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Livro 1

Sumário
1. Um contrato por uma alma
2. Desespero Sombrio
3. Despertar Brusco
4. Mentiroso Mentiroso
5. Toda Amarrada
6. Não Viaje
7. Afogando no céu
8. Mensagem afiada
9. A dor de ontem
10. A agressão do luto
11. Jogando o jogo
12. Adivinhe quem está de volta
13. Tão perto, tão longe
14. Um Knight público
15. Coração disfarçado
16. Território Novo
17. Três é demais
18. Planejando o Futuro
19. Um brinde à vingança
20. Qualquer coisa por você
21. Mais do que um show
22. Linhas Cruzadas
23. Doce como o pecado
24. Expectativas malignas
25. Nas nuvens
26. Atrasado para o riso
27. Sob Ataque
28. Surpresa, Surpresa
29. Descoberta solitária
30. Quem resgatou quem?

Capítulo 1 Um contrato por uma alma


Angela
Todos pensam que são heróis.
Fantasiamos sobre momentos de glória — os que lemos em livros e vemos em filmes.
Correr para um prédio em chamas para resgatar um cão? Claro.
Doar um rim para um amigo? Sem problemas.
Tentar impedir um assalto à mão armada? Fácil.
Mas a dura verdade é que não sabemos como reagiremos quando o momento chegar. Não até que o
assaltante tenha a arma apontada para sua têmpora, e você possa sentir o cheiro do metal.
Você será forte o suficiente para isso? Para enfrentar a arma e dizer: — Escolha-me. Atire em mim. Mate-me.
Quando chegar a hora, o que você escolherá?
Sua vida ou a deles?
Apertei a mão do meu pai, com meu coração na minha garganta. Doeu vê-lo assim. Estava inconsciente na
cama do hospital, com tubos presos em seus braços e peito. Máquinas apitavam ao seu lado, e uma máscara
de oxigênio cobria seu rosto.
Lágrimas caíam pelo meu rosto, e eu as limpei pela milésima vez.
Ele era uma constante em minha vida. A âncora que mantinha nossa família unida. Um pilar de força e saúde.
Lucas, meu irmão mais velho, apareceu à porta. Eu me aproximei e o abracei.
— O que disse o médico? — eu perguntei.
Lucas olhou por cima do meu ombro para o meu pai.
— Vamos para o corredor.
Concordando, eu fui até meu pai e dei um beijo em sua testa antes de seguir Lucas.
Na luz fluorescente do corredor do hospital, pousei meu olhar sobre meu irmão. Olhando para seu cabelo
desgrenhado, bochechas sem barba e os círculos roxos profundos sob seus olhos, eu sabia que ele tinha tido
um dia difícil.
— Ouça, Angie... — Lucas começou. Ele pegou minha mão como fazia quando eu era criança e tinha medo do
escuro. — Preciso que você fique calma, tudo bem? Seja forte. O diagnóstico... é muito ruim.
Eu acenei e respirei fundo.
— Nosso pai... — Lucas começou, parou, e depois desviou seu olhar para o teto. Então limpou a garganta. —
Ele teve um derrame.
Lágrimas frescas brotaram em meus olhos.
— Ainda não sabemos o quanto isso o afeta, mas eles acham que a ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica) teve
algo a ver com isso, — continuou ele.
— O que podemos fazer? — perguntei, com desespero em minha voz.
— Descansamos um pouco, — disse Danny, meu outro irmão, por trás de mim. Ele se aproximou e me deu um
abraço. — Os médicos ainda estão fazendo alguns testes.
Meus dois irmãos deram uma olhada, e eu sabia que eles não estavam me dizendo nada.
— O quê? — Eu exigi. — O que está acontecendo?
Lucas balançou a cabeça.
— Você tem uma entrevista chegando, não tem?— perguntou ele. — Vá para casa e durma um pouco. Nós te
ligamos quando soubermos mais, está bem?
Eu lamentei. Não queria partir, mas sabia que meus irmãos estavam certos. Era importante que eu
conseguisse este emprego.
Nos despedimos e eu saí em direção ao frio ar noturno. Espiei as luzes da cidade de Nova Iorque ao longe, com
um pavor em meu estômago.
Eu me senti impotente.
Não havia nada que eu pudesse fazer?

Xavier
A garota ao meu lado gemeu enquanto eu girava o volante, mandando o carro para uma curva fechada. Ela
riu, alterada pelo speed e champagne que tomou.
— Xavier! — Ela mordeu o lábio, suas mãos correndo para cima ao longo da minha coxa. Duas coisas garantem
o interesse de uma garota.
O rugido de um carro veloz e uma porrada de dinheiro.
Acelerei meu Lamborghini pelas estradas cênicas de Mônaco. A loira gostosa ao meu lado tremia de prazer,
acariciando o volume em minhas calças. Ela era uma modelo para um desfile de moda na cidade.
Já havíamos fodido algumas vezes.
Eu nem sabia o nome dela.
Eu sorria enquanto ela desabotoava minhas calças, suspirando de prazer enquanto ela me levava na boca.
Isso é que é vida.
Acelerando pelas estradas da bela Mônaco atrás do volante de uma Lamborghini e com meu pau na boca de
uma modelo.
Nenhuma responsabilidade para uma empresa multibilionária.
Nenhum pai irritante vigiando cada passo que dou.
Sem putas traidoras que agiam pelas minhas costas e...
Eu passei por um sinal vermelho, e o clarão de uma sirene policial gritou pelo ar noturno. Encostei,
observando as luzes piscando em meu espelho retrovisor.
— Puta merda, — murmurei.
A loira começou a olhar para cima, mas eu a empurrei de volta para o meu pau.
— Eu mandei parar?
A modelo continuou seus esforços, ansiosa para agradar.
O policial saiu de seu carro e começou a abrir caminho até a minha porta.
Bem, eu pensei, olhando para a cabeça balançando para cima e para baixo no meu colo. Isso vai dar uma puta
história.

Brad
Chamei meu assistente ao meu escritório, resmungando alto sua frustração. Era a terceira vez em menos de
um mês que Xavier fazia manchetes, e não por estar beijando a cabeça de bebês ou se oferecendo como
voluntário em hospitais.
Não.
Meu filho tinha sido preso em Mônaco por condução imprudente e indecência pública.
Eu belisquei a ponta do meu nariz.
Houve uma batida na porta.
— Entre, — eu gritei sem olhar para cima. Ron, meu assistente de vinte e seis anos, entrou. — Você viu a
notícia?
A boca de Ron abriu e fechou algumas vezes.
Ele não precisava dizer nada. Eu duvidava que houvesse uma alma em toda Nova Iorque que não a tivesse
visto. A manchete estava em toda parte.
— Ligue para os advogados e traga Frankie da RH para cá. Por favor.
Ron acenou com a cabeça e se retirou do meu escritório.
Atravessei a sala até a janela de vidro que preenchia toda a parede norte do meu escritório, olhando para as
ruas de Nova Iorque lá embaixo.
Eu teria que me exceder para garantir que as ações de meu filho não tivessem nenhuma repercussão na
empresa, ou nele. Eu gostava de dizer que tinha dois filhos: Xavier e Knight Enterprises.
Separando-me dos empreendimentos petrolíferos de meus pais,
construí o principal conglomerado hoteleiro e hospitaleiro do mundo a partir do zero. Minhas duas maiores
alegrias na vida foram meu filho e minha empresa.
E agora ambos estavam em perigo.
De novo.
Com pesar, o rosto de minha linda esposa vinha à mente.
Amélia. Quem me dera que você ainda estivesse aqui. Você saberia como ajudar Xavier.
Meu olhar sobre as ruas foi desviado para o Central Park. Eu e mina amada passeávamos juntos pelo parque,
sentávamos e comíamos em um banco junto às árvores.
— Ron! — eu gritei. Ouvi o deslize da porta do meu escritório. —
Cancele minhas reuniões. Vou dar um passeio.

Angela
Caminhei ao longo dos caminhos íngremes do Central Park, tentando limpar minha mente. Estava voltando da
floricultura da Em, depois de fechar a loja.
Os longos troncos dos salgueiros envergavam com a brisa fria do final de verão. Os cisnes flutuavam ao longo
da superfície transparente de um lago próximo. A conversa das crianças brincando voava pelo ar, e os amantes
se abraçavam na grama.
Eu coloquei um buquê de lírios em meus braços, tendo algum conforto em seu cheiro suave. Meu coração
ainda doía ao pensar em meu pai no hospital, mas eu tinha que me manter forte.
Notei um senhor mais velho sentado sozinho em um banco; seus olhos fechados em oração. Não sei o que me
levou à sua direção, mas antes de me dar conta, eu estava ao seu lado. Ele parecia tão triste.
Tão quebrado.
— Com licença — eu falei.
Ele abriu os olhos, piscando com surpresa enquanto olhava para mim.
— Pois não, — ele respondeu.
— Eu só queria perguntar se você estava bem, — eu disse. — Você parecia um pouco... pra baixo.
Ele se inclinou para frente sobre o banco e apontou para uma placa gravada na parte de trás.
— Estou apenas me lembrando de alguém importante para mim, — disse ele, com uma voz grave.
Eu li a gravura.
Para Amélia, amada esposa e amada mãe. 16/10/1962 — 04/04/2011
Meu coração se partiu.
Eu lhe entreguei meu buquê de lírios, sorrindo.
— Para Amélia, — eu ofereci.
— Obrigado —. Ele se adiantou para pegar o ramo de flores, com as mãos tremendo. — Posso perguntar seu
nome?
— Angela Carson, — respondi.
Brad
Eu vi Angela partir, com uma sensação de paz que afugentava o que preocupava meu coração. Eu dei tapinhas
no banco, sorrindo para o céu.
Obrigado, meu amor. Você me mostrou a resposta.
Pus minha mão no bolso do meu casaco, puxando meu telefone.
— Ron, me dê o máximo de informação possível sobre Angela Carson.
— Examinei o buquê que ela havia me dado, notando o nome da florista na embalagem de papel.
FLORICULTURA DA EM.
Eu acenei para mim mesmo, pois um plano se formava em minha mente.
— E traga meu filho de volta para Nova Iorque.
Danny: Angie. Venha rápido Danny: É sobre nosso pai.
Angela: O que aconteceu?!
Danny: Ele teve um ataque cardíaco.
— Conseguimos ressuscitar seu pai, — disse o médico, com uma voz grave. — As vítimas de derrame são
suscetíveis a ataques cardíacos nas primeiras vinte e quatro horas após o derrame. Estamos de olho nele e
continuaremos a fazer testes para ver o que podemos fazer. — A maneira como ele disse fez parecer que não
estava confiante de que haveria muito.
— Obrigado, doutor, — disse Lucas.
O médico acenou com a cabeça e nos deixou.
— Quanto tempo o papai vai ter que ficar aqui? — perguntei. — Não
parece que ele esteja em condições de voltar para casa.
— Talvez não tenhamos escolha, — disse Danny.
— O que isso quer dizer? — eu perguntei.
Meus irmãos olharam um para o outro. Meu coração bateu no meu peito. Pude sentir más notícias chegando.
Finalmente, Lucas voltou-se para mim.
— Não temos como mantê-lo aqui, Angie.
Pestanejei.
— O quê?
Danny passou as mãos pelo cabelo, com o rosto pálido.
— Estamos falidos.
— Como? O restaurante... — O restaurante tinha sido a vida do meu pai quando éramos crianças. Nossa mãe
também tinha trabalhado lá, até adoecer. Meus irmãos assumiram o controle assim que terminaram a
faculdade.
— Ele aguentou por uns anos. A recessão teve seu preço. Nosso pai colocou uma segunda hipoteca sobre a
casa para tentar nos ajudar. — Lucas suspirou. Ele parecia derrotado.
— Por que você não me disse? — eu perguntei. — Tenho uma entrevista em breve, então talvez...
Mas Danny estava balançando a cabeça.
— As contas do hospital estão chegando em breve...
Eu não podia ficar mais lá — no corredor, no hospital. Era muito claustrofóbico. Eu me afastei de meus irmãos.
Minhas pernas trémulas me levaram pelos corredores e escadas abaixo até que me encontrei do lado de fora,
em frente ao hospital.
Era o meio da noite, então não havia ninguém para me ver cair de joelhos no meio da calçada. Ou assim eu
pensei...
— Com licença — disse uma voz profunda atrás de mim.
Soluçando, olhei para cima e vi um homem perto de mim.
— Sim, posso ajudá-lo? — murmurei, limpando meus olhos.
O homem se ajoelhou diante de mim, e eu ofeguei enquanto o reconhecia.
Era o homem que eu havia encontrado antes no Central Park. Aquele a quem dei meu buquê de lírios.
— Perdoe minha intromissão. Meu nome é Brad Knight.
Fiquei sem ar. Brad Knight?
O Brad Knight?
O bilionário por trás das Knight Enterprises?
— Eh, — gaguejei.
— Eu sei de sua situação, Angela, e posso ajudar. Eu posso ajudar com as contas médicas de seu pai.
Minha cabeça girou. Os alarmes tocaram em minha mente.
Como é que ele sabe disso tudo? O que ele quer de mim?
— Eu pagarei por tudo. E me certificarei de que seu pai seja bem cuidado. Você só tem que fazer uma coisa
por mim. — Ele parecia tão genuíno, mas havia uma pitada de desespero em sua voz. Ele se recompôs,
olhando diretamente nos meus olhos.
— Preciso que você se case com meu filho.

Capítulo 2 Desespero Sombrio

Angela
Emily franziu a sobrancelha enquanto me via comer um pote de sorvete Ben and Jerry em meu pijama, com
meu cabelo amarrado de forma bagunçada.
— Você está bem? — ela perguntou.
— Super, — eu disse com a boca cheia de chocolate.
Ela suspirou, pegando seu próprio pote de sorvete do freezer. Sentouse ao meu lado, enfiando uma colher
cheia de baunilha na boca.
— Põe pra fora, — exigiu.
— Estou muito estressada, — admiti. — Meu pai está no hospital, e vamos ter problemas para pagar as
contas. — Acabei de ter uma entrevista com Curixon, e receio ter estragado tudo, e... — minha voz
vacilou.
E um certo bilionário fez um pedido ridículo na outra noite.
Mas eu não queria contar à Emily.
Como eu poderia?
— Você não estragou tudo, — Em me assegurou.
— Você foi ótima, não é? Você mesmo me disse.
— Pensei que fui, — eu disse. — Agora já não tenho tanta certeza.
Era verdade; eu realmente tinha me dado bem com o entrevistador.
Curixon era uma grande empresa, e eu esperava finalmente poder dar bom uso ao meu diploma de
engenharia em Harvard. Havia passado os últimos meses trabalhando meio período na floricultura da Em.
Ela até me deixou morar com ela em seu apartamento.
Eu estaria totalmente ferrada se não fosse por ela.
— Você salvou minha vida, Em, — eu comecei. — Se não fosse por você me deixar ficar aqui...
— Chega de drama, — ela disse antes que eu pudesse agradecê-la novamente. — Você sabe que tem
permissão para ficar o tempo que quiser. Só não quero ver você desperdiçar sua vida varrendo o chão da
minha floricultura quando você poderia estar trabalhando em algum lugar como Curixon. Mesmo que você
traga ãs e admiradores aleatórios pra loja. Você é muito esperta para isso, Angie.
Meu coração parou por um instante.
Em não reconheceu Brad, então. Graças a Deus.
— De qualquer forma, estou de saída. — Em se levantou, jogando sua colher na pia e o pote de sorvete vazio
no lixo. — Fique bem. — Ela calçou os sapatos, e antes que eu desse por isso, ela tinha desaparecido.
Eu estava sozinha.
Minha mente se voltou para a outra noite. Honestamente, eu pensei que era tudo uma espécie de sonho
louco. Mas quando percorri os contatos do meu telefone, seu nome ainda estava lá.

Brad Knight.
Eu rastejei para fora da sala de estar e fui para minha cama, enrolando-me em uma bola. Fechei os olhos e
deixei a minha mente voltar para aquela noite.
— O quê?! — Eu me afastei de Brad, colocando um espaço entre nós. — Isto é algum tipo de brincadeira?
Ele me observou, balançando a cabeça para si mesmo.
— Lamento muito, — disse ele. — Eu me antecipei. Por favor, deixeme explicar.
Olhei para trás de mim. As portas do hospital não estavam muito longe. Eu poderia correr para lá se fosse
preciso.
Além disso, havia algo naquele homem que me fazia querer confiar nele. Ele parecia tão sincero e bondoso.
Talvez fosse por causa da sua idade?
Eu acenei com cautela, gesticulando para que ele continuasse.
— Depois que você foi tão boa para mim esta tarde, eu sabia que tinha que pagar seu ato de bondade. Visitei
a floricultura da Em. Era de lá que vinha o buquê que você estava segurando.
— Sim, mas...
— Eu vi isso no papel. E falei com a Em, uma garota adorável. E depois perguntei de você, Sra. Angela Carson.
Ela disse que a conhecia bem. Que você estava em um pequeno hospital em Nova Jersey porque
seu pai tinha acabado de adoecer.
Eu acenei, ainda incrédula em toda esta conversa.
— E por favor, perdoe a pergunta, mas sua família não tem os recursos necessários para manter seus
cuidados... seu tratamento, sua estadia no hospital, o mais confortável possível, tem?
Eu neguei com a cabeça.
— É aí que eu posso te ajudar, Angela. Podemos nos ajudar. — Ele sorriu, seus olhos desapareceram em meio
às rugas de pé de galinha.
— Então, você quer que eu me case com seu filho, — repeti suas palavras de antes. Senti como se fossem
alienígenas saindo da minha boca.
Brad acenou com a cabeça.
Pensei no que eu sabia sobre o filho de Brad.

Xavier Knight.
Eu o conhecia, é claro. Como eu não poderia? Ele era uma celebridade. Rico nojento e lindo de morrer.
Qualquer garota se lançaria à chance de ser sua esposa.
Mas ele parecia ser do tipo rebelde. Eu tinha visto as manchetes e artigos sobre ele, de vez em quando,
durante os últimos meses.
Sexo.
Drogas.
Corridas.
Ele era selvagem.
Perigoso.
Um arrepio corria pela minha espinha, mas não conseguia dizer se era por medo ou excitação.
— Mas por que eu? — eu perguntei. — Tenho certeza de que você poderia encontrar um milhão de meninas
que são mais bonitas e mais bem-sucedidas do que eu. Alguém mais adequado para seu filho.
— Você é uma alma pura, minha querida. Você pode não saber, mas é rara. Eu quero o melhor para meu filho,
como qualquer pai faria. Eu acho que você pode ajudá-lo. Confio em meu instinto, e meu instinto agora
diz que isto vai funcionar.
Pestanejei.
Uma alma pura? O que isso quer dizer?
— Mas o casamento não é apenas um pedaço de papel, — eu argumentei. — Você não pode simplesmente
assinar um contrato e se apaixonar.
— Isso pode ser verdade, mas o amor é paciente.
— Como você sabe que não vou me casar com seu filho e depois me divorciar dele no dia seguinte? — Eu
estava me fazendo de advogada do diabo, já que precisava de respostas para esta hipótese confusa.
Em vez de se afastar, ele se aproximou de mim e pegou minha mão.
Seu toque foi caloroso e estranhamente reconfortante.
— Eu não acredito que você faria isso, Angela. Como eu disse, sua alma é pura. Mas se você precisar de algum
tipo de plano de seguro, olhe para trás.
Eu virei e vi o hospital, iluminado pelos candeeiros da rua.
— As contas médicas não são brincadeira. Tratamentos, reabilitação, atendimento 24 horas. Tudo isso custa
dinheiro, querida. Se você cumprir sua parte do acordo, eu lhe prometo, pela minha vida, que também
cumprirei minha parte.
Minha mente estava agitada. Tinha que haver uma maneira diferente.
— Eu tenho uma segunda entrevista para este trabalho amanhã.
Posso ser capaz de...
— Angela, — disse ele, interrompendo-me. — Você sabe quanto custa uma noite de internação no hospital?
Setecentos dólares a cada noite.
Um exame de sangue de rotina custa duzentos e cinquenta dólares. Se eles, Deus nos livre, tiverem que usar o
desfibrilador, são mais quinze mil dólares.
Fechei meus olhos.
— Por favor. Por favor, pare. Dê-me só um minuto para pensar. — Tentei organizar meus pensamentos
confusos.
Meu pai.
O restaurante.
Meus irmãos.
Anos de dívidas.
Um novo emprego.
Curixon pagava bem. Se eu conseguisse a posição, eu poderia pagar as coisas lentamente.
Emily me deixaria viver com ela por mais um tempo se isso significasse salvar a vida do meu pai.
Como eu poderia me casar com um homem que não amava e muito menos conhecia?
— Por que você está me ajudando? — eu perguntei.
— Quando você veio até mim esta tarde, — começou ele, — você respondeu a uma oração que eu havia
enviado ao céu. Você me deu forças quando eu precisei. Por isso, agora estou aqui para responder suas
orações. Estou aqui para lhe dar força, e é assim que eu posso fazer.
Pensei sobre isso, minha respiração saía entre breves intervalos.
Eu estava realmente considerando isso?
— Angela? — Brad me chamou suavemente.
— Posso ao menos ter algum tempo para pensar sobre isso? — eu perguntei. — Isto é muita coisa para
assimilar.
— É claro, — ele disse.
Brad me entregou um cartão de visita, feito de um metal fino e leve.
Acho que papel é muito plebeu para um bilionário, pensei de certa forma delirante.
— Ligue-me quando decidir. — Ele sorriu para mim antes de se virar.
— Eu realmente acredito que isso vai funcionar, Angela. Eu realmente acredito.
Meu telefone tocou, acordando-me do meu devaneio. Virei sobre minha cama, verificando o identificador de
chamadas.
CURIXON LTD.
Eu me enfiei direito na cama, com meu coração martelando no peito.
Está bem, está bem, está bem, está bem.
Eu respirei fundo.
— Olá? — Eu disse, disposta a não tremer minha voz.
— Olá, é a Angela Carson falando?— disse uma voz feminina do outro lado da linha.
— É ela.
— Olá, Angela. Só estou ligando para informar que infelizmente decidimos seguir em frente com outros
candidatos a este trabalho.
— Oh. — Meu coração afundou.
— Manteremos sua solicitação arquivada caso outra posição se torne disponível.
— Está bem. Obrigada.
O que mais eu poderia dizer?
Depois de mais alguns segundos de dolorosas trocas de palavras, desmaiei no travesseiro, com a cara
primeiro.
Então minha entrevista não foi tão boa assim.
Senti lágrimas de frustração brotarem em meus olhos, e as deixei de molho no travesseiro. Havia muito mais
em jogo do que apenas pagar as contas e ter algum dinheiro para gastar.
A vida do meu pai estava em jogo.
Peguei meu telefone, rodando pelos meus contatos.
Olhei fixamente para o número de Brad Knight, meu polegar pairando sobre o botão de chamada.
Não é que eu tenha muita escolha.
Aperto o botão de discagem, selando meu destino.
— Olá? — Brad atendeu.
— Olá Sr. Knight, é a Angela.
— Angela! — Ele me cumprimentou calorosamente. — Fico feliz que tenha ligado. — Então, posso presumir
que...? — Ele deixou a pergunta no ar.
Eu respirei fundo. Senti que seria esmagada por baixo do peso das palavras que se formavam em minha boca.
— Sim, — eu disse. — Eu aceito.
Senti algo dentro do meu coração se encolher e morrer.
— Eu me casarei com seu filho.
Capítulo 3 Despertar Brusco

Brad
Eu não podia acreditar que ela tinha dito sim. Mesmo sendo um homem de negócios muito bem sucedido,
mesmo acostumado a ser tratado como o magnata que eu era, ainda me encontrei sem palavras. Havia algo
tão inocente sobre ela.
E ainda assim, aqui estava ela, apertando as mãos em um arranjo que forçaria sua vida por um caminho
diferente. Eu poderia concordar em pagar as contas médicas de seu pai, mas de alguma forma, eu ainda me
sentia em dívida com ela.
Alguns dias haviam se passado desde que eu a havia localizado no pequeno hospital de New Jersey, e hoje era
o dia em que nos reuniríamos para discutir os mínimos detalhes do acordo.
Eu a convidei para um chá no Plaza, e ela aceitou prontamente. E quando ela perguntou:
— Qual praça? — Eu não pude deixar de rir; a garota foi inequivocamente encantadora.
Eu tinha acabado de me sentar à minha mesa habitual, aquela no canto com poltronas de veludo de ambos os
lados. Era verdade que muitos dos meus associados frequentavam esta sala de jantar, mas esta mesa,
escondida atrás de arranjos florais, facilitava evitá-los.
Eu estava apenas verificando meus e-mails quando senti toda a disposição da sala mudar, como se uma rajada
de vento tivesse entrado numa sauna, deixando todos lá dentro refrescados.
Olhei para cima, e lá estava ela. Ela entrou nervosamente na sala, olhando em volta como uma criança
perdida. Eu não pude deixar de sorrir e me sentir ainda mais seguro sobre meu plano.

Angela
Acordei assustada esta manhã, surpresa com como tinha conseguido dormir até tarde. Tomei chá com Brad
Knight, agendado para o início da tarde. Cara, pensei, essa é uma frase que eu nunca pensei que diria. O que
as pessoas vestem para um chá da tarde?
Um terno de negócios?
Um vestido de babado?
Pensei em pedir ajuda a Em, mas depois teria que explicar com quem eu estava me encontrando, e por quê. E
isso me pareceu ter mais um problema totalmente diferente. Então, em vez disso, vesti minhas roupas
normais, um jeans e uma blusinha, calcei minhas botas pretas favoritas, e saí.
Após consultar o Google, soube que o Plaza não era na verdade uma praça, mas o Plaza Hotel. Frequentado
por pessoas ricas, o Plaza tinha uma mistura de negócios e celebridades.
E o chá da tarde não era apenas de camomila ou pekoe tipo orange.
Foi um evento. Eu li tudo isso no trem, olhando para o jeans que eu havia escolhido usar. Eu era um peixe fora
d’água, isso era claro. Meus nervos estavam cada vez mais à flor da pele.
Será que eles sequer me deixariam entrar?
Assim que entrei, o porteiro saiu correndo de trás de sua mesa e colocou uma mão no ar, parando-me.
— Madame?
— Oi, sim, — eu gaguejei. — Estou aqui para o chá?
Ele apenas levantou uma sobrancelha.
— Vou me encontrar com o Sr. Knight, — eu disse, também não acreditando muito nisso. Mas dizer o nome
dele foi o suficiente.
— Ah, perfeito, — ele disse, seu sotaque francês o torna ainda mais intimidante. — Siga-me.
Assim que ele abriu as portas da sala de jantar, eu fiquei sem ar. A decoração era tão meticulosamente
arranjada, tão impossivelmente bem coordenada, que eu sentia que apenas caminhar por ali seria arruiná-la.
Olhei ao meu redor, de mesa em mesa, sentindo-me como uma estrangeira. E então vi Brad no fundo,
levantando-se e acenando. O concierge, ainda ao meu lado, levantou outra sobrancelha para mim.
— Obrigado por sua ajuda, — eu disse suavemente, e atravessei as
mesas de pessoas que eu só tinha visto em revistas. Caramba.
— Sente-se, — disse Brad assim que eu me aproximei. Ele apontou
para a cadeira de veludo em frente a ele, e eu senti como se tivesse
afundado em uma nuvem no momento em que me sentei. — Obrigado
por se juntar a mim.
— Obrigada por me convidar, — respondi, cheia de nervosismo. —
Este lugar é incrível.
— Isso?— ele disse, olhando em volta. — Isso não é nada. — Mas ele
tinha um sorriso no rosto, sinalizando que estava brincando. — É algo a
que você vai se acostumar.
— Não acho que poderia.
— Acredite em mim, — ele disse, — o brilho e o glamour se
desgastam. Há um limite para quantas garrafas de champanhe você pode
comprar antes de perceber que não tem ninguém com quem goste de
dividi-las. Mas é por isso que você está aqui.
— Você bebe champanhe no chá? — perguntei, confusa. Nesse
momento, o garçom apareceu, usando uma gravata borboleta. Pensei que
ele poderia ser um modelo. Ele olhou para o Brad.
— Sr. Knight? O de sempre?
Brad acenou com a cabeça e ele desapareceu sem sequer olhar para
mim. Então Brad se inclinou para frente, e eu pude perceber que ele
estava se preparando para começar A Conversa.
— Então, Angela. O que você pode não saber sobre meu filho, Xavier,
é que ele já passou por muita coisa. Crescer comigo como pai não é fácil,
ao contrário do que muitos poderiam acreditar. Há muita pressão. E
pressão em lugares pequenos....
— Causa uma explosão, — eu terminei. E então senti sangue
correndo para as minhas bochechas. Teria eu acabado de interromper o
Brad Knight?
Mas ele apenas acenou para mim.
— Exatamente. Xavier tem andado por todo o lado ultimamente. E eu
acho que você... você tem a capacidade de fazê-lo criar raízes em algum
lugar. Para lembrá-lo do que é importante. Isso é o que estou propondo.
— Então, eu me caso com seu filho, e você garante a saúde do meu
pai... suas contas médicas...
— Tudo será pago, — ele disse, com uma certeza que me fez confiar
nele. — Desde que você me garanta que nosso acordo, nosso arranjo,
nunca será dito a mais ninguém. — Ninguém pode saber por que você
está fazendo o que está fazendo. Nem sua família, nem seus amigos. E
nem Xavier. Nunca meu filho.
Ele me entregou um documento com várias páginas. Eu vi que era um
contrato, com pelo menos trinta cláusulas. E então o rosto do meu pai
passou pela minha mente — o rosto que eu tinha visto na cama do
hospital, todo pálido e fraco.
Minha mente estava me dizendo para parar, para pensar sobre isso,
mas era como se minha mão estivesse trabalhando sozinha. Tirei a
caneta chique da mão do Brad Knight e assinei o contrato.
Depois, ainda com as mãos tremendo, tomei um gole do chá
fumegante que o garçom-modelo colocou diante de mim.
Brad: 15h, Central Park.
Brad: Sessão de fotos do casamento.
Brad: Devo enviar um carro?
Angela: Tudo bem.
Angela: Eu pego o trem.
Alguns dias após a reunião no Plaza, Brad estava me enviando instruções.
Eu nunca tinha ouvido falar de uma sessão fotográfica de casamento
antes. Claro, eu sabia que os noivos tiravam fotos no casamento, mas
semanas antes?
Brad tinha me dito para usar o que eu achasse confortável, então eu
presumia que seria casual. Mas assim que saí da estação Columbus
Circle, vi Brad de pé na borda do parque. Ele estava na frente de um
trailer — o tipo de trailer que os atores usam quando estão filmando
cenas. Ele me acenou, com verdadeira excitação no rosto.
— Angela! Aqui!
— Estou indo! — Eu disse, quase gritando. Não foi bem um grito nem
uma voz interior.
Quando atravessei a rua e estava a poucos passos de chegar até Brad,
ele abriu a porta do trailer. Eu podia ver o caos se desdobrando lá dentro.
— Há aqui um cabeleireiro, um maquiador e um estilista para você,
— ele disse, batendo palmas. — Não tenha pressa. Vamos começar a
filmar na hora mágica.
— A hora mágica? — perguntei, porque essa era a coisa mais recente e
confusa que ele tinha dito.
— Entre 16h30 e 18h30, — respondeu ele. Então ele sussurrou: — É o
que eles me dizem, de qualquer forma.
Antes que eu pudesse responder, uma das mulheres estilosas dentro
do trailer me puxou e fechou a porta atrás dela.
Xavier: Chegarei tarde.
Brad: Isso é inaceitável, Xavier.
Brad: Xavier?
Brad: Filho, responda-me.
Eu não podia acreditar no rosto que vi olhando para mim no espelho.
Meu cabelo havia sido empilhado em cima da minha cabeça, em uma
coisa complicada de trançar o nó superior, com um par de fios soltos
emoldurando meu rosto. Parecia extravagante e descontraído ao mesmo
tempo. Então, em outras palavras, não parecia nada comigo.
A maquiadora, Sky, demorou mais de uma hora para fazer meu rosto.
Meus olhos estavam suavemente forrados com tinta marrom escuro, e o
blush em minhas bochechas me fazia parecer toda rosada. Eu nunca usei
maquiagem, além do pincel ocasional de rímel, e ter tanto em mim
parecia que eu estava brincando de me vestir como adultos.
— Já está pronta…? — Brad disse, batendo na porta semi-aberta. Mas
ele parou quando me viu.
Eu estava com um vestido de renda branca que ia até meus joelhos, e
um par de saltos de sete centímetros que me dava ansiedade. Eu mal
conseguia andar sem cair, mas ninguém ao meu redor parecia se
importar. Brad tomou conta da minha aparência.
— Você está linda, — ele disse de forma paternal, e eu imediatamente
imaginei meu próprio pai dizendo a mesma coisa. Eu sorri.
Ele pegou minha mão e me levou para fora, certificando-se de que eu
estivesse pisando bem a grama. Quase caí algumas vezes, mas quando vi
a sessão fotográfica montada no parque, esqueci os sapatos.
Havia luzes amarradas nas árvores, um enorme cobertor de
piquenique na grama, e um buffet de charcutarias e garrafas de vinho
geladas em uma mesa próxima. Parecia uma propaganda em um
programa da HGTV.
— Isto é... incrível, — eu disse, voltando-me para Brad.
— Espere até ver o casamento, — ele disse, piscando. Tudo isso foi
inacreditável. Olhei novamente em volta, percebendo o que estava
faltando.
— Onde está o Xavier?
Brad hesitou — a primeira vez que eu o vi inseguro assim, mas antes
que ele conseguisse falar, sua atenção se deslocou para algo atrás de mim.
Um enorme sorriso envolveu seu rosto.
— Desculpe-me, querida, — ele disse, e então passou rapidamente
por mim, indo abraçar seu filho.
Foi quando eu o vi. Xavier Knight, com seu um metro e noventa de
altura. Ele era alto, moreno e bonito. Isso ficou claro imediatamente. Ele
abraçou seu pai e depois me olhou nos olhos, com toda a frieza.
Brad o levou até onde eu estava, e me beijou na bochecha com um
suave "Olá".
— Oi, — eu disse, com olhos no chão, sentindo as palmas das mãos
começarem a suar.
A sessão fotográfica propriamente dita foi feita em quinze minutos.
Estávamos sorrindo e olhando um para o outro nos olhos. Bem,
tentando, de qualquer forma.
Olhar para ele era como olhar para o sol. Ele tinha uma intensidade
que era quase insuportável. Mas cada vez que eu desviava o olhar, o
fotógrafo gritava: — Nos olhos dele! — E um fotógrafo extravagante
gritar pra você era ainda mais embaraçoso do que o rubor que vinha
sempre que eu fazia contato visual com meu noivo.
— Isso vai impressionar o The Times, — disse o fotógrafo quando
terminamos. — Não via um casal tão atraente desde Jennifer e Brad.
Apesar de tê-lo ouvido claramente, eu sabia que ele não poderia estar
falando de mim. Eu estava estranha, e minhas bochechas já devem estar
da cor de tomates maduros.
Mas então vi Xavier caminhar na minha direção, uma garrafa de
vinho em sua mão, e meus nervos ficaram ainda mais altos. Ele vai
esperar algo de você. Você precisa fazer alguma coisa com elegância. Mas
eu nunca havia tido um namorado antes, então, como minha mente
continuava agitada, eu não tinha certeza de como proceder.
Eu vi Brad a alguns metros de distância, apertando a mão do
fotógrafo, e ele me viu olhando e sorriu. E então ele viu seu filho vir em
minha direção, e seu sorriso cresceu. Voltei para Xavier, que estava quase
bem na minha frente.
— Foi um prazer conhecê-lo, — eu disse, porque me senti obrigada a
dizer algo, mas não sabia bem por onde começar. Ele sorriu para mim,
mas algo pareceu estranho. Havia algo sinistro nele, em seu sorriso.
Como se algo não estivesse certo na expressão de Xavier.
Eu olhei para o chão, esperando que ele dissesse algo. Mas em vez
disso, ele levou seus lábios até a minha bochecha.
— Eu não sei quem você é, — começou ele, suas palavras me bateram
logo no ouvido. — Eu não sei o que você quer. Mas você não me engana.
Não caio nesse cabelo, maquiagem e vestido. Você não me engana.
Seus lábios escovaram o outro lado do meu rosto agora, e então ele
sussurrou mais veneno.
— Não caio nessa, sua puta oportunista. E eu te odeio, porra.

Capítulo 4 Mentiroso Mentiroso

Angela
A água quente caía sobre minha pele, mas por mais que eu esfregasse, eu
ainda me sentia suja.
Que nojo.
Eu não podia acreditar como Xavier tinha falado comigo. Eu não
podia acreditar no que ele pensava de mim — que eu estava atrás do
dinheiro dele e do nome de sua família.
A ideia de usar alguém assim era suficiente para me deixar enojada, e
ainda assim era exatamente o tipo de pessoa que ele tanto acreditava que
eu fosse.
Foi aí que a ironia me atingiu.
Eu fui atrás de seu dinheiro.
Se não fosse pela fortuna dos Knight, eu nunca teria concordado em
casar com Xavier Knight.
Mas eu não era uma oportunista egoísta.
Eu estava fazendo isso para salvar a vida do meu pai.
Mas isso melhora as coisas?
Depois de desligar o chuveiro, enrolei uma toalha bem apertada ao
redor do meu corpo. Qualquer coisa para não me deixar em pedaços.
Sequei-me e vesti meu pijama de forma robótica, minha mente estava
longe.
Quando desmaiei na cama, meus olhos caíram sobre um quadro
emoldurado do outro lado do meu quarto. Era uma foto de mim, Danny,
Lucas e meu pai.
Todos nós parecíamos tão felizes.
Nosso pai parecia tão saudável.
A foto foi tirada na última Ação de Graças. Danny tinha queimado o
peru e Lucas tinha feito muito recheio, mas estava perfeito.
Todos nós nos esprememos no sofá velho e gasto da sala de estar e
assistimos a uma partida de futebol sem nos preocuparmos com o
futuro.
Coloquei minha cabeça em minhas mãos.
Como tudo mudou tanto em apenas um ano?
Nosso pai foi sempre um pilar de força. Depois que a mãe faleceu, ele
assumiu o papel de ambos. Ele era a única constante, uma rocha
constante na tempestade da vida.
E agora ele estava no hospital, e eu não tinha certeza se ele ia...
Em: Olá, menina.
Em: Tá a fim de (emoji de sushi – 🍣) à noite?
Eu olhava para os pequenos emojis de sushi, a pequena e despretensiosa
imagem que me salvava dos meus pensamentos.
A última coisa que eu queria fazer era sair em público. Meus
cobertores sussurraram sedutoramente para mim, tentando-me com a
promessa de escuridão e silêncio.
Mas talvez sair fosse exatamente o que eu precisava. Mesmo que fosse
para escapar dos meus pensamentos por uma noite.
Para me afastar da memória de Xavier me encarando com seus olhos
azuis...
Angela: OK, te encontro no lugar de sempre em 40 min Em:
Uhuuulll
— Você é bom demais para Curixon de qualquer forma, — disse Em,
colocando mais um pedaço de sashimi de salmão em sua boca.
Mergulhei meu nigiri de atum em molho de soja, cantarolando sem
compromisso.
— Ainda não entendi, — murmurei. — Tive uma sensação tão boa
depois das minhas entrevistas.
— Bem, eles que saíram perdendo. — Em arrancou um prato de sushi
de salmão da esteira transportadora na nossa frente. Ela estava
rapidamente acumulando uma pequena torre de pratos vazios ao seu
lado.
Eu mastiguei minha comida sem degustar.
Se ao menos Curixon tivesse dado certo. Talvez eu não tivesse
acabado ficando noiva de um bilionário odioso.
Meus olhos vagueavam preguiçosamente sobre a esteira lenta diante
de mim. Eu tinha tantas escolhas, mas nenhuma delas era nem um pouco
atraente.
Em colocou um rolo de salmão no meu prato vazio.
— De qualquer forma, não viemos aqui para chorar. — Ela sorriu para
mim, e eu não pude deixar de sentir meu espírito se elevar um pouco. —
Feliz pré-Ação de Graças.
— Feliz pré-Ação de Graças, — eu respondi, e batemos nossos
pedaços de sushi juntos antes de comê-los.
Todos os anos, Em e eu temos nossa própria refeição de pré-Ação de
Graças antes de irmos passar com nossas famílias.
— De qualquer forma, — disse Em ao redor de uma boca cheia de
comida, — você ouviu falar da agitação no Central Park hoje cedo?
— Hmm?
— Aparentemente, um casal mega-rico realizou uma sessão
fotográfica chique pré-casamento. Eles até bloquearam uma seção inteira
para que ninguém conseguisse se aproximar.
Eu me engasguei, tentando ao máximo não enviar pedaços de sushi
voando sobre a esteira.
Em me deslizou um copo de água.
— Não é? Quão louco é isso? — Ela suspirou, melancólica. — Imagine
ser tão rico e apaixonado que você poderia reservar o Central Park.
Eu bebi um pouco de água, depois limpei minha garganta.
— Sim, eu imagino que...
Eu não podia exatamente dizer a ela que aquilo era minha sessão
fotográfica pré-casamento.
Nem eu poderia corrigi-la.
Claro, Xavier era mega rico.
Mas nós definitivamente não estávamos apaixonados.
O olhar de ódio e repugnância de Xavier me passou pela mente
novamente.
Nada poderia estar mais longe da verdade.
— Angela? Você está bem?
Eu pestanejei, caindo em meus pensamentos.
— Claro, — eu menti.
— Parece que você viu um fantasma...
— S-Só um pouco cansada, acho.
Em me olhou fixamente, seus olhos procuravam os meus. Eu nunca
fui uma boa mentirosa. E Em me conhecia melhor do que ninguém.
Mas eu não poderia dizer a verdade, nem se quisesse. Eu não poderia
dizer a ninguém. Nem mesmo à minha família. Eles provavelmente
acabariam descobrindo. Era impossível esconder para sempre um
casamento tão proeminente.
Mas eles nunca poderiam saber a verdade sobre meu acordo com
Brad Knight.
Eu fui literalmente contratada para mentir.
E assim o fiz.
— De qualquer forma, tenho que fazer alguns preparativos de última
hora para o Dia de Ação de Graças de amanhã, — eu menti novamente.
— Eu vou pra casa.
— Certo, — disse Em, com um tom neutro. Eu não podia dizer se ela
acreditava ou não em mim, mas ela abandonou o assunto.
Levantamo-nos e, depois de pagar, saímos para o ar fresco noturno.
Sentia meu coração pesado de culpa. Tinha que mentir para minha
melhor amiga.
E isso foi apenas o começo...
Lucas: Não se esqueça da torta Angela: (3 emojis de espanto 😲
😲😲) Lucas: ...
Lucas: Sério?
Angela: Oops...
Lucas: Nova York muda as pessoas.
Angela: Eu vou voltar pra buscar.
Lucas: Não se preocupe, tudo bem.
Lucas: Só ajude com o peru antes que Danny o queime.
Frustrada, encostei-me na minha cadeira e fechei os olhos.
Eu não podia acreditar que tinha esquecido a torta de nozes. Era
praticamente um dos pontos básicos no Dia de Ação de Graças.
Mas é que eu estava com a cabeça cheia.
O trem passou por cima de um pequeno obstáculo, e eu me movi no
meu assento, encostando minha cabeça contra a janela e olhando para
um mundo que desaparecia.
Eu estaria em Heller em uma hora; queria que já estivesse lá.
Meu pai nos garantiu que ele estava bem o suficiente para ter o Dia de
Ação de Graças em casa.
Meus irmãos continuavam me dizendo como ele estava muito
melhor, e eu mesma mal podia esperar para vê-lo. Mal podia esperar para
ver todos.
Eu senti meu coração relaxar. Percebi o quanto estava aliviada por
estar saindo de Nova Iorque. Mesmo que fosse apenas por alguns dias,
algum tempo longe do drama do contrato seria bom para mim.
Isso me daria espaço para respirar e elaborar um plano.
Depois do que me pareceu um século, eu estava finalmente subindo os
degraus da frente da minha casa de infância.
Eu bati à porta e Lucas respondeu, envolvendo-me em um grande
abraço de urso.
— Você cheira a trem, — ele disse, puxando-me para dentro de casa.
— Prazer em vê-lo também, — eu disse, pondo minha língua de fora.
Eu entrei e uma onda de nostalgia me atingiu.
Foi aqui que eu cresci. A casa que me tinha visto celebrar e lamentar
na vida em medidas iguais.
Era aqui que eu e Em costumávamos assistir filmes só para adultos,
onde Lucas e eu costumávamos construir castelos de travesseiros e
comer Nutella do pote.
Mas estar de volta agora, com tudo o que havia acontecido, parecia
diferente.
Era como se de alguma forma esta casa não pudesse mais me proteger
do mundo exterior.
— É ela? Angie? — E lá estava ele, vindo para o corredor em uma
cadeira de rodas. Ele se parecia mais com o pai que conhecia do que com
o homem na cama do hospital.
— PAI! — Eu saltei na sua direção, abraçando-o com força. Ele
realmente parecia mais saudável. Vê-lo fora do hospital fortaleceu minha
determinação.
Se aturar um bilionário zangado significasse que meu pai ficaria
bem... então que assim seja.
— Meu Deus, Angie, estou aqui, — ele disse, rindo. — Eu não vou a
lugar nenhum, minha filha. A menos que você me empurre até lá.
— Eu sei. — Tentei limpar sorrateiramente uma lágrima antes que ela
me saísse do olho. — Estou feliz em vê-lo. Você está ótimo.
— Pronta para ver o peru?
— Você quer dizer Danny? — Eu brincava.
— EU OUVI ISSO! — Danny gritou da sala de estar. Eu sabia que ele
já estava sentado no sofá assistindo futebol, seus olhos colados à TV.
Não consegui impedir que um sorriso bobo se espalhasse pelo meu
rosto.
Isso era exatamente o que eu precisava.
Nossa campainha tocou, e todos nós olhamos para a porta em
confusão.
— Estamos esperando alguém? — perguntei ao Lucas.
— Não. — Seus olhos se iluminaram por um segundo. — Você
convidou a Em?
— Não, ela deveria estar com a mãe dela. — Caminhei em direção à
porta e a abri...
E de repente, meu pequeno santuário de Ação de Graças foi desfeito
em pedaços.
Porque ali parado, bonito, perfeito e completamente deslocado, com
uma caixa de torta de nozes nos braços, estava Xavier Knight.
Ele me mostrou um sorriso brilhante, mas não chegou aos seus olhos.
Eles pareciam frios. Calculistas. Como um lobo que brincava com sua
comida antes de começar a matança.
— Olá, querida, — ele zombou.
Meu coração deu um pontapé pelo exagero. Eu estava prestes a ter
um ataque de pânico total. Minha família nem sabia que eu estava saindo
com alguém, muito menos casando com o solteiro mais rico da cidade de
Nova Iorque.
— O que você está fazendo aqui...
— Angela? — O pai chamou às minhas costas. — Quem é esse?
Um poço de pavor se abriu em meu estômago quando ouvi minha
família se aproximar de mim.
— U-um, isto é...
Xavier avançou ao meu lado, seu comportamento cruel e zombeteiro
desapareceu em um piscar de olhos.
Ele enrolou um braço na minha cintura, e sorriu para mim, sua
expressão exalando amor e carinho. Ele parecia a definição do parceiro
perfeito.
Mas eu o conhecia de verdade.
Ele me odiava profundamente. Seu toque parecia mais amarras do
que um abraço. Eu senti os olhares de meu pai e de meu irmão focados
no gesto e meu rosto queimando de vergonha e constrangimento.
— Eu sou Xavier, — disse meu torturador, com sua voz amanteigada.
— Eu sou o noivo de sua filha.
Capítulo 5 Toda Amarrada

Xavier
Não sei o que deu em mim quando decidi visitar a família de Angela no Dia de Ação de Graças.
Talvez tenha sido uma curiosidade mórbida.
Talvez eu quisesse ver como era a família de uma oportunista.
Talvez eu quisesse conhecer seus pontos fracos para poder expulsá-la da cidade antes do temido dia do nosso
casamento.
Mas tudo o que encontrei foi um momento embaraçoso ao redor da mesa de jantar e uma refeição de merda.
Eu dei outra mordida no peru, conseguindo de alguma forma manter uma cara séria.
Por mais que eu o encharcasse com molho, ainda sentia mais vontade de dar uma mordida na porra do
deserto do Saara.
— Mais recheio?
Procurei o irmão mais velho oferecendo-me outra colher cheia de esterco. Ele estava obviamente tentando
ser educado, mas eu sabia que ele estava se forçando a isso.
Eu pude sentir a hostilidade em ondas de toda família.
— Por favor, — eu disse, segurando meu prato para um recheio mais insípido. — Meus cumprimentos ao chef.
— Pelo menos alguém lembrou de trazer a torta, — comentou o outro irmão. Ele estava tentando preencher o
silêncio. — Você poderia ter dito que traria, Angie.
— Eu queria que fosse uma surpresa, — Angela se engasgou.
— Bem, com certeza foi uma das grandes, — murmurou o pai. Ele me olhou fixamente, e eu, em troca,
coloquei um sorriso falso no meu rosto.
Ele definitivamente estava desgastado com a idade. Parecia que ele tinha acabado de sair do hospital.
— Então, como vocês dois se conheceram? — ele grunhiu.
— É uma história engraçada, na verdade. — Eu dei um sorriso afiado à minha noiva oportunista. — Mas
Angela conta melhor do que eu.
Ela imediatamente ficou muito vermelha. Seu rosto parecia ter sido cozido em um forno por muito tempo. Eu
toquei a carne seca no meu prato.
Tenho certeza que vocês têm muito em comum, coitados.
— Nós nos encontramos inesperadamente...
Sentei-me e ouvi Angela contar uma balela sobre como nos encontramos em um lugar modesto. Contribuí
com acenos de cabeça e sorrisos, além de um ou dois risos nos momentos apropriados.
Não tenho certeza do que esperava encontrar ao ir à casa de Angela.
Um covil de cobras?
Uma família cigana itinerante de golpistas?
Eu esperava que eles tentassem me bajular. Para pedir coisas ou lisonjear o peixe grande que sua filha havia
pescado em sua linha de mentiras.
Mas até onde pude perceber, eles pareciam uma família velha entediante e regular. Eles eram
superprotetores e preocupados com sua preciosa filha e irmã. Aos seus olhos, ela não podia fazer nada de
errado.
Ela era uma santa.
Um anjo.
Mas este anjo estava mentindo.
Eu a observei com os olhos focados.
Falando em um nível completamente superficial, Angela era muito bonita. Não tinha como negar isso. Ela
tinha um cabelo loiro luxurioso, olhos brilhantes e inteligentes, e o tipo de corpo que faria qualquer
homem sonhar acordado.
Ela era uma mistura de a garota que morava ao lado com uma mulher pinup da revista Playboy.
— Parece que vocês dois estão se indo bem rápido, — disse o pai. — O que você gosta em Angela? O que o fez
propor à minha filha?
— Pai! — ela protestou.
Eu dei uma olhada na Angela. Seus olhos de corsa eram largos e suplicantes.
Eu poderia ter dito a verdade naquele instante.
Ter contado à família seu segredinho.
Mas isso não me teria feito nenhum bem.
Tudo o que eu sabia era que, se eu casasse com esta mulher, meu pai me garantiria minha posição na
empresa. Eu acabaria recebendo meu direito de nascença como CEO da Knight Enterprises.
E se isso significava enganar esta família de caipiras de Nova Jersey, que assim seja.
— O que ela tem para não se gostar? — eu perguntei. Eu olhei nos olhos de Angela. — Sua filha é linda. Ela é a
mulher mais compassiva e gentil que já conheci. E eu sei que ela vai ser honesta e leal para o resto de nossas
vidas juntos.
Angela desviou o olhar e teve a decência de olhar para baixo com vergonha.
— Hmm... — o papai oportunista grunhiu e enfiou uma colher cheia de purê de batata na boca.
Ele não parecia totalmente convencido, mas abandonou o assunto por enquanto.
Senti a mão de Angela apertando a minha por baixo da mesa. Ela me olhou de relance e me disse em silêncio:
— Obrigada.
Por uma fração de segundo senti a tensão em meus ombros relaxar.
Minha irritação e raiva desapareceram sob o seu toque, e me vi perdido em seus olhos.
Mas então a parte racional do meu cérebro reprimiu o lado estúpido e sentimental.
Afastei-me dela, mais zangado do que antes.
Não caia em seus truques.
Tudo o que as mulheres sempre querem é o seu dinheiro.
Seu status.
E se você baixar a guarda por um segundo sequer, elas vão arrancar seu maldito coração.
— Parece que começou o segundo tempo do jogo, — disse um dos irmãos. Os homens correram para a
oportunidade de escapar da conversa embaraçosa do jantar. Eu não os culpei.
— Eu cuido da louça, — eu disse quando começaram a pegar seus pratos. — É o mínimo que posso fazer,
sendo um convidado surpresa e tudo mais.
— Obrigado, — disse o pai Longtooth. Ele começou a se deslocar até a sala antes de parar e olhar para mim. —
Você é ã de futebol?
— É claro, — eu disse. — Que se danem os Eagles.
Ele grunhiu sua aprovação antes de desaparecer na sala de estar, junto com seus filhos.
Mas o mais problemático do grupo decidiu ficar.
Ela silenciosamente ajudou a limpar a mesa, recusando-se a encontrar meu olhar.
— O que você ganha com isso? — eu perguntei.

Angela
Eu quase deixei cair o prato que estava segurando.
— Você está chantageando meu pai? — Xavier continuou. — Por que diabos ele quer que eu me case com
você?
— Não estou chantageando ninguém, — eu disse.
— Então o que diabos está acontecendo? — Ele se aproximou e se elevou sobre mim. Mas ele não estava
tentando me intimidar.
Pela primeira vez desde que eu conheci Xavier, ele parecia sincero.
Sua expressão aberta e confusa não era atuação.
— Seja honesta comigo, — ele disse, com uma voz baixa.
As borboletas vibraram em meu estômago.
Meu coração bateu nos meus ouvidos.
Este foi um vislumbre do homem por trás da máscara cruel.
Ele estava estendendo um ramo de oliveira.
Estará tudo bem se eu lhe disser a verdade?
Ele vai me odiar menos? Odiar-me mais?
Seremos capazes de ter um relacionamento real?
Abri a boca, mas as palavras não vieram. A verdade foi selada por tras do contrato que eu havia assinado com
Brad.
— Eu... eu realmente gosto de você, e pensei que poderíamos ter uma vida feliz juntos. — As palavras soaram
frágeis e fracas, mesmo para os meus próprios ouvidos.
O rosto de Xavier escureceu, e eu vi o ramo de oliveira pegar fogo diante de mim. Ele se afastou de mim,
aquela máscara cruel e fria deslizava de volta para o lugar de antes.
— Você está errada sobre isso, — ele disse, suas palavras tão afiadas quanto uma faca. — Nossa vida juntos
vai ser qualquer coisa exceto feliz.
— ISSO NÃO É REAL! ISSO NÃO PODE SER REAL!
Minha amiga Em refletiu meus pensamentos quando ela chutou seus sapatos e correu através do chão de
mármore aquecido.
Olhei à minha volta na suíte nupcial do hotel Tribeca dos Knight. O lugar parecia mais um museu do que um
quarto. Era tudo tão perfeito.
Mas eu não consegui sequer sentir o mínimo de excitação dentro de mim mesma.
Na semana entre o Dia de Ação de Graças e o casamento, meu pai tinha tido outro derrame.
Eles o colocaram em coma induzido há alguns dias. Eu queria correr para o lado dele, mas Lucas e Danny me
disseram que não havia nada que eu pudesse fazer. Ele estava estável.
E eles não sabiam quanto tempo ele ficaria em coma...
Senti lágrimas brotando em meus olhos.
Meu pai não estaria lá para me acompanhar até o altar.
Em voltou da grande cozinha e me entregou um copo.
— Mimosas? — Eu franzi a sobrancelha para a bebida. — Ainda mal passou do almoço.
— Garota, se houver algum dia que você pode beber um pouco mais cedo, é hoje. — Ela bebericou seu
próprio coquetel. — Você vai se casar.
Eu tinha contado para Em a mesma história que contei para minha família. Tinha contado a mentira com tanta
frequência que eu mesma quase começava a acreditar nisso.
— Um brinde a você, — disse Em, batendo seu copo ao meu. — Estou tão feliz por você estar feliz. — Ela
olhou diretamente para mim ao dizer aquilo, os olhos dela analisando os meus. Era quase como se ela
estivesse esperando eu, para confirmar.
Uma batida na porta me salvou de responder. Em apressou-se e a abriu, revelando um bando de mulheres de
aparência fabulosa em uniformes todos pretos.
— Nós somos a equipe nupcial, — disse a da frente. Notei a Sky, a maquiadora da sessão fotográfica, entre
elas.
As mulheres marcharam para o quarto e começaram a montar seus equipamentos no banheiro do tamanho
de um quarto. Uma delas apontou para mim e, com um movimento brusco de seu queixo, fez um
gesto para que eu a seguisse.
Todas trabalharam na minha aparência durante o que pareceram horas. As mulheres eram como um quarteto
de fadas madrinhas furiosas, transformando-me em Cinderela por chicotadas antes do baile.
Eu não estava acostumada a ser mimada. Sempre que eu levantava um dedo para ajustar alguma coisa, eu era
repreendida com olhares duros e assobios agudos.
Elas usaram em mim produtos de beleza que eu nunca havia visto antes em minha vida.
Aparentemente, meu vestido foi desenhado pessoalmente por alguém chamado Alexander Wang.
Sentime entorpecida. Quase como se eu estivesse tendo uma experiência fora do corpo. Mas quando todas
elas terminaram, quando eu me vi no espelho, tudo entrou em foco.
Não sou eu. Não é possível.
Mas era. Minha pele estava envolta em uma seda destinada a uma rainha. A maneira como ela se arrastava e
se agarrava, a maneira como o marfim fazia minha pele brilhar, a maneira como o espartilho abraçava minha
figura e a cauda caía diretamente atrás de mim no chão, tudo era perfeito.
Perfeito demais.
— OHMEUDEUSOHMEUDEUSOHMEUDEUS, — Em gemeu e correu em direção ao reflexo, admirando o
vestido.
— Você está tão bonita. Você está tão real. ¿O que é este vestido? Onde posso conseguir um?
— Em, — eu disse depois de alguns segundos, meus olhos ainda fixados em mim no espelho. — Está
acontecendo. Eu vou me casar.
Ela se aproximou de mim e apertou minha mão.
— Você vai, Angie. Você vai.
Em tinha ido se sentar em seu lugar no banco da frente — porque ela era minha dama de honra, Brad tinha
insistido que apenas Xavier e eu ficássemos de pé na plataforma elevada. A equipe nupcial também tinha ido
embora, então era só eu, sozinha, numa suíte grande demais. Estava num vestido que eu não deveria estar
usando, com o cabelo todo para cima, e meu rosto contornado e realçado.
Era isso.
Respirei fundo e tomei outro gole de champanhe, depois abri a porta e saí. No segundo em que o fiz, ouvi meu
nome ser chamado do fundo do corredor. Virei-me para encontrar Danny, todo bem-vestido com o smoking.
Eu sabia que ele não tinha um smoking, que provavelmente era alugado ou emprestado por um amigo, e isso
me fez sorrir. Isso me fez sorrir.
— Oi, Danny, — eu disse enquanto ele me dava um abraço de urso.
— Você está deslumbrante, — ele disse. — Isso é uma loucura.
— Eu sei.
— Eu esperava te encontrar antes... você sabe, antes do seu grande momento, — ele disse, e não conseguiu
mais me olhar nos olhos. — Lucas está reservando nossos assentos lá dentro, mas... Olhe, mana, eu sei que
nós lhe fizemos passar um mau bocado por causa disso. Mas você tem que saber, Angie, estamos orgulhosos
de você. O papai também está.
— Você acha?
— Ele está orgulhoso de tudo o que você faz, você sabe disso. Você é a mais inteligente de nós, — ele disse. E
eu sabia que ele estava falando sério, o que pesava ainda mais no meu coração. — Mas se esse filho da puta
alguma vez fizer algo para te machucar, você sabe que temos um pé-de-cabra do tamanho do Kentucky em
nosso galpão.
Eu não pude evitar as lágrimas nos olhos.
— Eu sei, Dan, — eu disse, tentando olhar para o teto para que as lágrimas não caíssem e arruinassem o
trabalho árduo da Sky. Eu não estava me sentindo muito inteligente. — Obrigada.
Ele apertou meu ombro de maneira fraternal.
— Vejo você lá dentro. — E então ele andou de volta pelo corredor.
Eu tomei uma inspiração de ar. Agora era tudo por minha conta.
— Ei, — ele gritou, quase na porta.
— Sim?
— Não tropece, — ele disse. E então entrou na sala onde o meu futuro seria decidido. E, passo a passo, pouco
a pouco, eu também o fiz.

Xavier
O atrevimento daquela garota. Eu não podia acreditar que ela foi em frente com o casamento depois do que
eu havia dito a ela. Isso selou o negócio. Ela definitivamente estava nele pelo dinheiro. Nenhuma garota
respeitável, normal e simpática se casaria com o homem que lhe disse que ele a odiava... ainda mais na sessão
de fotos do casamento.
Basicamente, no Dia de Ação de Graças, eu havia dito a ela que nossa vida seria um inferno.
Eu olhei para a sala à minha frente. Meu pai tinha planejado tudo. O maior salão de baile do nosso hotel em
Tribeca, lírios brancos cobrindo todas as superfícies. Quinhentas pessoas lá para assistir ao espetáculo, para
ver seu único filho se transformar em um homem.
Se isso não provasse o quanto eu queria o maldito emprego na empresa, então nada o faria.
E então o rosto dela preencheu minha mente. A outra ela. Aquela que me fez pensar que eu era capaz de
amar e depois partiu meu coração bem na minha frente, rindo o tempo todo.
Assim que eu comecei a me preocupar com meu passado, o violinista
começou a tocar. Foda-se. Chegou a hora.
Eu vi meu pai no banco da frente parecendo mais satisfeito do que nunca. Tive que admitir, foi bom vê-lo
assim, sorrindo e se divertindo.
Ele e mamãe tinham estado tão apaixonados por todo o seu casamento, até que ela faleceu. Ele tinha se
tornado mais estoico depois, mais recluso. Mas ali, nos bancos, ele ria e abraçava a todos.
As grandes portas se abriram, e meus olhos se deslocaram para o fundo da sala. As pessoas nos bancos se
levantaram. Pensei no casamento de meus pais, e em como havia sido lindo. Esse não seria assim.
Não.
É melhor que esta menina esteja pronta para o pior casamento de sua vida.

Capítulo 6 Não Viaje

Brad
Não há nenhuma celebração como um casamento. Em meus sessenta anos de vida, essa foi talvez a única
coisa que eu poderia dizer com certeza em um determinado dia. A decoração, o vestuário, o espetáculo em si
— tudo em nome do amor. E o amor — o amor real, o verdadeiro amor — era a única coisa em que eu tinha
fé.
E então o que foi que este velho orquestrou?
Não importava que eu tivesse sido o único a encontrar o anjo que poderia ajudar a salvar meu filho. O que
importava era que ele estivesse aberto a ela. Claro, foi preciso convencimento. As crianças hoje em dia não
aceitam instruções como costumávamos fazer com nossos pais, mas isso não era nem aqui nem lá.
Assim que eu pus na mesa o papel — meu papel — na empresa na frente do rosto de Xavier, ele havia
aceitado. O casamento, o trabalho, tudo. Seu coração estava aberto para que ela entrasse nele, e isso era tudo
o que importava.
Hoje olhei ao redor do salão, cheio de familiares e amigos, associados e clientes, e não pude deixar de me
sentir orgulhoso. O organizador do casamento havia acertado na mosca.
A sala estava coberta de flores — lírios brancos, é claro — e ornamentos leves pendurados em postes ao longo
das paredes. Havia uma plataforma elevada onde os votos seriam feitos, e o padre estava de pé atrás de
Xavier enquanto esperavam a noiva.
Os bancos tinham sido especialmente instalados para combinar com o piso de carvalho, e vieram com
almofadas de marfim. O florista tinha entrelaçado lírios em cada banco, e havia pequenas luzes brilhantes
entre eles. A sala inteira estava radiante, como deveria estar.
Fiquei feliz em ver os bancos cheios até a borda, embora não tivéssemos permitido que a imprensa assistisse à
cerimônia lá dentro. Eu queria que o maior número possível de olhares sobre meu filho e sua nova esposa
testemunhassem o dia em que suas vidas mudariam. Eu sabia no fundo do meu coração que esta era a decisão
certa para ele, e eu estava tão orgulhoso de estar lá para vê-lo. Só desejava que Amelia estivesse aqui ao meu
lado. Enquanto olhei ao redor, acenando aos convidados com os quais fiz contato visual, não pude deixar de
pensar na minha amada — a razão de estarmos todos aqui hoje, a razão pela qual pude encontrar orientação
e, por sua vez, guiar meu filho. Eu sentia falta dela todos os dias, mas hoje sentia falta de algo a mais.
Então as portas se abriram, e todos os convidados se levantaram.
Quando me virei, olhei e vi minha querida Angela, minha querida nora, andando pelo corredor, senti minha
amada ali mesmo comigo.

Angela
Não tropece. Não tropece.
As palavras de Lucas se repetiam em meus ouvidos, e eu não sabia se os nervos ou os sapatos eram a razão
pela qual eu pensava que poderia.
Eu não tinha tantos olhos em mim desde que... esqueça isso. Eu nunca tinha tido tantos olhos em mim.
Foi emocionante subir até o altar no meu casamento, sozinha. Eu não fui uma daquelas meninas que haviam
crescido sonhando com seu casamento ou qualquer outra coisa, mas eu sempre pensei que meu pai estaria ao
meu lado, acompanhando-me até o altar. Mas ele estava a quilômetros de distância, em uma cama de
hospital. Em coma.
Não chore, Angela, ordenei-me. Há muita gente assistindo.
Finalmente, cheguei à plataforma elevada. Tomei minha posição em frente ao meu noivo, o homem que me
odiava mais do que qualquer outra pessoa. O homem que mal me conhecia, mas que também estava salvando
a vida do meu pai, mesmo que ele não o soubesse.
Eu lhe dei um sorriso nervoso. Ele apenas me encarou de volta.
O padre sorriu para mim, depois para Xavier, e depois gritou para a multidão:
— Sentem-se. Estamos hoje aqui reunidos para testemunhar o santo matrimônio e o compromisso de amor
entre Angela Carson e Xavier Knight...
E depois disso, sua voz se afastou e eu me perdi em pensamentos.
Olhei para Xavier, vi seus olhos escuros e sua mandíbula robusta. Vi a barba fina em seu queixo, como se ele
fosse descolado demais para se barbear no dia de seu casamento. Depois observei seu smoking, o tipo de
smoking que deixaria o departamento de fantasias da Gossip Girl com inveja. Tinha sido provavelmente
projetado por alguém fabuloso como Armani, ou Dolce & Gabbana, talvez até feito sob medida. Era preto e
elegante e tudo o que um homem poderia querer.
E ainda assim, eu colocaria dinheiro no fato de que Xavier não poderia se importar menos com seu smoking.
Ou com este casamento.
Ou com qualquer outra coisa, na verdade.
— Angela?
O padre me olhou com expectativa, e eu senti cada olhar da sala pousar sobre mim. Minhas bochechas
queimaram. Onde nós estávamos?
O que eu deveria dizer?
— Eu aceito? — Eu me recompus, e o padre sorriu, acenando com a cabeça.
E então ele se voltou para Xavier. — E Xavier Knight, você aceita Angela Carson para ser sua legítima esposa,
na pobreza e na riqueza, na saúde e na doença, até que a morte os separe?
— Eu aceito, — ele disse, como se lhe tivessem perguntado se ele achava que o sal era um tempero útil.
— Bem, então, senhoras e senhores, eu vos declaro marido e mulher.
Xavier, você pode beijar sua noiva.
Havia gritos e aplausos dos espectadores, e eu esperava nervosamente por qualquer movimento do Xavier. Eu
estava esperando um beijo simulado, um aperto de mão, ou talvez até mesmo uma bofetada na cara.
Mas o que ele fez em seguida me surpreendeu ainda mais.
Ele se inclinou para frente até seus lábios quase tocarem os meus, e sorriu quando disse:
— Sou um homem poderoso. Eu consigo o que quero. E o que eu quero é arruinar você.
E então ele me beijou nos lábios, enquanto a minha mente e meus olhos se enchiam de lágrimas.
Quando ele finalmente se afastou, virou-se e saiu da plataforma à minha frente, recebendo os parabéns dos
convidados enquanto voltava a subir o corredor. Eu não podia acreditar como ele foi capaz de cuspir fogo em
mim para rir com todos os outros, como se nada tivesse acontecido.
O padre, vendo minhas lágrimas, me deu uma palmadinha nas costas.
— É sempre um dia emocionante. Desejo-lhes a sorte dos céus, — ele disse.
Depois de um segundo, eu pensei, que eu poderia ter agora. E então segui meu marido para fora de nossa
cerimônia de casamento.
Em: Onde você tá?
Angela: Banheiro.
Angela: Eu quero ir embora.
Em: É o seu casamento...
Angela: Há algo que tenho que te dizer.
Angela: Sobre por que eu me casei com ele.
Em:??
Em: Olá? Angie?
Eu estava no banheiro, sentada no chão frio.
Coloquei meu telefone de volta em minha bolsa.
Eu ainda estava vestindo meu vestido, mas não consegui ficar na pista de dança por mais um segundo.
Eu estava cansada de ter que fingir sorrisos e beijos no ar para cada pessoa que Brad me apresentava, e estava
ainda mais cansada de ter que aceitar as felicitações de pessoas que eu não conhecia.
Eu sabia que já havia contado demais a Em, mas não me importava.
Meus pés doíam, meus lábios estavam rachados e sentia meu coração sem forças. Eu estava apenas...
cansada.
Houve uma batida na porta, e então ouvi Em me chamar.
— Angie?
Sem me levantar, fui abrir a fechadura e ela entrou. Ela me viu no chão, bochechas molhadas, rímel
provavelmente no meu rosto.
— Angie, o que está acontecendo? O que você tem para me dizer?
— É... demais, — eu disse.
— O que foi esse texto? Por que você se casou com ele?
Era essa a hora. A hora de admitir a verdade, de pedir ajuda a Em.
Nossos olhos estavam conectados e eu queria tanto revelar tudo. Mas minha boca estava congelada. Eu não
podia dizer nada. Ela olhava para baixo, como se estivesse ferida pelo meu silêncio.
— Você quer que eu traga Xavier?
— Não! — Eu quase gritei com ela. A hora havia passado. — Não, ele não iria entender. Eu só... é tudo tão
estranho para mim.
Ela sentou-se do meu lado, mal conseguindo apertar suas pernas ao lado das minhas. Só o ato me fez sorrir.
— Eu entendo. Eu te entendo. Sim, isso é uma loucura. É esmagador, estranho e aterrorizante. Mas o
importante não é o caviar ou os sapatos Christina Labootin...
— Christian Louboutin. Eu acho.
— Tanto faz. Você sabe o que quero dizer. O importante é que você ama Xavier, e ele te ama. E há muito amor
aqui hoje à noite, celebrando com vocês. — Ela se inclinou para mais perto de mim e agarrou minha mão. —
Eu sei que seu pai adoraria estar aqui, Angie. Ele teria enlouquecido, vendo todos vocês vestidos assim.
— Ele provavelmente estaria bebendo de cabeça para baixo.
— Angela, acho que ninguém aqui conhece esse jeito de beber. — Ela tinha razão. Mas depois eu a vi hesitar.
— Você realmente o ama, certo?
— Quem, Xavier?
— Sim, — disse ela, sua impaciência agora era clara. — Xavier. O homem com quem você acabou de se casar.
— Sim, — eu disse suavemente, mas com os olhos no chão. — Sim.
— Então vamos voltar lá para fora. — A voz dela era leve e alegre enquanto ela me ajudava a levantar. Eu não
pude deixar de pensar se ela acreditou em mim. E mesmo que acreditasse, o que minha melhor amiga
pensaria sobre a garota que casou com o rico playboy duas semanas depois de conhecê-lo?
— Mais uma, — disse Xavier por trás de mim enquanto eu ia buscar um copo de água no bar.
— O quê?
— Mais uma dança que temos que fazer, — ele disse novamente, e desta vez pude sentir o cheiro do álcool
em seu hálito. Ele olhou para um casal de meia-idade. — Eles queriam nos ver dançar.
— Eles querem nos ver dançar?
— Eu não faço perguntas. Eles são clientes, eles querem que dancemos, vamos dançar.
— Certo, — eu disse enquanto ele agarrava minha mão, metade puxava e metade me guiava até o casal.
— Angela, querida, você está simplesmente linda, — disse a mulher com muito botox.
— Obrigada, — eu saí antes que ela continuasse.
— Mal podemos esperar para ver você e Xavier fazendo um pequeno baile — você sabe o que eles dizem.
Você pode ver o amor na dança, — disse ela, e eu lamentei interiormente.
Se eles quisessem ver amor, deveriam procurar em outro lugar. Mas em vez de reclamar, eu segui Xavier até a
pista de dança e o deixei me girar pela sala, elogiando-me por ter trocado o champanhe pela água.
Caso contrário, eu não teria tanta certeza de que o salmão grelhado ficaria dentro de mim.
Quando terminamos, eu esperei que Xavier dissesse "obrigado", "bom trabalho" ou qualquer coisa
remotamente agradável. Afinal, eu havia acabado de lhe fazer um favor. Em vez disso, ele só acenou para os
clientes, atirou um olhar vazio em mim e depois decolou na outra direção.
— Aí está você, Angela, — ouvi atrás de mim, e me virei para encontrar Brad. Ele parecia muito feliz, e eu
também fiquei por ele estar se divertindo. Realmente, eu estava.
— Estou aqui, — eu disse, sorrindo para ele. — Você fez um trabalho maravilhoso com tudo. De verdade, é
tudo incrível.
— Fico feliz que você pense assim. — Então, ele pôs a mão em seu bolso e puxou uma chave de quarto de
hotel. — Isso é para a suíte de luade-mel, minha querida. Eu já dei a de Xavier a ele. Vão, divirtam-se. Amor
jovem, não há nada melhor, — ele disse, e parecia que essa última parte era mais para ele do que para mim.
Ele se virou, batendo palmas, e se afastou de mim antes que eu pudesse agradecer a ele.
Não querendo mais nada com a festa e sem saber para onde Xavier tinha ido, dirigi-me para os elevadores e,
uma vez lá dentro, bati no botão para o último andar. Todas essas suítes chiques, a comida gourmet e o licor
caro — nada disso me deixava mais confortável com minha escolha.
Pense em seu pai, eu me lembrava. Ele precisa de você.
Quando cheguei ao último andar, tive que caminhar o que me pareceu uma milha antes de chegar à porta da
suíte.
Eu deslizei a chave do quarto para dentro da fenda e vi a luz ficar verde. Depois, empurrei a porta para abrir e
entrei, respirando pela primeira vez desde que eu tinha começado o corredor. Fechei a porta atrás de mim e
acendi a luz, chutando meus sapatos e ouvindo meus pés gritarem: — OBRIGADO!
Eu estava começando a me lembrar que precisaria de alguém para me deixar sair deste espartilho quando
ouvi uma voz masculina vindo de uma das salas. Provavelmente Xavier, pensei. Então, parti em direção à sala,
esperando que, se eu pedisse gentilmente, ele me ajudaria. Não de uma forma sexual — de jeito nenhum.
Eu me senti desconfortável só de pensar nisso. Mas eu queria dormir em algo que não fosse um espartilho
apertado e não pensei que o estilista com o cabelo amarrado apertadamente apreciaria que eu subisse na
cama na obra-prima do Sr. Wang. Então, quando cheguei ao quarto, abri a porta sem pensar, e...
Eu fiquei sem ar. Ali, diante de mim, a poucos metros de distância, em cima da cama almofadada king-size
com os lençóis de 1000 fios totalmente brancos, estava meu marido.
E ajoelhada, com o rosto nos lençóis e o rabo no ar, gemendo quando os movimentos vinham cada vez mais
rápidos, era uma mulher bronzeada e de cabelos escuros.
Mas não apenas qualquer mulher bronzeada e de cabelos escuros.
Era Sky. A maquiadora.
Xavier virou-se para ver quem tinha aberto a porta. Ele não parou de se mexer, ou mesmo diminuiu sua
movimentação. Apenas sorriu. E continuou gemendo.
— Ei, Angela, você se importa de fechar a porta ao sair?

Capítulo 7 Afogando no céu

Angela
Na noite do meu casamento, eu tinha saído da suíte de lua-de-mel o mais rápido que pude. E depois dormi na
suíte nupcial, sozinha.
Não era suficiente que Xavier estivesse dormindo com outra mulher no dia em que se casou comigo. Não, ele
tinha que pegar uma mulher que eu conhecia, uma mulher com quem eu tinha passado algum tempo naquele
dia. Uma mulher que sabia como eram os meus poros de perto.
Era como se ele estivesse tentando me machucar de propósito, para me punir por casar com ele.
Ontem de manhã, depois de sair do hotel o mais rápido que pude, tinha me enterrado de volta em meu
quarto no Brooklyn. Em tinha voltado para Heller para visitar sua mãe, então eu tinha o lugar todo para
mim.
Eu havia passado 24 horas observando o Netflix e pedindo comida, mas quando acordei esta manhã, ainda
não me sentia melhor.
Provavelmente porque eu sabia o que era hoje... tanto quanto tentei me convencer do contrário.
Hoje foi o dia em que tudo se tornou verdadeiramente real.
Na semana passada, Brad havia sugerido que adiássemos nossa luade-mel até Xavier fechar o negócio em que
estava trabalhando para a empresa, para que ele pudesse se concentrar nas férias e realmente aproveitá-las.
Eu tinha concordado imediatamente. A ideia de passar tempo de qualidade com Xavier Knight era suficiente
para me deixar enjoada.
Mas hoje eu deveria me mudar para nossa nova casa. Eu estava prestes a passar muito mais tempo, de
qualidade ou não, com meu marido.
Eu tinha pesquisado no Google o endereço assim que Brad me enviou ontem. Estava no prédio mais exclusivo
do Central Park South, e era a cobertura. O que significava que o último andar era todo nosso. O Google disse
que tinha uma vista fantástica do parque e da cidade, um elevador privado, um spa interno equipado com
sauna e seis quartos.
Tudo isso me fez pensar em algo.
Seis quartos? Na cidade de Nova Iorque? Olhei à minha volta os trezentos metros quadrados que Em e eu
dividimos em seu apartamento.
Estava apertado, claro, mas me sentia em casa. Eu tinha começado e terminado de arrumar minha mala
dentro de uma hora, depois me fiz um sanduíche. Eu dei uma mordida, mas mal conseguia engolir sem querer
vomitar. Meu estômago parecia travar quando eu estava nervosa.
Joguei o sanduíche no lixo e puxei minha mala para fora do apartamento, acenando ao primeiro táxi que
passou.
Nós aceleramos em Manhattan e, antes que eu me desse conta, estávamos em frente ao meu novo prédio. Eu
abri a porta do carro e, antes que eu pudesse sair com os dois pés, um dos porteiros uniformizados se
apressou em vir até mim. Ele parecia genuinamente perturbado por eu não ter esperado por ele para abrir a
porta do carro.
— Bom dia, Sra. Knight.
Eu vacilei, mas depois me recuperei. Não foi culpa dele que fosse meu nome.
— Bom dia, — eu disse. — Qual é o seu nome? — Ele olhou para mim como se eu tivesse feito algo errado
novamente.
— Pete.
— Oi, Pete, — eu disse. Eu não sabia de nenhuma das regras não ditas que claramente corriam desenfreadas
com essas pessoas, mas achei bobo não saber o nome de alguém com quem eu estaria interagindo muito.
Pete pegou minha mala e me guiou através do enorme lobby, passando pelos elevadores, até o meu próprio
elevador privado com o selo PH.
— Você quer que eu suba com a mala?
— Tudo bem, eu posso levar, se for mais fácil.
— O que você preferir, Sra. Knight. — Lá estava ele novamente.
— Posso levar, — eu disse, e ele empurrou a mala no elevador e esperou que as portas se fechassem entre
nós. Quando fecharam, senteime no banco almofadado atrás de mim — sim, o elevador tinha um banco
dentro dele — e tentei me concentrar na minha respiração.
Inspirar por três, exalar por três inspirar por três, exalar por...
As portas se abriram, e eu vi o que parecia ser um palácio estendido diante de mim. Meu exercício respiratório
havia voado pela janela. Eu estava tentando recuperar o fôlego quando entrei no saguão da minha nova casa.
A luz natural entrava através das janelas do chão ao teto que revestiam a parede. Era uma sala de estar de
conceito aberto, o que significava que eu podia ver a sala, a biblioteca e a cozinha de onde eu estiver parada.
A ampla sala de estar foi decorada em tons de bege e creme, e incluía dois sofás para quatro pessoas, um par
de poltronas de couro creme e uma televisão de tela plana tão grande que podia ser uma tela de cinema.
A cozinha parecia o sonho de um chefe de cozinha. A geladeira, os fornos e os fogões pareciam todos de
última geração. O melhor que o dinheiro podia comprar.
E quando virei minha cabeça para começar a admirar a biblioteca, ouvi um 'Olá?' do fundo do corredor.
Virei e vi uma senhora de aparência leve, provavelmente na casa dos cinquenta anos, vestida com um
uniforme de camareira, caminhando na minha direção. Seus movimentos eram tão rápidos e coordenados que
era hipnotizante observá-la.
— Olá, — repetiu ela, e eu percebi que ainda não tinha respondido.
— Oi, — eu disse. — Desculpe. Eu sou Angela... er... Knight. Acabo de me mudar.
— Sim. Sim, — disse ela, e antes de chegar até mim, ela girou nos calcanhares e começou a recuar
rapidamente pelo corredor. — Eu sou Lucille. Venha por aqui. Eu lhe mostro o espaço. — O sotaque dela era
definitivamente europeu, mas eu não distingui de onde imediatamente.
Eu a segui, puxando minha mala atrás de mim.
— De onde você é? — perguntei, tentando conversar. Eu precisaria de um aliado neste palácio, isso ficou
claro.
— Eu moro aqui. Em Nova Iorque. — E assim mesmo, sem sequer olhar, ela deixou claro que não queria falar.
Pelo menos não comigo.
Depois de passar o que parecia ser um punhado de portas fechadas, finalmente chegamos na porta certa. Ela
virou a maçaneta e me deixou entrar primeiro, e deixe-me dizer, era lindo. Eu certamente não fiquei
desapontada.
Os pisos eram de madeira e cobertos com tapetes de pelúcia branca, as paredes eram cor de casca de ovo,
havia espelhos em forma de arte pendurados sobre eles, e a cama parecia uma nuvem, toda fofa e branca.
É lindo, eu disse novamente para mim mesma.
Mas não era como o resto do condomínio. Na verdade, não. Cada quarto que eu tinha visto até agora parecia
que tinha sido adaptado para a realeza, ou uma capa de revista de decoração de interiores. Ou um knight. E
esta sala... pareceu um pensamento posterior. Mas então eu me detive. O que eu estava dizendo? Eu estava
reclamando? Em quem eu tinha me tornado? O que meu pai diria se tivesse me ouvido?
— É bonito, — eu disse, voltando-me a Lucille. Mas a Lucille apenas bufava — sim, bufava — e voltava
rapidamente pelo corredor.
Angela: Em não vai acreditar nisso...
Angela: Esta cama...
Angela: É uma nuvem.
Angela: Ou o céu?
Angela: Em?
Angela: Você está aí?
O som do elevador. Não havia como enganar. Alguém mais estava subindo. O dia inteiro tinha sido só eu e
Lucille, embora ela fosse praticamente invisível. Eu fiquei ocupada desfazendo a mala, mas mesmo quando fui
buscar um copo de água na cozinha, não a vi nem ouvi.
Mas agora, alguém mais estava aqui.
Pressionei meu ouvido até a porta, escutando o toque da abertura da porta do elevador. Segurei a respiração,
esperando poder saber de quem era a voz.
— Eu não sei quantas vezes tenho que dizer a vocês. Aquecedores de assento ligados, aquecidos, — uma voz
masculina estrondosa trovejou da área da sala de estar. Bem, essa não foi muito difícil. O marido está em casa.
— É claro. Desculpe, senhor.
Pensei em ficar fora do fogo cruzado e permanecer no meu quarto, mas eu sabia que eventualmente teria que
cumprimentá-lo. Talvez fosse melhor acabar com isso agora, para mostrar a ele que estava pronta para iniciar
uma relação civilizada. Afinal, estávamos vivendo juntos agora.
Então eu saí, entrei no corredor e vi um Xavier escrevendo algo em seu telefone.
O homem que ele estava castigando estava vestido de preto, tinha a cabeça raspada e segurava óculos de sol
de aviador em suas mãos. Ele parecia calmo e incrivelmente intimidante. O homem virou-se para mim
primeiro, depois limpou sua garganta e olhou para Xavier. Xavier olhou para cima. Ele me viu, não mostrando
qualquer expressão.
— Marco, esta é minha esposa. — Da maneira como ele disse esposa, você teria pensado que ele teria dito —
mosquito que não me deixa em paz. — E então ele saiu, indo para uma porta que eu presumia ser seu quarto
e a batendo atrás dele.
Eu recorri ao Marco.
— Oi, Marco. Prazer em conhecê-lo. Eu sou Angela.
— Ei, — ele disse, frio como gelo, enquanto saía direto para uma sala diferente. Ele claramente também não
estava na Equipe Angela.
Em uma cobertura tão grande, com tudo que uma garota poderia querer, eu nunca me senti tão só.
Pensei que ligar para Em, ela me ajudaria. Ela ainda não tinha respondido aos minhas mensagens, o que era
estranho, mas talvez ela não as tivesse ouvido chegar. Quando eu estava de volta ao meu quarto, eu liguei
para ela e senti um alívio puro quando ela atendeu ao terceiro toque.
— Olá?
— EM!
— Olá, Angie. — Ela parecia distraída.
— Onde você está? Está tudo bem?
— Estou apenas na loja. ¿Do que você precisa? — Do que eu preciso?
— Oh, nada. Eu só... só sinto sua falta. E do apartamento.
— Você acabou de chegar aí. E sua cama parece ótima. — Então, ela recebeu as mensagens.
— Oh, é mesmo. Quero dizer, é linda.
Indescritivelmente incrível.
— Mm, — disse ela, e desta vez eu estava certa de que ela parecia distante.
— Mas não é nada parecido com o que foi dividir o pequeno apartamento com você, Em. Sinto falta do
aconchego. O quanto nos divertimos.
— Angela, você está aí há cinco minutos. Você vai se acostumar com isso. Como com todo o resto, — ela disse.
— O que isso quer dizer?
— Só isso... olha, estou feliz que esteja feliz, está bem? — Ela continuava dizendo isso — quando estávamos
nos preparando na suíte nupcial, quando ela me deu um beijo de despedida no casamento, e novamente
agora. Eu começava a me perguntar se era uma desaprovação disfarçada de simpatia.
— Obrigada, — foi tudo o que pude dizer.
— Olha, tenho que ir, está bem? Está chegando um cliente. — Eu sabia que isso não poderia ter sido verdade.
Eram seis da tarde de uma segunda-feira.
— Posso ser honesta com você? — eu perguntei.
— Sempre, — disse ela, e desta vez ela soou mais suave.
— Eu não sei se me encaixo aqui, Em. É um mundo tão estranho em que eles vivem. Todo mundo é... frio. E há
estas regras. Ninguém diz quais são a você. Eles só esperam que você saiba...
— Angie. Ouça-me. Você escolheu esta vida, está bem? Você decidiu se casar com ele. Não posso continuar
segurando sua mão e lhe dizendo o que você quer ouvir. Este é o caminho que você escolheu, e você vai se
acostumar a ele — a cama de nuvens, os sapatos chiques, tudo isso. Agora eu realmente tenho que ir. — E ela
desligou.
Em nunca tinha desligado antes, nem tinha sido tão afiada com suas palavras. Claro, já tínhamos tido brigas
antes, mas nunca sobre decisões importantes na vida. E sempre tínhamos sido capazes de falar sobre isso.
Eu liguei novamente. A chamada foi direto para a caixa postal. Ela claramente não queria conversar comigo.
Minha vida estava em absoluta desordem, e a única pessoa que eu podia culpar era eu mesma.
Afundei-me mais na cama de nuvens, jogando minhas mãos sobre o meu rosto. Meus olhos se abriram e
depois se fecharam. Em seguida, abertos. Em seguida, fechados. Desejei, nesse momento, que o leito de
nuvens me engolisse inteira.

Capítulo 8 Mensagem afiada

Angela
Lucas: desculpe, não posso falar.
Angela: Ok.
Angela: Sem problemas.
Atirei meu telefone para o outro lado da cama. Eram sete da manhã, e eu tinha passado minha primeira noite
na cobertura. Depois de desligar o telefone com Em ontem à noite, eu não tinha saído do meu quarto
novamente. Eu tinha vestido meu pijama, afundado em meu novo colchão e mantive meus olhos fechados até
chegar o sono.
Pensei que adormecer tão cedo ontem à noite teria me deixado acordar refrescada, otimista sobre o dia que
chegava, mas, em vez disso, eu tinha acordado sentindo-me igualmente solitária. Os espelhos ao redor da sala
também não estavam ajudando; eles apenas me lembravam que eu era a única aqui.
Eu tinha tentado ligar para o Lucas. Normalmente, uma conversa rápida com ele poderia me animar em
qualquer dia. Suas piadas sempre tiveram uma maneira de me lembrar de não me levar muito a sério. Mas
mesmo ele não queria conversar esta manhã.
Eu me sentei, vendo meu rosto refletido em um espelho oval na parede do outro lado do cômodo. Eu olhava
tão brava quanto me sentia.
Eu tinha colocado meu cabelo comprido amarrado antes de adormecer, e agora não estava apenas
desarrumado, tinha perdido todo o trançado que havia feito. Então eu tinha os cabelos apontando para todas
as direções, além da pele que precisava ser hidratada e os lábios que precisavam de um manteiga de cacau.
Mas eu sabia que arrumar-me não me faria realmente sentir melhor, então decidi fazer algo a respeito do
meu estado de espírito primeiro.
Saltei da cama, vesti uma legging velha e uma camiseta esportiva, amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo,
calcei meus tênis e saí.
Por sorte, não cruzei com ninguém, pois me apressei a entrar no elevador. Achei que não conseguia lidar com
uma hostilidade tão cedo.
Pressionei 'L' para o lobby e me maravilhei com a velocidade do elevador, descendo rapidamente os trinta e
cinco andares e me deixando no andar térreo em dez segundos. Achei que nunca me acostumaria a isso.
Andei pelo saguão, colocando meus fones na orelha. Havia residentes que se sentavam em cima dos móveis
luxuosos e outros que conversavam uns com os outros pela porta da sala do correio.
Todos eles pareciam ser ricos, como se, mesmo em suas roupas matinais casuais, ainda fossem melhores do
que todos os outros. Eu ainda tinha meus olhos neles quando estava quase na porta e esbarrei diretamente
em Pete, o porteiro.
— Nossa, — eu soltei, e ele se apressou para me firmar.
— Você está bem, Sra. Knight?— perguntou ele, preocupado com a cara de susto. Eu vi os residentes se
virarem para ver o que era a confusão e senti um calor na minha cara.
— Eu estou bem. Estou bem, — eu mesmo disse rapidamente, empurrando a porta para abrir. — Sinto muito,
— eu disse, dando-lhe uma olhada rápida antes de sair. Agora eu realmente precisava de ar.
A brisa fria de outono atingiu meu rosto imediatamente, e ajudou a me tirar de meus pensamentos. Virei à
direita e depois esperei que a luz do semáforo mudasse, pulando para cima e para baixo no lugar para manter
meu ritmo cardíaco acelerado. Quando ficou verde, eu corri para o outro lado da rua e me dirigi ao Central
Park.
Ao percorrer grupos de turistas, famílias e pessoas que só queriam ver um pouco de natureza logo pela
manhã, eu não pude deixar de sorrir.
Todos estavam aqui juntos, aproveitando a vida e dando o melhor de si, e por alguma razão eu não conseguia
explicar, fui acostumada com um sentimento de esperança. Se eles podiam estar aqui fora tentando, fazendo
seu melhor, então eu também poderia fazê-lo.
Esse sentimento de esperança foi o que me motivou a correr mais rápido do que em meses, usando as
crianças risonhas e os jogadores de futebol grunhindo na grama ao meu lado como espectadores que eu
estava tentando impressionar. Quando parei para respirar, eu já tinha corrido pouco mais de cinco
quilômetros. Nada mal, pensei eu, dando tapinhas figurativos no ombro. Caminhei por um tempo para me
acalmar, deixando a endorfina correr pelo meu corpo, e então atravessei a rua e entrei numa cafeteria antiga
na esquina.
Não vi ninguém trabalhando atrás do balcão quando entrei pela primeira vez, então olhei em volta, confusa.
Foi quando eu vi o homem sentado em um pequeno banco ao lado do balcão, quase escondido de onde eu
estava parada. Ele estava lendo o New York Times, e claramente não tinha ouvido ninguém entrar na loja.
Ou isso, ou ele simplesmente não se importava em se levantar e ajudar um cliente. Mas eu estava de tão de
bom humor com minha corrida, que nem me importava. Fui até o barista e, parado bem na sua frente,
comecei a conversar.
— Olá! — Eu disse alegremente, e ele olhou para mim. Ele parecia estar perto da minha idade, com olhos
quentes e um sorriso fácil.
— Isso foi um olá e tanto, — ele disse. — Você deve estar de bom humor.
— Acho que sim. Agora, pelo menos... — Eu disse.
— Agora?— perguntou ele, de pé e dirigindo-se para trás do balcão.
Mas não antes que eu pudesse ver a página do jornal que ele estava lendo: Página Seis.
— Estes últimos dias têm sido uma montanha-russa. Mas eu simplesmente, não sei, fiquei farta deles — ... Eu
supus, metade para meu benefício e metade para o dele.
— Ah, uma daquelas semanas, hein? Bem, o que posso lhe oferecer?
Olhei ao redor da cafeteria, só percebendo agora que ela estava
completamente vazia. Uma cafeteria quase vazia? Isso nunca aconteceu em Nova Iorque. Então meus olhos
chegaram ao menu do café, no quadro-negro encostado na parede do balcão. Eu o escaneei.
— Vou querer o café com leite de hortelã-pimenta, — eu disse.
— Escolha interessante, — respondeu o barista, começando a trabalhar no café expresso. — Você corre na
vizinhança?
— Pelo parque, sim, — eu disse. — Acabo de me mudar para cá, na verdade.
— Oh, legal, — ele disse, vaporizando o leite. — Por onde?
— Bem perto do parque.
— Que rua?
Eu estava tentando evitar dizer isso, sabendo o quanto o nome da rua soaria pretensioso. Especialmente para
um barista. Mas eu também não queria ser rude.
— Central Park South, — quase sussurrei. Ele me olhou de relance, não dando muito. Eu sentia que tinha que
me justificar de alguma forma.
— Meu marido... ele já vivia no prédio. Por isso, vou morar com ele.
— Você acaba de se casar, ou algo assim?
Eu acenei com a cabeça.
— Há apenas alguns dias, na verdade.
— Bem, parabéns, — ele disse, sorrindo para mim. Mas então, de repente, algo mudou nos olhos do barista, e
ele olhou diretamente para mim novamente. — Eu sei quem você é, — ele disse, derramando o leite sobre o
café expresso. — Você é a nova esposa de Xavier Knight.
Eu olhei para o chão, com a vontade de pegar meu café e ir embora.
Mas eu ainda não havia pago.
— Certo?— ele pressionou.
— Sim, — eu disse.
— Eu sabia! Eu a reconheci do anúncio do Times. E suas fotos de casamento estão por toda parte. Duh, é claro
que é você.
Ele me entregou meu copo, inclinando-se para frente sobre o balcão e realmente me medindo.
— Então, por que a montanha-russa dessa semana?
— Oh, não é nada. Quanto devo a você?
— Uma resposta real, — ele disse, mas depois sorriu. — É por conta da casa. Você é um cliente de primeira
viagem.
— Você não tem que fazer isso...
— Ah, de verdade, — ele disse, colocando a mão no ar. — É um prazer
conhecê-la. Tome a bebida. Eu sou Dustin. Dustin Stirling. — E ele estendeu sua mão. Eu a apertei.
— Angela... Knight.
— Olá, Angela. Ok. Então, de volta a você. Você não precisa me dizer nada, porque eu sou claramente um
estranho, mas seja qual for o seu estado de espírito, saiba que você o tem muito bem. Você é casada com o
homem mais rico e legal da cidade. Sério. Toda garota quer devorá-lo, e todo homem quer ser ele. Ou devorá-
lo. Se é que você me entende — Não, eu... eu entendo, — eu gaguejei, não acostumada à sua forma de falar
sem filtro. — Estou muito feliz. De estar casada. Sério.
Ele manteve seus olhos em mim, e eu esperava que eu não estivesse dando nada.
— De qualquer forma, obrigada pelo café com leite. É delicioso. E foi um prazer conhecê-lo, — eu disse,
virando para a porta.
— Ei, eu estou aqui, tipo, sempre, — ele disse à minha figura indo embora. — Se você quiser um amigo, ou um
outro café com leite de hortelã-pimenta ridiculamente bom, venha até aqui.
— Certo, — eu disse, oferecendo um último aceno antes de voltar para a rua onde ninguém sabia de meus
segredos. Verifiquei meu telefone para ver se tinha alguma ligação perdida do Lucas, mas tudo o que vi foi
uma tela preta. Meu celular não tinha mais bateria, provavelmente ficou sem enquanto eu estava correndo.
Ótimo.
Xavier: ONDE
Xavier: Está
Xavier: Você
Xavier: ???????
Eu estava no elevador, sonhando acordada com o banho quente que estava prestes a tomar, quando as portas
se abriram e me tiraram de dentro dele. E ali, sentado na poltrona de cor creme na sala de estar, estava Brad.
— Ah, lá está ela! Vem, vem, querida, — ele disse, de pé para me cumprimentar.
Caminhei até ele e o beijei na bochecha, vendo meu marido comovente no sofá em frente a ele. Xavier não
ficou de pé.
— Eu não sabia que você estava vindo, eu teria ficado aqui, — eu disse.
— Bobagem, eu não queria perturbar seu dia. Alguma coisa divertida planejada?
— Eu estava apenas correndo. — Meu olhar foi para Xavier. Seu olhar estava um pouco pior do que de
costume como se estivesse atirando dardos em mim.
— Você tem algo divertido planejado, Xavier? — perguntei-lhe, tentando mostrar a Brad que os recém-
casados eram civilizados, pelo menos.
— Eu vou trabalhar nos dias de semana, — ele disse, sendo condescendente. — Na verdade estou atrasado,
pai.
— Certo, certo, é claro, — disse Brad, levantando-se novamente. — Bem, eu só queria aparecer e ver como os
pombinhos estavam se saindo.
É tudo ótimo aqui, não é?
— Sim, — eu disse, e Xavier apenas acenou com a cabeça.
Brad veio me beijar na bochecha novamente, e depois apertou a mão de seu filho.
— Estou feliz por você estar aqui, Angela, — ele disse antes de chegar ao elevador. — Você agora faz parte da
família.
— Eu também, — eu me engasguei. — Obrigada. — E então ele se foi.
Pensei que logo estaria livre para tomar um banho quando ouvi algo se despedaçar atrás de mim.
Virei-me para encontrar Xavier, parado e me encarando, fragmentos do que um dia foi um vaso de vidro no
chão na sua frente. Eu fiquei chocada. Ele claramente tinha acabado de deixá-lo cair no chão.
— Limpe-o, — ele disse.
O quê?
— Como é que é?
— Você me ouviu. Você quer causar problemas em minha vida, convidando meu próprio pai sem me avisar
com antecedência, então eu vou manda-lo de volta para você. Esta é uma confusão que eu fiz. Você a limpa.
Fiquei atordoada.
— Eu não... eu não o convidei, — eu disse, sabendo que minha voz estava soando mais fraca a cada segundo.
— Você pode mentir o quanto quiser. Não seria muito fora do caráter.
— Eu não estou mentindo. — Mas ele já estava batendo a porta de seu quarto, e eu podia ouvir uma
gargalhada feminina lá dentro.
Eu olhei para o vidro no chão, sabendo que não era meu feitio simplesmente deixá-lo lá. Alguém poderia se
machucar muito. Então, encontrei a pá e pude varrer os fragmentos.
Eu pensei que estava sozinha quando ouvi a voz de Lucille atrás de mim.
— Eu faço isso, — disse ela.
Eu me voltei para ela.
— Está tudo bem, estou quase terminando.
E então ela fez algo que eu nunca teria esperado. Ela caminhou na minha frente, beijou seu dedo e
pressionou-o na minha testa. Ela pareceu maternal e firme, tudo de uma só vez.
Talvez tudo o que foi preciso foi suportar a raiva de meu marido para me ganhar um aliado na cobertura. Mas
quanto eu posso suportar?
Capítulo 9 A dor de ontem

Angela
Desconhecido: Olá, Angela?
Desconhecido: Esta é Betty. De Curixon.
Angela: Olá?
Desconhecido: Eu sou o assistente do Sr. Kinfold.
Angela: Oh!
Angela: Em que posso ajudá-los?
Desconhecido: Na verdade, acho que posso ajudá-la...
Desconhecido: Você poderia me encontrar para um café esta tarde?
Desconhecido: Starbucks na 54a com a 3a.
Eu estava a um quarteirão do Starbucks onde eu deveria encontrar Betty.
O Sr. Kinfold era um grande Vice Presidente de uma importante empresa de tecnologia, e eu realmente pensei
que tinha arrasado na entrevista. Eu tinha saído do escritório do centro da cidade, convencida de que tinha o
emprego.
Ele era um homem simpático. E tinha uma filha da minha idade e foi rápido em me dizer o quão
impressionante era a minha média na universidade. Nós nos demos bem. Então, quando recebi o e-mail de
rejeição alguns dias após a entrevista, tive que lê-lo três vezes antes de entender o que ele dizia. Que eu não
tinha conseguido o emprego. Que eu não era boa o suficiente.
Mas agora, com sua assistente me estendendo a mão, senti a pequena excitação das borboletas em meu
estômago começar a vibrar. Talvez o Sr. Kinfold tenha percebido seu erro e tenha enviado sua assistente para
me pedir desculpas, para ver se eu ainda estava precisando de um emprego.
Eu respirei fundo para acalmar meus nervos e abri a porta, deixando um homem de negócios sair antes que eu
entrasse na cafeteria movimentada.
Olhei à minha volta, vendo muitos trabalhadores de terno digitando em seus laptops e telefones, com um café
na frente de cada um deles. Eu estava tentando me lembrar de como era Betty. ¿Será que ela tinha cabelo
ruivo? Ou era marrom escuro e encaracolado?
Mas então eu ouvi:
— Angela! Aqui! — Eu me virei, seguindo a voz para uma pequena mesa na parte do fundo da loja. Estava
apertada entre duas outras mesas, uma tomada por um universitário que cheirava a cigarros, e outra por uma
babá com duas crianças loiras que se contorciam. Betty, que de fato tinha cabelos castanhos escuros e
encaracolados, estava de pé com um sorriso educado no rosto. Ela parecia nervosa.
— Oi, — ela disse, oferecendo sua mão para um aperto de mão.
— Prazer em vê-la novamente, — eu disse, sacudindo-o. Nós duas nos sentamos.
— Obrigado por me encontrar, — ela começou, e eu a vi escanear o Starbucks como se ela estivesse se
certificando de que ninguém importante ouvisse suas próximas palavras.
— Sei que isto não é exatamente convencional, e sei que da última vez que você ouviu falar de nós, não
conseguiu o emprego...
Aqui vamos nós, eu pensei. Este é o momento que vou lembrar para sempre.
— Mas eu só... eu queria que você soubesse o porquê. Por que você não conseguiu o emprego.
— Oh... — Eu me afastei, meu desapontamento é palpável. Isso não era uma oferta de emprego. Era uma
análise detalhada de onde eu havia errado.
— O Sr. Kinfold gostou de você. Na verdade, você era sua melhor escolha.
— Eu era...
— Eu já estava escrevendo seu contrato quando ele recebeu.
Recebeu o quê?
Tenho certeza de que parecia tão confusa quanto realmente estava. E os olhos dela se movendo
nervosamente não estavam ajudando. Ela se inclinava para frente, seus cotovelos sobre a mesa e seu rosto a
apenas alguns centímetros do meu.
— Você estava trabalhando na Gelsa Inc. antes, certo? Em Jersey?
Eu acenei com a cabeça.
— O Sr. Kinfold... recebeu um documento da Gelsa. Do Sr. Lemor, especificamente. — Eu me agarrei ao nome,
e depois senti meu corpo inteiro travado. O Sr. Lemor era meu antigo chefe. Ele foi a razão de eu ter me
mudado para Nova Iorque.
— O Sr. Lemor nos escreveu uma carta... foi um aviso.
— Um aviso sobre mim? — eu perguntei, incrédula.
— Não. Mais como um aviso para nós. A Gelsa é uma empresa multinacional com poder sobre muitos de
nossos clientes. Ela tem a capacidade de interromper nossos negócios em um nível maciço. E Lemor... Ele se
certificou de que, se a contratássemos, ele dificultaria as coisas para nós.
— Mas isso é... isso é ilegal, — eu me engasguei.
Ela suspirou.
— Ilegal, imoral, são todas essas coisas. Lemor é conhecido no setor.
Ele é o cara que luta em cada batalha como se fosse a Terceira Guerra Mundial, sabe? O Sr. Kinfold é um bom
homem, mas ele não queria arriscar.
— Não quando há tantos engenheiros mecânicos de nível básico. Eu entendo, — eu disse, apesar de ter sido
inundada por uma melancolia.
— Eu nem deveria saber, mas li bem a carta quando a recebemos. Eu leio a maior parte do correio do Sr.
Kinfold, mas isso... nunca tinha visto nada assim. Eu poderia me meter em sérios problemas se alguém
descobrisse que eu lhe disse, mas achei que você merecia saber, — ela disse, atravessando a mesa e dando
tapinhas na minha mão. O contato físico me surpreendeu, mas me pareceu genuíno. — Eu não sei o que
aconteceu entre você e Lemor, mas ele está claramente mantendo o controle sobre você. E ele esta
paralisando a maioria das empresas.
Portanto... tenha cuidado, — disse ela. — Homens poderosos não pensam duas vezes em foder com mulheres
jovens, sabe? — Ela pegou seu café e sua bolsa, e ficou de pé.
— Obrigado. Por me contar, — eu disse, e ela acenou com a cabeça antes de ir embora.
Suas palavras continuaram brincando na minha mente. Homens poderosos não pensam duas vezes em foder
com mulheres jovens.
Ela estava certa. E eu sabia disso em primeira mão. O Sr. Lemor era o homem que eu mais temia ver há onze
meses. Ele não era apenas meu patrão. Ele era o homem que tinha me perseguido e assediado sexualmente. E
ele era também, aparentemente, o homem que não me deixava esquecer, sem contar o que não poderia fazer
à minha carreira.

Xavier
Hoje não era o meu dia. E depois do tumulto do casamento, ter minha nova esposa mudando-se para minha
cobertura e ter o negócio da propriedade da semana passada a um preço mais alto do que eu pensava, eu
realmente precisava que fosse o meu dia.
Tinha começado bem o suficiente. Cheguei à minha sessão de ginástica matinal sem ninguém tentando falar
comigo. Nada me incomodava como as interrupções na academia, onde uma garota com um top apertado ou
um mano com uma camiseta agarrada me reconhecia e tentava iniciar uma conversa. Eu não vou à academia
para conversar. Eu não vou lá para conhecer garotas, e com certeza não vou lá para conhecer caras.
Ir à academia pela manhã tinha se tornado minha saída, desde que tudo com ela aconteceu... no início do ano.
Puxar ferro me fez esquecer o fato de que meu coração havia sido esmagado. Tirava meu estresse e minha
raiva. Isto é, até eu sair da academia e tudo voltar a ser o mesmo.
Mas enquanto eu estava lá, isso me fazia sentir competente e em controle. Como um homem.
Portanto, a academia desta manhã estava ótima. Esse não foi o problema. O problema veio mais tarde, depois
do almoço, quando recebi uma ligação sobre uma de nossas propriedades em Paris. Atraso no
desenvolvimento, disse o empreiteiro. Algum problema com a obtenção de autorizações da cidade, e tudo isso
me pareceu uma besteira.
E meu pai, é claro. Ele não ficou muito entusiasmado em ouvir a notícia. Porque qualquer coisa que dê errado
enquanto eu estiver no escritório é um reflexo do meu trabalho.
— Você não está dando seu melhor, Xavier, — ele disse.
— Isso estava fora do meu controle.
— Nada está fora de nosso controle. Você teve algumas semanas de distração. Eu compreendo...
— Eu não estou distraído, porra.
— Cuidado com o seu tom.
E foi assim que aconteceu. Um barco podia afundar na porra do Ártico, e se eu estivesse sentado em meu
escritório, ele encontraria uma razão para fazer disso minha culpa.
Portanto, o evento de gala que eu estava tentando evitar, aquele programado para daqui algumas semanas
em um de nossos outros hotéis em Paris, agora eu terei que ir nele. Para que eu possa verificar pessoalmente
o empreiteiro e passar algum tempo 'mostrando a cara' pela cidade.
‘Mostrar a cara’ era como meu pai gostava de descrever as pessoas intimidadoras.
— Quando não o veem, não podem temê-lo, — é o que ele sempre diz. Não que Brad Knight seja o cara mais
intimidador do mundo. Você não atravessaria a rua se o visse caminhando na sua direção à noite. Mas ele é
um homem com artilharia sem fim e com o bom senso de empregar aqueles que sabem como usá-la. Então,
sim, eu aprendi com o melhor, eu diria.
Mas a última vez que estive em Paris, eu estava lá com quem me fodeu. Aquela que pegou meu coração e o
deixou cair da porra da Torre Eiffel como se fosse um pedaço de chiclete mastigado. E nós estávamos lá
comprando seu vestido de noiva — aquele que ela quase usou no altar, caminhando para mim.
Mandei Marco me buscar no escritório mais cedo para que eu pudesse tentar me acalmar. Eu estava tentando
pensar se havia alguma maneira de sair de Paris, de ir ao evento de gala e mostrar a cara, quando o carro
parou. Estávamos quase em casa, apenas rastejando pela 6ª.
Avenida, mas o carro parou de andar.
— Mas que merda foi essa? — Eu gritei com o Marco.
— Não tenho certeza, chefe, — ele respondeu, depois estacionou o carro e saiu.
Ele deu a volta pela frente e abriu o capô.
Eu vi vapor através do para-brisa. Que se dane isso, eu pensei. Não estou morrendo em uma explosão de carro
no centro da cidade. Eu notei os carros e pedestres ao meu redor observando.
Coloquei meus óculos escuros e me afastei do carro, do Marco, sem qualquer palavra.

Angela
Eu tinha deixado o Starbucks atordoada. Se Lemor não tivesse enviado aquela carta, eu estaria trabalhando
para o Sr. Kinfold. Eu não teria precisado aceitar o acordo de Brad Knight, e eu não seria o saco de pancada de
Xavier Knight. Tudo estaria normal com minha melhor amiga e minha família ficaria orgulhosa de mim.
Eu estava subindo a 6ª, quase na 57ª, quando vi o mesmo Bentley de carvão que Xavier dirigia. Bem — não
dirigia, mas que conduziam para ele. Marco, o motorista, dirigia-o. Eu esgueirei os olhos, lendo a placa do
carro.
Que coincidência, eu pensei. Aquele era o carro do Xavier. E estava amontoado entre os carros, preso no
trânsito congestionado.
De repente, o carro soltou um som e desacelerou, parando completamente. Após alguns segundos, Marco
saiu do banco do motorista e foi até o capô, puxando-o para cima. Eu vi uma nuvem de fumaça ao redor dele.
Provavelmente, um motor superaquecido.
Eu me perguntava se Marco era inteligente o suficiente para manter o líquido de refrigeração no porta-malas.
Eu estava a cerca de meio quarteirão do carro quando vi Xavier saltar do banco de trás e bater à porta, e andar
pela calçada sem uma palavra para Marco.
Pensei tê-lo visto em seu pior momento, mas o homem continuou provando que eu estava errada.
Quando cheguei ao carro, vi Marco empurrando e pressionando as coisas por baixo do capô.
— Ei, — eu disse. — Você precisa de ajuda? — Levou um segundo para ele me reconhecer, mas depois o fez.
— O que você sabe sobre carros?
Eu me curvei e apontei para a mangueira de resfriamento, a coisa que estava tão degradada que você podia
praticamente ver buracos no aço.
— A mangueira precisa ser substituída, — eu disse. — Mas, por enquanto, um fluxo de fluido de resfriamento
serve. Você tem algum na parte de trás?
Ele olhou para mim como se eu estivesse falando latim.
— Provavelmente uma garrafa azul, — eu disse, mas desta vez mais devagar. — Vai ter escrito, 'líquido de
refrigeração'.
Ele olhou para mim, provavelmente tentando descobrir se eu estava tirando sarro dele ou não. Quando eu
mostrei um sorriso, ele me deu um aceno e foi até o porta-malas, retornando alguns momentos depois com
o líquido.
— Fantástico, obrigada, — eu disse, e pude começar a trabalhar.
Quando Marco e eu voltamos ao prédio quinze minutos depois, eu tinha aprendido um pouco sobre ele. Ele
cresceu fora de Boston e fez duas excursões na Marinha antes de ser contratado pela equipe de segurança de
Brad Knight, e agora seu trabalho era cuidar de Xavier. E conduzi-lo por aí. Não é exatamente uma promoção a
meu ver.
Marco veio para abrir a porta traseira do carro para mim e, quando o fez, perguntei-lhe:
— Ei, Marco? Você se importa de manter isso entre nós?
— O que você quer dizer?
— Que eu ajudei com o carro. Eu não quero que Xavier... hm, descubra.
— Por quê?
— Parece que não é o que deveria fazer, eu acho.
— Oh. Está bem, claro, — ele disse, com confusão aparente.
— Boa noite, — eu disse, indo direto através das portas. Eu não sabia se podia confiar no Marco para manter o
segredo entre nós, e já podia sentir meus nervos se debatendo. Eu sabia que, se Xavier descobrisse, ele
encontraria algum motivo para me castigar. E eu não podia suportar mais hostilidade hoje. Tinha tanta certeza
disso.

Capítulo 10 A agressão do luto

Angela
Angela: Estou quase lá.
Danny: Droga.
Danny: Fiquei preso no restaurante.
Danny: Desculpe
Eu estava a um quarteirão do hospital quando recebi as mensagens de Danny, e mesmo sabendo o quanto ele
e Lucas estavam trabalhando duro nos últimos meses, mesmo sabendo que não poderia ficar bravo com ele
por priorizar o restaurante, uma parte de mim ficou chateada.
Era sempre difícil ver nosso pai no hospital, mas era ainda mais difícil quando eu tinha que vê-lo sozinho.
Depois de consertar o carro de Xavier ontem à noite, eu tinha feito massa e assistido TV na sala de estar, mas
não o tinha visto na cobertura.
Ele estava escondido em seu quarto ou estava fora durante a noite, porque eu ainda não o tinha visto quando
saí para o trem naquela manhã.
Claro, eu poderia ter conseguido um passeio de chofer até o hospital com o cartão preto que Brad me deu,
mas havia algo relaxante na viagem de trem até Jersey. Além disso, gastar dinheiro de forma tão frívola ainda
me deixava desconfortável.
Agora era início da tarde, e eu entrei pelas portas giratórias, imediatamente atingido por aquele distinto
cheiro hospitalar — uma mistura entre antisséptico e tristeza. Entrei no elevador com duas enfermeiras
vestidas de bata rosa e púrpura. Pareciam ter a minha idade, e estavam brincando uma com a outra.
Eu acenei para as enfermeiras, desejando poder ser tão despreocupada quanto elas pareciam ao sair do
elevador, com meu coração pesado no peito. Eu não tinha certeza do que estava prestes a ver, e estava me
preparando mentalmente para o pior.
Segui as placas no corredor, descendo um corredor, através de outro conjunto de portas, até uma sala de
espera. Aproximei-me do balcão da recepção.
— Olá, — eu disse, esperando que meu tom soasse alegre. Otimista.
Talvez se eu estivesse otimista o suficiente, isso mudaria a realidade. — Estou aqui para visitar meu pai. Ken
Carson.
— Ah, Ken. Que querido. Ele está no 820. Siga este corredor para baixo, — disse a enfermeira, apontando para
trás dela, — até que você possa virar à direita. E então ele está na primeira porta à direita.
— Obrigada, — eu disse, e comecei pelo corredor.
— Ele está indo muito bem, — a enfermeira disse atrás de mim. — Ele é guerreiro.
Eu sorri por isso, depois continuei em direção ao seu quarto.
Eu empurrei a porta para abrir uma fresta, coloquei minha cabeça e, espreitei. Pude sentir a cor escorrer do
meu rosto quase imediatamente.
Ele parecia ainda mais pálido, ainda mais frágil, do que da última vez que o vi no hospital. Seus olhos estavam
fechados, e ele estava conectado a tantos fios e tubos diferentes que eu não conseguia entender o que era o
quê. Eu dei um passo para dentro.
— Pai?
Seus olhos tremeram por um segundo antes de abrir. Ele virou a cabeça — com pouca força, mas o suficiente
para me ver no canto — e o sorriso mais tênue apareceu em seu rosto.
— Aí está minha garota, — ele disse, e sua voz era tão grave quanto a de um fumante idoso.
— Oi, — eu disse, desejando que minhas lágrimas não viessem enquanto eu corria para a cama. Envolvi meus
braços à sua volta da maneira mais gentil que pude.
— Como você está?
— Eu... estou ótimo, — ele se irritou. — Fale-me de você. Mas antes disso, você pode me trazer uma bebida?
Alguma coisa forte?
— Papai, — eu disse, olhando para ele. Eu tinha que sorrir. De alguma forma, mesmo através de toda a
doença, de toda a fraqueza, seus olhos ainda conseguiram segurar suas travessuras.
Apertei sua mão e depois peguei o copo de água na mesa de cabeceira.
Trouxe o canudo até seus lábios e ele tomou alguns goles com gratidão.
— Como foi o casamento? — Meu pai tentou soar casual, mas a voz dele estava grave de emoção. Eu podia
dizer o quanto o machucou o fato de ele não ter podido estar presente.
— Foi uma coisa chata, realmente, — eu disse, tentando manter meu tom leve. — Muito abafado para o seu
gosto. Você estaria apenas gritando para sair dali.
— Angie...
— Falaremos mais sobre isso da próxima vez, — assegurei-lhe. — Por enquanto, concentre-se em ficar melhor.
A enfermeira diz que você é um guerreiro.
— Fui uma vez, — ele disse. — E Gerard começou.
Eu ri. Senti aquela mesma onda de segurança — aquela em que eu sabia que se ele ainda estivesse brincando,
ele ficaria bem.
— Mas falando sério, Angie, sobre seu marido...
Houve uma batida na porta. Eu dei um suspiro silencioso de alívio. Eu não queria ter aquela conversa nessa
hora.
Não quando meu pai parecia tão frágil.
Um homem bonito de meia-idade carregando uma ficha em uma mão e um café na outra caminhou para
dentro, um sorriso no rosto.
— Dr. Kaller, — disse meu pai, suas palavras foram calorosas.
— Ei, grandalhão, — disse o médico. — Você já tem as senhoras te visitando?
— Somente minha filha.
— Olá. — Eu ofereci minha mão para ele. — Eu sou Angela.
O médico colocou seu dossiê na mesa e apertou minha mão.
— Marc Kaller. — Estou no caso do seu pai desde que ele voltou para cá, — explicou ele.
— Seu pai é um ícone ao redor destes salões, Angela. Ele tem esta superpotência onde ele pode irritar
qualquer um, e ele sempre recebe sua sobremesa no minuto em que pede.
— Soa como ele. — Eu sorri.
O Dr. Kaller se abaixou para verificar seus sinais vitais, mediu sua temperatura e, em seguida, pegou seu
arquivo novamente e acenou para meu pai.
— Posso falar com você no salão por um segundo, Angela? — ele me perguntou.
— Oh, é claro, — respondi. — Volto em um minuto, — eu disse, abaixando-me para beijar meu pai na
bochecha.
— Ela é minha filha! Nada de tocar! — disse meu pai e saiu correndo de sua cama enquanto nos retirávamos
para o corredor.
Senti minhas bochechas queimando, mas não pude deixar de rir. Ao menos meu pai ainda estava sendo pai.
Assim que o Dr. Kaller fechou a porta do quarto do pai e me acompanhou alguns passos mais adiante pelo
corredor, eu pude perceber que havia algo ali. Seu rosto mudou, não mais oferecendo a expressão
despreocupada e fácil de usar que ele usou lá dentro do quarto. Algo mais sombrio turvava seus olhos.
— Angela, eu só quero ter certeza de que você está em dia com tudo o que está acontecendo com seu pai.
Seus irmãos estiveram aqui ontem à noite, mas houve mais algumas mudanças.
— Está bem.
— Você sabe que o tiramos do coma ontem, e ele tem respondido bem. Mas ele ainda não está comendo
sozinho, e sua esclerose... está progredindo.
— Rapidamente. Poderíamos tentar combater cada um dos síntomas individualmente, mas os esforços seriam
superficiais e não preventivos.
Não há maneira de impedi-los de voltar, ou piorar. Portanto, o próximo passo típico... é garantir que ele esteja
o mais confortável possível... — Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Eu sabia o que isso significava.
Isso significava desistir. O Dr. Kaller viu minha expressão e continuou imediatamente.
É
— Mas há algo que quero trazer à tona. — É um tratamento experimental. É uma combinação de
medicamentos e práticas diárias de reabilitação, tudo isso poderia ser feito no hospital. Mas não há nenhuma
precedência para este tratamento, Angela. Quero ter certeza de que você entende que há riscos. Ainda não
está nem no mercado.
— Então, você está dizendo que ou é... ou é um tratamento não testado ou... nada?
Ele olhou para mim, olhos cheios de simpatia, ou piedade, ou algo mais. Ele deu um rápido mas certo aceno de
cabeça.
— É uma decisão difícil. Não mencionei isso a seus irmãos ontem à noite porque queria ver como seriam as
primeiras vinte e quatro horas fora do coma para ele, por isso recomendo aos três que falem sobre isso.
De verdade, com base no que vocês se sentem confortáveis.
— Está bem, — eu disse, acenando para mim mesma. Meus irmãos.
Eles ajudariam a descobrir o que fazer.
— Oh, e Angela?
— Sim?
— O tratamento experimental... por ser tão novo, e tão complicado, vem com uma etiqueta de preço bem
grande.
— Oh.
— Se funcionar, é algo que poderia dar forças a seu pai por mais de um ano — continuou ele. — E no
momento, porque não se qualifica para o seguro, a pílula e a reabilitação estão saindo cerca de mil dólares por
dia.
As palavras deixaram de ter significado para mim. Mil dólares por dia?
Essa pílula estava envolta em caviar de ouro? Mas depois pensei em Brad e Xavier e na minha cobertura
solitária. Eu tinha feito o arranjo por uma razão.
Já eram 3 da manhã quando voltei para casa. Eu não queria deixar meu pai imediatamente, e o trem estava
atrasado para voltar para a cidade. Eu estava exausta, subindo de elevador até a cobertura quando ouvi o
rádio pulsando através das paredes.
Quando a porta se abriu, tive que tapar meus ouvidos. A música estava tão alta que pensei que nunca mais
seria capaz de ouvir nada falado em um volume normal.
Eu estava caminhando para meu quarto quando, de repente, a música parou. Eu me virei, e lá estava Xavier.
Ele estava usando jeans escuro e uma camisa branca desabotoada até o umbigo. Seu rosto estava coberto de
uma barba nova e tinha olhos avermelhados.
Ele definitivamente havia estado festejando.
Pensei em quantos dias não nos víamos. Xavier provavelmente estava bebendo e se divertindo até tarde.
— Aí está minha esposa, — ele disse. Eu o vi de olho na minha camisa da Old Navy, e meu Converses surrados.
— Oi, Xavier, — eu disse, tentando manter minha distância. Mas então as palavras do médico soaram na
minha cabeça.
Um tratamento experimental. Mil dólares por dia.
Minha mente exausta estava inquieta. Talvez fosse melhor perguntar primeiro a Xavier para que ele não
ficasse bravo por eu ter ido escondida até Brad. E ele estava claramente intoxicado, então talvez ele reagisse
melhor. Talvez ele tivesse um coração, desta vez. Sim, Eu pensei. Esta é uma boa ideia.
Xavier estava tropeçando em direção à cozinha. Ele estava servindo-se de um copo de vinho quando eu o
segui e fiquei do outro lado do balcão.
— Ei, há algo que eu queria lhe perguntar, — eu disse, esperando que minha voz tivesse pelo menos um
pouco de confiança.
— O quê?— ele disse, bebendo o vinho.
— Meu pai... ele está...
— Oi, esposa. Já foi muito disso. — Ele me cortou e transformou sua mão em uma boca de jacaré que se
agitava para cima e para baixo. Um sinal para falar. Ele está dizendo que estou falando demais.
— Se você apenas me deixar explicar...
— CALA. A BOCA. Quão mais claro eu tenho que ser, — ele disse, e agora ele estava bebendo direto da
garrafa. — As pessoas estão sempre falando comigo. Sempre conversando. Eu só quero silêncio.
Esqueça isso, Eu pensei. Eu me virei e me dirigi para o meu quarto.
— Ei!, — ele gritou. Eu continuei andando. Mas depois ouvi-o correr atrás de mim e senti uma mão no meu
cotovelo antes que eu pudesse fazer qualquer coisa. Ele me encurralou contra a parede. Seu aperto ao redor
da garrafa de vinho em suas mãos estava tão apertado que tive medo que ela se quebrasse.
— Ei, — ele disse, mais suave, como se estivesse tentando flertar.
Como se eu fosse outra garota. — Você é minha esposa, sabia disso?
— Eu sei, Xavier.
— Portanto, não se afaste de mim. — Ele estava tão perto de mim que eu podia contar os cílios dele.
— Está bem, — eu disse. Tentei me afastar de suas mãos, mas ele se manteve forte.
— As esposas devem fazer coisas por seus maridos. Para serem esposas, — ele disse, e o fedor do álcool
escorria dele.
— Vou para a cama, — disse com firmeza, e desta vez, forcei meu caminho para fora de seu alcance.
Ele quebrou a garrafa de vinho na parede ao seu lado. O som me fez pular, e quando me virei para enfrentá-lo
novamente, ele me deu o sorriso mais sério que eu já havia visto.
— Você vai aprender a fazer o que EU MANDO, — ele disse. — Você vive aqui. Você vive de mim. Você vai
aprender a ser útil.
Então ele estava caminhando na minha direção, e seus olhos corriam por todo o meu corpo. Mas desta vez,
eles não estavam olhando para as manchas na minha camisa, nem para os buracos nos meus sapatos. Eu sabia
que ele estava imaginando o que estava por baixo.
— Xavier, pare, — eu pedi, minha voz implorando. Mas ele continuou.
— Você é uma puta oportunista, — ele disse. — Você deveria começar a agir como tal. — Senti como se uma
faca tivesse sido empurrada para dentro do meu intestino. E então suas mãos estavam sobre meus ombros,
passando pelo meu cabelo.
— Você está bêbado, — eu disse, e minhas palavras o fizeram parar de vaguear. Eu não sabia por que, mas
sabia que era minha chance. Virei-me para ir até meu quarto o mais rápido que pude, e foi quando vi Lucille
descendo o corredor.
Nós fechamos os olhos — ela podia ver a dor e o medo em mim, e eu podia ver o instinto materno nela — e
ela me acenou para dentro do meu quarto. Quando passei por ela, ela agarrou minha mão e sussurrou: — Eu
cuido disso.
E então eu estava em meu quarto, com a porta trancada e meus pulmões lentamente recarregando com ar.
Como passei da minha antiga vida para viver em uma casa que parece uma zona de guerra?
Deitei-me na cama, minha mente foi passando de imagens do pai para imagens do Xavier bêbado. Se alguém
podia lidar com o Xavier bêbado, era o pai.
Capítulo 11 Jogando o jogo

Xavier
Acordei com uma maldita dor de cabeça assassina. Ouvidos zunindo, cabeça doendo e a boca com um gosto
estranho. Procurei água e encontrei uma na minha cabeceira. Lucille, pensei, lembrando-me vagamente dela
me acompanhando ao meu quarto ontem à noite. Que maldito anjo.
Eu tinha sonhado com ela... aquela que me partiu o coração, aquela que me arruinou.
Eu não sonhava com ela há algumas semanas, e isso não estava facilitando a minha ressaca. No sonho, ela
estava ao meu lado no meu carro. Estávamos correndo por uma pista de aeroporto, nada além de quilômetros
de asfalto diante de nós. Mas meus olhos não estavam na estrada; eles estavam nela. Ela estava girando um
fio de cabelo comprido ao redor de seu dedo, e seus olhos brilhavam para mim.
E então ela se virou para mim e, em sua voz suave, com seu tom de julgamento, ela disse:
— Você está bêbado.
E então meus olhos se abriram e eu estava acordado.
Vesti-me para o trabalho e saí do prédio, quase dando um soco na cara do Marco por me perguntar se eu
queria parar para o café da manhã.
Parecia que eu queria parar para o café da manhã? Só de pensar na comida era suficiente para me fazer
vomitar em todo o banco de couro
cinza-carvão feito sob medida. Quando cheguei ao escritório, meu pai estava sentado no meu sofá.
— Isto é uma surpresa, — eu disse, terminando o resto de minha agua e sentando na cadeira em frente a ele.
— Meu Deus, Xavier, — ele disse, balançando a cabeça. — Você estáfedendo.
— Eu não tive tempo de tomar banho esta manhã.
— Bem, você cheira como se tivesse tomado banho em 1 ontem à noite.
Eu estava prestes a dizer algo de volta, mas pensei melhor sobre isso.
Eu sorri.
— Em que posso ajudá-lo esta manhã, pai?
Ele colocou suas mãos sobre os joelhos.
— Só queria que você soubesse que combinei um jantar para você, com o Sr. Graden e sua esposa. — O Sr.
Graden era o proprietário de um hotel no Soho que estávamos tentando comprar e mudar de nome, e
estávamos em discussões com ele há mais de um ano. Mas ele estava cada vez mais a bordo com a ideia,
recentemente.
— Oh, ele aceitou?
— Não foi um aceite completo, mas agora ele está mais interessado, com certeza. Você terá que fazer seu
melhor trabalho hoje à noite.
— Eu faço sempre o meu melhor trabalho, — eu disse.
— Veremos sobre isso. — Ele se levantou para ir. — Oh, e traga Angela. Graden vai trazer sua esposa. Jessica,
eu acho que esse é nome dela. Vai humanizá-lo.
Angela. Lembrei mais da noite de ontem: eu a agarrando, chamandoa de vadia oportunista. Ótimo. Eu tinha
certeza de que ela estaria ansiosa para causar uma boa impressão.
— Você entendeu? — Meu pai olhou para mim com expectativa.
Ficou claro que ele não iria embora até que eu confirmasse seu plano.
— Eu entendo. Sim. — Isso ia ser interessante.
Xavier: Mulino
Xavier: 20: 00
AngelaEu tinha acabado de falar ao telefone com Brad quando recebi as mensagens de Xavier. Brad tinha me
dado a resposta de que havia um jantar — muito importante — com associados comerciais potenciais, — e
estava esperando que eu fosse. Ele disse que não seria nada além de divertido para mim. Meu único trabalho
seria usar meu charme para tornar a noite o mais divertida possível para o casal que se juntou a nós.
Mas a ideia de estar em qualquer lugar com Xavier, de ter que fingir que não éramos apenas amigáveis, mas
apaixonados, era simplesmente absurda para mim.
Mas pensei em meu pai, eu me lembrei.
Ele precisava do tratamento; era a única opção.
E, por mais difícil que fosse para mim admitir, eu estava meio grata por Xavier ter estado tão bêbado. Isso
significava que eu não precisava lhe dar nenhuma explicação sobre meu pai, o que significava que eu não
havia violado o contrato. Eu balancei a cabeça para mim mesma. ¿Como pude estar tão fora de mim que
pensei que era uma boa ideia?
Olhei meu armário e encontrei minha roupa mais elegante: um macacão de seda esmeralda com uma laço na
cintura. Eu o tinha comprado com a Em há alguns anos para usar na festa de formatura da minha turma em
Harvard. Mas, no último segundo, eu tinha decidido usar um vestido preto simples e velho.
Esta noite seria a noite do macacão. Eu tirei o cabide do armário e o pendurei em um gancho na parede.
Depois passei uma escova pelo cabelo, maravilhando-me com o tempo que tinha demorado. Demasiado
longo. Eu precisava de uma mudança.
Caminhei até minha mesa e abri a gaveta, tirando um cartão de visita que Brad havia me dado no dia da
sessão fotográfica do casamento.
— Se houver algo que você precisar, qualquer coisa, eles podem ajudá-la aqui, — ele disse, entregando-me o
cartão. O Carlyle Studios foi inscrito na parte de cima e, por baixo, lia-se: Cabelo. O rosto. Estilo.
Eu disquei o número de telefone no meu celular.
— Olá?
— Olá, aqui é Angela... Angela Knight.
Ouvi sussurros abafados no fundo. Então: — Oh! Olá, Sra. Knight. Em que posso ajudá-la?
— Eu esperava... cortar meu cabelo.
Quando sai dos estúdios Carlyle, meu cabelo estava dois centímetros mais curto, em camadas que o faziam
parecer volumoso e brilhante. Eu sabia que o que estava por dentro era o que mais importava, mas não pude
deixar de pensar que, às vezes, quando me sentia perdida, ter meu exterior montado poderia ser melhor coisa
a se fazer.
— Uau. Você está incrível, — disse Pete, o porteiro, enquanto eu caminhava pela porta que ele segurava
aberta. Eram sete quarenta e cinco, e eu estava pronta para ir ao centro da cidade.
Meu cabelo parecia o mesmo de quando deixei o Carlyle Studios naquela tarde. Ele salpicava sobre meus
ombros em ondas suaves, as camadas fazendo com que as mechas parecessem estar sempre em movimento.
Eu tinha até mesmo feito um esforço com minha maquiagem.
E o macacão realmente caiu como uma luva. A seda se agarrou a todas as minhas curvas, e minha pequena
cintura estava em exposição graças ao laço, e o decote mostrava apenas o suficiente para não ser demais.
— Obrigado, Pete, — eu disse, e falei sério. Foi bom ter um voto de confiança antes de entrar no jantar com o
homem que me acusou verbalmente na noite passada.
Pete acenou por uma cabine, e eu entrei, rolando a janela para baixo e observando como as luzes brilhantes
passavam por mim. Quando chegamos ao restaurante, eu saí da cabine e caminhei até a anfitriã.
— A mesa de Xavier Knight, — eu disse, surpresa com minha própria confiança. Deve ter sido o corte de
cabelo.
— Por aqui, — disse ela.
Quando cheguei à mesa, vi que eu era a última a chegar. Xavier parecia mais elegante em um terno chique,
como um ex-aluno dos sonhos de uma escola preparatória.
Do outro lado dele estavam os associados comerciais muito importantes, presumi. O homem tinha
provavelmente cerca de quarenta e cinco anos, com cabelos grisalhos e um rosto atraente e amigável. Ele
estava com um terno azul marinho e seu relógio brilhava sob as luzes dorestaurante.
Sua esposa sentou-se ao seu lado e parecia uma modelo. Ela tinha todos os traços elegantes e traços macios, e
usava um vestido de pêssego com um decote grande.
Quando eles me viram, cada um dos homens se levantou. Xavier colocou um braço em volta da minha cintura
e beijou minha bochecha, fazendo bem o papel de marido. Eu vacilei, mas acho que ninguém notou.
— Oi, querida, — ele disse em voz alta.
— Oi, — eu disse, instruindo-me a apenas sobreviver àquele encontro.
— Jay Graden, — disse o homem em frente a Xavier, estendendo a mão.
— Prazer em conhecê-lo, — eu disse, e quando apertamos as mãos, a outra mão dele veio para cobrir a
minha. Parecia quente, como se eu pudesse confiar nele.
E então andei em volta da mesa para a Sra. Graden, que também me ofereceu sua mão. Mas seus movimentos
foram mais lentos, e não
trememos tanto quanto nos abraçamos por um momento.
— Olá, querida, — ela disse, e eu me agarrei a cada palavra. Tudo nela parecia que tinha saído de uma revista.
Sentei-me, e um garçom imediatamente encheu meu copo com vino branco. Tomei um gole, sabendo que
precisaria dele.
— Então, vamos falar de negócios? Eu sei que você está procurando um novo proprietário, e nossa rebranding
não faria nada além de elevar o nome de sua família, — começou Xavier, mas foi interrompido.
— Pare, Xavier. Ainda nem pedimos nossos aperitivos. Vamos parar com a conversa de negócios. Para o bem
das belas senhoras.
— Com certeza, — Xavier ajustou, não mostrando nem mesmo uma lasca de aborrecimento. Fiquei
impressionada. — Diga-me, como foi
Milão?
— Ooh, foi divino, — gemeu a Sra. Graden de seu assento. — A moda, o vinho, tudo. Divino. — Eu nunca tinha
ouvido ninguém falar como ela antes, não na vida real. Era como se ela soubesse que todos os olhosestavam
sobre ela, e foi isso que lhe deu o impulso para continuar.
— Maravilhoso, — Sr. Graden deslumbrava. — Estivemos lá por quanto tempo, quinze dias, querida? Não foi o
suficiente. Vocês dois deveriam aparecer por lá.
— Vamos acrescentá-la à lista, querida... — disse Xavier, dirigindo a pergunta para mim.
— Oh, sim, — eu respondi, esperando que minha surpresa não fosse perceptível. — Definitivamente.
Acrescentada à lista. — Senti minhas bochechas queimando. Talvez tenha sido do vinho, ou talvez tenha sido
pela atenção.
Ou talvez seja a mentira que você está contando, sentada à mesa como se tudo entre você e seu marido fosse
alegre, eu pensei.
— Com licença, — eu disse, e empurrei minha cadeira para trás para que eu pudesse ficar de pé. Antes que
pudesse ver qualquer reação deles, dirigi-me ao banheiro.
Salpiquei água em minhas mãos, desejando não estar usando tanta maquiagem para poder fazer o mesmo
com meu rosto. Eu me olhava no espelho e tentava reconhecer a garota que conhecia antes de tudo isso.
Eu não tinha certeza de poder vê-la.
Quando eu saí do banheiro, senti uma mão agarrar meu ombro.
— Ei, — disse a voz, e eu me virei para encontrar Xavier. — Olha, — ele começou: — Sei que a noite passada
foi zuada. Eu estava bêbado.
Provavelmente disse alguma merda que eu não deveria ter dito.
Os olhos dele estavam se movendo, como ele não estivesse acostumado a pedir desculpas.
— Mas este jantar é realmente importante. Por isso, preciso que fique quieta e ria quando contam piadas,
está bem? O que quer que você precise me dizer, faça-o depois de sairmos. Certo?
Fiquei atordoada. Aqui estava eu, pensando que Xavier só se importava com Xavier. Mas agora estava claro
que ele também se importava com a empresa de seu pai. Isso não significava que eu o tivesse perdoado, mas
também não queria fazer nada para ferir Brad.
— Tudo bem, — eu disse, e voltei para a mesa. Quando nos sentamos de volta, o Sr. e a Sra. Graden estavam
olhando um para os olhos dooutro. Não foi até que Xavier limpou a garganta que eles perceberam que
estávamos de volta.
— Ah, bem-vindos, — disse o Sr. Graden. — Espero que vocês não se importem. Pedimos algumas entradas.
— Perfeito, — disse Xavier.
— Ótimo, — eu ecoei.
O Sr. Graden apertou as mãos.
— Então, Xavier. Conte-me sobre a mulher que te fisgou. É bom ver você finalmente sossegado.
Xavier olhou para mim.
— Bem, eu conheci Angela, e nós... instantaneamente...
Eu vi que ele estava se afogando. Eu sabia que ele não sabia nada a meu respeito.
— Ele sempre fica sufocado contando a história, — eu disse, interrompendo a tempo, e os olhos dos Gradens
se voltaram para mim.
— Nos encontramos em uma loja de bolinhos na cidade, na verdade.
Eu olhei para Xavier.
— Eu tinha acabado de sair de uma entrevista e precisava de algo para me animar, e Xavier também estava
tendo um dia ruim. Pegamos os pedidos do outro por engano e... começamos a conversar. O resto, bem, tudo
se encaixou no lugar.
A Sra. Graden bateu palmas, gemendo de novo.
— Tão bonito.
— E para o que você estava sendo entrevistada? — perguntou o Sr. Graden.
— Uma posição de engenharia mecânica. Em Curixon.
— Eu conheço Curixon. Engenharia mecânica? — Ele parecia estupefato. Meu querido marido também
parecia.
— Sim, — eu disse. — Essa é minha formação, então esse era o trabalho que eu estava procurando.
— Estou vendo. E onde você obteve seu diploma?
— Harvard.— Você estudou engenharia em Harvard? — perguntou o Sr. Graden, sem sequer tentar esconder
sua surpresa. Ele olhou de mim para Xavier, que estava tentando engolir seu próprio choque.
— Fui realmente afortunada. Foi uma experiência maravilhosa, — eu disse honestamente.
— Você, senhor, — disse o Sr. Graden, voltando-se para Xavier, — encontrou um tesouro de uma esposa.
Os olhos de Xavier ficaram em mim, e eu não conseguia mais ler a expressão em seu rosto. Mas quando ele
falou, talvez pela primeira vez em todo o tempo em que eu o conhecia, suas palavras soaram genuínas.
Ele disse, lenta e simplesmente:
— Parece que sim.

Capítulo 12 Adivinhe quem está de volta

Angela
Desconhecido: Eu não era bom o suficiente, mas Xavier Knight é...
Desconhecido: Tenho olhos em todos os lugares.
Desconhecido: Você não pode fugir de mim.
Desconhecido: Boa sorte, Sra. Carson.
Desconhecido: Você vai precisar.
Olhei para as milhares de mensagens recebidas no meu telefone, sentindo o meu estômago revirar com cada
uma delas. Meu telefone estava sobre a mesa, e Dustin tentou espreitar para ver o que estava deixando meu
rosto pálido.
— O que é isso?, — perguntou ele. Nós estávamos em sua cafeteria, e ela estava novamente vazia.
Eu tinha passado pela loja sempre que ia dar uma corrida, o que tinha sido frequente nas duas últimas
semanas. Correr me deixava espairecer um pouco, e isso me deu uma válvula de escape. E fugir daquela
cobertura... bem, isso foi uma benção se eu já tivesse visto uma.
Embora, esta manhã, minha corrida não tivesse sido uma fuga tão grande quanto uma hora ininterrupta para
pensar.
A segunda parte do jantar de ontem à noite tinha corrido bastante bem, com Xavier e eu até conseguindo rir
algumas vezes um com o outro.
Quando ele pegou minha mão para me ajudar a levantar da cadeira quando estávamos saindo, pareceu quase
natural. Ele tinha me ajudado em seu Bentley, e então, explicando que ia encontrar um amigo para umabebida
por perto, Marco me levou para casa.
Tudo isso foi mais do que civilizado. Foi amigável, como se ele tivesse me conhecido e agora não me odiasse.
Talvez ele até gostasse de mim.
Tudo ficaria muito mais fácil se pudéssemos nos dar bem. Não sentiria cobertura tão perigosa o tempo todo, e
talvez eu até começasse a me sentir em casa no lugar onde eu vivia.
Estes foram os pensamentos que tive em minha corrida desta manhã — embora cheios de possibilidades,
também estavam cheios de esperança.
Mas agora, aqui estava eu com Dustin, sentada em uma mesa na loja vazia, bebendo lattes de hortelã-pimenta
e falando sobre um filme que ele tinha visto ontem à noite.
E foi quando as mensagens começaram a chegar, que minha atenção passou da recapitulação animada de
Dustin para o meu telefone. Mesmo sendo um número desconhecido, eu sabia exatamente de quem ele era.
— Olá? — perguntou Dustin, acenando sua mão diante dos meus olhos. — Quem é?
— Não é nada, — eu disse.
— Se não fosse nada, você não pareceria ter visto apenas o fantasma do Michael Jackson. — Desembucha, —
ele empurrou.
Olhei para ele, vendo o rosto bonito de um barista de vinte e quatro anos olhando para mim. Seus olhos gentis
pareciam me lembrar que, por ora, com Em não respondendo a mim e meus irmãos constantemente
ocupados com o restaurante, ele era o único amigo que eu tinha.
— Certo. Está bem. É o meu antigo chefe, — eu disse, com olhos abatidos. Eu estava tirando minhas cutículas,
tentando me distrair da dor que estava sentindo por dentro.
— Quem é ele?
— Ele era o chefe da Gelsa, uma empresa tecnológica realmente importante. O fundador original era de minha
cidade, Heller, por isso a sede fica lá. Eu trabalhei para ele por pouco mais de onze meses.
— Certo... você não está me dando muito aqui, Angela.
Eu suspirei. Depois olhei para Dustin.— Ele estava... ele estava tentando me fazer... dormir com ele. O tempo
todo que eu trabalhei lá. No início, ele me convidava para jantar.
Mas quando eu continuava a rejeitá-lo, ele começou a me obrigar a ir a reuniões particulares em seu
escritório.
— Ele tentava tocar na minha perna ou no meu ombro. E quando parei de ir, a situação piorou. Ele me ligava,
deixava mensagens na caixa postal, e me seguia para casa do trabalho. No final, era como se eu não pudesse ir
às compras sem vê-lo em algum lugar ao fundo. Era muito ruim.
— Meu Deus, — ele disse, com sua mão voando para pegar a minha.
Eu olhei para nossas mãos e ele sabia o que eu estava pensando. — Oh, eu sei que você é casada, Angela. Não
se preocupe. Não estou interessado em você... bem, não estou interessado em mulheres, — ele disse. — Mas
de volta a você.
E rápido assim, ele havia me revelado algo tão privado que eu me senti bem revelando meu problema. Estava
à vontade.
— Eu tentei desistir. Durante um mês inteiro, embora o trabalho fosse incrível e eu adorasse o trabalho,
simplesmente não consegui lidar com seu assédio constante.
— Eu havia trocado meus números algumas vezes, mas ele sempre conseguia me localizar. Comecei a ter
ataques de pânico. Finalmente contei aos meus irmãos o que estava acontecendo, e foram eles que me deram
forças para realmente desistir.
— E depois?
— Pedi minha demissão e ele me chamou ao seu escritório. Entrei e me certifiquei de que a porta fosse
deixada aberta. Ele tirou a carta de demissão de minhas mãos e sussurrou, com a voz mais cruel que você
possa imaginar, que eu nunca mais trabalharia. Ele disse que uma vez que deixasse sua empresa, era isso. Ele
se certificaria de que eu nunca poderia ser contratada. — Eu olhei para Dustin, e tinha certeza de que ele
podía ver a dor em meus olhos.
— Ele me disse que eu não deveria ter dito não.
— Querida, — disse Dustin, e ele apertou minhas mãos ainda mais, — você não merece isso. Ninguém merece
isso, especialmente você. — Ele agarrou meu telefone e leu as mensagens.— Meu Deus. Você já foi à polícia?
Eu acenei com a cabeça.
— Quando começou, e depois novamente antes de desistir com meus irmãos. Mas eles disseram que eu não
tinha nenhuma prova. Além disso, ele é um grande e poderoso CEO, e eu sou apenas alguém inexperiente de
vinte e três anos de idade. As probabilidades nunca estiveram a meu favor.
— Então você só o está ignorando?
— Ele estragou muito da minha vida, mas... eu realmente não posso fazer nada. Ele tem o poder e recursos.
Ele vai desistir eventualmente, certo?
— Você já contou ao Xavier? Ele provavelmente poderia ajudar...
— Não! — eu gritei. Depois olhei novamente para baixo. — Não quero que ele pense que eu sou uma donzela
em apuros. É... é embaraçoso.
Dustin olhou para mim com tanta pena que pensei em chorar.
— Não, pare com isso, — ele disse, levando-me às lágrimas. — Não desperdice nenhuma lágrima pelo seu
chefe horrível, esse filho da puta.
Você me entendeu?
Eu confirmei.
— Sabe de uma coisa? Que se dane isso. Nós vamos aproveitar o dia.
— O quê? O que você quer dizer com isso? — Mas Dustin já estava levantando, limpando o balcão e fechando
a caixa registradora. Ele virou a placa na janela.
— Dustin! Você pode fazer isso?
Ele olhou para mim e encolheu os ombros.
— Eu não sei. Provavelmente não. Mas, ei, eu acabei de fazer.
Depois ele me ofereceu sua mão, e eu a agarrei, e ele me guiou para fora da cafeteria, quarteirão abaixo, até
uma estação de trem.
Quando saímos na Prince Street, bem no coração do Soho, Dustin me arrastou para um spa de unhas enfiado
em um porão na esquina.
Quando entramos, eu fiquei impressionada com o quanto o spa parecia luxuoso por dentro; o exterior tinha
sido tão desinteressante.Tudo era mármore: os pisos, as mesas de manicure e as paredes. Todos os técnicos
de unhas estavam vestidos de branco, e havia uma música suave e melódica.
— Dustin! — um coral de técnicos chamou quando entramos.
— Como você pode ver, sou um cliente habitual, — disse-me ele antes de acenar para eles. — Venho aqui
sempre que estou tendo um dia de merda, — explicou ele. — Nada que uma boa pedicure não possa
consertar, não é?
Uma técnica enérgica saltou para cima de nós, agarrando cada uma de nossas mãos.
— O que será hoje?, — perguntou ela.
— A obra, — disse Dustin, sem me consultar.
— A obra! — repetiu a técnica, e convocou outra. Esta tinha cabelos longos e trançados, mas era um pouco
mais tímida.
Ela pegou minha mão e me guiou até o lugar para pedicure. Eu tirei meus sapatos e me preparei para tirar
minha mente dos horrores do meu passado.
Quando chegamos à nossa quarta loja, eu quase tinha esquecido as mensagens de texto. Tínhamos
conseguido manicures e pedicures, uma limpeza de pele cada um, e depois fomos às compras.
Fomos a três lojas sem parar, onde Dustin me convenceu a comprar dois vestidos slinky, um blazer e o par de
jeans mais apertado que eu já tive.
— Sua bunda parece que pode estar em um vídeo Kanye, — ele disse, e depois pegou meu cartão e o roubou
ele mesmo. — Você e seu marido vão me agradecer mais tarde.
Meu marido. Mas antes que eu pudesse me debruçar sobre Xavier, ou ter algum tempo para sentir mais
melancolia, Dustin estava me puxando para a loja número cinco.
Esta era uma loja de chapéus, onde chapéus de todas as formas etamanhos revestiam as paredes. Eles tinham
apenas uma coisa em comum: seus preços exorbitantes.
— Meu Deus, há tanto tempo eu queria um desses, — exclamou Dustin, conferindo o fedora de bronze em
sua cabeça no espelho.
— Parece... bom? — Eu ofereci.
— Sim, parece bom. Por oitocentos dólares, é melhor.
— Oitocentos dólares! Por um chapéu?
— Não é apenas um chapéu, — ele disse, tapando meu ombro. — E uma declaração.
Eu não pude deixar de rir. Havia algo tão bom em estar perto de Dustin.
Não precisei observar tudo o que eu disse ou ficar atenta ao significado de seus comentários. Foi fácil, como
sair com a Em. Ele se importava comigo porque eu era eu, não por causa do meu novo sobrenome.
Eu o vi se olhando no espelho e fui tomada pelo desejo de fazer algo agradável para ele. Ele havia tirado
minha mente de meu antigo chefe, de Xavier, por um dia inteiro.
Ele era um verdadeiro amigo quando eu não tinha mais ninguém a quem me apoiar.
— Ei, Dustin, — eu disse, movendo-me para que ele me passasse o chapéu.
— Você quer provar?
Eu apenas balancei a cabeça e a levei para a caixa registradora. A vendedora olhou para mim com ceticismo,
como se ela não acreditasse que eu fosse realmente pagar por isso. Afinal, eu estava usando meu Converse
surrado.
Mas eu lhe entreguei o cartão preto dos Knight, e sua boca quase caiu.
— Oh-meu-deus, é sério? — perguntou Dustin, com sua boca aberta.
Eu sorri para ele, depois me dirigi ao vendedor.
— Se você puder embrulhá-lo, seria ótimo.
— Claro, — ela respondeu, passando o cartão e assistindo enquanto eu assinava o recibo. Em seguida, ela
embrulhou o chapéu em um lindopacotinho, amarrando-o com um laço azul-claro.
Ela me entregou, e eu o entreguei a Dustin, bem quando um rosto familiar entrou pela porta.
Era a Sra. Graden, a esposa do sócio comercial muito importante dos Knight. Ela me reconheceu
imediatamente, seu rosto estava aquecido quando veio para beijar minhas bochechas no ar.
— Querida!, — exclamou ela. Então ela se voltou para Dustin, de olho nele e depois de olho em mim. Ela
notou a sacola na mão dele. — Estes chapéus, — disse ela.
— Exatamente, — disse Dustin, acenando profusamente e oferecendo sua mão a ela.
— Eu sou Dustin. Dustin Stirling.
Ela o deixou apertar a mão dela.
— Jessica, — ela disse a um volume logo acima de um sussurro, e depois voltou-se para mim.
— Já estávamos de saída, — eu disse, na esperança de me retirar desta situação o mais rápido possível.
Era divertido estar neste mundo quando éramos apenas eu e Dustin, mas ter uma verdadeira socialite lá, uma
que me conhecia e ao meu marido, tirou toda a diversão da brincadeira dele. E eu me senti nervosa, por
alguma razão eu não conseguia me controlar.
— Foi bom ver você, — acrescentei, e ela sorriu calorosamente, seus dentes brilhavam mais do que uma
lâmpada. Ela beijou minhas bochechas mais uma vez, e então, com um último, — Ciao, — ela voltou sua
atenção para um chapéu preto na parede distante.
Dustin e eu saímos da loja, e quando olhei para trás pelo vidro da frente, tive quase a certeza de ter visto
Jessica nos observando partir.
Xavier
Meu telefone tocou no meu bolso.
Eu franzi a sobrancelha ao sair do carro e puxei meu celular. Esqueci de colocá-lo no silencioso. Eu sempre o
fazia antes das grandes reuniõesde negócios. Eu estava bem fora do local da reunião e precisava do foco.
Mesmo assim, eu não pude deixar de olhar para a tela.
Era uma mensagem de Jessica. A esposa de Graden, o homem de negócios que eu estava prestes a conhecer.
Estávamos prestes a fechar um grande negócio.
Eu gemi.
Provavelmente não devo ignorar isso então.
Mas quando olhei as mensagens, eu desejava ter ignorado.
Jessica: Xavier! Você precisa ficar de olho na sua esposa.
Jessica: Eu a vi fazendo compras hoje.
Jessica: Com outro homem.
Jessica: E pareciam ser muito amigáveis um com o outro...

Capítulo 13 Tão perto, tão longe

Xavier
Eu olhei para a tela do meu celular quando uma onda de raiva surgiu em mim.
Minha esposa estava causando problemas para mim.
Novamente.
Não preciso desta merda.
Empurrei meu celular de volta para o bolso e tentei relaxar. Eu precisava de uma cabeça fria para fechar este
negócio.
Darei um trato na maldita esposa mais tarde.
Eu estava no Hatchback, um bar pitoresco no distrito financeiro, onde homens que passavam o dia inteiro
cuidando de negócios vinham para descontrair. Não era meu cenário — nenhum lugar que oferecesse tacos
de foie gras era — mas Graden tinha sugerido isso, então aquí estava.
Depois do jantar que tivemos com nossas esposas, eu estava bastante confiante de que o negócio estava
prestes a se concretizar. Ele havia pedido para nos encontrarmos para o happy hour desta noite, e eu tinha a
sensação de que iria para casa um homem muito mais feliz do que quando acordei esta manhã.
O jantar tinha me colocado de bom humor, com certeza. Nada me fez sentir tão bem quanto ganhar no meu
trabalho, e este — este — era certamente o meu maior ganho até agora.
Eram quase sete da tarde, e o bar estava lotado com mais Hugo Boss e Giorgio Armani do que em uma loja de
roupas. Homens entre vinte e cinco e sessenta e cinco se misturavam, com as mãos cheias de uísque ou
cerveja.
Acho que em todo o espaço havia três mulheres, e duas delas erambartenders. Você teria pensado que era
um bar gay em West Village, mas todos os homens aqui dentro certamente não estavam enganados.
Não que eles fossem totalmente homofóbicos, é claro — isso era ruim para os negócios. Eles gostavam de
mulheres. Eles só precisavam de algum lugar para beber e falar como homens.
— Ei, aí está ele. Knight! — Eu me virei para encontrar Graden indo até mim, com outro homem a reboque. Eu
me levantei para apertar sua mão.
— Como está indo? — perguntei, sorrindo calorosamente para Graden. Eu estava pensando nas primeiras
impressões, mas eu sabia que o acompanhamento era igualmente importante. Pergunte a qualquer mulher
com quem eu tivesse dormido mais de uma vez. Eu era bom no acompanhamento.
— Bom, bom, — respondeu Graden, dando tapinhas nas minhas costas. — Obrigado por nos encontrar. Este é
Mickey. Ele é o meu cara.
Um conselheiro, digamos assim.
— Ei, Mickey, — eu disse, apertando sua mão.
É disso que estou falando, eu pensei. O homem tinha trazido seu assessor de negócios. Ele estava
definitivamente mais do que interessado; ele estava pronto para falar. Mal podia esperar para ver o olhar no
rosto do meu pai.
— O que os senhores estão bebendo? — Eu perguntei, acenando para a bartender ao mesmo tempo.
Ela era bonita, de um jeito meio universitário, de Kansas.
— Vou tomar um Glenfiddich, — disse Mickey.
— Faça dois, — acrescentou Graden.
— Três Glenfiddich puros, por favor, — eu disse a bartender, atirando-lhe um sorriso. Eu só acrescentei um
'por favor' quando a garota que estava tomando meu pedido era alguém com quem eu dormiria. E esta
garota, com suas covinhas e seu sotaque sulista, era alguém que eu levaria absolutamente para casa.
— Por que vocês não vão procurar uma mesa na parte de trás e eu levo as bebidas? — Eu disse aos homens, e
eles acenaram, andando para encontrar um espaço vazio.— Aqui está você, — disse a bartender, entregando-
me as bebidas. Eu dei a ela meu cartão. — Abro uma conta, Sr. Knight? — Ela piscou inocentemente para mim.
— Claro, — eu lhe disse. — Estarei aqui por um tempo. — Eu lhe dei o olhar, aquele que garantiu que ela
soubesse que eu estava interessado em mais do que bebidas.
— Eu gostaria disso, — respondeu ela, e soltou uma risada.
Levei as bebidas de volta para onde Mickey e Graden haviam conseguido uma mesa. Estava tão lotado aqui
que eu não me surpreenderia se eles tivessem passado um cheque para obtê-lo. Graden novamente deu-me
um tapa nas costas enquanto eu me sentava.
— Obrigado, Xavier.
— Não por isso, chefe, — eu disse.
— Então, vamos ao que interessa. Mickey aqui quer ouvir seu tom, por isso, estabeleça-o.
Eu olhei diretamente para Mickey. Ele parecia inofensivo o suficiente.
Seu cabelo encaracolado era grisalho um pouco nas pontas, e seus pés de corvo eram definitivamente visíveis,
mas seu terno era italiano, e seu relógio era um Rolex de edição limitada.
Portanto, o homem tinha claramente feito uma boa escolha em um momento ou outro.
— Está bem, Mickey. O negócio é o seguinte. O hotel Graden é claramente uma propriedade que vale a pena.
Só o local vê projeções acima do dobro do que os outros lugares do mesmo bairro nos dariam. E tem tido uma
boa corrida. Uma puta corrida, desculpem minha linguagem, cavalheiros.
Ambos soltaram uma gargalhada.
— Mas há um tempo e um lugar para sair. E eu sei sua perspectiva sobre isso, — eu disse, olhando para
Graden, — é que você quer sair agora. Você quer sair, mas você quer olhar por cima do ombro e ver seu
legado.
— É isso que estou lhe oferecendo, Graden. A chance de ver uma rebranding, de ver uma propriedade bem-
sucedida se tornar ainda mais bem-sucedida, mas também a chance de ver reconhecidos os anos quevocê
dedicou a ela... Homenageado. Sua pegada estará sempre lá se for um hotel Knight. Isso eu posso lhe
prometer.
Eu olhava de homem para homem, tentando avaliar a reação. Pensei que tinha sido ótimo, mas ambos
estavam demorando a digerir. Logo quando eu estava prestes a dizer outra coisa, para preencher o silêncio
que lentamente se tornava ensurdecedor, Graden bateu palmas.
Uma vez, depois duas vezes. Depois três vezes.
— Isso, — ele disse, — foi lindo.
Olhei para Mickey, tentando iluminar quaisquer que fossem seus pensamentos, mas seus olhos só tinham o
mesmo olhar vidrado e profundo para eles.
— Qual é o cronograma?, — perguntou ele, finalmente olhando para mim.
— Estaríamos procurando começar a construção estética em seis semanas, no máximo, — eu comecei. —
Lobby, spa e academia de ginástica para começar. O nosso objetivo é ter um novo restaurante no telhado em
funcionamento até março. Estamos visando profissionais de
negócios que querem o centro da cidade, então vamos precisar nos diferenciar o melhor possível do centro.
Mickey acompanhou minhas palavras, acenando com a cabeça a cada duas sentenças. Pensei que eu o tinha
na mão. Por isso, continuei.
— Estou pensando na mistura entre o Mandarim Oriental e o NoMo.
Queremos a elegância de uma propriedade cinco estrelas estabelecida, mas queremos que ela seja fresca, —
eu disse, prestes a continuar falando quando Graden levantou a mão e interrompeu.
— Espere um minuto, — ele disse, lendo algo em seu celular. —
Desculpe interromper, mas... que mundo pequeno... — murmurou ele.
Então ele olhou para mim. — Adivinhe quem minha esposa encontrou hoje.
— Quem? — perguntei, esperando que ele não conseguisse ouvir a impaciência em minha voz.
— Sua esposa! Jessica disse que viu suas compras com... um homem... em La Sur, aquela loja de chapéus.
Ele o disse casualmente, mas o tom evidentemente mudou quandoele disse "um homem". Ele estava me
julgando, perguntando-se sobre minha esposa e meu relacionamento. Perguntando-se quem era o homem.
Pensei imediatamente nos textos que Jessica me enviou antes.
Porra...
Eu não poderia tê-lo duvidando se ele poderia confiar em mim, não agora.
Eu precisava ser compreensível.
Eu precisava ser compreensível e confiável.
— Que mundo pequeno! — Eu quase gritei, desta vez dando tapinhas em seu ombro. — Aqueles chapéus,
todos gostam deles. — Quando Graden olhou para mim, um sorriso educado em seus lábios, algo havia se
deslocado em seus olhos. Eu podia ver a dúvida tomando conta.
Merda. A raiva corria pelas minhas veias como uma jangada por um rio. Eu estava chateado. Eu desci meu
uísque. Minha mulher estava lá fora me envergonhando, interferindo nos negócios. Isso era inaceitável.
Eu não dei a mínima para com quem ela estava em particular, quando os olhos não estavam por perto para
vê-la. Eu fiz o que eu queria e ela podia fazer o que queria.
Mas em público?
Nós éramos a porra do quadro de amor e lealdade. Sangrávamos o casamento, dia sim, dia não. Como ela
poderia ter sido tão estúpida?
Eu queria sair imediatamente do bar e lhe dar uma lição, deixá-la saber o quão idiota ela tinha sido. Avisá-la
sobre estar em público novamente com aquele cara, ou com qualquer outro cara que não fosse eu.
Não, que se foda isso. Ela nunca mais veria aquele cara de novo, público ou privado. Era o mínimo que ela
podia fazer, já que ela corria pela cidade passando o cartão preto em chapéus de fantasia.
Mais um olhar sobre Mickey e eu sabia que a produtividade da noite tinha acabado.
Uma vez que saí, os homens iam falar se podiam trabalhar com um homem que não conseguia manter as
rédeas sobre sua esposa.Um homem que ou não sabia o que sua esposa andava fazendo, ou não se
importava.
Pensei, deixe-os ter a conversa agora. Abri um e-mail em meu telefone, fingindo lê-lo e reagindo.
— Cavalheiros, — interrompi, — Eu adoraria sentar aqui com vocês a noite toda, mas um colega precisa da
minha ajuda. Desculpem-me por encurtar a noite. — Ambos ficaram de pé quando eu o fiz, acenando para
mim.
— Manteremos contato, — disse Graden, a camaradagem em sua voz se foi.
— Perfeito, — eu disse. — Boa noite.
Eu estava tão zangado que andei a toda velocidade para fora do bar, esquecendo completamente meu cartão
e a bartender do sul com as covinhas.
Só quando Marco estava percorrendo a West Side Highway é que me lembrei de ambos e senti ainda mais
fúria entrar na minha corrente sanguínea.
Ela fodeu com meus negócios.
Ela fodeu com a minha vida sexual.
Ela ia ter que aprender seu lugar.

Capítulo 14 Um Knight público

Angela
Eu estava em casa cozinhando biscoitos. Eu sei que parecia tosco, como uma espécie de dona de casa de um
milhão de anos atrás, mas eu adorava assar.
Eu era ã de qualquer coisa que exigisse que eu usasse minhas mãos para criar algo, qualquer coisa que viesse
com uma receita. Eu tinha acabado de colocar os biscoitos no forno quando ouvi o elevador zumbir.
Olhei pelo corredor do meu quarto, pensando se eu teria tempo suficiente para chegar lá antes que as portas
do elevador se abrissem. Mas antes que eu pudesse terminar o pensamento, as portas se abriram.
E ali estava Xavier, de olhos vermelhos, com o terno pendurado sobre o braço. Antes que eu conseguisse dizer
uma palavra — ou pensar em dizer — ele estava marchando até mim, e palavras saíam de seus lábios.
— Com que filho da puta você estava comprando hoje?
— O quê?
— Quem era o homem?
— Meu amigo? Dustin.
— Oh. Dustin, — ele disse, e ficou claro que ele estava zombando de mim. — Deixe-me deixar algo muito claro
para você, Sra. Knight. Tudo o que você faz nesta cidade chega em mim. TUDO.
Eu estava tão confusa que nem sabia por onde começar. Pensei em voltar às compras com o Dustin.
— Tive uma reunião de negócios com a Graden hoje à noite, — ele balbuciou. Oh. Sim, tínhamos encontrado
com a Jessica. Aí estava minha resposta.
— Ele disse que sua esposa a viu fazendo compras... com um homem.— Foi o ciúme que eu detectei em sua
voz?
— Estou me lixando para o que você faz no seu tempo livre, no seu próprio espaço, — ele disse, me jogando
na cara. Talvez não tenha ciúmes, eu pensei. — Mas você não interfere nos meus negócios. Você não vai me
envergonhar novamente. Você me entende?
— Sim, mas eu não queria interferir...
— ME ESCUTE. — Ele bateu com a mão no balcão da cozinha. —
Você não deve estar em público com nenhum homem que não seja eu.
Você pode ter custado à empresa a merda do NEGÓCIO. Você entendeu isso? Você percebe o quão estúpida
você foi? Eu te proíbo de ver ese homem até o fechamento do negócio.
— Você me proíbe?
— Você me ouviu. Você está vivendo sob meu teto, usando meu dinheiro, você pode obedecer a uma simples
regra. Além disso, se o bom velho pai descobrisse que você estava fazendo alguma coisa para ferrar este
negócio, você teria mais a responder do que apenas a mim. — Suas palavras eram tão grossas, tão afiadas,
que eu as sentia me cortar.
Eu não tinha mais nenhuma energia dentro de mim. Pensei nas mensagens de texto do Sr. Lemor, sobre meu
pai, e olhei em volta para minha nova vida. Eu estava cansada de lutar para encontrar o lado bom.
Ao ver a desistência no meu rosto, Xavier se virou e marchou até seu quarto, batendo a porta.
— Ele é meu único amigo, — eu disse suavemente à cozinha vazia, como se dizer as palavras ajudasse a tornar
menos real o que acabara de acontecer. Mas nada veio em resposta. Olhei à minha volta, sentindo-me
perdida. Ainda era só eu e meus biscoitos.
Claro, eu já tinha me sentido sozinha neste quarto cem vezes antes. Mas esta era a primeira vez que eu não
tinha Em e não tinha Dustin. Ambas as minhas redes de segurança da cidade de Nova Iorque, antigas e novas,
não queriam ter nada a ver comigo.Eu tinha ligado para Dustin depois que Xavier explodiu comigo, contando-
lhe sobre a regra que me proibia de vê-lo. Eu tinha tentado rir disso, me certificando de que ele soubesse o
quão absurdo eu achava que era.
Mas Dustin não tinha rido.
— Xavier Knight proibiu você de me ver? Como eu, especificamente?
— Sim, — eu tinha respondido. — Mas é só até o fechamento deste negócio...
— Isso é uma bagunça. Muito bagunçado. Eu não posso ter o maior nome da cidade me odiando dessa
maneira, — disse Dustin. — Parece que há um alvo nas minhas costas ou algo assim.
— O quê? Não, Dustin, ele só está exagerando...
— Angela, tenho que ir, está bem? — E então ele desligou. Assim mesmo, nossa amizade parecia ter acabado.
Acho que entendi por que ele estava tão agitado. Eu sabia como era ser apontado como o inimigo por uma
pessoa no poder. Como era assustador saber que eles tinham mais controle sobre seu futuro do que você.
Mas agora, não era apenas o Sr. Lemor que controlava minha vida.
Era meu marido, também.
Já era ruim o bastante eu ter que viver com Xavier, ter que ouvi-lo gritar comigo pelas menores razões. Mas
agora ele estava cortando ativamente minhas relações pessoais, como se minha vida não importasse nem um
pouco.
Ele claramente não tinha respeito por mim. Ele pensou que eu tinha casado com ele por seu dinheiro e seu
nome, e eu não podia me defender ou explicar nada — não sem quebrar as cláusulas.
Quanto tempo eu poderia ficar tão solitária?
Quantas semanas, meses, anos eu poderia passar sem ter um verdadeiro amigo?
Minha tristeza se transformou em frustração, depois em fúria com Xavier, mas também em fúria pela injustiça
da vida. Eu estava começando a enlouquecer, quando meu telefone se iluminou com uma mensagem de
texto.
Desconhecido: Pare de me ignorar.
Desconhecido: Vai se arrepender.
E meu sangue fervia ainda mais. Eu sabia que era o Sr. Lemor. A audacia dos homens com poder e dinheiro
para tentar controlar cada minuto do meu dia; era inacreditável.
Quem eles pensavam que eram?
Por que eles pensaram que poderiam mandar em mim como uma criança?
Então meu telefone tocou.
Você só pode estar de brincadeira! Eu deixo sair o som mais animalesco — um som que eu nem sabia que era
capaz de fazer — e respondo.
Mas eu não esperei que ele falasse.
— ME. DEIXE. EM PAZ! — Eu gritei pelo telefone.
Eu estava ofegante. Acho que nunca havia falado com alguém assim antes, e meu coração batia mais alto do
que um tambor. Estava tremendo enquanto esperava por uma resposta — qualquer coisa.
Depois ouvi uma voz calma, tão controlada que soava quase doce, do outro lado.
— Você vai desejar, — ele disse, — não ter dito isso para mim.
Joguei meu telefone do outro lado da cama, o mais longe possível de mim.
Minhas mãos ainda estavam tremendo.
Saltei ao som das mensagens recebidas. Parte de mim queria ignorar o
telefone, mas minha curiosidade levou o melhor de mim. Eu precisava saber o que ele estava dizendo. Era
como dirigir por um acidente de carro na rodovia. Você tinha que olhar porque, de alguma forma, não saber
era pior.
Rastejei até o canto da minha cama, onde o telefone estava deitado com a face voltada para baixo, e
lentamente o virei. Eu nunca tinha ficado tão aliviada. O nome de Danny piscava sobre a tela.Danny: Angela.
Danny: Você tem que vir para ver o pai.
Angela: ???
Angela: Está tudo bem?
Danny: Ele está bem.
Danny: Mas ele está fazendo uma birra.
Angela: Por quê?
Danny: Aparentemente você tem evitado falar sobre seu casamento
Danny: Ele não quer adiar mais.
Merda. Outro problema a ser resolvido.
Eu havia evitado falar sobre isso.
Eu simplesmente não tinha coragem de continuar mentindo diretamente na cara do meu pai. Mas essa era a
única opção além de evitar o assunto, então eu teria que fazer isso.
Eu soltei um grande fôlego e saí da cama, retirando meu pijama.
Puxei um par de jeans, uma camiseta, e amarrei meus Converses, depois me dirigi para a porta.
Eu não tinha certeza se seria capaz de manter as mentiras na sua frente.
Especialmente não quando ele estava indo tão mal.
Mas eu tinha que ser forte, por causa dele.
— Pai?— Entre, filhinha, — ele disse, claramente se esforçando para tirar cada palavra.
— Danny disse que você estava se sentindo melhor.
— Eu estou, eu estou, — ele disse, pegando minha mão e a beijando.
O silêncio se estendeu por um segundo diante de seus olhos enrugados em um sorriso. — Você não pode
evitar a conversa para sempre.
Eu acenei com a cabeça. Senti-me como uma criança prestes a ser repreendida. Como se eu tivesse sido pega
em flagrante com a mão no biscoito.
Mas em vez de um pote de biscoitos eu estava no fundo de uma teia de mentiras e enganos. Era um segredo
de bilhões de dólares onde a vida do meu pai estava pendurada na balança.
Eu respirei fundo, me apoiando.
— Ei, se anime, — brincou ele. — Eu não estou bravo. Não vou dizer como foi imprudente e louco se casar tão
rápido.
— Você acabou de dizer.
— Ah, eu acho que sim. — Ele riu, e eu não pude deixar de rir com ele com pesar. Eu mantive meu olhar no
chão.
Se ele soubesse a verdade, ele poderia ter outro ataque cardíaco.
— Filhinha, olhe para mim, — ele disse, com seus olhos ficando rosados. — Você está feliz?
Eu olhei para meu pai, o homem que eu mais amei na vida. Minha pessoa favorita. E eu estava lá com ele,
conversando com ele. Então acenei com a cabeça, uma lágrima escapando bochecha abaixo.
— Então, não se preocupe comigo. Entendeu? Eu estou feliz. Estou feliz por você. Eu estou orgulhoso. Minha
filhinha é uma esposa. — Ele apertou minha mão agora, e outra lágrima caiu.
— Não chore.
— Sinto muito.
— Então, fale-me sobre ele.
— Você o conheceu na Ação de Graças, lembra-se?
— Claro, mas eu mal conheço o cara. Quanto às primeiras
impressões, eu não fiquei impressionado. Parecia que você ia desmaiar aqualquer segundo naquela ocasião.
— Eu estava apenas nervosa com o que todos vocês pensariam, — eu disse. E era verdade. Mas
provavelmente não pelas mesmas razões que o pai estava pensando.
Eu não estava nervosa para apresentar meu noivo à família.
Eu estava nervosa com a revelação do segredo.
Levantei minha mão esquerda para enxugar as lágrimas da bochecha e meu pai assobiou, olhando o anel no
meu dedo.
— Nossa, isso é uma pedra, — ele disse.
— No fim das contas, Xavier é um Knight. Você não precisa se preocupar com nada.
Os olhos de meu pai se estreitaram o suficiente para que eu percebesse, como se ele estivesse juntando a
coincidência de tudo, mas depois eles voltaram ao normal. Eu me perguntava se eu tinha imaginado tudo.
— Bem, estou feliz por minha filhinha ter alguém para cuidar dela, só isso. Depois daquele último idiota. — Ele
estava falando sobre o Sr.
Lemor.
Meus irmãos haviam dito a ele depois que eu deixei a empresa e ajudaram a explicar ao meu pai porque eu
estava deixando um emprego tão perfeitamente adequado. Quando lhe disseram, papai tinha corrido para
seu quarto e emergiu alguns segundos mais tarde com um taco de beisebol.
— Tudo bem, — ele disse, — onde está o filho da puta?
Mas eu não queria pensar no Sr. Lemor ou Xavier agora. Eu precisava colocar o foco de novo no meu pai.
— Então, seu tratamento experimental começa amanhã?
— Sim, senhora.
— Vai funcionar.
Ele olhou para mim, seus olhos ficaram rosados novamente.
— Pode apostar que sim, — ele disse.
Puxei a cadeira de visitante para perto de sua cama e enfiei meus pés debaixo de mim, segurando suas mãos
com força. Eu sabia que teria quevoltar para a cidade em breve, mas por enquanto eu só queria um pouco
mais de tempo com meu pai.
Eu estava de volta ao trem. Havia algo tão reconfortante em ver milhões de árvores passarem. Eu gostava de
pensar sobre aquelas árvores, sobre como elas estariam ali, crescendo e morrendo, crescendo e morrendo, se
alguém estava ali para vê-las ou não.
Foi humilhante pensar nisso. O mundo gira com ou sem você. Isso realmente colocou minha vida em
perspectiva. Eu era apenas mais um.
Meus problemas não eram os únicos problemas.
Mas já chega, eu disse a mim mesma. Sem mais lamentações. Amanhã era um novo dia, e eu estava pronta
para enfrentá-lo sem hesitar. Peguei meu celular, procurando uma distração. Pensei em tentar o New York
Times.
Eu estava rolando e rolando, tentando encontrar um artigo para ler, mas nada chamou minha atenção. Eu
precisava de alguma coisa divertida. Por isso, fiz o que qualquer pessoa de vinte e poucos anos faria.
Fui para as fofocas online.
Eu estava folheando o Yorker, um blog de fofocas baseado em NYC, passando por histórias sobre o último
escândalo da Bravo Housewives e da Miss Teen America, quando vi algo que me impediu de ter frio.
Você já sentiu alguma vez uma reação tão visceralmente que pensou que poderia ser fatal? Como um ataque
de pânico tão ruim que você parou de respirar?
Bem, isso foi o que foi. Meu coração parou. O barulho ao meu redor recuou até que eu não conseguia ouvir
nada. Minha visão estava turvada por manchas brancas. Tive que segurar meu telefone até o rosto para ler
qualquer coisa, e quando o fiz, desejei não o ter feito.
Havia uma foto de mim e de Xavier em nossa noite de núpcias.
Sorrindo para a câmera, parecendo que estávamos apaixonados. E por baixo daquela foto, havia outra foto.
Uma que apresentava apenas a mim.
Eu estava olhando diretamente para dentro da câmera, meus cabelosúmidos pendurados em linha reta. Meus
olhos estavam largos. A foto me mostrou da cintura para cima. E eu estava nua.
Como isso pode ser? Nunca tinha tirado uma foto de mim mesma nua em minha vida. Eu nunca tinha tido um
namorado! Como poderia existir esta foto? E como ela está estampada em toda a Internet?
Eu tentei me acalmar. Está bem, Angela. Seja esperta. Procure por pistas.
Eu me esgueirei para a foto, agradecendo ao senhor pela barra preta que cobria meus seios. Notei os armários
ao fundo. Armários? Minha mente correu. Onde eu tinha estado com armários?
E depois me atingiu: a academia da Gelsa. Era a única academia onde eu já tinha ido. Isto foi tirado no
vestiário. Eu devia estar me trocando, mas quem teria sido capaz de tirar uma foto como esta sem eu ver?
Desconhecido: Eu sempre venço.
Desconhecido: Você nunca mais vai trabalhar.
Sr. Lemor.
É claro.
Eu queria matá-lo.
Fiquei tão dominada pela raiva e pela humilhação que não tive coragem de pensar em como ele poderia ter
feito isso. Agora não.
Agora, eu precisava entrar em contato com o Yorker e fazer com que eles retirassem o artigo. Então eu
precisaria vasculhar o resto da internet para procurar resíduos...
Em: ANGELA!!!
Em: VOCÊ VIU? PQP???
Em: ESTÁ EM TODO LUGAR!!!
Oh, meu Deus. Ai, meu Deus!
Já era ruim o suficiente que a Em estivesse falando comigo. Ela vinhaignorando meus textos há dias.
Okay, relaxe. Faça você mesmo o Google e encontre os sites com a foto e peça-lhes calmamente que a
removam.
Eu mesmo pesquisei no Google. E encontrei a mesma imagem, em vários websites. Mais sites do que eu
poderia contar. Alguns mais respeitáveis, outros menos.
E aqueles sites não regulamentados, aqueles que visavam a clickbait a qualquer custo? Eles não se
preocuparam em colocar a barra preta sobre meu peito.
Fui exposta para que o mundo inteiro visse.
Xavier: Seus nudes estão na internet.
Xavier: Lembra-se quando eu te disse para não me
ENVERGONHAR?
Danny: Angela.
Danny: Ligue-me.
Danny: Agora.
Eu não podia acreditar nos meus olhos.
Minha melhor amiga, meu marido, meu irmão.
Todos eles tinham visto a minha foto de topless. Todos eles presumiram que eu mesma a tinha tirado.
Fechei os olhos, e o diabinho na minha mente riu. É com isso que você se preocupa? ele perguntou, dançando
com sua forquilha. E o resto de Nova Iorque?
Parecia que eu estava em cima de um penhasco alto, à beira do precipício.
Meu fôlego chegou com um ar curto enquanto olhava ao redor do trem.
Eu estava imaginando, ou todos estavam me mandando olharesestranhos?
Encolhi-me em meu assento, apertando meus olhos.
A minha vida acabou...

Capítulo 15 Coração disfarçado

Xavier
Eu não podia acreditar. Pensei que a garota tinha entendido o que eu estava dizendo na outra noite, quando
eu deixei bem claro que ela deveria ficar fora dos holofotes.
Pensei que até mesmo um bebê teria sido capaz de me entender.
Mas aparentemente não.
Ou ela não tinha me entendido, o que significava que ela era tão burra quanto um bloco de madeira, ou então
ela tinha procurado propositadamente a pior maneira que podia para me ferrar. E não apenas eu, mas meus
negócios.
O que significava que ela havia mexido com os negócios de meu pai. A imprensa podia me chamar do que eles
queriam — egoísta, cheio de mim mesmo, o que quer que fosse — mas a verdade é que eu nunca quis que
meu pai se ferisse como resultado de algo que eu fiz.
Eu não sabia se esta era sua retaliação da noite em que eu estava bêbado, ou do dia em que eu havia
esmagado o vaso no chão, ou algo completamente diferente, mas era claramente uma resposta a algo.
Ou então não era, e ela estava tão desesperada para jogar seu rosto no mundo, para se tornar famosa a
qualquer custo, que ela havia liberado seus próprios nudes.
Essa seria a explicação mais psicótica. Eu conhecia algumas socialites muito atentadas, mas nenhuma delas iria
tão longe.
Eu estava furioso. Independentemente do seu raciocínio, a foto havia vazado.
E estava em todos os lugares. Não era suficiente que ela tivesse de alguma forma enganado meu pai e casado
com o nome de Knight?
Por que ela precisava arruinar tudo o resto para mim, também? Eu estava andando no chão do meu escritório
quando meu pai entrou. Eu queria pular e enfiar meu dedo na cara dele, para gritar:
— Isto é culpa SUA!
Mas eu não podia falar com ele dessa maneira, nem mesmo agora.
Talvez ele fosse um pouco confiante demais às vezes, mas ele ainda era o homem que cuidou de mim durante
toda a minha vida.
Então, tentei me controlar enquanto ele se aproximava de mim.
— Filho, — ele começou, com seu rosto grave, — Não consigo imaginar o que você está sentindo.
— Estou muito chateado, — eu disse, batendo com o punho na mão para dar ênfase.
Ele respirou fundo.
— Cuidaremos do maldito que vazou aquelas fotos, — ele disse.
E foi aí que percebi que nunca havia sequer considerado a possibilidade de outra pessoa vazar as fotos. Mas
eu confiei em meu instinto.
Se parecia e cheirava como uma puta à procura de ouro e de atenção, então provavelmente era.
— Comecemos do início, — eu disse. — Redução de danos.
— Temos a equipe de Frankie em Relações Públicas que lida com os pontos de venda online, e Steph, da
editora, cuidará da impressão.
Donnie está atirando calúnias para qualquer um que ouça. Isto será varrido para debaixo do tapete até o final
do dia, — disse meu pai, com os olhos bem abertos.
— Meu Deus. Tudo bem, — respondi. — Obrigada por ter o controle disso.
— Você é meu filho. E ela é minha filha, — disse meu pai.
Eu podia sentir o sangue começar a aquecer em minhas veias, e eu sabia que tinha que tirá-lo do meu
escritório antes que eu explodisse.
— Preciso de algum tempo sozinho.
— Claro, — ele disse, e com um último olhar simpático, ele deixou a sala. Eu me certifiquei de fechar a porta
atrás dele.
Angela
Eu havia desligado meu telefone no trem e ele permaneceu desligado o dia todo. Além da minha viagem da
estação Penn para casa, eu tinha estado sozinha. E pela primeira vez, eu não estava reclamando. Sozinha
significava não ser alvo de olhos curiosos, sem perguntas.
Significava estar segura.

Quando cheguei à Penn Station, arrumei meu cabelo na frente do rosto e comprei o primeiro boné I ❤ NY que
pude encontrar.
Depois usei o número de serviço do carro que Brad me tinha dado há semanas, aquele que eu nunca tinha
precisado usar antes. Normalmente eu preferia o metrô, mas hoje eu precisava da privacidade que os vidros
escuros me traziam. Quando meu carro da cidade parou, subi e deixei o silêncio passar por cima de mim.
Quando chegamos ao prédio, saí e desviei tanto o olhar do porteiro que passei correndo. Mas não consegui.
Tenho certeza que todos e até suas mães tinham visto a foto, tinham formado algum tipo de opinião sobre a
garota que a tiraria. E a soltaram.
Eu não queria ver essa opinião nos olhos de ninguém.
Corri pelo saguão, permitindo-me finalmente respirar assim que as portas do elevador se fecharam. E quando
cheguei à cobertura, pisei no meu quarto o mais silenciosamente possível no caso de alguém mais estar em
casa.
Eu não precisava de Lucille ou Marco — ou, Deus me livre, Xavier — tendo a chance de me fazer qualquer
pergunta. Eu não podia aceitar.
Fechei minha porta silenciosamente e fui para a cama, finalmente deixando sair a emoção. As lágrimas vieram
de maneira forte e rápida, e eu empurrei meu rosto para dentro do travesseiro para silenciar os sons de
lamentação.
Depois veio a raiva, e meus gemidos se transformaram em gritos.
Não é justo. Não é JUSTO!
Agora eu estava socando o travesseiro, um punho fechado contra a superfície mole.
Minha vida havia passado do normal para o terrível, do típico para omais distante do típico, em um mês. E
tudo tinha começado com Brad Knight.
Tudo tinha começado porque me foi oferecida uma maneira fácil de resolver meus problemas, e eu tinha
aceito sem considerar as consequências. Eu tinha certeza de que o Sr. Lemor tinha visto fotos minhas e de
Xavier nas notícias, ou ouvido que tínhamos nos casado, e era por isso que ele estava aparecendo assim agora.
Ele não queria que mais ninguém me tivesse.
Se eu tivesse acabado de pedir um empréstimo ao banco, ou encontrado outro emprego em outra indústria,
com o qual o Sr. Lemor não pudesse interferir, eu teria conseguido pagar pelo tratamento do meu pai.
Mas eu sabia que estava mentindo para mim mesma. Seu custo de tratamento já era de quase cinquenta mil
dólares, e isso antes do teste.
Esta era a única solução.
Mas valeu a pena a destruição total da minha vida?
Enquanto estivesse fechada nesta torre de marfim, não saberia o que seria capaz de fazer sozinha. Talvez sair
daqui e colocar minha vida novamente nos trilhos fosse a chave para encontrar um emprego de verdade e
ajudar meu pai.
Sem qualquer interferência bilionária. Eu tinha certeza de que poderia haver algum tipo de plano de
pagamento. Alguma coisa.
Liguei meu celular, ignorando todas mensagens e chamadas perdidas que piscavam na tela. Eu queria falar
com uma pessoa, e apenas uma pessoa.
Angela: Posso ir até você?
Brad: É claro.
Brad: Nos encontramos lá fora.
Troquei de roupa e saí da cobertura. Eu tinha chamado o carro de volta, e ele estava esperando lá fora. Eu
estava andando pelo saguão, ainda cabisbaixa, quando ouvi uma voz a alguns metros de mim dizendo algo.
Quando meus olhos se levantaram para ver quem tinha falado, a voz se repetiu.
— Que vergonha, — disse Pete, o porteiro. Ele abriu a porta, e eu não podia dizer se ele estava me culpando
ou tendo piedade de mim. Eu olhei para o chão e entrei no carro da cidade.
Ele chegou ao prédio de escritórios onde a empresa Knight estava instalada, e Brad estava esperando do lado
de fora. Ele viu o carro e deslizou para dentro imediatamente.
— Querida, — ele disse, me envolvendo em um abraço. Pensei que já tinha dominado minhas emoções até
então, mas as lágrimas não paravam de chegar. — Está tudo bem. Está tudo bem. Ponha pra fora, — ele disse,
esfregando minhas costas.
— Desculpe, — eu chorei em seu ombro.
— Está tudo bem. Estamos nessa. Está tudo sendo concertado enquanto falamos.
— Consertado?
— Temos a melhor das melhores equipes de RH, Angela, e é melhor você acreditar que é a prioridade número
um. — O próximo outlet, online ou impresso, que compartilhar aquela foto ou até mesmo mencionar seu
nome, será processado e processado novamente. Você entendeu?
Eu acenei com a cabeça. Mas o peso sobre meus ombros ainda estava lá, me lembrando como era difícil ficar
de pé quando estava de pé com os Knight.
— Brad, eu tenho que... falar com você. — Eu solucei e ele me entregou um lenço.
— O que é isso? — Ele me olhou com tanta gentileza, tanta preocupação genuína, que me senti mal ao dizer o
que estava prestes a dizer. Mas eu tinha que desabafar.
Limpei meu nariz e depois comecei.
— Não posso mais fazer parte do arranjo, — eu disse. — É demais. É muito difícil. Xavier me despreza, eu sei
que sim, e o resto de minha família e amigos não entendem este mundo. E eu também não, Brad. Eu me sinto
como uma estrangeira em minha própria casa. Não sei comofalar, nem como agir, e os olhos estão sempre
voltados para mim. Há muita pressão. E agora, isso....
Eu exalei, surpresa por ter falado tudo isso.
— As pessoas estão atrás de mim.
Eu estava esperando que Brad abrisse a porta do carro e me empurrasse para fora, para me castigar, ou gritar
comigo, ou me chamasse de estúpida. Mas, em vez disso, ele pegou minha mão na dele.
— Doce menina, há algo tão honesto em seu coração, — ele disse.
— Obrigado por ter sido tão sincera comigo. Sabe, há um bilhão de meninas que matariam suas próprias mães
para estar em sua posição. É verdade, — ele disse, para meu choque.
— Peço desculpas pela morbidez, mas você tem acesso à riqueza e ao status que a maioria só sonha.
— Mas eu não... eu não quero nada disso.
— Exatamente, — ele disse, e tocou a ponta do meu nariz. — Sei como o mundo deve parecer a você agora.
Mas você vai se adaptar. Você é uma garota inteligente. Você virá a saber que as notícias de hoje já são as de
ontem. As pessoas estão atrás de você porque você tem o que elas querem.
— Mas o que você também tem é um exército de pessoas prontas para protegê-la. E quanto a Xavier... — ele
disse, lançando um rápido olhar pela janela, em direção ao prédio onde seu filho estava. — Há muita coisa que
você não sabe sobre ele, minha querida. Muita coisa. Eu sei que todos os defeitos que estão espalhados pelas
colunas de fofocas são verdadeiros. Que ele é um garoto de festa, um mulherengo. Que ele gasta dinheiro
como se fosse água em uma floresta tropical.
— Não estou tentando insultar seu filho, Brad, — eu disse suavemente. — Eu só não vejo como nós... jamais
poderíamos funcionar.
Nós somos tão diferentes...
— Ah, — Brad me interrompeu. — Mas é aí que você está errada. É verdade que seu coração é puro e o dele
tem estado ao redor do quarteirão. Mas deixe-me assegurar-lhe que o coração dele está muito presente. Ele
está apenas escondido, no momento.
Eu me esgueirei, sem ter certeza de que Brad realmente conhecia seufilho.
— Deixem-me contar-lhe uma história. Uma história sobre um jovem que se apaixonou por uma jovem
mulher. Um jovem que estava tão louco de amor que ofereceu à jovem o que o coração dela desejava. O
mundo. E eles estavam prestes a se casar, e ele nunca havia se enchido de tanta alegria.
— E, na véspera do casamento, a jovem decolou. Desapareceu. Com o anel de noivado que poderia lhe
comprar uma nova vida, e o amigo mais antigo do jovem.
Deixei as palavras de Brad afundarem em mim, chocada.
Xavier teve seu coração partido, seu anel roubado. Ele foi traído por sua noiva e seu melhor amigo. Sua festa,
seus gritos, sua incapacidade de confiar em alguém fora daqueles que ele realmente conhecia, tudo começava
a fazer sentido.
— Por favor, doce menina, — disse Brad, ainda agarrando minha mão.
— Dê outra oportunidade ao meu filho. Dê uma chance ao arranjo. Ele está ali em algum lugar. Eu sei que você
pode ajudar a trazê-lo de volta.
Eu olhei para o bilionário abnegado que estava diante de mim, que queria tanto ver seu filho se tornar o
homem que ele sabia que poderia ser.
E eu vi meu próprio pai, deitado na cama do hospital, orgulhoso de sua filha e prestes a iniciar um tratamento
experimental que poderia salvar sua vida.
Talvez o peso ainda estivesse em meus ombros e talvez eu não tivesse ideia que novos horrores o amanhã
traria. Mas sentada ali, no fundo do carro, estacionado do lado de fora do extravagante edifício de escritórios,
eu senti que pelo menos tinha algum propósito.
Como se houvesse algo que eu pudesse fazer. E me deu a entender que eu não estava lá apenas para ajudar
meu pai.
Eu estava lá para ajudar meu marido, o homem com o coração partido.

Capítulo 16 Território Novo

Angela
Vamos lá. Atenda. Por favor.
— Alô?, — ela finalmente respondeu.
— Oi, Em, — eu disse, prendendo minha respiração para sua reação.
Tinham passado algumas semanas desde a última vez que nos falamos.
Não porque eu não tivesse tentado falar com ela — devo ter enviado dez mensagens por semana — mas
porque ela não tinha interesse em responder.
Não foi como nas outras vezes em que nos metemos em brigas estúpidas e uma de nós ficou brava, mas
depois fizemos as pazes no dia seguinte e rimos sobre isso por causa de biscoitos com gotas de chocolate.
Não, isso foi muito diferente. Isso dava a entender que a Em estivesse brava. Parecia que ela havia... superado
isso. Me superado.
Ela estava esperando por mim para dizer algo. Para provar que havia um motivo para eu estar ligando, mesmo
depois que ela evitou claramente minhas tentativas anteriores.
Queria que eu fosse nessas coisas.
Você conhece o ditado que diz que os pais exaltados dizem sobre seus filhos que falam rápido? Como eles
seriam capazes de vender gelo para esquimós, ou algo parecido?
Bem, eu nunca tive essa capacidade.
Lucas, claro. Ele estava sempre falando para sair dos problemas, com os professores, com nosso pai, com
qualquer pessoa.
Mas eu... eu não tinha rede de segurança. Não podia confiar em mim mesmo para criar uma sequência de
desculpas ao cair de um chapéu.
Como resultado, eu me tornei muito boa em seguir regras.Se você não tiver problemas, não tem necessidade
de se livrar deles.
Mas agora, aqui estava eu, minha mente andando em círculos. Por onde eu poderia sequer começar? Como
eu poderia verbalizar o quanto
eu queria minha melhor amiga de volta, sem explicar mais nada?
— Em, escute... — Eu comecei, e depois tive uma vontade muito semelhante à que eu tinha quando era
criança, quando Lucas estava falando sobre uma história animada e eu estava observando o rosto de nosso
pai, não acreditando nela.
Não, o vizinho não chutou a bola de futebol pela janela do carro de nosso pai. E assim eu soltava a verdade.
— Em, papai está doente, — eu disse, pensando que era um bom lugar para começar.
— Eu sei, Angie, — disse ela, sua voz era mais suave. — Lucas tem me atualizado. — Lucas? Mas isso me saiu
da cabeça tão rápido quanto entrou, porque eu já estava me preparando para o que eu ia dizer a seguir.
— Suas contas, seus tratamentos... não havia como. — Eu estava sufocando lágrimas, surpresa com como
tudo isso soou repugnante quando eu disse em voz alta.
— Não tínhamos condições de arcar com isso.
— Mas você é casada com um Knight pelo amor de Deus, — disse ela, e depois parou imediatamente. Como se
ela estivesse entendendo.
Eu respirei fundo.
— Conheci Brad Knight sem saber quem ele era. Ele parecia tão... triste. Ele estava sozinho em um banco de
jardim no dia em que eu descobri que tinha chegado à próxima rodada de entrevistas, e eu estava distribuindo
aqueles lírios no parque. Eu perguntei se ele estava bem.
Conversamos, muito brevemente, e eu meio que me esqueci dele. Mas ele me localizou, Em, logo depois que
meu pai teve o primeiro derrame. E ele... ele fez uma... proposta.
— Proposta?
— Se eu o ajudasse a consertar o coração de seu filho, ele me ajudaria a consertar a saúde de meu pai.
Ouvi uma forte inalação de ar através do telefone.— Eu sei. Eu sei. Mas é o meu pai, Em, e ele está sozinho na
cama do hospital. Há estes tubos... que saem de dentro dele. E ele é tão frágil. — Eu comecei a soluçar.
— Shhh, Angie, shh. Está tudo bem. — E eu quase pude senti-la acariciando meu cabelo.
Apertei meus olhos.
— Eu o odeio, Em.
— Seu pai?
— Xavier. Ele é horrível. Ele é tão cruel comigo. Ele acha que eu me casei com ele por seu dinheiro, ou para ser
uma Knight. Ele não tem ideia do papai.
— Por que você não lhe diz?
— É contra as regras. Eu assinei este contrato com Brad... — 'Um contrato'?
— Ele é um bilionário. Tenho certeza de que ele faz com que todos à sua volta assinem contratos.
— Isso é verdade. — Em riu. E eu senti o alívio inundar meu corpo.
Talvez ela estivesse finalmente compreendendo. — Então, se você não pode lhe dizer, você também não
pode...
— Te dizer, — eu terminei. — Mas eu tive que dizer. Eu não podía continuar... continuar mentindo sobre isso.
Estou tão triste, Em. Tão sozinha. Todos pensam que sou este monstro que se casaria por dinheiro, e sei que
não deveria me importar com o que as pessoas pensam, mas é difícil ser tão odiada por todos, especialmente
quando sua metade superior nua é exibida em todos os blogs...
— Sim, posso perguntar sobre isso?
— Sr. Lemor, — eu disse, e ela novamente ofegou.
— NÃO!
— Sim.
— Aquele filho da mãe, — ela rosnou. — Mas como?
— Eu não tenho ideia, — suspirei. Tinha pensado tanto sobre isso, mas ainda não conseguia entender. — Foi
tirada na academia da Gelsa.
No vestiário.— Você foi até a polícia, certo?
— Brad me fez prometer que eu o deixaria lidar com isso. Na verdade, agora eu deveria estar trancada na
cobertura. Ter um paparazzi ou qualquer um que fosse tirar uma foto minha lá fora neste momento só
pioraria as coisas. Para os Knight e para mim.
— Você está em quarentena?
— É para minha segurança.
— Você se ouve, Angie? Levante-se. Vista-se, — instruiu Em. — Estarei lá fora em trinta.
— O quê?
— Você me ouviu. Ponha seu traseiro em algo bonito.
— Em, não é uma boa ideia. Não quero mais colunas de fofocas falando de mim. Você pode simplesmente vir
até aqui? Posso fazer biscoitos com gotas de chocolate como costumávamos fazer...
— Angela. Você não precisa de um biscoito com gotas de chocolate.
Você precisa de um martini. Agora, repita depois de mim: Estou saindo da quarentena.
— Estou saindo da quarentena, — eu disse, tentando parecer mais convencida do que sentia. Mas se isso
significava que a Em estava de volta à minha vida, acho que eu ia beber o martini.
Em me pegou em um táxi, e aceleramos no centro da cidade.
Estávamos fazendo nosso caminho pelo distrito de Meatpacking quando Em bateu no banco do passageiro na
frente dela.
— Aqui, senhor! Descemos aqui!
Ela deu dinheiro ao motorista e me puxou para fora do carro.
Estávamos em frente ao Iceberg, o mais novo e mais quente clube da cidade. A fila parecia ter um quilômetro
de comprimento, e todos nela estavam bem vestidos e bonitos.
Voltei-me para a Em.
— Não podemos entrar ali!!
— Não só podemos — ela sorriu para mim pecaminosamente — mas iremos.
— Mas, Em! Olhe para eles. — Eu olhei para a linha, depois paraminha própria roupa.
Claro, eu estava com meu novo jeans, aqueles que Dustin dizia — fizeram da minha bunda uma peça central,
— mas isso não foi suficiente para me aceitar nele.
Ela me agarrou pelos ombros e me olhou bem nos olhos.
— Angela, você precisa disso. Nós precisamos disso. Então pegue
minha mão e deixe-me usar seu novo sobrenome para nos levar para este clube.
Havia algo tão natural em seguir as instruções de Em, como se minha mente tivesse acabado de rebobinar de
volta ao ensino médio.
Ela sempre teve uma maneira de saber o que era melhor para mim, mesmo quando parecia ser a decisão mais
assustadora que eu poderia tomar.
Assim que suas sobrancelhas se levantaram, esperando pela minha aprovação, eu acenei rapidamente. E
rapidamente, ela pegou minha mão e nos levou, passando pelas pessoas bonitas, até a porta.

Xavier
Você teria pensado, nos dias de hoje, que as pessoas não estariam tão interessadas em ver um par de peitos.
Mas nas últimas vinte e quatro horas, as únicas conversas que eu tinha ouvido eram orientadas, direta ou
indiretamente, em torno daqueles que pertenciam à minha esposa.
Os estampados por toda a Internet, os falados em todos os veículos de imprensa, fofocas ou não.
Porque a imagem era real, e imagens reais não mentem.
Ao contrário dela.
Ela colocou aquele ato de "Tenho tanta classe", — aquele que faz você sentir quase pena dela. Ela mencionou
o nome de Harvard como se fosse suficiente para justificar todas as merdas obscuras que ela fez. Como se só
porque ela tinha um diploma de primeira linha, ela pudesse lucrar em qualquer círculo que lhe agradasse.
E fazer o inferno correr solto sobre o filho da mãe azarado a quem ela estava destinada.Então, sim, o trabalho
hoje não foi grande coisa.
Nem mesmo meus colegas puderam evitar. Eles não paravam de me perguntar se eu estava — a par — de
diferentes situações. Um de meus assistentes tentou se juntar a eles e eu o despedi.
Era melhor não testar um homem que tivesse que lidar com os nudes vazados de sua esposa.
Quando falei com meu pai, ele disse que havia falado com Angela e ela concordou com tudo, que ela não
deveria falar com a imprensa, que estaríamos tratando de tudo desde as RP até o jurídico. E que ela deveria
permanecer na cobertura até que a história morresse.
Enquanto o plano me incomodava ainda mais no início, pensando em como eu encontraria a garota com mais
frequência se ela estivesse fechada dentro do condomínio do que se ela tivesse livre na cidade, percebi que
minha reputação tinha que vir acima do meu espaço pessoal.
Se ela me envergonhava em público ou desistia de um pouco de
espaço para respirar, a escolha era bem clara.
Marco abriu a porta do carro para mim na frente do meu prédio e eu saí, passeando pelo saguão e entrando
no elevador. Eu me perguntava se eu deveria dar-lhe outra conversa severa, ou se meu pai tinha falado sobre
tudo.
Por que não? Eu pensei. Melhor tê-la assustada do que pensar que ela poderia escapar com algo assim
novamente.
Esse era o problema das mulheres. Mesmo aquelas que pareciam confiáveis e normais sempre tinham algo na
manga.
Era as que não se suspeitava que deveríamos suspeitar.
As portas se abriram, e eu entrei na cobertura.
— ANGELA! — Eu gritei. Não houve resposta. Caminhei direto para o quarto dela, batendo na porta. —
ANGELA, — gritei novamente, colocando meu ouvido até a porta.
Mesmo se ela tivesse adormecido às nove da noite, não havia como ela ter ficado dormindo durante o meu
barulho.
— Ela saiu, — disse Lucille, correndo pelo corredor até mim.
— O quê? — Eu me enfureci, depois me senti mal por isso. Lucille não merecia minha raiva. — Desculpe,
mas... o quê?— Ela saiu. — Lucille encolheu os ombros. — Você quer jantar?
— Não! — Então eu me peguei novamente com raiva. — Não, está tudo bem. — E depois voltei a invadir o
corredor para o elevador. Eu ia encontrar minha esposa.
Xavier: ONDE VOCÊ ESTÁ ?
Xavier: VOCÊ DEVERIA ESTAR NA COBERTURA!
Xavier: ISSO NÃO É PIADA!
Xavier: RESPONDA-ME!!!
Angela
Tirei o celular vibrando do bolso de trás e, vendo que era o Xavier, voltei
a colocá-lo lá. Eu estava me sentindo bem e não precisava que ele me trouxesse de volta para baixo.
Tomei mais um gole do Jack e da Coca-Cola que a Em havia me dado, surpresa com o quão doce era e como
desceu suavemente.
— É tão bom! — Eu gritei para Em.
— O quê?, — perguntou ela, com a mão ao ouvido. Estava uma loucura aqui dentro.
O DJ estava tocando algo chamado — trap music, — e a batida pulsava por todo o clube. Nós estávamos na
seção VIP.
Assim que Em mencionou meu sobrenome, o porteiro nos conduziu até a área fechada no andar de cima.
Tínhamos nosso próprio bar, nossos próprios banheiros e até mesmo um — concierge, — caso precisássemos
de alguma coisa.
Voltei-me para Em misteriosamente quando a concierge disse que essa última parte era para nós agora, e ela
apenas me acenou indo embora.
— Não se preocupe com isso, — disse ela, de uma forma que me fez pensar que ela estava se referindo a
drogas ou outras coisas ilícitas.Mas agora, em vez de me preocupar em me repetir novamente, eu apenas
tomei mais um gole da deliciosa bebida. Em estava dançando, seus quadris balançando com o tempo ao ritmo
da música.
Ela parecia não precisar de esforço, tão graciosa, e eu desejava poder ser mais como ela. Mais no momento.
Tomei outro gole, e outro, até que nada mais saiu do canudo.
Eu olhei para o copo, percebendo que estava vazio.
Eu precisava de mais. Eu estava me sentindo bem pela primeira vez em muito tempo, e não queria que isso
acabasse.
— Eu vou... — Eu disse a Em, que estava indo até o bar, mas logo depois, eu senti alguém agarrar minha
cintura.
— Precisa de um refil?
Eu me virei para ver quem estava falando comigo, e tenho quase certeza de que eu ofegava audivelmente.
Ele era lindo, como uma espécie de Hércules. Cabelos dourados, olhos verde-esmeralda, alto e musculoso. Ele
usava uma camisa branca debaixo de um casaco preto, e carregava a confiança de alguém que sabia que se
parecia com um deus grego.
— Eu sou Carrey. Oliver Carrey, — ele disse enquanto beijava minha bochecha.
Eu dei risadas.
— Eu sou Angela.
— Vamos?, — ele disse, e eu acenei com a cabeça, então ele amarrou seu braço através do meu e me guiou
até o bar. Eu olhei para Em, mas ela ainda estava dançando.
Eu sorri, sentindo-me no momento pela primeira vez.
O rosto de Xavier me passou pela cabeça, mas eu o afastei com a mesma rapidez.
Ele sempre foi tão mau pra mim. Tão cruel e desconfiado...
Eu estava aqui para me divertir depois de um dia estressante. O que havia de errado com isso? Então e se eu
falasse com um cara gostoso?
Senti sua mão descansar no meu pequeno dorso enquanto ele me conduzia em direção ao bar. Eu olhei para
ele e ele me mostrou umsorriso brilhante.
E se isso não ficar só na conversa? uma pequena voz na minha cabeça sussurrou.

Capítulo 17 Três é demais

Xavier
Ela não só estava ignorando a regra de ficar em casa, mas também estava ignorando minhas mensagens. Foi
preciso um maldito conhecido meu vê-la no Iceberg para que eu descobrisse onde diabos ela estava.
Quando parei, senti-me como a porra do Hulk.
Fiquei surpreso que minha camisa Calvin Klein não tivesse rasgado.
Eu saltei do carro antes que Marco pudesse abrir a porta e subi até a entrada, mal consegui esperar que o cara
da porta abrisse antes de entrar tempestuosamente.
Eu não estava interessado em perder mais tempo.
Subi as escadas até a seção VIP, onde uma socialite que mal conhecia, uma não gostosa suficiente para
transar, tinha me dito que minha esposa estava aqui. Olhei à minha volta, tentando olhar na escuridão.
Eu odiava estar sóbrio em baladas. Era como se estivesse em um campo de batalha sem adrenalina.
Você começa a questionar tudo.
Eu estava caminhando através de corpos contorcidos, empurrando qualquer mão que tentasse me agarrar. Eu
não estava aqui para socializar — isso eu deixei claro. Então, uma garota de aparência familiar chamou minha
atenção, sentada em uma mesa com o que parecia ser um atleta profissional.
Futebol, talvez. Ela tinha cabelos escuros com franja, pele pálida e o que parecia ser um sorriso permanente
em seu rosto.
Ela definitivamente tinha estado no primeiro banco no casamento.
Eu andei até a mesa e bati nela no ombro.
— Angela?, — eu perguntei.— O quê?
— ANGELA!
Ela me ouviu daquela vez, e parecia que ela também me reconhecia.
Ela apenas rolou os olhos e encolheu os ombros e depois voltou para a conversa com os jogadores de futebol.
Sacudi a cabeça e soltei um rosnado, mas a música afogou-o.
Eu continuei procurando. Continuei tecendo através de vestidos e ternos, saltos altos e mocassins, até que me
encontrei no bar. Eu estava prestes a pedir uma bebida quando vi cabelos loiros pelo canto do olho.
Eu virei minha cabeça em direção a ela, e lá estava ela.
Minha amada esposa.
Rindo com outro homem.
Eu não poderia explicar a raiva a você se tentasse. Foi tudo consumido, como uma traição. Não porque ela
estava flertando com um homem, é claro.
Eu não podia dar a mínima para o que esta garota fazia com outros homens.
Eu não fiquei com ciúmes.
Não, foi uma questão de respeito. Era sobre ela não me envergonhar no clube mais exclusivo da cidade,
aquele em que ela não teria sido autorizada a entrar se não tivesse jogado meu nome na porta.
— ANGELA.
Ela se virou imediatamente, seu rosto corado ficou pálido.
— Vamos, — eu disse, colocando seu copo quase vazio no balcão do bar e agarrando seu ombro.
— Não, — ela chorou.
— Ei, cara. — O cara loiro colocou a mão no meu braço. — A garota ainda não quer sair.
— Tire a porra mão de cima de mim, cara, — eu disse, quase esperando que eu pudesse brigar.
Não, esqueça isso. Eu tinha que pensar em minha imagem. Voltei para Angela.— Nós estamos indo. Agora.
— Mas eu estou me divertindo, — disse ela, soando como uma maldita criança.
Antes que ela pudesse dizer qualquer outra coisa para me irritar, eu peguei sua mão e a agarrei o mais forte
que pude sem machucá-la, levando-a para fora da sala, descendo as escadas, e para a calçada.
— Mas... — ela começou.
— Entre, — eu disse, apontando para a porta que Marco lhe segurava aberta.
— Não, — disse ela, seus braços cruzados. — Se eu tiver que ir, quero andar.
— Você quer andar? Estamos em novembro.
— Eu não me importo, — disse ela. Eu não tinha ouvido este tipo de desafio em sua voz antes. Não querendo
fazer uma cena no meio do Meatpacking, eu deixei fazer como quisesse.
— Tudo bem, — eu me passei. — Eu vou com você.
Ela foi para a rua e eu tive que persegui-la. Quando chegamos à 32ª, ainda não tínhamos trocado uma palavra.
E seus olhos não paravam de se fechar. Parecia que ela ia adormecer no meio do caminho.
Xavier: 33ª e 6ª
Marco: A caminho
Marco subiu a 6ª Avenida com um timing perfeito, e assim que vi o carro, deslizei para dentro.
Estávamos andando em silêncio no carro há alguns minutos quando ela olhou para mim.
— Por que você é tão ruim comigo?, — perguntou ela, com uma voz que parecia tão genuína que me pegou
desprevenido.
— O quê?
— Por que você é tão ruim comigo? — ela repetiu. Não foi umapergunta que ela quis dizer como um insulto.
Ela só queria saber.
Olhei para a mulher sentada ao meu lado e ela não se parecia com o tipo de garota que eu imaginava que ela
fosse.
Ela parecia jovem, e inocente, como se ainda não tivesse visto muito do mundo.
Eu me vi amolecendo. Talvez fosse porque ela estava bêbada e não se lembraria de nada amanhã, ou talvez
fosse porque dizer isso em voz alta fosse na verdade um pouco terapêutico.
Mas, em ambos os casos, eu lhe dei uma resposta.
— Eu não confio nas pessoas.
— Por quê?
— Já confiei no passado. E acaba sempre... sendo um erro.
— Você não merece isso, — disse ela, suas palavras tão docemente simples.
— Eu teria me entregado a ela, — eu disse. Eu olhava para frente, deixando a verdade emergir. — Eu teria
dado tudo a ela. Mas ela... ela tinha outras ideias.
Depois senti uma mão fria cobrindo a minha no assento. Eu vacilei, olhando para baixo e vendo a mão da
minha esposa. Quando olhei para o rosto dela, vi o olhar dela pela janela.
Era como se ela soubesse me dar espaço, me deixar ter um momento para mim mesmo.
Quando chegamos ao prédio, eu mesmo acenei para Marco e a ajudei a sair do carro. Ela tinha ficado de
alguma forma mais bêbada desde que saímos do clube, e estava tropeçando por todo o lado.
Em vez de esperar que ela caísse, decidi tomar o assunto em minhas próprias mãos e a colocar meus braços.
Eu a carreguei como uma criança pelo saguão e a sentei no banco quando estávamos no elevador.
Quando as portas se abriram, eu a levantei novamente e a acompanhei até seu quarto, abrindo a porta e
deixando-a cair sobre a cama. Ela estava acabada, com seus olhos fechados e sua boca ligeiramente
entreaberta.
Ela parecia pacífica, e eu não queria acordá-la. Se ela acordar, alguémvai ter que lidar com o vômito dela.
Então a deixei assim, cabeça no travesseiro, sapatos ainda calçados, e fui servir-me de uma maldita bebida.

Angela
Acordei com um susto, ouvindo os pássaros cantando bem do lado de fora da minha janela. Minha cabeça
estava doendo.
Que horas eram?
Por que a janela estava aberta?
Por que parecia que eu estava usando sapatos?
Abri os olhos lentamente, piscando diante da luz que preenchia minha visão. Depois de um momento de
ajuste, inclinei lentamente a cabeça para baixo até olhar para o meu corpo.
Parecia que eu ainda estava, de fato, usando meus sapatos. E meus jeans, minha camisa e meu blazer, com
provavelmente a cara ainda cheia de maquiagem.
Ah. Estava me lembrando de tudo.
Em e eu no Iceberg. Os coquetéis doces, doces. O homem misteriosamente lindo...
E Xavier. Ele vindo me encontrar, ordenando-me que saísse do clube.
Permitindo-me andar e, quando eu não podia mais andar, pedindo a Marco para nos buscar.
A maneira como ele olhou para mim no carro, como se estivesse realmente me vendo pela primeira vez. E a
maneira como ele falava sobre a mulher que o machucara.
Ele foi tão honesto, tão ele mesmo. Eu não me lembrava muito depois disso, mas de alguma forma tinha
chegado à minha cama sã e salva.
Supondo que eu não tivesse chegado aqui sozinha, o que era mais que provável, dado o quão intoxicada eu
estava — o que era um problema totalmente diferente — o Xavier tinha me colocado na cama e me deixado
vestida.
Tenho certeza que se ele quisesse, ele poderia ter tentado... ou feito...seu pior, como se eu fosse uma de suas
outras garotas.
● Mas ele não o fez. Parecia que eu estava vendo um lado diferente de Xavier, o lado que Brad tinha me
prometido que existia.
Saí da cama e, ouvindo vozes no salão, abri minha porta. Eu estava andando pelo corredor com a intenção de
agradecer a Xavier quando ele ouviu meus passos e se virou. Ele estava fumegando.
— ... E VOCÊ! — ele gritou, e eu instintivamente cobri meus ouvidos.
Isso foi muito mais alto do que minha ressaca poderia suportar. — Você me fez correr como uma BABÁ a noite
toda! NÃO é meu trabalho cuidar de você.
— Eu só vim pra dizer obrigada, — eu saí com parcimônia. Isso não ajudou. Marco, que tinha sido o
destinatário de seus gritos antes de eu entrar na sala, apenas olhou para seus pés.
— Eu não preciso do seu OBRIGADO! PRECISO QUE MINHA ESPOSA NÃO CORRA PELA CIDADE DE NOVA
IORQUE ME ENVERGONHANDO A CADA DIA. O que há de tão complicado nisso?
Eu estava tremendo agora, disposta a não chorar.
Eu estava errada.
Eu sabia exatamente quem era Xavier.
Eu estava olhando em frente, tentando não olhar diretamente para ele, quando ele se aproximou de mim.
Desta vez ele falou a um volumen normal, com uma voz mais suave: — Não basta que você leve meu dinheiro
e meu nome? Você precisa pegar minha imagem e pisar nela também?
Havia tanto veneno em sua voz que pensei que poderia realmente me envenenar. Então eu corri para o
elevador, empurrando meus soluços até que as portas se fechassem atrás de mim e eu pudesse chorar em
paz.
Quando elas abriram novamente no lobby, limpei minhas bochechas molhadas e me apressei a passar. Então
eu estava do lado de fora, na calçada, e comecei a andar.
Encontrei-me do lado de fora da porta da cafeteria de Dustin, abrindo-a antes que eu pudesse me convencer a
não fazê-lo. Estava vazia, como sempre.
Quando Dustin me viu, sua expressão ficou sombria.— Eu pensei que você não podia falar com pessoas como
eu, — ele disse.
— Dustin, não se tratava de você. Foi porque a esposa do colega de Xavier me viu fazendo compras com outro
homem, e em seu estranho círculo de elite, isso é ruim. Desculpe-me, está bem? Mas não se tratava de você.
Era sobre me castigar. Levar meu único amigo embora.
Ele amoleceu e me olhou com um olhar sério.
— Sabe, quando você entrou na loja pela primeira vez, eu sabia quem você era. E eu não me importava em ser
seu amigo. Só pensei que ficar perto de você me daria alguma... publicidade.
A cor em meu rosto sumiu.
— Publicidade?
Ele olhou para baixo.
— Não estou orgulhoso disso. Mas eu pensei que qualquer uma que seja casada com Xavier Knight tem que
ser uma cretina. Então, o que há de errado em usar alguém que o mereça? Mas então...
— Você estava tentando me usar por causa do meu sobrenome? —
Xavier estava certo.
— Logo no início, sim. Mas isso mudou! Acredite, eu não dei a mínima para a publicidade quando estávamos
realmente andando juntos.
Bem, isso é uma mentira. É claro que eu me importava com a publicidade. Mas sua amizade era mais
importante para mim...
Minha mente estava em colapso.
— Dustin, pare. Publicidade para quê?
— Minha arte, — ele disse calmamente. Nunca o havia ouvido dizer uma palavra tão silenciosamente.
— Sua arte?
— Eu sou um artista. Um em dificuldades, é por isso que trabalho aqui. Eu não queria magoar ninguém,
principalmente você. Apenas pensei... as pessoas querem saber o que a esposa de Xavier Knight está fazendo.
Com quem ela está andando. Então, se me vissem, estariam interessados em ver meu trabalho.
Eu olhei para Dustin. Eu sabia o que era convencer-se a usar alguémpara um bem maior.
E ele estava sendo honesto comigo agora. Seus olhos pareciam genuínos. E ajudar as pessoas sempre me dava
um golpe de endorfina.
— Se você tivesse me dito isso no início, eu o teria ajudado.
— Eu sei disso agora, — ele disse. — Mas antes eu pensava que você era apenas mais uma louca por dinheiro.
Sem ofensa.
— Me mostra.
— Te mostrar o quê?
— Sua arte.
Dustin puxou seu celular e mexeu nele até encontrar um quadro que ele pintou. Era bom. Bom o suficiente
para que eu abrisse a boca antes que eu pudesse pensar bem nas palavras.
— Se você me prometer que não mente mais, então eu o ajudarei.
— Você está falando sério?, — perguntou ele, chocado. Eu acenei
antes de ter tempo de considerar como poderia ajudar, ou se era a coisa inteligente a fazer.
Antes que o rosto de Xavier enchesse minha mente e eu soubesse que teria outra pessoa a quem responder.
Eu estava voltando para a cobertura quando meu telefone tocou. Era o Brad.
— Olá?
— Oi, Angela, querida. Há algo que eu gostaria de falar com você.
Você pode me encontrar no Plaza?
— Claro que sim, — eu disse. Pelo menos agora eu sabia que o Plaza não era uma praça na verdade.
— Sobre o que seria?
— É sobre o Sr. Lemor, — disse Brad, com sua voz fria.
Meu sangue se transformou em gelo.— Temos uma maneira de derrubá-lo, — prosseguiu Brad. — E
precisamos de sua ajuda.

Capítulo 18 Planejando o Futuro

Angela
Cheguei ao Plaza, sentindo-me mais do que um pouco nervosa.
Do que o Brad estava falando? Poderíamos realmente deter o Sr. Lemor?
Desta vez eu não precisei da ajuda do concierge para encontrar a sala de jantar, nem ele me impediu antes
que eu mesmo pudesse chegar lá.
Andei pela sala, sorrindo educadamente para as senhoras e senhores — e eles eram senhoras e senhores —
que eu passei no caminho.
Quando cheguei à mesa do Brad, ele estava de pé.
— Oi, querida, — ele disse, e caminhou para beijar minha bochecha.
— Oi, Brad, — eu disse, na verdade me sentindo um pouco mais à vontade em sua presença.
— Sente-se, por favor. — Sentei-me na cadeira em frente a ele.
Eu suspirei.
Aqui vamos nós.
— Então, sobre o que você disse ao telefone... — Eu comecei.
— O Sr. Lemor não vai fazer mais nada, Angela, não se preocupe.
Bem... ele não será alguém com quem você precisará se preocupar depois de hoje.
Eu havia contado tudo sobre o Sr. Lemor no carro do lado de fora de seu escritório, logo após o vazamento da
foto. Eu havia contado a ele sobre os onze meses e meio cansativos que eu havia passado trabalhando para
ele, como ele me perseguia e me ameaçava até eu não aguentar mais.
Brad prometeu que faria tudo o que pudesse para detê-lo. Eu só não acreditava que isso pudesse acontecer
tão rápido.
— O que você quer dizer? — eu perguntei.— Minha equipe elaborou um pequeno plano para garantir que seja
feita justiça. Lemor vai se comportar da maneira como tem se comportado continuamente, mas desta vez ele
será pego. E o Departamento de Justiça de Nova Iorque terá algo a dizer sobre as consequências.
— Eu não estou... eu não estou entendendo, — eu disse, assim que um garçom trouxe sanduíches e scones
pequenos e outro serviu champagne e chá para nós.
— Encontramos uma mulher que também trabalhou perto de Lemor, uma mulher que foi submetida ao
mesmo assédio que você mesmo conheceu. Ela está disposta a nos ajudar, — explicou ele.
— Dessa forma, quando a história se desenrolar, você estará longe dela. Uma nota lateral distante, não a
heroína principal.
— Quem é ela? — Eu sussurrei.
— Receio não poder lhe dizer isso, — ele disse, mordendo um bolinho de semente de papoula e de limão.
Havia um pouco de farelo em seu lábio superior.
— Prometemos à jovem o anonimato, para nosso melhor controle da situação. Ela estará em um de meus
hotéis esta noite, o hotel que Lemor frequenta. Ele vai vê-la no bar e... bem, como dizem, o resto será história.
— Como... como você vai pegá-lo?
— Mandei instalar câmeras, — ele disse, lavando o scone com um gole de champagne.
Minha mente estava andando em círculos. Era como algo fora de um filme de James Bond.
— Eu quero ver, — eu disse. Não podia acreditar que tive a coragem de falar com tanta certeza, ao Brad
Knight no Hotel Plaza, nada menos que isso.
Mas eu precisava ver o homem que me atormentava cair.
— Você pode lidar com isso? — Ele olhou para mim, com ar de figura paterna. Eu sabia o que meu próprio pai
diria — nunca. Eu era delicada demais para ver algo assim.
Mas, no fundo, eu sabia que isso não era verdade. Eu podia lidar com isso. Eu precisava lidar com isso. Ver
Lemor ser pego era a única maneiraque eu tinha para poder seguir em frente superar o que ele me fazia
passar. Era agora ou nunca.
Então tomei um gole de champanhe, sentindo imediatamente um zumbido de confiança na minha mente.
E quando olhei para Brad Knight, o homem mais poderoso de Nova Iorque, disse com minha voz mais
confiante:
— Sim.
Brad: 19h00.
Brad: Quarto 913.
Desconhecido: Estive pensando...
Desconhecido: Não tenho certeza se esta é uma boa ideia.
Brad: Pense nas outras mulheres. Se você não o impedir, mais se machucarão.
Brad: Homens como este não param a menos que sejam forçados a isso. Agora você tem o poder.
Desconhecido: Você está certo...
Desconhecido: Vamos acabar com isso.

Brad
Eu não tinha certeza de que trazer Angela junto era a coisa certa a fazer.
Eu podia notar que ela era uma jovem sensível, e este homem a havia humilhado e depreciado por um
período substancial de tempo.Eu mesmo queria matar o desgraçado, mas a Diretoria não teria gostado disso.
A jovem que havia concordado em nos ajudar veio até nós através de uma de minhas assistentes, que havia
encontrado suas queixas contra Lemor apresentadas ao departamento de RH da Gelsa há dois anos. Elas
haviam sido varridas para debaixo do tapete, é claro.
— Revisado e dispensado, — em termos técnicos. Mas ela ainda estava trabalhando para a Gelsa como
freelancer, e ainda que ela não estivesse mais no prédio com Lemor diariamente, eu tinha certeza de que ele
ainda a atormentava.
Eu mesmo me aproximei da mulher e, expliquei a situação, que outra mulher, querida por mim, havia sido
afetada pelo mesmo homem das mesmas maneiras e ele não hesitaria em arruinar outras vidas se não fosse
parado.
Eu queria lhe oferecer algo mais, algo como dinheiro, mas sabia que isso não seria bom em um tribunal
quando o filho da puta for julgado.
Então, em vez disso, brinquei com o coração dela e funcionou. Como qualquer pessoa humana com
consciência, a mulher tinha concordado em parar o monstro que a tinha abusado, e outras depois dela.
Eu lhe disse para vir ao hotel às sete da tarde para uma suíte e lhe dei todo o tratamento real. Cabelos,
maquiagem, até mesmo uma massagem para acalmar seus nervos. Parecia o mínimo que eu podia fazer.
Quando entrei na suíte uma hora e meia depois, tive que admitir que a jovem parecia radiante. O vestido que
o estilista havia escolhido era perfeito.
Era sedutor em sua sofisticação, e eu sabia que o maldito não teria nenhuma chance.
— Você pode fazer isso, — eu lhe disse junto à porta. — Você é a diferença entre ele se safar com suas ações e
ter que pagar.
Ela acenou para mim, parecendo calma e recolhida.
— Eu sei. Eu dou conta.
Coloquei uma mão no ombro dela e a beijei na bochecha.
— Estou orgulhoso de você, — eu disse. — Obrigado.
Ela acenou para mim, depois abriu a porta e caminhou pelo corredor,prestes a enfrentar o que certamente
seria a noite mais assustadora de sua vida.
Angela
Brad tinha me dito para encontrá-lo no quarto 913 às oito e quarenta e cinco, mas eu estava tão ansiosa que
cheguei ao Hotel Tribeca uma hora mais cedo e andei em círculos em torno dele. Era o hotel onde eu tinha me
casado, mas nesta noite, eu estava nervosa por estar lá por uma outra razão.
Finalmente, às oito e trinta e cinco, eu me deixei entrar no lobby.
Caminhei até o banco do elevador, tentando casualmente espreitar o bar do hotel à minha esquerda. Mas eu
não vi nenhum rosto familiar.
Eu andei de elevador até o nono andar e caminhei até o quarto. Bati à porta, e ela se abriu na segunda batida.
— Você está pronta? — perguntou Brad. Eu acenei rapidamente, e ele me deixou entrar.
Lá dentro, havia um burburinho de atividade. A suíte se encaixava confortavelmente em todas as telas
montadas para exibir ángulos diferentes de dois lugares: o bar do hotel e um quarto de hotel vazio.
Atrás das telas estavam três homens, cada um vestindo preto e usando um fone de ouvido. Um sentado
estava atrás de um laptop, onde parecia que tinha algum tipo de controle de áudio.
Agora parecia mesmo um filme de James Bond.
— Eles são policiais? — perguntei tranquilamente ao Brad.
Ele apenas balançou a cabeça.
— Minha equipe de segurança, — explicou ele. — Eles também fazem trabalho de informação.
Eu acenei novamente, sem palavras. Não podia acreditar que ele tinha feito tudo isso por mim, para destruir o
homem que tinha se esforçado tanto para me destruir.
— Obrigada, — eu disse com sinceridade. Ele pegou minha mão na dele, e eu pude ver a suavidade em seus
olhos.— Estamos prontos, — um dos homens de preto, gritou para o quarto.
Os olhos de todos estavam focados em uma das telas, onde uma mulher de vestido preto tinha acabado de
sentar-se no bar. O barman foi até ela, e ela disse algo que não podíamos ouvir.
Poucos momentos depois, ele lhe trouxe um martini.
— Não se preocupe, ela não está bebendo, — disseme Brad. — Ela e o barman sabem que ela só vai beber
bebidas sem álcool esta noite.
Inteligente, eu pensei. Fiquei surpreso com o quanto pensava sobre isso. Movi meus olhos em direção a todas
as telas, tentando encontrar uma que mostrasse seu rosto. Mas tudo o que vi foram suas costas e seus cabelos
castanhos encaracolados.
— Aqui vamos nós! — Um homem diferente de preto gritou, e todos os olhos voltaram novamente para a tela.
E meu coração parou. Lá estava ele.
Sr. Lemor, todo o um metro e setenta dele, vestido com um terno que fez o seu melhor para esconder sua
figura. Ele andava com o queixo tão alto que sempre me perguntei como ele não tropeçava.
E ele estava indo numa linha reta até onde a mulher misteriosa se sentava.
Eu estremeci, pensando no medo que ela devia estar suportando, o medo que estávamos observando na
câmera. Não me pareceu justo.
— Mas não conseguimos ouvir nada, — disse a Brad, meus olhos colaram na tela quando Lemor tocou o
ombro da mulher e sorriu.
— Podemos, — ele disse, movendo-se para o fone de ouvido escondido em seu ouvido direito. Eu era a única
que estava sem um na sala. — Achei melhor que não ouvisse a voz dele.
— Eu quero ouvir.
As sobrancelhas de Brad subiram novamente.
— Eu não quero que você reviva...
— Não. Eu preciso ver e ouvir tudo. Se ela está passando por isso, eu não quero que ela fique sozinha.
Depois de um segundo, ele acenou com a cabeça. Ele caminhou até amesa e pegou outro fone de ouvido,
ajudando-me a colocá-lo. E então ele apertou o botão ON.
Instantaneamente ouvi o zumbido no bar. Mas tudo isso desapareceu quando ouvi as primeiras palavras de
Lemor.
— Você se importa se eu me juntar a você?
Ele fez a pergunta como se a mulher dizer que não seria o necessário para que ele se afastasse. Mas eu o
conhecia. Ele nunca simplesmente se afastou.
— Claro, — disse ela, e eu fiquei imediatamente impressionada com o quanto ela me parecia familiar.
— Esse é um vestido e tanto, — disse Lemor, e eu o vi levantar um pedaço do cabelo da mulher de seu ombro.
Observei o corpo inteiro dela tenso e o sorriso tomou o rosto dele.
E naquele momento, ela se virou para o lado, para ver se alguém no bar havia notado sua ousadia. A câmera
captou uma imagem clara de seu rosto, e sua respiração se prendeu.
Sua voz parecia familiar porque ela era familiar.
Era Betty, a mulher que me encontrou para tomar café, que me avisou sobre a interferência de Lemor em
minha vida.
Minha boca secou enquanto me imaginava em sua posição. Ela foi tão corajosa. Tão forte. E tudo o que eu
estava fazendo era sentar-me aqui, vendo como Brad e Betty faziam tudo isso.
Deve haver algo que eu possa fazer para ajudar...

Capítulo 19 Um brinde à vingança

Brad
Eu estava preocupado com ela. Com as coisas que ela estava testemunhando, as coisas das quais eu não
conseguia protegê-la. Ela era forte e eu não tinha dúvidas sobre isso.
Você tinha que ser forte depois de passar pelo que ela tinha passado.
Mas Angela, ela era uma guerreira. A maneira como ela lidou com tudo, a maneira como ela estava tão
concentrada em garantir o sucesso da batalha que ela não se preocupou consigo mesma.
Então foi por isso que o fiz.
Estávamos vendo o desgraçado flertar com Betty, a jovem que havia concordado em ajudar, quando dei uma
olhada em Angela. Ela estava pálida como um fantasma, seus olhos mais largos do que eu jamais os vi.
Ela não estava piscando, não estava se movendo. Então eu a ajudei a sentar em uma cadeira, em algum lugar
ela ainda teria uma linha de visão direta para as telas.
Eu sabia que ela iria resistir se eu lhe pedisse para desviar o olhar.
Eu lhe trouxe uma garrafa de água, mas ela foi ignorada. Ela estava seguindo em frente e eu não pude deixar
de me sentir responsável.
Mas, novamente, eu sabia que se fosse eu, eu gostaria de vê-lo. Tudo isso.
Eu não conseguiria superar a questão para seguir em frente de outra forma.
— Posso lhe arranjar outro? — Lemor perguntou à jovem mulher, sinalizando para o barman.
— Claro, — disse Betty, e até meus velhos ouvidos podiam dizer que sua voz estava cheia de nervosismo.O
barman fez as bebidas e, por uma fração de segundo, tive medo que Lemor o visse despejar água tônica no
martini da Betty em vez de vodca, mas ele tinha tanta atenção no peito dela que não olhou para mais nada.
— Devo dizer que estou agradavelmente surpreendido com sua simpatia esta noite, Sra. Watson.
— Me chame de Betty, — ela respondeu. Eu olhei para Angela, que encolheu. Embora toda a situação fosse
difícil de ser observada, só ela podia realmente compreender a magnitude da dor.
— Muito bem, então, Betty. Um brinde, — ele disse, levantando seu copo cheio. Ela fez o mesmo com seu
segundo martini.
— A novas amizades, — ele disse, e eu queria esmurrar o desgraçado através da tela. Ela sorriu com um
sorriso esticado, e eles tocaram os copos.
Logo depois, Angela olhou para mim, e parecia uma criança.
— Talvez você estivesse certo, — disse ela. — Talvez isso seja muito difícil.
Tomei um assento ao lado dela, e sabendo que tudo o que podia fazer era contar a verdade, comecei a falar.
Angela
Depois que o Lemor e a Betty brindaram, eu podia sentir meu estômago se agitando. Eu não sabia se ia
vomitar ou desmaiar, mas parecia que ia ser definitivamente um dos dois.
E depois tive que me lembrar que esta era a parte mais fácil. O verdadeiro problema ainda nem sequer havia
começado.
Virei-me para encontrar Brad ao meu lado. Quando ele chegou à mesa? Eu estava tão concentrada nas telas
que não tinha ideia do que estava acontecendo ao meu redor.
No segundo momento em que sentiu meu olhar sobre ele, ele se virou, e vendo como estava ansioso para me
ajudar, para tornar tudo isso melhor, isso me fez sentir ainda mais.
— Talvez você estivesse certo. Talvez isso seja muito difícil, — eu disse. — E isso é apenas o começo.Esse era o
pensamento que não me escaparia, que eu teria que observar aquele monstro na outra tela, a que gravava o
quarto do hotel, não o bar do hotel. Eu teria que vê-lo fazer o que ele nunca tentou comigo.
Eu era uma garota crescida e sabia o que estava por vir. Mas a ideia era suficiente para me fazer correr para
fora do hotel.
Claro, eu já sabia no que estava me metendo. Mas vendo isso em ação, vendo Betty, aquela que tinha me
ajudado, colocar-se nesta situação...
Eu não tinha certeza se tinha em mim o necessário para lidar com isso.
Tirei o fone de ouvido da orelha, colocando-o sobre a mesa. Brad tinha tomado um lugar ao meu lado, e agora
ele olhava para mim, algo entre a pena e a firmeza cambiando em seu rosto.
— Eu não vou mentir para você, — ele disse. — Não vai ser bonito. E você pode sair desta sala a qualquer
momento, sabendo que Lemor nunca mais será uma ameaça para você.
Ele colocou uma mão em cima da minha, e seu calor escorreu através de mim, de alguma forma me
acalmando.
— Mas se fosse eu, e este fosse meu pesadelo, eu ficaria. Eu ficaria e veria o filho da puta se incriminando na
câmera, para ter certeza de que eu tinha algo em minha mente para reproduzir que não fosse ele ganhando.
Eu gostaria de vê-lo cair.
As palavras de Brad afundaram em mim, e eu sabia que ele estava certo. Eu precisava me sentir capacitada,
apenas uma vez, quando se tratava de Lemor.
E sentada aqui nesta suíte, observando cada movimento dele, sabendo de algo que ele não sabia, era
fortalecedor.
Com um aceno lento, voltei a colocar o fone no meu ouvido. Você pode fazer isso, eu disse a mim mesma.
Após sua quarta bebida, Lemor fez a pergunta.
— Você gostaria de subir as escadas? Eu tenho uma reserva permanente neste hotel todos os fins de semana.
Os dias de semana em Jersey são o suficiente para mim.
Betty riu, e quase pareceu genuína. Fiquei impressionada com odesempenho dela. Se tivesse sido eu, já teria
me acovardado há muito tempo.
— Eu também tenho um quarto aqui, — disse ela, — uma pequena estadia.
— Oh, adorável! — ele disse, claramente um pouco mais do que bêbado. Ele pediu a conta ao barman e
ofereceu seu cartão.
Quando o barman o levou, ele disse:
— Traga isso para minha suíte, hein, garoto? Não há tempo para esperar por ela agora.
E então ele ajudou a Betty a sair de seu banco, não fazendo nenhuma tentativa de esconder o fato de que ele
a estava sondando.
Eles deixaram o bar juntos, e nós os vimos andando até o banco do elevador. Durante um minuto e meio eles
estiveram no elevador e caminhando até seu quarto de hotel, não pudemos vê-los ou ouvi-los.
Aquele minuto e meio me enlouqueceu. E se ele lhe fez alguma coisa?
E se nós não o pegamos? E se chegássemos tarde demais?
Mas então eles estavam abrindo a porta do quarto do hotel.
— AQUI Vamos! — Um dos homens de preto gritou, e eu suspirei.
Nós estávamos de volta.
Lemor abriu a geladeira do frigobar e abriu uma garrafa de champagne enquanto Betty olhava nervosamente
em volta do quarto. Ela aceitou uma taça de champanhe, eles brindaram novamente, e eu tive que me
lembrar de respirar.
— Sabe, Betty, você é sempre bem-vinda a voltar para a equipe Gelsa para sempre, em tempo integral. Sinto
saudades de tê-la por perto no escritório. Vê-la andando pelo corredor... — ele disse, dirigindo seus
comentários aos seios dela.
— Na verdade, eu adoraria ter você trabalhando na minha equipe, sob minhas ordens, diretamente. —
— Qual é sua proposta exatamente? — ela perguntou, inclinando-se para mais perto dele.
Eu tive que engolir a bílis na garganta. Eu não tinha ideia de como ela estava se mantendo tão firme.— Bem,
podemos arranjar algo, tenho certeza. Se você me faz feliz, eu posso fazer você muito, muito feliz. Tudo o que
eu disser na Gelsa é ordem, minha querida. Está na hora de você deixar Curixon.
Ele rodou um pedaço de cabelo dela em torno de seu dedo, o rosto dele a poucos centímetros do dela.
— Se você me fizer companhia, farei com que você tenha um papel real na Gelsa. Acabou-se o trabalho de
assistente. Vamos colocá-la na gerência.
— Então, se eu dormir com você... você me recrutará para a gerência?
Isso é mais do que um salário de seis dígitos.
— E você mereceria cada centavo disso.
— É isso aí, rapazes! — outro homem de preto gritou, e dois deles correram para a porta.
— Mexam-se, mexam-se, mexam-se. — Então eles estavam fora da suíte, e eu esperava que eles chegassem a
tempo.
— E daí? — Lemor lhe perguntou, baixando ainda mais o rosto. Ela estava visivelmente tremendo agora, isso
eu podia notar.
Eu pude ver o champanhe em sua mão dançando dentro do copo.
— Apresse-se, — eu sussurrei, desejando que os homens já chegassem lá.
— Então... — Betty respondeu, tão baixo que eu mal consegui ouvir.
E então ele a beijou, sua taça de champanhe caiu no chão enquanto ele a empurrava de volta para a cama,
empurrando-a. Eu joguei meu fone de ouvido no chão e empurrei minha cadeira para longe da mesa.
— NÃO! — Eu gritei, sentindo as lágrimas e o vômito vindo. Brad colocou uma mão no meu ombro.
— Está tudo bem, Angela, está tudo bem...
Mas eu simplesmente o empurrei. Eu não podia acreditar. Lemor estava em cima dela, tocando-a, e ela não
conseguia empurrá-lo...
— Veja! — Brad disse, apontando para a tela.
Limpei meus olhos e olhei. Lá estavam eles, batendo na sala e arrancando Lemor de cima dela. Ele foi jogado
no chão por um, enquanto o outro ajudava Betty a correr para fora da sala.Minha respiração estava por toda
parte, e Brad estendeu a garrafa de água para mim.
— Está feito, — ele disse enquanto eu bebia um gole.
— Está tudo acabado. Vamos mantê-lo em uma sala separada até a chegada da polícia. Teremos as fitas
prontas.
— Para onde ela vai agora? — perguntei entre as respirações ofegantes.
— Casa, — disse Brad. — Todos nós podemos ir para casa.
Pensei na cobertura. Nunca havia parecido tão segura.
Acordei no sábado de manhã com um barulho de batida. No meu passeio de carro de Tribeca para casa ontem
à noite, não consegui parar de pensar na força da Betty. Como ela havia perseverado em uma situação tão
difícil.
Foi inspirador.
Eu queria sentir esse tipo de força. A última vez que senti isso foi quando fiz minha entrevista com o Sr.
Kinfold, quando tive a certeza de que minhas qualificações me tornariam a pessoa certa para o trabalho.
Mas desde minha rejeição, e com tudo o que havia acontecido com meu pai e os Knight, me faltava essa
sensação de certeza. Eu não me sentia no controle de nada.
Perdi a sensação de ter um emprego em que sabia que seria bom. Um emprego que me fez sentir produtiva,
como se eu pudesse fazer a diferença.
Com Lemor não sendo mais uma ameaça, eu poderia começar a tentar novamente, de verdade, sem medo do
que ele poderia fazer. O pensamento me fez sorrir, mesmo que minhas mãos ainda tremessem intensamente
de tudo o que eu tinha observado no quarto do hotel.
Quando voltei à cobertura, estava exausta e adormeci quase imediatamente. E se não fosse por este baque,
aposto que poderia ter dormido ainda mais tempo.Eu não me dei ao trabalho de trocar meu pijama enquanto
saía da sala. Xavier normalmente não acordava até a tarde de sábado. Pensei que a batida estava vindo da
cozinha, mas ao me aproximar da porta do quarto do Xavier, percebi que estava meio aberta.
E antes que eu pudesse me deter, eu tinha dado um passo muito grande — e tinha uma linha clara de visão
para o quarto de Xavier. Onde ele estava intimamente enredado não com uma, mas com duas mulheres.
Meu suspiro saiu antes que eu pudesse pará-lo, e foi suficientemente alto para a atenção dos três. Eu nunca
havia sentido o calor subir tão rapidamente até minhas bochechas.
Eles estavam todos... tão nus. E assim emaranhados, como chicletes em cabelos encaracolados.
— Sinto muito! Desculpe, — eu gaguejei, mas Xavier apenas riu. E as mulheres se juntaram a ele.
— Venha, querida, junte-se a nós! Está quente aqui dentro, — ele disse, tão humilhante como sempre. As
mulheres continuavam rindo. Fui humilhada.
— Essa é minha esposa, — ouvi-o dizer enquanto corria de volta ao meu quarto.
Angela: Eu preciso de você
Angela: Em
Angela: Em????
Em não estava respondendo, mas eu precisava de alguém a quem desabafar. E rápido. Vesti o primeiro jeans e
blusa que pude encontrar e corri do meu quarto para o elevador, mais rápido do que jamais havia corrido
antes.
Eu não abri meus olhos para além de um estreito olhar até que as portas se fecharam.
Quando cheguei à floricultura da Em, o belo arranjo de flores fora da vitrine me distraiu da cena que tinha
acabado de suportar na cobertura.
A Em tinha organizado prateleiras de lindas plantas em vasos, com umpar de plantas em vasos maiores em
ambos os lados da porta.
As flores eram coloridas e em plena floração, e tudo parecia perfeito.
Ao contrário do meu casamento.
Fiquei de tal forma presa em minha própria mente que abri a porta sem me perguntar por que ela estava
fechada. Em nunca fechou a porta da loja durante o horário comercial.
— Você nunca vai adivinhar o que Xavier acabou de fazer com... —
Mas eu me afastei quando percebi o que estava acontecendo. Em estava sentada no balcão, curtindo com um
homem que estava entre as pernas dela.
Eu estava prestes a balbuciar um pedido de desculpas e corri de volta para fora quando o homem se virou
para ver quem estava falando. E foi quando eu vi o rosto do homem. Era Lucas.
Meu irmão Lucas.
Meu irmão Lucas se agarrando com minha melhor amiga.

Capítulo 20 Qualquer coisa por você

Angela
— ... e eu entrei e ela estava no balcão, pegando MEU IRMÃO!
— NÃO! — Dustin estava extasiado, com olhos tão abertos quanto os meus.
— Eu sei, — eu disse, querendo contar a ele o que eu tinha visto com Xavier também, mas sabendo que não
podia. Dustin ainda pensava que Xavier e eu nos amávamos.
Estivemos no SoHo 149, uma das galerias mais exclusivas da cidade, montando para a exposição de Dustin
naquela noite. Eu estava ajudando-o a descarregar os quadros da van alugada e revelando o que eu tinha visto
entre Em e Lucas no dia anterior.
— O que eles disseram a você?
— Nada! — Eu mesma exclamei, ainda não acreditava muito em tudo isso.
Minha melhor amiga e meu irmão. Há quanto tempo eles mentiam sobre isso? Eles estavam se pegando no
meu casamento? Na minha formatura na faculdade?
Parecia uma traição clichê.
— Fiquei tão chocada que acabei por sair correndo.
— Eles tentaram ligar para você?
— Em me ligou, umas seis vezes. E Lucas deixou algumas mensagens na caixa postal. Mas eu ainda não sei o
que dizer a eles.
— Bem, como você se sente?, — perguntou ele, e percebi que poderia haver um mundo onde eu não
estivesse louca. Onde eu estava feliz por duas das minhas pessoas favoritas se encontrarem.
Mas ainda era estranho.— Eu não sei.
Tiramos os dois últimos quadros envoltos em plástico bolha do baú e os acompanhamos até a galeria,
colocando-os sobre as mesas ao lado dos outros. Havia doze ao todo, mas não consegui ver nenhum deles sob
as camadas protetoras de plástico.
— Podemos desembrulha-los? — eu perguntei.
Ele estava circulando o espaço agora, olhando de parede vazia para parede vazia. Era uma galeria bastante
grande, com um layout de conceito aberto que usava pilares para lhe dar forma. As paredes eran brancas e os
pisos eram de madeira para que toda a atenção estivesse voltada para o trabalho do artista.
— Quero pregar a sequência primeiro, — respondeu ele, ainda analisando as paredes.
Eu podia dizer que ele estava nervoso, mesmo que ainda estivesse agindo como se estivesse confiante. Desde
o momento em que chegamos à galeria e conhecemos o Sr. Johnson, o proprietário, até o momento, ele tinha
balançado as mãos em punhos e batido lentamente com eles nas pernas.
— Vai ser incrível, — eu disse, indo para ficar ao seu lado.
Coloquei uma mão em seu ombro e apertei. Ele olhou para mim e sorriu, e depois voltou para as paredes.
— Acho que vamos de preto e branco e deixamos sangrar em cor, e depois, para o final, eu lhes darei escala
de cinza. Uma metáfora. Regras, caos, depois a realização de que nenhuma das duas existe sem a outra.
Fiquei atordoada. Quem diria que Dustin Stirling era tão eloquente?
— Não tenho ideia do que você disse, mas parece ótimo.
Ele acenou com a cabeça.
— Eu também pensei assim.
Pedi para almoçarmos, e ele veio quase imediatamente. Sentamos no chão frio e devoramos nosso Lo Mein, e
eu não pude deixar de me sentir bem. Eu havia usado o nome Knight para assegurar o SoHo 149 para a noite.
Quando o contatei na semana passada, o Sr. Johnson não estava muito receptivo à ideia de um desconhecido
usando sua galeria, mas eulhe assegurei que Dustin tinha talento de classe mundial porque, bem, um Knight
saberia, certo?
Ele disse que precisaria de algum tempo para pensar sobre isso, então quando ele finalmente me chamou de
volta ontem à noite, fiquei surpresa.
Levou cerca de meia hora para convencê-lo, mas ele acabou concordando, e mesmo que eu tremesse do outro
lado da ligação, eu estava orgulhosa de mim mesma por manter minha voz calma o tempo todo. Ou, pelo
menos, a maior parte do tempo.
O SoHo 149 permitiria a Dustin ter sua primeira exposição de arte real em um lugar que praticamente lhe
garantiria patronos, o que era obviamente importante para um recém-chegado.
E não apenas patronos, mas pessoas que conheciam e se preocupavam com a arte.
Quando eu lhe disse que havia arranjado a galeria para sua exposição, pensei que ele ia desmaiar.
— Obrigado, obrigado, obrigado! — ele cantou, e depois correu ao redor do balcão do café para me abraçar.
Ele me levantou do chão e me girou, e foi o suficiente para tirar minha mente de toda essa coisa de Em/Lucas.
De qualquer forma, por um tempo.
Dustin saiu imediatamente do café e alugou uma van, colocou seus doze quadros favoritos no porta-malas, e
eu o encontrei no centro da cidade. O Sr. Johnson fechou a galeria durante a tarde para que Dustin pudesse se
instalar.
Como tudo foi tão de última hora, todo o processo foi apressado, mas o SoHo 149 foi reservado para o mês
seguinte.
Quando dei a Dustin a opção de esperar, ele gritou:
— Não! Chega de esperar!
E assim foi.
— Seria engraçado se fizéssemos tudo isso e ninguém viesse, — ele disse, me puxando para fora de meus
pensamentos. — Como se fôssemos uma árvore na floresta e ninguém nos visse cair, será que realmente
caímos?
É— Dustin, você está no SoHo 149. É o melhor dos melhores, de acordo com o The New Yorker, de qualquer
forma. As pessoas virão.
— Você está certa, — ele disse, enfiando mais macarrão em sua boca.
Então ele olhou para mim. — Você acha que Xavier poderia passar por aqui? — Meu estômago esfriou. Xavier.
Eu ainda não lhe havia contado nada disso. Não era como se falássemos muito de qualquer maneira, mas eu
sabia que ele ficaria bravo. Ele sempre ficou.
Os olhos de Dustin estavam me suplicando agora; ambos sabíamos que a presença de Xavier significava que
haveria mais socialites e imprensa na galeria.
— Eu não sei, Dustin...
— Você poderia perguntar? Por favor... — Eu olhei para meu amigo, para os nervos claramente tomando
conta de seu corpo. Respirei fundo e acenei com a cabeça. Que tipo de amiga eu seria se não me colocasse em
risco?
Lucas: Pare de me ignorar.
Lucas: Angie, vamos lá.
Eu estava no elevador do prédio de escritórios do Xavier quando vi as mensagens de Lucas. Queria responder,
de verdade, mas ainda não conseguia descobrir o que dizer. Então deixei cair o telefone de volta na minha
bolsa.
O elevador abriu suavemente, e eu saí para o 38° andar. Vi o balcão da recepção e fui até lá.
Pensei que vir ao escritório de Xavier seria uma boa ideia porque ele teria que me deixar entrar e não poderia
gritar.
Afinal, eu era sua esposa, então o que pensariam seus colegas se ele me chamasse de palavrões?
Mas agora eu estava percebendo como eu era um peixe fora d’água.
Meu cabelo estava amarrado num laço e bagunçado, além disso estava com meus jeans rasgados e camiseta
branca, embora perfeitos para um dia ajudando a organizar uma galeria, não eram trajes típicos de
umescritório. E tinha meu Converse.
Mas era tarde demais; a recepcionista já tinha me visto.
— Oi, estou aqui para ver meu marido. Xavier Knight?
— Oh, claro, — ela disse, correndo ao redor de sua mesa e movendose para que eu a seguisse. — Venha por
aqui.
Eu não podia acreditar. A mulher, provavelmente por volta da minha idade, estava me tratando como se
estivesse... intimidada ou algo assim.
Acho que nunca intimidei ninguém em toda a minha vida.
— É lindo lá fora, — eu disse, tentando colocá-la à vontade enquanto andávamos pelos corredores.
— Oh, com certeza, Sra. Knight, — ela respondeu rapidamente.
O que está acontecendo?
Quando chegamos ao escritório de Xavier, ela bateu à porta de vidro fechada. Tudo era vidro: a porta, as
paredes... Eu podia ver tudo dentro do escritório, inclusive meu marido. Ele estava vestido inteligentemente
com um terno preto com um botão azul pálido, e estava esfregando as têmporas quando a recepcionista
bateu.
Ele a viu, depois a mim, e se levantou lentamente. Em seguida, ele caminhou até a porta e a abriu.
— Você sabe que deve me chamar antes de deixar um visitante entrar, — ele disse, suas palavras dirigidas à
recepcionista.
— Eu... eu sei, — ela gaguejava. Eu queria abraçá-la.
— A culpa foi minha, — eu disse. — Tenho algo para falar com você sobre o que não podia esperar em casa.
— Bem, entre, querida, — respondeu ele, enfatizando a última palavra e abrindo mais a porta. Entrei no
escritório, pensando no que me havia metido.
— Feche a porta atrás de você, — instruiu ele. Ponderei minhas opções, percebendo que não tinha uma razão
válida para não fazê-lo.
Uma que eu podia verbalizar, de qualquer forma.
— Desculpe interromper seu dia, — eu disse suavemente, esperando que pudéssemos ser civilizados. Eu
abordaria o assunto com leveza, casualmente, e talvez ele não fosse tão odioso. Apertei minhas mãos nafrente
dos quadris, tentando impedi-los de tremer.
— O que é isso?, — perguntou ele. Ele estava de volta atrás de sua mesa, inclinado sobre seu computador,
verificando algo.
— Você tem planos para hoje à noite?
— Por quê? — ele esbravejou, com sua cabeça chicoteando para enfrentar a minha.
— Eu... meu amigo, ele está tendo uma exposição de arte. No SoHo 149. E eu pensei que seria bom para... se
você vir, — eu disse, certa de que ele seria capaz de notar minha voz trêmula.
E esperando que ele não a usasse contra mim. Mas ele apenas riu.
— Você me quer em uma exposição de arte? Para quê, levar mais pessoas para lá? Conseguir mais imprensa?
— Ele estava me analizando para obter respostas. — Você é transparente, você sabe.
— Sim, — eu disse, suavemente, mas com firmeza. — Você traria mais pessoas e mais publicidade.
— Você quer uma medalha?
— O quê?
— Por sua honestidade, — ele disse, seu sarcasmo me mordia.
— Mas eu pensei que seria bom para você também. — Agora ele olhou para mim novamente.
— Meu amigo, o artista, é o Dustin. Aquele com quem a esposa do Sr. Graden me viu fazendo compras. Achei
que seria bom tê-lo na galería para que a imprensa pudesse ver você e eu juntos, que somos ambos amigos
dele.
Mordi a bochecha, à espera de sua resposta.
A ideia tinha acabado de chegar a mim alguns segundos antes de eu dizer em voz alta, e eu sabia que seria ou
inteligente ou devastadoramente estúpido.
Parecia que eu estava esperando que Anúbis pesasse meu coração.
Xavier
Ela teve a coragem de vir ao meu escritório como se tivesse o direito deestar aqui. Meu dia já estava em
declínio. Meu pai tinha vindo me avisar que Graden não tinha respondido a nenhuma de suas ligações e
perguntou se ele tinha me dito alguma coisa sobre a proposta.
Eu também não lhe contei o que aconteceu quando recebemos as bebidas do happy hour ou como ele não
tinha atendido nenhuma das minhas ligações. Eu não pude.
Então, sim, eu estava chateado com o negócio da Graden.
Fiquei chateado por meu pai continuar olhando por cima do meu ombro, esperando que eu estragasse tudo.
E agora eu estava chateado por ela estar aqui no meu escritório, parecendo toda nervosa e gentil, mesmo
sabendo que não enganavamos ninguém. Fazia parte do jogo dela, sendo de fala mansa. Foi como ela se safou
com toda a merda que fez.
Mas nenhuma mulher que se casasse com um Knight, que escolhesse dinheiro e nome em vez de dignidade,
poderia ser gentil. Debaixo de sua maciez havia um dragão respirando fogo, e eu queria ter certeza de que a
moça sabia que não poderia me queimar.
— Mas eu pensei que seria bom para você também, — disse ela, sobre eu fazer uma aparição na exposição de
arte de seu amigo.
Quanto culhão ela tinha para girar na minha frente.
— Meu amigo, o artista, é o Dustin. Aquele com quem a esposa do Sr. Graden me viu fazendo compras. Achei
que seria bom tê-lo na galería para que a imprensa pudesse ver você e eu juntos, que somos ambos amigos
dele.
Olhei para ela, vi ela desviar seus olhos do meu olhar, suas mãos se segurando bem. Suas bochechas ficaram
mais avermelhadas a cada segundo.
Ela é uma especialista, eu me lembrei. Uma perita em desempenhar o papel.
Mas depois pensei em Graden e no negócio que eu estava tão perto de fazer antes que ela estragasse tudo.
Talvez ter uma foto minha na imprensa e o cara com quem ela tinha ido às compras o acalmasse.
Talvez ele acreditasse que minha esposa era leal.
Esperei mais alguns instantes, deixando-a ficar na tensão. Eu tinhacerteza de que ela estava ficando louca,
esperando minha resposta, e eu adorava ter esse tipo de poder.
— A que horas? — Finalmente, eu perguntei. Seus olhos encontraram os meus imediatamente e se abriram.
— Oito e trinta.
— Certifique-se de que o The Times esteja lá, — eu disse, e então me sentei novamente na minha mesa.
Se eu fosse aparecer na imprensa em alguma exposição de arte sem nome no centro da cidade, seria melhor
que fosse o The Times. Lancei um olhar de volta para minha esposa, que ainda estava ali, uma expressão em
seu rosto que parecia que ela não sabia dizer se isso era realidade ou não.
Eu limpei minha garganta. Deixe-me em paz.
— Desculpe. Desculpe, — ela disse então empurrou a porta do escritório para abrir. — Obrigado, Xavier, — ela
disse, voltando para mim antes de sair. Parecia genuíno, mas eu não o reconheci.
E então ela se foi.

Capítulo 21 Mais do que um show

Angela
Dustin: Estou enlouquecendo.
Dustin: As portas abertas em 2.
Dustin: Onde vc está?
Vi meu telefone acender com novas mensagens e corri para a escrivaninha, onde ele estava. Eu sabia que
estava atrasada, o que não era meu feitio.
Mas depois do estresse da conversa com Xavier em seu escritório, eu precisava de algo para me relaxar, então
tomei um banho quente, tentando esfoliar minha ansiedade.
Apressei-me para entrar no pequeno vestido preto que havia comprado com o Dustin, a única coisa que eu
mesma havia encontrado na loja. Era lindo em sua simplicidade, uma saia clássica de linha A com top ajustado
e um decote conservador.
Em seguida, coloquei umas sapatilhas e corri da cobertura, felizmente encontrando um táxi do lado de fora.
Eu tinha esquecido de pedir um carro quando estava no andar de cima e não tinha tempo de pegar o metrô,
então só me restava um táxi.
Quando cheguei ao SoHo 149, já estava quinze minutos atrasada. Mas quando olhei através das janelas da loja
do chão ao teto, minha culpa se dissipou. O lugar estava lotado.
Paguei ao motorista do táxi e pulei para fora, caminhando até o guarda de segurança junto à porta. Era uma
bela noite de outono, e o céu noturno criou o cenário perfeito para a festa bem iluminada que acontecia lá
dentro.— Olá! Sou amiga do Dustin, — exclamei. O segurança acabou de me olhar, segurando sua prancheta.
— Nome?
— Angela. Angela Knight. — Ele se afastou imediatamente, abrindo a porta para mim. Assim que entrei pela
porta, fui atingida pelo calor de uma sala lotada.
Pessoas bem vestidas e interessantes se movimentavam pela galeria, segurando taças de vinho e rindo umas
com as outras. As pinturas estavam penduradas nas paredes, e grupos de pessoas estavam em frente a cada
uma delas, apontando e apreciando.
Meu coração disparou. Não podia acreditar que tínhamos conseguido. Ele tinha conseguido. Eu estava tão feliz
por ele, tão orgulhosa.
— Angela! Aqui. — Eu ouvi a voz de Dustin do outro lado da galeria.
Virei-me e o encontrei, vestido com um blazer verde-marinho e calças pretas brilhantes, junto à barra no
canto. Ele estava conversando com um homem mais velho de óculos. Eu caminhei até eles.
— Olá! — exclamei, beijando sua bochecha. — Isso é incrível!
— Não é? — acrescentou ele, claramente tonto. — Angela, este é o Sr. Sorento. Sr. Sorento, apresento-lhe
Angela Knight.
— Oi, — eu disse, apertando a mão do Sr. Sorento.
— Prazer em conhecê-la.
— O Sr. Sorento é o gerente da Garagem em Tribeca.
— Oh?. — Eu disse, tentando ser indiferente sobre o fato de que eu não tinha ideia do que isso era. De
repente, uma mulher estilosa, com um casaco de couro e batom de coral, apareceu atrás do Dustin.
— Sr. Stirling. Tina Carlyle do The Times. Eu esperava ter uma palavra com... — Dustin me deu um olhar
ohmeudeusohmeudeus e depois se voltou para a mulher.
— Tina. Querida. Eu estava pensando que você nunca apareceria, — ele disse, seu charme no nível 1.000
enquanto a guiava pelo cotovelo até uma parte mais silenciosa da sala.
Isso deixou o Sr. Sorento e eu juntos, ao lado bar. Meu lado
introvertido quis se despedir e apreciar a arte sozinha, mas havia algoinspirador em ver Dustin sair de sua
zona de conforto e se dar tão bem.
Talvez fosse a hora de eu fazer o mesmo. Então, respirei fundo e me virei para o homem que estava diante de
mim.
— Sr. Sorento, me fale sobre a Garagem?
Afinal, a Garagem era o ponto alto das modernas galerias de arte em Nova Iorque. Não estava tão
estabelecida como a Bird em Williamsburg ou The Juniper no Upper East Side, mas de qualquer forma estava
recebendo atenção constante da imprensa e dos compradores.
O Sr. Sorento era o gerente, o que significava que ele estava encarregado de encontrar a arte que a galeria
expunha. Portanto, era um grande negócio que ele estava aqui na exposição de Dustin, e um negócio ainda
maior com o qual ele tinha procurado ativamente Dustin para falar.
Ele havia dito que Dustin havia falado com ele sobre sua inspiração para a pintura e sua infância difícil e que se
sentira semelhante a ele por ambas as explicações.
Eu estava muito contente por meu amigo. Claro, eu sabia que iríamos encher a galeria — graças ao meu
marido — mas não tinha ideia de que teríamos uma resposta tão positiva por parte das pessoas da indústria.
— Como você o encontrou? — perguntou-me o Sr. Sorento.
— O que você quer dizer?
— Dustin, — ele disse, e eu pensei no dia em que nos encontramos na cafeteria.
— Eu estava correndo no parque, e parei para tomar um café. Dustin estava trabalhando nessa cafeteria fofa,
e começamos a conversar, — eu disse, dando a ele toda a história. O Sr. Sorrento estava acenando com a
cabeça.
— Você tem um olho bom, — ele disse, e agora eu entendi. Ele pensou que eu fiz o que ele fez. Ele pensou
que eu encontrava artistas e lhes dava oportunidades.
— Oh, eu não estou no ramo. Dustin é apenas um amigo meu, — eu expliquei, e o Sr. Sorrento me olhou com
um olhar de curiosidade.
— Vocês eram amigos antes de ver a arte dele? — Eu confirmei. O Sr. Sorrento tomou seu vinho e encolheu os
ombros.— Acho que isso é inteligente. Dustin é uma ave rara, mas geralmente, quanto melhor a arte, pior o
amigo. Foi um prazer conhecê- la, Sra. Knight, — ele disse, dando um aperto no cotovelo antes de se virar e
encontrar um novo grupo para conversar.
Aconteceu que a noção do Sr. Sorrento de mim como recrutadora ou caçadora de talentos ou qualquer que
fosse o título do trabalho não era toda aquela novela.
Ao longo da noite, conversei com alguns outros gerentes de galerias, alguns críticos de imprensa e muitos
compradores sérios.
Todos me elogiaram por um trabalho bem feito, como se a arte de Dustin fosse um resultado direto da minha
iniciativa. Embora eu quisesse um trabalho em que pudesse ser boa, para me fazer sentir competente e forte,
não era exatamente isso que eu tinha em mente.
Xavier
Entrei na galeria e fiquei francamente surpreso com o quanto ela estava cheia. E cheia de pessoas de
qualidade.
Reconheci Tina e Marc do The Times, Sylvia do The New Yorker, e aqueles críticos esotéricos irritantes, Paul e
Benny, usando o mesmo tweed que sempre usaram.
Como se eles fossem banqueiros na Depressão ou algo assim.
Depois vi minha querida esposa, com um vestido preto básico que fazia sua pele parecer muito mais pálida em
comparação. Não um pálido doente, mas um pálido que parecia não ver sol há cerca de um ano.
Claro, ela era bonita, objetivamente, mas eu não pude evitar minha reação instintiva toda vez que a via. Raiva.
Apenas pura, sempre presente, sempre crescente, raiva.
Eu fechei os olhos com ela e tenho quase certeza de ter visto seu lábio tremer em resposta. Ótimo.
— Querida! — Eu gritei do outro lado da sala, e todos ao meu redor se viraram para ver quem eu estava
chamando. Vi suas expressões se encherem de reconhecimento "Oh, sua esposa!" e a expressão de Angela se
encher de preocupação. Percebendo que se eu esperasse que ela se aproximasse de mim, eu ficaria
esperando muito tempo, comecei a caminhar em direção a ela.— Que show, — exclamei, esperando que ela
pegasse o sarcasmo na minha voz.
Ela me abraçou e beijou minhas bochechas, e eu pude sentir seu corpo iluminado tremer, como um cachorro
pequeno que acabou de sair do banho.
— Obrigada por ter vindo, — disse ela, em voz alta o suficiente para que aqueles ao nosso redor pudessem
ouvir. Ela estava desempenhando o mesmo papel que eu, e qualquer culpa que eu possa ter sentido por ter
causado seus tremores foi embora, sem mais nem menos. Ela sabia o que tinha assinado.
— Onde está o homem do momento? — perguntei, escaneando a sala.
Nesse momento, eu senti uma mão no ombro e girei para encontrar Benny, o crítico que usava tweed.
Ele estendeu sua mão para que eu apertasse.
— Sr. Knight, — ele disse, — sempre um prazer.
— Oi, Benny boy, — respondi, dando-lhe um sacudida. Os três copos de uísque que eu tinha bebido a caminho
do SoHo 149 tinham acalmado meu temperamento, claro, mas também me deram um impulso para me
divertir um pouco.
— Você está procurando por Dustin? Ele está junto à peça final, ao redor daquele pilar ali mesmo, — apontou
Benny.
— Maravilhoso, — eu disse, batendo nas costas do Benny com um pouco mais de força do que eu precisava.
— Simplesmente maravilhoso.
Oh, Angela! — Eu cantei, e todos os olhos voltaram a cair em cima dela.
As bochechas dela estavam visivelmente vermelhas. Cara, ela é boa em fingir que não gosta da atenção.
Ela se aproximou de mim, e eu agarrei sua mão, e juntos caminamos até a pintura final.
— E este deve ser o Dustin!
Dustin, o homem que me envergonhou aos olhos do público, que pode ou não ter arruinado o melhor negócio
em potencial que eu já havia fechado por conta própria, estava na minha frente. Estávamos mais ou menos na
mesma altura, ambos com mandíbulas robustas e o tipo de olhos que viram sua porção de merda na vida. Ele
não se acovardou, como a maioria das pessoas fez. Em vez disso, ele estendeu uma mão.
— Xavier Knight, — ele disse simplesmente. — Obrigado por ter
vindo à minha exposição.
Ouvi uma câmera disparar, talvez tenha visto um flash ou dois.
— Qualquer coisa por Angela, — eu disse, e dei um bom sorriso. Eu não tinha certeza do que Dustin sabia, ou
o que ele queria, mas havia muita coisa não dita aqui.
Estava me irritando, me fazendo querer agarrá-lo pelo estúpido casaco que ele estava usando e empurrá-lo
contra a parede até que ele me implorasse que o deixasse ir.
Mas eu não consegui. Havia imprensa aqui.
Brad
Xavier havia me mencionado que ele iria a uma galeria que estava em exposição no SoHo 149 esta noite, o
que para ele é bem surpreendente.
Ele nunca havia gostado de ir a nenhum evento cultural, a não ser que eu o arrastasse até lá. Ou que sua ex-
noiva o tivesse.
Houve um tempo em que, se ela mencionasse que não assistiria à ópera, ele compraria seus ingressos para
aquela noite.
Por isso, fiz algumas ligações. Eu tinha que saber o que meu filho andava fazendo. E afinal um velho amigo
meu, Alfred Kent, tinha negócios com o Sr. Johnson, o proprietário da galeria.
Não demorou mais de um minuto ao telefone com o Sr. Johnson para saber que havia uma exposição de um
novo artista esta noite e que tudo havia sido orquestrado por uma Angela Knight.
Assim que ouvi o nome dela, meu coração se alegrou. Ela não só estava ajudando um talento desconhecido a
encontrar uma exposição, mas estava ajudando meu pobre menino a sair da escuridão.
Acabaram-se as bebidas alcoólicas em bares noturnos, sim senhor.
Meu filho estava saindo para a cidade com sua esposa.
E a isso... bem, eu não podia faltar.Eu entrei no SoHo 149 e tentei ser discreto. Vi meu filho e Angela andando
de mãos dadas, e depois vi os dois conversando com um jovem com uma roupa que o fazia artista até a última
célula. Eles trocaram algumas gentilezas.
Eu não pude ouvir muito, mas vi seus sorrisos e soube.
Em seguida, Xavier caminhou em direção ao bar e pegou um copo de vinho, e eu vi Angela o seguir.
Então eu caminhei até os dois.
— Que noite! — exclamei, não conseguindo conter minha excitação.
Ambos foram maravilhosos.
— Brad, que surpresa, — disse Angela ao me ver. Ela envolveu seus braços ao meu redor e me beijou na
bochecha, e eu estava certa de que minha amada poderia sentir o calor da jovem mulher até o céu.
— Eu não perderia isso.
— Eu não sabia que você viria, — disse Xavier, trazendo o copo aos seus lábios.
— Vocês dois parecem um casal tão bonito. Tão encantador, tão pensativo. Estou orgulhoso de você, filho, —
eu disse, estendendo minha mão para que ele apertasse.
Ele o fez, e realmente parecia que estava de volta. O filho que eu sempre soube que ele era.
Voltei-me para Angela, aquela que o tinha feito voltar para casa.
O anjo que tinha agraciado minha vida e a vida daqueles de quem mais gosto.
— E Angela. Você. Seu talento, sua generosidade. Ouvi dizer que você encontrou o jovem com sua obra de
arte nas paredes. Sua tenacidade e seu olhar, querida, você é realmente algo. Estou tão orgulhoso. Tão, tão
orgulhoso.
Eu a puxei para outro abraço e a senti relaxar em meus braços. Percebi como deve ser difícil para ela, com seu
pai tremendamente doente. Eu devo ter sido a coisa mais próxima que ela teve de seu pai.
Em cima da cabeça de Angela, eu olhei para meu filho. Ele estava me observando abraçar a jovem mulher com
uma intensidade tão profunda que eu não entendia bem. Talvez ele estivesse tão consumido com as duas
pessoas que ele mais amava se abraçando, que era quase demais para ele.
Eu o olhei mais uma vez e lhe ofereci um sorriso. Ele sorriu de volta, e eu acenei com a cabeça.
E foi isso. Deve ser assim.

Capítulo 22 Linhas Cruzadas

Angela
Eu acordei com um grande sorriso no rosto. Essa foi talvez a primeira vez, na minha cama grande e fofa, na
minha grande e fofa cobertura, que isso havia acontecido.
A exposição de arte foi incrível. Não só o trabalho de Dustin foi incrivelmente bem recebido, mas todos com
quem eu tinha falado tinham sido tão... simpáticos.
Depois de todos os parceiros de negócios e amigos da família que conheci através dos Knight, no casamento e
em outros lugares, fiquei com a impressão de que nunca me daria bem com ninguém do círculo deles.
Mas ontem à noite eu senti algo diferente. Eu me senti apreciada e... não sei, visível.
Talvez fosse porque eles faziam parte de um subconjunto diferente.
Claro, as pessoas de lá ontem à noite tinham sido importantes e bemsucedidas. Mas eles não eram
empresários corporativos que consideravam uma viagem a St. Barths um fim de semana decente.
Não, eles eram amantes de arte. Cultos, com estilo e mente aberta de uma forma que parecia muito diferente,
em vez de se preocupar com isso.
Talvez eu tivesse encontrado meu grupo.
Fiquei animada e com vontade de compartilhar minha noite com todos que conhecia. Eu tinha planos de ir a
Jersey e ver o meu pai hoje, o que era perfeito. Eu sabia que ele ficaria tão feliz por eu ter ajudado a organizar
uma exposição de arte de sucesso.
Ele ficaria feliz que eu tivesse ajudado meu amigo a obter o reconhecimento que ele merecia. E depois que vi
meu pai, pensei empassar na casa da Em e compartilhar com ela.
Ainda não tínhamos falado sobre ela e Lucas, mas agora meu bom humor estava me ajudando com isso
também.
Parecia o momento certo para discutir tudo.
Assim que pensei nela e em Lucas, percebi que provavelmente seria uma boa ideia avisá-lo de que eu iria ao
hospital. Eu também ainda não havia respondido às suas mensagens, então peguei meu celular e, respirando
fundo, mandei-lhe uma mensagem.
Angela: Olá Lucas.
Lucas: Oh agora você responde.
Angela: Desculpe-me.
Angela: Eu não sabia o que dizer.
Lucas: Me desculpa também.
Lucas: Não sabia como te dizer.
Angela: Está... tudo bem.
Angela: Eu amo vocês dois.
Lucas: Você está realmente de acordo com isso?
Angela: Eu não sei.
Lucas: Bem, isso já é um bom começo.
Angela: Estou indo para o hospital agora.
Angela: Você quer vir?
Lucas: Quem me dera poder.Lucas: Preso no restaurante.
Eu suspirei. Sentime bem por ter tirado a limpo isso com ele, mas realmente desejei que ele viesse ver nosso
pai comigo. Era sempre difícil vê-lo sozinha, e Lucas tinha uma maneira de cortar a tensão.
Mesmo quando estávamos rodeados de doenças e más notícias, ele conseguiu fazer com que eu sorrisse. Mas
hoje, eu teria que ir sozinha.
Tomei banho, me vesti e depois comecei minha viagem.
Quando cheguei ao hospital, já era tarde e o lugar estava agitado com a atividade. Vi mais sorrisos no saguão
do que jamais havia visto lá antes, e isso me fez sorrir também.
Talvez eu não precisasse do apoio moral de Lucas, afinal de contas. Eu tinha um bom pressentimento. Sobre o
dia, sobre o papai, sobre mim mesma.
Não achei que nada pudesse me derrubar.
Quando cheguei ao quarto do meu pai, vi que a porta dele estava fechada.
Eu bati e depois abri, vendo um grande feixe de cobertores em cima da cama do hospital.
— Pai? — Houve um momento de silêncio em que eu não tinha certeza de onde procurar. Ele ainda estava
preso à cadeira de rodas, para não estar no banheiro sem uma enfermeira por perto para ajudar.
Talvez ele estivesse fora da sala?
Mas depois houve um grunhido de baixo da pilha de cobertores, e uma mão frágil emergiu. Ele tirou os
cobertores de um rosto — um rosto que pertencia ao papai.
Seus olhos haviam afundado ainda mais em seu rosto. Sua pele estava pálida o suficiente para que eu pudesse
ver o azul das veias em seus braços. Ele sempre foi meio careca, mas agora parecia ainda mais careca.
Eu tentei não reagir, tentei não mostrar a ele minha surpresa ou preocupação, mas não acho que tenha feito
um bom trabalho.
— Filhinha, venha aqui, — ele disse, segurando uma mão trêmula. —
Continuo sendo eu.
Eu queria que minhas lágrimas fossem e incomodassem outra pessoa. Hoje não cairiam. Hoje não.
Eu fui até meu pai e me curvei para dar-lhe um abraço, beijando-o na bochecha.
— É tão bom te ver, papai.
— É sempre bom ver você, pequena.
— Como você está?
— As pílulas estão me deixando lento. Não sei o que te dizer. — Ele tinha começado os testes no fim de
semana passado, e todos nós pensamos que ele melhoraria depois que começasse. Mas ele parecia... pior.
— Você se sente melhor no geral?
— Ainda não, mas o médico diz que é normal. Tem que ficar pior antes de melhorar. — Eu dei um aperto em
seus dedos magros.
— É esse o espírito, — eu disse. Eu me sentia mal por ter demorado tanto tempo para voltar.
Eu deveria ter aparecido antes.
Eu deveria ter sido mais presente.
Houve uma batida na porta. Ambos nos viramos para encontrar o Dr. Kaller colocando apenas a cabeça na
sala.
— É seguro entrar?
— Olá, Dr. Kaller, — eu disse, aliviada por ter outra pessoa na sala.
Especialmente alguém que foi treinado para saber o que dizer em situações como esta.
— ¿Como você está, Angela?
— Eu estou bem, estou bem. ¿Como você está?
— Bem, obrigado. Ei, quando terminar a visita com o campeão, você pode passar pelo meu escritório? É logo
ao fundo do corredor.
— Claro, — eu disse, tentando não pensar sobre o que isso significava.
Parecia uma chamada para o escritório do diretor, só que não seria eu que estaria em apuros. Seria meu pai.
O Dr. Kaller acenou para nós e depois voltou para o corredor, e eu voltei para o meu pai. Tentei recuperar a
sensação que tinha hoje cedo, pensando que poderia ser contagioso. Eu queria que meu pai sentisse
asendorfinas.
— Pai, adivinha só.
— O que eu sou, um bebê?, — perguntou ele, mas sorriu e me deu um aperto de mão.
— Escute, — eu comecei. — Meu amigo, Dustin, é um artista. Mas ele nunca tinha tido seu trabalho visto por
ninguém antes. Então eu o ajudei a planejar uma exposição de arte nesta galeria de arte do centro da cidade.
Foi ontem à noite! Todos adoraram, papai. Todo mundo adorou.
Meu pai olhou para mim, e eu vi as lágrimas se acumularem em seus olhos. Como se ele não acreditasse que
eu me tornasse esta pessoa, este adulto, que tenta coisas novas e conseguiu.
Ele estava olhando para mim da mesma forma que o fez em minhas cerimônias de formatura e em meus jogos
de vôlei, com o orgulho radiante de seu rosto.
— Olhe para você, — ele disse, e levou minha mão aos seus lábios. Ele beijou a parte de cima e eu não
conseguia me lembrar de um tempo em que ele tinha sido tão abertamente suave.
— Você é uma mulher. Você é sua própria mulher. — Eu me curvei novamente, e desta vez eu o segurei e não
soltei.
O Dr. Kaller olhou para cima quando eu bati na porta semi-aberta de seu escritório.
— Angela, entre.
Entrei e sentei-me, e ele apertou as mãos no colo.
— Os testes estão causando danos ao seu pai. Os medicamentos são fortes, mas por alguma razão, ele está
respondendo mais seriamente às complicações do que os outros.
— O que... o que isso significa?
— Seus sintomas são piores. E eles estão afetando sua qualidade de vida de forma bastante intensa. É claro
que é algo em que se deve pensar. Minha mente estava girando. Sua qualidade de vida?
— Então você está dizendo...
— Eu não estou dizendo nada. Não definitivamente. É algo que você e seus irmãos devem levar em
consideração, só isso. Se seu pai continuar piorando, talvez não valha a pena continuar por este caminho.
— Mas não há outro caminho, — eu disse, minha voz era mansa. —
Você acha que devemos apenas 'deixá-lo confortável'?
Eu repeti as palavras que ele me disse da última vez que conversamos.
— Ele é um guerreiro, — eu disse. E apesar de meu volume ser baixo, meu tom era outro.
O Dr. Kaller olhou para mim como se eu estivesse em uma ponte que estava prestes a ruir.
Angela: Ligue-me
Angela: 911
Angela: Lucas
Angela: Atenda seu telefone!
Angela: Eu preciso que você RESPONDA Angela: Lucas!!!
Lucas: Opa.
Lucas: Estou aqui mesmo.
Lucas: Por que você está assustadora? Pensei que tivesse dito que estava tudo bem.
Angela: SÓ ATENDA O SEU TELEFONE!
Lucas: Eu te disse que estou no restaurante.
Lucas: Você se assusta com nada.Lucas: Você disse que nos ama.
Lucas: Vamos ser felizes.
Angela: Do que você está falando?!!?
Lucas: Você está ficando louca sem motivo.
Lucas: Eu não posso fazer isso agora.
Lucas: O restaurante está ocupado.
Angela: Mds
Angela: Lucas
Angela: É sobre o pai.
Angela: NÃO sua vida amorosa!!!
Lucas: Ah.
Lucas: Merda
Lucas: ????
Angela: Ele está piorando.
Angela: O dr. disse que temos que pensar nas próximas opções.
Lucas: O que isso significa?
Lucas: Próximas opções????
Angela: Basta me ligar.
Angela: Quando você não estiver muito ocupado. Foi uma longa viagem de trem de volta. Toda a energia
positiva que eu tinha quando acordei esta manhã tinha se evaporado. As endorfinas tinham desaparecido há
muito tempo.
Agora era só eu e meus pensamentos. Meus pensamentos fumegantes.
Eu não podia acreditar no Lucas. Ele pensou que eu estava me assustando com ele e a Em, embora eu tivesse
dito esta manhã que iria superar isso! Ele me chamou de louca, disse que eu estava reagindo demais.
Mas foi ele quem fez tudo escondido, que começou algo com minha melhor amiga sem sequer me perguntar
primeiro.
Quais eram as regras para algo assim? Eu não sabia. Eu nem sabia quem saberia. Mas eu sabia que deveria ter
sido consultada em algum momento. E eu não fui.
Lá vou eu querendo clarear as coisas, eu pensei. Não estava com vontade de falar sobre nada com Lucas ou
Em agora, nem sobre a luxúria um pelo outro, nem sobre a exposição de arte. De alguma forma, a traição
parecia fresca.
E então meus pensamentos se voltaram para o meu pai. Como ele parecia fraco naquela cama de hospital,
como eu estava desesperada para ajudá-lo.
Não era justo que fosse ele quem estava passando por isso. Ele não merecia.
Pensei no Dr. Kaller e no que ele tinha dito. Que tínhamos duas opções: desistir ou fazê-lo suportar mais dor
por uma razão incerta.
Eu não tinha certeza do que era pior.
Eu me dispus a parar de pensar nisso. Não me faria bem, nem a mim nem ao meu pai, ter um ataque de
pânico no trem.
Parecia que minhas entranhas estavam tão enroscadas que poderiam implodir, mas mesmo tentando mudar
meus pensamentos de volta para a noite passada, para a exposição de arte, não estava ajudando. Então eu
virei minha cabeça para a janela e tentei me concentrar nas árvores que passavam tão rapidamente que mal
conseguia vê-las.
Quando voltei à cobertura, caminhei pelo elevador, entrei nocorredor e depois parei.
Ali estava Xavier, de costas para mim, debruçado sobre o balcão da cozinha.
Não senti a habitual falta de ar, o medo que vinha com a sua presença por perto. Talvez fosse porque eu
estava tão emocionalmente exausta depois deste dia ou talvez fosse porque ele era menos ameaçador
quando estava de costas para mim. Eu não sabia.
Ele não tinha camisa, e suas calças pretas estavam penduradas nos quadris. E então eu estava admirando seus
músculos das costas antes de poder me deter, o modo como seus ombros largos contrastavam com sua
cintura afunilada e seus quadris.
Ele tinha algum tipo de cicatriz desde o quadril esquerdo até o ombro direito que eu nunca tinha visto antes.
Por que você teria visto isso? Eu mesma me repreendi.
Ao vê-lo assim, nu e aberto, ele parecia quase vulnerável. Eu não sabia como ele não tinha me ouvido entrar,
com o ding do elevador e tudo mais, mas ele não tinha mexido um músculo desde o minuto em que eu
cheguei ali.
Eu me perguntava o que havia me possuído.
Será que eu estava tão desesperada por aquelas endorfinas que eu fui levada a olhar para o homem que tinha
sido tão consistentemente horrível para mim?
Sacudi a cabeça e entrei no corredor, tentando fazer meus passos mais altos para que ele percebesse que não
estava sozinho.
Mas à medida que eu me aproximava cada vez mais, ele permanecia na mesma posição. Eu estava quase na
cozinha quando vi os fones em seus ouvidos. Ah. Ele estava escutando música.
Antes que ele pudesse me ver, eu passei por ele e entrei em meu quarto.
A porta se fechou silenciosamente atrás de mim, e eu respirei fundo, deixando-a sair. Infelizmente, a confusão
do dia não saiu com ela.

Capítulo 23 Doce como o pecado

Xavier
Mas que porra é essa? Meus olhos estavam abertos agora, apesar de meu corpo estar gritando para que eu
voltasse a dormir. Parecia que eu tinha acabado de entrar na cama há alguns minutos.
Olhei ao meu lado, onde sempre havia uma ou outra mulher jovem.
Mas estava vazia.
Eu tentei abalar meu cérebro por um tempo e um dia. O que eu fiz ontem à noite? Vi meu celular, mas estava
do outro lado do meu quarto, na mesa do café, junto à poltrona. Isso foi muito mais longe do que eu estava
disposto a ir para encontrar as respostas.
Pense, eu mesmo fiz o pedido. Ontem à noite foi a exposição de arte.
Não, esqueça isso. A exposição de arte foi na quinta-feira à noite.
Ontem à noite... ontem à noite não saí do escritório até tarde. E quando eu saí, fui direto para Hatchback.
Certo. Esse era o bar onde eu tinha me encontrado com Graden para o happy hour há algunas semanas atrás.
Pensei em passar por ali, tomar algumas bebidas — ou mais algumas bebidas, devo dizer — e ver se aquela
bartender com covinhas estava trabalhando. Eu tinha aberto meu escritório com bourbon ontem cedo.
Eu precisava de algo para facilitar a banalidade da reunião da diretoria no final da tarde.
Cheguei ao Hatchback já carregado, tendo que me segurar no
corrimão da escada interna. Fui até o bar, coloquei minhas mãos sobre o balcão e me ergui direito.
Eu vi uma bartender morena, duas morenas... ah, a terceira era a vencedora.
Era a garota com quem eu tinha deixado meu cartão, que parecia serdo sul.
Eu a olhei fixamente até que ela olhou para mim, e quando ela olhou, suas covinhas apareceram. Ela estava
definitivamente sorrindo.
— Sr. Knight.
— Vim para encontrá-la, — eu disse, sem piscar os olhos. Se eu sabia uma coisa sobre falar com as mulheres,
era ser direto. Elas gostavam, e isso me levou aonde eu queria estar mais rápido.
— Veio mesmo? — perguntou ela, com os cílios dela tremulando. —
Eu esperava que você passasse por aqui para pegar seu cartão de volta, mas acho que seu assistente o pegou
para você.
— Marco. — Eu acenei com a cabeça. — Ele limpa depois das minhas trapalhadas.
— Você não me parece tão atrapalhado, — disse ela, brincando com o colar em seu decote.
Fácil.
Demais.
Perguntei a que horas seu turno terminava, e ela disse que teria que verificar o horário no escritório nos
fundos, e se eu gostaria de ir checar com ela?
Quando tomamos mais uns shots e colocamos nossas roupas de volta, eu já tinha bebido uísque suficiente
para impressionar um soldado irlandês.
Esta porra de ressaca.
E foi isso. Eu joguei as cobertas de cima de mim, não me importando que eu tivesse apenas com as cuecas em
que eu tinha dormido. Nadei no corredor e ouvi o som novamente.
Mas não havia ninguém lá.
Era como se minha mente estivesse pregando uma peça em mim. Eu fui até a cozinha, mas definitivamente
não havia ninguém lá. Fui até o corredor... e foi quando a vi.
Ela estava de cócoras, de costas para mim, com as mãos trabalhando rapidamente sob o armário abaixo da
pia. Mas eu não percebi isso primeiro.O que eu notei foi a camiseta branca de tamanho exagerado que ela
usava e que mal cobria o rabo. Suas longas pernas estavam completamente expostas, até as coxas.
Eu não entendia o que estava acontecendo. Eu sabia que a odiava, a mulher que não estava nem a um metro
de mim, minha esposa.
Mas eu não podia me afastar dela. Não quando ela estava vestida desta maneira. Meu Deus, controle-se, eu
mesmo ordenei. Você não tem doze anos, porra.
Eu limpei minha garganta. Sua cabeça se moveu para ver quem estava lá, e seus largos olhos focados nos
meus. Ela tinha olhos azuis, grandes e macios como os de uma criança.
O resto de suas características eram igualmente delicadas. Desde a leve curva de seu nariz até a cor rosada de
sua boca, era como se seu rosto tivesse sido desenhado.
Eu já estive com minha parte de mulheres bonitas, mas nenhuma parecia tão inocente quanto ela.
Ela mordeu seu lábio.
— Desculpe, eu o incomodei? — Sim, você incomodou. Mas algo veio sobre mim e, em vez de revelar a
verdade, eu tive um impulso para acabar com a preocupação dela.
— De jeito nenhum. Eu só vim buscar café e... o que você está fazendo?
— Oh, eu posso fazer um para você, — disse ela, de pé. — O marido de Lucille acabou de chegar, então ela foi
ao seu encontro. — Mas eu não estava prestando atenção nas palavras que saíam da boca dela, porque ela
tinha se levantado.
A camisa, embora curta enquanto ela estava agachada, agora mal cobria sua região pélvica.
Eu não sabia dizer se ela não sabia ou não se importava.
— Tudo bem, — eu saí, mas ela já estava se movendo, colocando o filtro na máquina de café e pegando um
pouco de café.
— Sei que você tem aquela máquina de café expresso chique, mas não sei como usá-la, então espero que você
não se importe apenas com o café normal.Eu a observei enquanto ela se movia, a camiseta chegando
perigosamente perto de me mostrar mais do que uma pequena amostra.
Ela virou a cabeça sobre os ombros e levantou as sobrancelhas, e eu percebi que eu não tinha respondido.
— Está ótimo. Ótimo. Ótimo, — eu disse, caindo sobre minhas palavras. O que estava acontecendo? Eu nunca
fiquei sem palavras. — O que você estava fazendo... uh, lá embaixo?
— Oh, o carburador estava apenas um pouco entupido. Lucille ia chamar o encanador, mas ele sempre
demora alguns dias para chegar, então pensei, por que não fazê-lo eu mesma?
— Você sabe como consertar o carburador?
Ela apenas mordeu o lábio e encolheu os ombros.
— Não é muito difícil. — Então ela abriu o armário acima de sua cabeça, aquele com os copos. As canecas
estavam na segunda prateleira, então ela teria que chegar até ela.
Quando ela começou a chegar, eu mesmo corri e agarrei as canecas, mas na pressa de manter suas áreas
privadas, er, privadas, eu não levei em conta o espaço pessoal.
Eu estava bem atrás dela, com a mão no armário, tentando pegar uma caneca.
E ela se surpreendeu com meus movimentos e, ao fazê-lo, se voltou para mim.
Assim, seu corpo mal vestido, aquele com as curvas que eu podia ver muito claramente, foi pressionado
contra mim.
Eu podia me sentir duro quase imediatamente, o que era estranho, porque nunca me senti tão duro tão
rapidamente, especialmente por causa de um contato tão limitado.
— Sinto muito, — disse ela rapidamente, Virando-se e apoiando-se no balcão. Mas isso não melhorou nada
porque agora eu tinha uma visão frontal completa dela.
Eu vi seus mamilos através da camiseta e pude ver a calcinha de renda branca que ela estava usando por
baixo.
Ela mordeu o lábio novamente, parecendo a mesma mistura nervosa e inocente que ela sempre teve quando
eu realmente prestava atenção.Baixei a caneca até o balcão sem tirar meus olhos dela.
Ela levou a mão até o pescoço e o coçou, e a camiseta subiu mais um centímetro, mostrando-me mais coxa do
que eu podia aguentar.
Sem esperar mais um segundo, eu mergulhei nela.
Eu agarrei seu rosto e a beijei, o beijo mais gentil e caloroso que eu já tinha tido há algum tempo.
Ela gostou tanto disso, que eu pude sentir.
Seus braços estavam envoltos em mim, mas mesmo assim, eu precisava estar mais perto. Então eu a abracei
com força e a levantei, suas pernas agora envoltas em torno da minha cintura.
O calor irradiava de seus quadris para minha virilha. Ela estava balançando, girando, e eu pensei que iria
perder o controle ali mesmo.
Meu Deus, parece que você tem doze anos, eu mesmo me castiguei.
Empurrei-a para o balcão e abri-lhe as pernas, entrando entre elas.
Então, comecei a sentir o que havia ali. Comecei pelos lábios dela, deixando-a beijar meu dedo indicador,
deixando-a levá-lo à boca. Ela chupou, me olhando bem nos olhos. Algo sobre aquela inocência, e aqueles
lábios... caralho. Segui minhas mãos para baixo, sobre seu pescoço e até seus seios.
Toquei seus mamilos através do tecido fino e ouvi um gemido escapar de seus lábios.
— Isso parece... agradável, — sussurrou ela, e havia algo de tão virtuoso na maneira como ela dizia. Como se
ela estivesse genuinamente surpresa.
Massageei seus seios mais intensamente e pus meu rosto para baixo e chupei um mamilo através da camisa.
Ela gemeu novamente, e eu estava pronto para tomá-la logo ali.
Mas eu sabia que ela precisava de mais. Ela merecia mais, pensei, e eu não tinha ideia de onde tinha vindo
esse tipo de pensamento.
Enquanto eu chupava o outro mamilo dela, comecei a puxar a camiseta dela para cima. Primeiro ela expôs a
parte superior da coxa, depois a calcinha, depois o estômago liso. Beijei sua barriga e tirei a camiseta de seus
seios, que depois também beijei.
Eu a puxei até o fim e observei como o cabelo comprido dela caía devolta depois. E então olhei para ela, nua,
exceto pela renda, e a urgencia ficou mais forte.
Ela estendeu a mão, tocando meu peito nu, e o contato me fez estremecer. Foi só então que percebi que
estava tão nu quanto ela.
Comigo apenas em minha cueca, ela teria sido capaz de dizer que eu estava excitado o tempo todo.
E depois estávamos nos beijando novamente, e eu estava brincando com a bainha da calcinha dela.
E então passei um dedo por cima dela e ouvi um gemido mais alto em resposta. Esfreguei-me em círculos,
cada vez mais rápido, até que seus olhos se fecharam e ela estava ofegante.
— Oh... oh meu Deus... oh meu Deus... — ela gemeu, e todo o corpo dela tremeu. Então seus olhos se
abriram, e ela mordeu o lábio. — Eu nunca me senti... assim antes.
— Você não? — eu perguntei, beijando o pescoço dela.
— Nada tão... intenso. — Isso me deixou ainda mais selvagem, sabendo que eu fui o primeiro a lhe dar essa
sensação. Depois senti a mão dela sobre mim, subindo e descendo o meu comprimento.
Lutei para me controlar, mas vê-la, senti-la, tudo isso estava se tornando demais.
Eu a levantei do balcão e a beijei profundamente enquanto me agachei no chão, depois me sentei, ela estava
se agachando.
Depois ela se inclinava e me beijava, e eu a agarrava, mas mesmo assim não era suficiente.
Eu me tirei de minha cueca e deslizei sua calcinha para o lado, e então eu estava lá dentro. Eu estava
empurrando, e ela estava encontrando cada empurrão com um movimento próprio, de alguma forma
tomando o atrito muito mais intenso.
Ela estava gemendo, e eu não conseguia parar de vê-la — a maneira como seu corpo se mexia, como ela
tocava seus próprios seios, seu próprio quadril — eu queria que aquela visão durasse para sempre.
Ela voltou para mim, com as mãos segurando meu rosto enquanto movia seus quadris para cima e para baixo,
para cima e para baixo.
— Isso parece... tão bom, — disse ela, com sua voz rouca.E alguns momentos depois, com seus movimentos se
acelerando e minha urgência conhecendo novas alturas, nós dois gritamos. Eu não conseguia me lembrar da
última vez que havia terminado assim.
O baque, o mesmo baque, fez com que meus olhos ficassem bem abertos.
E eu estava de volta na minha cama, no meu quarto. Olhei à minha volta, confuso. Então eu a vi ao meu lado.
A bartender. A do Hatchback, a que tem as covinhas. Ela estava de pé, olhando para mim, com a mão no
estômago.
Eu a empurrei para longe de mim, sabendo que se sua mão se movesse mais longe ela sentiria mais do que ela
esperava.
— O que é isso, — perguntou ela, sobre o som, mas agora o sotaque dela me incomodava.
— Você pode ir verificar?
Ela encolheu os ombros e acenou com a cabeça, saindo da cama.
Mesmo em sua calcinha preta e sutiã, com sua figura inacreditável e sua disposição de garota de república, eu
não estava pensando em transar com ela.
Ela abriu uma fresta na porta e chamou.
— Olá?
Ouvi os passos se aproximando. Depois a voz de Lucille.
— Desculpe, senhorita, estou fazendo pãezinhos.
— Que horas são, Lucille? — Eu gritei da cama.
— Dez e trinta, Sr. Xavier.
Eu suspirei enquanto a bartender fechava a porta e voltava para a cama, subindo por cima de mim e
espreitando para baixo.
— Estou pronta para mais diversão, — disse ela, mas meu foco não poderia estar mais longe.

Capítulo 24 Expectativas malignas

Xavier
A bartender ainda estava de joelhos, olhando para mim em sua lingerie quando ouvi o toque do elevador.
— Quem diabos é agora? — Eu resmunguei, sentando.
Ela colocou uma mão no meu peito.
— A empregada vai atender, não vai? — ela disse, seu sotaque piorou minha dor de cabeça.
Eu ainda estava pensando no sonho que eu tinha tido, aquele em que eu estava envolvido em uma cena de
sexo íntima, apaixonada e duradoura com minha esposa.
A esposa que eu odiava.
— ANGELA! XAVIER!
Merda. Essa era a voz do meu pai. Na sala. Fora do quarto onde eu estava atualmente dividindo a cama com
uma bartender quase nua, minha esposa dormia em um quarto diferente.
Saltei da cama e mexi para vestir o par de jeans mais próximo que pude encontrar.
— Você precisa ir, — eu disse a bartender, mal olhei para ela.
— Você está... você está falando sério?
Eu acenei com a cabeça.
— Agora.
— CRIANÇAS, É UM DIA AGRADÁVEL DEMAIS PARA VOCÊS DORMIREM TANTO!
Ele ainda estava no foyer pelos sons. Joguei uma camiseta e encontrei o vestido da bartender no chão,
atirando-o para ela.— Vai, vai.
Eu estava tentando pensar em uma maneira de levar Angela ao meu quarto — apenas pelas aparências, é
claro — quando vi o celular na minha mesa-de-cabeceira acender.
Angela: Seu pai está aqui.
Xavier: Eu sei, eu tenho ouvidos.
Angela: Ele vai saber que dormimos separados.
Angela: Ele não pode saber que...
Xavier: Eu sei.
Xavier: Estou tentando pensar.
Angela: Há uma garota com você que não deveria estar aí.
Xavier: Eu tenho que escondê-la.
Xavier: Onde está meu pai?
Angela: Acho que junto ao elevador ainda.
Angela: Se ele for para a cozinha você pode levá-la sorrateiramente para fora Xavier: Mas como vou levá-la até
lá.
Xavier: Precisamos fazer com que ele se concentre em algo.
Xavier: Além de nós.
Angela: Lucille está aqui.
Angela: Ela pode ajudar.
Xavier: Estou pensando.Angela: Eu posso ouvi-lo andando.
Xavier: EU SEI.
Xavier: Ainda pensando.
Angela: Ele não pode ver a garota, Xavier.
Estava pensando em como responder a isso quando houve uma batida à
minha porta.
Foda-se.
— Um minuto, pai! — Eu gritei, rachando meu cérebro para encontrar uma saída. Mas depois ouvi Lucille do
outro lado.
— Sou eu! Eu venho com uma toalha! — Corri para a porta e abri uma fresta, o suficiente para ver seu rosto e
pegar a toalha.
— A Sra. Angela teve uma ideia. Se faça de doente. Como um cão. E vá para o quarto dela. Eu tomo conta da
menina.
Ela passou por mim quando disse isso, olhando diretamente para a bartender tentando se fechar novamente
no vestido da noite passada.
Eu não tinha outra solução, então acenei e peguei a toalha. Antes de Lucille me deixar fechar a porta, ela
sussurrou: — Aja naturalmente e seu pai não vai perceber.
Eu balancei a cabeça. Aqui estava eu, de ressaca e recebendo conselhos de minha empregada. Quem diria que
este dia chegaria.
Eu fechei a porta e fui até o banheiro da suíte. Salpiquei água quente no rosto e esfreguei meus olhos até
ficarem vermelhos, e depois usei as duas mãos para bagunçar meu cabelo. Dei algumas bofetadas no rosto,
com força, tornando minhas bochechas rosadas.
Depois deslizei para fora do jeans que tinha acabado de vestir e encontrei um par de calças de moletom velhas
no meu armário. Estiquei o colarinho da minha camiseta até que ela parecesse abatida.
E eu dei uma olhada no espelho. Ótimo.
Voltei para o quarto. A bartender olhou para cima, chocada, cobrindo seu rosto.— O que aconteceu com
você? — Essa era a resposta que eu estava esperando. Agora eu convenceria meu pai e a menina a não se
sentirem tão chateados por serem expulsos.
— Estou doente, — eu disse, acompanhando sua bolsa até ela. — Eis o que vai acontecer. Você vai precisar ser
tão sorrateira quanto uma espiã...
— O quê? Por quê?
— Bem. Eu sou casado, — eu disse. — Mas você já sabia disso, então poupe o drama.
Seus olhos se alargaram. Eu não gostava de ser cruel com meninas que não o mereciam, mas ultimamente a
linha que determinava quem era estava indiscernível para mim.
Ela dormiu de boa vontade com um homem casado, então quão inocente ela poderia ser?
— Vou correr para a sala de estar e Lucille vai colocá-la no elevador.
Mantenha sua cabeça baixa até estar na rua lá fora. Entendeu? Quer que eu repita?
Ela parecia que ia chorar.
Quer ela fosse inocente ou não, eu não tinha tempo para lágrimas, então peguei a mão dela na minha e a
olhei bem nos olhos.
— Eu me diverti com você. Você é uma ótima garota. Agora eu preciso que você me ajude. Você pode fazer
isso?
Ela amoleceu, olhou para o chão e, em seguida, piscou os olhos para mim. Ela estava definitivamente quente,
então por que eu não sentí nada?
— Tá bom, — disse ela suavemente.
— Boa menina, — eu disse, e lhe dei um beijo na bochecha.
— Até a próxima vez. — E então eu amarrei a toalha molhada ao redor do pescoço e abri a porta, deixando
sair uma tosse intensa.

Angela
No segundo em que ouvi a tosse de Xavier, abri a porta do meu quarto.
Este teria que ser a performance de uma vida inteira.Eu não queria fazer nada para ferir Brad, e se ele
descobrisse a verdade sobre nossa situação de vida, sobre seu filho trazer para casa mulheres diferentes a
cada noite, ele definitivamente ficaria entristecido.
Então eu corri para o salão.
— Xavier! Estou chegando! — Ele parecia terrível. Seu rosto estava suado e vermelho, e eu nunca o havia visto
antes com roupas tão esfarrapadas. Ele continuava tossindo.
— Eu não — Ele parou para tossir — sei o que está acontecendo.
— Tudo bem, — eu disse, agarrando-o pelo braço e puxando-o para mais perto do meu quarto. — Vai ficar
tudo bem.
— Oh, querido, — ouvi Brad dizer por trás de nós enquanto nos seguia até o meu quarto. Senti os olhos dele
observando. — Posso fazer
alguma coisa?
— Tudo bem. Vou pegar o xarope para tosse... — Xavier soltou outra tosse enorme, e eu o embalei em meus
braços, esfregando seus braços. Eu costumava cuidar de Lucas quando ele estava doente, então isso não era
novidade para mim.
Xavier não parecia ser Xavier. Parecia apenas um garoto que precisava da minha ajuda.
Ele tossiu novamente.
— Xavier, vou só correr para o meu banheiro e pegar o...
— Besteira, — disse Brad. — Eu pego. Diga em qual gaveta está.
— Está no armário dos remédios! — Eu disse, e Xavier e eu fechamos os olhos. Brad estava quase no meu
banheiro quando vi Lucille correr da cozinha para o quarto de Xavier.
Ela estava sem dúvida guiando a pobre garota para dentro do elevador.
Ouvi os fracos sons de abertura e fechamento das portas do elevador e, alguns segundos depois, Brad voltou
com a garrafa em suas mãos.
— Bem aqui, — ele disse.
Eu não pude deixar de sorrir.
Todos nós nos mudamos para a sala, e depois da apresentação que acabamos de fazer, estando perto de
Xavier não nos sentimos tão hostis.Ele continuava me dando olhares estranhos, olhares que demoravam, mas
eu apenas encolhi os ombros.
Talvez ele nunca tivesse sido cuidadoso por alguém que não fosse pago pra isso — mesmo que ele estivesse
apenas fingindo estar doente.
— A razão de eu ter vindo, — começou Brad, sentado em uma poltrona de couro em frente a nós no sofá, — é
para dar aos dois um pouco de boas notícias. — Ele olhou de mim, ainda em meu pijama com meu cabelo em
rabo de cavalo, para seu filho de pele manchada.
— Vocês dois parecem que poderiam usar boas notícias. — Ele soltou um risinho.
— Lamento que tenha vindo em uma manhã tão difícil, — eu disse.
— Xavier me pediu para dormir no quarto de hóspedes ontem à noite para que eu não pegasse a gripe dele.
— Xavier olhou para mim, como se estivesse procurando algo em meu rosto. Então ele voltou para o pai dele.
— Não queria que ela ficasse doente por minha causa.
— Meus pombinhos, — Brad se acalmou. — Ok, o negócio é o seguinte. Xavier, você sabe sobre a quarta-feira
de gala.
Xavier acenou com a cabeça.
— Até lá já estarei melhor.
— Claro que estará! Angela, você também se juntará a nós.
A cabeça de Xavier levou um tiro.
— O quê? Pensei que era só você e eu na mesa.
— Era, — disse Brad. — Mas então Grant, você se lembra de Grant, ele decidiu trazer sua esposa junto. E o
resto dos meninos seguiram o exemplo. Então agora é menos uma mesa de negócios e mais uma mesa social.
Então, Angela virá junto. Se não se importar, querida.
— Claro, — eu gaguejei. Um evento de gala?
— Maravilhoso. É esta quarta-feira. Xavier lhe dará os detalhes. Tenho certeza de que ele está morrendo de
vontade de exibi-la. — Brad ficou de pé, batendo palmas uma vez.
— Vou embora agora, e deixo você voltar à sua recuperação.
Caminhei até ele e lhe beijei a bochecha.
— Obrigada por ter vindo, — eu disse.— Você vai adorar. Paris, no inverno. Não há nada mais romântico.
O que ele acabou de dizer! Eu olhei para Xavier, mas sua cabeça estava abaixada, olhando para o chão. Então
voltei para Brad.
— Paris? — Eu sussurrei.
— Xavier não lhe disse? É lá que é o evento de gala, querida. — Ele beijou minha outra bochecha e deixou
Lucille acompanhá-lo até o elevador. Quando as portas fecharam, olhei para Xavier, ainda em estado de
choque.
— Vamos a Paris?
— Por que você não disse não? — perguntou ele, imediatamente depois de eu ter falado. Ele parecia bravo.
Eu estava tão confusa. Eu pensava que estávamos nos entendendo.
Tínhamos acabado de usar o trabalho em equipe para convencer Brad de que estávamos realmente
apaixonados, então eu estava pelo menos esperando que fôssemos civilizados quando ele partiu.
Mas ele não tinha ido nem cinco segundos antes de Xavier começar a gritar comigo, como se tivesse
esquecido tudo o que eu tinha acabado de fazer por ele. Este era o Xavier que eu estava mais acostumada a
ver, aquele que me deixava nervosa.
— Você queria que eu dissesse não?
— Por que eu gostaria que você dissesse sim? — gritou ele, de pé. —
Esta era para ser uma viagem de negócios. Para assinar um acordo muito importante. E depois do negócio que
você arruinou, você e seu amigo artista, eu preciso que este seja perfeito.
Eu dei alguns passos para trás. Ele não estava fazendo nenhum sentido. Eu não sabia como responder.
— Eu... sinto muito.
— Você está arrependida?
— A ideia não foi minha, — eu disse calmamente, olhando para o chão. — Eu tenho coisas para fazer na
cidade na quinta-feira. Tenho uma entrevista para um trabalho. Agora eu não poderei ir a isso.
Mesmo que eu estivesse dando uma desculpa, era verdade. Eu tinha uma entrevista. Era em uma startup
tecnológica chamada Jumper.Era uma empresa pequena, mas que vinha se destacando no mundo da
tecnologia. Quando eu os procurei, eles não tinham ouvido falar de mim ou do meu chefe.
Ajudou que eu tivesse usado meu nome de solteira, é claro, mas mesmo assim. Fiquei entusiasmada pela
entrevista, pela oportunidade de me tornar útil a uma empresa que estava fazendo grandes coisas.
Mas agora eu teria que cancelar para poder ajudar os Knight. Quanto mais eu pensava sobre isso, mais
frustrada ficava. Mais um exemplo de que eu coloco minha vida de lado para que os Knight pudessem tirar de
mim o que precisavam.
E nenhum agradecimento em troca. Era como se todas as coisas que eu tivesse feito por eles passassem
despercebidas.
Pior do que passar despercebidas, ele gritava.
— Oh, pobre alma! Você não poderá ir a uma entrevista! Eu não poderei conseguir uma parceria
multimilionária de rebranding porque o Graden odeia você! Porque ele sabe que você é uma oportunista! Por
isso, preciso deste acordo de Paris para compensar TODAS AS COISAS QUE VOCÊ ESTÁ ARRUINANDO!
Eu senti as lágrimas chegando. Tentei apertar meus olhos para segurá-las, mas não adiantava.
— Você tem a audácia de reclamar por ter sido convidada, — disse Xavier, mudando de tom agora. — Você
deveria estar muito grata.

Capítulo 25 Nas nuvens

Angela
Eu estava tendo um daqueles momentos musicais. Aqueles em que você se sente de certa forma e tenta ouvir
música que a fará sentir algo mais.
Era terça-feira de manhã, e eu tinha que me encontrar com Xavier no aeroporto em uma hora.
Eu estava sentindo uma mistura de emoções: assustada, chateada, frustrada.
Assustada, porque a ideia de estar em uma cidade estrangeira sozinha com Xavier era uma ideia que eu nunca
tinha tido que enfrentar antes.
Perturbada, porque desde que Brad tinha vindo no domingo, Xavier não tinha nem mesmo olhado para mim,
muito menos pedido desculpas.
Era como se ele estivesse me evitando ativamente.
Apesar de ter sido ele quem gritou comigo, que me assustou, foi como se me ver fosse muito difícil para ele.
E frustrada porque eu ainda estava irritada, já que minha vida tinha
que esperar sempre que Brad ou Xavier precisavam de mim e que Xavier nunca reconheceu que era difícil para
mim também.
Mas debaixo de todas essas emoções, não pude deixar de me lembrar que eu estava indo para Paris. Eu estava
indo para a única cidade que toda garotinha sonhava em visitar.
E eu tinha que ir.
Na verdade, a música estava ajudando a aumentar minha animação.
Eu estava dobrando as blusas em uma mala que Lucille trouxe para mim e até me senti dando um pouco de
brilho no refrão.
Eu havia contado ao papai sobre minha viagem pelo telefone ontem à noite, mas não havia falado com mais
ninguém. Meu pai parecia estar com um som rouco e fraco, assim como quando eu o visitei na
semanapassada.
Mas ele ainda era meu pai, continuava a contar piadas sobre eu comer pernas de sapo.
— Se eu não ouvir você coaxar quando você voltar, ficarei desapontado, — ele disse.
Eu queria ligar para Lucas e dizer-lhe, mas as coisas ainda estavam estranhas.
Tínhamos conversado brevemente sobre nosso pai, prometendo marcar uma hora com Danny e o Dr. Kaller
para rever todas as opções, mas o Dr. Kaller tinha recomendado manter o pai nos testes até o final do mês.
Portanto, não tínhamos necessidade de nos vermos.
Decidi que ligaria para ele assim que voltasse a Nova Iorque. Ele era meu melhor amigo, meu irmão, e eu
sentia falta dele. Enquanto ele estava feliz, eu estava feliz.
Em, por outro lado, tinha me ligado muito. Tínhamos falado algumas vezes esta semana, mas toda conversa
tinha sido curta. Eu não fiz nenhuma pergunta urgente, nem ela deu respostas detalhadas.
Assim, fingimos que tudo estava normal e que nada tinha acontecido.
Mas por alguma razão, embora tenhamos falado no domingo à noite, eu não lhe havia contado sobre Paris.
Percebi que eu queria que alguém além do meu pai ficasse entusiasmado por mim, para compartilhar minha
pequena animação.
Então eu peguei meu celular e enviei uma mensagem de texto para ela.
Angela: Tenho novidades.
Angela: Grandes novidades.
Em:?????
Em: Manda
Angela: Começa com um 'P'...
Em: Xavier vai ser PAPAI?!?Angela: MDS
Angela: NÃO
Angela:!!!!!!!
Em: Então eu preciso de uma dica melhor
Em: Paris?
Em: Oh, meu DEUS!
Angela: P... A... R... I... S...
Em: PARIS!?!?!?!
Angela: Sim!
Angela: Estou saindo em uma hora.
Em: Angie
Em: Costumávamos sonhar com Paris
Angela: Eu sei!
Angela: Estou entusiasmada
Em: Como estão as coisas com o Xavier?
Angela: Estão... ok
Angela: Com seus altos e baixos.
Em: Ao menos você terá Paris.
Cheguei ao aeroporto e encontrei Marco esperando por mim junto às portas do Terminal 3.— Pronta?, —
perguntou ele, tirando minha mala rolante de mim. Eu acenei, e começamos a caminhar para um elevador
junto à parede lateral.
O elevador era tripulado por um ascensorista com um terno preto, usando óculos escuros, mesmo estando
nós dentro do prédio. O homem apenas acenou com a cabeça para Marco e apertou o botão para baixo.
Marco e eu descemos com o elevador, e depois as portas se abriram.
Andamos pelo chão até chegarmos a umas portas, e Marco manteve uma aberta para mim enquanto
andávamos do lado de fora. Estávamos em uma pista de decolagem, isso estava claro.
Vi um Range Rover estacionado e, a alguns metros à sua frente, um jato. Eu não podia acreditar. Ninguém
tinha me dito que estávamos pegando um jato. Marco andou à minha frente, e eu corri para acompanhar.
— Isso é... isso é só para nós?
Ele olhou para mim e sorriu. Xavier já estava subindo as escadas para o jato quando o alcançamos. Eu olhei
para Marco, e ele me pediu que o seguisse. Então eu comecei a subir.
Fiquei sem palavras. O interior do jato estava imaculado, como nada que eu já tivesse visto antes. A última vez
que estive em um avião eu tinha sete anos de idade.
Minha mãe e meu pai haviam me levado, Lucas e Danny para a Flórida para ver nossos avós. Os pais de minha
mãe moravam lá, e tínhamos passado um fim de semana com eles.
Lembro-me do voo ser aterrador, com muita turbulência. Eu não tinha voltado a bordo de um avião desde
então. Mas isso, isso não parecia um avião. Parecia um palácio futurista, com assentos de couro caramelizado
e cobertores em cima.
Até mesmo as comissárias de bordo pareciam celebridades. Olhei em volta e vi Brad em uma cadeira, uma
máscara de olhos sobre seu rosto.
— Eu não estou dormindo, — ele disse, como se me sentisse olhando.
Ele tirou um canto da máscara dos olhos. — Oi, querida.
— Olá! — Eu disse.
— Xavier foi para o quarto para dormir um pouco. Você pode se juntar a ele, se quiser. — Eu estremeci com a
ideia de dividir uma camacom Xavier no meio do céu... Eu nem conseguia pensar nisso.
— Tudo bem, eu fico aqui fora com você.
— Escolha qualquer lugar que quiser. — Sentei-me ao lado de uma janela e apertei bem o cinto de segurança.
Eu não podia acreditar que, em poucas horas, eu estaria em Paris.

Xavier
Aterrissamos em Paris e entramos no Mercedes G-Wagon que estava esperando no asfalto, acelerando
diretamente para o hotel. Era o meio da noite aqui, e eu estava pronto para chegar à cidade.
Não me importava que eu deveria mostrar a cara amanhã de manhã.
Paris não dormiu, assim como eu também não. Quando paramos, entrei no hotel sem esperar pela Angela.
Meu pai levou um carro separado para o hotel, então eu não precisei me preocupar com suas perguntas. O
que foi bom porque eu não suportava mais estar no mesmo espaço que ela.
Depois daquela noite, daquele sonho, eu tinha tido mais dois sonhos como aquele. Era como se ela não
deixasse meu subconsciente em paz. E eu também não conseguia me afastar dela quando estava acordado.
Eu a queria fora da minha cabeça e fora da minha vida. Eu sabia que não gostava da garota. Eu sabia que ela
era uma pequena oportunista que só se importava com uma coisa — usando o que os Knight tinham a seu
favor.
Então eu não sabia porque uma parte de mim estava tão visceralmente cativada por ela.
Eu sacudi esses pensamentos e peguei a chave do quarto do atendente da recepção.
— Obrigado, — eu disse, virei e me dirigi para o elevador. Entrei na suíte e estava colocando minhas coisas no
quarto principal quando a porta se abriu.
Era Angela, com os olhos mais fechados do que nunca.
— Oh. Estamos no mesmo quarto.— Claro que estamos, — eu soltei. — Meu pai fez os preparativos.
— Certo, — disse ela. — Desculpe.
— Este é meu, — eu disse, e depois fechei a porta para não ter que vê-la mais. Ouvi-a empurrando a cabeça
para os outros quartos, tentando encontrar outro.
Eu tirei a roupa que havia usado no voo e vesti uma roupa diferente e depois voltei para a área principal da
suíte.
— Eu vou sair. O evento de gala é amanhã às sete e meia.
A porta dela se abriu e ela espreitou para fora.
— Entendi, — disse ela suavemente.
Fizemos contato visual por um momento e depois abri a porta da frente e caminhei pelo corredor.

Angela
Eu estava em meu quarto na suíte do hotel, olhando pela janela. Era a manhã seguinte, e me senti refrescada
quando acordei. Eu nem tinha ouvido Xavier chegar em casa depois de uma festa. E agora, eu estava olhando
para a cidade que estava diante de mim.
Claro, era triste que eu estivesse na cidade do romance sozinha. Mas eu não queria ficar pensando nisso.
Brad: Estou na sua porta.
Brad: Abra, por favor.
Eu aconcheguei meus cabelos ondulados atrás das orelhas e corri para fora do meu quarto até a porta da
frente da suíte. Abri e lá estava Brad, parecendo muito europeu em um blazer azul.
Ele beijou minhas duas bochechas e depois me entregou um envelope.
— Querida, bem-vinda a Paris, — ele disse, pronunciando Paris à maneira francesa.
É— É incrível, — eu soltei.
— A primeira vez sempre é. — Ele piscou o olho. — Pegue isso. Vá para o endereço no cartão. — Eu abri o
envelope e encontrei um cartão de visita em branco, com um endereço rabiscado no verso.
— O que é isso?
— Um mundo totalmente novo, — ele disse, apertando meu braço. —
Encontre um vestido para você. Para hoje à noite, — acrescentou ele, depois se virou.
Eu o vi desaparecer pelo corredor e não pude deixar de me sentir entusiasmada. Brad sempre me fez sentir
como uma princesa, mesmo quando seu filho me fazia sentir como um sapo.
Dei mais uma olhada no quarto do Xavier, pensando se ele estava lá dentro.
E então saí para o corredor, com a bolsa no ombro e o cartão de visita na mão. Ia encontrar um vestido.
Quando cheguei ao endereço, vi que se tratava de uma loja de roupas especializada. Os mais sofisticados e
intrincados vestidos que eu já tinha visto.
Quando me apresentei à senhora chique atrás do balcão, a que tinha cabelos grisalhos e com batom vermelho
brilhante, ela me olhou de cima a baixo. Depois ela deixou rolar um sorriso lento pelo rosto.
— Bom, — disse ela. Ela começou a puxar os vestidos para baixo e colocá-los no trocador, que era mais como
uma suíte.
Ela me trouxe uma taça de champanhe para beber enquanto trabalhava, e quando tinha o número de vestidos
com os quais estava feliz, ela tirou a taça das minhas mãos.
— Você. Vá, — disse ela, apontando para o trocador. Ela me entregou o primeiro vestido, uma obra-prima
sem alças amarelo pálido que era elegante e original ao mesmo tempo.
Ela me ajudou a colocá-lo, e quando estávamos olhando para ele no espelho, ela arranhou o nariz e deu um
abanão na cabeça.
— Próximo.
E esse foi o processo. Ela me ajudava a vestir um vestido, a coçar o nariz, a abanar a cabeça e a voltar para a
prancheta de desenho. Até queexperimentei o preto. Era de veludo preto, o que soava estranho, mas ao vê-
lo... uau.
Foi espetacular. Apertou meu corpo, mas ainda estava confortável. E quando a senhora o viu, sua mão foi até
o coração e ela arfou. Eu sabia que era esse.
Ela o embalou e o levou para a frente.
— Tenho o cartão de Monsieur Knight no arquivo, — disse ela e me deu um par de stilettos pretos em uma
bolsa separada. — Você usa isso.
Eu acenei com a cabeça.
— Certo. Obrigada.
A senhora estava apenas imprimindo o recibo quando outra vendedora, mais jovem, com um cabelo loiro e
olhos verdes brilhantes, veio até o registro.
Ela disse algo à senhora em francês, o que eu não entendi. Mas então ouvi a senhora responder, com a
palavra "Knight" na frase.
A menina loira disparou seus olhos de volta para mim, me olhando de cima a baixo de uma forma que me fez
sentir violada. Então ela riu e se voltou para a senhora que me ajudou.
— Não. — Ela riu novamente, a senhora bateu em seu braço, e então a garota foi embora. Eu não sabia o que
tinha acabado de acontecer, mas a endorfina deixou meu corpo tão acelerado quanto chegou.
Eu peguei a sacola de roupa e de sapatos da senhora.
— Obrigada, — eu disse, com meus olhos no chão enquanto eu saía correndo da loja. Eles provavelmente
estavam falando sobre como o vestido não deveria ser usado por uma pessoa como eu.
Como se não enganasse ninguém, no evento de gala, em Paris, ou em qualquer lugar. Todos podiam ver que
eu não pertencia a este lugar.
Capítulo 26 Atrasado para o riso

Angela
Angela: Estamos indo juntos?
Angela: Para o evento de gala?
Angela: Xavier
Angela: Olá?
A suíte do hotel estava vazia quando voltei, e Xavier não estava respondendo às minhas mensagens. Eu me
preparei em meu quarto, sozinha, pensando que quando eu terminasse, Xavier já estaria de volta de onde
quer que estivesse.
Eu sabia que ele tinha amigos em Paris, que ele tinha negócios a fazer, mas não esperava que ele me
abandonasse completamente no segundo em que chegássemos aqui.
Vamos, Angela, eu mesma me repreendi. É claro que Xavier Knight a abandonou.
Já estava com o vestido agora, e eu me olhava no espelho. Mesmo depois do banho quente que tomei, ainda
não me sentia como se o tecido merecesse me cobrir.
Fechei os olhos e tentei me convencer a sentir novamente os sentimentos que havia sentido da primeira vez
que me vi usando o vestido no espelho. Na loja, no trocador gigante, com a vendedora chique ofegando em
aprovação.
Naquele instante, eu me sentia digna.
Puxei meus cabelos na frente de meus ombros, levando minha ondulação naturalmente macia até logo abaixo
da linha do pescoço do vestido. Apliquei algumas pinceladas de rímel e coloquei um pouco debálsamo labial
para acrescentar um pouco de umidade.
Estavam secos desde o voo. Depois verifiquei o relógio.
Eu estava ficando sem tempo para esperar que Xavier voltasse para a suíte. O evento de gala era lá embaixo,
no salão de baile, mas eu tinha que tomar uma decisão.
Eu poderia esperar que ele voltasse, e possivelmente ser castigado por Brad por estar atrasado, ou poderia
descer a tempo e ser castigada por Xavier por não esperar por ele. Até eu sabia que maridos e esposas,
inclusive aqueles que não estavam exatamente apaixonados, deveriam entrar juntos nesses eventos.
Ponderei minhas opções. Eu tinha sido castigada por Xavier quase todos os dias desde que nos casamos.
Embora não fosse a coisa mais agradável de suportar, muitas vezes terminando comigo em lágrimas, não achei
que fosse tão doloroso quanto o desapontamento de Brad.
Brad sempre foi gentil comigo, como se acreditasse em mim, e eu não queria que isso desaparecesse. Eu
queria que ele continuasse a ter orgulho de mim como nora.
Então peguei minha bolsa, endireitei minha aliança e saí da suíte do hotel às sete e vinte e seis da noite.
Assim que as portas se abriram, vi um homem usando um terno e um fone de ouvido sinalizando para eu
atravessar o conjunto de portas à minha direita. Virei minha cabeça, conseguindo ver mais três homens de
terno com fones de ouvido, um na frente de cada um dos elevadores.
Este vai ser um espetáculo e tanto, pensei eu.
— Mademoiselle?, — o homem designado para o meu elevador disse impacientemente. Sua mão continuou
apontando para as portas atrás dele.
— Desculpe, — eu disse, andando o mais rápido que pude nos saltos de dez centímetros que a vendedora
tinha me dado. Meus pés já estavam apertados, mas consegui chegar inteira até as portas. E então as
empurrei para abrir.
Por dentro, parecia um casamento real. O salão de baile era enorme.
Tentei perceber onde terminava, mas parecia o horizonte. Cada vez que eu pensava entender onde estava em
relação a ele, o final parecia ficarmais distante.
Para onde quer que eu olhasse havia lustres dourados, peças centrais douradas, joias de ouro.
Havia um tapete dourado à minha esquerda e um grupo de pessoas lindas em roupas inimaginavelmente
bonitas esperando sua vez de descer por ele.
Em frente ao tapete, havia uma fila de fotógrafos, suas câmeras piscando com a pressa de touros atacando um
toureiro.
Outro homem com um fone acenava para eu entrar. Olhei em volta freneticamente. A ideia de ser fotografada
sozinha, com todos os olhos e lentes dos fotógrafos sobre mim, era aterrorizante.
E então eu o vi.
Sempre em frente, falando com um bando de mulheres impossivelmente magras. Ele estava usando suas
mãos para fazer grandes gestos, parecendo tão animado como sempre. Daqui eu podia ver o sorriso em seu
rosto. Eu não podia acreditar.
Ele tinha vindo para o evento de gala sem mim.
O homem com o fone de ouvido diante de mim se virou para ver o que eu estava olhando, e não deve ter tido
problemas para perceber que era Xavier.
— Você quer que eu vá buscar seu marido para que vocês possam tirar uma foto juntos, Madame Knight?, —
perguntou ele, com um sotaque francês forte.
— Uh... isso seria... ótimo, — eu disse, sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas sob o olhar daqueles ao
meu redor. Então o homem saiu correndo para trazer Xavier até mim, e eu esperei as palavras inflamadas que
eu sabia que ele diria quando chegasse.
Aguente firme, eu me instruí. Era apenas uma noite. E foi para Brad.
Eu vi que o homem tinha chegado a Xavier e estava apontando para mim. Eu desviei meus olhos quando eles
começaram a caminhar na minha direção e, sem querer, olharam para um homem de meia-idade, baixo e
robusto, vestindo uma gola rolê preta debaixo de seu terno trespassado.
Senti os cabelos em meus braços se levantarem por uma razão quenão pude nomear. Talvez tenha sido a
intensidade com que ele olhou para mim.
Voltei para a frente da sala, a tempo de ver Xavier dar os últimos passos até mim.
— Oi, querida, — ele disse, alto o suficiente para que aqueles ao meu redor pudessem ouvir. Ele beijou ambas
as minhas bochechas. — Você está linda.
— Obrigada, — eu disse. Embora parte de mim soubesse que era só para disfarçar, as palavras que saíram de
sua boca ajudaram a elevar a minha confiança. Era quase nossa vez de caminhar no tapete, e a senhora
encarregada de organizar todos saudou Xavier pelo nome.
— Bem-vindo de volta, monsieur, — disse ela, ignorando-me completamente. Eles trocaram algumas palavras,
e então ela o dirigiu para o centro do tapete. Ele me olhou de volta, segurando sua mão com expectativa.
Eu nunca tinha ficado tão feliz em pegar a mão do meu marido. Ele olhou diretamente para as câmeras e deu
seu rosto de sempre: meio sorriso com uma mandíbula fixa, olhos levemente esguios.
Depois de um segundo de observação do que ele estava fazendo, tentei sorrir o melhor que pude. Eu não
queria exagerar, mas também não queria parecer que não estava me divertindo. Por isso sorri genuinamente,
com a boca fechada.
Depois do que pareceu uma vida inteira, Xavier me tirou do tapete.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, um casal mais velho nos parou, nos cumprimentando.
— Xavier! Ela é adorável, — exclamou a senhora, me medindo.
— Obrigada, — eu disse, com olhos no chão. Eu sentia que ia ter uma overdose de atenção.
— Você se saiu bem, filho, — disse o homem, batendo no ombro de Xavier.
— Eu tento, Grant. Você sabe disso. — O casal riu.
— Pensamos que você estaria em nossa mesa? — perguntou a mulher.
— Eu também pensava assim, mas meu pai teve uma reorganização de última hora. Parece que queria todas
as crianças na mesa das crianças.— Nesse caso, é melhor você me guardar uma dança, Xavier, — disse a
mulher enquanto afastava seu marido.
— Vou reservar três pra você, — respondeu ele, piscando. Ele estava em seu habitat.
— Vamos para a mesa, — ele me disse, decolando na direção das mesas redondas que cobriam a maior parte
do espaço.
Ao nos aproximarmos daquela mesa em que muitas das meninas com quem o vi falar antes estavam sentadas,
senti as palmas das minhas mãos suarem. Essas meninas pareciam modelos, como o tipo de mulheres que iam
ao Pilates e namoravam celebridades.
O tipo de mulher que não ficaria deslocada ao lado de Xavier em um tapete dourado.
Todas elas se viraram quando chegamos à mesa, e Xavier na verdade levou um tempo para me apresentar.
— Senhoras, — começou ele, — esta é Angela. Minha esposa.
As mulheres olharam de Xavier até mim. Eu mantive minha respiração — seus olhos cobriram cada centímetro
de mim enquanto eu esperava — e então, finalmente, aquela sentada mais próxima de onde estávamos,
começou a bater palmas.
Calma. E então as outras mulheres, todas elas se juntaram a nós.
Até que todas as quatro, com seus vestidos de grande comprimento, estavam aplaudindo. Eu estava confusa.
Estavam me aprovando? Ou estavam zombando de mim?
Esta era uma estranha saudação de costume na França?
Mas então a líder falou.
— Ela é belle, — ela zombou, apesar de eu achar que sabia que a belle era uma coisa boa. Como linda. Xavier
sorriu, como se estivesse na brincadeira, e puxou uma cadeira para fora para sentar.
Olhei para ele por algum tipo de explicação, mas quando ele sentiu meu olhar, voltou-se para mim e disse:
— Venha, sente-se. — Então eu puxei o assento ao lado dele e senteime.
As mulheres tinham começado a falar entre si novamente, a maispróxima de Xavier puxando-o para a
conversa, e eu novamente fiquei do lado de fora. Um garçom apareceu atrás de mim e disse algo em francés
que eu não entendia.
Eu não queria ser objeto de mais atenção, por isso acenei com a cabeça para ele. Ele repetiu as mesmas
palavras novamente, e eu abri a boca, mas nada saiu.
— Ela terá o Grigio, — a mulher ao lado de Xavier falou ao garçom.
Fui humilhada, me chutando por não ter apenas pedido que ele falasse inglês. Todos falam inglês. O servidor
acenou com a cabeça e caminhou até o balde de gelo que segurava duas garrafas, trazendo uma e servindo-
me um copo.
Eu tomei um gole, meus nervos estavam inquietos.
— Calma, senhora, — disse a líder em voz alta do outro lado da mesa.
— Este fica nervoso quando sua mulher fica bêbada. — Ela piscou o olho, olhando para Xavier.
Senti minhas bochechas queimarem pela milionésima vez. Será que ela estava insinuando que ela e Xavier
tinham...?
— Não seja ruim, Darla, — respondeu Xavier, chutando uma perna sobre a outra e inclinando-se para trás em
sua cadeira.
— Por quê? É assim que você gosta de mim, não? — Ela piscou o olho de novo. As mulheres todas riram. Eu
não podia acreditar nela, nem nelas. Eu estava sentada aqui do lado. Ele era meu marido.
— Com licença, — eu disse calmamente, empurrando minha cadeira para trás e deixando a mesa. Eu precisava
de algum espaço para respirar.
Havia um bar junto à parede, e estava bem vazio. Eu passei por cima e pedi um copo de água com gás. O
barman o trouxe quase imediatamente, mas antes que eu pudesse agradecê-lo, senti uma mão no ombro.
— Essa não é uma bebida forte o suficiente para uma senhora tão bonita, — disse o homem de antes, o de
gola alta, com um sotaque francês forte.
Olhei para sua mão, ainda descansando em cima do meu ombro nu.
— Tudo bem, — eu respondi. Agarrei minha bebida para me afastar, mas sua mão apertou minha mão.
— Não posso convencê-la a tomar uma bebida comigo...— Talvez mais tarde, — eu disse, encolhendo os
ombros. Eu não queria ser rude, mas havia algo nele que fazia meus sentidos ficarem em guarda. Peguei meu
copo e caminhei ao redor da circunferência do salão de baile, absorvendo durante todo o tempo todos os
detalhes que tinham sido arranjados.
Quando voltei para a mesa, já havia cestas de pão e manteiga. Tomei meu lugar, as mulheres e Xavier ainda
estavam de conversa.
Deixe-os falar. Eu teria um pedaço de pão, pensei, e peguei a cesta.
Ao deixar cair um pãozinho fresco em meu prato e espalhar um pouco de manteiga sobre ele, fiquei tão
preocupada com o cheiro bom que não percebi que a conversa ao meu redor havia parado.
Eu trouxe um grande pedaço de pão para a minha boca e mordi — estava delicioso — mas depois ouvi a
mulher mais próxima de Xavier dizer:
— Ela come pão?
Eu engoli, olhando para as mulheres que me olhavam com repugnância. Nenhuma delas estava comendo.
Nem mesmo Xavier estava.
— Sua esposa, — começou a líder, olhando diretamente para meu marido. — Ela estará gorda antes que você
perceba.
— A gordura é melhor que ser brega, — outra se intrometeu.
— Pelo menos quando você é brega, você não está roubando o dinheiro de outro.
Meus ouvidos começaram a zumbir. Sangue correu para o meu rosto.
Eles estavam falando de mim.
E assim abertamente, sem vergonha alguma. Os insultos continuavam vindo, cada um pior do que o último, e
Xavier apenas sentado ali, um sorriso em seu rosto.
Sempre pensei que meu marido seria um homem que me defenderia, que me protegeria e que se asseguraria
que eu estivesse longe do perigo.
Mas em vez disso, meu marido apenas tomou outro gole de seu vino gelado e riu junto com as mulheres que
não comeram pão.

Capítulo 27 Sob Ataque

Angela
Era um borrão. Eles estavam rindo, todos eles, e eu me sentia como se estivesse em um palco com um
holofote gigante sobre mim, com o público capaz de ver meus pontos mais fracos, de apontar minhas
vulnerabilidades, sem muito esforço.
Eu nunca havia sido objeto de tal intimidação antes. Não que eu tivesse sido popular no colegial — nem de
longe — mas nunca fui aquela em quem as crianças legais concentravam sua atenção.
Eu era quieta e desaparecia facilmente, então fazer troça de mim não teria sido muito divertido.
Mas aqui, em um lugar como este? Eu fiquei sem chão. Eu sabia que neste vestido, com esta multidão, eu
parecia que estava tentando desesperadamente me encaixar. E eu tinha me casado com Xavier Knight, que
era a pièce de resistance da elite.
Portanto, eu era um alvo fácil. Mas mesmo assim, eu não podía acreditar que eles me tratavam assim.
Estávamos fora do colegial. Eles não deveria ter previsto isso?
Eu estava no banheiro, no banco para deficientes. Normalmen te eu nunca ficaria ali porque isso não era justo
para as mulheres em cadeira de rodas que realmente precisavam, mas era uma emergência.
As lágrimas tinham começado a vir quando eu estava correndo o mais rápido que meus calcanhares podiam
me carregar para fora do salão, e a única coisa em que eu podia pensar era que eu precisava de um lugar
seguro para me esconder.
O banheiro para deficientes era o único aberto, portanto era minha única opção. Eu não podia ter mais
nenhum dos participantes do evento tirando sarro de mim, então saltei para dentro e tranquei a porta o
maisrápido que pude.
Angela: Em
Angela: Está aí?
Em: Sim, na loja.
Em: Apenas ajudando um cliente, vc está bem?
Angela: Sim...
Angela: Eu estou bem
Eu não sabia porque não disse a verdade a Em, que eu era o motivo de riso de toda a cidade. Que eu
obviamente não pertencia a esse mundo, como eu vinha dizendo o tempo todo.
Que meu próprio marido teria derramado sangue de porco sobre mim se isso fizesse parte do plano que as
meninas tinham conspirado.
Mas então percebi que era porque nunca tinha sido humilhada desta maneira antes. Nunca tinha ficado tão
envergonhada e constrangida, ao ponto de falar se tornar uma dificuldade tão grande.
Pensei que minha bússola moral, e minha adesão a segui-la, garantiria que eu pudesse sempre ficar de pé e ter
orgulho de minhas ações. Mas aqui estava eu, em um banheiro para deficientes, soluçando porque tinha
comido um pouco de pão.
Tirei um lenço de papel do rolo e sequei minhas bochechas. Estava cansada de me sentir mal comigo mesma.
E parecia que o tempo todo eu tinha conhecido os Knight, que era tudo o que eu tinha feito.
Eu assoei meu nariz com o papel higiênico e decidi que era o suficiente.
Chega de sentir pena de mim mesma.
Acabei com esse coitadismo.
Eu estava aqui por Brad, e era apenas uma noite. Consegui usar um vestido fabuloso e estar rodeada de ouro
em todos os lugares que olhava.Então eu empurrava a humilhação para o lado e eu coloquei um sorriso no
meu rosto, e talvez se eu tentasse o suficiente, eu pudesse me enganar e me divertir um pouco.
Eu reapliquei meu bálsamo labial, e depois saí do banheiro. O banheiro estava cheio quando entrei, mas agora
estava vazio. Talvez isso fosse um sinal de que ninguém mais se meteria comigo.
Caminhei até o espelho e, colocando minhas mãos sobre o mármore frio do balcão, me olhei nos olhos.
— Você é Angela Carson. — Eu balancei a cabeça. Eu teria que ser real comigo mesmo.
Eu comecei de novo.
— Você é Angela Knight, — eu disse. — E você vai superar isso.
Eu o disse com uma intensidade tão calma que eu, surpreendentemente, acreditei nas palavras. Certifiquei-
me de que não havia rímel sob meus olhos, e depois saí do banheiro.
Brad, de smoking, saiu do banheiro dos homens quando eu emergi.
Eu o vi primeiro.
— Olá! — exclamei, e ele me viu, um enorme sorriso crescendo em seu rosto.
— Angela, — declarou ele, me pegando pela mão e me girando. —
Você é simplesmente arrebatadora.
— Obrigada, — eu disse, corando novamente. Mas, desta vez, por uma boa razão.
— Não, obrigado. Por ter vindo. Eu sei que Xavier está agradecido por você estar aqui.
Mordi a língua antes de poder contar-lhe qualquer história sobre meus companheiros de mesa.
— Claro, — eu disse em seu lugar. — Eu conheci algumas de suas amigas.
— Oh, as senhoras? Sim, ele as conhece desde a escola preparatória.
As melhores da França. Venha, venha, eu a acompanho de volta à mesa.
Meu estômago se espreitava, mas eu ergui a cabeça e aceitei o cotovelo de Brad enquanto andávamos através
das mesas. Quandochegamos à minha, Brad limpou sua garganta.
Havia um refrão de "Olá! Brad!" e "Prazer em vê-lo"!
E depois de inclinar-se sobre cada mulher e ter tido uma breve conversa com elas, Brad deu tapinhas nas
costas de Xavier, beijou sua mão e acenou, e então ele saiu para conversar com outro participante. As
mulheres voltaram sua atenção para mim.
— Para onde você foi? — perguntou a líder.
A mulher ao lado dela bateu algumas vezes na narina e depois levantou a sobrancelha para mim, como se ela
estivesse implicando algo que eu não entendia.
— Uma drogada, também? — perguntou-lhe a mulher ao lado de Xavier.
— Ah, sim, — respondeu a líder. — Isso faz sentido. Ela usa o dinheiro para as drogas. Classique, não?
Tudo o que eu tinha dito a mim mesma no banheiro foi embora. Eu não podia mais estar nesta mesa, nem por
mais um segundo.
Então eu peguei minha bolsa na parte de trás da cadeira e fui embora, ouvindo as mulheres e o riso de Xavier
atrás de mim. Eu não sabia para onde estava indo, mas sabia que precisava sair de lá.
O jantar ainda nem tinha sido servido, mas era demais. O vestido apertado e estes malditos sapatos estavam
dificultando o movimento para além de um ritmo de caminhada, mas eu estava determinada a sair da sala o
mais rápido que podia.
Finalmente entrei pelas portas e estava de volta ao elevador, mas parei, vendo Brad falando com um dos
homens de fones em frente aos elevadores.
Ele estava tendo uma conversa animada, e eu não queria que ele me visse partir.
Voltei para as portas que abriam a gala. Não pude voltar para dentro, de jeito nenhum. Olhei em volta,
tentando manter meus movimentos lentos e sutis para que Brad não me visse no canto do olho dele.
Eu vi uma porta. Não sabia aonde ela levava, mas neste momento, não me importava. Abri-a o mais
silenciosamente que pude e a fechei da mesma maneira. Agora eu estava em um corredor, e o segui até outra
porta. Empurreia e entrei no que parecia ser outro salão de baile, só que este era menor e não decorado.
Havia uma dispersão de mesas e cadeiras, um pequeno palco e um bar. Estava escuro, e estava vazio. E uma
sala vazia era tudo o que eu realmente precisava.
Sentei-me no chão, contra a parede, e deixei cair as lágrimas. Desta vez, não tentei detê-las.
Poucos momentos depois, a porta do salão de baile se abriu, e eu vacilei enquanto a luz entrava. Quando a
porta se fechou e meus olhos se ajustaram à penumbra, eu percebi que era o homem da gola rolê.
— Olá, — ele disse, aproximando-se de mim. — Eu o vi sair, e você parece tão... tão triste, que pensei em vir
para ter certeza de que você está bem.
Ele se ajoelhou na minha frente, e acho que viu as lágrimas.
— Oh não! Oh não, linda senhora, por que as lágrimas?
— Eu estou bem, — eu disse, farejando. Eu tentei me levantar, mas ele colocou suas mãos sobre meus joelhos
e me empurrou de volta para o chão.
— Você não está em condições de sair, mademoiselle, — começou ele.
— Diga-me. Diga a Jacques o que está errado.
— É que... não estou me sentindo muito bem, — eu disse, notando que suas mãos ainda estavam sobre meus
joelhos.
Seus polegares estavam se movendo em círculos agora, subindo lentamente pelas minhas pernas. Tentei
novamente me levantar, mas suas mãos eram muito pesadas, empurrando-me para baixo.
— Eu estou bem. Vou procurar meu marido agora.
— Oh, seu marido? É por isso que você não quer tomar a bebida comigo?
— O quê? Oh... não... eu só... eu não estava com muita sede.
— Não minta para Jacques, — ele disse, me encarando com a mesma intensidade de antes.
Eu estava mais do que desconfortável agora. Seus olhos escurospareciam assombrosos, e esta sala estava tão
vazia. Eu senti suas mãos alcançarem minhas coxas.
— Por favor... por favor, pare, — eu disse, tentando tirar as mãos dele.
— Parar o quê?, — ele disse, e lambeu os lábios.
— Você é tão magnífica. Você irradia. Desde o momento em que te vi, hmmm, — ele disse, e sem nenhum
aviso prévio, ele se espreitou para frente, pressionando seu corpo contra o meu.
Os lábios dele estavam no meu pescoço, e eu estava gritando com a minha cabeça contra a parede, longe
dele.
— Pare! Pare! — Eu gritei, mas não adiantava.
Todo o peso dele estava em cima de mim, e então sua mão veio ao meu rosto para puxá-lo de volta para baixo
para que seus lábios pudessem encontrar os meus. Eu me senti como se estivesse debaixo d'água, me
afogando, vendo a cena em câmera lenta em algum lugar fora do meu próprio corpo.
— MMMMMM, — eu tentei gritar, mas era como se seus lábios
estivessem colados aos meus.
Eu estava procurando algo no chão ao redor, qualquer coisa que eu pudesse usar para tirá-lo de cima de mim.
Foi quando eu me lembrei dos meus sapatos.
Estiquei o máximo que pude, e ele apenas gemeu em resposta, à medida que mais do meu corpo foi sendo
pressionado contra ele. Eu estava quase alcançando, então consegui, meus dedos se fecharam ao redor do
salto e o tirei do meu pé.
Ele estava se mexendo e gemendo, e todas as células do meu corpo gritavam de agonia.
Levantei o sapato e, com toda a força que pude reunir, enfiei o salto na parte de trás de seu pescoço.
Seus olhos se abriram e ele soltou um — AAHHH!
Suas mãos se moveram para a parte de trás do pescoço para verificar a gravidade, e eu o empurrei com tudo o
que tinha, correndo para a porta.
Eu não olhei para trás, não enquanto corria pelo corredor lateral, não enquanto corria pela primeira porta e
entrava no elevador, e não enquanto as portas do elevador se fechavam, mantendo-me seguradentro de mim.
Eu não podia processar o que tinha acabado de acontecer.
Tudo o que eu sabia era que tinha que voltar para a suíte, agora.
O elevador finalmente chegou ao meu andar, e eu corri pelo corredor até estar em frente à porta da suíte.
Enfiei o cartão-chave na fechadura e pulei de pé em pé até que a luz verde piscou.
Foi só então que percebi que havia deixado um dos sapatos no salão de baile.
Uma vez lá dentro, desmaiei contra a parede, afundando no chão.
Estava tremendo insanamente, minha mente estava girando, e sentia que vomitaria a qualquer segundo.
Eu toquei meu corpo a procura de ferimentos. Meus lábios se sentiram inchados pelo contato, mas fora isso,
eu estava bem.
De repente, tive este desejo avassalador de estar tão longe deste vestido quanto humanamente possível.
Estava se tomando claustrofóbico, sua forma de apertar meu corpo e a espessura de seu tecido.
Eu precisava sair.
Eu mesmo o desabotoei, ali mesmo, e o deixei no chão.
No meio da suíte em minha roupa íntima, finalmente senti que podía respirar.

Capítulo 28 Surpresa, Surpresa

Xavier
Eu me senti mal com a maneira como Darla e o resto das meninas francesas trataram Angela?
Sinceramente, sim.
Darla era a maior filha da puta que eu conhecia, e nem mesmo a garota que se abanava no meu dinheiro
merecia esse tipo de tratamento.
Mas ao mesmo tempo, era como se fosse o reino animal. Era preciso apenas deixar as mulheres correrem
umas contra as outras até estarem cansadas o suficiente para vir para a cama.
Darla e eu, tínhamos tido uma caso na escola preparatória. Era casual, nunca mais do que sexo. Para mim, de
qualquer forma. Mas ela parecía nunca ter superado isso.
Assim, enquanto ela era uma cuzona para todos, ela era uma cuzona com um lado de raiva incontrolável e
cheia de ciúme para qualquer garota que eu trouxesse comigo. Angela deixando a mesa havia sido uma vitória
em seus olhos.
Ela mandou o garçom trazer uma garrafa de champanhe para a mesa, e uma vez que ela a abriu, estávamos
fazendo o pedido em dois minutos.
Eu havia esquecido como eram os franceses — eles podiam beber.
Tomei meu terceiro copo e me inclinei para trás, absorvendo a mesa.
Mulheres bonitas em todos os lugares.
E claro, elas podiam beber. Mas eu também podia.
Cerca de uma hora depois, quando a mesa estava repleta de chocolate e soufflés Grand Mamier, eu vi meu pai
caminhar até nós.
— Senhoras, — ele disse, e então ele tomou um lugar na cadeira vaga de Angela. — Onde está Angela?
— Ela não estava se sentindo bem. Uma enxaqueca, — respondi sempausas.
— Ah, que pena, — ele disse, abanando a cabeça.
— Pobre garota. Ela é realmente uma boa garota, Xavier.
— Eu sei.
— Você sabe? — ele disse, com seu olhar sem pestanejar. Eu acenei com a cabeça. Dois poderiam jogar este
jogo.
— Ótimo, — continuou ele, — porque tenho uma surpresa para vocês dois. Vamos, vamos até a suíte e dar-lhe
a notícia.
— Já? Ainda mal terminamos a sobremesa.
— Sua esposa está em sofrimento, Xavier. Você não estar com ela já é espantoso. — Então terminei o copo de
Pinot Grigio que Angela mal havia tocado, e segui meu pai para fora da gala.
A desgraçada, ela realmente arruinou tudo.

Angela
Eu estava no banho, há o que parecia ser um século. Eu havia tomado banho primeiro, precisando tirar toda a
grosseria de cima de mim, vendo como a água quente batia na minha pele e se juntava aos meus pés.
Quando me senti limpa, empurrei a rolha para o ralo e me sentei, vendo a banheira encher.
E eu estava aqui, sentada na água fervente, desde então. Sentia-me bem, com o calor. Como um lembrete de
que meu corpo ainda podia sentir, que ainda estava intacto.
Fechei meus olhos. Talvez eu ficasse aqui para sempre. Xavier provavelmente nem notaria. Minhas mãos
foram para os joelhos, onde o francês havia primeiro colocado suas mãos. Depois subi pelas minhas pernas,
até minhas coxas, da mesma forma que as mãos dele o fizeram.
Por mais difícil que fosse lembrar, eu não queria esquecer. Mesmo depois de tudo o que havia acontecido com
Lemor, este era um novo sentimento para mim. Eu nunca tinha tido alguém, um homem, colocando suas mãos
em mim daquela maneira.
Enfiei minhas unhas na pele pálida das coxas. Eu queria me lembrardesse tipo de dor. Esse tipo de desamparo.
Para que cada vez que eu estivesse prestes a reclamar de ter um dia ruim, ou ouvir alguma garota estúpida me
insultar, eu me lembraria de como era o verdadeiro terror.
— Olá? Angela?. — Meus olhos se atreveram a olhar a porta fechada do banheiro. Isso soou como o Brad. Por
que ele estava aqui? Eles tinham ouvido o que tinha acontecido? Quem teria dito a eles? Quem mais viu?
Apressei-me para tirar o plugue do ralo e me enrolei uma toalha de hotel. Em seguida, abri a porta.
— Eu estava apenas tomando banho, — eu disse, ouvindo minha hesitação na voz. Essas foram as primeiras
palavras que eu disse em voz alta desde o salão de baile.
— Não se apresse, vamos esperar, — Brad falou de volta. Entrei em meu quarto e encontrei um roupão
pendurado no armário, pelo qual troquei a toalha. Sentindo-me adequadamente coberta, entrei na área
comum.
Tanto Brad quanto Xavier estavam sentados, e olharam para mim quando eu entrei.
— Como você está se sentindo? Você já tomou alguma coisa? —
perguntou Brad.
— Não... não, eu acho que vou ficar bem. Só um pouco de descanso. É tudo o que eu preciso.
— É claro, vou deixá-los a sós em um momento. Mas primeiro... —
Ele fez uma pausa, tirando algo do bolso do casaco. Parecia um daqueles chaveiros turísticos que se podia
comprar no aeroporto, mas eu não conseguia perceber quais eram as letras.
— São Tomás? — disse Xavier, esticando seus olhos para o chaveiro.
— São Tomás! É uma ilha, uma ilha privada, no Caribe, — exclamou Brad, claramente entusiasmado. — Praias
de areia branca, océano límpido e um dos melhores resorts do mundo.
— Estou confusa... — Eu disse, a seguir.
— Eu também, — Xavier completou.
— Vocês vão lá, — disse Brad, levantando-se e abotoando seu blazer.
— Vocês dois. Vocês partem amanhã, e vão pegar o jato. Feliz lua-de-mel, — ele disse com um piscar de olhos,
e depois caminhou até a porta.— O quê? Amanhã? — perguntei, minha voz tremia.
— Isso é impossível. Tenho outra reunião com o gerente da propriedade amanhã...
— Errado. Estou assumindo a reunião no seu lugar. Seu casamento, seu amor, que vem primeiro.
Um painel de fúria cobriu o rosto de Xavier, mas desapareceu um segundo depois.
— O jato sai às nove horas da manhã. Não deixe Jack esperando. Você sabe como ele fica com atrasos. — E
então a porta se abriu e fechou, e Brad se foi.
— Jack? — foi a única palavra que pude dizer.
— O piloto, — disse Xavier, de pé. Ele jogou um travesseiro contra o chão. — Isso é uma farsa.
— Eu sei, — eu disse. — Eu... eu concordo, — acrescentei.
— Você concorda? Bem, isso me deixa tão contente, — ele disse, pingando sarcasmo de sua língua. Então ele
viu algo junto à porta. Eu segui seu olhar e senti meu estômago cair. Ele caminhou até ele, lentamente, e o
pegou.
Meu vestido.
Eu sabia o que ele ia dizer antes de abrir a boca.
— Presumo que este seja o seu vestido, — ele disse.
Eu acenei com a cabeça. Era tudo o que eu conseguia.
— E você simplesmente... deixou-o. No chão.
— Xavier, deixe-me explicar, — sussurrei, as lágrimas voltaram a vir.
Foi surpreendente que eu ainda tivesse lágrimas. Ele se aproximou mais de mim, e ainda mais, e depois deixou
cair o vestido sobre meu ombro.
Eu estava esperando pelos gritos, pelas palavras duras e pela crueldade. Mas em vez disso ele sorriu para mim,
não mais do que um centímetro entre nós. O sorriso era frio e sinistro, como se tivesse algum significado fora
do meu entendimento.
E com mais um segundo dele mirando em mim, me olhando, com nada mais do que aquele sorriso sinistro,
senti como se tivesse algoerrado.
E então ele se virou e saiu pela porta, da mesma forma que seu pai havia feito. E novamente fui deixada
sozinha, com apenas os pensamentos que corriam ao redor de minha mente.
De alguma forma, as armas silenciosas eram piores do que as que gritavam com facas jogadas em minha
direção; foram elas que rasgaram a minha pele e deixaram sua marca bem no meu coração.
Eu estaria em lua-de-mel com um homem que me odiava. Rastejei até a cama, acariciando as enormes
almofadas ao meu redor. Fechei meus olhos.
Parte de mim estava entusiasmada em ir dormir porque qualquer sonho seria melhor do que hoje. Mas a
outra parte de mim se dispôs a ficar acordada. Porque quanto mais cedo eu adormecesse, mais cedo eu seria
confrontada por Xavier.
Em um jato só para nós.
Eu acordei com suor frio. O edredom estava meio fora da cama, e os travesseiros haviam sido espalhados ao
meu redor. Ou eu estava lutando contra um fantasma durante o sono ou meu sonho não havia sido melhor do
que os acontecimentos de ontem.
Eu vi a luz entrar pela janela e virei para o relógio: 8:37 da manhã.
Tudo o que eu queria fazer era ficar na cama, assistir a um filme e fingir que o mundo lá fora não existia.
Mas em vez disso, eu tinha vinte e três minutos para fazer as malas e me encontrar com Xavier lá fora, onde
um carro nos levaria a um jato que nos levaria a uma ilha.
Eu nunca tinha temido algo tão luxuoso em minha vida. Saltei da cama e, tirando um par de jeans e uma
camiseta de manga comprida da minha mala, tirei o roupão de banho.
Vesti as roupas e, em seguida, eu fui até o banheiro para verificar meu rosto. Meus olhos ainda estavam
vermelhos, como se eu não tivesseparado de chorar, e não tinha energia para me maquiar. Então amarrei meu
cabelo com um laço no topo da cabeça e dei o dia por terminado.
Eu levei minha mala até o saguão sem esperar para ver se Xavier ainda estava na suíte. Eu tinha aprendido
minha lição ontem: ele não ia esperar por mim, não importava o destino.
No meu caminho através do foyer, meus olhos se atreveram a dar a volta por todos os lados. Eu estava com a
paranoia de encontrar o homem francês com a gola rolê, então eu estava agradecida pela atividade matinal
que acontecia ao meu redor.
Mesmo se eu o visse, não estaria sozinha.
Funcionários e hóspedes do hotel passaram pelo lobby em alta velocidade, tomando café e conversando
alegremente. O homem não podia tentar nada aqui. Mas eu não o vi, e consegui chegar até o carro da frente
sem nenhuma interrupção.
O motorista colocou minha mala no porta-malas e depois me ajudou a entrar no banco de trás, e assim que
Xavier saiu do saguão e saltou para dentro do carro, estávamos a caminho.
Nos dirigimos direto para o asfalto, e o motorista me ajudou a sair do carro. Ele levou minha mala até o
pessoal do aeroporto, que, por sua vez, a carregou para o jato.
Subi as escadas da mesma forma que tinha feito em Nova Iorque, novamente atrás de Xavier. Quando cheguei
ao interior do jato, esperava ter a mesma reação ohmeudeus.
Mas em vez disso me senti dormente, como se nada mais pudesse me surpreender ou me impressionar.
Tomei o mesmo lugar que tinha no caminho para Paris, e Xavier foi para o quarto sem dizer uma palavra para
mim.
— Patricia, você se importa? — ele perguntou a caminho de lá. Uma bela atendente de bordo com cabelo
ruivo correu atrás dele, desaparecendo no quarto.
Fechei meus olhos. Ainda dormente.
O avião decolou pouco depois e, desta vez, eu estava muito menos preocupada. Talvez tenha sido por ter
passado por tanto horror nas últimas vinte e quatro horas que viajar milhares de milhas acima detodos os
outros foi uma mudança bem-vinda.
Ou talvez fosse porque eu estava me adaptando mais rápido do que eu pensava.
Estávamos voando há cerca de seis horas, e eu estava terminando umsaco de batatas fritas, quando ouvi o
piloto falar pelo intercomunicador.
— Sr. e Sra. Knight, este é Jack, seu capitão. Só queria avisá-los sobre uma possível turbulência a que estamos
a caminho, devido a um tempo estranho que se instalou de repente.
Ele foi interrompido pela queda rápida do meu estômago. Parecia que o avião tinha acabado de mergulhar por
mil milhas, como se eu estivesse na parte assustadora da montanha-russa, mas não havia nenhuma pista
abaixo.
Procurei por alguém que me dissesse que isso era normal. Mas Patricia não tinha saído do quarto de Xavier e a
outra comissária de bordo não estava em nenhum lugar à vista.
Voltamos a cair. Minha respiração começou a ficar mais rápida. E depois caímos novamente, desta vez por
ainda mais tempo.
A voz de Jack retomou,— ... mais do que o esperado, peço desculpas pelo...
E então estávamos pulando para cima e para baixo, como se o céu fosse um trampolim, e na próxima vez que
olhei pela janela, vi uma chama vindo da asa do avião.
Isso não é bom.
Isso não é normal.
A outra comissária de bordo saiu correndo de uma área na frente do jato, seus brincos dançavam
agressivamente com seus movimentos.
— Vista isto, — ela gritou comigo, jogando um colete salva-vidas na minha direção.
Meu coração estava batendo fora de controle quando deslizei minha cabeça pelo colete laranja. Eu não sabia
o que estava acontecendo, e então o avião caiu novamente, e antes que eu pudesse me deter, eu estava
vomitando no assento ao meu lado.
E então caímos novamente, mas desta vez, não paramos.Meu estômago estava todo na minha garganta, meus
olhos estavam fechados e imaginei que estava em um daqueles passeios de parque de diversões que te
levantavam e depois te deixavam cair.
Tudo estava escuro. Eu não sabia se isso era porque meus olhos ainda estavam fechados ou porque não havia
mais nada para ver. Não sentia o ponto de impacto e não podia dizer se sentia alguma dor.
Tudo o que eu sabia era que tudo tinha acabado quase tão rapidamente quanto tinha começado.

Capítulo 29 Descoberta solitária

Angela
Meus olhos se abriram lentamente, um de cada vez, e imediatamente senti uma dor abrasadora em minha
perna. A minha direita. Minha mão se movia em direção à dor, e sentia algo molhado. Tinha que ser sangue.
Tudo era um borrão. Eu tinha embarcado no jato com Xavier. Ele foi para o quarto com a aeromoça, eu estava
na cadeira... e depois caímos... e a asa estava pegando fogo...
Percebi que minha cabeça, deitada, estava olhando diretamente para o céu.
Eu não estava mais dentro de nada. Virei minha cabeça para o lado, depois para o outro lado, e meu entorno
ficou bem claro.
O jato estava bem ao meu lado, mas eu estava em uma praia.
— Olá? — Eu chamei, ainda na mesma posição. Eu estava de costas, com medo de me mexer por medo de
agravar meus ferimentos. Eu tinha visto os programas médicos na TV.
Eu sabia que o choque tinha uma maneira de mascarar a dor que você sentia. Minha perna latejou, como que
para dizer, você pode me sentir, não é mesmo?
Eu me empurrei para cima, nos cotovelos, e olhei em volta. Eu não vi ninguém perto de mim. Na verdade, eu
não vi ninguém. O que eu vi foi o avião, monstruoso no tamanho de perto, e percebi a sorte que eu tinha tido.
Se eu tivesse caído um metro mais perto, eu teria sido enterrada debaixo dele. Mas de alguma forma eu caí do
céu apenas com uma perna machucada.
Finalmente espreitei a minha perna, mordendo o meu lábio. Eu nãoera boa com sangue, mas sabia que teria
que ser eu mesma a cuidar disso.
Especialmente se eu estivesse sozinha aqui.
Sempre fui eu quem estava em casa para cuidar de Lucas ou Danny quando eles estavam doentes ou quando
precisavam ser levados às urgências por causa de uma lesão esportiva.
Eu os tinha visto levar pontos suficientes para conhecer o procedimento. E quando olhei para a incisão em
minha coxa, ela se parecia muito com uma ferida que precisava de pontos.
Consegui sair do meu próprio corpo e cuidar do corte como se pertencesse a outra pessoa. Tirei minha
camiseta de manga comprida e a enrolei em volta da coxa, tentando estancar o sangramento. Mais tarde eu
encontraria algo para me costurar.
Eu decidi tentar ficar de pé. Havia mais quatro pessoas no voo, e todas elas tinham que estar em algum lugar.
Comecei a mancar, um passo de cada vez, ao redor do avião.
Eu estava assustada com o que iria encontrar. Rezei para que não houvesse corpos, mas depois revisei minha
oração para dizer que não houvesse cadáveres. Eu queria todos os corpos vivos que eu pudesse conseguir.
— Tem alguém aqui? — Eu chamei novamente, minha voz sendo um forte contraste contra o silêncio da ilha.
Era assombroso estar aqui e não ver uma alma. Eu continuava andando pelo jato, não encontrando nada nem
ninguém.
Meu celular tinha desaparecido, e eu não tinha nenhuma fonte de alimento ou água. Pensei no que eu sabia:
que uma pessoa podia ficar três dias sem água e trinta dias sem comida antes de sucumbir à desidratação ou à
desnutrição.
Você estará fora daqui antes disso, eu mesma assegurei. Xavier Knight está desaparecido. Eles virão.
— Xavier? — Eu gritei, com saudades dele pela primeira vez na minha vida. Comecei a voltar para a ilha, onde
estavam as árvores.
Eu estava caminhando através das árvores, tecendo dentro e fora delas, quando cheguei ao final, encontrando
mais areia e água do outro lado. Caí na areia, sentindo seu calor me aquecer do frio da brisa dooceano.
Olhei ao meu redor. Era o oposto da cidade de Nova Iorque, com a correria de pessoas, tráfego, edifícios altos
e um fluxo infinito de atividades.
Como diabos eu acabei aqui?
Há pouco tempo atrás eu era uma garota normal, tentando viver em Nova Iorque.
E agora...
Agora eu era a esposa de um bilionário apenas em nome, encalhada em uma ilha deserta. Eu estava ferida,
assustada e completamente sozinha.
Eu olhei para o céu azul brilhante e vi uma nuvem solitária passar preguiçosamente.
Se apenas eu pudesse flutuar na brisa e ser livre...
Uma brisa suave passou por cima de mim e eu senti uma calma repentina assentar em meu peito.
Talvez tenha sido melhor assim.
Aqui fora, eu não precisava mais me preocupar com nada.
Sem mais paparazzi intrometidos ou redes de notícias tentando escavar minha vida privada ou inventar
mentiras sobre mim.
Sem mais olhares esnobes ou abusos da elite rica com os quais eu nunca teria me dado bem.
Acabaram-se os maridos abusivos que me odiavam.
Sem mais vender minha alma por contas hospitalares que eu nunca poderia pagar.
Chega de mentir para mim mesma...
Fechei os olhos, e me senti à deriva junto com a maré.
— Angela...
Meus olhos se abriram e me sentei tão rápido que minha cabeça girou.
Aquela voz...
Olhei em volta, com esperança a encher meu peito.E lá estava ele. Olhamos de relance, seus olhos mais azuis
que as profundezas do oceano diante de mim.
— Xavier, — eu solucei. Talvez por fim conseguiríamos sair desta ilha.
Mas então Xavier desmaiou.
Eu me mexi, ignorando a dor na minha perna. Tropecei em direção ao local onde ele estava de barriga para
baixo na areia.
Antes que eu pudesse me deter, minhas mãos estavam sobre ele, rolando-o para me encarar.
Suas costas estavam agora tocando a areia, e seu rosto estava cinzento. Ele tinha um grande galo na testa e
uma lesão ao seu lado. Seus olhos estavam fechados, e seus lábios secos como o deserto.
— Xavier, — eu sussurrei. Ele parecia morto. Tentei sentir seu pulso, mas minhas mãos tremiam tanto que não
conseguia sentir.
Então eu coloquei minha bochecha até sua boca e esperei para sentir um sopro. Esperei pelo que parecia ser a
eternidade, segurando minha própria respiração para não perder nada.
Nada.
Eu respirei fundo e tentei sentir o pulso novamente. Desejei que minhas mãos parassem de tremer.
Por favor, por favor, por favor..
Mas eu não conseguia sentir nada. Nem um único batimento.
Lágrimas brotaram em meus olhos.
Xavier se foi...
Capítulo 30 Quem resgatou quem?

Xavier
Estou morto.
Eu não tinha certeza onde estava, mas sabia disso com certeza.
Eu estava flutuando em um vazio sem fim e escuro. Eu não podia sentir meu corpo. Eu nem tinha certeza se
ainda tinha um.
Era só eu, sozinho, com meus pensamentos disformes.
Flashes de memória se desdobraram em minha mente.
O rosto da mulher que eu amava. A mulher que havia partido meu coração.
A angústia da traição.
O golpe do desgosto do coração.
O calor de fúria que consome tudo.
A raiva voltou a mim agora, aqui nos meus momentos finais. Pude senti-la me queimando.
Então é assim que termina...
Lembrei-me de ver Angela na praia antes que meu corpo desistisse.
Seus cabelos brilhavam dourados ao sol, seus olhos refletiam o oceano cintilante ao nosso redor.
Uma pancada de arrependimento me atingiu.
Eu a tinha tratado como merda. Pior que merda, na verdade. E, sinceramente, ela não merecia nada disso.
Engraçado como a morte finalmente colocou tudo em perspectiva quando já era tarde demais.
Eu me rendi à escuridão, me deixando ir...
Mas então eu senti algo. Uma suave pressão sobre meus lábios. A sensação era como uma brisa refrescante,
respirando vida em meus pulmões, enchendo meu coração.
Meus olhos se abriram. Respirei fundo, com um sopro agitado.
E eu estava olhando nos olhos de um anjo.

Angela
— Graças a Deus, graças a Deus, — eu disse. Coloquei a cabeça de Xavier no colo, tirando os cabelos dos olhos
dele.
— Ang... — Ele começou a tossir violentamente.
— Shh, — eu insisti. — Não tente falar. Descanse um pouco.
Mas Xavier parecia determinado a falar. Eu franzi a sobrancelha de preocupação. O que era tão importante
que ele tinha a dizer?
— Obrigado... — ele disse, mas mal era um sussurro.
Ele fechou os olhos, e por um segundo eu temi o pior. Mas a constante movimentação em seu peito levou
esses pensamentos para longe.
Ele está mal.
Ele tinha um corte feio na testa, e parecia que seu ombro estava deslocado. Fiz uma careta quando coloquei
seu ombro de volta em um movimento. Arranquei um pedaço da minha camisa para fazer uma tipoia para ele.
Olhei novamente ao redor da ilha deserta, uma nova determinação me enchia.
Eu não estava mais sobrevivendo apenas por mim. Tinha que lutar tanto por mim quanto por Xavier, pelo
menos até ele acordar.
Eu nunca o havia visto tão indefeso, e parte de mim até gostava de ver este lado humano dele.
Quando ele estava com dores, quando estava ferido, ele era como o resto de nós.
Deixei Xavier na areia para tentar nos encontrar comida. Eu sabia que o sol ia se pôr logo, e estava preocupada
com o quanto ele estava pálido.
Então, olhei em volta, analisando minhas opções. A floresta pareciapoder abrigar um bando de diferentes
tipos de animais, mas eu sabia que com minha perna não poderia correr ou lutar se eles não aceitassem bem a
ideia de serem comidos. Por dois intrusos humanos, nada menos que isso.
Por isso, eu fui para o mar.
Afundei-me na água, gostando da maneira como o líquido frio salpicava minhas pernas. Toda a areia que se
agarrou aos meus tornozelos saiu no segundo em que entrei nas ondas, e me senti imediatamente limpa.
Percebi que, se eu fosse pescar algum peixe, precisaria ir mais fundo.
E eu ia precisar de uma espécie de arma.
Então, voltei para a margem e encontrei a árvore mais próxima. Eu peguei um pequeno galho que estava bem
perto da minha cabeça e raspei sua ponta contra a árvore até que ele ficou parcialmente afiado.
Então eu tirei meus jeans, não querendo deixá-los encharcados. Se estivesse frio à noite, eu ficaria feliz em ter
um par de calças secas para vestir.
Armada com minha lança improvisada, voltei para a água. A água salgada me machucou no início. Doeu tanto
que eu gritei, gritando para o céu, enquanto as lágrimas caíam livremente.
Mas era um tipo diferente de dor. O tipo de dor que me fez sentir livre, como se eu não tivesse que esconder
o que estava passando.
Talvez fosse a situação ou o ambiente em que eu estava, mas eu senti que merecia chorar e gritar aqui tanto
quanto eu queria. Depois que a dor diminuiu e meus olhos secaram um pouco, eu abaixei todo o meu rosto
debaixo d'água.
Voltei para a superfície, esfreguei os olhos e depois comecei a nadar até o mar.
Assim que fui mais fundo, decidi mergulhar e ver com o que eu estava trabalhando. Mantive meus olhos
abertos, e após alguns momentos, eles se ajustaram à queima do sal.
Eu vi um peixe do tamanho da palma de um homem adulto.
Eu apunhalei-o de imediato, minha lança atravessando seu pequeno corpo. Quando emergi, levei a lança até
meu rosto em choque.
Lá estava ele, meu peixinho. Eu tinha encontrado comida para nós sozinha.
Meu pai vai adorar esta história, pensei eu, e então percebi que esta história começou quando meu avião caiu.
Então talvez ele não adorasse tudo isso.
Segurando minha lança como um troféu, voltei para a costa.

Xavier
Meu corpo inteiro estava pulsando com um tipo distinto de dor, como quando você acorda após uma noite de
muita festa e sente cada órgão dentro de você reclamando. Isso era o que estava acontecendo comigo agora.
Meu corpo inteiro sentiu o peso do acidente.
O sol estava se pondo forte sobre mim, então eu me inclinei sobre meu ombro bom para me inclinar melhor
contra a brisa. O vento frio atingiu meu rosto, e quase me relaxou. Eu estava olhando para o oceano quando vi
uma figura emergindo da água.
Não apenas uma figura qualquer, mas a figura de Angela. A figura de minha esposa, quase totalmente
exposta.
Pisquei, tentando perceber o que ela estava vestindo, se é que estava vestindo algo. Vi a parte de cima da
camiseta dela — ela tinha rasgado o fundo da camisa para fazer uma tipoia para meu braço — e alguma
calcinhas.
Mas foi só isso.
Mesmo sabendo que era errado olhar para ela assim, sem que ela soubesse, não conseguia arrancar meus
olhos dela.
E o sonho repetido que eu tinha voltava agora — dela em várias etapas de nudez, dela me implorar por mais.
Eu esfreguei os olhos. Recompondo-me. Ela estava cuidando de mim.
O mínimo que eu podia fazer era tratá-la com respeito. Especialmente depois da maneira como eu a tinha
tratado por tanto tempo antes. Eu a vi pegar seus jeans ao lado de uma árvore a alguns metros de distância e
puxá-los, e então ela começou a caminhar até mim. Fechei meus olhos, fingindo estar descansando.
— Estou de volta, e olha o que eu tenho, — exclamou ela. Abri meus olhos e vi um galho de árvore com uma
ponta afiada.
Ela mesma deve ter afiado, eu pensei, atordoado. Na ponta afiada havia um peixe.
— Você está com fome?, — perguntou ela.
— Como você...
— Não foi muito difícil, — disse ela, modesta. — Eu sou boa com minhas mãos. Meu pai me ensinou a
consertar carros quando eu era jovem, e depois disso, consertar praticamente qualquer outra coisa se tornou
fácil.
Huh. Pensei em quando o Bentley quebrou em Midtown, e o Marco me disse que uma mulher aleatória tinha
parado para ajudá-lo a consertar. Poderia ser...
Mas antes que eu pudesse dar sentido a qualquer coisa, Angela estava arrancando um pedaço do peixe e me
entregou.
— Eu sei que não é exatamente filé mignon, mas você precisa comer
alguma coisa. Por favor.
Então eu a deixei me alimentar com o primeiro pedaço de peixe e depois com outro. E antes que eu soubesse,
ela tinha me alimentado com tudo, não comendo nada.
— E você? — eu perguntei.
— Não se preocupe comigo, — disse ela, e naquele momento, tive a certeza de que não conhecia essa mulher
de jeito nenhum.
Que tipo de pessoa trataria alguém como eu, alguém que se esforçou para tornar sua vida mais difícil, com
tanta gentileza? Se ela estivesse atrás do meu dinheiro, não seria a seu favor ter me deixado morrer?
Se eu fosse ela, provavelmente teria sido isso que eu teria feito.
Mas em vez disso, aqui estava ela, cuidando dos meus ferimentos e me alimentando de peixes que ela mesma
havia pescado. Parecia surreal, como se ela fosse um anjo colocado ali por uma razão. Eu tentei me sentar
sozinho, mas ela viu minha dificuldade e me ajudou. Quando estava de pé, toquei as costas da mão na testa e
senti a umidade.
— É suor, não sangue, — disse ela, lendo minha mente. — Você está com calor? Você quer tirar isso? —
perguntou ela, movendo-se para a camisa que não tinha utilidade em uma ilha.
Eu acenei, e ela me ajudou a tirar por trás. Ela ficou atrás de mim por um momento depois de ter saído, e eu
pensei ter sentido o olhar dela nas minhas costas.
Na minha cicatriz.
— O que aconteceu? — perguntou ela em silêncio.
Eu não queria falar sobre isso, não agora. Não precisava de outro lembrete de dor; eu já tinha o bastante. Mas
eu queria responder-lhe, dar-lhe algo depois de tudo o que ela me havia dado.
— Eu estive em um acidente de carro, — eu disse.
— Recentemente?
— Há cerca de um ano.
Eu estava olhando para o chão, pegando areia e vendo-a cair. Ela voltou e sentou-se ao meu lado, vendo-me
brincar com a areia também.
Ficamos ali sentados em silêncio durante horas, conhecendo-nos através das palavras que não dissemos.
Angela
Este foi um Xavier diferente. Um Xavier que me agradeceu, que sorriu para mim, que me respondeu em frases
completas sem um toque de sarcasmo. Era como se ele tivesse se tornado uma pessoa completamente
diferente.
Isso, ou ele tinha começado a me ver como uma pessoa completamente diferente.
Estávamos sentados no mesmo lugar na areia, deixando que o silêncio fácil tomasse conta, enquanto o sol se
punha. A temperatura havia baixado, mas não muito.Eu me senti confortável, como se não tivesse nada com
que me preocupar.
Eu sabia que, pela manhã, eu realmente começaria a me preocupar.
Mas, por enquanto, eu estava em paz. Mais ou menos. Agora eu estava de costas, contando com as estrelas
no céu.
Foi quando eu ouvi isso.
Estava se aproximando cada vez mais, mas reconheci o som imediatamente.
Um helicóptero.
Estava muito escuro para eu ver qualquer coisa no céu, mas eu estava certa de que estava lá, vindo por nós.
Eu acordei Xavier.
— Xavier, ei, acorde, — eu disse. — Eles estão aqui. Eles estão aqui atrás de nós.
Xavier sentou-se, esfregando o sono de seus olhos, e olhou em volta.
Alguns minutos depois, um helicóptero estava pousando perto do jato destruído.
Eu ajudei Xavier a levantar e juntos mancamos em direção a ele.
Um homem com um traje militar estava inspecionando o exterior do jato quando nos ouviu chamar por ele.
— EI! — eu gritei. — Nós estamos aqui!
Ele se voltou para nós.
— Sra. Knight? Sr. Knight?, — ele chamou de volta.
— SIM! — Eu gritei, cheia de alívio. Quando chegamos até ele, ele chamou outro homem a bordo do
helicóptero, que nos ajudou a subir.
Colocamos os cintos de segurança nos assentos de couro e nos deram fones de ouvido grandes para minimizar
o som. Um enorme cobertor foi jogado sobre mim e outro sobre Xavier.
Eu olhei para ele, meu marido, e ele me olhou de volta. Eu não sabia o que dizer. Eu nem sabia se deveria dizer
alguma coisa.
— Muito bem, pessoal, estamos prontos. Vamos levá-los para casa em segurança.
— E os outros? Eles estão... — Eu me afastei.
— Eles foram encontrados em uma ilha diferente, a algunsquilômetros de distância. Devem ter sido atirados
do avião. Estão a caminho de um hospital enquanto falamos.
Eu soltei um suspiro de alívio — pelo menos todos estavam bem. E então o helicóptero estava decolando,
voando conosco de volta para o céu onde estávamos há apenas algumas horas.
Observei a pequena ilha se afastar, a escuridão engolindo-a inteira.
— Odeio voar, — eu disse.
— Eu também, — respondeu ele. Virei-me para olhar pela janela ao meu lado, vendo nada além de escuridão.
Eu não sabia como seria a vida quando Xavier e eu voltássemos para Nova Iorque.
Eu não sabia se ele voltaria a ser o monstro que me castigava ou se continuaríamos de mãos dadas.
Tudo o que eu sabia era que gostava de estar lá para ele. Eu gostava de cuidar dele e ajudá-lo a se sentir bem.
E eu gostava de pensar que talvez Brad tivesse tido razão, que havia mais no Xavier Knight do que se via.
Senti a mão de Xavier encostar na minha. Um toque suave, quase hesitante. Eu estendi a mão e, lentamente,
nossos dedos se entrelaçaram.
Nós não dissemos mais nada. Não precisávamos dizer nada. Ambos nos consolamos só de termos um ao outro
lá.
Fechei meus olhos e sorri, apreciando seu calor.
Talvez este acidente de avião tenha sido a melhor coisa que nos poderia ter acontecido…

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