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2023
Copyright © 2023 Amanda Pereira
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utilizada ou reproduzida em quaisquer meios existentes sem a autorização
por escrito da autora.
" Uma árvore não chega ao céu, sem que suas raízes toquem o inferno.
"
Damon
Ele vai fazer de tudo para tê-la novamente, nem que para isso ele tenha que
colocar fogo em todo o mundo…
Vitória sentiu o desespero de ver sua melhor amiga ser tortura e morta na
frente de todos, depois que ela matou dezenas de vampiros naquela sala do trono,
Vitória agora foge sem rumo com o seu novo aliado.
Eles irão para a resistência, o único lugar que ela julga que irão aceitá-la,
mas os seus planos não saem como ela imaginou.
O seu coração está dividido, novas revelações mostram que ela não
conhece o Damon como julgava conhecer.
Aviso
Sumário
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Epílogo
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Prólogo
Eu estava tentando não me lembrar do que aconteceu ontem, peguei uma
calça e um vestido vermelho-escuro, com detalhes em dourado.
Hoje pela manhã quando acordei havia várias roupas no meu armário,
achei estranho por um momento, mas depois aceitei, eu sabia que hoje era o
grande dia, então peguei esse vestido e, além disso, eu poderia vendê-lo no
mercado antes de sair da cidade.
Era bom ter pelo menos algo de valor nas mãos, como o vestido era chique
demais, apenas para um passeio, coloquei o enorme casaco preto por cima,
cobrindo-o totalmente, vesti um conjunto de botas pretas que iam até a metade
das pernas, elas eram confortáveis, deixei o cabelo solto, eu não poderia levar
mais nada, não poderia chamar atenção mais do que o normal.
Respirei fundo olhando o quarto mais uma vez, meu coração parecia que ia
saltar pela boca a qualquer momento, as minhas mãos estavam tremendo quando
eu deixei o quarto para trás.
Vai dar tudo certo..., vai dar tudo certo... repetia isso até que pude ver a
porta que dava para o jardim, vejo o guarda quando ele me viu me observou
atentamente, meu coração vai explodir de tanta adrenalina que corre pelo meu
corpo.
Ele segurou meu braço com força e me fez andar em uma direção contrária
ao quarto, eu sentia um medo fora do normal, será que ele descobriu? Será que
estava me levando para a morte?
Balancei a cabeça tentando me controlar, não, não, não, por favor, não,
assim tão próximo, eu estava a um passo de distância da minha liberdade.
Ele encerrou nossa curta conversa, andamos por mais algum tempo, até
pararmos em uma enorme porta de madeira, com detalhes em dourado, a porta se
abriu fazendo um barulho estranho. Minhas pernas tremiam quando finalmente
entramos, um tapete vermelho cobria o chão, a parede era toda de pedra polida, o
ar estava preso na minha garganta.
Passamos por vampiros que eu nunca tinha visto antes, todos conversando
baixo uns com os outros, apenas alguns encaravam, mas logo viravam o rosto
como se não fossemos dignos suficientes para a sua atenção, olhei para cima e
vejo o teto alto com um lustre enorme de cristal, andamos mais um pouco até
estarmos bem na frente, vejo a irmã do Demon de um lado.
Quando ela o vê, apenas ignora e olha para a sua frente, vejo um trono
preto, grande e imponente na direção que ela olha.
O rei estava sentado, olhando todos nós, como se pudesse ver a alma de
cada um, logo a esquerda vejo as meninas, todas com casacos grossos, ou seja,
não era somente eu que fui tirada do jardim, sinto o aperto do Damon no meu
braço, olhei para ele.
Apenas balancei a cabeça concordando com ele e fui tropeçando nos meus
próprios pés até estar no meio das meninas. Olhei para os lados, procurando pela
Sofia, mas não a encontrei.
Será que ela estava mais ao fundo? Havia vários humanos aqui, guardas, o
pessoal da cozinha e várias outras pessoas, olhei para a esquerda e vejo o Derek
com roupas grossas, me encarando, eu queria chegar mais perto dele para
perguntar se ele sabia de alguma coisa, mas não consegui, vejo suas mãos
tremendo, ele não conseguia olhar nos meus olhos e logo em seguida ele abaixou
a cabeça, ainda estava olhando para ele, quando vejo uma movimentação, o rei se
levantou do seu trono, fazendo com que todos ficassem calados, prestando
atenção.
As minhas mãos tremiam de uma forma fora do normal, eu sentia um
aperto no meu peito tão forte, que por um momento eu pensei que fosse desmaiar
ali mesmo, era medo, o mais puro e completo medo.
Quando ele falou isso olhou para nós, todos abaixaram a cabeça não
suportando o peso do seu olhar.
As lágrimas desciam como chamas pelo meu rosto, alguém estava falando
alguma coisa, mas eu não conseguia ouvir, eu só pensava eu matar todos, eu
queria matar todos os vampiros do mundo.
A minha visão não ficou em branco, dessa vez eu pude ouvir e ver tudo
que acontecia à minha volta, pude ouvir os sons de espanto quando todos os
vampiros e humanos me viram flutuando em direção ao rei, vejo guardas se
aproximando, tentando me impedir de conseguir o que eu queria, mas com
apenas um aceno, eles foram jogados na parede atrás do trono.
Olhei o rei de cima, eu queria que ele morresse, eu realmente queria que
ele morresse. O rei olhou para mim em choque, ouço vários barulhos de tiros em
minha direção, mas todos eles paravam antes de chegar até mim, era como se
uma força ao redor do meu corpo os impedisse de me matar, todos mereciam
morrer, todos.
Joguei as minhas mãos para cima com toda a raiva que tinha no meu
coração, um poder tão forte, que fez tudo que estava acima de mim sumir em um
barulho incrivelmente alto, ouço gritos e correria, quando os raios do sol
atingiram todos que estavam na sala do trono, eu sorri, na verdade, eu gargalhei
ao ver o rei gritando e logo em seguida, morrendo queimado bem diante dos
meus olhos, até que só tivesse uma pilha de pó na frente do trono.
Meu coração acelerou, e em seus olhos, pude ver que ele também
constatou isso, o meu sangue o fez ficar mais forte e imune, a única coisa que nós
humanos tínhamos ao nosso favor. O sol.
Ela morreu... ela morreu... ela morreu, minha mente me castigava. A Sofia
morreu por minha culpa, porque todas as pessoas que estão próximas a mim,
morrem? Por quê?
Olhei para Derek na minha frente, ele me encarou por um instante, eu sei
que ele deve ter várias perguntas, eu não o culpo, eu também teria se fosse ele,
afinal, não é todos os dias que você vê uma pessoa flutuando bem na sua frente, e
logo em seguida matando todos aqueles vampiros, inclusive o maldito rei e a
psicopata da princesa, o meu único arrependimento é não ter matado o Damon,
seu olhar, só de me lembrar daquele olhar, faz meu corpo todo estremecer de
medo, ele não precisaria esperar que fosse noite para nos caçar, agora ele pode
andar sob a luz do sol, graças a mim, sempre sou eu, sempre.
— Por que você tem essa certeza? — Derek me perguntou com uma
sobrancelha levantada.
Concordei com Derek, ciente de que não podíamos nos dar ao luxo de
baixar a guarda, Damon não era o tipo de inimigo que desapareceria facilmente.
Seguimos caminhando em silêncio, o peso da incerteza pairando sobre nós.
Eu não sabia o que estava por vir, mas estava determinada a enfrentar qualquer
desafio que viesse pela frente.
Derek ficou em silêncio, absorvendo o que falei, olhei para a minha frente,
sentindo o frio como se estivesse cortando a minha pele, mesmo com o casaco
que eu continuava usando, ainda sentia frio, a paisagem, a nossa volta, era apenas
um lugar cheios de árvores dos dois lados da estrada, e o chão repleto de neve.
Olhei para a minha mão novamente, eu chamei aquele poder por várias
vezes durante o percurso, mas nada dele aparecer, era como se eu o estivesse
esgotado com o que fiz na sala do trono, trazer o Derek comigo por vários e
vários quilômetros, ajudou... e muito, mas agora eu queria que eles aparecessem,
talvez assim eu e o Derek já estivéssemos bem longe.
Tinha um carro pronto escondido perto da muralha, era nele que nós íamos
fugir, eu o Derek e Sofia, respirei fundo novamente tentando controlar as
lágrimas que formavam nos meus olhos, só de lembrar da minha melhor amiga,
esse carro ia nos levar até um local que o Derek falou que tinha uns amigos que
poderiam ajudar a mim e a Sofia, mas como eu fui vários quilômetros para frente,
e não tinha como voltar, tivemos que andar, ou dar a sorte de achar algum outro
carro, mas não tinha nada, a estrada estava deserta só com, nós dois e a neve
como testemunha.
— É assim nos arredores, mais para o centro, que você verá o que restou
das cidades, os vampiros gostam das coisas limpas e organizadas, você já deve ter
percebido, por isso as estradas estão assim, principalmente para facilitar o
transporte de alimentos e essas coisas.
Derek olhou para o horizonte, eu olhei para o mesmo lugar, o sol estava
quase se pondo, tínhamos no máximo uma hora e meia. Os pelos do meu corpo se
arrepiaram completamente.
Estávamos andando mais depressa, até que vejo uma estrada de terra à
esquerda, Derek segue na direção dela e eu o sigo, o sol não estava mais no
horizonte, o frio cortava a minha pele, sinto o meu rosto congelando, o meu
corpo inteiro estava tremendo de frio, andamos e andamos passando pela estrada
de terra e indo até um lugar que havia várias árvores.
Já era noite, não fazia ideia de que horas eram, eu podia jurar que estava
ouvindo um barulho estranho, se o Derek ouviu, fez questão de não demonstrar,
naquela floresta eu não sabia se estava tremendo de medo ou de frio, e no final,
eu me perguntava se chegaríamos a este lugar que o Derek falou, antes que eu
congelasse, eu não conseguia acompanhar os seus passos, ele parou me
esperando, olhando para todos os lados, e mais uma vez eu ouço aquele som,
como se fosse um rosnado de uma fera selvagem, louca para se alimentar, e mais
uma pergunta se fez presente na minha cabeça, ou morreríamos pelo frio, ou
pelos vampiros, ou mais provavelmente por este animal, só restava saber qual
chegaria primeiro.
Fui em sua direção até que eu vejo uma porta pequena de ferro todo
enferrujado, Derek abriu e eu não vi nada lá embaixo, só a escuridão, olhei para o
Derek que também me observava.
Logo depois que ele falou, ouço aquele barulho novamente, vejo ele em
alerta na hora, sem pensar muito, apenas entrei, segurei eu uma escada, rezando
para não escorregar e cair sabe se lá onde estávamos, ouço o barulho da porta se
fechando em cima de mim, meus olhos não estavam acostumados com a
escuridão, e com cuidado, fui descendo a escada devagar, um a um cada degrau,
até que eu sinto o chão no último, me afastei da escada, e ouço o Derek também
chegando ao fundo, aqui embaixo estava bem mais quente do que lá fora, mas
ainda não conseguia ver nada.
Até que tudo ficou claro, eletricidade! Pensei espantada, olhando para o
Derek.
— Nós usamos aqui como estoque de tudo que dá para levar para lá.
Eu sabia que ele estava certo, Derek começou a andar até parar perto da
parede que tinha dois colchões no chão, ele se aproximou pegando uma coberta e
me entregando.
Ele saiu antes que eu dissesse algo, me sentei no colchão sentindo todo o
meu corpo agradecendo por finalmente descansar, me cobri com a coberta,
apertando-a no corpo, eu estava tremendo de frio, encostei na parede e fiquei
quieta, tentando me aquecer, levantei o olhar e vejo o Derek aparecendo com
duas latas abertas nas mãos, ele se aproximou me entregando uma e logo em
seguida uma colher.
Derek se senta no outro colchão ao meu lado, ele também pegou uma
coberta e se enrolou, apertei a colher na minha mão e observei a lata de feijão,
comi feliz por ter isso.
— O que você quer saber? — Perguntei, ouço a minha voz, mas não
parecia ser minha, estava baixa demais.
Respirei fundo tentando tomar coragem de falar toda a verdade para ele.
— Tem algo no meu sangue, que faz com que os vampiros fiquem mais
fortes, mas eu não sabia que ele seria imune ao sol, eu pensei que ele fosse
morrer também. — Falei derrotada.
— Então o seu sangue torna qualquer vampiro assim? Ou tem que ser um
vampiro da família real? — Ele questionou interessado.
Olhei para o Derek, ele estava calmo demais, ou talvez seja o choque, não,
não era o choque, ele estava calmo demais, principalmente depois do que contei,
se alguém me dissesse isso eu surtaria, mas ele não, ele estava calmo, senti um
frio na espinha.
Eu olhava para o Derek narrando tudo que eu sou capaz, tudo que fiz, e
isso me deu medo, era tudo tão intenso que, no fundo, eu nunca tinha parado para
pensar. Em tudo isso, mas ele narrando tudo o que aconteceu, fez com que eu
tremesse de medo, se por algum motivo eu for pega novamente pelos vampiros, o
que seria da raça humana? O que aconteceria comigo? Com o meu sangue em
posse deles, eles seriam invencíveis.
Eu estava com medo, com tanto medo que o meu corpo inteiro tremeu.
— Eu não faço ideia, ele procurou algo no meu passado que pudesse
explicar o que eu sou, ou o porquê posso fazer isso, mas não achou nada, a única
pessoa que poderia saber é a minha mãe.
Mas infelizmente a minha mãe está morta, um peso caiu sobre os meus
ombros, e a Sofia também, respirei fundo, Derek não me fez mais nenhuma
pergunta. Talvez tenha percebido a expressão no meu rosto.
Todas às vezes que fechava os olhos, eu via a cena dela morta aos pés do
maldito rei, o desespero vem com tudo, me encolhi quando sinto lágrimas
descendo pelo meu rosto, estava fazendo de tudo para não fazer nenhum barulho
sequer, tentei engolir o choro e o desespero, mas estava difícil.
Então eu me deixei levar, sinto mais e mais lágrimas descendo pelo meu
rosto à medida que sinto o meu peito doendo, eu só queria salvar a Sofia, só isso.
Me fiz essa pergunta quando fechei os olhos mais uma vez, desta vez
finalmente dormindo.
Capítulo 03
Meu coração estava doendo, eu queria acordar, é um sonho..., é um
sonho..., mas, mesmo assim, eu a vejo na minha frente, vejo Sofia parada, o
sangue que saia do seu peito onde o rei retirou o seu coração, eu sinto um ódio,
um medo tão irracional, que fez o meu corpo ficar congelado bem na sua frente,
eu queria dar um passo para poder ajudá-la, mas não conseguia, por mais força
que eu colocava eu não conseguia mover as minhas pernas.
— Vitória!
Ouço o meu nome sendo chamado, mas estava tão distante, não consigo
parar de olhar para a minha amiga bem na minha frente, e mais lágrimas
descem pelo meu rosto mais e mais.
— Vitória!
— Você não acordava. — Ele falou, ouço sua voz cansada, olhei para as
várias latas, e prateleiras que ainda flutuava, com cuidado tentei fazer com que
elas voltassem para o seu lugar e devagar, em cada prateleira, cada lata, cada
objeto voltou para o seu devido lugar.
Olhei para o Derek que observava a cena na sua frente, ele observava com
interesse, e se eu não estiver enganada, com uma certa fascinação estranha.
— Você não tem controle do que sonha Vitória. — Ele suspirou. — Você
estava gritando o nome dela, e quando eu me assustei, vi você se debatendo e
chorando, e depois as coisas começaram a se mover.
— Eu acho que essas roupas vão te servir, hoje parece que está mais frio
do que ontem.
Ele falou isso e logo em seguida pegou uma bolsa também colocando no
ombro, coloquei o vestido dentro da minha bolsa e logo em seguida vesti o
grosso casaco preto, coloquei a bolsa nas costas e olhei para ele.
Andamos em silêncio até estarmos fora daquele lugar cheio de pedras, ele
decidiu que era melhor irmos pela floresta, porque provavelmente haveria
pessoas de carro tentando nos encontrar, Derek estava certo.
— Esses seus amigos vão me ajudar, mesmo sabendo que o príncipe está
me caçando? — Perguntei com um peso na voz, afinal, eu estava sendo caçada,
qualquer pessoa que estivesse do meu lado também estaria em perigo, Derek me
encarou.
Ele falou com uma grande convicção, por que ele tinha essa certeza? Derek
era misterioso demais, afinal parando para pensar, o que eu sabia dele? Nada,
absolutamente nada, e estou aqui colocando o meu futuro nas mãos de uma
pessoa que eu mal conheço, mas o que eu poderia fazer agora? Para onde eu iria?
Não conheço ninguém, não tenho ninguém.
Estamos perto de uma pequena cidade, olhei para os escombros das casas
na minha frente, passamos por cada rua, coberta pela vegetação, vejo as carcaças
dos carros abandonados, destruídos pelo tempo. Derek olhava para cada lugar,
com muita atenção.
Quando olhei para o Derek do meu lado, o vejo quieto olhando para todos
os lados à espera que alguém entrasse, olhei para as nossas mãos que ainda
estavam unidas uma na outra.
Ouço vozes fora da casa, e mesmo sem perceber, apertei a mão do Derek,
ele me encarou.
— Eu não vou deixar você fazer isso, eles não querem você, eles querem a
mim.
— Por isso mesmo, não podemos deixar que eles te peguem, então faça o
que eu lhe digo, saia pela porta dos fundos e me espere na floresta. Eu vou
distraí-los.
Cada passo que era dado por mim era como se eu o estivesse traindo, era
como se uma faca estivesse sendo enviada aos poucos no meu peito mais e mais.
Saí da casa correndo, não olhando para trás, a minha única visão era a
floresta logo a frente, eu precisava chegar até lá, eu precisava, corri e corri,
sentindo os músculos das minhas pernas ardendo pela falta de exercícios, o meu
peito subia e descia rapidamente, procurando ar para encher os meus pulmões, e
quando estava finalmente chegamos perto, ouço um barulho alto perto de mim.
Repetia isso para mim, mas parecia que era mentira, tentei me levantar
para continuar indo até a floresta, mas a dor na minha perna irradiava para todo o
meu corpo, meu coração acelerou quando ouço um sorriso, olhei para frente e
vejo dois homens, dois guardas humanos do príncipe, vindo na minha direção, e
mesmo sentido todo o meu corpo doendo eu comecei a me arrastar em direção à
floresta, vejo o rastro de sangue que estava ficando atrás de mim.
— O que ela tem de tão especial para o rei mandar todo o exército atrás
dessa garota? — Ele perguntou, e logo em seguida segurou em uma mecha do
meu cabelo. — A não ser esse cabelo ruivo, não vejo nada de especial nela.
— Ela deve fazer muitas coisas diferentes na cama, para ele ter feito isso.
A dor na minha perna aumentava, estava sentindo o meu corpo cada vez
mais fraco, era como se eu fosse desmaiar a qualquer momento.
— O que você acha que o rei vai fazer com cada um de nós quando souber
disso? — O guarda que estava dirigindo disse.
— Ninguém sabe que fomos nós que a encontramos, e duvido que ela
falaria qualquer coisa que acontecesse neste carro para o rei. Não é mesmo
gracinha?
Ele segurou o meu rosto com força me fazendo encará-lo, logo em seguida
tentou me beijar, eu retirei o meu rosto das suas mãos o empurrando com toda a
minha força, fazendo-o me soltar.
— Vadia, desgraçada!
Abri os olhos quando sinto a dor irradiando por todo o meu corpo.
— Você vai ficar bem Vitória, espera só mais um pouco estamos chegando.
Vejo o Derek do meu lado, ele amarrava algo na minha perna, com força,
isso me fez gritar novamente.
— Ela perdeu muito sangue. — Essa voz eu não conhecia, olhei para a
frente e vejo um rapaz dirigindo, ele tinha o cabelo, levemente loiro, ele dirigia
com rapidez.
— Você está vivo! — Mas a minha voz não passava de um sussurro, ele
me encarou por um momento, o seu olhar foi para o meu corpo. E percebo o seu
rosto ficando levemente vermelho.
Mas não estava conseguindo, a minha mão não ficava no lugar, as lágrimas
encheram os meus olhos. O desespero tomando conta de cada parte do meu
corpo.
E tudo ficou escuro novamente, sinto braços me segurando com força antes
que eu perdesse todos os sentidos.
Capítulo 05
Eu podia ver o rosto da minha mãe bem na minha frente, o seu sorriso
gentil me observando com carinho, logo em seguida a minha amiga se juntou a
ela.
Ele estava tão perto, eu podia sentir aquele cheiro, e quando ele levantou
a mão e tocou o meu rosto, eu estremeci, não sinto mais a sua mão gelada, mas
sim o calor do seu corpo, não conseguia falar, algo parecia que estava impedido.
Ele me encarava com aqueles olhos azuis.
Aos poucos fui tomando coragem para abrir os olhos, vejo as paredes
incrivelmente brancas ao meu redor, o meu coração estava mais calmo, olhei para
o meu lado e vejo aparelhos ligados, uma agulha espetada do meu braço, tinha
uma bolsa de soro do lado.
Passei a mão pelo meu rosto, mas não sinto ele inchado como eu imaginei,
onde eu estou? Que lugar é esse? Eram tantas perguntas.
Tentei me sentar na cama e consegui, não estava sentindo dor, isso era
estranho, afinal, quanto tempo eu fiquei desmaiada para não estar sentindo tanta
dor, não tinha ninguém naquele lugar, somente eu, tirei a agulha do meu braço,
vejo o sangue manchando o lençol branco, fiz um pouco de pressão, mas olhando
para todos os lados, com cuidado fui tirando a faixa que estava enrolada na minha
perna, enquanto eu fazia isso, percebi que estava com uma camisola estranha,
grande demais de algodão azul-claro, nada de roupas íntimas, terminei de tirar a
faixa e logo em seguida as gazes, e vejo o local que levei o tiro, não estava
inchado, passei a minha mão pelo local e não senti a dor agonizante que eu já
tinha sentido, o local estava levemente vermelho, com uma cicatriz quase não
aparente, ok, isso estava estranho demais, já estava quase colocando os meus pés
no chão quando a porta se abriu.
— Quem é você? — Olhei para a porta aberta logo atrás dela, tenho
certeza de que conseguiria chegar até lá. Onde eu estou? Pensei.
Ela sorriu, um sorriso gentil para mim. Mas eu não acreditava mais em
sorrisos gentis.
— Logo alguém virá aqui te explicar tudo, por enquanto eu quero saber se
você sente alguma coisa, dores? Enjoos? — Ela me encarava esperando
respostas, mas eu estava ocupada demais pensando onde eu estava, e se os
vampiros tinham conseguido nos pegar, afinal, eu não me lembro de ter chegado
nesse lugar, e o Derek? E aquele outro rapaz que me ajudou? Meu coração
acelerou, e se eles estiverem em alguma parte deste lugar sendo torturados? Não,
eu não vou deixar que mais ninguém se machuque por minha causa, não
suportaria se isso acontecesse de novo.
E mais rápido do que pensei, eu pulei daquela cama, sinto o frio do chão
em contato com os meus pés descalços, corri em direção à porta, ouço o som do
grito de espanto da mulher loira logo atrás de mim, corri até estar em um corredor
iluminado, olhei para os dois lados rapidamente, o meu coração acelerado mais e
mais, a cada passo dado por mim, apenas fui seguindo para a esquerda, ouço
gritos vindo de trás, então corri mais rápido, as minhas pernas ardendo pelo
esforço, não sentia dor no lugar do tiro, isso estava me incomodando, afinal, por
quê?
Deixei essas perguntas para depois, precisava saber que lugar era esse? Eu
precisava saber se ele estava bem.
Eu não sabia que lugar era este, e de repente vejo uma porta entreaberta,
continuei correndo até chegar nela, parei sentindo o meu peito subindo e
descendo, os meus cabelos estavam encostando no meu pescoço completamente
suado, vejo vários olhos me encarando, olhei em volta e tinha muitas pessoas,
umas sentadas em mesas mais afastadas e outras em pé, olhando fixamente para
mim, engoli em seco, sentindo as minhas mãos suando mais rápido à medida que
o meu coração voltava a bater mais devagar.
Que lugar era esse? Eram tantas perguntas, tantas dúvidas, ouço passos e
me viro no momento que uns quatro homens vestidos com roupas pretas me
encaravam, vejo as suas mãos próximas das armas que estavam carregando, eu
não vou deixar ninguém me machucar novamente, sinto as minhas mãos
tremendo no momento que eles dão um passo na minha direção, e neste momento
sinto o poder tomando força no meu corpo, eu vou lutar, não deixarei que mais
ninguém me machuque.
E quando um deles avançou na minha direção com uma arma nas mãos, eu
levantei a minha mão, o homem foi arremessado em direção à parede.
— Me desculpe Vitória, mas não posso deixar você destruir tudo que
conquistamos.
Tentei abrir a boca para falar alguma coisa, mas não conseguia, os meus
olhos estavam fechados.
Capítulo 06
Minha cabeça está doendo, tentei levantar minha mão, mas não consigo, o
desespero tomando conta de mim, estava presa novamente, abri os olhos em
desespero, minha visão se inundou com a claridade do local, minha boca estava
seca, já estava pronta para gritar quando alguém segurou os meus ombros, os
meus olhos demoram para focar quem era.
— Que lugar é esse? — Olhei para todos os lados, não era mais o lugar que
acordei da primeira vez, as paredes tinham uma cor mais para o cinza, era um
local menor, olhei para as minhas mãos e vejo elas amarradas cada uma de um
lado da cama, olhei novamente para o Derek que estava ainda me encarando. —
Por que estou amarrada?
Um de nós? — Pensei.
— Sim, era um sedativo, do jeito que você estava, eu tinha certeza de que
não ia conseguir conversar com ninguém.
— Eu não sabia onde estava, na verdade, não sei onde estou, não vi
nenhum rosto conhecido, eu pensei que eles… — Engoli em seco. — Eu pensei
que ele tinham conseguido me pegar, por isso corri, pensei que estava nas mãos
dos vampiros de novo, eu pensei… eu pensei que eles tinham pegado você.
Finalmente disse o que estava na minha cabeça, Derek olhou para mim por
um tempo, na verdade, ficamos olhando um para o outro, sentia as minhas mãos
suando sem parar, quando não suportei mais olhar nos seus olhos, eu abaixei a
cabeça, sentindo o meu rosto ficando vermelho de vergonha.
— Me desculpa, tive que sair um pouco para poder resolver algumas
coisas, por isso não estava no quarto, quando você acordou.
Derek suspirou.
— Eu sei disso, Vitória, ele vai ficar bem. — Ele afirmou novamente.
— A médica também ficou muito surpresa por sua melhora tão repentina.
Olhei para ele com várias perguntas enchendo os meus pensamentos, por
que eu me curei tão rapidamente?
Levantei uma sobrancelha olhando para ele, lugar nenhum é seguro, Derek
já devia saber disso.
Era informação demais para mim, eu olhava para ele como se fosse a
primeira vez que estivesse o vendo, eu sempre achei que ele estava escondendo
alguma coisa, mas nunca imaginei que fosse isso, quem eu queria enganar,
convivi com a minha mãe por todo aquele tempo, e só depois da sua morte que
descobrir que ela fazia parte da resistência.
— Não precisa se desculpar, você não tem culpa de nada. Eu deixei umas
roupas para você, se vista, tem alguém que quer te conhecer.
Ele me encarou.
— O líder da resistência, ele está animado com a sua vinda, mas antes,
vamos passar no hospital, a médica quer dar uma olhada em você.
Derek não falou mais nada, apenas saiu me deixando com várias perguntas.
Vesti uma calça jeans e logo em seguida uma camiseta branca, peguei o par
de tênis que estava junto e os coloquei.
O quarto estava bastante quente, não estava sentindo frio, andei em direção
da porta, e logo em seguida a abri, vejo o Derek parado encostando na parede,
quando me viu, olhou demoradamente para mim, sinto as minhas mãos suando
com seu olhar tão intenso.
— Vamos!
Capítulo 07
Observei cada canto que passava, estava aqui agora, poderia ser seguro,
mas não ia me enganar achando que seria para sempre, minha cabeça estava a
prêmio, eu não poderia achar que seria perfeito, porque, no fundo, sabia que nada
era perfeito na minha vida.
— Eles só estão curiosos. — Ele sorriu. — Você não pode culpá-los, não é
todos os dias que eles vêm uma pessoa com poderes, não é mesmo?
Ele continuava com um pequeno sorriso, abaixei a minha cabeça um
pouco, odiava ter esses poderes, porque, no fundo, morria de medo de algum
outro vampiro pudesse me pegar, já tem o Damon, só de lembrar dele, faz o meu
coração disparar, sempre me lembro do seu olhar em minha direção, do seu
desespero ao me ver indo embora, eu não quero que outros tenham esse poder,
esse maldito sangue.
— Eu só estava preocupada, por isso fui atrás de você. — Ela olhou para o
Derek que permanecia perto da porta. — Espera lá fora um momento, para que
ela possa trocar de roupa.
Fui na direção que ela disse, tirei as roupas que o Derek me deu, e vesti
novamente aquela camisola, quando saí, a médica me pediu para me deitar na
cama, assim eu fiz, a moça loira me examinou com cuidado, perguntando se
estava sentindo alguma coisa.
Ela deu aquela conversa como encerrada, algo estava errado com essa
médica, mas não tinha tempo para isso, ainda tinha o líder da resistência
querendo me conhecer.
Derek abriu a porta e entramos, observei o local, era uma sala grande, tinha
prateleiras espalhadas pelas paredes com bastante livros, Derek andou na frente e
fui atrás o seguindo, até que paramos em frente a uma mesa, tinha um homem
parado de costas para nós, por algum motivo estava nervosa, apertei minha mão
em punho tentando me acalmar.
— Vitória, se controle.
Desgraçado!
Eu gritei, as luzes começaram a piscar sem parar, vários livros foram para
o chão, vejo a mesa na minha frente se mexendo, só conseguia imaginar como
seria arremessar essa mesa neste maldito.
Ele não pareceu se abalar com quase tudo desmoronando ao seu redor, o
homem na minha frente continuou a me observar sem demonstrar medo algum.
— Por minha culpa? — Ele repetiu saindo de trás da mesa, e vindo ao meu
encontro. — Por que você acha que a sua mãe morreu por minha culpa? — Ele
levantou uma sobrancelha olhando para mim.
— A sua mãe aceitou isso, desde o momento que ela sabia que a melhor
escolha para vocês duas, era sair daquele lugar, você não pode me culpar pelo que
aconteceu com ela. Eleanor fez uma escolha, ela poderia ter saído daquele lugar,
mas foi somente no dia do seu aniversário que ela teve a coragem que faltava
para fazer isso. — Ele olhou para os livros no chão e logo em seguida para o meu
rosto. — Mas agora sabemos o real motivo para ela tentar fugir tão de repente,
não é mesmo? — Ele me encarou. — Ela queria proteger você, afinal, Eleanor
sabia que você era especial.
— Você não sabe nada da minha mãe. — A minha voz era baixa.
— Eu confesso que não conheci sua mãe como você, mas sabia que ela te
amava. Quando tudo aconteceu, eu fiquei com a mochila que a sua mãe
carregava, e dentro dela tinha este envelope com o seu nome, mas não podia lhe
entregar, afinal, você tinha sido presa, mas quando o meu filho também acabou
preso, eu vi uma oportunidade de salvar a sua vida, pela sua mãe, eu devia isso a
ela.
Filho! Como assim filho, olhei para o Derek e o vejo me observando, ele é
filho deste homem? Oportunidade de me salvar? Então foi por isso que ele queria
me ajudar? Respirei fundo, porque sinto que essa não é toda a história, por que eu
sinto que tem mais alguma coisa?
Ele me entregou a carta, olhei para aquele papel branco em minhas mãos,
meu coração parecia que a qualquer momento ia explodir, virei aquele envelope
branco e vejo o meu nome escrito, por um momento as minhas mãos tremeram,
era a letra da minha mãe, era a letra dela.
— É melhor você voltar para o seu quarto, eu tenho certeza de que vai
querer ficar sozinha quando estiver lendo.
Não levantei o rosto em sua direção, apenas olhava para aquele envelope,
como se fosse um ímã me puxando em sua direção, dei as costas para ele e fui
andando na direção da porta, ouço passos do meu lado e sei que é o Derek.
— O que você quer? — A minha voz saiu baixa, a sua mão ainda estava no
meu braço, Derek respirou fundo.
Por um momento nos encaramos por mais tempo do que o normal, tentei
me controlar quando percebi a minha pele se esquentando só de olhar para ele,
sinto o meu rosto quente, não suportando mais continuar olhá-lo, eu desviei o
olhar.
Não respondi.
Filha.
Se você está lendo essa carta, isso significa que falhei mais uma vez com
você. Me desculpa por falhar, me desculpa por não ser forte o suficiente para te
proteger.
Mas você merece saber a verdade, eu não me perdoo por não ter lhe
contado toda a verdade antes, talvez, só talvez, se eu tivesse tido a coragem
necessária para contar isso para você, eu sei que teria evitado o sofrimento que
você deve estar passando agora.
Antes de tudo eu tenho que te contar sobre alguém que destruiu a minha
vida, alguém tão mal que o meu único desejo é que ele já tenha morrido, mas
infelizmente não posso te dar essa certeza. Porque provavelmente ele deve estar
vivo.
Ele estava tão feliz, como se esse fosse o seu sonho, no começo eu também
fiquei feliz, afinal, ia poder te uma família, uma família que eu nunca tive de
verdade.
Fui morar com ele na sua casa, ele tinha um cuidado fora do comum
comigo, todas as noites ele me examinava para saber se estava tudo bem com o
bebê, eu achava estranho, mas nunca comentei com ele, esses pensamentos
ficavam só para mim, mas como ele era médico, eu apenas pensava que era esse
o motivo, até que completei quatro meses de gravidez.
Daniel ficava praticamente todos os dias comigo, ele saia só a noite, mas
ficava no máximo duas horas fora, quando eu questionei, ele apenas me disse
que tinha tirado férias atrasadas do hospital, para poder ficar comigo.
Mas aos poucos fui ficando fraca, eu não conseguia comer quase nada,
ficava na cama quase o dia inteiro, eu queria ir ao hospital saber se tinha algo
de errado com o meu bebê, mas ele não deixava, me convenceu que não
precisava, que ele cuidaria de mim, e assim eu acreditei mais uma vez nele, todos
os dias ele injetava algo nas minhas veias, e quando questionava o que era, ele
me falava que eram vitaminas, e todas às vezes que ele fazia isso, eu me sentia
mais forte, conseguia me levantar, conseguia comer normalmente, de uma dose
por dia passou a ser três, até que completei seis meses de gravidez, eu estava
melhor, muito melhor, parecia que todo o meu mal-estar tinha passado
finalmente.
Mesmo assim, ele não me deixava sair de casa, eu não estava mais
suportando ficar naquela casa e no dia que decidi que ia sair um pouco, ele me
impediu, me amarrando na cama, não pude acreditar, o homem gentil e educado
que eu tinha conhecido, sumiu, e ele se transformou em alguém que eu não
conhecia.
Até que em um dia eu vi quem ele era de verdade, Daniel não saia de casa
já tinha quase um mês, ele ficava me vigiando dia e noite, sem parar, e quando
eu acordei naquele dia eu o vi próximo demais de mim, ele me encarava a
centímetros do meu rosto, eu só conseguia sentir medo por mim e por você, eu
gritei por socorro, mas ninguém me ajudou, ele parecia um animal sedento, se
aproximando de mim, tentei me afastar, tentei lutar, mas tudo foi em vão, ele se
aproximou, e ali, grávida de você eu descobri o que ele era de verdade, Daniel se
alimentou do meu sangue, quando ele parou, eu estava tão fraca, quase
desmaiando, mas mesmo assim eu pude ver os seus dentes, as suas presas
manchadas, com o meu sangue escorrendo pela sua boca.
Eu vivia com medo que chegasse o dia que ele nos encontraria, mas esse
dia não chegou, até que tudo mudou, quando você fez sete anos, os vampiros se
revelaram para a humanidade, houve a guerra e eles fizeram do restante de nós
escravos.
Eu queria te falar tantas coisas, queria estar agora do seu lado, apertando
a sua mão, te abraçando com força, sentindo o seu cheiro filha, você é forte, você
é mais forte do que pensa, eu sei disso, eu te amo, eu sempre te amei, e pode ter
certeza de que sempre vou estar com você.
O encarei.
— Eu não estou com fome, Derek, você pode ir. — Já ia fechar a porta
quando ele colocou a mão me impedindo.
— Vamos! Vai ser bom para você sair um pouco, eu tenho certeza de que
você deve estar com fome.
— Vamos Vitória.
Eu cedi e acabei o acompanhando, o silêncio permaneceu entre nós pelos
corredores, até que comecei a ouvir vozes vinda do local mais a frente, o mesmo
lugar de antes, o refeitório, as pessoas andavam com uma bandeja nas mãos, sinto
o cheiro da comida, eu estava com fome.
Evitei encarar as pessoas, mesmo sentindo que era o centro das atenções de
todos daquele lugar, só queria comer e logo depois voltar para o quarto.
Fui com o Derek, observei tudo que ele fazia e repetia, pegamos a bandeja,
conforme fomos colocando a comida, eu peguei ovos mexidos, um pão e uma
maçã, e por último, uma caixinha de leite.
Me sentei em uma mesa com ele, estava comendo os ovos mexidos quando
vejo uma moça loira que provavelmente tinha a mesma idade que eu, se
aproximando, e logo atrás dela o mesmo rapaz que estava dirigindo o carro
quando o Derek me salvou, eles se sentaram na nossa frente, a garota me
observava com atenção, já o rapaz loiro sorriu para mim estendendo a mão na
minha frente.
Olhei o seu rosto por um tempo, vejo-o ficando vermelho de vergonha, ele
provavelmente deve ter uns quinze ou dezesseis anos, parecia ser jovem demais.
Olhei para a sua mão que ainda permanecia no mesmo lugar, então o
cumprimentei apertando a sua mão.
Mas quem respondeu foi a moça que parecia ter a minha idade, ela sorriu,
fazendo com que a nossa atenção fosse em sua direção.
A encarei.
— Se você sabe tudo isso, também deve saber que eu não sabia que ele ia
ficar imune ao sol. — Apertei uma mão em punho. Quem essa garota pensava
que era.
— Você nem me conhece, e mesmo assim vejo que você não gosta de
mim.
Ela parou de mastigar a maçã, eu percebi o clima ficando estranho, pesado
demais.
— O que eu sei é que você ficou um mês com o príncipe, antes de dar o
show que você deu na sala do trono, isso me fez pensar, os seus poderes. — Ela
levantou as mãos fazendo aspas na palavra poderes. — Vai me dizer que eles
apareceram só naquele momento, ou antes? — A garota na minha frente levantou
uma sobrancelha esperando a minha resposta, mas não respondi, ela se encostou
na cadeira relaxada e sorriu. — É, pelo visto o que pensei estava certo.
— Ok. Se é isso que você quer. Você já tinha "essa coisa" antes daquele
dia, ou seja, poderia ter matado aquele vampiro muito antes, não é mesmo? O que
nos leva a outra pergunta, por que você não fez isso?
A tal da Brace observou ele do meu lado, vejo o seu rosto vermelho de
raiva.
Ela se levantou pegando a sua bandeja, mas antes de sair soltou mais um
pouco do seu veneno.
— Chega mesmo, eu não quero mais ficar perto de uma das vadias dos
vampiros. — Fiquei em choque com as suas palavras. — Nossa! Desculpa, falei
errado, é vadia só do príncipe. — Disse, e saiu.
Não conseguia acreditar que ela estava sendo tão maldosa. Derek pareceu
igualmente chocado e irritado com suas palavras.
— Não liga para ela. Ela não sabe do que está falando. — Derek disse,
tentando me acalmar.
— Ela não passou por isso como nos dois Vitória, muitas dessas pessoas
não sabem o que realmente acontecia naquele castelo, julgo a dizer que várias
delas acham que ficamos lá por vontade própria. Você pode não saber, mas tem
várias pessoas que pensam que os vampiros são deuses, e vários grupos preferem
ficar ao lado deles, na esperança de que um dia, eles os transformem em um
vampiro.
Olhei para o Derek em choque, por que uma pessoa iria querer isso? Derek
parece ter ouvido os meus pensamentos quando logo em seguida respondeu.
— A vida eterna... para muitas pessoas, a vida eterna, ser jovem para
sempre, vale o preço de se perder a alma, e viver se alimentando do que um dia
eles foram.
O encarei.
— Você precisa se alimentar, não é bom ficar sem comer — ouço o seu
suspiro.
— É, pelo visto você não vai me ouvir. — Ele suspirou derrotado. — Ok,
então, vamos! Eu preciso te mostrar um lugar.
E com isso eu fiquei em silêncio até que paramos em frente a uma porta,
ele abriu a porta e entramos, o lugar era claro, era uma sala enorme, mais parecia
um galpão, de um lado tinha vários equipamentos para fazer exercícios físicos,
um espaço mais ao fundo tinha um ringue para lutar Boxer, encarei cada canto
absorvendo o lugar, eu segui Derek, até que estávamos em um lugar mais
afastado e logo eu percebi ser um estande de tiro, observei ele se aproximando de
uma mesa para pegar uma arma, e com uma incrível habilidade de manuseio,
com perfeição, ele deu um passo em minha direção me entregando a arma, olhei
para a arma que ainda estava nas suas mãos, e logo em seguida para o seu rosto.
Eu peguei a arma com cuidado, sentindo seu peso em minhas mãos. Nunca
havia manuseado uma antes, e a tensão começou a tomar conta de mim. Derek se
aproximou mais, ficando ao meu lado, como se estivesse pronto para me ensinar.
— Por que você está me dando isso? — Ele sorriu pegando a minha mão,
eu senti um pequeno choque quando as nossas mãos se tocaram.
— Você precisa saber usar uma arma, eu vou treinar você, você não pode
ficar contando que os seus poderes irão se manifestar sempre quando precisar,
sabemos que isso pode não acontecer. — Neste momento eu me lembrei do que
aconteceu naquele carro, eu fiz de tudo para que se manifestasse, mas nada
aconteceu, eu fiquei totalmente vulnerável quase que o pior aconteceu, se não
fosse por ele, eu estaria provavelmente em uma vala qualquer. Sinto um arrepio
percorrendo o meu corpo.
— Você precisa segurar a arma com firmeza, mas sem tensionar demais.
Flexione os dedos levemente ao redor do cabo e mantenha o polegar firmemente
apoiado no ferrolho. — Derek me instruiu, sua voz calma e tranquilizadora.
— Agora, tente mirar naquele alvo ali ao fundo. Respire fundo, concentre-
se e aperte o gatilho com suavidade — ele incentivou.
— Muito bem! Você tem talento. Agora, vamos praticar um pouco mais.
— Você está muito tensa, precisa relaxar o seu corpo um pouco, respire
fundo. — Mas isso não estava resolvendo, principalmente quando senti sua
respiração quente no meu ouvido, meu coração martelava no peito, eu tentei
respirar fundo, tentei não pensar no seu corpo encostando no meu, tentei pensar
em qualquer coisa, mas eu não conseguia.
Quando ele estava do meu lado, a uma certa distância, eu consegui, mas
agora que ele está tão próximo do meu corpo, estava me deixando nervosa.
Já tinha três meses que eu estava aqui, aos poucos fui me acostumando
com tudo até com os comentários maldosos de algumas pessoas, a verdade é que
eu não tinha nenhum outro lugar para ir, esse era o único lugar que me aceitavam,
pelo menos alguns me aceitavam, respirei fundo, eu tenho passado quase todo o
meu tempo treinando aqui, este lugar se transformou em uma espécie de refúgio,
mas, no fundo, eu gostava, Derek me ajudava quase sempre.
Ele só não fazia isso quando estava em alguma missão que eu nunca ficava
sabendo qual é, e mesmo se eu perguntasse, ele não respondia, apenas
desconversava.
E isso me fazia ficar com medo, mesmo querendo poder ir lá fora, eu sabia
que era um risco, então aceitei que precisava ficar naquele lugar por mais tempo.
Mas ele sempre me dizia que logo isso ia se resolver e que eu poderia ir em
algumas missões com ele, respirei fundo.
— Eu entendo o que você está dizendo e acho que é uma ideia válida. Vou
verificar se há oportunidades seguras para fazermos algumas saídas juntos. Mas,
por favor, entenda que a sua segurança ainda é a nossa preocupação e não
podemos nos expor desnecessariamente. Precisamos ser cautelosos. O Damon
permaneceu te procurando em todos os cantos.
— Você está tão diferente de três meses atrás. — Ele me encarou, e mais
uma vez abaixei a cabeça quando ele fez isso.
A verdade era que eu não conseguia ficar muito tempo olhando para ele,
sem que o meu rosto ficasse vermelho no mesmo instante.
Pelo menos não estava mais presa e sendo usada pelo Damon, só de
lembrar dele eu sinto um arrepio, eu me pego sonhando direto com ele, com ele
me encontrando, comigo de novo naquele lugar, e várias e várias vezes acordava
molhada de suor, com o rosto molhado pelas lágrimas que eu não me lembrava
que tinha saído, eu tentava esquecer dele, mas infelizmente era impossível, eu
não conseguia fazer isso.
Ele não respondeu, veio com tudo para cima de mim, tentando me
derrubar, mas os meus pés não saíram do lugar, e no mesmo momento me
lembrei das várias vezes que ele conseguiu me derrubar, foram tantas que não sei
a quantidade exata.
Mas me lembro muito bem dos vários hematomas que descobri cada vez
que ia tomar banho no final do dia, ele não tinha nenhuma pena por eu ser
mulher, nas suas palavras, ninguém ia se importar de quebrar o meu nariz se isso
fizesse com que eu caísse.
O treinamento com ele era pesado, mas eu confesso que gostava, bem
diferente de treinar com o Léo, que sempre pegava leve com medo de me
machucar, Léo era uma pessoa que sempre me ajudava quando Derek não estava,
ele acabou se tornando um bom amigo.
Derek tentou pegar o meu braço para me imobilizar, mas não deixei, em
um movimento rápido eu o derrubei ficando em cima dele, nossas, respirações
estavam próximas, ele sorriu, levantei uma sobrancelha não entendendo por que
ele estava sorrindo, afinal, o tinha derrubado, e no segundo seguinte, eu estava no
chão respirando rapidamente com ele em cima de mim, meus braços estavam
imobilizados, tentei me mover, mas o peso do seu corpo me impedia de fazer
isso.
Derek era alto e forte, e tinha ficado ainda mais forte nesses três meses que
passaram, prova disso era os músculos dos seus braços que estavam muito
maiores do que a três meses atrás, o meu peito subia e descia rapidamente, o seu
rosto estava tão perto, que eu podia sentir sua respiração se misturando com a
minha. Ele me observava atentamente até que os seus olhos foram na direção da
minha boca, engoli em seco olhando para ele e quando ele soltou os meus braços,
para logo em seguida, retirar uma mecha do meu cabelo que havia saído da traça
que eu tinha feito naquele mesmo dia de manhã, a fim de colocar atrás da minha
orelha, eu senti um arrepio passando por cada parte do meu corpo, eu não me
movi, apenas o observei.
Eu fiquei parada olhando para ele, chegando cada vez mais perto, até não
ter mais espaço entre nós, eu senti o sabor dos seus lábios nos meus, me causando
uma sensação embriagante pelo meu corpo.
Derek segurou no meu rosto com delicadeza, e naquele instante eu me
deixei levar, eu apenas queria sentir aquele momento, por isso segurei no seu
pescoço, a minha mão foi se movimentando até estar nos seus cabelos, ele
pressionou os seus lábios com ainda mais força e eu correspondi ao que ele fazia,
eu sentia o meu corpo se esquentando mais e mais à medida que o beijo ia se
prolongando. Ele desceu a mão para a minha cintura me fazendo soltar um
suspiro, que logo foi engolido pela sua boca, eu nunca me senti assim, era algo
tão bom, que por um momento eu tive medo de que acabasse.
Derek apertou a minha cintura com força, sua mão não estava mais em
cima da regata preta que eu estava usando, estava abaixo, eu sentia o calor da sua
mão em contato com a minha pele que não estava diferente, ele foi subindo a mão
devagar. E quando estava perto do sutiã que eu usava, ouço uma pessoa fingindo
estar tossindo, no mesmo momento eu abri os olhos me afastando do Derek, que
ainda me encarava, com os lábios vermelhos e inchados, eu sabia que os meus
não estavam diferentes.
— Você sabe que eu também sou solteiro, não é? Se você quiser terminar o
que acabei de ver vocês fazendo, eu estou disponível.
— Desculpe, não resisti. Mas sério, se precisar conversar sobre isso, estou
aqui para você. Amizade acima de tudo, lembra?
Fui direto para o meu quarto e peguei tudo que precisava para poder tomar
um banho, e fui para o banheiro que era compartilhado com todas as mulheres
deste lugar, ao entrar, vejo uma senhora terminando de escovar os dentes, quando
ela me viu entrando, sorriu terminando, ela me cumprimentou e logo em seguida
saiu.
Enquanto a água quente do chuveiro caía sobre o meu corpo, permiti que
as lembranças daquele momento invadissem minha mente. Eu me permiti sentir
uma pontada de felicidade, mas também uma dose de preocupação.
Já era quase onze horas da noite, eu estava acordada lendo um livro que
peguei na pequena biblioteca daquele lugar, quando ouço alguém batendo na
porta do meu quarto, me levantei colocando o livro em cima da cama, ao abrir a
porta vejo o Derek parado, olhando para mim, no mesmo momento o meu
coração disparou, observei o seu cabelo que estava levemente molhado, tinha
provavelmente acabado de tomar banho.
— Eu posso entrar? — Ele perguntou, era a primeira vez que ele vinha no
meu quarto, principalmente pedindo para entrar, eu não consegui responder,
apenas me afastei da porta abrindo-a para que ele pudesse entrar, de repente o
quarto ficou pequeno demais, ele observava o local e logo depois me encarava,
eu não sabia o que fazer e muito menos o que falar, um calor foi subindo pelo
meu pescoço fazendo que meu corpo ficasse quente.
Derek me encarava tão intensamente que fazia o meu peito subir e descer
rapidamente, ele deu um passo em minha direção, encurtando ainda mais a
distância entre nós.
— Meu pai queria fazer uma reunião sobre a nova missão, demoramos
mais do que o normal, terminamos agora. — Ele falou cansado.
— Então você vai para outra missão? — Minha voz era baixa.
— Sim, vamos sair amanhã de manhã, por isso eu vim te visitar, queria te
avisar, também queria me despedir de você.
Ele levantou a sua mão tocando no meu rosto, meu corpo se arrepiou com
o seu toque.
— Para mim, não foi uma coisa do momento, foi especial, na verdade, foi
algo que eu estava querendo fazer há muito tempo.
Meu corpo tremeu, apertei um lábio no outro com força, sentindo uma
felicidade tomando completamente o meu peito.
— Você não pode gostar de mim, todas as pessoas que gostam de mim,
acabam morrendo, eu não quero que nada aconteça com você.
Derek segurou o meu rosto com as duas mãos aproximando o seu rosto do
meu.
— É um pouco tarde para você falar isso, porque nada que você possa falar
vai fazer com que eu mude de ideia.
Ele sorriu.
— Eu não vou me afastar de você, pelo contrário, vou sempre estar ao seu
lado, mesmo que você não corresponda ao que eu sinto por você.
Olhei para ele sentindo cada parte do meu corpo processando suas
palavras, era algo que nunca pensei que poderia existir, alguém realmente queria
ficar perto de mim, alguém realmente gostava de mim.
Ele abandonou minha boca e começou sua exploração pelo meu pescoço,
eu sentia seus lábios distribuindo beijos por onde ele passava, estava sentindo que
a qualquer momento meu corpo fosse se incendiar com tudo que estava sentindo,
ele acariciava minha cintura, seu corpo estava tão próximo do meu, eu pude
sentir o seu..., meu rosto se esquentou quando senti algo duro pressionando a
minha barriga, uma pressão gostosa se instalou no meio das minhas pernas.
E quando ele segurou a minha blusa para poder retirá-la, me encolhi com
um pouco de medo, eu sabia que se continuasse desse jeito logo iria acontecer
algo em seguida, Derek parou os seus movimentos, e me encarou.
Vejo a surpresa no seu rosto, mas não era segredo que todos tinham certeza
que eu matinha relações sexuais com o Damon, afinal, todas as outras garotas
faziam isso, tenho certeza de que ele também era obrigado a fazer isso com a
princesa.
— Não vou te obrigar a nada Vitória, eu espero o tempo que for preciso,
até você estar pronta.
Acabei sorrindo, Derek ficou comigo deitado na cama, abracei sua cintura,
colocando minha cabeça sobre seu peito, ele acariciava o meu rosto, me sentia
tão protegida com ele do meu lado, que sem perceber, acabamos dormindo.
Quando acordei naquela manhã, não vi o Derek do meu lado, senti um frio
no estômago, eu queria que ele estivesse do meu lado, mas também sabia que ele
tinha ido para a missão, que por sinal, não sabia o que era.
Capítulo 10
Hoje faz uma semana que ele foi na missão, naquele mesmo dia eu
descobri que o Léo e a irmã dele também iriam, passei esses sete dias treinando
para ocupar o meu tempo, porque quando eu não estava ocupada, ficava me
lembrando dele.
Eu não sabia o que fazer, se tentava ir até eles ou não, não sabia se ela ia
querer me ver ali, vendo como ela estava.
Mas quando seus olhos se encontraram com os meus, eu pude ver o ódio
dominando o seu rosto, e mais rápido do que pude perceber, ela estava na minha
frente, e o meu rosto estava para o lado oposto, eu sentia o meu rosto doendo pelo
tapa que ela me deu, minha boca estava aberta em choque, do que tinha acabado
de acontecer, olhei para ela, e no momento que ela levantou a mão para pegar nos
meus cabelos, Derek segurou a sua cintura com força tentando tirá-la de perto de
mim, as minhas mãos tremiam, sentia aquela mesma corrente elétrica passando
pelo meu corpo; durante esses três meses eu fiz de tudo para me controlar, para
que esse maldito poder não se manifestasse novamente, só queria ser normal, mas
quem eu estava querendo enganar? Eu nunca serei normal.
— Desgraçada! A culpa é sua, sua vadia, a culpa é toda sua. — Ela tentou
se soltar do aperto do Derek que a segurava. — Me solta Derek, me solta! — Ela
gritava tão alto que dava para ver o desespero na sua voz, Brace chorava.
E aos poucos ela foi ficando parada, mas os seus olhos não saíram de mim.
Derek a soltou, e ela se aproximou da parede, colocou as mãos na parede e
abaixou a cabeça, não estava entendendo, o que estava acontecendo? Por que a
culpa é minha?
— Você está bem? — Mas não respondi, apenas observava a mulher que
estava visivelmente destruída, ainda encostada na parede. — Acho melhor irmos
colocar gelo no seu rosto, já está ficando um pouco inchado.
— O que ela falou é verdade? — Derek ficou calado, ele passou a mão
pelo cabelo nervoso.
— Porque não queria ver você sofrendo e se culpando como está agora.
— Sim, não tínhamos o direito, me desculpa por não falar nada, eu queria
ter contado, mas infelizmente não tive permissão para isso.
— E o Léo?
Derek se levantou.
— Você ouviu a parte que aquele maldito está torturando pessoas atrás de
informações sobre você?
— Eu vou trazê-lo de volta, mas só vou conseguir fazer isso se você estiver
em segurança.
E com isso ele saiu, me sentei na cama sentindo um peso em cima dos
meus ombros, e durante muito tempo, eu fiquei no mesmo lugar, chorando, me
amaldiçoando por não tentar convencê-lo a me deixar ir junto, ficar aqui sem
informação é a pior coisa, tenho certeza de que não iria atrapalhar, mas sempre
eles me deixavam aqui, e isso já estava me incomodando bastante, só queria
tentar salvar o meu amigo.
Capítulo 11
Já eram quase cinco da manhã, o Derek já tinha saído há muito tempo, mas
eu não consegui dormir, ficava pensando nele, ficava pensando no Léo.
Ela jogou uma sacola para mim, eu pequei no impulso, quando abri vejo
peças de roupas também na cor preta.
— Você não queria ajudar, eles não me deixaram ir à missão com eles, mas
eu sei onde é, e você vai comigo, se vista e me encontre daqui a dez minutos no
portão dois.
Ela não esperou que eu respondesse, apenas saiu, fechei aquela porta e
segurei aquela sacola com força, sei que o Derek falou que eu precisava ficar
aqui, mas era o Léo lá fora, eu precisava, era fazer alguma coisa.
Vesti a roupa, uma calça preta mais folgada, uma regata preta, e um casaco,
também preto, com vários bolsos, coloquei o meu tênis e fiz uma trança o mais
rápido que conseguia no cabelo. Peguei a carta da minha mãe e coloquei em um
bolso interno do casaco.
Quando saí daquele quarto, senti a adrenalina tomando cada parte do meu
corpo.
— Fica quieta.
Quando eles não estavam mais a vista, nós duas andamos apressadamente
até uma porta que ficava na esquerda, Brace digitou uns números no painel que
estava do lado, e a porta abriu, entramos em um corredor iluminado, até que
chegamos em uma espécie de garagem, com vários carros.
— Você acha que eles vão deixar que nós duas saíssemos daqui com um
carro? — Ela sorriu. — Você é bem mais inocente do que pensei.
Não respondi, mesmo sentido as minhas mãos tremendo pela sua ironia.
Era um lugar em uma montanha, tinha uma floresta abaixo, eu olhei para
todos os lados. O vento batendo no meu rosto.
Com cuidado fomos andando nas sombras até estarmos em uma estrada, eu
seguia a Brace totalmente cega para onde estávamos indo. Meu coração acelerava
a cada passo que eu dava.
Ela retirou vários galhos, até revelar o que estava escondido embaixo, um
carro. Ela sorriu abrindo a porta, fui para o outro lado e abri a porta me sentando,
o carro tinha um cheiro forte de poeira e gasolina, vejo a Brace abrindo uma
bolsa grande, marrom, toda desgastada.
Então retirou uma chave de dentro, logo em seguida uma faca e a colocou
no lugar perto do seu cinto, logo em seguida uma arma, o meu coração disparou,
Brace conferiu se estava carregada, também a guardou, depois ela tirou mais uma
e me entregou com várias munições, me encarou.
— Ótimo! Porque você vai precisar. — E com isso ela ligou o carro dando
partida no motor.
Eu fiquei calada, na verdade, não tinha nada para falar com ela, e olhando
disfarçadamente para a garota loira que estava dirigindo aquele carro, eu tive
certeza de que ela também não tinha nada para falar comigo, aquilo era apenas
um singelo acordo para salvar o Léo, nada mais que isso, e nós duas sabíamos
muito bem disso, olhava pela janela sentindo o vento que trazia o cheiro das
flores, bem diferente da paisagem repleto de neve de antes.
Brace dirigiu por quase três horas direto, até que paramos próximo de um
antigo e pequeno vilarejo, a maioria das casas, estavam destruídas, as que ainda
se mantinham em pé, estavam em um estado deplorável, ela parou o carro atrás
de uma casa mais afastada. Me virei a encarando.
— O que viemos fazer aqui? — Ela não respondeu, apenas saiu do carro,
eu também saí. Brace deu a volta no veículo ficando do meu lado.
— Tem uns mantimentos que escondi aqui na última vez que fiz patrulha,
eu estou com fome, e morrendo de sede, tenho certeza de que você também está
Era um aviso para quem me visse, ligasse para um número que estava
escrito no papel, que a pessoa que denunciasse ganharia o que desejasse, eu
olhava para aquele pedaço de papel, e só sentia o meu peito doendo mais e mais,
Brace se aproximou, olhando o cartaz, e como se não fosse nada abriu a porta.
— Tem vários desses cartazes espalhados por todos os cantos, não importa
se você retire, sempre aparecem mais. — Eu fiquei em silêncio absorvendo as
suas palavras. — Pela sua cara, Derek não te disse sobre isso também, não é? —
Ela sorriu, se afastando, eu fui em sua direção até estarmos na sala, mas as
palavras dela ficaram se repetindo, o Derek não me disse nada disso, me
deixando no mais completo escuro. Novamente.
Mas eu já tinha perdido a fome, apenas bebi a água, minha cabeça estava
muito longe, o que mais o Derek escondeu de mim? Essa pergunta ficou se
repetindo, observei a Brace indo em direção de uma janela e olhando para fora,
logo em seguida ela parou no meio da sala e me encarou, eu fiquei em pé, quieta,
não queria discutir com ela.
— Todos?
Ela sorriu.
— O que você quer dizer com o pai do Derek e ele estarem me usando?
— O que eu não percebi? — Perguntei de uma vez, dava para perceber que
ela estava louca para me dizer.
— Você achou mesmo que o Derek ia ser preso pelos vampiros? Ele sendo
o filho de quem é, com o treinamento que ele teve desde criança? Você realmente
achou que o filho do líder da resistência ia ser escravo dos vampiros, por um mês,
e ninguém ia fazer nada?
— Mas... Isso não faz sentido. Por que eles fariam isso? Por que me
usariam dessa forma?
Uma mistura de dor, raiva e confusão, tomou conta de mim. Olhei para ela,
sentindo a traição perfurar meu coração.
Meu peito doía de uma forma que não pareceu ser verdade.
— O que você está querendo dizer? — Não poderia ser verdade, poderia
ser só uma mentira vinda dela.
— O que mais? A sua confiança, lógico! Sua idiota, eles sabiam da carta
da sua mãe, se até eu sabia, imagina o Derek que é filho do líder.
Não podia acreditar que tudo aquilo era verdade. O homem que eu tinha
confiado, estava apenas cumprindo um papel em um jogo cruel e egoísta. Eu me
senti enganada, traída, e a raiva crescendo dentro de mim era avassaladora.
— Deve estar se perguntando, o que eles ganhariam com isso, mas tenho
certeza de que, no fundo, você sabe, afinal, é o que todos querem, o seu sangue, o
poder que você tem, você é uma arma, por isso, todos querem te usar. No fundo,
eu sinto pena de você, o que é cômico. Se apaixonar pelo homem que está apenas
te usando, mas foi uma ótima ideia, tenho que admitir, afinal, eles precisavam
que você ficasse quieta, presa naquele lugar, o que melhor do que você se
apaixonar por ele, tudo que ele falava no final, você fazia, uma tola apaixonada,
era assim que muitos de nós te chamava.
Eu dei um passo para trás, a minha visão se nublou com as lágrimas que
caíram sem parar, o Derek me usou. Doía tanto que por um momento eu pensei
que iria cair de joelhos naquele chão.
Brace se aproximou de mim, eu estava tão quebrada, que não percebi até
que já era tarde.
— Por isso eu achei justo trocar a sua vida pela do meu irmão.
A minha garganta ficou seca quando eu percebi o que ela havia feito,
abaixei o olhar e vejo a arma que ainda estava apontada para a minha barriga, dei
um passo para trás, sentindo as pernas fraquejando, Brace respirava com
intensidade, ela atirou em mim, a constatação desse fato me fez ficar com medo,
coloquei a minha mão no lugar e sinto o sangue encharcando a minha blusa.
— Eu nunca gostei de você, e você sabe disso, mas quero que saiba que
não tenho nada contra você, era apenas a sua vida, ou a do meu irmão, e para
mim, a única pessoa que realmente importa neste mundo é ele.
Uma intensa dor percorreu meu corpo, meu coração batendo acelerado
enquanto eu tentava processar o que acabara de acontecer. O sangue escorria da
minha barriga, manchando cada vez mais minha roupa. Minhas pernas perderam
toda a força, e eu caí de joelhos, a dor se espalhando por todo meu ser.
— Você achou mesmo que eu iria te dar uma arma normal? Como eu te
disse antes, Vitória, você é muito inocente.
Cada passo era uma batalha, mas eu não podia desistir. A adrenalina corria
através das minhas veias, me dando forças temporárias para continuar.
Damon levantou a sua mão e passou pelo meu rosto, eu não queria que ele
me tocasse, mas não tinha forças suficientes para impedi-lo.
— Você não faz ideia de como eu te procurei, você não imagina o que fiz
para finalmente tê-la novamente.
Damon olhou para a minha barriga, e em seguida retirou a minha mão que
estava em cima do ferimento sem dificuldade nenhuma.
Eu queria gritar, queria tentar lutar, mais uma vez tentei usar o poder que
eu sabia que se escondia em algum lugar dentro de mim, mas dessa vez nada,
nenhum tremor, era como se ele não existisse, e com isso, eu sucumbi à
escuridão, mas estranhamente, sentindo um calor envolvendo todo o meu corpo.
Capítulo 12
Me sentia estranhamente bem, não sentia dor alguma, me movimentei
sentindo um calor envolvendo o meu corpo, abri os olhos devagar e estava
escuro, tornei a fechá-los, ouvindo o som, de um coração, um pequeno sorriso
estava nos meus lábios quando percebi onde estava, envolvi a cintura do Derek
devagar, sentindo o seu corpo abaixo do meu, tinha um pequeno sorriso nos meus
lábios, quando ele passou a mão pelos meus cabelos delicadamente, foi apenas
um pesadelo, apenas mais um pesadelo, nada daquilo tinha acontecido.
Em um pulo, saí daquela cama o mais rápido que eu conseguia, uma luz
forte foi acessa, as minhas pernas tremeram quando eu percebi onde estava,
aquele cheiro, aquele lugar, olhei para a minha frente e vejo o Damon, deitado na
cama, a sua blusa social preta aberta, olhando para mim, os meus olhos se
encheram de lágrimas quando finalmente a ficha caiu, eu estava aqui novamente,
estava naquele maldito quarto novamente, com o demônio olhando para mim.
Meu coração disparou e o pânico tomou conta de mim. Eu sabia que não
poderia fugir, estava presa novamente naquele lugar horrível, com aquele homem
que me causava tanto terror.
Eu queria gritar, pedir ajuda, mas sabia que ninguém viria. Este era meu
inferno particular, onde eu era a única vítima.
Meu peito subia e descia rapidamente, chamei o poder, fiz de tudo para tê-
lo de novo nas minhas mãos, com ele eu poderia sair daquele lugar, com ele eu
poderia lutar, mas nada aconteceu, absolutamente nada.
— Se você está tentando usar os seus poderes. Eu sinto muito, mas isso
será impossível, você se lembra do que sussurrei no seu ouvido, antes que você
desmaiasse? — Eu me lembrava, mas não queria acreditar. Não, não poderia ser
verdade. — O seu pai e um ótimo cientista Vitória, eu tenho que admitir, porque
se não fosse por ele, você poderia estar destruindo este castelo para poder escapar
novamente, mas graças a droga que injetei no seu pescoço há dois dias atrás, isso
não vai acontecer, você não poderá usar os seus poderes.
O encarei, não podia ser, não podia ser, as lágrimas rolaram pelo meu
rosto.
— Você não tem ideia de como eu senti falta da sua voz — Ele acariciava
o meu rosto, virei o rosto tentando fazer com que ele parasse. — Minha pequena
e doce Vitória.
Com raiva e desespero, eu tentei me soltar dos braços de Damon, mas ele
era muito mais forte do que eu. Seu aperto ao redor da minha cintura era intenso,
e eu podia sentir sua respiração quente perto do meu ouvido.
— Oh, minha doce Vitória, você sempre foi minha e sempre será — ele
sussurrou, sua voz carregada de um misto de desprezo e obsessão.
Damon soltou uma risada fria e cruel, seu rosto se aproximando ainda mais
do meu.
— Mas eu já controlo, minha querida. Você é minha.
Ele se afastou, como se não pudesse ficar muito tempo perto de mim, mas
naquele momento eu me lembrei do meu amigo, e engolindo o meu orgulho,
perguntei.
— Mas se isso vai fazer você se sentir melhor, irei te responder. Sim,
Vitória, aquele garoto está bem, provavelmente deva estar com a irmã neste
momento.
Brace! Veio a imagem dela no chão, o sangue saindo da sua boca, e do seu
nariz. Será que eu a matei?!
— Qual é o seu plano? Usar o meu sangue para fazer um exército como
você? O que você quer? — A minha garganta estava doendo.
— Um exército? — Ele perguntou olhando para mim, Damon balançou a
cabeça como se estivesse se sentindo ofendido pela minha pergunta. — Você
acha mesmo que eu daria esse poder para outro vampiro? Eu nunca tive isso em
mente.
— O que mais? O meu sangue, sempre foi esse maldito sangue, ou você
acha que o desgraçado do Daniel veio apenas para me conhecer?
— Ele não é o meu pai! — Afirmei apertando a mão ainda mais. Sentindo
as minhas unhas machucando a carne.
— Você sabe muito bem que ele é o seu pai, ou a sua mãe se enganou ao
narrar aquela carta?
Damon colocou uma mão dentro do bolso da calça que estava usando e
retirou a carta de dentro, me entregando, segurei aquele pedaço de papel, o meu
coração se acalmando.
— Eu não quero que fique triste, você ainda não percebeu, eu estou apenas
te protegendo.
— A sua afirmação não é de toda mentira, tenho que admitir, mas me diga,
quem além de mim, poderia te manter em segurança? — Eu não respondi, e ele
sorriu. — O lixo da resistência, eu tenho certeza que não.
— Sim, agora eu sou o rei, graças a você. — E saiu me deixando com mais
ódio.
Não!
Capítulo 13
As palavras da Brace ainda estavam frescas na minha memória, por que eu
acredito nas pessoas? Porque eu sempre sou idiota ao ponto de acreditar que
realmente alguém poderia gostar de mim.
Não me levantei, fiquei naquela poltrona por tanto tempo que não fazia
ideia, algo ficava se repetindo a cada instante; o que eu ia fazer? Fugir? Tentar
fugir..., mas para onde eu iria? Eu não tenho para onde ir, não tenho nada, a
esperança estava caindo das minhas mãos como se fosse areia e infelizmente, o
tempo estava acabando, como o pouco de areia que ainda tinha.
A porta se abriu, não precisei virar o rosto para saber quem era,
provavelmente era o miserável do Damon.
— E você já devia ter percebido que não sou muito boa em receber ordens.
— Suspirei ainda o encarando. — Estou pouco me fodendo para o que você quer,
ou deixa de querer.
Ele se aproximou.
— Eu sei, isso é uma das coisas que eu gosto de você, principalmente essa
língua atrevida que você tem. — Um pequeno sorriso ainda estava nos seus
lábios. — Tinha até me esquecido de como você adora me desobedecer.
— Eu não consigo nem olhar para você, a minha única vontade é te matar.
— Afirmei.
— Eu já te falei isso, mas vou repetir, vista alguma coisa, iremos sair daqui
a vinte minutos. — Não respondi, ele se aproximou a centímetros do meu rosto.
— Ou se preferir, eu posso te vestir, eu adoraria fazer isso.
Senti o ódio se espalhar dentro de mim diante das palavras dele. Minha
vontade de lutar contra ele só aumentava a cada segundo.
— Nunca! Nunca irei me submeter só porque você quer, se você pensou
por um minuto sequer que eu faria o que você quisesse, está completamente
enganado.
— Oh, minha querida, você pensa que tem escolha? Você está comigo
novamente, e farei o que quiser com você.
Ao sair de lá, Damon ainda estava no quarto, o ignorei indo até o banheiro
e trancando a porta, eu sabia que isso não impediria se ele quisesse entrar, mas
por mais inútil que fosse, eu me sentia mais segura com esse gesto, me aproximei
do grande espelho que tinha aqui, ao me observar no espelho, eu vejo a garota
que estava me encarando do outro lado, o meu rosto estava pálido, e os olhos
vermelhos, eu suspirei já cansada de tudo isso, era como se tivesse um buraco
dentro do meu peito, a cada segundo os meus olhos se enchiam de lágrimas, mas
já estava cansada de chorar, eu estava realmente cansada de tudo.
Ele sorriu.
Desgraçado! Demônio!
— Acho que você esqueceu das minhas palavras naquela época, mas vou
refrescar a sua memória, você é inútil demais para conseguir isso, me diga, em
três meses que você teve a sua tão esperada liberdade, o que você fez em relação
ao poder extraordinário que possui?
Paramos em frente a uma porta, ele se virou para mim, os seus olhos
brilhando por saber que tinha conseguido tirar o pouco de paciência que ainda me
restava.
— Sim, eu estaria, mas isso não aconteceu, e você está aqui novamente, ao
meu lado, como no início. — Ele se aproximou do meu ouvido. — Não ache que
esqueci o que aconteceu naquele quarto, isso vai ter volta.
Não falei nada, ali, diante de mim, estava mais um membro dessa família
maldita, se ele estivesse naquele salão há três meses, provavelmente agora seria
apenas pó, que pena que ele não estava.
— Acho que não vou receber um abraço da minha filha, pelo que estou
vendo.
Ele falou calmo como se não estivesse vendo meu ataque de fúria, tentando
me aproximar dele.
— Eu não sou a sua filha! Seu desgraçado, eu nunca fui sua filha. Você
enganou a minha mãe, a usou para o seu plano, seu infeliz!
— Se eu te soltar, o que você acha que vai fazer? — Ouço a sua voz no
meu ouvido.
— Acho que já tivemos essa conversa, você não consegue matar ninguém,
e isso é apenas culpa sua. Não irei terminar algo que você começou, só porque
você não tem capacidade suficiente para terminar.
Eu parei de tentar tirar os braços do Damon da minha cintura, a minha
respiração foi se normalizado, quem eu estava querendo enganar, eu não iria
conseguir nem chegar perto dele, não iria conseguir fazer nada. Ele estava certo.
Eu queria sorrir.
— Você leu a carta, sabe muito bem o que ele queria, e está dando isso a
ele.
Ouço o barulho do seu corpo se mexendo no colchão, sinto o calor do seu
corpo contra as minhas costas, Damon estava perto demais de mim, e quando ele
segurou no meu ombro me fazendo virar em sua direção, encarei o seu rosto
próximo do meu.
— Você sabe muito bem que não vou deixar ninguém te tocar, ele está me
sendo útil, no momento que ele deixar de ser, ele estará morto.
Me virei novamente para o outro lado, eu não queria olhar para o seu rosto.
Capítulo 15
Já se passaram uma semana desde que tive aquele encontro com Daniel,
mas depois daquele dia eu não o vi novamente, estava sentada do lado da fonte
naquele jardim que eu conhecia muito bem, observava a água cristalina, me
perguntava onde estavam as garotas que também eram mantidas aqui, sabia que a
única pessoa que teria essas respostas, era o Damon, mas também sabia que não
poderia confiar nessas respostas vinda dele.
Não questionei o local que ele estava me levando, eu não estava mais
cercada pelas paredes do castelo, e isso me dava uma falsa sensação de liberdade.
Damon abriu a porta e saiu, eu fiz o mesmo, andei ao seu lado até
pararmos em um lugar que tinha uma grande árvore de cerejeiras, a árvore estava
cheia de flores, as pétalas caiam quando o vento batia, eu sentia o cheiro doce do
perfume das flores, perto do tronco da árvore tinha um pequeno banco de
madeira, tudo isso era bastante estranho, porque ele iria me trazer em um local
como esse.
— Eu achei que você gostaria de ter um lugar calmo para conversar com a
sua amiga e sua mãe, por isso eu peguei os corpos delas e enterrei neste local.
O meu peito doeu, dei uns passos ficando na frente das duas lápides.
Senti uma mistura de tristeza e raiva consumirem todo o meu ser. Fiquei
ajoelhada ali, diante das lápides, encarando os nomes de minha mãe e de Sofia
gravados nelas, as lágrimas descendo sem controle pelo meu rosto. Era uma dor
insuportável, a sensação de que minha vida estava desmoronando.
Minha mãe não merecia aquele fim. E Sofia, uma pessoa tão jovem e cheia
de vida, não deveria ter tido seu destino tragicamente interrompido.
Meu coração se partia em mil pedaços, sentia-me impotente diante de tudo
aquilo.
Fiquei tanto tempo naquele lugar, eu chorei tanto, mas também sentia um
alívio por ter um lugar como esse, arranquei ramos da cerejeira e depositei nos
túmulos da minha mãe e da minha melhor amiga, quando saí daquele lugar eu
prometi voltar novamente.
Entrei no carro e o Damon não falou nada, ele ligou o carro e saímos,
voltando para o castelo.
— Hoje terá um baile aqui no castelo, e você irá comigo. — Ele informou,
apenas ignorei, eu em um baile, parecia até piada
— Você vai comigo, pode ir tomar um banho, daqui à meia hora virão duas
humanas para te ajudar a se arrumar.
Tudo aquilo parecia algo surreal, o vestido preto tinha um espartilho que
apertava intensamente a minha cintura, o tecido preto da saia do vestido com
pequenos cristais que brilhavam a cada movimento que eu dava, uma fenda na
lateral mostrando toda a minha perna até o alto da minha coxa, ainda estava
olhando para aquele reflexo, quando a moça mais nova trouxe em suas mãos um
par de sapatos, mas para minha surpresa, ele tinha um pequeno salto quadrado,
quando eu o coloquei, não me senti desconfortável ao andar.
Quando Damon me puxou para virar em sua direção, senti uma mistura de
emoções tomando conta de mim. Meu coração batia mais rápido e uma sensação
estranha no estômago me invadia.
Sua voz rouca ecoou em meus ouvidos, fazendo com que eu me perdesse
ainda mais em seu olhar .
— Não saia do meu lado hoje à noite. — Aquelas palavras ecoaram em minha
mente.
Capítulo 16
Meus passos falharam quando eu coloquei meus pés novamente na sala do
trono, o lugar estava mais iluminado do que imaginei, olhei para o teto e o vejo
intacto, o lugar estava um pouco diferente, minhas mãos tremeram me lembrando
da última vez que estive aqui, as pessoas se afastaram quando viram Damon
entrando, os olhares na minha direção, os sussurros vindos de todos os lugares,
tinham várias pessoas e vampiros misturados na multidão.
Damon me levou para um lugar perto de onde estava tocando. Ele parou e
se virou na minha direção, o meu corpo tremeu quando ele colocou a sua mão na
minha cintura fazendo o meu corpo encostar no dele.
— Você vai dançar uma música comigo. — A sua mão ainda na minha
cintura, me mantendo no lugar.
— É difícil sim.
Ele segurou na minha cintura com mais força, colocou a minha mão no seu
ombro, A outra ele segurou com força, o que estava acontecendo, não sabia o que
fazer, Damon começou a se movimentar quase me tirando do chão, ele se
movimentava como se estivesse flutuando naquele salão, tentei o meu melhor,
estava tropeçando nos meus próprios pés, mas a mão dele na minha cintura
impedia que isso acontecesse.
Meu peito pulsava ao som daquela música, em algo que pensei que nunca
iria fazer, dançar com o Damon em um salão repleto de vampiros e humanos.
Olhando para todos naquele salão o meu único pensamento era como eu queria
poder matar um por um, não restando nenhum vampiro naquele lugar.
Olhei para o local onde a Sofia morreu, a cena dela caída no chão, o
sangue ao seu redor, tudo veio com força, a minha respiração ficou irregular, eu
não estava mais suportando o próprio peso do meu corpo, o meu coração estava
acelerado, e de repente eu sinto a mão do Damon me puxando, ele me sentou nas
suas pernas, o encarei por um segundo, eu sabia que os meus olhos estavam
cheios de lágrimas, abaixei o olhar, mas a imagem da Sofia permaneceu na minha
frente, como se fosse um lembrete de mais uma coisa que perdi.
Eu resistia, não apenas a dor física que a mão dele causava no meu corpo,
mas também ao ódio que me dominava. Naquele momento o meu corpo e mente
eram testados ao limite. Seria fácil ceder a fragilidade e ao desespero, mas eu me
forçava a permanecer viva, para ter a minha vingança.
Até que chegamos no quarto, entramos, meu peito subia e descia pelo
esforço de tentar acompanhar Damon, ele me encarou.
Pensei que iria xingar, ou até mesmo fazer qualquer outra coisa, mas eu
não estava preparada para o que iria fazer, as minhas mãos tremeram no momento
que ele se abaixou, colocando um joelho no chão na minha frente, eu olhava para
ele ajoelhado na minha frente, não sabia o que fazer, não sabia o que falar, até
que eu sinto a sua mão na minha perna, olhei para o local que ele colocou a mão
e vejo a minha pele em uma mistura de azul e roxo ao redor vermelho, me
lembrei dele apertando com força, para que eu prestasse atenção somente na dor
que ele causava, aquilo fez com que a imagem da Sofia morta na minha frente
desaparecesse.
— Eu sabia que você não iria conseguir ficar no quarto do rei, por isso
decidi permanecer neste.
Essa constatação foi como um peso nos meus ombros, eu não estava
conseguindo olhar para ele, algo estava errado comigo, por que não estava
conseguindo olhar para ele? O que estava acontecendo comigo?
Não respondi, eu sabia muito bem o que ele iria fazer, fechei os olhos só
esperando a dor dominando cada parte do meu corpo.
— Você quer que eu te morda? —- Ele sussurrou com uma voz rouca,
enviando arrepios pela minha coluna. Seus lábios roçaram suavemente na minha
pele, enviando ondas de eletricidade através de mim. Minha respiração se tornou
irregular e a minha mente entrou em um turbilhão de pensamentos.
— Mas… como?!
Eu não falei mais nada, era muita informação para uma única noite, a
minha cabeça estava cheia de novas informações, estava cheia de perguntas.
— Acho que assim será mais fácil de você conseguir tirar este vestido. —
A sua voz próxima do meu ouvido.
Ao retornar para o quarto, Damon não estava no lugar de antes, até que eu
vejo a luz da biblioteca acessa. Me aproximei da cama e me deitei, mas a imagem
do Damon de Joelhos na minha frente, inundou os meus pensamentos. Abracei o
travesseiro tentando dormir, mas eu sabia que isso não ia acontecer.
Capítulo 17
Naquela manhã estava no carro novamente com o Damon, mais uma vez
como companheiro.
Tudo que aconteceu ontem ainda estava fresco nos meus pensamentos.
Não estava querendo pensar no que aconteceu, mas os pensamentos vinham com
uma onda. Eu não sabia para que lugar estávamos indo, poderia ser novamente
para a árvore de cerejeira, eu não sabia, desde o momento que acordei, ele apenas
me disse para vestir algo confortável, porque sairíamos em poucos minutos, e
aqui estamos nós, mais uma vez em um carro.
O lugar era diferente de antes, por isso tive certeza de que não iríamos
visitar os túmulos da minha mãe e da Sofia. Depois de quase trinta minutos, o
carro parou em um lugar estranho, um muro enorme cercava o local, ao abrir os
portões de ferro eu observava uma fazenda enorme.
Eu tinha tantas perguntas, que lugar era esse? Por que ele me trouxe para
uma fazenda?
Andamos ainda em silêncio, uma casa enorme estava a uns metros de nós.
O cheiro de rosas inundou os meus sentidos, parei um momento olhando ao lado
da casa, várias roseiras, tinha rosas de todas as cores, e mais perguntas.
Ao olhar para frente, vejo Damon já próximo da enorme casa, o meu corpo
travou no momento que vi uma criança, uma menina se aproximando dele, vejo o
Damon se abaixando para falar alguma coisa com ela, os meus pés não se
moviam, eu só conseguia ficar encarando aquela cena se desenrolar na minha
frente.
A garota devia ter uns sete anos, os seus cabelos loiros estavam soltos e
balançando pelo vento, Damon falou alguma coisa para ela, mas não consegui
ouvir, a garota sorriu, e depois saiu correndo, entrando na casa.
Ela sorriu.
Limpei o meu rosto, olhei ao meu redor e vejo umas duas senhoras, mais
ao fundo tinha mais umas crianças que estavam no chão brincando, olhei para a
Lua.
Lua segurou na minha mão e nos aproximamos das duas mulheres que nos
encarava com a mesma curiosidade que eu.
— Vitória, essas são Ágatha e Ester, elas vivem aqui há mais de oito anos.
As duas mulheres me cumprimentaram com um pequeno sorriso.
Fiquei olhando para ela imaginando o desespero que cada uma passou
naquele momento. Estava tão destruída pela morte da Sofia que acabei me
esquecendo que elas permaneciam lá naquele lugar horrível. Senti vergonha de
mim.
— Até que mais tarde, um guarda apareceu nos mandando sair, fomos
colocadas em carros, não adiantava perguntar, ninguém falava onde estávamos
indo, nos abraçamos achando que aquele seria o nosso fim, provavelmente
estavam levando todas nós para nos matar em outro lugar. Até que o carro parou
e saímos, ali estávamos nós, na frente dessa casa, todas juntas encolhidas e com
medo, Damon apareceu na nossa frente. — A vejo engolindo em seco como se
estivesse se lembrando do que sentiu no momento que ela o viu. — Ele nos falou
que a partir daquele dia, viveríamos naquele lugar, que não éramos mais escravas
naquele castelo, que ali, naquele lugar, estaríamos em segurança. Claro que não
acreditamos, ele foi embora nos deixando sozinhas aqui, até que depois
apareceram várias outras mulheres e muitas crianças, demorou para que eu
acreditasse que realmente estava em segurança neste lugar. As mais velhas nos
contaram que este lugar existe há mais de oito anos, você se lembra quando eu te
falei que o Damon não ficava nem um mês com uma escrava de sangue?
— Você está me dizendo que ele não matava as garotas como todos
pensávamos, está me dizendo que ele as salvaram? — Questionei não acreditando
nas minhas próprias palavras, isso não pode ser verdade, era impossível, não, o
Damon era um vampiro que não conseguia controlar a sua sede por sangue, ele é
um monstro que busca apenas uma coisa, o poder, não tem como ser esse que está
sendo narrado pela Lua, não tem como!
— Por que ele faria isso? O que o Damon ganharia fazendo isso? —
Questionei tentando achar um motivo.
— Sinceramente eu não sei, essa é a terceira vez que ele apareceu aqui, ele
vem aqui para ver se está tudo bem, mas conversa só com as mais velhas.
— Ester me disse que elas são crianças que perderam os pais, que elas não
tinham ninguém para protegê-las, muitas estavam servindo de escravas nas
fronteiras quando o Damon às encontrou, você não faz ideia das histórias que já
me contaram, do que os vampiros faziam com as crianças nas fronteiras.
Quando Lua falou isso, me lembrei do momento que questionei ele há três
meses, o porquê de ele não fazer nada enquanto aqueles vampiros usavam as
garotas daquele jeito na festa, e a sua resposta foi que aquilo não se comparava
em ver crianças sendo torturadas e violentadas na sua frente.
— Esse Damon que você narrou não se parece com o Damon que eu
conheço.
Salvar crianças? Ajudar as garotas que eram dadas a ele como escrava de
sangue? Como isso poderia ser direcionado a ele, um vampiro que só queria o
poder, um vampiro que fazia de tudo para ser rei, um vampiro que me manteve
presa naquele quarto se alimentando do meu sangue, que me caçou por todos os
lugares, que conseguiu tirar os meus poderes, para que eu ficasse indefesa ao seu
lado, para ser usada mais uma vez por ele, a minha cabeça doía tanto que a minha
visão por um momento ficou escura.
Não podia acreditar, mas estava vendo bem na minha frente tudo que a Lua
narrava para mim.
— Eu te entendo, você foi a que mais sofreu estando ao lado dele, acho
que a única pessoa que pode te explicar tudo é ele. Vamos! Vou te levar para
conhecer as crianças.
Capítulo 18
Encarar as crianças brincando com bonecas e carrinhos, Lua permaneceu
do meu lado a todo momento, almoçamos todas juntas, observei o rosto de cada
uma sentindo um grande alívio no meu peito por vê-las vivas e sorrindo, era
como se eu estivesse em um sonho, na qual não queria acordar jamais.
Desde o momento que o Damon saiu por aquela porta ele não apareceu,
parecia que ele queria que eu aproveitasse cada segundo ao lado de todas aqui.
— Talvez ele tenha trazido você aqui, para que ficasse conosco. — Me
virei encarando a Lua, balancei a cabeça negando.
— Ele nunca me deixaria ficar longe, você viu o que eu sou capaz de fazer,
sabe que ele pode andar no sol por minha causa. — Olhei para as minhas mãos.
— O sangue que corre pelas minhas veias foi capaz de fazer tudo isso, Damon
pode sim ter ajudado vocês e essas crianças, mas nunca ele teria a capacidade de
me deixar livre, eu sou uma arma Lua, uma arma para ser usada, e ele sabe disso,
por isso que me mantém ao seu lado.
— Não se faça de idiota, Damon, você sabe muito bem o que eu quero
saber.
Ele sorriu diminuindo totalmente a distância que ainda tinha entre nós.
— Você quer que eu fale o quê? Que eu levava as garotas que eram
trazidas para mim para aquele lugar? Sim, Vitória, eu fiz isso. Quando finalmente
o meu pai morreu... — Ele sorriu me encarando. — Graças a você, levei o
restante das garotas para lá, pode parecer estranho para você, já que na sua mente
eu sou um demônio, mas nunca fui a favor de ter escravas de sangue.
Ele sorriu.
— Porque todos têm medo de mim, simples assim, quando as pessoas têm
medo de você, as coisas são mais fáceis, você acha mesmo que alguém
acreditaria que eu não matava as garotas?
— Com certeza não, todos acreditam no que você demonstra, um ser frio,
incapaz de sentir nada por ninguém, alguém que só quer poder, que é capaz de
destruir tudo para conseguir o que quer.
— Sim, exatamente isso. — Ao olhar tão perto do seu rosto, eu pude ver
algo nos seus olhos, foi tão rápido que por um momento pensei que estava
ficando louca. — Naquele dia que fomos convocados para a sala do trono, eu já
tinha um plano todo armado para tirar a sua amiga daqui — meu coração
acelerou com as suas palavras. — Eu ia tirá-la daqui e levá-la para lá, sua amiga
estava sofrendo coisas que você não pode nem imaginar ao lado do meu pai. —
As minhas mãos tremeram, os meus olhos se encheram de lágrimas. — Mas antes
que eu pudesse ajudar, acontecendo aquilo, acho que sua amiga não suportou e
tentou matá-lo, não a culpo, todos queriam ter tido essa honra.
Ele ia ajudar a Sofia, por um momento imaginei como teria sido se ela
estivesse naquele lugar, cercada de crianças, a imagem da Sofia perto daquelas
roseiras, as lágrimas desciam devagar.
Eu precisava saber o que mudou, porque ele falou que esse motivo era só
no começo.
Damon se afastou, pude ver o ódio no seu rosto, a minha boca estava
tremendo, eu sabia que se eu movesse os meus lábios para corresponder aquele
beijo, eu cairia em um lugar escuro, um lugar que eu nunca estive antes, mas
quando ele abriu os olhos e me observou, naquele momento eu percebi que se ele
me beijasse novamente, eu corresponderia, quando constatei esse fato, um medo
tomou conta de mim.
— Você se lembra quando eu te disse que essa história não era um conto de
fadas, que estava mais para uma história de terror, eu não mudei de ideia Vitória,
eu sou um monstro, um ser que faz de tudo para conseguir o que quer, não
importa quantas pessoas ou vampiros eu tenha que matar para isso. Então, não
me olhe, com os olhos brilhando desse jeito, nós dois sabemos que a única coisa
que eu posso te dar é a destruição, no final, nós dois sabemos que ou você vai me
matar, ou eu vou te matar. Então não me olhe com esses olhos, porque eu
conheço todos os seus olhares, mas esse eu nunca vi esse, sendo direcionado para
mim.
Lágrimas desceram pelo meu rosto, Damon observou atentamente, mas por
mais que suas palavras doessem, algo no seu rosto me dizia que não era verdade,
o que estava acontecendo? Por que comecei a me importar com isso?
Damon saiu daquele quarto como se não estivesse suportando ficar no
mesmo lugar que eu estava.
Naquela noite eu fui dormir tarde, com muita coisa na cabeça e a certeza
que algo tinha mudado dentro de mim, mas não sabia o que era.
Capítulo 19
No outro dia, Damon não apareceu, eu comi no meu quarto, fiquei o dia
inteiro olhando pela janela de vidro, ou ficava tentando ler alguma coisa, ainda
sentia meu corpo vibrar, estava olhando o sol se pondo no horário, no momento
que eu ouço o barulho alto, como se fosse uma explosão, me abaixei sentindo o
chão tremendo, me levantei olhando pela janela, dava para ver fumaça negra no
horizonte, vejo fogo em alguns pontos, meu coração acelerou sem saber o que
estava acontecendo, ouço gritos vindo do lado de fora, corri em direção da porta,
quando ela se abriu fazendo um barulho alto, vejo Damon entrando com uma
expressão de ódio no rosto.
— Eu quero que você fique aqui neste quarto, nada de inventar sair, está
me ouvindo?
Damon revirou os olhos para mim, sem paciência alguma, ele ia se virando
para sair novamente até que ouvimos outra explosão. Ouço ele xingando algo que
não entendi.
Isso não era justo, quem ele pensava que era para supor isso de mim, esse
poder? Eu nunca quis esse poder, o meu coração acelerou, controlá-lo? Meus
olhos se encheram de lágrimas, eu nunca o quis, o meu peito doía, ouvir o que ele
estava falando era como ter ganhado um soco bem no meio do meu estômago,
respirei profundamente tentando me controlar, a verdade era que eu queria ser
normal, como qualquer garota de dezoito anos, no fundo, eu achei que manter
esse poder escondido, poderia me fazer normal de novo, eu não queria ser a
garota com o sangue capaz de dar esse poder aos vampiros!
Damon deu as costas para mim, como se não suportasse ver o meu rosto na
sua frente, ele ia saindo, mas eu não poderia deixar que saísse assim, segurei
novamente no seu braço, ficando na sua frente. Eu não poderia deixar que ele
matasse o Derek.
— Eu não vou te prometer nada, Vitória, foi o seu namorado que se achou
no direito de invadir este lugar, estarei também no meu direito se o matar.
E com isso ele saiu trancando a porta pelo lado de fora, eu gritei, bati
diversas vezes na porta tentando abrir, mas tudo foi inútil, minha garganta estava
ardendo de tanto que eu gritava o nome do Damon, ele ia matá-lo, eu precisava
fazer alguma coisa!
Olhei para todos os lugares deste quarto tentando ter alguma ideia, mas
nada vinha na minha mente, me levantei sentindo minhas pernas doendo, olhei
para a minha roupa, estava com um vestido simples azul, corri para o closet e
procurei outra roupa, vesti uma calça jeans, depois uma camiseta preta, coloquei
o único tênis que tinha ali e saí daquele lugar, fui até a biblioteca atrás de algo
que servisse de arma, mas não achei nada, estava procurando alguma coisa que
me pudesse ser útil, quando eu ouço o barulho alto de algo se quebrando.
— Eu não vou a lugar nenhum com você. — Ele sorriu, e no momento que
abri a boca para mandá-lo ao inferno, eu sinto algo sendo pressionado sobre o
meu rosto, tentei tirar, mas era inútil, a pessoa era muito forte, meus olhos ainda
estavam no irmão do Damon na minha frente, quando ouço uma voz que eu
conhecia muito bem.
— Desgraçado. — Eu tentei falar, mas isso só fez com que eu ficasse ainda
mais tonta, meu corpo foi ficando pesado, não estava mais suportando ficar com
os olhos abertos, e de repente tudo ficou escuro.
Capítulo 20
Minha boca estava tão seca, estava com sede, tentei levantar o braço para
apertar um ponto na minha cabeça, mas não consegui, o meu corpo ficou tenso na
hora, abri os olhos, e logo os fechei, minha cabeça doía demais, ao tentar de novo
observei o local que eu estava, era um quarto mal iluminado, tentei mover os
braços, mas não consegui, olhei para a minha mão e as vejo amarradas, cada uma
de um lado da cama que eu estava.
A minha garganta doía, não sabia onde eu estava, ao olhar para a pequena
janela que tinha no local, eu pude perceber que já era noite, ou seja, já tinha
muito tempo que eu estava naquele lugar.
Mas eu não encontrei nada, com a força que eu colocava tentando escapar,
eu sentia meu pulso doendo ainda mais, olhei para ele, que agora estava do lado
da cama, me encarando, engoli em seco de puro medo quando ele tocou o meu
rosto.
— Vai se foder!
No momento que falei isso, senti o tapa no meu rosto, minha respiração se
intensificou.
O impacto do tapa ecoou por todo o quarto, enquanto meu rosto latejava de
dor, lágrimas involuntárias encheram meus olhos, mas eu recusei a dar o prazer a
ele, de vê-las escaparem.
— Como eu poderia com ela tão vulnerável na minha frente. — Ele sorriu,
Daniel se aproximando, ficando do outro lado da cama, seus olhos em mim, eu
não conseguia olhar em sua direção, eu só queria matá-lo.
— Interessante. Parece que você tem mais força do que eu imaginava. Mas
vamos ver por quanto tempo consegue resistir.
Eu me sentia cada vez mais acuada, presa entre os dois vampiros. Por mais
que a raiva e a determinação corressem em minhas veias, eu sabia que não podia
enfrentá-los sozinha.
— Eu tenho sede por poder, Vitória. Você é apenas uma peça nesse jogo,
um meio de atingir o Damon. Farei qualquer coisa para vê-lo sofrer. No momento
ele é mais poderoso do que nós dois juntos, mas acho que chegou a hora de
igualar esse jogo.
As palavras de Daniel ecoavam em minha mente, alimentando ainda mais
meu medo, Alastor sorriu ao ver o meu olhar de desespero.
Pensei que aquele seria o meu fim. Alastor apertava a minha cintura com
tanta força que por um momento eu pensei que ele quebraria os meus ossos.
Eu tentei falar alguma coisa, mas minha voz pareceu não sair. Alastor
permanecia em silêncio, apenas me observando com um olhar penetrante. Ele
parecia estar aproveitando meu desconforto, meu medo.
Minha mente tentava buscar uma saída para o que estava acontecendo, mas
estava turva, confusa.
Tentei mover meu corpo novamente, lutando contra a dor que percorria
minha espinha. Lentamente, comecei a me sentir mais forte, mais capaz de
controlar meus membros. Decidi arriscar falar novamente, mesmo que minha voz
ainda parecesse fraca e trêmula.
Meu coração acelerou com suas palavras. Eu sabia que precisava escapar
dali, que minha vida estava em perigo. Eu precisava encontrar forças para lutar,
encontrar uma saída dessa situação aterrorizante.
— Agora durma mais um pouco, saiba que estarei do seu lado esperando
pacientemente que você acorde, ficarei aqui me deliciando com as lembrancinhas
dos seus gritos de desespero.
— Você não faz ideia de como foi difícil para mim decidi te deixar aqui
Vitória. — Ele segurava uma mecha do meu cabelo em suas mãos. — Mas
infelizmente, o meu irmãozinho está me causando problemas demais, sabia que
ele dizimou metade do meu exército, a sua procura, ele está parecendo um animal
sedento por sangue. Mas dá para entender o motivo não é mesmo? — Ele sorriu
se aproximando ainda mais do meu rosto. — Eu vou sentir saudades do seu
cheiro. — Alastor fechou os olhos por um momento. — Vou sentir saudades do
seu sangue. — Ele abriu os olhos me encarando — mas não precisa se preocupar,
vou me lembrar perfeitamente do som dos seus gritos todas as noites, isso será
em sua homenagem, que pena que não deu para aproveitar mais de você. — Ele
encarou o meu corpo, as minhas mãos tremeram. — Mas isso será por pouco
tempo, mais rápido do que você possa imaginar, eu te encontrarei. E quando esse
dia chegar, eu não só me alimentarei do seu sangue, mas também saberei como
será finalmente ter o seu corpo só para mim.
— Vai se foder, quando nos encontrarmos novamente eu terei o seu
coração nas minhas mãos. — Alastor riu novamente, uma risada cheia de
desprezo.
— Vamos ver por quanto tempo essa coragem vai durar Vitória. Porque, no
final, eu sempre consigo o que eu quero. E você não será exceção. — Eles saíram
pela porta, o meu corpo tremia de ódio e medo, tudo misturado.
Capítulo 22
Eu gritei ao sentir alguém segurando os meus ombros, me debati tentando
me soltar.
Observei o local que eu estava, era o quarto dele no castelo, eu não estava
mais com o Daniel e o Alastor, minha cabeça doía tanto.
— Você não cansa de ser tão fraca. — O meu corpo tremeu com a sua
explosão de fúria. — Você chora tanto, que só de ver, me irrita em um nível que
não é normal, estou cansado de vê-la assim, É a segunda vez que te encontro
cheia de sangue, praticamente morta, e em todas as duas vezes quando você
acordou, estava com essa expressão de choro no rosto.
— Eu sou isso que você está vendo Damon, sinto muito que você não
gosta do que vê.
E com uma rapidez tão impressionante ele estava do meu lado segurando o
meu rosto para que eu pudesse olhar diretamente para ele, engoli em seco ao ficar
tão perto dele.
— Não, você não é isso que demonstra, apenas colocou essa máscara de
fragilidade no rosto, porque assim era mais conveniente para você, essa é a
verdade, não está cansada de ser usada por cada um que aparece na sua vida? Não
está cansada de ser sempre a vítima? Você sempre espera que alguém vá te salvar,
e se eu não conseguir na próxima vez?
Ao olhar para ele, eu sinto o meu corpo estremecer com uma mistura de
raiva e confusão. As palavras de Damon ecoavam em minha mente, revelando
uma verdade que eu não queria aceitar.
Ele continuou a me olhar, sua expressão era uma mistura de ódio e triunfo.
— Você é fraca, Vitória. Fraca demais para aceitar a sua verdadeira
natureza e usar seus poderes para se libertar. Enquanto você continuar vivendo
nessa ilusão de fragilidade, eu sempre vou estar um passo à frente de você. Eu
sempre terei que te proteger.
— Você pode acreditar que sou fraca, Damon, mas tenha certeza de que
minha fraqueza acabou aqui. Não vou mais permitir que você ou qualquer um me
subestime, ou me domine. Eu vou lutar com todas as minhas forças para me
libertar e destruir cada um, se for necessário.
— Eu não quero mais ver o medo no seu rosto, não quero mais ver o seu
sangue nas minhas mãos, a partir de amanhã, eu a treinarei, para que possa usar
os seus poderes ao máximo, você se tornará alguém que todos temerão, quando
qualquer humano ou vampiro ousar olhar para você. Eles sentiram, pela primeira
vez, o desespero diante do que você se tornou.
Aviso…
" Uma árvore não chega ao céu, sem que suas raízes toquem o inferno. "
Damon .
Epílogo
Eu sentia um calor fora do normal, abri os olhos devagar, tentei levantar o
meu braço, mas não consegui.
Eu tentei me soltar dos braços do Damon sem acordá-lo, mas meu esforço
foi em vão. Ele me apertava em seus braços e murmurava algo incoerente,
fazendo minha mente entrar em pânico.
Segurei no seu braço devagar, neste momento ouço a sua voz próxima do
meu ouvido.
Damon parecia estar acordando aos poucos, tentando entender o que havia
acontecido. Sua expressão de confusão e desconforto me fez perceber que ele não
tinha consciência do que estava ocorrendo enquanto dormíamos.
— Preparada! Para o seu primeiro dia sendo treinada por mim? Você sabe
que não vou pegar leve com você, a treinarei sem me importar que possa se
machucar . — Eu não estava preparada não, porque a única coisa que eu
conseguia pensar, era nos seus braços em volta do meu corpo, me sentia tão
confusa, porque quando ele se afastou, lá, no fundo, eu queria pedir para que ele
voltasse a me abraçar? O meu rosto começou a ficar quente.
— Estou sim. — A mentira saiu tão fácil, a verdade era que eu estava
apavorada por ter que ser treinada por ele, e não era medo de me machucar. Era o
pânico de não poder me controlar se ele tocasse o meu corpo daquele jeito
novamente.
Sinopse
Dark Fantasia / Dark Romance / Monster Romance
Mas tudo em sua vida muda quando elas decidem fugir, quando ela é pega
só tem uma saída decidi ser escrava de sangue sem direito algum no castelo da
família real de vampiros ou a morte.
Vitória descobrirá que também sabe lutar, algo no seu sangue faz com que
ela seja capaz de fazer coisas impossíveis, e usará isso para matar todos os
vampiros.
Mas o que ela vai fazer quando descobre que realmente se sente em casa
na escuridão do príncipe vampiro?