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Sinopse

Raina Wilson é uma alma pura e inocente - mas no fundo ela esconde
um passado sombrio e devastador que ela não consegue esquecer. Como
se não fosse o bastante, ela é forçada a se casar com Roman, o herdeiro
esquentadinho da poderosa família Marigold. Será que ela vai encontrar
paz nesta nova vida, ou o passado irá consumi-la?
Classificação: 18+
(Aviso de conteúdo: Violência, abuso sexual, estupro) Autor Original:
Silent Dreamer
Livro sem Revisão
E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD
https://t.me/GalateaLivros

Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda


Livro 1
Sumário
1. Lar
2. Seis semanas
3. Ajuda
4. Hetty
5. Destino
6. Um Sinal
7. Roman
8. Os Marigolds
9. Filho
10. Princesinha
11. Não
12. Invicto
13. Labirinto
14. Seus cumprimentos
15. Fúria
16. Urso de pelúcia
17. Perfeito
18. Peso
19. Medo
20. Controle
21. Tentador
22. Obcecado
23. Quebrado
24. Dor
25. Amor
26. Sofrer
27. Provocação
28. Baile
29. Fogo
30. Derrota
31. Esperança
32. Epílogo
Capítulo 1
LAR
RAINA

— Dê um tapa na vagabunda.
— Fode com ela, Viola.
— Cale-se! Deixe-me pensar no que fazer com essa merda de puta
desesperada. Vou te ensinar a não olhar para o Chris. Ele é meu, vadia!
Meus joelhos trêmulos bateram na grama molhada enquanto eu
tentava entender o que estava acontecendo comigo. Uma risada
ameaçadora ecoou por toda parte enquanto os rostos embaçados
perdiam suas formas.
Com um baque forte, me vi jogada no chão com o que parecia ser uma
tonelada de tijolos batendo no meu rosto, colidindo com meu nariz.
Não tentei me levantar. Em vez disso, eu apenas fiquei lá enquanto as
gotas de chuva fria substituíram minhas lágrimas.
— Essa vadia. Diana disse que estava tentando falar com ele!
— Que vagabunda. Como se o Chris algum dia fosse querer isso.
— Shh. Eu acho que alguém está vindo. Vamos sair daqui.
Os passos e gargalhadas sinistras desapareceram enquanto eu estava
deitada em rendição severa. Meus olhos estavam firmemente fechados
enquanto eu soluçava baixinho para mim mesma.
Depois do que pareceram horas, tentei me mexer, estremecendo com
a dor que irradiava de quase todas as partes do meu corpo.
Uma parte de mim desejou que eu tivesse morrido ali mesmo no
campo da escola, mas o destino tinha algo mais reservado para mim. O
pensamento de correr para casa enviou um arrepio pela minha espinha.
Minha casa deveria ser meu porto seguro. Era para ser um lugar para
um santuário silencioso, onde eu pudesse me sentir protegida.
Eu preferia enfrentar o abuso que sofri aqui todos os dias do que
enfrentar o que me esperava em casa.
Casa — o que eu gostava de chamar de inferno — ficava a apenas uma
curta caminhada de distância, mas parecia que meu corpo dolorido
estava mancando há dias.
Eu congelei ao ver os altos portões pretos e dourados enquanto eles
zombavam de mim, me desafiando a me virar e fugir.
Por fim, chegando às duas grandes portas de madeira, pensei em qual
seria meu castigo por chegar tarde em casa e, acima de tudo, no estado
em que estava.
Entrei no grande salão, tentando ficar quieta como um rato. Meu
coração parou quando duas mãos agarraram meus ombros.
Puta merda... Mas, para meu alívio, a mulher que estava diante de
mim era nossa criada, Henrietta. Eu a chamava de Hetty.
Hetty era a coisa mais próxima que eu tinha de uma mãe.
Frequentemente, ela cuidava de mim, quando era espancada. Ela trazia
comida escondida para o meu quarto quando me deixavam com fome.
Hetty foi a única que teve pena de mim. Posso não ter conhecido
muito sobre o amor, nunca o experimentei, mas sabia que amava Hetty e
era muito grata a ela.
— Jesus, Maria, José, — Hetty gritou, com seus olhos em pânico
examinando meu rosto machucado. Ela olhou em volta para se certificar
de que ninguém estava vindo antes de me arrastar para a cozinha.
O calor de seu toque gentil acalmou meu estado de tremor, e
estremeci quando ela pressionou o gelo frio no meu nariz.
— Foram aquelas garotas desagradáveis da escola de novo? — Ela
perguntou, com preocupação enchendo seus olhos amáveis enquanto ela
balançava a cabeça em descrença.
— Quantas vezes devo dizer para você simplesmente fugir delas,
Raina?
Eu dei a Hetty um pequeno sorriso enquanto pensava sobre sua
pergunta. — Fugir de quem, Hetty, daquelas meninas ou da minha
suposta família?
Os olhos de Hetty se arregalaram com a minha resposta e eu assobiei
quando o gelo frio começou a arder.
— Criança, sua vida é injusta, — ela colocou a mão em minha
bochecha, — mas estas são as cartas que você recebeu. Você deve aceitá-
las e mudar seu próprio destino. Você tem a força de sua mãe. Eu vejo
isso em você.
Os olhos de Hetty se voltaram para a porta da cozinha e ela deu um
passo rápido para trás. Eu sabia que não estávamos mais sozinhas.
— Onde diabos você esteve, Raina? — Minha madrasta sorriu com
desdém, o nariz pontudo erguido e o cabelo claro bem preso em um
coque, nem um fio fora do lugar.
— Você perdeu o jantar, e não ouse pensar que a empregada vai te dar
algo. — Seus olhos azuis gelados se voltaram para Hetty, enviando-lhe
um aviso também. Minha madrasta nem se preocupou em questionar
meu estado sangrento ou perguntar se eu estava bem. Por que não estou
surpresa?
Fui mandada para o meu quarto, mas ela mal sabia que eu sempre
ficava feliz quando me mandavam para o meu quarto.
Pela maneira como minha madrasta estava vestida, eu sabia que ela
devia ter recebido convidados, o que me salvou de ser punida naquela
noite. Graças a Deus.
Eu caí na minha cama e soltei um longo suspiro de derrota. Meu
corpo ainda doía da surra que recebi não muito tempo atrás. Pensei no
início daquele dia e por que o dia na escola terminou de forma tão dura.
Eu nem me lembro de ter olhado para Christopher. Devo ter caído em
um devaneio na biblioteca e não percebi que estava olhando diretamente
para ele.
Eu não podia negar que sempre tive uma pequena queda inofensiva
pelo Christopher — toda garota desmaiava com sua beleza infantil —
mas desta vez, realmente não foi minha culpa.
Eu geralmente ficava sozinha na escola, tentando evitar o contato
visual com qualquer pessoa.
Minha meia-irmã Diana era a garota mais popular da escola e falava
mal de mim para todos os seus amigos, que então tomaram para si a
tarefa de tomar minha vida um inferno.
Eu ouvi uma batida rápida à porta e recuei com o barulho repentino
que me tirou de meus pensamentos. Hetty entrou correndo, segurando
um pequeno prato sob um grande guardanapo. Seu corpo frágil correu
até mim.
Meus lábios se levantaram em um sorriso atrevido quando Hetty
colocou o prato na minha cama. Ela tocou minha testa com sua mão
doce. — Meu Deus, criança, você está queimando. — Sua voz estava
baixa, mas sua preocupação era alta.
Ela me ajudou a tirar minhas roupas encharcadas, a vestir um pijama
limpo e, em seguida, tirou o guardanapo do prato, revelando algumas
sobras do jantar.
Ela me observou enquanto eu devorava a refeição deliciosa, com seus
olhos tentando esconder sua pena. Hetty costumava me abraçar na cama,
contando histórias de minha mãe até eu adormecer.
Minha mãe veio de uma família muito rica. Seu pai era um empresário
extremamente bem-sucedido.
Muitas vezes me perguntei se esse era o único motivo pelo qual meu
pai se casou com ela. Uma imagem de seu rosto ganancioso passou pela
minha mente.
Minha mãe era gentil e linda. Ela acreditava em ajudar as pessoas e
organizou muitos eventos de caridade.
Hetty me contava como ela comprava vestidinhos e os guardava logo
depois de se casar com meu pai.
Era seu sonho ter uma menina. Mal sabia ela que não viveria para ver
ou mesmo realizar seu sonho. Ela morreria nas mãos de seu sonho. Eu
matei minha mãe.
Nem mesmo três semanas após a morte de minha mãe, meu pai se
casou com sua prima distante, que era viúva, minha tia e agora madrasta,
Vivian. Minha madrasta teve um filho de seu casamento anterior, meu
primo, Troy.
Um ano depois de se casar com meu pai, ela deu à luz uma menina,
Diana. Hetty me disse que tudo mudou para pior depois que minha mãe
faleceu. A única coisa boa era eu.
Eu nem me lembro de ter adormecido naquela noite. Hetty adorava
cantar para mim; sua voz quente me acalmava em um sono tranquilo,
mas não por muito tempo. Os pesadelos me encontrariam.
Eu estava fugindo da escuridão e isso enchia o ar ao meu redor. Eu via
uma sugestão do rosto de minha mãe através da névoa negra, mas se
transformava em algo sinistro.
Meus olhos se abriam, mas eu não era capaz de me mover ou falar.
Muitas das surras de meu pai resultavam em acordar todo mundo no
meio da noite com meus gritos frenéticos.
— Garota idiota, você deveria ter morrido junto com sua mãe. — Ele
costumava xingar, com fúria em seus olhos enquanto me atacava com os
punhos. Era a isso que eu estava acostumada. Essa era a minha vida.
*
Uma tarde, eu estava vagando sozinha pela cozinha. É onde me sinto
mais segura em casa, assim como em meu quarto. Peguei uma garrafa de
água da geladeira, mas engasguei quando fechei a porta.
Parado lá em um traje todo preto estava Troy, com seus olhos curiosos
examinando meu rosto. Ele estava parado perto. Muito perto.
— Troy! Você me assustou. — Minha voz saiu trêmula e insegura. Algo
nele sempre me deixou inquieta.
Eu frequentemente o notava olhando para meu peito ou traseiro, mas
nunca olharia por tempo suficiente para ver toda a extensão de seus
ataques oculares.
Troy tinha começado a ficar um pouco musculoso, e seu cabelo loiro
era longo e frequentemente penteado para trás no estilo do super-
homem.
Seus olhos azuis sempre estavam cheios de mistério. Nunca soube o
que ele estava pensando.
— Sou só eu, Raina, — ele sussurrou, com sua voz enviando um
arrepio pela minha espinha.
Tentei responder casualmente, mas ele se aproximou e começou a
cheirar meu cabelo. Minha respiração cessou e meus olhos se
arregalaram. Que porra é essa!?
Meu grito saiu baixo e abafado quando sua mão grande cobriu minha
boca.
— Shh. Não faça isso, — ele sibilou. Minhas costas bateram contra a
porta da geladeira. — Não aja como se você não me quisesse. Eu sei como
você olha para mim, Raina. Você quer que eu te toque.
Meus olhos arregalados estudaram seu rosto. Isso tinha de ser uma
piada, uma piada doentia, mas tinha de ser. Troy lambeu os lábios, me
observando tremer. Fiquei em silêncio, com medo e choque se
espalhando por meus ossos.
Observei quando ele tirou a garrafa de água da minha mão e a
esfregou no meu peito, com seus olhos assustadores observando como
meus seios reagiam à sensação de frio.
Fechei meus olhos, minhas lágrimas derramando sobre sua mão.
Troy se pressionou contra mim para que eu pudesse sentir sua ereção
crescente. Eu poderia ter vomitado ali mesmo, mas, como um cervo
diante dos faróis de um carro, eu congelei.
Eu abri meus olhos para testemunhar seus lábios se contorcerem em
um sorriso escuro e tortuoso, um que eu nunca iria tirar da minha
mente.
Depois daquele dia, Troy me encontrou em meus pesadelos. Eu sabia
que em algum momento Troy Wilson viria atrás de mim. Nada mais seria
o mesmo depois disso.
Capítulo 2
SEIS SEMANAS
RAINA

QUATRO ANOS DEPOIS


Meus olhos se abriram quando a luz do sol atingiu meu rosto exausto.
Eu estava grata por meus pesadelos não terem acordado ninguém na
noite passada.
Eu me refresquei, escovando os emaranhados do meu cabelo
chocolate. Então desci os degraus em espiral. Não demorou muito para
que eu pudesse ouvir meu pai em uma conversa acalorada com minha
madrasta.
Eu diminuí minha velocidade para tentar ouvir um pouco melhor.
— Considere isso, Vivian. Os Marigolds são poderosos. Com a ajuda
deles, podemos ser igualmente poderosos.
Os Marigolds? Tenho certeza de que já tinha ouvido esse nome antes.
Eles eram os mais falados no país por causa de seu poder e status. — Eu
preferia que Diana se casasse com alguém daquela família do que com
sua prole feia, — Vivian sibilou.
— Eles pediram por ela, Vivian! O próprio Richard Marigold a viu em
um dos eventos de caridade.
Ele mesmo me chamou. — O tom de meu pai ficou mais desesperado,
mas ainda severo.
— Ela não é boa o suficiente para se casar com o filho deles, Charles.
Ela vai nos envergonhar, zombar do nosso nome. — Eu podia ouvir os
saltos da minha madrasta cravando nas tábuas do chão enquanto ela
andava ao redor.
— Vivian, pense em nosso status. Com os Marigolds como aliados,
seremos uma das famílias mais respeitadas do país. As pessoas vão cair
aos seus pés, querida.
— O que você está fazendo?
Eu engasguei alto com a voz estridente de Diana enquanto ela
cutucava minhas costas. Seu cabelo loiro estava preso em um rabo de
cavalo, fazendo suas maçãs do rosto se esticarem ainda mais.
— Bisbilhotando, hein? Você é tão estranha. — Ela cruzou os braços
sobre o peito e olhou para o meu rosto. Baixei meu olhar para o chão.
— Ouvi dizer que papai vai casar você. Boa viagem. — Uma de suas
sobrancelhas se ergueu ligeiramente quando ela me deu um sorriso cruel.
— Ninguém em sã consciência ficaria feliz em se casar com você. Eu
sinto muito pelo cara. Ele provavelmente é um velho sem dentes. Espero
que ele bata em você. — Sua risada foi maldosa.
— Só me deixe em paz, Diana, — sussurrei, com meus olhos
incrédulos por como alguém poderia ser tão cruel. Por que eles me
odeiam tanto?
Hetty me dizia que Diana tinha ciúme de mim, mas eu nunca pude
acreditar nisso. Diana era muito atraente. Ela era toda loira e com olhos
azuis.
Cada garota que eu conhecia a admirava, e cada cara queria estar com
ela. Embora fôssemos meio-irmãs, não nos parecíamos em nada e não
éramos nada parecidas.
— Saia da minha frente, fracassada. — Ela empurrou meu braço
enquanto se juntava a seus pais na sala.
O que diabos eles estão fazendo agora? Eu não quero me casar!
Juntei-me a Hetty na cozinha e a ajudei a preparar o café da manhã.
Qualquer pensamento sobre ser forçada a se casar há muito havia
deixado minha mente enquanto conversávamos e ríamos entre nós.
Ela sempre me fez sentir como se pertencesse a este lugar. Eu estava
apegada a ela. Não acho que poderia ter sobrevivido nem mesmo um dia
aqui sem Hetty.
— Raina! — Meu pai invadiu a cozinha, fazendo com que eu deixasse
cair o prato na minha mão. — Sua mãe e eu precisamos falar com você.
Quase engasguei com a maneira como ele chamou aquela mulher de
minha mãe.
Ele saiu, murmurando algo baixinho. Eu dei a Hetty um encolher de
ombros nervoso antes de segui-lo para fora, e sua expressão era a mesma
que a minha.
Quatro pares de olhos estavam fixos em cada movimento meu
enquanto eu me sentava no sofá da sala.
Meu pai ficou com a mão encostada na lareira, minha madrasta
sentou-se no sofá em frente ao qual eu me sentei, Troy ficou parado na
porta com um olhar frio de pedra no rosto e Diana sorriu afetadamente
no canto da janela.
— Você vai se casar em seis semanas, — meu pai declarou
inexpressivamente. Que diabos? Meus olhos se arregalaram enquanto
minha boca se abriu em choque. Ele não perguntou uma vez se isso era o
que eu queria.
— Mas, pai, eu só tenho vinte e um. Esta dificilmente é a idade...
— Você vai se casar, Raina, e ponto final! — Interrompeu ele. Eu sabia
que, se ele falou de novo, era porque iria acabar comigo sendo punida.
Franzi minha testa enquanto minha madrasta se levantou e apontou o
dedo magro na minha direção.
— Essa família está completamente acima de você, garota, então não
vá ter nenhuma ideia de que você possa se comparar a eles. — Seu rosto
se enfureceu com cada palavra.
— Você não será nada além de uma criadora de bebês para eles, —
disse ela, com seus olhos olhando para cima e para baixo no meu corpo
como se eu fosse pura sujeira.
Como ela pode me odiar tanto? Posso não ser sua filha verdadeira,
mas ainda era sua sobrinha.
Quem teria concordado em se casar comigo sem nem mesmo me
conhecer? Eu ouvi claramente meu pai afirmar que Richard Marigold
tinha me pedido, mas por que ele não deixaria essa decisão para seu
filho?
— Oh, ela está sonhando acordada de novo, porra, — a voz estridente
de Diana gargalhou no canto.
— Chega, — avisou meu pai, enxugando o sorriso presunçoso do rosto
de Diana. Ele se virou para mim com um olhar gelado.
— Você vai manter o nome Wilson bem alto, Raina. Você só vai falar
coisas boas de nós. Não pense que ainda não seremos capazes de puni-la
se você nos envergonhar de alguma forma!
— Seis semanas, Raina, e você vai se casar com Roman Marigold.
Diana ficou boquiaberta com a última parte das palavras de meu pai.
Era como se ela quisesse dizer algo, mas estivesse se segurando.
Ela então olhou para a mãe com olhos suplicantes antes de correr para
fora da sala num acesso de raiva. O que foi aquilo?
Saí e voltei para a cozinha, sentindo minhas pernas tremerem a cada
passo. Vou me casar. Porra! Eu vou me casar. Enxuguei minhas lágrimas e
tentei acalmar meus soluços.
*
Com o passar dos dias, percebi que as surras haviam parado. Eu só
podia presumir que era porque eu estava sendo colocada na sociedade
agora, e as pessoas falariam se eu estivesse coberta de hematomas.
Isso só fez com que suas palavras fossem mais cruéis com cada insulto
me cortando diariamente.
Muitas vezes me perguntei como meu marido seria. Os pesadelos me
encontrariam.
Eu estaria correndo da escuridão em um vestido de noiva, e mãos
desconhecidas levantariam meu véu apenas para ver o sorriso ameaçador
de Troy.
Eu acordava em uma piscina de meu suor, chamando a qualquer
poder superior para me salvar.
Hetty me distraía de vez em quando. Passeávamos pelos jardins e
conversávamos sobre muitas coisas.
— Você é linda e gentil como sua mãe. Você tem de acreditar em si
mesma, criança. — Ela me encorajava, levantava meu ânimo, tocava
minha bochecha com sua mão gentil e beijava minha testa.
Seu amor maternal me fez continuar. Isso me manteve tão forte
quanto eu poderia ser.
*
Meu corpo mudou ao longo dos anos. Eu notava muito mais pessoas
olhando boquiabertas para mim em eventos sociais. Eu tinha me tomado
curvilínea em todos os lugares certos.
Mesmo no final da faculdade, alguns caras me convidaram para sair,
mas eu sempre fui muito tímida para responder.
Minhas mechas onduladas de chocolate cresceram, quase alcançando
minha cintura. Eu era muito grata por ter puxado minha mãe nessa área.
Com o passar das semanas, lentamente comecei a aceitar meu
destino. Eu nunca fui capaz de fazer uma escolha por mim mesma uma
vez na minha vida, então por que eu esperaria que fosse diferente com
meu casamento?
Eu só podia presumir que todas essas famílias de classe alta eram
iguais, cheias de ganância, assim como meu pai. Dinheiro, status e poder
eram tudo o que importava nessas altas sociedades.
Eu estava grata por meu pai ter desistido de me bater.
Tive uma pequena sensação de liberdade naqueles poucos dias antes
daquela noite terrível que me mudou para sempre.
Capítulo 3
AJUDA
RAINA

Eu tinha a casa só para mim no fim de semana. Todo mundo estava


fora e eu adorei. Minha madrasta e meu pai estavam visitando a família.
Diana estava em uma viagem de garotas.
Felizmente, Troy trabalhava no exterior durante a maior parte do ano,
mas sempre que ele estava em casa, eu o evitava a todo custo, trancando
a porta do meu quarto, especialmente à noite.
Foi ótimo relaxar no sofá, curtindo a paz que enchia a casa com a
ausência da minha família. Hetty ficou comigo durante a maior parte da
noite. Conversamos e assistimos filmes.
Adorava ouvir Hetty reclamar de como os filmes eram mais decentes
em sua época. A noite adiantou-se antes de decidirmos nos retirar para as
nossas camas.
Eu estava exausta, mas satisfeita com o quão lindo foi meu dia. Era
bom não ter que estar em alerta a cada minuto.
Deitei na cama, olhando em silêncio para o teto escuro. Meus
pensamentos antes de dormir sempre levavam a uma pessoa: Roman
Marigold.
Pelos poucos boatos que ouvi, percebi que ele era meio playboy, mas
ainda não podia julgá-lo.
Como ele seria?
— Roman, — sussurrei suavemente seu nome na escuridão do meu
quarto. Parecia tão estranho para mim. Este homem seria meu marido
em menos de duas semanas, e eu nem o tinha conhecido ainda.
Por que ele não iria querer me conhecer? De alguma forma,
lentamente caí no sono.
*
— Raina? — Um arrepio gelado percorreu meus ossos ao som do meu
nome. Meus olhos se abriram e, para meu horror, Troy estava ao lado da
minha cama, pairando sobre mim.
O fedor de álcool impregnava o ar antes mesmo de eu ver a garrafa de
uísque em sua mão.
— Troy, o que você—. — Minha respiração cessou quando Troy
pressionou a garrafa contra minha boca, e seus lábios se curvaram em
um sorriso malicioso.
— Por favor, — eu implorei com soluços incontroláveis, e então perdi
a consciência.
Algum tempo depois, do lado de fora da névoa que cobria minha
mente, ouvi a voz de outro homem antes que ele colocasse a cabeça pela
porta entreaberta. — Troy, onde diabos você está?
Eu o reconheci como amigo de Troy, Jay, antes que a névoa me
envolvesse novamente.
Eu não tinha certeza de quanto tempo havia passado até que ouvi
outra voz familiar uivando em pânico.
— Meu Deus! Afaste-se dela!
Foi só quando Hetty jogou seu corpo sobre o meu que saí da minha
paralisia.
— Deixe-a em paz de uma vez, — ela gritou freneticamente. Eu nunca
soube que sua voz poderia soar do jeito que soou naquela noite.
— Saia daqui, sua bruxa, — Jay cuspiu, empurrando-a para longe.
Hetty tentou empurrá-la e chegar até mim, com seus gritos perturbados
perfurando minha alma.
Os olhos de Troy estavam cheios de fúria. — Livre-se dela antes que
os outros ouçam.
Observei Jay arrastando o corpo frágil de Hetty para fora da sala pelos
cabelos. Troy o seguiu, batendo a porta do meu quarto.
Os gritos e choros de Hetty pararam repentinamente quando ouvi seu
corpo frágil bater no chão do lado de fora da minha porta.
Eu empurrei, chutei e arranhei a porta trancada, tentando chegar até
ela, não reconhecendo minha própria voz enquanto ela rugia de dor.
Hetty!
Capítulo 4
HETTY
RAINA

Meu corpo derrotado estava em posição fetal no chão. Minhas


lágrimas secaram em meu rosto, estava inchado e cheio de sujeira.
O sol brilhou por uma fresta na cortina, fazendo doer meus olhos.
Senti todo o meu corpo estremecer quando a porta se abriu. Meu pai
entrou.
— O que... O que diabos está acontecendo? — Seus olhos turvos sem
emoção encontraram os meus.
— H... Hetty, cadê a Hetty? — Eu resmunguei, estremecendo de dor
enquanto tentava levantar minha cabeça. Meu pai franziu a testa
enquanto olhava para a carnificina que era meu quarto, uma bagunça
trágica espalhada ao nosso redor.
— Se foi, ela saiu esta manhã. — Ele não olhou para mim ao dizer isso.
— Não. Não. Troy a machucou, ele atacou...
— Chega, Raina! — Ele passou a mão pelo cabelo grisalho.
— Esses seus pesadelos estúpidos só estão piorando. Você precisa sair
dessa e crescer. — Ele balançou a cabeça em descrença, com decepção
enchendo seu olhar.
— Pai, — eu sussurrei, tentando implorar ao seu coração, se ele tivesse
um.
Ele olhou para mim e, por um momento, seus olhos se suavizaram
antes de ficarem frios novamente ao som da voz da minha madrasta. —
Charles, se apresse, eles estarão aqui a qualquer mi... — Ela congelou ao
ver meu quarto e então lançou um olhar na minha direção.
Minha madrasta deu um passo para trás e beliscou a ponta do nariz.
— E ela quem você quer casar com os Marigolds, Charles?
— Pai. Troy me atacou ontem à noite. — As palavras saíram da minha
boca. Os olhos de minha madrasta escureceram de raiva enquanto ela
bloqueava minha visão de meu pai.
— Troy só chegou em casa dez minutos atrás, sua vadia mentirosa.
Como você ousa acusar meu filho de te atacar. — Ela soltou um suspiro
afiado.
— Não se iluda, Raina. Meu filho não tocaria em um fio de cabelo seu.
— Seus olhos injetados de sangue me perfuraram enquanto ela andava
pela sala.
— Dê a ela uma lição por mentir, Charles. Eu não me importo mais
com o que as pessoas pensam. — Ela deu a meu pai um olhar frio antes
de sair da sala.
A confusão começou quando meu pai saiu sem colocar a mão em
mim. Duas criadas entraram correndo e ajudaram-me a levantar. Uma
ligou o chuveiro enquanto a outra me ajudou a tirar a roupa.
As criadas nunca haviam me ajudado antes, apenas Hetty.
— Hetty está bem, — a empregada mais jovem sussurrou primeiro.
Meus olhos dispararam para estudar seu rosto enquanto suas palavras
traziam lágrimas aos meus olhos.
— Ela se foi, partiu esta manhã sem uma palavra.
Minhas lágrimas caíram incontrolavelmente quando imaginei minha
linda Hetty saindo das paredes altas e escuras desta casa. Não fazia
sentido. Meu estômago torceu em nós com o pensamento.
— Ela vai ficar bem, Raina, — a empregada mais velha sussurrou
enquanto gesticulava para que eu entrasse no chuveiro.
*
Uma semana se passou enquanto eu caminhava por esta casa enorme,
carregando um vazio dentro de mim. Meus olhos procuraram por Hetty
em cada esquina. Eu ansiava por ouvir sua voz reconfortante e sentir seu
toque carinhoso.
Os pesadelos me pegaram noite após noite. Neles, estava correndo
através da névoa negra gritando para que Hetty parasse, só que ela não
conseguia ouvir nada.
Meus gritos silenciosos continuavam enquanto eu observava Hetty
desaparecer na escuridão.
Eu não tinha falado desde que tentei implorar ao meu pai. uma
semana atrás. Meu coração foi esmagado por perder Hetty, e felizmente
não tinha visto Troy desde então.
Ele sabia que eu ficaria sozinha em casa na semana passada e me senti
mal, percebendo que ele voltou apenas por mim.
A casa estava ocupada preparando um casamento para o qual eu não
poderia me importar menos. Passei meus dias olhando pela janela do
meu quarto, para o jardim onde Hetty e eu costumávamos passear.
O verão estava aí, fazendo todas as flores e árvores florescerem com
orgulho. Fiz uma promessa a mim mesma de que nunca mais voltaria
para esta casa, nunca voltaria para este quarto.
Fiquei olhando, observando os jardineiros trabalhando. Eles foram
acompanhados por decoradores que penduravam cortinas de cetim
branco em volta das árvores.
Eu me virei para olhar para o meu quarto meio vazio. As empregadas
foram me ajudando a arrumar minhas coisas pouco a pouco. Não é que
eu tenha um monte de coisas.
A maioria dos meus pertences estava em caixas de papelão encostadas
na parede. O cômodo parecia muito maior agora que estava vazio,
embora fosse um dos menores cômodos da casa.
Uma das empregadas colocou a cabeça para dentro e avançou na
minha direção, segurando algo na mão. Eu o peguei enquanto ela o
segurava na minha frente. Eu examinei o lindo cartão enfeitado com
pérolas.
Meus olhos congelaram com seu nome, um nome no qual havia
pensado muito.
Você está cordialmente convidado para o casamento de Raina Emilia
Wilson e Roman Lee Marigold.
— Seu chá de cozinha é em alguns dias, Raina, — a jovem empregada
sorriu. Ela olhou pela janela para onde os decoradores estavam
trabalhando. — Chá de cozinha? — Eu questionei, franzindo minha
sobrancelha. Por que diabos eles iriam querer me dar um chá de cozinha?
— Sim. Todas as mulheres da cidade estarão presentes.
Revirei os olhos com o pensamento de como esse evento seria falso.
Um suspiro derrotado deixou meus lábios quando coloquei o convite de
casamento ao meu lado. Isso está realmente acontecendo.
Capítulo 5
DESTINO
RAINA

Resisti à vontade de espirrar enquanto uma senhora bem polida


aplicava um blush rosa em minhas bochechas e outra senhora enrolava
meu cabelo.
Eu não conseguia entender como Diana conseguia usar uma
maquiagem assim todos os dias. Os cílios aplicados nas minhas pálpebras
fizeram meus olhos parecerem caídos e preguiçosos.
Uma das senhoras bem polidas pegou um vestido azul celeste que
estava pendurado na a porta. Era um lindo vestido de pregas com um
decote profundo que descia logo abaixo dos meus joelhos.
Depois que as mulheres fizeram sua mágica, parei um momento para
me admirar no espelho.
— Obrigada. Eu estou linda.
— Depressa, não temos o dia todo, — Diana gritou enquanto puxava
meu braço e me arrastava em direção à escada. Seu cabelo estava preso
em um coque bagunçado, e seu vestido vermelho arrastava-se atrás dela.
Ela estava linda.
Ficamos atrás das portas fechadas que davam para o jardim por um
momento, e foi quando ouvi a voz de minha madrasta.
— Agora, aqui está a nossa convidada de honra. Vou sentir muito a
falta dela quando ela for embora. Minha linda filha, Raina. — Eu franzi
minha sobrancelha para Diana, que revirou os olhos para mim.
Eu sabia que esta noite ia ser falsa, mas isso estava em um nível
totalmente diferente.
— Vá! — Diana me empurrou para o jardim enquanto o som das
palmas ficou mais alto.
Eu sorri para todas as senhoras bem arrumadas sentadas ao redor de
enormes mesas redondas decoradas ao máximo. As cortinas cobriam
quase todas as árvores e luzes elegantes cercavam o jardim.
Mais adiante, no fundo, havia uma enorme mesa cheia de presentes.
Eu me perguntei se algum dos presentes lindamente embrulhados
acabaria comigo. Eu duvidava muito disso.
Acenei e sorri sem jeito, caminhando até a mesa da frente, onde Diana
fez um gesto para que eu me sentasse. Este devia ser o momento mais
surreal da minha vida. Eu me sentia tão sobrecarregada e deslocada.
Minha madrasta foi até onde eu estava sentada e colocou a mão no
meu ombro. Quase cuspi meu champanhe.
— Ela não é apenas um doce? — Ela guinchou, olhando para mim.
Todas essas pessoas realmente acreditavam que essa mulher realmente
me amava? Claro que sim.
Depois de uma refeição generosa de cinco pratos e inúmeras mulheres
me parabenizando, eu estava pronta para encerrar a noite.
Uma banda, que minha madrasta anunciou com entusiasmo ser
minha banda favorita em todo o mundo, começou a tocar. Eu queria
revirar meus olhos. Eu nunca tinha visto ou ouvido falar dessa banda
antes de hoje.
— Raina, venha aqui, — Diana chamou enquanto esperava na porta da
casa da piscina. Hesitei por um momento antes de ir até ela. A casa da
piscina estava cheia de garotas da minha idade bebendo, rindo e
dançando.
Diana bateu no espaço vazio ao lado dela no sofá. Sentei-me, tirando
os saltos quando uma garota me deu uma bebida que parecia e cheirava
muito mais forte do que champanhe.
— Então você vai se casar com Roman Marigold? Porra! Ele é tão
gostoso! — Uma morena alta soltou. Ela olhou para Diana, que apareceu
como se ela queria matar a menina.
Mais garotas se juntaram ao sofá ao som do nome de Roman. — Oh,
meu Deus! Se eu fosse me casar com ele, sentaria naquela cara todas as
noites! — Outra garota gritou quando o grupo começou a rir.
Não consegui esconder o rubor que surgiu no meu rosto.
— Já basta! — Diana gritou. — Nos deixe. Todas vocês! — O grupo se
espalhou porta afora em segundos.
A expressão de Diana havia mudado. Ela quase parecia chateada. —
Raina, preciso falar com você sobre Roman Marigold.
Eu engoli em seco, nervosa.
— Eu sei que nunca estivemos de acordo em nada, mas você ainda é
minha irmã, e eu sinto que você precisa saber disso. Você vai se casar com
o homem, afinal.
Meu coração começou a bater forte com suas palavras enquanto eu
me preparava para ouvir mais.
— Raina, ele é um estuprador. Ele atacou muitas das minhas amigas e
com certeza vai te atacar também. — Ela olhou para a garota sentada do
outro lado de mim enquanto uma turbulência de pânico girava em meu
estômago.
A franja escura da outra garota quase cobriu seus olhos. — É verdade.
— Ela entrou na conversa. — Ele fez isso comigo. — Ela olhou para
Diana. — Eu não posso acreditar que eles estão fazendo você se casar
com ele.
— Escute, Raina. Eu posso te ajudar a escapar.
Eu vou tirar você daqui, — Diana deixou escapar, sacudindo uma
mecha solta de seu rosto. — Troy tem um lugar não muito longe daqui.
— Troy! — Eu rebati, com meus olhos ficando mais arregalados. Sem
chance.
— Sim, Raina. Podemos te esconder lá até encontrarmos um lugar
melhor.
Senti um arrepio percorrer minha espinha. Eu nunca poderia estar em
um lugar que tivesse algo a ver com Troy, qualquer que seja o meu
destino. Todas aquelas noites orando noite adentro obviamente não
funcionou. Eu ainda seria entregue a um cara que Diana afirma ser um
estuprador — eu seria forçada a compartilhar minha vida com ele, minha
cama.
Eu olhei para as pregas do meu vestido, tentando conter as lágrimas.
Eu não conseguia chorar agora. Aqui não.
— Eu tenho de ir, — eu sussurrei tão baixo que eu me perguntei se ela
ao menos me ouviu. Saí da casa da piscina, deixando Diana e sua amiga
com um olhar perplexo em seus rostos.
Quase tinha chegado ao meu quarto. Toda essa socialização era
exaustiva. Eu não conseguia entender a informação que acabara de ser
passada para mim. Uma forte dor de cabeça latejava em minhas
têmporas.
Eu bocejei enquanto pensava em pular na minha cama e dormir nesta
noite estranha.
Meu braço foi puxado para trás por uma mão grande e fria. — Então
você prefere que ele foda você em vez de eu? — Meus olhos temerosos
encontraram os de Troy, testemunhando a raiva em seu olhar escuro.
— Seu marido nunca irá satisfazê-la tanto quanto eu posso. — Ele
cuspiu a palavra marido como se fosse veneno.
Meu corpo começou a tremer quando ele se inclinou para mais perto,
com sua respiração soprando contra meu rosto. Ele soltou um gemido
enquanto cheirava meu cabelo. — Quando ele te pegar mais ou menos
durante a noite, você vai gritar meu nome.
— Deixe-me em paz...
— Apenas me diga que você me ama, Raina!
— Eu não te amo. Nós somos primos. Por favor, eu te imploro. Apenas
me deixe em paz.
Troy deu um passo para trás, com seus olhos dançando ao longo do
meu rosto como se ele estivesse tentando me estudar.
Aproveitei a oportunidade para me atirar no corredor e entrar no meu
quarto, batendo a porta e trancando-a rapidamente. Minha frequência
cardíaca rápida começou a se acalmar lentamente quando percebi que ele
não tinha me seguido.
Eu ainda estava tremendo quando olhei para a janela. O jardim ainda
estava cheio de convidados. Nenhuma pessoa poderia ver a minha dor.
Ninguém poderia me ajudar.
Peguei o convite de casamento e suspirei quando pequenas bolhas
molhadas atingiram o cartão em minha mão. Eu me sentia tão confusa e
sozinha. Eu ansiava por Hetty.
Eu chorei até dormir naquela noite, realmente aceitando meu destino.
Seja ele qual for.
Capítulo 6
UM SINAL
RAINA

O dia que eu temia e esperava por seis semanas finalmente havia


chegado — o dia do meu casamento.
A jovem empregada, cujo nome era Lilly, entrou em meu quarto agora
vazio enquanto seus lábios se curvaram em um sorriso caloroso ao abrir a
cortina.
— Refresque-se, Raina. Seus estilistas estarão aqui em breve. — Seus
olhos prateados brilharam de animação.
Assim que meus pés tocaram o chão, mais duas criadas entraram
correndo, segurando um material de cetim marfim nas mãos. Observei
enquanto o penduravam ordenadamente na parte detrás da porta do
meu quarto.
Meus olhos percorreram a renda intrincada enquanto eu pegava o
vestido mais lindo que eu já tinha visto. Uau.
— Posso entrar? — A voz hesitante de meu pai veio pela porta. Ele
parecia diferente. Todas as criadas baixaram a cabeça quando ele entrou.
Ele entrou no espaço vazio que uma vez foi preenchido com meus
pertences. Seu cabelo grisalho estava penteado cuidadosamente para o
lado e ele estava elegantemente vestido com um smoking preto.
Eu queria dizer a ele que ele estava bonito, mas muitas coisas
aconteceram entre nós ou muito pouco para isso. Não tínhamos aquele
relacionamento normal de pai e filha.
Meu pai olhou de volta para o meu vestido de noiva, que ficava
perfeitamente contra a porta, e se virou para encontrar o meu olhar.
— Sua mãe escolheu aquele vestido para você. — Ele falou em um tom
abafado, tentando esconder qualquer tipo de emoção.
Eu franzi minha sobrancelha em choque. — O qu... como? — Corri em
direção ao material delicado.
— Ela escolheu muitas coisas antes mesmo de você nascer, incluindo
o vestido de formatura. — Ele desajeitadamente colocou as mãos nos
bolsos.
Soltei um pequeno suspiro quando pensei no meu lindo vestido de
formatura, uma peça de ombro rosada. Por que ele me contaria isso?
Esta foi a primeira vez que meu pai realmente fez algo significativo. Eu
não conseguia tirar a confusão da minha mente.
— Charles!? — Minha madrasta gritou do fundo do corredor, fazendo
com que meu pai se tomasse uma bagunça vacilante na frente dos meus
olhos.
— Uh. Raina, se você pudesse... talvez não...
— Eu não vou contar a ela, — eu interrompi com um sorriso amigável.
— Obrigada, pai.
Vivian se empurrou para dentro um segundo depois. Seus olhos
olharam para o meu vestido. — Horrível. — Ela fez uma careta.
— A Emilia sempre teve um gosto tão horrível! Você não acha,
Charles? — Ela brincava com seu colar de diamante quando ela virou o
olhar gelado para o meu pai, que parecia tão chocado quanto eu.
— Oh, você acha que eu não sabia? Eu sei tudo, querida.
— É só um vestido, Vivian. — Meu pai falou com os dentes cerrados.
— Sim, e você escondeu bem, eu admito. — Seus olhos se estreitaram
a cada segundo e, antes que meu pai pudesse responder, ela o silenciou
com um aceno de mão.
— Nos deixe! Quero falar com minha enteada.
As criadas seguiram meu pai para fora da sala, deixando um silêncio
assustador persistente entre Vivian e eu.
Eu fiquei na frente do meu vestido de noiva protetoramente. Não
havia nenhuma maneira de deixá-la estragar algo tão caro para mim.
— Oh, não se iluda. Eu não me importo com esse vestido feio
estúpido, — ela zombou. — Sheila Marigold é uma grande amiga minha.
Nós crescemos juntas. — Ela olhou além de mim, mas em direção ao
meu vestido.
— Sua mãe sempre teve tanto ciúme da nossa amizade. — Ela inclinou
a cabeça para o lado.
— Você se parece com ela, sabe. — Seus olhos frios encontraram os
meus.
— É provavelmente por isso que seu pai tem interpretado o Sr.
Coração Mole ultimamente, mas eu sei o quanto ele te despreza. Você é a
razão pela qual sua querida esposa conheceu sua trágica morte.
Ela fingiu uma carranca e estreitou os olhos. — Emilia estava fraca,
assim como você está agora.
Eu podia sentir o quão desesperadamente ela queria uma reação
minha, e eu estava relutante em dar a ela. Pela primeira vez em vinte e
um anos, senti uma conexão com minha mãe que não estava apenas na
minha cabeça.
Para o inferno com o que Vivian Wilson tinha a dizer.
Este foi um sinal de minha mãe. Eu podia sentir isso em meu coração.
Ver o rosto da minha madrasta se desfazer quando ela percebeu que não
teve nenhuma reação de mim, foi ótimo.
Ela apontou o nariz para o ar, bufou e saiu furiosa — uma marca
registrada dela.
Eu ainda não estava acostumada com as empregadas me ajudando
com as coisas, mas elas estiveram à minha disposição nas últimas duas
semanas, não que eu precisasse delas, só que era bom ter companhia.
Os estilistas já começaram a me preparar. Lilly se sentou ao meu lado,
sorrindo de orelha a orelha. Se eu ao menos pudesse compartilhar sua
emoção por este dia.
As palavras assustadoras de Diana ainda ecoavam em minha mente.
Estuprador. Eu não tinha certeza se acreditava nela ou não, mas não
tinha muito tempo para descobrir a verdade. Meu estômago deu um nó.
Finalmente, eu fui deixada sozinha depois do que pareceram horas de
pessoas invadindo meu espaço pessoal. Eu respirei fundo e me levantei
da cadeira, dando passos lentos em direção ao espelho de corpo inteiro.
Meus lábios brilhantes se separaram de admiração enquanto eu me
olhava como se fosse a primeira vez.
O vestido abraçou minha figura perfeitamente, deixando um rastro de
elegância atrás de mim. O detalhe intrincado da renda se destacou mais
em meus braços e ombros.
O véu era elegante, nem muito longo nem muito curto. Minha
maquiagem era simples, mas realçava minhas feições, fazendo meus
olhos caramelos se destacarem.
Meu cabelo chocolate estava preso em um coque baixo com alguns
cachos soltos que cercavam meu rosto. Esta sou eu.
Antes de sair do meu quarto, caí nos braços de Lilly. Ela me abraçou
com força e eu tive de lutar contra as lágrimas. — Desejo a você tudo de
bom, Raina, — ela soltou, me puxando para outro abraço.
*
O carro parou depois de trinta minutos sem jeito entre Diana e
Vivian. Elas não me disseram uma palavra durante todo o caminho até
aqui, o que não era nada normal.
Diana usava um vestido lilás que ia até o chão com o cabelo preso em
um coque alto, enquanto minha madrasta usava um vestido rosa claro
mais curto com um chapéu de feltro combinando.
Eu encarei o belo edifício diante de mim. Era a maior igreja que eu já
tinha visto. Ela ficava fora da cidade.
Apenas os mais prestigiosos se casavam aqui, mas eu estava prestes a
fazer parte dessa lista.
— Está na hora, — murmurou minha madrasta enquanto se
empurrava para fora do carro.
De repente, senti falta de oxigênio, ofegando enquanto estava de
frente para a grande igreja. Queria que Lilly pudesse ter vindo comigo,
mas nenhuma empregada foi autorizada a comparecer.
Eu me sentia tão perdida neste momento. Eu não tinha certeza de
como meu corpo conseguiria me levar até as portas de arco duplo que
levavam à igreja. Respirando fundo, eu me preparei.
E tudo ou nada.
Capítulo 7
ROMAN
RAINA

As portas se abriram, revelando os tetos altos de cair o queixo.


Grandes pilares erguiam-se orgulhosamente ao longo das paredes desta
igreja deslumbrante.
Meu corpo tremia quando dei um passo para dentro, tentando
controlar minha respiração rápida. Eu podia ouvir o som de conversas se
acalmando, sendo substituídas por suspiros abafados com a minha
chegada.
Uma doce melodia acústica ecoou por toda a sala quando dei mais um
passo à frente. Eu podia ver algumas figuras de pé do outro lado do
corredor floral através do meu véu.
Respirei fundo enquanto forçava meu corpo a se mover novamente, só
percebendo então que meu pai estava parado ao meu lado com seu braço
entrelaçado ao meu.
Meus olhos se fecharam enquanto eu pensava em minha mãe
caminhando ao meu lado, me confortando e me dizendo que tudo ficaria
bem.
Eu vi o sorriso caloroso de Hetty quando senti seu toque gentil em
minha bochecha. Parecia tão real quanto as lágrimas que rolaram pelo
meu rosto.
A melodia parou e lentamente abri os olhos. Eu estava parada a
apenas alguns centímetros de uma figura alta e imponente. Não ousei
olhar para o homem diante de mim.
Seu cheiro forte e agradável me atingiu instantaneamente enquanto
eu olhava para suas mãos enormes. Comecei a tremer mais agora que
estava parada e tinha certeza de que ele notaria.
Um calor irradiou por todo o meu corpo quando senti seu olhar
queimando em mim.
— Roman Lee Marigold, — a voz do padre retumbou através da
grande sala, fazendo-me estremecer.
— Você aceita Raina Emilia Wilson para ser sua esposa, para viverem
juntos em matrimônio?
— Você promete amá-la, confortá-la, honrá-la e mantê-la para o bem
ou para o mal, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, ser fiel
apenas a ela, enquanto vocês dois viverem?
O silêncio encheu a grande sala enquanto todos esperavam. Eu tinha
certeza de que podia ouvir meu coração batendo no meu peito.
— Eu aceito. — Uma voz rouca e baixa ecoou por mim. Eu respirei
fundo, instável.
— Raina Emilia Wilson, você aceita Roman Lee Marigold para ser seu
marido para viverem juntos em matrimônio?
— Você promete amá-lo, confortá-lo, honrá-lo e mantê-lo para o bem
ou para o mal, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, ser fiel
apenas a ele, enquanto vocês dois viverem?
Aceitaria este homem como meu marido? Eu aprenderia a amá-lo? Eu
poderia confortá-lo? As palavras do padre me deixaram perplexa.
Eu já tinha ouvido esses votos muitas vezes antes, mas eles tinham um
significado totalmente diferente agora que se dirigiam a mim. Eu ainda
mantive meu olhar o mais baixo possível. Era isso — não havia volta.
— Eu aceito, — eu finalmente falei, me surpreendendo com o quão
estável eu soava, dado o pânico que estava girando dentro de mim.
Roman pegou minha mão e seu toque foi gentil, mas firme. Tentei me
impedir de tremer tanto, mas se provou ser impossível.
Ele colocou um anel de esmeralda oval de tirar o fôlego em meu dedo
antes de soltar minha mão.
Peguei o anel de Diana que era para Roman e esperei que ele
apresentasse a mão, tímida demais para estendê-la sozinha.
Roman hesitou antes de levantar a mão diante de mim, e eu
cuidadosamente deslizei a aliança de ouro simples em seu dedo. Minha
mão parecia pequena em comparação à dele, mas sua pele era macia e
quente na minha.
Era hora de ele levantar meu véu. Meu coração estava ficando louco.
Tentei acalmar minha respiração, mas vacilei quando Roman se
aproximou, levantando os braços.
Minha respiração parou quando ele segurou meu véu e parou por um
momento muito longo antes de deixá-lo cair para trás. Eu tinha certeza
que ele podia ouvir as batidas fortes do meu coração.
Finalmente, reuni toda a minha coragem para encontrar seu olhar.
Uau.
Os olhos de Roman eram da cor de uma floresta encantada que
floresce no verão. Manchas douradas de força nadaram dentro de seu
olhar de rio verde profundo. Seu cabelo escuro e macio estava
encantadoramente desgrenhado acima de sua cabeça.
Meus olhos percorreram seus lábios carnudos e sua mandíbula
esculpida, expondo uma leve camada de barba por fazer — ele era o
homem mais bonito em quem eu já tinha posto os olhos.
A expressão de Roman não revelou muito quando ele olhou para mim.
Senti minhas bochechas corarem quando seus olhos percorreram meus
lábios por um momento e depois voltaram aos meus olhos. O que ele
estava pensando?
O som de palmas de aprovação ressoou por toda a grande sala,
fazendo com que Roman e eu nos virássemos para os convidados.
Eu vi os rostos encantados do Sr. e da Sra.
Marigold na primeira fila, enquanto do lado oposto, os lábios de
minha madrasta se curvaram em um meio sorriso.
Meu pai não demonstrou emoção e Troy, felizmente, não estava em
lugar nenhum.
Diana devolveu o buquê para mim enquanto observava cada
movimento de Roman. Ela podia muito bem estar despindo-o com os
olhos.
Ela parecia muito impressionada com alguém que rotulou sem
rodeios de estuprador há poucos dias.
Meu coração cessou quando senti Roman pegar minha mão. Ele
desapareceu completamente em seu grande aperto enquanto eu o seguia
ao longo do corredor e para fora do prédio.
Ele não tinha meios de se despedir de ninguém enquanto
rapidamente me arrastava em direção a um carro esporte preto fosco
estacionado em frente à igreja.
Roman abriu a porta do passageiro e me conduziu ao assento,
fechando-a ao entrar. Ele correu ao redor do carro e pulou no banco do
motorista, enchendo o carro com seu agradável perfume terroso.
Ele não perdeu tempo antes de acelerar o motor e acelerar.
O choque da velocidade foi como dez dançarinos dando cambalhotas
na minha barriga. Eu segurei a vontade de rir com a sensação incomum.
Roman dobrou bruscamente uma esquina, adicionando mais saltos
mortais para a performance na minha barriga.
O guincho alto dos pneus fez meu corpo estremecer quando Roman
parou o carro no final de uma estrada tranquila.
Quando ele se virou para olhar para mim, sua expressão era fria e
cheia de raiva. As manchas douradas em seus olhos frondosos ficaram
escuras enquanto ele me olhava em silêncio.
Eu atirei meu olhar para longe dele e para os detalhes intrincados do
meu vestido. Era demais para mim.
— Eu pensei que você tinha fugido, — ele finalmente falou, com sua
voz rouca vibrando ao redor do carro.
— Por que você apareceu!? Eu deveria sair daquela igreja como um
homem livre, porra. Não casado com você!
Eu estremeci quando suas mãos bateram no volante em frustração. Eu
podia sentir que ele estava me observando enquanto murmurava
baixinho. Meu coração frenético doeu com suas palavras, mas o que eu
poderia dizer?
Eu estava acostumada a ouvir coisas assim.
Roman soltou um suspiro de derrota antes de ligar o carro de novo.
— Você não fala? — Ele questionou. Eu podia sentir sua irritação.
— Sim, — respondi baixinho, esperando ser ouvida acima do rugido
do motor.
' — Eu aceito, — 1 ele zombou sarcasticamente. — Isso é tudo que
você pode dizer? — Ele balançou a cabeça em descrença. Excelente. Meu
marido é um idiota.
O resto da viagem transcorreu em silêncio. Olhei pela janela para a
visão obsidiana das árvores girando.
Eu nunca havia saído da minha cidade natal antes, mas estávamos a
pelo menos uma hora de distância, em direção ao outro lado da cidade.
Meu corpo afundou ainda mais no assento de couro, e eu podia sentir
meus olhos ficando mais pesados. O frio do ar-condicionado encontrou
minha pele, fazendo com que um arrepio percorresse meu corpo.
Sentei-me ereta e me mexi na cadeira, tentando encontrar algum
conforto no ar frio e cortante.
Roman pigarreou e me virei para encará-lo. Percebi que ele devia estar
me observando enquanto sua mão se estendia para pressionar um dos
botões elegantes diante de nós. O frio gelado desapareceu
imediatamente.
Fiquei olhando para a frente o máximo que pude, mas por algum
motivo, continuei sentindo seu olhar em mim. Eu adoraria saber o que
ele estava pensando. Eu gostaria de não ser tão tímida.
Tirei meu véu e o coloquei no meu colo.
Olhamos um para o outro por um momento, mas rapidamente virei
para o outro lado. Seus olhos eram tão intensos. Era demais para
aguentar.
Meus olhos ficaram mais pesados e o dia começou a parecer cada vez
mais um sonho distante.
*
O som de uma porta de carro batendo me acordou. Eu não tinha
certeza de por quanto tempo havia dormido. Olhei para o banco do
motorista vazio antes de sair do carro.
Roman tinha desaparecido quando um bando de criadas e mordomos
enxamearam ao meu redor.
— Bem-vinda ao lar, Sra. Marigold.
Capítulo 8
OS MARIGOLDS
RAINA

Eu congelei no tempo, olhando para a enormidade da estrutura diante


dos meus olhos. Eu estava olhando para uma versão moderna de um
castelo.
Dezenas de carros estavam estacionados em uma fila na enorme
estrada em que eu estava. Alguns eram carros esportivos e outros
pareciam jipes e SUVs.
Eu não sabia nada sobre carros, mas poderia facilmente dizer que
eram veículos extremamente caros.
— Você vai entrar, Sra. Marigold? — Uma das criadas perguntou
educadamente enquanto me conduzia pelas grandes portas brancas e
douradas da frente.
Meus olhos encontraram o piso de mármore que seguia em direção a
uma bela escadaria imperial que ficava orgulhosamente no meio do salão.
Dois lances de escada quase pareciam se cruzar.
Eu já tinha passado por pelo menos três tapetes persas luxuosos e
coloridos que eram três vezes o tamanho do meu antigo quarto sozinho,
cada sofá era do tamanho de uma cama king-size.
Uma senhora mais velha entrou por uma das portas à esquerda, e seu
rosto se iluminou em um sorriso enorme, expondo linhas de sabedoria
em sua testa.
Seu cabelo prateado estava preso em um coque alto. Ela me lembrava
uma avó bonita.
— Sra. Marigold, eu sou Marie, empregada doméstica chefe e chef.
Você deve estar com sede. Você gostaria de uma bebida e algo para
comer, querida?
Meu coração doeu com a forma como ela soou semelhante a Hetty,
mas sua voz me fez sentir à vontade.
— Sim, isso seria adorável, e por favor me chame de Raina, — eu
respondi, tentando igualar seu sorriso animado, mas saiu mais letárgico.
— Pode ir para o seu quarto, Raina. Refresque-se e relaxe. Eu trarei
sua refeição até você.
— Parece ótimo, obrigada. — Quando terminei de agradecê-la, ela já
havia feito um gesto para outra empregada me levar ao meu quarto.
Chegar até o topo da escada imperial quase me tirou o fôlego. Eu
podia ver como alguém poderia se sentir poderoso olhando para esta
fortaleza.
Meus olhos exaustos se arregalaram enquanto eles vagavam pelo
corredor bem iluminado e alinhado com pinturas luxuosas e grandes
ornamentos até que paramos nas portas duplas de alabastro.
— Aqui está, Sra. Marigold, seu quarto, — disse a jovem empregada.
Ela se virou para testemunhar o olhar cheio de temor em meu rosto.
O quarto era como um apartamento enorme sozinho, muito parecido
com o saguão com o piso de mármore e tapetes persas.
O cheiro com o qual eu tinha me familiarizado apenas hoje atingiu
meu nariz agradavelmente — terroso, almiscarado, com um toque de
doçura.
Havia uma lareira à direita acompanhada por um sofá carmesim
gigante. Uma das paredes desta sala continha uma porta em arco do teto
ao chão que conduzia ao que parecia ser uma varanda.
Meus olhos caíram sobre a grande cama de dossel que ficava no meio
da sala com lençóis de seda escura e belas cortinas de malha em tomo de
sua beleza.
Isso não podia ser real. Esse era o tipo de coisa que você via nos filmes
ou lia nos livros.
A jovem empregada saltou para me mostrar o enorme banheiro
privativo e apontou para outra porta informando que era um ginásio.
Deus, quão grande era este lugar?
Eu não achei que pudesse ficar maior até que a empregada que me
disse se chamar Grace, me levou em direção a um closet. Eu franzi minha
sobrancelha para as fileiras intermináveis de roupas, bolsas e sapatos.
— Sheila Marigold queria tudo perfeito para você. Ela estendeu o
guarda-roupa do Sr. Roman para caber suas coisas. Grace foi incapaz de
conter sua empolgação enquanto eu passava minha mão ao longo dos
muitos vestidos de aparência extravagante.
Isso não pode ser real.
Depois de tomar o banho mais luxuoso de toda a minha existência,
coloquei uma das camisolas do meu guarda-roupa com um robe
combinando.
Parecia um pouco atrevido, nada parecido com o pijama simples que
eu estava acostumada.
Saí para a sala para encontrar uma versão menor de uma mesa de
jantar que tinha sido montada com muitos pratos cobertos em cima.
Eu não perdi tempo em sentar e comer a comida deliciosa até que eu
não conseguia me mover.
Marie colocou a cabeça para dentro antes de enviar mais duas criadas
para arrumar a mesa. Um barulho alto como um trovão ecoou do lado de
fora.
Levei um momento para perceber que era o som de um carro saindo
de casa em alta velocidade.
Suspirei para mim mesma, sabendo quem era que estava tão ansioso
para ir embora. O rosto zangado de Roman passou pela minha mente. Eu
não pude deixar de me sentir culpada por ser forçada a entrar em sua
vida.
O sorriso de Marie caiu um pouco enquanto ela estudava meu rosto.
— Dê um tempo a ele, querida. É um grande ajuste para ele, como
tenho certeza que é para você também. — Ela foi até a cama, dobrando os
lençóis de obsidiana, pronta para eu pular.
— Eu vou deixar você em paz, Raina. Normalmente saímos à noite,
pois o jovem senhor gosta de sua privacidade, mas como ele não está em
casa, posso ficar até que ele volte se quiser, tudo bem? — Ela olhou para
mim, esperando pacientemente minha resposta.
— Oh, não, não há necessidade. Eu só vou dormir agora de qualquer
maneira. Muito obrigada, Marie. — Marie enviou um aceno em minha
direção antes de sair silenciosamente do quarto.
Eu me arrastei para a cama de tamanho colossal enquanto meus olhos
ficavam cada vez mais pesados. Os lençóis de seda acariciavam minha
pele de uma forma que me fez perceber que eu nunca tinha conhecido o
verdadeiro conforto antes deste momento.
Era aqui, dentro desses lençóis celestiais, onde o cheiro de Roman era
mais forte. Ele era outra pessoa irritada com a minha existência. Deixei
de ser um fardo para o meu pai apenas para me tomar de outra pessoa.
Senti o travesseiro começar a encharcar sob minha bochecha
enquanto as lágrimas escapavam. Eu não mereço amor? Talvez eu tenha
sido realmente horrível na minha última vida, fazendo-me viver sem
amor nesta.
Acalmei meus soluços e, fechando os olhos, caí em um sono profundo.
*
O som de uma batida calma ressoou pelo quarto. Que horas eram?
Não podia ser de manhã, pois o quarto ainda estava muito escuro.
— Entre, — chamei antes de Grace colocar a cabeça pela fresta da
porta.
— Bom dia, Sra. Marigold. Você gostaria que eu abrisse as cortinas?
Eu olhei para sua silhueta esguia em confusão. — Claro, — eu
murmurei, tentando me sentar e limpar o sono dos meus olhos. Eu olhei
para o lado intocado e solitário da cama. Ele não havia voltado.
Grace apertou um botão ao lado da minha mesinha de cabeceira e, de
repente, as cortinas se ergueram em uma velocidade graciosa, expondo a
vista além da janela.
A luz do sol da manhã se espalhou, iluminando cada canto da sala.
Fiquei boquiaberta com o que meus olhos encontraram além do vidro,
hectares de terra cheios de árvores, vida selvagem e flores coloridas
florescendo em todos os lugares. Parecia algo de um conto de fadas.
Uma deslumbrante ponte floral de madeira estava situada acima de
um riacho fluindo mais longe da vista em uma floresta.
— Há também um enorme labirinto do lado de fora da casa principal.
— Grace disse, percebendo meu fascínio.
— Casa principal?
— Sim, senhora, a casa principal fica a uma curta caminhada para o
leste. É onde moram o Sr. e a Sra. Marigold. Esta é a sua casa e do Sr.
Roman. Você tomará café da manhã na casa principal esta manhã.
Grace começou a arrumar a cama enquanto eu apreciava a vista.
A última coisa que eu queria era o café da manhã com os sogros,
bancando as famílias felizes enquanto Roman deixava bem claro que eu
arruinei sua vida.
Eu não estava exatamente em êxtase com esse casamento, mas
ninguém parecia se importar com o que eu pensava sobre qualquer coisa.
Sheila Marigold provavelmente seria uma cópia de Vivian,
especialmente se fossem amigas. Sobre o que poderíamos conversar?
Bom dia, seu filho me odeia, adeus!
Eu me espreguicei na cama, deixando escapar um pequeno suspiro
quando meus olhos encontraram algo refletindo o sol em meus olhos.
A joia esmeralda estava orgulhosamente colocada em meu dedo com
uma faixa de ouro entrelaçada e coberta de diamantes menores.
A esmeralda brilhante era tão cativante quanto os olhos de Roman, e
algo estava escondido nas profundezas de seu olhar intenso.
Ele era absolutamente semelhante a um deus.
Não havia dúvida de que ele poderia escolher qualquer garota que
desejasse, mas acho que essa oportunidade foi roubada dele.
Por que Richard Marigold forçaria seu filho a se casar? O que há de tão
especial em mim? Sim, minha família era rica, mas muitas outras famílias
também o eram.
Por que diabos Roman concordou com esse casamento? Ele teve a
audácia de ficar tão zangado, mas poderia ter dito não. Ele poderia ter
fugido.
Quem diabos disse a ele que eu fugiria?
Pressionei meus dedos nas minhas têmporas. Obviamente, muita
coisa não fazia sentido para mim, mas, como diria Hetty, essas são as
cartas que recebemos e só precisamos fazer funcionar.
Com um pequeno suspiro, eu me levantei da cama e me refresquei
antes de deslizar para um vestido de verão cor de pêssego com algumas
sandálias de gladiador. Minhas mechas chocolate ainda estavam
encaracoladas, caindo em volta de mim.
Depois de aplicar um pouco de maquiagem na penteadeira, preparei-
me para sair do quarto.
Saindo lentamente para o corredor, caminhei em direção às escadas.
Tudo parecia muito maior com luz natural. Não havia uma mancha de
sujeira à vista, apenas objetos brilhantes por toda parte.
Marie me encontrou no saguão. Ela usava um vestido preto, como
faziam todas as criadas aqui.
— Bem, você não é um colírio para os olhos, querida? — Ela sorriu
com aprovação para o meu vestido. Eu dei a ela um sorriso educado, mas
ela deve ter sentido algo escondido por trás dele.
— Não fique nervosa, Raina. E apenas café da manhã e uma conversa
alegre. — Ela riu enquanto eu a seguia para fora da garagem.
— Será que Roman, quero dizer, meu marido estará lá? — Tentei
parecer o mais casual possível.
Marie se virou para me dar um sorriso caloroso, mas simpático. Eu
estava acostumada com meu quinhão de sorrisos.
— Não, querida, — foi tudo o que ela respondeu antes de me mostrar
o terreno.
Viramos a esquina e passamos pelo enorme labirinto que Grace havia
mencionado antes de eu voltar os olhos para a casa principal.
Era tão grande quanto a de Roman, mas parecia um pouco mais
tradicional. Isso me lembrou de uma grande cabana de conto de fadas.
Sheila e Richard Marigold me cumprimentaram na porta da frente
com um abraço caloroso antes de me conduzirem para dentro de sua
casa.
— Vocês têm uma bela casa, Sr. e Sra. Marigold, — eu disse enquanto
era conduzida pela casa para o que eles chamavam de sala de chá.
— Por favor, Raina, chame-nos de mãe e pai. — Richard riu, lançando-
me um sorriso amável.
Essas pessoas mal me conheciam e, no entanto, estavam sendo tão
legais comigo. Eu vou levar muito tempo pra me acostumar com isso.
Sentamos em uma mesa redonda cheia de guloseimas doces e salgadas
acompanhadas por todos os chás do mundo. Richard sentou-se à minha
frente e Sheila, ao meu lado. Ela me ofereceu todo pedacinho de comida
e bebida que havia.
Sheila estava incrível em seu vestido bege. Seu cabelo loiro caía sobre
os ombros em pequenas ondas. Richard usava uma camisa branca de
manga curta com calça cinza. Ele compartilhava os olhos de cor
esmeralda de Roman.
Seu cabelo grisalho estava despenteado acima de sua cabeça. Ele tinha
um rosto gentil.
Marie estava certa; a conversa foi leve e fácil. Falamos de muitas
coisas. Disse a eles que meu trabalho dos sonhos era ensinar e o quanto
gostava de ler livros.
Richard mencionou algo sobre uma biblioteca e recomendou um ou
dois livros para mim.
A melhor parte da manhã foi quando Sheila mencionou minha mãe.
Ela me contou como elas eram próximas e cresceram juntas.
Ela me prometeu que se sentaria comigo um dia e me contaria
histórias, algo que eu definitivamente queria que ela fizesse.
Nós nos sentamos e conversamos por algum tempo, e eu estava
realmente me divertindo. Richard e Sheila eram tão fáceis de se conviver.
Era como se eles estivessem esperando ansiosamente por mim por um
longo tempo, como se eu fosse uma espécie de peça que faltava em um
quebra-cabeça.
— Raina, querida, eu não quero ter que pedir isso a você, mas se você
puder, por favor, seja um pouco paciente com nosso filho. — Os olhos
cheios de preocupação de Sheila encontraram os meus.
Eu olhei para minha xícara de chá vazia, sem saber realmente o que
dizer.
— Ele só precisa de um pouco de tempo.
Eu olhei para Richard, que estava estudando a expressão em meu
rosto.
— Por que você o forçou a se casar comigo? — Engoli em seco quando
percebi que era tarde demais para retirar minhas palavras.
Os lábios de Richard se curvaram em um meio sorriso quando ele
acenou com a cabeça para a minha pergunta.
— Eu estava me perguntando quando você perguntaria.
— Tradição, — proferiu Sheila olhando cansada para o marido.
— Uma tradição que funcionou bem nas últimas quatro gerações, —
acrescentou Richard, agitando apaixonadamente sua faca de manteiga no
ar. — É uma longa história, Raina. Uma para outro dia, talvez. — Sheila
suspirou enquanto se levantava da mesa e gesticulava para que eu a
seguisse.
Richard se levantou de sua cadeira e veio até mim.
— Tenho de voltar ao escritório, mas foi um prazer tê-la conosco no
café da manhã, Raina. — Ele me deu um sorriso gentil e um abraço
caloroso antes de sair da sala com pressa. Ele era tão fofo.
Sheila e eu caminhamos pelos jardins, admirando as flores e belas
árvores. Senti que a qualquer momento iria acordar na minha velha
cama. Tudo isso parecia bom demais para ser verdade.
Eu poderia ser feliz aqui, mas a dor em meu coração apagou esse
pensamento de minha mente. Richard e Sheila podem ter me aceitado,
mas Roman certamente não.
Ainda fui eu quem arruinou a vida dele por causa da tradição.
— Richard estava certo; você é um diamante, — Sheila expressou,
acenando com a cabeça com um brilho em seus olhos cinzas.
— Venha, deixe-me te levar de volta, — ela insistiu, sorrindo com o
rubor se formando em minhas bochechas.
Um som semelhante ao de um trovão rugiu por entre as árvores,
fazendo com que os pássaros voassem para o céu. Eu vacilei com o som
de um motor roncando até parar por perto.
Ele voltou.
Capítulo 9
FILHO
ROMAN

Posso identificar o momento exato em que percebi que minha vida


estava praticamente acabada.
Tudo começou há cerca de seis semanas. Eu estava curvado na minha
mesa, até o pescoço em papelada. Passava um pouco das quatro da tarde.
Uma batida forte na porta me distraiu da linha de pensamento.
— Pensei ter deixado claro que não deveria ser incomodado.
— Lamento muito, jovem senhor, mas seu pai o chamou. Eu
mencionei que você está ocupado, mas ele ainda insistiu. — Ela ergueu a
sobrancelha e encolheu os ombros antes de se virar. Porra.
Eu caminhei até a casa principal e em direção ao quarto do meu pai,
esbarrando no doutor Philip ao sair, com seus lábios pressionados em
uma linha fina.
— Como ele está? — Eu murmurei, tentando soar esperançoso.
O Dr. Philip era nosso médico de família desde que eu conseguia me
lembrar. Parecia que estávamos vendo muito mais ele e sua equipe
ultimamente.
— Ainda o mesmo, receio. — Ele suspirou. O tom borbulhante de sua
voz tinha desaparecido enquanto ele rabiscava algumas anotações em um
papel.
— Filho. — A voz do meu pai saiu pela porta. Eu lentamente me
preparei e entrei em seu quarto.
— Pai? — Eu me preocupei, observando-o abotoar a camisa após o
exame. — O Dr. Phillip estava dizendo...
— Oh, que bobagem! — Ele me interrompeu.
— Sinto-me forte como um leão. — Ele parecia muito mais magro do
que da última vez que o observei adequadamente.
Eu queria correr atrás do doutor Philip e exigir respostas. Por que ele
não estava melhorando? Ele estava fazendo tudo que lhe era pedido.
— Não me olhe assim, — meu pai disparou.
— Assim como, pai? — Eu me coloquei na beira da cama.
— Assim como sua mãe me olha. Como um homem à beira da morte.
— Ele suspirou, encontrando meu olhar.
Eu amava meu pai e me machucava fisicamente ver o grande Richard
Marigold sofrendo assim. Ele era um homem orgulhoso, então todos nós
tínhamos de agir como se o câncer se espalhando por seus pulmões não
existisse.
— Filho, eu estava querendo dizer a você, — ele proferiu, arrastando-
se para uma posição mais confortável na cama.
— Eu a encontrei. — Ele sorriu, fazendo-me franzir as sobrancelhas
até que o entendimento me acertou.
— Não, pai. Não!
Ele claramente encontrou uma esposa para mim, algo que ele me
disse que faria desde que eu era jovem. Ele está muito enganado se acha
que vou me casar. Porra, não.
— Roman, você sabia que esse dia chegaria, — ele resmungou, com
seus olhos fixos nos meus.
— Pai, você deve saber como isso é fodido. — Eu me levantei da cama,
com meu queixo latejando.
— Não, o que é fodido é como você usa uma garota diferente noite
após noite para aquecer sua cama. Você acha que alguma delas daria uma
boa esposa?
— Você ao menos sabe seus sobrenomes? — Ele zombou, o que foi
seguido por uma tosse forte que o fez estremecer de dor.
— Isso não é da sua conta, — eu retruquei, instantaneamente me
arrependendo de morar ao lado.
— Roman, olhe para mim, — ele implorou. A dor era evidente em seus
olhos exaustos.
— Eu preciso saber que você fez a coisa certa antes de eu... — Ele fez
uma pausa, fechando os olhos brevemente.
Eu sabia o que ele estava tentando dizer; ele me queria casado e
estabelecido antes que qualquer coisa acontecesse com ele, queria
garantir que o legado de Marigold continuasse.
Meu bisavó escolheu uma esposa para meu avó, e meu avó escolheu
minha mãe para meu pai. Claro, eles se apaixonaram perdidamente. Por
que ele não conseguia entender que aqueles eram tempos diferentes?
— Eu nunca vou amá-la, pai. Você está arruinando a vida dela tanto
quanto está arruinando a minha, — eu resmunguei, passando minhas
mãos pelo meu cabelo.
— Eu tomei minha decisão. Filho, Raina Wilson será perfeita para esta
família. Para você. — Seu rosto se iluminou quando ele mencionou o
nome dela.
Wilson? O homem diante de mim não tinha noção. Se ele soubesse
quantas vezes a filha mais nova se jogou em mim. Aquela psicopata uma
vez tentou me esperar nua no meu carro depois de uma noite fora.
Além daquela porra estranha, Troy Wilson e sua irmã, eu não acho
que havia outro deles. Eu nunca tinha visto ou ouvido falar dessa garota
Raina.
Sem dúvida, quem quer que fosse, ela estaria rindo com seus amigos
agora, mostrando que ela pegou o -Roman Marigold. Isso não pode estar
acontecendo.
Meu pai era um homem inteligente, usando sua doença como
chantagem. Ele sabia que eu nunca diria não a ele em sua condição; eu
tinha muito respeito por ele — mais do que ele merecia neste exato
momento.
Eu saí da casa principal e pulei no meu carro, indo direto para a casa
de Mark. Eu precisava do meu melhor amigo.
Mark abriu a porta, expondo seu torso nu.
— Coloque a merda de uma roupa, — eu rosnei enquanto o
empurrava.
— Alguém está de bom humor, — ele riu, enfiando uma banana na
boca.
— Raina Wilson, — trovejei, dando ao meu amigo um olhar severo.
Mark ficou confuso até que seus olhos mostraram uma certa consciência
do que se tratava. Seus lábios se curvaram em um sorriso atrevido.
— Não pode ser! Ele realmente encontrou alguém para você? — Sua
expressão tomou-se mais divertida quando ele balançou a cabeça em
descrença.
— Você já ouviu falar dela? — Eu me enfureci, indo até sua geladeira.
Mark me seguiu até a cozinha. Ele parecia estar em pensamentos
profundos.
— Raina Wilson... Wilson... ela é parente da Diana?
— Sim, — eu respondi com os dentes cerrados enquanto abria uma
garrafa de cerveja.
— Oh, merda. — Mark riu ao cair em um dos banquinhos.
— Não é engraçado, — eu rosnei, revirando meus olhos para ele.
— Eu nunca a vi, Ro, mas devo ter visto a irmã dela, — ele ronronou,
erguendo as sobrancelhas para cima e para baixo.
— Foda-se a irmã! — Eu protestei.
— Já fiz isso, amigo. — Mark piscou com um sorriso de palhaço, mas
então parecia que se lembrava de outra coisa.
— Ah, merda! Aquele filho da puta assustador vai ser seu cunhado. —
Ele assobiou, caminhando em direção à geladeira.
Suspirei, sentando-me em um dos banquinhos. Isso não poderia estar
acontecendo. Eu não estava pronto para me estabelecer com ninguém,
muito menos com alguma estranha. Não havia como escapar disso.
*
Muitas semanas se passaram e inúmeras vezes resisti ao impulso de
dirigir até a residência dos Wilson e exigir ver Raina. Eu não conseguia
tirar essa garota da minha cabeça.
Ela não estava nas redes sociais, nem mesmo existia uma foto dela na
internet. E como se ela fosse um fantasma. Quem diabos é você, Raina?
Não ajudou o fato de minha mãe ter começado a reformar meu
quarto. Ela estava em seu elemento enquanto estocava vestidos, bolsas e
sapatos para esta mulher que se tomaria minha esposa.
Ninguém está vendo como isso é fodido?
— Se você quisesse uma bonequinha barbie para brincar de se vestir,
eu poderia ter comprado uma para você. Você não precisava me
encontrar uma garota aleatória e tomá-la a porra da minha esposa, — eu
retruquei uma noite, no jantar com meus pais.
Já bastava, e eu não conseguia mais ficar sentado em silêncio.
— Roman! — Minha mãe avisou antes de suspirar para meu pai, que
ficou quieto como um rato.
Eu sabia que não havia realmente nada que eu pudesse fazer a
respeito. Se eu quisesse permanecer na empresa de nossa família e
assumi-la, teria de obedecer às regras e tradições familiares. Porra!
Eu tinha desistido e perdido todas as esperanças.
A vida dessa garota era tão fodida quanto a minha, mas eu não me
importava mais. A vida arruinada de Raina estava nas mãos de meu pai.
*
Uma semana antes do casamento, recebi um telefonema de Mark que
me deu mais esperança do que nunca.
— Ok, então eu tenho boas notícias para você. Sua querida noiva está
planejando fugir. — Meus olhos se arregalaram em choque.
— Você está absolutamente certo? Não brinque comigo. — Levantei-
me da cama e comecei a andar pelo quarto.
— Tenho certeza, Ro. A melhor amiga de Diana me disse ela mesma.
Raina não vai aparecer.
Bem, foda-se. Afinal, havia esperança. Eu poderia ir junto com essa
coisa toda, agir como se tivesse aceitado esse casamento, apenas para
ficar na mão.
De jeito nenhum meu pai esperaria que eu passasse por tudo isso de
novo.
— Volte para a cama, querido, — Mia suspirou, agarrando meu
antebraço com suas garras brilhantes e bem cuidadas.
Eu olhei para a ruiva ardente enquanto ela sedutoramente lambia seus
lábios, lábios estes que estavam enrolados em volta do meu pau apenas
alguns minutos atrás, com seu corpo nu tentando me seduzir com cada
movimento. Você está tentando demais, querida.
Inclinei-me para ela, observando seus lábios vermelhos se esticarem
enquanto eu pairava a apenas alguns centímetros de seu rosto.
— Vá para casa, Mia, — eu sussurrei, testemunhando seu sorriso se
transformar em uma carranca irritada.
Eu era um homem livre.
Capítulo 10
PRINCESINHA
ROMAN

Mark entrou no meu quarto no dia do casamento. Ele observou


enquanto eu me vestia para a ocasião, caindo na cama. Seu cabelo loiro
acinzentado estava em um topete acima de sua cabeça.
— Bem, você não é um filho da puta sexy? Quem diria que Roman
Marigold seria abandonado no altar. — Ele sorriu, me dando uma
piscadela atrevida.
— Eu só quero que este dia acabe, — eu suspirei, endireitando minha
gravata prata. Quanto mais cedo esse dia acabar, mais cedo eu posso
voltar à minha vida normal.
*
Eu estava no altar, mantendo meus olhos fixos nas portas. Meu
estômago estava se revirando. Se ela não fosse aparecer, já teríamos
descoberto, certo?
Certamente Charles Wilson seria forçado a nos informar. Tive um
mau pressentimento sobre isso.
Amigos e familiares estavam reunidos e sentados em seus lugares,
conversando uns com os outros. Eu estava inquieto. Minha cabeça estava
fodida. Eu dei a Mark um olhar de advertência enquanto ele hesitava ao
meu lado.
Não apareça, porra, Raina!
As portas se abriram e entraram Diana e Vivian Wilson com seus
olhares cheios de orgulho. Elas olharam para os muitos convidados
sentados. Merda!
Eu me virei para Mark e dei a ele um olhar mortal. — Eu lidarei com
você mais tarde, — eu sussurrei com os dentes cerrados, praticamente
ouvindo ele engolir em seco ao meu lado.
Eu não suportava olhar, mas não conseguia tirar os olhos do inferno
que era a minha vida agora. Eu respirei fundo e peguei uma ponta de seu
vestido.
Ela entrou, de braço dado com Charles Wilson. Eu olhei enquanto seu
vestido marfim ficou claro à vista.
Agora, aqui estava ela diante de mim. A princesinha do papai deve
estar se sentindo toda presunçosa. Claro que ela iria aparecer. Quem
perderia a chance de se casar com a porra do Roman Marigold?
Pensei em todas as maneiras de matar Mark enquanto a observava se
encolher diante de mim. A princesinha está nervosa.
— Roman Lee Marigold, você aceita Raina Emilia Wilson para ser sua
esposa para viverem juntos em matrimônio?
— Você promete amá-la, confortá-la, honrá-la e mantê-la para o bem
ou para o mal, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, ser fiel
apenas a ela, enquanto vocês dois viverem?
Ótimo, agora eu estava mentindo para o Senhor, graças ao meu pai.
Eu não poderia amar essa garota, então como poderia confortá-la e ser
fiel?
— Eu aceito. — Minha voz ecoou pela sala.
— Raina Emilia Wilson, você aceita Roman Lee Marigold para ser seu
marido para viverem juntos em matrimônio?
— Você promete amá-la, confortá-la, honrá-la e mantê-lo para o bem
ou para o mal, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, ser fiel
apenas a ele, enquanto vocês dois viverem A princesinha está confusa
diante de mim. Ela estava claramente refletindo sobre esses votos. Não
conte com eles, querida. Eles não serão correspondidos.
— Eu aceito, — ela finalmente respondeu, com sua voz doce como um
sussurro.
A mão de Raina tremeu quando eu coloquei o anel de esmeralda da
minha bisavó em seu dedo. Eu teria adorado ver a expressão em seu rosto
depois que ela viu aquela pedra.
Infelizmente, aquele véu estava escondendo todas as coisas boas.
Eu queria rir enquanto ela segurava a aliança de ouro com vitalidade,
suas mãos tremendo em todo o lugar.
Eu ofereci a ela minha mão e mal pude sentir seu toque gentil. Suas
mãos eram muito menores que as minhas.
Finalmente chegou a hora de ver como era a aparência dessa
princesinha. Eu estava ansioso demais para ver seu rosto. Segurando nas
laterais de seu véu, eu o levantei acima de sua cabeça e congelei.
Nariz pequeno, lábios carnudos e rosados, cílios longos e escuros.
Olhe para mim, princesinha. Seus olhos tremularam para encontrar o
meu olhar, e acho que meu coração deu um salto.
Seus olhos de mel eram fascinantes e refletiam o calor do sol.
Sua beleza possuía pura inocência, o tipo que eu achava que não
existia. Ela é linda pra caralho.
Sem um momento de hesitação, peguei sua mão e a Conduzi em
direção à entrada. Eu precisava de respostas.
Quase chegamos em casa quando percebi que ela havia adormecido.
Ela teria adormecido muito antes se tivesse tido a coragem de me pedir
para desligar o ar-condicionado.
Claramente, ela estava nervosa, mal dizendo duas palavras para mim
durante toda a viagem.
Estacionei fora de casa antes de olhar para ela. Eu tive de admitir que
não pude deixar de olhar para ela durante todo o caminho até aqui. Ela
dormia pacificamente, com seus lábios rosados entreabertos.
Não havia como negar que ela deve ser a garota mais bonita que eu já
vi.
Algo sobre Raina me intrigou, uma coisinha tão quieta. Nem uma vez
perguntou por que não paramos para nos despedir de sua família. Nem
uma vez ela se defendeu quando eu gritei com ela.
Ela não se atreveu a me dizer que estava achando muito frio no meu
carro.
Você é um idiota, Roman.
Eu fiquei do lado de fora da casa de Mark até que um carro parou na
garagem. Mark saltou, encolhendo os ombros enquanto eu pulei para
frente e o agarrei pelo colarinho.
— Acalme-se, Roman. Que porra é essa? — Ele gemeu quando o
encostei na parede.
— Roman, o que diabos você está fazendo? — Jane interveio, jogando-
se entre nós.
— Fique fora disso, Jane, — eu rebati, com meus olhos fixos em Mark.
— Vocês, meninos, querem me dizer o que diabos está acontecendo?
— Ela rosnou, virando-se para mim com raiva.
Eu olhei de volta para minha prima enquanto ela colocava seus
cabelos negros atrás da orelha. Ela arrancou as chaves da casa de Mark e
correu para abrir a porta.
— Vocês dois entrem aqui, porra. Agora!
Sentamos na sala de Mark, olhando fixamente um para o outro.
— Então, deixe-me ver se entendi, você se casou com essa pobre
garota e a afastou de sua família como se fosse o maldito do batman?
— Então você a deixou em sua casa como um pedaço de bagagem e
veio direto pra cá para discutir com seu melhor amigo por causa de
algum boato estúpido de merda?
Jane caminhou para cima e para baixo na sala, balançando a cabeça.
Ela sempre foi um foguete. Ninguém ousaria mexer com ela,
especialmente quando ela estava com raiva, mas ela estava
absolutamente em chamas agora.
Mark não disse uma palavra. Ele apenas observou com admiração
enquanto ela andava de um lado para o outro.
Isso me lembrou de todas as vezes na faculdade quando Mark e eu
fazíamos todo tipo de merda e Jane precisava nos colocar no lugar.
Obviamente, sem casamento e esposa.
Eu me senti estúpido depois de ouvir as palavras de Jane. Quando ela
colocou dessa maneira, parecia totalmente ridículo. Mesmo assim,
ninguém conseguia entender, a menos que estivesse no meu lugar.
Eu tinha me casado com essa garota. Ela agora era minha
responsabilidade.
— Roman, vá para a casa da sua esposa. Imagine como a pobre garota
deve estar se sentindo. — Jane suspirou enquanto colocava a mão no
meu ombro.
— Lamento que o tio Richard tenha te colocado nesta posição, mas
você não pode culpar Raina. — Os olhos oceânicos de Jane olharam
profundamente nos meus antes que ela suspirasse e pegasse sua bolsa.
— Resolvam a sua merda, rapazes! — Com um último olhar, ela saiu
de casa.
— Tchau, Jane, — Mark gritou atrás dela. Eu quase joguei um copo
nele quando ele acenou para que ela parasse na porta.
— Bem, porra, — Mark gemeu, batendo no sofá. Ele sorriu para mim.
— Você tem de admitir que sua esposa é meio gostosa.
— Cale a boca!
Acordei com o som de Mark roncando na sala.
Devíamos ter adormecido aqui. Peguei a almofada debaixo de mim e
lancei em sua cabeça. Mark resmungou ao se virar.
Baixei os olhos para o meu Rolex, onze horas!
Levantei-me do sofá em frente a Mark e fui buscar uma garrafa de
água na geladeira. Minha cabeça latejava enquanto eu lembrava de todos
os eventos do dia anterior.
As palavras de Jane dançaram em minha mente. Peguei as chaves do
meu carro e decidi que era hora de enfrentar a música. Essa garota era
minha responsabilidade agora.
Estou indo, princesinha.
Capítulo 11
NÃO
RAINA

O café da manhã com Richard e Sheila foi um sucesso. Eles foram


realmente legais comigo. Sheila não era nada como eu pensava e foi uma
surpresa agradável.
Roman voltou para casa há uma hora, e fiz o possível para evitá-lo,
mantendo-me na cozinha com Marie.
A cozinha era linda, com grandes superfícies de carvalho e armários
de pedra. Parecia algo de um showhouse.
Uma cafeteira sofisticada estava no canto, como algo que você
encontraria em um Starbucks.
Uma enorme barra quadrada de café da manhã ficava no meio da sala,
cercada por banquinhos altos onde eu me empoleirava, observando
Marie trabalhando. Ela me entregou uma limonada gelada.
— Obrigada. — Eu sorri.
Eu senti um pouco de dor no coração ao vê-la trabalhar. Hetty estava
em minha mente há algum tempo. Eu sentia falta dela mais do que tudo.
Embora estivesse cercada por muitas pessoas, nunca me senti tão
sozinha.
Observei os pequenos cubos de gelo dançando no meu copo. Era
óbvio que Marie e as outras criadas não estavam acostumadas a ter
ninguém sentado com elas apenas para se divertir.
Eu podia sentir seus olhares de curiosidade e preocupação uma pela
outra.
— Eu amo esse vestido, Sra. Marigold. — Grace quebrou o silêncio
calmante com um sorriso de aprovação.
— Obrigada, mas, por favor, me chame de Raina. — Corei enquanto
tomava um gole da minha bebida.
— Sabe, se você não se importa que eu diga, você não é nada como
esperávamos, — ela admitiu, inclinando a cabeça para o lado.
— Isso é uma coisa boa? — Eu respondi, nervosamente mordendo
meu lábio por hábito.
— É uma coisa maravilhosa, — interrompeu Marie apaixonadamente,
lançando-me um sorriso caloroso. Eu sorri timidamente. Eu nunca soube
o que dizer nessas situações.
— Então, aqui está você, princesinha.
Meus olhos dispararam em direção à voz áspera. Princesinha?
Roman estava na porta vestindo uma calça de moletom cinza com
uma camiseta azul, que grudava em sua forma atlética, expondo seus
braços extremamente musculosos.
Eu notei que ele tinha acabado de tomar banho. Seu cabelo
despenteado tinha aquele aspecto molhado e cacheado.
Ele caminhou na minha direção, mas deixei meus olhos caírem para a
minha limonada. Eu senti que estava ficando menor quanto mais perto
ele chegava.
— Olha, eu te devo um pedido de desculpas.
Suas palavras certamente me surpreenderam. Eu olhei para cima e o
observei. Ele parou para se sentar ao lado da mesa do café da manhã e
deu a Marie um aceno casual antes de se virar para mim. — Ontem foi
demais para processar. Eu não queria encontrar... você sabe. — Seus
dentes cerraram um pouco antes de pegar um copo de suco de laranja de
Marie.
— Você tem de entender. Não era exatamente isso que eu queria. Eu
só quero ser honesto com você. Este casamento foi meio que forçado
para mim.
Bem, é claro que ele não queria isso. Fui forçada a casar com ele. Ele
obviamente pensa que eu queria este casamento. Ele provavelmente
pensou que eu estava morrendo de saudades dele ou algo assim. O
próprio pensamento me irritou.
Sim, ele parecia um sonho sentado ali, e eu me perguntei como
alguém podia ser tão bonito, mas Roman não era estranho para sua
aparência. Ele sabia que era gostoso e exalava confiança.
Marie passou para ele uma omelete espanhola e ele começou a comer.
Ele continuou olhando na minha direção, então tentei me concentrar em
outra coisa.
Mordi meu lábio antes de tomar outro gole de limonada. O sol
irradiava através da claraboia, enviando tons de ouro cintilante ao redor
da cozinha, e eu olhei para cima quando os raios quentes se espalharam
ao meu redor.
— Você não fala muito, não é, princesinha? — Minha atenção voltou
para Roman. Ele deu outra mordida em sua comida, ainda olhando para
mim. — Suponho que não posso te culpar, — ele continuou. Ele se
levantou, aproximando-se de mim. Eu me mexi na cadeira. O que ele está
fazendo?
— Você provavelmente estava esperando uma lua de mel de algum
tipo, — ele zombou, parando ao meu lado. Ele estava perto agora, e quase
comecei a tremer.
— Uma lua de mel romântica. Roman Marigold fazendo coisas
questionáveis ao seu corpinho. — Ele observou o sangue correr para
minhas bochechas com uma expressão presunçosa em seu rosto.
Ele estava falando sério? Ele estava brincando comigo. Eu não
esperava nenhuma dessas coisas. Eu não poderia me importar menos se
ele nunca tivesse me tocado. Eu não quero ninguém me tocando, nunca.
— O conto de fadas perfeito, — ele proferiu, agora elevando-se sobre
mim. Isso era demais.
— Não! — Eu rebati, claramente o pegando de surpresa.
ROMAN

Não? Então, a princesinha do papai tem voz, afinal. Eu tinha de


admitir que ela parecia deliciosa pra caralho sentada ali com aquele
vestido.
Eu não conseguia me concentrar em comer enquanto ela estava lá,
mordendo o lábio de aparência macia. Seu cabelo estava muito mais
comprido do que eu pensava, caindo em ondas soltas em direção à sua
cintura fina.
Aproximei-me mais, tentando provocá-la. Finalmente, eu estava perto
o suficiente para sentir o cheiro de seu doce aroma de coco e baunilha.
Eu podia ver o rubor se formando em suas bochechas.
Peguei você, princesinha.
Parece que definitivamente toquei em uma ferida.
— Não!
Ela me pegou de surpresa.
Recuei para admirar seu rosto enquanto ela mostrava fortes sinais de
irritação.
O nariz de botão de Raina franziu ligeiramente antes que ela se
levantasse do banquinho, me dando um olhar mortal, com seus olhos de
mel brilhando em tons de ouro sob os raios brilhantes.
— Eu sei que não devo acreditar em contos de fadas estúpidos,
Roman.
Meu nome deixou seus lábios como uma canção sedutora. Eu tinha
certeza que meu pau acabou de estremecer.
Ela saiu da cozinha, com seu traseiro perfeitamente redondo
balançando de um lado para o outro a cada passo.
Droga. Ela é sexy quando está com raiva.
Capítulo 12
INVICTO
RAINA

Consegui evitar Roman com sucesso o dia todo. Felizmente, ele estava
ocupado em seu escritório. Sim, ele tinha um escritório aqui em casa.
Jantei na cozinha com Marie antes de me retirar para o quarto.
O sol de verão começou a se pôr e eu o observei pela grande janela.
Essa era uma visão da qual eu nunca me cansaria.
Grace me ajudou a desempacotar minhas caixas de casa. Minhas
roupas velhas se juntaram perfeitamente ao resto no guarda-roupa, e
Grace gentilmente se ofereceu para levar meus livros para a biblioteca.
Coloquei a foto da minha mãe na mesa de cabeceira enquanto o sol se
dissipava além da linha da floresta.
O chuveiro estava chamando meu nome. Eu precisava
desesperadamente lavar meu cabelo. Tenho certeza de que ainda tinha
muito spray de cabelo do casamento.
A água fumegante massageou minha pele e fechei os olhos,
apreciando a sensação. Paraíso.
Minha conversa irritante com Roman continuava passando na minha
cabeça. Ele estava tentando me enrolar, ou ele realmente pensava que eu
tinha tesão por ele ou algo assim. Estava realmente surpresa?
Talvez se casar com Roman fosse o conto de fadas perfeito para
qualquer outra garota, mas não para mim. Príncipe Encantado e finais
felizes não existiam no meu mundo. Eles nunca tiveram espaço nele.
Vesti uma regata rosa com um par de shorts de pijama e andei para
fora do banheiro. Meu cabelo molhado caiu solto ao meu redor.
Eu bati direto no batente da porta, quase me derrubando no chão.
Minha respiração parou quando uma grande mão agarrou minha cintura
e me puxou para cima sem esforço.
Eu vacilei com o contato enquanto olhava para os verdes dos olhos de
Roman.
— Você se acalmou, princesinha? — Sua voz estava baixa, com sua
mão pressionando firmemente na parte inferior das minhas costas.
Eu me contorci para fora de seu controle e imediatamente me soltei.
Seus lábios formaram uma linha fina enquanto sua testa franzia em
confusão.
Então é como se ele percebesse a expressão escrita em meu rosto:
medo.
— Vou ficar no sofá esta noite, — ele proferiu, se afastando de mim.
— Oh, não, eu fico no sofá, ou posso apenas dormir em um dos
quartos de hóspedes.
De jeito nenhum eu poderia permitir que ele dormisse no sofá de seu
próprio quarto. Não seria justo. Eu preferiria ficar em um dos quartos de
hóspedes. Seria uma vitória para nós dois.
— Sem quartos de hóspedes, — ele murmurou. — As empregadas
falam, e se for divulgado que não dormimos juntos, as coisas vão ficar
feias. — Ele observou meu rosto por mais um momento antes de apontar
para a cama.
— A cama é sua. Estarei na academia. — Ele me deu um último olhar
sem emoção antes de sair da sala. Meu Deus.
Arrastei-me para a cama, deixando escapar um suspiro que não sabia
que estava segurando. Um sentimento de culpa passou por mim quando
pensei em Roman dormindo no sofá.
Eu não poderia nem culpá-lo por estar zangado com este casamento.
Não foi surpresa que ele não quisesse dividir a cama comigo. Diana
estava certa; ninguém em sã consciência ficaria feliz em se casar comigo.
Engoli o nó na garganta e fechei os olhos.
Eu estava fugindo da escuridão. Isso encheu o ar ao meu redor. Eu caí
no chão, e então uma mão fria e afiada agarrou minha perna. Virei-me
para encará-lo: o rosto do diabo — o rosto de Troy.
Eu gritei no silêncio assustador. Ninguém poderia me salvar.
Ninguém.
— Raina? Acorde, — uma voz baixa e familiar chamou.
Houve uma sacudida suave no meu braço. Eu pulei, ofegante, com
meu corpo tremendo de medo.
Meus braços se agarraram com força ao redor do calor que acalmou
meu estado de tremor. Enterrei meu nariz profundamente no cheiro
almiscarado que me acalmou neste exato momento.
O calor se espalhou do meu peito em direção às minhas costas. Fiquei
assim o máximo que pude.
É como se todos os meus sentidos tivessem voltado ao mesmo tempo,
fazendo-me ciente dos dois braços musculosos em volta de mim. Um
calor subiu ao meu rosto enquanto eu lentamente levantei minha cabeça
para encontrar os olhos escuros de Roman.
Meu coração começou a bater freneticamente.
Ele ficou quieto, gentilmente me abaixando na cama, seu rosto a
apenas alguns centímetros do meu.
Minhas bochechas esquentaram quando percebi que meus braços
ainda estavam em volta do seu pescoço, puxando-o para mim.
Eu soltei meus braços para libertá-lo e o observei enquanto ele se
levantava. Seu torso nu era um espetáculo para ser visto, e meus olhos
errantes percorreram a curva de cada músculo na luz fraca.
Este homem era absolutamente deslumbrante.
Roman puxou o cobertor sobre mim, com seus olhos intensos não
deixando os meus antes que ele silenciosamente voltasse para o sofá. Eu
estava sonhando?
Eu não tinha tanta certeza, mas estar nos braços de Roman não
parecia com nada que eu já tivesse sentido antes.
*
O sol brilhou sobre meus olhos trêmulos enquanto se estendia através
das cortinas. Eu preferia as cortinas de malha muito mais do que as
cortinas blackout. Davam ao quarto uma sensação aconchegante.
Eu amava o sol da manhã. Isso me fazia sorrir.
Meu corpo se esticou sob os lençóis antes de eu me levantar. Eu podia
ouvir o som de uma respiração pesada, mas calma, vindo do sofá. Roman
ainda estava dormindo.
Eu me arrastei em direção ao banheiro para me refrescar antes de sair
do quarto.
A casa estava em paz enquanto eu caminhava pelo corredor
sombreado em direção à cozinha.
Tons de pêssego e laranja foram pintados no céu enquanto eu olhava
para cima através da claraboia da cozinha. Eu mexi na máquina de café,
tentando me lembrar das instruções de Grace sobre como usá-la.
Depois de conseguir me servir uma xícara de café de aparência
bastante decente, sentei-me em um banquinho e parei por um momento
para apreciar a serenidade que enchia o ar.
Os pássaros chilreavam e cantavam nos jardins. Eu definitivamente
poderia me acostumar com isso.
Meu terror noturno foi esquecido há muito tempo, superado por
sentimentos confusos em relação a Roman. Ele parecia tão convencido e
arrogante, mas há algo que parecia gentil e amável sobre ele.
Era apenas uma ilusão?
Meus pensamentos voltaram para seu peito nu. Mordi meu lábio,
lembrando daqueles músculos ondulantes contra a luz fraca. Senti o
sangue familiar correr para minhas bochechas. De novo, não.
— Bom dia, querida. — Marie me fez engasgar como se eu tivesse sido
pega fazendo algo errado. Ela colocou uma sacola de compras no balcão
antes de levantar a sobrancelha e sorrir com a minha reação.
— Dormiu bem, Sra. Marigold?
— Sim, obrigada. Uh, bom dia, Marie. — Eu dei a ela um sorriso
tímido.
Marie me deu uma de suas famosas omeletes espanholas e eu saboreei
seu sabor. Grace e outra criada chegaram pouco depois.
Elas anunciaram que estariam trabalhando na casa principal hoje.
Eu caminhei pelos jardins, me sentindo um pouco boba de pijama,
mas estava animada demais para explorar.
Eu caminhei até a bela ponte floral observando o riacho abaixo de
mim enquanto fluía entre os grandes seixos.
Eu apreciei a vista celestial ao meu redor antes de olhar para a casa e
para onde o quarto estava. A grande janela estava completamente
escurecida pelo lado de fora.
O jovem senhor realmente gostava de sua privacidade.
O som de risadas e conversas leves chamou minha atenção enquanto
eu caminhava de volta para a cozinha.
Uma garota estava sentada em um dos banquinhos. Ela devia ser um
pouco mais velha do que eu. Seu cabelo negro caía direto em seus
ombros, e seus olhos de um azul oceânico brilharam quando ela me viu
entrar.
— Raina! — Ela gritou, saltando e disparando na minha direção, me
dando um abraço apertado.
— Eu sou Jane, prima do seu marido. — Ela sorriu enquanto me
forçava a virar.
— Puxa, você é deslumbrante. Quase não vi você no casamento.
Acabei de assistir seu pobre corpo sendo arrastado pelo corredor. — Ela
deu uma risadinha. Sua voz era alta e borbulhante, e não pude deixar de
sorrir para ela.
Conversamos um pouco, Jane direcionando a maior parte da
conversa. Ela era uma lufada de ar fresco.
— Meu Deus, Raina, você não é nada como eu pensei que seria. — Ela
me deu um sorriso tranquilizador.
Parece que todas essas pessoas esperavam que a esposa de Roman
fosse algo totalmente diferente, mas pareciam encantados em me
conhecer, mesmo eu sendo bastante tímida.
Foi bom me sentir aceita apenas por ser eu. Contudo, eu só podia
esperar que eles estivessem sendo sinceros.
Era uma sensação estranha ser apreciada por estranhos quando minha
própria família não suportava me ver.
— Precisamos almoçar e fazer compras algum dia, Rae, — Jane insistiu
enquanto colocava seu número no meu telefone.
Rae? Eu nunca tinha recebido um apelido antes.
— Princesinha?
Exceto por aquele.
Os olhos de Roman encontraram os meus enquanto ele entrava na
cozinha. Ele se virou para encarar Jane. — E a ervilha. — Ele sorriu,
ganhando um suspiro risonho de Jane. Ela atirou uma laranja para ele da
fruteira luxuosa.
— Veio ficar boquiaberta com minha esposa, Jane? — Ele perguntou,
pegando uma garrafa de água da geladeira. Senti minhas bochechas
esquentarem com suas palavras.
— Por que você está com ciúmes? — Ela lançou de volta, sorrindo com
a expressão no meu rosto.
— Então, Ro, tia Sheila me disse que você vai participar do evento de
caridade este mês. — Jane se virou para mim e piscou enquanto a
expressão de Roman mudou.
— Nah! Você sabe que eu não faço eventos de caridade, — ele
respondeu asperamente, com sua camiseta preta agarrada perfeitamente
ao seu corpo.
— Mas você tem de mostrar Raina para a sociedade.
— Foda-se a sociedade! — Roman rugiu, fazendo-me estremecer na
cadeira. Roman percebeu minha reação. Ele ergueu as sobrancelhas antes
de se virar e sair da cozinha.
Jane riu baixinho enquanto se virava para mim. — Deus, é tão fácil
deixá-lo nervoso.
— Ele parece muito zangado. — Eu mordi meu lábio. — Oh, por favor,
é apenas sua cara de reclamão descansando. — Jane zombou. — Ele odeia
todos os eventos de caridade, exceto um. Boxe.
— Ele gosta de assistir boxe? — Eu perguntei.
Jane ergueu as sobrancelhas antes de inclinar a cabeça para o lado. —
Oh, você tem muito a aprender sobre o seu marido rabugento, querida.
— Ela balançou a cabeça divertida. — Vamos apenas dizer que ele não vai
aos eventos de boxe para assisti-los.
Recostei-me a pensar. Se ele não comparece para assistir aos eventos,
então ele comparece... Meus olhos brilharam quando a ficha caiu.
— Ele luta. — Eu respirei com dificuldade, olhando para a porta pela
qual ele tinha acabado de sair.
— O invicto Roman Marigold, — Jane guinchou, colocando uma uva
em sua boca.
Ele é um boxeador!
Capítulo 13
LABIRINTO
RAINA

Algumas semanas se passaram e eu desenvolvi minha própria rotina


diária.
Acordar cedo, descer as escadas, me servir uma xícara de café, ler um
livro até Marie e Grace chegarem, e então eu daria um passeio pelos
jardins após o café da manhã.
Roman tinha trabalhado muito na cidade, então não o via muito. Eu
dormia quase todas as noites quando ele chegava. Richard Marigold
estava praticamente se aposentando, então Roman tinha muito mais
trabalho.
Jane costumava me visitar, o que sempre era uma boa diversão. Ela me
apresentou a Mark. Mark era o cara mais engraçado que eu já conheci.
Ele flertaria abertamente com absolutamente qualquer pessoa.
Ele fez Grace corar algumas vezes, e suas imitações de Roman nos
fizeram ter ataques de riso.
Notei que ele tinha um brilho especial nos olhos sempre que olhava
para Jane, embora ela olhasse para ele como um palhaço de circo.
Richard e Sheila me convidaram para tomar café e almoçar com eles
algumas vezes. Sempre era um prazer estar em sua companhia.
Sheila me mostrou muitas fotos de minha mãe quando ela era mais
jovem, e eu não conseguia acreditar no quanto eu parecia com ela — só
ouvir mais histórias sobre ela enchia meu coração de muita paz e alegria.
Finalmente tive uma sensação de pertencimento. Eu me apaixonei por
como me sentia dentro dessas paredes. Eu me apaixonei pelos jardins
deslumbrantes, pela vida selvagem que me cercava e pelas manhãs
tranquilas — tudo isso.
Eu ainda sentia falta de Hetty mais do que qualquer coisa. Seus
pensamentos sempre surgiram em mim quando eu menos esperava.
Ansiava por seu abraço caloroso e por ouvir sua doce voz.
Era uma noite tranquila de verão e eu estava jantando com Richard e
Sheila na casa principal.
Sentamos no jardim depois do jantar. Richard serviu bebidas para
todos nós do bar: gim com tônica para Sheila e uma taça de vinho tinto
para mim.
Eu não era uma grande bebedora. Nunca tomei mais de uma bebida
alcoólica por vez.
Richard se sentou em um dos bancos aconchegantes à minha frente,
com seus olhos parecendo muito mais cansados do que eu tinha visto
recentemente. Seu uísque girou em seu copo enquanto ele olhava ao
redor para a vista.
Sheila acabara de sair para atender a um telefonema.
— Você trabalha tão duro. Constrói um império. Sustenta uma
família. Faz um nome para você e tudo para quê? — Ele suspirou,
tomando um gole de sua bebida.
— Você está bem, Sr. Mari... pai?
Richard acenou com a cabeça, olhando para mim com adoração. —
Ah, sim, Raina, estou bem. Ok, agora que você está aqui conosco, sei que
meu filho está em boas mãos. — Ele tomou outro gole de sua bebida.
— Raina, eu... eu não tenho muito tempo de sobra, — ele respirou,
olhando fixamente para mim.
Eu encarei seus profundos olhos verdes enquanto suas palavras tristes
me ocorreram.
— Eu teria adorado conhecer meus netos. Gostaria de jogar bola com
eles, quebrar todos os vasos de flores da vovó Sheila. — Ele riu enquanto
a dor ainda estava clara em seus olhos.
Richard passou a mão pelo cabelo grisalho, tomando outro gole de sua
bebida. Eu me levantei e caminhei até ele, limpando as lágrimas que
lutavam para escapar dos meus olhos.
— Pai, — eu sussurrei, segurando-o com um abraço caloroso. Eu o
ouvi rir enquanto ele acariciava minhas costas.
— Isso é vida, minha doce menina. — Ele sorriu, parecendo muito
com Roman naquele momento. Ele beijou minha testa antes de Sheila se
juntar a nós.
— Raina, querida, era a Vivian no telefone. Oh, aquela mulher sente
tanto a sua falta. — Sheila pegou sua bebida na mesa. — Ela me contou
como você e ela conversam ao telefone pelo menos duas vezes por dia.
Eu inclinei minha cabeça para o lado, muito confusa.
— Ela vai visitar a Diana no sábado, disse que foi ideia sua. Vou fazer
os preparativos. Oh, os Wilson voltaram para o almoço. Vai ser lindo. —
Sheila tomou um gole de gim e tônica com um grande sorriso no rosto.
Se ela soubesse.
Eu segurei a vontade de rolar meus olhos por causa das mentiras
estúpidas de Vivian. A última vez que ela falou comigo foi na manhã do
meu casamento.
Eu gostaria de ter coragem de contar aos Marigolds a verdade sobre
ela, mas não consegui me obrigar a fazê-lo. Eu ainda não conseguia
confiar que eles iriam acreditar em mim em vez de sua amiga de longa
data.
Quero dizer, por que eles fariam isso?
Levantei-me e endireitei meu vestido vermelho antes de me despedir.
O sol tinha se posto completamente, desenhando tons de azul no céu
estrelado. Eu segui o caminho de volta para a casa lateral.
Algo quente e grande envolveu minha mão, fazendo-me soltar um
suspiro trêmulo. Roman me puxou para ele, colocando o dedo nos lábios
para me calar.
Ele parecia cansado, mas ainda assim conseguia ficar lindo. Seu cabelo
despenteado estava bagunçado acima de sua cabeça. Os poucos botões
no topo de sua camisa cinza foram abertos.
— Você gosta de labirintos, princesinha? — A voz de Roman estava
cheia de malícia enquanto dava alguns passos para trás em direção ao
labirinto, me puxando com ele.
Tentei esconder o sorriso nervoso se formando em meu rosto. Só uma
pessoa louca exploraria um labirinto no escuro, mas com ele, eu me
sentia segura.
— Agora? — Eu hesitei.
— Sim, agora.
— Mas... — Eu comecei a protestar, mas uma parte de mim queria
explorar. Com ele.
— Mas o quê? — Ele sorriu. Eu não pude deixar de sorrir; ele era tão
encantador. Não era justo.
— Tudo bem, — eu concordei. Ele riu quando eu apertei sua mão com
um pouco mais de força.
Meu coração começou a bater a cada passo no labirinto. Ele mostrou
o caminho, olhando para mim a cada segundo. Eu esperava que a
escuridão escondesse meu rosto vermelho enquanto caminhávamos mais
para dentro do labirinto de mãos dadas.
— Então, presumo que meu pai tenha falado com você? — A voz de
Roman quebrou o silêncio.
— Sim, — eu respondi, deixando escapar um suspiro profundo.
— Eu não consigo imaginar minha vida sem ele, — ele murmurou,
fazendo meu coração doer com suas palavras.
— Você é igualzinho a ele, — sussurrei, tentando manter o equilíbrio
enquanto o labirinto ficava mais escuro.
— Você acha? — Roman riu baixinho enquanto olhava para mim. Eu
olhei de volta e balancei a cabeça.
— Então, você gosta daqui? — Ele perguntou, observando minha
expressão.
Eu olhei para frente e sorri. — Eu... eu amo isso aqui, — eu admiti.
Mordi meu lábio antes de senti-lo apertar suavemente minha mão.
Caminhamos em silêncio por mais um tempo. Eu não gostei de como
ficou escuro e do silêncio assustador que nos rodeava.
Roman parou no lugar enquanto tentava descobrir seus próximos
passos, soltando minha mão no processo. Deve ter sido esse o plano dele,
me deixar aqui — um truque cruel.
Foi como aquela vez em que Diana e suas amigas me trancaram em
um porão escuro por dias. Claro. Por que eu não percebi?
— Não, Roman, espere! — Eu gritei, puxando sua camisa o mais
firmemente que pude.
— Por favor, não me deixe aqui, — eu resmunguei, quase rasgando o
material macio. Senti os braços quentes de Roman me envolverem
imediatamente. Seu cheiro terreno me acalmou quando meu corpo
bateu com força em seu peito.
— Por que eu iria deixar você aqui? — Ele perguntou severamente
enquanto apertava seu aperto em volta de mim.
— Ei. — Ele ergueu meu queixo com os dedos. — Por que você está
tremendo? — Ele franziu a testa com as lágrimas nos meus olhos.
— Do que diabos você tem tanto medo, Raina? — Ele murmurou, com
confusão clara em seu tom. Fiquei em silêncio, sentindo-me
extremamente tola depois do que acabara de fazer.
Roman soltou um suspiro profundo e, antes que eu percebesse, ele me
levantou sem esforço.
Um grito baixo deixou meus lábios. Minhas bochechas coraram
enquanto ele voltava para casa comigo em seus braços.
Eu queria rir da ironia. Essa era a pose típica de um casal de noivos.
Embora pela expressão no rosto de Roman, ele estava longe de querer rir
quando me colocou no salão. Ele parecia chateado.
Porcaria.
Diana estava certa, eu agia estranhamente, e agora Roman também
deve ter notado. Deus sabe o que ele pensava de mim, mas eu sabia que
ele não estava feliz agora. Por favor, não me odeie.
— Estarei na academia, — ele resmungou e saiu abruptamente.
Soltei um suspiro profundo e afundei no sofá mais próximo. Acho que
seria melhor se eu mantivesse distância de Roman. Eu já havia
perturbado sua vida o suficiente.
Eu estava grata por ele ser tão complacente comigo, mas não tinha
certeza de quanto tempo isso iria durar.
ROMAN

Coloquei meu short preto de treino e comecei a levantar pesos. Eu


tinha de tirar a princesinha da minha cabeça.
Seus inocentes olhos de mel brilharam diante de mim, e resisti ao
desejo de voltar para ela e exigir respostas pelo seu comportamento de
antes. Em vez disso, fui até o saco de pancadas para me distrair.
Uma parte de mim sabia. Qualquer um poderia reconhecer os sinais.
Ela fez bem em esconder isso, mas eu estava morando com ela há tempo
suficiente para notar.
Eu ouvia seus gritos durante a noite. Eu via o medo em seus olhos. Ela
tem medo de alguma coisa. Alguém.
Senti minha raiva derramar a cada golpe no grande saco de couro
enquanto o suor começava a cobrir minha pele.
Meus grunhidos ficavam mais altos a cada golpe enquanto o rosto de
meu pai brilhava diante de mim. Ele estava morrendo e não havia nada
que eu pudesse fazer a não ser vê-lo sofrer. Observava-o perder
lentamente o controle de tudo ao seu redor.
Fechei meus olhos e dei boas-vindas à fúria que tomou conta de meu
corpo inteiro. Foi só até o saco cair do gancho que percebi o dano que
havia causado.
Depois de um banho quente relaxante, me senti muito mais calmo.
Esfreguei a toalha no meu cabelo molhado. Minha cabeça estava
inclinada para trás em confusão. A cama estava intacta. Onde ela estava?
Um movimento leve no sofá chamou minha atenção, e eu
silenciosamente me aproximei dele. Meus olhos pousaram na visão mais
adorável. Lá ela estava dormindo.
Eu ri baixinho enquanto me abaixei para pegá-la e colocá-la na cama,
mas então eu tive uma ideia.
Parei por um momento para admirar seu rosto pacífico; seus longos
cílios se espalharam perfeitamente enquanto ela respirava
silenciosamente. Ela era a definição de inocência, uma beleza natural.
Esta pequena princesa claramente pensou que se ela dormisse aqui no
sofá, eu ficaria feliz em ficar na cama. Deixei claro que o sofá era meu, e
ainda é.
Com um sorriso malicioso, eu sorrateiramente me coloquei ao lado
dela, sentindo o cheiro das coisas boas: Mmm, coco e baunilha. Envolvi
meu braço em volta da cintura dela e a puxei de volta contra meu peito.
Ela se encaixava no meu corpo como uma peça de quebra-cabeça.
Eu não sei que horas eram durante a noite quando meus olhos se
abriram quando a pequena megera se espreguiçou com um gemido
ofegante, com seu traseiro perfeitamente redondo se arrastando contra
meu pau durante o sono.
Porra!
RAINA

Tive a melhor noite de sono ontem à noite.


O sofá era muito mais confortável do que eu esperava. Pelo menos
isso é uma coisa a menos atrapalhando a vida de Roman.
Ele deve ter se sentido aliviado por ter sua cama de volta. Com sorte,
ele estaria com um humor melhor hoje.
Eu me estiquei enquanto o sol brilhava através das cortinas. Meu
cotovelo cutucou um enorme travesseiro duro. Não me lembro de estar
cercada por travesseiros na noite passada.
Eu gritei, sentindo um aperto suave na minha cintura. Porra!
Eu pulei para encontrar Roman deitado ao meu lado. Seus olhos se
abriram lentamente enquanto ele estendia os braços. O sangue nunca
correu para minhas bochechas tão rápido em toda a minha vida.
— Você se mexe. Muito, — ele disse, gemendo. Sua voz áspera e
sonolenta enviou uma onda de calor por todo o meu corpo. Ele se virou e
puxou o cobertor sobre si mesmo.
O que diabos estava acontecendo? Meu coração começou a bater forte
quando estiquei minha perna sobre ele para pular do sofá, mas ele se
achatou, fazendo-me cair em cima dele.
Ele estava deitado entre minhas pernas e eu podia sentir sua
protuberância dura sob mim. Oh, meu Deus.
As mãos grandes de Roman encontraram minhas coxas antes de
deslizarem suavemente em direção à minha cintura, puxando-me para
perto enquanto seus olhos escuros se fixavam nos meus. Porra.
— Da próxima vez, fique na sua própria cama, princesinha.
— Eu... eu... desculpe! — Eu engasguei pouco antes de ele me soltar.
Corri direto para o banheiro com uma vontade repentina de jogar
água fria em meu rosto. Meu coração estava disparado, mas eu estava
sentindo algo totalmente diferente. Não era medo. Era... diferente.
Uau.
Capítulo 14
SEUS CUMPRIMENTOS
RAINA

O sábado chegou logo, e eu temia cada momento. Sheila estava


ocupada se preparando para a chegada de minha madrasta e Diana.
Eu estava me sentindo tão confortável ao meu redor ultimamente que
a ideia de ver seus O que é bom, nunca dura, e era apenas uma questão
de tempo até que aparecessem para estourar minha bolha.
A única coisa que descobri me distraindo dos Wilsons foram os
pensamentos sobre Roman. Eu me peguei sonhando acordada com ele
sempre que ele não estava por perto.
Então eu enrubescia e sentia que todos podiam ler meus
pensamentos. Deus, eu esperava que não!
Sheila tinha marcado o almoço na casa principal. Ela mandou decorar
a sala de chá com lindas flores.
A casa principal tinha uma enorme sala de jantar, mas Sheila preferia a
sala de chá cercada por paredes de vidro oferecendo uma vista
deslumbrante para os jardins.
Roman tinha negócios importantes para cuidar, então não tinha como
fazer o almoço. Sorte dele.
Meu estômago esteve se contorcendo em nós o dia todo, e isso não
passou despercebido.
— Está tudo bem, Raina? — A voz de Marie me distraiu dos meus
pensamentos quando me sentei à mesa do café.
— Sim. — Foi tudo o que pude responder enquanto tomava um
grande gole de café. Eu a encarei de volta com uma expressão vazia.
Eu poderia dizer que Marie queria me questionar mais, mas ela estava
ocupada fazendo os preparativos para o almoço, então ela mudou de
assunto. Obrigada, Senhor.
Eu coloquei um vestido lilás com ombros largos que descia até logo
abaixo dos meus joelhos. Meu cabelo estava modelado em ondas caindo
volumosamente ao meu redor.
Calcei um par de sandálias e parei para me admirar no espelho. Nada
mal, Raina.
Richard, Sheila e eu ficamos do lado de fora da casa principal, olhando
para o longo caminho de cascalho que levava aos portões principais.
Avistei o carro da minha madrasta imediatamente quando ele entrou.
Senti náuseas.
— Raina, querida! — Vivian guinchou, caindo do carro e investindo
contra mim. Eu dei a ela um sorriso educado enquanto ela olhava para
mim com um sorriso falso estampado em seu rosto de plástico.
Diana saiu do carro, olhando para a mansão diante dela. Ela ergueu a
sobrancelha antes de olhar na minha direção.
— Oi, mana. — Seu tom sarcástico não passou despercebido por mim.
— Ei, Diana, — eu respondi suavemente com um pequeno aceno de
minha mão.
As duas cumprimentaram Richard e Sheila antes de entrarem na casa.
Seus olhos errantes não podiam ficar em um lugar enquanto
caminhavam pelo salão.
Nós apreciamos o buffet espalhado nas grandes mesas.
Sheila realmente deu tudo de si. Havia de tudo, de sanduíches
minúsculos e quiches a mini hambúrgueres, cachorros-quentes e outra
mesa inteiramente para doces. Uau.
Claro, Vivian manteve o foco em Sheila, querendo saber tudo sobre
ela. Foi exaustivo ouvir todas as suas perguntas.
Ela nem dava a Sheila a chance de responder antes de perguntar outra.
Diana manteve seu foco em mim, olhando para mim até que eu me
sentisse desconfortável. Ela zombava sempre que eu me levantava para
reabastecer meu prato.
Eu sabia que ela pensava que eu não pertencia a este lugar. Ela não
suportava me ver em um lugar assim. Ela não conseguia nem esconder
sua carranca enquanto examinava o comprimento do meu vestido com
seus olhos estreitos.
Eu me perguntei onde estava Roman. Ele deve estar enterrado no
trabalho. Uma parte de mim se sentiu aliviada por não ter de lidar com
minha família examinadora, enquanto outra parte de mim desejava vê-
lo.
Outra parte queria que ele me roubasse daqui.
— Raina, por que você não mostra a cidade para sua mãe e irmã? —
Sheila insistiu. Deus, ela deve ter pensado que precisávamos de um
tempo a sós. Nós realmente não precisávamos.
Soltei um suspiro silencioso antes de me levantar da mesa,
preparando-me para a minha madrasta e as máscaras falsas de Diana
caírem.
Quanto mais caminhávamos, mais suas vozes voltavam a ser como eu
sempre me lembrava. Estávamos completamente fora do alcance da voz
agora, uma vez perto da ponte floral.
— Eu não posso acreditar que ela mora aqui, — Diana zombou,
balançando a cabeça e estreitando os olhos para mim.
— Onde está seu marido? — Ela perguntou, mordendo o lábio.
— Essa é a única pessoa que vim ver. — Seu sorriso cruel cresceu mais
amplo quando ela sentiu meu desconforto.
Minha madrasta não falou muito; ela apenas ficou admirando a ponte,
imaginando como poderia conseguir uma para si mesma.
— Ele está trabalhando, — respondi. Minha voz parecia ficar mais
baixa ao falar com ela.
Diana se aproximou de mim. Sua bolsa Chanel estava pendurada
graciosamente em seu braço.
— Ainda é a mesmo, não é? — Ela zombou. — Ainda a mesma
esquisita que você sempre foi.
Afastei-me dela em direção à casa. Eu só tinha de suportar suas
palavras dolorosas por mais um pouco. Você consegue, Raina.
— Ele provavelmente pensa que você é apenas uma das empregadas.
— Ela gargalhou, tomando-se mais consciente do efeito que tinha sobre
mim. Eu ouvi minha madrasta rir com o comentário dela.
Prendi a respiração quando Diana se aproximou de mim. — Ele já te
fodeu? — Ela sussurrou. Meus olhos se arregalaram de choque.
— Claro que não. Basta olhar para você, andando por aí como se
pertencesse a este lugar. Você parece um peixe feio fora d'água. — Ela deu
uma risadinha. O som estridente de sua risada ecoou pelos jardins.
Eu queria empurrá-la para fora desta ponte.
De repente, ouvi meu telefone tocando na minha bolsa. Eu o achei e
segurei no meu ouvido — Está se divertindo, princesinha? — Eu não
pude evitar o sorriso que se espalhou pelo meu rosto ao som da voz de
Roman.
— Uh... sim, — Eu respondi como se estivesse tentando me
convencer.
— Lamento não poder estar aí hoje.
— Oh, está tudo bem... de verdade. — Eu queria dizer a ele que ele não
estava perdendo muito, mas contive minhas palavras.
Diana fez uma careta para o meu rosto sorridente e cruzou os braços
contra o peito. Eu estava tendo um pouco de prazer com seu
comportamento ciumento.
— Vejo você mais tarde, então.
— Vejo você mais tarde, Roman.
Desliguei e mexi no meu cabelo como uma garotinha. Eu tinha
certeza que minhas bochechas estavam rosadas.
Voltamos para a casa onde minha madrasta continuou sua louca
obsessão por Sheila. Sentamos em tomo dos bancos acolhedores no
jardim enquanto o sol de verão começou a se pôr.
Diana permaneceu em silêncio desde o telefonema de Roman, mas ela
fez questão de me encarar a noite toda.
Agradeci aos deuses lá em cima quando Vivian recusou o convite de
Sheila para passar a noite. Depois do que pareceu uma eternidade, ela se
levantou e disse adeus.
Fiz uma pequena dança em minha cabeça enquanto as víamos partir.
Meu corpo enrijeceu quando minha madrasta me abraçou com um
abraço exagerado antes de entrar no carro. Eu sorri internamente,
animada para ver as costas deles.
Diana saltou em minha direção e jogou os braços em volta de mim
antes de se inclinar em meu ouvido. Suas palavras seguintes limparam o
sorriso do meu rosto. Um calafrio percorreu minha espinha.
— Troy manda lembranças. — Seu rosto mudou quando ela olhou
para mim. Eu mal pude reconhecê-la. Ela me lançou um olhar astuto,
seus lábios se curvando em um sorriso de escárnio sinistro. Ela sabia.
O choque percorreu meu corpo quando ela me deixou com os olhos
arregalados e a observei entrar no carro. Sempre soube que Diana era
uma vadia, mas não sabia que ela era má.
Ela sabia o que Troy fazia comigo, mas parecia usar isso para me
atingir. Foi uma ameaça? Claro, parecia uma.
Meus joelhos ficaram mais fracos a cada passo de volta para o quarto.
Eu desabei na cama e minhas lágrimas me acolheram como um velho
amigo.
Ficou escuro ao meu redor enquanto eu ainda estava lá; apenas o som
de minhas fungadas suaves ecoava pelo quarto.
Sentando-me lentamente, meus olhos dispararam em direção à porta
à esquerda, o único lugar que eu não tinha explorado. Eu me levantei da
cama e deixei minha curiosidade mostrar o caminho enquanto puxava a
maçaneta.
Desci a escada estreita atrás da porta para encontrar um pequeno
corredor que levava a outra porta. Atrás da segunda porta havia uma sala
enorme cheia de mais equipamentos de ginástica do que eu já tinha visto.
A única outra academia que eu tinha visto era a da faculdade, mas era
pelo menos dez vezes maior que aquela.
No final, havia uma grande janela que dava para uma piscina bem
iluminada. Como eu não sabia que isso estava aqui? A piscina era cercada
por arbustos, flores, pedras e seixos, dando a ilusão de um lago.
Tinha até uma cachoeira de pedra no canto. Este lugar era incrível.
Tudo aqui parecia novo e brilhante. O cheiro almiscarado e terroso de
Roman estava em toda parte. Meus olhos dispararam em direção ao saco
de pancadas preto pendurado no meio da sala.
O aroma de couro atingiu meu nariz enquanto eu circulava o saco de
pancadas, arrastando meus dedos ao longo dele. Eu empurrei minhas
mãos contra o couro, esperando que balançasse, mas isso não aconteceu.
Eu empurrei novamente com todas as minhas forças e bufei o cabelo
do meu rosto com irritação quando ele ainda não se mexeu.
Eu formei um punho duro antes de empurrá-lo contra o couro preto,
deixando escapar um suspiro áspero quando a satisfação escoou por
mim. Isso era bom.
— O que você está fazendo, princesinha?
Eu engasguei, virando-me para encarar Roman.
Ele parecia bem em uma camisa de botão preta com as mangas
arregaçadas até os cotovelos, expondo seus antebraços musculosos. Seus
lábios carnudos estavam ligeiramente franzidos enquanto ele me olhava.
— Nada. Eu... eu estava apenas explorando. — Comecei a mexer com
meus dedos. — Eu já estou. Indo. Desculpa. — Mordi meu lábio e corri
por ele em direção à porta.
Minha respiração cessou quando a mão de Roman encontrou a
minha, me puxando de volta para ele. Ele ficou atrás de mim enquanto
caminhávamos de volta para o saco de pancadas.
Seu hálito quente soprou contra meu pescoço, com suas mãos
pressionando firmemente em volta da minha cintura.
— De que você tem tanto medo? — Ele perguntou, com sua voz
áspera vibrando contra meu ouvido, fazendo meu coração disparar.
Fiquei em silêncio, olhando fixamente para a bolsa diante de mim.
— Dê um soco, — Roman exigiu. Eu fechei o punho e bati o mais forte
que pude.
— De novo, — ele rugiu, conseguindo um pequeno suspiro de mim.
Comecei jogando jabs com ambas as mãos, gradualmente pegando o
ritmo. — Feche os olhos, — Roman ordenou em meu ouvido.
Instantaneamente, meus olhos se fecharam enquanto continuei meu
ataque ao couro áspero.
Meu coração disparou. Eu ouvi a risada sádica. O sorriso sinistro de
Diana brilhou diante de mim, com suas palavras queimando minha pele.
Troy manda lembranças.
A gargalhada sádica de Troy uivou em minha mente, enviando uma
onda de raiva pelo meu corpo.
Senti que golpeava com mais força ao ouvir os gritos de Hetty e a vi
assustada, com o rosto frágil. Senti as lágrimas rolarem enquanto gritava
por ela.
— Não! — Eu gritei, socando com todas as minhas forças.
Eu sei que você me quer, Raina. A voz de Troy perfurou minha alma
quando seu rosto invadiu minha mente. Seu sorriso malicioso se
transformou em uma risadinha.
Há muito tempo havia perdido o controle do que estava fazendo e
senti uma onda animalesca crescer dentro de mim enquanto batia para
me defender. Abra esses lindos lábios. Retina.
— Não! — Eu gritei, rasgando a bolsa pesada com minhas unhas.
— Sai de cima de mim! — Eu rugi quando senti dois braços
musculosos me arrastando para longe do meu alvo.
— Sai. De. Mim! — Eu chorei, batendo meus punhos contra o corpo
duro diante de mim.
— Raina! — Roman gritou, e meus olhos se abriram para encontrar as
manchas de preocupação em seu olhar frondoso. Sua camisa estava
rasgada e ele me prendeu contra a parede. O que eu fiz?
Seu rosto estava a poucos centímetros de distância enquanto minha
respiração ofegante frenética combinava com a sua, tomando-se mais
pesada e mais lenta com a exaustão.
Roman bateu as mãos com força contra a parede, com manchas
escuras de fúria queimando seus olhos. Eu fiquei entre seus braços,
pronta para enfrentar a punição que ele daria. Fiquei surpresa por não ter
vindo antes.
Muito antes.
Seu cheiro almiscarado permaneceu no ar, e enquanto eu olhava
profundamente em seus olhos, comecei a esquecer. Eu ansiava por tocá-
lo, correr meus dedos por seus cabelos. Eu não tinha certeza do que tinha
acontecido comigo.
Roman ergueu a mão e afastou uma mecha de cabelo do meu rosto.
Seu polegar áspero roçou lentamente meu lábio inferior.
Eu olhei em seus olhos quando minha língua encontrou seu polegar,
me surpreendendo com minhas ações.
Ele cerrou os dentes com o contato antes de ele rudemente enredar
seus dedos em meu cabelo e puxar. Meus olhos se fecharam quando seus
lábios roçaram meu pescoço exposto.
Mordi meu lábio com antecipação, saboreando essa nova sensação.
Meu coração batia furiosamente enquanto meus braços se encontravam
em volta do pescoço de Roman.
Eu pulei, envolvendo minhas pernas em tomo de seu grande corpo.
Ele me pegou sem esforço e me segurou no lugar.
Ele foi definitivamente pego de surpresa, com seus lábios se separando
ligeiramente enquanto sua testa franzida com curiosidade. Eu não pude
evitar, mas soltei uma risadinha com sua expressão, mordendo meu lábio
para tentar me conter.
Roman olhou para mim. Agora que estávamos cara a cara, eu podia
ver claramente a luxúria em seus olhos.
— Você é louca pra caralho, — ele respirou. Seus lábios macios
encontraram os meus e ele me beijou. Eu podia sentir o gosto de sua
fome. Suas mãos viajaram mais para baixo na minha bunda e ele apertou
levemente. Sua língua quente encontrou a minha e eu me derreti sobre
ele.
Capítulo 15
FÚRIA
ROMAN

— Saia. De. Mim! — Raina gritou, batendo seus punhos pequenos no


meu peito. Suas unhas cravaram em mim, rasgando minha camisa e
fazendo alguns botões espalharem-se pelo chão.
Eu tive de acalmá-la antes que ela se machucasse. A raiva crescendo
dentro de mim foi posta de lado por um momento enquanto eu a
prendia contra a parede e segurava seus braços ao lado do corpo.
— Raina!
Seus gritos e gemidos pararam repentinamente, e seus olhos
revestidos de mel encontraram os meus. Agora que ela havia se acalmado
um pouco, eu poderia me concentrar em entender isso.
O que diabos a fez agir dessa maneira?
Bati minhas mãos com força contra a parede. Raina estava entre meus
braços. Ela parecia derrotada quando senti seu hálito doce contra meu
rosto.
Por um momento, as manchas douradas em seus olhos brilharam algo
que eu nunca tinha visto antes, seus lábios rosados se separaram e seus
olhos se estreitaram ligeiramente. Ela era linda pra caralho.
Deslizando uma mecha de seu cabelo para o lado, eu não pude deixar
de escovar meu polegar contra seu lábio inferior perfeito e macio. Seus
olhos eram hipnotizantes enquanto olhavam para os meus.
Eu assisti incrédulo enquanto sua pequena língua escorregou e
lambeu a ponta do meu polegar. Meu pau se contraiu em resposta.
Meus dedos se encontraram emaranhados em seu cabelo, inclinando
sua cabeça e expondo seu pescoço liso. Meus lábios se moveram por
conta própria, deslizando por sua pele quente e macia. Eu a queria.
Muito.
Nenhuma outra mulher teve esse efeito em mim, mas algo sobre
Raina estava me deixando louco.
Eu tive de segurar a besta dentro de mim que estava avançando para
tomá-la bem aqui, mas até eu sabia que ela era muito gentil.
A inocência em seus olhos ainda brilhava com cada movimento. Tinha
de ter cuidado com ela.
De repente, senti suas pequenas mãos envolverem minha nuca
enquanto suas pernas se montavam em minha cintura. Meus braços
caíram sobre suas costas para prendê-la no lugar. Ela realmente pulou
em cima de mim?
Tentei estudar sua expressão. O que se passava em sua mente? O rosto
de um anjo, as ações de uma aberração.
Meu pau endureceu só de tentar entender o que ela estava fazendo, e
foi então que ouvi, um som que guardaria na memória para sempre. O
som de sua doce risada me fez perder o controle.
— Você é louca pra caralho, — eu soltei, jogando meus lábios nos dela.
Seus lábios pareciam seda macia enquanto eu a devorava
impacientemente. Ela retribuiu a mesma paixão em seu próprio jeito
gentil. Ela gemeu enquanto eu aprofundava o beijo, com seus dedos
deslizando suavemente pelo meu cabelo.
Levei toda a minha força para afastar meu rosto do dela, para olhar
naqueles olhos de mel para me certificar de que ela estava bem.
Ela sorriu suavemente, seus olhos tremulando com inocência quando
ela mordeu o lábio, ficando com um tom profundo de vermelho. Meus
lábios pairaram diante dos dela, e não pude deixar de sorrir quando ela
me beijou suavemente.
Ela era tão delicada, tão frágil. Eu temia quebrá-la se não fosse
cuidadoso.
Eu não conseguia parar de olhar para ela. Eu poderia dizer que seus
olhos estavam ficando mais pesados a cada segundo. Ela bocejou antes de
sua cabeça cair para o meu ombro, e eu senti o cansaço saindo dela.
A princesinha estava com sono.
Eu a carreguei de volta para o quarto e gentilmente a coloquei na
cama. Raina agarrou e puxou meu braço antes que eu pudesse recuar.
Eu olhei para a beleza abaixo de mim. Seus olhos estavam lutando
contra o sono enquanto ela se segurava em mim, me incentivando a ficar.
Sem outra palavra, caí ao lado dela. Ela aninhou a cabeça em meu
peito e sua mão caiu em meu ombro, agarrando minha camisa rasgada.
Ela me segurou com tanta força, que era como se tivesse medo de que
eu escapasse.
— Eu não vou a lugar nenhum, Raina. Eu estou bem aqui. — Beijei sua
testa e me acomodei.
— Roman? — Ela sussurrou.
— Sim?
Parecia que eu estava esperando uma eternidade por sua resposta, mas
quando olhei para seu rosto, ficou claro que o sono finalmente a
consumiu.
Raina estava quebrada, ela era linda, ela era louca pra caralho, e ela era
minha. Toda minha.
RAINA

Meus olhos abriram quando a luz do sol se espalhou pela sala, caindo
graciosamente no meu rosto. Eu levantei minha cabeça para olhar para o
homem divino abaixo de mim. Sua respiração era superficial enquanto
ele dormia pacificamente.
Senti minhas bochechas ficarem vermelhas enquanto meus olhos
percorriam seus lábios carnudos, lembrando como era senti-los nos
meus. Eu não acho que poderia me sentir assim por qualquer homem. Eu
esperava que ele me machucasse, mas seus toques eram sempre tão
suaves e gentis. Eu nunca poderia imaginar ele me machucando.
Soltei um pequeno suspiro quando percebi que estava crescendo
apegada a ele, usando-o para proteger meus medos. Roman me fazia
sentir segura, mas ele trouxe à tona um lado meu que eu não sabia que
existia.
Tudo sobre este homem enviava uma onda profunda para as minhas
partes mais íntimas. Não percebi que com o desejo vinha outra coisa,
uma necessidade, uma dor, uma pulsação. Lá em baixo.
Eu sabia que era completamente inexperiente em comparação com as
mulheres com as quais Roman estava acostumado. Não havia como eu
estar à altura. Por que tentar? Eu nunca seria capaz de agradá-lo.
Os olhos de Roman se abriram, me pegando em flagrante. Ele lambeu
os lábios e sorriu. Eu gritei quando senti suas mãos fortes envolverem
meu corpo e me levantar para sentar em cima dele.
Eu ainda estava usando meu vestido lilás enquanto Roman ainda
usava sua camisa rasgada, graças a mim.
Senti o calor subir às minhas bochechas sob seu olhar lascivo, mas não
conseguia desviar o olhar. Suas grandes mãos caíram em minhas coxas,
fazendo meu ponto sensível começar a latejar.
— Sabe, essa era minha camisa favorita. — Sua voz era grave e sexy.
Ele gentilmente colocou as mãos nos meus ombros enquanto seus
polegares esfregavam círculos em volta da minha clavícula. — Me
desculpe, foi sem querer, — um som agressivo de rasgo prendeu minha
respiração. Meu vestido estava rasgado do decote até a bainha.
— Aí. — Roman sorriu enquanto seus olhos percorriam a lágrima,
expondo meu peito. Meus braços voaram para cobrir meus seios
enquanto ficavam em um tom ainda mais profundo de vermelho.
Roman riu descaradamente, mas depois mordeu o lábio. Ele me olhou
como se eu fosse sua próxima refeição. Por que ele me deixava tão
nervosa?
Ele me soltou e se levantou da cama. Seus olhos verdes ficaram presos
nos meus enquanto ele tirava a camisa rasgada, seguida pelas calças.
Agora, vendo-o apenas em sua boxer, meus olhos percorreram cada
curva e arco de sua forma muscular. Uau.
Meus olhos se moveram para a grande protuberância em sua cueca
boxer, e me senti fisicamente engolir em seco. Estava extremamente
quente aqui de repente.
— Você confia em mim, princesinha?
Eu confiar nele? Eu mal o conhecia. Mas já estávamos casados há um
mês e eu sabia que me sentia segura perto dele.
Ele não colocou a mão em mim uma vez, nenhuma vez me machucou.
Ele não me forçou a fazer nada que eu não quisesse. Eu confiava nele.
— Sim, — eu sussurrei.
— Boa. — Seus olhos de rio olharam para meu rosto, estudando
minha expressão.
— Do que você tem tanto medo o tempo todo? Desta vez eu quero
uma resposta, Raina.
Eu tropecei para encontrar as palavras. O que eu queria dizer? Tenho
medo do meu primo, que também é meu meio-irmão, que me agrediu?
Eu sabia que não havia nenhuma maneira de eu poder dizer a ele sem
arrastar ambas as famílias a esta confusão. Eu estava longe de Troy agora;
não havia nenhuma maneira que ele pudesse chegar até mim aqui.
Não havia necessidade de abrir essa caixa de Pandora.
— Nada, eu... eu só sofri bullying na escola. Obviamente teve um
impacto maior sobre mim do que eu pensava, — expliquei, tentando
disfarçar casualmente. Eu não estava mentindo. Eu estava apenas
deixando de fora alguns — ok, muitos — dos detalhes.
— Então você está com medo de valentões, hein? — Ele suspirou,
passando a mão pelo cabelo sedoso. — O medo está na mente, Raina. Eu
quero que você me deixe te treinar. Acho que algumas aulas de
autodefesa vão te fazer bem.
— Ok. — Eu balancei a cabeça, sentindo-me muito grata por ele
querer me ajudar a superar isso.
— Obrigada.
— Você é sempre tão educada, princesinha?
— Acho que sou. — Eu sorri, ainda cobrindo meu peito exposto.
— Minha esposa sensata.
Roman se inclinou para frente e agarrou meus braços, puxando-os ao
redor de seus ombros. Com um grito baixo, minhas pernas enrolaram
sem esforço em sua cintura.
Senti uma onda de eletricidade disparar pelo meu corpo enquanto os
lábios de Roman acariciavam meu pescoço, ganhando um gemido suave
escapando de meus lábios. Ele ergueu a cabeça com o som, e eu não pude
deixar de corar.
— Porra! Você está me deixando louco, — ele sussurrou, mordendo o
lábio, olhando do meu rosto para o meu peito. Ele gentilmente me
colocou de pé enquanto suas mãos seguravam minha cintura.
— Estou atrasado para a minha reunião matinal, — ele respirou,
relutantemente se afastando de mim e em direção ao banheiro.
Eu o esperei fechar a porta e então pulei de volta na cama na
velocidade da luz, aconchegando-me nos lençóis de seda. Meu coração
estava batendo fora do meu peito de excitação.
Fechei os olhos e tudo o que pude ver era Roman. Eu ri para mim
mesma antes de conseguir adormecer.
*
— Raina? — Acordei com a voz de Grace.
— Jane está aqui para te ver. — Ela sorriu.
Eu corri para fora da cama para me refrescar, coloquei um vestido
verde menta, escovei meu cabelo e rapidamente desci as escadas.
— Bem, olá, dorminhoca. — Jane sorriu enquanto se sentava em um
banquinho da cozinha com um copo de suco de laranja.
— Bom dia, Jane. — Eu sorri, empoleirando-me no assento ao lado
dela.
Grace colocou uma xícara de café e um croissant na minha frente, e
meu estômago roncou com aprovação. Peguei algumas frutas para juntar
ao meu prato.
— Então, — Jane começou, balançando as sobrancelhas na minha
direção.
— O marido te deixou acordada a noite toda? — Ela sorriu,
observando meu rosto ficar vermelho.
Tomei um longo gole de café, então não precisei olhar para ela.
Jane riu, apoiando a cabeça na mão.
— Como vão as coisas entre vocês dois?
— As coisas estão indo... bem. — Eu balancei a cabeça lentamente,
tentando manter uma cara séria.
— Ótimo! — Ela piscou.
— De qualquer forma. Amanhã é meu aniversário e vou fazer uma
pequena reunião na minha casa. Eu literalmente decidi esta manhã.
— Jane! Você não me disse que era seu aniversário! Eu nem comprei
nada!
Jane revirou os olhos com o meu comentário enquanto colocava um
morango na boca.
— Sem presentes. Eu só quero sua companhia, querida. Você e Roman
fiquem comigo pelas sete.
— Ok, — eu concordei, jogando-lhe um sorriso animado. Eu mal
podia esperar para ver a casa de Jane e soltar meu cabelo.
Jane ficou a maior parte do dia comigo. Ela vasculhou meu guarda-
roupa e escolheu um vestido para eu usar em sua festa de aniversário.
Ela mencionou que uma escola local fora da cidade estava procurando
contratar professores. Meu diploma da faculdade era de professora, então
eu definitivamente queria me candidatar a um emprego lá.
Sheila me disse que eu não precisava trabalhar, mas poderia se
quisesse, e, claro, eu queria.
Eu estava jantando na cozinha com Grace. Insisti para que ela
comesse comigo. Marie estava ocupada arrumando a casa antes de sair
para dormir.
Falamos sobre o aniversário de Jane e também sobre o trabalho na
escola. Grace era uma boa ouvinte; ela me lembrava muito a Lilly.
Marie entrou, segurando algumas roupas na mão.
— Não se preocupe comigo, vou descartar este vestido e camisa
rasgados. — A água em minha boca espirrou de volta como uma fonte.
Grace me observou com os olhos arregalados antes de explodir em
uma gargalhada. Eu me senti ficar vermelha mais uma vez. Infelizmente,
isso acontecia muito por aqui.
Marie e Grace já haviam partido há muito tempo antes de eu pular no
chuveiro. Vesti uma camisola e um vestido pretos curtos. Prendi meu
cabelo em um coque bagunçado e desci para a biblioteca.
A casa estava quieta, mas eu gostava da paz. Eu não tinha certeza de
que horas Roman estaria em casa e pensei em mandar uma mensagem
para ele, mas me contive.
Tenho certeza de que a última coisa que ele queria era uma mensagem
de sua esposa. Pode parecer que eu estou importunando.
Levei meu livro escolhido para a cozinha e tirei uma barra de
chocolate de um dos armários. Sentei-me em uma poltrona no canto
oposto.
Eu não tinha certeza de quanto tempo estava lendo antes de meus
olhos olharem para cima para encontrar Roman parado a alguns metros
de distância; ele estava encostado no balcão me olhando.
Sua camisa azul estava enrolada até os cotovelos, com os poucos
botões superiores abertos. Seu cabelo estava um pouco bagunçado, mas
isso só me fez querer correr meus dedos por ele. Como alguém pode ser
tão bonito?
Senti meu corpo esquentar sob seu olhar ardente, mas tentei agir com
naturalidade.
— Ei! Como foi o trabalho? — Eu sorri enquanto fechava o livro.
— Bom, — ele respondeu, aproximando-se de onde eu estava sentada.
Levantei-me rapidamente e passei por ele, colocando o resto da minha
barra de chocolate na geladeira. Aja de maneira casual.
Meu coração começou a acelerar enquanto ele se aproximava, uma
sugestão de um sorriso aparecendo em seu rosto como se ele soubesse
que eu estava propositalmente me afastando dele. — Uh. Está com fome?
Posso preparar algo para você, se quiser, — perguntei, embora soubesse
que ele já havia comido. Marie me disse que ele iria jantar com um
cliente esta noite.
Eu circulei a mesa do café, fingindo estar ocupada antes de sentir o
torso rígido de Roman pressionando minhas costas.
Seu grande braço alcançou a frente do meu manto. Ele o abriu e o
assistiu cair no chão. Mordi o lábio, antecipando seu próximo
movimento.
Roman estava atrás de mim, com as mãos em volta da minha cintura.
Seus lábios beliscaram ao longo do meu pescoço. Suas mãos viajaram
mais alto, subindo pela minha camisola. Oh, Deus.
Minhas mãos apertaram seus braços enquanto minha cabeça caiu para
trás, saboreando o prazer de seus lábios e seu toque hipnotizante.
Uma das mãos de Roman segurou meu seio enquanto a outra vagava
mais para baixo até que eu a senti entre minhas pernas, com seu dedo
esfregando suavemente em minha entrada coberta.
— Bem molhada, Raina.
Soltei um gemido ofegante ao som de sua voz áspera vibrando em
meu ouvido, com sua mão ainda me provocando suavemente.
Ele puxou minha calcinha de renda para o lado, deslizando o dedo
para cima e para baixo em minhas dobras. Tentei reprimir outro gemido,
falhando miseravelmente.
— Isso é bom, Raina? — Ele mordiscou minha orelha.
Eu suavemente gemi novamente em resposta. — Mmm, sim.
Roman me virou para encontrar seu olhar lascivo. Seus lábios caíram
nos meus. Ele me levantou em cima do balcão e espalhou minhas pernas
em volta de sua cintura, com meu rosto corando diante dele.
Senti seu dedo grande na entrada do meu ponto sensível. Meu corpo
estava pegando fogo.
Muito suavemente, ele entrou em mim. Fechei meus olhos, cedendo a
ele. A dor aguda logo se transformou em um prazer arrepiante.
— Roman, — eu gemi, meus lábios se separando em admiração.
— Olhe para mim, — Roman soltou. Abri meus olhos e encontrei as
manchas escuras de desejo girando nos dele. Ele enfiou seu dedo grande
dentro e fora de mim, seus lábios roçando os meus.
Seus olhos escuros observaram o prazer que ele estava me
alimentando.
— Está. Tão. Apertada. Raina. — Sua voz áspera acendeu um fogo
dentro de mim enquanto seu polegar começou a esfregar círculos contra
meu clitóris.
— Oh, meu Deus!
— Você fica tão sexy quando está excitada.
Minha cabeça caiu para trás de prazer, com meus gemidos ficando
mais altos. Eu não me sentia mais envergonhada. Ele estava me fazendo
sentir muito bem para sequer me importar.
— Não pare, — eu gritei. Eu estava tão perto do quê? Eu não sabia,
mas algo estava se formando.
A risada profunda de Roman me causou ainda mais emoção. Tudo
sobre ele estava me deixando louca.
— Venha para mim, princesinha. — Suas palavras foram minha ruína.
Minhas costas arquearam para fora da bancada quando explodi em tomo
de seu dedo. Seu nome deixou meus lábios como um gemido suave.
Minhas mãos voaram ao redor de seus ombros enquanto ele esfregava
círculos contra minha umidade, me deixando sair do meu primeiro
orgasmo.
Roman era cabeça quente, ele era lindo, ele tinha o poder de me
deixar selvagem e ele era meu. Todo meu.
Capítulo 16
URSO DE PELÚCIA R AINA

A única coisa melhor do que acordar com Roman era abraçá-lo na


cama. Ele era como o meu próprio ursinho de pelúcia gigante, ambulante
e falante.
Ele ainda me deixava muito nervosa, mas nunca me senti tão segura
em toda a minha vida. Eu poderia ficar aqui em seus braços para sempre.
Ontem à noite ele me levou a novas alturas, acendeu novas sensações
que eu nunca soube que poderia experimentar.
Ontem à noite, quando fomos para a cama, Roman me disse que
levaria as coisas devagar comigo. Meu coração aqueceu quando ele me
disse para ir até ele quando eu estivesse pronta. Sem pressão. A escolha
era minha.
Nunca pensei tanto em perder minha virgindade como agora. O
pensamento me assustou, mas me excitou profundamente.
Uma parte de mim ansiava por Roman me tomar bem aqui e me
preencher com seu comprimento, enquanto outra parte estava com
medo de apressar demais as coisas. Uma parte menor temia que eu
nunca fosse boa o suficiente.
Minha mão percorreu seu abdômen duro, desenhando pequenos
corações com meu dedo na sua pele. Minha cabeça descansou em seu
peito, sentindo o subir e descer de sua respiração.
Ele é tão sexy, mesmo durante o sono.
— Roman? — Sussurrei suavemente em seu ouvido, ganhando um
gemido suave de seus lábios.
— Você sempre acorda cedo como os pássaros, — ele murmurou. Sua
voz estava rouca e sonolenta, e seus olhos ainda estavam fechados.
— Bem, você sabe o que dizem, Deus ajuda quem cedo madruga. —
Eu ri, olhando para seu rosto sonhador quando seus olhos se abriram.
Com um movimento rápido, Roman me virou para que ele ficasse
acima de mim, com minhas pernas de cada lado de seu corpo enorme.
Meu coração começou a acelerar quando ele olhou para mim, expondo
um sorriso atrevido esticado em seu rosto.
— Bem, este lindo passarinho madrugador pode pegar uma cobra
inteira se quiser. — Sua voz rouca me derreteu quando senti sua dureza
esfregar contra meu ponto sensível através de seu short.
O calor atingiu minhas bochechas, e antes que eu percebesse, os
lábios perfeitos de Roman tocaram os meus. Ele me beijou suavemente,
me transformando em mingau. Mmm, meu ursinho de pelúcia.
*
Eu deixei Roman cair no sono enquanto me refrescava e descia as
escadas. Peguei meu telefone e enviei uma mensagem de feliz aniversário
para Jane antes de preparar uma xícara de café para mim.
Meus olhos vagaram até o balcão da cozinha onde Roman tinha me
colocado na noite passada. Ele estava tão disposto a me trazer prazer. Eu
me senti culpada por ele não ter conseguido uma liberação própria.
Eu não estava confiante o suficiente para assumir o controle daquele
jeito, mas realmente queria estar. Eu sabia que ele nunca iria forçar ou
esperar que eu lhe desse prazer, mas eu queria. Eu simplesmente não
tinha coragem de fazer isso.
Não seja covarde, Raina.
— Bom dia, querida. — Marie apareceu, distraindo-me dos meus
pensamentos como sempre. Ela inclinou a cabeça para o lado com um
sorriso de quem sabe o que está acontecendo, antes de continuar a
preparar a cozinha. O que foi isso?
Grace entrou e parou quando olhou para mim. Eu franzi minha
sobrancelha para ela quando ela deu a Marie um sorriso atrevido.
— Hum, Raina. Você está tomando café da manhã na casa principal
esta manhã e... pode precisar de um corretivo. — Grace riu, olhando para
o meu pescoço.
Ela pegou uma bandeja espelhada de prata antes de segurá-la na
minha direção. Oh, droga! Meu pescoço estava completamente coberto
de manchas roxas.
Meu rosto se desfez em minhas mãos quando o calor passou por mim.
Eu não tinha dúvidas de que meu rosto parecia um tomate maduro
agora.
Corri de volta para o quarto, onde encontrei Roman saindo do
chuveiro com uma toalha cobrindo a parte inferior de seu corpo.
Ele sorriu para a minha forma irritada como se soubesse o que eu ia
dizer.
— Algum problema, princesinha? — Seu sorriso se aprofundou
enquanto ele se aproximava.
— Roman, estou coberta com essas coisas! — Eu silenciosamente
explodi, mostrando a ele meu pescoço inteiro.
— E daí? — Ele ergueu a sobrancelha como se não fosse grande coisa.
— E daí? Estamos tomando café da manhã com seus pais. Sem falar
que temos uma festa esta noite, — eu bufei, cruzando meus braços.
Eu já era tímida perto de outras pessoas e agora tinha de me
preocupar com as pessoas notando esses chupões.
— Você fica fofa quando está com raiva. — Ele ergueu meu queixo
com o dedo, seu hálito quente soprando contra minha bochecha.
— E constrangedor, Roman! — Senti meu rosto esquentar sob seu
brilho intenso, seu cabelo molhado pingando lentamente na minha
têmpora. — Constrangedor, hein? — Ele mergulhou minhas pernas em
volta de sua cintura, ganhando um grito assustado de mim. Ele agia
como se eu não pesasse absolutamente nada.
— Como posso te compensar? — Ele sussurrou em meu ouvido.
Mordi meu lábio enquanto olhava em seus olhos cor de esmeralda.
— Nós vamos. Você pode... me levar para fazer compras, — eu soltei,
testemunhando sua sobrancelha se erguer.
— Compras?
— Sim, quero comprar algo para a Jane. — De repente, fiquei com
vergonha de perguntar.
Roman sorriu suavemente, então me abaixou na cama, com seu
grande corpo elevando-se sobre mim.
— O que você quiser, princesinha; nós iremos depois do café da
manhã.
Senti as borboletas voando em minha barriga. Eu não sabia se ele
gostaria de ir às compras em seu dia de folga, mas ele concordou
alegremente em me levar.
Eu encarei seus olhos por um momento, esquecendo-me do mundo lá
fora — de tudo.
— Nós temos que nos preparar, — eu protestei, não conseguindo me
livrar de seu aperto forte. Seus olhos viajaram pelo meu pescoço e eu
senti meu corpo esquentar.
— Roman? — Eu ri.
— Desculpa. É que você é simplesmente incrível.
— Oh, meu Deus, pare. — Minhas mãos voaram para cobrir meu
rosto.
— Por que você não aceita um elogio?
— Porque eu. Eu... — Dei de ombros, sem saber o que dizer, com
minhas mãos ainda cobrindo meus olhos, só pra não ter de olhar para
ele.
— Você não acredita em mim, não é? — Ele perguntou baixinho.
— Olhe para mim, Raina.
Respirei fundo antes de sentir Roman puxar minhas mãos e mantê-las
nas suas. Eu me vi perdida em seu olhar intenso.
— Roman, realmente temos de nos preparar e encontrar seus pais
em...
— Sshh, — ele interrompeu, com seu grande dedo pressionando meus
lábios.
— Você é deslumbrante.
Eu já sabia que tinha ficado de um tom nada lisonjeiro de vermelho
quando ele me encarou, mas não vi nem um sinal de mentira. Ele estava
sendo sincero e queria que eu soubesse disso.
Seus lábios perfeitos se curvaram em um sorriso malicioso, e eu não
pude deixar de sorrir.
— Obrigada, — eu sussurrei.
— Tão educada. — Ele riu.
Eu o empurrei de cima de mim rapidamente e corri para o banheiro,
com um enorme sorriso no meu rosto enquanto eu ainda podia ouvi-lo
rindo atrás de mim.
*
Coloquei um vestido branco de verão. Ele tinha tiras finas e era
apertado no topo, mas escorria para os meus pés. Fiquei grata por ter
conseguido esconder todas as marcas em meu pescoço.
Roman parecia delicioso em uma camisa cáqui profunda e jeans preto.
Chegamos à casa principal de mãos dadas. Foi a primeira vez que
Roman se juntou a nós para o café da manhã desde que nos casamos.
Richard abriu a porta e sorriu ao nos ver. Ele nos puxou para um
abraço quando entramos na casa.
Sheila estava ocupada dando instruções a um dos jardineiros, mas
quando seus olhos se voltaram para nós, ela sorriu de alegria.
Eu parecia mais acostumada a tomar café da manhã com Richard e
Sheila do que Roman. Ele perguntou ao pai como estavam indo seus
tratamentos. Richard disse que houve alguma melhora, mas era lenta.
A conversa foi leve e divertida depois disso. Richard não deixava
Roman discutir sobre o trabalho na mesa, e Sheila não parava de
comentar como éramos lindos juntos.
Eu olhei ao redor da mesa para minha nova família. Esta era a família
que eu nunca tive. Eu estava sentada aqui com essas pessoas que
facilmente me aceitaram como se eu fosse parte deles.
Eu me senti oprimida por sua bondade. Quase trouxe lágrimas aos
meus olhos.
Quanto mais tempo eu passava com os Marigolds, mais percebia
como minha própria família me tratava horrivelmente.
*
Roman abriu a porta do carro para eu entrar, fechando-a atrás de
mim. Ele deslizou para o banco do motorista e ligou o carro. O motor
rugiu enquanto ele acelerava para fora da longa entrada de automóveis.
Eu não pude deixar de rir com a sensação na minha barriga, mas isso
só fez Roman dirigir mais rápido enquanto eu gritava no meu assento.
Roman riu da minha reação, com o som de sua risada me fazendo
sentir de todas as maneiras.
Depois de uma viagem de vinte minutos, estacionamos em frente a
um enorme shopping.
Roman segurou minha mão enquanto caminhávamos pela entrada.
Ele caminhava com muito estilo e graça, e eu não pude deixar de
notar todos os olhares sedutores que ele recebia de outras garotas. Eu
não poderia culpá-las. O homem era hipnótico.
— Mostre o caminho, Sra. M. — Ele piscou, diminuindo a velocidade
para que eu pudesse guiá-lo aonde ir. Eu era como uma criança em uma
loja de doces, puxando-o comigo.
Sempre percebi que Jane usava brincos grandes e elegantes, então
queria comprar um par para ela.
Parei do lado de fora de uma joalheria, olhando pela janela. Por todo o
tempo, Roman ficou atrás de mim, segurando minha cintura.
Eu podia sentir seus lábios roçando ao longo do meu pescoço e mal
conseguia me concentrar no que estava procurando.
Eu o puxei para outra loja, onde meus olhos caíram em um lindo par
de brincos que pareciam penas. Eles eram de ouro asteca e elegantes, mas
grandes o suficiente para fazer uma declaração.
— Esses, por favor. — Apontei para o par enquanto Roman soltava
minha cintura de suas mãos.
Ele chamou a vendedora e comprou-os imediatamente.
O balconista era um homem louro de boa aparência. Ele corou ao
perguntar a Roman se ele queria os brincos embrulhados para presente.
Eu queria rir, mas não queria deixar a vendedora desconfortável.
Roman deu uma piscadela para ele antes de sairmos da loja.
Escolhi um cartão de aniversário para Jane e disse a Roman que tinha
tudo. Ele parecia tão descontraído e relaxado. Tudo o que ele continuou
a fazer foi me tocar e me segurar enquanto eu fazia compras. Adorei cada
minuto.
— Minha princesinha quer alguma coisa? — Roman perguntou,
recostando-se em uma loja de lingerie obscena com um olhar indiferente
em seu rosto.
— Não, obrigada. — Eu ri, puxando-o para longe enquanto ele sorria
para mim.
*
Coloquei o vestido que Jane me pediu para usar na festa dela. Era um
decote preto, sem costas, que caía até meus tornozelos com uma longa
fenda em uma perna.
Revirei os olhos com o quão típico era Jane escolher algo tão sexy
como isso. Eu só esperava que eu pudesse conseguir.
Eu sequei meu cabelo em ondas grossas antes de aplicar uma leve
camada de maquiagem. Depois de colocar um par de saltos de tiras, parei
para me admirar no espelho.
Eu não pude deixar de notar o quão diferente eu parecia, o quão
confiante eu parecia. Eu parecia feliz.
— Meu Deus! Você é surreal, Raina, — Roman ronronou atrás de
mim, deslizando seu dedo áspero pelas minhas costas nuas. Eu estremeci
sob seu toque.
— Você também não está tão ruim, ursinho, — respondi, percebendo
como acabara de chamá-lo. Porcaria.
Roman ergueu uma sobrancelha para mim. Ele parecia incrível em
uma camisa de botão preta e calça escura.
— Ursinho? — Ele questionou, elevando-se sobre mim. Seu cheiro
almiscarado estava me deixando selvagem.
— Uh. Vamos nos atrasar! — Eu rebati, mudando de assunto e
correndo para fora da porta. Ufa.
*
Roman segurou minha mão enquanto caminhávamos até a enorme
mansão da família de Jane. Respirei fundo enquanto nos aproximávamos
da porta da frente. Eu já podia ouvir risos e música bombeando pelas
paredes.
Aqui vamos nós.
Capítulo 17
PERFEITO
RAINA

Era para ser uma pequena reunião?


A casa estava inundada com as luzes da discoteca ricocheteando nas
paredes. Um DJ estava tocando música no centro da sala. Eu me senti
como se estivesse em uma boate, não que eu já tivesse estado.
Eu ouvi um grito alto antes de localizar Jane correndo em nossa
direção. Ela estava tão bonita em um vestido curto marrom que expunha
suas pernas longas e bronzeadas.
— Feliz aniversário, Jane! Você está maravilhosa! — Eu a abracei,
entregando a sacola de presente.
— Feliz aniversário, encrenqueira. — Roman beijou sua bochecha. —
Raina escolheu isso especialmente para você. — Ele piscou.
— Oh, vocês dois! — Jane arrulhou.
Jane pulou em nós dois, nos dando um abraço de urso. Seus olhos
bêbados examinaram meu rosto e então desceram pelo meu corpo.
— Roman. Droga! Sua esposa é gostosa!
— Tente dizer isso a ela. — Ele riu. Eu já tinha ficado com um tom
profundo de vermelho como sempre.
— Bem, eu estou levando sua esposa gostosa comigo. Então, tchau. —
Ela mostrou a língua e agarrou minha mão, me puxando para longe de
Roman.
— Podem ir. Divirtam-se, — ele murmurou, piscando para mim. Eu
me senti desconfortável em me afastar dele, mas quando olhei para trás,
vi que ele já havia encontrado Mark.
Jane, animada, correu até um grande grupo de garotas e praticamente
me jogou na frente delas.
Ela gritou acima da música quando o grupo começou a gritar e me
encarar. — Garotas, essa é ela, Raina Marigold.
Uma garota levantou minha mão para admirar minha aliança de
casamento. Outra apertou meu rosto entre as mãos. Não sabia como
reagir a tudo isso.
Todas pareciam simpáticas, acolhedoras e, embora não me
conhecessem, pareciam estar muito felizes por mim. Se eu tivesse de
imaginar como é ser uma celebridade, seria como este exato momento.
Foi bom não me sentir desconfortável como se estivesse perto de Diana e
suas amigas.
— Shots! — Uma garota loira platinada gritou, segurando uma
bandeja enorme cheia de copos minúsculos. Todos nós pegamos dois
copos cada, e eu hesitei antes de colocar um na boca.
O líquido azedo atingiu o fundo da minha garganta e estremeci com o
gosto amargo.
Eu ri quando Jane passou por mais dois copos. Essas meninas podiam
beber. Meus olhos começaram a se estreitar enquanto a música batia e
vibrava ao redor da sala.
Uma grande bola de discoteca pendurada no centro do teto, refletindo
feixes de luzes de néon brilhantes.
— Raina, parece que meu primo não consegue tirar os olhos de você!
Eu segui o olhar de Jane para Roman sentado em uma mesa no canto
oposto. Seus olhos estavam fixos em mim. Sua aparência poderia me tirar
o fôlego. Nenhum outro cara aqui poderia sequer chegar perto dele.
Jane engasgou ao admirar meu vestido adequadamente, fazendo-me
girar diante dela. — Deus, eu estou ótima! — Ela se gabou.
De repente, senti vontade de abraçá-la, o que era estranho. Eu nunca
abraço pessoas assim. Porcaria! Já estou bêbada.
— Feliz aniversário, Jane! — Gritei de novo para que ela pudesse me
ouvir por cima da música, então dei um beijo molhado em sua bochecha
e sorri. Sim, estou bêbada.
Os amigos de Jane não paravam de me encher de bebidas. Perdi a
conta dos shots que devorei, mas me sentia tão bem. Eu estava
conversando e rindo com estranhos, balançando ao som da música
enquanto caminhava.
Jane me arrastou para o meio da pista de dança, onde dançamos e nos
movemos no ritmo.
— Nem pense nisso, Liam! O marido dela vai literalmente te matar, —
Jane rebateu, mas seus olhos mostraram um pouco de diversão. O cara
alto se aproximou, obviamente sem ouvir, ou ele simplesmente não se
importou.
Afastei-me do estranho, observando-o sorrir para mim. Seu cabelo era
claro e desgrenhado, e ele era alto e um pouco musculoso. Ele tinha
aquele olhar de surfista.
— Oh, vamos, Jane. Você não vai me apresentar à sua amiga gostosa?
— Ele desviou seus olhos caídos de Jane de volta para mim. — Eu nunca
te vi antes, querida.
— Liam. Ela é casada com...
— Venha comigo, gatinha. Eu gostaria de ver esses passos de dança em
particular. — Ele interrompeu Jane enquanto olhava para o meu corpo.
Fiquei um pouco assustada, mas não sabia se foi a atitude divertida de
Jane que acalmou meus nervos ou o álcool.
Jane estava exibindo uma sugestão de sorriso enquanto balançava um
pouco a cabeça. Então ela inclinou a cabeça para o lado e colocou o braço
em volta do meu ombro.
— Raina, este é Liam Foster. Liam, conheça Raina, a esposa de Roman
Marigold. — Ela enunciou o nome de Roman.
— Oh! — Ele fez uma careta, dando um passo rápido para trás. Ele
parecia ter acabado de ver um fantasma, sua pele bronzeada ficando mais
pálida a cada segundo.
— Eu te avisei, Liam! — Jane gritou acima da música e Roman
apareceu atrás dele.
— Ei, Roman. E aí, cara! — Liam ergueu a mão e cumprimentou
Roman, fazendo Jane cair na gargalhada.
Roman lançou-lhe um olhar mortal e, naquele momento, percebi
como Liam parecia insignificante em comparação a ele.
Mark apareceu neste momento. Ele olhou para Liam e depois para
Jane. Ela contou em seu ouvido o que havia acontecido.
— Liam, você está brincando comigo? De cada garota aqui, você
escolheu a esposa de Roman? — Mark não conseguiu conter a risada e
Jane bateu em seu cotovelo.
— Eu não sabia que ela era sua esposa. Eu não sabia que ela era sua
esposa, cara, — Liam murmurou. Eu senti um pouco de pena dele agora.
Ele parecia inofensivo. Não acho que ele realmente esperava que eu fosse
a qualquer lugar com ele.
Os olhos intensos de Roman encontraram os meus. Ele parecia
intimidador pra caralho, mas ele me deu um leve aceno de cabeça, um
que perguntou se eu estava bem. Eu balancei a cabeça e sorri de volta
para ele, observando sua expressão suavizar.
Ele revirou os olhos para Liam antes de empurrar ele e caminhar em
minha direção. Liam quase tropeçou no chão.
— Fique longe da minha esposa, Foster! — Senti seus braços
musculosos envolverem minha cintura. Seu cheiro encheu o ar ao meu
redor e me senti invencível.
— Aww, olhe para eles, — Jane soltou, olhando para nós com um
brilho nos olhos oceânicos. Eu senti o rubor subir em mim. Novamente.
Eu me virei para encarar Roman. Seus olhos de rio fundiram-se nos
meus. Seus lábios tocaram os meus levemente, com seus dedos
acariciando minhas costas expostas. Eu poderia ficar aqui em seus braços
para sempre.
— Roman?
Uma voz gritou, e eu coloquei meus olhos em uma ruiva de pernas
compridas. Ela parecia uma supermodelo em um vestido curto azul royal
e salto alto.
Seu cabelo estava preso em um longo rabo de cavalo, realçando seus
olhos claros e maçãs do rosto salientes.
— Mia, — Roman reconheceu com os dentes cerrados, enquanto
apertava sua mão sobre mim.
A ruiva se aproximou. Seus olhos permaneceram apenas em Roman
como se eu fosse completamente invisível. Ela deu a ele um sorriso
sedutor, em seguida, lambeu os lábios propositalmente. Oh, não, ela não
fez isso.
— Mia, você conheceu a esposa de Roman, Raina, — Jane murmurou,
recostando-se no peito de Mark.
Os olhos de Mia dispararam para mim por uma fração de segundo
antes de saltar de volta para Roman.
— Esposa? — Ela zombou. — Você quer dizer a garota com quem ele
ficou preso? — Seus lábios se curvaram e ela estreitou os olhos.
— Todo mundo sabe que essa garota foi forçada a se casar com você,
Roman, e agora você está preso a ela. Sinto pena dela, tão indesejada. —
Ela fez uma careta, olhando para mim.
— Ele não te queria, querida. Ele estava me fodendo alguns dias antes
do dia do seu casamento.
Ela me lembrou muito Diana naquele momento.
— Porra, Mia, — Roman se enfureceu enquanto Mark impedia Jane de
atacar o rosto presunçoso de Mia.
Eu segurei as lágrimas que ameaçavam escapar.
Eu não aguentava mais. Eu saí dos braços de Roman e corri para a
multidão. Emoções estúpidas.
Eu não conseguia nem ficar com raiva. Eu sabia que ele não queria
esse casamento, mas pensar nele com Mia me deixava enjoada. Eu me
senti fisicamente enjoada. Mia é o tipo de garota com quem eu tenho de
competir?
Eu nunca vou ser assim. Ela era tudo o que não era!
A brisa fria de verão beijou meu rosto aquecido enquanto eu
caminhava para o grande jardim dos fundos. Respirei um pouco de ar
fresco por um momento para tentar me recompor.
Eu me senti um pouco boba por ter reagido exageradamente, mas isso
não mudou a dor em meu coração.
As pessoas se misturavam e conversavam ao meu redor enquanto eu
me sentava em uma cadeira vazia no canto mais distante. Não demorou
muito até que eu senti uma cadeira puxar ao meu lado.
— Rae? — Mark me deu um sorriso torto, expondo suas doces
covinhas.
— Mark, vá e divirta-se. Você não tem de sentar aqui comigo. —
Suspirei enquanto ele se recostava confortavelmente em sua cadeira.
Mark era infantilmente bonito. Ele tinha cabelo loiro acinzentado que
era um pouco cacheado e olhos castanhos suaves. Ele era grande e
musculoso, mas não tão grande quanto Roman.
— Rae, Mia é uma filha da puta. Não a deixe estragar sua noite. — Ele
colocou os braços em volta do meu ombro enquanto eu continha as os
soluços.
— Olha só.
Eu franzi minha sobrancelha quando Mark se levantou de sua cadeira.
— Ei, pessoal! — Ele gritou, e todos se viraram para olhar para ele. Ele
ergueu a cerveja e gritou: — Mia é uma filha da puta.
Quase todos seguraram suas bebidas e repetiram atrás dele, gritando e
gritando como se fosse algum tipo de bordão, então ele pulou de volta
em sua cadeira com um sorriso malicioso no rosto.
— Viu? — Ele sorriu ao meu lado, colocando o braço de volta em meu
ombro. Eu não pude deixar de deixar escapar uma pequena risada com
seus esforços para me animar.
— Eu conheço Roman a minha vida inteira. Eu nunca o vi olhar para
outra garota do jeito que ele olha para você. Você pode perguntar a Jane.
Soltei um suspiro derrotado antes que ele me entregasse sua garrafa
de cerveja para beber. Então, vi Jane correndo para o jardim. Eu notei que
seus olhos estavam procurando por mim.
— Linda. — Um sussurro deixou a boca de Mark quando seus olhos
cor de âmbar encontraram a bela de cabelos negros.
— Você disse a ela como se sente? — Eu não pude deixar de perguntar,
observando seus lábios formarem uma linha fina enquanto seus olhos
permaneceram em Jane.
— Nah. Acho que ela está saindo com alguém na cidade. — Sua voz
era baixa e cheia de dor, o que soava tão diferente dele. Eu devolvi a
garrafa de cerveja, e ele não perdeu tempo em dar um gole. Meu coração
estava com ele.
— Aí está você! — Jane gritou com a mão no coração.
— Jane, eu sinto muito. É sua festa de aniversário, e estou aqui dando
grande importância ao nada. Por favor, vá e aproveite sua noite. — Eu
sorri, esperando que fosse o suficiente para ela não se preocupar comigo.
— Diabos, não, aquela vagabunda não deveria ter dito isso para você.
Você deveria ter visto o rosto dela quando eu a chutei para fora. — Ela riu
e me levantou em seus braços.
Voltamos para o salão e então senti uma mão quente envolver a
minha. Roman me puxou em sua direção. Eu podia sentir seus nervos e
preocupação.
— Vamos para casa, princesinha?
— Sim, por favor.
*
A viagem para casa foi silenciosa e pacífica. Eu olhei em direção à
linha da floresta de obsidiana. Estávamos quase em casa. Olhei para
Roman, que parecia estar perdido em pensamentos.
Seu perfil lateral realçava suas feições nítidas. Seus braços musculosos
pousaram confortavelmente no volante.
As palavras de Mia ainda doíam um pouco, mas tentei empurrá-las
para o fundo da minha mente junto com todas as outras porcarias que eu
havia armazenado lá.
Eu não podia negar que o pensamento dele sendo íntimo com ela
deixou um gosto amargo na minha boca. O que eu esperava?
Eu não poderia culpá-lo exatamente. O que ele fez antes de mim não
importava. Mesmo que ele estivesse noivo de mim enquanto estava com
Mia, eu sabia que ele não tinha aceitado o casamento na época.
Roman estacionou o carro na garagem e desligou o motor. Agora
estava completamente silencioso.
— Ela não tem a mínima importância. — Roman se virou para mim.
Mordi meu lábio e então encontrei seus olhos intensos.
— Eu acredito em você, — eu sussurrei antes de pegar minha bolsa e
sair do carro.
*
Roman tinha desaparecido em seu escritório enquanto eu corria para
o quarto. Tirei meus sapatos e sentei na cama, gemendo de dor nos pés
— malditos saltos.
Depois de tirar a maquiagem e vestir uma camisola cor de vinho, pulei
na cama.
Eu não tinha certeza de quanto tempo havia adormecido até que senti
o peito nu de Roman pressionando minhas costas. Seu braço caiu sobre
minha cintura.
— Você é perfeita, — ele sussurrou antes que eu sentisse sua cabeça
acariciar minha nuca. Presumi que ele pensava que eu estava dormindo.
Virei meu corpo para encontrá-lo no escuro. Minha mão caiu em volta
do seu pescoço, acariciando sua nuca.
Desfrutamos de um momento de silêncio no escuro, com apenas o
luar criando um brilho calmante. Senti seus lábios macios nos meus.
Ele me beijou profunda e lentamente. Seus lábios estavam me dizendo
coisas que meras palavras não podiam.
Ele rolou para cima de mim sem parar o beijo, dobrando minhas
pernas na altura dos joelhos. Seus lábios macios percorreram meu
pescoço e eu gemi baixinho com seu toque.
Ele vagou mais para baixo, e então eu senti minha camisola subir em
direção aos meus seios.
Roman continuou seu ataque labial em volta do meu umbigo. Corei
ao sentir o quão perto ele estava do meu ponto sensível.
— Roman? — Eu ri. Meus dedos se encontraram puxando seu cabelo.
Eu não sabia o que fazer comigo mesma.
Ele beijou a parte interna da minha coxa e eu pulei de excitação.
— Eu quero te provar, Raina.
— O quê?
— Apenas relaxe, querida.
— O que você está fazendo?
Roman segurou meus quadris no lugar, então eu não conseguia me
mover. Meu coração começou a bater mais rápido quando senti seu
hálito quente soprando entre minhas pernas. Porra! Senti sua língua
entre minhas paredes macias e agora muito úmidas.
Minha respiração cessou e minha cabeça caiu para trás. Ele balançou a
língua lentamente no início, antes de acelerar no mesmo lugar. Ele havia
posto fogo em meu corpo.
Eu não pude evitar o gemido áspero que escapou da minha boca.
Minhas costas arquearam em direção a ele de prazer. Agarrei os lençóis
entre meus dedos enquanto Roman mergulhava em mim como um
homem faminto.
— Tão doce. — Ele gemeu antes que eu sentisse seu grande dedo
deslizar em minha entrada encharcada, com sua língua continuando a
me devorar. Eu perdi a conta de quantas vezes seu nome deixou meus
lábios como gemidos chorosos.
Meus dedos do pé enrolaram enquanto eu me derramava em tomo de
sua língua, gemendo sem fôlego. Ele ficou entre minhas pernas,
deixando-me sair do meu orgasmo mais intenso de todos os tempos,
escalando casualmente de volta ao meu lado.
— Tão perfeito, princesinha.
Oh, meu Deus!
Capítulo 18
PESO
ROMAN

Senti o passarinho da madrugada se afastando de mim, tentando ao


máximo não me acordar. Eu agarrei sua cintura e a puxei de volta. Ela
gritou quando a coloquei em cima de mim.
Suas lindas bochechas ficaram rosadas. Eu amava fazê-la corar.
Raina era muito sexy, mesmo sem saber disso. A maneira como ela
mordia o lábio quando estava tímida ou nervosa, a maneira como seu
corpo reagia ao meu toque era incrível.
Cada curva de seu corpo me deixava chocado, mas ela não sabia o
quão incrível ela era?
Eu sei que as palavras de Mia a afetaram mais do que ela deixou
transparecer. Quando ela escapou de meus braços, me senti tão
impotente. Mia não era nada mais do que uma foda fácil quando eu
estava entediado.
Ela não é nada — absolutamente nada — comparada à minha
princesinha.
Antes de Raina, eu não seria pego sendo carinhoso com nenhuma
garota. Elas desenvolviam sentimentos muito rapidamente. Eu estava
começando a me perguntar se era o contrário com Raina e eu.
Cada vez que eu a tocava e olhava em seus olhos caramelos, eu sentia
como se estivesse caindo mais fundo. O que está acontecendo comigo?
— Você só vai ficar olhando para mim? — Raina deixou escapar
timidamente, sorrindo para mim.
Ela é tão bonita.
— Sim, acho que devo. — Eu sorri, esfregando suas coxas,
observando-a morder o lábio.
— Então, aqueles passos de dança na noite passada, — eu soltei.
Raina imediatamente colocou as mãos no rosto.
— Eles eram... interessantes. — Tirei as mãos de seu rosto, segurando-
as ao lado dela.
— Eu estava abastecida com álcool, Roman! — Ela deu uma risadinha.
— Este seu corpo. Puta merda, — eu gemi, apertando sua cintura
pequena entre minhas mãos grandes.
— Roman! — Ela gritou enquanto um lindo sorriso se espalhava por
seu rosto.
Seus olhos dispararam em meu peito nu, e notei outro rubor manchar
suas bochechas. Ela faz muito isso. Seus olhos encontraram os meus mais
uma vez, exibindo manchas de desejo.
Seus lábios se separaram ligeiramente. Ela estava me examinando. O
pensamento fez meu pau ganhar vida.
— Gosta do que vê, princesinha? — Ela me lançou um sorriso tímido e
acenou com a cabeça.
— Sim, — ela sussurrou.
Não pude evitar a mão que deslizou por baixo da camisola em direção
aos seios empinados.
Raina gemeu baixinho ao meu toque. Eu tomei isso como uma
permissão para explorar seu doce corpo um pouco mais. Eu levantei sua
camisola, olhando em seus olhos. Ela estava um pouco nervosa, mas não
me impediu.
Eu joguei sua camisola no chão e olhei para seus seios perfeitos em
forma de lágrima, puxando-me para cima, então eu estava na altura dos
olhos.
Pegando um de seus seios na minha mão, eu beijei meu caminho até o
outro, passando e puxando seus botões rosados entre meus dentes.
Os gemidos de Raina ficaram mais altos enquanto eu chupava,
beliscava e lambia sua pele sensível. Senti suas mãos agarrarem meus
ombros. Sua cabeça caiu para trás em um transe de êxtase.
— Tão linda, — eu sussurrei, observando seu rosto cheio de prazer.
— Mmm, Roman, — sua doce voz gemeu. Eu olhei para seus olhos
suplicantes. Ela queria mais.
Eu a joguei na beira da cama e me ergui sobre ela, deslizando meu
dedo entre suas paredes molhadas. Ela soltou um suspiro trêmulo contra
meu ouvido.
— Tão molhada só para mim, querida. — Eu mordisquei seu lóbulo da
orelha. Raina gemeu novamente com minhas palavras, seus dedos
puxando e agarrando os lençóis.
Ela arqueou seu corpo em direção ao meu peito enquanto meu dedo
bombeava para dentro e para fora dela, com meu polegar esfregando seu
clitóris doce.
— R... Roman. — O som do meu nome saindo de seus lábios foi
música para meus ouvidos.
— É isso, Raina. Goza pra mim. — Ela alcançou a parte detrás do meu
pescoço, puxando-me para perto antes de explodir em tomo do meu
dedo. Eu amava vê-la se desfazer diante de mim.
Eu desesperadamente lutei contra o desejo de arrancar sua calcinha e
transar com ela até perder os sentidos.
RAINA

Ao sentar-me à mesa do café da manhã tomando um gole de café, me


senti hipnotizada. Borboletas estavam flutuando em volta da minha
barriga desde esta manhã.
Eu não queria sair daquela cama e desejava ter forçado Roman a ficar
em casa hoje. Meu telefone começou a vibrar, tirando-me dos meus
pensamentos. Peguei-o no balcão.
— Olá. — 'Olá, estou falando com a Sra. Marigold? ’
— Oi, sim, é ela falando.
— Você se candidatou a um cargo de professora na Hampton
Elementary. Gostaríamos de informar que sua inscrição foi aceita.
Adoraríamos que você se juntasse a nós após o verão.
— Oh, isso é ótimo! Mas você não precisa me entrevistar?
— Não, estamos extremamente satisfeitos com as informações
fornecidas e demonstramos uma verificação completa de antecedentes.
Estamos felizes por você se juntar à equipe.
— Oh, uau. Isso é ótimo. Muito obrigada!
— Estamos ansiosos para recebê-la, Sra. Marigold.
Coloquei o telefone de volta no balcão com uma expressão meio feliz
e meio confusa no rosto. Como posso simplesmente conseguir um
emprego sem ser entrevistada? Que louco.
Senti o peso do meu novo sobrenome pela primeira vez. Era a única
explicação para conseguir um emprego sem nem mesmo ser vista. Eu não
sabia como me sentir sobre isso.
*
Depois de completar alguns exercícios que Roman havia me mostrado
na academia, senti meu estômago roncar. Peguei meu telefone e liguei
para Jane.
— Quem se atreve a perturbar meu sono?
— Ha! Vejo que alguém ainda não se recuperou da noite passada.
— Arghh... não!
— Então, acho que almoçar está fora de questão?
— O almoço! Pego você em vinte minutos.
Eu ri enquanto colocava meu telefone no gancho. Almoçar com Jane é
exatamente o que eu precisava hoje. Eu rapidamente tomei banho e
coloquei um vestido rosa de verão que descia até meus joelhos.
Meu cabelo caiu em volta de mim em ondas soltas, e eu coloquei um
par de sandálias de ouro líquido.
Corri para fora de casa quando ouvi o carro de Jane estacionar na
garagem. O sol de verão estava escaldante e eu amei a sensação na minha
pele.
— Você está gostosa, Rae. — Jane piscou para mim enquanto eu subia
no banco do passageiro. Ela colocou os óculos de sol no topo da cabeça.
Ela usava um par de shorts jeans e uma blusa ameixa solta.
— Para onde vamos, mademoiselle? — Ela perguntou, colocando uma
voz elegante. Eu não pude deixar de rir. Tudo sobre Jane era divertido.
Nunca havia um momento de tédio com ela.
— A qualquer lugar. O que você gosta?
— Que ótimo, você é um daqueles demônios indecisos! — Ela
retrucou com um sorriso divertido. Como explicar para Jane que nunca
tinha ido a um restaurante, apenas a eventos sociais com minha família?
Eles nunca me permitiram comer comida da minha própria casa, muito
menos de qualquer outro lugar.
— Italiano? — Jane ofereceu.
Eu balancei a cabeça em concordância enquanto aceleramos. Jane não
dirigia tão rápido quanto Roman, mas ela adorava ter a capota abaixada,
e quanto mais eu ficava sentada em seu carro, mais eu também gostava.
O vento açoitou meu cabelo enquanto o sol brilhava sobre nós. Foi
incrível.
*
Sentamos em uma mesa na outra extremidade do restaurante chique.
Era um lugar luxuoso, com iluminação fraca e decoração extravagante.
Olhamos nossos menus, que mais pareciam livros para mim.
Jane pediu um pouco de vinho enquanto decidíamos o que comer.
— Então, vejo que você e Roman estão ficando um pouco brincalhões.
— Jane sorriu, olhando para o meu pescoço. Tentei controlar o rubor que
manchava minhas bochechas.
— Um pouco. — Eu sorri. — Então adivinhe! — Eu rapidamente
mudei de assunto. — Consegui o emprego naquela escola que você me
falou, e eles nem mesmo me entrevistaram.
Os lábios de Jane se curvaram em um sorriso animado quando seus
olhos oceânicos se iluminaram.
— Isso é tão bom, Rae. — Ela sorriu. — Por favor, eles não precisam
entrevistar a Sra. Marigold. — Ela zombou enquanto o garçom servia
nosso vinho.
— Eu sinto que é trapaça, — eu admiti, mordendo meu lábio e
observando o líquido vermelho derramar graciosamente para fora da
garrafa.
— Absurdo! Agarre esta oportunidade pelas bolas, querida. — Jane
deu um sorriso determinado enquanto tomava um gole de seu vinho.
Talvez ela estivesse certa. Eu deveria apreciar a chance que me foi
dada.
— Mark foi para casa ontem à noite? — Eu perguntei, tentando
colocar a atenção de Jane nele. Eu queria que ela o notasse.
— Não, ele dormiu em um dos meus quartos de hóspedes. Eu vi uma
garota sair do quarto dele esta manhã. — Ela fez uma careta, revirando os
olhos.
Ela estava com ciúmes!
— Você não está saindo com ninguém? — Eu perguntei, tentando soar
casual.
Jane tomou um gole de vinho, remexendo-se desconfortavelmente na
cadeira. Eu franzi minha sobrancelha ligeiramente com a reação dela.
— Alguém do trabalho, nada sério. — Ela me deu um sorriso tímido.
Esquisito.
Eu estava quase terminando meu macarrão, mas minha barriga
parecia que estava prestes a explodir. Eu não me arrependi, pois o gosto
estava tão bom. Jane pediu licença para usar o banheiro feminino e eu
tomei um gole de vinho.
Meu telefone começou a tocar e eu me repreendi mentalmente. Deve
ter sido Roman se perguntando onde eu estava. Eu esqueci
completamente de dizer a ele que estava almoçando com Jane. Foi tudo
muito de última hora.
— Olá, — respondi.
Houve silêncio do outro lado da linha, mas senti que alguém podia me
ouvir.
— Olá, — eu repeti. Eu definitivamente podia ouvir a respiração do
outro lado da linha.
— Você fica bem de rosa.
A voz do outro lado da linha enviou um calafrio pela minha espinha.
Era a voz que eu tentava esquecer, a dos meus pesadelos.
Isso não poderia estar acontecendo.
Capítulo 19
MEDO
RAINA

Tudo parecia estar indo a um passo de lesma enquanto eu sucumbia


ao silêncio. Minha mão ainda segurava o telefone no meu ouvido
enquanto minha frequência cardíaca aumentava freneticamente.
Eu congelei, e o medo, ao qual eu estava tão familiarizada, percorreu
meu corpo.
— Você fica bem de rosa. — Sua voz soou fria.
Ele queria que eu soubesse que ele estava me observando.
— Diana estava errada. Ela me disse que você não havia sido tocada
por ele. — Eu ouvi sua respiração instável. — Aquele desgraçado te
comeu!
Fechei meus olhos, rezando para ser tirada desse momento, rezando
para que isso não fosse real.
— Diga-me, Raina. Você gostaria que fosse eu quem ficasse com você?
— Seu gemido profundo fez minha comida querer sair da minha boca.
— Você está bem, Rae? — A voz preocupada de Jane me tirou do meu
transe. Desliguei e me mexi na cadeira.
— Uau, você não parece tão bem, querida. — Suas sobrancelhas se
juntaram enquanto ela se aproximava de mim.
Eu tropecei para encontrar as palavras. Minha boca ficava mais seca a
cada segundo.
— Eu... eu não me sinto muito bem, Jane. Podemos ir para casa? — Eu
resmunguei, sentindo as lágrimas ardendo atrás dos meus olhos.
— Oh, Rae! Claro. Quer que eu te leve ao médico?
— Não. Eu só quero ir para casa. Por favor.
*
Jane me colocou na cama depois que eu tentei colocar meu pijama. As
lágrimas ainda lutavam para escapar de mim.
— Estou preocupada, Rae, — Jane admitiu, colocando a mão na minha
testa enquanto eu estremecia embaixo dela.
Eu vi Jane colocar o telefone no ouvido e então ela ficou andando pelo
corredor. Eu sabia que ela estava ligando para Roman.
Fechei meus olhos e tentei acalmar minha respiração. Senti a cama
tremer ao meu redor, causada por meu corpo trêmulo.
Eu já havia me sentido assim muitas vezes antes, e o fato de pensar
que nunca mais sentiria isso me irritou. Eu me permiti acreditar que
poderia ser feliz.
Troy nunca ia me deixar. Ele nunca ia me deixar esquecer. Ele nunca
ia me deixar seguir em frente. Nenhum deles iria.
Diana tinha falado claramente com ele sobre mim, e só de pensar isso
me fez sentir mal.
Senti o toque reconfortante de Jane em meu braço enquanto ela se
deitava ao meu lado, me tirando de meus pensamentos.
— Rae? — Ela perguntou baixinho, esperando que eu respondesse. Eu
fiquei em silêncio. Meus olhos encontraram os dela brevemente.
— Com quem você estava falando antes de eu voltar para a mesa? —
Seu tom era suave e cheio de preocupação.
Mudei minha cabeça para trás para olhar para o teto, lutando contra o
desejo de não explodir em lágrimas. Meu lábio tremeu e deixei escapar
um suspiro trêmulo.
Eu não respondi. Eu não pude responder. Eu nunca iria responder.
ROMAN

— Então, para encerrar, eu quero que Shane e sua equipe assumam o


projeto Hayden.
— Estou ansioso para ouvir suas ideias. Eu também gostaria de
agradecer a todos vocês. Seu trabalho árduo não passou despercebido e é
apreciado aqui na Marigold Enterprises. Eu tam...
— Senhor, — minha assistente Claire interrompeu. Normalmente, eu
ficaria bravo, mas ela teve sorte de a reunião estar perto do fim.
Eu franzi minha sobrancelha enquanto ela corria para mim.
— Senhor, sua prima Jane está pedindo urgentemente para falar com
você.
Eu balancei a cabeça, andei até o meu escritório ao lado e peguei o
telefone.
— Jane?
— Roman, Raina e eu fomos almoçar e ela não está se sentindo bem.
Ela está...
— Onde você está? — Eu soltei.
— Em sua casa. Ela está na cama. — Eu a ouvi suspirar do outro lado
da linha.
— Estou chegando! — Eu disse, já na metade do caminho para fora da
porta.
*
Estacionei fora da casa e corri para o salão. Jane me parou no caminho
até as escadas.
— Jane, saia da frente!
— Espere, eu preciso falar com você.
— Eu não quero falar. Eu quero ver minha esposa! O que diabos
aconteceu? — Eu podia sentir meu corpo ficar tenso a cada passo.
— Isso é o que estou tentando te dizer. Deus! — Ela se enfureceu.
— Tudo estava bem. Fui ao banheiro e, quando voltei, Raina parecia
estar ao telefone com alguém. Roman, eu juro que a garota parecia ter
visto um fantasma ou algo assim. — Jane parecia imersa em
pensamentos.
— Ela disse que não se sentia bem, mas eu não sei, algo parecia errado.
Perguntei com quem ela estava falando, mas ela não me disse. Ela
adormeceu. A menina estava literalmente tremendo.
— Por que diabos você não chamou um médico?
— Eu chamei. Ele está vindo, — Jane respondeu em um tom que
tentou me acalmar. Passei por ela e fui em direção ao meu quarto.
Raina estava dormindo de lado; suas mãos estavam frias como gelo e
eu sabia que algo estava errado. Este não era apenas um problema
estomacal. Alguém ligou para ela. Eu precisava saber quem diabos ligou
pra ela.
Eu andei ao redor da sala pelo que pareceram horas querendo quebrar
alguma coisa.
Eventualmente, eu me enrolei em tomo de Raina e coloquei meu
braço em volta dela. Eu queria que ela descansasse, mas estava ficando
impaciente, esperando que ela acordasse. Eu precisava de respostas.
Eu vi seu telefone na mesa de cabeceira e estendi a mão para pegá-lo
antes de passar por sua lista de chamadas.
Chamadas recebidas:
13h33 — Número não identificado.
Quem diabos ligou pra ela?
RAINA

Trevas. Escuridão ao meu redor. Meu vestido rosa voou pela névoa
escura que agora me cercava. Eu a vi. Ela estava toda vestida de preto e
sorrindo para mim.
— Hetty, — gritei. Ela tinha de me ouvir. Eu tinha de avisá-la sobre a
sombra escura espreitando atrás dela. — Hetty! — Minha garganta
queimava enquanto eu gritava noite adentro.
Ela olhou para mim, com seu sorriso desaparecendo quando ela
apontou para a figura atrás dela. Ela olhou para mim e sussurrou algo. Eu
ouvi isso tão claro quanto o dia e senti arrepios arranhar minha pele fria.
— Ele me matou.
— Raina, querida, vamos lá! — Meus olhos se abriram enquanto eu
suplicava por ar. Eu senti como se o oxigênio tivesse sido arrancado de
mim.
— Obrigado, porra! — Roman rugiu. Meus olhos encontraram a
preocupação nos dele. Consegui acalmar minha respiração antes de
notar outro homem na sala. Ele era um homem mais velho. — Olá, Sra.
Marigold. Sou o doutor Phillip. Se estiver tudo bem para você, gostaria de
fazer um exame rápido.
Eu olhei para Roman antes de balançar a cabeça. O cheiro de Roman
estava pairando ao meu redor, e eu sabia que ele devia estar deitado na
cama comigo.
O Dr. Phillip completou meu check-up. Ele disse que não tinha
preocupações e que poderia ter sido uma reação ao álcool que bebi na
noite passada.
Eu vi Roman puxá-lo para o corredor, mas não consegui entender
nada do que estava sendo dito.
Marie entrou, passando pelos homens que sussurravam, segurando
uma grande bandeja com uma tigela de sopa e um pãozinho com
manteiga. — Pobrezinha, — ela proferiu, olhando para o meu rosto
suado.
Roman pegou a bandeja de Marie. — Obrigado, Marie. Eu assumo a
partir daqui. — Sua voz era baixa e calma quando ele se sentou ao meu
lado, colocando a bandeja em seu colo.
Eu me sentei enquanto Roman misturava a sopa com uma colher e a
segurava em meus lábios.
Eu vi seus dentes cerrarem. Ele parecia muito estressado, e era tudo
culpa minha ele ter sido arrastado do trabalho para cá.
— Quem é Hetty? — Ele perguntou. Eu vacilei ao som de seu nome
enquanto Roman me encarava. — Você falou esse nome durante o sono.
— Ele fez uma pausa. — Raina? — Ele procurou respostas em meu rosto.
— Ela... ela era uma empregada em casa. Ela era como uma mãe para
mim. Eu... eu a amava. — Não pude evitar as lágrimas que rolaram
silenciosamente pelo meu rosto.
— Onde ela está agora? — Roman perguntou, enxugando minhas
lágrimas com a ponta do polegar.
— Eu... eu não sei. Ela se foi. — Eu solucei, caindo nos braços de
Roman enquanto as lágrimas se tomavam insuportáveis.
Os braços de Roman me envolveram com força. Ele suspirou antes de
se afastar para olhar nos meus olhos brilhantes.
— Por favor, Raina, me diga o que está acontecendo, — ele sussurrou,
olhando para minha expressão de dor.
Eu balancei minha cabeça. — Eu... não posso. Não é nada.
— Mas que besteira! — Roman rugiu. A bandeja de comida saiu
voando pela sala e se espatifou contra a parede oposta.
Eu estremeci, erguendo minhas mãos para me proteger de uma surra.
— O que... o que você está fazendo, Raina?
— Por favor, não me machuque. Eu sinto muito.
— Por que eu... por quê? — Roman gaguejou, franzindo a testa em
minha direção.
— Você acha que eu iria te machucar? — Ele suspirou dolorosamente
e parecia genuinamente magoado. Ele se ajoelhou ao meu lado e pegou
minha mão trêmula.
— Raina, eu nunca te machucaria, nunca! Só estou com raiva por não
poder te ajudar. Você obviamente está escondendo coisas de mim, e não
sei por quê. Você me disse que confiava em mim, mas claramente não
confia se não está me dizendo a verdade!
— Eu confio em você, Roman. — Eu funguei, fechando meus olhos.
— Então me diga, querida, — ele implorou, segurando a palma da mão
quente contra o meu rosto.
— Quem ligou para você hoje?
Capítulo 20
CONTROLE
RAINA

— Não faz muito tempo, fui agredida, antes do nosso casamento. Ele,
eles...
Fiz uma pausa, tentando controlar minhas lágrimas enquanto
agarrava a camisa de Roman. Eu podia ver as veias aparecendo em seus
braços e a fúria em seus olhos como se ele já soubesse o que eu ia dizer.
Soltei um suspiro trêmulo.
— Eles me prenderam.
Comecei a tremer. Roman apertou suas mãos em volta de mim.
— Hetty me salvou antes que eles fizessem qualquer outra coisa. —
Fechei meus olhos injetados de sangue enquanto observava o silêncio de
Roman.
— Sua família não chamou a polícia? — Ele finalmente falou com os
dentes cerrados.
— Eu nunca disse a eles.
— Quem eram eles?
Eu queria dizer a verdade, expor Troy e os Wilson, mas meu coração
não me permitiu fazer isso. Se eu contasse a Roman agora, não havia
como saber se ele acreditaria em mim.
Eu não queria arruinar nenhum progresso que fizemos arrastando
meu passado aqui comigo. Decidi que queria uma ficha limpa.
— Eu não sei. dois homens aleatórios, — eu menti, odiando cada
minuto disso. Queria evitar a guerra que sabia que explodiria se contasse
a verdade.
— E o telefonema? — O corpo de Roman ficou tenso diante de mim.
— Foi de um dos atacantes, — eu resmunguei.
Houve mais silêncio enquanto Roman se segurava em mim. Ele beijou
minha testa e acariciou minha mão. Eu me senti segura aqui em seus
braços, quase como se aquele telefonema fosse apenas um pesadelo.
Roman parou de me forçar a falar. Ele sabia que falar sobre isso me
deixava nervosa.
Depois de um tempo, ouvi um suspiro de derrota deixar seus lábios.
— Lamento que você tenha passado por tudo isso, Raina. Eu gostaria
de ter estado lá para te proteger. Estou aqui agora e ninguém nunca mais
vai te machucar. — Suas palavras fizeram meu coração palpitar. Eu
acreditei nele.
— Você é minha, princesinha. — Seus lábios pressionaram
suavemente nos meus antes de me abraçar até que eu adormecesse.
ROMAN

Deixei Raina dormindo e então desci para a academia. Fechei os olhos


e comecei a lançar jabs o mais forte que pude.
Alguém se aproveitou da minha doce Raina. Seu sorriso tímido
brilhou em minha mente enquanto eu batia com mais força. Eles a
machucaram e eu senti como se pudesse ouvir seus gritos.
Eu senti como se ela estivesse chamando meu nome, mas eu não
poderia estar lá para apoiá-la.
Eu tive um acesso de raiva antes de jogar o saco de pancadas no chão,
suando profusamente.
Senti a fúria percorrer todo o meu corpo e fiz uma promessa a mim
mesmo de que encontraria e mataria seus agressores.
Raina ainda estava escondendo coisas. Ficou claro que ela estava
apenas com medo. Eu precisava ficar de olho nela, e se houvesse alguém
lá fora atrás dela, eu estaria esperando. Deixe os desgraçados virem.
Meu telefone começou a tocar, tirando-me dos meus pensamentos
mortais.
— O quê? — Eu rosnei, soando mais besta do que humano.
— Jane me informou. O que aconteceu, Ro? — A voz de Mark fluiu
através da linha, e a preocupação era clara em seu tom.
— Eu preciso falar com você. Venha me ver aqui. Não vou deixar
Raina sozinha, — ordenei antes de desligar.
RAINA

Fui até o banheiro para me refrescar e observei meu reflexo no


espelho. Meus olhos estavam inchados e com anéis vermelhos ao redor
deles, e minhas bochechas estavam vermelhas.
Eu reconhecia esse rosto quebrado do meu passado, e, ainda assim, ele
voltou para me insultar. Eu poderia jurar que ele sorriu de volta para
mim, me dizendo que eu era estúpida em pensar que minha vida seria
diferente.
Parei diante da grande parede de vidro e olhei para a escuridão. Talvez
o diabo estivesse lá fora, esperando por mim. O próprio pensamento me
gelou até os ossos enquanto eu tentava me livrar disso.
As coisas estavam diferentes agora, e eu precisava dizer a mim mesma
que ele não poderia mais me machucar. Eu precisava parar com isso e
seguir em frente. Eu estava apenas arrastando Roman comigo, e ele não
merecia isso.
Ele não merecia uma esposa quebrada.
Pare com isso, Raina.
Uma semana se passou desde o telefonema e me senti muito melhor,
mais calma. Jane me visitava quase todos os dias. Até Mark apareceu,
fazendo todos nós rirmos como ele sempre fazia.
Eu me senti mudando de volta para o meu eu feliz, mas uma pequena
parte de mim estava cansada. Uma parte de mim temia os cantos escuros
de nossa casa.
Não conseguia olhar pela janela à noite, mas não deixei meu medo
transparecer.
Roman tinha trabalhado em casa grande parte da semana e ficou ao
meu lado. Eu tinha me acostumado a ficar com ele, ouvindo seus dedos
pressionando as teclas de seu laptop. Isso me acalmava.
Percebi como nos tornamos muito mais melindrosos. Notei
principalmente as mudanças dentro de mim. Eu ansiava por seu toque, o
calor de seu corpo ao lado do meu.
Seu cheiro muitas vezes me colocava em um torpor de sonho, e eu me
sentia querendo mais dele. Ele me disse para ir até ele quando estivesse
pronta, mas eu não tinha ideia de como falar sobre isso com ele.
Era uma linda tarde de domingo. O sol ainda estava brilhando, mas
não estava tão quente quanto antes. Jane e eu ficamos na ponte floral
jogando pedras no riacho.
— Jane? — Eu perguntei, agitando meus cílios em sua direção.
— Sim, encrenqueira? — Ela sorriu, me cutucando com o cotovelo.
— Ok, então isso pode ser um pouco estranho. — Eu ri, mordendo
meu lábio.
Jane se virou para mim com uma de suas sobrancelhas levantada.
— Então, eu quero levar as coisas mais adiante com Roman, — eu falei
em um tom abafado, ficando vermelha.
— Droga! Já era hora, — ela gritou antes de elaborar. Ela parecia
entender o que eu estava tentando perguntar a ela.
— Raina, querida. Beba um pouco de vinho, vista uma coisa meio
safada e se jogue em cima dele. Observe aquele tigre atacar, amiga. — Ela
piscou, balançando as sobrancelhas para cima e para baixo.
Eu levei minhas mãos ao rosto e ri. Acho que chegou a hora de eu
assumir o controle. Eu não conseguia mais lutar contra o que meu corpo
estava me dizendo.
Sempre que estava perto de Roman, tinha vontade de arrancar suas
roupas. O homem era um deus caminhando na terra.
*
Naquela noite, sentei-me em frente ao computador candidatando-me
a alguns empregos. Eu adorava ficar em casa, mas estava começando a
ficar inquieta.
Eu realmente queria começar a trabalhar na escola primária. Era tão
perfeito para mim, mas até lá, eu precisava de algo para preencher meu
tempo.
Depois de passar uma semana em casa comigo, Roman teve de
comparecer a uma reunião de negócios urgente no fim de semana para se
preparar para uma ainda maior.
Não invejava seu trabalho no mundo dos negócios, mas ele parecia
saber o que estava fazendo. Ele poderia cuidar de si mesmo, pois Richard
havia lhe ensinado tudo o que sabia. Roman provavelmente era um chefe
intimidante, mas aposto que ele sabia liderar. Ele poderia me levar direto
para o quarto.
Bati meus dedos na mesa do escritório de Roman depois de desligar o
computador, seu cheiro almiscarado tinha me cercado aqui, e eu me
encontrei querendo seu corpo. Reunião de negócios estúpida.
Passei por Marie, que estava passando o aspirador no saguão. Eu me
perguntei se ela ainda precisava fazer isso. Sempre foi tão imaculado por
aqui, mas pode ser porque Marie adorava limpar.
Ela cantarolava para si mesma, parecendo em paz. Eu me senti grato
por ela ter ficado aqui para que eu não tivesse de ficar sozinha.
Vesti minha camisola e apertei um dos botões extravagantes que
Roman tinha me mostrado. Uma tela de plasma do tamanho de um
cinema apareceu do nada, e eu me perguntei como ela estava tão bem
escondida no teto.
Quando o filme acabou, enviei a enorme tela de volta para o céu, ou
de onde quer que tenha vindo, antes que Marie aparecesse para anunciar
que iria passar a noite.
Eu estiquei meus braços em volta de mim e me afundei mais na cama.
Eu não conseguia dormir
Eu verifiquei meu telefone e franzi meu nariz. Sem mensagens. Ele
deve ter estado muito ocupado.
Eu me senti ficando com ciúmes de todas as pessoas que podiam
passar um tempo com ele, de todas as garotas que provavelmente
estavam olhando boquiabertas para ele agora. Eu não poderia culpá-las.
Eu sorri para mim mesma enquanto levantei meu telefone e comecei a
digitar uma mensagem.
Raina: Estou entediada!
Depois de um minuto, ouvi uma vibração.
Roman: Você não pode estar mais entediada do que eu,
princesinha. Assistimos a um filme.
Raina: Já vi um. O seu é enorme

Roman: Meu o que é enorme?

Raina: MDS! Eu quis dizer TV!


Joguei meu telefone ao meu lado e empurrei meu rosto vermelho no
travesseiro antes de ouvir outro ping. Eu era tão ruim nisso.
Roman: Você está na cama?

Raina: Sim
Meus olhos estavam ficando mais pesados enquanto esperava sua
resposta, mas eles imediatamente se abriram ao som do meu telefone
tocando.
— Ei, — eu respondi, surpresa com o quão sem fôlego eu parecia.
— Você sabe, o pensamento de você entediada na minha cama está me
deixando louco. — A voz áspera de Roman se derramou em meu ouvido,
acendendo um fogo dentro de mim.
— Acho que estou me deixando louca. — Eu ri, mordendo meu lábio.
— Você está mordendo o lábio, Raina? — Seu tom baixo fez meu
coração pular uma batida. Minhas pernas se separaram sozinhas
enquanto eu brincava com as borlas penduradas na minha camisola.
— Possa estar. — Suspirei. Meu corpo parecia estar em chamas. Eu
nunca havia sentido uma necessidade como essa antes.
— Você não tem ideia do quanto eu te quero, Raina.
Fechei meus olhos e entendi suas palavras. Minha mão caiu no meu
ponto sensível.
— Eu... te quero também, — eu sussurrei, imaginando o corpo nu de
Roman diante de mim. Eu não pude evitar o gemido que escapou dos
meus lábios enquanto gentilmente me tocava.
Roman ficou em silêncio por um momento.
— O que você está fazendo, Raina? — Eu podia ouvir a luxúria em sua
voz rouca.
— Roman. — Seu nome deixou meus lábios em um gemido trêmulo.
Meu dedo escorregou na minha entrada.
ROMAN

Sentei-me à minha mesa do escritório, atordoado, com uma mão


segurando o telefone no meu ouvido enquanto a outra estendeu para
abrir o zíper da minha calça. Eu podia sentir o gosto do desejo de Raina
do outro lado da linha.
O som do meu nome deixando seus lábios perfeitos teria me chocado
se eu já não estivesse sentado.
Fechei meus olhos, apreciando o som de seus gemidos suaves
vibrando através de mim enquanto eu pegava meu pau duro em minha
mão.
— Raina, — eu respirei. — Eu quero entrar nessa sua boceta doce.
Raina soltou um suspiro áspero com minhas palavras.
— Eu preciso de você dentro de mim, Roman. — Ela gemeu enquanto
eu me dava prazer com sua doce voz. Ela estava me deixando louco.
— Quão molhada você está para mim?
— Mmm, muito molhada.
— Você está se tocando?
— Sim.
— Eu quero ouvir você gozar para mim, — eu gemi quando Raina
choramingou. Eu podia ouvi-la sussurrar meu nome, tentando reprimir
seus gemidos altos enquanto ela se desfazia. Puta merda.
Minha cabeça rolou para trás em meu assento e eu liberei minha
carga. Levei um momento para me recompor enquanto ouvia a
respiração pesada de Raina do outro lado da linha.
Eu não sabia por quanto tempo mais seria capaz de me controlar
perto dela.
Capítulo 21
TENTADOR
RAINA

Roman voltou para casa há um tempo. Ele estava terminando algumas


coisas de última hora em seu escritório. Eu sentei na cozinha com Grace.
Ela gentilmente me serviu uma taça de vinho enquanto eu lia um livro
em silêncio.
Segurei o copo na mão e fiz beicinho para mim mesma antes de levá-
lo aos lábios e tomar o líquido frutado.
Eu mesma me servi outra vez de um grande copo de vinho de novo.
Grace sorriu enquanto me observava. Ela estava se preparando para ir
para casa.
— Boa noite, Raina.
— Vejo você amanhã, Gracey. — Eu dei uma piscadela.
Oh, Deus, já está me afetando.
*
Franzi a testa e vasculhei meu guarda-roupa, lembrando
distintamente de Jane me forçando a comprar lingerie nojenta em uma
de nossas viagens de compras.
Ainda estava em sua bolsa de aparência chique com as etiquetas.
Cortei as etiquetas e levei a lingerie para o banheiro junto com minha
terceira taça de vinho.
Quinze minutos depois, saí do banheiro com as pernas nuas e me
observei no espelho alto.
Eu estava exibindo um sutiã de tiras de renda preta que não deixava
nada para a imaginação com uma calcinha de renda combinando,
revelando minha bunda.
Veio com meias compridas, mas quase tropecei ao tentar colocá-las
nas pernas, então desisti. Por último, usei uma camisola curta quase
transparente por cima.
Meu cabelo caiu em tomo de mim em grandes ondas. Eu apliquei um
pouquinho de rímel e uma pitada de perfume antes de descer para o
escritório de Roman. E hora de tentar o tigre.
Segurei a alça e respirei fundo, agradecida pelo vinho ter me dado um
pequeno impulso. Eu me sentia nervosa e animada ao mesmo tempo.
Eu lenta e silenciosamente abri a porta e fechei-a atrás de mim.
Roman estava ao telefone com alguém, com os olhos grudados no papel à
sua frente.
Dei um passo à frente, com meu coração disparado. Talvez não tenha
sido uma boa ideia.
Ele estava no meio da frase quando seus olhos se ergueram. Eu
silenciosamente engoli em seco e congelei no lugar. Os olhos de Roman
escureceram e seus dentes cerraram.
— Shane, preciso desligar. — Ele falou baixo, sem ouvir uma resposta
antes de desligar o telefone.
Mordi meu lábio com antecipação, com meu rosto aquecendo sob seu
olhar ardente. Seus olhos verdes observaram cada centímetro do meu
corpo muito lentamente. O que ele estava pensando?
— Venha aqui, — ele finalmente ordenou. Sua voz era áspera e
extremamente baixa.
Dei passos lentos extras em direção a ele, certificando-me de balançar
meus quadris um pouco. Eu queria rir, mas seu olhar intenso não me
deixou.
Ele empurrou sua cadeira para trás e me puxou para seu colo, minhas
pernas sentando-se de cada lado dele.
Ele olhou nos meus olhos, com suas mãos esfregando suavemente
minha parte inferior das costas. Ele estava lindo em uma camisa de botão
branca e calça jeans.
— O que posso fazer por você, Sra. Marigold? — Ele perguntou, com
sua voz rouca e áspera enquanto seus olhos se voltaram para o meu peito.
— Bem, eu pensei... — Fiz uma pausa para sorrir para ele.
— Achei que podíamos... — Minhas palavras ficaram presas na minha
respiração quando os lábios de Roman roçaram meu pescoço.
— Você pensou o quê? — Ele perguntou, beliscando e beijando minha
orelha até meu ombro.
Soltei um gemido ofegante sob seu toque. Ele tinha o poder de me
fazer desmoronar apenas com o toque suave de seus lábios.
— Você me quer dentro de você? — Sua voz estava ficando mais baixa
e áspera. Sua grande mão alcançou um dos meus seios, acariciando a
renda transparente antes de beliscar e rolar suavemente em meu mamilo.
Por todo o tempo, seus lábios permaneceram beliscando meu pescoço.
Oh, Deus.
— Eu... eu te quero, Roman, — eu admiti, mal reconhecendo a luxúria
em minha voz.
Os lábios de Roman desabaram sobre os meus enquanto meu coração
disparou. Retomei seu beijo apaixonado, saboreando sua fome enquanto
envolvia meus braços em volta de seu pescoço.
— Tem certeza de que é isso que você quer?
— Sim, — respondi sem hesitação.
Ele me levantou enquanto nos beijávamos sob os tons escuros de seu
escritório. O vento agitou meu cabelo enquanto nos movemos
rapidamente em direção ao saguão e subimos as escadas. Ele estava com
pressa.
Eu mal conseguia recuperar o fôlego quando tocamos os lábios como
se nossas vidas dependessem disso. Roman me jogou com força na cama
e eu saltei no colchão.
Ele olhou para o meu corpo ofegante enquanto eu me apoiava nos
cotovelos.
Ele começou a desabotoar a camisa, revelando seu corpo divino, com
seus músculos brilhando diante de mim e me fazendo pulsar ainda mais
com seu toque.
Seus olhos permaneceram nos meus enquanto ele tirava a calça jeans,
deixando apenas a cueca boxer.
Ele se inclinou e me beijou suavemente antes de remover meu robe
junto com meu sutiã. — Tão sexy, — ele ronronou em meu ouvido antes
que eu sentisse uma brisa contra minha umidade. Minha parte debaixo
foi arrancada de mim.
Roman recuou e olhou para cada centímetro do meu corpo nu.
Meus olhos continuavam passando de seu rosto para a grande
protuberância em sua cueca.
Ele me deu um sorriso atrevido antes de puxar para baixo sua boxer,
mostrando seu comprimento absolutamente enorme, uma vez que saltou
graciosamente. Porra!
Eu engoli em seco quando ele se aproximou, sentindo sua pele quente
pressionar contra a minha enquanto ele se elevava sobre mim. Tocamos
os lábios suavemente, explorando um ao outro com cada toque suave.
Minhas pernas apertavam seu grande corpo enquanto eu cedia
completamente a ele. Senti sua dureza pressionar contra mim enquanto
nos acariciamos.
Minha respiração se intensificou quando ele pressionou ternamente a
ponta de seu comprimento no meu sexo molhado.
— Relaxe, Raina, — ele sussurrou como se percebesse meus nervos.
Ele beijou e beliscou meu pescoço. Eu gemi com o contato. Eu estava
pronta para ele. Ele todo.
Senti seu comprimento me encher um pouco mais. Ele estava
tentando ser o mais cuidadoso possível enquanto eu tremia embaixo
dele. Eu gemi, saboreando a dor enquanto ela lentamente se
transformava em puro êxtase.
Meus dedos cravaram desesperadamente em sua pele.
O nome de Roman deixou meus lábios em um gemido suave antes
que ele se chocasse contra mim, liberando seus próprios gemidos
ásperos.
— Tão apertada. Porra, Raina, — ele gemeu, enfiando em mim de
novo e de novo.
Meus gemidos se transformaram em gritos de prazer.
— Minha linda esposa, — ele ronronou. A sensação de ter Roman me
preenchendo não era nada que eu pudesse ter imaginado. Os sons que
escaparam de seus lábios acenderam um fogo dentro de mim que só ele
poderia apagar.
Roman olhou nos meus olhos enquanto seus impulsos ficavam lentos,
mas fortes. Minhas mãos se encontraram ao redor de seu pescoço. Ele
beijou meus lábios suavemente, enviando borboletas para a minha
barriga.
Eu senti que fazer amor era isso, apenas eu e ele e os sons de nossos
gemidos de felicidade enquanto nossas almas se tomavam uma.
— Você é minha, — Roman sussurrou enquanto meu corpo inteiro
arqueava em direção a ele. Eu explodi em tomo de seu comprimento
antes que ele encontrasse sua liberação. Senti sua semente quente
derramar em mim.
Deitamos nos braços um do outro, recuperando o fôlego o máximo
que pudemos. Ele me pegou e minha cabeça caiu em seu peito. Olhei
profundamente em suas orbes esmeraldas e tudo mudou.
— Eu te amo, Roman.
— Eu também te amo. Mais do que qualquer coisa, — ele sussurrou,
beijando minha testa. Meus olhos se fecharam e o sono me consumiu.
*
Eu estava correndo da escuridão, correndo em direção a Roman. Ele
esticou os braços para mim. Eu estava tão perto e tão longe. Eu senti
como se estivesse ali mesmo, exceto que eu não podia alcançá-lo.
Eu finalmente corri para seus braços e aninhei minha cabeça em seu
pescoço — meu Roman. Levantei meu rosto para olhar em seus olhos
verdes, mas me deparei com duas conchas de gelo perscrutando minha
alma.
— Não, não!
— Estou chegando, Raina. Você não pode se esconder de mim. — Troy
começou a rir como um maníaco.
Seu rosto se transformou em um demônio enquanto ele virava minha
cabeça para encarar um corpo morto no chão coberto por um lençol
branco manchado de sangue. Eu gritei no silêncio.
Ajude-me.
Capítulo 22
OBCECADO
ROMAN

Ela era a garota dos meus sonhos. A garota que eu estava esperando há
muito tempo. Tantas vezes tive vontade de perguntar a meu pai o que o
fez escolhê-la, o que o atraiu?
Como ele sabia que eu iria me apaixonar por ela?
Minha cabeça se aninhou na nuca de Raina enquanto envolvia meu
braço em volta de sua cintura de forma possessiva. Ela era minha e
sempre seria.
Seus gemidos, seus toques suaves, a maneira como seu corpo se movia
com o meu. O olhar lascivo em seus olhos enquanto eu fazia amor com
ela.
Eu nunca poderia me cansar disso, nunca me cansaria de deixá-la
louca todas as noites. Eu tinha muito a aprender sobre minha linda
esposa, mas já me sentia mais próximo dela do que com qualquer outra
pessoa.
A brisa noturna soprou no quarto quando ouvi Raina chorar em seu
sono. Seus olhos estavam fechados, mas suas sobrancelhas estavam
franzidas. Outro pesadelo.
Eu a apertei um pouco mais forte, esperando que isso a acalmasse,
então me apoiei no cotovelo para observá-la. Seus braços se moveram
ligeiramente.
— Raina? — Eu sussurrei, observando seu corpo tremer. Ela estava
tentando dizer alguma coisa. ' Pronunciava palavras abafadas e pouco
claras, mas dava para ouvir. Poderia ter sido confundido com o vento que
vinha de fora, mas eu sabia que se tratava dela.
— Ajuda.
Mark entrou em meu escritório. Eu estava esperando por ele esta
manhã.
— Ei, Ro. — Ele sorriu, mas algo parecia estranho nele. Ele não estava
como sempre.
— O que você descobriu? — Eu perguntei impaciente.
— Você quer ir direto ao assunto, hein? — Ele perguntou timidamente
antes de sentar-se na cadeira em frente à minha mesa. Ele esfregou a
nuca com a mão e fiquei mais impaciente.
— Bem, Raina ficou na dela. Ela teve alguns desentendimentos com
uma garota chamada Viola quando era mais jovem, mas ela nunca teve
amigos homens de verdade. Quem quer que a tenha atacado era
definitivamente alguém que ela não conhecia.
Recostei-me na cadeira, ouvindo atentamente. Eu tinha pedido a
Mark para descobrir tudo o que pudesse sobre o passado de Raina,
qualquer coisa que pudesse me ajudar a resolver o que aconteceu com
ela.
Mark olhou para seus dedos girando, e eu sabia que havia mais coisas
que ele não estava me contando.
— Fale logo, Mark!
— Olha, Roman, não fique chateado, ok? — Ele tentou encontrar
alguma garantia em meus olhos, mas não havia como eu prometer até
ouvir o que ele tinha a dizer.
— Quando você me pediu para investigar, descobri que estava indo
para uma fonte mais próxima, alguém que poderia me ajudar muito mais
rápido.
— Quem!? — Eu rebati, com meu corpo ficando tenso. Eu sabia que
não iria gostar da resposta.
— Diana Wilson. — Ele engoliu em seco. — Ela mudou, cara. Ela
realmente amadureceu e estava preocupada com a Raina.
Eu bati meu punho na mesa. — Por que diabos você iria falar com ela?
— Ro, me escute. Ela disse que Raina teve um passado conturbado.
Ela sofreu muito bullying na escola, mas há outra coisa. — Ele fez uma
pausa, parecendo relutante em dizer as próximas palavras.
— Porra, me diga! — Eu rosnei.
— Ela... ela desenvolveu algum tipo de obsessão estranha com seu
meio-irmão, Troy. — Mark olhou para seu colo. Ele não conseguia olhar
nos meus olhos. Ele honestamente esperava que eu acreditasse nessa
merda?
— Do que diabos você está falando?
— Diana não quis me contar a princípio, mas consegui arrancar dela.
Ela disse que Raina ficou obcecada por Troy. Ela assustou as namoradas
dele, o perseguiu.
— Ela ficava pedindo a ele para ir embora com ela. Aparentemente,
antes do seu casamento, ela implorou que ele fugisse com ela, mas ele se
recusou, então ela acabou se casando com você.
— Mas que besteira! Você espera que eu acredite nisso? — Eu derrubei
uma pilha de papéis na minha mesa em um acesso de raiva.
— Eu também não acreditei, mas Diana me levou para o antigo quarto
de Raina. Debaixo da cama de Raina estavam esses álbuns de fotos. — Ele
pausou novamente e fechou os olhos como se doesse continuar falando.
— Eram todas fotos de Troy. — Mark parecia estar em guerra consigo
mesmo. Eu sei que ele não queria que Diana estivesse certa.
— Isso não faz nenhum sentido, — eu cuspi.
Nunca esperei receber informações como essa.
Achei que Mark voltaria com alguns nomes ligados a quem machucou
Raina, mas agora minha mente estava completamente fodida.
Eu me senti tão perdido e em conflito. Eu gostaria de poder voltar no
tempo e não ouvir o que Mark tinha a dizer, mas o estrago estava feito.
Contudo, eu não pude acreditar nele. Minha esposa não merecia isso.
Ela merecia minha lealdade, e eu sabia que não devia confiar em nada
que saísse da boca daquela Diana em busca de atenção.
Se eu fosse acreditar em alguma dessas merdas, teria de testemunhar
por mim mesmo.
RAINA

Jane e eu rimos na cozinha enquanto eu a contava o que aconteceu


ontem à noite. Ela estava feliz por mim, feliz por Roman e eu termos
avançado em nosso relacionamento.
Eu estava doida desde que acordei esta manhã.
— Olá, meninas. — Sheila entrou sorrindo, segurando um lindo
cartão na mão.
— Raina, querida, eu queria mostrar a você o convite para o jantar de
Richard e meu trigésimo quinto aniversário de casamento. — Ela
entregou o cartão delicado.
— É lindo, mãe, — sorri, admirando as delicadas bordas de renda e a
fonte complexa.
— É tudo muito apressado, realmente. Não me forcei a fazer este
jantar por causa da saúde de Richard, mas... — Ela fez uma pausa e olhou
para o balcão. Parecia que ela estava lutando contra as lágrimas.
— Mas ele insistiu que aproveitássemos bem o tempo que nos resta
juntos. — Seus olhos brilharam e Jane deu um pulo para apertar a mão de
Sheila. — Podemos ajudar em alguma coisa? — Eu perguntei. Sheila
sacudiu a dor em seus olhos e sorriu para mim, e então deu a Jane um
aceno reconfortante.
— Não, querida, mas estou mandando um cartão para sua família.
Todos devem comparecer! — Ela colocou a palma da mão na minha
bochecha.
Eu escondi o tomado que começou a se contorcer na boca do meu
estômago e dei a ela um pequeno aceno de cabeça.
Sheila voltou-se para Marie, que estava ocupada na cozinha e pediu
para falar sobre o jantar que seria em alguns dias. Eu só tive alguns dias
para me preparar para ver os Wilsons.
Eu esperava fortemente que, com o evento sendo de última hora, os
Wilsons não seriam capazes de ir, mas no fundo, eu sabia que eles nunca
recusariam um convite dos Marigolds.
Roman começou a trabalhar no escritório da cidade. Ele estava
extremamente ocupado e quase não o via. Eu sentia muito a falta dele,
mas entendi que, com a saída de Richard, Roman tinha muito que
enfrentar.
Eu não queria incomodá-lo por sua atenção.
Meu coração se apertou e orei a Deus para que Troy não
comparecesse a este jantar.
Desde que era casada, não o via e, honestamente, não sabia como
reagiria ao ver o homem responsável por todos os meus pesadelos.
*
— Acorde, dorminhoca. — Jane deu uma risadinha.
Abri os olhos para encontrá-la vasculhando meu guarda-roupa na
manhã do jantar de aniversário.
— Oh, use isso! Você vai ficar linda, — ela gritou, segurando um
vestido prateado enfeitado.
Brilhava aos raios do sol. Era comprido com uma pequena fenda. O
decote era profundo, mas cobria todas as partes importantes. Era bonito.
Suspirei, olhando para Jane, que agora estava ocupada combinando
sapatos com meu vestido. Ela parou o que estava fazendo e me estudou
por um momento. — Você está bem, Rae?
— Sim. Eu sinto falta de Roman. — Eu olhei em direção ao espaço
vazio ao meu lado.
— Ele tem estado tão ocupado, querida! — Jane se sentou ao meu
lado.
— Você o verá mais tarde. De qualquer forma, eu queria te contar
primeiro. Vou levar alguém para o jantar. — Os olhos marinhos de Jane
brilharam.
— Você está trazendo o seu homem misterioso, finalmente! — Eu dei
um tapinha nas costas dela. Essa notícia definitivamente me deixou com
um humor melhor. Ver Jane tão boba e animada me fez sentir feliz.
No entanto, meu coração se partiu um pouco por Mark, mas ele era
um menino crescido. Eu sabia que ele poderia cuidar de si mesmo, e ele
sabia que ela estava saindo com alguém, então não seria nenhuma
surpresa para ele.
— Eu tenho de ir, mas te vejo mais tarde, — Jane proferiu antes de sair
do meu quarto. Eu tropecei para fora da cama e andei para me refrescar.
Eu finalmente estava pronta. Meu vestido estava no meu corpo e meu
cabelo estava enrolado. Eu tinha empurrado as laterais para trás e
prendido no lugar. Usei um pouco de maquiagem e fiquei satisfeita com
o que vi no espelho.
Roman saiu do banheiro. Ele parecia delicioso em um smoking preto,
ajustando o Rolex de ouro em seu pulso.
— Você está linda, princesinha, — ele ronronou. Seus braços me
envolveram. Eu sentia falta disso.
— E você está bonito. — Mordi meu lábio, olhando em seus olhos que
pareciam uma bela campina na primavera. Roman se inclinou para beijar
meus lábios e, em seguida, sua testa pressionou contra a minha.
— Venha, — ele ordenou suavemente, pegando minha mão.
Começamos a caminhar em direção à casa principal e, de repente, me
senti nauseada. Eu havia tentado tanto esquecer que minha família
estava aqui que não havia preparado.
Eu não me preparei.
Corri para os braços de Richard com um abraço caloroso. Esse homem
foi mais um pai para mim no curto período em que estive casada do que
meu próprio pai foi durante toda a minha vida.
— Feliz Aniversário. — Fechei meus olhos e lutei contra as lágrimas.
Ele parecia muito mais magro e exausto do que da última vez que o vi.
Ele riu enquanto seus braços se apertaram ao meu redor. — Oh, doce
Raina, — ele respirou antes de dar um beijo na minha testa.
Olhei para Sheila, que estava sorrindo com orgulho. Ela estava linda
em um vestido azul. Seu cabelo estava preso em um coque orgulhoso
acima de sua cabeça.
Suas mãos alcançaram minha bochecha com um toque suave. Seus
olhos se voltaram para Roman, e não foi difícil ver que ela estava cheia de
orgulho.
A sala de chá foi completamente transformada em uma área de jantar
deslumbrante. Belas luzes cintilavam entre o teto e as paredes.
Flores coloridas se espalharam pela sala, ao redor das mesas e ao longo
das janelas. As grandes mesas redondas estavam cobertas por cortinas de
veludo branco, segurando candelabros altos e impressionantes.
— Charles! — Richard gritou de empolgação. Seus olhos se voltaram
para a porta. Eu não queria me virar.
Respirei fundo antes de girar lentamente meu corpo. Meus olhos se
fixaram nos do meu pai. Ele estava usando um smoking elegante, como a
maioria dos outros homens, e seu cabelo grisalho estava penteado
cuidadosamente para o lado.
Quase todas as lembranças desse homem tinham algo a ver com o fato
de eu ter sido espancada.
Meus olhos se voltaram para Diana e Vivian, saltitando atrás do meu
pai. Diana tinha seu rabo de cavalo alto característico com um vestido
vermelho. Vivian usava um vestido esmeralda.
As duas estavam de nariz empinado como se fossem as melhores
coisas do mundo. Só uma coisa me manteve calma. Eu sabia que poderia
resistir a esta noite. Nenhum sinal de Troy!
— Raina, querida. — A voz estridente da minha madrasta foi proferida
antes de ela se lançar contra mim.
— Oi, madrasta, — eu respondi inexpressivamente, enrijecendo com
seu toque. Ela soltou uma risada estranha.
— Ah, olha você! Você se esqueceu de me chamar de mamãe como
costumava fazer? — Ela fingiu uma risada e depois se virou para Sheila,
que sorriu educadamente para a amiga.
Os olhos de Sheila e Diana dispararam para a grande figura de pé atrás
de mim. Diana parecia um cachorro no cio. Roman se mexeu
desconfortavelmente atrás de mim e pude sentir seu corpo ficar tenso.
— Roman, querido. — Vivian estendeu a mão para o braço dele, com
os olhos brilhando para ele. Eu queria revirar meus olhos.
— Sr. e Sra. Wilson, — Roman cumprimentou acenando para eles,
depois colocou as mãos em volta da minha cintura. Os olhos de Diana
queimaram em nós, e foi quando ela segurou meu olhar. Seus lábios se
curvaram em uma careta desagradável.
— Você deve estar se perguntando onde está Troy, querida! — Vivian
gritou, piscando para mim um sorriso cheio de dentes. Que diabos de
jogo ela estava tramando? Eu franzi minha sobrancelha quando senti
Roman enrijecer atrás de mim.
Sheila acompanhou os Wilsons até seus assentos, e Roman e eu nos
sentamos à mesa ao lado deles.
Grace veio com taças de champanhe em uma bandeja, e eu não hesitei
antes de pegar uma e colocá-la nos lábios. Esta seria uma longa noite.
Mark se sentou ao meu outro lado. Ele tinha estado muito mais
quieto ultimamente. Grace corou ao passar para ele uma taça de
champanhe, e ele deu um sorriso torto e fofo.
Observei Richard e Sheila cumprimentarem seus amigos na sala de
chá, e minha mente voltou para Jane. Ela ainda não estava aqui.
— Bem, olá, Mark, — Diana ronronou atrás de mim enquanto
caminhava até ele, com seus dedos deslizando sobre suas omoplatas. Ela
se sentou na cadeira vazia ao lado dele e me deu um olhar frio.
— Ei, como você está... — Mark fez uma pausa enquanto seus olhos
disparavam através da sala para a porta.
Eu segui seu olhar para ver Jane. Ela estava linda em um vestido
dourado que descia até os joelhos. Seu cabelo estava enrolado e preso
para trás como o meu.
Ela estava sorrindo para alguém. A mão dela agarrou a dele com
firmeza. Meus olhos viajaram para o homem ao lado dela, seus olhos
gelados encontraram os meus imediatamente, e seus lábios se curvaram
em um sorriso sinistro.
Por favor, não!
Capítulo 23
QUEBRADO
RAINA

O primeiro prato estava sendo servido enquanto eu observava Jane e


Troy na mesa ao nosso lado. Ela riu quando ele sussurrou algo em seu
ouvido. Eles eram a própria imagem de um casal perfeito.
Como eu poderia avisá-la?
Jane merecia coisa melhor do que isso. Ela estava com um monstro. Se
ele a machucasse, eu nunca me perdoaria porque poderia ter colocado
um fim nisso.
Eu sabia que era hora de contar tudo a Roman. Eu deveria ter contado
tudo a ele antes. Decidi que, assim que Roman e eu estivéssemos
sozinhos, seria honesta com ele. Isso não era mais apenas sobre mim.
Minha cabeça girava enquanto eu brincava com minha comida. Eu me
senti nauseada só de olhar para ele.
— O que há de errado, Rae? — Mark me cutucou de lado. Meus olhos
se voltaram para Jane antes de responder.
— Nada, apenas me sentindo um pouco tonta, — respondi, olhando
para a minha comida.
Eu podia ver Mark olhar para Roman com o canto do olho. Roman
estava extremamente quieto desde que Jane entrou. Seus olhos pareciam
grudados em cada movimento meu. Eu apenas atribuí isso a ele odiar
eventos sociais.
Meu estômago deu um nó quando vi Jane se levantar de sua cadeira.
Ela me viu e me deu um pequeno aceno. Não consegui nem forçar um
sorriso enquanto ela arrastava Troy para a nossa mesa. Não!
— Ei, pessoal! — Jane gritou, seus olhos saltando entre todos nós. —
Eu sei que isso foi um grande choque, mas não queríamos estragar nada
antes mesmo de começar. — Ela riu, olhando sonhadoramente nos olhos
de Troy.
— Olá, Raina. — Troy sorriu para mim. Tentei esconder o arrepio que
percorreu todo o meu corpo.
— Oi. — Minha resposta foi curta e rápida. A tensão era óbvia.
— Lamento não ter conhecido o famoso marido ainda. Roman, não é?
Troy estendeu a mão para Roman, que estava dando a ele um olhar
mortal. O que estava acontecendo? Depois de alguns segundos
estranhos, Roman apertou a mão de Troy. Você poderia cortar a tensão
com uma faca.
*
O jantar estava quase acabando e Roman mal tinha falado duas
palavras comigo. Tentei ignorar a voz estridente de Diana na mesa e os
olhares que recebia de Troy. Como tudo deu tão errado?
Jane se aproximou da minha mesa e me deu um tapinha no ombro.
Ela gesticulou para que eu a seguisse. Caminhamos mais para o jardim.
— Me desculpe por não ter contado a você sobre Troy, Rae. Eu queria.
Você não tem ideia do quanto eu queria, mas eu tinha de dar uma chance
antes de contar a alguém. — Seus olhos caíram para o meu rosto. Ela
estava estudando minha expressão.
— Eu entendo, — eu respondi, mas quando eu ia dizer mais alguma
coisa, Jane suspirou alto com alívio e então olhou por cima do meu
ombro. Troy estava perto da porta. Eu franzi minha sobrancelha e olhei
de volta para Jane.
— O que está acontecendo?
— Eu sei que vocês dois eram próximos, e eu acho que vocês têm
muito que se atualizar. Troy disse que vocês eram como melhores
amigos. Você deve realmente sentir falta dele. Vou dar um momento a
vocês dois.
Ela sorriu e se afastou de mim, passando por Troy enquanto ele se
aproximava. Meu corpo congelou quando ele ficou a poucos metros de
mim.
— Você está deslumbrante, Raina. — Sua voz enviou um fragmento de
gelo pela minha alma enquanto ele olhava para o meu corpo, chegando
ainda mais perto. Meu coração estava disparado.
— Me deixe em paz.
— Nunca. — Ele zombou. — Você é minha.
— O que você quer com Jane!? — Eu gritei. O controle que eu tinha
sobre minhas emoções estava escorregando. Eu fiquei com tanta raiva. —
Não tenha ciúmes de Jane, bebê. Você é a única que eu quero. Ainda
podemos ficar juntos.
De repente, todo o comportamento de Troy mudou diante de mim.
Eu não conseguia entender o que ele estava fazendo.
— Vamos lá, vamos abraçar, — ele deixou escapar aleatoriamente,
estendendo os braços para frente.
— Não. Não me toque!
— Raina, eu amo Jane. Você deve entender, — ele implorou.
— Porque ela!? — Eu rosnei. Temia pela segurança dela. Eu estava
ficando exausta com esta noite estúpida.
— Eu amo Jane! — Ele gritou.
— Fique longe dela! — Eu gritei, quase o empurrando. Eu estava
orgulhosa da minha força naquele momento. Ele tinha me machucado,
mas eu estaria ferrada se o deixasse machucar minha querida amiga.
Jane era como uma irmã para mim e eu tinha de protegê-la. Já era o
bastante; eu tinha de contar tudo a Roman agora.
Eu girei nos calcanhares, mas congelei quando fechei os olhos com
ninguém menos que Roman. Ele estava parado a alguns metros de
distância. Ele parecia zangado — não, espere, ele parecia magoado. Ele
ficou em silêncio quando me aproximei dele.
— Lamento que você tenha ouvido isso, Roman. — Troy regozijou-se
atrás de mim.
— Ouvido o quê? — Eu perguntei. Eu olhei nos intensos olhos
perdidos de Roman. O que eu perdi?
— Roman? — Eu chamei, franzindo a testa enquanto tentava
raciocinar com sua frieza. Estendi a mão para tocá-lo, mas ele recuou. Eu
suspirei.
— Ele iria descobrir a verdade eventualmente, Raina, — a voz astuta
de Troy disse atrás de mim, mas eu estava muito confusa para responder.
Meus olhos ficaram brilhantes quando olhei para o rosto de Roman.
— Por que você não me contou sobre Troy? — Roman assobiou. Sua
voz estava quase irreconhecível. Ele deve ter descoberto que foi Troy
quem me atacou. — Eu estava com medo, — respondi, com meu lábio
inferior tremendo. A verdade foi revelada.
Roman balançou a cabeça em descrença. Ele recuou, parecendo estar
com nojo de mim. Eu tropecei para encontrar palavras. Se Roman
descobriu que Troy me atacou, não parecia que ele se importava.
Nada fazia sentido!
— Roman, sinto muito. Eu deveria ter te contado, — eu implorei. Meu
coração estava partido. Sua raiva não parecia ter como alvo Troy. Estava
dirigida a mim. Por quê?
— Acho que você deveria ir para casa com sua família esta noite! —
Ele falou baixo. A dor era evidente em seu tom e em seu rosto. Ele tinha
vergonha de mim.
Estendi a mão novamente para pegar sua mão, mas ele a afastou. Senti
os braços de Troy me envolverem e me arrastarem para longe. Eu nem
lutei. Do que adiantaria?
Meu marido sabia o que havia acontecido comigo e me deu as costas.
Ele me deixou ir embora com o próprio diabo. Tudo o que ele me disse
era mentira. Ele nunca poderia me proteger.
*
Eu sentei na parte detrás do carro do meu pai. As janelas estavam
abertas e Vivian acenava para Richard e Sheila do banco da frente.
— Obrigada novamente por deixar Raina vir e ficar conosco.
— Não a mantenha muito tempo. Sentiremos saudades dela. —
Richard deu uma risadinha.
— Aproveite a sua visita ao lar, Raina. — Sheila acenou e me soprou
um beijo enquanto o carro ligava e se afastava.
Olhei pela janela e fechei os olhos, silenciosamente me despedindo do
lugar onde deixei meu coração. No escuro, deixei as lágrimas rolarem
pelo meu rosto.
Meu choro silencioso estava dificultando a respiração. Parecia que
uma pedra enorme havia esmagado meu coração.
A viagem foi silenciosa. Diana adormeceu no assento ao meu lado.
Respirei fundo, preparando-me para o que estava por vir.
Troy tinha desaparecido assim que me arrastou para os Wilsons e
anunciou que ficaria com eles por um tempo.
O que eu poderia fazer?
O que eu poderia dizer?
Como eu poderia me defender?
Se meu marido me rejeitou tão duramente, ninguém mais acreditaria
no que eu passei. Eu só queria que não doesse tanto.
Crescendo, criei uma espécie de escudo contra os abusos que sofri,
mas esse sentimento de agora superava tudo. A dor e a traição eram
demais.
*
O carro diminuiu a velocidade na estrada familiar e parou em frente
aos altos portões pretos e dourados. Quando estacionamos, olhei para a
casa que costumava aparecer em meus pesadelos.
O rosto de Hetty apareceu diante de mim. Este era o último lugar que
eu queria estar.
Sem uma única palavra, rolei minha pequena mala até o meu antigo
quarto e caí na cama empoeirada. Perdi o controle e chorei no
travesseiro. Meu coração nunca doeu tanto quanto agora.
Eu me senti mais sozinha do que nunca. Eu tinha recebido um
gostinho do amor, e ele foi arrancado de mim.
Eu ansiava pelo único homem que me disse que estaria ao meu lado.
Eu imaginei Roman entrando e me abraçando, me dizendo que tudo
ficaria bem. Continuei visualizando-o me levando para longe daqui.
Ele não viria. Era apenas eu e os ecos da minha dor que queimavam
por todo este quarto escuro.
Capítulo 24
DOR
ROMAN

— Relaxe, Roman! O que diabos aconteceu? — Mark tentou me


impedir de andar por aí como um animal.
— Você estava certo. Raina quer a porra do meio-irmão dela. Eu a
ouvi. Ela estava tentando fazer com que ele deixasse Jane. — Você a
ouviu? O que ela disse?
— Já ouvi o suficiente, Mark! — Eu rosnei. — Aquele canalha estava
praticamente confessando seu amor por Jane, e Raina não queria saber
disso. — Fechei os olhos, tentando tirar a memória da minha cabeça.
Chegamos ao quarto, e o cheiro de Raina ainda pairava ao meu redor.
— Você a mandou embora? — Mark sussurrou. Ele estava com as
mãos no bolso e uma expressão de dor no rosto.
— O que mais você esperava que eu fizesse!?
— Você deveria ter falado com ela, Roman! — Mark retrucou, com
seus olhos cor de âmbar ficando mais escuros. Era estranho vê-lo assim.
Olhei para a cama onde estava o vestido de Raina. Ela deve ter se
trocado antes de sair. Senti um aperto no coração.
Eu deveria ter ouvido o que ela tinha a dizer. Ela tentou me alcançar,
mas eu deixei minha raiva levar o melhor de mim. Eu prometi a ela que
sempre a protegeria.
Meus punhos ainda estavam cerrados ao meu lado. Eu não conseguia
entender nada, mas mandei minha esposa embora como se ela não fosse
nada para mim. Deitei na cama, olhando para o teto.
Você é uma desculpa esfarrapada de marido, Roman.
Foi em algum momento da noite que meu telefone começou a vibrar e
o nome de Jane apareceu na tela.
— Jane?
— Roman.
— Por que você está sussurrando?
— Ele está... ele está me forçando a me vestir como ela.
— Do que você está falando?
Jane fez uma pausa. Eu pulei da cama. Algo soava errado. Senti meu
estômago embrulhar.
— Roman, eu tenho de ir. Eu virei pela manhã. — A linha foi cortada
enquanto eu estava no meio da sala, perplexo.
O sol brilhou no quarto em direção à cama vazia. Sentei-me na
poltrona perto da parede de vidro. Meus olhos estavam injetados.
Mesmo que tanta merda tivesse acontecido, eu continuei dizendo a
mim mesmo que Raina e eu precisávamos de um tempo um do outro.
Peguei meu telefone e liguei para Raina. Eu ouvi seu telefone tocar
perto de seu guarda-roupa. Ela o deixou aqui. Eu queria gritar. Eu queria
que a terra me engolisse por inteiro.
Senti vergonha do que fiz. Eu não dei ouvidos a ela. Embora não
soubesse em que acreditar, poderia pelo menos ter ouvido.
Disse a mim mesmo que estava fazendo um favor a ela. Deixá-la ir
estava libertando-a. Quem eu estava enganando?
Eu me refresquei e andei até o saguão. As chaves do meu carro
estavam na minha mão. Eu os girei em tomo dos meus dedos antes de
tomar minha decisão final. Eu tinha de trazê-la de volta.
Grace esbarrou em mim no meu caminho para fora. Ela estava sem
fôlego e em pânico.
— Sr. Marigold? É o seu pai!
Sem um momento de hesitação, corri para a casa principal e encontrei
minha mãe chamando freneticamente o nome de meu pai enquanto seu
corpo jazia inerte no chão.
— Pai! — Corri até ele. Meu coração estava saindo pela boca enquanto
eu procurava desesperadamente por um pulso. Soltei um suspiro
profundo quando percebi que ele ainda estava respirando.
Uma ambulância chegou minutos depois.
Observei enquanto o levavam em uma maca — uma máscara de
oxigênio cobrindo seu rosto outrora forte e estoico.
— Eu te encontro lá. — Eu balancei a cabeça para minha mãe
enquanto ela subia na ambulância com meu pai.
O carro de Jane passou pela ambulância e ela saiu correndo.
— O que aconteceu? — Ela gritou, com seu rosto cansado ficando
mais preocupado a cada segundo.
— Papai desmaiou. — Corri em direção ao meu carro e Jane o seguiu.
Ela subiu no banco do passageiro e saímos correndo atrás da ambulância.
— Ele está fora de qualquer perigo sério. Seu corpo tem trabalhado
horas extras desde que ele iniciou o tratamento. Isso estava fadado a
acontecer mais cedo ou mais tarde.
— Já disse inúmeras vezes que ele precisa ter calma nos dias de
tratamento.
— Dou ordens estritas de repouso na cama, mas ele não me escuta!
Ele está bem. Ele só precisa descansar. — O Dr. Phillip olhou para todos
nós enquanto falava.
Minha mãe suspirou de alívio. — Posso ver meu marido?
— Sim, claro, Sra. Marigold. Só você por enquanto.
— Talvez o jantar de aniversário não tenha sido uma ideia tão boa, —
Jane sussurrou ao meu lado. Ela estava preocupada com seu tio.
Caminhamos até a área de espera vazia e nos sentamos nas poltronas
de cobalto. O cheiro esterilizado de produtos de limpeza permaneceu no
ar enquanto eu tentava me acalmar.
Eu não poderia perdê-lo. Esse homem significava tudo para mim. Eu
precisava de minha esposa. Eu a queria aqui ao meu lado. Eu a mandei
embora. O que diabos havia de errado comigo?
Eu bati minha cabeça em minhas mãos e sucumbi à dor.
— Ro? — A voz de Jane gritou, mas eu mantive minha cabeça baixa.
— Ele é a porra de um psicopata, — ela sibilou ao meu lado. — Troy é
doente. — Sua voz continha tanta raiva quando olhei para ela, franzindo
a testa enquanto ouvia.
— Depois que ele se encontrou com Raina na noite passada, ele veio
me encontrar. Nós nos hospedamos em um hotel. — Eu podia ver seu
peito subir e descer rapidamente. Ela estava assustada.
— Roman ele... ele me forçou a me vestir como Raina. Ele nem mesmo
estava escondendo o fato.
Você acredita que ele jogou uma peruca em mim para que meu cabelo
ficasse com a cor dela? — Eu pulei da minha cadeira enquanto tentava
entender o que estava ouvindo. A raiva estava se infiltrando em meus
ossos.
— Eu não acreditei no que estava acontecendo até que ele realmente
disse o nome de Raina! Ele não parava de sussurrar: 'Hetty não vai me
impedir agora — 1.
Eu podia ver o desdém e a repulsa em seus olhos oceânicos. Ajoelhei-
me, segurando Jane pelos braços e olhei em seus olhos.
— Ele te machucou?
— Não, ele apenas me fez vestir como ela e continuou me falando
para dormir.
Jane se encolheu com suas próprias palavras e eu me senti mal só de
ouvi-las.
— Eu tenho de ir!
Corri em direção à saída quando ouvi Jane gritar atrás de mim: — Vou
ficar aqui com a tia Sheila e mantê-la atualizada.
RAINA

Eu mal conseguia abrir os olhos quando os raios cheios de poeira


invadiram meu pequeno quarto vazio. Eu tossi no meu travesseiro. Devo
ter inalado metade da sujeira desta cama.
Tive um sono sem sonhos e acordei com um pesadelo.
Minha cabeça latejava enquanto meus dedos tentavam acalmar
minhas têmporas. Senti um nó na garganta por causa da dor que estava
relutante em me deixar.
Meus olhos percorreram meu antigo quarto. Estar de volta aqui
parecia estranho. Eu não pertenço a este lugar. Eu nunca pertenci.
Eu merecia coisa melhor do que isso. Eu merecia coisa melhor do que
as pessoas de merda da minha vida: meu pai, Vivian, Diana, Troy, Roman.
Eu esperava isso dos Wilsons, mas não dele.
Eu podia sentir o gosto amargo da traição na ponta da minha língua.
Meu marido, que dizia que me amava, me mandou embora tão
prontamente.
Ele me perguntou por que eu não contei a ele sobre Troy e deixei o
próprio homem me arrastar para longe.
Novas lágrimas incendiaram os anéis vermelhos ao redor dos meus
olhos enquanto eu soluçava no vazio. Minha mente ficava repetindo o
que tinha acontecido na noite passada.
Talvez eu devesse ter contado a Roman sobre Troy mais cedo, mas
com a forma como ele agiu na noite passada, ele teria apenas me
mandado embora mais cedo. Eu estava certa em não contar a ele.
Eu vacilei com o som da minha porta abrindo, mas não me encolhi. Eu
estava pronta para o que estava por vir.
Meus olhos caíram sobre uma garota muito familiar em um uniforme
de empregada, sua cabeça estava inclinada para baixo enquanto ela se
aproximava.
Eu fiquei em silêncio antes que ela olhasse para mim. Seu olho direito
estava machucado e fechado pelo inchaço. Eu não pude evitar o suspiro
que saiu dos meus lábios.
— Lilly! — Eu chorei, correndo para ficar de pé para abraçá-la.
O que diabos aconteceu com ela? Ela não era a alegre Lilly que eu
havia deixado para trás. Seus olhos estavam escuros e seu cabelo loiro
agora era castanho. Ela estremeceu quando eu a abracei. Ela estava
completamente machucada.
— Lilly, quem fez isso com você!? — Em algum lugar no fundo de
minhas entranhas, eu sabia a resposta e me senti mal.
Senti raiva e fúria percorrerem meu corpo. Lilly foi a luz que me
ajudou a atravessar algumas das semanas mais difíceis da minha vida, e
ela nem sabia disso.
— Por que você voltou, Raina? — Ela sussurrou fracamente. Eu a
segurei com força enquanto as lágrimas rolavam por seu rosto inchado.
— Por que ele fez isso com você? — Eu perguntei com os dentes
cerrados.
O lábio inferior de Lilly tremeu quando todo o seu corpo caiu sobre
mim. Eu senti como se estivesse olhando para mim mesma.
. —.. porque eu não sou você, — ela resmungou.
Seus olhos se fecharam de dor. Minha respiração engatou e eu
congelei no lugar enquanto meus braços ainda a seguravam.
Esta pobre garota estava sofrendo tudo por minha causa. Tudo por
causa da obsessão daquele desgraçado doente.
— Ei, vou te tirar daqui, ok? — Falei baixinho, mas minhas palavras
tiveram peso. Eu vou tirá-la daqui.
Quando era espancada, nunca me considerei digna o suficiente de me
salvar. Eu estava errada! Agora, ver as pessoas com quem eu me
importava passando por isso era mais do que eu poderia suportar.
Hetty e Lilly não mereciam o que aconteceu com elas.
Lilly se levantou devagar e tirou alguns álbuns de fotos empoeirados e
esfarrapados de baixo da cama. Ela os passou para mim enquanto tentava
controlar seu choro.
— Diana pós isso aqui. Eles armaram para você, Raina, — ela soluçou.
Eu juntei minhas sobrancelhas antes de começar a folhear as páginas.
Fiquei boquiaberta com a visão.
Era mais um álbum de recortes com fotos de Troy. Algumas partes de
seu corpo, outras apenas de sua cabeça, todas grudadas nas páginas.
Que porra é essa?
— Eles disseram ao seu marido que você amava Troy, — Lilly
estremeceu.
— O quê? — Eu olhei para Lilly, enxugando as lágrimas de choque.
— Eles são pessoas más, Raina. — Lilly soluçou baixinho. — Você
deveria sair daqui, — ela implorou. Nada, absolutamente nada, poderia
descrever como me senti naquele momento. Meu corpo tremia de raiva
enquanto meu sangue fervia. Joguei o álbum no chão e me levantei.
Cerrei meus punhos e meus pés se moveram rapidamente, sem
hesitação.
— Diana! — Eu rugi pelos corredores antes intimidantes com um
brilho assassino em meus olhos enquanto examinava a casa.
— O que é todo esse barulho? — Vivian gritou da sala. — Raina! O que
você está...
— Cale a boca! — Eu cuspi, observando enquanto ela se abaixava no
sofá. Sua boca abriu e fechou como um peixe encalhado.
Diana correu para a sala e encarou sua mãe, estreitando os olhos.
Quando ela se virou para mim, seus lábios lentamente se curvaram em
um sorriso malicioso e ela se aproximou.
— Pobre, pobre Raina, você só ca... — Um estalo alto ecoou pela sala
enquanto eu observava Diana tropeçar para trás, segurando seu nariz
agora muito sangrento. Parece que o treinamento valeu a pena!
— Você é um monstro! — Vivian gritou, correndo para ajudar a filha.
Eu deveria ter dado um soco nela também. Eu senti uma força como
nunca antes. Diabos, eu estava pronta para ensinar a todos eles uma lição
que eles nunca esqueceriam.
— O que diabos está acontecendo? — Meu pai entrou correndo com
os olhos arregalados. Ele olhou para sua esposa e então olhou na minha
direção.
— Qual é o significado disso, Raina? — Ele apontou o dedo para mim.
Eu não pude deixar de sorrir maliciosamente em seu rosto.
— Chame a polícia, Charles! Ela enlouqueceu, — gritou Vivian,
segurando Diana.
— Sim, ligue para eles, pai! — Eu gritei. — Ligue para eles para que eu
possa dizer exatamente o que tenho suportado aqui dentro destas
paredes.
Meu pai parecia perdido. Ele tropeçou para encontrar as palavras para
dizer enquanto olhava para Vivian. Ele fez sua escolha quando correu
para sua esposa e filha imprestáveis — um homem estúpido e covarde.
Corri de volta para o meu quarto. Eu precisava tirar Lilly desse buraco
do inferno, mas o espaço estava vazio. Comecei a caminhar em direção
aos quartos das empregadas, mas então uma mão fria me agarrou e
cobriu minha boca e nariz.
Meu corpo inteiro estava sendo puxado de volta para o meu antigo
quarto. Lutei para respirar enquanto me agitava para me libertar.
Fui jogada no chão duro. Eu olhei em volta e encarei o pedaço de
merda obcecado diante de mim. Ele sorriu para mim enquanto dava
alguns passos mais perto.
— Minha! — Ele rosnou, inclinando a cabeça e estalando os ossos do
pescoço.
— Vá se foder, — eu cuspi, me levantando do chão.
— Que boca imunda, Raina. Você mudou. — Troy agarrou meu cabelo
e puxou com força, então eu estava de frente para ele.
— Até o seu marido sabe que você me pertence! — Ele cheirou o
cabelo em sua mão antes de gemer. — Ele jogou você fora, bebê. Eu
nunca iria jogar você fora. E hora de te lembrar de que você é minha!
Eu consegui acertar meu cotovelo no estômago de Troy. Ele soltou
meu cabelo, mas em vez disso agarrou meu braço. Uma força bateu em
minha bochecha antes que eu caísse no chão.
Minha visão estava turva e tudo estava ficando mais escuro.
Eu podia ver a forma imponente de Troy enquanto ele pairava sobre
mim, e cuspi o sangue que estava se acumulando em minha boca.
— Eu nunca vou ser sua, seu filho da puta doente! — Eu gritei a
plenos pulmões, estremecendo de dor antes de ficar de pé cambaleando.
Eu encarei Troy, que parecia que poderia matar alguém. Eu. Neste
ponto, eu não me importava se ele me matasse. Com sorte, ele iria para a
prisão e não seria capaz de machucar ninguém nunca mais.
Eu me choquei quando meus lábios se curvaram e ri dele. Foi uma
risada fria e ameaçadora. Eu me senti possuída, a própria visão de algo de
um filme de terror.
Foi bom ver seu rosto se desfazer. Ele sabia que eu não estava mais
com medo, pois ele se alimentava dele.
Minha risada pareceu apenas alimentá-lo, e ele se lançou para frente.
Meu corpo inteiro bateu contra a cama e minha cabeça bateu na
cabeceira de madeira. Lutei contra ele, ficando mais fraca a cada
segundo.
Meu corpo estava desistindo. As mãos de Troy estavam em cima de
mim, emaranhadas em meu cabelo.
Eu ouvi a porta se abrir antes que o peso de Troy fosse tirado de cima
de mim. Troy foi jogado do outro lado da sala, e meus olhos se fixaram
nas esmeraldas diante de mim.
— Raina! — A voz de Roman era de um gemido indefeso. Troy há
muito havia corrido para fora da sala, mas Roman estava muito ocupado
observando minha forma sangrenta. Ele estava em choque.
Eu estremeci fracamente, tentando me levantar da cama. Roman foi
me tocar.
— Não! — Eu mal reconheci minha própria voz quando coloquei
minha mão para cima.
— Fique longe de mim! — Eu cuspi, nem mesmo olhando para ele.
Dei um passo à frente para passar por ele, mas minhas pernas estavam
fraquejando e me senti fraca e tonta.
— Salve Lilly, — eu engasguei antes de sucumbir à escuridão.
Capítulo 25
AMOR
ROMAN

— Vamos! — Rosnei em direção ao tráfego que estava me atrasando.


Senti minhas palmas começarem a suar enquanto soava a buzina
desesperadamente. Nunca quis chegar a algum lugar tão rápido. Eu
precisava de Raina de volta em meus braços.
O choque ainda percorria meu corpo desde que percebi exatamente o
que estava acontecendo. Jane sabia apenas a metade, mas eu sabia que
era ainda pior do que ela pensava.
Quando Jane mencionou essa Hetty, eu imediatamente liguei os
pontos.
Aquele psicopata doente é quem machucou Raina. Senti uma pontada
aguda no coração quando imaginei o rosto de Raina. Eu a deixei ir
embora com ele. Eu a entreguei a ele em um prato.
Eu esperava poder pedir perdão. Eu imploraria a ela se precisasse e a
levaria para casa, onde ela pertencia.
Consegui encontrar a rua dos Wilsons, acelerando para a entrada de
automóveis, passando pelos portões pretos e dourados abertos. A parede
frontal da casa estava coberta de vinhas verdes, fazendo com que
parecesse bastante antiga e rústica.
O pânico tomou conta de mim quando meus olhos caíram para um
Porsche vermelho, lendo a placa do número: TR07W. Aquele desgraçado
estava aqui.
Eu me peguei batendo na porta da frente como um louco e não
demorou muito para que uma senhora mais velha, que parecia uma
empregada doméstica, abrisse a porta. Passei correndo por ela. Ela
parecia assustada.
— Raina! Cadê a Raina!?
Outra empregada mais jovem correu em direção ao saguão. Ela se
parecia tanto com Raina, mas exibia um olho roxo desagradável com
lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Por favor! Venha rápido! — Ela gritou, subindo correndo os degraus
em espiral, me incentivando a segui-la. — A polícia está a caminho. Eu
tentei arrombar a porta, mas não consigo.
O pânico no ar era forte. O medo percorreu meu corpo quando ouvi
gritos abafados ecoarem do outro lado do corredor. Meu coração estava
na minha boca.
A jovem criada parou diante da porta. Os gritos além dela eram mais
altos. Sem um momento de hesitação, eu a chutei sem esforço.
Encontrei Troy jogado em cima de uma pequena cama. Suas mãos
estavam ensanguentadas enquanto eu corria em direção a ele com raiva.
Minhas mãos agarraram a parte detrás de sua camisa, puxando-o para
cima antes de dar um soco no rosto dele.
Observei seu corpo voar pela sala. Estava prestes a matá-lo!
Meus olhos caíram em direção à cama e meu mundo parou de girar.
— Raina! — Eu choraminguei, com minha visão começando a
afundar.
Minhas pernas dobraram ao vê-la. Minha esposa. Seu rosto inchado
fez uma careta ao me ver.
O sangue manchou seu rosto, do nariz à boca, enquanto pingava de
seu queixo.
Arranhões e hematomas marcavam seus braços e pescoço. Foi tudo
culpa minha.
Raina soltou um suspiro trêmulo ao se levantar da cama. Fui ajudá-la,
mas sua mão ergueu-se para me bloquear.
— Não! — O olhar frio e sem emoção em seus olhos iria me
assombrar para sempre.
— Fique longe de mim. — Sua voz era diferente de tudo que eu já
tinha ouvido antes. Rasgou meu coração já dolorido. A culpa estava me
corroendo. Eu merecia tudo isso.
Meu coração se partiu só de vê-la tentar se afastar de mim.
As pernas de Raina se dobraram e eu agarrei seu corpo inerte antes
que ela caísse no chão.
— Salve a Lilly, — ela respirou. Ela não merecia nada disso. Eu olhei
para a jovem empregada cujas mãos cobriam sua boca enquanto ela
soluçava.
— Peça ajuda. — Minha voz estava baixa, rouca e fraca enquanto as
lágrimas rolavam pelo meu rosto. Culpa e vergonha circularam ao meu
redor, brincando comigo.
Isso foi tudo culpa minha, porra.
*
Fazia um dia que o corpo de Raina havia desistido dela. Seu corpo
flácido estava lutando em uma cama de hospital, onde ela deveria estar
sorrindo, rindo e curtindo sua vida comigo.
A jovem empregada veio comigo. O nome dela era Lilly, e ela me
contou muitas coisas. Eu a coloquei em um de nossos quartos de
hóspedes, dando ordens estritas a Marie e Grace para cuidar dela.
Parecia que ela era próxima de Raina, mas suportou muito sofrimento
nas mãos daquele maníaco.
Os Wilsons estavam agindo de forma estranha. Eles não estavam em
casa quando eu estava lá naquele dia. Lilly mencionou algo sobre eles
levarem Diana para fazer um exame de nariz.
Um pequeno sentimento de orgulho me encheu quando soube que
Raina havia acertado Diana no nariz ao descobrir que ela havia plantado
aqueles álbuns embaixo da cama.
Que família fria, os dois irmãos se unindo para tomar a vida de Raina
um inferno. Exigirei respostas de todos eles, mas agora não era o
momento. Eu tinha de ter certeza de que minha esposa estava bem
primeiro.
Troy estava foragido.
Demos o máximo de informações possível à polícia. Eles estavam
esperando desesperadamente que Raina acordasse para que pudessem
anotar seu depoimento quando ela estivesse pronta.
A busca por Troy estava bem e verdadeiramente nos trilhos.
Eu não conseguia me livrar da decepção comigo mesmo enquanto
estava sentado aqui olhando para Raina.
Eu não tinha saído do lado dela desde que chegamos aqui. Embora eu
odiasse vê-la assim, me sentia melhor agora que ela estava perto de casa.
Ela estava no mesmo andar que meu pai.
Ele estava em repouso absoluto, mas ele estava bem, alegando que ele
se sentia tão forte quanto um touro.
A notícia de Raina havia destruído completamente minha mãe. Ela
ficou quieta nos poucos dias em que ia e voltava para ver seu marido e
nora.
Contamos a meu pai apenas alguns fatos, por enquanto.
Mencionamos que Raina havia sofrido um acidente, mas nada sobre
Troy. De qualquer maneira, ainda não.
Meu pai exigiu vê-la, mas nós o forçamos a descansar e o
confortamos. Dissemos a ele que ela ficaria bem. Estávamos de alguma
forma nos convencendo também.
Jane e Mark estavam em choque completo como eu, exceto que eu me
culpava por tudo.
Nenhuma quantidade de palavras reconfortantes, nenhuma
quantidade de discursos e abraços calorosos poderia abalar esse
sentimento, e eu não queria que isso acontecesse. Eu merecia cada
emoção que perfurou meu coração.
Eu te decepcionei, princesinha.
RAINA

Correndo... estava correndo por uma floresta enquanto os raios


passavam por entre as árvores. O estalo de galhos sob meus sapatos
ecoou ao meu redor quando me aproximei de um belo lago.
O lago brilhava em tons dourados à medida que os raios de sol
pousavam em cada onda calmante.
Eu me sentia tão leve e livre, quase como se estivesse voando. Meus
olhos captaram o cenário deslumbrante antes de se estabelecerem em
uma figura do outro lado do lago — uma mulher em um longo vestido
branco, longos cabelos escuros como os meus.
Mãe?
Ela sorriu, com seus olhos de mel brilhando de volta para mim.
— Mãe! — Minha voz ecoou ao longo do lago. Eu dei passos leves em
direção a ela, meus pés pisando na água fria e clara.
Seu vestido ficava mais claro a cada passo, quase brilhando. Quanto
mais perto eu chegava dela, mais raios de sol explodiam dela.
Estava tão claro que tive de fechar os olhos. Eu podia ouvir o som de
um monitor apitando em um ritmo rápido.
Quando eu abri meus olhos novamente, eles pousaram em Roman.
Pelo menos pensei que fosse ele. Seu cabelo estava uma bagunça, e ele
tinha anéis escuros ao redor dos olhos drenados e injetados de sangue.
— Doutor! Enfermeira! — Eu o ouvi gritar, sentindo sua mão quente
tocar a minha.
Eu lutei contra a rigidez no meu pescoço enquanto olhava ao redor,
tomando-me mais consciente do que estava ao meu redor. Um
pensamento imediato passou por mim como uma bala.
— Lilly! Onde está a Lilly? — Tossi e tentei me sentar.
— Ei, não se esforce, Raina. Lilly está segura. Deite-se... por favor, —
Roman implorou. Sua voz era suave e calmante.
Eu tinha tantas perguntas, mas meu corpo não estava me permitindo
agir rápido o suficiente para fazer nenhuma. Eu me sentia sonolenta e
fraca enquanto a luz enviava uma dor aguda para a parte detrás da minha
cabeça.
Eu olhei de volta para Roman. Ele parecia completamente diferente de
quando o vi depois do jantar de aniversário. O desgosto em seu olhar
agora se transformou em outra coisa. Pena.
Ele estava claramente chateado, mas muito quieto. Fiquei grata por
ele ter vindo me ajudar, mas acho que nunca mais poderia confiar nele.
— Graças a Deus você está acordada! — Seus olhos se fecharam em
apreciação antes de colocar meu cabelo atrás da orelha. — Eu sinto
muito, Rae. Nenhum de nós sabia pelo que você estava passando, pelo
que você passou. — Ela balançou a cabeça.
— Eles vão pegar aquele desgraçado, — ela falou com os dentes
cerrados.
Um médico começou a fazer observações sobre mim. Estremeci com o
estetoscópio frio enquanto ele o pressionava na minha pele machucada.
Mesmo que eu me sentisse fisicamente esgotada, minha mente parecia
muito mais forte.
Eu sabia que não era mais a mesma Raina.
Meus olhos abriram mais uma vez. Devo ter cochilado de novo.
Roman estava dormindo na cadeira ao meu lado. Observei que, mesmo
durante o sono, seu rosto parecia dolorido.
Meu movimento fez com que a máquina fizesse um barulho e os olhos
de Roman se abriram.
— Posso pegar alguma coisa para você? — Ele perguntou, com seus
olhos cansados estudando os meus. Eu balancei minha cabeça e virei para
o outro lado.
— Raina. Sinto muito, — eu o ouvi sussurrar, e meu coração quase
explodiu com o som. Eu virei minha cabeça, então eu estava olhando
para o teto.
— Você acha que algum dia encontrará em seu coração o desejo de me
perdoar?
Soltei um suspiro de derrota enquanto olhava para as luzes fracas
como se elas fossem me fornecer uma resposta.
Eu entendi que ele estava errado em toda essa situação. Eu pude ver
como chegou à conclusão que chegou, mas ele me mandou embora sem
falar comigo.
— Eu não sei, — eu resmunguei, mantendo meu olhar longe dele. Se
ele foi sincero, ele havia partido meu coração.
*
Um dia depois, eu estava pronta para receber alta. Eu me sentia suja,
embora tivesse usado o chuveiro do hospital. Não era a mesma coisa.
Ainda não havia sinal de Troy. Ele havia desaparecido da face da terra.
Típico.
Richard tinha vindo me visitar pela manhã. Ele havia recebido alta
antes. Fiquei tão triste por não poder estar ao seu lado em seu momento
de necessidade.
Richard nem conseguiu falar quando me viu.
Seu lábio começou a tremer. Eventualmente, ele colocou a mão no
meu ombro e beijou minha testa antes de sair — tão fofo.
Roman não saiu do meu lado, nem mesmo por um minuto. Ele
precisava de descanso e alimentação adequada, mas estava se privando de
ambas as coisas.
Eu me sentia tão culpada toda vez que olhava para ele. Ele estava tão
quieto e diferente.
— Pronta para ir, princesinha?
Roman conseguiu lançar um pequeno sorriso em minha direção
enquanto me ajudava a calçar os sapatos. Ele pegou as chaves do carro e
meus pertences enquanto caminhávamos em direção à saída.
Paramos do lado de fora da casa e eu soltei um suspiro profundo que
eu não sabia que estava segurando. A viagem de carro foi silenciosa.
Roman olhou para mim muitas vezes, mas não trocamos uma palavra.
Enquanto eu tentava alcançar a porta do carro para sair, Roman
segurou minha mão e meus olhos encontraram seu olhar intenso.
— Eu sei que não mereço o seu perdão, Raina, mas acredite em mim
quando digo que vou consertar isso. Vou fazer tudo ao meu alcance para
compensar isso.
Suas palavras enviaram borboletas por todo o meu corpo. Eu queria
sorrir com o quão sério ele estava, mas não queria ofendê-lo.
Eu dei a ele um leve aceno de cabeça antes que ele corresse em direção
à minha porta e abrisse para mim. Caminhamos até a casa e ele abriu a
porta para mim. Entrei e meus olhos pousaram em alguém
imediatamente.
Minha respiração parou e meu coração começou a disparar. Eu me
belisquei enquanto piscava para a mulher que estava sorrindo diante de
mim. As lágrimas escorregaram dos meus olhos exaustos enquanto eu
olhava para Roman. Isso era real?
— Eu falei sério, Raina. — Roman sorriu com orgulho. Foi a primeira
vez em dias que vi um sorriso genuíno dele.
Corri em direção à mulher diante de mim e caí em seus braços.
— Hetty!
Capítulo 26
SOFRER
RAINA

— Achei que ele tivesse te matado, — choraminguei, olhando nos


olhos claros de Hetty enquanto nos sentávamos na sala.
Hetty riu antes de balançar a cabeça. Ela parecia muito mais frágil.
Seu cabelo estava quase prateado, e as rugas de seu rosto se tomaram
mais definidas.
— Ele quase o fez, criança. Ele me ameaçou. — Hetty fez uma careta.
— Ele disse que se eu voltasse ou contasse a alguém, ele me mataria e
depois te mataria — uma morte lenta e dolorosa.
Ela suspirou, com seus lábios formando uma linha fina enquanto ela
pensava na memória.
— Eu sinto muito, criança. Eu pensei que estava fazendo o certo por
você. Eu sabia que você estava saindo daquela casa, e era melhor ficar
longe. — Ela colocou a palma da mão na minha bochecha.
Seu calor familiar imediatamente me acalmou.
Lilly sentou-se conosco. Seu sorriso gentil parecia ter crescido
novamente no rosto. Seu olho parecia muito melhor, e ela havia lavado a
tinta escura do cabelo. Ela parecia ela mesma.
Grace enfiou a cabeça pela porta. — Raina, há um policial esperando
por você no escritório do seu marido. Isso se você estiver feliz em dar sua
declaração agora. — Ela me deu um sorriso tranquilizador antes de sair.
Respirei fundo enquanto Hetty apertou minha mão.
— Vá, criança, e conte tudo a eles.
*
Roman estava sentado à sua mesa. O policial ocupou um dos assentos
à sua frente. Roman fez um gesto para que eu me sentasse ao lado do
oficial.
— Olá, Sra. Marigold, meu nome é Campbell. Tenha certeza de que
não estou aqui para te sondar com um milhão de perguntas, mas posso
fazer algumas, pois preciso de uma declaração sua.
Tudo bem?
O policial Campbell era alto e largo, com pelos faciais escuros o
suficiente para cobrir quase todo o rosto. Ele tinha olhos amáveis e um
sorriso reconfortante.
Mordi meu lábio por hábito e balancei a cabeça em aprovação. Eu não
sabia por onde começar. Eu mencionaria apenas os eventos da semana
passada ou absolutamente tudo?
Roman tinha aquela expressão séria em seu rosto com a qual eu tinha
me acostumado nos últimos dias. Seus olhos pareciam intensos
enquanto observava cada movimento meu.
— Raina, este é um espaço seguro. Diga-me tudo o que você precisa.
Depois do que pareceu uma eternidade, estava exausta de contar
tudo. Mencionei como Troy me assediou muitas vezes naquela casa.
Dei a ele os detalhes angustiantes do que Troy fez comigo naquela
noite terrível. Contei tudo a ele, inclusive o que aconteceu há alguns dias.
Troy era doente. Eu nunca vi antes o quão obcecado ele era.
Observei o policial Campbell fazendo algumas anotações e ele
também gravou a conversa em um gravador.
Ele não disse muito, mas ouviu atentamente enquanto eu falava.
Roman tinha uma expressão mortal em seus olhos, com seus dentes
cerrando e abrindo a boca enquanto ouvia minhas palavras. Suas mãos
formaram punhos na mesa à sua frente.
— Obrigado, Sra. Marigold. — O policial Campbell desligou o
gravador antes de suspirar e esfregar a nuca.
— Está tudo bem, policial? — Roman perguntou, com seus olhos fixos
no homem tenso ao meu lado.
— Sim, está tudo bem. Sinto-me apenas obrigado a dizer que
recebemos declarações dos Wilsons. — Ele se virou para mim enquanto
fazia uma careta. — A mãe e a filha afirmaram que é, na verdade, a Sra.
Marigold quem tem assediado Troy Wilson.
— Eles alegaram que as ações de Troy no último domingo foram em
autodefesa, enquanto a Sra. Marigold o atacava com ciúmes de outra
namorada.
O policial Campbell balançou a cabeça. Ele não parecia acreditar, mas
eu sabia que as declarações de todos deveriam ser levadas em
consideração.
Senti o nó triste atacar minha garganta quando percebi o quanto eles
me odiavam, de alguma forma ainda mais profunda do que eu pensava.
Eu não queria ser surpreendida por suas ações, mas ainda estava
surpresa.
Nada poderia me preparar para aceitar o fato de que essas pessoas
queriam me ver sofrer. Sofrer de verdade.
O punho de Roman bateu contra a mesa, mas eu nem sequer vacilei.
— Mentiras do caralho! — Ele rosnou.
— O que meu pai disse? — Eu perguntei, minha voz quase um
sussurro enquanto me preparava para uma resposta.
— Ele se recusou veementemente a dar uma declaração. — O policial
Campbell encolheu os ombros largos.
— De qualquer forma, isso é tudo por agora. Ainda estamos
procurando por Troy Wilson e, a partir de agora, Jason Humphrey.
— Estaremos interrogando-o sobre o ataque a você e se ele sabe o
paradeiro de Troy Wilson.
O policial Campbell se levantou e juntou suas coisas. Ele pegou sua
pasta e estendeu a mão para mim e depois para Roman.
Soltei um suspiro profundo quando ele saiu da sala e olhou para
Roman. Eu gostaria de saber o que ele estava pensando.
Esta foi a primeira vez que Roman ouviu tudo em detalhes extremos.
Eu só podia imaginar o quão difícil foi para ele ouvir tudo.
Eu me levantei e caminhei até seu corpo tenso e gentilmente coloquei
minha mão em seu ombro. Ele saiu de qualquer pensamento profundo
em que estava e me puxou para baixo em seu colo.
Ele colocou meu cabelo atrás da orelha e sua testa quente pressionou
a minha.
— Eu te amo, Raina, — ele sussurrou, com seus lábios mal roçando os
meus. Ele queria meu consentimento.
Eu o beijei suavemente e coloquei minha mão em sua bochecha. Ele
fechou os olhos, saboreando meu toque.
— Eu te amo, Roman.
Eu realmente amava esse homem diante de mim e podia sentir o
quanto ele me amava também. Eu nunca poderia culpá-lo pelo que
aconteceu. Eu deveria ter sido honesta com ele desde o início. Depois de
tudo que aprendeu sobre mim, ele ficou do meu lado e me segurou. Uma
parte de mim sentia que o que aconteceu entre nós precisava acontecer.
Se eu não tivesse voltado para aquele inferno, não teria descoberto o
sofrimento de Lilly. Troy teria continuado a brincar comigo, e ele poderia
ter machucado Jane a qualquer momento.
Tudo acontece por uma razão.
*
Todos nós nos sentamos ao redor do balcão de café da manhã
enquanto Marie entregava a todos uma xícara de chá.
Sheila entrou na cozinha com uma expressão cansada no rosto.
Nossos olhos se encontraram enquanto ela gesticulava para que eu a
seguisse até o salão. Eu a segui.
— Tudo bem, mãe?
— Bem. É seu pai. Ele está aqui, querida. Ele está na casa principal
com Richard. Eu acho que você deveria vir. — Ela falou baixinho, mas eu
poderia dizer que ela estava um pouco insegura sobre o que ela estava
pedindo de mim.
Roman apareceu atrás de mim e correu em direção à porta da frente.
— Espere! Roman, acho que devo ir sozinha.
Roman franziu a testa para mim. — Por favor, Roman. Eu quero saber
o que ele tem a dizer.
Ele soltou um suspiro antes de assentir levemente.
— Tudo bem, mas me diga se ele tentar te machucar.
Corri para a casa principal e pude ouvir as vozes elevadas assim que
abri a porta da frente.
— Você a quebrou! Todos vocês a quebraram! — O rosnado de
Richard ecoou acima da escada.
Sheila começou a entrar em pânico. A última coisa que ela queria era
que Richard ficasse todo irritado. Ele precisava estar descansando.
— Você não sabe do que está falando, Richard. Ela é minha filha, não
sua. Deixe eu me preocupar com ela!
— Oh, ela é sua filha, não é? Você ao menos veio vê-la quando ela
estava deitada no hospital, sua desculpa nojenta de homem!
— Richard, por favor, acalme-se, — Sheila implorou, tentando forçá-lo
a se recostar na cama.
— Charles, por favor. Ele deveria estar descansando.
— Tire-o da minha frente, Sheila. Tire-o para fora! — Richard rugiu
antes de Sheila puxar Charles para fora e fechar a porta do quarto.
— Pai? — Eu chamei enquanto seus olhos se fixavam nos meus.
— Eu nunca deveria ter vindo aqui! — Ele falou com os dentes
cerrados.
— Por que você veio?
O rosto de meu pai se desfez, e seus olhos se fecharam como se
estivesse com dor. Ele passou correndo por mim em direção à porta da
frente. Corri atrás dele.
— Por que você veio, pai!? — Eu gritei, e ele congelou diante da porta
da frente. Ele se virou e eu testemunhei as lágrimas escapando de seus
olhos.
— Eu... eu tinha de ver se você estava bem, — ele resmungou,
parecendo perdido novamente.
— Por que agora? — Eu perguntei. Por que diabos ele se importava
agora? Ele nunca se importou com as incontáveis vezes que me bateu até
eu perder os sentidos.
Ele fechou os olhos mais uma vez, suas lágrimas caindo no chão
abaixo dele.
— Porque tenho vergonha. — Sua voz estava rouca e quebrada. Ele
enxugou as lágrimas da bochecha antes de puxar a maçaneta da porta e ir
embora.
*
Naquela noite, eu sabia que não queria mais conversar. Eu só queria
relaxar. Consegui arrastar Hetty e Lilly para a sala e até convenci Grace a
ficar.
Um filme começou na tela diante de nós. Grace colocou muitas
guloseimas e salgadinhos na mesa de centro.
Depois de acomodar Hetty e Lilly em um sofá, joguei um cobertor
para elas e me dirigi ao escritório de Roman.
Dois minutos depois, minha mão agarrou a de Roman quando ele
sorriu maliciosamente atrás de mim. Eu o levei para a sala e o empurrei
para o outro sofá.
— Vê como ela se tomou mandona, Hetty? — Ele riu quando joguei
um cobertor nele. O som de sua risada me derreteu.
Eu ouvi Hetty, Grace e Lilly rirem do outro sofá enquanto eu estava
deitada ao lado de Roman. Ele estendeu o cobertor sobre nós dois e eu
senti seus grandes braços me envolverem.
Não demorou muito para que ele começasse a esfregar círculos na
minha coxa com sua mão quente. Eu não conseguia me concentrar no
filme.
A mão de Roman moveu-se lentamente em direção à parte interna da
minha coxa enquanto eu sentia o calor familiar subir pelo meu rosto.
Seus lábios encontraram meu pescoço e, antes que eu percebesse, ele
estava me deixando louca.
Roman sabia o que estava fazendo comigo. Ele podia sentir que eu me
contorcia levemente ao lado dele. Em um ato chocante de vingança,
deslizei minha mão entre suas pernas e a mantive lá.
Agora era a vez dele se contorcer, e eu queria tanto rir.
— Espere só, — ele meio que riu, meio que sussurrou em meu ouvido.
Eu mostrei minha língua para ele e observei seu sorriso se aprofundar.
Eventualmente, apesar de todas as provocações, conseguimos assistir
ao filme inteiro.
Hetty estava roncando no canto, Lilly e Grace estavam em sua própria
conversa tranquila e Roman e eu estávamos confortáveis demais para
levantar.
Isso era... perfeito.
Capítulo 27
PROVOCAÇÃO
RAINA

Foi uma semana incrível para recuperar o atraso com Hetty. Lilly e
Grace eram praticamente melhores amigas agora, e a casa tinha uma
atmosfera maravilhosa.
Eu sabia que amanhã Hetty e Lilly estariam voltando para suas
próprias vidas. Eu sentiria muita falta delas, mas sabia que elas não
poderiam ficar aqui para sempre.
Agora que eu sabia que Hetty estava bem, algo dentro de mim havia
mudado. Eu não temia Troy tanto quanto antes. Cada vez que eu pensava
nele, a raiva disparava em mim.
Era uma noite de quinta-feira com uma brisa e Grace há muito havia
partido para ir para casa. Dei um abraço de boa noite em Hetty e Lilly
antes de me retirar para o meu quarto. Roman tinha desaparecido em
seu escritório para terminar algum trabalho.
Depois de escovar os dentes, decidi colocar meu pijama, exceto que
me encontrei do lado de Roman do guarda-roupa.
Peguei uma de suas camisetas pretas e vesti. Era extremamente larga,
quase cobrindo minha bunda.
Com um sorriso atrevido, tirei minha calcinha de renda e a coloquei
do lado de Roman da cama.
*
Meus olhos abriram quando senti minha bunda roçar em algo duro.
Corei quando percebi que Roman estava completamente nu ao meu lado.
Seus lábios encontraram meu pescoço e eu gemi baixinho à noite.
— Você é uma provocadora do caralho, Raina, — ele gemeu em meu
ouvido, mordiscando minha orelha.
Eu me contorci contra ele, com meu coração começando a disparar.
Eu me virei e o beijei com força. Seus lábios macios me fizeram querer
mais imediatamente.
Eu queria prová-lo, fazer com que ele se sentisse tão bem quanto ele
me fazia sentir.
ROMAN

Porra! Eu estava tão duro por causa dela agora. Eu podia ver a luxúria
em seus lindos olhos. Ela parecia estar assumindo o controle agora, e
puta merda, eu deixei.
Eu nunca a tinha achado tão sexy até este momento. Raina era linda,
fofa, deslumbrante — mas agora, enquanto ela me lambia e beijava até
minha pélvis com aqueles olhos sensuais que ela estava me dando...
Porra, estou com problemas.
— Raina, — eu gemi, observando cada movimento seu. Era como se
eu estivesse hipnotizado.
Suas mãos suaves encontraram meu pau, e ela começou a acariciá-lo
suavemente. Eu respirei fundo quando o prazer percorreu meu corpo.
Um toque e essa garota teria o poder de me derrubar.
— Porra. — Minha cabeça caiu para trás, mas eu imediatamente a
puxei de volta. Eu tinha de vê-la; essa visão era louca pra caralho!
Eu mal pude me controlar enquanto ela me acariciava suavemente,
seus olhos roubando olhares em minha direção que me tiraram o fôlego.
Seus lábios perfeitos beijaram a ponta do meu pau antes de me
envolverem. Eu assisti com admiração quando ela me tomou mais fundo,
tão gentil, tão suave.
Sua mão estava deslizando ao longo da parte que não cabia em sua
boca.
Ela lambeu e chupou tão docemente. A luxúria em seus olhos foi o
suficiente para me deixar selvagem. Meu corpo inteiro estava se
contorcendo de prazer.
Ela me tomou ainda mais profundamente, engasgando enquanto me
punha até o fundo da garganta.
— Porra, Raina. Eu vou gozar, — eu gemi, muito ofegante.
Ela gemeu em resposta, e foi isso. Eu atirei minha carga em sua boca
com um grunhido alto. Eu nunca tinha, em toda a minha vida, sentido
tanto prazer. Eu ainda estava tão duro e queria estar dentro dela.
Raina ergueu a cabeça lentamente e engoliu em seco. Meu pau ficou
ainda mais duro, observando sua boca brilhar com minha semente.
— Venha aqui.
Eu agarrei sua cintura, puxando-a para cima de mim. Suas pernas
montaram em mim enquanto seus seios pairavam sobre meu rosto.
Peguei um na boca e depois o outro, chupando, lambendo e mordendo.
Raina fechou os olhos e gemeu.
Estendi a mão para o meu pau e alinhei-o contra suas dobras
molhadas. Liberando seu seio da minha boca com um som molhado de
estalo, eu dei um tapa nela.
Raina gritou quando sua cabeça caiu para trás.
Eu dei a ela um momento para se esticar ao meu redor. Suas mãos
suaves caíram no meu peito. Ela se levantou e se abaixou. Porra!
Raina não queria esperar. Ela se moveu para cima de mim em um
ritmo implacável, ordenhando meu pau com sua doce buceta. Ela me
fodeu como nenhuma outra. Esta mulher tinha o poder de me fazer
obedecer a todos os seus comandos.
Seus gemidos eram demais. Eu queria estar perto dela. Com um
movimento rápido, eu nos virei, e então eu estava me elevando sobre ela.
Meu pau ainda estava enterrado bem fundo dentro dela enquanto suas
pernas estavam em volta de mim.
Nós nos beijamos avidamente. Eu diminuí minhas estocadas para
admirar seu rosto. Seus lábios estavam separados e seus olhos estavam
cheios de necessidade e luxúria.
— Oh, meu Deus, Roman, — ela chorou quando eu belisquei seu
pescoço. O doce cheiro de baunilha e coco estava me estimulando.
Levantei-me de joelhos e estiquei suas pernas até meus ombros,
batendo nela mais uma vez. Ela gritou de prazer.
— Você gosta quando eu te fodo, Raina?
— Sim, — ela chorou. Eu enfiei profundamente nela mais algumas
vezes antes de suas mãos se estenderem para me tocar. Soltando suas
pernas para me envolver, eu subi em cima dela novamente.
— Você é linda pra caralho.
— Você é meu, — ela ronronou, me beijando suavemente e gemendo.
Eu não pude deixar de sorrir para ela.
— Eu sou seu, — eu sussurrei enquanto prendia suas mãos em cada
lado dela, entrelaçando nossos dedos.
Eu peguei meu ritmo, enfiando nela como um louco. Ela gritou
enquanto seu corpo se contorcia de prazer. Eu me desfiz com seus
gemidos e derramei dentro dela ao mesmo tempo em que ela alcançou
seu clímax.
Nós dois tentamos recuperar o fôlego, suando e ofegando.
— Porra! Como eu tive tanta sorte? — Eu caí ao lado dela.
Eu ouvi sua risadinha fofa.
— Sim, como você teve tanta sorte?
Eu ri e a peguei em meus braços. Ficamos em silêncio enquanto ela
desenhava pequenos corações no meu peito com o dedo. Ela sempre
gostava de fazer isso. Foi incrível pra caralho.
RAINA

Oh meu Deus. Nunca pensei que pudesse me sentir assim quando se


tratava de sexo, mas Roman era uma fera no quarto.
Eu estava tão nervosa sobre finalmente fazer o primeiro movimento
com ele, mas ele parecia mais do que satisfeito com tudo o que eu fiz.
Eu nunca poderia ter o suficiente dele, mesmo agora, enquanto eu
estava aqui em seus braços. Tudo que eu conseguia pensar era em sua
dureza na minha boca, no gosto dele. Comecei a corar de novo e torci
para que ele não visse.
Eu já estava excitada de novo. O que estava errado comigo?
Eu me estiquei sob os lençóis e senti o comprimento de Roman
endurecer. Acho que não sou a única. Éramos como animais selvagens
sem autocontrole.
— Venha comigo, — Roman ordenou, pegando minha mão enquanto
entrava no banheiro.
Depois de verificar a temperatura da água, ele me guiou para o grande
chuveiro. A água quente desceu e beijou meus músculos doloridos.
Eu cantarolei com aprovação enquanto Roman ensaboava meu corpo
e massageava minha cabeça.
Eu ensaboei seu peito duro e de repente me senti territorial. Eu queria
que o mundo soubesse que este homem era meu — apenas meu. Sem
pensar, estendi a mão e puxei-o para baixo em minha direção.
Roçando meus lábios contra seu pescoço duro, eu o mordi, chupando
forte sua pele.
— Porra, sim! — Roman meio que riu, meio que sussurrou.
Eu ri e pulei em cima dele, movendo-me para o outro lado de seu
pescoço, onde fiz a mesma coisa — mordendo e chupando sua pele.
— Tentando me marcar, querida?
Eu balancei a cabeça, mordendo meu lábio e admirando meu trabalho.
Minhas costas bateram nas telhas aquecidas antes de sentir a ponta do
pênis de Roman na minha entrada. Seus lábios pairaram diante dos
meus, me provocando.
— Você já marcou meu coração, princesinha.
Ele lentamente avançou dentro de mim enquanto beijava e beliscava
meu pescoço. Eu era uma mulher perdida, completamente afogada no
amor. Com Roman, as palavras não bastavam. As palavras não podiam
ser ditas. Qualquer silêncio entre nós era preenchido com paixão.
Dissemos um ao outro como nos sentíamos pelo toque de nossos
lábios. O olhar em seus olhos poderia me dizer tudo o que eu queria
saber sobre o que ele sentia por mim.
As estocadas de Roman ficaram mais fortes e mais rápidas enquanto
meus gemidos cresceram em gritos sem fôlego. Nesse ponto, não me
importava se alguém pudesse nos ouvir. Meu corpo estava cheio de puro
êxtase.
Minhas unhas cravaram nas costas de Roman, puxando-o para mais
perto, querendo-o tão perto quanto eu poderia tê-lo. Os grunhidos
roucos que escaparam dele vibraram pelo meu corpo enquanto
explodimos um sobre o outro.
Eu nunca me cansaria disso.
*
Outra semana se passou e ainda não havia sinal de Troy. Tínhamos
policiais patrulhando o terreno de nossa casa.
Isso definitivamente me ajudou a me sentir mais segura,
especialmente quando Roman tinha de ir à cidade para as reuniões.
Mantive contato com Hetty e Lilly. Lilly havia se mudado de volta
para sua cidade natal com os pais, e Hetty estava morando na minha
cidade velha, não muito longe da minha antiga casa.
Os Wilsons estavam quietos. Richard e Sheila alegaram que tinham
cortado relações com eles. Eles haviam cortado todos os laços.
Assim que a situação se espalhou, quase todo mundo estava
boicotando os Wilsons. Eles nem haviam sido convidados para o maior
baile de caridade do ano. Bem feito para eles!
Foi uma noite de sexta-feira arejada. Roman tinha acabado de voltar
do trabalho e estava tomando banho enquanto eu esperava na cozinha
pelos nossos convidados, que ligaram meia hora antes para dizer que
viriam.
— Pizza e vinho, — Jane disse enquanto entrava com duas garrafas de
vinho. Mark entrou batendo os pés atrás dela, segurando seis caixas
grandes de pizza.
Lambi meus lábios ao sentir o cheiro, e minha barriga roncou em
aprovação.
Mark se serviu de uma cerveja antes de se sentar em um banquinho da
cozinha. Jane ligou o dock do iPod e começou a pular na mesa quadrada
do café da manhã, puxando-me para ela.
Eu ri de sua dança louca antes de entrar com meus próprios
movimentos exagerados.
Roman entrou, sorrindo, e estacionou ao lado de Mark. Eles
brindaram suas cervejas juntos enquanto assistiam ao entretenimento
que era Jane e eu.
Era bom apenas se soltar e ser bobo com bons amigos.
Todos nós tínhamos passado por muita coisa ultimamente, e foi em
momentos como esse que me lembrou de colocar minha própria
felicidade em primeiro lugar.
Não adiantava se preocupar com o futuro quando eu já havia me
estressado tanto com o meu passado.
Três horas, quatro caixas de pizza vazias e cinco garrafas de vinho
vazias depois, Jane estava em cima do balcão da cozinha usando uma
colher de pau para cantar.
Eu me sentia bem, exceto que minhas palavras estavam saindo bem
lentas e arrastadas, e eu achava absolutamente tudo engraçado.
Roman e Mark eram como as duas babás mal-humoradas. Oh, como
nós os provocamos.
— Roman, você tem de ir ao baile este ano! — Jane cantou do balcão,
apontando para ele.
Mark ficou abaixo dela, caso ela caísse. Ele estava tão preocupado e era
realmente muito fofo de assistir.
— Não, Jane! Eu fico feliz em doar para muitas instituições de
caridade, mas quantas vezes eu tenho de dizer que...
— Eu sei, eu sei... Você não faz eventos de caridade, — Jane imitou,
tentando franzir o rosto como Roman.
— Mas este é o maior de todos! — Ela implorou.
— Por favooooor. — Eu entrei no movimento.
Um baile parecia incrível. Vestidos de baile extravagantes, dança, boa
comida. O que não havia para gostar?
— Viu!? Sua esposa quer ir! — Jane gritou, agora apontando o dedo
para mim.
— Sim. Sim, eu quero. Espere... para onde eu quero ir? — Eu
murmurei.
— Para o baile! — Jane deu uma risadinha.
— Sim, para o baile! Eu quero muito ir! — Fiz uma careta para Roman
e cruzei os braços contra o peito. Roman me observou por um momento
antes de beliscar a ponta do nariz.
Seus lábios se curvaram em um pequeno sorriso e ele suspirou. —
Ótimo! — Ele balançou a cabeça em descrença. — Só desta vez!
Eu corri em direção a ele e pulei sobre ele. Podia estar vendo em
dobro, mas era o dobro de Roman. Que delícia!
— Cinderela, você deve ir ao baile! — A colher de pau de Jane agora
era uma varinha de condão. Ela olhou para Mark e acenou com a colher
para ele.
— Transformei Mark em um sapo. — Ela deu uma risadinha. Nós
engasgamos quando ela pulou em Mark do balcão, beijando-o nos lábios.
Foi um beijo curto, mas eu poderia dizer que o deixou atordoado
quando seu rosto ficou vermelho. — Agora você é um príncipe. — Ela
piscou, saindo de cima dele e indo em direção ao freezer.
— Mmmmm, vocês têm coisas boas! — Ela gemeu, pegando um pote
de sorvete de Ben & Jerry.
*
— Bom dia, princesinha.
Meus olhos lutaram para abrir enquanto o sol da manhã martelava na
minha cabeça. Eu gemi no meu travesseiro antes de tentar adormecer
novamente.
— Raina?
Um olho espiou aberto para encontrar Roman ao lado da cama
segurando um copo de água e dois comprimidos.
— Isso vai ajudar, — ele sussurrou.
Consegui me levantar um pouco e tomar os comprimidos com um
pequeno gole de água antes de cair novamente.
— Então, o que você lembra sobre a noite passada? — Ele perguntou
com diversão.
Mordi meu lábio pensando. A última coisa que me lembrei foi Jane me
forçando a comer sorvete. Depois disso, tudo se tomou um borrão.
— Você se lembra de nos fazer reencenar o dia do nosso casamento
com uma sacola de compras na cabeça? — Roman observou minhas mãos
encontrarem meu rosto com vergonha.
— Depois do casamento improvisado, você decidiu tirar a roupa de
baixo para, e eu cito, 'fechar o acordo com seu marido gostoso.
Roman ergueu a sobrancelha e eu sabia que nunca iria superar isso.
— Eu sinto muito se te envergonhei, Roman, — eu gemi, não sendo
capaz de olhar para ele.
— Me envergonhar? Porra, Raina, eu nunca ri tanto na minha vida.
— Por favor, diga que Mark e Jane não me viram desse jeito?
— Não, aquele programa era só para mim. — Ele piscou. — Mas há
mais, princesinha. — O sorriso malicioso de Roman se aprofundou e eu
senti meu rosto esquentar.
— Oh, Deus. O quê?
— Bem, — ele começou, olhando para mim. Mordi meu lábio com
força. Eu sabia que não ia gostar disso.
— Você me disse que queria sentar na minha cara.
— Não. Eu. Não! — Eu joguei o cobertor sobre mim. Porra, agora o
chão poderia me engolir.
Eu podia ouvir a risada profunda de Roman ao meu redor. — Eu
estava bêbada, Roman. Eu não sabia o que estava dizendo. — Minha voz
abafada escapou do cobertor.
— Minha esposa é uma aberração sexy, — Roman ronronou, puxando
o cobertor de cima de mim.
— Não acredito que disse isso.
— Eu estava pronto para lhe dar o que você queria, mas você
desmaiou. — Ele riu.
Senti o calor subir ao meu rosto enquanto lutava contra a vontade de
cair na gargalhada.
— E desde quando você gosta de bailes?
— Bolas? — Meus olhos se arregalaram.
Roman caiu na gargalhada, balançando a cabeça.
— Não, bailes de caridade.
— Oh! — Eu fiquei vermelha mais uma vez. — Bem, eu não sou muito
ã desses eventos, mas um baile soa bem.
Roman estudou meu rosto por um momento antes de balançar a
cabeça. Ele sorriu e beijou minha testa e então se levantou.
— Volte a dormir, querida. Eu estarei no meu escritório.
— Mas é sábado, — eu gemi, estendendo meus braços para ele se
juntar a mim.
Os lábios de Roman se curvaram em um sorriso antes de ele tirar sua
camiseta e jeans e então pular na cama, me puxando para perto.
— Ursinho, — eu sussurrei, jogando meus braços ao redor dele.
— Oh, querida, você pode pegar meu telefone? Está do outro lado da
cama.
Eu balancei a cabeça e rastejei em direção à beira da cama, mas não
conseguia ver seu telefone.
— Tem certeza de que está aqui? Não consigo ver.
Eu engasguei quando senti sua cabeça entre minhas pernas. — Oh,
merda, Roman!
— Shh. Apenas abaixe-se.
Fechei meus olhos e abaixei meu corpo. Meu sexo agora molhado
encontrou seu rosto. Eu pulei de volta, mas Roman agarrou minha
cintura, me puxando de volta para ele.
Senti sua língua lambendo minhas dobras, seu nariz esfregando
contra meu clitóris. Meus olhos rolaram para a parte detrás da minha
cabeça, e eu mal reconheci os sons estranhos escapando da minha boca.
— Oh. Meu. Deus!
Capítulo 28
BAILE
RAINA

Era um dia antes do grande baile de caridade. Sheila estava muito


animada com a nossa ida. Fiquei triste porque Richard e Sheila não
compareceram, mas a saúde de Richard estava em primeiro lugar.
Sheila me chamou para a casa principal, onde fui acompanhada por
um estilista famoso que me ajudou a escolher um vestido deslumbrante.
Eu não tinha mostrado meu vestido a Roman, querendo surpreendê-
lo. Claro, não é todo dia que você vai a um baile e se veste como uma
princesa de verdade.
Sheila garantiu que eu reservasse um cabeleireiro e maquiador para
chegar no dia do baile, bem como um fotógrafo para tirar fotos de
Roman e de mim antes de partirmos.
Eu queria rir de sua animação. Ela estava em seu habitat. Foi bom vê-
la tirar Richard da cabeça por um tempo. Ela estava tão estressada
ultimamente.
Jane tinha me ligado um milhão de vezes, tendo mudado a cor de seu
vestido ainda mais vezes do que ela ligou.
Ela se convencia a vestir um vestido, mudava de ideia e vestia o
mesmo novamente em cinco minutos.
Eventualmente, ela escolheu um lindo vestido de baile de renda preta,
mas honestamente não me surpreenderia se ela aparecesse na cor
completamente oposta.
Eu notei que Roman estava um pouco nervoso com a nossa segurança
no baile. Ele contratou uma equipe de segurança para nos seguir na ida e
na volta.
Eu não poderia culpá-lo por ser superprotetor, mas a última coisa que
eu queria pensar era sobre a porra de Troy Wilson.
*
Estudei o espelho de corpo inteiro, observando minha aparência final.
Um vestido esmeralda lindo e embelezado com ombro aberto abraçava
minha figura com uma pequena fenda subindo pela minha perna.
Ele tinha uma pequena cauda atrás de mim, fazendo-me sentir uma
verdadeira princesa. Minha maquiagem era elegante e linda, e a sombra
esfumada realçou meus olhos caramelos. Meu cabelo estava preso em um
coque baixo com mechas cacheadas soltas que emolduravam meu rosto
perfeitamente. Atrevo-me a dizer que estava incrível.
Roman estava esperando lá embaixo como eu disse a ele. Não o deixei
usar gravata porque mandei fazer uma para ele que combinava
perfeitamente com o meu vestido.
Respirando fundo, atravessei o corredor em direção ao topo da escada.
Eu podia ouvir Roman resmungando algo na porta da frente. Parecia
que os fotógrafos haviam instalado seu equipamento no saguão e no
jardim.
Roman odiava estar no centro das atenções e ter pessoas invadindo
sua privacidade. Eu queria revirar os olhos com sua pequena birra.
Comecei a descer as escadas quando ouvi Roman gritar por mim.
— Raina? Esses fotógrafos são... — Suas palavras ficaram presas em
sua respiração enquanto ele se virava em minha direção, com seu olhar
de rio me focando com intensidade. Seus lábios se separaram enquanto
ele suspirava com admiração.
— Princesinha. Você... — Seus olhos percorreram lentamente o
comprimento do meu vestido e de volta ao meu rosto. — Você é perfeita.
— Sua voz rouca fez algo comigo.
— Obrigada, — eu sussurrei, trazendo a caixa em minha mão. Abri a
tampa para revelar sua gravata combinando com sua roupa. Seus olhos
não deixaram os meus enquanto eu os fixava em tomo de seu colarinho,
fazendo seus olhos esmeralda saltarem.
— Olha só. Bem quando eu pensei que você não poderia ficar mais
bonito, — eu respirei, apreciando a vista diante de mim.
O cabelo de Roman estava elegantemente despenteado acima de sua
cabeça. Ele havia raspado a barba por fazer. Seu smoking era de um prata
profundo que brilhava enquanto ele se movia. Toda a sua roupa
combinava com a minha perfeitamente.
Meus olhos se arregalaram quando Roman estendeu sua própria caixa.
Ele abriu para revelar um colar de diamantes deslumbrante. Alguns
diamantes eram cristalinos, enquanto outros eram de uma cor esmeralda
profunda.
Eu engasguei com o brilho dos diamantes enquanto eles refletiam os
tons de um arco-íris ao longo das paredes.
— Isso é demais, — sussurrei, hipnotizada por sua beleza.
Roman sorriu antes de gesticular para que eu me virasse. Enfrentamos
o grande espelho na parede do saguão enquanto ele colocava o colar em
volta do meu pescoço. Complementava meu vestido tão lindamente.
Eu queria perguntar como ele conseguiu isso tão perfeito.
— Obrigada. — Eu sorri, olhando do colar para os olhos de Roman no
reflexo. Eu me virei e beijei seus lábios macios, derretendo-me neles.
Não demorou muito até que ouvimos alguém limpar a garganta, me
fazendo corar quando nos viramos para ver um dos fotógrafos na porta.
Roman, é claro, deu a ele um olhar mortal.
— Estamos prontos para vocês. — O fotógrafo bateu palmas. O bigode
prateado era uma obra de arte em si. Roman revirou os olhos enquanto
eu segurava sua mão e puxou-o para seguir o fotógrafo.
*
Roman abriu a porta do carro para eu entrar, sua mão foi colocada
firmemente na parte inferior das minhas costas. Eu gritei quando ele
bateu na minha bunda, me fazendo pular.
— Roman!
— Desculpa. Eu não pude evitar. Sua bunda é tão... — Ele mordeu o
lábio e balançou a cabeça.
Eu ri, acomodando-me no banco do passageiro. Finalmente, meu
nervosismo sobre ir ao baile estava um pouco menor.
Normalmente, eu odiava esse tipo de evento, mas ter Roman ao meu
lado mudou tudo.
Ter bons amigos para me divertir era tudo que eu poderia pedir.
Depois de uma viagem de vinte minutos, estacionamos do lado de
fora de uma enorme mansão cercada por hectares de colinas gramadas.
Eu pude ver muitas pessoas luxuosamente vestidas entrando no local.
Eu inalei profundamente quando Roman pegou minha mão.
Caminhamos juntos em direção à entrada.
Eu me sentia mais confiante a cada passo que dava. Os olhares que eu
estava recebendo não me incomodavam — na verdade, eles me
abasteciam. Não tivemos de esperar em uma fila. O cavalheiro na porta
simplesmente acenou com a cabeça e nos deixou passar.
— Sr. e Sra. Marigold.
Meus olhos dançaram em tomo do salão de baile extravagante. Estava
escuro, o teto parecia como se houvesse estrelas no céu enquanto as
luzes piscavam sobre nós. Uau.
Havia pilares de tamanho colossal em cada canto e lindos vasos altos
com detalhes intrincados em cada mesa redonda. Meus olhos cheios de
temor lentamente absorveram tudo. Era realmente de tirar o fôlego.
À medida que avançávamos para o interior da sala, quase todas as
pessoas em todas as mesas estavam olhando para nós. Roman percebeu
isso também, enquanto sorria para mim.
Alguns convidados sorriam para nós, mas outros, a maioria meninas,
lançavam olhares de morte em minha direção. Era estranho estar no
centro das atenções, mas essa parecia ser a minha vida agora.
Isso mesmo, pessoal. O Sr. e a Sra. Marigold chegaram.
*
O som da orquestra ecoou pela grande sala, causando arrepios na
minha pele. Foi mágico.
Sentamos em uma mesa perto do centro da sala, onde a vista era
perfeita. Eu podia ver tudo daqui, especialmente a orquestra incrível.
Meus olhos pousaram em cada instrumento hipnotizante enquanto
tocavam sob as luzes cintilantes.
Muitos garçons corriam ao nosso redor, servindo bebidas com muitos
canapés. Convidados se misturavam, rindo, conversando, comendo e
alguns até dançando.
Jane voou até meu campo de visão, com seu vestido de baile de renda
fluindo lindamente ao seu redor como uma nuvem. Seus braços estavam
ligados a um loiro alto, e me senti um pouco desapontada por não ser
Mark.
Quando esses dois finalmente perceberão que eram perfeitos um para
o outro?
— Você está linda! — Eu falei, olhando seu vestido de cima a baixo.
Seu cabelo negro caiu em um coque solto como o meu.
— Você já se viu, Rae? Acabei de passar por um monte de gente
falando sobre como a esposa de Roman Marigold é linda! — Jane ergueu
as sobrancelhas para cima e para baixo.
Senti o calor subir ao meu rosto antes que ela se virasse para o homem
misterioso ao lado dela.
— Este é meu amigo, Adam. — Jane sorriu quando Adam estendeu a
mão para nós.
— Oi, Adam. — Eu sorri, apertando sua mão.
— Amigo? — Roman ergueu uma sobrancelha para o loiro de cabelos
cacheados.
— Nós trabalhamos juntos. — Adam sorriu nervosamente.
— Oh, não se importe com meu primo. — Jane revirou os olhos e
acenou com a mão em direção a Adam, puxando uma cadeira ao meu
lado. Nós dois tocamos os copos antes de colocá-los nos lábios.
Eu queria rir de Roman. Eu notava o quanto ele desprezava esses
eventos. Eu o cutuquei com meu cotovelo, encontrando seu olhar
intenso.
Ele se inclinou e pressionou suavemente seus lábios nos meus. Eu
meio que queria sair daqui, levá-lo para casa e pular em cima dele.
Tons dourados como o sol dançavam ao redor do salão de baile,
brilhando em cada canto e se movendo junto com a mudança da música.
Eu não conseguia tirar meus olhos de tudo.
— Parece que Mark está aqui, — Jane murmurou, tomando um gole
de sua bebida. Meus olhos dispararam para ver Mark caminhando até
nós, de mãos dadas com seu par.
— Grace! — Eu sorri, me levantando em choque. Ela estava tão bonita
em um vestido de noite vermelho, com seu cabelo loiro escuro enrolado
livremente em tomo dela.
Grace sorriu, e eu praticamente pude sentir o seu nervosismo.
— Você está deslumbrante! — Eu admiti enquanto nos abraçamos
com um abraço caloroso.
— Obrigada, Raina. Você também! — Depois de cumprimentar a
todos, eles se sentaram ao nosso lado. Observei enquanto Jane evitava
contato visual com Mark.
A comida era divina e, por serem porções minúsculas, me peguei
comendo de tudo. Qualquer comida que chegasse à mesa logo estava na
minha barriga. Delicioso!
A orquestra começou a executar uma bela peça enquanto as luzes
diminuíam e ricocheteavam nas paredes.
Mark foi o primeiro a oferecer a mão a Grace. Ela riu enquanto se
levantava e o seguia até a pista de dança.
Adam levantou-se e fez uma reverência exagerada a Jane, à qual ela riu
e o empurrou, logo os dois também saíram.
Eu não tinha esperança de dançar porque sabia que Roman não iria
querer de jeito nenhum. Já era o suficiente que eu o tenha arrastado aqui.
Eu ouvi Roman limpar sua garganta. Meus olhos olharam para ele de
pé e estendendo a mão.
— Roman. Você realmente não precisa. — Eu ri. Ele parecia tão
adorável naquele momento.
— Para que vir ao baile se você não vai dançar? Eu sei no que me
inscrevi, princesinha. — Ele sorriu, puxando-me sem esforço.
Caminhamos em direção à pista de dança, com meu vestido brilhando
a cada movimento sob as luzes. Segurei os ombros de Roman, suas mãos
envolveram minha cintura e diminuímos a distância entre nós.
Respirei fundo antes de seguir o exemplo de Roman, dando cada
passo lentamente e me aproximando. Olhei em seus olhos e
imediatamente me senti melhor e mais confiante.
— Você é linda, — Roman sussurrou, enviando uma onda de calor ao
meu rosto. Eu sorri, olhando para ele através dos meus cílios.
Ele me girou sem esforço e eu ri sob as estrelas falsas e cintilantes.
Seus olhos brilharam e eu senti como se estivesse caindo mais fundo.
Podemos não ter tido um casamento típico com uma primeira dança
como a maioria dos outros casais, mas este momento parecia que foi
feito apenas para nós.
Cada nota tocada pela orquestra, cada luz dançante, cada passo lento
nos braços um do outro era o nosso momento.
Roman sorriu para mim e inclinou a cabeça em direção a outro casal
dançando. Quando me virei para olhar para eles, sorri de volta para ele.
— Finalmente, — eu disse, olhando para Jane nos braços de Mark.
Os olhos oceânicos de Jane estavam fixos em Mark. Eles não estavam
com seus idiotas de sempre. Em vez disso, eles pareciam perdidos nos
olhares intensos um do outro.
Era como se Jane estivesse vendo Mark pela primeira vez. Meu
coração aqueceu só de observá-los.
Enquanto procurava por Grace, me senti um pouco culpada, mas esse
sentimento foi embora quase imediatamente quando a vi rindo enquanto
Adam a girava.
Ela agitou seus cílios para ele, e eu quase explodi em gargalhadas com
a forma como essa pequena troca aconteceu.
— Eu te amo.
Meus olhos voltaram para Roman. Estendi a mão para beijar seus
lábios. — Eu te amo mais. — Eu sorri. — Impossível. — Ele balançou a
cabeça, me girando mais uma vez.
— Eu... eu nunca pensei que poderia ser tão feliz, — eu sussurrei,
esperando que ele me ouvisse, com uma única lágrima rolando pela
minha bochecha.
— Você merece toda a felicidade do mundo, Raina. — Roman sorriu,
enxugando minha bochecha com a ponta do polegar. Fechei meus olhos
e respirei fundo.
— Como eu tive tanta sorte? — Eu resmunguei.
Roman beijou minha testa.
— Eu sou o sortudo, Raina, confie em mim. Você me completa em
todos os sentidos.
Dançamos pelo que pareceram horas, nos perdendo na música e nesta
noite perfeita.
Assim que recuamos para nossos assentos, a mão de Roman deslizou
ao longo da minha coxa sob a mesa.
— Mal posso esperar para te levar para casa e tirar esse vestido, — ele
sussurrou em meu ouvido. Eu me virei para encará-lo e mordi meu lábio,
perdida em seus olhos.
— Deus. Eles estão tão apaixonados, — Jane deixou escapar. Minha
cabeça disparou em sua direção quando ela se sentou com a cabeça
apoiada nas mãos, nos dando um olhar sonhador.
Acho que éramos bem aconchegantes um com o outro. Para qualquer
outra pessoa, éramos provavelmente um daqueles casais irritantes que
mostravam afeto em público demais. Eu queria rir, mas acabei corando
em vez disso.
— Certo, meninos. Nós, senhoras, vamos visitar o banheiro! — Jane se
levantou e olhou para Grace e para mim. Roman me passou minha bolsa
antes que eu seguisse as garotas mais para dentro do salão de baile
movimentado.
Terminei o que tinha de fazer antes das meninas e lavei minhas mãos.
Peguei meu batom quando meu telefone começou a vibrar. Quando olhei
para minha tela, apareceu o nome de Hetty.
— Hetty? — Eu respondi com entusiasmo.
Houve silêncio do outro lado. A recepção deve estar fraca aqui. Saí do
banheiro e alguns convidados permaneceram no longo corredor.
— Olá? Hetty, você pode me ouvir?
— Olá, Raina. Você está com saudades de mim?
Meu coração caiu no meu estômago quando um relâmpago de
compreensão me atingiu. Mudei meus pés para correr para Roman
imediatamente.
— Pare! Se você for até ele, vou quebrar a porra do pescoço dela agora
mesmo! — As palavras de Troy atingiram meu coração e eu congelei,
com minhas pernas tremendo.
— P... por favor, não, — eu chorei enquanto as lágrimas se arrastavam
atrás dos meus olhos.
— Saia do prédio pela saída lateral. Um sedan preto está esperando. Se
você não estiver naquele carro em dois minutos, e se contar a alguém,
vou quebrar cada um dos preciosos ossinhos de Hetty.
Minhas lágrimas caíram com suas palavras frias, com minha bolsa
caindo da minha mão junto com meu telefone. Corri pelo longo corredor
em direção à entrada lateral. Nada importava agora, exceto salvar Hetty.
ROMAN

Esta noite não foi tão ruim quanto eu esperava. Eu estava tão decidido
a evitar esses eventos sociais.
Estar com Raina mudou tudo. Eu estava realmente me divertindo.
Eu me lembrei de quando eu coloquei os olhos nela pela primeira vez
esta noite. Ela me tirou o fôlego.
Senti o tecido de veludo entre meus dedos enquanto brincava com
minha gravata. Sorri para mim mesmo ao pensar em Raina escolhendo
para mim. Ela nunca parava de me surpreender.
Eu sabia que essa era a mulher certa para mim. Eu poderia felizmente
passar o resto da minha vida estragando-a com mimos, fazer qualquer
coisa por ela. Ela não sabia da metade. Ela não sabia o poder que ela tinha
sobre mim.
Eu era completamente dela.
Meus olhos se voltaram para Jane e Grace correndo para a mesa, e eu
senti uma onda de pânico subir pelo meu corpo enquanto meus olhos
procuravam por Raina.
— Raina voltou para a mesa? — Jane gritou, com seus olhos olhando
freneticamente ao redor.
— Ela sumiu! — Grace resmungou, franzindo a testa.
Um grunhido agudo irrompeu de mim quando me levantei da cadeira
e corri em direção à entrada.
— Onde diabos está Raina!? — Eu gritei a um dos seguranças do nosso
carro. Ele tinha uma expressão perplexa no rosto. Eu queria socá-lo no
chão. Os dois homens começaram a vasculhar a área rapidamente.
Eu me senti magoado, com raiva, confuso e com medo ao mesmo
tempo. Eu só precisava ver seu rosto. Ela tem de estar aqui. Corri em
direção ao banheiro feminino e entrei, ganhando gritos das mulheres lá
dentro.
Eu procurei no longo corredor. Ficava mais vazio e escuro conforme
eu avançava. Meus pés congelaram quando notei uma sacola brilhando
sob a luz fraca, com o conteúdo todo espalhado pelo chão.
Quase caí de joelhos quando peguei a bolsa de Raina. Seu telefone
tinha uma pequena rachadura no canto.
Chamadas recebidas:
21h43 — Hetty
Liguei para o número de Hetty e coloquei o telefone no ouvido. Meu
coração estava batendo no meu peito.
O som da risada ameaçadora de Troy Wilson saiu da linha. Eu fiz uma
careta com o som. Foi nesse momento que soube que este homem teria
uma morte dolorosa nas minhas mãos.
— Onde diabos ela está!?
— Ela está comigo, onde ela pertence.
— Se você colocar a porra do dedo nela...
— O quê? Você vai me matar? — Troy riu. — Assim que eu terminar
com ela, você pode me matar. Eu ficarei feliz em atravessar os portões do
inferno depois de tê-la.
As palavras de Troy me deixaram enjoado. Senti o suor escorrer pela
minha testa. Não havia como usar a razão com um psicopata, mas Troy
levou o psicopata a um nível totalmente novo.
— Troy. Deixe-a em paz. Por favor. — Fechei os olhos enquanto eu
tentava argumentar com esse monstro.
— Ela é minha! Ela nunca deveria ter sido sua! — Troy cuspiu.
Jane, Mark e Grace me alcançaram agora. Olhares em pânico se
formaram em seus rostos sem fôlego quando perceberam o que estava
acontecendo.
— Você quer dinheiro, Troy? Eu posso fazer de você um homem rico e
poderoso.
Troy riu mais uma vez. — Você simplesmente não entende, não é? Eu
quero Raina, e agora eu a tenho. Ela vai gritar meu nome, Roman. Não o
seu!
— Eu vou te matar. Eu vou te matar, porra!
A linha foi cortada, deixando-me respirando pesadamente. Desta vez,
caí de joelhos.
— Controle-se, mano... nós a encontraremos. — As palavras
reconfortantes de Mark não fizeram diferença quando ele caiu ao meu
lado.
— A polícia foi informada. Nós a encontraremos, Roman! — Jane
resmungou enquanto as lágrimas escapavam de seus olhos oceânicos.
Fechei meus olhos mais uma vez. O rosto de Raina brilhou diante de
mim, seu sorriso, sua inocência. Ele a tinha.
Quando meus olhos se abriram, meu corpo enrijeceu, minha mente
ficou em branco e tudo que eu podia sentir, tudo que eu podia ver, era
vermelho.
Troy Wilson é um homem morto.
Capítulo 29
FOGO
RAINA

A brisa noturna me atingiu enquanto eu voava para fora da saída de


incêndio em direção à lateral do prédio, com o som dos meus saltos
ecoando pelo beco escuro.
Olhei para o carro à distância. Os faróis estavam acesos. Meu corpo
estava uma bagunça ofegante enquanto eu corria em direção a ele. Tomei
uma respiração instável, preparando-me para o que eu estava entrando.
Não tive tempo para pensar racionalmente. Tudo que eu sabia era que
Hetty estaria em sérios apuros se eu não agisse rápido.
O luar iluminou a noite enquanto eu abria a porta do sedan e me
sentava lá dentro.
Eu fiz uma careta com a visão ao meu lado. — Jay?
— Olá, Raina. Surpreso em me ver?
— Não, na verdade, não. Você é tão doente quanto ele, — eu falei com
os dentes cerrados.
Jay zombou de mim antes de balançar a cabeça. — As pessoas fazem
coisas 'doentias' por dinheiro, Raina. — Ele sorriu enquanto estudava
meu rosto. — Me passa seu telefone.
— Eu deixei tudo pra trás, — eu sussurrei.
Sua grande mão se estendeu para acariciar minha bochecha. Senti
náuseas, minha cabeça girava e, de repente, toda a comida que comi
explodiu dentro de mim e disparou pela janela ao meu lado. — Porra! —
Jay gritou. Ele me jogou uma caixa de lenços de papel, olhando para mim
com nojo.
Soltei um suspiro trêmulo quando as lágrimas começaram a escapar
de mim. Eu me senti tão impotente. Não havia nada que eu pudesse
fazer, pois isso iria colocar a vida de Hetty em mais perigo.
— Diga a Troy que assim que ele me pegar, ele deve deixar Hetty ir, —
eu resmunguei, olhando para a escuridão.
— Vamos, Raina. Você e eu sabemos que ele não vai te deixar ir
embora. Você tem de cooperar se quiser manter Hetty viva, — ele falou
baixinho com os olhos na estrada.
— Jay. Ajude-me a salvá-la! Meu marido pode te recompensar muito
mais do que o que Troy está lhe dando! — Eu implorei, procurando seus
olhos frios no escuro.
Jay soltou uma risada antes de se virar para mim. — Acho que nós dois
sabemos exatamente como seu marido vai me 'compensar'.
Ele assobiou com aprovação. — Eu já vi aquele filho da puta lutar. Ele
é um maldito animal.
Tentei controlar minhas fungadas quando entramos em uma estrada
estreita. Estava escuro como breu agora. Meu coração estava disparado
enquanto Jay entrava em um caminho que levava à floresta.
Não havia nada em vista, apenas ramos sombrios projetados dos
faróis. O carro bateu sobre o terreno irregular.
Permanecemos no mesmo caminho por um tempo antes de
desacelerar. Foi quando notei a cabana à distância. Jay estacionou e meu
estômago deu um nó.
Respirei fundo, trêmula, ao sair do carro.
— Depois de você. — Jay me empurrou para frente, com minhas
pernas tremendo a cada passo em direção à porta de carvalho.
O cheiro de madeira e cedro invadiu minhas narinas enquanto eu me
aproximava. A cabana era grande e quase não havia luz.
A porta se abriu e meus olhos encontraram o olhar gelado de Troy. Ele
sorriu antes de jogar uma grande sacola em Jay.
— Tem certeza que não quer compartilhar? — Jay gargalhou,
arrastando seus olhos sujos pelo meu vestido.
— Não! Agora vá se foder, — Troy sibilou, puxando-me pelo braço e
batendo a porta atrás de nós.
Um fogo crepitava na sala. As chamas dançaram ao redor das paredes.
Eu realmente estava no inferno. Um sofá cinza e um grande tapete
estavam diante da lareira.
Eu me virei para encará-lo, o próprio diabo. — Onde está Hetty? — Eu
perguntei com os dentes cerrados. A raiva estava clara em meu tom.
— Ela está segura, — ele respondeu, se aproximando de mim. — Por
enquanto.
— Solte-a, Troy! — Eu implorei, procurando seus olhos cheios de
luxúria.
— Tudo a seu tempo, bebê. — Ele girou uma mecha do meu cabelo
em tomo de seu dedo.
— Eu sabia que você viria atrás de mim. Não suporto que você esteja
com ele. — Ele se inclinou em meu pescoço. Eu fiz uma careta com o
quão perto ele estava.
O cabelo loiro de Troy estava penteado para trás, e ele usava uma
camisa preta e calças pretas. Ele deu um passo para trás e observou cada
centímetro do meu vestido.
— Linda, — ele sussurrou, enviando um arrepio pela minha espinha.
— Sente-se, — ele exigiu antes de desaparecer pela porta na
extremidade oposta. Parecia uma cozinha.
Sentei-me no sofá creme perto da lareira, com meus olhos
procurando por qualquer coisa que eu pudesse usar para me defender.
Avistei um pé-de-cabra perto da lareira e engoli em seco enquanto
visualizava abrir a cabeça dele. O pensamento me fez sentir enjoada mais
uma vez.
Troy reapareceu com dois copos de vinho tinto. Ele entregou um
antes de se sentar ao meu lado. — Raina, se você quiser manter Hetty
segura, as coisas vão ter de mudar.
Franzi a testa, querendo jogar o vinho na cara dele e gritar, mas sabia
que tinha de ser tática. Eu tinha de agradar o desgraçado.
Troy deslizou para mais perto de mim, com seus lábios roçando meu
pescoço. Eu estremeci de nojo. Meus olhos permaneceram focados nas
chamas dançantes. Elas tiraram minha mente deste momento.
— Eu esperei tanto tempo por você, Raina. Tanto tempo para você vir
até mim. — Ele puxou meu vestido, expondo mais da minha pele. — Não
lute contra isso. Apenas admita que você me ama.
Fechei os olhos, rezando para estar longe daqui.
Ele segurou meu queixo e me virou para encará-lo, com sua respiração
soprando contra minha bochecha enquanto eu olhava fixamente em seus
olhos. — Não lute contra isso, bebê. — Seus lábios encontraram os meus
e eu puxei meu rosto na direção do fogo.
Meu coração estava disparado.
Troy riu. — Não seja tímida, Raina. — Eu o senti puxar para baixo o
zíper na parte detrás do meu vestido. Seus lábios roçaram ao longo das
minhas costas expostas. As lágrimas lentamente rolaram pelo meu rosto.
Ele se levantou e passou por outra porta, voltando com o que parecia
ser roupas nas mãos.
Eu vacilei quando Troy as jogou em mim.
— Ponha essas roupas. Você pode usar aquele quarto. — Ele sorriu,
apontando para uma porta.
Minhas pernas pareciam geleia enquanto eu caminhava em direção ao
quarto. Uma cama de casal estava no meio da parede. Fechei a porta atrás
de mim e corri para a janela. Estava trancada.
Eu estava ofegante enquanto me movia para outra janela, rezando
para que uma estivesse aberta. Sem sorte.
Eu sabia que não havia como escapar daqui. Eu estava nas garras
malignas de Troy. Ele tinha o poder aqui. Olhei para as roupas que Troy
me deu, se é assim que você pode chamá-las.
Meus olhos percorreram a longa e transparente camisola vermelha,
que era extremamente transparente. Fiz uma careta ao vê-la antes de
suspirar e deslizar para fora do meu vestido.
Disse a mim mesma que daria o fora daqui.
Eu salvaria Hetty e tudo ficaria bem, mas me sentia com medo,
sozinha e desamparada neste momento.
Fiquei no quarto o máximo que pude antes de ouvir a maçaneta girar.
Os olhos lascivos de Troy encontraram meu corpo. Eu o ouvi gemer
enquanto se aproximava.
— Eu gostaria de terminar o meu vinho, por favor, — falei, tentando
manter meu medo longe. Os olhos de Troy se arregalaram quando ele
sorriu para as minhas palavras.
Sentei no sofá e peguei o copo na mão. Eu podia sentir o olhar escuro
de Troy queimando em mim. Seus olhos percorreram meu corpo,
estudando, observando, esperando.
Eu mantive meu olhar nas chamas brilhantes.
— Olhe para mim, Raina, — Troy gemeu.
— Gosto do fogo, — respondi, bebendo meu vinho.
— Você está segura aqui comigo.
Minhas sobrancelhas se levantaram juntas enquanto olhava para Troy.
— Segura? Eu tenho de te lembrar o que você fez comigo na última vez
que te vi? — Eu dei-lhe um olhar gelado.
— Não. Raina, não. Eu só. Eu apenas tinha de te lembrar. — Seus
olhos ficaram escuros. — Você me ama, Raina! — Sua voz era quase
demoníaca.
Comecei a respirar mais fortemente, tentando o meu melhor para
esconder a agitação dentro de mim.
Troy puxou a alça do meu vestido e o deixou cair do meu ombro.
— T... Troy. Vamos apenas conversar, ok? — Eu resmunguei, voltando
para o calor bruxuleante diante de mim. Meus olhos estavam ficando
brilhantes enquanto eu lutava contra as lágrimas.
Troy riu mais uma vez e então soltou meu cabelo. — Podemos
conversar, mas nada vai me impedir de finalmente te fazer minha. — Ele
espalhou meu cabelo sobre meus ombros.
— Eu vou te fazer minha, Raina.
ROMAN

O carro voou pela rodovia em grande velocidade. Mark se sentou ao


meu lado, segurando o painel para salvar sua vida. Jane e Grace se
sentaram atrás. Eles estavam todos quietos, ou eu simplesmente não
conseguia ouvi-los.
Nada do que alguém estava dizendo foi registrado por mim. Minha
visão estava obstruída e eu tinha um alvo agora.
Eu podia sentir o medo e o pânico que permeiam todos nós, mas isso
me alimentou. Eu ia trazer minha esposa de volta. Eu não me importava
com quais seriam as consequências. Eu morreria apenas para tirar sua
dor.
Estacionamos do lado de fora do casarão. Mark e Jane correram atrás
de mim enquanto eu corria em direção à porta da frente, batendo meus
punhos contra ela.
Charles Wilson abriu a porta e eu voei pra cima dele, ignorando seus
gritos frenéticos.
— Diana?! — Eu rugi pelo salão escuro.
Eu chutei todas as portas no meu caminho até que meus olhos
encontraram os dela. Ela se escondeu atrás da mãe. — Afaste-se, Vivian!
— Falei com os dentes cerrados.
— Troy não está aqui, Roman! — Diana gritou das garras de sua mãe.
Ela correu para a porta, tentando escapar. Agarrei-a pelo pescoço e a bati
contra a parede.
— Eu. Vou. Perguntar. Pra. Vocês. Pela. Última vez. — Eu apertei mais
seu pescoço, ignorando os avisos de todos ao meu redor. — Onde. Está.
Ele? — Eu rosnei, vendo seus olhos se arregalarem.
Ela sabia que eu poderia matá-la sem pensar duas vezes.
— Roman, você vai matá-la, — Mark implorou. Eu mal senti sua mão
em meu ombro. Liberando meu aperto, vi quando ela caiu no chão,
tossindo e chorando. Vivian estava gritando e Charles estava em estado
de choque.
— Eu não sei! — Diana gritou. — Ele tem um lugar aqui perto, uma
cabana na floresta, mas eu duvido que ele esteja lá. Esse é o único lugar
que eu posso pensar... por favor! — Ela começou a soluçar no chão.
Eu me virei para Jane. — Pegue a porra do endereço e me encontre no
carro.
Virei-me para Vivian no meu caminho. — Se o seu maldito filho
colocar um dedo na minha esposa, vocês vão pagar por isso. — Seus
lábios tremeram com as minhas palavras, enquanto eu olhava para ela.
— Vamos, Roman. — Mark me puxou para fora e me arrastou em
direção ao carro.
Meu telefone vibrou e Mark atendeu a ligação. Depois de uma breve
conversa, ele se virou para mim.
— O policial Campbell disse que encontraram Hetty! Ela foi drogada,
amordaçada e amarrada no porão de sua casa. — Ele fez uma careta com
suas próprias palavras.
Meus lábios formaram uma linha fina enquanto eu pisei no
acelerador.
Jane saltou e nós disparamos noite adentro.
RAINA

— Chega de conversa. — Troy sorriu, pegando meu copo e colocando-


o sobre a mesa. Seus olhos percorreram a camisola estúpida que ele me
fez vestir para ele.
Fechei os olhos e o rosto de Roman apareceu diante de mim. Ele
estava sorrindo enquanto estendia os braços para mim.
Eu te amo, Roman.
Eu estava fazendo isso por Hetty, por Lilly, por Jane e qualquer outra
pessoa que Troy machucou só para chegar até mim.
Troy ergueu a mão, trazendo-a na minha direção, mas parou quando
seu telefone começou a tocar. Ele soltou um rosnado frustrado e
respondeu, invadindo o quarto. Eu me levantei e escutei através da porta.
— Jay. Hetty. Encontraram ela. Porra!
Essas foram as únicas palavras que consegui entender, mas eram
palavras suficientes para eu saber que Hetty fora encontrada onde quer
que estivesse. A raiva na voz de Troy apenas confirmou isso.
Corri para a lareira e agarrei o pé de cabra, sentindo o metal quente
entre meus dedos trêmulos. Meu coração estava batendo forte e eu
estava coberta de suor, mas não iria desistir sem lutar.
Corri para a porta da frente, mas estava trancada. A porta do quarto se
abriu e os olhos injetados de sangue de Troy encontraram os meus.
Eu agarrei o pé de cabra e segurei na minha frente, avisando-o para
ficar longe. Minha respiração trêmula cresceu mais rápido enquanto eu
agitava a arma diante de mim.
Os olhos de Troy escureceram. Ele inclinou a cabeça para o lado e
começou a rir.
— Oh, Raina. Você nunca vai aprender, bebê. — Ele se aproximou
enquanto eu segurava o pé de cabra dando pequenos passos para trás.
Ele alcançou o bolso detrás e tirou o que parecia ser um canivete. Eu
engasguei quando ele o levou aos lábios.
— Bem quando eu pensei que estávamos fazendo progressos.
Capítulo 30
DERROTA
RAINA

Houve silêncio. Nada além do crepitar do fogo e minha respiração


áspera podiam ser ouvidos. Troy se aproximou como um predador
perseguindo sua presa. Era isso, lute ou morra tentando.
De jeito nenhum eu daria a este homem doente o que ele queria. Ele
fez da minha vida um inferno. Eu não merecia o que ele me fez passar
por todos esses anos.
— Fique longe, porra! — Eu gritei, agitando o pé de cabra com grande
força. Meu coração estava disparado, mas parecia que meus esforços não
faziam nada para detê-lo.
Os olhos de Troy ficaram escuros, e o sorriso maligno surgiu em seus
lábios enquanto ele se acalmava.
Com um grunhido alto, ele se lançou para frente e gemeu quando
consegui acertá-lo nas suas costelas antes que ele arrancasse o pé de
cabra de mim e o jogasse no chão.
Ele enredou os dedos no meu cabelo e puxou com uma força dolorosa.
Senti meu corpo sendo arrastado em direção ao quarto.
— Roman! — Gritei.
Troy parou, e eu fui recebido com manchas escuras de raiva em seus
olhos.
— Não diga o nome dele! — Ele tremia de raiva.
— Roman, — eu sussurrei, com minhas lágrimas encharcando meu
rosto. Eu sabia que era o fim. Era aqui que eu morreria e queria que esse
desgraçado soubesse que era Roman quem eu amava.
— Você me ama!
Fechei meus olhos e dei boas-vindas à minha morte. As demandas
frenéticas de Troy desapareceram e tudo ficou escuro.
*
Roman sorriu, pegando minha mão enquanto caminhávamos pela
floresta familiar. Paramos no mesmo lago onde vi minha mãe.
— Roman, deixe-me apresentá-lo à minha mãe. — Eu sorri.
Eu olhei além do lago em direção às árvores do lado oposto. Uma
faísca brilhante apareceu e eu puxei a mão de Roman com entusiasmo,
mas ele não se mexeu.
— Eu não posso ir com você, princesinha.
Eu fiz uma careta com suas palavras.
— Fique aqui comigo, Raina, — ele implorou, apertando minha mão.
Eu me virei para encarar a luz brilhante e então a vi. Minha mãe. Ela
sorriu enquanto abria os braços para mim.
— Eu tenho de ir, Roman. Eu quero conhecê-la. — Beijei sua testa e
soltei sua mão.
Respirando fundo, cada passo que eu dei em direção a ela parecia tão
pacífico. A água fria e clara parecia celestial abaixo de mim.
Mãe.
ROMAN

Perdi o controle da velocidade do carro enquanto ele passava pelos


galhos soltos. Permaneci no caminho escuro antes de chegar ao que
parecia ser uma cabana.
Eu saí do carro e corri em direção à janela da cabana. Eu pude ver
movimento.
Mark já havia começado a derrubar a porta. Eu chutei e empurrei a
porta de carvalho com todas as minhas forças, arrancando-a de suas
dobradiças. Estremeci com a visão diante de mim.
Troy estava deitado sobre o corpo inconsciente de Raina.
— Ela está morta! — Ele gritou, soluçando acima dela.
Eu caí de joelhos e gritei, com minhas mãos tremendo. Olhei para seu
corpinho coberto de sangue. Ela parecia tão sem vida.
— Não, não, não, não, — eu chorei. — Não!
— O que é que você fez!? — Mark gritou com Troy.
Troy.
Meus olhos se voltaram para ele e, com uma postura mortal, me
levantei.
— Oh, meu Deus! — Jane correu até Raina, caindo ao lado de seu
corpo. Suas mãos pairaram sobre ela enquanto ela soluçava alto.
Minhas mãos agarraram o pescoço de Troy, e eu o puxei sem esforço,
deixando meus punhos assumirem o controle.
Não parei meu ataque a Troy até que ele parecesse deformado. Não
parei quando senti seu nariz estalar, sua mandíbula quebrar e seus olhos
pularem.
O sangue respingou em tomo de nós, mas eu ainda continuei meu
ataque. Observei a luz lentamente deixar seus olhos.
Não parei quando ouvi as sirenes da polícia e as ambulâncias ao redor
do prédio. Não parei quando ouvi meu nome sendo chamado por todos
os lados.
Eu não conseguia mais ver meus punhos. Eles estavam cobertos com o
sangue de Troy. Ouvi seus dentes se espalharem pelo chão e tive certeza
de que ele estava morto, mas continuei. Eu não conseguia parar. Nada
poderia me impedir.
Senti a força de quatro ou cinco homens me arrastando para longe. Eu
caí de joelhos. Jane correu para mim, olhando nos meus olhos
manchados de sangue. Meus ouvidos só escutavam um zumbido, sua
boca estava se movendo, mas eu não podia ouvi-la.
O corpo inerte de Raina jazia no chão cercado por paramédicos. Tudo
desacelerou enquanto eu os observava tentando trazê-la de volta.
Eu vi o desfibrilador no ar antes de se encontrar com seu peito imóvel.
Seu corpo flácido saltou no ar antes de cair de volta no chão.
Por favor, fique comigo, Raina.
Capítulo 31
ESPERANÇA
ROMAN

— Roman? — Jane resmungou. Eu podia sentir seus olhos queimando


na parte detrás da minha cabeça quando me sentei ao lado de Raina.
O bip do monitor me hipnotizou em meu próprio sonho, aquele em
que Raina ria em meus braços.
— Ro, você precisa sair daqui e se limpar.
Senti sua mão apertar meu ombro, e então seus olhos oceânicos
encontraram os meus.
— Por favor, Roman. Raina vai acordar e, quando ela o fizer, você não
quer que ela te veja assim. — Ela levou a mão ao meu rosto.
— Eu vou sentar com ela enquanto você estiver fora.
— Vamos, Ro. — Mark me segurou, deslizando meu braço por cima do
ombro e me levando para fora da sala.
Fiquei grato aos meus amigos neste exato momento. Agora, eu me
sentia perdido e fraco. Nunca me senti assim em toda a minha vida. Era
difícil assistir minha esposa lutando por sua vida quando ela não merecia
nada disso.
Eu queria voltar no tempo para o dia do nosso casamento. Eu a
pegaria em meus braços para longe daqui.
Eu deveria ter dito a ela no minuto em que coloquei os olhos nela que
ela era a garota mais linda que eu já tinha visto. Eu deveria ter dito a ela
que a amava muito mais.
Troy morreu ontem. Seu sangue ainda manchava minhas mãos e
rosto. Ainda estava sob minhas unhas. O smoking prateado que usei para
o baile estava cheio de sujeira, sangue e suor.
Eu não tinha saído do lado de Raina e não estava falando com
ninguém.
Eu podia ver os olhares preocupados que recebia de todos, inclusive
da minha mãe, mas eles tinham de entender que, se Raina morresse, eu
morreria com ela.
Mark foi até minha casa, que fica a cinco minutos de carro do
hospital. Marie engasgou ao me ver, mas eu mal a notei.
Entrei no meu quarto e congelei enquanto Mark tirava algumas
roupas limpas para mim. Meus olhos se voltaram para o livro e os óculos
de leitura de Raina na mesa de cabeceira.
Fechei meus olhos e deixei as lágrimas caírem.
— Roman? — Mark ligou. Eu sabia que era difícil para ele me ver
assim.
— Não faça isso com você mesmo. Ela vai sobreviver. — Ele me guiou
até o banheiro. — Vou esperar aqui por você. Leve o tempo que precisar.
Entrei no chuveiro, a água quente caiu sobre a minha pele. Os
ladrilhos de seixos abaixo de mim adquiriram uma cor carmesim
profunda.
Fechei meus olhos e tentei lavar a dor. Meu corpo estava entorpecido,
mas meu coração só queria Raina.
Quando saí do banheiro, vi meu pai sentado na beira da minha cama.
Círculos escuros cercaram seus olhos cor de esmeralda enquanto ele se
levantava para se aproximar de mim.
— Filho, — ele soluçou, caindo em meus braços.
Passei meus braços em volta de seu corpo frágil. Eu podia sentir a dor
voando dele em ondas. Eu sabia o quão difícil era para ele sentar e
apreender o que estava acontecendo ao seu redor quando ele estava
muito fraco para fazer qualquer coisa a respeito.
Sentamo-nos nas poltronas junto à parede de vidro. Meu pai se virou
para olhar para mim.
— Foi em um evento de caridade há pouco menos de um ano, — ele
sussurrou.
Eu me virei para encará-lo.
— Foi quando a vi pela primeira vez. Ela se sentou no canto da sala
franzindo a testa. — Ele riu para si mesmo e balançou a cabeça com a
memória.
— Eu estava me misturando aos convidados, mas me vi olhando para
a mesma garota sentada na mesma mesa com a mesma expressão em seu
rosto a noite toda.
Ele olhou nos meus olhos. — Eu pensei comigo mesmo, há outra
pessoa que eu conheço que senta em eventos como este com aquela
expressão no rosto. — Ele sorriu com olhos brilhantes.
— Foi quando Charles me disse que ela era filha de Emilia, que eu
soube que essa garota era a pessoa certa para você, e não me enganei. —
Ele riu novamente, segurando meu ombro.
— Eu te amo, filho, — ele resmungou. — Você e sua esposa estão indo
viver uma longa e bela vida juntos. É o último desejo deste homem
moribundo.
Foi a primeira vez que ouvi meu pai referir-se a si mesmo como um
homem moribundo. Eu queria impedi-lo de falar assim, mas não
consegui me obrigar a isso.
Eu não tinha falado desde que entramos naquela cabana. As palavras
fisicamente não estavam deixando meu corpo.
Eu caí em seu abraço caloroso e o segurei com força. Eu amava esse
homem. Ele tinha me dado tudo. Eu iria deixá-lo orgulhoso. Eu não
desistiria. Raina iria acordar. Eu simplesmente sabia disso.
*
Jane segurou a mão de Raina ao se sentar ao lado dela, e seus olhos
brilharam quando eu entrei. Eu olhei para minha linda esposa. Ela
parecia serena e em paz.
Suspirei quando minha mão tocou a dela. Eu daria qualquer coisa para
ela abrir os olhos.
Minha mãe ficou no hospital o dia todo até a noite. Ela se despediu e
anunciou que voltaria pela manhã.
Observei Mark e Jane darem as mãos em silêncio. Eles se
entreolharam enquanto ambos se sentavam próximos, silenciosamente
apoiando um ao outro.
O Dr. Phillip entrou na sala segurando uma prancheta enquanto
verificava algumas das máquinas ao redor de Raina.
— Roman, preciso falar com você. — Ele olhou para mim antes de se
virar para Mark e Jane. Jane se levantou e Mark a seguiu, ambos dando
sorrisos tranquilizadores antes de sair da sala.
— Temos feito uma série de testes em Raina e alguns resultados
retomaram de seus exames de sangue. — Ele olhou nos meus olhos
enquanto se aproximava um pouco mais.
— Não pensamos que seria possível devido ao trauma que seu corpo
sofreu, mas testamos várias vezes e parece ter um batimento cardíaco
estável. E um milagre, na verdade.
Eu juntei minhas sobrancelhas e finalmente falei. — Do que você está
falando?
— Raina está grávida.
RAINA

Aproximei-me do outro lado do lago e olhei para a mulher de tirar o


fôlego diante de mim. — Eu sempre quis te conhecer. — Eu funguei.
Minha mãe sorriu, com seu rosto irradiando beleza, pureza e paz. —
Eu te amo, minha filha, — ela falou enquanto seu brilho aumentava com
cada palavra.
— Mas você não pode ficar aqui, meu amor.
— Por que não? — Minha mãe se virou para o lado oposto do lago.
Roman ainda estava lá olhando, esperando.
Meu coração estava com ele. — Roman, — eu sussurrei, querendo
correr para seus braços.
— Ele precisa de você. — A voz da minha mãe ecoou ao meu redor,
fazendo as árvores balançarem.
— Eu não quero te deixar, mãe, — eu resmunguei, guardando cada
uma de suas características na memória.
— Ele não é o único que precisa de você. — Sua mão pressionou
contra meu estômago, enviando borboletas por todo o meu corpo. Os
raios brilhantes irradiaram dela enquanto minhas lágrimas caíam. Eu
fechei meus olhos.
— Eu te amo, mãe.
Meus olhos abriram e a primeira coisa que notei foi o cabelo de
Roman. Sua cabeça estava inclinada ao meu lado e sua mão estava
pressionada firmemente contra minha barriga. Ele estava dormindo. —
R... Rom...
Minha garganta doía e queimava enquanto tentava chamar seu nome.
Sua cabeça disparou e seus olhos encontraram os meus. — Raina! —
Ele soluçou, com seus braços me envolvendo. Seu calor familiar me
acalmou. Eu sabia que finalmente estava segura.
— Eu sabia que você voltaria para mim. — Suas lágrimas o deixaram
sem esforço quando ele olhou para mim. Eu queria pular em seus braços.
— O que aconteceu?
— Tente não falar muito. Sua garganta está sarando ainda. — Ele
soltou um longo suspiro de alívio enquanto sua mão apertou a minha.
— Você está segura, e ele se foi... para sempre, — Roman falou com
uma frieza que eu nunca tinha ouvido dele antes.
Senti um arrepio percorrer minha espinha com suas palavras.
Troy estava morto.
Depois que o médico completou suas observações, ele me disse que eu
precisava descansar bastante. Meu corpo havia passado por muitos
traumas — fisicamente, mentalmente e emocionalmente.
Roman beijou minha bochecha enquanto se sentava com uma tigela
de sopa. Eu sorri enquanto ele soprava o líquido fumegante antes de
levar uma colher aos meus lábios. Havia muito que eu queria perguntar a
ele.
Eu queria perguntar se a morte de Troy foi pelas suas mãos; algo me
dizia que sim.
Consegui comer metade da tigela de sopa. Minha fome era mais forte
do que a dor. Eu olhei nos olhos exaustos de Roman.
— Coma, — eu sussurrei, segurando o braço de Roman.
— Eu já comi, princesinha.
Estávamos sozinhos na sala agora. Roman não queria permitir
visitantes até que soubesse que eu poderia lidar com isso. Ele não queria
me sufocar.
Ele disse que amanhã todos poderiam vir. Até Hetty estava esperando
para me ver. Ela tinha passado por muita coisa. O que Troy fez com ela,
fez meu sangue ferver, mas fiquei muito grata por ela ter sido encontrada
ilesa.
Depois de tomar banho, me senti uma nova pessoa. Sheila tinha feito
uma mala com meu pijama, que vesti. Eu me senti muito melhor e me
acostumei um pouco com a dor quando falava.
Depois de me sentir revigorada, subi de volta na cama e gesticulei para
Roman vir se juntar a mim. Ele deitou ao meu lado enquanto eu
descansava minha cabeça em seu peito.
Roman beijou minha testa e colocou a mão espalmada em cima da
minha barriga. Ele sorriu para mim com orgulho.
— Raina? — Ele sussurrou.
— Hmm?
— Quer saber o que o médico me disse?
Eu me virei para encará-lo, tentando descobrir se sua expressão era
feliz.
Ele estava sorrindo. Seus olhos exaustos ainda conseguiram piscar
para mim.
— Você vai ser mamãe.
Eu estudei seu rosto por um momento e coloquei minha mão em
cima da minha barriga sob a dele. Meus olhos se fecharam e respirei
fundo. Estou grávida.
Eu olhei nos olhos cheios de alegria de Roman quando eles brilharam
de volta para mim. De alguma forma, o que ele me disse não me chocou.
Eu senti como se estivesse esperando essa notícia. — Você vai ser papai,
— eu sussurrei. Lágrimas caíram dos meus olhos enquanto eu
pressionava minha testa na dele. Fechando meus olhos novamente,
sucumbi a este momento.
Eu me senti assustada, feliz, nervosa, abençoada de pura felicidade
aqui nos braços de Roman enquanto conversávamos sobre nosso futuro e
nossos sonhos.
*
DOZE SEMANAS DEPOIS
— Ok, minha turma inteligente, peguem uma folha da frente da classe
e use seu fim de semana para completar o teste de aventura. Lembre-se
de se divertir!
Eu olhei em volta para os rostos brilhantes e curiosos espalhados pela
minha sala de aula. Eu sorri enquanto acenava para meus alunos.
O ar estava fresco nesta tarde tranquila de sexta-feira. Coloquei meu
casaco e saí da sala de aula.
Acenei uma despedida aos meus colegas enquanto a brisa do outono
soprava ao meu redor e ri quando avistei o carro de Roman na frente. Ele
tinha uma pequena fila de crianças esperando para sentar em seu carro e
brincar com o volante.
— Uh. O que está acontecendo aqui? — Eu sorri, levantando minha
sobrancelha enquanto me aproximava deles.
— Desculpe, crianças. É melhor eu levar a Sra. Marigold para casa
antes que ela dê a vocês mais lição de casa. — Roman sorriu quando eu
deslizei para o banco do passageiro.
— Sr. Marigold, a Sra. Marigold te dá dever de casa também? — Uma
voz doce veio do grupo de crianças. Roman fez uma cara séria.
— Claro! Tenho de terminar todos os meus deveres de casa, ou a Sra.
Marigold não me deixa dirigir meu carro. — O grupo de crianças ficou
sem ar quando eu balancei minha cabeça com diversão.
— Sr. Marigold? — Uma jovem gritou.
— Sim?
— Por que a Sra. Marigold tem uma barriga grande?
Minha cabeça foi para trás e minha mão encontrou minha boca para
me impedir de cair na gargalhada. Roman tentou manter o rosto sério,
mas eu poderia dizer que ele estava lutando.
— Porque ela terá um bebê.
— De onde vêm os bebês?
— Oh, olhe a hora! Tenho certeza de que seus papais e mamães estão
procurando por todos vocês. Não quero que eles fiquem preocupados
agora. — Roman deu partida no motor, pronto para acelerar com pressa.
— Vejo você na segunda-feira, bem cedo, minha turma inteligente. —
Acenei enquanto saímos do estacionamento.
— Então, o policial Campbell me ligou hoje cedo, — Roman proferiu,
olhando de mim para a estrada.
— Eles estão à procura do Jason Humphrey. Ele vai ficar preso por um
longo tempo.
Suspirei com as palavras de Roman e relaxei no assento de couro
aquecido.
Esperei muito tempo para ouvir essas notícias.
Eu temia que Jay se safasse com o que fez, pois ninguém tinha ouvido
ou visto ele. Ele foi pego tentando deixar o país.
Estacionamos do lado de fora de nossa casa e caminhamos até a casa
principal. Tomou-se nossa rotina passar as tardes com Richard e Sheila.
As esferas esmeraldas de Richard brilharam quando chegamos. Ele
andava com uma bengala agora. Seu corpo estava fraco e tão frágil.
Eu sabia o quanto doía em Roman ver seu pai assim, mas tomava cada
momento que passamos juntos muito mais precioso.
Esses pequenos momentos eram cheios de amor e risos, valorizando
cada palavra, cada abraço.
Não sabíamos quanto tempo ainda tínhamos com o incrível Richard
Marigold, mas estávamos determinados a fazer cada segundo contar.
Capítulo 32
EPÍLOGO
RAINA

Os meses se passaram e minha barriga foi ficando maior a cada


minuto. Eu me sentia como uma baleia ambulante e falante.
Claro, Roman ainda me fazia sentir como se eu fosse a garota mais
bonita do mundo. As vezes não sei como ele faz isso sem esforço.
Eu estava feliz, realmente feliz. Contudo, a ideia de ser mãe me
assustava. Isso me abalou profundamente porque eu queria ser o melhor
que poderia ser para o nosso bebê.
Eu nunca quis decepcionar esse bebê. Eu nunca quis que esse bebê
passasse pelo que eu passei enquanto crescia. No entanto, bastava um
olhar para Roman e eu sabia o quão sortuda essa criança realmente era.
Ele aceitou ser pai imediatamente. Sua felicidade disparou por ele,
iluminando qualquer sala em que entrasse.
Roman e eu não estávamos juntos há muito tempo. Nós dois
sabíamos que isso era repentino, mas algo parecia tão certo, tão perfeito
em se tomar pais.
Tudo sobre Roman estava se tomando irresistível para mim, desde
observá-lo se envolver com compras para o bebê até projetar o berçário
do bebê com Sheila e eu.
Ele sentou e leu todos os livros infantis sob o sol e se tomou o animal
de estimação do professor nas minhas aulas de Lamaze.
Se eu pensava que Roman era superprotetor antes, ele estava em um
nível totalmente novo agora. Ele não me deixava curvar, pegar nada ou
escalar nada.
Eu reviraria meus olhos com o quão severo ele se tomou, mas nunca o
achei mais adorável.
Era uma noite de inverno aconchegante enquanto eu estava deitada
na banheira, com bolhas borbulhando ao meu redor. Os sais de banho de
lavanda me acalmaram enquanto eu inalava a bebida fumegante. Roman
sabia como preparar um bom banho.
Eu sorri para mim mesma, sabendo que ele estava esperando lá fora,
apenas no caso de eu adormecer aqui.
— Estou pronta! — Eu gritei da banheira com um sorriso malicioso no
rosto. Só eu sabia que não tinha nenhuma intenção de realmente sair,
mas queria que Roman entrasse.
— Tudo bem, vamos lá. — Roman entrou, correndo em direção à
grande banheira com uma toalha. Ele franziu as sobrancelhas quando
percebeu que eu ainda estava deitada.
— Quer se juntar a mim? — Eu ronronei, mordendo meu lábio
inferior.
Roman recuou e ergueu uma sobrancelha. Inclinando a cabeça para o
lado, ele me lançou um sorriso malicioso.
— Boa tentativa, princesinha. Vamos lá. — Ele me levantou com seus
braços e colocou a toalha em volta do meu corpo enquanto eu franzia a
testa. Eu cruzei os braços e saí do banheiro.
Eu podia sentir Roman assistindo meu acesso de raiva se desenrolar.
Ele parecia delicioso em uma camiseta branca e um par de jeans azul
oceano. Seu cabelo tinha aquela aparência bagunçada que eu adorava.
Quanto mais eu olhava para ele, mais eu o queria. Hormônios
estúpidos!
— Querida? — Roman se aproximou enquanto eu procurava em seu
guarda-roupa por uma camiseta para usar na cama. — Você sabe que eu
só quero ser cuidadoso, Raina. — Senti seu peito nas minhas costas. Seus
braços quentes voaram ao meu redor.
Eu me virei para encará-lo. Ele tinha aquele olhar intenso esboçado
em seu rosto. Isso só o fez parecer ainda mais lindo. O que há de errado
comigo?
Eu puxei sua camiseta, plantando beijos suaves ao longo de seu peito
duro. — Você não vai desistir, não é? — Ele respirou. Minhas mãos
caíram em volta do seu pescoço.
— Eu te quero, Roman. Eu preciso de você... — Minhas palavras sem
fôlego foram interrompidas quando Roman puxou minha toalha para o
chão.
— Então, a transa desta manhã não foi suficiente? — Seus lábios
roçaram meu pescoço. Eu gemia, sorrindo.
— Não, — eu disse.
— E quanto à quando você interrompeu meu treino?
Eu ri, lembrando de antes quando, de calcinha e sutiã, eu dei de cara
com Roman e transamos loucamente no chão do ginásio. Opa.
Roman levou meu seio agora muito grande em sua boca. Eu respirei
fundo, arranhando sua pele.
— Curve-se cuidadosamente na cama.
Obedeci ao seu comando e sorri quando ele empurrou uma almofada
macia sob minha barriga. Senti suas mãos grandes agarrarem minha
cintura por trás antes de sua ponta dura provocar minhas dobras
molhadas.
Ele aliviou em mim devagar e com cuidado. Eu gemia baixinho com a
sensação de como estar esticada em tomo dele.
— Você está bem?
— Mmm, sim.
Ouvir-me gemer o estimulou a se enfiar em mim mais rápido. Ele
ainda estava sendo tão cuidadoso, mas conseguia fazer amor comigo tão
bem, como sempre.
Roman faria absolutamente qualquer coisa para me agradar e eu o
amava por isso. Meu amor por ele era tão poderoso. Isso me levantava.
*
— Ok. Foi um chá de bebê e tanto. — Eu ri, devorando a cobertura do
bolo de chocolate no balcão da cozinha.
— Não foi? Estou tão bêbado! — Jane soluçou, olhando para a
bagunça.
Foi um dia agitado, cheio de jogos e presentes.
Roman era péssimo em esconder surpresas. Eu tive de fingir estar
chocada quando entrei no salão depois que ele me levou para tomar café.
Jane imediatamente soube que eu sabia, e caímos na gargalhada,
fazendo Roman franzir a testa e revirar os olhos para nós.
— Eu não acho que você deveria incluir vodca em todos os jogos, Jane.
— Eu ri. Eu não me importava em não beber álcool.
Havia comida suficiente e guloseimas doces para me manter ocupada
o dia todo, e ver todos ficarem bêbados lentamente foi muito mais
divertido do que eu pensei que seria.
Hetty e Lilly foram algumas das últimas convidadas a sair, dando um
beijo de despedida em mim. Hetty combinou de ficar por uma semana
depois que o bebê nascesse, e eu mal podia esperar.
Grace estava esperando que seu noivo viesse buscá-la. Eu sei, noivo!
Parecia estranho que ela não trabalhasse mais aqui, muito menos o fato
de que ela estava recém-noiva.
Quando o som da campainha ecoou pela casa, todos nós corremos em
direção à porta.
— Ei, Adam! — Eu sorri, puxando-o para dentro de casa. Ele sorriu,
olhando para a minha barriga muito perceptível.
— A gravidez combina com você, Rae. Como foi, pessoal? — Ele
perguntou, pegando Grace em seus braços e dando um beijo em sua
bochecha.
— Foi incrível, — Grace balbuciou, tentando pular sobre ele.
— Jane se encarregou de fazer com que todos estivessem bêbados. —
Eu ri.
Adam balançou a cabeça. — Certa vez, Jane deixou todos bêbados em
uma reunião de equipe. — Ele olhou para ela e piscou.
— Sim, sim. — Ela mostrou a língua antes de desaparecer na sala.
Adam se despediu de todos nós antes de sair com Grace.
*
Mais tarde naquela noite, eu decidi assaltar a geladeira por um pote de
sorvete.
— Você vai mesmo comer a caixa inteira de novo? — Roman sorriu
para mim. Eu levantei minha colher e acenei para ele.
— Você tem algum problema com isso? — Eu fiz uma careta,
assistindo Roman levantar as mãos em sinal de rendição simulada.
Passei por ele em direção à sala e abri a porta, mas engasguei com a
visão diante de mim.
Havia dois corpos nus avidamente montados um no outro no sofá.
Gemidos altos de prazer explodiram em meus tímpanos antes que eu
registrasse o que diabos estava acontecendo. Roman casualmente veio
atrás de mim.
— Não, espere. Roman, não vá eu...
— Você está brincando comigo!? — Roman gritou antes de voar de
volta para fora da sala, cobrindo os olhos.
— Eu vou ter que queimar aquele sofá. Melhor ainda, queimar toda
aquela sala. Deus! — Ele explodiu, andando em tomo da cozinha.
Eu estava uma pilha de risos e quase fiz xixi ali mesmo. Talvez eu
tenha mesmo feito xixi.
— Bem, já era hora! — Eu cantei a partir do corredor, ainda tentando
controlar meu riso.
— Mark, dê o fora daqui!
Jane foi a primeira a correr e enfrentar Roman. — Eu vou te matar! —
Ele rugiu.
— Não, você não vai. — Eu intervim.
— Ro? Vamos lá, eu posso explicar. — Mark timidamente colocou a
cabeça para fora da porta da sala.
— Oh, sim? Você pode explicar por que está transando com minha
prima no meu sofá?
— Se isso faz você se sentir melhor, Roman, nós estamos 'transando'
por um tempo já, — Jane admitiu, tentando reprimir um sorriso.
— Jane! — Mark avisou. — Olha, Ro, você me conhece. — Ele deu a
Roman um olhar severo. — Eu a amo.
Eu não poderia evitar o sorriso enorme estampado em meu rosto com
o que se desenrolava diante de mim.
— Nós nos amamos, Roman. — Jane sorriu, pegando a mão de Mark
na sua.
Roman balançou a cabeça. Ele não podia evitar o sorriso que se
instalou em seus lábios.
— Acho que sempre soube. — Ele suspirou, cutucando Mark no braço.
— Mas meu sofá, sério?
— Sim, ok, isso pode ter sido um pouco inapropriado. — Jane riu.
Eu me senti muito feliz por eles. Finalmente, eles estavam juntos
depois do que pareceu tanto tempo. Mark amava Jane muito antes que
eu percebesse. Meu coração ficou feliz por ambos.
*
Sentir-se livre, para ser feliz, viver sem medo era tudo que eu sempre
sonhei que seria minha vida e muito mais.
Eu cresci em uma casa onde o medo era meu companheiro, me
seguindo como uma sombra, exceto que essa sombra não desapareceu no
escuro.
Tive de encontrar forças dentro de mim para entender que era
alguém. Eu sou alguém.
Todos desejamos poder voltar no tempo, mas, na verdade, devemos
trilhar os caminhos que fazemos, aprender as lições que nos são
destinadas.
Não soube o que pensar quando soube que meu pai havia deixado
Vivian em seu trágico momento de necessidade. A filha deles foi colocada
atrás das grades por abrigar um fugitivo, minha meia-irmã.
Alguém que deveria ser minha amiga, ser minha companheira.
Deveríamos crescer rindo e brincando juntas.
Vivian agora vivia sozinha, isolada por todos que conhecia. Ninguém
queria mais vê-la.
Acho que, por todas as coisas que perdi ao crescer, recebi dez vezes
mais quando fui condenada a casar.
Esse era o meu destino, e eu nunca poderia ter acreditado naquela
época que poderia ser tão feliz com minha vida.
Estar apaixonada, ter uma vida crescendo dentro de mim, era o
milagre que Deus me concedeu. Deus ouviu todas as minhas orações,
todas aquelas noites em que me senti assustada e sozinha.
Minhas lágrimas de medo tomaram-se lágrimas de felicidade.
Não tínhamos muito tempo até a chegada do bebê. Todos os
preparativos foram feitos e agora era apenas um jogo de espera.
Roman segurou minha mão enquanto caminhávamos pelos jardins da
casa. Olhei em volta, apreciando a vista como eu sempre fazia. Eu olhei
para Roman, que estava olhando para frente.
— Eu te amo, — eu sussurrei, observando seus olhos cor de esmeralda
brilharem em minha direção. Seus lábios se curvaram em um sorriso
caloroso que derreteu meu coração. Ele era tão lindo.
— Não mais do que eu te amo, Raina. — Ele deu um beijo na minha
testa.
Caminhamos em silêncio enquanto eu pensava em como minha vida
era o que tinha se tomado. Dei meu coração a Roman Marigold. Ele me
deu felicidade, segurança, proteção e muito amor.
Ele invadiu minha vida, arrebatando meus medos, meus pesadelos e
transformando-os em sonhos celestiais de esperança.
Quando eu estava com medo, presa e sozinha no escuro, Roman
quebrou as paredes e me puxou para fora.
O amor de Roman abriu meus olhos e me deu força para lutar e me
curar.
*
Richard dormia enquanto Roman e eu entrávamos em seu quarto.
Sheila deu um tapinha gentil em seu ombro.
— Richard, acorde, querido.
Richard fracamente abriu os olhos. Ele estava um pouco atordoado,
mas aos poucos percebeu o que acontecia ao seu redor.
— Pai? Gostaríamos que você conhecesse alguém. — Roman falou
suavemente.
Os olhos de Richard viajaram em minha direção e depois para a
menina adormecida em meus braços. Ele cuidadosamente se levantou,
com seus lábios se curvando em um sorriso orgulhoso. Ele riu enquanto
estendia os braços lentamente.
Eu cuidadosamente a coloquei nos braços de Richard. Ele olhou para
ela com olhos cheios de temor.
— Pai, conheça sua neta, Emilia Rose Marigold. — Os olhos de
Richard se encheram de lágrimas enquanto ele ria de Emilia. Ela abriu os
olhos dourados e olhou para ele.
— Olá, Emilia. Eu sou seu avô. Você é tão linda, — ele sussurrou. —
Eu te amo muito. O vovô sempre estará com você. — Richard beijou a
cabecinha de Emilia antes de nos olhar com olhos orgulhosos e
agradecidos.
Richard Marigold faleceu numa tarde de terça-feira quando o sol
brilhou mais forte, o vento soprou mais forte e os pássaros cantaram
mais alto.
*
Corro em direção a uma luz que pisca e brilha ao redor das árvores
balançando. Paro perto de um lago e vejo os raios dourados dançarem ao
longo das ondas serenas.
Uma luz aparece. Ela me circunda, me abraça, me aquece e me cura.
Continua no Livro 2…
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