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Liam é incrível.
Se passando por um atendente telemarketing, ele liga para o
número que supostamente, Madelyn me enviou uma mensagem e
consegue ficar tempo o suficiente com o homem na linha para
rastrear a ligação, além de descobrir o nome e endereço do dono do
telefone, porque ele é burro e não desconfia de nada.
Quase uma hora mais tarde, eu ligo para Madelyn, ela não
atende, então insisto e só me decepciono quando nada acontece.
Vinte e cinco minutos depois, ela retorna à ligação. Como da última
vez em que nos falamos, ela finge que está bem e ocupada, só que
agora, a estranheza na sua voz faz todo o sentindo.
Madelyn está com problemas.
Não conversamos sobre a mensagem que enviou, é claro, e
eu com certeza não sabia falar em códigos, então, fiz o meu melhor
para parecer despretensiosa e ficar o tempo suficiente na ligação
para Liam rastreá-la também.
Depois que ele me dá o sinal, encerro a ligação com a
promessa de que logo tomaremos um café juntas.
— Você tem razão — Liam fala sem tirar os olhos da tela do
notebook cheia de códigos que não entendo. — As duas ligações
estão no mesmo prédio, no centro de Toronto. Me dê pelo menos
uma hora pra conseguir o andar exato.
— Como vai fazer isso?
— Câmera de segurança — diz, como se fosse simples. —
Graças ao meu incrível talento de atuação como atendente de
telemarketing, Isaac foi burro o suficiente para confirmar as
informações sobre ele. Agora, ele tá nas minhas mãos.
Inclino-me para frente e seguro seu rosto com as duas mãos
para dar um beijo exagerado na testa.
— Se sobrevivermos a essa loucura, não faça isso na frente
do Thomas. Eu já disse, amo estar vivo — resmunga, me fazendo
rir.
Abro a boca para retrucar e a campainha toca. Arrasto os
meus pés até a porta, rezando mentalmente para que não seja
Thomas ou meu irmão. Espio no olho mágico e sinto um alívio
imediato ao ver Romie do outro lado.
Giro a maçaneta e escancaro a porta.
É tão bom não ter babás na minha cola hoje. Antes de sair
para jantar na casa de Thomas ontem, eu tinha dispensado os dois
mafiosos, porque achei que ficaria com o conselheiro da máfia o
final de semana inteiro.
— Ei, Romie.
Minha amiga tem os olhos inchados e a ponta do nariz
vermelho. Com certeza passou a noite chorando por causa do seu
casamento arranjado.
— Que bom que você tá aqui, eu não sabia pra onde ir — é o
que fala, entrando no apartamento.
— Você tá bem? — pergunto, mesmo já sabendo a resposta.
Ela me ignora ao ver Liam sentado no sofá da sala.
— O que você tá fazendo aqui? — indaga, fixando os olhos
na tela do computador, em seguida, direciona a atenção para mim.
— O que vocês estão aprontando?
Romie coloca a bolsa em cima da mesinha de centro e funga,
mas não desvia a atenção curiosa de mim. Acomodo-me ao seu
lado no sofá e conto a verdade. Não adiantaria esconder dela de
qualquer forma, essa garota não é burra e é mais esperta do que
parece.
Ela pisca devagar depois de me ouvir.
— Vocês vão resgatá-la? — Nem espera por resposta,
apenas suspira e faz que sim com a cabeça. — Ok, podem contar
comigo — emenda, fazendo Liam esbugalhar os olhos em espanto.
— Você perdeu o juízo se acha que vamos te levar pra algum
lugar — o nosso amigo sibila, fazendo Romie enrugar o nariz e
testa, irritada.
— Por que não? Por que vocês vão e eu não? — rebate, a
um triz de perder o controle e gritar.
Faço um estalo com a língua, chamando a atenção dos dois,
que me olham ao mesmo tempo.
— Não posso te levar, Romie. Você é preciosa demais, seus
irmãos vão pirar e destruir Toronto se souberem que está correndo
perigo.
Ela bufa.
— E o seu irmão não? Ou acha que o Nick vai ficar sentado e
de braços cruzados esperando? — devolve, cética.
— É diferente — é só o que digo, porque não tenho vontade
ou forças para argumentar.
— Por que é diferente? — indaga, ficando de pé e prensando
os lábios até eles ficarem brancos. Romie é apenas dois anos mais
velha do que eu, mas a verdade é que somos iguaizinhas. — Eu
quero ir, preciso fazer algo que eu mesma tenha decidido, que eu
tenha escolhido fazer. Tô cansada de seguir ordens, tô cansada de
sempre obedecer.
— Você nunca obedece — Liam retruca e ganha um chute de
graça nas canelas. — Ai! — rosna para Romie pelo ato de violência
repentina.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, negando.
— Tudo bem, eu vou sozinha, vocês dois ficam — dou meu
veredito.
— Não vou deixar você ir sozinha, Lawanda — Liam informa,
a voz tão séria e ríspida, que me espanta um pouco. Nunca o vi
assim. — Se eu ficar, contarei ao seu irmão e a Thomas. Antes que
você possa sair da cidade, eles te encontrarão e impedirão essa
merda de loucura que quer fazer.
Respiro fundo e fecho os olhos por uma fração de segundo.
Ao abri-los, direciono a atenção a ele.
— Pensei que não quisesse ir.
— Não quero, mas você é doida, não eu, por isso não posso
te deixar ir sozinha. Ou eu vou com você, ou ninguém vai.
Engulo em seco, trincando os dentes e segurando a vontade
de pular em cima dele para esganá-lo por estar me encurralando
como um gatinho indefeso.
— Eu vou também, não ficarei aqui enquanto vocês arriscam
as vidas — Romie fala, cruzando os braços na altura dos seios e
nos observando de um jeito super mandão.
Olho para Liam, que nega com a cabeça ao mesmo tempo
em que penteia os cabelos com os dedos magros e longos.
— Não, a tranque no banheiro ou a amarre no pé da mesa —
Liam sugere, fazendo com que Romie queira chutar suas canelas de
novo, mas dessa vez, ele é rápido e desvia.
Levo ar até os pulmões e tomo a pior decisões de todas.
Se ir para Toronto resgatar Madelyn sem meu irmão ou
Thomas saber já é ruim, imagina levar a herdeira da máfia comigo?
Sim, mil vezes pior e mesmo assim, as palavras seguintes que
saem da minha boca são:
— Ok, vamos os três.
Liam bufa e gira os olhos na orbita, enquanto Romie assente,
como se deixá-la ir, fosse a oportunidade perfeita para mostrar do
que é capaz.
— É isso, vamos buscar Madelyn — volto a falar. — O jatinho
vai estar pronto em uma hora. Assim que entrarmos nele, não vai
demorar pro meu irmão e Thomas saberem o que estamos fazendo,
então, precisamos agir rápido.
Liam massageia a nuca.
— É uma péssima ideia não contar pra eles, Lawanda.
— Eu sei, mas não vou ficar sentada esperando enquanto os
homens fazem todo o trabalho. Eu aprendi a me virar sozinha por
um motivo, porque não quero ser sempre a donzela que precisa ser
resgatada.
Devagar, desvio a atenção dos papéis em cima da mesa de
madeira e inclino o queixo para cima, focalizando o olhar do soldado
à minha frente. Ele engole em seco e abaixa um pouco a cabeça,
esperando o pior.
— O que você disse? — minha voz é cortante e também,
incrédula. — Ela fez o quê? — apesar de manter certo controle,
estou a um triz de explodir de raiva.
— O nosso contato no aeroporto disse que Lawanda foi para
Toronto com Liam e Romie no jatinho particular — repete, me
deixando ainda mais furioso.
Se Lawanda fosse uma garota comum, eu não estaria
emputecido agora. Entretanto, é evidente que ela foi atrás de
confusão. Caso contrário, não teria mentido para mim tão
descaradamente.
Que merda ela foi fazer lá?
Que merda eles foram fazer lá?
Pego o celular em cima da mesa e disco o número da
encrenqueira e como esperado, caixa postal. Ligo para Liam e ele
não atende, mas deixo um recado nada amigável na caixa postal.
— Avise ao Don que Romie fugiu, e Nicholas também, ele vai
querer saber que a irmã está aprontando — ordeno ao soldado e
faço um gesto com a mão para que saia da sala.
Eu nunca duvido dos meus instintos, quando Lawanda disse
que tinha trabalho da faculdade, no fundo, eu sabia que tinha algo
errado com a mudança repentina dela, só que justamente hoje,
resolvi dar um voto de confiança.
Se arrependimento matasse...
Não devia ter deixado essa garota imprudente ter ido embora
da minha casa.
Levanto da cadeira, deixo os papéis para trás e pego o
celular ao sair do escritório. Encontro Oliver no hall de entrada e o
intercepto antes de sair de casa. Ao me ouvir, ele dá ré e fica de
frente para mim.
— Lawanda, Romie e Liam foram pra Toronto — começo a
falar e um sorriso sarcástico estica os lábios do meu irmão.
— Os três mosqueteiros, hãm.
Ignoro as palavras dele e continuo:
— Fale com os nossos contatos em Toronto e confirme a
localização dos três, e tente descobrir o que foram fazer lá.
Meu irmão enruga o cenho.
— Os contatos de Toronto são os soldados que estão
cuidando da mansão do Schavier. Acha que Lawanda foi pra lá?
Como para todos os efeitos, Schavier Farley está num ano
sabático, temos que manter as aparências. Por isso, a casa dele
está com os empregados cuidando de tudo, funcionando como se
nada tivesse acontecido.
— Sim, com certeza. Ela sabe que se hospedar em um hotel,
seria mais fácil rastreá-la. Lawanda, definitivamente, vai tentar
persuadir os homens para não falarem nada sobre estarem na
mansão. Ela é esperta, mas eu sou mais.
— Certo — Oliver diz, concordando com um aceno de
cabeça. — O que será que estão aprontando?
Solto uma baforada de ar e passo uma das mãos entre os
cabelos, penteando, me sentindo exausto.
— Não sei, mas existe uma pessoa em Toronto que Lawanda
odeia.
— Alexander Tikhonov — fala, pensativo. — Ela não é doida
o bastante para ter ido lá matar o cara, não é? — pergunta, e eu não
digo nada de imediato.
— Se prepare, vamos partir em breve — é o que aviso,
depois de um tempo em silêncio.
Ele finge um sorriso.
— É claro, vamos salvar as princesas em perigo — comenta,
sarcástico e dá as costas para mim, enfiando a mão no bolso da
calça jeans e apanhando o celular para fazer algumas ligações.
Giro nos calcanhares e começo a subir as escadas,
pensando em Lawanda e na sua teimosia, que no momento, parece
se grande demais para o meu gosto.
O que ela tem na cabeça?
Por que adora se meter em confusão e me tirar do controle?
— Ele vai me matar — Liam fala, encarando a tela do celular
como se fosse um monstro de sete cabeças. — E depois, o Nicholas
vai me matar — emenda, dramático.
— Relaxa — peço, em vão. — Só desliga esse celular, como
eu fiz.
Uma ruga fina aparece entre as sobrancelhas expressivas e
os lábios se torcem em discordância.
— Ah, claro, porque ignorar o problema é muito melhor —
ralha, todo desdenhoso e mal-humorado.
Balanço a cabeça de um lado para o outro e reviro os olhos,
decidida a deixar o assunto pra lá.
Claro que Thomas já sabe onde eu estou e deve estar a
caminho. Mesmo que Romie e eu tenhamos convencido os homens
na guarita da mansão do meu tio que estamos aqui para curtir o final
de semana, o conselheiro da família Carbone não vai demorar para
ligar para um deles e descobrir que estou aqui.
Eu sei que ele me encontrará de alguma forma, só estou
tentando adiar o máximo de tempo que eu conseguir. Primeiro,
preciso salvar Madelyn e depois, terei cabeça para me resolver com
Thomas.
Com Nick também.
Meu irmão deve estar soltando fogo pelas ventas.
Eu desliguei o meu celular assim que eu saí do apartamento
em Montreal. Achei mais fácil de me concentrar nas coisas e
segurar as pontas. Ao contrário de Liam, que parece estar pirando
por ter ligações não atendidas do Thomas no smartphone.
— Ei — chamo sua atenção. — Precisamos sair daqui antes
que os homens na guarita nos impeçam.
Liam assente ao abrir a mochila que trouxe e me entregar um
macacão marrom com uma logo horrível costurada no peito
esquerdo do uniforme. Enrugo o nariz para a peça de roupa velha e
feia, que parece ser o dobro do meu tamanho.
— Não vamos entrar naquele prédio de qualquer jeito —
reforça, voltando ao seu normal e tomando as rédeas da situação.
— Eu sei — murmuro.
Antes de sairmos de Montreal, Liam tinha assumido a
liderança e bolado todo um plano para entrarmos e conseguirmos
sair sem grandes problemas. Na verdade, é um ótimo plano, embora
minhas ideias de resgatar Madelyn fossem bem diferentes e com
mais ação.
— Não acredito que me trouxeram aqui só pra dirigir uma lata
velha — Romie resmunga, sentada de pernas cruzadas no sofá
grande e confortável da sala do meu tio, fazendo bico e balançando
de maneira frenética um dos pés.
— Você é parte essencial do plano — é o que eu digo,
fazendo minha amiga bufar como um dragão enraivecido.
— Não vem com essa, não tenho mais dez anos — devolve,
irritadiça. E em meio aos problemas que nos três arrumamos, nós
rimos.
Com o seu macacão horroroso de técnico, Liam caminha
casa adentro para um dos banheiros no andar de baixo. Romie e eu
pegamos as nossas bolsas antes de subirmos as escadas e
entrarmos no antigo quarto do meu tio.
Ignoro as sensações estranhas no estômago.
Ele está morto.
Ele era um traíra que me usou e mandou matar os meus pais
por ser a porra de um ambicioso.
Ele nunca me amou de verdade.
Silencio os pensamentos e entro no banheiro, troco os jeans
e blusa de grife pelo macacão. Ao me olhar no espelho, vejo que as
botas estão destoando muito com o resto do look. Romie me cede o
seu par de tênis All Star e completa o uniforme. Amarro os cabelos
em um rabo de cavalo baixo e coloco os óculos de armação grossa,
que parecem de grau, mas as lentes não valem nada.
— Parabéns, você conseguiu ficar feia — Romie zomba, me
fazendo girar os olhos.
Depois de pronta, viro o corpo e corto a distância até a minha
amiga. Nossos olhos se prendem por um longo segundo e eu decido
começar a falar.
— Se algo der errado e nós não descermos, você precisa
ligar pra alguém e avisar o que aconteceu.
Romie morde o lábio inferior.
— Parece que você já sabe que vai dar errado.
Nego com a cabeça, suspirando.
— Só precisamos estar preparadas — falo, forçando um
sorriso. — Cadê a sua arma? — quero saber.
Romie leva as mãos para as costas e tira a pistola compacta
detrás da blusa. Confere o pente e a trava antes de voltar a guardá-
la.
— Você sabe mesmo como usar isso? — insisto.
Ela assente.
— Meu pai me ensinou — diz, e parece estar sendo sincera.
— Perfeito.
Romie abre um sorriso pequeno e não fala nada ao envolver
os braços no meu pescoço e me apertar contra o próprio corpo.
Contorno a sua cintura e faço o mesmo, pedindo em silêncio que
nós fiquemos bem e que a ideia que eu tive de vir aqui salvar
Madelyn não tenha sido tão estúpida, a ponto de fazer os meus
amigos pagarem por isso.
Segurando as bolsas grandes, que eu rezo mentalmente para
que não chamem tanta atenção, Liam e eu descemos da van velha.
Vamos entrar pela frente, mas estacionamos o veículo atrás do
prédio.
Romie ainda não parece muito feliz de ser a nossa motorista,
mas está mais conformada.
Antes de atravessarmos a rua para dar a volta no edifício de
dez andares, Liam bate no vidro do carro do motorista e faz Romie
abri-lo.
Ele aponta para o notebook aberto no banco do carona. No
canto inferior da tela, além das câmeras de segurança de dentro e
fora do prédio, mostra a hora também. São quase dezesseis horas,
e tenho certeza de que se Thomas e meu irmão não chegaram em
Toronto, já estão bem perto.
— Só tem dois elevadores e essas são as câmeras deles –
fala de novo, já tinha conversado com a Romie o caminho inteiro
sobre isso. — Assim que você ver a gente entrando, aperta esse
botão. — Com o dedo, ele indica um botão na tecla do notebook. —
E..
Romie interrompe:
— Vocês vão desaparecer e as imagens antigas vão entrar.
Eu entendi das outras dez vezes que você falou, Liam. Acho que
sirvo pra apertar um botão — a garota resmunga, fazendo o nosso
amigo assentir.
— Se não descermos em vinte e cinco minutos, saia daqui e
você sabe o que fazer —sou eu quem falo a ela, a voz séria,
torcendo internamente para que não hesite e vá embora se algo der
muito errado.
Ela assente.
— Por favor, voltem em vinte minutos — pede, fazendo Liam
sorrir e bater no capô da van.
Atravessamos a rua movimentada com pessoas e carros, e
Liam segura meu braço antes de virarmos a esquina para entrarmos
pela porta da frente. Ele mexe no relógio de pulso, que tem uma
pequena tela quadrada e preta.
— O que está fazendo?
— Relógio inteligente, estou ativando o GPS. Preciso avisá-
los se algo der errado, é a nossa chance também — esclarece, me
fazendo anuir com um movimento de cabeça. — Se você precisar,
não hesite e atire, Lawanda. Prefiro que um deles se machuque em
vez de você — sussurra.
Sorrio.
— Eu digo o mesmo pra você. Não hesite, Liam.
Ele prende os olhos brilhantes aos meus.
— Não vou — fala, convicto.
— Já matou alguém antes? — pergunto, tão baixo que fico na
dúvida se ele escutou ou não.
— O que você acha? — retruca com um leve tom de
sarcasmo. — Claro que não.
Arregalo os olhos, surpresa.
— Como não? Você não é um mafioso? — rebato.
Liam olha para os lados, como se estivesse estudando o
lugar.
— Talvez tenha matado algumas pessoas indiretamente, na
verdade — fala, dando de ombros. — Meu trabalho é fazer
ilegalidade atrás de uma tela de computador, mesmo assim, faz
pouco tempo que me tornei um membro oficial da organização —
explica, me fazendo rir de leve.
Voltamos a caminhar e entramos no prédio. Meu coração
bate tão rápido, que por um momento, sinto que vou sufocar. Liam
assume o controle ao falar com o homem na recepção e dizer que
temos uma visita agendada no décimo andar, apartamento 203, com
a senhora Amber, reparação na internet.
Como Liam já tinha hackeado o computador da recepção e
feito as devidas alterações, ao confirmar as informações na tela
colorida, o homem nos libera para entrar. Rumamos na direção dos
elevadores e só consigo respirar fundo ao entrarmos.
Liam aperta o botão do andar abaixo do nosso destino.
— Você está bem? — ele quer saber.
— Sim — sussurro, engolindo o caroço salgado na garganta.
— Acho que pirei por um segundo, mas já voltei ao normal.
As portas de metal se abrem no nono andar e nós saímos,
fazendo o resto do caminho a pé para não sermos vistos antes da
hora. Pelas escadas, subimos até a porta do terraço.
Das bolsas que trouxemos, eu tiro a pistola, enquanto Liam
pega o fuzil de assalto. Ele carrega e coloca pente de munição no
bolso, em seguida, troca um olhar comigo.
Agora, Liam parece ser uma pessoa diferente do que estou
acostumada. Com o fuzil na mão, não me lembra em nada meu
amigo nerd da computação.
— Pronta?
— Sim — falo, e fico feliz de a voz ter soado com convicção.
— Espere aqui, eu vou disparar o alarme de incêndio.
— Faça rápido — peço, e ele me dá um sorriso de covinhas
ao murmurar:
— Sempre.
Liam desce as escadas e eu espero em frente a porta do
terraço, com a pistola em punho. De repente, o alarme de incêndio
ecoa pelo prédio inteiro e o hacker volta correndo, respirando fundo
e com as bochechas coradas. Não demora nada para o burburinho
começar e as pessoas correrem pelas escadas embaixo de nós.
Esperamos mais um pouco e quando o movimento de
pessoas acaba, trocamos um olhar cúmplice antes de descer as
escadas para o décimo andar. Liam abre a porta e coloca a cabeça
para fora, conferindo antes de sair e fazer um sinal para que eu saia
também.
Não foi difícil encontrar o apartamento em que supostamente
Madelyn está sendo mantida, já que no momento em que coloco os
pés no corredor, vejo um homem careca e com expressão amarrada
saindo do apartamento com uma arma em punho.
Ele nos vê e mira o cano da arma em Liam, e eu aperto o
gatilho sem pensar duas vezes, acertando um tiro na coxa e o
derrubando no chão e o fazendo gritar de dor. Mesmo lamentando,
ele tenta disparar tiros contra nós e Liam acerta o seu peito,
silenciando o homem.
Em questão de segundos, mais três homens saem do
apartamento, fazendo Liam e eu dispararmos mais tiros, alguns
contra a porta de madeira. Fico meio espantada como um
amontoado de quatro corpos na porta de um apartamento não me
embrulha tanto o estômago como eu esperava.
Com uma mão, Liam arrasta dois corpos para abrir passagem
e nós entramos. Como sou a primeira a dar um passo para a sala,
escuto um som de arma destravando e ao olhar para o lado, eu o
reconheço de imediato. É o homem burro do telefone com a porra
de uma arma apontada para minha têmpora. Ele está usando um
robe brega com estampa de onça, cueca samba canção e os pés
estão descalços, os cabelos desgrenhados, ressaltando a cara de
porco nojento.
— Se tentar alguma coisa, vai voar miolos dela pra todo lado
— o cretino avisa a Liam, que entra atrás de mim, respirando
pesado. — Tô falando sério — ameaça ao se aproximar de mim e
tomar a arma da minha mão, encostando o cano da sua na minha
têmpora.
Resmungando, Liam abaixa o fuzil, fazendo o porco nojento
soltar uma risada esganiçada. Aproveito o momento para dar uma
cotovelada no seu abdômen e puxar a pistola da sua mão. Acerto
uma coronhada na cabeça dele, fazendo-o gemer de dor.
Liam se aproxima, mirando o fuzil na cabeça dele e eu
procuro por Madelyn pelo apartamento.
— Madelyn? — chamo, abrindo as portas que vejo pela
frente.
Ela sai do que parece ser um lavabo. Está usando uma
camisola de seda e um robe por cima. Emagreceu vários quilos e
tem olheiras vermelhas em volta dos olhos, um machucado no canto
da boca esquerda e alguns hematomas pelas coxas.
— Lawanda... — Ela chora ao se jogar nos meus braços, me
apertando com força. — Você veio.
— Há quanto tempo está aqui? — pergunto, o coração na
boca.
— Eu não sei bem, perdi a noção do tempo — murmura aos
prantos. — Eu tive que me deitar com ele, Lawanda. Eu tive que
fazer isso pra conseguir usar o celular dele e pedir ajuda — funga,
me fazendo engolir o coração entalado no meio da garganta. — Ele
me obrigou a fazer coisas horríveis, eu me sinto tão suja.
— Acabou. Vamos levar você pra casa — é o que digo,
forçando a raiva a permanecer dentro do peito.
Ela se engancha no meu braço e rumamos para a sala, seu
corpo magro estremece inteiro ao ver o porco nojento de joelhos no
chão. Não consigo ficar quieta, então, me aproximo dele,
espumando raiva.
— Gosta de abusar de mulheres, seu cretino? — rosno, e ele
dá um sorriso cínico, olhando para Madelyn.
— Gosto — responde, me fazendo perder a paciência.
Aponto a arma para o meio das suas pernas e dou um tiro, o
fazendo gemer de dor e me chamar de vadia. Puxo Madelyn pelo
braço e corremos para a saída de emergência. Liam sobe mais
alguns degraus e vai pegar as bolsas que deixamos na entrada do
terraço, esconde o fuzil e eu enfio a pistola que tenho na mão
dentro.
— Vamos de elevador, ela não vai conseguir descer dez
andares — digo a Liam, que confere as horas no relógio de pulso.
— Temos cinco minutos, vamos.
Voltamos para o décimo andar e chamamos o elevador. As
portas de metal se abrem e eu aperto o botão do térreo, segurando
Madelyn pela cintura.
— Obrigada por ter vindo, obrigada — ela murmura entre as
lágrimas.
— Desculpe por ter ignorado você durante esses meses.
O elevador desce rápido e assim que as portas se abrem, dá
para notar a confusão dentro do térreo e fora do prédio, as pessoas
agitadas e com medo de um incêndio que nem aconteceu de
verdade, os bombeiros entrando rápido com seus trajes e
mangueiras, alternando em mandar as pessoas se afastarem e
pedir calma.
Aproveitamos todo o alvoroço para sair e dar a volta no
prédio. Caminhamos o mais rápido que podemos para alcançar a
van.
Infelizmente, é em vão.
Alguns homens cercam Romie e antes que possa cogitar o
que fazer, três deles nos cercam, dos lados e atrás, impedindo a
nossa fuga. Um dos cretinos arranca as bolsas de Liam e encosta o
cano de uma pistola contra a minha barriga, me fazendo trincar os
dentes.
Uma SUV preta para ao nosso lado e apenas o vidro da
janela traseira do carro abaixa, devagar. Não custo em reconhecer o
rosto de Ivan, filho imbecil de Alexander. Os lábios dele se esticam
em um sorriso presunçoso ao falar:
— Oi, crianças.
Não temos outra escolha a não ser seguir os homens que
nos cercaram fora do prédio. Entramos na van que eles ordenam, e
apesar da vontade de revidar, não o faço.
Madelyn e Romie sentam ao meu lado, enquanto Liam se
acomoda na frente, perto do brutamonte que nos vigia. De maneira
discreta, ele olha para o relógio inteligente no pulso e depois para
mim, e eu sei o que ele quer fazer. Não estava feliz em ter que pedir
socorro, mas nossas opções estavam escassas.
Aproveito o momento em que o imbecil ao lado de Liam
passeia com os olhos pelas pernas expostas de Madelyn e começo
uma pequena confusão.
— Tira os olhos dela ou vou arrebentar sua cara — sibilo,
fazendo o cretino rir, inclinando o corpo para frente.
— Para de rir ou eu chuto a sua cara — é Romie quem diz,
gesticulando com o pé na direção dele.
Madelyn chora em silêncio, enquanto Romie e eu
começamos a bater boca com o tarado a nossa frente e Liam chama
o nosso resgate.
Depois de perder a paciência, o homem levanta a mão para
me acertar um tapa e Liam segura seu pulso com firmeza. Aposto
que o ogro se arrependeu de não ter nos amarrado ou ter nos
drogado para ir o caminho dormindo. Segundo ele, conseguia lidar
com quatro crianças incompetentes.
— Não toque em mim — o cretino resmunga, e com a mão
livre, tira uma pistola do coldre da cintura e aponta para Liam. — Ou
eu acabo com você.
Liam solta o seu punho e levanta as próprias mãos em
rendição, em seguida, troca um olhar comigo e assente de leve, me
fazendo respirar fundo. Infelizmente, não me sinto menos aliviada.
Olho para a rua através da janela e vejo que estamos
entrando em uma das poucas ruas exclusivas e sem tráfego em
Bridle Path, bairro residencial de luxo que fica ao norte de York.
Poucos minutos depois, a van para em frente uma mansão de três
andares, com um estilo moderno e ao mesmo tempo, atemporal. A
porta do carro se abre e o homem tarado que nos acompanhou é o
primeiro a descer. Ele faz um gesto nada amigável com a cabeça
para que façamos o mesmo.
Há vários seguranças do lado de fora, cada um mais mal-
humorado que o outro.
Madelyn entrelaça a mão na minha e nos rumamos para
dentro da mansão com Romie, Liam e alguns seguranças na nossa
cola. Paramos de caminhar ao chegar no extenso hall de entrada
com piso de mármore brilhante, que refletem a nossa imagem no
chão. Estou cogitando em olhar para trás, quando sinto algo
pontudo cutucar minhas costas, me obrigando a andar.
Somos guiados até uma sala grande, com sofás pretos,
lareira a gás e portas do chão ao teto com vista para a piscina e
uma quadra de tênis.
Ivan está em pé, perto do braço do sofá, enquanto Alexander
está sentado, as pernas cruzadas, usando óculos e lendo algo no
tablet. Ele não olha para nós de imediato, primeiro, pacientemente,
termina de fazer o que quer que seja com o tablet, e só então, retira
os óculos, coloca em cima da mesinha de centro e olha para nós.
Para mim.
— Lawanda Farley — diz, o sotaque russo arrepiando os
cabelos da minha nuca. — E eu que pensei que fosse apenas uma
patricinha mimada com temperamento difícil — emenda, ficando de
pé e caminhando até mim.
Sorrio de lado.
— As aparências enganam.
Ele concorda.
— Verdade — fala, uma falsa benevolência na voz. — Já
sabia que você era um problema, mas não esperava que fosse
tanto. E olha que cogitei casá-la com o meu filho.
O homem para a um passo de distância e toca o meu queixo
com a ponta dos dedos, fazendo Liam se agitar e vir para cima de
nós. Alexander faz apenas um gesto com a mão e um de seus
homens segura o meu amigo, o impedindo de se aproximar.
Alexander ergue o meu queixo e me encara, um brilho que
não consigo identificar dançando pelos seus olhos claros e
asquerosos.
— De quem foi a ideia? — quer saber.
— Não podia deixar Madelyn aqui — rosno, e ele nega com a
cabeça.
— Estou falando do ataque aos servidores — corrige, me
analisando. — Foi inteligente, arriscado, mas inteligente. Passaram
a perna em mim sem começar uma guerra.
Abro um sorriso falso.
— Talvez você só seja burro demais — devolvo, e o tapa no
meu rosto vem com tudo. Por algum motivo inexplicável, eu começo
a rir.
— Me respeite, garota. Não sabe do que eu sou capaz.
— Eu sei sim — resmungo entre os dentes.
— Me respeite ou eu matarei os seus amigos — é o que diz,
me fazendo contrair a mandíbula. Ele ri. — É, isso mesmo, não
matarei você, mas... — Ele encaminha a atenção para Romie, Liam
e Madelyn. — Será divertido acabar com eles na sua frente.
Respiro fundo, controlando a vontade de voar em cima do
seu pescoço.
— O que você quer?
— Fiquei sabendo que matou alguns dos meus homens e
explodiu as bolas de outro — ele informa, muito tranquilo para o
meu gosto. É como se não se importasse de verdade.
— Eles mereceram por ter sequestrado Madelyn. Ela não tem
nada a ver com essa merda e vocês a meteram nisso — digo,
tentando amenizar o tom de reprovação na voz.
Alexander faz um estalo com a língua e balança a cabeça de
um lado para o outro, ao mesmo tempo em que passa as mãos
entre os cabelos, que não são muitos. O homem é quase careca.
— Ela foi um efeito colateral.
— Efeito colateral? — retruco ao avançar em cima dele e sou
impedida de continuar ao sentir mãos firmes me segurando. — Ela
não tem nada a ver com os nossos problemas.
Alexander ri.
— Ela é curiosa demais — ele explica. — Não conseguiu
esquecer Schavier e andou fuçando onde não devia.
O russo olha para Madelyn e dá um passo em direção a ela,
estica a mão e envolve uma mecha de cabelo no dedo indicador
— Contratou um detetive particular pra procurar o seu tio —
fala, me fazendo fechar os olhos por uma fração de segundo,
porque não sabia dessa novidade. Devia imaginar que faria algo
assim, ela o ama. — E ainda foi ousada para seguir Arthur. O que o
amor não faz, não é? É um sentimento perigoso.
A menção do nome de Arthur faz o meu corpo inteiro
tensionar e eu cravo as unhas na mão, na tentativa inútil de
controlar a raiva que sinto desse imbecil.
— Não mandei que Arthur a sequestrasse, só disse para ele
dar um jeito na situação — explica, voltando a atenção para mim. —
Quando ordenei isso, não estava pensando em morte ou sequestro.
— Solte Madelyn — peço.
— Por que eu faria isso? Agora, por causa de você, ela sabe
quem eu sou.
Madelyn começa a implorar, chorando.
— Não vou falar nada, eu juro — choraminga, partindo o meu
coração. — Por favor, não me mate.
Alexander sorri, parecendo com alguém que está se
divertindo com a situação. Um dos homens entrega uma pistola para
o líder russo, que destrava e aponta para Madelyn, que começa a
espernear aos berros.
Liam e Romie me olham, e eu não sei o que fazer. Penso em
avançar nele, mas tem um brutamonte me segurando e me
impedindo de sair do lugar.
— Faça isso e eu mostrarei ao mundo quem é o seu filho de
verdade — Liam fala, chamando a atenção de Alexander. — O
senhor é inteligente, mas não se engane, o seu filho é burro e
invadir o computador dele foi a coisa mais fácil que eu fiz na vida.
Num rompante, Ivan se aproxima do meu amigo e desfere
alguns socos no seu rosto, o fazendo cuspir sangue. Contorço-me,
tentando escapar para ajudá-lo de alguma forma e não consigo.
— Você não sabe de merda nenhuma — Ivan retruca,
enfurecido. Derruba Liam no chão e começa chutá-lo, me deixando
furiosa.
Apesar de estar apanhando, Liam sorri, mostrando os dentes
sujos de sangue.
— É mesmo? — meu amigo replica, e não sei decifrar se está
blefando ou falando a verdade. — Não tenha tanta certeza disso.
Posso acabar com a sua vida em questão de segundos.
Ivan bufa e volta a chutar Liam, depois começa a andar de
um lado para o outro, a respiração ofegante. Alexander observa o
filho e não está com uma expressão muito feliz no rosto. Para ser
sincera, é uma mistura de desaprovação e nojo.
— Eu pensei que tivesse parado com isso — Alexander diz,
as narinas inflando de ódio.
— Eu parei — Ivan fala, rápido demais para ser verdade.
— Sempre foi a merda de um péssimo mentiroso! — o russo
esbraveja.
Ivan fica desesperado.
— Eu sinto muito, pai. Eu sinto muito — ele murmura,
desconcertado e tenta se aproximar do pai, mas Alexander lança um
olhar cheio de reprovação, que faz o filho recuar.
— Você é burro. Fraco demais — ele fala com desdém,
fazendo Ivan pisar duro e sair da sala.
Alexander volta com a atenção para nós e dessa vez, aponta
a arma para Liam, mas não atira, trava a pistola e entrega para um
dos seus homens.
— Levem essas coisinhas insignificantes daqui — ele
resmunga.
Os homens começam a arrastar as meninas e um deles força
Liam a ficar de pé, o que me segura me puxa para caminhar, mas
cravo os pés no chão e falo:
— Eu quero Arthur ou vamos vazar o que temos de Ivan —
ameaço, fazendo os olhos de Liam brilharem.
Alexander, que tinha ficado de costas, gira nos calcanhares
lentamente e prende a atenção em mim. Corta a nossa distância
como se fosse um animal selvagem, e com uma das mãos, segura
meu rosto com força, apertando as bochechas e me fazendo sentir
dor. Os olhos dele incendeiam de raiva e o vejo rangendo os dentes,
enquanto as narinas se expandem em fúria.
— Está me ameaçando dentro da minha própria casa?
— Sim — respondo, sem perder a postura.
Ele solta o meu rosto e faz um gesto com a cabeça para que
nos levem para longe dele. Sinto o coração na garganta, mas não
demonstro.
Os homens nos levam até um quarto de hóspedes no
segundo andar. Meus amigos entram e eu varro os olhos pelo
corredor, estudando uma possível fuga e sou empurrada para dentro
do cômodo. Xingo na mesma hora que um deles fecha a porta na
minha cara e tranca.
O quarto é grande, tem banheiro e um closet. Mesmo
machucado, Liam inspeciona todo o lugar, procurando por escutas
ou algo do tipo. Quando não acha, respira fundo e senta na cama,
levando uma das mãos até o abdômen.
Romie corre para o banheiro e volta com uma pequena caixa
de primeiros socorros. Ela mal se aproxima de Liam e eu a
intercepto, procurando por algo afiado e infelizmente, não encontro
nada.
— O que você descobriu sobre Ivan? — pergunto a Liam,
enquanto Romie limpa os machucados do seu rosto.
Ele deixa escapar uma risada curta.
— Nada — fala e eu fecho os olhos com força, suspirando. —
Minha mãe é uma das melhores jogadoras de poker que eu
conheço, ela me ensinou a blefar — explica, como se fosse óbvio.
— Acha que alguém vem nos ajudar? — murmuro, indicando
com o queixo para o seu relógio inteligente no pulso.
— Espero que sim, porque não acho que a gente consiga sair
daqui sem a permissão do Alexander.
Respiro fundo e assinto. Caminho para o closet e pego uma
toalha branca e um roupão, que entrego a Madelyn ao passar por
ela. Vou até o banheiro, enrolo a toalha na mão e dou um soco no
espelho, o quebrando. Pego os pedaços de vidros mais afiados e
entrego um para Madelyn e digo:
— Esconda no bolso e use para se defender se for preciso.
Não hesite.
Fico surpresa por eu não estar com medo. Eu devia, mas não
estou.
Entrego um pedaço de vidro para Romie também e dou a
mesma orientação, fazendo-a assentir, em seguida, voltar a cuidar
dos machucados de Liam, que suspira ao me olhar.
— Espero que não precisemos chegar a isso — ele diz,
balançando a cabeça de um lado para o outro. — Não acho que ele
vai ser amigável se matarmos os seus homens na própria casa.
Prenso os lábios e suspiro.
Ele tem razão, Alexander não vai tolerar algo do tipo, mas se
acabar com os seus homens for a nossa única chance de escapar
daqui, nós o faremos mesmo que estejamos fadados a perder.
Depois de mais ou menos duas horas, chegamos em Toronto.
Foi um voo tranquilo, apesar de intenso. Antes de embarcarmos,
Nicholas e eu discutimos, porque ele me culpa por não ter
conseguido regrar Lawanda, como se fosse fácil controlar aquela
garota imprudente.
Enfio a mão no bolso do terno e apanho o celular para ligá-lo.
Antes que possa caminhar até o carro que nos espera, ele vibra,
notificando uma nova mensagem.
É Liam
“Estamos com problema” e a localização dele.
A mensagem foi enviada há quase uma hora e meia.
Nicholas passa por mim e eu o impeço de continuar andando,
viro a tela do aparelho para ele e o vejo cerrar o maxilar ao ler a
mensagem.
— Liam? — Julian quer saber.
— Sim — eu e Nicholas respondemos ao mesmo tempo.
— Também recebi uma — o subchefe da família Carbone
informa ao gesticular com o próprio celular no ar.
Nicholas apalpa o bolso do próprio terno até encontrar o seu
aparelho e verificar as últimas notificações. Ele também recebeu
uma mensagem de Liam com a localização.
— Estão a meia hora daqui — Nicholas fala, encarando a tela
do celular com o cenho franzido. — É o endereço de Alexander —
Nicholas informa.
Quando foi confirmado que o trio de encrenqueiros estava na
mansão do Schavier, dei a ordem de mantê-los em cárcere privado.
Para o meu desgosto, a ordem chegou tarde demais e eles
conseguiram sair antes que os soldados impedissem.
— Vamos buscá-los. — Julian se aproxima do soldado em pé
com a porta traseira aberta e ergue a mão espalmada. — Eu vou
dirigir.
O homem assente e entrega a chave do carro. E meu irmão,
que até então, não tinha falado nada, abre um sorriso maroto e dá a
volta no veículo e ocupa o lado do motorista. Nicholas me lança um
olhar pouco amigável, que retribuo com o mesmo o sentimento e
entramos no carro, nos acomodando no banco de trás.
— Achei que ter o poder acionário da Corporação Farley
fosse o suficiente pra Lawanda — Nicholas resmunga, trincando os
dentes e olhando para fora através da janela do carro.
Eu não quero defendê-la, porque estou puto por ela ter
mentido para mim tão descaradamente. No entanto, não sabemos o
que aconteceu de verdade. Ela foi convencida de que matar
Alexander ou Ivan não traria tantos benefícios, não posso acreditar
que ela tenha planejado fazer algo parecido.
Lawanda é imprudente, mas é inteligente. Não faria algo
assim sem pensar nas consequências.
— Vamos descobrir o que aconteceu primeiro — é a única
coisa que eu digo, tentando soar controlado, apesar de me sentir
irritado, frustrado e traído.
— De qualquer forma, é melhor aquele russo filho da puta
não ter encostado um dedo nas garotas, ou vou acabar com a raça
dele — Julian fala, o tom áspero e frio.
Oliver concorda com o que mais parece um palavrão.
Nicholas não diz nada. E eu também fico em silêncio, ciente
de quem vai meter uma bala na cabeça de Alexander sou eu se ele
tiver encostado um dedo em Lawanda.
Não permitirei que nenhum homem a toque ou a humilhe
dessa forma. Estou bravo com ela no momento, mas isso não
significa que não vou protegê-la com tudo que eu tenho.
E no momento, eu tenho raiva.
Quando Julian para o carro em frente à mansão de
Alexander, os homens cuidando da segurança, abrem o portão,
como se estivessem nos esperando. Antes de descer do veículo,
confiro minha pistola e a escondo dentro do coldre da calça de novo.
Nenhuma palavra é dita, mas os homens de Alexander nos
conduzem até a entrada da mansão. Para meu desgosto, somos
revistados antes de colocarmos os pés no hall de entrada e todas as
nossas armas são tiradas de nós.
— Devolvemos na saída — um deles fala, sorrindo
debochado. — Se saírem daqui vivos...
Julian rosna alguns palavrões, mas consegue manter o
controle e não avança em cima dele.
Eles nos conduzem até a sala de estar e no cômodo, damos
de cara com Alexander e Arthur. O ódio que sinto pelo que ele fez a
Lawanda, vindo com tudo, quase me fazendo perder a cabeça e
avançar em cima do seu pescoço.
— Demoraram bastante e eu odeio esperar — Alexander fala
ao virar o corpo para nos encarar. — Olá, rapazes — cumprimenta,
fingindo educação.
— Sabia que estávamos vindo? — Julian pergunta, sem fazer
questão de esconder o ódio na voz.
Alexander ri.
— Aquele garoto é esperto, sei que encontrou um jeito de
avisar vocês onde estavam — é o que fala, referindo-se a Liam. —
Traga as crianças para a sala — ele ordena para alguém atrás de
nós.
— Lawanda é cativante — diz, fazendo meu corpo inteiro
enrijecer. — Atrevida, não tem medo do perigo. Só que também, é
um grande problema.
— Se tiver encostado um dedo nela, eu acabo com você —
rosno, fazendo o russo filho da puta rir.
— Ela dominou você, pelo que vejo. Meus pêsames — é o
que fala, colocando as mãos para trás e analisando os pés calçados
com sapatos caros. Oliver deixa escapar uma risada curta e ao
lançar um olhar frio para ele, meu irmão se recompõe. — Ela matou
alguns dos meus homens — Alexander continua.
— Você deve ter feito algo para que ela agisse assim — é
Nicholas quem diz a favor da irmã.
Alexander olha com desgosto palpável para Arthur e enruga o
nariz, em seguida, volta a atenção para nós quatro.
— Não me orgulho disso, mas tenho homens burros — é só o
que resmunga antes de fazer voto de silêncio.
Lawanda, Romie, Liam e Madelyn são trazidos para a sala
acompanhados de dois homens. Assim que loira atrevida coloca os
olhos em Arthur, tenta voar em cima dele, mas é impedida por um
dos imbecis que a trouxe.
— Tire as mãos dela — falo num tom ameaçador e ele me
encara de maneira desafiadora antes de soltá-la.
Ela me olha por um segundo e os olhos felinos dizem que
sente muito por tudo, mas não parece arrependida.
Romie corre para Julian, que a abraça e pergunta se está
bem, ela apenas assente e usa o irmão como escudo. Volto com os
olhos para os outros e noto que Liam está muito machucado.
Mesmo que esteja com raiva por ter embarcado nessa aventura
perigosa, odeio por terem espancado o garoto.
— Você encostou em um dos nossos — digo num tom sério,
indicando na direção de Liam com a cabeça.
— E eles mataram alguns dos meus — Alexander devolve,
cético.
— O que vieram fazer aqui? — Julian pergunta, encarando
Lawanda e Liam.
— Madelyn tinha sido sequestrada — Lawanda informa,
olhando para mim, como se quisesse que eu entendesse motivo que
a fez mentir. — Eu precisava ajudá-la.
— Emocionante — Alexander interrompe o momento,
cortando o ar com um gesto de mão. — Temos uma garota com a
síndrome de super-herói.
— Vai se ferrar — ela dispara, e a única coisa que Alexander
faz é um estalo com a língua contra o céu da boca, desaprovando o
tom de Lawanda.
— De quem foi a ideia? — ele pergunta, de repente, virando
o rosto para Nicholas. — Não acho que tenha sido você, porque não
parecia tão incomodado. Na verdade, você não se importava com a
Corporação... — Encaminha a atenção para Lawanda. — Você é
esperta, mas não é inteligente o suficiente.
— Isso importa? — sou eu quem questiona.
Alexander abre um sorriso.
— Sim, porque foi inteligente, certeiro e incrível. Eu gostaria
de ter uma cabeça assim ao meu lado — ele comenta, fazendo
Nicholas ficar tenso. — Então... de quem foi a ideia?
— Cuidado com o que deseja, Alexander — é Liam quem diz,
nos surpreendendo.
O russo caminha devagar até o garoto e observa com afinco.
— Foi você? — ele quer saber.
— O que você acha? — Liam retruca, mantendo a postura e
a cabeça erguida, protegendo Lexie de ser exposta.
— O que você quer, Alexander? — Nicholas pergunta, e
Lawanda enruga o nariz.
— No momento? Menos problemas — responde de forma
irônica. — Não estou feliz, Nicholas, eu gostava de ter o poder
acionário da Corporação. Você sabe, homens como nós, gostam de
ter o controle de tudo. E bem, isso me foi tirado. Fui traído, achei
que tivéssemos um acordo.
Julian deixa escapar uma risada curta.
— Não foi traído, apenas está um passo atrás agora — o
subchefe diz, fazendo Alexander erguer as sobrancelhas.
— Concordo e eu não gosto disso.
— Mas vai ter que se acostumar com isso, Alexander —
Lawanda começa a falar. — E não aja como se o negócio da minha
família fosse o seu ganha pão, porque sabemos que não era.
O russo torce os lábios e concorda com um aceno de cabeça.
— Se essa garota não for domada, vocês terão grandes
problemas no futuro — é o que fala para nós, segurando o queixo
com a ponta dos dedos.
Lawanda bufa, revirando os olhos.
— Vocês têm sorte, não vou matá-los hoje — Alexander fala,
olhando diretamente para Liam e eu fico sem entender. O russo
desvia a atenção do garoto e volta para nós. — Isso me traria muita
dor de cabeça e não estou a fim de começar uma guerra com uma
família italiana. Guerras são sempre ruins para os negócios. E no
momento, vocês são o menor dos meus problemas.
— É uma decisão sábia e prudente — digo, focalizando seus
olhos. — Parece que temos um acordo, no entanto, precisamos
acertar alguns detalhes.
Sinto a atenção de todos em cima de mim.
— Fale — Alexander ordena, me deixando irritado, mas não
transpareço.
— Arthur mandou matar Lawanda e tirou a vida de dois dos
nossos homens. Não é algo que possamos varrer para debaixo do
tapete. — Olho para Madelyn, que parece amedrontada entre nós.
— Quem a sequestrou? — pergunto, erguendo uma sobrancelha.
— Arthur — é Lawanda quem diz, entre os dentes e eu
assinto, encarando Alexander.
— Ele começou grande parte dessa confusão. Por quê? —
questiono, analisando Arthur, que parece estar entrando em
desespero. — Não conseguiu lidar com uma garota atrevida no
trabalho.
— Não sabe o que está falando... — Arthur começa, mas é
silenciado ao ver a reprovação no rosto de Alexander.
— Eu sei que ele não precisa da sua permissão para matar.
Mas acontece, que Lawanda não é alguém que pode simplesmente
ser eliminada. E você sabe disso, Alexander. Se algo tivesse
acontecido com ela, a guerra teria começado e você nem teria
tempo pra se preparar — falo, a ameaça velada no tom áspero da
voz.
Alexander contrai o maxilar.
— Querem a cabeça de Arthur também? — retruca,
desdenhoso. — Parece que estão me pedindo permissão para
matar um dos meus homens.
— É justo — digo e abro um sorriso cínico. — Ou prefere ficar
com alguém que poderá causar sua destruição no futuro?
Alexander olha para a Arthur com tanto desgosto, que eu sei
que consegui convencê-lo. Para ser sincero, acho que ele mataria
Arthur de qualquer forma, se nós tivéssemos pedido sua cabeça ou
não.
Não parece que Alexander é muito maleável com os homens
que agem pelas suas costas.
— Não, Alexander, por favor — Arthur chega a implorar
quando os homens do líder russo o seguram. — Eu fiz tudo por
você, não é justo! — ele berra, fazendo Alexander fazer um gesto
com a mão para que o tirem daqui.
— É a primeira vez que entram na minha casa e exigem uma
cabeça pra mim. Não vou tolerar algo assim de novo — ele informa,
me encarando. — E da próxima vez que a mocinha... — Olha para
Lawanda. — Matar alguns dos meus homens, ela sofrerá as
consequências.
Tenho vontade de derrubar um dos homens na sala, pegar a
arma e atirar em Alexander por causa da ameaça, no entanto, a
coisa mais sensata no momento é tirar Lawanda, Romie e Madelyn
da cova dos leões.
— Você brincará de CEO agora? — pergunta a Nicholas. —
Ou deixará sua irmã de dezenove anos afundar os negócios de vez?
Alexander olha Lawanda com desdém.
— Não se preocupe com nada, Alexander — Nicholas fala,
carrancudo. — Eu assumirei daqui pra frente.
O russo não parece satisfeito, mas acena com a cabeça.
— Vão embora da minha casa antes que eu mude de ideia
— é o que fala, fazendo um gesto com a mão, nos expulsando. —
Não esqueçam, tréguas não duram pra sempre.
Chegamos na mansão de Schavier e em vez de entrar como
os outros, Lawanda fica na nossa cola, vigiando a van em que
trouxemos Arthur. Ainda não conseguimos conversar a sós sobre o
que aconteceu, e com certeza, não o faremos agora, já que a única
coisa que ela quer no momento é ver Arthur.
— Entre, Lawanda — ordeno, impedindo o que o soldado
abra a porta traseira e tire Arthur. — Vá descansar.
Ela une as sobrancelhas.
— Não, eu vou punir Arthur pelo que ele fez comigo... por ter
sequestrado Madelyn — diz, como se fosse óbvio.
Nicholas e eu trocamos um olhar, mas o capitão não diz
nenhuma palavra.
— Não vai, entre e converse com Madelyn. Oriente a garota a
mudar de nome, mudar de cidade ou de país.
Ela bate os cílios devagar, enrugando nariz.
— Por quê? Resolvemos as coisas.
Sacudo a cabeça de um lado para o outro, negando.
— Você acha mesmo que Alexander é tão bom assim? Ele
nos deu Arthur, nos deixou ir sem dificuldade. Se ele souber que
Liam não sabe porra nenhuma sobre Ivan, vai querer nos fazer
pagar por termos o feito de idiota — falo, a voz soa tão ríspida, que
a faz se encolher.
— Liam pode descobrir algo sobre Ivan, ele pode fazer isso.
Respiro fundo.
— Sim, mas pode demorar. Vá e converse com Madelyn —
mando, e então, deixo que o soldado abra a porta da van para tirar
Arthur e levá-lo para o porão.
Ignorando todas minhas ordens, Lawanda tenta voar em cima
do homem para bater nele e eu preciso segurá-la para que se
controle.
— Merda, Lawanda.
— Não pode me impedir, ele merece pagar pelo que fez —
ela diz, tentando se soltar das minhas mãos.
— E ele vai — digo, com convicção.
— Quero ver — exige.
Nicholas continua quieto, assim como meu irmão e Julian,
que apenas observam em silêncio.
Lambo os lábios e nego com a cabeça.
— Não.
— Thomas — choraminga.
— Não, Lawanda — repito, estranhamente calmo.
Ela balança a cabeça de um lado para o outro, meio fora de
si.
— Eu vou.
— Não! — grito com ela, fazendo-a estremecer e os olhos
brilharem. — Saia daqui agora! — berro de novo, e vejo os lábios
carnudos se torcerem de raiva.
A garota gira nos calcanhares e entra dentro da mansão,
chorando e provavelmente, me odiando.
De qualquer forma, as coisas entre nós terão que esperar
para se resolverem. Agora, vou fazer Arthur pagar por ter tentado
matar Lawanda.
Arthur teve o que mereceu e como esperado, implorou pela
vida até nos últimos segundos em que esteve respirando.
Claro que já matei antes, quando era um soldado, depois,
quando me tornei um capitão, mas quando assumi o lugar de
conselheiro, tirar vidas não era exatamente uma coisa corriqueira
para mim.
O Don não precisava de um sanguinário sem controle
sussurrando conselhos no pé do seu ouvido. Ele precisava de um
homem sábio e controlado, e claro, eu sempre exerci bem o meu
trabalho.
Caso contrário, seria guerra sobre guerra.
No entanto, hoje, com Arthur, eu não consegui manter a
minha raiva em rédea curta. Ele tinha mandado matar Lawanda,
depois, sequestrou Madelyn e a manteve presa por semanas.
Não sou santo. Sou um monstro. Um monstro que não gosta
quando mulheres inocentes sofrem as consequências. Ou quando
mexem com a minha mulher e tentam machucá-la.
Nicholas me passa um pano para limpar as mãos. Estamos
no porão da mansão de Schavier, o lugar parece uma pequena sala
de tortura. Não duvido que o seu tio tenha a usado para isso no
passado.
— Eu cuido do resto — ele diz, sem demonstrar emoção na
voz.
Oliver o ajuda a desamarrar Arthur da cadeira e coloca o
corpo em cima de um plástico preto, enquanto eu tento limpar as
mãos sujas de sangue com o pano, adiando o inevitável.
Lawanda.
Nossas últimas palavras não tinham sido num tom mais
agradável. Para ser sincero, achei que Nicholas tentaria me socar
por eu ter gritado com a sua irmã, mas ele não o fez. No fundo, eu
sei que ele concordava comigo.
Lawanda queria se vingar de Arthur, mas eu já tinha sujado a
mão dela de sangue quando arrumei George para que o punisse.
Não faria algo parecido de novo, ainda mais, porque a garota estava
com os olhos irradiando raiva.
Antes de ir para o segundo andar, passo no lavabo e decido
lavar as mãos com sabão para tirar o que ficou das manchas
vermelhas. O sangue escorre pelo ralo, os machucados de tanto
socar Arthur permanecem nos nós dos dedos.
Ignorando os soldados que perambulam pelo hall de entrada
e a sala, subo as escadas e vou até o quarto principal da mansão.
Por algum motivo, sei que ela estará lá. Coloco a mão na maçaneta
e a giro, entro sem dizer nenhuma palavra e a encontro usando
roupão e de cabelos molhados. A expressão de raiva ainda está
estampada no rosto delicado e os olhos azuis, parecem pegar fogo
como horas atrás.
— Ele morreu? — é o que pergunta, cética.
— Sim.
Lawanda prensa os lábios e desvia a atenção de mim.
— Não devia ter me impedido — resmunga, sacudindo a
cabeça de um lado para o outro.
Decido ignorar e digo:
— Precisamos conversar.
Lawanda respira fundo e cruza os braços na altura dos seios,
se aproximando de mim. Ergue o queixo pequeno em atrevimento e
focaliza meus olhos com intensidade e petulância.
— Vai gritar comigo de novo? — rebate, me fazendo suspirar.
— Não devia ter mentido pra mim, Lawanda.
— E o que você queria que eu fizesse? Madelyn precisava de
ajuda.
— O que fizeram foi perigoso e poderia ter custado a vida dos
três. Você tem noção disso?
Ela bufa e recua alguns passos.
— Se eu te contasse, você teria me impedido de tentar
ajudar.
— Claro — falo, meio irritado. — Por que você sempre corre
pro perigo em vez de correr dele?
— Porque eu não sou uma donzela em perigo e você não é
um príncipe encantado, então, acho que nascemos um para o outro
— ironiza.
Respiro fundo e pesado, penteando os cabelos com os
dedos.
— Não teste minha paciência.
— Ela é minha amiga! — grita.
— Eu sei! — esbravejo de volta. — E eu teria feito muita
merda pra salvá-la, só que nenhuma delas inclui a arriscar sua vida.
Porra.
Ela avança em cima de mim e começa a esmurrar o meu
peito com força. Impeço que continue ao segurá-la pelos pulsos.
— Se você acha que eu vou sentar e obedecer, então deveria
ter casado com Antonella. Por que não casa com ela? Ainda dá
tempo. Tenho certeza que ela vai te aceitar sem reclamar.
Pisco devagar, tentando me manter calmo.
— Pare de agir como uma criança.
Ela se solta de mim e me empurra com as mãos espalmadas.
— Criança? — rebate, os olhos felinos brilhando por conta
das lágrimas contidas. — Pensei que tivéssemos chegado a um
acordo de que não sou uma criança.
— Você mentiu pra mim, Lawanda. Em vez de pedir ajuda,
você mentiu pra mim — murmuro entre os dentes.
A garota espreme os lábios carnudos e assente.
— E o que você quer que eu faça? Sim, eu menti e teria feito
de novo. Madelyn ter sido sequestrada é culpa minha — retruca,
batendo contra o próprio peito. — Eu que ignorei as ligações e
mensagens dela, não você. Eu mentiria de novo pra salvá-la.
Abro um sorriso sarcástico.
— Você não pensa na porra das consequências? — vocifero.
Não estou orgulhoso de gritar com ela, mas Lawanda me faz
perder a cabeça. E me irrita pra caralho saber que ela não teria feito
nada diferente, que teria mentido para mim de novo se fosse
preciso.
— O que acha que eu teria feito se Alexander ou Arthur
tivessem te machucado? Hãm? Você acha que eu voltaria pra
Montreal como se nada tivesse acontecido? — pergunto, ela abre a
boca, mas não responde. — Eu teria começado uma guerra por
você, Lawanda. Cacete.
Ela começa a chorar, o que me faz querer consolá-la em
meus braços.
— Se você acha que vou ficar sentada enquanto você arrisca
sua vida, você não me conhece direito, Thomas.
— Deixa de ser teimosa — falo ao me aproximar dela, só que
a garota me impede ao dar um passo para trás e girar nos
calcanhares. Alcanço o seu braço e a impeço de se esconder de
mim. — Vamos conversar como adultos e resolver a merda dessa
situação.
Ela se desvencilha do meu toque.
— Não quero conversar com você.
Fecho os olhos por uma fração de segundo.
— Lawanda, pare...
— Parar o que? — me interrompe, sarcástica. — De agir
como uma criança? —emenda, cheia de desdém.
— Sim — sibilo, fazendo-a girar os olhos e chorar mais ainda.
— Você tem razão, Thomas — fala, e eu sinto um gosto
amargo na garganta. — Eu sou uma criança e com certeza, você
não vai conseguir me controlar. Acho melhor você voltar atrás e
casar com Antonella, ela será uma mulher obediente.
— Lawanda... — repreendo.
— Não vamos dar certo, você e eu — ela murmura,
chorando. — Por favor, vá embora, quero ficar sozinha.
Respiro fundo, relutando em sair do quarto e deixá-la
sozinha, mas eu sei que nada de bom sairá de nós hoje. Ela está
com raiva, eu, com certeza, estou puto por ela ter mentido e estar
me afastando agora. Mesmo com todos os meus instintos que dizem
para fazer o contrário, eu dou as costas e a deixo sozinha.
Lawanda é delicada e por mais que não goste de admitir isso,
não é alguém que precisa de proteção. Eventualmente, essa garota
atrevida será a minha ruína.
Alguns dias depois...
— Vai ficar sem falar com ele por quanto tempo? — Lexie
pergunta enquanto se perde entre os vários macacões de bebês nas
araras.
Estamos em uma loja no shopping, que só vende roupas e
artigos para bebês. A vendedora está nos acompanhando com um
carrinho, que está lotado de roupas e acessórios fofos. Desde que
colocamos os pés aqui, não paramos de enfiar coisas dentro dele.
A barriga de Lexie está quase uma melancia e às vezes, eu
sinto que ela pode dar à luz a qualquer momento.
— Não vou falar com ele — digo, respondendo a pergunta de
antes.
Lexie suspira e está prestes a me dar um sermão quando
encontra um macacão super fofo com os dizeres “Cuidado, rapazes,
meu pai é bravo”. Nós rimos, porque é a cara do Nick.
— Precisa conversar com ele — Lexie insiste, fazendo meus
ombros caírem.
Ela está certa.
Faz quatro dias inteiros que não troco uma palavra com
Thomas. Nossa última conversa na casa do meu tio não foi
exatamente a melhor que tivemos. Ele me chamou de criança e eu
acho que o mandei casar com a Antonella, não lembro bem, estava
com muita raiva.
Só que ainda não consigo esquecer de como ele foi embora e
me deu espaço. Voltamos para Montreal no jatinho e parecia que
tinha um elefante entre nós dentro do avião. Parte de mim, se
contorcia para ir conversar com ele, enquanto a outra parte, pedia
para esperar que ele desse o primeiro passo.
Enfim, não deu.
Quatro dias sem ele e eu senti tanta saudade, mas pelo que
parece, Thomas não. Está vivendo bem sem mim, eu acho.
— Talvez ele esteja melhor sem mim — faço drama, apenas
para não perder o costume.
Lexie ri, tremendo os ombros e me arrancando uma risada
também.
— Quer vencê-lo pelo cansaço? — ela quer saber.
Dou de ombros.
— Quero que ele me procure — admito ao lamber os lábios.
— Quero que diga que sentiu minha falta — murmuro, suspirando e
sentindo um aperto no peito. — Não espero que se arrependa de ter
me chamado de criança na nossa última conversa. É pedi demais
pra capacidade dele — zombo, fazendo Lexie gargalhar.
Escolhemos mais algumas roupinhas e sapatinhos fofos para
minha sobrinha, e fazemos o mafioso que nos acompanhou até o
shopping, carregar as sacolas. Almoçamos em um restaurante na
praça de alimentação, o nosso mafioso/segurança senta numa
mesa próxima de nós, mas não come, apenas observa.
Depois de pagarmos a conta, decidimos ir embora, porque os
pés de Lexie já estão incomodando. O nosso plano vai por água
abaixo ao ver a inauguração de um sex shop entre a praça de
alimentação e o corredor que dá na direção dos elevadores. Nós
duas entramos na loja e logo de cara ganhamos pirulitos de
chocolate em formato de pênis.
Olho por cima do ombro e vejo o nosso mafioso em frente à
entrada do sex shop, enquanto segura as sacolas com logo da loja
de bebês e olhando para os lados, completamente desconfortável.
Lexie e eu rimos e passeamos pelos itens expostos nas
prateleiras. Bolinhas explosivas, jogos eróticos, calcinha comestível,
bolas ben-wa, vagina de borracha, sugador clitoriano, inúmeros
vibradores espalhafatosos e outros com formatos bem
interessantes.
— Você ainda faz sexo? — indago a Lexie, provocativa.
Ela me dá um cutucão na costela com o cotovelo.
— Garota, estou grávida, não morta — chia para mim, e eu
mordo o lábio com força para não rir. — Só que tem sido bem difícil
transar carregando essa melancia — acrescenta, alisando o
barrigão com carinho.
Não consigo segurar e rio, contagiando-a também.
Perdemos mais alguns minutos ali, perdidas entre as
prateleiras, chupando o nosso pirulito em formato de pênis com
sabor de chocolate. Decidimos fazer algumas comprinhas sexuais e
só então, vamos embora.
Assim como Lexie, talvez seja difícil eu transar nos próximos
dias, mas isso não significa que não irei me divertir sozinha.
Meus planos de me divertir sozinha foram por água abaixo.
É ruim essa mistura de tristeza, saudade e tesão. Toda vez
que tentei me dar prazer, Thomas preenchia minha cabeça e eu
entrava no modo depressiva e não conseguia seguir em frente,
porque começava a xingá-lo por ainda não ter vindo atrás de mim.
Talvez minha TPM esteja chegando.
Agora, estou jogada no chão da sala, tomando uma taça de
vinho tinto seco, enquanto mergulho os morangos e uvas no meu
chocolate meio amargo derretido e alterno a atenção no filme de
ação que passa na televisão.
Beberico o vinho e pego o celular em cima da mesinha de
centro. Nenhuma notificação. Estou me preparando para acertar o
aparelho do outro lado da sala, quando a campainha toca. Volto com
ele para a mesinha de vidro e me apoio no sofá para ficar de pé, a
cabeça começando a ficar zonza do álcool.
Sem amarrar o robe na cintura, arrasto os pés até a porta.
Não espio no olho mágico ao girar a maçaneta e escancarar a porta.
Surpreendo-me ao ver Thomas do outro lado da soleira.
Diferente das roupas que estou acostumada a vê-lo usando,
hoje, o homem veste um conjunto de moletom preto, sobretudo e
tênis branco. Não parece em nada com aquele mafioso arrogante,
controlado e que acha que sabe de todas as coisas.
Os olhos claros e insinuantes analisam o meu corpo como se
tivesse um olhar de raio x, deixando um rastro quente na minha
pele.
Eu tinha me sentido meio idiota quando me arrumei horas
atrás. Mas tinha lido um artigo, que falava que as mulheres
precisavam se arrumar para si mesmas. Então, eu tomei um banho
de banheira espumante, me depilei, lambuzei o meu corpo com
creme hidratante, coloquei uma calcinha e a camisola mais sexy que
eu tenho.
Acho que valeu a pena.
Como Thomas ainda não disse nenhuma palavra, eu recuo
um passo para que entre no apartamento. Ele passa por mim, todo
feroz e duro, fazendo o seu cheiro delicioso invadir minhas narinas.
Ele para atrás do sofá, olhando a taça meio cheia de vinho, a
garrafa, as minhas frutas e o chocolate, e claro, a televisão. Justo a
agora, o protagonista gostoso do filme resolveu que estava na hora
de devorar a boca da mocinha em um beijo sedento.
Dou a volta no sofá e pego o controle, desligo a tevê no exato
momento em que ele está tirando a blusa para começar o outro tipo
de ação.
— Você está bem? — ele pergunta, me fazendo erguer uma
sobrancelha de maneira cética.
— Agora você quer saber? — disparo, meio irritada.
Aproximo-me da mesinha de centro e pego a taça de vinho, bebo
todo o líquido e coloco em cima dela de novo. — Não achei que se
importasse, já que passou quatro dias sem me procurar.
Não são lá muitos dias, mas quando se está brigado com
quem gosta, parece uma eternidade maçante e angustiante.
— Pensei que tivesse finalmente casado com Antonella —
volto a falar, porque não consigo ficar calada.
O homem franze o cenho, os olhos irradiando fogo.
— O quê? — Pisando duro, ele vem até mim e para a um
passo de distância. — Você bloqueou o meu número, eu não
conseguia te ligar ou mandar mensagens. Pensei que estivesse me
evitando — diz, bufando.
Pisco devagar e embora tente, não consigo esconder a
surpresa. Não lembrava com detalhes daquela noite, porque depois
que Thomas saiu do meu quarto, eu arrastei Romie para adega de
vinho do meu tio e esvaziei quase duas garrafas sozinhas, enquanto
chorava para minha amiga.
Talvez eu tenha bloqueado o número dele mesmo.
Desvio de Thomas e pego o meu aparelho em cima da
mesinha, só para confirmar. Desbloqueio a tela e vejo a restrição no
seu número.
— Por que não veio atrás de mim?
Ele deixa escapar uma baforada de ar.
— Estava te dando a porra do espaço — admite, me
deixando mais irritada.
— Eu não queria a porra do espaço — retruco, alterada. —
Eu queria que você viesse atrás de mim. Olha, não estou esperando
um pedido de desculpas, Thomas, só queria que você viesse atrás
de mim.
— Bem, eu estou aqui.
— Por quê? — rebato.
— Cansei de ser paciente — assume. — E eu... — a frase
dele morre.
— Você o quê?
Thomas passa os dedos entre os cabelos e então, ergue os
olhos para mim, me atingindo com uma onda quente e
aconchegante.
— Não aguentava mais ficar longe de você — murmura,
acelerando meu coração. — Você é um problema, é imprudente,
mimada, atrevida, mas eu te fiz minha e não acho que seja algo que
eu consiga voltar atrás.
Mordo o lábio inferior.
— Não sou e nem serei obediente — murmuro.
— Tudo bem, não estou procurando uma mulher assim. Mas
precisa me prometer que quando estiver em perigo, ou alguma
merda estiver acontecendo, vai conversar comigo em vez de mentir,
porque não suporto a ideia de você mentindo pra mim.
Concordo com um aceno de cabeça.
— Ok, sem mentiras. — Respiro fundo e cruzo os braços na
altura dos seios. — Mas precisa acreditar em mim quando eu falar
que dou conta de algo. Já mostrei que sou capaz de me defender
sozinha. Se algo acontecer ou você estiver em perigo, eu não sou
burra, sei que isso acontecerá algum dia, você vai ter que me
deixar... participar.
Ele solta uma risada sarcástica.
— Por quê?
— Porque eu não suporto a ideia de não fazer nada pra te
ajudar ou te proteger — admito, prensando os lábios. — Não sou
indefesa, Thomas.
— Eu sei que não.
— Então, estamos combinados assim?
— Sim — concorda, a voz séria. — Mas faremos do meu jeito
— emenda, faço menção de quem vai revirar os olhos e desisto no
meio do caminho.
— Ok — resmungo.
— Você é minha e eu não tenho tempo pra ficar brincando,
então vamos oficializar as coisas entre nós — diz, como se fosse
uma nova lei.
De repente, meu coração martela forte dentro do peito e a
sala fica quente demais. Levo ar até os pulmões e passo o robe
pelos braços, jogando a peça no sofá, enquanto tento decidir se
oficializar para ele é o mesmo para mim.
Os olhos dele comem o meu corpo e eu preciso de esforço
para me concentrar em questionar o que ele acabou de dizer.
— Você tá me pedindo em casamento? — pergunto e parece
que a voz saiu de outra pessoa.
Meu Deus, se não for um pedido de casamento, não quero
nem olhar para cara de Thomas nas próximas horas, porque vou
estar remoendo internamente como sou idiota e mesmo querendo
ser uma mulher livre e independente, também sou uma boba
apaixonada.
— Sim — responde, esquadrinhando o meu rosto. — Eu vim
colocar isso no seu dedo. — Thomas tira uma caixinha preta de
veludo de dentro do sobretudo e abre para mim.
Engulo em seco ao olhar o anel com uma pedra de diamante
em cima. É lindo e meio extravagante, definitivamente, combina
comigo.
— Ah, Deus — murmuro e ergo os olhos para o meu mafioso.
Eu sou nova, nunca tinha pensado em casamento e essas
coisas, só que o vendo agora, com esse anel com diamante,
olhando para mim como se eu fosse a coisa mais importante para
ele, sim, com certeza, eu quero casar com Thomas.
E no fundo, eu já sabia onde a nossa relação iria nos levar.
Thomas é um mafioso, não é um cara comum que eu conheci na
balada. Quando me fez dele, mesmo sem eu saber, ele já sabia que
era pra sempre.
— Você é minha, Lawanda.
Sorrio e elevo a mão para que enfie o anel no meu dedo.
— Eu sei — sussurro.
Sem tirar a atenção de mim, ele retira o anel da caixinha de
veludo e segura minha mão direita, arrepiando o meu corpo. Só
alguns dias longe dele e o meu corpo reage como se nós
estivéssemos ficado longe por meses. Ainda em silêncio, Thomas
desliza o anel sobre o meu dedo anelar.
Caramba.
Fiquei noiva.
Sorrio.
— Mesmo com isso — falo, erguendo a mão no ar e
mexendo os dedos. — Não serei obediente.
O canto da boca dele se curva em um sorriso cínico.
Thomas prende mechas detrás das minhas orelhas e segura
meu rosto ao me puxar para ele.
— Acho que não gosto de mulheres obedientes.
Contorno o seu corpo com as duas mãos e não consigo
impedir o gemido que escapa dos meus lábios. Apenas quatro dias
e eu senti tanta falta dele, como se já fosse um pedaço de mim. Não
sei o quanto a nossa relação é saudável, talvez nem seja, mas que
se dane, nós dois somos o que devemos ser.
— Antes de qualquer coisa — começo a falar ao ficar na
ponta dos pés para nivelar os nossos rostos. — Você não ficou com
Antonella, né? Se tiver ficado, vou jogar esse anel pela janela da
varanda — ameaço, o fazendo rir.
— É claro que não — responde, descendo com uma das
mãos até a base da minha coluna e me puxando contra o próprio
corpo. — Eu estava bravo com você, mas mesmo assim, não
consegui te tirar da cabeça.
Suspiro.
— Eu estava com alguém — falo, a fim de provocar. Os olhos
dele queimam como fogo e ele entrelaça a mão no meu cabelo da
nuca, puxando com força e me deixando excitada. — Ele...
— Lawanda — me repreende.
— Você disse sem mentiras — devolvo. Thomas abre a boca
para resmungar e eu o interrompo. — Ele é de silicone e rosa, não é
tão grande como você, mas promete muita coisa.
As sobrancelhas se unem em confusão e eu rio.
— É um vibrador — sussurro e um brilho devasso toma conta
das íris azuis, que está um tom mais escuro. — Não consegui usá-
lo, porque eu queria você dentro de mim, não ele — cochicho,
fazendo o peito de Thomas subir e descer com a respiração
acelerada.
A mão na base da minha coluna sobe até o pescoço e então,
ele me puxa para ele, esmagando minha boca com a sua. A língua
me invade com força, explorando e provocando formigamento na
minha pele. Empurro para que sente no sofá e monto em cima dele,
ficando sobre a ereção e a sentindo cutucar o meio entre as minhas
pernas.
Ele separa as nossas bocas um pouco e deixa a atenção cair
para baixo ao levantar o tecido da camisola até os meus quadris,
revelando a calcinha de renda vermelha.
— Você combina com vermelho — sussurra, a voz tão sexy
que vibra direto no meu ponto de prazer. — Tem noção de como é
gostosa, Lawanda?
Thomas desliza uma das mãos grandes pelas minhas coxas,
me roubando gemidos entrecortados.
— A pele é tão macia. — A outra mão sobe e ele desce a
alça da camisola, revelando o meu seio pequeno e com o mamilo já
entumecido. — Perfeita — diz ao inclinar o rosto sobre mim e
abocanhar o meu seio, chupando e mordiscando de leve.
Enfio as mãos nos seus cabelos e os puxo com força ao
mesmo tempo em que rebolo em cima da ereção, ansiando o
momento em que vai estar dentro de mim.
— É tão doce — fala, passando a língua em volta do meu
mamilo e algo me invade a cabeça.
— Espera.
Saio de cima de Thomas e o homem rosna. Desço a outra
alça da camisola e a deixo cair no chão, os olhos insinuantes
dançam pelo meu corpo e mesmo sem ele dizer nada, a mensagem
é clara como água cristalina.
Eu pertenço a ele.
— Gosta de chocolate? — pergunto, e o canto da boca dele
se curva em um sorriso lascivo.
Pego um palito e finco no morango, em seguida, mergulho no
chocolate derretido dentro da panela de founde. Sem pedir
permissão, ofereço a Thomas, que abre a boca e come a fruta, sem
tirar os olhos de mim.
Estou prestes a repetir o processo, quando ele me puxa e me
coloca de costas no sofá. Agora, é ele quem fica de pé, tira primeiro
o sobretudo, depois, os tênis e meias. Pega um palito de metal,
enfia na uva e a mergulha dentro do chocolate, abro a boca para
receber a fruta, e surpreendo-me com o que faz.
Gemo no momento em que Thomas desliza a fruta entre os
meus seios, deixando um rastro morno e gostoso de chocolate.
Arqueio o corpo para ele quando faz movimentos circulares no meu
mamilo.
O homem vem para cima de mim e começa a lamber o rastro
de chocolate, me fazendo estremecer.
— Gosto de chocolate assim... em você — ele diz, deslizando
a língua arrogante pelo meu mamilo.
Volta a sujar a uva com chocolate e depois, faz um rastro da
minha barriga até a coxa. Meu íntimo lateja tanto, que estou quase
implorando que me faça gozar com a sua boca.
Sem pressa e de maneira torturante, ele lambe todo o
chocolate, se demorando na parte interna da minha coxa. Enfio a
mão no seu cabelo e puxo com vontade ao sentir a língua no meu
sexo, por cima da calcinha.
— Por favor — começo a implorar. — Thomas... — murmuro.
O mafioso continua com a tortura por mais alguns minutos,
me lambuzando de chocolate e passando a língua pelo local logo
em seguida. As investidas de tortura, me levam à loucura e eu sinto
a renda da calcinha pingando de tesão, tão perto de gozar sem que
ele tenha tocado no meu centro de prazer de verdade.
Thomas enfia os dedos indicadores e os meios nas laterais
da minha calcinha, desce a renda devagar, passando pelas minhas
pernas e depois, a jogando no chão, mas não sem antes cheirá-la e
me deixar mais excitada ainda.
Os olhos azuis admiram minha boceta enquanto as mãos
forçam as minhas pernas mais ainda, me abrindo completamente
para ele. E então, Thomas vem, enterrando o rosto no meu sexo
molhado e me acariciando com a língua.
Ele me lambe toda, de baixo para cima, com vontade,
apertando minhas coxas, brincando com o meu clitóris e me
arrancando suspiros do fundo da garganta. Cada terminação
nervosa do meu corpo vibrando por conta do tesão incontrolável.
— Thomas... isso, bem aí — choramingo, sentindo a língua
trabalhar em movimentos circulares contra o ponto sensível, quente
e inchado do meu corpo.
Agarro suas orelhas, gemendo alto o seu nome, perto de
alcançar o meu prazer e estremecer com o orgasmo.
Para minha surpresa, ele para de me chupar e vem subindo
com beijos quentes pelo corpo, mordiscando de leve os seios e
envolvendo meus lábios com os seus, que tem o meu cheiro
impregnado neles.
— Vou te deixar gozar, mas quero meu pau dentro de você —
fala, se afastando um pouco para passar a blusa pela cabeça e
exibindo o peitoral duro e cheio de gominhos. — Quero te ver gozar
em cima do meu pau, Lawanda.
Ele desce parte da calça moletom e a boxer, revelando o pau.
E aquele V sexy, que forma as entradas profundas, me dão água na
boca. Inclino-me um pouco para frente e agarro seu pênis grosso e
ereto, ele entreabre a boca e deixa escapar um som gutural.
Abro bem as pernas e ele vem para cima de mim. Não solto o
seu membro, continuo o pegando, fazendo fricção para cima e para
baixo com as duas mãos. Decido descer um pouco mais e tocar as
bolas, fazendo com que o homem cerre o maxilar e feche os olhos,
gemendo baixinho.
— Caralho — murmura ao piscar e prender os olhos em mim.
— Me coloque dentro de você — ordena.
Direciono a excitação de Thomas na minha entrada e num
solavanco, eu arqueio os quadris, para que minha boceta envolva o
seu pau com mais facilidade. Entrelaço as pernas na cintura dele e
o aperto contra mim.
Ele começa a se mover, bem devagar, mas ao mesmo tempo,
é forte e impiedoso. Nossos olhos se encontram, deixando meu
coração agitado. Thomas ergue minhas mãos até em cima da
cabeça e entrelaça os dedos nos meus, sem deixar de entrar e sair
de mim. O rosto cobre o meu e ele me beija, com paixão,
envolvendo as nossas línguas, engolindo meus gemidos e suspiros.
Meus quadris se juntam aos movimentos certeiros de
Thomas, de repente, estão sincronizados, para cima e para baixo, o
recebendo inteiro.
— Mais rápido — peço ao sentir a onda espiral vindo do
dedão do pé até o couro cabeludo. — Thomas...
E ele vem com tudo, forte e duro, penetrando em mim com
tudo o que tem e me fazendo delirar.
Ele solta minhas mãos para agarrar minha cintura, o seu
rosto se enterra no meu pescoço, mordendo, lambendo e depois
sobe até o lóbulo da orelha, que ele roça de leve os dentes, me
enlouquecendo.
Thomas volta a se afastar e focaliza meus olhos, entrando e
saindo com força, enquanto minhas pernas tremem em torno do seu
tronco.
— Thomas...
— Goza, Lawanda.
Fecho os olhos e jogo a cabeça para trás, abrindo a boca e
deixando um gemido alto escapar, sem conseguir me conter e me
entregando ao orgasmo. Ele não diminui a velocidade nem por um
segundo, em vez disso, dá intensidade ao ritmo, com estocadas
fortes, seguindo meu orgasmo à medida que o seu prazer vai
chegando.
— Goza dentro de mim, Thomas — sussurro, provocante.
Ele encontra os meus olhos e eu sei que está prestes a
explodir. Seguro seus braços fortes, os músculos tensionados e a
pele quente, em chamas.
— Quero te ver gozar, meu amor — digo, o fazendo uivar.
O vaivém dele fica animalesco antes de se entregar a
necessidade, ao prazer e gozar dentro de mim, profundo e intenso.
O corpo dele inteiro contrai e Thomas finca os dedos nos meus
quadris, deixando uma dor prazerosa.
Ele desaba o corpo em cima de mim, respirando fundo e
fechando os olhos por um segundo.
— Caralho, eu estava com tanta saudade de você —
murmura, beijando o meu pescoço suado. — Nunca mais vamos
brigar — diz, como se fosse uma nova lei.
Sorrio, sentindo um quentinho gostoso no meu coração.
— Nós vamos casar — falo, sentindo-o sorrir contra o meu
pescoço. — Sua mãe vai pirar.
Talvez, meu irmão também.
Thomas levanta a cabeça para encontrar os meus olhos.
— Não importa, Lawanda. Você será minha esposa e ela
respeitará você mesmo que não goste disso. — Thomas deposita
um beijo no limite do meu maxilar. — Eu sei que sabe se defender
sozinha e com certeza, lidar com a minha mãe não é algo difícil —
diz, me fazendo rir.
— Não a subestime — retruco, ele acaba deixando escapar
uma risada também.
— Não se preocupe, não deixarei que ninguém desrespeite
você. Nem na minha frente, nem nas minhas costas.
Os lábios se esticam ao ouvir as palavras de Thomas e as
borboletas no meu estômago se agitam. Não preciso que me
defenda ou me proteja, mas é bom saber que o fará por mim.
— Me proteja, Thomas — sussurro e ele me dá um sorriso
maroto.
— Com a minha vida, Lawanda.
Ao entrar no apartamento e atravessar a sala, meus olhos
captam Lawanda no terraço, sentada em uma das cadeiras
confortáveis, bebendo vinho, perdida em pensamentos ao observar
o Monte Royal.[22]
Escolhemos essa cobertura por causa da vista, mas confesso
que tudo fica mil vezes melhor por causa dela. Gosto de chegar aqui
e vê-la, admirando a vista, porque posso admirá-la fazendo isso
também.
— Não ouvi você chegar — ela fala ao me notar.
Antes de ir ao seu encontro, deixo a pasta de couro em cima
do sofá e tiro o terno. Ela fica de pé e com um sorriso meigo
desenhando os lábios carnudos, abre os braços para me receber.
Não sei se as coisas sempre serão assim, ou quando ela irá
me fazer perder a cabeça de vez. Mas gosto de estar casado com
Lawanda. Nunca pensei que me importaria tanto com uma mulher, a
ponto de querer casar por livre e espontânea vontade.
Só que Lawanda veio com tudo, quase uma força
sobrenatural na minha vida. E hoje, eu a amo.
— Preciso te contar uma coisa — ela fala, descendo com as
mãos espalmadas sobre o meu peito e mordendo o lábio inferior por
um segundo. — Não conversamos sobre isso ainda, então, talvez
você precise sentar.
Com delicadeza, ela se afasta e me guia até a cadeira do
terraço. Eu me sento sem reclamar e ela passa uma perna em cada
lado da minha cintura, montando em mim. O vestido que está
usando sobe até o início das coxas e minha atenção se concentra
toda ali, nas curvas da minha esposa.
— Ei, olha pra mim — ela pede, e eu levanto os olhos para
encarar os seus. — O que você acha de filhos? — pergunta, de
repente.
Franzo o cenho.
Será que Lawanda quer um? Não faz muitos meses que a
filha de Nicholas nasceu e Lawanda é apaixonada pela sobrinha que
vive babando. Também, não faz muito tempo que Noah virou pai. Eu
sei que preciso de um herdeiro e logo, mas não sabia o que ela
achava disso.
Começa a ventar e mesmo que seja em vão, prendo duas
mechas de cabelo detrás das orelhas pequenas usando brincos de
pérolas delicadas.
— Você quer um? Ou vários? — é o que eu pergunto,
fazendo-a rir.
— Você quer? — ela rebate.
— Sim — admito.
— É o seu dia de sorte, porque eu estou grávida — fala, me
fazendo unir as sobrancelhas.
A primeira coisa que me vem à cabeça, é que ela estava
bebendo quando eu cheguei. Inclino o corpo para o lado e analiso a
taça de vinho, depois arqueio uma sobrancelha para ela.
— Você está grávida e estava bebendo?
Lawanda revira os olhos.
— Suco de uva — explica, virando metade do corpo para trás
e esticando a mão para pegar o cálice e me entregar.
Seguro o cristal e cheiro o líquido, confirmando o que ela
disse.
— Viu? — resmunga, tomando a taça da minha mão e a
colocando na mesa de novo. — Não sou tão imprudente assim.
Sorrio.
Contorno os braços em volta da sua cintura e a trago para
mais perto de mim. Deposito um leve beijo nos lábios carnudos e ela
segura meu rosto com as duas mãos, suspirando.
— Ficou feliz? — Lawanda quer saber.
— Sim — sussurro. — Eu preciso de alguns herdeiros.
Minha esposa começa a rir.
— Ah, de alguns? Um passo de cada vez, vamos primeiro
encarar a realidade de um — argumenta.
Assinto.
— Você ficou feliz? — indago.
Ela me dá um sorriso lindo e meigo ao responder:
— Sim.
— A mamma vai gostar dessa notícia, sempre quis um neto
— digo e como se tivesse vida própria, minha mão vai ao encontro
da barriga chapada, que não parece diferente em nada, mas que
carrega o nosso filho. Ou filha.
— Acho que estamos evoluindo, eu e ela — Lawanda rebate,
debochada e dá de ombros. — Promete que não vai me trocar
quando eu estiver diferente?
Elevo uma sobrancelha interrogativa.
— Eu não te trocarei por nada, Lawanda. Nem devia estar
pensando um absurdo desses.
Ela suspira e encosta a testa na minha.
— Desculpe, eu tô meio sensível.
— Tem certeza que está grávida? — pergunto, fazendo-a rir.
— Sim, mas marquei um médico amanhã — informa. — Não
quero ir sozinha ou com um mafioso de segurança. Pode vir
comigo?
Sorrio de lado.
— Eu iria de qualquer jeito.
Seguro o rosto pequeno entre as mãos e a envolvo em um
beijo lento, apaixonado, quase como se parte de mim quisesse
enfatizar que ela é minha e que eu nunca a trocarei por nada nesse
mundo.
— Obrigada — ela sussurra contra os meus lábios, mordendo
de leve o inferior. — Vai ter que atender a todos os meus desejos de
grávida — zomba, me roubando uma risada.
— Todos.
— Vai mesmo? — questiona, o cenho franzido em
desconfiança.
— Sim, tudo por você.
Ela faz um estalo com a língua.
— Você deve me amar de verdade — devolve, atrevida.
— Tem dúvidas ainda? — retruco, voltando a beijá-la,
apertando-a contra o meu corpo, que começou a despertar. — Eu
amo todas as suas versões, mesmo as que me tiram do sério.
Ela deixa escapar uma risada gostosa contra os meus lábios.
— Eu sei, também amo todas as suas versões, Thomas.
Lawanda, com certeza, ainda vai me enlouquecer, ainda mais
agora que está carregando o nosso filho. Sem dúvidas, ela é o meu
pequeno inferno particular. Louca, imprudente, linda, gostosa e
minha.
A seguir reservei um bônus especial para você. São os
primeiros capítulos do meu último lançamento “A Rendição do
Herdeiro Bilionário”.
Boa leitura!
Herdeiro, negócios e status...
Não faz cinco dias que enterramos o meu pai e essas são as
únicas palavras que saem da boca da minha mãe. Bem, não são as
únicas. Elas vêm junto em orações, sentenças que conseguem me
tirar do sério.
Em cima de um salto fino, ela anda de um lado para o outro
na grande sala da mansão, quicando de forma estridente no chão
de granito. As mãos magras e enrugadas voam no ar de vez em
quando e as narinas expandem, enquanto uma ruga fina aparece
entre as sobrancelhas.
A casa está tão vazia sem o meu pai. É como se nada mais
na minha família fizesse sentido. Droga. Por que a vida teve que
tirá-lo de mim também? Não aguento mais perder as pessoas que
eu amo.
Mamãe para de repente e gira o corpo para mim, trincando os
dentes.
— Jamison Ross Foster, você está me ouvindo?
Respiro fundo e meneio de leve a cabeça.
— Infelizmente, sim.
Ela levanta os braços mais uma vez antes de bater na lateral
do corpo esguio. Girando os olhos, mamãe vem até mim e senta ao
meu lado no sofá. Segura uma das minhas mãos entre as suas e
aperta de leve.
— Nós precisamos...
— Não quero falar sobre os negócios, acabamos de enterrar
o papai. Não quero pensar nas minhas responsabilidades e toda
essa merda.
— Eu sei, querido, mas precisamos conversar sobre isso
mesmo assim. — Suspira e aperta os lábios em uma linha reta. —
Chegou a hora de parar de brincar e fazer a coisa certa, meu filho.
Você foi preparado pra isso.
Rio com sarcasmo, mas não afasto a minha mão da sua.
— Parar de brincar? Você fala como se eu não tivesse feito
todas as suas vontades, mãe. Ditar o meu futuro e fazer tantas
escolhas por mim não foi suficiente?
Ela engole em seco e contrai o músculo do maxilar.
— Fazer minhas vontades não te impediu de brincar de ser
artista — resmunga e me deixa com um gosto amargo na boca. —
Não aja como se não tivesse feito o que quis, porque o seu pai foi
bom demais pra você.
Mamãe tem razão. Ele foi incrível. Mesmo depois de terminar
minha faculdade de administração, não me obrigou a trabalhar com
ele. Deixou que continuasse sufocando os meus sentimentos com a
música, o que minha mãe não aprovava.
E por anos, eu fui apenas o herdeiro do magnata da indústria
aeronáutica. Cantando em bares desconhecidos e fingindo que
minha conta bancária não era gorda o suficiente para comprar
qualquer coisa que eu quisesse.
— Eu conversei com o conselho, eles estão todos de
acordo...
— Mãe — interrompo. — Não quero me tornar CEO agora.
Não me imagino fazendo isso.
Ela assente e abre um sorriso fraco.
— Mas terá que fazer.
Mamãe é membro do conselho e nossa família detém 60%
das ações das indústrias Foster. Ela é persuasiva e claro que
conseguiria convencer a todos que estou pronto para sentar na
cadeira de presidente e assumir os negócios.
A verdade é que eu sempre soube que esse dia chegaria,
mas isso não significa que eu queira cair de cabeça nesse mundo
agora. Ainda não consigo esquecer o que meu pai disse antes de
morrer.
— Esfrie a cabeça. Eu posso aguentar por um tempo, mas
não tem escolha. Jamie, você é um Foster, precisa zelar o seu
sobrenome.
— Zelar meu sobrenome... é tudo que importa? — pergunto
com sarcasmo. Hein, mãe?
Ela balança a cabeça de um lado para o outro, suspirando
— Não ouse falar com esse tom de deboche. Posso não ser a
melhor mãe do mundo, mas não sabe das coisas que eu fiz pra
manter a nossa família unida. E eu estive do seu lado mesmo
depois da...
— Não fale dela, mãe — digo, a voz soando áspera e fazendo
minha garganta arranhar. — Preciso de tempo pra fazer algumas
coisas.
Recolho minha mão, que ainda estava entre as suas e levanto
do sofá. Mamãe faz o mesmo. Antes que possa sair da sala, ela
segura meu braço com força e me impede de caminhar.
— Que coisas?
— Nada importante, mãe.
Seguro seu rosto com uma das mãos e deposito um beijo
terno na sua bochecha, fazendo-a sorrir. Ela é uma mulher difícil e
sempre gostou de ditar o meu futuro, mas apesar disso, é uma boa
mãe. Sempre esteve comigo, nos momentos mais difíceis e nunca
deixou de segurar minha mão.
Temos nossas diferenças, e mesmo assim, não posso negar,
minha mãe é uma grande mulher e sempre manteve a família unida.
— Você está bem? — quer saber. — Não falou muito depois
do enterro.
— Estou bem, mãe.
— Não faça isso de novo, Jamie. Não ouse se fechar e sofrer
sozinho mais uma vez.
— Não vou fazer isso — minto.
Para falar a verdade, ainda acho que sou o mesmo de anos
atrás. Aquela ferida ainda não cicatrizou e continua me
assombrando todos os dias. O que mudou é que eu parei de falar
sobre isso e aprendi a fingir que estou bem.
— Todos perdemos o seu pai, devemos passar por isso
juntos.
Assinto.
— Não se preocupe e acredite quando digo que estou bem.
Ela não parece acreditar nas minhas palavras, no entanto,
concorda com um aceno de cabeça e fecha os olhos por um longo
segundo enquanto suspira. Sem dizer nada, envolve as mãos em
volta do meu pescoço e me puxa para um abraço apertado.
— Sinto falta dele — murmura.
— Eu sei, também sinto, mãe.
Aperto-a contra mim, sentindo o seu cheiro doce, pensando
que parar atender o último pedido do meu pai, terei que partir o
coração da minha mãe.
Depois de acompanhar o casal de clientes até a saída,
Amanda volta para perto de mim. Dá a volta no balcão de madeira e
enche um copo de cerveja para mim, enquanto os olhos grandes e
azuis me analisam de forma minuciosa.
“Cherry Pie” do Warrant preenche o lugar inteiro na voz do
Matt, o cantor do bar. Ele não é exatamente a melhor voz que você
vai ouvir aqui, só que é o melhor que conseguimos pagando pouco.
— Apenas uma palavra pra você, Coelhinha — Amanda fala,
levando o dedo indicador até o meu rosto e fazendo movimentos de
ziguezague no ar. — Sexo.
Bufo e reviro os olhos. Pego o copo de cerveja e bebo todo o
líquido da caneca, refrescando o meu corpo. É verão no Texas,
então isso significa fortes ondas de calor, como se eu estivesse de
plantão em frente da porta do inferno.
— Sexo não resolve tudo.
— Pelo menos vai dar um chega pra lá nesse mau humor —
retruca e mexe de leve os ombros. — Você anda bem estressada,
se fosse em outra época, teria ignorado aquela cliente sem noção.
Estou pronta para abrir a boca e contra-argumentar, quando
um cliente entra no bar e ela se afasta de mim para ir anotar os
pedidos. Claro, não sem antes me presentear com uma piscadinha
e falar apenas movimentando os lábios a palavra “sexo”.
Respiro fundo e controlo a vontade de revirar os olhos mais
uma vez.
Eu tinha discutido com uma cliente, porque o marido dela não
tirava os olhos do meu decote. Ela disse que eu deveria me vestir
como uma moça de respeito e não como uma vadia, porque eu
estava tentando o seu homem fiel.
É claro que isso me tirou do sério e eu a mandei à merda.
Não tenho culpa se ela é casada com um traste que não consegue
manter os olhos longe dos decotes das mulheres em volta.
Nós discutimos, ela jogou cerveja na minha blusa e disse que
não pagaria pelas bebidas. Pela primeira vez, senti vontade de
acertar uma boa bofetada no rosto de uma cliente, mas me dei
conta de que ela é assim por estar insegura no seu relacionamento.
Então eu disse a ela:
“Não somos amigas, mas vou te dar um conselho. É melhor
trocar de namorado, porque esse aí vai continuar colocando chifres
na sua cabeça.”
E foi assim que ela pulou em cima de mim e tentou puxar o
meu cabelo. Amanda chegou segundos depois e apartou a nossa
briga. Foi o certo, embora tenha me deixado irritada. Fiquei toda
descabelada e com a blusa molhada de cerveja, enquanto a cliente
foi embora, de queixo erguido, como se tivesse ganhado um jogo
estupido.
Depois a Amanda começou com o negócio de que eu preciso
transar com alguém, já que ando muito estressada nas últimas
semanas. Talvez ela tenha razão, talvez não.
Sexo não resolve tudo.
Acredite, eu sei disso.
Depois de ter sido trocada, eu tentei. Transei com alguns
homens bonitos, pensando que assim, o meu coração se
recuperaria mais rápido e aquela traição não machucaria tanto.
Não deu certo.
O buraco que o Daniel deixou no meu peito continuou do
mesmo jeito, me machucando e me fazendo sentir idiota por ter
amado um cretino, que não conseguia manter o pau guardado
dentro das calças.
Hoje, não dói tanto, mas também não tenho vontade de me
relacionar com outro cara. Ficar quieta na minha zona de conforto é
o que me faz dormir como uma criança de noite. Não tem emoção,
borboletas no estômago e essas coisas, mas não é tão ruim.
— Tem um amigo do Steven que quero te apresentar —
Amanda fala ao voltar para perto do balcão. Sem olhar para mim,
pega uma garrafa de whisky e serve em dois copos de cristal com
gelo. — Acabou de chegar na cidade.
Enrugo o nariz.
— O que ele veio fazer nesse fim de mundo? — rebato com
um tom divertido, fazendo Amanda rir.
Nós moramos em Fredricksburg, uma cidade pequena com
um pouco mais de onze mil habitantes, localizada a oeste de Austin
e ao norte de San Antonio. Apesar da Oktoberfest anual e aqui ser
uma ótima porta de entrada para as vinícolas da região Hill Country,
as pessoas por aqui não costumam vir para ficar.
Quando era adolescente, o meu maior sonho era ir morar em
Houston. Infelizmente, algumas tragédias aconteceram e eu criei
raízes aqui e hoje não sei se consigo ir embora. Não é tão ruim, só
não é tão comum novos moradores pela região. Os meus vizinhos
são os mesmos desde que eu nasci.
— Foi traído e está tentando recomeçar.
Suspiro.
— Ah, ótimo — falo com deboche.
— O que foi?
— Nada, apenas passo.
Abro um sorriso para Amanda e saio de perto dela no
momento em que um cara se apruma no balcão e pede cerveja. Os
lábios dele se esticam e os olhos flanam pelo meu decote e blusa
suja de cerveja.
Ele assobia.
— Gosto de mulheres molhadas — diz, a voz soando baixa e
rouca. — Que horas você sai?
Ergo uma sobrancelha e controlo a vontade de ser grossa.
Sirvo a cerveja e inspiro de maneira profunda. Devolvo a sua
cantada com um olhar sério e simplesmente, não respondo e dou as
costas para o garanhão.
Se eu recebesse um dólar por cada olhar ou cantada que
recebo no bar, eu não precisaria mais trabalhar como garçonete.
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Beijossssss!!!
O HOMEM DA MÁFIA: https://amz.run/57yT
NAS GARRAS DA MÁFIA: https://amz.run/4rRB
O SENHOR DA MÁFIA: https://amz.run/5VMD
A RENDIÇÃO DO HERDEIRO BILIONÁRIO:
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MAIS DE VOCÊ – ENTREGUE AO CEO:
https://amz.run/57yU
SOCORRO, O CEO SUMIU: https://amz.run/57yW
[1]
Protagonista de Nas Garras da Máfia, segundo livro da série Família Carbone.
[2]
Mãe ou mamãe em italiano.
[3]
O chefe dos chefes. Título máximo na hierarquia da máfia italiana.
[4]
Meu filho em italiano.
[5]
Protagonista de O Homem da Máfia, primeiro livro da série Família Carbone.
[6]
Protagonista de O Senhor da Máfia, terceiro livro da série Família Carbone.
[7]
Bairro histórico com antigos armazéns e fábricas de tecidos, que agora abrigam
lojas de tecidos e boutiques de moda. Além disso, a região também tem
condomínios, escritórios e estúdios de artistas. Há também uma cena
gastronômica agitada que oferece uma combinação de restaurantes
internacionais badalados e locais tradicionais.
[8]
Montréal-Est é uma cidade localizada na província de Quebec, no Canadá.
[9]
Ela é uma hacker espevitada, colorida, bocuda e boa de briga. Lexie é
protagonista de Nas Garras da Máfia, segundo livro da Série Família Carbone.
[10]
A KGB era a principal organização de serviços secretos da ex-União Soviética,
que esteve em funcionamento entre 13 de março de 1954 e 6 de novembro de
1991. Surgiu no período da Guerra Fria (período de conflitos de ordem política
entre Estados Unidos e União Soviética) e sua extinção coincidiu com o fim da
Guerra Fria e desintegração da União Soviética.
[11]
Paixão em italiano.
[12]
O deepfake é uma tecnologia usada para criar vídeos falsos, porém bem
realistas, com pessoas fazendo coisas que nunca fizeram de verdade ou em
situações que nunca presenciaram. O algoritmo utiliza inteligência artificial para
manipular imagens de rostos e criar movimentos, simulando expressões e falas.
[13]
Consigliere ou conselheiro é às vezes visto como o braço direito do Don.
Participam da mediação de disputas, atuam como representantes da família em
situações de risco e frequentemente são a ligação entre o Don e o aspecto
judiciário ou político.
[14]
Protagonista de O Homem da Máfia, primeiro livro da Série Família Carbone.
[15]
Os Carabins de Montreal são as equipes esportivas masculinas e femininas
que representam a Université de Montréal em Montreal, Quebec, Canadá.
[16]
É o nome dado para uma zona da internet que não pode ser detectada
facilmente pelos tradicionais motores de busca, garantindo privacidade e
anonimato para os seus navegantes. É formada por um conjunto de sites, fóruns e
comunidades que costumam debater temas de caráter ilegal e imoral.
[17]
Moça em italiano.
[18]
Meu filho em italiano.
[19]
Protagonista de O Senhor da Máfia, terceiro livro da Série Família Carbone.
[20]
Pai ou papai em italiano.
[21]
Princesa em italiano.
[22]
O Monte Royal é um monte localizado dentro do Parque de Monte Royal.
Ambos estão localizados logo ao norte do centro da cidade de Montreal, Quebec,
Canadá. O parque de Monte Royal possui uma área de mais de 200 hectares, e é
uma das principais atrações turísticas da cidade.