
Minha mente entrou em pânico.
Se algum desses malditos malfeitores a tocou, vou matar todos!
Eu pulei da cama e corri para a porta vestindo nada além de minha
boxer.
— Calma, tigrão! Onde é o fogo? — uma voz sedutora chamou através
da escuridão.
Eu me virei para a voz, meus punhos cerrados e prontos para lutar.
Lá, no parapeito da janela do quarto, estava sentada uma figura
voluptuosamente curvilínea.
Dois olhos iridescentes brilharam em sua silhueta escura.
Mesmo com o manto da noite, eu sabia quem era.
Katherine.
Capítulo 18
REACENDIDO
Jaxon

— O que diabos você está fazendo aqui?


Meu peito nu arfou intensamente quando gritei com Katherine, que
brincou com a perna pendurada no parapeito da janela.
Ela deu uma risadinha.
— Não quis te assustar. Às vezes, quando não consigo dormir à noite,
venho aqui para observar as estrelas. Acontece que este quarto tem a
melhor vista sobre o cânion. Não percebi que você estava dormindo aqui
esta noite.
— Você viu Quinn? — Eu perguntei freneticamente.
— Sua companheira? Deve ter se afastado para algum lugar. Há
muitos lugares para se perder por aqui. Mas não se preocupe, ela está,
sem dúvida, segura.
— Segura? — exclamei: — Estamos literalmente dormindo na cama
do inimigo! Como diabos posso esperar que ela esteja segura aqui?
— Você está se esquecendo de que ela é sobrinha de Alfa Jodie. Não há
nenhuma maneira de ela permitir que algum mal aconteça a ela.
— Alfa Jodie? Alfa minha bunda! Ela não é nada além de uma líder
para um bando de descontentes sedentos por sangue. Meu pai passou a
vida inteira tentando eliminá-los. Quinn não sabe do que eles são
capazes como eu sei! — Katherine desceu do peitoril da janela e se
aproximou de mim, sua camisola de seda brilhando ao luar.
Havia algo etéreo em sua aparência. Como um belo fantasma.
E, de fato, ela ainda parecia muito um fantasma para mim.
Era difícil acreditar que ela estava ali, viva, depois de todos esses anos.
— Esses 'descontentes' não podem ser tão ruins, podem? — ela
perguntou. — Afinal, eles são a razão de eu estar aqui hoje. A razão pela
qual estou viva!
— Mas eles também são a razão pela qual você morreu.
Ela agarrou minha mão e sorriu ternamente para mim.
Senti meu pânico começar a diminuir.
— Todos os dias depois que você morreu, — continuei, — eu desejava
que a morte me encontrasse. Rezei para que a Deusa da Lua me levasse
durante o sono. Que eu acordasse no Empíreo com você ao meu lado.
Caminhamos até a cama e nos sentamos na beirada.
— Eu sei o quão difícil deve ter sido para você, — Katherine suspirou,
— é um tipo de inferno sentir falta de um ente querido depois que ele
morre. Mas viver sabendo que a pessoa que você mais ama pensa que
você está morto sem nenhum meio de contato, esse é outro tipo
indescritível de tormento.
— Então por que você não voltou para casa, Katherine? — perguntei.
— Você queria fazer parte dos Vulpes? Sombra da Lua era tão terrível que
você simplesmente não suportava voltar para casa? Mesmo assim, por
que você nunca ligou para me dizer que estava viva e bem?
Uma grande tristeza desceu sobre seus ombros.
— Eu queria. Todos os dias. Mas assim como os malfeitores eram
inimigos de seu bando, vocês também eram inimigos deles. Não podia
fazer nada que indicasse onde eu estava.
— Você tentou escapar? Você era uma guerreira talentosa, Katherine.
E tinha uma ótima mente militar. Não tenho dúvidas de que você
poderia facilmente ter planejado sua maneira de sair daqui.
— Não é que eu não pudesse. Eu só... não queria.
Senti meu coração apertar.
Palavras que meu coração, mesmo depois de todos esses anos, não
suportava ouvir.
— Não queria? — perguntei, me engasgando com um coquetel
amargo de tristeza, mágoa e raiva. — O que esses demônios poderiam ter
feito ou dado a você que eu não fiz ou dei? Eles não poderiam ter te
amado como eu.
— Não, — ela encostou a cabeça no meu ombro. Meu coração bateu
mais rápido. — Mas eles me amavam de uma maneira diferente. De uma
forma que o Bando Sombra da Lua nunca amou.
— O que você quer dizer? — perguntei, perplexo.
— Mesmo como sua esposa, os lobos do Sombra da Lua se ressentiam
por eu ter nascido em um bando diferente. Certamente você se lembra de
toda a ladainha que espalharam sobre nós. Mesmo sobre você?
Eu tinha que admitir, tinha esquecido o quão mal meu bando tratara
Katherine depois de nosso casamento.
Lembrar de amores perdidos tendia a apagar as coisas desagradáveis
do passado.
Katherine foi a primeira Luna do Sombra da Lua que não nasceu de
uma das nossas.
E se havia uma coisa sobre a qual os lobisomens eram ruins, era sobre
mudança.
A tradição, sob o microscópio dos lobisomens, era equivalente à
sobrevivência.
Por literalmente centenas de gerações, os estatutos e dogmas
delineados em nosso passado arcano foram vistos como os únicos meios
de sobrevivência em um mundo governado por preconceitos humanos.
Aqueles que os violaram foram vistos com desprezo como assassinos
indiretos de nossa espécie.
Quando me casei com Katherine, alguns dos anciãos do bando
chegaram a ponto de solicitar nosso divórcio. Muitos até pediram minha
própria remoção, chamando nosso casamento de um ato de traição.
Não foi um dos meus momentos mais orgulhosos como Alfa,
especialmente quando o bando começou a insinuar que eu seria uma
vergonha para meu pai.
Mas eu superei e consegui liderar como quis. Eventualmente, depois
de provar minha destreza como líder militar, o bando até mesmo
começou a gostar de Katherine.
— Foi incrivelmente errado como o bando tratou você. Mas você sabe
como é a política dos lobisomens. A mudança cria atrito. A fricção
provoca um incêndio. O fogo queima o velho para que o novo crie raízes.
— Mas é isso mesmo, Jax! — ela exclamou. — Com os malfeitores,
nunca há incêndios. Pelo menos não internamente. Não importa de qual
bando você é, quem é seu companheiro ou no que você é bom. As regras
obedecem a quem você é, e não o contrário! Agora me diga, você
honestamente escolheria deixar isso?
Eu ponderei sua pergunta em silêncio por um momento.
— Provavelmente não. Até que alguém interpretasse as regras da
maneira errada, de qualquer maneira.
— Eu descobri que quando as pessoas recebem as liberdades que
merecem, elas tendem a usar suas liberdades para o bem, não para o mal.
— Oh, Katherine, — suspirei, — você sempre foi a idealista.
— E você me amava por isso.
— Sim... Sim, eu amava.
— E agora? — Ela olhou para mim. Seus olhos brilhavam com um
verde elétrico. Havia tanto carinho neles agora quanto na primeira vez
que a vi.
— Katherine, — parei por um momento, hesitante em terminar
minha frase, — Eu... Eu nunca parei de te amar.
Quinn

Eu adorava chocolate quente.


Sempre adorei, desde que eu era criança.
Enquanto outras pessoas recorriam à bebida para lavar seus
problemas garganta abaixo, minha bebida preferida era sempre uma
xícara de chocolate quente.
E depois da noite que eu estava tendo, inferno, eu precisava de uma.
Felizmente, minha tia se lembrou desta pequena idiossincrasia minha
e preparou uma caneca grande e gostosa para mim.
Enquanto caminhávamos de volta para o meu quarto pelos
corredores escarpados da Fortaleza Vulpes, cascatas quentes do líquido
doce e fumegante escorriam pela minha garganta, que estava rouca e
dolorida de tanto chorar.
Enquanto as lágrimas diminuíam, minha alma ainda estava
atormentada pela bomba que minha tia acabara de largar. E nenhuma
quantidade de chocolate quente parecia ser capaz de apagar a
tempestade de desânimo que me assolava.
— Você está terrivelmente quieta aí, Q. O que você está pensando? —
ela perguntou gentilmente, claramente tentando me tirar dos meus
pensamentos.
— Eu... Eu ainda estou tentando entender tudo.
Como ninguém poderia ter me contado? Alguém no Bando Sombra
da Lua deveria saber.
Tia Jodie colocou o braço em volta do meu ombro.
— Bem, isso aconteceu há muito tempo, querida. E eles derrotaram
tantos membros de Vulpes desde então.
— Claro, isso eu entendo. Mas eles armaram uma armadilha para
meu pai. O próprio Alfa estava envolvido! O que o tornou tão especial?
Não era como se ele fosse um líder rebelde. Ele era um desertor.
Minha tia riu.
— Você realmente é uma garota esperta, Quinn. Nada passa por você.
Exceto, talvez, o que você não poderia saber.
— O que você quer dizer? — perguntei, temendo que houvesse outra
revelação de mudança de vida por trás de suas palavras enigmáticas.
— Seu pai é descendente da linhagem da Deusa da Lua. Assim como
eu. Como você. Com essa linhagem divina vêm certos... poderes. Poderes
com os quais outros lobos não poderiam sonhar. Isso, se colocado em
mãos erradas, poderia ser usado para efeitos dolorosos.
— Que tipo de poderes? — Meus ouvidos se animaram. — Como...
mágica? Como bruxaria ou algo assim?
Minha tia soltou uma risada cordial.
— Esta habilidade excede qualquer magia barata que qualquer bruxa
comum possa conjurar. É muito mais potente.
— Então, se eu a possuo, por que não a senti? — perguntei, intrigada
com essas novas informações.
— Não é exatamente algo que simplesmente flui através de você. Você
tem que canalizar isso. Requer um grau incrível de disciplina e
concentração. Mas aposto que uma garota esperta como você poderia
dominá-lo mais rápido do que a maioria. Seu pai certamente fez. É por
isso que Alfa Galahad o queria fora do caminho.
— Você poderia... Você poderia me ensinar? — Minha tia pareceu
refletir sobre a questão enquanto nos aproximávamos da porta do meu
quarto.
— Eu adoraria! Claro, isso significaria que você teria que ficar aqui
por um tempo. Isso não é algo que você pode aprender da noite para o
dia.
Eu considerei sua oferta.
Embora eu quisesse aceitar imediatamente, não conseguia esquecer
que eu ainda era a Luna de um bando.
E por mais conflituosa que eu me sentisse sobre esse papel no
momento, não era bom para uma Luna e seu Alfa estarem ausentes de
seu bando por tanto tempo. Especialmente no estado fraturado que Jax e
eu o tínhamos deixado.
Ainda assim, eu não poderia deixar passar esta oportunidade apenas
por formalismo.
— Eu vou... pensar sobre isso esta noite.
Tia Jodie sorriu.
— Muito bem, minha querida. Faça isso. Podemos discutir isso no
café da manhã, — ela bocejou. — Esquece. Melhor que seja durante o
almoço.
Nós rimos e ela me beijou na bochecha.
Depois que ela saiu, me virei para abrir a porta.
Mas eu senti a maçaneta girar em minha mão.
A porta se abriu.
Lá estava Katherine com uma camisola de bom gosto, mas reveladora.
E atrás dela na cama estava Jax. NA PORRA DE SUA CUECA BOXER!
— Oh! Com licença — Katherine deu uma risadinha enquanto
passava por mim, com um sorriso tímido no rosto.
Jaxon se levantou com uma expressão atordoada.
— Eu... Eu... Isso não é o que parece, — ele gaguejou.
Em um estado de espírito mais leve, eu poderia ter discutido com ele.
Mas com tudo o que estava acontecendo na minha cabeça, eu não
estava em condições de criar caos.
Além disso, um encontro com sua ex não era exatamente a maior
surpresa da noite.
Surpreendentemente, isso ficava em um sólido terceiro lugar.
Sem dizer uma palavra, entrei no quarto, coloquei minha caneca de
chocolate quente vazia na cômoda e desabei de cabeça na cama.
Em poucos minutos, eu estava dormindo.
Procurando refúgio de um ataque devastador de desgosto.
Capítulo 19
PESQUISA E APREENSÃO
Alex

Uma semana se passou.


Nenhuma palavra.
Nem um telefonema.
Nem um sinal.
Nada.
Os fracos rumores no Bando Sombra da Lua de que seu Alfa e sua
Luna estavam mortos ou capturados cresceram para tremores selvagens
de conjectura.
Os boatos se tornaram quase verdadeiros.
Até eu comecei a duvidar que eles voltassem — pelo menos sem
ajuda.
Tão inquietante quanto o desaparecimento de Alfa Jax e Luna Quinn
foi a apatia do Bando Sombra da Lua.
Embora o boato possa ter parecido excessivo, qualquer ilusão de
preocupação não foi.
Com apenas pequenas reservas, a maioria rapidamente e felizmente
aceitou o fato de que o Alfa Anthony assumiu a liderança do bando em
tudo menos no nome.
Alguns até foram ousados em dizer que o bando estaria melhor sem
Jax.
Levou tudo que eu tinha para segurar minha língua contra tal calúnia,
mas eu ainda estava em maus lençóis. E se eu fosse salvar este bando da
submissão total ao Alfa Anthony, eu teria que agir de forma inteligente.
Eu tinha passado muito pouco tempo fora do meu quarto nos últimos
dias, tentando me manter discreto.
Mas hoje, isso tinha que mudar.
Sky, Harper e Zara continuaram sendo meus principais elos com o
mundo exterior. Elas compunham as vozes mais fortes do pequeno
contingente dentro do Bando Sombra da Lua ainda leal a Alfa Jax.
Elas mantiveram os ouvidos atentos aos últimos abusos de poder do
Alfa Anthony.
Naquela manhã, elas me haviam dado a notícia mais desanimadora
até então.
Hoje, havia rumores de que ele iria reunir os bandos para um anúncio
de emergência.
E se eu tinha uma noção clara do jogo do Alfa faminto por poder, eu
sabia que isso só poderia significar uma coisa: ele estava prestes a se dar
poderes de emergência. Tornando-se um ditador essencial tanto para seu
próprio bando quanto para Sombra da Lua.
Isso seria sem precedentes. Embora o Estatuto dos Lupinos fizesse
provisão para a nomeação de — Lobo Alfa Único — na ocorrência de
morte súbita ou deposição de emergência de ambos Alfa e Beta de um
bando, isso era reservado para o pior dos casos.
E já que Alfa Jax não tinha me deposto oficialmente, eu ainda tinha o
direito de frustrar sua tentativa e assumir o controle de meu bando. Sua
ascensão aos poderes expandidos de Lobo Alfa Único teria que vir com a
maioria dos votos do bando. Mesmo que eu tivesse esperança de que
minhas relações profundas dentro do bando prevalecessem, eu não podia
correr o risco de deixar o Alfa Anthony presumir uma votação.
A hora, de acordo com meu relógio, era 11h30 — meia hora antes do
momento em que Alfa Anthony planejava fazer seu anúncio. Eu tinha
apenas tempo suficiente para chegar ao pátio para prevenir seu ataque.
Fui até a porta do meu quarto apenas para encontrá-la trancada.
E não por dentro, mas por fora.
Eu soube imediatamente que este não era o erro de algum zelador
descuidado.
Alfa Anthony encontrara a chave mestra de emergência para todos os
quartos da casa do bando e tomara a liberdade de trancar minha porta.
Isso confirmava minhas suspeitas.
Anthony estava fazendo um pequeno seguro extra para garantir que
eu não estragasse sua festa.
Corri pelo quarto até minha janela.
Estava lacrada. E apenas no caso de eu decidir quebrar o vidro e
escalar a torre de três andares, quatro sentinelas lobo estavam postados
abaixo da janela para me cumprimentar.
Aparentemente, ele me considerava mais uma ameaça do que eu
pensava.
Mas eu tinha uma vantagem. Este era o meu reduto.
Eu cresci neste palácio e conhecia todos os seus segredinhos.
E, por acaso, meu quarto tinha o melhor segredinho de todos.
Abri a porta do meu guarda-roupa e afastei minhas roupas para
revelar uma pequena trava de latão.
Puxar a trava abria a parede de trás do guarda-roupa: a entrada
secreta de um pequeno, mas funcional, elevador de carga.
Passaram-se anos desde que planejei esta pequena rota de fuga. E
ainda mais desde a última vez que eu tinha usado o elevador velho e
frágil. Mas eu não tinha tempo para hesitar.
Arrastei-me para o fundo do guarda-roupa e entrei no poço escuro e
apertado do elevador.
Uau! Parece muito menor do que eu me lembrava.
Depois de enfiar as pernas dentro do antigo elevador, comecei a
descer com cuidado para o porão.
Prendi a respiração enquanto a velha plataforma dilapidada abria
caminho pelos últimos anos de abandono.
Um suspiro de alívio escapou do meu corpo quando o elevador parou
no porão mofado.
Nenhum dano causado, além de algumas picadas de aranha.
Mas eu tinha problemas maiores do que os aracnídeos.
Eu olhei para o meu relógio. Eram 11h50.
Só faltam dez minutos.
Corri passando pelas montanhas de tonéis de vinho esquecidos e
móveis em desuso e subi as escadas para a cozinha.
Os cozinheiros gritaram quando eu irrompi pela porta, derrubando
um chef infeliz com um barril de sopa quente.
— Desculpe! — eu gritei enquanto corria porta afora. Depois de cinco
minutos de corrida vertiginosa, consegui chegar ao pátio.
Uma grande multidão já havia se reunido.
Abri caminho passando pela multidão de rostos amargos e cheguei
até a grande escadaria de pedra.
Meu relógio marcava 11h58. Faltam apenas dois minutos.
Assim que cheguei ao pé da escada, pulei para cima.
Meu pé prendeu em uma das cristas de pedra, fazendo-me cair de
cara no chão.
A multidão inteira caiu na gargalhada.
Fantástico. Estou começando muito bem!
— Precisa de uma mão? — disse uma voz sarcástica.
Eu olhei para cima.
Alfa Anthony olhava para mim com uma expressão divertida e uma
mão estendida.
Meu tempo acabara.
Era agora ou nunca.
— Eu, Alexander Tillotson, Beta do Bando Sombra da Lua, declaro
um estado de emergência e, por meio deste, invoco a autoridade
temporária de Alfa.
A multidão arfou.
Eu tinha conseguido. Eu tinha alcançado e vencido o Alfa Anthony.
Um sorriso satisfeito iluminou meu rosto desgastado enquanto eu
olhava para o arrogante aspirante a Alfa de Sombra da Lua.
Para minha surpresa, ele parecia imperturbável.
Ele se ajoelhou para me ajudar a levantar, mas eu afastei seus braços e
tropecei em meus pés.
— Beta Alex, seu gesto é admirável, e tão oficiosamente falado. Mas
receio que seja tarde demais, meu amigo.
— Tarde demais? — eu perguntei, confuso.
— Sim, — Anthony sorriu timidamente. — Veja, na noite passada, sua
liderança de bando e eu tivemos uma reunião a portas fechadas para
discutir a nomeação de uma nova liderança para seu bando.
— Eu sou o Beta do bando e não recebi tal convite.
— Oh, — Anthony disse com uma expressão de surpresa que parecia
um pouco ensaiada, — Eu sinto muito. Com todo o tempo que você
passou em reclusão, presumia-se que você tinha se abstido.
Meu sangue começou a ferver.
Aparentemente, não dei crédito suficiente a Anthony por sua astúcia.
— De qualquer forma, — continuou ele, — mesmo sem você,
tínhamos quórum. Naturalmente, com você ausente, a liderança foi
transferida para Gama Raphael. No entanto, ele me surpreendeu com a
distinta honra de ser proposto como Alfa.
Eu olhei para Raphael, que estava no topo da escada, parecendo
patético e envergonhado.
— E o que ele ganhou com isso? — eu perguntei.
— Como você ousa insinuar tais coisas, — ele retrucou, — Raphael é
um guerreiro valente e líder prudente. Ele será um Beta realmente
excelente.
— Beta? — eu gritei, furioso com o abuso, — Você é um Lobo Alfa
Único agindo sob poderes de emergência! Você não tem o direito de
nomear o segundo comando.
— Temo que você tenha entendido mal, — Anthony me olhou bem
nos olhos. — Eu não recebi apenas autoridade para emergências. Agora
sou o Alfa de Sombra da Lua.
Eu não podia acreditar no que estava ouvindo.
Anthony. O novo Alfa?
A multidão explodiu em aplausos estrondosos por seu novo líder.
Como eles podem torcer por esta flagrante violação da lei do bando?
— Isso é loucura! — eu exclamei. — Você e seus comparsas não têm o
direito de aprovar um novo Alfa. Não temos nenhum vestígio de
evidência de que Jax está morto!
— Ele se foi há uma semana! — Anthony respondeu. — Se ele não
está morto, então foi capturado pelos rebeldes. E na minha opinião — e
na de seus líderes — um lobo que se deixa ser capturado por um grupo de
malfeitores não treinados e desorganizados é impróprio para a honra
deste cargo!
A multidão novamente respondeu com aplausos de aprovação.
— Você presume demais, Anthony.
— Você vai ter que me chamar de Alfa Anthony! — ele retrucou.
— Eu não vou! Independentemente do que você prometeu a Raphael,
ainda sou Beta deste bando e contestarei esta eleição de bastidores que
você realizou.
— Infelizmente, Alexander, você ainda não entendeu. Veja, depois de
aceitar minha nomeação como Alfa, meu primeiro ato foi solicitar sua
remoção do cargo.
— Minha remoção? — eu gritei. — Com base em quê?
— Corrupção. — Ele olhou para mim com uma cara sem emoção.
— Corrupção! Você tem muita coragem para me acusar de corrupção!
— Você deu uma festa — repleta de bebida, dança e várias outras
formas de devassidão — em uma tentativa lamentável de ganhar a
benevolência minguante de seu bando. Não foi nada menos que uma
campanha. E isso, senhor, é um ato de traição.
Eu queria bater nele.
Eu queria chamá-lo de lunático.
Um déspota iludido.
Mas eu não podia. Porque ele estava certo. A sugestão de Alfa
Anthony de dar a festa foi apenas um estratagema.
Eu fui persuadido. Eu fui manipulado.
O que eu fiz foi uma campanha. Pura e simples.
De alguma forma, esse charlatão tinha feito tudo legalmente e eu era
o criminoso.
— Sua deposição foi aprovada por unanimidade. Tentei poupá-lo da
indignidade de uma prisão, confinando-o em seus aposentos. Mas já que
você conseguiu encontrar uma saída para isso, suponho que teremos que
fazer isso da maneira correta.
Com um estalar de dedos, dois guardas me agarraram pelos braços e
me arrastaram para longe da escada.
Os olhos dos outros membros do bando me atingiam como punhais
enquanto eu passava por eles. Eles não tinham mais afinidade comigo.
Eu era um traidor.
Acima do rugido fanático da multidão, pude ouvir o novo Alfa
começar sua primeira proclamação pública.
— Agora que a justiça foi feita para os males entre nós, devemos
combater os males ao nosso redor, meus companheiros lobos. Não
podemos mais negar a realidade inexorável que paira sobre ambos os
Bandos Sombra da Lua e Pântano de Carvalho. A guerra com os Vulpes é
inevitável. E agora, devemos dedicar todos os recursos para nos
prepararmos.
E assim, a guerra tinha começado. Ao som de aplausos estrondosos.
Capítulo 20
MORTE, NÃO SE ORGULHE
Quinn

Uma brisa fresca do início do outono despenteava meu cabelo


divertidamente.
Ela adoçava o ar da tarde com o cheiro de nogueira e pinheiro.
Rouxinóis gorjeavam nas árvores acima de nós, como se estivessem se
perguntando o que duas pessoas poderiam estar fazendo em uma parte
tão inexplorada da floresta.
Tia Jodie e eu estávamos mais nas profundezas dessa floresta do que
nunca.
Estar tão longe da Fortaleza Vulpes era exatamente o que eu precisava
depois de ontem à noite.
Este local era verdadeiramente sereno.
Um pequeno riacho alegre borbulhava no solo florido de uma
floresta.
Enquanto o resto das árvores e da flora começavam a murchar e
escurecer, aqui as árvores, arbustos e grama permaneciam em um tom
vibrante de verde.
Era como um oásis de vida em meio a um deserto decadente.
— Seu pai e eu adorávamos vir aqui, — minha tia refletiu
melancolicamente quando paramos na beira do lago. — Quando
crianças, ele e eu costumávamos vagar por aqui nas noites de verão, para
tentar pegar girinos, vaga-lumes e qualquer outra criatura em que
pudéssemos colocar as mãos.
— Parece que meu pai era um espírito livre, — eu disse.
— Oh, ele era. Sempre muito atento também. Às vezes, sua cabeça
parecia misturar-se ao cosmos.
É
— É engraçado, — eu ri, — todos aqueles anos presa dentro daquela
cabana abafada, e minha mãe nunca falou sobre essa parte dele comigo.
Ela falava bem dele, é claro, mas sempre como se ele fosse perigoso e
imprudente.
— Acho que todos os sonhadores são até certo ponto, — disse Jodie.
— Seu pai era um quebrador de regras. E embora suas razões fossem
justas e muito criteriosamente concebidas, é preciso alguma audácia para
prosseguir com isso. Você certamente tem esse mesmo espírito de fogo
em você.
Ela piscou para mim.
— Quer mergulhar a ponta dos pés? — ela perguntou.
— Claro, — eu afirmei com a cabeça.
Tiramos os sapatos e deixamos as águas barulhentas do riacho
fazerem cócegas em nossos pés.
A água estava fria com os primeiros sinais de outono.
Tia Jodie e eu ficamos sentadas em silêncio por um tempo,
apreciando a serenidade deste pedaço intocado de floresta.
À medida que eu ficava mais relaxada, me sentia mais à vontade para
fazer uma pergunta à tia Jodie que recentemente começara a me
incomodar.
— Você se importa se eu perguntar uma coisa? — eu disse, olhando
para o meu reflexo embaçado no riacho.
— Manda, querida! — ela respondeu.
— Por que Sombra da Lua nunca tentou colocar as garras em você?
Quer dizer, você também é descendente da Deusa da Lua. Sem
mencionar que é membro dos malfei... er... uh... Vulpes. Por que eles não
perseguiram você?
— Bem, ao contrário do seu pai, eu nunca lancei minha sorte contra
Sombra da Lua — ou qualquer outro bando para ser sincera. Nunca fui
transformada com a mordida de um lobo do jeito que você e seu pai
foram. Eu me ensinei a me transformar.
— Mas você estava com ele na noite em que o capturaram. Alfa
Galahad lutou com você lobo a lobo.
— Pelo que eles sabiam, eu era apenas uma malfeitora aleatória
ajudando a convencer outro dissidente a entrar em nosso bando. Eles
não sabiam quem eu era ou de quem eu era parente. Na verdade, fora
você e seu namorado Alfa, arriscaria dizer que nenhum dos lobos sabe.
Sem mencionar que nunca cometi o crime hediondo que seu pai
cometeu.
— Crime hediondo? — eu disse, levemente surpresa.
— Sim, — ela suspirou. — Ele se apaixonou. Os lobisomens não
deveriam encontrar o amor. Eles deveriam encontrar companheiros.
— E você?
Tia Jodie começou a rir:
— Eu? Céus, não, eu nunca encontrei amor ou companheiros. Tenho
dedicado essas energias a outras atividades.
— O que você quer dizer?
— Bem, aquelas habilidades especiais sobre as quais falei ontem à
noite. Para realmente dominá-las, eles exigem muita devoção a si
mesmo. Tempo, concentração, exploração emocional. Todas as coisas
que ter um companheiro também exige.
A oferta de minha tia para me treinar nesses poderes voltou à minha
mente.
Ela era tão sábia, tão comportada, tão incrivelmente equilibrada
como pessoa. Pode não ter sido de bom tom ficar longe do bando, mas se
eu pudesse colher algo de seus ensinamentos, me tornar até mesmo uma
fração do lobo que ela é, então eu poderia retornar ao Sombra da Lua
com a sabedoria de reparar suas muitas falhas. E para reconciliar a cisma
entre meu bando e os Vulpes.
— Tia Jodie, — eu disse.
— Sim, querida, — ela respondeu docemente.
— Eu acho... Eu quero aprender essas habilidades que você falou.
— Isso significa que você está planejando ficar aqui um pouco? — ela
perguntou.
Eu balancei a cabeça afirmativamente,
— Se estiver tudo bem, é claro.
Um sorriso que ofuscou o sol da manhã iluminou seu rosto: —
Quinn, nada me faria mais feliz.
Jaxon

Nenhuma palavra.
Nem uma porra de palavra a manhã toda.
Nem mesmo um “bom dia” ou um “boa noite”.
Por mais que eu quisesse encontrar uma maneira de bancar a vítima
neste caso, não havia como.
Eu estaria mentindo se dissesse que teria reagido de qualquer outra
forma se tivesse encontrado minha companheira seminua em um quarto
com seu ex. A única diferença é que eu poderia ter quebrado alguma
coisa.
Não... Eu definitivamente teria quebrado alguma coisa.
No entanto, nada aconteceu.
Tudo o que fizemos foi conversar.
Apesar de todos os problemas que causou, gostaria de poder dizer que
a conversa tornou algo melhor. Que havia resolvido alguma culpa ou
dúvida que permanecera sem solução após a morte de Katherine.
Mas, infelizmente, só criou mais problemas.
Dúvidas vagavam em minha mente enquanto eu caminhava pelos
corredores pedregosos da Fortaleza Vulpes.
O que Katherine dissera me fez questionar tudo o que eu sabia.
Meu pai me ensinara uma adesão bem rígida ao Estatuto dos Lupinos
que governava nosso bando.
Ordenança após ordenança sobre como manter a integridade das
tradições de nosso bando, desde o acasalamento até a caça e a guerra.
Embora eu não necessariamente concordasse com tudo que fui
ensinado a defender e proteger, entendi que não cabia a mim aprovar ou
desaprovar.
O verdadeiro grau de um Alfa era medido pelo quão bem ele
sustentava as tradições de seus antepassados.
A observância fiel desses princípios comprovados pelo tempo era a
métrica final da boa liderança. Mas pensar como essas leis engendraram
tanto preconceito desnecessário contra ela... Inferno, elas justificavam o
desdém que os outros sentiam ao vê-la ao meu lado.
E quando pensei no que eles pretendiam para Quinn.
Sua vida inteira foi completamente desenraizada. Sem sequer uma
palavra para a mãe que ela deixou para trás, foi praticamente obrigada a
abandonar o mundo que conhecia e imediatamente mergulhar no papel
de Luna.
Eu nunca tinha contado a ela, mas no fundo uma parte de mim
sempre se sentiu meio culpada por ser a causa de tanta reviravolta em
sua vida. Ela não merecia todos os obstáculos que eu a fiz saltar.
Ainda assim, algumas coisas boas resultaram disso.
Ela e eu saímos disso.
Agora eu não conseguia imaginar a vida sem ela.
Eu a amava de verdade e reescreveria qualquer página do velho e
empoeirado livro de regras para sua felicidade.
Eu só esperava que esse tratamento de silêncio passasse logo para que
eu pudesse ter uma conversa real com ela sobre isso.
Todos os pensamentos fervilhando dentro de mim estavam tendo um
efeito corrosivo.
Eu estava uma pilha de nervos.
Enquanto eu avançava pelas passagens labirínticas do esconderijo dos
malfeitores, meus pensamentos foram interrompidos.
— Jax! — uma voz inflexível ecoou no alto teto cravejado de
estalactites da gruta mal iluminada.
Meu corpo congelou em uma posição defensiva.
Eu procurei em meu entorno por uma figura hostil.
Então, saindo das sombras, apareceu Carl. Meu irmão.
Merda.
Com todo o caos dos últimos dias, eu tinha me esquecido totalmente
dessa lata de vermes.
— Tenho tentado ficar sozinho com você nos últimos dias, — ele
disse com um sorriso malicioso.
— Aposto que sim, porra, — eu lancei de volta para ele.
Estava claro o que ele queria.
Uma revanche.
— Há algo que quero dizer a você, — disse ele.
— Já ouvi o suficiente do que você tem a dizer, — rosnei enquanto
começamos a circular ao redor da caverna.
Esse cara era um Mohammed Ali médio quando se tratava de mexer
com a minha cabeça.
Ele tinha um jeito estranho de distorcer os fatos para me fazer
duvidar das fibras do meu próprio ser.
Eu não iria deixá-lo jogar seu jogo de intimidação comigo novamente.
Com os punhos preparados, ataquei Carl com um grunhido violento.
Com aparentemente pouco esforço, ele se esquivou do meu ataque.
Nos minutos seguintes, comecei a experimentar todas as táticas de
artes marciais que meu pai já havia me ensinado.
Nem um único soco ou chute o acertou.
Estávamos empatados.
Nós circulamos a sala uma dúzia de vezes até que eu fiquei esgotado.
— Droga. Você pode ser um bastardo, mas você luta bem.
Carl sorriu.
— Eu tive um bom professor.
— É? — eu ofeguei, — Quem?
— O mesmo que você.
Eu olhei para Carl por um momento.
Havia algo diferente nele desde a última vez que lutamos.
A ameaça havia sumido de seu rosto.
Aquele sinistro arco de sua sobrancelha se nivelou em um olhar de
firme determinação.
Foi um olhar que reconheci.
O mesmo que meu pai costumava usar.
— Você está pronto para ouvir o que tenho a dizer agora?
— Ok... — eu disse incerto, — fale.
— Beta Carl! — Uma voz estridente ecoou na gruta. Carl e eu
olhamos para a entrada. Tia Jodie estava caminhando em nossa direção
com Quinn a seguindo.
Os olhos de minha companheira estavam fixos longe dos meus, nem
mesmo reconhecendo que eu estava ali.
Meu irmão ficou rígido em atenção.
— Sim, Alfa.
— Parece que nossos convidados ficarão aqui indefinidamente. Estou
movendo minha sobrinha para o quarto mais próximo do meu. Por favor,
veja se está preparado.
— Sim, Alfa, — Carl bateu os calcanhares e saiu da caverna.
— Ficar indefinidamente? Aqui? Quinn, temos um bando para o qual
voltar! — Corri e agarrei suas mãos, praticamente implorando para ela
reconsiderar.
Mas ela me olhou com um silêncio frio e imparcial.
— Sua Luna decidiu aceitar minha oferta de orientação em estudos
que ninguém em seu bando poderia executar, — tia Jodie disse
pomposamente. — Você não compreenderia, mesmo se eu tentasse
explicar. Agora, quanto a você, é o companheiro de minha sobrinha e
bem-vindo para ficar enquanto ela ficar. Mas você deve prometer deixá-la
em paz quando ela estiver estudando. O que ela está aprendendo exige
grande concentração.
Estudando o quê?
Eu não tinha a porra da ideia do que essa velha maluca estava falando,
mas eu sabia que não deixaria Quinn sozinha para ter sua cabeça enchida
de besteiras.
Algo estranho estava acontecendo.
E o que quer que fosse, eu ficaria para proteger minha companheira
disso.
Quer ela quisesse ou não.
Capítulo 21
NA CAÇA Alex
PINGO... PINGO... PINGO... PINGO...
Uma substância espessa e rançosa escorria das paredes de pedra.
Exércitos de insetos corriam pelo chão em ritmo assustador.
E lá, na cela incrustada de teia de aranha, estava eu.
Eu, um traidor.
Um político barato.
Desonroso.
Desonrado.
Apodrecendo nas profundezas do Inferno.
Eu não ia ao Inferno há anos.
Em minha vida, nenhum lobisomem jamais foi enviado para lá.
Mas agora eu percebi o quão apropriadamente nomeada era a câmara
de isolamento subterrâneo do Sombra da Lua.
Meu pai sempre inutilmente ameaçava me mandar para o Inferno
quando eu me comportava mal.
E com razão.
Era um lugar horrível, reservado apenas para os perpetradores dos
crimes mais hediondos.
Assassinos, conspiradores e traidores... como eu.
Até mesmo a laje de rocha de uma cama nos confins úmidos desta
prisão subterrânea era boa demais para minha traiçoeira laia.
Criminosos como eu não mereciam o mofo, a sujeira e as baratas que
povoavam este lugar sombrio.
Pois eu havia me rebaixado ainda mais do que eles.
Eu estava tão preocupado em impedir os males incubados dentro do
bando que eu mesmo me tornei um dos males.
As mesmas tradições que defendi durante toda a minha vida, eu traí.
Eu queria dizer que era pelo amor ao meu bando.
Pelos meus amigos.
Pelo meu Alfa perdido.
Mas não era.
O orgulho havia incitado minhas ações.
O desejo desesperado de me agarrar à minha posição havia me levado
a uma tática oposta ao seu propósito, envergonhando a elevada
aprovação de meus antepassados.
Já não merecia mais o título de Beta.
O respeito do meu bando.
Ou mesmo a afinidade de meus amigos.
Mas o mais desmoralizante era que eu não tinha mais autoridade para
proteger meu bando dos males de seu novo regime.
Apropriadamente, eu suponho.
Impotência para combinar com minha incompetência.
Mas os assuntos acima não eram mais minha preocupação.
Meu mundo era escuridão.
Minha vida estava acab...
TUM. TUM. TUM.
O som de pés pisoteando na superfície enviou uma chuva de poeira
sobre mim.
Através dos pequenos orifícios de ar na escotilha de aço fortificada da
minha cela, eu podia ouvir um coro de vozes abafadas conversando.
Um momento depois, a porta superior se abriu.
Eu protegi meus olhos enquanto a luz ardente do dia interrompia a
escuridão abissal.
Entre meus dedos, pude distinguir três figuras descendo a escada em
meu buraco do Inferno.
Quando a escotilha se fechou atrás delas, tirei as mãos dos olhos.
Três silhuetas femininas estavam diante de mim.
Mesmo que seus rostos estivessem escuros, eu sabia que eram minhas
amigas: Sky, Harper e Zara.
Eu esperava que estar com pessoas conhecidas pudesse ter gerado
algum conforto.
Mas isso não aconteceu.
Doeu como sal em uma ferida aberta.
De todos os membros do bando, elas devem ter sido as mais feridas
por minha traição.
Eu não sabia o que dizer.
O que eu poderia dizer?
— Como você está, Beta? — Sky perguntou com ternura suave.
Beta.
Meus ouvidos sangraram ao som do meu título anterior.
— Receio que você esteja enganada, — respondi catatonicamente. —
Você não encontrará ninguém dessa categoria aqui.
— Não fale assim! — Zara protestou timidamente.
— Eles estão... Eles estão tratando você bem aqui?
— Bem como é devido a alguém que vendeu sua honra para ganhar
um concurso de popularidade. — Sky respondeu delicadamente: — Alex!
O Alfa Anthony usou a festa que você deu como uma desculpa patética
para tirá-lo do caminho. Certamente você sabe disso.
— A intenção dele não é a questão. O fato é que ele e seu novo regime
me declararam culpado de um crime que cometi. Eu cometi. Pura e
simplesmente.
— Mas seus motivos eram bons, — disse Zara. — Você estava
tentando jogar o jogo de Alfa Anthony para mantê-lo fora do poder. Foi
um crime no melhor interesse do bando.
Eu não pude deixar de zombar.
A lealdade delas era surpreendente e comovente. Mas eu temia que
estivesse mal colocada.
— Vocês me honram com a fé de vocês, — suspirei. — Mas temo que
meu caráter não mereça tal credibilidade.
— Não temos tempo para ceder à sua festa de piedade, Beta. Estamos
aqui para avisar que estamos indo embora, — disse Harper com
severidade.
— Inteligente, — respondi.
É certo que uma parte de mim doía ao saber que os únicos lobos que
eu poderia chamar de amigos neste momento estavam prestes a partir.
Mas era a coisa certa a fazer.
Com o Alfa Anthony no comando do bando, era apenas uma questão
de tempo antes que as coisas desmoronassem.
— Onde vocês irão? — eu perguntei.
Zara se aproximou de mim e sussurrou:
— Vamos atrás de Alfa Jax e Luna Quinn.
— Um resgate? Vocês realmente acham que eles ainda estão vivos?
Zara recuou, chocada com a minha pergunta.
— Eu acho. Todas nós ainda acreditamos que há uma boa chance.
Você não?
Eu queria acreditar. Mais do que nada.
Mas eu conhecia meu Alfa.
Ele não ficaria longe por tanto tempo sem uma palavra ou qualquer
tipo de sinal, a menos que o impensável tivesse acontecido.
De qualquer maneira, as três não deveriam entrar na cova do inimigo
por pura esperança.
— Eu aconselharia fortemente contra vocês perseguirem o rastro
deles. Se algum infortúnio se abateu sobre eles, os malfeitores estariam
em alerta máximo para derrubar qualquer resgatador em potencial.
— Felizmente, teremos um especialista na estratégia deles nos
guiando ao longo do caminho, — disse Sky, acenando para mim.
— Caso vocês não tenham notado, queridas amigas, estou um pouco
indisposto no momento.
Sky, Harper e Zara se entreolharam com rostos determinados.
De sua bota de cano alto, Harper puxou uma longa faca e jogou-a aos
meus pés.
Zara acenou silenciosamente para mim que havia quatro guardas no
topo.
Nós quatro poderíamos passar por eles.
Peguei a faca e a observei por um momento.
A chance de escapar estava literalmente na palma das minhas mãos.
Um lobo de maior vigor do que eu poderia empunhar a lâmina
brilhante com facilidade.
Mas eu balancei minha cabeça e devolvi a faca para Harper.
— Eu já cometi traição, — eu sussurrei. — Não estou ansioso para
manchar meu nome ainda mais.
— Você quer dizer que você iria ficar sentado aqui e apodreceria
enquanto aquele bastardo do Anthony — aquele criminoso — rouba o
bando? Sem uma batalha? — perguntou Harper, com fogo nos olhos.
— E de que adiantaria um criminoso depor um criminoso? — eu
perguntei. — A corrupção vence de qualquer maneira! O melhor que
posso fazer é ficar aqui e cumprir a punição que meu povo me deu. É o
meu dever.
— Você perdeu seu senso de dever, Alex, — Harper zombou, — e sua
força de caráter.
Senti uma pontada de vergonha.
Essas foram palavras duras de ouvir de Harper.
Elas selaram minha desgraça.
Uma parte de mim queria lutar contra suas acusações.
Mas qual seria a utilidade disso?
Se o pior que ela pensava de mim era que eu não tinha mais nenhuma
— força de caráter , — então ela ainda não havia compreendido a
gravidade da minha infração real.
— Desejo-lhe boa sorte em sua jornada. De verdade, sim, — disse eu,
— mas devo permanecer aqui. É a única coisa honrosa a fazer.
Minhas três amigas me olharam com grande decepção.
Seus rostos exibiam uma tristeza assustadora que tocou meu coração.
Antes de se virar para sair, Sky enfiou a mão no bolso e jogou para
mim uma bolsa de lona.
— Alguns mantimentos extras que conseguimos roubar. Não é muito,
mas vai te ajudar a manter a força.
Harper chamou os guardas para abrirem a escotilha.
Eu assisti minhas três ex-camaradas ascenderem do poço do Inferno
para perigos desconhecidos sem nem mesmo uma palavra.
O que eu poderia dizer?
Sim, cumpri a diretriz da lei.
Mas eu havia pisoteado a diretriz da amizade.
Quinn

Com um suspiro de exaustão, me esparramei nos lençóis de seda de uma


cama circular de pelúcia.
Depois de dias de decisões difíceis, foi bom dar um descanso aos
meus músculos nervosos.
Eu tinha que admitir; esse novo quarto ao lado dos aposentos de
minha tia era uma melhoria significativa em relação ao cômodo com
paredes de pedra onde me hospedara durante meus primeiros dias.
Com um espaçoso banheiro privativo, carpete confortável e paredes
adornadas com intrincados azulejos e cintilantes fragmentos de quartzo,
o quarto era mobiliado com comodidades suficientes para se equiparar a
qualquer hotel cinco estrelas.
Mas estava faltando um conforto ao qual eu havia me acostumado
nos últimos meses.
A presença do meu companheiro.
Certo, eu mal disse mais do que uma palavra a ele nos últimos dias.
Não era porque eu estava chateada com ele.
Não pelo que aconteceu com meu pai.
Nem mesmo por encontrar ele seminu com sua ex-companheira.
Eu confiava nele.
Sinceramente, o problema era comigo mesma. Descobrir como eu me
encaixo no bando Sombra da Lua, meu relacionamento com Jax, e minha
própria pele à luz de todas as novas informações que eu aprendi nos
últimos dias.
Havia tanta coisa acontecendo na minha cabeça que eu não sabia
como verbalizar.
Era difícil o suficiente me acostumar com o vínculo íntimo que eu
compartilhava com Jax. E embora a vida o tenha desafiado quase que
instantaneamente com um ataque de ameaças externas, eram obstáculos
que nós tínhamos que superar.
Mas tudo o que acontecera nos últimos dias foi estritamente focado
em mim.
E naquela noite, sozinha naquele quarto espaçoso, todos os meus
problemas pareciam maiores do que nunca.
Eu esperava que, aprendendo a canalizar os poderes sobre os quais
minha tia havia falado, pudesse aprender a processar esses sentimentos e
descobrir como eles me orientavam na realidade.
Então eu poderia finalmente me abrir e compartilhar tudo com...
TOC. TOC. TOC.
Três batidas curtas na porta do quarto me tiraram da minha
introspecção.
Provavelmente é a tia Jodie passando para dizer boa noite.
Eu me descolei da cama e cambaleei até a porta.
Quando a abri, fiquei surpresa.
Lá estava Jax.
Mas ele parecia tão diferente — eu mal o reconheci.
Seus olhos estavam vermelhos e inchados, claramente de tanto
chorar.
A postura orgulhosa que marcava seu orgulho de Alfa deu lugar a uma
corcunda taciturna.
Seus lábios franzidos de menino tremiam.
Era como se eles quisessem dizer algo, mas não pudessem.
Ainda assim, toda a sua aparência dizia mais do que qualquer palavra
jamais poderia.
A distância o estava dilacerando.
Não entre nossos quartos, mas entre nossas almas.
Ficamos olhando um para o outro por vários minutos, nenhum de
nós foi capaz de fazer nada além de conter as lágrimas.
Mas depois de um tempo, eu não conseguia suportar nem mesmo os
poucos centímetros de distância entre nós.
Eu ardia por intimidade.
Mesmo que minha língua não pudesse expressar, meu corpo poderia.
Eu agarrei Jax pelo rosto e o puxei para um beijo longo e ardente.
Nós transamos naquela noite. Com intensidade abafada.
Cada impulso forte dele enviava ondas de choque de prazer carnal
pelo meu corpo.
Eu gemia com tanta força que poderia ter alarmado os guardas
noturnos.
Mas enquanto nossos corpos estavam sincronizados
harmoniosamente no ritmo da noite, nossas almas colidiam com a
dissonância.
Enquanto estávamos deitados um ao lado do outro na cama, nossos
corpos estavam em um estado catatônico.
Nossos corações estavam entorpecidos.
Nossos sentimentos foram tranquilizados pela estranha percepção de
que o vínculo que compartilhávamos não existia mais.
Eu queria chorar como tínhamos antes.
Eu queria sentir perda, raiva, indignação, saudade — alguma coisa.
Mas eu não senti.
Não na cama ao lado dele.
Não dormindo em seus braços.
Nem mesmo quando acordei na manhã seguinte e não o encontrei na
cama.
Meu amor por Jax, em uma colisão tempestuosa de frustração
reprimida, de alguma forma se dissipou.
Capítulo 22
REUNIÕES ESTRANHAS
Jodie

Dê-me a força.
Para guiá-la nesta nova jornada, ó Matheius, e para transmitir os poderes
que você tão prudentemente me mostrou.
Que você e sua poderosa hoste de espíritos lupinos me conceda essa
sabedoria, para que eu possa mostrar a minha própria carne e sangue como
explorar seu poder interior, para que, juntas, possamos usá-la para glorificá-
lo. Para glorificar os Vulpes.
Da mihi potestatum! Da mihi potestatum! Da mi...
— Me desculpe, Alfa Jodie.
Minha conexão celestial com os deuses de Vulpes foi quebrada
quando meu desajeitado Beta irrompeu impertinentemente em meu
quarto.
— Maldição, Carl! O que diabos você quer? — eu gritei.
— Lamento interromper, Alfa, mas três espiãs do Sombra da Lua
foram capturadas nas redondezas. Eu queria que você soubesse
imediatamente?
— Espiãs?
Droga!
Eu sempre soube que seria capaz de manter Quinn longe de seu
bando, mas não tinha previsto que seu bando viria até nós.
— Muito bem. Vou ver o destino dessas infiltradas. Traga-as ao meu
tribunal para julgamento.
— Sim, Alfa. — Carl bateu os calcanhares e deu meia-volta em direção
à porta.
— E Beta, — gritei de volta para ele, — chame minha sobrinha e seu
companheiro para se juntarem a mim agora.
— Sim, Alfa, — disse Carl ao sair da sala.
Talvez houvesse uma maneira de usar isso como uma oportunidade
de aprendizado.
Para mostrar à minha sobrinha impressionável minhas verdadeiras
cores.
E para mostrar a ela como os Vulpes atendem visitantes não
esperados.
Sky

— Vamos lá vocês três! E fiquem quietas!


Um grupo de guardas de ombros largos escoltou Harper, Zara e eu
por uma escada sinuosa e íngreme até um corredor mal iluminado.
Os guardas fizeram uma careta para nós, claramente tentando
intimidar.
Mas minhas amigas e eu estávamos completamente preparadas.
Tudo estava indo de acordo com o planejado. Depois de fazer nosso
caminho furtivamente através da vasta rede de cavernas que
compreendia a fortaleza dos malfeitores, não havíamos conseguido
nenhum progresso em descobrir o paradeiro de Jax ou Quinn.
Nós três decidimos nos render para nos aproximarmos das
autoridades do bando, na esperança de aprender mais sobre o destino de
nossos amigos.
Certo, era um risco. Mas, neste ponto, era nossa melhor chance.
Estremeci quando os guardas nos levaram da passagem estreita e
escura para uma gruta grande e brilhante.
Era um lugar verdadeiramente incrível.
Colunas intrincadas foram esculpidas em pilares de rocha,
sustentando seções do teto de azulejos, que foram intercaladas ao redor
do topo da cúpula rochosa.
Raios de sol filtravam-se pelas estreitas claraboias no teto da caverna.
Os feixes de luz concentrados brilhavam diretamente em um
pequeno grupo de aparência formal na extremidade da caverna, elevado
em uma plataforma rochosa.
Enquanto desfilávamos pelo caminho ladeado de sentinelas, comecei
a ver seus rostos.
Sentada em um trono circular esculpido na rocha no centro da
comitiva estava uma senhora de meia-idade. Ela era bem gordinha para
uma mulher de sua idade e tinha um sorriso malicioso. Embora eu
soubesse que nunca a tinha conhecido antes, havia algo familiar nela que
eu não conseguia identificar.
Ela estava flanqueada à direita por uma figura imponente que eu não
poderia não reconhecer.
Era Carl, o líder malfeitor que trouxe o caos para nosso bando.
Mas havia algo diferente nele.
Ele não exibia mais aquele sorriso sádico.
Ele parecia domesticado, subjugado e quase escultural.
À sua esquerda estavam duas outras figuras, iluminadas pelo sol.
Quando cheguei mais perto, pude ouvir um deles soltar um grande
suspiro.
Esforcei-me para tentar distinguir suas feições através das sombras.
Assim que paramos na beira da plataforma, finalmente consegui dar
uma boa olhada neles.
Eu conhecia aqueles rostos curiosos e preocupados.
Eram Jax e Quinn!
Eles estavam vivos!
Mas o que eles estavam fazendo no trono dos Vulpes?
Quinn

— Sky! Harper! Zara! — eu exclamei.


Eu não podia acreditar.
Que porra elas estavam fazendo ali?
Quer dizer, era bom vê-las, mas não em um perigo tão grave.
Minha tia tinha estendido sua hospitalidade para mim porque eu era
sua sobrinha.
Jax recebeu sua indulgência apenas como uma extensão da minha
presença.
Temi que ela não seria tão gentil com minhas amigas.
— Ah! Então, você conhece essas espiãs, — concluiu minha tia.
— Espiãs? — eu perguntei, confusa.
— Sim. Beta Carl me disse que essas três foram pegas bisbilhotando a
Fortaleza Vulpes. Sem dúvida seguindo o cheiro de seu Alfa e Luna
desaparecidos.
Merda.
Como elas puderam ser tão tolas a ponto de serem capturadas?
Eu as conhecia. Elas eram mais espertas do que isso.
Mas nada disso importava. Tive de defender o caso delas para minha
tia.
— Tia Jodie, por favor. Eu sei que elas são suas inimigas, mas elas são
minhas amigas. Você tem que deixá-las ir.
— Deixar elas irem? Oh, eu não poderia simplesmente deixá-las
voltar para a floresta, — ela riu.
— Se você sabe o que é bom para você, isso é exatamente o que você
fará, — rosnou Jax, avançando com os punhos cerrados.
— Psh, Alfa! — Tia Jodie zombou. — Guarde essas presas. Você não
me deixou terminar.
Minha tia se levantou de seu trono e caminhou em direção às minhas
amigas.
— Vai escurecer em algumas horas. Eu nem sonharia em levar vocês,
senhoras, para a floresta à noite. Vocês vão descansar aqui, como minhas
convidadas, e estarão livres para sair logo de manhã.
Sky, Harper e Zara pareciam totalmente confusas. Esta claramente
não era a recepção que elas esperavam.
Francamente, também fiquei surpresa.
Mas de modo agradável.
Significava muito tia Jodie ser tão acolhedora com minhas amigas,
embora elas fossem tecnicamente suas adversárias.
Que incrível bondade ela possuía.
— Acontece que vocês, moças, escolheram o momento oportuno para
vir nos fazer uma visita. — Minha tia sorriu para minhas amigas, que
estavam com uma expressão estupefata.
— Esta noite é uma noite de celebração! A noite do solstício de
outono. Faremos uma celebração nos jardins, e vocês devem comparecer.
Festa do solstício?
Esta foi a primeira vez que ouvi falar de tal celebração.
Pelo que eu sabia, Vulpes era um bando muito sério.
Mas uma festa seria o lugar perfeito para conversar com minhas
amigas e colocá-las a par de tudo.
Eu certamente não iria questionar as gentilezas de minha tia.
— Beta Carl, mostre a essas Senhoritas seus quartos.
Seu obediente Beta curvou-se e dispensou o destacamento de guarda.
Tia Jodie então se virou para mim.
— É melhor você ir e se preparar, minha querida. Tenho certeza de
que você terá uma noite agitada de atualizações pela frente.
Harper

Eu não gostava disso.


Nem um pouquinho.
Por que diabos os malfeitores estavam nos mostrando hospitalidade?
Há poucos meses, eles tinham atacado nosso bando e deixado o caos
em seu rastro.
Agora eles estavam literalmente nos servindo bebidas e comidas em
uma festa extravagante.
Onde diabos os Vulpes conseguiram os recursos para dar uma
saraivada cheia de champanhe? Ou uma costureira pessoal para fazer
para mim e para cada uma de minhas amigas vestidos de festa
apropriados?
Como diabos eles tinham seu próprio trio de jazz?
Nada disso fazia o menor sentido.
Era suspeito pra caralho.
E eu não estava acreditando na hospitalidade pretensiosa do Alfa
malfeitor, mesmo que fosse tia de Quinn.
Onde estava Quinn, afinal?
A festa estava em pleno andamento há quase meia hora e nenhum
sinal dela — ou de seu companheiro, para falar a verdade.
Sky, Zara e eu estávamos em uma mesa de coquetel, olhando para
nossas taças de champanhe.
— Acha que está envenenado? — Zara perguntou com um sorriso
malicioso.
— Eu não sei, — respondeu Sky, puxando seu cabelo lindamente
trançado. — Todo mundo aqui parece estar bebendo.
— Bem, eu não vou comer ou beber nada que alguém aqui me dê, —
eu zombei. — Eu quero pegar Quinn e Jax e dar o fora daqui enquanto
ainda está escuro.
Sky estendeu a mão e agarrou a minha.
— Ei. Eu entendo que você está tensa. Você tem razão em estar. Mas
nada vai acontecer aqui e agora. Vamos ficar no momento, tentar
aprender o máximo que pudermos e, finalmente, falar com as duas
pessoas que viemos encontrar.
Suspirei.
Ela estava certa.
Eu olhei em seus olhos. A lua brilhante do outono dançava em seu
azul cintilante.
Elas me faziam sentir calma e nervosa ao mesmo tempo.
Eu tinha passado muito tempo com Sky. Embora eu sempre a tenha
achado um pouco alegre e nervosa, éramos boas amigas.
Mas esta noite, algo sobre ela bateu de forma diferente.
Enviou um arrepio pela minha espinha.
O que diabos há de errado comigo?
— Perdoe-me por interromper.
Meu olhar foi para algum garoto de olhos arregalados e aparência
desleixada sorrindo estupidamente para Sky.
— Eu estava me perguntando, talvez, se a senhorita gostaria de
dançar?
O que diabos esse malfeitor pensava que estava fazendo?
— Oh, — Sky riu, — desculpe, estou com os pés sensíveis.
— Você ficaria surpresa com o que um pouco de luar pode fazer, —
ele piscou para ela suavemente.
Antes que eu percebesse, a mão de Sky escorregou da minha
enquanto o presunçoso jovem malfeitor a girava no meio da multidão.
Eu senti um lampejo de raiva crescendo em meu peito.
Um que eu não entendi completamente.
Foi porque um malfeitor estava dançando com Sky?
Ou porque Sky parecia estar gostando?
Jaxon

— Bem, Jax, esqueci o quão bem você se arrumava.


Levantei os olhos do meu prato de Chateaubriand para ver Katherine
sentada em um pequeno banco de pedra em frente a uma parede de
treliça de ásteres.
Meu queixo caiu com o quão deslumbrante ela parecia.
Ela usava um vestido branco rendado e o colar de pavê de diamantes
que sempre usava. E com seu cabelo em cachos soltos, ela parecia quase
exatamente como eu me lembrava dela em... nossa noite de núpcias.
Como ela permaneceu tão jovem?
— Oi Kat... Eu... uh... não te vejo há alguns dias, — eu disse
nervosamente. — O que você tem feito?
— Oh, não muito. Explorando a floresta, passando um tempo com
amigos...
Amigos! Oh meu Deus!
Eu tinha que encontrar Sky, Harper e especialmente Zara — a melhor
amiga de Katherine.
A última vez que tinham visto Katherine foi quando ela exalou seu
último suspiro — depois de um encontro com os malfeitores.
Elas tinham que saber que ela estava viva!
— Katherine! Espere bem aqui. Cara, eu tenho uma surpresa para
você!
Depois de lutar para abrir caminho através da multidão, finalmente
encontrei Zara, parada perto de uma parede de hera.
— Zara! — eu gritei.
Ela se assustou quando me viu correndo em sua direção.
— Jax! Ó meu Deus. Estive procurando por você e Quinn em todos os
lugares. Onde ela está, afinal?
— Pensando bem, eu não a vi a noite toda. Onde estão Sky e Harper?
— Sky está dançando com algum malfeitor jeitoso e Harper está de
mau humor sozinha em algum lugar por algum motivo. Eu não sei o que
diabos está acontecendo!
— Bem, venha comigo. Há alguém que você precisa ver!
Peguei o braço de Zara e a conduzi no meio da multidão.
— Onde você está me levando, Jax? — ela perguntou.
— Você vai ver!
Finalmente, voltei para o banco onde havia deixado Katherine.
Mas, para minha surpresa, ela havia desaparecido.
— Katherine! Katherine! — chamei seu nome, esperando que ela
ainda estivesse em algum lugar por perto.
— Katherine? — Zara puxou seu braço para longe de mim. — Que
diabos você está falando, Jax?
— Ela está viva! Katherine. Ela mora aqui. Eu estava falando com ela
há menos de cinco minutos.
Uma expressão sombria se estabeleceu no rosto de Zara.
— Eu não sei se isso é para ser algum tipo de piada de mau gosto ou o
quê, mas não é engraçado, Jax. Nem um pouco.
— Eu juro para você! Ela está viva, Zara!
— Talvez você esteja vendo fantasmas, Alfa, — ela suspirou.
— Zara, eu prometo a você!
— Vou procurar Quinn e os outros, — Zara disse com firmeza. — Há
muito que precisamos conversar. Onde seria um bom lugar para uma
reunião privada?
— Eu vou uh... Apenas me encontre de volta aqui quando você a
encontrar. Eu conheço um lugar.
Zara assentiu baixinho e desapareceu na multidão, claramente ainda
convencida de que eu estava tentando fazer uma piada de mau gosto com
ela. Enquanto esperava Zara voltar, examinei a multidão,
desesperadamente procurando por outro vislumbre dela.
Mas Katherine havia partido.
Desaparecido.
Como um fantasma.
Capítulo 23
NOVAS DORES DE CABEÇA Anthony
— Vamos, seus cachorros! Preciso dessa manobra duas vezes mais rápida
e dez vezes menos desleixada!
Fiquei olhando para os soldados sem fôlego rastejando pelo lodo sob
fios de arame farpado, uma chuva implacável batendo-os ao chão.
Um soldado da infantaria coberto de lama olhou para mim e,
timidamente, disse: — Já passa da meia-noite, Alfa Anthony, os meninos
e eu estamos ficando cansados.
— Cansados, é? — eu sorri jocosamente para o soldado e dei um
chute rápido em suas costelas.
Porra de garotinha.
— Agora ouçam, vira-latas! Todos vocês! Estamos prestes a lançar a
maior ofensiva da história de qualquer um de nossos bandos. Vamos
enfrentar o maior adversário que já enfrentamos. Se não os eliminarmos
de uma vez por todas, estaremos completamente derrotados. — Ajoelhei-
me e olhei nos olhos de desculpa esfarrapada do soldado que chutei.
— Então, continuaremos rastejando até eu dizer que vocês fizeram
tudo certo, porra. Entenderam?
— Senhor, sim, senhor! — os cansados guerreiros responderam em
coro.
— Executem novamente!
Então, é assim que era estar no comando de um bando real.
Nada mal para um morador do pântano.
Agora eu tinha sob meu controle vários lobos muito maiores do que
quaisquer outros por estas bandas.
Mesmo os Vulpes não teriam chance contra meus números.
Nós os esmagaríamos como os malditos dissidentes que eram.
E então... por que parar aí?
Com Vulpes, Sombra da Lua e Pântano de Carvalho sob meu
comando, eu poderia começar uma campanha por toda a região, unindo
lobisomens sob meu domínio pacífico.
Eles me saudariam como um herói!
Aquele que finalmente trouxe unidade para a espécie dos lobisomens.
Quem superou os cismas históricos desatualizados entre os bandos.
E qualquer rebelde teimoso que se opusesse a esta nova ordem teria
sua insubordinação amplamente recompensada por minha ira. Olhei
para o céu enquanto as nuvens de tempestade se rendiam à lua pálida de
outono emergindo da escuridão. Uma risada triunfante saiu de meus
lábios.
A longa noite em que nossa espécie vacilou está quase terminando. Em
breve, um dia mais novo e mais brilhante nascerá.
Quinn

TOC. TOC.
Bati na porta dos aposentos de minha tia Jodie.
— Tia Jodie, — chamei, — você está pronta?
A porta de seu quarto se abriu lentamente e minha tia colocou a
cabeça para fora.
— Minhas estrelas, Quinn, como você está linda! O que você está
fazendo com toda essa elegância?
— O que você quer dizer? — Eu olhei para o meu vestido cinza suave
e depois voltei para a minha tia. — Você disse que eu precisava me
preparar para a festa hoje à noite e depois passar no seu quarto?
— Oh, sim! — ela riu. — Isso mesmo. Eu disse. Por favor, entre,
pequena.
Tia Jodie me conduziu até seu quarto.
Ela usava um estranho manto cor carvão, enfeitado com intrincados
bordados de contas ao redor do capuz e nos punhos das mangas.
— Você vai para a festa nisso? — eu ri.
— Oh, céus, não! Receio que não vou comparecer à pequena festa no
jardim.
— Por que não? Você é quem planejou todo este encontro em
primeiro lugar.
— Sim, sim, — ela sorriu, — e por um bom motivo.
— Que razão? — eu perguntei.
— Como... uma espécie de distração, você pode dizer. Para ocupar o
resto do bando enquanto eu atendo questões muito mais... urgentes.
— O que você quer dizer?
— Veja, Quinn, o equinócio de outono é uma noite muito especial
para mim. E para você também.
— Como é especial? — eu perguntei, levantando minha sobrancelha.
— Enquanto para o resto do mundo esta noite marca o início de uma
temporada, para você e para mim, ela comemora o nascimento de nossa
ancestral gloriosa: a Deusa da Lua.
— Mesmo? — eu perguntei com admiração.
Tia Jodie acenou com a cabeça.
— Séculos e séculos atrás, a primeira lobisomem do mundo penetrou
nas profundezas ígneas do submundo e bebeu das correntes frescas da
imortalidade. Enfurecidos, os deuses a cercaram com uma centena de
provas torturantes na esperança de deixá-la louca. Louca o suficiente
para perder sua eternidade roubada para os deuses.
— O que eles fizeram? — eu perguntei.
— Eles destruíram sua casa, feriram aqueles que ela amava e
torturaram seu corpo com uma agonia impensável. Mas ela resistiu aos
anátemas deles. Impressionados com sua resistência, os deuses a viram
como digna da investidura divina. Na véspera do equinócio de outono,
nossa ancestral ascendeu ao cosmos para assumir seu novo lugar como
Deusa da Lua.
— Então, como é exatamente que somos parentes dela? — eu
perguntei.
— Por sua pura vontade divina, ela gerou toda a raça de lobisomens.
Entre eles, ela encontrou seu companheiro. Um lobisomem especial que
parecia a mais perfeita de todas as suas criações. Ela concebeu e deu à luz
um filho chamado Matheius.
Matheius.
Eu tinha ouvido vários membros do Sombra da Lua se referirem a ele
como o líder dos Vulpes.
Mas eu não tinha ideia de que ele era meu ancestral!
— Mas, uma vez que a criança era apenas meio-deus, — ela
continuou, — ele não poderia residir com ela na planície celestial. Então,
um deus caminhava entre os lobos. E você e eu, Quinn, somos suas
descendentes.
— Uau, — fiquei maravilhada.
Ainda era difícil para mim compreender que tinha ascendência tão
distinta.
— Então, há algo especial que aconteceu esta noite? — eu perguntei.
Os lábios da tia Jodie se curvaram em um sorriso malicioso.
— Quando as estrelas se alinham na véspera em que o verão cansado
dobra seus joelhos para o primeiro vendaval de outono, um canal direto
para a Deusa da Lua é criado. Como suas descendentes, é a noite em que
podemos nos comunicar mais claramente com os espíritos dos
lobisomens do passado.
Comunicar-se com os mortos?
Eu não tinha noção de que essa habilidade residia em mim.
Parecia completamente irreal.
E se eu poderia falar com os mortos, isso significava que eu poderia
conversar...
— Meu pai! — exclamei. — Se eu aprender a usar as habilidades,
posso falar com ele?
— Claro, minha querida, — minha tia riu, — ele e eu conversamos
várias vezes.
Meu coração saltou de emoção com a notícia. Depois de anos
conhecendo-o apenas pelo nome e histórias isoladas, eu poderia
realmente conhecer o homem que era meu pai.
— É claro, — acrescentou tia Jodie, — não posso me comunicar com
ele por você. Mas posso ajudá-la a aprender como convocá-lo. Esta noite
seria a noite ideal!
— Mostre-me! Eu preciso aprender! — exclamei animadamente.
— Você não tem uma festa para ir? Algumas amigas para conversar?
Merda!
Quase me esqueci disso.
Mas, embora eu quisesse muito ver minhas amigas, nada parecia mais
importante no momento do que entrar em contato com meu pai.
— Eu esperei minha vida inteira por uma chance como esta. Uma
chance de conhecer meu pai. Amigas ou não, eu não perderia isso por
nada no mundo.
Tia Jodie colocou a mão carinhosa em meu ombro.
— E você deve conhecê-lo, minha querida. Ela me levou até um
grande assento almofadado no meio de seu quarto.
Sentamo-nos juntas e ela segurou minhas mãos.
— Agora, a chave para entrar em contato com os espíritos do passado
é a absorção total e completa. Você deve bloquear tudo ao seu redor.
Sentimentos, medos e todas as outras percepções.
Fechei meus olhos e limpei meus pensamentos.
Pensamentos de minhas amigas.
De Jax.
Do meu bando.
Da minha família.
Da tia Jodie.
Até do meu pai.
Minha tia continuou:
— Uma vez que você se entregar completamente ao seu
subconsciente, estenda-se através do link mental: canalize suas energias
para invocar aquele que você procura.
Logo me vi flutuando nas sinapses de minha própria mente.
Havia algo de pacífico nisso.
Como se toda a minha atividade mental tivesse cessado.
Como se eu mesma tivesse morrido.
Então, concentrei todas as minhas energias em achar meu pai.
Eu canalizei o link mental e chamei por ele.
Pai... Pai... Pai...
O tempo deixou de me dominar.
Pelo que pareceram eternidades, chamei o nome de meu pai,
dedicando todas as faculdades de minha psique a materializar sua
presença.
Então, um grande arrepio percorreu meu corpo.
Isso enviou um frio pela minha espinha e abriu meus olhos.
Na minha frente estava sentado um homem que eu nunca tinha visto
antes, mas que eu conhecia a vida inteira.
Seus olhos eram meus.
Seu sorriso sábio me encheu de um calor reconfortante.
Era ele.
Era meu pai!
Mas quando abri minha boca para falar com ele, sua imagem se
tornou uma névoa brilhante que espiralou e desapareceu em uma
explosão de energia.
E assim, meu pai foi embora tão rápido quanto apareceu.
Lágrimas começaram a cair dos meus olhos.
Eu estava tão perto!
Tão perto de conhecer a única pessoa na minha vida com quem eu
sempre fui comparada.
A única pessoa que, quando pensei nele nas horas mais sombrias da
minha adolescência, me deu um sentimento de pertencimento. Ele se foi.
Novamente.
Era como se a história estivesse me provocando.
Tia Jodie me envolveu em seus braços e me confortou.
— Quinn! Não chore! Você conseguiu! Em sua primeira tentativa, —
ela disse animadamente.
— Mas ele sumiu em um piscar de olhos! Eu não consegui dizer uma
palavra, — eu chorei.
— É preciso muita prática e treinamento para poder ter conversas
completas. Mas veja o que você fez com o mínimo de instrução. Se você
persistir, será capaz de convocar seu espírito quase sem esforço.
— Então vamos tentar de novo, — eu disse com determinação.
Nada mais importava agora.
Nada, exceto conhecer meu pai.
Jaxon

— Que diabos é esse lugar? — Zara perguntou enquanto eu rolava uma


grande pedra para trás na frente da entrada de uma câmara secreta
abaixo da escadaria central da Fortaleza Vulpes.
— Meu palpite é que é algum esconderijo de emergência que acabou
sendo esquecido. Com Quinn fora fazendo Deus sabe o que com sua tia
nos últimos dias, eu não tive muito o que fazer a não ser bisbilhotar e
aprender os meandros deste lugar.
— Você acha que ela está com a tia agora? — perguntou Zara,
acendendo a lanterna de seu telefone. — Eu não a vi em lugar nenhum
na festa.
— Que porra eu sei. Ela tem estado tão... distante ultimamente. De
qualquer forma, tenho certeza de que ela está bem. Mas você tem certeza
sobre a Sky?
Harper disparou:
— Eu já te disse, Alfa! Ela saiu correndo da festa toda tonta com um
idiota feio dos Vulpes. Acho que todos nós sabemos o que ela
provavelmente está fazendo às duas da merda da manhã na noite de lua
cheia.
— Jesus Cristo, Harper! Eu só estava perguntando, — bufei.
— Nossas amigas desaparecidas não são o único problema, — Zara
suspirou. — Alfa Anthony assumiu seu lugar como Alfa sobre o Bando
Sombra da Lua. Ele prendeu Beta Alex e está planejando lançar um
ataque aos Vulpes usando suas forças combinadas.
Meu coração parou.
Eu não queria acreditar no que estava ouvindo. Meu bando feito de
refém daquele morador do pântano filho da puta!
Não poderia estar acontecendo.
Primeiro, eu perdi minha companheira.
Agora, meu bando.
Eu não poderia mais permanecer aqui.
Com Quinn ou sem Quinn, eu tinha que salvar meu bando da
subjugação.
— Eu tenho que voltar imediatamente, — eu disse.
— Você não pode simplesmente ir embora sem dizer adeus, — uma
voz feminina riu na escuridão.
Merda!
Fomos descobertos.
Capítulo 24
AMOR EM TODOS OS LUGARES ERRADOS
Sky

— Mais champanhe, minha senhora? — Percival soltou uma risadinha


arrastada.
— Oh, Percy, — eu ri, — mais e você vai ter que me carregar para fora
daqui até o Bando Sombra da Lua!
— Esquece isso! — ele disse, apertando minha mão com ternura. —
Se você não consentir em ficar comigo aqui, então vamos fugir noite
adentro. Começar nosso próprio bando.
— Paaaaaare com isso, Percy, — eu ri batendo em seu peito firme.
Que noite incrível tinha sido.
Quem diria que alguém tropeçando em uma valsa de jazz poderia se
transformar em algum tipo de noite maravilhosamente romântica com
talvez o lobo mais bonito e encantador que eu já conheci na minha vida?
Eu não podia acreditar!
Um malfeitor, tão doce, tão gentil e tão maravilhosamente
cavalheiresco.
Nada como aqueles idiotas brutais no Sombra da Lua.
Eu não tinha certeza se estava explodindo em alguma euforia com
infusão de champanhe ou apenas delirando com o trauma emocional do
dia, mas certamente estava sentindo algo em relação a Percy.
Nós dois nos deitamos em uma encosta isolada do lado de fora do
terreno do Bando Vulpes. Minha cabeça aninhada em seu ombro,
olhávamos para o céu estrelado de setembro.
Ele passou as mãos delicadamente pelo meu cabelo enquanto uma
brisa de outono acariciava meu rosto.
Era uma alegria.
Um paraíso na Terra que eu ainda não conhecia, apenas ouvia falar.
Talvez fosse apenas o vinho falando, mas naquele momento, jurei que
havia encontrado meu companheiro.
E eu iria para onde ele quisesse.
Jaxon

Harper, Zara e eu estávamos paralisados de medo.


Os malfeitores nos encontraram no meio do planejamento de nossa
fuga.
Nossos punhos estavam levantados, prontos para uma luta.
Zara iluminou a direção da voz invisível que nos chamou.
A misteriosa figura soltou um — iip — quando a luz atingiu seu rosto.
Nós três soltamos um suspiro coletivo.
— Katherine, — disse Zara com a voz trêmula, — É... É... realmente
você?
— Claro que sim, minha querida, doce Zara.
As duas correram e se abraçaram com mais força do que quaisquer
duas pessoas já tinham se abraçado antes.
A caverna silenciosa logo se tomou uma sinfonia de fungadas
ressoando nas paredes.
— Mas depois de todos esses anos... como... — Zara lutou contra as
lágrimas.
— Os mistérios dos Vulpes são grandes e vastos, meus amigos. E
também têm a capacidade de desfazer os males que às vezes infligem.
— Os malfeitores... eles restauraram sua vida, — balbuciou Zara.
— Acredite em mim, — eu disse a Zara, — eu sei como você se sente.
Mas estou feliz que você agora vê que eu não estava tentando enganá-la
antes.
— Não... Eu... uh... Isso é simplesmente irreal. Como algo saído de um
sonho estranho.
Katherine sorriu para ela quando elas se soltaram do abraço.
— Faz... muito tempo, Katherine — Harper deu um passo à frente,
com uma expressão de admiração no rosto.
Parecia que ela estava se esforçando para não desmaiar de choque.
— Harper! — Katherine exclamou, envolvendo-a em um abraço
apertado.
— Nunca pensei que voltaria a vê-la, — Harper deu uma risadinha
desconfortável.
— Nem eu a você, — disse Katherine. — Mas... é realmente
maravilhoso estar com todos vocês novamente. Eu quase tinha esquecido
o quanto eu sentia falta disso.
— Eu tenho tanto para te perguntar! Muita coisa para te contar!
Muitos anos para recontar! — Zara exclamou.
— Shhh... — eu a silenciei, para não atrair a atenção de qualquer
transeunte do lado de fora da porta de pedra da passagem secreta. —
Vocês duas terão muito tempo para conversar logo.
Eu olhei nos olhos de Katherine.
Mesmo sob a luz do telefone de Zara, eles brilhavam resplandeces.
— Estamos indo embora, Katherine. O Bando Sombra da Lua está em
grave perigo. Se eu não voltar logo, pode não haver um bando para o qual
voltar.
— Você vem com a gente! — Zara interrompeu, pegando a mão de
Katherine. — Você tem que vir conosco.
O sorriso da minha ex-companheira se transformou em melancolia.
— Eu sonhava, às vezes, em voltar para casa. Para estar mais uma vez
com meus amigos, o lobo que amo e a família que reivindiquei.
Ela lançou seu olhar para o chão.
— Mas essas esperanças se desvaneceram. Não posso ir para casa
agora. Nunca mais. Minha casa é com os Vulpes.
— Mas não tem que ser, Kat, — Zara sorriu. — Você esteve aqui o
tempo todo — tanto tempo sem um rosto amigável. Mas agora todos que
te amam estão aqui. Juntos podemos escapar, restaurar a justiça para o
bando e voltar para a vida que você deixou para trás.
— Minha querida Zara, — ela olhou para mim com uma expressão
desesperada, — Eu tenho que dizer a você como eu disse a Jax. O modo
de vida que encontrei aqui...
— É melhor aqui do que no Sombra da Lua, — eu interrompi.
Zara e Harper pareceram confusas com a minha admissão.
— Tudo o que há de errado com nosso bando, — continuei, — os
preconceitos, as burocracias... Não existe aqui.
Minhas duas companheiras de bando olharam para Katherine, que
balançou a cabeça lentamente em concordância.
— Mas como... como você pode dizer isso? Sombra da Lua é o seu
bando. É o bando de todos nós!
Zara exclamou.
— É o seu bando, Zara, — eu respondi. — E de Harper. E meu. Mas
não porque nascemos dele. Porque nós o reivindicamos. Se passar um
tempo cercado de malfeitores me ensinou alguma coisa, é isso.
As lágrimas começaram a brotar mais uma vez nos olhos de Zara.
Mas, desta vez, eram lágrimas de decepção.
— Pode... nunca ter sido perfeito, Kat. Mas estávamos juntas. Não
importa o que qualquer um dos pessimistas míopes e tacanhos dissesse,
nós sempre tivemos uma à outra. Não era o suficiente? Não é o
suficiente?
Katherine suspirou e olhou nos olhos de sua ex-amiga.
— Tanta coisa mudou, Zara... Tanto que eu gostaria de poder explicar,
mas você não poderia entender.
Zara começou a tremer quando uma lágrima caiu.
O desgosto que pude ver em seu rosto agarrou seu coração.
Por todos esses anos, ela não queria nada mais do que se unir a sua
melhor amiga. Para andar ao lado da pessoa com quem ela tinha ido para
o inferno e voltado.
Agora aquela mesma pessoa estava diante dela — viva contra todas as
probabilidades — apenas para dizer a ela que ela havia se mudado para
além do mundo que elas ocupavam.
Eu não conseguia imaginar como era.
Eu não queria.
Mas não houve tempo para lamentar os sentimentos feridos.
A própria existência do Bando Sombra da Lua estava em jogo.
E cada momento que passamos lamentando o passado significava
outro momento em que o futuro era consumido pela escuridão.
— Harper, você e Zara vão encontrar Sky. Vou tentar buscar Quinn.
Nos encontraremos de volta aqui em uma hora mais ou menos, se Deus
quiser, prontos para começar nossa jornada.
Harper assentiu com a cabeça e pegou a soluçante Zara pela mão.
— Boa sorte, Jax... Eu... Eu gostaria que você ficasse, — disse
Katherine.
— O Bando Sombra da Lua está longe de ser perfeito, Kat. Mas jurei
protegê-lo com minha vida. E agora, mais do que nunca, parece que
precisa de mim.
Rolei a pedra para longe da passagem secreta.
Harper e Zara saíram do local.
Fiz sinal para que Katherine as seguisse.
— Não, obrigado, Jax. Acho que vou ficar aqui um pouco. É pacífico,
— disse ela.
— Katherine, você não vai dizer a ninguém que sabe alguma coisa
sobre a nossa partida? — eu perguntei.
— Você tem minha palavra aí, Jax. Solene e verdadeira, — ela
respondeu inflexivelmente.
Eu assenti de volta para ela.
— Foi bom ver você de novo, Kat.
— Você também, Jax.
Olhamos um para o outro por um momento.
Devo admitir, uma parte de mim queria ficar. Para livrar-se do fardo
do comando e ficar com Katherine neste Shangri-la de equidade total.
Mas eu tinha um bando para salvar.
E outra companheira, a quem eu havia me prometido acima de tudo.
Quinn
Perdi a conta de quantas horas tia Jodie passou me ensinando a alcançar
o reino espiritual e conversar com meu pai.
Cada vez eu sentia sua presença cada vez mais próxima, cada vez mais
forte.
Ainda assim, eu não havia aperfeiçoado minhas habilidades o
suficiente para realmente me comunicar com ele.
Mas eu não desistiria até que houvesse.
Não importa quanto tempo levasse, eu permaneceria com a tia Jodie
até que ela e eu finalmente tivéssemos aperfeiçoado minhas habilidades o
suficiente.
Acho que esta noite eu a forcei um pouco demais.
Ela começou a desenvolver uma dor de cabeça, um dos efeitos
colaterais do controle mental necessário para interagir com sucesso com
os lobisomens do passado.
Ela me disse para parar por aquela noite.
Mas enquanto eu fazia a curta caminhada do quarto da tia Jodie para
o meu, tudo em que conseguia pensar era em tentar novamente assim
que tranquei a porta atrás de mim!
Assim que virei a esquina para o meu quarto, vi Jax parado na porta.
O que diabos ele queria?
Ele e eu não nos falávamos há dias.
Desde a noite em que fizemos sexo, ele nem mesmo me procurou.
— Quinn! — ele chamou no corredor e correu em minha direção.
— Empacote o pouco que puder carregar. Estamos indo para casa esta
noite.
— Você me daria licença, por favor, — eu respondi, dispensando-o. —
Tive uma longa noite e realmente preciso ir para a cama.
— Ir para a cama? Quinn! Nosso bando está sob ataque. Alfa Anthony
assumiu o controle. Nos destronou! Precisamos voltar.
Eu respirei fundo.
Com tudo o que estava nadando em minha cabeça, a última coisa
com a qual eu queria ser incomodada era a política mesquinha do
Sombra da Lua.
Havia coisas mais importantes para atender.
Muito mais importantes do que as disputas mesquinhas e
persistentes entre dois bandos.
— Você é o Alfa. Você volta e cuida disso. Eu preciso ficar aqui.
— Precisa ficar aqui? — ele perguntou. — Porra, por quê?
— Minha família está aqui, — respondi calmamente.
— Sua família? O quê, os malfeitores? Eles são sua família agora?
Então, o que isso me torna?
O filho de um bastardo assassino. O filho do assassino de meu pai.
Eu tive que morder minha língua com força para não falar.
— Você faz o que tem que fazer. Farei o que eu tenho que fazer, Alfa.
Passei por Jax e caminhei rapidamente em direção à porta.
— O que diabos eu fiz para você? — ele chamou de volta no corredor.
Mas não respondi.
Jax mal era um pensamento para mim naquele ponto.
Eu só tinha uma preocupação: entrar em contato com meu pai.
E o drama do meu companheiro era apenas mais um obstáculo no
meu caminho.
Capítulo 25
SUBJUGADO
Jodie

— Pare! Quem está aí? — Beta Carl latiu agressivamente quando saí do
corredor para a grande sala do trono.
Era a hora mais escura da noite.
Ao que tudo indica, eu deveria estar na cama.
Mas minha mente estava confusa.
— Você ameaçaria seu próprio Alfa, Beta? Erro grave de sua parte, —
eu ri.
— Mil perdões, Alfa, — Beta Carl voltou a atenção. — Está tão escuro.
Eu não te reconheci.
Saí para o solitário raio de lua que perfurava o edifício rochoso da sala
do trono.
— Está tudo muito bem, Beta Carl. Você serve bem ao seu posto
como um sentinela. Sempre alerta. Agressivo, — respondi.
— O que você está fazendo acordada tão tarde, Alfa? — ele
perguntou.
— Contemplando, Beta. Apenas contemplando, — eu disse,
sentando-me no meu trono.
— Muito bem, Alfa Jodie. Vou deixar você com isso.
Meu jovem e robusto Beta se virou para ir embora.
— De todo jeito, Carl, por favor, fique. Eu adoraria um bom ressoador
a esta hora.
Ele se virou e voltou para o meu lado.
— Tudo está encaminhado, Beta, — eu disse com um sorriso
orgulhoso no rosto. — Quinn já começou a fazer um excelente progresso
em seus estudos. Ela é forte. Logo seus poderes excederão os meus.
Matheius ficará muito satisfeito.
— Isso tudo é muito bom, Alfa, — disse Carl, rígido em atenção.
— Por favor, Beta Carl, fique à vontade! Você está tão tenso.
— Sinto muito que isso desagrada você, — disse ele solenemente.
— Isso não me desagrada, — eu ri. — Mas isso me confunde. Eu vi
você no campo. Eu vi você com seus inimigos. Você tem um ar tão
perverso. Maravilhosamente perverso. É por isso que fiz de você meu
Beta.
— Sim, Alfa, — ele acenou positivamente com a cabeça.
— Então por que diabos é que comigo você está sempre tão frio? —
estendi a mão e comecei a acariciar seu braço.
Seu braço grande e forte.
Com cicatrizes e veias, era realmente de um homem.
Um homem que também causou algum dano com ele.
Continuei:
— Ora... às vezes parece que você trata sua infeliz presa com mais
calor do que comigo. Eu, que o arranquei da sarjeta. Que reconheci seus
talentos e dei a você um lugar para usá-los. Isso só me confunde.
— Sinto muito se isso desagrada você, Alfa, — ele grunhiu.
— Jesus, porra, Cristo! Você não sabe como manter uma conversa,
Beta? Quer dizer, não estou falando com você oficialmente agora! Abra
sua boca! Diga algo pelo menos uma vez.
— Não é meu lugar, Alfa. Você é meu comandante. Eu obedeço. É o
que é certo, — disse ele com firmeza.
— Minha Deusa, — eu zombei. — E você deveria ser algum tipo de
modelo moral? Você destruiu o bando de seu próprio irmão. Matou
centenas de lobos inocentes em seu caminho. Que direito você tem de
ser muito zeloso para quebrar a hierarquia e falar comigo?
— Massacre é minha linha de trabalho, Alfa. A vingança é minha
maior aptidão. Matar é o que faço de melhor. Questioná-la não é. — Eu
me levantei do meu trono e caminhei até ele, ficando a centímetros de
distância dele.
Seus olhos de aço brilhavam ao luar.
Determinado.
Seu corpo alto e musculoso estava rígido.
Cada junta estava tensa.
Cada fibra esticada.
Ele estava desconfortável.
Eu, uma mulher de 45 anos, congelara de medo este jovem macho
esculpido.
Que poder eu passei a possuir sobre ele?
Eu coloquei meus braços em volta de seus ombros e comecei a
esfregá-los.
Seus músculos mudaram e estalaram.
— Oh, meu querido Beta. Como você está tenso. Você deveria relaxar.
Já passou da hora. Não tem ninguém por perto.
Beta Carl ficou em silêncio.
Nenhuma parte dele se encolheu. Ele estava completamente imóvel.
Um escravo da minha vontade.
Apenas as gotas de suor escorrendo de sua testa davam qualquer
indicação de que ele não era uma estátua.
Eu ri para mim mesma enquanto continuava a esfregá-lo.
Minhas mãos viajaram para baixo em seus peitorais ondulantes,
saltando para fora de sua camiseta de camuflagem apertada.
Elas traçaram seu peito nas ravinas esculpidas de seu abdômen.
Os músculos ficaram tensos enquanto eu corria minhas mãos sobre
ele.
A respiração de Beta Carl se intensificou.
Ele estava ficando nervoso.
Tive que admitir que estava me divertindo brincando com ele.
Fazia muito tempo que eu não o tinha completamente sozinho
comigo, especialmente com o espírito em que eu estava esta noite.
Minha mão continuou a vagar mais e mais até que estava bem em seu
cinto.
— O que você vai fazer agora, Beta? — eu perguntei quando comecei
a mexer em sua fivela, — Alguma objeção?
Seu corpo de pedra começou a tremer.
Do jeito que eu gosto dele.
Ainda assim, ele não fez nenhum protesto.
— Muito bem! — Eu ri. — Você realmente é diligente em seus
deveres. Você deve ser recompensado, — eu olhei diretamente nos olhos
dele e pisquei. — E é exatamente isso que pretendo fazer. — Assim que
comecei a colocar minha mão dentro de sua bermuda militar folgada, ele
balançou o braço e bateu na minha mão.
— Oooh! Talvez você não seja tão obediente, afinal, — eu gargalhei.
— Você vai lutar contra mim esta noite, não é? Gosto de desafios.
Beta Carl olhou para mim ameaçadoramente.
Havia algo sobre a raiva concentrada nos olhos dele que me deixava
louca.
Me fez querer me submeter a ele.
Este... este era o lado dele que realmente fazia coisas comigo.
— O que você vai fazer...
Antes que eu pudesse terminar minha frase, Beta Carl colocou a mão
em volta da minha garganta, sufocando a vida para fora de mim.
— Não me toque, sua puta! — ele cuspiu na minha cara.
Suas palavras escaldaram meus ouvidos.
Eu deveria mandar alguém o matar pelo que fez.
Eu poderia em um instante.
E talvez seja isso que eu mais amava.
Ele poderia me sufocar, ele poderia cuspir na minha cara e me bater
de qualquer maneira.
Mas no final, eu ainda tinha o poder sobre seu destino.
Olhei sarcasticamente em seus olhos enquanto seu aperto em volta
da minha garganta continuava firme.
Mas não demorou muito para que aquele olhar patético de medo
voltasse a seus olhos.
O lembrete de que eu o possuía.
Que suas pequenas explosões de raiva só foram permitidas com
minha tolerância.
Logo, ele me deixou cair no chão, lutando com a realização do que
tinha feito.
Quando me coloquei de pé, tossi.
— Bem, obrigada, Beta. Isso foi muito estimulante. Isso vai me dar
muito em que pensar esta noite.
Eu pisquei para ele.
Sem uma palavra, ele fez uma continência, deu meia-volta e marchou
para fora da sala do trono.
Meu servo. Completamente meu.
Assim como Quinn em breve será.
Harper

Onde diabos ela poderia estar?


Pela última hora, procurei Sky em todos os lugares.
Eu verifiquei e verifiquei novamente todos os cantos e recantos da
Fortaleza Vulpes.
Olhei no jardim.
A floresta ao redor da entrada da fortaleza.
Eu tinha literalmente olhado embaixo de todas as pedras.
Mas ela não estava em lugar nenhum!
Desapareceu sem deixar vestígios!
Comecei a temer o pior.
Eu sabia que não deveria ter apenas ficado parada e assistido aquele
malfeitor estúpido fodido dançando com ela em uma excitação.
Quem sabe o que diabos ele já tinha feito com ela agora?
Meu coração disparou. Minha mente disparou.
O suor escorria pelo meu rosto.
Não conseguia me lembrar da última vez que tinha me sentido assim.
Nas classificações do bando, eu era conhecida por minha habilidade
de manter a calma em qualquer situação. Na batalha, na caça, mesmo no
meio de uma discussão acalorada, eu era muito boa em me manter
composta.
Mas essa coisa toda me fez sentir algo que não sentia há muito tempo.
Medo.
E por quê?
Sky era minha amiga, é claro.
Eu tinha muitos amigos pelos quais nunca temi antes.
Mas havia algo tão doce nela. Tão puro. Tão ingênuo. Ela precisava de
proteção. E algo dentro de mim parecia que eu precisava ser a única a
protegê-la.
Cheguei a uma colina na orla da floresta e corri por ela.
Este era o último lugar que eu não tinha olhado.
Eu corri para o topo.
Do ponto de vista da colina, pude ver duas pessoas rolando na
encosta abaixo.
Um grito estridente perfurou a noite.
Eu reconheceria aquele grito em qualquer lugar.
Era Sky!
Aquele maldito malfeitor a estava atacando!
Soltei um grito de raiva e desci a colina em direção a eles.
Com um salto, agarrei o atacante de Sky e o imobilizei no chão. Ele
estava completamente à minha mercê.
— Você vai pagar pelo que fez com ela! — gritei na cara assustada do
idiota de Vulpes.
— Harper! O que diabos você pensa que está fazendo? — Sky disse,
levantando-se e limpando-se.
— Tentando manter esse filho da puta sob controle! Para trás, Sky!
— Harper, — ela gritou, — aquele filho da puta e eu estávamos meio
ocupados.
Eu encarei o rosto do malfeitor.
Percebi que estava coberto de batom.
Ela estava beijando-o?
Um malfeitor idiota e feio?
Eu não podia acreditar.
Eu estava furiosa.
Fazendo amor com o inimigo?
Como ela pôde?
Eu queria atacar.
Eu queria gritar.
Mas eu não tinha nenhum direito.
Por mais sórdido que parecesse, eu não tinha nada a dizer.
Eu soltei o malfeitor e me levantei.
— Eu vim buscar você, Sky, — eu disse friamente. — Zara, Jax, Quinn
e eu estamos prestes a voltar para Sombra da Lua. Vamos indo. Devíamos
encontrá-los agora.
Sky deu um suspiro profundo.
Eu senti meu estômago apertar.
— Não vou voltar, Harper. Eu vou ficar aqui... com Percy.
— Que porra você acabou de dizer? — eu perguntei, ao mesmo tempo
atordoada e furiosa.
— Vou ficar aqui, Harper. Com meu companheiro.
Capítulo 26
IDENTIDADES
Jaxon

DING DONG! DING DONG!


Através da porta de pedra da caverna secreta sob a grande escadaria
da Fortaleza Vulpes, eu podia ouvir o velho relógio bater cinco da manhã.
Logo amanheceria.
Se quiséssemos escapar sob o manto da noite, teríamos que partir nos
próximos minutos.
Mas eu não queria ir embora.
Como eu poderia?
Minha companheira... Quinn... tinha acabado de me dizer que não
ligava se eu ficasse ou não.
Ela ficaria tão contente se eu fosse embora e nunca mais falasse com
ela como se eu ficasse aqui com ela.
Eu não conseguia entender.
Apenas uma semana e meia atrás, ela e eu chegamos à entrada desta
fortaleza amaldiçoada mais próximos do que nunca.
O conflito que enfraqueceu o Bando Sombra da Lua só fortaleceu o
vínculo de acasalamento que compartilhávamos. Isso trouxe à luz como
éramos certos um para o outro de muitas maneiras.
Mas então a porra da tia dela cravou as garras nela.
Ela a isolou de mim.
Cortou nossa comunicação.
Tanto que nem havíamos sentado e conversado sobre qualquer uma
das merdas que aconteceram na semana anterior.
Não importa o quanto eu tentasse ficar sozinho com ela, ela sempre
parecia estar na coleira de sua tia Jodie.
Mesmo na noite em que fizemos sexo, ela não disse uma palavra para
mim.
Foi estranho.
E a única explicação que pude conseguir foi que sua tia a tinha virado
contra mim de alguma forma.
Eu queria ficar e descobrir o mistério.
Eu queria mostrar a ela que não importava o que sua tia tivesse dito
ou feito — não importava.
Nosso relacionamento ficara mais forte.
Mas cada minuto que eu passava na Fortaleza Vulpes era apenas mais
um minuto que o maldito rato do pântano Anthony tinha como chance
de afirmar seu domínio sobre meu bando.
Eu não poderia deixá-lo fazer isso, não importa o que acontecesse
com Quinn.
A primeira obrigação de um Alfa era com seu bando.
Com o legado de seu pai e do pai de seu pai.
Feitiços do coração não tinham lugar.
Não importa como eles queimassem no meu peito.
Mas eu temia que Quinn não fosse a única a quem algum infortúnio
tivesse acontecido.
Zara e Harper deveriam ter retomado a esta caverna com Sky quase
uma hora atrás.
Mas eu não tinha ouvido uma palavra delas.
Eu temia o pior.
Cada segundo que qualquer um de nós passava nos terrenos do
Bando Vulpes era tempo emprestado.
Estávamos vulneráveis.
Rezei para que quaisquer que fossem os males que Alfa Jodie e seu
bando de lobos rebeldes tivessem reservado para nós, ainda tivéssemos
tempo de escapar.
Naquele momento, ouvi a pedra na entrada começar a roncar.
Cerrei os dentes e me preparei para mudar para a forma de lobo,
temendo ter sido descoberto.
Fiquei satisfeito em ver que era Zara. Mas ela não estava
acompanhada por Harper ou Sky.
— Onde estão as outras? — eu perguntei enquanto ela rolava a pedra
de volta no lugar.
— Sky e Harper nunca mais voltaram? — ela perguntou gravemente.
Eu neguei com minha cabeça.
— Eu procurei por todo este lugar por elas. Achei que elas devessem
ter se encontrado e retornado. E Quinn?
Suspirei.
— Sua tia Jodie fez algo com ela. Ela quer ficar aqui.
Zara recuou consternada.
— Tenho um mau pressentimento sobre isso. Algum tipo estranho de
maldade está em ação aqui. O que nós vamos fazer?
— Se vamos ter alguma chance de parar Alfa Anthony, não podemos
ficar aqui por muito mais tempo. Eu preciso que você vá na frente de
volta para o bando.
— Eu? Voltar?
— Sim, — eu disse com firmeza. — Não adianta você ficar aqui e se
colocar em risco. Vou procurar Harper e Sky.
— Desculpe, Alfa. — Zara bateu os pés de forma assertiva. — Mas eu
não vou sair daqui sem você. Se algo estiver acontecendo, você precisará
de toda a ajuda que puder ter.
— Não posso prometer que você vai sair dessa inteira, — eu disse
gravemente. — Não tenho ideia do que estamos enfrentando.
— Seja o que for, vamos enfrentar melhor juntos, — Zara disse
prudentemente.
Eu queria discutir com ela.
Mas ela estava certa.
Se havia alguma chance de que todos nós escapássemos com vida,
tínhamos que fazer isso juntos.
— Tudo bem, — eu suspirei, — é melhor voltarmos e procurar por
Harper e Sky.
— E... Quinn? Você acha que podemos fazer alguma coisa para
convencê-la a voltar para casa?
— Quinn, poderíamos facilmente convencer a vir conosco, — eu
disse. — Mas quem quer que sua tia tenha deixado em seu lugar é uma
causa perdida.
Quinn

— Droga! — exclamei em voz alta e enterrei minha cabeça em minhas


mãos.
Outra tentativa de alcançar meu pai através do reino espiritual
falhara.
Minha cabeça latejava de agonia.
Meu corpo gritava por sono.
Mas eu não podia.
Meu coração não me deixava.
A cada tentativa eu ficava cada vez mais perto de conversar com a
essência do meu pai.
Eu podia sentir em meus ossos o quão perto eu estava.
Estava quase zombando de mim.
Eu me concentrei uma última vez.
Levei em consideração as instruções de minha tia.
Bloqueie meus sentimentos, meus medos e preocupações. Fique em paz
comigo mesma. Conecte-se com os recessos mais profundos e escuros do meu
subconsciente. Em seguida, busque a presença espectral que faz parte do meu
ser.
Eu me concentrei intensamente.
Minha mente estava vazia.
Eu tinha saído completamente do meu confortável quarto.
Eu estava à deriva na escuridão completa.
Um vasto infinito que servia de porta de entrada para os limites
desconhecidos do reino espiritual.
Então eu chamei por ele novamente, despejando cada fragmento de
minhas habilidades comunicativas no elo mental.
Pai... Sou eu, Quinn. Sua filha... Pai... desejo falar com você... eu preciso...
Continuei chamando por ele sem parar.
Mas algo parecia diferente desta vez.
Havia uma conexão ali que eu ainda não sentia.
Eu não conseguia definir o que era.
Mas eletrificou meu corpo.
Correntes de energia percorriam minha casca mortal enquanto eu
sentia todo o meu ser imbuído de outra presença.
Uma presença familiar.
Meu corpo começou a ter convulsões.
Foi como se eu tivesse perdido o controle de todos os meus sentidos.
Então, de repente, tudo veio à tona para mim.
Minha cabeça girou quando voltei à consciência.
Meus olhos se abriram.
E lá, sentado na minha frente, estava meu pai.
Seu semblante estava mais claro do que nunca.
Ele parecia menos com um fantasma fugaz.
Ele estava lá. Bem na minha frente.
— P... pai? — Eu tremi.
— Quinn... minha filha! Por fim, você me vê como eu tenho te visto!
Lágrimas escorreram de meus olhos enquanto eu jogava meus braços
em volta do meu pai.
Seu abraço era quente e doce. Diferente de qualquer um que eu já
conhecera.
Por anos, sonhei com esse momento.
De um dia em que eu compartilharia um abraço com o homem que
me trouxe ao mundo.
Eu nunca acreditei que isso pudesse realmente acontecer, no entanto.
Mas hoje sim.
— Oh, minha querida Quinn... Como você cresceu e ficou linda. Você
parece tanto com a sua mãe, — disse meu pai, enxugando uma lágrima
da minha bochecha.
— Mesmo? — eu chorei. — Ela sempre me disse que eu era igual a
você.
— Bem, nós dois vemos o melhor um do outro em você, — ele sorriu.
— Pai... eu... eu tenho tanto que quero dizer. Tanto que eu quero
perguntar.
Ele pegou minhas mãos e as agarrou com entusiasmo: — E agora você
terá todas as chances de perguntá-las. Você aprendeu com o treinamento
de sua tia Jodie muito bem.
— Eu não descansaria até que finalmente pudesse falar com você.
Nada nunca pareceu tão importante quanto isso. — eu o olhei com
orgulho nos olhos.
— Existem poucas filhas neste mundo que iriam tão longe por um
homem que nunca conheceram.
— Eu precisava conhecer você, pai. Se houvesse alguma chance. É
tudo o que sempre quis. Desde que me lembro. Todos aqueles anos
solitários naquela cabana. Eu sonhava que se você estivesse lá, as coisas
poderiam ter sido melhores. Mais normais.
Meu pai suspirou.
— Do reino espiritual, eu pude ver o quão difícil aqueles anos foram
para você. Eu sei que sua mãe estava apenas tentando protegê-la. Ela
nunca entendeu muito bem toda essa dimensão da minha vida. E depois
do que aconteceu comigo, não posso dizer que a culpo.
— Pai... há algo que eu preciso saber.
— Qualquer coisa, — disse ele, dando um beijo doce na minha
bochecha.
— Sobre o que aconteceu com você... Tia Jodie disse que você foi
morto por membros de seu próprio bando. Do... Sombra da Lua. Isso é
verdade?
Ele suspirou de tristeza e baixou a cabeça:
— Temo que sim. Alfa Galahad preparou a armadilha perfeita para
mim. Usando meus entes queridos como isca.
Meu coração parou de bater.
Suas palavras queimaram em meus ouvidos.
Eu sabia que minha tia havia dito exatamente isso.
Mas ouvir meu pai confirmar que o bando do qual eu havia me
tornado parte era o responsável por sua morte era totalmente
insuportável.
A última esperança que eu tinha por meu lugar no Sombra da Lua foi
destruída.
Eu não queria ter mais nada a ver com eles.
Seus membros.
Ou seu Alfa... a descendência do assassino do meu pai.
Mas eu não precisava mais deles. Qualquer um deles. Eu tinha um
novo bando.
Tinha uma nova família.
Uma que eu merecia há muito tempo.
Capítulo 27
UM NOVO DIA Anthony
— ANTH-O-NY!
— ANTH-O-NY!
— ANTH-O-NY!
A hora finalmente chegara.
Cada parte do meu plano havia se encaixado.
Meus inimigos tinham sido afastados.
A burocracia de Sombra da Lua era composta por meus apoiadores.
Os membros do bando cantavam meu nome enquanto eu desfilava
por suas fileiras, mudando para a forma de lobo diante deles pela
primeira vez.
Eu olhei para Beta Raphael, que caminhava pelo corredor através do
centro das massas gritando comigo. Nós nos comunicávamos através do
elo de mentes.
Eu nunca os vi assim antes. Eles nunca torceram por Jax como fazem por
você, meu Alfa.
Hoje começa uma nova era, Beta. Uma na qual todos os tipos de
lobisomem atenderão a apenas um Alfa. O único na história de nossa espécie
que uniu dois bandos. Em breve, esse número vai crescer.
Depois de passar pelos leigos que cantavam, alcançamos as fileiras da
infantaria.
Seus focinhos estavam estendidos para o céu em reverente atenção.
Que visão assustadora eles formavam.
O bando mais implacável que já vi.
Eles certamente fariam os membros covardes de Vulpes tremerem
como varas verdes — ou quaisquer outros que ousassem cruzar nosso
caminho.
Fiz uma inspeção apressada dos soldados deslocados enquanto
assumia meu lugar no centro da vanguarda.
Um grande silêncio caiu sobre a multidão enquanto esperavam pelo
meu comando.
Eu tinha conseguido.
Obtido controle total.
Uma vez que eu começasse minha marcha, eu não pararia até que
cada lobisomem nesta região soubesse quem era seu Alfa de direito.
Nada mal para um humilde morador do pântano.
— ARRROOOOOOOOO!
Gritei uma marcha para a frente e meus soldados e eu partimos para a
floresta.
A multidão aplaudia quando seus valentes protetores saíam em busca
de Vulpes.
Eu apertei os olhos enquanto marchávamos para o sol nascente. Seus
raios vermelho-sangue anunciavam o advento de um novo dia.
Meu dia.
Quinn

TOC TOC!
— Quinn! Quinn, abra!
Eu funguei enquanto fazia meu caminho até a porta do meu quarto.
Abri e encontrei minha tia Jodie parada ali com uma expressão
preocupada.
— Meu Deus, pequena. Qual é o problema? Sentimos sua falta no café
da manhã.
— Consegui, tia Jodie, — falei, tentando conter as lágrimas.
— Conseguiu o quê, Quinn? — minha tia perguntou
interrogativamente.
— Eu o chamei do reino espiritual.
Seu queixo quase caiu no chão.
— Você quer dizer... seu pai?
Eu concordei.
Ela soltou um grito de alegria e me envolveu em um de seus abraços
apertados.
— Oh meu Deus, Quinn! Estou tão orgulhosa de você que poderia
simplesmente estourar! Quer dizer que você falou com ele e tudo mais?
Exatamente como você se propôs a fazer? — Novamente, eu balancei a
cabeça afirmativamente, tentando esconder o quão chateada eu estava.
Mas foi em vão. Tia Jodie poderia me ler como um livro.
— Qual é o problema, pequena? — ela perguntou com confusão séria.
— Ele confirmou. Tudo o que você disse sobre como ele morreu era
verdade.
Ela colocou a mão com ternura no meu queixo e inclinou minha
cabeça para trás para me olhar nos meus olhos marejados.
— Ora, é claro que era. Você não acha que eu mentiria para você
sobre algo assim, não é?
Eu balancei minha cabeça.
— Não... Não, eu não achei. Acho que tinha apenas esperança de que
houvesse algum mal-entendido. Algo que você não viu. Alguma peça que
faltava que poderia anular todo esse conflito que venho sentindo.
— Não encontrou o que procurava? — ela perguntou tristemente.
— Não, — eu suspirei. — Mas descobri algo muito importante.
— O que? — ela perguntou.
— Onde eu pertenço. E é aqui. Ao seu lado. Como um membro dos
Vulpes.
Tia Jodie colocou as mãos sobre a boca, atordoada.
Lágrimas de alegria começaram a cair de seus olhos.
Estava claro que ela não conseguia acreditar no que estava ouvindo.
— Oh... Quinn. Você me fez o lobisomem mais feliz do mundo.
Ela me segurou firmemente nos ombros e me olhou nos olhos.
— Você deve fazer parte deste bando. E não qualquer parte. Você deve
reinar sobre os Vulpes como Co-Alfa deste bando!
— Co-Alfa? — eu perguntei: — isso existe?
Tia Jodie deu uma risadinha.
— Essa é a coisa boa de estar em um bando de malfeitores, você não
tem que se submeter às convenções. Com ambas as nossas mentes no
comando deste bando, vamos conduzi-lo a uma nova era.
A ideia me entusiasmou. Mas pensei em como foi difícil me
acostumar a ser Luna. Nunca sonhei que poderia cumprir os deveres de
um Alfa!
— Estou realmente lisonjeada, — sorri, — mas não tenho certeza se
sou digna dessa honra.
Tia Jodie sorriu para mim.
— Quinn, você apenas começou a perceber o grau de poderes que
possui. Em menos de vinte e quatro horas, você dominou uma habilidade
que muitos de nossa linhagem levaram anos para aprender. Sua força é
insuperável. Vai servir bem a Matheius.
— Matheius? — eu perguntei, confusa.
— Venha comigo, Quinn, — tia Jodie pegou minha mão, — temos
muito o que fazer.
Jaxon

— Merda! Merda! Merda! Merda!


O sol já estava subindo alto no céu.
Perdemos nossa janela de oportunidade para escapar facilmente.
Agora teríamos que encontrar outra maneira de sair deste lugar.
Isso se eu pudesse reunir todos para irem embora.
Ainda não havia sinal de Harper ou Sky em qualquer lugar.
Eu havia vasculhado a Fortaleza Vulpes de cima a baixo e não
encontrei nenhum vestígio delas.
Eu temia o pior.
Tínhamos ultrapassado nossas boas-vindas nesta pilha de rochas.
As verdadeiras faces dessa sociedade utópica de aceitação estavam
finalmente começando a aparecer.
Corri pelos corredores da Fortaleza Vulpes, meu coração batendo
forte.
Minha mente disparando com mil pensamentos. Devo continuar esta
busca vã por dois membros de meu bando, ou devo correr de volta para
Sombra da Lua para perseguir a esperança fugaz de que ainda há uma
chance de salvação?
Devo tentar mais uma vez falar com Quinn, ou é uma causa perdida?
Devo tentar voltar e salvar meu bando ou deixar Anthony ficar com ele?
Se eu tentasse, os membros do meu bando permaneceriam do lado dele?
Nesse ponto, absolutamente nada parecia ser a decisão certa.
Eu ainda não conseguia entender como deixei todas as instituições da
minha vida serem subvertidas enquanto definhava nesta fortaleza
rochosa por uma semana e meia.
Meu andar frenético e minha mente ainda mais frenética foram
interrompidos quando ouvi uma voz feminina chamar meu nome.
— Jax.
Havia algo místico no tom. Quase sobrenatural.
Olhei em volta em busca da origem.
Percebi que vinha da porta aberta de um quarto.
Meu quarto.
Eu estava em um estado tão distraído que nem tinha percebido onde
na Fortaleza Vulpes eu estava.
— Jax, — chamou novamente.
Corri para a porta.
A visão que eu encontrei me deixou sem fôlego.
Meu queixo caiu como se eu fosse um peixe morto.
Lá, na minha cama, estava Katherine.
Completamente nua. Suas pernas abertas.
Senti meu estômago começar a apertar.
— Estava me perguntando quando você finalmente voltaria para cá,
— ela riu, dando-me uma piscadela de flerte.
Puta merda.
Harper

Sky de merda.
Eu não podia acreditar.
Uma única noite de sexo casual com um malfeitor e ela já acreditava
que tinha encontrado seu companheiro.
Eu sabia que ela era ingênua, mas isso era quase estúpido para ela.
PLOP!
Eu chutei uma pedra com raiva no mato da floresta.
A coisa toda me deixou tão chateada que eu tive que sair sozinha.
De alguma forma, a revelação me deixou tão irritada que tudo o mais
deixou de ter importância.
Quinn, Alfa Anthony, tudo isso.
Pensamentos sobre Sky enchiam minha cabeça enquanto eu olhava
para um riacho isolado nas profundezas da floresta.
Por que estou sentindo essas coisas?
Já assisti Sky explodir em furacões de romances antes...
Zombei e irritei cada paixão que ela tinha.
Por que este era diferente?
Foi porque era seu companheiro?
Não poderia ser isso... Eu estava com ciúmes?
Capítulo 28
EXPOSIÇÃO CRUA Jaxon
— Que porra você está fazendo, Katherine? — eu perguntei, batendo a
porta do meu quarto atrás de mim.
Katherine estava deitada, esparramada na cama, massageando
tentadoramente os seios brancos como a neve, lambendo os lábios.
— Qual é o problema, Jax? Não gosta do que vê?
— Eu... Eu... Isso não é você. Nunca foi você.
Ela sempre foi tão reservada, tão modesta.
— Viver entre os malfeitores me ajudou a virar a página. Toda a
timidez infantil se foi. Agora sou mulher. O tipo em que você pode
realmente... cravar os dentes.
Ela mordeu os lábios enquanto traçava o vinco entre os seios e descia
até o meio das pernas. Eu balancei minha cabeça incrédulo e me virei
para a porta.
— Eu... uh... Merda! Não tenho tempo para lidar com isso, Katherine.
Eu tenho que encontrar...
— Quinn? — ela riu. — Temo que você esteja perseguindo uma causa
perdida, Alfa. Jodie está com aquela sua linda boneca pronta para se
juntar a ela como co-Alfa dos Vulpes.
— Que diabos você está falando? — eu gritei.
— Você não pode dizer que está surpreso, pode? — ela perguntou com
um toque de vitríolo em sua voz. — Está muito claro que ela está se
distanciando muito de você e de seus caminhos do Sombra da Lua esta
semana.
Senti meu sangue começar a ferver.
De alguma forma, senti que Katherine tinha um papel a desempenhar
em tudo isso.
Que sob o exterior doce e sedutor que capturou meu coração
nostálgico, ela teve conhecimento da idealizadora de todo esse plano.
— O que diabos você sabe sobre tudo isso? Sobre Quinn? Sobre toda
essa maldita operação dos Vulpes?
Katherine se levantou da cama e começou a se aproximar lentamente
de mim, seus amplos quadris balançando sugestivamente.
— Vamos lá, Jax. Você não acha que eu posso simplesmente revelar
todos os segredos de nosso bando para um Alfa inimigo. Eu sei que
temos história, mas como você pode ver, — ela esticou os braços,
demonstrando seu corpo perfeitamente proporcionado, — eu abracei
minha nova vida aqui.
Soltei um rosnado violento.
Eu não estava mais aguentando essa enrolação. Isso era tudo que eu
recebera de todos ao redor deste lugar na última semana e meia, e eu não
estava prestes a aceitar isso dela.
Eu conseguiria algumas respostas de merda.
Eu pulei em Katherine e a prendi contra a cama.
— Ahhh! Agora, este é o Jax que eu me lembro, — ela rosnou
sensualmente.
— Corta essa merda, Kat! Diga-me o que diabos está acontecendo
aqui ou eu vou...
— Você vai o quê, Alfa? — ela cuspiu de volta para mim. — Este não é
o seu castelo. Você não é rei.
— Não... Não, eu não sou rei. Eu sou um inimigo. Você é minha
inimiga, Kat. E se você não começar a me fornecer algumas respostas,
vou tratá-la como trato meus inimigos.
O olhar sedutor em seus olhos rapidamente desapareceu.
Ela começou a chorar.
Foi como se uma parede tivesse sido quebrada. Alguma fachada
estranha que mascarava a pessoa que eu conhecia.
Eu afrouxei meu aperto sobre ela.
Ela deslizou para fora da cama e caiu no chão, soluçando alto em seus
braços.
— Deus... Kat... sinto muito... não tive a intenção de machucar você.
Eu só... — eu gaguejei incoerentemente.
Puxei o edredom da cama e envolvi seu corpo nu. Suas lágrimas
continuaram a fluir quando me ajoelhei ao lado dela e tentei falar com
ternura.
— Olha... eu estou realmente no fim da minha corda, Kat. Meu
bando, minha companheira, minha vida inteira... tudo se foi em pouco
mais que um piscar de olhos. Eu simplesmente não sei o que está
acontecendo. É como se... houvesse algum tipo de caos estranho
tomando conta deste lugar. Quase como...
— Mágica, — interrompeu Katherine. — Como mágica?
Eu assenti com minha cabeça lentamente.
Katherine suspirou:
— Vulpes está cheio de ilusões, Jax. É bom para eles. Na verdade, às
vezes, o próprio bando parece uma.
— Sim... — eu respondi interrogativamente, — Acho que você pode
dizer isso. — Ela respirou fundo para tentar acalmar seus soluços, — Jax...
há tanto que eu quero te dizer. Tanto que você precisa saber...
Peguei sua mão e envolvi-a na minha. Então eu olhei para ela em seus
olhos turvos de lágrimas.
— Então me diga. Eu prometo, seja o que for que Jodie ou qualquer
outra pessoa tenha ameaçado você, terei prazer em protegê-la contra
isso.
— Oh, Jax, — ela administrou uma risada chorosa, — nobre até o fim.
Eu... Eu só queria poder ter sido.
— O que você quer dizer? — eu perguntei.
Ela parou por um momento, contemplando suas palavras.
Essa era a Katherine que eu conhecia. Pensativa e incrivelmente
introspectiva.
— O que eu disse antes. Tudo aquilo sobre Jodie me conceder vida...
não era exatamente verdade, — ela começou.
— O que você quer dizer? — eu perguntei.
— Naquele dia da batalha, quando você me encontrou na floresta.
Jodie se aproximou de mim antes mesmo de você chegar lá. Sim... ela se
ofereceu para salvar minha vida. Pelo preço da minha alma.
— Sua alma?
Ela continuou solenemente:
— Sim. Logo descobri que o que realmente fiz foi vender minha alma
como escrava. Tornei-me uma manifestação de sua vontade. Uma
marionete enfeitiçada para ela usar como ela quiser.
Fiquei perplexo, tentando entender o que ela queria dizer.
O que ela falou soava como uma bruxaria perversa.
— Então.... Você está tentando dizer que você não está realmente
viva?
— Escute, Jax! Não tenho muito tempo! — disse ela com grande
urgência.
Ela não tinha muito tempo... até o quê?
— Jodie tem enganado sua companheira, — ela continuou, —
falsamente projetando a essência espiritual do pai dela. Fazendo-a pensar
que ela o conjurou. Ela a conquistou completamente, Jax.
— O que diabos Jodie quer com ela? — eu perguntei.
— Ela quer usar os poderes delas em conjunto para canalizar o
espírito do semideus Matheius, o fundador dos Vulpes. No final das
contas... através do domínio de seu espírito, ela quer... quer...
De repente, o rosto de Katherine começou a desaparecer diante de
mim.
A cada segundo, ela se tornava cada vez mais transparente.
— Katherine! — exclamei em horror.
Ela olhou para mim com um sorriso agridoce,
— O preço de um acordo quebrado.
Tentei pegá-la em meus braços, mas ela passou direto por eles, como
um fantasma.
— Vá, Jax. Salve sua companheira. Leve ela. Vá para casa. Este lugar
não é para ela. Ou você.
— Katherine... Eu... Eu te amo.
Percebi o brilho de um sorriso amoroso enquanto os últimos vestígios
etéreos de seu rosto desapareciam no ar.
Pela segunda vez, Katherine sacrificou seu bem-estar por mim.
No final... ela me amava também.
Quando me levantei, chorei por minha ex-companheira.
A dor de perdê-la pela segunda vez foi igual à primeira.
Mas agora eu não tinha tempo para lamentar.
Eu tinha que agir rápido se quisesse evitar a perda de outra
companheira.
Harper

Horas se passaram. Continuei vagando pelo riacho murmurante da


floresta.
Meu corpo estremecia, sabendo que suas faculdades deveriam estar
escapando da Fortaleza Vulpes.
Mas não importa o quanto eu tentasse, não conseguia tirar Sky da
minha mente.
Ela tinha me paralisado.
Ela tinha abalado toda a minha existência de uma forma que eu
nunca soube que algo poderia fazer. Mas meu reflexo logo foi
interrompido por um farfalhar nos arbustos.
Eu me levantei em um salto e enrijeci meu corpo em preparação para
um ataque.
Eu estava pronta para me transformar a qualquer momento.
Os pelos do meu braço se arrepiaram.
Isso significava apenas uma coisa.
Outro lobo estava por perto.
Desde que era filhote, sempre tive o talento de sentir um lobo antes
que qualquer um pudesse.
Foi o que me tornou uma boa rastreadora.
Mas a questão agora era:
Este intruso era amigo ou inimigo?
Eu vi um arbusto farfalhar na minha visão periférica.
— Mostre-se! Eu sei que você está aí! — eu gritei.
De repente, uma figura familiar apareceu atrás do arbusto.
Eu não conseguia acreditar nos meus olhos.
Era Alex!
— Alex! — exclamei, correndo para dar um abraço nele. — O que
diabos você está fazendo aqui? Anthony soltou você?
— Hah! — ele riu. — Não, minha amiga. Embora ele pudesse muito
bem ter soltado. Derrotar seus guardas nem foi um desafio.
— Você quer dizer que... você escapou? — eu perguntei.
Ele assentiu.
— Mas... e toda aquela merda que você disse sobre o dever? — eu
perguntei, relembrando suas palavras antes de partirmos.
— Percebi que tinha uma obrigação maior do que para com o bando.
Uma obrigação para com meus amigos.
Eu sorri para ele.
Era bom ver o velho Alex de volta.
— Receio ter vindo com más notícias, — disse ele. — Alfa Anthony já
está em marcha. Seu primeiro alvo é Vulpes, mas eu sinceramente duvido
que ele vá parar depois disso.
— Merda! — eu exclamei. — Temos que voltar para a Fortaleza Vulpes
e ajudá-los!
— Ajudar quem? Os malfeitores? — Alex perguntou, confuso.
— Não! Jax, Sky, Quinn — todos! Todos eles precisam da nossa ajuda!
— Jax e Quinn estão vivos? — Uma maravilhosa expressão de
otimismo iluminou seu rosto.
— Não por muito tempo mais se não nos apressarmos...
Capítulo 29
BOAS-VINDAS EXPIRADAS
Harper

Pela reputação ameaçadora que tinham, a fortaleza rochosa dos Vulpes


era surpreendentemente fácil de penetrar.
Alex e eu conseguimos nos infiltrar no prédio sem nenhuma
detecção.
Mas agora começava a verdadeira tarefa: encontrar nossos amigos.
Depois de passar furtivamente pela grande escadaria, levei Alex até a
passagem secreta abaixo dela.
Juntos, rolamos a porta de pedra para o lado e entramos na caverna
secreta.
— Certo, — Alex bufou, — você tem alguma noção de onde qualquer
um deles está agora?
— Se eu tivesse que adivinhar, Jax e Zara provavelmente ainda estão
em algum lugar nos terrenos de Vulpes procurando por todos. Quinn
provavelmente ainda está acorrentada a sua tia e Sky...
Eu senti aquela pontada de dor de antes retornar ao meu coração.
Ver Alex e entrar furtivamente na Fortaleza Vulpes tirou
momentaneamente minha mente de tudo.
Mas agora tudo que eu podia ver era Sky rolando na grama com
aquele maldito malfeitor.
A imagem queimou em minha mente.
— Bem... e quanto a Sky? — Alex perguntou ansiosamente.
Vamos, Harper, concentre-se! Coisas maiores em jogo aqui!
— Bem, da última vez que a vi, ela tinha ficado fora até tarde.
Conhecendo-a, ela provavelmente voltou para o quarto para descansar.
— Você sabe onde é?
Eu assenti.
— Então vamos começar por aí.
Alex e eu saímos da câmara secreta. Eu o levei escada acima para onde
Sky, Zara e eu tínhamos quartos.
Depois de verificar se a costa estava limpa, subimos até a porta de Sky.
Respirei fundo enquanto me preparava para abrir a porta, rezando
para a Deusa da Lua para que eu não visse Sky rolando na cama com
aquele malfeitor rebelde dela.
Alex cutucou meu ombro e fez sinal para que eu girasse a maçaneta.
Eu obedeci.
Entramos rapidamente no quarto.
E ali na cama, sorrindo aquele sorriso estúpido dele, estava o
companheiro de Sky.
— O que diabos você fez com Sky, seu filho da puta feio? — eu
exclamei.
Ele deu uma risada aguda e estridente.
— Você quer dizer aquela sua amiga burra e idiota? Não se preocupe.
Você a verá em breve.
Do armário atrás de nós emergiram três capangas, que pularam em
mim e em Alex.
Depois de uma luta em vão — o mundo inteiro escureceu.
Jaxon

Meu coração batia forte no peito enquanto eu corria pelo corredor.


Cada segundo contava.
Eu tinha que achar Quinn.
Os pensamentos sobre o bando haviam fugido completamente da
minha cabeça.
Tudo o que importava era pegá-la antes que tia Jodie a inscrevesse
como uma acólita involuntária.
Minha cabeça estava nadando em remorsos. Havia tantas coisas que
eu poderia ter feito para fazê-la se sentir mais desejada.
Tantas coisas que eu poderia ter feito para ajudá-la a se sentir mais
aceita pelo bando.
Eu me apeguei tanto às tradições de meus antepassados que não
reconheci como isso poderia afetá-la.
Eu não a culpei por se agarrar aos ideais que os Vulpes afirmavam
representar.
Eles eram bons ideais.
Mas eles eram uma ilusão.
Assim como Katherine.
Eu esperava sinceramente que ainda faltasse algum tempo antes que
Quinn fosse completamente seduzida pelas manipulações de sua tia.
Nem me incomodei em verificar o quarto de Quinn. Eu sabia que ela
não estaria lá.
Em um ritmo vertiginoso, corri mais longe pelo corredor até a porta
de madeira escura e grotescamente esculpida que levava ao quarto de sua
tia.
Eu empurrei fortemente a porta com meu ombro e a abri.
Assim que corri para dentro, senti um grande corpo me derrubar no
chão.
Por seus grunhidos e gemidos, eu poderia dizer que era meu irmão
Carl.
Antes que eu percebesse, ele tinha minhas mãos firmemente
amarradas com algemas.
Estava claro que eles estavam me esperando.
Eu olhei para cima do chão para ver Jodie, usando um cocar bizarro,
de pé sobre o corpo inconsciente de Quinn.
O medo se apoderou de mim.
— O que você fez com ela? — eu gritei.
Jodie sorriu divertidamente para mim e disse:
— Estou levando sua companheira para casa, onde ela pertence.
Onde ela sempre pertenceu. — Lúridas névoas verdes circulavam acima
do corpo de Quinn quando Jodie começou a entoar em algum idioma
que eu não reconheci.
— Pare! Mantenha seus feitiços longe dela, sua bruxa! — eu gritei.
— Oh, você pode calar a boca, Alfa? — ela retrucou enquanto Carl me
forçou a ficar de pé. — Quinn vai acordar um verdadeiro Alfa de Vulpes.
Ela não terá mais necessidade de você ou de qualquer um do seu patético
Bando Sombra da Lua.
Ela mandou Carl me levar embora com um movimento de seu pulso.
Eu gritei de volta desesperadamente enquanto Carl me arrastava para
fora da sala.
Mas não adiantava.
Minha companheira tinha partido.
Quinn

— O que a tornou digna da bênção do grande Matheius, Filho da Deusa da


Lua, herdeiro legítimo do reino espiritual? — uma voz sinistra e invisível
gritou.
— Digna? De Matheius? — eu perguntei. — O que você quer dizer?
— Por que você trouxe essa neófita ignorante para mim, Jodie? — a voz
estrondosa de Matheius perguntou. — Ela nem mesmo foi informada da
minha glória.
— Oh, grande Matheius, — minha tia Jodie respondeu, sua voz cheia de
piedade. — Perdoe ela. Ela ainda tem muito que aprender. Mas os poderes
dela glorificam você. Pois, como eu, ela canalizou o reino espiritual e desafiou
a limitada lei natural estabelecida por sua mãe tirânica.
— Assim seja! — Matheius explodiu. — Eu confio a ela os deveres como
Alfa de Vulpes. Que ela use sua posição para liderar nosso bando contra os
opressores míopes que ameaçam nossos caminhos.
Que ela traga glória ao nosso bando. Que ela defenda meu reinado para
os lobisomens em todos os lugares. E que ela destrua todos aqueles que
ousarem desafiar nosso domínio!
— HUUUUHHH! — eu me engasguei acordada.
— Que porra foi essa? Que porra foi essa? — sentei-me reta da minha
posição reclinada na almofada de meditação da tia Jodie.
— Shhh, pequena! Shh... Está feito, — ela disse em um tom suave e
reconfortante.
— O... O que está feito? — eu perguntei meio tonta.
— Sua confirmação como Alfa. Matheius conferiu a você. Você agora
é a honrada líder dos Vulpes. Junto comigo.
Minha mente estava sobrecarregada, tentando assimilar tudo.
— Você quer dizer que não foi apenas um sonho? — eu perguntei.
— Nosso mestre aparece para nós de uma forma estranha às vezes,
mas sua palavra nunca deve ser posta em dúvida.
— Mestre? — eu bocejei. — Achei que a Deusa da Lua fosse nossa
mestra.
— Morda sua língua! — Tia Jodie me atacou com uma raiva que eu
nunca vira nela antes.
Ela respirou fundo algumas vezes em uma tentativa de se recompor.
Um momento depois, um sorriso amigável voltou ao rosto.
— Embora sejamos descendentes da Deusa da Lua, é seu filho
semideus que governa os Vulpes.
Matheius? O líder dos Vulpes? Achei que esse fosse o nosso trabalho?
Minha tia continuou:
— As regras hostis de sua mãe o proibiam de entrar no plano celestial.
Mas sob a liderança de Matheius, usando os poderes divinos de sua
progênie, vamos reclamar nosso lugar de direito. Como Deusas!
— Deusas? — eu perguntei, pasma. — Nós?
— Sim! — exclamou tia Jodie. — É o que devemos ser, Quinn.
Governantes de todos os tipos de lobisomem. Hoje você pode ser apenas
um Alfa. Mas em breve, com nossos poderes combinados,
conquistaremos os bandos de lobisomem terrestres. Então, subiremos ao
alto para governar como Deusas e ser as primeiras deusas de um novo
Olimpo.
A palavra continuou soando na minha cabeça...
— Deusa?
Tia Jodie nunca havia mencionado isso antes.
Eu sabia que a missão de seu bando era defender a equidade que havia
dissipado de outros bandos.
Mas conquistar lobisomens em todos os lugares?
— Eu... Tia Jodie... Não sei se posso ser uma Deusa.
Minha tia mordeu o lábio intensamente, como se estivesse tentando
conter a raiva.
Eu não entendi bem porquê, no entanto. Este não era um lado dela
que eu tinha visto antes.
Ela colocou a mão na minha testa.
— Pobre menina. Você ainda deve estar alucinando com a indução.
Não posso dizer que te culpo.
Tia Jodie ajudou-me a levantar-me e conduziu-me até à porta.
— Aqui, vamos te levar para a cama. Depois de um pouco de
descanso, acho que você terá a cabeça mais limpa para processar toda
essa emoção.
Não posso dizer que discordo dessa avaliação. Eu me sentia exausta.
Ela me levou para o meu quarto e para a cama. Com todo o amor e
carinho que se pode esperar de uma tia, ela me ajudou a ajeitar os
travesseiros e me acomodar na cama.
— Agora, posso pegar mais alguma coisa para você, minha querida? —
ela perguntou com um sorriso.
— Não, — eu bocejei. — Acho que só preciso dormir um pouco.
Ela me beijou suavemente na testa.
— Então descanse bem, minha pequena. Quando você acordar,
teremos muito o que discutir.
Eu me revirei na cama pelo que pareceram horas.
Embora meu corpo estivesse cansado, de alguma forma eu não
conseguia aquietar minha mente para dormir.
Algo estava me irritando.
Um vazio.
Quase parecia uma fome, mas mais uma... melancolia.
O que diabos pode ser isso?
Finalmente, quando estendi a mão para afofar um travesseiro,
percebi.
Jax. Eu sentia falta dele.
Capítulo 30
DESENCANTAMENTO
Quinn

Eu não conseguia me livrar da sensação.


Eu sentia falta de Jax!
Apenas algumas noites atrás, eu senti meu amor por ele sair do meu
coração.
Como eu ainda poderia sentir falta dele?
Ele era o líder de um bando do mal. Um que causou lutas
desnecessárias ordenando que lobisomens deveriam acasalar apenas com
lobisomens do mesmo bando.
Ele era o descendente do homem que matou meu pai.
Como eu poderia querer estar com alguém assim?
Ainda assim... eu sentia falta dele.
Era como se houvesse algum interruptor bem dentro de mim que
tivesse sido ligado novamente.
Tentei desesperadamente ignorar isso.
Mas enquanto eu estava deitada na cama, continuei a sentir esse
sentimento ficar cada vez mais forte.
Logo, isso cresceu e se transformou em um fogo total que queimava
violentamente em meu coração.
Foi angustiante.
Excruciante.
E não importa o que eu fizesse, eu não poderia apagá-lo.
Depois de horas lutando contra esse sentimento, decidi que precisava
falar com alguém.
Pai! eu pensei animadamente comigo mesma.
Era reconfortante saber que eu poderia convocar seu espírito sempre
que quisesse. Certamente, ele ficaria mais do que feliz em me ajudar.
Seria quase normal.
Sentei-me na cama e fechei os olhos.
Desta vez, descobri que era muito mais fácil bloquear o mundo ao
meu redor e canalizar minhas energias para o reino espiritual. Talvez esse
tenha sido um efeito colateral agradável da cerimônia de iniciação que
acabei de experimentar.
Rapidamente, eu me encontrei mais uma vez na presença de meu pai.
Ele se materializou ao meu lado na cama, uma expressão assustada no
rosto.
— Você parece surpreso em me ver, — eu ri. — Eu disse que
provavelmente iria visitá-lo com bastante regularidade.
Ele ficou sentado em silêncio por um momento.
Havia algo estranho nele.
Embora seu rosto fosse familiar, seu comportamento era um que eu
não reconheci.
Não tão enérgico como quando nos vimos pela última vez.
Era subjugado. Quase tímido.
— Qu... Qu... Quinn? — ele gaguejou em lágrimas. — Claro, pai. Eu...
decidi chamar você aqui. Eu precisava do seu conselho.
Ele tinha uma expressão de total confusão.
— Você quer dizer... você me chamou? Você mesma? — ele perguntou
com admiração.
— Sim... como da última vez.
— Última vez? — ele perguntou, com uma pitada de apreensão em
sua voz.
Ele se levantou da cama e começou a andar de um lado para o outro
no quarto.
— Qual é o problema? — eu perguntei, preocupada.
— Você quer dizer que já me convocou antes? E recentemente?
— Sim! — exclamei, ficando um tanto impaciente. — Nós
conversamos apenas algumas noites atrás. Colocamos tudo em dia. Sobre
minha vida, minhas lutas, o que aconteceu com você...
Uma expressão de pavor se espalhou por seu rosto.
— O que eu disse que você aconteceu comigo, Quinn?
— O que?
— Como eu te disse que morri?
Ele perguntou como se nem se lembrasse da nossa conversa. Eu
estava confusa.
— O Bando Sombra da Lua usou mamãe e eu como isca para atrair
você. Em seguida, eles acionaram a armadilha, capturaram você e
carregaram você de volta para a execução. Exatamente como a tia Jodie
me disse.
— Tia Jodie! — ele gritou, e continuou a andar um pouco mais.
— Quinn, — ele continuou, — Eu não sei como te dizer isso, mas
quem ou o que você invocou da última vez... não era eu. Na verdade, não
foi nem você quem me chamou...
— O que você quer dizer? — eu perguntei, temendo sua resposta.
— Sua tia Jodie tem manipulado você, Quinn. Ela criou uma grande
perturbação no reino espiritual. Convocando espíritos e distorcendo-os,
usando suas aparências para projetar a vontade dela nas pessoas.
Eu me esforcei para entender o que ele estava tentando dizer.
— Você quer dizer que o que eu vi de você... foi apenas algum tipo de
ilusão?
— Exatamente! — exclamou meu pai. — Quinn! Eu não morri nas
mãos do Bando Sombra da Lua. Eu nunca fiz parte do Sombra da Lua ou
de qualquer bando. Sua tia se juntou aos Vulpes quando ela era jovem.
Eles fizeram lavagem cerebral e a transformaram numa fanática total.
Eles queriam nossos poderes.
Ele suspirou sobriamente.
— Eu não estava disposto a me vender para aquele grupo de
Psicopatas. Mas, como parte da confirmação da tia Jodie, o semideus
Matheius ordenou que ela me matasse.
Meu coração parou.
— Tia Jodie... matou você?
Meu pai baixou a cabeça.
— Ninguém nunca soube, — ele suspirou. — Eu imaginei que ela
faria isso comigo. Ela me ligou em pânico. Disse que queria sair dos
Vulpes. Eu tentei levá-la embora. Mas quando cheguei ao ponto de
encontro que ela me disse para ir, fiquei encurralado. Eles me pegaram e
me queimaram como um sacrifício para Matheius.
Eu não podia acreditar no que estava ouvindo.
Minha tia... A assassina do meu próprio pai?!
Eu não conseguia conceber isso.
A mulher que me mostrou tanto amor, tanto cuidado e instrução nos
últimos dias, matou meu pai?
— Eu... Eu simplesmente não entendo... Por quê? Por que ela iria me
querer por perto se ela te matou?
— A mesma razão pela qual os Vulpes me queriam, meu pai se
ajoelhou na minha frente, agarrando meus ombros com firmeza. — Eles
querem seus poderes. Para usá-los em alguma busca doentia para
ascender ao plano celestial. Eles são perigosos, Quinn. Eles envenenaram
a mente de sua tia em um momento vulnerável de sua vida. Ela nunca
mais foi a mesma.
Nunca mais foi a mesma?
E pensar... se eu não tivesse falado com meu pai... meu verdadeiro
pai...
— Espere! — eu exclamei. — Então, se a... entidade com quem falei da
última vez não era meu pai... então como é... isso significa que desta vez...
Ele sorriu e deu uma risadinha.
— Você realmente me convocou. — Ele balançou a cabeça em
descrença. — É difícil acreditar que você, tão jovem, possa ter tanto
controle sobre suas habilidades. Estou tão orgulhoso de você.
— Eu queria falar com você, pai, — eu disse suavemente.
Compartilhamos um momento terno e silencioso.
Ele manteve uma paz que eu nunca tinha conhecido.
Uma alegria silenciosa que desafiava qualquer descrição.
Mas a felicidade de encontrar meu pai para valer logo foi eclipsada
pela compreensão do que eu havia feito.
Eu tinha abandonado meu bando.
Meus amigos.
Meu companheiro.
Tudo porque fui seduzida pelo consolo da família. O desejo de
pertencer.
Mas eu pertencia.
Ao Bando Sombra da Lua.
— Quinn, — disse meu pai, olhando para mim gravemente. — Você
tem que sair daqui. Agora. É claro que Jodie não vai parar por nada para
usar seus poderes para seus objetivos.
Ele estava certo.
— Eu vou, pai... Mas não sem minha família.
Seus olhos brilharam com orgulho.
— Falou como uma verdadeira Luna. Vá, minha filha! — Com um
beijo amoroso na minha bochecha, ele desapareceu de vista.
Enxuguei uma lágrima sincera de meus olhos e pulei de pé.
Agora, havia apenas uma coisa em que eu conseguia pensar.
Salvar aqueles que eu havia ignorado e colocado em perigo.
Só esperava que não fosse tarde demais.
Jaxon

As horas atrás das grades na prisão subterrânea de Vulpes se


prolongavam como dias.
A agonia de saber que Quinn estava em perigo desconhecido tomou
meu encarceramento completamente enlouquecedor.
Mesmo na presença de Sky, Harper, Zara e até mesmo Alex, todos os
quais foram presos comigo — eu não conseguia pensar em nada além
dela.
— Vamos, Jax, — Alex se sentou ao meu lado e colocou o braço em
meu ombro. — Nós vamos conseguir sair daqui de alguma forma. Eu
com certeza não vim até aqui para ser preso novamente.
Suspirei.
— Por mais corajoso que tenha sido de você, Alex, temo que toda a
nossa causa esteja perdida. E é tudo minha culpa.
— Não se dê tanto crédito, — Sky falou. — Os Vulpes mexeram com
todas as nossas cabeças. — Ela olhou para Harper, que se encostou mal-
humorada na parede. Ela acenou com a cabeça em concordância com
uma expressão pensativa.
— Bem, independentemente de quem seja o culpado neste caso, —
continuei, — cismar com isso não nos ajudará a descobrir uma maneira
de sair daqui.
— Eu posso ser capaz de ajudá-los com isso, — um barítono familiar
rosnou.
A cela inteira se voltou para a porta.
Era Carl. Chave na mão.
— Sim, certo! — Sky zombou. — Nós vimos esse cara fazer algumas
pegadinhas doentias antes. Você nos deixaria sair daqui apenas para nos
matar na hora!
— Shh, filhote! — ele grunhiu.
Ele acenou com a cabeça para mim e eu o olhei interrogativamente
nos olhos.
— Eu me juntei aos malfeitores para progredir, — ele começou. —
Depois que meu pai cedeu o poder de Sombra da Lua para você, Jodie me
prometeu o poder que eu tinha sido privado. Mas em vez disso... eu não
sou nada além de seu faz-tudo.
— O que você está tentando dizer, Carl? — eu perguntei.
— Vou deixar todos vocês saírem. Com a condição de que você me
deixe entrar no bando. Como um conselheiro para você.
— Absurdo! — Alex gritou. — Nosso bando ainda está se recuperando
da bagunça que você fez! Não dê ouvidos a ele, Alfa.
Eu considerei sua oferta com cuidado.
Certamente, eu tinha visto como tia Jodie tinha um talento especial
para envolver as pessoas e transformá-las.
E se eu tivesse chances de atrair Quinn para longe de Jodie, precisaria
de todo o insight que ele pudesse fornecer.
— É um acordo, Carl. Embora eu deva ser honesto, não posso
prometer que terei muito de um bando para trazê-lo de volta.
Ele acenou com a cabeça.
— Veremos o que podemos fazer sobre isso.
O resto da cela explodiu em desaprovação.
— Você tem certeza de que pode confiar nele, Jax? — Alex perguntou,
cético.
— Não, mas ele é a melhor chance que temos. E... ele é meu irmão.
Eu olhei nos olhos dele. Havia um tom sincero sobre eles que
lembrava meu pai. Embora Carl tivesse sua cota de erros a compensar,
havia algo sobre ele sob essa luz que me fez acreditar que ele
compensaria.
Carl destrancou a cela rapidamente e fez um gesto para que todos nós
o seguíssemos.
Subimos silenciosamente as escadas e pelos corredores da Fortaleza
Vulpes sem sermos detectados. Depois de serpentear pelas muitas voltas
e mais voltas da cidadela, chegamos ao átrio.
Quase lá!
Assim que começamos a caminhar pelo chão de ladrilhos de barro,
Carl gritou: — Cuidado! — Ele me jogou no chão enquanto um feixe de
energia azul era arremessado na minha cabeça.
Ele soltou um grito de gelar o sangue quando o feixe entrou em
contato com ele.
Eu olhei aterrorizado enquanto seu corpo se desintegrava diante dos
meus olhos, como se sua alma tivesse sido sugada para fora dele.
Meus olhos se voltaram para a varanda.
Lá estava Jodie com um sorriso ameaçador.
— Assim, sempre aos traidores, Beta Carl! — ela gargalhou. — Agora
então, de quem devo levar a próxima alma?
Merda.
Ela nos pegou.
Não havia nenhuma maneira de chegarmos lá sem pelo menos um de
nós ser levado por sua magia.
Eu olhei em volta para meus parceiros temerosos.
Nenhum deles merecia morrer.
Meu descuido havia permitido toda essa bagunça.
Como Alfa, era meu dever pagar o preço.
Avancei:
— Você nos tem, Jodie. Nós nos rendemos. Leve-me e faça o que
quiser. Mas deixe os outros irem. Você não tem nada contra eles.
— Matar você, — ela zombou. — Céus, não! Você morreria muito
corajosamente. Além disso, eu tenho sua companheira, então já posso
obrigar você a fazer o que eu quiser. Não, não. Agora vamos ver...
Depois de examinar sua miscelânea de vítimas, ela apontou para Sky.
— Você aí! Você é tão justa e delicada. Aposto que você morreria de
forma mais satisfatória, — Jodie riu.
Os olhos de Sky brilharam de terror quando a feiticeira malvada
atirou um raio azul em sua direção.
— Sky! — Harper gritou e se lançou em direção à amiga.
Ela conseguiu empurrá-la para fora do caminho assim que o feixe
atingiu.
Mas ela mesma não conseguiu evitar.
O corpo de Harper começou a brilhar em um azul brilhante.
Ela não fez nenhum som. Sem grito de dor.
Mas seu rosto estava congelado.
Mas não de horror.
Havia uma expressão em seu rosto que eu nunca tinha visto antes.
Era quase... serena.
E enquanto tudo aconteceu em um instante, eu pude ver que seus
olhos estavam fixos com determinação em Sky.
Ela sabia o que ela estava fazendo.
Todos nós soltamos um suspiro coletivo quando o corpo de Harper se
dissolveu diante de nossos olhos. Da casca de seus restos mortais ergueu-
se uma aparência fantasmagórica dela.
Seu espírito.
Ela olhou para Sky com um sorriso contido.
Uma visão rara no rosto de Harper.
Sky gritou em lágrimas enquanto observava a essência de sua amiga
transformar-se em nada.
Eu não podia acreditar.
Harper, minha amiga e a maior guerreira do Sombra da Lua, se fora.
Desapareceu completamente da existência.
Mas, infelizmente, não havia tempo para lamentar.
— Minha Deusa! — Jodie gemeu. — Tantos heróis! Ah bem! Todos
vocês vão se juntar a ela em breve. — Eu cerrei meus dentes e me
preparei para me transformar. Se ela não aceitasse a rendição, eu não iria
cair sem lutar.
— AHHHHH! — Jodie soltou um grito repentino de agonia e caiu no
chão, lutando contra um borrão cinza.
Um de seus próprios lobos a atacara!
Esta era a deixa para a fuga dos meus amigos. E a minha para ajudar a
derrubar Jodie para sempre!
— Zara! — eu gritei. — Pegue Sky. Tire ela daqui! — Ela acenou com a
cabeça e agarrou Sky, que havia desmaiado com todo o trauma. Elas
conseguiram sair em segurança pela porta da frente.
— Beta! — Eu me virei para Alex e balancei a cabeça.
Era hora de acabar com isso.
Nós dois nos ajoelhamos e nos preparamos para nos transformar.
Mas fomos interrompidos pelo som de um agonizante:
— ARRRROOOOO! — Eu olhei para cima para ver o lobo corajoso
que atacou Jodie caindo da varanda alta para o chão.
Eu vacilei quando o corpo mutilado da pobre criatura caiu no chão
com um baque, completamente inconsciente.
Foi então que dei uma boa olhada no lobo.
Meu coração afundou.
Não era apenas algum malfeitor.
Era Quinn.
— QUINN! — Eu gritei e corri em direção ao seu corpo imóvel.
— Jax! Saia daí! — Alex gritou comigo.
Mas as palavras não foram registradas.
Eu tinha que chegar em Quinn.
Nada mais importava.
Acima, eu podia ouvir a tia Jodie gargalhando enquanto se preparava
para acabar comigo.
Mas eu tinha que alcançar minha companheira.
Se esse fosse o fim... Eu tinha que pelo menos deixá-la saber que eu a
amara...
— OWWW! — eu gemi quando uma dor aguda perfurou meu
tornozelo, me fazendo cair no chão.
Eu olhei para frente em direção a Quinn.
Mas ela parecia estar se distanciando cada vez mais!
Eu chorei por ela enquanto deslizava para trás nos ladrilhos.
A dor persistia conforme a distância entre Quinn e eu aumentava.
FLASH!
Jodie disparou um raio azul mortal, apontado diretamente para onde
eu estava.
Minha morte estava próxima. Mas Quinn estava tão longe.
Senti como se meu coração fosse explodir.
Tudo que eu queria era abraçá-la...
Beijá-la...
Uma...
Última...
Vez...
SLAM!
As portas do átrio se fecharam quando o raio mortal de Jodie estava
prestes a atingir minha cabeça, bloqueando seu feixe de sugar almas.
Eu olhei para trás.
Alex mudara para a forma de lobo e me arrastara pelos dentes. Bem
na hora também. Mas o fato de eu ter vivido me encheu de raiva.
— Maldição, Beta! O que diabos você estava pensando? Era a Quinn
lá!
Não faria bem algum a ela se você estivesse morto, Jax!
Mas isso pode ter salvado um pouco de sangue na minha pelagem.
Uma voz fria e áspera soou zombeteiramente pelo elo mental.
Alex e eu nos viramos lentamente em sua direção.
Lá estava Anthony iluminado por trás por um sol da tarde vermelho-
sangue.
A sua direita, dois lobos mantinham Zara e a Sky desmaiada
aprisionadas.
Atrás dele, legiões de lobos estavam prontos para atacar.
Tínhamos saído de uma batalha...
Para entrar em uma guerra.
Continua no Livro 3…
Para ler mais livros como esse acesse:
Galatea Livros
Star Books Digital
Os Lobos do Milênio
Leia Também…

Os Lobos do Milênio – Bianca Alejandra


Sienna é uma lobisomem de dezenove anos com um segredo: ela é
virgem. A única virgem do bando. Ela está decidida a passar por Bruma
deste ano sem ceder aos seus impulsos primitivos - mas quando ela
conhece Aiden, o alfa, ela se esquece de seu autocontrole.
Sequestrada por um Alfa – Annie Whipple
Belle nem sequer sabe que lobisomens existem. Em um avião para Paris,
ela encontra o Alfa Grayson, que afirma que ela lhe pertence. O
possessivo Alfa marca Belle e a leva para sua suíte, onde ela tenta
desesperadamente lutar contra a paixão que cresce dentro dela. Será que
Belle irá sucumbir aos seus desejos, ou será que ela é capaz de se segurar?
Meu Alfa me Odeia – Natchan93
Quando a jovem fugitiva Quinn é mordida por um lobo na floresta, ela
descobre um mundo que nunca havia conhecido — um mundo de
lobisomens. Agora Quinn deve adaptar-se à sua nova vida no Bando
Sombra da Lua, sob a orientação de um alfa sedutor.
O Chamado do Alfa – Sapir Englard
Lyla vai até o coração do Mississippi com uma fraca esperança de
encontrar seu companheiro. Achar um par é uma coisa rara, e
sinceramente Lyla ficaria contente com o seu namoradinho de infância.
Quando a temporada começa sob a lua cheia, Lyla segue um uivo
arrepiante para encontrar o seu verdadeiro companheiro — Sebastian, o
Alfa Real. Será que Lyla aceitará o seu destino como parte da Matilha
Real ou escolherá o seu primeiro amor?
Infinito – Mikayla S
O companheiro de Lux é tudo em que ela consegue pensar desde o
primeiro dia em que sentiu o cheiro dele. Ela tenta imaginar a aparência
dele, seu sabor... mas ela sabe que mesmo seus sonhos mais loucos não
fazem justiça a ele. Do nascer ao pôr do sol, o companheiro de Lux está
sempre lá, espreitando nas sombras, mas fora de alcance. Ela nem sabe de
que espécie ele é. Tudo que ela sabe é o nome dele: Soren

Você também pode gostar