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muito estudo sobre a Máfia Italiana, e claro, usando o bom senso da licença
poética e minha criatividade.
ATENÇÃO!
É estranho fazer isso sem Martina[7], embora nós duas não sejamos o
melhor exemplo de irmãs mais velhas, ela sempre esteve com a gente nos
grandes eventos em família.
Não que Martina não venha hoje para o aniversário da mamãe, mas
a situação é diferente, porque ela não estará no hall de entrada, distribuindo
sorrisos para os convidados, como sempre fazíamos.
Nunca admitirei em voz alta, mas sinto falta dela. Faz meses que se
casou com Danilo Salvatore e se mudou para Chicago, e logicamente, a
nossa casa não é mais a mesma.
A verdade é que eu a odiei muitas vezes por causa do favoritismo do
papà, mas, nunca deixei de amá-la.
Martina é minha irmã.
No espaçoso hall de entrada da mansão, nós quatro formamos uma
fila em ordem decrescente embaixo do lustre de cristal que brilha com
milhares de luzes, iluminando todo o ambiente.
Quinze minutos distribuindo sorrisos para os convidados é o meu
limite. Não é segredo que papà sempre se orgulhou de ter filhas bonitas e
nunca escondi que odeio ser usada dessa forma.
Antes que eu possa convencer as meninas de sairmos daqui e deixar
Maria desesperada, Martina e Danilo[8] chegam. Minha irmã está com as
bochechas ruborizadas, esbaforida.
— Martina! — Violetta exclama ao correr para abraçá-la e desfazer
a nossa fila perfeita.
— Achei que não fosse chegar a tempo — é o que fala, afagando os
cabelos ruivos da nossa irmã mais nova. — O voo atrasou por causa do
tempo, tive que me trocar no jatinho — explica e ergue os braços, nos
chamando para um abraço também.
Sorrindo, Barbara e Caterine vão até ela, se encaixando de maneira
perfeita. Observo as três sem sair do lugar e quando se afastam, Martina
ergue uma sobrancelha bem-feita para mim.
— Vem cá — resmunga e um sorriso move meus lábios. Revirando
os olhos, eu corto a nossa distância e envolvo a minha irmã num abraço
apertado. — Senti saudade de casa — emenda e meus olhos encontram
Danilo a um passo de nós, observando em silêncio.
— Danilo! Nem tinha visto você — minto e coloco uma expressão
fingida e simpática no rosto ao me desvencilhar dos braços de Martina. É
claro que o homem percebe a minha falsidade, já que a devolve com um
sorriso cínico. — Não precisava ter vindo. Honestamente? Não faria falta
— acrescento, chocando a todos.
— Angelina! — Martina e Maria falam ao mesmo tempo, me
repreendendo.
Danilo se aproxima de mim e as meninas recuam, menos Martina.
Odeio que mesmo usando salto alto, ele ainda seja mais alto do que eu.
Uma sobrancelha grossa se arqueia e o sorriso cínico continua estampado
no rosto.
— Cuidado, Angelina — é o que fala, a ameaça velada na voz.
Martina fecha os olhos com força e respira fundo. Antes que possa
abrir a boca para falar, eu articulo:
— Cuidado com o quê, cunhado?
Noto o momento exato em que o músculo da sua mandíbula se
contrai.
— Por favor, parem com isso — Martina pede, mas o marido não
tira a atenção de mim, um brilho devasso dança pelos olhos claros dele.
— O atrevimento das mulheres Giordano é algo instigante, eu tenho
que admitir, mas tenha muito cuidado, Angelina. Precisa saber com quem
usá-lo — é o que diz, um leve toque de repreensão na voz, o que me deixa
bufando de raiva.
Martina puxa Danilo e os dois entram, nos deixando no hall de
entrada.
— A condição dele é crônica — resmungo, fazendo as meninas se
entreolharem confusas.
— Que condição? — Caterine quer saber.
— A babaquice e a arrogância. Não tem cura — emendo com uma
carranca, roubando risadas das meninas, que acabam aliviando a minha
tensão.
Mesmo que Lorenzo tenha deixado claro que não está interessado
em se casar com a filha do conselheiro, Adele não tira os olhos dele durante
a noite.
Uma parte significativa de mim quer ser adulta e não me importar
com nada e aproveitar a festa da mamma, mas a irritação é tão grande, que
até parece estar em cima de uma mola, pulando dentro do meu estômago.
Tomo um gole do meu champanhe e o sinto borbulhar dentro da
garganta, devolvo a taça para um dos garçons e caminho até Lorenzo do
outro lado da sala, conversando com os homens da organização.
Em sincronia, eles param de falar e olham para mim, dos pés à
cabeça, cobiçando em silêncio a bela filha do Chefe da máfia de Detroit.
Vejo um músculo pulsar perigosamente na têmpora de Lorenzo ao
perceber os homens admirando mais do que o necessário.
— Vamos dançar — falo, sem rodeios.
— Não — ele responde, curto e grosso.
— Vai negar o pedido da sua irmãzinha? — eu grunho a última
palavra com todo o ódio que há dentro do meu coração.
Ele fecha os olhos por uma fração de segundo e sinto o silêncio dele
vibrar até os meus ouvidos. É instigante.
— Angelina...
— Se não dançar comigo, chamarei algum desses velhos e quando
passarem a mão na minha bunda, eu farei um escândalo — ameaço e os
olhos azuis de Lorenzo para mim são quase como uma poça de gelo, ainda
assim, faz o meu corpo inteiro esquentar.
Mal-humorado, ele entrega o copo de whisky meio cheio para Will,
o seu fiel escudeiro e vem até mim, pousando a mão nas minhas costas para
dançarmos a música lenta.
Sou ousada o suficiente para descer a mão grande e quente de
Lorenzo até a base da minha coluna, fazendo o corpo do homem tensionar.
— Não se preocupe, Lorenzo — murmuro, colocando as mãos em
volta do seu pescoço ao mesmo tempo em que meu coração pula dentro do
peito. — Não estamos fazendo nada de errado — emendo, encarando os
olhos azuis.
— Qual é a porra do seu problema?
— Você — retruco, aproximando ainda mais os nossos corpos. —
Como está a sua linda e jovem namorada com descendência italiana? —
questiono, apenas para provocar.
Ele me dá um sorriso cínico.
— Muito bem. Insuportável como sempre.
Balanço a cabeça de um lado para o outro.
— Por que parece bravo? — decido continuar provocando, apenas
porque eu gosto de como os seus olhos azuis brilham por causa disso. — Eu
livrei você de se casar com Adele — digo e olho para o lado, notando a
garota nos observar. — Não chegue perto dela ou ficarei muito brava.
Ele solta um suspiro impaciente.
— Não invente mais mentiras sobre mim, Angioletta[9] — avisa e eu
enrugo o nariz, porque odeio quando me chama de “anjinho”, sinto como se
tivesse voltado a ter dez anos de novo. Ele me leva de um lado para o outro,
no ritmo lento da música. — Deixarei passar dessa vez, porque é apenas
uma menina confusa e...
Solto-me dele com um tranco e ergo o queixo em atrevimento.
— Não me chame de Angioletta, não tenho mais dez anos —
resmungo entre os dentes e dou um passo para me aproximar dele
novamente. — E eu não sou uma menina confusa.
Ele me encara com intensidade, como se estivesse tentando ler meus
pensamentos nas entrelinhas, o que me faz cerrar os dentes à medida que a
raiva bombeia dentro dos meus ouvidos.
Abro a boca para articular e sou interrompida por Lorenzo. Os olhos
azuis e profundos ficam um tom mais escuro e o semblante do seu rosto
muda, fica mais sombrio e duro.
— Então, supere o seu amor doentio por mim e cresça de uma vez.
Lorenzo já me rejeitou antes, mas nunca foi tão rude e insensível.
Ele sempre se preocupou com os meus sentimentos, o que acabou de
mudar completamente. A única coisa que sinto é a humilhação iminente
abraçando o meu corpo com força.
— Lorenzo...
— Deixe de agir de forma patética, Angelina — é o que fala,
fazendo meu coração doer e a visão embaçar.
— Por que está sendo tão idiota? — retruco e faço um esforço
enorme para manter as lágrimas ácidas dentro dos olhos.
Ele não me responde, apenas me encara com dureza e eu preciso
fingir frieza quando Corrado se aproxima de nós dois com Adele e oferece a
filha ao Lorenzo para uma dança.
— Você está bem? — Caterine pergunta ao se aproximar de mim,
observando o meu rosto.
— Ótima — minto ao ranger os dentes, incapaz de afastar os olhos
de Lorenzo e Adele dançando no meio da sala.
Apesar de todo o seu atrevimento e temperamento petulante,
Angelina é uma garota pura e que foi criada para ser protegida.
E nem de longe, eu sou um protetor. Estou mais para alguém que
destrói tudo que toca. É assim desde o início. E quando vim para cá, eu
aprendi a partir corações e aniquilar os meus inimigos sem sentir remorso.
Eu nunca pedi o coração de Angelina, mas por algum motivo sem
explicação, a garota o entregou para mim. Sempre me senti estranho em
relação ao seu amor. Mas, no fundo, é o que há de mais puro na minha vida.
Porém, é impossível.
Esmagar seu doce coração é algo cruel e me faz sentir um cretino,
só que é o melhor para ela. Mesmo que tenha a rejeitado antes, nunca o fiz
de maneira tão escrota e severa como agora, sempre tive cuidado com as
palavras.
Ver os olhos grandes e verdes brilhando por conta das lágrimas,
deixa a minha garganta áspera.
No geral, ela é insuportável e me irrita a maior parte do tempo, mas
me importo com a garota, embora não diga isso com muita frequência. Não
costumo falar que gosto de alguém ou que me importo.
— Por que está sendo tão idiota? — quer saber.
Bom, a resposta é tão simples quanto caótica. Se eu não for um
idiota agora e cortar o mal pela raiz, coisa que eu deveria ter feito há muito
tempo, ela continuará nutrindo sentimentos por mim.
E, certamente, meu pau não tem um cérebro e nunca entenderá que
não pode ficar animado por causa desse corpo pequeno e convidativo. Não
posso tocá-la. Não posso desejá-la.
Não posso ter Angelina.
Mesmo que não tenha feito um juramento de sangue em relação a
isso, há regras implícitas sobre a minha relação com Angelina. Eu não
posso desejá-la, porque aos olhos do meu padrinho, ela é minha meia-irmã.
Giuseppe nunca teria me criado como filho e me dado um cargo
importante na organização se sonhasse que um dia, eu comeria a boceta
inocente da sua doce e preciosa garotinha.
De qualquer forma, os sentimentos de Angelina por mim já foram
longe demais e se ela continuar com isso, nunca terá paz.
Corrado surge entre nós dois, trazendo com ele, Adele, a filha com
quem quer que eu case. A menina tem um sorriso tímido e as bochechas
coradas de vergonha, enquanto é fuzilada por Angelina.
O conselheiro me oferece a garota em uma dança, como se ela fosse
um produto. Até penso em recusar, no entanto, sinto que de alguma forma,
isso encherá o coração de Angelina de esperanças, coisa que não posso
permitir.
Sem esconder a insatisfação, envolvo uma das mãos na cintura fina
de Adele e a encaixo contra o meu corpo, movendo-a no ritmo da música
lenta, de um lado para o outro, sob o olhar amargurado da princesa
Giordano.
— Lorenzo, eu...
— Não tenho interesse em casamento — falo de uma vez, amuando
o rosto inocente e delicado de Adele. — Diga ao seu pai que estou satisfeito
com a puta que ando comendo.
As bochechas dela coram.
— Nossa, que grosseria.
Curvo a boca num sorriso sarcástico ao dizer:
— Um pouco sincero também.
Ela balança a cabeça de um lado para o outro de maneira tímida,
demonstrando nas entrelinhas como é uma boa moça.
— Papai apenas sabe das coisas, Lorenzo. Você é o segundo em
comando e ele também é um homem importante. Um casamento nas nossas
famílias seria algo glorioso para todos nós.
Giro Adele antes de puxá-la contra mim e olho para Angelina do
outro lado da sala. Tenho a leve impressão que a garota vai voar em cima do
meu pescoço e torcer. Bom, confesso, que uma parte de mim daria um
braço para ser testemunha de tal atrevimento.
— Por que não para de olhar pra ela? — Adele pergunta, de repente.
— O que disse?
— Angelina... — murmura, olhando a Giordano por cima do ombro.
— Vocês estão juntos ou algo assim? — emenda com um sussurro
amedrontado.
As veias nas minhas têmporas começam a latejar.
— Não fale merda, garota.
Afasto-me de Adele com um solavanco, deixando-a desnorteada.
— Desculpe, é que... eu sei... que ela gosta de você e eu pensei
que... — ela se apressa em dizer, o que deixa tudo mil vezes pior.
— Pensou errado. Nunca mais repita isso — ordeno entre os dentes,
encarando os olhos grandes e negros de Adele, que assente de lábios
prensados. — Saia — exijo com um abano de mão e caminho até a o outro
lado da sala, na direção do bar que foi montado para a noite, procurando
desesperadamente por algo forte para beber.
Aprumo-me na banqueta e peço uma dose dupla de whisky sem
gelo. Assim que o garçom serve, eu bebo tudo de uma vez e peço que encha
o copo de cristal de novo.
Quando meu padrinho surge na sala de estar, os homens mais
importantes da organização vão até ele como um enxame de abelha para
cumprimentá-lo. Ele perde algumas horas com os homens, conversando e
estreitando laços, enquanto eu, fico sozinho na banqueta, incapaz de
esconder o quão antissocial eu sou.
Depois de um tempo, meu padrinho vem até mim, as sobrancelhas
levemente franzidas e um semblante meio preocupado. Corrado, o seu fiel
escudeiro, vem logo atrás, como a sua sombra.
Ele pede uma dose de whisky sem gelo e antes de falar comigo,
toma todo o líquido marrom de uma vez.
— O quão desastroso seria casar Angelina?
Observo-o fechar os olhos e massagear as têmporas, enquanto se
remexe na cadeira de couro do escritório.
— Não estou feliz com isso — é o que o chefe da máfia de Detroit
fala, torcendo os lábios finos. — Mas desde que os Salvatore meteram os
dedos nos meus negócios, eu preciso de aliados. Antes, esta cidade era
minha. Agora, é deles também.
Sinto a garganta fechar e estranhamente, um incomodo iminente se
apoderar do meu peito.
Não há como discordar dele.
Fomos obrigados a nos curvar para os Salvatore e entregar Martina
para Danilo para selar um acordo. Mesmo se tivéssemos tomado a decisão
de ir contra Alberto Salvatore, ele teria nos massacrado por causa do seu
poder aquisitivo sobre outras organizações menores.
É o que o Don do Império Salvatore fez com cada família que disse
“não” a ele.
— Não vamos começar uma guerra com os Salvatore ou planejar
traição, mas é bom retomar antigas alianças — Corrado diz para mim,
levando o charuto até entre os lábios encrespados e tragando com
tranquilidade.
Odeio que ele tenha razão.
— Casar Angelina pode ser algo impossível — comento e noto o
momento exato em que as sobrancelhas grisalhas do conselheiro se franzem
em desconfiança. — Não é uma boa ideia e honestamente, não sou a favor
dessa união.
Meu padrinho solta um suspiro longo e assente irritadiço.
— Eu sei que é algo difícil, ela é minha filha e eu a conheço bem.
Mas Franco escolheu Angelina e essa união pode ser boa para nós.
As palavras atravessam os meus ouvidos e é automático, o gosto de
fel na boca é praticamente corrosivo. Pensar em um babaca convencido
desejando Angelina como mulher me deixa puto.
Franco Vitale é um grande imbecil. Por causa do seu irmão instável,
tivemos dor de cabeça por muitos anos. Até então, eles são a única família
na cidade de Detroit que não responde ao meu padrinho.
Travamos uma guerra com os filhos da puta por incansáveis anos.
O chefe da máfia de Detroit poderia ter os destruído completamente
antes, mas ele sempre acreditou que não é assim que você conquista a
confiança e o respeito das pessoas em volta.
Recentemente, o Vitale mais velho morreu, o que deixou Franco no
comando. E é claro que ele pediria uma das garotas em troca para selar um
acordo de paz.
— Isso não vai dar certo, padrinho. Angelina vai matá-lo —
expresso a minha opinião, ainda sem entender o leve desconforto no meu
peito. — Talvez, matar Franco seja a solução dos nossos problemas.
Deixem que se casem. Deixe que Angelina mate Franco na lua de núpcias
— ironizo, roubando uma risada sarcástica do conselheiro.
— Parece incomodado, Lorenzo — Corrado articula e sinto uma
veia saltar no meu pescoço conforma a raiva me consome.
— O que acha de dar a Adele no lugar de Angelina? Ela também é
filha de um homem importante — devolvo, ríspido e o homem se remexe
na cadeira de couro de frente para a mesa.
— É claro que ele está incomodado — meu padrinho fala, passando
os dedos entre os cabelos.
Corrado e eu o olhamos em silêncio.
— Lorenzo e Angelina foram criados juntos... são praticamente
irmãos — emenda ao se levantar da cadeira para atravessar o escritório e
caminhar até o minibar no escritório e servir o whisky num copo de cristal,
depois, olha para mim de maneira incisiva e até mesmo, interrogativa.
Faço um esforço enorme para disfarçar o incomodo ao ouvir a
palavra “irmãos” e Angelina na mesma frase.
Sempre recriminei a garota por não me considerar um irmão mais
velho e ter sentimentos por mim, mas por que merda as palavras do meu
padrinho me incomodam tanto?
Por que merda me incomoda tanto a ideia de Angelina se casar?
— O que o senhor vai fazer? — pergunto e fico satisfeito por
conseguir esconder a minha inquietação.
O chefe da máfia de Detroit bebe todo o líquido marrom do copo.
— Casar Angelina com Franco Vitale.
Eu sei que algo está errado no momento em que papai se senta ao
lado de Lorenzo no bar. O chefe da máfia exibe uma expressão aflita
demais para alguém que está comemorando o aniversário da esposa.
Sei que não deveria segui-los até o escritório e escutar detrás da
porta. Ontem eu fui pega em flagrante e quase perdi o pescoço por isso. No
entanto, Lorenzo foi estúpido e eu estou com raiva.
O coração martela forte dentro do peito e as engrenagens dentro da
minha cabeça começam a girar conforme as informações atravessam a porta
do escritório até os meus ouvidos.
Franco Vitale.
Casamento.
Eu.
O baque é tão grande ou talvez seja o meu coração partido, mas nem
consigo agir e fazer um escândalo típico meu e deixar claro que sou contra
me casar com Franco Vitale, homem que esteve em pé de guerra com o meu
pai durante anos.
Eu sempre soube que o papà me casaria um dia. Não tem como fugir
de uma obrigação dessas quando se nasce num mundo como o nosso. Só
que no fundo, eu tive esperanças de que fosse diferente para mim.
Fico mais alguns minutos escutando a conversa detrás da porta,
tentando entender o motivo de Lorenzo parecer tão incomodado com o fato
de papai querer me casar, enquanto desfruto de uma taça de champanhe.
Não faz uma hora que ele me deu um belo fora e está incomodado
com o fato de eu me casar? Qual é o problema dele?
Quando a reunião acaba, eu arrasto os pés de fininho até uma das
portas duplas altas do corredor e me escondo, espiando por uma brecha.
Apenas Corrado e o papà saem, Lorenzo permanece dentro do escritório.
Com a taça de champanhe vazia na mão, caminho até a porta de
mogno escura e envolvo os dedos na maçaneta para abrir. Assim que o faço,
vejo Lorenzo girar o corpo em cento e oitenta graus para olhar na minha
direção.
— Franco Vitale — murmuro, sentindo a cabeça borbulhar por
causa do álcool. Três taças de champanhe e não falta muito para eu começar
a ver estrelas.
Ele cerra o maxilar.
— É claro que você estava escutando atrás da porta.
Decido ignorar o seu resmungo e ando até a mesa, me acomodo em
cima dela, cruzando as pernas ao mesmo tempo em que observo Lorenzo,
que tem um copo de whisky meio cheio na mão.
A carranca dura e mal-humorada está estampando todo o rosto
bonito, o que me dá uma brilhante ideia. Minutos atrás, ele parecia meio
incomodado com o fato de me casar com Franco.
— Talvez ele seja um bom marido pra mim.
Lorenzo bufa e faz careta ao beber um gole generoso do seu whisky.
— Então, você quer se casar com ele?
Dou de ombros e coloco a taça vazia ao meu lado, em cima da mesa.
— Ele é um homem bonito e me escolheu — digo, jogando com o
subchefe. Um brilho devasso passa pelos olhos claros e eu gosto de como
eles cintilam possessivos para mim.
O silêncio se expande entre nós e vibra no ar, enquanto os olhos
selvagens de Lorenzo me esquadrinham.
— Veja bem, querido irmão — digo e os músculos dele se
tensionam por causa dessa palavrinha. Ah, Deus. Eu amo irritá-lo. É sexy e
perigoso. — Eu me entregando para outro homem... isso não resolveria os
seus problemas? Não precisaria se preocupar com o amor doentio e patético
que sinto por você.
— Acha mesmo que é uma boa ideia se casar com aquele babaca?
— é o que pergunta ao caminhar em passos rígidos até mim e parar alguns
centímetros de distância. Uma excitação surpreendente fervilha pelo meu
corpo inteiro.
Olhando dentro dos olhos de Lorenzo, eu respondo apenas para
provocar:
— Sim, você não?
Ele deixa escapar um som estrangulado de entre os lábios.
— Não.
Abro meio sorriso convencido.
— Por que não?
Os olhos azuis se conectam aos meus por um longo segundo e o ar
ao nosso redor fica quente. Tenho que prender a respiração para permanecer
estável e não demonstrar o quanto essa proximidade me afeta.
Lorenzo não me responde.
Desço da mesa devagar e rompo a nossa mínima distância. Por
causa dos saltos, não preciso de esforço para nivelar os nossos rostos, o que
é bom.
— Talvez seja uma boa forma de eu direcionar os meus sentimentos
em relação a você. Acho que Franco Vitale não se importaria de me
reivindicar, já que me escolheu para ser a sua esposa.
Os olhos de Lorenzo ficam um tom de azul mais escuro e tem tanta
fúria no rosto dele, que por um momento, acho que o homem pode explodir.
Antes que ele possa falar algo, alguém abre a porta do escritório e
entra. É Caterine. Ela engole em seco ao olhar para nós dois e é então, que
eu percebo, estamos tão próximos que se eu me inclinar mais um pouco,
posso beijar a boca do subchefe.
— Estava procurando você... tá na hora de levar o bolo pra mamma
— ela avisa, oscilando a atenção de mim para Lorenzo e eu assinto, dando
um passo para trás.
Apenas para provocar, curvo o canto da boca e pisco para ele, que
cerra o maxilar furioso. Giro nos calcanhares e o seu primeiro instinto é
agarrar meu braço, um toque quente e possessivo, perturbadoramente
excitante.
— Tem algo a me dizer?
Caterine pigarreia e Lorenzo me solta como se tivesse levado um
choque. Com os ombros elevados e autoestima renovada, eu caminho até a
minha irmã para sair do escritório.
Lorenzo pode até ter sido um idiota e me dado um fora, mas não
acho que seja cem por cento imune a mim.
Existe uma linha tênue entre o ódio e a excitação demasiada quando
os olhos verdes e atrevidos de Angelina e o sorriso sexy invadem a minha
cabeça sem permissão, enquanto eu fodo o rabo de outra mulher.
Nunca consigo ser racional e expulsar a garota da minha mente. Ou
perceber o quão doentio é a situação. Simplesmente, eu me entrego aos
instintos primitivos e desejo uma boceta que nunca será minha.
É irritante e perturbador.
Depois de despejar toda a porra dentro de Polina, eu desabo para o
lado, em cima do colchão, respirando fundo e olhando para o teto. Odiando
Angelina com todas as minhas forças por ter surgido na minha cabeça no
meio de uma foda.
Odiando principalmente, o fato de gostar tanto de gozar pensando
nela. É sempre muito intenso e único.
— Uau, Lorenzo, isso foi insano — Polina murmura toda manhosa
ao se enroscar em mim, mas desvencilho-me do seu toque.
— Eu preciso ir pra minha casa — informo.
— Veio aqui só pra me comer? — faz uma pergunta óbvia que eu
prefiro não responder. — Pensei que estivesse finalmente mudando... que
nós dois estivéssemos conectados de alguma forma — emenda e um
semblante entristecido toma conta do seu rosto.
— Não. Não estamos.
Ela assente, mordendo o lábio inferior.
— Mas foi especial hoje, eu sei que sim. Não minta pra mim. Você
estava diferente, Lorenzo — insiste.
Foi diferente, porque passei a noite inteira pensando na porra da
Angelina de quatro para mim, gemendo o meu nome e rebolando e gozando
no meu pau. Foi sim, especial pra caralho.
— Tesão reprimido — rosno.
Ela solta um suspiro cansado.
— Então, apareceu aqui depois do aniversário da sua madrinha por
causa do tesão reprimido e não por estar com saudades de mim?
— Sim — dou uma resposta curta e grossa.
A verdade é que desde que soube que Franco Vitale quer Angelina
como esposa, não consigo ficar quieto ou feliz com a novidade. Algo dentro
de mim está me deteriorando e sinto que estou perto de entrar em colapso.
Eu sei que Angelina não pode ser minha por vários motivos
plausíveis e que nem deveria foder uma mulher pensando na boceta
inocente dela. No entanto, não consigo aceitar que ela seja de Franco.
Ou de qualquer outro homem.
Sinto uma tensão se instalar no meu corpo por causa do pensamento
e é errado pra caralho, mas eu sei, não vou permitir que ninguém toque em
Angelina.
É enlouquecedor chegar a essa conclusão. Eu tenho um problema
enorme nas minhas mãos e não tenho ideia de como lidar com essa merda.
Mas, Franco Vitale não se casará com a princesa Giordano.
Ela nunca será dele.
— Não vai ficar e dormir comigo, não é? — pergunta, puxando os
lençóis para cobrir o corpo suado e com marcas vermelhas.
Odeio quando Angelina invade a porra da minha cabeça, porque
sempre acabo descontando a minha frustração em Polina.
— Não, eu nunca fico.
— Por que é sempre tão desconfiado? — Ela franze as sobrancelhas
ruivas ao questionar. — Não provei que sou de confiança? Eu trabalho pra
você há anos. Lorenzo, você sabe tudo sobre mim e sabe que nunca faria
mal a você.
Levanto do colchão e começo a vestir as minhas roupas que estão
jogadas no chão do quarto, evitando olhar Polina. Não suporto quando ela
fica sentimental demais, ainda mais, porque já deixei claro o que quero
desta relação.
— Eu só queria que você... — Ela não completa a frase, então, eu
lanço um olhar afiado para a ruiva na cama. — Confiasse em mim... como
eu confio em você.
Ela me pede algo impossível, porque eu sou o tipo de pessoa que
confia desconfiando. E nunca derrubarei as barreiras que construí ao longo
dos anos por causa da boceta de Polina.
— Não devia confiar em mim.
Ela pisca devagar, espantada com a minha resposta.
— Não? — balbucia.
— Não.
— Achei que pudesse tocar o seu coração de alguma forma —
murmura com os olhos claros cheios de lágrimas. Por alguma razão, não me
comove. Polina não é a primeira mulher que tenta me mudar e infelizmente,
não será a última.
— Eu não tenho um.
Nem espero que ela contra-argumente, apenas pego o meu terno e
dou as costas para sair do seu apartamento, cogitando a possibilidade de não
ver mais Polina fora do escritório.
Tudo entre nós já foi longe demais.
Dezenove anos antes...
— Mãe, o que é isso?
Depois de me entregar o pedaço de papel, ela abaixa a cabeça e
cobre os olhos com uma das mãos para chorar em silêncio, fazendo meu
coração doer contra o peito até me faltar oxigênio.
Mamãe respira fundo e leva uma das mãos até as costelas,
enrugando o rosto numa careta de dor. Ela está machucada e mal consegue
andar por causa da surra que levou ontem.
Não devíamos ter saído, nós nunca o fazemos, porque não temos
permissão para colocar os pés para fora de casa, mas era meu aniversário de
doze anos e ela queria nos levar para tomar sorvete, já que ele não nos
deixou comprar um bolo para comemorar. Ficamos fora de casa por uma
hora e foi divertido, pareceu que tudo ficaria bem se nós três estivéssemos
sempre juntos.
Mas, não ficou.
Eu nunca o vi tão irritado e ele bateu tanto na mamãe, que ela
desmaiou.
— Junte as sílabas como eu ensinei e leia o que tem no papel,
querido — pede com um sorriso melancólico.
Sinto minha garganta arranhar.
Se não fosse pela mamãe, eu não saberia nem escrever o meu
próprio nome, já que não tenho permissão para ir à escola.
— Leia este endereço com atenção, Enzo — ela murmura,
envolvendo as mãos no meu rosto para focalizar meus olhos. — E depois o
jogue fora. Jogue dentro do vaso sanitário e dê descarga. Ou queime.
— Mãe...
— Faça o que eu mando. Por favor, querido.
Abaixo os olhos e leio o endereço escrito no pedaço de papel,
decorando cada letra. É um lugar em Detroit, mas não faço ideia de quem
pertence. Não faço ideia de como chegar lá.
— Filho... — ela me chama, passando os dedos finos entre os meus
cabelos. — Não vou conseguir sair daqui com vocês — emenda e sinto os
olhos arderem ao me dar conta das palavras.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, negando.
— Não...
— Me perdoe por não conseguir proteger vocês. Eu sei que parte
disso é culpa minha e eu sinto tanto por isso, Enzo — choraminga.
— Mãe, vamos fugir juntos. Nós três.
— Eu preciso ficar, querido. Só assim vocês terão uma chance de ter
uma vida longe daqui.
— Não... não vou deixar você aqui com ele. Não vou.
Ela me puxa para um abraço tão apertado, que as lágrimas escorrem
dos cantos dos meus olhos sem que eu tenha controle sobre elas. São ácidas
e tem gosto tão amargo.
— Meu bem, escute a mamãe com atenção, tá bem? — ela murmura
no meu ouvido. — Marta Giordano era minha melhor amiga e é uma das
melhores mulheres que eu conheço.
— Então ela vai ajudar nós três — insisto, porque sou teimoso.
Minha mãe nega com a cabeça, fazendo carinho nos meus cabelos.
— Querido, tem algo sobre a mamãe que você precisa saber.
— O quê?
— Quando eu conheci o seu pai, eu me apaixonei, mas eu estava
noiva de outro homem e o único jeito de ficarmos juntos... era se eu fugisse
da minha vida. E eu fiz isso. Desonrei a minha família e não posso dizer
que estou arrependida, porque você e o seu irmão são os meus maiores
presentes.
— Mãe...
— Marta é uma mulher incrível e eu sei que ela vai ajudar você e o
Luca. Diga que são meus filhos, querido. Ela vai acolher os dois.
Sacudo a cabeça em negativa outra vez, incapaz de concordar com o
plano da mamãe. Não quero deixá-la aqui sozinha... com ele. Não vou
aguentar viver sabendo que ela ficou para trás nas mãos desse monstro.
— Mãe, por favor.
Devagar, ela direciona a atenção para o lado, onde Luca está
dormindo na cama, encolhido em pose fetal.
— Vou arranjar dinheiro pra você e o seu irmão, ok? — pergunta,
mas eu fico em silêncio. — Estou fraca, querido. Mesmo que eu tente, acho
que não iria muito longe com vocês.
Ela ergue uma das mãos para limpar uma lágrima idiota da minha
bochecha.
— Pode me perdoar por todas as coisas ruins que eu fiz você e o seu
irmão passarem? Eu tentei ser uma boa mãe, mas eu falhei de tantas formas.
— A culpa não é sua — consigo dizer ao mesmo tempo em que
amasso um pouco o papel entre os meus dedos.
Mamãe assente com um sorriso triste.
— Eu te amo tanto, Enzo. Amo tanto você e o seu irmão. Quero que
sejam felizes quando saírem daqui e...
De repente, a porta do quarto é escancarada e ele entra num
impulso, mudando todo o ar a nossa volta, acordando Luca e nos
assustando. Os olhos negros dele estão queimando em fúria e a atenção cai
direto sobre o pedaço de papel nas minhas mãos.
E eu me lembro do que a mamãe falou sobre jogá-lo fora depois de
decorar o endereço, então, eu o enfio dentro da boca e o engulo. O papel
desce arranhando a minha garganta, o que é pouco comparado ao que ele
fará conosco.
Minha atitude acaba atiçando ainda mais a raiva incontrolável dele.
— O que você está escondendo, moleque? — grunhe ao chegar
perto de mim e agarrar o meu braço, me sacolejando como se eu não fosse
nada. A mão firme dele vai direto para o meu rosto, me obrigando a abrir a
boca. — Que merda você engoliu?
— Nada, ele não está escondendo nada — mamãe tenta intervir,
enquanto Luca começa a chorar em silêncio na cama.
— Cala a boca, vagabunda — retruca e solta o meu braço, mas me
joga no chão com força e é por um triz que não caio de cara com o
porcelanato. Ele gira nos calcanhares para se aproximar da mamãe. —
Ainda não esqueci o que você fez ontem. Só de pensar que você me
desobedeceu, me sinto furioso pra caralho.
Com dificuldade, mamãe fica de pé.
— Era aniversário do Enzo e... — Ela é silenciada com uma
bofetada, que faz o seu rosto sangrar e me deixa tão irritado, que eu rosno:
— Eu vou matar você.
Assim que ele me ouve, o corpo do monstro gira devagar e de forma
assustadora para mim. Um riso estridente escapa de entre os lábios
enrugados e feios, deixando o seu rosto com barba ainda mais horrendo.
— Isso é uma ameaça, Enzo?
— Não. É uma promessa.
Ele me dá um soco e eu cambaleio para trás, mas não choro. Luca
desce da cama e corre para perto de mim, tentando me ajudar de alguma
forma. Antes que o monstro do nosso tio volte a me bater, a mamãe segura
seu braço com as duas mãos, o impedindo de continuar.
— Pare, Tommaso — mamãe ordena pela primeira vez na vida. —
Não encoste nos meus filhos — continua com a voz firme, embora sua
expressão seja de dor e medo.
Com um impulso, o corpo dele gira para a mamãe ao questionar:
— O que disse, vagabunda?
Ela engole em seco.
— Faça o que quiser comigo, mas pare de maltratar os meus filhos.
Uma risada grave preenche todo o cômodo e os ombros dele tremem
ao mesmo tempo em que balança a cabeça de um lado para o outro,
incrédulo.
— Que graça isso teria? Deixar os pirralhos impunes? — Em passos
duros, ele se aproxima dela. — Vire-se.
O rosto da mamãe muda totalmente e é tomado pelo desespero.
— Não, Tommaso. Por favor. Não na frente deles — balbucia, quase
implorando.
— Acha que pode me provocar e sair ilesa? — rebate, desfivelando
o cinto da calça social. — Vou te mostrar o que uma vagabunda como você
merece. Vou fazer isso na frente dos seus filhos.
— Se esconde no guarda-roupa — sussurro para Luca, que chora em
silêncio, mas assente e, engatinhando, faz o que eu mando.
O velho nojento se aproxima dela e antes que possa tocá-la, eu
avanço em cima dele, tentando acertar chutes e socos no seu corpo, usando
toda a minha força, que parece em vão, já que ele nem sai do lugar.
Mamãe chora.
Ele se vira para mim e acerta um soco nas minhas costelas, fazendo
a mamãe gritar e levantar a mão para bater no seu rosto, mas nem
conseguem acertá-lo, porque o velho segura o seu pulso.
— De onde vem essa coragem, Stella? — ele pergunta, analisando a
mamãe com uma expressão divertida no rosto.
Odeio que o nosso sofrimento pareça um parque de diversão para
ele.
— Deixa meus filhos em paz, Tommaso.
— O que tinha naquele papel? — ele quer saber.
— Nada — mamãe grunhe.
— Stella...
— Você é um monstro — mamãe choraminga.
— Sim, sou o seu monstro.
Arrasto-me até os dois, sentindo as costelas doerem e tento agarrar o
seu pé para afastá-lo da mamãe e é em vão. Ele solta o pulso dela e se
prepara para me chutar, só que a mamãe fica na minha frente e recebe
vários chutes por mim.
— Mãe... — falo baixo, sentindo as bochechas molhadas por causa
das lágrimas que não consigo segurar.
— Tudo bem, querido — ela murmura, chorando também.
Furioso, o velho agarra a mamãe com as duas mãos e a tira de cima
de mim. Fecho os olhos com força, esperando os próximos golpes, mas eles
não vêm. Bato os cílios para entender o que está acontecendo e o vejo com
os dedos em volta do pescoço dela, apertando com força.
— Não! — grito. — Mãe! Por favor, não! — grito de novo.
Mamãe esperneia sem fôlego e cruza o olhar com o meu, cada vez
mais fraca, enquanto o velho gosta de cada segundo do que faz com ela.
— É isso que você merece, vagabunda — grunhe, estrangulando a
mamãe como se ela não fosse nada.
Reúno forças para ficar de pé e ao fazê-lo, cambaleio para perto
deles e tento tirá-lo de cima dela, mas infelizmente, sou apenas um garoto
magricela contra um homem de quarenta anos com o triplo da minha altura.
Não consigo salvá-la.
O monstro que é meu tio e deveria ser minha família, cuidar de
mim, do meu irmão, da mamãe... ele só afasta as mãos do pescoço fino e
frágil dela quando não há mais vida em seus olhos claros.
Mamãe cai no chão, fazendo o estrondo ecoar dentro do quarto.
Ele olha para ela com desprezo.
— Se me desobedecerem, você e o seu irmão terão o mesmo destino
— é o que diz ao sair do quarto, batendo a porta com força.
Luca sai do armário e, inocentemente, para ao lado da nossa mãe
sem vida, cutucando o seu braço.
— Mamãe? — chama. — Mamãe?
Ele olha para mim, que não consigo mover um músculo do corpo.
— Por que ela não responde? Ela tá com o olho aberto, mas não
responde — fala, o queixo pequeno tremendo e os olhos se enchendo de
lágrimas.
Engulo em seco, incapaz de verbalizar algo.
— Mamãe? Mamãe, responde por favor — Luca insiste.
Ao entrar no prédio de cinco andares da família Giordano, logo na
entrada, há uma secretária sorridente e com expressão acolhedora na
recepção, direcionando um grupo pequeno de clientes para à área adequada.
Atravesso o saguão com uma decoração clean que reflete o ar
respeitoso e compassivo do lugar e rumo para os elevadores, fazendo a fila
de pessoas a minha frente se dissipar para abrir passagem para mim.
Não sou famoso por aqui por minha simpatia e compreensão, então,
no geral, a maioria dos funcionários evita cruzar o meu caminho, uma
tentativa de manter o emprego a salvo.
As portas do elevador se abrem e eu entro sozinho, apertando o
botão do meu andar. Antes que as portas voltem a se fechar, os funcionários
do lado de fora evitam me olhar nos olhos.
Meu celular vibra dentro do bolso do terno e eu o pego. Nenhuma
surpresa ao ver o nome da Angelina na notificação da tela colorida. Desde
que a capetinha fez dezoito anos, me manda fotos religiosamente pela
manhã. Minhas respostas curtas e grosseiras nunca a fizeram desistir do seu
ritual matinal.
Engulo em seco e afrouxo o nó da gravata depois de abrir a
mensagem e ver a foto de Angelina.
Ela está deitada na cama, de frente para a câmera do celular, o
cotovelo apoiado no colchão para segurar o queixo. Os cabelos rebeldes de
quem acabou de acordar caindo sobre os ombros nus e me fazendo imaginar
como seria tê-los espalhados pela minha cama. Dá para ver a sua coxa
esquerda levemente dobrada e que o tecido da camisola subiu um pouco por
causa da pose.
Tudo isso acompanhado de um sorriso sexy e provocante.
“Tenha um ótimo dia, Lorenzo.”
Não respondo Angelina e, também, não apago a foto.
Sou um cretino, mas nunca apago as fotos que ela manda para mim.
Minha galeria de imagens é repleta de Angelina e não me orgulho disso,
mas é um ótimo material para os meus pensamentos sujos durante a
madrugada.
Angelina é a porra da minha droga e na minha cabeça, eu já a comi
de tantas maneiras, que se meu padrinho sonhasse com isso, cortaria o meu
pau e me acusaria de traição.
Só me dou conta de que as portas se abriram no meu andar, porque
ouço uma funcionária me cumprimentar com um “bom dia” tímido. Guardo
o celular dentro do bolso do terno e assinto antes de caminhar para a minha
sala, reparando que Polina ainda não chegou.
Odeio atrasos e ela sabe disso. Já trabalhava aqui antes mesmo de eu
assumir os negócios legais do meu padrinho.
Com o aborrecimento latejando nas têmporas, eu entro na sala
ampla com janelas grandes de vidros e com vista para o centro de Detroit,
abro o terno antes de me acomodar na cadeira de couro confortável detrás
da mesa feita sob medida, avistando o envelope branco em cima do meu
notebook fechado.
Quando o padrinho sugeriu que eu tomasse a frente dos negócios da
família, minha primeira reação foi recusar. Não queria ter que lidar com
pessoas, muito menos na indústria funerária de cremação.
Mas, bem... a morte, às vezes, ela salva.
E, no geral, não preciso vir todos os dias aqui e as pessoas neste
andar são silenciosas e ficam fora do meu caminho, o que não me faz odiar
tanto o lugar.
Abro o envelope apenas para descobrir que é a carta de demissão de
Polina e que agora, estou sem a merda de uma secretária. Como sou
orgulhoso demais para ir atrás dela e pedir que volte, decido me virar
sozinho.
— Ele sempre foi duro com as palavras — Chiara fala ao tirar uma
fornada de cantuccini[10] do fogão. — Ficaram bonitos? — pergunta com
expectativa.
— Lindos.
Chiara é um doce e totalmente diferente de mim. É uma garota
meiga e simpática, obediente, gosta de cozinhar e cuidar dos outros. Ou
seja, ela sim é a dama perfeita da máfia e qualquer homem teria orgulho de
tê-la como esposa.
Nós crescemos juntas e Chiara sempre se deu bem com todas nós, é
a nossa melhor amiga e a amamos como a sexta irmã.
— Não quero me casar com Franco Vitale, mas eu sei que Adele
também não se casará com ele. A não ser que o papà mande explicitamente.
Vai sobrar pra Caterine e eu não quero ver minha irmã infeliz.
Chiara tira as luvas térmicas com estampa de bolinhas e encaminha
a atenção para mim.
— Então, o que vai fazer?
— Não faço ideia — admito e faço beicinho. — Franco Vitale
podia, sei lá, simplesmente morrer, não é? Isso resolveria grande parte dos
meus problemas — digo sugestiva e as maçãs do seu rosto ruborizam.
— Seria um desperdício, ele é lindo.
Reviro os olhos e enfio o indicador e o dedo do meio na boca,
fingindo ânsia de vômito e acabo arrancando uma risada contagiosa e
mesmo assim, delicada de Chiara.
Ela é linda. Os cabelos loiros caem em ondas grossas até os ombros,
o que a faz parecer um anjo. É o tipo de garota que não usa muita
maquiagem e nem precisa, os traços delicados são encantadores.
— Lorenzo é mais.
Chiara abre um sorriso genuíno.
— Você é completamente apaixonada por ele, Angelina — fala,
analisando minhas expressões. — Mas... — A frase dela morre no meio da
garganta e a vejo lambendo os lábios, pensativa.
Franzo o cenho.
— O quê?
— Quando vai deixar de ser platônico? Lorenzo vai mesmo
corresponder algum dia ou isso é apenas um sonho? — questiona e meu
coração bate dolorosamente contra o peito.
Desde o nosso momento quase íntimo na cozinha dias atrás, não nos
falamos. Não fui atrás de Lorenzo e ele não me procurou. Por um momento,
eu achei que estivéssemos de fato, evoluindo.
Mas acho que estava enganada.
— Eu não deveria colocar mais lenha na fogueira e te contar isso,
mas você é minha melhor amiga, Angelina.
As palavras de Chiara me deixam em alerta e eu endireito os
ombros. Pego um cantuccini de dentro da forma e enrugo o rosto ao lembrar
que está quente. Assopro um pouco antes de dar a primeira mordida.
Faço um gesto com o queixo para que Chiara continue a falar.
— Adele vai começar a trabalhar para o Lorenzo — solta a bomba
em cima de mim, fazendo-me engasgar com o biscoito.
Chiara vem para detrás de mim e bate nas minhas costas, uma
tentativa de me ajudar a me recompor.
— O quê?! — berro.
— Acho que o conselheiro quer aproximar os dois, criar uma
intimidade, sei lá. A mãe dela contou pra minha. Desculpa, eu deveria ter te
contado antes, não fica brava comigo, mas você estava se recuperando.
Enrugo o nariz e prenso os lábios em linha reta.
— Tira esse avental e vem comigo — digo a Chiara assim que uma
ideia atravessa a minha cabeça. A garota abre a boca e balbucia algo que
não entendo, mas por fim, respira fundo e assente concordando.
Dia seguinte...
Tratar Tommaso como um animal enjaulado, deixá-lo sem água ou
comida é gratificante pra caralho. Ele parou de cantar e o sorriso arrogante
não estampa mais o seu rosto horrendo.
Eu prolongaria isso por dias, mas o velho filho da puta já começou a
cuspir sangue. Não darei a chance de ele morrer por causa da sua doença
maldita. Quero me divertir antes de mandá-lo direto para o fogo do inferno.
São quase dezenove horas quando entro no ringue outra vez, com
Luca no meu encalço. Faz quase vinte e quatro horas que o capturamos.
— Lá vem os meninos de ouro — Tommaso fala, a voz esganiçada
me irritando. — Aquela vagabunda deve estar orgulhosa, os dois filhos
imprestáveis juntos de novo.
Luca rosna um palavrão e ameaça ir para cima de Tommaso, mas eu
o impeço. Apesar de odiar vê-lo falar da nossa mãe, o que tenho em mente
para as próximas horas fará com que ele sofra.
— Tenho dois desafios pra você, Tommaso — falo e enfio a mão
dentro do bolso para pegar a chave das algemas. — Se conseguir sair vivo
dessa, eu te dou água e comida. E, claro, tiro você deste lugar.
Ele estreita os olhos para mim.
— O que você pretende fazer, moleque?
Sem articular uma palavra, aproximo-me dele e o livro das algemas.
Luca enruga o rosto, mas assim que trocamos um olhar, ele sai de dentro do
ringue. Desconfiado, Tommaso se levanta e alonga o pescoço e os braços.
— Não aguentava mais ficar algemado — resmunga, respirando
fundo e em seguida, abre um maldito sorriso para mim. — Que merda você
tem na cabeça?
Olho para ele por um longo e intenso segundo, mas não digo nada
de imediato. Luca e William surgem no ringue com um dos homens de
Tommaso, que parece confuso ao ver o chefe.
— É simples. Quem vencer, ganhará o jantar e o segundo desafio.
Ergo uma sobrancelha para Tommaso e curvo o canto da boca. Luca
e Will jogam o homem dentro do ringue e se afastam. Olhando para os dois,
eu recuo alguns passos e apenas observo.
— Isso é ridículo — Tommaso resmunga.
— Então, apenas deixe o seu subordinado ganhar — provoco com
deboche, atiçando a fúria do homem.
— Enzo, isso vai dar certo? — Luca pergunta, ainda receoso.
— Sim.
Cruzo os braços na altura do peito e observo os dois se atracarem
como galos de briga. Embora tente se defender, o homem de Tommaso é
derrubado no chão com facilidade e o velho aproveita o momento para
socá-lo até deformar o seu rosto.
Depois de matá-lo, ele fica de pé e levanta os braços, zombando.
— Que horas será o jantar? — resmunga e cospe sangue no chão,
sorrindo com sarcasmo para mim e meu irmão.
— Will traga o próximo homem — ordeno e assim, meu soldado o
faz.
— Ah, Enzo. Sabemos que vou vencer — se gaba, respirando fundo
e movendo os ombros. — Vai insistir?
— Sim — respondo, simplesmente.
O próximo homem é jogado dentro do ringue e Luca começa a
passar a mão no topo da cabeça, ansioso. Tommaso leva alguns socos, mas
não é fácil derrotá-lo e acontece exatamente como da primeira vez, o
maldito velho derruba o adversário e o mata a socos.
— O que você disse sobre eu não ser páreo para homens de
verdade? — ele questiona, rindo.
— Tire os corpos do ringue, William — ordeno ao mesmo tempo
em que entrego a chave da algema para Luca, que arregala os olhos para
mim.
— Não tá pensando em lutar com ele, não é? Não foi isso que
combinamos, Enzo.
— Não se preocupe comigo — é a única coisa que digo ao abrir
meio sorriso para o meu irmão e arregaçar as mangas da blusa social até o
cotovelo. — Não vou perder pra ele.
— Enzo... — Luca murmura, mas eu o ignoro.
Ao entrar no ringue, William lança um olhar sagaz para mim e
assente com um pequeno sorriso. Devagar, caminho até Tommaso e paro
alguns passos de distância, encarando os olhos do porco miserável.
— Que horas vai servir a porra do meu jantar?
Sorrio de lado.
— Acho que dei a entender errado. Você será o jantar em breve — é
o que digo e ele franze o cenho, sem entender. — Tenho cachorros famintos
esperando a hora certa de comer carne — digo entre os dentes.
Ele cerra a mandíbula e infla as narinas.
— Enzo, Enzo... acha que pode fazer isso comigo?
— Sim — respondo, simplesmente. — Eu posso.
— Eu vou te matar dentro desse ringue, Enzo. Sabe disso, não é?
Daí seu irmãozinho e a sua namoradinha ali vão me matar depois, mas vai
valer a pena.
— O único que morrerá aqui é você, mas não se preocupe,
Tommaso. Eu vou te deixar vivo. Pelo menos um pouco, o suficiente para
sentir os dentes dos cachorros dilacerando a sua pele.
O rosto dele se enche de fúria e o velho avança para cima de mim,
mas diferentemente de quando eu era criança, é fácil desviar dos golpes e
acertar socos no seu rosto medonho, fazendo alguns dentes voarem pelo
ringue.
Sinto o coração bombear alto dentro dos ouvidos à medida em que a
raiva vai me consumindo e as lembranças enchem à minha cabeça, fazendo-
me cruzar um estado de êxtase e natureza animal.
Cada soco em Tommaso é por mim.
Pelo meu irmão.
Pela minha mãe.
Cada soco é pela inocência e esperança que ele nos roubou quando
éramos crianças.
No momento em que volto a mim, sinto as mãos de Luca em cima
de mim e minha respiração ofegante. Olho para o chão e vejo Tommaso
com o rosto arrebentado, mas ainda está vivo.
— Quer matá-lo ou deixar que os cachorros terminem o trabalho?
— Luca pergunta, buscando os meus olhos.
Sinto uma dor aguda no meu ombro ferido e resmungo de dor. Tão
cego pelo ódio e raiva, desliguei parte do meu cérebro e por alguns minutos,
a única coisa em que me concentrei foi acertar socos em Tommaso.
— Diga para William trazer os cachorros — falo, sentindo um
estranho sentimento de felicidade e vitória encher o meu peito.
Tommaso se arrasta para trás.
— Não, Enzo. Vamos conversar, por favor — murmura ao mesmo
tempo em que se arrasta, uma tentativa inútil de fugir do seu destino. — Por
favor, me mate. Me mate de uma vez.
Começo a rir com deboche.
— Interessante. É a primeira vez que o vejo implorar.
— Enzo, por favor. Me mate. Não quero morrer assim — suplica,
encarando-me e eu balanço a cabeça de um lado para o outro.
— Pare de implorar, não combina com você — ordeno e ele trinca
os dentes, tentando se levantar, mas desiste no momento em que ouve os
latidos agressivos dos cães e fica de joelhos no chão.
Olho por cima do ombro e vejo William se aproximar com os seus
três machos de cor preta da raça Cane Corso. Dou um passo para o lado e
meu soldado se aproxima, fazendo força para não se deixar levar pelos
cachorros.
— Sentem — Will dá um comando de voz e mão e, imediatamente,
os três obedecem, encarando Tommaso, que treme dos pés à cabeça.
Luca se junta a nós e eu me aproximo de um dos cachorros,
passando a mão no topo da cabeça, atraindo o olhar do cão para mim.
— Eles são inofensivos — zombo e William ri ao soltá-los da
coleira. Surpreendentemente, nenhum deles sai do lugar. — O que acha?
— Enzo... — Tommaso insiste e fica de pé, cambaleando. — Seja
homem e me mate.
— Eu disse que sentiria os dentes dos cães dilacerando a sua pele —
grunho e abro um pequeno sorriso vitorioso.
— Luca! — Tommaso grita, uma última tentativa de nos fazer
mudar de ideia.
— Te vejo no inferno — meu irmão retruca.
— William — é a única coisa que preciso dizer.
— Meninos, chegou a hora do jantar. Vão! — meu soldado grita e
em sincronia, os três cachorros avançam em cima de Tommaso, o
derrubando no chão, cravando os dentes por toda a sua pele, enquanto ele
grita de dor.
Tudo parece acontecer em câmera lenta e é gratificante pra caralho.
Os gritos de dor e desespero de Tommaso são como música para os
meus ouvidos e enquanto ele se debate a cada mordida, rumo para perto
dele, apenas o suficiente para encará-lo e não incomodar os cães.
Agacho-me perto da sua cabeça e focalizo seus olhos desesperados,
perdidos em uma agonia sufocante.
— Meu nome é Lorenzo e sou a última coisa que você verá antes de
chegar ao inferno.
Eu sabia que a vingança de Lorenzo contra o homem que destruiu a
sua família não seria rápida, ainda assim, passar tanto tempo sem vê-lo,
quase me corroeu de preocupação, mesmo tendo o papà falando que tudo
estava bem, foi impossível ficar tranquila.
Por isso, assim que soube que Lorenzo foi para o apartamento, fiz
Paolo me trazer até aqui. Claro que papai não gostou. São quase vinte e três
horas e uma mulher “virgem” não deve ficar sozinha tão tarde da noite com
um homem, mesmo que ele seja o seu futuro marido.
— Vou esperar aqui fora — Paolo informa quando chegamos em
frente a porta do apartamento do subchefe da organização. — Ordens do
seu pai, Angelina — emenda quando enrugo o rosto numa careta de
desgosto.
— Tudo bem. Não vou demorar.
Sem cerimônia, soco a mão dentro da bolsa e tateio até encontrar a
minha cópia da chave, surpreendendo o soldado ao encontrá-la. Dou de
ombros e abro a porta, mandando um beijo para Paolo antes de entrar.
As luzes do apartamento estão acesas, mas há um completo e
estranho silêncio no lugar. Segurando a alça da minha bolsa no ombro, eu
caminho até o quarto de Lorenzo e empurro a porta para entrar bem na hora
que ele sai do banheiro com uma toalha em volta da cintura.
Perco alguns segundos admirando os gominhos do seu abdômen
marcado e estou prestes a abrir um sorriso sexy e provocante quando vejo o
curativo sujo de sangue no ombro dele.
— Angelina... — diz, surpreso.
— Meu Deus! Papai disse que você estava bem.
Corto a nossa distância com passos apressados e estendo a mão para
tocar o curativo no seu ombro. Sinto o calor dos seus olhos em cima de
mim e o cheiro de sabonete cítrico dançando pelo ar me faz sentir bem e
aliviada por vê-lo.
— O que aconteceu?
— Não é nada — é o que diz, erguendo uma das mãos e envolvendo
no meu pescoço, os dedos se entrelaçando nos meus cabelos da nuca e
enviando um comando louco para o meio entre as minhas pernas. — O que
está fazendo aqui?
— Paolo me trouxe. — Faço um muxoxo. — Fiquei preocupada —
resmungo, deixando meus ombros caírem.
— Acabou.
Assinto ao prensar os lábios.
— Ele teve o que merecia?
— Sim.
— Como se sente? — quero saber.
— Nunca vou esquecer o que Tommaso fez, mas me sinto bem.
Suspiro e contorno o seu pescoço com os meus braços, prendendo
os olhos azuis e impenetráveis a mim. Fico na ponta dos pés e grudo nossos
lábios de leve, uma tentativa de mostrar que agora tudo vai ficar bem de
verdade.
— Sinto muito por tudo que passou, Lorenzo — murmuro, falando
abertamente sobre o assunto pela primeira vez. — Sinto muito que tenha
perdido sua mãe e que tenha ficado tanto tempo longe do Luca.
— Eu sei.
Abro meio sorriso.
— Ela deve estar orgulhosa de você agora.
Lorenzo balança a cabeça de um lado para o outro, negando.
— Acho que não, Angioletta. Aquele menino que ela amava...
morreu há muito tempo.
Faço carinho no seu rosto com as pontas dos dedos, roçando na
barba.
— Está enganado, Lorenzo. Nada disso importa, porque você
sempre será filho dela. Você é meu Lorenzo, mas nunca deixará de ser o
Enzo dela — murmuro e ao me ouvir, os olhos dele cintilam com uma
emoção que não consigo decifrar, e então, ele traz o rosto para perto de
mim, esmagando minha boca com a sua, afundando a língua em mim
enquanto me aperta contra o próprio corpo.
As mãos dele descem até os meus seios e apertam, me roubando
gemidos manhosos e eu acabo deixando a bolsa cair no chão. Com pressa,
Lorenzo desliza o meu casaco sobre os meus braços e os dedos ágeis
procuram a barra da minha blusa de manga longa e quando me dou conta,
ele está passando a peça de roupa por cima da minha cabeça, pronto para
tirar o resto das minhas roupas.
— Espera... — murmuro.
— O quê?
— Quero sentir o seu gosto antes — digo com o coração
bombeando rápido no meio da garganta e as bochechas queimando.
Um olhar devasso toma conta dos olhos azuis dele e mordo o lábio
inferior no momento em que o homem agarra as minhas mãos junto as suas
para puxar a toalha em volta da cintura, revelando a ereção rígida e pronta
para mim.
— Fica de joelhos pra mim, Angioletta — ele ordena, acelerando a
minha respiração.
Engulo em seco e obedeço, sem desviar a atenção dos olhos
flamejantes de Lorenzo. Gemo ao sentir a mão firme agarrar os meus
cabelos da nuca e puxar com a força certa, arrepiando a minha espinha
dorsal.
— Abre a boca — outra ordem sexy pra caramba.
Umedeço os lábios antes de fazê-lo e, em seguida, com a mão livre,
ele segura o pau rijo e eu não lembro a última vez que me senti tão ansiosa.
Com paciência, ele passa a cabeça do pau entre os meus lábios e me
pede para lamber. Olhando nos seus olhos, eu passo a língua na glande,
misturando a minha saliva com o seu pré-gozo e é tão delicioso.
Ele solta um som gutural, respirando pesado.
Num movimento lento, Lorenzo vai me fazendo engolir o seu pau e
à medida que o faço, noto o seu corpo reagir. Ele afunda o membro um
pouco mais e depois o tira e rápido, pego o jeito.
— Caralho... isso — grunhe.
Cubro o pau dele com os lábios mais uma vez e tento ir mais fundo,
ao voltar para a cabecinha, demoro um pouco mais nessa região, passando a
língua e o lambuzando inteiro.
Ele rosna, puxando o meu cabelo, me incitando a continuar.
Lambo toda a extensão pulsante e quente da sua carne antes de
voltar a abocanhá-lo, engolindo até onde aguento, ouvindo os gemidos de
rendição que Lorenzo dá para mim.
Conforme vai se entregando ao prazer, Lorenzo joga a cabeça para
trás e entrelaça a outra mão no meu cabelo. Contorno o seu membro com os
dedos e massageio num vaivém firme e ritmado, sincronizado com os meus
lábios.
— Angelina... — ele geme e é surreal ouvi-lo chamar meu nome em
uma hora de entrega total assim.
Lorenzo é meu.
Apenas meu.
Deixo-me guiar pelo instinto e uso a minha mão livre para dar um
pouco de atenção para as bolas, tocando-as com cuidado, apertando de leve
e o corpo do homem contrai inteiro ao mesmo tempo em que rosna.
— Caralho, Angelina, se continuar assim, você vai acabar comigo
— resmunga, ofegante.
Continuo chupando o pau de Lorenzo com vontade, buscando o
momento em que ele perderá o controle e gozará, se entregando
completamente.
— Angelina... — grunhe, abaixando as vistas para me encarar, mas
não paro ou diminuo o ritmo.
Desço mais com os lábios, molhando o pau dele inteiro e chupando
a glande, enquanto mantenho meu olhar firme nos seus. A minha mão na
base bombeia a carne pulsante num ritmo sincronizado.
Assim que ele entende que eu quero fazê-lo gozar, os dedos de
Lorenzo apertam um pouco em volta da minha nuca, mas não me
machucam, apenas o suficiente para sintonizar com o seu ritmo.
Encarando os olhos azuis, eu o sugo, lambendo e apertando as bolas
de leve, vendo o homem inabalável fechar os olhos conforme o seu
orgasmo o invade e o faz tensionar cada músculo do seu corpo.
mal tenho tempo de falar algo, ele me ajuda a levantar e me coloca deitada
em cima da cama.
pernas.
— Lorenzo... — gemo.
Lorenzo agarra um dos meus seios com força e a outra mão guia o
seu membro duro até a minha entrada, enfiando tudo de uma vez, me
esticando inteira. Deixo escapar um grito, que tenho certeza de que Paolo lá
no corredor ouviu.
— Lorenzo...
— Lorenzo...
sexy. — Goza no pau do único homem que vai te ter assim — emenda de
maneira incisiva, penetrando cada vez mais forte.
nosso amor fosse um mero detalhe para todo o resto. Mas, talvez, a verdade
seja mesmo essa, que seu coração impenetrável nasceu para completar o
meu de todas as formas.
Eu amo Lorenzo.
Boa leitura!
— Chegou a hora de solidificar a nossa parceria com a família
Faz quase um ano que nós controlamos os Giordano. Não foi fácil
O papà tem razão, apesar de achar que meu o pau está bem
sossegado dentro das calças no exato momento. Ele não come uma boceta
faz vinte e quatro horas.
— Você vai para Detroit amanhã e escolherá a filha mais bonita que
Giuseppe tem — o Don fala, ordenando enquanto mexe nos papéis em cima
jeito que eu fui criado. Além do dinheiro, poder e bocetas, não há nada de
O meu silêncio faz com que ele me olhe por cima dos óculos de
agora. Depois do que Sienna fez com a própria vida há cinco anos, não
gosto da possibilidade de escolher uma mulher para ser minha esposa e vê-
Uma carga.
Meu pai faria exatamente a mesma coisa se tivesse uma filha.
última vez que alguma das mulheres que nasceram no nosso mundo,
casaram por livre e espontânea vontade. Ou por amor.
homem assentindo.
rebelar. Por isso, preciso que uma das filhinhas dele esteja debaixo das
escolheu Sienna para mim foi ele, não eu. Mas em vez disso, concordo com
Confesso que foi o livro mais difícil que escrevi até agora e acho
conseguiria finalizá-la.
Meu emocional não está valendo nem um centavo, mas estou muito
satisfeita com a história que coloquei no papel e entreguei a você, Maria
como trouxe pra mim. Esse capetinha disfarçado de anjo foi uma das
melhores coisas que aconteceu com Lorenzo e ele merecia um amorzinho
assim, não é? Uma mulher louquinha e que tirou ele do sério várias vezes.
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Beijão e se cuidem!
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[1]
Papai em italiano.
[2]
Consigliere ou também conselheiro é às vezes visto como o braço direito do Don. Participam da
mediação de disputas, atuam como representantes da família em situações de risco e frequentemente
são a ligação entre o Don e o aspecto judiciário ou político.
[3]
Mamãe em italiano.
[4]
Padrinho em italiano.
[5]
Sottocapo ou Subchefe é a segunda posição mais poderosa e importante na hierarquia da Máfia
Italiana, diretamente abaixo do Don e acima do Caporegime. O Subchefe é em vários casos um
parente do Don ou apenas um confidente de extrema confiança, sendo nomeado e eleito pelo
Don/Chefe em si. O subchefe está no comando de todos os capos e é geralmente sempre o homem
que toma a liderança temporariamente se o Don é preso permanentemente/temporariamente ou se o
Don é morto. Normalmente, cada família da máfia tem apenas um subchefe.
[6]
Madrinha em italiano.
[7]
Martina é a protagonista de Entregue ao Mafioso, o 1° livro da série. Ela é a esposa de Danilo, o
subchefe e filho mais velho do Don Salvatore, o chefe da Máfia Salvatore.
[8]
Danilo é o Subchefe da Máfia Salvatore e protagonista de Entregue ao Mafioso, 1º livro da Série
Império Salvatore.
[9]
“Anjinho” em italiano.
[10]
É um biscoito típico da região Toscana, cidade de Prato. São feitos com amêndoas secas no forno
e são consumidos pelos italianos com café ou vinho tinto.
[11]
Sarah é a protagonista de “Resgatada pelo Mafioso”, segundo livro da série Império Salvatore. O
livro já está disponível na plataforma da Amazon.
[12]
O baby shower é uma celebração pré-natal em homenagem à futura mãe e ao bebê que está por
vir. É um evento onde amigos e familiares se reúnem para presentear a mamãe e o bebê e
compartilhar a alegria da gravidez.
[13]
Giancarlo é o consigliere do Império Salvatore, marido da Sarah e protagonista de “Resgatada
pelo Mafioso”, segundo livro da série e que já está disponível na Amazon.
[14]
“Doce Anjinho” em italiano.
[15]
Pai ou papai em italiano.
[16]
O chefe dos chefes. Título máximo na hierarquia da máfia italiana.
[17]
Consigliere ou também conselheiro é às vezes visto como o braço direito do Don. Participam da
mediação de disputas, atuam como representantes da família em situações de risco e frequentemente
são a ligação entre o Don e o aspecto judiciário ou político.