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Este livro contém cenas de sexo e violência que podem ser

consideradas como possíveis gatilhos. Não leia se você se sentir


desconfortável. No entanto, a autora não concorda com tais
ações.
Este é um romance que tem como pano de fundo a máfia
italiana, mas se anseia encontrar cenas de abuso extremo, uma
história sombria, detalhes sobre negociações dentro da máfia e
burocracia ou tortura, este livro é um romance. Desconsidere a
leitura. O foco aqui é nosso casal principal e seu
relacionamento.
Mia Salvatore

O diabo me mostrou seu rosto hipnótico no meu vigésimo


aniversário, ele me fez dançar em suas sombras, mesmo eu temendo o
escuro, e quando ele me viu completamente indefesa, ele cravou suas garras
em mim, sussurrou asperamente em meu ouvido, ele não quer apenas meu
corpo, ele quer minha alma, para quebrar e arruinar até que não haja mais
nada. Dário Ruggiero, capo da Cosa Nostra. Cruel. Arrogante. Impiedoso e
brutalmente bonito. Ele apenas assumiu que eu era dele e fez da minha vida
seu inferno particular.

Dário Ruggiero

A máfia é minha vida, mas ela era minha obsessão. Mia Salvatore,
filha do capo da Outfit, ela está tentando escapar do nosso casamento há
algum tempo, tornando nosso jogo o mais agradável possível. Sua punição
será minha recompensa... Mas quando suas íris azuis colidem com as
minhas, algo acontece, eu vejo sua alma e toda a escuridão que a cerca. E
eu a quero para mim, não apenas por uma noite, mas por toda a vida.
Sumário
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Epílogo
Prólogo

Cinco meses antes…

Meu coração retumbava no peito, sentindo cada batida da


música vibrar, despertando sensações avassaladoras. Abro os olhos,
e Milena envolve-me em seus braços, ambas na mesma sintonia.
Minha gêmea sorri brilhantemente, seus olhos azul-turquesa
crepitando calor e cumplicidade.

Esta era a nossa noite, comemoramos o nosso aniversário


de vinte anos e, embora não sejamos idênticas, olhar para ela é
como ter minha alma refletida em um espelho, Milena é a segunda
metade do meu coração. A boate estava lotada, e a pista de dança
fervia com pessoas dançando freneticamente.

Levo meu dry martíni aos lábios saboreando o gosto suave


da bebida, em seguida, alcanço a azeitona no fundo da taça e faço o
seu caminho entre os meus dentes, consciente que pares de olhos
cheios de luxúria estão focados no meu pequeno show. Passo a
minha taça para Milena, que nega com um sutil sorriso tímido.

Ela é doce, e espero que ninguém destrua isso, é o que


mais amo nela. Mãos ásperas e cheia de veias agarram o meu
quadril e olho por cima do ombro para ver um loiro com um olhar
selvagem moldar o seu corpo no meu, arrancando-me um suspiro.
Minha irmã também é encurralada por outro cara de olhos verdes e
cabelo castanho, que sussurra em sua orelha a deixando corada.

Mordo o lábio inferior com uma sensação estranha


borbulhando em meu peito e, de repente, como se o ar tornasse
espesso, senti os pelos do meu corpo eriçarem, minha pele arder e
vibrar e então meus olhos se ergueram para cima; no topo da
escada, uma figura me chamou a atenção.

Seus ombros largos são maiores que a própria vida, vestido


em um elegantíssimo terno preto. Sob a luzes de néon vermelha e
dourada piscando em curtos intervalos, sombras se projetaram
sobre ele, lambendo o seu rosto e sua expressão dizia que esse
homem poderia facilmente se passar pelo ceifador da morte.

Ele era diabolicamente bonito e sua aura sombria


despertava algo escuro dentro de mim. Seu olhar continuava
perfurando os meus, e o loiro imediatamente desapareceu como um
truque de mágica. Retornamos para a batalha de olhares e o seu
estava em vantagem. Era inquietante, cruel, profundo, me causando
arrepios por todo o meu corpo. O estranho parece gostar de jogos,
pois passa a língua pelos dentes, os olhos brilhando algo
escaldante, que dilui a cada segundo que seus olhos continuam nos
meus.

Milena toca minha bochecha, me fazendo desviar os olhos


para longe do homem que revirava as minhas entranhas, cujo olhar
alertava para ficar longe, ao mesmo tempo em que sua beleza atrai
como o canto de uma sereia. Milena sussurra seu nome suavemente
em minha orelha e, de olhos arregalados, tento o meu melhor para
não olhar novamente para o italiano considerado o mafioso mais
cruel e sanguinário de toda Sicília. O próprio diabo na terra. Milena
tem razão.

Eu devia ter dado meia-volta e ir embora, mas aqueles


olhos azuis luxuriosos me prenderam no lugar com uma espécie de
feitiço macabro. Ele observava-me do alto da escada, em sua altura
imponente, olhos vorazes, sorriso desafiador, como quem dizia em
alto-relevo que iria me corromper, torcer-me até não restar mais
nada. E foi o que ele fez.

Dário Ruggiero devastou o meu mundo, tornando todo


cinza, um caos perfeito depois da guerra, ele manchou a minha
alma e tornou-a tão sombria quanto ele.
Capítulo 1
Chicago

Espio lá fora, observando os guardas do meu pai espalhados pelo


pátio. Aperto a alça da mochila em minhas mãos trêmulas, medindo o quão
alto é o quarto até chegar ao chão.

Milena funga e anda até mim com a corda que ela roubou do galpão
do papai. Ele jamais suspeitaria dela. A doce e obediente, diferente de mim,
a gêmea malvada. Seus olhos azuis brilham com lágrimas enquanto um
suspiro trêmulo escapa de seus lábios.

— Você não precisa ir, Mia. Daremos um jeito. Papai não pode
obrigá-la a casar com o Ruggiero.

Eu fecho os olhos com força, esfregando levemente a minha


têmpora.

Milena é tão inocente que às vezes sua inocência me irrita. Ela sabe
que papai já tomou a sua decisão, ele e Enrico decidiram o meu destino sem
ao menos me consultar.

Faço uma pausa e acaricio sua bochecha, seu olhar doce é como um
bálsamo para a minha alma atormentada. Milena lembra muito a nossa mãe.
Doce, gentil e acolhedora. Engulo um nó na garganta, sentindo o peito doer.
Se mamãe fosse viva, jamais deixaria isso acontecer. Ela sonhava em ver
suas filhas na faculdade, formadas, longe desse mundo fodido. Papai
prometeu isso a ela, no entanto, quebrou a sua promessa.
Os rumores são que a Outfit está em guerra com algumas
organizações e tem perdido muito com isso, além dos soldados abatidos em
confronto, dinheiro, fama e poder. Um capo não pode ser visto como fraco.
E isso, definitivamente, seria o fim do mundo para o meu pai.

Mas não posso deixá-lo decidir a minha vida, isso acaba agora.

Giovanna, a minha meia-irmã caçula, se aproxima e segura as


minhas mãos com as palmas viradas para cima, colocando algo sobre elas.
Um envelope branco.

— Não é muito, mas foi o que eu consegui juntar em três meses.

Pego o envelope em minhas mãos e o abro, choque permeando


minha face. Levo uma mão à boca e ofego, lágrimas escorrendo pelo meu
rosto.

— Por que está me ajudando?

Suas sobrancelhas ruivas se juntam e ela encolhe os ombros.

— Você é minha irmã… — Seus lábios se tornam uma linha fina e


imediatamente ela desvia o olhar, mas não a tempo de eu ver uma lágrima
solitária escapar dos seus olhos castanhos.

Giovanna e eu não somos tão próximas como ela é com Milena e,


apesar de papai tê-la concebido enquanto se dizia estar de luto pela mamãe,
eu a amo. Diferente de nós, ela é ruiva e tem olhos castanhos cor de mel, é
espontânea, corajosa e tem pavio curto.

Mordo o lado interno da minha bochecha e a puxo para um abraço,


segundos depois, sinto os braços delicados de Milena.
— Eu vou sentir a sua falta, Mia — Milena sussurra com a voz
chorosa.

Giovanna se afasta e limpa o rosto com o dorso da mão, ela é como


o nosso pai, não quer demonstrar fraqueza nem por um mísero segundo.

— Agora vá, Mia. Antônio não vai demorar para voltar ao seu
posto e sabe como o idiota do nosso irmão adora checá-los todas as noites.

Arg! Só de ouvir falar o nome daquele traidor minha pele começa a


pinicar. Apunhalada pelo meu próprio irmão. Não posso acreditar. Assinto
e, antes que eu possa descer, Milena segura meu pulso.

— Não procure o Jason. Se papai souber que não é mais virgem, irá
matá-lo. E isso seria um escândalo e traria visibilidade para os negócios
dele. — Claro, quando ela diz negócio, se refere à grande sujeira debaixo
do tapete. Drogas, jogos de azar e suspeito que até prostituição.

Mordo a língua pronta para contestá-la, mas Milena tem razão. O


pai do Jason é um juiz muito famoso de Chicago e o mais odiado. Ele é
conhecido por ser implacável nos tribunais e se tornou o inimigo número
um do capo da Outfit, meu pai. Se ele souber que me envolvi com o filho
do seu pior inimigo, o inferno congelará.

Mas não há nada que ele possa fazer, Jason e eu nos amamos e, de
jeito nenhum, me casarei com um homem de má reputação que se tornou o
capo da Cosa Nostra e se satisfaz espalhando um rastro de sangue por onde
passa.

Os olhos de Milena continuam fixos em mim, com uma súplica


silenciosa vibrando através deles.
— Tudo bem — respondo-a em um fôlego.

— Não irei. — Cruzo os dedos atrás das costas, forçando um meio-


sorriso.

Ela solta o ar lentamente e acena com a mão.

— Boa sorte, Mia. Quando puder, nos mande mensagem.

— Obrigada — agradeço-a, sentindo borboletas voarem no meu


estômago. Não olho na direção das minhas irmãs, apenas me viro e começo
a descer a sacada. Observo o pátio parcialmente vazio, exceto pelos cães de
guardas adormecidos em seus postos. Sorrio, agradecendo mentalmente a
Giovanna, que colocou sonífero na água deles, ela pensou em tudo. Sua
mente astuta me surpreendendo outra vez.

Olho para baixo assim que as pontas dos meus pés tocam o chão.
Solto a corda que é imediatamente puxada para cima e corro em direção ao
muro de pedras da mansão. Não há câmeras aqui, e graças a Deus conheço
cada centímetro que possuem pontos cegos. Obrigada, Enrico. Sua
irrevogável vontade de agradar o nosso pai será a sua ruína. Ele é péssimo
em coordenar a segurança, assim como os seus homens.

Olho para o meu relógio no pulso e meu coração começa a acelerar


no peito. Vinte minutos, é o tempo que tenho para dar o fora sem ser vista.
Percorro o jardim pela penumbra da noite e avisto o muro de pedras,
adornado com uma enorme trepadeira. Olho para trás uma última vez e jogo
minha mochila; assim que escuto ela cair do outro lado, subo em uma
velocidade impressionante. Afinal, anos no balé me serviram para alguma
coisa.
Alcanço o topo de pedra e me abaixo quando a luz central do pátio
é ligada. Ouço algumas vozes e uma movimentação estranha, mas, antes
que eu possa recuar e me acovardar, pulo direto para a liberdade.

Até nunca mais, papai!


Capítulo 2

Duas semanas depois…

Minha mente está um caos, depois de tudo, essas duas semanas


pareceram uma eternidade. Fiquei indo de pousada em pousada, apagando
qualquer registro meu que seja. Meu pai tem olhos por toda Chicago e
aposto que promoveu uma verdadeira caçada atrás de mim. Não posso
arriscar e deixar que ele me encontre, seria o meu fim.

Aperto a alça da minha mochila com força, a tensão cada vez mais
forte, dominando cada fibra do meu corpo. Certamente tenho um desejo de
morte, prometi para a Milena que não o procuraria, mas eu não posso me
ajudar. Estou uma bagunça. E só Jason pode me tirar da minha miséria.

Toco a campainha mais uma vez, soprando nervosamente uma


mecha de cabelo da minha face. Segundos se passam e a porta é aberta,
revelando um par de olhos castanhos brilhantes e um sorriso devastador.
Observo seu cabelo loiro úmido e torso nu perfeitamente tonificado.

Jason dá um passo à frente, enlaçando a minha cintura.

— Senti sua falta — sussurra rente a minha orelha, plantando um


beijo suave no topo da minha cabeça.

Respiro o aroma limpo da sua loção pós-barba e sabonete, sentindo


meus músculos relaxarem e se derreterem em seus braços. Afasto-me uma
polegada dele e beijo seus lábios.
— Também senti sua falta e preciso da sua ajuda — sussurro,
deslizando meus dedos pelos seus ombros.

Suas sobrancelhas se juntam, e ele me puxa para dentro, fechando a


porta atrás de mim.

Jason se afasta, seu rosto está pensativo enquanto anda até a sala.
Eu o sigo em silêncio, estudando a sua reação repentina. Ele estala a língua
e se vira para mim.

— Por favor, não diga que está grávida, está? — Com uma careta,
eu recuo.

— Claro que não — retruco, observando alívio tomar conta das


suas feições.

Jason passa as mãos pela face, se jogando no sofá com um


praguejo.

— Porra! Você me assustou.

Encolho os ombros com um aperto no peito. Confesso que não


desejo ter filhos tão cedo, mas sua reação me incomodou. Balanço a cabeça
lentamente, afastando qualquer pensamento distorcido que seja, e me
concentro no real motivo de eu estar aqui.

Largo a mochila sobre o tapete branco e sento-me ao seu lado.


Jason segura a minha mão e começa a acariciá-la, desenhando círculos
imaginários em minha pele. Encaro seus olhos e, antes que eu pudesse
processar, as palavras começam a jorrar sem parar.

— Eu estou noiva. — Solto em um fôlego. Seu toque


desaparecendo assim que termino de falar.
— Eu não estou aceitando isso, meu pai fez tudo sem o meu
consentimento — derramo, esperando a sua reação, que nunca vem. — Eu
disse que não estou aceitando. Jason, eu não posso me casar com um
homem que não amo — disparei, a essa altura, lágrimas começavam a
grudar em meus cílios. — Eu tenho você. — Ele suspira e se levanta, indo
para longe, seus olhos travando uma batalha interna.

— Mia… Eu não posso estar envolvido romanticamente com


ninguém.

Eu abro a boca, em choque com sua fala.

— Não pode? — Eu estalei de volta.

Jason fecha os olhos, brevemente balançando a cabeça.

— Pensei que tinha entendido, Mia. Tivemos bons momentos, mas


eu não prometi nada a você.

— Mas eu…

Ranjo os dentes quando percebo o seu olhar de pena em minha


direção.

Filho da puta! Ele me fez pensar que eu era especial. Quatro meses
de pura mentira, apenas para entrar na minha calcinha. Dou as costas para
ele, exausta. Nada que ele fale ou faça fará eu me sentir melhor. Ele tinha
me arruinado e não sente remorso por isso.

— Mia, fale comigo… — Suas mãos descansam gentilmente sobre


os meus ombros, e eu pulo, soltando-me do seu toque.
— Está tudo bem. Se não se importar, eu quero tomar uma ducha
antes de ir embora — digo calmamente, tentando aprisionar o desejo feroz
de arrancar seus belos olhos, ou pau.

— O que precisar, Mia.

Sigo até o seu quarto com as mãos fechadas em punho,


amaldiçoando-me sem parar. Como fui estúpida, Deus! Jason nunca sentiu
nada por mim, tudo não passou de sexo para ele.

Engolindo o nó que se formou na minha garganta, retiro minhas


roupas e largo em cima da sua cama, evitando olhar em sua direção e ser
consumida por inúmeras lembranças, como a noite em que perdi a minha
virgindade e as seguintes, quando ele me mostrou o prazer de várias formas.

Arg!! Não faça isso, Mia. Jason é um idiota e não vale uma lágrima
derramada sequer.

Ando até o banheiro e deslizo o box, ligando o chuveiro, deixando


que a água corra livremente pelo meu corpo. Não posso fraquejar agora,
chorar não adiantará nada. Preciso manter minha mente limpa e pensar no
que farei a seguir. Meu pai pode me encontrar a qualquer momento e quem
não garante que o embuste do meu noivo não está fazendo o mesmo?

Sinto um arrepio na espinha só de imaginar essa hipótese. Desligo o


chuveiro e saio. Fecho os olhos com força quando me dou conta que deixei
minha mochila na sala. Vejo uma camisa de Jason sobre a cama e a pego,
vestindo-a rapidamente. Ele não irá se importar. Claro que não.

Reviro os olhos.
Ele costumava falar que sempre adorou ver suas camisas em meu
corpo. Idiota!

Giro em meus calcanhares, congelando em seguida. Um estrondo


estala na sala, acompanhado de um gemido gutural de Jason. Arregalo os
olhos quando sua voz assombrada é ouvida.

— Q-uem são vocês? Por favor… leve o que quiserem, eu não me


importo.

— Quieto! — alguém rosna para ele.

— Se colaborar, prometemos que não irá sofrer… muito!

A sala se irrompem em risadas, mas eu não reconheço quem


poderia ser.

Não são os homens do meu pai, o que me causa alívio.

Um silêncio se estende e, antes que eu possa pensar em me


esconder, uma mão áspera agarra meu braço direito. Grito, debatendo-me,
tentando me livrar do seu agarre.

— Andiamo! — rosna em italiano, arrastando-me para a sala.

Olho para seu rosto e minhas pernas vacilam brevemente. Olhos


azuis revoltos como oceano em um rosto cruelmente bonito. Alessio!
Droga. O irmão mais novo de Dário.

Isso só pode significar uma coisa: ele está aqui.

— Não. Não… — Balanço a cabeça veemente. — Por favor, deixe-


me ir — sussurro em uma tentativa de persuadi-lo.
Alessio sorri, exibindo uma fileira de dentes brancos.

— Tarde demais, bella — sopra, forçando-me a andar à sua frente.

— Seja inteligente e colabore. Agora, Andiamo.

Ele me empurra mais uma vez, incentivando os meus passos


desajeitados. Alcançamos a sala em passos largos e a cena que vejo diante
dos meus olhos faz o meu estômago se contorcer.

Jason de pé, contido por dois brutamontes, enquanto Rugiero o soca


sem piedade. Poças vermelhas começando a se formar sob os seus pés. E,
quando o meu olhar encontra o dele, levo as mãos à boca, sentindo o gosto
da bile. O rosto do meu namorado irreconhecível, Dário havia feito um
estrago.

— Olá, bella. — Meus olhos praticamente saltam quando encontra


os seus. Havia exatamente cinco meses que não o via desde a última noite
naquela maldita boate, e sua presença ainda causava arrepios.

Com um terno preto bem alinhado ao seu corpo, ele se afasta da sua
vítima, fechando o punho, avaliando o líquido carmesim em sua pele.

— Não estou surpreso de encontrá-la aqui, Salvatore sempre foi


fraco, obviamente, não deu limites para os filhos. — Seu olhar sombrio se
ergue, prendendo o meu, e a maneira que ele me olha garante que eu terei
um inferno a pagar.

Em passos lentos, ele anda em minha direção, parecendo um anjo


da morte, olhos cruéis, sorriso perverso e uma postura de um rei que não
aceita ser contrariado. Dário é dono de uma beleza quase obscena, feições
duras, queixo cinzelado, fios escuros e, por mais que ele pareça um modelo
saído de uma capa de revista, o perigo vibra por cada poro do seu corpo,
alertando-nos para ficarmos longe.

Já tinha o visto em algumas manchetes, sempre acompanhado dos


seus irmãos. Alessio, o seu irmão caçula, e Pablo, irmão do meio e
conselheiro.

— Quatro meses se esgueirando para encontrá-lo — disse com


desgosto. — Quatro meses abrindo essas belas pernas para ele. — Suas
palavras são carregadas de escárnio.

— Me diga, Mia. Eu devo matá-lo?

O rosto de Jason se contorce em uma mistura de pânico e agonia.


Ele tenta falar algo, mas é silenciado por outro soco no estômago. Por mais
chateada que eu esteja com ele, não posso deixar que Dário o mate. Corro
em sua direção, mas sou impedida de chegar até ele.

— P-are! — brado, lágrimas brotando dos meus olhos. — Deixe-o


ir. Ele não sabia de nada.

Viro-me para encarar o meu noivo, observando sua expressão


escurecer.

— Está me dizendo que o seduziu?

Fico em silêncio, pois não é totalmente uma mentira. O conheci em


um pub. Jason foi tão gentil e atencioso, que, quando dei por mim, já
estávamos muito envolvidos.

Comendo nossa distância, Dário agarra meu queixo e obriga-me a


olhá-lo.
— Responda! — exige, intensificando o seu agarre. Estremeço,
levando minhas mãos para as suas, tentando aliviar o seu agarre. — Mia…
— Sua voz é mordaz deixando-me sob aviso.

Deixo minhas mãos caírem em ambos os lados do corpo e suspiro.


É inútil lutar. Dário é uma muralha de músculos e seria capaz de esmagar os
meus ossos se desejasse.

— Sim — murmuro fracamente, lutando contra as lágrimas.

Seu olho esquerdo se contrai, assim como o seu maxilar se aperta.


Ele me empurra para o lado, e caio como um saco de batatas, sendo
acolhida pelo sofá. Ele avança para Jason e envolve a sua garganta,
esmagando-a com força.

Jason mal se debate, sua face está injetada, perdendo a cor natural.
Ofego, gritando para Dário parar, mas ele parece estar em uma espécie de
transe, determinado a expurgar a vida do homem que ele considera seu
rival.

Se ele o matar, nunca irei me perdoar, terei sangue em minhas


mãos, será a minha culpa, afinal, no fundo, eu sempre soube que isso
aconteceria. Não há como escapar desse mundo cruel e sangrento com vida.

— Porra! — Ouço uma voz conhecida exclamar.

Encolho-me quando seus olhos escuros disparam entre mim e a


cena à frente. Sua face em uma fúria crescente, como se a qualquer
momento ele fosse explodir.

— Estúpida! O que você? — irrompe, agarrando um punhado do


meu cabelo, levantando-me no processo.
Dário joga Jason no chão e se vira para encarar o meu pai.

— Decepcionado, Salvatore? — ele zomba, seu olhar totalmente


sombrio.

— A quem eu devo culpar? A sua falta de pulso com sua filha, ou à


incompetência dos seus homens que a deixaram escapar no meio da noite
sem ser vista?

Meu pai rosna, suas mãos tremendo sem parar. Ele me solta,
jogando-me contra o sofá.

— Cuidado com o que diz, Ruggiero! — A voz do meu irmão


enche o cômodo, trazendo ainda mais animosidade para ambos.

Alessio dá um passo na direção de Enrico com as mãos no coldre


em sua cintura, mas é contido por Pablo.

— Ela foi encontrada no apartamento de outro homem. Estava


claramente abrindo as pernas para ele. Quem deve ter cuidado, Enrico?

Meu estômago afunda com as palavras nada gentis de Alessio.


Fecho os olhos em pânico, lágrimas marcando as minhas bochechas e,
quando reabro, encontro o olhar enojado do meu pai.

— Eu vou matá-la! — assegura no momento em que sua palma se


conecta com o meu rosto.

Minha pele arde e leva apenas um segundo para outro golpe


seguinte. Meus dentes rangem um no outro e o gosto metálico explode na
minha boca.
— Por que tem que ser tão estúpida, Mia? Era só escutar e acatar as
minhas ordens, mas não. Você preferiu trazer a desonra para a família —
rosna, cerrando os punhos.

— Acabamos aqui! — declara, me fazendo encolher, esperando


pelo próximo golpe. Fecho os olhos mais uma vez e um longo e excruciante
silêncio toma conta da sala.

— Não!

Surpreendida, abro os olhos e vejo Dário agarrando firmemente o


punho do meu pai no ar. O suor brota na minha pele e arrepios se formam
na minha coluna. A maneira mortal que um fulmina o outro é assustador.

— Largue! — meu pai grunhe.

Dário o larga, mas não recua.

— Deixe seus dramas para quem se importa — Dário diz e lança


um olhar rápido, como se avaliasse o meu estado. Meu rosto doía como um
inferno, e sei que essa foi uma pequena demonstração do que me espera
quando chegarmos em casa. Não é como se fosse a primeira vez, mas ele
nunca foi tão furioso como agora.

— Sou um homem de palavra, apesar do meu próprio sangue me


apunhalar pelas costas. Não precisamos desfazer o acordo. Case-se com
Milena, a gêmea de Mia. Ela será uma esposa perfeita. É pura, doce, gentil.
Não terá dor de cabeça com ela, eu garanto.

— Não! — grito, recebendo um olhar de alerta dele, mas não me


importo. Sei o que ele fará comigo, mas não posso deixar que ele faça a
mesma coisa com minha irmã gêmea. Isso nunca.
— O senhor não pode fazer isso. Milena não foi feita para essa
vida. — Ergo o queixo, enfrentando-o pela primeira vez. — Nenhuma de
nós.

Os lábios de papai se curvam em desgosto, como se não pudesse se


importar menos.

Ignorando não só as minhas palavras como minha presença, ele


continua:

— Deveria ter sido Milena desde o início. Dessa vez, fará um ótimo
casamento, Ruggiero.

O maxilar de Dário se contrai e, por breves segundos, seus olhos


deslizam até os meus.

— O que acontece com ela?

— A mandarei para um convento na Suíça, onde passará o resto


dos seus dias — responde sem hesitar, seu olhar assassino direcionado a
mim, em choque. Sempre soube que meu pai era um homem cruel, mas
prová-la de maneira tão desumana me dilacera por dentro. Ele me odeia e
esse sentimento não poderia ser mais recíproco.

— Nesse caso, não aceitarei a sua segunda oferta.

Um sorriso frio se desenrola em seus lábios, o que claramente não é


um bom sinal.

— Continuo com a primeira. Mas será nos meus termos.

Deixo escapar um suspiro, negando veemente. Mil vezes o


convento do que me casar com um mafioso. Minha mãe não teve escolha,
morreu sendo humilhada e subjugada pelo escroto do meu pai, não quero ter
o mesmo destino, e nem que seja o das minhas irmãs.

— Ela não é mais pura. Tem certeza que a quer depois de tudo?

Enrijeço, mesmo querendo evitar, suas palavras cruéis cavaram


fundo o meu peito.

— Como disse, será nos meus termos.

Alessio e Pablo trocam olhares com o irmão, baixando-os em


seguida, Dário é o capo, não deve explicar suas ações. Meu pai parece
surpreso, mas se recupera rapidamente.

— Bem, faça o que bem entender. Contanto que a leve para a


Sicília imediatamente.

Sem ao menos olhar na minha direção, ele dá as costas e vai


embora, Enrico olha-me brevemente, antes de fazer o mesmo, em seguida,
seus homens seguem o seu encalço.

Minha visão borra por conta das lágrimas e a sala começa a girar.
Um soluço estrangulado escapa dos meus lábios, e eu mal consigo me
controlar. Uma mão agarra o meu braço e sou erguida do sofá sem nenhuma
gentileza.

— Leve-a para o hotel, e fique de olho nela — Dário ordena. —


Tenho um assunto inacabado para resolver.

Alessio acena, novamente arrastando-me porta afora.

— O-quê? Não — brado, lutando com o seu aperto.

— O que ele vai fazer?


Alessio fica em silêncio. Um sorriso cruel brincando em seus
lábios. Quando alcançamos o elevador, ele me empurra para dentro, mas
não antes de ouvirmos um estampido.

Meu corpo paralisa e o ar é drenado dos meus pulmões.

— I-sso é um… tiro? — consigo perguntar, minha voz é apenas um


sussurro.

— Não achou que acabaria no felizes para sempre, achou? —


Arqueia uma grossa sobrancelha, seus olhos deslizando por todo o meu
corpo.

— Você provocou-o. E tenho certeza que ele não acabou. Seja


inteligente e não o enfrente para o seu próprio bem.

— Isso é uma ameaça?

Cruzo os braços na altura do peito. Ele se aproxima, seus olhos


brilhando puro sadismo.

— Não, bella. Tome-o como um aviso.

Me afasto dele, puxando o ar com força. Eu tenho que fugir. Não


posso me casar e ir para a Sicília com aquele homem. Alessio tem razão, ele
não acabou, o olhar que ele me lançou é a confirmação disso. Dário fará de
tudo para me destruir. Fui tola ao pensar que nunca mais o veria na minha
frente.
Capítulo 3

Observo em silêncio a queda e ascensão do seu peito. Respiração


suave, expressão pacífica. Poderia facilmente se passar por um anjo. Fecho
as mãos punho, manchados com sangue daquele stronzo.

Quando Salvatore, o capo da Outfit finalmente concedeu a mão da


sua filha em casamento, não houve hesitação, por mais que Pablo, meu
braço-direito e conselheiro, não aprovasse a ideia, alegando que ela é nova
demais, criada fora das nossas tradições, em uma geração que tudo pode e
não há consequências, Mia provou que seus receios tinham fundamentos e
isso foi um golpe duro diretamente no meu orgulho.

Eu poderia ter aceitado desposar sua irmã, garanto que ela seria a
decisão mais acertada, ou simplesmente deixaria que seu pai a enviasse para
longe, mas algo me impediu. Como naquela noite que a vi pela primeira vez
na minha boate, com suas curvas perigosas e um olhar hipnótico capaz de
colocar qualquer rei em seus joelhos. Desde então, essa mulher tem estado
sob minha pele como uma doença incurável, se transformando em uma
violenta obsessão. Como consequência, um desejo voraz tomou conta de
mim, a fúria nublou os meus sentidos e quero fazê-la pagar por essa afronta.
Ninguém rejeita um Ruggiero e saí impune.

No início, se tratava de uma obsessão que logo seria saciada, com a


vantagem de ter a união entre famílias, negócios vantajosos e um acordo de
paz. No entanto, não vejo mais por esse ângulo.
Essa mulher de rosto angelical e curvas pecaminosas acabou de
despertar a fera adormecida em mim. Irei torcê-la, destruí-la, e então a farei
se curvar aos meus pés.

Um gemido escapa de seus lábios rosados entreabertos, suas


pálpebras vibram e lentamente seus olhos se abrem. Ela fita o teto por um
momento, como se tentasse lembrar onde estava e quando isso acontece, ela
praticamente salta da cama, ficando em seus próprios pés.

Meu olho direito se contrai ao notar seu corpo ainda coberto pela
camisa daquele garoto.

Alessio deveria ter cuidado disso.

Estúpido!

O conheço bem o suficiente para saber que ele a deixou usando isso
de propósito.

Ela sibila, estudando o espaço com seus grandes olhos azuis


assustados. Quando percebe a minha presença, Mia recua, seus lábios
apertados e seu corpo em estado de alerta.

— Ciao, bella. Dormiu bem? — pergunto, minha voz


perigosamente controlada.

Mia estremece, recuando ainda mais até suas costas estarem


coladas contra a parede. Seus olhos disparam para o meu corpo e vejo
quando engole em seco, suas sobrancelhas marrons quase alcançando o
couro cabeludo.

— O-que fez com ele?


Acaricio minha barba por fazer, deixando à mostra os nós dos meus
punhos esfolados. Não há vitória sem dor, e não me arrependo de ter
espancado aquele stronzo até levá-lo à morte.

— Você o matou! — exala, seu rosto perfeito em completa agonia.

Puxo uma longa respiração, tentando controlar o meu


temperamento. Levanto-me em um rompante e ando até ela. Quando a
tenho ao meu alcance, deslizo o meu indicador por sua bochecha. Sua pele é
quente e macia sob o meu toque, e a vontade de saboreá-la me atinge em
cheio. Eu poderia tomá-la se eu quisesse. Ela me pertence.

— Espero que isso te sirva de exemplo, bella. Não sou um homem


bom, e muito menos tolerante. — Seguro sua nuca e me aproximo, roçando
com os lábios o lóbulo da sua orelha.

Mia enrijece, e juro que posso escutar as batidas frenéticas do seu


coração, apesar de ver repulsa vibrando em seus olhos, não passa
despercebido sua respiração rápida e ofegante e como seus pelos estão
todos eriçados.

Bom, bom. Mia não é totalmente imune como demonstra ser.

— Eu não esperava que fosse. Você é um homem cruel, isso


significa ser desprovido de qualquer valor e sentimento humano.

Os cantos dos meus lábios se enrolam, mas nem seu queixo erguido
e sua voz implacável são capazes de apagar a sua imagem vestida com a
camisa dele.

Enquanto alcanço a minha faca de caça nas minhas costas,


mantenho meus olhos fixos nos dela, não perdendo uma reação sequer.
Dou um passo à frente e, em um movimento rápido, agarro-a pelo
colarinho e levo a lâmina de carbono à frente do seu corpo, deslizando-a
pelo tecido preto, o transformando em dois.

De olhos arregalados, Mia grita, e meu sangue pulsa, vislumbrando


cada centímetro de pele cremosa exposta.

Meus olhos disparam para os seus seios medianos e suculentos com


bicos levemente rosados. Tenho que respirar fundo para não a jogar nessa
cama e devorá-la como um animal sedento.

— D-eus! Você é louco! — sibila, cruzando os braços em uma


tentativa inútil de se resguardar dos meus olhos.

Sorrio. Tarde demais, bambina! Aproximo-me um pouco mais,


serpenteando minha lâmina por sua garganta, pressionando-a levemente
sobre seu ponto pulsante, observando seus olhos dobrarem de tamanho e
lentamente ela engolir em seco.

Continuo a explorá-la, descendo pelo vale dos seus seios,


acariciando-os com a ponta. Seu peito vibra e a sinto prender a respiração.
Contorno o topo, fascinado com o contraste magnífico da sua pele.

Não ajuda que essa mulher esteja nua e à minha mercê, mas não
posso sucumbir aos meus desejos, por mais que eles estejam em um vórtice
violento, prestes a explodir dentro de mim.

— Descruze os braços — ordeno calmamente.

Sua boca se abre em choque e ela nega veemente.

Pressiono a lâmina novamente, dessa vez, arrancando um gemido


rouco dela. Ela olha para onde está a faca e percebe um filete de sangue
escorrer.

— É um jogo perigoso, Mia. Tem certeza de que saberá lidar com


as consequências? — indago, baixinho, não perdendo um vislumbre de algo
a mais no seu olhar além de medo.

Junta às sobrancelhas e de queixo erguido, ela descruza os braços,


ambos caindo ao lado do corpo.

Santo inferno!

Nunca uma mulher pareceu tão obscenamente deliciosa aos meus


olhos. Minha mente pisca alertas, irrompendo como rastro de pólvora.
Balanço a cabeça e a encaro, evitando deslizar para as suas curvas
pecaminosas.

Cazzo! Mas como me concentrar, sabendo que ela está nua, diante
dos meus olhos? Aperto maxilar ao mesmo tempo em que o agarre no cabo
da faca intensifica.

— Sábia decisão, bambina.

— Não tenho escolha, tenho? — retruca, desviando o olhar para o


outro lado.

Escorrego a lâmina para um seio, contornando um mamilo


apertado, que implora para ser tocado. Mia pode rosnar o quanto quiser,
mas seu corpo fala comigo e o que ele diz me deixa satisfeito.

— Não, não tem.

Em uma batida, seus olhos azuis como o mar do caribe estão nos
meus.
— O que acontecerá comigo, agora?

Sopro uma mecha loira do seu cabelo, afastando-a da sua face e,


com uma mão livre, circulo a sua cintura. Giro a faca, mantendo o cabo
para frente.

Meus lábios pairam a um centímetro dos seus, que se abrem


brevemente, pouco permitindo que eu sinta o calor suave da sua respiração.
Alcanço o seu ouvido e sussurro:

— O que eu quiser que aconteça. — Levo o cabo para o meio das


suas coxas, esfregando suas dobras lisas completamente encharcadas, eu
posso sentir toda a sua maciez à medida que eu as provoco. Solto um
rosnado, contornando o seu clitóris e, responsiva, Mia salta em meus
braços.

— O-quê você está fa…

Silencio-a, pressionando o cabo mais uma vez, colhendo um


suspiro estrangulado. Giro-a com destreza, em sequências lentas e
preguiçosas, sentindo-a derreter em meus braços. Sua pele alva brilha,
enrubescendo com o suor, se formando por cada centímetro.

É uma visão caótica do prazer distorcido, de como quero assisti-la e


senti-la se contorcer sob o meu domínio. De como irei rompê-la sem o
menor remorso.

Mia solta um grunhido. Seus olhos permanecendo selvagens e


quentes fitando os meus.

— Você é minha, Mia. E não há nada que possa fazer para mudar
isso. — rosno, me afastando para longe, antes que eu perca a cabeça e faça
algo que me arrependeria amargamente.

Ela é uma puttana traidora e será castigada por sua afronta, ou não
me chamo Dário Ruggiero. Capo da Cosa Nostra.
Capítulo 4

Abro os olhos lentamente e imagens do que aconteceu na


madrugada me acertam em cheio. A morte de Jason e Dário se revelando
ser ainda mais cruel do que imaginava.

— Você é minha, Mia. E não há nada que possa fazer para mudar
isso. — Suas palavras carregadas de possessividade e fome ecoam como
uma maldição na minha mente.

Levanto-me, agarrando os meus joelhos com um suspiro aliviado.


O quarto está escuro e silencioso, embora eu suspeite que já seja dia.
Percebo, um pouco abaixo, uma camisola de seda na cor vinho e um roupão
da mesma cor descansando sobre o colchão.

O idiota deve ter deixado depois que voltei a dormir, o fato que ele
tem acesso livre ao quarto e me observa só aumenta a minha raiva.

Quando Alessio me trouxe para esse hotel e me trancou na


cobertura, o pânico se instalou com força e sinais de alerta piscavam sem
parar, imaginando os piores cenários quando o monstro do seu irmão me
alcançasse.

No entanto, Dário foi além de assustador, e algo me diz que não


parou por aqui.

Deslizo os meus pés para fora, andando em direção ao banheiro da


minha suíte. Graças aos céus, não fui obrigada a compartilhar a mesma
cama, o que ele poderia exigir depois de tudo.
"Será nos meus termos.” O que ele quis dizer quando murmurou
isso para o meu pai? Sinto no meu âmago que nada de bom partiria de
Ruggiero.

Olho a minha imagem no espelho e gemo internamente. Claramente


o reflexo de uma mulher que foi perseguida e sequestrada. Um sorriso
amargo escorrega dos meus lábios e fecho os olhos com força, mas reabro-
os disposta a não derramar mais nenhuma lágrima, pelo menos não hoje.
Preciso pensar em um jeito de escapar desse hotel, mas Alessio é um
empecilho. O cara parece uma sombra. Rápido e silencioso, ele sempre
aparece quando menos espero. Sei que há mais homens fazendo a
segurança, eu os vi quando deixamos o hotel de Jason. Terei que ser
paciente e esperar o melhor momento e então fugir.

Escovo os dentes com uma escova que encontrei no pequeno


armário do banheiro e lavo o meu rosto, retorno para o quarto, visto a
camisola e, em seguida, o roupão. Estou terminando de fechá-lo no corpo
quando a porta se abre de repente e Alessio passa por ela.

— Não sabe bater? — rosno entredentes, vendo o desgraçado sorrir.

— Vejo que acordou de bom humor, bella. Isso é ótimo — diz,


deixando uma caixa branca retangular com um laço vermelho em volta e
outra menor, da mesma tonalidade, em cima da cama.

— O café da manhã será servido na varanda em alguns minutos.


Peço que seja rápida. —Franzo o cenho, confusão estampada na minha
face. Ele aponta para a cama, precisamente para as caixas. — Vista o que
está aí dentro, em breve, alguém virá para cuidar da maquiagem e cabelo.
Meu coração dispara e engulo em seco, fechando minhas mãos em
punho, sentindo minhas unhas ficarem nas palmas, provocando uma dor
aguda.

— Por quê? — estalo.

Alessio me olha, seus grandes olhos castanhos ilegíveis.

— Não faça perguntas, não estou aqui para respondê-las. Apenas


faça o que é dito para fazer. Desgostosa com sua resposta, lhe dou as costas.

— Nesse caso, eu não sairei desse quarto — informo, escutando um


exalar profundo vindo dele.

— Dio, você não sabe a hora de calar? — resmunga, se afastando,


indo em direção à porta. — Se eu fosse você, não testava a paciência do
meu irmão, já lhe enviou ao limite.

— Foda-se o seu irmão — grito, virando-me para encará-lo. —


Foda-se todos os malditos Ruggiero.

Os punhos de Alessio se fecham e sua expressão se transforma em


algo sombrio.

— Nesse caso, esteja preparada para lidar com as consequências,


bella — atira de volta e, assim que gira em seus calcanhares, o seu celular
toca. Seus olhos desviam para os meus brevemente antes de ele atender e o
levar até a orelha. — Pronto! Alessio falando…

Ele sai porta afora e minha mente alerta que esse pode ser o
momento perfeito para a minha fuga. Devagar, cruzo a mesma porta que ele
e sigo por um breve corredor, encontrando a sala principal, onde alguns
homens já estão reunidos. Eles parecem distraídos, conversando entre si,
que não é difícil passar para o outro lado sem ser vista.

Olho para todos os lados, o suor brotando em minha pele, coração


acelerado como se estivesse no meio de uma corrida, mas isso não importa
agora, a não ser a minha liberdade.

Alcanço outra porta e congelo, é a suíte do Dário e só pensamento


de ele me pegar no meio da minha fuga faz o meu estômago se contorcer.

Fecho a porta com cuidado e continuo seguindo em frente. Mal


posso acreditar quando alcanço a porta principal e consigo sair sem
nenhuma interrupção. Corro para o elevador e, no minuto em que entro e as
portas se fecham, desabo, deslizando pela parede de aço com as mãos no
peito, sentindo o meu coração pulsar loucamente.

— Porra! Eu não posso acreditar. Isso foi muito fácil… —


murmuro. Toco a ponte do meu nariz, algo cutucando a minha mente. —
Fácil demais… — divago, sentindo um gosto amargo na boca.

Minha cabeça pende, frustração dominando o meu corpo. Dário não


é tão descuidado, não a esse ponto. Eu não sairia da cobertura sem a sua
permissão. Quando o elevador para no primeiro andar e as portas se abrem,
as minhas suspeitas se transformam em certezas.

À minha frente, está o meu perseguidor, trajando um terno azul-


royal muito elegante, acentuado em cada músculo do seu corpo, com cabelo
preto alinhado para trás, ostentando um sorriso de predador, prestes a
devorar a sua presa.

— Qual o problema, querida? Vai a algum lugar?


Balanço a cabeça, atordoada. Não! Isso não pode estar
acontecendo.

— Deixe-me ir… — peço. Minha voz é quase um sussurro.

Ele lambe os lábios, dando um passo à frente.

— Nunca! Você não entendeu ainda? — retruca, se aproximando


ainda mais.

Fecho os meus olhos, negando. Deus, como odeio esse homem!

— Sua vida pertence a mim, Mia. Você é minha.

— Não! — O empurro, correndo para longe. Não olho para trás


para ver se estão me seguindo, foco em apenas cruzar o hall de entrada.

Em poucos segundos, passo pela porta giratória e alcanço a rua.


Descalça e descabelada, enfrentando os olhares de desagrado e pena de
algumas pessoas.

Vejo uma viatura parada a poucos metros no meio fio e ando até
ela. Havia dois policiais conversando do lado de fora e, quando percebem a
minha presença, eles se empertigam.

— P-or favor, me ajudem. Eu fui sequestrada e consegui escapar,


mas eles ainda estão atrás de mim — solto em um fôlego, sendo acolhida
pelo policial mais velho, seus olhos claros se suavizam, demonstrando
preocupação.

O segundo se aproxima, estendendo uma garrafa de água. Pego a


garrafa das suas mãos e abro-a com um sorriso tenso de agradecimento.
— Respira, senhorita, e nos conte o que aconteceu desde o início,
assim, saberemos que medida tomarmos.

Meu pulso dispara e assinto. Droga! Não posso contar todos os


detalhes, principalmente sobre a máfia. Mas eu detesto mentir. Pense, Mia.

— Amore, mio.

Engasgo-me ao escutar a voz perigosamente calma de Dário atrás


de mim. Lágrimas começando a brotar dos meus olhos. Sua mão enlaça a
minha cintura, e eu congelo. Ele sorri cordialmente para os dois policiais e
os cumprimenta com firmes apertos de mãos.

— S-enhor Ruggiero… Como vai? — o policial mais velho diz


sorrindo, porém, não passa despercebido a tensão em seu corpo.

É claro. Dário tem todos comendo na palma da sua mão,


principalmente a polícia de Chicago. Que idiota eu sou.

— Muito bem, senhor Watson. Obrigado. — Sorri. — E como está


a sua família? Esposa, filhos? — O policial acena, seu sorriso brevemente
congelado.

— Estão muito bem. Obrigado por se preocupar.

— Imagina. É sempre um prazer — Dário debocha.

Babaca! Ele está o intimidando e se divertindo com isso.

— Policial Sanches. — Acena para o outro, que acena de volta,


permanecendo em total silêncio. — Espero que minha noiva não tenha
atrapalhado vocês. Peço desculpas por ela. Ela passou por momentos
difíceis, e não está lidando muito bem com isso.
Ele aperta a minha cintura quando termina de falar, a ponto de eu
engolir um gemido de dor.

Seus lábios se aproximam da concha da minha orelha e o calor da


sua respiração envolve minha pele.

— Vamos voltar para o quarto e você não tentará nenhuma outra


gracinha, ou eu quebrarei o seu pescoço. Fui claro? — Assinto, lágrimas
borrando a minha visão.

Ele beija o topo da minha cabeça e se afasta apenas para se


despedir dos policiais.

— Se arrependerá disso, Mia — diz baixinho, sua mão espalmada


na base da minha coluna.

— Não posso acreditar que fui tão ingênua de pensar que você me
deixaria ir facilmente — balbucio, sentindo a tensão irradiar por todo o meu
corpo.

Cruzamos a porta giratória enquanto caminhamos em direção ao


luxuoso hall de entrada. À frente, na recepção, alguns atendentes olhavam-
me com pena, antes de baixarem a cabeça.

Pelo visto, Dario não tem só uma forte influência com os policiais
lá fora, mas, sim, com metade de Chicago.

— Estúpida, você quer dizer — murmura, levando-me em direção a


um elevador privativo. — Não importa para onde corra, Mia. Eu vou
sempre encontrar você. Tenho influência por todo o mundo, pense nisso
quando tentar fugir outra vez.
Meus ombros se curvam diante do peso das suas palavras. O que
significa que não tenho a menor chance contra esse homem. Minhas pernas
vacilam, enquanto o meu coração está batendo tão rápido que estou
hiperventilando.

Respira, Mia!

Dário retira um cartão do bolso interno do seu terno e o desliza em


um painel. As portas do elevador se abrem e ele se vira brevemente para
dois seguranças que se aproximam.

— Fiquem alerta e cheque o perímetro. Posso ter visto um BMW


do outro lado da rua e algo me diz que estamos sendo observados.

— Sim, senhor. — Ambos acenam.

— Agora vão — Dário ordena, adentrando o elevador. As portas se


fecham e a atmosfera se transforma em algo denso e sombrio. — Espero
que meta nessa sua cabeça de uma vez por todas que não há a menor
possibilidade de você escapar de mim — alerta, seu maxilar apertado. —
Não com vida.

Congelo, estremecendo logo em seguida, a ameaça de Dário


reverberando por cada célula do meu corpo. Maldito! Isso não pode ser
verdade, embora eu sinta a minha resiliência desaparecendo lentamente.
Ainda assim, não irei dar o braço a torcer.

— Veremos! — Estupidamente me ouço dizer. Em uma batida,


Dário está em mim. Seus músculos rígidos, olhar selvagem, brutal,
despertando-me algo escuro, além do medo e horror estampados na minha
face.
Sua mão quente e viril agarra a minha garganta, a promessa que eu
vejo em seus olhos me diz que ele me fará engolir as minhas palavras ditas.
Capítulo 5

Sobrevivi ao inferno muitas vezes, fui torturado e desafiei a morte,


no entanto, sinto que estou perdendo a cabeça, só isso explicaria a minha
obsessão irrefreável por essa mulher. Mia Salvatore é sinônimo de rebeldia,
sua bravata sempre causando problemas. Quanto mais ela me renega e tenta
fugir, mas esse monstro obsessivo se alimenta e cresce dentro de mim.

Não há nada nesse mundo que eu goste mais do que um bom


desafio. Persegui-la, quebrá-la e subjugá-la tem se tornado o meu
passatempo preferido.

Observo seus olhos azuis dobrarem de tamanho e consigo


vislumbrar nuances de emoções vibrando através deles, e algo escuro e
hipnotizante chama toda a minha atenção.

Ah, Mia…

Tiques se irrompem do meu maxilar e a encaro, estreitando o olhar.

— Isso é alguma ameaça? — Sorrio, observando seu corpo


enrijecer.

— Pense o que quiser — rosna, lançando-me punhais através do


seu olhar. — Posso até não evitar essa tragédia, mas fique sabendo que
casados, ou não, você nunca irá encostar um dedo em mim. Não vou ser sua
esposa. Nunca! Entendeu? — grita, suas palavras carregadas de desprezo.

Eu levanto meu queixo, fúria selvagem correndo como veneno em


minhas veias. Agarro sua garganta, pressionando o suficiente para dificultar
o seu suprimento de ar. Mia engole em seco, sua face agora pálida enquanto
me encara.

— Não devia desafiar-me dessa forma — sussurro, roçando minha


barba áspera por sua bochecha, escutando sua respiração errática a cada
toque. — Não reajo bem quando isso acontece. — Me afasto brevemente
para olhá-la. — Eu poderia quebrar o seu pescoço agora mesmo. —
Intensifico o meu aperto, provando o meu ponto, para em seguida afrouxá-
lo.

Lambo os lábios, contornando com o indicador o seu lábio inferior.


Sua carne é macia, e tento controlar a vontade de saborear os seus lábios
rosados.

— Seria tão fácil… — Sorrio. Me aproximo novamente, ficando a


um centímetro de distância dos seus lábios. — Por isso não me desafie,
Mia. Você será a minha esposa e cumprirá todos os deveres de uma.

— Prefiro morrer a deixar isso acontecer — ela resmunga


entredentes, tentando se afastar do meu toque.

Deslizo uma mão por sua coxa direita, sentindo-a estremecer.


Sorrio internamente, continuando a desbravar a sua pele alva. Alcanço a
barra do seu vestido, mergulhando por debaixo dele. Um suspiro suave
deixa os seus lábios quando meus dedos acariciam sua boceta através do
fino tecido da sua calcinha.

Aperto o meu maxilar com força quando encontro o seu olhar e


vejo algo queimar neles. Luxúria. Uma pura e crua, a mesma que queima
dentro de mim.
Preguiçosamente corro os meus dedos em movimentos lentos,
sentindo sua excitação encharcá-los.

— Será mesmo, Mia? Hum? — Inclino-me em sua direção.

— D-ário… — Sua voz é acompanhada de choramingo.

— Resista o quanto quiser, mas você ainda vai implorar pelo meu
toque.

Mia segura o meu olhar com um sorriso condescendente.

— Se depender de mim, isso nunca irá acontecer.

Tiro minha mão do seu corpo e me afasto, lançando-lhe um olhar


afiado, inalando o cheiro da sua excitação impregnada nos meus dedos.

— Se você diz…

Mia grunhe e, assim que as portas do elevador se abrem, ela,


praticamente, sai correndo como se estivesse em chamas. Em passos
rápidos, ela passa por Alessio, que não consegue esconder o sorriso de
satisfação.

— Ela seriamente achou que iria muito longe?

Corro minha mão pelo cabelo andando até a cobertura, os cantos


dos meus lábios arqueiam levemente, mas logo me recupero quando me
lembro que ele ficou responsável por ficar de olho nela.

— Obviamente achou, e com sua ajuda.

Ele estala, alcançando um cigarro no bolso do seu jeans e levando


aos lábios.
— Não posso ficar colado na sua noiva vinte quantos horas por dia.
Ou quer que eu a supervisione até no banho?

Cerro os punhos com força e cesso meus passos, virando-me para


encará-lo. Alessio acende o cigarro e levanta as mãos em rendição, mas é
tarde demais, avanço em cima dele, agarrando-o pelas lapelas da sua
jaqueta de couro.

— Espero não ter que adverti-lo novamente — vocifero a


centímetros do seu rosto. — Não olhe para ela, não fale com ela e não a
toque, porra!

Os olhos de Alessio brilham e seus lábios se curvam em um sorriso


arrogante, demonstrando que está se divertindo com a minha explosão. Em
seguida, consegue se livrar do meu agarre.

— Uau! Ela está mesmo fodendo com a sua mente — zomba.

— O grande Dário Rugiero, filho de Dominique Rugiero, o capo da


Cosa Nostra, nocauteado por uma boceta?

Avanço novamente, dessa vez acertando um soco no seu estômago.


Pablo surge e, ágil como sempre, consegue me imobilizar.

— Cazzo! Estão loucos? — brada, empurrando-me para trás.


Alessio solta uma gargalhada sonora, ainda curvado com as mãos
espalmadas no abdômen. Ele respira fundo e se empertiga, jogando o
cigarro no piso e o esmagando com a ponta da bota. — Defina isso? —
pergunta andando até o elevador, deslizando o cartão pelo painel.

— Onde está indo? — pergunto, arqueando uma sobrancelha.

— Beber!
As portas do elevador se abrem, e ele acena com desgosto.

— Não estou com humor para dramas familiares, avisem quando a


festa começar.

E lá está ele, meu irmão caçula insuportável e irritante testando a


porra da minha paciência mas uma vez.

— Que seja! — resmungo, adentrando a cobertura com Pablo no


meu encalço.

A sala está tomada por nossos homens, aceno para que saiam e
fiquem em pontos estratégicos. Em algumas horas, Mia será oficialmente a
minha esposa e não quero que nada dê errado.

— É melhor apressá-la, o juiz não vai demorar para chegar— Pablo


informa e não passa despercebido a sua carranca.

— Tem certeza que quer fazer isso? Ela não é a melhor decisão.
Pode desfazer o acordo ou mandá-la para longe. — Envio-o um olhar de
alerta. — Ela pode ser umas das suas amantes.

Caminho até o bar no canto da sala e me sirvo com uma dose


generosa de conhaque.

— Não. Pensei que tinha entendido. Isso não está em discussão.

Ele balança a cabeça e suspira, ficando em silêncio. Meu


conselheiro sabiamente entendeu que nada do que faça ou fale me fará
mudar minha decisão.

— Tenho planos para ela — informo, deixando a sala, indo em


direção ao quarto da minha futura esposa.
Em poucos passos, alcanço o quarto, encontrando a porta
parcialmente aberta. Observo-a em silêncio e vejo o exato momento em que
ela abre a caixa mediana que repousava sobre a cama, revelando um
delicado vestido longo de alças finas, com pequenas pedras de diamantes
incrustadas na cintura e um decote em formato de coração, o tecido na cor
champanhe é refinado e com certeza irá realçar a pele cremosa e bronzeada
dela, o que a tornará ainda mais bela.

Os olhos azuis de Mia reluzem, mas brevemente, tempo suficiente


para saber que, embora não reconheça, ela gostou. Soltando um suspiro
profundo, devolve o vestido para a caixa e se afasta, sentando-se no
colchão, abraçando os joelhos rente ao peito.

— Deveria me casar de preto. Expressaria melhor o meu humor em


relação a esse casamento. — Mordo um sorriso.

— É bom saber que tem senso de humor, querida — irrompo,


assustando-a.

Seus olhos azuis se erguem encontrando os meus.

— É bom saber que um de nós está se divertindo. — Ela se levanta


e alcança o vestido. — Já entendi que não tenho escolha, se me der licença,
tenho um velório para ir. — Gesticula para a porta e, sem esperar por
respostas, dá as costas, indo em direção ao banheiro a passos largos.

Endireito-me assim que escuto a porta bater com força. Oh, merda!
Isso será interessante.

Sorrio amplamente para o seu espírito rebelde, desejando-a ainda


mais.
Capítulo 6

Escoro-me contra a porta do banheiro, deixando que um suspiro


profundo escape dos meus lábios. Céus! O que esse homem está fazendo
comigo? Ele tem se tornado o meu pior pesadelo, capaz de arrancar
sentimentos e sensações distorcidas da minha mente, sobretudo, do meu
corpo. Arg! Eu odeio-o com todas as minhas forças. Ranjo os dentes,
caminhando em direção ao espelho, visualizando minha imagem refletida
nele. Estou uma verdadeira bagunça, e isso é apenas o exterior falando.
Apesar das minhas inúmeras tentativas para não pensar no meu futuro ao
lado de Dário, as suas palavras e ações começaram a fazer estragos.

Meu noivo já provou de várias maneiras que não tem escrúpulos e


faz o que bem entender, não importando com nada e nem ninguém. Mas,
então, para me atormentar ainda mais, meu corpo vibra, lembrando-me da
sensação das suas mãos, me proporcionando prazer e novamente estou lá,
com seu aperto de aço em minha garganta cortando todo o meu suprimento
de ar… minha respiração lutando em pequenas lufadas e a … excitação se
formando no ápice das minhas coxas, deixando-me completamente
encharcada. Mesmo que não admita isso em voz alta e que o medo e a
adrenalina de fugir e ser pega tenham a sua parcela de culpa… eu gostei!

Droga! Balanço a cabeça lentamente, tentando dissipar todos esses


pensamentos lascivos, não gostando do rumo que eles estão tomando.

Eu o odeio e jamais me entregarei a ele, não sem lutar.


Olho para o vestido de noiva em minhas mãos e um sorriso
condescendente escorrega dos meus lábios. Percebendo o jeito como odeia
ser contrariado, descido imprudentemente provocá-lo. Isso é por decidir nos
casar sem sequer avisar-me previamente, me deixando saber no último
minuto, ao escutá-lo conversar com o irmão. Aprumo os ombros e ergo o
queixo, alcançando a maçaneta, rezando mentalmente para que ele já
tivesse ido e me deixado em paz.

Felizmente as minhas orações foram atendidas e encontro a suíte


vazia e silenciosa. Mas não por muito tempo. Logo a porta é aberta e o rosto
estoico de Pablo aparece.

— Pelo visto, bater antes de entrar não é o forte dos Ruggiero.

Ele exala profundamente.

— Bem, a equipe que cuidará do seu cabelo e maquiagem já está


aguardando-a, pronta? — pergunta, ignorando a minha notável carranca.

Não posso acreditar que Dário obrigará a me casar com ele agora,
em uma cobertura de hotel. Sem a presença da minha família, bem, das
minhas irmãs, já que papai e Enrico demonstraram que pouco se importam
com o meu destino. Meu olhar recai, encontrando os olhos escuros e
indiferentes de Pablo.

— Eu sei que não gosta de mim e não estou julgando você —


sussurro. — P-or favor, só… me ajude a escapar disso. Eu não sou a mulher
adequada para o seu irmão.

Pablo balança a cabeça veemente diante do meu estado de


mendicância, como se concordasse com cada palavra.
— Você tem razão, não serve para ele. — diz secamente. — E eu
não odeio você — esclarece —, eu só… apenas acho que por ter sido criada
de modo diferente das nossas tradições, mulheres como você costumam ser
um risco para o equilíbrio de um homem como Dário, que precisa estar
atento a tudo a sua volta.

Mostro-lhe o meu rosto apologético.

— Mulheres como eu?

Cruzando os braços na altura do peito, Pablo me lança um olhar


inelegível.

— Mulheres que cheiram a problemas a um quilômetro de


distância. Que sabem como seduzir e enlouquecer um homem mesmo não
se dando conta disso. — Seus lábios cheios arqueiam em um sorriso
amargo, e ele me encara. — Esse é o tipo favorito do meu irmão
completamente obsessivo e possessivo, Mia. Ele tem fome de um bom
desafio e, ao rejeitá-lo e fugir como você fez, acabou se tornando um. Que
belo par vocês formam, não?

Fecho os olhos, amaldiçoando-me por isso. Ótimo! Acabei me


transformando no mais novo brinquedo de um mafioso psicopata.

— Eu não desejo isso, droga! — resmungo, frustrada, encarando-o


mais uma vez. — O que eu devo fazer para ele desistir de mim? — insisto,
recebendo um enervante encolher de ombros de Pablo.

— Nada. Apenas aceite isso. Dário nunca volta atrás em uma


decisão.

— Mas se…
— Venham! — Pablo interrompe-me, ignorando as minhas
súplicas. E, em um segundo, o quarto é invadido por uma equipe de
maquiadores e cabeleireiros, e ele já não está mais no quarto.

Idiota!

Uma hora mais tarde, eu já estava pronta, apesar de não estar


trajando o lindo vestido que Dário havia comprado, e, sim, a camisola e o
roupão.

A maquiagem é leve e natural, como eu gosto. Meus fios loiros,


presos em um impecável coque lateral e tranças. Para arrematar, Pierre, o
cabeleireiro, centralizou uma tiara delicada adornada de pequenos grânulos
de diamantes e pérolas na minha cabeça.

Suspiro, admirando a imagem refletida no espelho da penteadeira.


Quase poderia esquecer que estou sendo obrigada a me casar e fingir que
participei dos mínimos detalhes da cerimônia. A maquiagem leve e o batom
nude dão-me um ar elegante e casual.

Não se iluda, Mia. Isso não é um conto de fadas — minha


consciência alerta.

Suspiro e meu olhar escorrega para o pequeno buquê de rosas-


vermelhas sobre a cama e, em poucos passos, o alcanço, levando-o em
minhas mãos trêmulas. Olho-me uma última vez no espelho, dou um passo
à frente, segurando a maçaneta da porta, com as palavras de Pablo
rodopiando em minha mente.

“Apenas aceite isso. Dário nunca volta atrás em uma decisão”.


Congelo brevemente, ainda atordoada. Não consigo acreditar que
esse será o meu destino. Casar com um homem perverso, considerado a
encarnação do mal por muitos.

À medida que eu deixo o quarto em passos lentos, meu coração


salta, doendo dentro do peito. As lágrimas se acumulam e sinto minha
garganta arranhar com o turbilhão de sentimentos fervendo dentro de mim.
Prendo o lábio inferior entre os dentes, cavando fundo, sentindo a pele se
romper. A sala, que até segundos atrás, seguia-se em crua cacofonia,
perdura num silêncio alarmante.

Ergo o queixo, fitando todos os presentes na sala, como um senhor


de cabelos grisalhos, olhos castanhos levemente arregalados e óculos de
grau, que sorri cordialmente para mim, como se minha vestimenta não
afetasse e que está confortavelmente acostumado a realizar cerimônias
como essa em coberturas de hotéis.

Pablo esfrega a ponte do seu nariz e lamenta baixo, ao seu lado,


havia dois seguranças de braços cruzados e olhares inelegíveis, com
expressões que diziam que poderiam estar em qualquer lugar, menos aqui.
Deslizo o olhar em volta, e não vejo Alessio em nenhuma parte. Franzo o
cenho e meus lábios se abrem silenciosamente assim que cruzam com
intensos e selvagens olhos azuis.

Ele lança-me um sorriso assustador, exibindo uma fileira de dentes


brancos e bem cuidados e instantaneamente estremeço e arrependo-me por
confrontá-lo.

Dário se aproxima. Seus olhos nunca deixando os meus. Passos


preguiçosos, firmes, fazendo-me sofrer em antecipação. Seu olhar duro
analisa o meu corpo lento e incisivamente. Estava pronta para desviar o
olhar, porém, o jeito que me olhou me deteve. E pude vislumbrar seus olhos
escurecendo. Não sei explicar. Dário parece saber quais botões apertar
dentro de mim e como me torturar, mesmo sem me tocar.

Seus olhos extraordinários não paravam por aí, havia uma raiva
tranquila que transbordava através deles e, alcançando-me em passos
rápidos, sua palma foi levantada e não percebi que me encolhi diante do seu
toque. Congelo ao sentir uma carícia provocante e irreverente na minha
bochecha.

Ele se aproxima, assaltando os meus sentidos com o seu cheiro


marcante e viril. Sua colônia amadeirada, picante, envolvendo-me
completamente. Observo sua face de uma beleza brutal e o brilho dos seus
olhos chama a minha atenção. Dário está deslumbrante em um terno de três
peças, preto, e gravata da mesma cor. Ele exala elegância, sobriedade e
poder.

Seus lábios roçam a minha têmpora e o calor do seu hálito quente


sopra a minha pele.

— Minha doce principessa, sua rebeldia é fascinante. — Sua mão


direita cava um lado do meu quadril. — Mas não me teste… — alerta. E eu
posso sentir a escuridão por trás das suas palavras. — Não sou um homem
bom, amore mio. Você só irá se machucar — rosna entredentes, afundando
o nariz na curva do meu pescoço, inalando-me profundamente.

Ele se afasta e vira-se para o senhor de óculos, que aparenta ser


quem realizará a cerimônia.

— Vamos começar isso de uma vez. Não vejo por que esperar mais.
O homem acena discretamente, anda até a mesa redonda próxima
sacada, alcança uma pasta escura sobre ela e a abre, retirando alguns papéis
de dentro.

Enquanto assisto-o, sou surpreendida por Dário ao deslizar sua mão


quente contra a minha, seus dedos se entrelaçando aos meus, mesmo eu
tentando me retirar do seu toque. Ergo meu olhar para ele e o flagro com
um brilho diferente em seus olhos azuis-acinzentados. O brilho é intenso e
beira à possessividade. Ele desvia o olhar e começa a nos guiar em direção
à mesa, onde o senhor nos aguardava.

— Precisamos de testemunhas — o homem avisa.

Dário balança a cabeça.

— Estão todos aqui. Agora, faça o que tem que fazer, e seja rápido.

Dário se senta em uma cadeira a sua frente enquanto permaneço de


pé.

Meus olhos disparam para a porta, esperançosos, como se esperasse


que alguém viesse me salvar.

— Mia… — sua voz troveja, despertando calafrios pelo meu corpo.


Ele aponta para a cadeira ao seu lado, seus olhos estreitos em uma ameaça
silenciosa. — Sente-se!

Sem saída, deslizo tomando o assento, dando adeus aos meus


últimos segundos de liberdade, se é que algum dia os tive.

O homem limpa a garganta e começa a cerimônia. Enquanto


proclamava algumas palavras de praxe, Dário o interrompe, demonstrando
desgosto e total impaciência.
— Podemos pular para a parte que você nos declara marido e
mulher e assinamos os papéis, sim?

Meus olhos se arregalam, horror estampado na minha face. O


senhor à nossa frente empalidece, mas logo se recupera e, endireitando-se,
acena novamente.

Dário continua com sua postura inabalável ao meu lado, não


preciso olhá-lo para saber que a todo momento seus olhos estão em mim.
Sou capaz de sentir a intensidade deles, queimando cada centímetro da
minha pele.

— Dário Tarantino Ruggiero, aceita Mia Salvatore como sua


legítima esposa, para amar e cuidar, na saúde e doença, na alegria e tristeza,
até que a morte os separe?

Torço meu punho com o buquê em meu colo, minha respiração


rápida, enquanto espero a minha sentença.

— Aceito. — Seu tom é firme e inegociável, assim como o seu


olhar quando encontra o meu.

— Mia Salvatore, aceita Dário Tarantino Ruggiero como o seu


legítimo esposo, para amar e cuidar, na saúde e doença, na alegria e tristeza,
até que a morte os separe?

O juiz continua, irrompendo-me dos meus pensamentos. Um


silêncio sepulcral toma conta da sala, e sou capaz de escutar a minha
respiração rápida e as batidas incessantes do meu coração.

— Senhorita Salvatore, quer que eu repita? — pergunta o juiz com


o cenho franzido, seus lábios se tornando uma linha fina.
— Eu… — Silencio-me ao sentir Dário se inclinar sobre mim. Seus
dedos varrendo uma mecha solta de cabelo atrás da orelha.

— Não brinque comigo, amore mio. Sua última gracinha lhe


custará caro. — Engulo audivelmente.

Dário sorri e se afasta com uma sobrancelha erguida, como se me


desafiasse a responder o contrário.

Maldito! Fecho as mãos em punho e ergo o queixo.

— Eu… aceito! — digo com os dentes cerrados, encarando-o


furiosamente.

Sua expressão suaviza, mas, ainda assim, havia algo perigosamente


sombrio reluzindo em seu olhar.

— Mia bella… — profere, exalando um sorriso perverso ao


alcançar a minha mão direita e retirar uma caixinha azul em veludo do seu
terno. Aperto meus lábios, prendendo a respiração ao vislumbrar um
simples e delicado solitário com um poderoso diamante no centro e
grânulos pequenos contornando o aro.

Ele desliza o anel no meu dedo anelar, em seguida, estende a sua


mão. Pego a outra aliança da pequena caixa e empurro-a com certa
agressividade em seu dedo, deixando claro toda a minha ira e
descontentamento.

Dário ergue a minha mão e deixa um beijo cálido no dorso sobre o


anel, seus lábios roçando levemente a minha pele e, de repente, um calor se
espalha por mim. Apesar de estar entorpecida e surpresa pelo seu gesto,
consigo retirar-me do seu toque rapidamente.
Quando achei que o martírio teria acabado ao assinar os nossos
nomes, o juiz diz sua frase final: 'de acordo com a vontade de ambos, de vos
receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados’.

Leva tudo de mim para não revirar os olhos assim que o homem
termina de falar. Que grande piada. Vontade de ambos? Oi? Por acaso estou
com cara de noiva feliz?

— Agora você pode beijar a noiva… — O homem interrompe os


meus pensamentos e o pânico me atinge quando suas palavras se infiltram
na minha mente.

Uma mão quente agarra meu queixo e lentamente se eleva para a


minha nuca. Seus olhos vidrados à medida que se aproxima dos meus
lábios. Espalmo minhas mãos em seu peito na tentativa de afastá-lo, mas o
homem tem uma construção sólida, músculos rígidos, mal se move.
Cansada de lutar, fecho os olhos e deixo que ele tome o maldito beijo de
uma vez.

Agarrando o meu coque firmemente, sua boca esmaga a minha e


um suspiro profundo escapa dos meus lábios. Dário não perde tempo e
aproveita para aprofundar o beijo.

Sua língua encontra e domina a minha com maestria enquanto o seu


aperto se intensifica. Por mais que a raiva por esse homem cresça dentro de
mim como erva-daninha, não consigo afastá-lo. O calor do seu corpo
começa a se infiltrar na minha pele, deixando um estranho rastro de luxúria.
Dário lambe o meu lábio inferior e mordisca com força, afastando-se
lentamente.
— Oficialmente minha… — sentencia, seus olhos cinza brilhante
queimando enquanto observa meus lábios inchados do seu beijo possessivo.

— Eu … — balbucio, levantando-me abruptamente. Dário não me


impede, mas não passa despercebido a maneira que seus lábios estão
curvados em um sorriso presunçoso como se o meu estado caótico o
divertisse.

Bastardo!

Ignorando o olhar de alerta de Pablo, deixo a sala a passos largos.

Alívio me inunda quando alcanço a minha suíte e fecho a porta,


isolando-me do mundo lá fora. Não me importo que Dário logo virá e
exigirá os seus direitos como esposo, eu só preciso ficar alguns minutos
sozinha. Não suportaria olhá-lo e assistir à satisfação estampada em seus
olhos. Ofego, levando minhas mãos ao peito, e logo o meu corpo entra em
estado de alerta ao vislumbrar uma sombra pairando do outro lado da porta,
foi breve, mas o suficiente para me fazer lembrar que não importa para
onde eu corra, ele sempre estará lá, à espreita.

Engasgo-me com um soluço estrangulado, meus ombros


começando a tremer e a se curvar com a intensidade do meu choro. Deslizo
até o chão e abraço os meus joelhos, como uma risada amarga.

Esta é sua nova vida, Mia Ruggiero. Acostume-se! Ignorando a


pontada de angústia em meu peito, fecho os olhos e deixo que a exaustão
me envolva.
Capítulo 7

Abro os olhos com um sobressalto. Minhas costas doem, assim


como todo o meu corpo. Sinto como se tivesse sido atropelada por um trem
de carga. Rolo de costas, fitando o teto, em seguida, olho em volta,
sentando-me depressa.

Vozes e gargalhadas estrondam do lado de fora e parece que há uma


festa rolando do outro lado da porta. Estremeço com um mau presságio. Ao
me levantar, percebo que acabei cochilando no chão. Que ótimo! Isso
explica por que estou sentindo dores onde nem sabia ser possível. Ando até
o banheiro e lavo o rosto, na tentativa de espantar a névoa de exaustão que
ainda paira sobre mim.

A cada minuto que passa, os gritos e gargalhadas se intensificam e,


ignorando o alerta que pisca incessantemente na minha mente, resolvo sair
e ver com os meus próprios olhos o que está acontecendo.

Certificando-me que o roupão está devidamente fechado no meu


corpo, agarro a maçaneta e abro a porta lentamente. Com passos vacilantes,
alcanço o corredor, os gritos de segundos atrás logo se transformam em
gemidos e murmúrios e os pelos da minha nuca se eriçam. Cesso os meus
passos, ponderando se devo, ou não seguir por esse caminho.

E se for Dário que estiver no meio dessa orgia? — meu


inconsciente cutuca.

Fecho minhas mãos em punho e sinto algo ferver em meu peito.


Raiva, talvez? Ergo o queixo e, com o maxilar apertado, continuo andando.
Meus olhos se arregalam vislumbrando Alessio em uma poltrona
com uma loira sentada em seu quadril, enquanto ele tem o rosto mergulhado
em seus seios fartos. Suas mãos serpenteiam por suas curvas, enterrando-se
sob a barra do seu curto vestido preto. Na poltrona ao seu lado, está Pablo.
Apesar da postura sóbria na maioria das vezes, sua face está contorcida em
um prazer cru que é quase palpável. Ele agarra punhados de cachos de uma
morena, comandando um ritmo violento, enquanto ela o leva
profundamente em sua boca.

— Céus!!! Que bando de pervertidos! — sussurro, desviando


rapidamente para o outro lado, e imediatamente arrependo-me.

Meus olhos disparam para uma figura sombria sentada em uma


postura relaxada, digna de um rei, bebendo calmamente o seu uísque ao
mesmo tempo em que uma ruiva tenta acariciar a sua coxa, próximo a sua
virilha. Abro e fecho a boca, meus olhos em chamas com essa visão. Se
esse bastardo pensa que vou aceitar isso, ele está muito enganado. Ele que
não pense me fazer de trouxa. Não serei como minha mãe, que foi obrigada
a conviver com as inúmeras amantes do meu pai e fingir que está tudo bem.

Avanço, agarrando um vaso pelo caminho e, sem pensar nas


consequências, o arremesso em sua direção, mas o desgraçado tem um
ótimo reflexo e deve ter me visto chegar antes de sequer pensar em atingi-
lo.

— Porra! O que é isso?— Ele endurece, seu olhar afiado em minha


direção.

— O que é isso? — irrompo em fúria.


— Se pensa que sou como as mulheres da máfia acostumadas a
baixar a cabeça e aceitar que o marido tenha amantes, está muito enganado
— aviso, recebendo um olhar estranho dele. Aponto para a ruiva que está
com os seios siliconados pressionados contra a lateral do seu corpo. —
Saia! — ordeno com um tom de voz cortante. Ela franze o cenho, mas não
se move, aumentando a minha irritação. — Se eu fosse você, não testaria
porra da minha paciência.

A garota claramente tem um desejo de morte, pois lambe os lábios


e sorri, aconchegando-se ainda mais no corpo do meu marido. Marido…
Faço uma careta, minha expressão se tornando assassina e, em uma batida,
estou agarrando-a pelos cabelos.

Atrás de mim, risadas masculinas são abafadas com tosses.


Malditos Ruggiero. Esses bastardos estão se divertindo, mas os darei um
show completo. A mulher se contorce, tentando se soltar, gritando ameaças
e logo depois por socorro.

— Eu avisei! — Aperto o meu agarre, arrastando-a porta afora.

Lanço um rápido olhar para Dário, que assiste à toda a cena em um


contemplativo e estranho silêncio, como se não tivesse feito nada de mais.
Suas sobrancelhas sobem, e eu posso jurar que vejo um fantasma de um
sorriso desenrolando em seus lábios.

— M-e solta, sua louca! Você não pode me expulsar, eu sou uma
convidada. — grasna, me fazendo revirar os olhos.

— Claro que foi — zombo, — Deixe-me adivinhar? Convidada a


cavalgar no pau do meu marido, é isso? — Abro a porta e empurro-a sem
delicadeza alguma para o corredor. Ranjo os meus dentes, estendo o
indicador em riste na direção do elevador e estalo a língua. — Não vai rolar,
ok? Procure outro Agora vá! — chio. — Faça isso enquanto pode.

Seus lábios volumosos tremem levemente e, lançando-me adagas


com o olhar, ela se inclina contra o limiar da porta, olhando em direção das
suas companheiras, ou seja lá que diabos sejam e, em seguida, para Dário,
que demonstra total indiferença.

— Você ouviu a minha moglie — murmura em italiano em um tom


supostamente calmo. — Vá!

Dou um passo à frente, pronta para arrancar os seus olhos castanhos


se preciso fosse.

— Está olhando o quê? Dá o fora, porra! — Com um grito


agravado, bato a porta com força. Furiosa, giro em meus calcanhares e
encaro Dário, fulminando-o com olhar enquanto seus lábios se esticam em
um sorriso de lobo e suas sobrancelhas se curvam com pura arrogância.
Sem tirar os olhos dos meus, ele ordena:

— Quero que todos vocês saiam! — Faz uma pausa, seu sorriso
beirando a algo perigoso. — Minha esposa e eu temos muito o que
conversar, não é mesmo, amore mio?

Balanço a cabeça lentamente, observando seus irmãos e suas


respectivas acompanhantes deixarem a sala em um completo silêncio.

— Não temos nada para conversar. — Viro-me para ele, cruzando


os braços acima do peito — Só aviso que não vou tolerar isso, senhor
Ruggiero.
Ele respira fundo antes de largar o copo vazio na mesa de centro à
sua frente e erguer os olhos para mim, estreitando-os ameaçadoramente.

— Devo lembrá-la que, além de ser o seu marido, sou o seu capo?
Que me deve obediência e, sobretudo, respeito? — pergunta e se eleva,
andando em minha direção em passos lentos e olhar afiado.

Cambaleio para trás, meu sangue fervendo em minhas veias.

— Foda-se! — rosno para ele. — Isso não significa que pode me


trair — reclamo até sentir a parede atrás de mim — Que pode trazer suas
amantes e esfregar na minha cara. Eu não vou permitir. Eu nunca quis esse
maldito casamento, mesmo assim, fui obrigada a aceitá-lo. Então, exijo
respeito.

Em questão de segundos, Dário está em cima de mim. Suas mãos


ásperas agarrando o meu queixo, seu aperto de aço e seus olhos cinza
encobertos com um misto de fúria.

— Exige? — replica. Seus dedos cavando a minha pele, me


fazendo gemer com a dor.

Ele joga a cabeça para trás com uma risada de escárnio. — Você
não está em condições de exigir nada, amore mio. A menos que esteja
disposta a cumprir o seu papel de esposa. — Lambe os lábios, seus olhos
deliberadamente em uma varredura pelo meu corpo.

Sinto minhas entranhas revirarem no meu estômago e o empurro,


desferindo socos em seu peito. Dário libera o meu queixo e recua com uma
expressão sombria que faz os meus ossos gelarem. Estremeço, disposta a
não baixar a guarda para ele, por mais que me assuste profundamente.
— Nunca! — Sorrio, correndo o indicador pelos meus lábios, seus
olhos vorazes acompanhando o movimento sem sequer piscar. — Eu não
serei sua esposa troféu e muito menos uma submissa que sempre estará a
sua disposição, senhor Ruggiero. Já devia saber disso.

Seus punhos cerram ao lado do corpo e sua expressão se transforma


em algo letal. Minha mente pisca, enviando sinais de alerta para o meu
corpo, como se quisesse avisar do perigo iminente prestes a me alcançar.
Sufoco um grito quando giro em meus calcanhares e seus braços se fecham
em torno da minha cintura, bloqueando os meus passos e erguendo-me do
chão.

— Pare! — Entro em pânico. — O que está fazendo?

— Está na hora de mostrar-lhe do que seu marito é capaz…


Ninguém desafia um Ruggiero. Ninguém!

Assisto horrorizada Dário marchar em direção à suíte e, apesar dos


meus protestos e socos em suas costas, ele parece resignado e nada é capaz
de fazê-lo parar, nem mesmo a minha histeria. Ele chuta a porta do quarto
com força e me joga bruscamente em cima da cama. Imediatamente me
encolho, afastando-me para a cabeceira.

Fechando a porta atrás de si, começa a desabotoar a camisa social


branca, revelando polegadas da sua pele levemente beijada pelo sol. Seus
olhos são brilhantes e impenetráveis, sempre estudando as minhas reações.
Prendo a respiração quando a peça desliza dos seus braços e cai ao seu
redor. Tento o meu melhor para desviar o olhar, mas é algo impossível de se
cumprir. Músculos sólidos, cicatrizes e inúmeros desenhos preenchem a sua
pele, meus olhos desfilam para baixo, vislumbrando os gomos do seu
abdômen... Deus!
Foco, Mia! Esse é o bastardo do seu marido.

Com os olhos trancados nos meus, ele retira o cinto da sua calça e o
enrola no punho, andando em minha direção. Meus olhos se arregalam e
tento chutá-lo quando paira sobre mim, agarrando-me pelos meus
tornozelos, puxando-me para baixo.

— O que está fazendo? — grito, desvencilhando-me do seu agarre.


— Não ouse me bater com isso.

Dário balança a cabeça lentamente, alcançando os meus punhos.

— Uma oferta tentadora, amore mio. — Seus lábios se repuxam em


um sorriso letal e os pelos do meu corpo se arrepiam completamente. —
Mas ainda não está pronta para isso. Dário se inclina rente à minha orelha,
como se fosse compartilhar um segredo. — Agora, não se mexa, moglie —
alerta, e só então percebo que o bastardo havia prendido os meus pulsos
com o seu cinto, elevando-os para acima da minha cabeça, enquanto seus
lábios deixam um beijo obsceno na minha clavícula.

— S-e fizer isso, irei te odiar para sempre! — balbucio, atordoada


com os seus beijos e o calor que ele provoca em minha pele.

Seus olhos azuis se erguem para os meus e vejo quanta escuridão


há neles.

— Você já não odeia? — Lambe os lábios, serpenteando uma mão


pela minha coxa direita, agrupando o fino tecido da camisola no meu
quadril.

Meu pulso acelera e engulo em seco, sentindo meu corpo reagir a


seu toque.
— Irei te odiar ainda mais! — asseguro, travando o maxilar.

Dário desliza o dorso da mão em minha coxa, abaixando-se para


mordiscar a pele que já está mais que sensível. Fecho os olhos e contorço-
me para me afastar do seu toque, mas ele pressiona a mão livre no meu
abdômen.

— Não é isso que o seu corpo diz, pequena mentirosa. Aposto que
está molhada para mim, não é mesmo?

Nego veemente com um grunhido.

— Nos seus sonhos — cuspo, arrancando-lhe uma risada sombria.

Dário se afasta e, agachando-se em direção aos sapatos, o vejo


levantar a barra da calça e pescar uma faca de caça. Meus olhos saltam em
horror e novamente tento me afastar.

— V-ocê é louco! — assobio. — Eu não vou deixar você enfiar


essa coisa em mim, novamente.

— Não ouvi você reclamar da última vez — provoca com uma


pitada de sarcasmo — Mas, como eu disse antes, não está preparada para
mais — murmura sombriamente com os olhos aquecidos em brasa. Sufoco
um grito quando, em um movimento rápido, ele afasta as minhas coxas com
um joelho e, em seguida, com a lâmina da faca, transforma minha renda
preta em farrapos.

Congelo, meus músculos travando como se fossem pedras. Ele não


larga a faca e, em seus olhos, eu vejo a ameaça. Se ele não me fizer sangrar,
o que mais pode fazer?
Muitas coisas… Seu olhar me diz e, com a expressão de um
homem faminto que há dias não se alimenta, a lâmina paira ao meu lado e
sua boca afunda em minha boceta completamente exposta.

Meus olhos se fecham e quase rolam da órbita com a invasão bruta


e deliciosa dos seus lábios. Cavo minhas unhas no material de couro,
sentindo sua língua circular o meu monte sensível e mordiscá-la com força.
Dois dedos são introduzidos e sua boca abandona brevemente minha carne
úmida e sobe em direção aos meus seios, sugando-os por entre o tecido da
camisola.

— Ainda me odeia, minha moglie? — Respira, batendo os seus


dedos ainda mais fundo, me fazendo arquear fora do colchão. — Sinta
como sua boceta apertada está engolindo meus dedos, como os aperta como
um torno de aço.

Respiro pesadamente, meus punhos cerrados ao longo do couro.

— N-ão — choramingo sem conseguir racionalizar qualquer


palavra que seja. O prazer se acumulando em meu ventre, varrendo-me
como uma avalanche impiedosa.

Dário morde um bico intumescido com força e um grito


estrangulado escapa do fundo da minha garganta. A dor é profunda, escura
e me faz ofegar e apertar minha boceta novamente em torno dos seus dedos.

— Você gosta do que estou fazendo com você, amore mio… Gosta
de ser degradada e levada ao limite. — Seu tom endurece e seus dedos
entram e saem provocando sons de sucção. — Aposto que está doida para
encharcar o meu pau.
Balanço a cabeça, perdida em todas as sensações cruas e devassas
em que estou mergulhada.

— E-u nunca serei sua, não como deseja — sussurro, contendo a


vontade de gemer, gritar e implorar por mais e mais. Deus! É degradante a
maneira que meu corpo reage a ele, como se ansiasse pelo próximo golpe.

Um tique se irrompe em seu maxilar e seus olhos se tornam duas


esferas escuras. Dário retira os dedos da minha boceta e, para o meu horror,
não consigo conter que um som de protesto me escape Com o olhar
inelegível, ele os leva aos lábios, sugando-os com total abandono.

— Você será, minha, Mia. Como e quando eu quiser. Guarde as


minhas palavras, e ainda vai implorar pelos meus toques, para eu fodê-la
como se não houvesse amanhã — promete, me arreganhado ainda mais para
o seu deleite.

Abro a boca para retrucá-lo, mas as palavras se perdem e sua boca


ataca novamente. Dessa vez é voraz, insaciável, me elevando ao pico mais
alto do prazer. Meu clímax se aproxima e eu quase posso sentir sua
ferocidade em cada célula do meu corpo. Outra vez Dário desliza dois
dedos e um terceiro é acrescentado, tornando o caos ainda mais intenso.
Meu corpo começa a convulsionar violentamente e, mordendo o lábio
inferior, sou atingida por um orgasmo avassalador.

Enquanto monto o meu orgasmo, suas mãos ásperas agarram os


meus seios, estimulando-os e torcendo os bicos rígidos com força bruta,
promovendo uma bagunça caótica e deliciosa no meu núcleo. Lambendo-
me até a última gota, ele se eleva, parecendo um deus do sexo com todos os
seus músculos sólidos e um olhar feroz. Dário se afasta e posso ver
nitidamente a luxúria queimando em seus olhos e o quanto está excitado.
Sua enorme ereção pulsa através do tecido da sua calça. Chega a ser
assustador, um homem com uma beleza tão mordaz, bruta e um semblante
cruel seja capaz de levar uma mulher aos céus apenas com os lábios e
dedos.

Todo o seu rosto ainda brilha com minha excitação e, para


provocar-me, ele lambe os lábios cheios, eliminando qualquer resquício
pelo caminho.

— Da próxima vez, não esconderá os seus gemidos de mim. A farei


implorar por mais, gritar de prazer e gemer a porra do meu nome.

— Não terá uma próxima vez!

Seus lábios se curvam, e Dário anda até a porta.

— Não apostaria nisso, se fosse você, amore mio. — Ele vai


embora, deixando-me em um agonizante silêncio.

Respiro fundo e só então percebo que meus pulsos ainda estão


amarrados.

Droga! Arg!!! Bastardo!


Capítulo 8

Enquanto luto com o amargo das minhas emoções, um nó se forma


na minha garganta. Novamente deixei que ele me tocasse e que me fizesse
gemer e contorcer-me de prazer. Fecho os olhos, suspirando alto, o cinto de
couro cavando na minha pele. Sinto a dor e a recebo de bom grado, mereço
senti-la, só assim me lembrarei que o homem que me leva aos céus e me dar
prazer é o mesmo capaz de sequestrar e matar inocentes sem o menor peso
na consciência.

Solto um grunhido, tentando libertar os meus pulsos que já estão


esfolados pelo meu esforço inútil e, então, desisto. Eu só quero fechar os
olhos e imaginar que estou em um pesadelo e que, assim que acordar,
estarei livre. Aos poucos, minhas pálpebras se fecham e adormeço
completamente.

Na manhã seguinte, acordo com um péssimo humor e


milagrosamente com as mãos livres. Há vergões vermelhos em minha pele,
ardendo com o inferno. Mais um motivo para querer arrancar olhos de um
maldito mafioso.

— Espero que tenha dormido bem, amore mio. — Sua voz grave e
erótica invade minha mente ainda atordoada pela névoa do sono.

Rapidamente viro-me para ele, atirando-lhe um olhar mortal.

— Oh, sim, tive uma noite maravilhosa, veja! — Levanto os meus


pulsos, expondo as marcas avermelhadas cobrindo superficialmente a
minha pele.
Seus olhos azuis brilham e algo escuro e hipnotizante transborda
através deles.

— Toda diversão tem o seu preço. — Dá de ombros. — E você


adorou cada segundo, nós dois sabemos disso.

Abro e fecho a boca, não encontrando um argumento sólido para


rebatê-lo, minhas bochechas pegando fogo e, pelo largo sorriso que estampa
seu fodido rosto, ele sabe que é verdade.

Maldito seja, Dário Rugiero e seus lábios e dedos maravilhosos,


mas não há o que falar, eu adorei cada segundo. Mas não direi isso a ele
nem sob tortura.

— Não é como se eu tivesse escolha — ranjo entredentes.

— Eu não forcei você — rebate de maneira cínica.

— Não. Você só me amarrou.

— Quer que eu peça desculpas por isso, bambina? — Ele se


levanta, alcançando meu tornozelo sobre a cama. — Posso me ajoelhar se
quiser, digamos que você e eu estamos familiarizados com essa posição. —
Sorri com um leve arquear de sobrancelha. — Diga, minha moglie, devo
ajoelhar-me e pedir desculpas? — Seus dedos deslizam de maneira
sorrateira em minha pele, quase irreverente, desencadeando sensações que
não estou disposta a lidar.

Retiro-me do seu toque, arrancando uma risada baixa dele. Mordo o


lábio inferior, tomando cuidado para manter-me afastada.

— Devo tomar isso como um não, eu suponho.


Ele se levanta e coloca as mãos no bolso, olhando-me com uma
expressão estranha, enquanto devolvo o seu olhar, desafiadoramente.

— Sim. E fique onde está. Não quero que me toque.

Estremeço com o olhar frio que Dário lançou em minha direção.


Com passos firmes, ele me alcança e agarra um punhado do meu cabelo,
puxando-me para cima, sua respiração pesada, enquanto a minha é
acelerada. Engulo em seco quando seu aperto se intensifica.

— Não se esqueça que você é minha esposa, Mia — grunhe, seu


hálito quente soprando em minha bochecha. — Preciso repetir que irei tocá-
la quantas vezes desejar?

Aperto o maxilar com força, impedindo-me de respondê-lo à altura.


Dário afrouxa o seu agarre no meu cabelo e desliza sua mão, encontrando
os meus lábios, os contornando lentamente. Seus olhos brilham uma
promessa que fez meus pelos do corpo eriçarem e minhas coxas apertarem.

— Eu não sou benevolente, amore mio, não pense que não irei
reivindicá-la como minha. — Sua cabeça mergulha e sinto o roçar da sua
barba por fazer no meu pescoço, arregalo os olhos quando deixo que um
gemido rouco escape. — Non vedo l'ora di seppellirmi in te… — diz em
seu perfeito sotaque italiano.

Como se estivesse acabado de sair de um transe, espalmo as mãos


em seu peito duro e o afasto. Meu corpo está em chamas e, apesar de não
saber o que ele acabou de falar, posso imaginar, pela intensidade silenciosa
reverberando em seu olhar, que Dário me mostraria o seu pior. Um canto
dos seus lábios se ergue enquanto ele se afasta.
— Arrume-se, partiremos para Sicília em uma hora — avisa,
apontando para o closet ao lado.

— Lá tem o que precisa para viajarmos. E não se preocupe, já tem


um novo guarda-roupas à sua espera.

Pisco os olhos para ele.

— M-as com-o conseguiu as minhas medidas?

Ele balança a cabeça, deslizando seus olhos por toda extensão do


meu corpo. Sua expressão fica sombria.

— Tem muitas coisas que precisa aprender sobre mim, bambina. A


primeira é que eu nunca revelo os meus segredos. — Dário arrasta uma
mecha de cabelo atrás da minha orelha e se inclina. — Antes de partirmos,
tomaremos o café da manhã juntos. Vá. Eu não gosto que me façam esperar.

Ele passa por mim, indo em direção à porta. Só quando a ouço


fechar, solto o ar lentamente.

Isso só pode ser um pesadelo, um terrível e cruel. Não posso


acreditar que, depois de tudo que esse homem me fez, meu corpo ainda
anseia pelos seus toques. Seus lábios e ….

Arg!! Praticamente arranco o roupão e a camisola do meu corpo e


ando até o banheiro. Quem sabe uma ducha gelada me fará voltar à
normalidade.

Minutos depois, estou de frente ao espelho do closet, visualizando


minha imagem refletida nele. Deslizo as palmas abertas sobre o tecido de
seda azul-bebê, agarrado perfeitamente a cada curva do meu corpo. O corte
é assimétrico, com costas nuas e possui um detalhe no pescoço em forma de
coração.

Um sorriso amargo escapa dos meus lábios. O meu marido é um


babaca egocêntrico, dita até mesmo o que devo vestir. Alcanço a pequena
clutch e saio resmungando baixo. Os saltos do elegante scarpin estalando
contra o piso à medida que avanço até a sala.

Para o meu desgosto, o encontro bebericando calmamente uma


xícara fumegante de café na mesa da varanda. Percebo que Pablo e Alessio
estão ausentes, depois da noite passada, espero sinceramente que estejam se
curando de uma terrível ressaca.

Dário baixa a xícara, colocando-a sobre a mesa, seu olhar


checando-me descaradamente.

— Belíssima, amore mio — diz, e seguro-me para não revirar os


olhos diante do seu sorriso cínico.

Ele se levanta e, antes que eu possa me sentar, suas mãos envolvem


a minha cintura, juntando os nossos corpos. Estremeço, sentindo o cheiro
encorpado e viril da sua colônia. Calor irradia sob seu terno bem alinhado,
percorrendo de forma voraz a minha pele. Tento me afastar do seu toque,
mas sou surpreendida pelos seus lábios quentes deslizando em um lado do
meu pescoço. Minha respiração acelera e minhas mãos se enrolam em
punhos nas lapelas do seu terno.

Dário mordisca levemente, provocando uma onda de excitação,


mas, dessa vez, sou mais rápida e o empurro, ofegante e furiosa por permitir
que esse homem tenha poder suficiente para atordoar-me dessa maneira.
Sento-me, respirando com dificuldade, evitando olhar para o seu
belo rosto arrogante. Nos próximos minutos, consigo tomar o café da
manhã em silêncio, sentindo o olhar pesado do meu marido em mim a cada
segundo.

— Quer parar de me olhar — reclamo, erguendo o queixo para


encará-lo. — Isso é assustador, além de ser irritante.

Ele sorri.

— Tem espírito, confesso que gosto disso — responde lentamente,


alcançando minha mão direita sobre a mesa, levando-a em direção aos
lábios. — Mas somente entre quatro paredes. — Minhas bochechas
esquentam com o tom sugestivo das suas palavras. — Fora dela, sua boca
esperta lhe colocará em apuros qualquer dia desses. A menos que… —
beija os nós dos meus dedos — ela esteja ocupada com algo mais
proveitoso.

Meus olhos se arregalam e arranco minhas mão das suas. Estou à


flor da pele e não sei até quando irei aguentar suas provocações sem
explodir.

A porta principal se abre e Pablo e Alessio passam por ela. Apesar


de não morrer de amores pelos irmãos Ruggiero, não poderia estar mais
aliviada com a aparição de ambos. Alessio suspira alto, se jogando de
qualquer jeito em uma poltrona, seu belo rosto escondido por um par de
óculos escuros. Pablo anda em direção à mesa da varanda com um
semblante sombrio e tranquilo, trajando um terno cinza e gravata preta, o
oposto do homem selvagem que eu vi na outra noite recebendo um belo
boquete de uma desconhecida. Seus olhos castanhos encontram os meus e
ele acena, sentando-se ao lado do irmão, que o cumprimenta.
Enquanto Alessio parece estar fora de combate, Dário e seu
conselheiro começam a discutir sobre seus negócios. Em determinado
momento da conversa, os ânimos se exaltam e, após um telefonema da
Sicília, Dário deixa a mesa furioso. Pablo sai logo em seguida. Não demora
muito até o meu marido retornar e praticamente me arrastar porta afora,
dizendo que o seu jatinho particular já nos aguardava.

Dário se manteve ocupado durante o voo. Apesar de me fazer


sentar ao seu lado, não largou o laptop em nenhum segundo. Diria que algo
tinha escapado do seu controle e, pelo pouco que eu o conheço, isso é
inadmissível. Dário é obcecado pelo poder, por controlar tudo e todos à sua
volta.

Em algum momento, devo ter cochilado, pois sou acordada pelo


seu sotaque italiano resmungando baixo. Abro os olhos lentamente e o vejo
de costas, seus ombros largos tensos com o teor da conversa.

Olho ao meu redor e percebo que ele me trouxe para uma cabine.
Me movo devagar, sentindo o colchão macio embaixo de mim. O
movimento chama a sua atenção e seus olhos azuis cruzam os meus. Ele
parece exausto e, sem parar de falar com quem quer que seja do outro lado
da linha, sua mão encontra a minha bochecha. Ele respira e afasta uma
mecha de cabelo da minha têmpora, começando uma carícia suave que aos
poucos me faz adormecer pela segunda vez.
Capítulo 9
Sicília…

Após o piloto anunciar o pouso, observo Mia colocar o cinto de


segurança em silêncio, completamente alheia, como se estivesse perdida em
seu próprio mundo. Logo pousamos e, como previsto, Saul já está à nossa
espera, sempre alerta, atento a tudo que acontece à nossa volta. Não é à toa
que eu o tenho como o meu melhor homem, por ser um ex-fuzileiro
americano, suas habilidades são imprescindíveis, e já nos salvaram a vida
muitas vezes.

— Senhor… — cumprimenta com um breve aceno, enquanto


conduzo Mia para dentro do carro.

Alessio e Pablo entram no Mercedes dirigindo por Soya, outro dos


nossos seguranças.

Seguro no braço de Mia, obrigando-a a parar e olhar para mim.

— Saul, essa é Mia Ruggiero, minha moglie — digo, sentindo a


tensão irradiar do seu corpo. O que me causa irritação. Mia terá que aceitar
de uma vez que é minha mulher e não há nada que ela possa fazer para
mudar isso. — Bella, esse é Saul Romano, a partir de hoje ele será o seu
guarda-costas.

Mia imediatamente me encara.

— O quê? — Balança a cabeça em descrença. — Você não pode


estar falando sério.
Toco a sua bochecha ao mesmo tempo em que ela afasta minha
mão com um tapa.

— Sua segurança vem em primeiro lugar, amore mio. E confio que


Saul será capaz de protegê-la com a própria vida caso seja necessário.

— Até de você? — pergunta de forma petulante. — Porque é o


único que representa perigo para mim.

Estreito os meus olhos para ela, que estremece ao sentir-me


intensificando o meu aperto em seu braço. É uma pena que deixarei marcas
em sua pele alva, mas a minha bela moglie tem que saber a hora de se calar.
Um capo não pode demonstrar fraqueza, ainda mais na frente de outras
pessoas.

— Que bom que sabe o quão perigoso posso ser, Mia. Mas os meus
homens são leais a mim, então, pense duas vezes antes de cometer alguma
estupidez.

Seus lábios rosados tremem levemente e seus olhos brilham com


lágrimas acumuladas. Minha esposa parece estar à beira de um colapso. Ela
tenta se libertar do meu agarre, mas desiste quando percebe que é inútil os
seus esforços. Eu a tenho sob o meu domínio, e não estou disposto a ceder,
pois eu ainda não terminei.

— Agora entre e se comporte como uma boa, moglie — sussurro,


empurrando-o para dentro do carro.

Mia não faz contato visual, mas percebo como sua respiração está
acelerada, apesar de se encolher no assento. Aceno para Saul, que
imediatamente coloca o carro em movimento, rumo à mansão. O trajeto é
feito em silêncio, enquanto verifico alguns e-mails pendentes, de soslaio,
vejo Mia suspirar, olhando a paisagem.

Seus olhos se arregalam, observando a extensão à frente. Por mais


que o meu império tenha sido arduamente construído com sangue, não
deixo de me orgulhar. Depois da morte de Dominique Ruggiero, assumi o
seu posto e continuei o seu legado, expandindo-o dez vezes mais.

O carro avança nos dando a perfeita visão dos altos muros de tijolos
da propriedade, os portões forjados a ferro se abrem, revelando a longa
entrada de terra que se estende até a mansão. Algumas pessoas diriam que
se trata de um castelo pela arquitetura luxuosa digna de realeza.

Em comum acordo com meus irmãos, resolvemos manter a


pequena floresta densa que ladeia a mansão de um lado a outro. Formando
uma verdadeira fortaleza sombria e impenetrável, o lar dos Ruggiero.

Mia se contorce sobre o assento, seu nariz enrugado enquanto olha


através da janela.

Seus lábios se entreabrem e, em seguida, prende o lábio inferior,


demonstrando toda a sua inquietação. Conheço minha moglie melhor do
que ela pode imaginar. Sua boca esperta está pronta para falar. Seus olhos
azuis disparam em minha direção e arqueio uma sobrancelha.

— Há algo que queira compartilhar, amore mio? — pergunto e a


vejo engolir em seco, desviando o olhar, balançando a cabeça
negativamente.

Saul para o carro em frente ao jardim, desço, estendendo a mão


para Mia, que reluta e, com um suspiro profundo, segura a minha mão.
— Seja bem-vinda à nossa casa, bella — murmuro, espalmando a
mão na base da sua coluna, conduzindo-a para dentro da mansão.

Soya surge com um aceno, parando ao lado de Saul, ambos são


responsáveis pela segurança de toda a propriedade. Em outro momento,
Alessio costumava a ficar à frente da equipe com Saul, mas perdeu a minha
confiança e foi rebaixado até segunda ordem. Seu temperamento explosivo
e atitudes impulsivas ainda serão a sua ruína.

Atravessamos o pátio e drones pairavam sobre nós, e pude sentir a


drástica mudança de humor da minha esposa. Mia terá que se acostumar
com o meu sistema de segurança. Salvatore pode ter facilitado suas fugas,
mas nada e nem ninguém entra ou saí sem a minha permissão.

— Ótimo! Sou realmente uma prisioneira no castelo de horrores


dos Ruggiero — divaga baixinho, acelerando os seus passos. Deixo que ela
corra para dentro, afinal, Mia não terá para onde fugir.

— Quero um relatório completo durante os dias que ficamos


ausentes — falo, me virando para encarar Saul, que assente. — Alguma
novidade sobre os roubos nos galpões do porto?

Soya olha para Romano, que dá um passo à frente, deslizando a


mão sob o terno preto, em seguida, retira algo e estende em minha direção.

— Encontramos isso em um dos galpões. Os ladrões devem ter


deixado cair na fuga.

Pego o pequeno pendrive da sua mão, estudando o minúsculo


objeto minuciosamente.

— E o que temos aqui? — indago em busca de respostas.


— Informações privilegiadas, senhor. Plantas detalhadas de todos
os galpões — Soya responde prontamente.

Esfrego a nuca com força, o peso das últimas horas esmagando-me


com força. Após ser informado de uma intensa onda de roubos em alguns
galpões de armas e drogas e irremediáveis baixas em minha equipe de
segurança.

— Quero nomes de quem está por trás disso. Não importa em quais
confins teremos que ir para conseguir. Em seguida, quero que os traga para
mim. Fui claro? — rosno, incapaz de conter a fúria que ameaça explodir a
qualquer momento.

— Sim, senhor — Soya e Saul respondem em uníssono.

— Certo! Estão dispensados. — Giro em meus calcanhares,


andando a passos largos para dentro.

Aperto o ritmo, meu peito queimando em fúria. Quem em sã


consciência ousaria me desafiar no meu território. Tem que ser alguns
mercenários desavisados, caso contrário, uma guerra está prestes a começar.
Dominique foi temido por sempre começar um banho de sangue por onde
passava para defender o que é seu. E o seu legado não acabou. Deixarei
marcas profundas do nosso reinado sangrento e impiedoso. Ao desafiar um
Ruggiero, estará flertando com a própria morte.
Capítulo 10

Fecho as mãos em punho, apressando os meus passos. Por um


segundo, me vejo surpreendida pelo hall de entrada luxuoso da mansão,
mesmo que não deveria. Já imaginava pela magnífica arquitetura do lado de
fora.

Olho em volta com espanto, luxo não é a palavra para descrever


cada detalhe aqui. Meus saltos estalam sob o chão de mármore escuro,
enquanto vasculho cada detalhe com o olhar. Há obras de artes espalhadas
milimetricamente por paredes e alguns artefatos fazem parte da decoração.
Reprimo um suspiro quando ouço vozes e risadas em um corredor e
curiosamente me vejo andando nessa direção. Pares de olhos estão em mim
no segundo que paro no batente com um sorriso tenso nos lábios.

Alessio assobia, dando uma passo em minha direção, exibindo um


sorriso largo, que não alcança seus olhos me fazendo recuar de repente.

— Acalme-se, senhora Ruggiero. Só quero apresentá-la para Nina,


nossa cozinheira — Aponta para uma senhora baixinha de cabelos escuros e
olhos castanhos e, em seguida, para uma jovem ao seu lado, da mesma
estatura que eu, corpo esbelto, cabelos loiros e olhos verdes. — Aquela é
Karina, ela é uma espécie de auxiliar.

Assinto, obrigando-me a relaxar e pela primeira vez desde que


conheci Dário, meus lábios se curvam em um sorriso verdadeiro. Estendo
minha mão para Karina, que timidamente a toma em um aperto, em seguida
para Nina, que, apesar da cordialidade que deve estar acostumada a tratar os
seus patrões, pega a minha mão com um olhar desconfiado e sem nenhum
sorriso.

Pablo balança a cabeça e abraça Nina pelos ombros, sussurrando


algo em seu ouvido.

Estremeço com o olhar duro que a velha senhora me lançou. Será


que ela sabe que estou aqui contra a minha vontade? Que nunca desejei me
casar com um sociopata mafioso como Dário Ruggiero?

Meus pensamentos são dissolvidos com uma voz rouca atrás de


mim. A tensão que irradiava do meu corpo retorna com força total e tenho
que respirar fundo para não surtar diante de todos.

— Ciao, signore. — Nina sorri, amplamente, enquanto vejo meu


marido caminhar calmamente em sua direção e abraçá-la, e se afastar,
deixando um beijo breve em sua testa.

Pisco, chocada pela demonstração explícita de afeto. Diferente da


minha recepção, Nina se derreteu para ele e, quanto a Dário, ele sempre
pareceu um homem frio, calculista, desprovido de qualquer sentimento que
seja e ver esse seu lado humano me assusta, mais do que ter que lidar com o
seu outro lado sombrio e perverso.

Dário cumprimenta Karina, que acena respeitosamente, baixando o


olhar.

— Vejo que já conheceram a minha esposa, si? — Olha entre Nina


e Karina e ambas concordam.

— Ótimo — diz, embora sua expressão seja controlada, percebo


lascas de irritação em seus olhos. Com um passo à frente, sua mão áspera
encontra a minha cintura. — Tenho alguns assuntos para resolver no
escritório com Pablo e Alessio — informa, tocando levemente a minha
bochecha, me fazendo ofegar e quase fechar os olhos. Apesar de toda a
raiva que estou sentindo, não consigo impedir o meu corpo de reagir a cada
vez que ele me toca. — Karina a levará para conhecer o nosso quarto. Tome
um banho e descanse. Será informada quando o almoço estiver pronto.

Desvio o meu olhar do seu, assentindo, sentindo-me exausta para


enfrentar a intensidade brutal do seu olhar. Dário se afasta, mas, antes de
sair, seus lábios tocam a minha têmpora, de maneira irreverente.

Sinto o meu estômago se contorcer em expectativa de algo que não


sei explicar. Dário saí, sendo seguido por seus irmãos, enquanto assisto à
saída dos três, Nina limpa a garganta, chamando a minha atenção.

— Agora que é a signora Ruggiero, o que devo preparar para o


almoço?

Sorvo o ar lentamente, olhando de maneira suplicante para Karina,


que apenas sorri e dá de ombros.

— Eu… pode preparar o que tinha em mente. Não me importo. —


Sorrio, recebendo um revirar de olhos dela. Nina gira em seus calcanhares,
resmungando baixo, andando em direção ao um corredor que dará para
cozinha, presumo. — Ela não gosta de mim — divago para ninguém além
de mim mesma.

Karina se põe ao meu lado.

— Não se preocupe com ela. Nina é rabugenta e tem ciúmes de


todos os nossos patrões, principalmente do senhor Dário. Ela os viu nascer,
ajudou a mãe deles a criá-los e, quando a senhora faleceu, ela se tornou uma
mãe para todos eles.

Balanço a cabeça tristemente. Um nó se formando na minha


garganta. É doloroso imaginar que mesmo um monstro cruel como ele
passou pela mesma dor que eu passei ao perder a única pessoa que amava
de verdade.

Continuo a andar em silêncio, escutando Karina mostrar detalhes da


mansão. Paramos ao pé de uma enorme escada curva de mármore escuro e
corrimão forjado em dourado. Seus olhos esverdeados deslizam para a
direita, onde aponta discretamente.

— Naquele corredor, fica o escritório do senhor Dário e, à


esquerda, a ala onde o senhor Pablo e Alessio dividiam, mas ambos tem
apartamentos na cidade e já se mudaram.

Percebo que, ao proferir o último irmão, as bochechas de Karina


enrubescem e, para disfarçar o constrangimento, ela começa a subir as
escadas acima pedindo-me para segui-la.

Ando em seu encalço, deixando para lá certa desconfiança. Apesar


da notável timidez, Karina não me parece uma jovem indefesa, não posso
interferir em o que quer que esteja acontecendo. Cessamos os passos diante
de uma porta de madeira nobre. Alcançando a maçaneta, Karina abre e
acena para eu entrar.

O choque é evidente no meu rosto não só pelo luxo, mas pela


espaçosa cama king size com lençóis cinza e um dossel da mesma cor. Meu
coração acelera com a amarga constatação que este é o meu novo quarto e
aquela será a minha cama que dividirei com o homem que decidiu que me
teria para si.

Percebendo que estou paralisada na entrada, Karina sorri em


compreensão. Aponta para a porta à frente, revelando ser o banheiro da
suíte e outra porta ostensiva, informando se tratar do closet do casal.
Agradeço, sentindo uma lágrima solitária rolar pela minha bochecha.
Limpo-a rapidamente antes que Karina possa ver o meu estado. Não quero
demonstrar fraqueza perante os funcionários ou até mesmo para o meu
marido.

Ando até a alta janela que dá acesso à paisagem de uma densa


floresta escura com bosque do lado de fora. O vento uiva enquanto balança
a copa das árvores. Um arrepio percorre todo o meu corpo, me fazendo
afastar-me imediatamente do peitoril da janela. Recuo lentamente, minhas
costas colidindo com pesadas cortinas cor de chumbo, com detalhes
brocados, presa por fios dourados.

Karina tenta fechá-las, mas nego com um leve aceno de cabeça.


Meus olhos percorrem o espaço, que não possui muito mobília, exceto por
uma elegante poltrona de couro em uma extremidade, e uma penteadeira de
madeira escura estilo provençal.

— O closet já está abastecido com tudo que a senhora precisa. Mas,


se sentir falta de algo, por favor, deixe-nos saber. Providenciaremos
imediatamente.

— Obrigada, Karina. — digo sinceramente. Gostei dela. Pelo


menos terei alguém nessa prisão para conversar.
— Bom, agora que já está instalada, a deixarei descansar. —
Agradeço a Karina novamente, e ela sai, fechando a porta atrás de si.

Exausta, entro no banheiro, mais uma vez, deparando-me com luxo


e bom gosto. O espaço é de mármore escuro como quase todo o restante da
mansão. Encho a banheira disposta a relaxar e não pensar como será a
minha vida daqui para frente. Após enchê-la e colocar sais de banho, dispo-
me e entro devagar, deixando que a temperatura aprazível da água e o
cheiro divino envolvam meu corpo completamente. Pendo a cabeça para
trás e, com um suspiro profundo, fecho os olhos, perdendo a noção do
tempo.

Horas mais tarde, sinto uma sensação estranha e abro os olhos,


encontrando um par de olhos azuis me observando intensamente. Cerro o
maxilar, cruzando os braços na altura do seios, tentando inutilmente
escondê-los do olhar faminto do meu marido.

As sobrancelhas de Dário se juntam e, alcançando um roupão do


cabide, ele vem em minha direção. Ergo o queixo no segundo em que
vislumbro um sorriso perigoso brincando em seus lábios sensuais. Elevo-
me, deixando que a água e a espuma escorram livremente pelo meu corpo,
atraindo toda a sua atenção.

Seus olhos brilham olhando diretamente o ápice das minhas coxas


e, em seguida, para os meus seios, que inevitavelmente, por conta do frio, já
estavam com mamilos rígidos.

Apesar da sua fachada fria e controlada, vejo como aperta o tecido


felpudo do roupão em seu punho e como se esforça para se manter no
controle. Sorrio internamente, me sentindo satisfeita. Não serei mais um
joguete em suas mãos e muito menos o deixarei entrar em minha mente,
serei eu a fazer isso.

Tento pegar o roupão da sua mão, mas Dário não o solta e, no


segundo em que tento novamente, um braço é envolto na minha cintura,
colando nossos corpos. O tecido caro do seu terno roça o bico dos meus
seios, mordo o lábio inferior, impedindo que um gemido escape.

Ficamos nos encarando por um segundo, até senti-lo esfregar o


tecido macio na minha pele.

Em silêncio, observando cada reação minha, Dário enxuga-me


pacientemente e, em seguida, coloca o roupão, amarrando o cordão na
minha cintura.

De costas, levo o meu olhar para o espelho, visualizando seus


dedos deslizarem o terno cinza pelos ombros largos e trabalharem
rapidamente nos botões da sua camisa branca, revelando seu peito nu.

Lambo os lábios de repente sentindo minha respiração pesar e a


pele esquentar de maneira quase insuportável. E tudo piora quando ouço o
som inconfundível do seu cinto sendo aberto, seguido pelo zíper.

Meus olhos traidores resolveram espioná-lo no exato momento em


que Dário se livrava da sua cueca boxer. Seus olhos encontram os meus,
vidrados em suas mãos em volta de uma maciça ereção. Calor percorre seus
olhos, assim como incendeia todo o meu corpo. Minha mente grita,
obrigando-me a desviar o olhar, mas é impossível. Meu marido parece
determinado em me fazer assistir ao seu show.

Com um olhar sombrio e sorriso devasso, ele começa a acariciar o


seu membro em movimentos lentos e quase preguiçosos. Seus músculos do
abdômen se contraem e Dário geme, mordendo o lábio inferior.

A ação é tão crua e primitiva que me pego excitada e quase


tremendo, ansiando pelo prazer.

— Aposto que está molhada para mim, principessa — fala com um


tom rouco em seu perfeito sotaque italiano, me fazendo apertar a borda de
mármore da pia para firmar o meu corpo que está quase zunindo de
ansiedade. Ele sorri, acelerando os seus movimentos, os olhos
diabolicamente cravados nos meus —, que está ansiosa por esse
momento… — murmura rudemente, sua pele bronzeada brilhando uma fina
camada de suor. — É só pedir, amore mio — grunhe. — Implore! E eu
foderei você. A farei gozar como nenhum outro filho da puta foi capaz de
fazer. — O ar se torna espesso a nossa volta e o observo como seus cílios
grossos piscam sob a névoa erótica da luxúria. — Implore! — ordena,
exalando pesadamente, continuando com a árdua missão de extrair o pior de
mim. O lado obscuro anseia por coisas perigosas, desejando ser arrebatada
por homens cruéis e selvagens como Dário Ruggiero.

Olho para baixo, observando como os nós dos meus dedos estão
pálidos devido à força que empunho contra a beirada da pia. Balanço a
cabeça, negando veemente, por mais que minha intimidade pulse
enlouquecida de desejo.

—N-ão! — sibilo entre os dentes. — Nunca irei implorar… por


nada e nem ninguém — sopro, minha respiração vacilante, enquanto ergo
os meus olhos encontrados os seus, obscurecidos pela necessidade.

Dário aperta o seu comprimento, acariciando-o deliberadamente da


base até a ponta, me fazendo vislumbrar gotas do seu pré-gozo brilharem na
cabeça robusta do seu pau.
Minha boca saliva e, com um esforço monumental, empurro-me
fora da bancada, afastando-me e correndo para a segurança do quarto,
deixando para trás a tentação de jogar-me em seus braços e deixá-lo me
foder contra o mármore frio, mesmo odiando-o profundamente.

Fecho a porta atrás de mim, escutando os seus gemidos roucos e,


por fim, um grunhido gutural que ecoa na cacofonia da minha mente. Levo
as mãos à boca, ofegante, sem acreditar que ouvi-lo gozar primitivamente
do outro lado da porta quase me levou ao meu próprio orgasmo.

Arrasto uma mão em direção ao meio das minhas coxas,


alcançando minhas dobras lisas, encontrando-as úmidas e quente, pulsando
em busca de alívio. Travo o maxilar, deixando que minhas mãos caiam ao
lado do meu corpo, recusando-me a me tocar pensando nele.

Fecho os meus olhos e respiro fundo algumas vezes, sinto-me


doente por quase deixar que os meus desejos assumissem mais uma vez.
Ouço o som do box deslizar e o barulho do chuveiro ligado e,
imediatamente, impeço minha mente de projetar imagens da pele beijada
pelo sol, cheias de cicatrizes, desenhos e músculos recebendo jatos de água
escorrendo vividamente pelo seu corpo.
Capítulo 11

Dois dias depois…

De posse de um chapéu e óculos escuros, relaxo em uma


espreguiçadeira à beira da piscina. Enquanto saboreio o silêncio e a brisa
amena que sopra suavemente, leio um livro de ficção científica que
encontrei na biblioteca quando explorava a mansão. Confesso que não
esperava encontrar uma, Dário ou até mesmo Pablo e Alessio não me
parecem o tipo que apreciam uma boa leitura. Para a minha felicidade, a
requintada biblioteca está abastecida com livros de múltiplos gêneros, o que
deixou os meus dias um pouco mais suportáveis. Karina revelou que
Annabeth Ruggiero passava horas lendo um livro atrás do outro e, para
agradá-la, Dominique mandou construir uma biblioteca na mansão.

Lambo os meus lábios alcançando o suco de melancia que Karina


havia trazido mais cedo. Minha postura enrijece quando percebo Dário
andando pelo jardim, acompanhado de Soya e Alessio. Há um clima tenso
entre eles e, pela expressão assassina no rosto do meu marido, uma guerra
está prestes a começar.

Contorço-me no lugar quando seus olhos ferozes encontram os


meus e, em uma batida, sinto minha pele queimar. Dário não esconde sua
fome incontrolável enquanto desliza seu olhar por todo o meu corpo. A
atmosfera sempre parece ficar mais densa na sua presença e os efeitos que
ele desperta em meu corpo são assustadores.
Mais uma vez minha intimidade se contraí e tento o meu melhor
para não demonstrar o quanto fui afetada por ele.

Imagens das suas mãos grandes envolvendo o seu pau irrompem na


minha mente e desesperadamente começo a expurgá-las.

Deus! Ele não pode entrar na minha mente. Repito mentalmente,


levando o meu olhar para longe dele, mas não antes de perceber seus lábios
se curvando em um sorriso cruel.

Meu estômago se revira com a remota possibilidade de ele saber o


que estou pensando. Até o diabo tem os seus privilegiados. Dário é a prova
incontestável disso.

Os três homens entraram na Mercedes, que logo saí em alta


velocidade. Aproveito que o meu marido se foi para continuar estudando a
propriedade, assim poderei pensar em uma maneira de fugir sem ser
descoberta. Eu ainda não desisti de ter a minha liberdade de volta e eu não
escolhi ser a esposa de um mafioso.

Faço algumas perguntas para Karina, que, mesmo relutante,


responde a tudo atenciosamente, ao contrário de Nina. Aquela velha tem se
tornado a pedra no meu sapato. Sempre implicando e lembrando-me que
uma boa esposa se preocupa em agradar o marido e dar-lhe um herdeiro.
Arg! Essa mulher já está começando a dar nos nervos.

Solto um suspiro profundo, meus ombros curvados em derrota. A


mansão é altamente segura e dificilmente alguém escaparia de toda essa
vigilância. Meus olhos deslizam para a floresta escura, não há muros, mas
certamente é vigiada por câmeras e drones, como toda a propriedade.
Dou minha expedição por encerrada, retornando para o meu quarto.
Consegui manter uma distância segura de Dário enquanto dividíamos a
cama, mesmo sentindo a tensão irradiar do seu corpo durante as duas noites
passadas. Sei que não se manterá no controle por muito tempo e me espanta
ele não ter exigido os seus direitos de marido como outro teria.

A tarde passa como borrão e logo anoitece. O jantar foi servido e


apenas Pablo estava na mesa. Dário e Alessio ainda não haviam chegado, o
que despertou uma pontada de curiosidade, mas engulo, disposta a não
deixá-lo pensar que estou preocupada.

O jantar corre em silêncio, como Nina, Pablo também não gosta de


mim, meu cunhado é bastante pragmático e não faz questão de esconder o
seu desgosto em relação à minha pessoa. Seus olhos castanhos são quase
sempre inquisitivos quando lançados na minha direção.

Assim que o jantar acaba, Karina retira a mesa, e aproveito o


momento para deixar a sala de jantar, mas antes que eu possa alcançar o
corredor para ir à biblioteca, a voz de Pablo estala atrás de mim.

— Encontrou o que tanto procurava essa tarde? — Cesso os meus


passos e engulo em seco, virando-me para encará-lo.

— Perdão? — Junto as minhas sobrancelhas, imitando a minha


melhor cara de paisagem.

Pablo coça o queixo, seus olhos castanhos estreitos e inelegíveis


causando-me um arrepio.

— Soube que está se dedicando a conhecer toda a propriedade,


andou fazendo perguntas para alguns dos nossos funcionários — divaga em
voz baixa, seus lábios se curvando quase que discretamente.
Congelo, sentindo minhas palmas suarem e tremer levemente.
Fecho minhas mãos em punhos e ergo o queixo devolvendo o seu olhar
afiado, uma maneira rápida de distraí-lo do meu quase colapso nervoso.

— Sim! — apresso-me em respondê-lo. — Precisava ocupar o meu


tempo com alguma coisa, ou também estou proibida de sair do quarto?

Ele fica em silêncio enquanto leva a taça de vinho aos lábios e o


degusta calmamente, o que me irrita. É um dom natural de todo Ruggiero.

— De maneira nenhuma. Seu marido lhe dá toda a liberdade que


precisa, claro, sempre acompanhada de Saul, o seu guarda-costas. —
Deposita a taça novamente sobre a mesa e volta o seu olhar para mim.

— Mas alguma coisa? — pergunto sarcasticamente.

— A floresta não é segura. Há muitos predadores à solta, mas isso


você já deve saber, não?

Começo a tremer, mas faço um esforço para concordar, e peço


licença. Saio correndo da sala de jantar e não olho para trás. Mal escutei a
sua última frase, a palavra prisão ecoando na minha mente junto da terrível
frustração que ameaça dominar todo o meu corpo.

Com um misto de fúria e decepção, avanço para o quarto,


desistindo de ir para a biblioteca, refletindo como fui estúpida em
subestimá-los. Claro que minhas fugas anteriores contribuíram para isso,
ninguém confiará que não tentarei uma próxima vez. Preciso ser mais
cuidadosa e até mesmo submissa, se isso significar que terei alguma
vantagem sobre eles.
Deito-me na cama, rolando de costas, fitando o teto fixamente.
Logo o silêncio do quarto é interrompido pelo barulho de carros do lado de
fora. Ouço o som de portas se abrindo e, em seguida, batendo com força.
Arregalo os olhos e pulo da cama, tropeçando nos meus próprios pés,
cambaleando até o peitoril da janela. Agacho-me e espio por entre a pesada
cortina, vislumbrando sombras andando até uma lateral que dá acesso à ala
subterrânea da mansão. Graças à suave iluminação da lua cheia, pude
perceber que Alessio e Dário caminham lado a lado, liderando o caminho,
enquanto Saul segue atrás, arrastando alguém que rosna e se debate,
tentando se libertar do seu agarre.

Um arrepio percorre minha espinha, dando-me conta que aquele


homem está sendo arrastado direto para a sala secreta. Karina comentou
sobre ela e me fez jurar para nunca ir até lá. Segundo ela, é uma zona
proibida, onde Dário mantém os seus inimigos e até mesmo traidores presos
e os tortura até a morte.

Papai, embora seja temido por ser cruel com seus inimigos,
guardou esse seu lado longe da nossa casa, pelo menos até mamãe morrer e
inevitavelmente apenas rumores de suas atrocidades chegavam até nós.

Suspiro, balançando a cabeça lentamente, pois, movida por uma


irresistível curiosidade impulsivamente, me vejo abandonando o quarto e
saindo na surdina, indo ao encontro do perigo ou, quem sabe, da minha
própria morte.

Levanto a barra do meu vestido de algodão, mantendo o tecido


branco preso entre meus dedos, tomando cuidado para não tropeçar
enquanto desço os degraus da escada principal.
Cruzo a sala de estar, concentrando-me na missão de sair sem ser
vista. Os demais cômodos estão com as luzes apagadas, exceto o corredor
que dá até o escritório, o que significa que Pablo está por perto.

Espero um segundo para emergir do outro lado, escapando pelo hall


de entrada. Assim que passo pela porta, sou atingida pelo frio da noite de
gelar os ossos. Do outro lado do pátio, avisto Soya conversar com um dos
seguranças, ambos fumando um cigarro.

Espero o momento certo para me agachar e correr para a ala


subterrânea. Sei com qual frequência os drones circulam sobre a
propriedade e, mesmo à noite, eles têm sensores de calor e, ao detectar algo
estranho, um alerta é disparado para a central de vigilância. Quando tenho a
vantagem que preciso, corro e me escondo, alcançando uma porta pesada de
ferro que estava levemente fechada.

Os gritos e grunhidos de dor me alcançam assim que entro pelo


caminho de pedras. Sons de socos e ossos quebrados são cada vez mais
audíveis à medida que avanço.

— Vamos, posso fazer isso a noite toda. — Escuto o rosnado feroz


do meu marido. — Porém, eu não estou disposto. Acabei de me casar e
tenho deveres a cumprir, você me entende, não? — murmura, e um estrondo
acompanha sua voz irritada.

Aproximo-me o suficiente para enxergar Dário parado à frente de


um homem amarrado em uma cadeira. Sua face está completamente
desfigurada, com uma faca enterrada na coxa direita. Meu estômago se
contorce e sou obrigada a respirar para não vomitar com a cena.
Saul está postado ao lado do homem, com uma mão em cima do
coldre em sua cintura, como se estivesse apenas esperando uma ordem do
chefe.

Alessio, seu irmão caçula, segura uma faca de caça, ostentando um


sorriso sádico, seus olhos o tempo todo no homem, tentando intimidá-lo,
deslizando as pontas dos dedos na lâmina escura afiada.

— Vá pro inferno! — rebate fracamente em um sotaque diferente, e


quase posso apostar que é russo.

Dário sorri, ele está um passo à frente e suas mãos, fechadas em


punho. Sem o terno, ele parece ainda mais temível. Com uma camisa branca
social, as mangas estão dobradas até o cotovelo, expondo uma infinidade de
tatuagens que se arrastam por toda a sua pele. Um fato que antes não
despertava o meu interesse, mas que agora meus olhos não conseguem
desviar da beleza caótica delas.

— Isso é tudo que tem a dizer? — indaga com uma voz


perigosamente controlada, inclinando-se em sua direção. Dário agarra um
punhado do cabelo loiro do homem, obrigando-o a encará-lo. — Há dias,
meus galpões estão sendo saqueados e meus homens, abatidos em combate.
Diga o que preciso saber! — exige, intensificando o seu agarre, fazendo o
homem ser contorcer de dor. — Me dê a localização de onde eles estão
agora e prometo que terá uma morte rápida.

Meus olhos se arregalam quando ele agarra a faca cravada na coxa


do russo e a torce impiedosamente. O homem grita sem fôlego e o som
horrendo provoca uma onda de pânico.
— M-ate-me! — o russo desafia-o. — Eu não direi nenhuma
palavra, Ruggiero — brada, literalmente cuspindo nos sapatos de grife do
meu marido.

Uma veia salta do maxilar de Dário e, em um movimento rápido,


ele retira a faca cravada na coxa e a leva para a garganta do russo, que
congela com um silvo:

— Última chance, porra!

O homem não se move, continuando em silêncio.

A bile sobe para minha garganta quando a lâmina afunda na jugular


do russo, o sangue explode, atingindo-o e formando uma enorme poça
espessa sob os seus pés. Minhas mãos instantaneamente vão para a minha
boca, abafando um grito de horror.

Dário retira a lâmina e escolhe o exato momento para olhar para


trás. Graças aos céus, ele não me viu, mas a imagem que está diante dos
meus olhos é algo além de assustadora. A escuridão envolve seu rosto
enquanto ele se livra da camisa branca, imaculada pelo sangue de outro
homem, e a joga no chão. Seus músculos sólidos brilham com suor, e meu
corpo vibra com a energia nervosa que emana dele.

— Ligue para a Soya e peça para ele cuidar da limpeza. Se eu


estiver certo, a Bratva mandará reforços, e estaremos preparados para eles.

Mantenho minha atenção à frente enquanto recuo lentamente, em


seguida, corro para fora, atordoada, respirando com dificuldade. Meus olhos
disparam para o pátio e, assim que escapo pela porta, de longe, avisto Soya
e outros seguranças vindo na direção da sala secreta. Leva um segundo para
pensar em um jeito para escapar e passar despercebida. Meus olhos seguem
para a floresta escura e as palavras que Pablo disse mais cedo começam a
pipocar na minha mente. “Há muitos predadores à solta”. Balanço a cabeça
freneticamente. Que se foda todos eles. Com Dário e os outros ocupados,
esta pode ser minha única chance de escapar dessa prisão.

Inspiro o ar lentamente e, usando todo o resquício de coragem que


possuo, corro para a floresta com os meus pés se movendo com agilidade, e
só paro quando adentro a mata densa. Ergo a cabeça, fitando o céu
estrelado, completamente aliviada pelo brilho suave e iluminado da lua
cheia, que, apesar de ser noite, permite que tenha a visão um pouco nítida
para que possa seguir até encontrar a saída ou um lugar seguro para me
esconder. Dário não vai demorar para sentir a minha falta e não quero
imaginar a sua reação quando se der conta disso.

Puxo o fôlego, escorando-me em uma árvore, o ar frio estalando em


meus ossos, levando-me a tremer o queixo. Mas não posso parar agora,
preciso continuar antes que seja tarde demais. Continuo a andar em alerta a
qualquer barulho à minha volta, concentrando toda a minha energia para
escapar desse lugar. Então tudo acontece rápido, ouço passos apressados e
um rastro potente de luz direcionado para mim, ofuscando a minha visão.

— Não deveria estar fora do nosso quarto, amore mio. — Congelo


com o tom de voz cortante. — A floresta é perigosa, há predadores à
espreita, prontos para devorá-la. — Sorri. Sua risada baixa provocando uma
onda de arrepios em todo o meu corpo. — É isso que deseja, Mia? —
pergunta, e encaro sua silhueta através dos meus longos cílios.

Dário dá um passo à frente, baixando sua mão direita munida com


uma lanterna. Pisco uma vez, vislumbrando sua presença viril e sólida, com
seu torso nu brilhando na semiescuridão.
Meu olhar cruza o seu completamente em chamas, enquanto ele se
aproxima ainda mais. Seus músculos rígidos sobressaindo a cada
movimento calculado.

— Perguntei se é isso que quer, moglie. Ser devorada como uma


putana suja? — Os cantos dos seus lábios se curvam e Dário acaba com a
distância que nos separa. — Sou um predador experiente — sopra, roçando
os lábios em um lado do meu pescoço. Sua barba por fazer me fazendo
fechar os olhos brevemente. Cerro os punhos, pronta para afastá-lo. —
Tenho fome… — sussurra, e eu respiro fundo. — E estou cansado de
bancar o benevolente. — Seu tom é carregado de algo escuro e perigoso,
mal tenho tempo para pensar nisso, pois, no segundo seguinte sou prensada
de costas contra uma árvore. Seus olhos azuis faiscando luxúria e uma
pura… obsessão irrefreável.
Capítulo 12

Meu coração bate forte contra as minhas costelas e lufadas de ar


escapam dos meus lábios trêmulos. O ar frio, que antes sentia, se foi, dando
lugar ao calor que emana de Dário, envolvendo cada centímetro do meu
corpo.

Ergo o queixo lentamente e seus olhos estão fixos nos meus.


Impacientes. Afiados e deliciosamente cruéis. Abro a boca para falar e logo
seu dedo indicador silencia-me.

Meu peito sobe e desce, seguindo a cadência rítmica do seu, sua


mão agarra a minha garganta, pressionando-a fracamente.

— Tão delicada… — sussurra, roçando o polegar na extensão do


meu pescoço, acariciando a veia pulsante dele. — Sua pele de porcelana
marca fácil, amore mio. Isso é algo que fode a minha mente. É como ter
uma tela em branco na qual posso pintar minha obra de arte.

Lambe os lábios, esfregando sua dura ereção no meu clitóris,


arrancando um gemido rouco do fundo da minha garganta. Sua outra mão
livre serpenteia em um lado da minha cintura, puxando a barra do vestido
para cima, agrupando-o no meu quadril.

Dário lança-me um olhar pesado através das sombras, e eu revido,


empurrando sua construção sólida para longe.

— Não ouse tocar em mim — aviso entredentes.


Ele não diz uma palavra, apenas alcança minhas coxas, erguendo-
me no ar e travando-me novamente contra a maldita árvore. Seus dedos
quentes passam pelas minhas dobras lisas, sentindo o quanto estou
molhada.

— Tem certeza de que é isso mesmo que deseja? — provoca, e


estremeço com o seu tom de voz profundo. — Que eu não a toque quando
não é isso que o seu corpo diz?

Meus lábios se abrem e a raiva e o temor que consumiam minhas


entranhas, aos poucos, se dissipam, e me liquefaço em seus braços.

Ainda que eu o odeie profundamente, estou cansada de fugir e


esgotada por ser sempre pega em sua órbita sombria e poderosa. O canto
dos seus lábios arqueiam quando percebe que eu parei de me debater.

— Tomarei o seu silêncio como resposta, bella.

Balanço a cabeça, suspirando pesadamente.

— Não importa. Isso não quer dizer nada. Eu só posso estar doente.
Não ouviu falar que até mesmo a própria vítima pode se apaixonar pelo seu
sequestrador? — Indago de maneira desafiante, embora sinto a minha
bravata quase inexistente agora.

— É isso mesmo que pensa? — Seu hálito quente sopra a


centímetros dos meus lábios, roçando-os levemente.

— É isso que repete para aliviar a tensão que está aí dentro,


moglie? — Seu aperto intensifica na minha garganta, e não sei se isso é
possível, mas minha boceta pulsa em antecipação. Seus dedos continuam
provocando minhas dobras e, sem perceber, deixo escapar um longo e
tortuoso gemido. — Está pingando por mim, principessa — Dário grunhe
ofegante. — Está na hora de reivindicá-la como minha. — Mergulha os
dedos no fino tecido de renda da minha calcinha, arrancando-a com um
puxão firme. — Dessa vez a farei gritar e gemer a porra do meu nome.

Arregalo os olhos, meus dedos cravando em seus ombros largos, ao


som do seu cinto sendo desafivelado. Meus olhos caem para baixo e
imediatamente me arrependo. Seu pau salta livre, pesado, pulsando
vividamente. Balanço a cabeça, e Dário lambe os lábios, começando a
acariciá-lo e guiá-lo para a minha entrada.

Sua cabeça quente toca o meu clitóris e mil arrepios explodem pelo
meu corpo. Se antes eu não tinha forças para resistir a ele, agora é quase
impossível. Um fraco suspiro escapa dos meus lábios cerrados e me vejo
cravando ainda mais as unhas em seus músculos rígidos.

— D-ário… P-or favor! — Para o meu horror, minha voz sai baixa,
como um mero sussurro suplicante.

Seus olhos se concentram nos meus e a luxúria carnal que


transborda através dele me deixa alucinada e completamente fora do ar. Ele
sorri possessivamente e, antes que eu possa pensar, meus olhos se fecham e
um grito se perde quando o sinto empurrar em um só golpe dentro de mim.

— Mia… — geme em um tom rouco, deslizando ainda mais fundo.


— Deus, você é deliciosa, amore mio — rosna, aumentando as suas
estocadas.

Meus olhos se enchem de lágrimas, o prazer é quase insuportável e


irrompe por cada centímetro do meu corpo com um trem desgovernado.
Dário alcança o meu queixo e o agarra, me obrigado a olhar para
seus olhos frios e implacáveis enquanto estoca com ferocidade, fazendo
com que minhas costas deslizem contra a aspereza do tronco de árvore, mas
isso não importa, porque estou a ponto de explodir em milhões de pedaços,
e me custa admitir que meu algoz seja o responsável por isso.

— Não me prive dos seus gemidos, Mia.

Ele puxa devagar para sair, em seguida, volta com força,


arrancando, além de gemidos, o seu nome de forma urgente e trêmula.
Dário é insaciável e, quanto mais franzo os lábios disposta a não lhe dar o
prazer de ouvir minha voz, mais ele se torna bruto e selvagem, provocando
uma avalanche caótica no meu corpo.

Ofego quando a primeira onda me atinge e, quando seus lábios


quentes sugam um mamilo por entre o fino tecido do vestido e o morde, a
dor aguda se mistura, o prazer é triplicado e grito, montando o meu
orgasmo. Dário continua batendo forte em mim, girando os quadris, com
impulsos profundos, prolongando ainda mais a sensação de plenitude e,
quando acho que vou desmaiar, seu corpo se retesa, seus músculos se
apertam contra os meus e seu rosto suado se enterra na curvatura do meu
pescoço. Com um grunhido gutural ecoando na minha pele, ele explode,
enchendo-me com seu jorro quente.

Buscando o ar para respirar, um clique estala na minha mente: eu


me curvei para o diabo e adorei cada segundo disso. Fecho os olhos
brevemente e o sinto se afastar.

— Abra os olhos, amore mio — ordena, seu tom fechado para


negociação enquanto seus dedos percorrem o meu maxilar.
Demoro um segundo para abrir os olhos, e isso parece irritá-lo.
Dário segura o meu queixo e aproxima os nossos lábios, segurando o
inferior com firmeza. O ato em si é bruto, e, mesmo assim, dispara pontadas
de prazer diretamente no meu núcleo. Abro os olhos e o encaro. Minhas
narinas estão infladas, meu rosto, uma bagunça, com um misto de
sentimentos que vai além da excitação e fúria.

— Nunca mais se esconda de mim, Mia. Eu amo ver os seus olhos


quando estou dentro de você. É fodidamente incrível quando se entrega
para mim. — Desvio o olhar, não querendo demonstrar o quanto suas
palavras me afetam. — Mia… — Seu alerta me faz estremecer.

Encaro o seu olhos novamente, o brilho suave da lua pairando sobre


seu rosto.

— Isso não muda nada — digo, embora eu sinta que algo mudou
entre nós, mas nunca repetirei isso em voz alta.

Dário desliza para fora, me coloca em meus próprios pés e fecha o


zíper da calça, sem se preocupar em colocar o cinto.

— Veremos — rebate, levantando-me em seus braços.

Grito, surpresa, enrolando os meus braços em volta do seu pescoço,


suspirando levemente sentindo o cheiro de suor, sexo e especiarias exalando
do seu corpo. Retornamos para a mansão. O tempo todo o seu olhar
sombrio focado à frente, em passos calmos e confiantes. O ar gelado da
noite pouco tem efeito agora, tudo que posso sentir é a vibração calorosa
que emana do seu corpo.

Atravessamos o pátio principal, e respiro fundo, escondendo minha


face no seu peito largo. Alguns guardas fazem a ronda noturna, e minhas
bochechas esquentam ao imaginá-los assistindo a essa cena. Não precisaria
ser um gênio para ligar os pontos. Meu coração acelera no peito, sangue
zunindo em minhas veias, eu permiti que isso acontecesse, que o monstro
do meu marido me tomasse no meio de uma floresta escura, me entreguei a
sua sordidez e permiti que meu corpo se afogasse na luxúria.

De dois em dois degraus, chegamos no nosso quarto e sutilmente


Dário me coloca em meu pés novamente. Tento o meu melhor para não
olhar em seu rosto e como sempre meu gesto não o agrada.

— E-u preciso tomar um banho — digo em voz baixa, passando


por ele.

Uma mão áspera segura o meu pulso com firmeza e minhas costas
colidem com o seu peito nu. Meus lábios se abrem com a sensação crua da
sua pele contra a minha.

Fico imóvel, apenas lufadas trêmulas de ar me escapam. Dário se


aproxima, seus lábios pairando na concha da minha orelha, mordiscando-a
levemente. Seus dedos varrem as alças do vestido para baixo, fazendo que o
tecido escorregue do meu corpo, formando uma piscina sob os meus pés.

— Mia… você é tão perfeita — ofega, segurando um punhado do


meu cabelo, puxando-o para trás com certa agressividade. — Porra! E só
minha!

Obsessão crua exala da sua voz, e não posso impedir meu corpo de
tremer e vibrar com a borda escura e letal do seu tom. Ele se afasta e, com
agilidade, abre o zíper da sua calça, a levando para baixo junto da boxer.
Em seguida, seus braços me alcançam e Dário nos leva para o banheiro.
Com cuidado, ele me posiciona embaixo do chuveiro, liga-o em uma
temperatura agradável e começa a lavar todo o meu corpo, massageando
suavemente como se venerasse cada centímetro dele. Suas mãos, embora já
tenham feito coisas atrozes, agora são cuidadosas e gentis, lavando-me
como se eu fosse a coisa mais importante da sua vida.
Capítulo 13

Toco sua bochecha, sentindo o seu calor rastejar sob minha pele.
Devia acordá-la agora mesmo e levá-la outra vez e fazê-la gritar de dor e
prazer. Respiro fundo, controlando o impulso assassino de machucá-la. Mia
desobedeceu às minhas ordens, desafiou-me mesmo eu deixando claro que
não seria misericordioso. Ela tem claramente um desejo de morte e sempre
desperta o pior de mim. O monstro cruel e impiedoso que aparece apenas
para os meus inimigos e traidores.

Observo seus longos cílios vibrarem, assim como a cadência


tranquila do seu peito que sobe e desce. Seus seios médios se revelam por
entre o tecido de cetim macio das cobertas. Os bicos levemente rosados,
apertados até mesmo em seu sono. Fecho as mãos em punhos, impedindo-
me de tocá-los e levá-los à boca. Quero mordê-los e deixá-los inchados,
ansiando por mais e mais.

Após lavar todo o seu corpo e secá-lo, senti minha moglie se afastar
de mim, é como se os muros altos que sempre estiveram lá quando nos
conhecemos dobrassem de tamanho, tornando-se um escudo impenetrável.
Mia se deitou quase na ponta da cama e, engolindo minha irritação e desejo
de finalmente fazê-la se curvar a mim, deixei que fizesse, mas, no meio da
noite, senti seu cheiro delicioso de rosas e seu corpo macio descansar contra
o meu.

Se há alguma coisa que eu sei é que, embora minha esposa


negligencie seu reinado, que tente arduamente fugir e repita
incansavelmente que não foi feita para essa vida, ela não poderia estar mais
errada. Sei que andou me espionando e é desnecessário dizer que controlo
tudo à minha volta, e sua ida até a sala secreta não passou despercebido por
mim, muito menos sua tentativa meia-boca de escapar da mansão.

Quando pedi a meus homens que não a seguissem logo que recebi o
alerta da sua fuga no meu celular, estava determinado a dar-lhe uma lição.
Mas, assim que os meus olhos encontraram o azul-cobalto dos seus, todo o
meu plano caiu por terra e a besta sombria e faminta emergiu das minhas
entranhas, disposta a possuir cada centímetro daquela mulher.

É loucura admitir que sua ousadia e resiliência sejam um


componente perigoso dentro da máfia, uma mulher não pode desafiar o
marido sempre que lhe der na tela, mesmo que, em todas as vezes que ela
faça, tenho vontade de rasgar suas roupas e curvá-la em qualquer superfície
que encontre e fodê-la até que encontre a razão.

Sorrio, deslizando os meus pés para fora da cama, alcançando um


maço de cigarros e um isqueiro na mesinha de cabeceira. Pego um e levo
aos lábios, acendendo-o em seguida.

Mia suspira e se vira para o outro lado, revelando suas costas um


pouco avermelhadas, provocadas pelo atrito contra a árvore. Meu pau pulsa,
endurecendo com a visão maravilhosa da sua pele alva marcada,
relembrando o nosso momento. Solto uma lufada de fumaça no momento
em que me elevo e me afasto, indo ao encontro da janela, observando a
noite sombria lá fora. Os guardas ainda fazem ronda lá embaixo e fico
satisfeito com toda a vigilância que tenho.

Meus olhos disparam mais uma vez para a minha esposa, que se
agita durante o sono. Mia resmunga baixinho e, em seguida, suspira. O
brilho módico da lua embebedo sua face e silhueta, sua aliança
resplandecendo em sua mão que descansa sob seu queixo. Tenho que
agradecer Alessio por pensar tão rápido, Mia jamais suspeitaria de ter um
rastreador em sua aliança, tenho que reconhecer, assim, nunca a perderei de
vista. Continuo tragando o meu cigarro, um atrás do outro, assistindo à
noite desaparecer, dando lugar ao sol.

Não costumo dormir, aliás, não me lembro se algum dia tive uma
noite inteira de sono. Minha mente é como o meu corpo, não desliga nunca.
Graças às sessões excruciantes de tortura do meu pai, não consigo fechar os
olhos por muito tempo, meus nervos estão sempre em alerta, preparado para
qualquer evento que seja.

Dominique não era só temido pelos seus inimigos, ele cultivava


sem piedade o pavor em seus próprios filhos, Pablo e eu temos marcas e
cicatrizes para provar isso. No entanto, quando atingimos a maioridade,
tudo mudou. O pavor que sentíamos deu lugar a outros sentimentos
destrutivos, até o dia que dei vazão para o ódio que corroía minha alma
lentamente, então tudo acabou. Meu progenitor teve o final que merecia.

Apago o cigarro no peitoral da janela e ando em direção ao


banheiro. Tomo um rápido banho e me visto com um terno preto de três
peças e, antes de sair, beijo a testa da minha esposa, que ressonava
profundamente e pouco se moveu com o toque dos meus lábios.

Afasto-me dela, reprimindo o desejo de me perder em seu belo


corpo e saio do quarto, fechando a porta atrás de mim silenciosamente.

Conhecendo os meus hábitos, Karina já estava preparando a mesa


do meu café da manhã.
— Buongiorno, signore — Karina fala com um breve aceno de
cabeça.

Aquiesço, sentando-me no meu lugar de costume.

— Buongiorno, Karina — respondo-a solenemente enquanto ela


serve-me com uma xícara fumegante de café.

Sorvo um gole da bebida escura, saboreando o sabor amargo. Forte


e sem açúcar, do jeito que eu gosto. Me concentro no jornal em minhas
mãos, lendo algumas notícias que eu julgo ser interessantes quando Alessio,
com humor para lá de ácido, se junta a mim, e Pablo, com seu silêncio
hostil e postura estoica, aparece em seguida, se sentado à minha direita.

Alcanço a xícara novamente, bebericando calmamente da minha


bebida, sentindo o peso de ambos os olhares em mim.

— Pelo visto, a noite passada não foi totalmente um banho de


sangue — Alessio é o primeiro a falar, acariciando sua barba por fazer com
as pontas dos dedos.

Largo o jornal, dobrando-o metodicamente sobre a mesa, e o encaro


com um sorriso de escárnio.

— Não lembro de ter colocado meu casamento em pauta essa


manhã.

Alessio sorri, levando uma torrada na boca, mastigando-a com


abandono. Balanço a cabeça, apontando o dedo em riste em sua direção.
Seus olhos mordazes brilham em antecipação e, a julgar pela calma
exagerada no seu tom de voz, ele quer me provocar, o bastardo adora testar
a linha tênue que sempre coloco entre nós.
— Devia se concentrar na missão que lhe foi confiada. Precisa que
Romano o ajude com isso? — zombo, percebendo seu maxilar apertar e
seus olhos escurecerem.

Não é segredo que meu irmão caçula não morre de amores pelo
meu guarda sênior e ser rebaixado alimentou seu desejo assassino de
sempre provar sua superioridade. A diferença entre os dois? Bom, Saul é
frio, calculista e, apesar da sua fachada inatingível, não é impulsivo. Ele
sempre está a um passo à frente do inimigo.

Alessio? Ele é explosivo, impulsivo e um completo sociopata


sanguinário. Nosso pai sentiria orgulho, isso se ele lhe desse um único
olhar. O que não ocorreu. Meu pai o considerava um erro de uma noite com
uma prostituta de Palermo; Pablo e eu, não. O protegemos muitas vezes da
fúria destrutiva de Dominique, em troca, éramos castigados e torturados por
ele. Ele nos forjou para sermos monstros sedentos e poderosos e, em nossas
peles marcadas, estão as noites de horrores e, em nossas almas, a sua
assinatura diabólica.

— Não — diz entredentes.

Sua sombra não precisa me seguir, sou capaz de rastrear a


localização de qualquer ser que esteja do outro lado do mundo se desejar.
Concordo com os meus dedos batendo levemente sobre a mesa.

— E, quanto à festa de Dom Michele, teremos que comparecer,


certamente ele irá questioná-lo sobre os sequenciais roubos em nossos
galpões e retaliações com os carregamentos em Siderno. — Pablo faz uma
pausa, olhando-me cautelosamente. — Ivana, ela obviamente já sabe que
você se casou e sabemos que Michele e Dominique tinham a intenção de
uni-los. Como pensa em apresentar Mia, americana e filha de um capo da
Outfit?

Continuo ignorando seu olhar inquisitivo, apertando a alça da


xícara com mais força que o habitual. Viro-me para ele com um sorriso
afiado, mostrando todos os dentes.

— Acha que eu me importo? — questiono-o sombriamente.

— Devia — Pablo pontua.

Alessio finge uma tosse e volta a se concentrar em devorar o seu


café da manhã.

— Não firmei nem um acordo, além disso, Dom Michele sabe que
precisa de mim ao seu lado, tenho conexões que ele sabiamente aprecia em
todo o continente, ele pode superar isso.

Pablo desliza sua mão pelo maxilar, pensativo.

— Certo. Só tome cuidado ao apresentar sua esposa. Sabemos


como ela é, e Ivana pode se tornar um problema.

— Não precisa se preocupar, da minha moglie, cuido eu —


respondo-o secamente, irritação começando a aflorar por todo o meu corpo.

Pablo levanta as mãos em rendição, dando por encerrado o assunto.

Uma hora mais tarde, estávamos trancados em meu escritório,


revisando contratos e documentos de mercadorias recém-chegadas. Alessio
estava fora, precisamente em Siderno, seguindo uma pista.

Na hora do almoço, pedi que Karina chamasse a minha esposa, que


desenvolveu o hábito de se perder em páginas de livros na biblioteca que foi
da nossa mãe. Assim que ela aparece, meus olhos a seguem a cada passo,
admirando suas curvas macias em um vestido branco com estampas de
girassóis. Seu cabelo loiro está amarrado em um apertado rabo de cavalo,
que adoraria puxá-lo enquanto a curvava sobre a mesa e ministrava doses
de dor e prazer em seu lindo corpo.

Seus olhos oceânicos me encaram e vejo quando uma faísca os


ilumina. Mas Mia não só recupera seu alto e impenetrável escudo, como
ergue o queixo e me encara com desafio.

Aceno para que sente à minha direita e, estranhamente, ela faz. Sua
postura é rígida e alerta ao meu lado e posso praticamente ouvir as
engrenagens dos seus pensamentos girando.

Mordo um sorriso ao tocar sua mão sob a mesa e sentir sua pele
arrepiar com o meu toque.

Aproximo-me do seu ouvido, sussurrando para que só ela possa


escutar.

— Suas costas estão bem? — Suspiro e leva tudo de mim para não
mordiscar levemente a pulsação em sua garganta.

— Muito bem, obrigada. Mas não precisa fingir que se importa —


rebate, furiosa.

Sorrio, meus lábios roçando a sua bochecha.

— Oh, eu me importo, querida. Eu cuidei delas ontem à noite. Ou


estava tão esgotada e satisfeita que não se lembra? — provoco-a, recebendo
o seu olhar digno de um serial killer.
— Infelizmente eu me lembro de cada maldito detalhe — murmura,
adicionando um tom sóbrio em sua voz suave.

Ela olha para Pablo, alheio a nossa pequena discussão cheia de


tensão, saboreando o almoço, antes dos seus pequenos olhos de águia
retornarem aos meus.

— Humm… reformulando. Você amou cada maldito segundo


enquanto eu estava enterrado em você.

Alcanço sua mão novamente e a levo em direção aos meus lábios,


beijando cada nós dos seus dedos, mordiscando-os gentilmente, observando
aquela faísca que vi quando entrou na sala retornar com força total.

Cazzo! Dois podem jogar esse jogo, amore mio. E eu garanto, eu


nunca perco.
Capítulo 14

Inspiro o ar lentamente, abraçando os meus joelhos enquanto


assisto ao meu reflexo através do vidro da janela. Já se passaram dois dias
desde a noite em que fracassei em minha tentativa de fuga, a noite em que
fui reivindicada pelo meu marido. Fecho os olhos, massageando as minhas
têmporas, escutando no meu inconsciente o tom rouco e possessivo da sua
voz proferindo palavras sujas ao pé do ouvido e seus gemidos e ofegos se
derramando em mim, marcando-me como sua posse.

No entanto, depois daquela noite, de lavar todo o meu corpo e


cuidar da minha pele, ele não me tocou mais. Há toda aquela tensão que se
torna palpável entre nós, mas ele se mantém completamente indiferente.
Isso não impede que o flagre olhando-me sempre com desejo ardendo em
suas íris azuis, escurecendo a cada segundo.

Dário silenciosamente lançou um desafio. Ele quer me ver quebrar,


implorar e curvar aos seus pés, mas isso não vai acontecer. Eu paro um
segundo, lembrando-me da tensão dos dias anteriores. Dário vive trancado
no escritório com Pablo, e Alessio está fora.

Karina tem sido minha companhia nos últimos dias, e fico feliz em
estar fora do radar do meu marido. Compartilhamos muito, mesmo que,
algumas vezes, tente extrair informações dos Ruggiero que possam me
salvar em algum futuro próximo. Mas ela é fiel e apenas desvia o assunto
sempre que tento uma investida.
Cansada de ficar reclusa no quarto, resolvo ir para a piscina.
Coloco um biquíni vermelho de tiras e alças finas e visto uma saída de
banho da mesma cor, transparente, com o comprimento até o meio das
coxas, acentuando cada curva do meu corpo. Pego meu par de óculos
escuros, chapéu e um livro de romance.

No caminho, encontro Karina e peço para ela levar um suco de


laranja para mim. Em poucos passos, alcanço o hall e vejo Alessio
escorando em uma pilastra, fumando calmamente o seu cigarro. Seus olhos
se estreitam assim que percebe a minha presença, avaliando-me
minuciosamente.

Ele balança a cabeça, empurrando-se para fora da pilastra, pega o


cigarro dos lábios e joga no chão, esmagando-o com a ponta do seu sapato
de couro em seguida. Seus olhos se demoram em meus seios, antes de se
erguer e encarar minha face. Cruzo os braços protetoramente, lançando-lhe
um olhar assassino.

— Se continuar me checando dessa maneira, arrancarei seus olhos


— resmungo abertamente.

O bastardo sorri, deslizando as duas mãos no bolso do jeans.

— Sem ofensas, cunhadinha, mas você não faz o meu tipo.

Faço uma careta com o seu comentário.

— Não ofendeu, acredite. — Torço o nariz com o simples


pensamento de Alessio me tocando. Arg! — Que ótimo que já esclarecemos
as coisas entre nós — zombo, recebendo um revirar de olhos dele.
Alessio concorda com uma reverência exagerada no exato
momento em que passos pesados se aproximam.

— Atrapalho? — pergunta, embora seu tom seja macio, calma é a


última coisa que passa por ele.

Afasto-me do meu cunhado com um sobressalto, virando-me para


encarar o meu marido, que nos fuzila com os olhos. Seus punhos estão
cerrados ao lado do corpo e, em passos largos, está se elevando sobre mim,
derramando toda a sua ira como lava quente. Dário agarra meus braços,
seus olhos furiosos prendendo os meus.

— Não devia andar por aí vestida assim, amore mio — murmura,


intensificando o seu agarre.

Debato-me e empurro seu peito rígido com um gemido de dor.

— Está me machucando — reclamo, sentindo minha pele onde ele


está torturando queimar em brasa.

Seus olhos se suavizam, e Dário relaxa o seu aperto.

— Essa não é nem de longe a minha intenção, moglie — assegura a


centímetros do meu rosto, seus olhos em um misto de fúria e
possessividade.

Estremeço, obrigando-me a respirar fundo e não sucumbir ao medo


que está envolvendo os meus ossos. Dário não pode me machucar, eu não
permitirei isso. Nunca. Alessio finalmente tenta intervir, mas recebe um
olhar de alerta do seu irmão.

— Está na hora de ir! — exige, sem olhar para ele. Sua fúria ainda
dirigida a mim.
Uma mão agarra o meu queixo, levantando-o até nivelar os nossos
olhos. Seu corpo emanando uma energia profunda e destrutiva, enquanto o
meu estremece e se contorce com a dor física e mental das suas palavras.

Não tenho permissão para olhar para o seu irmão, que certamente já
está fora do nosso campo de visão, e, mais uma vez, o meu marido
pressiona, me fazendo explodir como uma maldita bomba.

— Eu estou na porra da minha casa, não estou? Não foi isso que
você falou na minha primeira noite na mansão? — Eu engulo, suavizando
um pouco da minha raiva. — Eu só estou indo para a piscina como uma
pessoa normal, ou deseja que eu tome banho de burca?

Ele balança a cabeça e se afasta, passando a mão pela face.

— Cuidado! — alerta, girando para encarar a minha face. —


Contenha a sua rebeldia, ou eu farei isso por você. — Dário segura a minha
nuca, torcendo o meu rabo de cavalo com firmeza, seus lábios respirando
rápido em lufadas poderosas de ar, exalando o cheiro de uísque sobre os
meus. — E só para você saber… — Sua língua quente espreita para fora,
contornando o meu lábio superior com uma lambida vulgar. — Ninguém
olha para o que é meu, porra!

Franzo os lábios e o empurro, dessa vez, ele me deixa ir.

— Eu não sou sua — murmuro secamente, observando seus olhos


escurecerem. — Não sou de ninguém.

Uma veia salta em seu maxilar, mas meu marido apenas balança a
cabeça e se aproxima, levantando o indicador, me fazendo encolher quase
instantemente. Seus lábios se contraem e a sombra de um sorriso paira
sobre eles.
— Não é isso que seu corpo diz, amore mio. — Seu dedo desliza no
arco dos meus lábios, esfregando-os quase suavemente. — Mas se é isso
que repete para si mesma… — sorri —, vá em frente!

Seu tom profundo atinge camadas profundas na minha pele,


deixando-a quente e incomodada, e não só ela, mas o ápice das minhas
coxas se torna uma bagunça ardente completamente necessitada.

— Suas alusões vão ser sua ruína, esposa… — Mordisca a ponta da


minha orelha, provocando um aceleramento em minha respiração, e sai,
deixando-me atordoada.

Eu o odeio tanto, embora pareça que meu corpo não concorde


comigo.

Assisto silenciosamente Dário desaparecer por entre o corredor em


direção ao escritório. Fecho os meus olhos e respiro fundo, recuperando a
minha postura.

Sigo para a piscina e aproveito o restante do dia, lendo e tentando


bloquear certos pensamentos de olhos cruelmente azuis que me fazem
refém na minha própria mente.

Quando anoitece, fico conversando com Karina e Nina, no entanto,


por mais amável que eu seja, ela ainda me trata com certo
descontentamento. A senhora não facilita e é osso duro de roer.

— Está muito magra e pálida, signora. Precisa se alimentar melhor


— resmunga a velha senhora, enxugando as mãos em seu avental. — Como
pretende dar um herdeiro ao signore Dário assim? — Leva as mãos na
cintura com seu olhar firme sobre mim.
Engasgo-me com o leite que tomava, e Karina se apressa, dando
leves batidinhas nas minhas costas.

— Signora, está bene?

Concordo, limpando uma lágrima solitária que escorre em minha


bochecha.

Nina continua me encarando como se exigisse minha resposta, o


que me deixa irritada.

— Se depender de mim, isso nunca acontecerá.

Nina arregala os olhos com espanto e começa a resmungar em


italiano. Karina fica em silêncio, mas sua expressão diz que minha resposta
não era a esperada por ela. Espalmo as mãos sobre a mesa e levanto-me
com o sangue fervendo em minhas veias.

Não pedi para nascer nesse mundo cruel, mas posso impedir que
um inocente venha. Dário e eu não usamos proteção na nossa primeira vez,
mas, graças aos céus, tomo pílula. Não serei eu a dar-lhe um herdeiro.

— Não precisam me chamar para jantar, estou sem fome — digo,


olhando para ambas, mas é a rabugenta da Nina que me fuzila com os
olhos.

— O signore não vai gostar disso.

Levanto o queixo e sorrio.

— É uma pena. — Giro os meus calcanhares, caminhando para a


saída. — Ele já devia saber que não sou boa em receber ordens — digo por
cima dos ombros e deixo a cozinha, mas não antes de escutar Nina
resmungar.

— Madre di Cristo. Che tragedia!

Marcho para o quarto, subindo os degraus e, quando finalmente o


alcanço, sento-me no peitoril da janela, observando a noite escura lá fora,
meus pensamentos em torno de Milena e Giovanna. Já se passou muito
tempo depois da última vez que as vi. Se tivesse um jeito de falar com elas,
saber como estão. Aquele ogro não me deixa falar com ninguém, muito
menos ter um celular à mão. Não posso continuar às cegas, preciso saber
notícias das minhas irmãs. Tenho um pressentimento que logo o papai
tentará casá-las, e eu não posso deixar que isso aconteça. Não era isso que
mamãe queria para as suas filhas, e ele sabia disso.

Meus pensamentos são interrompidos quando a porta do quarto se


abre e um cheiro inconfundível se instala no cômodo. Intenso e letal como o
próprio dono. Mantenho meus olhos lá fora, mesmo que sinta o peso dos
seus olhos queimando cada centímetro da minha pele.

O calor me inunda e tenho certeza de que, de onde ele está, pode


ver minha pele corar violentamente. Meu corpo fica em alerta quando ouço
seus passos se aproximarem e pararem atrás de mim. Minha garganta seca e
lambo os lábios, tentando aplacar a alteração errônea na minha pulsação.

— O jantar está servido — informa com uma pausa.

Inclino-me para encarar o seu semblante cansado e algo em seu


olhar me diz que não é só isso.

— Não estou com fome — respondo com um encolher de ombros.


Surpreendente, ele acena e não late ordens como era de se esperar.

Ele me encara por um segundo e, quando parece pronto para dizer


algo, desiste. Desaparece pelo closet e volta segundos depois com o torso
nu simplesmente enrolado com uma toalha na cintura. Minha boca cai
aberta, mas logo me recupero.

Meu marido passou alguns minutos trancado no banheiro, apenas o


som do chuveiro ligado ressoava quebrando o silêncio. Assim que ouço o
chuveiro sendo desligado, Dário cruza o limiar da porta. Seus olhos azuis
cruzam os meus e sou arrebatada por sua intensidade feroz. Meus olhos
memorizam cada detalhe da sua face e corpo como se não pudesse evitar.
Desde seus lábios cheios, o cabelo preto e úmido, as cristas do seu torso
desenhado, ombros largos e abdômen sarado. Estou diante de homem
diabolicamente bonito. Suas feições são de um deus, talvez Hades seria uma
honesta comparação a ele.

Hades comandava o submundo com mãos de ferro, era impiedoso,


insensível e monstruoso, como a visão que eu tenho do meu marido. Desde
quando nos conhecemos, ele tem me mostrado o seu pior lado e desconfio
que não haja outro, além desse.

Desvio o meu olhar para a janela, prendendo a respiração e, à


medida que escuto os seus passos se aproximarem, ouço a vibração da sua
respiração pesada no topo da minha cabeça, um segundo, dois, e o calor já
começava percorrer o meu corpo, então sua presença desaparece e me
seguro para não olhar em sua direção.

E, antes que eu pudesse entender essa mudança, seus passos se


distanciam, indo para o closet, permanecendo lá até estar devidamente
vestido. Sem sequer me dar um único olhar, Dário deixa o quarto.
Simplesmente assim, sem ordens e quaisquer ameaças, ele se foi.

Meu coração afunda no peito, e não consigo entender por que sua
atitude me incomoda tanto.
Capítulo 15

Meus olhos estão fixos na imagem da tela do meu laptop. O último


carregamento de cocaína vindo do México foi descarregado nos fundos do
clube, na madrugada, como de costume, de forma que não levantasse
suspeitas. Luigi e Luciano receberam a carga e fizeram uma checagem
minuciosa. Fecho o laptop completamente satisfeito. Alessio finalmente
sanou a onda de ataques aos galpões e está quase abocanhando o infeliz que
está por trás disso.

Enquanto discutia o próximo carregamento com Pablo e Luciano, a


porta do meu escritório se abre bruscamente e minha esposa irrompe para
dentro com Karina em seu encalço, seus olhos verdes assustados se
desculpando silenciosamente.

— Eu sinto muito, signore. Não pude impedi-la.

Minha esposa cruza os braços com uma postura petulante, seus


olhos como duas safiras brilhantes e enérgicas fixados nos meus. Aceno
para Karina sair, o que ela faz sem pestanejar. Arqueio uma sobrancelha,
sustentando o seu olhar ferino.

— A que devo a honra da sua presença no meio de uma reunião de


negócios?

Mia franze os lábios, descruzando os braços, olhando entre Luciano


e Pablo, sua expressão se fechando em copas.
— Mia… — replico, observando hesitação se formando em sua
face corada.

Como um ímã, meus olhos são atraídos para suas curvas em um


macacão azul marinho sexy, seu cabelo loiro amarrado em um coque frouxo
no topo da sua cabeça. Mia pode estar envolta com um saco de estopa,
ainda assim, será a mulher mais linda que os meus olhos já viram.

Luciano limpa a garganta e, de soslaio, vejo como o meu


funcionário devora a minha esposa com os olhos. Viro-me para ele com um
sorriso frio, deixando que ele veja a expressão assassina em meu rosto.

— Olhe para ela novamente, e eu cuidarei para que seja a última.

Luciano engole em seco e desvia sabiamente o olhar para longe.


Mais tarde cuidarei desse verme, ninguém olha para minha esposa dessa
forma, muito menos na minha presença.

Esfrego minha barba por fazer, o sangue borbulhando em minhas


veias. Tenho tentado evitar Mia. Deixá-la sentir a minha falta,
principalmente dos meus toques, dos olhares que sempre se embebe e
deleitam com suas curvas deliciosas, da minha total atenção sempre que
está por perto. Algo que pareceu enviá-la ao limite, pois posso sentir como
sua resiliência se dissipa dia após dia.

— Por que não informou da festa que terei que lhe acompanhar e
deixou que Karina fizesse isso?

Mordo um sorriso, continuando a encará-la.

— Então é isso? — questiono-a, colocando os meus cotovelos


sobre a mesa, juntando os dedos abaixo do queixo. — Invadiu o meu
escritório porque não fui eu o portador da notícia? — Sorrio.

Seus lábios se abrem e um rubor se espalha por suas bochechas e


extensão do pescoço. Vê-la corar intensamente me deixa completamente
louco.

— Pelo visto, terminamos aqui — Pablo interrompe secamente, se


colocando de pé, Luciano repetiu o seu gesto.

Desvio o meu olhar para meu irmão, cuja expressão de desgosto é


uma evidência da sua irritação. Pablo tem repetido muitas vezes que tenho
amolecido com Mia e, em breve, ela colocará suas garras de fora e as
afundará na minha jugular. Estreito o meu olhar para ele, que balança a
cabeça e sai, levando Luciano em seu encalço. Talvez Pablo tenha razão, e
chegar a essa constatação é um golpe duro de aceitar. Mia tem consumido
os meus pensamentos mais do que gostaria e, embora a consciência que
devo colocá-la em uma distância segura pisque em minha mente, meus
desejos distorcidos e sombrios falam mais alto.

Estendo a mão para ela, que engole em seco, seus olhos azuis
escurecendo na velocidade da luz.

— Vieni qui! — ordeno impacientemente, estendendo a mão direita


com a palma virada para cima.

Cruzando seus braços na altura do peito, ela recua, seus olhos estão
desafiantes, fixos nos meus. Meu sangue ferve em minhas veias e, com um
sorriso mordaz, desafivelo meu cinto, retirando-o das presilhas com um
movimento rápido. Seus lábios se entreabrem com um suspiro em choque e
sua pele alva com uma porcelana explode em um vermelho vivo. Apesar da
expressão assombrada, vejo em seus olhos outro sentimento escuro vibrar
através deles, como um animal selvagem prestes a quebrar a sua jaula.

— Está com medo de mim, dolcezza? — pergunto, um sorriso


malicioso escapando dos meus lábios.

Enrolo o couro calmamente no meu pulso, sentindo o peso dos seus


olhos em mim.

— N-ão! — rebate com o rosto em chamas. — E pare com isso! —


rosna, cerrando o maxilar. — Você não vai foder a minha cabeça com os
seus joguinhos sádicos.

Meu peito vibra em uma miríade com a tensão e fúria que emana
dessa bela criatura. Levanto-me e ando calmamente em sua direção,
assistindo à ascensão e queda do seu peito, enquanto minha bella moglie
arfa com minha aproximação.

Levanto o indicador e acaricio seus lábios rosados, a maciez deles é


como um combustível que consome a minha alma enegrecida, alimentando-
a com a luxúria crua e visceral. Ergo o seu queixo, afundando-me no cheiro
inebriante de rosas da sua pele.

— Eu não só vou foder a sua mente, mas como cada centímetro


desse seu corpo delicioso, cara mia — inclino-me, sussurrando rente a sua
orelha e, em seguida, mordisco a pele abaixo dela, sentindo-a estremecer.

Afasto-me e giro o seu corpo, colando suas costas contra o meu


peito, escutando um baixo ruído escapar dos seus lábios.

Mia se debate, mas já é tarde demais. Arrasto um punhado do seu


cabelo e cubro sua pele perfumada com uma trilha de beijos molhados e
chupões, mordiscando e marcando o seu corpo, acariciando os meus
ataques com a língua.

Mia geme baixinho e, aos poucos, seu corpo cede contra o meu,
deixando-me ciente da sua submissão. Respiro fundo quando um rastro de
fogo se espalha pelo meu corpo e junto os seus pulsos, levando-os acima da
sua cabeça, empurrando-a e prensando-a contra a parede.

— Adoro sua rebeldia, amore mio, e a forma que seus olhos


brilham quando sussurro palavras sujas.

Mia ofega em meus braços, fracamente debatendo-se em meu


agarre.

— Você é um sádico! — acusa, apesar da sua pele esquentar sob


meu toque.

— E o que isso faz de você, hãn? — Seguro sua coxa esquerda,


elevando-a e travando em meu quadril. — Não vai responder? — insisto
quando ela fica em um completo silêncio. E, para provar o meu ponto,
mergulho minha pélvis contra a sua, esfregando minha ereção
descaradamente em seu núcleo, arrancando um gemido baixo dos seus
lábios. — Isso é o suficiente, dolcezza. Seu corpo só falta cantarolar para eu
comê-la aqui e agora como uma putana — provoco-a, prendendo o lóbulo
da sua orelha entre os dentes, fodendo-a a seco contra a parede. — Minha
putana… — gemo em sua orelha.

Mia grunhe e acerta uma joelhada em minhas bolas, que, por sorte,
não é forte o suficiente para causar nenhum dano. Ela me empurra e corre
em direção à porta, mas não chega muito longe, pois me recupero em
seguida, vermelho intenso explodindo entre as minhas pálpebras. Jogo-me
contra o seu corpo e agarro o seu calcanhar, levando-a para baixo em um
baque, arrancando um grito estrangulado dos seus lábios.

— Peguei você, amore mio. — Faço uma pausa, montando o seu


quadril, agarrando os seus pulsos e mantendo-os presos acima da sua
cabeça novamente.

Parecendo aturdida e respirando com dificuldade, minha esposa


assiste hipnotizada, enquanto, sem pressa, desabotoou meu terno e, em
seguida, o colete, até restar apenas minha pele nua, queimando de desejo.
Mia lambe os lábios, o brilho fervente dos seus olhos azuis me dizendo que
ainda não. Minha mulher deseja lutar e isso só me excita ainda mais.

Meus dedos roçam o seu pescoço lentamente e descem para o topo


dos seus seios, encontrando os botões do macacão. Respiro o cheiro de
rosas da sua pele e sorrio, quando percebo pequenos impulsos impacientes
vindo dela. Mia me fuzila com os olhos, enquanto seu corpo se derrete a
cada toque. E isso é a porra do paraíso! Isso significa que ela não só cederá,
como implorará para me ter bem fundo dentro dela.

Abaixo meus lábios, pairando a centímetros dos delas.

— Acho que já chega de fugir. Nós dois sabemos que não é isso
que quer.

Ela arfa, e seus olhos se arregalam quando, em um movimento


rápido, arrebato os botões do seu macacão, fazendo com que se espalhem
pelo tapete.

— S-se deseja ter o meu corpo, vá em frente! Mas, dessa maneira,


jamais terá o meu coração — gagueja, roubando a minha atenção para seu
rosto. — Monstros como você estão acostumados a tomar o que quer sem
se importar com as consequências — murmura com um soluço, deixando
com que a primeira lágrima escorra por sua bochecha. Meu peito se aperta e
meu domínio em seu pulso vacila brevemente. — Eu não sou a sua
prostituta. Aquela que só procura para saciar suas necessidades — cospe
com um riso amargo, seus olhos azuis escurecidos com raiva.

Travo o maxilar e levo uma mão para o seu queixo, afundando


meus dedos em sua carne, sentindo-a estremecer.

— Você é o que eu quiser que seja, porra! — brado, perdendo-me


na imensidão inquietante dos seus olhos. — Mas ouça — suavizo meu
olhar, um aperto consumindo o meu peito por vê-la tão vulnerável. Acaricio
sua bochecha com o polegar, enxugando suas lágrimas —, nunca mais
repita isso, amore mio — alerto-a, reprimindo minha fúria por ouvi-la falar
isso de si mesma. — Você não é a porra de uma prostituta — rosno — Você
é minha moglie, minha dolcezza, a porra da minha principessa, va bene? —
Mia acena e fecha os olhos. Inclino-me e beijo seus lábios, a surpreendendo
pelo gesto. Sugo seu lábio inferior, ouvindo um pequeno gemido rouco
dela.

Afasto-me o suficiente e levo minha mão para a sua garganta,


apertando-a fracamente. Meu golpe é sutil, mas, ao julgar por seus olhos
azuis dilatados, não a machuca, pelo contrário.

— Você tem razão, amore mio. Sou a porra de um monstro cruel e


sanguinário acostumado a ter tudo que eu quero, inclusive os meus inimigos
de joelhos. Mas eu sou ambicioso, desejo mais, muito mais. — Ofego,
cobrindo o seu pescoço com meus lábios, atacando sua pele sensível. Ela
suspira e arqueia as costas. — Nesse exato momento, eu quero você,
tesouro mio. E o teu cuore.
Capítulo 16

Meu coração salta no peito com o tom rouco e profundo da sua voz,
meus olhos se chocando contra os seus, intensos e selvagens. Há tanto
significado por trás das suas palavras que, por um breve momento, me sinto
atordoada.

Ele disse que quer o meu… coração?

Suspiro baixo, negando veemente. Meu marido é um sádico, isso


pode ser um truque para eu baixar a guarda. Sua mão direita está segurando
o meu pescoço, apertando-o fracamente, mas o suficiente para enviar uma
onda quente por todo o meu corpo. Ele se abaixa, seus lábios roçando o
meu maxilar, sua barba por fazer provocando arrepios em minha pele
sensível. Cravo minhas unhas nos músculos sólidos dos seus braços e ergo
o meu olhar.

— S-e o que diz é verdade, prove!

Sua testa se franze, mas ele não parece afetado com o meu desafio,
apenas sorri, exibindo uma fileira de dentes brancos perolados.

— O que minha moglie deseja? — sussurra, deslizando o indicador


pelo topo dos meus seios em uma carícia lenta e sensual.

Olho para ele, fome brilhando em seus olhos. Empurro o seu peito,
incentivando-o a deitar-se de barriga para cima. Lambo os lábios e retiro o
restante das minhas roupas sob o seu olhar escaldante enquanto sinto-o se
deleitar com a minha nudez.
Inclino o meu corpo sobre o dele, observando seus olhos se
transformarem em dois poços brilhantes e sombrios.

Dário abaixa a cabeça e abocanha um mamilo em sua boca, depois


o outro, sugando-o com ferocidade, lambendo e mordiscando-o, me fazendo
gemer de dor e prazer. Minhas mãos se atrapalham com o zíper da sua
calça, presa na miríade de sensações que seus lábios deliciosos estão
provocando em todo o meu corpo. Por mais que ele pareça disposto a
deixar-me dominá-lo agora, seus instintos falam mais alto. Afundo meus
dentes em meu lábio inferior, de repente desejando toda a porra de prazer
distorcido que o meu marido tem para oferecer.

Desço sua calça e a boxer vermelha para baixo, libertando o seu


pau, que salta ao nível dos meus olhos. Arfo, excitada, vislumbrando sua
cabeça levemente avermelhada, com veias proeminentes e o pré-gozo
escorrendo pela ponta. Ele pulsa na palma da minha mão e sua extensão
provoca um formigamento em minhas entranhas. Ele é grande, e lembrar da
sensação de tê-lo dentro de mim me faz corar como uma colegial.

— Cazzo, amore mio! Pare de me torturar! — Dário rosna, se


livrando da sua roupa em um movimento rápido e, em seguida, beija meus
lábios, segurando as bochechas da minha bunda em um aperto firme,
soltando um gemido gutural.

Mordo o seu lábio inferior com força até sentir o gosto metálico
explodir em minha boca. Ele se afasta, seus olhos procurando os meus.

Monto o seu quadril, encaixando-o na minha entrada que já está


totalmente encharcada. Planto minhas palmas em seu peito, cravando
minhas unhas em sua pele. Nós dois gememos quando vagarosamente desço
em sua extensão.
Dário sibila entre os dentes, com seu maxilar tenso e olhos
semicerrados. Antecipação rola como uma bola demolidora em meu
estômago.

— Você vai ser meu para fazer o que eu quiser? — murmuro contra
a sua orelha, escutando sua respiração engatar com o meu próximo golpe.

Gemo, fechando os olhos, afundando-me em seu pau magnífico.


Suas mãos agarram o meu quadril, encontrando o meu golpe, grunhindo
como um animal selvagem.

— Dio mio! — exclama com a voz rouca de desejo.

— Tutto, amore mio! — Minhas unhas cravam em seus ombros e


respiro fundo. — Tutto! — profere, exalando seu hálito quente contra os
meus lábios.

Cavalgo em seu pau com força, arrancando gemidos roucos e


grunhidos viscerais dele. Sorrio, lambendo os lábios, acelerando os meus
movimentos. Subindo e descendo, saindo quase por inteira e voltando a
envolvê-lo com a força.

O prazer, sem dúvidas, é o melhor que já senti e confesso que


sempre ansiei por essa sensação de preenchimento, de plenitude e liberdade.

Meus lábios se abrem e os indicadores e polegares de Dário se


enroscam nos bicos dos meus seios, torcendo-os com força, fazendo com
que saltem apertados contra seus dedos.

Jogo a cabeça para trás, mordendo o meu lábio inferior, montando a


primeira onda do meu orgasmo que ameaça romper todas as minhas
barreiras.
Levantando-se parcialmente, meu marido segura a minha nuca com
força, chocando nossas bocas. Seu beijo é bruto e feroz, e o homem beija
com a confiança de um deus. Um deus poderoso que fode com a
perversidade do próprio diabo.

Ele não para, e a pressão dos seus lábios combina com as estocadas
profundas dos seus golpes, sempre encontrando os meus.

Dário segura meu cabelo em seu punho apertado e rosna em meus


lábios.

— Você vai gozar no meu pau, não é, tesouro mio? Vai encharcá-lo
com essa sua boceta deliciosa, sì?

Não consigo respondê-lo, pois um gemido rouco escapa dos meus


lábios assim que sou atingida por um orgasmo poderoso.

Dário respira fundo e inverte nossas posições, entrando


profundamente em mim, alcançando um ponto que me faz gritar e soluçar,
provocando outra onda avassaladora. Seus lábios se fecham na concha da
minha orelha e sua mão áspera agarra novamente o meu pescoço,
apertando-o, cessando o meu suprimento de ar. Arregalo os olhos, minhas
unhas se ficando nos músculos dos seus braços. É inevitável a onda de
pânico que me envolve, mas, ao olhar em seus olhos ferozes e cheios de
desejo, meu corpo entra em combustão.

— Confie, em mim, amore. — Dário ferve em voz baixa — Só


quero lhe dar prazer… — exala, seu hálito quente na curva do meu pescoço
enquanto ele estoca forte, girando os seus quadris de maneira acelerada em
uma deliciosa combinação de devassidão e insanidade.

Fecho os olhos, levada pela névoa de luxúria e prazer.


Seu corpo estremece e um longo e agressivo gemido rouco ressoa
através dos seus lábios cerrados.

Abro os olhos, seu aperto frouxa em volta do meu pescoço, o ar aos


poucos retornando em meus pulmões, olho para ele, enxergando muito mais
que um homem se embebendo de prazer. Sua expressão é selvagem
enquanto se derrama dentro de mim.

Pequenos murmúrios deixam seus lábios e me concentro no quanto


é glorioso vê-lo se desfazendo para mim, pois sou eu a causadora do seu
descontrole.

— Mia… — ofega, seus lábios tocando os meus levemente.

Meu coração bate forte e meu pulso acelera enquanto deslizo as


pontas dos dedos em sua pele, sentindo os sulcos das suas cicatrizes.
Algumas profundas, como marcas de tiro, outras de cortes e queimaduras.
Meu estômago se contorce ao imaginar como Dário conseguiu todas elas.
Assim que alcanço a tatuagem de uma caveira em seu peito, sou
surpreendida por sua mão direita se fechando em meu pulso, empurrando-o
para longe.

Ele se afasta e se levanta da cama, sentando-se de costas para mim.

— D-ário… — sussurro, observando seus ombros tensos ao som da


minha voz. — V-ocê disse que queria o meu coração… — Avanço,
engolindo o nó crescendo em minha garganta. — Como pode me pedir isso
se não me deixar ter o seu? — Me sinto ridícula por parecer tão vulnerável
e até mesmo suplicante, mas eu pensei… balanço a cabeça com um suspiro.

Não importa o que eu pensei. Dário não é o tipo de homem que se


importa a longo prazo. Ele finalmente se vira para mim, seu maxilar
apertado e os olhos sombreados em um brilho mortal.

— Você acha que pode lidar com o que tenho aqui? — pergunta
com um rosnado profundo, batendo no peito desnudo com fúria. Encolho-
me com a escuridão que vejo transbordar em seus olhos. — Acredite, amore
mio, não há nada aqui que eu possa compartilhar com você.

Ele se levanta respirando com dificuldade, como se estivesse


sufocando na minha frente.

— Não precisa me tratar como um cristal — me defendo — Ou se


esqueceu de quem eu sou filha? — Mordo o lado interno da bochecha,
apreensiva, quando ele não olha na minha direção. — Sei dos rumores que
cercam o meu pai, e o que ele faz fora de casa, então não precisa dosar a
pílula para mim…

Meus lábios se fecham quando, em uma batida, ele está em cima de


mim, pairando sobre o meu corpo, seus músculos tensos, encurralando-me
contra o colchão.
— Você acha os rumores do seu pai cruéis? — Sorri em escárnio.
— Brutais? O que diria se soubesse de um pai que espancava seus filhos até
desmaiarem, deixando-os em uma masmorra, feridos e famintos, hãn? — Se
aproxima mais, seu tom amargo cavando fundo o meu coração.

Lágrimas se acumulam em meus olhos e levo tudo de mim para não


deixarem elas correrem livremente.

— Ou quando ele o iniciou na máfia com apenas quatorze anos e o


ensinou que nunca se deve demonstrar fraqueza, mesmo que veja um
soldado espancar brutalmente o seu irmão mais novo?

Suspiro fundo quando Dário se afasta, seus punhos fechados de


cada lado do corpo.

— Eu avisei, amore mio. — Abre os braços com um sorriso frio. —


Esse sou eu! — Aponta para todas as cicatrizes do corpo e tatuagens. —
Sucessor de Dominique Ruggiero, Capo do Cosa Nostra. Tenho a alma
envenenada, sou um monstro como você mesma repetiu inúmeras vezes.
Sádico, cruel, sanguinário. — Um suspiro pesado me deixa, ao mesmo
tempo e, que um soluço escapa e outro. Dário se agacha a minha frente e
seca as minhas lágrimas. — Espero que tenha entendido de uma vez por
todas que nunca fugirá de mim. Agora que já sabe quem eu sou, não há
volta. Estamos casados para sempre e nem a própria morte é capaz de nos
separar.

Fecho os meus olhos, deixando que as lágrimas tenham o melhor de


mim. Toda a dor que eu sinto em sua voz é como se um punhal estivesse
sendo cravado em meu peito. É doloroso imaginar como ele deve ter sofrido
em sua infância, seus irmãos. E de repente aquele ódio que eu cultivava em
meu peito se transforma em algo que eu não consigo decifrar.
Ele beija o topo da minha cabeça e me puxa para os seus braços.
Uma longa pausa se segue até ele começar a revelar trechos do seu passado
com sua família. Meu coração incha no peito, embora seja alguns
fragmentos, sinto que ele está confiando em mim. Já que estou condenada a
viver ao seu lado, que não sejamos completos estranhos um para o outro.

— Você se lembra da sua mãe? — pergunto cautelosamente,


olhando para sua expressão pensativa.

Um sorriso discreto permeia seus lábios e ele suspira, apertando-me


em seus braços.

— Não muito. Quando ela morreu, eu tinha apenas doze anos. —


Fico em silêncio, esperando que ele continue. — Mas tem algo dela que eu
não me esqueço nem em um milhão de anos. Sua risada contagiante e
cheiro de rosas da sua colônia. Contorço-me quando seu nariz afunda na
curva do meu pescoço, inalando a minha pele. — Seu cheiro… — Respira,
mordiscando minha pele. — Me lembra o dela. Mas tem algo no seu
perfume… sua pele. — Ergue meu queixo, fitando os meus olhos de
maneira intensa, transformando todos os nervos do meu corpo em geleia. —
É diferente… — Beija meus lábios, chupando o inferior com ímpeto, me
fazendo gemer em seus lábios.

— Diferente, bom ou ruim? — ronrono sensualmente, afastando-


me dos seus braços.

Ele remove uma mecha de cabelo da minha testa e a esfrega entre


os dedos com um sorriso voraz.

— Bom… eu diria a oitava maravilha do mundo, dolcezza.


Sorrio, correndo o indicador por sua barba por fazer, me deleitando
com essa outra versão relaxada dele. Menos assombrosa.

Dário pega o meu pulso e beija a parte de dentro, deixando


pequenas mordidas nele. Seus olhos, embora contenham tanta escuridão e
horrores do seu passado, me fazem sentir sensações que eu julgava não
serem possíveis, não depois de tudo que aconteceu. Borboletas irrompem
no meu estômago, enquanto, sem fôlego, embriago-me em sua feição cruel
e selvagem, chegando a uma única conclusão: estou me apaixonando pelo
meu marido mafioso.
Capítulo 17

Desço os degraus da escada com Karina em meu encalço, que tenta


argumentar novamente, mas se cala quando me viro para encará-la.

— Não se preocupe com o meu marido, Karina. Ele não fará nada
com você, eu prometo. — Sorrio, embora esteja com uma tensão
percorrendo o meu corpo.

Nos últimos dias, Dário tem me mostrado todas as suas facetas e


fetiches em prol do meu prazer. Ele tem viciado o meu corpo com os seus
toques ásperos, suas palavras sujas e punições que me deixam
completamente molhada e insana. Seu lado possessivo e bruto na cama é
um afrodisíaco, mas, fora dela, se torna perigoso.

Os olhos verdes de Karina se arregalam e ela balança a cabeça


lentamente.

— Signora, vocês estão se dando tão bem, para que provocá-lo?

Mordo o lado interno da bochecha e passo por ela em direção à sala


de estar.

Não me importa que estamos nos dando bem, Dário não pode ditar
o que devo vestir. Isso é ridículo. Meus saltos estalam no mármore escuro,
quando o encontro à frente do bar, em um terno sexy preto, saboreando uma
dose de uísque. Seu olhar é penetrante quando encontra o meu, movendo-se
pelo meu corpo com perícia.
Ele leva o copo aos lábios e para a meio caminho, o brilho do lustre
nada pode fazer para esconder a beleza brutal que existe em cada traço
perfeito do seu rosto. Seus lábios se esticam discretamente e o brilho
perolado dos seus molares chamam a minha atenção, me fazendo arfar
baixinho e apertar as coxas contra a outra.

— Dolcezza… — Sua voz é um trovejo lento e excitante e cenas de


Dário me pegando por trás contra o peitoril da janela explodem em minha
mente, juntamente com o cheiro da sua colônia e sexo flutuando no ar.

Seus dentes afundam na curva do meu pescoço enquanto me


penetrava forte. Meu corpo esquenta e posso jurar que minhas bochechas
estão fervendo, e isso não passa despercebido por seus olhos.

— Não quero que me diga o que devo vestir! — atiro de repente,


seus olhos se estreitando desafiadoramente.

— Não quer? — pergunta, lambendo o lábio inferior, arrematando


o último gole de uísque do copo.

— Não — concordo com um aceno.

Ando em sua direção, seu maxilar apertado a cada movimento das


minhas pernas, precisamente da longa e profunda fenda da coxa direita.
Paro a centímetros do seu corpo com uma sobrancelha levantada. Seus
olhos disparam no decote quadrado do vestido para o topo dos meus seios.

— Anda, não vai dizer que sua esposa está linda? — Coloco ambas
as mãos na cintura, recebendo um olhar duro dele seguido por um exalar
profundo.
Dário envolve minha cintura, puxando-me para ele, me fazendo
tropeçar em meus próprios pés.

— Bellissima, amore mio! Potrei guardarti tutto il notte. — Ergue


meu queixo e deixa um beijo rápido. — Mas não pense que sua rebeldia não
terá punição… — Lambo os lábios e seus olhos brilham, empurrando sua
dura ereção contra o meu estômago. — Ou será que fez tudo isso de caso
pensado? — Aponta para o longo e sensual vestido vermelho em meu
corpo.

Nego com a cabeça, afundando os dentes no meu lábio inferior.

— Não vou suportar que a olhem com cobiça ou essa festa acabará
em um banho de sangue — resmunga em indignação. — É isso que deseja?

Seus dedos se fecham no meu queixo como uma garra de aço.

— N-ão! — consigo dizer em um fraco sussurro.

— Pequena mentirosa… — rosna entredentes, seus dedos soltando


o meu queixo. Seus olhos encontram os meus novamente, e calor arde
através deles. — Sei que gosta quando eu puno você e anseia pelos golpes
do meu cinto açoitando essa sua pele de porcelana. Respiro fundo, meus
olhos se fechando por conta própria, perdida no tom da sua voz
profundamente rouca. Abro os olhos, sentindo seus dedos trilharem a pele
desnuda da minha coxa através da fenda do vestido.

— Sua punição essa noite será triplicada, espero que esteja pronta
para lidar com as consequências. — Suspiro a centímetros dos seus lábios.

Ele está tão perto que posso sentir o gosto do seu beijo.

Quente e sempre possessivo.


Dário se afasta bruscamente, alcança sua pistola em cima do
aparador e a coloca no coldre embaixo da axila. Um arrepio percorre o meu
corpo quando percebo seu olhar afiado. Ele nunca se descuida e o mais
absurdo é que nem em nossa cama, nos momentos de total intimidade,
Dário não se separa das suas armas. É assustador. Ele estende a mão para
mim e, assim que a tomo na minha, nossos dedos se enroscam.

— Precisarei de toda a porra do meu autocontrole para não explodir


e cortar algumas cabeças essa noite — resmunga furioso enquanto
deixamos a mansão.

Soya e Saul já nos aguardam no Mercedes, atrás de nós, outro


carro, uma BMW, provavelmente com uma equipe de seguranças. Olho para
o veículo com uma certa inquietação corroendo o meu peito. Dário parece
perceber, pois seus dedos apertam os meus de forma gentil.

— Não se preocupe, é apenas para a nossa segurança. Eles serão


discretos. — Aquiesço e, com sua ajuda, entro no carro.

O trajeto é feito em um confortável silêncio, uma hora ou outra


pego seus olhos furtivos em minha direção. Soltando uma ruidosa
respiração, a divisória do carro sobe e, com uma sobrancelha levantada, me
viro para encará-lo. Antes que eu possa falar, sua boca esmaga a minha,
assim como o seu corpo musculoso.

Suspiro em meio ao beijo possessivo, sentindo-me aturdida e um


pouco sem fôlego, e entrego-me ao beijo. Sua língua desliza asperamente
para encontrar a minha, lambendo-a e mordiscando-a, soltando um gemido
gutural. Dário agarra minha nuca enquanto a outra mão livre percorre a
fenda do meu vestido. Seus dedos são firmes e ágeis, indo em direção ao
lugar que implora por sua completa atenção.
Ele se afasta, chupando o meu lábio inferior com força, sua fúria é
evidente em cada toque e, por mais que esteja dirigida a mim, sou uma
completa bagunça necessitada nos braços do meu algoz.

— Tu sei la mia puttana…— geme rente a minha orelha, calor e


prazer inundando sua voz.

Mordo o lábio inferior, cravando minhas unhas nas lapelas do seu


terno.

— E-u não sou uma puta… — Ofego, enrugando o nariz. Dário ri,
acariciando minha bochecha. Surpresa é evidente em seus olhos. Andei
estudando com Karina, meu italiano continua péssimo, mas consigo
entender algumas palavras quando ele fala, principalmente as sujas e
devassas.

Gemo arqueando as costas quando minha calcinha é posta de lado e


dois dedos escorregam dentro de mim. Ele bate fundo, uma, duas, três
vezes, arrancando um grito dos meus lábios.

— Você é, dolcezza! Só… minha! — rosna entredentes, me levando


à beira de um precipício prestes a pular de cabeça.

Choramingo, puxando-o para mais perto, sentindo meu sangue


rugir em minhas veias e, quando estou prestes a alcançar um potente
orgasmo, seus dedos somem e um vazio preenche o espaço, abro os olhos e
fito seu rosto esculpido pelos deuses e sorriso diabólico.

— Ainda não, amore mio.

Minha boca se abre para contestá-lo, mas Dário me surpreende ao


deslizar seus dedos cobertos pela minha excitação em meus lábios, em
seguida, se inclina para lambê-los e sugá-los a ponto de deixá-los doloridos.

— Este será o começo da sua punição.

Meus olhos saltam em choque e um suspiro exasperado me escapa.

— V-ocê não pode estar falando sério? — Quando ele não


responde, eu continuo. — É sério isso?

Ele dá de ombros com um sorriso frio no rosto.

— O quê? Deixá-la quente e incomodada? — Sorri. — Seríssimo,


amore mio!

Ele tenta me tocar, mas eu me afasto, estapeando sua mão. Estou


fervendo de raiva e não só isso. Meu sexo pulsa dolorosamente em busca de
alívio. Arg! Da minha visão periférica, vejo Dário alcançar o seu celular
como se não tivesse sido afetado e, pior, esbanjando um brutal sorriso no
rosto. De repente me vejo tramando matá-lo com requintes de crueldade.
Ele quase me fez esquecer seu lado sadista. Gemo em frustração.

— Não é interessante quando não conseguimos o queremos, não é


mesmo? — Reviro os olhos como uma criança birrenta. — Continue… —
ele avisa com um olhar selvagem. — Não serei piedoso quando estivermos
a sós, na privacidade do nosso quarto. A farei gritar e gemer o meu nome
enquanto a fodo sem parar.

Engulo a antecipação que torce as minhas entranhas.

— Não pode fazer isso agora? — provoco-o, deslizando uma mão


suavemente em sua virilha.

Dário interrompe o avanço, seus olhos se enchendo de calor e fúria.


— No!

Retiro-me do seu toque e me afasto novamente para o final do


assento.

Minutos depois, o carro para e Soya abre a porta, ajudando-me a


descer. Dário logo surge atrás de mim, espalmando sua mão quente na base
da minha coluna, me fazendo estremecer com o seu toque. Minha pele onde
ele está tocando ainda arde, assim como o restante do meu corpo.

Ele nos conduz para dentro de uma mansão luxuosa, enquanto Soya
e Saul seguem o nosso encalço.

— Fiquem por perto, posso precisar de vocês — Dário ordena, e os


dois concordam em uníssono.

Atravessamos o hall de entrada, que segue o mesmo padrão


ostensivo do lado de fora. Em poucos passos, alcançamos o salão onde está
acontecendo a festa, uma homenagem ao líder da Cosa Nostra, Don
Michele Rosso. Karina e Nina haviam falado dele, do quanto era amigo do
falecido Dominique Ruggiero. Ambos planejavam casar os seus filhos, fato
esse que me fez sentir um gosto amargo na boca. Não que eu me importe
em saber, para ser sincera, ficaria feliz se isso tivesse acontecido, assim,
Dário e eu nunca teríamos nos conhecido e eu estaria livre desse pesadelo.
Se é assim, por que sinto um aperto no peito quando penso sobre isso?

Meus pensamentos são interrompidos quando um grupo de homens


de terno para em nossa frente. Tento forçar um sorriso, mas os dedos do
meu marido descem para o meu quadril, apertando-o como uma espécie de
aviso. Viro-me para ele com o cenho franzido.
O senhor mais velho do grupo sorri, levantando sua taça de
champanhe em uma das mãos. Seus olhos escuros como obsidiana descem
quase que descaradamente pelo meu corpo e não passa despercebido por
mim a tensão irradiando pelo corpo do meu marido. Engulo a sensação
nauseante que domina o meu estômago.

— Vejo que gosta do que vê, Marco!

Os cantos de sua boca se erguem, e ele solta uma risada profunda, o


que só provoca ainda mais a ira de Dário.

— Sì. E devo lhe dar os parabéns, sua esposa é muito bella —


elogia, arrancando uma risada baixa dos outros que o acompanha.

Um loiro de olhos avelã dá um passo à frente, deslizando as mãos


no bolso. Ele é alto e possui um corpo atlético, diria que tem a mesma idade
de Alessio.

— Marco, não seja indelicado. Dário sabe da joia que tem ao seu
lado e, se eu fosse você, não o provocaria nem de brincadeira.

Os outros três ficam em silêncio, enquanto o loiro parece se divertir


com a situação, menos o Marco. Ele bebe do champanhe e o coloca em uma
bandeja assim que um garçom passa do seu lado. Dário gira o meu corpo e
ergue o meu queixo com cuidado.

— Espere-me aqui. Se precisar de algo… — Ele olha de um lado a


outro, apontando na direção de Soya e Saul. Arregalo os olhos, segurando o
seu pulso.

— Dário, onde está indo? — sussurro. — Não pode me deixar


sozinha aqui, eu não conheço ninguém!
Ele beija os meus lábios e se afasta com um olhar firme.

— Não vou demorar, prometo, amore mio. — Ele olha em direção


ao grupo com um olhar assassino. — São apenas negócios… Volto já --
repete enquanto me deixa plantada no meio do salão.

Saul se aproxima, parando uns bons centímetros de mim, o que me


irrita. Se eu não posso ter a companhia do meu marido, prefiro explorar o
ambiente. Ignorando os olhares de alerta dos meus guarda-costas, me afasto
para o outro lado, admirando algumas obras de artes e quadros espalhadas
pelo salão.

Esbarro em algumas mulheres bem-vestidas e refinadas que me


olham de nariz empinado, enquanto homens que circulam não disfarçam os
olhares de cobiça. Minutos se passam entre uma taça e outra de champanhe,
até uma voz grave surgir ao meu lado.

— Belíssima! — Viro-me para o dono da voz, encontrando olhos


escuros e sorriso afiado, trajando um terno preto, cabelos grisalhos
penteados para trás, e sua altura impressionante. Apesar de aparentar ter
sessenta anos, ainda possui um charme mortal. — Scusami. Não queria
assustá-la. Você deve ser a moglie de Ruggiero, sì? — pergunta com um
sorriso que faz meu estômago apertar.

— Sim — concordo. — Me chamo Mi…

— Mia Ruggiero, filha de Gabriel Salvatore e Ema Salvatore, que


Deus a tenha — interrompe-me com um olhar astuto. — É um prazer
conhecê-la, bella, me chamo Michele Rosso. — Estende sua mão com um
sorriso inquietante e inelegível escorregando em seus lábios finos.
Um arrepio percorre minha espinha quando percebo que se trata do
líder da Cosa Nostra. Ouvi falar coisas macabras ao seu respeito, como de
se esperar de um homem na sua posição.

— Don… Michele! — profiro com um sorriso, na tentativa de


diminuir a tensão que ameaça dominar o meu corpo.

Seguro sua mão, e ele a leva até os lábios, deixando um beijo breve
no dorso dela. Retiro-me gentilmente do seu toque, sentindo uma sensação
estranha com o peso do seu olhar em mim.

Michele estreita os olhos, mas nada diz. Ele recua e, olhando-me


dos pés à cabeça, se afasta, por breves segundos; vejo malícia brilhar em
seus olhos, mas logo desaparece e, sorrindo gentilmente, ele pega a taça de
champanhe vazia em minha mão, colocando em uma bandeja de um garçom
que passava por nós, logo pegando outra totalmente cheia e estende para
mim.

Pego a taça e agradeço-o. Segundos depois, um homem de terno,


aparentemente um segurança, cochicha algo no seu ouvido. Don Michele se
desculpa e pede licença, se retirando em seguida.

Solto um suspiro profundo, agradecendo aos céus por me livrar da


presença sombria desse homem. Não gostei do jeito que me olhava. Parecia
fingir simpatia quando, na verdade, queria me ver morta, afogando-me no
meu próprio sangue.

Saul se aproxima, seus olhos castanhos parecendo estudar o meu


rosto. Ele coça sua barba densa e se inclina para sussurrar.

— Está tudo bem, senhora?


Balanço a cabeça, olhando além do seu ombro na direção que Dário
saiu com aquele grupo de homens estranhos.

— Onde está o seu chefe, e não minta para mim? — rosno baixo,
olhando de um lado para o outro para garantir que ninguém esteja prestando
atenção a nossa conversa.

— Ele está tratando de negócios, senhora. Não se preocupe, ele já


deve estar voltando.

Mordo o lado interno da bochecha apreensiva. Me sinto como um


pequeno peixe indefeso nadando em um aquário repleto de tubarões
famintos. Seco mais uma taça de champanhe, recebendo um olhar
preocupado de Soya e Saul. Os dois devem estar com medo de que o chefe
deles arranque suas bolas se algo acontecer com sua moglie.

Soya, com sua imponente altura e construção sólida como uma


muralha, tenta bloquear um garçom de chegar perto de mim. Olho feio para
ele, que não se afeta e continua de olho como uma águia. O ruivo é tão
irritante e mal-humorado, mesmo com um terno escuro e elegante não
apaga sua imagem de viking selvagem.

Tomo um minuto para respirar e resolvo procurar a droga do meu


marido, seja lá onde ele esteja.

— Senhora! — Saul tenta bloquear minha passagem, mas consigo


empurrá-lo e contorná-lo, ignorando os protestos de Soya, que parece estar
furioso.

Ando por um corredor com piso de mármore opulento que se


acende a cada passo dado, me levando para inúmeras portas, minha
respiração engata quando vou testando todas as maçanetas.
O barulho de uma porta sendo aberta à frente me chama a atenção.
Cesso os passos quando vejo o mesmo grupo que emboscou Dário assim
que chegamos na festa sair. Eles seguem em frente e não percebem minha
presença, espero impacientemente Dário sair, mas isso não acontece.

Minha mente pisca e, munida de algo que não consigo explicar,


ando em direção à porta. Quando alcanço a maçaneta, minhas mãos tremem
e vacilam com o som rico da sua voz, mas ele não está sozinho. Outra voz
que não reconheço preenche o cômodo. Uma risada feminina.

Meu sangue ferve e lembranças do dia do nosso casamento


explodem em minha mente. A orgia. Aquela mulher se esfregando nele.
Fecho os olhos e respiro fundo ao mesmo tempo em que um sentimento
passa por mim ao imaginar o que deve estar acontecendo lá dentro.

— Ivana, eu não tenho tempo para isso. Minha moglie está me


esperando. Devia ter mais respeito por si mesma.

Meu peito vibra com suas palavras, a maneira que ele fala minha
moglie tão possessivamente.

— Não finja que não me quer, se até poucos meses atrás, você e eu
iríamos nos casar. Você não pode ter me esquecido assim tão facilmente.

Ofego, apertando a maçaneta com força. Que vadia! Ela se acha


inesquecível? Bem, é bom ela descer do alto, porque ela é completamente
esquecível.

Ouço a risada de escárnio de Dário e, em seguida, sua voz profunda


estala.
— Eu nunca disse que me casaria com você, Ivana. Não se iluda.
Nossos pais, sim, agora se me der licença…

— Espere! — Inclino-me, aproximando a orelha da madeira,


escutando sons de salto se aproximarem da porta.

— Eu posso te lembrar como sou uma garota má — murmura


sensualmente — enquanto fico de joelhos e você fode minha boca, o que
acha?

Meu autocontrole se vai com sua última frase. Abro a porta furiosa,
fitando a morena de olhos azuis e longo cabelo preto ao lado de Dário. Seu
vestido dourado está agarrado a belas e sensuais curvas. Seus lábios
pintados de vermelho se esticam em um profundo sorriso provocativo,
enquanto a fuzilo com o olhar. Ao julgar como seus olhos brilham, é claro
que essa oferecida sabe quem eu sou. Levanto uma sobrancelha.

— Atrapalho? — praticamente rosno entredentes, recebendo um


olhar enervante do meu marido.

— No, amore mio — Dário murmura, alcançando-me em poucos


passos, envolvendo a minha cintura. — Já estava indo encontrá-la.

Fogo explode dentro do meu peito ao vislumbrar o olhar de luxúria


que a mulher lança na direção do meu marido. Meu!

Eu lambo os meus lábios e levo uma mão na gravata de Dário,


apertando o nó com força, provocando um leve grunhido dele.

— Aposto que estava. — Estalo a língua, me virando para encarar a


vadia que ostenta um sorriso arrogante nos lábios. — Não vai nos
apresentar?
— Na verdade, n…

— Ivana Rosso — ela o interrompe ansiosamente, estendendo uma


mão em minha direção.

Olho para suas unhas longas pintadas de vermelho como se fosse


uma cobra peçonhenta pronta para dar o bote.

— Filha de Don Michele, eu presumo.

Olho para Dário, ignorando-a completamente.

— Sì! — concorda com um leve desconforto.

Viro-me novamente para ela, esquecendo todo finesse que herdei da


minha mãe.

— É um prazer conhecê-la, senhora Ruggiero — diz com deboche.

— Dário e eu estávamos apenas relembrando o nosso passado, sabe


como é… — Toca os lábios com sorrateiro sorriso.

Chupo uma respiração e dou um passo em sua direção de queixo


erguido, encarando-a fixamente.

— Não, eu não sei como é — respondo-a com um tom assustador.


Seu sorriso vacila, mas se recupera rapidamente. — Mas para poupar o seu
tempo e o meu com formalidades, pegue isso! — Me aproximo ainda mais,
ficando a centímetros da sua face. — Fique longe do meu marido.

Seu olhar escurece e me diz claramente que ela não fará isso.

— E se eu não quiser? — provoca.


— Mia… — Dário murmura, alcançando-me novamente,
segurando-me por trás. — Não caia em suas provocações, é tudo que ela
deseja. — Balanço a cabeça em concordância.

Giro em meus calcanhares, beijo seus lábios e, em seguida, me


afasto.

— Tem razão, afinal, eu não preciso implorar e nem ficar de


joelhos para você me foder. — Sorrindo, me viro para Ivana Rosso,
encontrando sua face vermelha. Olho para as minhas unhas pintadas em
nude e mordo o lábio inferior. — Sabe qual é a melhor parte do nosso
casamento? — Ergo os meus olhos, piscando docemente. Quando ela não
responde e parece querer me estrangular com suas próprias mãos, digo: —
Quando o meu marido, com toda a sua imponência e devassidão, fica de
joelhos pra mim e me faz ver estrelas.

Dário aperta meu quadril e sinto o quanto está duro contra a minha
bunda, posso escutar o exalar profundo da sua respiração. Ivana finge um
sorriso e recua.

— Posso imaginar. Mas já se perguntou por quanto tempo essa lua


de mel durará? — Seu sorriso é largo, deslizando o olhar afiado para além
do meu ombro. Para Dário. — Oh, não vamos fingir. Sabemos que você não
irá satisfazê-lo, isso é ridículo! Dário merece uma mulher a sua altura, não
uma garotinha que fugiu assim que descobriu sobre o noivado.

Ranjo os meus dentes, avançado para cima da vaca arrogante, mas


sendo contida por braços fortes.

— Cala a boca, Ivana! — rosna enquanto me debato em seus


braços.
Ivana sorri ainda mais.

Ah! Eu vou arrancar esse sorriso dela à base de tapas!

— E você está claramente morrendo de inveja dessa garotinha aqui


que conseguiu o que você sempre desejou, não é? — Minha voz está calma,
considerando a vontade que tenho de arrancar os olhos dela. Percebo que
minha provocação teve o efeito desejado dado a sua fúria evidente e resolvo
dar o xeque-mate. — Faça um favor a si mesma, se ainda tem um pouco de
dignidade, fique longe! Procure outro disponível, não pega bem a filha do
Don Michele se comportando como uma vadia qualquer.

Ivana estremece e rosna, levantando a mão para mim. Ergo o


queixo, esperando o golpe que é rapidamente interrompido por Dário.

— Não ouse! — ameaça com o maxilar apertado. Ele segura o


pulso de Ivana com força, que solta um gemido de dor.

— Você vai se arrepender disso, vadia — ela cospe, tentando se


soltar do agarre de aço do meu marido, que empurra até tê-la ofegante e de
olhos arregalados contra a parede.

— Cuidado com o que fala, ou eu esquecerei que é uma mulher e


quem é o seu pai. Toque na minha moglie e eu não responderei por mim.
Ninguém a ameaça na minha frente.
Capítulo 18

Afasto-me de Ivana com o sangue fervendo em minhas veias. Se eu


não sair agora dessa sala, farei algo de que possa me arrepender
amargamente. Ela não tem limites e está empenhada em provocar a minha
esposa, e isso não vou permitir.

Seguro a mão de Mia e a puxo para deixarmos a sala. Foi um erro


ter deixado-a sozinha, mas Marco e seus primos não me deixaram em paz.
Querem expandir os negócios e sabem que os Ruggiero têm o toque de
Midas para isso.

Em passos largos, alcançamos o corredor encontrando Soya e Saul


com expressões preocupadas. Balanço a cabeça para eles, deixando
evidente o meu desagrado por deixarem Mia vagar sozinha pelo salão.

— Da próxima vez, cabeças vão rolar — resmungo, passando por


eles.

Mia solta um suspiro profundo e se solta do meu agarre.

Cesso os meus passos e viro-me para ela, encontrando seus olhos


ardentes atirando-me punhais.

— Não irei me mover sem uma explicação decente. — Aponta o


dedo para mim. — Você me deixou plantada.

Deslizo uma mão em minha barba por fazer e ando até ela,
enlaçando a sua cintura delicada.
— Scusami, por isso, amore mio. Eu sinto muito. — Toco em sua
bochecha, sentindo a maciez da sua pele. Encaixo uma mecha do seu cabelo
loiro no meu indicador, colocando-a atrás da orelha. — Enquanto a Ivana…
bem, não precisa se…

— Não quero falar dessa oferecida, e não quero que olhe na direção
dela, fui clara?

Agarro seu queixo, cravando os dedos em sua carne macia. Mia


ofega e geme, arregalando os olhos, mas nunca desviando dos meus.

A luxúria é crua entre nós e está me matando a cada segundo. Eu


devia ter fodido sua boceta no momento em que a tive em meus braços. Mia
continua a me desafiar e alimentando o monstro feroz que habita em mim.

— Está me dando ordens, dolcezza? — Lambo meu lábio inferior,


vislumbrando seus olhos azuis escurecerem. Eu intensifico o meu aperto. —
Quer mesmo seguir por esse caminho? — replico, meu tom soando como
uma clara ameaça.

Levando sua mão acima da minha, ela sussurra:

— Sim. Quero!

Eu a solto gentilmente e seguro sua mão, nos levando de volta para


o salão principal. Da minha visão periférica, vejo-a franzir levemente o
nariz, afundando seus dentes no lábio inferior. Respiro fundo, contendo a
vontade de levá-la para casa e fodê-la contra a porta, sob os seus gemidos e
suspiros estrangulados.

Sua raiva ainda não desapareceu, e a cada passo dado, percebo seus
olhos afiados olhando de um lado a outro. Espero que Ivana não me cause
mais problemas, não posso lidar com ela agora.

Andamos até o bar e peço uma dose dupla de uísque, enquanto Mia
pede um drink sem álcool. Quando nossos pedidos são entregues, Alessio e
Pablo surgem ao nosso lado.

Eles olham entre mim e Mia, percebendo o clima tenso pairando


sobre nós. Pablo estreita os olhos, olhando fixamente para frente e seguimos
o seu olhar.

Ivana está ao lado de um casal de advogados da Cosa Nostra e


sorri, levantando sua taça para um brinde.

— Vadia! — Mia rosna baixinho.

— Pelo visto já foram apresentadas. — Alessio murmura


alcançando um copo com vodca, reprimindo um riso de diversão.

Atiro-lhe um olhar, e espero ter entendido que não é hora para


provocações. Alessio levanta as mãos em rendição.

— Já entendi! E Mia… — Se vira para Mia com um sorriso


sedutor. — Não precisa se preocupar, meu irmão só tem olhos para a bela
moglie dele. — Alcança sua mão direita, levando aos lábios, tocando o
dorso da sua mão sutilmente.

Mia agradece, arrancando sua mão da dele com um leve rubor


cobrindo suas bochechas.

Solto um grunhido baixo e a puxo para o meu lado.

— Pare de se comportar como um homem das cavernas — retruca


com um sussurro.
Inclino minha cabeça em sua direção, roçando meus lábios na
concha da sua orelha.

— Não me tente, tesouro mio. Ou eu posso ser pior do que um


homem das cavernas.

Mia estremece e olha para mim, piscando os seus longos cílios,


como se estivesse em um completo transe. Nossa conexão é interrompida
por uma voz profunda e ameaçadora que se materializa à nossa frente.

— Dário! É sempre um prazer revê-lo. — Ele estende sua mão e a


pego com um aperto firme.

Seus olhos escuros como a noite deslizam para Mia ao meu lado,
demorando-se mais que o necessário.

Seu olhar para ela me causa uma fúria fervente. Ele a olha com
desprezo, como se ela não merecesse o seu tempo, mas vejo além disso, a
luxúria e desejo distorcido transbordam em ondas através dos seus olhos.

Quando percebe que o flagrei, ele se recompõe com um sorriso.


Vermelho intenso explode em minha mente e sou tentado a afundar a minha
faca em sua garganta e assisti-lo a sangrar até a morte. Mas não é o
momento, não em uma festa repleta de outros chefes da Cosa Nostra. Minha
voz se torna mortalmente calma quando o respondo.

— Don Michele… O prazer é todo meu.

Seus lábios se esticam em um sorriso falso e repulsivo. Ele


cumprimenta Pablo e Alessio e novamente seus olhos disparam para a
minha moglie. Leva tudo de mim para ignorar a minha sede violenta de
assassiná-lo diante de todos os presentes.
— Quero lhe apresentar a minha moglie, Mia Ruggiero —
apresento-a, segurando possessivamente a sua cintura.

Michele estreita os olhos, olhando para o gesto com um olhar


inelegível.

— Bem, já tive o prazer de conhecê-la, e devo parabenizá-lo. Sua


moglie é belíssima!

Concordo olhando de soslaio para Mia, que estremece e só então


percebo que estou literalmente cravando os dedos em seu quadril. Suavizo o
aperto. Não me agrada que ela tenha ficado a sós com Michele. Ele não me
engana. Por mais que tenha desaprovado Mia como minha esposa, já que
sua intenção era casar Ivana, seu olhar para ela é carregado de cobiça.

Michele engata em uma conversa saudosa, lembrando-se da época


em que ele e papai trabalhavam juntos. Por mim, ele e suas memórias
poderiam ir para o inferno, onde Dominique Ruggiero já deve estar
governando.

Lucian, o filho caçula de Michelle, resolve se juntar a nós. Ele


cumprimenta a todos e, quando seus olhos estão em minha dolcezza,
brilham e o bastardo mal consegue disfarçar o seu fascínio.

Lucian é alto, herdou a estrutura robusta do seu pai e, ao contrário


de Ivana, ele tem cabelo castanho e olhos cor de âmbar. Ele se aproxima de
Mia para o meu total desgosto e a pega desprevenida, alcançando sua mão,
a levando até os lábios, deixando um beijo demorado.

— É um prazer conhecê-la, signora Ruggiero — murmura com um


sorriso cheio de dentes, afastando-se elegantemente.
Mia agradece, novamente o maldito rubor cobrindo suas bochechas.
Meu olhar assassino pousa em Lucian, e espero ter deixado uma mensagem
clara para esse bastardo: “ flerte com minha esposa e o afogarei em seu
próprio sangue.”

Michele levanta o indicador e chama um garçom, que rapidamente


vem em nossa direção, servindo taças de champanhe para todos. Verifico
Mia algumas vezes e vejo como a conversa que nos cerca a deixa entediada.
Michele conta sobre sua juventude e o início do seu reinado, como
aniquilou os seus inimigos, e adora torturar os seus traidores.

Solto um grunhido baixo quando vejo Lucian jogando charme para


a minha esposa bem debaixo do meu nariz e Mia exibindo um sorriso
perfeito que deveria ser só meu.

— Você vem comigo! — peço licença aos demais e praticamente a


arrasto para a saída, indo em direção à enorme garagem.

Seus saltos clicando desarmonicamente, ecoando enquanto ela


tropeça e tenta se desvencilhar do meu agarre.

— Qual é a porra do seu problema?

Meu sangue ferve em meu peito e, em um movimento rápido,


agarro o seu queixo e a prenso contra uma coluna de concreto. Meu
controle estala.

— Qual é a porra do meu problema? — replico sombriamente, e


Mia arregala os olhos, seus lábios trêmulos enquanto seu corpo estremece
contra o meu. — Me diz você, tesouro mio.
Aperto o meu aperto em seu queixo e, lutando contra o meu
domínio, ela espalma as mãos no meu peito e empurra com toda a força que
consegue. Minha pequena selvagem!

— E-u não sei do que está falando — rebate, furiosa.

Rio, mergulhando para encontrar a curva do seu pescoço enquanto


lambo e sugo, deixando uma marca avermelhada. Minha, porra!

— Permita-me, então, lembrá-la. — Agarro uma perna e a levanto,


travando-a contra o meu quadril. — Minha moglie não olha para outro
homem além de mim, e não lhe dá os seus malditos sorrisos que deveriam
ser só meus!

A atmosfera se torna mortalmente densa ao nosso redor e observo


sedento seu peito subir e descer em uma cadência quase enlouquecedora.

Ela soca repetidamente meu peito, bradando o quanto sou doente,


um sádico, maluco e possessivo, embora seus olhos demonstrem que ela
adora esse lado. Toco minha testa à sua, respirando com dificuldade.

— Posso ser tudo isso, amore. — Suspiro, acariciando seus lábios


com o indicador. — Mas não posso impedir que o meu coração bata mais
forte quando estou ao seu lado, ou de querer assassinar qualquer um que
olhe em sua direção. Ela ofega, seus olhos azuis fitando os meus como dois
faróis. — Pode me chamar de egoísta, louco ou possessivo, mas não posso
impedir que o meu lado sombrio queira você só para mim. Sono tuo. —
Inclino para mais perto, raspando meus lábios em seu ouvido. — Sono tuo,
dolcezza.

Um suspiro suave escapou dos seus lábios em formato de coração.


Saboreio-os com um gemido, provando o arco perfeito entre eles,
deslizando a minha língua gentilmente.

Se fosse em outros tempos, já tinha a levantado e, contra a pilastra,


fodido sua doce boceta, mas é da minha moglie que estamos falando, a
futura mãe de todos os filhos que desejo ter. Não gostaria que nenhum
bastardo olhasse para ela dessa forma e nem escutasse os seus deliciosos
gemidos. Me afasto, segurando sua nunca com força.

— Eu quero muito me enterrar dentro de você. Mas não aqui. Por


isso, vou levá-la para nossa casa.

Mia protesta e, com olhos brilhando malícia e determinação, ela


alcança minha calça e tenta desafivelar o cinto.

— No! — Cesso o seu ataque.

— Dário… Eu… — Seu choramingo é interrompido por um


estampido abafado que atinge o topo da pilastra a poucos centímetros de
nós.

Mia congela e, agindo pelo instinto, abraço o seu corpo, nos


levando diretamente para o chão.

Meu corpo cobre o seu, protegendo-a de ser atingida. Sons de bala


ricocheteiam, cortando o ar, deixando um rastro pelas pilastras e carros
estacionados que disparam os alarmes.

Olho para Mia, levando as mãos em cada lado da sua face em uma
tentativa de acalmá-la.

— Respira, amore. Eu estou aqui e não vou deixar nada acontecer


com você, eu prometo.
Afasto-me dela e abro o meu terno, pegando minha arma do coldre,
sentindo seu corpo estremecer. Faço um esforço para descobrir qual direção
vêm os disparos, apesar da iluminação em cada ponto, é impossível
descobrir de onde partiu. Atiro em uma direção duas, três e logo depois sou
correspondido com ardor. Seja lá quem seja esse verme, devo confessar que
ele sabe bem o que está fazendo. Meu sangue bombeia mais rápido quando
percebo que o ataque está partindo de um prédio à frente, na certa, um
atirador experiente. Atira com precisão, munido com um fuzil ou rifle de
longa distância, talvez. Droga!

Seguro o queixo de Mia, obrigando-a a olhar para mim.

— Quero que se esconda atrás daquele carro. — Aponto para o


Bentley escuro atrás de nós.

Mia pisca, lágrimas começando a escorrer por suas bochechas.

— Eu… e você?

Balanço a cabeça, olhando para a entrada, avistando uma equipe de


seguranças, e logo atrás, Soya e Saul correndo em nossa direção. Ambos
com armas em punhos.

Aponto para o prédio, e os dois acenam, entendendo o que devem


fazer, enquanto os outros começam uma varredura em toda a extensão da
garagem.

— Não se preocupe, amore mio. Nada vai acontecer, mas preciso


que fique segura, você pode fazer isso?

Ela acena, enquanto seco as lágrimas do seu rosto. Beijo sua testa e
me afasto, vislumbrando sombras de pânico em seus olhos. Mia agarra a
manga do meu terno.

— Por favor… volte, de preferência, vivo! — Balanço a cabeça,


tocando sua bochecha.

— Não se preocupe. Agora vá! — Viro-me, dando-lhe vantagem.

Ouço o barulho dos seus saltos e sua respiração errática, e me


concentro em proteger suas costas. Os tiros parecem ter cessado, mas isso
pode ser uma tática para nos pegar desprevenidos. Olho brevemente por
cima dos ombros, exalando profundamente em alívio ao confirmar que ela
está em segurança agora.

— Senhor Ruggiero. Nada aqui. Os tiros foram efetuados por um


rifle de longa distância — um dos seguranças informa.

Reviro os olhos, não preciso ser um gênio para perceber isso. Se


não tivesse um ótimo reflexo e experiência, teria sido alvejado. Ou o
atirador só queria deixar um aviso.

— Os tiros foram feitos da cobertura do prédio à frente. Está em


reformas. Ele ou eles devem ter se aproveitado disso — continua.

Solto um praguejo.

— E não há câmeras lá? — Ele acena em concordância. — Quero


todas as filmagens — ordeno, me afastando e alcançando o meu celular,
mandando uma mensagem para Pablo e Alessio.

O segurança se empertiga, parecendo desconfortável sob o meu


olhar. Levanto uma sobrancelha.

— Algo errado?
— Preciso relatar isso a Don Michele. Ele terá que autorizar.

Rosno baixo.

— Que seja!

Viro-me para checar Mia quando sinto um impacto cortante no meu


ombro esquerdo, a dor é lancinante e me faz cair de joelhos e grunhir de
dor.

O rosto desesperado da minha esposa logo entra em foco entre uma


fileira de carros e eu nego, pedindo que fique onde está. Seus olhos estão
inundados de pânico e, teimosa como sempre, ela ignora o meu comando.
Mia corre em minha direção enquanto uma cacofonia de vozes ecoa à nossa
volta.

— Não! Não! — choraminga, caindo de joelhos à minha frente.

Seu lindo rosto está banhado em lágrimas, suas mãos delicadas


tocando-me por toda a parte, procurando pelo ferimento.

— V-ocê está sangrando! Dário…

— Shii! — silencio-a com um suspiro. — Já sobrevivi coisas bem


piores — murmuro, tentando me levantar.

Ela estremece, ajudando-me a ficar em meus próprios pés e, em


seguida, removo o meu terno, jogando-o no chão. Seus olhos saltam para o
meu ombro ferido. O tecido branco da camisa está completamente
encharcado com meu sangue. Se há um consolo em tudo, é que vou adorar
torturar o filho da puta que fez isso. Ele vai desejar a morte quando eu
terminar.
Capítulo 19

Mordo a ponta do meu polegar observando o doutor Ângelo, o


médico da família, limpar o ferimento de Dário e, em seguida, fazer a
sutura.

Pablo e Alessio haviam chegado minutos depois na garagem e


imediatamente ligaram para o médico. Não poderíamos ir até um hospital.
Então, todos nós retornamos para a mansão. A busca pelo atirador não
obteve resultados, nenhuma pista sequer, o maldito simplesmente evaporou.
O que só aumentou a sede de vingança do meu marido.

Ele range os dentes, enquanto o médico sutura sua pele. Dário


apenas se sentou e, com uma garrafa de uísque na mão, deixou que o
médico fizesse o seu trabalho. A bala foi retirada e, a cada ponto dado, seus
olhos escureciam e ele entornava um generoso gole de uísque.

Quando o médico finalmente termina, passa algumas


recomendações e remédios para dor e cicatrizar a pele. Passo a lista para
Soya e peço que ele providencie.

Meu olhar dispara para as minhas mãos e roupas cobertas de


sangue e uma onda de náuseas me atinge. Solto uma respiração instável,
lembrando-me que já estive nessa situação antes. Quando eu tinha sete anos
e nossa casa foi invadida por mercenários e quase todos os nossos
funcionários foram mortos, inclusive a minha mãe. Nosso pai não estava
em casa e, quando chegou, era tarde demais. Mesmo conseguindo evitar
que Milena, Enrico e eu fôssemos executados, nossa mãe já estava morta.
Eu tive seu sangue em minhas mãos, eu chorei sobre o seu corpo. E só de
pensar que essa história poderia se repetir… lágrimas quentes escorrerem
pelas minhas bochechas em uma velocidade que me deixa sem ar.

Os olhos intensos e selvagens do meu marido encontram os meus e,


levantando o indicador, ele me chama. Eu fungo, secando minhas lágrimas.
Quando me aproximo, parando a centímetros dele, seu braço bom envolve a
minha cintura, me puxando para me sentar no seu colo.

Acabo caindo sobre o seu corpo, escutando um silvo escapar dos


seus lábios. Levo uma mão para o seu peito em busca de equilíbrio,
tomando cuidado para não o machucar. Ele beija a minha testa e acaricia as
minhas costas gentilmente. Ficamos assim por algum tempo até escutá-lo
gemer de dor.

Na mesma noite, eu o observei em sua forma adormecida e senti


em meu âmago que algo mudou.

Conforme os dias avançaram, Dário e eu ficamos mais próximos.


Eu o alimentava na cama, mesmo Nina resmungando como uma velha
rabugenta, eu acho que provoquei os seus ciúmes de mãe, mas ambas
tínhamos um desejo em comum: de vê-lo curado logo. Dário continuava
sombrio, seus olhos azuis sempre perfurados os meus, tive o terrível
martírio de bloquear todas as suas tentativas de me foder, não queria que ele
arrebentasse os seus pontos.

No décimo quinto dia, Dário já estava impaciente, andando como


um touro enfurecido pelo quarto e, no segundo que eu colocava o pé no
cômodo, ele me agarrava pela garganta e me prensava contra a porta.
Quando ele me tocava, meu corpo entrava em combustão e levava tudo de
mim para não ceder às suas investidas.
Buscando um meio para acalmá-lo, eu sabiamente caía de joelhos à
sua frente e o chupava de bom grado, o fazendo ver estrelas. Dias se
passaram em meio a nossa rotina caótica e ardente, onde não sabíamos mais
mantermos nossas mãos longe um do outro. Eu o subestimei, o diabo não só
tem suas artimanhas, como nos manipula a segui-las à risca.
Capítulo 20

Um mês depois…

Seus olhos azuis, embora fossem transformados em desejo e


luxúria, emitiram um breve protesto. Seus argumentos foram enfraquecidos
por meus lábios em seu pescoço arrancando-lhe suspiros e meus dedos
penetrando sua doce e deliciosa boceta. Ela tremeu, seus lábios entreabertos
denunciando o quanto está adorando a minha tortura.

— P-or favor…. Por favor… — Seus soluços são adoráveis, não


mais do que vê-la se contorcer e gritar de prazer. — Seu ferimento… Ele
não…

Arrebato sua boca, acelerando os meus movimentos, ela geme,


arqueando as costas contra o colchão.

— Dolcezza...— Suspiro contra seus lábios, sentindo sua boceta


apertar em volta dos meus dedos. — Se eu não foder você agora mesmo,
irei explodir.

Bato meu polegar contra seu clitóris, sentindo seu corpo


estremecer.

Estou fervendo por dentro, depois de ter sido baleado, Mia tem
tentado negar-me sexo, o que funcionou durante os primeiros dias, mas ela
deveria saber que um simples ferimento não apagaria a fome que eu tenho
dela, alguns pontos em minha carne não poderiam me impedir de foder a
minha bela moglie.

Seus olhos se arregalam quando minha palma se conecta com sua


bunda, o som do estalo em sua pele rasgando noite silenciosa adentro. Não
espero ela se ajustar, pois minha palma encontra sua pele uma, duas, três,
até sua voz sussurrar, implorar para parar de torturá-la e fodê-la de uma vez.

Empurro-a de barriga para baixo, minha mão cobrindo sua espinha,


deslizando asperamente por suas costas, agarrando um punhado de cabelo
dela. Sem mais delongas, a penetro em um golpe duro. Ela grita, suas mãos
agarrando o lençol com força, seus lábios sussurrando palavras desconexas.

Inclino-me, roçando o lóbulo da sua orelha e, enquanto deslizo


dentro dela, estoco profundamente, sentindo todo o meu sangue bombear
mais rápido à medida que meus golpes se intensificam. O suor brota da sua
pele, salpicando-a levemente, eu provo o gosto salgado na minha língua,
soltando um longo gemido de aprovação.

— Você é a porra do meu vício, amore mio — murmuro com um


impulso assassino, fazendo com que a cama bata contra a parede.

Minha resiliência desaparece ouvindo os seus doces gemidos.


Envolvo sua cintura e a puxo para cima. Com esse movimento, posso me
enterrar ainda mais dentro dela, o que torna difícil não a encher com o meu
gozo. Deslizo minha mão em sua frente, alcançando o abdômen plano,
descendo lentamente, indo ao encontro do seu monte inchado, e esfrego-o
suavemente. Mia balança contra os meus golpes e a combinação de tudo me
envia ao limite.
Meus olhos se fecham e paro com uma respiração pesada,
deixando-a se banquetear com o meu pau, rebolando e se encaixando até
ouvi-la gritar e se desfazer à minha volta.

Eu não posso me ajudar quando sou uma bagunça caótica e ardente


e, com um rosnado capaz de ser escutado a quilômetros de distância, a levo
para baixo e a fodo como um lunático, perseguindo o meu próprio clímax,
explodindo dentro dela.

Meu lábios se fecham na pele sensível da sua nuca, e um sorriso


satisfeito me escapa e o desejo de fodê-la novamente retorna com força
total. Sentindo meu membro ganhar vida dentro dela, Mia ferve.

— Às vezes sua performance me assusta. Tem certeza de que é


humano?

Afundo meus dentes na curva do seu pescoço, em seguida, me


afasto e saio de dentro dela, puxando-a para se deitar em meu peito.

— Não tenho culpa se tenho uma maldita ereção sempre que você
está por perto. Você é a única culpada por isso, dolcezza — Sorrio. —
Desde a maldita noite em que a vi na minha boate em Chicago há meses
anos.

Olhos azuis se erguem e fitam os meus. Confusão fica estampada


em seu rosto.

Beijo os seus lábios e acaricio seu inferior, tentando sugá-lo até


deixá-lo vermelho e inchado.

Ela suspira e parece pensar em algo. Suas bochechas vermelhas e


suadas, tirando toda a minha concentração. Meu visual preferido em todo o
mundo. Minha mulher está corada e bagunçada após o sexo.

— Eu me lembro daquela noite — diz simplesmente, desviando o


olhar para a janela. — Milena e eu estávamos comemorando o nosso
aniversário e então eu te vi. — Ela morde o lábio inferior com um leve
menear de cabeça. — Você parecia um deus. — Solta uma risadinha. — Ou
o cavaleiro da morte com toda a sua escuridão e ar sombrio. — Meus olhos
disparam para a sua boca esperta.

— E o que sentiu? — Estreito o olhar sentindo uma tensão pairar


sobre nossas cabeças.

— Que você era extremamente perigoso, embora fizesse com que


as entranhas de qualquer mulher se derretesse com apenas um olhar.

— Isso é tudo? — Ela nega, um rubor delicioso cobrindo suas


feições delicadas.

— Eu me senti atraída por essa escuridão, como se não me


importasse que manchasse a minha alma, nem me deixasse chamuscada
com todo o fogo que vi em você.

Seguro seu queixo, orgulhoso e com outro sentimento borbulhando


dentro do peito.

— É assim?

Ela concorda e uma corda invisível enlaça o meu coração, o


fazendo bater muito forte a ponto de doer.

— Eu fiquei obcecado quando te vi, dolcezza. Algo no seu olhar me


chamou atenção, não sei explicar. Mas você ficou sob minha pele por dias,
como um maldito vírus, e eu não parava de pensar em você, então pedi que
levantassem sua ficha. E, para a minha surpresa, seu pai também vivia no
mesmo submundo que eu e é ambicioso. — Ela pisca, a compreensão
enchendo seus olhos. — Então me aproximei dele e o persuadi a aceitar a
me dar a sua mão em casamento.

Salvatore tinha uma enorme dívida no mercado e sua cabeça estava


a prêmio, mas claro que eu cuidei disso. Não digo essa parte para Mia,
prefiro poupá-la de qualquer sofrimento.

— Você me sequestrou! — ela retruca secamente.

Aperto o meu aperto em seu queixo ao me lembrar onde eu a


encontrei depois da sua fuga.

— Tem certeza que quer ir mesmo por esse caminho?

Lascas de fúria serpenteiam por seus olhos.

— Eu não sou como você, que mata sem o menor peso na


consciência. Eu… me sinto culpada. Você não tinha o direito de matá-lo.
Jason não sabia de …

Solto o seu queixo com um rosnado profundo.

— Não fale o nome dele, porra! Não quando, segundos atrás era o
meu nome que você gemia sem parar!

Mia balança a cabeça, seus lábios tremendo levemente.

Pela primeira vez na vida, tenho provado uma centelha de


felicidade, onde as trevas do meu passado não me alcançam, antes dela, eu
me sentia incompleto, como se precisasse de algo que não sabia explicar.
Agora entendo, não era algo… Mas alguém. Ela! A minha dolcezza.
Enquadro sua face com uma mão de cada lado e descanso minha
testa na sua.

— Não quero contaminar a nossa cama com lembranças


desagradáveis como essas. Eu morro só de pensar em outro homem tocando
você, tesouro mio.

Sou capaz de incendiar toda a porra do mundo e eliminar qualquer


um que ameaçar tirá-la de mim. — Mia abre a boca para falar algo, mas eu
a silencio com o indicador. — E não me arrependo de ter matado aquele
infeliz. — Ela comprime os lábios. — O mataria novamente se tivesse outra
oportunidade — digo sombriamente.

Seus olhos fitam-me de maneira intensa, cavando fundo no meu


peito, fixando suas garras profundamente no meu coração.

— Eu só não sei se me encaixo no seu mundo, Dário… Isso é


muito para mim — confessa com um suspiro, seu olhar caindo para as suas
mãos que descansam no seu colo.

— Eu tenho sangue de um inocente em minhas mãos…

Cubro suas mãos com as minhas, lutando contra o desejo assassino


de fazê-la entender de uma vez por todas que o seu lugar é ao meu lado e
que o inferno irá congelar se eu a deixar ir da minha vida.

— Você é meu maldito quebra-cabeça, Mia. E foi feita para mim.


Então não vem dizer que não se encaixa no meu mundo se você foi
moldada exclusivamente para ser minha moglie, a mãe dos meus filhos. Sì?
— Ela engole em seco. — E não há sangue aqui, tesouro mio… Seguro suas
mãos levando-as até os meus lábios, beijando cada nó dos seus dedos.
Sou capaz de escutar o som suave da sua respiração e o ritmo
assustador do seu coração e a beijo profundamente, calando todo o caos que
ameaça abafar a nossa felicidade. Eu a encontrei e não estou disposto a
deixá-la ir, não enquanto eu viver.
Capítulo 21

Um suspiro profundo escapa dos meus lábios enquanto olho


fixamente o meu reflexo no espelho. Deslizo os meus dedos lentamente
sobre uma mancha avermelhada e visível de um chupão na extensão do meu
pescoço e no vão dos meus seios exibindo marcas recentes dos dentes de
Dário e no contorno deles. Desde que se curou do tiro, Dário e eu
desenvolvemos uma rotina que envolve caminhadas noturnas pela floresta e
muito sexo. Não posso reclamar se cada vez que transamos ele consegue me
arrancar dois ou três orgasmos poderosos, me deixando completamente
satisfeita e, para provar o seu ponto, ele sempre marca a minha pele, como
uma doce recompensa ou lembrete de que ele me possui.

De volta à realidade, franzo o cenho, olhando-me de perfil. Mordo


o meu lábio inferior, sentindo os meus seios doloridos ao toque e não é só
isso, percebo que eles dobraram de tamanho.

Não! Não pode ser!

Balanço a cabeça veemente, lembrando-me qual foi a última vez


que menstruei.

Ando de um lado para o outro, fechando o roupão no meu corpo,


minha mente se tornando uma bagunça só de imaginar que essa hipótese
esteja correta. Eu tomo pílula religiosamente, não há o menor risco de isso
acontecer… ou há?

— Signora?
Fecho os olhos brevemente, levando a mão ao peito ao escutar
Karina me chamar do limiar da porta.

— Karina! Você me assustou — murmuro asperamente, tentando


acalmar as batidas do meu coração.

Ela se desculpa e me sinto horrível pela minha explosão repentina.


Só podem ser os hormônios. Bato em minha testa com um gemido interno.

Não surta, Mia. Talvez seja o estresse dos últimos acontecimentos,


ou uma tpm.

Eu medito minhas últimas palavras com um aperto no peito. A


quem eu quero enganar? Estou atrasada há quase dois meses, porra! Como
não percebi isso antes?

Você estava muito ocupada transando incansavelmente com o seu


marido. Minha consciência alerta.

— Eu… sinto muito por isso, Karina. Fui rude, me desculpe.

Meus olhos se enchem d'água, e ela percebe.

— No! Signora, per favore… não chore!

Não foi nada de mais…

Passo por ela em direção ao quarto e me sento sobre a cama,


levando minhas mãos à face e, com um suspiro, deixo-as caírem em meu
colo e a encaro.

— E-u preciso de um favor. Mas não pode comentar com ninguém


o que eu vou te pedir, pelo menos por enquanto. Você pode fazer isso?
Karina assente, seus olhos verdes cobertos por medo e
preocupação.

Explico para ela o que eu preciso e ela se encolhe, embora tenha


um pequeno sorriso cintilando em seus lábios carnudos.

— Por favor, Karina, não deixe ninguém perceber o que vai


comprar na farmácia.

— Eu farei o possível, Signora. Mas saiba que, se o resultado der


positivo, não poderá esconder do senhor Dário por muito tempo, ele não é
fácil de se enganar.

Minha garganta se fecha, e mal percebo que esfregava a minha


barriga ainda plana suavemente.

Por mais que o gesto seja um reflexo inconsciente, me assusta saber


que posso estar gerando uma vida aqui dentro.

— Eu sei — respondo-a, cessando o meu movimento. — Mas antes


de pensar em qualquer coisa, preciso saber se estou realmente grávida.

Karina sorri e logo desaparece porta afora. Segundos se passam e se


transformam em minutos e ansiedade me corrói por inteira. Arrasto uma
mão pelo rosto, sentindo meu coração galopar no peito, deito-me de costas
e fito o teto, me perdendo em meus próprios pensamentos. Não sei quando
aconteceu, mas devo ter cochilado, pois acordo com a voz suave de Karina
ao lado da cama.

Levanto-me ainda atordoada, esfregando os olhos para dissipar a


nuvem de confusão da minha mente.

— Deus! Devo ter cochilado — sussurro com um leve bocejar.


Karina estende uma sacola para mim com a logo de uma farmácia.
Demoro alguns minutos até pegá-la em minhas mãos trêmulas.

— Não se preocupe, signora. Soya me acompanhou e não


desconfiou de nada.

Suspiro, sentindo-me aliviada por pelo menos ter essa vantagem.

Abro as sacolas, avistando três caixas de marcas diferentes de teste,


e pressiono a mão no meu estômago, tomando coragem para tirar a limpo
essa dúvida.

— Ficarei aqui caso o signore Dário chegue. Assim, terá mais


tempo para escondê-los se desejar.

Não consigo evitar de sorrir em gratidão, lágrimas escorrendo pelo


meu rosto. Alcanço Karina e beijo sua bochecha.

— Grazie mille! — respondo-a em italiano como ela tem me


ensinado, o que lhe faz sorrir, e sigo ansiosamente para o banheiro; trinta
minutos depois, estou literalmente surtando no amplo espaço com três testes
positivos.

Escoro-me contra o azulejo, gotas de suor se formando na minha


testa enquanto uma risada nervosa escapa dos meus lábios. A essa altura,
lágrimas pesadas descem livremente pela minha bochecha.

— E-u vou ser… mãe! — profiro baixo com a voz embargada. Meu
coração salta no peito juntamente com o medo e a ansiedade.

— Signora? — A voz preocupada de Karina ecoa do outro lado da


porta e, respirando fundo, giro a maçaneta e a abro. Ao ver o meu estado
caótico, Karina irrompe em minha direção, me pegando em um abraço
apertado.

— Estou… grávida, Karina — digo em um soluço.

— Parabéns, signora — sussurra em êxtase. — Que esse bambino


ou bambina traga muita luz e felicidade para essa casa!

Me afasto dos seus braços e sorrio fracamente. Confesso que estou


em choque com essa notícia, engravidar nunca esteve nos meus planos e me
causava arrepios só de imaginar trazer uma criança para esse mundo
corrompido e manchá-la com sangue. No entanto, já sinto amor por esse ser
e sou capaz de protegê-lo com unhas e dentes, até com minha própria vida
se preciso for.

— O signore Dário ficará muito feliz quando souber que espera o


seu herdeiro, ou herdeiro. — Dá de ombros, e interrompo-a rapidamente.

— Não conte a ninguém, por favor, Karina. Nem mesmo Nina pode
saber disso — peço com um olhar suplicante.

Karina acena com o cenho franzido.

— Eu prometo que logo contarei a ele, eu só… preciso me


acostumar com a novidade.

Suspiro e seus olhos disparam para o meu abdômen.

— Contanto que não demore muito, signora, ou logo ele perceberá.


O signore não é o tipo de homem que tolera omissões.

Meu sangue imediatamente gela em minhas veias e prendo a


respiração, temendo o que poderia acontecer se Dário suspeitasse que eu
escondo algo dele.

Karina sai, me deixando sozinha, aproveito o momento para pensar


como contar sobre o bebê e guardar os testes em um lugar seguro. Quando a
noite finalmente chega, sou acordada por dedos quentes acariciando a
minha bochecha.

Abro os olhos lentamente, percebendo que adormeci em uma chaise


na biblioteca enquanto lia um romance policial.

— Minha bella…

Seus lábios tocam os meus em uma carícia morna, acendendo o


meu corpo por inteiro.

Agarro sua nuca aprofundando o nosso beijo, querendo me perder


em seus braços.

— Tesouro mio… — Ofega em meio ao beijo, se afastando um


pouco para estudar a minha face. — Se eu soubesse que teria essa recepção
deliciosa, tinha retornado mais cedo para casa.

Sorrio, correndo o meu indicador por seus lábios. Seus olhos azuis
acinzentados brilham sob a luz perolada do lustre, evocando a escuridão
hipnotizante que tanto amo nesse homem. Seu semblante sempre duro,
implacável, olhando-me com verdadeira admiração e fome. Começo a abrir
os botões do seu terno, o fazendo deslizar sobre os ombros, em seguida,
removo o colete e, por último, sua blusa social branca, expondo o seu torso
viril delicioso. Lambo os lábios, adorando sentir o contato quente da sua
pele bronzeada, cada cicatriz, tatuagem ou imperfeição que seja. Meu
núcleo pulsa, antecipação rolando ferozmente por cada fibra do meu ser. Eu
o desejo tanto que chega a ser doentio, e é surreal como o meu corpo falta
cantarolar com o seu toque. Inclino-me sobre seu corpo e belisco sua
orelha.

— E como serei recompensada?

Seus molares rangem e longos braços fortes envolvem o meu


corpo, levantando-me como se eu não pesasse nada. Grito, enlaçando o seu
pescoço.

— Eu vou foder você, amore mio, tão duro que me sentirá por
vários dias…

E ele realmente cumpriu com sua promessa. Embora eu esteja


completamente satisfeita, sinto-me dolorida. Dário me fodeu contra o
peitoril da janela, nosso lugar favorito, sob a luz suave do luar, debaixo do
céu estrelado. Enquanto eu gemia alucinada com os seus golpes, ele
proclamava o quanto minha boceta é doce e viciante, como ele adora estar
enterrado no meu calor úmido. Ele rugia enquanto estocava profundamente
dentro de mim, roubando todo o ar dos meus pulmões, seu sotaque quente
sussurrando palavras sujas… Eu sou sua dolcezza para mundo, mas, entre
quatro paredes, eu sou sua puttana suja…

Suas torturas, embora provoque dor física, é libertador. Há prazer


em toda a dor que ele me inflige e eu amo isso. O quão distorcida e devassa
eu me tornei?

Dário me corrompeu como disse que faria, mas eu não posso mais
me comportar assim. Todo o nosso sexo bruto pode prejudicar o nosso bebê.
Levo a mão à minha barriga de forma protetora acariciando-a suavemente.
Nosso filho… Meu pensamento divaga em um menininho de cabelo cor de
ébano, olhos azuis tão brilhantes quanto o céu e um sorriso caloroso
brincando em seus lábios pequenos. Uma cópia fiel do seu pai. Meu peito se
aperta ao vislumbrar

Dário saindo do banho, uma toalha enrolada no seu quadril estreito,


enquanto com outra toalha secava os seus fios escuros.

— Se continuar secando-me dessa forma, dolcezza, não sairemos


mais desse quarto.

Meu estômago ronca e torço o nariz.

— É uma proposta bem tentadora. — Lambo os lábios e me


levanto, enrolada no lençol de seda, se arrastando pelo mármore opulento
como uma longa cauda de um requintado vestido de noiva.

— Mas estou com muita fome.

Dário larga a toalha sobre a poltrona e vem em minha direção.

— Então vamos alimentá-la.

Enlaça a minha cintura e beija minha boca, se afastando em seguida


com o meu lábio inferior entre os dentes.

Bato em seu peito, e ele me aperta em seus braços, seu olhar


intenso como de costume, mas há outro sentimento ali que faz o meu pulso
acelerar.

— Não posso acompanhá-la no jantar, mas prometo que voltarei


logo. Preciso resolver algumas questões na boate.

Desvio o olhar, decepção inundando o meu peito. Ultimamente


Dário tem tido trabalho fora de casa, sempre misterioso, nunca comenta
sobre os seus assuntos. Não sou tão ingênua, sei quais são os seus tipos de
negócios, só queria que ele confiasse mais em mim e não me tratasse como
um corpo quente que ele usa somente para se satisfazer. Estamos nos
entendendo tão bem, por que não posso fazer parte de todo o seu mundo?

Sentindo minha mudança, seus dedos quentes elevam o meu


queixo, obrigando-me a encará-lo.

— Seja lá o que esteja corroendo sua mente, ordeno que pare


agora! — murmura com um olhar severo.

Pisco lentamente, tentando dissipar a nuvem de ciúmes que começa


a nublar os meus pensamentos.

— Sono pazzo di te, amore mio. — Ele ferve, descansando sua testa
contra minha. Seus lábios brincam com a concha da minha orelha, me
arrancando um suspiro. Dário sempre me surpreende quando demonstra
lascas de doçura em sua personalidade feral. — Você vem comigo. — Meus
olhos se erguem subitamente para encontrar os seus.

— Seriamente?

Ele concorda, seu raro sorriso genuíno estampado em sua face.

Fico na ponta dos pés e beijo seus lábios com o esboço de um


sorriso se esticando sobre eles.

Dário se afasta e gira o meu corpo, empurrando-me gentilmente em


direção ao nosso closet com um tapinha na minha bunda, pedindo que eu
me arrume, o que eu faço mais do que satisfeita. Minha única saída fora da
mansão foi um mês atrás e, bem, Dário foi baleado, e isso o tornou ainda
mais paranóico com a nossa segurança.
Depois de revirar o closet e enfrentar olhares mortais de
desaprovação do meu mafioso olhando para o meu vestido, estou mais que
pronta.
Capítulo 22

Meus olhos percorrem a maldita fenda do seu justíssimo vestido


preto, meu sangue fervendo em minhas veias. Quando ordenei que a melhor
e mais requintada boutique da Sicília abastecesse o closet da minha moglie,
não imaginei que teria uma explosão de fúria a cada traje visto.

Da minha visão periférica, observo centímetros da sua coxa macia


exposta, e minha respiração trava ao alcançar o topo dos seus seios
cremosos, estreito o olhar e, agora que tenho tempo para analisá-la melhor,
percebo que estão maiores, não que tenho algo para reclamar sobre isso.
Mia é tão perfeita, tudo nela é na medida certa, o suficiente para me deixar
duro como pedra.

— Se continuar apertando o volante dessa forma, terá um infarto —


provoca, passando o olhar pelo meu rosto, sorrindo.

— E eu odiaria ficar viúva aos vinte anos — grunhindo, giro o


volante furioso, quase causando um acidente.

Ela grita, levando as mãos ao peito, ofegante, sua face agora


exibindo vários tons pálidos. Penso por um momento que ela colocará tudo
para fora, e isso me causa um breve arrependimento, mas, ao me lembrar
das suas palavras e que outro bastardo poderia tocá-la… Dio mio! Eu
poderia voltar do inferno e matá-lo com minhas próprias mãos.

Me elevo sobre ela, agarrando um punhado de ondas loiras do seu


cabelo em meu punho.
Minha moglie ofega, seus olhos arregalados. Luxúria e medo,
minha combinação perfeita. Me aproximo dela, nossos lábios quase
colados, respirando o mesmo ar.

— Não se eu tiver uma palavra sobre isso. — Com as bochechas


queimando, Mia lambe os lábios vagarosamente.

— Retornaria do inferno, mas ninguém tocaria em você, tesouro


mio. — Aperto sua coxa macia, escorregando meus dedos por entre sua
fenda gananciosa. — Capisci? — pergunto com um rosnado rouco, e minha
moglie concorda com seus olhos vidrados, deleitando-me com o cheiro
inebriante da sua excitação.

Sorrio, voltando para o meu assento, escutando seu gemido baixo


de frustração.

O restante do trajeto é feito em um perigoso silêncio. Mia sempre


lançando-me seus olhares furtivos e cheio de desejo, o que me causa uma
extrema felicidade. Em pensar que um mês atrás estávamos em um
verdadeiro pé de guerra. Ela sempre me desafiava em quase todas as
oportunidades, provocando minha fúria com suas tentativas inúteis de fuga
e sua constante rejeição. Parece que se passou um século desde então.

Conduzo o meu Suv Maserati pela garagem subterrânea da Luxus,


um dos inúmeros empreendimentos dos Ruggiero. Estaciono, retiro o cinto
e desço, contornando o carro, ajudando Mia a descer.

Espalmo minha mão na base da sua coluna, guiando pelo portal


lateral do clube, alcançando o elevador privativo que nos levará direto para
o meu escritório. Digito a senha no painel ao lado e as portas de aço se
abrem, revelando o interior suntuoso e espelhado.
De soslaio, vejo Mia suspirar em apreciação. O luxo é um
componente importante em nosso meio, através dele sempre podemos
lucrar em dobro. Toda a decoração ostensiva do clube exala poder, sexo e
dinheiro. Um atrativo irresistível em qualquer continente.

Deixo que Mia entre primeiro e, em seguida, faço o mesmo, fico


tentado a prensá-la contra a superfície espelhada, mas prefiro deixá-la se
contorcer e implorar para eu levá-la duro contra a minha mesa, mas, ao
julgar pelo brilho vítreo dos seus olhos, não terei que esperar muito.

Quando as portas se abrem, saio liderando o caminho, escutando o


estalo dos seus saltos ecoando atrás de mim.

Andamos pelo corredor acarpetado de vermelho e dourado,


encontrando a iluminação suave projetando sombras bruxuleantes sobre
nós.

Enquanto caminhamos até o meu escritório, Mia espia a pista de


dança do primeiro andar lotada, o som estalando dos alto-falantes, assim
como risadas em outros corredores e gritos, juntamente com o cheiro de
todas as ilicitudes emanando no ar.

Desgostoso com a péssima ideia de tê-la trazido, abro a enorme


porta dourada com o meu nome entalhado e a puxo para dentro. Não quero
nenhum bastardo colocando os malditos olhos na minha moglie.

Mia se solta do meu agarre e me encara estupefata.

— Desculpe, amore mio, mas preciso que fique aqui em segurança


enquanto desço até o depósito. Preciso exterminar alguns ratos. Mas não se
preocupe, Alessio virá e lhe fará companhia.
Ela suspira, se sentando na minha poltrona de couro, e assente
visivelmente irritada. Sua carranca é adorável, assim como suas curvas
infernais.

Inclino-me e beijo os seus lábios com direito a um leve arranhar de


dentes em seu lábio inferior.

— Eu não vou demorar, prometo! — garanto, acariciando o seus


cachos cor de trigo sedosos. — Enquanto isso, pedirei para entregar algo
para você comer. Precisa se alimentar bem. — Seus olhos brilham
alegremente, não perdendo o duplo sentido por trás das minhas palavras, e
um sorriso puxa seus lábios antes de eu fechar a porta atrás de mim.

Minha perfeita dolcezza…


Capítulo 23

Trinta minutos se passaram depois que Dário saiu. Sento-me em


sua imponente cadeira de couro digna de um membro da realeza e, com um
movimento suave, cruzo as pernas, sentindo-me totalmente satisfeita por me
sentar atrás de sua elegante mesa de mogno escura. Continuo analisando
sua decoração austera, as paredes pintadas em um cinza chumbo, trazendo
uma neutralidade que combina com qualquer coisa, desde que siga os
padrões Dário de ser; ostensivo e poderoso.

Ouço uma batida suave e o rosto sorridente de uma jovem de


cachos ruivos aparece na porta.

— Scusami! O Signor Dario pediu-me para lhe dar isto.

Pernas longas em um vestido vermelho logo abaixo dos joelhos


repousam sobre a mesa uma bandeja com um prato fundo de porcelana que
exala um cheiro delicioso, irresistível.

Minhas entranhas se agitam e minha boca saliva. Estou com tanta


fome que me pego agradecendo a quem quer que seja ela em italiano.

— Grazie mille!

Ela sorri com simpatia e depois me deixa sozinha para saborear o


risoto La Piemontese. Não perco tempo e me alimento como se não
houvesse amanhã, em minha defesa? Preciso comer por dois, ou duas.
Completamente satisfeita com meu jantar, começo a sentir uma inquietação
latente. Clico no computador em cima da mesa, que é irritantemente
protegido por senha, depois abro a maioria das gavetas.

— Entediada? — Alessio pergunta com um sorriso estúpido,


escorado na porta.

Dou de ombros.

— Eu poderia dar uma volta pelo clube, talvez ver a pista de dança?
— sugiro com uma risada.

Seus olhos se estreitam e ele levanta sua postura.

— Isso é um não? — pergunto com uma risada nervosa.

— Você sabe a resposta, bella. Por que você não liga a tv? —
Aponta para a grande TV de tela plana no painel frontal.

Eu faço uma careta. — Qual é? — Alessio cruza os braços sobre o


peito com um sorriso arrogante. — Dario foi claro, ele não quer você lá
fora.

Grunhido baixo, pego o controle remoto da TV resmungando como


uma criança birrenta. Meu cunhado não esconde sua diversão em me ver
irritada.

— Eu não preciso de uma babá! — zombo, atirando-lhe um olhar


mortal.

Sua mandíbula aperta e suas íris azuis com pequenas manchas


escuras se fixam nas minhas.

— E eu não sou a porra da sua babá! — rosna, levando um cigarro


aos lábios e acendendo-o com um isqueiro Zippo na mão.
— Se você quer ir, vá! — Solta uma nuvem de fumaça. — Mas
saiba que você não irá muito longe, Saul está lá fora, sua babá oficial!

A raiva explode em meu peito e fico tentada a tirar meus saltos e


jogá-los em sua cabeça. Se eu passar mais um minuto com Alessio na
mesma sala, vou acabar matando-o.

Fico de pé e ando até ele, retirando o cigarro de seus lábios,


jogando-o no chão e esmagando-o com o meu salto.

Ele não pode fumar aqui dentro, há uma grávida na sala. Ele só não
sabe ainda.

Respirando pesadamente, Alessio solta uma legião de palavrões,


mas, quando estou prestes a repreendê-lo, uma batida interrompe e Saul
aparece com uma caixa branca de tamanho médio nas mãos.

— Deixaram lá embaixo com a outra equipe de segurança. Está


endereçada ao Dário. Ele já foi avisado e está subindo.

Alessio pega a caixa das mãos de Saul e a coloca sobre a mesa,


noto que as laterais têm pequenas manchas carmesim e um arrepio gelado
percorre meu corpo.

— Pode ser uma bomba — Alessio solta, e Saul nega com um


aceno.

— A caixa já foi escaneada e nenhuma evidência de explosivos foi


encontrada, mas…

Antes que Saul possa terminar, ele remove a tampa, e eu congelo


imediatamente. Meus olhos se arregalam e um grito de horror escapa do
fundo da minha garganta.
Em um segundo a porta se abre com um estrondo, batendo
violentamente contra a parede e o rosto ilegível do meu marido aparece,
antes que uma névoa escura me envolva.

Sua voz profunda ecoa ao mesmo tempo em que braços fortes


alcançam meu corpo.

— Amore... io sono qui! — sussurra baixinho, passando as costas


da mão no meu rosto. — Vamos, abra os olhos.

Minhas pálpebras tremem e o perfume picante da sua colônia enche


os meus pulmões.

Abro os olhos e percebo que estou sentada em seu colo com as


costas apoiadas em seu peito largo.

Dário suspira, alívio e outro sentimento inundando seus olhos.

— Leve a caixa embora — ordena, lançando um olhar assustador a


Saul, que acena com a cabeça e sai imediatamente com a maldita caixa nas
mãos.

Meu estômago revira e eu me forço a respirar fundo para controlar


a bile subindo pela minha garganta.

— Q-uem… era ele? — pergunto em um fio de voz.

Dário beija minha testa e desliza suavemente as mãos pelas minhas


costas.

— Um soldado — responde sem emoção, fazendo-me encará-lo


com espanto.
Ele acaba de receber a cabeça de um dos seus soldados dentro de
uma caixa e não parece afetado, Dário sequer esboça alguma reação, o que
me assusta profundamente.

Só me lembro dos olhos escuros sem vida e do rosto brutalmente


marcado, meu estômago revira e, incapaz de contê-lo, esvazio-o no meio do
seu escritório sob o olhar enojado de Alessio.

— Acho melhor cuidar da sua moglie. Ela parece doente.

Eu paro de respirar e gemo internamente quando percebo que


vomitei em cima do terno elegante do meu marido.

Dário suspira e me encara por um momento, seu olhar se


estreitando como se ele pudesse ver através de mim.

Lentamente ele remove a peça escura e a joga sobre a mesa, então


abre uma gaveta, tira um lenço de seda vermelho bordado com suas iniciais
e gentilmente enxuga meus lábios.

— Va bene? — pergunta, seu rosto permanece calmo, embora eu


sinta uma tempestade se formando em seus olhos.

Eu aceno com um queixo trêmulo e evito seu olhar intenso.

Dario envolve seus braços em volta de mim, enterrando o nariz na


curva do meu pescoço, respirando pesadamente contra a minha pele. Ele se
afasta, removendo uma mecha grossa de cabelo, colocando atrás da minha
orelha.

— Eu sinto muito por isso, amore — lamenta, levando minha mão


direita aos seus lábios, deixando um beijo quente no dorso dela. — Foi uma
péssima ideia tê-la trazido essa noite. O clube não está mais seguro, por
isso, Saul a levará de volta para mansão.

Nego, levantando-me do seu colo e me afastando para longe.

— Mia...— Dário rosna e agarra meu pulso.

— Não me trate como criança, Dario. — Fervo, tentando me


desvencilhar do seu aperto.

— Então não se comporte como uma, porra! — ruge com uma voz
mortal.

Estremeço com sua explosão, e ele balança a cabeça nervosamente.

— É para sua proteção, tesouro mio… — Sua voz é baixa, quase


suave, como se quisesse se desculpar. — Não quero que nada de ruim
aconteça com você, não entende?

Abro a boca para responder, mas sou interrompida por seu dedo
indicador pressionado contra meus lábios. Ele se inclina e deixa um beijo
rápido na minha testa, se afasta e olha por cima do ombro. — Leve-a em
segurança para a mansão. E proteja-a com sua vida.

Todo o conforto que senti alguns segundos atrás desaparece e o


menor lampejo de arrependimento passa em seus olhos.

— Dario... você não pode... — murmuro e engulo a dor da


humilhação ao ser praticamente arrastada para fora do seu escritório
enquanto ele nem sequer olha em minha direção.

— Senhora, ele só quer protegê-la.


Saul vem em sua defesa enquanto me leva de volta ao elevador
particular.

— Que ele vá para o inferno com sua proteção! — Meus lábios se


curvam quando percebo o que acabei de dizer.

Saul, por outro lado, não parece se importar e, caso faça, não dá
nenhuma dica.

Eu exalo profundamente, amaldiçoando baixo.

Após deixarmos o elevador, Saul me conduz para uma Mercedes


preta, abre a porta traseira e me ajuda a entrar.

Meu olhar dispara em sua cintura, avistando um coldre com uma


pistola e uma faca. O grandalhão está mais que preparado e duvido que ele
só tenha essas escondidas em seu corpo. Sou pega em flagrante e, com um
aceno, ele fecha a sua jaqueta marrom de couro na tentativa de manter meu
olhar curioso longe e abre a porta da frente, assumindo o volante, colocando
o carro em movimento. Olho para trás e percebo que a Suv escura com
alguns seguranças segue logo atrás.

Deslizo pelo assento com um gemido, chamando a atenção do meu


guarda-costas, ignoro os seus olhares preocupados e me concentro nas belas
paisagens noturnas da Sicília.

Algumas raras vezes faço perguntas para Saul, que quase sempre se
esquiva, demonstrando lealdade para com Dário além da compreensão.

Olho cautelosamente, tentando descobrir o que ele esconde e por


que serviu sua lealdade aos Ruggiero por tantos anos. Deve haver uma
explicação, Saul é reservado, silencioso, mas há algo sombrio e triste em
seu olhar.

De repente um terrível estrondo me irrompe dos meus pensamentos


e Saul freia o carro bruscamente, acabando por derrapar e girar no meio da
pista.

Meus olhos se arregalam quando vislumbro duas Mercedes escuras


e um Ranger Rover bloqueando a nossa passagem. Não consigo respirar e
tudo que consigo pensar é que posso morrer nesse exato momento, sem
sequer revelar para Dário que ele seria pai.

Saul imediatamente rosna para que eu me abaixe e fique deitada


enquanto agilmente saca suas armas. Uma sequência de balas é disparada
em nossa direção e eu grito, levando minhas mãos protetoramente a minha
barriga.

— Senhor, não permita que eu morra sem viver a alegria de ser mãe
— sussurro. — Eu… sinto muito se eu repeti tantas vezes que não queria ter
filhos. Eu só estava… com medo.

Ocasionalmente os disparos cessam e uma longa pausa se segue


antes que um pequeno grupo de homens vestidos de preto, com rostos
cobertos com balaclava se aproximem. Eles se separam, alguns cercando o
Suv atrás e o restante, o nosso Mercedes. Sinto um calafrio quando noto que
um deles tem um galão branco em umas das mãos, muito suspeito. Ele
chega bem perto do vidro frontal e sorri, em seguida, abre o galão e começa
a despejar o líquido alaranjado por toda a lataria. Ele grita palavras em um
sotaque diferente e Saul bate no volante.
— Senhora, tente ligar para o senhor Dário, rápido! Fale que fomos
emboscados pelos russos.

Eu engulo, minhas entranhas se revirando mais uma vez.

Com os dedos trêmulos, alcanço o telefone na minha pequena bolsa


de mão, mas, quando encontro o seu nome e aperto em ligar, sou pega pelo
som assustador de uma explosão.

Meus músculos paralisam quando constato que acabam de explodir


o carro com os nossos seguranças.

O russo gargalha, seus dentes amarelados em evidência. Ele bate no


vidro frontal mais uma vez e grita algumas palavras.

Com sua arma em punho, Saul olha para mim por cima dos ombros.

— Eles querem nos queimar vivos, preciso impedi-los. Ganhar


tempo até Dário chegar com Alessio e nossos homens.

Balanço a cabeça, imagens de Dário encontrando nossos corpos


carbonizados assombrando a minha mente.

— Senhora, vou sair e tentar atrasá-los. Quando eu abrir a porta,


continue abaixada. Haja o que houver, não saia do carro.

Balanço novamente a cabeça, agindo no piloto automático.

Saul começa a contar baixo e, no três, ele abre a porta e novamente


uma sequência de balas é disparada.

Minutos depois, o silêncio, e não sei se fico aliviada ou preocupada.


Claramente a segunda opção. A porta do meu lado é aberta e mal
tenho tempo de descobrir quem é, pois logo sinto um impacto cortante na
lateral da minha cabeça e apago na hora.

Lentamente, recupero a consciência, minha cabeça latejando


enquanto uma onda de náusea toma conta de mim. Estremeço e, na tentativa
de levar as mãos à barriga, percebo que estou amarrada em uma cadeira. Eu
pisco várias vezes, meu olhar correndo ao redor, sob a semi escuridão,
alguns raros fios de luz que vêm através de buracos no teto, me permitindo
perceber que estou em uma espécie de armazém abandonado, com muitas
caixas e barris, paredes deterioradas, manchas de mofos e outras em
carmesim. O cheiro fétido que exala do pequeno cômodo é repugnante e faz
as minhas entranhas revirarem e resisto bravamente às lágrimas que brotam
em meus olhos.

Da minha visão periférica, um movimento rápido acompanhado de


um guincho em meio a pilhas de concretos no lado direito me faz ficar em
estado de alerta.

Só quando a sombra passa a um fio de distância percebo que se


trata de uma enorme ratazana. Solto o ar com força, meus pulmões se
expandindo com velocidade. Não deveria ter medo de um bicho que
aparenta ser inofensivo, mas eu estou amarrada, droga!

Meu queixo treme, e furiosa começo a me contorcer sobre a velha


cadeira de ferro que range sobre o piso envelhecido.

Por mais furiosa que esteja, percebo que todas as minhas tentativas
de me soltar são em vão.

— Alguém? — grito, minha respiração áspera, sentindo a garganta


fechar completamente.

Uma gargalhada sombria estala e passos pesados se aproximam.

Uma sombra negra emerge a minha frente e à medida que se


aproxima, meus músculos enrijecem e parecem quase dormentes.

Quando seu rosto entra em foco, meus olhos se arregalam.

Trajando um terno preto elegante e sapatos de couro legítimo, ele


dá um passo à frente, seus olhos escuros assustadores, olhando-me com
asco, como se eu fosse a escória do mundo.

Ele vence nossa distância e, com uma pausa, levanta a palma da


mão e desfere o dorso contra a minha face. O impacto do seu golpe é brutal
e violento o suficiente para me fazer tombar no chão. Eu ofego em buscar
de ar, sentindo o gosto metálico do sangue explodir por entre os meus
lábios. Ele rosna palavras em russo, como os homens que nos emboscaram,
e minha boca se abre em choque. Ele é um… russo! Mas isso significa que
ele é da Bratva? O juiz, pai do Jason, é um mafioso?

Ele se agacha na minha frente, seus olhos frios e distantes, seu rosto
envelhecido exibindo um sorriso demoníaco. Ele levanta a mão novamente
cravejada de anéis de caveira em ouro maciço e, assustada, esperando o
próximo golpe, me encolho, fechando os olhos. Um minuto se passa até eu
perceber outra sombra ao seu lado. Ele segura o punho do juiz, seus olhos
duros, parece enviar-lhe um aviso silencioso. Esse homem é jovem, alto,
cabelos cor de ébano, olhos amendoados e, mesmo que esteja trajando
roupas pretas e jaqueta de couro da mesma cor, é elegante e poderia ser
facilmente confundido com um modelo.

Ele fala algumas palavras em russo, o que parece deixar o juiz


furioso, a ponto de ele se afastar e o empurrar para longe dele.

— Papa!

— Pai? Foi assim que ele acabou de chamá-lo? — murmuro baixo


e, em estado de choque, eu me forço a encará-lo.

Ele nem se parece com o Jason, além do mais o juiz sempre aparece
na mídia dando entrevistas e nunca mencionou ter outro filho.

O juiz se vira para ele com os punhos cerrados e, num piscar de


olhos, sua atenção está em mim novamente.

— Quero que todos paguem pelo que fizeram com o meu Jason.
Essa puta merece morrer, assim como eu vou ter a cabeça do maldito
Ruggiero e ninguém vai me impedir, nem mesmo você — grita ele com o
punho cravado no peito do filho.

Congelo imediatamente com o peso da fúria das suas palavras. E


não o julgo, agora que gero uma vida dentro de mim, por mais recente que
seja, eu seria capaz de incendiar o mundo para manter o meu bebê seguro,
até mesmo matar.
Lágrimas quentes descem pela minha face sem que eu sequer
consiga controlá-las.

O peso da culpa me assombrando depois de meses tentando


esquecer.

Meu peito dói e, sob o seu olhar ilegível e silencioso, faço a única
coisa que eu poderia fazer neste momento.

— E-u… sinto muito! — sussurro lentamente.

E segundos se passam até que ele se eleve sobre mim com toda a
sua aura sombria e me sente novamente, esmagando meu queixo em sua
mão, rosnando a centímetros do meu rosto.

— Você não sente… ainda!

E, com um sorriso falso, o mundo gira em câmera lenta e, antes que


eu possa perceber, sua palma me acerta com força, o ar ondula e um gemido
gutural escapa dos meus lábios. Uma dor lancinante se espalha como rastro
de pólvora ao mesmo tempo em que uma névoa escura me envolve pouco a
pouco, sobre o ombro do meu algoz é possível vislumbrar o olhar
horrorizado do seu filho, e eu quase posso sentir a sua pena em cada fibra
dos meus ossos. E isso só confirma o que eu já sabia, que esse seria o meu
fim. O meu e do bebê que nunca conhecerei.
Capítulo 24

Minhas mãos se fecham em punhos enquanto o medo e a fúria


fervilham dentro do meu peito. Se eu não tivesse sido duro demais e a
mandado embora, ela ainda estaria aqui, ao meu lado. E Saul não estaria à
beira da morte. Bato o punho sobre a mesa, o monstro feroz que vive em
mim quer guerra, assistir a esse malditos ratos se afogarem no próprio
sangue e vê-los sangrarem até a morte.

Pablo suspira alto, se levanta da poltrona, indo em direção ao bar, e


serve uma generosa dose de uísque, enquanto Alessio digita freneticamente
em seu laptop, tentando acessar ao rastreador acoplado na aliança de Mia. O
tempo está passando e não quero pensar no pior, mas, ao longo dos anos, ter
sobrevivido a muitos infernos não impede minha mente de imaginar vários
cenários, e um deles esmaga o meu peito. Minha mulher sendo violada ou
mesmo mutilada. Deus! Não, eu não poderia viver com isso. Mia já faz
parte de mim, é como o ar que eu respiro. Ela enxergou todas as minhas
nuances, mergulhou fundo na escuridão que é minha alma e me permitiu
fragmentos de luz. Com toda sua impulsividade, ela me brindou com seus
sorrisos e olhares intensos. Sem ela, não haveria um mundo e eu estaria
condenado ao fogo do inferno.

Não aguento mais a espera e, alcançando o botão abaixo da minha


mesa, removo o fundo falso e pesco algumas armas de longo alcance que
virão bem a calhar.

Alessio assobia por entre os dentes, seu olhar encontrando o meu.


— Encontrei ela. O lugar fica a duas horas de distância e…

Levanto-me em um pulo, interrompendo-o completamente.

— Não tenho tempo para explicações agora, pode me enviar a


localização no caminho — rosno, andando a passos largos até a saída.

Deus queira que esses infelizes não tocaram em um só fio de cabelo


dela, ou eu juro que irei estripá-los como peixes.

Ao passo que me aproximo da porta, sou agarrado e jogando para


trás com força.

— Que porra, é essa! — vocifero.

Pablo espalma uma mão, seus olhos duros com aço.

— Eu que pergunto? — responde rudemente.

— Tivemos uma equipe toda de guardas queimados vivos, o seu


braço-direito, entre a vida e a morte no hospital, e você querendo bancar o
mocinho suicida?

Minha coluna se ergue e estou pronto para parti-lo ao meio. Como


ousa me questionar dessa forma?

— Eu sou seu capo, porra! Me deve respeito!

Pablo balança a cabeça e nega.

— Foda-se isso, Dário! Eu não estou falando com um capo, e, sim,


com o meu irmão mais velho, aquele que foi torturado muitas vezes para
me proteger. É com esse cara que estou preocupado, capisce?
Respiro fundo, deixando que a fúria que eu sinto corroendo o meu
peito se suavize lentamente.

— Eu sei que você a ama, isso está estampado na sua face.

Eu encontro o olhar resignado de Pablo, surpreso, porém, não nego.


Eu a amo. E gritarei aos quatro ventos quando eu a tiver em meus braços.

Desde o momento que eu pus os olhos nela, eu soube que Mia


Salvatore seria a minha ruína.

Cortando os meus pensamentos, Pablo coloca uma mão no meu


ombro.

— Vamos resgatá-la, não se preocupe. Só precisamos bolar uma


estratégia para pegá-los de surpresa.

Suspiro, assentindo, e afrouxo a minha gravata. Me sinto


completamente impotente, e não havia me sentido assim desde que tinha
quinze anos.

Ando em direção ao bar, precisando de uma dose extra de álcool,


sirvo-me e, quando estou prestes a levar o copo aos lábios, ouço o meu
celular vibrar no bolso da minha calça. Imediatamente o pego em minhas
mãos e clico na mensagem anônima que acabei de receber e paraliso, meu
sangue gelando em minhas veias. Deus, não, não!

Ela não pode estar… morta!

A minha dolcezza…

Aperto o celular com força, imaginando o estrago que farei com


cada maldito que ouso marcá-la tão brutalmente.
Após ver uma foto da minha mulher machucada e amarrada a uma
cadeira, um vídeo começa a reproduzir.

Uma grande mão tatuada ostentando anéis de caveiras em todos os


dedos agarra o queixo de Mia com força, provocando um pequeno e quase
inaudível gemido dela.

Ele acaricia o seu lábio inferior com cortes profundos e sangrando e


espalha o líquido carmesim por toda a sua face, o que me deixa ainda mais
enlouquecido.

Após manchar a sua pele de porcelana, ele sorri, sua gargalhada


sádica ecoa e, mesmo sob a péssima iluminação, vejo contornos do seu
rosto. Ele aparenta ter mais de cinquenta anos, e não passará disso, ou eu
não me chamo Dário Ruggiero. Esse desgraçado acabou de assinar o seu
atestado de óbito.

A imagem de Mia desaparece, e outro rosto entra em foco.

Alessio grunhe e pego o seu olhar afiado, analisando a gravação.

— Se você quer sua puta de volta, esteja aqui às oito horas e venha
sozinho — o russo fala enquanto ouço um grunhido assustado.

— D-ário... n-não... venha! E-ele vai matá-lo. — Sua voz frágil


rompe e parte meu coração em um milhão de pedaços.

O homem se vira e desfere um tapa em seu rosto com uma fúria que
estala e o silêncio é a única resposta que recebo dela.

— Eu vou matá-lo! — rosno por entre os dentes.


— Ela está certa, eu vou te matar, assim como você fez com o meu
filho, seu infeliz! Vou torturá-lo por horas e amar cada segundo disso. Seja
pontual ou sua cadela sofrerá as consequências, e acho que não vai durar
muito.— Provocando, o vídeo termina e a tela fica completamente escura.

Eu explodo em fúria, jogo o copo de uísque contra a parede e saio


porta afora. Ele vai se arrepender de tocá-la e não me importo de morrer,
mas, antes disso, levarei aquele verme para o inferno comigo.
Capítulo 25

Eu respiro com dificuldade, meus membros dormentes e totalmente


letárgicos. Pisco algumas vezes, tentando obrigar os meus olhos a se
abrirem, mas é quase impossível.

O juiz tem sido implacável e sádico, sempre que pode, descarrega a


sua fúria, exceto quando o seu filho está por perto. Mesmo enviando-me
olhares enviesados, ele tem sido como um guardião, contendo a ira do seu
pai, impedindo-o sempre de encostar o dedo em mim.

Após gravar um vídeo e enviá-lo para o meu marido, ele tem estado
em alerta o tempo todo, enquanto oro baixinho para que ele não venha. Eu o
amo, Deus! Por mais difícil e doloroso que tenha sido o nosso começo,
Dário se tornou uma extensão de mim e agora estou gerando o fruto disso,
não vou suportar vê-lo morrer na minha frente. Não posso perdê-lo também.

O som de uma porta rangendo ecoa no cômodo escuro e me faz


abrir os olhos e erguê-los na direção.

O juiz está visivelmente armado com três guardas corpulentos com


vestimentas pretas, óculos escuros, gorro e um armamento capaz de
derrubar um rinoceronte. Meu coração afunda no peito e não consigo
segurar as lágrimas que descem copiosamente pela minha face.

— Guarde suas lágrimas para o que verá a seguir, garota estúpida!


Seu marido agonizando no próprio sangue, assim como fez com o meu
filho! Eu garanto que ele preferirá a morte quando tudo terminar!
Ofego, me contorcendo sobre a cadeira, tentando inutilmente me
libertar.

O desgraçado cruel começa a rir e imediatamente gargalhadas


masculinas explodem em uníssono.

— Papa, ele chegou! — o filho do juiz informa com um rápido


olhar na minha direção.

— Não! — Eu choro copiosamente. E o juiz se vira para encará-lo


em meio à explosão de risadas e uivos de comemoração.

— Traga-o. Quero ver esse verme de joelhos à minha frente.

Evitando olhar em minha direção, ele assente e sai, segundos


depois escuto um rosnado profundo e é como se o mundo parasse nesse
exato momento.

Seus olhos azuis tempestuosos encontram os meus, esquadrinhando


cada centímetro da minha face e um breve alívio inunda o meu peito. Dário
aperta o maxilar, não escondendo a sua fúria em ver o meu estado, e avança
em minha direção, mas é impedido por um dos guardas, que o acerta com
um rifle em suas costelas.

Ele grunhe, caindo de joelhos, e o juiz não perde tempo e o acerta


com uma joelhada, empurrando para trás com um golpe.

Meus lábios se abrem e me debato novamente contra as cordas


enroladas no meu pulso.

Dário se ergue lentamente, limpando com as costas da mão o


sangue que escorre do seu nariz.
Ele tosse e cospe o líquido carmesim diretamente aos pés do juiz,
que solta uma torrente de palavras em russo. Seu olho esquerdo se
contraindo ao mesmo tempo em que ele alcança a sua pistola no coldre em
sua cintura.

Ele aponta para um dos seus homens e pede para revistá-lo, o qual
faz sem pestanejar. Por mais furioso que Dário pareça, ele leva um tempo
para se submeter a isso. Seus punhos cerrados ao lado corpo, seu queixo
projetado para frente, enfrentando o seu inimigo de frente.

O guarda afirma que ele está limpo, em seguida, seu punho o acerta
novamente no rosto. O som de osso quebrando estala, e só queria sair daqui
e libertá-lo de tudo isso. É tudo minha culpa!

— Agora me responda, Ruggiero, como veio parar aqui? Hãn? —


rosna, andando em sua direção.

— Não mandamos a localização, o que me faz pensar que o grande


capo da Cosa Nostra implantou algum chip na sua mulherzinha, estou
certo?

Dário não esboça nenhuma reação, o que me faz enrugar a testa.

Ele não seria capaz de…

Eu engulo em seco quando seus olhos gélidos cruzam os meus.

E, sim, ele faria de bom grado.

Quando ele não responde, o juiz golpeia o seu estômago, o fazendo


sorrir.
Dário… está sorrindo? O que há com esse bastardo? Eles vão matá-
lo!

— Ryan Lewis, é um prazer conhecer o famoso juiz de toda a


Chicago em pessoa — murmura com uma expiração debochada. —
Conhecido por suas façanhas e sede implacável por justiça… — Dário faz
uma pausa, seus olhos maçantes e ferozes em sua direção. — Confesso que
estou impressionado com toda a sua genialidade, ninguém jamais
suspeitaria que o prestigioso juiz, na verdade, é Nikita Volkov, líder da
Bratva, não é mesmo? — profere com um olhar afiado. — Escondeu muito
bem suas origens, já que sempre dava entrevistas falando como um
verdadeiro americano.

— Parabéns, Ruggiero. Descobriu o meu segredo. É uma pena que


não viverá para contá-lo. — Aponta a arma para a cabeça de Dário.

Fecho os olhos com força, inspirando o ar lentamente. Não quero


que acabemos assim.

— Espere! — Levanto meu queixo trêmulo, fungando baixinho.

— Não quero que você morra sem saber que eu… — Mordo meu
lábio inferior, reprimindo que lágrimas desçam pela minha face. — Eu amo
você, Dário!

Seus olhos azuis escurecem e brilham em meio à escuridão que nos


cerca.

— Dolcezza…

Nego, impedindo-o que continue a falar e eu perca a coragem.


— Eu o amo loucamente a ponto de não imaginar uma vida sem
você… — Abaixo os olhos e suspiro, se esse for o nosso final, que tudo seja
dito então. — Eu não sabia como contar… só estava com medo, mas não
importa. Eu o amei desde o início. Ele ou ela é um pedacinho de nós.

Seu olhar dispara para a minha barriga e sua expressão em branco


me causa arrepios.

Lewis ou Nikita, seja lá quem diabos for o seu verdadeiro nome, ri,
seu olhar transbordando satisfação doentia.

— Bem… é realmente tocante. Mas farei um favor à humanidade


eliminando seu DNA imundo.

Em uma batida, Dário está em cima dele e, com um soco em sua


jugular, consegue imobilizá-lo e desarmá-lo, agora é ele quem tem o cano
da pistola apontada em sua têmpora.

— Baixe as armas e as jogue no chão se não quiserem que eu


estoure os miolos dele — exige, recuando cuidadosamente em minha
direção.

Os guardas, ainda hesitantes, joga todas as armas no chão e se


afastam com as mãos em rendição.

— Aleksey… — Nikita brada em russo, em um tom de voz


mortalmente sombrio.

Ele balança a cabeça, seu maxilar trincado a ponto de veias


saltarem na extensão do seu pescoço.

Alcança seu coldre na cintura, outro na axila direita e, antes de


jogá-lo longe, olha para o pai e rosna furioso. — Seu plano era usar Jason
para atingir Salvatore. Você foi o único responsável por sua morte.— Ele
olha em minha direção com olhar de pesar. — Eu sinto muito, Mia. Jason
foi manipulado por nosso pai, ele e Salvatore tinham muitos conflitos, você
foi a maneira que o meu pai encontrou para atingi-lo.

— Seu ingrato! Você deveria morrer, não ele — Nikita se debate,


furioso, tentando avançar para cima de Aleksey.

— Bem, seu pedido será atendido, papa! Dessa vez vamos todos
para o inferno!

Em um segundo, uma explosão é ouvida do lado de fora, e um por


um dos soldados russos é atingido, tendo balas cravadas entre os olhos e
indo de encontro com o chão.

Uma névoa de fumaça começa a cobrir o armazém, dificultando a


visão. Começo a gritar desesperada até sentir alguém desamarrar os meus
pulsos.

— Eu sinto muito — é Aleksey que diz.— Eu… — Um estampido


e sua voz se cala abruptamente.

Faço uma pausa, forçando o nó até ter minhas mãos livres e,


olhando por cima dos ombros, vejo Aleksey estendido no chão com uma
bala em seu peito.

Eu entro em choque, minhas mãos trêmulas agarrando as beiradas


da velha cadeira de ferro.

Ouço vozes e rosnados ao longe como se estivessem em uma luta.

— Ainda não acabei com você, Ruggiero!


Ouço uma sucessão de estampidos que me faz hiperventilar.

Tapo as minhas orelhas quando uma mão se fecha na minha cintura


e pernas e me erguem do chão.

Luto com todas as forças que ainda me restam quando sua voz
rouca me faz parar.

— Está tudo bem, amore mio. Eu peguei você.

Eu soluço e o abraço, afundando minha face no seu peito largo,


feliz que ele tenha voltado para mim.

— Eu… pensei que você…

— Shii!! — Ele beija o topo da minha cabeça e me abraça apertado.

— Eu não poderia morrer agora que vou ser pai, tesouro mio. Você
me fez o homem mais feliz da face da terra. Eu prometo que sempre vou
proteger vocês. Io amo te, dolcezza.

Ele passa os dedos pelo meu queixo e o ergue gentilmente,


plantando um beijo casto em meus lábios.

Eu estremeço não só pelo seu toque, mas pela dor que ainda sinto
pelos diversos cortes causados pelos anéis do maldito Nikita quando
golpeava o meu rosto.

Dário fecha os olhos e respira fundo, e seu estado também não é


dos melhores. Seu nariz ainda está sangrando, assim como seus lábios e
sobrancelhas.

— Dário! — Pablo grita e corre em nossa direção.


Ele me alcança em seus braços, enquanto Alessio e Soya ajudam
Dário.

Ao nos aproximarmos da saída, Nikita mergulha na nossa frente,


caminhando com dificuldade, sangrando como um porco e, em fração de
segundos, aponta uma pistola na direção de Dário e, antes que ele consiga
puxar o gatilho, Alessio atira nele inúmeras vezes. Seu corpo grande e sem
vida atinge o chão com um baque.

Meu coração dispara violentamente no meu peito e eu fecho meus


olhos brevemente, impedindo minha mente de pensar sobre o que poderia
ter acontecido se Alessio não tivesse sido ágil. Abro os olhos e minha visão
fica turva, então sou puxada para uma escuridão profunda.
Capítulo 26

Um gemido gutural escapa, e eu me assusto, porque esse som cru e


rouco é meu. Lentamente meus olhos se abrem e eu pisco algumas vezes
para me acostumar com a claridade.

Tento me levantar, mas percebo que há algo no meu braço direito:


um acesso.

Eu congelo, meu olhar percorrendo ao redor, disparando para a


poltrona do lado com um Dário machucado e ensanguentado
completamente adormecido. Eu choro de alívio, tocando suavemente a sua
face.

Ele começa a despertar lentamente, seus olhos azuis focando nos


meus.

— Amore mio, finalmente você acordou!

Ele acaricia minha face, encostando sua testa na minha e exalando


profundamente.

Eu toco seu peito, levando minha mão por toda a parte, arrancando
um grunhido baixo dele.

— E você… devia tá cuidando dos seus ferimentos.

Dário seca as minhas lágrimas e roça seus lábios nos meus.

— Eu não poderia deixá-la sozinha… — Sua mão direita desliza


contra o meu abdômen e sorrio. — Vocês!
— O bebê… ele está bem, não está? Por favor… — murmuro com
o queixo trêmulo.

— Não se preocupe, dolcezza. Nosso menino é forte como a mãe.


O médico garantiu que está tudo bem, mas é claro que deve seguir uma
série de cuidados e descansar.

Eu me afasto dele, encarando os seus olhos tempestuosos.

— Ele? Isso significa que você está feliz com o nosso bebê?

Meu coração troveja no peito quando ele sorri, levando minhas


mãos aos lábios com um olhar brilhante.

— Se estou feliz, dolcezza? — ele sussurra. — Estou radiante! —


exala. — Além disso, sei que será um herdeiro. Minha intuição não falha.

Dário acaricia meus cabelos, envolvendo meu corpo em um abraço


apertado, então seus lábios estão nos meus. Eu gemo, atordoada e feliz por
finalmente ter a família que eu nem sabia que queria. A porta se abre e
gritos femininos explodem, eu me contorço para fora dos braços do meu
marido, meus olhos cheios de lágrimas.

— Mia! — Milena e Giovanna gritam e correm em minha direção,


quase derrubando Dário da cama.

Ele rosna como um velho rabugento e tenta afastá-las para longe.

— Cuidado! Mio tesouro precisa descansar.

Milena arregala os olhos parecendo surpreendida, o mesmo


acontece com Giovanna, que o encara com um olhar estreito.
— Certo! Mas estamos com saudades da nossa irmã. Por que não
vai lá fora tomar um banho e trocar de roupa? — Seus olhos castanhos o
medem de cima a baixo, com o nariz enrugado. — Prometemos cuidar
muito bem dela.

Giovanna pisca docemente, e Dário apenas revira os olhos e se


abaixa para beijar a minha testa.

— Eu volto logo, amore mio. Se precisar de mim, Soya está lá fora,


é só pedir para ele me chamar, sì?

Concordo, e um estalo me vem à mente,

quando me lembro do ataque.

— Saul… ele morreu?

Dário segura minha mão e nega.

— Ele está na UTI, mas não se preocupe, Saul é forte e está se


recuperando muito bem. — Assinto e, com beijo terno em meus lábios, ele
sai.

Rapidamente Milena e Giovanna se sentam ao meu lado,


metralhando-me com muitas perguntas.

— Nosso pai deixou vocês virem de bom grado?

Milena desvia o olhar, e Gio é quem responde.

— Enrico nos enviou para a Sicília assim que soube do seu


sequestro, e quanto a nosso pai… ele está muito doente, Mia. No último
mês, descobrimos que ele tem câncer no pulmão, e não há nada que
possamos fazer. O médico lhe deu alguns meses de vida.
Balanço a cabeça negando, embora ele tenha me feito muito mal,
continua sendo o meu pai.

— Eu sinto muito…

Minha garganta se fecha e minhas irmãs me envolvem em um


abraço.

Milena beija a minha bochecha e se afasta com um sorriso.

— Tudo bem, não vamos mais falar de coisas tristes. Que tal
falarmos como anda o seu casamento, pelo que presenciamos aqui, eu diria
melhor impossível, não?

Mordo o lado interno da bochecha e sorrio.

— Sim, para a sua pergunta, e… vocês vão ser titias! — anuncio, e


ambas gritam, me fazendo arregalar os olhos. A porta novamente se abre e
Soya aparece com um olhar assustado.

Olho para as duas, que se encolhem e pedem desculpas.

— Está tudo bem, Soya. Minhas irmãs estão apenas surtando


porque vão ser tias.

O ruivo arqueia uma sobrancelha e posso jurar ter visto um esboço


de um sorriso.

— Parabéns, senhora! Se precisar de mim, é só… chamar — diz


estoicamente, retornando a seu posto.

Após sua saída, minhas irmãs e eu começamos a conversar,


colocando nossos papos em dias.
Elas informam que ficarão duas semanas conosco na mansão, o que
me deixa extremamente feliz. Mais tarde, Dário retorna e ordena que Soya
leve minhas irmãs para a mansão, então, de banho tomado e ferimentos
cuidados, ele se deita, envolvendo-me em seus braços, me fazendo
adormecer com o cheiro delicioso da sua colônia e o calor reconfortante do
seu corpo.

Quando desperto, percebo que estou usando um ostensivo solitário


de diamante negro no meu dedo anelar esquerdo, nada da minha antiga
aliança de casamento.

— Quero um novo recomeço com você, dolcezza. — Sua voz grave


quebra o silêncio. — Mesmo que por lei você seja minha devo um
casamento de verdade com tudo que a minha moglie merece e, dessa vez,
nada de roupão… — Sorrio, erguendo o meu queixo para encará-lo.

Eu suspiro na curva do seu pescoço, acariciando sua pele bronzeada


com os meus lábios.

— Sono pazzo di te, amore mio. Basta dizer sim, e vou passar o
resto dos meus dias dedicado a fazer você e nosso filho felizes. Vou me
ajoelhar para satisfazê-la e colocarei fogo na porra do mundo se isso te
deixar feliz. O que me diz, tesouro?

Eu agarro as lapelas de seu terno e pressiono minha testa na sua,


meu sangue rugindo em minhas veias.

— Eu acho que, para começar, é ótimo... Eu ofego, tocando


levemente seus lábios com minha língua. Dário rosna impaciente, cavando
seus dedos em minha cintura.

— Mia...
— Eu aceito, mio amore…

Selo nossas bocas e fogos de artifício explodem por todo o meu


corpo.

Eu amo sua escuridão, seu lado oculto, e espero desesperadamente


que ele me quebre e depois junte todas as peças. A violência dele na cama
me corrompe, me vicia, e não sou nada sem seus toques. No final da noite,
ele geme meu nome, porque eu sou dele, assim como ele é meu!
Epílogo

Um ano depois…

Eu me concentro no pequeno trapaceiro dentro do berço, seus olhos


azuis brilhantes olhando para mim, lábios minúsculos se projetando em um
biquinho adorável, pronto para começar a chorar novamente. Mia acha
adorável, eu não compartilho da mesma opinião. Asher, apesar de ser tão
pequeno, é esperto e quer a atenção da mãe tanto quanto eu. Ele funga, as
lágrimas grudam em seus cílios grossos, e é o suficiente para me ter em sua
mão.

Eu suspiro com um pequeno sorriso, Inclino-me e toco sua


bochecha rosada, tomando-o em meus braços.

Seus fios loiros herdados da mãe fazem cócegas em minha pele, e


eu o encaixo sobre o meu peito. Sua mãe sempre diz que é importante
estarmos conectados com nosso filho, e a melhor forma é mantê-lo
aconchegado, sentindo nosso calor e ouvindo as batidas ritmadas do nosso
coração. Meu peito vibra de felicidade, jurei no seu nascimento em uma
manhã fria de inverno que iria protegê-lo, mesmo que tivesse que morrer
para mantê-lo seguro. Asher solta um breve bocejo, mas seus olhos estão
focados na tatuagem em meu peito. Assim que ele nasceu, fui a um estúdio
e tatuei o seu ínfimo pezinho. É uma tatuagem delicada, que difere de toda
a violência e escuridão que tenho gravada na pele, mas esse é o meu ponto
de luz. Asher e Mia são meu pedacinho do paraíso.
Após o sequestro, esperei que Mia se recuperasse dos ferimentos e
traumas sofridos e, em três meses, nos casamos em uma pequena ilha
familiar. Foi uma cerimônia intimista, para poucas pessoas. Incluindo seus
irmãos, já que Enrico insistiu em acompanhá-la até o altar, dado que
Salvatore se recusou a aparecer devido ao seu estado debilitado.

Meus irmãos, Pablo e Alessio, Karina e Nina, que já fazem parte da


família. Milena e Giovanna foram as damas de honra, trajando vestidos
leves com aplicações em renda, mas não era elas o ponto, e, sim, minha
dolcezza. Ela estava simplesmente perfeita. Mia parecia um anjo andando
até o altar em minha direção. Ela se movia graciosamente como se o mundo
estivesse em câmera lenta, e a maneira como aqueles olhos azuis olhavam
para mim me fazia ofegar completamente sem fôlego. Seu vestido vermelho
tomara que caia transparente, acentuado em cada deliciosa curva do seu
corpo, evidencia sua barriga de sete meses. O fruto do nosso amor. Embora
tenhamos começado de uma maneira pouco ortodoxa, lentamente
encontramos o nosso equilíbrio e, com a chegada do nosso menino,
juntamos de vez o nosso pequeno quebra-cabeças.

Naquela tarde, na ilha do sol, sob o céu profundamente azul e


luminoso, fizemos os nossos votos. Deslizei meus dedos pelos dela,
segurando-a perto de mim, olhando fixamente em seus olhos, deleitando-me
com seu sorriso iluminador. Nunca me cansei de olhar para ela e desejá-la
com todo o meu ser.

Mia foi minha obsessão doentia por meses e ela se tornou o próprio
ar que respiro. Coloquei uma longa mecha de seu cabelo loiro atrás da
orelha, admirando seu rosto delicado, ela usava pouca maquiagem, uma
coroa de rosas-brancas e peônias enfeitando a cabeça, além de lábios
pintados de nude. Minha esposa é a mulher mais linda que meus olhos já
viram. Levei suas mãos aos meus lábios e beijei cada junta.

— Io amo te, amore mio. Estou aqui para te receber com minha
moglie, minha companheira, a mãe dos meus filhos, minha regina, minha
dolcezza. Serei seu servo fiel e farei do nosso amor a minha religião. Você
me tem, amore mio, assim como meu cuore.

Seus olhos piscaram com lágrimas, focados nos meus.

— E eu te amo, amore — Mia sussurra. — Estou aqui para recebê-


lo como meu marito, pai dos meus filhos, amor di tutta la mia vita, sempre
até que a morte nos separe. — Uma lágrima escorre por sua bochecha e eu
a pego em meu polegar, trazendo-a aos meus lábios, saboreando o gosto
salgado porque tudo dela pertence a mim. Seus sorrisos, suas lágrimas, a
escuridão que a cerca e todos os seus desejos distorcidos. Porque eu sou
dela, assim como ela é minha. Selei nossos votos com um beijo e, desde
então, tenho vivido os melhores dias que um homem ferido e atormentado
por lembranças passadas poderia ter.

Se eu sou considerado o Hades por muitos, estou feliz que


encontrei a minha Perséfone. Sorrio, beijando o topo perfumado da
cabecinha de Asher, completamente adormecido.

Fiquei imerso em minhas lembranças que esqueci que é véspera de


Natal. Mia está completamente em êxtase que suas irmãs estarão aqui para
festejarmos todos em família, mesmo que eu nunca tenha dado importância
para a data, estou disposto a festejá-la se isso fizer a minha dolcezza feliz.

Coloco o meu bambino de volta no berço e o agasalho, checando a


babá eletrônica. Tudo certo, saio a passos largos em direção ao quarto ao
lado. Meus pés param no batente da porta e escoro-me fitando essa imagem
maravilhosa. A minha moglie parece a porra de um anjo olhando o céu
estrelado através da janela. Observo fascinado os fios longos do seu cabelo
loiro caírem feito cascatas sobre seus ombros, enquanto a lua com seu
brilho suave iluminava sua pele bronzeada. O fino tecido da camisola
vermelha era algo infernal, feito exclusivamente para me enlouquecer.

Salivando como um animal faminto, lambo os lábios e fecho a


porta silenciosamente atrás de mim.

A brisa amena desliza em sua pele e, vencendo a nossa distância,


envolvo-a em meus braços. Mia ofega e, pelo reflexo do vidro, a vejo
morder levemente o lábio inferior.

— Asher é um pequeno trapaceiro… — sussurro, mordiscando o


oco do seu pescoço. Ela ronrona, empinando sua bunda deliciosa em mim.

— Humm… não seja tão duro…

Ela geme, seu olhar escuro enevoado com luxúria. Seguro um


punhado do seu cabelo em meu punho e lambo a extensão da sua nuca.

— Duro… — reflito e espalmo o seu abdômen, desço mergulhando


minha mão livre em sua boceta, encontrando-a deliberadamente nua e
escorregadia para o meu deleite. Meu sangue ferve em minhas veias e eu
exalo profundamente.— Duro é como pretendo ser com você essa noite,
amore mio. mangiare la mia bella figa…

Mia geme gostoso, se contorcendo em meus braços. Separo suas


dobras lisas e com as pontas dos dedos brinco com sua entrada,
massageando-a lentamente, raspando propositalmente o seu clitóris
inchado.
— P-are de me torturar, amore. — Ela ofega, cravando suas unhas
nos músculos do meu braço, a dor é lancinante e prazerosa à medida que a
deixo à beira da sua libertação.

Me afasto e, com um movimento rápido, transformo sua camisola


em farrapos e agarro sua garganta. Recuamos até a cama, e a faço cair de
costas sobre o colchão. Alcanço o meu cinto de couro na mesinha de
cabeceira e o dobro cuidadosamente com o seus olhos semicerrados
acompanhado cada movimento. Faço uma pausa, olhando para o seu corpo
e pouco me importando com as mudanças que sofreu durante a gravidez.

Asher tem apenas cinco meses e Mia sempre demonstra lascas de


insegurança, se minha dolcezza soubesse o quão sexy ela está. Contorno um
mamilo levemente escurecido e intumescido com a ponta do cinto e desço
pelo vão dos seus seios, continuo a minha exploração até chegar ao meu
objetivo e Mia arqueja com o primeiro estalo em sua boceta.

— Diga que foi uma menina má e que anseia os meus golpes e meu
pau moendo essa figa stretta! — ordeno, açoitando a sua pele, a fazendo
estremecer e gritar.

— E-u fui uma menina má… aaaaah…

Não espero que ela termine e continuo estalando em sua boceta


deliciosa.

Mia soluça e uma lágrima solitária escorre em sua bochecha.


Inclino-me e lambo todo o caminho percorrido por ela e sugo o seu lábio
inferior, mordiscando-o no final. Meu pau já está duro feito rocha, a cabeça
robusta espreitando pelo cós da minha calça do pijama. Sinto o peso dos
seus olhos em mim e, se ela continuar me olhando assim, não durarei muito.
Pego em seus tornozelos e a giro, colocando-a de barriga para baixo, Mia
protesta, mas, quando a coloco de quatro e lambo a sua entrada, introduzo
minha língua e seus protestos se transformam em gemidos roucos.

— D-ário… amore…

Ela engasga quando o couro se conecta com sua pele, rasgando o


silêncio da noite, uma e outra vez até ela gritar e soltar uma sucessão de
gemidos guturais.

— Quero que conte cada estalo que eu der nessa bunda apertada,
dolcezza. Ou não terá a sua recompensa — rosno com a respiração
entrecortada, espancando o seu rabo delicioso. Quando os seus ofegos se
tornam demais, paro para admirar a minha obra de arte. Cada bochecha da
sua bunda explode em um vermelho vivo, e eu acaricio cada centímetro
com a língua, aliviando momentaneamente sua dor. Seguro novamente o
seu cabelo em meu punho, arrastando minha calça e cueca para baixo,
libertando o meu pau, que salta livre e pesado em minha mão, pulsando e
com o líquido do pré-gozo escorrendo pela ponta. Seguro e massageio-o
lentamente, sentindo ele inchar ainda mais sob o meu aperto.

Mia tenta um espiada por cima do ombro, que eu não permito, a


levo para baixo, e em um golpe duro, afundo o meu pau dentro dela. Eu
aperto minha mandíbula e prendo a respiração, é sempre assim, aquela
sensação de plenitude quando estou dentro dela. O prazer me atinge em
ondas e é preciso um grande esforço para não a arrasar com minha
brutalidade.

Uma vez Mia confessou que ama minha escuridão, meu lado sádico
e cruel entre quatro paredes. Mas não imagina que só ela é capaz de
despertar esse lado e que nenhuma outra mulher conseguiu. Sombrio, voraz,
brutal, essas são as qualidades que a atraem, e eu serei um grande filho da
puta se não der isso a ela pelo resto de nossas vidas. Serei eu quem cairá de
joelhos a seus pés e adorará cada parte de seu corpo.

Eu giro meus quadris, tocando um ponto que sei que a enlouquece,


e eu empurro ainda mais fundo, sem perder como seu corpo estremece com
cada impulso. Seguro seus seios suculentos e belisco seus mamilos com
força a ponto de torcê-los, ela exala um suspiro.

Dessa vez preciso olhar no azul rebelde de seus olhos, vejo quebrar
de prazer e a trago de costas, abrindo suas coxas e penetrando-a novamente.
Enrolo meu punho apertado em volta do pescoço dela e aperto, os olhos de
Mia dobram de tamanho e escurecem rapidamente. Eu rolo meus quadris
fazendo-a ofegar e gritar enquanto eu confisco seu ar.

Ela arranha as minhas costas e sinto sua boceta apertar em volta do


meu pau, quase me fazendo gozar.

Eu mordo meu lábio inferior e aumento meus golpes, tornando-os


mais duros e profundos.

— Vou te foder até você gritar e soluçar meu nome, amore mio.

E como o maldito sádico que sou, cumpri minha promessa. Mia


caiu na cama exausta e sonolenta, apenas um fantasma de sorriso escapando
de seus lábios rosados. Essa foi apenas a primeira rodada. Seu corpo está
em sincronia com o meu, fervendo de desejo. Ela anseia por prazer e dor. E
ela é completamente insaciável e, Dio mio sabe o quanto eu amo satisfazer
minha bella dolcezza. Eu suspiro e toco seus lábios.

— Io amo te, mio tesouro. Para sempre... — Seus olhos se enchem


de lágrimas e seu lábio inferior começa a tremer. — Ah amore… Ti voglio
beni, Si u me ciatu…

Eu beijo seus lábios, consumido por uma miríade de emoções. Eu a


amo com todo o meu ser, como se nossas almas tivessem sido feitas uma
para a outra, quebradas ou não, finalmente encaixadas de forma única.

Fim!!!
Tate Cameron
Prazer era a única linguagem que eu conhecia até ela aparecer.
Estou viciado nela. Aquela bela mulher se tornou o meu vício proibido. Era
para ser somente algumas noites de prazer sem amarras ou intimidade. Algo
não saiu como o esperado. Depois das nossas noites intensas de pura
paixão, eu a desejo como nunca. Obcecado, viciado, Tate Cameron fará de
tudo para ter Samantha Muniz em seus braços.
Samantha Muniz
Ele é como um ímã. Seus olhos transbordam perversão, seu corpo
exala sexo, poder, domínio. Não consigo resistir quando ele está perto.
Estou me apaixonando e isso não é bom. Tate Cameron é absurdamente
atraente, sexy, rico e muito poderoso, tudo isso se torna letal na mesma
equação.

Não devia. Mas eu o desejo com todas as minhas forças.


Quando a paixão explode entre eles, resistir será uma tarefa
impossível.

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Valentina Miller é uma jovem doce, delicada e ingenuamente
sedutora. Sua vida controlada e confortável a leva a um lugar onde ninguém
deseja chegar: a traição.

Enfurecida e desapontada, por casualidade acaba conhecendo


Jackson Carter, um misterioso sedutor que provocará as mais deliciosas
sensações e provará que a luxúria e o amor podem estar do mesmo lado da
moeda.

Com um passado cheio de mistérios e demônios que lutar, Carter


terá que decidir entre mergulhar nessa paixão avassaladora ou se render ao
seu passado sombrio.

Com o desejo à flor da pele, a luxúria será uma promessa


Irresistível.

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Comprada em um leilão por um misterioso CEO, uma garota terá que
enfrentar a intensidade e o domínio de um homem imponente, que
despertará a insaciável luxúria em cada célula do seu corpo.

Aron Maldonado.

Profundamente obscura, é assim que vejo minha alma. Tenho pensamentos


sujos, perversos e completamente insanos. A desejei desde o primeiro
momento que a vi. Olhar afiado, sorriso quente, provocando uma larva
fervente em todo o meu corpo. A comprei e não me importo que ela me
odeie. Meu desejo é urgente de possuí-la de todas as maneiras. Serei aquele
que domou o seu coração selvagem. Que conseguiu romper todas as suas
barreiras. Ela será minha! Ele queria domínio. Ela só desejava ser livre.
Ambos terão que lidar com seus medos e traumas e com um novo
sentimento que surgirá.

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Prazer Oculto

A circunstâncias a fizeram optar pelo caminho mais fácil da vida. Luxo,


poder, ambição, todos esses sentimentos estavam presentes em cada
momento. Forjando um exterior desejável, cobiçado e por mais que não seja
quem ela é de verdade, é seu lado oculto. Uma mulher letal, perigosa, capaz
de danos irreversíveis.

Ela é Siena LeBlanc, uma acompanhante de luxo. Dona de uma exímia


beleza que despertará o interesse do solitário e atormentado Ivarsen
MacKenzie, herdeiro de uma rede mundialmente famosa de joalheria. Ela é
contratada para seduzi-lo e livrá-lo das correntes que o prende ao seu
passado doloroso o levando ao limiar do desejo e despertando uma intensa
paixão avassaladora. Ambos com traumas e passados difíceis encontraram
no outro a possibilidade de um novo recomeço. A paixão e a fome
desesperada que os unem serão capazes de curar dois corações em pedaços?

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