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1ª Edição

2023
Copyright © 2023 Amanda Pereira

Revisão: Paula Domingues

Diagramação Digital: Paula Domingues Imagens: Freepik

Esta é uma obra ficcional.

Qualquer semelhança entre nomes, locais ou fatos da vida real é mera


coincidência.

Todos os direitos são reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser
utilizada ou reproduzida em quaisquer meios existentes sem a autorização
por escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº


9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Dark Fantasia / Dark Romance / Monster Romance

" Uma árvore não chega ao céu, sem que suas raízes toquem o inferno.
"

Damon

Ela vai fazer de tudo para continuar fugindo.

Ele vai fazer de tudo para tê-la novamente, nem que para isso ele tenha que
colocar fogo em todo o mundo…

Vitória sentiu o desespero de ver sua melhor amiga ser tortura e morta na
frente de todos, depois que ela matou dezenas de vampiros naquela sala do trono,
Vitória agora foge sem rumo com o seu novo aliado.

Eles irão para a resistência, o único lugar que ela julga que irão aceitá-la,
mas os seus planos não saem como ela imaginou.

Vitória entrará ainda mais em um mundo de segredos e mentiras, todos os


vampiros a querem, ele tentará fugir, mas a descoberta de quem é o seu pai
mudará tudo, novos sentimentos irão surgir, novas amizades apareceram, e por
mais que ela fuja de um certo vampiro, o destino os unirá novamente.
Vitória precisará enfrentar os seus medos, e entender que só conseguirá a
sua liberdade no momento que aceitar os seus poderes.

O seu coração está dividido, novas revelações mostram que ela não
conhece o Damon como julgava conhecer.

No final, o poder será mais importante do que os sentimentos?


Contém gatilhos! Sequestro, tortura, violência sexual, violência física,
violência psicológica, abuso. Se você não se sentir à vontade com qualquer um
desses gatilhos, eu aconselho a não ler esse livro.
Sinopse

Aviso

Sumário
Prólogo

Capítulo 01

Capítulo 02

Capítulo 03

Capítulo 04

Capítulo 05

Capítulo 06

Capítulo 07

Capítulo 08

Capítulo 09
Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12
Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Epílogo

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Redes Sociais
Prólogo
Eu estava tentando não me lembrar do que aconteceu ontem, peguei uma
calça e um vestido vermelho-escuro, com detalhes em dourado.

Hoje pela manhã quando acordei havia várias roupas no meu armário,
achei estranho por um momento, mas depois aceitei, eu sabia que hoje era o
grande dia, então peguei esse vestido e, além disso, eu poderia vendê-lo no
mercado antes de sair da cidade.

Era bom ter pelo menos algo de valor nas mãos, como o vestido era chique
demais, apenas para um passeio, coloquei o enorme casaco preto por cima,
cobrindo-o totalmente, vesti um conjunto de botas pretas que iam até a metade
das pernas, elas eram confortáveis, deixei o cabelo solto, eu não poderia levar
mais nada, não poderia chamar atenção mais do que o normal.

Respirei fundo olhando o quarto mais uma vez, meu coração parecia que ia
saltar pela boca a qualquer momento, as minhas mãos estavam tremendo quando
eu deixei o quarto para trás.

Vai dar tudo certo..., vai dar tudo certo... repetia isso até que pude ver a
porta que dava para o jardim, vejo o guarda quando ele me viu me observou
atentamente, meu coração vai explodir de tanta adrenalina que corre pelo meu
corpo.

Finalmente chegando na porta, pude ver o céu, mesmo com o sol um


pouco escondido eu pude perceber que hoje estava bem mais quente que o
normal, estava colocando um pé para o lado de fora quando sinto alguém
segurando o meu braço com força, me fazendo recuar, olhei para cima e vejo o
Damon, me encarando mais do que devia, isso estava errado, ele devia ficar o dia
todo ocupado com os convidados, eu não conseguia respirar ao encará-lo.

Ele segurou meu braço com força e me fez andar em uma direção contrária
ao quarto, eu sentia um medo fora do normal, será que ele descobriu? Será que
estava me levando para a morte?

Balancei a cabeça tentando me controlar, não, não, não, por favor, não,
assim tão próximo, eu estava a um passo de distância da minha liberdade.

Engoli em seco encontrando novamente a minha voz, antes de finalmente


perguntar.

— Onde estamos indo?

Ele me encarou atentamente, antes de olhar para frente novamente.

— Fomos todos convocados a sala do trono.

Meu coração acelerou, eu nunca havia ido até a sala do trono.

— Por quê? — Perguntei ansiosa, eu não estava reconhecendo a minha


própria voz.

— Eu também gostaria de saber.

Ele encerrou nossa curta conversa, andamos por mais algum tempo, até
pararmos em uma enorme porta de madeira, com detalhes em dourado, a porta se
abriu fazendo um barulho estranho. Minhas pernas tremiam quando finalmente
entramos, um tapete vermelho cobria o chão, a parede era toda de pedra polida, o
ar estava preso na minha garganta.

Passamos por vampiros que eu nunca tinha visto antes, todos conversando
baixo uns com os outros, apenas alguns encaravam, mas logo viravam o rosto
como se não fossemos dignos suficientes para a sua atenção, olhei para cima e
vejo o teto alto com um lustre enorme de cristal, andamos mais um pouco até
estarmos bem na frente, vejo a irmã do Demon de um lado.

Quando ela o vê, apenas ignora e olha para a sua frente, vejo um trono
preto, grande e imponente na direção que ela olha.

O rei estava sentado, olhando todos nós, como se pudesse ver a alma de
cada um, logo a esquerda vejo as meninas, todas com casacos grossos, ou seja,
não era somente eu que fui tirada do jardim, sinto o aperto do Damon no meu
braço, olhei para ele.

— Fica com as outras, e se controle. — Sua voz era um sussurro.

Apenas balancei a cabeça concordando com ele e fui tropeçando nos meus
próprios pés até estar no meio das meninas. Olhei para os lados, procurando pela
Sofia, mas não a encontrei.

Será que ela estava mais ao fundo? Havia vários humanos aqui, guardas, o
pessoal da cozinha e várias outras pessoas, olhei para a esquerda e vejo o Derek
com roupas grossas, me encarando, eu queria chegar mais perto dele para
perguntar se ele sabia de alguma coisa, mas não consegui, vejo suas mãos
tremendo, ele não conseguia olhar nos meus olhos e logo em seguida ele abaixou
a cabeça, ainda estava olhando para ele, quando vejo uma movimentação, o rei se
levantou do seu trono, fazendo com que todos ficassem calados, prestando
atenção.
As minhas mãos tremiam de uma forma fora do normal, eu sentia um
aperto no meu peito tão forte, que por um momento eu pensei que fosse desmaiar
ali mesmo, era medo, o mais puro e completo medo.

— Estamos governando esse mudo há quase dez anos, e mesmo fazendo de


tudo para que vocês, humanos...

Quando ele falou isso olhou para nós, todos abaixaram a cabeça não
suportando o peso do seu olhar.

— Mesmo assim vocês nos traem, bem debaixo do nosso teto.

Eu podia ouvir o barulho do meu coração se misturando com o barulho


alto da voz do rei.

— Ontem à noite eu fui surpreendido no meu próprio quarto, essa pessoa


teve a ousadia de tentar me matar. — Olhei com atenção para o rei, quem faria
isso? — Mas não teve sucesso, ficamos a noite toda interrogando. — Olhei para o
Damon, que encarava o pai surpreso, como se fosse a primeira vez que ele ouvia
isso. — E não obtivemos nada, então resolvi trazer aqui a pessoa que teve a
petulância de matar um rei, farei dessa pessoa um exemplo, diante do conselho.

Então os vampiros que vi ao entrar, eram do conselho?

Houve uma movimentação pela porta da entrada, tinha muitas pessoas na


minha frente, e eu não consegui enxergar quem era, levantei a cabeça, mas pude
ver apenas dois soldados, escoltando um prisioneiro, olhei para o rei novamente e
vejo um sorriso nos seus lábios. Ele, por estar na frente, podia ver quem era, e
estava gostando mais do que devia do que viu.

Ouço lamentos das garotas ao meu lado e de repente elas começaram a


chorar, estava no meio delas, então dei uns passos até estar na frente, os meus
joelhos fraquejam ao ver Sofia de joelhos perante o rei.
O choque é tão grande que eu quero gritar, os seus pés estão em carne viva,
o seu vestido que um dia foi branco, todo manchado de sangue, eu não estava
conseguindo respirar, meus olhos estavam nublados com as lágrimas, embaçando
tudo.

Quando a sua cabeça se vira em nossa direção, eu vejo um buraco no lugar


de um dos seus olhos, eu ia cair, mas mãos fortes seguraram no meu braço com
força, me mantendo no lugar.

Quando me virei vejo o Derek me encarando, os seus olhos também


estavam com lágrimas. Ouço a voz do rei.

— Sofia, pelo crime de tentativa de assassinato contra o rei, eu te sentencio


a morte.

Vários sons de choque ao meu lado, o meu coração estava disparado, eu


podia sentir o sangue correndo pelas minhas veias.

Os guardas a colocam de pé, o rei se aproximou sorrindo e em um único


golpe ele enfiou a mão pelo peito da minha amiga, a imagem da minha mãe
sendo morta vem na minha mente, os guardas a soltaram e ela cai no chão,
próximo aos pés do rei, que agora segurava o coração da minha melhor amiga nas
mãos, a única família que eu tinha estava ali, humilhada, torturada e morta, bem
ali, aos pés do rei.

As lágrimas desciam como chamas pelo meu rosto, alguém estava falando
alguma coisa, mas eu não conseguia ouvir, eu só pensava eu matar todos, eu
queria matar todos os vampiros do mundo.

A minha visão não ficou em branco, dessa vez eu pude ouvir e ver tudo
que acontecia à minha volta, pude ouvir os sons de espanto quando todos os
vampiros e humanos me viram flutuando em direção ao rei, vejo guardas se
aproximando, tentando me impedir de conseguir o que eu queria, mas com
apenas um aceno, eles foram jogados na parede atrás do trono.

Olhei o rei de cima, eu queria que ele morresse, eu realmente queria que
ele morresse. O rei olhou para mim em choque, ouço vários barulhos de tiros em
minha direção, mas todos eles paravam antes de chegar até mim, era como se
uma força ao redor do meu corpo os impedisse de me matar, todos mereciam
morrer, todos.

Joguei as minhas mãos para cima com toda a raiva que tinha no meu
coração, um poder tão forte, que fez tudo que estava acima de mim sumir em um
barulho incrivelmente alto, ouço gritos e correria, quando os raios do sol
atingiram todos que estavam na sala do trono, eu sorri, na verdade, eu gargalhei
ao ver o rei gritando e logo em seguida, morrendo queimado bem diante dos
meus olhos, até que só tivesse uma pilha de pó na frente do trono.

Me virei vendo várias pilhas de cinzas espalhadas por todo o salão, um


sorriso triunfante estava nos meus lábios, mas esse sorriso morreu quando eu vejo
o Damon, o único vampiro vivo, me encarando com um brilho totalmente
diferente nos olhos, ele observou a sua mão e logo em seguida sorriu, os seus
cabelos não estavam mais brancos estavam negros como a noite, o seu corpo
estava bem mais forte, um medo tomou conta de mim ao perceber que ele era
imune a única coisa que o podia matar.

Meu coração acelerou, e em seus olhos, pude ver que ele também
constatou isso, o meu sangue o fez ficar mais forte e imune, a única coisa que nós
humanos tínhamos ao nosso favor. O sol.

Me virei e vi o Derek me observando com os olhos focados em mim, como


se não acreditando no que via ainda flutuando em frente ao trono, eu precisava
fugir, eu não poderia deixar que Damon tivesse acesso ao meu sangue nunca
mais, levantei uma mão e o Derek flutuou até chegar ao meu lado, segurei na sua
mão com força e voei o mais rápido que eu conseguia para qualquer lugar, longe
dele, porque, no fundo, eu sabia que ele iria me caçar nem que fosse a última
coisa que faria.

Eu podia ouvir. Você é minha, você é minha!

Mas... então me digam, porque, no fundo do meu coração, em um lugar


escuro e gelado, eu me sentia aliviada por ele não ter morrido com o seu pai, irmã
e dezenas de outros da sua raça?
Capítulo 01
Eu estava de joelhos na neve, todo meu corpo doía como se eu tivesse sido
espancada por horas, fechei as mãos em punho sentindo a neve na minha mão,
que aos poucos ia se derretendo devagar, eu tentava colocar ar nos meus pulmões,
mas parecia que não entrava, aos poucos, fui me controlando, meu rosto estava
molhado de lágrimas que desciam sem parar.

Ela morreu... ela morreu... ela morreu, minha mente me castigava. A Sofia
morreu por minha culpa, porque todas as pessoas que estão próximas a mim,
morrem? Por quê?

— Precisamos ir Vitória, eu tenho certeza que aquele maldito príncipe vai


mandar todos os guardas virem atrás de nós.

Levantei a cabeça e vi o Derek olhando para todos os lados a procura de


algum perigo, estamos fora da muralha, vários quilômetros de distância, mas eu
sabia que ele estava certo, precisávamos sair daquela estrada, mesmo sentido que
a qualquer momento as minhas pernas iriam ceder, me levantei.

Olhei para Derek na minha frente, ele me encarou por um instante, eu sei
que ele deve ter várias perguntas, eu não o culpo, eu também teria se fosse ele,
afinal, não é todos os dias que você vê uma pessoa flutuando bem na sua frente, e
logo em seguida matando todos aqueles vampiros, inclusive o maldito rei e a
psicopata da princesa, o meu único arrependimento é não ter matado o Damon,
seu olhar, só de me lembrar daquele olhar, faz meu corpo todo estremecer de
medo, ele não precisaria esperar que fosse noite para nos caçar, agora ele pode
andar sob a luz do sol, graças a mim, sempre sou eu, sempre.

— Ou provavelmente ele mesmo venha.

Olhei para o Derek.

— Ele não viria. — Falei e comecei a andar, seguindo a estrada.

— Por que você tem essa certeza? — Derek me perguntou com uma
sobrancelha levantada.

— O rei, a princesa e provavelmente todos do antigo conselho morreram,


ele agora não é o príncipe, agora ele é o rei. — Só de falar isso faz a minha boca
secar. — Ele terá muitas obrigações agora, principalmente depois do que
aconteceu, sei que ele vai me caçar, eu tenho certeza disso, mas não hoje.

Derek me seguiu enquanto eu continuava a caminhar pela estrada,


ponderando sobre minhas palavras.

— Isso faz sentido. Ele provavelmente terá muitas responsabilidades como


novo rei, e terá que lidar com as consequências dos eventos recentes. Pode ser
que ele não tenha tempo para nos caçar imediatamente. Mas, Vitória, não
podemos baixar nossa guarda. Damon é perigoso e determinado. Temos que nos
manter vigilantes e preparados.

Concordei com Derek, ciente de que não podíamos nos dar ao luxo de
baixar a guarda, Damon não era o tipo de inimigo que desapareceria facilmente.
Seguimos caminhando em silêncio, o peso da incerteza pairando sobre nós.
Eu não sabia o que estava por vir, mas estava determinada a enfrentar qualquer
desafio que viesse pela frente.

Derek ficou em silêncio, absorvendo o que falei, olhei para a minha frente,
sentindo o frio como se estivesse cortando a minha pele, mesmo com o casaco
que eu continuava usando, ainda sentia frio, a paisagem, a nossa volta, era apenas
um lugar cheios de árvores dos dois lados da estrada, e o chão repleto de neve.

Derek estava perdido em seus pensamentos como eu, já estávamos


andando há quase cinco horas, as minhas pernas estavam doendo, o tempo que
fiquei no castelo me deixou mole demais, precisávamos achar um lugar para
passar a noite, nós dois sabíamos disso, os vampiros não iam vir nos procurar de
dia, mas a noite, eu tenho certeza que sim.

Olhei para a minha mão novamente, eu chamei aquele poder por várias
vezes durante o percurso, mas nada dele aparecer, era como se eu o estivesse
esgotado com o que fiz na sala do trono, trazer o Derek comigo por vários e
vários quilômetros, ajudou... e muito, mas agora eu queria que eles aparecessem,
talvez assim eu e o Derek já estivéssemos bem longe.

Tinha um carro pronto escondido perto da muralha, era nele que nós íamos
fugir, eu o Derek e Sofia, respirei fundo novamente tentando controlar as
lágrimas que formavam nos meus olhos, só de lembrar da minha melhor amiga,
esse carro ia nos levar até um local que o Derek falou que tinha uns amigos que
poderiam ajudar a mim e a Sofia, mas como eu fui vários quilômetros para frente,
e não tinha como voltar, tivemos que andar, ou dar a sorte de achar algum outro
carro, mas não tinha nada, a estrada estava deserta só com, nós dois e a neve
como testemunha.

Eu nunca tive sorte.


— Eu pensei que quando saíssemos de lá, aqui fora estaria tudo destruído,
mas não vejo nada, nenhum carro na estrada, nenhuma sujeira. — Falei olhando
para os lados, só árvores, o dia já estava acabando.

— É assim nos arredores, mais para o centro, que você verá o que restou
das cidades, os vampiros gostam das coisas limpas e organizadas, você já deve ter
percebido, por isso as estradas estão assim, principalmente para facilitar o
transporte de alimentos e essas coisas.

Derek olhou para o horizonte, eu olhei para o mesmo lugar, o sol estava
quase se pondo, tínhamos no máximo uma hora e meia. Os pelos do meu corpo se
arrepiaram completamente.

— Precisamos chegar no lugar que eu conheço, onde guardamos as


mercadorias, não é seguro andarmos à noite.

Olhei para ele.

— Estamos muito longe? — Perguntei quase não sentindo os meus dedos,


mesmo com as minhas mãos nos bolsos do casaco, eu estava congelado pouco a
pouco.

— Não, mas precisamos ir um pouco mais rápido.

Apenas balancei a cabeça concordando com ele, na verdade, eu não tinha


outra opção, afinal, a única pessoa que já esteve aqui fora e permaneceu vivo foi
ele.

Estávamos andando mais depressa, até que vejo uma estrada de terra à
esquerda, Derek segue na direção dela e eu o sigo, o sol não estava mais no
horizonte, o frio cortava a minha pele, sinto o meu rosto congelando, o meu
corpo inteiro estava tremendo de frio, andamos e andamos passando pela estrada
de terra e indo até um lugar que havia várias árvores.
Já era noite, não fazia ideia de que horas eram, eu podia jurar que estava
ouvindo um barulho estranho, se o Derek ouviu, fez questão de não demonstrar,
naquela floresta eu não sabia se estava tremendo de medo ou de frio, e no final,
eu me perguntava se chegaríamos a este lugar que o Derek falou, antes que eu
congelasse, eu não conseguia acompanhar os seus passos, ele parou me
esperando, olhando para todos os lados, e mais uma vez eu ouço aquele som,
como se fosse um rosnado de uma fera selvagem, louca para se alimentar, e mais
uma pergunta se fez presente na minha cabeça, ou morreríamos pelo frio, ou
pelos vampiros, ou mais provavelmente por este animal, só restava saber qual
chegaria primeiro.

Derek segurou o meu braço com força, praticamente me arrastando, meu


corpo estava pronto para ceder a qualquer momento. Até que chegamos perto de
um amontoado de pedras enormes, andamos nos apertando entre elas até do outro
lado, Derek retirou vários galhos de árvores de um lugar perto das pedras, eu
fiquei olhando querendo perguntar o que ele estava fazendo, mas só de tentar
abrir a boca, doía, os meus lábios estavam rachados e quase sangrando com o
frio, apertei os meus braços em volta do meu corpo tentando me aquecer um
pouco, mas não consegui.

Derek retirou mais galhos grossos, parou e me observou.

— Venha! — Ele me chamou, eu não questionei, afinal qualquer lugar


deveria ser melhor do que este.

Fui em sua direção até que eu vejo uma porta pequena de ferro todo
enferrujado, Derek abriu e eu não vi nada lá embaixo, só a escuridão, olhei para o
Derek que também me observava.

— Tem uma escada, apenas tenha cuidado para não cair.

Logo depois que ele falou, ouço aquele barulho novamente, vejo ele em
alerta na hora, sem pensar muito, apenas entrei, segurei eu uma escada, rezando
para não escorregar e cair sabe se lá onde estávamos, ouço o barulho da porta se
fechando em cima de mim, meus olhos não estavam acostumados com a
escuridão, e com cuidado, fui descendo a escada devagar, um a um cada degrau,
até que eu sinto o chão no último, me afastei da escada, e ouço o Derek também
chegando ao fundo, aqui embaixo estava bem mais quente do que lá fora, mas
ainda não conseguia ver nada.

Até que tudo ficou claro, eletricidade! Pensei espantada, olhando para o
Derek.

— Temos um gerador, velho. — Ele completou. — Mas que ajuda muito.

Eu não respondi nada ao Derek, porque estava observando o local a minha


frente, era um bunker antigo, provavelmente era mais antigo do que o tempo que
os vampiros destruíram quase tudo, eu dei uns passos olhando o lugar, vejo várias
prateleiras espalhadas pelos cantos, com comida, água em garrafas, andei mais
um pouco e vejo roupas, lençóis, várias coisas, olhei para todos os lados sem
parar.

Ouço passos e vejo o Derek se aproximando e ficando do meu lado.

— Nós usamos aqui como estoque de tudo que dá para levar para lá.

Essas coisas dariam para matar a fome de várias pessoas.


Capítulo 02
Olhei para todos os cantos, ainda surpresa.

— Venha! Vamos nos aquecer, a sua boca está roxa de frio.

Eu sabia que ele estava certo, Derek começou a andar até parar perto da
parede que tinha dois colchões no chão, ele se aproximou pegando uma coberta e
me entregando.

— Se senta e tenta se aquecer, vou pegar alguma coisa para comermos!

Ele saiu antes que eu dissesse algo, me sentei no colchão sentindo todo o
meu corpo agradecendo por finalmente descansar, me cobri com a coberta,
apertando-a no corpo, eu estava tremendo de frio, encostei na parede e fiquei
quieta, tentando me aquecer, levantei o olhar e vejo o Derek aparecendo com
duas latas abertas nas mãos, ele se aproximou me entregando uma e logo em
seguida uma colher.

Peguei rapidamente, eu estava com fome, muita fome.

Derek se senta no outro colchão ao meu lado, ele também pegou uma
coberta e se enrolou, apertei a colher na minha mão e observei a lata de feijão,
comi feliz por ter isso.

Estou concentrada em comer até ouvir a sua voz.

— Precisamos conversar sobre algumas coisas. — Derek afirmou, parei de


comer ao encará-lo. Ele não desviou os olhos de mim, eu sabia que ele tinha
perguntas.

— O que você quer saber? — Perguntei, ouço a minha voz, mas não
parecia ser minha, estava baixa demais.

— Eu tenho tantas perguntas, Vitória. — Ele suspirou olhando para mim.


— Mas o que eu mais quero saber é por qual motivo o Príncipe não morreu?

Me lembrei do Damon, olhando para a sua própria mão, e logo em seguida


o pequeno sorriso que estava nos seus lábios quando percebeu que era imune ao
sol, engulo em seco.

— Por minha causa. — Ainda estava com a cabeça baixa.

— Porque, por sua causa? — Derek levantou uma sobrancelha olhando


para mim.

Respirei fundo tentando tomar coragem de falar toda a verdade para ele.

— Tem algo no meu sangue, que faz com que os vampiros fiquem mais
fortes, mas eu não sabia que ele seria imune ao sol, eu pensei que ele fosse
morrer também. — Falei derrotada.

— Então o seu sangue torna qualquer vampiro assim? Ou tem que ser um
vampiro da família real? — Ele questionou interessado.

Olhei para o Derek, ele estava calmo demais, ou talvez seja o choque, não,
não era o choque, ele estava calmo demais, principalmente depois do que contei,
se alguém me dissesse isso eu surtaria, mas ele não, ele estava calmo, senti um
frio na espinha.

— Eu não sei se isso é para todos os vampiros, só o Damon, só ele… —


Respirei fundo, tentando me acalmar para terminar a frase.

— Só ele se alimentou do seu sangue. — Ele terminou a frase, balancei a


cabeça confirmando. — Então é o seu sangue que a torna diferente, por isso que
você flutuou na sala do trono, e as balas não chegavam até você, e tem aquele
poder que fez todo o teto sumir virando pó.

Eu olhava para o Derek narrando tudo que eu sou capaz, tudo que fiz, e
isso me deu medo, era tudo tão intenso que, no fundo, eu nunca tinha parado para
pensar. Em tudo isso, mas ele narrando tudo o que aconteceu, fez com que eu
tremesse de medo, se por algum motivo eu for pega novamente pelos vampiros, o
que seria da raça humana? O que aconteceria comigo? Com o meu sangue em
posse deles, eles seriam invencíveis.

Derek percebeu a minha mudança de expressão, então ele se calou um


pouco, apertei a lata na minha mão com força.

— Eu não queria te assustar. — Derek murmurou.

— Eu não estou assustada — menti.

Eu estava com medo, com tanto medo que o meu corpo inteiro tremeu.

— Eu estaria assustado. — Ele confessou.

Respirei fundo assimilando as suas palavras.

— Eu não vou deixar que nenhum vampiro me prenda novamente, antes


disso prefiro morrer.

Derek me encarava com aqueles olhos negros por um tempo.


— Você sabe por que é diferente? — Balancei a cabeça negando.

— Eu não faço ideia, ele procurou algo no meu passado que pudesse
explicar o que eu sou, ou o porquê posso fazer isso, mas não achou nada, a única
pessoa que poderia saber é a minha mãe.

Mas infelizmente a minha mãe está morta, um peso caiu sobre os meus
ombros, e a Sofia também, respirei fundo, Derek não me fez mais nenhuma
pergunta. Talvez tenha percebido a expressão no meu rosto.

— É melhor descansarmos agora, amanhã sairemos cedo, precisamos fazer


de tudo para chegar antes de anoitecer.

Não questionei, terminei de comer e me deitei no colchão me encolhendo,


ainda sentindo frio.

Eu consigo ouvir o som da respiração do Derek, fiquei quieta deitada,


tentando me aquecer, aqui dentro estava um milhão de vezes melhor do que lá
fora, respirei fundo, estava fazendo de tudo para não pensar no que aconteceu,
principalmente na morte da minha amiga, mas infelizmente eu não estava
conseguindo.

Todas às vezes que fechava os olhos, eu via a cena dela morta aos pés do
maldito rei, o desespero vem com tudo, me encolhi quando sinto lágrimas
descendo pelo meu rosto, estava fazendo de tudo para não fazer nenhum barulho
sequer, tentei engolir o choro e o desespero, mas estava difícil.

Então eu me deixei levar, sinto mais e mais lágrimas descendo pelo meu
rosto à medida que sinto o meu peito doendo, eu só queria salvar a Sofia, só isso.

No fundo, eu sabia da necessidade de salvá-la, não pude salvar a minha


mãe, mas pelo menos ela, eu queria, como eu queria. Lamentei me encolhendo.
Eu não fazia ideia de que horas eram, até que os meus olhos estavam
fechando aos poucos, o sono e o cansaço bateram, mas antes de finalmente fechar
os olhos, eu me lembro dele, eu me lembro do seu olhar em minha direção, do
seu desespero no momento em que ele percebeu que eu ia finalmente fugir.

Por que estou pensando nele?

Me fiz essa pergunta quando fechei os olhos mais uma vez, desta vez
finalmente dormindo.
Capítulo 03
Meu coração estava doendo, eu queria acordar, é um sonho..., é um
sonho..., mas, mesmo assim, eu a vejo na minha frente, vejo Sofia parada, o
sangue que saia do seu peito onde o rei retirou o seu coração, eu sinto um ódio,
um medo tão irracional, que fez o meu corpo ficar congelado bem na sua frente,
eu queria dar um passo para poder ajudá-la, mas não conseguia, por mais força
que eu colocava eu não conseguia mover as minhas pernas.

— Vitória!

Ouço o meu nome sendo chamado, mas estava tão distante, não consigo
parar de olhar para a minha amiga bem na minha frente, e mais lágrimas
descem pelo meu rosto mais e mais.

— Vitória!

Alguém estava gritando, alguém estava gritando o meu nome.

E de repente eu abri os olhos, minha garganta estava doendo, o meu corpo


estava tremendo, ainda estava confusa sobre o que estava acontecendo, olhei para
o lado e vejo o Derek segurando o meu ombro com força, ele suspirou me
soltando, neste momento, vejo várias coisas flutuando ao nosso redor, Derek se
sentou ao meu lado no colchão.

— Você não acordava. — Ele falou, ouço sua voz cansada, olhei para as
várias latas, e prateleiras que ainda flutuava, com cuidado tentei fazer com que
elas voltassem para o seu lugar e devagar, em cada prateleira, cada lata, cada
objeto voltou para o seu devido lugar.

Olhei para o Derek que observava a cena na sua frente, ele observava com
interesse, e se eu não estiver enganada, com uma certa fascinação estranha.

Minha cabeça estava doendo, eu sinto o meu rosto molhado, realmente


estava chorando, limpei meu rosto, foi apenas um pesadelo, apenas um pesadelo,
repetir isso para que o meu coração se normalizasse.

— Me desculpa. — A minha voz estava rouca. Segurei na coberta,


trazendo-a para mais perto do meu corpo, como se ela fosse uma coisa que
poderia me proteger de tudo e de todos.

— Você não tem controle do que sonha Vitória. — Ele suspirou. — Você
estava gritando o nome dela, e quando eu me assustei, vi você se debatendo e
chorando, e depois as coisas começaram a se mover.

Olhei para o Derek que narrava o que tinha acontecido, eu apertei


novamente a coberta ao meu redor com força.

— Eu não queria te assustar, isso aconteceu uma vez, mas eu estava


acordada, mas não conseguia controlar.

Derek me encarou curioso.

— O Damon sabia dos seus poderes? — Ele me perguntou.

— Sim, ele sabia. — Afirmei.


Derek ficou em silêncio por um tempo, pensando em algo, a sua expressão
era séria.

— Bem… Já amanheceu, precisamos chegar até os meus amigos.

Ele se levantou, mas eu permaneci no mesmo lugar, ainda estava sentindo


o meu corpo voltando ao normal.

Mas precisava me levantar, ainda com as pernas tremendo, me levantei,


olhei para o meu redor observando as coisas, de repente, Derek apareceu
segurando umas peças de roupas. Ele se aproximou de mim.

— Eu acho que essas roupas vão te servir, hoje parece que está mais frio
do que ontem.

Ele me entregou as peças de roupas.

— Tem um pequeno banheiro ali. — Ele apontou para a esquerda. — Você


pode se trocar.

— Obrigada! — Agradeci, ele apenas balançou a cabeça e voltou para os


meios das prateleiras.

Fui em direção ao banheiro, e entrei, olhei ao redor, tinha um vaso


sanitário a direita e uma pia a esquerda, me aproximei da pia e olhei para o meu
reflexo no espelho quebrado que estava na minha frente, vejo um rosto pálido
demais, meus olhos não tinham mais o brilho de antes, olheiras profundas
marcavam meu semblante, respirei fundo, pegando as roupas que o Derek me
deu, vejo uma calça jeans e uma blusa de frio, parecia ser uma blusa fina térmica.

Retirei o casaco que eu estava usando e observei o vestido vermelho, e me


lembrei de escolher ele por ser caro, poderia ser uma moeda de troca, mas o
retirei, logo em seguida foi as botas, o meu corpo tremeu pelo frio, vesti a calça
jeans, a blusa logo em seguida, peguei as botas as colocando, aproveitei que
estava no banheiro e fiz as minhas necessidades, ao abrir a torneira vejo a água
descendo, aproximei as minhas mãos a água estava muito gelada, mas mesmo
assim lavei o rosto, ao terminar olhei novamente para o meu reflexo, o meu
cabelo estava o dobro do volume normal, fiz uma trança mal feita, tentando
controlá-lo.

Peguei o casaco e o vestido e saí do banheiro, ao sair vejo o Derek na


minha frente com outra roupa, toda preta, ele me encarou de cima a baixo me
deixando sem graça.

— Isso é para você. — Ele pegou uma bolsa marrom e me entregou. —


Coloquei algumas coisas ali dentro, água e comida, se der tudo certo chegaremos
hoje antes de anoitecer, mas não sabemos o que pode acontecer, é melhor
estarmos preparados.

Ele falou isso e logo em seguida pegou uma bolsa também colocando no
ombro, coloquei o vestido dentro da minha bolsa e logo em seguida vesti o
grosso casaco preto, coloquei a bolsa nas costas e olhei para ele.

— Vamos! — Ele falou.

Balancei a cabeça concordando.


Capítulo 04
Saímos dali, Derek colocou os mesmos galhos em frente a porta antes de
sairmos, e como ele disse, realmente estava muito mais frio hoje, mesmo tendo o
sol fraco no céu.

Andamos em silêncio até estarmos fora daquele lugar cheio de pedras, ele
decidiu que era melhor irmos pela floresta, porque provavelmente haveria
pessoas de carro tentando nos encontrar, Derek estava certo.

Andamos a manhã toda na floresta, eu o seguia, ele andava com total


confiança na minha frente, como se conhecesse o lugar como a palma da sua
mão.

— Esses seus amigos vão me ajudar, mesmo sabendo que o príncipe está
me caçando? — Perguntei com um peso na voz, afinal, eu estava sendo caçada,
qualquer pessoa que estivesse do meu lado também estaria em perigo, Derek me
encarou.

— Eles não vão te entregar Vitória. — Ele afirmou.

— Você não pode afirmar isso, afinal, é o príncipe.


Olhei para ele. Que me encarou de volta.

— Sim, eu posso. — A sua voz não falhou em nenhum momento. Me


fazendo engolir em seco com a sua certeza

Ele falou com uma grande convicção, por que ele tinha essa certeza? Derek
era misterioso demais, afinal parando para pensar, o que eu sabia dele? Nada,
absolutamente nada, e estou aqui colocando o meu futuro nas mãos de uma
pessoa que eu mal conheço, mas o que eu poderia fazer agora? Para onde eu iria?
Não conheço ninguém, não tenho ninguém.

Continuamos a andar, eu com todas as incertezas que estão no meu peito,


mas decidi confiar nele, afinal, ele era a única pessoa que realmente estava me
ajudando.

Estamos perto de uma pequena cidade, olhei para os escombros das casas
na minha frente, passamos por cada rua, coberta pela vegetação, vejo as carcaças
dos carros abandonados, destruídos pelo tempo. Derek olhava para cada lugar,
com muita atenção.

Era como se ele tivesse sido treinado para isso.

Andamos pelas ruas destruídas, me lembrei do passado, de como era viver


em uma cidade como essa, já faz dez anos, às vezes me esqueço que já tem tanto
tempo.

Já estávamos saindo da cidade quando ouvimos o barulho do motor de um


carro, no mesmo momento o meu coração disparou, olhei para o Derek do meu
lado, e com rapidez ele segurou na minha mão e corremos até chegar na casa
mais próxima.

O lugar estava destruído, cheio de mato e sujeira, mas, mesmo assim,


ficamos ali no que um dia foi uma cozinha, abaixados em silêncio.
Ainda dava para ouvir o som do motor do carro, parecia que estava
andando pelas ruas procurando por alguém. Engoli em seco, procurando por
mim.

Quando olhei para o Derek do meu lado, o vejo quieto olhando para todos
os lados à espera que alguém entrasse, olhei para as nossas mãos que ainda
estavam unidas uma na outra.

Ouço vozes fora da casa, e mesmo sem perceber, apertei a mão do Derek,
ele me encarou.

— Eu vou tentar distraí-los, enquanto você foge, vai para a floresta e me


espera lá.

Meu coração disparou, suor se formava no meu pescoço, olhei novamente


para a janela onde podíamos ouvir sons de passos, procurei pelo meu poder,
tentei trazer ele novamente para perto de mim, poderíamos sair daquele local do
mesmo jeito que saímos do castelo, poderíamos, sim, sem ninguém servir de isca,
mas ele não veio, a merda desse poder não veio, e isso estava acabando comigo,
apertei novamente a mão do Derek.

— Eu não vou deixar você fazer isso, eles não querem você, eles querem a
mim.

Derek sorriu para mim.

— Por isso mesmo, não podemos deixar que eles te peguem, então faça o
que eu lhe digo, saia pela porta dos fundos e me espere na floresta. Eu vou
distraí-los.

Meus olhos estavam ardendo, eu não queria chorar, eu realmente não


queria chorar, porque, no fundo, sabia que não poderia perder mais ninguém, eu
não queria que mais ninguém morresse por minha causa.
Derek soltou a minha mão, apertei a mão em punho, com uma mistura de
ódio e uma saudade do calor que estava sentindo.

— Não temos mais tempo Vitória, vá... agora!

E com isso ele se levantou e começou a correr em direção à porta que


entramos, meu corpo ainda estava em choque, era como se eu não conseguisse
andar direito, ouço gritos, isso foi como uma chave na minha cabeça, me
mandando correr, me levantei sentindo as minhas pernas tremendo de medo,
muito medo, mesmo, assim fiquei de pé, respirei o ar gelado, e comecei a correr
na direção que ele mandou.

Cada passo que era dado por mim era como se eu o estivesse traindo, era
como se uma faca estivesse sendo enviada aos poucos no meu peito mais e mais.

Saí da casa correndo, não olhando para trás, a minha única visão era a
floresta logo a frente, eu precisava chegar até lá, eu precisava, corri e corri,
sentindo os músculos das minhas pernas ardendo pela falta de exercícios, o meu
peito subia e descia rapidamente, procurando ar para encher os meus pulmões, e
quando estava finalmente chegamos perto, ouço um barulho alto perto de mim.

O meu cérebro demorou para processar o que tinha acabado de acontecer,


eu caí no chão em um baque seco, ouço o som dos batimentos do meu coração
nos meus ouvidos, a minha perna ardendo como o inferno, me virei e coloquei a
minha mão onde estava ardendo, ao levantar a minha mão, eu vejo sangue, as
minhas mãos tremeram sem parar, o meu cérebro ficou em branco por um
segundo até que eu conseguisse raciocinar o que acabou de acontecer.

Levei um tiro! Eu levei um tiro!

Repetia isso para mim, mas parecia que era mentira, tentei me levantar
para continuar indo até a floresta, mas a dor na minha perna irradiava para todo o
meu corpo, meu coração acelerou quando ouço um sorriso, olhei para frente e
vejo dois homens, dois guardas humanos do príncipe, vindo na minha direção, e
mesmo sentido todo o meu corpo doendo eu comecei a me arrastar em direção à
floresta, vejo o rastro de sangue que estava ficando atrás de mim.

As minhas mãos estavam arranhadas e machucadas pela força que estava


fazendo para me arrastar, sinto o meu rosto molhado pelas lágrimas que desciam
sem cerimônia, eu não quero voltar, não quero dar esse poder para ele, eu
precisava fugir, tentei achar novamente o poder dentro de mim, a minha cabeça
estava doendo pela força que estava colocando, mesmo assim nada, ele não
apareceu, ouço os passos deles.

— O que temos aqui?

O guarda de cabelos pretos perguntou se aproximando de mim.

— Veja só, é a prostituta do rei.

Ouço o sorriso do outro guarda.

— Imagina o que vamos ganhar quando a entregamos para ele.

O outro apenas sorriu olhando para mim.

Procurei pelo poder novamente, procurei e procurei, e nada, e... mesmo


não querendo admitir para mim, eu procurei pelo Derek, mas ele também não
estava lá.

As minhas mãos tremiam sem parar. E quando um dos guardas segurou o


meu cabelo com força me obrigando a ficar de pé, os meus olhos arderam sem
parar, a minha cabeça parecia que ia explodir a qualquer momento. Sinto o seu
hálito próximo ao meu rosto.

— Está feliz? Vamos te levar de volta para o seu amado vampiro.


Eles sorriram, O outro guarda segurou no meu braço com força me fazendo
andar, cada passo que era dado por mim, sentia a minha perna doendo, uma dor
que dominava o meu corpo, eu sentia o sangue saindo do ferimento, mas eles não
se importaram com isso, me arrastaram até a frente da casa que estávamos
escondidos, olhei novamente para os lados procurando pelo Derek, mas não tinha
nada, apenas um carro parado com mais um guarda armado esperando do lado de
fora.

Sou jogada dentro do carro de qualquer jeito, e logo em seguida eles


entraram no veículo, estou no meio, cada lado do meu corpo tinha um guarda
armado, ouço o barulho do motor do carro ligado. O meu coração se perdeu no
pânico de saber que estaria nas mãos do Damon novamente. As lágrimas
desciam.

— O que ela tem de tão especial para o rei mandar todo o exército atrás
dessa garota? — Ele perguntou, e logo em seguida segurou em uma mecha do
meu cabelo. — A não ser esse cabelo ruivo, não vejo nada de especial nela.

Ouço os outros dois guardas sorrindo.

— Ela deve fazer muitas coisas diferentes na cama, para ele ter feito isso.

O meu estômago embrulhou com o comentário do que estava dirigindo o


carro.

A dor na minha perna aumentava, estava sentindo o meu corpo cada vez
mais fraco, era como se eu fosse desmaiar a qualquer momento.

— Eu tenho uma dúvida sobre mulheres ruivas. — O guarda de cabelos


pretos falou, pegando no meu rosto, eu me encolhi ao ver seu sorriso em minha
direção, como uma alerta. — Será que os pelos da boceta dela também são da
mesma cor dos seus cabelos?

O outro guarda do meu lado gargalhou.


— Se ela é ruiva natural, com certeza.

— Você já comeu uma ruiva?

As minhas mãos tremeram, olhei para as janelas, olhei para a frente


disposta a fazer de tudo para sair daquele carro.

— Você sabe muito bem, que raramente vemos ruivas.

— O que vocês acham de experimentarmos ela.

O guarda de cabelos pretos falou segurando o meu braço com força.

— O que você acha que o rei vai fazer com cada um de nós quando souber
disso? — O guarda que estava dirigindo disse.

— Ninguém sabe que fomos nós que a encontramos, e duvido que ela
falaria qualquer coisa que acontecesse neste carro para o rei. Não é mesmo
gracinha?

Ele segurou o meu rosto com força me fazendo encará-lo, logo em seguida
tentou me beijar, eu retirei o meu rosto das suas mãos o empurrando com toda a
minha força, fazendo-o me soltar.

Ele sorriu olhando para mim, em um gesto de puro medo eu me joguei


para a frente na direção do motorista, tentando fazer com que ele parasse o carro,
precisava sair daquele lugar, segurei no seu pescoço com força tentando forçá-lo
a parar, o carro acelerou e começou a serpentear na estrada, coloquei o restante da
minha força para fazer com que ele parasse aquele maldito carro, mas os outros
dois guardas estavam tentando me impedir, um deles segurou no meu pescoço
com força, o outro apertou o local que eu tinha levado o tiro, eu gritei de dor
quando ele fez isso, eu não tinha mais forças para segurar o pescoço do motorista.
E com rapidez, o guarda me jogou de volta no banco, sinto o meu rosto
ardendo quando ele deu um tapa com toda a sua força, o gosto de sangue na
minha boca, a minha visão estava ficando escura, eu estava lutando comigo
mesma para não desmaiar.

Tentei me defender dando socos e chutes sem saber no que estava


acertando. De repente ouço o barulho alto do pneu freando com força.

— Vadia, desgraçada!

O lado esquerdo do meu rosto se virou quando ele me bateu, eu tentava me


defender de todos os jeitos, arranhado, chutando.

Mas quando o guarda segurou os meus braços com força, quase os


quebrando, eu gritei de dor.

— Vamos fazer com que ela fique quieta.

O que estava dirigindo falou olhando para mim, eu gritava, me contorcia


tentando me livrar, mas não estava conseguindo, o meu corpo estava fraco
demais.

Eles retiraram o meu casaco o rasgando, a minha cabeça estava doendo,


sinto as suas mãos asquerosas no meu corpo, eu lutava, mas parecia que eles
gostavam de me ver lutando, minha garganta estava doendo, seca, machucada por
gritar sem parar, a minha blusa estava rasgada, a trança que eu tinha feito nos
meus cabelos já haviam se desfeito há muito tempo.

E tudo aconteceu com rapidez, ouço gritos e barulho altos, a minha


respiração estava tão lenta, eu podia ver pequenos pontos escuros na minha visão,
era como se eu estivesse flutuando, sinto alguém me retirando do banco do carro,
mas não estava conseguindo abrir os olhos para ver quem era, não estava mais
sentindo aquela dor agonizante.
Ouço um barulho conhecido, o barulho do motor de um carro, mas esse
som era diferente.

Abri os olhos quando sinto a dor irradiando por todo o meu corpo.

— Você vai ficar bem Vitória, espera só mais um pouco estamos chegando.

Vejo o Derek do meu lado, ele amarrava algo na minha perna, com força,
isso me fez gritar novamente.

— Ela perdeu muito sangue. — Essa voz eu não conhecia, olhei para a
frente e vejo um rapaz dirigindo, ele tinha o cabelo, levemente loiro, ele dirigia
com rapidez.

— Eu sei, por isso precisamos chegar rápido.

Me virei lentamente em direção do Derek que estava do meu lado, no


banco de trás.

— Você está vivo! — Mas a minha voz não passava de um sussurro, ele
me encarou por um momento, o seu olhar foi para o meu corpo. E percebo o seu
rosto ficando levemente vermelho.

— Estamos chegando, você vai ficar bem.

Eu sinto o meu cabelo grudando no meu rosto, e mesmo sentido que a


qualquer momento iria desmaiar, eu abaixei a cabeça, e vejo o que um dia foi a
minha blusa de frio, toda rasgada mostrando a metade da minha barriga, logo em
cima vejo a metade do seio a mostra, o meu coração acelerou, o meu rosto ficou
completamente ardendo de vergonha, eu não estava sentindo muito bem o meu
corpo, mesmo assim levantei a mão para tentar tapar o meu seio.

Mas não estava conseguindo, a minha mão não ficava no lugar, as lágrimas
encheram os meus olhos. O desespero tomando conta de cada parte do meu
corpo.

— Ei, fica calma.

Derek retirou o seu casaco e logo em seguida o colocou em cima de mim,


eu estava tremendo sem parar.

Não consegui agradecer, porque os meus olhos foram se fechando.

E tudo ficou escuro novamente, sinto braços me segurando com força antes
que eu perdesse todos os sentidos.

Capítulo 05
Eu podia ver o rosto da minha mãe bem na minha frente, o seu sorriso
gentil me observando com carinho, logo em seguida a minha amiga se juntou a
ela.

Sofia sorria para mim, meu coração se encheu de esperanças, elas


falavam alguma coisa, mas eu não conseguia ouvir, por mais que tentasse não
conseguia ouvir, e de repente elas se viraram juntas e foram andando devagar, eu
gritava para que elas me esperassem, eu não queria ficar sozinha, não queria
ficar naquele lugar, só queria ir com elas.
Então corri com todas as minhas forças em sua direção, mas por mais que
eu corresse; não era suficiente, minha mãe e a minha melhor amiga já estavam
longe, eu gritava sem parar para que elas não me deixassem sozinha, mas não
adiantou.

Já não estava mais conseguindo vê-las, lágrimas silenciosas tomaram


conta dos meus olhos, e de repente o ambiente que estava claro e calmo, se
transformou em algo escuro e frio, sinto meu corpo tremendo, vejo ele se
aproximando de mim, por mais que o algo dentro de mim implorasse para que eu
corresse, tentasse fugir, não conseguia, fiquei congelada de medo no lugar, em
choque, vejo-o se aproximando devagar, com aquela graça de sempre, engoli em
seco quando Damon estava na minha frente, me observando, e de repente, eu
vejo aquele pequeno sorriso nos seus lábios.

Damon me observava, o meu coração martelava no peito, vejo o seu rosto


tão próximo, o seu cabelo que um dia foi branco, agora preto como a noite, e
logo em cima da sua cabeça, uma coroa de ouro com pedras preciosas, tão
vermelhas que se iluminavam mesmo na escuridão.

Ele estava tão perto, eu podia sentir aquele cheiro, e quando ele levantou
a mão e tocou o meu rosto, eu estremeci, não sinto mais a sua mão gelada, mas
sim o calor do seu corpo, não conseguia falar, algo parecia que estava impedido.
Ele me encarava com aqueles olhos azuis.

— Você continua sendo uma humana burra, Vitória. — Ele sussurrou o


meu nome. — Mas tenho que admitir, não é mais inútil.

Meu coração acelerou, podia ouvir os batimentos do meu coração nos


meus ouvidos, e de repente ele se aproximou do meu rosto, eu não conseguia
pensar, não conseguia me mover, podia sentir a sua respiração tão próxima da
minha pele. Tão próxima da minha boca.

— Você é minha Vitória! Sempre será minha.


Acordei sentindo o meu coração acelerado, as minhas mãos tremiam sem
parar, fechei os olhos lentamente tentando me controlar, foi só um sonho, foi só
um sonho, eu podia sentir o seu cheiro, não! É só um sonho, só isso, me deitei
novamente.

Aos poucos fui tomando coragem para abrir os olhos, vejo as paredes
incrivelmente brancas ao meu redor, o meu coração estava mais calmo, olhei para
o meu lado e vejo aparelhos ligados, uma agulha espetada do meu braço, tinha
uma bolsa de soro do lado.

Olhei para baixo e vi a minha perna em cima de um travesseiro muito


macio, ela estava enfaixada no local que eu tinha levado o tiro.

Passei a mão pelo meu rosto, mas não sinto ele inchado como eu imaginei,
onde eu estou? Que lugar é esse? Eram tantas perguntas.

Tentei me sentar na cama e consegui, não estava sentindo dor, isso era
estranho, afinal, quanto tempo eu fiquei desmaiada para não estar sentindo tanta
dor, não tinha ninguém naquele lugar, somente eu, tirei a agulha do meu braço,
vejo o sangue manchando o lençol branco, fiz um pouco de pressão, mas olhando
para todos os lados, com cuidado fui tirando a faixa que estava enrolada na minha
perna, enquanto eu fazia isso, percebi que estava com uma camisola estranha,
grande demais de algodão azul-claro, nada de roupas íntimas, terminei de tirar a
faixa e logo em seguida as gazes, e vejo o local que levei o tiro, não estava
inchado, passei a minha mão pelo local e não senti a dor agonizante que eu já
tinha sentido, o local estava levemente vermelho, com uma cicatriz quase não
aparente, ok, isso estava estranho demais, já estava quase colocando os meus pés
no chão quando a porta se abriu.

Vejo uma mulher loira entrando, ela me encarou, e eu retribui a encarando


também, a vejo engolindo em seco se aproximando.

— Vejo que finalmente acordou, como está se sentindo?


Eu observei a mulher a minha frente, provavelmente tinha uns vinte e
cinco anos, ela tinha os cabelos loiros brilhantes, os olhos verdes, os mais verdes
que eu já tinha visto.

— Quem é você? — Olhei para a porta aberta logo atrás dela, tenho
certeza de que conseguiria chegar até lá. Onde eu estou? Pensei.

Ela sorriu, um sorriso gentil para mim. Mas eu não acreditava mais em
sorrisos gentis.

— Logo alguém virá aqui te explicar tudo, por enquanto eu quero saber se
você sente alguma coisa, dores? Enjoos? — Ela me encarava esperando
respostas, mas eu estava ocupada demais pensando onde eu estava, e se os
vampiros tinham conseguido nos pegar, afinal, eu não me lembro de ter chegado
nesse lugar, e o Derek? E aquele outro rapaz que me ajudou? Meu coração
acelerou, e se eles estiverem em alguma parte deste lugar sendo torturados? Não,
eu não vou deixar que mais ninguém se machuque por minha causa, não
suportaria se isso acontecesse de novo.

E mais rápido do que pensei, eu pulei daquela cama, sinto o frio do chão
em contato com os meus pés descalços, corri em direção à porta, ouço o som do
grito de espanto da mulher loira logo atrás de mim, corri até estar em um corredor
iluminado, olhei para os dois lados rapidamente, o meu coração acelerado mais e
mais, a cada passo dado por mim, apenas fui seguindo para a esquerda, ouço
gritos vindo de trás, então corri mais rápido, as minhas pernas ardendo pelo
esforço, não sentia dor no lugar do tiro, isso estava me incomodando, afinal, por
quê?

Deixei essas perguntas para depois, precisava saber que lugar era esse? Eu
precisava saber se ele estava bem.

Tentei chamar os meus poderes durante a corrida, mas nada, nada


apareceu, minha garganta estava seca, enquanto passava por mais e mais
corredores, com portas para os dois lados, mas não vi nenhum ser humano e
nenhum vampiro, eu corri sentindo os meus pulmões reclamando por mais ar.

Eu não sabia que lugar era este, e de repente vejo uma porta entreaberta,
continuei correndo até chegar nela, parei sentindo o meu peito subindo e
descendo, os meus cabelos estavam encostando no meu pescoço completamente
suado, vejo vários olhos me encarando, olhei em volta e tinha muitas pessoas,
umas sentadas em mesas mais afastadas e outras em pé, olhando fixamente para
mim, engoli em seco, sentindo as minhas mãos suando mais rápido à medida que
o meu coração voltava a bater mais devagar.

Que lugar era esse? Eram tantas perguntas, tantas dúvidas, ouço passos e
me viro no momento que uns quatro homens vestidos com roupas pretas me
encaravam, vejo as suas mãos próximas das armas que estavam carregando, eu
não vou deixar ninguém me machucar novamente, sinto as minhas mãos
tremendo no momento que eles dão um passo na minha direção, e neste momento
sinto o poder tomando força no meu corpo, eu vou lutar, não deixarei que mais
ninguém me machuque.

O chão começou a tremer debaixo dos meus pés, as luzes estavam


piscando sem parar, ouço gritos atrás de mim, mas os meus olhos estão nos
homens que ainda permaneciam à minha frente, o meu corpo é inundado por um
calor fora do comum.

E quando um deles avançou na minha direção com uma arma nas mãos, eu
levantei a minha mão, o homem foi arremessado em direção à parede.

Meu coração estava acelerado, eu ouço passos, me virei pronta para me


defender, mas quando me virei, vejo a mesma pessoa que estava no carro,
dirigindo, o rapaz que ajudou o Derek a me salvar, a minha mão já estava
levantada pronta para arremessá-lo longe, mas parei incapaz de fazer aquilo, meu
peito subia e descia rapidamente ao encará-lo. Ele me observava com interesse, e
logo vejo um pequeno sorriso no seu rosto, estava tão concentrada nele que não
vejo quando alguém se aproxima de mim pelas costas, sinto algo no meu
pescoço, coloquei a minha mão no local por puro reflexo, me virei no mesmo
momento.

Vejo o Derek parado me encarando com uma seringa na mão, as minhas


pernas começaram a perder as forças, eu dou um passo para trás tentando me
equilibrar, mas não consigo, estou fraca, sinto todo o meu corpo ficando fraco, eu
ia cair, não estava suportando sustentar o meu próprio peso.

De repente o Derek se aproximou rapidamente me segurando antes que eu


caísse no chão, a minha respiração estava lenta quando eu olhei para ele, vejo os
seus olhos nos meus, quando percebi que ia desmaiar, mas antes eu ouço a sua
voz.

— Me desculpe Vitória, mas não posso deixar você destruir tudo que
conquistamos.

Tentei abrir a boca para falar alguma coisa, mas não conseguia, os meus
olhos estavam fechados.
Capítulo 06
Minha cabeça está doendo, tentei levantar minha mão, mas não consigo, o
desespero tomando conta de mim, estava presa novamente, abri os olhos em
desespero, minha visão se inundou com a claridade do local, minha boca estava
seca, já estava pronta para gritar quando alguém segurou os meus ombros, os
meus olhos demoram para focar quem era.

— Calma, sou eu, se controle Vitória.

Olhei em sua direção e vejo o Derek parado, praticamente em cima de mim


com as suas mãos segurando os meus ombros, aos poucos eu fui me controlando.

— Que lugar é esse? — Olhei para todos os lados, não era mais o lugar que
acordei da primeira vez, as paredes tinham uma cor mais para o cinza, era um
local menor, olhei para as minhas mãos e vejo elas amarradas cada uma de um
lado da cama, olhei novamente para o Derek que estava ainda me encarando. —
Por que estou amarrada?

Ele suspirou ficando em pé.

— Eu tive que amarrá-la.


Levantei uma sobrancelha olhando para ele.

— Você teve? — Perguntei, Derek não respondeu de imediato, apenas se


abaixou um pouco para me desamarrar.

Quando estava livre, me sentei na cama, mas continuava observando-o.

— Infelizmente sim. Você estava descontrolada no refeitório.

Era muita informação.

— Refeitório? — Balancei a cabeça. — Eu não estou entendendo nada.


Não estava descontrolada, aqueles homens tinham armas.

— Você saiu correndo do quarto do hospital, não deixou que ninguém te


explicasse nada, apenas saiu correndo, e quase matou um de nós.

Um de nós? — Pensei.

— Por isso você injetou aquilo no meu pescoço? — Perguntei sentindo um


leve tremor.

— Sim, era um sedativo, do jeito que você estava, eu tinha certeza de que
não ia conseguir conversar com ninguém.

— Eu não sabia onde estava, na verdade, não sei onde estou, não vi
nenhum rosto conhecido, eu pensei que eles… — Engoli em seco. — Eu pensei
que ele tinham conseguido me pegar, por isso corri, pensei que estava nas mãos
dos vampiros de novo, eu pensei… eu pensei que eles tinham pegado você.

Finalmente disse o que estava na minha cabeça, Derek olhou para mim por
um tempo, na verdade, ficamos olhando um para o outro, sentia as minhas mãos
suando sem parar, quando não suportei mais olhar nos seus olhos, eu abaixei a
cabeça, sentindo o meu rosto ficando vermelho de vergonha.
— Me desculpa, tive que sair um pouco para poder resolver algumas
coisas, por isso não estava no quarto, quando você acordou.

— Eu entendi, aquele homem. — Levantei a cabeça. — Aquele homem…


Ele se machucou? — Perguntei nervosa, afinal arremessei ele na parede, com
certeza ele deve ter se machucado.

Derek suspirou.

— Ele só machucou o braço, mas vai ficar bem.

Derek permaneceu de pé olhando para mim.

— Me desculpe, realmente não queria machucar ninguém.

— Eu sei disso, Vitória, ele vai ficar bem. — Ele afirmou novamente.

— O que está acontecendo? Que lugar é esse Derek? E quanto tempo eu


fiquei desacordada?

Derek olhou para mim.

— Estamos em um local seguro. — Ele respirou fundo. — Aqui você


estará segura. Você ficou desacordada por duas semana, quando te trouxemos
aqui você estava muito fraca, tinha perdido bastante sangue, mas depois que eles
retiraram a bala da sua perna você ficou melhor.

— Duas semanas! — Mas como tinha passado só duas semanas, e a minha


perna já estava cicatrizada.

— A médica também ficou muito surpresa por sua melhora tão repentina.

Olhei para ele com várias perguntas enchendo os meus pensamentos, por
que eu me curei tão rapidamente?
Levantei uma sobrancelha olhando para ele, lugar nenhum é seguro, Derek
já devia saber disso.

— Que lugar é esse? — Perguntei novamente.

— Você está em um dos esconderijos da resistência, Vitória.

Ele afirmou, o meu coração disparou com a sua afirmação, olhei


novamente para as paredes do pequeno quarto, me lembrei dos corredores que
tinha visto, quando estava correndo tentando sair deste lugar.

Me mexi desconfortavelmente na cama.

— Por que estamos na resistência?

O vejo engolindo em seco.

— Por que estamos na resistência Derek? — Repeti a pergunta novamente.


Ele ficou me observando, como se estivesse decidindo se contava ou não, já
estava sem paciência.

— Porque eu faço parte da resistência Vitória.

Era informação demais para mim, eu olhava para ele como se fosse a
primeira vez que estivesse o vendo, eu sempre achei que ele estava escondendo
alguma coisa, mas nunca imaginei que fosse isso, quem eu queria enganar,
convivi com a minha mãe por todo aquele tempo, e só depois da sua morte que
descobrir que ela fazia parte da resistência.

— Eu não entendo. — Balancei a cabeça. — Pensei que você só fazia parte


das pessoas que levavam coisas contrabandeadas para dentro da cidade, não que
fazia parte da resistência.

— Eu faço os dois Vitória, levo o que as pessoas precisam para as cidades,


isso me ajuda a conhecer pessoas, descobrir segredos, por isso fazia isso.
— Até que você foi pego. — Afirmei, Derek olhou para mim, e pude ver a
escuridão passando pelos seus olhos, como uma cortina negra, provavelmente se
lembrou dos momentos que viveu com aquela princesa. — Me desculpa.

Não queria que ele se lembrasse da princesa.

— Não precisa se desculpar, você não tem culpa de nada. Eu deixei umas
roupas para você, se vista, tem alguém que quer te conhecer.

— Quem está querendo me conhecer?

Ele me encarou.

— O líder da resistência, ele está animado com a sua vinda, mas antes,
vamos passar no hospital, a médica quer dar uma olhada em você.

Derek não falou mais nada, apenas saiu me deixando com várias perguntas.

Me levantei, estava com aquela camisola azul, olhei para a cama e vi a


roupa que ele falou.

Vesti uma calça jeans e logo em seguida uma camiseta branca, peguei o par
de tênis que estava junto e os coloquei.

O quarto estava bastante quente, não estava sentindo frio, andei em direção
da porta, e logo em seguida a abri, vejo o Derek parado encostando na parede,
quando me viu, olhou demoradamente para mim, sinto as minhas mãos suando
com seu olhar tão intenso.

— Vamos!
Capítulo 07
Observei cada canto que passava, estava aqui agora, poderia ser seguro,
mas não ia me enganar achando que seria para sempre, minha cabeça estava a
prêmio, eu não poderia achar que seria perfeito, porque, no fundo, sabia que nada
era perfeito na minha vida.

Observei várias pessoas passando por nós nos corredores, elas me


encararam e sussurravam entre si, engoli em seco nervosa, mas, no fundo, dava
para entender, principalmente depois do que aconteceu no refeitório.

— Não precisa se preocupar, eles só estão curiosos, tenho certeza de que


vão se acostumar com a sua presença.

Levantei a cabeça e encarei o Derek que tinha um pequeno sorriso nos


lábios.

— Eu não teria essa certeza se fosse você.

— Eles só estão curiosos. — Ele sorriu. — Você não pode culpá-los, não é
todos os dias que eles vêm uma pessoa com poderes, não é mesmo?
Ele continuava com um pequeno sorriso, abaixei a minha cabeça um
pouco, odiava ter esses poderes, porque, no fundo, morria de medo de algum
outro vampiro pudesse me pegar, já tem o Damon, só de lembrar dele, faz o meu
coração disparar, sempre me lembro do seu olhar em minha direção, do seu
desespero ao me ver indo embora, eu não quero que outros tenham esse poder,
esse maldito sangue.

Chegamos no quarto que acordei, a moça loira estava lá dentro me


esperando, me aproximei.

— Que bom que não se machucou correndo.

Dei um passo na sua direção.

— Me desculpa por correr. — O meu rosto vermelho de vergonha.

A moça sorriu para mim.

— Eu só estava preocupada, por isso fui atrás de você. — Ela olhou para o
Derek que permanecia perto da porta. — Espera lá fora um momento, para que
ela possa trocar de roupa.

Derek balançou a cabeça concordando e se retirou, fechando a porta.

— Pode se trocar ali atrás daquela cortina, lá tem uma camisola.

Fui na direção que ela disse, tirei as roupas que o Derek me deu, e vesti
novamente aquela camisola, quando saí, a médica me pediu para me deitar na
cama, assim eu fiz, a moça loira me examinou com cuidado, perguntando se
estava sentindo alguma coisa.

— Eu estou bem, mas tenho uma dúvida. — Ela me encarou.

— Pode perguntar, que dúvida você tem?


— O Derek me disse que estou aqui há duas semanas, então por que o
local que levei o tiro já está cicatrizado?

A médica olhou para mim, e logo depois desviou o olhar, como se


estivesse escondendo algo, isso me chamou atenção.

— Pode ter algo a ver com seu sangue.

Levantei uma sobrancelha em confusão.

— Meu sangue não pode fazer isso, acredite quando eu falo.

— Então, sinceramente não sei, mas não se preocupe, se eu descobrir


alguma coisa te aviso.

Ela deu aquela conversa como encerrada, algo estava errado com essa
médica, mas não tinha tempo para isso, ainda tinha o líder da resistência
querendo me conhecer.

Ao terminar de vestir a minha roupa, eu saí daquela sala, Derek estava do


lado de fora me esperando.

Andamos por mais corredores.

Fiquei tão presa em meus pensamentos, que já estávamos em frente a uma


porta; finalmente chegamos.

Derek abriu a porta e entramos, observei o local, era uma sala grande, tinha
prateleiras espalhadas pelas paredes com bastante livros, Derek andou na frente e
fui atrás o seguindo, até que paramos em frente a uma mesa, tinha um homem
parado de costas para nós, por algum motivo estava nervosa, apertei minha mão
em punho tentando me acalmar.

Quando o homem se virou, foi como levar um soco no estômago, sinto as


minhas mãos tremendo sem parar, o meu peito subia e descia rapidamente. Diante
de mim estava aquele mesmo homem, o homem que estava esperando a mim e a
minha mãe naquele prédio abandonado, o homem com uma cicatriz no rosto.

Engoli em seco enquanto ele me observava, eu pensei que ele tivesse


morrido, afinal não o vi depois do que aconteceu, sinto as minhas pernas trêmulas
ao me lembrar da minha mãe sendo morta, o encarei sentindo o ódio dominando
cada parte de mim, dei um passo ficando na frente do Derek que me olhava
nervoso, a minha mãe estava morta e em parte por culpa desse homem.

Os livros começam a cair um por um.

— Vitória, se controle.

Ouço a voz do Derek do meu lado, mas os meus pensamentos são


totalmente direcionados para o homem na minha frente que me observa
atentamente como se estivesse observando a coisa mais interessante do mundo.

— Você precisa aprender a se controlar, senhorita Vitória.

Desgraçado!

— POR SUA CULPA A MINHA MÃE MORREU!

Eu gritei, as luzes começaram a piscar sem parar, vários livros foram para
o chão, vejo a mesa na minha frente se mexendo, só conseguia imaginar como
seria arremessar essa mesa neste maldito.

Ele não pareceu se abalar com quase tudo desmoronando ao seu redor, o
homem na minha frente continuou a me observar sem demonstrar medo algum.

— Por minha culpa? — Ele repetiu saindo de trás da mesa, e vindo ao meu
encontro. — Por que você acha que a sua mãe morreu por minha culpa? — Ele
levantou uma sobrancelha olhando para mim.

Minha respiração estava presa na minha garganta.


— Ela pegou aquele veneno por sua culpa.

Ele me observou, as luzes ainda piscavam, o chão se mexeu, era como se


um terremoto estivesse começando, eu sentia o ódio dominando cada parte de
mim.

— A sua mãe aceitou isso, desde o momento que ela sabia que a melhor
escolha para vocês duas, era sair daquele lugar, você não pode me culpar pelo que
aconteceu com ela. Eleanor fez uma escolha, ela poderia ter saído daquele lugar,
mas foi somente no dia do seu aniversário que ela teve a coragem que faltava
para fazer isso. — Ele olhou para os livros no chão e logo em seguida para o meu
rosto. — Mas agora sabemos o real motivo para ela tentar fugir tão de repente,
não é mesmo? — Ele me encarou. — Ela queria proteger você, afinal, Eleanor
sabia que você era especial.

O encarei sentindo os meus olhos ardendo, não queria pensar nessa


possibilidade, porque, no fundo, já me culpava pela morte da minha mãe, mas eu
sabia que a minha mãe escondia algo de mim, eu infelizmente... fechei os olhos
com força..., sabia que foi minha culpa.

— Você não sabe nada da minha mãe. — A minha voz era baixa.

Ele foi em direção à sua mesa, abriu uma gaveta e retirou de lá um


envelope. Deu a volta e se aproximou de mim.

— Eu confesso que não conheci sua mãe como você, mas sabia que ela te
amava. Quando tudo aconteceu, eu fiquei com a mochila que a sua mãe
carregava, e dentro dela tinha este envelope com o seu nome, mas não podia lhe
entregar, afinal, você tinha sido presa, mas quando o meu filho também acabou
preso, eu vi uma oportunidade de salvar a sua vida, pela sua mãe, eu devia isso a
ela.
Filho! Como assim filho, olhei para o Derek e o vejo me observando, ele é
filho deste homem? Oportunidade de me salvar? Então foi por isso que ele queria
me ajudar? Respirei fundo, porque sinto que essa não é toda a história, por que eu
sinto que tem mais alguma coisa?

Aquele homem me encarou.

— Sim, vitória. Derek é meu filho!

Os meus olhos ainda estavam na direção do Derek que continuava me


encarando, mas em completo silêncio.

Ele me entregou a carta, olhei para aquele papel branco em minhas mãos,
meu coração parecia que a qualquer momento ia explodir, virei aquele envelope
branco e vejo o meu nome escrito, por um momento as minhas mãos tremeram,
era a letra da minha mãe, era a letra dela.

As luzes pararam de piscar, as prateleiras não estavam mais se mexendo,


aos poucos eu fui controlando a minha respiração.

— É melhor você voltar para o seu quarto, eu tenho certeza de que vai
querer ficar sozinha quando estiver lendo.

Não levantei o rosto em sua direção, apenas olhava para aquele envelope,
como se fosse um ímã me puxando em sua direção, dei as costas para ele e fui
andando na direção da porta, ouço passos do meu lado e sei que é o Derek.

— Me desculpa por não ter lhe falado do meu pai. — O ignorei. —


Vitória! — ele me chamou mais uma vez. Mas não levantei o rosto.

Ouço um resmungo vindo dele, e em silêncio eu retornei ao meu quarto,


estava na frente da porta pronta para entrar, quando sinto a mão do Derek no meu
braço.
— Você não vai conversar comigo? — Ele perguntou, respirei fundo
levantando o rosto, o encarando.

— O que você quer? — A minha voz saiu baixa, a sua mão ainda estava no
meu braço, Derek respirou fundo.

— Me desculpa. Eu deveria ter lhe contado sobre a resistência, sobre o


meu pai, mas não queria colocar ninguém aqui em perigo, eu não te conhecia,
não sabia se poderia confiar em você.

O observei, levantei uma sobrancelha encarando-o.

— E agora, você confia?

Derek me encarava com aqueles olhos incrivelmente negros.

— Sim, Vitória, eu confio em você. — A sua voz saiu rouca.

Por um momento nos encaramos por mais tempo do que o normal, tentei
me controlar quando percebi a minha pele se esquentando só de olhar para ele,
sinto o meu rosto quente, não suportando mais continuar olhá-lo, eu desviei o
olhar.

Ele soltou o meu braço.

— O meu quarto é este da frente do seu, se você precisar de alguma coisa


pode me chamar, eu sei que você deve estar cansada. — Quando Derek falou
isso, olhou para a carta que permanecia em minhas mãos. — As seis é o horário
do café da manhã, eu te chamarei.

Não respondi.

— Boa noite, Vitória.


E com isso ele se virou, e logo em seguida abriu a porta do quarto que
ficava em frente ao meu, e entrou, me deixando sozinha.

Entrei no quarto que estava ocupando e tranquei a porta, me sentei na


cama, encostei as minhas costas na parede, e por um tempo fechei os olhos com
força, reunindo coragem para ler aquela carta, fiquei assim por vários e vários
minutos, e quando finalmente abri os olhos, fiquei encarando o teto, um ponto
específico, tentando ter coragem.

Ao olhar a carta nas minhas mãos, eu finalmente a abri e comecei a ler.

Filha.

Os meus olhos se encheram de lágrimas ao reconhecer a letra da minha


mãe.

Se você está lendo essa carta, isso significa que falhei mais uma vez com
você. Me desculpa por falhar, me desculpa por não ser forte o suficiente para te
proteger.

Mas você merece saber a verdade, eu não me perdoo por não ter lhe
contado toda a verdade antes, talvez, só talvez, se eu tivesse tido a coragem
necessária para contar isso para você, eu sei que teria evitado o sofrimento que
você deve estar passando agora.

Antes de tudo eu tenho que te contar sobre alguém que destruiu a minha
vida, alguém tão mal que o meu único desejo é que ele já tenha morrido, mas
infelizmente não posso te dar essa certeza. Porque provavelmente ele deve estar
vivo.

Eu preciso lhe contar sobre o seu pai!

Quando eu tinha dezenove anos, eu conheci um homem lindo, carismático


e misterioso ao mesmo tempo, me sentia tão bem quando olhava para ele, era
como se ele tivesse me enfeitiçado com a sua beleza, com o seu mistério que o
rodeava, talvez por isso eu tenha me apaixonado tão perdidamente por ele, o seu
nome era Daniel.

Nos encontramos quase todas as noites, Daniel era médico, no começo


não me importei, porque tudo o que eu queria era ficar com ele, ficamos juntos
por seis meses, até que descobri que estava grávida, no começo foi um choque,
eu não sabia como reagir, tinha a minha mãe, a sua avó que sempre me alertou
para não engravidar cedo demais, mas eu não ouvi, e como consequência, ela me
expulsou de casa, mas o Daniel me acolheu, e acabei indo morar com ele.

Ele estava tão feliz, como se esse fosse o seu sonho, no começo eu também
fiquei feliz, afinal, ia poder te uma família, uma família que eu nunca tive de
verdade.

Fui morar com ele na sua casa, ele tinha um cuidado fora do comum
comigo, todas as noites ele me examinava para saber se estava tudo bem com o
bebê, eu achava estranho, mas nunca comentei com ele, esses pensamentos
ficavam só para mim, mas como ele era médico, eu apenas pensava que era esse
o motivo, até que completei quatro meses de gravidez.

Daniel ficava praticamente todos os dias comigo, ele saia só a noite, mas
ficava no máximo duas horas fora, quando eu questionei, ele apenas me disse
que tinha tirado férias atrasadas do hospital, para poder ficar comigo.

Mas aos poucos fui ficando fraca, eu não conseguia comer quase nada,
ficava na cama quase o dia inteiro, eu queria ir ao hospital saber se tinha algo
de errado com o meu bebê, mas ele não deixava, me convenceu que não
precisava, que ele cuidaria de mim, e assim eu acreditei mais uma vez nele, todos
os dias ele injetava algo nas minhas veias, e quando questionava o que era, ele
me falava que eram vitaminas, e todas às vezes que ele fazia isso, eu me sentia
mais forte, conseguia me levantar, conseguia comer normalmente, de uma dose
por dia passou a ser três, até que completei seis meses de gravidez, eu estava
melhor, muito melhor, parecia que todo o meu mal-estar tinha passado
finalmente.

Mesmo assim, ele não me deixava sair de casa, eu não estava mais
suportando ficar naquela casa e no dia que decidi que ia sair um pouco, ele me
impediu, me amarrando na cama, não pude acreditar, o homem gentil e educado
que eu tinha conhecido, sumiu, e ele se transformou em alguém que eu não
conhecia.

Eu ficava amarrada na cama praticamente todo o dia, Daniel não saiu do


meu lado, era como se ele tivesse ficado louco, olhava para a minha barriga, ele
sorria falando que tinha finalmente dado certo, que depois de tantos anos, ele
tinha acertado a quantidade do veneno, eu só ficava olhando para ele e pensava
que ele tinha ficado louco, não tinha outra explicação, os meus pensamentos
eram em só poder fugir, eu não poderia deixar que você nascesse perto dele, eu
simplesmente não podia.

Até que em um dia eu vi quem ele era de verdade, Daniel não saia de casa
já tinha quase um mês, ele ficava me vigiando dia e noite, sem parar, e quando
eu acordei naquele dia eu o vi próximo demais de mim, ele me encarava a
centímetros do meu rosto, eu só conseguia sentir medo por mim e por você, eu
gritei por socorro, mas ninguém me ajudou, ele parecia um animal sedento, se
aproximando de mim, tentei me afastar, tentei lutar, mas tudo foi em vão, ele se
aproximou, e ali, grávida de você eu descobri o que ele era de verdade, Daniel se
alimentou do meu sangue, quando ele parou, eu estava tão fraca, quase
desmaiando, mas mesmo assim eu pude ver os seus dentes, as suas presas
manchadas, com o meu sangue escorrendo pela sua boca.

No primeiro momento eu não pude acreditar, afinal, isso não poderia se


verdade, vampiros não existiam, então, porque eu estava vendo um bem na minha
frente, nunca senti tanto medo quanto naquele momento, ele acariciava a minha
barriga, e falava que tinha finalmente conseguido, que finalmente ele teria o
poder para ser único, não conseguia ficar mais acordada, e desmaiei.

Quando acordei no dia seguinte, estava com um acesso no meu braço, e


uma bolsa de sangue do lado. Daniel me encarava como se estivesse esperando
um ataque de raiva da minha parte, mas não fiz isso, eu sabia o que ele era, eu
sabia que precisava fugir, mas também sabia que se por um momento ele
percebesse o que queria fazer, ele tiraria você da minha barriga, não poderia
deixar que isso acontecesse, então eu fingi..., eu fingi ainda estar apaixonada por
ele, fingi aceitar o que ele era, e aos poucos ele foi acreditando em mim, e com
isso eu consegui que ele me desamarrasse e eu pude sair do quarto, faltava
menos de três meses para você nascer, e na noite que ele saiu para se alimentar,
eu finalmente consegui fugir, peguei todo o dinheiro que achei, os meus
documentos e fugi, para o mais longe possível, sai da Irlanda e vim para os
Estados Unidos, mudei o meu nome, e finalmente você nasceu, linda e saudável.

Eu vivia com medo que chegasse o dia que ele nos encontraria, mas esse
dia não chegou, até que tudo mudou, quando você fez sete anos, os vampiros se
revelaram para a humanidade, houve a guerra e eles fizeram do restante de nós
escravos.

Eu tentei te proteger, mas infelizmente não consegui, e quando você tinha


nove anos, eu a ouvi gritando, no momento que levantei da cama, vi todos os
móveis daquele quarto flutuando ao seu redor, no mesmo instante, me lembrei do
seu pai, eu me lembrei do que ele falou, e infelizmente me lembrei daquilo que ele
injetava em mim quando estava grávida, escondi toda essa história de você
achando que estava te protegendo, eu sei que estava errada, mas saiba filha, que
tudo que fiz, foi porque eu te amo, eu só queria que você ficasse bem, eu não
queria que você soubesse sobre o seu pai.

Mas, se você está lendo essa carta, é porque eu falhei em te manter em


segurança, e mais uma vez me perdoe por não ver os sinais do que ele era no
começo.

Essa é a minha história, essa é a sua história, você merecia saber a


verdade, eu só não tive coragem o suficiente de falar para você. Eu sei que você
está sofrendo, mas me prometa uma coisa Vitória, me prometa que você vai
sobreviver, que você vai ter um final feliz, porque tudo que eu sempre quis para
você, foi te ver feliz.

Eu queria te falar tantas coisas, queria estar agora do seu lado, apertando
a sua mão, te abraçando com força, sentindo o seu cheiro filha, você é forte, você
é mais forte do que pensa, eu sei disso, eu te amo, eu sempre te amei, e pode ter
certeza de que sempre vou estar com você.

As lágrimas molhavam o papel que ainda estava em minhas mãos, minha


garganta estava doendo, eu sentia uma dor tão forte no meu peito que por um
momento não estava conseguindo respirar, eu só queria poder abraçar a minha
mãe, eu só queria poder me deitar no seu colo e dormir com ela passando as mãos
pelos meus cabelos.

Mas infelizmente eu sabia que isso não ia acontecer, porque qualquer


pessoa que se aproxime de mim, morre, isso aconteceu com a minha mãe e logo
depois com a minha amiga.
Capítulo 08
Eu não consegui dormir naquela noite, reli aquela carta várias e várias
vezes, a noite toda.

E de manhã, quando alguém bateu na porta, eu simplesmente me levantei e


a abri, vejo o Derek parado olhando para mim, provavelmente eu devia estar uma
bagunça, mas ele não comentou, dobrei a carta e a coloquei no bolso da calça que
estava usando, sabia que o único lugar que ela estaria segura seria comigo.

— Vamos tomar café.

O encarei.

— Eu não estou com fome, Derek, você pode ir. — Já ia fechar a porta
quando ele colocou a mão me impedindo.

— Vamos! Vai ser bom para você sair um pouco, eu tenho certeza de que
você deve estar com fome.

Neste momento a minha barriga fez um barulho alto e vergonhoso, me


deixando com o rosto vermelho de vergonha. Ele sorriu.

— Vamos Vitória.
Eu cedi e acabei o acompanhando, o silêncio permaneceu entre nós pelos
corredores, até que comecei a ouvir vozes vinda do local mais a frente, o mesmo
lugar de antes, o refeitório, as pessoas andavam com uma bandeja nas mãos, sinto
o cheiro da comida, eu estava com fome.

Evitei encarar as pessoas, mesmo sentindo que era o centro das atenções de
todos daquele lugar, só queria comer e logo depois voltar para o quarto.

Fui com o Derek, observei tudo que ele fazia e repetia, pegamos a bandeja,
conforme fomos colocando a comida, eu peguei ovos mexidos, um pão e uma
maçã, e por último, uma caixinha de leite.

Me sentei em uma mesa com ele, estava comendo os ovos mexidos quando
vejo uma moça loira que provavelmente tinha a mesma idade que eu, se
aproximando, e logo atrás dela o mesmo rapaz que estava dirigindo o carro
quando o Derek me salvou, eles se sentaram na nossa frente, a garota me
observava com atenção, já o rapaz loiro sorriu para mim estendendo a mão na
minha frente.

— Muito prazer! O meu nome é Leonardo, mas pode me chamar de Léo,


eu não sei se você se lembra, mas já nos conhecemos antes.

Olhei o seu rosto por um tempo, vejo-o ficando vermelho de vergonha, ele
provavelmente deve ter uns quinze ou dezesseis anos, parecia ser jovem demais.

Olhei para a sua mão que ainda permanecia no mesmo lugar, então o
cumprimentei apertando a sua mão.

— Muito prazer! O meu nome é Vitória.

Ele sorriu feliz, colocando um pedaço enorme de pão na boca.

— Eu sei, todos sabem quem você é.


Levantei uma sobrancelha para essa afirmação, olhei ao redor e vejo as
pessoas sussurrando e olhando para mim, não estava gostando disso. Odiava ser o
centro das atenções.

— E o que vocês sabem? — Perguntei, ele parou de mastigar e me


encarou, mas logo em seguida os seus olhos foram na direção do Derek, me virei
olhando para ele também, Derek olhou para o loiro na nossa frente e em seguida
para mim. Como se estivesse o avisando para ficar calado.

Mas quem respondeu foi a moça que parecia ter a minha idade, ela sorriu,
fazendo com que a nossa atenção fosse em sua direção.

— Sabemos que você matou oitenta vampiros naquele dia. — Ela me


observou com desdém, e deu uma mordida na sua maçã, mas os seus olhos não
saíram de cima de mim. — Sabemos que você era a bolsa de sangue favorita do
príncipe. — Ela levantou um dedo, como se estivesse contando cada coisa que
falava. — Não, me desculpe, ele não é mais um príncipe, agora ele é o rei. Graças
a você. — E deu mais uma mordida com força na maçã.

A encarei.

— Se você sabe tudo isso, também deve saber que eu não sabia que ele ia
ficar imune ao sol. — Apertei uma mão em punho. Quem essa garota pensava
que era.

Ela sorriu. O seu sorriso já estava me irritando.

— Eu não sei dessa parte, só sei o que ouvi por aí.

Ao observar a garota, eu vejo que ela tem muito ódio de mim.

— Você nem me conhece, e mesmo assim vejo que você não gosta de
mim.
Ela parou de mastigar a maçã, eu percebi o clima ficando estranho, pesado
demais.

— O que eu sei é que você ficou um mês com o príncipe, antes de dar o
show que você deu na sala do trono, isso me fez pensar, os seus poderes. — Ela
levantou as mãos fazendo aspas na palavra poderes. — Vai me dizer que eles
apareceram só naquele momento, ou antes? — A garota na minha frente levantou
uma sobrancelha esperando a minha resposta, mas não respondi, ela se encostou
na cadeira relaxada e sorriu. — É, pelo visto o que pensei estava certo.

— Porque você não vai direto ao ponto.

— Ok. Se é isso que você quer. Você já tinha "essa coisa" antes daquele
dia, ou seja, poderia ter matado aquele vampiro muito antes, não é mesmo? O que
nos leva a outra pergunta, por que você não fez isso?

Eu poderia tentar explicar o verdadeiro motivo, eu poderia tentar explicar


que não conseguia usar quando queria, que tentei, mas que não consegui, eu
poderia, mas sei que essa garota não vai ouvir nada que eu diga, afinal, parece
que ela já tem uma opinião formada sobre mim e nada que eu pudesse falar ia
mudar isso.

Ignorei a pergunta e comecei a comer o meu pão, a garota sorriu


novamente.

— Às vezes me esqueço que tem mulheres que gostam daquelas criaturas.

Parei de comer já sem paciência, as minhas mãos tremeram quando


levantei a cabeça para encará-la.

— Chega Brace! – Ouço a voz do Derek do meu lado.

A tal da Brace observou ele do meu lado, vejo o seu rosto vermelho de
raiva.
Ela se levantou pegando a sua bandeja, mas antes de sair soltou mais um
pouco do seu veneno.

— Chega mesmo, eu não quero mais ficar perto de uma das vadias dos
vampiros. — Fiquei em choque com as suas palavras. — Nossa! Desculpa, falei
errado, é vadia só do príncipe. — Disse, e saiu.

Meu coração martelava no peito, "Vadia só do príncipe" As palavras


ficaram se repetindo na minha cabeça.

— Desculpa a minha irmã Vitória, ela é um pouco difícil.

Léo falou, também se levantando completamente sem graça, eu perdi


completamente a vontade de comer, e estar em um lugar que todos olham
destacadamente para mim, não era legal, ouço os sussurros vindo deles, o que faz
tudo ficar ainda pior,

Eu fiquei sem reação perante o insulto da Brace.

Não conseguia acreditar que ela estava sendo tão maldosa. Derek pareceu
igualmente chocado e irritado com suas palavras.

Me senti envergonhada e triste com a situação. Não entendia o porquê de


algumas pessoas serem tão cruéis.

— Não liga para ela. Ela não sabe do que está falando. — Derek disse,
tentando me acalmar.

Eu respirei fundo e assenti com a cabeça, tentando afastar aquelas palavras


negativas da minha mente. Eu sabia quem eu era e o que eu representava. Não
deixaria os insultos de alguém que acabei de conhecer me afetarem.

Mas ao perceber o meu silêncio, Derek continuou a tentar amenizar as


coisas.
— Escuta, não liga para o que ela disse, a Brace perdeu tudo, a família dela
foi toda morta por vampiros, por isso esse ódio, ela cuida do irmão desde
pequena. Para ela, a única pessoa que importa é o irmão.

— Todos perdemos muitas pessoas nestes anos. — Me virei olhando para o


Derek. — Isso não dá o direito a uma pessoa de ser cruel. Ela acha o quê? Que
todas as garotas que eram escravizadas naquele lugar gostavam do que acontecia?

— Ela não passou por isso como nos dois Vitória, muitas dessas pessoas
não sabem o que realmente acontecia naquele castelo, julgo a dizer que várias
delas acham que ficamos lá por vontade própria. Você pode não saber, mas tem
várias pessoas que pensam que os vampiros são deuses, e vários grupos preferem
ficar ao lado deles, na esperança de que um dia, eles os transformem em um
vampiro.

Olhei para o Derek em choque, por que uma pessoa iria querer isso? Derek
parece ter ouvido os meus pensamentos quando logo em seguida respondeu.

— A vida eterna... para muitas pessoas, a vida eterna, ser jovem para
sempre, vale o preço de se perder a alma, e viver se alimentando do que um dia
eles foram.

Eu fiquei calada por um momento, e naquele instante eu me lembrei da


carta da minha mãe que agora estava no meu bolso, se eles descobrirem quem o
meu pai era? Se eles descobrirem o que eu sou. Engoli em seco, apertando as
minhas mãos em punho, sentindo as unhas machucarem a carne, se eles
descobrirem que eu sou metade vampira?

A minha cabeça estava doendo, eram tantas perguntas, mas de repente eu


sinto como se alguém tivesse dado um soco no meu estômago, e se, o pai do
Derek, o líder da resistência, já souber, afinal, ele ficou com essa carta por muito
tempo, que garantia eu tenho que ele não a abriu, se ele abriu, provavelmente
sabe desse segredo, e se ele sabe, que garantia eu tenho que o Derek e vários
outros também possam saber desses detalhes sobre mim, a minha mente começou
a girar em um turbilhão de sentimentos e preocupações.

Eu realmente deveria confiar nessas pessoas?

— Termine de comer, eu tenho que te mostrar uma coisa.

O encarei.

— Pedi a fome. — Afirmei sentindo a minha cabeça doendo.

— Você precisa se alimentar, não é bom ficar sem comer — ouço o seu
suspiro.

Mas eu não respondi, tinha um bolo se formando na minha garganta, eu


sabia que não adiantaria tentar comer, eu sabia que não ia conseguir.

— É, pelo visto você não vai me ouvir. — Ele suspirou derrotado. — Ok,
então, vamos! Eu preciso te mostrar um lugar.

Nos levantamos e guardamos as bandejas sobre o olhar das pessoas


presentes naquele lugar.

Caminhando por corredores. Eu o encarei.

— Você não vai me dizer para que lugar está me levando?

Ele se virou para mim e sorriu, o seu sorriso me pegou completamente


desprevenida, fazendo o meu coração disparar, no mesmo momento abaixei o
olhar, não suportando olhar para ele, o que estava acontecendo comigo?

— Não seja curiosa, você vai ver.

E com isso eu fiquei em silêncio até que paramos em frente a uma porta,
ele abriu a porta e entramos, o lugar era claro, era uma sala enorme, mais parecia
um galpão, de um lado tinha vários equipamentos para fazer exercícios físicos,
um espaço mais ao fundo tinha um ringue para lutar Boxer, encarei cada canto
absorvendo o lugar, eu segui Derek, até que estávamos em um lugar mais
afastado e logo eu percebi ser um estande de tiro, observei ele se aproximando de
uma mesa para pegar uma arma, e com uma incrível habilidade de manuseio,
com perfeição, ele deu um passo em minha direção me entregando a arma, olhei
para a arma que ainda estava nas suas mãos, e logo em seguida para o seu rosto.

Eu fiquei um pouco surpresa quando Derek me entregou a arma. Olhei


para ela em minhas mãos, observando como brilhava com o reflexo da luz. Em
seguida, meus olhos se encontraram com os dele.

Eu peguei a arma com cuidado, sentindo seu peso em minhas mãos. Nunca
havia manuseado uma antes, e a tensão começou a tomar conta de mim. Derek se
aproximou mais, ficando ao meu lado, como se estivesse pronto para me ensinar.

— Por que você está me dando isso? — Ele sorriu pegando a minha mão,
eu senti um pequeno choque quando as nossas mãos se tocaram.

— Você precisa saber usar uma arma, eu vou treinar você, você não pode
ficar contando que os seus poderes irão se manifestar sempre quando precisar,
sabemos que isso pode não acontecer. — Neste momento eu me lembrei do que
aconteceu naquele carro, eu fiz de tudo para que se manifestasse, mas nada
aconteceu, eu fiquei totalmente vulnerável quase que o pior aconteceu, se não
fosse por ele, eu estaria provavelmente em uma vala qualquer. Sinto um arrepio
percorrendo o meu corpo.

— Você precisa segurar a arma com firmeza, mas sem tensionar demais.
Flexione os dedos levemente ao redor do cabo e mantenha o polegar firmemente
apoiado no ferrolho. — Derek me instruiu, sua voz calma e tranquilizadora.

Segui suas orientações, ajustando minha pegada na arma. Ele me ensinou


sobre os princípios básicos do uso da arma de fogo, como mirar corretamente e
controlar a respiração.
Derek era paciente, me guiando em cada etapa, e eu estava começando a
me sentir mais confiante.

— Agora, tente mirar naquele alvo ali ao fundo. Respire fundo, concentre-
se e aperte o gatilho com suavidade — ele incentivou.

Eu ajustei minha posição e direcionei minha mira para o alvo, ignorando os


pensamentos negativos que tentavam me distrair. Respirei fundo e, lentamente,
pressionei o gatilho. Um som alto ecoou pela sala enquanto a bala acertava o
alvo.

Um sorriso orgulhoso surgiu no rosto de Derek.

— Muito bem! Você tem talento. Agora, vamos praticar um pouco mais.

À medida que continuamos a treinar, senti uma mistura de emoções; desde


a adrenalina de segurar uma arma, até a confiança em minhas próprias
habilidades. Derek estava ali, ao meu lado, me apoiando e me ensinando, e isso
me motivava a continuar melhorando.

Naquele momento, eu percebi que poderia superar qualquer adversidade e


me tornar uma pessoa mais forte. Aquele estande de tiro, com toda sua
intensidade, representava uma oportunidade para mim, uma chance de me
transformar em alguém capaz de enfrentar qualquer desafio que viesse pela
frente.
Capítulo 09
Segurei aquela arma, mas eu vi minhas mãos tremendo, apontei para a
frente, onde tinha um cartaz branco com um alvo.

Engoli em seco olhando para o meu alvo.

Meu corpo ficou completamente tenso no momento que sinto o corpo do


Derek, logo atrás de mim, ele segurou na minha mão abaixando um pouco o meu
braço.

— Você está muito tensa, precisa relaxar o seu corpo um pouco, respire
fundo. — Mas isso não estava resolvendo, principalmente quando senti sua
respiração quente no meu ouvido, meu coração martelava no peito, eu tentei
respirar fundo, tentei não pensar no seu corpo encostando no meu, tentei pensar
em qualquer coisa, mas eu não conseguia.

Quando ele estava do meu lado, a uma certa distância, eu consegui, mas
agora que ele está tão próximo do meu corpo, estava me deixando nervosa.

— Quando você tiver certeza, aperte o gatilho.


Eu não tinha certeza de nada, eu só queria sair daquela situação, apertei o
gatilho sem nem mirar direito, quando aquele papel se aproximou, vejo que não
acertei em nenhum lugar, provavelmente acertei a parede. Olhei para o cartaz,
Derek também, logo em seguida ele olhou para mim e sorriu.

— Pelo visto vamos ter que treinar bastante.

Ele sorriu retirando a arma da minha mão, merda! Eu falei mentalmente,


eu precisava ficar boa nisso rapidamente, porque não queria sentir aquilo que eu
sentia com ele próximo de mim novamente, meu coração ainda estava acelerado.

E a culpa era dele.

Três meses depois...


Eu desmontei e montei a arma rapidamente, colocando-a em cima da mesa
na minha frente, olhei para o Derek que sorriu para mim.

— Parabéns! Você melhorou muito nestes três meses.

Fiquei satisfeita com o reconhecimento de Derek. Durante os últimos três


meses, eu me dediquei intensamente ao treinamento de tiro e ele me ajudou a
aprimorar minhas habilidades.

Desde aquele primeiro dia em que segurei a arma em suas mãos,


percorremos um longo caminho.

— Obrigada! Não teria conseguido sem a sua paciência e orientação —


respondi, sentindo meu rosto se iluminar com um sorriso de orgulho.

Derek assentiu, parecendo genuinamente satisfeito com meu progresso.

— Lembre-se, a prática leva à perfeição. Continue treinando regularmente


e você continuará melhorando. Mas sempre mantenha em mente, que uma arma é
uma responsabilidade tremenda.

Eu assenti, compreendendo a importância das palavras dele. Sabia que o


treinamento com armas de fogo exigia muita responsabilidade, tanto em termos
de segurança quanto na decisão de usá-las.

Já tinha três meses que eu estava aqui, aos poucos fui me acostumando
com tudo até com os comentários maldosos de algumas pessoas, a verdade é que
eu não tinha nenhum outro lugar para ir, esse era o único lugar que me aceitavam,
pelo menos alguns me aceitavam, respirei fundo, eu tenho passado quase todo o
meu tempo treinando aqui, este lugar se transformou em uma espécie de refúgio,
mas, no fundo, eu gostava, Derek me ajudava quase sempre.

Ele só não fazia isso quando estava em alguma missão que eu nunca ficava
sabendo qual é, e mesmo se eu perguntasse, ele não respondia, apenas
desconversava.

Há um mês, perguntei a ele se poderia ir junto, na verdade, eu queria poder


sair, poder respirar um pouco de ar fresco, poder ver o céu, senti o sol tocando a
minha pele, mas ele sempre falava que não era seguro, que eu precisava ficar aqui
por um tempo, porque o Damon continuava procurando por mim, que ele não
tinha desistido de me ter de volta.

E isso me fazia ficar com medo, mesmo querendo poder ir lá fora, eu sabia
que era um risco, então aceitei que precisava ficar naquele lugar por mais tempo.
Mas ele sempre me dizia que logo isso ia se resolver e que eu poderia ir em
algumas missões com ele, respirei fundo.

Entendia as preocupações de Derek e sabia que ele tinha razão em me


manter aqui. Ainda assim, a sensação de estar confinada e sem poder sair para o
mundo exterior começava a pesar em mim. Eu desejava poder experimentar a
liberdade novamente, sentir o vento em meu rosto e ver além dos limites do lugar
onde estávamos.
No entanto, enquanto suspirava e tentava aceitar a situação, um
pensamento me ocorreu. Talvez houvesse uma maneira de encontrar um
equilíbrio entre a minha segurança e a minha necessidade de liberdade. Ou talvez
eu pudesse iniciar pequenas incursões com Derek, quebrando a rotina e me
permitindo sair, mesmo que sob supervisão.

Reuni minha coragem e encarei o Derek, decidida a compartilhar minha


ideia.

— Derek, eu entendo que a minha segurança é importante, mas será que


não poderíamos fazer algumas saídas curtas juntos? Não precisaria ser nada
arriscado, apenas pequenas escapadas para eu poder sentir um pouco do mundo lá
fora. Acredito que isso poderia me ajudar a lidar melhor com a situação, ficar
presa aqui está me deixando louca.

Ele me olhou com um misto de surpresa e preocupação, ponderando a


minha pergunta. Após um instante de silêncio, ele finalmente respondeu.

— Eu entendo o que você está dizendo e acho que é uma ideia válida. Vou
verificar se há oportunidades seguras para fazermos algumas saídas juntos. Mas,
por favor, entenda que a sua segurança ainda é a nossa preocupação e não
podemos nos expor desnecessariamente. Precisamos ser cautelosos. O Damon
permaneceu te procurando em todos os cantos.

Assenti, entendendo as preocupações de Derek e agradecendo por ele ao


menos considerar minha pergunta. Sabia que precisávamos encontrar um
equilíbrio entre minha vontade de liberdade e a necessidade de me proteger.
Mesmo assim, alguma coisa me dizia que não era normal, desde o dia que
cheguei eu não pude sair em nenhum momento.

Derek percebeu e me encarou.


— Mas não precisa se preocupar, eu vou conversar com o meu pai, você já
sabe atirar muito bem, será bom termos mais pessoas ajudando.

— Eu estou treinando muito. — Acabei sorrindo.

— Você está tão diferente de três meses atrás. — Ele me encarou, e mais
uma vez abaixei a cabeça quando ele fez isso.

A verdade era que eu não conseguia ficar muito tempo olhando para ele,
sem que o meu rosto ficasse vermelho no mesmo instante.

— Diferente como? — Perguntei me levantando, caminhamos até o local


que ele estava me ensinando defesa pessoal.

— Você sorri, antes você não fazia isso.

Chegamos no local, o encarei na minha frente.

— Eu não tinha motivos para sorrir.

Pelo menos não estava mais presa e sendo usada pelo Damon, só de
lembrar dele eu sinto um arrepio, eu me pego sonhando direto com ele, com ele
me encontrando, comigo de novo naquele lugar, e várias e várias vezes acordava
molhada de suor, com o rosto molhado pelas lágrimas que eu não me lembrava
que tinha saído, eu tentava esquecer dele, mas infelizmente era impossível, eu
não conseguia fazer isso.

Ele não respondeu, veio com tudo para cima de mim, tentando me
derrubar, mas os meus pés não saíram do lugar, e no mesmo momento me
lembrei das várias vezes que ele conseguiu me derrubar, foram tantas que não sei
a quantidade exata.

Mas me lembro muito bem dos vários hematomas que descobri cada vez
que ia tomar banho no final do dia, ele não tinha nenhuma pena por eu ser
mulher, nas suas palavras, ninguém ia se importar de quebrar o meu nariz se isso
fizesse com que eu caísse.

O treinamento com ele era pesado, mas eu confesso que gostava, bem
diferente de treinar com o Léo, que sempre pegava leve com medo de me
machucar, Léo era uma pessoa que sempre me ajudava quando Derek não estava,
ele acabou se tornando um bom amigo.

Derek tentou pegar o meu braço para me imobilizar, mas não deixei, em
um movimento rápido eu o derrubei ficando em cima dele, nossas, respirações
estavam próximas, ele sorriu, levantei uma sobrancelha não entendendo por que
ele estava sorrindo, afinal, o tinha derrubado, e no segundo seguinte, eu estava no
chão respirando rapidamente com ele em cima de mim, meus braços estavam
imobilizados, tentei me mover, mas o peso do seu corpo me impedia de fazer
isso.

Derek era alto e forte, e tinha ficado ainda mais forte nesses três meses que
passaram, prova disso era os músculos dos seus braços que estavam muito
maiores do que a três meses atrás, o meu peito subia e descia rapidamente, o seu
rosto estava tão perto, que eu podia sentir sua respiração se misturando com a
minha. Ele me observava atentamente até que os seus olhos foram na direção da
minha boca, engoli em seco olhando para ele e quando ele soltou os meus braços,
para logo em seguida, retirar uma mecha do meu cabelo que havia saído da traça
que eu tinha feito naquele mesmo dia de manhã, a fim de colocar atrás da minha
orelha, eu senti um arrepio passando por cada parte do meu corpo, eu não me
movi, apenas o observei.

Eu fiquei parada olhando para ele, chegando cada vez mais perto, até não
ter mais espaço entre nós, eu senti o sabor dos seus lábios nos meus, me causando
uma sensação embriagante pelo meu corpo.
Derek segurou no meu rosto com delicadeza, e naquele instante eu me
deixei levar, eu apenas queria sentir aquele momento, por isso segurei no seu
pescoço, a minha mão foi se movimentando até estar nos seus cabelos, ele
pressionou os seus lábios com ainda mais força e eu correspondi ao que ele fazia,
eu sentia o meu corpo se esquentando mais e mais à medida que o beijo ia se
prolongando. Ele desceu a mão para a minha cintura me fazendo soltar um
suspiro, que logo foi engolido pela sua boca, eu nunca me senti assim, era algo
tão bom, que por um momento eu tive medo de que acabasse.

Derek apertou a minha cintura com força, sua mão não estava mais em
cima da regata preta que eu estava usando, estava abaixo, eu sentia o calor da sua
mão em contato com a minha pele que não estava diferente, ele foi subindo a mão
devagar. E quando estava perto do sutiã que eu usava, ouço uma pessoa fingindo
estar tossindo, no mesmo momento eu abri os olhos me afastando do Derek, que
ainda me encarava, com os lábios vermelhos e inchados, eu sabia que os meus
não estavam diferentes.

Respirei com dificuldade, me levantando, ao olhar para a frente, vejo o Léo


com um pequeno sorriso olhando para nós dois, o meu rosto estava vermelho de
vergonha, meu peito ainda subia e descia rapidamente só de lembrar o que estava
acontecendo a menos de um minuto atrás.

— Eu não queria atrapalhar, mas o seu pai está te procurando Derek.

Olhei para o Léo, ainda sentindo o constrangimento tomando conta de


mim. Derek se levantou rapidamente, ajustando sua postura e tentando disfarçar o
embaraço que nos envolvia.

— Obrigado, Léo. — Depois me encarou. — Depois eu te procuro — Ele


ainda estava com a voz um pouco trêmula, enquanto se afastava de mim em
direção à porta.
Fiquei em pé, tentando controlar a minha respiração e a confusão de
sentimentos que me invadia. Eu não sabia como me sentir em relação ao que
tinha acontecido. Era uma mistura de prazer, vergonha, e até mesmo um pouco de
culpa.

Após alguns segundos, Léo se aproximou de mim, ainda com aquele


pequeno sorriso.

— Desculpe por interromper vocês. Eu só tinha que dar o recado do pai


dele— ele disse, tentando parecer sério.

Balancei a cabeça em resposta, ainda sentindo meu corpo quente e


pulsante. Eu não sabia o que esperar do que acabara de acontecer, mas sabia que
aquilo iria definitivamente mexer comigo.

— Tudo bem, Léo. Obrigada por avisar — consegui dizer, enquanto


buscava recompor a minha postura.

Minhas mãos tremiam quando eu também comecei a caminhar em direção


à porta, eu precisava tomar um banho, antes de chegar à porta eu ouço a voz do
Léo.

— Você sabe que eu também sou solteiro, não é? Se você quiser terminar o
que acabei de ver vocês fazendo, eu estou disponível.

Olhei para o Léo que tinha um sorriso brincalhão no rosto.

— Não, muito obrigada!

Ouço novamente o seu sorriso.

— Não custa nada sonhar.

Eu apenas sorri levemente para o Léo, tentando não demonstrar quão


envergonhada eu estava com suas palavras.
— Você sempre tem essa habilidade de tornar as situações constrangedoras
ainda mais desconfortáveis, não é? — Perguntei, tentando disfarçar meu
embaraço.

Léo soltou uma risada divertida.

— Desculpe, não resisti. Mas sério, se precisar conversar sobre isso, estou
aqui para você. Amizade acima de tudo, lembra?

Agradeci sua oferta e me despedi.

Fui direto para o meu quarto e peguei tudo que precisava para poder tomar
um banho, e fui para o banheiro que era compartilhado com todas as mulheres
deste lugar, ao entrar, vejo uma senhora terminando de escovar os dentes, quando
ela me viu entrando, sorriu terminando, ela me cumprimentou e logo em seguida
saiu.

Quando entrei debaixo do chuveiro, sinto a água quente lavando o meu


corpo, e no mesmo momento, ali sozinha, eu fechei os olhos me lembrando do
que aconteceu há minutos atrás, minha mão foi em direção a minha boca, eu
sentia o meu coração martelando no peito, só de lembrar do que senti quando ele
me beijou, eu gostei, eu realmente gostei, era como se alguém se importasse
comigo, era como se eu fosse importante para uma pessoa, e isso era bom, eu
sentia as lágrimas se misturando com a água quente que saia do chuveiro, o meu
peito ficou aquecido de felicidade, quando eu percebi que estava gostando do
Derek.

Enquanto a água quente do chuveiro caía sobre o meu corpo, permiti que
as lembranças daquele momento invadissem minha mente. Eu me permiti sentir
uma pontada de felicidade, mas também uma dose de preocupação.

Eu me sequei e vesti a minha roupa, fui para o refeitório e jantei em


silêncio em uma mesa afastada, observei o local, mas não encontrei nem o Derek
e muito menos o Léo que sempre ficavam comigo.

Quando eu finalmente percebi que eles não viriam, eu comecei a comer.

Já era quase onze horas da noite, eu estava acordada lendo um livro que
peguei na pequena biblioteca daquele lugar, quando ouço alguém batendo na
porta do meu quarto, me levantei colocando o livro em cima da cama, ao abrir a
porta vejo o Derek parado, olhando para mim, no mesmo momento o meu
coração disparou, observei o seu cabelo que estava levemente molhado, tinha
provavelmente acabado de tomar banho.

— Eu posso entrar? — Ele perguntou, era a primeira vez que ele vinha no
meu quarto, principalmente pedindo para entrar, eu não consegui responder,
apenas me afastei da porta abrindo-a para que ele pudesse entrar, de repente o
quarto ficou pequeno demais, ele observava o local e logo depois me encarava,
eu não sabia o que fazer e muito menos o que falar, um calor foi subindo pelo
meu pescoço fazendo que meu corpo ficasse quente.

Quando finalmente consegui encontrar a minha voz, perguntei:

— Por que você não foi jantar hoje?

Derek me encarava tão intensamente que fazia o meu peito subir e descer
rapidamente, ele deu um passo em minha direção, encurtando ainda mais a
distância entre nós.

— Meu pai queria fazer uma reunião sobre a nova missão, demoramos
mais do que o normal, terminamos agora. — Ele falou cansado.

— Então você vai para outra missão? — Minha voz era baixa.

— Sim, vamos sair amanhã de manhã, por isso eu vim te visitar, queria te
avisar, também queria me despedir de você.
Ele levantou a sua mão tocando no meu rosto, meu corpo se arrepiou com
o seu toque.

— Eu queria conversar com você sobre o que aconteceu.

Dei um sorriso sem graça.

— Não precisamos conversar sobre isso, não precisa se preocupar, foi


apenas uma coisa do momento.

Derek acariciou o meu rosto devagar.

— Para mim, não foi uma coisa do momento, foi especial, na verdade, foi
algo que eu estava querendo fazer há muito tempo.

Meu corpo tremeu, apertei um lábio no outro com força, sentindo uma
felicidade tomando completamente o meu peito.

— Eu gosto de você Vitória, eu gosto de estar perto de você.

O seu rosto estava vermelho.

— Você não pode gostar de mim, todas as pessoas que gostam de mim,
acabam morrendo, eu não quero que nada aconteça com você.

Meus olhos estavam ardendo, eu estava me segurando para não chorar,


porque eu também estava começando a gostar dele, mas sabia que não
poderíamos ficar juntos.

Derek segurou o meu rosto com as duas mãos aproximando o seu rosto do
meu.

— É um pouco tarde para você falar isso, porque nada que você possa falar
vai fazer com que eu mude de ideia.

Sua respiração estava se misturando com a minha.


— E qual é a sua ideia?

Ele sorriu.

— Eu não vou me afastar de você, pelo contrário, vou sempre estar ao seu
lado, mesmo que você não corresponda ao que eu sinto por você.

Olhei para ele sentindo cada parte do meu corpo processando suas
palavras, era algo que nunca pensei que poderia existir, alguém realmente queria
ficar perto de mim, alguém realmente gostava de mim.

Eu não respondi, apenas me aproximei encostando os meus lábios nos


dele.

Derek segurou na minha cintura com força, em alguns segundos eu já


estava encostada na parede, sentindo a sua boca explorando a minha com uma
certa urgência, ele apertava minha cintura com força, passei minha mão pelos
seus cabelos, intensificando o nosso beijo, em uma mistura de sentimentos que se
misturavam dentro de mim, algo que pensei que não fosse real.

Ele abandonou minha boca e começou sua exploração pelo meu pescoço,
eu sentia seus lábios distribuindo beijos por onde ele passava, estava sentindo que
a qualquer momento meu corpo fosse se incendiar com tudo que estava sentindo,
ele acariciava minha cintura, seu corpo estava tão próximo do meu, eu pude
sentir o seu..., meu rosto se esquentou quando senti algo duro pressionando a
minha barriga, uma pressão gostosa se instalou no meio das minhas pernas.

E quando ele segurou a minha blusa para poder retirá-la, me encolhi com
um pouco de medo, eu sabia que se continuasse desse jeito logo iria acontecer
algo em seguida, Derek parou os seus movimentos, e me encarou.

— Fiz algo que você não gostou? — Ele perguntou preocupado.

Minha respiração ainda estava alterada.


— Não é isso. — Meu rosto ficou vermelho de vergonha. — Eu não tenho
certeza se estou pronta para ter a minha primeira vez agora.

Vejo a surpresa no seu rosto, mas não era segredo que todos tinham certeza
que eu matinha relações sexuais com o Damon, afinal, todas as outras garotas
faziam isso, tenho certeza de que ele também era obrigado a fazer isso com a
princesa.

Afinal, para as pessoas, eu era a vadia do príncipe. Como a Brace falou


aquele dia.

Ele se aproximou, beijando o alto da minha cabeça.

— Não vou te obrigar a nada Vitória, eu espero o tempo que for preciso,
até você estar pronta.

Acabei sorrindo, Derek ficou comigo deitado na cama, abracei sua cintura,
colocando minha cabeça sobre seu peito, ele acariciava o meu rosto, me sentia
tão protegida com ele do meu lado, que sem perceber, acabamos dormindo.

Quando acordei naquela manhã, não vi o Derek do meu lado, senti um frio
no estômago, eu queria que ele estivesse do meu lado, mas também sabia que ele
tinha ido para a missão, que por sinal, não sabia o que era.
Capítulo 10
Hoje faz uma semana que ele foi na missão, naquele mesmo dia eu
descobri que o Léo e a irmã dele também iriam, passei esses sete dias treinando
para ocupar o meu tempo, porque quando eu não estava ocupada, ficava me
lembrando dele.

Estava saindo do refeitório quando eu vejo uma movimentação estranha,


vejo uma mulher andando conversando com outra com os seus rostos em choque,
elas olharam para mim e voltaram o rosto, naquele mesmo momento eu percebi
que tinha algo errado.

Um grupo de pessoas estava na frente, ao me aproximar vejo o Derek


segurando a sua cintura como se estivesse tentando impedir que ela fizesse algo,
o rosto da Brace estava molhado por está chorando, as suas mãos estavam
manchadas de sangue, meu coração disparou, tentando passar pelas pessoas que
estavam ali, até que consegui, neste momento, Derek já havia a soltado, ela que
por sinal tremia sem parar.

Eu não sabia o que fazer, se tentava ir até eles ou não, não sabia se ela ia
querer me ver ali, vendo como ela estava.
Mas quando seus olhos se encontraram com os meus, eu pude ver o ódio
dominando o seu rosto, e mais rápido do que pude perceber, ela estava na minha
frente, e o meu rosto estava para o lado oposto, eu sentia o meu rosto doendo pelo
tapa que ela me deu, minha boca estava aberta em choque, do que tinha acabado
de acontecer, olhei para ela, e no momento que ela levantou a mão para pegar nos
meus cabelos, Derek segurou a sua cintura com força tentando tirá-la de perto de
mim, as minhas mãos tremiam, sentia aquela mesma corrente elétrica passando
pelo meu corpo; durante esses três meses eu fiz de tudo para me controlar, para
que esse maldito poder não se manifestasse novamente, só queria ser normal, mas
quem eu estava querendo enganar? Eu nunca serei normal.

— Desgraçada! A culpa é sua, sua vadia, a culpa é toda sua. — Ela tentou
se soltar do aperto do Derek que a segurava. — Me solta Derek, me solta! — Ela
gritava tão alto que dava para ver o desespero na sua voz, Brace chorava.

— Eu não vou te soltar até que você se controle.

E aos poucos ela foi ficando parada, mas os seus olhos não saíram de mim.
Derek a soltou, e ela se aproximou da parede, colocou as mãos na parede e
abaixou a cabeça, não estava entendendo, o que estava acontecendo? Por que a
culpa é minha?

Derek se aproximando, segurando o meu rosto.

— Você está bem? — Mas não respondi, apenas observava a mulher que
estava visivelmente destruída, ainda encostada na parede. — Acho melhor irmos
colocar gelo no seu rosto, já está ficando um pouco inchado.

Olhei para ele.

— O que aconteceu? Por que ela falou que a culpa é minha?

Derek me encarou. Mas quem respondeu foi. Brace.


— Eu vou te falar o que aconteceu!

Todos olharam para ela quando se aproximou de mim novamente.

— O meu irmão foi pego por um dos soldados do seu vampiro de


estimação. — O meu coração acelerou, não, o Léo não, os meus olhos arderam.
— Provavelmente agora mesmo, deve estar sendo torturado para revelar onde
você está se escondendo.

— Torturado!? — A minha voz era baixa.

— Cala a boca Brace!

Derek gritou, deixando várias pessoas desconfortáveis, mas ela não se


calou.

— Você não sabia? — Ela sorriu, eu apenas a encarei. — Durante as suas


férias aqui dentro, várias pessoas estão sendo torturadas pelo seu amado vampiro,
ele está louco a sua procura. — Brace olhou para o Derek. — Pelo visto eles não
te contaram, não é mesmo? Eles queriam te proteger, que patético! Enquanto
você está segura aqui dentro, brincando de casinha. — Ela olhou para nós dois,
como se soubesse que estávamos juntos. — Enquanto isso, tem pessoas
morrendo, por sua culpa. — Ela se aproximou. — E a vítima da vez foi o meu
irmão.

E com isso ela saiu, as pessoas começaram a sair, restando somente eu e o


Derek naquele corredor, as minhas mãos estavam tremendo, os meus olhos
estavam ardendo sem parar.

— O que ela falou é verdade? — Derek ficou calado, ele passou a mão
pelo cabelo nervoso.

Derek segurou na minha mão me fazendo acompanhá-lo.


— Vamos conversar no seu quarto.

Estou sentada na cama, era como se não fosse verdade, um vazio se


instalou dentro de mim, Derek segurava uma bolsa com gelo no meu rosto,
estávamos em silêncio.

— Sim, Vitória, o que ela falou é verdade.

Olhei para ele, lágrimas já estavam deslizando pelo meu rosto.

— Por que você não me contou?

Ele respirou fundo.

— Porque não queria ver você sofrendo e se culpando como está agora.

— Você não tinha o direito de esconder isso de mim.

Ele aproximou a mão do meu rosto e limpou as lágrimas que estavam


descendo.

— Sim, não tínhamos o direito, me desculpa por não falar nada, eu queria
ter contado, mas infelizmente não tive permissão para isso.

— E o Léo?

— Estamos organizando um grupo, vamos sair daqui a uma hora, para


tentar trazê-lo de volta.

Me levantei secando o rosto.

— Eu vou com vocês. — Afirmei.

Derek se levantou.

— Não, você não vai.


O encarei.

— Eu vou. — Afirmei novamente, sustentando seu olhar.

— Você ouviu a parte que aquele maldito está torturando pessoas atrás de
informações sobre você?

— Por isso mesmo, eu posso ajudar.

— Não, você não pode.

Dei um passo me aproximando dele.

— Eu posso, você sabe muito bem, eu tenho treinado, eu posso ajudar o


Léo.

— Pode ficar tranquila, tenho muitas pessoas bem treinadas comigo.

— Derek, por favor. — Eu estava implorando. — Você esqueceu, eu tenho


esses poderes, eles poderiam ajudar.

— Vitória. — Ele segurou no meu rosto. — Você não consegue controlá-


los, infelizmente você vai mais atrapalhar do que ajudar, eu não vou conseguir
me concentrar sabendo que você está comigo, eu preciso me concentrar ao
máximo para trazer o Léo de volta.

Minha garganta estava completamente fechada pelo bolo que estava se


formando nela.

Derek se aproximou me dando um pequeno beijo na boca.

— Eu vou trazê-lo de volta, mas só vou conseguir fazer isso se você estiver
em segurança.

Abaixei a cabeça derrotada.


— Eu preciso ir agora, tenho que preparar as coisas.

E com isso ele saiu, me sentei na cama sentindo um peso em cima dos
meus ombros, e durante muito tempo, eu fiquei no mesmo lugar, chorando, me
amaldiçoando por não tentar convencê-lo a me deixar ir junto, ficar aqui sem
informação é a pior coisa, tenho certeza de que não iria atrapalhar, mas sempre
eles me deixavam aqui, e isso já estava me incomodando bastante, só queria
tentar salvar o meu amigo.
Capítulo 11
Já eram quase cinco da manhã, o Derek já tinha saído há muito tempo, mas
eu não consegui dormir, ficava pensando nele, ficava pensando no Léo.

Até que ouço o barulho de alguém batendo na porta, me levantei e abri,


vejo a Brace parada na minha frente, vestida numa roupa toda preta, uma das
roupas que ela sempre usava em missões.

Ela jogou uma sacola para mim, eu pequei no impulso, quando abri vejo
peças de roupas também na cor preta.

— Você não queria ajudar, eles não me deixaram ir à missão com eles, mas
eu sei onde é, e você vai comigo, se vista e me encontre daqui a dez minutos no
portão dois.

Ela não esperou que eu respondesse, apenas saiu, fechei aquela porta e
segurei aquela sacola com força, sei que o Derek falou que eu precisava ficar
aqui, mas era o Léo lá fora, eu precisava, era fazer alguma coisa.

Vesti a roupa, uma calça preta mais folgada, uma regata preta, e um casaco,
também preto, com vários bolsos, coloquei o meu tênis e fiz uma trança o mais
rápido que conseguia no cabelo. Peguei a carta da minha mãe e coloquei em um
bolso interno do casaco.

Quando saí daquele quarto, senti a adrenalina tomando cada parte do meu
corpo.

Não achei ninguém no caminho. Ao me aproximar do portão dois, alguém


me segurou, me puxando para um corredor mal iluminado, tampando a minha
boca. Já ia tentar sair quando eu ouço a voz da Brace no meu ouvido.

— Fica quieta.

Neste momento dois homens passaram pelo corredor que eu estava


recentemente, era os guardas que faziam a ronda noturna.

Quando eles não estavam mais a vista, nós duas andamos apressadamente
até uma porta que ficava na esquerda, Brace digitou uns números no painel que
estava do lado, e a porta abriu, entramos em um corredor iluminado, até que
chegamos em uma espécie de garagem, com vários carros.

— Não vamos pegar um carro? — Perguntei me aproximando dela.

— Você acha que eles vão deixar que nós duas saíssemos daqui com um
carro? — Ela sorriu. — Você é bem mais inocente do que pensei.

Não respondi, mesmo sentido as minhas mãos tremendo pela sua ironia.

Conseguimos sair de lá, o sol já estava nascendo, olhei para fora me


sentindo estranha, era a primeira vez que estava aqui fora.

Era um lugar em uma montanha, tinha uma floresta abaixo, eu olhei para
todos os lados. O vento batendo no meu rosto.

Com cuidado fomos andando nas sombras até estarmos em uma estrada, eu
seguia a Brace totalmente cega para onde estávamos indo. Meu coração acelerava
a cada passo que eu dava.

Ela se aproximou de um lugar perto da estrada que tinha vários galhos de


árvores secas, a paisagem se misturava na cor verde e marrom, e pequenas flores
nos topos de várias árvores, anunciado o início da primavera.

Ela retirou vários galhos, até revelar o que estava escondido embaixo, um
carro. Ela sorriu abrindo a porta, fui para o outro lado e abri a porta me sentando,
o carro tinha um cheiro forte de poeira e gasolina, vejo a Brace abrindo uma
bolsa grande, marrom, toda desgastada.

Então retirou uma chave de dentro, logo em seguida uma faca e a colocou
no lugar perto do seu cinto, logo em seguida uma arma, o meu coração disparou,
Brace conferiu se estava carregada, também a guardou, depois ela tirou mais uma
e me entregou com várias munições, me encarou.

— Você aprendeu a atirar, não é mesmo?

Segurei aquela arma com força, apenas balancei a cabeça concordando.

— Ótimo! Porque você vai precisar. — E com isso ela ligou o carro dando
partida no motor.

Eu fiquei calada, na verdade, não tinha nada para falar com ela, e olhando
disfarçadamente para a garota loira que estava dirigindo aquele carro, eu tive
certeza de que ela também não tinha nada para falar comigo, aquilo era apenas
um singelo acordo para salvar o Léo, nada mais que isso, e nós duas sabíamos
muito bem disso, olhava pela janela sentindo o vento que trazia o cheiro das
flores, bem diferente da paisagem repleto de neve de antes.

Brace dirigiu por quase três horas direto, até que paramos próximo de um
antigo e pequeno vilarejo, a maioria das casas, estavam destruídas, as que ainda
se mantinham em pé, estavam em um estado deplorável, ela parou o carro atrás
de uma casa mais afastada. Me virei a encarando.
— O que viemos fazer aqui? — Ela não respondeu, apenas saiu do carro,
eu também saí. Brace deu a volta no veículo ficando do meu lado.

— Tem uns mantimentos que escondi aqui na última vez que fiz patrulha,
eu estou com fome, e morrendo de sede, tenho certeza de que você também está

Eu não confirmei, mas estava, sim, principalmente com sede. Andamos


pelo quintal da antiga casa em silêncio, quando estávamos perto de uma porta
desgastada de madeira, eu parei quando vi um cartaz com uma foto minha, eu me
lembro daquela foto, era do ano passado quando tivemos que tirar novas fotos
para o registro, mas porque tinha uma foto minha em um cartaz?

Me aproximei para poder ler.

Era um aviso para quem me visse, ligasse para um número que estava
escrito no papel, que a pessoa que denunciasse ganharia o que desejasse, eu
olhava para aquele pedaço de papel, e só sentia o meu peito doendo mais e mais,
Brace se aproximou, olhando o cartaz, e como se não fosse nada abriu a porta.

— Tem vários desses cartazes espalhados por todos os cantos, não importa
se você retire, sempre aparecem mais. — Eu fiquei em silêncio absorvendo as
suas palavras. — Pela sua cara, Derek não te disse sobre isso também, não é? —
Ela sorriu, se afastando, eu fui em sua direção até estarmos na sala, mas as
palavras dela ficaram se repetindo, o Derek não me disse nada disso, me
deixando no mais completo escuro. Novamente.

Brace retirou umas tábuas do assoalho perto de um antigo sofá, e me


entregou uma garrafa de água, ela retirou mais algumas coisas, uma bolsa, repleta
de coisas, na verdade.

Mas eu já tinha perdido a fome, apenas bebi a água, minha cabeça estava
muito longe, o que mais o Derek escondeu de mim? Essa pergunta ficou se
repetindo, observei a Brace indo em direção de uma janela e olhando para fora,
logo em seguida ela parou no meio da sala e me encarou, eu fiquei em pé, quieta,
não queria discutir com ela.

— Como você se sente sabendo que tem um vampiro superpoderoso que é


imune ao sol, te caçando?

— Eu te garanto que é horrível. — Afirmei, ela me encarou dando um


passo em minha direção.

— Você sabe por que todos te usam, não é mesmo?

Levantei uma sobrancelha a encarando.

— Todos?

Ela sorriu.

— Sim todos. Os vampiros, o Pai do Derek e principalmente o Derek.

As minhas mãos se fecharam em punhos.

— O que você quer dizer com o pai do Derek e ele estarem me usando?

Ela sorriu triunfante, como se eu estivesse caindo na sua armadilha.

— Sério Vitória?! Vai me dizer que não percebeu?

O meu coração acelerou.

— O que eu não percebi? — Perguntei de uma vez, dava para perceber que
ela estava louca para me dizer.

Brace balançou a cabeça.

— Você achou mesmo que o Derek ia ser preso pelos vampiros? Ele sendo
o filho de quem é, com o treinamento que ele teve desde criança? Você realmente
achou que o filho do líder da resistência ia ser escravo dos vampiros, por um mês,
e ninguém ia fazer nada?

Eu me senti atordoada pelas palavras de Brace. Tudo o que eu tinha


acreditado até então parecia desmoronar diante da revelação.

O choque e a traição pulsavam dentro de mim.

— Mas... Isso não faz sentido. Por que eles fariam isso? Por que me
usariam dessa forma?

Brace soltou um riso de desprezo.

— Não é óbvio? Para controlar você, manipular suas emoções. Você é


especial, Vitória. Seu sangue é valioso e eles querem tirar vantagem disso. Derek
foi apenas um peão nesse jogo sujo.

Uma mistura de dor, raiva e confusão, tomou conta de mim. Olhei para ela,
sentindo a traição perfurar meu coração.

Meu peito doía de uma forma que não pareceu ser verdade.

— O que você está querendo dizer? — Não poderia ser verdade, poderia
ser só uma mentira vinda dela.

— Você é mais idiota do que imaginei. — Brace balançou a cabeça


inconformada, apenas fiquei esperando que terminasse de falar o que queria. —
Eu vou simplificar para você, você era o plano desde o início, o Derek foi
colocado dentro daquele castelo para te tirar de lá, você achou que era tão
especial, ao ponto dele está em um lugar com várias mulheres feitas de escravas,
e só você era especial? Nunca se perguntou por que ele queria apenas salvar
você? Lógico, tinha a sua amiga, mas ele fez isso porque sabia que você nunca
iria fugir e deixá-la para trás.
Engoli em seco sentindo as minhas pernas tremerem como se eu tivesse
recebido um soco no meu estômago, ela continuou me encarando.

— O que eles ganhariam com isso?

— O que mais? A sua confiança, lógico! Sua idiota, eles sabiam da carta
da sua mãe, se até eu sabia, imagina o Derek que é filho do líder.

As lágrimas encheram os meus olhos no mesmo momento, dei um passo


para trás, tentando equilibrar o meu peso sob as pernas.

As palavras de Brace reverberaram em minha mente, como uma melodia


desafinada que eu não conseguia ignorar. O choque e a dor foram incontroláveis.

Não podia acreditar que tudo aquilo era verdade. O homem que eu tinha
confiado, estava apenas cumprindo um papel em um jogo cruel e egoísta. Eu me
senti enganada, traída, e a raiva crescendo dentro de mim era avassaladora.

Meus olhos encontraram os dela, procurando qualquer sinal de negação, de


uma mentira nas palavras de Brace, mas o vazio em seu olhar confirmou o meu
pior pesadelo.

Brace se aproximou, seu sorriso sarcástico pairando em seu rosto.

— Deve estar se perguntando, o que eles ganhariam com isso, mas tenho
certeza de que, no fundo, você sabe, afinal, é o que todos querem, o seu sangue, o
poder que você tem, você é uma arma, por isso, todos querem te usar. No fundo,
eu sinto pena de você, o que é cômico. Se apaixonar pelo homem que está apenas
te usando, mas foi uma ótima ideia, tenho que admitir, afinal, eles precisavam
que você ficasse quieta, presa naquele lugar, o que melhor do que você se
apaixonar por ele, tudo que ele falava no final, você fazia, uma tola apaixonada,
era assim que muitos de nós te chamava.
Eu dei um passo para trás, a minha visão se nublou com as lágrimas que
caíram sem parar, o Derek me usou. Doía tanto que por um momento eu pensei
que iria cair de joelhos naquele chão.

Brace se aproximou de mim, eu estava tão quebrada, que não percebi até
que já era tarde.

Ela se aproximou balançando a cabeça para o que via, era como se


estivesse falando sem palavras: ... — como uma pessoa pode ser tão patética, por
se apaixonar por alguém assim?

— Por isso eu achei justo trocar a sua vida pela do meu irmão.

Eu a encarei no mesmo momento, eu ouço dois barulhos altos em seguida,


já ouvi tanto esses barulhos que já estava acostumada.

A minha garganta ficou seca quando eu percebi o que ela havia feito,
abaixei o olhar e vejo a arma que ainda estava apontada para a minha barriga, dei
um passo para trás, sentindo as pernas fraquejando, Brace respirava com
intensidade, ela atirou em mim, a constatação desse fato me fez ficar com medo,
coloquei a minha mão no lugar e sinto o sangue encharcando a minha blusa.

— Eu nunca gostei de você, e você sabe disso, mas quero que saiba que
não tenho nada contra você, era apenas a sua vida, ou a do meu irmão, e para
mim, a única pessoa que realmente importa neste mundo é ele.

Uma intensa dor percorreu meu corpo, meu coração batendo acelerado
enquanto eu tentava processar o que acabara de acontecer. O sangue escorria da
minha barriga, manchando cada vez mais minha roupa. Minhas pernas perderam
toda a força, e eu caí de joelhos, a dor se espalhando por todo meu ser.

Os olhos de Brace cintilavam com um misto de triunfo e indiferença. Ela


havia escolhido o irmão dela em vez de mim, e agora eu estava pagando o preço.
Sentia a dor pelo meu corpo a cada batimento cardíaco, cada respiração ficando
mais difícil.

Eu apontei a minha arma em sua direção e apertei o gatilho sem pena


alguma, mas nada aconteceu, eu tentei novamente, e novamente, Brace me
encarava.

— Você achou mesmo que eu iria te dar uma arma normal? Como eu te
disse antes, Vitória, você é muito inocente.

Minhas mãos começaram a tremer, e a mesma corrente elétrica conhecida


por mim, passou pelo meu corpo, e de repente a Brace foi jogada contra a parede
que estava atrás dela, caindo no chão, vejo sangue saindo do seu nariz e da sua
boca, eu fui dando passos até conseguir sair daquela casa, a minha visão estava
ficando escura, as minhas pernas fracas demais, mas eu precisava tentar,
precisava tentar fugir novamente, ela me vendeu para o Damon, tenho certeza
que ele deve estar chegando, segurei em uma árvore sentindo que ia cair a
qualquer instante, mesmo fraca, tentei chamar aquele poder dentro de mim, mas
não consegui, tinha conseguido entrar na floresta, sentia a minha roupa ficando
mais molhada a cada passo que eu dava.

Mesmo com a minha mão no local, tentando estancar o sangramento, mas


falhando miseravelmente. Eu continuei lutando, forçando meu corpo cansado a se
mover.

Cada passo era uma batalha, mas eu não podia desistir. A adrenalina corria
através das minhas veias, me dando forças temporárias para continuar.

Eu sabia que meu tempo estava se esgotando. Damon estava se


aproximando, seu olhar cruel e ameaçador pairando sobre mim. Eu sabia que se
ele me alcançasse, seria o fim. Eu tinha que ser mais rápida, mais astuta.
Os sons da floresta ecoavam ao meu redor, me deixando ainda mais
nervosa. A cada passo, eu esperava ouvir a voz de Damon me chamando, suas
risadas sinistras me perseguindo. Mas eu me concentrei em seguir em frente,
ignorando o medo que me consumia.

Eu precisava continuar meu caminho, mesmo que meu corpo estivesse


desmoronando. Com uma última olhada para trás, reuni toda a coragem dentro de
mim e continuei minha fuga.

Eu sabia que minha tarefa seria difícil, que minhas chances de


sobrevivência eram mínimas. Mas eu tinha que tentar. Eu não podia permitir que
Damon me controlasse.

Me aproximei de uma grande árvore, dava para ver as raízes saindo da


terra, fui em sua direção e me sentei, eu não conseguia mais andar, as minhas
mãos tremiam, estava sentindo tanto frio, mas tanto frio, a dor dilacerava o meu
corpo, fechei os olhos tentando não gritar, eu fui usada novamente, o meu
coração doía tanto, mais tanto, as lágrimas saíam e saíam, mais uma vez eu fui
usada, mais uma vez eu fui idiota, eu só queria que isso acabasse, já não estava
mais conseguindo suportar a dor de estar neste mundo, eu só queria que acabasse,
queria ver a minha mãe, eu queria ver a minha amiga, se eu morresse agora, não
vou mais sentir dor, se eu morresse ninguém nunca mais me machucaria.

Ouço um barulho de um galho se quebrando, quando abri os olhos eu o


vejo, ainda andava com a mesma graça que me lembrava, aqueles olhos azuis me
encarando, ele não tinha um sorriso, nos lábios, como eu imaginava que teria, a
minha respiração estava tão fraca, ele se aproximou se abaixando para ficar na
mesma altura que eu.

Damon levantou a sua mão e passou pelo meu rosto, eu não queria que ele
me tocasse, mas não tinha forças suficientes para impedi-lo.
— Você não faz ideia de como eu te procurei, você não imagina o que fiz
para finalmente tê-la novamente.

O meu peito subia e descia devagar.

Damon olhou para a minha barriga, e em seguida retirou a minha mão que
estava em cima do ferimento sem dificuldade nenhuma.

Ele balançou a cabeça ao me encarar.

E de repente eu sinto uma dor dilacerando carne e músculo, abaixei a


cabeça e o vejo enfiando os dedos no local que levei os tiros, gritei sentindo que
iria morrer a qualquer momento, olhei para ele que segurava duas balas na mão,
as balas que estavam dentro de mim.

Não estava mais suportando ficar com os olhos abertos, ia desmaiar a


qualquer momento, até que ele se aproximou de mim com uma seringa nas mãos,
se aproximou do meu pescoço e inseriu, sinto algo gelado, Damon aproveitou que
estava perto para sussurrar no meu ouvido.

— Este é o presente do seu pai.

Eu queria gritar, queria tentar lutar, mais uma vez tentei usar o poder que
eu sabia que se escondia em algum lugar dentro de mim, mas dessa vez nada,
nenhum tremor, era como se ele não existisse, e com isso, eu sucumbi à
escuridão, mas estranhamente, sentindo um calor envolvendo todo o meu corpo.
Capítulo 12
Me sentia estranhamente bem, não sentia dor alguma, me movimentei
sentindo um calor envolvendo o meu corpo, abri os olhos devagar e estava
escuro, tornei a fechá-los, ouvindo o som, de um coração, um pequeno sorriso
estava nos meus lábios quando percebi onde estava, envolvi a cintura do Derek
devagar, sentindo o seu corpo abaixo do meu, tinha um pequeno sorriso nos meus
lábios, quando ele passou a mão pelos meus cabelos delicadamente, foi apenas
um pesadelo, apenas mais um pesadelo, nada daquilo tinha acontecido.

— Está gostando? — Ouço uma voz grossa.

O meu corpo ficou rígido, as minhas mãos tremeram de medo, um medo


cru, eu sentia meu coração acelerando quando reconheci aquela voz.

Em um pulo, saí daquela cama o mais rápido que eu conseguia, uma luz
forte foi acessa, as minhas pernas tremeram quando eu percebi onde estava,
aquele cheiro, aquele lugar, olhei para a minha frente e vejo o Damon, deitado na
cama, a sua blusa social preta aberta, olhando para mim, os meus olhos se
encheram de lágrimas quando finalmente a ficha caiu, eu estava aqui novamente,
estava naquele maldito quarto novamente, com o demônio olhando para mim.
Meu coração disparou e o pânico tomou conta de mim. Eu sabia que não
poderia fugir, estava presa novamente naquele lugar horrível, com aquele homem
que me causava tanto terror.

Lutando para controlar minha respiração acelerada, olhei ao redor do


quarto em busca de uma rota de fuga. As paredes pareciam se fechar sobre mim,
as memórias dos momentos que passei aqui voltando à tona.

Eu queria gritar, pedir ajuda, mas sabia que ninguém viria. Este era meu
inferno particular, onde eu era a única vítima.

Meu peito subia e descia rapidamente, chamei o poder, fiz de tudo para tê-
lo de novo nas minhas mãos, com ele eu poderia sair daquele lugar, com ele eu
poderia lutar, mas nada aconteceu, absolutamente nada.

Engoli em seco ao ver o Damon se levantando e ficando na minha frente,


dei um passo para trás, não suportando ficar perto dele.

— Se você está tentando usar os seus poderes. Eu sinto muito, mas isso
será impossível, você se lembra do que sussurrei no seu ouvido, antes que você
desmaiasse? — Eu me lembrava, mas não queria acreditar. Não, não poderia ser
verdade. — O seu pai e um ótimo cientista Vitória, eu tenho que admitir, porque
se não fosse por ele, você poderia estar destruindo este castelo para poder escapar
novamente, mas graças a droga que injetei no seu pescoço há dois dias atrás, isso
não vai acontecer, você não poderá usar os seus poderes.

O encarei, não podia ser, não podia ser, as lágrimas rolaram pelo meu
rosto.

Ele deu um passo ficando na minha frente, o encarei sentindo o ódio


dominando cada parte do meu corpo, e de repente levantei a minha mão e dei um
tapa com toda a minha força no seu rosto, Danon não se moveu um milímetro
sequer. Pelo contrário, ele tinha um pequeno sorriso. Aquele maldito sorriso!
— Eu acho que merecia isso, não é mesmo?

O meu coração acelerou.

— A única coisa que você merece é morrer!

Damon sorriu passando a mão pelo meu rosto.

— Você não tem ideia de como eu senti falta da sua voz — Ele acariciava
o meu rosto, virei o rosto tentando fazer com que ele parasse. — Minha pequena
e doce Vitória.

— Vai se foder, eu não sou sua!

Damon ainda tinha um sorriso no rosto quando respondeu.

— Parece que você aprendeu palavras novas no seu tempo com a


resistência, não é mesmo? — Ele se aproximou segurando a minha cintura.

Com raiva e desespero, eu tentei me soltar dos braços de Damon, mas ele
era muito mais forte do que eu. Seu aperto ao redor da minha cintura era intenso,
e eu podia sentir sua respiração quente perto do meu ouvido.

— Oh, minha doce Vitória, você sempre foi minha e sempre será — ele
sussurrou, sua voz carregada de um misto de desprezo e obsessão.

Me senti impotente diante da situação, lutando contra as lágrimas que


ameaçavam escapar. Eu não podia acreditar que estava passando por isso
novamente, nas mãos desse monstro.

— Você é doente! — Gritei, minha voz carregada de indignação. — Você


nunca vai controlar a minha vida!

Damon soltou uma risada fria e cruel, seu rosto se aproximando ainda mais
do meu.
— Mas eu já controlo, minha querida. Você é minha.

A revolta dentro de mim crescia cada vez mais.

Eu não deixaria que ele me quebrasse, que me tornasse uma vítima


indefesa novamente. Eu precisava encontrar uma maneira de sobreviver, de
escapar dessa prisão mental.

Ele se afastou, como se não pudesse ficar muito tempo perto de mim, mas
naquele momento eu me lembrei do meu amigo, e engolindo o meu orgulho,
perguntei.

— O Léo está bem? — Eu precisava saber se ele estava bem.

— Você não mudou nada, continua se preocupando com as outras pessoas,


— Ele me encarou de cima a baixo. — Acho que você já tem problemas o
suficiente.

Engoli em seco sentindo os meus olhos arderem.

— Mas se isso vai fazer você se sentir melhor, irei te responder. Sim,
Vitória, aquele garoto está bem, provavelmente deva estar com a irmã neste
momento.

Brace! Veio a imagem dela no chão, o sangue saindo da sua boca, e do seu
nariz. Será que eu a matei?!

— Salvei aquela garota, se essa também é a sua preocupação, não poderia


deixar aquele garoto sem ninguém, afinal, eu tenho um coração muito bom.

A ironia na sua voz fazia com que o ódio aumentasse.

— Qual é o seu plano? Usar o meu sangue para fazer um exército como
você? O que você quer? — A minha garganta estava doendo.
— Um exército? — Ele perguntou olhando para mim, Damon balançou a
cabeça como se estivesse se sentindo ofendido pela minha pergunta. — Você
acha mesmo que eu daria esse poder para outro vampiro? Eu nunca tive isso em
mente.

— Então o que você quer de mim? — Damon observava atentamente


quando eu falava.

— O que você acha que eu quero de você? — Ele perguntou.

— O que mais? O meu sangue, sempre foi esse maldito sangue, ou você
acha que o desgraçado do Daniel veio apenas para me conhecer?

— Eu não quero o seu sangue, na verdade, eu não preciso mais dele, ou


ainda não percebeu, que estou muito mais forte do que da última vez que nos
encontramos. — Observei o seu corpo, ele estava mais forte com toda a certeza,
os seus cabelos com aquela cor escura, era como um lembrete do que ele era
agora — Não me coloque como tolo Vitória, eu sei muito bem o que o seu pai
quer, mas no momento eu preciso dele.

Dei um passo em sua direção, o meu rosto vermelho de raiva, apertando


uma mão em punho, sentindo o ódio me dominando.

— Ele não é o meu pai! — Afirmei apertando a mão ainda mais. Sentindo
as minhas unhas machucando a carne.

— Você sabe muito bem que ele é o seu pai, ou a sua mãe se enganou ao
narrar aquela carta?

Eu fiquei em choque no momento que ele falou da carta, estava tão


desesperada, que esqueci da carta, olhei as minhas roupas, e vejo que estou com
aquele maldito vestido branco, as roupas que eu estava usando tinham sumido.
Levantei o olhar encarando o Damon, que permanecia no mesmo lugar apenas
observando.
— Onde está a carta? — Ele não respondeu, segurei na sua camisa
apertando aquela peça de roupa, só imaginando como seria se fosse o seu
pescoço, Damon levantou uma sobrancelha com desinteresse ao retirar a minha
mão da sua camisa.

— Não precisamos de violência, não é mesmo? Achou que eu tinha


roubado, algo como uma carta? Você é mais inteligente que isso.

Damon colocou uma mão dentro do bolso da calça que estava usando e
retirou a carta de dentro, me entregando, segurei aquele pedaço de papel, o meu
coração se acalmando.

— Eu não quero que fique triste, você ainda não percebeu, eu estou apenas
te protegendo.

Era muita cara de pau para um monstro como ele.

— Me protegendo? Isso só pode ser piada, você nunca me protegeu,


apenas me quer por perto, porque sabe muito bem o que poderia acontecer se
outro vampiro tivesse o meu sangue, você só está me mantendo presa ao seu lado
por este motivo, não me faça rir, nós dois sabemos a verdade.

— A sua afirmação não é de toda mentira, tenho que admitir, mas me diga,
quem além de mim, poderia te manter em segurança? — Eu não respondi, e ele
sorriu. — O lixo da resistência, eu tenho certeza que não.

Só de lembrar da resistência, de tudo que aconteceu, das palavras da Brace,


fazia com que tudo voltasse com força, o sentimento de desespero e decepção por
ser usada novamente.

— Acho melhor você descansar um pouco, continua pálida pela perda de


sangue, eu venho te ver mais tarde, tenho muita coisa para resolver.

Ele estava quase chegando na porta quando eu falei.


— Me esqueci que agora você não é mais um príncipe, agora você é um
rei.

Damon se virou em minha direção.

— Sim, agora eu sou o rei, graças a você. — E saiu me deixando com mais
ódio.

Desgraçado! O que eu vou fazer? A minha garganta se fechou, e as


lágrimas que eu estava segurando transbordaram em meus olhos, me sentei na
poltrona, a mesma poltrona que costumava me sentar há três meses, mas que
agora parecia que foi em outra vida, abracei as minhas pernas sentindo o peso de
tudo que estava acontecendo.

Eu estava presa novamente, mas uma pergunta rodeava a minha mente,


alguma vez na minha vida eu fui livre? E a resposta veio logo em seguida.

Não!
Capítulo 13
As palavras da Brace ainda estavam frescas na minha memória, por que eu
acredito nas pessoas? Porque eu sempre sou idiota ao ponto de acreditar que
realmente alguém poderia gostar de mim.

Burra!... Burra! Apenas burra!

Não me levantei, fiquei naquela poltrona por tanto tempo que não fazia
ideia, algo ficava se repetindo a cada instante; o que eu ia fazer? Fugir? Tentar
fugir..., mas para onde eu iria? Eu não tenho para onde ir, não tenho nada, a
esperança estava caindo das minhas mãos como se fosse areia e infelizmente, o
tempo estava acabando, como o pouco de areia que ainda tinha.

A porta se abriu, não precisei virar o rosto para saber quem era,
provavelmente era o miserável do Damon.

— Você não se levantou desde o momento que eu saí? — Ele perguntou.

Não falei, o miserável!

— É o que parece, não é mesmo? — Queria apenas ficar quieta no meu


canto, somente isso, mas eu sabia que ele não iria deixar.
— Se vista com algo que você queira, hoje você vai jantar comigo.

Não levantei a cabeça. Fiquei na mesma posição.

— Não, muita obrigada! Dispenso. — Abracei ainda mais as minhas


pernas, com força.

— A sua convivência com aqueles rebeldes mexeu com a sua cabeça, ou se


esqueceu, eu não peço as coisas, eu apenas ordeno que os façam.

Já cansada de ficar na mesma posição, me sentei direito, o observei, mas


não fazendo questão de me levantar.

— E você já devia ter percebido que não sou muito boa em receber ordens.
— Suspirei ainda o encarando. — Estou pouco me fodendo para o que você quer,
ou deixa de querer.

Ele se aproximou.

— Eu sei, isso é uma das coisas que eu gosto de você, principalmente essa
língua atrevida que você tem. — Um pequeno sorriso ainda estava nos seus
lábios. — Tinha até me esquecido de como você adora me desobedecer.

— Eu não consigo nem olhar para você, a minha única vontade é te matar.
— Afirmei.

Damon se aproximou rapidamente, segurou meu braço com força me


fazendo levantar, ele estava perto demais, o meu peito subia e descia.

— Eu já te falei isso, mas vou repetir, vista alguma coisa, iremos sair daqui
a vinte minutos. — Não respondi, ele se aproximou a centímetros do meu rosto.
— Ou se preferir, eu posso te vestir, eu adoraria fazer isso.

Senti o ódio se espalhar dentro de mim diante das palavras dele. Minha
vontade de lutar contra ele só aumentava a cada segundo.
— Nunca! Nunca irei me submeter só porque você quer, se você pensou
por um minuto sequer que eu faria o que você quisesse, está completamente
enganado.

Damon sorriu de forma maquiavélica e soltou uma risada arrogante.

— Oh, minha querida, você pensa que tem escolha? Você está comigo
novamente, e farei o que quiser com você.

Minhas mãos tremiam de raiva enquanto eu o encarava intensamente.

— Você não é dono de ninguém! Você é um ser desprezível que não


merece nem o ar que respira!

Damon se aproximou de mim, segurou a minha cintura encostando o seu


corpo no meu, o seu cheiro invadiu todo o meu espaço, tentei respirar, mas com
ele tão perto era quase impossível. Ele sorriu ao perceber como o meu rosto
estava vermelho, o que me fez apertar os dentes uns nos outros.

— Você está bastante insolente, minha doce Vitória.

Com todas as forças que me restavam, eu levantei meu joelho e acertei no


meio das pernas de Damon. Ele soltou um gemido de dor e enfraqueceu um
pouco o aperto na minha cintura.

Aproveitando o momento de distração, consegui me soltar de suas mãos e


comecei a ir em direção do closet.

Eu o ouvi xingando e gemendo baixo.

Sabia que o que eu tinha acabado de fazer, provavelmente não ficaria


assim, mas já estava sem paciência, todas às vezes que ele se aproximou de mim,
veio com aquele maldito sorriso, talvez agora ele entenda que não vou mais me
submeter ao que ele quer.
Desgraçado! Fui até o closet e me surpreendi ao ver várias e várias roupas
femininas no local, tinha vestidos e mais vestidos, ignorei essa parte e procurei
algo mais confortável, achei uma calça preta, uma regata e o único par de tênis
que tinha naquele lugar. Achei logo em seguida peças íntimas, só de imaginar que
foi ele que escolheu essas coisas o ódio domina mais uma vez. Me amaldiçoando
por não colocar mais força na joelhada que dei nele.

Ao sair de lá, Damon ainda estava no quarto, o ignorei indo até o banheiro
e trancando a porta, eu sabia que isso não impediria se ele quisesse entrar, mas
por mais inútil que fosse, eu me sentia mais segura com esse gesto, me aproximei
do grande espelho que tinha aqui, ao me observar no espelho, eu vejo a garota
que estava me encarando do outro lado, o meu rosto estava pálido, e os olhos
vermelhos, eu suspirei já cansada de tudo isso, era como se tivesse um buraco
dentro do meu peito, a cada segundo os meus olhos se enchiam de lágrimas, mas
já estava cansada de chorar, eu estava realmente cansada de tudo.

Vesti aquela roupa, e me senti um pouco melhor, era engraçado de se


pensar que apenas uma calça ia fazer com que o meu humor mudasse um pouco,
me sentia mais à vontade, me sentia mais protegida, eu sei que era algo inútil,
mas era assim que me sentia, lavei o meu rosto, a água mais fria do que imaginei,
limpei o rosto e saí daquele banheiro.

Ele ainda estava no mesmo lugar, me esperando, Damon me encarou de


cima a baixo.

— Escolha interessante de roupa.

— Esperava que eu fosse me vestir como uma boneca?

Damon se aproximou segurando a minha mão, virei o rosto para o outro


lado, ele apertou a sua mão na minha e saímos do quarto, o lugar permanecia o
mesmo, não tinha mudado nada. Os corredores estavam vazios.
— Eu não espero que você se vista como uma boneca para mim, na
verdade, pouco me importo com o que você veste Vitória.

Um pequeno sorriso de escárnio apareceu no meu rosto.

— Engraçado, me lembro muito bem das roupas que você me obrigava a


usar.

— Aquelas roupas eram necessárias, principalmente naquela época.

— Necessárias? Com certeza era necessário colocar uma roupa na sua


escrava, a deixando praticamente nua para que todos a observassem, não é
mesmo?

Ele sorriu.

— Todas as garotas vestiam bem menos roupas do que você naquela


época, acho que você deveria me agradecer por ser melhor do que os outros, você
não acha?

Desgraçado! Demônio!

— Você deveria me agradecer por não ter te matado, essa é a verdade. —


Afirmei.

Ouço o som daquele sorriso com deboche vindo dele.

— Acho que você esqueceu das minhas palavras naquela época, mas vou
refrescar a sua memória, você é inútil demais para conseguir isso, me diga, em
três meses que você teve a sua tão esperada liberdade, o que você fez em relação
ao poder extraordinário que possui?

Eu não respondi, sinto um calor subindo pelo meu pescoço.


— Como eu disse... inútil, e muito burra, você quer tanto parecer normal
que esqueceu que não é, você nunca foi normal, e nunca vai ser, se você
começasse a colocar isso nessa cabeça, talvez não estaria novamente nessa
situação. Não adianta uma pessoa ter poder, se ela é inútil demais para usar.

A minha garganta se fechou com o seu comentário, sinto as minhas mãos


tremendo de ódio.

— Apenas um poder extraordinário desperdiçado, em uma garota inútil e


burra.

Ele provocou mais uma vez.

— Você deveria agradecer, se eu tivesse controle deste poder que você


tanto fala, você já estaria morto há muito tempo.

Paramos em frente a uma porta, ele se virou para mim, os seus olhos
brilhando por saber que tinha conseguido tirar o pouco de paciência que ainda me
restava.

— Sim, eu estaria, mas isso não aconteceu, e você está aqui novamente, ao
meu lado, como no início. — Ele se aproximou do meu ouvido. — Não ache que
esqueci o que aconteceu naquele quarto, isso vai ter volta.

A porta se abriu e entramos, o meu coração ainda acelerado pelas suas


palavras, eu estava sentindo ódio, um ódio que fazia todo o meu corpo vibrar,
mas, no fundo, mesmo não admitindo, eu sabia que aquele demônio estava certo.
Capítulo 14
O salão estava do mesmo jeito que eu me lembrava, quando eu pisei os
meus pés pela primeira vez neste castelo, o local que aquela vampira me deu de
presente para ele, era como se estivesse acontecendo um flashback na minha
frente, as meninas do meu lado, o medo do que ia acontecer, as palavras de alerta
da Sofia, só de lembrar da minha amiga, só de lembrar do seu rosto gentil, e logo
em seguida, do seu rosto todo machucado naquele salão, balancei a cabeça
tentando não pensar naquela cena.

Uma mesa estava impecavelmente arrumada com uma variedade de pratos


diferentes em cima, vejo dois guardas no canto, olhando para nós, não tinha mais
ninguém aqui, Damon ainda segurava a minha mão, me levando até mais
próximo à mesa, e de repente a porta se abriu, vejo dois homens se aproximando,
o primeiro parecia jovem, era como se tivesse uns dezenove anos, ele me encarou
com interesse, mas o que mais chamou atenção, foram seus cabelos, sinto uma
pressão no estômago ao perceber, o seu cabelo era branco, era igual ao do Damon
antes de tudo acontecer, o outro homem era mais alto, ele se aproximava
lentamente, seus olhos em momento nenhum se desviaram de mim, era como se
ele quisesse gravar o que via na mente, cada detalhe, eles se aproximaram,
ficando na nossa frente.
— Acho que você já percebeu quem é esse. — Era o irmão do Damon,
dava para ver a semelhança entre eles, mas o que estava me deixando curiosa, era
o motivo dele estar aqui, se não me engano ele estava em um lugar bem longe.

Ele se aproximou pegando na minha mão, eu senti o frio do seu toque


quando ele levou a minha mão aos lábios e a beijou, sem tirar os olhos de mim.

— É um verdadeiro prazer, finalmente te conhecer Vitória, meu nome é


Alastor, como deve ter percebido, sou o segundo príncipe.

Não falei nada, ali, diante de mim, estava mais um membro dessa família
maldita, se ele estivesse naquele salão há três meses, provavelmente agora seria
apenas pó, que pena que ele não estava.

O outro homem me encarava tão intensamente, que aquilo já estava me


deixando desconfortável, era um olhar tão estranho que causava arrepios por todo
o meu corpo.

Ouço a voz do Damon ao meu lado.

— Você não reconheceu a semelhança? — Ele perguntou, mas não


respondi, que semelhança esse infeliz estava falando. — Este é Daniel Vitória, o
seu pai.

As minhas pernas falharam assim que essas palavras saíram da boca do


Damon, e tudo que estava escrito naquela carta, passou pela minha cabeça, tudo
que ele fez para minha mãe, avancei em sua direção querendo matá-lo, mas o
Damon segurou na minha cintura, me impedindo de chegar até ele, eu xingava,
esperneava tentando me soltar, o meu peito subia e descia tão rapidamente, eu só
queria matá-lo.

— Acho que não vou receber um abraço da minha filha, pelo que estou
vendo.
Ele falou calmo como se não estivesse vendo meu ataque de fúria, tentando
me aproximar dele.

— Seu desgraçado! Eu te odeio, eu vou te matar, eu juro! Eu vou te matar!

Gritei as palavras em sua direção, o irmão do Damon permaneceu quieto,


apenas observando a cena se desenrolar na sua frente.

— Qual o motivo dessas palavras, filha! Você deveria me agradecer, é


linda, e ainda tem um poder incrível, graças a mim.

— Eu não sou a sua filha! Seu desgraçado, eu nunca fui sua filha. Você
enganou a minha mãe, a usou para o seu plano, seu infeliz!

Ele teve a coragem de me encarar como se estivesse ofendido com as


minhas palavras. Miserável!

— Eu nunca usei a sua mãe, ela me amava. — Ele falava calmamente


como se estivesse falando com uma criança.

Isso já era demais!

— Ela foi enganada por você! — A minha garganta já ardendo de tanto


gritar. — Me solta Damon! — Tentei tirar as mãos do Damon da minha cintura,
mas não consegui, ele era forte demais.

— Se eu te soltar, o que você acha que vai fazer? — Ouço a sua voz no
meu ouvido.

— Eu vou matá-lo. — Afirmei, tentando me soltar novamente.

— Acho que já tivemos essa conversa, você não consegue matar ninguém,
e isso é apenas culpa sua. Não irei terminar algo que você começou, só porque
você não tem capacidade suficiente para terminar.
Eu parei de tentar tirar os braços do Damon da minha cintura, a minha
respiração foi se normalizado, quem eu estava querendo enganar, eu não iria
conseguir nem chegar perto dele, não iria conseguir fazer nada. Ele estava certo.

— Assim está melhor. — Damon falou e logo em seguida me soltou.

— Nossa! — O irmão do Damon falou animado. — Que encontro


interessante. O que vocês acham de começarmos a comer agora, eu estou
morrendo de fome.

Não respondi, eu não estava conseguindo pensar direito, Damon se sentou


na ponta da mesa, me fazendo sentar do seu lado, eles começaram a comer e a
conversar entre si, eu fiquei em silêncio, só queria que aquilo acabasse para que
eu pudesse sair daquele lugar o mais rápido possível, não toquei na comida, não
consegui comer nada, só de saber que ele estava naquele lugar, sentado na mesma
mesa que eu, a poucos passos de distância, e não poder fazer nada, eu não podia
fazer nada, o meu poder sumiu, eu nunca me senti mais inútil do que naquele
momento.

Me desculpa mãe! Essas palavras se repetiram na minha mente durante


todo o tempo que permaneci naquele lugar.

Ao chegar no quarto, me deitei na cama sentindo o meu corpo doendo, me


cobri ficando quieta no meu lugar, sem mover um músculo sequer. Ouço o
barulho do meu lado, no momento que Damon também se deitou.

— Por que você o mantém aqui? — A minha voz era baixa.

— Ainda preciso dele, esse é o motivo.

Eu queria sorrir.

— Você leu a carta, sabe muito bem o que ele queria, e está dando isso a
ele.
Ouço o barulho do seu corpo se mexendo no colchão, sinto o calor do seu
corpo contra as minhas costas, Damon estava perto demais de mim, e quando ele
segurou no meu ombro me fazendo virar em sua direção, encarei o seu rosto
próximo do meu.

Damon me encarava, levantou a mão tocando o meu rosto, o meu coração


acelerou.

— Você sabe muito bem que não vou deixar ninguém te tocar, ele está me
sendo útil, no momento que ele deixar de ser, ele estará morto.

Sua respiração se chocou com a minha. Eu não acreditava em uma única


palavra vinda dele.

Me virei novamente para o outro lado, eu não queria olhar para o seu rosto.
Capítulo 15
Já se passaram uma semana desde que tive aquele encontro com Daniel,
mas depois daquele dia eu não o vi novamente, estava sentada do lado da fonte
naquele jardim que eu conhecia muito bem, observava a água cristalina, me
perguntava onde estavam as garotas que também eram mantidas aqui, sabia que a
única pessoa que teria essas respostas, era o Damon, mas também sabia que não
poderia confiar nessas respostas vinda dele.

Olhei para o céu, o sol estava no alto, brilhando interessante, fechei os


meus olhos sentindo o calor no meu corpo, tudo aqui me fazia lembrar da Sofia, e
infelizmente do Derek, eu prometi para mim mesma que não ia ficar me
lembrando dele, chorei tanto naquele banheiro, me torturando por ser tão idiota,
que aos poucos não conseguia mais chorar.

Ouço passos, abri os olhos e vejo o Damon andando em minha direção, o


sol iluminando cada passo que ele dava, ainda parecia mentira, por minha culpa
ele podia andar livremente sobre a luz do sol.

Ele parou na minha frente me encarando.

— Se levanta, você vai a um lugar comigo.


Estranhei, desde que ele conseguiu me trazer novamente, não saí deste
castelo, não questionei, apenas me levantei o acompanhando.

Passamos pelos corredores infinitos do castelo, até que estávamos em um


lugar escuro, Damon acendeu a luz revelando o local, era uma garagem, tinha
vários carros no local, Damon andou em direção a um deles, parou e me
observou.

— Entre. — Ele ordenou, apenas obedeci, entrando no carro e me


sentando.

Ele deu a volta e se sentou, ligou o carro e saiu, o carro se movimentava


pela garagem até que saímos, o sol estava forte, passando por um lugar com
bastante árvores, por uns dez minutos, nada da cidade, era como outra rota que
não precisava passar pela cidade.

Não questionei o local que ele estava me levando, eu não estava mais
cercada pelas paredes do castelo, e isso me dava uma falsa sensação de liberdade.

Ele dirigia em silêncio total, observava a paisagem por onde passávamos,


já estávamos naquele carro por muito tempo, até que paramos em um lugar com
grandes árvores.

Damon abriu a porta e saiu, eu fiz o mesmo, andei ao seu lado até
pararmos em um lugar que tinha uma grande árvore de cerejeiras, a árvore estava
cheia de flores, as pétalas caiam quando o vento batia, eu sentia o cheiro doce do
perfume das flores, perto do tronco da árvore tinha um pequeno banco de
madeira, tudo isso era bastante estranho, porque ele iria me trazer em um local
como esse.

Minhas respostas foram respondidas quando me aproximei mais um pouco


e vejo duas lápides, uma ao lado da outra, o meu peito doía no momento que li o
que estava escrito, os meus olhos estavam cheios de lágrimas, em uma estava
escrito o nome da minha mãe, e na outra o da minha amiga, senti as minhas
pernas falhando, era o túmulo delas. Olhei para o Damon que permanecia do meu
lado, a minha visão já completamente nublada, pelas lágrimas.

— Eu achei que você gostaria de ter um lugar calmo para conversar com a
sua amiga e sua mãe, por isso eu peguei os corpos delas e enterrei neste local.

O meu peito doeu, dei uns passos ficando na frente das duas lápides.

— Você conseguiu o corpo da minha mãe. — A minha voz falhou, eu sabia


que o corpo da Sofia tinha ficado no chão em frente àquele maldito trono, mas o
da minha mãe, o da minha mãe tinha ficado naquele lugar, quando tentamos fugir.

— Sim, Vitória, eu peguei o corpo da sua mãe e enterrei, todos merecem


ter um lugar digno para o seu descanso eterno.

Eu não respondi, as lágrimas molhavam o meu rosto, eu sentia uma


pressão tão forte no meu peito, eu odiava saber que ela não teve um enterro
decente, eu pensei que o corpo da minha mãe estaria em alguma vala qualquer.

— Te deixarei sozinha, estarei no carro. — E com isso ele saiu, não


suportando o peso do meu corpo, caí de joelhos diante das lápides das duas
pessoas mais importantes da minha vida, e ali, sentindo o cheiro das flores de
cerejeiras, eu chorei.

Senti uma mistura de tristeza e raiva consumirem todo o meu ser. Fiquei
ajoelhada ali, diante das lápides, encarando os nomes de minha mãe e de Sofia
gravados nelas, as lágrimas descendo sem controle pelo meu rosto. Era uma dor
insuportável, a sensação de que minha vida estava desmoronando.

Minha mãe não merecia aquele fim. E Sofia, uma pessoa tão jovem e cheia
de vida, não deveria ter tido seu destino tragicamente interrompido.
Meu coração se partia em mil pedaços, sentia-me impotente diante de tudo
aquilo.

Fiquei tanto tempo naquele lugar, eu chorei tanto, mas também sentia um
alívio por ter um lugar como esse, arranquei ramos da cerejeira e depositei nos
túmulos da minha mãe e da minha melhor amiga, quando saí daquele lugar eu
prometi voltar novamente.

Entrei no carro e o Damon não falou nada, ele ligou o carro e saímos,
voltando para o castelo.

Ao chegar no quarto eu senti um alívio dentro do meu coração.

No dia seguinte vejo que o Damon entrou na biblioteca e ficou lá por um


tempo, quando ele saiu, já era quase seis horas, estava sentada no sofá com o
livro que estava tentando ler há uma semana, mas não conseguia prestar atenção
na história.

Ele se aproximou ficando na minha frente, levantei a cabeça o encarando.

— Hoje terá um baile aqui no castelo, e você irá comigo. — Ele informou,
apenas ignorei, eu em um baile, parecia até piada

— Eu não irei a um baile, você pode ir, eu ficarei quieta aqui.

— Você vai comigo, pode ir tomar um banho, daqui à meia hora virão duas
humanas para te ajudar a se arrumar.

Ele deu as costas e saiu do quarto me deixando no mesmo lugar.

Eu sabia que nada do que eu falasse ia fazê-lo mudar de ideia, só de me


imaginar em um baile cheio de vampiros fazia o meu estômago embrulhar de
nojo, deixei o livro em cima do sofá e entrei no banheiro, sentindo o meu corpo
pesado ao entrar debaixo do chuveiro, a água estava quente, fiquei ali naquele
lugar por muito tempo, quando saí do banho usando um roupão branco, eu vejo
duas mulheres paradas me encarando, elas eram humanas.

— Precisamos começar. — A mais velha falou me fazendo sentar na


cadeira em frente a um espelho, ela secava os meus cabelos, eu apenas deixei que
fizesse o que queriam, a mais nova passava algo nas minhas mãos e pernas, era
algo com o cheiro doce, um óleo, a mais velha fazia um penteado nos meus
cabelos, fiquei parada só esperando que acabasse, quando ela terminou, a mais
nova começou a passar várias coisas no meu rosto, eu sabia que era maquiagem.

Quando elas terminaram, me ajudaram a vestir um vestido grande e preto.

Quando ela terminou de puxar as fitas do espartilho com força, me


deixando quase sem ar, me virei olhando para o espelho, a pessoa que refletia ali
parada com o rosto levemente vermelho não se parecia em nada comigo, elas
tinham feito um penteado, uma trança em cima entrelaçada aos meus cabelos
com um fio dourado, com pérolas negras e brancas formando uma espécie de
tiara, deixando o restante do cabelo solto em cachos definidos, o meu rosto estava
impecável, uma sombra preta com pequenos pontos de dourado, a minha boca
tinha um batom rosa-claro.

Tudo aquilo parecia algo surreal, o vestido preto tinha um espartilho que
apertava intensamente a minha cintura, o tecido preto da saia do vestido com
pequenos cristais que brilhavam a cada movimento que eu dava, uma fenda na
lateral mostrando toda a minha perna até o alto da minha coxa, ainda estava
olhando para aquele reflexo, quando a moça mais nova trouxe em suas mãos um
par de sapatos, mas para minha surpresa, ele tinha um pequeno salto quadrado,
quando eu o coloquei, não me senti desconfortável ao andar.

Ainda estava em pé quando a porta se abriu e vi o Damon entrando, as


duas mulheres baixaram a cabeça e saíram em silêncio.
Ele se aproximou me encarando, eu continuava olhando para o espelho,
Damon se aproximou das minhas costas, observei o seu reflexo junto ao meu,
Damon estava com uma roupa toda preta, em cima da sua cabeça tinha uma coroa
dourada, incrustada com pedras vermelhas, o meu corpo se arrepiou no momento
que ele aproximou a sua mão do meu pescoço, colocando um colar com uma
pequena pedra vermelha da mesma cor das que estavam na sua coroa.

Ele terminou de colocar, os nossos olhares se encontraram no reflexo, sinto


o meu pescoço se esquentando a cada segundo

— Você está linda, incrivelmente linda. — Damon segurou no meu braço


me fazendo virar em sua direção.

Eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Damon, com sua


aura poderosa e obscura. Seu toque no meu pescoço fez com que um arrepio
percorrer todo o meu corpo. Era como se aquele gesto tivesse um significado a
mais, algo que eu não conseguia compreender completamente.

Enquanto nossos olhares se encontravam no espelho, sentia a intensidade


do momento. Era como se houvesse uma conexão inexplicável entre nós. Algo
que ia além das palavras, e aquilo estava me deixando nervosa demais.

Quando Damon me puxou para virar em sua direção, senti uma mistura de
emoções tomando conta de mim. Meu coração batia mais rápido e uma sensação
estranha no estômago me invadia.

Sua voz rouca ecoou em meus ouvidos, fazendo com que eu me perdesse
ainda mais em seu olhar .

— Não saia do meu lado hoje à noite. — Aquelas palavras ecoaram em minha
mente.
Capítulo 16
Meus passos falharam quando eu coloquei meus pés novamente na sala do
trono, o lugar estava mais iluminado do que imaginei, olhei para o teto e o vejo
intacto, o lugar estava um pouco diferente, minhas mãos tremeram me lembrando
da última vez que estive aqui, as pessoas se afastaram quando viram Damon
entrando, os olhares na minha direção, os sussurros vindos de todos os lugares,
tinham várias pessoas e vampiros misturados na multidão.

Barulho de taças se misturava à melodia baixa que estava tocando.

Damon me levou para um lugar perto de onde estava tocando. Ele parou e
se virou na minha direção, o meu corpo tremeu quando ele colocou a sua mão na
minha cintura fazendo o meu corpo encostar no dele.

— O que você está fazendo? — Sussurrei tentando me afastar.

— Você vai dançar uma música comigo. — A sua mão ainda na minha
cintura, me mantendo no lugar.

— Vai sonhando, eu não sei dançar.


Ele sorriu.

— Basta me acompanhar Vitória, não é tão difícil assim.

— É difícil sim.

Os olhares de todos estavam em nós, ouço a melodia que recomeçou. Eu


não sabia dançar, não fazia ideia de como começar, esse infeliz deve estar louco.

Ele segurou na minha cintura com mais força, colocou a minha mão no seu
ombro, A outra ele segurou com força, o que estava acontecendo, não sabia o que
fazer, Damon começou a se movimentar quase me tirando do chão, ele se
movimentava como se estivesse flutuando naquele salão, tentei o meu melhor,
estava tropeçando nos meus próprios pés, mas a mão dele na minha cintura
impedia que isso acontecesse.

Meu peito pulsava ao som daquela música, em algo que pensei que nunca
iria fazer, dançar com o Damon em um salão repleto de vampiros e humanos.

Enquanto Damon me conduzia pelo salão, eu me sentia completamente


perdida e desajeitada. Meus passos eram incertos, minhas pernas balançavam
desengonçadas, mas ele parecia não se importar. Sua expressão era tranquila, e eu
podia ver a diversão em seu olhar. Ele estava se divertindo, miserável! Respirei
fundo tentando não tropeçar e cair de cara no chão, mas, não sei explicar ao olhar
para ele, por alguma razão tinha certeza que ele não me deixaria cair.

Apesar da minha falta de habilidade, Damon continuou me guiando com


paciência, ajustando seu ritmo ao meu. Seus movimentos eram fluidos e
graciosos, como se ele tivesse nascido para dançar. Era quase surreal vê-lo flutuar
pelo salão, como se estivesse em um lugar totalmente único.

Enquanto lutava para acompanhar, percebi que a dança não se tratava


apenas dos passos certos. Era uma comunicação silenciosa entre dois corpos. Mas
o que mais me deixava em pânico era porque estava conectada a ele?
A música continuava a tocar, e eu podia sentir a energia de julgamento por
todos. Os olhares curiosos e surpresos.

Damon me girou com suavidade, fazendo-me sentir como se estivesse


voando. Eu me entreguei àquela dança improvável, com um companheiro que me
causava medo.

Quando a música terminou, eu agradeci internamente, ouço o barulho dos


vampiros conversando entre si, Damon segurava na minha mão, eles olhavam
para o Damon e eu pude perceber medo.

Damon continuava segurando minha mão com firmeza demonstrando sua


presença ao meu lado. Parecia que sua posição de liderança e poder causava
desconforto e apreensão entre os presentes. A tensão estava palpável no ar, e eu
me sentia cada vez mais desconfortável.

Enquanto caminhavam em direção ao trono, minhas pernas tremiam e


ameaçavam falhar a cada passo. Eu sabia que aquele lugar representava
autoridade. Mas a única coisa que eu sentia era dor, eu não queria estar perto do
lugar que a minha amiga morreu!

Lágrimas começaram a encher meus olhos, mas Damon continuou me segurando


com firmeza. Eu estava ao seu lado quando ele se sentou naquele trono maldito.
Os olhares de todos no salão estavam focados em nós, aumentando minha
sensação de vulnerabilidade.

Engoli em seco, tentando controlar a inquietação e o medo que me consumiam.


Eu era apenas uma humana em meio a vampiros poderosos, que queriam apenas
uma coisa, o sangue que corria em minhas veias.

Olhando para todos naquele salão o meu único pensamento era como eu queria
poder matar um por um, não restando nenhum vampiro naquele lugar.
Olhei para o local onde a Sofia morreu, a cena dela caída no chão, o
sangue ao seu redor, tudo veio com força, a minha respiração ficou irregular, eu
não estava mais suportando o próprio peso do meu corpo, o meu coração estava
acelerado, e de repente eu sinto a mão do Damon me puxando, ele me sentou nas
suas pernas, o encarei por um segundo, eu sabia que os meus olhos estavam
cheios de lágrimas, abaixei o olhar, mas a imagem da Sofia permaneceu na minha
frente, como se fosse um lembrete de mais uma coisa que perdi.

Senti a mão de Damon repousando no alto da minha coxa, a pressão era


forte e dolorosa. Um arrepio percorreu meu corpo com o contato daquela mão na
minha pele, enquanto ele apertava com força, senti a dor me fazendo estremecer.

Ainda com a respiração acelerada, eu lutava para permanecer controlada


diante daquela dor. Sabia que não podia demonstrar mais fraqueza perante todos
daquele salão. A presença dos vampiros, seus olhares curiosos e julgadores, só
aumentava a pressão sobre mim.

Eu resistia, não apenas a dor física que a mão dele causava no meu corpo,
mas também ao ódio que me dominava. Naquele momento o meu corpo e mente
eram testados ao limite. Seria fácil ceder a fragilidade e ao desespero, mas eu me
forçava a permanecer viva, para ter a minha vingança.

O contato doloroso persistia, mas eu buscava uma maneira de me


desconectar da dor física. Olhei para o rosto do Damon. Seu olhar parecia
carregar um misto de dureza e desafio, como se quisesse testar minha resistência.

Engoli em seco, a dor de perder a minha melhor amiga estava no meu


coração como se fosse uma mancha, e está no local que ela foi morta, trazia tudo
de volta, mas pode parecer estranho, mas a dor que o Damon causava no meu
corpo eu usei como uma corda, me segurei naquela sensação de dor, era a melhor
opção para não desabar perante todos.
Mantive minha postura ereta, meu olhar fixo à frente , ignorando os
olhares ao meu redor. Eu era mais forte do que aquele aperto, mais forte do que
qualquer dor física que pudesse me atingir. E ali, naquele momento, eu encontrei
uma força interior que podia me ajudar a concentrar o meu ódio e dor em um
ponto específico no salão.

Enquanto o salão na minha frente estava cheio de movimento, no meu


coração conviviam com o ódio e o desespero. Eu via Daniel conversando
despreocupadamente com o segundo príncipe, como se não tivesse destruído a
minha vida, eu queria matá-lo. O seu sorriso despreocupado, ao erguer a taça em
minha direção, despertou uma onda de raiva e tristeza dentro de mim.

Apertei minha mão em punho, tentando controlar a minha frustração e dor.


Meu coração martelava no peito com tanta força que parecia que a qualquer
momento ele fosse parar. Daniel representava uma parte da minha vida que tinha
sido arrancada de mim, e sua presença ali, naquele salão, desencadeou
lembranças dolorosas. Ele estava ali, enquanto a minha mãe tinha morrido.

Desviei o olhar, procurando algum refúgio em meio ao caos emocional. Eu


precisava encontrar uma forma de lidar com tudo que estava dentro de mim, o
ódio estava me consumindo. Eu o odiava, queria matá-lo com as minhas próprias
mãos, mas também sabia que não conseguiria fazer isso naquele momento.

Eu apenas fingi, mantive minha postura firme, como se nada daquilo me


afetasse. Mesmo sabendo que tudo que eu queria era uma vontade silenciosa de
buscar a minha vingança e encontrar uma maneira de fazer com que se tornasse
realidade, mesmo que para isso significasse enfrentar um mundo repleto de
vampiros querendo o meu sangue.

De repente, Damon se levantou, me fazendo acompanhá-lo, passamos por


trás do trono, eu não sabia que tinha uma porta naquele lugar, ele não falou nada,
apenas mantinha a sua mão segurando na minha a cada passo que eu dava, sentia
a minha perna doendo do esforço que eu estava fazendo, ele andava na frente, eu
estava atrás, praticamente correndo para tentar acompanhá-lo.

Até que chegamos no quarto, entramos, meu peito subia e descia pelo
esforço de tentar acompanhar Damon, ele me encarou.

Pensei que iria xingar, ou até mesmo fazer qualquer outra coisa, mas eu
não estava preparada para o que iria fazer, as minhas mãos tremeram no momento
que ele se abaixou, colocando um joelho no chão na minha frente, eu olhava para
ele ajoelhado na minha frente, não sabia o que fazer, não sabia o que falar, até
que eu sinto a sua mão na minha perna, olhei para o local que ele colocou a mão
e vejo a minha pele em uma mistura de azul e roxo ao redor vermelho, me
lembrei dele apertando com força, para que eu prestasse atenção somente na dor
que ele causava, aquilo fez com que a imagem da Sofia morta na minha frente
desaparecesse.

Um calor emanava da sua mão, naquele momento observei o quarto e


depois Damon, que ainda prestava atenção em me curar.

— Porque permaneceu neste quarto, se você se tornou rei? — Damon


levantou a cabeça, seus cabelos negros estavam jogados nos olhos, aqueles olhos
incrivelmente azuis me observavam, era como se ele pudesse ver a minha alma.

— Eu sabia que você não iria conseguir ficar no quarto do rei, por isso
decidi permanecer neste.

Damon se levantou ainda me encarando, o que estava acontecendo? Ele


ficou neste quarto porque sabia o que tinha acontecido com a minha amiga
naquele quarto com o rei!

Essa constatação foi como um peso nos meus ombros, eu não estava
conseguindo olhar para ele, algo estava errado comigo, por que não estava
conseguindo olhar para ele? O que estava acontecendo comigo?

Damon segurou na minha cintura aproximando o meu corpo do dele, o seu


corpo quente e forte pressionado no meu, as minhas mãos tremiam no momento
que ele colocou o meu cabelo para trás, ele aproximou o seu rosto do meu
pescoço, ele iria me morder? Desde o momento que me trouxe para este lugar
novamente, ele não tinha se alimentado, por um momento eu tinha me esquecido
deste detalhe, que idiota eu sou, a sua respiração no meu pescoço.

— O que você vai fazer? — Questionei sentindo o meu corpo vibrando de


um jeito estranho.

— O que você acha que irei fazer?

Não respondi, eu sabia muito bem o que ele iria fazer, fechei os olhos só
esperando a dor dominando cada parte do meu corpo.

Mas isso não aconteceu, Damon se aproximou beijando o meu pescoço, eu


abri os meus olhos em choque.

Damon se afastou de mim.

— Por que você não me mordeu?

Ele me encarou com um pequeno sorriso nos lábios.

— Você quer que eu te morda? —- Ele sussurrou com uma voz rouca,
enviando arrepios pela minha coluna. Seus lábios roçaram suavemente na minha
pele, enviando ondas de eletricidade através de mim. Minha respiração se tornou
irregular e a minha mente entrou em um turbilhão de pensamentos.

Engasguei-me com a sua pergunta, o meu rosto ficando ainda mais


vermelho.
— Claro que eu não quero que você me morda. — Afirmei sentindo o meu
rosto pegando fogo, por algo que eu jurava ser vergonha.

— Eu não preciso mais me alimentar de sangue Vitória.

Levantei uma sobrancelha olhando para ele.

— Mas… como?!

— Desde o momento que você conseguiu fugir, eu não precisei de sangue


para sobreviver, acho que isso é mais um dos efeitos do seu sangue.

Eu não falei mais nada, era muita informação para uma única noite, a
minha cabeça estava cheia de novas informações, estava cheia de perguntas.

Damon se aproximou tão rapidamente, ou eu estava muito ocupada com os


meus pensamentos que não percebi que ele se aproximou, pensei que ele fosse
me abraçar, o meu corpo ficou tenso quando se aproximou, mas diferente do que
pensei que fosse fazer, ele segurou cada ponta da fita do espartilho que estava
usando e desfez o laço, o espartilho no mesmo momento ficou mais confortável
por não está mais preso.

— Acho que assim será mais fácil de você conseguir tirar este vestido. —
A sua voz próxima do meu ouvido.

Não respondi, precisava sair de perto do Damon, me afastei indo até o


closet, ainda conseguia ouvir o som do meu coração acelerado nos ouvidos,
peguei uma roupa confortável e fui direto para o banheiro, evitando olhar em sua
direção.

Respirei profundamente quando estava no banheiro, tirei aquele vestido e


coloquei a roupa que eu havia pegado, olhei para o meu reflexo no espelho, em
seguida lavando o meu rosto, tentando tirar aquela maquiagem, fiquei mais
tempo do que imaginava ao tentar desfazer aquele penteado, quando terminei, um
peso enorme saiu dos meus ombros.

Ao retornar para o quarto, Damon não estava no lugar de antes, até que eu
vejo a luz da biblioteca acessa. Me aproximei da cama e me deitei, mas a imagem
do Damon de Joelhos na minha frente, inundou os meus pensamentos. Abracei o
travesseiro tentando dormir, mas eu sabia que isso não ia acontecer.
Capítulo 17
Naquela manhã estava no carro novamente com o Damon, mais uma vez
como companheiro.

Tudo que aconteceu ontem ainda estava fresco nos meus pensamentos.
Não estava querendo pensar no que aconteceu, mas os pensamentos vinham com
uma onda. Eu não sabia para que lugar estávamos indo, poderia ser novamente
para a árvore de cerejeira, eu não sabia, desde o momento que acordei, ele apenas
me disse para vestir algo confortável, porque sairíamos em poucos minutos, e
aqui estamos nós, mais uma vez em um carro.

O lugar era diferente de antes, por isso tive certeza de que não iríamos
visitar os túmulos da minha mãe e da Sofia. Depois de quase trinta minutos, o
carro parou em um lugar estranho, um muro enorme cercava o local, ao abrir os
portões de ferro eu observava uma fazenda enorme.

Eu tinha tantas perguntas, que lugar era esse? Por que ele me trouxe para
uma fazenda?

O carro parou e saímos, observava cada canto com tantas perguntas,


árvores por todos os lugares, a grama cortada perfeitamente, o lugar era tão
bonito, eu não fazia ideia que existia um lugar como este depois da guerra.

Andamos ainda em silêncio, uma casa enorme estava a uns metros de nós.
O cheiro de rosas inundou os meus sentidos, parei um momento olhando ao lado
da casa, várias roseiras, tinha rosas de todas as cores, e mais perguntas.

Ao olhar para frente, vejo Damon já próximo da enorme casa, o meu corpo
travou no momento que vi uma criança, uma menina se aproximando dele, vejo o
Damon se abaixando para falar alguma coisa com ela, os meus pés não se
moviam, eu só conseguia ficar encarando aquela cena se desenrolar na minha
frente.

A garota devia ter uns sete anos, os seus cabelos loiros estavam soltos e
balançando pelo vento, Damon falou alguma coisa para ela, mas não consegui
ouvir, a garota sorriu, e depois saiu correndo, entrando na casa.

Damon se levantou e se virou em minha direção, me esperando, os meus


pés começaram a se movimentar até que eu estava do seu lado, ao entrar na casa
vejo a decoração, era um lugar antigo, as paredes tinham vários quadros, tudo
estava impecavelmente limpo.

Ele andava na frente, as perguntas estavam se acumulando dentro de mim,


tomando coragem para abrir a boca para perguntar, que lugar era esse? Quem era
aquela garotinha? Mas todas as perguntas ficaram para depois do momento que
eu vejo várias mulheres sentadas em um lugar que eu tinha certeza ser uma
cozinha.

Dei um passo na frente quando reconheci várias delas, a minha respiração


se intensificou quando eu vejo a Lua me encarando, também em choque.

Ele correu me abraçando, as outras garotas fizeram o mesmo, eu pude ver


várias chorando, eu percebi que também estava chorando quando me afastei da
Lua, que tinha um lindo sorriso.
— Vitória! — Ela exclamou segurando nos meus ombros como se
precisasse segurar em mim para ter certeza de que era real, olhava para cada rosto
ali do meu lado, sentindo o meu peito doendo, era uma felicidade tão grande.

— Lua. — A abracei novamente, eu precisava tanto daquele abraço.

Ao me afastar vejo o Damon saindo por uma porta, eu tinha tantas


perguntas, mas neste momento eu só queria ficar aqui com elas.

— Você está viva. — Os olhos da garota na minha frente estavam me


encarando, como se não acreditasse no que via. — Eu pensei que você tinha
morrido ou coisa pior, principalmente depois que você saiu daquele jeito da sala
do trono.

— Me desculpa, por não conseguir levar vocês comigo. — A minha voz


esganiçada pela vontade de continuar chorando.

Ela sorriu.

— Nós entendemos Vitória, não precisa se preocupar com isso.

Limpei o meu rosto, olhei ao meu redor e vejo umas duas senhoras, mais
ao fundo tinha mais umas crianças que estavam no chão brincando, olhei para a
Lua.

— Que lugar é esse? — Questionei, Lua sorriu segurando as minhas mãos.

— Eu vou te explicar, enquanto te mostro tudo, tem tantas coisas que eu


preciso te falar.

Lua segurou na minha mão e nos aproximamos das duas mulheres que nos
encarava com a mesma curiosidade que eu.

— Vitória, essas são Ágatha e Ester, elas vivem aqui há mais de oito anos.
As duas mulheres me cumprimentaram com um pequeno sorriso.

— Oito anos? — Elas sorriram concordando. A que usava óculos de grau


respondeu.

— Acho que a Lua vai te explicar melhor.

Olhei para a Lua do meu lado.

— Vêm… eu vou te explicar. — E com isso saímos da casa, olhei para o


campo verde a se perder de vista, observei os cavalos que estavam em um lugar
cercado, Lua me mostrou a horta que ela ajudava a cuidar, um lugar tão lindo que
mais parecia ter saído de um livro.

— Quando aconteceu aquilo na sala do trono, um guarda nos levou de


volta para o quarto, ficamos lá por várias horas, todas estávamos com medo do
que ia acontecer, pensávamos que provavelmente o príncipe, que tinha acabado
de virar rei, iria nos matar, as horas demoravam a passar, estávamos com medo,
sem nenhuma informação; trancadas naquele quarto. Ninguém veio falar com
nenhuma de nós.

Fiquei olhando para ela imaginando o desespero que cada uma passou
naquele momento. Estava tão destruída pela morte da Sofia que acabei me
esquecendo que elas permaneciam lá naquele lugar horrível. Senti vergonha de
mim.

— Até que mais tarde, um guarda apareceu nos mandando sair, fomos
colocadas em carros, não adiantava perguntar, ninguém falava onde estávamos
indo, nos abraçamos achando que aquele seria o nosso fim, provavelmente
estavam levando todas nós para nos matar em outro lugar. Até que o carro parou
e saímos, ali estávamos nós, na frente dessa casa, todas juntas encolhidas e com
medo, Damon apareceu na nossa frente. — A vejo engolindo em seco como se
estivesse se lembrando do que sentiu no momento que ela o viu. — Ele nos falou
que a partir daquele dia, viveríamos naquele lugar, que não éramos mais escravas
naquele castelo, que ali, naquele lugar, estaríamos em segurança. Claro que não
acreditamos, ele foi embora nos deixando sozinhas aqui, até que depois
apareceram várias outras mulheres e muitas crianças, demorou para que eu
acreditasse que realmente estava em segurança neste lugar. As mais velhas nos
contaram que este lugar existe há mais de oito anos, você se lembra quando eu te
falei que o Damon não ficava nem um mês com uma escrava de sangue?

Balancei a cabeça me lembrando perfeitamente disso.

— As garotas que tinham supostamente morrido pelas suas mãos, vivem


aqui.

— Você está me dizendo que ele não matava as garotas como todos
pensávamos, está me dizendo que ele as salvaram? — Questionei não acreditando
nas minhas próprias palavras, isso não pode ser verdade, era impossível, não, o
Damon era um vampiro que não conseguia controlar a sua sede por sangue, ele é
um monstro que busca apenas uma coisa, o poder, não tem como ser esse que está
sendo narrado pela Lua, não tem como!

— Sim, Vitória, é exatamente isso que estou dizendo, nenhuma de nós


precisamos servir a ninguém, ajudamos umas às outras, cuidamos dessa fazenda,
isso. — Ela mostrou o lugar. — É o mais próximo de um lar que eu já tive, você
não pode imaginar como é poder se deitar em uma cama e saber que ninguém vai
te obrigar a ficar quieta enquanto os vampiros se alimentam de você, ou coisa
pior. — Ela suspirou olhando para mim. — Eu te entendo, também demorei para
acreditar que isso fosse real, às vezes pensava que era uma brincadeira macabra
com todas nós, mas foi se passando os dias e nada aconteceu, e aqui estamos,
tentando viver o mais perto do normal que conseguimos.

— Por que ele faria isso? O que o Damon ganharia fazendo isso? —
Questionei tentando achar um motivo.
— Sinceramente eu não sei, essa é a terceira vez que ele apareceu aqui, ele
vem aqui para ver se está tudo bem, mas conversa só com as mais velhas.

— E essas crianças, quem são essas crianças?

Vejo as crianças correndo e brincando, sorrindo, tinha tanto tempo que eu


não via uma criança sorrir.

— Ester me disse que elas são crianças que perderam os pais, que elas não
tinham ninguém para protegê-las, muitas estavam servindo de escravas nas
fronteiras quando o Damon às encontrou, você não faz ideia das histórias que já
me contaram, do que os vampiros faziam com as crianças nas fronteiras.

Quando Lua falou isso, me lembrei do momento que questionei ele há três
meses, o porquê de ele não fazer nada enquanto aqueles vampiros usavam as
garotas daquele jeito na festa, e a sua resposta foi que aquilo não se comparava
em ver crianças sendo torturadas e violentadas na sua frente.

O meu coração acelerou só de imaginar que esse era o caso.

— Esse Damon que você narrou não se parece com o Damon que eu
conheço.

Salvar crianças? Ajudar as garotas que eram dadas a ele como escrava de
sangue? Como isso poderia ser direcionado a ele, um vampiro que só queria o
poder, um vampiro que fazia de tudo para ser rei, um vampiro que me manteve
presa naquele quarto se alimentando do meu sangue, que me caçou por todos os
lugares, que conseguiu tirar os meus poderes, para que eu ficasse indefesa ao seu
lado, para ser usada mais uma vez por ele, a minha cabeça doía tanto que a minha
visão por um momento ficou escura.

Não podia acreditar, mas estava vendo bem na minha frente tudo que a Lua
narrava para mim.
— Eu te entendo, você foi a que mais sofreu estando ao lado dele, acho
que a única pessoa que pode te explicar tudo é ele. Vamos! Vou te levar para
conhecer as crianças.
Capítulo 18
Encarar as crianças brincando com bonecas e carrinhos, Lua permaneceu
do meu lado a todo momento, almoçamos todas juntas, observei o rosto de cada
uma sentindo um grande alívio no meu peito por vê-las vivas e sorrindo, era
como se eu estivesse em um sonho, na qual não queria acordar jamais.

Desde o momento que o Damon saiu por aquela porta ele não apareceu,
parecia que ele queria que eu aproveitasse cada segundo ao lado de todas aqui.

— Talvez ele tenha trazido você aqui, para que ficasse conosco. — Me
virei encarando a Lua, balancei a cabeça negando.

— Ele nunca me deixaria ficar longe, você viu o que eu sou capaz de fazer,
sabe que ele pode andar no sol por minha causa. — Olhei para as minhas mãos.
— O sangue que corre pelas minhas veias foi capaz de fazer tudo isso, Damon
pode sim ter ajudado vocês e essas crianças, mas nunca ele teria a capacidade de
me deixar livre, eu sou uma arma Lua, uma arma para ser usada, e ele sabe disso,
por isso que me mantém ao seu lado.

Lua abaixou a cabeça não suportando o peso das minhas palavras.


— Você não é uma arma Vitória, você é apenas uma garota de dezoito anos
que sofreu muitas coisas. — Ela segurou a minha mão apertando devagar. —
Nunca se esqueça de quem você é, você não é uma arma para ser usada.

Eu queria que fosse verdade, eu realmente queria que aquelas palavras


fossem verdade, mas infelizmente não era.

Já era noite quando saímos daquele lugar, quando eu me despedi de todas,


não falei até logo, porque não sabia se voltaria a vê-las novamente, eu não fazia
ideia do que aconteceria depois desse dia.

Observei disfarçadamente Damon do meu lado, ele dirigia completamente


concentrado na estrada a frente, engoli em seco, desde o momento que eu o
encontrei ao lado do carro me esperando, ele não falou nada, ficamos no mais
completo silêncio, gostaria de perguntar tantas coisas para ele, mas eu tinha medo
das respostas que poderia ouvir, na verdade, não me sentia pronta para essas
respostas.

Chegamos no castelo, Damon permaneceu do meu lado até que estávamos


no quarto.

— Você quer que eu peça algo para você comer?

— Eu não estou com fome.

Ele andou em direção à biblioteca, eu sabia que se ele entrasse ali, só


poderia tirar as minhas dúvidas, talvez no dia seguinte, eu não conseguiria ficar
sem saber a verdade.

— O que foi tudo isso hoje?

Damon parou de andar, e se virou para mim.

— Seja mais específica Vitória.


Dei um passo indo em sua direção, ele me observava como se estivesse me
desafiando até onde eu conseguiria me aproximar dele, parei não me
aproximando mais.

— Aquele lugar, as garotas, as crianças, tudo.

— Tenho certeza de que elas te explicaram exatamente o que aquele lugar


é.

Respirei profundamente tentando me controlar, ouvindo o seu tom de


arrogância ao falar.

— Não se faça de idiota, Damon, você sabe muito bem o que eu quero
saber.

Ele sorriu diminuindo totalmente a distância que ainda tinha entre nós.

— Você quer que eu fale o quê? Que eu levava as garotas que eram
trazidas para mim para aquele lugar? Sim, Vitória, eu fiz isso. Quando finalmente
o meu pai morreu... — Ele sorriu me encarando. — Graças a você, levei o
restante das garotas para lá, pode parecer estranho para você, já que na sua mente
eu sou um demônio, mas nunca fui a favor de ter escravas de sangue.

Engoli em seco ainda conseguindo encará-lo.

— Na minha mente você é um demônio, porque foi exatamente isso que


demonstrou para mim! — o meu peito subia e descia rapidamente, o meu coração
martelando no peito.

Ele sorriu.

— Sim, eu sou o demônio dessa história, eu sou o demônio da sua história,


mas nunca faria mal a uma criança, por isso eu as levei para aquele lugar, sabia
que estariam seguras lá.
— Como ninguém descobriu nada antes.

Ele continuava com o sorriso no rosto.

— Porque todos têm medo de mim, simples assim, quando as pessoas têm
medo de você, as coisas são mais fáceis, você acha mesmo que alguém
acreditaria que eu não matava as garotas?

— Com certeza não, todos acreditam no que você demonstra, um ser frio,
incapaz de sentir nada por ninguém, alguém que só quer poder, que é capaz de
destruir tudo para conseguir o que quer.

Ele segurou no meu rosto.

— Sim, exatamente isso. — Ao olhar tão perto do seu rosto, eu pude ver
algo nos seus olhos, foi tão rápido que por um momento pensei que estava
ficando louca. — Naquele dia que fomos convocados para a sala do trono, eu já
tinha um plano todo armado para tirar a sua amiga daqui — meu coração
acelerou com as suas palavras. — Eu ia tirá-la daqui e levá-la para lá, sua amiga
estava sofrendo coisas que você não pode nem imaginar ao lado do meu pai. —
As minhas mãos tremeram, os meus olhos se encheram de lágrimas. — Mas antes
que eu pudesse ajudar, acontecendo aquilo, acho que sua amiga não suportou e
tentou matá-lo, não a culpo, todos queriam ter tido essa honra.

Ele ia ajudar a Sofia, por um momento imaginei como teria sido se ela
estivesse naquele lugar, cercada de crianças, a imagem da Sofia perto daquelas
roseiras, as lágrimas desciam devagar.

— Por que você não me contou?

— Vitória, você tem ideia de quantos olhos estavam observando cada


passo que eu dava, principalmente quando você começou a permanecer neste
quarto, cada comentário que tive que ouvir, quando todas as outras estavam nos
banquetes, festas, e você permanência neste quarto. — Ele sorriu. — Você não
suportaria saber quantos vampiros foram enviados, tentando saber o motivo do
porquê você era tão especial para mim, não suportaria saber que matei cada um
deles antes que eles conseguissem chegar até você, todas as garotas que eram
enviadas para mim morriam em uma semana, pelo menos era o que eles
achavam, e de repente você apareceu, a única que ainda estava viva, a única que
deixei que ficasse no meu quarto, acho que isso despertou o interesse do meu pai
e da minha irmã.

A minha garganta estava seca, ao ouvir tudo que ele falava.

— Você só me mantinha do seu lado pelo meu sangue.

Ele ficou em silêncio por um momento.

— Sim, no começo foi pelo seu sangue.

— O que mudou depois disso?

Eu precisava saber o que mudou, porque ele falou que esse motivo era só
no começo.

Meu coração acelerava mais e mais à espera de uma resposta.

— Isso não é importante.

— Claro que é importante, eu quero saber, por que só no começo?

— O que você quer que eu te responda?

Na verdade, até eu não sabia o que eu queria que ele respondesse, na


verdade, eu não sabia o que eu queria, tudo passou como em um filme na minha
cabeça, tudo desde o começo, terminando comigo olhando para as crianças e a
Lua sorrindo naquele lugar.
Damon se aproximou, me prendendo contra a parede, ele estava tão perto,
o seu corpo esmagando o meu contra aquela parede, o meu corpo vibrou como da
última vez, eu abri a boca a procura de ar, quando ele aproximou a sua boca da
minha, as minhas mãos tremiam ao lado do meu corpo, meu coração trabalhava
tão incansavelmente, senti os seus lábios nos meus, era tão diferente, era algo que
eu nunca senti, eu não sabia qual era o nome.

Damon se afastou, pude ver o ódio no seu rosto, a minha boca estava
tremendo, eu sabia que se eu movesse os meus lábios para corresponder aquele
beijo, eu cairia em um lugar escuro, um lugar que eu nunca estive antes, mas
quando ele abriu os olhos e me observou, naquele momento eu percebi que se ele
me beijasse novamente, eu corresponderia, quando constatei esse fato, um medo
tomou conta de mim.

Eu vejo um certo choque no rosto do Damon, acho que ele também


percebeu.

— Você se lembra quando eu te disse que essa história não era um conto de
fadas, que estava mais para uma história de terror, eu não mudei de ideia Vitória,
eu sou um monstro, um ser que faz de tudo para conseguir o que quer, não
importa quantas pessoas ou vampiros eu tenha que matar para isso. Então, não
me olhe, com os olhos brilhando desse jeito, nós dois sabemos que a única coisa
que eu posso te dar é a destruição, no final, nós dois sabemos que ou você vai me
matar, ou eu vou te matar. Então não me olhe com esses olhos, porque eu
conheço todos os seus olhares, mas esse eu nunca vi esse, sendo direcionado para
mim.

Lágrimas desceram pelo meu rosto, Damon observou atentamente, mas por
mais que suas palavras doessem, algo no seu rosto me dizia que não era verdade,
o que estava acontecendo? Por que comecei a me importar com isso?
Damon saiu daquele quarto como se não estivesse suportando ficar no
mesmo lugar que eu estava.

Naquela noite eu fui dormir tarde, com muita coisa na cabeça e a certeza
que algo tinha mudado dentro de mim, mas não sabia o que era.
Capítulo 19
No outro dia, Damon não apareceu, eu comi no meu quarto, fiquei o dia
inteiro olhando pela janela de vidro, ou ficava tentando ler alguma coisa, ainda
sentia meu corpo vibrar, estava olhando o sol se pondo no horário, no momento
que eu ouço o barulho alto, como se fosse uma explosão, me abaixei sentindo o
chão tremendo, me levantei olhando pela janela, dava para ver fumaça negra no
horizonte, vejo fogo em alguns pontos, meu coração acelerou sem saber o que
estava acontecendo, ouço gritos vindo do lado de fora, corri em direção da porta,
quando ela se abriu fazendo um barulho alto, vejo Damon entrando com uma
expressão de ódio no rosto.

— Eu quero que você fique aqui neste quarto, nada de inventar sair, está
me ouvindo?

Ele me encarava à espera de uma resposta, mas a única coisa que eu


conseguia pensar era no que estava acontecendo lá fora.

— O que está acontecendo? — Minha voz saiu mais rouca do que o


normal.

— Você ouviu o que acabei de dizer? — Ele perguntou já sem paciência.


— Sim, eu ouvi, algo como ficar quieta aqui dentro, mas você não me
respondeu! — Eu estava nervosa demais, só queria saber o que estava
acontecendo, era pedir demais?

Damon revirou os olhos para mim, sem paciência alguma, ele ia se virando
para sair novamente até que ouvimos outra explosão. Ouço ele xingando algo que
não entendi.

— Damon, me diga o que está acontecendo? — Eu repetia a pergunta,


minha cabeça a mil, sinto um cheiro de fumaça.

— Vai ficar um grupo de guardas na sua porta. — Ele me encarou. — Não


importa o que aconteça, não importa o que você ouça, você não vai sair! — Ele
me ignorou novamente.

— Que inferno Damon! Responda à droga da minha pergunta! — Eu gritei


apertando a minha mão em punho para não tentar apertar o seu pescoço, Damon
se virou novamente para mim.

— Vou saciar sua curiosidade. O seu namoradinho achou muito inteligente


atacar um local repleto de vampiros, — Ele suspirou como se estivesse lidando
com uma criança. — Como dá para perceber, ele não é muito inteligente, não é
mesmo?!

Ainda tentava digerir suas últimas palavras, o Derek estava aqui?


Namoradinho? O encarei.

— Sim, Vitória, eu sei do seu relacionamento com aquele garoto. O que é


interessante! No momento que conseguiu ser livre, você tinha todos os vampiros
a querendo, querendo o seu sangue. — Ele se corrigiu. — E não passou pela sua
cabeça aprender a controlar essa droga de poder que você tem? — Sua voz estava
muito mais alta, como se a paciência que ele estava tentando manter perto de
mim, tivesse sumido completamente. — Se você tivesse pensado por um
momento, que aprendendo a controlar isso, não precisaria estar passando por essa
merda novamente. — Seu peito subia e descia, vejo a sua mão se fechando em
punho de tanto ódio. — Mas como deu para notar, se relacionar romanticamente
com um rebelde foi mais importante para você.

Isso não era justo, quem ele pensava que era para supor isso de mim, esse
poder? Eu nunca quis esse poder, o meu coração acelerou, controlá-lo? Meus
olhos se encheram de lágrimas, eu nunca o quis, o meu peito doía, ouvir o que ele
estava falando era como ter ganhado um soco bem no meio do meu estômago,
respirei profundamente tentando me controlar, a verdade era que eu queria ser
normal, como qualquer garota de dezoito anos, no fundo, eu achei que manter
esse poder escondido, poderia me fazer normal de novo, eu não queria ser a
garota com o sangue capaz de dar esse poder aos vampiros!

Eu não queria ser a garota que conseguia destruir os vampiros, eu não


queria ser a garota com o poder tão grande dentro de si, que gritava querendo ser
liberado, eu só não queria ser essa garota.

Damon deu as costas para mim, como se não suportasse ver o meu rosto na
sua frente, ele ia saindo, mas eu não poderia deixar que saísse assim, segurei
novamente no seu braço, ficando na sua frente. Eu não poderia deixar que ele
matasse o Derek.

— Por favor! — A minha voz saiu baixa demais, eu não tinha me


esquecido do que o Derek fez, longe disso; meu coração ainda estava sangrando
só de lembrar como fui usada por ele, a pessoa que dei o meu coração, mas foi
destruído, pelo sentimento que eu sentia por essa mesma pessoa, mas também
sabia que não suportaria vê-lo morto, então fiz o eu podia naquele instante, eu
implorei, fechei os olhos tentando controlar as lágrimas que insistiam em rolar
pelo meu rosto. — Por favor, não o machuque.
Eu sabia a diferença de poder da resistência contra os vampiros, eu sabia
que se Damon quisesse, mataria todos que tiveram a coragem de tentar invadir
este lugar, por isso estava implorando, não suportaria mais sangue nas minhas
mãos, eu não suportaria saber que mais uma pessoa morreu.

Damon me encarou, ainda com o ódio no olhar.

— Eu não vou te prometer nada, Vitória, foi o seu namorado que se achou
no direito de invadir este lugar, estarei também no meu direito se o matar.

E com isso ele saiu trancando a porta pelo lado de fora, eu gritei, bati
diversas vezes na porta tentando abrir, mas tudo foi inútil, minha garganta estava
ardendo de tanto que eu gritava o nome do Damon, ele ia matá-lo, eu precisava
fazer alguma coisa!

Olhei para todos os lugares deste quarto tentando ter alguma ideia, mas
nada vinha na minha mente, me levantei sentindo minhas pernas doendo, olhei
para a minha roupa, estava com um vestido simples azul, corri para o closet e
procurei outra roupa, vesti uma calça jeans, depois uma camiseta preta, coloquei
o único tênis que tinha ali e saí daquele lugar, fui até a biblioteca atrás de algo
que servisse de arma, mas não achei nada, estava procurando alguma coisa que
me pudesse ser útil, quando eu ouço o barulho alto de algo se quebrando.

Corri de volta para o quarto e parei, quando eu vejo o irmão do Damon


entrando, como se este quarto fosse dele, atrás dele vejo os guardas todos no
chão, com sangue para todos os lados, dei um passo para trás quando ele andou
até estar dentro do quarto.

Alastor observava o local, e depois o seu interesse foi direcionado a mim,


seus olhos passaram por todo o meu corpo. Eu sentia um calafrio passando por
mim, como se fosse uma pequena corrente elétrica.
— O que você está fazendo aqui? — Minha voz saiu alta. Olhei para todos
os lados à procura de uma rota de fuga.

— Eu vim para te levar. — Ele afirmou observando a minha reação.

— Eu não vou a lugar nenhum com você. — Ele sorriu, e no momento que
abri a boca para mandá-lo ao inferno, eu sinto algo sendo pressionado sobre o
meu rosto, tentei tirar, mas era inútil, a pessoa era muito forte, meus olhos ainda
estavam no irmão do Damon na minha frente, quando ouço uma voz que eu
conhecia muito bem.

— Vamos dar um pequeno passeio, filha. — Meu corpo tremia.

— Desgraçado. — Eu tentei falar, mas isso só fez com que eu ficasse ainda
mais tonta, meu corpo foi ficando pesado, não estava mais suportando ficar com
os olhos abertos, e de repente tudo ficou escuro.
Capítulo 20
Minha boca estava tão seca, estava com sede, tentei levantar o braço para
apertar um ponto na minha cabeça, mas não consegui, o meu corpo ficou tenso na
hora, abri os olhos, e logo os fechei, minha cabeça doía demais, ao tentar de novo
observei o local que eu estava, era um quarto mal iluminado, tentei mover os
braços, mas não consegui, olhei para a minha mão e as vejo amarradas, cada uma
de um lado da cama que eu estava.

Meu peito subia e descia rapidamente, e as imagens de tudo que aconteceu


vieram de uma vez, forcei as minhas mãos, tentando sair daquele lugar, mas isso
só fez o meu pulso ser machucado, a fricção da corda com a pele do meu pulso,
arranhado e machucado, pela força que eu puxava.

A minha garganta doía, não sabia onde eu estava, ao olhar para a pequena
janela que tinha no local, eu pude perceber que já era noite, ou seja, já tinha
muito tempo que eu estava naquele lugar.

O que estava acontecendo? Eu sabia que devia estar preocupada comigo


mesmo, mas, ao mesmo tempo, me preocupava em saber se tinha acontecido
alguma coisa com o Derek, se o Damon o machucou.
Ouço passos, a minha atenção vai direto para a porta, Alastor apareceu me
observando com atenção, eu não queria demonstrar medo diante dele, mas quem
eu queria enganar, diante de mim estava um vampiro que me olhava com um
pequeno sorriso, eu estava completamente aterrorizada.

Alastor se aproximou lentamente, com uma expressão sedenta em seus


olhos. Senti um arrepio percorrer toda minha espinha, mas tentei manter a calma
e não demonstrar meu medo.

— Onde está o Damon? — Perguntei, tentando manter minha voz firme.

— Seu querido Damon está seguro por enquanto — respondeu Alastor,


com um sorriso malicioso. — Mas não pense que escapará tão facilmente. Tenho
grandes planos para você, minha querida.

Meu coração acelerou ainda mais e comecei a me desesperar. Eu precisava


encontrar uma forma de escapar dali.

Enquanto Alastor se aproximava cada vez mais, comecei a vasculhar o


local em busca de algo que pudesse me ajudar. Minhas mãos tremiam e meu
corpo estava fraco, mas eu não podia desistir.

Mas eu não encontrei nada, com a força que eu colocava tentando escapar,
eu sentia meu pulso doendo ainda mais, olhei para ele, que agora estava do lado
da cama, me encarando, engoli em seco de puro medo quando ele tocou o meu
rosto.

— Como o meu irmão conseguiu se controlar tendo uma humana como


você do seu lado? — Ele perguntou passando aquela mão gelada no meu rosto.
— Se eu mal passei umas horas com você. — Ele se aproximou do meu ouvido.
— E estou louco para sentir o seu sangue na minha boca.

Um Arrepio percorreu por todo o meu corpo enquanto Alastor sussurrava


essas palavras no meu ouvido.
— Só de sentir o seu cheiro faz com que eu sinta uma excitação tão
grande, que você não pode imaginar. — Ele falou tocando a minha boca, virei o
meu rosto ao sentir o seu toque me causando nojo, ele sorriu ao perceber. — Vai
me dizer que não sou o monstro certo para você?!

— Vai se foder!

No momento que falei isso, senti o tapa no meu rosto, minha respiração se
intensificou.

O impacto do tapa ecoou por todo o quarto, enquanto meu rosto latejava de
dor, lágrimas involuntárias encheram meus olhos, mas eu recusei a dar o prazer a
ele, de vê-las escaparem.

— Você ousa me desafiar? — Alastor vociferou, sua voz carregada de


raiva. — Eu permiti que você falasse, ou se esqueceu quem você é, apenas algo
para nos alimentar, mas vejo que subestimei sua insolência.

Eu encarei Alastor com ódio, minha coragem superando o medo que se


instalava em meu coração.

— Não me importa o que você diga ou faça. Eu nunca vou me submeter a


você.

Suas perigosas presas brilharam em um sorriso sádico quando ele se


aproximou perigosamente de mim. Senti sua respiração fria em meu rosto e o
pavor aumentou ainda mais.

— Você é apenas uma humana patética. Logo aprenderá o seu lugar ao


meu lado. Os desejos de um vampiro devem sempre ser saciados.

Minha mente corria em busca de uma saída, uma forma de me libertar


desse pesadelo. A raiva e o medo se misturavam dentro de mim, alimentando
minha determinação. Foi quando eu percebi mais alguém entrando naquele
maldito quarto, Daniel olhava a cena em sua frente com atenção.

— Você não consegue se controlar, não é mesmo?

Alastor se virou olhando para ele, as suas presas ainda brilhando.

— Como eu poderia com ela tão vulnerável na minha frente. — Ele sorriu,
Daniel se aproximando, ficando do outro lado da cama, seus olhos em mim, eu
não conseguia olhar em sua direção, eu só queria matá-lo.

— Você se parece com a sua mãe, o mesmo olhar, me desafiando a cada


instante.

— Não fala da minha mãe! — Minhas mãos tremendo de ódio.

Daniel ergueu uma sobrancelha, avaliando-me com um olhar penetrante.

— Interessante. Parece que você tem mais força do que eu imaginava. Mas
vamos ver por quanto tempo consegue resistir.

Eu me sentia cada vez mais acuada, presa entre os dois vampiros. Por mais
que a raiva e a determinação corressem em minhas veias, eu sabia que não podia
enfrentá-los sozinha.

— O que vocês querem de mim? Por que me trouxeram para cá? —


Perguntei, minha voz trêmula, mas cheia de desafio.

Um sorriso cruel se formou no rosto de Daniel.

— Eu tenho sede por poder, Vitória. Você é apenas uma peça nesse jogo,
um meio de atingir o Damon. Farei qualquer coisa para vê-lo sofrer. No momento
ele é mais poderoso do que nós dois juntos, mas acho que chegou a hora de
igualar esse jogo.
As palavras de Daniel ecoavam em minha mente, alimentando ainda mais
meu medo, Alastor sorriu ao ver o meu olhar de desespero.

— Chegou o momento de sabermos se o seu sangue é o que imaginamos.

O desespero tomou o meu corpo quando eu vejo os dois se aproximando.


Daniel desamarrou uma das minhas mãos, mas não tive tempo de reação, quando
ele a segurou com força a aproximando do seu rosto.

Eu gritei, Alastor continuava com aquele sorriso ao se aproximar do meu


pescoço, as lágrimas que eu tentava segurar escaparam no momento que a dor
dominou todo o meu corpo, sinto as presas do Alastor no meu pescoço,
rompendo carne e músculos, assim como as do Daniel no meu pulso, eu gritei de
dor enquanto o sangue escorria pelo meu pescoço. A dor era insuportável, meu
corpo começou a enfraquecer e tudo começou a ficar embaçado.

Pensei que aquele seria o meu fim. Alastor apertava a minha cintura com
tanta força que por um momento eu pensei que ele quebraria os meus ossos.

No entanto, antes que eu perdesse completamente a consciência, Daniel se


afastou, limpando sua boca suja com o meu sangue, ele falou algo para Alastor,
mas ele não respondeu, ainda sugando o meu sangue com tanta força, abri a boca
tentando gritar, mas nenhum som pode ser ouvido, Daniel segurou no seu corpo
com força o retirando de cima de mim, os seus olhos tinham uma expressão
demoníaca em minha direção, eu podia sentir o sangue escorrendo pelo meu
pescoço, Alastor se aproximou colocando a sua mão e o sangue parou de
escorrer, eu não estava sentindo o meu corpo, eu mal tinha forças para manter os
olhos abertos.

Os vampiros olhavam para mim com uma expressão de surpresa, no rosto


de Alastor, tinha um sorriso triunfante, já no de Daniel era um sorriso mais
contido, mas eu sabia o motivo, eles perceberem o seu poder aumentando, assim
como foi com o Damon a três meses atrás.
Capítulo 21
Eu acordava e logo depois desmaiava novamente, uma das vezes que eu
estava acordada eu vi algo no meu braço, ao olhar, vejo algo metálico com umas
duas bolsas de soro do lado, eu podia sentir um líquido gelado percorrendo as
minhas veias, e logo depois desmaiei novamente.

Ao abrir os olhos, eu pude ver Alastor sentado do meu lado, observando


cada respiração que eu dava, meu peito doeu ao tentar me movimentar, eu não
estava mais com os braços presos por cordas, mas isso não fez com que eu
pudesse me movimentar normalmente, os seus olhos continuavam em mim, a
minha respiração irregular, o medo corroendo cada parte a minha alma.

Eu tentei falar alguma coisa, mas minha voz pareceu não sair. Alastor
permanecia em silêncio, apenas me observando com um olhar penetrante. Ele
parecia estar aproveitando meu desconforto, meu medo.

Minha mente tentava buscar uma saída para o que estava acontecendo, mas
estava turva, confusa.

Infelizmente me lembrei das palavras do Damon sobre eu não ter tentado


controlar o meu poder, e infelizmente ele estava certo. Eu estava mais uma vez
sendo usada por vampiros.

Tentei mover meu corpo novamente, lutando contra a dor que percorria
minha espinha. Lentamente, comecei a me sentir mais forte, mais capaz de
controlar meus membros. Decidi arriscar falar novamente, mesmo que minha voz
ainda parecesse fraca e trêmula.

— Você já conseguiu o que queria — consegui sussurrar, me esforçando


para ser ouvida. Alastor apenas sorriu, um sorriso sinistro que me fez arrepiar.

— Vitória, se sinta grata pelo Daniel ter me tirando de cima de você, no


momento que senti o seu sangue na minha boca, algo tão animalesco percorreu
cada parte de mim, se ele não tivesse me afastado, não estaríamos tendo essa
conversa agora. Você realmente é muito valiosa. — Respondeu ele com um tom
de voz gélido.

Meu coração acelerou com suas palavras. Eu sabia que precisava escapar
dali, que minha vida estava em perigo. Eu precisava encontrar forças para lutar,
encontrar uma saída dessa situação aterrorizante.

Enquanto Alastor continuava a me observar, eu reunia toda a coragem que


tinha dentro de mim. Prometi a mim mesma, que não deixaria que ele me
possuísse, que eu lutaria até o último momento.

Com as mãos trêmulas, comecei a me mover lentamente, aproveitando


cada respiração e encontrando a força para tentar me levantar. Alastor parecia
surpreso com minha determinação, mas não demorou muito para que seu rosto se
transformasse em uma expressão de fúria.

— Vejo que já está recuperando as suas forças. — Ele sorriu, as suas


presas brilharam em minha direção. — Eu estava contando os minutos para você
acordar, sabe Vitória, eu poderia ter me alimentado de você enquanto estava
desmaiada igual ao seu pai fez. — Sinto náuseas só de imaginar ele fazendo isso
enquanto estava desacordada — mas só de me lembrar dos seus gritos de
desespero ecoando nos meus ouvidos, eu sabia que não conseguiria… — Ele se
aproximou do meu rosto. — Eu quero ouvi-los novamente, isso faz com que eu
sinta algo explodindo dentro de mim, eu quero ouvir os seus gritos, eu quero
sentir as suas mãos no meu corpo tentando inutilmente me afastar de você, por
isso estou sentado aqui há horas, esperando você acordar, esperando que você
estivesse mais forte, porque eu só sinto prazer, quando eu vejo o seu medo ao
olhar nos seus olhos.

Gritei quando ele avançou em minha direção.

Meus gritos se misturavam com a sua risada psicótica, tentei me afastar,


mas foi inútil, eu não tinha tanta força para conseguir, ele puxou os meus cabelos
com força fazendo o meu pescoço ficar a mostra para ele, os meus olhos arderam
ao sentir a dor, gritei mais uma vez quando ele aproximou as suas presas no meu
pescoço, aquela dor agonizante percorreu cada músculo do meu corpo, ainda
conseguia ouvir os meus próprios gritos enquanto ele sugava o meu pescoço com
tanta força, eu sentia a sua mão nos meus cabelos os puxando com brutalidade, o
seu corpo pesado em cima do meu, a sua mão fria na minha cintura apertando-a
com desespero.

Quando ele se afastou, eu ainda vi aquele sorriso no seu rosto.

Ele se aproximou sussurrando no meu ouvido.

— Agora durma mais um pouco, saiba que estarei do seu lado esperando
pacientemente que você acorde, ficarei aqui me deliciando com as lembrancinhas
dos seus gritos de desespero.

E assim aconteceu, Alastor estava do meu lado quando eu acordei, e


novamente ele se alimentou, assim como Daniel, chegou um momento que eu
não estava mais conseguindo ficar acordada mais que alguns minutos, não sabia
distinguir se era dia ou noite, quanto tempo eu estava naquele quarto, tudo
passava como um borrão na minha frente.

Até que um dia ao acordar, eu vejo os dois na minha frente, Alastor


discutia alguma coisa com o Daniel, mas eu não conseguia ouvir, os seus olhos
estavam em mim como se estivesse decidido algo importante.

Nesse tempo eu consegui mexer as minhas mãos, eles param de discutir e


me encararam. Daniel se aproximou passando sua mão pelo meu rosto.

— Eu queria ter mais tempo para apreciar a sua companhia.

Os meus lábios tremiam de ódio ao vê-lo tão próximo de mim, ele se


levantou e ficou esperando na porta, quando o miserável do Alastor se aproximou
com aquele sorriso doentio nos lábios, o meu corpo tremeu da lembrança de tudo
que aconteceu.

— Você não faz ideia de como foi difícil para mim decidi te deixar aqui
Vitória. — Ele segurava uma mecha do meu cabelo em suas mãos. — Mas
infelizmente, o meu irmãozinho está me causando problemas demais, sabia que
ele dizimou metade do meu exército, a sua procura, ele está parecendo um animal
sedento por sangue. Mas dá para entender o motivo não é mesmo? — Ele sorriu
se aproximando ainda mais do meu rosto. — Eu vou sentir saudades do seu
cheiro. — Alastor fechou os olhos por um momento. — Vou sentir saudades do
seu sangue. — Ele abriu os olhos me encarando — mas não precisa se preocupar,
vou me lembrar perfeitamente do som dos seus gritos todas as noites, isso será
em sua homenagem, que pena que não deu para aproveitar mais de você. — Ele
encarou o meu corpo, as minhas mãos tremeram. — Mas isso será por pouco
tempo, mais rápido do que você possa imaginar, eu te encontrarei. E quando esse
dia chegar, eu não só me alimentarei do seu sangue, mas também saberei como
será finalmente ter o seu corpo só para mim.
— Vai se foder, quando nos encontrarmos novamente eu terei o seu
coração nas minhas mãos. — Alastor riu novamente, uma risada cheia de
desprezo.

— Vamos ver por quanto tempo essa coragem vai durar Vitória. Porque, no
final, eu sempre consigo o que eu quero. E você não será exceção. — Eles saíram
pela porta, o meu corpo tremia de ódio e medo, tudo misturado.
Capítulo 22
Eu gritei ao sentir alguém segurando os meus ombros, me debati tentando
me soltar.

— Vitória, sou eu.

Aquela voz, ao abrir os olhos eu vejo o Damon na minha frente, as suas


mãos ao redor do meu corpo, eu fechei os olhos com força e logo depois os abri,
para ter certeza de que não era um sono, que aquilo estava realmente
acontecendo, Damon me encarava com atenção.

O meu corpo ainda doía.

Observei o local que eu estava, era o quarto dele no castelo, eu não estava
mais com o Daniel e o Alastor, minha cabeça doía tanto.

Me sentei com um pouco de dificuldade, Damon permaneceu do meu lado.

Mas as lembranças de tudo que aconteceu naquele quarto insistiam em


voltar, os meus olhos arderam, Damon estava olhando para mim, eu podia ver a
sua expressão de ódio.
— Por que você está me olhando assim? — Questionei tentando não
chorar.

— Você não cansa de ser tão fraca. — O meu corpo tremeu com a sua
explosão de fúria. — Você chora tanto, que só de ver, me irrita em um nível que
não é normal, estou cansado de vê-la assim, É a segunda vez que te encontro
cheia de sangue, praticamente morta, e em todas as duas vezes quando você
acordou, estava com essa expressão de choro no rosto.

Ele se levantou, era como se não conseguisse me encarar, eu podia ver a


sua mão fechada em punho, as veias saltando com a força que ele colocava.

— Eu sou isso que você está vendo Damon, sinto muito que você não
gosta do que vê.

E com uma rapidez tão impressionante ele estava do meu lado segurando o
meu rosto para que eu pudesse olhar diretamente para ele, engoli em seco ao ficar
tão perto dele.

— Não, você não é isso que demonstra, apenas colocou essa máscara de
fragilidade no rosto, porque assim era mais conveniente para você, essa é a
verdade, não está cansada de ser usada por cada um que aparece na sua vida? Não
está cansada de ser sempre a vítima? Você sempre espera que alguém vá te salvar,
e se eu não conseguir na próxima vez?

A minha garganta se fechou, apertei a minha mão com força, infelizmente


as lágrimas ainda desciam.

— Eu apenas morrerei. — Vejo o choque no seu rosto quando ele me


soltou. — Eu apenas morrerei, é isso que você quer que eu diga? O que você
queria que eu fizesse?

Damon se afastou dando um soco com toda a sua força na parede, as


minhas mãos tremeram quando vejo o que aconteceu na parede, um buraco
enorme na minha frente, ele se virou me encarando.

— O que você poderia fazer? — Ele perguntou não acreditando nas


minhas palavras. — Você poderia ter matado cada um daqueles que ousaram
colocar os olhos em você, é isso que você poderia ter feito.

Abaixei a cabeça não suportando a intensidade do seu olhar. Ele continuou.

— Você ainda não percebeu Vitória. — O observei, o que ele estava


querendo dizer. — Aquele veneno que apliquei no seu pescoço só tinha efeito de
uma semana. — O encarei não acreditando nas suas palavras. — Esse tempo
todo, você tinha o seu poder na palma da sua mão, e não usou, você deixou que
eles te amarrasse em uma cama, deixou que eles se alimentassem do seu sangue,
esse é o motivo do meu ódio, durante uma semana você ficou naquela cama
como um animal indefeso, como você acha que eu fico, sabendo que você
poderia ter destruído aqueles dois com apenas um pensamento, mas não fez,
porque não aceita o que lhe foi dado.

Ao olhar para ele, eu sinto o meu corpo estremecer com uma mistura de
raiva e confusão. As palavras de Damon ecoavam em minha mente, revelando
uma verdade que eu não queria aceitar.

Eu tinha tido a oportunidade de me libertar, de usar meus poderes e acabar


com aqueles que me prenderam e se alimentaram de mim. Mas eu permaneci
passiva, permitindo que minha fraqueza e medo tomassem conta de mim.

Tentei me lembrar do momento em que acordei naquele quarto, da


sensação do soro correndo em minhas veias. Mas as lembranças estavam
fragmentadas, confusas. Eu não entendia como deixei isso acontecer, como não
percebi a verdade que Damon agora me revelava.

Ele continuou a me olhar, sua expressão era uma mistura de ódio e triunfo.
— Você é fraca, Vitória. Fraca demais para aceitar a sua verdadeira
natureza e usar seus poderes para se libertar. Enquanto você continuar vivendo
nessa ilusão de fragilidade, eu sempre vou estar um passo à frente de você. Eu
sempre terei que te proteger.

As palavras dele me atingiram como lâminas afiadas.

Eu sabia que ele estava certo. Eu havia desperdiçado minha chance de me


defender, de lutar por mim mesma. Agora, eu precisava enfrentar as
consequências de minhas escolhas.

No entanto, uma chama de ódio começou a queimar dentro de mim. Eu me


recusava a ser subjugada, a ser dominada por Damon ou por qualquer um que
ousasse tentar me controlar. Era hora de abraçar quem eu realmente era, de
aceitar meus poderes e usá-los para me libertar e proteger aqueles que eu amava.

Levantei a cabeça, encarando Damon com determinação nos olhos.

— Você pode acreditar que sou fraca, Damon, mas tenha certeza de que
minha fraqueza acabou aqui. Não vou mais permitir que você ou qualquer um me
subestime, ou me domine. Eu vou lutar com todas as minhas forças para me
libertar e destruir cada um, se for necessário.

Um sorriso diabólico se formou nos lábios de Damon.

— Veremos, Vitória. Veremos se você é realmente capaz de enfrentar as


consequências das suas escolhas.

Ele se aproximou ficando próximo do meu rosto.

— Eu não quero mais ver o medo no seu rosto, não quero mais ver o seu
sangue nas minhas mãos, a partir de amanhã, eu a treinarei, para que possa usar
os seus poderes ao máximo, você se tornará alguém que todos temerão, quando
qualquer humano ou vampiro ousar olhar para você. Eles sentiram, pela primeira
vez, o desespero diante do que você se tornou.

Aviso…

Terceira e última parte do livro " Sequestrada Por Um Vampiro. "


Chega em outubro agora. Beijos 🥰💗

Enquanto isso fique com um pouco do que virá.

" Uma árvore não chega ao céu, sem que suas raízes toquem o inferno. "

Damon .
Epílogo
Eu sentia um calor fora do normal, abri os olhos devagar, tentei levantar o
meu braço, mas não consegui.

A minha respiração se intensificou no momento que percebi o motivo de


não conseguir mover o meu corpo.

Vejo um braço abaixo da minha cabeça, sentia um calor consumindo todo o


meu corpo, Damon estava com o outro braço na minha cintura, a sua mão
repousando delicadamente na minha barriga, a sua pele diretamente em contato
com a minha, percebi que a camisa que eu estava usando tinha subido durante a
noite, engoli em seco ao perceber sua perna esquerda em cima do meu corpo.

Eu não estava conseguindo respirar normalmente, o seu corpo grande e


forte me segurava firmemente, ao tentar mover o meu corpo, o ouço
resmungando algo que não faço ideia do que seria, ele me abraçava quase
fundinho, o seu corpo ao meu, o meu coração martelava no peito, muito ciente do
quanto estávamos próximos, eu queria ir ao banheiro, eu realmente queria fazer
xixi, mas cada vez que me movia, ele se aproximava mais.
Abri minha boca em surpresa, no momento que percebi algo incrivelmente
duro e grande muito próximo da minha bunda, o meu rosto estava em chamas,
estava cheia de vergonha e confusão.

Eu tentei me soltar dos braços do Damon sem acordá-lo, mas meu esforço
foi em vão. Ele me apertava em seus braços e murmurava algo incoerente,
fazendo minha mente entrar em pânico.

O que diabos está acontecendo?

Desesperada, tento pensar em uma maneira de escapar daquilo sem acordá-


lo. Talvez se eu me mexer com cautela, ele não acorde e eu consiga sair
disfarçadamente.

Respiro fundo e lentamente começo a me mover. A cada movimento, sinto


o membro rígido de Damon roçando ainda mais perto de mim, o que só piora
minha ansiedade.

Segurei no seu braço devagar, neste momento ouço a sua voz próxima do
meu ouvido.

— Você pode esperar só um segundo? — Tentei não me mover um


milímetro sequer, a minha respiração se intensificando, sinto a sua respiração
quente no meu pescoço, o que não ajudava em nada, para que os batimentos do
meu coração se normalizassem.

E sem perceber, acabei me mexendo. O ouço praguejando como se


estivesse sentindo dor, pelo menos era o que parecia.

— Merda! — Ele murmurou, soltando-me imediatamente. Damon se


afastou, deixando um espaço entre nós, e eu finalmente pude respirar aliviada.

Damon parecia estar acordando aos poucos, tentando entender o que havia
acontecido. Sua expressão de confusão e desconforto me fez perceber que ele não
tinha consciência do que estava ocorrendo enquanto dormíamos.

Eu me sentei na cama, ainda constrangida, e fui diretamente para o


banheiro, coloquei a minha mão no peito, sentindo o meu coração martelando,
me observei no reflexo do espelho, e vejo o meu rosto vermelho. Respirei fundo
tentando me controlar. Terminei de usar o banheiro e sai, encontrei o Damon
sentado na beira da cama, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Damon
soltou um suspiro pesado.

— Me desculpe, eu realmente não tinha ideia de que estava te


incomodando dessa forma. — Essa era a primeira vez que ele me pediu
desculpas.

Era como se ele estivesse tentando se lembrar em que momento ele me


abraçou daquele jeito durante a noite.

— Tudo bem. — A minha voz saiu baixa, Damon se levantou e logo em


seguida me encarou.

— Preparada! Para o seu primeiro dia sendo treinada por mim? Você sabe
que não vou pegar leve com você, a treinarei sem me importar que possa se
machucar . — Eu não estava preparada não, porque a única coisa que eu
conseguia pensar, era nos seus braços em volta do meu corpo, me sentia tão
confusa, porque quando ele se afastou, lá, no fundo, eu queria pedir para que ele
voltasse a me abraçar? O meu rosto começou a ficar quente.

O encarei, ele ainda me observando esperando uma resposta.

— Estou sim. — A mentira saiu tão fácil, a verdade era que eu estava
apavorada por ter que ser treinada por ele, e não era medo de me machucar. Era o
pânico de não poder me controlar se ele tocasse o meu corpo daquele jeito
novamente.

Resumindo, eu estava ferrada!


Sequestrada por um Vampiro – Livro 01
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Sinopse
Dark Fantasia / Dark Romance / Monster Romance

Uma história obscura do começo ao fim.

Uma humana e um vampiro que são obrigados a conviverem juntos.

Em um mundo destruído em uma guerra, entre humanos e vampiros,


vamos conhecer a história de vitória, uma garota de dezessete anos que faz de
tudo para proteger a sua mãe até mesmo cometer pequenos roubos, na cidade
destruída de Nova York, ela vive cada dia com medo que chegasse o seu
aniversário de dezoito anos, afinal quando isso acontecesse ela terá que passar
por uma seleção para que eles escolham o seu destino, escrava de sangue ou
guarda, no fundo ela sabia que seria escrava de sangue como a mãe dela.

Mas tudo em sua vida muda quando elas decidem fugir, quando ela é pega
só tem uma saída decidi ser escrava de sangue sem direito algum no castelo da
família real de vampiros ou a morte.

Em meio a conflitos, dor e sofrendo vitória conhecerá o príncipe herdeiro


dos vampiros disposto a tudo para ser o rei, até mesmo usá-la para isso.

Vitória descobrirá que também sabe lutar, algo no seu sangue faz com que
ela seja capaz de fazer coisas impossíveis, e usará isso para matar todos os
vampiros.

Mas o que ela vai fazer quando descobre que realmente se sente em casa
na escuridão do príncipe vampiro?

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