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AO EXCELENTÍSSIMO SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA


VARA DE FAMÍLIA E SUCESSÕES DA COMARCA DE PALMAS/TO

MARIA DAS DORES FEITOSA XAVIER, brasileira, casada, engenheira agrônoma, RG nº


00000, inscrita no CPF sob nº 0000000, e-mail: mariadoresfeitosa@gmail.com, residente e
domiciliada na rua 00, n 00º, bairro: 00, CEP: 0000000, PALMAS/TO; através de seus
procuradores ELLEN THAIS OLIVEIRA SANTOS e JOÃO EDUARDO PINTO PIRES,
conforme procuração anexa (doc. 1 – Procuração), com endereço eletrônico
oliveiraepires@gmail.com, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência com base
no art. 226, § 6º da Constituição da República de 1988, art. 1.571 e seguintes do Código Civil,
art. 1.583 e seguintes do Código Civil, art. 186 c/c art. 1.724 ambos do Código Civil e Lei nº
5.478/68, ajuizar:

AÇÃO DE DIVÓRCIO LITIGIOSO c/c PARTILHA DE BENS c/c GUARDA c/c


ALIMENTOS c/c ALIMENTOS PROVISÓRIOS c/c DANOS MORAIS

Em face de JOÃO DA CUNHA XAVIER, brasileiro, casado, advogado, inscrito no CPF nº


000000, residente e domiciliado na rua 0000, nº 000, bairro 000, CEP: 0000000, Palmas/TO,
pelas razões de fato e de direito que passa a aduzir:

I - DOS FATOS

No dia 20 de setembro de 2012, aconteceu o enlace matrimonial entre Maria das


Dores Feitosa Xavier e João da Cunha Xavier mediante o regime de COMUNHÃO PARCIAL
DE BENS conforme se demonstra na certidão de casamento anexa (doc 2 - certidãocasamento).
Como frutos da união entre eles, nasceram 2 (dois) filhos, Joaquim Feitosa Xavier e Joaquina
Feitosa Xavier, hoje com 8 (oito) e 5 (cinco) anos, respectivamente (doc 3 -
certidaonascimento).

Quando o casal convolou núpcias, Maria das Dores que era estudante de Agronomia, já
detinha um imóvel consubstanciado em uma fazenda que herdou do seu avô cuja avaliação
estava em R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais) (doc 4 - registrodoimóvel). O referido bem

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era destinado ao plantio dos cereais, soja e milho. Seu então marido, João que era estudante de
Direito, também já possuía uma casa no valor de R$ 700.000,00 (setecentos mil reais) (doc 5 -
registrodoimóvel) e um automóvel no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais) (doc 6 -
registrodoveículo).

A partir do casamento, Maria foi morar na casa de João. Durante a sociedade conjugal,
João se formou e como fruto do trabalho adquiriu uma lancha no valor de R$ 300.000,00
(trezentos mil reais) (doc 7 - registrodalancha) e um apartamento, por meio de um
financiamento junto a Caixa Econômica Federal, no valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de
reais) (doc 8 - registrodoimóvel), o qual está alugado ao preço de R$ 2.000,00 (dois mil reais)
por mês (doc 9 - contratodealuguel). O valor das parcelas do financiamento do apartamento é
de R$ 3.000,00 (três mil reais) por mês e já foram adimplidas 50% do valor do bem (doc 10 -
certidaofinanciamento).

Atualmente, João aufere renda de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) como fruto da sua
profissão e Maria, que administra a fazenda, principalmente em razão da formatura em
agronomia, percebe renda de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) por ano.

A vida do casal passou a sofrer grande desgaste e, no final de 2021, tornou-se


insuportável porque Maria tomou ciência de que João mantinha um relacionamento paralelo
com uma ex-colega desde os tempos de faculdade, de sorte que ambos, de comum acordo,
decidiram por bem se divorciar. Todavia, não houve acordo quanto à partilha do patrimônio,
tampouco quanto à guarda dos filhos.

Diante dos fatos narrados em tela, Maria deseja que esse juízo decrete o divórcio e torne
a vida conjugal extinta, tendo em vista não haver mais possibilidade de vida em comum em
razão da perda do affectio maritalis, bem como, decida pela guarda dos filhos, alimentos e pela
divisão do patrimônio construído durante a vida conjugal.
II - DA AUDIÊNCIA CONCILIATÓRIA
A autora não tem interesse na audiência conciliatória, como dispõe o artigo 319, inciso
VII do Código de Processo Civil. Em função de já terem sido realizadas inúmeras tentativas de
acordo, todas elas infrutíferas.
III - DOS DIREITOS
Do divórcio
O requerimento do divórcio se deu com o objetivo de evitar maiores desgastes na vida
da Autora, principalmente em razão da impossibilidade da vida em comum como descrito
acima.
A referida hipótese fática está prevista no artigo 1.571 do Código Civil brasileiro
vigente, como também no artigo 226 da Carta Constitucional de 1988, in verbis:

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Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do


Estado.

§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.

Art. 1.571. A sociedade conjugal termina:

IV - pelo divórcio.

Além disso, o doutrinador Fábio Ulhoa, em sua obra Curso de Direito Civil vol. 5,
afirma que “o divórcio é o meio de dissolução do casamento válido enquanto vivos os dois
cônjuges”, o que corresponde com os textos normativos (ULHOA, 2020).
Atualmente, é desnecessário o ajuizamento prévio da ação de separação para o fim da
dissolução da sociedade conjugal, com isso, o direito de requerer o divórcio foi concedido à
Autora.

CONSTITUCIONAL - FAMÍLIA - DISSOLUÇÃO DO


CASAMENTO CIVIL DIVÓRCIO - REQUISITO PRÉVIO E
TEMPORAL - SEPARAÇÃO JUDICIAL OU DE FATO -
EMENDA CONSTITUCIONAL N.º 66/2010 – SUPRESSÃO
EXPLICITAÇÃO EXISTENTE NO PREÁMBULO -
INCONTROVÉRSIA. Para fins de divórcio, mostra-se suficiente
simples pedido do (s) cônjuge (3), sem que esteja atrelado a qualquer
causa de pedir, considerando suprimido, ademais, o requisito de
prévia separação judicial por mais de I (um) ano ou de comprovada
separação de fato por mais de 2 (dois) anos (TJ-MG - Apelação
Cível 1.01 05. 09.302318-9/ 001, Rel. Des. (a) Manuel Saramago,
5ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 12/01/2012, publicação da
súmula em 24/01/2012) (Grifo não original).

Desta forma, a declaração de divórcio encerra o vínculo conjugal, justamente por não
haver mais possibilidade de vida em comum em virtude da falta de affectio maritalis.
Da partilha dos bens
Verifica-se que as partes elegeram o regime de comunhão parcial de bens, conforme
atesta a certidão de casamento anexa (doc 2 - certidãocasamento), aplicando-se as disposições
do artigo 1.658 do Código Civil:

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Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, comunicam-se os bens


que sobrevierem ao casal, na constância do casamento, com as
exceções dos artigos seguintes (Grifo não original).

Sobre o assunto, os professores Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho


ensinam que “podemos definir o regime de comunhão parcial de bens como sendo aquele em
que há, em regra, a comunicabilidade dos bens adquiridos a título oneroso na constância do
matrimônio, por um ou ambos os cônjuges, preservando-se, assim, como patrimônio pessoal e
exclusivo de cada um, os bens adquiridos por causa anterior ou recebidos a título gratuito a
qualquer tempo” e complementam afirmando que “genericamente, é como se houvesse uma
‘separação do passado’ e uma ‘comunhão do futuro’ em face daquilo que o casal, por seu
esforço conjunto, ajudou a amealhar” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2020, p. 383).
Observa-se que as partes, na constância do casamento, adquiriram bens pelo seu esforço
mútuo, que deverão ser partilhados entre ambos de forma equivalente.
Especificamente, constata-se que as partes adquiriram uma lancha no valor de R$
300.000,00 (trezentos mil reais) (doc - lancha1) e financiaram um apartamento na Caixa
Econômica Federal no valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) (doc - extrato1), sendo
tais bens frutos do trabalho oneroso de ambos e, portanto, incide a regra do artigo 1.658 do
Código Civil.
Veja imagens dos referidos bens adquiridos pelas partes durante o matrimônio:

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Cabe ressaltar que as partes adquiriram em comum acordo, por meio de financiamento
na Caixa Econômica Federal, um apartamento no valor total de R$ 1.000.000,00 (um milhão

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de reais), com incidência de 30% (trinta por cento) de juros, perfazendo o montante total de R$
1.302.000,00 (um milhão e trezentos e dois mil reais).
Na ocasião, parcelaram o valor de R$ 1.302.000,00 (um milhão e trezentos e dois mil
reais) em 434 (quatrocentos e trinta e quatro) vezes de R$ 3.000,00 (três mil reais). Assim,
verifica-se que as partes, até o presente momento, quitaram 217 (duzentos e trinta e sete)
parcelas, no valor total de R$ 651.000,00 (seiscentos e cinquenta e um mil reais), o que
corresponde a 50% (cinquenta por cento) do quantum financiado, conforme se pode observar
no Extrato de Financiamento de Imóvel anexo (doc - extrato1):

Sobre o assunto, a jurisprudência é firme no sentido que a aquisição de imóvel


mediante financiamento pelo casal, quando não completamente quitado na constância do
casamento, implica na partilha apenas dos valores pagos até a dissolução de fato da
sociedade. Consigne-se que a meação deve incidir tão somente sobre os valores pagos na

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constância do casamento, excluindo-se do cálculo a totalidade do bem, sob pena de


enriquecimento indevido da parte que não permanecer responsável pelo pagamento das
parcelas remanescentes do financiamento após a dissolução do vínculo conjugal.
A propósito:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE DIVÓRCIO CONSENSUAL.


PARTILHA DE IMÓVEL FINANCIADO. AQUISIÇÃO NA
CONSTÂNCIA DO CASAMENTO. DIREITO À MEAÇÃO DO
VALOR PAGO. SENTENÇA REFORMADA.1. A aquisição de
bem imóvel mediante contratação de financiamento pelo casal,
quando não quitado na constância do casamento, autoriza a
partilha tão somente dos valores correspondentes às prestações
pagas até a separação de fato. 2. A meação deve incidir sobre o
montante pago durante a união e não sobre a totalidade do bem,
sob pena de enriquecimento indevido, somado ao fato de que
após a separação de fato apenas a apelante ELIDIANE
SOARES DOS SANTOS assumirá o pagamento das parcelas
vincendas. 3. APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E PROVIDA.
(TJ-SC - AC nº 5507057-78.2019.8.09.0051, 4ª Câmara Cível, Rela.
Desa. Elizabeth Maria da Silva , DJ de 29/06/2020) (Grifo não
original).

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE DIVÓRCIO LITIGIOSO.


REGIME DE COMUNHÃO PARCIAL DE BENS. PARTILHA
DE IMÓVEL FINANCIADO. MEAÇÃO SOBRE O MONTANTE
PAGO DURANTE A UNIÃO. OBJETOS QUE GUARNECEM O
APARTAMENTO. DIVISÃO. IMPUGNAÇÃO À CONCESSÃO
DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA. 1. A aquisição de bem imóvel
mediante contratação de financiamento pelo casal, quando não
quitado na constância do casamento, autoriza a partilha tão
somente dos valores correspondentes às prestações pagas até a
separação de fato. A meação deve incidir sobre o montante pago
durante a união e não sobre a totalidade do bem, sob pena de
enriquecimento indevido. 2. No que diz respeito aos bens que estão
dentro do apartamento, considerando a ausência de provas nos autos
de que já foram partilhados, tampouco a existência de notas fiscais
que demonstrem a aquisição após o matrimônio, também devem ser
divididos entre as partes, na proporção de 50% (cinquenta por cento)
para cada. 3. Consoante orientação jurisprudencial pacificada nesta
Corte de Justiça, a revogação da gratuidade da justiça, mediante
requerimento da parte contrária, condiciona-se à comprovação do

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desaparecimento das condições que ensejaram a sua concessão, o


que não se verifica na situação em apreço. RECURSO
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO (TJ-GO -
Apelação Cível: 0013091-97.2017.8.09.0051, Rel. Des(a).
FAUSTO MOREIRA DINIZ, Órgão Julgador: 6ª Câmara Cível,
Julgamento: 7 de Outubro de 2020, Publicação: DJ de 07/10/2020)
(Grifo não original).

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RECONHECIMENTO E


DISSOLUÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL. PARTILHA DE BENS
APÓS O FIM DA UNIÃO ESTÁVEL. IMÓVEL E VEÍCULOS
FINANCIADOS. MEAÇÃO DO FINANCIAMENTO.
PERCENTUAL. VALOR ATUAL DE MERCADO DOS BENS.
PARCIAL PROVIMENTO. I. Na união estável em que não é
definido o regime de bens, todos os bens adquiridos na constância
da união devem ser partilhados, pois, passam a integrar o patrimônio
comum do casal, pouco importando se houve ou não contribuição
financeira por ambos os companheiros. II. A partilha de bem
financiado deve abranger o valor quitado até a separação do
casal, porque inviável cogitar-se de esforço comum, após o
respectivo rompimento. III. Em se tratando de bens financiados
junto a instituições financeiras, somente o percentual
equivalente às parcelas pagas na constância da união estável
deve ser partilhado, considerando o valor atual de mercado
desses bens, a ser apurado em fase de liquidação de sentença (TJ-
MG - AC: 0408631-42.2012.8.13.0701, Rel. Washington Ferreira,
Órgão Julgador: Câmaras Cíveis / 1ª CÂMARA CÍVEL,
Julgamento: 11 de Agosto de 2020, Publicação: 11/12/2020) (Grifo
não original).

APELAÇÃO CÍVEL. DIVÓRCIO LITIGIOSO. PARTILHA DO


PATRIMÔNIO. CASAMENTO. REGIME DE COMUNHÃO
PARCIAL DE BENS. INCOMUNICABILIDADE DOS BENS
POR SUB-ROGAÇÃO. AUSÊNCIA DE PROVAS. SENTENÇA
MANTIDA. 1. No regime de comunhão parcial de bens, adotado
pelas partes, são partilhados os bens adquiridos durante a vida
em comum, exceto aqueles previstos no art. 1.659, do Código
Civil. 2. As partes litigantes permaneceram juntas por quase 30
(trinta) anos, sendo impossível que durante todo esse tempo o
apelado não tenha contribuído, de alguma forma, para a constituição
de patrimônio do casal. 3. Não há dúvidas de que os dois bens
imóveis objeto da partilha foram adquiridos e pagos integralmente

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na constância do casamento. 4. Não há provas de que os imóveis


foram adquiridos somente com valores provenientes da herança
recebida pela morte do genitor da apelante, até porque na Certidão
lavrada pelo CRI de Araguaína, consta que o imóvel urbano foi
adquirido pela apelante e pelo apelado, e ainda, quanto ao imóvel
localizado no Projeto de Assentamento, constam certidões da
Superintendência Regional do INCRA no sentido de que tanto a
apelante quanto o apelado são assentados. 5. Recurso conhecido e
improvido. (TJ-TO - Apelação Cível 0008333-50.2019.8.27.0000,
Rel. ETELVINA MARIA SAMPAIO FELIPE, GAB. DA DESA.
ETELVINA MARIA SAMPAIO FELIPE, julgado em 29/04/2020,
DJe 15/05/2020 17:54:43) (Grifo não original).

Nesse mesmo sentido, preleciona a jurista Maria Berenice Dias, nestas palavras:
“Adquiridos bens de forma parcelada ou através de financiamento, a fração paga durante o
período da união deve ser partilhada. O cálculo é feito considerando a percentagem do imóvel
quitado durante a vida em comum e não o valor nominal das prestações pagas” (DIAS, 2021,
p. 606).
No presente caso, observa-se que a parte autora e o requerido quitaram o valor de R$
651.000,00 (seiscentos e cinquenta e um mil reais) durante os anos que permaneceram juntos,
motivo pelo qual é plausível que tal montante seja dividido de forma igualitária entre ambos.
Ainda, considerando que na maior parte do tempo as crianças permanecerão com a
autora, esta deseja que o imóvel permaneça sob sua titularidade e, por consequência,
responsabilize-se pelo pagamento das parcelas remanescentes.
À vista disso, em observância ao que determina a norma, os bens adquiridos pelos
cônjuges na constância do casamento, considerando as parcelas já quitadas no caso de
financiamento, devem ser partilhados entre ambos. No caso das partes, tais bens são:
❖ Lancha xxxx, no valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) (doc - lancha1);
❖ Parcelas correspondentes ao financiamento do imóvel xxxx, quitadas até a dissolução
de fato da sociedade conjugal, no valor de R$ 651.000,00 (seiscentos e cinquenta e um
mil reais) (doc - extrato1).
Dessa forma, a autora requer que a partilha dos bens listados acima seja concretizada
na proporção de 50% (cinquenta por cento) para cada uma das partes. Ainda, deseja permanecer
com o imóvel financiado, encarregando-se de pagar as parcelas remanescentes.

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Dos bens incomunicáveis


Contudo, observa-se que as partes, quando contraíram núpcias, já possuíam bens, os quais
são incomunicáveis, em virtude de advirem de causas anteriores ao casamento, nos termos do
artigo 1.661 do Código Civil:

Art. 1.661. São incomunicáveis os bens cuja aquisição tiver por


título uma causa anterior ao casamento.

É certo que devem ser excluídos da partilha os bens que antes do casamento pertencia
exclusivamente a uma das partes. Nesse sentido, verifica-se que quando contraíram núpcias,
em 20 de setembro de 2012, o requerido possuía o automóvel xxxx (doc - automovel1) e o
imóvel xxxx (doc - imovel2), enquanto que a parte autora era proprietária da Fazenda xxxxxx.
Assim, ainda que os cônjuges residam no imóvel xxxx, utilizem o automóvel xxxx para
locomoção e nos finais de semana visitem a Fazenda xxxxx (doc - fazenda1), tais bens são
incomunicáveis, por não terem sido adquiridos pelo esforço mútuo dos cônjuges durante o
vínculo conjugal.
Nesse sentido:

CIVIL E PROCESSO CIVIL. DIVÓRCIO LITIGIOSO. REGIME


DE COMUNHÃO PARCIAL DE BENS. PARTILHA. BEM
IMÓVEL. DOAÇÃO ANTERIOR AO CASAMENTO.
INCOMUNICÁVEL. AUTOMÓVEIS. PARTILHA. TESE DE
SIMULAÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDICO. COMPETÊNCIA DO
JUÍZO CÍVEL. 1. É pacífico o entendimento jurisprudencial no
sentido de que o julgamento antecipado da lide não implica
cerceamento de defesa, na hipótese em que as provas requeridas são
prescindíveis para o julgamento da lide, estando os autos
devidamente aparelhados com todos os elementos de convicção
necessários para o julgamento do feito. 2. Em regra, comprovada
a cooperação mútua dos cônjuges para a aquisição do bem, deve
o mesmo ser partilhado em 50% (cinquenta por cento) para
cada um, haja vista que a comunhão parcial implica na
comunicabilidade de todos os bens futuros do casal, nos termos
do art. 1.658 do Código Civil, hipótese dos automóveis em
contenda. 3. Entretanto, nos termos do artigo 1.659 e seguintes
do Código Civil, excluem-se da comunhão os bens que cada
cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na
constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-
rogados em seu lugar. 4. A controvérsia acerca de suposta
simulação para os fins de desconstituir o negócio jurídico deve ser

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dirimida na via processual adequada e no juízo cível competente, e,


se for o caso, instaurada posterior sobrepartilha. 5. Deu-se parcial
provimento aos recursos (TJ-DF - AC: 0008888-67.2016.8.07.0020,
Rel. FLAVIO ROSTIROLA, Órgão Julgador: 3ª TURMA CÍVEL,
Julgamento: 12 de Dezembro de 2018, Publicado no DJE :
19/12/2018 . Pág.: 396/400) (Grifo não original).

APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS DE TERCEIRO. AÇÃO DE


PETIÇÃO DE HERANÇA EM FASE DE CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA. ESPOSA DO EXECUTADO. DEFESA DE
MEAÇÃO. BENS ADQUIRIDOS POR HERANÇA.
CASAMENTO SOB REGIME DE COMUNHÃO PARCIAL
DE BENS. BEM INCOMUNICÁVEL. AUSÊNCIA DE
INTERESSE DE AGIR. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ.
INOCORRÊNCIA. SENTENÇA MANTIDA. 1. Evidencia-se a
ausência do interesse de agir da embargante/apelante, casada
sob o regime de comunhão parcial de bens, quanto à defesa do
patrimônio (meação) discutido nos autos da ação de petição de
herança e nulidade de partilha, porquanto, na hipótese, trata-se
de bens incomunicáveis, adquiridos pelo esposo da parte por
herança de seus falecidos genitores. Inteligência do artigo 1.659,
I, do Código Civil. 2. Tendo em vista que a sentença, ora recorrida,
foi publicada na vigência do Código de Processo Civil de 1973, é
inadequada a impugnação ao valor da causa realizada em preliminar
de contrarrazões, e não de forma incidental, revelando
impropriedade da via eleita e acarreta tanto a sua inadmissibilidade,
quanto a incidência de presunção legal de aceitação do valor
atribuído pela autora. 3. Não há falar-se em condenação da parte
recorrente em litigância de má-fé, haja vista que, não se resignando
com as conclusões do decisum vituperado, assiste-lhe o direito de
valer-se das vias recursais adequadas. APELAÇÃO CÍVEL
CONHECIDA E DESPROVIDA. (TJ-GO - AC: 0043438-
52.2016.8.09.0014, Rel. DR(A). FERNANDO DE CASTRO
MESQUITA, Órgão Julgador: 5A CAMARA CIVEL, Julgamento:
24 de Agosto de 2017, Publicação: DJ 2354 de 22/09/2017) (Grifo
não original).

Portanto, Excelência, é justo que os bens adquiridos pelas partes, antes do casamento,
sejam excluídos da partilha, justamente por não emanarem do esforço mútuo de ambos, mas
de causas completamente alheias à união. No caso em apreço, são incomunicáveis os seguintes
bens:

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❖ Veículo automotor xxxx, no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais) (doc -


automovel1);
❖ Imóvel situado na rua 00, n 00º, bairro: 00, CEP: 0000000, Palmas/TO, no valor de R$
700.000,00 (setecentos mil reais);
❖ Fazenda xxxx, situada na zona rural, CEP: 0000000, Palmas/TO, no valor de R$
5.000.000,00 (cinco milhões de reais) (doc - fazenda1).
Isso posto, a autora requer que os bens supracitados, por serem incomunicáveis, não
participem da partilha de bens.
Dos alimentos
Sabe-se que o dever dos genitores prestarem alimentos aos filhos flui diretamente da
Constituição Federal, por meio dos artigos 227 e 229, que visam garantir à criança ou
adolescente dignidade enquanto desenvolve suas faculdades físicas, psicológicas e emocionais,
sendo a alimentação direito fundamental por excelência.
Atente-se a norma constitucional:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade
e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.

Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos


menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os
pais na velhice, carência ou enfermidade (Grifo não original).

Outrossim, o Estatuto da Criança e do Adolescente sustenta comando semelhante,


nestas palavras:
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação
dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a
obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.

Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm direitos


iguais e deveres e responsabilidades compartilhados no cuidado e
na educação da criança, devendo ser resguardado o direito de
transmissão familiar de suas crenças e culturas, assegurados os
direitos da criança estabelecidos nesta Lei.

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Nesse mesmo sentido, preleciona os artigos 1.695 e 1.696 do Código Civil:


Art. 1.695. São devidos os alimentos quando quem os pretende não
tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria
mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem
desfalque do necessário ao seu sustento.
Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais
e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação
nos mais próximos em grau, uns em falta de outros.
De forma especial, a Lei 5.478/1968 trata da ação de alimentos, determinando que “O
credor, pessoalmente, ou por intermédio de advogado, dirigir-se-á ao juiz competente,
qualificando-se, e exporá suas necessidades, provando, apenas o parentesco ou a obrigação de
alimentar do devedor, indicando seu nome e sobrenome, residência ou local de trabalho,
profissão e naturalidade, quanto ganha aproximadamente ou os recursos de que dispõe”.
No caso em apreço, por meio das certidões de nascimento acostadas aos autos (doc -
certidão1 e doc - certidão2) resta demonstrado o parentesco entre os menores e o genitor. No
que se refere aos recursos disponíveis, verifica-se que a genitora e representante dos menores
aufere renda anual equivalente a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) (doc - folhasalarial1),
ao passo que o genitor obtém mensalmente o valor R$ 15.000,00 (quinze mil reais) (doc -
folhasalarial2).
Assim, é certo que o genitor deve contribuir de forma equitativa com a
manutenção dos filhos, não apenas com a alimentação, mas também com medicamentos,
higiene, educação e lazer.
Sobre o assunto, o Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins entende que os alimentos
devem ser fixados na proporção das necessidades dos reclamantes e dos recursos da pessoa
obrigada, de modo a garantir tanto ao alimentado quanto ao alimentante os recursos suficientes
para sua subsistência digna, consoante o binômio possibilidade e necessidade.
A propósito:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE DIVÓRCIO
LITIGIOSO COM PEDIDO LIMINAR C/C PEDIDO DE
ALIMENTOS PROVISÓRIOS, GUARDA DE MENOR,
PARTILHA DE BENS, OBRIGAÇÃO DE FAZER E
PRESTAÇÃO DE CONTAS. ALIMENTOS. MINORAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. BINÔMIO POSSIBILIDADE E
NECESSIDADE. DECISÃO MANTIDA. RECURSO
CONHECIDO E IMPROVIDO. 1- Os alimentos devem ser
fixados na proporção da necessidade do reclamante e dos

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recursos da pessoa obrigada, de modo a não desfalcar desta


última o necessário para o seu sustento, nos termos dos artigos
1694 e 1695 do Código Civil. 2- A pensão deve ser fixada na
forma a atender o sustento do alimentado, mas sem
sobrecarregar em demasia o alimentante, atento às suas
condições econômicas, isto é, aos seus ganhos e também aos seus
encargos. 3- Como é cediço, a mensuração dos alimentos deve
guardar conformação com as necessidades do alimentando e com as
possibilidades do alimentante (CC, art. 1.694, § 1º). 4- No tocante
às possibilidades do agravante, verifica-se que o mesmo é
empresário, e, conforme por ele afirmado nas razões recursais
possui duas empresas em pleno funcionamento: 'no caso, a "Costa e
Alves Ltda" - "Farmácia do Trabalhador" - CNPJ 30.418.095/0001-
29, e "Saldanha e Borges Ltda" - "Auto Posto Santa Teresinha" -
CNPJ 16.652.636/0001-58' 5- Decisão mantida. Recurso de Agravo
de Instrumento conhecido e improvido. (TJTO - Agravo de
Instrumento 0007572-33.2020.8.27.2700, Rel. JACQUELINE
ADORNO DE LA CRUZ BARBOSA, GAB. DA DESA.
JACQUELINE ADORNO, julgado em 09/12/2020, DJe 17/12/2020
15:44:20) (Grifo não original).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DIVÓRCIO LITIGIOSO.


FIXAÇÃO ALIMENTOS PROVISÓRIOS. MENOR.
MAJORAÇÃO PERCENTUAL. AUSÊNCIA DE
INFORMAÇÕES SOBRE A CAPACIDADE ECONÔMICA DO
GENITOR. NECESSIDADE INSTRUÇÃO DEMANDA
ORIGINÁRIA. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Ambos os
genitores têm a obrigação de prover o sustento do filho menor
(art. 229 da CF e art. 1.703 do CC), cujas necessidades são
presumidas, devendo cada qual concorrer na medida da própria
disponibilidade, observando-se o binômio possibilidade e
necessidade. 2. Embora a recorrente requeira a majoração dos
alimentos, a serem pagos em prol da menor, para o percentual de
30% do salário mínimo, o mais seguro é aguardar a instrução
processual para que a capacidade financeira do agravado, genitor da
criança, seja demonstrada de forma satisfatória, ocasião em que
eventual majoração da verba alimentícia poderá ser feita com a
devida segurança jurídica. 3. Agravo de Instrumento conhecido e
não provido. (TJTO - Agravo de Instrumento 0005810-
45.2021.8.27.2700, Rel. MAYSA VENDRAMINI ROSAL, GAB.
DA DESA. MAYSA VENDRAMINI ROSAL, julgado em
01/09/2021, DJe 17/09/2021 14:49:21) (Grifo não original).

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AGRAVO DE INSTRUMENTO. REVISIONAL DE


ALIMENTOS. MINORAÇÃO. DESCABIMENTO. PROVA DE
MUDANÇA NO BINÔMIO ALIMENTAR NECESSIDADE-
POSSIBILIDADE. DECISÃO MANTIDA. RECURSO
CONHECIDO E IMPROVIDO. 1- O agravantes pretende obter a
reforma da decisão proferida pelo MM juiz a quo que majorou os
alimentos para um salário mínimo, sob fundamento de alteração do
trinômio necessidade/possibilidade/proporcionalidade do agravado.
2- A verba alimentar deve ser fixada em forma a ser suportada
por quem a presta, e suprir as necessidades de quem a recebe. E
in casu, a prova produzida nos autos não autoriza a minoração
da pensão fixada no primeiro grau. 3- Entrevejo que os
alimentos fixados na instância a quo atendem ao binômio
necessidade e possibilidade, não merecendo reforma a decisão
ora combatida. 4- Ademais, fixados os alimentos, estes não são
imutáveis, podendo ser modificados a qualquer momento, de acordo
com as condições econômicas do alimentante e alimentado. Como
corolário dessa equação, sua fixação deve derivar do cotejo dos
elementos de convicção reunidos de forma a ser depurado o importe
que se afigura compatível com as necessidades diárias do
alimentando e que seja passível de ser suportado pelo obrigado,
prevenindo-se que o pensionamento não seja inócuo para quem o
recebe, nem instrumento passível de afetar a subsistência de quem
está obrigado a prestá-los. A observância dessa equação
consubstancia, inclusive, fórmula apta a obstar que os alimentos
sejam desvirtuados da sua origem etiológica e da sua destinação
teleológica. 5- Decisão mantida. Recurso de Agravo de Instrumento
conhecido e improvido. (TJTO - Agravo de Instrumento
(PROCESSO ORIGINÁRIO SIGILOSO) 0014913-
76.2021.8.27.2700, Rel. JACQUELINE ADORNO DE LA CRUZ
BARBOSA, GAB. DA DESA. JACQUELINE ADORNO, julgado
em 23/03/2022, DJe 01/04/2022 13:31:00) (Grifo não original).

No caso em estudo, abstrai-se a necessidade na medida em que os menores precisam de


alimentos, utensílios de higiene, plano de saúde, escola de qualidade e lazer, consoante se pode
observar por meio do demonstrativo de despesas anexo (doc - despesasfilhos), o qual descreve
de forma pormenorizada os gastos mensais com os menores Joaquim Feitosa Xavier (8 anos)
e Joaquina Feitosa Xavier (5 anos):

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A possibilidade, por sua vez, manifesta-se ao observar que o genitor possui renda
mensal e fixa suficiente para atender não apenas suas necessidades básicas, mas também as dos
menores, a qual perfaz o valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais).
Em relação a porcentagem que incidirá sobre o salário bruto do genitor, embora a lei
não determine um índice estático, no presente caso, é certo que o requerente possui renda apta
a suportar o percentual mínimo de 30% (trinta por cento). Ora, atentando-se para a dignidade
dos menores, qualquer valor abaixo deste parâmetro não supriria suas necessidades básicas de
alimentação, educação, saúde e lazer.
A propósito:
AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE ALIMENTOS -
TUTELA PROVISÓRIA - DECISÃO QUE FIXOU OS
ALIMENTOS PROVISÓRIOS EM 30% DOS
RENDIMENTOS LÍQUIDOS DO GENITOR, EM CASO DE
EMPREGO E EM 50% DO SALÁRIO MÍNIMO, EM CASO
DE DESEMPREGO, EM FAVOR DE UM FILHO MENOR -
Inconformismo do alimentante - Rejeição - Necessidade de dilação

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probatória para comprovação da situação de fato - Montante


estipulado em observância do binômio necessidade e possibilidade
- Pretensão de minoração dos alimentos provisórios ainda não
apreciada em primeiro grau pelo juiz natural - Ausência de
elementos nesta fase processual a autorizar a modificação dos
alimentos - Decisão mantida - NEGARAM PROVIMENTO AO
RECURSO. (TJSP; Agravo de Instrumento 2008436-
45.2022.8.26.0000; Relator (a): Alexandre Coelho; Órgão Julgador:
8ª Câmara de Direito Privado; Foro de Caraguatatuba - 3ª Vara
Cível; Data do Julgamento: 25/02/2022; Data de Registro:
25/02/2022) (Grifo não original).

Em reforço:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE DIVÓRCIO. FIXAÇÃO DE


ALIMENTOS PARA A FILHA MENOR EM 30% DO
SALÁRIO MÍNIMO. QUANTIA QUE OBSERVA O
BINÔMIO NECESSIDADE/POSSIBILIDADE. 1. A
FIXAÇÃO DOS ALIMENTOS DEVE OBSERVAR O
BINÔMIO NECESSIDADE/POSSIBILIDADE, DE MODO A
CONSTITUIR UM EQUILÍBRIO ENTRE A NECESSIDADE
DOS ALIMENTADOS E A POSSIBILIDADE DO
ALIMENTANTE. 2. O CONTEXTO FÁTICO REVELADO NOS
AUTOS DEMONSTRA QUE O VALOR DE 30% DE UM
SALÁRIO MÍNIMO MOSTRA-SE AJUSTADO E DENTRO DOS
PARÂMETROS DA NECESSIDADE/POSSIBILIDADE.
PARTILHA DE BENS. ALEGAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE
BENS A PARTILHAR E DESCONHECIMENTO DOS BENS
PELO RECORRENTE. ELEMENTOS PROBATÓRIOS
CONSTANTES NOS AUTOS QUE COMPROVAM A
EXISTÊNCIA E PROPRIEDADE DE BENS COMUNS,
ADQUIRIDOS DURANTE A VIGÊNCIA DO MATRIMÔNIO.
PARTILHA MANTIDA. 3. DEMONSTRADA NOS AUTOS A
EXISTÊNCIA DE BENS COMUNS ADQUIRIDOS DURANTE A
VIGÊNCIA DO MATRIMÔNIO E, SENDO O REGIME
NUPCIAL DA COMUNHÃO PARCIAL DE BENS, MOSTRA-SE
CORRETA A PARTILHA DOS BENS NA FORMA
ESTABELECIDA NA SENTENÇA. 4.APELO NÃO PROVIDO.
(TJTO - Apelação Cível 0005701-06.2019.8.27.2731, Rel.
HELVECIO DE BRITO MAIA NETO, GAB. DO DES.
HELVÉCIO DE BRITO MAIA NETO, julgado em 09/03/2022,
DJe 21/03/2022 13:33:48) (Grifo não original).

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Por todo o exposto, requer a regularização de prestação de alimentos no percentual


mínimo de 30% (trinta por cento), a incidir sobre o salário bruto percebido mensalmente pelo
requerido, incluindo 13º salário.
Dos alimentos provisórios
Por ser imprescritível para a subsistência dos menores, estes não podem esperar até a
decisão final para ter suas necessidades alimentícias supridas. Dessa forma, o artigo 4º da Lei
nº 5.478/1968 prevê que o juiz poderá fixar, sem demora, alimentos provisórios aos menores,
a fim de que não desfaleçam ao longo da marcha processual.
Observe o inteiro teor da norma:
Art. 4º As despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos
provisórios a serem pagos pelo devedor, salvo se o credor
expressamente declarar que deles não necessita.

Parágrafo único. Se se tratar de alimentos provisórios pedidos pelo


cônjuge, casado pelo regime da comunhão universal de bens, o juiz
determinará igualmente que seja entregue ao credor, mensalmente,
parte da renda líquida dos bens comuns, administrados pelo
devedor (Grifo não original).

Consigne-se, Excelência, ser extremamente injusto que a genitora arque sozinha com o
alimento dos descendentes, uma vez que é dever dos pais, em igualdade, promover a
subsistência dos filhos menores. Nesse sentido, os alimentos provisórios têm por finalidade a
manutenção dos menores até a resolução da lide.
Nesse enfoque, colham-se a seguinte jurisprudência:
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE
ALIMENTOS. ALIMENTOS PROVISÓRIOS. FILHO MENOR.
PARÂMETROS PARA A SUA FIXAÇÃO.
PROPORCIONALIDADE ATENDIDA. RECURSO
DESPROVIDO. I. Devem ser mantidos os alimentos provisórios
que ponderam com proporcionalidade, à vista da limitação
própria do estágio inicial da relação processual, as necessidades
do alimentando e a capacidade contributiva do alimentante. II.
Recurso desprovido. (TJDF - Apelação Cível: 0703480-
80.2017.8.07.0000, Rel. JAMES EDUARDO OLIVEIRA,
Julgamento: 8 de Setembro de 2017, Publicado no PJe: 13/10/2017)
(Grifo não original).

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Com fulcro no artigo 300, caput do Código de Processo Civil, o magistrado pode
antecipar os efeitos da decisão final para um momento anterior, com o intuito de se evitar o
perecimento do direito ou sua inutilidade. No caso em apreço, vê-se claramente a probabilidade
do direito (fumus boni iuris) diante da obrigação dos pais, em igualdade, de manterem os filhos
supridos nas suas necessidades, ao passo que o perigo da demora (periculum in mora) torna-se
patente pela natureza fundamental dos alimentos para a vida humana, sendo incontestável que
as crianças, por se encontrarem em desenvolvimento físico e psíquico, precisam alimentar-se
de forma apropriada.
Por fim, a decisão que concede alimentos provisórios não ostenta irreversibilidade,
podendo ser revogada a qualquer momento pelo magistrado.
Assim, uma vez demonstrado os requisitos necessários para a concessão dos alimentos
provisórios, pugna pela concessão da tutela de urgência, a fim de que o juízo acolha o pedido
de alimentos provisórios na proporção de 30% (trinta por cento) do salário bruto mensal do
requerido.
Da guarda
Como fruto do casamento, nasceram Joaquim Feitosa Xavier e Joaquina Feitosa Xavier,
filhos do casal, hoje com 8 (oito) e 5 (cinco) anos, respectivamente (doc 3 -
certidaonascimento).
A guarda compartilhada dos filhos é o desejo da Autora, pois a mesma entende que os
pais devem participar juntos da vida das crianças, dividindo responsabilidades e diversos
momentos da vida dos filhos.
Assim, como prevê o artigo 1.583 § 1º, do Código Civil, como segue:

Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada. § 1º


Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos
genitores ou a alguém que o substitua (art. 1.584, § 5o) e, por
guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o exercício
de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo
teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns. (Incluído
pela Lei nº 11.698, de 2008). (Grifo não original).

Portanto, os filhos deverão permanecer com a Autora durante a semana, ficando


reservado ao réu o direito de ficar com os filhos aos finais de semana alternados, bem como,
em quaisquer outros dias do ano, desde que previamente acordado com a Autora.
Do nome de casada

Quanto ao nome, a autora deseja voltar a utilizar o nome de solteira. Logo, pretende-se
alterar seu atual nome “MARIA DAS DORES FEITOSA XAVIER” para “MARIA DAS

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DORES FEITOSA”, uma vez que esse perfaz ao seu nome antes de contrair matrimônio,
conforme atestar a certidão de nascimento anexa (doc 11 - certidãonascimentoautora).
Do dano moral
Não resta dúvidas que o réu feriu os princípios do casamento, já que a fidelidade
recíproca está prevista no artigo 1.566 do código civil, como segue:

Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges

I – fidelidade recíproca;

II – vida em comum, no domicílio conjugal;

III – mútua assistência;

IV – sustento, guarda e educação dos filhos;

V – respeito e consideração mútuos;

(Grifo não original).

Fato que será provado com testemunhas e provas documentais em momento oportuno.
Além disso, o réu também lesou os direitos de personalidade da Autora já que esta suportou,
por meses, constrangimentos e sofrimento excessivo que extrapolam os limites do casamento.
O mesmo Código Civil define, na sua parte geral, artigo 186, que “aquele que por ação
ou omissão voluntária, negligência ou imprudência comete ato ilícito, viola direito e causa
dano a outrem”.
Importante destacar que indenização por dano moral para quem comete adultério é
devida em razão das situações vexatórias e humilhantes pelas quais passou o cônjuge, além
disso, o caso extraconjugal foi com uma ex-colega dos tempos da faculdade, o que gerou
enorme repercussão social por haver muitos amigos em comum.
Além disso, a Autora ainda teve sessões de terapia com psicólogo por longos meses,
inclusive gerando depressão e perda da capacidade laborativa. nesse sentido, colhem-se recente
decisão no âmbito do Tribunal de Justiça do Paraná:
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. INFIDELIDADE
QUE, POR SI SÓ, NÃO GERA DEVER DE INDENIZAR,
NECESSIDADE DE DEMONSTRAR QUE A TRAIÇÃO CAUSOU
AO OUTRO COMPANHEIRO UMA SITUAÇÃO VEXATÓRIA E
HUMILHANTE. COMPROVAÇÃO PELA AUTORA DE QUE A
INFIDELIDADE DO SEU EX-COMPANHEIRO A COLOCOU
EM SITUAÇÃO VEXATÓRIA, ABALANDO A SUA MORAL E

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HONRA. APELANTE QUE NÃO SE PREOCUPOU COM A


DISCRIÇÃO DO SEU RELACIONAMENTO
EXTRACONJUGAL, COLABORANDO COM OS
COMENTÁRIOS DA POPULAÇÃO LOCAL, O QUE
CONSEQUENTEMENTE FEZ COM QUE A APELADA SE
SENTISSE MENOSPREZADA E HUMILHADA. CIDADE
PEQUENA DO INTERIOR. FATOS OCORRIDOS QUE SE
TORNARAM DE CONHECIMENTO DE MUITAS PESSOAS.
FATO QUE ULTRAPASSOU O QUE SE DENOMINA OS
LIMITES DA RAZOABILIDADE NA INFIDELIDADE
CONJUGAL. (TJPR - 11ª C.Cível - 0000110-32.2018.8.16.0168 -
Terra Roxa - Rel.: DESEMBARGADOR SIGURD ROBERTO
BENGTSSON - J. 23.08.2021). (Grifo não original).

Para tanto, em sede de responsabilização como cita o artigo 186 do Código Civil,
concatenado com o dever de reparar o ato ilícito, conforme prevê o artigo 927, do mesmo
código, que dispõe:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano
a outrem, fica obrigado a repará-lo (Grifo não original).

Demonstra-se, através destes apontamentos basilares, o direito de indenização do dano


moral pela violação do dever moral de lealdade e respeito. Assim, diante da razoabilidade,
proporcionalidade e, sobretudo, a natureza pedagógica que se reveste o dano extrapatrimonial,
requer o quantum indenizatório de R$ 20.000,00 (vinte mil reais).

IV - DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer à Vossa Excelência:

a) A citação do requerido, para que, querendo ofereça contestação sob pena de revelia;
b) Requer seja declarada a dissolução do vínculo conjugal, determinando a expedição de
ofício para averbação junto ao cartório de registro civil onde fora realizado o
matrimônio;
c) Requer seja determinada a partilha de todos os bens contraídos durante a união,
quais sejam: lancha xxxx, no valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) e parcelas já
quitadas do imóvel financiado, no valor de R$ 651.000,00 (seiscentos e cinquenta e um
reais), conforme regulamenta o Código Civil sobre o regime de comunhão parcial de
bens;
d) Requer que o imóvel financiado xxxx permaneça sob sua titularidade e, por
consequência, responsabilize-se pelo pagamento das parcelas remanescentes;

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e) Requer sejam excluídos da partilha os bens incomunicáveis, que são: automóvel


xxxx, no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), imóvel xxxx, no valor de R$
700.000,00 (setecentos mil reais) e Fazenda xxxx, no valor de R$ 5.000.000,00 (cinco
milhões de reais);
f) A fixação de alimentos provisórios, no importe de 30% (trinta por cento) do salário
percebido mensalmente pelo requerido, tendo como referência seu comprovante de
renda do mês de xxxx do corrente ano, no valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) a
serem depositados na conta corrente nº xxxx, agência xxxx, banco xxxx, em nome da
genitora dos menores, devendo ao final serem convertidos em definitivos;
g) Requer seja regulamentada a guarda dos menores impúberes, permanecendo estes
residindo junto a autora, e estabelecendo a guarda compartilhada;
h) Requer, ainda, a expedição de mandado determinando a averbação para que à autora
retome a utilização do nome de solteira, qual seja, MARIA DAS DORES FEITOSA;
i) A condenação do requerido ao pagamento de indenização por danos morais, no valor
de R$ 20.000,00 (vinte mil reais);
j) Requer, a condenação do requerido ao pagamento das custas e despesas processuais,
bem como, o pagamento dos honorários advocatícios sucumbenciais em 20% (vinte por
cento) sobre o valor da causa, observados no art. 85, § 2º, do CPC;
k) Requer que todas intimações e publicações sejam feitas exclusivamente na pessoa dos
advogados que subscrevem, sob pena de nulidade absoluta do ato;
l) Requer que todos os pedidos sejam JULGADOS PROCEDENTES.

Por fim, requer provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em Direito,
especialmente pelo colhimento de depoimento pessoal do requerido, juntada de documentos,
oitivas de testemunhas e, todas mais que se fizerem necessária para o bom andamento do feito,
sem prejuízo das demais provas que se revelarem útil à elucidação dos fatos.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.374.000,00 (um milhão e trezentos e setenta e quatro


mil reais)

Nesses termos,

Pede e espera deferimento.

Palmas/TO, 17 de junho de 2022.

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ELLEN THAIS OLIVEIRA SANTOS


OAB nº 000.0000

JOÃO EDUARDO PINTO PIRES


OAB nº 000.0000

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