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Direitos autorais do texto original copyright © 2023, BRENDA

RIPARDO, PROIBIDA PARA O MAFIOSO

Capa: Magnifique ♛ Design


Ilustra: Úrsula Gomes
Diagramação: Brenda Ripardo
Preparação de texto/Editor: Graci Rocha
Leitura Sensível: Saulo Moreira

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desse livro pode ser
utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes — tangíveis ou
intangíveis — sem autori-zação por escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº
9.610/98, punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Este livro segue a norma-padrão do novo acordo ortográfico da
língua portuguesa, mas há muitas abreviações como o "tá", "tô", “pra” e
"pro", de forma que o texto fique o mais natural e verossímil possível.
“Cada pedaço puro e inocente de Angelina será tocado pela minha
alma fodida e suja de sangue.
Vou marcá-la como minha.
E, no fim, não terá mais volta.”
Lorenzo Falcucci é o sottocapo da máfia de Detroit e foi criado por
Guiseppe, o chefe da organização que o acolheu como filho e a quem ele
deve lealdade.
Por detrás do homem implacável e inabalável, há um garoto
inocente e indefeso que teve a vida marcada por abusos, sofrimentos e
perdas irreparáveis e que, ainda assim, luta para superar as lembranças
dolorosas que insistem em assombrá-lo.
Angelina Giordano é uma das princesinhas de Detroit, filha do chefe
da organização, atrevida e linguaruda, nutre uma paixão ardente e proibida
por Lorenzo desde que era uma garotinha.
Ela sempre teve tudo o que quer e está obcecada pelo homem que
foi criado pelo seu pai e que a trata como uma “irmã mais nova”. Mas, para
ter o mafioso que ama, Angelina está disposta a enfrentar qualquer
obstáculo.
Enquanto o perigo espreita nas sombras, Lorenzo se vê sendo
perseguido por um inimigo misterioso de intenções desconhecidas ao
mesmo tempo em que se depara com o desejo latente que sente por
Angelina, uma tentação que o consome e o coloca em conflito com os seus
princípios.
Lorenzo deve protegê-la e não desvirtuar a garota inocente e pura.
Angelina deve se manter longe do homem que foi criado para ser o
seu “irmão” e não tentar seduzi-lo.
Mas, Lorenzo será capaz de resistir a ela?
Um romance intenso e arrebatador, cheio de emoção e repleto de
perigo, onde duas pessoas que não deveriam ficar juntas se apaixonam
intensamente.
Proibida para o Mafioso é o terceiro livro da série “Império
Salvatore”. Por ser com casais diferentes, cada livro da saga pode ser lido
separadamente, mas talvez o posterior contenha spoilers do anterior.
Este é um romance hot que tem como pano de fundo a máfia
italiana, mas se você espera encontrar cenas de detalhes sobre as

negociações dentro da máfia e burocracias, este livro NÃO corresponderá


às suas expectativas.

A história a seguir tem gatilhos e temáticas delicadas como álcool,

tortura, alienação parental, abuso verbal e violência doméstica e familiar,

incluindo temas de consentimento questionável, linguagem imprópria e

conteúdo sexual gráfico.

A autora não apoia e nem tolera as ações ilegais e comportamento

de alguns personagens retratados neste livro. A atenção do leitor é


aconselhada. Não leia se não se sente confortável.

A história narrada nas páginas seguintes, foi escrita baseada em

muito estudo sobre a Máfia Italiana, e claro, usando o bom senso da licença
poética e minha criatividade.

ATENÇÃO!

A história do livro é para maiores de 18 anos. Se você não tem idade

suficiente para continuar a leitura, sugiro que dê meia volta e devolva o

livro para a plataforma e procure algo apropriado para sua idade.

Mas, caso tenha 18 ou mais...

Bem-vinda à Brendolândia, Maria Mafiosa.

Espero que tenha uma boa leitura!


Raury – God's Whisper
Macy Todd – I've Got A Feelin'
Eminem – Sing For The Moment
Lana Del Rey – Cola
Evanescence – Bring Me To Life
David Kushner – Daylight
Kim Dracula – Drown
Julia Michaels – Heaven
Labrinth – All For Us
Bishop Briggs – Tempt My Trouble
Emeli Sandé – Read All About It
Metallica – Nothing Else Matters
Montell Fish – Hotel
Børns / Sapient Dream – Past Lives
Dezenove anos antes...
Encolhido no guarda-roupa velho e frio, eu estendo a mão para
tampar a boca de Luca, arregalando os olhos pequenos do meu irmão. Ele
não consegue se manter parado e em silêncio, e é o que precisamos agora.
Luca agarra o meu braço para me afastar.
— Enzo... minhas pernas doem — ele murmura.
Eu sei que doem, as minhas também. Há quantas horas estamos aqui
escondidos? Três horas? Quatro? Não lembro. Mas ainda dá para ouvir o
choro e os gritos de dor da mamãe do outro cômodo.
Queria poder fazer algo além de me esconder e esperar que acabe,
mas a última vez que tentei defendê-la, ele quebrou o meu braço. Mamãe
pediu que eu protegesse Luca e ficar aqui, quieto, é a nossa salvação.
Evitar o seu caminho é o que nos manterá vivo.
— Eu sei.
De repente, a porta do nosso quarto se abre e Luca estremece ao
meu lado. Como se estivesse no automático, ele aperta os olhos e tampa os
ouvidos com força, como eu o ensinei a fazer.
Me inclino um pouco para frente e pela fresta do guarda-roupa, eu
observo a cena, espremendo os lábios com tanta força, que o gosto de
ferrugem enche a minha boca.
— Não, por favor — mamãe chora ao surgir atrás dele, tentando de
alguma forma segurar o seu braço.
Num rompante, ele a joga para o lado e ela cai no chão. O seu rosto
bonito e delicado está machucado e cheio de sangue.
Por tudo que vi a mamãe passar, eu acho que uma pessoa normal já
teria perdido as esperanças, mas ela continua com o terço enrolado na mão,
apertando as bolinhas de madeira, rezando em silêncio para o fim do nosso
pesadelo.
Pedindo em silêncio por misericórdia.
Mas Deus não ouve mais as orações dela.
— Cadê esses pestinhas? — ele pergunta, vasculhando o quarto e eu
volto a me endireitar, prendendo a respiração para não fazer barulho. —
Vamos lá, garotos. Quero apenas conversar.
— Não, por favor. Deixa meus filhos em paz — mamãe pede outra
vez e eu pisco com força, desejando que tudo isso não passe de um maldito
pesadelo.
Um maldito pesadelo em que estamos todos presos.
Ouço barulho de algo sendo chutado.
E então, de repente, a porta do guarda-roupa se abre e Luca dá um
grito de desespero, fazendo-me abrir os olhos para encarar o monstro à
minha frente. No seu rosto com barba por fazer, um sorriso doentio se abre.
— Olá, garotos. Encontrei vocês.
Lorenzo...
É um nome lindo e forte, ainda assim, tem uma sonoridade suave e
agradável aos ouvidos. E é este nome que ecoa dentro da minha cabeça
como um feitiço todos os dias desde que me apaixonei, me arrastando para
dentro de um abismo sem fundo.
Ele é a minha fraqueza.
E, também, o meu maior pecado.
E eu sei que ele será a minha perdição. Também sei que meus
sentimentos não são saudáveis, no entanto, sou incapaz de controlá-los. Não
consigo resistir. Ele é como uma droga perigosa que eu anseio, mesmo
ciente de que vai me destruir completamente.
Lorenzo Falcucci é a minha paixão proibida, o meu desejo mais
profundo e obscuro, uma chama ardente que me queima de dentro para fora
e me consome um pouco há anos.
Já tentei me livrar dos meus sentimentos em relação a ele várias
vezes e o desejo apenas aumentou. Definitivamente, eu não sei o que há de
errado comigo. Todas as minhas irmãs enxergam Lorenzo como um irmão
mais velho, mas nunca fui capaz de fazer o mesmo.
Os olhos azuis-acinzentados e impenetráveis de Lorenzo sempre me
deixaram com um calor latente inexplicável.
Para ser honesta, não sei o momento exato em que meus
sentimentos se tornaram uma centena de tons de confusão e ele fez o meu
coração acelerar pela primeira vez, mas quando me dei conta, eu não
conseguia tirá-lo da cabeça.
Ele se tornou a minha obsessão e meu caminho de calvário.
O papà[1] nunca aceitará algum relacionamento íntimo entre nós.
Não que Lorenzo Falcucci tenha me dado esperanças explícitas
alguma vez. Infelizmente, todas as minhas investidas de seduzi-lo foram um
completo fracasso e eu fui rejeitada, o que me deixou bastante irritada.
Eu não passo de uma criança aos seus olhos e não faço ideia de
como me livrar dessa imagem.
— O que tá fazendo? — Violetta pergunta com um sussurro,
parando meu coração por um segundo, se é que isso é possível.
Ela está próxima de mim, segurando o seu pequeno roedor caramelo
entre as mãos delicadas e o headset com orelha de gatinho pendurado no
pescoço, provavelmente, ressoando algum rock agressivo.
Levo o dedo até os lábios e uno as sobrancelhas, exigindo em
silêncio que ela fique quieta. Na ponta dos pés, ela vem até mim e com os
olhos claros, me observa colar a orelha detrás da porta do escritório do
papai.
Ele odeia que eu faça isso. Os assuntos tratados dentro deste
cômodo são importantes demais para as mulheres, ainda assim, quando os
Salvatore quiseram selar os negócios com um casamento arranjado, foi
nesta maldita sala que o papai quase nos vendeu.
— Angelina...
Violetta abre a boca, mas eu a impeço de continuar ao envolver os
dedos no seu antebraço e puxá-la para perto de mim. Minha irmã acaba
grudando o ouvido na porta para ouvir também e os olhos grandes se
conectam aos meus.
Os olhos do pequeno roedor também.
A maioria dos assuntos da organização não me interessa pelo
simples fato de que nunca terei um cargo importante ou farei um juramento
de sangue. Mulheres não comandam a máfia, elas apenas obedecem e dão
herdeiros.
No entanto, eu sei sobre o que se trata esta reunião. Faz semanas
que Corrado, o consigliere,[2] quer convencer Lorenzo a aceitar a sua bela e
inocente filha em um noivado.
O que será mais lindo do que a filha do conselheiro e o subchefe da
máfia de Detroit unidos em um casamento?
Nada.
— ... uma proposta tentadora, Corrado, mas não estou em busca de
uma esposa — Lorenzo responde com a voz curta e grossa.
Há alguns segundos de silêncio denso dentro do escritório e eu
mordo o lábio inferior para esconder o sorriso.
— Nenhum de nós estava em busca de uma esposa quando nos
casamos, é assim que o nosso mundo funciona — o conselheiro devolve de
maneira sorrateira, murchando o meu coração por completo.
— Corrado tem razão — papai intervém e eu acabo apertando o
braço de Violetta com tanta força, que ela enruga o nariz numa careta e
desvencilha-se do meu toque. — Mas deixe o garoto se divertir. Você não
era casado quando tinha trinta anos — acrescenta, fazendo o conselheiro rir.
— Lorenzo vai se casar com Adele? — minha irmã quer saber.
— Isso não vai acontecer — é o que digo com uma convicção que
não faço a menor ideia de onde eu a tirei.
Talvez, do meu amor obsessivo por Lorenzo.
— O que estão fazendo aqui, meninas? — Maria, a empregada mais
antiga da nossa família, pergunta ao surgir no corredor, nos fazendo
sobressaltar por causa do susto.
Violetta acaba deixando o pequeno hamster escapar de entre as
mãos e o primeiro instinto de Maria é soltar um grito agudo, porque ela
odeia roedores.
— Ai, meu Deus... Ozzy! Volta aqui — ela chama o pequeno roedor,
que corre em direção a Maria, que continua gritando histérica.
Minha irmã e eu nos entreolhamos e antes que possamos sair do
fogo cruzado, a porta do escritório é aberta de maneira abrupta.
E o olhar do papà perfura a minha alma, como uma lança fria e
implacável.
Os três homens no escritório nos observam em silêncio.
Violetta, que recuperou o roedor antes de entrarmos, não teve
coragem de erguer o rosto para encarar o nosso pai, enquanto eu, sou
incapaz de afastar as vistas de Corrado, odiando o homem por ter cogitado
casar Lorenzo com a sua filha.
— Deixe Violetta ir, ela não tem nada a ver com isso — falo, por
fim, elevando o queixo e encontrando o olhar afiado do papà.
Fui criada para ser uma garota obediente e na real, eu tento, mas ser
cegamente submissa vai contra algo dentro de mim. Na maioria das vezes, é
impossível manter a língua dentro da boca.
Lorenzo, que está perto das grandes janelas com cortinas pesadas de
seda drapeadas que cobrem praticamente a parede inteira, permitindo que
apenas uma parte da luz natural entre, encaminha os olhos intensos até
mim.
Impassível, como sempre.
Se não o conhecesse bem, quase dissimularia o fato de que por
dentro, eu sei que o homem ficará em chamas e será capaz de reduzir o
mundo inteiro a sua volta a pó, apenas pelo simples fato de ouvir a mentira
que contarei sobre ele em instantes.
— Saia, Violetta — papà ordena, fazendo minha irmã espremer os
lábios e lançar uma olhadela culpada para mim.
— Tudo bem — digo, apenas movimentando os lábios para ela. —
Saia — emendo e ela assente, melancólica.
Levando o seu pequeno roedor, Violetta sai do escritório, me
deixando sozinha com os homens poderosos.
Deve faltar um parafuso dentro da minha cabeça, porque não estou
com medo. Talvez, eu deva abaixar a cabeça e pedir desculpas, como a
mamãe ensinou, mas, meu corpo se recusa a fazer isso.
— O que estava fazendo detrás da porta? — papai quer saber. —
Sabe que eu odeio quando faz isso, Angelina.
Anuo e passo a ponta da língua nos lábios secos.
— Lorenzo não pode se casar com Adele — é o que eu falo,
simplesmente, fazendo a testa de Corrado se encher de vincos.
Papai balança a cabeça de um lado para o outro, confuso.
E do outro lado do cômodo, Lorenzo me observa com afinco, com
seus olhos grandes e as sobrancelhas levemente arqueadas para mim. Adoro
os cílios escuros e longos dele, porque ajudam a destacar ainda mais o olhar
expressivo.
Vejo o momento exato em que a boca bem definida e de lábios finos
e rosados assumem um sorriso irônico, que me faz querer voar em cima do
seu pescoço. Eu o amo, mas também, eu o odeio quando não me leva a
sério.
— Querida, o que disse? — papai pergunta, ainda tentando assimilar
as palavras que saíram da minha boca.
— Lorenzo tem alguém — informo e é automático, os dois homens
encaminham a atenção para o subchefe, que une as sobrancelhas em
confusão. — Ela é linda, jovem e tem descendência italiana. Ele é tímido
demais para falar que está completamente apaixonado.
As narinas dele se expandem e o homem cerra tanto os dentes, que
por um segundo, acredito que possa quebrá-los.
— Não fale merda, Angelina — Lorenzo diz, cortando o ar com a
sua voz grossa e profunda.
Curvo a boca num sorriso cínico.
— Por esse motivo... — Giro o meu corpo, esfregando os
calcanhares no tapete felpudo e cruzando o olhar com o do conselheiro. —
Ele não pode se casar com Adele. — Volto a atenção para o meu pai. —
Posso sair agora, papà?
Ele anui com um gesto firme, mas não verbaliza nenhuma palavra.
Discretamente, troco um olhar intenso com Lorenzo antes de sair do
escritório e eu sei que ele virá tirar satisfação sobre o que eu insinuei, o que
terá que esperar, porque amanhã é aniversário da mamma[3] e ela é a única
coisa com a qual eu quero me preocupar.
Angelina...
Um lindo nome de origem italiana que significa “mensageiro
divino”. No entanto, a verdade é completamente diferente. Ela não tem
nada de anjo, é o próprio Diabo usando saia e saltos altos.
Quando vi Angelina pela primeira vez, ela ainda era um bebê de um
ano de vida com bochechas grandes e banguela, que adorava colocar
qualquer objeto dentro da boca. A madrinha estava lidando com o fato de
ter dado à luz a Caterine, a terceira filha do meu padrinho, então, Martina e
Angelina se tornaram a minha responsabilidade por muitos anos.
Eu nunca pedi por isso e nem estava disposto a cuidar de duas
crianças pequenas e choronas, mas não podia negar, porque eles me
acolheram de braços abertos.
Tudo funcionou bem por um tempo, até que Angelina se tornou a
minha sombra e disse que me amava mais do que uma irmã ama o seu
irmão mais velho, o que era ridículo.
Ela era apenas uma garotinha de doze anos com um temperamento
difícil, que usava tranças e laços extravagantes em cima da cabeça. Os seus
sentimentos por mim não passavam de um sonho pré-adolescente ridículo.
Nunca reparei nas mudanças do corpo de Angelina.
E por que eu notaria?
Que tipo de monstro nojento e doentio eu seria se a olhasse com
outros olhos?
Por muitos anos, eu tratei Angelina com indiferença. Não gostava de
ficar no mesmo ambiente que ela, justamente para não dar brechas à garota
ou alimentar o seu amor platônico, que só cresceu com o passar do tempo.
Absurdo e doentio.
Mas, o meu padrinho sempre confiou em mim e quando me acolheu,
me criou para ser o seu sucessor. Infelizmente, sua boa criação não foi
suficiente para apaziguar ou controlar os meus ímpetos de raiva
desenfreada. Por esse motivo, ele me mandou para uma temporada em
Roma.
Me manter longe daqui e de tudo que me lembrava o meu passado
era o melhor a se fazer, além do mais, precisávamos expandir os negócios
na Itália e dominar uma parte da capital do país.
Fiquei longe de Detroit por dois anos inteiros e ao voltar para casa,
Angelina estava irreconhecível. Apenas dois malditos anos foram
suficientes para fazer uma diferença gritante na garota.
Ela ganhou curvas convidativas e os seios cresceram de forma tão
deliciosa, que foi impossível não os imaginar encaixando nas minhas mãos
impuras e sujas de sangue.
Para piorar tudo, ela ainda estava/está apaixonada e muito mais
ousada. Desde que voltei para Detroit, ela tentou me beijar duas vezes. A
garota é obstinada e não desiste.
É uma droga Angelina ter crescido, porque o que eu não enxergava
antes, não passa despercebido aos meus olhos hoje em dia.
Não entendo o motivo de ela ser a única das irmãs Giordano que não
me considera um irmão mais velho. Também não consigo entender o porquê
de eu reparar nas curvas do seu corpo.
Giuseppe é o mais próximo de um pai que eu tenho e ele me
castraria se eu comesse uma de suas preciosas filhas. Ele me criou desde
que era um garoto e eu devo muito a ele.
Devo a minha vida.
Sempre me dei bem com as meninas e nunca imaginei que Angelina
seria um pesadelo. Seu amor ingênuo por mim é uma merda, porque a
verdade é que nunca consegui olhar para ela como eu olho para as suas
irmãs.
E as investidas, as insinuações... e as malditas curvas do seu corpo
parecem ímãs para os meus olhos e me deixam com uma sede do caralho.
Essa garota vai acabar ferrando com a minha vida.
E se eu não tiver cuidado, com o meu pau também.
— Não fale merda, Angelina — retruco entre os dentes, incapaz de
controlar a minha fúria com as insinuações atrevidas que acabaram de sair
da sua boca linda e convidativa.
A garota repuxa os lábios num sorriso cínico, que me faz respirar
fundo e contrair os músculos do rosto.
— Por esse motivo... — Num movimento pequeno e gracioso,
Angelina vira um pouco o corpo para encarar Corrado. Os cabelos marrons
dela balançam, fazendo-a parecer inofensiva. — Ele não pode se casar com
Adele.
É claro que eu não quero me casar com a filha do conselheiro, mas,
odeio que Angelina tenha metido o nariz aonde não foi chamada.
— Posso sair agora, papà?
Ele assente com um gesto firme de cabeça e Angelina troca um
olhar com o meu antes de sair do escritório. Por um breve segundo, abaixo
a minha atenção e admiro o seu rabo redondo, mas desvio rápido o olhar,
incapaz de compreender como ela pode ser tão linda e irritante na mesma
proporção.
— Seja qual for a puta que está comendo, garanto que minha
preciosa Adele é muito melhor — Corrado informa, uma carranca dura
estampando o rosto velho e desagradável.
— Cuidado com o que fala, Corrado. Não que Angelina tenha
contado alguma verdade, mas se estivesse, você estaria falando da minha
mulher — alerto, a desaprovação explícita na minha voz.
— É claro, Lorenzo — ele devolve, os olhos afiados me
esquadrinhando ao mesmo tempo em que os lábios se repuxam num sorriso
fingido.
Eu fui criado e treinado para seguir os passos de Giuseppe, meu
padrino[4], mas isso nunca impediu de os homens questionarem a minha
posição dentro da organização. Claro que nunca fizeram isso abertamente,
porque o chefe da máfia de Detroit já cortou línguas por menos.
Corrado é fiel ao Giuseppe e nunca cometeria traição, mas não sou
otário, ele acha que não mereço a minha posição por “N” motivos e tudo
que envolve a porra do meu passado.
Ainda assim, me ofereceu a sua bela filha inocente em casamento,
como se ela fosse um produto descartável.
Este conselheiro velho é mesmo um homem interesseiro.

— E aí, o sottocapo[5] da família está noivo? — William, que está


sentado na banqueta confortável de frente para a ilha central espaçosa na
cozinha, pergunta, o sarcasmo modulando a voz.
Caterine e Barbara que estão sentadas na mesa redonda perto das
portas de vidro deslizantes que se abrem para um espaço específico do
jardim da mansão, me olham em sincronia.
— Você vai se casar? — Barbara pergunta, mantendo o celular nas
mãos e os polegares levemente elevados da tela do aparelho. — Angelina
sabe disso? Ela vai surtar — acrescenta com um sussurro, olhando para os
lados, quase como se fosse proibido falar.
Contraio o músculo do maxilar e Will começa a rir antes de voltar a
bebericar o seu café.
— Não vou me casar — articulo e endireito os ombros e coloco as
mãos para trás do corpo, uma tentativa frustrante de me controlar e não ser
ríspido com as garotas, embora elas me tirem do sério às vezes. — E não há
motivos para Angelina surtar.
Caterine ergue uma sobrancelha ruiva para mim em atrevimento.
— Querido, vai ficar para o jantar? — Marta questiona ao adentrar a
cozinha em passos leves, exibindo um sorriso gentil.
De forma afetuosa, ela estende os braços para segurar o meu rosto
entre as mãos e depositar um beijo em cada bochecha. Ela sempre foi muito
carinhosa comigo e a cada instante, sem exceção, me questiono se sou
merecedor de tal coisa.

— Não, madrina[6] — informo, amuando os seus olhos azuis.


— Não se esqueça que amanhã é meu aniversário — devolve,
ajeitando as lapelas do meu terno.
Assinto.
— Estarei aqui.
Odeio tudo o que envolve festas ou grandes eventos. Esses
momentos só servem para os interesseiros grudarem em você como
sanguessugas e implorarem por favores, e os homens mais velhos da
organização exibirem as suas filhas em roupas curtas e decotadas, como se
fossem prostitutas de luxo.
Ainda assim, eu estarei aqui por Marta, porque na estrada árdua da
minha vida, ela sempre esteve comigo.
— Que bom que teremos a honra de ter a sua ilustre presença na
noite do aniversário da mamãe, Lorenzo Falcucci — Angelina fala ao surgir
na cozinha, como se nada tivesse acontecido minutos atrás dentro do
escritório.
Há um sorriso debochado delimitando os cantos dos lábios cheios,
como se estivesse escondendo algo. Talvez, tentando inibir a satisfação de
me atormentar. As sobrancelhas bem-feitas se franzem e Angelina inclina
levemente a cabeça para o lado, suspirando exageradamente.
Linda. E, ainda assim, tenho vontade de contorcer o seu pescoço
frágil agora por ser tão provocativa.
Forço um sorriso cínico para o capetinha e decido manter as
palavras rudes dentro da boca. Não quero constranger Marta com as coisas
escrotas que passam pela minha cabeça no momento.
Depois da breve provocação, a garota serve café numa xícara de
porcelana e na ponta dos pés, sai da cozinha, movendo os ombros em
satisfação. É automático, o músculo da minha mandíbula pulsa por causa da
raiva.
— Ela vai acabar matando você — Will murmura com um leve tom
de chacota assim que Marta se afasta de mim para ir falar com as meninas
em volta da mesa da cozinha.
William tem razão.
Ela é impossível e eu me sinto muito perto do limite sempre que
provocações saem de entre os lábios bonitos de Angelina. É como se meu
corpo estivesse em estado de calamidade quando estou perto dessa garota
encrenqueira.
Sem dizer nenhuma palavra, saio da cozinha e guio os meus pés até
as escadas que levam ao andar de cima, precisamente para o quarto de
Angelina, seguindo o rastro do seu inconfundível cheiro intenso de algodão
doce mesclado à melão e um toque sutil de caramelo.
Envolvo os dedos no seu antebraço antes que ela possa entrar no
quarto e meu contato repentino quase faz a garota derrubar a xícara no
chão. Ela aperta os lábios para reprimir um gemidinho de surpresa.
— Não tenho tempo para conversar — é o que diz ao tentar se
desvencilhar da minha mão e se afastar de mim.
Decido manter os meus dedos em volta do seu braço, uma pequena
pressão para Angelina entender que não estou brincando e que não sou um
homem com quem ela pode simplesmente jogar.
— Parecia ter tempo de sobra quando estava ouvindo detrás da porta
do escritório — resmungo e noto uma centelha de raiva ultrapassar os olhos
claros dela.
Com um safanão, ela se esforça para se soltar de mim e acaba
derramando café na blusa branca de seda. Por cima dos cílios, os olhos
atrevidos e estranhamente selvagens me fuzilam, aborrecida pela mancha de
café.
— Te livrei de um casamento indesejado. Não finja que não está
feliz — é o que diz, como se as palavras explicassem todas as suas atitudes
absurdas. — Deveria me agradecer sorrindo.
Respiro fundo, controlando os músculos rígidos do meu corpo.
— Quem disse que me livrou? — devolvo, áspero.
As sobrancelhas dela se unem e os lábios se torcem em desgosto.
— Ninguém vai te obrigar a casar com a Adele.
Assinto com um gesto firme de cabeça.
— Sim, mas odeio que se meta na minha vida, Angelina.
Ela é inoportuna e já o fez antes. Muitas vezes. Sair desta casa e
viver no meu próprio ambiente foi para evitar certas situações. Essa garota
não reconhece o perigo ou gosta de brincar com ele.
Angelina é ciumenta e possessiva, já arruinou várias fodas minhas
por causa dos seus sentimentos em relação a mim. Ela não é alguém fácil e
muito menos, possível de controlar.
De lábios colados, Angelina gira nos calcanhares e atravessa a porta,
entrando no conforto do seu quarto. Antes que me dê conta dos meus
gestos, eu faço o mesmo, fechando a porta logo atrás de mim.
Ela coloca a xícara em cima da penteadeira e sem tirar os olhos de
mim, desabotoa a blusa de seda branca suja de café bem devagar. Sinto a
garganta áspera ao vê-la se despir me olhando, como se o fizesse
diretamente para mim.
Eu sei o que devo fazer no momento. O certo é dar as costas e sair
do quarto de Angelina, mas os meus olhos não conseguem desviar do
contorno convidativo dos seios pequenos e redondos dela.
A renda fina e quase transparente do sutiã serve como uma segunda
pele e os mamilos enrijecidos parecem brigar com o tecido. Que droga, é
uma tentação do cacete e faz o meu corpo latejar.
— Você é completamente louca — resmungo, irritado.
Ela joga a blusa de seda em cima de mim, acertando o meu rosto e
impregnando o cheiro doce no meu nariz. Mantenho a postura firme,
embora, goste da mistura do adocicado com o café.
— Vai ficar e esperar eu tirar o sutiã? — pergunta com os cantos dos
lábios elevados. — Pra falar a verdade, eu não me importo.
De maneira instantânea, meus olhos correm pelo corpo dela, como
se fossem ímãs.
A fantasia que cruza a minha mente é perigosa e no mínimo, insana,
mas até consigo me imaginar roçando os dentes na pele macia desse
pequeno demônio, afastando o sutiã para sentir a rigidez do mamilo.
E o pior de tudo, é que eu consigo me ver gostando de fazer isso.
Expulso as imagens horrendas de dentro da minha cabeça e ergo o
queixo, fechando o rosto numa expressão dura e severa para a garota.
— Fique longe de mim, Angelina — ordeno com um grunhido,
quase ameaçando rugir como uma fera indomável.
E então, saio do quarto pisando duro, a cabeça cheia e um tesão
doentio se apoderando do meu corpo.
Perderei meu pau se continuar perto dessa garota problemática.
Dezenove anos antes...
Com as mãos bambas, mamãe cuida dos machucados de Luca, que
chora em silêncio. Aprendemos a não fazer barulho, porque gritos de dor
são como um incentivo para as surras.
Mamãe sabe disso, mas ela continua gritando e gritando enquanto
apanha dele para conseguir nos proteger.
Antes, eu não entendia e implorei para que ela aguentasse quieta. Eu
sei que é difícil e o corpo parece querer partir ao meio por causa da dor, mas
sem os gritos, o velho fica entediado rápido.
No entanto, mamãe disse que se ele continuar com a atenção focada
nela, não sobrará tempo para nós. Nem sempre funciona, mesmo assim, ela
faz todos os dias.
Ela apanha por nós.
— Vem aqui, Enzo — mamãe me chama depois de fazer o último
curativo no Luca e colocá-lo na cama para dormir.
Em meio ao rosto inchado e ferido, ela sorri para mim ao estender
os braços e pedir que eu me aproxime. Um dos seus olhos está tão inchado
que nem abre mais e vê-la assim faz o meu estômago embrulhar.
Mamãe é tão linda, mas é impossível enxergar a sua beleza por trás
de tantos machucados.
O velho a destruiu de todas as formas.
— Não podemos fugir? — pergunto baixo, quase sussurrando. Se
ele ouvir o que eu acabei de falar, é capaz de quebrar as minhas costelas
com um chute.
Ela aperta os lábios com força e as lágrimas escorrem pelo rosto
ferido.
— Me desculpe, Enzo — é o que fala e meu coração pressiona tanto
o peito, que fico sem fôlego ao perceber que nunca escaparemos deste
pesadelo. — Ele vai nos encontrar em qualquer lugar — se lamenta.
— Ele vai acabar nos matando.
Mamãe ergue o olho bom para mim e chora. Sem dizer nada,
envolve os braços em torno do meu corpo e me arrasta para um abraço que
faz meu corpo doer por causa das surras, mas permaneço em silêncio.
Aguentando.
Já fomos felizes um dia, quando o papai era vivo. As lembranças
ainda existem na minha cabeça e eu gostaria muito de poder guardá-las para
sempre, mas as surras de todo santo dia estão fazendo as memórias
desbotarem.
Os momentos felizes com o papai estão caindo no esquecimento e às
vezes, fico me perguntando se realmente aconteceu. Se tudo não passou de
um sonho para me salvar deste pesadelo.
Ainda abraçando a mamãe, observo Luca, que dormiu de tanto
chorar. Meu irmão tem apenas quatro anos e eu não sei se uma criança tão
pequena já apanhou tanto na vida. Ele nunca conheceu o amor do nosso pai,
era novo demais quando papai foi assassinado.
— Eu vou dar um jeito de salvar vocês — é o que ela sussurra,
como uma promessa, que eu temo, porque não sei se mamãe pode cumprir.
— Vamos ficar bem — minto.
Entre as lágrimas silenciosas, ela abre um sorriso triste.
— Continue tendo fé, Enzo. Deus vai nos ajudar — fala ao engolir
em seco e antes que possa começar a cuidar dos meus machucados, eu pego
a caixinha de primeiros socorros em cima da minha cama e começo a cuidar
do rosto da mamãe, aumentando as suas lágrimas.
Ela beija a minha mão.
— Continue rezando, filho — ela pede e eu assinto, ciente de que
não atenderei ao seu pedido.
Deus não vai nos ajudar.
Onde ele esteve durante todas as surras que levamos?
Continuar rezando não vai adiantar de nada. O velho continuará
surrando a mim, ao meu irmão e a mamãe, como se fôssemos sacos de
pancadas. Deus não vai nos salvar, porque ele deixou de se importar com a
minha família há muito tempo.
Devagarinho, mamãe desenrola o terço com bolinhas de madeira do
seu pulso fino e quase caquético e coloca no meu, com um sorriso doce, que
por algum motivo, me faz sorrir também.
— Promete continuar rezando? — pede e eu sinto meus olhos
arderem, porque estou com raiva de Deus, mas se não continuar implorando
por ajuda, tenho medo de perder a mamãe e o Luca.
Tenho medo de morrer.
— Eu prometo, mãe.
— Pode me emprestar seu brilho labial? — Caterine pergunta ao
entrar no meu quarto sem bater, deixando a porta aberta ao passar por ela.
— O meu sumiu — emenda e nem espera por uma resposta verbal, vai logo
se enfiando na minha penteadeira e revirando as maquiagens.
Um leve suspiro sai de entre os meus lábios e eu volto a atenção
para a minha imagem refletida no espelho de corpo inteiro com moldura de
metal.
Meu vestido é de seda e na cor rosa claro, o decote é tomara que
caia e ele é todo justo ao corpo, abraçando as minhas curvas de um jeito
incrível, tenho que admitir. A estola de pelo sintético, (Violetta me
recriminaria a vida inteira se eu estivesse usando pelo de animal de
verdade) faz toda a diferença e dá o ar elegante necessário.
— Está linda — ela comenta depois de lambuzar os lábios cheios
com brilho labial vermelho clarinho.
Sorrio.
— Você também.
Caterine usa um vestido com mangas bufantes e que cai até a altura
dos joelhos, a cor verde-clara realça bem a sua pele e os cabelos ruivos
quase laranjas. Os saltos altos de tirinhas a fazem parecer mais alta.
— Alguém viu o Ozzy? — Violetta questiona ao parar na soleira,
balançando os cabelos ruivos que foram modulados em ondas grossas. Ela
corre os olhos grandes pelo quarto brevemente e eles brilham ao achar algo
debaixo da minha cama. — Achei você, pequeno fugitivo.
— O que ele está fazendo aqui? — resmungo.
— Abri a gaiola por um segundo e ele fugiu — explica e dá de
ombros, depois, entra no meu quarto e se ajoelha perto da cama, amassando
o seu vestido roxo de cetim para pegar o pequeno roedor travesso.
Violetta endireita a postura no mesmo segundo que Maria surge na
porta com Barbara no encalço.
— Já estão todas prontas? O Sr. Giuseppe quer que todas recebam
os convidados — informa e assim que os olhos encontram Violetta e Ozzy,
a mulher prende a respiração e seu rosto perde a cor.
Violetta passa por ela correndo para ir guardar o pequeno roedor e
Maria volta a respirar de novo, enquanto Caterine e eu saímos do quarto.
Nossa caçula volta segundos depois e juntas, cruzamos o corredor para o
andar debaixo.

É estranho fazer isso sem Martina[7], embora nós duas não sejamos o
melhor exemplo de irmãs mais velhas, ela sempre esteve com a gente nos
grandes eventos em família.
Não que Martina não venha hoje para o aniversário da mamãe, mas
a situação é diferente, porque ela não estará no hall de entrada, distribuindo
sorrisos para os convidados, como sempre fazíamos.
Nunca admitirei em voz alta, mas sinto falta dela. Faz meses que se
casou com Danilo Salvatore e se mudou para Chicago, e logicamente, a
nossa casa não é mais a mesma.
A verdade é que eu a odiei muitas vezes por causa do favoritismo do
papà, mas, nunca deixei de amá-la.
Martina é minha irmã.
No espaçoso hall de entrada da mansão, nós quatro formamos uma
fila em ordem decrescente embaixo do lustre de cristal que brilha com
milhares de luzes, iluminando todo o ambiente.
Quinze minutos distribuindo sorrisos para os convidados é o meu
limite. Não é segredo que papà sempre se orgulhou de ter filhas bonitas e
nunca escondi que odeio ser usada dessa forma.
Antes que eu possa convencer as meninas de sairmos daqui e deixar
Maria desesperada, Martina e Danilo[8] chegam. Minha irmã está com as
bochechas ruborizadas, esbaforida.
— Martina! — Violetta exclama ao correr para abraçá-la e desfazer
a nossa fila perfeita.
— Achei que não fosse chegar a tempo — é o que fala, afagando os
cabelos ruivos da nossa irmã mais nova. — O voo atrasou por causa do
tempo, tive que me trocar no jatinho — explica e ergue os braços, nos
chamando para um abraço também.
Sorrindo, Barbara e Caterine vão até ela, se encaixando de maneira
perfeita. Observo as três sem sair do lugar e quando se afastam, Martina
ergue uma sobrancelha bem-feita para mim.
— Vem cá — resmunga e um sorriso move meus lábios. Revirando
os olhos, eu corto a nossa distância e envolvo a minha irmã num abraço
apertado. — Senti saudade de casa — emenda e meus olhos encontram
Danilo a um passo de nós, observando em silêncio.
— Danilo! Nem tinha visto você — minto e coloco uma expressão
fingida e simpática no rosto ao me desvencilhar dos braços de Martina. É
claro que o homem percebe a minha falsidade, já que a devolve com um
sorriso cínico. — Não precisava ter vindo. Honestamente? Não faria falta
— acrescento, chocando a todos.
— Angelina! — Martina e Maria falam ao mesmo tempo, me
repreendendo.
Danilo se aproxima de mim e as meninas recuam, menos Martina.
Odeio que mesmo usando salto alto, ele ainda seja mais alto do que eu.
Uma sobrancelha grossa se arqueia e o sorriso cínico continua estampado
no rosto.
— Cuidado, Angelina — é o que fala, a ameaça velada na voz.
Martina fecha os olhos com força e respira fundo. Antes que possa
abrir a boca para falar, eu articulo:
— Cuidado com o quê, cunhado?
Noto o momento exato em que o músculo da sua mandíbula se
contrai.
— Por favor, parem com isso — Martina pede, mas o marido não
tira a atenção de mim, um brilho devasso dança pelos olhos claros dele.
— O atrevimento das mulheres Giordano é algo instigante, eu tenho
que admitir, mas tenha muito cuidado, Angelina. Precisa saber com quem
usá-lo — é o que diz, um leve toque de repreensão na voz, o que me deixa
bufando de raiva.
Martina puxa Danilo e os dois entram, nos deixando no hall de
entrada.
— A condição dele é crônica — resmungo, fazendo as meninas se
entreolharem confusas.
— Que condição? — Caterine quer saber.
— A babaquice e a arrogância. Não tem cura — emendo com uma
carranca, roubando risadas das meninas, que acabam aliviando a minha
tensão.

Mesmo que Lorenzo tenha deixado claro que não está interessado
em se casar com a filha do conselheiro, Adele não tira os olhos dele durante
a noite.
Uma parte significativa de mim quer ser adulta e não me importar
com nada e aproveitar a festa da mamma, mas a irritação é tão grande, que
até parece estar em cima de uma mola, pulando dentro do meu estômago.
Tomo um gole do meu champanhe e o sinto borbulhar dentro da
garganta, devolvo a taça para um dos garçons e caminho até Lorenzo do
outro lado da sala, conversando com os homens da organização.
Em sincronia, eles param de falar e olham para mim, dos pés à
cabeça, cobiçando em silêncio a bela filha do Chefe da máfia de Detroit.
Vejo um músculo pulsar perigosamente na têmpora de Lorenzo ao
perceber os homens admirando mais do que o necessário.
— Vamos dançar — falo, sem rodeios.
— Não — ele responde, curto e grosso.
— Vai negar o pedido da sua irmãzinha? — eu grunho a última
palavra com todo o ódio que há dentro do meu coração.
Ele fecha os olhos por uma fração de segundo e sinto o silêncio dele
vibrar até os meus ouvidos. É instigante.
— Angelina...
— Se não dançar comigo, chamarei algum desses velhos e quando
passarem a mão na minha bunda, eu farei um escândalo — ameaço e os
olhos azuis de Lorenzo para mim são quase como uma poça de gelo, ainda
assim, faz o meu corpo inteiro esquentar.
Mal-humorado, ele entrega o copo de whisky meio cheio para Will,
o seu fiel escudeiro e vem até mim, pousando a mão nas minhas costas para
dançarmos a música lenta.
Sou ousada o suficiente para descer a mão grande e quente de
Lorenzo até a base da minha coluna, fazendo o corpo do homem tensionar.
— Não se preocupe, Lorenzo — murmuro, colocando as mãos em
volta do seu pescoço ao mesmo tempo em que meu coração pula dentro do
peito. — Não estamos fazendo nada de errado — emendo, encarando os
olhos azuis.
— Qual é a porra do seu problema?
— Você — retruco, aproximando ainda mais os nossos corpos. —
Como está a sua linda e jovem namorada com descendência italiana? —
questiono, apenas para provocar.
Ele me dá um sorriso cínico.
— Muito bem. Insuportável como sempre.
Balanço a cabeça de um lado para o outro.
— Por que parece bravo? — decido continuar provocando, apenas
porque eu gosto de como os seus olhos azuis brilham por causa disso. — Eu
livrei você de se casar com Adele — digo e olho para o lado, notando a
garota nos observar. — Não chegue perto dela ou ficarei muito brava.
Ele solta um suspiro impaciente.
— Não invente mais mentiras sobre mim, Angioletta[9] — avisa e eu
enrugo o nariz, porque odeio quando me chama de “anjinho”, sinto como se
tivesse voltado a ter dez anos de novo. Ele me leva de um lado para o outro,
no ritmo lento da música. — Deixarei passar dessa vez, porque é apenas
uma menina confusa e...
Solto-me dele com um tranco e ergo o queixo em atrevimento.
— Não me chame de Angioletta, não tenho mais dez anos —
resmungo entre os dentes e dou um passo para me aproximar dele
novamente. — E eu não sou uma menina confusa.
Ele me encara com intensidade, como se estivesse tentando ler meus
pensamentos nas entrelinhas, o que me faz cerrar os dentes à medida que a
raiva bombeia dentro dos meus ouvidos.
Abro a boca para articular e sou interrompida por Lorenzo. Os olhos
azuis e profundos ficam um tom mais escuro e o semblante do seu rosto
muda, fica mais sombrio e duro.
— Então, supere o seu amor doentio por mim e cresça de uma vez.
Lorenzo já me rejeitou antes, mas nunca foi tão rude e insensível.
Ele sempre se preocupou com os meus sentimentos, o que acabou de
mudar completamente. A única coisa que sinto é a humilhação iminente
abraçando o meu corpo com força.
— Lorenzo...
— Deixe de agir de forma patética, Angelina — é o que fala,
fazendo meu coração doer e a visão embaçar.
— Por que está sendo tão idiota? — retruco e faço um esforço
enorme para manter as lágrimas ácidas dentro dos olhos.
Ele não me responde, apenas me encara com dureza e eu preciso
fingir frieza quando Corrado se aproxima de nós dois com Adele e oferece a
filha ao Lorenzo para uma dança.
— Você está bem? — Caterine pergunta ao se aproximar de mim,
observando o meu rosto.
— Ótima — minto ao ranger os dentes, incapaz de afastar os olhos
de Lorenzo e Adele dançando no meio da sala.
Apesar de todo o seu atrevimento e temperamento petulante,
Angelina é uma garota pura e que foi criada para ser protegida.
E nem de longe, eu sou um protetor. Estou mais para alguém que
destrói tudo que toca. É assim desde o início. E quando vim para cá, eu
aprendi a partir corações e aniquilar os meus inimigos sem sentir remorso.
Eu nunca pedi o coração de Angelina, mas por algum motivo sem
explicação, a garota o entregou para mim. Sempre me senti estranho em
relação ao seu amor. Mas, no fundo, é o que há de mais puro na minha vida.
Porém, é impossível.
Esmagar seu doce coração é algo cruel e me faz sentir um cretino,
só que é o melhor para ela. Mesmo que tenha a rejeitado antes, nunca o fiz
de maneira tão escrota e severa como agora, sempre tive cuidado com as
palavras.
Ver os olhos grandes e verdes brilhando por conta das lágrimas,
deixa a minha garganta áspera.
No geral, ela é insuportável e me irrita a maior parte do tempo, mas
me importo com a garota, embora não diga isso com muita frequência. Não
costumo falar que gosto de alguém ou que me importo.
— Por que está sendo tão idiota? — quer saber.
Bom, a resposta é tão simples quanto caótica. Se eu não for um
idiota agora e cortar o mal pela raiz, coisa que eu deveria ter feito há muito
tempo, ela continuará nutrindo sentimentos por mim.
E, certamente, meu pau não tem um cérebro e nunca entenderá que
não pode ficar animado por causa desse corpo pequeno e convidativo. Não
posso tocá-la. Não posso desejá-la.
Não posso ter Angelina.
Mesmo que não tenha feito um juramento de sangue em relação a
isso, há regras implícitas sobre a minha relação com Angelina. Eu não
posso desejá-la, porque aos olhos do meu padrinho, ela é minha meia-irmã.
Giuseppe nunca teria me criado como filho e me dado um cargo
importante na organização se sonhasse que um dia, eu comeria a boceta
inocente da sua doce e preciosa garotinha.
De qualquer forma, os sentimentos de Angelina por mim já foram
longe demais e se ela continuar com isso, nunca terá paz.
Corrado surge entre nós dois, trazendo com ele, Adele, a filha com
quem quer que eu case. A menina tem um sorriso tímido e as bochechas
coradas de vergonha, enquanto é fuzilada por Angelina.
O conselheiro me oferece a garota em uma dança, como se ela fosse
um produto. Até penso em recusar, no entanto, sinto que de alguma forma,
isso encherá o coração de Angelina de esperanças, coisa que não posso
permitir.
Sem esconder a insatisfação, envolvo uma das mãos na cintura fina
de Adele e a encaixo contra o meu corpo, movendo-a no ritmo da música
lenta, de um lado para o outro, sob o olhar amargurado da princesa
Giordano.
— Lorenzo, eu...
— Não tenho interesse em casamento — falo de uma vez, amuando
o rosto inocente e delicado de Adele. — Diga ao seu pai que estou satisfeito
com a puta que ando comendo.
As bochechas dela coram.
— Nossa, que grosseria.
Curvo a boca num sorriso sarcástico ao dizer:
— Um pouco sincero também.
Ela balança a cabeça de um lado para o outro de maneira tímida,
demonstrando nas entrelinhas como é uma boa moça.
— Papai apenas sabe das coisas, Lorenzo. Você é o segundo em
comando e ele também é um homem importante. Um casamento nas nossas
famílias seria algo glorioso para todos nós.
Giro Adele antes de puxá-la contra mim e olho para Angelina do
outro lado da sala. Tenho a leve impressão que a garota vai voar em cima do
meu pescoço e torcer. Bom, confesso, que uma parte de mim daria um
braço para ser testemunha de tal atrevimento.
— Por que não para de olhar pra ela? — Adele pergunta, de repente.
— O que disse?
— Angelina... — murmura, olhando a Giordano por cima do ombro.
— Vocês estão juntos ou algo assim? — emenda com um sussurro
amedrontado.
As veias nas minhas têmporas começam a latejar.
— Não fale merda, garota.
Afasto-me de Adele com um solavanco, deixando-a desnorteada.
— Desculpe, é que... eu sei... que ela gosta de você e eu pensei
que... — ela se apressa em dizer, o que deixa tudo mil vezes pior.
— Pensou errado. Nunca mais repita isso — ordeno entre os dentes,
encarando os olhos grandes e negros de Adele, que assente de lábios
prensados. — Saia — exijo com um abano de mão e caminho até a o outro
lado da sala, na direção do bar que foi montado para a noite, procurando
desesperadamente por algo forte para beber.
Aprumo-me na banqueta e peço uma dose dupla de whisky sem
gelo. Assim que o garçom serve, eu bebo tudo de uma vez e peço que encha
o copo de cristal de novo.
Quando meu padrinho surge na sala de estar, os homens mais
importantes da organização vão até ele como um enxame de abelha para
cumprimentá-lo. Ele perde algumas horas com os homens, conversando e
estreitando laços, enquanto eu, fico sozinho na banqueta, incapaz de
esconder o quão antissocial eu sou.
Depois de um tempo, meu padrinho vem até mim, as sobrancelhas
levemente franzidas e um semblante meio preocupado. Corrado, o seu fiel
escudeiro, vem logo atrás, como a sua sombra.
Ele pede uma dose de whisky sem gelo e antes de falar comigo,
toma todo o líquido marrom de uma vez.
— O quão desastroso seria casar Angelina?
Observo-o fechar os olhos e massagear as têmporas, enquanto se
remexe na cadeira de couro do escritório.
— Não estou feliz com isso — é o que o chefe da máfia de Detroit
fala, torcendo os lábios finos. — Mas desde que os Salvatore meteram os
dedos nos meus negócios, eu preciso de aliados. Antes, esta cidade era
minha. Agora, é deles também.
Sinto a garganta fechar e estranhamente, um incomodo iminente se
apoderar do meu peito.
Não há como discordar dele.
Fomos obrigados a nos curvar para os Salvatore e entregar Martina
para Danilo para selar um acordo. Mesmo se tivéssemos tomado a decisão
de ir contra Alberto Salvatore, ele teria nos massacrado por causa do seu
poder aquisitivo sobre outras organizações menores.
É o que o Don do Império Salvatore fez com cada família que disse
“não” a ele.
— Não vamos começar uma guerra com os Salvatore ou planejar
traição, mas é bom retomar antigas alianças — Corrado diz para mim,
levando o charuto até entre os lábios encrespados e tragando com
tranquilidade.
Odeio que ele tenha razão.
— Casar Angelina pode ser algo impossível — comento e noto o
momento exato em que as sobrancelhas grisalhas do conselheiro se franzem
em desconfiança. — Não é uma boa ideia e honestamente, não sou a favor
dessa união.
Meu padrinho solta um suspiro longo e assente irritadiço.
— Eu sei que é algo difícil, ela é minha filha e eu a conheço bem.
Mas Franco escolheu Angelina e essa união pode ser boa para nós.
As palavras atravessam os meus ouvidos e é automático, o gosto de
fel na boca é praticamente corrosivo. Pensar em um babaca convencido
desejando Angelina como mulher me deixa puto.
Franco Vitale é um grande imbecil. Por causa do seu irmão instável,
tivemos dor de cabeça por muitos anos. Até então, eles são a única família
na cidade de Detroit que não responde ao meu padrinho.
Travamos uma guerra com os filhos da puta por incansáveis anos.
O chefe da máfia de Detroit poderia ter os destruído completamente
antes, mas ele sempre acreditou que não é assim que você conquista a
confiança e o respeito das pessoas em volta.
Recentemente, o Vitale mais velho morreu, o que deixou Franco no
comando. E é claro que ele pediria uma das garotas em troca para selar um
acordo de paz.
— Isso não vai dar certo, padrinho. Angelina vai matá-lo —
expresso a minha opinião, ainda sem entender o leve desconforto no meu
peito. — Talvez, matar Franco seja a solução dos nossos problemas.
Deixem que se casem. Deixe que Angelina mate Franco na lua de núpcias
— ironizo, roubando uma risada sarcástica do conselheiro.
— Parece incomodado, Lorenzo — Corrado articula e sinto uma
veia saltar no meu pescoço conforma a raiva me consome.
— O que acha de dar a Adele no lugar de Angelina? Ela também é
filha de um homem importante — devolvo, ríspido e o homem se remexe
na cadeira de couro de frente para a mesa.
— É claro que ele está incomodado — meu padrinho fala, passando
os dedos entre os cabelos.
Corrado e eu o olhamos em silêncio.
— Lorenzo e Angelina foram criados juntos... são praticamente
irmãos — emenda ao se levantar da cadeira para atravessar o escritório e
caminhar até o minibar no escritório e servir o whisky num copo de cristal,
depois, olha para mim de maneira incisiva e até mesmo, interrogativa.
Faço um esforço enorme para disfarçar o incomodo ao ouvir a
palavra “irmãos” e Angelina na mesma frase.
Sempre recriminei a garota por não me considerar um irmão mais
velho e ter sentimentos por mim, mas por que merda as palavras do meu
padrinho me incomodam tanto?
Por que merda me incomoda tanto a ideia de Angelina se casar?
— O que o senhor vai fazer? — pergunto e fico satisfeito por
conseguir esconder a minha inquietação.
O chefe da máfia de Detroit bebe todo o líquido marrom do copo.
— Casar Angelina com Franco Vitale.
Eu sei que algo está errado no momento em que papai se senta ao
lado de Lorenzo no bar. O chefe da máfia exibe uma expressão aflita
demais para alguém que está comemorando o aniversário da esposa.
Sei que não deveria segui-los até o escritório e escutar detrás da
porta. Ontem eu fui pega em flagrante e quase perdi o pescoço por isso. No
entanto, Lorenzo foi estúpido e eu estou com raiva.
O coração martela forte dentro do peito e as engrenagens dentro da
minha cabeça começam a girar conforme as informações atravessam a porta
do escritório até os meus ouvidos.
Franco Vitale.
Casamento.
Eu.
O baque é tão grande ou talvez seja o meu coração partido, mas nem
consigo agir e fazer um escândalo típico meu e deixar claro que sou contra
me casar com Franco Vitale, homem que esteve em pé de guerra com o meu
pai durante anos.
Eu sempre soube que o papà me casaria um dia. Não tem como fugir
de uma obrigação dessas quando se nasce num mundo como o nosso. Só
que no fundo, eu tive esperanças de que fosse diferente para mim.
Fico mais alguns minutos escutando a conversa detrás da porta,
tentando entender o motivo de Lorenzo parecer tão incomodado com o fato
de papai querer me casar, enquanto desfruto de uma taça de champanhe.
Não faz uma hora que ele me deu um belo fora e está incomodado
com o fato de eu me casar? Qual é o problema dele?
Quando a reunião acaba, eu arrasto os pés de fininho até uma das
portas duplas altas do corredor e me escondo, espiando por uma brecha.
Apenas Corrado e o papà saem, Lorenzo permanece dentro do escritório.
Com a taça de champanhe vazia na mão, caminho até a porta de
mogno escura e envolvo os dedos na maçaneta para abrir. Assim que o faço,
vejo Lorenzo girar o corpo em cento e oitenta graus para olhar na minha
direção.
— Franco Vitale — murmuro, sentindo a cabeça borbulhar por
causa do álcool. Três taças de champanhe e não falta muito para eu começar
a ver estrelas.
Ele cerra o maxilar.
— É claro que você estava escutando atrás da porta.
Decido ignorar o seu resmungo e ando até a mesa, me acomodo em
cima dela, cruzando as pernas ao mesmo tempo em que observo Lorenzo,
que tem um copo de whisky meio cheio na mão.
A carranca dura e mal-humorada está estampando todo o rosto
bonito, o que me dá uma brilhante ideia. Minutos atrás, ele parecia meio
incomodado com o fato de me casar com Franco.
— Talvez ele seja um bom marido pra mim.
Lorenzo bufa e faz careta ao beber um gole generoso do seu whisky.
— Então, você quer se casar com ele?
Dou de ombros e coloco a taça vazia ao meu lado, em cima da mesa.
— Ele é um homem bonito e me escolheu — digo, jogando com o
subchefe. Um brilho devasso passa pelos olhos claros e eu gosto de como
eles cintilam possessivos para mim.
O silêncio se expande entre nós e vibra no ar, enquanto os olhos
selvagens de Lorenzo me esquadrinham.
— Veja bem, querido irmão — digo e os músculos dele se
tensionam por causa dessa palavrinha. Ah, Deus. Eu amo irritá-lo. É sexy e
perigoso. — Eu me entregando para outro homem... isso não resolveria os
seus problemas? Não precisaria se preocupar com o amor doentio e patético
que sinto por você.
— Acha mesmo que é uma boa ideia se casar com aquele babaca?
— é o que pergunta ao caminhar em passos rígidos até mim e parar alguns
centímetros de distância. Uma excitação surpreendente fervilha pelo meu
corpo inteiro.
Olhando dentro dos olhos de Lorenzo, eu respondo apenas para
provocar:
— Sim, você não?
Ele deixa escapar um som estrangulado de entre os lábios.
— Não.
Abro meio sorriso convencido.
— Por que não?
Os olhos azuis se conectam aos meus por um longo segundo e o ar
ao nosso redor fica quente. Tenho que prender a respiração para permanecer
estável e não demonstrar o quanto essa proximidade me afeta.
Lorenzo não me responde.
Desço da mesa devagar e rompo a nossa mínima distância. Por
causa dos saltos, não preciso de esforço para nivelar os nossos rostos, o que
é bom.
— Talvez seja uma boa forma de eu direcionar os meus sentimentos
em relação a você. Acho que Franco Vitale não se importaria de me
reivindicar, já que me escolheu para ser a sua esposa.
Os olhos de Lorenzo ficam um tom de azul mais escuro e tem tanta
fúria no rosto dele, que por um momento, acho que o homem pode explodir.
Antes que ele possa falar algo, alguém abre a porta do escritório e
entra. É Caterine. Ela engole em seco ao olhar para nós dois e é então, que
eu percebo, estamos tão próximos que se eu me inclinar mais um pouco,
posso beijar a boca do subchefe.
— Estava procurando você... tá na hora de levar o bolo pra mamma
— ela avisa, oscilando a atenção de mim para Lorenzo e eu assinto, dando
um passo para trás.
Apenas para provocar, curvo o canto da boca e pisco para ele, que
cerra o maxilar furioso. Giro nos calcanhares e o seu primeiro instinto é
agarrar meu braço, um toque quente e possessivo, perturbadoramente
excitante.
— Tem algo a me dizer?
Caterine pigarreia e Lorenzo me solta como se tivesse levado um
choque. Com os ombros elevados e autoestima renovada, eu caminho até a
minha irmã para sair do escritório.
Lorenzo pode até ter sido um idiota e me dado um fora, mas não
acho que seja cem por cento imune a mim.
Existe uma linha tênue entre o ódio e a excitação demasiada quando
os olhos verdes e atrevidos de Angelina e o sorriso sexy invadem a minha
cabeça sem permissão, enquanto eu fodo o rabo de outra mulher.
Nunca consigo ser racional e expulsar a garota da minha mente. Ou
perceber o quão doentio é a situação. Simplesmente, eu me entrego aos
instintos primitivos e desejo uma boceta que nunca será minha.
É irritante e perturbador.
Depois de despejar toda a porra dentro de Polina, eu desabo para o
lado, em cima do colchão, respirando fundo e olhando para o teto. Odiando
Angelina com todas as minhas forças por ter surgido na minha cabeça no
meio de uma foda.
Odiando principalmente, o fato de gostar tanto de gozar pensando
nela. É sempre muito intenso e único.
— Uau, Lorenzo, isso foi insano — Polina murmura toda manhosa
ao se enroscar em mim, mas desvencilho-me do seu toque.
— Eu preciso ir pra minha casa — informo.
— Veio aqui só pra me comer? — faz uma pergunta óbvia que eu
prefiro não responder. — Pensei que estivesse finalmente mudando... que
nós dois estivéssemos conectados de alguma forma — emenda e um
semblante entristecido toma conta do seu rosto.
— Não. Não estamos.
Ela assente, mordendo o lábio inferior.
— Mas foi especial hoje, eu sei que sim. Não minta pra mim. Você
estava diferente, Lorenzo — insiste.
Foi diferente, porque passei a noite inteira pensando na porra da
Angelina de quatro para mim, gemendo o meu nome e rebolando e gozando
no meu pau. Foi sim, especial pra caralho.
— Tesão reprimido — rosno.
Ela solta um suspiro cansado.
— Então, apareceu aqui depois do aniversário da sua madrinha por
causa do tesão reprimido e não por estar com saudades de mim?
— Sim — dou uma resposta curta e grossa.
A verdade é que desde que soube que Franco Vitale quer Angelina
como esposa, não consigo ficar quieto ou feliz com a novidade. Algo dentro
de mim está me deteriorando e sinto que estou perto de entrar em colapso.
Eu sei que Angelina não pode ser minha por vários motivos
plausíveis e que nem deveria foder uma mulher pensando na boceta
inocente dela. No entanto, não consigo aceitar que ela seja de Franco.
Ou de qualquer outro homem.
Sinto uma tensão se instalar no meu corpo por causa do pensamento
e é errado pra caralho, mas eu sei, não vou permitir que ninguém toque em
Angelina.
É enlouquecedor chegar a essa conclusão. Eu tenho um problema
enorme nas minhas mãos e não tenho ideia de como lidar com essa merda.
Mas, Franco Vitale não se casará com a princesa Giordano.
Ela nunca será dele.
— Não vai ficar e dormir comigo, não é? — pergunta, puxando os
lençóis para cobrir o corpo suado e com marcas vermelhas.
Odeio quando Angelina invade a porra da minha cabeça, porque
sempre acabo descontando a minha frustração em Polina.
— Não, eu nunca fico.
— Por que é sempre tão desconfiado? — Ela franze as sobrancelhas
ruivas ao questionar. — Não provei que sou de confiança? Eu trabalho pra
você há anos. Lorenzo, você sabe tudo sobre mim e sabe que nunca faria
mal a você.
Levanto do colchão e começo a vestir as minhas roupas que estão
jogadas no chão do quarto, evitando olhar Polina. Não suporto quando ela
fica sentimental demais, ainda mais, porque já deixei claro o que quero
desta relação.
— Eu só queria que você... — Ela não completa a frase, então, eu
lanço um olhar afiado para a ruiva na cama. — Confiasse em mim... como
eu confio em você.
Ela me pede algo impossível, porque eu sou o tipo de pessoa que
confia desconfiando. E nunca derrubarei as barreiras que construí ao longo
dos anos por causa da boceta de Polina.
— Não devia confiar em mim.
Ela pisca devagar, espantada com a minha resposta.
— Não? — balbucia.
— Não.
— Achei que pudesse tocar o seu coração de alguma forma —
murmura com os olhos claros cheios de lágrimas. Por alguma razão, não me
comove. Polina não é a primeira mulher que tenta me mudar e infelizmente,
não será a última.
— Eu não tenho um.
Nem espero que ela contra-argumente, apenas pego o meu terno e
dou as costas para sair do seu apartamento, cogitando a possibilidade de não
ver mais Polina fora do escritório.
Tudo entre nós já foi longe demais.
Dezenove anos antes...
— Mãe, o que é isso?
Depois de me entregar o pedaço de papel, ela abaixa a cabeça e
cobre os olhos com uma das mãos para chorar em silêncio, fazendo meu
coração doer contra o peito até me faltar oxigênio.
Mamãe respira fundo e leva uma das mãos até as costelas,
enrugando o rosto numa careta de dor. Ela está machucada e mal consegue
andar por causa da surra que levou ontem.
Não devíamos ter saído, nós nunca o fazemos, porque não temos
permissão para colocar os pés para fora de casa, mas era meu aniversário de
doze anos e ela queria nos levar para tomar sorvete, já que ele não nos
deixou comprar um bolo para comemorar. Ficamos fora de casa por uma
hora e foi divertido, pareceu que tudo ficaria bem se nós três estivéssemos
sempre juntos.
Mas, não ficou.
Eu nunca o vi tão irritado e ele bateu tanto na mamãe, que ela
desmaiou.
— Junte as sílabas como eu ensinei e leia o que tem no papel,
querido — pede com um sorriso melancólico.
Sinto minha garganta arranhar.
Se não fosse pela mamãe, eu não saberia nem escrever o meu
próprio nome, já que não tenho permissão para ir à escola.
— Leia este endereço com atenção, Enzo — ela murmura,
envolvendo as mãos no meu rosto para focalizar meus olhos. — E depois o
jogue fora. Jogue dentro do vaso sanitário e dê descarga. Ou queime.
— Mãe...
— Faça o que eu mando. Por favor, querido.
Abaixo os olhos e leio o endereço escrito no pedaço de papel,
decorando cada letra. É um lugar em Detroit, mas não faço ideia de quem
pertence. Não faço ideia de como chegar lá.
— Filho... — ela me chama, passando os dedos finos entre os meus
cabelos. — Não vou conseguir sair daqui com vocês — emenda e sinto os
olhos arderem ao me dar conta das palavras.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, negando.
— Não...
— Me perdoe por não conseguir proteger vocês. Eu sei que parte
disso é culpa minha e eu sinto tanto por isso, Enzo — choraminga.
— Mãe, vamos fugir juntos. Nós três.
— Eu preciso ficar, querido. Só assim vocês terão uma chance de ter
uma vida longe daqui.
— Não... não vou deixar você aqui com ele. Não vou.
Ela me puxa para um abraço tão apertado, que as lágrimas escorrem
dos cantos dos meus olhos sem que eu tenha controle sobre elas. São ácidas
e tem gosto tão amargo.
— Meu bem, escute a mamãe com atenção, tá bem? — ela murmura
no meu ouvido. — Marta Giordano era minha melhor amiga e é uma das
melhores mulheres que eu conheço.
— Então ela vai ajudar nós três — insisto, porque sou teimoso.
Minha mãe nega com a cabeça, fazendo carinho nos meus cabelos.
— Querido, tem algo sobre a mamãe que você precisa saber.
— O quê?
— Quando eu conheci o seu pai, eu me apaixonei, mas eu estava
noiva de outro homem e o único jeito de ficarmos juntos... era se eu fugisse
da minha vida. E eu fiz isso. Desonrei a minha família e não posso dizer
que estou arrependida, porque você e o seu irmão são os meus maiores
presentes.
— Mãe...
— Marta é uma mulher incrível e eu sei que ela vai ajudar você e o
Luca. Diga que são meus filhos, querido. Ela vai acolher os dois.
Sacudo a cabeça em negativa outra vez, incapaz de concordar com o
plano da mamãe. Não quero deixá-la aqui sozinha... com ele. Não vou
aguentar viver sabendo que ela ficou para trás nas mãos desse monstro.
— Mãe, por favor.
Devagar, ela direciona a atenção para o lado, onde Luca está
dormindo na cama, encolhido em pose fetal.
— Vou arranjar dinheiro pra você e o seu irmão, ok? — pergunta,
mas eu fico em silêncio. — Estou fraca, querido. Mesmo que eu tente, acho
que não iria muito longe com vocês.
Ela ergue uma das mãos para limpar uma lágrima idiota da minha
bochecha.
— Pode me perdoar por todas as coisas ruins que eu fiz você e o seu
irmão passarem? Eu tentei ser uma boa mãe, mas eu falhei de tantas formas.
— A culpa não é sua — consigo dizer ao mesmo tempo em que
amasso um pouco o papel entre os meus dedos.
Mamãe assente com um sorriso triste.
— Eu te amo tanto, Enzo. Amo tanto você e o seu irmão. Quero que
sejam felizes quando saírem daqui e...
De repente, a porta do quarto é escancarada e ele entra num
impulso, mudando todo o ar a nossa volta, acordando Luca e nos
assustando. Os olhos negros dele estão queimando em fúria e a atenção cai
direto sobre o pedaço de papel nas minhas mãos.
E eu me lembro do que a mamãe falou sobre jogá-lo fora depois de
decorar o endereço, então, eu o enfio dentro da boca e o engulo. O papel
desce arranhando a minha garganta, o que é pouco comparado ao que ele
fará conosco.
Minha atitude acaba atiçando ainda mais a raiva incontrolável dele.
— O que você está escondendo, moleque? — grunhe ao chegar
perto de mim e agarrar o meu braço, me sacolejando como se eu não fosse
nada. A mão firme dele vai direto para o meu rosto, me obrigando a abrir a
boca. — Que merda você engoliu?
— Nada, ele não está escondendo nada — mamãe tenta intervir,
enquanto Luca começa a chorar em silêncio na cama.
— Cala a boca, vagabunda — retruca e solta o meu braço, mas me
joga no chão com força e é por um triz que não caio de cara com o
porcelanato. Ele gira nos calcanhares para se aproximar da mamãe. —
Ainda não esqueci o que você fez ontem. Só de pensar que você me
desobedeceu, me sinto furioso pra caralho.
Com dificuldade, mamãe fica de pé.
— Era aniversário do Enzo e... — Ela é silenciada com uma
bofetada, que faz o seu rosto sangrar e me deixa tão irritado, que eu rosno:
— Eu vou matar você.
Assim que ele me ouve, o corpo do monstro gira devagar e de forma
assustadora para mim. Um riso estridente escapa de entre os lábios
enrugados e feios, deixando o seu rosto com barba ainda mais horrendo.
— Isso é uma ameaça, Enzo?
— Não. É uma promessa.
Ele me dá um soco e eu cambaleio para trás, mas não choro. Luca
desce da cama e corre para perto de mim, tentando me ajudar de alguma
forma. Antes que o monstro do nosso tio volte a me bater, a mamãe segura
seu braço com as duas mãos, o impedindo de continuar.
— Pare, Tommaso — mamãe ordena pela primeira vez na vida. —
Não encoste nos meus filhos — continua com a voz firme, embora sua
expressão seja de dor e medo.
Com um impulso, o corpo dele gira para a mamãe ao questionar:
— O que disse, vagabunda?
Ela engole em seco.
— Faça o que quiser comigo, mas pare de maltratar os meus filhos.
Uma risada grave preenche todo o cômodo e os ombros dele tremem
ao mesmo tempo em que balança a cabeça de um lado para o outro,
incrédulo.
— Que graça isso teria? Deixar os pirralhos impunes? — Em passos
duros, ele se aproxima dela. — Vire-se.
O rosto da mamãe muda totalmente e é tomado pelo desespero.
— Não, Tommaso. Por favor. Não na frente deles — balbucia, quase
implorando.
— Acha que pode me provocar e sair ilesa? — rebate, desfivelando
o cinto da calça social. — Vou te mostrar o que uma vagabunda como você
merece. Vou fazer isso na frente dos seus filhos.
— Se esconde no guarda-roupa — sussurro para Luca, que chora em
silêncio, mas assente e, engatinhando, faz o que eu mando.
O velho nojento se aproxima dela e antes que possa tocá-la, eu
avanço em cima dele, tentando acertar chutes e socos no seu corpo, usando
toda a minha força, que parece em vão, já que ele nem sai do lugar.
Mamãe chora.
Ele se vira para mim e acerta um soco nas minhas costelas, fazendo
a mamãe gritar e levantar a mão para bater no seu rosto, mas nem
conseguem acertá-lo, porque o velho segura o seu pulso.
— De onde vem essa coragem, Stella? — ele pergunta, analisando a
mamãe com uma expressão divertida no rosto.
Odeio que o nosso sofrimento pareça um parque de diversão para
ele.
— Deixa meus filhos em paz, Tommaso.
— O que tinha naquele papel? — ele quer saber.
— Nada — mamãe grunhe.
— Stella...
— Você é um monstro — mamãe choraminga.
— Sim, sou o seu monstro.
Arrasto-me até os dois, sentindo as costelas doerem e tento agarrar o
seu pé para afastá-lo da mamãe e é em vão. Ele solta o pulso dela e se
prepara para me chutar, só que a mamãe fica na minha frente e recebe
vários chutes por mim.
— Mãe... — falo baixo, sentindo as bochechas molhadas por causa
das lágrimas que não consigo segurar.
— Tudo bem, querido — ela murmura, chorando também.
Furioso, o velho agarra a mamãe com as duas mãos e a tira de cima
de mim. Fecho os olhos com força, esperando os próximos golpes, mas eles
não vêm. Bato os cílios para entender o que está acontecendo e o vejo com
os dedos em volta do pescoço dela, apertando com força.
— Não! — grito. — Mãe! Por favor, não! — grito de novo.
Mamãe esperneia sem fôlego e cruza o olhar com o meu, cada vez
mais fraca, enquanto o velho gosta de cada segundo do que faz com ela.
— É isso que você merece, vagabunda — grunhe, estrangulando a
mamãe como se ela não fosse nada.
Reúno forças para ficar de pé e ao fazê-lo, cambaleio para perto
deles e tento tirá-lo de cima dela, mas infelizmente, sou apenas um garoto
magricela contra um homem de quarenta anos com o triplo da minha altura.
Não consigo salvá-la.
O monstro que é meu tio e deveria ser minha família, cuidar de
mim, do meu irmão, da mamãe... ele só afasta as mãos do pescoço fino e
frágil dela quando não há mais vida em seus olhos claros.
Mamãe cai no chão, fazendo o estrondo ecoar dentro do quarto.
Ele olha para ela com desprezo.
— Se me desobedecerem, você e o seu irmão terão o mesmo destino
— é o que diz ao sair do quarto, batendo a porta com força.
Luca sai do armário e, inocentemente, para ao lado da nossa mãe
sem vida, cutucando o seu braço.
— Mamãe? — chama. — Mamãe?
Ele olha para mim, que não consigo mover um músculo do corpo.
— Por que ela não responde? Ela tá com o olho aberto, mas não
responde — fala, o queixo pequeno tremendo e os olhos se enchendo de
lágrimas.
Engulo em seco, incapaz de verbalizar algo.
— Mamãe? Mamãe, responde por favor — Luca insiste.
Ao entrar no prédio de cinco andares da família Giordano, logo na
entrada, há uma secretária sorridente e com expressão acolhedora na
recepção, direcionando um grupo pequeno de clientes para à área adequada.
Atravesso o saguão com uma decoração clean que reflete o ar
respeitoso e compassivo do lugar e rumo para os elevadores, fazendo a fila
de pessoas a minha frente se dissipar para abrir passagem para mim.
Não sou famoso por aqui por minha simpatia e compreensão, então,
no geral, a maioria dos funcionários evita cruzar o meu caminho, uma
tentativa de manter o emprego a salvo.
As portas do elevador se abrem e eu entro sozinho, apertando o
botão do meu andar. Antes que as portas voltem a se fechar, os funcionários
do lado de fora evitam me olhar nos olhos.
Meu celular vibra dentro do bolso do terno e eu o pego. Nenhuma
surpresa ao ver o nome da Angelina na notificação da tela colorida. Desde
que a capetinha fez dezoito anos, me manda fotos religiosamente pela
manhã. Minhas respostas curtas e grosseiras nunca a fizeram desistir do seu
ritual matinal.
Engulo em seco e afrouxo o nó da gravata depois de abrir a
mensagem e ver a foto de Angelina.
Ela está deitada na cama, de frente para a câmera do celular, o
cotovelo apoiado no colchão para segurar o queixo. Os cabelos rebeldes de
quem acabou de acordar caindo sobre os ombros nus e me fazendo imaginar
como seria tê-los espalhados pela minha cama. Dá para ver a sua coxa
esquerda levemente dobrada e que o tecido da camisola subiu um pouco por
causa da pose.
Tudo isso acompanhado de um sorriso sexy e provocante.
“Tenha um ótimo dia, Lorenzo.”
Não respondo Angelina e, também, não apago a foto.
Sou um cretino, mas nunca apago as fotos que ela manda para mim.
Minha galeria de imagens é repleta de Angelina e não me orgulho disso,
mas é um ótimo material para os meus pensamentos sujos durante a
madrugada.
Angelina é a porra da minha droga e na minha cabeça, eu já a comi
de tantas maneiras, que se meu padrinho sonhasse com isso, cortaria o meu
pau e me acusaria de traição.
Só me dou conta de que as portas se abriram no meu andar, porque
ouço uma funcionária me cumprimentar com um “bom dia” tímido. Guardo
o celular dentro do bolso do terno e assinto antes de caminhar para a minha
sala, reparando que Polina ainda não chegou.
Odeio atrasos e ela sabe disso. Já trabalhava aqui antes mesmo de eu
assumir os negócios legais do meu padrinho.
Com o aborrecimento latejando nas têmporas, eu entro na sala
ampla com janelas grandes de vidros e com vista para o centro de Detroit,
abro o terno antes de me acomodar na cadeira de couro confortável detrás
da mesa feita sob medida, avistando o envelope branco em cima do meu
notebook fechado.
Quando o padrinho sugeriu que eu tomasse a frente dos negócios da
família, minha primeira reação foi recusar. Não queria ter que lidar com
pessoas, muito menos na indústria funerária de cremação.
Mas, bem... a morte, às vezes, ela salva.
E, no geral, não preciso vir todos os dias aqui e as pessoas neste
andar são silenciosas e ficam fora do meu caminho, o que não me faz odiar
tanto o lugar.
Abro o envelope apenas para descobrir que é a carta de demissão de
Polina e que agora, estou sem a merda de uma secretária. Como sou
orgulhoso demais para ir atrás dela e pedir que volte, decido me virar
sozinho.

São quase dezessete horas quando termino de resolver as pendências


do escritório e organizar minha mesa para ir embora. Rumo direto para o
corredor dos elevadores, olhando a última maldita foto que Angelina me
mandou.
E é claro que me sinto um cretino ao ver o nome da minha madrinha
aparecer na tela do smartphone, notificando uma mensagem de texto para
me lembrar do jantar na mansão Giordano hoje à noite. Mesmo que
tenhamos nos encontrado no final de semana na festa do seu aniversário,
não acho que possa escapar desse compromisso, porque não fui ao último
jantar em família que ela fez.
Marta e Giuseppe me acolheram e embora sempre digam que eu não
devo nada a eles, porque somos uma família, sempre me sentirei em dívida
com os dois por terem me acolhido quando eu era um moleque.
Enquanto chamo o elevador, digito uma mensagem para ela e assim
que envio, o nome de Angelina preenche a tela do celular. Penso em
recusar, mas a garota é insistente a ponto de ser irritante.
— O que você quer? — pergunto com o meu tom de voz áspero.
— Branco, vermelho ou preto?
Franzo o cenho, a um triz de perder a paciência. Respiro fundo e
afrouxo o nó da gravata com a mão livre.
— Angelina, o que você quer? Não tenho tempo pra enigmas.
— Que você escolha uma cor — responde com um leve tom de
deboche, tentando esconder uma risadinha. — Branco, vermelho ou preto?
— Tanto faz — resmungo.
— É a cor da lingerie que vou usar no jantar. Não sei qual escolher
— comenta, fazendo-me engolir em seco e perder a voz por uma fração de
segundo. — Qual você prefere?
Eu sei que deveria encerrar a ligação agora ou mandá-la a merda,
mas sou incapaz de fazer a coisa certa, que é proteger Angelina de mim,
porque ela é minha família.
— Branco.
— Obrigada, Lorenzo — ela sussurra antes de encerrar a ligação,
me deixando com uma excitação do caralho latejando pelo meu corpo.

Paro o carro no estacionamento da academia de luta, que fica na


área leste do centro de Detroit. O lugar inteiro segue um estilo industrial e
antes mesmo de entrar, é possível sentir o cheiro de suor mesclado ao odor
metálico do ambiente.
— Ora, ora, ora, veio destruir minha academia? — Javier pergunta
assim que me vê entrar.
A iluminação aqui dentro é péssima e as lâmpadas pendidas no teto
sujo precisam ser trocadas.
— Não preciso de muito esforço, este lugar já está caindo aos
pedaços — devolvo, fazendo o velho me puxar para um abraço rápido.
Javier é um espanhol que comanda as lutas clandestinas em Detroit.
Foi em combate que aprendi a extravasar e controlar a minha fúria. No
começo, meu padrinho era contra e para amenizar as coisas, até cogitou
comprar este negócio para mim, mas, gosto de estar aqui sem ser o dono.
Se eu fosse dono do lugar, eles me deixariam ganhar cada luta e não
teria emoção. Gosto de estar dentro do ringue, porque além de extravasar e
controlar minha raiva, eu luto para sobreviver.
E é lógico que o chefe da máfia de Detroit odeia.
— Giuseppe sabe que você está aqui?
Cerro a mandíbula.
— Não preciso de permissão, Javier.
Ele respira fundo e assente.
— Ok, mas não mate ninguém. Tenho lutas importantes, Lorenzo —
é o que diz, enquanto eu atravesso a academia para ir ao vestiário trocar de
roupa.
Alguns minutos depois, eu estou de volta. Do outro lado da
academia, observo Javier conversar com um homem da minha altura e
trocar um olhar comigo. Alongo meu pescoço e respiro fundo antes de
caminhar até o ringue.
— Dê tudo de si — falo assim que ele entra no ringue e para alguns
passos de distância.
— Lorenzo... — Javier me repreende e eu lanço um olhar
fulminante para ele, odiando o sermão velado.
— Não se preocupe — devolvo, áspero.
Uma sensação macabra de desgraça contorna o meu pescoço,
arrepiando a minha espinha dorsal de maneira tenebrosa. Aos poucos, eu
sinto a pressão forte, que faz o meu coração acelerar contra o peito até o ar
escapar dos meus pulmões.
E, então, eu volto há dezenove anos e o vejo com as mãos no
pescoço da minha mãe, enquanto ela esperneia em busca de fôlego. O seu
olhar doce e fraco cruza com o meu, perdendo o fio da vida.
— É isso que você merece, vagabunda — ele rosna, estrangulando
minha mãe como se ela não fosse nada.
Não sei em que momento perdi o controle, mas quando volto ao
presente, Javier está em cima de mim, me arrancando de cima do seu
lutador, que tem o rosto desconfigurado e está inconsciente no chão.
Olho para as minhas mãos feridas e trêmulas por causa do esforço.
— Ele está vivo — ele diz, respirando fundo ao balançar a cabeça.
— Lorenzo, Lorenzo... um dia vai me dizer quem é ele? — Javier quer
saber.
— Não — é a minha única resposta.
Interrompo a fala com William assim que ela atravessa a porta da
cozinha.
Impossível olhar Angelina e não imaginar a cor da lingerie que está
usando por debaixo do vestido azul celeste, que é uma combinação
excitante para írises verdes e os longos cílios curvados desse pequeno
capeta.
— Perdeu alguma coisa? — sem esconder o tom audacioso, ela
pergunta antes de morder o lábio inferior.
— O juízo, aparentemente — respondo ranzinza, lembrando da
ligação de horas atrás.
Ela curva o lábio num sorriso sexy e se aproxima de mim, fazendo
William, que está ao meu lado na banqueta da ilha de granito, se afastar e
sair do cômodo, deixando-me sozinho com a princesinha Giordano.
Angelina senta ao meu lado, roçando propositalmente o joelho nu na
minha coxa, tensionando o meu corpo de imediato. Envolvo os dedos no
copo de cristal e tomo o resto do whisky num gole generoso.
— Não vai perguntar? — Angelina questiona.
— Perguntar o quê?
— A cor da minha lingerie.
De maneira automática, o músculo do meu maxilar se contrai e
embora saiba exatamente o que devo fazer, eu não o faço, apenas, direciono
os olhos para a garota atrevida ao meu lado.
O vestido azul celeste tem mangas longas e o decote discreto tem
uma espécie de laço delicado. Os dedos finos de Angelina traçam um
caminho hipnotizante até o nó e devagar, ela puxa uma alça, se abrindo para
mim.
Engulo em seco e sou incapaz de desviar a atenção.
Sem pressa, ela puxa o decote para baixo, apenas o suficiente para
me mostrar parte do sutiã branco de renda sob a pele levemente bronzeada e
uniforme.
É sexy pra caralho e consigo me imaginar rasgando o vestido para
vê-la com mais atenção e até mesmo, afastando a renda para roçar os lábios
nos mamilos e sentir o seu sabor.
Ergo os cílios até os olhos verdes, que estão dilatados e cintilando
em excitação.
— Gostou? — murmura, voltando a refazer o laço do decote.
É claro que sim. Esse capeta disfarçado de gente é lindo e sedutor.
As suas pequenas provocações sempre fazem o meu pau pulsar de desejo e
eu me sinto um cretino por desejá-la dessa forma.
Existe algo de muito errado com a nossa relação.
— Confesso que sua escolha me surpreendeu — ela fala antes que
eu possa articular uma resposta grosseira para tirá-la do meu pé. — Mas
achei interessante. Será que Franco Vitale aprovaria essa lingerie também?
O sorriso que curva os lábios cheios de Angelina deixa a minha
garganta com gosto de fel.
— Eu arrancaria os olhos de Franco Vitale antes que você desfizesse
o laço desse vestido outra vez — me ouço resmungando e a única coisa que
Angelina faz é rir.
Com um pigarreio quase imperceptível, a madrinha entra na cozinha
de repente, acompanhada de Maria, a empregada mais antiga da família
Giordano, e a garota ao meu lado se afasta um pouco ao endireitar a
postura, fingindo que nada aconteceu minutos atrás.
Preciso me manter longe de Angelina ou ela vai ser a minha
destruição.
Levo ar até os pulmões e depois, passo a língua na ponta dos lábios
e elevo os cílios para encontrar os olhos do papà, ao mesmo tempo em que
sinto o calor da atenção de Lorenzo em cima de mim.
O subchefe parece a um triz de dizer algo.
— Infelizmente, não posso me casar com Franco Vitale — falo,
usando o meu tom de voz mais doce.
Logo de manhã, papai me convocou para vir ao seu escritório.
Como escutei a conversa sobre o casamento algumas noites atrás, eu já
estava ciente sobre o que se tratava e meu discurso está na ponta da língua,
embora, não ache que vá fazer muita diferença.
Nem mesmo Martina se livrou de um casamento arranjado com
Danilo.
Como eu me livraria de Franco Vitale? Os negócios sempre vêm em
primeiro lugar e mesmo que não goste, eu fui criada para isso.
Estou contando com a ajuda de Lorenzo, que não parece muito feliz
com a possibilidade dessa união, para me livrar desse possível casamento.
— Angelina... — papà repreende.
— Papà, eu sou obediente — digo e ele bufa, incrédulo, no entanto,
continuo a articular, olhando Lorenzo de esguelha. — Mas existe um limite
para a minha obediência e me casar com Franco Vitale é demais pra mim.
Ele coloca uma das mãos no topo da cabeça, enquanto uma linha
fina surge entre as sobrancelhas quase grisalhas e os olhos claros queimam
para mim.
— Não me faça tomar medidas extremas, Angelina.
Respiro fundo e assinto.
Papai nunca foi violento e eu sei que não é agora que começará a
ser, mesmo assim, a sua palavra nesta casa e em nossas vidas é como se
fosse uma lei suprema. Preciso fazê-lo mudar de ideia sobre este casamento
e o único jeito de conseguir isso é sendo atrevida ao extremo.
— Se você me casar com Franco Vitale, eu o matarei envenenado —
falo como se fosse simples, fazendo meu pai levantar as mãos para cima e
bater ao lado do corpo, xingando em italiano.
—Pelos céus, Angelina!
Dou de ombros.
— Você realmente precisa dele? — pergunto e ele me lança um
olhar enfurecido por eu estar me intrometendo aonde não fui chamada. —
Dê Adele para ele, sei lá. Existem várias meninas na organização, mas eu
não me casarei com ele.
Papai dá um soco na mesa para extravasar a frustração e eu
estremeço na cadeira, ainda assim, mantenho o queixo erguido. Nada está
saindo como planejado, só que não darei o braço a torcer.
— O que eu faço com você, hein? — papà pergunta.
Lorenzo e eu trocamos um olhar em silêncio.
— Não me case com ele — resmungo, mordendo as bochechas
internas. — Como pode pensar em entregar sua filha para um homem que
foi seu inimigo até uns dois meses atrás? — começo a apelar.
— Angelina... — Lorenzo tenta intervir, o que não dá certo.
— E se ele me quer... apenas para me matar? O senhor se importa
com isso, papà? Ou a única que realmente importa na sua vida é a Martina?
Papai cobre os olhos com as mãos e solta um longo suspiro, parece
exausto com o fato de lidar comigo. Confesso que nunca foi fácil, mas
quando Danilo escolheu Martina para ser a sua esposa, ele estava disposto a
começar uma guerra para não a entregar ao primogênito do Alberto
Salvatore.
Por que é tão fácil assim abrir mão de mim?
— Saia! — ele ordena.
Levanto da cadeira e prendo mechas de cabelos detrás das orelhas,
me preparando para as próximas palavras.
— Preciso informar algo.
Lorenzo me acerta em cheio com os seus olhos claros e eu sinto
cada pelinho da minha nuca arrepiar. Devagar, papai direciona o rosto para
mim, me esquadrinhando com as sobrancelhas franzidas.
— O que é?
— Arrumei um emprego.
Papai não parece acreditar nas minhas palavras, enquanto Lorenzo
pisca devagar, totalmente confuso com a minha súbita mudança de assunto.
— O que disse, Angelina? — papà quer saber.
— Bom, como o senhor deve saber... Polina pediu demissão e
Lorenzo precisa de uma secretária. Então, eu vou ocupar o cargo — digo
com um sorriso de orelha a orelha.
Lorenzo balança a cabeça de um lado para o outro.
— Estava ouvindo minha conversa com o William? — Lorenzo
rosna, emputecido.
— Não tenho culpa se vocês falam alto demais — é o que digo,
dando de ombros. — De qualquer forma, não é ótimo? Os negócios legais
dos Giordano em família. O que o senhor diz, papà?
— Não — é Lorenzo quem responde, sacudindo a cabeça em
negativa. — Você não será a minha secretária. Pode esquecer isso.
— Você já tem alguém pra colocar no lugar de Polina? — questiono
ao erguer uma sobrancelha.
Quando ouvi a conversa de Lorenzo com William sobre a demissão
de Polina, o subchefe estava irritado por ela ter simplesmente deixado uma
carta de demissão em cima da sua mesa.
Ele precisa de uma secretária e não há candidatas para o emprego.
Pelo menos, não agora. E Lorenzo é muito sistemático, desconfia até da
própria sombra. Acho pouco provável que arrumará alguém tão rápido para
substituir Polina, já que ela trabalhava lá antes mesmo de ele tomar a frente
dos negócios legais da nossa família.
— Não — ele responde a contragosto.
— Então, não tenho mais o que dizer — murmuro com um sorriso
amplo emoldurado no rosto. — O que o senhor acha, papà?
— Tome conta dela, Lorenzo. Se você estiver de olho nela, será
mais fácil de Angelina não aprontar — o chefe da família Giordano fala e
eu fecho os olhos por uma fração de segundo, assentindo.
Lorenzo trinca os dentes e me olha, furioso. Sem que o papai
perceba, eu pisco para ele antes de sair do escritório.
Papai é dono de uma franquia de funerárias com foco em cremação.
Existem várias filiais espalhadas pela cidade de Detroit, mas a matriz é
onde fica o escritório central.
E é claro, o lugar do meu interesse pessoal.
Acompanhada pelo soldado que nos trouxe até aqui, Violetta e eu
entramos no elevador aberto. Ela tem uma caixa pequena na mão e os olhos
estão tristes desde que saímos de casa, porque quando acordamos,
descobrimos que Ozzy estava morto.
Tive que trazê-la comigo, já que Barbara foi para a escola, Caterine
para a aula de balé e a caçula estava triste demais para fazer qualquer coisa.
Sugeri uma cremação para Ozzy.
Não sei se isso é possível, no entanto, nosso pai é dono de tudo.
Podemos fazer qualquer coisa neste lugar.
Uma cremação para um hamster não deve afetar ninguém e ainda
fará minha irmã caçula se sentir melhor.
— Você tá linda — Violetta comenta ao me observar ajeitando o
conjunto de terninho azul claro que escolhi para usar hoje no meu primeiro
dia de trabalho. — Mas eu teria colocado outra coisa no lugar da blusa
branca.
Franzo o cenho ao levar os dedos até a gola alta e puxar com
delicadeza.
— Como o quê por exemplo? — pergunto, mesmo ciente da
resposta dela. Esse pequeno pedaço de gente de cabeça ruiva com sardas no
rosto e eu temos estilos completamente diferentes.
Violetta dá de ombros.
— Uma blusa de banda de rock? — provoca com um sorriso
pequeno que dura exato três segundos.
Entramos no andar administrativo e eu sei que o lugar precisa ter um
ar profissional e que irradia respeito e sensibilidade, só que é tudo muito
monocromático demais, chega a dar calafrios.
Apesar disso, é tudo bem iluminado e os móveis são elegantes e
funcionais.
— Estarei por perto — Davide, o soldado que está no nosso encalço
e tem ordens explícitas do papà de ficar de olho em nós duas, avisa.
Concordo com um aceno de cabeça e ele se afasta de nós.
Violetta e eu rumamos para a recepção, que fica de frente para a sala
de Lorenzo. Enrugo o nariz em desgosto ao ver todos os objetos pessoais de
Polina decorando discretamente a mesa feita sob medida.
Eu gostava muito de Polina e isso mudou depois de eu vê-la
admirando o que é meu numa festa empresarial que o papai fez. Comecei a
odiar o fato de os dois trabalharem tão perto um do outro.
Segurando a caixa pequena contra o peito, minha irmã me observa
com as sobrancelhas ruivas franzidas.
— Ela não levou as coisas dela.... será que vai voltar? Ela trabalhou
aqui muito tempo, pode ser que tenha mudado de ideia.
— Nem que ela implore terá o emprego de volta — resmungo e
começo a recolher os pertences de Polina, incapaz de ser delicada.
— O que vai fazer com as coisas dela? — Violetta quer saber.
Olho para o cesto de lixo e curvo o canto da boca num sorriso
sarcástico.
— Limpar a minha mesa.
— Não, Angelina. Polina é legal.
Solto um suspiro longo e endireito os ombros ao revirar os olhos.
— Davide! — chamo e o homem surge à minha frente em segundos.
— Preciso de uma caixa grande — digo e ele assente, sumindo do meu
campo de visão logo em seguida. — Satisfeita? — ironizo.
Ela me ignora.
— Vou esperar na sala do Lorenzo — é o que diz ao girar nos
calcanhares e com a sua caixa que comporta o pequeno corpo sem vida de
Ozzy, ela entra na sala de Lorenzo.
Davide volta com a caixa e eu começo a enfiar tudo de qualquer
jeito dentro dela. Abro as gavetas e jogo direto na caixa, sem me importar
com objetos frágeis que possam quebrar.
Ao repetir o processo, vejo uma fileira de pacotinhos dourados e
brilhantes caírem sobre a caixa.
Camisinhas.
Meu coração erra uma batida.
É claro que Lorenzo comia Polina. Como não? Ela é linda e os dois
têm a mesma idade.
— Angelina... o que você está fazendo? — ao ouvir a voz feminina,
ergo o rosto para olhar para a frente.
Polina usa um vestido que cai até a altura das canelas, o tecido é
justo ao corpo, marcando ao mesmo tempo em que valoriza as curvas do
seu corpo. Em uma das mãos, ela segura um suporte com um copo de café
expresso o preferido de Lorenzo.
— O que está fazendo aqui? — respondo com outra pergunta.
Ela engole em seco e prende uma mexa de cabelo ruivo detrás da
orelha, ressaltando os olhos grandes e chamativos.
— Eu vim conversar com Lorenzo. Quero meu emprego de volta.
Conecto os meus olhos com os dela.
— Você esperou, não é?
Polina pigarreia.
— Esperei o quê?
— Que ele fosse atrás de você, mas Lorenzo não foi. Agora, você
quer o emprego de volta. Estou enganada?
Ela engole em seco e endireita os ombros.
— Estava com a cabeça quente quando escrevi minha carta de
demissão. Não devia ter jogado anos de trabalho fora por causa de... — A
frase dela morre, mas eu enfio a mão dentro da caixa e retiro a fileira de
preservativo.
— Não devia ter transado com o seu chefe — grunho.
As bochechas de Polina ruborizam e ela dá um passo para frente ao
esticar a mão e tentar pegar os pacotes de camisinhas de entre os meus
dedos, mas eu impeço.
— Minha relação pessoal com o Lorenzo não tem nada a ver com
você, Angelina — retruca, me deixando furiosa.
— Sinto muito informar, mas não terá o seu emprego de volta. Eu
serei a nova secretária de Lorenzo.
Ela deixa escapar uma risadinha em deboche, como se eu tivesse
acabado de contar uma piada engraçada.
— Você já trabalhou alguma vez na vida? — é o que questiona.
Sinto as minhas têmporas pulsarem por causa da raiva e frustração.
— Não se preocupe, eu aprendo rápido. Além do mais, Lorenzo e eu
somos uma família — devolvo, fazendo-a apertar os lábios.
— Vou esperar Lorenzo na sala dele.
— Não dê um passo para dentro daquela sala, Polina.
— Você não manda em mim, Angelina. Trabalho aqui há anos, as
pessoas são mais acostumadas comigo do que com você. Quantas vezes
esteve aqui de verdade? Não seja infantil.
Respiro fundo.
— Sente a sua bunda no sofá e espere na recepção. Se entrar
naquela sala, vou tirá-la de lá pelos cabelos — ordeno com tanta raiva, que
sinto que sou capaz de avançar em cima dela se ousar me desobedecer.
— Mas que merda é essa? — Lorenzo pergunta com um tom de voz
ríspido e incisivo.
Com um sorriso gentil, Polina se aproxima de Lorenzo e retira o
copo de café expresso de dentro do suporte de papel e entrega a ele, que
coloca em cima da mesa da recepção sem beber um gole da bebida.
— Podemos conversar? — ela pede ao tocar o braço de Lorenzo, o
que faz meu coração bater furioso contra o peito.
Abro a última gaveta e sem me preocupar em ser discreta ou menos
barulhenta, jogo tudo dentro da caixa, chamando a atenção dos dois. Num
movimento brusco, agarro-a e dou a volta na mesa para entregar a Polina.
— Não terá o seu emprego de volta.
— Me desculpe, Angelina, mas não cabe a você decidir isso —
Polina fala e olha para Lorenzo.
Também direciono a atenção para o homem e fico meio feliz por
perceber que ele está olhando para mim, ainda assim, estou irritada por
causa dos pacotes de preservativos na gaveta da sua ex-secretária.
— Tem razão — concordo e a vejo murmurar em surpresa ao meu
lado. — É Lorenzo quem vai decidir. Quem você escolhe? — pergunto ao
me aproximar dele, fazendo automaticamente Polina recuar um passo. —
Eu ou ela?
Por detrás dos olhos azuis e frios do homem que eu amo, noto uma
fagulha de excitação que faz os pelinhos da minha nuca arrepiarem e um
calor que é capaz de me queimar inteira.
Meu coração martela forte dentro do peito.
— Não temos o que conversar, Polina. Você pediu demissão. Passe
no RH antes de ir embora.
Dito isso, ele gira nos calcanhares para entrar na sua sala e eu o
sigo, deixando a mulher bonita para trás. Nem faço questão de esconder o
sorriso por ter sido escolhida por Lorenzo, mas logo desfaço ao me lembrar
de que ele e a ex-secretária transaram.
Ao atravessarmos a porta, ele oscila as vistas de mim para a caixa
em cima da mesa de centro e a única coisa que faço é dar de ombros.
— Por que me escolheu? — questiono.
— Achei que quisesse ser a minha secretária — responde com o tom
grosseiro de sempre.
Lorenzo desabotoa o terno e tira para colocar pendurado no cabide
ao lado da mesa de madeira feita sob medida. Sem erguer o olhar para mim,
puxa as mangas da blusa social até os cotovelos e se acomoda na cadeira
acolchoada.
— Fiquei surpresa, achei que fosse ficar com Polina.
Ele eleva os cílios e encontra o meu olhar.
— Sério?
— Sim. Seria mais fácil de continuar comendo aquele rabo de saia,
não acha? — devolvo com uma carranca, sentindo o gosto de fel na boca.
— Tem razão, mas não tenho mais interesse naquele rabo de saia.
Meu corpo endurece com as palavras que atravessam os meus
ouvidos, porém, mantenho a postura e não surto, decido entrar na onda e
arrancar mais de Lorenzo, que nunca foi um livro aberto.
Cruzo os braços na altura dos seios ao endireitar a postura.
— Ah, é? Por que perdeu o interesse?
Ele não me responde, apenas sustenta o meu olhar com uma
intensidade que faz os meus ossos queimarem.
Alguém interrompe com um pigarro e ao virarmos a cabeça para o
lado, vemos Violetta caminhando na direção do sofá e a caixa em cima da
mesa de centro.
— O que está fazendo aqui?
— Ozzy morreu. Preciso que creme meu hamster — fala,
simplesmente, e o homem solta um suspiro longo. — Quero guardar as
cinzas ou jogar no oceano, não decidi ainda.
Ele passa uma das mãos entre os cabelos bagunçados, o que me
rouba meio sorriso.
— Isso foi ideia sua, não é? — pergunta diretamente a mim.
Antes que eu possa abrir a boca e mentir, a pequena cabeça ruiva
diz:
— Sim.
— Se quer trabalhar pra mim, tudo bem, eu aceito. Mas faça isso
direito, Angelina. Este lugar não é um playground.
— Claro que não, vocês queimam cadáveres aqui — Violetta
reclama.
Balanço a cabeça de maneira positiva.
— Ela tem razão.
Lorenzo respira fundo e devagar, alternando a atenção de mim para
Violetta.
— Deixe o seu hamster aqui e vá pra casa. Entregarei as cinzas
depois — ordena, como se fôssemos soldadinhos.
Ela agarra a pequena caixa com as duas mãos e estreita os olhos ao
se aproximar da mesa.
— Se eu descobrir que no lugar do Ozzy você me deu as cinzas de
uma pessoa desconhecida, eu mato você — ameaça, fazendo Lorenzo bufar
descrente e estender a mão espalmada para receber o pequeno caixão do
hamster.
— Me dê logo isso e vá para a escola — dá outra ordem e de modo
automático, minha irmã suspira.
— Não, eu odeio chegar atrasada.
— Vá para a escola, Violetta — diz com o tom de voz tão incisivo,
que ela levanta as mãos em rendição.
— Sim, senhor — a caçula ironiza, mas dá meio sorriso. —
Obrigada, mas não se esqueça, eu quero as cinzas do Ozzy e não de uma
pessoa desconhecida.
— Ok.
Violetta troca um olhar comigo antes de sair do escritório e eu
assinto, me comunicando em silêncio. Endireito os ombros e elevo o queixo
para meu chefe, que me observa com cautela.
— Vou acompanhá-la até a escola, mas não ouse contratar outra
secretária nesse meio tempo — rosno.
Lorenzo fecha os olhos por uma fração de segundo, visivelmente a
um triz de perder a paciência.
— Você tem trinta minutos se não quiser perder o emprego — é o
que ele diz num tom sério e que não me dá brechas para contra-argumentar.
Sobre os saltos altos, apresso-me na direção da porta e envolvo a
mão na maçaneta e estou prestes a girá-la quando tenho a brilhante ideia de
provocá-lo. Giro o corpo para Lorenzo e abro um sorriso cínico.
— Aliás, é branco de novo.
Ele franze o cenho, visivelmente confuso.
— O quê?
— A lingerie de hoje. Sei lá, achei que fosse trazer sorte para o meu
primeiro dia de trabalho — murmuro de forma provocante e dou uma
piscadinha para ele, notando os músculos do seu rosto se contraírem ao
descer com os olhos pelo meu corpo com uma possessividade absurda. —
Até logo — emendo ao sair da sala.
Angelina deu uma nova definição para o significado de secretária.
Reclamou da cadeira da recepção, porque segundo a princesa
Giordano, é dura demais, por isso, decidiu que trabalharia na minha sala,
sentada no meu sofá. E como se isso não fosse o bastante, tirou os sapatos
para ficar mais à vontade e está cantarolando “Nothing Else Matters” do
Metallica, enquanto folheia a agenda que tem nas mãos.
Uma bela distração do caralho.
Deliciosa também.
— Faça silêncio. Eu preciso trabalhar — resmungo.
— Violetta estava escutando essa música, agora não consigo tirar da
minha cabeça — é o que diz, cruzando as pernas, sem olhar para mim.
Fixo a atenção nas pernas de Angelina e admiro a pele macia e
convidativa. Respiro fundo e fecho os olhos com força, me obrigando a
direcionar a atenção para os papéis em cima da mesa.
Essa garota torna tudo tão difícil. A única coisa que tenho em mente
é prová-la e me perder nela. Seria a oportunidade perfeita. Meu padrinho
nunca vem aqui e ninguém entra nesta sala sem que tenha minha permissão.
Reivindicá-la será o meu maior pecado, mas minhas mãos e alma já
estão tão sujas de sangue que eu não me importaria de queimar no inferno
por comer a boceta dela.
Droga.
Que merda.
Tudo por causa de uma boceta proibida.
Foco, Lorenzo!
Meu celular vibra em cima da mesa e com o mau humor pulsando as
veias do cérebro, agarro o aparelho e vejo o nome de Angelina na
notificação. Solto uma baforada de ar antes de abrir a mensagem e olhar a
foto das pernas em cima da mesinha de centro que ela mandou.
— Isso não vai dar certo.
— Não seja ranzinza — ela devolve, caminhando de pés descalços
até a minha mesa. Um sorriso lindo e provocante estampado no rosto
delicado. Porra. Ela é a coisa mais linda que eu já vi. E é irritante pra
cacete. — Vamos almoçar juntos? Eu e você? — pergunta, mordendo o
lábio inferior.
— Angelina...
Ela se inclina sobre a mesa e delicadamente me puxa pela gravata,
fazendo meu pau pulsar contra a calça social. Se Angelina soubesse o
quanto eu a quero, não me provocaria dessa forma.
— Por favor? — insiste, fixando a atenção nos meus lábios. — É só
um almoço... entre irmãos.
Contraio o músculo da mandíbula ao ouvir essa maldita palavra que
faz a minha espinha arrepiar.
— Eu não sou o seu irmão — grunho, irritado.
Ela curva o canto esquerdo da boca num sorriso cínico, quase
satisfeito.
— Ótimo. Então, leve a sua nova secretária para almoçar. Não fazia
o mesmo por Polina?
— Não.
Ela ergue as duas sobrancelhas bem-feitas.
— Mas não venha me dizer que a relação de vocês era estreitamente
profissional, porque eu vi a fileira de preservativo na gaveta dela.
Mantenho meu olhar firme no dela e percebo o seu peito subir e
descer por causa das respirações rápidas.
— Não era, mas nunca comi Polina aqui — sou sincero e nem sei o
motivo de dizer a verdade a ela.
Depois que Polina e eu começamos a nos entender na cama, ela
tentou, por várias vezes, uma aproximação aqui, mas o escritório sempre foi
um lugar que gostei de manter o profissionalismo, o que mudou depois de
Angelina se tornar a minha secretária.
A única coisa que consigo pensar que aqui é o lugar perfeito para
fazê-la minha.
— Que bom — emenda ao soltar a minha gravata e se afastar da
mesa para voltar para o sofá.
Abro a porta do carona para Angelina e ela abre um sorriso doce
antes de se acomodar no banco do carro.
Eu sei que não devia, mas gosto da visão da saia subindo até o meio
das coxas e expondo ainda mais a pele macia. Engulo em seco e afrouxo o
nó da gravata para respirar um pouco melhor.
Dou a volta no carro e me acomodo no lugar do motorista,
prendendo a fivela do cinto de segurança. Sou surpreendido pelos lábios
atrevidos e molhados de Angelina na minha bochecha, encostando num
beijo singelo.
Olho para o lado e a vejo colocando o cinto.
— Não faça mais isso.
— O quê? Te beijar? — provoca.
— Sim, exatamente.
Ela revira os olhos e se remexe no banco acolchoado.
— Foi apenas um beijinho inocente — murmura, molhando os
lábios cheios com a língua. — Seria pior se eu tivesse feito isso...
Angelina retira o cinto e tende o corpo sobre mim, colando os lábios
macios e úmidos nos meus, ao envolver as mãos pequenas em torno do meu
rosto e fazer o meu pau latejar dolorosamente.
Num movimento rápido e tentador pra caralho, ela passa a língua no
meu queixo e antes que possa se afastar, minha mão voa para a sua cintura
fina, prendendo-a a mim.
Respiro fundo e pesado.
Ela engole em seco, estremecida por causa do meu aperto firme.
Controlo a minha vontade de prová-la de verdade e afasto a mão
dela, me sentindo um cretino apenas pelo pau ter acordado por causa da
provocação desse capetinha.
— Coloque o cinto — ordeno com uma carranca e ela obedece sem
pestanejar.
Sem olhar para a garota ao meu lado, piso no acelerador e saio do
estacionamento subterrâneo do prédio.
Por causa das coisas do meu passado, eu sempre apreciei muito o
silêncio. É como ter paz, mesmo que eu não a mereça. No entanto, é
irritante pra caralho tê-lo agora com Angelina ao meu lado.
Estico a mão para ligar o rádio e assim que os primeiros acordes de
uma música desconhecida preenchem o interior do carro, o barulho de
pneus cantando no asfalto invade os meus ouvidos e, de repente, um
impacto violento e rápido me arremessa para o lado e sinto minha cabeça
bater de leve na janela lateral do veículo, enquanto o cinto de segurança me
puxa com força.
Meu corpo dói por conta do impacto, mas meu primeiro instinto é
olhar para o outro lado. Sinto gosto de fel na boca e a garganta fechar ao ver
Angelina sobre o airbag, inconsciente e completamente inerte, com sangue
escorrendo pelo rosto delicado.
Sinto o coração afundar contra o peito e a minha cabeça vira uma
zona com pensamentos do passado. Pisco rápido para me concentrar no
agora e estico os dedos para alcançar o seu pulso fino e encontro um ritmo
fraco de pulsação.
— Angelina? — chamo e é em vão. — Droga, Angelina, fala
comigo — resmungo.
Olho para a porta do carro e antes que possa sair, outra batida faz o
meu corpo estremecer e o barulho metálico arranhar os meus ouvidos.
Mesmo fodido e com a sensação do corpo completamente quebrado, pego a
minha pistola dentro do coldre do terno e empurro a porta para sair do carro
e matar o desgraçado.
Mas a única coisa que vejo é o filho da puta indo embora em
disparada. Olho para a SUV preta sem placa e travo a mandíbula, furioso.
Dou a volta no veículo e olho a porta do carona, está completamente
amassada, o impacto do lado de Angelina foi muito pior. É perda de tempo,
ainda assim, tento abri-la ao mesmo instante em que minha mente alterna
em voltar no passado.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, respirando fundo.
— Lorenzo? — ouço Angelina chamar com a voz fraca, e é isso que
me faz voltar para dentro do veículo.
— Não se mexa.
— O que aconteceu? — pergunta, meio sonolenta. — Meu pescoço
dói — resmunga e encaminha os olhos até mim. — Você tá ferido.
Angelina quase me faz sorrir quando leva uma das mãos até a minha
testa para me tocar.
— Não se preocupe comigo, Angioletta. Você vai ficar bem.
Dezenove anos antes...
Mamãe se foi.
E agora, Luca e eu estamos por nossa conta.
Sozinhos.
Observo meu irmão pentear os cabelos da mamãe deitada no chão,
sem vida. Talvez ele seja inocente demais para entender a gravidade da
nossa situação ou esteja apenas vivendo uma fantasia de que ela vai acordar
e levantar a qualquer momento para nos proteger.
— Pode pegar o edredom? Não quero que a mamãe fique com frio
— ele fala ao lançar um olhar melancólico para mim.
Engulo em seco e faço o que ele pede.
— Obrigado.
O corpo dela começou a soltar um cheiro meio adocicado e
estranho, que embrulha meu estômago. E eu sinto que ficará pior. Faz horas
que ela está morta no chão do nosso quarto e não há nada que possamos
fazer, porque o monstro nos trancou aqui.
— Luca, nós precisamos...
— Não... — ele choraminga e balança a cabeça de um lado para o
outro, apertando o meu coração.
Meus olhos ardem e eu me sinto inútil.
— Tudo bem.
Fico de cócoras ao lado esquerdo da mamãe e com delicadeza, retiro
a aliança de ouro do seu dedo. Ela sempre a olhou com carinho e amor,
como se lembrasse dos momentos felizes que viveu com o papai.
Luca me observa com atenção.
Estico as mãos e pego o cordão com o pequeno pingente de
crucifixo em seu pescoço e coloco a aliança, arrancando um sorriso em
meio as lágrimas do meu irmão.
— Promete não perder?
Ele assente de lábios prensados e passa o cordão para dentro da
blusa, o escondendo completamente.
De repente, ouço barulho de chaves e eu fico de pé ao puxar Luca
para perto, colocando-o atrás de mim. A porta é escancarada e nosso tio
entra acompanhado de dois homens, que riem com deboche para o corpo da
minha mãe sem vida.
Trinco os dentes.
— Dê para os cachorros comerem — o monstro ordena.
— Não! — grito ao dar um passo para frente e tentar empurrar um
dos homens para longe do corpo dela e é em vão.
Tento mais uma vez impedi-los de levar a mamãe e sem esforço, sou
interrompido pelo meu tio, que me pega pela gola da camisa e focaliza
meus olhos com um ódio que sempre esteve ali, brilhando para mim.
Queimando como o fogo do inferno.
Esperando por mim.
Esperando o momento certo para me destruir.
— É o seguinte, Enzo. Agora, somos você, eu e o Luca. E as coisas
serão como eu quero. Se não quiser virar comida dos meus cachorros, vai
fazer o que eu mando — diz e me joga no chão, fazendo Luca chorar.
Com a visão embaçada por causa das lágrimas estúpidas, eu vejo os
dois homens carregando o corpo da minha mãe para ser a refeição dos
malditos cachorros e o monstro com um sorriso de satisfação estampado no
rosto.
Angelina sofreu uma lesão no pescoço e vai precisar ficar de
repouso por alguns dias e tomar remédios diariamente, mas fora isso, não
teve nenhum ferimento grave, o que não ameniza em nada a minha raiva
por terem a machucado.
— Vai me deixar cuidar de você agora? — a médica pergunta depois
de ajeitar o colar cervical em Angelina e ouvir a garota reclamar pela
milésima vez que ficará feia pelos próximos dias.
— Não precisa — resmungo.
— Ele é uma mula teimosa — Angelina diz, com a voz meio
preguiçosa por causa dos analgésicos que tomou para dor.
Aproximo-me dela e a vejo sorrir com os olhos para mim, o que me
faz meio que esticar os lábios para ela também. Levo uma das mãos até os
seus cabelos marrons e retiro uma mecha de cima do seu rosto, respirando
fundo à medida que tento controlar a minha fúria de alguma forma.
— Sente dor?
— Não. E você?
— Não se preocupe comigo. — Olho para a doutora, que nos
observa com atenção. — Tem certeza de que ela vai ficar bem? — pergunto
novamente. É a quarta vez e como antes, a voz soa como se eu estivesse
xingando.
— Sim, senhor Falcucci.
— Não contrate outra secretária — Angelina pede, umedecendo o
lábio inferior e piscando devagar. Os olhos me dizem que o assunto é sério,
mas o sorriso no rosto diz completamente o contrário. — Não pode me
demitir por termos sofrido um acidente. A culpa não é minha. Você sabe
disso, não é?
Solto uma baforada de ar.
— Eu sei.
— Promete que não vai chamar Polina de volta? Prometa agora ou
eu vou arrancar os cabelos dela — ameaça, o que faz a médica rir de leve e
dizer para mim:
— Ela vai ficar bem.
De repente, a madrinha e as irmãs Giordano entram no quarto de
hospital e eu dou um passo para trás, deixando que elas se aproximem de
Angelina, que está sorrindo para o vento.
— Ah, meu Deus, minha menina. O que aconteceu? — a madrina
questiona, quase chorando ao segurar a mão da filha.
As garotas se aprumam ao redor de Angelina.
Estou prestes a responder quando o meu padrinho entra no quarto,
uma expressão sombria e aflita estampada no rosto.
— Que merda aconteceu, Lorenzo? Quem machucou minha filha?
— interpela, mas caminha direto até a filha e deposita um beijo na sua testa,
enquanto troca algumas palavras com uma Angelina alegre demais.
— Você está bem? — a madrina quer saber e eu apenas assinto em
resposta, fazendo a médica me lançar um olhar incisivo.
— A senhorita Giordano ficará bem. Muito repouso e gelo na área
afetada e logo estará novinha em folha. — Ela abre um sorriso gentil. —
Alguém pode convencer este homem a me deixar checá-lo? — Aponta com
indicador para mim.
— Estou bem — grunho. — Tenho problemas maiores para me
preocupar — emendo ao olhar para o meu padrinho.
Faz quase uma hora desde que tudo aconteceu e Angelina foi
atendida rápido por causa dos contatos que temos. Só que é pouco tempo
para encontrar quem bateu no carro, ainda mais porque o desgraçado da
SUV andava sem placa.
O chefe da máfia de Detroit vem até mim e nós dois saímos do
quarto, encontrando Davide e William no corredor do hospital.
— Por que não estava com Angelina? — meu padrinho pergunta a
Davide, quase voando em cima do soldado para puxá-lo pela gravata.
— Ela estava comigo, padrino. Não preciso de um soldado de babá
— é o que eu digo, tentando soar indiferente, quando a verdade é que eu
dispensei Davide porque queria ficar apenas com Angelina.
Meu padrinho olha para mim, a desconfiança é palpável.
— Ela é sua irmã, tinha que protegê-la, Lorenzo — é o que fala, me
lembrando desse maldito detalhe.
— Eu sei — concordo e sinto um gosto quase corrosivo descer pela
garganta, queima e faz meu coração pesar dentro do peito. — O carro
estava sem placa.
— Não foi muito longe do prédio. Eu acho que ele estava esperando
— William comenta.
— Franco Vitale? — arrisco, com a certeza absoluta de que eu
cortarei sua cabeça se esse filho da puta estiver envolvido no que aconteceu
mais cedo.
— Não. Ainda não disse nada sobre a recusa de Angelina — meu
padrinho resmunga, passando uma das mãos no topo da cabeça. — Vamos
dobrar a segurança da minha casa, das meninas e a sua também — ordena
ao olhar para mim.
— Eu sei me cuidar sozinho, padrino — tento soar respeitoso,
apesar das minhas palavras serem uma afronta a sua ordem explícita.
— Eu sei que sim, mas fará o que eu mando, porque além de meu
filho, você é o meu sucessor — é a última coisa que retruca ao girar nos
calcanhares e voltar para o quarto de Angelina.
Repouso absoluto é uma droga.
Início do segundo dia de descanso e eu estou completamente
enfadada. Não vejo a hora de arrancar esse colar cervical que me faz olhar
para os lados como se eu fosse um robô enferrujado.
— Ai — resmungo de dor quando Barbara não tem o devido
cuidado ao pentear os meus cabelos do lado esquerdo, ao contrário de
Violetta, que é delicada e compreensiva com o meu atual estado e passa a
escova entre as madeixas com total atenção e carinho.
— Não seja mole — a segunda caçula devolve.
Lanço um olhar furioso para ela e percebo que está penteando os
meus cabelos enquanto mexe no celular.
— Se quebrar o meu pescoço, eu acabo com você, Barbara —
ameaço e a garota revira os olhos, no entanto, deixa o aparelho de lado para
se dedicar ao processo de cuidar das minhas madeixas.
Durante o tempo em que cada uma se empenha em fazer uma trança
em cada lado da minha cabeça, passo os dedos no corpo alongado e esguio
do Ozzy Osbourne, o novo melhor amigo de Violetta.
Paolo, o soldado que cuida da nossa segurança desde que somos
bebês, vive nos mimando e quando soube da morte do hamster da caçula,
resolveu preencher o vazio no coração de Violetta com um furão doméstico.
Confesso que Ozzy Osbourne é fofo e apesar da pelagem densa, é
muito macio e os olhinhos brilhantes e expressivos são a coisa mais
adorável que já vi na vida.
Ele é como um mini panda, com uma máscara escura em volta dos
olhos, patas pretas e manchas brancas na barriga.
Depois de terminarem as tranças, me olho no espelho da penteadeira
de madeira feita sob medida do meu quarto. Estão totalmente
desproporcionais, mas agradeço mesmo assim.
Entrego o furão para Violetta, e com cautela, nós três rumamos na
direção da sala. As meninas afofam as almofadas pequenas do sofá para que
eu me acomode e eu coloco os pés em cima da mesinha de centro.
— Você tá adorando isso, não é? — Caterine pergunta ao trazer chá
gelado de pêssego para mim.
— Claro que não. Odeio ficar com isso no pescoço — resmungo ao
erguer o braço e envolver os dedos no copo de vidro grande e abrir um
sorriso em agradecimento para a minha irmã. — Obrigada.
— Acho que ela tá adorando toda essa atenção — Barbara contesta,
mas é incapaz de desviar a atenção do celular para me encarar.
— E o seu emprego como secretária do Lorenzo? — Caterine quer
saber.
— De pé, é claro — murmuro e bebo um gole generoso do chá
doce. — Ele não seria capaz de contratar outra secretária.
— Você sofreu um acidente no seu primeiro dia de trabalho —
Violetta faz questão de lembrar.
Reviro os olhos de maneira exagerada e me arrependo um segundo
depois, porque sinto um pequeno beliscão no pescoço.
Levo ar até os pulmões e solto suspiro, lembrando do nosso
momento dentro do carro e a sua mão possessiva na minha cintura, me
prendendo contra ele. Lorenzo nunca me tocou daquele jeito e por um
momento, achei que finalmente me beijaria.
Maldito acidente!
Teria sido um almoço perfeito se não fosse a batida de carro.
De repente, Martina entra na sala acompanhada de duas paredes
musculosas e com expressões nada amigáveis.
Assim que Violetta a vê, solta Ozzy Osbourne e corre para a irmã
Giordano favorita e a prende num abraço, como se não a tivesse visto
alguns dias atrás no aniversário da mamma.
Caterina e Barbara vão cumprimentá-las, enquanto as duas paredes
de músculos continuam atrás dela, em silêncio.
É Luigi, o soldado que segue Martina para todos os lados quando
Danilo não está presente e também, Romeo, o irmão mais novo e mudo.
Não acho que tenha o escutado falar alguma vez desde que nossos irmãos se
casaram.
Martina se aproxima de mim e se acomoda no sofá, passando uma
das mãos nas minhas tranças.
— Vim o mais rápido que eu pude — fala e se inclina sobre mim,
contornando o meu corpo com os braços.
Sorrio.
— Cadê o seu adorável marido? — quero saber.
— Trabalhando, não pôde vir comigo, mas mandou Luigi e Romeo
para ajudar no que o papà precisar. Soube que foi um atentado. Como você
tá? Doendo muito? Onde está Lorenzo? Ele se machucou?
— Não, ele está bem.
— Talvez tenha sido Franco Vitale — Barbara informa com a voz
comedida. — Eu ouvi o papà e Lorenzo conversando no corredor do
hospital. Não consegui ouvir tudo, mamãe brigou comigo por estar
escutando a conversa — emenda, dando de ombros.
— Franco Vitale? — Martina questiona, as sobrancelhas unidas em
confusão.
Expiro profundamente.
Não tive tempo de contar as novidades à Martina e no aniversário da
mamãe, ela foi embora no mesmo dia, porque precisava estar em Chicago
na manhã seguinte para um evento importante da organização.
— Papà quer me casar com ele — digo a grande novidade. — Mas
isso não vai acontecer, porque logicamente, eu prefiro morrer a me casar
com aquele homem.
— Talvez ele esteja com raiva porque Angelina não quer se casar
com ele — Violetta tira as suas próprias conclusões, atraindo a atenção de
Romeo e Luigi.
As bochechas salientes da caçula coram.
— Ei, ei, ei! Espere! — Martina pede ao ver Romeo enfiar a mão no
bolso do terno para pegar o celular. — Não vamos começar uma guerra, ok?
Não sabemos se é isso.
— Que merda é essa? — Romeo questiona, e a voz soa tão grossa,
que parece que vai agredir alguém com socos a qualquer momento.
Ele faz um movimento engraçado com a perna para se livrar de algo.
— Romeo fala? — cochicho e Martina me repreende com uma
olhadela afiada, que me rouba um sorriso.
— Ozzy Osbourne! — Violetta chama e dá um passo na direção do
Salvatore, só que muda de ideia no momento em que vê os olhos furiosos
do homem. — Saia daí agora!
— O que aconteceu com o Ozzy? — Martina quer saber.
— Morreu — Caterine e Barbara respondem ao mesmo tempo.
— Morreu? — Luigi questiona, olhando para o furão doméstico
tentando subir na perna de Romeo. — E quem é esse Ozzy?
— Esse é o Ozzy Osbourne. O Ozzy morreu — Violetta explica,
fazendo Romeo encará-la com um olhar severo e até mesmo, enigmático.
— Ele gostou de você — acrescenta ao tomar coragem de se aproximar do
cunhado e agarrar o furão com as duas mãos.
— Essa coisa é estranha — Romeo resmunga.
— Você não gosta de animais? — Violetta quer saber e a julgar pelo
músculo tensionado no rosto de Romeo, eu diria que foi uma péssima
pergunta.
— Não.
— Nossa, por quê? Nunca teve um cachorrinho? — a caçula insiste
de maneira inocente.
— Isso não é problema seu, pirralha — ele grunhe, retraindo a nossa
irmã, que agarra o seu furão e atravessa a sala, se afastando de nós.
Martina e eu abrimos a boca ao mesmo tempo para sair em defesa
da caçula, mas antes que possamos falar algo, Caterine é mais rápida:
— Não precisava ser grosso com ela. Violetta é só uma criança.
Demonstrando claramente o aborrecimento e insatisfação pelo
atrevimento que corre em nosso sangue, Romeo prensa os lábios em uma
linha reta. Ele parece a um triz de dar uma resposta grosseira e certeira, mas
somos salvas pela mamma, que surge na sala com um sorriso alegre.
Martina se levanta para receber um abraço dela e um beijo em cada
lado do rosto. Ela mal se afasta da mamãe quando o papà e Corrado brotam
na sala. O chefe da máfia cumprimenta primeiro a filha mais velha e só
depois, troca um aperto de mão com os homens do Império Salvatore antes
de rumarem para o escritório e tratarem de negócios.
— Vamos — mamãe fala. Ainda enroscada em Martina, ela
gesticula com a cabeça na direção da cozinha — Vou cozinhar pras minhas
meninas — acrescenta com um sorriso alegre emoldurando os olhos claros
e gentis.
Admiro o design robusto e agressivo do carro esportivo que acabei
de receber e me acomodo no banco de couro do motorista antes de pisar
fundo no acelerador do novo Dogge Charger.
Embora o horário não me permita desfrutar do desempenho
impressionante e potente da velocidade do carro, atrás de mim, William faz
esforço para me acompanhar e seguir o meu ritmo.
Ele é o mais próximo de um amigo que eu tenho e eu o conheci em
um momento crítico da minha vida, mas para ser sincero, isso não significa
que eu goste do fato de agora tê-lo no meu encalço, vigiando os meus
passos como se eu fosse uma criança que precisa da droga de uma babá.
Estaciono em frente à mansão Giordano e desço do veículo, William
aparece alguns minutos depois, uma carranca dura emoldurando todo o
rosto.
— Vai ser sempre assim? — pergunta para mim com certo
atrevimento, deixando de lado o fato de eu ser o seu chefe e me tratando
como um irmão mais novo, como ele fazia quando éramos adolescentes. —
Preciso cuidar da sua segurança, Lorenzo.
— Não preciso de uma babá, William.
— De qualquer forma, começarei a ir sentado no banco do carona
— informa e eu aperto a mandíbula em desgosto.
Estou prestes a rosnar uma resposta quando vejo um carro
estacionar perto de nós, em frente à mansão. Meu corpo inteiro retesa e as
veias do pescoço saltam ao ver Franco Vitale descer do automóvel,
acompanhado de um soldado.
— Que merda você está fazendo aqui? — questiono ao interceptá-lo
com uma grosseria que é capaz de incitar ainda mais a guerra que meu
padrinho tem planos de cessar.
Ele arqueia uma sobrancelha ao fixar os olhos na minha mão que
segurou o seu braço e o impediu de entrar nas instalações da mansão. Com
um movimento brusco, Franco se solta de mim e endireita os ombros,
ajeitando o terno feito sob medida.
— Soube do acidente e vim ver Giuseppe. Angelina também, é
claro, em breve ela será minha esposa — fala com uma calma que me deixa
irritado pra caralho.
— Não somos amigos. Não somos aliados. Não somos porra
nenhuma. Não existe motivos para ter vindo até aqui e você não entrará
nesta casa.
Franco suspira e estica o canto do lábio num sorriso cínico.
— Logo seremos mais do que aliados, Lorenzo. Angelina Giordano
será minha mulher e você... — Estreita os olhos para mim, sem esconder o
deboche. — Uma espécie de cunhado. Estamos praticamente em família.
Dou um passo na sua direção, ficando há poucos metros de distância
e sinto William se aproximar atrás de mim.
— Você não se casará com Angelina.
As narinas de Franco inflam e os lábios dele se reprimem em uma
linha reta.
— Eu sei que um dia você será o chefe da família Giordano, mas
ainda não é — provoca, acelerando o meu coração de maneira violenta. —
Não cabe a você tomar esta decisão. Meu casamento com Angelina é um
assunto que eu vou tratar com Giuseppe.
Ele faz um gesto com a cabeça e dá um passo para o lado, uma
tentativa de entrar na mansão e eu agarro o seu braço com mais força do
que da primeira vez, deixando o seu soldado e William alarmados e prontos
para uma possível briga.
— Eu não deixei claro? Você não entrará nesta casa.
Franco solta um som entrecortado que parece uma risada sarcástica.
— Qual é o problema, Lorenzo? Não quer um acordo de paz?
— Não se isso custar Angelina — me ouço falando e odeio que eu
esteja a ponto de arrebentar a cara de Franco Vitale por causa dela.
Que merda está acontecendo comigo?
— Meu irmão esteve em guerra por anos, mas não se engane,
Lorenzo. Não sou alguém fácil. O acordo de paz só acontecerá se Angelina
for minha. Não serei uma marionete nas mãos de vocês.
— Então... continuaremos em guerra — grunho, expirando com
força e com a sensação dos músculos se expandindo dentro do meu corpo.
Franco ergue o queixo.
— Isso é excesso de proteção ou você está querendo comer a sua
irmãzinha? — questiona, atingindo toda a minha fúria com as suas palavras.
— É uma pena que isso nunca acontecerá, porque ela será minha —
emenda, e eu perco o controle ao fechar a mão em punho e acertar o seu
rosto com um soco.
Tudo acontece em poucos segundos. Franco Vitale devolve o golpe
no meu queixo e antes que possa revidar, William e o seu soldado estão
com as pistolas em ristes, minha madrinha e as irmãs Giordano estão do
lado de fora da mansão, assustadas e tentando entender o que aconteceu.
Limpo a boca com as costas das mãos e cuspo sangue no chão.
— Diga a Giuseppe que aumentei a minha proposta. Agora, além de
Angelina Giordano, eu quero a sua cabeça para manter a paz — Franco
Vitale fala e eu deixo escapar uma risada desdenhosa. — Acha engraçado?
Não esqueça, assim como meu irmão, eu posso fazer um estrago —
acrescenta ao girar nos calcanhares e voltar para o carro, mas não sem antes
de dar uma boa olhada em Angelina.

— Me diga, Lorenzo — o padrino começa a falar, andando de um


lado para o outro no escritório e então, para à minha frente e explode: —
Que merda você tem na cabeça?
Estamos no escritório, apenas nós dois. Ele nunca me daria uma
advertência na frente dos homens do Império Salvatore ou de algum
membro da nossa organização. Mesmo emputecido por causa da minha
atitude imprudente contra Franco Vitale, meu padrinho jamais ficaria contra
mim.
— Eu ainda estou tentando descobrir quem é o filho da puta que nos
atacou em plena luz do dia e você decidiu que era uma boa hora de se
atracar com Franco Vitale?
Engulo em seco e permaneço em silêncio, porque eu o conheço o
suficiente para saber que não é hora de eu abrir a boca. Não é a primeira vez
que ele me dá sermões por causa dos meus ímpetos de raiva desenfreada,
embora nem de longe este tenha sido um desses episódios.
— Você esqueceu que estou tentando um acordo de paz? Ou manter
as coisas tranquilas na cidade e nos negócios não é bom o bastante pra
você? — questiona com o tom de voz elevado. — No que estava pensando,
filho?
— Eu não estava pensando — é o que digo. — Ele me provocou e
me deixei levar — admito, deixando de fora o motivo real por eu ter
perdido a linha e ter dado um soco em Franco Vitale.
— Pensei que tivesse resolvido isto — murmura, buscando os meus
olhos.
E não gosto da forma como me encara, porque por um momento, ele
não parece o chefe da organização e sim, o homem que me acolheu.
Me salvou.
Um pai.
— Eu sei que ainda continua indo na academia de Javier e que quase
matou um lutador — informa e eu sinto a garganta fechar.
— Eu preciso disso — assumo com o peito pesado por causa do
coração que martela com ferocidade. — Me ajuda a pensar e refletir.
É uma mentira.
Toda vez que estou no ringue a única coisa em que consigo focar é
no passado, nos momentos de dor. Lutar nunca me fez refletir, mas é o que
me ajuda a seguir em frente.
— Sei que sim, todos nós temos monstros que não conseguimos nos
livrar. Mas, Lorenzo, não deixe que isso destrua você.
Assinto com firmeza.
— Ele quer minha cabeça.
Meu padrinho suspira e leva uma das mãos até as têmporas para
massageá-las.
— Está sugerindo que eu entregue? — devolve.
— Eu comecei isso.
— Não se preocupe, Corrado encontrará um jeito de apaziguar as
coisas. Afinal, você deu um soco e ele deu outro. Justo e simples —
resmunga e faz um gesto com a mão para que eu saia do escritório. — Saia
antes que Marta entre aqui, eu sei que ela quer cuidar de você. Sempre
odiou vê-lo machucado. Vá.
Faço o que meu padrinho ordena e mal atravesso a porta quando
encontro a minha madrinha no corredor. Com um sorriso gentil, ela vem até
mim, envolvendo um dos braços nos meus ombros e sem dizer nada, me
guia até à cozinha.
Cinco pares de olhos curiosos e familiares em volta da mesa me
analisam assim que entro no cômodo e sento na banqueta da ilha de granito.
A madrinha segura o meu rosto com as duas mãos para verificar e eu
controlo a vontade de recuar.
— Não quebrou nada — ela diz e eu curvo a boca num sorriso
debochado, fazendo minha madrinha suspirar e arquear uma sobrancelha.
Maria, a empregada mais antiga da família, surge na cozinha com
uma caixa de primeiros-socorros nas mãos e vem para perto de mim.
— Por que você estava brigando? — Caterine tem coragem de
perguntar.
— Tem a ver com o acidente de carro? — Barbara também
questiona. — Ai, meu Deus, é o que eu tô pensando? Franco Vitale quer
tipo... se casar com Angelina pra matar nossa irmã?
— O quê?! — Angelina berra e despois, geme de dor.
Os olhos claros da madrinha cruzam com os meus por uma fração
de segundo e por um instante, algo dentro de mim diz que ela sabe
exatamente o porquê de eu e Franco termos brigado.
— O que nós vamos fazer? — Violetta quer saber e de repente, ela e
Barbara entram numa pequena discussão sobre fugir da cidade o quanto
antes.
— Não acho que tenha sido ele — resolvo admitir e ao fazê-lo, as
duas caçulas silenciam. — E o que aconteceu entre mim e Franco não é
assunto pra vocês, meninas. Mas garanto que não há nada com o que se
preocuparem.
— Como não? Ele disse que quer sua cabeça — Martina retruca,
irritada.
— Ele não terá — é o que digo, num tom forte e cheio de convicção.
O silêncio se estende sobre nós e a madrinha faz um curativo no
meu queixo, o que me faz sentir estranho e parecer ter doze anos.
Marta sempre cuidou de mim. No dia em que cheguei aqui,
machucado e desconfiado, ela foi paciente e compreensiva comigo. Não
conseguia confiar nela ou em qualquer pessoa desta cidade, mas no fundo,
eu sabia que podia, porque a mamãe confiava neles e me mandou para cá
para me salvar.
— Ponha gelo quando chegar em casa e o inchaço vai melhorar —
ela ordena e faço a única coisa que posso, concordo com um aceno de
cabeça.
— Podem me dar um momento com Lorenzo, por favor? —
Angelina pede e eu pisco com força, contraindo a mandíbula.
Ninguém se opõe ao pedido dela e aos poucos, todas as mulheres
vão saindo da cozinha e nos deixando sozinhos. A princesa Giordano vem
para perto de mim e para no lugar que a mãe estava há poucos minutos, mas
a garota é ousada o suficiente para ficar mais próxima.
Em silêncio, ela levanta uma das mãos e envolve os dedos entre os
meus cabelos. Ergo os cílios para os olhos verdes e para meu desgosto, não
consigo recuar, apenas admirá-la.
Mesmo com o colar cervical e tranças malfeitas, Angelina é a
mulher mais linda que eu conheço.
— Foi por mim? — questiona e eu não tenho vontade de verbalizar
nenhuma resposta. — O que ele disse que te irritou tanto?
— Não é da sua conta — grunho.
Angelina suspira e morde o lábio inferior.
— Conheço você desde que sou um bebê. Sempre que quer me
afastar, você é grosso comigo. Não vai funcionar, Lorenzo. Já devia saber
que não desisto fácil. Esse amor doentio e patético é mais forte do que você
pensa.
— Não sabe do que está falando.
Ela assente com meio sorrisinho.
— Tá bom. Então, me diz, por que não quer que eu me case com
Franco Vitale?
— Por que ele é um idiota — rosno e a garota vem para mais perto
de mim, ficando entre as minhas pernas, se encaixando de maneira perfeita.
— Saia de perto de mim.
Angelina me ignora.
— Você me deixaria casar com outro homem? — quer saber. A mão
delicada desce dos meus cabelos até o meu pescoço, enviando uma onda de
calor direto para o meu pau. — Deixaria outro homem me tocar? — insiste,
me provocando.
— Cale-se, Angelina.
— Você viveria bem... sabendo que outro homem me tem? —
murmura ao aproximar o rosto de mim, os lábios cheios a centímetros dos
meus. — Nunca pensou em mim como eu penso em você?
Fecho os olhos com força e aperto os dentes, me sentindo a um triz
de perder o controle de novo. É difícil pra caralho controlar as minhas
mãos, as palmas coçam para se encher dos seios pequenos dela.
Elas formigam para sentir a pele macia.
— Porra, Angelina... — grunho.
— Você quer me tocar, não é? Tudo bem, Lorenzo — ela fala num
tom baixo e tão sedutor, que eu sei que além de ser a minha perdição, essa
garota com certeza, vai causar a minha morte. — Eu quero isso também.
Por alguns segundos, a minha mente se entrega completamente e eu
envolvo as duas mãos na cintura fina dela, puxando-a contra mim, enquanto
meu pau lateja contra a calça social.
Angelina deixa escapar um gemido doce e sexy pra cacete, que me
faz querer colocá-la em cima da ilha e lamber cada centímetro da sua pele
macia e então, ser o primeiro e único a sentir o gosto da sua boceta virgem.
Mas antes que possa me deixar levar pela mente nublada de desejo,
meu celular vibra dentro do bolso da calça e eu caio em mim, percebendo a
porra que estou fazendo. Prestes a comer a garota que foi criada para ser
minha irmã. Prestes a comer a garota que eu deveria proteger e cuidar.
Prestes a cometer traição.
Afasto-me rápido dela e levanto da banqueta, frustrado e de pau
duro.
— Fique longe de mim, Angelina — ordeno entre os dentes. —
Porra. Fique longe de mim.
Ela molha os lábios cheios e a única coisa que faz é abrir um sorriso
doce e inocente.
— Não me casarei com Franco Vitale — fala, simplesmente e volta
a ficar perto de mim, dessa vez, com dificuldade, fica na ponta dos pés para
depositar um beijo casto na minha bochecha.
Travo o músculo da mandíbula ao vê-la sair da cozinha e tateio o
bolso para pegar o aparelho celular. O número na tela colorida é restrito,
mas eu atendo. Qualquer coisa é melhor do que lidar com o pau duro por
causa de Angelina.
Do outro lado da linha, há apenas chiado e uma respiração forte.
— Quem é?
— Lorenzo Falcucci? — a voz masculina pergunta, causando uma
sensação estranha e angustiante dentro do meu peito.
— Sim — retruco e depois de alguns segundos em silêncio, a
ligação encerra bruscamente.
Dezenove anos antes...
Luca apoia as duas mãos pequenas na barriga e aperta com força ao
fechar os olhos e franzir a testa para mim, fazendo uma cara de choro.
— Enzo, minha barriga dói.
Respiro fundo e olho para a porta trancada do quarto. Desde que os
homens levaram o corpo da mamãe, ele nos deixou aqui, sem nada. Depois
de um dia inteiro sem comida, eu aprendi a abrir a porta com um cabide de
arame e roubei comida na cozinha.
É claro que nosso tio percebeu e ficou furioso por eu ter
desobedecido. Levei uma surra por causa disso e não consigo abrir um olho
por causa do soco, mas os sanduíches de manteiga de amendoim e os
pacotes de biscoito valeram a pena.
— Já está com fome? — pergunto e ele assente, me fazendo
suspirar.
Caminho até a minha cama e levanto o colchão. Por um segundo
longo, encaro o último pacote de biscoito. Estou com fome também, mas
Luca é mais novo e eu consigo aguentar mais tempo apenas com a água da
torneira do banheiro.
Agarro o pacote de biscoito e entrego para o meu irmão, que me dá
um sorriso genuíno. Ele abre o pacote e me oferece, a única coisa que faço é
negar com a cabeça e passar a mão no topo da sua cabeça.
— Coma devagar, só temos isso e eu não sei quando teremos
comida de novo — murmuro e ele enche os olhos de lágrimas, espremendo
os lábios.
Sem dizer nada, Luca se aproxima de mim e envolve os braços
pequenos em volta da minha cintura, me prendendo num abraço que me faz
engolir em seco e sentir vontade de chorar.
— Enzo... — ele murmura.
— Hum?
— A gente vai morrer?
Sinto uma lágrima escorrer do canto do meu olho, mas eu limpo
antes que meu irmão possa ver. Forço um sorriso e me afasto dele, ficando
de joelhos para encará-lo com atenção.
— Não, eu vou salvar a gente. Eu prometo — digo com convicção,
mesmo sem ter certeza de que possa cumprir essa promessa.
Ele funga e balança a cabeça, concordando.
Martina decide ficar em Detroit para passar a noite, e nós deixamos
de lado o fato de ela ser uma mulher casada agora e dividimos o quarto
como fazíamos quando éramos crianças.
Enquanto Martina penteia os meus cabelos e Caterine faz as minhas
unhas dos pés, as duas caçulas estão deitadas em cima da cama com Ozzy
Osbourne, que resolveu fazer parte da nossa noite de meninas.
Os três curiosos estão nos observando.
— Então, você é a nova secretária do Lorenzo? — Martina começa
a sondar. Caterine ergue os cílios ruivos para mim por um instante e paralisa
o processo de pintar minhas unhas. — Você e ele estão...? Quer dizer, nós
sabemos que sempre teve uma quedinha por ele.
— Quedinha? — Violetta questiona.
— Tá mais pra um precipício — Barbara ironiza e eu reviro os
olhos.
Embora não comentem abertamente sobre a minha paixão platônica
por Lorenzo, minhas irmãs sempre souberam da existência dela. Nunca
consegui esconder meus sentimentos das meninas.
— Eu e ele estamos... evoluindo.
Caterine solta uma risada debochada ao ouvir minha resposta. Movo
o pé, tentando chutá-la por me irritar.
— O papà vai surtar quando souber — Barbara diz o óbvio, o que
murcha o meu coração, mas nem de longe é o suficiente para me fazer
desistir do amor que eu sinto por Lorenzo.
Eu sei que os meus sentimentos em relação a ele beiram a obsessão
e às vezes, pode ser meio doentio. No entanto, são tão verdadeiros, que não
me vejo amando outro homem a não ser Lorenzo Falcucci.
No fundo do meu coração, eu sei que ele nasceu para ser meu.
E bom, enfrentar o meu pai, o chefe da organização para ficar com o
homem que cresceu e aos olhos das pessoas de fora, é como um irmão mais
velho para mim, vai valer a pena se Lorenzo me amar de volta.
— Tenha cuidado, Angelina — Martina pede depois de ajeitar os
meus cabelos. — Não quero que tenha o coração partido, tudo bem?
Olho para cima e abro meio sorriso para ela.
— Lorenzo nunca faria isso. De alguma forma, eu sinto que ele
nunca partiria o meu coração — admito e sinto uma comichão no peito, é
meio estranho e acolhedor.
Martina estica os lábios e depois, questiona com certa curiosidade.
— Foi por você? O que aconteceu entre ele e o Franco?
Sinto as bochechas corarem ao me lembrar do nosso momento na
cozinha. Por algum motivo, provocá-lo aqui em casa, com a possibilidade
de ser pega em flagrante por alguém e tudo virar uma bagunça... é excitante
pra caramba.
E eu sei que isso não deveria me excitar tanto, mas é como um
combustível para as minhas ações. Viver um romance escondido e proibido
com Lorenzo parece um sonho instigante, que me puxa cada vez mais para
o fundo.
Sufoco um suspiro ao pensar nas mãos firmes dele em mim. Elas me
tocaram com tanto desejo e possessão, como se estivesse reprimindo os
desejos há tanto tempo.
Lorenzo Falcucci... você me quer, não é?
Você me quer mais do que eu possa imaginar e talvez, eu esteja me
iludindo, mas que se dane.
— Sim — respondo por fim, mesmo que o subchefe não tenha
assumido em voz alta, eu sei que sim. — Muito romântico, não é? —
emendo com ironia, roubando risada das meninas.

Martina volta para Chicago depois do café da manhã do dia


seguinte. Nós cinco mal pregamos os olhos na noite passada, mas valeu a
pena passar o tempo todo conversando e fazendo coisas de meninas.
Paolo leva as caçulas para a escola, enquanto Caterine e eu
decidimos o que fazer. Depois que me formei no ensino médio, meus dias
mudaram completamente, porque ao contrário de Caterine, eu não tenho
vocação para o balé ou qualquer coisa que envolva arte.
Faculdade está fora de cogitação, porque até o papà, por mais
“moderno” e mente aberta que ele seja, tem um limite. As garotas do nosso
mundo não nascem e se tornam grande mulheres diplomáticas ou algo
parecido. Elas são criadas para serem esposas troféus, damas perfeitas
dentro da máfia.
Ainda estamos discutindo sobre como gastar as horas da nossa
manhã quando o conselheiro entra na cozinha e lança um olhar severo para
nós, silenciando as nossas vozes.
Corrado não é um homem ruim, mas é rígido demais. E no fundo, eu
sei que ele não aprova como o papà nos cria. Para a maioria das meninas da
organização, as princesas Giordano têm liberdade de sobra.
E elas podem estar certas.
— Caterine, saia, quero falar com Angelina — ordena e minha irmã
troca um olhar comigo, a preocupação dela é quase palpável.
Concordo com um aceno de cabeça.
Em silêncio, Caterine faz o que foi ordenado e ruma para fora da
cozinha, me olhando por cima dos ombros.
O conselheiro puxa a cadeira de frente para mim e abre um botão do
terno bem passado antes de se acomodar. Direciona a atenção para a janela
de vidro e observa o jardim por alguns instantes e só então, cruza o olhar
com o meu.
— Seu pai é um ótimo chefe — começa a falar e eu engulo em seco,
sem saber bem o motivo, esperando o pior desta conversa. — Trata os
nossos homens a punho de ferro e desde que ele é o Don, nossos negócios
nunca foram tão lucrativos...
— Aonde o senhor quer chegar? — interrompo-o, fazendo os seus
olhos brilharem ao se dilatar.
Ele abre um sorriso estranho.
— Você é mal-educada — fala, simplesmente, me deixando sem
jeito. — Atrevida ao extremo. E honestamente, querida, isso é um
problema.
— Por que seria? — retruco entre os dentes.
— Quando o assunto é você e as suas irmãs... o seu pai... ele cede
muito facilmente. Por isso, você é assim. Por isso, você é um problema. De
todas as meninas, você é a pior, Angelina.
Meus olhos ardem com o insulto, mas não ouso chorar. Não vou
derramar uma lágrima na frente desse velho maldito.
— Adele é perfeita. Nunca diria não para mim ou me desrespeitaria
como você faz com o seu pai. Isso me magoa. Giuseppe é um homem que
merece respeito de todos, começando dentro desta casa.
Respiro fundo e molho os lábios antes de falar.
— O que o senhor quer? Me reeducar?
— Você vai se casar com Franco Vitale, Angelina. Porque é o que o
seu pai quer. Porque é pelo bem da organização. É pelo bem dos negócios.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, negando.
— Acha que as coisas com os Salvatore ficarão de boa para sempre?
Na primeira vez que tivemos um problema, eles acharam que tínhamos
cometido traição. Seu pai precisa de aliados e, querida, não vou deixar que
você estrague as coisas.
— Case a Adele com ele — resmungo em atrevimento.
Ele solta uma risada sarcástica.
— Adele se casará com Lorenzo — fala, acelerando o meu coração
com tanta força, que dói. — Sua paixão ridícula e sem sentido pelo seu
irmão não vai impedir que isto aconteça.
Pisco devagar, surpresa pelo que acaba de atravessar os meus
ouvidos.
— Acha que eu não sei? Você é uma péssima atriz e nunca soube
esconder a sua obsessão por ele. Mas, Angelina, você não é e nem será a
esposa ideal para Lorenzo. Para ser honesto, não acho que seja a esposa
ideal de ninguém, no entanto, Franco Vitale a quer e ele a terá.
— Não — grunho.
— Sim. Adele é perfeita para Lorenzo e é isso que vai acontecer.
Você vai atrás do seu pai e vai sorrir como uma boa garota, vai dizer que se
casará com Franco Vitale para acabar de vez com essa guerra que dura há
tanto tempo. Você fará o que é certo, como Martina fez ao se casar com
Danilo.
— O papà sabe que veio falar comigo?
O conselheiro tamborila os dedos em cima da mesa, o som é baixo e
é estranho como é assustador.
— Não. Mas, querida, eu sou conselheiro do Don por um motivo.
Ele confia em mim, na minha palavra, na minha opinião. Eu sei o que é
melhor para todos nós.
Mordo os lábios e permaneço em silêncio.
— Angelina, você foi criada exatamente para isso. Por que quer
fugir do seu destino? — dito isso, ele se levanta da cadeira, fechando o
botão do terno. Com um sorriso que me enoja, o consigliere diz ao sair: —
Tenha um ótimo dia, querida.
Pisco rápido, uma tentativa inútil de impedir que as lágrimas
escorram dos cantos dos meus olhos e falho miseravelmente. Começo a
chorar em silêncio, o coração martelando forte dentro do peito.
Eu sei que ele está certo. O papà nos ama demais e por isso, é tão
maleável com nossas atitudes atrevidas e eu não fui castigada por dizer
explicitamente que não me casarei com Franco Vitale.
Nenhuma outra garota do nosso mundo teria coragem o bastante
para fazer algo parecido ou seria punida pelos homens, eu sei. Não sou
estupida a ponto de fechar os olhos para isso.
Mesmo assim, não quero obedecer ao conselheiro.
Não quero me casar com Franco Vitale.
Sim, eu fui criada para ser uma esposa, mas não para o homem que
Corrado acha que eu serei. E Adele, a sua preciosa filha, com certeza, não
será mulher de Lorenzo, porque ele é meu.
Sou a filha do Don, uma Giordano, não deixarei que ele me intimide
dessa forma. Ele pode ser um ótimo estrategista, pode dar ótimos conselhos
ao papà e ser o melhor braço direito de todo o universo, mas não entende
nada quando o assunto é filhos ou família. Ou amor.
Velho maldito!
Se quer tanto um casamento com Franco Vitale... que se case com
ele então.
Alguns dias depois...
Não que eu esteja com medo do conselheiro ou pensando em acatar
suas ordens, mas para evitar ser chamada para uma reunião no escritório do
Don, passo os próximos dias quieta e me recuperando do pescoço dolorido,
longe dos olhos do papai.
— Já está na hora de tirar o colar cervical? — Caterine pergunta ao
enrugar o nariz para mim.
Ela ainda está usando o collant e as bochechas têm uma leve
rosácea, o que combina com os cabelos ruivos. Caterine acabou de voltar da
aula do balé e eu acho que ir para lá é uma das melhores partes do seu dia.
Violetta e Barbara ainda não chegaram da escola.
Dou de ombros em resposta.
— Não sei, mas tô cansada de usar. Meu pescoço fica coçando o
tempo todo — resmungo ao me alongar e respirar em alívio, é como me
libertar de uma coleira muito apertada de cachorro.
Levanto do banquinho acolchoado que fica de frente para o espelho
da penteadeira e pego a minha bolsa em cima da cama.
— O que vai aprontar?
Reviro os olhos.
— Vou visitar Chiara. Quer ir? — pergunto e ela nega com a cabeça
ao se jogar na minha cama confortavelmente, mas o rosto meio amuado. —
O que foi?
Ela solta uma baforada de ar e se apoia nos cotovelos ao me lançar
um olhar intenso.
— Se você não se casar com o Franco Vitale, o papà vai me mandar
no lugar, não é? — questiona e abre um sorriso melancólico para mim,
quebrando o meu coração. — O conselheiro não entregará Adele. Pelo
menos, não facilmente e eu não acho que o papà vá discutir com ele para
fazer isso. Das herdeiras importantes, apenas eu tenho idade o suficiente
para ser esposa de Franco Vitale.
Meu coração afunda contra o peito e fico sem ar por alguns
segundos.
— Caterine... eu... eu... — murmuro, mas a verdade é que não sei o
que dizer a ela.
Minha irmã balança a cabeça de um lado para o outro e volta a
deitar sobre o colchão, encarando o teto e respirando fundo e devagar.
— Tudo bem, Angelina. Não acho que eu tenha como fugir disso.
Não tem problema.
Engulo o nó que se forma na minha garganta e ele desce arranhando,
o gosto de amargo me deixa enjoada e com vontade de vomitar.
— Eu sinto muito.
— Manda um beijo pra Chiara — é o que diz, mudando de assunto e
eu me sinto uma péssima irmã.
A pior irmã mais velha do mundo.
Ela tem razão.
Se não for eu ou Adele... será Caterine.
Meu Deus, será que tracei o destino da minha irmã mais nova?
Rejeitar Franco Vitale será a sua sentença de infelicidade?
O quão egoísta eu sou para continuar dizendo não e empurrando
Caterine para o precipício?
Merda, o que eu faço agora?

— Ele sempre foi duro com as palavras — Chiara fala ao tirar uma
fornada de cantuccini[10] do fogão. — Ficaram bonitos? — pergunta com
expectativa.
— Lindos.
Chiara é um doce e totalmente diferente de mim. É uma garota
meiga e simpática, obediente, gosta de cozinhar e cuidar dos outros. Ou
seja, ela sim é a dama perfeita da máfia e qualquer homem teria orgulho de
tê-la como esposa.
Nós crescemos juntas e Chiara sempre se deu bem com todas nós, é
a nossa melhor amiga e a amamos como a sexta irmã.
— Não quero me casar com Franco Vitale, mas eu sei que Adele
também não se casará com ele. A não ser que o papà mande explicitamente.
Vai sobrar pra Caterine e eu não quero ver minha irmã infeliz.
Chiara tira as luvas térmicas com estampa de bolinhas e encaminha
a atenção para mim.
— Então, o que vai fazer?
— Não faço ideia — admito e faço beicinho. — Franco Vitale
podia, sei lá, simplesmente morrer, não é? Isso resolveria grande parte dos
meus problemas — digo sugestiva e as maçãs do seu rosto ruborizam.
— Seria um desperdício, ele é lindo.
Reviro os olhos e enfio o indicador e o dedo do meio na boca,
fingindo ânsia de vômito e acabo arrancando uma risada contagiosa e
mesmo assim, delicada de Chiara.
Ela é linda. Os cabelos loiros caem em ondas grossas até os ombros,
o que a faz parecer um anjo. É o tipo de garota que não usa muita
maquiagem e nem precisa, os traços delicados são encantadores.
— Lorenzo é mais.
Chiara abre um sorriso genuíno.
— Você é completamente apaixonada por ele, Angelina — fala,
analisando minhas expressões. — Mas... — A frase dela morre no meio da
garganta e a vejo lambendo os lábios, pensativa.
Franzo o cenho.
— O quê?
— Quando vai deixar de ser platônico? Lorenzo vai mesmo
corresponder algum dia ou isso é apenas um sonho? — questiona e meu
coração bate dolorosamente contra o peito.
Desde o nosso momento quase íntimo na cozinha dias atrás, não nos
falamos. Não fui atrás de Lorenzo e ele não me procurou. Por um momento,
eu achei que estivéssemos de fato, evoluindo.
Mas acho que estava enganada.
— Eu não deveria colocar mais lenha na fogueira e te contar isso,
mas você é minha melhor amiga, Angelina.
As palavras de Chiara me deixam em alerta e eu endireito os
ombros. Pego um cantuccini de dentro da forma e enrugo o rosto ao lembrar
que está quente. Assopro um pouco antes de dar a primeira mordida.
Faço um gesto com o queixo para que Chiara continue a falar.
— Adele vai começar a trabalhar para o Lorenzo — solta a bomba
em cima de mim, fazendo-me engasgar com o biscoito.
Chiara vem para detrás de mim e bate nas minhas costas, uma
tentativa de me ajudar a me recompor.
— O quê?! — berro.
— Acho que o conselheiro quer aproximar os dois, criar uma
intimidade, sei lá. A mãe dela contou pra minha. Desculpa, eu deveria ter te
contado antes, não fica brava comigo, mas você estava se recuperando.
Enrugo o nariz e prenso os lábios em linha reta.
— Tira esse avental e vem comigo — digo a Chiara assim que uma
ideia atravessa a minha cabeça. A garota abre a boca e balbucia algo que
não entendo, mas por fim, respira fundo e assente concordando.

Meu estômago se transforma em um nó ao ver Adele sentada à mesa


da recepção de frente para a sala de Lorenzo, com um sorriso adorável no
rosto e anotando algo em uma agenda, como se soubesse exatamente o que
está fazendo.
Sem dizer nenhuma palavra, caminho até a recepção e paro de frente
para ela, Chiara vem no meu encalço. Adele levanta o rosto e ao me ver,
toma um sobressalto, arrastando a cadeira para trás.
— Angelina! — quase grita.
— O que está fazendo aqui? — pergunto de uma vez, sem me
preocupar em ser adorável como ela é.
— Eu... eu... quer dizer, eu... sou... eu sou a nova secretária do
Lorenzo. É o meu primeiro dia. Foi ideia do papai.
Prenso os lábios em uma linha reta e sinto meu coração bater tão
rápido por causa da raiva que me incendeia, que fico me perguntando se as
garotas podem ouvir. Inclino-me para frente e seguro a borda da mesa, os
nós dos dedos ficando brancos por causa da força que coloco.
Adele olha para minhas mãos e depois, eleva os olhos para os meus.
— Onde está Lorenzo? — é o que quero saber, a raiva borbulhando
em mim como um vulcão prestes a entrar em erupção.
Adele engole em seco ao responder:
— Acabou de entrar em reunião.
Concordo com um aceno de cabeça e abro um sorriso para a garota,
que finalmente respira fundo.
— Você sabe, não é?
Ela une as sobrancelhas em confusão.
— O quê?
— Que Lorenzo pertence a mim — digo com tanta convicção, que
faz Adele estremecer. — Estou com raiva, mas eu sei que não tem culpa das
atitudes do seu pai, mas não crie uma fantasia, Adele. Você não se casará
com Lorenzo.
Depois de articular as palavras certeiras, giro nos calcanhares e me
afasto, Chiara vem no meu encalço e antes que eu possa chegar em frente
ao elevador, ela se enrosca no meu braço.
— Caramba — murmura. — Ainda bem que somos amigas —
ironiza e eu quase sorrio.
Adele é mais nova que eu um ano, nós basicamente crescemos
juntas, mas não temos intimidade. Talvez, tenha sido por causa da criação
rigorosa do seu pai, mas ela nunca gostou de se misturar.
Nem mesmo com as filhas rebeldes do Don.
— Pode distrair o Davide por mim? Preciso ir em um lugar.
Chiara enruga o nariz ao me ouvir, visivelmente desconfiada.
— O que você tá pensando em fazer, Angelina?
— Que merda está fazendo aqui? — questiono, sem diminuir o tom
de voz ao ver Adele sentada à mesa da recepção.
Ela se levanta e fecha a agenda rápido, forçando um sorriso ao
mesmo tempo em que as bochechas ruborizam.
Adele é uma boa garota. Para o meu desgosto, é obediente demais e
não tenho dúvidas que é por esse motivo que está aqui. Ela não apareceria
assim por livre e espontânea vontade.
A menina é uma marionete nas mãos de Corrado.
— Papai me mandou, disse que você precisa de uma secretária.
Meu dia foi tão corrido. Passei a manhã fora, resolvendo assuntos da
organização e assim que fiquei livre, vim para cá, por causa de uma reunião
marcada. Eu fui direto para a sala de conferências e não tive tempo de ver
as armações do conselheiro.
— O que ele pretende?
Ela desvia o olhar para baixo e eu noto a agenda que estava na
minha sala em cima da mesa. Num movimento grosseiro, estico o braço e
pego o caderno, assustando a garota, que cambaleia para trás.
— Não entre na minha sala sem permissão.
— Me desculpe, Lorenzo.
— Diga ao seu pai que não preciso de uma nova secretária —
informo entre os dentes e depois, caminho para a minha sala com uma
carranca dura.
Coloco a agenda em cima da mesinha de centro e tiro o meu terno,
jogando em cima do braço do sofá. Sinto uma tensão no pescoço por causa
da ousadia de Corrado de se intrometer na minha vida pessoal.
Uma batida suave na porta chama a minha atenção e eu sei que é
Adele.
— O que é?
Timidamente, a garota entra, um pé atrás do outro e fecha a porta
atrás dela. O vestido é bem-comportado para o ambiente e tem uma gola
que parece uma daquelas batinas de padre, e os saltos são baixos, o que
combina com Adele e todo o seu jeito.
— Eu não queria incomodar — começa a articular e eu apenas a
olho, com toda a impertinência que existe dentro de mim e espero que
continue a falar. — Apenas segui ordens do meu pai.
Respiro fundo e passo os dedos entre os meus cabelos.
— Eu sei.
— Lorenzo, eu sei que não quer se casar comigo. Pra falar a
verdade, eu não sei se quero me casar com você também, mas é o que o
papai quer e eu sei que preciso obedecer.
Cerro os dentes.
— Não vai precisar obedecer desta vez.
Uma linha fina surge entre as sobrancelhas escuras e expressas de
Adele.
— Tem certeza?
— Não vou me casar com você.
Ela prensa os lábios pintados de rosa claro e concorda com um
aceno de cabeça, o que por alguma razão, me deixa irritado.
— Lorenzo? — murmura e ao julgar pelo brilho dos seus olhos, eu
sei que vem merda por aí. — Tudo bem se não se casar comigo, mas... você
sabe que vai acabar se casando com outra mulher, não é?
Esfrego as têmporas com força, controlando a vontade de ser um
completo imbecil com esta garota.
— O que deu em você hoje?
— Você gosta da Angelina? — questiona e eu respiro fundo ao
fechar os olhos. — É errado, vocês foram criados juntos.
— Cala a boca, Adele! — ordeno e ela estremece. Para meu
desgosto, não fecha a maldita boca.
— Não fica bravo com o que eu vou dizer, mas eu acho que de um
jeito ou de outro, papai fará com que Angelina se case com Franco Vitale,
porque é o melhor para os negócios. É o melhor para a famiglia.
Dou as costas para Adele e caminho até a minha mesa, buscando
paciência para lidar com a filha do conselheiro.
— Eu sei dos sentimentos doentios e obsessivos de Angelina por
você... não sei se é recíproco, mas Lorenzo, cuidado. Eu acho que ela pode
ser a sua ruína e não acho que você mereça isso.
Consumido pelo ímpeto de fúria, derrubo as coisas em cima da
minha mesa no chão, quebrando o porta-lápis de vidro. Lentamente, me
viro para encontrar os olhos assustados e confusos de Adele.
— Cuidado com o que fala da Angelina, Adele. Eu já cortei línguas
por muito menos.
Ela engole em seco e dá um passo para atrás.
— Me desculpe, achei que estivesse ajudando — murmura ao passar
as mãos no vestido.
Deixo escapar uma risada sarcástica.
— Saia daqui e não volte amanhã — grunho e ela concorda em
silêncio. — Eu não preciso de você trabalhando pra mim.
— Tudo bem.
Ela gira sobre os saltos pequenos e se apressa até a porta, assim que
coloca a mão na maçaneta, eu me ouço perguntando a Adele.
— O que seu pai disse a você?
Por cima dos ombros, ela direciona os olhos brilhantes e marejados
para mim.
— Se eu não conseguir me casar com você, provavelmente, serei a
esposa de algum inimigo — murmura e eu noto o seu queixo tremer, o que
faz minhas narinas expandirem. — Me desculpe pelo que eu disse, Lorenzo
— acrescenta ao sair da sala.
Corrado é um ótimo conselheiro, mas como pai, é um manipulador
do caralho. Sorte a dele que é fiel demais ao meu padrinho e por mais que
suas ações sejam escrotas e me tirem do sério, ele o faz apenas para o bem
da organização.
Colocando a organização à frente da sua família.
Da sua esposa.
Da sua filha.
De tudo.
Como tem que ser.
E é o que eu deveria fazer, colocar a organização acima de qualquer
coisa da minha vida e esquecer Angelina de uma vez, mas pensar no que
Adele me disse me faz ver as coisas de um jeito diferente.
Corrado é um filho da puta insistente e não duvido que arranje
formas de tentar casar Angelina com Franco Vitale.
Eu devo ter perdido a cabeça de vez, porque eu sei que é algo que
não vou permitir.
Ao parar em frente a porta do apartamento de Lorenzo, a última vez
que estive aqui brota dentro da minha cabeça. Ele ficou furioso por eu ter
invadido a sua casa e quase tê-lo visto nu no banheiro enquanto tomava
banho.
Enfio a mão dentro da bolsa e procuro a cópia que mandei fazer da
chave de Lorenzo. Antes de enfiá-la na fechadura, respiro fundo, pensando
na possibilidade de o homem ter mandado mudar a tranca para evitar que eu
aparecesse novamente.
Meu coração erra uma batida ao girar a chave e ela abrir a porta do
apartamento. Empurro a madeira e dou dois passos para o hall de entrada,
olhando a vista da cidade através das grandes janelas de vidro que
compõem uma parede inteira da sala.
Fecho a porta atrás de mim e mordo o lábio inferior para esconder
um sorriso.
Por que não mudou a sua fechadura, Lorenzo Falcucci?
Equilibro-me sobre um pé e tiro um dos saltos altos, depois o outro,
e então, caminho até a sala de estar e me jogo no sofá cinza com almofadas
de veludo aconchegantes.
Coloco os saltos no chão e a minha bolsa em cima da mesa de
centro de mármore. Observo a vista deslumbrante da cidade e me imagino
aqui durante à noite, sob as luzes da cidade, enquanto Lorenzo me toca e
me faz dele.
Isso vai acontecer um dia ou meu amor platônico nunca passará de
um sonho?
Em vez de ficar me lamentando, me coloco de pé e vou explorar o
apartamento pela primeira vez sem Lorenzo. Foi tão difícil para mim
quando ele foi embora da mansão para viver no seu próprio mundo.
Eu amava tê-lo em casa, acordar e vê-lo todos os dias de manhã.
Mas, o papai o mandou para Itália e depois, Lorenzo se distanciou
mais ainda. Ele nunca me deu bola de verdade ou alimentou meus
sentimentos, mas quando voltou depois de alguns anos, era outro homem.
Só que meu amor continuou e continua o mesmo.
Abro a porta do quarto principal e a primeira coisa que faço é puxar
as cortinas opulentas para admirar a vista panorâmica da cidade através da
janela. Depois, sento na beirada do colchão e fico pensando em quantas
mulheres o Lorenzo trouxe aqui e só de tentar imaginar isso, fico irritada.
Saio do quarto e rumo para à cozinha, procurando algo para beber e
acho uma garrafa de vinho tinto com o triplo da minha idade. Estou prestes
a servir em uma taça para mim e desisto, preciso confrontar Lorenzo e se eu
estiver minimamente alta, esquecerei os reais motivos de ter vindo aqui.
Passo as próximas horas xeretando tudo no apartamento de Lorenzo
e até decido deixar a calcinha que estou usando debaixo do seu travesseiro
como um pequeno presente provocante.
Ao ouvir o barulho da porta se abrindo, eu saio do quarto principal,
pronta para confrontá-lo por ter contratado outra secretária e dou de cara
com o subchefe com uma arma em riste apontada para mim.
— Porra! — ele berra. — Que merda tá fazendo aqui? Eu quase
atirei, Angelina — grunhe, enfurecido, o maxilar sexy cerrado.
— Vim conversar com você — falo, simplesmente.
— Já disse pra não vir ao meu apartamento — continua com o tom
de voz ranzinza, mas abaixa a arma.
Aproximo-me dele e semicerro os olhos.
— Por que não trocou a fechadura, então? — devolvo com
atrevimento. — Sabia que eu não me livraria das chaves.
Ele inspira profundamente, as narinas expandindo por conta da
raiva.
— O que você quer? — questiona, áspero.
Caminho ainda mais para perto dele e paro a um passo de distância,
fico na ponta dos pés e num movimento rápido, puxo Lorenzo pela gravata,
prensando os lábios com força.
— Por que contratou outra secretária? — minha voz soa como um
rugido de uma fera selvagem. — Como ousa contratar Adele como sua
secretária?
A única coisa que Lorenzo faz de imediato é travar a pistola e
guardar no coldre do terno novamente, e só então, encaminha os olhos
claros para mim. O olhar feroz e acentuado leva uma onda quente para o
meio entre as minhas pernas.
Puxo ainda mais a gravata quando ele não responde e o trago para
mais perto de mim, sentindo o calor da sua respiração contra o meu rosto.
— Você prometeu que não contrataria ninguém — retruco, incapaz
de esconder a mágoa na minha voz. — E hoje eu vi que tem outra mulher
no meu lugar.
— Eu não contratei ninguém — resmunga sem desviar a atenção de
mim. — Saí da minha reunião e vi a garota lá.
Solto a gravata de Lorenzo, mas não me afasto e nem ele o faz. Eu
vim aqui com dez pedras na mão, pronta para atirar nele, mas a verdade é
que esse homem parece derrubar todas as minhas barreiras apenas com o
seu olhar intenso.
— Às vezes, eu odeio amar você.
Os olhos de Lorenzo brilham quando minhas palavras alcançam os
seus ouvidos.
— Não devia me amar, Angioletta.
Sempre odiei ouvir Lorenzo me chamando de “anjinho”, mas por
alguma razão, dessa vez, a voz soa letalmente suave e sexy, como se fosse
capaz de me derreter inteira.
— Eu sei — murmuro e ele cerra a mandíbula. — Por que não
trocou a fechadura? Tinha esperanças de que um dia eu aparecesse aqui de
novo?
— Não me provoque, Angelina. Não brinque comigo ou você pode
se arrepender.
Engulo em seco, sentindo o sangue rugir dentro dos meus ouvidos.
— Do que eu me arrependeria, Lorenzo? — questiono e tento levar
as mãos até o seu rosto, mas ele agarra meus pulsos com tanta
possessividade, que deixa claro como água cristalina. Se Lorenzo quiser, ele
pode me destruir em um segundo. — Não estou brincando, eu sempre quis
você.
Eu deveria sentir medo, mas a única coisa que enche o meu corpo é
a excitação por tê-lo tão perto de mim.
— Angelina... — murmura, os olhos azuis me esquadrinham com
ferocidade e os músculos do rosto contraídos.
Decido fazer o que sei de melhor.
Provocá-lo.
— Se não me fizer sua... outro homem fará — falo num tom de voz
baixo e antes de perder a coragem, me coloco na ponta dos pés e roço meus
lábios nos seus de leve, espero que Lorenzo me afaste, mas ele não o faz.
As mãos dele afrouxam os meus pulsos por um milésimo de
segundo, o que faz meu coração murchar, mas sou surpreendida ao senti-lo
prender minha nuca com os dedos, deixando um rastro de arrepios pelo meu
corpo.
Lorenzo passa o outro braço em volta da minha cintura e me puxa
contra ele com um aperto firme. Sou incapaz de controlar o som
entrecortado de escapar da boca com o gesto hábil e forte.
— Você é a porra de um problema — grunhe e eu pisco sem
entender. Abro a boca para reclamar alguma coisa e desisto, porque
Lorenzo torna a falar: — Não tem noção, não é, Angioletta? Fiz coisas
cruéis para me tornar o homem que eu sou hoje e nunca acreditei que minha
alma tivesse salvação, mas comer a sua boceta é o que me levará direto para
o inferno.
As palavras dele fazem minhas bochechas corarem e eu molho os
lábios com a língua ao engolir em seco.
— Te fazer minha, Angelina... vai ser o meu maior pecado —
murmura, a voz soa tão incisiva e perigosa, que faz o meu corpo inteiro
queimar em antecipação.
Estremeço ao senti-lo me puxar ainda mais contra o seu corpo duro
e imponente. Meu ventre lateja por causa do seu toque e rapidamente, sinto
uma onda de calor se intensificar entre as minhas pernas.
Estou prestes a dizer algo quando sou interrompida e surpreendida
pelos lábios firmes de Lorenzo contra os meus. Sufoco um gemido no
momento em que ele aprofunda o beijo, me cavando com a sua língua
exigente.
É surreal sentir o seu sabor de verdade pela primeira vez. Tem gosto
de menta com um leve toque de vinho tinto e eu amo a combinação, faz as
minhas entranhas latejarem.
A mão de Lorenzo puxa o meu cabelo com força, me forçando a
arquear as costas e colar ainda mais os nossos corpos.
Minha pele queima e eu estremeço em seus braços a cada toque, o
coração bombeando tão alto dentro dos meus ouvidos, que acaba me
impedindo de pensar com clareza.
Lorenzo morde meu lábio inferior com vontade, como se estivesse
me marcando e volta a enfiar a língua dentro da minha boca, me provando.
Envolvo os dedos entre os seus cabelos e me enrosco nele, sentindo a
ereção cutucar a minha barriga.
— Porra, Angelina... — ele grunhe contra a minha boca e puxa meu
cabelo de novo ao me guiar até a parede mais próxima e me prender com o
seu corpo quente e duro. A mão na minha cintura me aperta e os dedos
sobem até o meu seio esquerdo, eriçando os meus pelinhos.
Lorenzo me invade com a língua de novo e de maneira tão intensa,
que eu quase engasgo.
Devagar, uma das suas mãos desce e segura minha perna,
colocando-a apoiada em sua cintura. Arfo ao sentir a ereção dele me apertar
bem no meio e completamente nu, molhado de tesão.
Quando o homem afasta a boca da minha e desce as vistas para
baixo, cerra os dentes ao observar minha saia levantada e embora não
consiga ver, sinto minhas partes íntimas completamente expostas. Eu tento
sentir vergonha e fingir que me arrependo de ter tirado a minha calcinha,
mas a única coisa que consigo fazer é me esfregar nele.
Lorenzo desliza a mão pesada pela minha coxa e levanta a minha
saia até a cintura, os olhos ferozes brilhando ao ver que não uso nada por
baixo da saia.
— Cadê a sua calcinha?
— Em algum lugar dentro deste apartamento — murmuro com um
sorriso de lado. — Eu quis deixar um presente — admito.
Lorenzo respira fundo e fecha os olhos com força.
— Você vai acabar me matando.
Deslizo a mão sob o seu terno e o empurro para trás, depois, afrouxo
o nó da gravata e ele me encara com cautela, atento a todos os meus gestos.
Desabotoo a camisa social até o último botão e depois, eu a puxo para cima.
Respiro fundo ao tocar a pele de Lorenzo, explorando os músculos
rígidos do seu peitoral demarcado com os meus dedos. Observo a sua
respiração pesada sob o meu toque, o que me faz ousar mais e descer com
as mãos até a barra da calça social.
— Você é meu, Lorenzo.
Depois de falar, eu me aposso dos seus lábios e o beijo se
transforma em algo muito feroz, até mesmo, perigoso e faminto.
Transbordando desejo e paixão, invadindo todos os meus sentidos.
Lorenzo solta um rugido contra os meus lábios e as suas mãos
implacáveis me apertam tanto contra ele, que não há dúvidas que amanhã as
marcas dos seus dedos estarão na minha pele.
— Não quero que saia com outras mulheres. Não quero que traga
mulheres aqui — exijo, mesmo ciente de que não tenho direito de fazê-lo,
mas nunca agi usando somente a lógica.
— Angioletta... — ele murmura, deslizando as mãos pelas laterais
do meu corpo e descendo até a minha bunda, que aperta com vontade e me
faz gemer manhosa. — Você é tão atrevida, que chega a ser irritante.
Irritante pra cacete.
Ergo o queixo e arqueio uma sobrancelha.
— Ah, é?
— Sim. Mas é tão linda — fala, deslizando os dedos pela minha
virilha e eu engulo em seco ao prender a respiração. — Tão gostosa —
emenda, roçando as pontas dos dedos em mim e meu corpo arqueando
contra ele. — Meu pau nunca esteve dentro dessa boceta virgem, eu nunca
nem senti o gosto dela... mas ela é tão minha.
Gemo ao senti-lo explorar meus lábios grandes e tocar a minha
fenda, sentindo a minha umidade.
— Você tá ensopada, Angioletta. Escorrendo pra mim — murmura e
meu coração parece querer sair do peito.
Ele brinca um pouco com a minha entrada, trilhando os dedos e
fazendo as minhas pernas tremerem e quando menos espero, para os
movimentos e leva a mão até a minha boca, introduzindo o indicador e o
médio entre os meus lábios.
— Sinta o seu gosto — ordena e eu obedeço.
Os olhos azuis de Lorenzo brilham, enquanto as pupilas dilatam.
E, então, ele vem para cima de mim, colando os nossos lábios de
novo, penetrando a língua como se fosse o seu pau dentro da minha
cavidade virgem. É bom e intenso, proibido também.
— Doce — rosna.
— Doce como você imaginou? — pergunto ao curvar a boca num
sorriso lascivo.
— Muito melhor — admite.
A campainha toca e isso faz Lorenzo agarrar a minha coxa e colocá-
la no chão de novo.
— Deve ser Will. Nós temos uma reunião importante — comenta ao
endireitar a minha saia, o que me faz respirar fundo. Depois, confere as
horas no seu Rolex de pulso. — Preciso ir e você precisa voltar pra
mansão.
— Posso ficar e esperar você aqui. Que tal se eu dormir no seu
apartamento? — pergunto ao morder os lábios. É um absurdo, porque isso
nunca daria certo.
— Ah, sim, claro. E com certeza, seu pai, o meu padrino, não me
faria revirar a cidade inteira em busca de você — resmunga e eu torço os
lábios, fazendo careta.
— Ok, ok, eu já entendi.
— Vá pra casa — ordena e eu assinto, fingindo indiferença, embora
o meu coração esteja bombeando dolorosamente no meio da garganta pelo
que acabou de acontecer entre nós.
— Você vem para o jantar?
Ele me olha e vejo a silhueta de um sorriso sacana atravessar o seu
rosto másculo.
Esse homem vai acabar comigo.
— Talvez, não sei.
Faço beicinho, que ele desfaz ao tocar com o polegar e enviar uma
onda eletrizante para a minha espinha dorsal.
— Aliás, amanhã voltarei a trabalhar. Dispense Adele antes que eu o
faça — digo ao elevar o queixo em atrevimento.
Lorenzo suspira, sério.
— Aonde deixou a sua calcinha? — é o que pergunta e eu mordo os
lábios para reprimir um sorrisinho.
— Bom, se você conseguir encontrar, ela é toda sua, Lorenzo
Falcucci.
Passo a reunião inteira pensando em Angelina e na maldita calcinha
escondida em algum lugar dentro do meu apartamento. Pela primeira vez na
vida, sinto como se meu cérebro estivesse falhando e não consigo me
concentrar em nada que não seja aquele capeta disfarçado de anjo.
— O que aconteceu com você, Lorenzo? Parece disperso hoje —
meu padrinho fala, me fazendo suspirar e concordar com um gesto firme de
cabeça.
O Don está certo. Pela primeira vez na vida, sinto que não posso
confiar no meu julgamento para tomar grandes decisões.
— Cabeça cheia — sou sincero.
A reunião demorou mais do que o esperado para terminar, então,
perdemos o jantar na mansão.
Ele envolve a mão no meu ombro e faz pressão, um gesto que
sempre faz quando quer me fazer sentir melhor de alguma forma.
— Vá pra casa descansar — ordena.
Se meu padrinho soubesse o quanto quero fazê-lo, não estaria dando
ordens agora.
— Pra casa, não pra academia do Javier — emenda com um
resmungo e eu curvo a boca num meio sorriso.
William vem na minha cola até em casa e ao chegar no
estacionamento subterrâneo do prédio e sair do carro, tenho a sensação de
estar sendo observado. Olho para os lados, me preparando para algo na
mesma hora que vejo meu amigo estacionar e um gato sair correndo.
— O que foi?
— Achei que tivesse alguém.
William concorda.
— Vou pedir pra alguém checar o perímetro — diz, e sabendo o
quão desconfiado eu sou, tateia o bolso do terno para pegar o celular e
enviar mensagens.
— Me mantenha informado — é o que falo e depois, dou as costas
para o meu amigo e rumo direto para o elevador privativo para subir até o
meu apartamento.
Eu sei que foi um erro sucumbir aos meus desejos mais depravados
e tocar em Angelina daquela forma. Reivindicá-la será o meu maior pecado,
no entanto, será doce pra cacete.
Por tanto tempo tentei ignorá-la, dizendo a mim mesmo que é errado
e fodido cobiçá-la desse jeito. Mas aquele capetinha tem razão. Se eu não a
fizer minha, outro homem fará.
O pensamento retesa todo o meu corpo e acelera o meu coração.
Não posso permitir que ninguém toque em Angelina, porque ela é
minha.
Entro no apartamento e enquanto desfaço o nó da gravata e tiro o
terno, penso em onde Angelina pode ter escondido a calcinha. Não acho
que tenha colocado em um lugar difícil, porque eu a conheço bem, ela quer
que eu encontre.
Faço o caminho até o meu quarto, o lugar mais íntimo da casa e
provavelmente, onde minha Angioletta escolheu deixar o seu presente e
vasculho o guarda-roupa, as gavetas das cômodas, o banheiro, até mesmo,
debaixo da cama e não encontro nada.
Por último, decido verificar debaixo dos travesseiros.
Meus batimentos cardíacos aceleram com a empolgação ao ver a
pequena peça de seda preta. Estico o braço e envolvo os dedos no tecido
macio, sentindo o pau pulsar em ansiedade.
Levo a calcinha de Angelina até o nariz e fecho os olhos ao cheirar
com força. Porra. O cheiro dela é bom pra caralho e já se tornou a minha
droga favorita.
Com a respiração ofegante, afundo no colchão e continuo inspirando
o cheiro doce da boceta daquele capetinha, imaginando-a sentada no meu
rosto, enquanto eu enfio a língua na sua fenda melada e quente.
Com a mão livre, desafivelo o meu cinto e puxo o zíper para baixo,
liberando o meu pau duro e dolorido. Agarro-o com firmeza e faço fricção,
pensando na única garota que eu não deveria desejar.
Inspiro profundamente.
Talvez, Angelina seja mesmo a minha passagem direto para queimar
no fogo do inferno, mas apenas sentir o cheiro da sua boceta nesse pedaço
de tecido, faz tudo valer a pena.
Aumento o ritmo da massagem no meu pau até não aguentar mais e
sentir as bolas contraírem por causa do tesão intenso. Um som gutural
escapa do fundo da minha garganta e eu gozo com força, com a imagem de
Angelina na cabeça e o cheiro da bocetinha virgem impregnado no meu
nariz.
É errado pra caralho, mas bater uma sentindo o cheiro dela é insano.
Quando Lorenzo chega no escritório pela manhã, eu já estou em pé
em frente à mesa da recepção, segurando um copo de café expresso e o
melhor sorriso emoldurado no rosto.
Acordei cedo e escolhi um vestido de mangas longas, mas que cai
até o meio das coxas e marca bem a minha cintura. Branco, aparentemente,
a cor preferida de Lorenzo.
Não estou mostrando muita coisa além das pernas e o decote em
“V” nem é tão chamativo, mas se ele tiver usado minha calcinha na noite
passada para se masturbar, com certeza, vai se imaginar desabotoando a
minha roupa.
— Bom dia, senhor Falcucci — digo com um leve tom provocativo
e entrego o café para ele ao parar um passo de distância. Sentir o seu
perfume marcante é bom e saber que agora ele me quer como eu o quero,
me deixa quase louca. — Expresso... do jeito que meu chefinho gosta.
Ele levanta uma sobrancelha e roça os dedos no meu ao segurar o
copo. O toque me causa um leve choque, o que me faz estremecer e soltar
um gemidinho. Lorenzo encara a minha boca por alguns segundos, em
seguida, passeia com os olhos predadores pelo meu corpo, me esquentando
inteira.
Demora mais tempo que o necessário encarando os botões.
— Encontrou o presente?
— Sim — responde ao erguer os cílios longos para mim, e um
sorriso diferente de tudo que eu já vi, brota no seu rosto severo, o que faz
meu coração bater forte contra o peito.
— Você sorriu — murmuro, estranhamente feliz por ter conseguido
isso de Lorenzo. — Suponho que o presente tenha sido bem aproveitado.
— Foi.
— Eu imaginei que sim. Pensando nisso, deixei outro igual
escondido no prédio. Talvez seja melhor começar a procurar antes que outro
homem encontre — provoco e ele cerra o maxilar com tanta força, que acho
que vai quebrar os dentes.
Lorenzo fecha o rosto numa expressão dura, o que me faz rir.
— Angelina — me repreende.
— Tô brincando. Não deixarei minhas calcinhas espalhadas pelo
escritório — zombo. — A não ser, é claro, que você me dê permissão para
deixar um presentinho em cima da sua mesa mais tarde.
— Desde quando você precisa de permissão para fazer alguma
coisa?
Rio, virando o corpo para pegar a agenda e a caneta.
— Tem razão, realmente não preciso.
Volto a ficar de frente para Lorenzo, estendo a mão para agarrar a
sua gravata e puxo para mim num solavanco, grudando os nossos lábios de
maneira rápida. Ele inspira pesado e eu espero que dê um sermão ranzinza
ou algo parecido, mas não o faz, apenas fica admirando minha boca.
— A calcinha que estou usando é branca. Você quer? — questiono
com um sussurro, que faz os olhos do homem brilharem.
— Sim — grunhe.
— Mas terá que me levar pra casa no final do expediente. Não posso
andar no carro com Davide ou Paolo sem calcinha.
O peito de Lorenzo sobe e desce por causa da respiração pesada.
— Eu te levo pra casa.
Abro um sorriso largo.
— Obrigada. — Pisco para ele. — Aliás, como a minha cadeira é
ruim, continuarei trabalhando na sala do presidente — informo e ele curva o
canto da boca de maneira cínica.
— Adele não reclamou da cadeira.
Aperto os dentes e semicerro os olhos.
— Está tentando me provocar? — devolvo, irritadiça. — Lorenzo
Falcucci... não entre num jogo que você não sabe jogar — emendo e giro
nos calcanhares, caminhando para dentro do escritório.
Mesmo que tenha mencionado Adele e tenha me irritado por um
segundo, ainda estou sorrindo por causa da nossa aproximação.
Ele entra na sala também e por cima do ombro, eu o observo me
olhando.
Sem desviar a atenção, Lorenzo retira o terno e o coloca pendurado
em cima do cabideiro, depois, arregaça as mangas da blusa social, enquanto
eu coloco a agenda em cima da mesinha de centro e saio de dentro dos
saltos altos.
Em passos lentos, vou até Lorenzo e pego o seu telefone em cima da
mesa feita sob medida, fazendo-o franzir o cenho. Não dou nenhuma
explicação ao me afastar dele e volto a pegar a agenda antes de me
acomodar confortavelmente no sofá para trabalhar como a secretária mais
atrevida que ele já teve.
Eu sei que nem de longe estou dando o meu melhor neste emprego,
mas como fazê-lo se é a primeira vez na vida que Lorenzo está tão próximo
de mim? É a primeira vez que eu sinto que meu amor pode acontecer de
verdade.
Nós temos muitas barreiras e eu sei que se ele parar para pensar com
clareza, pode me afastar a qualquer momento e acabar de vez com o que
está rolando entre nós. Papai nos criou para sermos irmãos, embora eu
nunca tenha o visto como um irmão mais velho.
Sempre soube o quão arriscado é amar Lorenzo e para ser honesta,
eu nunca me importei de verdade com isso. Nunca consegui enxergar o real
peso das consequências antes e eu espero muito que ele não o faça também.
Quero que ele fique comigo, mesmo que seja perigoso.
Mesmo que seja proibido.
Deus, eu fugiria com Lorenzo se ele me pedisse.
Completamente louca? Sim, eu sou.
Mas, ele sempre foi alguém que me protegeu e cuidou de mim,
ainda que com seu jeito turrão e rabugento na maior parte do tempo.
Não sei exatamente o que aconteceu com Lorenzo antes de ele vim
para as nossas vidas, porque ele não fala sobre o passado antes de nós, mas
eu sei que deixou marcas em seu coração.
Marcas profundas na sua alma.
Ele nunca se achou digno de ser protetor de alguém, só que ele
sempre foi o meu. Mesmo quando me dava foras por causa das minhas
declarações inocentes de amor, ele esteve comigo, cuidando de mim.
Quando tentei matar aula para beijar um garoto, Lorenzo me pegou
no flagra e me fez voltar para a escola, falando como os garotos podem ser
malvados com as meninas e que eu deveria me manter longe deles.
Tudo bem, nunca existiu um garoto para eu beijar de verdade, só
que eu queria saber se ele se importava comigo a ponto de ir atrás de mim e
tentar me salvar de uma possível confusão.
E Lorenzo foi.
Com o seu jeito bravo e de que cortaria a língua de um pré-
adolescente se ele ousasse enfiar dentro da minha boca.
Foi tão ruim quando eu o vi indo embora e passando tanto tempo
longe. Meu coração parecia que queria parar de bater. É bobo, mas sempre
estive apaixonada pelo meu irmão-postiço e nunca consegui abafar meus
sentimentos.
Eles cresceram tanto.
E continuam crescendo.
Obsessão?
Amor doentio?
Eu não me importo, contanto que Lorenzo esteja sempre comigo.
A nossa manhã de trabalho corre com trocas descaradas de olhares e
meios sorrisos provocantes. Não facilito em nada a vida de Lorenzo, nunca
o fiz e não seria agora que começaria a ser uma boa menina.
— Vou cancelar toda a sua agenda no horário da tarde — falo,
atraindo a atenção dele para mim. — Então, depois do almoço, você tem a
tarde inteiramente livre pra mim.
O homem tamborila a caneta estilizada contra a mesa e com a
expressão séria e daquele tipo que não abre brechas para fazer piadas,
analisa o meu rosto.
— Não é assim que o trabalho funciona, Angelina.
Levanto do sofá e com a agenda na mão, arrasto os pés até Lorenzo.
Dou a volta na mesa e ele gira a cadeira confortável, ficando de frente para
mim. Sem exprimir nenhuma palavra, subo o meu vestido até metade das
coxas, chamando a atenção do homem para o lugar e então, passo uma
perna em cada lado de Lorenzo, prestes a ganhar qualquer que seja o meu
argumento.
— Não existe nada na sua agenda que seja mais interessante do que
eu — provoco com um sussurro.
Seus olhos reluzem ao mesmo tempo em que os cantos da boca se
repuxam. Ele levanta a mão para segurar a agenda e colocá-la em cima da
mesa, em seguida, dobra o corpo sobre mim, trazendo o rosto para mais
perto. O seu nariz roça na curvatura do meu pescoço, arrepiando os
pelinhos da nuca.
— Por que você gosta de me enlouquecer? — devolve, a voz soa tão
grossa e profunda, que leva uma comichão para o meio entre as minhas
pernas e me faz remexer em cima do seu colo. — Quer me ver perder a
cabeça?
Sorrio, enfiando os dedos entre os cabelos revoltos de Lorenzo e
puxando de leve.
— Sim.
Ele desliza as mãos firmes pelas laterais do meu corpo até alcançar
os seios, onde ele aperta e me puxa contra si, me fazendo sentir a
protuberância crescente cutucando o meu ventre.
— Se eu perder a cabeça... — sussurra ao desabotoar o meu vestido
lentamente. — E te foder aqui, na minha sala... ninguém saberia —
acrescenta e meu coração trepida dentro do meu peito. — Ninguém saberia
que eu te desvirtuei. Ninguém saberia que o meu pau esteve dentro da sua
boceta intocada.
Engulo em seco.
— Eu sei.
— É isso que você quer? Que eu te foda em cima da minha mesa?
— pergunta e para de abrir os botões na altura do meu umbigo. Os dedos
começam a tocar a minha barriga, me fazendo arquear as costas e colar
ainda mais os nossos corpos. — Quer sentir o meu pau dentro de você?
Ele impele o quadril contra mim, roçando a ereção no meio entre as
minhas pernas.
Antes que possa responder, Lorenzo busca os meus lábios,
mergulhando a língua em mim e me prendendo num beijo intenso e úmido.
Entrelaço os dedos entre os seus cabelos, me entregando completamente.
Nunca imaginei que minha primeira vez fosse acontecer em cima da
mesa de um escritório, mas sempre sonhei que este momento seria entre
mim e o Lorenzo. E agora, parece certo.
— Você será o meu primeiro... como eu sempre sonhei — arfo
contra a sua boca, enroscando mais ainda as nossas línguas, mas alguns
segundos depois, o homem interrompe o beijo e arreda um pouco para trás,
focalizando meus olhos. — O que foi?
Lorenzo respira fundo, roçando no nariz no meu pescoço.
— Angioletta... — começa a articular, o tom incisivo e profundo,
uma combinação sexy pra caramba. — Eu já me imaginei comendo a sua
boceta muitas vezes, mas a sua primeira vez não será aqui no meu
escritório.
Mordo os lábios para esconder um sorriso.
— Aonde será?
Ele grunhe ao mordiscar o meu queixo.
— Quando meu pau finalmente estiver tomando posse de você,
Angelina, marcando cada pedaço seu como meu, reivindicando seu corpo,
você estará na minha cama.
Olho nos olhos de Lorenzo, sentindo meu coração subir até a
garganta.
Se me restava alguma dúvida antes, ela morreu. Agora tenho total
certeza. Não importa o que aconteça, Lorenzo Falcucci me fará dele.
Recebemos um convite da Sarah[11] para nós quatro irmos à Chicago
para o seu baby shower.[12]
Sarah é a esposa do conselheiro do Império Salvatore e embora eu
não goste da maioria daquela gente, ela é uma garota legal e incrivelmente
forte. Uma sobrevivente. Por isso, eu fiz as malas para ir até Chicago e
estou animada para encontrá-la.
Além do mais, Martina a ama como se fosse uma irmã mais nova e é
ela quem está organizando a festa para a nova mamãe do pedaço.
Sarah está grávida de um pouco mais de cinco meses, esperando um
herdeiro, que provavelmente, será corrompido pelos homens do Império
Salvatore, mas que com certeza, será muito amado por ela.
— Mamma, não esqueça de alimentar o Ozzy Osbourne quatro
vezes ao dia — Violetta pede pela milésima vez ao abraçar a nossa mãe.
— Eu sei, meu bem. Alimentar quatro vezes ao dia e verificar se a
água dele está limpa e fresca constantemente. Prometo cuidar bem dele, não
se preocupe — mamãe fala, fazendo Violetta sorrir e concordar com um
aceno antes de se afastar.
— Obrigada, mamma.
Paolo coloca as nossas malas no bagageiro e abre a porta do carro
para que comecemos a entrar na limusine. Ele e Davide vão ser a nossa
sombra em Chicago, porque é claro que o papà não nos deixaria ir sozinhas
para outro estado, muito menos, o que os Salvatore são donos.
— Não aprontem muito e tomem cuidado, por favor. Cuidem uma
das outras — a mamma pede, envolvendo Barbara num abraço apertado,
depois chamando Caterine para fazer o mesmo.
Já nos despedimos do papà mais cedo e ele fez questão de passar a
sua lista rígida de regras sobre o que não podemos fazer longe das suas
asas. Para ser honesta, antes mesmo de ele terminar de falar, nós não
lembrávamos da maioria das restrições.
Também tive o meu momento com Lorenzo e surpreendentemente, o
subchefe não ficou nada feliz pela minha saída repentina para Chicago.
Confesso que adorei vê-lo bravo e com ciúmes.
Os três últimos dias com ele foram incríveis e eu nunca gostei tanto
de ir ao escritório. Nós dois ainda não avançamos em nada, porque é mais
difícil do que eu imaginava surgir uma oportunidade de ir para o
apartamento dele.
E o homem decidiu que não vai tirar minha virgindade em cima da
mesa do seu escritório.
— Se comporte, Angelina — a mamma pede ao contornar o meu
corpo com os braços e me prender contra si.
Abro um sorriso travesso.
— Claro que sim, eu sou um anjinho — retruco, fazendo-a suspirar
e rir. — Até logo, mamma. Te amo.
Com os lábios esticados, ela deposita um beijo em cada bochecha e
me solta. Entro na limusine que nos levará até o aeroporto, onde o jatinho
particular de Danilo nos espera, e me acomodo ao lado de Caterine, de
frente para Violetta e Barbara.
— Cuide bem das minhas filhas, Paolo — mamãe ordena ao
soldado, que responde algo que escapa dos meus ouvidos e fecha a porta do
carro antes de dar a volta no veículo para entrar também.
— Quem está pronta para Chicago? — pergunto de maneira
sugestiva, fazendo as meninas sorrirem.

Depois de quase duas horas, chegamos na cobertura de Danilo e


Martina, em Chicago. Paolo e Davide colocam as nossas malas no extenso e
luxuoso hall de entrada, enquanto a nossa irmã mais velha vem nos receber
com abraços e sorrisos.
E é lógico que ela vem com o seu marido no encalço.
— Tantas malas, meninas. Se não gostassem de mim, eu diria que
pretendem morar comigo — Danilo provoca com o seu humor
inconveniente, fazendo-me revirar os olhos e a esposa rir com a piadinha
dele.
Mordo a língua para não retrucar uma resposta atrevida.
— Oi pra você também, cunhado — é o que digo com um sorriso
amplo e falso.
Sob o olhar ciumento e possessivo de Danilo, Martina cumprimenta
Paolo e Davide, falando que no andar de baixo há um apartamento para os
dois se acomodarem e descansarem tranquilamente, enquanto não estiverem
com os olhos grudados em nós.
Os dois soldados mal saem e Luigi entra na cobertura, rumando
direto na direção de Danilo. Eles se afastam e embora eu não saiba o que
falam, sei que o sottocapo do Império Salvatore dá ordens, porque o
soldado acena e então, vem para perto de nós.
— Oi, meninas. Espero que tenham feito uma boa viagem — é o
que diz ao pegar as nossas malas e levar para o andar de cima.
Aparentemente, Luigi é o mais decente de todos os homens deste
lado e eu quase estou começando a gostar dele.
— Quem quer comprar presentes pra Sarah e o bebê? — Martina
pergunta, envolvendo os braços em Violetta, estica os lábios num sorriso
genuíno.
Estou prestes a abrir a boca e concordar quando mais Salvatores
legítimos surgem no apartamento de Martina e Danilo. Giovanni e Romeo,
os irmãos mais novos. Um está com um sorriso sacana emoldurado no
rosto, já o outro, uma carranca dura.
— As princesinhas de Detroit chegaram — Giovanni articula e se
aproxima de nós. — Você cresceu, foguinho — emenda ao esticar o braço e
tocar o topo da cabeça da nossa caçula, que enruga o nariz e tenta desviar
dele. — Ainda ouvindo muito rock? — Giovanni quer saber.
— É claro, olha a blusa dela... Pink Floyd — Barbara retruca,
gesticulando com o indicador para a blusa cinza estonada de Violetta. —
Mas agora ela gosta de rapp também.
— Um foguinho de atitude — Giovanni diz com um sorriso maroto,
e embora eu tente me segurar, não consigo. Na hora que as meninas riem,
eu também o faço.
Violetta não esboça nenhum sorriso.
Nem Romeo.
Surpreendentemente, os dois trocam um olhar, mas o carrancudo
desvia. Talvez, esteja arrependido de ter sido tão grosso com a nossa caçula
daquela vez que esteve na nossa casa. Afinal, ela é só uma criança.
E apesar dos seus gostos musicais agressivos, ela é a garota mais
doce que eu conheço.
— Podem me fazer um favor enquanto estiverem aqui? — Giovanni
pergunta, deixando a Barbara ligeiramente interessada.
— O quê?
— Enlouqueçam o Danilo — é o que fala, fazendo o irmão fechar o
rosto numa expressão dura ao rebater:
— Isso é traição, Giovanni.
Resmungando uns com os outros, os três Salvatore nos deixam
sozinhas na sala e nós cinco nos entreolhamos por um segundo antes de
sorrirmos e nos aprontarmos para irmos às compras.
Voltamos para a cobertura depois de termos passado horas no
shopping do centro da cidade, comprando tudo de bebê e grávida que vimos
pela frente, enquanto Paolo, Davide e Luigi carregaram os presentes.
Nós fazemos questão de embrulhar tudo nós mesmas, com laços
grandes e papel azul brilhoso e ao acabarmos, estamos quase atrasadas para
a festa que acontecerá na mansão Bellucci.
Enquanto os soldados levam os presentes até o carro, as meninas e
eu corremos para o andar de cima para nos arrumarmos. Apesar de tudo,
amo estar em Chicago e nós cinco estarmos juntas assim de novo.
Por incrível que pareça, duas horas mais tarde, já estamos prontas e
saindo da cobertura para ir até a mansão.
O baby shower da Sarah será apenas para as mulheres e além de
nós, somente a irmã e avó de Giancarlo[13] irão comparecer. Ela não fez
questão de convidar nenhuma mulher da organização do Império Salvatore.
Claro que isso não se estende a rainha da máfia e esposa do Don, a
senhora Salvatore, mas duvido que ela vá aparecer de alguma forma. Algo
dentro de me diz que Alberto Salvatore não deixará.
Chegamos à mansão Bellucci depois de alguns minutos e somos
recebidas por Sarah e uma barriga lindamente redonda dentro de um vestido
fofo de grávida. Ela está deslumbrante, o seu sorriso parece brilhar junto
com os olhos escuros e meigos.
— Todas vieram — ela fala, ainda sorrindo e esticando os braços no
ar para nos abraçar.
— Meu Deus, você tá linda — Violetta fala e é a primeira a se
enroscar em Sarah, que parece tão feliz com a sua vida, que me faz pensar
que talvez, Giancarlo seja um ótimo marido.
— Você é a grávida mais linda que eu já vi — admito, corando as
bochechas de Sarah, que me abraça também.
Luigi, Paolo e Davide começam a entrar com os presentes,
surpreendendo Sarah.
— Trouxemos alguns presentes — Martina comenta.
— Alguns? — Sarah rebate.
— Apenas o necessário — Caterine explica com um tom brincalhão,
que nos faz rir.
Sarah nos guia até a sala da mansão, que está toda decorada em tons
de azul claro e branco. Há arranjos de flores e balões azuis e brancos por
todos os lados. Uma mesa foi montada no centro, adornada com um fino
tecido claro e as laterais bordadas com detalhes em dourado.
Há uma variedade de doces finos e deliciosos, cuidadosamente
servidos em bandejas e suportes dourados.
Ao redor da sala, foram colocadas algumas poltronas confortáveis
em tecido branco, adornadas com laços azuis. Pequenas mesas de centro,
que também foram decoradas com arranjos de flores, estão posicionadas
para nos acomodar.
A avó e a irmã de Giancarlo surgem na sala com sorrisos animados
para nos cumprimentar, quase me fazendo mudar o meu conceito sobre a
famiglia Salvatore.
Esplêndida, Sarah se senta no sofá enquanto Violetta entrega a
primeira caixa que embrulhamos, ansiosa para que ela abra o presente que
escolhemos para a nova mamãe. Ela ergue os cílios e desliza o olhar entre
mim e Martina já desfazendo o laço grande, tão feliz e serena.
— Sarah parece tão feliz — murmuro e Martina envolve o braço em
torno de mim, me puxando para um abraço de lado.
— E ela está. Sarah é o mundo de Giancarlo. Agora, esse bebezinho
também — fala e eu abro meio sorriso, observando-a abrir o presente.
— Você é um deles agora — admito com um gosto amargo na boca.
— Sim, mas também sempre serei uma de nós — devolve e eu a
olho, recebendo um sorriso largo e um beijo na têmpora. E então, Martina
se afasta de mim para ir entregar outro presente à Sarah.
Martina agora é uma Salvatore, não há como negar. Mas ela tem
razão, sempre será uma de nós. A bondade que existe dentro dela e todo o
seu lado empático, ela aprendeu com a nossa mãe.
E Sarah está tão feliz e maravilhosa. E minha irmã também.
As duas estão amando os seus maridos incondicionalmente. Nunca
achei que casar com um homem do Império Salvatore fosse algo bom, mas
talvez, eles não sejam monstros tão ruins assim, afinal.
Não ter Angelina por perto deveria ser mais fácil por vários
motivos.
Não ter aquele capeta disfarçado de anjo me provocando e me
fazendo perder a cabeça, tecnicamente, facilitaria a minha vida e me
sobraria mais tempo para concentrar no trabalho legal e ilícito.
No entanto, hoje foi um dia longo e estressante pra caralho. Não
lembro a última vez que estive tão mal-humorado assim.
Cada célula do meu corpo pareceu se contorcer de raiva quando
descobri que ela iria para Chicago passar um final de semana inteiro. Fiquei
tão emputecido por não poder ordenar que ela ficasse aqui, aonde eu possa
vê-la.
Agora, não paro de pensar em Angelina e em cada homem fodido
que possa colocar os olhos nela e cobiçar o que é meu.
Passei tanto tempo tentando mantê-la longe de mim, agora, estou à
beira de um colapso nervoso por causa da porra de um final de semana.
Eu devo estar enlouquecendo de vez.
Que merda você fez comigo, Angelina?
Na pequena adega que fica na sala do apartamento, pego uma
garrafa de whisky e sirvo o líquido marrom em um copo de cristal com
gelo. Enquanto tomo a minha bebida em pequenos goles, admiro a última
foto que ela mandou para mim.
Absolutamente, linda, dentro de um vestido curto de mangas longas,
com decote comportado, que me dá vontade de fodê-la até o talo.
Estou fodido.
Muito.
Resisti à Angelina por muito tempo, porque no fundo, eu sabia,
quando sucumbisse, eu não voltaria atrás.
Eu vou corrompê-la.
Desvirtuá-la.
Cada pedaço puro e inocente de Angelina será tocado pela minha
alma fodida e suja de sangue.
Vou marcá-la como minha.
E, no fim, não terá mais volta.
De repente, uma notificação de número desconhecido pula no painel
colorido, cobrindo parte da foto, e é automático, minha mente e corpo ficam
em estado de alerta. Clico na tela para verificar a mensagem e meu corpo
inteiro enrijece ao ver a foto de Angelina ao lado das irmãs no shopping
com a seguinte mensagem:
“Ela é adorável.”
Com o maxilar contraído, toco no número para ligar e outra
notificação me impede de fazê-lo. É outra imagem de Angelina, numa
espécie de casa noturna, usando exatamente o vestido da foto que me
mandou mais cedo, decote comportado e mangas longas.
Que porra é essa?
Meu coração paralisa quando a pergunta preenche a tela.
O quanto ela é importante pra você, Lorenzo Falcucci?
Clico no número para ligar e cai direto na porra da caixa postal.
— Porra!
Tento o celular de Angelina, enquanto rumo para o meu quarto em
busca do meu passaporte. A garota atende no terceiro toque, aliviando um
pouco o incômodo do meu coração, o que não dura nem dois segundos.
— Ela está se divertindo agora, Lorenzo — uma voz masculina fala,
fazendo-me fechar os olhos com força.
— Eu não sei quem você é, mas se tocar na garota, eu mato você.
Ele ri um pouco e o som se mistura com as batidas da música alta ao
fundo.
— Não, cara. Eu vou matar você primeiro — é o que diz ao
interromper a ligação. Tento ligar de novo e cai na maldita caixa postal.
Nem perco tempo, envio uma mensagem de texto para Will,
informando que vamos para Chicago agora e temos que chegar lá o quanto
antes.
Não faço ideia de quem está brincando comigo, mas esse filho da
puta mexeu com o homem errado.
Algumas horas antes...
— Temos a noite livre, o que vamos fazer? — pergunto ao
entrarmos na cobertura. — Que tal uma aventura pelas ruas de Chicago? —
emendo sugestiva. — Podemos aproveitar que Paolo e Davide foram
descansar e dar uma escapadinha sem eles.
O baby shower da Sarah foi incrível e divertido, durou horas, mas
ainda é cedo demais para ir para cama e pela primeira vez na vida, estamos
livres das asas do papà e eu quero aproveitar.
— Sem aventuras para as princesinhas de Detroit — Giovanni fala
ao surgir atrás de mim na sala, acelerando o meu coração e claro, cortando a
minha onda e estragando o clima. — Os homens vão trabalhar e é melhor
que as meninas fiquem aqui, onde é seguro.
Mordo a língua para não resmungar que meses atrás, quando Sarah
foi manipulada pelo porco traidor do seu pai, ameaçou a vida de Martina
aqui mesmo, dentro desta cobertura. Claro que ela não teve culpa, estava
quebrada dos pés à cabeça e só precisava de alguém que enxergasse isso.
Decido simplesmente ignorar Giovanni e olho para Martina ao
insistir:
— Que tal uma baladinha? Eu nunca fui em uma.
— Nem eu. Na verdade, seria bem legal — Caterine concorda, me
animando mais ainda.
— Vamos fazer outra coisa, só deve ter música remixada em balada
— Violetta comenta e nós três olhamos para a caçula em sincronia. — O
que foi?
— Você só tem quinze anos, não pode entrar nesses lugares —
Barbara resmunga ao endireitar os ombros e colocar uma mecha de cabelo
para trás. — Topo ir à balada. Quem sabe eu perca a minha virgindade lá —
adiciona as palavras junto de um sorriso confiante.
— O quê?! — Martina quase tem um infarto ao interrogar.
— A virgindade da boca — Barbara explica com um sorrisinho
sapeca.
Cruzo os braços na altura dos seios e arqueio as sobrancelhas para a
segunda caçula Giordano ao devolver:
— Quem disse que você vai? Tem apenas dezesseis anos.
— Quase dezessete — Barbara contesta.
— Quase dezessete não é dezoito, princesinha — Giovanni retruca,
a voz irritadiça. — Na minha casa noturna, você não entraria nem se
pagasse triplicado — rosna, fazendo Barbara enrugar o nariz em uma careta
de desgosto.
— Vocês três vão sair e nós vamos ficar aqui? — Violetta questiona
e vincos aparecem na testa pequena. — Não é justo. O que vamos fazer?
— Não sei. Talvez jogar caça-palavras ou quebra-cabeça — sugiro e
a caçula estreita os olhos claros para mim, furiosa.
— Não podemos deixá-las sozinhas — Caterine articula, já
demonstrando culpa por ter concordado com a ideia de irmos à balada.
— Quem disse que vocês vão sair? — Giovanni pergunta, incrédulo.
— Não é pra lá que você e Danilo estão indo hoje? Não faria mal ir
à sua casa noturna, não é? Lá estaríamos praticamente em casa — Martina
fala e lança um olhar de culpa para Violetta.
— O quê? — Danilo surge na sala, ajeitando a gravata e franzindo o
cenho para a esposa. — Nem fodendo que vocês vão entrar naquele lugar.
— A boate do Giovanni não é lugar para meninas como vocês —
alguém diz com um tom de voz sério e eu tomo um leve sobressalto. Ao
olharmos para o lado, vemos Romeo sentado no sofá, todo sisudo, lendo
uma revista sobre carros esportivos.
Deus, eu nem o tinha visto ali.
— Exatamente — Giovanni grunhe entre os dentes.
— Danilo... — Martina sussurra e caminha até ele. Os dois
começam uma pequena discussão em voz baixa, que escapa aos meus
ouvidos, mas noto o rosto do homem se contorcer de raiva ao debater com a
minha irmã, negando com a cabeça várias vezes.
Mas, no fim, ela abre um sorriso largo e beija os lábios dele.
— Romeo, cuide de Violetta e a Barbara — Danilo ordena e o irmão
sentado no sofá gira o corpo inteiro para encarar as meninas. — Não vamos
demorar.
— Por que eu tenho que ser a babá? — Romeo indaga com uma
leve carranca mal-humorada, mas não parece que irá contra as ordens de
Danilo.
— Eu não sou um bebê — Violetta retruca, as narinas expandidas e
os lábios prensados. — Então, logicamente, você não será a minha babá —
emenda com atrevimento.
Danilo respira fundo ao alternar a atenção entre a nossa caçula e
Romeo.
— Não acredito que vão me deixar aqui — Barbara murmura,
incrédula. — Eu tenho quase dezessete.
— Quase dezessete ainda é criança — Giovanni fala, piscando para
Barbara, que tensiona o maxilar e vira o rosto com um gesto brusco para
ignorar o Salvatore.
— Temos algumas condições — Martina começa a falar, olhando de
mim para Caterine.
— Estarei no escritório da boate com Giovanni resolvendo alguns
problemas, mas Luigi ficará na cola de vocês o tempo inteiro, vigiando cada
passo que derem naquele lugar. E é claro, voltarão pra casa quando eu
mandar — Danilo fala todas as palavras num tom severo de ordem, e
embora eu tenha vontade de revirar os olhos, concordo com um aceno de
cabeça ao dizer:
— É melhor do que nada.
Ao entrarmos na casa noturna de Giovanni, somos recebidas por um
ambiente meio escurecido, iluminado apenas por luzes coloridas. O lugar
tem uma energia vibrante e caótica.
Há uma música alta e sexy preenchendo todo o espaço, criando uma
atmosfera sensual e arrepiante.
O espaço principal da boate é ampla e tem um palco central, onde
estão colocados os postes de pole dance. A decoração é moderna e
surpreendentemente, luxuosa, com sofás e mesas ao redor do palco para que
os homens ou mulheres, desfrutem das performances das dançarinas.
O bar ocupa um espaço significativo e os bartenders estão todos
vestidos de maneira profissional e elegante, servindo drinks coloridos,
complexos e sofisticados.
— O Giovanni é mesmo o dono deste lugar? — pergunto a Martina,
que deixa escapar uma risadinha.
— Eu escutei isso, Angelina — ele resmunga logo atrás de mim e eu
dou de ombros.
— Estaremos no escritório. Fiquem aonde Luigi pode vê-las, ok?
Não tentem fugir dele ou isso me deixará muito irritado — Danilo fala antes
de trocar um beijo com Martina e ditar ordens ao seu soldado, que fica na
nossa cola, vigiando os nossos passos.
Acomodo-me na banqueta do bar e coloco a bolsa em cima do
balcão, Caterine ocupa meu lado direito e Martina senta ao seu lado. Nós
pedimos bebidas ao bartender e embora não vá para muito longe, Luigi nos
dá um pouco de privacidade para conversarmos.
Olho ao redor e fixo a atenção no pole dance, me surpreendendo
com a dançarina, que está tirando o vestido elegante devagar e
sensualmente, enquanto dança, relevando os seios siliconados e uma
calcinha minúscula que não tampa quase nada da bunda.
— Ai, meu Deus — balbucio e as minhas irmãs olham na mesma
direção que eu, ficando chocadas também. — Isso é uma casa de strip-tease
de luxo?
Giro o corpo na banqueta e volto a ficar de frente para o bar.
Balanço a cabeça de um lado para o outro e agarro o meu drink que o
bartender acabou de servir e tomo um gole generoso.
— Um pouco mais do que isso — é o que o bartender responde, me
deixando ainda mais perplexa.
Sacudo a cabeça de um lado para o outro.
— Sem comentários — murmuro.
Sinto alguém sentar ao meu lado e chamar a atenção do bartender,
quando olho de esguelha, noto que é um homem que parou ao meu lado no
bar. Sem saber o porquê de fazê-lo, eu observo o seu perfil e é estranho
como ele me parece familiar.
Ao perceber os meus olhares, ele encaminha a atenção para mim, o
que me faz engolir em seco. Ele me encara por cima dos cílios longos e
negros, é tão intenso, e até mesmo, letal.
Os olhos azuis são intensos e selvagens, e há algo de tão perversos
neles que fazem a minha nuca arrepiar.
Prendo a respiração por um segundo e desvio rápido.
A bebida dele é servida e o homem pega o seu copo de cristal. Noto
que ele se aproxima um pouco, não muito, mas o suficiente para me deixar
com cada sensor de alerta dentro da minha cabeça ligada.
De repente, uma mulher se apruma entre mim e Caterine,
visivelmente alta e pede uma bebida, esbarrando em mim e eu acabo
empurrando o meu cotovelo no balcão, o que faz a minha bolsa cair no chão
e tudo que há dentro dela.
Rápido, o homem ao meu lado, se ajoelha para pegar minhas coisas
e colocar dentro da bolsa. Ele me entrega com um sorriso de lado e um
olhar que não consigo decifrar.
— Obrigada.
— Não por isso — é o que diz e então, pega a sua bebida e vai
embora. Luigi surge perto de nós um segundo depois, a postura ereta e
olhando para trás da minha cabeça com uma expressão de quem vai matar
alguém.
— Algum problema, Angelina?
— Na verdade, não — admito, prensando os lábios em uma linha
reta. — Minha bolsa caiu e ele pegou, apenas isso — falo, olhando por cima
do ombro, procurando o homem e não o encontrando em lugar nenhum.
— Tem certeza?
— Luigi... estamos bem — Martina diz e abre um sorriso meigo
para o soldado, que assente e volta a se afastar.
— Vamos dançar? — Caterine pergunta depois de beber todo o
líquido do seu drink. — Não precisamos tirar a roupa — acrescenta com um
tom provocativo, o que nos faz rir.
Pedimos para Luigi tomar conta das nossas bolsas e vamos para a
pista de dança que está vazia, porque este lugar é para homens e eles estão
mais interessados nas dançarinas tirando as roupas em cima do palco pole
dance.
Pelas próximas horas não há nenhum problema. Bebemos muitos
drinks complexos e dançamos sob o olhar rigoroso e protetor de Luigi, mas
nos divertimos muito.
Quando Danilo acaba com a nossa festa ao informar que vamos
voltar para a cobertura, minha cabeça está girando por causa do álcool.
— Vou ao banheiro antes de irmos embora — cochicho no ouvido
de Martina, que faz menção de que vai me acompanhar, mas a impeço com
um balançar de cabeça. — Cuide de Caterine — digo ao gesticular com o
queixo para o balcão, onde a nossa irmã está debruçada, dormindo por
causa dos vários drinks que tomou.
Martina concorda com um aceno e eu caminho até o banheiro
feminino, que está vazio. Molho o meu rosto com a água fria da torneira,
uma tentativa de despertar e depois me seco com papel toalha.
Enfio a mão dentro da bolsa para pegar o celular e enviar uma
mensagem para Lorenzo. Não nos falamos desde antes do baby shower da
Sarah e eu estou morrendo de saudade de provocá-lo.
Não encontro meu smartphone.
— Que merda.
Jogo tudo que há dentro da bolsa na pia e além da maquiagem,
minha carteira e liga para prender os cabelos, não há mais nada. Perdi meu
celular em algum momento da noite.
Irritada com o meu descuido, respiro fundo e enfio tudo dentro da
bolsa novamente.
Emburrada, eu saio do banheiro e tomo um leve sobressalto ao
encontrar um homem alto e robusto, cheirando a whisky e cigarro no meio
da porta, obstruindo a passagem.
— Oi, gracinha. Precisa de ajuda?
— Não, obrigada — resmungo.
Ele dá um passo perigoso na minha direção e me faz recuar outro.
— Tem certeza? Acho que está usando muita roupa — articula ao
estender a mão para tocar na minha cintura, mas dou um pulo para me
afastar.
— Se eu fosse você... não tentaria isso — aviso e endireito os
ombros, elevando o queixo para demonstrar uma confiança que nem eu
mesma sei de onde vem.
Arrisco sair do banheiro outra vez e o maldito me impede. Bato os
cílios por uma fração de segundo e respiro fundo.
— O que você quer?
Olho para os lados, odiando o fato de a merda deste banheiro ficar
num corredor escuro e completamente escondido. Não há como ninguém
me ver aqui ou o que está acontecendo.
— Calma, gatinha. Estamos apenas conversamos.
— Pode, por gentileza, sair da minha frente? Eu não quero
conversar com você, cara. Não faz o meu tipo.
Ele ri, debochado.
— Infelizmente, não posso te deixar ir.
Ele repuxa o canto da boca esquerdo num sorriso doentio e oscila a
cabeça de um lado para o outro ao levantar parte do terno e revelar o cabo
de uma arma. Engulo em seco e meus pés criam raízes no chão.
— Tenho spray de pimenta— murmuro ao apertar a bolsa com
força, mas o cretino a arranca de mim e confere, depois a joga no chão,
rindo de mim.
— Não seja ridícula, patricinha mimada e venha comigo. Prometo
que serei legal com você.
— O que você quer?
— De você? — é o que responde, passando um olhar depravado
pelo meu corpo, que faz a minha espinha arrepiar de maneira tenebrosa. —
Venha agora.
O homem envolve os dedos no meu braço e me arrasta para os
fundos da boate, que é clareado apenas pelos sinalizadores de emergência.
Respiro fundo e penso no que fazer.
Ou deixo esse homem me levar.
Ou tento revidar.
Sem refletir muito ou colocar na balança o peso das consequências,
eu piso no pé dele e tento acertar a sua barriga com uma cotovelada. Ele
grunhe de dor e eu aproveito o momento para correr até a saída de
emergência.
Antes que possa respirar o ar frio da noite de Chicago, ele me
paralisa, me puxando pelos cabelos e me fazendo recuar e quase cair no
chão.
— Achei que fosse uma presa fácil — comenta com certo prazer,
que é horripilante. — Vai ser divertido acabar com você, vagabunda.
— Vagabunda é a sua mãe, otário — rebato entre os dentes e ele
puxa ainda mais o meu cabelo, segurando o meu queixo com os dedos
asquerosos.
— Não fale da minha mãe, ela é uma santa.
Forço uma risada desdenhosa.
— Pra ser mãe de um porco asqueroso como você... duvido muito
— provoco e ele gruda os nossos corpos, roçando o pau dele na minha
bunda.
— Vou te mostrar quem é o porco asqueroso — diz no meu ouvido e
lambe a minha bochecha, me fazendo gemer de nojo. Antes que eu possa
xingá-lo, o seu celular começa a tocar e ele atende quase que de imediato.
— O que você quer, cara? — pergunta e espera, ao mesmo tempo em que
pressiona ainda mais o corpo contra o meu. — Não recebo ordens de você,
apenas do seu pai — é a última coisa que diz ao encerrar a ligação.
Numa tentativa desesperada de fugir das garras dele, eu tento dar
uma cabeçada nele e erro alvo, deixando o homem furioso.
— Eu já tô perdendo a paciência com você.
— Vai se foder, porco nojento.
O homem me gira pelos cabelos e contorna o meu pescoço com as
duas mãos, apertando com força ao olhar dentro dos meus olhos, fazendo os
meus pulmões queimarem, desesperados por oxigênio.
Minha cabeça começa a girar lentamente, não sei se por conta do
álcool ou a falta de ar.
— Pensei em comer essa sua bundinha gostosa, mas não sei se vale
a pena. Você é chata pra caralho — murmura com um sorriso doentio
estampado no rosto. Agarro os seus braços e tento me soltar dele, mas não
consigo. — Por que tá tentando fugir? É isso que você merece, vagabunda
— grunhe, me estrangulando.
De repente, ele é arrancado de mim e eu começo a tossir,
recuperando o ar. Vejo Lorenzo em cima dele, socando o homem com tanta
força, que eu acho que é capaz de quebrar o seu crânio.
Um soco atrás do outro, enquanto ele geme e pede que pare, mas
Lorenzo não o faz.
— Lorenzo? — chamo, unindo as sobrancelhas em confusão.
— Você está bem? — William quer saber e eu pisco devagar, sem
entender o que está acontecendo.
— O que estão fazendo aqui? — é a única coisa que consigo
murmurar.
Depois de desmaiar o cretino que tentou me estrangular, Lorenzo
vem para cima de mim, parece tão furioso e selvagem, uma mistura sexy e
perigosa. Ele envolve uma das mãos sujas de sangue no meu rosto e projeta
o meu pescoço para cima, para conferir a pele.
— Você está bem?
Assinto, ainda confusa e tentando entender o que acabou de
acontecer.
— O que você está fazendo aqui?
Ele não me responde, mas meu coração palpita rápido quando ele
encosta os lábios no topo da minha cabeça e volta a se afastar para falar
algo com William, que trata de enfiar a mão no terno e pegar o celular para
enviar mensagens.
Um segundo depois, Danilo e Giovanni saem pela porta detrás, meio
eufóricos e ao ver o meu agressor caído no chão, os homens começam a
conversar. Para o meu gosto, alto demais. Parecem estar em uma discussão
que ninguém quer dar o braço a torcer.
William fica ao meu lado, falando comigo, mas nem consigo me
concentrar nas palavras dele.
Meu estômago revira ao ver Lorenzo gesticular com os braços e
contrair o maxilar, visivelmente enfurecido e a um triz de explodir,
enquanto Danilo nega com a cabeça e se altera também, estufando o peito.
Incapaz de segurar a ânsia, dobro o corpo para o lado e começo a
vomitar no chão.
— Ah, merda — murmuro, limpando a boca com as costas das
mãos. Arrisco um olhar para o cretino caído no chão e noto que Lorenzo
quase arrancou um dos seus olhos. O sangue em excesso me faz voltar a
vomitar, enjoada.
Surpreendo-me ao ver Lorenzo ao meu lado, segurando os meus
cabelos.
— Alguém vai me dizer o que está acontecendo aqui? — questiono,
começando a ficar irritada.
— Vamos limpar você primeiro — é o que ele fala, embora seja uma
ordem, existe uma centelha de gentileza na voz dele, o que faz meu coração
trepidar loucamente contra o peito.
Lorenzo não dá nenhuma explicação sobre o motivo que o trouxe
até Chicago, mas faz questão de me levar com ele até o hotel que fez
reserva.
Trombudo e abrindo a boca apenas para respostas necessárias, o
homem faz o check-in na recepção. Rumamos para os elevadores e em
completo silêncio, nós entramos e subimos até o andar do quarto.
— O que você... — começo a articular.
— O que estava fazendo num lugar como aquele, Angelina? —
questiona, me interrompendo. Mordo o lábio inferior e olho para Lorenzo
de esguelha, ao ver a expressão séria e brava, não tenho vontade de
verbalizar nenhuma resposta para a sua pergunta. — Uma casa de strip-
tease?
— Não é tão ruim como parece — me ouço falando e nem acredito
que estou defendendo aquele lugar. Fui quase estrangulada por um cretino e
nem faço ideia de que merda aconteceu. — Só queria me divertir um pouco.
As portas de metal do elevador se abrem e talvez o homem esteja
ligado no modo automático, mas sorrio quando ele envolve a mão grande e
quente na base da minha coluna para me manter mais perto dele e
caminharmos juntos até o quarto.
Lorenzo insere o cartão magnético na porta e abre, gesticulando com
a cabeça para que eu entre. Ao fazê-lo, reparo nas cortinas luxuosas que
emolduram a janela panorâmica que vai do chão ao teto, revelando uma
vista linda do centro da cidade. Os arranha-céus se erguem de uma maneira
magnífica contra o céu, harmonizando com as luzes cintilantes.
Olho para a cama grande com dossel esvoaçante e os lençóis
brancos, e é impossível não me perguntar se Lorenzo e eu vamos usá-la de
verdade ou apenas dormir hoje à noite.
Abro a boca para provocá-lo e desisto, porque o seu celular toca e
ele atende à ligação. A expressão sisuda e o maxilar cerrado me fazem
perceber que isso vai durar mais do que eu gostaria.
Abaixo as vistas para o meu vestido e noto que está sujo de vômito.
Crispo o nariz ao cheirar o tecido e sentir o odor azedo e desagradável
mesclado a uma pitada generosa de álcool.
Enquanto Lorenzo se concentra na sua ligação e direciona a raiva
para outra pessoa, rumo para o banheiro, deixo a porta entreaberta de
propósito. Saio de dentro das sandálias de saltos e passo o vestido pela
cabeça, depois me livro da lingerie e vou para debaixo do chuveiro.
Penso na noite caótica de hoje e em como nunca imaginei que tudo
terminaria comigo e Lorenzo em um quarto de luxo de hotel no centro da
cidade. Nem de longe é ruim, só que é inesperado pra caramba.
Afinal, como ele me encontrou?
E o mais importante, o que veio fazer aqui?
Sem respostas para as minhas perguntas, desligo o chuveiro e agarro
um roupão felpudo pendurado no cabideiro de parede. Assim que eu
começo a passá-lo pelos braços, percebo Lorenzo me observando pela fresta
da porta.
Antes de sair do banheiro, pego uma toalha dobrada em cima de um
dos armários e seco os cabelos ao caminhar até Lorenzo, que me encara
com uma expressão indecifrável.
— Algum problema?
— Não.
— O que vai fazer com aquele homem? — quero saber.
— Levá-lo para Detroit — diz e o músculo da sua mandíbula se
contorce. — Vou conversar com ele.
Molho os lábios com a ponta da língua.
— Você quer dizer... torturar?
Os olhos de Lorenzo brilham com a minha pergunta atrevida. Dou
um passo para mais perto e paro alguns metros de distância, sentindo o
cheiro refrescante e delicioso do seu perfume.
— Ele tocou em você — grunhe e estende a mão para tocar o meu
rosto, os dedos roçando na minha nuca, enquanto fixa a atenção no pescoço
com tanto pesar e raiva que algo dentro de mim diz que isso é algum tipo de
gatilho para o Lorenzo. — Vou queimá-lo vivo por ter tocado em você.
Paro de secar os meus cabelos e forço o nó no meio da garganta a
descer, mas assinto, observando um tipo de sofrimento no rosto dele que
nunca vi antes.
Lorenzo sempre foi forte demais, como uma rocha e eu sempre o vi
como alguém imbatível.
Talvez, quando ele apareceu em nossas vidas, eu era pequena e
inocente demais para enxergar as suas partes quebradas. Mas agora, o
olhando sem as camadas, eu sei que algo está destruído dentro do seu
coração.
— Você está bem?
— Não se preocupe comigo, Angioletta.
— O papà sabe que está aqui? — pergunto e dou um beijo casto na
sua mão, que repousa no meu rosto.
— Não.
— Por que veio?
Lorenzo inspira profundamente, focalizando meus olhos com tanta
intensidade, que meus ombros começam a tensionar. Não faço ideia do que
estar por vir e parte de mim sente medo.
Será que ele vai partir meu coração?
— Porque eu perdi a porra da minha cabeça. Porque você é minha e
eu queimaria a merda desta cidade se algo tivesse acontecido com você.
Meu coração afunda contra o peito.
— Isso começaria uma guerra entre nós e os Salvatore — murmuro,
ofegante.
— Eu sei e não me importo — é o que fala, ao me puxar contra o
próprio corpo e encostar os lábios nos meus, me prendendo num beijo
ardente e forte, mordiscando o meu queixo e apertando a minha nuca.
Deixo a toalha cair no chão e envolvo as mãos nos ombros largos de
Lorenzo, sentindo cada célula do meu corpo incendiar de tesão. Num
rompante, ele nos gira e sem afastar a boca da minha, vai me guiando até as
minhas canelas encostarem na cama.
— Sabe quantas vezes eu me imaginei fazendo isso? — pergunta e
eu arfo quando os dedos começam a desfazer o nó do roupão para me
despir. Minha pele queima em antecipação. — Sabe quantas vezes me
toquei pensando em você? Pensando no gosto da sua boceta? — emenda e
minha garganta fica seca.
— Lorenzo... — arfo.
Um beijo tórrido encosta na curvatura do meu pescoço e eu arqueio
o corpo contra ele, tocando no volume crescente da calça jeans.
— Te farei minha, Angioletta — murmura ao passar o roupão pelos
meus braços e deixar a peça cair no chão, fazendo um amontoado fofo sob
os meus pés. — Tomarei posse da sua boceta — diz, deslizando os dedos
pelo meu braço ao mesmo tempo em que mantém os olhos presos aos meus.
— Do seu corpo inteiro — acrescenta ao tocar os meus mamilos duros e
arrepiar os meus pelinhos. — Da sua alma.
Respiro fundo no momento em que ele me faz sentar na beirada da
cama e afrouxa o nó da gravata antes de arrancá-la do pescoço.
— Você será minha e eu matarei qualquer homem que ousar tocar
em você — faz uma promessa velada em ameaça, o que me deixa ainda
mais excitada. — Sempre quis isso, não é? Ser completamente minha?
Sempre quis que eu comesse a sua boceta?
Engulo em seco.
— Sim — falo, arfando.
— Então abra as pernas pra mim, quero experimentar você —
ordena ao se ajoelhar na minha frente e eu obedeço.
Uma sensação de ansiedade e euforia toma conta do meu corpo.
Com o olhar fixo no meu, ele se inclina entre as minhas pernas,
enterrando o rosto na minha boceta, mas não me toca de imediato. Ele roça
os dentes na minha coxa, mordiscando, e meu corpo reage ao arquear contra
o seu rosto.
— Lorenzo... — gemo.
— Eu ainda nem comecei — grunhe, passando a língua e os lábios
quentes na parte interna da minha coxa, me arrancando gemidos profundos.
Lorenzo posiciona a mão grande na minha barriga e me faz deitar
completamente na cama, em seguida, dobra as minhas pernas na beirada,
deixando-me completamente exposta para ele.
Apoio-me sobre os cotovelos e o contemplo ali, tão lindo e entregue.
Choramingo e pisco com força quando ele mergulha a língua em
mim, deslizando para cima e para baixo, afundando-a com vontade e
espalhando a umidade do meu sexo até o clitóris.
É inevitável, minha cabeça cai para trás por causa da sensação
pulsante que a sua língua exigente causa em mim e eu gemo alto.
— Que boceta doce, minha Angioletta. Tão molhadinha —
murmura, o fôlego quente vibrando no meu clitóris. — Porra, vou ficar
viciado em você.
— Lorenzo... — gemo. — Isso é tão bom.
Os lábios dele capturam o meu ponto sensível e, então, começa a
sugá-lo entre os dentes, me esquentando com os movimentos intensos e que
fazem os meus quadris inclinarem contra o seu rosto, intensificando as suas
investidas em mim.
Estico as mãos para tocar nos seus cabelos e ao fazê-lo, eu os puxo
com força, abrindo mais as pernas para Lorenzo, que começa a deslizar a
língua na minha abertura, para cima e para baixo, num ritmo viciante e que
me enlouquece.
Gemo alto quando ele chupa o meu clitóris com uma força que faz
as minhas pernas tremerem por causa da excitação desenfreada, em seguida,
com as duas mãos, ele agarra as minhas pernas e as dobra ainda mais,
empurrando-as até os meus seios, me deixando totalmente aberta para ele.
Meu coração bate tão rápido, que me deixa sem ar.
Lorenzo me chupa com tanta vontade, como se eu fosse a coisa mais
doce e deliciosa do mundo, empurrando a língua para dentro de mim, me
fazendo dele, enquanto me faz perder o controle.
— Goza na minha boca — ele ordena ao perceber as minhas pernas
tremerem. — Goza na minha língua.
— Eu... Lorenzo... por favor — arquejo.
A sua língua fica mais feroz e minha boceta pulsa com tanta força,
que meu corpo parece querer partir ao meio por causa do prazer intenso.
Passo os dedos pelos seus cabelos, me empurrando ainda mais contra o seu
rosto, querendo sentir tudo dele.
Meu corpo entra num estado completamente trêmulo e gemidos
ansiosos escapam do fundo da minha garganta, e então, o orgasmo me
arrebata, se estendendo pelo corpo inteiro com ondas em espirais,
contraindo todos os meus músculos e me deixando amolecida.
Fecho os olhos e chamo o nome de Lorenzo ao cair de cabeça no
ápice do prazer, completamente entregue.
Ele continua me lambendo até minhas pernas pararem de tremer.
Com delicadeza, Lorenzo me estica novamente e ao bater os cílios,
vejo o homem em pé, desabotoando a blusa social, a barba molhada por
causa dos meus fluídos.
Meu Deus, ele é tão lindo assim.
— Vou te foder com o meu pau agora — avisa, conectando os
nossos olhos. — Serei o primeiro e único homem a comer a sua boceta,
Angioletta.
— Eu sei — admito.
Em silêncio, admiro Lorenzo se livrar das roupas e ficar
completamente nu. Sufoco um gemido ao ver o membro ereto e duro,
apontando para mim, pronto para me desvirtuar.
Lorenzo agarra o pau e faz fricção, enquanto me observa com uma
expressão sexy.
— Quero foder a sua boca atrevida também — diz e engulo em
seco, encarando o homem por cima dos cílios. É estranho, porque pela
primeira vez na vida, me sinto tímida por causa das palavras dele. — Não
se preocupe, você vai aprender a engolir meu pau inteiro — emenda,
bombeando o membro duro. — Agora, vou comer a sua bocetinha.
Lorenzo me lança um meio sorriso presunçoso e vem para cima da
cama, cobrindo o meu corpo com o seu.
— Tão linda — murmura ao capturar os meus lábios e me envolver
num beijo com gosto de sexo. Ele enfia a língua dentro da minha boca com
vontade, mostrando toda a sua imponência.
Rodeio os braços ao redor do pescoço de Lorenzo e envolvo as
pernas na sua cintura, sentindo a cabeça quente do seu pau tocar a minha
entrada sensível e molhada.
Ele cola ainda mais os nossos corpos, roçando os dentes pelo meu
queixo, descendo até a curvatura do meu pescoço e provando a minha pele,
enquanto me arrepia inteira.
Os lábios exigentes de Lorenzo trilham beijos pelo meu colo até
prender um mamilo inchado entre os dentes, mordiscando de leve antes de
sugá-lo com força. Arqueio o corpo contra ele, soltando gemidos
incontroláveis. Ele coloca a língua para fora e lambe entre os meus seios,
abocanhando o outro logo em seguida, chupando com intensidade,
marcando a minha pele com a sua boca e dentes.
Enquanto suga o meu mamilo, uma das mãos desliza pelo meu
corpo e a sinto se enganchar entre as minhas pernas. Arfo ao sentir os dedos
de Lorenzo roçarem entre os meus lábios baixos, me provocando e
espalhando a minha umidade.
— Lorenzo...
Bem devagar, o dedo dele acaricia a minha entrada e sem pressa,
Lorenzo o insere dentro de mim. Eu me agarro a ele por causa do pequeno
desconforto que sinto, mas os beijos nos meus seios me fazem relaxar de
novo.
— Tão apertada, Angioletta — murmura, subindo com os lábios e
alcançando o lóbulo da minha orelha, que ele morde e me faz gemer alto.
— Que boceta deliciosa.
Lentamente, Lorenzo move o dedo dentro de mim, me
massageando. A primeira reação do meu corpo é tensionar, mas quando ele
me olha profundamente, eu relaxo e o deixo me guiar.
Sem pressa e com cuidado, ele faz movimentos de dentro e fora, me
amolecendo inteira.
— Isso... relaxa... — Lorenzo sussurra e introduz outro dedo, que
me causa estranheza e um pouco de incômodo de início, só que quando ele
gruda os lábios nos meus e me envolve num beijo sedutor, meu corpo se
entrega outra vez, me deixando sem fôlego. — Você tá tão molhada.
Ele retira os dedos de dentro de mim e leva até a boca para chupar.
O gesto é sexy pra caramba, inebriante.
— Abre as pernas — ordena e eu o faço. — Confia em mim —
grunhe, me roubando um sorriso.
— Sempre confiei em você.
Os olhos azuis de Lorenzo brilham ao ouvir as minhas palavras.
Com uma das mãos, ele agarra o pau duro e roça na minha entrada
úmida, fazendo movimentos de baixo para cima até encontrar o clitóris
sensível, o que me faz arquear o quadril para ele.
Respiro fundo ao senti-lo me preencher bem devagar e me
permitindo me acostumar com a sua extensão grossa. É estranho tê-lo
dentro de mim, não é ruim, só que também não é tão confortável.
Lorenzo apoia um dos cotovelos no colchão ao lado do meu rosto e
busca meus olhos antes de me beijar, a outra mão encontra o meu clitóris e
ele começa movimentos circulares no meu ponto sensível, e é quase
automático, eu me abro mais para ele, o que faz o homem se empurrar ainda
mais para dentro de mim.
Sinto uma pontada dolorosa, mas ela vem mesclada com uma onda
de prazer e eu nem consigo raciocinar direito.
E, então, eu o sinto me preenchendo mais e mais, até alcançar a
minha barreira. Me agarro toda a ele, cravando as unhas nas costas largas de
Lorenzo, respirando fundo e ofegante.
— Caralho, Angelina. Meu pau está todo dentro da sua boceta —
rosna, mordendo meu queixo. — Sonhei tanto com isso — acrescenta ao
mesmo tempo em que continua com os movimentos circulares no meu
clitóris.
— Você sempre foi meu, sabia? — digo, me sentindo meio
possessiva e ele abre um sorriso sacana.
— Eu vou me mexer. Me diga se quiser parar.
— Tá bom.
Ele procura a minha boca e engole os meus gemidos, e aos poucos,
começa a se movimentar num vaivém lento, e uma dor deliciosa se espalha
pelas minhas entranhas e toma conta de mim.
— Ah, Lorenzo — choramingo.
— Sua boceta tá tão encharcada, Angelina — grunhe ao sair
completamente de dentro de mim e entrar de uma vez, causando dor e
prazer com a mesma intensidade. — Tá vendo como o meu pau entra fácil
mesmo você sendo apertadinha?
Lorenzo começa um compasso ritmado de entrar e sair, cada vez
mais fundo até que o desconforto dá lugar somente ao êxtase.
Por um tempo, ele faz amor comigo, me reivindicando lentamente,
me dando prazer, enquanto meu corpo relaxa debaixo do seu, ao mesmo
tempo em que nos encaixamos de maneira perfeita um no outro.
Talvez as pessoas acreditem que meu amor por Lorenzo seja errado,
mas este momento é tão certo, e cada terminação nervosa do meu corpo
sabe disso. Cada célula do meu corpo sente isso ao ser dele.
Choramingo seu nome.
— Você é tão deliciosa, Angioletta. A minha droga preferida —
grunhe e trilha beijos no meu pescoço. — Quero te foder mais rápido —
avisa, e algo dentro de mim se desmancha.
O homem turrão que eu conheço parece estar pedindo permissão.
Isso é estranhamente romântico.
— Vem — falo, ofegante, apertando minhas pernas em volta do seu
tronco e elevando o meu quadril, facilitando ainda mais o acesso para o
meu ventre.
Um som gutural escapa do fundo da sua garganta e ele acelera o
ritmo, fechando os olhos ao entreabrir a boca e se entregar ao prazer
também. Minha boceta se contrai em volta do seu membro duro, amando ter
Lorenzo tão profundo dentro de mim.
— Caralho — rosna, como uma fera indomável e morde o meu lábio
inferior com força, me arrancando um gemido manhoso. — Isso, geme no
meu pau, Angelina. Geme pra mim. Geme pro único homem que vai te
comer — ele ordena e minhas pernas começam a formigar.
— Lorenzo... — choramingo, e ele segura o meu rosto com uma das
mãos para mergulhar a língua na minha boca, me dando um beijo feroz e
exigente.
— Minha — arfa ao abrir os olhos e me conectar a ele de maneira
profunda. — Você nunca será de outro homem, Angelina — fala com um
tom tão incisivo e feroz, que meu corpo e coração reagem às palavras.
Ele desliza a mão pela lateral do meu corpo e amassa o meu quadril
com força, sem diminuir o ritmo, e eu me sinto apertar por dentro. Começo
a gemer o seu nome e as suas investidas ficam mais rápidas e intensas que
antes, seus grunhidos sincronizando com os sons que escapam da minha
boca.
Lorenzo sobe com a mão até encontrar o meu seio, que ele aperta, e
é tão bom sentir as nossas peles se tocando sem nenhuma barreira de tecido,
é tão certo.
Ele focaliza os meus olhos e o seu azul está um tom mais escuro, as
pupilas dilatadas, e algo me diz que Lorenzo está perto de encontrar o seu
prazer também.
Inclino ainda mais o quadril para ele, gemendo ao sentir o pau me
penetrar com vontade e ele continua no compasso incessante. Minhas
pernas estremecem outra vez e na hora que fecho os olhos para jogar a
cabeça para trás, ele agarra o meu queixo com força ao ordenar:
— Olha pra mim.
Logo em seguida, o calor se espalha por mim e minha pele formiga,
enquanto todos os meus músculos tensionam e eu gozo para Lorenzo, o
meu amor proibido.
— Caralho — ele grunhe, ainda se movimentando para frente e para
trás, em busca da sua própria satisfação.
Gemo no instante em que as duas mãos de Lorenzo envolvem a
minha cintura e apertam com força. De um jeito bruto, ele esmaga os meus
lábios, afundando a língua na minha boca e me prendendo num beijo que
me deixa sem fôlego.
Ele entra bem fundo dentro da minha boceta e fecha os olhos por
alguns segundos, entreabrindo a boca e rosnando ao gozar. Eu sinto o
momento exato em que o calor do seu prazer me preenche inteira.
Lorenzo continua se movimentando dentro de mim até acalmar o
seu corpo e o meu, e depois, me dá um beijo suave que me faz sorrir.
— Você está bem? — questiona ao desabar ao meu lado no colchão,
respirando fundo e piscando devagar ao focalizar meus olhos.
Ele estende o braço e toca o topo da minha cabeça com os dedos,
fazendo carinho e eu acabo virando para me enroscar no seu peito. Ao olhar
para baixo e encarar o seu pau orgulhosamente ainda duro, noto a mancha
de sangue na pele de Lorenzo.
Meu coração entra num ritmo acelerado e quase doloroso, ainda
assim, nunca me sentir tão feliz na vida.
— Sim.
Sinto um beijo casto no topo da minha testa e ele passa o braço em
volta dos meus ombros, me puxando contra si, o calor do seu corpo
vibrando contra o meu.
— Nunca consegui proteger as pessoas que eu amei — Lorenzo diz,
simplesmente, atraindo a minha atenção. Embora seja pouco, é a primeira
vez que fala do seu passado comigo. — Mas vou proteger você, Angelina.
Ninguém vai machucar você, eu prometo.
Ele beija os meus lábios e eu não entendo o motivo da promessa,
mas gosto de ouvi-la, por isso, me deixo levar pelas sensações que a sua
boca contra a minha causa no meu corpo estremecido.
Ele é meu.
Eu sou dele.
Ele vai me proteger.
Droga, eu o amo demais.
É impossível descrever com palavras a noite intensa ao lado de
Lorenzo, mas de uma coisa eu tenho certeza, eu quero mais desse homem.
Não me importo com as consequências ou as pessoas que precisaremos
enfrentar.
Depois de um sexo matinal quente e delicioso, que me deixou ainda
mais dolorida, tomamos um banho relaxante de banheira e ele me leva para
à cobertura de Danilo e Martina.
Eu volto para Detroit apenas amanhã, mas Lorenzo vai embora hoje.
Eu não quero deixá-lo ir, só que sei que o subchefe tem assuntos para
resolver.
— Não apronte — ordena quando paramos no meio do saguão do
prédio, o William alguns passos atrás de nós, evitando contato visual.
— Eu nunca apronto — rebato e ele cerra o maxilar ao me lançar
um olhar severo, que é sexy pra caramba. — Tá bom. Sem casas noturnas
de strip-tease — faço um muxoxo e fico nas pontas dos pés para depositar
um selinho molhado nele.
Ele toma o meu rosto com as duas mãos e exige acesso com a
língua, envolvendo os nossos lábios num beijo profundo e avassalador.
— Ótimo — grunhe e olha para William, depois o chama e estende
a mão, fazendo-me perceber pela primeira vez uma sacola. — Um celular
novo. Não o perca, ok?
— Sim, senhor — resmungo ao pegar a sacola, roçando os nossos
dedos propositalmente.
— Está obediente — provoca com um leve sorriso sarcástico. —
Gosto dessa versão.
Lorenzo toca o meu queixo com o indicador e o polegar.
— Acha que vai durar muito? — devolvo, piscando devagar ao
olhar para Lorenzo por cima dos cílios e morder o lábio inferior.
Ele bufa ao soltar o meu queixo.
— Claro que não. Mas continue obediente enquanto estiver aqui e
fique longe de confusão — rosna, com a carranca que é sua por natureza. —
Agora vá, entre — manda e cada célula do meu corpo quer desobedecer,
mas decido continuar sendo obediente por hoje, simplesmente, porque estou
feliz demais.
— Faça uma boa viagem.
Coloco uma mão espalmada sobre o peito de Lorenzo e fico nas
pontas dos pés ao segurar o seu lábio inferior entre os dentes e puxá-lo para
mim. Ele respira fundo, me encarando com intensidade.
— Te vejo amanhã — ele murmura, envolvendo os dedos entre os
meus cabelos da nuca e arrepiando a minha espinha dorsal.
— Até amanhã.
Com um sorriso bobo estampado no rosto, eu giro nos calcanhares e
caminho até os elevadores. Lorenzo fica no saguão, observando com
atenção até as portas de metal se abrirem e eu entrar, desaparecendo do seu
campo de visão.
Sou incapaz de fazer com que os meus lábios voltem ao normal, mas
honestamente, sinto como se estivesse andando nas nuvens.
Assim que saio do elevador direto para o hall privativo e luxuoso, a
porta de madeira pesada da cobertura se abre e os olhos de Martina me
encontram. De repente, surgem mais cabeças ao seu lado.
Violetta, Barbara e Caterine.
Aumento o meu sorriso ainda mais, abrindo os braços para envolver
minhas irmãs num abraço de urso.
— Está um dia lindo lá fora — comento ao apertar as bochechas de
Violetta, que torce os lábios e enruga o nariz.
— Tá chovendo — a caçula diz o óbvio e eu dou de ombros.
— Não pode ser um lindo dia chuvoso? — devolvo, feliz demais.
Os olhos de Martina se arregalam quando ela entende exatamente o
que aconteceu para a minha felicidade demasiada.
— Ai, meu Deus — ela murmura, perplexa.
Caterine olha para ela, depois para mim e acaba se dando conta da
mesma coisa.
— Não! — exclama, levando uma das mãos para tampar o grande
“O” que a sua boca formou. — Você...? Não.
— É isso que eu estou pensando? — Barbara questiona, piscando
devagar.
Martina me puxa pelo braço para entrar no apartamento e eu saio
praticamente atropelando as nossas irmãs, que resmungam quando nossos
corpos se chocam um contra os outros.
— Você e Lorenzo? — ela pergunta com um sussurro, os olhos
curiosos me esquadrinhando.
Não sei ao certo se ela está brava ou preocupada com o que possa
acontecer comigo.
— Aconteceu — cochicho, dando de ombros de maneira inocente,
apesar de eu ter a minha parcela de culpa.
— Você e ele agora... vão se casar? — Violetta pergunta, tentando
entender a situação. — Isso é estranho. Agora... ele vai ser meu irmão e
meu cunhado — articula com a testa cheia de vincos, demonstrando a
confusão.
Abro um sorriso amplo.
— Que tal se eu me tornar a senhora Falcucci? — brinco, fazendo as
meninas rirem. — Combina comigo, não é?
— Você enlouqueceu de vez, é isso — Barbara me provoca.
— Foi especial? — Caterine quer saber.
— Sim, muito. Eu amo Lorenzo e minha primeira vez foi melhor do
que eu sonhei — sussurro e as meninas ficam em silêncio por um longo
minuto e eu espero os julgamentos, mas a única coisa que fazem é se juntar
num montinho para me prender num abraço apertado.
— Não importa o que aconteça, estamos com você — Martina fala,
aquecendo o meu coração.
— Sim — as meninas falam num uníssono, me roubando uma
risadinha.
— Obrigada — digo, e entre o nosso abraço, nós duas trocamos um
olhar cúmplice, que me faz perceber que passei anos demais implicando
com Martina por causa do nosso pai.
O favoritismo dele nunca foi certo, eu sei e sempre me magoou a
forma como ele a favorecia ou a protegia, mas a verdade é que ela nunca
teve culpa. Martina sempre esteve aqui por nós, fazendo o possível e
impossível para nos manter unidas.
Ela é uma ótima irmã mais velha.
E mesmo quando a importunava por causa do papà, eu a amava com
meu jeito ranzinza e rebelde.
— Eu amo você — murmuro, fazendo-a sorrir. — Amo todas vocês
— emendo e as meninas tornam o abraço mais apertado.
Fazer Danilo Salvatore dar o braço a torcer e concordar em me
deixar trazer o cretino filho da puta que tocou em Angelina para Detroit foi
quase como uma disputa acirrada de egos.
O subchefe da máfia Salvatore queria cuidar das coisas em seu
território, mas como eu poderia permitir isso? Angelina é minha e alguém
está tentando feri-la para chegar até mim.
Não poderia simplesmente entregar o homem ao Danilo e voltar de
mãos abanando para Detroit, como se o assunto não estivesse ligado
diretamente a mim.
Não foi fácil convencê-lo a me entregar aquele verme, mas ele sabia
que se não o fizesse, eu o esfolaria vivo ali mesmo, no chão sujo dos fundos
da casa noturna do seu irmão.
E seria bem pior.
No porão do prédio funerário, observo William colocar o homem
inconsciente sentado em uma cadeira e amarrá-lo com os braços para trás e
prender as pernas em cada pé da cadeira.
Molho um pedaço de pano com amônia líquida e observando a
minha presa, dou a volta nele e pressiono o tecido contra o seu nariz para
fazê-lo inspirar o produto.
Quando ele abre os olhos, ainda meio atordoado e tentando se situar,
William me entrega uma faca afiada. Sem hesitar, eu enfio diretamente no
ligamento do seu joelho e o faço acordar completamente com um grito
estridente de dor.
Nós o sedamos para trazer até Detroit e ele veio dormindo como um
bebê, mas está na hora de acordar e sofrer as consequências por ter
machucado a minha mulher.
— Quem é você? — pergunto ao cravar meus olhos no seu único
olho bom, enquanto agarro o cabo da faca com força, aprofundando-a um
pouco mais. — Me responda ou vai perder o joelho — ameaço e ele grunhe
de dor, as gotas de suor escorrendo pelos cantos da testa.
— Ele vai me matar se eu abrir a boca.
Abro meio sorriso.
— No momento, você deveria estar preocupado comigo.
Retiro a faca lentamente e o homem respira fundo, gemendo em
agonia. Endireito a minha postura e alongo o pescoço antes de me inclinar e
espetar a sua coxa, em cima do tendão do quadríceps.
Ele grita.
— Você ainda quer andar? — questiono e ele me encara, bufando.
— Então, comece falando o seu nome.
— Scott... Scott Carter! — esgoela.
Afasto-me um pouco dele, mas mantenho a faca no lugar e o
observo com atenção.
— Ótimo. Pra quem você trabalha?
Ele balança a cabeça de um lado para o outro, chorando.
— Não posso falar. Não posso.
— Foi você quem me mandou as fotos? — questiono e ele encrespa
todo o rosto em confusão.
— Que fotos, cara? — crispa. — Ele só me pediu pra dar um jeito
na patricinha, só isso.
— Quem? — grunho, o coração afundando contra o peito conforme
a raiva vai crescendo dentro de mim.
— Se eu abrir a boca ele vai me matar.
— Você acha que eu não?
Dobro um pouco o corpo e puxo a faca da sua coxa, fazendo o Scott
gemer de dor. Limpo o sangue da lâmina na sua própria blusa e encaro o
aço inoxidável por um longo segundo antes de voltar a falar.
— Já que não vai falar, a sua língua não serve pra nada — digo, a
ameaça modulando a minha voz.
William se aproxima dele e Scott arregala os olhos, entrando em
pânico. Com um gesto firme, ele o força a abrir a boca e com o indicador e
o polegar, eu puxo a língua asquerosa para fora.
— Vou cortá-la, mas não se preocupe, você ainda não morrerá.
Porque ainda teremos grandes momentos juntos — desdenho.
Ele sacode a cabeça de um lado para o outro, desesperado. Com um
trancão, puxo a carne molhada com força, arrancando lágrimas dos cantos
dos seus olhos esbugalhados.
— Que triste será não poder gritar de dor, não é, Scott?
Scott começa a se debater ao mesmo tempo em que se esforça para
falar algo. Ergo os cílios para William e em seguida, volto a atenção para o
homem na cadeira, que tenta a todo custo dizer algo.
Solto a língua, limpando os dedos na sua blusa.
— Fale — ordeno.
— Taz, o Caolho — crispa, ofegante. — Taz, o Caolho... ele me
mandou dar um jeito na garota. Disse que era uma vagabunda rica que não
merecia viver.
Meu sangue se funde em lava e eu trinco os dentes ao sentir as
narinas inflarem. Will percebe a minha fúria desenfreada surgir, mas Scott
não, pois ele continua a falar.
— Ele me deu uma grana boa pra espalhar os pedaços dela pela
cidade. Era dinheiro fácil, aquela vagabunda...
Dominado completamente pela raiva, eu avanço em Scott. De
maneira abrupta, enfio os dedos na sua boca e puxo a maldita língua para
fora, cortando-a de uma vez, enquanto ele grita de dor e me suja de sangue.
— Prepare o forno crematório, William — falo, olhando dentro dos
olhos de Scott, que parece atormentado. — Vou queimá-lo vivo.
Dezenove anos antes...
Pela primeira vez em semanas, ele quer que Luca e eu nos juntemos
a ele para uma refeição na sala de jantar. Ter acesso livre a casa é a
oportunidade perfeita para roubar um pouco de dinheiro e começar a
planejar a nossa fuga.
— O que será o jantar, Enzo? — Luca pergunta, inocentemente
animado, o que me rouba um meio sorriso.
Há tempos não temos uma boa refeição. Ele apenas nos alimenta
com migalhas e sobras, que na maioria das vezes estão estragadas. Mesmo
assim, não é todo dia que temos direito a comer algo.
— Não sei — murmuro, pensando em como vou fazer para roubar
dinheiro sem que ele perceba.
De repente, a porta se abre e Luca e eu ficamos de pé, meu coração
sobe até a garganta por causa dos meus pensamentos. Nosso tio abre um
sorriso estranho e faz um gesto para que passemos.
Luca segura a minha mão com força e juntos, nós caminhamos até a
sala de jantar em silêncio. O cheiro de comida fresca é tão bom, que faz
meu estômago roncar e a boca salivar.
Meu irmão sorri animado ao ver a mesa posta com comida. É tanta
coisa gostosa, que esqueço completamente a minha prioridade de conseguir
dinheiro. Estou com tanta fome.
Rumamos para sentar à mesa e antes que possamos puxar a cadeira,
ele puxa Luca pela blusa.
— Quem disse que vão sentar comigo? — pergunta e começa a rir,
como se fosse muito engraçado. — Os dois... no chão. Ali. — Aponta para
um canto da sala e Luca enche os olhos de lágrimas.
A empregada da casa entra com uma bandeja cheia de frutas
saborosas e nos olha com pena.
— Traga a ração dos cachorros pra que os moleques possam comer
— o monstro ordena, fazendo Luca chorar.
— Senhor... é muita comida. Acredito que possamos dar um pouco
para os meninos. Eles estão tão magrinhos — ela murmura, cabisbaixa.
É um erro.
O monstro fecha a mão em punho e acerta o estômago da mulher
com força e o corpo dela dobra, choramingando de dor. Ela cambaleia até
cair no chão, tossindo com dificuldade.
— Se não quiser morrer... traga a ração dos cachorros.
Com dificuldade, ela se põe em pé e assente, chorando em silêncio e
se retira da sala de jantar, voltando alguns minutos depois, com pratos
fundos cheios de ração nojenta de cachorro.
— Não quero comer isso, Enzo — Luca choraminga.
Com o ódio acelerando o meu coração, olho para o nosso tio, que
tira o sobretudo e coloca nas costas da cadeira antes de se sentar e começa a
comer uma coxa de frango suculenta ao mesmo tempo em que ri de nós,
como se fôssemos uma piada.
— Querem um pouco? — pergunta.
Inocente, o Luca responde que sim.
A única coisa que nosso tio faz é jogar um pedaço de frango no chão
e esmagar com o seu sapato sujo, desmanchando a carne.
— Venha aqui e coma do chão, pirralho de merda — ordena e nós
continuamos quietos no mesmo lugar. — Eu mandei vir aqui e lamber o
chão! — grita ao dar um soco na mesa, me irritando de verdade.
Pego um punhado de ração de dentro do prato e coloco dentro da
boca, mastigando com força, enquanto ele me observa e ri com tanta
vontade, que nutre ainda mais o meu ódio por ele.
— Vou pra cima dele e você procura a carteira no casaco —
sussurro para Luca, que me olha com medo. — Consegue fazer isso?
Ele chora, mas assente.
Aproveito o momento em que ele está distraído comendo como um
porco e derramo toda a ração no chão antes de me levantar e acertar o prato
de porcelana na sua cabeça, fazendo-o cambalear para o lado e quase cair
no chão.
— Coma você a ração — grunho.
Pela visão periférica, vejo Luca engatinhando para perto de nós. O
monstro fica de pé, bufando de raiva e agarra o meu pescoço, tirando os
meus pés do chão e me arremessando do outro lado da sala.
Ele fica de frente para mim e de costas para Luca, e então, eu vejo o
momento exato em que meu irmão aproveita para pegar a sua carteira e
esconder dentro das calças, e rápido, volta para o canto da sala.
Nosso tio me acerta um chute na barriga, e então, outro, outro e
mais outro até sair sangue pela minha boca.
— Acha que pode me desrespeitar, moleque? Na minha própria
casa? Eu te dou um teto, comida e é isso que recebo?
Ele me puxa pela gola da camisa e acerta o meu rosto com um soco,
fazendo Luca chorar e tampar os ouvidos e fechar os olhos no outro lado da
sala.
— Vou ter que te ensinar a se comportar como um homem de
verdade — grunhe, acertando outro soco em mim. — Terei que te fazer um
exemplo.
O monstro começa a me sacolejar ao girar o corpo na direção do
Luca.
— Abra os olhos, Luca! — ordena com um grito e meu irmão nega
com a cabeça, de um lado para o outro. — Abra os olhos agora, porra! —
esbraveja e então, ele obedece.
Devagar, Luca bate os cílios úmidos e olha para mim.
— Tá vendo isso? — questiona, me sacolejando. — Não quer que
isso aconteça com você, não é?
O queixo do meu irmão treme e eu recebo um soco nas costelas, que
me faz cuspir sangue.
— Se tentarem me atacar de novo, os dois vão apanhar, mas não se
enganem, não vou matá-los. Gosto de brincar com os dois, são os meus
bichinhos — fala com uma risada desdenhosa.
Com força, ele me joga no chão.
— Vão para o quarto. Não sairão de lá pelas próximas duas semanas
— é o que diz e volta a sentar na mesa do jantar.
Me arrasto até Enzo e me esforço para ficar de pé. Meu irmão vem
para o meu lado e envolve o braço em mim e me ajuda a andar até o nosso
quarto. Com dor e cambaleando, nós, praticamente, nos rastejamos até o
corredor do quarto.
Antes de abrirmos a porta, a empregada que levou um soco por nós
aparece com uma sacola grande.
— Entrem rápido e escondam isso — ordena e nós obedecemos, ela
tranca a porta e eu sento na cama, respirando com dificuldade.
Luca abre a sacola e um sorriso largo surge no seu rosto pequeno e
banhado de lágrimas. Pela primeira vez em muito tempo, os olhos meigos
do meu irmão se iluminam.
— É comida e remédio... — murmura.
— Esconda no banheiro — digo a Luca. — Vamos comer depois
que todos estiverem dormindo.
Ele assente e me dá um abraço, que faz meu corpo doer, mas nem
consigo afastá-lo, porque Luca é a única coisa que eu tenho e que me faz ter
forças para lutar e sobreviver.
Coloco homens espalhados pelas ruas da cidade em busca de
qualquer informação sobre Taz, o Caolho.
Não me orgulho de ter cedido ao meu ímpeto de raiva e perdido a
cabeça ao cortar a língua de Scott. Eu sei que poderia ter arrancado mais
coisas importantes dele antes de impossibilitá-lo completamente de falar,
mas a forma como se referiu a Angelina me fez ver as coisas preto e branco.
A tensão enrijece o meu corpo e o sangue ferve só de pensar em
alguém machucando Angelina outra vez. Não posso permitir que tal coisa
se repita.
— Ele tinha ligação com o acidente de carro? — meu padrinho
pergunta, conectando os olhos aos meus, tentando me entender nas
entrelinhas.
Não contei ao Don sobre o que aconteceu com Angelina na saída da
casa noturna dos Salvatore. Tenho muitas coisas a esconder do meu
padrinho, como ter desvirtuado a sua preciosa filha, mas não foi por esse
motivo que me mantive quieto sobre o acontecido.
Antes mesmo de eu ter embarcado no jatinho para Detroit ontem,
recebi uma ligação em conjunto das meninas e elas me imploraram para não
contar nada ao padrinho, já que era obrigação de Paolo e Davide cuidar da
segurança delas e justamente na noite em que Angelina foi atacada, nenhum
dos soldados estava presente.
Eu não deveria ser indiferente a esta situação, mas Angelina e as
meninas amam o Paolo, e honestamente, não quero ser culpado por fazer as
garotas sofrerem se o velho vier a ser punido pelo meu padrinho.
Além do mais, algo me diz que não há muitas coisas que não farei
pelo capetinha angelical.
— Provavelmente. Mas não se preocupe, eu estou cuidando disso.
Meu padrinho e eu sempre tivemos uma ótima relação de confiança
e companheirismo. Apesar dos meus episódios de raiva ao longo da vida,
ele nunca julgou as minhas ações ou me puniu por elas.
Não temos o mesmo sangue, mas eu sei que ele não entregaria o seu
império para outro homem que não seja eu. No entanto, mesmo assim, ele
quis entender a minha ida repentina para Chicago e o homem que queimei
vivo ontem.
Ele assente, ajeitando os papéis em cima da mesa em mogno para
colocar dentro da pasta de couro.
— Quero que pense sobre Adele — ordena ao lançar um olhar
acentuado, de quem deixa claro que quer uma resposta positiva sobre o
assunto. — Se precisar, a leve para almoçar e a conheça melhor.
— O conselheiro pediu que falasse comigo? — questiono com um
tom respeitoso, escondendo toda a minha raiva crescente.
— Sim. Corrado é um grande amigo, casar você com Adele não é
uma péssima ideia. Ela é uma boa menina e filha de um homem respeitado.
Melhor se casar com ela do que com uma mulher que não faça parte do
nosso círculo, não concorda comigo? — Ele ergue uma sobrancelha e eu
cerro o maxilar, apenas observando-o. — Sabe que não aceitarei qualquer
uma para ser sua mulher.
Mesmo a contragosto e com um gosto de fel na garganta, assinto
com firmeza, planejando formas de recusar a oferta sem desrespeitar o meu
padrinho. Não quero brigar com ele por causa de Corrado e Adele.
— Cuide de Marta e das meninas, eu volto em alguns dias —
articula ao pegar o terno bem cortado que está pendurado no cabideiro em
madeira perto da mesa e passar pelos braços, se preparando para sair do
escritório. — Mantenha todas seguras.
Não acho que ele vá gostar da forma que estou pensando em cuidar
de Angelina especialmente, mas concordo com a expressão impassível.
— Claro, padrino.
Ele vai viajar a negócios, acompanhado do conselheiro e no fundo,
isso me preocupa um pouco. Não por causa dos assuntos da organização,
quando se trata disso, Corrado é fiel e honrado e sei que o velho fará de
tudo para que os nossos tratados prosperem.
Mas, não duvido que acabe convencendo o meu padrinho de que
Adele é a única candidata ideal para ser a minha futura esposa.
Preciso encontrar uma forma de resolver este problema.
Meia hora depois, estou cuidando de uns assuntos da organização
quando a porta do escritório é aberta sem aviso prévio e meus olhos
encontram Angelina com um sorriso travesso estampado no rosto angelical
usando pouca maquiagem.
Ela dá um passo para dentro e passa a tranca na fechadura antes de
caminhar devagar até mim e apoiar as mãos na borda da mesa de madeira,
evidenciando o decote discreto, porém, convidativo que guarda os seios
pequenos e redondos.
Desde que ela voltou de Chicago pela manhã, nós dois não tivemos
tempo de nos falarmos, e eu ainda não estou acostumado com o incômodo
irritante no peito por ficar longe dessa garota atrevida.
Confesso que há uma ou duas coisas na vida que eu não faço ideia
de como lidar ou controlar. E as coisas que Angelina me faz sentir é uma
delas.
— Obrigada por ter protegido Paolo. Não sabia se você ia mesmo
manter segredo sobre o que aconteceu.
Afrouxo o nó da gravata e deixo a caneta em cima da mesa, levando
ar até os pulmões, sem desviar a atenção dela.
— Não fiz isso por ele.
— Fez por mim? — quer saber.
— O que você acha? — devolvo, e um sorriso pequeno surge no
rosto dela. — Isso pode ser considerado traição, sabia? Você é filha do Don
e eu escondi algo importante dele — resmungo.
— Paolo é importante pra nós. Obrigada, Lorenzo. As meninas estão
agradecidas também.
— Sei.
Ela amplia ainda mais o sorriso.
— Senti saudade de você e desse seu jeito rabugento — a garota
murmura, enviando uma agitação louca direto para o meu peito. — Você
sentiu a minha?
Repuxo o canto da boca.
— Sim — admito, fazendo a respiração de Angelina sair em lufadas
suaves, e a excitação reluzir em seus olhos de maneira hipnotizante.
Pausadamente e resvalando as pontas dos dedos em cima da mesa
em mogno, sem deixar os meus olhos, ela dá a volta até ficar de frente para
mim. Contemplo-a de baixo para cima antes de estirar as mãos e agarrar as
coxas nuas de Angelina, roubando um gemido entrecortado, enquanto a
trago para mim num solavanco.
Ela envolve os dedos nos meus cabelos e eu fecho os olhos por uma
fração de segundo, aproveitando o toque dela.
— O papà vai ficar fora por alguns dias — ela murmura, respirando
fundo. — Isso quer dizer liberdade.
— Não. Ele ordenou que eu cuidasse de você — informo com uma
carranca dura, deixando as vistas caírem sobre a boca pintada de gloss.
— Então, eu sou sua responsabilidade, Lorenzo? — questiona de
um jeito provocante, tocando a minha gravata com os dedos. — Estou presa
a você?
— Sim, exatamente.
— O que mais ele ordenou?
Franzo o cenho, sem entender.
— O quê?
Ela puxa um pouco a minha gravata, ficando meio violenta.
— O que disse...
Silencio Angelina ao levantar da cadeira acolchoada e esmagar os
seus lábios macios e úmidos com os meus, afundando a língua nela e a
beijando com força, me perdendo nela e no seu sabor viciante.
Minhas mãos encaixam na cintura fina e eu a pressiono contra a
mesa, enquanto ela estremece em meus braços. A sua língua enrosca na
minha e ela geme contra os meus lábios, um gemido ansioso e sensual.
— Não pode se casar com Adele, entendeu? — ela fala de repente,
mordiscando os meus lábios antes de se afastar um pouco e me olhar por
cima dos cílios longos e sedutores.
— Estava escutando atrás da porta?
— Eu amo você — é o que murmura e é a primeira vez que escuto
essas palavras depois que cedi aos meus instintos. Depois que cedi aos
meus desejos em relação à Angelina. — Não vou aceitar que outra mulher
seja sua esposa, Lorenzo.
Meu cérebro parece falhar por causa das afirmações dela, mas a
verdade é que eu não a deixarei ser de outro homem também.
Enfio a mão entre os seus cabelos e a puxo para mim, apertando os
nossos corpos conforme a minha ereção cresce. Sinto o corpo inteiro
esquentar por debaixo das roupas e o pau pulsar dolorosamente à medida
que eu a beijo com mais intensidade, engolindo cada fôlego entrecortado
que ela deixa escapar.
— Quero ouvir você falar, Lorenzo. Fala pra mim que não vai se
casar com Adele — pede uma confirmação verbal, a voz manhosa é tão
deliciosa, que me faz impelir o quadril contra ela. — Mesmo que o papà
ordene, Adele não será sua esposa. Diga pra mim.
— Ela não será minha esposa, Angioletta. Nunca — murmuro com
um tom rouco, enquanto minhas mãos ansiosas tocam cada parte do corpo
pequeno e quente de Angelina.
Se eu estivesse com a cabeça no devido lugar, perceberia que é
errado pra cacete tocar a preciosa filha do meu padrinho em seu escritório,
mas não consigo parar minhas mãos.
É mais forte do que eu.
As pontas dos dedos roçam as coxas de Angelina e devagar, e sobem
o tecido até encontrar o meio entre as suas pernas. Nem preciso fazer
esforço, estremecida e entregue, ela se abre para mim, facilitando o meu
acesso.
— Te tocar dessa forma... — sussurro, passando os dedos pelo
tecido da calcinha, sentindo o calor úmido dela. — Aqui no escritório do
seu pai... é perigoso.
— Eu sei — admite com uma respirada funda. — Mas é tão bom,
Lorenzo. Não para, por favor.
Arrasto a calcinha para o lado e dois dedos passam pelos lábios
baixos de Angelina, que geme ao fechar os olhos e jogar a cabeça para trás,
arfante. Os fluídos do seu tesão melam a minha mão, e eu acabo soltando
um grunhido, ainda mais excitado.
— Tá tudo tão molhado, Angioletta — murmuro, tocando o clitóris
quente e inchado, observando-a se contorcer sobre a minha mão. — Como
eu vou resistir a isso? — pergunto e ela prende o lábio inferior com os
dentes. — Como resistir e não foder essa bocetinha agora?
Ela geme.
— Por favor... — começa a implorar ao me sentir enfiar os dedos
dentro da abertura quente e começar um vaivém ritmado, que faz meu pau
querer explodir contra a calça social.
— Por favor o quê? — grunho, contemplando as suas expressões de
prazer.
— Quero você.
Curvo a boca num sorriso sacana, fodendo Angelina lentamente
com os meus dedos.
— Seja específica — ordeno e ela abre os olhos para me encarar. —
Diga exatamente o que você quer.
Ela lambe os lábios com a ponta da língua.
— Quero sentir o seu pau dentro de mim — choraminga manhosa,
atiçando algo selvagem dentro do meu peito.
Num rompante, giro Angelina, deixando-a de costas para mim, o seu
rabo redondo se esfregando no meu pau. Ela coloca as mãos espalmadas em
cima da mesa e com um gesto hábil, separo as suas pernas, em seguida,
desafivelo o cinto e desço o zíper da calça social antes de liberar o meu
cacete duro.
Subo o vestido de Angelina até a base da coluna e apenas afasto o
tecido da calcinha ensopada para o lado. Sem que eu tenha ordenado, a
minha garota empina o rabo para mim, pronta para me receber.
Seguro o meu pau com uma das mãos e a outra, apoio no quadril
dela, obrigando-a arquear mais ainda. Brinco com a sua entrada molhada
antes de enfiar tudo até o talo, soltando um gemido rouco e baixo de prazer.
— Lorenzo... — ela choraminga ao ficar nas pontas dos pés, se
segurando na borda da mesa com força para manter o equilíbrio.
— Essa boceta é minha, Angelina — rosno ao deslizar com a mão
pelo seu corpo, tocando um dos seios e apertando com vontade e então,
envolvo os dedos ao redor do pescoço frágil, enquanto saio e entro dentro
dela com intensidade, socando rápido e forte, incapaz de controlar os meus
instintos primitivos. — Só minha — digo com um rugido.
Talvez não seja algo que um homem como eu deva se orgulhar, mas
essa garota me tem nas mãos e não há nada que eu possa fazer para mudar
isso.
No fundo, eu sempre soube que no dia que comesse a sua boceta
doce e intocável, eu estaria perdido, condenado. Completamente arruinado,
porque nunca mais desejaria outra mulher.
E se eu for honesto comigo, não apenas quando estou me enterrando
dentro dela, um dia vou admitir em voz alta que também a amo.
Sempre amei.
Mesmo quando tentei afastá-la de mim tantas vezes, Angelina nunca
desistiu e ficou por perto, fazendo o que eu odiava que as pessoas fizessem:
me entender. Mas, que no fundo, nunca me importei quando essa garota
atrevida o fazia.
Não tenho dúvidas que ela é minha ruína, como também tenho
certeza de que eu destruirei o mundo inteiro se ela estiver em perigo.
— Lorenzo... — ela geme, jogando a cabeça para trás, se entregando
completamente para mim.
Saio de dentro dela e a ouço choramingar em protesto. Agarro a sua
cintura com as duas mãos e a coloco sentada em cima da mesa. Ela arfa no
momento em que insiro os dedos na lateral do tecido macio da calcinha e
rasgo com um movimento único.
— Agressivo — zomba com meio sorrisinho, suspirando.
Enfio as mãos por debaixo das suas coxas e a arrasto um pouco mais
para a beirada da mesa ao mesmo tempo em que ela arqueja. Meto o pau
inteiro dentro da boceta de Angelina novamente, dessa vez, mantendo os
nossos olhos presos, permitindo uma conexão profunda com ela.
— Você é meu — ela diz, envolvendo as pernas na minha cintura e
me puxando contra o próprio corpo.
Amasso seus lábios num beijo violento, deixando mordidas no
queixo, enquanto meus dedos cravam na cintura fina e eu a fodo, me
entregando a ela também.
Esgueiro uma mão entre nós e toco o clitóris inchado e que parece
implorar por atenção. Angelina estremece inteira quando começo os
movimentos circulares no seu ponto sensível, fazendo seus fluídos
escorrerem pela mesa do escritório.
— Caralho, você tá tão molhada — falo com um tom rouco,
contemplando meu pau entrar e sair da sua bocetinha melada. — Você gosta
disso, não é, Angioletta? Do meu pau na sua boceta?
— Sim — fala, inspirando profundamente. — Muito.
Eu deveria ser mais cuidadoso com ela, no entanto, no exato
momento em que sinto a boceta contrair em volta do meu cacete, perco o
controle e soco com força, arrancando gemidos altos de Angelina e nem
consigo me importar se alguém vai nos ouvir.
Apenas, fodo minha garota com vontade.
As pernas dela estremecem ao redor de mim e as mãos apertam os
meus ombros, enquanto ela chama o meu nome. Agarro a sua cintura com
força e esmago a sua boca com um beijo, mantendo um ritmo incansável de
vaivém, sentindo os arrepios percorrerem o meu corpo e as bolas se
contorcerem.
Mas é ela quem goza primeiro, jogando a cabeça para trás, tão linda
e entregue, completamente minha.
Continuo com as estocadas violentas até encontrar o meu prazer e
sinto o meu pau explodir dentro de Angelina, marcando a sua boceta com a
minha porra.
E eu sei.
Serei o único homem a fazer isso.
Angelina não será de mais ninguém.
Deposito um beijo casto na sua testa suada e ela abre meio sorriso,
envolvendo os braços no meu pescoço, durante o tempo em que ainda
continuo me movimentando lentamente dentro dela.
— Você vai acabar me matando — admito e ela começa a rir de
leve.
— Eu te amo — é o que sussurra ao contornar o meu corpo com os
braços e me apertar contra si, fazendo meu coração acelerar.
Sempre fui grato a Marta e Giuseppe por terem me acolhido como
se eu fosse filho deles. Os dois me deram um teto, uma cama, comida, uma
boa educação e uma família.
Mas, talvez por causa das lembranças ruins da minha infância e por
causa do que aconteceu com a minha mãe, meu irmão, nunca consegui me
sentir merecedor de um lar de verdade.
Só que aqui e agora, com Angelina em meus braços, eu sei que
mereço.
E ela se tornou meu lar.
Minha casa.
No fundo do meu coração, eu tenho uma leve sensação inquietante
de que a mamma sabe que há algo acontecendo entre mim e Lorenzo.
Nunca conversamos abertamente sobre a minha paixão proibida em
relação ao homem que foi criado para ser o nosso “irmão mais velho”,
contudo, foi ela quem me consolou todas às vezes que fui rejeitada por
Lorenzo quando eu era apenas uma menina entrando na pré-adolescência.
Entro na cozinha, interrompendo a mamma, que coordena Maria na
preparação para o jantar de hoje à noite.
— Preciso ver Lorenzo — informo e Maria lança um olhar de
esguelha para a mamãe, que me observa com cautela. — É algo sobre o
trabalho — conto uma mentira junto de um sorriso e torço para dar certo.
Ela balbucia algumas palavras para Maria e limpa as mãos num
pano de prato limpo em cima da ilha da cozinha e em seguida, dá a volta no
balcão de granito e vem até mim, contornando os meus ombros com um dos
braços, enquanto me arrasta para o jardim.
— Não conte ao papà, por favor — peço.
— Querida... — Mamãe prende algumas mechas de cabelos detrás
das minhas orelhas ao conectar os nossos olhos. — Tenha cuidado.
Duas palavrinhas que de alguma forma, conseguem murchar o meu
coração. É como se abrissem meus olhos para o mundo que eu vivo e tanto
tento driblar. Tomar cuidado para não sair com o coração partido.
Não que Lorenzo vá parti-lo, mas talvez, os homens da organização
o façam quando me obrigarem a casar com alguém que eu não quero para
que os negócios prosperem.
A única coisa que faço antes de me afastar dela é assentir, incapaz
de verbalizar algo para a mamma.
Paolo me leva até o apartamento de Lorenzo. Ainda estou tentando
decidir se gosto ou não do fato de ele não ver problema na minha visita
repentina à casa do subchefe da organização.
As pessoas de fora realmente enxergam Lorenzo como o meu irmão
mais velho...
— Esperarei aqui — Paolo fala quando paramos em frente a porta
de madeira.
— Não seja bobo — digo, apertando a campainha, escondendo de
Paolo que tenho a cópia da chave. Eu poderia simplesmente entrar, mas a
verdade é que eu prefiro que o soldado continue não desconfiando de nada.
— Quando estiver pronta pra ir, eu ligo.
Lorenzo abre a porta, usando uma blusa de manga longa, que
delimita bem os seus bíceps, calça moletom e os pés descalços. Ele segura
uma toalha contra os cabelos revoltos, secando-os de qualquer forma.
Sorrio, suspirando.
— Angelina — diz, incapaz de esconder o tom de surpresa e ao
enfiar a cabeça para trás, encontra Paolo no corredor. — Paolo —
cumprimenta o soldado com um aceno firme.
— Senhor Falcucci — devolve, assentindo. — Estarei lá embaixo,
avise quando quiser voltar — fala para mim e gira nos calcanhares para ir
embora, enquanto eu dou um passo para dentro do apartamento, sentindo o
cheiro cítrico e refrescante de Lorenzo.
— Oi.
— O que veio fazer aqui? — questiona, fechando a porta com força.
— Não gostou de ver o seu Anjinho? — provoco, depois, começo a
rir. — Precisamos aproveitar o tempo que temos. Papai está viajando e mal
te vi hoje — articulo, jogando a minha bolsa no sofá e tirando o sobretudo.
— Senti sua falta. Pode resolver isso?
Lorenzo respira fundo e corta a nossa distância, se livrando da
toalha e tomando meu rosto com as duas mãos, me dando um beijo feroz
que me deixa com falta de ar e com as entranhas latejando de desejo.
— Seu aniversário tá chegando — falo entre o beijo e ele enruga
todo o rosto, sem entender. — Quero fazer algo especial pra você.
— Sabe que não gosto muito de festa de aniversário.
— Eu sei, mas quero comprar um presente.
Ele nunca foi grande fã de festas de aniversários, por isso, as suas,
nós sempre comemoramos apenas em família. Uma reunião especial e
íntima, com bolo e muito amor. Ainda assim, Lorenzo sempre pareceu
retraído, como se algo não estivesse certo ou essas datas comemorativas
trouxessem lembranças ruins demais para ele.
Não quero forçá-lo a nada, só que quero que o seu dia seja especial.
Lorenzo faz carinho na minha bochecha com os polegares,
esquadrinhando o meu rosto, enviando uma onda eletrizante para o meu
coração e o acelerando.
— O que você tem mente?
Sorrio de orelha a orelha.
— Quero te levar pra jantar. Só nós dois — digo, me sentindo
ansiosa. Eu sei como é difícil fazer tal coisa, ainda mais porque o papà já
vai estar aqui, mas quero tentar.
Quero ter esse momento com Lorenzo.
— Tudo bem, nós vamos — é o que fala, sorrindo para mim de um
jeito doce e apaixonante.
Aproximo-me dele e grudo as nossas bocas, envolvendo Lorenzo
com a minha língua ávida. Uma das suas mãos desce até a minha cintura e
me puxa contra ele, pressionando os nossos corpos quentes e ansiosos um
pelo outro.
Talvez, os homens da organização, um dia, partam mesmo o meu
coração, mas Lorenzo Falcucci nunca o fará.
Alguns dias depois...
— Você tem certeza de que ele vai usar? — Barbara pergunta
quando a atendente da joalheria do shopping entrega a minha encomenda
com um sorriso profissional.
— Claro que vai — murmuro ao admirar os dois colares
magnéticos.
Um é em formato de sol e o outro de meia lua. São feitos em ouro
com detalhes delicados em prata, em cada colar, há um pequeno visor de
pingente de cristal, que esconde uma foto.
Fecho um dos olhos e aproximo o pequeno cristal do olho aberto em
direção a luz, espiando a foto do colar do sol.
— Nossa, é tão lindo — cochicho ao sorrir.
— Quero ver também — Violetta pega o outro colar e faz o mesmo,
enquanto passo o que tenho nas mãos para Barbara espiar. — Aqui só tem o
Lorenzo — a caçula fala, fazendo a Caterine rir ao retrucar:
— Nenhuma novidade.
A foto dentro do pingente de cristal no colar do sol é antiga, mas foi
um dia feliz para mim e Lorenzo está sorrindo. Eu tinha sete anos e era
natal, as meninas e eu estamos usando pijamas, mamãe está usando gorro
de Natal e papai parece sereno, e meu Lorenzo está feliz.
E dentro do pingente de colar de lua, que é o que ficará comigo,
coloquei apenas uma foto do Lorenzo. Sério e lindo como sempre.
— É incrível mesmo — Barbara comenta depois de passar o colar
para a caçula, que fica deslumbrada também.
Caterine já sabe qual é a foto, porque me viu escolhendo, mas
mesmo assim, ela pega o colar para ver e abre um sorriso meigo ao admirar
a fotografia em família que coloquei dentro do pingente de cristal.
Decidi escolher algo simples e com significado para Lorenzo e que
sempre possa estar junto dele. Nós nunca deixaremos de ser a sua família e
eu quero que ele nunca se esqueça disso.
Conecto as partes magnéticas do sol e da meia lua, formando apenas
um colar e peço para Caterine prender no meu pescoço, depois, escondo
debaixo da minha blusa. Quando entregá-lo para Lorenzo, quero que seja
diferente também, por isso, não irá embrulhado em nenhum papel de
presente.
— Agora preciso de um vestido — digo às meninas e nós saímos da
loja com Paolo e Davide na nossa cola para procurar algo especial.
Depois de horas, várias lojas e trocentos vestidos experimentados,
eu escolho um dourado, que cai até a altura das canelas, que tem um decote
comportado, mas ao mesmo tempo, marca as minhas curvas de maneira
sexy.
— Nervosa para o seu primeiro encontro? — Caterine pergunta
baixinho ao caminharmos na direção do estacionamento, os olhos brilhando
em expectativa e curiosidade.
As meninas escutam e se aprumam para perto de mim, querendo
ouvir a minha resposta também.
Sinto uma comichão na barriga e um arrepio na espinha dorsal.
— É estranho se eu disser que sim? — respondo e as meninas riem,
animadas. — Sei lá, sinto que é diferente — emendo com um suspiro.
O aniversário de Lorenzo é daqui a dois dias e o papai volta de
viagem amanhã. Não faço ideia de como será o meu jantar romântico com
ele e nem de como vamos fazê-lo, porque sair durante à noite apenas nós
dois, é de longe uma coisa atípica.
— Isso é tão romântico e doce — Violetta comenta ao prensar os
lábios.
— Doce até demais, me sinto quase diabética já — Barbara provoca
e nós caímos na gargalhada.
— Vai dar tudo certo — Caterine fala, me roubando meio sorriso.
Abro a boca para falar algo quando sou interrompida por um
estampido alto e em seguida, a voz de Paolo e Davide gritando para nós nos
abaixarmos. Puxo Caterine que está ao meu lado para o chão e olho para os
lados no estacionamento, procurando Violetta e Barbara, e as vejo
agachadas perto de um carro, se abraçando e tentando se proteger de
alguma forma.
Mais tiros e nem consigo perceber de que lado eles vêm.
— O que é isso? — grito.
— Eu não sei — Caterine responde, a voz falhando.
Olho para frente e vejo Davide se aproximando de nós, mas algo
atinge a sua cabeça e o faz tombar no chão, completamente, inerte. Meu
coração bate tão rápido, que o sangue bombeia forte dentro dos ouvidos e
eu não consigo me mover ou escutar direito.
Davide está morto.
— Meu Deus! — Caterine choraminga.
— Paolo?! — chamo, os olhos embaçados de lágrimas, mas me
preparando para ficar de pé, eu preciso salvar minhas irmãs. — Paolo?!
— Fique onde está! — ele grita de algum lugar do estacionamento.
Olho para Barbara e Violetta, abraçadas e indefesas, sozinhas do
outro lado. Engulo em seco e respiro fundo, reunindo forças para ir até as
duas.
— Precisamos ir até as meninas — informo a Caterine, que mesmo
chorando, se levanta e fica de cócoras ao assentir.
— Tá bem, ficarmos juntas é melhor — Caterine murmura.
Trocamos um olhar em silêncio e abaixadas, enquanto os tiros
rolam, corremos para perto de Barbara e Violetta. Cada uma de nós abraça
uma caçula, protegendo-as com os nossos corpos.
— Quem são eles? — Violetta pergunta ao erguer o rosto banhado
em lágrimas para mim.
— Não sei, mas vai ficar tudo bem. A ajuda já está vindo — eu
minto para acalmá-la.
Entre os carros do estacionamento, eu vejo Paolo cambaleando e eu
começo a chorar ao notar que ele foi baleado. Ele segura a arma com uma
das mãos e a outra, aperta o ferimento da barriga, que sangra demais.
Antes que possa chegar até nós, atrás dele, surge três homens
usando máscaras balaclavas e um deles dá uma coronhada em Paolo, o
derrubando no chão, fazendo Barbara gritar chorando.
— Olá, meninas — uma voz masculina fala, levando um arrepio
tenebroso para a minha nuca. — Não vamos matar mais ninguém —
emenda com malditas armas apontadas para nossas cabeças. — Mas
Angelina, você precisa vir com a gente.
Meu coração erra uma batida.
— Não. Não. Não — Violetta choraminga, se agarrando a mim com
força.
— Se não vier — ele continua. — Vou atirar na cabeça de uma por
uma — ameaça com desdém.
Trincando os dentes, eu me desvencilho dos braços de Violetta e
começo a sussurrar, uma tentativa falha de acalmá-la.
— Tá tudo bem.
— Angelina... — Caterine murmura chorando.
— Tá tudo bem — repito para as meninas e, então, um deles me
puxa pelo braço com rigidez, me obrigando a ficar de pé.
— Cala a boca — é o que resmunga, colocando um saco preto na
minha cabeça e tampando completamente a minha visão e abafando a
respiração.
Ouço barulho de carro e um bater de porta, depois, sou jogada
bruscamente para o lado e nem tenho tempo de me ajeitar no banco, porque
alguém puxa minhas mãos para trás e amarra os pulsos, enquanto o veículo
sai em disparada.
— Vocês sabem quem eu sou... então, sabem que mexeram com a
garota errada — grunho entre os dentes.
— Fica quieta ou vai levar um soco — alguém ameaça, fazendo o
meu corpo arrepiar de medo.
Mesmo assim, sou incapaz de me calar.
— Minha família vai matar vocês e...
Um soco atinge o meu rosto com tanta força que eu caio para o lado
e apago completamente.
Dezenove anos antes...
Depois de revirar a carteira do nosso tio, encontramos quase mil
dólares. Nunca vimos tanto dinheiro na vida e eu sei que o que fizemos
ontem nos trará consequências, mas precisamos fugir daqui.
— A gente pode comprar sorvete quando sair daqui? — Luca
pergunta quando escondo o bolo de dinheiro debaixo do meu colchão.
Sorrio e pouso a mão no topo da sua cabeça, fazendo carinho.
— Sim. Quantos você quiser.
Ele estica os lábios num sorriso amplo e inocente, mas logo se
desmancha e os olhos redondos ficam tristes e brilhantes por causa das
lágrimas que meu irmão tenta segurar.
É tão pequeno e já tenta segurar o choro.
Não é justo.
— Queria que a mamãe estivesse aqui — sussurra e meu coração
esmurra o peito com força, e eu preciso engolir o meu próprio choro.
— Eu também — é o que digo e nós dois ficamos um tempo em
silêncio, até que resolvo levar Luca até o banheiro e comer o resto da
comida que ganhamos ontem. Não há motivos para poupar, quero fugir
amanhã. — Vamos comer.
Meu irmão logo se anima.
Tranco a porta do banheiro e o deixo comer tudo que tem vontade,
sem repreendê-lo por estar mastigando rápido demais. Ele é tão pequeno e
está magro demais, vai precisar de toda energia que conseguir.
Quando chegar a hora, vamos correr como nunca fizemos antes.
Luca me dá um pedaço do sanduíche de manteiga de amendoim, o
que me faz querer chorar, mas assim como ele fez minutos antes, me forço a
manter as lágrimas dentro dos olhos.
— Obrigado.
Comemos toda a comida que a empregada nos deu ontem e consigo
me sentir um pouco melhor. Antes mesmo de conseguirmos sair do
banheiro, a porta do nosso quarto é escancarada com força e o barulho ecoa
por todos os lados.
— Apareçam, moleques de merda! — ele grita, enfurecido.
Coloco Enzo atrás de mim e saio primeiro, sentindo o rosto gelar ao
ver o monstro segurando pelos braços a empregada que nos ajudou ontem.
A pobre mulher está toda machucada e quase não consegue ficar em pé,
enquanto ele a sacoleja como se fosse um pedaço de pano.
É visível que nosso tio está alterado. As pupilas dilatadas e o rosto
levemente vermelho significam que os próximos minutos serão piores do
que eu imaginava.
Ele sempre fica pior quando está bêbado.
— Me diga, Enzo. Essa puta tem ajudado vocês? — ele rosna, como
um bicho selvagem, prestes a devorar todos a sua volta.
— Eu já disse que não, senhor — ela murmura e ele a joga no chão.
— Não fiz nada — choraminga, juntando as mãos em oração.
— Me responda, Enzo! — ele ordena com um berro, arrepiando o
meu corpo. — As próximas palavras vão decidir o destino desta mulher.
Sinto meu coração bater tão rápido, que fico surdo.
— Menino, diga a ele que não fiz nada. — Os olhos lacrimejantes
da mulher me encontram e é tão estranho, porque ela está me pedindo para
mentir, no entanto, há tanta compaixão no seu olhar.
Por que ela está nos protegendo?
— Eu não fiz nada! — a mulher grita. Um grito de choro. — Não
roubei nada, senhor. Eu juro.
Fico paralisado, incapaz de mexer os meus pés.
— Perdeu a porra da língua, moleque? — o monstro questiona,
avançando em cima de mim e me agarrando pela gola da camisa, o bafo de
álcool assoprando no meu rosto.
— Ela... ela não fez nada — balbucio, me sentindo culpado demais.
Reúno coragem para perguntar: — O que aconteceu?
— Alguém me roubou e eu sei que foi essa vagabunda, porque ela
tem pena de vocês.
Abro a boca, mas não sei o que dizer. Se eu contar a ele o que
fizemos, é o nosso fim, mas se eu ficar quieto, ela morrerá. Não é justo que
tenha que terminar a assim. Não é justo.
Eu continuei rezando...
Continuei rezando como a mamãe pediu.
Por que Deus não escutou?
Por que ele não tem pena de nós?
Nosso tio me solta, me empurrando com força para trás. Acabo
cambaleando por cima de Luca que cai no chão, abrindo a porta do
banheiro. Ele tenta fechar rápido para esconder as sacolas de comida, mas é
tarde demais.
O monstro vê.
— Mas que merda! — grita e eu faço um gesto para que Luca se
esconda debaixo da cama. — Eu sabia que tinha algo acontecendo. Foi ela
que deu comida pra vocês?
— Não — respondo, infelizmente, rápido demais para que alguém
possa acreditar.
Ele volta a se aproximar da mulher e a obriga a ficar de pé. O
monstro a deixa de frente para nós, nos forçando a assistir a cada momento
dessa tortura que parece nunca ter fim.
A mulher respira fundo, olhando para mim, tentando se comunicar
em silêncio.
— Por favor — imploro, fazendo-o sorrir de maneira medonha.
— Por favor o quê?
A empregada balança a cabeça de um lado para o outro, enquanto
diz “não”, apenas movendo os lábios.
— Fui eu! — admito com um berro.
A mulher fecha os olhos com força e chora sem fazer barulho, como
se estivesse lamentando por nós. Para a minha surpresa, ela abre os lábios e
assina a sua sentença de morte.
— Eu roubei o senhor, precisava de dinheiro. Me desculpe. Me
desculpe. Me desculpe — fala, mas por alguma razão, ela parece estar se
desculpando comigo. — Sim, eu ajudei os meninos. Dei comida e eu queria
ter feito mais, mas não consegui. Você é um monstro e merece morrer da
pior maneira possível e...
A voz dela é silenciada quando as mãos repugnantes do nosso tio
envolvem o seu pescoço fino e se fecham, apertando com tanta força, que
os olhos da mulher esbugalham. Dou alguns passos na direção dos dois,
uma tentativa inútil de salvá-la, mas ele recua, enquanto continua
estrangulando a mulher, que se debate até o seu último suspiro.
Depois de matá-la, ele a deixa cair no chão, os olhos abertos e o
corpo mole.
Sem vida.
— É culpa sua — fala com desdém. — A morte dessa puta é culpa
sua, Enzo. Tão pequeno e já tem as mãos sujas de sangue.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, negando, incapaz de falar
alguma coisa.
Irritado por causa do meu silêncio, ele me puxa pelo braço e segura
a minha cabeça com uma das mãos. Faz tanta pressão nos dedos, que minha
nuca dói. O monstro me coloca de joelhos e me obriga a olhar para o rosto
da mulher que tentou nos ajudar.
— Olhe bem! — manda, aproximando a minha cabeça ainda mais
do rosto dela. Encaro os seus olhos arregalados sem vida, pedindo
desculpas em silêncio. — Essa merda é culpa sua. Você a matou, Enzo.
Assim, como matou a vagabunda da sua mãe.
Ao ouvir as ofensas contra a mamãe, tento me desvencilhar da sua
mão e não consigo.
Ele começa a rir, como se fosse muito divertido.
— Onde está o dinheiro? — é o que pergunta.
— Que dinheiro?! — grito, com a visão ardendo por conta das
lágrimas, mas não ouso chorar.
Não na frente dele.
A raiva que ele me faz sentir torna um pouco mais fácil manter as
lágrimas dentro dos olhos.
— Não seja ridículo, moleque. Não acha que acreditei na conversa
dela, não é? Ela roubou meu dinheiro pra vocês. Onde está?
— Não sei do que tá falando — digo entre os dentes.
A mão aperta ainda mais a minha cabeça antes de me soltar e me
fazer cair no chão, ao lado do corpo sem vida da mulher que ele acabou de
matar. Os gritos de Luca são como um alerta para que eu me levante rápido
e fique pronto para dar minha vida por ele se preciso for.
Cada parte do meu corpo dói por causa da surra de ontem, mas não
posso me importar com isso agora.
— Onde está o dinheiro, Luca?
— Não temos dinheiro — meu irmão choraminga de olhos
fechados, acelerando o meu coração.
Nosso tio assente, estranhamente calmo e os olhos afiados se tornam
mais obscuros, quase como se algo perverso estivesse surgindo dentro da
sua cabeça diabólica. Um sorriso doentio brota nos lábios finos e ele olha
de mim para o Luca, me assustando.
— Vamos nos divertir um pouco, meninos.
— O quê?
Ele une as sobrancelhas ralas e estreita os olhos para mim,
levantando o dedo indicador na minha direção.
— Você é valente. Mesmo depois da surra que te dei ontem, ainda
está de pé. Tem força e isso é irritante pra cacete, mas eu admiro — diz,
rindo de um jeito maldoso. — Venha aqui, Enzo.
Todos os meus instintos dizem para não ir até ele, mas Luca ainda
está ao seu lado, por isso, me aproximo.
— Você ama o seu irmão? — faz uma pergunta óbvia.
— Sim — respondo sem hesitar.
— Ótimo — é o que fala, animado demais.
Sinto o ar escapar dos meus pulmões ao vê-lo retirar de dentro do
terno uma arma e enfiar o cano de ferro dentro da boca de Luca. Tento me
aproximar para impedir que mate o meu irmão, mas ele faz um estalo com a
língua.
— Fique quieto ou vai ser pior pro seu irmão.
Luca choraminga e eu fecho as mãos em punho, enfiando as unhas
na palma até sentir arder.
— Não, por favor. Não mate o meu irmão — murmuro, começando
a suplicar. Se esse monstro quiser, eu me ajoelharei. Farei qualquer coisa
para salvar meu irmão. — Não machuque o Luca.
Aperto o crucifixo do terço em volta do meu pulso e começo a rezar
em silêncio. Não para Deus, mas, para a mamãe, pedindo proteção. Será
que ela pode me escutar? Será que ela pode nos proteger de alguma forma?
— Se você fizer algo por mim, Enzo... eu não puxo o gatilho.
— Faço qualquer coisa! — retruco com um berro, a respiração
falhando.
— Uau... qualquer coisa? Isso é bom, isso é bom. — Com um
sorriso largo, ele ordena: — Dê uma surra nele. Faça com o seu irmão como
eu faço com você.
O rosto do nosso tio se transforma numa carranca dura e sombria.
— O quê? — balbucio, sacudindo a cabeça de um lado para o outro,
incrédulo.
— Dê um soco nele, Enzo. Não acha injusto você apanhar mais?
Nem lembro a última vez que encostei um dedo em Luca. Quero que faça
seu irmãozinho chorar.
— Não... — murmuro.
— Não entendeu, não é? Se não der uma surra no Luca, eu vou fazê-
lo engolir uma bala. Hum... e você ficará sozinho, aqui, com o corpo do seu
irmão e daquela mulher. Uau, Enzo, mais sangue sujo nas suas mãos.
— Não posso fazer isso — cochicho, observando o peito de Luca
subir e descer por causa das respirações rápidas e o rosto pequeno banhado
em lágrimas inocentes.
— É uma pena. Luca vai morrer.
O monstro das nossas vidas enfia ainda mais o cano da arma dentro
da boca de Luca, que se debate chorando e eu, num momento de desespero,
com medo de perder meu irmão, grito:
— Eu faço. Por favor, eu faço. Eu faço.
Um brilho devasso passa por seus olhos maldosos e ele sorri, tirando
a arma da boca de Luca.
— Então, venha. Dê uma surra no Luca.
— Enzo... — meu irmão chora, espremendo os lábios e tremendo o
queixo. Vê-lo assim faz meu coração apertar dentro do peito.
— Me desculpa, Luca. Por favor, me perdoa — suplico.
— Se não der uma surra nesse pirralho agora, vou meter uma bala
na cabeça dele — nosso tio fala perto do meu ouvido, fazendo-me sentir o
cheiro repugnante de álcool, e em seguida, se endireita e aponta a arma na
cabeça de Luca.
Fecho os olhos por uma fração de segundo e apeto a minha mão
trêmula em punho. Na verdade, sinto que meu corpo inteiro treme de medo
e raiva. Meu sangue bombeia tão alto dentro dos ouvidos, que mesmo
olhando para Luca, não consigo ouvir o seu choro.
— Me desculpa, Luca.
É a última coisa que digo antes de acertar um soco no estômago do
meu irmão e ver o pequeno corpo dele se dobrar por causa do impacto.
Começo a chorar, desesperado. Arrependido. Me sentindo um lixo.
— Me perdoa. Me perdoa. Me perdoa, Luca — choro ao abraçar
meu irmão com tanta força, que sinto que sou incapaz de soltá-lo. — Me
perdoa, por favor. Me perdoa.
Luca começa a chorar, me abraçando de volta.
— Honestamente, você não aprendeu nada, Enzo.
Meu irmão é arrancado de mim e o monstro começa a socá-lo com
força, sem nenhuma piedade. Mas, a mamãe sempre disse que não há
bondade no coração dos monstros.
Ele é a prova disso.
— Pare! — grito ao mesmo tempo em que tento afastá-lo de Luca e
falho miseravelmente. — Pare com isso!
— Não preciso de vocês dois. Nunca precisei — ele diz e dá outro
soco no meu irmão, fazendo-o cuspir sangue no chão.
— Por favor... — Luca choraminga.
— Não preciso de nenhum de vocês — o monstro repete, rindo, o
som arrepiando a minha coluna.
— Por favor.... — começo a implorar, chorando.
— Já que não quis dar uma surra no seu irmãozinho, vou ter de
mostrar como faz, Enzo. — As palavras vêm acompanhadas de um soco na
costela de Luca, que não aguenta e desmaia. — Isso é uma surra, entendeu?
— Não! — berro e ao tentar me aproximar de novo, ele me chuta e
eu acabo caindo por cima da cômoda ao lado da cama, enquanto ele
continua batendo no meu irmão, como se não fosse nada. — Pare, por favor.
Incapaz de vê-lo bater no meu irmão e não fazer nada, avanço em
cima dele outra vez. Infelizmente, não é o suficiente para fazê-lo parar de
espancar Luca. Ele continua, continua, continua, continua...
Continua surrando o meu irmão até ficar satisfeito.
Observo-o jogar meu irmão no chão como se não fosse nada e ao
tentar engatinhar para perto de Luca, o monstro me pega pela gola da
camisa, me forçando a ficar em pé e me impede de chegar perto.
— Não seja tolo. O pirralho já tá morto — informa, suspirando ao
dar de ombros. — Eu disse que se não desse uma surra nele... eu o mataria.
Sou um homem de palavra.
— Não... — grunho entre as lágrimas, observando o meu irmão
imóvel no chão. — Ele não tá morto.
O monstro bufa impaciente e sem me soltar, cutuca o Luca com a
ponta do pé, tratando meu irmãozinho como lixo.
Luca não se mexe.
— Viu? Morto.
Minha garganta fica áspera.
— Eu odeio você. Eu odeio.
Ele abre um sorriso de lado, satisfeito.
— Você deveria odiar a si mesmo, Enzo, porque a morte de Luca é
culpa sua — murmura ameaçadoramente e me arremessa para o lado,
fazendo-me quase bater a cabeça na cômoda. — Onde está a porra do meu
dinheiro?
Mordo o lábio com tanta força, que o gosto de ferrugem se torna
forte dentro da boca. Ele começa a vasculhar o quarto e eu me arrasto até
meu irmão deitado no chão. Ele está tão machucado, que meu coração dói.
— Luca? — chamo ao mesmo tempo em que tento movê-lo. É em
vão, meu irmão não se mexe. — Luca, por favor...
— Eu já disse que ele tá morto.
A voz alcança meus ouvidos e arranha, causando arrepios
horripilantes pelo meu corpo. Pelas mãos do monstro que tirou a vida da
minha mãe, do meu irmão, sou arrastado para longe.
Num gesto desesperado de raiva e instinto de sobrevivência, eu
cravo os dentes na sua mão com tanta força, que o gosto de sangue enche a
minha boca e eu o ouço gritar de surpresa pela primeira vez na vida.
Ele me chacoalha antes de me soltar. Corro para perto da cômoda ao
lado da cama e pego a pequena caixa de música da mamãe, segurando firme
entre os dedos.
— Moleque de merda! — esbraveja, enfurecido e antes que possa
vir até mim, eu reúno toda a minha força e me aproximo dele, acertando seu
olho com a caixinha e o fazendo cambalear atordoado para trás, com uma
das mãos no rosto. — Ah, desgraçado! Eu vou matar você.
Ele aponta arma para mim e dispara, mas erra. Talvez estar bêbado
tenha piorado a sua mira. Em passos furiosos e segurando o rosto que
sangra, ele vem até mim e antes que possa me imobilizar completamente,
eu acerto um chute entre as suas pernas.
— Tommaso! — um dos homens chama do outro lado da porta. —
Tudo bem por aí? — outra pergunta e nenhuma resposta.
Sem pensar muito, dou outro chute e dessa vez, ele desaba de
joelhos no chão e acaba deixando a arma cair.
— Enzo, você vai se arrepender de me enfrentar. Vai sofrer por isso
— rosna ao tentar ficar de pé.
Rápido e com o sangue do rosto fervendo, eu pego a arma e aponto
para ele, que ao ver a cena, tem uma crise de risos. Minhas mãos estão
tremendo, só que tenho tanta raiva, que não me importo de matá-lo.
Não me importo de sujar ainda mais minhas mãos de sangue.
— O que pensa que vai fazer? Me dê isso antes que eu me irrite de
verdade e te dê vivo para os meus cachorros comerem.
— Eu odeio você. Odeio você. Odeio você. Odeio você. Odeio você
— murmuro essas palavras como mantra e aperto o gatilho, fazendo o
barulho soar como trovão dentro dos meus ouvidos e a minha visão ficar
turva por alguns segundos.
Mas, ainda assim, consigo ter um leve vislumbre de quando a bala
acerta o seu olho e então, um baque forte quando o seu corpo caí imóvel no
chão.
— Tommaso?! — alguém grita do outro lado da porta.
Com a respiração acelerada, corro para a minha cama e levanto o
colchão, pegando o bolo de dinheiro e escondendo dentro do bolso da calça
jeans. Olho para o lado e vejo o corpo pequeno de Luca sem vida e choro
em silêncio, mas nem tenho tempo de lamentar, porque os homens do meu
tio entram no quarto.
— Que merda aconteceu aqui?! — um deles grita ao escancarar a
porta e os dois correm para o corpo do meu tio caído no chão.
Aproveito o momento para correr e sair do quarto, mas um deles me
puxa pelo capuz, tentando me impedir de fugir. No momento em que me
gira para ficar de frente para ele e abre a boca para resmungar, inclino o
joelho e acerto o seu saco também, pegando o homem desprevenido.
Para não correr o risco de me puxarem pelo capuz novamente, me
livro do casaco e saio correndo pelo corredor até chegar na sala,
encontrando uma das mulheres que trabalha na casa desde que viemos para
cá.
Nós dois nos olhamos por um segundo e eu ouço as vozes dos
homens chamando por mim. Passa pela minha cabeça que ela vai me
entregar, só que ela me ajuda a fugir ao me guiar até a cozinha e me mostrar
a saída, que tem um jardim grande com entrada para uma pequena floresta
fechada.
— Corra. Não olhe pra trás — ela fala tão baixinho, que fico na
dúvida se escutei certo.
Entre as lágrimas, encho os pulmões de ar e corro, porque a minha
vida depende disso. Meu coração dói e algo dentro de mim fica me pedindo
para voltar e pegar o corpo do Luca, mas eu não posso fazer isso se quiser
viver.
— Me desculpa, Luca — digo, enquanto corro com a visão
embaçada. — Por favor, me desculpa.
Enquanto corro em busca de uma nova vida, todos os momentos ao
lado da minha mãe, do meu pai e do meu irmão preenchem a minha cabeça.
Nunca achei que meu peito pudesse doer mais do que levar uma surra do
monstro que me assombrou por tanto tempo.
Não tenho ninguém.
Não tenho ninguém.
Todo mundo morreu.
Não consegui salvar o meu irmão.
— Me desculpa, Luca — choramingo de novo com os pulmões
implorando por fôlego. — Mãe, por favor, me perdoa. Não consegui
proteger a gente. Eu não consegui.
Corro por vários minutos e subo um pequeno morro até chegar na
estrada. Não consigo parar de chorar e nem apagar as imagens que
embaralham a minha mente. Mamãe, papai, Luca e eu felizes. O velório do
papai. Mamãe morrendo. Luca morrendo.
Tudo gira com tanta força dentro da minha cabeça, que parece que
vou enlouquecer.
Começo a correr sem rumo pela estrada, sem saber para que lado ir
ou para quem pedir ajuda, mas sei que não posso ficar parado. Não vai
demorar até me procurarem pela floresta e me acharem por aqui.
Um carro para ao meu lado e buzina.
Olho para o lado e encaro o motorista, é uma mulher loira, com um
rosto gentil e sorriso doce. Há dois garotos do meu tamanho no banco de
trás e eles me encaram com atenção.
— Querido, está tudo bem? Você tá perdido?
Não consigo responder à pergunta.
— Você quer ajuda?
Assinto.
— Preciso ir pra Detroit.
— Entre no carro, estou indo pra lá — é o que fala e um dos
meninos abre a porta traseira do carro velho para mim. — Qual é o seu
nome? — ela pergunta e eu permaneço calado. — Não se preocupe, não
vou machucar você.
Olho para as minhas mãos e lembro do soco que dei no Luca.
Engulo o choro e a sensação é que vou sufocar.
— Precisa colocar o cinto — um dos garotos diz para mim e eu o
olho de esguelha, em silêncio. — O cinto de segurança. Mamãe fica uma
fera quando não colocamos.
A mulher no volante ri.
— Quer água? — ele me oferece a sua garrafinha, chacoalhando, e
eu aceito. — Me chamo William — murmura com um pequeno sorriso. —
E ele é o Hunter, meu irmão. — Aponta para o garoto ao seu lado, que me
observa como se eu fosse um alienígena.
— Lorenzo — é a única coisa que digo, respirando fundo e então,
olho para a rua através da janela de vidro do carro.
Me sinto aliviado de ter fugido daquele inferno.
E culpado por não ter conseguido salvar o meu irmão.
Alívio e culpa. Os dois lados da mesma moeda e não sei como vou
fazer para viver com isso.
Abaixo as vistas e encaro o terço da mamãe, apertando as bolinhas
de madeira com força, pensando que rezar não adiantou de nada. Deus
nunca ouviu. Talvez, ele tenha esquecido de nós ou esteja ocupado demais
para se preocupar com os problemas dos outros.
Só que ainda vou continuar rezando.
Não para Ele.
Vou rezar para mamãe.
Para o Luca.
Para o papai.
Vou rezar para as pessoas que eu amo.
Algumas horas depois...
Depois de ouvir a maldita notícia, o lugar ao meu redor fica
desfocado e as cores se misturam em um borrão de raiva e aflição. Sinto as
mãos tremerem, enquanto a mente tenta processar a informação.
Angelina foi sequestrada...
Angelina foi sequestrada...
Angelina foi sequestrada...
As palavras ecoam como um trovão dentro da porra da minha
cabeça e me embrulham o estômago. As engrenagens por detrás dos meus
olhos começam a girar, enquanto assimilo tudo, fazendo minha nuca
encrespar.
Os meus batimentos cardíacos pulsam dentro dos ouvidos e ecoam
como um tambor à medida que a adrenalina corre nas veias. Um misto de
desespero e fúria borbulha dentro do meu peito, fazendo a minha respiração
falhar.
Aperto meus punhos, as unhas cravam nas palmas e a raiva me
corrói com força total. Cada fibra do meu corpo quer encontrar o
desgraçado que ousou levar Angelina e esfolá-lo vivo.
Dominado pela fúria incontrolável, começo a esmurrar a parede do
escritório com força até fazer um buraco e as mãos sangrarem, ouvindo o
choro da minha madrinha e das meninas ao meu redor.
— Lorenzo... — a madrina me chama ao me puxar para longe da
parede e tentar focar meus olhos, um ato desesperado de me trazer de volta.
— Encontre a minha filha, por favor. Traga minha menina pra casa — pede
com a voz suplicante e o rosto banhado em lágrimas.
Trinco os dentes, travando o maxilar com tanta força, que sinto um
incomodo no músculo do rosto. Abaixo as vistas e encaro as minhas mãos
feridas e sujas de sangue, respiro fundo e torno a encontrar os olhos da
minha madrinha.
A vingança lateja nas minhas têmporas, alimentando a minha
determinação de trazer Angelina custe o que custar.
— Eu vou encontrá-la. Eu prometo — digo com um grunhido. —
Eu vou encontrar Angelina nem que para isso eu tenha que fazer essa
cidade cair por terra.
— Faça o que tem que ser feito e traga a minha menina de volta —
implora, tocando o meu peito com ternura ao mesmo tempo em que é um
toque firme e determinado.
Saio da sala do escritório e encontro William no corredor. A
madrinha e as meninas vêm no meu encalço.
— Cadê o Paolo? — quero saber.
— Muito mal, Lorenzo — é o que ele diz e atrás de mim, ouço
Violetta soluçar de choro.
— Davide... ele morreu na nossa frente — a caçula murmura,
balançando a cabeça de um lado para o outro, aturdida. — Paolo... ele vai
morrer também? Angelina... ela... ela... Meu Deus, o que tá acontecendo?
Quando o papà volta? — Violetta chora mais ainda, fechando os olhos
pequenos com força e espremendo os lábios.
— Ninguém vai morrer — murmuro e então, cruzo o olhar com o da
caçula. — Não se preocupe, Violetta, eu vou resolver tudo — faço uma
promessa.
Nunca gostei de fazê-las, porque na maioria das vezes, elas são
feitas para não serem cumpridas, mas de uma coisa eu tenho certeza, não
vou quebrar uma promessa desta vez.
Num rompante, ela envolve os braços na minha cintura e me prende
num abraço inocente e atormentado. Por alguma razão que não sei explicar,
o gesto acaba me fazendo lembrar de Luca, meu irmão.
Minha primeira promessa quebrada...
Com os cílios úmidos por causa das lágrimas e o queixo tremendo,
ela levanta a cabeça e fala com a voz fanhosa:
— Salva a minha irmã, Lorenzo. Por favor.
Passo a mão no topo da cabeça ruiva de Violetta, um gesto de
carinho meio desajeitado, ainda assim, concordo com um aceno firme de
cabeça.
— Eu vou.
— Já tem homens por todos os lados — é o que Will fala, chamando
a minha atenção para ele. — Daqui uns minutos teremos as câmeras de
segurança do estacionamento do shopping.
— E a placa do carro que Caterine decorou? — pergunto com um
chiado.
Antes de perder a cabeça e esmurrar a parede do escritório para
extravasar a ira, processei algumas informações sobre o acontecido e
Caterine foi rápida ao repetir a placa do veículo que levou Angelina.
William nega com a cabeça, soltando um suspiro cansado.
— Não deu em nada. É falsa.
As meninas começam a chorar mais ainda, me deixando nervoso e
aflito, até mesmo um pouco irritado por causa da agitação. Afasto-me de
Violetta com cautela e aperto os seus ombros, e ela assente, como se
entendesse que preciso de espaço para pensar com clareza e começar a
trabalhar para encontrar a minha garota.
Preciso trazer Angelina de volta.
— Madrina... cuide das meninas e não saiam de casa por nada, ok?
— é o que ordeno e ela concorda, chorando em silêncio e abrindo os braços
ao chamar as meninas para mais perto de si.
William e eu rumamos para fora do corredor e assim que saímos da
mansão, meu celular começa a vibrar dentro do bolso do terno, fazendo
meu coração acelerar desenfreadamente.
Tateio o bolso até encontrá-lo e ao fazê-lo, observo por um segundo
longo o nome “restrito” saltitando na tela colorida do smartphone.
Atendo a ligação.
— Quem é?
Uma respiração longa e sarcástica do outro lado da linha deixa a
minha garganta áspera.
— Enzo... Enzo... você continua um moleque atrevido.
Cada terminação nervosa do meu corpo retesa ao ouvir a voz
masculina rouca e algo dentro de mim parece deteriorar. Encaro a luz da lua
que brilha sobre o gramado escuro em frente à mansão e um sentimento de
desgraça envolve o meu corpo num abraço apertado e sufocante.
Num piscar de olhos, eu sinto como se tivesse voltado no tempo e
ainda fosse aquele menino indefeso, que lutava para sobreviver.
— Soube que estava me procurando — ele volta a falar e por um
momento, eu sinto que perdi a porra da minha voz. Não consigo exprimir
nenhuma palavra ou me mexer, meus pés parecem ter criado raízes no chão.
Não é possível.
Não é possível que seja ele.
Não.
— Não vai falar comigo? — questiona, desdenhoso e uma risada
ecoa alto dentro dos meus ouvidos, sintonizando com os meus batimentos
rápidos. — Você é mesmo um moleque mal-agradecido, depois de todos os
momentos que passamos juntos.
— Isso é impossível — são as palavras que saem da minha boca e
os olhos de William se arregalam para mim, enquanto segura o meu braço
com força, tentando entender o que está acontecendo comigo.
— Ah, Enzo, é possível sim...
Algum tempo antes...
O saco preto é retirado da minha cabeça depois que mãos firmes e
insensíveis me desamarram e me jogam num chão úmido e com textura
gosmenta. Pisco rápido, tentando me acostumar com a claridade outra vez e
antes mesmo que consiga me situar, atrás de mim, um bater de porta forte
me faz tomar um sobressalto.
Fico de pé e limpo as mãos sujas na minha calça jeans ao mesmo
tempo em que passo os olhos pelo cômodo. O lugar é deplorável e tem um
cheiro tão horrível de mofo, que fica até difícil respirar.
As paredes estão desgastadas, com manchas escuras de umidade e
rachaduras por todos os lados, me fazendo ter a sensação de estar dentro de
um filme de terror. O telhado está danificado, com telhas quebradas,
permitindo que a luz do final da tarde e a chuva entrem no local, que parece
uma espécie de depósito.
Num canto mais afastado, há um colchão velho e sujo, apoiado
diretamente no chão imundo e um pequeno armário caindo aos pedaços. Me
aproximo do móvel e vasculho as gavetas, atrás de algo que possa me
ajudar a sair daqui.
Ou pelo menos bater na cabeça de um desses imbecis.
— ... o que você tá fazendo aqui? — uma voz masculina pergunta
com um tom mal-humorado atrás da porta.
Deixo o armário de lado e caminho até a porta velha, colando um
dos ouvidos na madeira e fazendo uma das minhas especialidades: ouvir a
conversa dos outros.
— Seu pai não disse que era pra ficar longe deste assunto? Quando
chegasse a hora você seria chamado.
— Ele não é o meu pai — alguém rebate, também sem nenhum
vestígio de simpatia. — Vocês machucaram a garota?
— Por que você quer saber? Nós fazemos a porra do nosso trabalho
direito, ao contrário de você que anda sentimental demais.
— Cala essa maldita boca! — ele berra e eu dou um passo para trás.
— Se falar assim comigo de novo, eu acabo com vocês, otários — avisa, a
ameaça modulando a sua voz grave e incisiva.
Por um longo e interminável minuto, o silêncio se estabelece do
lado de fora e eu não faço ideia do que está acontecendo, enquanto aqui
dentro, meu coração parece bater num ritmo louco de uma furadeira.
Recuo vários passos quando vejo a maçaneta girar e, então, a porta
se abrir rangendo, como um anúncio tenebroso de que alguém perigoso
entrará neste lugar.
Olho para os lados, em busca de algo e a não ser que tenha criado
muitos músculos nos últimos segundos para levantar o armário e acertar na
cabeça do meu adversário, eu não tenho nada.
Flexiono levemente os joelhos e levanto as duas mãos fechadas em
punhos, embora não tenha ideia de como acertar um soco. Tentar me
defender é melhor do que morrer sem tentar.
— Os pés estão tortos e os ombros abaixados demais. Se continuar
assim, vai cair no chão ao tentar me acertar — a voz grave fala ao fechar a
porta e esquadrinhar o meu rosto.
O homem deve ter mais de 1.80 m de altura, ombros largos e o
cabelo é levemente ondulado. Está bem-vestido, roupa cara e de grife, não
parece com alguém que precisa sequestrar uma pessoa para conseguir
dinheiro.
Assim que nossos olhos se encontram, eu o reconheço. É o homem
que se sentou ao meu lado na casa noturna em Chicago. Franzo o cenho,
tentando entender o que está acontecendo aqui.
— Você é inimigo do meu pai? — é a primeira coisa que pergunto,
sem abaixar os punhos.
Ele suspira com desdém.
— Não tenho nada contra o seu pai, Angelina — devolve, cerrando
o músculo da mandíbula com força. É estranho, porque a forma como o faz,
me lembra alguém. — Meu problema é com outra pessoa.
— Se o seu problema não é com o meu pai, o que estou fazendo
aqui? De onde você me conhece?
— Tantas perguntas. — Ele cruza os braços na altura do peito largo.
— Quem bateu em você? — quer saber, indicando com o queixo para o
meu rosto.
Desorientada pelo rumo da nossa conversa, levo uma das mãos até o
meu rosto e gemo ao tocar minha bochecha dolorida. Não demoro para me
recordar do soco que levei ao resmungar dentro do carro.
— Não sei. Tinha a merda de um saco preto na minha cabeça —
reclamo, sem esconder o meu atrevimento.
Ele assente, prensando os lábios e me analisando de maneira
estranha.
— Nunca entendi o motivo de alguns homens gostarem de... bater
em mulheres. É tão sujo e repugnante.
— Então você não bate em mulher? — devolvo, arisca.
— Nunca — responde com tanta convicção, que faz o meu corpo
estremecer por algum motivo.
Ficamos quietos por alguns segundos.
Forço o caroço no meio da garganta a descer e o encaro também,
erguendo uma sobrancelha interrogativa, mas ele permanece em silêncio,
apenas com as vistas cravadas em mim.
— O que você quer?
— Fazê-lo pagar... — é o que murmura, sem nenhum remorso. —
Nunca quis envolver você, mas ele... — As palavras morrem e um sorriso
sombrio estica os seus lábios. — Ele é um homem irredutível. Louco —
emenda, os olhos claros distantes, perdidos em pensamentos.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, sem entender.
— Não foi você quem mandou me sequestrar?
Ele deixa escapar um som curto, algo que lembra uma risada.
— Não, Angelina. — O homem dá um passo para frente, e eu, um
para trás, pronta para acertar um soco nele. — Mas, teria sido melhor se
fosse, porque eu nunca machucaria uma garota. Ao contrário dele.... que
tem planos pra você e... são os piores.
Minha respiração falha.
— Ele quem? — berro, molhando os lábios com a ponta da língua.
— Quem é você?
— Ele te ama? — é a pergunta que faz.
— Quem? Meu pai? É claro que sim — respondo entre os dentes,
começando a ficar irritada com tudo. — O que você ou sei lá quem for quer
de mim?
— Enzo ama você?
Enrugo o nariz e arqueio as sobrancelhas, tentando entender do que
ele está falando.
— Quem é Enzo?! — berro, fechando os olhos com força e andando
de um lado para o outro, transtornada. — Se o seu problema não é com o
meu pai, então pegaram a pessoa errada — grunho, enquanto o homem fica
quieto, como uma estátua de mármore, me deixando ainda mais nervosa.
— Eu esqueci... ele não usa mais o apelido que a mamãe deu. Agora
ele gosta que o chamem de Lorenzo.
Repentinamente e com o coração martelando contra o peito, quase
me deixando sem ar, eu olho para o homem parado à minha frente.
— Quem é você? — murmuro.
— Luca.
Pisco devagar, assimilando a informação que acabou de atravessar
os meus ouvidos. Abro a boca para articular algo e não consigo exprimir
nenhuma palavra. Com mais atenção, observo o rosto do homem à minha
frente e sinto como se uma pedra tivesse caído no meu estômago.
Luca.
Não é possível.
Lorenzo nunca foi de falar do seu passado, mas nós crescemos
juntos e sabemos que ele teve um irmão mais novo que morreu. Nunca
entrou em detalhes de como aconteceu, no entanto, sempre soubemos o
quão delicado era este assunto para ele, por isso, o respeitamos.
Nunca perguntávamos sobre Luca ou o seu passado, era quase como
uma regra dentro da nossa casa. Não queríamos que Lorenzo sofresse,
então, nos silenciávamos e apenas vivíamos, dando amor e uma família a
ele.
— Você... você morreu... — balbucio.
— Foi isso que ele disse? — quer saber. — Enzo me deixou pra trás
e fugiu — emenda e há tanto sofrimento e raiva dançando pelos olhos
claros, que agora, eu consigo perceber. São olhos idênticos ao de Lorenzo,
os dois são tão parecidos que fico sem reação. — Ele me abandonou —
acrescenta com um grunhido.
Incapaz de acreditar em Luca, eu nego com a cabeça.
— Não vou mentir e dizer que eu sei o que aconteceu com vocês
dois, mas não acho que Lorenzo tenha te abandonado.
Luca trava o maxilar e estreita os olhos, o rosto se transformando
numa mistura de dor e fúria.
— Você está errada, Angelina — fala num tom baixo e feroz, sem
desviar a atenção de mim. — Porque se estivesse no meu lugar, você
entenderia. Fui eu quem ficou pra trás... vivendo com ele. Sozinho. Sem
esperanças. Sem família. Com fome e frio.
Meus olhos ardem e um bolo surge no meio da garganta.
— Eu sinto muito, Luca — murmuro, porque parece o certo a se
dizer no momento.
— Não quero que sinta pena de mim. Não sou mais aquele garoto
fraco que o Enzo abandonou. Eu aprendi a lidar com a minha vida e
sobreviver no mesmo teto daquele sádico.
— De quem está falando?
— Tommaso... nosso tio. O homem que Enzo roubou antes de me
deixar pra trás e correr em busca da sua nova vida.
Respiro fundo e passo as mãos entre os cabelos, uma tentativa de
acalmar meu coração.
Nada que Luca fala faz sentido para mim. Lorenzo não seria capaz
de abandonar o seu irmãozinho indefeso e inocente. Sim, há algo no
passado dele que o magoa profundamente e por isso, nunca fala sobre a sua
vida antes de nós.
No entanto, não é exatamente culpa de ter abandonado o irmão,
como se não se importasse com ele. É diferente. É algo mais intenso e que
inflama a sua alma. É parecido com remorso misturado a tristeza e um
desejo genuíno de corrigir o que foi feito.
— Por que não o procurou antes? — me ouço perguntando.
Os olhos de Luca brilham.
— Eu não sabia aonde ele estava — admite, fechando as mãos em
punho. — Tommaso também não me dava muita liberdade pra procurar.
Não queria me perder de vista.
— Por quê?
Ele deixa escapar uma risada sarcástica.
— Porque ele queria alguém para culpar. Enzo deixou um
presentinho antes de ir embora — diz e eu enrugo a testa em confusão. —
Tommaso ficou caolho — é a única coisa que explica.
— Quantos anos você tinha quando ficou sozinho?
Ele bufa.
— Você faz perguntas demais — resmunga e não responde o que eu
quero saber. — Isso me irrita.
— Desculpe.
Não faço ideia do que eles passaram quando eram crianças, mas só
de tentar imaginar, sinto dor física.
— Não tenho nada contra você, Angelina. Só quero acertar as contas
com Enzo.
— Seu irmão — corrijo-o, pois desde que entrou aqui, não chamou
Lorenzo de irmão nenhuma vez. — Ele é o seu irmão.
— Não importa, eu vou matá-lo — rosna, mas há algo diferente na
sua voz, raiva, medo, saudade, tristeza, tudo junto e é tão intenso que
consigo sentir o sofrimento de Luca vibrar até mim.
— Vocês deviam conversar.
Luca sacode a cabeça de um lado para o outro em negativa.
— Não.
De repente, Luca gira nos calcanhares e dá as costas para mim,
saindo do quarto imundo e me deixando sozinha, com o coração aflito e os
olhos cheios de lágrimas. Sem conseguir controlar o choro, eu desabo.
Meu Deus, por favor, proteja o Lorenzo.
— Oh, moleque. Não está feliz em saber que estou vivo? —
Tommaso questiona, soltando aquela risada que tanto me assombrava
quando eu era criança. — Somos uma família.
Afasto-me de William, uma tentativa inútil de organizar a merda dos
meus pensamentos. Os últimos momentos daquele dia tão difícil preenchem
a minha cabeça e me deixam zonzo.
— Família é o caralho, seu cretino — falo entre os dentes, a raiva
bombeando o meu coração com força.
— Tem razão. Família não faz o que você fez comigo. Ainda sinto
falta do meu olho e quando lembro daquele dia, fico irritado — rebate,
respirando fundo e com desdém.
A minha ficha começa a cair aos poucos, as peças do quebra-cabeça
se encaixando. Tommaso é o Taz, o caolho.
— Quase me matou, Enzo. Quase me matou. Mas, eu sou bom
demais para morrer. Ao contrário do pobrezinho do Luca. Foi uma bela
surra que dei nele, não é? Sabe o que eu fiz com o corpo do seu
irmãozinho? Dei para os meus cachorros comerem. Não valeu a pena, era
pouca carne.
Solto uma baforada de ar, fechando a mão em punho.
— Eu vou matar você.
— Uau, isso é excitante. — Tommaso ri alto, um som esganiçado
ecoando dentro dos meus ouvidos e me deixando ainda mais enfurecido. —
Será que vai me matar antes de eu comer a sua garota?
Fecho os olhos com força e sinto cada músculo do meu corpo se
contrair de raiva.
— Se tocar nela, você vai sofrer tanto, Tommaso, que vai implorar
para morrer e eu não vou deixar.
Ele ri com deboche.
— Será? Suas palavras não passam de promessas vazias.
— Filho da puta.
— Vamos lembrar do passado? Lembra quando eu deixava você e o
Luca trancados naquele quarto? Com fome? Sozinhos? É o que vou fazer
com a sua preciosa namoradinha, Enzo. E pode procurar o quanto quiser,
você não vai encontrá-la. Não viva — é a última coisa que ele diz ao
encerrar a ligação e num ímpeto de raiva, eu me aproximo do meu carro e
dou um soco atrás do outro na porta, amassando a lataria e acionando o
alarme.
— Lorenzo?! — William me segura pela camisa e me arranca de
perto do carro — Que merda aconteceu?
— Tommaso pegou Angelina — admito.
— Quem é ele?
Coloco as mãos no topo da cabeça e aperto com força, uma tentativa
desesperada de sentir alguma coisa além de raiva.
— Irmão do meu pai.
— Você tem um tio? Por que ele faria isso? — William quer saber.
— Porque ele matou minha mãe e o meu irmão quando ele tinha
quatro anos, e deu o corpo dos dois para os seus malditos cachorros
comerem — resmungo, empurrando meu amigo para entrar na mansão.
Nunca estive tão atordoado e preocupado como agora. Ele é um
sádico e sequestrou Angelina. Preciso encontrá-la antes que seja tarde
demais ou eu vou enlouquecer de vez.
— Lorenzo... — a madrinha me chama ao me ver no hall de entrada.
Nem tenho tempo de responder, meu celular começa a tocar outra
vez. O número restrito novamente. Furioso e soltando fogo pelas ventas, eu
esmurro a parede antes de atender a ligação.
— Escuta aqui, Tommaso, se você tocar nela, eu te darei a pior
morte de todas — ameaço com um grunhido.
— Não é o Tommaso — a voz masculina diz, fazendo-me respirar
fundo. — Mas estou com a garota e tenho uma proposta.
— O quê?
— Sua vida pela dela — é o que fala, simplesmente. — Foda-se o
plano do Tommaso, não tenho problemas com a garota, nunca quis envolvê-
la nessa merda.
— Você tá brincando com a minha cara? — resmungo, pronto para
esmurrar a parede de novo. — Que merda é essa?
— Não acredita em mim? — pergunta e a linha fica em silêncio por
alguns minutos, e então, eu ouço a voz de Angelina: — Lorenzo, por
favor... — a fala dela é interrompida. — Acredita agora?
— Quem é você?
— Você trocaria sua vida pela dela? É uma questão simples e
objetiva.
— Sim — respondo rápido e sem hesitar.
Sim, não hesitaria em trocar a minha vida pela de Angelina. Ela
merece viver muito mais do que eu e se esse for o preço, não me importo de
pagar. Que se dane todo o resto.
Angelina vale mais do que qualquer coisa na minha vida.
Ela vale mais que a minha vida.
— Ótimo. Vou passar o endereço. Venha sozinho, se vier
acompanhado, eu saberei e sumirei com ela, entendeu? Nunca mais verá
Angelina.
— Ok, ok, ok. Me passa a droga desse endereço.
Ele desliga o telefone sem dizer nada.
— O que aconteceu? — minha madrinha pergunta, e eu ergo cílios
para olhá-la, depois, encaro William à minha frente.
— Vou buscar Angelina... sozinho — informo, tirando a minha
pistola de dentro do coldre da calça e checando o pente.
— Sozinho? — ela repete, envolvendo as duas mãos no meu pulso e
me impedindo de dar um passo para frente. — Não é assim que resolvemos
as coisas. Leve alguns homens com você. Estou ordenando, Lorenzo
Falcucci.
— Não posso, madrina.
Olhando dentro dos seus olhos, desvencilho-me das suas mãos
gentis e que me acolheram quando cheguei aqui há quase vinte anos.
— É uma armadilha, Lorenzo. Não faça isso — meu amigo fala, a
preocupação é tão palpável, que faz a minha madrinha cair aos prantos,
desesperada.
William não poderia estar mais certo.
— William, vá com ele. Proteja o meu menino também — ela
ordena, fazendo meu coração afundar contra o peito.
— Eu vou sozinho. Não vou arriscar a vida da Angelina. Eu jamais
farei isso. Madrinha, eu prometo salvá-la — falo e seu rosto bonito se
contorce por causa da tristeza e lágrimas.
Meu celular vibra e ao olhar a tela colorida, vejo uma notificação de
mensagem de texto.
Tenho o maldito endereço.
Saio da mansão num rompante e sinto William e a minha madrinha
atrás de mim, ela chorando e meu amigo dizendo que vai comigo. Abro a
porta do carro e olho para trás, vejo as meninas na escadaria da varanda, tão
aflitas quanto a mãe.
— Não venha atrás de mim, William. Isso é uma ordem — rosno
antes de entrar no carro e sair em disparada.
Meu corpo inteiro estremece ao ouvir vários estrondos fortes
seguidos de gritos do outro lado da porta velha de madeira.
Por um momento, meu coração se enche de esperanças tolas e eu
penso que é Lorenzo, mas logo descarto a possibilidade, já que não faz
cinco minutos que Luca entrou aqui com o celular e disse que estava com
ele em uma ligação.
Não acho que meu resgate tenha chegado tão rápido assim.
Quando tudo fica em silêncio, eu caminho até o armário desgastado
e mantenho os ombros eretos, encarando a maçaneta, preparada para o pior.
Preparada para lutar pela minha vida.
De repente, a porta se abre e, então, Luca entra, segurando uma
pistola nas mãos sujas de sangue. Passo os olhos pelas roupas e percebo as
manchas vermelhas, são todas frescas.
Engulo em seco.
Levanto as mãos em rendição, observando-o com cautela. Luca tem
a respiração pesada e um olhar distante, frio, até mesmo, solitário.
— O que você fez?
— Matei todos — informa, simplesmente.
Meu coração erra uma batida.
— Por quê?
— Não me importo com o plano de Tommaso — diz ao erguer o
olhar para mim, me acertando em cheio com o azul claro das suas írises. —
A única coisa que eu quero é encontrar Enzo e...
Abaixo os meus braços e arrisco um passo na direção de Luca, que
fica imóvel, com a atenção fixa em mim.
— Não precisa ser assim.
— Como foi sua vida, Angelina? — questiona, me pegando
desprevenida. — Sua infância... as lembranças são boas?
Mordo o lábio inferior e levo ar até os pulmões, pensando em como
responder Luca. Sei que é um assunto delicado e não posso mentir, porque
isso pode irritá-lo e fazê-lo surtar.
— Boa.
Ele curva os lábios em um quase sorriso.
— Também tenho uma lembrança boa — comenta, girando a arma
compacta entre os dedos longos. — Era aniversário do Enzo e a mamãe nos
levou para tomar sorvete. Ela sorriu tanto naquele dia.
Abro um sorriso para Luca.
— Isso é bom.
Ele nega com a cabeça.
— Quando chegamos em casa, Tommaso nos deu uma surra feia por
termos saído de casa. Não tínhamos permissão para colocar os pés na rua —
diz, me deixando sem ar. — É estranho que minha lembrança boa seja ruim
também?
— Sinto muito — balbucio, com o coração apertado e doendo.
— Você acha que ele vai me reconhecer? — outra pergunta
inesperada, que me faz refletir.
Luca tem raiva de Lorenzo, mas também, sente tanta saudade do
irmão, e talvez, se odeie por isso, porque no fundo, sabe que ainda o ama.
— Ele está com a minha família há quase vinte anos, Luca — é a
única coisa que falo, porque não quero chateá-lo.
— Eu sei.
— Fiquei na cola dele por semanas, sabia? Observando. Enzo
conseguiu uma boa vida, uma boa família e uma linda garota — murmura,
perdido em pensamentos. — Sabe o que consegui durante esses quase vinte
anos com Tommaso?
Prenso os lábios e nego com a cabeça, segurando as lágrimas que
fazem meus olhos arderem.
— Ódio, desprezo e reclusão.
Ele deixa escapar um som estrangulado de entre os lábios.
— Você o odeia, não é? Tommaso... — arrisco, estudando as
expressões de Luca. — Essa pode ser a chance de você se livrar dele.
Lorenzo pode te ajudar a acabar com ele de uma vez por todas. Pode te
libertar disso. Não gostaria de viver uma vida normal?
— Não consigo.
— Consegue sim — insisto, em um ato de desespero. — Consegue
sim, Luca. Por favor.
— O quê? Você quer que eu perdoe Enzo para que possamos viver
felizes para sempre? A vida não é a merda de um conto de fadas, garota —
retruca, irritado. — Se você tivesse vivido a minha vida, não conseguiria
simplesmente deixar pra trás e esquecer tudo.
— Você odeia tanto assim o seu irmão?
— Sim — grunhe, visivelmente magoado e irritado.
— E Tommaso? — arrisco, mas Luca apenas aperta a mandíbula e
permanece em silêncio, incapaz de responder. — Eu acho que esse homem
contaminou você, Luca. Não vou falar que Lorenzo é o mocinho aqui,
porque eu sei que ele não é. Só que também, não é a pessoa que você pensa
que é.
Luca guarda a arma compacta detrás das calças e estreita os olhos
para mim.
— Vou amarrar você, Angelina. Enzo está vindo.
Sinto lágrimas escaparem dos cantos dos meus olhos. Espremendo
os lábios, eu começo a implorar:
— Por favor, Luca. Não mata ele.
— Isso é algo que não posso prometer.
Levo um pouco mais de vinte minutos de carro para chegar ao
endereço que recebi na mensagem de texto. Delray, um bairro marcado por
um enorme número de estruturas abandonadas e terrenos vazios e
descuidados.
Pego a minha pistola e encaro o terço em volta do meu pulso. É uma
das coisas mais valiosas que eu tenho e não é por causa do significado
religioso, e sim, porque foi da minha mãe.
Abro a porta do carro e desço do veículo, encarando o armazém que
está estranhamente mergulhado num silêncio fúnebre. A estrutura
imponente de tijolos vermelhos está desgastada e coberta de manchas
encardidas.
As duas portas de aço enferrujadas, que um dia, foram automáticas,
estão emperradas, mas o portão pequeno e de ferro ao lado está aberto, me
esperando para entrar.
Destravo a minha arma e coloco em riste antes de entrar, sentindo o
forte cheiro de mofo impregnar nas minhas narinas. Há rachaduras no
telhado e uma janela quebrada, e uma fraca lâmpada no teto ilumina o
ambiente amplo e empoeirado, exibindo pilhas de caixas e destroços
espalhados pelo chão.
Meus passos sob o piso velho ecoam à medida que adentro o lugar,
me deixando ainda mais atento a tudo ao redor. Ao encontrar o primeiro
corpo no chão, baleado na testa, franzo o cenho, tentando entender o que
aconteceu.
— Veio mais rápido do que eu esperava — uma voz masculina
alcança os meus ouvidos, e é estranho como soa intrigante. — Angelina
deve mesmo valer a pena.
Com o maxilar tenso e os dentes cerrados, devagar, giro o corpo na
direção da voz e encontro um homem sentado confortavelmente em uma
cadeira de madeira velha, me encarando com intensidade e um sorriso
afiado, capaz de cortar qualquer coisa.
— Cadê a Angelina?
Ele cruza os braços e respira fundo e pesado, conectando os olhos
claros aos meus, me dando uma sensação estranha de déjà-vu. Também não
parece nenhum pouco intimidado com a minha arma apontada para a merda
da sua cabeça.
— Vamos conversar antes.
— Me dê a garota! — ordeno com um grito, começando a ficar
irritado. — Vocês me querem, não é? Estou aqui. Agora, eu quero a garota.
— Lorenzo?! — ouço Angelina, um berro abafado que veio de uma
porta atrás do homem sentado na cadeira. — É você?
— Abra a porta ou eu dou um tiro na sua cabeça.
Ele ri.
O desgraçado ri.
— Não seria a primeira vez que você tenta me matar — comenta e
eu enrugo a testa, confuso. E, também, sem entender o motivo de as
palavras me atingirem como flechas, cada uma deixando uma sensação
pontiaguda no meu peito.
— Que merda você tá falando?
— Lorenzo?! — Angelina grita de novo e eu ouço uma pancada na
porta, como se ela estivesse esmurrando ou chutando. — Lorenzo me
escuta.
— Cala a boca, Angelina! — ele esbraveja, silenciando-a. — Eu
devia ter amordaçado a garota, mas estava gostando de conversar com ela.
Solto uma lufada de ar.
— Solte-a agora ou você vai se arrepender.
— Eu vou?
— Não tô brincando, cara. Eu vou matar você — ameaço, dando
alguns passos na direção dele, o dedo pronto para apertar o gatilho.
— Não, Lorenzo. Não. Ele é o Luca, seu irmão! Ele é o seu irmão!
— Angelina se esgoela do outro lado da porta, fazendo meu coração socar o
peito com tanta força, que fico sem ar.
As narinas expandem ao encarar o homem sentado à minha frente.
— Não sei o que você disse a ela, mas vou matá-lo por estar usando
a memória do meu irmão — grunho, apertando os dentes, furioso.
— Desde quando você se importa com a minha memória, Enzo?
— Enzo morreu. Meu nome é Lorenzo.
— Pra você... eu morri com Enzo no dia que você fugiu? —
pergunta, fazendo a minha cabeça doer.
— Pare de brincar com a memória do meu irmão. É o meu último
aviso. Se continuar com isso, vou abrir um buraco na sua cabeça.
Ele se levanta, empurrando com o pé a cadeira velha para o lado e
abrindo os braços ironicamente para mim, como se esperasse que eu
cumprisse as últimas palavras que saíram da minha boca.
— Vamos, atire.
— Quem é você? — quero saber.
— Luca Falcucci.
Levo ar até os pulmões e fecho os olhos com força por uma fração
de segundo, sentindo o sangue bombear dentro dos meus ouvidos.
— Pare! — esbravejo. — Pare com essa palhaçada de merda! —
ordeno com outro berro, colocando o dedo no gatilho. — Meu irmão está
morto.
— Está morto por que você o matou? — questiona com a expressão
impassível, enquanto analisa o meu rosto. — Tommaso me contou tudo,
Enzo.
— Não vou entrar no jogo de vocês.
— Quanto mesmo minha vida custou? Mil dólares? — devolve com
sarcasmo e meu corpo retesa inteiro quando as lembranças daquele dia
querem preencher à minha cabeça, mas impeço. — Eu quase morri —
emenda e minha respiração se torna entrecortada.
— Pare — resmungo uma ordem entre os dentes.
— Fiquei em coma por três semanas — fala ao manter os olhos
claros fixos aos meus. — Quando acordei, eu não lembrava o que tinha
acontecido. Tommaso me levou pra casa e com o seu jeito único de ser, me
explicou exatamente o que aconteceu.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, incapaz de encontrar a
voz para verbalizar alguma coisa. Não acredito que o filho da puta de
Tommaso esteja conseguindo entrar na minha cabeça.
— Ele estava com muita raiva por ter perdido um dos olhos e fez
questão de descontar em mim sempre que pôde.
— Pare — rosno.
— “Seu irmão é um delinquente, Luca. Me roubou mil dólares,
tentou matar você e me deu um tiro no olho antes de fugir...” — murmura e
abre um sorriso estranho para mim, quase triste. — Eu ouvi isso tantas
vezes, sabe? Que se tornou um mantra pra mim.
— Não foi isso que aconteceu.
— Ah, não? Você não roubou mil dólares? Você não deu um tiro no
olho de Tommaso? Você não tentou me matar?
Meus olhos ardem.
— Não vou responder, porque você não é o meu irmão.
— “Por que ele fez isso, Tommaso? Por quê?” Foi isso que eu
perguntei tantas vezes e levei um soco em cada uma delas, mas um dia, ele
me respondeu. “Infelizmente, sua mãe morreu e Enzo me culpou por isso.”
— Ele matou minha mãe.
— Você lembra dela? — ele quer saber, porém, não me deixa
responder. — Eu tenho uma lembrança.
Ele se aproxima de mim e eu não abaixo a arma.
— A única, na verdade — continua falando, deixando um
formigamento esquisito dentro do meu peito. — Seu aniversário, nós
saímos para tomar sorvete com ela. Você estava tão feliz e o som da sua
risada ainda é marcante dentro da minha cabeça. Também me recordo das
palavras dela.
Sinto um bolo se formar no meio da minha garganta, deixando-a
áspera.
Ninguém, exceto a mamãe, Luca e eu fomos à sorveteria aquele dia.
Claro que Tommaso ficou sabendo e, por isso, nos deu uma surra por
termos saído de casa, mas nunca falamos sobre o que conversamos.
Não há como ele saber.
Não há.
Cuidem sempre um do outro, meninos. Vocês são tudo o que eu
tenho, a voz doce e gentil da minha mãe vibra dentro dos meus ouvidos,
sufocando o meu peito e quase me enlouquecendo de vez.
— Cuidem sempre um do outro, meninos. Vocês são tudo o que eu
tenho — ele fala, olhando para mim com tanta dor e raiva, que me faz
abaixar a arma e respirar pesado.
— Não pode ser — murmuro com dificuldade.
— Você olhou pra mim e disse que sempre cuidaria de mim, Enzo.
É a única lembrança que eu tenho de vocês. — Abre um sorriso
melancólico. — Por alguns anos, eu esperei o Enzo dessa lembrança voltar
para me buscar, mas ele nunca veio.
— Luca...
Meu irmão...
Meu irmão está vivo.
As lembranças daquele dia invadem a minha cabeça como um tufão,
se entrelaçando de tal forma, que é difícil acompanhar o raciocínio.
Tommaso, Luca, eu. Todo aquele dia de merda e árduo ecoando na minha
mente.
— Eu achei que estivesse morto — admito, me sentindo tão
culpado, que meu coração parece espancar o peito.
Deixei Luca para trás e ele conviveu esse tempo inteiro com
Tommaso.
Sozinho.
— Eu achei que...
— Tommaso disse que você nunca voltaria por mim, porque
provavelmente já tinha encontrado outra família e estava feliz —
interrompe a minha fala. — E, claro, tentou me matar. Por que voltaria por
mim, não é? Não faz sentido nenhum.
— Não, eu nunca tentei matar você.
— Então, nunca me deu uma surra? — pergunta, arqueando as
sobrancelhas, mas não parece com alguém que vai acreditar em mim. —
Sempre quis te enfrentar e perguntar: Por quê? Eu era pequeno demais e um
fardo pra você? Não queria cuidar de mim?
Cerro a mandíbula.
— Você não lembra do que aconteceu?
— Eu sei o que aconteceu. Tommaso me contou — crispa,
expandindo as narinas ao respirar fundo. — Tudo de ruim que passei na
vida é culpa sua.
— Luca, me escuta — digo e devagar, coloco a arma no chão e me
aproximo dele. — Vamos conversar. Tommaso encheu sua cabeça de
mentiras.
— Cala a boca, Enzo — ordena. — Não há nada que você possa
fazer pra mudar o que fez no passado. A ferida que causou em mim, nunca
vai cicatrizar. Eu te odeio tanto. Te odeio por ter tentado me matar. Te odeio
por ter me abandonado. Te odeio por nunca ter voltado pra me buscar. Te
odeio por ter encontrado outra família e esquecido de mim. Eu te odeio pra
cacete — grunhe, os olhos brilhando por conta das lágrimas contidas.
— Tudo bem, mas precisa me escutar. Também tenho muito a falar
— digo com um tom ríspido, meio desesperado.
Mais de dezenove anos achando que meu irmão estava morto. Não
quero perdê-lo agora por causa das mentiras que Tommaso contou para ele.
Luca não lembra de nada do passado e eu não posso deixar as coisas assim.
— Não quero escutar você, cara.
Num rompante, Luca avança em cima de mim, a mão fechada em
punho voa direto para o meu queixo, fazendo-me tombar para o lado. A
raiva começa a drenar o meu corpo com rigidez, armando o monstro que
vive dentro de mim.
Fecho os olhos com força e tento me acalmar.
Não vou perder o controle com Luca.
Não com ele.
Não depois de tudo que ele passou. Depois de tudo que passamos.
— Luca, eu não abandonei você — digo, ignorando o que falou
sobre não querer me ouvir. — Nunca tentei matar você.
Luca me agarra pelo colarinho da blusa social e a mão fechada vem
de encontro com o meu rosto outra vez, um soco em cheio, que me faz
cuspir sangue. Trinco os dentes e conecto os olhos, buscando por algo além
de dor e raiva dentro do meu irmão.
— Não abandonei você. Eu nunca faria isso.
Outro soco, e cada fibra do meu corpo me pede para revidar, mas eu
contraio os meus músculos, resistindo à minha raiva pela primeira vez na
vida.
— Revida, Enzo. Quero uma luta justa.
— Não — rebato.
— Revida! — ele grita, enquanto algumas lágrimas escapam dos
cantos dos seus olhos claros. — Agora. Revida. Me enfrenta, Enzo.
— Não, Luca. Não vou bater em você.
— Por que não? — esbraveja. — Eu esperei por isso a minha vida
toda. Quero que você me confronte.
— Tommaso não mentiu quando disse que eu te dei uma surra
quando éramos crianças. Sim, eu fiz isso — assumo e o rosto de Luca fica
vermelho, enquanto o tempo parece ter parado ao nosso redor, como se o
universo estivesse prendendo a respiração. — Mas eu te dei um soco
apenas, não fiz isso porque eu queria te matar, Luca. Eu fiz isso porque ele
me obrigou. Eu jamais machucaria você! — deixo escapar um berro ao
cravar os olhos no meu irmão, como se isso fosse o suficiente para domar o
monstro que vive dentro de mim.
Luca apenas me observa, bufando.
— Se eu não te batesse, Tommaso te daria um tiro — as palavras
escapam da minha boca com rapidez, uma torrente de verdades que nunca
consegui dizer em voz alta. — O que eu deveria fazer?! Assistir aquele
velho maldito te matar? Tommaso queria que eu te espancasse, só que eu
não consegui bater em você... não conseguir bater no meu irmão. Também
não fui capaz de impedir que ele te desse uma surra.
— Mentiroso — grunhe e entre as lágrimas duras, ele me acerta
outro soco, e eu sinto a tristeza passar no meu coração como uma pedra.
— Tudo bem, Luca. Faça o que tem que fazer.
— Revida! — berra e outro soco.
— Nunca mais vou bater em você de novo — murmuro, segurando
a sua blusa com as duas mãos. — Tudo bem, Luca. Eu estou aqui.
— Pare — retruca com a mão fechada de novo e sinto uma pontada
na boca do estômago, que me deixa sem ar.
— Tudo bem, Luca. Vou fazer como a mãe pediu. Vou cuidar de
você — continuo falando, e ele nega com a cabeça atordoado.
— Cale a boca. Não tente confundir a porra da minha cabeça —
resmunga, lançando outro soco em mim e é como se cada golpe trouxesse à
tona uma lembrança do nosso passado.
Não sou mais aquele moleque, mas ainda dói tanto.
— Enzo... minhas pernas doem — ouço as palavras de Luca saindo
da minha boca.
Outro soco.
— Eu vou dar um jeito de salvar vocês — é o que eu digo, da mesma
forma que mamãe nos prometeu quando éramos crianças.
Mais um golpe.
— Se esconde no guarda-roupa — sussurro para Luca de forma
automática, sem conseguir controlar os meus pensamentos, lembrando da
forma como ele chorou em silêncio e assentiu, engatinhando e fazendo o
que mandei.
Outro.
— Se me desobedecerem, você e o seu irmão terão o mesmo destino
— é o que eu digo, da mesma forma que o maldito monstro disse ao sair do
quarto, batendo a porta com força.
Mais um.
— Por que ela não responde? Ela tá com o olho aberto, mas não
responde — digo, sentindo o queixo tremer da mesma forma que o meu
pequeno irmão disse com os olhos se enchendo de lágrimas.
E outro.
— Mamãe? Mamãe, responde por favor — repito as súplicas de
Luca.
São tantos socos, que paro de contar.
— Promete não perder? — falo o que disse no dia em que entreguei
a aliança da mamãe para Luca e ele assentiu de lábios prensados ao
passar o cordão para dentro da blusa, o escondendo completamente.
— É o seguinte, Enzo. Agora, somos você, eu e o Luca. E as coisas
serão como eu quero. Se não quiser virar comida dos meus cachorros, vai
fazer o que eu mando — suporto o gosto de fel na boca, enquanto, numa
espécie de transe, repito as palavras de Tommaso.
— Enzo, minha barriga dói.
— A gente vai morrer? — Não, eu vou salvar a gente. Eu prometo.
— A gente pode comprar sorvete quando sair daqui?
— Queria que a mamãe estivesse aqui.
— Me desculpa, Luca. Por favor, me perdoa.
Envolvo os dedos no braço de Luca, incapaz de soltá-lo.
— Tudo bem, Luca. Eu estou aqui. Não vou sair do seu lado nunca
mais — murmuro e ele para a mão fechada no ar, cambaleando para trás,
aturdido.
Luca cai sentado no chão e leva as duas mãos na cabeça, apertando
com força.
— Minha cabeça tá doendo — rosna, fechando os olhos e
espremendo os lábios com força. — Que merda tá acontecendo?
— Luca? — chamo ao me aproximar dele e apoiar a mão no seu
ombro, pressionando de leve.
Ele ergue os cílios para mim, os olhos repletos de lágrimas e culpa.
Meu irmão sacode a cabeça de um lado para o outro e me inclino para
abraçá-lo, quase um pedido de desculpas por não ter o levado comigo.
— Enzo — Luca grunhe e, de repente, ele se desvencilha de mim ao
ficar de pé e vai embora do armazém, fugindo da verdade.
Mesmo contra todos os meus instintos, eu o deixo ir. Sei que ele
sabe onde me encontrar. Faço um esforço para ficar de pé e pego a minha
arma, caminho até a porta que mantém Angelina presa.
— Saia de perto da porta — ordeno a Angelina, e então, dou um
tiro, arrebentando a maçaneta.
— Lorenzo... — ela murmura, o rosto banhado em lágrimas. —
Meu Deus, você tá todo machucado.
Com as mãos amarradas para detrás do corpo, ela corre até mim,
encostando a cabeça no meu peito e eu respiro fundo, aliviado por
finalmente a ter encontrado. Contorno o seu corpo pequeno com as minhas
mãos, apertando contra mim.
Angelina chora contra o meu peito.
— Eu sinto muito — choraminga.
— Tá tudo bem.
Desfaço o nó das cordas dos seus pulsos e a liberto. Imediatamente,
ela envolve os braços no meu pescoço e me dá um beijo com gosto de
lágrimas salgadas, depois, me abraça forte.
— Sinto muito — ela sussurra e eu tomo seu rosto com as duas
mãos, notando o machucado no queixo. Toco de leve e ela geme de dor. —
Não foi o Luca.
— O quê?
— Não foi o Luca que me bateu. Ele está magoado, Lorenzo. Não
acho que seja uma pessoa ruim.
Assinto, respirando fundo.
— Eu sei.
— Cadê ele?
— Foi embora.
Ela espreme os lábios, chorando.
— Sinto muito por tudo que vocês passaram — fala num tom baixo,
se enroscando no meu corpo de novo.
— Vamos pra casa, Angioletta. Agora, você está segura.
Quando chegamos na mansão, a madrinha e as meninas estão na
varanda, chorando e esperando por nós. Angelina se desprende do cinto de
segurança e desce do veículo correndo e vai direto para os braços da mãe.
Mal fecho a porta do carro e pela visão periférica, vejo meu
padrinho e Corrado chegarem mais cedo da viagem. Levo ar até os pulmões
e endireito os ombros ao me aproximar deles. O chefe da organização
conecta os olhos com os meus e me preparo para o sermão por ter ido
sozinho, eu sei que a madrinha já contou, mas a única coisa que faz é
envolver uma das mãos nos meus ombros e apertar com força.
— Fez um bom trabalho salvando Angelina, filho — é o que fala,
caminhando na direção das meninas na varanda.
Penso em Luca e sinto a garganta fechar.
— Lidou com quantos? — Corrado questiona, analisando o meu
rosto machucado. — Acabaram com você, Lorenzo. Confesso que estou
surpreso — emenda ao erguer uma sobrancelha.
— Eu respeito você, Corrado e tudo o que faz pela organização e o
meu padrino, mas não me provoque — digo entre os dentes e passo por ele,
entrando na mansão e rumando direto para o escritório.
Sirvo uma dose generosa de whisky e bebo todo o líquido de uma
vez, absorvendo os últimos minutos da minha vida.
Luca está vivo.
Tommaso está vivo.
Meu irmão me odeia, por causa de todas as mentiras que aquele
maldito caolho contou, e claro, por eu ter fugido há quase vinte anos. Se eu
pudesse voltar no tempo e carregar Luca comigo, para salvar a nós dois, eu
morreria tentando.
Encaro o terço com bolinhas de madeira em volta do meu pulso, o
objeto que me fez sentir próximo da minha mãe e do Luca durante todo esse
tempo. Grudo os lábios de leve no crucifixo, um beijo casto como se fosse
na minha mãe, que morreu tão jovem e teve uma vida tão sofrida.
Meia garrafa de whisky e quase vinte minutos depois, meu padrinho
e Corrado entram no escritório. Tomo o último gole do líquido amargo e me
posiciono de frente à mesa, enquanto o conselheiro se senta ao meu lado e o
Don ocupa a sua cadeira acolchoada.
— Que merda aconteceu, Lorenzo? — questiona, apoiando os
cotovelos em cima da mesa de madeira.
Prenso os lábios em uma linha reta, pensando na melhor maneira de
falar as próximas palavras.
— Meu irmão está vivo.
O Don fica de pé, surpreso.
— Luca está vivo?
Assinto em silêncio.
No dia em que coloquei os pés nesta casa, mesmo com as feridas
que meu coração carregava, eu tive que falar o que aconteceu comigo.
Nunca entrei em detalhes, mas fui sincero ao dizer que minha mãe e meu
irmão foram assassinados pelo meu tio e que depois de dar um tiro na
cabeça dele, eu consegui fugir dos seus capangas.
Marta chorou tanto quando contei a minha história e, desde então,
ninguém nunca me fez perguntas sobre essa parte da minha vida. Eles
respeitaram a minha dor e foi bom assim.
— Tommaso também — informo, fazendo meu padrinho sentar na
cadeira novamente. — Ele mandou sequestrar Angelina.
— Foi seu irmão que fez isso com o seu rosto? — o Don quer saber.
Respiro fundo e aperto as mãos ao responder com sinceridade:
— Sim.
— Você deixou? — meu padrinho pergunta e eu apenas concordo
com um balançar de cabeça, incapaz de verbalizar alguma palavra.
— Se seu irmão está trabalhando com o seu tio, é nosso inimigo
também. Já sabemos o que fazer. Dar um fim nos dois — o conselheiro
sugere.
Contraio o músculo da mandíbula.
— Corrado, você não tocará em nenhum fio de cabelo do meu
irmão. Terá que passar por cima de mim — falo, a ameaça modulando a
minha voz.
O conselheiro se remexe na cadeira e afrouxa o nó da gravata.
— Vamos manter a calma — o Don ordena. — Os dois —
acrescenta, oscilando o olhar feroz de mim para o consigliere. — Me ajude
a entender, Lorenzo. Seu irmão é cúmplice do homem que ordenou o
sequestro da minha filha.
Forço o caroço no meio da garganta a descer.
— Sim — admito a contragosto. — Mas Tommaso entrou na cabeça
dele e o fez acreditar em mentiras. Luca está confuso.
— Tem certeza? — meu padrinho insiste.
De repente, a porta do escritório se abre e Angelina entra,
esbaforida. Ela olha para mim por um longo segundo, em seguida, atravessa
a sala para ir na direção do seu pai, segurando as mãos dele.
— Luca não me fez mal, papà. Na verdade, ele foi gentil. Não
encostou um dedo em mim — ela diz, defendendo o meu irmão e fazendo
meu coração apertar.
— E o seu rosto? Quem bateu em você? — Corrado pergunta.
— Não foi o Luca — é o que Angelina retruca, franzindo o nariz em
desgosto para o conselheiro. — Papà, por favor, acredite em mim. Luca não
merece ser punido pelo meu sequestro.
O padrinho respira fundo e fecha os olhos por uma fração de
segundo, deposita um beijo na testa de Angelina e solta as mãos pequenas e
delicadas da filha.
— Saia, querida. Não escute atrás da porta — é o que ordena,
deixando-a meio irritada.
Pisando duro, a Angelina sai do escritório e como ímãs, meus olhos
a observam desaparecer porta afora. Por um momento hoje, eu pensei que
eu a perderia e me senti tão desesperado.
Trocaria minha vida por ela se fosse preciso.
— Giuseppe, se ela estivesse casada com Franco Vitale, não
teríamos tantos problemas assim, além de que ela estaria segura ao lado
dele — o conselheiro começa a articular, fazendo meu corpo inteiro retesar.
— Acredito que o acontecido de hoje teria sido evitado se Angelina já fosse
a esposa de Franco.
Corrado fica em pé e olha diretamente para o Don ao proferir as
próximas palavras:
— Não acha que está na hora de anunciar logo o noivado? Unificar
as nossas famílias?
— Enquanto eu viver, Angelina não será de nenhum outro homem
— declaro, simplesmente.
Os olhos do conselheiro se esbugalham, enquanto a atenção do meu
padrinho se fixa em mim.
— O que você está dizendo, Lorenzo? — é Corrado quem pergunta.
— Que Angelina é minha — informo, encaminhando meus olhos até
os do meu padrinho, que me encara com uma expressão impassível. Não sei
o que se passa na sua cabeça, mas não duvido que queira me matar agora.
— Isso é.... — Corrado nem consegue terminar a frase.
— Inapropriado? — concluo o seu pensamento. — Por quê? Por que
fomos criados juntos?
O rosto do conselheiro se torce inteiro em insatisfação.
— Vocês são irmãos! — ele retruca, as narinas expandidas e as
bochechas vermelhas ao mesmo tempo em que o Don permanece sério,
provavelmente, assimilando as informações. — Não pode aceitar isso,
Giuseppe — aconselha ao meu padrinho.
— Por que não, Corrado? — questiono com o tom afiado, erguendo
uma sobrancelha para o conselheiro. — É traição?
— Claro que sim! — rebate, alterado. — Isso é errado de tantas
maneiras que me deixa sem fôlego.
Lambo os lábios e cruzo o olhar com o do meu padrinho, que ainda
tem a atenção fixa em mim, como se fosse incapaz de desviar. Balanço a
cabeça com firmeza, num gesto positivo para o Don.
— Enquanto eu estiver vivo, Angelina Giordano será minha e não
de outro homem. Padrino, se o senhor acha que me apaixonar pela sua filha
é traição, tudo bem, me mate agora. Eu aceito o meu destino. Não vou
revidar. Não vou lutar contra o homem que me criou como filho.
Num gesto de respeito ao homem que me deu tudo que tenho hoje,
eu me ajoelho diante do Don, mantendo nossos olhos presos numa conexão
firme e intensa, que diz muito, mesmo através do silêncio que se
estabeleceu no escritório.
Corrado dá um passo na minha direção e o meu padrinho o impede
de se aproximar.
— Saia da sala, Corrado. Isto é entre mim e Lorenzo — ordena ao
olhar para o seu conselheiro, depois, volta a atenção para mim. — Se
levante, filho — manda e eu obedeço, respirando fundo.
Assim que o conselheiro nos deixa a sós, ele dá a volta na mesa de
mogno e fica de frente para mim, parando a um passo de distância. É
impossível decifrar a expressão no seu rosto ou adivinhar as palavras que
sairão da sua boca.
Talvez ele me mate.
Talvez me ache nojento por desejar a sua preciosa filha como
mulher.
Talvez, queira me castrar.
E, ainda assim, não há nenhum arrependimento dentro de mim.
Faria tudo exatamente igual e tocaria Angelina com a minha alma fodida.
Se eu pudesse voltar no tempo, eu a marcaria de novo com as minhas mãos
sujas de sangue e o meu pau sedento.
Com a minha porra.
— Não posso dizer que estou surpreso — é o que fala, encostando
na beirada da mesa e me encarando. — Ela sempre foi obcecada por você,
mas confesso que pensei que com o tempo tudo isso passaria.
Engulo em seco e ele passa uma das mãos no topo da cabeça.
— Padrinho, eu sei que pode parecer errado, porque fomos criados
juntos. Eu quero que saiba que nunca desrespeitei Angelina e eu... — as
palavras ficam presas no meio da minha garganta.
— Marta me disse que você não hesitou. Trocaria sua vida por ela.
Você foi pra morrer, não é, Lorenzo? Foi lá pra salvar minha filha e morrer.
Assinto.
— Sim — admito.
— Você a ama, Lorenzo? Você ama a minha garotinha? — pergunta,
olhando dentro dos meus olhos.
Meu coração esmurra o peito com tanta força, que eu fico com
dificuldade de respirar. Sinto a garganta seca e o sangue do rosto se fundir
em lava.
Meu padrinho abre meio sorriso e suspira, balançando a cabeça.
— Não precisa responder, eu já sei a resposta — é o que fala,
fazendo-me sentir estranho e até mesmo, confuso.
Eu amo Angelina?
No momento exato em que a pergunta surge, o rosto angelical
daquele capetinha brota na minha cabeça sorrindo, me provocando como
sempre gostou de fazer, acelerando o meu coração.
E eu sei.
Sim, eu a amo.
Daria minha vida por ela.
— Lorenzo — o padrinho me chama, pousando uma das mãos no
meu ombro e apertando com força. — Eu criei você como filho.
— Eu sei.
— Te fiz um homem de honra e justo — articula, me deixando
nervoso e ansioso, louco para extravasar surrando alguém ou quebrando
uma porta. Desde que encontrei Luca, tenho me controlado muito. —
Apesar de não ter o meu sangue, você herdará o meu império.
Concordo com um aceno de cabeça, me preparando para as
próximas palavras.
— Eu confio em você, filho. Além do mais, você me dá tanto
orgulho — fala, fazendo meus olhos arderem e a garganta fechar. — A
verdade é que você é o único homem digno da minha filha, Lorenzo.
— Padrinho...
Ele estica os lábios num sorriso largo e me puxa para um abraço, me
deixando meio perplexo e aliviado. Com tapas firmes nas minhas costas, o
Don me mantém preso num ato de carinho por alguns segundos.
— Tenho uma condição e algumas regras — comenta, afastando-se
de mim e segurando um dos meus ombros com força.
— Claro. Qual?
— Terá que morar aqui. A mansão é grande e eu sei que isso deixará
Marta feliz — fala e eu concordo sem pestanejar, ainda chocado com o
rumo da nossa conversa.
Achei que meu padrinho fosse me acusar de traição.
— Certo.
— Não toque na minha filha antes do casamento. Exijo que
Angelina se case virgem — rosna, o olhar afiado me esquadrinhando.
Se ele não me matou por traição antes, me matará agora se souber
que desvirginei a sua preciosa Angelina.
— Claro. Não tocarei nela antes do casamento, padrinho — pela
primeira vez na vida, digo uma mentira para o Don, mas ele parece
satisfeito ao me ouvir.
— Ótimo. — Faz um gesto positivo com a cabeça e então, respira
fundo. — Agora, vamos pensar no que fazer com Tommaso e o seu irmão
— emenda, me deixando com um gosto amargo na garganta.
Enfurecida por ter sido expulsa do escritório do papà, em passos
duros, eu rumo para o meu quarto. As meninas e a mamãe me seguem,
tentando entender o que acabou de acontecer.
— Papai é um cabeça dura — bufo assim que elas entram no quarto.
Desfaço-me das minhas sandálias e me sento na beirada da cama. —
Cabeça dura — emendo com um resmungo.
As meninas apenas me observam em silêncio e a mamãe arqueia as
sobrancelhas de maneira cética.
— Você teve a quem puxar então — a mamma devolve e eu suspiro,
encarando-a por cima dos cílios e enrugo o nariz, transformando o rosto
numa careta. — Eu disse para não escutar a conversa dos homens atrás da
porta. Precisa deixá-los resolverem as coisas, querida.
Deixo meus ombros caírem.
Quando cheguei há alguns minutos, todas nós choramos e eu abracei
minhas irmãs e mãe tão forte, que meus braços doeram. Por um momento,
eu senti tanto medo de nunca mais vê-las.
— Eu sei, só que eu fui sequestrada e o assunto tem a ver comigo
também — contesto, embora seja em vão. — Quando Martina chega? —
mudo de assunto, uma tentativa de diminuir a minha irritação.
— Já deve estar chegando. Ela ficou apavorada quando soube que
você foi sequestrada. Nem tive tempo de falar que Lorenzo já trouxe você
pra casa — mamãe murmura.
— É verdade que o irmão do Lorenzo está vivo? — Violetta
pergunta baixinho, visivelmente curiosa com a novidade.
Não fui a única a escutar a conversa dos homens detrás da porta,
apenas suficientemente desajuizada para interromper a reunião e dar minha
opinião sobre o assunto.
Concordo com um aceno de cabeça.
— Mas ele não é ruim — digo rápido, encontrando os olhos da
mamma, que respira fundo e tem uma expressão distante, como se estivesse
perdida nos seus próprios pensamentos. — Luca sofreu muito também.
— Coitado — é o que a nossa mãe comenta, espremendo os lábios.
— Será que a mãe deles está feliz? Os filhos finalmente se
reencontraram — Violetta sussurra com inocência.
— Talvez sim, mas Luca não está. Vocês viram o rosto de Lorenzo?
Ele nunca perdeu uma briga antes e voltou todo arrebentado — Barbara faz
uma constatação.
— Barbara! — mamãe repreende, fazendo a segunda caçula erguer
as mãos em rendição e pedir desculpas logo em seguida. — Não diga isso
na frente de Lorenzo, ok?
Barbara faz bico, mas concorda.
A mamãe e as meninas ficam comigo no quarto por mais um
tempinho, conversando sobre como o subchefe da organização não hesitou
ao falar que trocaria minha vida pela sua.
Confesso que hoje está sendo um dia enlouquecedor. Fui
sequestrada, levei um soco, descobri que o irmão de Lorenzo está vivo e
fiquei desesperada ao pensar que ele poderia morrer.
No entanto, saber que ele não ponderou e estava disposto a dar a
vida por mim, faz meu coração fervilhar e as bochechas esquentarem.
Vindo de um homem tão turrão como Lorenzo Falcucci isso é uma prova de
amor.
Uma prova de amor das grandes.
Papá entra no meu quarto logo depois que a mamma se retira e é por
um triz que não nos pega em flagrante, fofocando sobre minha paixão
avassaladora pelo seu filho de criação.
— Preciso conversar com Angelina. Saiam, meninas — ele manda e
sem protestar, todas acatam a ordem.
— Luca é uma vítima também, papà. Não pode puni-lo, porque isso
vai destruir Lorenzo. É isso que o senhor quer? Destruir o homem que o
senhor criou como filho? Não pode simplesmente fazer isso. Além do mais,
não foi ele quem mandou me sequestrar, na verdade, ele matou os meus
sequestradores e foi contra o plano de Tommaso — vou direto ao meu
ponto, fazendo-o suspirar e coçar a barba no queixo.
— Acabou?
Expiro profundamente.
— Não.
Papà cruza os braços na altura do peito e faz um gesto com a cabeça
para que eu continue falando.
— Lorenzo precisa de Luca. Eu sei que somos a família dele agora,
só que o irmão também é. Não pode fazer isso, papà. Por favor, eu estou
implorando. Me desculpa ser tão intrometida e atrevida, eu prometo mudar
se o senhor for maleável com Luca.
Papai estreita os olhos.
— Você vai mudar?
— Sim — respondo rápido e me aproximo dele, envolvendo as
mãos nos seus braços até entrelaçar nossos dedos. — Prometo ser obediente
e não escutar mais atrás da porta. Por favor.
Eu sei que estou prometendo coisas que parecem impossíveis, mas
eu mudaria meu jeito para não ver Lorenzo sofrer por perder o irmão outra
vez. Não acho que consiga suportar vê-lo se martirizar por isso.
— Não vou aguentar ver o Lorenzo sofrer, papà — admito com um
sussurro, a visão ficando turva por conta das lágrimas.
— Você se casaria com Franco Vitale para salvar o irmão de
Lorenzo?
A pergunta me pega desprevenida, mas não demoro muito para
responder ao meu pai
— Sim, eu faria qualquer coisa pra salvar o Lorenzo. A morte do
irmão o mataria, papai. Não vou suportar isso — murmuro e ele me observa
com os olhos estreitos e eu me forço a esconder que se me casar com o
Franco Vitale, provavelmente, eu o matarei na noite de núpcias.
Papai leva uma das mãos até o meu rosto e faz carinho.
— Você o ama, não é?
Pondero por alguns segundos, refletindo se devo ou não mentir
sobre os meus sentimentos. Mas talvez esteja na hora do meu pai saber
sobre o meu amor proibido por Lorenzo.
Estou cansada de esconder.
— Sim. Muito. Mas, não como meu irmão — assumo e começo a
chorar, tremendo todo o meu corpo, sem conseguir segurar as lágrimas
dentro dos olhos. — Me desculpa, papai. Me desculpa, mas eu o amo, o
amo muito. Eu amo tanto Lorenzo que meu coração dói.
— Angelina...
— Não faça Lorenzo sofrer, pai. Por favor — imploro e ele me puxa
para um abraço apertado, e eu acabo chorando ainda mais contra o seu
peito.
— Não se preocupe, querida — é o que sussurra, passando os dedos
entre os meus cabelos. — Lorenzo vai ficar bem.
Afasto-me dele e limpo meu rosto com as costas das mãos.
— Promete?
A única coisa que faz é bufar e quase sorrir.
— Ele também ama você — fala, simplesmente.
Pisco devagar e balbucio:
— Como é que é?
— Ele me enfrentou faz pouco tempo ao dizer que enquanto
estivesse vivo, você não seria de nenhum outro homem — resmunga,
acelerando o meu coração e me deixando sem reação. — Não aceitarei
desonra debaixo do meu teto, vocês terão que se casar o quanto antes.
— Eu e Lorenzo?
— Sim, querida. Você não quer?
— O senhor vai deixar a gente se casar? — é o que questiono,
completamente confusa. — E o casamento com Franco Vitale? O que
vamos fazer?
Ele abre meio sorriso.
— Arrumaremos outra mulher para Franco Vitale.
Concordo com um aceno de cabeça.
— Mas não uma Giordano? — quero saber. Ainda tenho medo que
sobre para Caterine.
— Não entregarei minhas filhas para os inimigos — é o que fala,
aliviando o meu coração. — Lorenzo é um homem de honra e é digno. Será
um bom marido pra você, querida — diz e eu sinto meus lábios esticarem
num sorriso tão largo, que meu rosto dói por causa do machucado.
— Papà...
Pulo em cima dele, envolvendo os braços em seu pescoço e beijando
a sua bochecha de forma exagerada.
— Preciso falar com Lorenzo — articulo, eufórica.
Papai solta uma baforada de ar.
— Ele está no escritório.
Com os pés descalços, saio do meu quarto correndo, chamando a
atenção das minhas irmãs no corredor e a única coisa que consigo gritar
para elas é que vou me casar com Lorenzo.
Abro a porta do escritório da mansão e meu amor proibido toma um
leve sobressalto. As sobrancelhas grossas se unem em confusão e eu avanço
em cima dele, entrelaçando as minhas pernas na sua cintura e colando os
nossos lábios por um longo segundo.
Lorenzo contorna a minha cintura com um dos braços, enquanto a
outra mão prende uma mecha de cabelo detrás da minha orelha. Nossos
olhos se encontram e um sorriso meigo brinca em seus lábios.
— Papà me disse o que aconteceu — cochicho.
Ele roça gentilmente o polegar na minha bochecha, fixando a
atenção nos meus lábios antes de grudá-los num beijo suave e ao mesmo
tempo, exploratório, como uma dança cuidadosamente coreografada.
O gosto de whisky misturado ao sabor sutil de menta leva uma onda
eletrizante e quente para o meio entre as minhas pernas e me faz ofegar
ávida por Lorenzo.
À medida que o beijo se aprofunda, eu sinto a sua língua sedenta me
tocando, me reivindicando com determinação, como se cada movimento
fosse um convite para nós dois nos perdemos na nossa paixão ardente.
Os únicos barulhos dentro do escritório são as nossas respirações
abafadas e os meus gemidos que escapam dos meus lábios e ele engole um
por um, continuando o beijo intenso e feroz, uma mistura de desejo e
entrega total.
— Eu te amo, Lorenzo — assopro entre os seus lábios úmidos e o
sinto me apertar contra o seu corpo.
Lorenzo mordisca meu lábio inferior e eu sorrio.
— Eu também amo você, minha Angioletta — admite ao se afastar
alguns centímetros, apenas para focalizar meus olhos. — Nunca existiu uma
mulher na minha vida capaz de mexer tanto comigo... como você.
Sorrio de lábios colados, a visão ficando turva por causa das
palavras que acabam de alcançar meus ouvidos.
— Você acabou de dizer mesmo isso ou eu estou sonhando?
Supreendentemente, ele ri da minha pergunta, aquecendo o meu
coração.
Levanto um pouco a mão para tocar os seus cabelos rebeldes,
enrolando algumas mechas nos meus dedos, sentindo a maciez e refletindo
sobre a declaração dele para mim.
— Eu te amo, Angelina Giordano e você será minha esposa. Apenas
minha — é o que fala, voltando a colar os nossos lábios num beijo cheio de
paixão e dessa vez, eu sei, também existe amor.
Alguém pigarreia atrás de nós e eu interrompo o beijo, recuando um
pouco para olhar para trás. Vejo papai, a mamãe e as meninas na porta do
escritório, nos observando com atenção.
Com um sorriso amarelo, desço do colo de Lorenzo e ajeito as
minhas roupas, endireitando a postura.
— Permiti que casassem, mas nada de ficarem se esfregando dessa
forma. Você é uma menina virgem Angelina e quero que se mantenha até o
seu casamento — papà enfatiza e eu engulo em seco, concordando com um
aceno de cabeça.
— Desculpe, papà, é claro — é o que digo ao dar uma olhadela para
Lorenzo e em seguida, sair do escritório para comemorar com as meninas
no corredor, enquanto a mamãe entra na sala e fecha a porta.
— Que dia doido... — Caterine comenta, batendo os cílios devagar.
— Você vai se casar com Lorenzo?
— Meu Deus. O que eu perdi? — Martina pergunta visivelmente
confusa e perplexa ao surgir no início do corredor ao lado do seu marido e
Romeo. — Você vai se casar com Lorenzo? Quando voltou pra casa?
Ela atravessa o corredor depressa e estende os braços para me
prender contra si, suspirando aliviada. Depois, me segura pelos ombros e
analisa meu rosto, enrugando o nariz e torcendo os lábios ao notar o meu
machucado.
— Dói muito?
— Tô bem. Lorenzo me trouxe faz quase uma hora — digo e sorrio
para minha irmã, abraçando-a de novo. — Obrigada por ter vindo.
— Que história é essa? Vocês vão se casar?
— Sim. Não é maravilhoso? — rebato, arrancando uma risada
contagiante de Martina.
— Com certeza.
As meninas se aproximam também e nos envolvem num abraço,
enquanto Danilo e o seu irmão nos observam com uma expressão
impassível que em um dia comum, me deixaria irritada e me faria provocá-
los com a minha língua afiada.
Mas estou feliz demais para me importar com os Salvatore
Lorenzo me ama e nós dois vamos nos casar.
Dezenove anos antes...
Nem sei quanto tempo demoramos até chegar em Detroit, porque
durmo o caminho inteiro.
Lily, a mãe de William e Hunter sugere me levar até a polícia local.
Antes de adormecer, eu ouvi um dos meninos comentando com ela sobre os
meus machucados e ela disse que resolveria a situação.
— Não me leve até a polícia — murmuro, encarando-a através do
retrovisor do carro. — Por favor — peço e repito o endereço cravado na
minha cabeça pela segunda vez.
Ela enche as bochechas de ar e assopra, relaxando os ombros e
sacudindo a cabeça de um lado para o outro ao prensar os lábios com força.
— Espero não me arrepender disso — é a única coisa que comenta.
Por mais alguns minutos, Lily dirige até o endereço e eu admiro as
imensas casas bonitas pelo caminho, pensando no meu irmão e que agora,
ele deve estar ao lado dos nossos pais.
Luca deve estar em um lugar melhor.
Melhor do que este que foi tão cruel com ele.
Tão cruel com a nossa família.
Lily para o carro em frente a um portão de ferro grande e antes de
descer, pede que fiquemos dentro do veículo. Ela fala com dois homens
usando ternos na entrada e então, os três olham para nós em sincronia,
fazendo meu estômago embrulhar e querer fugir.
Mas forço a minha vontade a descer pela goela e eu não o faço.
Mamãe disse que Marta é uma boa mulher e que me ajudaria.
Ela volta para o carro depois de alguns minutos.
— Vou acompanhar você até lá dentro — ela avisa, colocando o
cinto de segurança de novo, enquanto espera que os homens abram o portão
de ferro para entrarmos.
— Não precisa — murmuro.
— Não vou deixá-lo sozinho, Lorenzo. Vou entregá-lo diretamente
para Marta Giordano — é o que diz, erguendo o queixo.
— Você a conhece? — quero saber.
— Mais ou menos. Ela já comprou algumas flores na minha
floricultura — explica e eu assinto, respirando fundo. — É uma boa mulher
— emenda.
Finalmente os portões se abrem e nós entramos com o carro,
seguindo um pequeno caminho de terra até uma mansão enorme e um
pouco assustadora. Há mais homens do lado de fora da mansão, todos
usando terno e nos observando com atenção.
Assim que o carro estaciona, eu abro a porta e desço. Lily faz o
mesmo, mas antes, ordena que William e Hunter permaneçam no mesmo
lugar. Meu coração acelera quando ela entrelaça os dedos nos meus e de
mãos dadas, subimos os degraus até a varanda.
A grande porta de madeira se abre e uma mulher com um sorriso
gentil nos convida para entrar, fazendo um gesto com a cabeça. Esperamos
no hall de entrada e eu não consigo parar de olhar para os lados.
É tudo tão assustador e novo.
Nunca vi algo parecido na minha vida.
Antes do papai morrer, nós moramos numa casa bonita e
aconchegante, mas nem chega aos pés deste lugar. E na casa de Tommaso,
tudo para mim e meu irmão se resumia naquele pequeno quarto sujo com
banheiro.
De repente, surge uma linda mulher alta e de cabelos ruivos e meio
encaracolados. Para a minha surpresa, ela está com uma barriga tão grande
de grávida, que mal consegue andar sozinha.
Ela abre um sorriso doce para mim.
— Este rapazinho quer me ver? — é o que pergunta, a voz angelical
é como música para os meus ouvidos. — Oi, Lily.
— Está quase dando à luz, Marta.
Marta ri.
— Sim, definitivamente. O médico me deu alguns dias — comenta e
se aproxima de mim, passando uma das mãos em meus cabelos e eu fico
com vergonha, porque não lembro a última vez que eu os lavei. — O que
aconteceu com o seu rosto, querido?
Lily respira fundo e conta como me encontrou atordoado e
machucado em uma estrada de Cleveland e que pedi carona até o seu
endereço em Detroit.
— Minha mãe disse que você me ajudaria — começo a falar e Marta
olha para mim, franzindo a testa.
— Quem é a sua mãe, querido?
— Stella Falcucci.
Marta pisca devagar e espreme os lábios, me olhando com atenção.
— Ah, meu Deus.
— Você a conhece? — Lilly pergunta.
— Sim — Marta responde e algumas lágrimas escapam dos cantos
dos seus olhos gentis. — Obrigada, Lily. Obrigada por trazê-lo até mim.
Lily assente e passa a mão no meu cabelo sujo antes de sair da
mansão assustadora e me deixar sozinho com Marta, que envolve um braço
no meu ombro e me guia para entrar na casa.
— Está com fome, querido?
— Muita — admito.
A cozinha é enorme e tem uma vista bonita para o jardim, que me
faz pensar que Luca adoraria estar aqui. Sem fazer perguntas, Marta prepara
sanduiches de presunto para mim e eu como tudo rápido demais.
Sou surpreendido ao ver uma menina pequena e de maria chiquinhas
correndo pela casa e outra usando fraldas engatinhando. As duas são
risonhas e tem as bochechas vermelhas.
— Vem aqui, Martina — Marta chama e a maior se aproxima, nos
observando. — Esse é o filho de uma grande amiga da mamãe.
Ela fala alguma coisa e eu não entendo.
Marta ri ao traduzir:
— Ela tá perguntando o seu nome.
— Lorenzo — murmuro, roubando um sorriso da pequena. Gemo de
surpresa ao sentir a bebê de fraldas tentando morder a minha perna.
— Essa é Angelina. Gosta de morder tudo — Marta explica.
Sorrio para o bebê Angelina, que se apoia na minha canela para
conseguir ficar de pé.
— Maria, por favor, leve as meninas pra tirarem uma soneca — ela
pede e a mulher que abriu a porta quando cheguei, aparece na cozinha,
levando as duas meninas. — Vamos conversar, Lorenzo?
Assinto, mas fico em silêncio.
— Onde está a sua mãe?
— Morta — digo e ela começa a chorar tanto, que precisa se sentar
ao meu lado para conseguir continuar conversando.
— Sinto muito, querido.
— Eu também.
— O que aconteceu?
— Papai morreu e nós tivemos que ir morar com o irmão dele,
mas... — Respiro fundo e reúno forças para continuar falando: — ele não
gostava de nós.
— Ele sabe que você veio pra cá? — quer saber.
Faço que não com a cabeça e fecho a mão em punho.
— Ele matou meu irmão e eu dei um tiro na cabeça dele, depois
consegui fugir — admito e engulo com força, tentando segurar as lágrimas.
— Não queria deixar Luca pra trás, mas ele apanhou tanto que morreu —
continuo e começo a chorar.
Marta se inclina para frente e me envolve num abraço apertado,
chorando também. O cheiro dela é tão bom, me faz lembrar da mamãe.
— Sinto muito, querido.
— Posso trabalhar pra você — falo ao limpar as minhas lágrimas e
recuar um pouco para encará-la. — Tenho quase mil dólares. Se me deixar
ficar aqui, eu posso ajudar.
Enfio a mão dentro do bolso e retiro o dinheiro, colocando em cima
da mesa e tentando não pensar que isso custou a vida do meu irmão.
Marta chora mais ainda ao ouvir minhas palavras.
— Querido, não precisa. Você está seguro aqui e eu quero que seja
apenas uma criança, ok? — fala, segurando o meu rosto com as duas mãos
e passando os polegares nas minhas bochechas. — Vamos te proteger.
— Obrigado.
Marta me puxa para outro abraço e quando a deixo me apertar, um
homem entra na cozinha e nos observa com uma expressão séria estampada
no rosto. Ela se afasta de mim e se levanta para ir falar com ele e eu volto a
comer meu segundo sanduíche de presunto, enquanto os dois conversam
olhando para mim.
Consigo pescar algumas frases de Marta sobre a mamãe. Ela fugiu
quando era mais nova para se casar com o meu pai e desde então, ninguém
nunca mais a viu. O pai da mamãe morreu há alguns anos, o que não faz
diferença, ela já nos contou que ele não era um bom homem.
Provavelmente, se ele estivesse vivo, não mudaria em nada para
mim.
A voz de Marta fica mais baixa e eu sei que está contando o que eu
disse agora há pouco. Apesar de me sentir estranho, não posso culpá-la.
Essas pessoas são a minha única salvação e precisam conhecer a minha
história.
Depois de alguns minutos, o homem vem se sentar na cadeira que
Marta estava sentada há alguns minutos. Ele estende a mão em um
cumprimento e ergue uma sobrancelha para mim.
— Giuseppe.
— Lorenzo — digo ao apertar sua mão com toda força que tenho.
Não quero que ele ache que estou com medo, embora eu esteja um pouco
intimidado.
— Gostou do sanduíche de presunto?
— Sim, senhor. Obrigado.
— Você tem quantos anos?
— Onze — digo e balanço a cabeça antes de me corrigir. — Doze.
Me desculpe. Fiz doze anos faz pouco tempo.
Ele concorda com um aceno de cabeça.
— Sinto muito pela sua mãe e seu irmão — Giuseppe diz e meus
olhos ardem, mas me seguro para não chorar. — Você pode chorar. É uma
criança.
Sacudo a cabeça em negativa.
— Não quero mais chorar. Não quero mais falar sobre isso. Por
favor — peço, encarando-o por cima dos cílios.
— Ok. Vamos deixar o passado pra trás — retruca e toca o topo da
minha cabeça, mas faz uma careta logo em seguida. — Você precisa de um
banho, garoto — emenda, me roubando uma risada.
— Sim, senhor.
Giuseppe pega as notas de dólares em cima da mesa e junta num
bolo, em seguida, me entrega.
— Não vai precisar trabalhar aqui — informa e eu respiro fundo,
meio aliviado. — Mas precisa saber que não somos uma família comum.
— Como assim?
— Quando tiver idade suficiente, você vai entender. Agora, vá
tomar banho, porque está fedendo — zomba e eu sorrio.
Na porta da cozinha, Marta estende o braço para mim e eu enfio o
dinheiro dentro do bolso, caminhando até ela, segurando sua mão com
força. Pela primeira vez na vida, sinto meus batimentos cardíacos calmos e
eu me sinto seguro também, apesar de triste por causa do que aconteceu
com o meu irmão.
É injusto, mas talvez, minha vida tenha que ser assim.
Uma vida segura, triste, mas sem dor.
— Então, seu irmão também está vivo? — Wil questiona antes de
levar o copo de cristal até a boca e beber um gole generoso de whisky.
É claro que ele me desobedeceu e foi atrás de mim, mas não
conseguiu me acompanhar e ficou zanzando pelas ruas da cidade atrás de
mim, preocupado de eu não conseguir sair vivo da armadilha.
— Sim.
Faz quase duas horas que estamos no meu apartamento,
conversando sobre os últimos acontecimentos. Apesar de ter ficado irritado
por terem colocado Angelina no fogo cruzado, como eu também fiquei,
meu padrinho foi compreensivo o bastante e deixou que eu tomasse as
decisões importantes sobre Luca e Tommaso.
— O que vai fazer?
— Matar Tommaso e salvar o meu irmão — digo, simplesmente.
Will levanta o copo de cristal num brinde silencioso e eu faço o
mesmo com o meu. Mal termino de tomar um gole de whisky quando a
campainha do apartamento toca. Meu amigo e eu trocamos um olhar rápido
e eu caminho até a porta, espio pelo olho mágico, mas não há ninguém do
outro lado.
Mas, eu sei que é Luca.
Levo ar até os pulmões e envolvo a mão na maçaneta, girando-a.
Encontro Luca na soleira, o rosto fechado numa carranca dura e os olhos
cheio de arrependimento e tristeza ao me encarar.
— Não vim brigar — é o que diz.
— Eu sei.
Dou um passo para trás e faço um gesto para que entre no meu
apartamento e assim, ele o faz, observando tudo atentamente. William, que
estava sentado na banqueta da ilha da cozinha, que é integrada com a sala,
fica de pé e com os ombros eretos.
— É o seu cachorro de briga? — Luca pergunta em um tom
provocativo.
— Se preciso for, eu sou — William responde, áspero.
— Não comecem — ordeno com uma bufada e faço um gesto para
que Luca se sente à banqueta também. — Aceita? — Gesticulo com a
garrafa de whisky depois de ir para detrás do balcão.
— Não.
— Ok.
— Você pode sair? — Olha para Will ao fazer a pergunta. — Quero
conversar com o Enzo sozinho — emenda ao arquear uma sobrancelha de
maneira desafiadora para o meu soldado.
Suspiro.
— Não posso. Sinto que Lorenzo corre perigo ao seu lado — Will
devolve, fazendo-me massagear as têmporas com força. — É o meu dever
protegê-lo.
— Ele é meu irmão. Não vou machucá-lo — Luca rebate, atraindo a
minha atenção.
Acho que é a primeira vez que me chama de irmão.
É a primeira vez que se refere a mim sem ódio.
— Saia, William — ordeno e meu soldado obedece, mas não sem
antes de trocar um olhar acentuado com Luca, que não abaixa a cabeça para
Will.
Não há nenhum tipo de medo no meu irmão. Tommaso deve ter
ferrado tanto com a cabeça dele, que o deixou forte.
— Como você está? — Luca aponta com o dedo indicador para o
meu rosto ferrado. — Fiz um belo estrago na sua cara bonita — emenda
com tom de deboche.
Nós nos encaramos por um longo segundo e surpreendentemente,
começamos a rir.
— Não vai mais acontecer — resmungo.
Ele assente, elevando a mão para coçar a nuca e respirar fundo.
Luca parece pensar em como proferir as próximas palavras. Eu sei que não
é fácil, então, espero pacientemente meu irmão começar a falar.
— Eu me lembro — murmura ao erguer os cílios para focalizar
meus olhos. — Sei que não me abandonou naquele dia. Eu sei que
Tommaso se aproveitou do fato de eu não lembrar das coisas e encheu
minha cabeça de merda.
Anuo com firmeza.
— Ok. Isso é passado.
— Eu tentei fugir, Enzo. Algumas vezes, mas os homens dele
sempre me encontravam e me traziam de volta. Um dia, acabei desistindo
de tentar ir e apenas fiquei ao lado dele... sobrevivendo.
Travo a mandíbula.
— Luca, eu...
— Não é culpa sua — ele me interrompe. — Foi ruim, não posso
mentir, mas eu aprendi a ficar longe da mira dele e ser invisível. Foi assim
que me livrei de muitas surras — admite, deixando a minha garganta com
um gosto amargo. — E quando aprendi a me defender, ele não quis mais me
surrar.
Sinto as minhas narinas expandirem à medida que a raiva bombeia
meu coração com força.
Num gesto tranquilo, Luca enfia os dedos dentro da blusa e retira
um cordão de ouro pendurado em volta do seu pescoço para me mostrar.
Sorrio ao reconhecer a aliança da mamãe.
— Lembra quando você fez isso?
— Sim — respondo, encarando o cordão. — Logo depois que ela se
foi — sussurro com o coração formigando e as têmporas latejando. Uma
mistura de angústia e tristeza.
— Quando eu estava cego pelas mentiras de Tommaso, achei que te
encontrando, eu me vingaria por mim e por ela — admite, encontrando
meus olhos. — O inimigo sempre esteve ao meu lado.
— Está na hora de vingarmos a morte da mamãe e tudo que ele fez
pra nós — digo entre os dentes e Luca concorda com um aceno de cabeça.
— Sim.
Luca se levanta da banqueta e eu dou a volta no balcão, erguendo os
braços para envolver meu irmão num abraço firme. Ele me aperta com força
e por um momento, sinto que nós somos aqueles garotinhos inocentes do
passado.
A diferença é que os meninos indefesos cresceram e eles querem
prestar as contas com Tommaso.

Algumas horas depois...


Pela quarta vez, Luca recusa a ligação de Tommaso e enfia o
aparelho celular dentro do bolso da calça. Aquele porco miserável ainda
não sabe que meu irmão e eu nos encontramos, ele acha que matei todos os
homens no armazém e como um covarde, Luca fugiu e está escondido.
— Não vai ser difícil pegar Tommaso — Luca começa a falar e Will
oscila a atenção de mim para ele. — O maldito não tem mais tantos homens
como antigamente e a segurança dele é fácil de burlar, porque ele odeia
tecnologia e essas coisas. E, claro, eu estou com vocês, então, não vamos
ter problemas para entrar na casa. Ninguém vai estar esperando por nós.
Concordo com um aceno de cabeça.
— Ótimo. Podemos chegar matando todos e... — William sugere,
mas Luca interrompe ao falar:
— Não. Existem pessoas inocentes lá dentro — resmunga, torcendo
os lábios em desgosto para o meu soldado. — Susan é uma senhora que
trabalha na casa há anos. Sem ela lá, teria sido mil vezes pior. Não quero
que nada de ruim aconteça a ela.
— Nada acontecerá com Susan — falo e William assente, como um
bom soldado, respeitando a minha decisão. — Também não quero matar
todos os homens de Tommaso, tenho planos. Preciso de alguns vivos.
— Quantos? — Luca quer saber.
— Dois ou três.
William e meu irmão concordam com um aceno firme.
— E os cachorros do velho? — questiono, apertando a mandíbula ao
lembrar o que aquele maldito fez com o corpo da nossa mãe.
— Morreram há anos.
— Por que ele resolveu atacar agora, Luca? — Conecto os meus
olhos com o do meu irmão. — Ele tá vivo há anos, poderia ter vindo antes.
Mas por que agora?
Luca respira fundo e entrelaça as duas mãos na nuca ao apoiar os
cotovelos no balcão de granito.
— Por que ele não tem mais nada a perder — por um momento, é a
apenas o que ele diz e eu espero que termine de concluir o que começou. —
O cretino acha que eu não sei, mas... Tommaso está doente, câncer, algo
assim, tanto faz. Não tem muito tempo de vida.
Sirvo um pouco de whisky no copo de cristal sem gelo para mim e
tomo um gole generoso. O líquido marrom desce queimando pela garganta,
mas a sensação é boa e até mesmo, inspiradora.
Não vejo a hora de encontrar Tommaso.
Não há nada no plano de Lorenzo e Luca que eu goste e para o meu
desgosto, não posso simplesmente impedi-los de ir até Cleveland buscar
Tommaso. Tantas coisas foram tiradas dos dois, a vingança, a essa altura do
campeonato, é tudo que eles têm contra aquele monstro.
— Não se preocupe — Lorenzo pede ao entrar no meu quarto logo
atrás de mim. — Te verei assim que possível.
— Não pode jogar uma bomba na casa dele e acabar com isso de
uma maneira simples? — faço uma pergunta idiota.
Ele sacode a cabeça em negativa.
— Sabe que não posso fazer isso, Angioletta. Matar Tommaso assim
seria fácil demais e ele não merece uma morte rápida.
Espremo os lábios e assinto, concordando.
— Hoje é seu aniversário — murmuro, aproximando-me dele. — E
não vai ficar comigo num dia tão importante como este — resmungo,
fechando a mão e batendo no peito dele, roubando a silhueta de um sorriso
maroto.
Lorenzo enfia uma das mãos entre os meus cabelos, levando uma
onda vibrante e quente para o meu corpo.
— Vou te recompensar quando voltar.
— Tenho um presente pra você — digo e num gesto rápido, recuo
um pouco, apenas o bastante para revelar os colares escondidos debaixo da
minha blusa. — O sol é pra você. Me ajuda a tirar? — peço, virando de
costas para Lorenzo e arrastando meu cabelo para o lado.
Ele desprende o colar certo e eu entrego nas suas mãos, cheia de
expectativa.
— Feliz aniversário — murmuro, enquanto ele observa o pingente
com atenção e curiosidade. — Olha... — Com delicadeza, mostro a Lorenzo
como se faz para descobrir a foto dentro do cristal.
Ele fica em silêncio observando a fotografia e eu fico estranhamente
nervosa. Começo a tagarelar:
— Se eu soubesse que Luca estava vivo, teria feito uma montagem
na foto e sua família estaria completa, mas...
— É lindo, Angelina.
Sorrio.
— Gostou?
— Sim — responde ao mesmo tempo em que pendura o colar em
volta do pescoço.
— Quer ver o que tem no meu? — pergunto e sem tirar o colar da
garganta, me aproximo dele antes de erguer o pingente em lua. Ele deixa
escapar uma risada gostosa ao ver a sua foto cravada no meu cristal. — É
lindo também — emendo com um sussurro.
— O que eu faço com você?
Ele toma meu rosto com uma das mãos e envolve a outra na minha
cintura, puxando-me para mais perto, colando os nossos corpos quentes.
— Pode me fazer feliz antes de ir — sussurro sugestiva ao descer a
mão da minha cintura até a barra da minha saia, fazendo o homem suspirar
com força e contrair o músculo da mandíbula.
— Angelina... — repreende.
— O que foi? Não acha empolgante? Todos esperando lá embaixo e
você aqui comigo... me tocando? — Fico na ponta dos pés para roçar os
lábios nos deles, tentando seduzir o homem inabalável. — Não vou fazer
barulho, eu prometo.
Sinto meu corpo inteiro arder por causa do desejo crescente em
mim. É instigante. Devasso e até mesmo, errado fazê-lo me tocar enquanto
estão todos o esperando no andar de baixo, mas não consigo me controlar.
Lorenzo solta uma lufada de ar ao mesmo tempo em que me faz
arredar alguns passos, me encostando na parede. A mão firme e grossa sobe
a barra da minha saia, enviando um formigamento delicioso para o meio
entre as minhas pernas.
Fecho os olhos e mordo o lábio inferior ao ficar nas pontas dos pés,
me abrindo ainda mais para Lorenzo.
— Abre os olhos — ele ordena e eu o faço. — Quero que olhe pra
mim enquanto eu te toco.
Engulo em seco.
Lorenzo não é gentil, mas nem de longe é ruim. Os dedos exigentes
e ávidos encontram a minha calcinha e a afastam para o lado, passando os
dedos entre as minhas dobras.
Sufoco um gemido.
Não pensei que não fazer barulho fosse tão difícil, mas sinto que
estou prestes a quebrar uma promessa.
Os dedos dele tocam o meu clitóris carente e os movimentos logo
encontram um ritmo gostoso e atroz. Elevo os braços e apoio em seus
ombros, em busca de um pouco de apoio.
— Lorenzo... — gemo.
— Quieta — ele ordena com a respiração pesada, enquanto introduz
dois dedos dentro de mim e me fode com vontade, quase tirando meus pés
do chão.
Lorenzo aproxima o rosto do meu e esmaga os meus lábios com
força, mergulhando a língua dentro da minha boca e me deixando sem ar e
ainda mais excitada e louca de tesão.
Os dedos dentro de mim fazem uma dança de vaivém viciante e
quando encontram um ponto específico dentro de mim, não consigo
controlar o gemido que escapa do fundo da minha garganta.
Ele me envolve num beijo selvagem outra vez, engolindo os meus
sons de luxúria e eu arqueio os quadris e as costas ao mesmo tempo em que
sinto as pernas estremecerem por causa das sensações incríveis que Lorenzo
causa em mim.
— Goza pra mim, Angioletta.
Mordo o lábio inferior para conter os gemidos e à medida em que
ele me penetra com os dedos e toca o meu clitóris sensível com o polegar,
pequenas ondas em espirais percorrem o meu corpo até o orgasmo explodir
com tudo, me rasgando e tomando conta de mim com força total.
Lorenzo agarra os meus cabelos da nuca e puxa um pouco antes de
cobrir a minha boca com a sua, afundando a língua em mim, abafando meus
sons incontroláveis ao mesmo instante em que prende meu corpo trêmulo
com o seu contra a parede do quarto.
Os dedos ainda continuam me penetrando devagar até o meu corpo
voltar ao normal e a minha respiração se estabilizar. Ao retirá-los, Lorenzo
os leva até a boca, sugando o mel do meu prazer.
Sinto as bochechas esquentarem, mas sorrio mesmo assim.
— Tão doce.
Suspiro.
— Volte vivo, por favor — peço e ele não verbaliza nada, no
entanto, me beija com intensidade, uma promessa silenciosa de que voltará
para mim.
— Não apronte — ordena, me arrancando um sorriso.
Antes de ir, ele deposita um beijo na minha testa e eu fico com o
coração na mão. Eu sei que Lorenzo sabe se cuidar, ainda assim, não há
como não me preocupar. Existe sempre a possibilidade de uma grande
merda acontecer.
Só espero que dê tudo certo e que Tommaso tenha o que merece.
Quando Luca, Will e eu chegamos na mansão de Tommaso em
Cleveland já é quase noite. Meu coração espanca o peito com força ao
encarar a residência de dois andares com uma imponente fachada revestida
de pedras.
Todos os momentos infelizes que passei neste lugar ao lado da
minha mãe e irmão enchem a minha cabeça de modo avassalador,
deixando-me ainda mais irritado e ensandecido, com sede e fome de
vingança.
Confiro o pente da minha pistola antes de olhar para o meu irmão ao
meu lado. Nós dois juntos, em busca do homem que fez da nossa infância
um inferno e tirou a vida da nossa mãe é tão emblemático.
— Pronto? — pergunto a Luca.
— Sim.
Troco um olhar com o William e assinto antes de invadimos a
mansão silenciosamente. Como Luca falou, não há muitos homens de
guarda cuidando da entrada e é fácil passar por eles.
Damos a volta no lugar e entramos pela porta da cozinha. Mal tenho
tempo de passar os olhos pelo cômodo quando o barulho de algo caindo no
chão invade os meus ouvidos.
— Susan — Luca sussurra, pedindo silêncio.
— O que é isso, menino? — pergunta com um cochicho, encarando
as nossas armas, em seguida, elevando as vistas para mim. — O que estão
fazendo? Isso não vai acabar bem — murmura ao tampar a boca com as
duas mãos.
— Faça silêncio, Susan — Luca dita uma ordem, mas é
estranhamente carinhoso com a velha mulher. — Eu vim acabar com tudo.
Ela volta com a atenção para Luca, segurando meu irmão pelos
braços.
— Ele é o Enzo, o seu irmão?
Luca anui.
— Tommaso mentiu pra mim, Susan. Enzo não me abandonou e não
matou minha mãe.
Susan esbugalha os olhos, surpresa e eu contraio o músculo da
mandíbula, furioso por aquele porco nojento ter contado mentiras sobre
mim.
— Sinto muito, querido.
— Onde ele está? — meu irmão quer saber.
— Na sala de jantar.
— Se esconda dentro da despensa, tá bem? Depois que acabarmos
com isso, você tá livre — Luca informa e a mulher chora, mas concorda
com um aceno de cabeça.
Sem fazer barulho, ele a guia para a despensa da cozinha e nós o
observamos com atenção.
— Como assim livre? — é William quem questiona, intrigado.
— Tommaso obrigava Susan a trabalhar aqui por causa de uma
dívida. Ela praticamente vive em cárcere privado aqui.
Sinto o sangue do meu rosto esquentar.
— Vamos acabar com isso de uma vez — grunho e rumo para o
corredor que dá na direção da sala de estar.
Ainda que a mansão seja grande, nas minhas memórias tortuosas, o
lugar era muito maior do que agora. Antes mesmo de chegarmos no fim do
corredor, um estampido ultrapassa os meus ouvidos, ecoando dentro da
minha cabeça, enquanto sinto uma dor aguda no meu ombro.
Luca me puxa para baixo e William atira, derrubando um homem
que eu nem tinha visto.
— O elemento surpresa já era — meu amigo resmunga, enfiando a
cabeça no fim do corredor para checar.
— Você foi baleado — Luca fala, encarando o sangue no meu
ombro.
— Eu tô bem — retruco ao ficar de pé. O ferimento arde e dói, no
entanto, já passei por coisa pior e não tenho tempo para ficar me
lamentando. — Preciso de dois homens vivos, William — lembro-o.
— Ainda não me disse o que fará com eles — o soldado devolve,
visivelmente curioso.
— Tenho alguns planos — é a única coisa que informo e faço um
gesto para que vá para o outro lado, enquanto Luca e eu rumamos para a
sala de jantar em busca de Tommaso.
Em frente à porta dupla, noto o peito de Luca subir e descer por
causa das respirações rápidas e assim que os seus olhos encontram os meus,
concordamos com um aceno, e nós entramos de uma vez.
O primeiro tiro vem na minha direção e passa de raspão no meu
braço. Ergo a arma para agir e vejo Luca avançar de forma imprudente e
derrubar o velho no chão. Meu irmão monta em cima dele e começa a
desferir socos no seu rosto, fazendo Tommaso rir.
— Resolveu se virar contra mim, putinha?
— Cala a boca — Luca grunhe. — Eu vou acabar com você —
ameaça e acerta outro soco nele, fazendo o homem cuspir sangue.
Aproximo-me dos dois e chuto a arma de Tommaso para longe,
depois, puxo Luca para se afastar dele, tentando de alguma forma controlar
o meu irmão ao mesmo tempo em que reprimo os meus instintos primitivos.
Ao contrário de Luca, se eu começar a bater em Tommaso, eu o
matarei e não quero fazer isso agora. Quero que ele sofra antes de
finalmente tirar a sua vida. Não darei uma morte simples a este verme.
Piso na mão de Tommaso e ele geme de dor, olhando para mim. A
surpresa que estampa o seu rosto ao me reconhecer é gratificante.
— Sentiu saudades de mim? — questiono ao dar um chute tão forte
na sua cara asquerosa, que ele desmaia.
Luca se inclina e acerta outro soco nele, descontando a sua raiva.
— Nunca mais faça isso — ordeno, sentindo as narinas expandirem.
— Fazer o quê? — berra, enfurecido.
— Colocar sua vida em risco — retruco e ele sai de perto de mim,
pisando duro.
Eu sei que quer vingança, eu também quero. Mas não a teremos se
estivermos mortos.

No vestiário da academia de Javier, William termina de suturar o


ferimento de bala no meu ombro ao mesmo tempo em que a voz de
Tommaso ecoa por todos os lados. É irritante pra caralho.
Desde que chegamos em Detroit e o algemamos dentro do ringue, o
imbecil não para de cantar. Eu sei que é uma tentativa desesperada de
chamar a nossa atenção, já que apenas o jogamos lá e o deixamos de molho
por horas.
— Acho que está na hora de falar com ele — digo ao vestir minha
blusa e torcer os lábios ao sentir uma pontada aguda no ombro.
Luca, que está sentado no banco acolchoado de frente para mim,
ergue os cílios para me encarar. Ainda está meio bravo comigo por causa da
ordem que eu dei a ele horas atrás, no entanto, eu sei que vai passar.
Faço um gesto com a cabeça para o meu irmão e não preciso dizer
nenhuma palavra para que ele saiba que tem que me seguir. Sob a voz
irritante de Tommaso, entramos na área do ringue e eu o observo com
atenção.
Há rugas por todos os cantos do seu rosto medonho e o cabelo
branco é evidente. Também está ficando calvo e a barba grande tem um
aspecto horrível. Assim que nos vê, o infeliz abre um sorriso largo.
Será um dos seus últimos sorrisos.
— Meus garotos.
— O tapa-olho combina com você — provoco e o sorriso no seu
rosto se desfaz imediatamente e eu curvo a boca. — Talvez eu arranque o
outro olho, o que acha?
Ele se remexe, soltando uma espécie de grunhido, quase como um
animal ferido.
— Por que não me mata logo, moleque?
Rio ao entrar dentro do ringue e ficar de frente para ele, lembrando
de todos os momentos que passamos juntos e de todas às vezes que ele me
fez sentir medo quando eu era apenas um garoto indefeso.
Lembrando de todas as vezes que ele machucou a mim e ao meu
irmão.
Lembrando de quando ele matou a nossa mãe na minha frente e na
frente de Luca, tão pequeno e indefeso.
— Não vou te matar agora — informo e os olhos dele se
esbugalham em surpresa. — Vamos nos divertir um pouco antes, o que me
diz? Sabe que dia é hoje?
— Não me importa — retruca entre os dentes.
— Meu aniversário e ter você assim... é maravilhoso. O melhor
presente de todos.
Tommaso desvia a atenção de mim e encaminha para Luca ao
mesmo tempo em que se remexe, tentando se soltar das algemas.
— Seu traidor de merda! — esbraveja, colocando para fora a raiva
que sempre direcionou a nós quando éramos crianças. — Eu te criei, te dei
um teto pra morar e comida, e é assim que me agradece? Se juntando ao
homem que matou sua mãe?
— Não seja ridículo, Tommaso. Luca sabe da verdade.
— Nunca te pedi nada, porco — meu irmão devolve, áspero. — Eu
sempre tentei fugir, mas você me levou de volta todas as vezes.
Tommaso faz um estalo com a língua e sacode a cabeça de um lado
para o outro, logo em seguida, começa a gargalhar de uma forma
escandalosa e que arranha os meus ouvidos.
Talvez eu arranque a sua maldita língua.
— Acha que eu fazia isso por gostar? — questiona, inclinando a
cabeça para o lado, ainda rindo de maneira estridente. — Eu apenas... não
podia deixar que você tivesse uma vida boa como Enzo — admite, fazendo-
me apertar o músculo da mandíbula.
— Sabia onde eu estava? — quero saber.
— Sempre soube, mas sou paciente e eu esperei pelo momento
certo. Queria tirar tudo de você novamente como eu fiz da primeira vez —
zomba
Aproximo-me de Tommaso e fico de cócoras, nivelando os nossos
rostos.
— Mentiroso. Você não foi atrás de mim, porque teve medo, não é?
É homem o suficiente para bater em mulheres e crianças indefesas, mas não
é páreo para homens de verdade. É fraco.
Ele espreme os lábios e enruga o nariz, transformando o rosto feio
em uma careta horrenda.
— Não fale merda, moleque. Me solte e veja, eu acabaria com você
em menos de um minuto.
Dou meio sorriso para ele, deixando o velho ainda mais irritado.
— Por enquanto, a única coisa que vai acontecer aqui é você
algemado, sozinho, pensando que horas vai morrer — digo e volto a ficar
de pé, girando nos calcanhares para sair do ringue.
Luca fica parado, observando Tommaso, irredutível, mas eu o puxo,
obrigando-o a sair de perto e deixar o homem sozinho pelas próximas horas.
Voltamos para o vestiário e William está na porta, encostado no
batente, nos esperando.
— E agora? — o soldado pergunta.
— Apague as luzes e o deixe esperando até amanhã — ordeno, e
meu soldado assente.

Dia seguinte...
Tratar Tommaso como um animal enjaulado, deixá-lo sem água ou
comida é gratificante pra caralho. Ele parou de cantar e o sorriso arrogante
não estampa mais o seu rosto horrendo.
Eu prolongaria isso por dias, mas o velho filho da puta já começou a
cuspir sangue. Não darei a chance de ele morrer por causa da sua doença
maldita. Quero me divertir antes de mandá-lo direto para o fogo do inferno.
São quase dezenove horas quando entro no ringue outra vez, com
Luca no meu encalço. Faz quase vinte e quatro horas que o capturamos.
— Lá vem os meninos de ouro — Tommaso fala, a voz esganiçada
me irritando. — Aquela vagabunda deve estar orgulhosa, os dois filhos
imprestáveis juntos de novo.
Luca rosna um palavrão e ameaça ir para cima de Tommaso, mas eu
o impeço. Apesar de odiar vê-lo falar da nossa mãe, o que tenho em mente
para as próximas horas fará com que ele sofra.
— Tenho dois desafios pra você, Tommaso — falo e enfio a mão
dentro do bolso para pegar a chave das algemas. — Se conseguir sair vivo
dessa, eu te dou água e comida. E, claro, tiro você deste lugar.
Ele estreita os olhos para mim.
— O que você pretende fazer, moleque?
Sem articular uma palavra, aproximo-me dele e o livro das algemas.
Luca enruga o rosto, mas assim que trocamos um olhar, ele sai de dentro do
ringue. Desconfiado, Tommaso se levanta e alonga o pescoço e os braços.
— Não aguentava mais ficar algemado — resmunga, respirando
fundo e em seguida, abre um maldito sorriso para mim. — Que merda você
tem na cabeça?
Olho para ele por um longo e intenso segundo, mas não digo nada
de imediato. Luca e William surgem no ringue com um dos homens de
Tommaso, que parece confuso ao ver o chefe.
— É simples. Quem vencer, ganhará o jantar e o segundo desafio.
Ergo uma sobrancelha para Tommaso e curvo o canto da boca. Luca
e Will jogam o homem dentro do ringue e se afastam. Olhando para os dois,
eu recuo alguns passos e apenas observo.
— Isso é ridículo — Tommaso resmunga.
— Então, apenas deixe o seu subordinado ganhar — provoco com
deboche, atiçando a fúria do homem.
— Enzo, isso vai dar certo? — Luca pergunta, ainda receoso.
— Sim.
Cruzo os braços na altura do peito e observo os dois se atracarem
como galos de briga. Embora tente se defender, o homem de Tommaso é
derrubado no chão com facilidade e o velho aproveita o momento para
socá-lo até deformar o seu rosto.
Depois de matá-lo, ele fica de pé e levanta os braços, zombando.
— Que horas será o jantar? — resmunga e cospe sangue no chão,
sorrindo com sarcasmo para mim e meu irmão.
— Will traga o próximo homem — ordeno e assim, meu soldado o
faz.
— Ah, Enzo. Sabemos que vou vencer — se gaba, respirando fundo
e movendo os ombros. — Vai insistir?
— Sim — respondo, simplesmente.
O próximo homem é jogado dentro do ringue e Luca começa a
passar a mão no topo da cabeça, ansioso. Tommaso leva alguns socos, mas
não é fácil derrotá-lo e acontece exatamente como da primeira vez, o
maldito velho derruba o adversário e o mata a socos.
— O que você disse sobre eu não ser páreo para homens de
verdade? — ele questiona, rindo.
— Tire os corpos do ringue, William — ordeno ao mesmo tempo
em que entrego a chave da algema para Luca, que arregala os olhos para
mim.
— Não tá pensando em lutar com ele, não é? Não foi isso que
combinamos, Enzo.
— Não se preocupe comigo — é a única coisa que digo ao abrir
meio sorriso para o meu irmão e arregaçar as mangas da blusa social até o
cotovelo. — Não vou perder pra ele.
— Enzo... — Luca murmura, mas eu o ignoro.
Ao entrar no ringue, William lança um olhar sagaz para mim e
assente com um pequeno sorriso. Devagar, caminho até Tommaso e paro
alguns passos de distância, encarando os olhos do porco miserável.
— Que horas vai servir a porra do meu jantar?
Sorrio de lado.
— Acho que dei a entender errado. Você será o jantar em breve — é
o que digo e ele franze o cenho, sem entender. — Tenho cachorros famintos
esperando a hora certa de comer carne — digo entre os dentes.
Ele cerra a mandíbula e infla as narinas.
— Enzo, Enzo... acha que pode fazer isso comigo?
— Sim — respondo, simplesmente. — Eu posso.
— Eu vou te matar dentro desse ringue, Enzo. Sabe disso, não é?
Daí seu irmãozinho e a sua namoradinha ali vão me matar depois, mas vai
valer a pena.
— O único que morrerá aqui é você, mas não se preocupe,
Tommaso. Eu vou te deixar vivo. Pelo menos um pouco, o suficiente para
sentir os dentes dos cachorros dilacerando a sua pele.
O rosto dele se enche de fúria e o velho avança para cima de mim,
mas diferentemente de quando eu era criança, é fácil desviar dos golpes e
acertar socos no seu rosto medonho, fazendo alguns dentes voarem pelo
ringue.
Sinto o coração bombear alto dentro dos ouvidos à medida em que a
raiva vai me consumindo e as lembranças enchem à minha cabeça, fazendo-
me cruzar um estado de êxtase e natureza animal.
Cada soco em Tommaso é por mim.
Pelo meu irmão.
Pela minha mãe.
Cada soco é pela inocência e esperança que ele nos roubou quando
éramos crianças.
No momento em que volto a mim, sinto as mãos de Luca em cima
de mim e minha respiração ofegante. Olho para o chão e vejo Tommaso
com o rosto arrebentado, mas ainda está vivo.
— Quer matá-lo ou deixar que os cachorros terminem o trabalho?
— Luca pergunta, buscando os meus olhos.
Sinto uma dor aguda no meu ombro ferido e resmungo de dor. Tão
cego pelo ódio e raiva, desliguei parte do meu cérebro e por alguns minutos,
a única coisa em que me concentrei foi acertar socos em Tommaso.
— Diga para William trazer os cachorros — falo, sentindo um
estranho sentimento de felicidade e vitória encher o meu peito.
Tommaso se arrasta para trás.
— Não, Enzo. Vamos conversar, por favor — murmura ao mesmo
tempo em que se arrasta, uma tentativa inútil de fugir do seu destino. — Por
favor, me mate. Me mate de uma vez.
Começo a rir com deboche.
— Interessante. É a primeira vez que o vejo implorar.
— Enzo, por favor. Me mate. Não quero morrer assim — suplica,
encarando-me e eu balanço a cabeça de um lado para o outro.
— Pare de implorar, não combina com você — ordeno e ele trinca
os dentes, tentando se levantar, mas desiste no momento em que ouve os
latidos agressivos dos cães e fica de joelhos no chão.
Olho por cima do ombro e vejo William se aproximar com os seus
três machos de cor preta da raça Cane Corso. Dou um passo para o lado e
meu soldado se aproxima, fazendo força para não se deixar levar pelos
cachorros.
— Sentem — Will dá um comando de voz e mão e, imediatamente,
os três obedecem, encarando Tommaso, que treme dos pés à cabeça.
Luca se junta a nós e eu me aproximo de um dos cachorros,
passando a mão no topo da cabeça, atraindo o olhar do cão para mim.
— Eles são inofensivos — zombo e William ri ao soltá-los da
coleira. Surpreendentemente, nenhum deles sai do lugar. — O que acha?
— Enzo... — Tommaso insiste e fica de pé, cambaleando. — Seja
homem e me mate.
— Eu disse que sentiria os dentes dos cães dilacerando a sua pele —
grunho e abro um pequeno sorriso vitorioso.
— Luca! — Tommaso grita, uma última tentativa de nos fazer
mudar de ideia.
— Te vejo no inferno — meu irmão retruca.
— William — é a única coisa que preciso dizer.
— Meninos, chegou a hora do jantar. Vão! — meu soldado grita e
em sincronia, os três cachorros avançam em cima de Tommaso, o
derrubando no chão, cravando os dentes por toda a sua pele, enquanto ele
grita de dor.
Tudo parece acontecer em câmera lenta e é gratificante pra caralho.
Os gritos de dor e desespero de Tommaso são como música para os
meus ouvidos e enquanto ele se debate a cada mordida, rumo para perto
dele, apenas o suficiente para encará-lo e não incomodar os cães.
Agacho-me perto da sua cabeça e focalizo seus olhos desesperados,
perdidos em uma agonia sufocante.
— Meu nome é Lorenzo e sou a última coisa que você verá antes de
chegar ao inferno.
Eu sabia que a vingança de Lorenzo contra o homem que destruiu a
sua família não seria rápida, ainda assim, passar tanto tempo sem vê-lo,
quase me corroeu de preocupação, mesmo tendo o papà falando que tudo
estava bem, foi impossível ficar tranquila.
Por isso, assim que soube que Lorenzo foi para o apartamento, fiz
Paolo me trazer até aqui. Claro que papai não gostou. São quase vinte e três
horas e uma mulher “virgem” não deve ficar sozinha tão tarde da noite com
um homem, mesmo que ele seja o seu futuro marido.
— Vou esperar aqui fora — Paolo informa quando chegamos em
frente a porta do apartamento do subchefe da organização. — Ordens do
seu pai, Angelina — emenda quando enrugo o rosto numa careta de
desgosto.
— Tudo bem. Não vou demorar.
Sem cerimônia, soco a mão dentro da bolsa e tateio até encontrar a
minha cópia da chave, surpreendendo o soldado ao encontrá-la. Dou de
ombros e abro a porta, mandando um beijo para Paolo antes de entrar.
As luzes do apartamento estão acesas, mas há um completo e
estranho silêncio no lugar. Segurando a alça da minha bolsa no ombro, eu
caminho até o quarto de Lorenzo e empurro a porta para entrar bem na hora
que ele sai do banheiro com uma toalha em volta da cintura.
Perco alguns segundos admirando os gominhos do seu abdômen
marcado e estou prestes a abrir um sorriso sexy e provocante quando vejo o
curativo sujo de sangue no ombro dele.
— Angelina... — diz, surpreso.
— Meu Deus! Papai disse que você estava bem.
Corto a nossa distância com passos apressados e estendo a mão para
tocar o curativo no seu ombro. Sinto o calor dos seus olhos em cima de
mim e o cheiro de sabonete cítrico dançando pelo ar me faz sentir bem e
aliviada por vê-lo.
— O que aconteceu?
— Não é nada — é o que diz, erguendo uma das mãos e envolvendo
no meu pescoço, os dedos se entrelaçando nos meus cabelos da nuca e
enviando um comando louco para o meio entre as minhas pernas. — O que
está fazendo aqui?
— Paolo me trouxe. — Faço um muxoxo. — Fiquei preocupada —
resmungo, deixando meus ombros caírem.
— Acabou.
Assinto ao prensar os lábios.
— Ele teve o que merecia?
— Sim.
— Como se sente? — quero saber.
— Nunca vou esquecer o que Tommaso fez, mas me sinto bem.
Suspiro e contorno o seu pescoço com os meus braços, prendendo
os olhos azuis e impenetráveis a mim. Fico na ponta dos pés e grudo nossos
lábios de leve, uma tentativa de mostrar que agora tudo vai ficar bem de
verdade.
— Sinto muito por tudo que passou, Lorenzo — murmuro, falando
abertamente sobre o assunto pela primeira vez. — Sinto muito que tenha
perdido sua mãe e que tenha ficado tanto tempo longe do Luca.
— Eu sei.
Abro meio sorriso.
— Ela deve estar orgulhosa de você agora.
Lorenzo balança a cabeça de um lado para o outro, negando.
— Acho que não, Angioletta. Aquele menino que ela amava...
morreu há muito tempo.
Faço carinho no seu rosto com as pontas dos dedos, roçando na
barba.
— Está enganado, Lorenzo. Nada disso importa, porque você
sempre será filho dela. Você é meu Lorenzo, mas nunca deixará de ser o
Enzo dela — murmuro e ao me ouvir, os olhos dele cintilam com uma
emoção que não consigo decifrar, e então, ele traz o rosto para perto de
mim, esmagando minha boca com a sua, afundando a língua em mim
enquanto me aperta contra o próprio corpo.
As mãos dele descem até os meus seios e apertam, me roubando
gemidos manhosos e eu acabo deixando a bolsa cair no chão. Com pressa,
Lorenzo desliza o meu casaco sobre os meus braços e os dedos ágeis
procuram a barra da minha blusa de manga longa e quando me dou conta,
ele está passando a peça de roupa por cima da minha cabeça, pronto para
tirar o resto das minhas roupas.
— Espera... — murmuro.
— O quê?
— Quero sentir o seu gosto antes — digo com o coração
bombeando rápido no meio da garganta e as bochechas queimando.
Um olhar devasso toma conta dos olhos azuis dele e mordo o lábio
inferior no momento em que o homem agarra as minhas mãos junto as suas
para puxar a toalha em volta da cintura, revelando a ereção rígida e pronta
para mim.
— Fica de joelhos pra mim, Angioletta — ele ordena, acelerando a
minha respiração.
Engulo em seco e obedeço, sem desviar a atenção dos olhos
flamejantes de Lorenzo. Gemo ao sentir a mão firme agarrar os meus
cabelos da nuca e puxar com a força certa, arrepiando a minha espinha
dorsal.
— Abre a boca — outra ordem sexy pra caramba.
Umedeço os lábios antes de fazê-lo e, em seguida, com a mão livre,
ele segura o pau rijo e eu não lembro a última vez que me senti tão ansiosa.
Com paciência, ele passa a cabeça do pau entre os meus lábios e me
pede para lamber. Olhando nos seus olhos, eu passo a língua na glande,
misturando a minha saliva com o seu pré-gozo e é tão delicioso.
Ele solta um som gutural, respirando pesado.
Num movimento lento, Lorenzo vai me fazendo engolir o seu pau e
à medida que o faço, noto o seu corpo reagir. Ele afunda o membro um
pouco mais e depois o tira e rápido, pego o jeito.
— Caralho... isso — grunhe.
Cubro o pau dele com os lábios mais uma vez e tento ir mais fundo,
ao voltar para a cabecinha, demoro um pouco mais nessa região, passando a
língua e o lambuzando inteiro.
Ele rosna, puxando o meu cabelo, me incitando a continuar.
Lambo toda a extensão pulsante e quente da sua carne antes de
voltar a abocanhá-lo, engolindo até onde aguento, ouvindo os gemidos de
rendição que Lorenzo dá para mim.
Conforme vai se entregando ao prazer, Lorenzo joga a cabeça para
trás e entrelaça a outra mão no meu cabelo. Contorno o seu membro com os
dedos e massageio num vaivém firme e ritmado, sincronizado com os meus
lábios.
— Angelina... — ele geme e é surreal ouvi-lo chamar meu nome em
uma hora de entrega total assim.
Lorenzo é meu.
Apenas meu.
Deixo-me guiar pelo instinto e uso a minha mão livre para dar um
pouco de atenção para as bolas, tocando-as com cuidado, apertando de leve
e o corpo do homem contrai inteiro ao mesmo tempo em que rosna.
— Caralho, Angelina, se continuar assim, você vai acabar comigo
— resmunga, ofegante.
Continuo chupando o pau de Lorenzo com vontade, buscando o
momento em que ele perderá o controle e gozará, se entregando
completamente.
— Angelina... — grunhe, abaixando as vistas para me encarar, mas
não paro ou diminuo o ritmo.
Desço mais com os lábios, molhando o pau dele inteiro e chupando
a glande, enquanto mantenho meu olhar firme nos seus. A minha mão na
base bombeia a carne pulsante num ritmo sincronizado.
Assim que ele entende que eu quero fazê-lo gozar, os dedos de
Lorenzo apertam um pouco em volta da minha nuca, mas não me
machucam, apenas o suficiente para sintonizar com o seu ritmo.
Encarando os olhos azuis, eu o sugo, lambendo e apertando as bolas
de leve, vendo o homem inabalável fechar os olhos conforme o seu
orgasmo o invade e o faz tensionar cada músculo do seu corpo.

E, então, Lorenzo goza dentro da minha boca e eu sem pensar muito,


engulo o líquido quente, deixando-o ainda mais excitado. Lambo os lábios e

mal tenho tempo de falar algo, ele me ajuda a levantar e me coloca deitada
em cima da cama.

Sem dizer nada, ele retira as minhas sandálias e abre o zíper da


minha calça jeans, puxando-a pelas minhas pernas, em seguida, enfia dois
dedos nas laterais da calcinha e arrasta para baixo.
Mal apoio os cotovelos na cama para observá-lo e ele mergulha o
rosto entre as minhas pernas, lambendo a minha boceta sem delicadeza
nenhuma, mas é tão bom que me faz jogar a cabeça para trás e abrir mais as

pernas.

— Você já tá melada, Angioletta — murmura, a voz vibrando contra


o meu clitóris em chamas.

Sufoco um gemido manhoso ao senti-lo me penetrar com dois dedos


sem aviso prévio. Arqueio o quadril, dando mais acesso a ele, pedindo mais

mesmo sem dizer nenhuma palavra.

Lorenzo abocanha meu clitóris, sugando o meu ponto de prazer sem


perder o ritmo das investidas dos seus dedos na minha abertura ensopada.
Começo a mexer os quadris, rebolando na sua mão e língua, implorando por
mais.

— Lorenzo... — gemo.

— Você é tão deliciosa, Angelina — ele uiva, como uma fera


indomável, atiçando cada terminação nervosa do meu corpo.

— Isso é tão bom — chio, sentindo os dedos dele brincarem com


um ponto específico dentro de mim. — Por favor... — murmuro.

De repente, ele retira os dedos de dentro de mim e me agarra pela


cintura, me colocando de quatro.
— Empina esse rabo pra mim — ordena ao desabotoar o meu sutiã e
eu apenas obedeço, gemendo ao sentir um tapa forte na bunda, que vibra
direto nas minhas entranhas e faz meu ponto sensível se contorcer.

Lorenzo agarra um dos meus seios com força e a outra mão guia o
seu membro duro até a minha entrada, enfiando tudo de uma vez, me
esticando inteira. Deixo escapar um grito, que tenho certeza de que Paolo lá
no corredor ouviu.

As duas mãos se firmam no meu quadril e me guiam num ritmo

rápido e intenso, que nem me dá tempo de raciocinar. Cada estocada é mais


profunda e faz meu corpo se contorcer de prazer debaixo dele.

— Lorenzo...

Ele desliza as mãos pelo meu corpo, apertando os meus seios,


marcando cada parte da minha pele como sua.

— Rebola no meu pau.

Depois de ouvir as palavras, eu faço exatamente o que ele quer e


tenho que controlar os tremores do meu próprio corpo.

— Linda — sussurra no pé do meu ouvido, mordiscando o lóbulo da


minha orelha. — Toda minha — grunhe, cravando os dentes no meu ombro,

marcando a minha pele com força.


— Sua — concordo, jogando a cabeça para trás, completamente
rendida.

Assim que o sinto brincar com o meu clitóris inchado, eu gemo e

sinto as pernas tremerem por causa do prazer intenso. Cada partícula do


meu corpo parece querer entrar em combustão e meu coração bate tão
rápido dentro dos ouvidos, que a sensação é que vou ficar surda.

— Lorenzo...

— Goza no meu pau, Angioletta — ele grunhe uma ordem, é tão

sexy. — Goza no pau do único homem que vai te ter assim — emenda de
maneira incisiva, penetrando cada vez mais forte.

Ainda com as investidas fortes e ferozes de vaivém, os dedos no


meu ponto de prazer, Lorenzo busca o meu rosto para um beijo selvagem e

impiedoso, mordendo meu lábio com força, arrancando gemidos de prazer e


dor de mim, uma mistura que nunca imaginei gostar tanto.

Meu corpo entra em um estado de êxtase completo e eu estremeço


inteira, dos pés até o couro cabeludo quando as ondas vibrantes me invadem
e eu me entrego ao meu orgasmo intenso, gritando o nome do homem que

eu amo desde sempre.

Completamente arrebatada pelo prazer, eu gozo no pau de Lorenzo,


sentindo pequenos choques no meu corpo, que ameaça desabar por causa do
prazer violento que domina meu ser.

Lorenzo passa o braço em volta da minha cintura, me mantendo

firme contra ele e continua se afundando em mim com força, em busca da


sua própria satisfação e, ao encontrá-la, ele geme o meu nome, totalmente
rendido também.

Sorrio, mordendo o lábio inferior e sinto um leve gosto de ferrugem.

Ele sai de dentro de mim e nós desabamos na cama, com as

respirações pesadas. Sinto meu coração se aquecer quando Lorenzo me


puxa para os seus braços fortes e suados e deposita um beijo casto no topo
da minha cabeça.

— Eu amo você, Angelina — ele é o primeiro a dizer.

Apoio a mão sobre o seu peito e ergo a cabeça para encará-lo,

incapaz de esconder o sorriso bobo.

— Pode dizer de novo?

— Por quê? — rebate, franzindo o cenho.

— Porque sou eu quem sempre diz primeiro — murmuro,


enrugando o nariz e fazendo biquinho.

Ele abre um sorriso maroto.


Lorenzo prende uma mecha de cabelo detrás da minha orelha e fixa

bem os olhos nos meus, contemplando o meu rosto com atenção.

— Eu amo você, minha Angioletta — sussurra com a voz incisiva,


acelerando meu coração. — Amo muito. Eu amo mais do que qualquer
coisa na minha vida.

Com um sorriso largo, eu inclino mais a cabeça para beijar seus

lábios macios, sentindo o gosto dos nossos sexos.

Lorenzo volta a me aninhar e eu encosto a cabeça sobre o seu peito,


ouvindo seus batimentos cardíacos, que surpreendentemente estão em
sincronia com os meus, como se nossos corações se completassem.

O som é tão hipnotizante e certo, como se o começo “proibido” do

nosso amor fosse um mero detalhe para todo o resto. Mas, talvez, a verdade
seja mesmo essa, que seu coração impenetrável nasceu para completar o
meu de todas as formas.

Eu amo Lorenzo.

Eu amo Lorenzo desde sempre.

E ele nasceu para ser meu.


Anos atrás...
Odeio o dia de hoje.
Há tantas coisas que eu quero esquecer, mas as lembranças do meu
último aniversário não saem da minha cabeça. Mamãe, Luca e eu tomando
sorvete, depois, a surra que levamos de Tommaso.
Eu sei que tudo passou, mas não consigo colocar uma pedra no
passado e encontrar motivos para comemorar o dia de hoje.
E me sinto tão ingrato por isso.
A madrinha e o padrinho estão sendo ótimos comigo. Não pensei
que pessoas sem o mesmo DNA que o meu pudessem ser tão boas comigo,
a ponto de me tratar como um membro da família.
Ainda me sinto estranho, e às vezes, tenho sonhos ruins.
Pesadelos em que eles se dão conta de que sou um estorvo e me
colocam para fora da mansão e eu tenho que viver correndo, sozinho e sem
saber para onde ir.
Respiro fundo e rolo para fora do colchão, mesmo contra a minha
vontade, tomo um banho e coloco roupas limpas. Prometi a madrinha que
desceria hoje e não me esconderia o dia inteiro no meu quarto como fiz na
primeira semana morando aqui.
Ela sabe que é meu aniversário e eu disse que não precisava se
incomodar comigo, mas a verdade é que não sei o que esperar.
Desço as escadas e vou direto para à cozinha. Meu coração afunda
contra o peito e os olhos ardem ao ver um bolo grande e cheio de chantili
branco em cima da mesa.
— Surpresa! — a madrinha fala com um sorriso meigo e gesticula
com a mão para que eu me aproxime.
Ao redor da mesa, Martina está sentada em uma das cadeiras,
usando um chapéu de festa de aniversário azul. A pequena Angelina
também tem um, mas em vez de estar em cima da cabeça, ela tenta comê-lo.
Ela e a bebê Caterine estão sentadas nas suas cadeiras especiais para bebês,
bem presas com os cintos para não caírem.
Arrasto a cadeira e sento-me à mesa, tomando um leve susto quando
a madrinha segura meu rosto com as duas mãos e me dá um beijo na
bochecha.
— Feliz aniversário, Lorenzo.
— Obrigado — murmuro, sem jeito.
O padrinho entra na cozinha, segurando uma caixa com embrulho
azul e laço vermelho, arregalando meus olhos. Ao parar ao meu lado, ele
bagunça meu cabelo e me entrega o presente.
— Feliz aniversário.
— É pra mim? — pergunto, perplexo. Não lembro a última vez que
ganhei um presente tão grande. Talvez nunca tenha acontecido.
— Sim.
— Quer abrir antes ou depois de assoprar as velas? — a madrinha
pergunta.
— Posso abrir a agora?
Ela abre um sorriso e assente, movendo as mãos para que eu abra a
caixa.
Timidamente, desfaço o nó do laço e rasgo o embrulho, revelando
um vídeo game de última geração. Fico boquiaberto, porque só vi um
desses na televisão.
— Uau — balbucio. — Tem certeza de que é pra mim? — pergunto
ao meu padrinho sem jeito, porque deve ter sido muito caro e não sei se
mereço um presente desses.
— Claro que sim, garoto.
Sinto os olhos arderem.
— É demais. Muito obrigado.
Fico de pé e contorno a cintura dele com os braços, envolvendo-o
num abraço meio tímido, que ele retribui me apertando contra o próprio
corpo, me fazendo sentir bem e seguro.
E, também, amado.
— Que tal acendermos as velas? — minha madrinha pergunta e eu
concordo com um aceno.
Ela acende as treze velas pequenas em cima do bolo e todos cantam
parabéns para mim, acelerando o meu coração e eu tento me manter forte,
escondendo as lembranças dolorosas bem no fundo da minha mente.
— Faça um pedido antes de apagar, querido — ela pede, acariciando
as minhas costas.
Fecho os olhos e antes de assoprar as velas do meu aniversário, eu
peço para nunca perder essa família.
Alguns meses depois...
O quadro que mandei fazer tem um pouco mais de um metro de
altura e setenta centímetros de largura. A moldura é feita de madeira escura
entalhada à mão, com pequenos detalhes delicados intricados que dão um
toque elegante e refinado.
No centro, há uma bela foto minha com Lorenzo.
Estou usando um vestido deslumbrante de noiva, com mangas
longas e cheio de detalhes em diamantes. Meus cabelos estão meio soltos,
presos no véu branco transparente.
Lorenzo está à minha frente, usando um terno preto e bem passado
com gravata borboleta, mostrando toda a sua imponência. Os cabelos estão
penteados de um jeito despojado, mas que combina muito com o jeito
formal e com a barba bem-feita.
Nossas testas estão encostando uma na outra, enquanto nossos
narizes quase se roçam. Ele mantém uma mão apoiada em meu pescoço e a
outra, firme na minha cintura, enquanto eu, sustento uma por cima do seu
antebraço e a outra, escorada no seu peito forte.
Lorenzo está sério, mas tem um olhar apaixonado para mim, e eu
sorrio para ele, esperando o beijo que meu marido me deu logo depois do
clique no dia mais feliz da minha vida.
Meu casamento.
— Meu Deus, querida. Ficou simplesmente lindo — a mamma
comenta ao admirar o quadro enorme.
Abro um sorriso amplo.
— Me diz se não é o casal mais lindo que a senhora já viu na vida?
— me gabo, arrancando uma risada contagiante dela.
— Que tal colocarmos na sala de estar para que todos possam ver
essa bela obra de arte? — pergunta, sugestiva.
Nego com a cabeça, surpreendendo-a.
— Tentador, mas não. Papai ainda é o Don e a senhora é a matriarca
da família. Por enquanto, ficará no meu quarto e de Lorenzo — murmuro,
suspirando e admirando a fotografia em tamanho real. — Mas não se
preocupe, mandei fazer chaveiros para todos — zombo, fazendo a mamma
arregalar os olhos.
— Uau! — Barbara diz ao encarar o quadro no hall de entrada. — É
lindo... e enorme.
Olho para trás e noto que Caterine e Violetta também se juntaram a
nós. Todas têm alguma coisa para falar sobre o meu quadro enorme, mas
fico feliz que sejam apenas elogios, apesar de eu ter consciência que
exagerei um pouco no tamanho.
— Preparada? — Caterine questiona, buscando meus olhos e eu
respiro fundo, dando de ombros.
Faz um pouco mais de dois meses que Lorenzo e eu nos casamos e
eu já estou grávida. Se o papà se esforçar e fizer as contas, vai deduzir que
eu engravidei antes de subir no altar, mas estou contando com a sorte.
— Vai dar certo — minha irmã sussurra, piscando para mim e eu
concordo com um aceno de cabeça.
A mamãe e as meninas saem do hall e me deixam sozinha, com a
fotografia do meu casamento. Admiro Lorenzo por mais uns minutos e
estou prestes a sair quando tomo um leve sobressalto ao sentir mãos quentes
e familiares me abraçarem por trás e os lábios macios tocarem a curvatura
do meu pescoço.
— Você é linda — Lorenzo sussurra, encarando o quadro.
— Muito exagerado?
— Não, meu amor.
Sorrio.
De mansinho, ele faz carinho na minha barriga, aninhando o nosso
filho ou filha. Desde que soube da gravidez, o homem parece estar nas
nuvens e feliz de um jeito que eu nunca vi antes.
— Ansioso? — quero saber.
— Sim. Não vejo a hora que todos saibam — devolve, e eu rio,
jogando a cabeça para trás e virando um pouco para beijá-lo de leve.
Quase meia hora depois, Martina e Danilo chegam para a grande
noite e nós nos acomodamos na sala de estar para esperar o jantar ficar
pronto. E, também, Luca chegar. Não quero começar nada sem ele e não
tenho certeza se vem.
Foi difícil fazê-lo ir ao nosso casamento e fiquei tão feliz quando o
vi, porque sei que é importante para o meu marido. Existem muitas coisas
que Luca precisa lidar, eu sei, mas não podemos simplesmente deixá-lo
passar por tudo sozinho.
Ele é parte da nossa família também.
A campainha toca e eu troco um olhar com Lorenzo. Estendo a mão
e ele entrelaça os dedos nos meus para irmos juntos receber o seu irmão.
Respiro fundo antes de abrir a porta e fico tão aliviada ao ver Luca na
varanda, segurando um buquê de flores.
— Trouxe pra você — fala sem jeito e evitando olhar para mim.
— São lindas. Obrigada — digo ao pegar as flores e me inclinar um
pouco para cumprimentá-lo com dois beijos na bochecha, deixando o
homem ainda mais tenso, mas é fofo.
Lorenzo contorna o ombro do irmão com um braço e aperta de leve,
enquanto caminhamos para a sala de estar. É claro que meu cunhado vê o
quadro enorme no hall, mas não faz nenhum comentário, apenas olha para o
irmão, que sorri.
Maria me encontra na porta e eu peço que cuide do meu buquê com
carinho ao me juntar a todos.
Luca cumprimenta todos e embora seja evidente a timidez, ele se
esforça para se entrosar, o que me deixa meio orgulhosa.
Após várias taças de vinhos e é claro que eu não bebi nenhuma,
rumamos para a sala de jantar. Nos divertimos tanto em família, que não
vejo a hora passar e por incrível que pareça, Danilo e eu não nos
alfinetamos nenhuma vez.
Martina deve estar orgulhosa de nós dois.
Quando todos terminam a sobremesa e elogiam o delicioso tiramisù
que a mamãe fez para a noite, eu pigarreio e fico em pé. Lorenzo me
acompanha, atraindo a atenção de todos.
— Preciso contar algo a vocês — digo e olho para Lorenzo,
entrelaçando os nossos dedos. — Estou grávida.
Tudo vira uma gostosa bagunça eufórica e feliz. Meus pais são os
primeiros a levantarem para nos abraçarem e darem os parabéns, e apesar
das minhas irmãs já saberem, seguem o roteiro e me parabenizam também.
Luca é o último a vir até nós. A expressão no rosto é séria, mas os
olhos brilham tanto de emoção, que faz meu coração acelerar.
— Parabéns, Enzo. Eu... eu... estou feliz — fala ao abraçar forte o
irmão e fazer minhas vistas arderem.
Ele olha para mim sem jeito e eu estico os braços, acolhendo Luca
num abraço de urso. Nenhuma palavra mais sai de entre os seus lábios, mas
ouço a sua respiração pesada e profunda.
Assim que ele se afasta de mim, eu pego a sua mão e Luca fica
paralisado, me observando.
— É sua família também — murmuro, levando a mão dele até a
minha barriga, fazendo-o engolir em seco. — Nós somos a sua família,
Luca — emendo e ele encaminha os olhos para o irmão, emocionado.
— Obrigado — murmura e eu sorrio.
Lorenzo envolve os braços em mim e beija a minha têmpora ao me
puxar contra si quando o irmão se afasta de nós.
— Eu amo tanto você, minha Angioletta — diz, apoiando o rosto no
meu pescoço e respirando fundo. — Você é tudo pra mim e não existe nada
na porra desse mundo que eu não faria por você, sabe disso, não é?
Sorrio.
— Sim, eu sei.
— Nunca achei que fosse merecedor do seu amor, mas que se dane,
você é minha e eu queimaria o céu e destruiria o inferno por você, minha
dolce Angioletta[14] — sussurra as últimas palavras, vibrando no lugar
interessante entre as minhas pernas. — Doce como o pecado.
— Eu te amo, Lorenzo Falcucci. Eu amo desde sempre.
Ele curva a boca num sorriso lascivo e convencido.
— Eu sei. Você é minha desde sempre.
Enrugo o nariz e assinto.
— Não há como argumentar com isso.
— E eu nunca fui de uma mulher como eu sou seu — admite,
acelerando o meu coração e me fazendo a mulher mais feliz do mundo.
— Apenas meu... meu amor proibido.
Ele traz o rosto para mais perto de mim e roça os lábios no meu
pescoço, me arrepiando inteira.
— Apenas seu.
Não foi fácil ultrapassar as barreiras impenetráveis de Lorenzo e
chegar no seu coração ferido e solitário, mas que bom que nunca desisti do
meu amor que sempre pareceu impossível.
Agora, ele é meu marido e meu protetor, pai do bebê dentro do meu
ventre e o amor da minha vida.
Não achei que minha vida pudesse ser tão perfeita. Que bom que eu
estava completamente enganada. Existem grandes amores e famílias felizes
no mundo sombrio e distorcido em que eu cresci.
E apesar de eu ter um mafioso que é capaz de matar e torturar para
me proteger no lugar do príncipe encantado montado no cavalo branco, a
verdade é que estou vivendo um conto de fadas.
O meu conto de fadas... com o meu mafioso turrão e rabugento,
lindo e protetor.
A seguir, eu reservei um bônus especial para você. É um trecho de
“Entregue ao Mafioso”, o primeiro livro da Série Império Salvatore, que

está disponível na Amazon e Kindle Unlimited.

Boa leitura!
— Chegou a hora de solidificar a nossa parceria com a família

Giordano — o papà[15] fala.

Faz quase um ano que nós controlamos os Giordano. Não foi fácil

no começo, porque Giuseppe, o Don[16] deles, estava irredutível a ceder. No


entanto, existem propostas que são irrecusáveis.

— É uma ótima forma de sossegar o seu pau também.

O papà tem razão, apesar de achar que meu o pau está bem

sossegado dentro das calças no exato momento. Ele não come uma boceta
faz vinte e quatro horas.

— Você vai para Detroit amanhã e escolherá a filha mais bonita que
Giuseppe tem — o Don fala, ordenando enquanto mexe nos papéis em cima

da mesa de madeira escura. — Vai se certificar de fazer um filho o quanto


antes também. Já tem trinta e cinco anos, passou da hora de construir uma

família. Você é o meu sucessor e precisa desse tipo de laço. Precisa de

herdeiros. Homens, de preferência.

Controlo os músculos do rosto para não demonstrar o meu desgosto

ao ouvi-lo e fico quieto. Não tenho a pretensão de fazer um pirralho com o

nariz escorrendo de catarro tão cedo.

Na verdade, não vou colocar uma criança no mundo para criá-lo do

jeito que eu fui criado. Além do dinheiro, poder e bocetas, não há nada de

bom nas nossas vidas.

O meu silêncio faz com que ele me olhe por cima dos óculos de

armação grossa. Acabo me remexendo na cadeira de couro e sou obrigado a

concordar com um balançar de cabeça.

— Claro, a mais bonita e um filho em breve — falo com a expressão

e a voz séria, mas por dentro me contorcendo de raiva.

Giuseppe Giordano é a merda de um ambicioso. Odeia receber

ordens, mas quando se tem muito dinheiro e poder em jogo, o homem

consegue abaixar a crista de vez em quando.

Os negócios sempre vêm em primeiro lugar, porém, para alguns

homens do nosso meio, os filhos são importantes também. Entregar uma


das suas preciosas filhas para nós é sinônimo de que ele sempre será fiel e

não causará problemas no futuro.

E para ser honesto, controlar Giuseppe é ótimo para os negócios e

enche os nossos bolsos com dinheiro, o que nunca é demais. E lógico,

fortalece o nosso império e nos deixa ainda mais fortes e indestrutíveis.

Sempre soube que a união com a família Giordano se solidificaria

com um casamento, mas mesmo assim, eu não tinha pretensão de me casar

agora. Depois do que Sienna fez com a própria vida há cinco anos, não

gosto da possibilidade de escolher uma mulher para ser minha esposa e vê-

la escapar das minhas mãos de novo.

Giancarlo, o consigliere[17], que está em pé ao meu lado e não disse

uma única palavra desde que entrei no escritório do papà, inclina-se um

pouco e me entrega um envelope marrom lacrado.

— Caso queira ver as meninas antes do encontro amanhã — ele diz,

a voz é tranquila, mas irrita meus tímpanos.

Giuseppe tem fama de ter filhas bonitas, as mais belas de toda a

organização de Detroit. E também, é conhecido por mantê-las a sete chaves.

Agora, está entregando as filhas como se fossem uma mercadoria.

Uma carga.
Meu pai faria exatamente a mesma coisa se tivesse uma filha.

Casamentos estratégicos estão na família há tanto tempo, que não lembro a

última vez que alguma das mulheres que nasceram no nosso mundo,
casaram por livre e espontânea vontade. Ou por amor.

Talvez nunca tenha acontecido.

— Como conseguiu isso? — pergunto e percebo o olhar do meu pai

cruzar com o do conselheiro. Não tenho resposta para minha pergunta, o


que também não importa. Amasso e jogo o envelope no cesto do lixo. —

Prefiro vê-las amanhã.

— Como preferir — Giancarlo fala e pela visão periférica, noto o

homem assentindo.

— Esse casamento precisa acontecer, Danilo — meu pai diz ao

prender os olhos frios e sem vidas nos meus. — Giuseppe movimenta


cargas importantes para nós e eu não quero correr o risco de ele ousar se

rebelar. Por isso, preciso que uma das filhinhas dele esteja debaixo das

nossas asas. Então, escolha certo.

Contraio a mandíbula e controlo a vontade de dizer que quem

escolheu Sienna para mim foi ele, não eu. Mas em vez disso, concordo com

um aceno firme de cabeça.


— Escolherei a mais bonita e lhe darei um neto em breve — é o que

digo ao levantar da cadeira acolchoada, mesmo sem ter nenhuma pretensão

de fazer um filho agora.

Meu pai assente, satisfeito.


Oi, tudo bem?

Eu espero que você tenha gostado de “Proibida para o Mafioso”.

Confesso que foi o livro mais difícil que escrevi até agora e acho

que nunca chorei tanto. O passado de Lorenzo acabou comigo em vários

momentos e tive que parar a escrita para respirar fundo.

Essa história exigiu tanto de mim, que por vezes, me perguntei se

conseguiria finalizá-la.

Eu estou tão feliz que consegui terminar.

Meu emocional não está valendo nem um centavo, mas estou muito
satisfeita com a história que coloquei no papel e entreguei a você, Maria

Mafiosa que eu tanto amo.

Eu espero que Angelina tenha trazido o alívio necessário pra você,

como trouxe pra mim. Esse capetinha disfarçado de anjo foi uma das
melhores coisas que aconteceu com Lorenzo e ele merecia um amorzinho

assim, não é? Uma mulher louquinha e que tirou ele do sério várias vezes.

Agora, quem será o próximo casal do Império Salvatore?

Tem alguma aposta?

Estou ansiosa para trazer mais um pouco deles pra você.

Obrigada por me acompanhar e toda atenção e carinho que você tem

me dado! É essencial pra eu continuar seguindo em frente!

Se você ainda não leu outras histórias minhas, dá uma passadinha na

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E se quiser acompanhar mais sobre os meus lançamentos e tudo que

rola nos bastidores da minha escrita, venha interagir comigo em:

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Beijão e se cuidem!

Prometo que em breve tem mais mafioso chegando...


IMPÉRIO SALVATORE:

ENTREGUE AO MAFIOSO: https://amz.run/61sQ

RESGATADA PELO MAFIOSO: https://amz.run/6rZK

SÉRIE FAMÍLIA CARBONE:

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NAS GARRAS DA MÁFIA: https://amz.run/4rRB

O SENHOR DA MÁFIA: https://amz.run/5VMD

EM NOME DA MÁFIA: https://amz.run/5jS5

A PROMETIDA DA MÁFIA: https://amz.run/5phZ

UM ACORDO PELA MÁFIA: https://amz.run/6rZL

IRMÃOS BYRNE:
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[1]
Papai em italiano.
[2]
Consigliere ou também conselheiro é às vezes visto como o braço direito do Don. Participam da
mediação de disputas, atuam como representantes da família em situações de risco e frequentemente
são a ligação entre o Don e o aspecto judiciário ou político.

[3]
Mamãe em italiano.
[4]
Padrinho em italiano.
[5]
Sottocapo ou Subchefe é a segunda posição mais poderosa e importante na hierarquia da Máfia
Italiana, diretamente abaixo do Don e acima do Caporegime. O Subchefe é em vários casos um
parente do Don ou apenas um confidente de extrema confiança, sendo nomeado e eleito pelo
Don/Chefe em si. O subchefe está no comando de todos os capos e é geralmente sempre o homem
que toma a liderança temporariamente se o Don é preso permanentemente/temporariamente ou se o
Don é morto. Normalmente, cada família da máfia tem apenas um subchefe.
[6]
Madrinha em italiano.
[7]
Martina é a protagonista de Entregue ao Mafioso, o 1° livro da série. Ela é a esposa de Danilo, o
subchefe e filho mais velho do Don Salvatore, o chefe da Máfia Salvatore.
[8]
Danilo é o Subchefe da Máfia Salvatore e protagonista de Entregue ao Mafioso, 1º livro da Série
Império Salvatore.
[9]
“Anjinho” em italiano.
[10]
É um biscoito típico da região Toscana, cidade de Prato. São feitos com amêndoas secas no forno
e são consumidos pelos italianos com café ou vinho tinto.
[11]
Sarah é a protagonista de “Resgatada pelo Mafioso”, segundo livro da série Império Salvatore. O
livro já está disponível na plataforma da Amazon.
[12]
O baby shower é uma celebração pré-natal em homenagem à futura mãe e ao bebê que está por
vir. É um evento onde amigos e familiares se reúnem para presentear a mamãe e o bebê e
compartilhar a alegria da gravidez.
[13]
Giancarlo é o consigliere do Império Salvatore, marido da Sarah e protagonista de “Resgatada
pelo Mafioso”, segundo livro da série e que já está disponível na Amazon.
[14]
“Doce Anjinho” em italiano.
[15]
Pai ou papai em italiano.
[16]
O chefe dos chefes. Título máximo na hierarquia da máfia italiana.
[17]
Consigliere ou também conselheiro é às vezes visto como o braço direito do Don. Participam da
mediação de disputas, atuam como representantes da família em situações de risco e frequentemente
são a ligação entre o Don e o aspecto judiciário ou político.

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