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Direitos autorais do texto original copyright © 2022,

BRENDA RIPARDO, EM NOME DA MÁFIA

Capa: Magnifique ♛ Design


Diagramação: Brenda Ripardo
Preparação de texto/Editor: Graci Rocha

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desse livro
pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes —
tangíveis ou intangíveis — sem autorização por escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº
9.610/98, punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Este livro segue a norma-padrão do novo acordo ortográfico


da língua portuguesa, mas há muitas abreviações como o "tá", "tô",
“pra” e "pro", de forma que o texto fique o mais natural e verossímil
possível.
“Não deseje um homem como eu, Lawanda, porque além de
ser perigoso, no momento em que eu te fizer minha, não tem mais
volta”

Thomas Montanari é o consigliere da família Carbone. Um


homem sério, advogado centrado, sensato, com o dom de lutar com
o poder das palavras e que consegue manter suas emoções e
desejos bem escondidos.

Bem, isso muda depois de conhecer uma garota dezenove


anos mais nova que ele.
Lawanda Farley é uma jovem bilionária, órfã, frágil, mas nem
tanto. Está tentando se acostumar com a nova vida, o irmão mafioso
e com o fato de ter sido traída por alguém que amava muito.

Ela quer provar para todos que além de uma patricinha


mimada que nasceu em berço de ouro, ela pode ser alguém forte e
que sabe se defender sozinha.

E o mais importante, nunca deixará ninguém machucá-la de


novo.

Ele quer distância da confusão intensa e imprudente que


essa garota atrevida e boa de chute é, mas não consegue parar de
pensar nela ou desejá-la.

O conselheiro da família Carbone não consegue manter suas


mãos longe dela, a única garota que não devia desejar.

Em Nome da Máfia é o quarto livro da série “Família


Carbone”. Por ser com casais diferentes, cada livro da saga pode
ser lido separadamente, mas talvez o posterior contenha spoilers do
anterior.
Uma grande parte de Em Nome da Máfia se passa entre Nas
Garras da Máfia (Livro 2) e O Senhor da Máfia (Livro 3) da série
Família Carbone. Então, fique atenta, porque algumas cenas e
acontecimentos neste livro que podem parecer lacunas foram
explicadas nos livros anteriores da série.
Boa leitura!
Este é um romance que tem como pano de fundo a Máfia
Italiana, mas se você espera encontrar cenas de extremo abuso,
uma história DARK, detalhes sobre as negociações dentro da máfia
e burocracias ou torturas, este livro NÃO corresponderá às suas
expectativas. Este livro é um romance. O foco aqui é o nosso casal
principal e o relacionamento deles.
A história narrada nas páginas seguintes, foi escrita baseada
em muito estudo sobre a Máfia Italiana, e claro, usando o bom
senso da licença poética e minha criatividade.
Este é um romance hot e pode conter gatilhos e temáticas
delicadas como álcool, drogas, abuso verbal e violência, incluindo
temas de consentimento questionável, linguagem imprópria e
conteúdo sexual gráfico.
Apesar do conteúdo sensível, esse NÃO É UM ROMANCE
DARK. Mas é necessário reforçar que por se tratar de uma história
sobre a Máfia Italiana, certas passagens podem ser desconfortáveis
ao leitor.
A autora não apoia e nem tolera as ações ilegais e
comportamento de alguns personagens retratados neste livro. A
atenção do leitor é aconselhada. Não leia se não se sente
confortável.
Esta é uma obra de ficção destinada a maiores de 18 anos.
Imagine Dragons – Whatever It Takes
t.A.T.u – All The Things she Said
Taylor Swift – Look What You Made Me Do
Lady Gaga – Love Game
Roza – I’ll Understand
Timbaland ft. OneRepublic – Apologize
Rihanna – Rehab
Adele – Easy On Me
SIA – Unstoppable
Bishop Briggs – The Way I Do
Bishop Briggs – Dark Side
Lana Del Rey – Burning Desire
Taylor Swift – I Did Something Bad
Lana Del Rey – Off To The Races
Bishop Briggs – White Flag
2WEI, Edda Hayes – BURN
Lana Del Rey – Cherry
Lana Del Rey – This Is What Makes Us Girls
Lady Gaga – Paparazzi
Lana Del Rey – American
Nelly Furtado – Say It Righ
Nelly Furtado – Promiscuous
“Meu velho é um homem mau, mas eu não posso negar, o
jeito que ele segura minha mão e ele me agarra, ele me tem pelo
meu coração (...) porque sou louca, amor. Preciso que venha aqui e
me salve. Eu sou sua pequena Scarlet, estrelinha, cantando no
jardim. Beije a minha boca aberta pronta pra você.”
~ Off To The Races, Lana Del Rey
Assim que o motorista da família para o carro em frente à
entrada da mansão, eu desço rápido do veículo, na tentativa
estúpida de evitar o meu irmão. É difícil perdoá-lo por ter sumido da
minha vida por sete anos quando meu coração ainda dói tanto.
Eu não tinha ideia, mas saudade e raiva são sentimentos que
podem andar de mãos dadas. E no momento, os dois estão juntos,
me abraçando com força enquanto me deixam sufocada.

— Precisamos conversar — Nick[1] fala, a voz soa com tanta


autoridade, que me deixa irritada. Ele não pode voltar aqui depois
de tanto tempo e achar que tem algum poder sobre mim.
Seguro o corrimão com força, quase como se fosse um
pedaço do meu irmão. Talvez eu queira que ele sinta dor, como eu
senti durante a minha vida inteira. Como eu estou sentindo agora.
Devagar, viro o corpo e o encaro, curvando o canto da boca
de forma irônica.
Eu sei que agora, além do meu tio, meu irmão é tudo o que
eu tenho. O que restou da nossa família. Só que mesmo assim,
ainda não estou pronta. Ele foi embora e não fez questão de manter
contato durante a merda de sete anos.
A morte da mamãe não vai ser a sua passagem para entrar
de novo no meu coração. Não vai, porque eu estou olhando nos
olhos de Nick agora e não parece que ele vai ficar e viver comigo.
Não seremos uma família como nos velhos tempos. Nada vai
voltar ao que era antes, porque não tem como remendar o que foi
quebrado. E eu não quero ter o meu coração partido outra vez. Não
quero ser abandonada de novo.
Então, eu decido que vou partir o seu coração, se é que ele
tem um. Mas, talvez, lá no fundo, Nick tenha.
— Não vamos forçar isso... uma relação entre nós. Fique ou
vá embora, tanto faz pra mim — é o que digo e sinto como se
alguém estivesse segurando o meu próprio coração e o apertando
com força.
E mesmo sem querer, desejando que Nick decida ficar
comigo.
Giro nos calcanhares sem esperar por respostas e subo as
escadas, piscando rápido e segurando as lágrimas. Não vou chorar
na frente dele, embora eu já tenha feito isso no enterro da nossa
mãe. Não quero parecer fraca.
Já me sinto miserável o suficiente por ter perdido a mamãe e
ter me tornado órfã, não quero mostrar que no fundo, eu sou só uma
garota de coração partido.

Alguns dias depois...


Nicholas está diferente.
E eu não digo isso por ter homens vestindo terno preto
seguindo seus passos pela casa inteira. Ok, talvez seja por isso
também. Mas existe algo no olhar e na postura do meu irmão. É
quase como se fosse selvagem e proibido.
O que será que aconteceu com ele?
O que será que ele fez durante esses anos que esteve longe
de mim?
Mamãe sempre me aconselhou a não fazer perguntas sobre
o meu irmão e claro, que sempre pareceu algo impossível. Como
ele conseguiu largar tudo para viver longe da gente? Não que o
dinheiro tenha feito alguma diferença na vida dele. Nick não age
como se fosse um homem com a conta bancária zerada, muito pelo
contrário. O que é suspeito, já que ele não tocou no dinheiro da
nossa família durante os anos que esteve fazendo sei lá o quê.
Enfim, tantas perguntas e eu não farei nenhuma, já que estou
tentando ignorá-lo.
Ao descer as escadas, meu plano vai completamente por
água abaixo. Meu irmão tem o rosto machucado e apesar de eu
odiá-lo, eu também o amo e a parte do meu coração que ainda é
dele, palpita de preocupação.
— Ai, meu Deus. O que aconteceu com o seu rosto? —
pergunto, sem conseguir mascarar minha preocupação e como uma
tola, caminho na direção dele. Ao me dar conta de que estou sendo
fácil demais, recuo alguns passos e decido alfinetar. — Já andou
arrumando briga por aí? Tão típico de você.
Os olhos azuis brilham como faíscas com a minha
provocação e noto um lampejo de raiva tomando conta da sua
expressão dura, enquanto Nick aperta os lábios e cerra a
mandíbula.
— Aonde está indo? — é o que questiona, como se fosse
meu dono.
Ergo as sobrancelhas, cética.
— Estou indo trabalhar.
Ele está visivelmente surpreso por eu ter um trabalho e
apesar de ter vontade de fazer uma lista interminável com fatos
sobre mim que Nick não sabe, decido não me aprofundar muito e
depois de dar uma resposta qualquer, caminho na direção da porta.
Antes, é lógico, deixo claro que não quero ninguém me
seguindo. Faz poucos dias que estamos debaixo do mesmo teto e
eu sinto que os seus homens de terno preto são a minha sombra.
E estou tentando de verdade não surtar com os homens de
Nick na minha cola. Por que isso agora? Não é como se alguém
estivesse planejando algo contra a minha vida. Será que mandar
seus homens cuidarem de mim é uma forma de redenção?
Bom, ele mesmo deveria cuidar de mim se está tão
preocupado assim.

Através da janela de vidro do principal escritório da


Corporação Farley, eu consigo notar que o humor do meu tio não é
um dos melhores. Ele não é de demonstrar quando algo o
incomoda, mas desde a volta repentina do meu irmão, ele anda
meio volátil.
Depois da morte do papai e o sumiço do Nick, o tio Schavier
virou minha figura paterna. Sempre cuidou de mim e da mamãe, e
esteve ao nosso lado em todos os momentos, os bons e os ruins.
E durante todo esse tempo, eu não lembro de o ter visto tão
irritado como agora.
De maneira brusca, ele afrouxa o nó da gravata e tenho
quase certeza que está prestes a derrubar os objetos de cima da
mesa, como um adolescente rebelde. Desiste assim que me vê
entrando na sala.
— Tudo bem? — sondo de forma doce, esticando os cantos
dos lábios em um sorriso ao mesmo tempo em que entrego o copo
de café que trouxe para ele.
— Seu irmão vai nos trazer problemas — é o que fala,
desmanchando o meu sorriso de imediato. — Ele voltou em uma
péssima hora — acrescenta com reprovação.
Enrugo o nariz e aperto os lábios.
— Seria melhor se ele tivesse continuado escondido —
resmunga e leva os olhos claros até mim. — Precisa conversar com
ele e tentar mantê-lo na linha — continua.
Dessa vez, arqueio as sobrancelhas.
— Manter Nicholas na linha? — devolvo, cética.
Eu sei que meu irmão e tio nunca se deram bem de verdade,
e que Nick passou muitos anos longe, fingindo que não existíamos.
Mas, apesar de tudo, ele é meu irmão e mesmo que ainda esteja
magoada, não gosto de ouvir o tom de crítica do meu tio ao se
referir a ele.
— Faça alguma coisa.
Meu tio levanta as mãos, como se estivesse me expulsando
da sala e dá as costas para mim. Eu o amo, mas não posso negar,
ele está sendo um babaca. Será que ter homens idiotas na minha
vida é a minha sina?
Respiro fundo e giro o corpo, pisando duro e fazendo um
barulho estridente do salto alto contra o granito do chão.
— Se quer manter meu irmão na linha, então você mesmo o
faça — falo entre os dentes e saio da sala, fechando a porta com
mais força que o necessário.
— Não acha que está na hora de casar e ter filhos? — a
mamma[2] faz a pergunta de um milhão de dólares, estragando todo
o clima do jantar em família.
Na mesa, a irmã mais nova do papai e o marido fingem não
ouvir o questionamento da matriarca da família, enquanto as filhas
gêmeas, que acabaram de completar dezoito anos, se entreolham e
tentam esconder o sorriso travesso.
Oliver, meu irmão que está de frente para mim, me encara de
um jeito impenetrável, mas consigo notar as engrenagens girando
atrás dos seus olhos. Ele sabe que a mamãe é tradicional e
supersticiosa, não ousaria casar o filho caçula antes do primogênito.
Mas ele tem consciência, que no momento em que eu fizer o
que a mamma quer, as cobranças serão direcionadas a ele.
— Na minha juventude, um homem da sua idade já estaria
casado e com filhos — mamãe continua enquanto corta o pedaço de
bife no prato de porcelana. — Eu tinha dezenove anos quando meu
pai me entregou ao seu.
As gêmeas engasgam com a comida e de forma
sincronizada, agarram uma taça de cristal com água em cima da
mesa. Não precisa ser muito inteligente para saber o que se passa
na cabeça das duas.
Não vai demorar para mamãe também querer casá-las.
— No seu tempo, mamma, as mulheres não tinham tanta voz
também. As coisas mudaram — digo, soando firme e sem emoção.
— Vamos manter a paz. Eu casarei quando cansar da minha vida.

Ou quando o Don[3] me obrigar.


Decido manter isso apenas em pensamento. Não quero dar
ideias à mamma.
— Não ache que eu esqueci de como eram as coisas no
passado, mio figlio[4] — diz, sorrindo de leve. — Seu avô achou que
estava me condenando quando me casou com o seu pai —
murmura mais para si do que para nós.
— Eu sei — é o que falo.
Nunca gostei do meu avô. Era um imbecil arrogante, que
acreditava que as mulheres serviam apenas para aquecer a cama
do marido e cuidar dos afazeres da casa. Decidiu casar mamãe com
o conselheiro da família Carbone, um homem vinte e dois anos mais
velho, porque achava que poderia ganhar mais do que deveria com
o acordo de unir uma família com a outra.
A única coisa que ganhou foi uma morte miserável.
— Você é o braço direito do Don, um homem na sua posição
precisa de uma família e não de dormir com uma moça diferente
toda semana. É sujo e imoral.
Respiro fundo e assinto, fingindo paciência.
— Não se preocupe, o Don sabe das minhas atividades
extracurriculares e não parece se importar.
Um vinco surge na sua testa, entre as sobrancelhas bem
desenhadas.
— Talvez eu deva pedir que ele obrigue você a casar. Não
ousaria ir contra os desejos do Don — ameaça.
— Não ouse fazer isso, mamma. Não é porque sou um bom
filho e goste de manter a paz, que aceitarei esse tipo de coisa vindo
da senhora.
A mamma aperta os lábios grossos.
— Então, Thomas, faça algo e não me faça agir como uma
mãe desesperada — resmunga.
— A senhora desaprovaria minhas candidatas de qualquer
forma — retruco, fazendo os olhos claros da mamma ficarem
afiados.
— Eu adoro a Carlota, mas não sou tão moderna quanto ela.
Se um dia não deixei isso claro, deixarei agora. Quero uma nora
italiana — dá o seu veredito e eu fico em silêncio. — Sei que as
coisas mudaram e hoje em dia qualquer um pode entrar para os
negócios, mas as coisas debaixo dessa casa seguirão uma certa
linha.
— Não fale isso na frente da mãe do Don, mamma. Ela é sua
amiga, mas precisa respeitá-la.
Minha mãe ergue as sobrancelhas loiras e bem-feitas.
— Falar que ela é moderna é um desrespeito? — solta,
forçando uma risada e balançando a cabeça de um lado para o
outro de maneira delicada. — Se ela pensasse isso, teria casado
Julian[5] com Shalom e não teria deixado ele se envolver com aquela
garota. De onde é mesmo que ela veio?
— Mamma, já chega! — censuro-a, com o tom de voz áspero
e todos na mesa fixam a atenção no prato, exceto meu irmão, que
nos encara.
Ela engole em seco e joga o guardanapo em cima da mesa,
encrespando o nariz e cerrando o maxilar. Com o estúpido
temperamento italiano, ela gira os pés e sai da sala de jantar
pisando duro.
Eu amo a mamma, mas às vezes, ela é um problema.
No hall de entrada, vejo um rosto bonito e com olhos
marcantes ao lado do meu irmão. Ele é alto, mas não é tão forte
como o Nick. As sobrancelhas expressivas se arqueiam na minha
direção e os lábios se esticam em um sorriso travesso.
Mesmo curiosa sobre quem é, finjo não me importar e
caminho na direção da porta, como se eles não estivessem no
mesmo lugar que eu.
— Quem é essa gata? — ele pergunta com a voz baixa e eu
quase sorrio.
Do lado de fora da mansão, o motorista da família abre a
porta da limusine para mim e eu agradeço ao deslizar para o banco
traseiro. Surpreendo-me ao ver um homem vestindo terno preto do
outro lado do veículo, praticamente de frente para mim. Ele me
lança um olhar rápido e se remexe no assento.
— O que está fazendo? — quero saber.
Ao ouvir meu questionamento, direciona os olhos até os
meus.
— Seguindo ordens do seu irmão — fala, como se não fosse
nada demais e eu mordo o lábio inferior com força.
— Qual é o trabalho?
— Ficar de olho em você — diz, simplesmente. — Será como
se eu não estivesse aqui.
— Impossível. Você tem quase dois metros — retruco e a
única coisa que o homem faz é assentir em silêncio, todo
controlado. — Qual é o seu nome?
— Théo — depois de falar, volta a desviar a atenção de mim,
me fazendo curvar umas das sobrancelhas.
A fim de provocar e testar o seu autocontrole, que no
momento, é bem irritante, vou para o banco da frente, me
acomodando ao seu lado.
Théo fica tenso.
— O que foi? Suas ordens não são pra ficar de olho em mim?
Ele assente com firmeza.
— Sim, mas as ordens pra manter certa distância foram bem
específicas também.
Enrugo o nariz e prenso os lábios.
— Podemos ir, senhorita Farley? — Matteo, o motorista da
família, pergunta. Eu nem tinha notado, mas ele permaneceu com a
porta do carro aberta, nos observando com cautela.
— Mudei de ideia, não vou trabalhar hoje.
Théo me olha com vincos dominando a testa e os cantos dos
lábios franzidos, completamente confuso.
Saio do veículo e caminho para dentro da mansão de novo,
pisando de forma exagerada e estridente contra o chão, anunciando
minha entrada e irritação, que agora, parece ser palpável.
— Cadê o Nick? — resmungo a um dos seus homens no hall
de entrada, soltando faíscas pelo nariz, olhos e boca.
Ele demora um segundo para entender e assim que o faz,
com a cabeça, indica na direção do escritório de forma firme, como
se fosse pecado relaxar a postura ou a expressão séria no rosto.
Endireito os ombros e caminho decidida até o escritório. Ao
chegar no corredor pequeno que leva até a porta grande de madeira
maciça, me deparo com o cara de sorriso travesso.
— Oi — digo, porque ele não me viu, está distraído demais
mexendo no tablet que tem nas mãos.
Com delicadeza, ele levanta a cabeça e os olhos aguçados
se encaminham para mim. O sorriso travesso desenha todo o rosto
bonito e com pouca barba, em seguida, eleva uma das mãos e coça
a nuca, tímido.
— Oi.
— Quem é você? — pergunto, e a voz soa quase como um
xingamento. Na tentativa de me redimir, estendo a mão em
cumprimento, que ele fica observando por um longo minuto antes de
agarrar com vontade. — Sou Lawanda.
— Liam... Liam Graham.
— Você é amigo do meu irmão?
Ele ri ao ouvir a pergunta e solta minha mão. De maneira
quase imperceptível, nega com a cabeça.
— Na verdade, Nicholas não gosta muito de mim — é
sincero, o que me faz rir.
— Sério?
Liam dá de ombros.
— É uma relação complicada, mas sou inteligente o
suficiente pra fazê-lo me aturar.
Abro o meu melhor sorriso para Liam.
— Que sorte a minha, então.
As sobrancelhas expressivas de Liam se unem em confusão
e ele faz um estalo engraçado com a língua contra o céu da boca.
— Por quê?
— Porque ultimamente não estou gostando muito do meu
irmão também, e se ele não gosta de você, significa que nós dois
seremos amigos — informo com a voz amigável, fazendo Liam
arregalar os olhos, mas sem conseguir esconder o brilho de
excitação que tomam conta deles.
Nick sai do escritório e nos alcança no meio do corredor. A
expressão dura e de quem não dá muitos sorrisos, dominando seu
rosto marcante e atraente. Não estou gostando muito do meu irmão
no momento, mas não posso negar, ele é lindo como o papai era.
— O que está acontecendo aqui? — pergunta, cheio de
autoridade, o que me irrita bastante.
Em vez de confrontá-lo como eu estava planejando, giro nos
calcanhares e faço o caminho de volta até o hall de entrada. Ele
odeia ser ignorado e ultimamente, deixá-lo furioso tem sido como
minha missão de vida.
Passo pelos homens no hall e quando um deles dá um passo
na minha direção e abre a boca, eu o impeço de falar com um gesto
de mão espalmada. Saio da mansão e fico feliz ao notar que não
tem mais limusine, nem Matteo e nem Théo.
É a minha chance de sair de casa sem um homem de dois
metros na minha cola.
Com toda a agilidade que dois pés pequenos em cima de
saltos finos conseguem ter, eu me direciono até a garagem de forma
sorrateira e pego um dos carros estacionados.
Sorrindo, deslizo para o banco do motorista e saio da
garagem. Não é como se eu estivesse fugindo para Nick não saber
aonde eu vou. Ele vai me encontrar sem fazer esforço, mas isso não
significa que eu queira seus homens no meu encalço, como se
fossem minhas babás.
Se quer cuidar de mim, que faça ele mesmo o trabalho.
Alguns dias depois...
Nicholas está tendo problemas em trazer a irmã para
Montreal. Ele nunca falou muito da família que deixou em Toronto e
a sua decisão de permanecer em silêncio sobre o assunto foi
respeitada, embora antes de se tornar um de nós, tenha tido a vida
inteira investigada.
No entanto, é difícil não ficar curioso agora, ainda mais,
porque Julian e o seu temperamento impulsivo, falando em voz alta
que é melhor trazer a garota contra a própria vontade, como se
sequestrar uma herdeira bilionária fosse simples.
Talvez seja, mas mulheres são difíceis, e obrigá-la a conviver
com o irmão em Montreal pode ser um tiro no próprio pé e Nicholas
não costuma tomar decisões erradas.
Se Lawanda tiver um por cento do temperamento de Romie,
a irmã mais nova dos Carbone, nem de longe é uma boa ideia trazê-
la dessa maneira.
Não tenho irmãs, só que convivi tempo suficiente com as
minhas primas e com a princesinha da máfia para saber que irmãs
mais novas são uma dor de cabeça sem tamanho.
Só posso acreditar que fui agraciado por alguma divindade
suprema por não ter uma irmã mais nova.
Elas são difíceis de controlar e a maioria têm boca grande.

— Deixe que Nicholas resolva do jeito dele — Noah[6] fala,


por fim, se remexendo na cadeira acolchoada e com uma expressão
pensativa estampada no rosto. — Não quero ter que lidar com outra
garota mimada, já basta a Romie.
Julian e eu assentimos.
Noah está mais do que certo, além do fato, de os inimigos
sempre encontrarem um jeito de nos atingirem através das nossas
mulheres, como se elas fossem a merda de um ingresso premiado.
O melhor seria deixar Lawanda em Toronto, mas sei que Nicholas
não vai desistir da irmã tão fácil assim.
É o que somos.
Homens que gostam de estar no controle e não de desistir
das coisas.
— E o problema com os Cubanos? — Noah indaga a mim,
enquanto se inclina sobre a mesa em tora de madeira e agarra a
caixa personalizada de charutos que foi do seu pai, mas desiste de
pegar um.
— Eles não são mais um problema — é o que eu digo.
— Ótimo — Noah articula. — As pessoas precisam saber que
essa é minha cidade e não gosto de ninguém interferindo nos
negócios. — Ele levanta, pegando o casaco de lã nas costas da
cadeira e tomando um gole do whisky que tinha servido alguns
minutos atrás. — Já estou indo.
Julian e eu não questionamos.
Ficamos de pé também e estou me preparando para
acompanhar o Don, quando ele faz um gesto com a mão insinuando
que eu fique onde estou. Respiro fundo e anuo, mesmo querendo
fazer o contrário e segui-lo até o carro.
Noah é o meu chefe e precisa de proteção, mas é teimoso
demais para aceitar algum homem cuidando da sua segurança.
— Não quero ninguém me seguindo agora — fala com
firmeza e a única coisa que eu faço é concordar. A ordem foi dada,
só resta cumpri-la.
— E o que Nicholas pediu? — Julian pergunta depois que
Noah vai embora. O subchefe da família Carbone já se preparando
para sair do nosso escritório do cassino e ir para o andar
administrativo.
Nicholas não está feliz com o tio ou com a relação que ele
tem com Lawanda. Ainda mais depois de descobrir que a assistente
pessoal que o seu tio contratou, é uma hacker e estava espionando-
o na Corporação.
Ele sabe que Schavier não é um homem simples e com
certeza, tem mais coisas a esconder do que imaginamos.
— Não vai ser fácil transferir o escritório central da
Corporação Farley para Montreal, mas não é algo impossível.
Os lábios de Julian se curvam em um sorriso sacana.
— Somos o que somos, porque nada é impossível para nós,
Thomas.

São quase vinte horas quando saio do escritório de


advocacia, cansado e com a cabeça cheia. A única luz acesa é da
sala da Mia, que tem a porta entreaberta. Por um minuto, passa pela
minha cabeça conseguir uma foda em cima da mesa antes de pegar
o elevador.
Desisto da ideia depois de tê-la.
Mesmo que já tenha acontecido uma vez, Mia é minha
funcionária, uma das melhores advogadas que eu conheço e não
posso ousar estragar a nossa relação na empresa.
Já é difícil ser um advogado criminalista, que nas horas
vagas cuida de negócios ilícitos, evitando guerras e mortes
desnecessárias entre organizações criminosas, não quero adicionar
chefe babaca que gosta de foder as funcionárias a minha lista.
Aperto o botão do elevador e antes que as portas se abram,
Mia me alcança, sorridente.
— O que vai fazer hoje? — pergunta, ajeitando os óculos de
grau no rosto pequeno e delicado.
Mia é linda. Tem trinta e cinco anos, um estilo clássico de
bibliotecária sexy e gostosa, que é o sonho de todo garoto
adolescente. E claro, lábios carnudos que ficam lindos em volta do
meu pau e um delicioso rabo apertado.
— Tenho compromisso — é o que falo com tranquilidade,
apesar da minha vontade ser de tirar as roupas bem passadas de
Mia e fodê-la aqui no corredor.
As portas de metal se abrem.
— Certo — murmura e noto que a expressão do seu rosto
fica meio amuada. Faço um gesto para que entre primeiro e ela o
faz sem reclamar. — Vai me dizer que aquilo foi um erro, não é?
Inspiro fundo e direciono meus olhos a ela, pensando em
como responder sem parecer um idiota.
— Esquece, deixa pra lá — diz ao fazer um gesto no ar com
a mão. — Você é o meu chefe — emenda e finge um sorriso.
Abro a boca para falar algo quando ela desvia a atenção de
mim e começa a mexer no celular, evitando qualquer tipo de
contato. E eu sei que não devia deixar as coisas assim, mas é
exatamente isso que faço.
Fico em silêncio, como se há três dias, eu não tivesse fodido
Mia em cima da minha mesa, porque trabalhamos juntos até tarde e
eu não conseguia parar de olhar para o decote dela.
Estou planejando desviar os olhos de Mia no momento em
que algo no celular dela chama minha atenção. A mulher está no
Facebook e clica em uma matéria sobre os irmãos e a Corporação
Farley.
A volta de Nicholas a Toronto criou muito burburinho.
Eu não sabia como Lawanda estava ultimamente. Quer dizer,
quando Nicholas entrou para organização, nós sabíamos de tudo
sobre a sua família, mas a primeira e última vez que eu a vi, ela era
uma garotinha com tranças e chorona.
No entanto, a foto da garota que está preenchendo metade
da tela colorida do celular de Mia, é completamente diferente da
imagem que eu ainda tinha na cabeça da irmã do Nicholas.
As portas voltam a se abrir e Mia se despede sem jeito antes
de caminhar rápido até o seu carro. Enquanto caminho até o meu
veículo, enfio a mão no bolso, pego a chave e destravo a porta.
Deslizo para o banco do motorista e jogo a pasta de couro no
assento do carona.
Ligo o carro e antes de pisar no acelerador, apanho o celular
dentro do bolso do terno. Eu sei que não devia fazer isso e sei que
Nicholas tentará me castrar se souber que estou levemente
interessado na sua irmã, mas abro uma aba de pesquisa e digito
“Lawanda Farley” mesmo assim.
Eu nunca pensei de verdade em como uma garota podia
mudar tanto em sete anos. Nunca reparei nas mudanças da Romie,
porque eu acompanhei todas suas fases e sempre a tive como uma
irmã mais nova.
Mas...
Lawanda cresceu e se tornou uma linda mulher. Mais do que
isso, é gostosa pra caralho e nem sonhando, eu deveria estar
admirando o seu corpo. É nova demais para mim e eu gosto de
mulheres mais velhas.
Travo o celular e o jogo em cima da pasta de couro, no banco
do carona, já arrependido de ter dispensado Mia.
Eu sei, ela é minha funcionária, só que teria sido uma solução
perfeita para minha vontade de extravasar.
Depois de um dia cheio de trabalho, volto para casa
desejando uma banheira com muita espuma. No hall de entrada, os
homens do meu irmão estão de prontidão de forma irritante.
Parecem soldadinhos ligados no modo automático.
Théo não parece muito feliz em me ver. Deve ter levado uma
bronca por eu ter conseguido escapar dos seus olhos controladores
ontem.
Ignorando os homens, subo as escadas e caminho para o
quarto. Encontro Liam no corredor, saindo de um dos quartos de
hóspedes. Ele lança um olhar gentil para mim e abre meio sorriso.
Uma ideia absurda passa pela minha cabeça.
— O que vai fazer hoje? — pergunto, de repente.
Liam une as sobrancelhas.
— Preciso trabalhar em algo importante — diz, coçando a
nuca e passando a língua nos lábios.
— Quer sair comigo?
A minha pergunta faz Liam esbugalhar os olhos, quase
ameaçando sair para fora do rosto e cair no chão a cinco metros de
distância. O seu espanto me faz rir. É fofo e engraçado.
— Não é uma boa ideia. Nicholas vai ficar furioso.
Os cantos da minha boca se curvam.
— Mais um motivo pra fazermos isso. — Dou de ombros,
meio serelepe e acabo roubando um sorriso de Liam. — Me dê uma
hora e estarei pronta pra você — acrescento e ele assente com
cautela, como se tentasse entender a dimensão do que eu acabei
de dizer.
Entro no quarto e tiro os sapatos, os jogando de qualquer
jeito no chão e corro para o banheiro. Desisto de um banho de
espuma e vou para debaixo do chuveiro, animada com o meu novo
compromisso.
Quase cinquenta minutos mais tarde, estou pronta. Vestido
bem curto e brilhante na cor dourada, saltos altos que são capazes
de furar o olho de algum idiota tarado que ousar passar dos limites,
argolas grandes de ouro e cabelos soltos.
Segurando a bolsa delicada a tiracolo da Mouawad, desço as
escadas. Para minha sorte, não tem nenhum homem no hall de
entrada, então caminho até a sala e encontro Liam mexendo no seu
inseparável tablet.
O que ele tanto faz com isso?
Paro bem na sua frente.
Os olhos dele vão dos meus pés calçando as sandálias de
tiras até o meu rosto. Liam fica boquiaberto.
— Uau.
Estendo a mão espalmada para ele.
— Vamos nos divertir, garoto.
Sorrio e é ele quem pega minha mão com firmeza, me
surpreendendo. Tem rosto de garoto, mas tem uma pegada forte.
Gosto dessa combinação.
Arrasto Liam até a garagem e fico feliz por termos
conseguindo escapar dos homens de Nicholas espalhados pela
casa. Já na guarita da mansão, eu digo aos seguranças, que foi
mudado recentemente por alguns dos homens do meu irmão, que
tem alguém vindo logo atrás de mim.
Ele me deixa sair e eu piso no acelerador, sorrindo. Depois
de estarmos longe da minha rua, Liam, que estava deitado no banco
detrás, vem para a frente, rindo como um garotinho.
— Sou filho único e o seu irmão vai me matar.
— Não deixarei que isso aconteça — retruco e ligo o som,
deixando que a música ecoe dentro do carro. É a primeira vez que
me sinto animada de verdade desde a morte da mamãe e a volta do
meu irmão sumido.
A noite pode ser divertida com Liam.
Estaciono a SUV perto do metrô no bairro Fashion District[7] e
desço do veículo. Liam faz o mesmo e eu estendo a mão, o
puxando para a irmos rumo a minha direita ao encontro da rua King
West, o ponto central da vida noturna por aqui, cheio de boates e
barzinhos movimentados.
Liam caminha ao meu lado, resmungando o tempo inteiro que
Nicholas vai acabar com ele se souber que está comigo. Ignoro
cada palavra que sai da sua boca. Não quero pensar no meu irmão
pirando agora, só quero beber muito e dançar até não me aguentar
de pé.
Já na rua movimentada, não demora para chegarmos à casa
noturna, que tem uma fila enorme do lado de fora. Entrelaço meu
braço no de Liam, que fica surpreso e caminho até o segurança na
entrada.
As pessoas na filam reclamam da minha ousadia e eu ignoro.
— Lawanda, o que tá fazendo aqui?
— Oi, Jim — digo e dou um sorriso amplo. — Pode deixar
uma garota ter uma noite divertida com o seu namorado? —
pergunto, e nem para disfarçar que é meu namorado, o garoto ao
meu lado consegue.
No seu rosto, um grande ponto de interrogação se forma e eu
finjo não perceber. Jim capta a confusão no rosto de Liam, mas
mesmo assim, abre passagem para nós dois.
— Não se meta em confusão, não quero perder meu
emprego.
Sorrio em agradecimento. A última vez que eu estive aqui,
briguei com um cara, porque ele passou a mão na minha bunda
enquanto eu dançava com algumas amigas da faculdade.
No fim, descobri que era o rosto do sobrinho do dono que
minha mão espalmada acertou um tapa.
Jim ficou do meu lado e quase perdeu o emprego por isso. As
meninas e eu fomos embora, e otário tarado ficou de ego ferido e
com a marca dos meus dedos no rosto idiota.
De braços enlaçados, Liam e eu entramos na boate e somos
atingidos pela camada fria de fumaça e uma música remixada.
Arrasto meu namorado de mentira até o bar e peço bebidas.
Em questão de minutos, o barman serve os nossos drinks.
— Um brinde.
— Um brinde aos meus dias... que estão contados — Liam
faz drama e bate o copo de shot no meu e toma tudo de uma vez.
Faço o mesmo e é impossível impedir a careta quando sinto o
líquido quente descendo queimando.
Peço mais duas doses, que o garoto à minha frente se recusa
a beber, então sou obrigada a tomar as duas. Em seguida, seguro a
mão de Liam e o puxo para pista, para dançarmos.
Ele fica desconfiado o tempo todo, olhando para os lados,
como se soubesse que a qualquer momento o meu irmão fosse
brotar do chão e dar um sermão em nós dois por termos saído.
— Relaxa — falo mais alto que a música ao me aproximar do
rosto de Liam. — Já estamos aqui, então vamos dançar. — Pego as
mãos de Liam e coloco na minha cintura e jogo as minhas em cima
do seu pescoço.
— Ai, droga. Eu tô muito ferrado — ele diz, sorrindo.
Eu perdi as contas de quantas eu bebi. Mas sei que foram
muitas, porque estou de joelhos no chão do banheiro da boate, com
o rosto de frente para um vaso sanitário, vomitando.
Sinto Liam segurar os meus cabelos e eu teria agradecido, se
não fosse o líquido nojento que escapa da minha boca.
Merda.
Não queria que ele me visse assim. Na verdade, não queria
que ninguém me visse assim... tão caótica. Pela visão periférica,
vejo Liam mexendo no celular e por incrível que pareça, consigo
perguntar o que ele está fazendo.
— Chamando seu irmão — balbucia.
— Eu disse pra não fazer isso — resmungo e mais vomito.
Desse jeito, eu colocaria para fora até os meus órgãos.
Seguro nas bordas do vaso e tento me levantar. Falho
miseravelmente, mesmo com a ajuda de Liam. Sento no chão e me
encosto na parede imunda, focalizando os olhos do garoto, que está
na minha frente.
— Me desculpa, estraguei a nossa noite.
Ele abre meio sorriso.
— Tudo bem, não tem problema. Foi divertido — fala, sem
deixar de curvar os lábios para mim.
A noite foi divertida mesmo. Depois de meia hora, ele se
soltou e nós dançamos como se fôssemos amigos há anos.
Bebemos alguns drinks, infelizmente, eu virei mais copos de shot do
que o necessário.
— Podemos repetir mais vezes.
Liam ri.
— Tenho certeza de que o seu irmão vai se certificar desse
momento entre nós nunca mais acontecer — fala, soando em um
tom divertido.
Porém, eu fico irritada. Odeio o fato de Nick achar que pode
me impedir de fazer algo. A vida é minha e ele esteve fora dela por
sete anos. Não tem o direito de dizer o que eu tenho que fazer só
porque voltou e se sente culpado pelo hiato do nosso
relacionamento.
— Ele não vai decidir nada por mim.
Bato os cílios por alguns segundos e fico assim por um
tempo, fingindo descansar e sentindo a intensidade do calor dos
olhos de Liam em cima de mim.
— Acha que consegue levantar? — pergunta, o tom de
preocupação na voz grossa deixa meu coração quentinho.
Gosto de Liam. Ele é uma boa pessoa.
— Sim.
Abro os olhos devagar e Liam oferece o braço para me ajudar
a ficar de pé, o que é interrompido pela ânsia de vômito que vem
com tudo, me rasgando de dentro para fora e a única coisa que faço
é virar meu rosto para despejar tudo no vaso sanitário.
Vômito, gemidos e choro.
Me sinto miserável.
Liam fica ao meu lado, segurando meus cabelos e falando
que está tudo bem, só que eu sei que é mentira. Nenhum cara devia
ver uma garota num estado tão lamentável como o meu.
Não sou hipócrita, nasci em berço de ouro e desde nova,
aprendi a me preocupar com a forma que as pessoas me enxergam,
e parecer bem na frente dos outros, foi algo que sempre prezei.
Onde mamãe estiver agora, deve estar decepcionada comigo.
Perco a noção do tempo.
Não que tenha feito alguma coisa relevante, além de vomitar.
Pela visão periférica, vejo Nick entrando no banheiro feminino
e estendo a mão para não se aproximar. Abro a boca para mandá-lo
sair de perto de mim, quando sou interrompida pelo vômito de novo.
Limpo a boca com as costas das mãos e seguro no braço de
Liam para ficar em pé, rezando em silêncio para não passar mal
outra vez. Tento mandar Nick ir embora, mas ele não me obedece e
dispensa Liam.
Caminho até a pia do banheiro e lavo minha boca com água,
a fim de tirar o gosto horrível da garganta.
— Você está bem? — pergunta depois que Liam sai do
banheiro. Não respondo. — Por que beber desse jeito?
Fungo e me encaro no espelho manchado, depois, procuro
um elástico de cabelo dentro da bolsa para amarrar a juba
bagunçada em um rabo de cavalo alto.
— O que você acha? — Tomo coragem de me virar e cravar
a atenção no meu irmão. — Minha vida é uma droga — deixo
escapar com um sussurro e não acho que tenha sido tão sincera
com ele como agora.
A droga dos meus olhos arde, mas faço esforço para não
chorar.
— Você quer que eu vá embora da sua vida, Lawanda?
A pergunta é como um botão automático para o meu choro. É
claro que não quero que ele vá embora de novo, apesar de parecer
exatamente isso. Só estou magoada por não ter sido escolhida por
ele no passado.
Meu pai morreu na merda de um acidente de carro e eu
precisei do meu irmão, mas ele preferiu superar o luto sozinho. Sem
mim. Sem a mamãe. E eu sentia falta dele todos os dias, porque eu
o amo, e agora, estou machucada com a mesma intensidade.
Mamãe e eu fomos atrás de Nick em Montreal e eu implorei
que voltasse para casa, mas não foi o suficiente. Nós não éramos o
suficiente para o meu irmão naquela época e ainda dói demais
saber disso.
— Você sumiu, Nick — falo, chorando. Meu coração afunda
dentro do peito, me deixando sufocada. — Quando eu te encontrei,
não doeu? Eu te implorei pra voltar pra mim, pra nossa família. Eu
precisava de você, mas... — a minha frase morre e eu preciso
respirar fundo para falar em voz alta algo que sei que vai partir ainda
mais o meu coração. — Mas você não precisava de mim.
— Lawa... — ele sussurra.
— Eu acho que ainda preciso de você — as palavras saem
da minha boca sem permissão. Fungo e desvio os olhos dele. —
Mas no momento, estou muito magoada. Não consigo colocar uma
pedra no passado. Não sei se um dia vou conseguir fazer isso.
Nick abre a boca para falar algo, mas eu o interrompo.
— Não estou com cabeça pra conversar agora, Nick. Você
pode só me levar pra casa?
Sem pedir permissão, ele se aproxima, fazendo meu coração
martelar com força. Olhando para mim, tira a sua jaqueta jeans e
enfia nos meus braços, me protegendo do frio.
Não queria, mas gosto do gesto, de ser cuidada pelo meu
irmão, quase como se as coisas fossem ficar bem de novo entre nós
dois.
— Obrigada — murmuro.
Saímos juntos do banheiro e ao ver que se formou uma fila
de mulheres do lado de fora, porque aparentemente, Théo impediu
que elas entrassem, não consigo me importar de verdade com o
acontecido.
Nick pergunta a Théo por Liam e depois de ter uma resposta,
que indica a saída dos fundos da boate, ordena ao homem que vá
buscar o carro e o encontre lá. Théo nem pisca e acata as ordens
dele.
Tocando o meu cotovelo de leve, meu irmão me guia até a
saída e não resmungo pela aproximação. Na realidade, é bom saber
que ele está aqui, cuidando de mim e tentando ser minha família de
novo.
Ah, merda.
Estou muito bêbada.
Acho que se Nick insistir mais um pouco, terá o meu perdão.
Ele empurra a porta de metal e me deixa passar primeiro.
Preferia não ter o feito. Preferia ter ficado no banheiro,
vomitando, enquanto Liam fazia o trabalho de segurar os meus
cabelos e falava que estava tudo bem.
Nunca ouvi um tiro de perto e odeio como soa alto pra
caramba. Tão alto, que me deixa zonza. Grito. A única coisa que
posso fazer no momento. Gritar e olhar Liam baleado no chão,
sangrando e arquejando.
As coisas ao meu redor parecem distante e meus pés criam
raízes no chão.
Nick se ajoelha diante de Liam e pressiona o peito
ensanguentado dele, enquanto diz coisas que escapam dos meus
ouvidos. Começo a chorar, sem saber o que fazer. Desesperada.
Meu Deus!
O que eu fiz?
O que eu fiz com Liam?
Nick fala comigo. Não consigo ouvir. Não consigo ouvir nada,
além do meu sangue bombeando alto nos meus ouvidos e o peito
me sufocando, com força, sem piedade.
— Lawanda! — Nick grita, me assustando. — Chame uma
ambulância. Agora!
Nossos olhares se cruzam e vejo um brilho selvagem
tomando conta dos seus olhos azuis. Tremendo e chorando, eu
pego meu celular e faço o que Nick pediu. Chamo ambulância, sem
conseguir desviar a atenção de Liam.
Liam morreu.
Não consigo parar de pensar nele ou de me sentir culpada.
Se eu não tivesse arrastado ele comigo, ou melhor, se eu tivesse
ficado em casa, Liam ainda estaria vivo e bem.
Nick faz o que pode para tentar amenizar a culpa maçante
que está queimando dentro do meu peito e não tem sucesso. Nem
quando me fala que a polícia pegou o assassino, eu me sinto
aliviada.
Pegar o assassino não vai trazer Liam de volta.
Nada vai.
A fim de aliviar a angústia e respirar um pouco de ar puro, já
que tudo dentro da mansão, por mais estranho que pareça, meio
que lembra Liam, eu pego meu carro e vou dar uma volta.
Quando me dou conta, estou estacionando em frente a
guarita da casa do meu tio. O segurança abre o portão automático
para mim e diz que ele não está em casa, então, eu decido dar ré e
ficar zanzando pela cidade de Toronto até acabar a gasolina ou
encontrar algum lugar que me fará sentir à vontade, ou menos triste.
Ou o que vier primeiro.
Ao parar em um sinal vermelho na rua King West, tento não
me sufocar com as lembranças da outra noite. Infelizmente, parece
que as únicas imagens na minha mente se resumem a Liam e o
sangue. Só que tem tanto sangue, que a sensação é que posso me
afogar nele.
O celular toca, espantando meus pensamentos para longe.
Inclino-me para o banco do carona e vasculho dentro da bolsa, atrás
do meu smartphone.
O nome de Dena saltita na tela colorida.
Ela e Nick não deram certo, porque depois da morte do
papai, meu irmão simplesmente desistiu do casamento, mas fico
feliz de Dena ter permanecido ao meu lado.
— Como você está? — é a primeira coisa que ela pergunta.
— Péssima.
— Ok, você precisa espairecer um pouco, vamos sair e tentar
relaxar.
Relaxar não é exatamente o que eu quero. Para ser sincera,
não me sinto bem fazendo isso, ainda mais, porque Liam morreu e
não pode fazer o mesmo que eu no momento. Porém, cedo e
concordo com a ideia de Dena.
Relaxar um pouco... mesmo não merecendo, é o que vou
fazer.
Dena me leva a um pub de um amigo dela. Ela sempre me
regra quando estamos juntas, mas hoje não fez questão de me
parar.
Não conseguiria nem se fizesse muito esforço.
— Seu irmão vai ficar uma fera se souber que estou deixando
você encher a cara — Dena comenta com um sorrisinho
emoldurando o rosto bonito.
É a quarta vez em um curto período de tempo que ela toca no
nome do meu irmão. Não sou burra, ela e eu somos amigas. Não do
tipo “melhores amigas” e eu sei que ficou do meu lado depois de
tudo, porque estava com o coração partido e ainda assim,
apaixonada por Nick e queria uma forma de se sentir próxima dele.
Não posso culpá-la. Aceitei sua companhia durante esses
anos pelo mesmo motivo. E apesar de ter odiado o meu irmão, era
bom ser próxima da pessoa que ele amou a vida inteira e o
conhecia tão bem.
— Não quero falar do meu irmão — resmungo o óbvio. Não
quero falar dele, porque isso me faz sentir mais culpada.
Passo um gole de vodca para dentro, a fim de adormecer a
culpa de alguma forma.
— Sabe se ele está saindo com alguém? — ela ignora meu
pedido de não falar de Nick e pergunta, tentando, em vão, esconder
a curiosidade. Ela está tão curiosa, que quase consigo ver escrito na
testa pequena.
Respiro fundo, piscando devagar.
— Não sei se você sabe, mas meu irmão e eu não somos
exatamente os melhores irmãos ou irmãos que compartilham esse
tipo de coisa — digo, ríspida, fazendo Dena cerrar o maxilar. — Não
faço a mínima ideia da vida sexual dele.
— A nova secretária dele é bonita.
Nick começou a trabalhar na Corporação Farley e eu sei que
o único intuito disso é ficar mais próximo de mim. Em vez de aliviar
o meu coração com a tentativa de reaproximação dele, não foi bem
o que aconteceu.
Não parece que Nick veio para ficar, mesmo que as ações
me mostrem o contrário. Apesar de tudo, eu conheço o meu irmão.
— Ela é inteligente — é o que digo. Tinha passado meus
olhos no currículo dela para saber que é inteligente demais para ser
apenas secretária. Talvez ela seja mais esperta que o meu irmão.
No nível intelectual da coisa.
— Devia tentar se aproximar dele — sugere, me olhando com
os olhos cor de amêndoa e um sorriso gentil esticando os lábios. —
Ele finalmente voltou depois de tantos anos.
Solto uma risada seca.
— Quem disse que ele vai ficar de vez? — questiono e ela
fica sem jeito. — Não acho que a vida dele esteja aqui. Ou que seja
essa vida — emendo a última frase com um sussurro.
Dena abre a boca para falar algo e eu a impeço no mesmo
instante. Não quero ter que ficar lembrando que a qualquer
momento, o meu irmão pode ir embora e me deixar sozinha de
novo.
Já estou com coisa demais na cabeça e ficar me
preocupando com Nick não vai ajudar em nada.
Não há muita coisa para fazer. O indivíduo que Nicholas
mandou de Toronto chegou em Montreal arquejando.
Impressionante o fato de não ter chegado morto. Continuar o
torturando não resolverá nada no momento. Ele dirá qualquer coisa
para acabar de uma vez com a dor.
A única coisa que sabemos é que não foi um assalto. Ele não
levou nada de Liam, apenas disparou contra o garoto com a
intenção de matá-lo.
Cansado de ouvir palavras que não mudarão em nada o
rumo das coisas, Julian ergue a pistola 9mm na direção da testa do
homem. Com as narinas infladas e sem piscar ou hesitar, aperta o
gatilho e dispara um tiro, fazendo um estrondo ecoar pelo galpão ao
mesmo tempo em que a cabeça dele vai para trás antes de cair para
frente, sem vida.
Estamos em um dos nossos galpões abandonados em
Montréal-Est[8], lugar que usamos para descobrir coisas importantes
sem sermos interrompidos. E claro, onde os soldados adoram
mostrar o quanto são criativos.
— Esse monte de merda — o subchefe da família Carbone
resmunga com o músculo do maxilar cerrado. — Ele tem sorte de o
Liam ainda está respirando.
Não discordo. Se Liam tivesse morrido, a tortura contra ele
teria sido mil vezes pior.
— Thomas, avise a mãe de Liam sobre o ocorrido e diga que
estamos cuidando de tudo — Noah fala, me fazendo virar para
encará-lo e assentir com um aceno firme de cabeça.
Ele está a um passo atrás de nós, observando o homem sem
vida com uma expressão séria e vazia. Sei que o Don está puto,
porque Liam é como um irmão mais novo para ele e bom, odiamos
quando mexem com um dos nossos.
— Sim.
— Se desfaçam disso — é o que ordena aos soldados
próximos de nós, que começam a desamarrar o homem na cadeira
para dar um fim no corpo. — Me avisem quando Liam e Dr. Michael
chegarem — é a última ordem de Noah para nós antes de sair do
galpão.
A senhora Graham é uma viúva de quarenta e seis anos.
Linda e gostosa. Faz parte daquele grupo de pessoas que sabe
exatamente o que fazemos, mas prefere fingir que não. Ou
simplesmente, não se importa.
— Por favor, me chame de Elizabeth — diz ela, depois que
me acomodo no sofá da sala, cruzando as pernas e abrindo um
sorriso de lado.
— Certo.
Ela sabe que é linda e que tem um corpo em forma. Por
causa dos trabalhos que Liam faz para nós, ela consegue manter
um belo apartamento no centro de Montreal, que divide com o filho,
roupas de grife, aulas particulares de pilates, esteticista e cirurgias
plásticas.
Talvez seja por isso que não se importe com o que fazemos.
Tem uma vida boa por causa dos trabalhos ilícitos do filho.
— O que aconteceu?
— É sobre Liam — digo e como em modo automático, os
ombros ficam eretos e o rosto todo se contrai em preocupação.
— O que aconteceu? Ele foi em uma viagem pra Toronto.
Nós nos falamos ontem de tarde. Meu filho está bem?
Nego com a cabeça.
— Ele foi assaltado — minto.
Não é porque ela sabe o que fazemos que vou dizer o que
aconteceu de verdade.
— Cadê meu filho? — pergunta, a voz tremendo e as
lágrimas enchendo os seus olhos, que são idênticos aos de Liam. —
Thomas, cadê meu filho? — insiste quando fico quieto por alguns
segundos.
Depois de contar o que aconteceu a ela ou parte da história,
Elizabeth se desmancha em lágrimas, enterrando o rosto entre as
mãos. Está escrito na sua testa que ela sabe exatamente que não
foi apenas um assalto, porém, não me contradiz ou faz perguntas
que não terá respostas.
É uma mulher inteligente.
Na hora que ela está estável de novo ou quase isso, levanto
do sofá e vou embora.
Já acomodado no banco do motorista, pego o celular de
dentro do bolso do terno e destravo a tela. Vou na aba de pesquisa
e apago todo o meu histórico.
Não me orgulho desse feito, mas passei os últimos dias
buscando fotos e coisas sobre Lawanda. E agora, que Nicholas está
voltando para Montreal, não quero correr o risco de ficar secando o
corpo da sua irmã mais nova com ele por perto.
Também preciso parar de fantasiar com ela. Há quatro noites,
vi uma foto super provocante e acabei sonhando com Lawanda nua.
Na minha cama. Acordei no meio da noite, completamente duro e
tive que bater uma para aliviar minha tensão. Ainda mais, porque a
imagem estava bem viva dentro da minha cabeça.
Para falar a verdade, ainda está.
Não seria um problema se tivesse sido apenas uma vez.
Sim, um cretino.
E eu sei que isso não pode acontecer de novo.
— Eu volto quando você precisar de mim. — No momento em
que as palavras dele atravessam os meus ouvidos, preciso virar o
rosto para esconder as lágrimas. — Deixei meu endereço e alguém
vai ficar aqui cuidando de você.
Odeio como meu estômago revira com essa informação.
Eu sabia que meu irmão iria embora, só que mesmo assim,
vê-lo cruzar a porta da mansão faz meu coração doer. Com os olhos
ardendo, volto para o meu quarto e assim que entro, um pedaço de
papel chama minha atenção em cima da cômoda pequena ao lado
da cama.
É o endereço de Nick.
Encaro a folha destacada com afinco, como se fosse capaz
de me dar as respostas que preciso. Sei que vivi muito tempo sem
ele e acho que me saí bem, no entanto, não tê-lo mais aqui, me dá
uma sensação quase esmagadora dentro do peito.
Sem pai.
Sem mãe.
E agora, sem irmão de novo.
É cruel demais e mesmo que eu tenha uma vida boa, seja
privilegiada, não consigo demolir o sentimento de que a vida é
injusta demais comigo. Só queria ter minha família inteira de novo,
um sonho tolo e impossível.
Com o endereço de Nick nas mãos, deixo meu corpo afundar
no colchão e encaro o teto, permitindo as lágrimas ácidas
inundarem os meus olhos. Não queria estar chorando, mas acho
que é a única coisa que posso fazer no momento.
Meu celular vibra dentro do bolso da calça jeans.
Com as costas das mãos, limpo os meus olhos e tateio o
bolso antes de pegar o aparelho. Ao ver o nome do meu tio
piscando na tela e a sua foto sorrindo, é instantâneo, o meu coração
se enche de um sentimento de alívio.
Pelo menos sempre o terei comigo.
Atendo assim que me sinto bem o bastante para não soar
com a voz embargada.
— Oi, querida. Quer almoçar comigo?
— Sim, eu adoraria — murmuro e engulo em seco, depois
sorrio para o nada.
Mesmo que Nick não esteja mais aqui por mim, eu sei que o
tio Schavier sempre será alguém que cuidará de mim. O irmão do
papai sempre foi alguém presente e minha figura paterna.
Não sei o que seria de mim sem ele.
Algum tempo depois...
Os dias sem Nick passam rastejando. Mesmo que não
tenhamos sido os irmãos mais próximos quando estava de volta,
ainda sinto a sua falta como se nunca tivéssemos nos separado na
vida.
Meu tio era único que parecia feliz com a ida do meu irmão, o
que não durou muito. Alguma coisa aconteceu e eu sei que tem a
ver com Nick. E lógico, que ele preferiu não me deixar a par das
coisas. Apesar de me roer de curiosidade, não estou a fim de ficar
entre os dois, então não insisto no assunto.
Os dois são bem grandinhos para resolverem as suas
diferenças.
Através da parede de vidro que nos separa, consigo observá-
lo esbravejando com alguém no celular e massageando as
têmporas uma vez ou outra. Não dá para ouvi-lo e mesmo que seja
errado e eu tenha dito a mim mesma que é melhor não saber o que
está acontecendo, tento ler os lábios do meu tio.
Sou péssima nisso.
— O que tá fazendo? — Madelyn pergunta da porta da minha
saleta, me assustando. — Dia ruim para os negócios? — questiona
ao gesticular com o queixo na direção do meu tio.
Dou de ombros.
Ela é recepcionista do nosso andar e apesar de ser apenas
seis anos mais velha do que eu, trabalha aqui desde os vinte. Assim
que comecei a trabalhar como assistente pessoal do meu tio,
desconfiei que Madelyn e ele tivessem um caso, o que ela negou
com veemência.
Não acreditei, é claro. Os dois estão sempre trocando olhares
comprometedores e têm mais assuntos particulares, que o normal.
Como não é da minha conta e não vou julgar o meu tio ou ela, finjo
acreditar que ela não está completamente apaixonada por ele.
— Estou tentando ler os lábios dele.
Sorrindo, ela se aproxima de mim e apoia parte do quadril na
minha mesa, observando meu tio com o cenho franzido e enrola
uma mecha de cabelo preto no dedo indicador.
— Me deixe tentar — murmura sem tirar os olhos da sala do
CEO. — Acho que ele está pedindo almoço... comida chinesa —
zomba, me fazendo rir.
— Obrigada — digo, irônica.
— Vamos almoçar?
— Claro.
Desligo o computador e arrumo a minha bolsa. Pela visão
periférica, a vejo comtemplando o meu tio enquanto morde o lábio
inferior.
Pigarreio e Madelyn olha para mim.
— O quê? Ele é bonito.
Reviro os olhos e ela começa a rir, me roubando uma risada
também.
Nos primeiros meses aqui, os funcionários não gostavam
muito de mim. A maioria achava que eu era apenas a patricinha
mimada e irritante que não tinha nada melhor para fazer, além de
ficar no pé do tio e da mãe, implorando por atenção.
Sempre fui inteligente e boa com os números, mas nunca
gostei de trabalhar ou acordar cedo. Não vou ser dissimulada e falar
que bater ponto todo dia era o meu sonho de vida, mas acabei me
surpreendendo de como é bom ter algo de útil para fazer.
Estou me saindo melhor do que todos esperavam e há quase
um ano sou assistente pessoal do meu tio. Não é tão ruim e de
qualquer forma, assumirei a Corporação um dia e preciso ser
respeitada.
Não tinha pretensão de tomar a frente dos negócios da minha
família, mas Nick não parece com alguém que se tornará um CEO e
o meu tio, bem, um dia, talvez, ele canse de tudo e queira sossegar.
Talvez... casar com Madelyn? Será estranho, porque ele é
quase trinta anos mais velho que ela, mas não é problema meu.
Pensei que fosse voltar a me acostumar sem a presença do
meu irmão, o que nem de longe aconteceu. Para ser sincera, acho
que a única coisa que fiz a minha vida toda foi camuflar meus
sentimentos, a saudade que sentia dele.
Todo dia antes de sair para trabalhar ou quando volto para
casa, eu leio o endereço que ele deixou. Já fui ao seu apartamento
através do google maps e várias vezes passou pela minha cabeça ir
visitá-lo.
Infelizmente, sou orgulhosa demais para aparecer na porta
dele. Não fazia ideia do que podia falar a Nick. Ou o que fazer da
minha vida. Toronto sempre foi minha casa, só que agora sem a
mamãe, nada parece fazer sentido.
Sempre gostei de morar na mansão, de ter espaço de sobra
e empregados perambulando pelos corredores e fazendo tudo para
mim, mas de repente, tudo parece exagerado. E o pior, mesmo com
os empregados e os homens que Nick deixou para tomar conta de
mim, parece vazio e solitário.
De qualquer forma, exagerado ou não, vazio ou cheio, cheio
de felicidade ou de tristeza, essa casa ainda é o meu lar e é aqui
que devo ficar.
Com ou sem Nick.
Cansada de me sentir frustrada, coloco a alça da Louis
Vuitton no ombro e saio do quarto. Desço as escadas segurando no
corrimão e assim que meus pés chegam no hall de entrada, um dos
homens que Nick deixou, abre a porta de madeira maciça para mim.
Do lado de fora, Mattéo me espera com a porta da limusine aberta e
um sorriso gentil desenhando o rosto enrugado.
Não é sempre que aceito ser levada ao trabalho, porque
dirigir meu próprio carro me dá privacidade e sempre posso escapar
dos homens do meu irmão, que estão na minha cola vinte e quatro
horas por dia.
No entanto, estou cansada, então sem reclamar, deslizo para
o banco e noto que tem outro homem de Nick no assento, os
ombros eretos e a expressão dura como se fosse uma estátua.
Controlo a vontade de revirar os olhos.
O único momento em que estou cem por cento sozinha, é
quando estou nua no banheiro.
Meu celular vibra dentro da minha bolsa e quando vasculho
atrás do aparelho, vejo o nome de Madelyn. Decido ignorá-la, não
estou a fim de conversar e mesmo assim, estou a quinze minutos da
Corporação. Ela pode esperar.
Mattéo para o carro em frente a Corporação e de maneira
ágil, desce do banco do motorista para abrir a porta para mim. Estou
quase saindo quando o meu segurança indesejado se prepara para
fazer o mesmo. Eu sei que ele está sempre de olho em mim, me
seguindo com o seu carro ou perambulando pelos corredores da
empresa, o que é esquisito pra caralho, mas não o quero perto de
mim hoje.
— Não ouse me seguir — falo, o tom de ameaça explícito.
Ele paralisa, o corpo fica rígido como uma pedra e eu
finalmente, saio da limusine. Sei que não vai ficar no carro de
braços cruzados, acatando alguma ordem minha. E tudo bem,
desde que fique fora do meu campo de visão, já estarei satisfeita.
Assim que atravesso a porta de vidro automática e entro no
prédio de ornamentação monocromática, alguns funcionários no
saguão direcionam os olhos curiosos para mim, enquanto
cochicham algo entre si.
Ergo a cabeça e continuo caminhando até os elevadores.
Entro no que vejo aberto e finjo não me importar com a atenção
estranha e meio inconveniente que recebo. Graças a Deus, subo até
o andar presidencial sozinha.
Meu celular vibra de novo e estou prestes a pegá-lo quando
as portas de metal se abrem no último andar. Ergo a cabeça e
endireito os ombros, caminho de forma elegante em cima do meu
salto alto.
Assim que me vê, Madelyn sai de trás do balcão
deslumbrante e agarra meu braço com força, me puxando na
direção dos banheiros. Protesto, tentando entender, mas ela não diz
nada.
Entramos no banheiro e a primeira coisa que faz, é conferir
se está vazio, depois tranca a porta e me segura pelos ombros.
— Por que não atendeu quando liguei?
Respiro fundo.
— Já estava a caminho.
— Lawanda... — começa a falar, franzindo o rosto bonito e
bem maquiado. — Não devia ter vindo hoje.
Arqueio as sobrancelhas, cética.
— Por que não?
Madelyn usa um vestido colado ao corpo, de gola alta e que
cai até a altura dos joelhos. Por cima, um casaco bege e sofisticado.
Eu sei onde ela mora e não é um dos melhores bairro de Toronto,
aqui também, não ganha o suficiente para manter as roupas caras.
Então, é lógico que meu tio banca os seus gastos pessoais, mesmo
que fale com firmeza que não existe nada entre eles.
Queria que ela confiasse em mim o suficiente para dizer a
verdade. Eu não julgaria o relacionamento dos dois e daria força.
Meu tio nunca casou e passou a vida inteira se dedicando aos
negócios.
Seria legal se casasse com alguém que ama.
De dentro do casaco, Madelyn pega o celular e desliza os
dedos pela tela colorida antes de girá-la para mim. É um vídeo.
Demoro um tempo para a conclusão me acertar em cheio com uma
tonelada de concreto.
Sinto o sangue correr dentro dos meus ouvidos com o meu
coração acelerado.
Tomo o celular das mãos de Madelyn para ver o vídeo mais
de perto e noto o aparelho tremendo junto com as minhas mãos. De
repente, o banheiro fica sufocante e eu não consigo respirar direito.
— Onde conseguiu isso? — pergunto com a voz embargada,
pausando o vídeo e entregando o aparelho a ela antes de me virar e
vomitar na pia.
Ela passa as mãos nas minhas costas, tentando me
reconfortar, o que tenho certeza ser impossível. Tem a porra de um
vídeo em que estou de joelhos, chupando o pau de um homem no
celular de Madelyn.
Estou perdida.
Meu Deus!
— O vídeo foi vazado em alguns sites.
— Merda, merda!
— Quem é esse cara? — questiona, mas não respondo.
Não quero responder, porque a única coisa que consigo pensar é
que ele é um imbecil de ter vazado um momento tão íntimo na
internet.
Que cretino!
Sem dizer nenhuma palavra, lavo a boca com água da pia e
saio do banheiro. Ela vem no meu encalço, alternando em perguntar
se estou bem e o que vou fazer. Controlo a vontade de mandá-la
calar a boca.
Continuo o caminho pelo corredor luxuoso do andar principal
e ignoro os olhares das pessoas que cruzam comigo e que com
certeza, sabem do meu vídeo vazado. Rumo até o elevador
particular do meu tio e o chamo.
Meu celular vibra dentro da bolsa de novo e eu o pego sem
pestanejar. É Dena ligando e assim que atendo, me desmancho em
lágrimas, porque estou morrendo de vergonha.
— Dena...
— Vamos dar um jeito — é o que diz, suspirando. — Vou te
buscar, me espere no estacionamento, certo?
— Vou matar aquele desgraçado — resmungo.
— Precisa pedir ajuda ao seu irmão, ele saberá o que fazer.
Rio com sarcasmo.
— Ficou louca? — retruco, alterada, odiando o fato de o
elevador estar demorando tanto. — Nick vai ficar decepcionado
comigo. Ele não pode ver esse vídeo, Dena. Não pode —
acrescento com um sussurro.
— Talvez não, mas ele é o seu irmão e tenho certeza de que
vai resolver esse problema — é o que fala com firmeza.
— Como tem tanta certeza?
Dena respira fundo.
— Eu apenas sei.
As portas do elevador se abrem para mim e antes de entrar,
eu digo a ela:
— Vem logo, Dena. Por favor.
Sou um cretino.
Sou um cretino depravado.
Sou um cretino depravado e imoral.
Quando soube do vídeo da Lawanda, tentei não cair em
tentação e ignorei meus desejos pecaminosos por boa parte da
manhã.
Infelizmente, a curiosidade fala bem mais alto e eu acabo
cedendo.
Tranco a porta do meu escritório, fecho as persianas e
procuro o vídeo na internet. Nunca fui de perder o controle e nem
entendo a minha obsessão por essa garota, que eu mal conheço,
mas aqui estou eu, com os olhos vidrados na porra do vídeo.
Os lábios de Lawanda, pintados de rosa escuro e em volta de
um pau duro, enquanto ela alterna em chupá-lo todo e lamber a
glande, olhando com as íris azuis dilatadas, não para a câmera,
mas, sim para o homem que está filmando o ato, me deixa duro pra
caralho.
Mesmo não querendo chegar a tanto, não posso impedir da
imaginação correr solta e fantasiar o meu pau na boca de Lawanda
ao mesmo tempo em que ela tem os olhos grandes e felinos fixados
nos meus.
Eu disse, um cretino depravado.
Na mesma proporção que Nicholas está puto porque a sua
irmãzinha teve um vídeo com esse conteúdo vazado na internet e
puniu o homem que o fez, eu estou pensando em bater uma para
Lawanda.
Não devia.
Logo agora que voltei com o meu autocontrole e consegui
enfiar essa garota problemática no fundo da mente. Ela é o meu
inferno particular.
Irritado e excitado, fecho aba do vídeo no notebook e tento
me concentrar no trabalho. O esforço é em vão, é claro. A imagem
de Lawanda preenche meus pensamentos e não estou orgulhoso de
tê-la na cabeça.
Levanto da cadeira acolchoada e vou até o banheiro do
escritório. Lavo o rosto com água fria e me olho no espelho,
controlando a vontade de socá-lo até ferir uma das mãos.
Autocontrole, Thomas.
Solto uma baforada de ar.
Com toda a imbecilidade e depravação que tenho cravado no
meu ser junto à frustração de desejar uma garota que não devo,
abro o zíper da calça e libero minha excitação rígida.
Deixo que a imaginação domine os pensamentos e visualizo
Lawanda com a boca em torno do meu pau, sugando com precisão
enquanto fixa os olhos grandes em mim. Seguro o meu pau com
uma pegada firme e faço fricção, subindo e descendo, deixando
escapar sons baixos e guturais.
A Lawanda da minha imaginação doentia, aumenta a sucção,
sem tirar os olhos de mim. Ela me lambuza todo e faz uma
expressão de quem está gostando. Agarro seus cabelos com uma
das mãos e fodo a boca deliciosa com vontade. Sinto as bolas se
contraírem e gozo forte na língua da loirinha.
Depois de gozar, limpo o pau com uma toalha de papel e ao
perceber que sujei a camisa social com porra, xingo. Tiro minhas
roupas e sapatos, vou para o box com o intuito de tomar uma ducha
rápida.
No momento em que fecho os olhos e a água morna escorre
pelo meu corpo, Lawanda e a boca pintada de rosa escuro invadem
minha cabeça, acordando meu pau mais uma vez.
Eu devia me sentir culpado, mas homens como eu não foram
criados para sentir culpa ou remorso. Então, eu me masturbo
pensando em Lawanda de novo.
Quase vinte minutos mais tarde, saio do banheiro com os
cabelos molhados e usando uma blusa social limpa. Ligo o notebook
em cima da mesa e tento organizar os papéis para começar a
trabalhar quando sou surpreendido com a voz de Mia chamando por
mim ao mesmo tempo em que bate na porta.
Caminho até a porta trancada e giro a chave, dando um
passo para trás e permitindo que ela entre na sala. As sobrancelhas
se arqueiam na direção dos meus cabelos úmidos e a mulher
adiciona um nariz enrugado aos olhos arregalados.
— O que aconteceu com você?
Um orgasmo intenso, porque estava me tocando enquanto
pensava em uma garota dezenove anos mais nova do que eu.
— Nada. Precisa de alguma coisa?
Mia ignora minha pergunta e sorrateiramente, passa os olhos
pela minha sala, como se esperasse achar uma mulher escondida
debaixo da mesa ou no banheiro. Quando não encontra nada,
respira fundo, mas não relaxa os ombros.
— Temos horário com um cliente, lembra? — fala, me
fazendo suspirar de forma discreta. Eu odeio que tenha ficado tão
obcecado com o maldito vídeo que isso esteja afetando o meu
trabalho.
Não posso deixar que algo assim se repita. Vou parecer fraco
e irresponsável, é inadmissível. Fraqueza e irresponsabilidade, as
duas coisas na mesma frase é quase uma violação aos
mandamentos que me iniciaram na máfia.
Lawanda devia ser considerada um pecado capital.
Uma distração do cacete.
Na porta do quarto de hospital onde Liam está internado, os
dois soldados designados a cuidar da segurança dele, estão com o
celular na mão, rindo como idiotas. Assim que me veem se
aproximando, desmancham os sorrisos cínicos e ficam com os
ombros eretos.
Eles assentem em sincronia e abrem espaço para eu entrar
no quarto. E estou prestes a fazê-lo quando algo no celular de um
deles me chama atenção. Eu reconheceria aquela boca a dez
metros de distância.
Com um movimento brusco, rompo a nossa distância e tomo
o aparelho da sua mão e vejo o outro soldado enfiar o próprio
celular dentro do bolso da calça social. Encaro o homem à minha
frente com afinco, e só então, deixo a atenção cair para a tela
colorida.
Sinto a raiva escapar dos meus ouvidos e nariz como
fumaça.
— Que merda é essa?
Gesticulo com o smartphone.
— Não é nada — um deles se apressa em dizer, me fazendo
sorrir de forma cética.
— Gostou do vídeo? — questiono, erguendo os olhos para
olhá-lo. Ele não responde e eu teria arrancado sua língua se tivesse
dito algo. — Quer ser castrado? Por que a porra desse vídeo está
no seu celular?
Ele engole em seco.
— Me desculpe, senhor.
— Se eu sonhar que você estar vendo algo sobre essa garota
ou pensando nela dessa forma, eu acabo com você. Com vocês
dois — falo, a voz soando firme e áspera. — E não se enganem, eu
não sou bom. Sou inteligente e criativo, não se esqueçam desse
detalhe.
O homem assente de lábios prensados, e em vez de devolver
o celular, eu o quebro no meio. É esperto o suficiente para não
reclamar da minha atitude. Viro o rosto para o outro soldado e como
se pegasse o meu desejo no ar, ele retira o celular do bolso e me
entrega.
— Ela é proibida pra vocês — digo, por fim, as palavras
soando como se fosse uma nova lei. Os dois concordam em sintonia
e nem isso me deixa feliz. — Não vou tolerar algo desse tipo de
novo.
— Sim, senhor — articulam ao mesmo tempo.
De repente, o vídeo que me deixou excitado hoje cedo, faz o
meu sangue ferver e me deixa puto agora. Para ser sincero, muito
irado e com vontade de quebrar os narizes dos soldados por
estarem de olho em Lawanda como eu estava horas atrás.
Sou um fodido.
Mas, errado ou não, proibida para mim ou para eles, quero
ser o único a olhar Lawanda com a porra das segundas e terceiras
intenções.
Não queria encarar o meu irmão, mas Dena me obrigou a vir
para Montreal.
No fundo, sei que foi apenas um pretexto para vê-lo. Tentou
disfarçar a decepção que dominou o rosto ao encontrar meu irmão
com a sua secretária excêntrica, colorida e linda.

Ainda não consegui entender a relação de Nicholas e Lexie[9]


e como eles vieram morar juntos. Quer dizer, os dois parecem estar
em um algum tipo de relacionamento. Mais do que isso, parecem
um casal, que se entende apenas com uma troca de olhar.
E está escrito na testa de Dena que ela não gostou dessa
nova informação.
A culpa é dela. Não pedi que me trouxesse aqui, mas depois
de ir me buscar na Corporação Farley, me obrigou a fazer as malas
e entrar no carro. Horas depois, estávamos nós duas tocando a
campainha do apartamento do meu irmão, que está uma fera, só
que não está falando muitas coisas.
O que Nick espera? Que eu me abra e converse sobre a
idiotice que eu fiz? Jamais. Se eu puder negar que sou eu naquela
merda de vídeo, mesmo que seja impossível, farei com muita garra.
E lágrimas também, porque vergonha é pouco para o que estou
sentindo.
Que burra!
Burra!
Idiota!
I-D-I-O-T-A!
Vídeos de boas ações não são fáceis de viralizar, mas o
meu? Não faz nove horas que está no ar e tem mais de quinze mil
visualizações. Se não fosse a herdeira de um império, eu poderia
ser uma atriz pornô.
Parece que tenho talento para o ramo.
— Se vai me xingar, comece logo, por favor. Eu fui uma
idiota, eu sei — solto, sem conseguir levantar os olhos para encará-
lo. É humilhante demais e se eu pudesse apenas me esconder, eu o
faria.
— Como aceitou fazer uma coisa dessas, Lawa? — meu
irmão quer saber. Não sei o que responder. Não existe resposta
para justificar a minha burrice. É uma merda. Eu deixei o cara me
filmar enquanto o chupava e o sexo com ele nem valeu a pena. —
Droga! — Nick esbraveja, me assustando e fazendo meu coração
martelar dentro do peito.
Nick fica um tempo em silêncio e de repente, esmurra a
mesinha de centro de vidro, destruindo-a em vários pedacinhos.
Encolho os pés e nem dá tempo de raciocinar direito, Lexie e Dena
se aproximam do meu irmão, para examinar a mão, ainda fechada
em punho.
Obrigada, meninas, apesar de ter a porra de um vídeo erótico
vazado na internet, estou bem também, não se preocupem.
Obrigada!
— Eu estou bem — meu irmão fala e Lexie volta para a frente
do computador, que está atrás de mim. Os seus dedos batem nas
teclas com uma rapidez absurda e eu rezo em silêncio para que
consiga me ajudar.
Ela disse que me ajudaria.
— Eu sinto muito, Nick. Sinto muito — murmuro e os meus
olhos ardem. Não consigo impedir as lágrimas estúpidas, então
choro. — Não sabia que ele ia fazer isso. Eu juro. Ele parecia um
cara legal, ele parecia um cara legal — repito, desorientada.
Que burrice, Lawanda...
— Você não tem culpa de nada — ele diz, estranhamente
calmo. Talvez esteja fingindo. — Vou resolver esse problema, não
se preocupe — me garante e a única coisa que faço é assentir. —
Você fica comigo a partir de agora — ordena.
— Tá bem, vou ficar por alguns dias — falo, porque não
quero dar o braço a torcer. Para minha surpresa, ele concorda. —
Escondida, sem ter coragem de colocar o pé na rua — cochicho,
mordendo o lábio inferior.
— Consegui! — Lexie exclama ao se levantar da cadeira.
Tem um sorriso amplo e motivador desenhando os lábios. —
Consegui remover o vídeo de todos os sites — avisa, olhando para
o meu irmão.
Fecho os olhos com força e respiro fundo, sem conseguir
conter as lágrimas de alívio.
— Obrigada, de verdade — agradeço, ainda chorando e
pensando que devo minha alma a Lexie Rogen.
Por um minuto, Lexie e Nick vão até a varanda. Dena não tira
as vistas deles e sei que está amaldiçoando a minha salvadora em
silêncio. Ela encaminha a atenção até mim e revira os olhos.
— O que ele está fazendo com ela? — Dena questiona, a voz
baixa e cheia de reprovação.
— Eu não sei, mas ela é minha heroína a partir de hoje.
— Não exagera. Ela não fez nada de mais — resmunga entre
os dentes e estou prestes a contra-argumentar no momento em que
os dois voltam à sala.
Fico de pé, me sentindo um pouco melhor. Não posso fazer
nada em relação às pessoas que assistiram ao meu vídeo, mas
estou feliz pra caramba por ele ter parado de circular.
— Vá descansar, Lawanda. Amanhã conversamos.
Mesmo que não tenha gostado da ideia de procurar o meu
irmão para resolver o meu problema proibido para menores, estou
feliz de estar aqui. Sem pensar muito, me aproximo de Nick e
contorno o seu corpo com os meus braços, apertando-o forte e
suspirando.
Recuo um pouco, sem soltá-lo completamente e focalizo os
seus olhos claros.
— Obrigada por não me odiar, Nick — sussurro.
Meu irmão segura meu rosto entre as duas mãos e faz
carinho nas minhas bochechas.
— Por que eu odiaria você, Lawa? Não tem culpa de nada.
Assinto e finjo um sorriso, em seguida, volto a me afastar e
pego a alça da minha mala, arrastando até um quarto de hóspede,
sem olhar para trás. Talvez seja errado deixar meu irmão com as
duas mulheres, mas estou exausta demais para impedir que Dena
faça uma cena.
De qualquer forma, Lexie parece ser foda pra caralho. Acho
que dá conta da ex-noiva enciumada do meu irmão.
Não sou mais uma atriz pornô em ascensão.
O vídeo foi retirado dos sites pornográficos, mas não tem
como silenciar as pessoas que viram. Tive que desativar minhas
redes sociais, porque as únicas coisas que os homens comentavam
sobre ou para mim, era que eu sabia pagar um boquete como
ninguém.
Trancafiada no apartamento de Nicholas, me divertindo um
pouco com os ciúmes da Dena, que ainda continua aqui, não sei
bem o porquê, tentando atormentar a coitada da Lexie, é a definição
dos meus dias. Claro, acrescente um pote grande de sorvete e voilá,
essa sou eu.
A desgraça aproxima as pessoas. Pelo menos, foi o que
aconteceu comigo e Nick. Não posso mentir e dizer que é ruim tê-lo
ao meu lado, cuidando de mim, se preocupando e sendo mandão.
Eu gosto, parece que voltamos no tempo e ele é o meu Nick de
antes.
Mesmo com a conversa estranha e esquisita de trazer o
escritório central para Montreal, sem se importar com o que o tio
Schavier quer ou ache sobre o assunto, eu gosto de ter o meu irmão
de volta.
— Ele é nossa família, Nick — digo, porque eu amo os dois e
de verdade, seria perfeito que se dessem bem e fossem unidos.
Espero que não seja algo impossível de acontecer um dia.
— Não a minha.
Respiro fundo e observo o pote de sorvete à minha frente por
um milésimo de segundo. Nick tinha chegado em casa e me pegou
sentada na banqueta da ilha da cozinha, afogando as mágoas em
uma guloseima gelada e que vai me encher de celulites.
— Ele me criou e esteve comigo durante todos esses anos. E
eu sei que não gosta dele, você nunca gostou, mas o tio Schavier é
minha família. Não podemos virar as costas pra ele assim.
Ao escutar minhas palavras, Nick cerra a mandíbula.
— Ele não é o papai — retruca e apesar de doer ouvir isso,
meu irmão está certo. Eu daria tudo para ter o papai comigo de novo
e que tivesse sido ele a me criar. Mas, infelizmente, não posso
mudar o passado.
— Eu sei, mas Nick, os lucros subiram muito nos últimos
anos. Subiram por causa dele — tento argumentar e não dá certo. A
carranca mal-humorada não sai da expressão de Nick. Prenso os
lábios antes de engolir em seco. — Você quer se tornar um CEO, é
isso?
Ele quase sorri.
— Eu não, mas você sim — rebate e a única coisa que faço é
franzir as sobrancelhas. — Por que trabalha com o Schavier? —
pergunta e não me deixa responder. — Um dia você vai administrar
os negócios da nossa família.
Gosto de como isso soa aos meus ouvidos. Uma mulher
poderosa de negócios, como a mamãe foi. Sem esforço, consigo me
ver dessa forma, combina comigo.
E não é exatamente por isso que trabalho na Corporação?
Sim, é.
— Isso é uma ordem ou premonição?
— Os dois — ele devolve.
— Mesmo assim, você ainda quer trazer o escritório pra cá?
Pra Montreal? Por quê? — insisto.
Ele está tão diferente. Existe algo selvagem e insano
circundando os olhos que são tão azuis quanto os meus. É como se
ele não ligasse se um dia, precisasse explodir uma cidade inteira
para proteger alguém que ama.
— Lawa, você é minha família. Ou o que restou dela — fala e
apesar de gostar de ouvi-lo, me sinto triste também. O que restou da
nossa família... é cruel demais. — E eu sei que você não precisa de
mim, mas eu... eu preciso de você. Não vou deixar você voltar pra
Toronto.
Lágrimas idiotas fazem caminho até a minha boca. Não
consigo dizer nada, porque no fundo, eu sempre quis que Nick
precisasse de mim e vê-lo admitir, faz o meu coração acelerar.
— Pode me odiar, Lawa, mas vou te manter por perto e
cuidar de você mesmo que não queira. — Ele desvia os olhos de
mim e fixa a atenção na noite através da porta de vidro da varanda e
então, volta a me encarar. — Nunca mais deixarei alguém te
machucar.
Deslizo da banqueta para o chão e contorno o corpo do meu
irmão com os braços. Nick me aperta e alisa meus cabelos, me
fazendo suspirar.
— Eu te odeio, mas... eu te amo também. Não me abandone
de novo, Nick — imploro com a voz contida.
Ele me afasta um pouco e segura meu rosto entre as mãos.
— Não vou — fala com convicção e eu decido confiar no meu
irmão outra vez. Assinto e abro meio sorriso.
— Você vai me contar? — pergunto, de repente. — Os seus
segredos? Por que não quis voltar pra casa daquela vez? Eu
sempre tive curiosidade sobre a sua vida e o que andou fazendo
aqui.
Nick me solta ao respirar fundo para afrouxar o nó da
gravata.
— Um dia — é a única coisa que me diz. Não é exatamente o
que quero ouvir dele, mas não insisto. Nossa relação já é difícil o
suficiente por causa das marcas do passado, não quero que nos
distanciemos outra vez. Então, concordo com um aceno leve de
cabeça.
Um dia é melhor do que nunca.
É tentador estar a menos de três metros de distância dos
lábios grossos e meio redondos de Lawanda. Ela tem um bico sexy
e volumoso, que combina perfeitamente com o V bem delineado dos
lábios superiores.
Hoje, os lábios não estão pintados de rosa escuro, porém,
têm uma rosácea natural, que me faz imaginá-los em volta do meu
pau. E mesmo quando os fecha, fica uma leve abertura entre eles, o
que é excitante pra caralho.
— Trabalha pro meu irmão também? — ela questiona um
segundo depois que Nicholas nos deixa na sala.
Infelizmente, não sozinhos.
Felizmente, não sozinhos.
Lexie, que está sentada na banqueta da cozinha, que é
acoplada com a sala, nos observa com um sorriso pequeno e
discreto.
— Não, definitivamente, não — respondo, fazendo a loirinha
arquear as sobrancelhas bem-feitas para mim. De leve, enruga o
nariz arrebitado, enquanto me analisa de forma comedida.
— O que você faz?
— Sou advogado criminalista — digo e noto um lampejo de
surpresa passar pelos olhos felinos de Lawanda.
— Advogado criminalista?
— O que foi? — retruco ao enfiar uma das mãos na calça
social e observá-la. — Surpresa?
— Um pouco — admite, espremendo os lábios. — Mas acho
que combina com você — emenda, zanzando os olhos brilhantes
pelo meu corpo. Não sei o que se passa na cabeça dela, porém,
gosto de vê-la me contemplando.
Lexie ri e não diz nada, o que faz Lawanda desviar a atenção
de mim.
— Por quê? — rebato.
Lawanda lança um olhar afiado na minha direção e depois,
passa por mim. Não mantém uma distância segura, então o seu
cheiro acerta meu nariz com um golpe preciso. É quente, levemente
adocicado e picante também.
Tinha imaginado a garota com um cheiro de flores. Nunca
estive feliz em estar enganado. Doce e picante, uma combinação
perfeita.
— Você tem essa expressão no rosto... de alguém que acha
que sempre estar certo — fala e prende o lábio inferior com os
dentes ao mesmo tempo em que focaliza os meus. — Advogados
acham que estão acima da lei. Ou pior, acham que são Deus.
Curvo os lábios.
Se Lawanda soubesse, que apesar de ser advogado, eu
estou do lado oposto da lei e que Deus deve me odiar e já ter
entregado minha alma em uma bandeja de ouro para o próprio
Diabo, não teria dito isso.
— Tenho certeza que Deus não se importa muito comigo — é
o que digo.
Os olhos da loirinha rodam nas orbitas e os braços se cruzam
na frente do corpo pequeno, apenas para depois, erguer uma das
mãos e levar os dedos até a boca e tocar o lábio inferior com o
indicador.
Será que ela sabe o quanto está sendo sexy no momento?
— E as leis? — Lawanda questiona.
Lexie alterna os olhos de mim para ela, curiosa.
— As leis são como as teias de aranha que apanham os
pequenos insetos e são rasgadas pelos grandes.
Ao me ouvir, ela fica petrificada e eu decido deixá-la pensar
que a frase é minha. Se Lawanda me achar um cretino e não me der
nenhum tipo de brecha, talvez eu consiga mantê-la longe dos meus
pensamentos obscenos.
Ou da minha cama.
Ela é só uma menina e como não nasceu no nosso meio, não
tem as mãos sujas de sangue. E nem obrigação de se casar com
um homem que a organização escolher ou ser usada como moeda
de troca para evitar uma guerra entre famílias rivais.
Lawanda tem sorte.
E eu tenho certeza de que Nicholas quer que ela permaneça
assim, intacta. É o que eu faria no lugar dele. Deixaria bem claro
que minha irmãzinha é proibida para qualquer homem.
— Então, você faz o tipo que acredita que as regras foram
feitas para serem quebradas? — Lawanda pergunta, chamando
minha atenção.
— Essa conversa tá ficando estranha — Lexie diz, tentando
impedir a garota de falar alguma besteira. Talvez, impedindo de me
desrespeitar. Ou não, Lexie é bem atrevida também.
Não devia dar corda, mas sou um cretino.
— Você não acha interessante quebrar as regras?
Os olhos afiados e felinos me encaram com um brilho
intenso, que é puro êxtase.
— Sim, eu até já quebrei algumas e não me arrependo —
responde e não desvia a atenção de mim.
Nicholas volta à sala, me fazendo afastar as vistas da sua
irmã.
Mesmo que seja tentador, não quero perder o controle e ficar
comendo Lawanda com os olhos. Nicholas é um bom capitão e eu
não quero correr o risco de nós dois acabarmos nos matando
porque eu estou admirando os peitos e a bunda da sua irmãzinha
gostosa.
Não tenho medo de morrer, porque é algo que acontecerá
cedo ou tarde. Para homens como nós, tem uma grande
probabilidade de ser cedo. Mas além de fazer parte da organização,
Nicholas é como um irmão.
— Aonde vocês três estão indo? — Lawanda quer saber.
Nicholas troca um olhar comigo, no entanto, Lexie é rápida e
responde:
— Temos uma reunião importante.
Não é bem a resposta que eu daria, mas não foi tão ruim. É
algo que alguém de fora acreditaria. Para todos os efeitos, Lexie
ainda é secretária pessoal do Nicholas, o herdeiro da Corporação
Farley e eu sou um advogado.
Contudo, Lawanda é esperta.
Os cantos dos lábios da loira se franzem de maneira
descrente e a insatisfação com o que acabou de ouvir vai
desenhando o seu rosto delicado. Só que essa resposta é a única
que terá. Ela não sabe o que somos e para o seu bem, é melhor
continuar cega em relação a isso.
Quanto menos souber, mais segura estará.
Não só fisicamente, mas o emocional também. Vai ser um
baque grande se souber que o seu tio é um filho da puta, que além
de fazer parte de uma organização criminosa em Toronto
comandada por um ex-KGB[10], ele mandou matar sua mãe.
Ela o ama e por enquanto, é melhor ficar com essa visão que
tem dele. Não precisa saber que nós estamos indo à Toronto para
conversar com o líder da organização que Schavier faz parte e pedir
a cabeça dele.
O tio de Lawanda não vale nada, assim como nós, mas é
melhor que ela não esteja ciente disso. É só uma garota inocente,
não precisa ter o coração despedaçado por causa de um grande
babaca.
Que tipo de reunião dura um dia inteiro?
Não consigo parar de pensar no que meu irmão foi fazer ou
naquela conversa de ontem com Thomas sobre quebrar regras.
Nunca curti caras mais velhos, mas o homem é muito sexy e tem
um ar poderoso pairando sobre ele, que faz as borboletas do meu
estômago dançarem.
Além de ser todo duro e cheio de músculos, o cheiro é uma
combinação perfeita e rica de patchouli com menta. E aquela voz
grossa até agora soa como algo provocante e molhado aos meus
ouvidos. O calor dos olhos azuis e expressivos ainda me atingem
com uma onda elétrica sempre que penso neles.
Mesmo que eu o tenha visto por quinze minutos, sei que
Thomas é intenso. Para ser sincera, ele parece fogo puro e não
acho que eu precise de alguém assim na minha vida.
Primeiro, Nick teria um infarto. Com certeza.
Segundo, Nick teria outro infarto.
Meu irmão sempre foi muito protetor. Quando eu não tinha
idade para namorar, fazia questão de assustar todos os meus
amigos só por garantia. Não acho que tenha mudado alguma coisa.
Na realidade, tenho quase certeza que agora é mil vezes pior.
E com Liam foi diferente e de qualquer forma, ele tinha quase
a minha idade. Pensar nele sempre me faz sentir como se eu
tivesse um buraco no peito. Sou tão covarde, nem tive coragem de ir
visitá-lo.
Eu devia comprar flores e mandar para a mãe dele, junto de
um cartão dizendo o quanto sinto muito. Mas fazer isso é assumir a
parcela ou toda a minha culpa. Infelizmente, não estou nem perto de
assumi-la. Ou pronta para ela.
Cansada de ter esses pensamentos dominando minha
cabeça, levanto do sofá e desligo a tevê. Passei meia hora com o
aparelho ligado, zarpando pelos canais e nada me prendeu. Arrasto
os pés até a cozinha, que é separada por um degrau discreto e
vasculho a pequena adega do meu irmão. Tem whisky, vinho mais
velho que eu e rum. Agarro uma garrafa de vinho e procuro por
taças nos armários.
Tenho uma brilhante ideia.
Para falar a verdade, não tenho nada melhor para fazer.
Carregando a garrafa de vinho, caminho até a porta e abro.
Os dois soldadinhos que Nick deixou de prontidão na porta,
direcionam os olhos até mim. Sorrio e gesticulo com o vinho.
— Alguém quer beber? — pergunto, esperando as respostas
interessantes.
Os homens do meu irmão são sempre tão duros e sem
expressão, que às vezes, me vejo questionando sobre a
humanidade deles. Talvez sejam androides com inteligência artificial
de ponta.
— Estamos trabalhando — Théo comunica, verificando as
horas no relógio caro de pulso. — E não passa das nove horas da
manhã — avisa, como se fosse me fazer mudar de ideia sobre a
bebida.
Talvez eles sejam mesmo androides.
— Chato — resmungo e o músculo da sua mandíbula se
contrai em desgosto. Ele lambe os lábios e solta uma baforada de
ar, em seguida, deixa escapar uma risada cética e volta a me
ignorar.
Quase caio na tentação de provocá-lo só para ver o que
acontece. Em vez disso, recuo um passo e fecho a porta, sem me
preocupar em trancá-la e levo a garrafa de vinho até o sofá,
lembrando que esqueci a taça depois de descansar os pés na
mesinha de centro.
Retiro a rolha da garrafa e decido beber do gargalho. Estou
prestes a fazê-lo quando meu celular começa a tocar. Inclino-me um
pouco para frente e apanho o aparelho em cima da mesinha de
centro, bebo um pequeno gole e olho a tela colorida.
É o meu tio.
Sinto o meu coração mergulhar até o estômago.
Não nos falamos desde que fugi de Toronto para cá com
Dena e apesar de parte de mim estar feliz por ele me ligar, ainda
não me sinto pronta para encará-lo. Então, recuso a ligação.
Preciso de mais tempo até recuperar minha dignidade antes
de ficar cara a cara com o homem que é quase um pai para mim.
Não aguentaria fitar os olhos claros cheios de decepção por eu ter
me prestado a um papel daqueles com um cara que mal conheço.
Só de pensar naquele desgraçado, meu sangue inflama, se
fundindo em lava ardente. Tenho consciência que concordei em ser
filmada, mas não autorizei a distribuição da porra daquele vídeo.
Quero tanto puni-lo por ter feito isso.
Cravo as unhas na palma da mão, mordo o lábio inferior com
força e tento controlar meu coração e respiração acelerados. Um dia
aquele imbecil e eu vamos acertar as contas.
Desisto de vez do vinho e decido que quero ar fresco. Sair
um pouco desse apartamento vai fazer bem para minha saúde
mental.
Despistei a minha sombra androide com inteligência artificial
de ponta.
Quando decidi sair do apartamento, eu sabia que um deles
me seguiria e como eu precisava de carona, não reclamei de ter
uma sombra de dois metros no meu encalço.
Não foi tão difícil fugir.
Depois que o homem, que eu ainda não decorei o nome, me
deixou em frente à loja de roupa íntima e foi estacionar o carro, eu
entrei pela porta da frente e fui embora pela porta de trás. Inventei
uma desculpa para a vendedora que me abordou assim que
coloquei os pés na loja, falei que estava sendo seguida pelo meu
ex-namorado e enfeitei a mentira contando que ele tinha se tornado
muito agressivo nos últimos anos. Ela foi bem compreensiva e me
ajudou a escapar.
Mesmo sem conhecer bem as ruas de Montreal, perambulo
entre elas feliz da vida. É bom andar sem ter um homem assustador
me observando o tempo todo, apesar de eu ter uma leve sensação
de estar sendo seguida.
Será que ele me encontrou?
Não seria surpresa, o homem mora aqui e deve conhecer
tudo como a palma da própria mão, enquanto eu, dependo do
aplicativo de mapa no celular.
As informações na tela colorida, me mostram que de onde
estou até a casa do Nick, são quase trinta minutos de caminhada. É
claro que essa seria uma ótima hora para o meu segurança
indesejado aparecer. Ou, me levar a um bom restaurante para
comer alguma coisa, já que está quase na hora do almoço.
Antes que possa cogitar o que fazer, um número
desconhecido preenche a tela do meu celular. Prenso os lábios e
pondero se devo ou não atender.
Uma van preta para na minha frente, interrompendo o meu
dilema. A porta se abre e um homem com o dobro da minha altura
estica os lábios em um sorriso diabólico ao sair da parte traseira do
veículo.
— Lawanda Farley, entre no carro sem fazer escândalo.
De maneira automática, tento dar um passo para atrás, mas
ele agarra o meu pulso e puxa parte do paletó, revelando uma arma
preta e compacta. Os olhos negros me fitam de modo ameaçador.
— Entre — ordena.
— Quem é você?
— Seu tio mandou lembranças — é o que diz, me deixando
confusa.
Ele me arrasta para dentro da van e me joga no banco. Há
outro homem de expressão amarrada ao meu lado e estou prestes a
abrir a boca para protestar, quando ele vem com um pano branco
em cima do meu nariz. Esperneio, mas aos poucos, vou perdendo a
força e apago completamente.
Sinto a língua pregada no céu da boca e uma leve dor de
cabeça ao abrir os olhos. No momento em que me dou conta do que
aconteceu, o sangue corre desenfreado pelos meus ouvidos.
Tomada por um medo que me faz sentir pequena e
vulnerável, sento na cama, afundando as unhas no edredom para
controlar o coração. Rápido, passo os olhos pelo cômodo e noto que
as paredes e piso são de concreto. Não tem janelas, apenas uma
porta de madeira resistente.
O lugar me deixa sufocada.
Forço o meu corpo a ficar em pé e caminho até a porta, giro a
maçaneta e ao descobrir que está trancada, os olhos ardem e um
caroço salgado se instala no meio da garganta.
Que merda é essa?
De repente, a porta é escancarada, me fazendo dar um pulo
para trás. O homem de sorriso diabólico que me obrigou a entrar na
van, entra no quarto e me olha com desdém.
— Vejo que a princesa acordou — diz, como se estivesse me
xingando. — Achei que fosse dormir o dia inteiro.
— Quem é você?
Ele sorri de lado.
— Não devia se preocupar com isso. — Dá um passo até
mim e passa as costas de uma das mãos no meu rosto, me fazendo
arrepiar a espinha de um jeito tenebroso. — Mas com o que pode
acontecer com você.
— Você quer dinheiro? — me ouço perguntando.
O homem ri, o som da sua risada macabra ecoando dentro
do bunker.
— Lembre-se de culpar o seu irmão por isso, Lawanda. Se
ele tivesse ficado quieto, não estaria em uma situação como essa.
— O que meu irmão tem a ver com isso?
— Não faz a mínima ideia do que ele é, não é mesmo? —
questiona e ri, mas não me deixa responder. — É tão gratificante ver
a surpresa nos seus olhos — emenda, enfiando a mão na minha
nuca e aproximando o corpo asqueroso do meu. Tento me soltar e é
em vão. — Seu irmão é um criminoso, Lawanda. Um assassino.
Ele me solta depois de dizer as palavras e eu tento digerir a
novidade. Meus ouvidos começam a zunir e não consigo reprimir a
tontura que vem com força. Não consigo prestar atenção no que
está acontecendo ao redor e quase caio de bunda no chão, mas o
porco à minha frente segura o meu braço com brutalidade, me
machucando.
Ainda assim, não consigo me controlar.
Meu irmão é um assassino....
O tapa no meu rosto vem de forma inesperada e com força.
Não caio no chão, porque mãos nojentas me agarram. Sinto gosto
de sangue na boca e as lágrimas brotam dos meus olhos como se
tivessem vida própria.
— Vamos, putinha. Eu não tenho o dia todo — rosna, me
puxando para fora do quarto. Antes que possa protestar, ele saca a
arma compacta e aponta para a minha cabeça. — Anda! — berra e
encosta o cano na minha têmpora, me fazendo tremer e chorar mais
ainda.
Ao atravessarmos a porta, dou de cara com um porão velho,
iluminado com uma luz fraca amarela e cheiro forte de desinfetante.
Subo uma escada de madeira, que range com os meus passos e
tento não fazer movimentos rudes ao sentir o calor horripilante do
corpo do homem atrás de mim irradiando para o meu.
O último degrau do porão dá em cima de uma despensa, que
não me parece estranha. Paraliso um milésimo de segundo para
analisar e me arrependo de ter o feito, pois o homem na minha cola,
me empurra e eu caio de joelhos no chão.
Ele não me deixa nem recuperar o fôlego ou compostura,
puxa os meus cabelos com força e assim, me faz ficar de pé outra
vez. Chorando em silêncio, caminho para fora da despensa e fico
confusa ao ver a cozinha da casa do meu tio em Toronto.
O que estou fazendo aqui?
— O que...
— É isso mesmo, vadiazinha — fala, me impedindo de
formular minha frase. Roça os lábios nojentos na minha orelha e eu
tento me esquivar, mas ele volta a puxar meu cabelo com vontade.
— Quieta ou vou meter uma bala na sua cabeça.
Ele solta os meus cabelos e encosta a arma na minha nuca,
indicando para que eu continue caminhando. Nós saímos da
cozinha e vamos para o jardim, damos a volta na casa, caminhando
na direção do escritório do meu tio.
— Se você ficar quieta, eu prometo ser gentil depois. Vou até
te fazer gozar na hora que estiver te comendo — informa, me
fazendo trincar os dentes de ódio e também, de medo.
— Prefiro morrer a deixar você encostar em mim, otário.
O homem vem para minha frente e segura meu rosto com
força, encostando o cano da arma no meu queixo e o projetando
para cima. Ele tem tanta fúria nos olhos escuros, que não tenho
dúvidas de que possa me matar agora mesmo.
— Vou matar o Nicholas na sua frente e depois foder você,
puta — murmura, o tom da voz soando doentio e perverso. Ele
destrava a arma e curva os lábios em um sorriso torto. — Tem
certeza que prefere morrer?
Prenso os lábios e deixo as lágrimas fazerem caminho pelas
minhas bochechas.
Voltamos a andar e fico tão confusa ao entrar pela porta de
vidro da varanda do escritório e ver Nick apontando uma arma para
o nosso tio, que ao tentar se aproximar de mim, é impedido pelo
disparo que meu irmão dá e eu sou invadida pelo barulho de vidro
sendo estilhaçado.
— Que merda é essa? — pergunto com a vista embaçada. —
O que é isso? — Giro o rosto para encarar o nosso tio, que parece
tão confiante e nada preocupado por ter um homem com a arma
apontada para minha cabeça.
— Você não vai me matar, Nicholas. Porque se fizer isso, sua
preciosa irmã morre também. Está preparado para viver sem
ninguém? Mesmo que agora tenha outra família, ela ainda é sangue
do seu sangue — tio Schavier fala, fazendo meu coração acelerar
de um jeito doloroso.
— Você não... — Nick começa a falar, mas é interrompido.
— Não sou capaz de matar Lawanda? — Ele me olha com
desdém e meu coração aperta de tristeza e confusão. — Eu nunca
gostei dela de verdade. Tinha muita necessidade de atenção.
As palavras que saem da sua boca, acabam comigo e me
fazem chorar mais ainda. Como as coisas podem ter mudado tanto
da água para o vinho? Até ontem, o tio Schavier me amava e agora,
está disposto a me matar.
Por quê?
Não consigo entender nada do que está acontecendo. Por
mais que tente encaixar as peças, elas não fazem sentido algum.
Nada dessa noite faz sentido. Nada aqui nesse escritório faz
sentido.
Quem é o meu tio?
Quem é o meu irmão?
— Tio... — sussurro entre as lágrimas. — Não faça isso, por
favor — sem saber muito bem o que fazer, começo a implorar,
porque me dou conta da possiblidade de Nick e eu morremos esta
noite.
— Ele matou a mamãe — Nick fala, me deixando perplexa e
sem voz. A verdade me atinge com força e me faz querer vomitar.
Ele matou a mamãe?
Nosso tio matou a mamãe?
— E o pai de vocês também — tio Schavier admite, como se
não fosse grande coisa.
Aperto com os lábios, o ódio nascendo em mim, me rasgando
com força e me dando vontade de partir para cima do tio Schavier.
Como ele pôde fazer isso? Como pôde matar o próprio irmão?
— Seu filho da puta miserável — meu irmão rosna ao tentar
se aproximar do tio Schavier, mas interrompe o ato quando o
homem atrás de mim, encosta o cano da arma na minha nuca e me
faz ficar de joelhos no chão.
Choro, atordoada com tudo ao meu redor.
— Por que matou a mamãe? — me ouço falando e a
pergunta soa tão baixa, que por um momento, fico na dúvida se
nosso tio ouviu.
Nosso tio...
Ele não é minha família.
Ele matou meus pais...
— Infelizmente, ela sabia demais e eu precisava manter
meus segredos bem guardados. Não queria ter feito isso, mas não
podia arriscar — comenta, fazendo pouco caso, o que me deixa
irada.
— Por que fez isso? Por que destruiu a nossa família? —
berro com uma vontade insana de ter uma arma nas próprias mãos
e apontar para o desgraçado, que eu considerei um pai a minha vida
toda.
— Porque essa nunca foi minha família! — ele grita, me
fazendo retrair o corpo. — Não importa se carrego o sobrenome
Farley, eu nunca passei de um bastardo e eu cansei de aceitar as
migalhas dessa família. O pai de vocês era o pior de todos, agindo
como se fôssemos iguais e a verdade é que não éramos. Nunca
fomos. Ele sempre foi o preferido, a joia rara de toda a família Farley
e eu... apenas o filho da amante.
— Eu vou matar você — Nick diz, fazendo o cretino do nosso
tio começar a rir.
Tudo acontece tão rápido, que quando me dou conta tem um
homem caindo ao meu lado com um buraco na cabeça e de olhos
arregalados. Deixo escapar um grito assustado e me arrasto para
trás.
Mãos firmes me seguram e eu tento me desvencilhar do
toque.
— Calma, Lawanda, sou eu — Thomas diz, girando parte do
meu corpo para ele e encontrando os meus olhos. — Não se
preocupe, está segura comigo.
— Thomas... — murmuro.
— Consegue ficar em pé? — pergunta e a única coisa que
faço é assentir. — Não saia de perto de mim, ok? — fala e a voz soa
como uma ordem, que eu obedecerei sem pestanejar.
Nem tenho tempo de me recompor, só sinto Thomas me
passando para trás e me cobrindo com o seu corpo forte e quente.
Uma parede sexy de músculos me protege e mesmo que não seja o
momento certo, desço os olhos e encaro a curvatura da sua bunda,
que parece bem dura e convidativa.
Respiro fundo e sacudo a cabeça.
Ouço a voz da Lexie, mas não consigo me concentrar no que
está acontecendo de verdade. Sinto o coração batendo na garganta
e as vozes começam a ficar distantes. Seguro a barra da camisa
social de Thomas e sou inundada por um calor gostoso e
aconchegante ao senti-lo agarrar o meu pulso.
O toque é firme e possessivo, meio protetor também. E eu sei
que assim como meu irmão, ele não deixará nada de ruim acontecer
comigo esta noite.
Ouço alguns tiros e me obrigo a sair detrás do Thomas, que
não deixa de imediato. Nossos olhos se encontram e uma onda
elétrica atinge o meu corpo de uma maneira interessante.
Ele assente e recua um pouco.
Olho para Nick e o homem que eu considerei minha família,
mas que na verdade, nunca pensou o mesmo de mim. Eu era
apenas uma peça descartável no seu jogo de xadrez doentio.
— Feche os olhos, Lawa — Nick ordena.
Meu irmão tem uma arma apontada para o nosso tio e
mesmo que eu saiba o que está prestes a acontecer, não desvio.
Aquele porco nojento tinha razão, meu irmão é um assassino,
consigo ver isso, só que a única coisa que eu quero no momento é
que Nick atire no tio Schavier e acabe com a vida dele, como ele fez
com a vida dos nossos pais.
— Feche os olhos — Nick ordena de novo, mas eu não o
faço. Na verdade, não consigo.
E então, Nick puxa o gatilho e vejo uma bala certeira indo de
encontro com a testa do nosso tio. Um segundo depois, o vejo
caindo sem vida sobre os papéis em cima da mesa do escritório.
Passo por Thomas e vou ao encontro do meu irmão, fitando o
tio Schavier morto. Sem dizer uma única palavra, pego a arma das
mãos de Nick e aponto para o corpo do homem que um dia eu amei
com todo o meu coração.
Desgraçado!
Cretino!
Traidor!
— Lawa... — Nick me chama e eu nego com a cabeça.
Preciso fazer isso. — Acabou — ele insiste e não surte efeito
nenhum em mim.
Trinco os dentes, sentindo um gosto amargo na boca.
— Eu o amava. Eu o amava, Nick e ele me usou. Ele matou a
mãe, o pai. Ele é um monstro — digo entre as lágrimas ácidas.
— Acabou.
Balanço a cabeça de um lado para o outro mais uma vez e
puxo o gatilho, disparando contra o peito do nosso tio. O impacto me
faz dá um passo para trás. Não satisfeita, aperto o gatilho outra vez.
E outra.
E outra.
E outra.
Puxo o gatilho até não ter nenhuma bala para furar o peito do
nosso tio traidor. Fecho os olhos e descanso o rosto contra o peito
de Nick, que passa as mãos em volta do meu corpo e me aperta
contra ele.
Dá um beijo terno no topo da minha cabeça antes de dizer:
— Vai ficar tudo bem, Lawanda. Vai ficar tudo bem.
— Não consigo dormir — Lawanda fala ao entrar na cozinha.
Meus olhos passeiam sedentos pela camisola provocante de
seda preta antes de pararem por um segundo muito longo nas
pernas nuas e subirem mais um pouco até o decote em V.
Ergo o rosto e os meus olhos capturam os seus.
São um pouco mais de vinte e três horas, eu tinha descido
porque também não conseguia dormir e resolvi pegar uma garrafa
de vinho da imensa adega da mansão Farley.
— Às vezes, álcool ajuda a dormir, mas não recomendo para
uma garota como você — digo, gesticulando no ar com a minha
taça. — É uma péssima maneira de superar os problemas ou a
insônia.
Ela revira os olhos de forma prepotente e se aproxima da ilha
da cozinha. Ruma na direção de um dos armários e fica na ponta
dos pés para pegar uma taça. Se eu fosse um cavalheiro, teria
oferecido ajuda, mas a visão da Lawanda se esticando e subindo
boa parte de trás da camisola, enquanto tenta pegar uma taça, é do
caralho.
Não tem como perder um negócio desses.
— Depois de tudo que aconteceu, estou dando a mínima pra
isso. Vou beber na minha casa até não aguentar mais — fala ao se
virar para mim e noto um lampejo de tristeza passar por seus olhos
felinos. — Minha casa... agora soa tão estranho.
Lawanda sacode a cabeça, como se quisesse espantar os
pensamentos e volta a se aproximar de mim. Sobe na banqueta ao
meu lado e coloca a taça em cima da ilha. Não me pede para servir
vinho, ela mesmo pega a garrafa e faz todo o resto.
— Você está bem? — me ouço perguntando, curioso. O que
é estranho, não lembro de ter feito essa pergunta a uma mulher com
a intenção de ouvir realmente uma resposta sincera.
Mulher...
Lawanda não é uma mulher, é a porra de uma menina.
Preciso colocar isso na merda da minha cabeça e manter uma
distância segura dela.
Mesmo assim, ainda quero saber como ela está se sentindo.
Não deve ter sido fácil saber o que o tio fez com os seus pais ou
que o relacionamento deles sempre foi uma mentira.
Sinto o corpo contorcer só de lembrar como ela estava mais
cedo, chorando, de joelhos e com uma arma apontada para cabeça,
enquanto o cretino do Schavier falava que não hesitaria em matá-la.
Filho da puta!
— Ele partiu o meu coração — admite, me deixando com
uma sensação de formigamento no peito. — Quero vender essa
casa — informa, de repente.
Arqueio as sobrancelhas.
— Tem certeza?
— Nick, definitivamente, não vai vir morar aqui comigo. E
bem, não tenho motivo pra continuar em Toronto. Minha casa é
onde meu irmão estiver.
Fico inquieto, um misto de sensações. Interessante ter
Lawanda morando em Montreal. Problemático ter essa garota
morando em Montreal.
— Claro.
— Ele matou meus pais — sussurra, deixando algumas
lágrimas escaparem dos cantos dos olhos felinos. — Tio Schavier
era minha família e tirou meus pais de mim, do meu irmão.
Cedendo à tentação, levanto a mão e levo até o rosto
delicado de Lawanda. A garota deixa escapar um pequeno gemido
ao sentir meu toque contra a pele macia e aveludada. Com o
polegar, seco uma das lágrimas, fazendo-a fixar a atenção em mim.
Ficamos assim por um minuto longo e intenso, até que ela vira o
rosto e eu recuo com a mão.
— Ele não merecia você — digo e ela volta a me olhar, mas
fica em silêncio. — Não derrame mais lágrimas pelo Schavier. —
Não tinha pretensão de soar tão autoritário, mas as palavras saem
da minha boca como se fossem uma ordem engessada.
Lawanda assente.
— Meu irmão é ruim? — quer saber.
— Por que essa pergunta?
— Aquele homem... — Ela não consegue terminar a frase.
Eleva a taça e encara o líquido vermelho por alguns instantes antes
de levar o cristal até a boca e beber um gole. — Ele disse que meu
irmão é um assassino. E eu sei que é verdade, só que não consigo
me importar com isso. Eu ainda o amo do mesmo jeito e não sei o
que esse fato diz sobre mim.
— Não diz nada sobre você — retruco.
— Tem certeza?
— Sim — afirmo e ela passa de leve a língua nos lábios.
O gesto é hipnotizante e me faz querer provar a sua boca
carnuda. Não apenas lamber e morder os lábios, quero correr com a
língua em cada centímetro de pele dela, e isso, de fato, é um grande
problema.
Desvio os olhos brevemente e respiro fundo, controlando os
meus instintos primitivos.
— Nicholas nunca será ruim pra você, e no fim, é isso que
importa — é o que eu digo.
Lawanda concorda mais uma vez e parece satisfeita com a
resposta.
— Acho que você tem razão.
— Eu sempre tenho.
Ela ri de leve ao me ouvir e gosto de como o barulho ecoa
dentro dos meus ouvidos. Minha mente depravada acaba me
levando a outro patamar e começo a imaginar como seria ouvir
Lawanda gritar enquanto me enterro com força dentro dela.
— Thomas... não vou querer saber o que vocês são, não é?
Sacudo a cabeça de forma débil de um lado para o outro,
negando.

— Não vai, passione.[11]


Bebo o resto do meu vinho e desço da banqueta, fazendo a
garota endireitar os ombros e me observar atenta.
— Já vai?
— Boa noite, Lawanda.
De lábios prensados, ela me dá um sorriso pequeno e que
mesmo assim, é muito sexy e tentador. Tenho vontade de me
inclinar sobre ela e prová-la inteira. Respiro fundo e passo por ela,
ignorando o maldito cheiro picante e adocicado que emana do seu
corpo até o meu nariz.
Lawanda é só uma menina.
É o que tento colocar na cabeça, mas meu corpo parece
pensar diferente. Meu pau, com certeza, pensa diferente.
Eu não devia desejá-la, mas cada vez que passa por mim, eu
só consigo me imaginar dentro dela.
Tenho o sono leve.
Quando você faz o que eu faço, aprende que não pode ter
um sono profundo e tranquilo. Mesmo que esteja em um lugar,
aparentemente seguro, não pode abaixar a guarda nem por um
segundo.
Por isso, ao ouvir a porta se abrindo, eu enfio a mão para
debaixo do travesseiro e tiro a minha pistola, destravando-a ao
mesmo tempo em que saio da cama com um pulo hábil.
Surpreendo-me ao ver Lawanda parada perto da cama
dossel. A única luz no quarto é a da lua entrando pela janela, no
entanto, ainda consigo enxergar os olhos claros esbugalhados
direcionados para mim.
Travo a arma e caminho até o interruptor para acender a luz.
Quando o faço, vejo que se virou para me acompanhar com o olhar.
— O que está fazendo aqui? Errou de quarto?
— E-u não c-o-onsigo dormir — gagueja e penso que é por
estar nervosa, mas ao me aproximar dela, sinto o cheiro forte de
álcool.
Lawanda está bêbada.
O arrependimento de ter a deixado sozinha na cozinha com a
garrafa de vinho me atinge como um soco forte no estômago. Devia
ter ficado com ela. Ou melhor, tê-la proibido de beber.
— Vo-c-cê dorme com uma arma? — questiona, intrigada e
com a língua meio enrolada. — P-por quê? Tem medo... que alguém
ataque?
Olho a pistola na minha mão e ando até a cama para colocá-
la debaixo do travesseiro de novo e apenas ignoro a pergunta. Dou
alguns passos na direção na Lawanda e noto que estar mordendo o
lábio inferior com força e tem as bochechas rosadas.
Ela começa rir.
— Não sinto minha boca — diz, enquanto alterna em prender
o lábio com os dentes e lamber. — O mundo também está girando...
é tão divertido.
Perco alguns instantes com a atenção fixa nos lábios
arredondados que estão bem vermelhos por causa da fricção.
Sempre gostei de me manter no controle, mas não consigo para de
me perguntar qual é o gosto da sua boca.
Quero tanto experimentá-la, que isso está me deixando
louco.
Deixo as vistas caírem um pouco mais para o decote e noto
os mamilos enrijecidos contra o tecido de seda, implorando por um
pouco de atenção. Engulo em seco e respiro fundo, me esforçando
para manter o autocontrole.
Seguro-a pelos ombros e a faço sentar na cama.
De repente, Lawanda começa a chorar.
Passo as mãos entre os meus cabelos, pensando na melhor
forma de lidar com a súbita mudança de humor da garota.
— O que foi?
— Minha vida acabou — murmura, encarando as próprias
mãos. — Eu acho que mereço todas essas tragédias.
Não lembro de ter consolado uma mulher na minha vida.
Para ser sincero, não sei como isso funciona, mas me agacho à sua
frente mesmo assim, evitando tocar nos joelhos expostos.
Evitando qualquer tipo de contato.
Caralho.
É difícil.
— Sua vida não acabou, Lawanda. Apenas vai mudar um
pouco. O que precisa fazer é se moldar a ela e seguir em frente.
— Como um camaleão? — pergunta e em modo automático,
eu franzo o cenho. Tento entender o significado e falho
miseravelmente. Então, resolvo concordar.
— Como um camaleão.
Ela abre um sorriso gentil e triste na mesma intensidade.
— Posso ficar aqui?
— Não — respondo tão rápido e grosso, que faço a garota
espremer os lábios e os olhos brilharem por conta das lágrimas
contidas. — Não pode ficar aqui, porque as pessoas terão uma ideia
errada sobre nós — digo, controlado e a voz soando tão séria, que
até parece que estou no tribunal defendendo um cliente.
— Toda vez que eu fecho os olhos... eu penso... — a frase
morre e ela olha para cima, por debaixo dos cílios volumosos e
longos e os prende aos meus. — Só não queria ficar sozinha.
— Não sou a pessoa certa pra te fazer companhia.
É, isso realmente nunca aconteceu. Além de nunca ter
consolado uma mulher, eu nunca fiquei procurando motivos para
mantê-la longe de mim. Estou meio que impressionado com a minha
capacidade de fingir certas coisas.
— Você é um assassino também? — pergunta,
esquadrinhando meu rosto. — Você parece um anjo.
Abro um sorriso cínico.
— Um anjo da morte, talvez.
Lawanda suspira e deixa os ombros caírem.
— É lindo — diz e antes que possa comentar algo, emenda:
— Sou um anjo da morte também — murmura, me fazendo
encrespar a testa.
— O quê?
— Eu matei Liam — declara com a voz tão triste, que faz meu
peito ficar incomodado.
Ela ainda não sabe sobre Liam estar vivo e até passa pela
minha cabeça contar, mas o pouco que conheço dessa garota, sei
que sairia do quarto no instante em que ouvisse a novidade para ir
tirar satisfação com Nicholas sobre o assunto.
E com certeza, a primeira coisa que ele notaria é que são
quase duas horas da manhã e sua irmãzinha bêbada estava
comigo.
Como gosto de ser sensato, não digo nada a respeito.
— Quer um conselho?
Lawanda assente em resposta, aproximando o rosto do meu.
A respiração quente com sabor de vinho contra o meu rosto, envia
sensações prazerosas para o meu pau e o faz latejar.
Porra.
— Não pense tanto nessas merdas.
— É assim que você faz pra dormir de noite?
— Exatamente — murmuro.
Fico surpreso quando ela levanta de uma vez, quase roçando
os seis empinados e pequenos no meu rosto. Caralho. Do jeito que
estou, minha atenção fica na altura da pelve da loirinha.
Fico de pé rápido, nivelando os nossos olhos e evitando
qualquer pensamento depravado em relação a ela.
— Obrigada pelo conselho.
Assinto e antes que eu a mande ir embora do quarto ou a
enxote de vez, ela cai de bunda no colchão, respirando fundo e
massageando as têmporas.
— Tá tudo girando.
Inclino-me sobre ela, passo uma das mãos por debaixo das
pernas e a outra segura a base da sua coluna. Caminho na direção
da porta e abro, enquanto a mantenho firme nos meus braços.
Lawanda agarra meu pescoço com força e enterra o rosto no meu
peito, respirando fundo.
— Você tem cheiro bom, Thomas.
Minha boca se curva.
— E não acho que seja um androide — ela murmura.
Franzo o cenho.
— O que disse? — retruco e não tenho respostas.
Mais alguns passos e estou em frente ao seu quarto. Tinha
visto Lawanda entrar nele mais cedo, então fico feliz de não ter ido
em porta e porta e ter uma surpresa desagradável ao me deparar
com o quarto do Nicholas.
Equilibrando a garota bêbada e sonolenta nos meus braços,
giro a maçaneta e abro a porta, com cuidado, me movo para dentro
do cômodo e a coloco em cima da cama grande e macia. Cubro-a
com o edredom e a ouço balbuciar algumas coisas que não
entendo.
Para o seu próprio bem, espero que não lembre de nada
amanhã.
Vai ser difícil pra caralho manter uma distância segura de
Lawanda e se ela achar que pode confiar em mim, fazê-la ficar
longe da minha cama pode se tornar algo impossível.
Alguns dias depois...
Eu tinha tomado a decisão de me manter distante da
Lawanda por motivos óbvios. Linda, dezenove anos mais nova e
proibida, essas palavras na mesma sentença é quase uma
profanação.
E não gosto de como aos meus ouvidos elas soam como
tentação.
Cada centímetro do meu corpo deseja aquela garota e ela
não tem a mínima noção disso. Nunca terá. Lawanda se tornou
quase uma obsessão e eu não posso tocá-la ou fazê-la minha, o
que me deixa estressado e meio puto também.
Tenho vontade de esmurrar alguma coisa quando penso no
assunto. Odeio desejar algo e não poder tê-lo. Para ser sincero, não
sei se já o aconteceu antes. No geral, eu tenho tudo que eu quero.
Mas não ter Lawanda é como se fosse meu inferno particular.
E isso resultou em Mia na minha cama, na mesa do meu
escritório e no meu carro. Algumas vezes. Comer o seu rabo
apertado e grande foi o que me fez não pensar tanto em Lawanda e
me deixou sob o controle das minhas emoções outra vez.
Pelo menos quando estava fodendo uma mulher gostosa,
conseguia manter a loirinha bem longe dos meus pensamentos.
Não posso ter Lawanda, não porque não quero corrompê-la
ou tocá-la com a minha escuridão, mas porque ela é apenas uma
menina e Nicholas tentaria me matar antes de me deixar foder sua
irmã.
Não tenho medo dele, muito menos de morrer, porém,
quando entrou para organização, ele se tornou um irmão e eu não
posso simplesmente esquecer que nossa relação é mais importante
do que qualquer outra coisa.
Existem coisas que sempre devem ser respeitadas dentro da
organização e manter as relações fortes e sem conflitos entre nós é
uma delas, além de ser um dos meus trabalhos. Não ousarei
arriscar a estrutura de algo tão importante por causa de uma garota.
E claro, se eu tivesse uma irmã mais nova e Nicholas
estivesse com a intenção de fodê-la, eu o castraria sem
misericórdia.
Se Nicholas soubesse o que penso de Lawanda, ele não
estaria na minha frente agora e nem teria cogitado a ideia de eu
ajudá-la. Mas, como não é sensato deixá-lo ciente sobre os meus
pensamentos depravados em relação a sua irmã mais nova, eu
aceito dar total suporte a Lawanda.
Nicholas não tem o mínimo interesse em tomar a frente da
Corporação Farley e Lawanda é só uma criança para fazer algo
mirabolante sozinha. Além do fato, de que as pessoas logo
começarão a falar sobre o CEO da Corporação ter sumido justo
agora com a mudança do escritório central. Precisamos agir rápido
e de preferência, deixar a sujeira debaixo do tapete.
— Fique de olho nela por mim — diz, a expressão impassível
estampada no rosto quadrado e com barba por fazer.
Ah, com certeza vou ficar.
— Não se preocupe, deixarei Lawanda longe de confusão.
E longe da minha cama também...
— Ótimo. Me mantenha informado, Lawanda pode esconder
as coisas de mim e eu quero estar por dentro de tudo.
Assinto.
Depois de ter conseguido o que veio buscar, Nicholas dá um
tapa no meu ombro e sai do escritório. Os funcionários fora da
minha sala, olham para ele de maneira discreta, evitando qualquer
tipo de contato duradouro.
As pessoas comentam sobre nós estarmos envolvidos no
crime organizado de Montreal, no entanto, é claro, ninguém tem
coragem de falar em voz alta ou fazer questionamentos diretos, que
é bastante inteligente e sensato.
Não matamos ou torturamos inocentes, mulheres ou
crianças, mas também, não aceitamos bem os curiosos.
— Vou deixar alguém cuidando da sua segurança — Nick
fala, atraindo meus olhos até ele, que está checando algo no celular.
É verdade que desde que meu irmão voltou para minha vida,
ela mudou de maneira drástica. Além de ter descoberto que meu tio
era um psicopata manipulador que mandou assassinar os meus
pais, também tenho que me acostumar com o fato de que o Nick faz
parte de algo que eu provavelmente não vou querer saber o que é.
Eu já tinha uma leve noção de que meu irmão não era o
mesmo homem de sete anos atrás. Basta olhar para ele para saber.
Alguma coisa quebrou dentro de Nick e tenho certeza, a vida que
leva é bem mais intensa do que eu imagino.
— Sei me cuidar sozinha — grunho, e no momento em que o
faço, os olhos cortantes e azuis se conduzem até os meus,
emanando uma tensão.
Apesar de toda a merda que aconteceu entre nós, é óbvio
que eu ainda o amo. E mesmo ciente de que Nick tem as mãos
sujas de sangue, não tenho medo dele.
— Você não sabe se cuidar sozinha — é o que diz.
Nick tem razão, já que não faz muito tempo que toda aquela
tragédia com o tio Schavier aconteceu, só que não vou concordar
com ele.
— Quero aprender a lutar — informo o meu desejo. — Não
posso continuar sendo a mesma depois de tudo que aconteceu.
Ele nega com a cabeça.
— Não se preocupe, mandarei meus homens ficarem de olho
em você e estará segura enquanto eles vigiarem a porta... os seus
passos.
A contraproposta me irrita.
— Não quero um androide de babá — retruco, cética.
— Como é que é?
— Esquece — resmungo.
O músculo da mandíbula marcada de Nick se contrai,
demonstrando a reprovação palpável. A nossa relação pode ter
sofrido um intervalo longo, mas ele me conhece o suficiente para
saber que não desisto fácil das coisas.
— Não discuta comigo, Lawa.
Inspiro fundo, fechando os olhos por uma fração de segundo.
— Não sou uma criança, Nick — falo e quando ele abre os
lábios para contra-argumentar, eu levanto a mão espalmada, o
silenciando. — Lexie está grávida e você precisa se preocupar com
ela e o bebê. Não vou cruzar os braços e esperar que alguém cuide
de mim. Posso ser mais do que uma donzela em perigo.
Pronto.
Pode demorar um pouco, no entanto, sei que vai concordar
comigo. Desde que descobriu a gravidez da sua amada e colorida
mulher, ele a trata como se fosse feita de vidro.
E posso tirar vantagem da situação.
— Conversaremos sobre isso depois — diz, rompendo a
nossa distância com passadas largas e envolvendo uma mão no
meu rosto para depositar um beijo na minha testa, como se a última
palavra fosse sua.
Penso em protestar e dizer que conversaremos sobre isso
agora, mas desisto e faço uma promessa silenciosa que de um jeito
ou de outro, aprenderei a me cuidar sozinha. Não serei o tipo de
garota que será resgatada.
Não serei uma garota frágil como uma pluma.
Eu serei aquela que sempre baterá de volta, não importa o
quanto apanhe ou esteja ferida. Não importa quem eu tenha que me
tornar para ser assim, mas não serei fraca.
Não mais.
— Não faça besteira — é o que Nick pede antes de ir
embora. Assinto, mesmo ciente de que não serei capaz de atender
o seu pedido.
Fecho a porta e grudo o ouvido no material frio de madeira,
tentando captar alguma coisa, mas meu irmão é sorrateiro e as
ordens para os homens do lado de fora soam baixas demais. Fico
na ponta dos pés e espio através do olho mágico. Vejo Nick girando
nos calcanhares para ir embora, acompanhado de um dos seus
homens, enquanto dois deles permanecem de prontidão na minha
porta.
Odeio o fato de eu não ser capaz de me defender sozinha e
por esse motivo, precisar de babás de dois metros. Mais ainda, por
saber que eles não me obedecerão nem que eu esteja com uma
metralhadora apontada para eles.
Arrasto os pés até o sofá e me jogo nele, observando a vista
através da janela.
Essa é minha nova casa, minha nova vida. E a Lawanda de
semanas atrás não combina em nada com as mudanças.

Não passa das oito e meia da manhã de uma sexta-feira


quando acordo com a campainha tocando.
Mal-humorada, levanto da cama e arrasto os pés até a porta,
me perguntando o que minhas babás estão fazendo, já que nem
puderam impedir que alguém me acordasse a essa hora em plena
sexta.
Amarro o robe de seda em volta do corpo e abro a porta sem
olhar no olho mágico. Na soleira, meus olhos se deparam com um
rosto bonito com um olhar insinuante em cima de um homem de
mais ou menos 1.90 cm de altura.
Thomas Montanari.
Eu não o vejo faz quase uma semana e meia, desde que
fiquei bêbada no meu antigo lar e fui carregada por ele, enquanto
afundava o rosto no seu peito e dizia que ele tinha cheiro bom.
É, eu lembro disso.
Usando um terno azul escuro ajustado e de caimento perfeito
ao corpo, dá para ver o quanto ele é musculoso. O primeiro botão
da camisa social branca está aberto e deixa o homem com um ar
mais despretensioso. O cabelo loiro escuro e levemente volumoso,
está penteado de um jeito despojado e sexy.
Além do fato de ser amigo de Nick, ser um advogado e ter
matado um homem para me salvar, eu não sei quase nada sobre
ele.
No entanto, preciso confessar...
Ele é bem atraente.
Sem dizer nada, dou um passo para trás e abro espaço para
que entre. Thomas desliza os olhos pelas minhas pernas por um
breve segundo. Caminho até a cozinha e faço um gesto com a mão
para que se acomode na ilha.
Olho para a cafeteira em cima do balcão do armário e fico a
encarando com afinco. Parece brincadeira, mas não sei como
funciona. Nunca precisei fazer o meu próprio café e essa máquina
com cara de robô não é lá muito didática.
— Precisa de ajuda? — Thomas pergunta.
Lanço um olhar por cima do ombro para ele e passa pela
minha cabeça negar, só que uma hora ou outra terei que aprender a
usá-la.
— Não sei como funciona — sou sincera.
Ele dá um pequeno sorriso e vem até mim. O corpo grande e
duro para bem próximo, parte do seu braço musculoso roça no meu,
e o calor que emana para mim, atinge um lugar interessante entre
as minhas pernas.
Caramba.
Acho que ele é um pedaço de mal caminho e eu não devia
me interessar por ele, no entanto, é mais forte do que eu. Thomas é
muito gostoso e tem um cheiro tão viciante, sensual...
Observo Thomas mexer na cafeteira e me ensinar o
processo. É difícil me concentrar quando é bem mais cativante
imaginar os músculos que se flexionando de leve por debaixo do
terno.
Delicioso.
— Obrigada.
Ele assente e se afasta, me fazendo sentir falta do calor do
seu corpo.
Eu sempre me identifiquei com garotos da mesma idade que
a minha por ser mais fácil e divertido. Entretanto, Thomas é um
homem instigante e me faz questionar os meus gostos.
Será que ele gosta de garotas mais novas?
Thomas ainda está de costas, então, dou uma rápida olhada
na bunda contra o tecido da calça social. Um espetáculo. Espero
que não seja comprometido ou algo parecido.
— Vou te auxiliar com as coisas em relação a Corporação —
fala ao sentar na banqueta, me fazendo assentir. Ontem, Nick tinha
comentado por alto que Thomas me ajudaria e na hora, achei bem
interessante a ideia. Hoje? Mais ainda. — Temos uma reunião com
o Vice-Presidente daqui a duas horas.
Mordo o lábio inferior e a sua atenção recai na direção da
minha boca, depois sobem até os meus olhos e ele se recompõe tão
rápido, que me deixa sem jeito. É como se usasse uma máscara
para não demonstrar as emoções.
— Certo.
Sento na banqueta ao seu lado e nossos joelhos se tocam,
enviando arrepios para minha espinha. Thomas contrai o corpo e
recua um pouco, evitando qualquer tipo de contato comigo.
Ele parece desconfortável perto de mim.
Talvez deva achar que sou um estorvo.
Respiro fundo, meio irritada.
— Quais são as chances da minha família voltar a controlar a
Corporação? — quero saber.
Trabalhei com o meu tio por meses, mas nunca fiquei por
dentro do que estava acontecendo de verdade. Então, foi um
choque descobrir que além de nunca ter gostado de mim, meu tio
fazia parte de uma organização criminosa em Toronto e que por
causa da sua ambição e ódio a nossa família, agora, um russo tem
mais poder sobre a Corporação do que Nick e eu juntos.
Embora Nick não tenha me falado muito, eu sei que ele não é
um homem qualquer ou que eu deva desafiar. Mas, também, não
ficarei de braços cruzados, esperando as coisas acontecerem.
— Vamos com calma, o importante é a sua segurança — é o
que Thomas diz, me fazendo revirar os olhos.
Odeio a forma que me tratam, como se eu não tivesse força o
suficiente para enfrentar os problemas de frente.
Talvez demore um pouco, mas vou mostrar que estão todos
enganados ao meu respeito.
Lawanda é uma péssima combinação de fogo e gasolina.
Antes de entrar na sala de reunião, aconselhei-a manter a
calma e ter paciência. Sei que é complicado saber que o tio era um
cretino e que não se importava com ela, depois que existe outra
pessoa que é tão dona dos negócios quanto ela e o irmão.
No entanto, eu não sabia que a garota podia soltar faíscas.
Sim, isso mesmo.
Assim que Arthur, o Vice-Presidente, e em breve, novo CEO
da Corporação Farley, entrou na sala, a loirinha rangeu os dentes e
contraiu todo o corpo. Os olhos felinos encararam o homem e no
momento em que ele abriu um sorriso, ela o chamou de cretino
patético.
Não posso discordar dela, mas Arthur é só um pau mandado
do Alexander Tikhonov, o líder russo da organização que controla a
cidade de Toronto. A atitude de Lawanda me leva a concluir, que ela
não será paciente e nem cautelosa.
Espero que Alexander e ela nunca se vejam pessoalmente,
pois será um caos total.
— Então... — volto a falar, porque pela quinta vez, Lawanda
me interrompeu para dizer que Arthur é um cretino e que vai acabar
com a raça dele. — Precisamos de uma história que todos
acreditem, certo? Estamos concordando que Schavier Farley tirou
um ano sabático?
Lawanda vira o rosto para mim, uma linha fina entre as
sobrancelhas surge e os lábios arredondados se franzem, o que me
faz ter a certeza de que ela não prestou atenção em nenhuma
palavra do que eu disse antes.
— Ano sabático? — questiona, intrigada. — Ele morreu.
Arthur começa a rir, me deixando enraivecido. Odeio o som
que sai da sua boca enrugada, é seco e tem cheiro de cigarro.
— Você é burra mesmo — fala para Lawanda, que para
minha surpresa, curva os lábios em um sorriso cínico.
Sem falar nada de imediato, ela retira de um dos pés
pequenos o sapato de salto alto fino e nivela com o rosto de Arthur,
que não parece entender nada. Nem eu, para falar a verdade.
— Está vendo isso? É tão fino. Cuidado com as palavras, eu
posso furar o seu olho.
Arthur ri de novo.
— Eu te daria uma surra antes de você conseguir fazer algo
parecido.
Minha vez de rir.
Os dois me olham, atentos. Lawanda ainda tem o salto na
mão, e o velho do Arthur, uma testa cheia de vincos junto à uma
expressão de desgosto.
— Você estaria morto antes de encostar em um fio de cabelo
dela — falo, a voz soando firme e controlada.
— Pensei que você fosse quem mantém a paz e evita
guerras — retruca, debochado.
— Sim, eu sou. Mas não confunda as coisas. Eu te mataria
de qualquer forma e não seria problema nenhum. Eu evito guerras,
só que existem momentos na vida, que é melhor enfrentá-las.
Ele engole em seco, amargurado. Lawanda não entende
nada e também, não faz perguntas sobre o diálogo que acabou de
acontecer entre nós dois. Algo no seu rosto me diz que será ousada
o suficiente para questionar mais tarde.
Carrancuda, enfia o sapato no pé de novo.
— As pessoas precisam de uma desculpa convincente —
volto a falar sobre o real motivo de estarmos reunidos. — Um ano
sabático para Schavier. Nosso hacker deixará um rastro digital,
alguns vídeos deepfakes[12] e as redes sociais dele continuarão
ativas... para não restar dúvidas que Schavier está em um ano muito
animado em Dubai.
— Ótimo — Arthur diz.
Olho para Lawanda que dá de ombros.
— Será uma trégua e a empresa continuará existindo como
se nada tivesse acontecido — informo e lanço um olhar intenso para
a loirinha. — Manteremos as aparências, ok?
— Certo — Lawanda concorda. Nem tenho tempo de ficar
feliz com isso, pois ela volta a falar: — Contanto, que eu conheça o
seu chefe. — Inclina o corpo para frente e ergue uma sobrancelha
para Arthur.
— Isso está fora de cogitação, Lawanda — sou eu quem fala,
fazendo-a prensar os lábios e contrair o maxilar.
— Ele não perderá tempo com uma pessoa insignificante
como você de qualquer forma — Arthur comenta com desdém.
Lawanda levanta da cadeira de maneira brusca e sem
controlar o temperamento, a mão espalmada vai de encontro com o
rosto de Arthur. O barulho é alto e ecoa pela sala. O homem fica
ofendido e tenta dar o troco ao ficar de pé também.
Ele nem tem tempo de fazer qualquer coisa, seguro seu
braço com firmeza antes que possa erguê-lo para fazer algo contra
a garota. Arthur me encara com as narinas infladas e soltando
fumaça pelos ouvidos.
— Não ouse encostar um dedo nela — aviso, apertando o
pulso com mais força que o necessário. — Não direi essas palavras
outra vez.
Desvencilha-se de mim e contrai o músculo da mandíbula.
— Mantenha essa garota em rédea curta, Thomas. Não vou
tolerar esse tipo de comportamento outra vez.
— Então... teremos um problema, Arthur — é o que Lawanda
fala, sorrindo e eu preciso de esforço para não dar um sermão nela
por estar dificultando as coisas. — Não será fácil conviver comigo...
todos os dias.
Arthur franze a testa para ela, depois direciona os olhos para
mim.
— Eu serei sua assistente pessoal.
O homem bufa e sacode a cabeça ao negar.
— Impossível, já tenho uma.
— Não tem como se livrar de mim, então, é melhor aceitar —
é o que Lawanda diz, pegando a bolsa em cima da mesa. — Além
de ser uma das donas da Corporação Farley, posso transformar sua
vida num verdadeiro inferno — acrescenta, abrindo outro sorriso.
No caminho para cá, ela tinha deixado claro que continuaria
trabalhando como assistente pessoal para o CEO e me deu motivos
mirabolantes para justificar. Lawanda estava tão empenhada em me
fazer entendê-la, que não me deixou falar meia dúzia de palavras.
— Ceda, Arthur — é o que falo.
Ele enruga o rosto em desgosto e sai da sala de reuniões
sem dizer nenhuma palavra. Por outro lado, Lawanda parece
satisfeita com o rumo que os últimos minutos da nossa reunião
tomaram.
— Não seja tão impulsiva — alerto.
Ignora-me e caminha até a janela de vidro, que vai do chão
ao teto e tem vista para o centro de Montreal. A garota cruza os
braços em volta do corpo e respira fundo. A visão de trás é tão linda
como a da frente.
Lawanda tem um rabo delicioso e de dar água na boca. É o
paraíso em terra, e como sou um cretino, aprecio bem a minha
visão.
— Gostei da vista, aqui é bem localizado — ela diz.
Aproximo-me e toco o seu cotovelo, chamando a atenção
dela para mim. Os olhos azuis e felinos se prendem aos meus de
modo profundo. Sem conseguir resistir, deixo a atenção cair até os
lábios convidativos e mais um pouco até o decote em V.
É tentador.
— Não se meta em confusão, Lawanda. Você pode começar
uma guerra — murmuro e ela esquadrinha meu rosto.
— O que ele quis dizer sobre você evitar guerras? —
questiona, virando todo o corpo para mim e o cheiro picante invade
o meu nariz. Droga. O seu perfume está se transformando no meu
novo vício. — O que você é, Thomas?
— Alguém que você não vai querer conhecer.
Meio irritada, ela se afasta do meu toque.
— Certo, entendi.
— Arthur é um homem perigoso, então, não faça besteiras —
digo com o tom áspero, para que entenda que ser imprudente é uma
merda e pode acabar com a vida de alguém.
Lawanda solta uma risada curta e sarcástica.
— Você não me conhece, Thomas. Eu posso ser mais
perigosa do que você pensa — diz, passando por mim e
caminhando na direção da porta.
Fecho os olhos por uma fração de segundo.
Ter aceitado dar suporte a Lawanda foi um erro. Ela,
definitivamente, será uma dor de cabeça.

Assim que atravessamos as portas automáticas do prédio,


Lawanda ainda está emburrada e os lábios formam um bico sexy
pra caralho.
Adoro mulheres de lábios carnudos.
Pouso a mão na base da sua coluna, fazendo-a me olhar por
cima dos ombros. Não devia tocá-la, porém, às vezes, é melhor
ceder aos desejos em vez de resistir. E ela está tão gostosa no
vestido justo de cor azul escuro. O tecido marca bem a bunda
redonda e empinada, o que me faz perguntar se ela tem alguma
experiência de verdade na cama.
No vídeo que vazou, deu para perceber que ela sabe chupar
bem um pau, só que não sei se já teve um homem experiente na
cama, que a fez gritar e gozar de maneira intensa até as pernas
tremerem.
Lawanda merece isso.
Meus pensamentos sórdidos são interrompidos por uma
garota que aborda Lawanda antes de chegarmos ao meu carro. Ela
segura o braço da loira com força e olha para mim por um milésimo
de segundo.
— Madelyn... o que está fazendo aqui? — Lawanda pergunta,
tentando esconder a surpresa. — Como me encontrou?
— Precisamos conversar — é o que a morena em roupas
elegantes responde e como no automático, Lawanda olha para mim,
quase como se pedisse permissão. — Sozinhas –— emenda, me
fazendo encará-la com afinco.
Não gosto da ideia de deixar Lawanda sozinha com ela, mas
assinto e tiro a mão da coluna da loirinha. As duas se afastam, não
muito, param em uma distância significativa e em que consigo
manter a atenção fixa nelas.
Por algum motivo, Madelyn começa a chorar, deixando
Lawanda aflita ao mesmo tempo em que tenta explicar algo, que
não é aceito pela garota à sua frente. Elas parecem ter uma leve
discussão e por fim, se abraçam por um longo minuto antes de
Madelyn ir embora.
Lawanda volta para perto de mim, parando bem próximo, o
seu cheiro delicioso invadindo o meu nariz.
— O que aconteceu? — quero saber.
Ela prensa os lábios.
— Madelyn e o meu tio tinham um caso e ela está
desesperada porque não consegue falar com ele — explica,
suspirando e eu fico surpreso por Schavier ter conseguido comer
uma mulher como Madelyn. — Temos um problema, porque meu tio
paga... pagava a faculdade dela, o aluguel do apartamento, tudo de
Madelyn. Ela não vai cair na história do ano sabático. O que vamos
fazer?
Nossos olhos se prendem e a conexão é tão intensa, que faz
meu pau pulsar por um segundo. Essa garota está me deixando
louco.
Completamente.
— Não será um problema, farei com que Schavier mande
mensagens pra ela por alguns meses e continue pagando tudo da
garota até ela se formar. Depois, seu tio inventará uma desculpa e
deixará Madelyn seguir com a vida dela.
Lawanda cruza os braços em volta do corpo, evidenciando o
decote. A loira percebe para onde estou olhando e vejo as íris azuis
brilharem com uma excitação, que não entendo.
Ela está gostando de me ver secando o seu decote?
Não faça isso, Lawanda...
— Não gosto de enganá-la, Madelyn não é uma pessoa ruim.
Assinto.
— Ninguém pode saber que o seu tio morreu, Lawanda —
falo baixo e com um tom firme.
Ela engole em seco e minha atenção fixa na sua garganta.
Minha mente insana me faz ter vontade de agarrá-la pelo pescoço,
para sentir a maciez da pele e os batimentos cardíacos.
— Eu sei — concorda, por fim.
Dando o assunto por encerrado, abro a porta do carona e ela
desliza de maneira majestosa até o banco. Assim que senta no
assento, a respiração funda faz os seios subirem e descerem.
Fecho os olhos com força e contraio a mandíbula.
Autocontrole, Thomas, você precisa manter as mãos bem
longe dessa garota...
Eu encontrei uma forma de driblar Nick.
Se ele não vai me ensinar a lutar, pagarei alguém para fazer
isso. Marco uma aula experimental em uma escola de artes
marciais, que fica próximo daqui. Aviso as minhas babás que
sairemos em breve e passo o endereço antes de ir me trocar.
Coloco roupas confortáveis de academia, amarro o cabelo
em um rabo de cavalo alto e enfio tudo que acho essencial dentro
da mochila.
No momento em que saio do quarto e alcanço a sala, escuto
vozes atrás da porta e em questão de segundos, Nick entra, me
encarando daquele jeito marrento e mandão. Faço um ótimo
trabalho em ignorá-lo e caminho até a cozinha, coloco a mochila na
ilha e vou nos armários para pegar uma garrafinha térmica.
Ele não demorou quinze minutos para aparecer no
apartamento. Deve estar muito empenhado em não me deixar fazer
certas coisas.
— O que você tem na cabeça?
— Muitas coisas — respondo, sem olhá-lo e abro uma das
portas dos armários. Nada vai me fazer mudar de ideia. Vou
aprender a me defender sozinha, Nick gostando ou não.
— Você pode se machucar, Lawa.
Engulo o caroço salgado na garganta e devagar, giro nos
calcanhares para fitar meu irmão.
— Me machucar? — retruco, erguendo uma sobrancelha
para ele. — Isso já aconteceu, Nick. Não acho que tenha como eu
me machucar mais do que já estou.
Ele respira fundo, sem mudar a carranca mal-humorada no
seu rosto.
— Por que é tão teimosa?
— Porque temos o mesmo DNA — retruco, fazendo-o bufar e
afrouxar o nó da gravata. Meu irmão tem o dobro do meu tamanho e
peso, espero de verdade que não me impeça de sair pela porta. —
Entendo que não queira me ver sofrer ou machucada — digo, a fim
de amenizar o clima.
— Entende? — rebate, sarcástico.
Ignoro o seu tom e continuo:
— Preciso fazer isso, Nick.
— Não precisa — retruca.
— Se não quer me ensinar, não tem problema, mas não me
impeça de fazer o que eu quero. Sou grandinha o suficiente para
tomar minhas próprias decisões, independente se são certas ou
erradas.
Meu irmão respira fundo.
— O que eu faço com você?
— Me apoie — murmuro, focalizando os seus olhos claros. —
Por favor — insisto.
Nick respira fundo e arranca a gravata do pescoço, em
seguida, retira o terno e joga no sofá. Enrugo o cenho, sem
entender. Ainda sem dizer nada, abre dois botões da blusa social e
arregaça as mangas de maneira paciente.
— Venha — é o que diz.
— O quê?
— Venha e tente me acertar. Quero ver como você se
movimenta num combate corpo a corpo.
Rio, confusa.
— O quê? O que deu em você?
Nick continua com a expressão impassível.
— Se conseguir me acertar, eu mesmo ensinarei você a se
defender.
Cruzo os braços na altura dos seios e reviro os olhos, irritada.
Não acho que seja fácil bater no meu irmão e ele sabe disso,
por isso esse desafio idiota. Nick sabe que estou fadada a perder e
se eu aceitar o que está sugerindo, vai argumentar depois que não
consigo nem bater nele, quem dirá me defender sozinha.
— Não quero.
— Venha, Lawanda — ordena.
— É impossível bater em você — resmungo. — Olha o seu
tamanho e esse tanto de músculo. Até parece que não acabaria
comigo em segundos.
Ele abre meio sorriso debochado, que consegue me tirar do
sério.
— Prometo não pegar pesado com você — fala, de maneira
provocativa. — Tente me bater ou não sairá desse apartamento hoje
— emenda, me deixando enfurecida e com o sangue fervendo.

Sem dificuldade, Nick arrasta o sofá para dar mais espaço


para nós na sala. Não quero ceder, mas sei que ele não está
brincando. Também não gosto de como ele não acredita que eu
possa acertá-lo. Talvez eu esteja destinada a perder, só que tentarei
até o último segundo.
Avanço na direção de Nick e com um único movimento leve,
ele se esquiva de mim. Fico furiosa, é claro. Tento de novo e quase
caio de cara no chão. Resmungo e mordo o lábio inferior com força.
— Tente, Lawanda — fala com a voz grossa e autoritária.
— Eu estou tentando! — grito.
— Tente de novo — é o que diz.
Beleza.
De maneira sorrateira, me aproximo de Nick outra vez,
fixando os meus olhos nos seus. Ele não parece nenhum pouco
preocupado ou atento de verdade comigo, então, ergo o joelho e
tento dar um chute no seu saco.
Ele impede o meu movimento ao segurar meu joelho com
força e me empurrar para trás.
— Hã... boa tentativa.
É quase um elogio o que atravessa os lábios de Nick, só que
não consigo ficar feliz quando as palavras passam pelos meus
ouvidos.
Ridículo.
É a definição perfeita para descrever o momento entre nós.
Toda vez que tento atacar Nick, ele me impede sem
dificuldades, o que me deixa bem irritada. Os minutos se rastejam e
eu não sei mais o que posso fazer para dar um chute na bunda do
meu irmão.
Faço mais uma tentativa espalhafatosa de acertar um
pontapé em Nick e falho. Sem me dar por convencida, avanço de
novo e insisto outra vez, levantando as mãos em punho para
desferir socos contra o seu peito.
Nick me agarra pelos pulsos e enfurecida, desvencilho-me do
seu toque.
— O que você quer provar, Nick? — resmungo e odeio por
não conseguir conter a raiva. Isso me faz parecer uma criança
birrenta. — Você sabia que eu não conseguiria te acertar.
Nick respira fundo, ainda sério.
— Só quero que você entenda. Isso não é pra você — é o
que diz. — Não pode voltar a viver a vida como antes? Quando vai
voltar pra faculdade? Já mandei cuidar da sua transferência e pelo
que sei, está perdendo aulas. Volte a ser uma garota normal, Lawa.
Sinto os olhos arderem por causa da irritação e frustração.
— Impossível.
— Aprender a lutar não vai mudar nada...
— Vai sim. Pelo menos, vou conseguir me defender sozinha
— interrompo-o ao me aproximar, Nick mantém os olhos presos aos
meus. — Será que é tão difícil você entender que não sou mais
criança?
— Pra mim sempre será.
Dominada pelo desespero e vontade de vencer, elevo a mão
espalmada e acerto o rosto de Nick em cheio. O barulho de tapa
ecoa pela sala. Ele cerra a mandíbula ao mesmo tempo em que infla
as narinas, meio irado.
— O que foi isso? — quer saber.
— Você disse pra eu tentar te acertar, não ditou as regras —
justifico-me. — Então, eu ganhei. Certo? É isso! Eu ganhei!
Apesar de me sentir vitoriosa com a minha trapaça, não ouso
sorrir ou comemorar. Nick não parece muito feliz por eu ter acertado
uma bofetada na sua cara amarrada. Eu, por outro lado, achei
incrível.
Ainda não sou forte fisicamente para conseguir derrubar um
homem como o meu irmão, mas sou esperta. Ainda posso ir longe
desse jeito.
— Lawanda! — a voz vem com um tom de repreensão.
Ergo o queixo em atrevimento para o Nick.
— Cumpra com a sua palavra. Ou me ensina alguma coisa
ou me deixa tentar sozinha.
Ele desvia os olhos de mim por uma fração de segundo e
quando volta a me encarar, tem uma expressão de desgosto
desenhando todo o rosto bonito.
— Tenho uma condição.
Assinto, rápido.
— Compareça as aulas da faculdade a partir de amanhã —
ordena.
Respiro fundo e anuo outra vez.
— Fechado — devolvo e Nick não está nada feliz com o rumo
que as coisas tomaram.
— Você conseguiu, Lawa — retruca, irritado.
Abro um sorriso amplo e jogo os braços em volta do corpo do
meu irmão, apertando-o com força.
— Obrigada.
Acho que nunca fiquei tão feliz por estar prestes a ganhar
alguns hematomas.
Não é fácil recusar um pedido da mãe do Don. Ela é muito
persuasiva e consegue fazer com que todos mudem de ideia ou a
sigam sem grandes dificuldades.
Carlota decidiu fazer um grande jantar. Já faz algumas
semanas que Lawanda está morando em Montreal e ela ainda não
teve a oportunidade de colocar os olhos em cima da jovem
bilionária.
Claro que Nicholas não foi totalmente a favor do encontro,
mas quando se trata de um desejo da mãe do chefe, não podemos
negar. Além do fato de que Carlota é uma mulher incrível. Nenhum
homem quer decepcioná-la.
Eva, uma das empregadas mais antigas da família, me
recebe com um sorriso gentil e pega meu casaco para guardar.
Depois de trocarmos algumas palavras, caminho até a sala de jantar
e ao ver Liam sentado no sofá, enquanto conversa com Romie, sei
que a noite não será fácil.
Não acho que alguém tenha preparado Lawanda para esse
encontro.
— A mamma o convidou de última hora — Julian fala ao
parar do meu lado, observando a irmã mais nova com Liam.
— Será uma noite interessante — é o que falo.
— Caótica — Julian rebate.
Aproximo-me de Liam para cumprimentá-lo. Romie me dá
uma espécie de meio abraço com um beijo rápido na bochecha
antes de se afastar de nós. O garoto parece bem e saudável, o que
é bom. A família Carbone teria sentido a sua perda como se fosse
um membro oficial da nossa organização.
O Don surge na sala de estar, desacompanhado e com uma
expressão mal-humorada no rosto. Sem falar com ninguém, vai no
rumo do carrinho de bar com rodízios feitos de madeira e coloca
uma boa dose de whisky em um copo de cristal.
Bebe tudo de uma vez e repete o processo.
Ao me ver aproximando, serve uma dose para mim.
— Problemas conjugais? — arrisco.
Além de ser o Don, Noah é o meu melhor amigo. Nós fomos
criados juntos e apesar de sempre saber que ele se tornaria o chefe
um dia, sou mais atrevido do que um consigliere[13] comum.
— Nenhuma palavra — ordena ao me oferecer o copo de
cristal com whisky. E eu assinto ao pegá-lo.
Fazemos um brinde silencioso e eu tomo um pequeno gole. A
campainha toca, me fazendo endireitar a postura de imediato.
Disfarço a decepção ao ver Lina[14], a noiva de Julian surgindo na
sala acompanhada de Eva, com outro gole da bebida.
Lawanda prejudica o funcionamento do meu cérebro. Ela
fode a porra toda. Odeio perder o controle e parece que estou
sempre a um passo de fazê-lo quando o assunto é a loirinha.
Noah serve mais whisky e eu não recuso.
A mamma e a matriarca da família surgem na sala, vestidas
de forma elegante e sorrisos cordiais estampados no rosto. Depois
de cumprimentar Liam e Lina, a senhora Carbone vem até mim,
envolvendo as duas mãos no meu rosto e depositando um beijo em
cada bochecha.
A campainha toca novamente, deixando a mãe do Don muito
animada. Ela adora essas reuniões constrangedoras, que nós quase
nunca conseguimos escapar.
Nicholas, Lexie e Lawanda surgem na sala acompanhados
de Eva, e a matriarca da família Carbone é a primeira a ir
cumprimentá-los. De um jeito entusiasmado, ela envolve os braços
em volta de Lawanda, sem dar chances de a menina recusar o
contato.
Carlota a observa em silêncio.
No momento em que a matriarca volta a se afastar, eu não
tenho olhos para mais nada, além da loira proibida.
Lawanda usa um vestido rosa bem claro, tem mangas curtas
e um decote em V, ele cai até a altura das canelas e possui uma
fenda esquisita, mas sexy no meio, que deixa a minha imaginação
depravada agitada.
Tão concentrado na beleza de Lawanda, que não percebi o
momento exato que seus olhos azuis captaram Liam na sala. Ele
fica sem jeito, tentando explicar, no entanto, falha.
Ela vira o rosto tomado de tristeza e decepção para o irmão.
— Por que não me contou que Liam estava vivo? —
questiona, a voz tremendo. — Eu me senti culpada todo esse tempo
e nem por um momento passou pela sua cabeça me contar a
verdade?
Nicholas tenta pegar o braço de Lawanda e ela recua com
um passo. Todos na sala ficam em silêncio, apenas assistindo a
cena.
— Não vamos ter essa conversa aqui — é o que ele fala,
controlado.
A loira nega com a cabeça e Lexie segura a mão de Nicholas,
como se quisesse dar algum tipo de força ou conforto.
— Você não me conta nada, Nick. Me esconde as coisas
como se eu não fosse aguentar a verdade. Não sou tão fraca como
você pensa. Eu não sou uma criança.
Nicholas fecha os olhos com força por uma fração de
segundo e cerra a mandíbula.
— Não é isso.
— Então, é o que? — rebate, quase gritando. — Às vezes,
parece que você faz muito esforço pra me afastar da sua vida, Nick.
— Lawa — ele sussurra, o tom de repreensão bem explícito.
Ela tenta girar o corpo para ir embora, só que Nicholas é mais
rápido e agarra seu pulso. De maneira habilidosa e surpreendente, a
garota desvia dele.
— Aproveite essa merda de jantar — Lawanda diz alto,
deixando um clima tenso na sala.
Ela vai embora e Nicholas faz menção de que vai atrás da
irmã, só que Lexie não deixa e diz que ela precisa ficar sozinha
agora. A contragosto, ele concorda, enquanto Liam, atravessa a
sala em passos largos e vai atrás da loira enraivecida.
— Eu acho que depois dessa acalorada conversa, preciso de
uma taça de vinho — a matriarca fala, sorrindo de um jeito amigável,
aliviando um pouco o clima pesado que ficou entre nós.
— Jantares nas famílias italianas... — Noah começa a falar
ao colocar o copo de cristal vazio em cima do carrinho de bar. —
Tudo é um grande drama e nunca sabemos quando é só uma
conversa ou uma briga de verdade — acrescenta com o canto
esquerdo da boca curvado.

Antes de me juntar a todos na sala de jantar, digo a matriarca


da família Carbone que preciso usar o banheiro. Ela ergue uma
sobrancelha grisalha para mim, como se soubesse que estou
prestes a fazer outra coisa.
Trocamos um sorriso e ela faz um gesto com a cabeça para
que eu vá.
Atravesso o hall de entrada e saio da mansão. Sei que
Lawanda não foi embora, porque está com Liam, então procuro
pelos dois e os encontro na área da piscina. Ela está sentada em
uma espreguiçadeira e tem a cabeça no peito de Liam, que passa
de leve as mãos nas suas costas, consolando-a.
Sei que não tenho nenhum direito sobre ela, mas sou um filho
da puta, porque sinto o ciúme saindo como fumaça pelos meus
ouvidos e a minha única vontade é de arrancar Lawanda dos braços
de Liam e ordenar que ele nunca mais toque na garota.
Pigarreio, chamando a atenção deles para mim.
Liam é o primeiro a olhar para trás e ao me ver, se afasta de
Lawanda, que limpa os olhos com as costas das mãos pequenas.
— Precisa voltar, Liam. Noah está chamando — não me
orgulho de mentir, só que não o quero por perto.
Ele assente e está prestes a se afastar de nós, quando
Lawanda segura seu pulso e fica de pé. Sem dizer nada, a loira
envolve as mãos no pescoço de Liam e o prende em um abraço
apertado, que me deixa com um gosto de fel na boca e mal-
humorado.
Nunca toquei Lawanda dessa forma e estou com inveja de
um garoto por tê-lo feito. Na verdade, estou puto e querendo
arremessar Liam para o mais longe possível dela.
Por que Lawanda me faz querer perder o controle desse
jeito?
Enfio as mãos no bolso e o espero nos deixar a sós.
Lawanda vira o corpo inteiro para mim e cruza os braços na altura
dos seios, deixando em evidência o decote convidativo.
Lawanda percebe para onde estou olhando e não desmonta
a pose. Em vez disso, eleva o queixo, cheio de insolência e focaliza
os meus olhos. Os seus brilham por conta das lágrimas que
derramou, ainda assim, são lindos e destemidos.
— O que você quer? Meu irmão mandou você? — retruca,
áspera.
Minha boca se repuxa em um sorriso cínico.
— Com o tempo, você aprenderá que o seu irmão não manda
em mim, passione — é o que falo e ela engole em seco, mordendo
o lábio inferior e desviando o rosto. — Você está bem?
— Estou com raiva, porque Nick escondeu isso de mim. Você
também não me contou a verdade. — Ela fixa os olhos felinos nos
meus. — Só que também estou feliz por Liam estar vivo, é claro.
— As coisas são mais complicadas do que parecem,
Lawanda. Liam é alguém importante pra nós, não poderíamos
arriscar que algo acontecesse com ele de novo.
Ela espreme os lábios carnudos e avança até mim,
determinada. O queixo erguido e o olhar afiado preso ao meu. As
narinas pequenas inflam e as bochechas estão com uma rosácea
sexy.
— Está dizendo que eu arriscaria a vida dele?
Os nossos corpos ficam tão próximos, que sinto o calor do
seu hálito morno no meu queixo. O cheiro picante e adocicado me
atinge com uma onda elétrica e envia vibrações direto para o meu
pau.
Seguro Lawanda pelos braços, a fim de afastá-la.
Infelizmente, no momento em que minhas mãos entram em contato
com a pele macia, ela entreabre a boca e solta um gemido sensual,
que não me faz soltá-la.
Ela encara minha boca por um segundo longo e em seguida,
retorna com a atenção para os meus olhos. Porra. Se eu quisesse
esmagar os lábios convidativos de Lawanda com um beijo, eu
poderia fazer agora.
Tentador.
Surpreendo-me ao sentir as mãos pequenas encostarem a
lateral do meu tronco, como se me autorizasse a fazer o que eu
quero. O toque é tão singelo, porém, o meu corpo reage como a
droga de uma avalanche.
Deixo a atenção cair um pouco e observo o pescoço de
Lawanda. A clavícula exposta, me faz querer lambê-la. De forma
rápida, o peito dela sobe e desce por conta da respiração acelerada.
— Você é só uma criança — murmuro mais para mim do que
para ela. A garota franze o cenho e torce a boca em desgosto, se
afastando de mim com certa brutalidade. — Melhor voltar para o
jantar. Não é bom decepcionar uma mulher como a senhora
Carbone.
Ela ri seca.
— Por que não? Por que ela é a mãe de um mafioso? —
devolve áspera, me fazendo contrair o maxilar e respirar fundo. —
Talvez eu pareça burra, mas não sou, Thomas. Não me subestime
— acrescenta, passando por mim e esbarrando com força e de
propósito contra o meu peito.
Só precisei de alguns minutos com Liam para entender o que
aconteceu. Claro que não me disse de forma explícita, mas não foi
difícil juntar as peças desse quebra-cabeça. Para ser sincera, agora
é mais fácil de compreender certas coisas.
Meu irmão.
Thomas.
Os homens que vivem na minha porta como soldadinhos.
Um bando de criminosos.
Eu sabia que a vida do Nick tinha mudado e às vezes, ficava
me perguntando o que aconteceu com ele durante os anos que ficou
longe, mas confesso que não tinha passado pela minha cabeça que
ele era um mafioso.
Mafioso.
Isso soa tão estranho na minha cabeça.
Não planejo dizer as palavras. Elas apenas saem, como se
minha boca e cérebro trabalhassem em turnos separados. Depois
de jogar a bomba sobre saber da família mafiosa, choco o meu
corpo contra o de Thomas de propósito e pisando duro, faço o
caminho de volta para a mansão.
Não sei bem o motivo, mas por alguma razão, quando
Thomas me tocou, senti cada terminação nervosa do meu corpo
reagindo como se ele fosse combustível para o meu fogo. Merda.
Eu teria o beijado sem problema nenhum.
Só que o babaca teve que estragar o momento e me chamar
de criança.
Tudo bem, a nossa diferença de idade não é pequena e eu
nem gosto dele para estar tão chateada por absolutamente NADA
ter acontecido entre nós. No entanto, não gostei de como a frase
soou dos seus lábios arrogantes. Foi quase como se me beijar fosse
ofensivo e repugnante.
Thomas me alcança no hall de entrada e me impede de ir
para sala de jantar ao me segurar pelo cotovelo. Livro-me das suas
mãos grandes e coloco uma expressão desdenhosa no rosto antes
de encará-lo.
— O que foi agora?
— Fique calma, está soltando fumaça pelo nariz — ele diz,
me deixando muito irritada.
A vontade que tenho é de levantar a mão e acertar o seu
rosto bonito, talvez um chute no saco também. Eu conseguiria fazê-
lo, sem problemas. Nick já me ensinou a esquivar de alguns golpes
e usar meu corpo pequeno a meu favor.
Forço o controle a permanecer no meu ser.
— Não enche o meu saco — resmungo.
Thomas respira fundo.
— Não faça escândalo — avisa, me olhando com uma
intensidade absurda e me dá a sensação que pode ler os meus
pensamentos.
— Está falando isso só para me irritar?
Vincos se desenham na sua testa.
— O quê?
— O que você acha que eu sou? Uma patricinha mimada e
mal-educada? — retruco, trincando os dentes. Ele volta a me tocar e
dessa vez, não me afasto. O toque é firme e emana um calor
gostoso contra a minha pele. — Me solte — ordeno e Thomas não o
faz.
— Patricinha mimada? Sim, com certeza — responde e não
gosto do tom cínico que noto na voz grossa e profunda. Ridículo.
Rio com sarcasmo.
— Vai se foder — rosno.
Os lábios do cretino se esticam devagar em um pequeno
sorriso debochado, o que me deixa muito furiosa. Passa pela minha
cabeça de novo, a vontade de levantar a mão e acertar uma
bofetada em cheio no seu rosto atraente.
— Me solta — digo, contraindo a minha mandíbula até
começar a doer.
— Respire fundo e mantenha a calma — é o que fala. Mordo
o lábio inferior com tanta força que começo a sentir gosto de ferro.
— Se chegar lá exigindo explicações do seu irmão, nunca ninguém
a levará a sério. É isso que você quer?
Odeio como ele tem razão.
Paro de morder o lábio e tomo um leve sobressalto ao sentir
Thomas erguer a mão livre até o meu rosto e passar o polegar na
minha boca. É tão inebriante, que nem consigo desviar os olhos
dele.
Thomas recua com a mão e vejo uma mancha vermelha de
sangue no seu dedo. Como em modo automático, lambo os lábios e
ele observa meu gesto com atenção.
— Obrigada — murmuro e as minhas palavras parecem tê-lo
feito cair na real, pois me solta e dá um passo para trás. Sem
esperar por mim, gira nos próprios calcanhares e atravessa o hall de
entrada.
Inspiro fundo e reviro os olhos.
Vou precisar de um dicionário para entender Thomas
Montanari.
Tento me comportar no jantar.
Na verdade, eu fiz voto de silêncio. Parece que Nick também.
Nós dois não falamos quase nada a noite inteira e na hora de ir
embora, eu estava aliviada. A senhora Carbone mãe e a senhora
Carbone avó foram bem gentis comigo e me abraçaram antes de
me deixar entrar no carro.
Apesar de termos trocado poucas palavras, Romie é uma
garota legal e eu gostei dela.
Deslizo para o banco traseiro, enquanto Lexie se acomoda no
carona e o Nick no lugar do motorista. Confesso que meus olhos
procuram por Thomas e no momento em que o vejo saindo da
mansão, desvio o olhar e fico feliz por Nick ter pisado no acelerador.
O caminho até o meu apartamento só não é um completo
silêncio, porque Lexie tenta aliviar o clima, falando sobre a gravidez.
Disfarçadamente, olho para ela, me perguntando há quanto tempo
sabe sobre o meu irmão.
Ela não parece incomodada com isso. Sendo sincera, nem eu
estou. Sinto mais raiva por ele ter escondido a verdade de mim, do
que por ele fazer parte de uma organização criminosa.
Deve ter algo errado comigo.
Já dentro do elevador, mais um pouco de silêncio
constrangedor e finalmente as portas de metal se abrem no meu
andar. Os homens na porta endireitam a postura quando nos veem
no corredor e eu noto que Théo foi substituído.
— Onde está o Théo? — pergunto a Nick.
— Precisou fazer outro trabalho — é a resposta que recebo e
não me convence em nada.
Será que ele morreu?
Nos filmes que eu vi, o mundo da máfia sempre foi muito
perigoso e tinha mais mortes do que vitórias. Meu Deus! Será que
Nick corre algum perigo? Eu não quero nem imaginar algo tão cruel
como perdê-lo de vez.
Ele é meu irmão.
Minha família.
— Ele está bem, fique tranquila — Nick diz, como se
soubesse o que passa pela minha cabeça maluca. Talvez seja a
minha expressão, já que estou crispando todo o rosto.
Assinto.
Abro a porta e nós três entramos. Lexie vai direto para o sofá,
como se precisasse recuperar o fôlego ou algo do tipo. Coloco a
bolsa em cima da mesinha de centro e encaro meu irmão, que
continua em pé.
— Então? — falo, chamando atenção dele, mas é Lexie
quem começa a falar:
— Liam foi baleado por minha culpa — murmura, prensando
os lábios. — É uma longa história, mas eu trabalhei pro seu tio e por
causa de coisas que eu descobri sobre Liam e disse a ele,
aconteceu o que aconteceu. Me desculpe por nunca ter dito nada a
você, Lawanda.
Arregalo os olhos, surpresa.
— Tio Schavier está por trás do que aconteceu? —
questiono, atônita. Quanto mais podres descubro dele, mais raiva eu
sinto por nunca ter percebido o imbecil que ele era.
Tio Schavier me manteve por perto, fingiu me amar, me
manipulou e me deixou cega. Como eu não percebi que ele era um
cretino? Sou uma idiota por ter sido convencida pelo amor falso que
me deu.
— Por que não me contou, Nick? Não devia ter escondido
isso de mim — digo, a voz com um tom acusatório claro.
— Precisávamos manter as coisas assim até lidarmos com
Schavier, Lawa — fala e não parece que vai se desculpar. — Sei
que está chateada, mas é tolice gastar sua energia em um assunto
como esse.
Ergo as sobrancelhas.
— Tolice? — rebato.
— Sim.
— O que você é, Nick? — pergunto, fazendo Lexie alternar
as vistas de mim para o meu irmão. — Não minta pra mim.
— Não sou o mesmo homem de antes — admite.
A expressão dura estampada no seu rosto, como se fosse
impossível sorrir ou chorar. O que fizeram com o meu irmão?
Lembro que ele não era a pessoa mais simpática do mundo, mas
dava mais sorrisos do que agora.
— Aquele homem... do tio Schavier disse que você é um
assassino — comento e fico contente pela voz não ter tremido.
— Você viu, eu sou — confessa de novo.
Não fico surpresa e nem sinto medo. A verdade é que eu já
sabia disso e por mais louco que seja, nunca me incomodou o fato
de Nick ter matado o nosso tio, porque pareceu a coisa certa a se
fazer.
Foi justiça pelo que ele fez com os nossos pais.
— Você faz isso desde que fugiu de Toronto?
Ele assente, sem dizer nenhuma palavra.
— A mamãe sabia? — quero saber.
— Sim — responde, firme e sério. — Eu não sou uma pessoa
boa, Lawanda.
— Talvez, mas você ainda é o meu irmão. — Respiro fundo e
passo as mãos entre os meus cabelos soltos e finjo arrumá-los. —
Não esconda as coisas de mim, Nick. Eu aguento a verdade, por
mais dura que ela seja.
— Eu sei, você é forte.
— Então pare de me tratar como uma criança — disparo e
fico nervosa só de lembrar Thomas falando essa palavrinha irritante.
Devia ter sido ousada e enfiado a mão na cara dele.
Babaca.
— Farei isso — Nick diz.
Ergo os olhos para observá-lo e murmuro:
— Ótimo.
Lexie abre um sorriso amplo, satisfeita. Levanta do sofá e
como em modo automático, Nick se aproxima dela, pronto para
segurá-la ou protegê-la. Talvez, as duas coisas.
— Você vai ficar bem? — Lexie pergunta.
— Sim — murmuro e me dou conta de que é minha chance
de aproveitar o momento e exigir coisas. — Nick, não quero seus
homens na minha porta.
— Isso não está em discussão.
— Não confio neles — falo e decido que é hora de dramatizar
um pouco. — Toda vez que entro no banheiro ou estou dormindo,
tenho medo de que eles possam entrar sem pedir permissão.
Lexie esbugalha os olhos.
— Eles já lhe faltaram com respeito, Lawanda? — Nick
questiona e a voz grossa e acentuada, me atinge como um soco na
boca do estômago. Se eu mentir, pode ser que meu irmão
enlouqueça e faça algumas besteiras. — Responda minha pergunta
— ordena a mim.
— Não, claro que não.
— Se algo acontecer, me diga. Eu deixei claro quais são as
consequências sobre olhar ou tocar em você — diz, me fazendo
bufar.
Perfeito! Sou intocável.
Devia estar feliz com isso, mas não estou.
— Quais são as consequências? — rebato, me perguntando
se isso se aplica a Thomas também. Pelo que o babaca disse, meu
irmão não manda nele, só que olhando Nick agora, não parece que
ele vai se importar de dar consequências a qualquer um que ouse
me tocar.
— Não importa — grunhe.
Fecho os olhos com força e anuo.
Por mais que tenha pedido para não esconder nada de mim,
existem coisas que Nick não me falará nem sob tortura.
Depois de alguns minutos, Nick e Lexie vão embora. Espio no
olho mágico e vejo que os homens ainda continuam de prontidão na
porta. Sei que é para minha segurança, mas sinto como se
estivesse vivendo em cárcere privado.
Desisto da porta e vou tomar um banho morno. Depois de
sair do banheiro, coloco o pijama e afundo no colchão macio e
descanso a cabeça no travesseiro fofo e confortável. Devia estar
pensando no que descobri sobre o meu irmão, mas a única coisa
que assola minha cabeça é a aproximação que tive com Thomas.
Fico irritada só de lembrar e acabo dormindo com as palavras
rodopiando meus pensamentos como um mantra insuportável...
Você é só uma criança.
Você é só uma criança.
Você é só uma criança.
Você é só uma criança.
Alguns meses depois...
Thomas fez muito esforço para me evitar. E quando
precisávamos ficar sozinhos para resolver algum contratempo em
relação a Corporação Farley, nossas reuniões não duravam meia
hora. Sem falar, que o homem impossibilitou qualquer tipo de
contato visual profundo ou físico.
Era como se nem respirasse direito perto de mim. Todo duro,
como uma estátua de mármore e sem aparentar emoções faciais.
Tem sido bem irritante, para falar a verdade, porque eu vejo
os olhos insinuantes brilharem na minha direção quando não
conseguem manter a máscara de gelo por muito tempo.
Porém, Thomas está empenhado em mostrar que sou
apenas uma criança e nada mais do que isso.
Sendo sincera, eu nunca me importei de fato sobre o que as
pessoas falavam de mim por aí. Meu nome tem tantos sinônimos:
mimada, patricinha, esnobe, e claro, criança. No geral, ninguém
coloca fé em mim, pelo simples fato de eu ter nascido em berço de
ouro e ter ganhado tudo de mão beijada. E tudo bem. Não sei se
pensaria diferente sobre mim, se eu estivesse do outro lado, vendo
minha vida de fora.
Só que me irrita pra caramba, Thomas e esse papo de
criança. Mesmo depois de meses, ainda está sendo meio difícil
mudar a cabeça do meu irmão sobre isso, e parece que não
conseguirei fazer o mesmo em relação ao advogado.
Ele não me dá nenhuma brecha, é como se usasse um
escudo de proteção sempre que está próximo de mim.
E eu não sei bem o porquê, mas tenho essa necessidade de
provar a ele, que está muito enganado ao meu respeito.
— Ei, pequeno problema — Liam me chama ao me ver
atravessar o campus da universidade, varrendo meus pensamentos
para o fundo da mente.
Sorrio.
Confesso que não gostava da ideia de mudar de vida. Depois
de tudo que aconteceu, eu não sentia que Toronto era mais a minha
casa, só que todos os meus amigos estavam lá e foi estranho deixar
essa parte da minha vida para trás.
No entanto, não é tão ruim viver aqui em Montreal e
frequentar as minhas aulas do curso de administração. Liam se
tornou um ótimo amigo e minha companhia diária. Talvez seja o
amigo mais próximo que fiz em muito tempo.
Tem Romie também, ficamos próximas nas últimas semanas
e me identifico com ela.
— Não sou um pequeno problema — resmungo.
Sorrindo, ele ajeita a alça da bolsa de couro no ombro e
agarra o meu pescoço. Liam não costuma ficar tão próximo assim
de mim quando meu irmão está por perto, por motivos óbvios, mas
quando estamos sozinhos, ele é mais solto e eu gosto dessa
versão.
— Então, o que você é?
— Um grande problema — retruco, arrebatando uma risada
gostosa do meu amigo.
— Ok, grande problema, vamos tomar um café — é o que
diz, me arrastando até a cafeteria dentro do campus.
O lugar é grande e todo decorado em azul e branco, as cores
dos Carabins[15], o chão é uma mistura de quadra de basquete e um
campo de futebol marcado em trinta jardas.
Enfrentamos uma pequena fila até o balcão para fazer os
pedidos.
— O que vai fazer no Natal? — ele pergunta.
— Não sei, ainda faltam mais de três semanas até lá — sou
sincera.
É o primeiro Natal que passarei sem a mamãe, em
contrapartida, tenho o meu irmão. É estranho e novo e estou
tentando não pensar muito nessa data. Mamãe sempre gostou de
fazer festas grandes para comemorar o Natal e é a primeira vez que
não terei isso na minha vida.
Suspiro e engulo em seco, remoendo a questão por um
segundo e logo em seguida, tentando deixá-la pra lá.
— Você tem um smoking? — pergunto, de repente ao
lembrar que ainda não consegui um acompanhante para a festa
beneficente da Corporação antes do Natal, que acontecerá daqui
quatro dias.
Não é um grande problema ir sem acompanhante, mas não
queria ter que passa horas sozinhas com aqueles executivos velhos,
enquanto finjo ser uma garota simpática.
Liam torce o nariz junto à boca.
— O que você quer?
Abro um sorriso largo.
— Preciso de um acompanhante pra festa beneficente da
Corporação. Quer ir comigo?
Nossa vez no balcão chega, então, ele não me responde de
imediato. Fazemos os nossos pedidos, pagamos, pegamos os
nossos cafés e ocupamos uma mesa de frente para a televisão
ampla presa à parede.
— Odeio essas festas. Só tem gente velha e chata —
reclama e depois bebe um gole do café, me fazendo bufar. — Falou
com o Nicholas?
Dou de ombros.
Mesmo quando estava sendo preparado para ser o CEO da
Corporação Farley no passado, eu lembro que meu irmão sempre
odiou esse tipo de evento. E agora, que ele é um mafioso, não sei
se ficará tão contente em me acompanhar.
— Ainda não.
— Não posso ser sua única opção — Liam caçoa e eu
preciso controlar a vontade de chutar sua canela por debaixo da
mesa, mas fico quieta, porque a provocação dele me deu uma ideia.
Sorrio de lado.
— Acho que você não é minha única opção, Liam.
Todos sabem como os políticos são facilmente subornados e
as empreiteiras ganham dinheiro com as obras de engenharia. Mas,
o que poucos estão cientes, é que o lucro é ainda maior quando se
é dono dos terrenos perto dessas obras.
Enquanto o soldado me leva até a fazenda que fica na saída
da rota 148, eu releio o contrato na tela do tablet. Noah Carbone
está sendo generoso, porém, não é por pura benevolência. Por
causa dos nossos contatos com a prefeitura de Montreal, sabemos
que daqui um tempo, as terras de Gaston vão valorizar bastante, por
causa das obras de infraestruturas.
Gaston, por outro lado, não faz ideia porque Noah Carbone
está de olho nas suas terras.
Entramos na estrada de chão, que dá direto na casa da
fazenda e antes de chegarmos, o sr. Gaston espera do lado de fora.
O rosto fechado em uma expressão dura e antipática.
Guardo o tablet na pasta de couro e desço do veículo. O
soldado me acompanha até a porta e Gaston bufa, mas nos convida
para entrar. A casa da fazenda não é tão velha, mas não é uma das
melhores que já vi.
— Você é insistente — reclama, caminhando na direção da
cozinha e eu o sigo. Ordeno que o soldado espere do lado de fora e
assim, ele o faz. — Eu já dei minha resposta e você continua vindo
me procurar.
A esposa de Gaston está na cozinha, preparando café. Ao
me ver, me dá um sorriso cordial, que eu retribuo da mesma forma.
É ela quem faz um gesto com a mão indicando a cadeira de
madeira. Abro o botão do terno antes de me sentar e coloco a pasta
em cima da mesa. Puxo o zíper e tiro o tablet de dentro e entrego
para Gaston.
— É a última proposta do meu chefe — digo e gesticulo com
o aparelho quando ele faz menção de quem não vai pegar. — É
bem generosa.
Ele ergue uma sobrancelha para tela e vejo um lampejo de
brilho passar pelos olhos. A sua esposa inclina um pouco o pescoço
para verificar também e a boca entreabre em espanto.
— Meu Deus, é muito dinheiro — ela murmura. — Nossas
terras valem isso tudo mesmo?
Valem mais.
— É realmente muito dinheiro — o velho comenta e conduz a
atenção até mim. — Mas se o seu chefe está tão interessado nas
minhas terras, significa que valem muito mais do que está
oferecendo.
Sem que eu tenha pedido, a esposa de Gaston serve café
para mim. Agradeço e volto a atenção para o velho, que vem me
dando tanta dor de cabeça nos últimos dias. No geral, é fácil fazer
com que as pessoas vendam as coisas para nós, mas esse homem
é teimoso.
— Aceite, Gaston. É o melhor que pode fazer por você e a
sua esposa.
— Não — retruca.
Sorrio, paciente.
— Eu sei que parece só uma oferta pra você, mas não se
engane. Não terá outra chance como essa. Vai perder muito se não
aceitar.
O velho contrai o maxilar.
— Veio me convencer a vender minhas terras ou me
ameaçar?
Ignoro a pergunta.
— Noah está sendo muito generoso — digo e ele fica em
silêncio. — Se assinar agora, o senhor terá dinheiro pra viver a vida
viajando com a sua esposa até os seus últimos dias em vida. Por
que ficar aqui? Está velho e precisa de sossego. Não acha melhor
ter o resto da vida tranquila do que continuar por aqui e lidar com os
eventuais problemas?
— Ainda parece uma ameaça — resmunga.
— Mas não é — minto, satisfeito pela voz ter soado
carregada de prudência.
Gaston se remexe na cadeira e trinca os dentes. As mãos da
esposa voam para os seus ombros e os massageiam, como se
quisesse relaxá-lo. Eles trocam um olhar e o velho se levanta para
sair da cozinha junto da mulher.
Apoio as costas na cadeira e confiro as horas no relógio.
Paciente, eu espero que a esposa coloque juízo na sua cabeça
teimosa e o faça vender as terras. Não gosto de falhar nos negócios
que tenho que fechar.
Inadmissível.
Os dois voltam alguns minutos depois.
— Ele vai assinar — é a esposa quem fala, sorrindo.

Entrego o contrato assinado para Noah. Ao ver a assinatura


de Gaston, os lábios dele se esticam em um sorriso de orelha a
orelha. Leva a mão até o meu pescoço e aperta, contente.
— Parabéns, você é o novo dono das terras de Gaston.
— Como sempre, um ótimo trabalho, Thomas Montanari — é
o que diz. — Eu sabia que conseguiria convencer aquele maldito
velho.
Afasta-se de mim para ir guardar o contrato de milhões na
primeira gaveta da mesa do escritório.
Antes que possa falar algo, o meu celular começa a vibrar.
Tateio o bolso dentro do terno e o pego. No visor colorido, está
notificando uma mensagem de Lawanda, o que me surpreende.
Não fomos exatamente as pessoas mais próximas nos
últimos meses e, também, não costumamos trocar mensagens. Na
verdade, eu a tratei de maneira muito profissional e fria, evitei ao
máximo ficar sozinho com ela. Simplificando tudo, eu fui um
completo babaca com a garota.
Claro que foram meses difíceis, porque eu não consegui tirar
a loirinha da minha cabeça e meu pau não cansa de ficar duro à
noite por causa dela, e isso me deixa tão emputecido, que tenho
vontade de socar alguém pela minha frustração.
Autocontrole... ele ainda é um problema desde que Lawanda
entrou na minha vida.
Não tenho domínio sob o ímpeto de excitação que surge no
meu corpo pelo que meus olhos acabam de ler.
“Preciso de um acompanhante para a festa beneficente da
Corporação. Nick não quer ir. Você pode me acompanhar? É hoje!”
— Vá, parece importante — Noah diz, pegando o porta-
cigarros e o isqueiro em cima da mesa.
— Lawanda está com um problema na Corporação.
— Claro — Noah diz, sem dar muita atenção. Eufórico
demais pelo negócio que acabou de conseguir, prende o cigarro
entre os lábios e o acende, caminhando na direção da varanda do
escritório.
Afrouxo o nó da gravata e ando até a porta. Encarando o
celular nas mãos e pensando no que responder. Se eu não fosse
um cretino, recusaria o pedido de Lawanda e arrumaria um
acompanhante que não passaria a noite toda pensando em arrancar
suas roupas.
Ou de se enterrar dentro dela.
Porém, só de pensar na loirinha indo com outro homem, eu
sinto o sangue ferver de raiva. Não devia ser tão possessivo em
relação a ela, só que é bem mais forte que eu. E claro, não tenho
nada melhor para fazer à noite.
Então, digito uma mensagem de volta.
“Que horas?”
Atravesso o hall de entrada e saio da mansão, o soldado em
pé perto do banco do motorista faz menção de quem vai entrar e eu
o impeço. Ele me entrega a chave e assente antes de sumir do meu
campo de visão.
Deslizo para o banco do motorista, jogo a pasta de couro e o
celular no banco do carona. Ligo o carro e alguns segundos depois,
ouço o smartphone notificar uma nova mensagem.
Estico a mão, pego o aparelho e leio.
“20:00h, traje a rigor.”
Nick se recusou a ir comigo para festa beneficente da
Corporação. Também não fui muito insistente. A ideia de convidar
Thomas borbulhou na minha cabeça por alguns dias e não consegui
desistir de chamá-lo. No fundo, achei que fosse inventar uma
desculpa e me deixar ir sozinha. Foi surpreendente que tenha
aceitado.
Claro que não estava necessariamente desesperada para um
acompanhante, só que ele não precisava saber disso. Já fui em
várias dessas festas e não lembro de ter precisado de um de
verdade, já que na maioria das vezes, eu estava acompanhada com
o meu tio e mãe. Mas, é bem interessante ter Thomas comigo esta
noite.
Olho o meu reflexo no espelho e passo as mãos de leve por
cima do tecido do vestido. Gastei uma fortuna nele e valeu a pena, a
peça cai de maneira perfeita no meu corpo. Tem mangas longas e
delicadas, decote profundo, que vai até quase a altura do umbigo, é
muito sexy. As costas são nuas e existe uma fenda lateral esquerda,
que dá uma visão significativa da minha coxa. O vestido é vermelho
sangue e dá um contraste maravilhoso com o tom alvo da minha
pele.
Ajeito os cabelos mais uma vez e retoco o batom antes de
colocá-lo dentro da bolsa. Estou saindo do quarto quando ouço a
campainha tocar. Meu coração martela dentro do peito de um jeito
doloroso, ansiosa para saber a reação de Thomas ao ver a criança
em uma roupa provocante e poderosa como essa.
Endireito os ombros e estufo o peito ao me aproximar da
porta. Coloco a mão livre na maçaneta e a giro, abrindo-a logo em
seguida.
Thomas está na soleira. Lindo e impecável nos trajes a rigor.
À medida que o cheiro masculino terroso e amadeirado, com um
leve toque cítrico e de baunilha, flutua pelo ar e ruma direto para o
meu nariz, leva uma onda vibrante para o meio entre as minhas
pernas.
Tão focada em comê-lo com os meus próprios olhos, que
demoro um pouco para perceber que ele está me admirando.
Os olhos insinuantes de Thomas deslizam pelo meu corpo,
deixando um rastro quente. Demoram um tempo no meu decote e
descem até a fenda, em seguida, se erguem para encontrar o meu
rosto e ele focaliza meus lábios.
Gosto da sua reação, já que das poucas vezes que nos
vimos nos últimos meses, ele fez esforço para mostrar que não se
importa ou que não é afetado de alguma forma por mim.
— Você está deslumbrante, Lawanda — fala, a voz profunda
e rouca soando sexy pelos meus ouvidos e arrepiando minha coluna
espinhal.
— Obrigada. — Sorrio. — Confesso que estou surpresa por
ter aceitado o meu convite, achei que fosse fugir — digo, sem
conseguir esconder o sarcasmo.
Os lábios se esticam em um sorriso de lado, mas ele não diz
nada.
As babás no corredor me observam com um brilho fumegante
e eu decido provocar. Quero ver mais reações do Thomas.
— O que acharam? — pergunto ao me aproximar dos dois
que estão a uns quatro passos de distância e giro, deixando meu
acompanhante para trás. — Aprovado?
Eles sorriem animados e abrem a boca, mas ao olhar para
algo logo atrás de mim, desistem de comentar e só assentem com
um movimento sincronizado, desviando rápido a atenção.
Viro o rosto e fito Thomas por cima do ombro, embora tenha
afastado de imediato as vistas das minhas babás, consegui ver a
expressão mortífera estampada no rosto cínico.
Caminho até o elevador e o chamo, sinto o homem parar bem
atrás de mim. A fim de estragar a visão que ele tem das minhas
costas e bunda, dou um passo para o lado e depois um para trás,
nivelando os nossos corpos.
Thomas sorri, como se soubesse o que estou fazendo.
As portas de metal do elevador se abrem e eu sou a primeira
a caminhar para dentro, ele ocupa meu lado logo em seguida, mais
uma vez, o corpo tão próximo de mim, que arrepia os cabelos da
minha nuca. Ele aperta o botão do térreo e recua, pairando ao meu
lado.
— Não deixou que eles me elogiassem. Por quê? — quero
saber.
— Existem limites que não devem ser ultrapassados,
Lawanda. E eles precisam saber que você é intocável.
Completamente proibida.
— Parece o meu irmão falando.
— Ele tem razão.
Mordo o lábio inferior, controlando a vontade de perguntar se
sou intocável até mesmo para ele. Como não quero parecer uma
desesperada, dou de ombros e finjo que não é nada.
— Sério? Um tempo atrás, eu diria que você não se
importaria com isso — provoco.
— Estive ocupado — é a sua única resposta.
Sinto vontade de questionar, no entanto, não o faço.
— Intocável ou não, já me viram menos vestida do que hoje
— digo, voltando ao assunto anterior e me referindo aos homens na
minha porta. Pela visão periférica, noto o maxilar dele contrair e o
corpo todo enrijecer. Interessante. — Estou brincando — emendo,
antes que minhas babás sejam punidas.
Silêncio absoluto.
Não é ruim, a tensão é quente e eu sinto meu clitóris latejar
sem ter feito nada. Será que é esse poder que Thomas tem sobre
as mulheres? Arrisco uma olhadela de esguelha. Ele parece bom de
cama.
Mais do que isso, na verdade.
Hum...
As portas se abrem e eu respiro fundo. Saio apressada do
elevador, antes que seja dominada pelo desejo primitivo de grudar
minha boca na de Thomas. Não é como se eu fosse apaixonada por
ele ou algo do tipo, mas não consigo impedir o desejo de querer
tocar ou ser tocada por esse homem.
Talvez tenha a ver com o fato de que Thomas é meio que
proibido para mim. Nick surtaria se soubesse que estou desejando o
seu... parceiro de negócios ilícitos. E bem, nunca gostei de ser
vetada de fazer algo.
Atravesso a recepção do prédio e cumprimento o homem no
balcão. Sem esperar por Thomas, passo pelas portas automáticas,
sentindo a brisa fazer carinho no meu rosto. Respiro fundo, me
sentindo um pouco mais aliviada pelo latejar entre as pernas ter
reduzido.
— Por aqui — Thomas diz com o rosto bem próximo da
minha orelha. A voz roça no lóbulo e eu fico me perguntando se fez
isso para me provocar.
A mão de Thomas desliza pelas minhas costas nuas e eu
sinto um arrepio de prazer na espinha. Ouço um gemido escapar
dos lábios arrogantes e fico feliz por não ser a única afetada com o
toque. Andamos assim até o seu carro, uma BMW cinza. Ele abre a
porta do carona para mim, tira a mão das minhas costas para me
ajudar a subir e sentar no banco.
Que cavalheiro.
— Obrigada.
Ele responde com meio sorriso e fecha a porta antes de dar a
volta no veículo e ocupar o lugar do motorista. Estico o braço para
ligar o som, sintonizo em uma rádio com música sexy e deixo
ecoando dentro do carro. Thomas não fala nada, mas eu pego os
seus olhos flanando pela minha coxa exposta e o meu decote, o
pescoço também.
Ele suspira discretamente toda vez que os olhos voltam a
atenção na rua. Fico me perguntando qual é a dele. Sou apenas
uma criança, mas não consegue parar de me olhar? Isso são os
instintos falando mais alto ou tem algo a mais?
Sou intocável para ele também?
Ou apenas acredita que não vale a pena se envolver com
uma garota da minha idade?
Ah, Thomas Montanari, garotas mais novas podem te
surpreender.
Será que nunca ouviu falar que as meninas boas vão para o
céu e as más vão para onde elas quiserem?
Com certeza, não sou uma garota boazinha e posso ser má e
enlouquecer você, Thomas.
Talvez eu esteja brincando com fogo, mas quero ver até onde
ele é capaz de resistir ou manter essa máscara de gelo. Vai ser
cativante vê-lo ceder aos seus instintos e perder o controle.
Mexo nos cabelos, colocando para o lado e deixando o meu
pescoço totalmente exposto. Pela janela do carro, consigo o ver os
olhos predadores fixos na minha pele desprotegida. Thomas parece
ter sede e é meio legal saber que sou sua água no deserto.
Não devia tentar seduzir um homem como ele, só que,
merda, desde a primeira vez que eu o vi, eu meio que o quis.
Homens mais velhos... podem ser interessantes.
Ele estaciona o carro em frente ao prédio do novo escritório
central da Corporação Farley. Sem olhar para mim, desce do veículo
e dá a volta, parando ao meu lado. Ergo os olhos e o encaro por
cima dos cílios, ficamos assim por um longo segundo e o vejo
afrouxando o nó da gravata antes de abrir a porta.
Estou gostando desse flerte, e Thomas, você está cedendo.
Ele estende a mão para mim e eu a pego. Ao sair do carro,
Thomas não perde tempo e apoia a mão grande e quente nas
minhas costas nuas de forma possessiva. Olho para ele e arqueio
uma sobrancelha, mas o homem não diz nenhuma palavra.
Caminhamos deste modo até as portas automáticas e assim
que entramos, uma mulher bonita e vestida com um terninho preto,
nos conduz até o lado esquerdo, onde fica o salão de festas. Mal
chegamos nas portas gigantes suntuosas e um garçom oferece
champanhe. Thomas pega uma taça, mas avisa que beberei apenas
água.
— Não chamei você pra ficar me regrando — resmungo com
um sorriso falso no rosto.
— Não, mas é o que farei — responde, cínico.
Estou prestes a retrucar e sou interrompida pelo Arthur.
Fingindo simpatia, ele me cumprimenta e está a um triz de colocar
as mãos asquerosas na minha cintura para um abraço, quando é
interceptado por Thomas. Mesmo que tenha sido meio ciumento e
macho alfa, gosto que ele tenha impedido o Arthur de me tocar.
Arthur e eu nunca nos demos bem, ele era uma das pessoas
que achava que eu estava trabalhando na Corporação apenas para
chamar atenção ou por não ter nada melhor para fazer. Isso foi algo
que sempre me irritou.
E agora, que sou sua secretária pessoal, nossa relação vai
de mal a pior, porque ele sabe que vou fazer de tudo para tirá-lo do
meu caminho.
— Eu disse que não tocaria em nenhum fio de cabelo dela —
Thomas fala, a voz cortante, que contradiz o sorriso gentil
dominando os lábios.
Arthur estica a boca de maneira desdenhosa.
— Devia ter ficado por perto mais vezes, já toquei em
Lawanda e você nem sabe disso — é o que o velho fala ao se
afastar de nós, erguendo a taça de cristal meio cheia de champanhe
em um brinde solitário.
As narinas de Thomas se expandem e os olhos azuis que
brilham de um jeito perverso, logo se direcionam a mim.
— O que ele quis dizer com isso? — questiona, entre os
dentes.
Sacudo a cabeça.
— Nada de importante.
— Lawanda — Thomas repreende. — Me fale. Agora! —
ordena, me fazendo ter vontade de girar os olhos.
Respiro fundo e mantenho firme o olhar de Thomas.
Não é como se Arthur estivesse me batendo ou fazendo algo
pior. Para ser sincera, no trabalho, somos como cão e gato e uma
vez, ele apertou meu pulso mais forte do que o necessário, a fim de
mostrar quem manda.
Decido que não contarei nada a ele, porque não quero
ninguém me defendendo. Não serei uma donzela em perigo e o que
é de Arthur, está guardado.
— Um verdadeiro cavalheiro, Thomas Montanari — murmuro,
inclinando o rosto para ele. — Mas sei me defender sozinha, não
precisa se preocupar comigo.
Thomas deixa escapar uma risada seca.
— Sabe se defender sozinha?
— Sim, Nick está me ensinando a lutar — acrescento, e ele
apenas ri de novo, descrente.
Aperto os lábios com força.
— Nicholas é sensato demais para fazer isso — retruca, me
deixando meio irritada.
— Por que sou uma criança?
— Justamente — devolve, me fazendo ranger os dentes. —
Uma criança com temperamento difícil.
Ele repuxa os lábios em um sorriso atrevido.
— Não parecia uma criança quando você estava olhando
para o meu decote — provoco, fazendo o homem cerrar o maxilar e
me encarar de maneira cortante. Sem desviar os olhos afiados de
mim, bebe o seu champanhe em apenas um gole e diz:
— Não me provoque, Lawanda.
— Então, não seja chato — resmungo.
No momento em que um garçom passa por mim, eu o
alcanço e pego uma taça de champanhe, também bebo tudo em um
só gole e ergo uma sobrancelha, desafiando Thomas.
Será uma noite interessante.
Lawanda ainda vai me enlouquecer.
Depois da taça de champanhe, ela se afasta de mim e vai
cumprimentar um idiota de terno cinza perolado. Os dois trocam
alguns sorrisos e ele a tira para dançar no meio do salão. Meu corpo
todo enrijece ao vê-lo pousar as mãos ousadas na cintura de
Lawanda e a conduzir no ritmo lento da música.
Um garçom passa por mim, e mal-humorado, pego mais uma
taça de champanhe e tomo o líquido todo de uma vez. Desejando
algo mais forte, atravesso o salão e me aprumo no balcão do bar
que foi montado. Peço uma dose dupla de whisky sem gelo e
continuo observando Lawanda dançar.
O barman serve minha bebida.
— Ela tem cara de problema.
Ao ouvir a voz com sotaque carregado e irritante, viro o rosto
rápido para o lado e me deparo com Alexander, líder de uma
organização criminosa e, dono de parte da Corporação Farley. O
cretino está bebericando uma dose de whisky e parece relaxado,
como se as coisas estivessem exatamente onde ele quer que
estejam.
— Soube que ela quer me conhecer — diz, deixando o meu
corpo em alerta. — Fique calmo, Thomas — Alexander emenda ao
perceber o meu desconforto.
— Fique longe dela — rosno.
— Thomas, Thomas... não me trate como inimigo, porque eu
não sou — fala, a voz soando despretensiosa.
— Também não é meu aliado — retruco, esticando os lábios
em um sorriso sarcástico.
— Sim, também não sou — fala, pensativo. Encara a bebida
por um longo segundo antes de levar o cristal até a boca e ingerir
todo o whisky.
— Diga a Arthur, que da próxima vez que ele encostar em
Lawanda, perderá a mão — aviso.
Alexander assente.
— Ela não é muito amigável com ele também.
— Ela é só uma garota — rebato e não gosto de como as
palavras ecoam até os meus ouvidos.
Lawanda é só a porra de uma garota e eu passei alguns
meses resistindo à minha tentação de ficar perto dela. Infelizmente,
na primeira oportunidade que eu tive te ceder aos meus instintos, eu
cedi.
Só que estou feliz de ter o feito. Não teria ficado contente em
saber que Alexander e Lawanda estiveram no mesmo cômodo.
Peço outra dose de bebida e decido ignorar Alexander. Ele
parece fazer o mesmo, o que não dura nem dez minutos inteiros. O
velho russo gira o rosto para mim, depois encaminha a atenção para
Lawanda.
— Será que devo cumprimentá-la?
— Faça isso e eu acabo com a porra dessa festa — grunho
ao me aproximar dele e prender os nossos olhos.
— Achei que você fosse o pacificador — retruca. A boca fina
e enrugada se estica em um meio sorriso sarcástico.
— É o meu trabalho... — falo baixo, apenas para o russo
ouvir. — Mas não ache que eu tenha medo de guerras — emendo,
passando por ele e rompendo a distância até Lawanda no centro do
salão.
Ela me encara, os olhos felinos brilhando em excitação. Um
pequeno sorriso se forma nos lábios carnudos e arredondados, e a
vejo arquear uma sobrancelha bem-feita para mim.
— Thomas... — a loira murmura.
— Minha vez de dançar com ela — aviso. Fico meio irritado
por não ter conseguido esconder o ciúme na voz, mas que se dane.
Essa garota me faz perder o controle e estou começando a ficar
puto.
— A música ainda não acabou — o idiota de terno cinza
perolado fala, sem conseguir tirar os olhos ou as mãos do corpo da
Lawanda.
— Se quer sair daqui com as duas mãos, é melhor soltá-la
agora. Não vou falar de novo — ameaço e de forma instantânea, ele
larga Lawanda e se afasta de nós sem falar nenhuma palavra.
Meio segundo depois, já estou pousando minhas mãos no
cóccix de Lawanda e a puxando para mais perto. Ela deixa escapar
um gemido baixo e sexy, mas mantém a pose firme.
— Não precisava ameaçá-lo. Podia apenas ter esperado a
música acabar — argumenta e move as mãos para o meu pescoço,
agitando o ar entre nós com o cheiro picante e adocicado da sua
pele. — Ele era um cara legal.
Curvo o canto da boca.
— Não finja que não prefere dançar comigo.
Aperto mais as mãos no seu cóccix e ela arfa, contorcendo o
corpo de leve e entreabrindo a boca ao suspirar.
— O que o meu irmão pensaria de você? — questiona,
deslocando um braço do meu pescoço e levando até uma das mãos
que repousa na base da sua coluna e descendo um pouco mais. —
Se o visse comigo agora?
Meus dedos roçam de forma suave o início da bunda de
Lawanda.
— Não me provoque.
Ela olha dentro dos meus olhos.
— Por que não? — sussurra, aproximando o rosto do meu ao
abrir um sorriso diabólico.
Afasto-a um pouco e a giro, só para depois trazê-la para mais
perto de mim e colar os nossos corpos. Ela respira fundo, mantendo
a nossa conexão, que porra, é intensa pra caralho.
— Não vai gostar das consequências — sussurro.
Deslizo a mão para cima, tocando a cintura fina e em
seguida, a lateral do seu corpo. Subo mais um pouco e os dedos
roçam de leve na pele das costas nuas. Vejo-a arrepiar com o meu
toque, enquanto deixa escapar um som baixo dos lábios carnudos.
A mão chega no pescoço delicado, movimento o corpo dela de um
lado para o outro ao mesmo tempo em que faço carinho na nuca.
— Thomas...
Lawanda fecha os olhos por uma fração de segundo e deixa
que eu a guie pra lá e pra cá. Controlá-la desse jeito faz o meu pau
latejar e querer espremer minha boca contra a sua.
— Não aja assim, Lawanda.
Ela bate os cílios devagar.
— Qual é o problema?
— Vou entender errado — digo, sem soltar a sua nuca. A
mão na cintura a puxa para mais perto de mim, fazendo-a sentir
minha ereção. — Vou entender que você quer ser minha. E é algo
que não pode acontecer.
— Por que nós não podemos acontecer? — diz baixinho,
deixando as vistas caírem nos meus lábios. — Não quer que eu seja
sua?
Merda.
Porra.
Caralho.
— Não é óbvio?
— Por que eu sou uma criança? — rebate e tenta se afastar,
mas eu a mantenho presa a mim. — Me solta.
— Não deseje um homem como eu, Lawanda — aviso.
Ela coloca a mão espalmada sobre o meu peito e tenta
arredar mais uma vez. Quando falha, bufa e volta a conectar os
olhos, que brilham de irritação, aos meus. Mesmo brava, é linda e
sexy.
— Por que não?
— Porque além de ser perigoso, no momento em que eu te
fizer minha, não tem mais volta.
E então, eu a solto.
— Isso parece uma desculpa.
— Não é. — Solto uma lufada de ar. — Não vê que é melhor
pra você se eu não te desejar? Você é nova demais e estamos em
sintonias diferentes, Lawanda. Não sou um homem comum que
você encontra na balada e vai pra casa com ele.
Os lábios dela se torcem em desgosto.
— É, estou vendo. Os homens na balada não ficam dizendo
que eu sou criança a merda de todo minuto.
— Mas é o que você é.
Ela revira os olhos.
— Me leve pra casa — resmunga, dando as costas para mim
e rebolando o quadril com mais vontade que o necessário. E eu, é
claro, não consigo afastar as vistas do seu corpo pequeno e
delicioso.
Ela vai acabar comigo.
Linda, mimada, irritante e a única que me faz perder o
controle. Mesmo assim, não consigo parar de desejá-la.

Ela não disse uma palavra o caminho inteiro. Ao olhá-la


quando parei no semáforo vermelho, me lembrou alguém que está
remoendo algo internamente e eu sei que é pelo que eu disse.
Sou um babaca, mas não menti ao dizer que quando eu a
fizesse minha não teria mais volta.
Lawanda é nova demais e não tem noção do que implica ser
minha. Para ela, deve ser divertido ficar com um homem mais velho,
só que eu sei que no instante em que colocar minhas mãos nela,
não a soltarei mais.
Ela está preparada para isso? Duvido. Nicholas também não,
e nós dois podemos entrar em guerra, por eu querer sua preciosa
irmã na minha cama, cavalgando em mim e chupando o meu pau.
— Não precisa subir — Lawanda fala ao colocar a mão na
maçaneta do carro. — Caso esteja se perguntando, sou uma
criança que sabe pegar o elevador sozinha.
Não ouso sorrir.
Ela desce do carro.
Ignorando as palavras de Lawanda, eu a sigo. A garota lança
uma olhadela para mim e enruga o nariz em desaprovação. Para em
frente ao elevador de portas fechadas e sou eu quem o chamo.
Silêncio.
As portas de metal se abrem e um casal de idosos sai de
dentro. Nos cumprimentam com um sorriso e atravessam o térreo.
Lawanda dá um passo e entra no elevador, apertando o botão para
fechar as portas, só que demora demais, porque consigo ocupar seu
lado sem fazer esforço.
— Sei chegar no apartamento sozinha.
— Eu sei.
— Então... por que está me seguindo? — pergunta com a voz
alterada e os olhos felinos arregalados. Eu adoro quando eles ficam
assim.
— Porque eu quero — é o que respondo, simplesmente.
Na verdade, quero me certificar de que nenhum dos soldados
de guarda vai olhar Lawanda. Não gostei de como sorriram para ela
mais cedo, me deixou enciumado e com um instinto possessivo
aguçado.
Silêncio de novo.
As portas voltam a se abrir e assim que a atenção dos
soldados no corredor cai em nós, eles ajeitam a postura. Nenhum é
ousado o suficiente para sorrir e fico satisfeito com isso.
Lawanda para na frente dos dois, erguendo o indicador e
aponta para um deles e depois para o outro.
— Você e você... estão demitidos — informa. Os dois me
olham, irritando a loirinha. — Ei! — berra. — Eu estou falando com
vocês, não ele — emenda, trincando os dentes.
— Não pode demiti-los — digo.
Noto que fecha os olhos por um segundo e depois vira o
rosto devagar para mim.
— Se não forem embora, irei eu — avisa, girando nos
calcanhares e caminhando na direção da porta do apartamento e a
abrindo, bate com força depois de passar por ela.
— Sejam mais discretos e não fiquem mais na porta dela —
ordeno e faço um gesto com a mão para que sumam das minhas
vistas. Dou alguns passos no rumo do apartamento de Lawanda e
coloco a mão na maçaneta.
Surpreendo-me ao girá-la e ver que está aberta. Entro no
apartamento e sem esforço, encontro-a sentada no sofá, tirando os
saltos e em seguida os brincos, que coloca em cima da mesinha de
centro ao lado da bolsa.
— Estou em casa, vá embora — ordena.
Não sou de receber ordens, então me aproximo dela. Sei que
está brava e com vontade de voar em cima do meu pescoço, mas
não consigo parar de notar como fica linda e sexy assim.
— Você não comeu nada e bebeu. Precisa se alimentar.
Ela explode em uma risada falsa.
— É mesmo, até porque uma taça de champanhe vai me
fazer subir em cima da mesa, tirar a roupa e dançar pelada —
rebate.
Por que disse essas palavras, Lawanda? Agora vou imaginá-
la fazendo exatamente isso... dançando pelada em cima da mesa.
Ela levanta do sofá de uma vez e pisando duro, caminha até
mim e para a um passo de distância. Sem os saltos, precisa levantar
o queixo para me encarar. A boca vermelha brilhando por causa da
luz.
— Vá embora — ordena de novo, me deixando meio irritado.
Sem pensar duas vezes, agarro a sua nuca e a trago para
mais perto de mim, grudando os nossos corpos. Mesmo que uma
camada de tecido nos separe, ao sentir os seios pequenos e
empinados contra o meu peito, uma pulsação forte domina meu pau.
— Porra. Estou tentando ficar longe de você — admito em
voz baixa. — Te evitar esse tempo todo tem sido uma tortura e me
deixa muito puto. Então, não provoque um homem como eu.
Lawanda fica em silêncio, me observando.
Contraio o músculo do maxilar, encarando os lábios
vermelhos e bem desenhados dela. Estou prestes a ceder aos meus
instintos e sugar sua boca com toda a vontade que andei reprimindo
nos últimos tempos, quando a loira apoia as mãos espalmadas no
meu peito e dá um impulso para trás.
— Obrigada por ter sido meu acompanhante — é a única
coisa que diz ao passar por mim e caminhar na direção do corredor
pequeno que dá nos quartos.
Respiro fundo e lambo os lábios.
Lawanda é a minha perdição.
Meu inferno particular.
O suor frio escorre pela minha testa e bochechas, que estão
fervendo. O coração martela rápido dentro do peito e já sinto o
corpo exausto. E mesmo que eu tenha feito muito esforço corporal,
sei que Nick está pegando leve comigo.
Ele não tem a respiração acelerada como eu.
Depois de duas horas, reforçando o ensinamento sobre dar
chutes e desviar de socos, ele joga uma garrafa de água para mim.
Estamos em uma academia perto do porto de Montreal, ela é
exclusiva para os homens da família Carbone usarem para treinar.
Lógico que Nick não me deixou praticar com ninguém além dele.
Para ser sincera, ninguém olha para mim, o que me fez
concluir que Nick já tinha dado algumas ordens nada amigáveis.
Enquanto bebo a água da garrafinha, observo os dois
homens no ringue. Se eu não soubesse que estão do mesmo lado,
eu gritaria para alguém separá-los antes de acabarem se matando.
Espero que eles conheçam os limites.
— Quero aprender algo novo — digo, de repente e fazendo
meu irmão levantar as sobrancelhas loiras. — Chutar e desviar de
socos não pode ser a única coisa que você queira me ensinar, não
é? Preciso de mais. Andei evoluindo nas últimas semanas, não
pode negar. Eu aprendo rápido.
Ele assente.
— É verdade, mas não precisa de mais.
— Como tem certeza? — rebato, cética.
— Porque não vou deixar que nada de ruim aconteça com
você — é o que diz, como se fosse simples. Não tenho dúvidas que
Nick vá me proteger, só que ele tem uma vida e eu não quero ser
uma garota que precisa sempre de proteção.
Odeio me sentir frágil ou depender de alguém, porque é essa
visão que as pessoas têm de mim e eu definitivamente, estou a fim
de mudar algumas coisas na minha vida. Frágil e dependente...
duas palavras que risquei do meu dicionário.
— Não pode ficar de olho em mim vinte e quatro horas por
dia.
Ele prensa os lábios em uma linha reta.
— Achei que quisesse apenas aprender a se defender.
Ao dizer as palavras, me encara de forma impassível.
— Eu disse que queria aprender a lutar para me defender,
não que queria só aprender a me defender. São coisas diferentes.
Quero atacar também — admito e mantenho o olhar firme no meu
irmão. — Sabe que sou capaz de fazer algo assim.
Sorrio, tentando convencê-lo.
— Eu sei, só que não quero que precise.
Suspiro.
— Você é o meu irmão mais velho, mas às vezes, não sabe o
que é melhor pra mim.
Nick me ignora.
— Isso é o bastante pra você — retruca, colocando a sua
garrafa de água em cima do banco acolchoado encostado na
parede e fazendo um gesto no ar com a mão, me chamando para
mais perto.
Sacudo a cabeça de um lado para o outro, negando.
— Se não quer me ensinar as coisas importantes, vou
procurar alguém que faça isso — comento num tom sério. — Talvez
eu procure algo na deepweb[16], soube que existem coisas
inimagináveis por lá — dramatizo. Às vezes, acho que só assim
para Nick dar o braço a torcer.
O rosto másculo e com barba por fazer se contrai, cheio de
desaprovação.
— Por que está sempre tentando me driblar?
— Porque é interessante — explico, deixando a garrafinha de
água no chão antes de correr para cima do meu irmão e tentar
acertá-lo com um chute lateral.
Quase quarenta minutos mais tarde, estamos dentro do seu
carro, indo em direção ao meu apartamento. Passamos várias horas
na academia e ainda não são nem nove da manhã.
Acordar antes das cinco para os treinos com o meu irmão,
tem sido meio que renovador.
Claro que já usei dos meus melhores argumentos para fazê-
lo entender o quão importante é subirmos alguns níveis nas nossas
aulas. Algumas barbaridades saíram da minha boca, mas fiquei
feliz, pois pareceram convencê-lo de que é melhor eu saber atacar
do que apenas me defender.
— Tem certeza que é isso mesmo que você quer?
— Claro — respondo rápido.
Nick cerra a mandíbula e fica pensativo, e eu sei que as
engrenagens por detrás dos seus olhos claros estão trabalhando.
— Vai contra todos os meus instintos...
— Estou cansada de ser considerada delicada e essas
coisas. Não quero ser assim, Nick. Quero ser uma mulher forte —
interrompo o meu irmão.
Vejo a silhueta de um sorriso nos seus lábios.
— Você é impossível.
— Me ajude — peço, quase implorando, na verdade. Estou a
um triz de juntar as mãos em oração e começar a suplicar. —
Vamos fazer isso juntos.
— Tá bom.
Primeiro esbugalho os olhos e em seguida, sorrio, animada.
— Mas precisa estar disposto a me ensinar a ser forte sem se
preocupar em me fazer sangrar — informo de sobrancelhas
erguidas.
O rosto dele fecha em uma expressão dura, só que concorda
com um aceno de cabeça mesmo assim.
— Ok.
— Obrigada, Nick — murmuro, dando um beijo terno na sua
bochecha. — Eu te amo — cantarolo antes de descer do veículo,
saindo de perto do meu irmão o mais rápido possível.
Não quero dar chance de fazê-lo mudar de ideia.
— Atrasada! — Arthur berra ao jogar papéis na minha mesa,
fazendo alguns caírem no chão. Analisa-me com uma expressão
cheia de críticas, que tenho vontade de mandá-lo enfiar na bunda.
— Como sempre, irresponsável. Se continuar assim, precisarei de
outra secretária.
Pego os papéis em cima da minha mesa e do chão, controlo
o instinto de fazer Arthur comê-los. Seria lindo, mas, estamos no
escritório e embora ele teste os meus limites todo santo dia, eu sei
ser profissional.
Diferente do prédio de Toronto, aqui é grande, mas não se
compara ao antigo prédio central, que tinha até elevador exclusivo
para a sala da presidência. Eu também não tenho uma sala
acoplada com a do CEO. Aqui, o meu lugar fica quase de frente
para o corredor que dá na direção dos elevadores. Então, algumas
pessoas podem assistir as cenas de surtos de Arthur de camarote.
— Me atrasei por um minuto, me chamar de irresponsável por
isso é meio forte, Arthur — crispo.
— Pra você é sr. Thompson — faz questão de me corrigir de
maneira áspera.
Arthur abre um sorriso cínico e de quem acha que manda em
mim. Sorrio também, fingindo meiguice e desestabilizando o
homem. Ele faz com que os seus lábios feios voltem ao normal.
— Sr. idiota Thompson — corrijo-me.
— Do que você me chamou? — retruca.
— Sr. Thompson.
Finjo outro sorriso.
— Não brinque comigo, Lawanda. Sou um homem perigoso e
que você deve respeitar. Além de tudo, me deve obediência também
— murmura ao aproximar o rosto de mim, a voz asquerosa roçando
na minha pele. — Ou eu posso mandar acabar com você.
Solto uma risada seca.
— Faça isso e eu corto o seu pau e o faço comê-lo — digo
entre os dentes, puxando a gravata de Arthur e apertando com mais
força que o necessário. — Não me chame de irresponsável de novo
— ameaço.
Arthur se afasta de mim, torcendo a boca e pronto para
resmungar, quando eu digo:
— O senhor precisa de mais alguma coisa?
Sem me responder, dá as costas para mim e caminha na
direção da sala, paralisando um passo antes de entrar na porta ao
ver que algumas pessoas no corredor nos observam.
Soltando fumaça pelas ventas, entra na sala e bate a porta
com força. Passo as mãos nas minhas roupas bem passadas e
sento na cadeira acolchoada, ignorando as pessoas no corredor e
ligando o meu computador.
Meu celular começa a vibrar dentro da bolsa e ao pegá-lo,
vejo o nome da Madelyn saltitando na tela. É a terceira vez que me
liga essa semana e eu venho ignorando todas as ligações.
Quando desiste de me ligar, me manda uma mensagem.
“Lawanda, preciso conversar com você. É sobre o seu tio.
Não acho que as coisas sejam o que parecem ser”
Sei que devia dar uma resposta ou pelo menos dizer que
estou muito ocupada, mas não faço nada. Infelizmente, Madelyn
ama o meu tio de verdade, então, o dinheiro que tem recebido nos
últimos meses e as falsas mensagens não é o suficiente para suprir
as suas necessidades.
Me sinto mal por ela, no entanto, não consigo deixar de ficar
aliviada por Madelyn não ter aceitado a oferta de trabalhar aqui no
escritório de Montreal e ter pedido demissão.
Gosto dela, mas olhar essa garota é como cutucar a minha
ferida e lembrar que meu tio era um cretino e fez barbaridades para
destruir minha família.
— O que você acha de Antonella? — a mamma pergunta,
esquadrinhando o meu rosto depois de abrir a porta do escritório.
O que acho dela? É uma linda mulher, que em outras
ocasiões, eu não negaria levar para a cama. Porém, Lawanda tem
me cegado e eu não consigo me interessar por outra bunda que não
seja a dela.
O pensamento me faz enlouquecer. Interessado e louco por
uma bunda que eu nunca nem toquei de verdade. Se eu pudesse,
encheria minhas mãos daquele rabo e mataria toda a vontade
reprimida dentro de mim.
Ela só tem dezenove anos, Thomas.
Mesmo que eu repita isso como um mantra, não parece
entrar na minha cabeça e muito menos, impedir a imaginação
sacana de fantasiar algumas indecências com a loira. Sou um
canalha, não devia pensar em uma garota tão nova desse jeito.
Essa garota é um atentado ao pudor e vem sendo uma dor
de cabeça para mim, ainda mais quando os meus olhos insistem em
ficar passeando pelo corpo pequeno e com curvas atraentes.
Nunca gostei de mulheres tão novas e sempre prezei as que
tinham mais experiências na cama, mas parece que o meu pau
resolveu mudar desde que Lawanda entrou na porra da minha
vida.

— É italiana e uma bela ragazza[17] — acrescenta, quando


fico em silêncio. — Combina com você.
Ajeito os óculos de grau acima do nariz e coloco os papéis
em cima da mesa de madeira. Não faz duas horas que cheguei do
escritório de advocacia, só tive tempo para um banho e me tranquei
no escritório de casa, porque amanhã tenho um dia cheio no
tribunal.
E estou sem paciência para as indiretas da mamma.
Desvio a atenção dela, organizando os papéis para colocá-
los dentro da pasta de couro.
— Não tenho interesse.
Num rompante, a mamma atravessa o escritório e para em
frente à mesa, apoiando com força as pontas dos dedos na madeira.
Ela inspira pesado e não preciso olhá-la para saber que tem o rosto
todo contraído.
— Devia ter, porque os pais dela parecem empolgados com a
ideia de casar vocês dois e eles foram convidados para a noite de
Natal.
Ergo os olhos para encará-la.
— O quê?
— Acho que preciso decidir por você, já que não faz muito
esforço para entrar em um relacionamento sério — resmunga. —
Olhe pra você, mio figlio[18], é o braço direito do Don e não tem laços
de verdade com uma mulher.
Abro a boca para censurar a mamma e sou interrompido pelo
toque rápido do meu celular em cima da mesa. Na tela, tem uma
notificação de mensagem de Lawanda e sei que minha mãe viu o
nome da garota.
— É a irmã do Nicholas — comenta, examinando o visor
colorido. — Uma moça decente não devia procurar um homem tão
tarde assim.
— É trabalho — digo com a voz séria e profunda, fazendo um
gesto com a cabeça para que me deixe sozinho no escritório.
Mamma suspira e faz uma expressão de desgosto antes de
dar as costas e ir embora. Apoio-me no escoro da cadeira
acolchoada e clico na mensagem que a loira me mandou.
“Preciso de ajuda. Pode vir aqui?”
A primeira coisa que eu faço é discar o seu número e ligar.
Para o meu desgosto, a única resposta que tenho é a caixa postal.
Fico apreensivo e irritado com a mesma intensidade com a
possibilidade de algo ter acontecido com ela.
Rápido, fico de pé e coloco o resto dos papéis de qualquer
jeito dentro da minha pasta de couro, pego o casaco no cabideiro de
madeira envelhecida, a chave do carro na mesa e rumo apressado
para a porta.
Encontro a mamma no hall de entrada. Ela tenta me
interceptar, mas eu a ignoro. Saio de casa e me deparo com o
soldado que cuida da segurança da minha família, ele tenta saber o
que aconteceu e eu apenas faço um gesto para que saia da minha
frente. Destravo a porta do carro e deslizo para o banco do
motorista.
Só depois de pisar no acelerador e sair em disparada na rua,
que algo me vêm à cabeça.
Nunca saí correndo atrás de uma mulher.

Ao entrar no corredor em que fica o apartamento de


Lawanda, solto uma baforada de ar. Nenhum dos soldados está por
perto. Ordenei que fossem discretos e não que evaporassem.
Assim que chego em frente à porta e a vejo entreaberta, tiro a
arma do coldre escondido debaixo da blusa canelada e a mantenho
em riste. Não faz muito tempo que Lawanda mandou a mensagem e
eu vim rápido, ultrapassando todos os sinais de trânsito.
Empurro a porta sem fazer barulho e dou um passo para
dentro do apartamento. Quase todas as luzes estão apagadas e o
lugar inteiro está sendo iluminado pela lâmpada acesa da varanda.
Ainda com a arma em punho, olho para os lados, procurando
por Lawanda.
De repente, um chute certeiro faz a arma cair da minha mão
e antes que possa entender o que está acontecendo, vejo uma
perna voar direto para a lateral do meu rosto, mas consigo bloquear
com a mão direita.
— Oi, Thomas — Lawanda fala e mesmo com pouca luz,
consigo ver a garota sorrindo.
Sem esforço, minhas vistas captam o que o seu corpo está
vestindo. Legging preta bem justa, ressaltando o quadril sexy e uma
blusa curta que deixa a barriga chapada de fora. Como se fosse
munição para os meus instintos, sinto uma vibração gostosa
acariciando o meu pau.
— Que merda é essa? Eu entrei armado — disparo, irado.
Controlo a vontade que eu tenho de virá-la de costas para mim e dar
um belo de um tapa na bunda redonda e puni-la por ser tão
imprudente.
Ela ri, e logo em seguida, as luzes se acendem. Levanto as
sobrancelhas ao reparar que a garota tem dois bastonetes de metal,
um em cada mão. O cabelo foi preso em um rabo de cavalo e os
pés estão descalços.
— O que é isso?
— Eu disse que Nick tá me ensinando a lutar. Agora quero
dar uma surra em você — é o que diz, toda atrevida e com um
sorriso diabólico desenhando os lábios salientes... merda. Pintados
de vermelho. Se estivessem com aquele rosa escuro, eu teria
enlouquecido de vez.
— Não acredita que eu possa te bater? — questiona intrigada
quando fico em silêncio, o que me faz rir.
Inclino o corpo para frente e pego a arma caída no chão,
guardo-a dentro do coldre de novo. Lawanda tem sorte, eu estava
prestes a destravar quando ela voou em cima de mim.
Sorte nada, ela é muito impulsiva, imprudente e não faz muito
o tipo de pessoa que pensa nas consequências.
— Não — respondo, simplesmente.
Ela enruga o rosto e morde o lábio inferior.
— Você disse que sou uma criança, então é melhor se
preparar para apanhar de uma.
Rio.
— Uhum, ok. Então, vem — provoco.
Ela segura os bastonetes com firmeza e avança em cima de
mim, alternando em tentar me acertar com o metal e me chutar. Ela
é pequena e rápida. Droga, Nick realmente ensinou alguns golpes a
ela. Esquivo dos chutes e agarro um dos seus pulsos com força,
roubando um gemido entrecortado e a fazendo derrubar um bastão
no chão.
Sorrio e dou uma piscada para ela, o que a irrita mais ainda.
— Ainda tenho um bastão — informa. — Posso te dar uma
surra com ele — emenda, petulante.
Ela se solta de mim e recua, alongando o pescoço sexy e
mexendo os ombros.
— Cadê os soldados, Lawanda?
A loirinha ri.
— Tem um restaurante do outro lado da cidade e eu pedi que
fossem comprar comida pra mim — admite, se divertindo.
— Eles não estão aqui pra isso.
Lawanda dá de ombros.
— Eu sei, mas é divertido. Não acha?
A minha boca se curva em um sorriso e eu lambo os lábios.
Como se tivessem vida própria, os olhos descem pelo corpo dela
mais uma vez e eu preciso respirar fundo para ter domínio sob os
meus instintos.
Lawanda vem para cima de mim de novo e dessa vez, eu não
me esquivo. Ela também não me ataca, só deixa o corpo bem
próximo, roçando no meu. Noto que não está usando sutiã e tem os
mamilos enrijecidos, e o atrito contra o meu peito é bom pra caralho.
— Por que não se esquivou? — pergunta, a voz baixa e
doce. O cheiro picante invadindo o meu nariz com mais força do que
nunca.
— Por que não me atacou de verdade? — devolvo.
— Ainda estou com o meu bastão — se gaba, erguendo o
queixo em atrevimento.
Sem dizer nada, agarro o seu pulso e a giro, ainda deixando
os nossos corpos colados um no outro. Roço os lábios no lóbulo da
sua orelha e o aperto no punho fica um pouco mais forte, fazendo-a
largar o bastonete.
— Não mais — murmuro contra o seu ouvido. Lawanda fecha
os olhos e joga a cabeça um pouco para trás, descansando-a no
meu peito. Da maneira que estamos, tenho uma visão perfeita do
decote, e a imagem do seu peito subindo e descendo com a
respiração rápida, me deixa muito excitado.
Ela tenta se virar e eu a impeço ao passar meu braço na sua
cintura, apertando-a contra o meu corpo. Minha ereção dolorida e
latejante de encontro com a sua lombar, me faz querer ceder aos
meus instintos e fazer Lawanda ser minha.
— Você tá duro — comenta, inclinando o rosto um pouco
para me olhar. — Por que está excitado? — Consigo sentir o leve
sarcasmo na voz dela.
Sorrio.
— Não sabe o motivo?
Afrouxo os dedos em volta do pulso de Lawanda e com muito
esforço, me obrigo a soltá-la. Recuo um passo e ela gira nos
calcanhares para me encarar, parece decepcionada por eu ter a
libertado.
— Você é sempre tão controlado assim?
Se ela soubesse que já perdi o controle várias vezes e faz
tempo que só gozo pensando nela, não teria feito essa pergunta.
Mesmo quando estava evitando Lawanda, não parava de me tocar
pensando nela.
— Sim — digo.
Lawanda volta para perto de mim. Fica na ponta dos pés e
enlaça o meu pescoço com as mãos, me fazendo respirar fundo.
Abre um sorriso torto, focalizando os meus olhos e mordendo o lábio
inferior.
— Thomas...
— Se afaste, Lawanda.
Ela arqueia uma sobrancelha.
— Por quê? — pergunta e eu não respondo. — Eu sei que
você me quer, vejo isso nos seus olhos.
— Se afaste, não vou mandar de novo — retruco, ríspido.
— Tem medo do meu irmão?
Rio seco.
— Não tenho medo de merda nenhuma — rosno.
Lawanda assente, piscando devagar e não recua nenhum
centímetro.
— Então... por que não me toca? — questiona, suspirando.
— Pare de dizer que eu sou uma criança, porque eu não sou.
— Não é mesmo — assumo, sentindo minha ereção doer
contra a calça. Nunca implorei para estar dentro de uma mulher,
mas no momento, sinto que meu pau está fazendo isso...
implorando para se enterrar dentro de Lawanda.
Não é motivo para se orgulhar, mas nem consigo me importar
de verdade com isso.
— Qual é a razão, então?
— Você quer ser minha? — devolvo.
Lawanda engole em seco e prensa os lábios carnudos em
uma linha reta.
— Sim — sussurra e eu fico calado, contemplando a boca
bonita, que suplica para ser sugada em um beijo feroz. — O que
mais você quer, Thomas? — ela pergunta, os olhos grandes e
felinos me observando de forma questionadora.
— Comer você inteira.
Ela me dá um sorriso sexy.
— Podemos fazer isso.
— Não sabe o que está dizendo — retruco, passando as
duas mãos na sua cintura, apertando e a trazendo contra o meu
corpo, deixando-a tão próxima de mim, que nem uma folha de papel
é capaz de passar entre nós. — Não se engane, eu não sou bom,
Lawanda.
— Eu nunca disse que era.
— Apesar de ser gentil, eu não faço amor. Quando olho pra
você, só consigo pensar em te foder de todas as maneiras
possíveis. Quero tanto fazer isso que estou ficando louco. Têm sido
meses difíceis.
As bochechas dela coram e eu adoro vê-la ruborizada por
causa de mim. As mãos na cintura descem até a lateral do quadril,
depois, para a bunda redonda, que eu agarro com vontade.
Lawanda geme.
— Não sabia que você fazia o estilo Christian Grey —
murmura.
Franzo o cenho.
— Quem?
— Deixa pra lá — segreda, sorrindo. Uma das mãos dela
escorrega do meu pescoço até a gola da camisa, que ela puxa para
baixo e me encara por cima dos cílios longos. — Por que tem sido
meses difíceis?
— Porque só consigo me tocar pensando em você — admito,
fazendo com que os olhos dela brilhem em excitação.
— Você se masturba pensando em mim?
— Sim, e eu não devia — falo entre os dentes.
— Não sou delicada, Thomas e sou bem grandinha. Pode
fazer muito mais do que apenas se tocar pensando em mim —
murmura, respirando fundo. — Eu estou aqui... em carne e osso —
emenda, apertando o próprio corpo contra o meu.
Caralho.
— Lawanda...
— O que foi? — rebate, a voz soa tão sexy, que me faz
perder o controle completamente.
Cedendo ao meu desejo, eu esmago os lábios de Lawanda,
sentindo-a arquejar contra a minha boca. Provoco-a com a língua,
exigindo acesso. Ela cede e eu mergulho a língua nela, explorando
sua boca em um beijo sedento e faminto, como um animal selvagem
encontrando sua presa.
Subo com uma das mãos e agarro o seu pescoço delicado
com força, prendendo-a ao mesmo tempo em que imponho a ereção
contra a barriga de Lawanda. Mordo o lábio e inferior e o sugo antes
de voltar a tocar a sua língua com a minha.
— Thomas — geme contra os meus lábios.
Deslizo a boca pelo seu queixo e dou uma mordida leve,
baixo mais um pouco até encontrar a pele do pescoço e devorá-la.
Sentir o gosto da pele de Lawanda pela primeira vez é bom pra
caralho.
Desço com os lábios ainda mais e encontro o seu colo,
enterro a boca no decote, provando a pele macia e doce. Com um
movimento rápido, puxo o tecido do top para baixo, liberando os
seios pequenos e de mamilos intumescidos. Ela enfia uma das
mãos nos meus cabelos e geme para mim, enquanto abocanho um
seio, provocando o mamilo com a língua.
— Quero foder você, Lawanda — a voz soa rouca e
profunda. Ela arfa ao me ouvir, em seguida puxa meus cabelos. —
Preciso fazer isso.
Lawanda volta a grudar a boca na minha, entrelaçando as
nossas línguas de maneira sedenta e precisa, me deixando louco de
tesão e o pau doloroso e duro. Dá alguns passos para trás e me
puxa junto.
Louca. Linda. Imprudente. Intensa. Não vejo a hora de ter
essa bunda gostosa na minha cama.
— Vem — sussurra, assoprando contra os meus lábios. —
Thomas... — geme ao sentir minhas mãos passeando pelas curvas
salientes do seu corpo.
Antes que possamos chegar no corredor, a campainha toca e
não consigo expressar com palavras a minha frustração e irritação.
Ela se afasta de mim, quase nada, mas o suficiente para ver a boca
borrada de batom.
— Deve ser o meu jantar.
Hábil, ajeito o top de Lawanda e puxo o rabo de cavalo, que
tinha sido quase destruído. Passo o polegar no limite dos lábios, a
fim de amenizar o borrão.
— Tem sorte, Lawanda.
— Por quê? — ela rebate.
— Salva pelo gongo — digo, prendendo uma mecha de
cabelo detrás da orelha pequena. — Caso contrário, eu teria
passado a noite com o meu pau enterrado em você.
Ela curva os lábios em um sorriso.
— Ah, é? — retruca com um tom atrevido e toca meu
abdômen com as mãos espalmadas. — Posso acabar com você
também, Thomas — sussurra e aproxima o rosto do meu para sugar
meu lábio inferior. Em seguida, passa o polegar na minha boca para
limpar o resíduo do batom.
Não tenho dúvidas.
Ela vai acabar comigo.
Não fiquei muito feliz em ter o momento interrompido pela
chegada do jantar, mas ao colocar a comida em cima da mesa, o
cheiro do ratatouille atravessa o meu nariz e faz meu estômago
roncar de fome.
Confesso que pensei que Thomas usaria isso como desculpa
e correria de mim, então, tento esconder a surpresa quando o vejo
me ajudar a pôr a mesa na ilha da cozinha.
Ele arregaça as mangas longas até a altura dos cotovelos e
os músculos se flexionam de leve quando estica os braços para
pegar os pratos de dentro do armário. É tão sexy, que perco um
pouco de tempo observando.
A sua voz grossa e profunda com aquela conversa de não
fazer amor e querer me foder de todas as maneiras possíveis,
zunindo nos meus ouvidos e deixando um calor gostoso entre as
pernas.
Thomas é lindo, experiente e o rosto não nega, o homem
promete um sexo e tanto, uma noite selvagem e cheia de orgasmos.
E bom, espero que ele saiba que estou pronta para isso.
Ele conecta os olhos nos meus, me fazendo suspirar e desvia
a atenção para a comida em cima da ilha.
Existe algo nele, que me faz sempre querer provocá-lo, por
isso, esbarro meu corpo no seu de propósito ao me aproximar da
pequena adega. Os olhos claros incendeiam ao mirar em mim e
sinto a pele em chamas, quase suplicando por um toque.
— Você quer vinho? — pergunto, como quem não quer nada.
Mordo o lábio inferior e o encaro, esperando por uma resposta.
Ele não diz nenhuma palavra e aos poucos, abre um sorriso
cínico, que ainda estou tentando decidir se amo ou odeio.
— Você é um problema, Lawanda.
Sinto os lábios esticarem.
Rompo a nossa distância com alguns passos e fico na ponta
dos pés, para nivelar os nossos rostos. Embora a respiração de
Thomas esteja controlada, existe tanto fogo nos olhos azuis, que faz
meu corpo queimar.
— Por quê? — pergunto baixinho, esquadrinhando o seu
rosto. — Por que não consegue ficar longe de mim ou por que meu
irmão vai surtar quando souber que você quer me foder?
Não devia provocá-lo, mas gosto de como o seu corpo inteiro
tensiona ao fazê-lo.
Ele vem para cima de mim, me pressionando contra a ilha da
cozinha e confinando meu corpo com o seu, me envolvendo dos três
lados e isso faz meu coração disparar. O músculo do maxilar está
cerrado e as mãos grandes encontram minha cintura com vontade.
Thomas está duro e impõe a ereção contra a minha barriga.
— Não me faça te foder aqui nessa bancada, Lawanda —
diz, a voz soando séria e deixando um rastro quente na minha
espinha.
— Por que não?
— Porque vou te fazer gritar e seria um problema — é o que
fala ao deslizar as mãos sobre as laterais do meu corpo. Aperto uma
perna na outra para controlar o latejar nas partes mais sensíveis.
— Por que seria um problema? — devolvo. Parece que as
únicas palavras que saem da minha boca são vários porquês, mas
acho que está funcionando.
Os olhos de Thomas ficam um tom de azul mais escuro.
— Lawanda... — murmura e mesmo assim, soa como uma
censura gostosa. Caramba, acho que gosto de fazê-lo perder as
estribeiras.
— O que foi? — rebato e ele fica em silêncio, me encarando.
A expressão no rosto de quem quer me pegar agora e fazer várias
indecências estampado no seu rosto. — Não quer que os homens lá
fora escutem? — provoco de novo.
Thomas ainda não diz nada. Nem precisa, na verdade. O
corpo dele responde como se tivesse vida própria. A protuberância
cutucando minha barriga e me deixando curiosa.
— Seria problemático se eles soubessem de nós? —
questiono, e mais uma vez, Thomas me observa em silêncio por
alguns segundos e isso me faz sentir quente.
Estou gostando de deixá-lo sem palavras.
— Achei que as regras fossem feitas para serem quebradas,
Thomas — sussurro, roçando de leve os meus lábios nos dele. —
Não acha interessante? Você e eu... nessa bancada?
Thomas deixa escapar uma espécie de rosnado e abaixa a
cabeça para encontrar meus lábios. Não é um simples beijo, a
língua entra na minha boca com intimidade e autoridade, e no
instante em que nossas línguas se tocam, minha pele parece entrar
em combustão. Solto um gemido, que mais parece um som de
rendição, e ao ouvi-lo, Thomas aprofunda mais o beijo.
Sem afastar a boca da minha, ele me ergue do chão e me
coloca sentada no balcão, prendo o seu tronco com as duas pernas.
As mãos passeiam pelo meu corpo, como se Thomas quisesse
decorar o caminho das minhas curvas.
Ele segura meu lábio inferior entre os dentes e depois, suga
com força, enviando ondas vibrantes para o lugar interessante entre
as minhas pernas. As mãos encontram os meus seios pequenos e
se enchem deles, me roubando um gemido.
— Você tem ideia do que está fazendo comigo, Lawanda? —
assopra contra os meus lábios e por alguma razão inexplicável, as
palavras saindo da boca de Thomas inflam meu ego. — Quero tanto
te foder, que estou ficando louco. Perdendo o controle — emenda
ao enterrar o rosto na curvatura do meu pescoço e morder.
Antes que possa dizer ou fazer algo, meu celular começa a
tocar. Penso em ignorar, mas Thomas arreda um passo para que eu
desça da banqueta. Deslizo para o chão e pego o aparelho em cima
da mesinha de centro.
É Nicholas.
— É o meu irmão — falo e um segundo depois, atendo a
ligação. Pela visão periférica, noto Thomas com o músculo da
mandíbula contraído. O arrependimento bateu? O que é mais forte?
O desejo por mim ou a amizade com meu irmão?
— Estou subindo — Nick informa e encerra a ligação sem
esperar que eu diga algo.
Respiro fundo e encaro Thomas.
— Nick está subindo — aviso.
Penso em provocá-lo, mas desisto no meio do caminho.
Coloco o aparelho em cima da mesinha de centro e rumo para o
banheiro. Faço o que posso para ajeitar o cabelo e melhorar a
vermelhidão nos lábios. Ao voltar para sala/cozinha, noto que
Thomas nem saiu do lugar.
Aproximo-me dele e só então, o homem se move e prende os
olhos em mim.
— Ainda dá tempo de se esconder no meu armário —
murmuro, irônica.
Os lábios dele se repuxam e em seguida, Thomas deixa
escapar uma risada curta e seca.
— Não sou homem de me esconder, Lawanda.
Arqueio uma sobrancelha em provocação.
— Ok.
Ouço a porta abrir e como em modo automático, arredo um
passo para o lado e finjo verificar o meu jantar em cima da ilha. Noto
o corpo de Thomas ficar todo ereto, no entanto, tenta disfarçar.
— Thomas? — é a primeira coisa que Nick pergunta. — O
que está fazendo aqui? — acrescenta, a desconfiança na voz é
palpável.
Os olhos do meu irmão me encontram e noto uma ruga fina
entre as sobrancelhas marcadas.
— Me ajudando — retruco, como se fosse óbvio. — Você não
quer saber sobre os negócios da nossa família, preciso que alguém
me auxilie — continuo falando, como se estivesse começando a
ficar chateada.
Meu Deus!
Posso ganhar um prêmio de atriz revelação.
Nick respira fundo, parecendo se compadecer da situação.
— Algum problema? — quer saber.
— Além de Arthur me infernizar o tempo todo e me tratar
como inútil? — devolvo, sacudindo a cabeça de um lado para o
outro. — Eu odeio aquele cretino — crispo, fingindo soltar fogo pelas
ventas. Não preciso de muito, detesto Arthur de verdade.
Thomas me olha, embora tente esconder a surpresa, consigo
notá-la dançando em seus olhos claros.
— Vocês iam jantar juntos? Por quê? — Nick pergunta ao
notar a comida e pratos na ilha. Ele checa a hora no relógio de pulso
e com o rosto retesado, encara Thomas ao se aproximar de nós. —
Nunca mais venha no apartamento da minha irmã tão tarde,
Thomas. Não gosto disso.
Thomas dá uma risada curta.
— Nicholas... no momento em que fez o seu juramento, você
se tornou o meu irmão, mas não ouse me dizer o que eu devo ou
não fazer outra vez — Thomas dispara firme e assim que vejo a
expressão de desgosto no rosto de Nick, tento aliviar o clima e
impedir uma eventual guerra entre mafiosos.
— Pare de ser tão mandão, Nick — digo, tentando colocar
leveza na minha voz. — Tem comida de sobra. Quer também?
— Não — meu irmão resmunga, sem tirar os olhos de
Thomas. — Lexie está me esperando no carro — emenda, a
contragosto.
Finjo um sorriso ao balbuciar:
— Tá bem.
Meu irmão não diz nenhuma palavra, em vez disso, ainda fica
com a atenção fixa em Thomas, quase como se exigisse que ele
saia de perto e nos dê privacidade. Caminho até Nick e agarro um
dos seus braços com as duas mãos, puxando-o para sala.
— Estou indo — Thomas fala, de repente, fazendo meu
coração martelar. Ele confere as horas no relógio e ergue a cabeça
para me olhar por uma fração de segundo. O olhar é tão frio, que
me arrepia os pelinhos da nuca. — Mantenha a calma e não
provoque o Arthur — é o que diz e não sei se é para manter minha
mentira de minutos atrás ou se está falando sério.
Nick e ele trocam um olhar e um aceno de cabeça, e é isso.
Thomas me ignora, o que me deixa meio irritada.
— Não o quero tão tarde aqui de novo, Lawanda — meu
irmão fala assim que estamos sozinhos. — Ele não é um homem
comum e você é apenas... uma criança.
Reviro os olhos.
— Criança... odeio essa palavra — rosno, trincando os
dentes. — Você acha que eu não transo? — explodo, e o rosto do
meu irmão se contorce em desgosto.
Apesar de tudo, minha vida sexual não é badalada. Fora o
idiota que vazou o meu vídeo, eu fiquei com dois caras e desde que
vim morar em Montreal, transar não é exatamente algo que eu tenha
feito. No entanto, meu irmão não precisa saber que não sou tão
experiente assim quando o assunto é sexo.
— Prefiro pensar que não. Você é minha irmã e eu tenho que
cuidar de você, Lawanda. Prefiro que não saia com ninguém até
saber exatamente o que está fazendo. Você é só...
— Shiii! — impeço Nick de continuar falando, o que o faz
respirar fundo e prensar os lábios. — O que veio fazer aqui?
— Além de conferir como você está? — devolve, irritadiço. —
Não preciso de motivos pra visitar minha irmã.
Respiro fundo e controlo a vontade de revirar os olhos.
— Tô bem, eu juro — murmuro.
Fico na ponta dos pés e beijo o seu rosto, a carranca não se
desfaz, mas não consigo me importar de verdade com isso. Nick
sempre parece estar mal-humorado, não importa o que eu faça ou
deixe de fazer.
— Antônio vai levá-la para o jantar de Natal no sábado.
Começa as vinte horas — diz, indicando com o queixo para a porta.
Antônio é o homem que ficou no lugar do Théo. Ele é o mais alto
dos dois e estranhamente, o menos antipático.
— Posso dirigir o meu próprio carro até o seu apartamento.
Nem é tão longe daqui de qualquer forma.
Nick me lança um olhar de quem diz que isso nunca esteve
em discussão.
— Preciso ir — é o que murmura ao depositar um beijo na
minha testa.
Acompanho Nick até a porta e não consigo impedir de
enrugar o nariz ao ver os homens colados com a porta de novo.
— O lugar deles é aqui, não no fim do corredor — meu irmão
resmunga.
Penso em retrucar, só que não quero brigar dias antes da
véspera do Natal, então, fico em silêncio. Observo Nick entrar no
elevador e sumir do meu campo de visão para fechar a porta.
Passa pela minha cabeça enviar uma mensagem de texto
para Thomas e chamá-lo de volta. Em vez disso, arrasto os pés até
a ilha e vou comer o meu jantar.
Às vezes, Thomas é meio irredutível e não acredito que volte
correndo pra cá só porque eu quero. Deve estar meio puto pela
forma que foi tratado por Nick. E nessa altura do campeonato, já
deve estar arrependido de ter colocado as mãos e a boca em mim.
Mafiosos são mais difíceis de lidar do que os homens
comuns.
Precisei de muito autocontrole para não deixar meu ego falar
mais alto e comprar uma briga com Nicholas por ter cogitado a
possibilidade de me dar uma ordem. Ou por ter me impedido de
continuar devorando a sua irmã.
Essa garota ainda vai me fazer perder a cabeça. Preciso
manter o controle e quando estou com ela, faço o contrário. Perco
tudo e eventualmente, isso será um grande problema.
Mesmo contra todos os meus instintos e a vontade de manter
a boca e as mãos no corpo da loirinha, decido ir embora e deixar os
irmãos sozinhos.
Os soldados do lado de fora ficam surpresos ao me verem
sair do apartamento de Lawanda, mas eles são sensatos, então,
não fazem nada, além de me cumprimentarem de maneira
respeitosa com um aceno de cabeça.
Dirijo até em casa emputecido, xingando os idiotas no trânsito
e odiando o rumo que as coisas não tomaram. Só de pensar que
quase passei a noite inteira com o meu pau enterrado em Lawanda,
fico soltando fogo pelas ventas.
Preciso tê-la e sei que isso é um problema.
Passei meses evitando-a, resistindo à tentação, tentando
colocar na minha cabeça que Lawanda era nova demais para mim,
e agora, não consigo parar de pensar no gosto da sua boca
atrevida.
Ou de imaginá-la cavalgando em cima de mim, enquanto
geme o meu nome.
Você conseguiu, Lawanda.
Perdi o controle e a farei minha. De um jeito ou de outro, você
será minha e não existe nada na merda desse mundo que me fará
mudar de ideia em relação a isso.

O jantar de Natal é entediante e eu me esforço muito para


não ser um completo babaca e cortar as palavras desnecessárias
que saem da boca da mamma, que além dos pais de Antonella,
parece ser a única animada com a noite.
Antonella é linda, preciso admitir, mas não me chama
atenção e não me vejo casando com ela. Muito menos, tendo filhos,
como a indireta que minha mãe acabou de soltar sobre o desejo da
família crescer.
Sei que preciso me casar, mas tenho certeza de que
Antonella não será minha esposa.
Enrico, o tio de Antonella, foi um grande homem e tem o meu
respeito, só que isso não é suficiente para me fazer casar com a sua
sobrinha e viver o resto da minha vida com ela.
— Antonella é gostosa — Oliver diz ao parar do meu lado, me
entregando um copo com whisky e me fazendo brindar com o seu
nas mãos. — Acho que ela está disposta a casar com você — fala,
levando os olhos até a garota.
Faço o mesmo e noto que Antonella, que está do outro lado
do salão, conversando com a irmã mais nova e as minhas primas
gêmeas, enquanto bebe goles pequenos de vinho tinto, tem a
atenção fixa em nós.
— Talvez — começo a articular e coloco uma mão no ombro
do meu irmão mais novo, apertando com firmeza. É instantâneo,
Oliver enrijece um pouco o corpo. — Se ela fosse casar comigo,
seria um desrespeito da sua parte chamá-la de gostosa na minha
frente. Ou nas minhas costas.
Oliver cerra a mandíbula e enruga o nariz, pouco feliz por ter
sido repreendido por mim, mas assente e diz:
— Não vai acontecer de novo.
— Ótimo — retruco e abro um sorriso sarcástico para ele,
soltando o seu ombro e o fazendo endireitar a postura.
Eu daria a minha vida pelo meu irmão, mas não sou cego, ele
é meio imprudente às vezes e precisa ser mantido em rédea curta.
Ser tão volátil no nosso mundo nunca é bom e pode fazer um
estrago dentro da organização.
Meu celular vibra dentro do bolso do terno. Ao pegá-lo, vejo o
nome de Lawanda quicando na tela colorida do aparelho. Apesar do
meu desejo eminente de fazê-la minha, não nos vemos desde
aquela noite no seu apartamento. Meus dias foram cheios de
trabalho legal e ilícito.
Olho Oliver de esguelha e ele entende de imediato. Afasta-se
de mim e eu encosto ao lado da lareira ligada e abra a mensagem
da loira.
“Como está a sua noite, advogado? Feliz Natal”
A mensagem de texto veio junto de uma foto da sala de estar
do apartamento de Nicholas. Ele, Lexie e o pai, Danny, o melhor
amigo da hacker e uma senhora que não conheço, estão em pé
perto da janela de vidro, conversando, e a grávida está rindo de
algo, enquanto mantém a mão na barriga.
Tiro uma foto da minha sala e mando para Lawanda com a
mensagem:
“Noite entediante. Feliz Natal”
A resposta vem em segundos.
“Quem são as garotas?”
Sou um cretino, pois sinto os lábios curvarem em um sorriso
com a possibilidade de Lawanda estar sentindo ciúmes de mim.
“Ninguém importante” é o que eu respondo e por alguma
razão inexplicável, as mensagens de Lawanda param de chegar, o
que me deixa irritado. Guardo o celular dentro do bolso e beberico o
whisky.
Antonella vem até mim e tenta uma aproximação amigável.
Apesar dos instintos de dispensá-lo logo de uma vez, sou educado o
suficiente e mantenho uma conversa com ela, o que não é ruim. Ela
é uma garota inteligente e doce, do tipo que faz tudo para agradar
os pais.
A mamma e os pais de Antonella ficam empolgados de nos
verem conversando, e quando o jantar é servido, praticamente nos
obrigam a irmos juntos para a festa de ano novo da família Carbone
na cobertura do cassino.
Estou prestes a recusar quando recebo uma mensagem de
Lawanda que me faz perder o controle.
Completamente.
“Quem são elas?”
Envio a mensagem para o Liam e aguardo. Não tinha como
perguntar ao meu irmão sem parecer suspeita e deixá-lo com a
pulga atrás da orelha. Acabo encaminhando a foto para Romie
também e fazendo a mesma pergunta: quem são elas?
Os dois demoram a me responder, o que me faz ficar de mau
humor.
Danny, o melhor amigo da Lexie, senta ao meu lado,
afundando no sofá de microfibra. Lança um olhar com a testa
franzida para mim e a única coisa que faço é respirar fundo.
— Que bicho te mordeu? — questiona.
Olho para ele de esguelha.
Danny é incrível e a Lexie tem sorte de ter alguém como ele
ao seu lado. É difícil não olhar para os olhos profundos e gentis e
não querer contar a vida. Além do mais, ele tem esse ar de pessoa
super confiável pairando na cabeça.
Até o Nick gosta dele. E bem, meu irmão não gosta de muitas
pessoas.
Aperto o celular na mão antes de desbloqueá-lo e abrir a foto
para mostrar à Danny.
— O que acha delas? — quero saber o óbvio. Elas são
lindas, não sou cega e estão na casa de Thomas. Não gostei de
como a resposta “Ninguém importante” veio rápido demais. Algo me
diz que existem mais coisas que ele não quer me contar.
Ele pega o aparelho das minhas mãos e analisa a imagem
por um segundo longo.
Danny não tem interesse em mulheres, ele é gay assumido,
eu sei. Só que é sincero demais e não vai hesitar em falar a
verdade.
— Lindas, quase deusas gregas — a sinceridade me atinge
como uma pedra no estômago. — Por quê? — Danny me entrega o
celular.
— Estão na casa do Thomas — murmuro antes do cérebro
filtrar as palavras. Devagar, os lábios de Danny se esticam em um
sorriso vibrante.
— Você e ele? Hum. — Como se estivesse ligado no modo
automático, a atenção de Danny vai parar no meu irmão perto da
janela, que está em uma conversa serena com o pai da Lexie. —
Seu irmão sabe disso?
— Claro que não. Se soubesse, ele não estaria tão tranquilo
agora — comento, observando meu irmão beber um gole de whisky.
Danny ri.
O aparelho vibra três vezes nas minhas mãos, notificando as
respostas que eu estava esperando. Estou pensando em ler a
mensagem de Liam primeiro quando a última resposta de Romie me
chama mais atenção.
Abro as mensagens.
“Essa é a sala da casa de Thomas?”
“As gêmeas são as primas de Thomas. A morena da
esquerda é a Antonella e a outra, é a Giulia, são irmãs”
“Pelo que ouvi, Antonella é uma noiva em potencial pro
Thomas”
Fecho os olhos por um segundo e prenso os lábios, sentindo
o sangue do corpo ferver ao mesmo tempo em que o estômago
revira com a informação desagradável. Mordo o lábio com força e
bato os cílios, respirando fundo.
Noiva em potencial pro Thomas?
— O que deu em você?
— Ela é uma noiva em potencial — grunho e Danny fica
confuso.
— O quê?
— Antonella — murmuro.
Danny sacode a cabeça de um lado para o outro, enquanto
pisca devagar e tenta me entender. Coitado. Não pareço fazer muito
sentido agora, mas não consigo me concentrar e explicar as coisas
de maneira correta no momento.
A única coisa que está girando na minha cabeça é Thomas e
noiva na mesma frase, e não gosto como elas deixam a minha
garganta amarga.
Cretino.
— Parece que você vai explodir — Danny diz.
— Eu sinto como se fosse capaz de fazer isso — retruco,
fazendo-o rir. Olho para ele e algo me vem à cabeça. — Vamos tirar
uma foto.
— Hãm?
— Vamos testar o autocontrole de Thomas Montanari.
Danny faz um estalo alto com a língua no céu da boca e nega
com a cabeça com veemência. Tenta se afastar de mim no sofá,
mas agarro o seu pulso e não o deixo sair de perto de mim.
Ele torce a boca.
— Você quer me usar pra fazer ciúmes num mafioso? Não
mesmo. Eu trouxe minha mãe pra passar o Natal comigo, não posso
simplesmente arriscar minha vida. E o mais importante, eu não
quero morrer — devolve.
Arqueio uma sobrancelha, cética.
— Quem disse que você vai morrer?
— Não é óbvio? Vou morrer e eu nem gosto de mulher —
explica de maneira dramática, quase me fazendo rir.
— Manterei em segredo sua identidade — é o que digo,
abrindo a câmera do celular e me aproximando mais ainda de
Danny. — Coloca a mão na minha coxa — ordeno.
— Como é que é? Você ficou doida — resmunga.
— Vai ser rápido, anda.
Prendo os nossos olhos e imploro em silêncio. Parece
convencê-lo, pois ele coloca a mão na minha coxa nua e nunca
fiquei tão feliz por estar usando vestido, e agradecida por Danny ter
uma mão tão grande.
Faço duas fotos sem revelar o rosto de Danny e ele retira a
mão de mim de imediato. Nick nos observa com a testa toda
enrugada e eu decido ignorá-lo completamente.
— Não se preocupe, minha heterossexualidade não é
contagiosa — zombo e ele relaxa, rindo.
— Ah, muito obrigado. Tô mais aliviado agora.
— Obrigada, prometo que nada vai acontecer com você.
— Se eu morrer, eu te mato — grunhe, antes de levantar do
sofá e se juntar à mãe e Lexie, que estão na cozinha, cuidando dos
últimos preparativos do jantar.
Volto com a atenção no celular e edito a foto, tendo cuidado
de deixar destacado a mão de Danny na minha coxa e um pouco do
meu decote. O resultado é excelente e não parece que estou na
casa do Nick. Mando a imagem para Thomas com a seguinte
mensagem:
“Ninguém importante? Fiquei sabendo que é sua futura noiva.
Faça bom proveito dela e não se preocupe comigo, vou fazer bom
proveito do meu acompanhante também.”
A mensagem vem tão rápido, que faz meu coração ir para a
garganta, batendo acelerado e forte.
“Que merda é essa, Lawanda? Quem é esse cara? Onde
você está?”
Digito “Decidi agitar o meu Natal e esse cara é minha
companhia de hoje à noite” e envio. Me dou conta de que tenho as
mãos trêmulas e as borboletas no meu estômago dançam como se
estivesse participando da ginástica rítmica.
Os três pontinhos na tela piscam e eu espero ansiosa pela
resposta.
“Que porra! Você quer foder com a minha cabeça?”
É o que ele manda e eu estou pensando em uma resposta
provocante, quando outra vem logo em seguida “Estou indo até
você”.
Engulo em seco ao ler o que mandou.
Levanto rápido do sofá e pego a bolsa, deixando meu irmão
em alerta. Invento uma forte dor de cabeça para ir embora, o que
complica um pouco, porque meu irmão sugere que eu descanse em
um dos quartos de hóspede e vá embora apenas no dia seguinte.
— Só quero minha cama — falo a meu favor e olho para
Lexie e depois para Danny, que parece entender as coisas no ar.
Ele balbucia algo no ouvido da minha cunhada e de repente, a tenho
do meu lado.
— Deixe-a a descansar em casa — Lexie fala para Nick,
abrindo um sorriso meigo, que consegue tocar o meu irmão. Ela vira
o rosto para mim. — Você consegue voltar sozinha?
— Sim.
— Vou levá-la — Nick diz, carrancudo e eu não ouso
discordar.
Já foi difícil dispensar Antônio na noite de hoje e eu não
quero outra possível discussão com o meu irmão. Só quero ir
embora o mais rápido possível. Nick vai para o andar de cima pegar
o seu casaco, e o Danny apanha o meu do cabideiro, o passando
pelos meus ombros.
— Deu certo? — murmura.
— Acho que eu estraguei tudo — admito, fazendo-o suspirar.
— Boa sorte — diz e abre um sorriso doce para mim. — Acho
que vai precisar — emenda, me fazendo morder o lábio inferior com
força.
Danny se afasta e eu aproveito para escrever outra
mensagem para Thomas, porque não posso arriscar que ele
apareça na porta do meu irmão, ainda mais, emputecido. Tenho
certeza de que Nick não agirá bem com a notícia de que estou
flertando com um dos homens do seu meio.
“Ah, é? E como vai me encontrar? Não estou mais na casa
do Nick e nem em lugares óbvios. Não vai ser fácil me encontrar,
então, não venha até mim.”
Não acho que ele vá obedecer, no entanto, não custa nada
tentar. Não recebo nada de volta, o que me deixa meio aflita. Meu
irmão volta alguns minutos depois, pronto para me levar para casa.
— Me dê a chave do seu carro, vou pedir pra Antônio levar
depois.
Sem pestanejar, eu obedeço, o que faz Nick arquear as
sobrancelhas de forma desconfiada. Dou um sorriso pequeno para
ele e me despeço de todos e desejo Feliz Natal antes de ir embora.
Descemos de elevador em silêncio e Nick confere minha
temperatura, o que me faz sentir péssima, e mesmo assim, não
consigo deixar de me sentir aliviada quando as portas de metal se
abrem na garagem.
Rumamos para o carro e ele abre a porta do carona para
mim, em seguida, dar a volta no veículo para se acomodar no banco
do motorista.
— Talvez seja melhor levá-la na emergência — Nick alega.
— O quê? Não. Não deixarei que estrague a sua noite de
Natal por causa de mim — contesto. — Só preciso tomar um
analgésico e dormir.
Meu irmão cerra a mandíbula e parece irredutível quanto a
me levar ao hospital, e já estou pensando em formas de fazê-la
mudar de ideia, mas sou surpreendida ao vê-lo anuir e concordar
comigo.
Por causa do trânsito da véspera de Natal, demoramos mais
que o normal para chegarmos ao antigo prédio de Nick e agora, o
meu novo lar. Agradeço a carona e assim que o vejo fazendo gesto
de quem vai descer também, interveio:
— Volte pra Lexie, eu vou ficar bem.
Nem espero pelo contra-argumento, desço do carro e
caminho rápido até as portas automática e entro. Cumprimento o
porteiro com um sorriso e corro um pouco para entrar no elevador
aberto ao mesmo tempo em que sinto o celular vibrando dentro da
minha bolsa.
Abro-a, vasculho até encontrar o meu aparelho e ver o nome
de Thomas saltitando na tela.
Não atendo.
O elevador para no meu andar e as portas de metal se
abrem. Fico contente ao caminhar pelo corredor e não ver nenhuma
das minhas babás. Procuro pela chave do meu apartamento na
bolsa e ao encontrá-la, enfio na fechadura e entro. Ligo todas as
luzes, tiro os sapatos e jogo a bolsa no sofá, respirando fundo.
Arrasto os pés até a cozinha e bebo um pouco de água,
refletindo sobre o que aconteceu há alguns minutos. Eu esperava
que Thomas ficasse puto, mas não que decidisse vir atrás de mim.
Talvez eu esteja ferrada.
A campainha toca quando estou terminando de colocar o
robe de seda por cima da camisola. Endireito os ombros e ergo o
queixo ao rumar até a porta, pronta para lidar com a bomba prestes
a explodir.
Espio no olho mágico só para conferir e vejo Thomas na
soleira, a expressão de desgosto desenhando o rosto bonito e
másculo. Respiro fundo e lambo os lábios antes de colocar a mão
na maçaneta e girá-la.
Assim que os olhos azuis e insinuantes encontram os meus,
sinto uma comichão me dilacerando de dentro para fora e se
alojando de maneira sorrateira no meio entre as minhas pernas.
Não é possível que eu esteja excitada porque Thomas está
bravo.
É, isso mesmo.
O rosto expressivo e cheio de raiva, a mandíbula cerrada e o
brilho devasso que deixa o azul dos seus olhos, um tom mais
escuro, é sexy pra caramba e me faz querê-lo mais ainda. Faz com
que eu queira desmontá-lo completamente.
Ainda em silêncio, dou um passo para trás e ele avança para
dentro do apartamento. O cheiro amadeirado, me atingindo em
ondas quentes e vibrantes. Perco um pouco de tempo observando
as costas de Thomas. A bunda contra a calça social do terno feito
sob medida, é uma tentação e me faz querer vê-lo sem nada.
Tranco a porta na mesma hora que ele invade o meu
apartamento, procurando a minha possível companhia de Natal.
— Cadê ele? — grunhe depois de voltar a sala, pisando duro
e soltando fogo pelas ventas. — Onde está o filho da puta?
Ergo o queixo em atrevimento.
— Não o encontrou escondido no guarda-roupa? — provoco.
No momento em que as palavras atravessam meus lábios e
chegam aos ouvidos de Thomas, ele avança em cima de mim como
um animal selvagem e faminto, me fazendo recuar até encostar no
balcão da ilha da cozinha. O choque da minha bunda contra o
granito frio, me rouba um gemido baixo.
— Não brinque comigo.
Sinto as minhas narinas inflarem.
— Não brinque comigo você, Thomas — rosno, trincando os
dentes. — Por que não me disse que tem uma noiva? — disparo e
tento afastá-lo de mim. Não é porque ele me deixa excitada, que
vou me entregar para um homem comprometido.
Ou quase comprometido.
Thomas não arreda. Em vez disso, as mãos pousam na
minha cintura, pressionando o meu corpo contra o seu e arrepiando
a minha espinha.
— Ela não é minha noiva.
— É uma noiva em potencial — devolvo, me sentindo ridícula
e com o ciúme queimando o peito ao mesmo tempo em que deixa
um gosto amargo na boca. Antonella não tem culpa de nada, mas
não consigo gostar dela no momento.
— Você transou com aquele cara? — é o que ele pergunta, o
músculo da mandíbula ainda contraído e deixando o rosto com um
aspecto bem atraente.
Gosto quando Thomas está bravo, então, decido provocar
mais ainda.
— Não te interessa, você não é meu dono — retruco, e um
segundo depois, é como se algo tivesse estalado dentro dele,
porque o homem tira as mãos de mim e recua um pouco, me
fazendo sentir falta do calor do seu corpo contra o meu.
Controlo os meus instintos de puxá-lo para perto e passo por
ele, esbarrando de proposito e caminhando na direção da suíte.
Abro a porta e mal entro no cômodo e sinto Thomas atrás de mim.
Decido ignorá-lo e me aproximo da penteadeira, sento na
cadeira felpuda e abro uma das gavetas, procurando meus cremes
noturnos para começar o meu skin care.
— Você transou com ele?
Através do espelho grande da penteadeira, os olhos azuis se
conectam com os meus, estão tão gélidos e afiados, que os pelos
da minha nuca se arrepiam e sinto o coração nos ouvidos.
Nunca o vi assim, tão enfurecido e com a expressão de quem
pode fazer barbaridades. Nem quando ele me salvou no dia em que
meu tio mandou me sequestrar. Ele matou um homem na minha
frente, mas mesmo assim, não tinha os olhos tão frios quanto agora.
E por que não tenho medo dele? Muito pelo contrário, tenho
vontade de cutucar a ferida e ver até onde as coisas podem chegar
entre nós.
Qual é o meu problema?
— Não tenho tempo pra esse tipo de conversa — é o que
digo, quebrando a nossa conexão e pegando o pequeno pote de
creme dourado de uma das gavetas.
— Você sabe que vou acabar com qualquer homem que tocar
em você, não é? Vou fazer isso, Lawanda. Não ache que estou
brincando.
As palavras me atingem como uma flechada no coração e eu
sinto o estômago revirar. Deixo o creme em cima da penteadeira e
levanto da cadeira, rodopiando o meu corpo para encontrar os olhos
de Thomas.
Ele não me deixa falar e dispara:
— Eu te disse, Lawanda, no momento em que eu te fizesse
minha, não teria mais volta.
Cruzo os braços em volta do corpo, exibindo o decote
provocante da camisola. Não sou ingênua, coloquei uma das
camisolas mais sensuais que tenho, porque sabia que ele estava
vindo. Thomas sempre perde um pouco a linha do raciocínio quando
está admirando as minhas curvas. E talvez, eu goste mais disso do
que deveria.
— Mas eu ainda não sou sua — informo e como em modo
automático, as suas narinas se expandem e ele cerra o maxilar.
Respiro fundo, sentindo o coração martelar forte dentro do
peito.
— Então, se quer ter algum direito sobre mim, me faça sua,
Thomas — digo, a voz soando baixa e provocadora. — Ou vá
embora — emendo.
Ele não se move, mas os olhos claros deslizam pelo meu
corpo, a excitação e possessividade destruindo completamente a
máscara de sensatez que vive estampando seu rosto bonito e
arrogante.
Em passadas largas, me aproximo de Lawanda. Uma das
mãos voa para a cintura fina e a outra, no pescoço, que tem a
pulsação forte. A pele arrepia com o meu toque e isso envia
vibrações para o meu pau. Os olhos felinos que ardem em desejo,
refletem os meus.
Puxo-a contra o meu corpo e a boca carnuda se entreabre,
deixando escapar um gemido erótico pra caralho.
— Vou perguntar pela última vez, Lawanda — grunho. —
Quem é o homem da foto? Você transou com ele? — a voz sai em
um tom ameaçador, no entanto, o meu toque no pescoço delicado é
cheio de desejo.
— Não... eu não transei.
— Por que me mandou aquela foto? — pergunto.
Depois de ver a mensagem de Lawanda, eu corri como um
cachorro até aqui. Sabia que não estava na casa de Nicholas,
porque ela não levaria alguém para a noite de Natal e ele não
aceitaria de qualquer forma.
E a ideia de ela ter trazido um homem para dentro do seu
apartamento... a ideia de ter um homem que não seja eu, tocando
Lawanda e a fazendo gemer, me deixou louco e emputecido.
Deixei tudo para trás e dirigi até aqui, pronto para esmurrar o
homem que tocou em Lawanda até ver o fio de vida sumindo dos
olhos dele. Essa garota me faz perder a cabeça e não acho que ela
saiba o que isso implica.
Lawanda engole em seco.
— Estava com raiva de você.
— De quem é aquela mão? — insisto.
— É uma foto antiga — é o que murmura e não parece que
vai me contar mais coisas, então continuo:
— Nunca mais faça isso, Lawanda — ordeno. — Não vou
aceitar outro homem tocando em você e não sou um cara que vai
admitir esse tipo de coisa quieto.
Ela ergue os olhos grandes e felinos para mim.
— E você vai se casar com aquela mulher? — é o que
pergunta, cheia de atrevimento. Essa garota imprudente gosta do
perigo.
— Não — a resposta é curta e sincera. — Da próxima vez,
converse comigo e não me faça perder a cabeça.
— Não posso prometer isso, Thomas — murmura, colocando
a própria mão em cima da minha, que está repousando em seu
pescoço delicado. — Porque eu gosto de como você fica quando
está irritado — fala, soltando a respiração que estava prendendo.
Trago Lawanda para mais perto e ela geme, sem desviar os
olhos de mim. Abaixo a cabeça e esmago seus lábios com os meus.
Ela cede, abrindo a boca e dando acesso a língua, que a invade
como um animal selvagem. Sugo o lábio carnudo e quente à medida
que aperto a sua cintura com força.
— Thomas... — ela choraminga, me fazendo segurar o seu
quadril com as duas mãos e sentá-la em cima da penteadeira,
derrubando alguns cosméticos no chão. — Eu quero você —
sussurra, me fazendo enlouquecer.
Os braços de Lawanda se prendem no meu pescoço e ela
puxa o meu corpo ao mesmo tempo em que entrelaça as pernas na
minha cintura e me agarra. Ao sentir a minha protuberância, ela
impõe ainda mais o corpo contra mim.
— Vou te foder com a minha língua e depois com o meu pau
— grunho contra a sua boca e ela concorda com um gemido, que
aos meus ouvidos, soam como uma sexy rendição.
Desgrudo nossas bocas e as minhas mãos passeiam pelas
laterais do seu corpo pequeno e quente. Desfaço o nó do robe e
devagar, passo a seda pelos braços de Lawanda, revelando os
seios redondos com mamilos entumecidos no tecido.
Mergulho o rosto na curvatura do seu pescoço e lambo antes
de morder, fazendo-a arquejar. Os lábios sobem mais um pouco e
encontram a orelha, mordo o lóbulo antes de chupá-lo.
— Você é minha — sussurro, e ela geme o meu nome.
Abocanho os lábios carnudos de novo, sentindo o gosto doce e
viciante, e minha ereção querendo explodir contra a calça.
Sedento, invado-a com a minha língua e a encaixo com a
sua, marcando território, enquanto deslizo as mãos pelas coxas em
volta de mim, que imploram por atenção. Lawanda finca as unhas
na minha nuca, me arrancando um som gutural.
Afasto-me um pouco e ela protesta. Subo o tecido da
camisola até a altura dos quadris e como se lesse os meus
pensamentos, Lawanda abre as pernas para mim, exibindo a
calcinha branca com uma mancha da sua excitação, que me faz
perder o juízo.
Insiro os dedos na lateral da calcinha e puxo para baixo,
passando pelas pernas. Observo Lawanda, que tem a respiração
ofegante e os lábios entreabertos, ansiando o meu toque na sua
boceta.
— Vai mais pra trás e abre bem as pernas pra mim.
Como uma garota obediente, ela o faz. Arrasta o tronco até
encostar no espelho e afasta as pernas uma da outra, me dando
uma visão ampla na boceta lisinha e toda melada. Fico de joelhos à
sua frente e os olhos dela brilham de tesão.
— Fique quieta — ordeno quando a vejo inclinar o corpo
sobre mim para agarrar os meus cabelos. — Fique quieta, que eu
vou te foder com a minha língua — digo, a voz soando baixa e
profunda.
Inebriada, ela assente.
Nunca a vi tão suscetível às minhas ordens, e eu gosto disso.
Enfio as mãos por debaixo da bunda de Lawanda e a puxo
um pouco mais para mim, colocando uma perna em cada ombro
antes de enterrar o rosto no seu meio. Lambo bem devagar a coxa e
roço a barba na pele antes de mordiscar. Repito o gesto do outro
lado e noto os olhos da loirinha luzirem de desejo.
Ela solta um gemido alto assim que minha boca encontra as
suas dobras, que eu chupo de leve. Depois, passeio com a língua
pela virilha e a vejo arquear o quadril contra o meu rosto.
Bem devagar, movo a língua da fenda molhada até o clitóris,
sentindo o gosto delicioso da sua boceta. Lawanda solta um gemido
alto, que faz o meu pau doer de tesão. Sugo o clitóris quente e
inchado, e a vejo fechar os olhos, deixando os lábios carnudos
entreabertos.
— Agora essa boceta é minha — digo, me sentindo
possessivo em relação a ela. Lambo-a com vontade, aproveitando
cada segundo da minha língua nela. — Cacete, é tão bom te chupar,
Lawanda. Geme pra mim.
Lawanda tenta se mexer, mas eu grunho e ela volta a ficar
quieta, enquanto a lambo e aproveito o gosto viciante. Com a ponta
da língua, brinco com clitóris e ela segura as minhas orelhas ao
bater os cílios e conectar os olhos aos meus.
Começo a chupar com força e primeiro, deslizo um dedo para
a entrada úmida e tórrida, fazendo as pernas em volta de mim
tremerem. Enfio outro dedo e continuo chupando-a com vontade.
Brinco com os dedos dentro dela, provocando-a enquanto tiro
e coloco de novo e a língua dá atenção ao ponto sensível, tomando
posse do que é meu.
Lawanda choraminga ao chamar meu nome, ficando cada
vez mais excitada, arqueando os quadris para mim. As pernas dela
começam a tremer e eu sei que está perto de gozar.
Afasto o rosto um pouco e levanto os olhos para encará-la.
Meus dedos continuam entrando e saindo dela.
— Goza, Lawanda — digo de maneira autoritária. — Quero
que goze pra mim e na minha boca — assopro contra o clitóris e
volto a chupá-lo, sem parar o vaivém dos dedos, que estão melados
com a sua excitação.
— Thomas, por favor — ela implora com um choramingo, e
então o corpo dela tensiona inteiro e as pernas tremem na mesma
intensidade em que se contraem e grita o meu nome ao se entregar
ao prazer.
Continuo lambendo-a por um instante, sentindo o gosto do
seu prazer, que é delicioso pra cacete.
Fico em pé e com as duas mãos, desço-a da penteadeira.
Lawanda vem mole e extasiada do orgasmo. Viro-a de costas para
mim e puxo o seu rabo redondo contra minha ereção. Com uma das
mãos, levanto bem a camisola até a base da coluna e com a outra,
seguro o seu queixo e a faço olhar para mim através do espelho.
Os olhos felinos estão dilatados e a respiração ofegante só
me deixa louco para mergulhar meu pau dentro dela.
— Você é minha, Lawanda e não há ninguém na porra desse
mundo que mudará isso.
Solto o queixo pequeno e a vejo arquear a bunda contra o
meu pau duro, me fazendo suspirar. Sem desviar a atenção dela,
afrouxo o nó da gravata e a jogo no chão. Lawanda ainda tem a
respiração acelerada ao me comtemplar tirar o terno, depois
desabotoar a camisa social.
Ela se vira para mim e as mãos voam para os últimos botões,
me ajudando. Passo a camisa pelos braços e a deixo cair no chão.
Lawanda toca o meu abdômen e morde o lábio inferior, os dedos
descem mais um pouco e encontram o meu cinto, que ela abre.
Em seguida, desliza o zíper da calça e encara o volume
contra a boxer, que pulsa em antecipação. Ela lambe o lábio inferior
e o morde, depois, puxa o elástico da cueca, enfiando a mão e
tocando o meu pau.
Fecho os olhos e respiro fundo, sentindo o corpo arrepiar.
Fantasiei tantas vezes com esse momento, que preciso me
controlar para não ter uma ejaculação precoce.
— Quero você dentro de mim — sussurra.
Seguro-a pela nuca, enfiando a mão nos cabelos e a
trazendo para mim. Grudo a minha boca na sua e mergulho a língua
em Lawanda, que tira a mão do meu pau e desliza pelo meu
abdômen ao sugar o meu lábio, e logo, volta a aprofundar o beijo
sedento e selvagem.
Guio-a até próximo da cama, minhas mãos descem do
pescoço até os ombros e eu empurro as alças da camisola para
baixo. Sem dificuldades, o tecido cai sobre os pés de Lawanda.
Abaixo a cabeça e provo os mamilos com a língua, roçando a
minha barba na pele enrijecida. Ela segura os meus cabelos e puxa
com força, choramingando. Aumento a fricção à medida que os
gemidos vão ficando mais intensos. Dou atenção ao outro seio,
abocanhando-o com vontade e deixando-a toda estremecida.
Arredo um pouco e a faço deitar no colchão. Saio de dentro
dos sapatos, tiro as meias e então, pego a carteira de dentro do
bolso e aponho um pacote de preservativo. Desço as calças junto
da boxer e massageio o meu pau duro com uma das mãos, para
cima e para baixo, deixando a garota hipnotizada.
Quero foder a sua boca insolente, mas preciso me enterrar
na sua boceta quente antes que eu perca o controle e goze como
um adolescente.
Rasgo o pacote dourado com a ponta dos dentes e deslizo a
proteção sobre a minha extensão quente. Subo em cima da cama e
com a ponta dos joelhos, abro mais as pernas de Lawanda.
Toco a fenda molhada, fazendo-a gemer e com o polegar,
faço uma fricção no clitóris. As pernas não demoram nada em
tremer e ela choraminga para mim, toda entregue.
Seguro meu pau e brinco com ele na abertura melada de
Lawanda para depois entrar com tudo, olhando em seus olhos.
Contraio a mandíbula ao sentir como ela é apertada.
— Porra, Lawanda — grunho. — Essa boceta é minha —
contesto, sentindo o pau doer de tesão.
Os quadris dela movem ao encontro do meu pau.
— Caralho. — Suspiro. — Você é gostosa pra cacete.
Lawanda entrelaça as pernas no meu quadril, fazendo ser
difícil formular alguma palavra. Ela aperta a boceta em volta do meu
pau e eu solto um gemido rouco, cheio de tesão. A loira coloca os
braços em volta do meu pescoço e me puxa contra ela, procurando
a minha boca para um beijo.
— Aperte o meu pau com a boceta de novo — ordeno e
assim, ela o faz.
Enterro-me dentro dela com mais força, sedento e
necessitado. Puxo o lábio inferior com os dentes e em seguida,
mordo o queixo, arrancando sons baixos e excitados dela.
— Mais forte, Thomas — pede.
Encaro os olhos por uma fração de segundo antes de atender
ao seu desejo, me enfiando fundo dentro da boceta quente e
molhada. Lawanda finca as unhas nas minhas costas, apertando-me
contra ela.
— Quero que ainda me sinta amanhã dentro dessa boceta —
grunho, e os olhos da loirinha brilham.
— Thomas...
Ela move os quadris e meu corpo entende o sinal de
imediato. Minhas estocadas ficam mais impiedosas e ela gosta, pois
crava as unhas nas minhas costas e chama por mim.
Volto a beijar os seus lábios, saboreando a língua viciante e
me estocando para dentro dela com toda a vontade que andei
reprimindo nos últimos meses. Mordisco o pescoço, querendo vê-la
marcada por mim.
Afasto o rosto um pouco e observo a sua expressão de
prazer, que é sexy pra caralho.
— Abra os olhos, Lawanda. Olhe pra mim até você gozar de
novo. Serei o único homem a te ter desse jeito — digo e fico
satisfeito pela voz ter soado autoritária.
Ela morde o lábio inferior e conecta os olhos felinos aos meus
de modo intenso. Abre a boca e deixa que os gemidos escapem do
fundo da garganta, me deixando ainda mais excitado.
Esgueiro uma mão entre nós e o polegar encontra o clitóris
quente e intumescido. Começo uma fricção nele e vejo o esforço de
Lawanda para manter a nossa conexão.
— Quero que goze no meu pau — informo. — Goza de novo
e pra mim, Lawanda — dou outra ordem.
Meu polegar brinca em movimentos circulares em cima do
ponto inchado.
— Thomas, eu vou gozar...
— Você é minha — rosno.
Ela respira fundo e arqueja, se entregando ao prazer. Um
choramingo escapa entre os lábios conforme as pernas estremecem
em volta de mim. Mantenho os olhos fixos nela, observando-a
alcançar o seu orgasmo.
Lawanda estremece embaixo de mim e arqueia o corpo
inteiro ao gozar.
Paro de segurar o meu orgasmo e me afundo nela com tudo
que eu tenho, forte e impiedoso. Os músculos da panturrilha se
contraem e eu sinto as bolas apertarem ao sentir a explosão me
dominando.
Gozo com força, os sons guturais saindo de mim e ecoando
pelo quarto. Continuo com o vaivém na sua boceta apertada e
quente até sentir a última gota de gozo deixando o meu pau.
Permito que o corpo caia sobre Lawanda e respiro fundo no
seu pescoço. Ela entrelaça os dedos entre os meus cabelos e puxa
de leve, me fazendo olhá-la nos olhos.
— Agora eu sou sua de verdade — murmura e deixa a
atenção cair sobre a minha boca. — O que vai fazer sobre isso?
— Te comer até não aguentar mais — é o que falo, saindo de
dentro dela e tirando o preservativo. Levanto e caminho até o
banheiro para jogá-lo no cesto do lixo. Segundos depois, volto para
cama e noto que a garota nem se moveu. — Você é linda, Lawanda
— digo, admirando o seu corpo.
Ela sorri de lado.
— Prove.
Franzo o cenho.
— O quê?
— Prove que eu sou linda com a sua boca em mim — fala,
lambendo os lábios. — Gosto quando ela está aqui — emenda,
levando uma das mãos até entre as pernas e se tocando.
É instantâneo, a visão de Lawanda se tocando pra mim é o
paraíso e faz o meu pau latejar.
— E aqui também — continua falando com a voz baixa e
agora, com a mão livre, toca um dos seios.
Admiro a cena de Lawanda tocando a boceta e apertando os
seios redondos.
— Prove que eu sou linda e me devore, Thomas — pede, e
se ela soubesse que vê-la assim acabou de se tornar o meu vício,
não teria o feito.
Avanço em cima de Lawanda, com o joelho, cutuco as suas
pernas e as deixo bem aberta para mim. Ela não para de se tocar,
nem quando estou com a boca a um centímetro da boceta quente.
Seguro a mão pelo pulso e sugo os dedos melados com a
sua excitação. Ela geme e depois, abre meio sorriso, que me faz
perder a cabeça. Enfio o rosto dentro da boceta e começo a devorá-
la.
Ela é minha.
Meu novo vício.
Acordo com um dos braços musculosos de Thomas em volta
de mim de maneira possessiva e a minha coxa em cima da sua. O
edredom cobre apenas da cintura para baixo, então, admiro o
abdômen trincado e duro como rocha.
Ele tem os olhos fechados e a respiração profunda, um dos
braços está debaixo da cabeça, e mesmo que pareça relaxado, os
músculos do bíceps estão meio que flexionados. Deslizo os olhos
pelos gominhos do abdômen até o V marcado com o filete de pelos
que some no edredom.
Thomas é muito gostoso.
Sem fazer movimentos bruscos, tiro a minha coxa de cima da
sua e saio da cama. Vejo nossas roupas jogadas no chão e em vez
de pegar a minha camisola, apanho a blusa social branca de
Thomas e a visto.
Arrasto os pés até a cozinha e encho um copo de água para
matar minha sede. Estico o braço para ligar a cafeteira e sinto
arrepios me atingirem. Olho por cima do ombro e vejo Thomas,
usando um roupão, que fica pequeno demais no corpo enorme, só
que continua sexy mesmo assim.
Gemo no momento em que uma das mãos agarra minha
cintura, e a outra, coloca o meu cabelo para o lado, expondo a
garganta. Um beijo quente e molhado toca a curvatura do meu
pescoço, deixando um latejar gostoso no meio das pernas.
E eu lembro do que ele disse ontem.
Quero que ainda me sinta amanhã dentro dessa boceta...
Não foi algo difícil de acontecer. Thomas é grande e grosso, e
ainda consigo senti-lo dentro de mim mesmo sem estar. Não é ruim,
muito pelo contrário, me faz querer que me pegue agora.
Thomas continua com os beijos no meu pescoço, fazendo ser
difícil segurar o copo de vidro meio cheio de água. Coloco-o na pia e
fecho os olhos, aproveitando os seus lábios na minha pele. O latejar
no meu clitóris aumenta e eu aperto uma coxa contra a outra para
controlar a sensação.
Thomas rosna e com a ponta do joelho, me impede de
continuar pressionando as pernas e as afasta uma da outra.
Engulo em seco.
— Bom dia — ele sussurra ao apertar minha cintura contra o
próprio corpo. O gesto faz a ereção roçar a minha bunda e um
gemido escapar dos meus lábios. — Está usando minha blusa.
— Sim — é a única coisa que consigo murmurar.
— Gosto de como ela fica em você — fala, a voz quente
enviando calafrios para minha pele. — Mas quero ver a sua bunda
— emenda ao segurar a barra da blusa social e erguê-la até a base
da minha coluna. — Ainda quero te comer de quatro, Lawanda,
enquanto admiro esse rabo bem empinado pra mim.
Thomas rosna ao ver que não estou usando calcinha.
Sem dizer nada, uma das mãos desliza para o meu ponto de
prazer e os dedos me alcançam. Ele suspira ao sentir a umidade da
minha boceta e eu preciso segurar a borda da pia com força para
não cair.
— Você está muito molhada, Lawanda — funga no meu
cangote, enquanto me toca e me faz estremecer. — Quer que eu te
coma contra a pia? — pergunta e eu não tenho forças para
responder, só quero que o faça.
Tento olhá-lo por cima do ombro e sinto os dedos saírem de
dentro de mim, e, então, ele os leva para a própria boca, chupando
o meu tesão.
— Você é tão doce — é o que diz, voltando a me tocar.
Fico na ponta dos pés, sentindo cada terminação nervosa do
meu corpo vibrar. Enquanto uma mão acaricia o meu clitóris no lugar
certo, a outra aperta minha bunda com força, roçando os dedos de
leve na minha entrada traseira.
— Thomas... — arfo.
Ele para de me tocar e eu resmungo ao sentir falta dos seus
dedos me dando prazer. Thomas se ajoelha atrás de mim e ordena:
— Empina esse rabo pra mim.
Eu faço sem hesitar.
Ao senti-lo mergulhar o rosto na minha boceta, mordo o lábio
inferior com força, reprimindo um grito. Fico na ponta dos pés para
facilitar o seu acesso. A língua toca toda a minha extensão,
lambendo de baixo para cima, me fazendo estremecer.
— Minha — ele grunhe contra a parte sensível, a voz quente
e possessiva vibrando contra o meu clitóris. — Você toma
anticoncepcional?
— Sim.
— Quero te pegar sem nada, Lawanda.
— Nunca fiz sexo sem camisinha.
— Então, meu pau será o primeiro a entrar nessa bocetinha
sem nada — murmura ao voltar a ficar de pé. — Não se preocupe,
eu estou limpo — avisa, e eu apenas murmuro um “sim”.
Thomas mordisca o meu pescoço antes de agarrar o pau
duro e grosso e colocar a cabeça quente na minha entrada úmida.
Ele entra bem devagar, me torturando. Arqueio o quadril, suplicando
em silêncio que venha com tudo.
As mãos de Thomas seguram a minha bunda, abrindo-a para
ele. E então, ele entra com um golpe certeiro. Ele começa com os
movimentos de dentro e fora, forte e rápido, depois, me faz inclinar
metade do corpo sobre a pia e continua.
Empino bem a bunda para ele, sentindo-o todo dentro de
mim. Aperto seu pau com a minha boceta e o ouço grunhir em
aprovação. As mãos vão para minha cintura, que ele aperta com
vontade.
— Mais forte, Thomas — peço, e ele vem, com tudo,
estocadas selvagens e que faz as minhas pernas tremerem.
Em sincronia com os movimentos, tento rebolar contra o seu
pau, o fazendo perder o controle.
— Calma — Thomas range entre os dentes. — Eu vou gozar
rápido se continuar assim, porque você é gostosa pra cacete. E
essa bunda é uma delícia.
As palavras dele me atravessam e é como se girasse uma
chavinha dentro de mim, que me faz querer ir mais rápido e rebolar
contra a sua excitação dura até vê-lo explodir dentro de mim.
— Lawanda... — ele chia.
Uma das mãos desce até a minha boceta e o indicador e
médio começam a tocar o meu clitóris inchado, me arrebatando
gemidos. Os dedos de Thomas são precisos e sabem exatamente o
que fazem.
— Quero te ver gozando no meu pau — grunhe.
— Se continuar me tocando assim, eu vou gozar — falo, num
tom baixo e arfante. — Me pega mais forte, Thomas. Por favor —
suplico, estremecida.
Ele não tira os dedos do meu clitóris de imediato, mas
consegue sincronizar as investidas mais profundas com os
movimentos circulares no meu ponto sensível. Fecho os olhos, me
agarro a pia com tudo, sentindo as ondas espirais me percorrerem.
Os dedos param de me tocar e as mãos seguram meu quadril
com força, e Thomas aumenta as investidas, rápido e impiedoso. O
único barulho no apartamento são os nossos gemidos e o som que
o seu corpo faz ao se chocar contra o meu.
É viciante.
— Thomas...
— Vai, goza no meu pau — fala, todo mandão e as minhas
pernas tremem tanto, que é difícil me manter em pé.
Começo a rebolar, conciliando com o ritmo das investidas de
vaivém que Thomas faz. Ele solta um gemido rouco e eu o aperto
com a minha boceta, fazendo as mãos no meu quadril me
espremerem com força.
Gemo alto.
Thomas continua saindo e entrando em mim, me deixando
mole e ao mesmo tempo, em alerta. A sensação do orgasmo é tão
intensa, que meu corpo todo se contrai, e se não estivesse
debruçada sobre a pia, eu teria caído no chão.
Quando Thomas alcança o próprio prazer, finca as unhas na
minha cintura, mantendo o meu corpo no mesmo lugar e continua
com as investidas dentro de mim e me preenchendo com o seu
gozo quente.
Depois, ele deixa o corpo cair sobre o meu e beija a minha
nuca.
— Você quer tomar um banho? — pergunta, saindo de dentro
de mim e virando o meu corpo contra o dele. Sem esperar por
respostas, começa a desabotoar a blusa social.
Dou meio sorriso.
— Quer tomar banho ou me foder de novo? — retruco em
atrevimento, olhando Thomas por cima dos cílios.
Os olhos azuis brilham de desejo ao dizer:
— Por que ter um, se eu posso ter os dois?

Meu irmão me liga perto da hora do almoço.


Thomas ainda não foi embora e até decide cozinhar
macarrão com molho à bolonhesa, o que me deixa feliz. Sou
péssima na cozinha e nunca precisei fazer minha própria comida.
Ainda estava surpresa por um mafioso saber manusear
panelas com tanta destreza.
— Lawanda? — Nick chama depois que fico um minuto muito
longo em silêncio. Estou sentada na banqueta da ilha, perdida em
pensamentos ao observar Thomas, na cozinha do meu
apartamento, usando nada mais que um roupão pequeno.
— Hum? Oi?
Meu irmão suspira.
— Se sua cabeça não melhorou, vou te levar no hospital.
— Não! — exclamo rápido, chamando atenção de Thomas,
que desliga o fogão e vem até mim, esquadrinhando o meu rosto. —
Só preciso continuar descansando, logo minha cabeça vai melhorar.
Thomas abre um sorriso cínico e eu ergo a perna para chutar
sua bunda dura. Começo a rir ao ver as sobrancelhas grossas se
arquearem para mim.
— Qual é a graça? — Nick quer saber.
— Desculpe, a dor de cabeça deve estar afetando minha
capacidade de raciocinar — me justifico.
— Mais um motivo pra eu te levar no hospital — meu irmão
resmunga e começa com os argumentos superprotetores, enquanto
eu estou motivada a tentar acertar a bunda de Thomas de novo com
a ponta do pé.
Prendo o lábio inferior com os dentes para reprimir um
gemido ao sentir Thomas agarrar meu tornozelo com uma das
mãos, que desliza até entre as minhas coxas. Engulo em seco e
balanço a cabeça de um lado para o outro.
Não é possível que ele esteja cogitando fazer algo agora.
Tiro o celular do ouvido por um segundo e tampo o fone do
aparelho para que meu irmão não escute.
— Não faça isso! — ordeno e volto com o celular na orelha.
Algo dentro dos olhos de Thomas inflama e o azul ficam um
tom mais escuro. Com força, ele abre as minhas pernas e me
encara de um jeito arrogante, levantando parte da blusa social até a
cintura. Me odeio um pouco no momento por não ter vestido uma
calcinha.
Sinto os meus olhos esbugalharem ao vê-lo se ajoelhar na
minha frente.
— Não — protesto.
— Não, o quê, Lawanda? — Nick quer saber.
— Sinto muito, estou confusa — tento me explicar e noto os
lábios do Thomas se curvarem em um sorriso cínico.
E então, ele enterra o rosto entre as minhas pernas e começa
a me lamber. Fecho os olhos com força, cogitando a possibilidade
de desligar na cara do meu irmão, que está resmungando algo, que
não faz sentido nenhum para mim.
— Eu preciso... — sussurro com dificuldade, sentindo a
língua de Thomas brincando com o meu clitóris. — Nick, por favor,
só quero ficar sozinha hoje — emendo, respirando ofegante.
Thomas me olha e continua me lambendo como se eu tivesse
gosto de fruta.
— Por favor... a gente pode conversar depois? — imploro. —
Eu preciso desligar e descansar.
— Tá certo. Se precisar de algo, me ligue — é o que Nick diz
e eu nem respondo nada, apenas encerro a ligação.
A mão livre voa para os cabelos de Thomas e eu puxo com
força. Ele arreda a boca um pouco do meio entre as minhas pernas
e ergue uma sobrancelha para mim.
— Eu vou tocar em você quando eu quiser — avisa e eu
apenas assinto, meio desesperada que continue o que estava
fazendo. — Não tente me impedir de novo — diz e não consigo
conter os lábios de se repuxarem em um meio sorriso.
— Tá bem, mas agora, continue o que estava fazendo, quero
sua língua em mim. Quero gozar na sua boca, Thomas — murmuro
com a voz meiga e os olhos dele dilatam. — Por favor —
acrescento, fingindo implorar e dou uma piscada para ele.
O mafioso rosna e volta a enterrar o rosto entre as minhas
pernas, me fazendo jogar a cabeça para trás e me deliciar com a
língua faminta e necessitada no meu sexo.
Caramba.
Não lembro de um homem ter feito eu gozar tantas vezes no
dia e Thomas consegue fazer isso sem problema nenhum.
É bom.
Viciante.
Thomas vai acabar comigo.
Ficar dentro de Lawanda se tornou um vício mais rápido do
que eu esperava. E eu teria perdido mais horas me enterrando
dentro dela ou lambendo sua boceta se não fosse por causa do
trabalho.
Ainda é Natal, mas os problemas são uma droga, não se
importam com os feriados ou que eu esteja com uma bela mulher
cavalgando em cima do meu pau e tendo orgasmos incríveis.
Visto minhas roupas amassadas e com o cheiro da loirinha.
Nunca gostei que as mulheres deixassem o cheiro feminino nas
minhas roupas ou que as vestissem depois de uma foda, mas o
perfume picante e adocicado de Lawanda é perfeito.
E com certeza tê-lo impregnado na minha blusa não vai ser
ruim. Vai lembrar que agora, ela é minha.
Ao sair do apartamento, dou de cara com os saldados na
porta. Eles não estavam aqui ontem quando cheguei. Apesar da
confusão palpável, eles endireitam a postura e fazem um gesto
positivo com a cabeça, me cumprimentando.
Lawanda surge atrás de mim, segurando a porta entreaberta.
— Se contarem pro meu irmão alguma coisa, se falarem uma
palavra que for, Thomas vai cortar as bolas de vocês e fazê-los
comer — Lawanda fala com um tom natural.
Olho-a por cima do ombro e a vejo com um sorriso meigo
desenhando os lábios carnudos e arredondados.
Os soldados pigarreiam e um deles afrouxa o nó da gravata
antes de concordarem em sincronia com um uníssono, deixando a
garota satisfeita.
Sem dizer absolutamente nada para eles, faço um gesto com
a mão no ar, indicando que saiam de perto. Apressados, me
obedecem sem pestanejar. Giro o corpo na direção da Lawanda e
prendo meus olhos aos seus.
— Não pode sair ameaçando os homens da organização
assim, linda — digo, levando uma mão até o seu rosto e colocando
uma mecha de cabelo atrás da orelha.
Ela levanta uma sobrancelha loira para mim.
— É um mundo injusto, se eu falasse que eu mesma cortaria
as bolas deles, não acreditariam em mim. Você sabe que tenho
coragem de fazer isso — contesta. — Precisei usar você para que
me ouvissem e me obedecessem... indiretamente.
Não consigo impedir os lábios de sorrirem.
— Sim, eu sei, mas não faça nada — aconselho, fazendo-a
revirar os olhos de maneira insolente.
Tenho vontade de acertar um tapa na bunda redonda só pelo
atrevimento. Difícil manter as mãos longe do seu corpo pequeno,
quando sinto que já decorei cada curva com a minha boca.
Quando já estou viciado no seu gosto doce.
— Não seja imprudente.
Lawanda suspira.
— Eu sei, eu sei. — Agarra a barra da minha blusa e puxa
para ela. — Te vejo depois?
— Sim.
Ela fica na ponta dos pés para encostar os lábios carnudos
nos meus. Em seguida, me dá uma piscadinha e entra no
apartamento.
Giro nos calcanhares e caminho até o elevador. Os soldados
no corredor voltam a se aproximar da porta e acenam de novo em
respeito, e evitam contato visual. Sei que não sairão por aí falando
coisas que não devem, porque estão cientes do que isso implica.
Mas droga.
Estou ficando louco, porque acho que enfrentaria uma guerra
com Nicholas para continuar me afundando em Lawanda.
— Você tá com cheiro de boceta — Noah fala ao sentar na
cadeira acolchoada, me fazendo soltar uma baforada de ar. Ele abre
a primeira gaveta da mesa de madeira do escritório e me oferece
uma pasta transparente. — A cara de que passou a noite trepando
não nega também. Acho que valeu a pena — zomba e eu apenas
assinto.
Sento-me de frente para a mesa e pego a pasta, checando o
que tem dentro, enquanto o Don continua falando:
— Finn Stevens está morto — avisa e eu ergo os olhos para
encará-lo. — Ele tem um colega de quarto, quero que se certifique
que o outro garoto não irá fazer perguntas ou vá procurá-lo. Quero
que seja como se aquele pedaço de lixo nunca tivesse existido.
— Foi você? — é só o que eu questiono, sem transparecer
julgamentos ou emoções.
Há algumas semanas, Noah tinha arrebentado a cara de Finn
com um taco de beisebol, porque ele tentou abusar de Sophia[19] no
estacionamento do cassino. É uma garota que o chefe da família
Carbone não devia desejar também, mas não aceitamos muito bem
quando queremos algo e não podemos ter.
E depois do divórcio polêmico, Noah não está ligando para
regras ou tradições ultimamente.
— Infelizmente, não. Sophia o matou.
Uno as sobrancelhas, confuso.
— Sua Sophia? — retruco, e os cantos da boca dele se
repuxam em um sorriso arrogante.
— Sim, minha Sophia.
Respiro fundo e anuo.
— O que aconteceu? — quero saber.
Noah faz uma careta.
— O idiota invadiu a casa dela, os dois brigaram pela arma e
ela disparou sem querer. Para o meu desgosto, ele teve uma morte
rápida. Devia ter arrancado o pau de Finn e enfiado no cu dele
enquanto estava vivo.
Não posso discordar. Finn era um merda e uma morte rápida,
não é lá muito justa para alguém como ele.
— Sophia está bem?
— Vai ficar, ela é forte — é o que diz.
Assinto de novo e gesticulo com a pasta ao dizer:
— Cuidarei disso.
Ele tamborila os dedos em cima da mesa de madeira e me
analisa por um segundo longo e cauteloso.
— O pai de Antonella veio me ver hoje de manhã.
Suspiro, meio contrariado.
— Ele veio pedir minha mão? — retruco, fazendo Noah soltar
uma gargalhada que ecoa pelo escritório.
— Me pediu ajuda para procurar um noivo decente para
Antonella. Quase implorou, na verdade. É claro que você é o
primeiro da lista — informa, me fazendo cerrar o maxilar.
Noah é o Don, o meu chefe e de todos. Se ele disser que
concorda com a ideia de Antonella e eu nos casarmos, mesmo a
minha vontade de fazer exatamente o contrário, eu o farei, porque é
uma ordem dele.
Mas nós crescemos juntos e somos melhores amigos, estou
contando que isso sirva de alguma coisa.
— O que você disse? — pergunto e fico satisfeito por ter
conseguido esconder a curiosidade.
— Que arranjarei um bom homem pra Antonella. Não dei
nomes — articula, me dando um sorrisinho presunçoso.
Parece estar se divertindo com a situação.
— Me casarei em breve — informo, mesmo sem ter
pretensão de fazê-lo tão rápido.
Noah fica de pé, concordando com um aceno de cabeça.
Levanto também, gesticulando a pasta de leve no ar, reforçando
apenas com o olhar, que cuidarei do colega de quarto de Finn.
— Vá pra casa, Thomas e tome um banho — fala,
debochado. — Gosto do cheiro de boceta, mas não impregnado em
você.
Alexander Tikhonov.
Seu rosto está decorado na minha cabeça. Assim que
descobri que ele detém tantos direitos sobre a Corporação quanto
meu irmão e eu juntos, eu o pesquisei no Google. Nada na internet
indicava que ele é líder de uma organização criminosa em Toronto.
Magnata da indústria automotiva, tem uma esposa bem
conservada e um filho de vinte e seis anos. Nas fotos, eles não
passam de uma família inofensiva, que fazem ações de caridade de
vez em quando.
Sempre tive vontade de conhecê-lo, mas era como se
ninguém me desse ouvidos. Eu também não sou burra, sei que o
melhor é manter distância de um homem como ele.
No entanto, vê-lo bem na minha frente, faz a minha língua
coçar e as mãos formigarem para voar em cima do seu pescoço e
sufocá-lo.
Ele é bem mais velho do que nas fotos e tem um sorriso
irritante.
O filho, que está ao seu lado, com os ombros eretos e os
olhos aguçados em mim, me analisa com cautela. A atenção dele
recai sobre os meus peitos, demorando mais tempo que o
necessário na região.
— Lawanda Farley — diz o velho, o sotaque carregado e
ridículo soando de forma estridente aos meus ouvidos. — É um
prazer conhecê-la.
O velho russo estende a mão e estou tentada a recusar o
contato, mas ao ver a expressão desdenhosa de Arthur para mim,
ergo o queixo e aceito o cumprimento. Não me deixando ser
intimidada, seguro a sua mão com força e sagacidade.
— Infelizmente, não posso dizer o mesmo sobre o senhor —
retruco, fazendo Alexander e o filho rirem.
— Você tem personalidade — o velho devolve, inabalável.
— Podemos conversar? — pergunto.
Arthur dá um passo para frente, agarrando meu braço com
força e como se mandasse em mim. O gesto me irrita e faz o
sangue do meu rosto ferver. Venho sendo impassível com esse
idiota, mas às vezes é difícil resistir à tentação de chutar suas bolas
nojentas.
— Não seja tão atrevida, Lawanda.
Com um gesto rápido e hábil, me desvencilho do seu toque e
seguro o pulso do CEO da Corporação de maneira brusca.
— Ouse tocar em mim de novo e perderá a mão.
Alexander solta uma gargalhada, que ecoa pelo corredor da
empresa, enquanto seu filho me encara com certo interesse. Tenho
vontade de perguntar se perdeu alguma coisa em mim, porém,
mordo a língua.
Nós três estamos em frente à minha mesa. Quando
atravessei o corredor até aqui, os encontrei saindo da sala de
Arthur, prontos para irem na direção dos elevadores.
— Deixe a garota, Arthur — o filho do Alexander comenta,
passeando com os olhos dos meus pés até a cabeça. — Eu gosto
dela.
— Também gosto de mulheres fortes — Alexander emenda.
Ergo o queixo e estico os lábios em um sorriso cínico ao
prender meus olhos aos do velho russo para falar:
— Mesmo quando elas querem acabar com você?
O homem enfia uma das mãos no bolso da calça social e faz
um gesto com a cabeça, indicando a sala da presidência. Ainda tem
um sorriso irritante nos lábios, como se estivesse se divertindo, e eu
o odeio por isso.
Será divertido apenas no momento exato que eu conseguir
enfiar a mão na sua cara enrugada e quebrar alguns dentes. Se
puder fazer isso no filho idiota, está de bom tamanho também.
Estou odiando o jeito que me come com os olhos.
Alexander e o filho prodígio entram na sala primeiro e estou
prestes a fazer o mesmo, mas sou interrompida por Arthur, que
segura meu cotovelo para sussurrar de maneira ameaçadora:
— Tome cuidado com o que vai falar, garota. Não pode
desrespeitar Alexander, ou cortarei a sua língua.
Repuxo o canto da boca em um sorriso dissimulado.
— Tire a mão de mim, ou quem vai perder alguma parte do
corpo é você — rosno, puxando o meu braço com força brusca e o
olhando de baixo para cima com desdém.
Não sei de onde vem toda essa minha coragem, só sei que a
tenho. Talvez por ter aprendido a me defender e saber que sou
capaz de derrubar no chão um homem como Arthur, inflame o meu
ego. Claro que não seria fácil, mas Nick me ensinou a usar o meu
corpo pequeno a meu favor.
Ao entrar na sala, vejo que Arthur se acomodou na cadeira
acolchoada e confortável do presidente, e o filho está em pé do lado
direito. Arthur se põe no lugar vazio e coloca as duas mãos para
trás, mantendo os ombros eretos e uma expressão séria no rosto,
esperando como um soldadinho.
Sento-me no lugar em frente à mesa e tiro a bolsa do ombro,
colocando-a em cima do colo antes de cruzar as pernas.
Encaro Alexander e ignoro os outros dois homens.
— O que uma menina como você tem a me dizer? — é o que
ele pergunta, parecendo ligeiramente interessado no que tenho a
falar.
— Quero que deixe os negócios da minha família. É isso que
tenho a dizer pra você — vou direto ao ponto. Existem situações na
vida, que o melhor é evitar rodeios e enfrentar os conflitos de peito
estufado e cabeça erguida.
Arthur se move, querendo avançar em mim e é interceptado
por um gesto de mão do chefe russo.
— E por que eu faria isso? — questiona.
Porque eu quero...
— Porque é sensato.
Alexander apoia os cotovelos na mesa de madeira feita sob
medida e segura o queixo com a ponta dos dedos da mão esquerda,
refletindo. Aos poucos, o rosto enruga por causa de um risinho
sarcástico, que arrepia os pelos da minha nuca de um jeito
tenebroso.
O filho dele continua com a atenção fixa em mim, me
irritando.
— Parece que está me ameaçando, senhorita Farley — diz
ele, o tom de voz sério e controlado. — O que seria imprudente da
sua parte, porque não sou um homem que aceita ameaças.
Forço o caroço salgado entalado no meio da garganta a
descer e finco as unhas na palma da mão, tentando controlar minha
respiração descompassada. Também, tentando controlar minha
vontade de voar em cima do velho.
— Por que quer o negócio da minha família? Já não tem o
seu próprio negócio? Pelo que sei, é bem rico também. Talvez mais
do que eu — disparo, irritada e fazendo as narinas de Arthur
expandirem.
Ele está odiando o meu tom com o seu chefe, só que nem
consigo me importar de verdade com isso.
O filho de Alexander começa a rir, escárnio.
— Qual é a graça, otário? — pergunto a ele, que me encara
com um olhar cortante, depois, vem até mim em passos perigosos.
Apoia uma das mãos no braço da cadeira de madeira e inclina o
rosto para aproximar do meu.
Sinto o sangue correndo nos ouvidos. Não demonstro.
— Meu nome é Ivan — sussurra, abaixando as vistas até os
meus lábios. — Não me chame de otário de novo. Ou pode se
arrepender... gracinha — acrescenta, e me dá uma piscadela.
Aperto os lábios com força, odiando toda essa família idiota
russa.
Alexander fala algo em russo e isso faz com que Ivan sorria e
se afaste. Ele apoia a bunda na beirada da mesa, cruzando os
braços em frente do corpo, sem tirar os olhos de mim.
Alexander se endireita na cadeira confortável e observa o
centro da cidade através da janela de vidro antes de voltar a falar
comigo.
— Senhorita Farley, o poder é algo cativante. Quanto mais
você tem, mais você quer. Por que me contentar com pouco, se eu
posso ter tudo que eu quero? Por que ser dono de uma cidade, se
eu posso ser dono do país? — fala. Abro a boca para retrucar e ele
faz um gesto com a mão, me silenciando. — Não se engane, se
fosse homem e estivesse no meu lugar, pensaria o mesmo. Sabe o
porquê? Porque ansiar pelo poder, é algo que vem enraizado dentro
de um homem.
Trinco os dentes.
— Não me importo com o que você quer, só quero que tire as
mãos sujas do negócio da minha família.
Alexander abre um sorriso largo, mostrando dentes brancos.
— Qual é a sua proposta? — ele quer saber. Franzo o cenho,
sem entender. Ao notar minha confusão, o velho russo continua: —
O que tem pra mim? O que me daria se eu fizesse o que você quer?
Ergo uma sobrancelha.
— Está falando sério ou isso é apenas uma piada? — rebato.
Alexander me encara como se suas intenções fossem óbvias ou das
melhores. — O que você sugere, Alexander?
Ele fica em silêncio, enquanto Ivan percorre os olhos pelo
meu corpo, me tirando do sério.
— Gosto de acordos... podemos fazer um.
Arthur olha para o chefe como se ele fosse um alienígena
verde e de dez metros, e em seguida, me encara, os olhos
ordenando em silêncio que eu dê meia volta e vá embora
imediatamente.
— Estou ouvindo — é o que eu digo.
— Que merda você disse? — explodo e massageio as
têmporas, tentando assimilar o que a garota acabou de falar.
Não lembro de ter me sentido tão puto como agora.
Eu vim ao apartamento de Lawanda com a intensão de
passar a noite dentro dela, não de ouvir asneiras. Agora, o tesão
que eu estava sentindo antes de pegar o carro e dirigir até aqui, se
transformou em ira.
Lawanda não pode estar falando sério.
Ela enlouqueceu e vai me levar junto.
— Calma, não fica bravo — ela pede, pousando as mãos no
meu peito. — Eu não dei uma resposta ainda. Mesmo assim, é só
uma possibilidade.
Rio, seco.
— Não é possível que esteja cogitando esse absurdo —
rosno. — Merda! Você está pensando em fazer isso? — disparo,
alterado. Ela espreme os lábios e desvia os olhos de mim, sem me
dar uma resposta em voz alta. — Por que simplesmente não ignorou
Alexander?
— Você teria o ignorado? — crispa, batendo as mãos contra
o meu peito e tentando me empurrar para trás. — O que teria feito
no meu lugar?
— Não me responda com outra pergunta, me deixa irritado
pra caralho — falo, a voz soando áspera e cortante.
Ela se afasta de mim, bufando e revirando os olhos, o que me
deixa mais furioso ainda.
Não acredito que Lawanda esteve cara a cara com aquele
imbecil do Alexander. Cada terminação nervosa do meu corpo se
contrai de raiva só de pensar sobre o assunto. O encontro deles
também ativou meu lado superprotetor, me fazendo querer trancar
Lawanda dentro de um quarto e deixá-la lá, até que o juízo volte
para a sua cabeça teimosa.
— O que estava pensando, Lawanda? — pergunto ao
segurar o seu braço e impedindo-a de ir até o quarto. — Por que
está correndo para o perigo em vez de fugir dele?
Os olhos felinos me esquadrinham, mas ela permanece em
silêncio.
Não acho que Alexander esteja brincando e tenho certeza de
que consegue enxergar o quanto Lawanda quer tirar o seu domínio
sob a Corporação Farley. No entanto, Lawanda casar com Ivan, não
mudará em nada, por mais que ele diga o contrário.
É só uma forma de manipular a garota e fazê-la achar que
está no controle de novo, quando a verdade é que Alexander nunca
o deixou escapar das suas mãos.
E é evidente que não me agrada a ideia de Lawanda sair com
Ivan ou casar com ele. Como se eu fosse permitir que algo parecido
aconteça.
Ela é minha e nenhum outro colocará as mãos nela.
— Por que acha que Alexander vai cumprir com a palavra
dele? Não seja ingênua, Lawanda. Ele está mentindo pra você.
O músculo do seu maxilar delicado se contrai.
— Não me chame de ingênua, porque eu não sou. Eu sei que
não me entregará nada de mão beijada e não estou contando com
isso.
— Então, por quê?
— Eu vou matá-lo — ela diz, me fazendo piscar algumas
vezes, incrédulo. — Eu sei, nunca matei antes, mas não me
importaria de fazer algo parecido.
Sacudo a cabeça, tentando entender.
— Quem você vai matar?
— Ivan. É uma chance de me aproximar dele e fazer isso —
responde, simplesmente. — Eu sei que meu tio encomendou a
morte do meu pai, da minha mãe, mas foi Alexander quem puxou o
gatilho. Não literalmente, você entendeu.
— Não está raciocinando direito.
— Ele me tirou duas pessoas que eu amava. Por que não
posso fazer o mesmo com ele?
Passo as mãos entre os cabelos, empurrando para trás e
respiro fundo.
— Não é assim que as coisas funcionam.
— Por que as pessoas podem me tirar tudo e eu não posso
pagar com a merda da mesma moeda? — rebate, as narinas
expandidas e os olhos inflamados de uma raiva, que nunca vi antes.
— Lawanda... — murmuro e ela não me deixa falar.
— Eu não passei nem meia hora com Ivan e sei que não vale
nada. Não o suporto, na verdade, só que eu sei que ele é um monte
de lixo. Acabar com a vida dele será um ato de benevolência
perante a sociedade.
Fecho os olhos com força e os mantenho assim por uma
fração de segundo.
— E como pretende fazer isso?
— Não pensei em todos os detalhes — resmunga, girando
nos calcanhares e caminhando na direção do quarto. — Se não
quer me ajudar, tudo bem, não vou te pedir isso.
— Porra! — xingo alto. — Que merda tem na cabeça, garota?
Acha que pode sair matando qualquer um?
— Ele não é qualquer um! — berra de volta e tenta fechar a
porta do quarto na minha cara, porém, eu não deixo. Coloco a mão
entre ela e o batente, e escancaro logo em seguida. — Não me diga
que ele é qualquer um — rosna e ao olhar para mim, vejo o seu
rosto banhado em lágrimas.
Incomoda pra cacete vê-la chorando. Me dá vontade de eu
mesmo pegar minha pistola e ir atrás de Ivan, enfiar um tiro no seu
cu e outro na cabeça só para cessar as lágrimas de Lawanda.
No entanto, eu preciso ser sensato. Se fizermos algo contra
Ivan, teremos uma guerra.
E guerras são sempre péssimas para os negócios.
— Se fosse alguém do seu meio? — Lawanda pergunta.
Ainda está chorando, mas a expressão no rosto é de raiva. — Se
fosse alguém dentro da organização. Vocês fariam algo ou ficariam
quietos? — questiona e não me deixa responder. — Se fosse um
homem e mafioso, podia fazer o que eu quero e dizer que tudo foi
em nome da máfia.
Lawanda não está certa, e, também, não está totalmente
errada.
Claro que ser quem somos nos dá vantagem e as pequenas
vinganças sempre são feitas para honrar os nossos. Mas o que
Lawanda quer, além de ser imprudente, trará consequências que ela
não pode nem imaginar.
Matar o filho do líder de uma organização criminosa? Não é
uma atitude que deve ser tomada no calor do momento. Além de ser
algo planejado, precisa valer a pena. No caso, para nós.
Por mais que para mim, Alexander seja um pedaço de merda,
não posso permitir que Lawanda mate o filho dele por vingança.
— O que você quer? Vingança ou recuperar o negócio da sua
família? — indago, chamando a atenção dela.
A loirinha morde os lábios.
— No momento, parece que não posso ter nenhum dos dois
— diz com a voz embargada. Ela limpa as lágrimas com as costas
das mãos e respira fundo. — Se não quer que eu mate Ivan ou
exploda o escritório central com Arthur dentro, me ajude a pensar
numa solução, Thomas. Me ajude ou vou explodir o prédio. Eu vou
fazer isso, não duvide de mim, porque não me importo com as
consequências.
Penteio os cabelos com os dedos e solto uma baforada de ar.
— Tenha paciência.
— É o que venho tendo... há meses — resmunga e balança a
cabeça de um lado para o outro, negando. — Vá embora — pede.
— Não vou te deixar sozinha — aviso.
— Por favor, vá embora. Se você ficar, nós vamos brigar,
porque queremos coisas diferentes no momento. Apenas, me deixe
sozinha — sussurra a última frase. Ela corta a nossa pequena
distância e prende os nossos olhos. — Por favor, Thomas.
Lambo os lábios e não consigo deixar de me sentir
emputecido com toda a situação. Não gosto do rumo que a noite
tomou, mas dessa vez, Lawanda está sendo sensata.
Mesmo contra minha vontade, sei que precisa ficar sozinha
agora.
E eu, preciso encontrar um jeito de manter as mãos de
Alexander longe de Lawanda.
Rompo a distância que restou entre nós, enfio a mão na sua
nuca, entrelaçando os dedos entre os cabelos e a puxo para mim.
Ela solta um gemido entrecortado e me olha por cima dos cílios.
— Se ainda não ficou claro — começo a falar e ela pisca
devagar, me observando. — Você é minha, Lawanda.
Não lembro de ter sido tão honesto com uma mulher antes ou
ter me sentido tão possessivo e protetor em relação a ela, mas
Lawanda é minha, e a única que consegue me fazer perder o
controle. E mesmo que às vezes, eu odeie como perco a cabeça
perto dela, não há mais volta.
— Definitivamente, não deixarei que se envolva com o filho
de Alexander — volto a articular. Nenhuma palavra sai da sua boca,
apenas me encara, atenta. — Nenhum homem a terá, como eu a
tenho.
— Thomas... — ela sussurra.
— Descanse — é o que digo antes de beijar a testa de
Lawanda e deixá-la sozinha no quarto.
Intercepto Nicholas em frente ao seu carro no pátio privativo
a céu aberto nos fundos do prédio do hotel cassino. Acabamos de
sair de uma reunião para tratar dos negócios da organização.
Com certeza, Lawanda não ficará feliz em saber o que estou
prestes a fazer, porém, não vou permitir que se coloque em perigo e
arrisque a vida. Vingança é bom, eu sei, e também, é um prato que
se come frio.
Apesar de não ter paciência, é exatamente disso que ela
precisa. Ser paciente e ter bom senso para resolver as coisas.
— Temos um problema... com Lawanda — digo assim que
ele me olha. Nicholas fica em alerta. — Ela está bem — emendo
antes que ele saia destruindo tudo o que tem pela frente.
Eu também não estaria tão calmo se não soubesse que
agora, a garota está fora de perigo. Só que isso não significa que
ela vai ficar assim por muito tempo. Lawanda tem sangue quente e
é muito imprudente.
— O que aconteceu? — ele quer saber.
— Ela se encontrou com Alexander.
— O quê? — dispara, irritado, batendo forte a porta do seu
carro que tinha aberto antes de eu interrompê-lo.
Conto o que aconteceu e o plano mirabolante da loirinha
esquentada. Mal termino de falar a última palavra e ele já está com
o celular na mão, discando alguns números e levando o aparelho
até o ouvido.
No momento em que a pessoa do outro lado da linha atende,
ele começa o sermão enfurecido. Lawanda berra, meio que dá para
ouvir de onde eu estou e sei que não tenho como escapar da ira
dela em breve.
Ela vai querer voar em cima do meu pescoço e estou meio
tentado para vê-la fazer isso.
Depois de alguns minutos, ele encerra a ligação e me encara.
— Eu sei que você não quer os negócios da família — digo e
ele fica em silêncio, a expressão impassível direcionada a mim.
Nicholas não é muito de sorrir. — Mas a Corporação é importante
pra Lawanda e está na hora de priorizarmos o que é importante pra
ela.
Nicholas cerra o maxilar e desvia a atenção de mim, depois
assente.
— Certo.
— Precisamos pensar em algo antes que ela faça uma
besteira. — Lambo os lábios e passo a mão na barba por fazer. —
Ela disse que quer uma solução ou vai explodir o escritório central
da Corporação com Arthur dentro. Não que eu me importe com ele,
mas ela não pode fazer isso.
Os olhos de Nicholas brilham e as sobrancelhas se arqueiam.
— Explodir um prédio? Explodir a porra de um prédio? —
rebate, meio alterado e incrédulo. Até parece que não conhece a
irmã que tem. Ela é louca.
Assinto.
— Sim, e não acho que Lawanda esteja brincando.
E também, não duvido que consiga fazer isso por conta
própria. A garota é esperta demais para não ser levada a sério.
— Ela é teimosa e desobediente, então, não vai demorar até
fazer uma grande merda e foder tudo — rosna, e eu não posso
discordar dele.
— Precisamos resolver a situação sem começar uma guerra.
Nicholas afrouxa o nó da gravata e depois a arranca do
pescoço, respirando fundo e pesado. Noto as engrenagens
trabalhando atrás dos olhos severos, remoendo algo internamente.
Ele fecha os olhos por uma fração de segundo e em seguida,
faz um gesto positivo com a cabeça, concordando.
— Ok. Vamos priorizar minha irmã — avisa, me encarando
com afinco. — Chegou a hora de dar um jeito em Alexander.
— Tem certeza de que não existe a posição de fofoqueiro na
máfia? — Lawanda pergunta, enfurecida. — Porque eu acho que
você é um conselheiro fofoqueiro — acrescenta, os olhos irradiando
fogo para mim, e sei que está a um triz de voar em cima do meu
pescoço para tentar me esganar.
É claro que o desrespeito dela me irrita pra caralho, só que é
cativante também. Além da minha mãe, não lembro de outra mulher
ter coragem de falar comigo nesse tom de reprovação e crítica.
Lawanda não tem medo de mim ou de me enfrentar, e
embora não devesse, isso me deixa excitado e com vontade de
colocá-la de quatro para me enterrar bem fundo nela, o que para o
meu desgosto, não acontecerá tão cedo, porque Nicholas e Lexie
estão aqui.
— Lawanda, se controle! — Nicholas exclama, num tom de
repreensão, que faz a irmã respirar fundo e me encarar com raiva
palpável. — Tenha mais respeito — ordena, voltando a controlar o
tom da voz.
A garota bufa, andando de um lado para o outro na sala,
pisando duro contra o chão.
— O que vocês três querem? — indaga, olhando para o
irmão, depois para Lexie, e então, para mim, e os olhos felinos
estão tão afiados e enfurecidos, que conseguem levar uma onda
prazerosa para o meu pau. Gosto quando ela está brava ou
testando minha paciência. — Me convencer de que não posso matar
Ivan? Perda de tempo.
Lexie pigarreia.
— Eu tenho um plano. Pode me deixar falar ou preciso
começar a implorar? — diz, chamando a atenção da loirinha brava.
Não estava nos meus planos envolver Lexie, mas quando
Nicholas e eu nos reunimos ontem na sua casa para discutir e
decidir o que fazer, a hacker ouviu a nossa conversa e pareceu
bastante interessada.
Não é comum uma mulher se envolver tanto com os nossos
problemas, mas Lexie já fez alguns trabalhos para nós. E bom, eu
me considero um cara inteligente e acredito que tenho o poder de
lutar com as palavras, mas Lexie é extraordinária e dona de uma
mente fértil.
— Estou ouvindo — a loirinha resmunga ao sentar no sofá ao
lado de Lexie, e prender com força o lábio inferior com os dentes ao
cruzar as pernas e balançar o pé rápido em ansiedade.
Lexie sorri animada e troca um olhar com Nicholas antes de
começar a falar.
— Você sabe o que é um servidor? — Lexie pergunta,
fazendo Lawanda revirar os olhos e assentir. — O servidor é o
coração de uma empresa e quando ele não está bem, o resto todo
pode ter problemas.
Lawanda ergue as sobrancelhas, desdenhosa.
— Sem metáforas com os órgãos do corpo humano, por favor
— pede.
Lexie esbugalha os olhos e assente.
— Ah, certo. Achei que assim fosse mais fácil de entender as
coisas — a hacker diz, perdida em pensamentos. Ela sacode a
cabeça, se recompondo. — Quero atacar os servidores da
Corporação Farley, várias vezes — diz, por fim.
Lawanda fica interessada, pois se remexe no sofá e encara a
cunhada.
— O que tem em mente?
— Um ataque DDos — explica, e no momento, tenho certeza
de que Lawanda se arrependeu de rejeitar as metáforas com os
órgãos do corpo humano.
— Um o quê? — Lawanda questiona.
— Fale de forma simples, Lexie — Nicholas ordena, fazendo-
a assentir, mas isso faz a irmã lançar um olhar cético para ele e
rosnar alguns palavrões.
— Um ataque do tipo DDos tem como meta sobrecarregar
um servidor e esgotar os seus recursos como memória e
processamento. Vai deixá-lo indisponível, digamos assim.
Lawanda assente.
— Isso não me parece bom.
A hacker abre um sorriso amplo.
— O ataque aos servidores vai causar perda de dados e
atrasar a entrega dos serviços da Corporação, e consequentemente,
quebra de contratos e queda nos lucros, essas coisas.
O rosto da Lawanda se enruga todo, incrédula.
Também fiquei assim quando ouvi o plano de Lexie. Não
parece vantajoso, no entanto, é. O melhor que temos.
— É a coisa mais absurda que eu ouvi até agora. Explodir um
prédio com Arthur e Alexander dentro não seria mais fácil? — a loira
retruca, presunçosa.
Lexie dá de ombros.
— A única coisa que você e o seu irmão precisam, é ter mais
ações do que Alexander. E um problema desses, fará com que o
preço das ações na bolsa de valores caia e é uma oportunidade de
vocês conseguirem ter mais poder do que ele.
— Vai funcionar? — ela quer saber.
— Sim, com certeza. — Lexie alisa a barriga de grávida e dá
outro sorriso para a cunhada. — Quero colocar um rootkit dentro
dos servidores... — articula e ao ver a expressão de confusão da
Lawanda, torna a explicar: — É um código malicioso que vai
controlar os sistemas, deletar arquivos, instalar programas, vírus e
worms. E sabe o porquê vai dar certo? Porque ele é incrível e não
dá pra deter. Ele é invisível.
Lawanda assente.
— Basicamente, você quer foder os negócios para que
consigamos comprar ações?
— Sim. E claro, precisamos espalhar as notícias sobre os
ataques na internet, isso vai fazer com que as coisas acelerem.
— Não é perigoso pra você? — Lawanda quer saber.
Lexie balança a cabeça, de um lado para o outro.
— O ataque não será daqui... será de todo lugar, Estados
Unidos, China, Finlândia, Rússia, Espanha... etc.
As últimas palavras da hacker parecem convencer Lawanda,
mas antes de concordar, ela lança um olhar intenso para o irmão,
que está parado ao meu lado, observando as duas.
— O que você acha, Nick?
Ele enfia as duas mãos dentro do bolso da calça social e faz
um gesto positivo quase imperceptível com a cabeça.
— É um ótimo plano. Não gosto de Alexander, mas não acho
que os benefícios de matar seu filho ou ele... serão maiores que as
consequências que essa atitude nos trará. Atacar os servidores vai
causar alguns prejuízos, mas será por um bem maior.
Lawanda fica de pé e assente para Lexie.
— Faça! — a voz dela soa como uma ordem, que faz a
cunhada fechar os olhos por uma fração de segundo e em seguida,
fazer um estalo com a língua contra o céu da boca.
Lexie levanta do sofá.
— Deixe comigo. Aja naturalmente, seja uma atriz, mostre
surpresa quando os ataques começarem. Eles nem saberão o que
os atingiu.
— Acho que posso fazer isso — Lawanda diz, e de repente,
envolve os braços em volta de Lexie e a abraça apertado,
enterrando o rosto contra os cabelos dela. — Obrigada.
— Não por isso — a hacker murmura.
Nicholas se aproxima dela para falar algo na mesma hora
que meu celular vibra dentro do bolso do terno. Eu o pego e confiro,
é uma mensagem da mamma, falando que comprou um vestido
para Antonella para festa de ano novo em meu nome. Fico confuso
por alguns instantes até me dar conta de que tinha esquecido de
dispensar a garota.
Merda.
Estou prestes a enviar uma mensagem para a mamma,
avisando que não levarei Antonella quando o celular notifica que
estou sem bateria e desliga. Enfio o aparelho no bolso de novo,
decidido a lidar com esse problema depois.
Lawanda se despede de Lexie com outro abraço e faz o
mesmo com o irmão, em seguida, vem até mim e para na minha
frente, sorrindo de forma estranha.
— Obrigada por ter me ajudado — fala, e joga os braços em
volta do meu pescoço para um abraço apertado. Preciso controlar
as reações do meu corpo quando sinto os seios pequenos e
redondos contra o meu peito.
Nicholas não parece muito satisfeito com a nossa
proximidade, no entanto, fica quieto, o que é ótimo. Teria ficado
muito puto se ele reclamasse e tirasse Lawanda dos meus braços.
— Tô com vontade de chutar a sua bunda por ter ido fazer
fofoca — sussurra contra o meu ouvido.
Deixo escapar uma risada.
Lawanda foi a primeira pessoa a me chamar de fofoqueiro e
eu estou rindo da situação, em vez de ficar bravo ou querendo
acertar a cabeça do insolente com um tiro pelo desrespeito.
Louco.
Lawanda está me deixando louco.
— Não ria — resmunga e tenta se afastar. Não permito,
mantenho as mãos em sua cintura e o corpo perto do meu. — Me
solta.
— Prefiro que fique brava e segura, do que em perigo — falo
tão baixo, que fico na dúvida se escutou.
Solto-a e mantenho a expressão impassível, como se nada
tivesse acontecido. Ela franze o cenho e abre a boca para falar algo,
só que desiste no meio do caminho.
— Fique bem e não faça merda — Nicholas fala ao se
aproximar de novo da irmã e pousar a mão no topo da sua cabeça,
bagunçando os cabelos e a deixando constrangida, mas ela anui.
Saímos do apartamento e os soldados fazem um gesto
positivo com a cabeça para nós, só que evitam encarar Nicholas,
com medo de entregar algo que não deveriam ao capitão.
Sensato.
Até porque, Nicholas não está pronto para saber que agora,
sua irmã é minha e não há nada que vá mudar esse fato.
Último dia do ano.
Nem acredito que a mesma garota do começo do ano é
completamente diferente de quem eu sou agora. Se me dissessem
que há doze meses, eu teria meu irmão de volta e que perderia
minha mãe, e que meu tio era um traíra, não teria acreditado.
Merda acontece.
E coisas boas também.
— Você está bem? — Nick pergunta, olhando para mim.
A festa de réveillon da família Carbone acontece na cobertura
do hotel cassino. O lugar foi todo decorado de maneira sofisticada e
um bar foi montado. Rola música ao vivo numa voz doce e afinada,
ecoando por nós.
— Estava pensando... minha vida mudou tanto — admito. —
Acho que festas de fim de ano me deixam emotivas — zombo.
Nick pousa uma mão atrás das minhas costas e deposita um
beijo no topo da minha cabeça, sem dizer nenhuma palavra. Nem é
preciso. Eu sei que agora, ele sempre estará comigo.
Por um segundo, olho o céu através do teto de vidro e sinto
os lábios repuxarem e respiro fundo.
— Aqui é lindo, não é? — Romie fala ao parar ao meu lado.
Ela usa um vestido longo e vermelho, com um decote assimétrico. O
cabelo foi preso de forma delicada e a maquiagem está marcada de
forma perfeita apenas nos olhos.
Sorrio.
— É incrível.
— Quando era mais nova e conseguia fugir de casa, eu vinha
pra cá. Meus irmãos e pai passavam horas me procurando —
comenta, a expressão de quem é craque em driblar os mafiosos da
família estampada no rosto bonito.
Nós rimos.
Minha risada é cessada e sinto o sangue do rosto em lavas
ao ver Thomas entrando na cobertura com Antonella.
Sei que no nosso último encontro, que foi ontem, eu o chamei
de fofoqueiro e falei que estava com vontade de chutar sua bunda,
mas caramba, ele tinha que vir acompanhado da noivinha em
potencial?
Cretino.
Seguro a mão de Romie e me afasto no momento em que o
vejo se aproximando de Nick, Noah, Julian e suas respectivas
damas. Thomas se junta a eles, e o quarteto parece estar formado.
Que ódio.
— Tem alguma coisa acontecendo entre vocês dois, não sou
cega. Vai, me conta — Romie pede. — Somos amigas, não é?
— Claro que sim.
Depois daquela foto do Natal, Romie vem me sondando,
questionando meu envolvimento com Thomas. Tentei desconversar,
só que parece impossível esconder meu ciúme agora.
Olho para os dois e vejo que Thomas está tentando não olhar
para mim, o que me irrita mais ainda. Não gosto de como essa
Antonella está agarrando seu braço, como se fosse um acessório
para ele.
Merda, ela tinha de ser linda também? A foto que Thomas
mandou na véspera do Natal não faz jus a beleza da mulher.
Como ele pôde trazê-la?
— Eu transei com ele — deixo as palavras escaparem da
minha boca e a sensação é que tirei uma tonelada das costas.
Será que me sentirei assim quando contar ao Nick?
Os olhos claros de Romie esbugalham e a boca faz um O tão
grande, que acho que ela engoliria uma bola de tênis sem problema
nenhum. Ela agarra meu pulso, entusiasmada, começa a saltitar,
chamando atenção das pessoas ao nosso redor.
— Meu Deus! Meu Deus! Meu! Deus!
— Se controle, por favor. Até parece que nunca transou —
sussurro, e ela paralisa de imediato e morde o lábio inferior. Desvia
os olhos de mim e suspira de maneira cautelosa. — Jesus Cristo,
você nunca transou? Como assim? Você é linda — disparo, a voz
tão baixa que quando ela demora a responder, fico na dúvida se
ouviu.
Romie me encara como se fosse óbvio demais a verdade.
— Eu sei que não conheceu meu pai, mas já viu meus
irmãos? Não sei se percebeu, mas não consigo fazer tudo que me
vem à telha. Eles me vigiam... tipo vinte e quatro horas por dia e
espantam todos os garotos que se interessam por mim. Na escola,
ninguém me olhava. Na faculdade, não é muito diferente.
Fico boquiaberta.
— Jesus Cristo! — é a única coisa que consigo falar.
Romie dá de ombros.
— Só tive alguns amassos mais quentes, mas não passou da
parte de cima — explica, fazendo um gesto com as mãos sobre os
seios. — O garoto tocou aqui e só.
Seguro a vontade de rir.
— Sinto muito... eu acho.
— Tanto faz, mas... me conta, como foi? Ele é bom? —
pergunta, e de jeito sorrateiro, encaminha as vistas até Thomas, que
olha para nós, mas quando é pego no flagra, desvia. — Quer dizer,
eu o conheço desde sempre, só que não posso negar, ele é gato.
Respiro fundo.
— É um cretino bom de cama.
Os lábios dela se esticam e a garota abre um sorriso de
orelha a orelha.
— Caramba — Romie fala, tão animada, que me faz rir. —
Seu irmão vai pirar. Meu Deus, quero muito ver isso. Sério.
Enrugo o nariz e faço beicinho.
— Ah, que gentileza da sua parte, muito obrigada. É tão
reconfortante saber que está ansiosa pra ver uma tragédia familiar
— resmungo, e é a vez da Romie rir.
— Precisa concordar comigo, isso é emocionante —
murmura, mordendo os lábios. — Proibido é meio que excitante, não
é?
Sorrio de lado.
— Garota, você precisa transar.
Romie gira os olhos na orbita.
— Se você conseguir encontrar um homem que não tenha
medo dos meus irmãos ou dos mafiosos que vivem no meu pé, vou
ficar feliz em perder minha virgindade.
— O cara certo vai aparecer e não vai ter medo de enfrentar
um mafioso por você — é o que eu digo, mas nem tenho certeza se
um cara vai ser corajoso o suficiente para fazer algo parecido.
Tocar na princesinha da máfia não é a mesma coisa de
suicídio?
— Você perdeu a virgindade com o cara certo? — Romie
quer saber.
Forço meio sorriso e depois, faço careta.
— Com certeza, não — sou sincera. — Foi horrível —
emendo, lembrando de Billy, o cara com quem perdi minha
virgindade. Ele entrou em mim tão sem jeito e gozou tão rápido, que
fiquei me perguntando se a minha primeira vez valeu de verdade.
Nós duas rimos.
Meus olhos se cruzam com os de Thomas e eu odeio como
Antonella está enganchada em seu pescoço, rindo e toda feliz.
Desvio a atenção e vejo Liam chegar com uma mulher mais velha e
muito bonita. Ele cumprimenta algumas pessoas na festa, que não
faço a mínima ideia de quem são, depois Romie o chama com um
aceno de mão e ele vem até nós.
De maneira discreta, Thomas nos observa.
Uma ideia me vem à cabeça.
— Quer dançar comigo? — é a primeira coisa que pergunto
quando ele para na nossa frente, sem dar chance de nos dizer
alguma coisa.
Liam levanta as mãos em rendição.
— Você quer que Nicholas tente me matar no meio da festa
de réveillon?
Romie enrosca o braço no meu, sorridente.
— Ele não faria isso, sabe que somos amigos — digo a meu
favor, tentando convencê-lo. Liam olha para Nick e depois para mim,
não está com cara de quem vai fazer o que eu quero.
— Se você quer fazer ciúmes de verdade no Thomas, chame
o irmão dele pra dançar — ela sugere como quem não quer nada,
me fazendo sentir uma espécie de adrenalina percorrer o meu corpo
inteiro.
Liam pisca, atônito.
— Espera aí — ele murmura ao se dar conta de algo. Os
olhos esbugalham e a boca escancara. — Você e Thomas? Thomas
e você? Caralho. Seu irmão sabe disso? Por isso me perguntou
sobre aquelas garotas na véspera de Natal?
Mexo os ombros de leve e antes que possa explicar, Romie
intervém:
— É segredo, mantenha o bico fechado.
— Não conte a ninguém — peço.
— Com toda certeza, não quero fazer parte disso. Estou indo,
meninas, obrigado — é o que fala ao se afastar de nós.
— Quem é o irmão do Thomas? — indago baixinho na
direção de Romie.
Com cautela, ela responde ao meu ouvido, indicando onde o
irmão do Thomas está. Não olho de imediato, espero alguns
segundos, pegando o celular dentro da minha bolsa para fingir
verificar algo antes de olhar para direção que ela indicou.
Uau.
Como não notei antes? Os dois se parecem, têm a mesma
altura, o tipo físico, mas o irmão de Thomas é bem mais novo e tem
um sorriso sarcástico. Um ar de confusão pairando sobre a sua
cabeça. O tipo ideal para o momento.
— Oliver Montanari — Romie segreda para mim. — Basta
sorrir e tenho certeza de que ele fará tudo o que você quer. É um
mulherengo de carteirinha, vai cair como um patinho.
— Ele é perfeito.
Solto Romie, ignoro Thomas e caminho de forma graciosa até
Oliver, que não demora nem um segundo para colocar os olhos em
mim. Ele endireita a postura e sem cerimônia, dispensa o homem
com quem está conversando para me dar atenção.
— Acho que ainda não nos conhecemos — digo e estendo a
mão para ele, que pega de imediato. O aperto é firme e quente.
— Lawanda Farley, irmãzinha do Nick — ele fala ao me olhar
de baixo para cima.
Abro um sorriso de lado e mexo de leve os ombros.
— Oliver Montanari — sussurra, com um sorriso maroto
estampado em seu rosto. — O que uma garota linda como você
quer comigo? — pergunta e depois, bebe um gole de whisky do
copo de cristal que segura.
Ergo o queixo.
— Quer dançar comigo?
Ele deixa escapar uma risada curta.
— Seu irmão vai infartar se eu colocar as mãos em você,
Lawanda.
Dou de ombros e cruzo os braços na altura dos seios,
chamando a atenção dele para o meu decote.
Hum.
É igualzinho ao irmão.
— Então, você tem medo dele? — quero saber.
Com a boca curvada para a direita, ele nega com a cabeça.
— Não tenho medo dele.
— Então, vamos dançar.
Sem cerimônia, Oliver coloca o copo meio cheio de whisky
em cima de uma mesa próxima de nós e pousa as duas mãos na
minha cintura com uma pegada firme. Ele me conduz até o meio do
salão, no ritmo da música lenta. Nós somos os únicos dançando,
mas nem consigo me importar com isso.
O sorriso sarcástico não deixa o seu rosto nem por um
instante e os olhos se prendem aos meus, o que não dura muito,
pois ele se afasta para me girar e puxar contra o próprio corpo de
novo.
— Seu irmão está olhando — ele fala, sem desviar a atenção
de mim. — Não acho que esteja feliz com o que está vendo.
Arrisco uma olhadela e vejo meu irmão com a atenção fixa
em mim. Acho que só não veio me arrancar dos braços de Oliver,
porque está com a mão entrelaçada com a de Lexie.
Outra pessoa que não tira os olhos frios e cheios de ira de
nós dois, é Thomas. Ele tenta disfarçar, só que não consegue fazê-
lo por muito tempo.
É o que você merece por ter vindo com outra mulher.
Desvio a atenção dos homens problemáticos e me concentro
em Oliver, que parece se divertir em manter as mãos em mim. O
celular dele apita e ele o pega de imediato, tateando o bolso dentro
do terno e o checando. Assim que as vistas pousam na tela, a mão
dele solta minha cintura como se tivesse levado um choque.
Oliver contrai o maxilar ao retornar com a atenção para mim.
— Você é garota do meu irmão? Porra. Ficou doida? —
dispara, irritado.
Reviro os olhos e dou um passo para trás, sem a mínima
vontade de responder. Ele também não insiste. Caminho até Romie
de novo e não tenho tempo nem de falar nada, meu celular vibra
dentro da bolsa. Vasculho-a atrás do aparelho e quando o encontro,
vejo a seguinte mensagem de Thomas.
“Me encontre na saída de emergência. Agora!”
— O que foi? — Romie pergunta.
Levanto o rosto e varro os olhos pelo local, não vejo Thomas
em lugar nenhum. Que horas ele saiu daqui? Encaro o meu irmão e
fico meio aliviada por ele estar entretido em uma conversa com
Lexie.
— Thomas quer me ver na saída de emergência — digo
baixinho e mesmo assim, Romie fica muito animada.
— Uiii — sussurra, prensando os lábios pintados de gloss
para esconder o sorrisinho sacana.
— Pelo tom da mensagem, ele tá bravo — digo mais para
mim, do que para ela. — Me dá cobertura? — peço e ela assente,
me dando uma piscadinha cúmplice.
Tento sair da cobertura do cassino sem chamar atenção e
acho que faço um bom trabalho. No corredor, me deparo com
Thomas perto da porta da saída de emergência. Em vez de abrir a
porta que dá na direção das escadas, ele abre a do lado, com os
dizeres bem explícitos “Apenas funcionários” e me espera.
— O que você quer? — pergunto, sem esconder a
reprovação na voz.
— Entre — ordena ao gesticular com a cabeça no rumo da
porta aberta.
— Não vou entrar aí — resmungo.
Ele me lança um olhar gélido, que faz a minha espinha
arrepiar. O maxilar contraído combina com a barba do seu queixo,
que está maior do que o normal.
Caramba. Gosto quando ele está bravo.
Olho para os lados antes de dar alguns passos para a sala
escura. Sinto o calor do corpo do Thomas logo atrás de mim e de
repente, ouço um barulho de interruptor e as luzes se acendem. É
uma sala de tamanho razoável, uma espécie de almoxarifado, cheia
de caixas fechadas e estantes de aço com prateleiras limpas e
organizadas.
Abro a boca para falar e sou interrompida pelas mãos dele na
minha cintura, que giram o meu corpo para me manter frente a
frente com ele. Thomas me encosta com força em uma das
estantes, fazendo barulho, quase como se ameaçasse cair.
— Que merda tem na cabeça? — questiona e não me deixa
responder. — Por que estava dançando com o meu irmão?
Apoio as mãos espalmadas contra o seu peito musculoso e
gostoso, e tento empurrá-lo para trás. Não tenho sucesso, o homem
é duro como pedra.
— Por que trouxe Antonella? — devolvo, entre os dentes. —
Que merda tem na cabeça? — repito sua pergunta de antes.
Thomas sacode a cabeça.
— Eu tentei dispensá-la, mas não deu tempo. Meu celular
descarregou e eu estava atolado de trabalho. Era tarde demais pra
cancelar — explica, só que não me convence. Muito pelo contrário,
me deixa enfurecida.
— Espera que eu acredite nisso? — quase grito.
— Sim — responde, como se fosse simples.
— Então, aproveite sua noite com ela, que eu vou dançar
com o seu irmão ou com quantos mafiosos eu quiser. Não vai me
impedir de fazer o que quero.
Tento afastá-lo de mim para sair de perto dele, só que o
homem coloca os braços nas prateleiras, um de cada lado do meu
corpo, me prendendo dos três lados. O calor que emana dele para
mim é gostoso pra caramba.
— Não faça isso — ordena, a voz soando como uma ameaça
indireta.
— Não tem o direito de exigir nada. Você trouxe outra. Não
pensou em como eu me sentiria com isso?
Ele me ignora e vem com o rosto para me beijar na boca, e
eu interrompo o momento ao desviar. Claro que quero beijá-lo, sentir
a sua língua na minha boca, os lábios quentes e úmidos contra os
meus, porém, ainda estou brava e preciso ensiná-lo que às vezes,
não podemos ter tudo o que queremos.
— Não me toque — rosno.
Thomas me ignora mais uma vez e pousa a mão no meu
pescoço. Sinto a pele arrepiar com o toque sedento e o coração
bater tão rápido, que me pergunto se ele pode ouvi-lo.
— Lawanda, não me provoque, porque eu não consigo parar
de pensar que meu irmão colocou as mãos em você. Estou com
muita vontade de te colocar de quatro e te foder forte, pra te fazer
entender que é minha.
Meu íntimo lateja e eu sinto que já estou pingando de tesão
por causa das palavras bruscas que acabaram de atravessar meus
ouvidos.
Decido provocar.
Pouso a mão em cima da dele, no meu pescoço e deslizo
pelo meu corpo, passando pelos seios e cintura até chegar na barra
do vestido curto.
Para a noite de hoje, escolhi um vestido que cai até a altura
da metade das coxas e que é bem justo ao corpo, mangas longas e
botas de cano alto. Combinando de forma perfeita com o casaco
pesado e de pele por cima.
A atenção de Thomas vai para baixo e eu só agradeço
mentalmente por não ter fechado o casaco antes de sair da
cobertura do cassino.
— Você quer me foder? — pergunto, baixinho. — Você
poderia fazer isso agora. Meu vestido é tão curto, que se eu ficar de
quatro pra você, não precisaria tirá-lo.
Thomas ergue os olhos para me encarar e noto que estão
queimando de desejo.
— Se vire — manda.
A ordem me atinge em cheio e tudo que eu quero fazer no
momento é virar e ficar de quatro para ele, no entanto, não o faço.
Levanto o queixo em atrevimento e sorrio, debochada.
— É uma pena, não vai conseguir nada hoje — informo,
fazendo as narinas do homem inflarem.
Ele não dá ouvidos para o que eu digo e esmaga meus lábios
com os seus, a língua me provocando, exigindo acesso para entrar
e eu não consigo resistir por muito tempo, então, o beijo. Meu corpo
reage de imediato, estremecendo e a pulsação no meio das pernas
fica intensa demais para aguentar.
Afasto Thomas um pouco, não muito, ainda sinto a respiração
quente sobre a minha pele.
— Ela quer você — me ouço dizendo.
— O quê? — ele indaga, confuso.
— Antonella quer você — falo, sem conseguir esconder o
ciúme na voz. — Ela quer transar com você.
Não foi difícil chegar a essa conclusão, o jeito que ela olha
para ele, a forma como toca os seus braços e sorri. Ela o quer e isso
me deixa furiosa.
Thomas é meu.
— Não quero Antonella, não se preocupe — ele alega,
convicto, acelerando mais ainda o meu coração.
Lambo os lábios e assinto.
— Antonella precisa saber que você já tem dona e que por
isso, é inalcançável pra ela — digo antes que o cérebro filtre as
palavras.
Os olhos do mafioso brilham.
— O que pretende fazer?
Respiro fundo e endireito os ombros, e novamente, ergo um
pouco o queixo para encará-lo de modo intenso.
— Me chupa, Thomas. Me faz gozar com a sua boca. Quero
o meu cheiro impregnado em você e quero que ela sinta isso —
articulo, contente pela voz ter saído firme e tranquila. — Você é
meu.
Os olhos de Thomas queimam como fogos de artifício, tão
sexys e selvagens. Um grunhido escapa dos seus lábios,
atravessando minha pele e arrepiando os pelinhos dos meus
braços.
Ele afrouxa o nó da gravata, mantendo os olhos fixos nos
meus.
Sem dizer nenhuma palavra, segura minha cintura e me faz
recuar até o balcão de madeira da sala, que eu nem tinha
percebido. Thomas levanta meu vestido até a altura dos quadris e
me coloca sentada em cima da bancada. Com uma pegada forte,
ele separa minhas pernas e se acomoda no meio delas.
A respiração quente contra a minha vagina, faz o meu corpo
inteiro trepidar.
Engulo em seco, me sentindo ansiosa.
A ponta do médio e indicador de Thomas tocam a renda da
minha calcinha, e como no automático, arqueio o meu quadril na
sua direção. Ele arreda o tecido para o lado e mergulha o rosto
entre as minhas pernas, lambendo toda a minha extensão molhada
e os pelos da barba arranham as partes internas das minhas coxas,
deixando tudo mil vezes mais intenso.
Jogo a cabeça para trás e gemo.
— Essa boceta já tá molhada — sussurra, vibrando contra o
meu clitóris. — Que delícia.
Ele volta a me percorrer com a língua, é tão bom que me faz
esquecer dos minutos atrás e só me concentrar no agora.
Thomas faz movimentos circulares com a ponta da língua no
meu clitóris, e em resposta, minhas pernas estremecem. Enterro as
mãos nos seus cabelos e puxo com vontade, gemendo alto o seu
nome.
— Essa boceta é minha, Lawanda — rosna.
— É sua — murmuro, extasiada.
Ele alterna em chupar meus lábios, lamber toda a minha
extensão melada e brincar com a língua no meu clitóris. E ao senti-
lo deslizar um dedo para dentro de mim, as minhas pernas
contraem. Ele me penetra com outro e aperta um ponto dentro de
mim, que faz meu corpo inteiro tremer.
— Thomas...
— É isso que você quer? Gozar na minha boca? — sussurra
e volta a me lamber. Eu teria respondido que sim, mas me perdi
entre as palavras.
Thomas continua me chupando, com vontade, forte o
suficiente para me fazer delirar, mas sem me machucar. Os dedos
brincam com o vaivém, e eu mordo o lábio inferior para não gritar.
Ao perceber que estou perto do meu orgasmo, a língua dá
total a atenção no ponto certo, fazendo movimentos circulares, que
alternam entre lentos e rápidos. Minhas pernas em volta dos ombros
de Thomas estremecem e eu puxo seu cabelo com força ao
alcançar o meu prazer.
Eu gozo e ele continua lambendo meu clitóris sensível, como
se vivesse para esse momento.
— Preciso entrar em você — avisa ao ficar de pé. — Agora.
— Desafivela o cinto e desce as calças com a boxer, exibindo o pau
delicioso, duro e grosso.
Antes de deixá-lo me penetrar, arrasto até a beirada da
bancada e desço. Fico de joelhos e seguro a excitação dura, quente
e brilhante de pré-gozo de Thomas com as duas mãos. Coloco a
língua para fora e lambo a glande antes de abocanhá-lo inteiro,
fazendo-o revirar os olhos de prazer.
Uma das mãos entrelaça nos meus cabelos, só que o homem
não dita o compasso, ele me deixa chupá-lo no meu ritmo.
Thomas deixa escapar um som rouco e sexy do fundo da
garganta.
Com ajuda das mãos, eu o sugo e continuo fazendo
movimentos de vaivém no seu pau. Senti-lo duro e quente dentro da
minha boca faz o meu íntimo latejar de novo. É sexy e intenso pra
caramba.
Provoco Thomas com a língua, passeando em volta da
glande e o coloco inteiro dentro da boca de novo.
Ele arfa.
— Lawa... — rosna. — Vem aqui, se não vou gozar na sua
boca — é o que diz, segurando meu rosto com as duas mãos e me
fazendo ficar de pé de novo.
Thomas levanta o meu vestido até a altura da cintura e me
coloca sentada no balcão outra vez.
— Quero muito gozar nessa boca — murmura, tocando o
meu lábio inferior com o polegar. — Mas agora, quero gozar dentro
da sua boceta.
Abro mais as pernas e ele vem. Com uma mão, segura o pau
e com a outra, arreda a minha calcinha molhada para o lado e entra
em mim de uma vez, com uma rajada de ar fria, que me faz delirar.
Ele fecha os olhos e entreabre a boca, gemendo baixo.
— Caralho — uiva. — Você é tão apertada... isso me deixa
louco.
Passo as mãos em volta do pescoço de Thomas ao mesmo
tempo em que os movimentos começam a ficar precisos e certeiros.
Ele segura minha cintura com as duas mãos e olhando dentro dos
meus olhos, entra e sai de mim.
É intenso e gostoso. Gosto dessa posição, é bom ser
penetrada por ele enquanto os olhos azuis insinuantes me admiram.
— Você é minha — ele diz, meio áspero. — Porra. Você é
minha.
Depois da afirmação, a boca me encontra para um beijo
selvagem e eu gosto de sentir o meu gosto grudado na sua língua, o
cheiro do meu sexo impregnado em Thomas. Gosto de como os
nossos gostos se misturam.
Ele também é meu.
Prendo as pernas em volta da sua cintura com força e o
aperto, passando as mãos por debaixo da blusa social, sentindo o
peito duro e musculoso. Adoro como ele é todo forte e sarado.
As investidas de Thomas ficam cada vez mais fortes e
impiedosas, fazendo o meu corpo estremecer de novo. Nem
percebo o momento que o faz, mas ao sentir o polegar tocar meu
clitóris ainda sensível, choramingo de tesão.
— Você vai gozar no meu pau agora — grunhe. — E eu serei
o único homem a ter isso de você — informa.
Não consigo segurar o orgasmo, então eu me entrego a ele,
sentindo as ondas em espirais me atingirem e eu me jogo de cabeça
na sensação, gemendo alto o nome de Thomas, fincando as unhas
nos seus ombros largos.
Ele impõe o pau contra mim mais rápido, atrás do seu próprio
prazer e não demoro para senti-lo se expandir dentro de mim e
gozar com força.
— Caralho, eu amo gozar dentro de você — admite,
enterrando o rosto no meu pescoço e continuando a fazer os
movimentos de vai e vem. — É viciante, Lawanda. Você é viciante
— murmura.
Suspiro, levando uma das mãos até os seus cabelos e
fazendo carinho.
— Não volte pra casa com Antonella — peço, de repente.
Thomas segura o meu rosto com as duas mãos para me
olhar nos olhos antes de me beijar.
— Não voltarei.
— Não deixe que ela agarre você de novo ou nunca mais me
terá — aviso. — Volte pra festa e dê um fora nela. Diga que nunca
vão casar e que nunca vai transar com ela — exijo.
Os lábios dele se esticam em um sorriso.
— É isso que você quer?
Thomas prende uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.
— Sim — respondo tão rápido, que me surpreende.
— Não se preocupe, eu a dispensei antes de vir aqui —
zomba, convencido e eu reviro os olhos. — Não faça isso.
— Isso o quê?
— Revirar os olhos... é tão insolente, que me faz querer de
colocar de quatro e meter em você com força enquanto bato na sua
bunda redonda.
A imagem que se forma na minha cabeça é interessante e
me faz sorrir.
— Bom, você pode fazer isso, mas terá que esperar. Meu
irmão vai sentir falta de mim. Preciso voltar pra festa — murmuro,
tocando seu queixo másculo com a ponta dos dedos. — Gosto da
sua barba assim, é bom senti-la entre as minhas pernas.
Ele suspira, sorrindo de um jeito sexy.
— Vou deixá-la assim a partir de hoje — fala e traz o rosto
para próximo de mim, e suga meu lábio inferior com força. — Vá pra
casa depois da meia noite, eu te encontrarei lá — ordena.
Enrugo o nariz.
— Mandão — resmungo, fazendo os lábios dele se esticarem
em um sorriso cínico.
Dias depois...
Ao ver Arthur chegar no escritório soltando fogo pelas ventas,
me dou conta de que Lexie colocou o plano em ação. Não lembro se
algum dia, eu fiquei tão feliz em vê-lo como estou agora.
Seu desespero e preocupação são o combustível perfeito
para a minha felicidade.
— Na minha sala — ele ordena ao passar por mim.
Antes de ir, ligo o computador e procuro pelo nome da
Corporação na internet. Meus lábios têm vida própria, então, sorriem
ao ver as notícias sobre os ataques aos servidores rolando na
internet.
Pego a agenda em cima da mesa e uma caneta, tentando
controlar a euforia dentro do peito, que parece querer sair de mim e
pular direto em cima de Arthur e lhe acertar um belo de um chute na
cara, caminho até a sala do CEO.
A porta está aberta, por isso, não bato na hora de entrar, mas
a fecho atrás de mim. Caminho devagar até em frente à mesa de
Arthur e aguardo em pé, como se fosse a assistente pessoal mais
submissa do universo.
O homem afrouxa o nó da gravata e a arranca do pescoço
com tanta força, que amassa a gola da blusa social.
Ele joga a gravata no chão, bufando.
— Cancele todas as minhas reuniões de hoje e de amanhã
— fala, quase gritando. — Traga um café pra mim — acrescenta,
me fazendo expirar com sarcasmo e balbuciar:
— É claro.
Ele lança um olhar mortífero para mim.
— Algum problema, coisinha irritante e insuportável? —
resmunga.
— Meu único problema é você. — Fecho a agenda e abro um
falso sorriso cortês para ele. — Mas a verdade, é que não tem culpa
de ser um inútil imbecil. — Não consigo conter a língua e solto o
veneno.
Arthur, que estava detrás da mesa, dá a volta nela e vem até
mim, pisando duro. Agarra meus braços com a intenção de
machucar e me sacoleja com força. Acabo derrubando a caneta no
chão.
— Me solte — a voz soa ameaçadora e fria. — Se não quer
perder a mão, me solte agora.
Os lábios de Arthur se alongam em um sorriso sarcástico.
— Quem vai cortar minha mão? Você? — responde de
maneira desdenhosa e me olha da cabeça aos pés.
Sem dizer nada, ergo o joelho e acerto as suas bolas em
cheio. As mãos dele deixam os meus braços e voam direto para o
saco. O homem geme de dor ao mesmo tempo em que roga pragas
em mim.
— Prefiro que não coloque essas mãos imundas em mim de
novo.
Passo as mãos na barra do meu vestido que tinha amassado
quando levantei o joelho e saio da sala de Arthur. Em frente à minha
mesa, respiro fundo, sentindo o sangue correr nos ouvidos.
Alguém para atrás de mim e ao me virar, vejo o CEO no meu
encalço. Coloco a agenda em cima da mesa e estou prestes a dar a
volta no móvel, só que ele me impede, ignorando o conselho de não
me tocar e agarrando o meu braço de novo.
— Quem você pensa que é? — rosna.
— Quem você pensa que é? — rebato, esticando os lábios
em um sorriso desdenhoso. — Se acha importante? Não se
autovalorize, Arthur. No instante em que não valer nada, Alexander
vai cortar a sua cabeça e dá-la para alguém. Como aconteceu com
o meu tio. Ele... você... os dois têm prazo de validade.
Com força, desvencilho-me dele.
As narinas do homem expandem e os olhos ficam tão
severos, que me dá um calafrio tenebroso na espinha dorsal. Sei
que ele perdeu a cabeça ao ver a sua mão se erguer para acertar
uma bofetada no meu rosto.
O que não acontece. Sou rápida e agarro o seu pulso com
veemência. Prendo os nossos olhos e aproximo os nossos rostos.
— Não ouse tentar fazer algo parecido de novo — falo entre
os dentes. — É o meu último aviso.
Com um solavanco, solto o punho de Artur. Respirando fundo
e devagar, ele dá um passo para trás e ao notar que algumas
pessoas no corredor do elevador nos observam, ele fica mais
enfurecido ainda e entra na própria sala, esbravejando alguns
palavrões.
Será um dia de trabalho cheio de harmonia e sorrisos.

Um pouco depois das vinte e duas horas, eu saio para correr


em uma praça urbana próxima do apartamento. Meio que virou um
hábito desde que Nick começou a me treinar.
Eu gosto e faz com que o barulho na minha mente silencie.
Gosto também, especificamente, porque os homens de Nick não
são fãs de me seguirem em uma corrida, então, estacionam o carro
por perto e me esperam.
As corridas noturnas têm ficado mais difíceis do que o normal
por causa da neve e eu não consigo correr cinco quilômetros por dia
sem parecer que vou morrer de desgaste.
Se não fosse pelas botas antiderrapantes, já teria caído de
bunda no chão.
A fim de recuperar o fôlego, vou diminuindo o ritmo até parar
por completo. Apoio as mãos nos joelhos e dou uma respirada
funda. Abaixo o capuz do moletom e é por isso que percebo alguém
atrás de mim, que ao que parece, também parou para recuperar o
ar.
Nem de longe algo assim era para ser estranho, mas
acontece que eu estava sozinha. Não vi ninguém por perto desde
que comecei a correr. Diminuo a música nos ouvidos e olho para
trás por cima do ombro.
É um homem, quase o dobro do meu tamanho e peso, está
se alongando. Usa capuz preto e uma máscara da mesma cor.
Assim que nossos olhos se encontram, ele me cumprimenta com
um aceno de cabeça.
Retribuo o gesto e volto a me movimentar. Dessa vez, eu
caminho, atenta as coisas ao meu redor. Não tem ninguém na
praça, o que não é de se estranhar, está um frio do caramba e as
pessoas preferem ficar em casa aquecidas.
O homem atrás de mim caminha também, no meu encalço.
Meu coração dispara assim que volto a correr e o vejo
acompanhando os meus passos. Aumento o ritmo e consigo me
esconder detrás da estátua equestre da praça. Decido esperar
alguns instantes antes de verificar se ainda estou sendo seguida.
— Me procurando, lindinha? — o homem encapuzado
pergunta quando vou conferir. — Oi. — Os olhos dele sorriem ao
tirar uma faca de dentro do bolso do casaco com capuz.
Definitivamente, eu devia estar com medo, mas não estou.
— Quem é você? — arrisco.
— Você irritou alguém, linda, e essa pessoa, não quer que
você continue respirando — é o que diz. — Se for boazinha, eu
prometo que terá uma morte rápida. É linda demais pra sofrer por
muito tempo.
Sinto os meus lábios se esticarem em um sorriso.
— Temos um problema, então.
— Por quê?
— Não sou uma garota boazinha — rosno, fazendo-o soltar
um gargalhada estridente.
Ele desce o capuz, revelando o cabelo meio cumprido e
preto. Avança um passo e eu recuo o outro. O imbecil finge alongar
o pescoço antes de cortar a nossa distância e tentar acertar minha
barriga com a faca.
Seguro o seu pulso com as duas mãos e o giro, derrubando o
idiota e a faca no chão. Quando ele se levanta, uso o peso do meu
corpo para acertar o seu tronco com o pé e afastá-lo de mim.
Ele ri.
— Não me disseram que a gatinha sabia se defender. Vai ser
interessante — murmura a última frase.
Mesmo que eu saiba desviar de socos e de chutes e que Nick
tenha me ensinado a atacar, ele não é um adversário fácil.
Consegue acertar alguns golpes no meu abdômen e um no meu
rosto, me fazendo sentir gosto de sangue na boca e o nariz doer.
Ele me joga no chão e acerta um soco na minha boca. Dói
pra caralho e eu lembro das partes baixas, então, dou uma joelhada
no seu saco e fico por cima. Fecho a mão em punho e acerto seu
nariz com força, a minha mão dói, mas não reclamo. Depois, dou
um soco na sua jugular e estou me preparando para dar outro,
quando o cretino segura meus braços e me dá uma cabeçada.
— Acho que vou te matar do jeito difícil, gatinha — ele avisa
ao ficar em cima de mim e segurar meu pescoço com as duas mãos
e começar a me enforcar.
Enfio os dois braços entre os seus e com um trancão para os
lados, consigo fazê-lo me soltar e acabo usando o feitiço contra o
feiticeiro, dou uma cabeçada nele, o empurrando para trás.
Sinto um líquido quente escorrer do nariz e ao limpá-lo, vejo
que estou sangrando. Levanto do chão e me preparo para dar um
chute lateral, que ele consegue desviar e segurar meu tornozelo, me
fazendo cair no chão de novo.
— Adoro quando elas resistem, mas não muito — murmura, a
voz soa doentia e áspera. Eu teria dito alguma coisa, mas o imbecil
começa a acertar socos na lateral da minha barriga, me deixando
sem ar. — Vou fazer picadinho de você, vadia — diz, parecendo feliz
em ter conseguido me dominar.
Viro para o lado, procurando algo que possa acertar na sua
cabeça e vejo o cabo da faca brilhando no gramado com neve.
Estico a mão e o pego, sem pensar muito, enfio-a na sua garganta e
o vejo arquejar ao cair para trás.
Sento no chão, recuperando o fôlego e procuro o meu celular
dentro do bolso e não o encontro. Varro os olhos pelo chão e vejo o
aparelho, nem percebi quando caiu. Engatinho até ele e o pego, a
tela está quebrada, mas ainda funciona.
Desbloqueio-o e vou na discagem rápida. O nome do
Thomas preenche a tela. Coloco o aparelho no ouvido e ao tentar
ficar de pé, mordo o lábio inferior com força, pois sinto uma dor
aguda na costela.
Thomas atende no segundo toque.
— Thomas... — murmuro. — Preciso de ajuda — emendo ao
encarar o homem morto na minha frente.
Paro o carro em frente a praça e desço de qualquer jeito.
Vejo Lawanda perto de um dos soldados que ordenei que a
encontrassem. Eu dirigi o mais rápido que pude, mesmo assim,
parece que não foi suficiente, já que os homens conseguiram dar
um jeito no corpo e colocá-lo dentro da van.
Queria meter algumas balas na cabeça dele antes de
sumirem com o desgraçado.
Assim que ela me vê, joga os braços em volta de mim e eu a
aperto contra o corpo, fazendo-a gemer de dor. Afasto-a com
cuidado e examino o seu rosto.
— Eu tô bem, com dor, mas eu tô bem — Lawanda murmura.
Definitivamente, não. Ela tem uma fratura nasal e um
hematoma perto da boca. Uma das mãos vai até a costela, o que
me faz levantar o moletom e ver os machucados no abdômen.
— Eu tive que matá-lo — Lawanda diz, a voz soando fraca.
— Ele teria me matado. Tive que fazer isso. Foi preciso — fala mais
para si mesma do que para mim.
Seguro seu rosto com as duas mãos e faço com que olhe nos
meus olhos.
— Você fez certo, não duvide disso.
Lawanda prensa os lábios ao assentir e entrelaça a mão na
minha.
Um dos soldados se aproxima e olha para a garota, depois
para mim antes de começar a falar.
— Antônio e Ricardo morreram no carro — ele informa,
fazendo Lawanda suspirar e resmungar alguns palavrões. — E ele
não estava com documentos — fala, indicando com queixo na
direção da van.
Contraio o maxilar.
— Tem alguma coisa boa nessa merda toda? — quero saber.
— Encontrei isso no bolso dele. — O soldado me entrega um
celular bem antigo, daqueles que é difícil rastrear.
Lawanda nem me dá tempo de inspecionar o aparelho, pois o
pega da minha mão. O soldado faz menção de quem vai tirá-lo dela
e eu o impeço ao pará-lo com a mão espalmada em seu peito.
— Tem um número — a loirinha diz, e meio segundo depois,
está colocando o aparelho no ouvido.
— Não acho que seja uma boa ideia — o soldado avisa, e eu
o mando calar a boca. — Desculpe — se apressa em balbuciar.
Ela olha para mim, os olhos felinos irradiando fogo. Alguém
do outro lado da linha atende, pois sinto o aperto na minha mão ficar
mais forte. Lawanda trinca os dentes e respira fundo.
— Quem é? — Lawanda pergunta, enfurecida. — Quem é o
filho da puta que tá falando? — range.
De repente, ela acerta o aparelho no chão e geme de dor.
— Vamos descobrir quem fez isso — digo, voltando a segurar
o seu rosto machucado e a trazendo para mais perto de mim. — E
eu vou fazê-lo comer as próprias bolas — resmungo, sentindo a
raiva querendo sair do peito.
Está sendo mais difícil do que o normal controlar a minha ira,
mas não posso perder a cabeça.
Ela faz um gesto positivo com a cabeça e tenta abrir meio
sorriso. É mais forte do que eu pensava. Lawanda não é mais
aquela garota que foi sequestrada pelos homens do tio. Agora, ela
revida.
Encosto a testa na sua e ela fica na ponta dos pés para
grudar os lábios nos meus.
— Que merda é essa? — Nicholas pergunta, a voz
transparecendo a fúria. Fecho os olhos por uma fração de segundo.
Com certeza, uma péssima hora para ele descobrir que Lawanda é
minha. — Por que está beijando minha irmã?
Ele vem para cima de mim, mas Lawanda o impede de me
atacar. Gosto que ela tenha o feito, mas ao mesmo tempo, detesto
que esteja querendo me proteger do irmão. Eu não preciso disso.
— Nick, por favor. Agora não — ela implora.
Tão cego pela raiva, ele nem nota que a irmã está
machucada e se desvencilha dela para me empurrar.
— Não faça isso de novo, Nicholas — rosno.
— Você tá fodendo a minha irmã? — questiona o óbvio e me
acerta um soco no rosto, me fazendo soltar uma risada seca. — Ela
é só uma criança, miserável. Eu pedi pra você ajudá-la e não
começar a fodê-la. Ficou louco? — esbraveja.
Limpo o sangue da boca e ergo os olhos para encará-lo.
— Quem ficou louco foi você em estar falando desse jeito
comigo — é o que digo ao revidar.
Lawanda começa a gritar para que paremos, no entanto,
Nicholas e eu começamos a rolar na grama aos socos. Nenhum dos
soldados é ousado o suficiente para intervir e eu agradeço
mentalmente por isso.
Embora ele esteja furioso comigo, não saca a arma, então,
eu faço o mesmo. Ele me odeia no momento e não estou gostando
muito dele também, só que Nicholas é o meu irmão.
— Se não pararem agora, eu vou atirar — Lawanda diz e nós
ignoramos.
Ele me dá um soco e eu lhe acerto um chute no abdômen.
Ficamos assim por quase uma eternidade. É uma luta justa, nós
dois somos bons e sei que só vamos parar quando estivermos
cansados.
— Parem! — Lawanda grita e é ignorada mais uma vez.
Um tiro é disparado e é isso que nos faz parar. Olhamos para
Lawanda no mesmo instante e nos damos conta de que ela está
armada e acabou de disparar um tiro contra o céu. A garota mantém
a pistola em riste e alterna em apontar para o irmão e para mim.
— Eu pedi pra pararem — rosna.
— Desde quando sabe usar uma arma? — pergunto, curioso.
— Nick me ensinou — fala e dá de ombros. — Vocês vão
parar com essa palhaçada ou vou precisar atirar de novo? — ela
quer saber.
Nicholas não responde, mas caminha até a irmã e tira a
pistola da sua mão e entrega para o soldado, que nos observava.
Ignorando o que acabou de acontecer, verifica o estado da irmã ao
segurar o queixo pequeno com o polegar e o indicador e inclinar o
rosto para cima.
— Ela fraturou o nariz, precisa ver o Dr. Michael — articulo ao
me aproximar dos dois enquanto limpo a boca suja de sangue.
Nicholas me lança uma olhadela enfurecida.
— Não comecem de novo, por favor — Lawanda murmura.
— Vamos pra minha casa — ele ordena ao segurar o pulso
da irmã e arrastá-la para longe de mim. Ela esperneia e para de
caminhar. — Lawanda.... — A voz vem num tom de repreensão.
— Thomas também vem — a garota contesta e Nicholas
parece irredutível, mas ao ver a irmã querendo se soltar do seu
aperto de mão, ele rosna:
— Ele sabe o caminho.
Antes de começar a examinar as minhas costelas, o Dr.
Michael, o médico particular dos mafiosos, me faz segurar uma
bolsa de gelo contra o nariz. A dor é excruciante e o cheiro de
sangue me dá náuseas. Ainda nem tive coragem de me olhar no
espelho, minha aparência deve estar lamentável.
Lexie está sentada ao meu lado na cama, enquanto meu
irmão e Thomas estão mais afastados, um em cada canto do quarto,
enquanto me observam atentos e de caras amarradas.
— Teve sorte, não quebrou nada — ele diz depois de dedilhar
os dedos entre as minhas pobres costelas que doem.
— Tem certeza? Tá doendo muito.
Ele ajeita os óculos acima do nariz e abre um sorriso gentil.
— Sim... — murmura e ergue a mão para pegar a bolsa de
gelo que eu seguro contra o nariz. — Não posso dizer o mesmo
desse rapaz. Vou precisar colocá-lo no lugar — explica.
Respiro fundo e assinto devagar.
Quando estava na praça, eu estava com dor, mas a
adrenalina que corria no meu sangue, não me deixou focar de
verdade nas dores. Depois que cheguei no apartamento de Nick, eu
senti que cada osso do meu corpo tinha sido quebrado. Nem nas
aulas mais elaborados e exigentes que tive com meu irmão, eu
apanhei tanto como hoje.
Mesmo assim, estou orgulhosa de mim. Não de ter matado
um homem, embora não consiga sentir remorso, mas por ter
conseguido me defender sozinha.
Será que tem algo errado comigo? Eu acabei com a vida de
alguém e nem estou chorando. Pelo contrário, só consigo pensar
que não sou mais uma donzela em perigo.
— Olhe pra mim — o Dr. Michael pede de maneira carinhosa.
— Vai doer — avisa ao arquear as sobrancelhas. Em seguida, vira
um pouco o tronco e o rosto para encarar Thomas e Nick. — Ela vai
gritar, então, não me matem por isso.
Eu teria rido, mas o médico está falando sério.
— Impossível doer mais do que agora — resmungo, tentando
parecer forte.
— Vai doer, mas será coisa de segundo — fala e me dá uma
piscadinha. — Pronta?
Claro que não estou, mas assinto. Ele passa a mão no topo
da minha cabeça, como se eu fosse um filhotinho de cachorro e só
depois, coloca o meu nariz no lugar.
Dr. Michael sabe das coisas. Dói pra caralho e eu grito tão
alto, que meu irmão e Thomas se aproximam de mim. É como levar
outro soco no nariz, só que bem pior. Graças a Deus, a dor vai
embora tão rápido quanto veio.
Ele me dá um pano limpo, porque meu nariz começa a
sangrar. Antes que eu possa ficar desesperada, o médico avisa que
é normal e que agora, está tudo no devido lugar.
— Obrigada.
— Analgésicos pelas próximas semanas, garotinha —
comenta, vasculhando algo dentro da maleta médica que trouxe e
tirando de dentro coisas para fazer curativo. — Me deixe ver — fala,
referindo-se ao meu nariz.
Em silêncio, examina mais uma vez e começa a fazer o
curativo. No quarto, todos ficam em silêncio e é tão constrangedor,
que nunca desejei tanto ser uma ema para ter onde enfiar minha
cabeça.
Não quero ter que lidar com o meu problema: Thomas/Nick.
Só que não sou burra, é impossível fugir dos dois.
Depois de terminar o meu curativo e me receitar analgésicos
e mais dias do que eu gostaria de repouso, ele sai do quarto.
Thomas e Nick no seu encalço.
— Ele descobriu sobre vocês? — Lexie pergunta,
esquadrinhado meu rosto.
— Tá tão na cara assim?
Lexie dá de ombros, sorrindo.
— Os rostos machucados — comenta, me fazendo assentir.
— Não é muito difícil deduzir que andaram se socando por aí.
Levo ar até os pulmões e as costelas incomodam, mas não
demonstro.
— Ah, sim. Eles nunca brigaram, não é?
Minha cunhada torce os lábios e franze os olhos, como se
estivesse buscando algo no fundo da mente.
— Não que eu saiba — admite.
— Você já sabia? Sobre nós? — quero saber.
— Danny pode ter me contado algumas coisas, mas não é
difícil perceber algo. Thomas te olha de um jeito diferente.
Suspiro de novo, dessa vez, com mais cuidado.
— Nick quer me matar — murmuro, arrancando uma risada
gostosa de Lexie, que se levanta para abrir o guarda-roupa do
quarto de hóspedes e pegar roupas limpas para mim. — Obrigada
por rir da minha desgraça — resmungo e ela revira os olhos de
maneira atrevida.
— Você é a irmãzinha dele, não tem como ele querer te
matar. — Lexie me entrega um conjunto de moletom rosa claro. —
Vai ser difícil no começo, você é preciosa demais pra ele, mas
Nicholas vai superar, acredite em mim.
Pego as roupas e assinto.
— Pode me ajudar? — peço, transformando o meu rosto na
expressão mais amável possível. — Tentar fazê-lo entender que não
sou mais uma criança?
Ela ri.
— Não precisa me olhar assim, vou conversar com ele.
Começo a rir e sinto as costelas doerem, então, fecho o rosto
em uma expressão dura.
— Obrigada, de novo.
Lexie volta a sentar ao meu lado, afundando o colchão. Os
olhos de cor esmeralda me estudando e me deixando meio nervosa.
— Você gosta dele?
Tento franzir o nariz e me arrependo no mesmo segundo.
Gemo de dor e levo os dedos até entre as sobrancelhas,
massageando para ver se alivia alguma coisa.
— Do que você tá falando?
— Do Thomas — responde rápido demais, e fica me
observando, como se estivesse prestes a ler meus pensamentos
mais secretos. Sinto como se eu estivesse pelada na frente dela.
— Não me olhe assim — resmungo.
— Sim ou não? A resposta é simples — insiste.
— Claro que não — é a minha resposta e acho que nunca
tive tanta incerteza sobre algo na vida. — Ele é bom de cama, não
quero perder isso — apresso-me em explicar os meus motivos, que
nem eu mesma consigo acreditar.
— Tá mentindo — ela me acusa.
Mexo os ombros de leve e me arrasto até a beirada do
colchão para descer da cama. Sob o olhar curioso de Lexie, levo o
conjunto de moletom até o banheiro do quarto e me tranco lá para
tomar banho.
Coloco a roupa em cima de um dos armários e sou obrigada
a me olhar no espelho da pia. Minha boca está machucada, em
volta dos dois olhos começaram a se formar hematomas.
Estou vestido apenas um top, porque já tinha tirado o
moletom de capuz quando Dr. Michael foi me examinar, então viro
de lado para ver o estrago. Arregalo os olhos, nunca vi hematomas
tão grandes como os das minhas costelas.
Com dor, tiro o meu top e depois a calça legging e calcinha,
vou para debaixo do chuveiro e demoro mais tempo que o
necessário, na tentativa inútil de evitar meu irmão e Thomas.
Não quero vê-los brigando de novo e também, não quero ter
que escolher um lado.
Merda.
Tô ferrada.

Nenhum milagre divino aconteceu quando decidi me juntar ao


meu irmão, Thomas e Lexie na sala. Para ser sincera, parece que
os dois nem se olharam.
Em sintonia, os mafiosos vêm até mim ao me verem no
último degrau, porém, Lexie é a única a se aproximar e perguntar se
estou bem.
— A dor diminuiu — minto.
Ela faz um gesto com a cabeça indicando o sofá e eu nunca
me senti tão criança como agora. Os dois homens continuam de pé,
próximo do móvel, não se olham e me incomoda como estão com a
atenção fixa em mim.
Um minuto de silêncio constrangedor.
Lexie pigarreia e eu ergo o rosto para encarar Thomas, que
está tão sério, que não consigo lê-lo. Na verdade, não sei se o fiz
alguma vez.
— Lawanda é minha — Thomas fala, de repente, fazendo as
narinas do meu irmão se expandirem. Nick vira o rosto devagar para
encará-lo e sei que está a um triz de explodir.
— Ela não é sua, ela é minha irmã, e vocês dois juntos nunca
mais vai acontecer. Não vou aceitar isso — Nick resmunga, fazendo
com que Thomas prenda os olhos aos seus.
Pronto, falta bem pouco para começarem a se atacar de
novo.
Lexie faz um gesto com a cabeça, me encorajando a falar.
— Nick? — chamo-o, não sei bem o que falar, então, só vou
soltando as palavras. — Eu te amo e obrigada por tudo, mas não
tem esse direito sobre mim. Não sou uma criança, sou adulta.
Thomas me observa, enquanto Nick balança a cabeça de um
lado para o outro.
— Não posso aceitar isso. Não posso. Ele é dezenove anos
mais velho, Lawa. Tem idade pra ser seu pai — Nick apela e
Thomas dá uma bufada, depois ri com sarcasmo.
— Pai? — meu mafioso retruca.
— Só se ele tivesse sido pai aos dezoito anos — devolvo e
meu irmão fecha o rosto em uma expressão severa.
— Nicholas, sei que é difícil, acredite, se eu tivesse uma irmã,
não permitiria que colocasse as mãos nela, mas não tem como
mudar isso. Eu a fiz minha, e se não aceitar esse fato, começarei
uma guerra com você.
Nick solta uma lufada de ar, passando uma das mãos no topo
da cabeça e contraindo o músculo do maxilar.
— Ela é minha irmã! Como pôde fazer isso? — enfurecido,
ele pergunta a Thomas. — Ela é proibida, não tinha o direito de
tocá-la. Não tinha o direito de colocar as mãos na minha irmã.
Respiro fundo e mesmo com dor, fico de pé, na tentativa de
nivelar o meu rosto com os deles.
— Talvez ele não tivesse, mas aconteceu — me ouço
falando. — Como vai ser agora? Vocês não fizeram um juramento
de sangue ou algo do tipo? Melhor resolverem as diferenças de uma
vez. Não vamos fazer disso um problema grande, porque ele não é.
Nick pisca com força e noto que está rangendo os dentes.
— Você é minha irmã — meu irmão fala, como se isso fosse
explicar toda a situação.
— Eu te amo, Nick, mas sou capaz de tomar minhas próprias
decisões — informo. — Pode aceitar isso? Por favor — resolvo
implorar.
Lexie rompe a distância entre ela e Nick para segurar a mão
dele, e só assim, os seus olhos recaem sobre a loira que dominou
seu coração. Minha cunhada abre meio sorriso e fica o encarando,
quase como se dissesse algo apenas com um olhar.
Talvez esteja dizendo mesmo.
— Não — ele murmura, no entanto, é ela quem nega com a
cabeça. — Lexie... — meu irmão tenta repreendê-la e não surte
efeito nenhum na garota. — Não — repete, a voz séria e firme.
— Nicholas, você é meu irmão, e com certeza, eu tomaria um
tiro por você, mas se ficar contra mim, não me importarei de levantar
minha arma pra você — Thomas decide abrir a boca de novo e eu
preferia que tivesse continuado calado.
— O caralho que vai — Nick retruca, bravo e tenta se
aproximar de Thomas.
Graças a Deus, Lexie intercepta o meu irmão, impedindo de
uma tragédia acontecer.
— Ninguém vai levantar arma pra ninguém aqui — rosno ao
ficar entre os dois. — Não vão, porque tem uma mulher grávida
nessa sala e uma pessoa machucada. — Suspiro e engulo em seco.
— Além do mais, vocês são amigos, só precisam de tempo pra se
acostumar com as coisas.
— Porra, Lawanda! — meu irmão resmunga ao se afastar de
Lexie e pisar duro na direção das escadas. Ela não demora em ir
atrás dele, e eu fico grata por fazê-lo. Tenho a sensação de que só
ela conseguirá me ajudar nessa situação.
— Ele vai ter que entender que você é minha, Lawanda ou
nós vamos entrar em guerra — Thomas grunhe, o olhar vazio e frio,
mas ao mesmo tempo, tão cheio de vida e intensidade.
Como isso é possível?
— Pelo amor de Deus — murmuro, tocando o seu rosto e o
fazendo olhar para mim. — Ele é meu irmão e vocês não vão entrar
em guerra. Não encoste um dedo nele, ok? Ele é minha única
família.
O nariz de Thomas infla e percebo a respiração profunda.
— Certo — resmunga entre os dentes.
— Vamos dar tempo ao tempo — digo, suspirando. —
Preciso descansar. Podemos nos falar amanhã?
Thomas nega com a cabeça.
— Cada terminação do meu corpo se nega a te deixar
sozinha, Lawanda. Não posso fazer isso. Alguém te atacou hoje,
como quer que eu vá embora e te deixe sem proteção?
Sorrio.
— Não estou sozinha, mesmo assim, não se esqueça, eu
matei um homem. Sei me defender sozinha — digo, me sentindo
estranha. — Não estou arrependida de ter o matado — admito. —
Sou uma pessoa ruim?
Pela primeira vez na noite, o rosto de Thomas suaviza e ele
abre um pequeno sorriso, que faz meu coração acelerar.
— Claro que não. Eu teria dado uma morte lenta a ele por ter
encostado em você. — Thomas prende uma mecha molhada de
cabelo atrás da minha orelha. — Eu sou um homem controlado,
Lawanda. Meu dever é aconselhar o Don, mediar e evitar guerras,
só que isso não significa que eu sou bom. Nem de longe, eu sou.
— O que você teria feito com ele? — quero saber. Estou tão
curiosa, que sinto meu coração na garganta.
— Eu teria o esfolado vivo por ter machucado você, depois o
castraria. Mesmo assim, não seria suficiente.
Engulo em seco e os olhos insinuantes de Thomas parecem
ler meus pensamentos. Apesar de me sentir exposta, gosto dessa
conexão. Na verdade, gosto de saber o que ele teria feito para punir
o homem que tentou me matar.
É insano.
Doentio
Imoral.
Atroz.
Mas é o Thomas e eu o quero mesmo assim.
— Da próxima vez, eu o deixarei vivo — zombo, fazendo
Thomas rir. — Vou ficar bem aqui, eu juro.
A contragosto, ele assente.
— Ok.
— Obrigada — sussurro.
— Apenas, descanse hoje — ele manda, e eu assinto.
Fico na ponta dos pés e agarro o seu pescoço para um beijo
profundo e selvagem. Minha boca dói, mas a necessidade de sentir
um pouco mais de intimidade com ele é ainda maior do que minhas
dores.
— Boa noite — segredo, e o acompanho até a porta, sentindo
um formigamento estranho dentro do peito.
Será que gosto dele só porque é bom de cama ou existe algo
a mais?
Nunca estive apaixonada, então não sei exatamente o que
estou sentindo. Mas acho que não consigo me manter longe dele.
Nick vai endoidar de vez.
São quase uma hora da manhã quando chego em casa. Vou
direto para o escritório e encontro a mamma usando um conjunto de
pijama de seda com um robe cumprido por cima, está sentada no
sofá, as pernas cruzadas, enquanto beberica uma taça de vinho
tinto.
Assim que os olhos pousam em mim, coloca a taça em cima
da mesinha de vidro e se aproxima. Leva as duas mãos até o meu
rosto e toca de leve as partes machucadas.
— O que aconteceu com o seu rosto? Com quem brigou? —
a mamma quer saber.
— Não aconteceu nada — resmungo, me afastando das
mãos curiosas e rumando para a pequena adega do escritório. Meu
corpo e alma pedem uma boa dose de whisky e um banho quente.
— Não precisava ter me esperado acordada.
Ela deixa escapar uma risada seca.
— Como me diz isso? Você saiu de repente e nós estávamos
no meio de uma conversa importante.
Sirvo três doses de whisky no copo de cristal e bebo tudo de
uma vez, sem olhar para a minha mãe. O líquido desce queimando
e esquentando o peito, a sensação é boa, só que não é suficiente
para me fazer esquecer as merdas que aconteceram hoje.
Quando Lawanda me ligou e disse que tinha sido atacada no
meio da praça próxima ao apartamento, eu deixei a mamma falando
sozinha e dirigi o mais rápido que pude até ela.
Eu sei que a fiz minha, mas para falar a verdade, não tinha
noção de como ela era importante para mim até o momento. Sou
um cretino e nunca tive consideração por uma mulher.
E hoje, eu vi que Lawanda entrou na minha vida, na minha
alma de tal forma, que se tornou um vício.
Minha perdição.
— Não, mamma, o assunto era importante pra você, não pra
mim — retruco, caminhando para a mesa do escritório e
organizando os papéis que eu tinha deixado espalhados.
— Como não era importante pra você? Estávamos falando
sobre seu casamento — insiste, testando o limite da minha
paciência. Talvez eu nem o tenha mais.
Ergo os olhos para observá-la e ela engole em seco,
cruzando os braços na altura dos seios de maneira protetora.
— Não vou repetir de novo, então, guarde bem essas
palavras, mamma. Não me casarei com Antonella. Acabe de vez
com essa palhaçada e deixe de iludir a pobre garota. Ela não será
minha, nem será a sua nora.
Aos poucos, o rosto inteiro da minha mãe vai ficando
vermelho de raiva e sei que toquei no seu calcanhar de Aquiles.
— Pretende ficar solteiro pra sempre? Você está perto dos
quarenta e não tem esposa, não tem filhos, não tem laços —
devolve, cética.
Sorrio de lado, irônico.
— Da minha vida pessoal, cuido eu — rebato, a voz séria e
meio ríspida.
Mamma trinca os dentes.
— As coisas estão modernas demais, se fosse antigamente,
você já estaria casado e pelo menos, com dois filhos — faz questão
de lembrar, e a única coisa que faço é assentir junto de um gesto
com a mão indicando a porta da saída. — Se seu pai estivesse vivo
e encontrasse uma noiva pra você, eu sei que casaria sem
questionar. Você sempre fez tudo por ele — em vez de sair, resolve
insistir, me deixando irritado.

— Eu sei, mamma, e é verdade, só que o papà[20] morreu e a


senhora precisa parar de usá-lo como desculpa para tentar controlar
minha vida — as palavras soam tão ásperas, que os olhos dela
brilham de desgosto.
— O que aquela garota queria? Você correu como um
cachorro adestrado quando ela ligou, nunca o vi agir assim antes —
muda de assunto, rápido, mas não sem antes colocar o tom de
reprovação na voz. — Não se deixe levar por um rabo de saia
qualquer, Thomas, você é...
A voz da mamma é silenciada no momento em que esmurro
a mesa com força, assustando-a e fazendo-a recuar um passo.
— Chega! — esbravejo.
— O que está acontecendo entre vocês? — indaga e atrevida
do jeito que é, não me deixa falar nada. — Eu sei que as coisas
mudaram, mas não serão assim nessa família. Não quero esse tipo
de modernidade debaixo do meu teto.
Respiro fundo e lambo os lábios, penteando os cabelos com
os dedos e os empurrando para trás.
— Mamma, a senhora fala tanto de como as coisas
mudaram, só que esquece, que se fosse diferente, não estaria
falando comigo nesse tom ou me desrespeitando dessa forma —
falo com a voz controlada e lanço um olhar impassível para ela. —
Não vou me casar com Antonella. Isso nunca esteve em cogitação,
então, mamma, saia da minha sala antes que eu perca a cabeça de
uma vez.
Ela engole em seco e prensa os lábios em uma linha reta, e
não diz mais nenhuma palavra antes de girar nos calcanhares e sair
do escritório, pisando duro e batendo a porta com mais força que o
necessário.
Oliver entra na sala um segundo depois.
— Você nunca falou com ela assim — meu irmão diz, me
fazendo erguer uma sobrancelha para ele.
— Desde quando escuta detrás da porta?
— Ouvi tudo do corredor. — Dá de ombros e gesticula com o
queixo na direção do meu rosto. — O que aconteceu? Não tá muito
bonito.
Bufo.
— Briguei com Nicholas.
Os olhos do meu irmão arregalam de maneira presunçosa e
os cantos da boca se repuxam.
— Então... ele descobriu e não ficou muito feliz, hein? Não
esperava uma atitude diferente vindo dele.
Lanço um olhar impenetrável para o meu irmão.
— Não ache que eu levei uma surra e fiquei quieto —
disparo, e o idiota ri.
— Eu não disse nada — retruca. — Por que saiu daquele
jeito? O que aconteceu? A mamma só faltou roer as unhas de
curiosidade, quase me fez sair por aí te procurando pela cidade.
— Alguém tentou matar Lawanda — falo, voltando para
adega e servindo mais whisky para mim.
— Ela tá bem?
— Melhor do que eu esperava. Ela acabou com o desgraçado
— murmuro, lembrando de como ela ficou machucada e sinto a
raiva rasgando meu peito, querendo vir com tudo.
Meu irmão senta na beirada da mesa de madeira e solta um
risinho.
— Hum — murmura. — Ainda bravo comigo por ter colocado
as mãos nela? — quer saber.
Acabo servindo uma dose de whisky para o meu irmão e
entrego o copo de cristal ao me aproximar. Curvo o canto da boca
em um sorriso sarcástico.
— Sim — a resposta é curta e clara com água cristalina.
Na festa de réveillon, quando vi Oliver dançando com
Lawanda, as mãos do meu irmão no corpo dela, fiquei tão
emputecido, que o ameacei por mensagem. Falei que além de
perder as mãos, perderia as bolas também se continuasse tocando
o que é meu.
— Eu não sabia que ela era sua garota — explica-se,
bebendo o líquido do copo de uma vez. — Se soubesse, não teria
chegado perto. Nem teria a olhado.
— Ótimo — resmungo, levantando o meu próprio copo em
um brinde solitário. — Prefiro que mantenha esse pensamento daqui
para frente.
Oliver revira os olhos.
— Por que ela foi atacada?
Respiro fundo e passo a língua no lábio inferior, sentindo o
gosto de sangue. Não me orgulho de ter saído aos socos com
Nicholas, mas não tinha outra forma de lidar com a situação.
E, também, não sei se na pele dele, eu teria feito algo
diferente.
— Porque ela é atrevida demais, às vezes com a pessoa
errada — admito, fazendo vincos se desenharem na testa do meu
irmão e as sobrancelhas se unirem.
Acho que Arthur tem o rabo preso. Claro que não disse a
Lawanda, porque ela é imprudente e assim que se der conta, pode
simplesmente ir tirar satisfações com ele e as coisas podem sair do
controle.
A loirinha não é bem a pessoa mais sensata do mundo e hoje
quando conversamos pela tarde, ela falou sobre o desentendimento
com Arthur no escritório.
E bem, ele não é o tipo de homem que é intimidado por uma
mulher e deixa por isso mesmo. É um merda covarde, se não sabe
lidar com o problema, ele manda alguém fazer o trabalho.
— O que vai fazer? — Oliver quer saber.
— O que acha? Acabar com quem cogitou a ideia de matar
Lawanda — respondo, simplesmente.
Decido voltar à rotina.
Mesmo com os protestos de Nick e Thomas para eu não
voltar a trabalhar na Corporação, não aguentava mais ficar de
repouso. Fiquei quatro dias em casa, fazendo absolutamente nada,
cansei de me sentir inútil.
Nunca cogitei a ideia de Arthur sentir minha falta, já que
passei dias longe e ele não se deu ao trabalho de entender o
motivo.
Para ser sincera, eu sei o porquê. Não sou burra, Arthur deve
ter mandado alguém me matar. Ele não gosta de mim e eu o
ameacei várias vezes, algumas, na frente de outros funcionários.
No entanto, confesso, que esperava que ele fosse homem o
suficiente para estar aqui quando eu voltasse. Na recepção, Mary, a
moça detrás do balcão, tenta não ficar encarando meu rosto
machucado e me informa que faz dias que Arthur não aparece na
Corporação.
Por aqui, as coisas estão um verdadeiro caos, os ataques
aos servidores continuam e o preço das ações na bolsa de valores
está despencando rápido demais, o que é ótimo para mim e o meu
irmão.
Controlo a minha animação e assinto para Mary, entrando no
corredor pequeno que dá na direção da minha mesa. Talvez ter mais
poder que Alexander tem, esteja mais perto do que eu esperava.
Coloco a Louis Vuitton em cima da mesa e decido entrar na
sala de Arthur. Ele não pisa na sala faz quatro dias, não acho que
virá justamente hoje. Passo uma das mãos pelo interruptor e ligo as
luzes para notar que não tem nada fora do lugar.
Devagar, caminho até a mesa grande e feita sob medida,
sento na cadeira acolchoada e confortável e a giro algumas vezes,
sentindo uma espécie de alívio dentro do peito. Claro que quero
punir Arthur por ter feito o que fez, mas não me importaria que
simplesmente sumisse da face da terra.
E que levasse Alexander junto, por favor.
Giro na cadeira mais algumas vezes, e quando ela perde
força e vai diminuindo a velocidade, me faz ficar de frente para o
computador de Arthur e uma ideia me vem à cabeça.
Pondero se devo ou não xeretar e acabo decidindo fuçar. Ele
não merece qualquer tipo de privacidade. Ligo o computador e
espero, ao ver que precisa de senha, fico decepcionada. Tento as
senhas mais clichês possíveis do gênero um, dois e três e nada dá
certo.
Levanto da cadeira confortável e caminho até a porta, saio da
sala e procuro meu celular dentro da bolsa. Ao encontrá-lo, disco o
número de Liam e levo o aparelho até o ouvido.
Ele atende no primeiro toque.
— Quer fazer algo interessante? — é a primeira coisa que
pergunto sem dar chances de Liam falar oi.

— Você tá horrível — Liam fala ao examinar o meu rosto. —


Romie tinha falado que você estava péssima, mas não imaginei que
era tanto.
Reviro os olhos e dou um riso curto e cheio de sarcasmo.
Teria enrugado o nariz e feito cara feia se pudesse, mas o curativo
me impede de fazer expressões muito elaboradas.
— Bom saber que vocês falam de mim.
Liam me dá um sorriso de lado, todo convencido.
— É que você é um grande problema, impossível não falar
nada — retruca, me fazendo sacudir a cabeça de um lado para o
outro.
— Na máfia só tem fofoqueiro? — Ele franze o cenho com a
minha pergunta e eu dou de ombros. — Deixa pra lá, como ela tá?
— quero saber.
Romie anda meio enfurecida, porque descobriu recentemente
que a família a prometeu para um homem e que não há nada que
ela possa fazer, além de se casar ou fugir do país. É estranho como
essas famílias funcionam, o que até me fez questionar algumas
coisas.
Se Antonella tiver sido prometida a Thomas, eles terão que
casar de qualquer forma?
Não quero nem pensar nesse possível problema, porque ele
é meu e eu não faço muito o tipo de garota que fica quieta enquanto
o vejo casar com outra mulher. Com certeza, eu faria uma confusão
daquelas.
— Continua resmungando — é só o que me diz.
Faço um gesto positivo com a cabeça e caminho na direção
da sala do CEO, abro a porta e indico com o queixo para que entre.
Liam faz o que peço e ao ver a vista do centro da cidade através da
janela de vidro que vai do chão ao teto, dá um assobio, colocando a
mochila que trouxe em cima do sofá de microfibra.
— Nada mal, nada mal.
Aproximo-me dele e dou um tapinha no seu ombro e com o
dedo indicador, aponto para mesa de Arthur.
— Consegue descobrir a senha?
Liam me olha de um jeito como se eu tivesse falado a pior
asneira de todos os tempos. Talvez eu tenha mesmo, ele é hacker e
descobrir a senha do computador de alguém deve ser algo básico
no seu mundo digital.
— É claro que eu consigo — resmunga ao se acomodar na
cadeira acolchoada e alongar os braços e pescoço antes de dançar
com os dedos sobre o teclado e fazer um barulho insistente.
Sento na cadeira de frente para ele e mexo no celular,
enquanto espero que meu amigo faça a mágica acontecer. Rápido e
prático, ele não precisou de dez minutos para me dar o que eu
quero.
— Você não vai acreditar— Liam começa a falar, a expressão
é um misto de incredulidade e deboche. — A senha dele é vencer
mais a data de nascimento.
Solto uma espécie de bufo.
— Vencer? — repito, pasma.
Liam ri.
— Motivador — meu amigo zomba, me arrancando uma
risada.
Fico de pé e dou a volta na mesa, paro ao seu lado e olho a
tela do computador. A proteção de tela é a foto de uma mulher
bonita e de cabelos longos, passeando com um filhote de labrador
num campo de verão.
— Quem será? O cachorro é dele? — Liam pergunta,
intrigado e dou de ombros, sem saber o que responder. — O que
você quer ver primeiro?
— Não sei, tem alguma pasta comprometedora aí?
— Hum, vamos ver... — ele murmura, depois ergue os olhos
para me encarar. — Vai ficar em pé esperando? Me deixa meio
nervoso.
Giro os olhos e arrasto uma das cadeiras até próximo de
Liam e sento. Arqueio as sobrancelhas para o meu amigo.
— Melhor assim?
Ele me dá um sorriso de covinhas e volta com a atenção para
o computador de Arthur. Encontramos várias pastas, algumas com
senhas, o que não é problema quando se tem alguém como Liam ao
seu lado.
A vida de Arthur é mesmo decepcionante, para não dizer,
entediante.
As pastas com senhas escondem vídeos eróticos em que o
velho está em ação. Liam e eu trocamos um olhar cheio de nojo e
crítica, depois caímos na gargalhada. Há também algumas pastas
dedicadas ao que concluímos ser a falecida esposa de Arthur, já
que elas são separadas em datas e antes do hiato de três anos, os
últimos arquivos são cheios de fotos dela no hospital e sem cabelo.
O filhote de labrador, que se tornou um cachorro grande e
bonito, companheiro da mulher de Arthur nos últimos momentos,
também parou de aparecer.
Será que ele se foi?
Cansados de xeretar essa parte da vida de Arthur, meu
hacker particular checa os inúmeros e-mails, e aí que as coisas
começam a ficar mais interessantes. Mesmo que conversem em
códigos, dá para entender que Arthur encomendou algo de um tal
de T-Dog para o dia em que eu fui atacada. Não é lá uma grande
surpresa, já desconfiava que ele tinha algo a ver com o que
aconteceu comigo.
O que me surpreende mesmo e me deixa com uma pulga
atrás da orelha, são os arquivos das pastas zipadas nos e-mails.
Algumas fotos de Madelyn na rua, saindo da universidade, entrando
em casa e conversando com amigos. Acabo sentindo um gosto
amargo na garganta.
— Você a conhece?
A pergunta de Liam me faz sair do êxtase.
— Era namorada do meu tio — murmuro, desbloqueando a
tela do celular e discando o número dela. De repente, me sentindo
culpada por ter a ignorado por tanto tempo. Madelyn me ligou e
mandou mensagens tantas vezes, e a única coisa que fiz foi não
respondê-la. Ninguém atende à ligação. — Ela não atende — digo a
Liam, não conseguindo esconder a preocupação.
— Ela tem alguma rede social? — pergunta, mas nem espera
por respostas, os dedos deslizam pelo teclado e a atenção vai para
a tela do computador.
Meu celular começa a tocar. Ao ver o nome de Madelyn,
chamo a atenção de Liam e direciono a telinha colorida para ele
antes de atender.
— Madelyn?
— Ah, oi, Lawanda — fala. Para mim, a sua voz soa
estranha, mas não sei se é porque eu estou preocupada e
imaginando coisas, ou se é porque realmente tem algo
acontecendo. — Me desculpe, estava no banho.
— Ah, certo — murmuro. — Você tá bem? — quero saber.
— Sim, por quê? — a resposta vem tão rápido e num tom
não muito amigável, que fico sem jeito.
Mordo o lábio inferior e respiro fundo, me sentindo uma tola.
— Nada, nada. Podemos combinar de tomar um café algum
dia desses? — me ouço fazendo o pedido.
— Claro — é a única resposta que ela dá.
— Eu só queria...
— Lawanda, eu tô meio ocupada agora e preciso desligar —
me interrompe, a voz voltando a soar estranhamente gentil. — A
gente se fala depois, beijos — são as últimas palavras que escuto
antes da ligação encerrar.
— E aí? — Liam quer saber.
Dou de ombros.
— Acho que ela tá bem — falo, sem ter tanta certeza. — Se
ela retornou e falou comigo quer dizer que tá bem, né?
Liam torce os lábios, e demora um pouco, mas acaba
assentindo.
— Geralmente, sim.
— Mas por que Arthur tem fotos da Madelyn nas coisas dele?
— pergunto, sem conseguir deixar de remoer a questão.
— Talvez ainda não tenha feito nada.
As palavras dele são cruéis e desencadeiam sentimentos
controversos em mim, por outro lado, são verdadeiras. Talvez Arthur
ainda não tenha feito nada, o que quer dizer que ele possa ferir
Madelyn no futuro.
O homem é um cretino.
Se Nick conseguiu negociar com Alexander a cabeça do meu
tio, talvez nós possamos pedir mais uma cabeça e acabar de uma
vez por todas com ele. De qualquer forma, Arthur é um covarde, se
ele morrer não fará diferença na vida de Alexander.
Ou de qualquer outra pessoa.
Não estava esperando visita, então fico surpreso ao ver
Lawanda abrir a porta da minha sala. Ela destoa no meu ambiente
de trabalho, diferente das minhas funcionárias que usam terninhos,
a loira atrevida usa uma blusa de lã de mangas longas e uma calça
jeans de cintura alta com botas pretas.
— Hum, você usa óculos? Sexy — é o que fala ao dar um
passo para dentro da sala e fechar a porta logo em seguida,
trancando-a.
Levanto da cadeira e dou a volta na mesa para ir até ela.
— Depois de um dia exaustivo, eles ajudam — murmuro,
alcançando o seu rosto com as duas mãos e observando os
machucados no nariz e em volta dos olhos. Ainda me enfurece
sempre que penso no que aconteceu, ainda mais agora, que Arthur
resolveu sumir. — Você está bem?
— Novinha em folha.
Ela sorri.
— Por que não avisou que estava vindo?
— Queria fazer surpresa. — Dá de leve com os ombros e
morde o lábio inferior. — Precisamos comemorar.
Ergo uma sobrancelha.
— Ah, é? O que exatamente?
— Falta tão pouco pra Nick e eu conseguimos driblar
Alexander. — O peito dela sobe e desce com a respiração funda. —
Não achei que um dia fosse conseguir de verdade — admite.
Com o polegar, faço carinho no limite do maxilar delicado e
comtemplo os seus olhos. Lawanda é tão linda e intensa. Nunca
pensei que de alguma forma, uma mulher fosse ter tanto significado
ou importância para mim.
— E nem precisou explodir um prédio — zombo, fazendo-a
rir, o que não dura muito. — O que foi?
— Nada de Arthur?
Nego com a cabeça.
Lawanda é inteligente e esperta, não demorou nada para
juntar as peças e suspeitar de Arthur. E claro, depois de ter
encontrado algumas fotos de Madelyn no computador do imbecil,
está mais do que motivada a encontrá-lo.
— Vou encontrá-lo — a voz soa como uma promessa. —
Acabarei com ele — emendo, fazendo-a sorrir.
— É meio estranho se eu disser que acho sexy quando você
fala que vai acabar com ele?
Sorrio e inclino o rosto para frente, esmagando os seus
lábios com os meus. Ela cede de imediato, abrindo a boca e me
deixando-a invadir com a língua. Lawanda toca as laterais do meu
tronco e cola ainda mais o corpo no meu. Não demora nada para a
nossa aproximação enviar vibrações para o meu pau e eu senti-lo
ganhando vida e pulsando de maneira dolorosa contra a calça.
Lawanda é como um combustível perigoso para o meu pau.
Projeto minha ereção contra a sua barriga e ela solta
gemidos, que eu engulo com o beijo. Enfio os dedos nos cabelos da
nuca e puxo com vontade, a necessidade de estar dentro dela
irrompendo com força.
— Quero te pegar na minha mesa — assopro contra os lábios
carnudos e ela arfa. — Agora — a voz soa como um decreto.
Antes que as coisas entre nós possam esquentar mais ainda,
alguém bate na porta. A loirinha bufa, indignada, se afastando de
mim, sem me dar chances de ignorar quem quer que esteja na
soleira.
Faço o meu melhor para esconder a ereção antes de
caminhar até a porta e destrancá-la. Dou de cara com Mia, os olhos
curiosos pousam em Lawanda logo atrás de mim, depois ela me
encara, em Lawanda de novo e por fim, encontram os meus olhos
mais uma vez e devagar, descem mais um pouco e encontram a
protuberância no meio das minhas calças.
Ela não parece nada feliz e existe um ponto de interrogação
na expressão do seu rosto bem maquiado. Sei que Mia tem
perguntas, só que nunca terá as respostas.
— Tudo bem aqui? — Mia quer saber.
— Sim, não quero ser interrompido pelas próximas horas —
ordeno, fazendo-a espremer os lábios e anuir a contragosto.
Nem espero que ela dê as costas, fecho a porta e a tranco de
novo. Giro o corpo para Lawanda e a vejo com uma sobrancelha
loira erguida. Tem um ar desafiador pairando sobre a sua cabeça e
os olhos felinos estão tão selvagens, que isso me deixa mais duro,
se é que é possível.
— Você comeu a sua funcionária — fala, de repente. A
reprovação na voz é palpável. — Por isso ela me barrou, não queria
me deixar falar com você — emenda de forma irritadiça.
Passo uma das mãos entre os cabelos e penteio, suspirando.
— Já faz tempo.
— Comeu ela aqui? Na sua sala? — pergunta, o ciúme que
transborda na voz, me deixa mais animado. Gosto quando ela fica
ciumenta e possessiva, porque é exatamente como me sinto em
relação a ela.
— Quer a verdade?
— É claro — resmunga, tirando a bolsa do ombro e jogando
na cadeira, em seguida, cruzando os braços na altura dos seios.
— Sim.
Lawanda respira fundo, os olhos queimando de raiva e as
narinas infladas.
— Na mesa? No sofá? — questiona ao apontar para os
respectivos móveis. — No banheiro? — rosna, trincando os dentes
como um animal selvagem.
Lambo os lábios, louco para domá-la.
— Na mesa — sou sincero.
Observo quando a atenção dela vai para a mesa e fica
perdida em pensamentos por alguns segundos.
— Troque de mesa — ordena, me fazendo sorrir.

— O que mais que a principessa[21] quer?


Enfio as mãos no bolso da calça social, sem desviar a
atenção dela.
— Primeiro, eu não sou uma princesa — é o que fala,
avançando até mim e me puxando de forma atrevida pela gravata.
— Eu sou uma rainha — acrescenta de maneira presunçosa e abre
um sorriso diabólico.
Concordo com um aceno de cabeça.
Sem dizer nada, Lawanda afrouxa o nó da gravata e a tira do
meu pescoço, depois, vai desabotoando a camisa social até perto
da barra da calça, e então, a puxa com força. Desliza as pontas dos
dedos sobre o meu abdômen, deixando minha respiração pesada e
o pau doloroso de tanto latejar.
A garota me faz recuar até o sofá, mas não me empurra para
sentar. Primeiro, desafivela o cinto e em seguida, desce com o zíper,
e só então, me faz sentar no móvel macio.
Ela fica entre as minhas pernas e se ajoelha, tocando minhas
coxas e enviando vibrações incríveis para o meu corpo. Os olhos
felinos brilhantes não deixam os meus nem por um instante, e eu
tenho a sensação de que nunca estive tão conectado com uma
mulher.
Inclino-me um pouco para frente, estico uma das mãos para
entrelaçar nos seus cabelos da nuca e puxo com vontade. Assim
que ela solta um gemido entrecortado, meu corpo parece estar em
lava.
Deixo a atenção cair até a boca carnuda e arredondada,
imaginando-a pintada de rosa escuro. Com o polegar, toco o lábio
inferior, enquanto Lawanda me encara por cima dos cílios.
É sexy pra caralho.
— Quero que me chupe com a boca pintada de rosa escuro
— me ouço murmurando. — Desde que vi aquele vídeo, já imaginei
você me chupando com aquela cor de batom várias vezes.
O corpo inteiro de Lawanda retesa e ela se afasta do meu
toque de forma brusca. Se soubesse que minhas palavras cortariam
o clima, não teria as dito.
— Você viu o vídeo? — interpela, perplexa. Os olhos que
estavam brilhando de excitação, agora luzem de raiva. — Você viu a
merda daquele vídeo, Thomas? — berra ao ficar de pé e se afastar
de mim.
Como em modo automático, levanto rápido do sofá, fechando
o zíper da calça e colocando o cinto. Caminho até ela, mas a garota
se afasta de mim, o que me deixa meio irritado.
— Eu odeio aquele vídeo — choraminga, piscando rápido
para as lágrimas não transbordarem dos olhos. — Odeio aquele
cara por ter vazado. E agora, eu sei que você viu a porra daquele
vídeo.
— Foi só uma vez — esclareço, e eu odeio a sensação de
estar me explicando, só que também não gosto de vê-la assim.
— Mas viu — murmura, mordendo o lábio inferior com força e
balançando a cabeça de um lado para o outro. — Eu fiquei com
tanta vergonha de todo mundo por causa do que aconteceu. Eu me
senti suja, Thomas — ela admite, fazendo com que me odeie por ter
colocado os olhos naquele vídeo.
Num rompante, eu corto a nossa distância e toco os seus
cotovelos. Dessa vez, ela não recua do meu toque, mas tenta
desviar os olhos de mim. Com o polegar e o indicador, pego a ponta
do queixo de Lawanda e viro o rosto pequeno para mim.
— Eu sou um cretino — murmuro, e as lágrimas de Lawanda
fazem caminho até os lábios, deixando um rastro molhado nas
bochechas salientes. — Eu vi o vídeo, porque não conseguia parar
de pensar em você — assumo.
Ela prensa os lábios em linha reta.
— Eu odeio aquele vídeo, porque... porque ele não tinha o
direito de me expor desse jeito. Mesmo quando esqueço, às vezes,
fico pensando em formas de puni-lo, mas o idiota sumiu do mapa.
Me dou conta de que ela não sabe que Nicholas o matou. O
desgraçado que vazou o vídeo da Lawanda era um pervertido, que
drogava algumas meninas para filmá-las enquanto transava com
elas sem consentimento.
Eu, definitivamente, não teria feito diferente. Não sou cínico,
sei que depois de ver o vídeo, bati uma pensando em Lawanda e
sou um cretino filho da puta por isso, mas eu faria tudo para que um
vídeo desses nunca tivesse circulado na internet.
— O que você sabe? — ela indaga quando não digo nada.
Os olhos azuis buscando os meus.
Lambo os lábios antes de responder:
— Nicholas o matou.
Vincos se desenham na testa e os lábios se torcem, as
lágrimas continuam escapando dos olhos. Ela funga e tenta desviar
o rosto de mim, mas impeço ao agarrar seu pescoço com
delicadeza.
— Não chore.
— Eu sei que ele teve o que mereceu, Nick não teria o
matado se ele não merecesse — sussurra. — Só que eu queria
puni-lo por isso, mas é tarde.
Seguro o seu rosto com uma das mãos, o polegar roçando
nas bochechas molhadas e o restante dos dedos, descansando na
nuca, entre os cabelos.
— Você ainda quer puni-lo? — pergunto, fazendo-a unir as
sobrancelhas em confusão.
— Claro, mas é impossível.
— Você quer punir alguém?
Fiquei louco.
Lawanda não tem noção, mas eu farei tudo por ela.
No momento em que dou o primeiro passo para entrar no
galpão, o coração erra algumas batidas. O chão do lugar é de
cimento queimado e há várias manchas vermelhas encardidas, tem
cheiro de desinfetante ao mesmo tempo que lembra um pouco o
odor de mofo. Não há nenhuma ventilação e faz os cabelos da
minha nuca arrepiarem de um jeito assustador.
É o lugar perfeito para a cena de um crime.
Meu Deus, é isso não, é?
Aperto a mão de Thomas com força e ele olha para mim. Não
precisa dizer nenhuma palavra para que eu entenda o que esse
lugar significa para a família Carbone e seus mafiosos.
No fim do galpão, há um homem sentado, com um saco de
pano preto na cabeça. As mãos estão para trás, provavelmente,
amarradas como os pés estão em cada base da cadeira de madeira.
À medida que nos aproximamos, eu vejo o peito do homem
subir e descer rápido e algumas súplicas abafadas atingem os meus
ouvidos. Há três brutamontes de prontidão vestindo terno escuro
próximo da cadeira, os rostos sem demonstrar nenhum tipo de
emoção.
Thomas e eu paramos em uma distância curta do homem
sentado, e é como se uma pedra tivesse caído no meu estômago e
me faz ficar com dificuldade de respirar como uma pessoa normal.
Eu sei o que estamos fazendo aqui, só que ainda não
consigo acreditar. Quando ele perguntou se eu queria punir alguém,
não imaginava que fosse me arrumar uma pessoa de verdade.
Por alguma razão inexplicável, achei que fosse tudo no
sentido figurado da coisa. Não imaginei que fosse real. Caramba, é
real. Thomas encontrou alguém para eu punir de verdade.
Em algum lugar doentio da minha mente, isso me deixa
excitada. Não de uma forma erótica, mas eu me sinto tão eufórica,
poderosa, com a mesma intensidade que sei o quanto é errado e
imoral.
Esse mundo é perverso.
E agora, eu faço parte dele.
Thomas larga a minha mão para se aproximar do homem e
tirar o saco de pano da sua cabeça. Ele começa a gritar, pedindo
misericórdia e implorando para que não o matem. Um dos
brutamontes de terno, que tem uma arma em riste que eu nem tinha
notado, dá uma coronhada na cabeça dele e o faz calar a boca.
Puxa o cabelo dele com força, erguendo o rosto contra a luz e por
algum motivo, os seus olhos encontram os meus.
Ele deve ter um pouco mais de trinta anos, a barba é bem-
feita e há apenas um machucado no olho esquerdo.
— O que isso significa? — mesmo que já saiba a resposta,
eu pergunto a Thomas. — Quem é ele?
— Ele estuprou a própria filha de doze anos, quando a mãe
soube e ameaçou denunciá-lo para polícia, deu uma facada na
esposa e fugiu, conseguiu se esconder por duas semanas —
Thomas fala, me fazendo sentir ânsia de vômito.
O filho da puta estuprador começa a chorar, implorando pela
vida.
— Eu me arrependi, eu me arrependi. Eu juro, não vou mais
fazer isso. Vou embora dessa cidade. Eu prometo — berra enquanto
gotículas de salivas expelem da boca e chora como uma criança. —
Por favor! — exclama aos prantos.
De repente, até a voz dele causa sensações duvidosas em
mim. Não consigo sentir um pingo de compaixão por esse cretino, e
claro, muito menos, consigo acreditar nas palavras ou lágrimas de
crocodilo.
Ignorando o homem que implora por clemência, Thomas
direciona o rosto para mim.
— Você disse que queria alguém para punir, então, esse
pedaço de merda é perfeito para fazê-la se sentir melhor.
Respiro fundo, o coração palpitando na garganta.
— Qual é o nome dele?
— Vai ser mais fácil se não souber — Thomas aconselha ao
tocar o meu queixo com a ponta dos dedos e me dá uma espécie de
meio sorriso cúmplice.
— George Wilson — o estuprador esgoela-se ao falar e é
punido com outra coronhada por fazê-lo. Para meu desgosto, é
resistente o bastante, pois nem desmaia com o trancão. — Por
favor... — choraminga.
Ignoro George e encaro o meu mafioso.
— Pensei que fosse controlado — me ouço dizendo a
Thomas. — Isso não é ser imprudente?
Os lábios se esticam em um sorriso cínico.
— Não, imprudente seria punir qualquer um. Isso... —
Brevemente, aponta com o indicador para George. — É ser
controlado. Vai punir alguém que merece ser punido — ele diz e em
seguida, prende uma mecha de cabelo detrás da minha orelha. —
Não tenha pena dele, Lawanda. Ele não merece sua compaixão.
Devagar, viro o rosto para George e não consigo disfarçar a
minha expressão de nojo ao encará-lo. Só de lembrar que estuprou
a filha de doze anos, tenho vontade de vomitar.
— Não tenho pena dele, muito pelo contrário — murmuro ao
romper a distância entre mim e George. O homem próximo dele
puxa o seu cabelo de novo e inclina a cabeça do cretino para trás,
me dando uma bela visão do rosto do pervertido. — Eu quero um
bastão.
Não olho para trás, mas sinto que Thomas se moveu e um
dos homens saiu do galpão, mas não demora para voltar. Quando
me dou conta, está ao meu lado, me entregando uma espécie de
bastonete de ferro.
— Por favor — George implora. — Eu sou inocente —
emenda, me fazendo franzir o cenho, confusa.
Viro o rosto para trás e encaro Thomas por cima do ombro,
que apenas fecha os olhos por um milésimo de segundo e nega
com um aceno de cabeça, depois faz um gesto com a mão para que
eu continue o que estava prestes a fazer.
— Como você é inocente? — quero saber.
— Ela usava roupas provocantes, eu não consegui me
conter. A culpa não é minha, eu juro. Eloá que é uma pequena vadia
e ficava me provocando com aquelas roupas. Por favor, sou
inocente.
Ouvi-lo faz o sangue do meu rosto ferver e eu fico com tanta
raiva, que sinto as narinas abrindo e fechando. Dou um passo para
trás e como se soubesse o que estou prestes a fazer, o homem
solta os cabelos de George e eu acerto a lateral do seu rosto com o
bastão.
O impacto é forte e vibra do meu braço até os ouvidos, e eu
não me sinto nenhum pouco melhor.
Continuo com os golpes em George e ao vê-lo arquejar de
dor e babar sangue, sei que nem de longe é certo o que estou
fazendo. Porém, eu não consigo parar. Então, eu o acerto, bato no
cretino pela sua filha, pela esposa esfaqueada, por ele ser a porra
de um pedófilo.
— Você é inocente? — grunho, acertando o seu peito com o
bastão de ferro. — Como você é inocente, seu merda?
A raiva transborda nos meus olhos e os fazem arder, e
quando dou por mim, George está com o rosto do meu tio. A
imagem me deixa perturbada, mas permaneço o golpeando,
tentando puni-lo por ter matado os meus pais.
No fundo, eu sei que o meu tio era a única pessoa quem eu
queria punir de verdade. Ele me tirou tudo e me usou como uma
moeda de troca, só me manteve por perto porque era fácil me
manipular.
— Eu te amei! — berro, enquanto o bastão de ferro continua
indo direto na sua cara. — Eu te amei, tio Schavier. E você matou os
meus pais. Você me usou — não consigo parar de gritar, nem de
chorar, então, faço a única coisa que consigo, eu o acerto com o
bastão até não ter mais forças.
Meus braços começam a tremer de exaustão, me fazendo
largar o bastonete de ferro no chão. Thomas me puxa para ele e eu
enterro o rosto contra o seu peito forte e duro, não me importando
em conter a crise de choro.
Ele alisa meus cabelos e beija o topo da minha cabeça antes
de ordenar com a voz firme e profunda.
— Mate-o e se livre do corpo.
Ouço George choramingar e tento olhar para trás, para ver o
estado que eu o deixei, só que Thomas me impede ao me arrastar
para fora do galpão. O disparo é dado, mas isso não é o suficiente
para fazer o corpo de Thomas estremecer, e por incrível que pareça,
nem o meu.
Na verdade, eu não consigo sentir remorso pelo que acabou
de acontecer. Eu sei que George mereceu e também, estou ciente
de que não sou Deus para julgar as pessoas em terra.
Mas talvez, alguns males só se combatam da mesma forma...
com mal.
E com certeza, George, teve o que merecia.

— Você fez minha irmã matar um homem? — Nick indaga,


incrédulo, rindo com um sarcasmo meio assustador. — Não, não,
você não fez isso, Thomas. Não fez. Não é possível que tenha feito
uma merda dessa.
O conselheiro enfia as mãos dentro do bolso da calça social e
observa meu irmão de maneira impassível.
— Ela não o matou, apenas bateu nele — Thomas explica,
como se fosse simples de entender.
Não estava nos meus planos contar ao meu irmão o que eu
fiz há uma hora, mas ele apareceu aqui no meu apartamento para
contar que agora, ele e eu temos o controle acionário da
Corporação e que podemos marcar uma reunião, quando viu
minhas roupas com respingos de sangue.
Passou pela minha cabeça inventar uma desculpa, mas no
momento em que os olhos de Nick encontraram os meus, eu contei
a verdade. Acho que ele saberia de qualquer forma e seria pior se
soubesse por um dos homens da máfia em vez de mim.
E claro, ele ficou furioso.
— No que você está transformando minha irmã?
Nick cerra o maxilar e faz menção de quem vai atacar
Thomas, mas eu o impeço. Estou cansada de ver os dois assim,
sempre a um triz de entrar em guerra. Parece que tenho duas
bombas relógios, e bem, às vezes, eu acho que sou uma bomba
também, não quero ter que lidar com mais duas.
— Nick, fica calmo — peço gentilmente, e sou ignorada.
— Por que tá corrompendo minha irmã? Ela não precisa ter
as mãos sujas de sangue, porra — Nick retruca, emputecido.
Massageia as têmporas com força e por um segundo, acho que
pode arrancar a própria cabeça fora.
Thomas abre a boca para falar e eu o interrompo.
— Já tenho as mãos sujas de sangue, Nick — lembro-o e ele
desce um pouco o rosto para me encarar. — E também, não pode
ficar bravo por eu estar ficando parecida com você.
Os olhos azuis e severos brilham com uma tristeza que não
consigo entender. Será que é tão ruim assim eu ser parecida com
ele?
— Não sabe o que está dizendo, Lawanda.
— Eu amo você, Nick. Não me importo o que precisou fazer
pra me proteger ou proteger Lexie, ou o que precisou fazer pela
máfia. Eu te amo e espero de verdade, que me ame da mesma
forma também.
Nick prensa os lábios e sacode a cabeça de um lado para o
outro.
— Você usava tranças e brincava com a merda de bonecas.
Como eu posso aceitar isso? Não consigo.
Sinto meus lábios se repuxarem em um sorriso melancólico.
— Isso faz anos, Nick — murmuro, segurando uma das suas
mãos entre as minhas. — Tô quase fazendo vinte anos — faço
questão de lembrá-lo.
— Ainda é uma criança pra mim. Sempre será.
Assinto.
— Eu sei, mas pode fazer um esforço de me tratar como
adulta? Eu provei que sei me cuidar sozinha. Precisa confiar em
mim, por favor.
Nick deixa os ombros caírem e suspira.
— Você é minha irmã, preciso cuidar de você.
— Eu sempre serei sua irmã, só que agora, eu sei me cuidar
sozinha e posso cuidar de você também.
Ele massageia a têmpora esquerda com a mão espalmada e
fecha os olhos com força, como se fosse difícil lidar com a situação.
A verdade, é que é mesmo. E eu o amo mais ainda por se
preocupar comigo, mas Nick terá que me deixar tomar minhas
próprias decisões, por mais erradas que elas sejam.
— Preciso de tempo pra me acostumar com isso... — fala ao
olhar para Thomas com desdém. — E se você magoar minha irmã,
eu vou te matar. Vou te matar, Thomas.
— Eu sei — Thomas diz, sério.
Ai meu Deus, acho que os dois estão falando sério.
— Ok, ok, não quero ouvir esse tipo de coisa vindo de vocês
— peço e trato de colocar um sorriso grande no rosto. — Que tal um
jantar? Você, Lexie, Thomas e eu? — arrisco, e ao notar a
expressão de desgosto do meu irmão, sei que arrisquei cedo
demais.
Um passo de cada vez...
— Não — resmunga, passando por mim e rumando na
direção da porta. Nick vai embora e eu cruzo os braços na altura do
peito, respirando fundo.
— Ele tá quase aceitando — digo, na tentativa de me animar.
— Sim, tá quase — repito, soando motivadora.
Thomas sorri.
— Ele vai aceitar melhor com o passar do tempo — o mafioso
diz, rompendo a nossa distância e agarrando a minha cintura. —
Vem, vou limpar você.
— Vai mesmo ou é uma desculpa pra me ver pelada?
Ele ergue as sobrancelhas.
— Um pouco dos dois.
A resposta me rouba uma risada. Passo as mãos em volta do
pescoço de Thomas e encosto nos nossos lábios, o beijando de leve
e sem entender o porquê, eu lembro de Romie e a situação do seu
casamento arranjado.
— Por que nunca casou? Não é meio que uma obrigação no
seu mundo? — questiono, curiosa. — Se Antonella tivesse sido
prometida a você, teria que se casar com ela, não é?
As mãos na minha cintura me apertam e ele me faz recuar
até eu estar contra a bancada da cozinha.
— Sim, se antes de morrer, meu pai e o dela com a benção
do Don tivessem decidido que nos casaríamos, eu teria que fazer.
Assinto, sentindo um aperto estranho no peito.
— Entendo.
Thomas eleva uma das mãos e segura o lóbulo da minha
orelha.
— Nunca me casei, porque nunca quis alguém importante pra
mim nesse nível — começa a articular, esquadrinhando o meu rosto.
— Antes dos meus desejos e vida pessoal, eu sou conselheiro do
Noah. Bom, era pra ser assim.
— Não é mais?
— Você me faz perder a cabeça, Lawanda. Às vezes, não
confio no meu julgamento quando o assunto é você.
Sorrio.
— Isso é ruim, não é?
— Sim, porque no momento, você é mais importante do que
os juramentos que eu fiz quando iniciei na máfia. E sabe o quanto é
problemático eu estar assumindo isso? É algo que causaria minha
morte.
Meu coração dispara e eu engulo em seco.
— Eu te protejo — sussurro, roçando os meus lábios contra
os seus. — Não deixarei ninguém tocar em você.
Os lábios de Thomas se curvam.
— Eu protejo você — ele diz, como se fosse uma promessa e
talvez, seja mesmo. — Cuidarei do que é meu com a minha vida —
admite ao segurar minha cintura com força e me sentar na bancada.
— E sua mãe? Romie me disse que ela queria o casamento
entre você e Antonella.
Por que diabos estou insistindo nisso? Não sei, mas acho
que só quero a certeza de que Thomas não vá sumir de repente,
porque precisa casar com uma mulher de dentro da máfia.
— Quer conhecer minha mãe?
Arqueio as sobrancelhas.
— Isso é uma péssima ideia — devolvo. — Romie me contou
algumas coisas sobre ela — admito.
Ele me dá um sorriso maroto.
— Ah, é? Como o quê?
— Que ela quer uma nora italiana — falo e não consigo
esconder o desgosto na voz. — Além de não ser italiana, não vou
ficar calada se ela decidir despejar veneno em mim — depois de
soltar as palavras, me dou conta de que estou falando da mãe de
Thomas. — Desculpe — me apresso em dizer.
As mãos do homem deslizam pela lateral do meu corpo,
puxando minha blusa de manga longa para cima e me fazendo
levantar os braços para que passe o tecido de lã pela minha cabeça.
Ele joga a peça de roupa no chão e vai com as mãos para minhas
costas, desabotoando o sutiã e o tirando, revelando os meus seios
de mamilos entumecidos por causa do frio.
Os olhos dele brilham ao tocar os meus seios e fazer fricção
com o polegar no mamilo duro. O toque faz o lugar interessante no
meio das minhas pernas latejar de tesão.
— Não se preocupe — ele murmura, por fim. — Eu já disse,
você é minha, Lawanda e não há nada que vá mudar esse fato —
emenda, como se eu ser dele fosse a solução de todos os eventuais
problemas.
— E se você precisar casar? — insisto, estremecendo com o
seu polegar no meu mamilo. — Como vai ser?
— Eu preciso me casar, Lawanda — admite, me deixando
meio amuada, infelizmente, não menos excitada. — Só que eu
mesmo escolherei minha noiva, a mulher que vai esquentar minha
cama e a quem dedicarei minha vida além da máfia.
Respiro fundo, sentindo a umidade entre as pernas ficar mais
intensa e a curiosidade crescendo com a mesma proporção.
— Tem alguém em mente?
Ele não responde nada, apenas estica o canto dos lábios em
um sorriso lascivo e inclina o corpo contra o meu, alcança um seio e
o suga. Arqueio as costas e enfio as mãos entre os seus cabelos,
gemendo com os movimentos da sua língua contra o meu mamilo
sensível.
— Me responde — persisto.
Thomas ergue os olhos para mim, sem tirar a boca do meu
seio. Ele me suga com vontade e me fazendo delirar e quase perder
a linha do raciocínio. Então, para minha surpresa, ele afasta a boca
de mim e eu sinto falta do calor dos seus lábios contra a minha pele.
— O que você quer, Lawanda? — sussurra.
— Ser a única mulher da sua vida — as palavras atravessam
meus lábios antes de o cérebro processá-las e nem consigo me
importar com a intensidade que elas carregam — Ser a sua dona —
admito, inebriada e percebo algo.
Eu estou apaixonada.
Thomas não diz nenhuma palavra, apenas sorri de um jeito
maroto e passeia com a língua entre os meus seios antes de
procurar meus lábios para um beijo sedento e necessitado.
Levar a Lawanda para jantar com a minha família, com
certeza, não é exatamente o que a mamma esperava que eu
fizesse, porém, não ousou reclamar. Fez algo muito pior, convidou
Antonella e os pais da garota.
Ao entrarmos na minha casa e darmos de cara com
Antonella, o corpo inteiro de Lawanda enrijece e os olhos felinos e
afiados miram os meus. Felizmente, ela não parece intimidada,
embora esteja na cara que está irritada.
No hall de entrada, a mamma surge e abre um sorriso cordial
ao cumprimentar Antonella e os pais, fazendo questão de elogiar a
garota de forma demasiada. Ao se aproximar de Lawanda, o sorriso
diminui e ela não esconde olhar cheio de julgamento.
— Então, você é a Lawanda — mamma cumprimenta,
analisando a garota dos pés à cabeça. — Mais nova do que eu
esperava.
— Obrigada! — é o que Lawanda diz muito animada, e ao
notar o rosto da minha mãe se enrugando, sei que não esperava
esse tipo de reação.
— Já conhece Antonella? — mamãe pergunta, ardilosa.
Finjo um sorriso e toco o cotovelo da minha mãe, inclino o
rosto na direção do seu ouvido e murmuro.
— Controle-se, não aceitarei que desrespeite Lawanda —
informo.
— Não tivemos a oportunidade de sermos apresentadas —
Lawanda comenta e com um sorriso diabólico, gira o corpo na
direção de Antonella e os pais. — Mas nos vimos na festa de
réveillon.
Antonella fica sem jeito e abre meio sorriso.
— Lawanda Farley — fala ao caminhar até a garota e
estender a mão em cumprimento. — Namorada do Thomas.
Não esperava a última frase, então não consigo esconder a
surpresa. Antonella não sabe para que lado olhar e os pais da
garota encaram minha mãe, sem entender o que está acontecendo.
— Desculpe, você disse namorada? — a mãe de Antonella
pergunta, e Lawanda assente, sorrindo.
— Sim. Incrível, não é?
Sinto os lábios se esticarem em um meio sorriso maroto.
O que eu pensei? Lawanda sabe se defender sozinha e com
certeza vai driblar minha mãe e os convidados. Não é uma garota
que se intimida fácil. E para falar a verdade, eu adoro o fogo e
atrevimento dela.
Depois das apresentações, Lawanda e as gêmeas se dão
super bem, o que irrita ainda mais a minha mãe.
Rumamos para a sala de jantar e deixo que os outros entrem
primeiro para conversar com Lawanda. Não acontece, porque meu
irmão se aproxima de nós, ainda não tinha o feito. Para ser sincero,
ele evitou olhar para a loirinha desde que ela colocou os pés nessa
casa.
— Fique longe de mim — Oliver zomba. Como no
automático, as sobrancelhas dela se arqueiam.
— Por quê?
— Quero ter bolas e mãos no futuro — meu irmão rebate,
piscando para ela e entrando na sala.
— Ameaçou o seu irmão?
Pouso as mãos nos seus ombros, massageando e roçando
os lábios de leve no lóbulo da orelha ao sussurrar:
— Eu disse, eu perco o controle por causa de você.

Na mesa de jantar, Lawanda não abaixa a cabeça para as


provocações da mamma e eu nem esperava que o fizesse.
As gêmeas e os pais não dizem nenhuma palavra. Antonella
também não fala muito, por outro lado, não consegue tirar os olhos
de nós. Já os seus pais, parecem ter se juntado com a minha mãe
para interrogar Lawanda.
— Você é órfã — Mário, o pai de Antonella fala para
Lawanda, como se fosse um xingamento.
Lanço um olhar fulminante para ele e arqueio uma
sobrancelha, fazendo-o engolir em seco e se remexer na cadeira.
Estou prestes a repreendê-lo pelos maus modos, quando a
loirinha é mais rápida:
— Sim, eu sou — responde ao limpar a boca com o
guardanapo de pano. — Isso é um problema para o senhor? Se for,
eu gostaria de saber o motivo — emenda, sorrindo.
Mário não ousa responder.
Oliver não consegue segurar a risada e deixa escapar o
barulho estranho da garganta. Bebe um gole generoso de vinho
para se recompor, só que também, não fala nenhuma palavra,
apenas sacode a cabeça, se divertindo.
— Há quanto tempo se conhecem? — Monica, a mãe de
Antonella pergunta, curiosa. Ao contrário do marido, não há nada de
errado no tom da sua voz, o que eu aprecio.
— Faz alguns meses — Lawanda responde ao olhar para
mim e abrir meio sorriso.
Sou surpreendido ao sentir a mão pequena deslizando na
minha coxa, rumando para o meio entre as minhas calças, deixando
um rastro de formigamento e fazendo meu pau pulsar em
antecipação.
— Ele salvou minha vida e sou muito grata por isso —
acrescenta, soando gentil, em contrapartida, os olhos afiados e um
sorriso diabólico esticando os lábios.
Quando penso que ela vai começar a me tocar por cima da
calça, a garota desiste do ato e volta de maneira discreta com a
mão para cima da mesa. Passo a língua no lábio inferior e levo ar
até os pulmões, tentando dominar a excitação que ela acabou de
causar em mim.
Lawanda me olha de esguelha e tenta esconder o sorriso ao
levar a taça com vinho até a boca.
A mamma começa a falar algo, que escapam aos meus
ouvidos, já que minha atenção resolveu estacionar em Lawanda. De
forma sorrateira, toco a coxa exposta dela, satisfeito pelo fato de a
garota estar usando vestido. Um pequeno barulho escapa dos lábios
carnudos, mas ninguém, além de mim, consegue notar. A sua mão
vem de encontro com a minha, tentando me impedir de subir mais,
só que ela está dividida.
Lawanda quer que eu pare na mesma proporção que quer
que eu continue.
A loirinha engole em seco e prende os lábios com os dentes,
enquanto a respiração vai ficando ofegante. Meus dedos deslizam
para a parte interna das suas coxas, subindo a barra do vestido e
fazendo-a apertar uma perna contra a outra, mas logo as abre de
novo, permitindo o meu acesso.
As pontas dos dedos roçam a sua entrada por cima da
calcinha e sinto o meu pau doer contra a calça ao sentir a umidade
no tecido. Eu mal a toquei e ela está encharcada.
— Por favor — Lawanda sussurra, apenas para eu ouvir. O
dedo indicador e o médio arredam um pouco o tecido macio da
calcinha para o lado. — Não vou aguentar ficar quieta — admite, a
voz baixa e trêmula.
— Você está bem? — a mamma pergunta a Lawanda ao
notar a respiração arfante e as bochechas coradas da garota.
— Sim — ela responde, rápido demais para ser verdade.
Mesmo com vontade de fazê-la gozar na sala de jantar, eu
recuo com a mão. Lawanda fecha os olhos com força e depois, mira
em mim, com um sorriso pequeno em agradecimento.
O resto da noite é melhor do que eu esperava. A minha
garota é forte o bastante para lidar com as investidas
desnecessárias da mamma e os comentários sem noção de Mário.
Mesmo quando tentei defendê-la, Lawanda abriu a boca e mostrou
que não é alguém que vai abaixar a cabeça para aceitar algum tipo
de humilhação.
Estamos acompanhando Antonella e os pais até o hall de
entrada, quando a mamma puxa Lawanda para longe de mim e os
pais da minha ex futura noiva se afastam, me deixando sozinho com
a filha deles.
— O que pensa que está fazendo? — Antonella pergunta
baixo, me fazendo unir as sobrancelhas com o tom de reprovação
que ela usou comigo.
— O que disse?
— Você não é o chefe da família Carbone para quebrar
tradições ou o Julian para casar com qualquer uma — crispa, me
deixando bem irritado.
Abro um sorriso sarcástico.
— Antonella, eu preferia quando você não falava muito —
disparo.
— Não pode ficar com essa garota, Thomas.
— Não me diga o que fazer, Antonella. É a primeira e última
vez que falarei isso — revido entre os dentes.
Ela torce os lábios e o queixo, os olhos brilham com tristeza.
— Não pode fazer isso comigo.
Pisco devagar, perdendo a paciência.
— Fazer o quê?
— Se não casar comigo, eles vão me entregar pra um
soldado qualquer. Não pode me condenar assim, Thomas. Não
pode.
Antonella deixa escapar uma lágrima solitária, e parte de mim
sabe que ela espera que eu a seque, no entanto, não movo um
músculo para fazê-lo.
— Thomas... — ela murmura, a voz soa como uma súplica.
— Por favor. — Corta a nossa distância e toca o meu peito com a
mão espalmada. — Faça a coisa certa e deixe Lawanda — insiste
no exato momento em que a loira volta a ficar próxima de mim.
— Se você quer continuar com as duas mãos, é melhor parar
de tocar o que é meu — Lawanda fala em alto e bom tom,
chamando a atenção dos pais de Antonella, esbugalhando os olhos
da mamma e divertindo Oliver e as gêmeas.
Antonella recua com a mão e dá um passo para trás.
— Acabou de ameaçar a minha filha? — Mário questiona ao
vir para cima de Lawanda, irritado. — Você sabe quem eu sou? —
esbraveja. E eu sei que está a um passo de levantar a mão para
minha garota, mas não o faz ao reparar no meu olhar de reprovação
para ele.
— Não ouse falar com ela dessa maneira de novo, Mário —
alerto, antipático. — Não vou tolerar que a desrespeite na minha
casa.
Ele olha para mim por um intenso segundo e assente,
fingindo ajeitar a gravata e se desculpando logo em seguida.
Pela primeira vez na vida, a mamma está sem palavras,
então, não tem nada a acrescentar. Decide acompanhar os
convidados até a porta e eu conduzo Lawanda na direção das
escadas, levando-a para o meu quarto.
— Estou encrencada? — A loirinha ciumenta mira as vistas
em mim. — Não pensei muito na hora de ameaçar a filha de um
mafioso, só estava com ciúmes — explica-se, me fazendo sorrir e
tocar as suas costas com uma das mãos.
— Você é imprudente pra caralho, mas eu achei sexy. É a
ameaça que eu faria se visse outro homem te tocando.
Lawanda morde os lábios para esconder o sorriso.
Ela dá um passo para dentro do quarto e os olhos felinos
rodam o cômodo inteiro. Em passos vagarosos, se aproxima da
cama king size e observa o móvel como se ele fosse capaz de lhe
dar respostas importantes.
— Trouxe quantas mulheres aqui? — pergunta, fazendo um
estalo com a língua no céu da boca.
— Por quê? Vai ordenar que troque de cama também? —
comento, e os olhos dela brilham.
— Talvez sim, algum problema? — contesta, afiada e
carregada de prepotência. Lawanda retira a alça da bolsa do ombro
e a coloca na beirada da cama. — O que Antonella estava falando?
— muda de assunto, de repente.
— O que a mamma queria com você? — retruco, fazendo-a
suspirar.
— Me intimidar, é claro. E Antonella? — insiste.
— Nada que você precise se preocupar.
Desabotoo o terno e afrouxo o nó da gravata e antes que
possa tirá-la, Lawanda rompe a nossa distância e as mãos
pequenas voam para o meu pescoço e me ajudam. Sem dizer nada,
ela passa a peça de roupa pelos meus braços e ergue os cílios para
me encarar.
— Da próxima vez, eu não vou parar — falo e ela une as
sobrancelhas em confusão. — Você começou com as provocações
na mesa de jantar.
Ela suspira, reprimindo a boca.
— Eu sei, não pensei que fosse levar tão a sério.
Estico o canto do lábio esquerdo.
— Não gosto de provocações, eu as levo a sério demais —
sussurro, tocando as maçãs salientes do seu rosto com as costas
das mãos. — Queria te fazer gozar na sala de jantar.
Noto Lawanda engolir em seco, lentamente, e aos poucos, a
veia no pescoço delicado saltando.
— Ainda mais porque eu vi o quanto estava molhada — digo,
inclinando o rosto para frente e roçando os lábios de leve na
curvatura do seu pescoço. — Você queria que eu te fizesse gozar
na frente daquelas pessoas, Lawanda. Eu sei que queria gozar nos
meus dedos. — A voz soa baixa e comedida, mas surtem efeito,
pois ela precisa segurar meus braços para se manter em pé.
— Sim — admite com um sussurro. — Mas seria um
problema, porque eu não conseguiria ficar quieta. Você sabe disso,
eu gemeria enquanto gozava na sua mão.
As palavras dela enviam vibrações quentes para todo o meu
corpo, o acordando de novo.
— Eu sei. — Pego o pulso de Lawanda e encaminho a mão
em cima da protuberância da minha calça. Ela deixa escapar um
pequeno gemido sexy de entre os lábios carnudos, e em seguida, a
atenção cai para o meu volume. — Não me provoque de novo,
loirinha. A não ser que vá aguentar as consequências.
Ela engole em seco outra vez.
— Por que as consequências soam tão tentadoras aos meus
ouvidos? — confessa, mordendo o lábio inferior e aumentando o
meu tesão de forma absurda.
— Fique de costas — ordeno.
Os olhos felinos me encaram de um jeito atrevido, mas ela
faz o que eu mando. Agarro o emaranhado de cabelo e o coloco de
lado para liberar o acesso ao zíper do vestido, que deslizo até a
base da sua coluna. Puxo o tecido para frente e passo pelos braços
dela, dou a volta no corpo de Lawanda e desço a peça de roupa até
os pés.
Levanto a cabeça para contemplar o seu corpo e gosto do
que vejo. A calcinha é pequena e vermelha, não está usando sutiã e
fica sexy pra caralho desse jeito. A visão do paraíso.
Contorno o corpo de Lawanda, alisando a bunda redonda
enquanto cravo os dentes na curvatura do pescoço pequeno. Com a
mão livre, agarro um seio, que cabe de forma perfeita na minha
palma e sinto o mamilo entumecido ficar ainda mais duro e pontudo
contra a minha pele.
— Quero sentir a sua boca atrevida no meu pau.
Ela respira fundo e se vira para mim.
— Espere um pouco.
Dito isso, Lawanda se afasta de mim, pega a bolsa e ruma na
direção do banheiro, me deixando intrigado. Sei que ela não é
submissa, no entanto, não era esse tipo de reação que estava
esperando.
Alguns minutos depois, ela volta, os lábios arredondados
pintados de um vermelho sangue que destoa o tom da pele clara.
Os cabelos continuam soltos e alguns fiapos caem sobre parte dos
seios.
— Por que passou o batom?
— Não vou usar o batom do vídeo — fala, levantando o
queixo em atrevimento. — Mas não significa que não vá usar algum
batom — emenda, suspirando. — Não quer minha boca em volta do
seu pau usando isso? — questiona ao levar o indicador até os lábios
vermelhos.
Caralho, sim.
— Quero.
De forma graciosa, a loira vem até mim, parando a uma
mínima distância. Meus olhos vão para os seus seios de mamilos
inchados e pontudos.
— Quero você na minha boca, Thomas — ela sussurra, a voz
sexy e manhosa. — Quero te enlouquecer.
Penso em falar que ela não precisa se esforçar muito, porque
já o faz, mas perco a linha do raciocínio no momento em que suas
pequenas mãos tocam o meu peito e me fazem recuar até a cama.
E então, ela se ajoelha, desafivela o cinto e abre o zíper, descendo
a calça e a cueca boxer lentamente e depois, me empurra para
sentar.
Assim que ela envolve as mãos no meu pau latejante e
molhado de pré-gozo, a minha respiração fica acelerada. Lawanda
coloca a língua para fora e aproxima da glande, lambendo minha
excitação e me fazendo grunhir.
Enfio os dedos nos cabelos loiros e puxo de leve, sentindo
cada terminação nervosa do meu corpo arrepiar por causa dela. Os
olhos felinos miram os meus e só então, Lawanda engole meu pau
até o fundo da garganta.
Ela o chupa, massageando com a língua a parte lisa e
molhada do meu pau.
— Porra, Lawanda. Você não faz ideia de como isso é bom
— grunho.
Com as mãos nos cabelos loiros, eu vou guiando o ritmo, ela
consegue me engolir inteiro, o que me faz querer gozar rápido.
Contraio o abdome, na tentativa de me segurar.
A garota começa a colocar intensidade na boca, me sugando
com vontade e nem precisa que a guie para deixar o ritmo mais
forte. Sinto os dedos em volta do meu pau apertarem, o que me
rouba um gemido rouco.
Meu corpo começa a tremer no instante em que ela acaricia
minhas bolas.
— Lawa... cacete, eu vou gozar... — alerto. — Se não quiser
que eu goze na sua boca, é melhor parar agora.
Claro que quero gozar nessa boca carnuda e vê-la engolindo
minha porra, só que...
Lawanda ignora completamente meus avisos e dá mais
intensidade ao momento. Chupa o meu pau com vontade, o
engolindo inteiro e voltando com os lábios na glande. Sem conseguir
me conter, eu jogo a cabeça para trás e gozo forte na boca dela.
Mesmo depois de explodir entre os lábios atrevidos, ela
continua me sugando e olhando para mim.
Não há dúvidas.
Ela já é minha dona.
— Vem aqui — chamo-a ao segurar seu rosto com as duas
mãos e trazê-la para mim. Ela passa uma perna em cada lado da
minha cintura e senta bem cima do meu pau, me fazendo sentir a
umidade que ensopou a sua calcinha. — Você é perfeita — digo e
toco os lábios borrados de batom vermelho.
Ela sorri, convencida e começa a rebolar em cima do meu
pau, me deixando animado de novo sem dificuldade. A boca
encontra o meu pescoço para uma mordida, que faz o meu corpo
inteiro arrepiar.
— Tira a roupa — ela pede.
Seguro Lawanda pela cintura para girá-la e colocá-la de
costas na cama.
Afasto um pouco e tiro os sapatos e meias antes de descer o
restante da calça com a boxer e desabotoar a camisa social.
Lawanda recua, mas eu a impeço de continuar ao agarrar suas
pernas e puxá-la para mim, e passar o tecido da calcinha pelos
tornozelos.
— Abre as pernas pra mim, Lawanda — ordeno e assim, ela
o faz, me dando uma visão significativa do sexo molhado de tesão.
— Olha como você tá molhada — rosno ao passar o
indicador de leve na extensão úmida. Ela geme ao arquear o quadril
para mim. — Essa boceta tá sempre pronta pra mim.
Fico de joelhos e enterro o rosto na boceta de Lawanda,
passando a língua pela fenda encharcada e sentindo o gosto do seu
prazer. Encontro o clitóris inchado e quente e o contorno com a
língua, fazendo-a agarrar meus cabelos e puxar forte.
— Minha boceta — grunho, me sentindo possessivo.
Enfio as mãos por debaixo da bunda e finco os dedos,
apertando-a enquanto a lambo toda.
— Thomas — ela geme, estremecida.
Saio do meio das pernas de Lawanda e a ouço choramingar
em protesto. Ela me encara através do véu de prazer e noto que
está com a respiração acelerada.
— Se vire e fique de quatro — mando e sem questionar, ela
acata a ordem. — Empina bem esse rabo pra mim, Lawanda, que
vou te lamber toda.
Volto a me aproximar, mergulhando o rosto na boceta
molhada e doce, ela geme meu nome e meu pau vibra em resposta.
Passeio com a língua por toda a sua extensão e deslizo um dedo
para a entrada escorregadia, depois outro. Lawanda empina mais a
bunda para mim, me deixando louco de tesão.
Faço movimentos de vaivém, vendo-a se contorcer na minha
mão e lambuzar meus dedos com o seu mel.
— Meu Deus, Thomas — ela arfa, e eu não perco tempo,
volto com a língua no seu sexo, enterrando meu rosto por completo
na boceta, e chupo-a com vontade e força.
Lambo devagar, de uma ponta a outra, minha língua
alternando em provocar o clitóris inchado e quente e se enfiar na
fenda molhada. Lawanda começa a se contorcer, enquanto
choraminga.
— Isso, Thomas, assim...
Ela empina mais a bunda para mim e começa a rebolar
contra o meu rosto, me fazendo perder o controle. Devoro-a com
intensidade, chupando, lambendo e enfiando a língua bem fundo.
Lawanda solta um grito abafado e eu sei que está perto de
gozar.
Lambo toda a fenda e ao chegar no clitóris, brinco com ele
antes de sugá-lo. A garota geme quando enfio dois dedos nela sem
afastar o rosto, movimento para frente e para atrás. Os músculos
tensos se apertam e ela começa a gemer, gozando na minha mão,
na minha língua.
Depois, agarro Lawanda pela cintura e a deito de costas. Ela
ainda está ofegante e mole do orgasmo, mas mesmo assim, é linda
e sexy.
Cubro seu corpo com o meu e procuro sua boca. Nossos
lábios se esmagam e, à medida que aumento a intensidade do beijo,
meu pau lateja em ansiedade para sentir sua boceta quente.
Abaixo a boca até encontrar um mamilo e chupo forte, e com
uma mão, agarro o meu pau e esfrego a cabeça na entrada
escorregadia antes de finalmente entrar com uma investida forte.
Faço movimentos de vaivém conforme sinto as vibrações de
prazer entorpecentes deslizarem sobre a minha pele. Lawanda
mexe os quadris debaixo do meu corpo, recebendo minhas
investidas, enquanto finca as unhas nas minhas costas.
Lawanda aperta as pernas em volta do meu corpo, me
puxando contra ela. Olho para baixo e a vejo em êxtase, olhos
fechados, enquanto a boca está entreaberta, então, eu entro e saio
com força.
— Abra os olhos, Lawanda — mando e ela obedece. —
Gosto de olhar pra você quando está gozando.
Começo a fodê-la com mais força, sentindo-a apertar os
músculos da boceta em volta do meu pau, enviando sensações
incríveis para o meu corpo, e eu sei que Lawanda é a droga que me
deixará viciado para sempre.
À medida que ela vai contraindo os músculos ao meu redor e
tremendo as pernas, eu movimento os quadris mais rápido,
impiedoso e grotesco.
— Vai, delícia, goza no meu pau — rosno, e ela pisca
devagar, fazendo esforço para manter as pálpebras abertas.
Esgueiro uma mão entre nós e roço o polegar no clitóris,
então, o corpo dela treme e pulsa debaixo de mim, gemendo alto
antes de alcançar o orgasmo.
Apoio um dos cotovelos na cama e a mão que antes tocava
seu sexo, segura a cintura com força, enquanto me projeto com tudo
para dentro dela, buscando o meu próprio prazer.
Enfim, me solto e gozo dentro de Lawanda, repetindo com
sussurros que ela é minha. Só paro de me movimentar ao sentir a
última gota de porra saindo de mim. Desabo em cima dela e enfio o
rosto no seu pescoço, mordiscando e beijando com carinho.
Ela suspira, entrelaçando os dedos nos meus cabelos. Arredo
um pouco a cabeça para olhá-la e gosto da visão. Parte do cabelo
loiro está pregado na testa por causa do suor e o resto esparramado
nos meus travesseiros.
Descabelada e sexy pra caralho depois de um sexo gostoso.
“É a Madelyn. Por favor, eu preciso de ajuda, Lawanda. Eles
me obrigaram a retornar a sua ligação dias atrás. Não ligue ou
responda para esse número.”
É a quinta vez que leio a mensagem que chegou há alguns
minutos e a única coisa que consegui fazer foi ficar parada igual a
uma estátua de mármore, revirando as possibilidades dentro da
minha cabeça.
Olho para Thomas dormindo feito pedra ao meu lado na
cama e por um segundo, cogito contar o que está acontecendo, mas
no fundo, eu sei que ele vai querer resolver o problema e me deixar
de fora.
Bloqueio a tela do celular e estou prestes a sair da cama
quando ele agarra meu pulso e me puxa para si, envolvendo os
braços musculosos em volta de mim e beijando o topo da minha
cabeça.
— Onde pensa que está indo? — pergunta, a voz rouca e
sexy de sono.
Engulo o nó salgado na garganta e fecho os olhos por um
segundo, tentando não me encolher com a mentira que vou contar.
— Tenho um trabalho da faculdade pra entregar segunda.
Preciso voltar pro meu apartamento.
Ergo os cílios para encará-lo e vejo os olhos abrindo de leve
para me observar. Ele é lindo pela manhã, o cabelo bagunçado e os
olhos menores que o costume por causa do sono.
— Sério? Tinha planos de passar o dia na cama com você —
murmura, vindo por cima de mim e cobrindo meu corpo com o seu,
enquanto deposita beijos quentes no meu pescoço e limite do
maxilar.
— Não posso ficar.
Thomas impõe a ereção matinal contra a minha coxa e os
lábios se repuxam em modo automático.
— É sério, não posso ficar — insisto, desvencilhando-me dele
e me arrastando para fora da cama. — A gente se vê na segunda de
noite — acrescento, catando minha roupa íntima no chão.
Thomas pisca rápido. Agora, parece completamente
desperto, o que faz meu estômago revirar. Não quero que desconfie
que estou prestes a fazer algo, que com certeza, ele discordaria.
— Só vou te ver na segunda? — devolve, meio irritadiço.
— Preciso estudar e você é uma distração — falo a meu
favor. — Vai conseguir ficar comigo sem tentar tirar minhas roupas?
— indago e arqueio uma sobrancelha para ele. O homem bufa e
solta uns palavrões em resposta. — Foi o que eu imaginei.
Depois de vestir a calcinha, volto para cama e encosto meus
lábios de leve nos dele. Thomas enfia a mão nos meus cabelos da
nuca e dá intensidade ao beijo. Preciso de muita força de vontade
para não cair em tentação.
— Vou te levar em casa — avisa.
— Não precisa — retruco contra a sua boca e sorrio. — Vou
pegar um Uber.
Ele ri, cético.
— Não vou te deixar ir pra casa assim — alerta, me fazendo
morder o lábio com força e acabar concordando com um aceno de
cabeça. — Algum dos soldados vai te deixar em casa.
Sorrio ao descer do colchão.
— Tá bem, obrigada.
Thomas une as sobrancelhas loiras, visivelmente desconfiado
e sai da cama. A visão do abdômen trincado e o volume na boxer é
uma tentação ambulante. Ele para a um passo de distância e pousa
as mãos grandes nos meus ombros, massageando com os
polegares.
A sensação é tão boa, que me faz querer contar o que está
acontecendo e pedir ajuda para descobrir onde Madelyn está e
salvá-la. Só que eu o conheço, ele pode até arrumar homens que
não valem nada para que eu possa descontar minha raiva e
frustrações, mas não vai me deixar correr perigo.
No momento, Thomas e meu irmão têm suas diferenças, mas
pensam igual.
— Por que acho que você está aprontando? — quer saber.
Acabo rindo, o que faz o mafioso relaxar um pouco.
— Só vou estudar, eu juro.
Ele segura meu rosto com as duas mãos e beija meus lábios
de novo.
— Certo.
Thomas se afasta para pegar o próprio celular e fazer uma
ligação e eu aproveito para colocar o vestido e calçar os saltos.
Corro para o banheiro para prender os cabelos em um rabo de
cavalo e mandar uma mensagem para que Liam me encontre no
meu apartamento.
Volto para o quarto como se nada tivesse acontecido.
— Fábio vai te levar em casa.
Assinto ao ouvi-lo.
— Obrigada.
Rompo a nossa distância e beijo o seu rosto antes de sair do
quarto. Desço as escadas o mais rápido que eu consigo e ao
atravessar o hall de entrada, a mãe de Thomas me intercepta.
— Já vai?
Coloco o melhor sorriso no rosto antes de virar o corpo para
olhá-la.
Ela é uma mulher bonita, bem conservada e tem um estilo
clássico e chique. Apesar de ser mãe de dois homens de quase dois
metros de altura, não tem muitas rugas e o corpo está em forma.
Antes de me trazer para o jantar de ontem, Thomas tinha me
contado algumas coisas sobre a família, que a mãe casou jovem e
que o seu avô a criou de forma rigorosa, por isso, ela é tão apegada
às tradições, porque foi criada com elas.
Paciência...
Foi o que ele me pediu e mesmo que pareça impossível, é o
que estou tendo. Ontem aguentei todas as suas provocações,
alfinetadas e insinuações de que Antonella seria a nora perfeita,
ainda assim, tentei ser o mais educada possível.
Infelizmente, ela gosta de testar todos os limites da minha
paciência.
— Sim.
Ela me olha dos pés à cabeça e não faz questão de esconder
o olhar cheio de crítica para mim.
— Por que parece que está fugindo? — quer saber.
— Estou com pressa, não estou fugindo — respondo e
respiro fundo. — Sra. Montanari, eu sei que não gosta de mim, mas
de verdade, não tenho tempo pra debater com a senhora no
momento.
Uma linha surge entre as sobrancelhas loiras.
— Por que não? Achei que fosse divertido pra você também
— alfineta.
— Não no momento.
Ela me dá uma bela olhada de novo e abre meio sorrisinho
cínico.
— Vai fazer algo que vai deixá-lo irritado, não é?
Dou de ombros.
— Sim — digo, porque para ser sincera, não parece que ela
vai sair correndo e ir contar ao Thomas para que me impeça. Muito
pelo contrário, ela não vai me impedir e vai torcer para que ele fique
puto comigo no final.
Teresa Montanari faz um gesto com a mão indicando a porta
e eu assinto.
— Fique tranquila, sra. Montanari, eu prometo que voltarei
inteira — murmuro sarcástica e dou uma piscadela, que a faz torcer
os lábios e ficar em silêncio.
Devo estar completamente pirada em ficar provocando minha
sogra mafiosa, mas sem saco para aguentar as suas implicâncias.
Mesmo que esteja saindo agora, não vou a lugar nenhum em
relação ao Thomas.
Continuarei com ele, sua mãe goste ou não.
Minha mãe pode não estar mais viva, no entanto, ela me
ensinou a ser uma garota forte e não vai ser uma sogra ranzinza
que vai me amedrontar. Eu lidei com tantas coisas na minha vida.
Posso lidar com uma sogra.
— Você ficou doida?
Liam anda de um lado para o outro na sala do meu
apartamento, franzindo o cenho enquanto torce a boca em
reprovação e balança a cabeça de um lado para o outro, incrédulo.
— Só pedi que consiga o endereço desse telefone e depois
rastreei a ligação enquanto eu estiver falando com Madelyn.
Ele paralisa os pés e me lança um olhar inconformado.
— Você quer o endereço pra quê? Vai dar ao seu irmão ou ao
Thomas? — rebate e nem me deixa responder. — Pois é, não vai.
— Eles me mandariam ficar aqui esperando.
— Não posso fazer o que me pediu — fala, me fazendo
prensar os lábios em uma linha reta. — Além do seu irmão, Thomas
vai me matar. Eu amo a minha vida, sabia? Amo estar vivo.
— Você é o mais perto de melhor amigo que eu tenho. Estou
pedindo um favor e não que vá comigo.
Ele bufa e passa as mãos no cabelo escuro e desgrenhado.
— Esse é o problema, sabe que não vou te deixar ir sozinha.
Assinto e respiro fundo.
— Podemos dar conta disso, você e eu, Liam. Podemos —
falo, convicta.
Não faço a mínima ideia do que me espera ou o que eu tenho
que fazer, só que bem no fundo, eu sei que dou conta. Posso fazer
isso, eu sei. No entanto, não consigo sem Liam.
— Você ainda vai me matar de verdade — ele resmunga,
sentando ao meu lado no sofá e abrindo a mochila e tirando de
dentro um notebook e tablet. — Vamos descobrir o que está
acontecendo primeiro, depois, pensamos em algo inteligente.
— Sim, certo — concordo rápido.
— Me dê o número da Madelyn e o número que ela mandou
mensagem — pede e eu entrego o celular a ele, sentindo uma onda
de excitação e nervosismo se instalando em mim.

Liam é incrível.
Se passando por um atendente telemarketing, ele liga para o
número que supostamente, Madelyn me enviou uma mensagem e
consegue ficar tempo o suficiente com o homem na linha para
rastrear a ligação, além de descobrir o nome e endereço do dono do
telefone, porque ele é burro e não desconfia de nada.
Quase uma hora mais tarde, eu ligo para Madelyn, ela não
atende, então insisto e só me decepciono quando nada acontece.
Vinte e cinco minutos depois, ela retorna à ligação. Como da última
vez em que nos falamos, ela finge que está bem e ocupada, só que
agora, a estranheza na sua voz faz todo o sentindo.
Madelyn está com problemas.
Não conversamos sobre a mensagem que enviou, é claro, e
eu com certeza não sabia falar em códigos, então, fiz o meu melhor
para parecer despretensiosa e ficar o tempo suficiente na ligação
para Liam rastreá-la também.
Depois que ele me dá o sinal, encerro a ligação com a
promessa de que logo tomaremos um café juntas.
— Você tem razão — Liam fala sem tirar os olhos da tela do
notebook cheia de códigos que não entendo. — As duas ligações
estão no mesmo prédio, no centro de Toronto. Me dê pelo menos
uma hora pra conseguir o andar exato.
— Como vai fazer isso?
— Câmera de segurança — diz, como se fosse simples. —
Graças ao meu incrível talento de atuação como atendente de
telemarketing, Isaac foi burro o suficiente para confirmar as
informações sobre ele. Agora, ele tá nas minhas mãos.
Inclino-me para frente e seguro seu rosto com as duas mãos
para dar um beijo exagerado na testa.
— Se sobrevivermos a essa loucura, não faça isso na frente
do Thomas. Eu já disse, amo estar vivo — resmunga, me fazendo
rir.
Abro a boca para retrucar e a campainha toca. Arrasto os
meus pés até a porta, rezando mentalmente para que não seja
Thomas ou meu irmão. Espio no olho mágico e sinto um alívio
imediato ao ver Romie do outro lado.
Giro a maçaneta e escancaro a porta.
É tão bom não ter babás na minha cola hoje. Antes de sair
para jantar na casa de Thomas ontem, eu tinha dispensado os dois
mafiosos, porque achei que ficaria com o conselheiro da máfia o
final de semana inteiro.
— Ei, Romie.
Minha amiga tem os olhos inchados e a ponta do nariz
vermelho. Com certeza passou a noite chorando por causa do seu
casamento arranjado.
— Que bom que você tá aqui, eu não sabia pra onde ir — é o
que fala, entrando no apartamento.
— Você tá bem? — pergunto, mesmo já sabendo a resposta.
Ela me ignora ao ver Liam sentado no sofá da sala.
— O que você tá fazendo aqui? — indaga, fixando os olhos
na tela do computador, em seguida, direciona a atenção para mim.
— O que vocês estão aprontando?
Romie coloca a bolsa em cima da mesinha de centro e funga,
mas não desvia a atenção curiosa de mim. Acomodo-me ao seu
lado no sofá e conto a verdade. Não adiantaria esconder dela de
qualquer forma, essa garota não é burra e é mais esperta do que
parece.
Ela pisca devagar depois de me ouvir.
— Vocês vão resgatá-la? — Nem espera por resposta,
apenas suspira e faz que sim com a cabeça. — Ok, podem contar
comigo — emenda, fazendo Liam esbugalhar os olhos em espanto.
— Você perdeu o juízo se acha que vamos te levar pra algum
lugar — o nosso amigo sibila, fazendo Romie enrugar o nariz e
testa, irritada.
— Por que não? Por que vocês vão e eu não? — rebate, a
um triz de perder o controle e gritar.
Faço um estalo com a língua, chamando a atenção dos dois,
que me olham ao mesmo tempo.
— Não posso te levar, Romie. Você é preciosa demais, seus
irmãos vão pirar e destruir Toronto se souberem que está correndo
perigo.
Ela bufa.
— E o seu irmão não? Ou acha que o Nick vai ficar sentado e
de braços cruzados esperando? — devolve, cética.
— É diferente — é só o que digo, porque não tenho vontade
ou forças para argumentar.
— Por que é diferente? — indaga, ficando de pé e prensando
os lábios até eles ficarem brancos. Romie é apenas dois anos mais
velha do que eu, mas a verdade é que somos iguaizinhas. — Eu
quero ir, preciso fazer algo que eu mesma tenha decidido, que eu
tenha escolhido fazer. Tô cansada de seguir ordens, tô cansada de
sempre obedecer.
— Você nunca obedece — Liam retruca e ganha um chute de
graça nas canelas. — Ai! — rosna para Romie pelo ato de violência
repentina.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, negando.
— Tudo bem, eu vou sozinha, vocês dois ficam — dou meu
veredito.
— Não vou deixar você ir sozinha, Lawanda — Liam informa,
a voz tão séria e ríspida, que me espanta um pouco. Nunca o vi
assim. — Se eu ficar, contarei ao seu irmão e a Thomas. Antes que
você possa sair da cidade, eles te encontrarão e impedirão essa
merda de loucura que quer fazer.
Respiro fundo e fecho os olhos por uma fração de segundo.
Ao abri-los, direciono a atenção a ele.
— Pensei que não quisesse ir.
— Não quero, mas você é doida, não eu, por isso não posso
te deixar ir sozinha. Ou eu vou com você, ou ninguém vai.
Engulo em seco, trincando os dentes e segurando a vontade
de pular em cima dele para esganá-lo por estar me encurralando
como um gatinho indefeso.
— Eu vou também, não ficarei aqui enquanto vocês arriscam
as vidas — Romie fala, cruzando os braços na altura dos seios e
nos observando de um jeito super mandão.
Olho para Liam, que nega com a cabeça ao mesmo tempo
em que penteia os cabelos com os dedos magros e longos.
— Não, a tranque no banheiro ou a amarre no pé da mesa —
Liam sugere, fazendo com que Romie queira chutar suas canelas de
novo, mas dessa vez, ele é rápido e desvia.
Levo ar até os pulmões e tomo a pior decisões de todas.
Se ir para Toronto resgatar Madelyn sem meu irmão ou
Thomas saber já é ruim, imagina levar a herdeira da máfia comigo?
Sim, mil vezes pior e mesmo assim, as palavras seguintes que
saem da minha boca são:
— Ok, vamos os três.
Liam bufa e gira os olhos na orbita, enquanto Romie assente,
como se deixá-la ir, fosse a oportunidade perfeita para mostrar do
que é capaz.
— É isso, vamos buscar Madelyn — volto a falar. — O jatinho
vai estar pronto em uma hora. Assim que entrarmos nele, não vai
demorar pro meu irmão e Thomas saberem o que estamos fazendo,
então, precisamos agir rápido.
Liam massageia a nuca.
— É uma péssima ideia não contar pra eles, Lawanda.
— Eu sei, mas não vou ficar sentada esperando enquanto os
homens fazem todo o trabalho. Eu aprendi a me virar sozinha por
um motivo, porque não quero ser sempre a donzela que precisa ser
resgatada.
Devagar, desvio a atenção dos papéis em cima da mesa de
madeira e inclino o queixo para cima, focalizando o olhar do soldado
à minha frente. Ele engole em seco e abaixa um pouco a cabeça,
esperando o pior.
— O que você disse? — minha voz é cortante e também,
incrédula. — Ela fez o quê? — apesar de manter certo controle,
estou a um triz de explodir de raiva.
— O nosso contato no aeroporto disse que Lawanda foi para
Toronto com Liam e Romie no jatinho particular — repete, me
deixando ainda mais furioso.
Se Lawanda fosse uma garota comum, eu não estaria
emputecido agora. Entretanto, é evidente que ela foi atrás de
confusão. Caso contrário, não teria mentido para mim tão
descaradamente.
Que merda ela foi fazer lá?
Que merda eles foram fazer lá?
Pego o celular em cima da mesa e disco o número da
encrenqueira e como esperado, caixa postal. Ligo para Liam e ele
não atende, mas deixo um recado nada amigável na caixa postal.
— Avise ao Don que Romie fugiu, e Nicholas também, ele vai
querer saber que a irmã está aprontando — ordeno ao soldado e
faço um gesto com a mão para que saia da sala.
Eu nunca duvido dos meus instintos, quando Lawanda disse
que tinha trabalho da faculdade, no fundo, eu sabia que tinha algo
errado com a mudança repentina dela, só que justamente hoje,
resolvi dar um voto de confiança.
Se arrependimento matasse...
Não devia ter deixado essa garota imprudente ter ido embora
da minha casa.
Levanto da cadeira, deixo os papéis para trás e pego o
celular ao sair do escritório. Encontro Oliver no hall de entrada e o
intercepto antes de sair de casa. Ao me ouvir, ele dá ré e fica de
frente para mim.
— Lawanda, Romie e Liam foram pra Toronto — começo a
falar e um sorriso sarcástico estica os lábios do meu irmão.
— Os três mosqueteiros, hãm.
Ignoro as palavras dele e continuo:
— Fale com os nossos contatos em Toronto e confirme a
localização dos três, e tente descobrir o que foram fazer lá.
Meu irmão enruga o cenho.
— Os contatos de Toronto são os soldados que estão
cuidando da mansão do Schavier. Acha que Lawanda foi pra lá?
Como para todos os efeitos, Schavier Farley está num ano
sabático, temos que manter as aparências. Por isso, a casa dele
está com os empregados cuidando de tudo, funcionando como se
nada tivesse acontecido.
— Sim, com certeza. Ela sabe que se hospedar em um hotel,
seria mais fácil rastreá-la. Lawanda, definitivamente, vai tentar
persuadir os homens para não falarem nada sobre estarem na
mansão. Ela é esperta, mas eu sou mais.
— Certo — Oliver diz, concordando com um aceno de
cabeça. — O que será que estão aprontando?
Solto uma baforada de ar e passo uma das mãos entre os
cabelos, penteando, me sentindo exausto.
— Não sei, mas existe uma pessoa em Toronto que Lawanda
odeia.
— Alexander Tikhonov — fala, pensativo. — Ela não é doida
o bastante para ter ido lá matar o cara, não é? — pergunta, e eu não
digo nada de imediato.
— Se prepare, vamos partir em breve — é o que aviso,
depois de um tempo em silêncio.
Ele finge um sorriso.
— É claro, vamos salvar as princesas em perigo — comenta,
sarcástico e dá as costas para mim, enfiando a mão no bolso da
calça jeans e apanhando o celular para fazer algumas ligações.
Giro nos calcanhares e começo a subir as escadas,
pensando em Lawanda e na sua teimosia, que no momento, parece
se grande demais para o meu gosto.
O que ela tem na cabeça?
Por que adora se meter em confusão e me tirar do controle?
— Ele vai me matar — Liam fala, encarando a tela do celular
como se fosse um monstro de sete cabeças. — E depois, o Nicholas
vai me matar — emenda, dramático.
— Relaxa — peço, em vão. — Só desliga esse celular, como
eu fiz.
Uma ruga fina aparece entre as sobrancelhas expressivas e
os lábios se torcem em discordância.
— Ah, claro, porque ignorar o problema é muito melhor —
ralha, todo desdenhoso e mal-humorado.
Balanço a cabeça de um lado para o outro e reviro os olhos,
decidida a deixar o assunto pra lá.
Claro que Thomas já sabe onde eu estou e deve estar a
caminho. Mesmo que Romie e eu tenhamos convencido os homens
na guarita da mansão do meu tio que estamos aqui para curtir o final
de semana, o conselheiro da família Carbone não vai demorar para
ligar para um deles e descobrir que estou aqui.
Eu sei que ele me encontrará de alguma forma, só estou
tentando adiar o máximo de tempo que eu conseguir. Primeiro,
preciso salvar Madelyn e depois, terei cabeça para me resolver com
Thomas.
Com Nick também.
Meu irmão deve estar soltando fogo pelas ventas.
Eu desliguei o meu celular assim que eu saí do apartamento
em Montreal. Achei mais fácil de me concentrar nas coisas e
segurar as pontas. Ao contrário de Liam, que parece estar pirando
por ter ligações não atendidas do Thomas no smartphone.
— Ei — chamo sua atenção. — Precisamos sair daqui antes
que os homens na guarita nos impeçam.
Liam assente ao abrir a mochila que trouxe e me entregar um
macacão marrom com uma logo horrível costurada no peito
esquerdo do uniforme. Enrugo o nariz para a peça de roupa velha e
feia, que parece ser o dobro do meu tamanho.
— Não vamos entrar naquele prédio de qualquer jeito —
reforça, voltando ao seu normal e tomando as rédeas da situação.
— Eu sei — murmuro.
Antes de sairmos de Montreal, Liam tinha assumido a
liderança e bolado todo um plano para entrarmos e conseguirmos
sair sem grandes problemas. Na verdade, é um ótimo plano, embora
minhas ideias de resgatar Madelyn fossem bem diferentes e com
mais ação.
— Não acredito que me trouxeram aqui só pra dirigir uma lata
velha — Romie resmunga, sentada de pernas cruzadas no sofá
grande e confortável da sala do meu tio, fazendo bico e balançando
de maneira frenética um dos pés.
— Você é parte essencial do plano — é o que eu digo,
fazendo minha amiga bufar como um dragão enraivecido.
— Não vem com essa, não tenho mais dez anos — devolve,
irritadiça. E em meio aos problemas que nos três arrumamos, nós
rimos.
Com o seu macacão horroroso de técnico, Liam caminha
casa adentro para um dos banheiros no andar de baixo. Romie e eu
pegamos as nossas bolsas antes de subirmos as escadas e
entrarmos no antigo quarto do meu tio.
Ignoro as sensações estranhas no estômago.
Ele está morto.
Ele era um traíra que me usou e mandou matar os meus pais
por ser a porra de um ambicioso.
Ele nunca me amou de verdade.
Silencio os pensamentos e entro no banheiro, troco os jeans
e blusa de grife pelo macacão. Ao me olhar no espelho, vejo que as
botas estão destoando muito com o resto do look. Romie me cede o
seu par de tênis All Star e completa o uniforme. Amarro os cabelos
em um rabo de cavalo baixo e coloco os óculos de armação grossa,
que parecem de grau, mas as lentes não valem nada.
— Parabéns, você conseguiu ficar feia — Romie zomba, me
fazendo girar os olhos.
Depois de pronta, viro o corpo e corto a distância até a minha
amiga. Nossos olhos se prendem por um longo segundo e eu decido
começar a falar.
— Se algo der errado e nós não descermos, você precisa
ligar pra alguém e avisar o que aconteceu.
Romie morde o lábio inferior.
— Parece que você já sabe que vai dar errado.
Nego com a cabeça, suspirando.
— Só precisamos estar preparadas — falo, forçando um
sorriso. — Cadê a sua arma? — quero saber.
Romie leva as mãos para as costas e tira a pistola compacta
detrás da blusa. Confere o pente e a trava antes de voltar a guardá-
la.
— Você sabe mesmo como usar isso? — insisto.
Ela assente.
— Meu pai me ensinou — diz, e parece estar sendo sincera.
— Perfeito.
Romie abre um sorriso pequeno e não fala nada ao envolver
os braços no meu pescoço e me apertar contra o próprio corpo.
Contorno a sua cintura e faço o mesmo, pedindo em silêncio que
nós fiquemos bem e que a ideia que eu tive de vir aqui salvar
Madelyn não tenha sido tão estúpida, a ponto de fazer os meus
amigos pagarem por isso.
Segurando as bolsas grandes, que eu rezo mentalmente para
que não chamem tanta atenção, Liam e eu descemos da van velha.
Vamos entrar pela frente, mas estacionamos o veículo atrás do
prédio.
Romie ainda não parece muito feliz de ser a nossa motorista,
mas está mais conformada.
Antes de atravessarmos a rua para dar a volta no edifício de
dez andares, Liam bate no vidro do carro do motorista e faz Romie
abri-lo.
Ele aponta para o notebook aberto no banco do carona. No
canto inferior da tela, além das câmeras de segurança de dentro e
fora do prédio, mostra a hora também. São quase dezesseis horas,
e tenho certeza de que se Thomas e meu irmão não chegaram em
Toronto, já estão bem perto.
— Só tem dois elevadores e essas são as câmeras deles –
fala de novo, já tinha conversado com a Romie o caminho inteiro
sobre isso. — Assim que você ver a gente entrando, aperta esse
botão. — Com o dedo, ele indica um botão na tecla do notebook. —
E..
Romie interrompe:
— Vocês vão desaparecer e as imagens antigas vão entrar.
Eu entendi das outras dez vezes que você falou, Liam. Acho que
sirvo pra apertar um botão — a garota resmunga, fazendo o nosso
amigo assentir.
— Se não descermos em vinte e cinco minutos, saia daqui e
você sabe o que fazer —sou eu quem falo a ela, a voz séria,
torcendo internamente para que não hesite e vá embora se algo der
muito errado.
Ela assente.
— Por favor, voltem em vinte minutos — pede, fazendo Liam
sorrir e bater no capô da van.
Atravessamos a rua movimentada com pessoas e carros, e
Liam segura meu braço antes de virarmos a esquina para entrarmos
pela porta da frente. Ele mexe no relógio de pulso, que tem uma
pequena tela quadrada e preta.
— O que está fazendo?
— Relógio inteligente, estou ativando o GPS. Preciso avisá-
los se algo der errado, é a nossa chance também — esclarece, me
fazendo anuir com um movimento de cabeça. — Se você precisar,
não hesite e atire, Lawanda. Prefiro que um deles se machuque em
vez de você — sussurra.
Sorrio.
— Eu digo o mesmo pra você. Não hesite, Liam.
Ele prende os olhos brilhantes aos meus.
— Não vou — fala, convicto.
— Já matou alguém antes? — pergunto, tão baixo que fico na
dúvida se ele escutou ou não.
— O que você acha? — retruca com um leve tom de
sarcasmo. — Claro que não.
Arregalo os olhos, surpresa.
— Como não? Você não é um mafioso? — rebato.
Liam olha para os lados, como se estivesse estudando o
lugar.
— Talvez tenha matado algumas pessoas indiretamente, na
verdade — fala, dando de ombros. — Meu trabalho é fazer
ilegalidade atrás de uma tela de computador, mesmo assim, faz
pouco tempo que me tornei um membro oficial da organização —
explica, me fazendo rir de leve.
Voltamos a caminhar e entramos no prédio. Meu coração
bate tão rápido, que por um momento, sinto que vou sufocar. Liam
assume o controle ao falar com o homem na recepção e dizer que
temos uma visita agendada no décimo andar, apartamento 203, com
a senhora Amber, reparação na internet.
Como Liam já tinha hackeado o computador da recepção e
feito as devidas alterações, ao confirmar as informações na tela
colorida, o homem nos libera para entrar. Rumamos na direção dos
elevadores e só consigo respirar fundo ao entrarmos.
Liam aperta o botão do andar abaixo do nosso destino.
— Você está bem? — ele quer saber.
— Sim — sussurro, engolindo o caroço salgado na garganta.
— Acho que pirei por um segundo, mas já voltei ao normal.
As portas de metal se abrem no nono andar e nós saímos,
fazendo o resto do caminho a pé para não sermos vistos antes da
hora. Pelas escadas, subimos até a porta do terraço.
Das bolsas que trouxemos, eu tiro a pistola, enquanto Liam
pega o fuzil de assalto. Ele carrega e coloca pente de munição no
bolso, em seguida, troca um olhar comigo.
Agora, Liam parece ser uma pessoa diferente do que estou
acostumada. Com o fuzil na mão, não me lembra em nada meu
amigo nerd da computação.
— Pronta?
— Sim — falo, e fico feliz de a voz ter soado com convicção.
— Espere aqui, eu vou disparar o alarme de incêndio.
— Faça rápido — peço, e ele me dá um sorriso de covinhas
ao murmurar:
— Sempre.
Liam desce as escadas e eu espero em frente a porta do
terraço, com a pistola em punho. De repente, o alarme de incêndio
ecoa pelo prédio inteiro e o hacker volta correndo, respirando fundo
e com as bochechas coradas. Não demora nada para o burburinho
começar e as pessoas correrem pelas escadas embaixo de nós.
Esperamos mais um pouco e quando o movimento de
pessoas acaba, trocamos um olhar cúmplice antes de descer as
escadas para o décimo andar. Liam abre a porta e coloca a cabeça
para fora, conferindo antes de sair e fazer um sinal para que eu saia
também.
Não foi difícil encontrar o apartamento em que supostamente
Madelyn está sendo mantida, já que no momento em que coloco os
pés no corredor, vejo um homem careca e com expressão amarrada
saindo do apartamento com uma arma em punho.
Ele nos vê e mira o cano da arma em Liam, e eu aperto o
gatilho sem pensar duas vezes, acertando um tiro na coxa e o
derrubando no chão e o fazendo gritar de dor. Mesmo lamentando,
ele tenta disparar tiros contra nós e Liam acerta o seu peito,
silenciando o homem.
Em questão de segundos, mais três homens saem do
apartamento, fazendo Liam e eu dispararmos mais tiros, alguns
contra a porta de madeira. Fico meio espantada como um
amontoado de quatro corpos na porta de um apartamento não me
embrulha tanto o estômago como eu esperava.
Com uma mão, Liam arrasta dois corpos para abrir passagem
e nós entramos. Como sou a primeira a dar um passo para a sala,
escuto um som de arma destravando e ao olhar para o lado, eu o
reconheço de imediato. É o homem burro do telefone com a porra
de uma arma apontada para minha têmpora. Ele está usando um
robe brega com estampa de onça, cueca samba canção e os pés
estão descalços, os cabelos desgrenhados, ressaltando a cara de
porco nojento.
— Se tentar alguma coisa, vai voar miolos dela pra todo lado
— o cretino avisa a Liam, que entra atrás de mim, respirando
pesado. — Tô falando sério — ameaça ao se aproximar de mim e
tomar a arma da minha mão, encostando o cano da sua na minha
têmpora.
Resmungando, Liam abaixa o fuzil, fazendo o porco nojento
soltar uma risada esganiçada. Aproveito o momento para dar uma
cotovelada no seu abdômen e puxar a pistola da sua mão. Acerto
uma coronhada na cabeça dele, fazendo-o gemer de dor.
Liam se aproxima, mirando o fuzil na cabeça dele e eu
procuro por Madelyn pelo apartamento.
— Madelyn? — chamo, abrindo as portas que vejo pela
frente.
Ela sai do que parece ser um lavabo. Está usando uma
camisola de seda e um robe por cima. Emagreceu vários quilos e
tem olheiras vermelhas em volta dos olhos, um machucado no canto
da boca esquerda e alguns hematomas pelas coxas.
— Lawanda... — Ela chora ao se jogar nos meus braços, me
apertando com força. — Você veio.
— Há quanto tempo está aqui? — pergunto, o coração na
boca.
— Eu não sei bem, perdi a noção do tempo — murmura aos
prantos. — Eu tive que me deitar com ele, Lawanda. Eu tive que
fazer isso pra conseguir usar o celular dele e pedir ajuda — funga,
me fazendo engolir o coração entalado no meio da garganta. — Ele
me obrigou a fazer coisas horríveis, eu me sinto tão suja.
— Acabou. Vamos levar você pra casa — é o que digo,
forçando a raiva a permanecer dentro do peito.
Ela se engancha no meu braço e rumamos para a sala, seu
corpo magro estremece inteiro ao ver o porco nojento de joelhos no
chão. Não consigo ficar quieta, então, me aproximo dele,
espumando raiva.
— Gosta de abusar de mulheres, seu cretino? — rosno, e ele
dá um sorriso cínico, olhando para Madelyn.
— Gosto — responde, me fazendo perder a paciência.
Aponto a arma para o meio das suas pernas e dou um tiro, o
fazendo gemer de dor e me chamar de vadia. Puxo Madelyn pelo
braço e corremos para a saída de emergência. Liam sobe mais
alguns degraus e vai pegar as bolsas que deixamos na entrada do
terraço, esconde o fuzil e eu enfio a pistola que tenho na mão
dentro.
— Vamos de elevador, ela não vai conseguir descer dez
andares — digo a Liam, que confere as horas no relógio de pulso.
— Temos cinco minutos, vamos.
Voltamos para o décimo andar e chamamos o elevador. As
portas de metal se abrem e eu aperto o botão do térreo, segurando
Madelyn pela cintura.
— Obrigada por ter vindo, obrigada — ela murmura entre as
lágrimas.
— Desculpe por ter ignorado você durante esses meses.
O elevador desce rápido e assim que as portas se abrem, dá
para notar a confusão dentro do térreo e fora do prédio, as pessoas
agitadas e com medo de um incêndio que nem aconteceu de
verdade, os bombeiros entrando rápido com seus trajes e
mangueiras, alternando em mandar as pessoas se afastarem e
pedir calma.
Aproveitamos todo o alvoroço para sair e dar a volta no
prédio. Caminhamos o mais rápido que podemos para alcançar a
van.
Infelizmente, é em vão.
Alguns homens cercam Romie e antes que possa cogitar o
que fazer, três deles nos cercam, dos lados e atrás, impedindo a
nossa fuga. Um dos cretinos arranca as bolsas de Liam e encosta o
cano de uma pistola contra a minha barriga, me fazendo trincar os
dentes.
Uma SUV preta para ao nosso lado e apenas o vidro da
janela traseira do carro abaixa, devagar. Não custo em reconhecer o
rosto de Ivan, filho imbecil de Alexander. Os lábios dele se esticam
em um sorriso presunçoso ao falar:
— Oi, crianças.
Não temos outra escolha a não ser seguir os homens que
nos cercaram fora do prédio. Entramos na van que eles ordenam, e
apesar da vontade de revidar, não o faço.
Madelyn e Romie sentam ao meu lado, enquanto Liam se
acomoda na frente, perto do brutamonte que nos vigia. De maneira
discreta, ele olha para o relógio inteligente no pulso e depois para
mim, e eu sei o que ele quer fazer. Não estava feliz em ter que pedir
socorro, mas nossas opções estavam escassas.
Aproveito o momento em que o imbecil ao lado de Liam
passeia com os olhos pelas pernas expostas de Madelyn e começo
uma pequena confusão.
— Tira os olhos dela ou vou arrebentar sua cara — sibilo,
fazendo o cretino rir, inclinando o corpo para frente.
— Para de rir ou eu chuto a sua cara — é Romie quem diz,
gesticulando com o pé na direção dele.
Madelyn chora em silêncio, enquanto Romie e eu
começamos a bater boca com o tarado a nossa frente e Liam chama
o nosso resgate.
Depois de perder a paciência, o homem levanta a mão para
me acertar um tapa e Liam segura seu pulso com firmeza. Aposto
que o ogro se arrependeu de não ter nos amarrado ou ter nos
drogado para ir o caminho dormindo. Segundo ele, conseguia lidar
com quatro crianças incompetentes.
— Não toque em mim — o cretino resmunga, e com a mão
livre, tira uma pistola do coldre da cintura e aponta para Liam. — Ou
eu acabo com você.
Liam solta o seu punho e levanta as próprias mãos em
rendição, em seguida, troca um olhar comigo e assente de leve, me
fazendo respirar fundo. Infelizmente, não me sinto menos aliviada.
Olho para a rua através da janela e vejo que estamos
entrando em uma das poucas ruas exclusivas e sem tráfego em
Bridle Path, bairro residencial de luxo que fica ao norte de York.
Poucos minutos depois, a van para em frente uma mansão de três
andares, com um estilo moderno e ao mesmo tempo, atemporal. A
porta do carro se abre e o homem tarado que nos acompanhou é o
primeiro a descer. Ele faz um gesto nada amigável com a cabeça
para que façamos o mesmo.
Há vários seguranças do lado de fora, cada um mais mal-
humorado que o outro.
Madelyn entrelaça a mão na minha e nos rumamos para
dentro da mansão com Romie, Liam e alguns seguranças na nossa
cola. Paramos de caminhar ao chegar no extenso hall de entrada
com piso de mármore brilhante, que refletem a nossa imagem no
chão. Estou cogitando em olhar para trás, quando sinto algo
pontudo cutucar minhas costas, me obrigando a andar.
Somos guiados até uma sala grande, com sofás pretos,
lareira a gás e portas do chão ao teto com vista para a piscina e
uma quadra de tênis.
Ivan está em pé, perto do braço do sofá, enquanto Alexander
está sentado, as pernas cruzadas, usando óculos e lendo algo no
tablet. Ele não olha para nós de imediato, primeiro, pacientemente,
termina de fazer o que quer que seja com o tablet, e só então, retira
os óculos, coloca em cima da mesinha de centro e olha para nós.
Para mim.
— Lawanda Farley — diz, o sotaque russo arrepiando os
cabelos da minha nuca. — E eu que pensei que fosse apenas uma
patricinha mimada com temperamento difícil — emenda, ficando de
pé e caminhando até mim.
Sorrio de lado.
— As aparências enganam.
Ele concorda.
— Verdade — fala, uma falsa benevolência na voz. — Já
sabia que você era um problema, mas não esperava que fosse
tanto. E olha que cogitei casá-la com o meu filho.
O homem para a um passo de distância e toca o meu queixo
com a ponta dos dedos, fazendo Liam se agitar e vir para cima de
nós. Alexander faz apenas um gesto com a mão e um de seus
homens segura o meu amigo, o impedindo de se aproximar.
Alexander ergue o meu queixo e me encara, um brilho que
não consigo identificar dançando pelos seus olhos claros e
asquerosos.
— De quem foi a ideia? — quer saber.
— Não podia deixar Madelyn aqui — rosno, e ele nega com a
cabeça.
— Estou falando do ataque aos servidores — corrige, me
analisando. — Foi inteligente, arriscado, mas inteligente. Passaram
a perna em mim sem começar uma guerra.
Abro um sorriso falso.
— Talvez você só seja burro demais — devolvo, e o tapa no
meu rosto vem com tudo. Por algum motivo inexplicável, eu começo
a rir.
— Me respeite, garota. Não sabe do que eu sou capaz.
— Eu sei sim — resmungo entre os dentes.
— Me respeite ou eu matarei os seus amigos — é o que diz,
me fazendo contrair a mandíbula. Ele ri. — É, isso mesmo, não
matarei você, mas... — Ele encaminha a atenção para Romie, Liam
e Madelyn. — Será divertido acabar com eles na sua frente.
Respiro fundo, controlando a vontade de voar em cima do
seu pescoço.
— O que você quer?
— Fiquei sabendo que matou alguns dos meus homens e
explodiu as bolas de outro — ele informa, muito tranquilo para o
meu gosto. É como se não se importasse de verdade.
— Eles mereceram por ter sequestrado Madelyn. Ela não tem
nada a ver com essa merda e vocês a meteram nisso — digo,
tentando amenizar o tom de reprovação na voz.
Alexander faz um estalo com a língua e balança a cabeça de
um lado para o outro, ao mesmo tempo em que passa as mãos
entre os cabelos, que não são muitos. O homem é quase careca.
— Ela foi um efeito colateral.
— Efeito colateral? — retruco ao avançar em cima dele e sou
impedida de continuar ao sentir mãos firmes me segurando. — Ela
não tem nada a ver com os nossos problemas.
Alexander ri.
— Ela é curiosa demais — ele explica. — Não conseguiu
esquecer Schavier e andou fuçando onde não devia.
O russo olha para Madelyn e dá um passo em direção a ela,
estica a mão e envolve uma mecha de cabelo no dedo indicador
— Contratou um detetive particular pra procurar o seu tio —
fala, me fazendo fechar os olhos por uma fração de segundo,
porque não sabia dessa novidade. Devia imaginar que faria algo
assim, ela o ama. — E ainda foi ousada para seguir Arthur. O que o
amor não faz, não é? É um sentimento perigoso.
A menção do nome de Arthur faz o meu corpo inteiro
tensionar e eu cravo as unhas na mão, na tentativa inútil de
controlar a raiva que sinto desse imbecil.
— Não mandei que Arthur a sequestrasse, só disse para ele
dar um jeito na situação — explica, voltando a atenção para mim. —
Quando ordenei isso, não estava pensando em morte ou sequestro.
— Solte Madelyn — peço.
— Por que eu faria isso? Agora, por causa de você, ela sabe
quem eu sou.
Madelyn começa a implorar, chorando.
— Não vou falar nada, eu juro — choraminga, partindo o meu
coração. — Por favor, não me mate.
Alexander sorri, parecendo com alguém que está se
divertindo com a situação. Um dos homens entrega uma pistola para
o líder russo, que destrava e aponta para Madelyn, que começa a
espernear aos berros.
Liam e Romie me olham, e eu não sei o que fazer. Penso em
avançar nele, mas tem um brutamonte me segurando e me
impedindo de sair do lugar.
— Faça isso e eu mostrarei ao mundo quem é o seu filho de
verdade — Liam fala, chamando a atenção de Alexander. — O
senhor é inteligente, mas não se engane, o seu filho é burro e
invadir o computador dele foi a coisa mais fácil que eu fiz na vida.
Num rompante, Ivan se aproxima do meu amigo e desfere
alguns socos no seu rosto, o fazendo cuspir sangue. Contorço-me,
tentando escapar para ajudá-lo de alguma forma e não consigo.
— Você não sabe de merda nenhuma — Ivan retruca,
enfurecido. Derruba Liam no chão e começa chutá-lo, me deixando
furiosa.
Apesar de estar apanhando, Liam sorri, mostrando os dentes
sujos de sangue.
— É mesmo? — meu amigo replica, e não sei decifrar se está
blefando ou falando a verdade. — Não tenha tanta certeza disso.
Posso acabar com a sua vida em questão de segundos.
Ivan bufa e volta a chutar Liam, depois começa a andar de
um lado para o outro, a respiração ofegante. Alexander observa o
filho e não está com uma expressão muito feliz no rosto. Para ser
sincera, é uma mistura de desaprovação e nojo.
— Eu pensei que tivesse parado com isso — Alexander diz,
as narinas inflando de ódio.
— Eu parei — Ivan fala, rápido demais para ser verdade.
— Sempre foi a merda de um péssimo mentiroso! — o russo
esbraveja.
Ivan fica desesperado.
— Eu sinto muito, pai. Eu sinto muito — ele murmura,
desconcertado e tenta se aproximar do pai, mas Alexander lança um
olhar cheio de reprovação, que faz o filho recuar.
— Você é burro. Fraco demais — ele fala com desdém,
fazendo Ivan pisar duro e sair da sala.
Alexander volta com a atenção para nós e dessa vez, aponta
a arma para Liam, mas não atira, trava a pistola e entrega para um
dos seus homens.
— Levem essas coisinhas insignificantes daqui — ele
resmunga.
Os homens começam a arrastar as meninas e um deles força
Liam a ficar de pé, o que me segura me puxa para caminhar, mas
cravo os pés no chão e falo:
— Eu quero Arthur ou vamos vazar o que temos de Ivan —
ameaço, fazendo os olhos de Liam brilharem.
Alexander, que tinha ficado de costas, gira nos calcanhares
lentamente e prende a atenção em mim. Corta a nossa distância
como se fosse um animal selvagem, e com uma das mãos, segura
meu rosto com força, apertando as bochechas e me fazendo sentir
dor. Os olhos dele incendeiam de raiva e o vejo rangendo os dentes,
enquanto as narinas se expandem em fúria.
— Está me ameaçando dentro da minha própria casa?
— Sim — respondo, sem perder a postura.
Ele solta o meu rosto e faz um gesto com a cabeça para que
nos levem para longe dele. Sinto o coração na garganta, mas não
demonstro.
Os homens nos levam até um quarto de hóspedes no
segundo andar. Meus amigos entram e eu varro os olhos pelo
corredor, estudando uma possível fuga e sou empurrada para dentro
do cômodo. Xingo na mesma hora que um deles fecha a porta na
minha cara e tranca.
O quarto é grande, tem banheiro e um closet. Mesmo
machucado, Liam inspeciona todo o lugar, procurando por escutas
ou algo do tipo. Quando não acha, respira fundo e senta na cama,
levando uma das mãos até o abdômen.
Romie corre para o banheiro e volta com uma pequena caixa
de primeiros socorros. Ela mal se aproxima de Liam e eu a
intercepto, procurando por algo afiado e infelizmente, não encontro
nada.
— O que você descobriu sobre Ivan? — pergunto a Liam,
enquanto Romie limpa os machucados do seu rosto.
Ele deixa escapar uma risada curta.
— Nada — fala e eu fecho os olhos com força, suspirando. —
Minha mãe é uma das melhores jogadoras de poker que eu
conheço, ela me ensinou a blefar — explica, como se fosse óbvio.
— Acha que alguém vem nos ajudar? — murmuro, indicando
com o queixo para o seu relógio inteligente no pulso.
— Espero que sim, porque não acho que a gente consiga sair
daqui sem a permissão do Alexander.
Respiro fundo e assinto. Caminho para o closet e pego uma
toalha branca e um roupão, que entrego a Madelyn ao passar por
ela. Vou até o banheiro, enrolo a toalha na mão e dou um soco no
espelho, o quebrando. Pego os pedaços de vidros mais afiados e
entrego um para Madelyn e digo:
— Esconda no bolso e use para se defender se for preciso.
Não hesite.
Fico surpresa por eu não estar com medo. Eu devia, mas não
estou.
Entrego um pedaço de vidro para Romie também e dou a
mesma orientação, fazendo-a assentir, em seguida, voltar a cuidar
dos machucados de Liam, que suspira ao me olhar.
— Espero que não precisemos chegar a isso — ele diz,
balançando a cabeça de um lado para o outro. — Não acho que ele
vai ser amigável se matarmos os seus homens na própria casa.
Prenso os lábios e suspiro.
Ele tem razão, Alexander não vai tolerar algo do tipo, mas se
acabar com os seus homens for a nossa única chance de escapar
daqui, nós o faremos mesmo que estejamos fadados a perder.
Depois de mais ou menos duas horas, chegamos em Toronto.
Foi um voo tranquilo, apesar de intenso. Antes de embarcarmos,
Nicholas e eu discutimos, porque ele me culpa por não ter
conseguido regrar Lawanda, como se fosse fácil controlar aquela
garota imprudente.
Enfio a mão no bolso do terno e apanho o celular para ligá-lo.
Antes que possa caminhar até o carro que nos espera, ele vibra,
notificando uma nova mensagem.
É Liam
“Estamos com problema” e a localização dele.
A mensagem foi enviada há quase uma hora e meia.
Nicholas passa por mim e eu o impeço de continuar andando,
viro a tela do aparelho para ele e o vejo cerrar o maxilar ao ler a
mensagem.
— Liam? — Julian quer saber.
— Sim — eu e Nicholas respondemos ao mesmo tempo.
— Também recebi uma — o subchefe da família Carbone
informa ao gesticular com o próprio celular no ar.
Nicholas apalpa o bolso do próprio terno até encontrar o seu
aparelho e verificar as últimas notificações. Ele também recebeu
uma mensagem de Liam com a localização.
— Estão a meia hora daqui — Nicholas fala, encarando a tela
do celular com o cenho franzido. — É o endereço de Alexander —
Nicholas informa.
Quando foi confirmado que o trio de encrenqueiros estava na
mansão do Schavier, dei a ordem de mantê-los em cárcere privado.
Para o meu desgosto, a ordem chegou tarde demais e eles
conseguiram sair antes que os soldados impedissem.
— Vamos buscá-los. — Julian se aproxima do soldado em pé
com a porta traseira aberta e ergue a mão espalmada. — Eu vou
dirigir.
O homem assente e entrega a chave do carro. E meu irmão,
que até então, não tinha falado nada, abre um sorriso maroto e dá a
volta no veículo e ocupa o lado do motorista. Nicholas me lança um
olhar pouco amigável, que retribuo com o mesmo o sentimento e
entramos no carro, nos acomodando no banco de trás.
— Achei que ter o poder acionário da Corporação Farley
fosse o suficiente pra Lawanda — Nicholas resmunga, trincando os
dentes e olhando para fora através da janela do carro.
Eu não quero defendê-la, porque estou puto por ela ter
mentido para mim tão descaradamente. No entanto, não sabemos o
que aconteceu de verdade. Ela foi convencida de que matar
Alexander ou Ivan não traria tantos benefícios, não posso acreditar
que ela tenha planejado fazer algo parecido.
Lawanda é imprudente, mas é inteligente. Não faria algo
assim sem pensar nas consequências.
— Vamos descobrir o que aconteceu primeiro — é a única
coisa que eu digo, tentando soar controlado, apesar de me sentir
irritado, frustrado e traído.
— De qualquer forma, é melhor aquele russo filho da puta
não ter encostado um dedo nas garotas, ou vou acabar com a raça
dele — Julian fala, o tom áspero e frio.
Oliver concorda com o que mais parece um palavrão.
Nicholas não diz nada. E eu também fico em silêncio, ciente
de quem vai meter uma bala na cabeça de Alexander sou eu se ele
tiver encostado um dedo em Lawanda.
Não permitirei que nenhum homem a toque ou a humilhe
dessa forma. Estou bravo com ela no momento, mas isso não
significa que não vou protegê-la com tudo que eu tenho.
E no momento, eu tenho raiva.
Quando Julian para o carro em frente à mansão de
Alexander, os homens cuidando da segurança, abrem o portão,
como se estivessem nos esperando. Antes de descer do veículo,
confiro minha pistola e a escondo dentro do coldre da calça de novo.
Nenhuma palavra é dita, mas os homens de Alexander nos
conduzem até a entrada da mansão. Para meu desgosto, somos
revistados antes de colocarmos os pés no hall de entrada e todas as
nossas armas são tiradas de nós.
— Devolvemos na saída — um deles fala, sorrindo
debochado. — Se saírem daqui vivos...
Julian rosna alguns palavrões, mas consegue manter o
controle e não avança em cima dele.
Eles nos conduzem até a sala de estar e no cômodo, damos
de cara com Alexander e Arthur. O ódio que sinto pelo que ele fez a
Lawanda, vindo com tudo, quase me fazendo perder a cabeça e
avançar em cima do seu pescoço.
— Demoraram bastante e eu odeio esperar — Alexander fala
ao virar o corpo para nos encarar. — Olá, rapazes — cumprimenta,
fingindo educação.
— Sabia que estávamos vindo? — Julian pergunta, sem fazer
questão de esconder o ódio na voz.
Alexander ri.
— Aquele garoto é esperto, sei que encontrou um jeito de
avisar vocês onde estavam — é o que fala, referindo-se a Liam. —
Traga as crianças para a sala — ele ordena para alguém atrás de
nós.
— Lawanda é cativante — diz, fazendo meu corpo inteiro
enrijecer. — Atrevida, não tem medo do perigo. Só que também, é
um grande problema.
— Se tiver encostado um dedo nela, eu acabo com você —
rosno, fazendo o russo filho da puta rir.
— Ela dominou você, pelo que vejo. Meus pêsames — é o
que fala, colocando as mãos para trás e analisando os pés calçados
com sapatos caros. Oliver deixa escapar uma risada curta e ao
lançar um olhar frio para ele, meu irmão se recompõe. — Ela matou
alguns dos meus homens — Alexander continua.
— Você deve ter feito algo para que ela agisse assim — é
Nicholas quem diz a favor da irmã.
Alexander olha com desgosto palpável para Arthur e enruga o
nariz, em seguida, volta a atenção para nós quatro.
— Não me orgulho disso, mas tenho homens burros — é só o
que resmunga antes de fazer voto de silêncio.
Lawanda, Romie, Liam e Madelyn são trazidos para a sala
acompanhados de dois homens. Assim que loira atrevida coloca os
olhos em Arthur, tenta voar em cima dele, mas é impedida por um
dos imbecis que a trouxe.
— Tire as mãos dela — falo num tom ameaçador e ele me
encara de maneira desafiadora antes de soltá-la.
Ela me olha por um segundo e os olhos felinos dizem que
sente muito por tudo, mas não parece arrependida.
Romie corre para Julian, que a abraça e pergunta se está
bem, ela apenas assente e usa o irmão como escudo. Volto com os
olhos para os outros e noto que Liam está muito machucado.
Mesmo que esteja com raiva por ter embarcado nessa aventura
perigosa, odeio por terem espancado o garoto.
— Você encostou em um dos nossos — digo num tom sério,
indicando na direção de Liam com a cabeça.
— E eles mataram alguns dos meus — Alexander devolve,
cético.
— O que vieram fazer aqui? — Julian pergunta, encarando
Lawanda e Liam.
— Madelyn tinha sido sequestrada — Lawanda informa,
olhando para mim, como se quisesse que eu entendesse motivo que
a fez mentir. — Eu precisava ajudá-la.
— Emocionante — Alexander interrompe o momento,
cortando o ar com um gesto de mão. — Temos uma garota com a
síndrome de super-herói.
— Vai se ferrar — ela dispara, e a única coisa que Alexander
faz é um estalo com a língua contra o céu da boca, desaprovando o
tom de Lawanda.
— De quem foi a ideia? — ele pergunta, de repente, virando
o rosto para Nicholas. — Não acho que tenha sido você, porque não
parecia tão incomodado. Na verdade, você não se importava com a
Corporação... — Encaminha a atenção para Lawanda. — Você é
esperta, mas não é inteligente o suficiente.
— Isso importa? — sou eu quem questiona.
Alexander abre um sorriso.
— Sim, porque foi inteligente, certeiro e incrível. Eu gostaria
de ter uma cabeça assim ao meu lado — ele comenta, fazendo
Nicholas ficar tenso. — Então... de quem foi a ideia?
— Cuidado com o que deseja, Alexander — é Liam quem diz,
nos surpreendendo.
O russo caminha devagar até o garoto e observa com afinco.
— Foi você? — ele quer saber.
— O que você acha? — Liam retruca, mantendo a postura e
a cabeça erguida, protegendo Lexie de ser exposta.
— O que você quer, Alexander? — Nicholas pergunta, e
Lawanda enruga o nariz.
— No momento? Menos problemas — responde de forma
irônica. — Não estou feliz, Nicholas, eu gostava de ter o poder
acionário da Corporação. Você sabe, homens como nós, gostam de
ter o controle de tudo. E bem, isso me foi tirado. Fui traído, achei
que tivéssemos um acordo.
Julian deixa escapar uma risada curta.
— Não foi traído, apenas está um passo atrás agora — o
subchefe diz, fazendo Alexander erguer as sobrancelhas.
— Concordo e eu não gosto disso.
— Mas vai ter que se acostumar com isso, Alexander —
Lawanda começa a falar. — E não aja como se o negócio da minha
família fosse o seu ganha pão, porque sabemos que não era.
O russo torce os lábios e concorda com um aceno de cabeça.
— Se essa garota não for domada, vocês terão grandes
problemas no futuro — é o que fala para nós, segurando o queixo
com a ponta dos dedos.
Lawanda bufa, revirando os olhos.
— Vocês têm sorte, não vou matá-los hoje — Alexander fala,
olhando diretamente para Liam e eu fico sem entender. O russo
desvia a atenção do garoto e volta para nós. — Isso me traria muita
dor de cabeça e não estou a fim de começar uma guerra com uma
família italiana. Guerras são sempre ruins para os negócios. E no
momento, vocês são o menor dos meus problemas.
— É uma decisão sábia e prudente — digo, focalizando seus
olhos. — Parece que temos um acordo, no entanto, precisamos
acertar alguns detalhes.
Sinto a atenção de todos em cima de mim.
— Fale — Alexander ordena, me deixando irritado, mas não
transpareço.
— Arthur mandou matar Lawanda e tirou a vida de dois dos
nossos homens. Não é algo que possamos varrer para debaixo do
tapete. — Olho para Madelyn, que parece amedrontada entre nós.
— Quem a sequestrou? — pergunto, erguendo uma sobrancelha.
— Arthur — é Lawanda quem diz, entre os dentes e eu
assinto, encarando Alexander.
— Ele começou grande parte dessa confusão. Por quê? —
questiono, analisando Arthur, que parece estar entrando em
desespero. — Não conseguiu lidar com uma garota atrevida no
trabalho.
— Não sabe o que está falando... — Arthur começa, mas é
silenciado ao ver a reprovação no rosto de Alexander.
— Eu sei que ele não precisa da sua permissão para matar.
Mas acontece, que Lawanda não é alguém que pode simplesmente
ser eliminada. E você sabe disso, Alexander. Se algo tivesse
acontecido com ela, a guerra teria começado e você nem teria
tempo pra se preparar — falo, a ameaça velada no tom áspero da
voz.
Alexander contrai o maxilar.
— Querem a cabeça de Arthur também? — retruca,
desdenhoso. — Parece que estão me pedindo permissão para
matar um dos meus homens.
— É justo — digo e abro um sorriso cínico. — Ou prefere ficar
com alguém que poderá causar sua destruição no futuro?
Alexander olha para a Arthur com tanto desgosto, que eu sei
que consegui convencê-lo. Para ser sincero, acho que ele mataria
Arthur de qualquer forma, se nós tivéssemos pedido sua cabeça ou
não.
Não parece que Alexander é muito maleável com os homens
que agem pelas suas costas.
— Não, Alexander, por favor — Arthur chega a implorar
quando os homens do líder russo o seguram. — Eu fiz tudo por
você, não é justo! — ele berra, fazendo Alexander fazer um gesto
com a mão para que o tirem daqui.
— É a primeira vez que entram na minha casa e exigem uma
cabeça pra mim. Não vou tolerar algo assim de novo — ele informa,
me encarando. — E da próxima vez que a mocinha... — Olha para
Lawanda. — Matar alguns dos meus homens, ela sofrerá as
consequências.
Tenho vontade de derrubar um dos homens na sala, pegar a
arma e atirar em Alexander por causa da ameaça, no entanto, a
coisa mais sensata no momento é tirar Lawanda, Romie e Madelyn
da cova dos leões.
— Você brincará de CEO agora? — pergunta a Nicholas. —
Ou deixará sua irmã de dezenove anos afundar os negócios de vez?
Alexander olha Lawanda com desdém.
— Não se preocupe com nada, Alexander — Nicholas fala,
carrancudo. — Eu assumirei daqui pra frente.
O russo não parece satisfeito, mas acena com a cabeça.
— Vão embora da minha casa antes que eu mude de ideia
— é o que fala, fazendo um gesto com a mão, nos expulsando. —
Não esqueçam, tréguas não duram pra sempre.
Chegamos na mansão de Schavier e em vez de entrar como
os outros, Lawanda fica na nossa cola, vigiando a van em que
trouxemos Arthur. Ainda não conseguimos conversar a sós sobre o
que aconteceu, e com certeza, não o faremos agora, já que a única
coisa que ela quer no momento é ver Arthur.
— Entre, Lawanda — ordeno, impedindo o que o soldado
abra a porta traseira e tire Arthur. — Vá descansar.
Ela une as sobrancelhas.
— Não, eu vou punir Arthur pelo que ele fez comigo... por ter
sequestrado Madelyn — diz, como se fosse óbvio.
Nicholas e eu trocamos um olhar, mas o capitão não diz
nenhuma palavra.
— Não vai, entre e converse com Madelyn. Oriente a garota a
mudar de nome, mudar de cidade ou de país.
Ela bate os cílios devagar, enrugando nariz.
— Por quê? Resolvemos as coisas.
Sacudo a cabeça de um lado para o outro, negando.
— Você acha mesmo que Alexander é tão bom assim? Ele
nos deu Arthur, nos deixou ir sem dificuldade. Se ele souber que
Liam não sabe porra nenhuma sobre Ivan, vai querer nos fazer
pagar por termos o feito de idiota — falo, a voz soa tão ríspida, que
a faz se encolher.
— Liam pode descobrir algo sobre Ivan, ele pode fazer isso.
Respiro fundo.
— Sim, mas pode demorar. Vá e converse com Madelyn —
mando, e então, deixo que o soldado abra a porta da van para tirar
Arthur e levá-lo para o porão.
Ignorando todas minhas ordens, Lawanda tenta voar em cima
do homem para bater nele e eu preciso segurá-la para que se
controle.
— Merda, Lawanda.
— Não pode me impedir, ele merece pagar pelo que fez —
ela diz, tentando se soltar das minhas mãos.
— E ele vai — digo, com convicção.
— Quero ver — exige.
Nicholas continua quieto, assim como meu irmão e Julian,
que apenas observam em silêncio.
Lambo os lábios e nego com a cabeça.
— Não.
— Thomas — choraminga.
— Não, Lawanda — repito, estranhamente calmo.
Ela balança a cabeça de um lado para o outro, meio fora de
si.
— Eu vou.
— Não! — grito com ela, fazendo-a estremecer e os olhos
brilharem. — Saia daqui agora! — berro de novo, e vejo os lábios
carnudos se torcerem de raiva.
A garota gira nos calcanhares e entra dentro da mansão,
chorando e provavelmente, me odiando.
De qualquer forma, as coisas entre nós terão que esperar
para se resolverem. Agora, vou fazer Arthur pagar por ter tentado
matar Lawanda.
Arthur teve o que mereceu e como esperado, implorou pela
vida até nos últimos segundos em que esteve respirando.
Claro que já matei antes, quando era um soldado, depois,
quando me tornei um capitão, mas quando assumi o lugar de
conselheiro, tirar vidas não era exatamente uma coisa corriqueira
para mim.
O Don não precisava de um sanguinário sem controle
sussurrando conselhos no pé do seu ouvido. Ele precisava de um
homem sábio e controlado, e claro, eu sempre exerci bem o meu
trabalho.
Caso contrário, seria guerra sobre guerra.
No entanto, hoje, com Arthur, eu não consegui manter a
minha raiva em rédea curta. Ele tinha mandado matar Lawanda,
depois, sequestrou Madelyn e a manteve presa por semanas.
Não sou santo. Sou um monstro. Um monstro que não gosta
quando mulheres inocentes sofrem as consequências. Ou quando
mexem com a minha mulher e tentam machucá-la.
Nicholas me passa um pano para limpar as mãos. Estamos
no porão da mansão de Schavier, o lugar parece uma pequena sala
de tortura. Não duvido que o seu tio tenha a usado para isso no
passado.
— Eu cuido do resto — ele diz, sem demonstrar emoção na
voz.
Oliver o ajuda a desamarrar Arthur da cadeira e coloca o
corpo em cima de um plástico preto, enquanto eu tento limpar as
mãos sujas de sangue com o pano, adiando o inevitável.
Lawanda.
Nossas últimas palavras não tinham sido num tom mais
agradável. Para ser sincero, achei que Nicholas tentaria me socar
por eu ter gritado com a sua irmã, mas ele não o fez. No fundo, eu
sei que ele concordava comigo.
Lawanda queria se vingar de Arthur, mas eu já tinha sujado a
mão dela de sangue quando arrumei George para que o punisse.
Não faria algo parecido de novo, ainda mais, porque a garota estava
com os olhos irradiando raiva.
Antes de ir para o segundo andar, passo no lavabo e decido
lavar as mãos com sabão para tirar o que ficou das manchas
vermelhas. O sangue escorre pelo ralo, os machucados de tanto
socar Arthur permanecem nos nós dos dedos.
Ignorando os soldados que perambulam pelo hall de entrada
e a sala, subo as escadas e vou até o quarto principal da mansão.
Por algum motivo, sei que ela estará lá. Coloco a mão na maçaneta
e a giro, entro sem dizer nenhuma palavra e a encontro usando
roupão e de cabelos molhados. A expressão de raiva ainda está
estampada no rosto delicado e os olhos azuis, parecem pegar fogo
como horas atrás.
— Ele morreu? — é o que pergunta, cética.
— Sim.
Lawanda prensa os lábios e desvia a atenção de mim.
— Não devia ter me impedido — resmunga, sacudindo a
cabeça de um lado para o outro.
Decido ignorar e digo:
— Precisamos conversar.
Lawanda respira fundo e cruza os braços na altura dos seios,
se aproximando de mim. Ergue o queixo pequeno em atrevimento e
focaliza meus olhos com intensidade e petulância.
— Vai gritar comigo de novo? — rebate, me fazendo suspirar.
— Não devia ter mentido pra mim, Lawanda.
— E o que você queria que eu fizesse? Madelyn precisava de
ajuda.
— O que fizeram foi perigoso e poderia ter custado a vida dos
três. Você tem noção disso?
Ela bufa e recua alguns passos.
— Se eu te contasse, você teria me impedido de tentar
ajudar.
— Claro — falo, meio irritado. — Por que você sempre corre
pro perigo em vez de correr dele?
— Porque eu não sou uma donzela em perigo e você não é
um príncipe encantado, então, acho que nascemos um para o outro
— ironiza.
Respiro fundo e pesado, penteando os cabelos com os
dedos.
— Não teste minha paciência.
— Ela é minha amiga! — grita.
— Eu sei! — esbravejo de volta. — E eu teria feito muita
merda pra salvá-la, só que nenhuma delas inclui a arriscar sua vida.
Porra.
Ela avança em cima de mim e começa a esmurrar o meu
peito com força. Impeço que continue ao segurá-la pelos pulsos.
— Se você acha que eu vou sentar e obedecer, então deveria
ter casado com Antonella. Por que não casa com ela? Ainda dá
tempo. Tenho certeza que ela vai te aceitar sem reclamar.
Pisco devagar, tentando me manter calmo.
— Pare de agir como uma criança.
Ela se solta de mim e me empurra com as mãos espalmadas.
— Criança? — rebate, os olhos felinos brilhando por conta
das lágrimas contidas. — Pensei que tivéssemos chegado a um
acordo de que não sou uma criança.
— Você mentiu pra mim, Lawanda. Em vez de pedir ajuda,
você mentiu pra mim — murmuro entre os dentes.
A garota espreme os lábios carnudos e assente.
— E o que você quer que eu faça? Sim, eu menti e teria feito
de novo. Madelyn ter sido sequestrada é culpa minha — retruca,
batendo contra o próprio peito. — Eu que ignorei as ligações e
mensagens dela, não você. Eu mentiria de novo pra salvá-la.
Abro um sorriso sarcástico.
— Você não pensa na porra das consequências? — vocifero.
Não estou orgulhoso de gritar com ela, mas Lawanda me faz
perder a cabeça. E me irrita pra caralho saber que ela não teria feito
nada diferente, que teria mentido para mim de novo se fosse
preciso.
— O que acha que eu teria feito se Alexander ou Arthur
tivessem te machucado? Hãm? Você acha que eu voltaria pra
Montreal como se nada tivesse acontecido? — pergunto, ela abre a
boca, mas não responde. — Eu teria começado uma guerra por
você, Lawanda. Cacete.
Ela começa a chorar, o que me faz querer consolá-la em
meus braços.
— Se você acha que vou ficar sentada enquanto você arrisca
sua vida, você não me conhece direito, Thomas.
— Deixa de ser teimosa — falo ao me aproximar dela, só que
a garota me impede ao dar um passo para trás e girar nos
calcanhares. Alcanço o seu braço e a impeço de se esconder de
mim. — Vamos conversar como adultos e resolver a merda dessa
situação.
Ela se desvencilha do meu toque.
— Não quero conversar com você.
Fecho os olhos por uma fração de segundo.
— Lawanda, pare...
— Parar o que? — me interrompe, sarcástica. — De agir
como uma criança? —emenda, cheia de desdém.
— Sim — sibilo, fazendo-a girar os olhos e chorar mais ainda.
— Você tem razão, Thomas — fala, e eu sinto um gosto
amargo na garganta. — Eu sou uma criança e com certeza, você
não vai conseguir me controlar. Acho melhor você voltar atrás e
casar com Antonella, ela será uma mulher obediente.
— Lawanda... — repreendo.
— Não vamos dar certo, você e eu — ela murmura,
chorando. — Por favor, vá embora, quero ficar sozinha.
Respiro fundo, relutando em sair do quarto e deixá-la
sozinha, mas eu sei que nada de bom sairá de nós hoje. Ela está
com raiva, eu, com certeza, estou puto por ela ter mentido e estar
me afastando agora. Mesmo com todos os meus instintos que dizem
para fazer o contrário, eu dou as costas e a deixo sozinha.
Lawanda é delicada e por mais que não goste de admitir isso,
não é alguém que precisa de proteção. Eventualmente, essa garota
atrevida será a minha ruína.
Alguns dias depois...
— Vai ficar sem falar com ele por quanto tempo? — Lexie
pergunta enquanto se perde entre os vários macacões de bebês nas
araras.
Estamos em uma loja no shopping, que só vende roupas e
artigos para bebês. A vendedora está nos acompanhando com um
carrinho, que está lotado de roupas e acessórios fofos. Desde que
colocamos os pés aqui, não paramos de enfiar coisas dentro dele.
A barriga de Lexie está quase uma melancia e às vezes, eu
sinto que ela pode dar à luz a qualquer momento.
— Não vou falar com ele — digo, respondendo a pergunta de
antes.
Lexie suspira e está prestes a me dar um sermão quando
encontra um macacão super fofo com os dizeres “Cuidado, rapazes,
meu pai é bravo”. Nós rimos, porque é a cara do Nick.
— Precisa conversar com ele — Lexie insiste, fazendo meus
ombros caírem.
Ela está certa.
Faz quatro dias inteiros que não troco uma palavra com
Thomas. Nossa última conversa na casa do meu tio não foi
exatamente a melhor que tivemos. Ele me chamou de criança e eu
acho que o mandei casar com a Antonella, não lembro bem, estava
com muita raiva.
Só que ainda não consigo esquecer de como ele foi embora e
me deu espaço. Voltamos para Montreal no jatinho e parecia que
tinha um elefante entre nós dentro do avião. Parte de mim, se
contorcia para ir conversar com ele, enquanto a outra parte, pedia
para esperar que ele desse o primeiro passo.
Enfim, não deu.
Quatro dias sem ele e eu senti tanta saudade, mas pelo que
parece, Thomas não. Está vivendo bem sem mim, eu acho.
— Talvez ele esteja melhor sem mim — faço drama, apenas
para não perder o costume.
Lexie ri, tremendo os ombros e me arrancando uma risada
também.
— Quer vencê-lo pelo cansaço? — ela quer saber.
Dou de ombros.
— Quero que ele me procure — admito ao lamber os lábios.
— Quero que diga que sentiu minha falta — murmuro, suspirando e
sentindo um aperto no peito. — Não espero que se arrependa de ter
me chamado de criança na nossa última conversa. É pedi demais
pra capacidade dele — zombo, fazendo Lexie gargalhar.
Escolhemos mais algumas roupinhas e sapatinhos fofos para
minha sobrinha, e fazemos o mafioso que nos acompanhou até o
shopping, carregar as sacolas. Almoçamos em um restaurante na
praça de alimentação, o nosso mafioso/segurança senta numa
mesa próxima de nós, mas não come, apenas observa.
Depois de pagarmos a conta, decidimos ir embora, porque os
pés de Lexie já estão incomodando. O nosso plano vai por água
abaixo ao ver a inauguração de um sex shop entre a praça de
alimentação e o corredor que dá na direção dos elevadores. Nós
duas entramos na loja e logo de cara ganhamos pirulitos de
chocolate em formato de pênis.
Olho por cima do ombro e vejo o nosso mafioso em frente à
entrada do sex shop, enquanto segura as sacolas com logo da loja
de bebês e olhando para os lados, completamente desconfortável.
Lexie e eu rimos e passeamos pelos itens expostos nas
prateleiras. Bolinhas explosivas, jogos eróticos, calcinha comestível,
bolas ben-wa, vagina de borracha, sugador clitoriano, inúmeros
vibradores espalhafatosos e outros com formatos bem
interessantes.
— Você ainda faz sexo? — indago a Lexie, provocativa.
Ela me dá um cutucão na costela com o cotovelo.
— Garota, estou grávida, não morta — chia para mim, e eu
mordo o lábio com força para não rir. — Só que tem sido bem difícil
transar carregando essa melancia — acrescenta, alisando o
barrigão com carinho.
Não consigo segurar e rio, contagiando-a também.
Perdemos mais alguns minutos ali, perdidas entre as
prateleiras, chupando o nosso pirulito em formato de pênis com
sabor de chocolate. Decidimos fazer algumas comprinhas sexuais e
só então, vamos embora.
Assim como Lexie, talvez seja difícil eu transar nos próximos
dias, mas isso não significa que não irei me divertir sozinha.
Meus planos de me divertir sozinha foram por água abaixo.
É ruim essa mistura de tristeza, saudade e tesão. Toda vez
que tentei me dar prazer, Thomas preenchia minha cabeça e eu
entrava no modo depressiva e não conseguia seguir em frente,
porque começava a xingá-lo por ainda não ter vindo atrás de mim.
Talvez minha TPM esteja chegando.
Agora, estou jogada no chão da sala, tomando uma taça de
vinho tinto seco, enquanto mergulho os morangos e uvas no meu
chocolate meio amargo derretido e alterno a atenção no filme de
ação que passa na televisão.
Beberico o vinho e pego o celular em cima da mesinha de
centro. Nenhuma notificação. Estou me preparando para acertar o
aparelho do outro lado da sala, quando a campainha toca. Volto com
ele para a mesinha de vidro e me apoio no sofá para ficar de pé, a
cabeça começando a ficar zonza do álcool.
Sem amarrar o robe na cintura, arrasto os pés até a porta.
Não espio no olho mágico ao girar a maçaneta e escancarar a porta.
Surpreendo-me ao ver Thomas do outro lado da soleira.
Diferente das roupas que estou acostumada a vê-lo usando,
hoje, o homem veste um conjunto de moletom preto, sobretudo e
tênis branco. Não parece em nada com aquele mafioso arrogante,
controlado e que acha que sabe de todas as coisas.
Os olhos claros e insinuantes analisam o meu corpo como se
tivesse um olhar de raio x, deixando um rastro quente na minha
pele.
Eu tinha me sentido meio idiota quando me arrumei horas
atrás. Mas tinha lido um artigo, que falava que as mulheres
precisavam se arrumar para si mesmas. Então, eu tomei um banho
de banheira espumante, me depilei, lambuzei o meu corpo com
creme hidratante, coloquei uma calcinha e a camisola mais sexy que
eu tenho.
Acho que valeu a pena.
Como Thomas ainda não disse nenhuma palavra, eu recuo
um passo para que entre no apartamento. Ele passa por mim, todo
feroz e duro, fazendo o seu cheiro delicioso invadir minhas narinas.
Ele para atrás do sofá, olhando a taça meio cheia de vinho, a
garrafa, as minhas frutas e o chocolate, e claro, a televisão. Justo a
agora, o protagonista gostoso do filme resolveu que estava na hora
de devorar a boca da mocinha em um beijo sedento.
Dou a volta no sofá e pego o controle, desligo a tevê no exato
momento em que ele está tirando a blusa para começar o outro tipo
de ação.
— Você está bem? — ele pergunta, me fazendo erguer uma
sobrancelha de maneira cética.
— Agora você quer saber? — disparo, meio irritada.
Aproximo-me da mesinha de centro e pego a taça de vinho, bebo
todo o líquido e coloco em cima dela de novo. — Não achei que se
importasse, já que passou quatro dias sem me procurar.
Não são lá muitos dias, mas quando se está brigado com
quem gosta, parece uma eternidade maçante e angustiante.
— Pensei que tivesse finalmente casado com Antonella —
volto a falar, porque não consigo ficar calada.
O homem franze o cenho, os olhos irradiando fogo.
— O quê? — Pisando duro, ele vem até mim e para a um
passo de distância. — Você bloqueou o meu número, eu não
conseguia te ligar ou mandar mensagens. Pensei que estivesse me
evitando — diz, bufando.
Pisco devagar e embora tente, não consigo esconder a
surpresa. Não lembrava com detalhes daquela noite, porque depois
que Thomas saiu do meu quarto, eu arrastei Romie para adega de
vinho do meu tio e esvaziei quase duas garrafas sozinhas, enquanto
chorava para minha amiga.
Talvez eu tenha bloqueado o número dele mesmo.
Desvio de Thomas e pego o meu aparelho em cima da
mesinha, só para confirmar. Desbloqueio a tela e vejo a restrição no
seu número.
— Por que não veio atrás de mim?
Ele deixa escapar uma baforada de ar.
— Estava te dando a porra do espaço — admite, me
deixando mais irritada.
— Eu não queria a porra do espaço — retruco, alterada. —
Eu queria que você viesse atrás de mim. Olha, não estou esperando
um pedido de desculpas, Thomas, só queria que você viesse atrás
de mim.
— Bem, eu estou aqui.
— Por quê? — rebato.
— Cansei de ser paciente — assume. — E eu... — a frase
dele morre.
— Você o quê?
Thomas passa os dedos entre os cabelos e então, ergue os
olhos para mim, me atingindo com uma onda quente e
aconchegante.
— Não aguentava mais ficar longe de você — murmura,
acelerando meu coração. — Você é um problema, é imprudente,
mimada, atrevida, mas eu te fiz minha e não acho que seja algo que
eu consiga voltar atrás.
Mordo o lábio inferior.
— Não sou e nem serei obediente — murmuro.
— Tudo bem, não estou procurando uma mulher assim. Mas
precisa me prometer que quando estiver em perigo, ou alguma
merda estiver acontecendo, vai conversar comigo em vez de mentir,
porque não suporto a ideia de você mentindo pra mim.
Concordo com um aceno de cabeça.
— Ok, sem mentiras. — Respiro fundo e cruzo os braços na
altura dos seios. — Mas precisa acreditar em mim quando eu falar
que dou conta de algo. Já mostrei que sou capaz de me defender
sozinha. Se algo acontecer ou você estiver em perigo, eu não sou
burra, sei que isso acontecerá algum dia, você vai ter que me
deixar... participar.
Ele solta uma risada sarcástica.
— Por quê?
— Porque eu não suporto a ideia de não fazer nada pra te
ajudar ou te proteger — admito, prensando os lábios. — Não sou
indefesa, Thomas.
— Eu sei que não.
— Então, estamos combinados assim?
— Sim — concorda, a voz séria. — Mas faremos do meu jeito
— emenda, faço menção de quem vai revirar os olhos e desisto no
meio do caminho.
— Ok — resmungo.
— Você é minha e eu não tenho tempo pra ficar brincando,
então vamos oficializar as coisas entre nós — diz, como se fosse
uma nova lei.
De repente, meu coração martela forte dentro do peito e a
sala fica quente demais. Levo ar até os pulmões e passo o robe
pelos braços, jogando a peça no sofá, enquanto tento decidir se
oficializar para ele é o mesmo para mim.
Os olhos dele comem o meu corpo e eu preciso de esforço
para me concentrar em questionar o que ele acabou de dizer.
— Você tá me pedindo em casamento? — pergunto e parece
que a voz saiu de outra pessoa.
Meu Deus, se não for um pedido de casamento, não quero
nem olhar para cara de Thomas nas próximas horas, porque vou
estar remoendo internamente como sou idiota e mesmo querendo
ser uma mulher livre e independente, também sou uma boba
apaixonada.
— Sim — responde, esquadrinhando o meu rosto. — Eu vim
colocar isso no seu dedo. — Thomas tira uma caixinha preta de
veludo de dentro do sobretudo e abre para mim.
Engulo em seco ao olhar o anel com uma pedra de diamante
em cima. É lindo e meio extravagante, definitivamente, combina
comigo.
— Ah, Deus — murmuro e ergo os olhos para o meu mafioso.
Eu sou nova, nunca tinha pensado em casamento e essas
coisas, só que o vendo agora, com esse anel com diamante,
olhando para mim como se eu fosse a coisa mais importante para
ele, sim, com certeza, eu quero casar com Thomas.
E no fundo, eu já sabia onde a nossa relação iria nos levar.
Thomas é um mafioso, não é um cara comum que eu conheci na
balada. Quando me fez dele, mesmo sem eu saber, ele já sabia que
era pra sempre.
— Você é minha, Lawanda.
Sorrio e elevo a mão para que enfie o anel no meu dedo.
— Eu sei — sussurro.
Sem tirar a atenção de mim, ele retira o anel da caixinha de
veludo e segura minha mão direita, arrepiando o meu corpo. Só
alguns dias longe dele e o meu corpo reage como se nós
estivéssemos ficado longe por meses. Ainda em silêncio, Thomas
desliza o anel sobre o meu dedo anelar.
Caramba.
Fiquei noiva.
Sorrio.
— Mesmo com isso — falo, erguendo a mão no ar e
mexendo os dedos. — Não serei obediente.
O canto da boca dele se curva em um sorriso cínico.
Thomas prende mechas detrás das minhas orelhas e segura
meu rosto ao me puxar para ele.
— Acho que não gosto de mulheres obedientes.
Contorno o seu corpo com as duas mãos e não consigo
impedir o gemido que escapa dos meus lábios. Apenas quatro dias
e eu senti tanta falta dele, como se já fosse um pedaço de mim. Não
sei o quanto a nossa relação é saudável, talvez nem seja, mas que
se dane, nós dois somos o que devemos ser.
— Antes de qualquer coisa — começo a falar ao ficar na
ponta dos pés para nivelar os nossos rostos. — Você não ficou com
Antonella, né? Se tiver ficado, vou jogar esse anel pela janela da
varanda — ameaço, o fazendo rir.
— É claro que não — responde, descendo com uma das
mãos até a base da minha coluna e me puxando contra o próprio
corpo. — Eu estava bravo com você, mas mesmo assim, não
consegui te tirar da cabeça.
Suspiro.
— Eu estava com alguém — falo, a fim de provocar. Os olhos
dele queimam como fogo e ele entrelaça a mão no meu cabelo da
nuca, puxando com força e me deixando excitada. — Ele...
— Lawanda — me repreende.
— Você disse sem mentiras — devolvo. Thomas abre a boca
para resmungar e eu o interrompo. — Ele é de silicone e rosa, não é
tão grande como você, mas promete muita coisa.
As sobrancelhas se unem em confusão e eu rio.
— É um vibrador — sussurro e um brilho devasso toma conta
das íris azuis, que está um tom mais escuro. — Não consegui usá-
lo, porque eu queria você dentro de mim, não ele — cochicho,
fazendo o peito de Thomas subir e descer com a respiração
acelerada.
A mão na base da minha coluna sobe até o pescoço e então,
ele me puxa para ele, esmagando minha boca com a sua. A língua
me invade com força, explorando e provocando formigamento na
minha pele. Empurro para que sente no sofá e monto em cima dele,
ficando sobre a ereção e a sentindo cutucar o meio entre as minhas
pernas.
Ele separa as nossas bocas um pouco e deixa a atenção cair
para baixo ao levantar o tecido da camisola até os meus quadris,
revelando a calcinha de renda vermelha.
— Você combina com vermelho — sussurra, a voz tão sexy
que vibra direto no meu ponto de prazer. — Tem noção de como é
gostosa, Lawanda?
Thomas desliza uma das mãos grandes pelas minhas coxas,
me roubando gemidos entrecortados.
— A pele é tão macia. — A outra mão sobe e ele desce a
alça da camisola, revelando o meu seio pequeno e com o mamilo já
entumecido. — Perfeita — diz ao inclinar o rosto sobre mim e
abocanhar o meu seio, chupando e mordiscando de leve.
Enfio as mãos nos seus cabelos e os puxo com força ao
mesmo tempo em que rebolo em cima da ereção, ansiando o
momento em que vai estar dentro de mim.
— É tão doce — fala, passando a língua em volta do meu
mamilo e algo me invade a cabeça.
— Espera.
Saio de cima de Thomas e o homem rosna. Desço a outra
alça da camisola e a deixo cair no chão, os olhos insinuantes
dançam pelo meu corpo e mesmo sem ele dizer nada, a mensagem
é clara como água cristalina.
Eu pertenço a ele.
— Gosta de chocolate? — pergunto, e o canto da boca dele
se curva em um sorriso lascivo.
Pego um palito e finco no morango, em seguida, mergulho no
chocolate derretido dentro da panela de founde. Sem pedir
permissão, ofereço a Thomas, que abre a boca e come a fruta, sem
tirar os olhos de mim.
Estou prestes a repetir o processo, quando ele me puxa e me
coloca de costas no sofá. Agora, é ele quem fica de pé, tira primeiro
o sobretudo, depois, os tênis e meias. Pega um palito de metal,
enfia na uva e a mergulha dentro do chocolate, abro a boca para
receber a fruta, e surpreendo-me com o que faz.
Gemo no momento em que Thomas desliza a fruta entre os
meus seios, deixando um rastro morno e gostoso de chocolate.
Arqueio o corpo para ele quando faz movimentos circulares no meu
mamilo.
O homem vem para cima de mim e começa a lamber o rastro
de chocolate, me fazendo estremecer.
— Gosto de chocolate assim... em você — ele diz, deslizando
a língua arrogante pelo meu mamilo.
Volta a sujar a uva com chocolate e depois, faz um rastro da
minha barriga até a coxa. Meu íntimo lateja tanto, que estou quase
implorando que me faça gozar com a sua boca.
Sem pressa e de maneira torturante, ele lambe todo o
chocolate, se demorando na parte interna da minha coxa. Enfio a
mão no seu cabelo e puxo com vontade ao sentir a língua no meu
sexo, por cima da calcinha.
— Por favor — começo a implorar. — Thomas... — murmuro.
O mafioso continua com a tortura por mais alguns minutos,
me lambuzando de chocolate e passando a língua pelo local logo
em seguida. As investidas de tortura, me levam à loucura e eu sinto
a renda da calcinha pingando de tesão, tão perto de gozar sem que
ele tenha tocado no meu centro de prazer de verdade.
Thomas enfia os dedos indicadores e os meios nas laterais
da minha calcinha, desce a renda devagar, passando pelas minhas
pernas e depois, a jogando no chão, mas não sem antes cheirá-la e
me deixar mais excitada ainda.
Os olhos azuis admiram minha boceta enquanto as mãos
forçam as minhas pernas mais ainda, me abrindo completamente
para ele. E então, Thomas vem, enterrando o rosto no meu sexo
molhado e me acariciando com a língua.
Ele me lambe toda, de baixo para cima, com vontade,
apertando minhas coxas, brincando com o meu clitóris e me
arrancando suspiros do fundo da garganta. Cada terminação
nervosa do meu corpo vibrando por conta do tesão incontrolável.
— Thomas... isso, bem aí — choramingo, sentindo a língua
trabalhar em movimentos circulares contra o ponto sensível, quente
e inchado do meu corpo.
Agarro suas orelhas, gemendo alto o seu nome, perto de
alcançar o meu prazer e estremecer com o orgasmo.
Para minha surpresa, ele para de me chupar e vem subindo
com beijos quentes pelo corpo, mordiscando de leve os seios e
envolvendo meus lábios com os seus, que tem o meu cheiro
impregnado neles.
— Vou te deixar gozar, mas quero meu pau dentro de você —
fala, se afastando um pouco para passar a blusa pela cabeça e
exibindo o peitoral duro e cheio de gominhos. — Quero te ver gozar
em cima do meu pau, Lawanda.
Ele desce parte da calça moletom e a boxer, revelando o pau.
E aquele V sexy, que forma as entradas profundas, me dão água na
boca. Inclino-me um pouco para frente e agarro seu pênis grosso e
ereto, ele entreabre a boca e deixa escapar um som gutural.
Abro bem as pernas e ele vem para cima de mim. Não solto o
seu membro, continuo o pegando, fazendo fricção para cima e para
baixo com as duas mãos. Decido descer um pouco mais e tocar as
bolas, fazendo com que o homem cerre o maxilar e feche os olhos,
gemendo baixinho.
— Caralho — murmura ao piscar e prender os olhos em mim.
— Me coloque dentro de você — ordena.
Direciono a excitação de Thomas na minha entrada e num
solavanco, eu arqueio os quadris, para que minha boceta envolva o
seu pau com mais facilidade. Entrelaço as pernas na cintura dele e
o aperto contra mim.
Ele começa a se mover, bem devagar, mas ao mesmo tempo,
é forte e impiedoso. Nossos olhos se encontram, deixando meu
coração agitado. Thomas ergue minhas mãos até em cima da
cabeça e entrelaça os dedos nos meus, sem deixar de entrar e sair
de mim. O rosto cobre o meu e ele me beija, com paixão,
envolvendo as nossas línguas, engolindo meus gemidos e suspiros.
Meus quadris se juntam aos movimentos certeiros de
Thomas, de repente, estão sincronizados, para cima e para baixo, o
recebendo inteiro.
— Mais rápido — peço ao sentir a onda espiral vindo do
dedão do pé até o couro cabeludo. — Thomas...
E ele vem com tudo, forte e duro, penetrando em mim com
tudo o que tem e me fazendo delirar.
Ele solta minhas mãos para agarrar minha cintura, o seu
rosto se enterra no meu pescoço, mordendo, lambendo e depois
sobe até o lóbulo da orelha, que ele roça de leve os dentes, me
enlouquecendo.
Thomas volta a se afastar e focaliza meus olhos, entrando e
saindo com força, enquanto minhas pernas tremem em torno do seu
tronco.
— Thomas...
— Goza, Lawanda.
Fecho os olhos e jogo a cabeça para trás, abrindo a boca e
deixando um gemido alto escapar, sem conseguir me conter e me
entregando ao orgasmo. Ele não diminui a velocidade nem por um
segundo, em vez disso, dá intensidade ao ritmo, com estocadas
fortes, seguindo meu orgasmo à medida que o seu prazer vai
chegando.
— Goza dentro de mim, Thomas — sussurro, provocante.
Ele encontra os meus olhos e eu sei que está prestes a
explodir. Seguro seus braços fortes, os músculos tensionados e a
pele quente, em chamas.
— Quero te ver gozar, meu amor — digo, o fazendo uivar.
O vaivém dele fica animalesco antes de se entregar a
necessidade, ao prazer e gozar dentro de mim, profundo e intenso.
O corpo dele inteiro contrai e Thomas finca os dedos nos meus
quadris, deixando uma dor prazerosa.
Ele desaba o corpo em cima de mim, respirando fundo e
fechando os olhos por um segundo.
— Caralho, eu estava com tanta saudade de você —
murmura, beijando o meu pescoço suado. — Nunca mais vamos
brigar — diz, como se fosse uma nova lei.
Sorrio, sentindo um quentinho gostoso no meu coração.
— Nós vamos casar — falo, sentindo-o sorrir contra o meu
pescoço. — Sua mãe vai pirar.
Talvez, meu irmão também.
Thomas levanta a cabeça para encontrar os meus olhos.
— Não importa, Lawanda. Você será minha esposa e ela
respeitará você mesmo que não goste disso. — Thomas deposita
um beijo no limite do meu maxilar. — Eu sei que sabe se defender
sozinha e com certeza, lidar com a minha mãe não é algo difícil —
diz, me fazendo rir.
— Não a subestime — retruco, ele acaba deixando escapar
uma risada também.
— Não se preocupe, não deixarei que ninguém desrespeite
você. Nem na minha frente, nem nas minhas costas.
Os lábios se esticam ao ouvir as palavras de Thomas e as
borboletas no meu estômago se agitam. Não preciso que me
defenda ou me proteja, mas é bom saber que o fará por mim.
— Me proteja, Thomas — sussurro e ele me dá um sorriso
maroto.
— Com a minha vida, Lawanda.
Ao entrar no apartamento e atravessar a sala, meus olhos
captam Lawanda no terraço, sentada em uma das cadeiras
confortáveis, bebendo vinho, perdida em pensamentos ao observar
o Monte Royal.[22]
Escolhemos essa cobertura por causa da vista, mas confesso
que tudo fica mil vezes melhor por causa dela. Gosto de chegar aqui
e vê-la, admirando a vista, porque posso admirá-la fazendo isso
também.
— Não ouvi você chegar — ela fala ao me notar.
Antes de ir ao seu encontro, deixo a pasta de couro em cima
do sofá e tiro o terno. Ela fica de pé e com um sorriso meigo
desenhando os lábios carnudos, abre os braços para me receber.
Não sei se as coisas sempre serão assim, ou quando ela irá
me fazer perder a cabeça de vez. Mas gosto de estar casado com
Lawanda. Nunca pensei que me importaria tanto com uma mulher, a
ponto de querer casar por livre e espontânea vontade.
Só que Lawanda veio com tudo, quase uma força
sobrenatural na minha vida. E hoje, eu a amo.
— Preciso te contar uma coisa — ela fala, descendo com as
mãos espalmadas sobre o meu peito e mordendo o lábio inferior por
um segundo. — Não conversamos sobre isso ainda, então, talvez
você precise sentar.
Com delicadeza, ela se afasta e me guia até a cadeira do
terraço. Eu me sento sem reclamar e ela passa uma perna em cada
lado da minha cintura, montando em mim. O vestido que está
usando sobe até o início das coxas e minha atenção se concentra
toda ali, nas curvas da minha esposa.
— Ei, olha pra mim — ela pede, e eu levanto os olhos para
encarar os seus. — O que você acha de filhos? — pergunta, de
repente.
Franzo o cenho.
Será que Lawanda quer um? Não faz muitos meses que a
filha de Nicholas nasceu e Lawanda é apaixonada pela sobrinha que
vive babando. Também, não faz muito tempo que Noah virou pai. Eu
sei que preciso de um herdeiro e logo, mas não sabia o que ela
achava disso.
Começa a ventar e mesmo que seja em vão, prendo duas
mechas de cabelo detrás das orelhas pequenas usando brincos de
pérolas delicadas.
— Você quer um? Ou vários? — é o que eu pergunto,
fazendo-a rir.
— Você quer? — ela rebate.
— Sim — admito.
— É o seu dia de sorte, porque eu estou grávida — fala, me
fazendo unir as sobrancelhas.
A primeira coisa que me vem à cabeça, é que ela estava
bebendo quando eu cheguei. Inclino o corpo para o lado e analiso a
taça de vinho, depois arqueio uma sobrancelha para ela.
— Você está grávida e estava bebendo?
Lawanda revira os olhos.
— Suco de uva — explica, virando metade do corpo para trás
e esticando a mão para pegar o cálice e me entregar.
Seguro o cristal e cheiro o líquido, confirmando o que ela
disse.
— Viu? — resmunga, tomando a taça da minha mão e a
colocando na mesa de novo. — Não sou tão imprudente assim.
Sorrio.
Contorno os braços em volta da sua cintura e a trago para
mais perto de mim. Deposito um leve beijo nos lábios carnudos e ela
segura meu rosto com as duas mãos, suspirando.
— Ficou feliz? — Lawanda quer saber.
— Sim — sussurro. — Eu preciso de alguns herdeiros.
Minha esposa começa a rir.
— Ah, de alguns? Um passo de cada vez, vamos primeiro
encarar a realidade de um — argumenta.
Assinto.
— Você ficou feliz? — indago.
Ela me dá um sorriso lindo e meigo ao responder:
— Sim.
— A mamma vai gostar dessa notícia, sempre quis um neto
— digo e como se tivesse vida própria, minha mão vai ao encontro
da barriga chapada, que não parece diferente em nada, mas que
carrega o nosso filho. Ou filha.
— Acho que estamos evoluindo, eu e ela — Lawanda rebate,
debochada e dá de ombros. — Promete que não vai me trocar
quando eu estiver diferente?
Elevo uma sobrancelha interrogativa.
— Eu não te trocarei por nada, Lawanda. Nem devia estar
pensando um absurdo desses.
Ela suspira e encosta a testa na minha.
— Desculpe, eu tô meio sensível.
— Tem certeza que está grávida? — pergunto, fazendo-a rir.
— Sim, mas marquei um médico amanhã — informa. — Não
quero ir sozinha ou com um mafioso de segurança. Pode vir
comigo?
Sorrio de lado.
— Eu iria de qualquer jeito.
Seguro o rosto pequeno entre as mãos e a envolvo em um
beijo lento, apaixonado, quase como se parte de mim quisesse
enfatizar que ela é minha e que eu nunca a trocarei por nada nesse
mundo.
— Obrigada — ela sussurra contra os meus lábios, mordendo
de leve o inferior. — Vai ter que atender a todos os meus desejos de
grávida — zomba, me roubando uma risada.
— Todos.
— Vai mesmo? — questiona, o cenho franzido em
desconfiança.
— Sim, tudo por você.
Ela faz um estalo com a língua.
— Você deve me amar de verdade — devolve, atrevida.
— Tem dúvidas ainda? — retruco, voltando a beijá-la,
apertando-a contra o meu corpo, que começou a despertar. — Eu
amo todas as suas versões, mesmo as que me tiram do sério.
Ela deixa escapar uma risada gostosa contra os meus lábios.
— Eu sei, também amo todas as suas versões, Thomas.
Lawanda, com certeza, ainda vai me enlouquecer, ainda mais
agora que está carregando o nosso filho. Sem dúvidas, ela é o meu
pequeno inferno particular. Louca, imprudente, linda, gostosa e
minha.
A seguir reservei um bônus especial para você. São os
primeiros capítulos do meu último lançamento “A Rendição do
Herdeiro Bilionário”.

Boa leitura!
Herdeiro, negócios e status...
Não faz cinco dias que enterramos o meu pai e essas são as
únicas palavras que saem da boca da minha mãe. Bem, não são as
únicas. Elas vêm junto em orações, sentenças que conseguem me
tirar do sério.
Em cima de um salto fino, ela anda de um lado para o outro
na grande sala da mansão, quicando de forma estridente no chão
de granito. As mãos magras e enrugadas voam no ar de vez em
quando e as narinas expandem, enquanto uma ruga fina aparece
entre as sobrancelhas.
A casa está tão vazia sem o meu pai. É como se nada mais
na minha família fizesse sentido. Droga. Por que a vida teve que
tirá-lo de mim também? Não aguento mais perder as pessoas que
eu amo.
Mamãe para de repente e gira o corpo para mim, trincando os
dentes.
— Jamison Ross Foster, você está me ouvindo?
Respiro fundo e meneio de leve a cabeça.
— Infelizmente, sim.
Ela levanta os braços mais uma vez antes de bater na lateral
do corpo esguio. Girando os olhos, mamãe vem até mim e senta ao
meu lado no sofá. Segura uma das minhas mãos entre as suas e
aperta de leve.
— Nós precisamos...
— Não quero falar sobre os negócios, acabamos de enterrar
o papai. Não quero pensar nas minhas responsabilidades e toda
essa merda.
— Eu sei, querido, mas precisamos conversar sobre isso
mesmo assim. — Suspira e aperta os lábios em uma linha reta. —
Chegou a hora de parar de brincar e fazer a coisa certa, meu filho.
Você foi preparado pra isso.
Rio com sarcasmo, mas não afasto a minha mão da sua.
— Parar de brincar? Você fala como se eu não tivesse feito
todas as suas vontades, mãe. Ditar o meu futuro e fazer tantas
escolhas por mim não foi suficiente?
Ela engole em seco e contrai o músculo do maxilar.
— Fazer minhas vontades não te impediu de brincar de ser
artista — resmunga e me deixa com um gosto amargo na boca. —
Não aja como se não tivesse feito o que quis, porque o seu pai foi
bom demais pra você.
Mamãe tem razão. Ele foi incrível. Mesmo depois de terminar
minha faculdade de administração, não me obrigou a trabalhar com
ele. Deixou que continuasse sufocando os meus sentimentos com a
música, o que minha mãe não aprovava.
E por anos, eu fui apenas o herdeiro do magnata da indústria
aeronáutica. Cantando em bares desconhecidos e fingindo que
minha conta bancária não era gorda o suficiente para comprar
qualquer coisa que eu quisesse.
— Eu conversei com o conselho, eles estão todos de
acordo...
— Mãe — interrompo. — Não quero me tornar CEO agora.
Não me imagino fazendo isso.
Ela assente e abre um sorriso fraco.
— Mas terá que fazer.
Mamãe é membro do conselho e nossa família detém 60%
das ações das indústrias Foster. Ela é persuasiva e claro que
conseguiria convencer a todos que estou pronto para sentar na
cadeira de presidente e assumir os negócios.
A verdade é que eu sempre soube que esse dia chegaria,
mas isso não significa que eu queira cair de cabeça nesse mundo
agora. Ainda não consigo esquecer o que meu pai disse antes de
morrer.
— Esfrie a cabeça. Eu posso aguentar por um tempo, mas
não tem escolha. Jamie, você é um Foster, precisa zelar o seu
sobrenome.
— Zelar meu sobrenome... é tudo que importa? — pergunto
com sarcasmo. Hein, mãe?
Ela balança a cabeça de um lado para o outro, suspirando
— Não ouse falar com esse tom de deboche. Posso não ser a
melhor mãe do mundo, mas não sabe das coisas que eu fiz pra
manter a nossa família unida. E eu estive do seu lado mesmo
depois da...
— Não fale dela, mãe — digo, a voz soando áspera e fazendo
minha garganta arranhar. — Preciso de tempo pra fazer algumas
coisas.
Recolho minha mão, que ainda estava entre as suas e levanto
do sofá. Mamãe faz o mesmo. Antes que possa sair da sala, ela
segura meu braço com força e me impede de caminhar.
— Que coisas?
— Nada importante, mãe.
Seguro seu rosto com uma das mãos e deposito um beijo
terno na sua bochecha, fazendo-a sorrir. Ela é uma mulher difícil e
sempre gostou de ditar o meu futuro, mas apesar disso, é uma boa
mãe. Sempre esteve comigo, nos momentos mais difíceis e nunca
deixou de segurar minha mão.
Temos nossas diferenças, e mesmo assim, não posso negar,
minha mãe é uma grande mulher e sempre manteve a família unida.
— Você está bem? — quer saber. — Não falou muito depois
do enterro.
— Estou bem, mãe.
— Não faça isso de novo, Jamie. Não ouse se fechar e sofrer
sozinho mais uma vez.
— Não vou fazer isso — minto.
Para falar a verdade, ainda acho que sou o mesmo de anos
atrás. Aquela ferida ainda não cicatrizou e continua me
assombrando todos os dias. O que mudou é que eu parei de falar
sobre isso e aprendi a fingir que estou bem.
— Todos perdemos o seu pai, devemos passar por isso
juntos.
Assinto.
— Não se preocupe e acredite quando digo que estou bem.
Ela não parece acreditar nas minhas palavras, no entanto,
concorda com um aceno de cabeça e fecha os olhos por um longo
segundo enquanto suspira. Sem dizer nada, envolve as mãos em
volta do meu pescoço e me puxa para um abraço apertado.
— Sinto falta dele — murmura.
— Eu sei, também sinto, mãe.
Aperto-a contra mim, sentindo o seu cheiro doce, pensando
que parar atender o último pedido do meu pai, terei que partir o
coração da minha mãe.
Depois de acompanhar o casal de clientes até a saída,
Amanda volta para perto de mim. Dá a volta no balcão de madeira e
enche um copo de cerveja para mim, enquanto os olhos grandes e
azuis me analisam de forma minuciosa.
“Cherry Pie” do Warrant preenche o lugar inteiro na voz do
Matt, o cantor do bar. Ele não é exatamente a melhor voz que você
vai ouvir aqui, só que é o melhor que conseguimos pagando pouco.
— Apenas uma palavra pra você, Coelhinha — Amanda fala,
levando o dedo indicador até o meu rosto e fazendo movimentos de
ziguezague no ar. — Sexo.
Bufo e reviro os olhos. Pego o copo de cerveja e bebo todo o
líquido da caneca, refrescando o meu corpo. É verão no Texas,
então isso significa fortes ondas de calor, como se eu estivesse de
plantão em frente da porta do inferno.
— Sexo não resolve tudo.
— Pelo menos vai dar um chega pra lá nesse mau humor —
retruca e mexe de leve os ombros. — Você anda bem estressada,
se fosse em outra época, teria ignorado aquela cliente sem noção.
Estou pronta para abrir a boca e contra-argumentar, quando
um cliente entra no bar e ela se afasta de mim para ir anotar os
pedidos. Claro, não sem antes me presentear com uma piscadinha
e falar apenas movimentando os lábios a palavra “sexo”.
Respiro fundo e controlo a vontade de revirar os olhos mais
uma vez.
Eu tinha discutido com uma cliente, porque o marido dela não
tirava os olhos do meu decote. Ela disse que eu deveria me vestir
como uma moça de respeito e não como uma vadia, porque eu
estava tentando o seu homem fiel.
É claro que isso me tirou do sério e eu a mandei à merda.
Não tenho culpa se ela é casada com um traste que não consegue
manter os olhos longe dos decotes das mulheres em volta.
Nós discutimos, ela jogou cerveja na minha blusa e disse que
não pagaria pelas bebidas. Pela primeira vez, senti vontade de
acertar uma boa bofetada no rosto de uma cliente, mas me dei
conta de que ela é assim por estar insegura no seu relacionamento.
Então eu disse a ela:
“Não somos amigas, mas vou te dar um conselho. É melhor
trocar de namorado, porque esse aí vai continuar colocando chifres
na sua cabeça.”
E foi assim que ela pulou em cima de mim e tentou puxar o
meu cabelo. Amanda chegou segundos depois e apartou a nossa
briga. Foi o certo, embora tenha me deixado irritada. Fiquei toda
descabelada e com a blusa molhada de cerveja, enquanto a cliente
foi embora, de queixo erguido, como se tivesse ganhado um jogo
estupido.
Depois a Amanda começou com o negócio de que eu preciso
transar com alguém, já que ando muito estressada nas últimas
semanas. Talvez ela tenha razão, talvez não.
Sexo não resolve tudo.
Acredite, eu sei disso.
Depois de ter sido trocada, eu tentei. Transei com alguns
homens bonitos, pensando que assim, o meu coração se
recuperaria mais rápido e aquela traição não machucaria tanto.
Não deu certo.
O buraco que o Daniel deixou no meu peito continuou do
mesmo jeito, me machucando e me fazendo sentir idiota por ter
amado um cretino, que não conseguia manter o pau guardado
dentro das calças.
Hoje, não dói tanto, mas também não tenho vontade de me
relacionar com outro cara. Ficar quieta na minha zona de conforto é
o que me faz dormir como uma criança de noite. Não tem emoção,
borboletas no estômago e essas coisas, mas não é tão ruim.
— Tem um amigo do Steven que quero te apresentar —
Amanda fala ao voltar para perto do balcão. Sem olhar para mim,
pega uma garrafa de whisky e serve em dois copos de cristal com
gelo. — Acabou de chegar na cidade.
Enrugo o nariz.
— O que ele veio fazer nesse fim de mundo? — rebato com
um tom divertido, fazendo Amanda rir.
Nós moramos em Fredricksburg, uma cidade pequena com
um pouco mais de onze mil habitantes, localizada a oeste de Austin
e ao norte de San Antonio. Apesar da Oktoberfest anual e aqui ser
uma ótima porta de entrada para as vinícolas da região Hill Country,
as pessoas por aqui não costumam vir para ficar.
Quando era adolescente, o meu maior sonho era ir morar em
Houston. Infelizmente, algumas tragédias aconteceram e eu criei
raízes aqui e hoje não sei se consigo ir embora. Não é tão ruim, só
não é tão comum novos moradores pela região. Os meus vizinhos
são os mesmos desde que eu nasci.
— Foi traído e está tentando recomeçar.
Suspiro.
— Ah, ótimo — falo com deboche.
— O que foi?
— Nada, apenas passo.
Abro um sorriso para Amanda e saio de perto dela no
momento em que um cara se apruma no balcão e pede cerveja. Os
lábios dele se esticam e os olhos flanam pelo meu decote e blusa
suja de cerveja.
Ele assobia.
— Gosto de mulheres molhadas — diz, a voz soando baixa e
rouca. — Que horas você sai?
Ergo uma sobrancelha e controlo a vontade de ser grossa.
Sirvo a cerveja e inspiro de maneira profunda. Devolvo a sua
cantada com um olhar sério e simplesmente, não respondo e dou as
costas para o garanhão.
Se eu recebesse um dólar por cada olhar ou cantada que
recebo no bar, eu não precisaria mais trabalhar como garçonete.

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Sinopse:
"Pela Gwen, eu burlei minhas próprias regras. Só que eu não posso.
Não posso ficar com ela e, também, não sou capaz de dizer adeus”
Jamie Foster é um herdeiro bilionário. Lindo, cativante e sedutor,
mas teve o coração partido e feridas que nunca cicatrizaram. Por
isso, ele prefere apenas se divertir com as mulheres e manter bem
fechadas as portas do seu coração.
Amar de novo não é algo que ele queira no momento.
Depois da morte do seu pai, o magnata da indústria aeronáutica, ele
se vê preso entre a decisão de reparar os erros do passado do pai e
ferir os sentimentos da mãe ou deixar as coisas como estão.
Gwen Holt é uma garota gentil e de bom coração, que não está
procurando caras bonitos, sarados e com sorrisos fáceis e
atraentes. Na verdade, ela corre de homens assim como o Diabo
foge da cruz, mas o destino é implacável e faz com que ela e Jamie
tenham os caminhos cruzados.
Mesmo contra os seus instintos, que gritam para se manter longe do
bilionário que apareceu no seu bar, Gwen decide ajudá-lo na missão
de encontrar alguém do passado do pai de Jamie.
Ela só não esperava se apaixonar por ele no meio do caminho.
Entregar o coração para um homem quebrado, pode machucar mais
do que uma traição ou um amor não correspondido.
Jamie não sabe, mas Gwen é aquela que vai derrubar as portas
trancadas do seu coração e se tornará a sua redenção.
Um herdeiro bilionário sedutor e com um passado misterioso, uma
garota doce e forte, os dois prometem uma intensa história de amor
e de tirar o fôlego.
Oi!
Espero que você tenha gostado de Em Nome da Máfia. Eu sei
que o 4º livro da série demorou bastante e só posso prometer que o
livro da Romie vem em breve.
Juro que não vou fazer vocês esperarem tanto pela história
da herdeira da máfia.
Se você ainda não leu outras histórias minhas, dá uma
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[1]
Protagonista de Nas Garras da Máfia, segundo livro da série Família Carbone.
[2]
Mãe ou mamãe em italiano.
[3]
O chefe dos chefes. Título máximo na hierarquia da máfia italiana.
[4]
Meu filho em italiano.
[5]
Protagonista de O Homem da Máfia, primeiro livro da série Família Carbone.
[6]
Protagonista de O Senhor da Máfia, terceiro livro da série Família Carbone.
[7]
Bairro histórico com antigos armazéns e fábricas de tecidos, que agora abrigam
lojas de tecidos e boutiques de moda. Além disso, a região também tem
condomínios, escritórios e estúdios de artistas. Há também uma cena
gastronômica agitada que oferece uma combinação de restaurantes
internacionais badalados e locais tradicionais.
[8]
Montréal-Est é uma cidade localizada na província de Quebec, no Canadá.
[9]
Ela é uma hacker espevitada, colorida, bocuda e boa de briga. Lexie é
protagonista de Nas Garras da Máfia, segundo livro da Série Família Carbone.
[10]
A KGB era a principal organização de serviços secretos da ex-União Soviética,
que esteve em funcionamento entre 13 de março de 1954 e 6 de novembro de
1991. Surgiu no período da Guerra Fria (período de conflitos de ordem política
entre Estados Unidos e União Soviética) e sua extinção coincidiu com o fim da
Guerra Fria e desintegração da União Soviética.

[11]
Paixão em italiano.
[12]
O deepfake é uma tecnologia usada para criar vídeos falsos, porém bem
realistas, com pessoas fazendo coisas que nunca fizeram de verdade ou em
situações que nunca presenciaram. O algoritmo utiliza inteligência artificial para
manipular imagens de rostos e criar movimentos, simulando expressões e falas.
[13]
Consigliere ou conselheiro é às vezes visto como o braço direito do Don.
Participam da mediação de disputas, atuam como representantes da família em
situações de risco e frequentemente são a ligação entre o Don e o aspecto
judiciário ou político.
[14]
Protagonista de O Homem da Máfia, primeiro livro da Série Família Carbone.
[15]
Os Carabins de Montreal são as equipes esportivas masculinas e femininas
que representam a Université de Montréal em Montreal, Quebec, Canadá.
[16]
É o nome dado para uma zona da internet que não pode ser detectada
facilmente pelos tradicionais motores de busca, garantindo privacidade e
anonimato para os seus navegantes. É formada por um conjunto de sites, fóruns e
comunidades que costumam debater temas de caráter ilegal e imoral.
[17]
Moça em italiano.
[18]
Meu filho em italiano.
[19]
Protagonista de O Senhor da Máfia, terceiro livro da Série Família Carbone.
[20]
Pai ou papai em italiano.
[21]
Princesa em italiano.
[22]
O Monte Royal é um monte localizado dentro do Parque de Monte Royal.
Ambos estão localizados logo ao norte do centro da cidade de Montreal, Quebec,
Canadá. O parque de Monte Royal possui uma área de mais de 200 hectares, e é
uma das principais atrações turísticas da cidade.

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