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Sinopse:
Estava em uma sala ampla, com uma enorme janela que deixava o
ambiente muito bem iluminado. Não reconhecia o ambiente, mas nunca
estivera em um lugar tão bonito e limpo. A mulher comigo também era uma
estranha, mas possuía um sorriso gentil e havia me alimentado, o que
fizera com que confiasse nela.
Distraída observando o cômodo, fui atraída pelo som da porta
sendo aberta e me virei para a entrada, a tempo de ver um homem passar.
Ele era vagamente familiar e um completo desconhecido, ao mesmo tempo.
Carregava um enorme embrulho de papel colorido com um laço rosa muito
grande, o qual ofereceu para mim.
— O que é isso? — Esfreguei os olhos.
— Um presente para você.
— Onde estou, onde está a minha mãe? — Olhei em volta, na
esperança de que ela saísse de algum cômodo, o que não aconteceu.
— Aqui será a sua casa por enquanto, e a Alexandra irá cuidar de
você.
— A mamãe... — Comecei a chorar, então surpreendi-me quando
ele me abraçou, me trazendo para o seu colo, envolvendo-me em um
carinho que eu não havia recebido de ninguém.
— Sua mãe não está mais aqui, mas eu cuidarei de você, irmãzinha.
— Ele me beijou no topo da cabeça e, desde aquele momento, Tiago me
mostrou o que era o amor fraternal e a sensação de estar sempre
protegida.
Tesão...
Eu não podia negar que aquela mulher me deixava excitado pra
caralho. Essa sensação aumentou ainda mais quando pude completar o
vislumbre no clube com imagens reais e bem próximas dela. Deveria ser
fácil me casar com uma mulher que me atraia tanto, porém eu parecia causar
o efeito contrário nela.
Depois do nosso encontro no corredor, tentei dormir e não consegui.
Como iria me casar com uma mulher que não me queria por perto? O acordo
de casamento poderia ter funcionado para o Marco, mas não iria para mim.
Além disso, odiava desejar tanto uma mulher que possuía o mesmo sangue
do maldito responsável pela morte do meu pai.
Tatiane era proibida, irmã do homem que eu havia caçado por dez
anos, e não deveria me envolver com ela, ainda assim, estava a algumas
portas do meu quarto e se juntaria a mim na minha cama.
Não iria dar certo...
Com aquele pensamento, levantei na manhã seguinte. Tinha vontade
de falar com o Marco, mas o meu irmão não iria voltar atrás. Não queria vê-
lo impor sua autoridade de chefe para cima de mim. Teria de lidar com
aquele problema sozinho.
Saí do quarto vestido para mais um dia qualquer. Passei diante da
porta dela e vi que ainda estava fechada. Não me dei o trabalho de bater,
porque sabia que ela não iria querer falar comigo.
Segui até a sala de jantar onde o restante da família estava reunida.
— Bom dia, querido! — Minha mãe sorriu para mim com uma
alegria que só cabia nela. — Dormiu bem?
— Dormi. — Era uma mentira, mas ela não precisava saber o
motivo. Como toda boa mãe italiana, era enxerida demais.
Puxei a cadeira e me acomodei diante da mesa antes de pegar uma
fatia de pão e queijo e puxá-las para o prato.
— Theo, temos a festa do governador hoje à noite, por que não leva a
Tatiane com você? A Laís está indisposta e não irá, mas será um bom
programa social para a sua noiva.
— É claro que ela está indisposta. Depois de vocês quase quebrarem
a cama ontem.
— Theo! — minha mãe me recriminou e Laís cobriu o rosto com um
guardanapo.
— Vai dizer que a senhora não ouviu os gemidos? — Virei-me para a
minha mãe, que ficou ainda mais envergonhada.
— Eu também ouvi. — Meu tio jogou uma uva na boca, após o
comentário.
— Não precisa expor as intimidades do seu irmão. — Deu um
cutucão em mim, mas não me importei.
— Eles trepam que nem coelhos desde que se casaram. — Riu Mateo
entrando na minha, era claro que o piadista não iria ficar para trás.
— Sabe o que é mais engraçado? — Virei-me para ele.
— O quê?
— Tatiane ouviu os gemidos e achou que ele estava torturando nossa
adorável cunhada grávida. Precisava ver a revolta.
— Torturando com o pau bem fundo nela. — Mateo continuou a rir.
— Calados vocês dois! — Marco deu um tapa forte na mesa que fez
todo o móvel tremer.
Mateo olhou para mim e continuou rindo, mas não disse mais nada
sobre a intimidade do meu irmão com a esposa que pudesse deixá-lo
irritado.
— Cheguei em um mal momento? — Tatiane apareceu na porta da
sala e todos se viraram para ela.
— Não querida, por favor, sente-se. — Minha mãe se levantou para
buscá-la e acompanhá-la até uma das cadeiras. — Como foi a noite?
— Tranquila.
Mateo começou a rir, mas logo parou quando o olhar severo do
Marco fez com que ele recuasse.
Mais sério diante da presença dela, concentrei-me em tomar o meu
café antes de me levantar e virar-me para a minha futura noiva.
— Esteja pronta para sair depois do almoço. Teremos uma festa
importante a noite e eu a levarei para comprar um vestido e um anel de
noivado.
— Você não deveria escolher o anel, Theo? — minha mãe perguntou
a mim.
— Mulheres gostam mais das joias que elas mesmas escolhem.
Ela continuou me olhando, mas eu não disse mais nada sobre o
assunto.
— Vou me encontrar com os Esposito em Monte Sacro para recolher
o dinheiro do último carregamento que entregamos para eles. Não pretendo
demorar.
— Eu posso fazer isso por você, irmão — disse Mateo ao perceber
que o meu olhar havia pesado sobre a Tatiane.
— Não, eu quero ir.
A cobrança dos territórios de Roma era algo que gostava de fazer,
apesar de ser uma tarefa incumbida a mim pelo meu pai desde que eu ainda
era garoto. Naquele dia, mais do que qualquer outro, eu precisava estar nas
ruas e lidar diretamente com o que eu era bom antes do que me aguardava
com a Tatiane. Como parte da máfia, sempre soube fazer o meu trabalho, era
bom nisso, já com ela, não fazia ideia de como proceder.
— Volto para o almoço. — Movi a cabeça até encontrar o homem
sentado do outro lado da mesa. — Por que não vem comigo, tio? — Abri um
sorriso provocativo.
— Vou ficar por aqui hoje, acho que o Marco pode precisar mais de
mim.
— Não me importo que você vá — incentivou o meu irmão.
— Acho que ele ainda está cagando na calça pela última vez que saiu
com o Theo. — Riu Mateo.
— Theo é um louco, poderia ter matado nós dois.
— Estamos aqui, não estamos, tio? — disse com a voz carregada de
sarcasmo.
— Por Deus, meu filho, tome cuidado.
— Vou ficar bem, dona Rosi. — Meti as mãos nos bolsos antes de
sair da sala de jantar e seguir para o local onde meus homens se renuíam.
Assim que Romulo e os outros me viram, sabiam que eu iria sair e
me acompanharam até a garagem.
— Monte Sacro — avisei para aquele que iria dirigir antes de entrar
no banco de trás do carro.
Durante o percurso, alternei meu olhar entre a cidade e a tela do meu
celular.
Sair de casa me faria bem, ao menos me daria a oportunidade de
colocar a cabeça no lugar. Marco se casou com uma mulher que não pôde
escolher, mas ao contrário de mim, meu irmão mais velho teve dez anos para
se acostumar com aquela ideia, já no meu caso, restavam apenas um punhado
de dias. Por mais bonita que Tatiane fosse, não conhecíamos quase nada um
do outro e ela ainda fazia questão de me lembrar a cada minuto que eu havia
matado o seu irmão, como se ele fosse um pobre inocente sem qualquer
culpa no cartório. Na máfia, matávamos ou morríamos, e esperava que ela
aprendesse isso logo.
Senti o carro parar e olhei para fora. Estávamos diante de um velho
cinema. Lugares como aquele em que a ocupação poderia ser facilmente
manipulada eram perfeitos para a lavagem de dinheiro das ruas, que entrava
como compras de ingressos na bilheteria e era convertido facilmente para
lícito.
Segui por uma entrada lateral atrás do Romulo e outros dos meus
homens. A portinhola estreita levava até os fundos do estabelecimento,
dando em uma pequena sala onde estava Gabriele Esposito, o filho do antigo
chefe, que havia morrido meses atrás. Com ele, havia soldados e alguns
outros homens, primos que cuidavam dos negócios com ele.
— Senhor Bellucci. — Olhou para mim com um largo sorriso. —
Bom dia. Por que não se senta?
— Prefiro ficar de pé. — Encarei-o com uma expressão cerrada,
cruzando os braços. Era melhor que ele não me provocasse naquele dia, pois
o meu humor não estava dos melhores.
— Tudo bem. — O sorriso dele diminuiu um pouco, mas continuou
com a sua postura.
— Onde está o dinheiro da mercadoria que entregamos para você no
início do mês?
— Aqui. — Ele abriu uma mala e a colocou sobre a mesa.
Fiz um gesto para um dos meus homens para que trouxesse um
contador de notas que eu sempre carregava no porta-malas do carro para
reuniões como aquelas. Romulo e o outro soldado passaram todas as notas
pelo contador antes de devolvê-las para a mala. Olhei para o valor
registrado e depois para o garoto, que mal deveria ter vinte e cinco anos,
uma idade próxima a que eu tinha quando o meu pai morreu.
— Estão faltando treze mil euros.
— É que tivemos alguns imprevistos, a polícia, nossos vendedores...
— Não me importo com os seus imprevistos. — Tirei a minha arma
do coldre e disparei, acertando a cabeça de um dos homens que estava atrás
dele. Os movimentos foram tão rápidos que eu sequer suei.
Todos os que estavam com o Esposito ficaram de olhos arregalados e
me encararam de boca aberta quando o homem baleado caiu no chão.
— Se-senhor... — Ele começou a gaguejar, mas logo desistiu diante
do peso do meu olhar.
— Escute, garoto, porque eu só vou dizer uma vez. Vocês têm até
amanhã para conseguir o dinheiro ou matarei o restante de vocês e colocarei
outra família gerindo os negócios em Monte Sacro. Vocês não serão mais
nada além de adubo. Nossa família faz negócios com a sua há muito tempo,
mas é necessário que entenda toda a estrutura em jogo. Se vocês errarem,
nós punimos. É assim que tem funcionado por séculos. Estamos entendidos?
— Peguei a arma e apontei para a cabeça dele.
O garoto Esposito assentiu ao engolir em seco antes que eu guardasse
a arma de novo no meu coldre.
— Vamos conseguir o restante do dinheiro — garantiu, tremendo.
Ficou evidente que ainda era novo demais naquele negócio e precisaria de
um tempo para aprender como tudo funcionava. Restaria a ele ter a sorte de
conseguir o restante do dinheiro, isso se não estivesse tentando me passar a
perna. Há muito tempo os Galo queriam aquele território e por mim tudo
bem entregar para eles, desde que respeitassem os acordos e cumprissem o
combinado.
Fiz um gesto para que o Romulo pegasse a mala com o dinheiro e
alguns homens seguiram na frente antes que o restante de nós fosse atrás, de
volta para os carros estacionados na rua.
A máfia estava no meu sangue, eu havia nascido para aquilo.
Entretanto o que me aguardava no restante do dia seria um desafio muito
maior.
Capítulo dezessete
Com o coração tão acelerado, fiquei com medo de que ele saísse
pela boca enquanto eu escorregava pela porta até me sentar no chão do
quarto. Meu corpo inteiro pareceu entrar em combustão depois que o Theo
me segurou e me beijou.
Não estava pronta para ser tão desestruturada, nem sabia que o toque
incisivo de um homem poderia provocar todas aquelas reações em cadeia ao
ponto de me fazer perder a noção do restante, até mesmo dos pensamentos
racionais.
Minha pele estava quente, minha respiração descompassada e minhas
pernas completamente sem equilíbrio. Nem em dias de muito exercício físico
havia experimentado aquela dose de hormônios.
Ainda sentia a pulsação entre as minhas pernas provocada por ele
roçando ali e esfreguei uma na outra, tentando amenizar, o que não resolveu
em nada. O pior de tudo era que eu queria mais, queria que ele continuasse
para descobrir até onde aquelas sensações e toques poderiam me levar.
Eu não podia...
Amava o meu irmão demais. Como conseguir me envolver com o
responsável pela sua morte e continuar honrando-o?
Tirei aquele vestido e as joias, trocando a roupa elegante por um
velho pijama, e me deitei na cama abraçando um travesseiro, na esperança
de que meu coração continuasse no lugar.
Lembrei do meu irmão, de tudo o que ele havia feito por mim, que
provavelmente eu teria morrido de fome ou acabado com um destino muito
pior se ele não houvesse cuidado de mim da forma que tinha feito.
Chorei por não ter podido fazer nada para vingá-lo, chorei por
saudades dos nossos momentos juntos, e chorei ainda mais porque tinha
deixado o seu assassino me beijar e por ter passado tempo demais
experimentando o seu gosto antes de simplesmente afastá-lo.
O que seria de mim naquela casa junto com todo meu luto por causa
do meu irmão? Não achava que seria fácil superar tudo isso.
Entre soluços e choro de culpa, acabei pegando no sono, e só acordei
quando a luz da manhã invadiu o cômodo pela janela cuja cortina deixei
aberta.
Enquanto escovava os dentes e olhava os meus olhos fundos no
espelho, fiquei me perguntando se deveria descer e tomar café da manhã com
eles depois da noite anterior. Eu não sabia como o Theo iria reagir ao que
tinha acontecido e tive medo.
Saí do banheiro e peguei o meu celular sobre o móvel de cabeceira,
ligando para a minha cunhada. Chamou, chamou, mas ela não atendeu.
Minutos depois, recebi uma mensagem dela dizendo que estava ocupada e
que me ligaria mais tarde.
Aproximei-me da janela e olhei para o jardim. Vi o Theo lá embaixo,
conversando com um homem, mas ele não me viu. Eles tiveram um breve
diálogo, que não consegui ouvir devido à distância, e depois se reuniram a
outros, sumindo do meu campo de visão.
Imaginei que houvessem saído e ganhei coragem para descer, pois a
minha barriga revirando me lembrava da minha fome.
Encontrei apenas Laís e Rosimeire comendo tranquilamente. A última
me sorriu alegremente depois que me avistou. Será que ela sabia o que havia
acontecido na noite anterior?
— Oi, querida. — Sinalizou para a cadeira onde esperava que eu me
sentasse. — Como você está?
— Bem.
— Gostou da festa ontem?
— Acho que posso dizer que foi informativa.
Rosimeire levantou uma sobrancelha, confusa com a minha
afirmação.
— Eu não sabia que a atuação deles ia tão longe.
— Mandamos no mundo inteiro, criança. — Surpreendi-me quando
ouvi a voz do velho.
Ele entrou na sala e se sentou conosco, puxou um prato e começou a
comer tranquilamente.
— Você ainda está aqui? — Rosimeire exibiu uma expressão
emburrada, e foi a primeira vez que não a vi alegre e contente com todos.
— Essa casa é minha também.
— Não. Essa casa pertence aos meus filhos e você não deveria estar
aqui.
— Pare de falar desse jeito, assim fica até parecendo que a minha
presença não é bem-vinda.
— E não é.
— Rosimeire, sei que tivemos os nossos momentos, mas o passado
ficou no passado, não é?
Minha futura sogra apenas deu de ombros e não voltou a falar mais
nada. Nós terminamos de comer e fiquei curiosa com o que ouvi, mas não
falei nada.
Depois do café da manhã, tivemos mais uma reunião sobre os
preparativos do casamento. Eu não posso dizer que foi desagradável, pois
quem não ama provar bolos? Também provamos docinhos e salgados, que
me engordaram só de olhar. O casamento estava sendo organizado em apenas
um punhado de dias, mas eles não estavam deixando nenhum detalhe de lado.
Após a cerimonialista ir embora, Rosimeire me levou até a
biblioteca e ficamos juntas no seu espaço favorito da casa. Ela acabou me
confidenciando que fora construída pelo seu marido e que ele sempre
alimentava aquele capricho, permitindo que ela viajasse por muitos lugares
sem sair daquele cômodo.
— Pode vir aqui sempre que quiser, ler qualquer livro e se distrair
quando o dia parecer monótono demais.
— Rosi! — Ouvimos um grito da Laís e nos entreolhamos.
— O que será que aconteceu? — perguntei, mas ela nem se deu ao
trabalho de me responder antes de sair do cômodo e seguir a origem do
grito.
Fui atrás e entramos no quarto do irmão do Theo. Sua esposa estava
escorada na parede e o vestido estava molhado, como se ela houvesse feito
xixi.
— Sua bolsa estourou. — A mulher mais velha parecia surpresa.
— Era para o bebê nascer só daqui algumas semanas. — Ela
acariciou a enorme barriga, mas a sua expressão era de dor.
— Vamos, deite-se na cama. — Rosimeire a segurou e guiou até o
colchão, fazendo com que se acomodasse sobre os travesseiros. — Onde
está o seu celular, temos que ligar para a médica.
— Ali — Laís estendeu a mão na direção do móvel de cabeceira.
Rosimeire pegou o aparelho e ligou para alguém enquanto eu
aguardava de pé perto da cama, sem saber o que poderia fazer para ajudar.
— Tati, procure as empregadas e fale para elas providenciarem
lençóis limpos.
Assenti e, após a ordem de Rosimeire, saí depressa do quarto e
encontrei uma mulher lavando um dos banheiros no primeiro andar da casa.
— Em que posso ajudá-la, senhorita? — Secou as mãos nos aventais
e olhou para mim.
— Preciso de lençóis limpos.
— Troquei todos hoje de manhã...
Foi interrompida por um grito que veio do andar superior.
— Acho que a Laís está dando à luz e a Rosi me pediu para pegá-los.
— Vou providenciar para a senhorita. — Ela se apressou para sair
do banheiro e seguiu até os fundos da casa. Eu fui atrás e a vi entrar em um
cômodo perto da lavanderia onde eram guardadas roupas de cama limpas.
Entregou-me uma pilha de lençóis e eu os equilibrei para não os deixar cair.
— Precisa de mais alguma coisa?
— Eu não sei. Acho que vamos esperar a médica chegar. — A deixei
ali e segui para o andar de cima.
Laís estava segurando a mão da sogra e respirava com força,
ofegante, e em intervalos menores. Havia suor brotando no seu rosto e
escorrendo, como se ela estivesse em uma sauna.
— Não é melhor levá-la para um hospital?
— A médica e a sua equipe já estão vindo. Também avisei o Marco,
que não deve demorar para chegar. O bebê não deve nascer logo e é melhor
que seja aqui do que no banco de trás de um carro.
— Você teve seus filhos aqui? — Sabia que não era o momento mais
adequado para perguntar, mas não consegui conter a minha curiosidade.
— Sim, nesse mesmo quarto, há mais de trinta anos atrás.
— Você não se desesperou?
— Nascemos para esse momento, querida. — Ela acariciou a testa
brilhante de suor da Laís. — Respira, vai ficar tudo bem com você e o bebê
— disse para a nora.
— Eu estou respirando... — A fala dela foi interrompida por um
grito.
Um tempo agonizante se passou antes que visse o Marco entrar no
quarto acompanhado de duas mulheres vestidas de branco, que imaginei
estarem ali para fazer o parto da Laís.
— Saiam, por favor. Apenas o pai vai ficar no quarto — disse uma
delas.
Marco segurou a mão da esposa, que antes estava entre os dedos de
Rosimeire, e se sentou na cama, ficando o mais perto possível dela. A mãe
veio para perto de mim e segurou os meus ombros, guiando-me para fora do
quarto.
Fecharam a porta e nós ficamos do lado de fora.
— Vai ficar tudo bem com ela? — Minha preocupação era sincera.
— Vai, sim. — Rosi sorriu convicta e desejei ser tão otimista quanto
a matriarca dos Bellucci. — Vamos esperar lá embaixo, se precisarem de
nós, vão chamar.
Deixei que ela me conduzisse e descemos para a sala onde estavam
Theo, o irmão e o tio, que me olhava de um jeito estranho toda vez que me
aproximava, provocando terríveis calafrios em mim.
— Então é hoje que o Marco ganha o tão estimado herdeiro? —
perguntou Mateo a mãe.
— Não perturbem seu irmão, por favor.
Mateo riu e Theo deu de ombros.
— Em breve vocês dois terão seus próprios filhos e saberão como é
a sensação de ter uma família.
— Ou não, não é mesmo, tio? — Mateo buscou a aprovação do
homem mais velho.
— Nunca tive esposa ou filhos e lidei muito bem com isso.
— Não que você saiba — intrometeu-se Theo. — Pode até não ter se
casado, mas duvido que tenha vivido uma vida de celibato, já que nem os
padres conseguem cumprir a promessa que fazem.
— Você será o próximo a se juntar ao seu irmão. — Leonel parou de
fitar o sobrinho e seus olhos vieram diretamente para mim, causando um
novo calafrio.
— É — resmungou Theo sem um pingo de empolgação e ele não
olhou para mim como o tio.
Ouvimos outros gritos e fui para perto da Rosimeire. Ela abraçou os
meus ombros e o seu carinho me aqueceu. Ao menos com ela parecia que eu
encontraria uma relação muito diferente do que aquela que tinha com a Edna.
Fomos para a cozinha e a empregada nos serviu limonada para
aplacar os ânimos. Por mais que Rosi tentasse sempre sorrir, era visível que
ela também estava nervosa.
Depois, voltamos a esperar na sala até que ouvimos um choro. Eu
sorri ao pensar que o bebê havia nascido. Pouco depois dos sons cessarem,
Marco apareceu no alto da escada com um amontoado de lençóis.
— Meu filho nasceu. — Tinha o maior sorriso do mundo. Ele
levantou o bebê, orgulhoso e nos deixou ver brevemente o rostinho.
— É mesmo um menino? — provocou Mateo, que recebeu um olhar
severo da mãe.
— Sim. — Marco não se abalou com a provocação. — Dante
Bellucci.
— Que alegria! — Rosi suspirou antes que o filho voltasse com o
bebê para o quarto e para a companhia da mãe.
— Sua vez de fazer um. — Mateo cutucou o Theo.
— É o que parece! — Ele puxou o celular do bolso e nem olhou para
mim.
Quando percebi que tudo estava bem, voltei para o meu quarto e
fiquei lá. Peguei o celular e vi que não havia nenhum sinal da Ângela. Minha
cunhada deveria estar ocupada cuidando dos assuntos que tomara para si.
Deitei-me na cama e levantei a minha mão, vendo o belo e pesado
anel de noivado que estava ali. Faltava pouco para que me tornasse uma
Bellucci também. Assim como a Laís, perpetuaria o sangue daquela família,
e só de pensar nisso sentia borboletas no estômago.
Estava prestes a me levantar e ir até a biblioteca quando o celular
vibrou e eu puxei para atendê-lo. Sorri ao ouvir a voz da minha cunhada.
— Tati, como você está?
— Bem.
— Tem certeza? Eles fizeram algo com você, a machucaram?
— Eu estou bem. Passo o dia inteiro na casa, mas não fizeram nada
comigo, você não precisa se preocupar.
— Não sabe o quanto isso me tranquiliza. — Ouvi o suspiro dela. —
Fiquei imaginando o que poderiam fazer com você.
— Eu também, mas não fui machucada. Quanto a isso, não precisa se
preocupar. Rosimeire continua muito gentil comigo.
— Ao menos terá uma sogra melhor do que a minha. — Riu.
— É, parece que sim. Como estão você e os garotos? — mudei de
assunto, porque não me senti pronta para contar a ela o que havia acontecido
na noite anterior e, principalmente, as sensações que o beijo havia
provocado em mim.
— Estamos bem.
— Está conseguindo gerenciar tudo como previa?
— Os homens já confiavam em mim e, com o apoio dos Bellucci,
eles me respeitam.
— Fico contente.
— O que você fez por nós foi muito importante, Tatiane. Não irei
esquecer.
— É... — balbuciei sem me estender.
— Você vai ficar bem, não vai?
— Vou. — Não adiantava lamentar a aminha situação, eu não tinha
escolhas e teria que enfrentar o meu destino. — Obrigada por ligar, Ângela.
— Logo iremos nos ver.
— Sim, o casamento está chegando.
— Vai ser uma noiva linda.
— Obrigada.
— Preciso desligar agora. Nos falamos depois.
— Mande um beijo para os meninos por mim.
— Pode deixar. Adeus, Tatiane. — Ela desligou a chamada e eu
fiquei com o telefone mudo nas mãos.
Caminhei até a janela do quarto e fiquei observando o jardim, até que
os meus olhos se voltaram novamente para o meu anel de noivado.
Tatiane Bellucci...
Aquele futuro era inevitável.
Capítulo vinte
Passei a noite em claro, pois as palavras dela eram como uma tortura
sutil na minha mente.
Vai me estuprar?
Eu era um monstro em diversos aspectos, mas seguia as regras e me
considerava um homem de honra. Eu poderia até odiá-la em alguma
proporção pelo que seu irmão havia feito ao meu pai, mas respeitava
mulheres e crianças.
Não iria forçá-la, apesar de ser meu direito tomá-la, mas já estava no
meu limite com aquela situação. Se ela já me achava um demônio, não iria
piorar a situação tirando a sua virgindade a força. Não tinha tesão que
valesse a minha sanidade.
Levantei da cama assim que o sol tocou a cortina da janela. Ela se
remexeu abrindo os olhos e me viu, mas não disse nada. Fui até uma gaveta
onde guardava minhas armas e peguei um pequeno canivete, que fora um
presente do meu pai quando eu ainda era um menino e não tinha idade para
segurar uma arma. Girei a lâmina e a levantei.
Tatiane arregalou os olhos quando me aproximei da cama com a arma
na mão. Ela se sentou, recuando na direção da cabeceira. O seu pavor foi
ainda maior do que aquele que demonstrou na noite anterior.
Levantei a mão esquerda e ela soltou um gemidinho baixo de medo
que foi substituído por um olhar de confusão quando me viu cortar a mão.
Algumas gotas do meu sangue caíram no lençol, então fechei a lâmina e a
devolvi para a gaveta. Troquei de roupa, peguei uma arma, algumas balas e
deixei o quarto.
Era cedo, toda a minha família estava dormindo e segui direto para o
local onde treinávamos. Tranquei-me sozinho no ambiente e saquei a arma,
disparando algumas vezes contra o alvo que estava há alguns metros.
Segure essa arma direito, garoto! Assim vão matar você antes que
consiga disparar, ouvi a voz do meu pai ecoando na minha cabeça que
pareceu ter vindo do além, mas era apenas fruto da minha imaginação.
— Onde caralho fui me meter, pai? — questionei o nada e não recebi
resposta alguma de retorno.
Urrei ao cair de joelhos. Estava irritado e frustrado.
Respirei fundo, com dentes cerrados, e fechei os olhos por alguns
minutos. Lembrei do rosto do Tiago Mancini quando o matei. Ele parecia
debochar de mim pouco antes de receber um tiro, era como se soubesse que
a sua morte poderia me trazer mais tormentos do que quando vivia.
Voltei a ficar de pé e descarreguei as balas nos alvos espalhados
pelo pequeno galpão, e, tiro após tiro, tentava me livrar da minha frustração,
o que parecia impossível.
Recarreguei a minha arma com a munição que ficava guardada no
local. Disparei por mais um tempo antes de voltar para o interior da casa, na
esperança que o Marco já houvesse acordado.
Olhei para cima, encarando o teto e sorri de nervoso.
— Seu sádico do caralho, obrigado pelo destino de merda —
resmunguei, antes de seguir até o escritório do meu irmão mais velho.
Abri a porta sem bater e me deparei com ele conversando com o
Mateo.
— Aumentaram o policiamento nas ruas de Roma, deve ter alguma
coisa a ver com a proximidade das festividades do Vaticano.
— De quem eu preciso me livrar? — Segurei na porta e a minha fala
chamou a atenção dos dois na minha direção.
— Theo? — Marco levantou as duas sobrancelhas negras. — Já está
de pé?
— Sim.
— Imaginei que fosse passar o dia no quarto com a sua esposa.
Acabaram de se casar. — Ele abriu um sorriso malicioso, o que só aumentou
ainda mais a minha raiva.
— Vamos, me diga quem precisa de punição, pode ser um policial,
um político, um cigano, qualquer um, até um maldito padre. Estou pronto
para ir para o inferno.
— Teve uma noite e tanto para estar com esse ânimo todo. — Mateo
riu ao dar uma palmadinha no meu braço, mas recuou diante do meu rosnado.
— Theo, pode ir passar o dia com a Tatiane. Mateo e eu cuidamos de
tudo por aqui. Todos merecem férias, inclusive você — Marco disse num
tom sereno.
— Não quero férias.
— Está tudo bem, irmão? — Finalmente pareceu perceber que eu
estava descontrolado.
— Melhor impossível. — Abri um sorriso sombrio. Poderia até não
ser um grande mentiroso, mas sabia fazer quando necessário.
Poderia estar muito frustrado com a minha relação com a Tatiane,
mas era orgulhoso demais para admitir aos meus irmãos que a minha esposa
continuava virgem.
— Vamos, Marco, não é possível que você não tem uma missão para
mim.
— Eu tenho.
— Ótimo.
— Os ciganos ontem foram até o norte de Roma e provocaram uma
bela confusão ao entrarem armados em uma boate. Um dos nossos, que
gerencia o comércio no local, quase foi morto. Quero que rastreie os
responsáveis e mande um recado para os demais.
— Pode deixar comigo.
— Tome cuidado, meu irmão.
— Terei cuidado. Obrigado.
Deixei o escritório e fui atrás dos meus homens. Eles também fizeram
uma expressão de espanto quando os chamei para sair, mas não me
questionaram.
Fomos para o norte da cidade e visitamos a boate onde aconteceu o
fato. Fiz algumas perguntas e logo os funcionários me indicaram o
acampamento dos ciganos que poderia ter causado o problema.
Assim que os carros pararam e os meus homens desceram, as
crianças que brincavam na frente das tendas saíram correndo e alguns
homens se aproximaram de nós.
— O que fazem aqui? — Um sujeito alto e com roupas muito
coloridas cruzou os braços, me encarando com uma expressão séria.
— Fiquei sabendo que vocês causaram problemas ontem. — A
expressão que eu dirigi para ele foi ainda mais firme.
— Não queremos encrenca com os Bellucci.
— Então não devem nos perturbar. Vocês sabem muito bem disso.
— O chefe do norte de Roma deve ser mesmo um bundão para
mandar um dos grandes todos poderosos para resolver um problema dele...
Saquei a minha arma e atirei no pé dele, fazendo com que a dor fosse
o suficiente para que ele se calasse.
— Vocês são uma praga irritante que está começando a me deixar
aborrecido. Quando vão entender que não existe espaço para vocês em
Roma e nem em toda a Itália?
— Estamos aqui há muito tempo.
— Você sabe que isso não significa nada se continuarem fracos. —
Rosnei. — Eu quero que me entreguem o responsável pelo evento de ontem.
— Não vamos entregar ninguém para vocês — começou um que
estava ao lado do que parecia o líder.
Disparei contra ele e vibrei com o som da bala despedaçando um
crânio humano. Eu podia ser mais político e até tentava, mas, daquela vez,
estava bem no estilo americano, atirar primeiro e perguntar depois.
— Precisamos mesmo começar essa discussão? Vocês não me
pegaram em um bom dia e estou disposto a matar todos aqui até que acerte o
responsável. Quem vai decidir?
Eu ouvi gritos e um homem foi arrastado até mim. Ele foi jogado aos
meus pés e sua expressão era de pura súplica. Os homens que seguravam
seus braços não ousaram olhar nos meus olhos e ficaram encarando o chão.
— Misericórdia...
— O Vaticano prega misericórdia, não eu. — Cruzei os braços e
mantive a expressão firme. — O que foi fazer na boate?
— Só estava vendendo um pouco da minha mercadoria. Não tinha
motivos para o Amadeo Romano alertar vocês.
— Tenho certeza que foi muito mais do que um traficante de merda
no lugar errado.
— Era só isso, eu juro.
— Não há espaço para vocês em Roma.
— Isso é um grande erro — disse aquele que eu havia baleado no pé.
— Desde quando você é quem decide isso?
Ele engoliu em seco e recuou.
— Deixa eu explicar uma coisa para vocês pela última vez. Somos
nós quem definimos quem vive, morre ou trafica em Roma. Parece que são
estúpidos demais para compreender.
— Só queremos um território nosso, como qualquer outra família que
serve a vocês. Podemos ser úteis.
— Úteis? — Eu gargalhei alto e a minha voz ecoou por todo o
acampamento. — A primeira coisa que seriam era um holofote para policiais
pela forma nada discreta com que se vestem.
— Quando os sicilianos...
Voltei a disparar contra um deles que ousou fazer insinuações que
não deveria.
— Os sicilianos não mandam mais na Itália há muito tempo e citá-los
só mostra o quanto vocês são desatualizados.
Olhei para todos eles e a fúria correu ainda mais dentro de mim.
Baleei o culpado pelo incidente na boate e precisei me conter para não
mandar mais deles para o inferno.
Assim que me viram com a arma ainda apontada para eles, os outros
ciganos que não tinham sido atingidos recuaram alguns passos e continuaram
olhando para mim.
— Espero que esses corpos sejam o suficiente para que vocês
entendam que não devem causar problemas, ou da próxima vez será o
acampamento inteiro.
Eles não disseram nada e voltei para o interior do carro. Fui seguido
pelos meus homens e eles não falaram uma única palavra.
O mais estável, o compenetrado, o mais confiável, esses adjetivos
que me descreviam, às vezes, eram colocados de lado quando eu cismava
com algo ou havia alguma coisa me perturbando. Se Tatiane achava que eu
era um monstro pelo que havia feito ao irmão dela, ela não fazia ideia de
quanto sangue estava disposto a derramar dos meus inimigos por estar
frustrado.
— Voltamos para a mansão, senhor? — perguntou Romulo.
— Não, quero almoçar em algum lugar diferente hoje.
— Vamos buscar a sua esposa?
— Ela deve estar indisposta. Vamos deixá-la em paz.
Os homens deram uma risadinha. Não me importei com o que passou
pela mente deles, só precisava do restante do dia de paz.
Capítulo vinte e três
Estava tudo muito escuro, eu não ouvia som algum e não conseguia
abrir os meus olhos. Foi então que a minha mente foi tomada por flashes,
como imagens de um filme do que havia acontecido comigo na noite anterior.
Fui esfaqueada... Estava morta?
— Tatiane. — Ouvi a voz do meu marido ecoar na minha cabeça
como um loop e imaginei que fizesse parte do abismo onde eu estava. —
Tatiane...
O som foi ficando mais forte e ele foi como uma corda que me puxou,
como se me atraísse para a luz no fim do túnel. Então, eu abri os olhos num
rompante e o clarão fez com que eu os fechasse.
— Tatiane!
A primeira coisa que enxerguei foram os olhos verdes do Theo e isso
me fez sorrir, ainda que a minha cabeça estivesse doendo.
— Eu estou no céu?
— Acha que eu sou o tipo de cara que irá para o céu? — Ele riu,
fazendo com que o meu sorriso se alargasse ainda mais.
— Você está no hospital. — Ouvi a voz da Ângela e movi levemente
a minha cabeça, encontrando a minha cunhada parada poucos metros distante
de nós.
Movi a cabeça e vi que um tubo estava preso na minha mão e que eu
estava usando uma camisola de hospital. No alto, preso em um suporte,
estava um líquido que pingava, gota a gota, indo para a minha corrente
sanguínea.
— Eu vou ficar bem? — Voltei a procurar os olhos do meu marido.
— Vai, sim. — Ele parecia aliviado ao me responder aquilo. — Os
médicos me garantiram.
— Obrigada por cuidar de mim. — Uma lágrima brotou no meu olho,
e eu achava que nem era mais capaz de chorar.
— Sempre vou cuidar. — Ele afagou o meu rosto.
— Vou deixar vocês conversarem. — Minha cunhada acenou e saiu
do quarto, fechando a porta atrás dela.
— Theo, eu não queria...
— Eu sei. A Ângela me contou o que aconteceu.
— Tudo? — Engoli em seco, e foi como se um gato houvesse
descido arranhando pela minha garganta de tamanho desconforto.
— Que o meu tio fez o Tiago escolher entre dar você para ele ou
matar o meu pai?
Balancei a cabeça em afirmativa.
— Vocês deveriam ter contado para mim.
— Ele é o seu tio e nós.... Somos só a família do homem que matou o
seu pai.
— Você é a minha esposa, além disso, eu nunca confiei nele, minha
mãe também não e nós dois costumamos estar certos sobre as pessoas.
— Desculpa.
— Dá próxima vez não esconda nada de mim. Deixa que eu decido
no que acreditar ou não.
Balancei a cabeça em afirmativa, e me senti um pouco menos pesada
quando ele pegou a minha mão, aquela que não estava com acesso, e a
segurou entre as suas.
— Tatiane, eu preciso perguntar algo.
— O quê?
— Ele chegou a estuprar você?
— Leonel só me tocou, foi muito desagradável, mas você chegou
antes que ele fizesse algo mais.
— Eu jamais iria me perdoar se ele tivesse feito isso.
— Você me protegeu.
— Não deveria ter deixado você se afastar de mim por nada.
— Como iria saber?
— No mundo em que vivemos, eu tenho que estar pronto para tudo.
— Acariciou o meu rosto e eu fechei os olhos, para sentir apenas o seu
toque, para que o seu calor me acolhesse da melhor forma possível.
— Eu vou ficar bem. Os médicos não garantiram a você?
— Existem coisas que os médicos não sabem e vão muito além das
marcas físicas. Quando eles falaram isso, estavam dizendo sobre o seu
ferimento na perna.
— Você vai me proteger.
— Sempre. — A afirmação dele era mais do que uma palavra vaga.
Eu a sentia como uma promessa.
Ficamos em silêncio por alguns minutos até que me arrisquei a
quebrá-lo. Da mesma forma que havia uma pergunta que o Theo precisava
fazer, o mesmo acontecia comigo.
— Onde ele está agora?
— Eu não sei. — Foi sincero comigo.
— Isso é ruim.
— Sim. — Voltou a acariciar a minha bochecha. — Eu precisava
salvar você e, enquanto isso, ele desapareceu pela festa. Os homens da
Ângela ainda estão atrás do meu tio, mas até agora não têm nenhuma pista.
Sei que ele se aliou aos americanos há muito tempo, e eles podem estar
ajudando-o.
— Isso é uma pena.
— Não se preocupe. Nem que leve mais dez anos, eu vou colocar
uma bala na cabeça dele. Pelo meu pai e por você.
— E pelo Tiago.
— Sim, pelo seu irmão também.
— Por que acha que ele queria o seu pai morto? — Tentei me virar
na cama e ela rangeu, assim como o meu corpo, que ainda estava bastante
dolorido.
— Eu também quero descobrir, mas não se preocupa com isso agora.
Você perdeu muito sangue e precisa descansar.
— Não me deixa sozinha. — Apertei a mão dele.
— Não deixarei, nunca mais.
Eu o puxei para cama e Theo se sentou nela para eu pudesse me
apoiar no seu colo. Ele ficou acariciando o meu cabelo até que fechei os
meus olhos e voltei a pegar no sono. Eu não podia imaginar que aquele
homem poderia ser tornar a minha maior paz. Só naquele momento consegui
entender a Laís quando ela disse que o Marco era quem a fazia se sentir
segura. Estava me sentindo da mesma forma em relação ao Theo.
Capítulo trinta e quatro
Ouvi uma batida na porta que fez com que eu me revirasse sobre os
lençóis, que ainda tinham o meu cheiro e estavam exatamente do jeito que me
recordava quando ainda morava naquela casa. Me sentia bem naquele
cômodo, apesar de saber da presença desagradável da Edna na mansão.
Quando Tiago disse que esse cantinho era meu, um pequeno espaço da casa
reservado para mim, isso fez com que eu me sentisse parte da família como
nunca. Ainda que ele não estivesse mais vivo e que a minha família não
fosse mais aquela, o lugar me trazia ótimas lembranças. Era o que precisava
para combater o pavor que tomava a minha mente sempre que recordava da
noite passada.
Alguém bateu novamente.
— Theo? — chamei pelo meu marido.
— Sou eu, querida, Rosimeire. — Surpreendi-me ao ouvir a voz da
mãe dele.
— O que a senhora está fazendo aqui?
— Posso abrir a porta?
— Pode. — Sentei-me na cama no exato momento em que ela entrou,
acompanhada da Laís e do adorável bebê Dante. — Era para vocês duas
estarem em Roma.
— Marco e Mateo vieram e não quiseram nos deixar sozinhas em
casa. Eles não sabiam ao certo que tipo de ameaça estariam enfrentando e
acharam melhor nos manter por perto. Confesso que, depois da invasão da
Donatella na nossa casa, me sinto bem mais segura assim. — Ela abriu um
sorriso ao se sentar na cama perto de mim.
— Parece uma boa decisão. Eu posso? — Estendi a mão para que
Laís me entregasse o bebê, e ela deu a volta na cama, para acomodá-lo com
todo cuidado no meu colo. — Oi, pequenino. — Ele estava dormindo tão
profundo que não acordou nem com o movimento brusco de sair do colo da
mãe para o meu.
— É um anjinho — disse Laís.
— Sim.
— Eu sinto muito pelo que aconteceu a você. — Rosimeire tocou no
assunto delicado, mas eu sabia que não poderia escapar dele, por mais que
me sentisse humilhada.
— Ele era mais forte do que eu e tinha uma faca.
— Você não poderia ter feito nada para evitar.
— Se eu não tivesse saído de perto do Theo...
— Não se culpe. — Ela estendeu as mãos e tocou os meus ombros.
Imaginei que teria me abraçado se o neto não estivesse entre nós. — Você
achou que estava segura e não sabia que o Leonel havia ido até a festa.
Balancei a cabeça.
— Eu sempre soube que ele não era confiável. Suspeitava que
ambicionava o lugar do irmão, mas Lorenzo nunca deu ouvidos a mim. Meu
marido preferiu acreditar nos laços de sangue do que nos meus alertas.
— Acho que a senhora também não pode se culpar pelo que
aconteceu.
— Não posso, mas ainda assim nós ficamos nos revirando por
dentro, pensando em tudo o que poderíamos ter feito de diferente para que o
resultado fosse outro. Não tem jeito.
— É verdade.
Dante abriu os olhinhos no meu colo e começou a chorar. Laís
rapidamente o pegou e começou a niná-lo.
— Acho que ele está com fome.
— Por que não se senta ali na poltrona para alimentá-lo? — Apontei.
— Obrigada. — Laís se acomodou, exibindo o seio, que o bebezinho
logo abocanhou.
— Ele é adorável.
— Sim. Estamos todos encantados — Rosimeire concordou comigo.
— Logo você e o Theo terão os seus. Filhos são uma grande benção.
Apenas balancei a cabeça enquanto olhava para a Laís e o pequeno
Dante. Sim, eu queria uma família com o Theo, mas tinha certeza de que
problemas precisavam ser solucionados antes que isso acontecesse.
As duas ficaram comigo por horas, até que uma das empregadas da
casa veio até o quarto e nos chamou para jantar. Eu não estava com fome,
mas sabia que precisava me alimentar. Os meninos e Edna estavam na mesa,
mas não vi Ângela nem nenhum dos homens. Eu não precisava ser uma
grande adivinha para ter certeza de que eles estavam atrás do Leonel. Se
havia algo que poderia unir mais do que nunca os Mancini e os Bellucci, era
a possibilidade de capturar o verdadeiro culpado pela maior tragédia das
duas famílias.
Edna acomodou as duas mulheres em quartos da casa e eu voltei para
o meu. Tomei um banho e me deitei na cama. Já fazia mais de um dia que o
incidente no clube havia acontecido, mas todas as vezes que eu fechava os
olhos era como se o Leonel ainda estivesse em cima de mim, apontando uma
faca para o meu pescoço e me ameaçando.
Quando ouvi o som da porta sendo aberta, rapidamente me sentei na
cama com o susto e recuei para a cabeceira.
— Calma, sou eu. — Theo acendeu o interruptor para que eu pudesse
vê-lo.
— Achei que não fosse voltar hoje. — Botei a mão sobre o peito e
respirei profundamente, esperando que a aflição que havia desencadeado ali
passasse rápido.
— Ele não está mais na Sicília. Provavelmente teve ajuda e fugiu.
Vamos voltar para casa.
— Agora?
Ele franziu o cenho e me analisou.
— Não está bem para voltar?
— Pode ser daqui a uma hora ou duas?
— Por quê?
— Fecha a porta. Deita aqui comigo. — Apontei para o espaço vazio
ao meu lado na cama.
Theo não questionou mais, apenas trancou a porta e se acomodou ao
meu lado. Deitei-me nele e apoiei a cabeça onde seu coração batia mais
forte.
— Eu gosto desse som.
— Gosta? — Ele escorregou os dedos pelo meu cabelo, afagando-o.
— Me dá a certeza de que você está aqui, de que eu estou segura, e
que tudo vai ficar bem.
— No que depender de mim, farei o possível e o impossível para
que você tenha essa sensação sempre.
— Jamais imaginei que eu diria isso para o homem que matou o meu
irmão.
— O quê? — Ele levantou uma sobrancelha e me fitou, certamente
receoso quanto ao que eu poderia dizer.
— Eu amo você. — Espichei a minha cabeça e aproximei os meus
lábios dos dele, sem esperar pela sua resposta, pois não estava cogitando
uma.
Porém, Theo colocou o dedo indicador sobre os meus lábios e me fez
parar no meio do caminho.
— Eu também amo você — respondeu, antes de tirar o dedo e
substituí-lo pelos seus lábios.
Segurei seus ombros e escorreguei as mãos até chegar em seu cabelo,
enterrando os meus dedos nos fios macios. Puxei a sua cabeça ainda mais
contra a minha e o beijo se tornou ainda mais intenso. Sua língua tomou a
minha com vontade, ferocidade e urgência de um jeito que me deixou
completamente sem fôlego. Foi como se não nos beijássemos há anos e
quiséssemos matar a vontade toda de uma única vez. Senti um pouco de dor
no ferimento enfaixado e cheio de pontos na minha coxa, mas me esforcei
para ignorá-la completamente. Escorreguei as mãos pelo seu pescoço e fui
até o primeiro botão da sua camisa.
— Tatiane... — resmungou contra os meus lábios quando segurou as
minhas mãos. — Você não precisa...
— Eu quero você. Não me negue esse pedido, tudo o que preciso é
me lembrar de que sou sua mulher. — Dei ênfase nas duas últimas palavras.
— Minha. — Theo soltou as minhas mãos e segurou o meu rosto
antes de voltar a me beijar.
Um a um, abri os botões da sua camisa e a empurrei pelos seus
ombros. Meu marido terminou de tirá-la e a colocou na cabeceira da cama.
Escorreguei as mãos pelo seu peito e senti os seus músculos antes de abrir o
cinto.
A boca dele escorregou para o meu pescoço e os beijos, lambidas e
chupadas me fizeram fechar os olhos e jogar a cabeça para trás, cerrando as
pálpebras para absorver o melhor de todas as sensações que iam
substituindo as horríveis lembranças de ser tocada contra a minha vontade.
Ele mordiscou a base do meu pescoço e um leve gritinho escapou do fundo
da minha garganta enquanto todo o meu corpo se revirava em êxtase.
Theo tirou o meu vestido e beijou a elevação dos meus seios antes de
abrir o meu sutiã e escorregá-lo pelos meus braços, deixando-o em alguma
parte do colchão. A dor na perna ficou maior quando Theo me trouxe até o
centro da cama, porém eu não fiz nada para que ele parasse.
Ele tirou a minha calcinha e beijou o machucado na minha cintura, um
entalhe marrom provocado pela cicatrização do machucado deixado pela
faca afiada. Sua língua deslizou até a minha intimidade e por reflexo abri as
pernas para recebê-lo, deixando que acomodasse a sua cabeça e me
presenteasse com um delicioso estímulo. Arqueei o corpo quando o prazer
arrancou de mim gemidos. Sua língua, seus lábios, me conduziram a um
delicioso orgasmo que me fez agarrar os cabelos dele e mantê-lo ali o maior
período possível.
Ele beijou o meu ventre e subiu até os meus lábios, me deu alguns
selinhos enquanto eu me recuperava do estopim. Depois ele se deitou ao meu
lado e eu chiei.
— Não vai continuar?
— Só queria te dar prazer.
— Eu quero você. — Puxei-o pelos ombros para que o Theo voltasse
para cima de mim.
Ele sorriu e voltou a me beijar enquanto se livrava da parte de baixo
das suas roupas. Nos giramos na cama e coloquei as duas mãos sobre o seu
peito e mantive os meus olhos fixos nos seus quando me sentei no seu
membro, tornando-nos um só.
Comecei a me mover lentamente, mas ganhei mais ritmo quando ele
segurou a minha cintura. Subi com uma mão para o seu rosto e o puxei para
mim, voltamos a nos beijar e, conectada a ele, alcancei o orgasmo
novamente.
Ele era o temido assassino dos Bellucci, o mais cruel dos três
irmãos, mas também meu lar, meu protetor e meu marido.
Capítulo trinta e seis
Por mais que todos nossos homens estivessem na cola do meu tio,
não conseguimos evitar que ele escapasse pelos meus dedos e deixasse o
país. Poderia até acreditar que estava livre de nós, mas não me conhecia tão
bem quanto imaginava. Chegar em Roma e não colocar as mãos nele não
seria o suficiente para nos impedir de continuar tentando.
— Sabe que uma possível ida aos Estados Unidos pode causar
muitos problemas. — Marco deixou o copo de uísque sobre a mesa escura
do seu escritório e caminhou para perto de mim.
Parei de fitar a janela aberta atrás dele e voltei meus olhos na sua
direção.
— Eles não respondem a nós?
— É a teoria, mas na prática, só fazemos negócios com eles. Faz
muito tempo que aqueles que fundaram a máfia no novo mundo deixaram a
Itália, e se afastaram das nossas regras e não têm a nossa honra.
— São anarquistas.
— Como quiser definir. Não vão nos estender um tapete vermelho e
nos tratar como a realeza. É quase como a Inglaterra e a Austrália, para
todos os efeitos, estão sob a mesma rainha, mas a verdade é que têm regras
muito diferentes.
— Como mafioso, você está um belo político.
— Você bem sabe que a máfia é feita mais com negociações do que
com tiros de fato.
— Pretende deixar o maldito escapar só para evitar uma indigestão
com os americanos?
— Não. Só estou dizendo que precisamos ter muito cuidado com os
passos que vamos dar a partir de agora.
— Mateo, ao menos achou onde o maldito está se escondendo?
— Espionagem internacional é muito mais complicado do que
acessar as câmeras da nossa segurança interna. Não temos homens em todos
os departamentos, como acontece na Itália. Além disso, nenhum de nós quer
que eu chame atenção do governo americano só porque estamos tentando
resolver um problema de família.
— Só acesse as câmeras de trânsito.
— Não é só, Theo. Exige muito dos meus profissionais encobrir os
seus rastros e redirecionar nossas tentativas de acesso para outros lugares do
mundo e não atrair atenção desnecessária para nós. Não é trabalho de
amador, e mesmo os melhores hackers têm um certo trabalho — respondeu o
caçula.
— Entendi. — Bufei ao cruzar os braços. — Acho melhor eu ir para
lá e rastrear as coisas do meu jeito, batendo, matando e interrogando, não
necessariamente nessa ordem.
— Nosso irmão sabe o que está fazendo — garantiu Marco a mim. —
Vamos dar a ele mais um pouco de tempo.
— Certo. Volte para os seus computadores de milhões de euros e
retorne aqui quando tiver a localização.
— Theo, — Mateo segurou o meu ombro — todos nós queremos
vingança, cara.
— Para ele é diferente — Marco respondeu por mim.
— A Tatiane está bem? — Odiei ver aquela expressão de pena no
rosto do meu irmão caçula.
— Está — disse num tom ríspido.
— Vamos encontrá-lo, Theo. — Garantiu antes de sair do escritório.
Estava mais acostumado com o jeito antigo de fazer as coisas, mas
precisava confiar que o Mateo e a sua equipe me ajudariam a colocar a mão
no nosso querido tio.
Deixei o escritório do meu irmão e caminhei pelo corredor até
chegar ao meu quarto. O cômodo estava vazio e me incomodou não ver
Tatiane ali, ainda que tivesse certeza de que ela estaria segura em qualquer
outra parte da casa.
Depois do que eu havia deixado acontecer a ela, não conseguia evitar
o sentimento de culpa. Era a minha esposa, confiava em mim e eu deveria
protegê-la com a minha vida se fosse necessário. Por mais que sempre
desconfiasse do meu tio, sentia-me péssimo por não ter reconhecido o real
perigo bem debaixo do meu nariz.
— Ele tem um buraco negro no lugar dessa barriguinha. — Ouvi o
riso dela e segui sua voz até a porta do quarto que o meu irmão dividia com
a esposa.
Parei perto do batente e vi Tatiane sentada na cama ao lado da
esposa do meu irmão, que amamentava o bebê.
— Ele precisa crescer forte — comentei, atraindo o olhar das duas
para mim.
— Theo. — Tatiane voltou seus olhos para mim e sorriu.
— Estava procurando por você.
— Só vim ver se a Laís precisava de ajuda, e ela me falou sobre
algumas coisas que quer fazer na ONG, e que poderemos ajudar muitas
pessoas carentes de Roma. Sugeri a construção de clínicas com atendimento
médico gratuito. Não sei se isso é possível, mas de qualquer forma, vai ser
um grande projeto.
— Será. — Estendi a mão esperando que ela viesse até mim.
— Continuamos conversando depois — Falou para a Laís, que
assentiu com a cabeça.
Tatiane se levantou da cama e veio até mim, segurando a mão que eu
havia estendido a ela.
Em silêncio, viemos para o corredor e seguimos para uma pequena
varanda, que tinha vista para a piscina e toda parte de trás da casa. Os
homens que ficavam ali, fazendo a segurança, afastaram-se para nos deixar
sozinhos.
Aproximei-me do guarda-corpo e Tatiane apoiou a cabeça no meu
peito.
— Vocês têm alguma pista dele?
— Só sabemos que fugiu para se esconder com os americanos, como
o medroso que é.
— Ele não seria corajoso se ficasse aqui, apenas estúpido. —
Levantou uma sobrancelha em meio a uma expressão pensativa.
— Deveria nos encarar e arcar com as consequências do que fez. —
Bufei, cerrando os punhos. A vontade de espremer o meu tio com as minhas
próprias mãos era muito grande.
— Vai encontrá-lo, Theo.
— Eu vou. Nem que seja a última coisa que eu faça.
— Theo... — A voz dela tremulou, me deixando alarmado.
— O que foi? — Coloquei a mão direita sobre o seu rosto. — Tem
mais alguma coisa que você não me contou?
— Eu não quero que você morra junto. — Ela me abraçou apertado,
enterrando a cabeça no meu peito. — Já perdi o Tiago por conta das
armações do seu tio, não posso perder você também.
Puxei seu rosto e fiz com que me encarasse.
— Eu vou ficar bem, Tati. — Puxei seu rosto para que os meus olhos
pudessem encontrar os seus e fiz com que ela me encarasse.
— Promete? — Sua voz era chorosa e seus olhos não escondiam a
preocupação real.
Naquele momento, eu percebi o sentido de cuidar e proteger como
nunca antes.
— Prometo. — Levantei seu queixo e uni meus lábios com os seus.
Enquanto eu saía pelo país em minhas buscas insanas que me levaram
até o irmão dela, eu sentia necessidade de voltar para casa, porém era muito
diferente da obrigação que eu tinha com os meus irmãos e a minha mãe. Só
descobri os verdadeiros deveres e obrigações com a família ao me casar. —
O que vocês farão agora? — perguntou a mim quando nos afastamos do
beijo.
— Estou esperando o Mateo rastrear o meu tio para descobrirmos
exatamente onde ele está. Até onde sabemos, o maldito tem contatos por toda
a América e pode estar em qualquer lugar.
— Os Estados Unidos são um país muito maior do que a Itália.
— Estou ciente disso, mas estou dando um voto de confiança ao
Mateo. Se ele não conseguir, vou atrás do meu tio com os meus próprios
métodos.
— Quais métodos são esses? — Ela arregalou os olhos e engoliu em
seco.
— É melhor você não saber.
— Theo.
— Tati, — contornei o seu rosto com as pontas dos meus dedos e
parei com o polegar sobre os seus lábios, mas o seu olhar não titubeou —
levou muito tempo para que você parasse de me ver como um monstro e eu
gosto da nossa relação da forma como está.
— Eu aprendi mais coisas no tempo em que estou com você do que a
minha vida inteira. Estou começando a entender que existem algumas
escolhas que devem ser feitas em nome da família.
— Isso é bom. Aos poucos vai se acostumar com tudo, mas não
precisa ser de uma vez.
Ela assentiu e não disse mais nada.
Voltei a puxá-la para mim e aproximei a minha boca da sua orelha,
percebendo os pelos do seu corpo se eriçarem.
— Como está o machucado?
— Melhor — disse em meio a um suspiro que logo se transformou
em um gemido. — Às vezes até consigo me esquecer que dói.
— É? — Passei a língua pelo seu pescoço e mordisquei a sua
garganta, fazendo com que ela se retorcesse nos meus braços.
— Sim...
Peguei-a no meu colo e Tatiane envolveu o meu pescoço com os
braços.
Capítulo trinta e sete
Theo me levou nos braços até o nosso quarto. Por maior que fosse a
nossa troca de carinho, ficava implícita a tensão dele. Eu sabia que o meu
marido não iria descansar até que o tio desse o último suspiro. Ao mesmo
tempo que isso me deixava contente, porque eu e o Tiago seríamos vingados,
eu temia na mesma proporção. Pensar no quanto ele poderia ser arriscar até
finalmente conseguir o que queria, me apavorava. Conhecia pouco dos
americanos, mas o suficiente para saber que eles eram muito mais brutais do
que nós.
Meu marido me deitou sobre o colchão e o peso do seu corpo sobre
o meu afastou os pensamentos que tanto me perturbavam.
— Theo, é dia...
— Shi. — Colocou o dedo sobre os meus lábios e fez com que eu me
calasse.
— Você é... — Minha frase foi interrompida por ele mordendo e
chupando o meu pescoço. Qualquer possibilidade de dizer algo foi deixada
de lado pela excitação que os seus toques provocaram em mim.
Ele se afastou um pouco e tirou a gravata que usava ao redor do
pescoço. Puxou-a, segurando uma ponta e a outra, e o estralo assustou-me.
— O que vai fazer?
— Apagar a sua luz. — Theo passou a gravata ao redor dos meus
olhos e a amarrou atrás da minha cabeça, vendando-me.
— Ei! — protestei baixinho, mas antes que eu esticasse as minhas
mãos para voltar a enxergar, Theo pegou os meus pulsos e os segurou contra
o colchão. Sua força era bem maior do que a minha e eu não conseguiria
mover as mãos nem se tentasse muito.
Sem conseguir ver ou me mover, estava completamente à mercê dele.
Isso deveria me apavorar, mas meu marido já havia me amarrado antes e as
sensações foram indescritivelmente boas.
Sua boca retomou o caminho da minha orelha, mordiscou o lóbulo e
soprou um ar quente que provocou um calafrio, que me varreu do topo da
minha cabeça à ponta dos meus pés. Com os olhos vendados, era como se
cada carícia que ele fazia em mim tivesse o dobro ou o triplo de efeito. A
pulsação entre as minhas pernas se tornou frenética e eu esfreguei as coxas
na lateral do corpo do meu marido, na intenção de amenizar a agonia, mas só
acabei piorando tudo.
Senti-o libertar meus pulsos quando suas mãos foram até a minha
cintura e puxaram a minha blusa para cima. Ainda vendada, me contorci na
cama, ajudando-o a tirar a minha roupa. Quando Theo parou, a única coisa
que eu conseguia sentir me cobrindo era a fina calcinha.
Ouvi os rangidos da cama e percebi que ele estava se movendo,
tirando a roupa, talvez... Ao mesmo tempo em que era delicioso estar com os
olhos vendados, havia uma enorme aflição por não poder ver o que estava
acontecendo.
— Theo... — Tentei puxar a gravata novamente, mas ele segurou meu
pulso outra vez.
— Ainda não — falou firme, num tom autoritário.
Puxou a minha mão para frente até que meus dedos sentiram algo
firme, com veias sobressalentes, e pulsante.
— Isso é...?
— Pega — instigou-me. — Toca e descobre.
Escorreguei a mão pela extensão até tocar a ponta, e meu rosto ardeu
de vergonha. Por um momento, fiquei contente por estar vendada e não poder
ver a expressão dele, por conta da minha timidez. Continuei a explorar e
senti que era esponjoso, liso e havia um pequeno orifício no centro, que
lubrificou os meus dedos.
Quando o Theo me puxou, fazendo com que eu me sentasse na cama e
tirou a gravata que usava como venda, não foi uma surpresa quando percebi
que seu membro estava entre os meus dedos.
— Chega o rosto mais perto. — Puxou o meu queixo e o deixou a
milímetros do seu pênis.
Ofeguei quando a minha vergonha se tornou ainda maior. O que ele
pretendia?
Continuei contornando-o e tocando-o, ainda que a minha mão
estivesse trêmula. Estava tomada por um misto de acanhamento, desconcerto,
mas, ao mesmo tempo, excitação e curiosidade por tocá-lo tão intimamente.
— Abre a boca e me coloca dentro. — Sua voz rouca era tão sexy
que quase não me fez sentir vergonha diante daquela ordem.
— Vai ser bom? — Busquei seus olhos, acanhada.
— Não é quando eu faço com você? — Seu olhar sobre mim era
firme e, diante dele, parecia impossível negar qualquer coisa.
Balancei a cabeça, fazendo que sim.
— Então vem. — Puxou o meu queixo e fez com que os meus lábios
encontrassem a ponta do seu membro. — Chupa.
Eu abri a boca e permiti que ele escorregasse pela minha língua.
Envolvi-o com os lábios e Theo gemeu, acariciando o meu cabelo enquanto
segurava a minha cabeça, para que eu continuasse imóvel enquanto ele mexia
o quadril para frente e para trás, ensinando-me como fazer. Logo entrei no
seu ritmo e Theo deixou que eu guiasse os movimentos.
A pulsação no meu sexo ficou frenética. Era como se ele estivesse
sentindo ciúmes da atenção dada para a minha boca.
— Isso! — Ele gemeu.
Envolvi-o com as mãos e aumentei o ritmo, descobrindo uma nova
forma de fazê-lo sentir prazer.
De repente, Theo empurrou a minha cabeça para trás e eu fiquei sem
entender, até que ele me puxou para o centro da cama, deitando-me
novamente, e tirou a minha calcinha molhada. Mínimos segundos se
passaram desde que tinha deixado a minha boca e me penetrou.
Soltei um gritinho com o tranco firme e agarrei seus ombros,
fincando as unhas na sua pele enquanto era completamente dominada pelas
sensações do vai e vem dentro de mim. Theo mordeu minha orelha, beijou
meus lábios, o meu pescoço e meus seios. Em meios as carícias o meu
prazer só ia crescendo.
Ele nos girou na cama e me fez ficar por cima. Por puro instinto,
coloquei as mãos sobre o seu peito, sentindo os fios de cabelo que o
cobriam, e rebolei com mais intensidade. Meu marido agarrou o meu quadril
e me fez quicar até que sentisse seu líquido me preencher, mas não parei de
me mover até que me juntasse a ele.
Ofegante, com meus seios se movendo em frenesi, tombei sobre o
peito dele e Theo acariciou o meu cabelo.
— O Marco estava certo.
— Sobre o quê?
— Quando disse que o casamento me faria bem.
— Você acha?
— Tenho mais certeza a cada dia. — Beijou-me carinhosamente.
Ficamos deitados na cama por mais alguns minutos, recuperando-nos
do estopim do clímax, até que decidimos nos levantar para tomar um banho e
nos vestir. O meu ferimento acabou sangrando durante o ato, mas não deixei
o meu marido preocupado, apenas troquei o curativo.
Por mais que a minha vontade fosse prendê-lo no quarto comigo o
dia todo, sabia que o Theo tinha coisas importantes a fazer.
Minha mente estava fervilhando e eu pensava em um jeito de ajudá-lo
também. Por menor que fosse o meu conhecimento, queria aprender a ser
mais útil.
Quando ele e os irmãos saíram, fui procurar a Laís pela casa e a
encontrei na biblioteca com a Rosimeire. Elas estavam observando um velho
álbum de fotografias.
— Oi! — Parei na porta, perguntando-me se poderia ou não entrar.
— Encontrei um álbum empoeirado do meu casamento — disse
Rosimeire. — Quer ver?
Balancei a cabeça em afirmativa e cheguei mais perto delas,
sentando-me do outro lado da minha sogra.
— Como está o Dante? — indaguei a Laís.
— Dormiu, finalmente. — Respirou aliviada ao me mostrar a tela da
babá eletrônica.
— O Theo tem os olhos do Lorenzo. — Apontei para uma das fotos
do homem no álbum.
— Sim, mas foi o Marco quem herdou a postura.
— Deve ser porque ele herdou a função. Coisa de chefe. — Laís deu
de ombros.
— Mas foi o Mateo quem herdou o bom humor.
— Ele era divertido? — Laís e eu perguntamos juntas.
— Principalmente quando estávamos sozinhos. — Rosimeire riu e
suas bochechas coraram.
— Eu gostaria de tê-lo conhecido. — Laís colocou a mão sobre o
ombro da sogra.
— Sinto muito. — Mexi na barra do meu vestido, inquieta.
— Não é culpa sua, filha. — Rosimeire segurou a minha mão e sorriu
para mim.
— Ele estaria vivo, e o meu irmão também, se o Tiago houvesse me
entregue ao Leonel.
— Por Deus! Como Leonel poderia ser tão baixo ao ponto de fazer o
Tiago tomar essa decisão? Você era só uma criança, Tatiane. Por mais que eu
odeie a escolha que o seu irmão tomou, não posso culpá-lo por tê-la feito. A
família é tudo para nós. Talvez ele pudesse ter agido de uma forma diferente,
mas nunca entregado você para o Leonel.
— Ele é um doente por querer a Tatiane desse jeito. — Laís
balançou a cabeça em negativa.
— Mais de dez anos se passaram, e ele continuou te querendo.
Pensar nisso, me faz ter ainda mais nojo desse homem. — Rosimeire cerrou
os dentes, com uma expressão cheia de fúria.
— Ele me quer. — Dei um salto do sofá.
— Calma, Tatiane! Você está segura. — Minha sogra estendeu a mão
para que eu me sentasse no sofá vermelho ao lado dela novamente, mas eu
fiz que não. — Confie no meu filho, ele não vai deixar que você seja ferida
novamente.
— Confio no Theo, mas não é isso.
— Então o que é? — Laís franziu o cenho.
— Tenho uma ideia.
Capítulo trinta e oito
Eu nunca havia ido até tão longe. Teria sido uma viagem incrível, por
conhecer um país tão distante de casa, se as circunstâncias fossem outras.
Se eu estava com medo? Muito! Estava tremendo por dentro e
evitava pensar nas coisas ruins que poderiam me acontecer, que me
apavoravam mais ainda. Enquanto estava sentada no avião, nem consegui
dormir, pois todas as vezes que fechava os meus olhos, minha mente me
levava de volta a imagens do que havia acontecido no banheiro do clube
durante a festa oferecida pela Ângela. Só de pensar que o Leonel teria a
possibilidade de abusar de mim novamente, o pavor crescia pelas minhas
veias e se enraizava no meu coração.
Havia repetido a mim mesma, milhares de vezes, que tudo daria
certo. Atrairia o monstro até mim e, no momento certo, o Theo apareceria
para matá-lo. Mas e se não funcionasse, e se o meu marido não viesse atrás
de mim ou se não chegasse a tempo? As chances do meu plano não darem
certo estavam começando a crescer diante dos meus olhos e o pavor ia
subindo na mesma proporção.
Quando chegamos no aeroporto, os homens do Mateo, que sempre
estavam por perto, orientaram-me como proceder em cada passo, desde
pegar a minha bagagem até apresentar o meu passaporte na alfândega. Tinha
muito mais burocracia para se sair da Europa do que eu imaginava, mas os
homens me mantiveram tranquila. Eu, sendo esposa de um homem influente e
rico da Itália, segundo eles, era fácil entrar em qualquer lugar.
Do aeroporto, fomos para um hotel que ficava em Manhattan.
Cochilei por pouco mais de uma hora antes do dia raiar e, quando me
levantei, encontrei os homens do Mateo na sala de estar da suíte, mexendo
em seus computadores.
— Não posso perder muito tempo. — Aproximei-me de um deles. —
O Theo já está a caminho?
— O senhor Mateo nos afirmou que ele deixou a Itália poucas horas
depois da senhora. Ele deve estar aqui dentro de umas três horas.
— Então esse é o tempo que eu tenho para encontrar o Leonel.
O homem assentiu e se levantou, vindo até mim.
— Tem certeza que quer fazer isso?
— Tenho, sim. —Balancei a cabeça em afirmativa.
— Vamos estar de olho na senhora o tempo todo, mas isso não
significa que deixará de ser muito arriscado.
— Sinto que preciso fazer isso — disse convicta, e homem não falou
mais nada para tentar me dissuadir.
Olhei para além da janela da sala e vi os raios de sol que passavam
pelos arranha-céus antes de atingir o cômodo. Havia ido para muito longe de
casa e era impossível não ter dúvidas se chegaria em segurança. Era mais
fácil parar de sentir medo quando eu não pensava em mim e focava na minha
missão.
— Senhora? — A voz do homem diante de mim me fez voltar a fitá-
lo.
— Sim, Cristian.
— Mastigue isso. — Ele me estendeu algo similar a um chiclete.
— O que é isso? — Analisei o tal chiclete na palma da sua mão com
receio de pegar.
— É um nanorastreador. É para garantir que possamos saber onde a
senhora está o tempo todo. Ele emite sinais de baixa frequência e é
indetectável. Em resumo, não irão saber que a senhora o está usando.
— Mas vai ficar dentro de mim? No meu corpo? — Arregalei os
olhos, ainda mais chocada.
— Não se preocupe. Não é nocivo a saúde e vai se prender ao seu
dente. Eu vou tirá-lo com uma pinça depois.
— Tudo bem! — Prendi a respiração, para soltá-la com força logo
em seguida, antes de pegar a pastilha e mastigá-la.
— Para todos os efeitos, a senhora está aqui sozinha. Fugiu do seu
marido. Então evitaremos sermos vistos juntos, mas vamos ficar bem atentos,
o tempo todo. Invadimos o sistema de câmeras do hotel e temos olhos em
todos os lugares, com exceção dos quartos, mas, com esse rastreador,
sempre saberemos onde a senhora está. Também quero que troque os seus
brincos por esses daqui. — Cristian me entregou uma caixinha com um par
de brincos que pareciam simples diamantes.
— O que tem neles?
— Microcâmeras.
— Vocês são bons nisso. — Sorri ao trocar os meus brincos pelos os
que ele havia me dado.
— Os mais tradicionais ainda nos menosprezam. — Deu de ombros e
eu fiquei sem saber se estava se referindo ao meu marido ou a outros homens
da máfia.
— Agora vou descer para tomar café.
— Já espalhamos boatos pela cidade que a senhora está aqui, então é
provável que o Leonel apareça.
— Ou qualquer outro inimigo dos Bellucci. — Mordi o lábio,
receosa, mas já era tarde demais para voltar atrás.
— Vamos contar que ele seja o único ingênuo o bastante para correr
o risco de desafiar os Bellucci. Pertence a uma família muito poderosa,
senhora. Qualquer um com um pouco de inteligência não ousaria se
aproximar e atrair a atenção do seu marido.
— Vamos contar com isso. — Abri um sorriso amarelo.
Peguei a minha bolsa e ajeitei o meu cabelo antes de descer para o
restaurante do hotel. Apesar de não ter comido nada desde que deixara a
mansão dos Bellucci, estava sem fome. Contudo, era mais do que
simplesmente tomar café da manhã, precisava me mostrar.
Não podia negar que o meu marido estava certo. Era perigoso. Theo
se importava comigo ao ponto de não me deixar colocar meu plano em
prática. Contudo, eu acreditava que, se tudo desse certo, eu vingaria o meu
irmão e ainda mostraria ao meu marido que merecia um voto de confiança.
Segui pelo corredor até o elevador. Havia muitas portas e todas
estavam fechadas. Era um hotel muito bonito e sofisticado, digno de uma
princesa da Itália, uma pena que eu não iria poder aproveitá-lo como uma
turista comum faria.
Cheguei ao andar do restaurante seguindo as placas indicativas.
Sentei-me em uma mesa vazia, pendurei a minha bolsa em uma cadeira e fui
me servir do grande banquete que estava à disposição dos hóspedes. Apesar
de toda aflição, naquele momento senti muita fome, talvez por ter visto
aquela mesa farta. Peguei frutas, pães e um pedaço de bolo antes de voltar
para a mesa.
— Eu posso ajudá-la em alguma coisa, senhora? — Um garçom
parou ao lado da mesa, chamando a minha atenção.
— Por favor, eu gostaria de um copo de leite.
— Vou providenciar.
— Obrigada.
Ele se afastou e voltei a comer sem demonstrar preocupação, ao
menos foi a impressão que tentei passar.
Logo o garçom trouxe para mim o leite e eu terminei o meu café da
manhã. Ora ou outra, eu olhava para as pessoas no local e elas para mim.
Ninguém parecia suspeito, e também cheguei à conclusão que não iriam me
encontrar caso eu ficasse ali esperando.
— Obrigada pelo café! — Sorri para o garçom que assentiu para
mim antes que deixasse o restaurante.
Voltei ao quarto para avisar Cristian e os outros homens que eu iria
andar pelo quarteirão, conhecer a cidade, ou simplesmente transitar por aí,
tentando chamar a atenção, na esperança de que Leonel e seus homens
viessem atrás de mim.
E se não viessem? Tentei afastar aquele pensamento, ainda que ele
fosse uma possibilidade.
Eu poderia conseguir capturar o responsável pela desgraça do meu
irmão ou poderia ter desafiado o meu marido para vir a outro país por nada.
Saí do hotel, observando tudo na rua com curiosidade, como uma
verdadeira turista. A arquitetura era tão diferente da que eu via pela Itália
que prendia a minha atenção com muita facilidade. De repente, avistei o
Central Park. Esquecendo-me do real objetivo de estar ali, parei em um
sinal, esperando que ele fechasse para que fosse até lá.
Sempre me encantei com a imagem do parque nos muitos filmes
americanos que assisti. Era uma oportunidade de vê-lo de perto. Se o plano
não funcionasse, quando o Theo se encontrasse comigo, se não estivesse
muito irritado, o que eu duvidava, poderíamos conhecer os principais pontos
turísticos da cidade.
O sinal abriu e dei um passo para avançar pela faixa de pedestre,
mas antes que eu conseguisse atravessar a rua, senti uma mão agarrando o
meu braço. Virei-me para trás, a fim de empurrar quem quer que fosse,
porém, antes que eu visse o rosto de quem me segurava, senti um pano
branco sendo pressionado contra o meu nariz e tudo ficou escuro.
Capítulo quarenta e dois
Minha cabeça doía e o meu corpo estava mole. Abri os olhos com
dificuldade, enquanto as minhas pupilas se acostumavam com o ambiente.
Ouvia o som de algo ao fundo que parecia ser uma goteira, mas não
conseguia ter certeza.
Quando finalmente consegui abrir os meus olhos, percebi que estava
em uma cadeira, com os punhos presos um ao outro por com os punhos
presos um ao outro por uma fita adesiva forte, e novamente me lembrei
daqueles filmes americanos que assistia. Na minha frente, estava quem eu
desejava encontrar e não queria ao mesmo tempo, pois encará-lo tão de
perto, revivia muitas lembranças ruins as quais eu tentava evitar a todo
custo.
— Eu sabia que você iria vir até mim. — O sorriso de contentamento
que ele me deu era o suficiente para me provocar pesadelos.
— Senti saudades — menti em meio a um sorriso. Achei que fosse a
melhor forma de conduzir aquela conversa enquanto ganhava tempo.
— Verdade? — Ele riu.
— Sim. Por qual outro motivo acha que eu vim até aqui?
— Isso é algo que estou tentando descobrir. — Ele deu passos em
minha direção, acabando com a distância que havia entre nós dois e segurou
o meu queixo, levantando-o para que eu o encarasse.
— Eu e o Theo não estamos dando certo — prossegui com a minha
história inventada. — Acho que o Tiago pode ter tomado uma decisão ruim,
e o meu lugar sempre tenha sido ao seu lado.
— É o que você pensa?
Balancei a cabeça em afirmativa.
— Então o que o seu marido está fazendo em Nova York?
— Imagino que ele não me deixaria fugir tão fácil. Certamente, não
sou tão boa em fazer isso como você, já que desapareceu daquela festa em
Palermo e nunca mais foi visto.
— Tudo o que se precisa é de um plano e os contatos certos.
— Como você fez? — Tombei o meu corpo na direção dele,
demonstrando o meu total interesse, mas na verdade tudo o que queria era
ganhar tempo.
— Fui até a praia, peguei um barco, que me levou até a costa da
África, onde os irmãos não conseguiriam me rastrear. Depois, foi só acionar
um antigo contato que estava em Roma para que ele fosse me buscar.
— Parece que você é muito amigo dos americanos.
— Ao contrário dos meus sobrinhos, eles dão muito valor a minha
presença.
— Acho que vou gostar de viver aqui. A cidade é bonita. — Movi a
minha cabeça e observei a grande parede feita com vidro e metal.
O local onde estávamos ainda tinha o chão coberto apenas por
cimento e imaginei que fosse um prédio em construção ou abandonado. De
qualquer forma, deveria servir para assuntos da máfia americana.
— Não é tão antiga quanto Roma, mas também possui muitos
segredos. O centro do poder no mundo não está mais na Europa há muito
tempo.
Leonel respondia bem a cada uma das minhas interações, e isso
estava me deixando satisfeita. Quanto mais conseguisse o manter entretido,
de preferência com as mãos bem longe de mim, melhor.
— Por que não me solta? — Tentei mover os meus braços, mas eles
estavam bem presos. — Quero observar a vista. São tantos prédios altos
pela cidade...
— Acha que eu sou idiota, garota? — Ele gargalhou e eu recuei
contra o encosto, surpresa com a sua reação. Pensava que estava no controle
da situação, mas ficou bem claro que não era bem assim.
— Não. Você pode ser muitas coisas, mas não idiota. Mandou matar
o próprio irmão e fugiu dos sobrinhos.
— Então por que acha que eu confiaria em você? — Ele segurou o
meu rosto, apertando os polegares com força contra as minhas bochechas, o
suficiente para fazer doer.
— Não deveria confiar na mulher que quer ao seu lado? — Eu estava
jogando com ele e torcia para ser astuta o suficiente para não o deixar
perceber.
— Tem ciência do que está falando, menina?
— Não é isso que você quer? Me deseja desde que eu tinha quatorze
anos, mas primeiro o meu irmão impediu você, depois o meu marido.
— O que te fez vir aqui de verdade, garota? Não pense que eu sou
um imbecil.
— Eu sou uma princesa na Itália, mas imaginei que, com você e
nesse país enorme, eu pudesse ser uma rainha, sem estar na sombra da Laís.
— Você é muito mais ambiciosa do que eu imaginava.
— Não faz ideia do quanto. — A força que eu fazia para manter
aquele sorriso era descomunal.
Toda as vezes que Leonel se aproximava ou me tocava, o meu
estômago revirava e o meu coração batia mais forte. Lutava com as
lembranças dele tentando abusar de mim naquele banheiro, principalmente
porque o medo de que aquilo voltasse a acontecer era cada vez maior.
— Durante um tempo eu quis mandar na Itália. Matar o meu irmão e
manipular o meu sobrinho, até que ele entregasse o poder para mim, era o
meu plano, mas eu menosprezei o Marco, ele é mais esperto do que imaginei.
— Então você veio para cá.
— O meu plano era construir uma aliança para tomar a Itália na
força, mas ficar aqui se mostrou muito mais interessante. Por que ter só a
Itália se eu poderia estar à frente do país que manda no mundo inteiro?
— Esperto da sua parte, mas por que voltou para a Europa? Sua vida
estava feita aqui, não precisava se reaproximar dos seus sobrinhos.
— Quando soube que eles haviam matado o seu irmão, eu precisava
descobrir até onde eles sabiam.
Estava prestes a abrir a boca para insistir com a conversa quando o
som de disparos fez com que eu saltasse na cadeira e arregalasse os olhos.
Eram muitos tiros.
— O que está acontecendo?! — Arregalei os olhos, como se
estivesse em completa surpresa.
— Não sei.
Um homem se aproximou dele e sussurrou em seu ouvido. As rugas
na testa do velho se salientaram assim como seus dentes ficaram mais
cerrados. A expressão de fúria nos seus olhos era evidente.
— Como o trouxe até mim? — Ele avançou e agarrou o meu pescoço,
segurando abaixo do meu maxilar, o que me deixou sem fôlego.
— Eu não... não sei... — falei com dificuldade, com o meu ar sendo
drenado dos pulmões.
Era mentira, claro, eu sabia do rastreador que Cristian havia me
dado. Ele era o farol para que o meu marido me encontrasse.
— Vagabunda!
Impulsionei o meu corpo para trás, fazendo com que a cadeira
tombasse, antes que ele me fizesse perder os sentidos. Leonel acabou me
soltando para que não caísse junto comigo. O movimento brusco partiu a fita
que prendia meus pulsos, mas fiquei tonta quando a minha cabeça bateu no
chão.
— Não passa de uma prostituta como a sua mãe. Acha que é esperta
o bastante para me fazer cair em uma armadilha?
Eu não respondi, nem achei que fosse necessário. A verdade era que
ele havia caído na armação, como eu previra. A sua ânsia por mim era
grande o bastante para que o fizesse cometer um erro.
Capítulo quarenta e quatro
Cheguei em casa após lidar mais uma vez com o problema dos
ciganos. Eles viviam dando dor de cabeça, mesmo sendo um grupo pequeno
e totalmente desorganizado. Toda vez que achava que finalmente tínhamos os
controlado, voltavam a nos desafiar. Daquela vez esperava que demorasse
um pouco mais.
Entrei na sala da mansão limpando a ponta dos meus dedos em um
lenço. Por mais que a Tatiane não fosse ingênua e soubesse as coisas que eu
fazia, preferia que ela não me visse sujo de sangue.
Encontrei a minha mãe sentada na sala lendo um livro, e ela se virou
para mim quando percebeu a minha presença.
— Tudo bem, filho?
Fiz que sim.
— A Tati foi com a Laís para a ONG hoje?
— Não. Está no quarto.
— Lendo? — Franzi o cenho.
— Esperando você.
— Aconteceu alguma coisa? — O tom da minha mãe me deixou
alarmado.
— Vá conversar com ela.
Encarei a minha mãe por uma fração de segundos, mas não me dei ao
trabalho de extrair a verdade. Subi os degraus da escada correndo e
encontrei a minha esposa sentada na beirada da cama. Ela virou a cabeça
para mim e me encarou quando adentrei o cômodo.
— Está tudo bem?
— Só tenho tido um pouco de mal estar pelas manhãs.
— Vou chamar um médico...
— A sua mãe já chamou. — Sorriu.
— Então, o que ele disse?
— Vem aqui. — Estendeu a mão para mim.
Acomodei-me ao lado dela na cama e Tatiane pegou a minha mão,
colocando-a sobre o seu ventre. Acariciei a sua barriga e deduzi antes
mesmo que ela dissesse.
— Eu vou ser pai?
— Vai — confirmou em meio a um sorriso.
Beijei-a com mais carinho, contendo minha ferocidade costumeira.
— É a melhor notícia que poderia me dar. — Dei mais alguns
selinhos nela antes de beijar o seu ventre.
Marco tinha razão, casar me fez muito bem.
Em breve...
Agradecimentos
Sinopse:
Sinopse:
Sinopse:
Casar era algo que eu nunca tinha imaginado fazer. A vida de solteiro me
proporcionava muitos benefícios e eu usufruía muito bem de todos eles.
Nasci numa família influente, dona de uma companhia aérea, e sempre tive
tudo, mas a política me deu poder. Porém, sempre fui um homem muito
ambicioso.
Eu queria mais, almejava a presidência do país.
Acreditava ser a melhor escolha, não apenas pelo meu ego, mas pelos
meus feitos políticos. Entretanto, muitos membros do partido pareciam
discordar da minha candidatura.
Não era o homem perfeito aos seus olhos, mesmo com todo o dinheiro e
influência. Eles preferiam outro candidato, alguém que prezasse pelos
valores tradicionais, um homem comprometido com a família.
Eu precisava ser casado.
Mas o dinheiro poderia solucionar tudo, sem que eu tivesse que mudar
meu estilo de vida. Um casamento por contrato era o que eu precisava.
Penélope é doze anos mais jovem do que eu, ingênua, pobre e facilmente
moldável. Ao meu lado, ela seria a decoração perfeita. Nunca teve nada e
iria se comportar para manter o mundo que oferecia a ela.
Eu controlaria tudo, como sempre controlei. Mas não poderia prever que
ela seria capaz de se infiltrar nas barreiras do meu coração.
O CEO viúvo e a babá virgem
Sinopse:
Um viúvo envolto em sombras, uma jovem babá cheia de luz e um bebê que
precisava de amor e cuidado.
Sinopse:
Sinopse:
Sinopse:
Sem laços familiares fortes, tudo o que ele tem de mais importante é a
amizade de décadas com o sócio. O que ele não esperava era que a filha do
seu melhor amigo, dezoito anos mais jovem, nutrisse sentimentos por ele, um
amor proibido. ⠀
Guto vai lutar com todas as forças para não ceder à tentação. Dentre todas as
mulheres do mundo, Rosi deveria ser intocável; não era permitida para ele.
Porém, às vezes é difícil escapar de uma rasteira do desejo.
Eternamente Minha
Sinopse:
Sinopse:
Sinopse:
Sinopse:
Harrison Clark abriu uma concessionária de carros de luxo em Miami. Se
tornou milionário, figurando na lista dos homens mais ricos do Estados
Unidos. O CEO da Golden Motors possui mais do que carros de luxo ao seu
dispor, tem mulheres e sexo quando assim deseja. Porém, a única coisa que
realmente amava, era o irmão gêmeo arrancado dele em um terrível acidente.
Laura Vieira perdeu os pais quando ainda era muito jovem e foi morar com a
avó, que acabou sendo tirada dela também. Sozinha, ela se viu impulsionada
a seguir seus sonhos e partiu para a aventura mais insana e perigosa da sua
vida: ir morar nos Estados Unidos. No entanto, entrar ilegalmente é muito
mais perigoso do que ela imaginava e, para recomeçar, Laura viveu
momentos de verdadeiro terror nas mãos de coiotes.
Chegando em Miami, na companhia de uma amiga que fez durante a
travessia, Laura vai trabalhar em uma mansão como faxineira, e o destino
fará com que ela cruze com o milionário sedutor. Porém, Harrison vai
descobrir que ela não é tão fácil de conquistar quanto as demais mulheres
com quem se envolveu. Antes de poder tirar a virgindade dela, vai ter que
entregar o seu coração.
Quando a brasileira, ilegal nos Estados Unidos, começa a viver um conto de
fadas, tudo pode acabar num piscar de olhos, pois nem todos torciam a favor
da sua felicidade.
Uma virgem para o CEO (Irmãos Clark Livro 1)
Sinopse:
Angel Menezes é uma moça pacata e sonhadora que vive com a mãe em
um bairro de imigrantes. Trabalhando como auxiliar em um hospital, sonha
em conseguir pagar, um dia, a faculdade de medicina. As coisas na vida dela
nunca foram fáceis. Seu pai morreu quando ela ainda não tinha vindo ao
mundo, e a mãe, uma imigrante venezuelana, teve que criá-la sozinha. Porém,
sempre puderam contar com uma amiga brasileira da mãe, que teve um
destino diferente ao se casar com um milionário.
Laura mudou de vida, mas nunca deixou para trás a amiga e faz de tudo
para ajudar a ela e a filha. Acredita que Angel, uma moça simples, virgem, e
onze anos mais jovem, é a melhor escolha para o seu filho arrogante e
cafajeste, entretanto, tudo o que está prestes a fazer é colocar uma ovelhinha
ingênua na toca de um lobo.
Dean vai enxergar Angel como um desafio, ele quer mais uma mulher em
sua cama e provar que ela não é virgem. No jogo para seduzi-la, ganhará um
coração apaixonado que não está pronto para cuidar...
Será que o cafajeste dentro dele se redimirá ou ele só destruirá mais uma
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Em novembro de 2007, a polícia da Sicília declarou ter encontrado uma lista com dez mandamentos,
ou seja, um código de conduta, no esconderijo do chefão da Máfia Salvatore Lo Piccolo.
Table of Contents
Sumário
Sinopse
Prólogo
Capítulo um
Capítulo dois
Capítulo três
Capítulo quatro
Capítulo cinco
Capítulo seis
Capítulo sete
Capítulo oito
Capítulo nove
Capítulo dez
Capítulo onze
Capítulo doze
Capítulo treze
Capítulo quatorze
Capítulo quinze
Capítulo dezesseis
Capítulo dezessete
Capítulo dezoito
Capítulo dezenove
Capítulo vinte
Capítulo vinte e um
Capítulo vinte e dois
Capítulo vinte e três
Capítulo vinte e quatro
Capítulo vinte e cinco
Capítulo vinte e seis
Capítulo vinte e sete
Capítulo vinte e oito
Capítulo vinte e nove
Capítulo trinta
Capítulo trinta e um
Capítulo trinta e dois
Capítulo trinta e três
Capítulo trinta e quatro
Capítulo trinta e cinco
Capítulo trinta e seis
Capítulo trinta e sete
Capítulo trinta e oito
Capítulo trinta e nove
Capítulo quarenta
Capítulo quarenta e um
Capítulo quarenta e dois
Capítulo quarenta e três
Capítulo quarenta e quatro
Capítulo quarenta e cinco
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Outras obras