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Esta é uma obra de ficção.

Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos de imaginação do autor.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.
Capa: One Minute Designer

Revisão: Margareth Antequera


Diagramação Digital: Jack A. F.

Todos os direitos reservados.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer


parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou
intangível — sem o consentimento da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº


9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Edição Digital ǀ Criado no Brasil

1º Edição

Dezembro de 2021
Este livro pode causar desconforto ou gatilhos em pessoas
sensíveis aos temas: violência, prostituição, assassinato, drogas,
tortura, estupro, violência física e psicológica contra a mulher, entre
outros assuntos complexos que envolvem o submundo da máfia.
Se você tiver sensibilidade a algum desses temas, não inicie
a leitura.
O universo da máfia relatado neste livro foi uma criação
inteiramente minha, misturando várias informações que retirei das
pesquisas que realizei. Criei para o clã controlado por Paolo toda
uma estrutura única.
Cada um dos temas abordados foi tratado com muita
responsabilidade, não existe romantização da violência em que os
personagens estão envolvidos, muito menos maus-tratos em
relação a personagem principal.
Não é um livro dark, porém aborda de maneira explícita o
submundo do crime. Não é uma história fofa, então se não gosta da
violência da máfia este livro não é indicado.
Espero que apreciem a leitura.
Abraços.
Domênico Pizzorni nasceu no berço da máfia italiana, filho de
um dos tenentes do antigo Capo do seu clã, ele foi criado para ser
um homem cruel e pronto para enfrentar qualquer inimigo.
Após anos sendo torturado por seu pai, carrega traumas
profundos que o impede de permitir que as pessoas o toquem. Dom
é um homem reservado, raramente demonstra sentimentos, porém
seu coração lhe surpreende ao bater descompassadamente pela
sua esposa.
Giovanna Torcasio é a irmã caçula do Capo e sonha em ser
livre para poder escolher o seu futuro. Ela não aceita as tradições da
máfia, o que inclui ser obrigada a casar com alguém que não ama.
Quando recebe a notícia que está prometida ao Consigliere do seu
irmão, sente o desespero a dominar.
Ela não quer se casar com ninguém, muito menos com
Domênico. Gio se rebela quando o anúncio do casamento é
oficializado, mas o seu destino já está traçado e algumas surpresas
a esperam, o que inclui encontrar o amor em meio ao mundo caótico
da máfia.
Aviso Importante
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1 – Divirta-se Dom
Capítulo 2 – É a nossa vida
Capítulo 3 – Parabéns
Capítulo 4 – Que pesadelo
Capítulo 5 – O felizardo
Capítulo 6 – Maldição!
Capítulo 7 – Não vou me casar!
Capítulo 8 – Nosso destino
Capítulo 9 – Noivado
Capítulo 10 – A pequena Torcasio
Capítulo 11 - Caterina
Capítulo 12 – Precisamos de tesão
Capítulo 13 – O casamento
Capítulo 14 – A festa
Capítulo 15 – Hoje não
Capítulo 16 – Gosto de ser beijada
Capítulo 17 – Porque você é minha esposa
Capítulo 18 – Linda pra caralho!
Capítulo 19 – Quero que me prove
Capítulo 20 – Apenas meu
Capítulo 21 – Em casa
Capítulo 22 – Temos uma boa química
Capítulo 23 - Ilusões
Capítulo 24 – Emboscada
Capítulo 25 – Traição
Capítulo 26 – Acabou!
Capítulo 27 – Novo sangue
Capítulo 28 - Verdade
Capítulo 29 – Sonhos Realizados
Capítulo 30 - Enfeitiçado
Capítulo 31 – Atrito
Capítulo 32 – Meu paraíso
Capítulo 33 – Uma nova aventura
Capítulo 34 – Não sou capaz de amar
Capítulo 35 – Tio Domênico
Capítulo 36 – Acredito em você
Capítulo 37 – Moto GP
Capítulo 38 - Vai ser fiel a Gio?
Capítulo 39 – Sou seu refém
Capítulo 40 – Culpa sua!
Capítulo 41 – Eu cuido de você
Capítulo 42 – Faz amor comigo
Capítulo 43 – Ele só quer me atingir
Capítulo 44 – Ciúme
Capítulo 45 - Natal
Capítulo 46 – Eu sou mau
Capítulo 47 – Em suas mãos
Capítulo 48 – É a realidade da máfia
Capítulo 49 – O seu fim chegou
Capítulo 50 – Eu prometo
Epílogo 1
Epílogo 2
O que vem no próximo livro?
Agradecimentos
O tempo é ideal para te ensinar algumas lições, entre elas
aprender a fugir da realidade quando o caos e o terror te alcançam.
— Um homem de verdade não é gentil, isso é demonstração
de fraqueza. — Prendo a respiração quando outro açoite alcança
meu tórax. — Todos precisam temê-lo e você precisa saber como
impelir dor.
A voz psicótica do meu pai me causa repulsa, meu desejo
agora é segurar o maldito chicote da sua mão e matá-lo enforcado
com ele.
— Aquele merda do filho do Torcasio um dia será Capo e
você fingirá ser um bom amigo para ser seu Consigliere, ficará ao
lado dele, até que encontremos uma maneira de exterminá-lo, aí
será a nossa vez de assumirmos o clã.
Ele solta uma risada, feliz com o seu plano. O seu desejo de
poder é insaciável, apesar de fingir amizade a Conrado Torcasio,
tudo o que ele deseja é roubar sua liderança.
O problema é que por mais que tente fingir ser um homem
corajoso, na verdade, Francesco Pizzorni é um belo covarde, ele
quer ser o líder, mas não tem coragem de derrubá-lo, essa missão
está destinada a mim, porque se eu morrer para ele não faz
diferença, têm meus dois irmãos para colocar na linha de frente.
Só que eu nunca trairia Paolo, ele é meu melhor amigo. Com
exceção da minha mãe, é a única pessoa que eu confio neste
mundo. Prefiro a morte a ter que um dia trair a confiança dele.
— A dor é um sistema eficaz para a obediência. — Um golpe
forte me acerta inesperadamente, me fazendo desabar com a dor
lancinante que tira o meu ar. — Levante-se, porra! — grita ao
apertar o taco de beisebol na minha nuca. — Você encontrará
torturas piores quando for um homem de honra, não quero filho meu
fraco, você é um Pizzorni e nós nunca nos rendemos. Agora levanta
e se comporte como homem, eu não tenho filho viado.
Eu o odeio, tudo o que mais desejo é que um dia ele saia e
não volte mais. Que algum dos seus inimigos cortem a sua cabeça e
livre toda a minha família das suas maldades.
Reprimo o gemido e fico de pé, esperando o próximo golpe.
Ele só vai parar quando não existir mais nenhum espaço no meu
tronco para ferir. É assim as suas sessões de tortura, ele me agride
onde ninguém possa ver as marcas, apenas eu, ele e a minha mãe,
sabemos tudo o que acontece no seu perverso treinamento para me
transformar em um cruel mafioso.
— Prepare-se, pois hoje à sua tarde será longa, tenho muito
que mostrar a você, será divertido, eu prometo.
Não respondo nada, apenas tento manter minha mente
longe, quando mais uma vez ele me acerta.
Ao menos hoje esse sádico está se divertindo comigo, é
melhor do que vê-lo escolher a minha mãe para poder dar vazão a
toda a sua maldade.

Enquanto a reunião se desenrola eu fico à margem de tudo


ao lado de Paolo. Ele tem uma tipoia no braço e um roxo no rosto
abaixo do olho.
— O que aconteceu? — pergunto quando todos estão
distraídos demais para perceberem a nossa conversa.
— Ele quebrou o meu braço. — Seus olhos tempestuosos
vão para o seu pai.
— Você fez algo ou foi só um momento de diversão dele? —
Paolo suspira fundo.
— Fiorella me pediu para brincar um pouco com ela, eu
estava fingindo tomar chá, ele viu e não gostou.
— Sua irmã também apanhou? — Conrado nunca foi
conhecido por ser delicado com as filhas, mas até onde eu sei evita
bater nelas com força.
— Eu apanhei por ela.
A nossa vida era tão fodida, que em alguns dias eu cogitava
cortar minha própria garganta com a minha adaga. Ficar livre deste
mundo maldito seria um bálsamo, só não fazia isso porque a
mamãe e meus irmãos ficariam sozinhos nas mãos do meu pai.
— E você? Vi que está andando com dificuldade. — Paolo
me observa com atenção.
— Não aconteceu nada demais, só um dos treinamentos do
maldito. — Antes que eu possa impedir ele ergue parte da minha
camisa e observa meus hematomas.
— Velho filho da puta — rosna. — Quando eu for Capo, se
ele ainda estiver vivo, vou encontrar uma maneira de matá-lo
lentamente, farei isso por você.
— Primeiro tem que se livrar do seu pai.
— Ah, meu amigo, eu farei isso, espere só eu completar
dezoito anos, ele vai sofrer um acidente bem rápido.
— Cuidado, se fizer algo errado é você que morre.
— Eu não vou, Dom, pode apostar que eu vou me livrar dele.
— Agora Paolo abre um discreto sorriso. — Vou ser o líder e você
meu braço direito. — Seus olhos verdes-escuros brilham. — Iremos
modificar algumas coisas no clã, eu serei a lei e quem não
concordar comigo, não terá uma boa morte.
— Conto com esse dia, você não sabe como serei um
homem feliz.
— Seremos. — Ele ergue o punho. — Sempre...
— ... Juntos — digo o nosso lema ao tocar seu punho e
espero realmente que um dia possamos realizar nossos sonhos
dentro da máfia.
Saio exausto da área de desembarque ao lado do Amaro,
meu homem de confiança, passei dois dias entre intensas reuniões
em Mônaco, fechando o contrato de sociedade em mais um cassino.
Será um bom negócio para lavarmos o dinheiro do nosso clã, o
sistema tributário do país nos ajuda a maquiar com mais facilidade o
nosso dinheiro ilícito.
Avisto Santino e caminho até ele, é bom não ter que me
preocupar em dirigir.
— Você está péssimo — ele comenta quando me aproximo.
— Poucas horas de sono faz isso.
— Muita diversão em Mônaco?
— Queria ter aproveitado aquele paraíso, mas só trabalhei,
nosso chefe me deu muitas missões.
— Nosso Capo[1] está com uma boa diversão para você. —
Ergo a sobrancelha curioso. — Pediu para te levar direto ao
encontro dele.
— Qual é o tipo de diversão?
— O que acha de ligar para ele? — Santino começa a
caminhar.
Olho para Amaro desconfiado, querendo saber o que Paolo
aprontou desta vez. Ele dá de ombros e segue Santino de perto.
Quando estamos no carro meu celular vibra e vejo o nome de
Paolo piscar. Ele nunca descansa, vive para os negócios o tempo
todo, só desacelera quando o assunto é a sua esposa.
— Acabei de chegar — aviso.
— Que bom. — A sua voz parece irritada. — Tenho uma boa
distração te esperando.
— O que aprontou?
— Você verá.
— Odeio mistério.
— Este irá gostar, estou te esperando no galpão, nos falamos
daqui a pouco.
— Certo. — Encerro a ligação e encaro Santino.
— Quem está no galpão? — Meu segurança sorri.
— Desta vez vou fazer surpresa.
Mais que inferno! Mal cheguei a Roma e já estou estressado,
odeio suspense, só não vou forçar Santino a me contar, o que está
acontecendo, porque eu estou cansado demais.

Quando entro no galpão encontro um homem sentado em


uma cadeira, com a cabeça baixa e a respiração irregular. Meus
olhos buscam por Paolo, que fuma seu cigarro tranquilamente ao
lado de Franco.
Caminho até eles querendo saber quem é o prisioneiro e o
que ele fez para ter tanta atenção.
— Já estou aqui, pode contar logo quem é o bastardo.
— Não consegue adivinhar quem é? — Paolo expira uma
densa fumaça.
Olho com atenção para o homem, porém não consigo me
lembrar de tê-lo visto algum dia. No momento que vou avisar que
não o reconheço, noto o seu cabelo vermelho e um estalo acontece
na minha mente.
Puta merda! Só pode ser o pai da Masha, apenas ele traria
Franco até aqui.
— Sim, é ele — Paolo confirma quando o encaro. — Estamos
há três dias dando o melhor dos tratamentos ao infeliz, eu queria
que estivesse aqui quando o matássemos, sabia que ficaria
chateado se não pudesse ter seu momento com o bandido.
— Ela sabe que o pegaram? — Paolo endurece o rosto.
— Saberá apenas que o stronzo[2] pagou pelo que fez com
toda sua família.
— Isso não é assunto de nenhum dos meus netos. — Franco
tem as mangas da camisa arregaçadas e os nós dos dedos feridos.
— Faremos o certo e ponto final.
— Exato. — Paolo joga o resto do cigarro no chão e pisa. —
Divirta-se Dom, assim que ficar satisfeito iremos eliminá-lo.
O cansaço que sentia há poucos minutos simplesmente
desaparece, agora estou cheio de energia para poder infligir um
pouco de dor ao homem que fez Masha sofrer.
Ela teve muita sorte em ter encontrado Paolo naquela noite
no covil de Yuri. Se o nosso grupo não tivesse cruzado o seu
caminho, hoje certamente ela teria o mesmo destino que a irmã, ao
virar uma prostituta e provavelmente também morrer por overdose.
Olho para os vários utensílios de tortura que possuímos. Pelo
tanto de sangue que está escorrendo da boca do maledetto[3], Paolo
certamente já arrancou alguns dos seus dentes, então feri-lo de uma
maneira mais quente é uma opção dolorosa e rápida.
Apesar de querer passar mais tempo o atormentando, eu
preciso de um pouco de sono. Vou causar o máximo de dor que eu
puder em um curto espaço de tempo, assim acabamos com ele e
todos nós podemos voltar para casa.
— Amaro, pegue um maçarico — peço ao escolher um
marcador usado em gado.
Ele vai sentir na pele toda a dor que causou à sua própria
família.
— Isso vai ser bom. — Paolo caminha até Demetrio, que
mudou de nome depois de fugir do nosso clã com a filha de Franco
e hoje se chama Virginio. — Preparado para mais brincadeiras? —
pergunta ao segurar seus cabelos e erguer o seu rosto.
Ele está ferido demais e isso não me proporciona perceber se
tem algum traço dos filhos. Apenas seu cabelo ruivo deixa claro que
é o pai da Masha.
Espero por Amaro para poder esquentar a ponta do
marcador. Esse é um tipo de tortura que sempre gosto de fazer, traz
dor, desespero e agonia. É uma ótima combinação para filhos da
puta como ele.
— Abram a blusa dele — peço quando vejo o tom vermelho
iluminar o ferro.
Nicolo rapidamente faz o que pedi e firma o corpo de
Demetrio para que ele não tente se abaixar e evitar assim que eu o
marque em uma das partes do corpo que mais dói na hora de
queimar.
Afundo o marcador na sua pele e ouço o seu rugido. Ele
merece sofrer intensamente, destruiu a própria família e não tem
direito a piedade.
— Está gostando, Demetrio? — Paolo inclina a cabeça e o
encara. — Quer um café? Talvez um Cannoli? — Sorrisos se
espalham pelo galpão. — Ah, que pena, ele não consegue falar,
acho que a falta de dentes tirou a sua capacidade de fazer os seus
argumentos.
— Talvez ele consiga gritar. — Prenso o marcador no seu
pescoço.
Desta vez ele grita, porque demoro com o ferro na sua pele.
— Jogue água nele, Nico — Paolo ordena. — Vamos,
Franco, um pouco de choque vai cair bem nesse stronzo.
Sem pensar duas vezes Franco prepara uma sessão de
choque. Sem tirar meus olhos de Demetrio espero pelo momento
em que será eletrocutado. Com um sorriso nos lábios Franco dá um
longo choque nele, que o faz trincar os poucos dentes que
sobraram, enquanto sua pele estremece.
Paolo acende outro cigarro e acompanha o momento sem
esconder a felicidade.
— Não vai se divertir? — pergunto intrigado com a calma do
meu amigo.
Normalmente Paolo não perde a oportunidade de torturar um
inimigo, por isso vê-lo apenas assistindo a nossa diversão é bem
estranho.
— Descobri que no geral uma pessoa tem vinte e oito dentes
a trinta e dois. — Encaro-o confuso. — Supondo que o maledetto
tenha a quantidade mínima, eu tirei doze dentes — revela sorrindo.
— E quase apliquei uma overdose de heroína nele, o doutor o
salvou, mas ele passou por algumas convulsões maravilhosas, fora
outras coisinhas que foram bem divertidas. Eu estou feliz com o que
já fiz, vinguei bem os familiares da minha mulher.
— Entendi. — Agora faz sentido estar tão calmo.
— Claro que um dos tiros que irá matá-lo sairá da minha
arma, não abro mão desse prazer.
— Não está errado. — Ergo o marcador para Amaro, quando
vejo que Demetrio voltou a respirar com mais normalidade.
Descanso o ferro sobre a sua pele, ele geme, porém não
pede clemência. Ao menos é homem o suficiente para receber o seu
castigo em silêncio.
— Olhe aqui. — Paolo ergue o celular na frente de Demetrio.
— Esta é sua filha caçula, ela está com sete meses de gestação,
vamos ter uma linda menina. — Vejo os olhos do homem ficarem
marejados. — Por sorte eu a encontrei e comprei sua filha para que
ela não fosse estuprada por um bando de russos sujos. — O corpo
de Paolo fica tenso. — Eu a levei para a minha casa, cuidei dela e o
destino nos uniu. Formamos uma família e agora Masha está segura
ao meu lado, mas sua outra filha não teve essa sorte. Ela foi
drogada todos os dias para poder trepar com o maior número de
homens em uma noite, até que um dia ela teve uma overdose e
jogaram o corpo dela em um beco, foi enterrada como indigente por
sua culpa. — Paolo dá uma cotovelada na boca dele, fazendo o
infeliz gemer de dor.
Franco impele outra sessão de choque, ele mais do que
ninguém odeia Demetrio por ter destruído sua família. Nós podemos
ser homens da máfia, mas protegemos os nossos e, Masha hoje faz
parte do nosso clã, então suas dores merecem vingança.
— Aqui. — Paolo muda a foto no celular. — Este é seu filho
ao lado de Masha, eles se reencontraram e agora estão felizes
juntos. Andrei viveu nas ruas, passou fome, teve que sobreviver da
pior maneira possível. Hoje é dono de uma oficina mecânica, graças
a um homem que o acolheu como o próprio pai nunca fez. — Os
olhos dos dois se encontram. — Você arruinou a sua família, sua
mulher se matou, sua filha mais velha também se foi e só restou
Masha e Andrei. — Agora Paolo ergue-se sobre ele e o encara
enraivecido. — Terá uma morte à altura, por ser um merda de
homem e, fazer a minha mulher sofrer. — Sua atenção vai para
Nino. — Abra os olhos dele. — Sua exigência é obedecida. Virando
a atenção até onde estou volta a falar: — Queime o olho dele, Dom,
o resto eu e Franco resolvemos.
Demetrio se debate, tenta se desprender das garras dos
rapazes, mas eles são fortes demais e sua tentativa é inútil.
Ergo o ferro para Amaro, esperando que o esquente bem.
Sem hesitar jogo o marcador contra seu olho e, desta vez, ouço-o
gritar desesperadamente.
Isso aí, filho da puta! Você merece cada grama de dor que
está sofrendo.
Ele agoniza à nossa frente, seu corpo estremece
violentamente.
Ainda é pouco por tudo o que fez a sua família sofrer, ele
merecia um longo tempo sendo torturado.
— Vá em frente, Franco, comece o show — Paolo ordena. —
Só deixe o último suspiro para mim, quero ter o prazer de vingar o
meu “inferno vermelho”.
O primeiro tiro acerta o seu joelho, em seguida Franco acerta
a barriga.
— Perdi duas pessoas por causa desse maledetto, então dois
tiros é o mínimo que ele merece.
— Você está certo. — Paolo saca sua própria arma e a
destrava. — Chegou a hora de ele ir para o inferno, um dia nos
encontraremos por lá, Demetrio. — Sem pestanejar ele dá um tiro
certeiro na testa do cretino.
Acabou! Vingamos Masha e toda a sua família, agora
viramos essa página e podemos seguir em frente sabendo que o
culpado por toda a dor que eles passaram está morto.
— Nino, limpe tudo e queime o corpo dele antes de jogar ao
mar. Não quero vestígios do que aconteceu aqui.
— Farei isso, chefe.
— Hoje é um dos dias mais felizes da minha vida. — Franco
olha para o corpo inerte de Demetrio. — Consegui vingar toda a
minha família, principalmente os meus netos.
— Precisávamos disso para poder seguir em frente. — Paolo
bate em seu ombro. — Iremos comemorar depois, preciso voltar
para casa, Masha tem um jantar especial para Dom.
— Eu estou exausto, preciso dormir, avise a ela que o jantar
fica para depois.
— Não aviso porra nenhuma. — Ele guarda a arma no coldre.
— Minha mulher está grávida e não pode se aborrecer — diz ao
olhar o celular. — Ela convidou Gio para o jantar também e tem tudo
pronto, vá até à sua casa descansar um pouco e apareça para o
jantar, eu não aceito sua recusa. — Sem esperar minha resposta ele
começa a andar para saída. — Franco segure a sua boca sobre o
que fizemos com esse stronzo, eu vou contar para a sua neta
apenas o essencial, com relação a Andrei fale o que quiser, é por
sua conta.
— Tudo bem, Paolo — Franco concorda antes que ele suma
da nossa visão.
— Preciso ir ou não chego na hora do jantar da sua neta.
— Mande lembranças a ela.
— Pode deixar. — Bato nas suas costas e sigo para casa.
Um pouco antes da hora marcada para o jantar chego na
casa de Paolo. Pelas risadas que me recepcionam quando abro a
porta, sei que Giovanna já chegou.
Agora que a mãe de Paolo foi obrigada a aceitar Masha na
família, Gio vive mais junto da amiga e, cunhada, do que em casa.
— Olha quem está aqui. — Imediatamente Masha nota a
minha presença. — Chegou adiantado. — Ela vem na minha direção
toda sorridente exibindo sua linda barriga redonda da gravidez.
Masha é a única pessoa, fora a minha mãe, que me toca e
não sinto o ímpeto de me afastar, essa pequena mulher tem algo
especial, que consegue bloquear os demônios que me assombram.
Passei anos sendo torturado por meu pai, eu sofri nas mãos
dele um verdadeiro terror físico e psicológico, o que acarretou
traumas que carrego até hoje para a minha vergonha.
O toque em qualquer parte do meu tronco desperta as
minhas piores lembranças, por este motivo evito as pessoas, não
permito que se aproximem demais, para que não encostem em
algum local que me cause más recordações e me faça perder o
controle.
Só que essa ruiva amorosa em algum momento conseguiu
quebrar minhas barreiras e, depois de muitos anos, eu permiti que
alguém, além da minha mãe, encostasse em mim sem restrições.
Não nego que me assustei quando isso aconteceu, no
entanto, senti uma estranha satisfação em ter um contato mais
íntimo com outra pessoa.
— Como está? — Beijo o topo da sua cabeça.
— Melhor agora que chegou. — Masha sorri. — Com você
aqui Paolo fica mais maleável, Giorgio anda tendo maus momentos
com ele.
— Posso imaginar. — Meus olhos procuram por Giovanna,
que me fita séria sentada no sofá.
Quando era menor sempre estava ao meu redor, com seu
sorriso fácil e fazendo inúmeras perguntas. De uma hora para outra
ela passou a me olhar com desconfiança e, até onde me lembro,
nunca dei oportunidade de ela me flagrar cometendo algo cruel com
alguma pessoa, para que lhe despertasse tanto receio quando estou
presente.
Sinceramente não estou entendendo o que aconteceu com
ela.
— Gio, como vai?
— Muito bem — responde enquanto olha para as mãos.
Merda! O que essa menina tem?
— Até que enfim. — Paolo desce apressado as escadas. —
Vamos conversar antes do jantar.
— Não pode relaxar um minuto? — Masha olha feio para ele.
— No momento não. — Os dois se encaram tensos.
Certamente Paolo ainda não contou nada para ela sobre a
morte do pai.
— Já voltamos. — Pisco para Masha e recebo um olhar
enviesado de Paolo. — Não vou roubar sua mulher, pare de me fitar
assim.
— Como se ela tivesse mau gosto — diz ao passar pela porta
do seu escritório.
— Isso é discutível, mas tudo bem — o provoco. — Ainda
não contou a Masha sobre o pai?
— Vou fazer isso amanhã, quando o irmão e o avô estiverem
aqui.
— Vai ser bom ter Andrei por perto.
— Foi o que pensei. — Ele rodeia a mesa e acomoda-se na
cadeira. — Agora eu quero saber como foi em Mônaco.
— Tranquilo, fechei o contrato com Frederick, estamos dentro
do cassino que ele está reformando e, também consegui parte do
resort em Ibiza.
— Isso é fenomenal. — Paolo sorri satisfeito. — Teremos um
bom escape para limpar o nosso dinheiro.
— Claro que sim. — Cruzo as pernas e apoio o cotovelo no
braço da poltrona. — Teremos dinheiro quente sem levantar
suspeitas.
— Fora o lucro com os dois empreendimentos.
— Outra vantagem nesse negócio.
— Conseguiu encontrar Mitchell?
— Sim, nós tivemos uma longa reunião, o homem de
confiança de Baltez na Europa estava presente, o príncipe
conseguiu um bom acordo de trabalho com o colombiano.
— Baltez é um bom negociante e tem palavra, isso é
importante quando se quer manter a dianteira na venda de drogas.
— Paolo acende um cigarro. — O cartel de German está forte no
México, ele conseguiu manter muitos negócios que eram do maldito
Diaz e se Baltez não souber negociar, vai perder para ele e
enfraquecer o seu cartel na Colômbia.
— Pelo que percebi, ele não vai perder espaço nenhum. —
Decido pegar uma dose de uísque e, Paolo também pede um
pouco.
Começamos a discutir o nosso próximo passo, estamos
querendo diversificar os negócios da nossa máfia em vários países,
assim fica mais difícil rastrear o nosso dinheiro.
Somos interrompidos quando Masha avisa que o jantar foi
servido. Apesar de termos muito que conversar, encerramos os
negócios por ora, amanhã teremos tempo suficiente para terminar
os nossos assuntos.
Quando entro na sala de jantar, meus olhos encontram os de
Giovanna, rapidamente ela desvia os seus e se concentra na taça
de água à sua frente.
Sento-me ao seu lado e não deixo de notá-la ficar rígida.
Paolo resmunga algo com Mirta, que por sua vez o ignora. Nunca
consigo descobrir qual dos dois é o mais implicante, provavelmente
Paolo ganha dela.
— Você não teve um minuto para se bronzear? — Masha
pergunta ao começar a se servir.
— Seu marido me passou uma agenda movimentada.
— Dom não estava a turismo — Paolo comenta ao também
se servir.
— Você devia pedir uma folga, Domênico, trabalha demais.
— Vejo os olhos de Paolo caírem na esposa, enquanto ela finge não
perceber sua presença.
Masha sabe bem como provocá-lo, a pequena é terrível.
— Eu estou bem, gosto do meu trabalho. — Ela enruga o
nariz, insatisfeita com a minha resposta.
— Assim você o instiga a te explorar.
— Eu não exploro ninguém. — Imediatamente Paolo a
contesta.
— Sério? — Ela o encara em desafio.
Por instinto olho para Gio, que me devolve um olhar
preocupado. Desta vez ela me fita sem receio, também parece
incomodada com o comportamento do casal.
— Acho melhor jantarmos em silêncio, hoje não estou de
bom humor — Paolo rosna.
— Como se tivesse humor — ouço Masha sussurrar, mas
finjo não a ouvir.
Prendo os lábios para não rir e piorar a situação, eu sei como
meu amigo pode ser bem desagradável quando contrariado.
Passamos boa parte do jantar em silêncio, até que eu me irrito e
decido puxar assunto com Giovanna, talvez assim o clima amenize.
— Já está animada para sua festa de aniversário? —
pergunto algo neutro.
— Estou. — Sua voz não indica qualquer tipo de animação.
— Tem certeza? — Bebo um pouco do vinho enquanto
observo sua expressão tensa. — Para mim você não está nada
animada. — Gio remexe um legume no seu prato.
— Dezoito anos para vocês homens têm um significado, já
para nós mulheres é a forca.
Imediatamente meus olhos vão para Paolo, que devolve o
olhar de maneira tensa.
Eu bem sei o quanto ele está sofrendo com a pressão de
encontrar um marido para sua irmã. Alguns pretendentes já
apareceram, todos os pais querem casar seus filhos solteiros com a
irmã do Capo, neste momento Giovanna é a solteira mais cobiçada
em todas as esferas da nossa máfia. Não só por sua beleza, mas
também pelo seu status.
É justamente essa a minha preocupação, ele escolher
alguém longe do nosso domínio e deixá-la distante do nosso radar.
— Apenas curta seu aniversário, Gio, é um momento especial
— digo lamentando o seu destino.
— Impossível curtir algo quando sei que o pior está para
acontecer. — Ela se ergue e surpreende a todos ao se afastar da
mesa. — Com licença, preciso me retirar.
Rapidamente sai da sala de jantar e, antes que suma, eu não
perco o momento que ela intercepta uma lágrima.
— Merda! — Masha levanta o mais rápido que seu estado a
permite e vai atrás dela.
Fico atônico, sem saber se eu fui o causador de toda essa
confusão.
— Eu falei algo errado? — pergunto a Paolo, que neste
momento está enchendo sua taça até quase transbordá-la de vinho.
— Não fez nada. — Ele prova a sua bebida. — Gio está
péssima com a chegada do aniversário.
— Por causa de um possível casamento? — Paolo apenas
assente.
— Ela quer fazer faculdade como Masha, não quer se casar
de jeito nenhum.
— O que você vai fazer? — Sua mão corre pelo cabelo.
— Dom, eu queria poder realizar todas as vontades dela, mas
não é assim que funciona. — Sua voz está tensa. — Se eu permitir
que Gio não se case, isso pode ser uma demonstração de fraqueza
e você sabe as consequências.
É... eu sei exatamente o que ele está falando. Paolo pode até
mudar certas regras, tentar amenizar algumas situações, no
entanto, algumas tradições são difíceis para serem alteradas de um
dia para o outro. O casamento de nossas mulheres é um deles, elas
precisam de proteção e cabe a nós homens fazermos isso, ainda
que na prática as coisas não funcionem assim.
— Converse com ela e adie o quanto puder o casamento, dê
tempo para que Gio ache alguém que goste, sua irmã é jovem
demais, ela não teve oportunidade de buscar por algum rapaz que a
interesse.
Com a criação rígida que ela tem, sequer deve ter dado o
primeiro beijo. Se ela puder sair um pouco mais, talvez se interesse
por alguém.
— Vou tentar fazer isso. — Vejo o quanto se sente exausto.
— Que vida fodida.
— É a nossa vida, só podemos tentar amenizar os estragos
que sempre nos alcançam.
Essa é uma verdade que tomei como mantra. Eu não posso
mudar nada de quem eu sou e da vida que levo, apenas tento
extrair o melhor e conter todo o caos que sempre me rodeia.
Entro no meu quarto na casa do Paolo sentindo meu coração
sufocar com a tristeza que me domina. Estou completamente
desestabilizada com a proximidade do meu aniversário de dezoito
anos.
Em quatro dias chega a fatídica data e três dias depois é a
minha festa. Nela sei que estarei em uma vitrine para todas as
famílias da máfia e, certamente, será nela que Paolo começará as
negociações para que eu encontre um noivo.
Como odeio a máfia e o futuro que está reservado para mim.
Jogo o corpo sobre a cama e choro, esse tem sido o enredo
da minha vida, sempre lamento quando penso no futuro.
— Gio. — Ouço a voz da Masha. — Não fica assim. — Sinto
sua mão em meu cabelo.
— Você não entende, Masha, casou-se com meu irmão por
amor, eu não vou ter isso. — Fungo.
— Calma. — Ela se junta a mim na cama. — Eu estou
tentando fazer de tudo por você, inclusive briguei com seu irmão
hoje justamente por isso.
Agora ela chama a minha atenção e me faz olhar na sua
direção.
— É por isso que estão estranhos? — pergunto curiosa.
— Sim. — Masha pega um travesseiro e coloca nas costas
ao se encostar na cabeceira da cama. — Pedi a Paolo para te
deixar livre para escolher seu futuro marido.
— E o que ele falou?
— Que têm tradições e não pode deixar de seguir algumas
delas, mas que iria ter calma ao escolher seu marido. — Masha me
olha com raiva. — Não quero que ele escolha ninguém, você é que
precisa fazer isso.
Não digo nada, apenas me aconchego nela e choro. Sei que
Paolo vai tentar escolher um bom companheiro, mas isso não vai
impedir a minha infelicidade.
— Eu estou tão triste — digo ao sentir meu coração
estraçalhar.
— Não fique assim. — Ela passa a mão pelo meu cabelo
carinhosamente. — Você pode ser feliz como Chiara, ela e Giane se
amam.
— Minha irmã é uma exceção.
— E você também pode ser, eu vou tentar segurar Paolo
mais do que tudo. — Promete. — Tente buscar alguém do seu
interesse na sua festa, se gostar de algum rapaz eu juro interceder
ao seu favor.
— Obrigada por ser minha amiga. — Ela me fita com extremo
carinho.
— Na verdade, eu é que preciso agradecer por você ter me
aceitado desde que cheguei aqui. — Sorrimos.
Masha é uma das pessoas que mais amo nesta vida, meu
irmão teve sorte ao encontrá-la, ela é uma mulher extremamente
especial.
— Não sei pra que esse evento, eu já tenho a minha festa,
não preciso de mais um compromisso — digo a mama. [4]
— Vamos apenas comemorar seu aniversário com as
pessoas mais íntimas, qual o problema, Giovanna?
Desisto de responder e subo para o meu quarto. Tudo o que
eu queria hoje era sumir e não voltar mais, desde o momento que
acordei estou fadada a encarar uma vida infeliz, porque tive o azar
de nascer no berço da máfia italiana.
Odeio a minha vida! Odeio ser uma Torcasio e odeio ainda
mais o meu futuro marido, que ainda nem conheço.
Se Paolo me forçar a casar com alguém que eu não tolere,
vou fugir, não aceitarei um destino infeliz como o de Fiorella. Prefiro
passar fome nas ruas de qualquer cidade da Europa ou América, a
ter que enfrentar um marido abusivo como Carmelo.
Pego meu celular e coloco os fones no ouvido, vou ouvir um
pouco de música para me acalmar, esse é meu melhor escape da
vida infeliz que levo.
Billie Eilish começa a cantar Your Power e eu acompanho sua
voz, acabo mergulhando na canção e esqueço que daqui a algumas
horas terei um jantar para comparecer.
Em algum momento caio no sono e desperto com Chiara
sacudindo meu ombro.
— Acorda aniversariante. — Ela sorri. — Você tem uma festa
privada te esperando.
Estico meu corpo, sem sentir qualquer animação para
enfrentar uma comemoração.
— Já está na hora? — pergunto sonolenta.
— Está na hora de se arrumar. — Escuto Fiorella falar ao
entrar no meu quarto. — Vamos, já está perto do jantar especial do
seu aniversário.
Não me movo, apenas olho para minhas irmãs, elas parecem
tão tranquilas, como se não soubessem o inferno que vou ter que
enfrentar apenas porque completei a maioridade.
— Por que estão sorrindo? — pergunto irritada. — Estou
prestes a ir para forca, assim como vocês foram.
Ambas se entreolham sem esconder a tensão, elas mais do
que ninguém sabem que depois de hoje nada na minha vida será
igual.
— Sabemos o que está sentindo. — Fiorella se senta ao meu
lado. — Mas pense pelo lado positivo que você tem Paolo para
escolher seu marido, ele jamais te colocará nas mãos de um homem
como Carmelo, você está tendo sorte de o papai não estar aqui.
— Não quero um marido, Ella, eu só quero ter minha vida
livre. — Choramingo.
— Infelizmente não somos livres, meu amor. — Ela me
abraça e Chiara se junta a nós enquanto choro dentro dos braços
das minhas irmãs.
Sem ter para onde fugir, eu permito que elas me ajudem com
a maquiagem e cabelo.
Como sempre acontece quando estamos juntas, eu esqueço
de tudo e, apenas quando minha mãe avisa que Paolo e Masha
chegaram, é que eu noto que passamos tempo demais
conversando.
— Já estamos indo, mãe — Chiara avisa.
— Não demorem, vocês sabem que Paolo não gosta de
esperar.
— Na verdade, ele não gosta de nada além da Masha —
Fiorella diz sorrindo e a acompanhamos, até mesmo a mamãe sorri
antes de ir embora.
— Nunca pensei que Paolo fosse ficar tão apaixonado por
uma mulher — falo ao calçar os sapatos.
— Se ele ouve você falar isso, vai ter uma crise histérica,
Paolo jamais assume o quanto ama a esposa — Chiara comenta ao
olhar para o celular.
— Por que os homens da máfia são tão idiotas? — pergunto
quando saímos do quarto. — Não vejo problema em assumir
quando se ama alguém.
— Para eles é uma demonstração de fraqueza, é complicado
o nosso meio. — Fiorella passa o braço pelo meu. — Não tente
entender os homens.
— Sequer tenho essa pretensão.
Quando chegamos à sala encontro Masha rindo de algo que
Leonardo fala, já Paolo está em um canto conversando com a nossa
mãe.
— Olha como ela está linda. — Leo é o primeiro a vir na
minha direção. — Meus parabéns, Gio. — Ele me envolve em um
abraço apertado. — Você está gostosa com essa calça apertada —
diz rente ao meu ouvido.
— Pode parar — ordeno sorrindo.
— Ah, minha amiga, meus parabéns. — Masha empurra Leo
para poder me abraçar.
— Nossa... que violência. — Leo passa teatralmente a mão
no braço. — Está aprendendo com seu marido a ser grossa?
— Cala a boca, Leonardo. — Masha me aperta forte e depois
me entrega um pequeno embrulho. — Espero que goste.
— Não precisava de presente.
— Claro que eu precisava trazer algo. — Ela segura a minha
mão. — Comprei na joalheria do meu avô, escolhi com muito amor.
— Ah, Masha, você é demais. — Volto a abraçá-la.
— Será que posso parabenizar a aniversariante? — Ouço a
voz de Paolo.
— Lá vem ele quebrar nosso clima. — Masha implica e Paolo
passa o braço por sua cintura afastando-a de mim com um sorriso
discreto nos lábios.
— Meus parabéns. — Ele segura o meu rosto. — Sei que não
está feliz, mas você tem a minha palavra que eu vou fazer o
impossível para que fique satisfeita com o seu futuro, ainda que ele
não seja como deseja. — Pisco para evitar chorar, como bem disse
as minhas irmãs tenho a sorte de ser o Paolo a escolher o meu
marido.
Não digo nada, apenas o abraço buscando a sua segurança.
Eu amo o meu irmão, ele sempre nos protegeu das maldades do
papai. Por muitas vezes recebeu os nossos castigos para que não
fossemos alvo da fúria do nosso pai, ele é meu eterno herói.
— Eu confio em você — afirmo contendo a vontade de
chorar.
— Pode confiar sempre. — Ele beija meu cabelo. — Eu sou
capaz de qualquer coisa por todas vocês.
Eu me afasto de Paolo e vou conferir o presente que Masha
me deu.
Abro um largo sorriso quando vejo um par lindo de brincos
em ouro branco. Vou usá-los na minha festa de aniversário, porque
são deslumbrantes demais.
— Aqui meu presente. — Leonardo me entrega uma bolsa. —
Esse é para você usar mais à frente.
Ele me lança um olhar malicioso, quando abro a bolsa vejo
um papel de seda vermelho. Curiosa como sou, rasgo o papel e
ergo um espartilho branco todo rendado e com ligas.
Levanto a cabeça para encarar Leonardo, mas meus olhos
são atraídos pela figura imponente de Domênico que entra na sala
justamente no momento que tenho a peça íntima nas mãos.
Ele para abruptamente e seus lábios se separam quando
observa o espartilho. Não consigo me mover, apenas o encaro
sentindo minhas bochechas ruborizarem.
— Mas que porra é essa? — Ouço Paolo rosnar e saio do
transe. — Que tipo de presente é esse, Leonardo?
— Um, que ela vai usar em breve quando se casar —
responde com displicência. — Aí dentro tem a meia-calça e o fio
dental — avisa sorrindo, ignorando a expressão assassina do meu
irmão.
— Você quer morrer? — Paolo pergunta.
— O que foi, uomo? [5]Por que essa cara? Gio vai se casar
até onde sei, não vejo problema de presenteá-la com a roupa íntima
da lua de mel.
— Olha aqui, Leonardo, você não... — Paolo começa a falar,
mas Domênico limpa a garganta, revelando a sua presença para
todos.
— Boa noite. Cheguei em um mau momento? — pergunta
olhando entre Paolo e Leonardo.
— Claro que não, mio amore. [6]— Leo sorri. — Sua presença
espetacular é sempre bem-vinda.
Essa criatura não se comporta, um dia os meninos param de
achar graça das “tiradas” dele e a coisa não vai ficar boa.
— Guarde isso, Gio — minha mãe ordena e olha feio para
Leonardo. — O seu presente foi inapropriado rapaz.
— Já eu, achei muito apropriado. — Leo dá de ombros. — O
futuro marido da Gio vai ser um homem feliz.
Parecendo notar que Paolo ou minha mãe vai matar
Leonardo, Dom vem na minha direção e estende uma caixa.
— Comprei para você, espero que goste. — Ele me lança um
dos raros sorrisos. — Meus parabéns, Giovanna. — Não me movo
quando beija meu rosto.
Domênico faz parte da minha vida desde que nasci. Eu me
acostumei com sua presença sempre ao lado do meu irmão. Confio
plenamente nele, sei que Dom é capaz de tudo por mim, só que eu
ouvi uma informação sobre ele que me causou certo desconforto.
Quando meu pai era vivo, fazia muitas reuniões com seus
homens no seu escritório aqui em casa. Domênico sempre vinha
com Francesco e, numa dessas reuniões, eu acabei ouvindo a
conversa atrás da porta do escritório.
Eles falavam de mulheres e sexo de maneira tranquila, um
dos homens disse que Dom amarrava as suas companheiras na
cama e que gostava de bater nelas.
O sorriso que se estendeu entre eles me arrepiou naquele
instante, todos pareciam apreciar o que Domênico fazia e, em
nenhum momento o ouvi negar o que foi dito.
Naquela época eu era mais inocente do que hoje, tinha por
volta de quatorze anos e fiquei chocada com essa informação.
Daquele momento em diante passei a ficar desconfortável quando
Dom estava por perto.
Sempre que ficava na sua presença pensava nele batendo
em uma mulher e fazendo todos os abusos que ouvi dos outros
homens, a repulsa me dominava com as cenas que surgiam na
minha mente, porque para mim, Dom nunca deixou de passar a
imagem de uma pessoa equilibrada, diferente dos outros porcos
nojentos da máfia.
Com os anos acabei descobrindo que alguns homens gostam
de sexo violento e, pensar em Domênico sendo um deles nos
afastou ainda mais.
— Obrigada — digo ao recuar abruptamente.
Ele enruga as sobrancelhas, percebendo que não o quero
próximo. Para não causar nenhum tipo de clima abro a caixa que
me entregou.
— Ah, Domênico, eu amei. — Sorrio sinceramente ao erguer
o frasco de perfume que costumo usar. — O meu já estava
acabando, você acertou na escolha.
— Fico feliz em saber disso — comenta de maneira polida e
se afasta.
Acabo me sentindo mal por não conseguir segurar meus
sentimentos, Domênico nunca fez algo para que eu o rejeitasse,
mas não consigo parar de pensar que ele bate em mulheres, ainda
que seja na cama.
Hoje eu sei que muitas gostam, mas e se uma delas não
quiser? Será que ele vai ouvir a sua recusa?
Quando penso que possa não respeitar alguma mulher, eu
sinto raiva dele. Sei o quanto a violência sexual e, física, é uma
presença constante na vida das mulheres da máfia e, saber que
Domênico possa ser esse tipo de homem me deixa enjoada.
Meus pensamentos são interrompidos quando Giane, o
marido de Chiara, chega. Ele me abraça animado e, também me dá
um presente.
Graças a Deus, Carmelo não veio, iria odiar tê-lo aqui no dia
do meu aniversário. Nunca vou esquecer tudo o que faz com a
minha irmã, se dependesse de mim ele já estaria morto há muito
tempo.
Como sempre acontece as mulheres se reúnem de um lado
e, claro que Leo se junta a nós protagonizando momentos cômicos,
ele não tem jeito, ama ser o centro das atenções.
Não sei como esse descarado consegue fazer amizade com
tanta facilidade e monopolizar tudo ao seu redor.
Quando o jantar é servido todos nós nos reunimos ao redor
da mesa, animados. Paolo e Leonardo trocam provocações, mas
nada que cause nenhum tipo de problema.
No final da refeição sou surpreendida por um pequeno bolo
que minha mãe mandou fazer. Todos cantam parabéns e, apesar de
estar feliz, sinto meu coração comprimir.
Fiz dezoito anos, o que significa que estou condenada a ser
de algum homem e passar o resto da minha vida infeliz.
Pisco rapidamente evitando as lágrimas. Quando ergo meus
olhos vejo Domênico me encarando com a expressão fechada. Ele
parece saber exatamente o que estou sentindo, pois seus olhos
estão tempestuosos, longe da frieza que costumo enxergar neles.
Quebro o nosso olhar e apago a vela, fazendo um pedido
secreto para que algo inesperado aconteça e me livre desse
calvário.
O vestido que escolhi para a minha festa é perfeito, ele é na
cor champanhe, com uma linda pedraria e desliza pelo meu corpo
sensualmente, abraçando cada uma das minhas curvas.
Meu cabelo está preso no alto da minha cabeça e delicados
fios caem por meu rosto, arrematando o visual. A minha maquiagem
é marcante nos olhos, em meus lábios escolhi um batom rosa-claro
para equilibrar tudo.
Estou verdadeiramente bonita e mais triste do que nunca. Sei
que hoje estarei em uma vitrine e será nesta noite que os homens
solteiros, da máfia, irão começar a correr atrás de mim.
Tudo o que eu mais queria era fugir e esquecer quem eu sou,
juntamente com todas as minhas obrigações.
— Vamos, querida? — Minha mãe me chama. — Os
convidados estão te esperando.
Não digo nada, apenas a acompanho sentindo que estou
indo para o meu velório. Depois desta noite nada na minha vida será
do mesmo jeito.
Quando entro na sala ganho a atenção de todos os
presentes. Quero correr, sair sem rumo em busca da minha
liberdade, no entanto, sorrio quando as pessoas começam a falar
comigo.
Respondo as perguntas mecanicamente e sou educada com
os rapazes que me apresentam.
Que pesadelo! Eu só queria estar no meu quarto, ouvindo
alguma música ou lendo um bom livro de suspense.
— Ei, vem aqui. — Paolo me intercepta quando estou
caminhando entre as pessoas que não param de me chamar para
que eu conheça algum idiota. — Tenta relaxar. — Ele me leva para
um canto e segura meus ombros. — Coloque em mente que é
apenas sua festa de aniversário, você não sairá daqui prometida a
ninguém. — Inspiro fundo, tentando não chorar.
— Pelo tanto de pretendentes que já conheci, acho que você
não vai conseguir evitar me comprometer com alguém — digo com
amargor.
— Meu pequeno anjo. — Ele segura a minha mão. — Quem
manda em todos nesta festa sou eu. — Seu olhar é duro. — E como
líder eu te afirmo que ninguém terá o meu comprometimento com
relação ao seu futuro. Vou ouvir todos os interessados, é o meu
dever, mas não passará disso. — Paolo beija a minha testa. —
Temos muito tempo para você tentar se conectar com alguém,
apenas aprecie seu aniversário e converse com as pessoas
tranquilamente. Não será hoje que seu destino estará decidido.
Confio nele, Paolo sempre sabe o que faz. Se ele afirma que
não sairei daqui com um pretendente, vou acreditar.
Sigo o seu conselho e decido me divertir, busco por Leo e o
encontro conversando com Chiara e Masha. Puxo sua mão para
que possamos ir até à pista de dança e as meninas nos
acompanham. Mesmo estando com sete meses de gestação, minha
cunhada se movimenta lentamente.
Acabo esvaziando a mente de todas as minhas
preocupações e danço feliz, curtindo meus últimos momentos de
liberdade. Apesar de Paolo garantir que hoje não arrumo um
pretendente, sei que em breve essa situação vai mudar, porém nada
me impede de curtir minha festa, enquanto o meu futuro triste não
chega.
Quando meus pés reclamam, eu saio da pista e vou procurar
uma bebida. Agora que tenho dezoito anos posso beber sem ter que
ficar me escondendo, ao menos algo de bom acontece com a
maioridade.
— Bom vê-la aproveitar a sua festa. — A voz de Domênico
me alcança. — Não tive oportunidade de falar com você, sua
atenção está bem disputada.
— Como está, Dom? — Tento fingir que sua proximidade não
me incomoda.
— Muito bem. — Ele me fita intensamente, de uma maneira
que não estou acostumada. — Você está muito bonita. — Quase
engasgo com a minha bebida, Domênico nunca me elogiou assim.
— Paolo vai ter trabalho esta noite.
— Ele disse que não vai escolher ninguém hoje. — Estou me
agarrando às palavras do meu irmão.
— Eu sei disso. — Dom ergue o seu copo de uísque e sorve
um pouco do líquido enquanto me observa. — Mas ele terá que
escolher alguém em breve, você causou um alvoroço grande dentro
das famílias do nosso clã.
— O que está querendo dizer? — Nossos olhos se
encontram e, pela primeira vez, eu vejo os olhos dele quentes.
Domênico é conhecido por ser o homem de gelo da máfia,
não demonstra emoção em momento nenhum. Paolo tem seus
rompantes de ira, em algumas situações não esconde seus desejos
assassinos, mas Dom não, ele sempre olha para todos com
indiferença, como se fosse incapaz de sentir qualquer tipo de
sentimento.
— Todos te querem, Gio. Não existe um único solteiro aqui
que não deseje ser o felizardo em ter a promessa de tê-la como sua
futura esposa.
— Eles não terão promessa nenhuma, Paolo me garantiu
isso. — Volto a afirmar as palavras do meu irmão.
— De fato não terão. — Dom descarta seu copo de uísque.
— Ao menos por hoje. — Ele estica a mão para mim. — Vamos
dançar? — Abro a boca em choque, não esperava que ele fosse
fazer este convite.
Não posso negar o seu pedido, Dom pode se ofender e
reclamar com meu irmão. Prefiro evitar qualquer tipo de atrito nesta
noite que já está sendo tão difícil para mim.
Deposito minha mão na sua, sentindo meu corpo estremecer
com esse contato. Apesar de não me sentir confortável com a sua
presença, não posso negar que Dom tem um charme único, com
esse seu jeito misterioso.
Com passos seguros ele me leva até a pista de dança e
apoia as mãos na minha cintura. Para o meu azar uma música lenta
toca, o que me faz ficar muito próxima dele.
Apoio as minhas mãos nos seus ombros, é uma área neutra,
onde eu sei que ele não se incomoda em ser tocado.
Assim como meu irmão, Dom foi maltratado pelo pai, para
que pudesse ser resistente a dor. Pelo pouco que sei, o velho
Francesco foi muito cruel com o filho, causando traumas profundos,
que fizeram Domênico abominar contato físico. Raramente ele
permite que alguém se aproxime e, poucos locais do seu corpo
estão livres ao toque.
Olho por sobre seu ombro e vejo Fiorella sorrindo ao dançar
com Leo. Acho que não existe ninguém que fique ao redor dele que
não se sinta feliz. Leonardo tem o poder de animar qualquer pessoa,
o seu astral é sensacional, sou apaixonada por esse cretino.
— O bobo da corte está em ação. — A voz profunda de
Domênico me faz encarar seus olhos. — Não sei como ele
consegue falar tantas bobagens em segundos.
— Leonardo é uma das melhores pessoas que conheço —
digo interrompendo nosso olhar.
— Concordo com você. — Ele fica alguns segundos em
silêncio. — Apesar de falar demais, Leo tem bom coração, além de
ser uma pessoa de confiança.
— Ele tem uma queda por você. — Volto a olhá-lo e dessa
vez sorrio.
— Não brinca? — Dom repuxa um lado da boca. — Uma
pena eu só desejar cortar a garganta desse tagarela.
— Para de falar bobagem. — Odeio o humor mórbido dos
homens da máfia.
— Talvez se ele não falasse tanta besteira, eu não sentisse
vontade de matá-lo. — Domênico me encara de maneira estranha.
— Está mais relaxada? — sua pergunta me pega de surpresa.
— Acho que nunca mais estarei relaxada. — Sou sincera.
Dom para de dançar e apenas fica me olhando, mantendo
meu corpo junto ao seu.
— Gio, tente não pensar muito sobre o futuro. — Vejo o
quanto seu olhar está tenso. — Não só Paolo como eu, iremos
garantir que seu futuro marido te trate como a princesa que é.
Jamais iremos te jogar nas mãos de um tipo como Carmelo, fique
tranquila.
— Não posso ficar tranquila quando me casarei sem querer.
— Retiro as minhas mãos que estão no seu ombro. — Com licença,
preciso ir ao banheiro.
Mesmo sem a sua autorização eu me afasto, preciso de um
tempo a sós, ou vou ter uma crise de ansiedade nesta maldita festa.
Caminho entre as pessoas apressada, mas não vou muito
longe. Sou interceptada por um jovem sorridente, que me pede para
dançar com ele.
Quero dizer que não tenho interesse na dança, porém sei das
minhas obrigações, rechaçá-lo pode acabar causando uma
confusão e tudo o que eu não quero é arrumar problema
desnecessário.
Abro meu sorriso amistoso e aceito seu pedido. Começamos
a dançar enquanto ele se apresenta e puxa um assunto qualquer.
Finjo prestar atenção ao que fala, mas, na verdade, tenho meus
olhos do outro lado do salão, onde Domênico me observa dançar,
com um olhar estranho, que não consigo identificar o significado.
O pai dele se aproxima e diz algo que o faz ficar rígido. Dom
muda a expressão, todo o calor em seus olhos se dissipa, ele volta
a ser o homem de gelo que todos conhecem.
Eles trocam algumas palavras, até que o pai começa a andar
na direção da minha casa e Domênico o acompanha, sinto meu
corpo estremecer, uma sensação ruim me domina inesperadamente.
— Desde que te vi estou me sentindo encantado, você é a
mulher mais bonita que já pude encontrar. — Minha atenção volta
para o meu acompanhante e só agora noto que ele é, até, atraente.
Seu rosto é anguloso, os olhos castanho-claros, o cabelo
preto, está devidamente alinhado e sua pele bronzeada indica que
ele gosta de se expor ao sol.
É um belo rapaz, só não faz meu corpo vibrar.
— Muito obrigada, pelo elogio — digo com sinceridade. —
Quero que me desculpe, mas eu estava indo ao banheiro quando
me pediu esta dança. — Abro um sorriso suave, louca para me livrar
dele. — Não posso protelar mais a minha ida ao banheiro, lamento.
— Oh, desculpa. — Ele para de dançar. — Fique à vontade,
podemos dançar mais tarde.
— Será um prazer. — Rapidamente me afasto dele. — Foi
bom te conhecer. — Não espero a sua resposta, corro na direção da
minha casa, louca para ter ao menos um segundo de paz.
Quando passo pela porta que leva a sala, escuto a voz
alterada do Paolo.
— Porra, Francesco, estamos em uma festa, não pode
conversar depois?
— Infelizmente não. — A voz do asqueroso é autoritária. — O
que preciso tratar com você é urgente e não pode passar desta
noite.
— Pai, podemos agendar uma reunião para segunda. —
Domênico tenta impedir a conversa.
— Cale essa maldita boca, garoto, eu sei o que faço. — O
meu corpo se arrepia, odeio esse homem com todas as minhas
forças.
— Cuidado como fala, Francesco, não estou em um bom dia.
— Paolo o ameaça. — Vamos conversar logo, não quero perder
mais meu tempo com você.
Escuto os três se afastarem e irem na direção do antigo
escritório do papai.
— O que está fazendo parada aqui? — Levo um susto ao
ouvir a voz da Masha.
— Quer me matar? — digo ao apoiar as mãos sobre o
coração.
— Claro que não. — Ela segura meu braço. — O que você
tem? Está esquisita — pergunta ao me fitar preocupada.
— Não é nada, apenas ouvi uma conversa estranha entre
Paolo, Dom e o pai dele. — Masha enruga a testa.
— Eles estavam falando de negócios?
— Mais ou menos. — Fico pensativa. — Pelo que entendi o
Francesco tinha algo urgente a falar com Paolo.
— É melhor esquecer isso, certamente é algum problema da
máfia, não nos diz respeito. — Ela enlaça o braço ao meu. —
Vamos voltar para a festa?
— Preciso de um tempo, Masha, vou ao banheiro e me
esconder um pouco, estou me sentindo sobrecarregada. — Seus
olhos exibem compreensão.
— Então, vamos juntas, eu vou te fazer companhia.
Sorrio feliz, tê-la comigo é sempre um bom momento, Masha
virou praticamente uma irmã. Sendo bem sincera, ela tem mais
acesso a minha intimidade do que Chiara e Fiorella, ao seu lado eu
me sinto livre para revelar todos os meus medos, Masha é meu
porto seguro.
Bato a porta do escritório, puto, odeio quando meu pai tenta
me intimidar na frente dos outros. Sei que lhe devo obediência, mas
qualquer dia desses eu esqueço a hierarquia e quebro a cara desse
merda.
— Vamos lá — Paolo fala ao sentar atrás da imensa mesa de
madeira maciça. — O que diabos têm a me dizer que não pode
esperar?
Meu pai não diz nada, apenas retira um envelope do bolso
interno do seu terno. Ele o estende para Paolo com tranquilidade e
senta relaxado na cadeira à frente do nosso Capo, enquanto meu
amigo começa a analisar o conteúdo da folha em suas mãos.
Vejo o semblante de Paolo se transformar em uma carranca
e, seus olhos seguem na minha direção. Nós nos encaramos
tensos, sinto instantaneamente que ele não está feliz com o que
acabou de ler.
— Que merda é essa? — Paolo o questiona.
— Isso... — meu pai aponta para o papel na mão dele. — É o
acordo que fiz com seu pai e exijo que seja cumprido
imediatamente.
Fico confuso, sem saber o que está acontecendo.
— Sabia disso, Domênico? — Paolo pergunta raivoso.
— Do que está falando? — questiono perdido.
— Ninguém sabe do que acertei com seu pai, Paolo, estou
revelando hoje o nosso acordo como o programado. Domênico
apenas precisa aceitar o destino que programei para ele. — Sinto os
pelos do meu corpo se arrepiarem.
— Como é? — Olho para meu pai intrigado. — O que está
falando?
— Os nossos pais acertaram que você tem que se casar com
Giovanna — Paolo diz de uma vez e me faz paralisar.
Apoio a mão sobre a mesa dele e tento assimilar suas
palavras. Eu esperava ouvir muita coisa nesta reunião estranha,
menos que eu fosse o destinado à Giovanna.
— Sempre fui muito amigo de Conrado e desejávamos unir
nossas famílias, como ele já havia prometido as outras filhas,
acertamos que Giovanna seria de Dom — meu pai diz com
tranquilidade. — Quero que anuncie o quanto antes o casamento
deles. Domênico já passou da idade de casar, quero netos machos,
preciso treinar o futuro da família Pizzorni.
Trinco os dentes, porque jamais permitirei que ele coloque
suas mãos sujas nos meus filhos.
— Inferno! — Paolo joga um abajur contra a parede. — Nem
morto, o filho da puta do meu pai deixa de atormentar a nossa
família.
Vejo meu pai sorrir, ele está bem feliz em ver o descontrole
do nosso líder.
— Conrado era um exemplo de Capo. — Meu pai alfineta
Paolo ao se levantar. — Não precisa anunciar hoje que Giovanna é
do meu filho, posso esperar alguns dias, mas não quero que o
casamento demore. — Ele ajeita o terno. — Se me derem licença,
vou beber um champanhe para comemorar a aquisição da virgem
mais desejada do clã.
Nojento. Eu odeio o meu pai profundamente.
— Calma — peço a Paolo. — Será que pode ir embora sem
falar tanta merda? — Meu pai endurece as feições e vem na minha
direção.
— Não fale comigo neste tom. — Nós nos encaramos
intensamente.
— Se ainda não percebeu não sou mais um menino, não me
faça foder a minha vida ao lhe matar e te dar o fim merecido. — Vejo
suas narinas se dilatarem, ele odeia ser afrontado.
— Olha só seu merda, eu... — sua fala se quebra quando
Paolo o segura pela garganta e prensa seu corpo na parede mais
próxima.
— Cale sua maldita boca, stronzo! — esbraveja. — Eu te
odeio e ainda não morreu porque Dom nunca pediu a sua cabeça,
mas eu posso esquecer a vontade dele e providenciar a sua morte.
— Vejo meu pai se debater tentando aliviar o aperto de Paolo. —
Não me provoque, muito menos tente ser abusivo com seu filho na
minha frente, estou farto de você e pronto para enfrentar uma
rebelião no clã por matá-lo.
Com brutalidade Paolo choca o corpo dele contra a parede e
o faz cair no chão.
— Você é um merda, Francesco, tome cuidado porque
quando menos esperar o pior pode acontecer. — Erguendo o corpo
dele, Paolo o arrasta para a porta. — Saia daqui agora, eu vou te
procurar no momento certo, mas não faça nenhuma gracinha, a não
ser que queira morrer na frente do Conselho. — Sem nenhuma
delicadeza ele empurra meu pai para fora do escritório.
Quando ficamos sozinhos, o silêncio parece ensurdecedor.
Paolo ainda tem a respiração irregular e olha para a porta por onde
meu pai saiu enraivecido.
— Eu não sabia de nada disso — digo tentando amenizar a
situação. — Estou tão surpreso quanto você.
— Sei disso, porra! — esbraveja. — Odeio nossos pais, eles
são uns merdas.
— Concordo. — Desabo sobre a cadeira à frente da sua
mesa. — O que vamos fazer? — Tento conter o nervosismo.
Não consigo sequer ter um pensamento lógico, toda essa
situação é bizarra. Eu e Giovanna não temos nada em comum, tudo
bem que a acho bonita, ela virou uma linda mulher, mas pensar em
casar com ela é algo que nunca passou pela minha cabeça.
— Puta que pariu! — Paolo vai até o bar e serve duas doses
de uísque.
Ele coloca um copo na minha frente e bebe quase toda a sua
dose ao passar a mão pelo cabelo, desalinhando os fios em uma
clara demonstração de irritação.
— Essa situação é tão bizarra, que não dá para acreditar que
está acontecendo. — Paolo encerra sua bebida e vai pegar mais um
pouco. — Não quero você com minha irmã, esse casamento não vai
acontecer.
Fico calado, não tenho o que falar neste momento, estou
perturbado demais com essa notícia.
— Como vai fugir de um contrato legítimo? — pergunto com
cautela. — Nossos pais têm poder para comprometer os filhos,
ainda que um deles não esteja mais vivo.
— Foda-se, Domênico. — Paolo me olha com raiva. — Não
vou jogar minha irmã em suas mãos. — Ele aperta o copo com
força. — Gio é pura delicadeza, caralho! Não quero saber de você a
amarrando na cama porque é um fodido que não consegue ser
tocado.
Suas palavras me acertam dolorosamente, se ele tivesse me
dado um soco não doeria tanto.
— Porra! — Paolo fecha os olhos. — Não quis te ofender, eu
só estou puto e quero descontar a minha ira em alguém.
— Você não disse nenhuma mentira. — Descarto a minha
bebida intocada. — Sou realmente um homem fodido e longe do
ideal para sua irmã. — Ajeito meu terno. — Conte comigo para
desfazer esse acordo, o que precisar é só falar que eu te ajudo,
também não concordo com essa loucura. — Começo a caminhar
para a saída.
— Volta aqui! — A voz dele nas minhas costas é
ameaçadora. — Não vou pedir novamente. — Ignoro sua ameaça.
— Domênico, se você passar por essa porta, eu vou... — Bato a
porta com força, ignorando o perigo de deixar meu líder falando
sozinho.
Sei que lhe devo obediência, mas hoje não vai dar para
manter a hierarquia, preciso sair desta casa imediatamente.
Ouço o barulho do copo do Paolo sendo jogado contra a
porta, ele solta vários palavrões, mas eu não volto. Sigo para a
saída da casa, louco para escapar de toda a merda que me rodeia.
Antes que eu consiga escapar, vejo Masha e Giovanna
aparecerem na sala. Elas me olham apreensivas, acho que devo
estar com a expressão transtornada demais. Tento me controlar e
camuflar as minhas emoções.
— O que aconteceu? — Masha pergunta preocupada ao
apoiar a mão sobre o ventre.
— Nada que precise se preocupar. — Tento manter a voz
calma. — Preciso ir embora. — Olho rapidamente para Gio, que me
observa com apreensão.
Não posso me casar com ela, como bem Paolo falou, eu sou
fodido demais para alguém tão inocente. Somos opostos, não temos
nada em comum e sei que Gio ficará transtornada se souber sobre o
maldito acordo.
Não sei como Paolo fará para desfazer essa loucura, só
espero que ele tenha êxito nessa empreitada.
— Já? — Masha questiona me encarando com tensão.
— Nos vemos depois. — Mais uma vez meus olhos caem em
Giovanna. — Espero que tenha uma boa festa. — Aceno antes de
me virar e ir embora.
Que inferno de noite, só posso estar dentro de um pesadelo,
nada disso pode ser real.

Jogo a cabeça para trás e infiltro os dedos nos fios do cabelo


da Anna, que me chupa com maestria. Ela sabe exatamente o que
gosto e não contesta nenhuma das minhas ordens.
Seus olhos negros me fitam com intensidade, enquanto me
leva até o fundo da sua garganta. Anna gosta de sexo, ela se
entrega completamente em cada um dos nossos encontros, por isso
sempre a procuro, com ela nunca fico insatisfeito.
— Vá para a cama, Anna — ordeno quando interrompo seu
boquete. — E coloque as mãos acima da cabeça.
Obedientemente ela segue as minhas instruções. Enquanto
fica na posição que pedi, eu vou até um pequeno armário no canto
do quarto e abro a porta.
Passo a mão pelos diversos itens sexuais até que encontro
uma corda. Pego-a e fecho a porta. Olho na direção da Anna e ela
sorri, sabendo exatamente o que farei a seguir.
Monto sobre o seu corpo e envolvo a corda ao redor do seu
pulso. Puxo a ponta livre e amarro na cabeceira da cama. Anna fica
completamente à minha mercê e incapaz de me tocar.
Rodeio a ponta do polegar no bico do seu seio, ela ronrona e
se contorce sob mim. Saio de cima dela e pego um preservativo
sobre a mesa de cabeceira.
Deslizo a camisinha ao longo do meu pau e volto a me juntar
a ela na cama.
— Abra as pernas. — Automaticamente ela me obedece e eu
vejo o brilho da sua excitação molhar toda a sua boceta.
Gosto de saber que ela me deseja; que sente prazer em
nossos encontros. Eu já tive uma quantidade absurda de garotas de
programas na minha cama e, em todas às vezes, sem exceção, fiz
cada uma delas gozar.
Ver uma mulher sentir prazer quando estou dentro dela faz
parte do meu próprio prazer.
Deslizo as pontas dos meus dedos na sua entrada, ela se
arrepia e remexe o corpo. Nossos olhos se encontram e vejo o
quanto Anna está ansiosa para que eu a preencha.
Não vou me prolongar, também estou necessitando de um
pouco de prazer, depois da noite fodida que fui obrigado a enfrentar.
Empurro seus joelhos contra seu tronco e me posiciono sobre ela,
com a sua boceta toda livre para o meu avanço.
Anna me recebe em seu interior com um intenso gemido, ela
arfa quando eu vou até o fundo e retraio quase saindo do seu canal,
para logo em seguida mergulhar nela com vigor.
Eu gosto de sexo intenso, delicadeza não está em jogo
quando quero trepar. A mulher para estar na minha cama tem que
gostar de foder com vigor, se espera que eu seja um amante
romântico, procurou o parceiro errado.
Eu sou capaz de saciar uma mulher das maneiras mais
diversas, só não sei ser suave.
— Oh, Dom, sim, isso — ela geme.
Olho para seu rosto corado e vejo o quanto ela está sentindo
prazer. Abro suas pernas ganhando um ângulo que me leva mais
fundo.
Fecho os olhos sentindo o prazer me engolir a cada
estocada. Anna geme ainda mais alto e exige que eu vá mais forte.
Eu dou o que me pede, também é o que quero. Rápido, forte e
profundo.
Inesperadamente a imagem de Gio aparece na minha frente,
lembro do seu corpo jovem curvilíneo, nos seus seios redondos e na
sua bunda arrebitada.
Caralho! Eu posso ser obrigado a me casar com ela, é fodido
pensar nisso, porque Giovanna é delicada demais para mim, gosto
de mulher fogosa, que possa foder intensamente comigo. No
entanto, não posso negar que se nos casarmos eu ao menos terei
uma esposa gostosa.
O meu corpo estremece quando imagino seu rosto delicado
gozando, deve ser uma visão perfeita acompanhá-la encontrar o seu
prazer.
Meu pensamento se perde com as imagens sacanas que
brincam na minha frente e acabo gozando com força, por imaginar
que posso ter Gio na minha cama.
Eu sou um canalha mesmo, já estou imaginando como seria
fodê-la bem gostoso.
— Dio Santo, Dom, o que deu em você hoje? — Anna me
olha sorridente.
Só agora volto à realidade e lembro que é Anna quem está
comigo na cama.
Porra! Eu saí completamente da realidade, logo eu que
controlo cada segundo da minha vida.
Não a respondo de imediato, apenas me afasto e tiro a
camisinha. Ainda em silêncio eu liberto os seus pulsos. Ela me fita
curiosa, mas não fala mais nada.
Sento-me na beirada da cama e ajeito meu cabelo ao fitar
seu rosto. Anna é uma boa mulher, trabalha como prostituta para
sustentar o filho e a mãe, que tem problemas do coração.
Admiro a sua garra e sempre tento protegê-la. Já me
prontifiquei a conseguir um serviço em algum dos estabelecimentos
da máfia e ela me prometeu que assim que tiver uma reserva de
dinheiro, irá encerrar com os programas e aceitar a minha proposta.
— Hoje está sendo um dia duro — digo ao vestir a boxer.
— Quer conversar? — Um dos defeitos dela é ser curiosa
demais.
Esse lado da sua personalidade me irrita, gosto de foder com
ela, mas não de dividir a minha vida, isso é algo que não dou
acesso a ninguém.
— Estou bem. — Olho para ela que se senta na cama e corre
a mão pelo pulso vermelho.
Vai ser bem fodido se eu me casar com Gio e ter que amarrá-
la. Ela não tem experiência nenhuma e certamente vai se assustar
com meu jeito bruto de foder.
— Sabe que estou aqui para o que precisar, não é?
— Sei me cuidar, Anna. — Busco pelo meu terno.
Pensei que um pouco de sexo me faria relaxar depois de
descobrir que posso ter que me casar, mas a tensão continua
correndo desenfreada pelo meu corpo.
— Vá para casa descansar. — Praticamente ordeno.
Como sempre faço pago o triplo do valor que ela cobra.
— Nunca vai tomar jeito? — pergunta rindo ao pegar o
dinheiro.
— Está reclamando?
— Jamais. — Ela para na minha frente.
— Obrigada por sempre ser justo comigo.
Os seus olhos ganham um brilho intenso, está chegando o
momento de me afastar dela. Anna está se apegando demais a mim
e isso não é nada bom.
— Sou justo com quem eu quero. — Aperto seu queixo. —
Não significa que sou bom. — Alerto. — Agora se arrume e vá para
sua família.
— Eu irei. — Aceno para ela e saio do quarto, preciso beber
um pouco para tentar desanuviar meus pensamentos.
Ainda não consegui assimilar a notícia que recebi, pensar em
casar com Gio não é completamente um desagrado, ela é linda,
mas saber que terei que assumir uma mulher tão inesperadamente,
fode comigo.
Nunca irei ferir Giovanna, mas eu sou tudo o que ela não
deseja em um marido.
Porra!
Entro no escritório do La Fontaine [7]aliviado por Paolo ter a
manhã comprometida com diversas reuniões. Giorgio estará com
ele, o que me deixa livre para trabalhar sem nenhum dos dois no
meu pé.
Desde sábado não nos falamos e ele também não tentou
entrar em contato, já não digo o mesmo da sua esposa, Masha me
ligou diversas vezes e me encheu de mensagens. Ignorei-a
deliberadamente, não estava no clima para conversar sobre essa
merda de acordo.
Tiro meu terno e o coloco no encosto da minha cadeira, ligo o
notebook e começo a trabalhar. Não vou ficar pensando em tudo
que terei que enfrentar esta semana, deixarei os problemas
chegarem para ir resolvendo aos poucos.
Mergulho nos relatórios sobre o lucro paralelo das nossas
boates, eu estou tão concentrado no meu trabalho, que só noto a
presença da Masha quando ela espalma as duas mãos sobre a
mesa e me encara com uma expressão nada amistosa.
— Já que o senhor não responde as minhas mensagens nem
as ligações, decidi vir falar com você pessoalmente.
Recosto contra a cadeira e encaro seus olhos raivosos, sei
que deveria tê-la respondido, mas não queria conversar com
ninguém sobre meu possível casamento com Gio.
— Senta aí. — Salvo o arquivo que estou trabalhando e dou
total atenção a ela.
— Onde se meteu que ninguém conseguia falar com você,
ontem? — Ela pode até parecer frágil, mas sabe ser durona quando
necessário.
— Estava me divertindo por aí — digo de maneira evasiva e
pelo erguer da sua sobrancelha, ela não gostou da minha resposta.
— Você quer se casar com a Gio? — pergunta sem rodeios.
— Bem... — faço uma pausa proposital. — Pelo que fui
informado, tem um acordo entre os patriarcas das nossas famílias
que nos une. Até onde conheço o meu pai, ele não vai abrir mão do
contrato que assinou junto a Conrado.
— Não foi isso que perguntei. — Ela endurece o rosto. —
Quero saber se posso lutar por esse casamento.
Admiro muito a força dessa pequena mulher, Masha é
determinada e eu bem sei o poder que ela exerce sobre Paolo,
ainda que ele finja possuir a última palavra.
— Não sei ao certo o que deseja que eu fale, mas não posso
deixar de revelar que vou seguir o acordo se Paolo não o anular. —
Sou sincero. — Não tenho nada em comum com Gio e sei que ela
vai odiar saber que precisa se casar comigo, mas ambos nascemos
na máfia e temos regras a seguir.
— Não posso negar que será duro para minha amiga.
— Vai ser assustador, na grande verdade. — Passo a mão
pelo rosto. — Mas posso te garantir que se o casamento realmente
sair eu serei um bom marido para Gio, irei respeitá-la, serei atento
às suas necessidades e a protegerei com a minha vida.
Masha retorce o rosto, claramente descontente com as
minhas palavras.
— Disse algo inapropriado? — questiono confuso.
— Dio Santo[8], Dom! Você parece um robô ao falar sobre
Giovanna. — Ela enruga a testa. — Eu quero saber dos seus
sentimentos, se acredita que possa amá-la em algum momento.
— Sou um mafioso, Masha, amor não faz parte da minha
vida. — Não gosto de ser muito duro com ela, mas não vou mentir.
— Já te disse que não acredito em relacionamentos, nunca poderei
oferecer sentimentalismo à Gio, mas ao meu lado sempre estará
segura. Jamais irei feri-la, ela nunca experimentará a minha
maldade.
— Pare com isso — ela pede chateada. — Estou cansada de
vocês fingindo que não tem sentimentos, achei que apenas meu
marido fosse tão idiota, mas pelo jeito você segue o mesmo
caminho negacionista.
— Você tem noção que mesmo sendo a esposa do Capo,
está me desrespeitando? — Por sorte sou um homem treinado,
porque o olhar mortal que ela me dirige é bem amedrontador.
— Não comece com essa conversa. — Travamos um olhar
tenso e a ruiva endiabrada não recua, por isso Paolo perdeu a
cabeça por ela, Masha tem uma coragem admirável. — Somos
amigos, eu te amo mais que tudo e quero o seu bem, assim como
da Gio.
— Nunca serei capaz de amá-la, não acredito em amor, mas
eu vou me esforçar ao máximo para que Giovanna tenha paz no
nosso casamento.
— Eu odeio essa mania que vocês têm de dizer que não
podem amar. — Ela dá a volta na mesa e para na minha frente. —
Seu chefe é igual a você, os dois mentem mal demais. — Sorrindo
segura meu rosto. — Você é capaz do que quiser, inclusive amar a
sua mulher, assim como Paolo me ama, ainda que se esforce para
não demostrar isso na frente dos outros. Quero você com Gio e vou
formar uma guerra com meu marido para que se casem.
— Fique fora disso, não entre em confusão por causa deste
assunto.
— Não é um assunto qualquer, é o futuro dos meus melhores
amigos. — O seu olhar tem uma infinidade de sentimentos, Masha é
puro coração. — Eu sei as lutas que preciso enfrentar e, com você,
ela sempre estará protegida e algo me diz que esse acordo maluco
vai ser bom para ambos. — Ela ergue o pulso e olha para o relógio.
— Pede um almoço bem gostoso pra gente? Essa menininha anda
me dando uma fome tremenda.
Olho para sua barriga com ternura, não vejo a hora de
conhecer o rostinho da filha dela, espero que puxe a beleza da mãe.
— Vou ver o que posso fazer. — Seguro a sua mão e a beijo.
— Agora pare de dar ordens e fique quietinha, você está audaciosa
demais.
— Só estou lutando por sua felicidade. — Dando de ombros
ela se afasta e se senta à minha frente.
Pobre Paolo, ele está bem ferrado com a esposa, se não
andar de acordo com o ritmo dela, vai enfrentar sérios problemas.

Masha acaricia a barriga, acabamos comendo um delicioso


Fettuccine com molho Marzano. Agora ela está mais calma e não
lembra em nada a mulher agitada que chegou neste escritório.
— Eu queria poder ter algum tipo de sentimento por saber da
morte do meu pai, mas apenas um vazio grande inunda meu
coração.
— Ele não merece que sinta nada além de desprezo — digo
friamente. — Demetrio mereceu a morte que teve.
— Andrei disse o mesmo, mas eu fico... — Ela não termina a
sua fala, pois Paolo entra no escritório de supetão.
— Foda-se ele! — Quando nota a presença da esposa
paralisa. — O que está fazendo aqui? — pergunta bruscamente.
— Oi, marido, como está? — Masha inclina a cabeça ao
observá-lo.
— Giorgio, eu preciso de um minuto com a minha esposa.
— Tudo bem. — Giorgio olha para mim, perguntando
silenciosamente se não vou me retirar.
Não falo nada, apenas levanto querendo dar privacidade ao
casal.
— Você fica — Paolo ordena. — Vá embora Giorgio e não
deixe ninguém entrar. — Os olhos dele fixam em mim. — O que está
acontecendo aqui?
— Um almoço. — Masha mostra a minha mesa de trabalho
com os restos da nossa comida.
— Não é um bom momento para seu sarcasmo. — Ele retira
o terno. — Por que está aqui? — pergunta secamente.
— Vim conversar com o Dom. — Paolo ergue uma
sobrancelha. — Assunto nosso. — Ela completa.
— O caralho que o assunto é de vocês. — Os olhos dele
procuram os meus. — O que conversou com a minha mulher?
— Nada demais, Paolo.
— Não vou perguntar mais uma vez.
— Pode parar. — Masha levanta. — Agora você não é o
Capo, não temos que dar satisfação do que conversamos.
— Eu sou a porra do Capo o tempo todo e quero saber o que
conversaram. — Os dois se encaram furiosos. — Você pode não
sofrer qualquer consequência, mas ele vai — aponta para mim.
— Não me ameace. — Ela grunhe.
— Calma, Paolo, já esqueceu que sua esposa está grávida?
— pergunto irritado. — Masha veio conversar sobre minha situação
com a sua irmã.
— Eu disse para não se meter nisso, vou resolver essa
merda.
— Você não manda em mim, não sou seus homens.
— Masha, não me provoque.
Puta merda! Era só o que faltava os dois entrarem em uma
briga na minha frente.
— Acalmem-se, Masha só está preocupada com Gio e eu
prometi que se tiver que me casar darei a minha vida por sua irmã e
a respeitarei a cada momento, tentarei ser um bom marido para ela
em qualquer ocasião.
Paolo me encara sério, ele sabe que minha palavra não tem
volta. Sei que está descontente com a possibilidade do meu
casamento com Giovanna, mas ele também sabe que eu irei
protegê-la de qualquer mal.
— Marque um encontro com seu pai, o meu advogado e
Giorgio hoje à noite na minha casa, quero resolver este assunto logo
— ordena irritado. — Vamos embora, “inferno vermelho”.
— Como assim, vamos embora? Vai pra casa agora? — Ela
o encara surpresa.
— Você acabou com o meu dia. — Pegando o seu terno ele
segura o braço dela. — Pare de ser irônica na frente dos meus
homens, não vou tolerar sua insubordinação — diz ao passar a mão
por sua cintura.
— O que posso fazer se consegue facilmente tirar meu juízo?
— Então, estamos empatados, porque você não alivia para o
meu lado.
— Um dia vou descobrir o motivo de te amar. — Ela revira os
olhos e faz o marido sorrir. — Nos falamos depois, Dom.
Ela sai do escritório e Paolo corre atrás da esposa me
deixando com um discreto sorriso. Eles brigam... brigam, mas no
final acabam se entendendo.
Que grande confusão caiu sobre nós, meu pai e Conrado
conseguiram promover o caos em nossas vidas.

Sempre me senti à vontade na casa do Paolo, é como se


fosse a extensão do meu próprio lar, só que hoje eu queria estar
bem longe daqui.
Entro na sala e não encontro ninguém, tudo está
estranhamente silencioso. Decido ir atrás da pessoa que pode me
passar todas as informações do que está acontecendo.
Chego na cozinha e encontro Nicolo sentado, bebendo algo,
enquanto tem a atenção no celular.
— Onde está Mirta? — Ele ergue os olhos na minha direção.
— Porra, que susto! — resmunga.
— Está distraído demais. — Lanço um olhar de reprovação
para sua displicência. — Então, cadê a dona Mirta?
— Foi na dispensa, já volta.
Assim como ele falou, Mirta entra na cozinha carregando
alguns pacotes e sorri ao notar minha presença.
— Que bom vê-lo, Domênico, está sumido.
— Muito trabalho. — Sento-me perto do Nicolo. — A casa
está silenciosa. — Começo a puxar assunto. — Paolo e Masha não
estão?
— No quarto. — Ela solta um sorrisinho. — Eles brigaram
quando chegaram e o chefe ficou cuspindo fogo, depois foi atrás
dela no quarto e não saiu mais de lá.
Como sempre os dois se entendem entre quatro paredes, é
sempre assim quando brigam, ao menos não vou ter que me
preocupar com eles em atrito.
Ouço a voz de Giorgio e vou ao seu encontro, feliz por ele
chegar antes do meu pai, seria estafante ter que lidar com ele
sozinho.
— Pensei que seu pai já estivesse aqui.
— Graças a Deus não chegou, quanto menos tempo perto
dele, melhor — digo ao seguir para o bar. — Quer uma bebida?
— Um conhaque está bom. — Preparo nossas bebidas. —
Você leu o contrato que seu pai assinou com Conrado?
— Não em detalhes, só sei que eles formalizaram um acordo.
— E não vai poder ser descumprido, Paolo terá que honrar a
promessa do pai, se ele não aceitar o casamento, todo o nosso clã
se levantará contra sua decisão, não se muda a palavra de um
homem, muito menos quando se coloca no papel essa promessa.
— Inacreditável tudo o que está acontecendo.
— É o nosso mundo.
O advogado chega, assim como meu pai. Peço para Nicolo
chamar nosso chefe, mas antes que ele possa subir as escadas,
Paolo aparece com o semblante nada amistoso.
— Vamos para o meu escritório — ordena e segue na frente
do nosso grupo.
Ele não está fazendo questão de esconder o quanto está
raivoso com essa situação e, pelo sorrisinho de satisfação do meu
pai, está adorando colocar o nosso Capo contra a parede.
Todos nos acomodamos ao redor da mesa do Paolo, ele
acende um cigarro e encara seu advogado.
— Encontrou alguma solução para essa porra toda? Esse
contrato é oficial?
— O contrato que o senhor Pizzorni possui é legítimo e está
registrado com a assinatura dele e do seu pai, não existe nada
ilegal.
— Claro que não existe, eu jamais forjaria um documento, fiz
tudo de acordo com a minha vontade e, a de Conrado para unir
nossas famílias. — Rapidamente meu pai se manifesta. — É uma
afronta você duvidar da autenticidade do contrato que apresentei.
— Olha aqui, seu... — Giorgio interrompe Paolo.
— Precisa respeitar o acordo, Paolo, se dois homens
assumiram um compromisso e colocaram isso no papel, temos que
fazer valer essa vontade. — Sua voz é serena, porém firme. —
Entendo que não esteja feliz com essa situação, mas Giovanna tem
que se casar com Domênico.
— Maldição! — Paolo amassa o cigarro quase intocado no
cinzeiro. — Uma pena meu pai estar morto, porque eu iria adorar
dar um tiro na cara dele agora mesmo. — Seus olhos vão para o
meu pai. — Ainda bem que me resta você. — Vejo o seu semblante
ficar tenso.
— Sei que não é louco de me matar, por que está frustrado
com o futuro casamento da sua irmã.
— Não duvide de mim.
— Vamos ter calma — Giorgio pede.
— A única possibilidade do casamento não acontecer é se o
senhor Pizzorni declinar do acordo — o advogado decreta.
— Eu quero esse casamento, Giovanna é do meu filho e
ponto final. — O rosnado do Paolo é tão profundo, que arrepia a
minha pele. — Quero que o casamento seja feito nesta primavera, já
esperei demais até ela fazer dezoito anos.
— Desista desse contrato — Paolo ordena. — Não vou
entregar a minha irmã para Domênico.
Não consigo conter a raiva, também não quero esse
casamento, mas ele fala de mim como se eu fosse um monstro, que
pudesse destruir a sua irmã, quando na verdade, eu vou cuidar dela
como se fosse ele.
— Ninguém me fará desistir — meu pai diz com prazer,
adorando ver o descontrole de Paolo.
— Porra, Francesco, seu filho é meu homem de confiança,
não quero imaginar ele fodendo a minha irmã amarrada, como faz
com as putas de Mattia.
Enrijeço o corpo, Paolo está passando dos limites.
— Ela será a esposa dele e meu filho fará o que quiser. —
Meu pai o afronta. — É assim que funciona e você não vai mudar
nada, se ele desejar vai amarrá-la o tempo necessário para poder
se satisfazer. Nossas esposas são nossas putas pessoais e ponto
final.
Paolo ergue-se de supetão pronto para avançar sobre meu
pai, mas eu e Giorgio impedimos o seu avanço.
— Filho da puta, eu vou cortar suas bolas e vou fazer você
comer.
— Pare de ser um fraco. — Meu pai altera a voz. — Mulheres
são objetos, sua irmã não é melhor que nenhuma das nossas
esposas, elas existem para nos servir, parir nossos herdeiros e mais
nada.
— Cala a porra da sua boca! — grito com ele.
— O que foi? Vai proteger as donzelas como nosso Capo
fracassado? Não criei filho para ser sensível, acho que não te treinei
o suficiente, devo reforçar que você nasceu para matar nossos
inimigos e foder qualquer mulher que esteja disponível?
Agora sou eu que perco o controle e avanço sobre ele
agarrando sua camisa, erguendo seu corpo até ficar na altura dos
meus olhos.
— Eu sei o que faço da minha vida e nunca mais encostará
suas malditas mãos em mim. — A minha voz é baixa, mas não
deixa de ser ameaçadora. — E a partir de hoje preste atenção como
fala da minha futura esposa, nenhum homem nesta maldita máfia irá
insultá-la e isso inclui o senhor. — Empurro-o e ele tomba para trás.
— Lamento ter pegado leve com você, virou um homem
desprezível, tão acovardado quanto o nosso Capo.
— Vai tomar no cu, Francesco — Paolo esbraveja. — Saia da
minha casa, eu não te quero mais aqui. — Sua respiração é
irregular. — Esse caralho de contrato vai ser cumprido, ainda que eu
odeie saber o quanto você e o filho da puta do meu pai foram
ardilosos.
— Seu pai era um legítimo homem de honra, coisa que você
não é. — Mais uma vez Paolo tenta avançar sobre ele, mas não o
deixamos perder o controle.
Tudo o que meu pai deseja é que Paolo faça algo que ele
possa iniciar uma guerra interna na Famiglia[9], para me colocar no
poder. Só que eu não vou permitir isso, por mais que hoje meu
amigo me odeie, eu vou sempre protegê-lo de qualquer cilada.
— Não suje suas mãos com ele, tudo o que meu pai deseja é
passar por cima de você. — Paolo me olha com raiva, ainda assim
consegue se controlar quando meu pai deixa o escritório.
— Romano, obrigado por analisar tão rapidamente esse
maldito contrato — agradece ao advogado.
— Apenas fiz o meu trabalho, chefe. — Ele acena e vai
embora.
— Precisa ter cuidado, Paolo. — Giorgio o alerta. — Sei que
você é um homem protetor com nossas mulheres, mas estamos no
meio de abutres como Francesco. — Ele olha para mim
preocupado. — Como Dom falou, o pai dele e outros conselheiros
estão loucos para te derrubar.
— Que tentem, todos morrerão e não é uma ameaça vazia.
— Paolo encara Giorgio. — Francesco e Mattia estão na fila da
minha ira, eu vou acabar com eles.
— Faça esse serviço de maneira discreta. — Giorgio me fita.
— Meus parabéns, Domênico, você teve muita sorte, Gio é uma
menina maravilhosa, cuide dela com muito zelo.
— Não serei como seu filho. — Gosto de Giorgio, mas não
posso deixar de apontar a merda de filho que tem.
— Bom saber disso — diz com o rosto tenso. — Se não
precisarem mais de mim, estou de saída.
— Vá. — Paolo volta para sua cadeira e pega outro cigarro.
— Preciso conversar a sós com Domênico.
Giorgio acena e deixa o escritório apressado, fico parado com
as mãos nos bolsos da calça, esperando para saber o que Paolo vai
falar.
— Sente-se, temos muito que conversar.
Nossos olhos se encontram e vejo o quanto ele está odiando
esta situação.
Coloco a minha expressão neutra no rosto, camuflando os
sentimentos contraditórios que estão me consumindo neste
momento.
Sento-me à frente de Paolo e espero que se acalme, sei que
está no limite e não vou empurrá-lo além do que possa tolerar.
Ele acende um cigarro e vai até o bar se servir de uma
bebida. Mantenho o silêncio, aguardarei calmamente para saber o
que vai falar.
— Quer beber algo? — pergunta ao despejar duas pedras de
gelo no copo.
— Um conhaque seria bom — decido manter a bebida que
dividi com Giorgio.
Ele serve nossas bebidas e coloca a minha sobre a mesa,
enquanto senta-se na sua cadeira.
— Como não temos para onde fugir, vamos ter que nos
acertar sobre o seu casamento com Gio — Paolo fala irritado. —
Não vou mentir que estou puto por saber que preciso entregá-la a
você. — Encaro seus olhos, também raivoso por ver o quanto ele
me acha inapropriado para sua irmã. — No entanto, não posso
fechar os olhos que você é uma opção que me trará tranquilidade,
ao seu lado Giovanna estará segura.
— Claro que estará segura, não sou um monstro, Paolo —
digo chateado. — Jamais vou ferir sua irmã, cuidarei dela como se
fosse minha irmã Ambra. — Ele me fita com intensidade.
— Confio em você, Domênico, só não gosto de saber o que
irá acontecer quando estiver intimamente com ela. — Olho para o
meu copo sem saber o que respondê-lo, em parte também não
gosto de pensar nesse evento. — Não quero que a amarre,
Giovanna é sensível demais para ter o seu lado bruto.
Inspiro fundo, contendo a vontade de gritar com ele. Jamais
vou oferecer meu lado duro a ela, tentarei ser o mais tranquilo
possível. Sei o quanto é inocente e que precisa da parte mais
tranquila da minha personalidade.
— Só vou tocá-la quando ela quiser — digo com serenidade.
— Giovanna será a minha esposa, ela não é uma mulher qualquer
que encontro na noite para foder.
— Puta que pariu! — esbraveja. — Você vai foder a minha
irmã, só posso estar em um pesadelo. — Bate com força o copo
sobre a mesa.
— Pare de pensar nessa parte, tente focar no fato que ao
meu lado Giovanna estará protegida. — Não vou pensar agora no
que irá acontecer depois do casamento.
Giovanna tornou-se uma mulher exuberante, não posso
negar. Só que ela é irmã do meu melhor amigo e pensar nela na
minha cama, apesar de tentador, não deixa de ser algo apreensivo.
Paolo descansa a cabeça contra o encosto da poltrona e
fecha os olhos. Entendo o seu desconforto, ele me conhece mais do
que qualquer outra pessoa. Já dividimos inúmeras mulheres ao
mesmo tempo, justamente por isso ele sabe das minhas limitações
com relação ao toque.
Sei que pensar na sua irmã comigo é perturbador, eu também
sentiria o mesmo se fosse Ambra nesta situação, no entanto, ele
precisa entender que Giovanna será a minha esposa e eu vou tratá-
la com o respeito que merece.
— Amanhã vou falar com minha irmã, mas antes preciso que
me prometa que irá ser gentil com ela. — Para de falar e faz uma
careta.
— Paolo, apenas confie em mim como sempre fez.
Ele assente, claramente sentindo-se derrotado com toda essa
situação. O destino nos pregou uma peça e, teremos que lidar da
melhor maneira possível com tudo o que virá pela frente.

Coloco uma blusa rapidamente e calço uma sapatilha antes


de descer para falar com Paolo. O meu coração está acelerado, tê-
lo aqui no final da tarde, sem avisar antecipadamente que viria, não
pode ser um bom sinal.
As minhas suspeitas se concretizam quando vejo Masha ao
seu lado, ela não estaria presente se o pior não tivesse acontecido.
Todo o meu corpo gela quando chego ao final da escada e Paolo me
encara.
Seguro a vontade de chorar, não posso demonstrar a todos o
quanto estou apavorada, por já saber que ele escolheu meu futuro
marido.
— Pode falar de uma vez, eu estou preparada — digo já
revelando que sei o motivo da sua visita.
— Vamos nos sentar. — Não é uma pergunta, ele está me
dando uma ordem e eu preciso cumpri-la.
Olho para a minha mãe, querendo identificar na sua
expressão se ela já sabe quem será meu marido, mas pela maneira
que me fita, também está no escuro.
— Não vou me prolongar, porque não gosto de enrolação —
meu irmão diz ao apoiar os cotovelos nos joelhos e entrelaçar os
dedos. — Na sua festa de dezoito anos eu fui surpreendido com
uma informação. — Não faço nenhuma pergunta. — Francesco
Pizzorni formalizou um contrato com nosso pai. — O meu coração
esmurra com tanta força meu peito, que sinto medo de todos
ouvirem. — Aquele filho da puta nem morto nos deixa em paz. —
Sinto a raiva de Paolo fluir como ondas até onde estou.
— Não fale assim do seu pai, deve respeito à memória dele.
— Nossa mãe o recrimina.
— Respeito? — a questiona irritado. — Quer que eu respeite
um homem desgraçado que te batia toda semana e me torturava
das piores maneiras possíveis? — Ela enrijece a expressão do
rosto. — O filho da puta do seu marido entregou Fiorella para um
cretino, só porque a bambina não escondia o quanto odiava ele.
— Conrado não foi o melhor homem do mundo, mas está
morto e devemos respeitar sua memória.
— Foda-se a memória dele, eu quero que arda no inferno
depois de tantas maldades.
— Paolo, que acordo meu pai fez com o Pizzorni? —
pergunto apreensiva.
Meu irmão não responde de imediato, ele levanta e passa a
mão pelo cabelo de maneira agitada.
Olho para Masha, mas ela parece tranquila, não vejo nenhum
tipo de apreensão em seu olhar.
Se ela está tão calma, por que Paolo parece a ponto de
explodir?
— Nosso pai acordou que, após seu aniversário de dezoito
anos você fosse entregue para Domênico.
Sinto meu corpo congelar, só posso estar dentro de um
sonho bem ruim, nada disso pode ser real.
— Ele prometeu Giovanna para Dom? — A minha mãe
pergunta tão surpresa quanto eu.
— Exatamente. — Paolo solta uma pesada respiração. —
Pedi para o meu advogado analisar o contrato e ele disse que tudo
foi feito de maneira legal. — Seus olhos buscam os meus. — Não
posso fazer nada, terá que se casar com Dom e, o pai dele exige
que seja o quanto antes.
Começo a tremer, nem nos piores cenários imaginei que meu
destino seria passar o resto da vida com Domênico.
Não vou poder aceitar isso, de todos os homens da máfia ele
seria a minha última escolha, preciso encontrar uma maneira de
fugir antes que seja tarde demais.
— Domênico é um homem de confiança, você ficará bem,
filha. — Minha mãe bate na minha perna sorrindo — Avise ao
Pizzorni que vou começar a providenciar os preparativos do
casamento amanhã mesmo. — Ela olha para a nora. — Vai nos
ajudar, Masha?
Antes que ela possa responder algo, levanto perdendo meu
controle.
— Não vou me casar com ele! — digo segurando o choro. —
Você precisa me livrar desse acordo. — Paolo me olha surpreso. —
Prefiro a morte a me casar com Domênico.
— O que é isso, Giovanna? — Minha mãe me recrimina com
o olhar. — Dom é um dos melhores partidos do nosso clã, tem uma
fila de pretendentes atrás dele.
— Então, que ele fique com qualquer uma delas, eu não vou
me casar. — Saio da sala e sigo correndo para o meu quarto
deixando as lágrimas caírem.
Não vou aceitar esse casamento, jamais passarei a vida com
um homem que amarra e bate nas suas mulheres na hora do sexo.
Sinto meu estômago embrulhar quando o imagino amarrando
as minhas mãos e ferindo meu corpo, para poder se satisfazer na
cama.
Corro direto para o banheiro e me ajoelho na frente do vaso
ao sentir a minha bile subir por minha garganta.
Jogo todo o conteúdo do lanche da tarde fora, enquanto as
piores imagens passam pela minha cabeça ao pensar em ficar
sozinha com Domênico.
— Meu Deus, Gio, o que está acontecendo? — Masha para
atrás de mim e segura meu cabelo enquanto lágrimas cobrem meu
rosto ao continuar vomitando.
Quando não tenho mais nada para expelir, ela me ajuda a
levantar e eu vou para a pia lavar a boca e escovar os dentes.
— Desde quando sabia disso? — pergunto me sentindo
traída.
— Paolo me contou no domingo. — Não consigo esconder a
mágoa. — Pare de me olhar assim — pede ao passar a mão pelo
cabelo. — Só não te falei nada imediatamente porque ele disse que
ia tentar reverter o acordo. Então, eu não quis te preocupar antes do
tempo, resolvi conversar logo com Dom, para saber o que ele
achava de tudo isso enquanto esperava para saber se o casamento
de vocês realmente teria que ser concretizado.
— E o que ele acha dessa loucura?
— Domênico está tranquilo e me prometeu que irá ter o maior
cuidado com você. — Solto um sorriso amargo.
— Cuidado. — Balanço a cabeça e saio do banheiro.
Jogo o meu corpo sobre a cama e seco as lágrimas que
teimam em cair.
— Giovanna, está duvidando do Dom? Você o conhece mais
do que eu, sabe que ele é um homem de confiança, é o melhor
amigo do seu irmão, jamais te faria mal.
— Na parte que eu o conheço melhor que você está coberta
de razão — afirmo com ironia. — Conheço tanto que sei que ele
agride suas parceiras. — Masha abre a boca incrédula.
— O que disse?
— Você ouviu bem. — Sento-me na cama e abraço um
travesseiro. — Paolo sabe o que ele faz, por isso está tão
descontente.
— Paolo não sabe, eu tenho certeza, caso soubesse ele já
teria me dito.
— Claro que não falaria, os homens se protegem e Domênico
é o melhor amigo dele, são como irmãos.
— O seu irmão tem as três irmãs acima de qualquer coisa, se
Dom fosse um risco para você, ele não aceitaria esse casamento.
— Ele não tem escolha, Masha, precisa cumprir o contrato ou
uma guerra é instaurada no nosso clã.
— Como sabe que Domênico é violento com suas parceiras?
Você já viu algo suspeito?
— Eu ouvi uma vez a conversa dos homens no escritório do
meu pai.
Conto para ela como tudo aconteceu e deixo bem clara a
parte que todos riram ao falar sobre Domênico prender e bater nas
suas mulheres. Quando termino de falar, Masha me olha de maneira
estranha.
— Que cara é essa? — pergunto desconfiada sua reação.
— É que... — Ela morde o lábio inferior parecendo estar sem
graça. — Ai meu Deus, não sei como te dizer isso.
— Fala logo, Masha — peço sem paciência.
— Você já viu algum filme pornô? — Arregalo os olhos
chocada.
Jamais assistiria algo assim, só de pensar em ver duas
pessoas em um momento íntimo eu sinto uma intensa vergonha.
Não nego que sei o que acontece entre um casal, algumas
colegas da escola começaram a transar cedo e não sentiam
vergonha em contar tudo o que acontecia na cama, mas eu nunca vi
nada de verdade e nem quero ver. Sempre tive uma criação rígida e
isso acabou me deixando um pouco travada quanto a sexo.
Uma única vez eu olhei a foto de um modelo nu no celular da
minha amiga e foi um pouco assustador verificar o tamanho das
partes íntimas dele.
— Claro que não. — Imediatamente nego.
— Então... — Masha se senta ao meu lado. — Eu já vi muitos
filmes, sabe?
— O quê?! — pergunto perplexa. — Paolo sabe disso?
— Claro que sim. — Um sorrisinho sacana se espalha por
sua boca. — Foi graças a esses filmes que eu não fiquei
encabulada com seu irmão na primeira vez, sabia tudo o que ia
acontecer, ainda que eu tivesse medo de doer, porque dói, não vou
negar.
Fico apreensiva e constrangida com todas as suas
informações.
— Dói em que nível? — Não contenho a curiosidade.
— Um nível que você acha que não vai até o fim, mas aí você
vai e fica querendo ir novamente porque sabe que vai parar de doer
e ficar bom. — Masha sorri e suas bochechas ficam vermelhas. —
Quando parar de doer, você vai querer toda hora, mas claro que
isso foi comigo, cada mulher tem sua própria experiência.
— Ai meu Deus, Masha! — Cubro o rosto e a ouço sorrir.
— Sexo é muito bom, Gio, e existem várias formas de sentir
prazer, uma delas é usando restrições. — Ergo os olhos até os dela
intrigada. — Esse certamente é o caso do Domênico, ele deve usar
algo nas parceiras para evitar que elas o toquem na hora da transa.
Você bem sabe que ele tem problemas por conta das agressões do
pai.
— Claro que sei sobre isso, tanto que raramente me
aproximo fisicamente dele, só que na conversa que ouvi teve uns
detalhes depreciativos e Domênico não negou nada.
— Bem... no sexo perdemos um pouco o controle, é algo
intenso e mesmo sabendo que a pessoa não gosta de ser tocada,
fica meio que impossível não tentar segurar seu parceiro, acredito
que seja por isso que ele prende as mulheres. — Agora que ela
levantou essa possibilidade, começo a ver a situação por outro
ângulo. — E quanto a bater, bem... — Mais uma vez seu rosto fica
rosado. — O bater não é agredir como Carmelo fez com sua irmã, é
só algo do sexo. E não leve a sério as conversas mais pesadas,
homens da máfia são sujos, Dom não pode mudar isso, mas não
significa que ele concorde com certas agressões.
— Paolo te bate? — Ela arregala os olhos e agora até seu
pescoço fica vermelho. — Dio Santo! — exclamo perplexa. — Não
acredito que meu irmão te bate.
— Giovanna, você vai gostar de receber uns tapas do
Domênico, acredite em mim.
— Claro que não vou gostar, você já viu o tamanho da mão
dele? Com um só tapa ele me quebra ao meio. — Masha bota as
pontas dos dedos sobre os lábios escondendo um sorriso.
— Amiga, creio que não é a só mão que é grande. — Levo
um tempo para entender o que fala, quando compreendo fico
envergonhada. — Olha, confie em mim quando afirmo que Dom não
é um agressor, ele só tem práticas sexuais diversificadas, mas isso
pode ser ajustado entre vocês, basta apenas conversar com ele.
— Nunca que falaria algo assim para Domênico. — Já sinto a
vergonha me consumir. — Eu tenho medo de não ser apenas uma
prática sexual, Masha, pelo tom da conversa que ouvi, ele vai além
de apenas uns tapas. — O rosto dela fica sério.
— Não consigo ver Dom como um homem violento em
relação a uma mulher. Continuo achando que ele gosta apenas de
um sexo com mais impacto.
— Eu não quero pagar para ver isso, não me casarei com
ele, ou Paolo desfaz esse acordo ou eu vou fugir. — Ela arregala os
olhos.
— Está louca? — Levanta-se da cama nervosa. — Se fugir
destrói a sua vida, não pode fazer isso.
— Masha, não vou arriscar casar com Domênico, ele sempre
foi frio, não sei o que esperar dele.
— Presta atenção. — Ela segura a minha mão. — Vou ter
uma conversa honesta com meu marido, Paolo não vai conseguir
mentir para mim. Se eu encontrar algum sinal de que Dom possa
realmente ser agressivo, vou causar uma guerra no clã de vocês,
mas esse casamento não sai — diz determinada. — Apenas confie
em mim.
— Eu confio. — Masha me puxa para um abraço.
De fato, eu confio nela de olhos fechados, mas será que
Paolo vai trair o amigo?
Sempre soube que o fatídico dia que recebesse a notícia do
meu casamento me causaria desespero, só não pensei que o
cenário ao qual fui arremessada me fizesse ter tanto temor.
Adiei por uma semana o meu encontro com Giovanna, mas
não posso mais evitar o futuro que teremos que dividir juntos. Pedi a
Paolo que marcasse um horário com sua mãe para que eu pudesse
conversar com minha futura esposa.
O nosso destino está selado e nenhum de nós dois pode fugir
do acordo que nossos pais fizeram.
A governanta da casa da minha futura sogra abre a porta, ela
acena e pede que eu entre. Agradeço e sigo para a sala, sendo
imediatamente recepcionado efusivamente por Martina.
— Domênico que prazer recebê-lo aqui.
— O prazer é todo meu. — Beijo sua mão. — Espero não
estar incomodando.
— Claro que não está — diz sorrindo. — Silvia, vá chamar
Giovanna, diga que Domênico está aqui.
— Sim, senhora. — A mulher se afasta.
— Sente-se. Quer beber algo?
— Não, muito obrigado. — Abro meu terno e me acomodo no
sofá.
— Eu estava pensando que podíamos marcar logo o noivado
de vocês, acho que não precisamos esperar mais tempo.
— Concordo, podemos ver uma data assim que eu comprar o
anel de compromisso.
— Que adorável — diz sorrindo. — Estou tão feliz com o
casamento de vocês.
A minha atenção vai para o topo da escada, onde Giovanna
surge com uma blusa preta justa de gola alta e mangas compridas,
uma calça jeans clara modela seu corpo cheio de curvas e os
cabelos castanhos longos caem por seus ombros.
Essa delicada mulher em breve será a minha esposa e isso é
algo bem perturbador.
— Venha conversar com seu noivo, filha. — Martina levanta
feliz e eu a acompanho. — Estava conversando com Domênico
sobre marcar logo a data do noivado, não podemos perder tempo —
Gio não diz nada, apenas fica parada na frente da mãe. — Vou
deixar vocês a sós, se precisarem é só chamar. — Ela beija o rosto
da filha e se afasta.
Giovanna não sai do lugar, claramente ela está
desconfortável com a minha presença. Entendo sua insegurança,
ela me conhece desde que nasceu e sempre me viu como alguém
da família, nenhum de nós imaginou que um dia ela seria a minha
prometida.
— Como vai, Giovanna? — pergunto extremamente
desconsertado.
— Bem. — Ela não se prolonga na resposta.
— Vamos nos sentar? — Aponto para a poltrona perto do
sofá.
Evitando meu olhar caminha até a poltrona e senta-se, mas
seus olhos ficam focados nas mãos que entrelaça sobre o colo.
Puta que pariu! Não pensei que esse primeiro encontro fosse
ser tão constrangedor.
— É... — Tento encontrar o que falar. — Sei que estamos em
uma situação inusitada, mas como necessitamos respeitar as
tradições, não podemos fugir do nosso destino. — Gio se mantém
em silêncio e não se pronuncia. Merda! — Pela sua postura, não
gostou de saber que serei seu futuro marido.
Ela lambe os lábios atraindo meus olhos para sua boca
volumosa.
— Não quero me casar nem com você, nem com outro
homem — assume ao me encarar. — Meu sonho era estudar,
trabalhar e ter uma vida comum, como todas as minhas amigas.
A dor em seus olhos me deixa incomodado, ela está odiando
saber que vai passar a vida ao meu lado.
— Entendo seu sonho, eu também tenho alguns impossíveis
de se realizarem. — Tento aliviar a nossa conversa. — Nascemos
na máfia e desde que chegamos ao mundo estamos sujeitos às
regras do nosso clã.
— Eu sei disso — fala triste.
— Então, acho que precisamos tentar amenizar ao máximo o
que necessitaremos fazer a partir de agora. — Sento-me na ponta
do sofá, me aproximando mais um pouco dela. — Giovanna, eu
estou disposto a tornar o nosso casamento o mais agradável
possível, quero que saiba que te protegerei de tudo e serei um
marido justo e que te respeitará.
Ela inspira fundo e vejo um brilho intenso no seu olhar que
indica que ela quer chorar.
Ma che pale! [10]O medo que sente quando me encara é
palpável, não sei o que fiz a ela, mas está nítido que Giovanna
prefere a morte a ter que ficar ao meu lado.
Como vai ser nosso casamento se ela me teme? Não posso
ter uma esposa que não tolera a minha presença.
Esse casamento não está iniciando nada bem, estou
começando a achar que estou prestes a entrar em um
relacionamento que só irá me causar dor de cabeça.

Estou tremendo tanto que não consigo soltar as minhas


mãos. A frieza de Domênico me assusta, ele é sempre tão centrado,
seus olhos azuis não possuem sentimentos. Quando meu pai era
vivo, dizia que Dom era um dos melhores torturadores da máfia,
uma vez que ele não perdia o controle em momento nenhum,
mantinha a voz calma em qualquer circunstância.
Isso rendeu a Paolo algumas punições, pois meu irmão é
muito passional, ele não esconde o seu lado cruel. Meu pai sempre
desejou que o filho fosse tão contido quanto Dom, pois na hora de
ameaçar um inimigo a frieza faz total diferença.
Mais cedo Masha me ligou para tentar me acalmar, sabendo
o quanto estaria nervosa com o encontro que teria com meu futuro
noivo. Ela cumpriu o que prometeu e conversou com Paolo. De
acordo com ela, Dom não abusa das suas parceiras e, apesar de
ela me garantir que meu irmão foi sincero ao afirmar que posso
confiar em Domênico, eu não consigo deixar de me sentir reticente.
Eu deveria ficar mais calma, só que não consigo. Domênico
em si me assusta, ele exala perigo. Ainda que diga que irá me
proteger, eu não consigo deixar de temer ficar a sós com ele.
Não posso negar que o acho atraente, seria uma mentirosa
se dissesse o contrário. Domênico tem uma aparência aristocrática,
com seu nariz afilado, rosto comprido, lábios rosados pequenos,
olhos extremamente azuis e o cabelo na altura do ombro com
mechas claras.
Seu corpo é esguio e com músculos firmes, ele tem piercings
no nariz e orelha, fora às diversas tatuagens que se espalham por
seu corpo, o deixando com um ar rebelde.
O seu estilo de roupa é outra parte que chama atenção, no
trabalho geralmente se veste com ternos de três peças e na
privacidade suas roupas pretas mostram que ele é um legítimo
roqueiro.
A verdade é que Dom é um mafioso moderno e, certamente
atrai muitas mulheres com esse seu jeito frio e misterioso.
Só que eu o conheço bem e sei do que é capaz quando
precisa lidar com os problemas da máfia. Ele está longe de ser
gentil, é um dos nossos homens mais letais, isso me faz temer o
que pode ser capaz de fazer caso se aborreça comigo.
— Não quero me casar com você — digo com sinceridade. —
Mas decidi aceitar meu futuro, ainda que sinta vontade de fugir. —
Ele arregala os olhos. — Eu prometi à Masha que não fugiria, sei
das consequências de um ato assim e não quero colocar meu irmão
em uma situação que tenha que me punir gravemente porque não
assumi minhas responsabilidades.
— Você se transformou em uma mulher centrada, isso é bom.
— Preciso me adaptar a trágica realidade que nasci. —
Domênico abaixa os olhos, parecendo pensar em algo.
— Odeia tanto assim saber que vai se casar comigo? — Fico
surpresa quando vejo seus olhos demonstrarem ressentimento, ele
parece ofendido.
— Dom, eu odeio não poder escolher o meu marido. — Com
um discreto gesto ele assente.
— Vou marcar a data do nosso noivado, se tudo correr bem
eu quero que seja neste próximo sábado.
— Tudo bem. — Não me manifesto contra.
— Pode me fornecer um dos seus anéis? Preciso da medida
certa. — Olho para a minha mão e pego o anel que está no meu
dedo anelar.
— Aqui. — Estendo a joia para ele.
— Obrigado. — Agradece ao pegar o anel, tocando a minha
pele no processo, me causando um estranho e inesperado arrepio.
— Vou providenciar um agora mesmo, espero que goste.
— Não tenho preferência por nada, escolha o que achar
melhor. — Ele me encara por um instante, logo em seguida levanta
e eu faço o mesmo. — Assim que eu confirmar a data do noivado
peço para Paolo te avisar.
— Combinado. — Fico estática quando ele se aproxima e
segura a minha mão.
— Foi um prazer te rever. — Prendo a respiração ao sentir
seus lábios tocando o dorso da minha mão. — Nos vemos em
breve.
Não me movo quando ele se afasta com sua postura segura
e firme. Quando ouço a porta bater, desabo sobre a poltrona
sentindo minhas pernas perderem a estabilidade.
Vou passar o resto da minha vida ao lado dele e sequer
consigo controlar as minhas emoções na sua presença.
O que vai ser de mim?
Os próximos dias passaram em uma velocidade alucinante,
eu só segui o fluxo dos meus encontros com minha mãe, irmãs e
Masha para decidir os rumos do meu casamento.
A mesma equipe que preparou o casamento do meu irmão foi
colocada à minha disposição e, com toda a competência deles,
estão preparados para fazer o meu casamento em tempo recorde.
O carro em que estou com a mamãe entra na imensa
propriedade dos pais do Domênico. Pelo que fui comunicada, o
senhor Pizzorni não abriu mão do noivado ser na sua casa. Paolo
não gostou da escolha do lugar, mas ele teve que acatar o pedido
do meu futuro e nojento sogro.
Estou com o coração acelerado quando somos
recepcionadas por um mordomo. O homem nos encaminha para a
sala, onde encontramos Domênico e toda a sua família.
Seus olhos rapidamente fixam nos meus, pela sua postura
rígida, não está feliz com esse encontro.
— Sejam bem-vindas. — Concetta, mãe de Domênico, nos
cumprimenta.
— Como vai, Concetta? — Minha mãe troca dois beijos com
ela.
— Feliz demais com o casamento dos nossos filhos. —
Ambas dividem um sorriso cúmplice.
— Boa noite. — Olho para trás e vejo Paolo entrar de mãos
dadas com Masha. — Espero que o jantar já esteja sendo servido,
não quero me demorar muito. — Seu olhar vai para Francesco.
Masha puxa a sua mão, claramente descontente com a sua
falta de educação, mas o marido a ignora, todos sabem que ele
odeia o senhor Pizzorni.
— Paolo, é uma honra tê-lo na nossa casa. — Concetta tenta
ser agradável. — Eu estava pensando em conversarmos um pouco
antes do jantar.
— Esqueça essa parte, Concetta, estou aqui porque seu
digníssimo marido fez questão do noivado ser na casa dele. — Sem
esconder a raiva Paolo encara Francesco, que apenas o observa
com um discreto sorriso, parecendo gostar da sua raiva. — Mande
servir o jantar imediatamente — ordena sem esconder o quanto está
contrariado.
A sala fica toda em silêncio, ninguém se atreve a afrontar o
líder do clã. É nesse momento silencioso que Chiara e Fiorella
chegam com seus respectivos maridos.
O meu corpo estremece quando vejo Carmelo de mãos
dadas ao lado da minha irmã. Eu não sei como ela consegue aturar
a presença dele, Ella é forte demais, no seu lugar eu já teria
cometido uma loucura.
Assim como Paolo pediu, a senhora Pizzorni ordena que a
mesa seja posta. Enquanto aguardamos o jantar algumas bebidas
são servidas e eu pego logo uma taça de vinho, preciso relaxar para
não surtar com a iminência do meu noivado.
Os dois irmãos do Domênico, me cumprimentam, assim
como Ambra, a sua irmã caçula. Ela sempre foi uma menina
agradável, em todas as ocasiões que nos encontramos
conversamos bastante, ela é muito alto astral.
— Tenha calma. — Masha me alerta quando vou para a
segunda taça. — Não quero você embriagada.
— Relaxa. Eu não vou me embebedar, apesar de querer
muito isso. — Eu a tranquilizo.
— Sei que não está sendo fácil tudo o que está acontecendo,
mas você precisa manter a serenidade.
— Impossível — digo ao beber mais um pouco do vinho. —
Você casou por amor, esse não é o meu caso. — Não quero entrar
em atrito com ela, no entanto Masha jamais saberá o que estou
passando. — Apenas minhas irmãs sabem o que estou sentindo. —
Vejo a mágoa no seu olhar, o que me faz rapidamente me
arrepender de ter tido essas palavras. — Desculpa — peço com
sinceridade. — Não quis te magoar, só estou passando por um
momento de muita tensão.
— Tudo bem, você tem razão. — Ela não tem tempo de falar
mais nada, pois Fiorella se aproxima de nós.
— Como está? — pergunta ao tocar meu braço.
— Conformada com o meu destino — digo de maneira fria. —
Nascemos condenadas, essa é a nossa realidade. — Vejo a
compreensão em seu olhar.
— Fique feliz, Gio, o Domênico será para você o que meu
marido nunca será para mim. — Os olhos dela ficam tristes e eu
sinto vontade de encerrar agora mesmo a vida de Carmelo.
— Você ficará livre dele — falo baixinho ao abraçá-la.
— Será? — Ela me olha incrédula.
A nossa conversa não vai além, pois o jantar é anunciado.
Todos começam a caminhar para a mesa. Sigo o comboio, mas sou
interceptada por Domênico.
Ele interrompe meus passos e deixa todos os convidados
irem a frente.
— Podemos conversar um segundo?
— Claro que sim — digo ao fitar seus olhos.
— Meu pai certamente será indiscreto, ele vai provocar não
só Paolo como nós dois, eu preciso que você fique firme e ignore
tudo o que ele falar, deixe em minhas mãos controlar qualquer
desconforto que ocorrer.
— Eu estou firme desde que recebi minha sentença, não se
preocupe comigo. — Vejo o seu rosto ficar tenso. — Podemos nos
juntar aos outros?
— Claro. — Domênico faz um gesto para que eu vá a frente e
sinto sua presença imponente logo atrás de mim.
Com seu típico cavalheirismo, puxa a cadeira para que eu
possa me sentar. Faço meu papel de mulher educada e agradeço a
gentileza.
Sei que não deveria estar com raiva dele, Dom também é
aprisionado ao sistema que nascemos, ainda assim não consigo
controlar meu rancor com toda a situação que estamos vivendo.
A entrada é servida enquanto uma conversa fria se desenrola
na mesa, em especial entre minha mãe e Concetta, as duas
realmente parecem felizes com o meu casamento.
Paolo está na ponta da mesa oposto a Francesco, os dois
não param de trocar olhares raivosos, meu irmão está tão possesso
com meu sogro, que esqueceu até mesmo de Carmelo, que come
tranquilamente uma torradinha coberta com creme à base de
gorgonzola.
Neste momento a minha fome é zero, só consigo beber o
vinho e sentir meu corpo ficar leve. Quando o prato principal é
servido, sinto meu estômago revirar, não quero comer nada, apenas
preciso voltar para a segurança do meu quarto e deixar para trás
este pesadelo.
— Você precisa comer — ouço a voz de Domênico. — Até
agora não provou nada.
— Estou sem fome — falo baixo.
— Gio, não pode ficar o jantar todo sem se alimentar. — Ele
pousa as suas mãos sobre a mesa e eu vejo o quanto elas são
grandes.
Neste momento a minha mente vai para a conversa que tive
com a Masha e, sinto meu rosto esquentar ao lembrar do
comentário dela de outras partes do seu corpo serem tão grandes
quanto as mãos.
Ergo meus olhos e vejo Domênico me encarando de uma
maneira estranha, como se ele pudesse ler a minha mente. Fico
ainda mais constrangida e foco a minha atenção no meu prato, pego
o garfo rapidamente na intenção de tentar comer alguma coisa.
— Não vou prometer comer muito, mas experimentarei um
pouco — aviso querendo fugir do seu olhar.
— O.k. — concorda e volta a pegar o seu garfo.
— Vocês já conseguiram fechar uma data para o casamento?
— Concetta pergunta.
— Giovanna quer durante o verão, estamos pensando na
possibilidade de um casamento ao ar livre — minha mãe responde.
— Quero o casamento ainda na primavera, sua filha não dita
a data aqui, isso quem faz sou eu. — O pai do Domênico se
manifesta. — E quero que minha esposa e minha filha participem de
todos os preparativos, elas vão dizer exatamente como eu desejo o
casamento.
Paraliso o garfo que estava levando à boca e encaro o
homem asqueroso que fará parte da minha família. O seu ar
autoritário é repugnante, Francesco tem um prazer doentio em ser
uma pessoa desagradável.
— Giovanna — a voz de Paolo quebra o silêncio
constrangedor da mesa. — Qual a data que você pensou para o
casamento?
— Pensei na segunda semana de julho.
— Ótimo, veja apenas o dia certo, para todos estarem livres.
— Os olhos de Paolo vão para Francesco. — Quem manda no
caralho do casamento é ela, as únicas pessoas além de Gio que
irão opinar, será eu ou o noivo.
— Não é assim que funciona, Paolo — Francesco contesta.
— É assim que vai funcionar a partir deste momento —
afirma ao pressionar o indicador contra a mesa. — Se você não está
feliz com isso, lamento. — Exibindo um olhar satisfeito ele se
recosta contra a cadeira e experimenta seu vinho ao manter a
atenção no homem visivelmente enfurecido do outro lado da mesa.
— Você se acha o dono do mundo, não é mesmo? —
Francesco pergunta.
— Pai, pare. — Domênico tenta acalmar os ânimos.
— Cale a porra da sua boca, eu estou na minha casa, falo
como eu quiser — grita com o filho. — Não pode agir de acordo com
os seus desejos, Paolo, eu tenho direitos pela nossa lei e eu vou
dizer quando o casamento vai acontecer.
— Não vai, não — Paolo diz com um sorriso debochado.
— O que está tramando? — Francesco levanta e espalma as
mãos sobre a mesa.
— Sente-se. — A voz do meu irmão é fria.
— Você não vai me dizer o que fazer dentro da minha casa.
— Eu falei para sentar, porra! — ele bate na mesa com tanta
força que faz a taça de água ao lado de Chiara tremer e cair no
chão. — Não vou pedir novamente, Francesco, se você não sentar
sua bunda velha agora mesmo, eu vou arrancar um dos seus
dentes, na frente de todos aqui para servir de lição, que ninguém
nesta mesa deve erguer a voz para mim ou contestar o caralho das
minhas ordens.
Relutantemente Francesco se senta, ele sabe bem que Paolo
não pensaria duas vezes para cumprir sua promessa.
— Concetta e Ambra, fiquem à vontade de participarem dos
preparativos do casamento, Giovanna ficará feliz em ter vocês, mas
o que ela disser é ordem. Absolutamente ninguém além de mim e o
noivo terão autorização para interferir no que minha irmã decidir.
As duas apenas assentem, sem esconder o quanto estão
com medo dele.
— Domênico, onde está o anel da Gio? O jantar acabou,
coloque logo o maldito anel no dedo da minha irmã, para que eu e
minha família possamos ir embora.
Seco a mão no meu vestido, estou nervosa, não só pela
oficialização do noivado, mas também por causa da briga. Eu sabia
que seria uma noite difícil, só não imaginava que pudesse terminar
com uma ameaça de muito sangue.
— Giovanna, pode se levantar? — Dom pergunta com
gentileza. — Eu espero que goste, Masha me ajudou a escolher —
diz baixo e abre a caixa de veludo.
É um esplendoroso solitário, com um diamante vistoso em
destaque. A joia é linda, deve ter custado uma pequena fortuna.
Segurando a minha mão, ele desliza lentamente o anel por
meu dedo. Encaro o brilho do diamante e sinto meus olhos ficarem
nublados pelas lágrimas.
Que noivado frio e cheio de conflitos, tudo está ao avesso do
que eu queria poder ter neste momento.
— É lindo, Domênico, muito obrigada — agradeço
polidamente, como minha mãe me instruiu.
Ele apenas assente e guarda a pequena caixa de veludo no
paletó do terno. Não existe um mínimo de conexão entre nós, zero
carinho e afeto. O resto da minha vida será da mesma forma, eu vou
apenas seguir as ordens dele, procriar e ficar trancada dentro de
casa, cuidando da família, enquanto ele vive a vida por aí, do jeito
que bem desejar.
— Ótimo. — Paolo se levanta. — Noivado realizado, data do
casamento praticamente fechada, podemos ir embora desse inferno.
— Meu Deus, Paolo! — Masha o recrimina.
— Chega! Vamos embora. — Ela fica vermelha, mas não
discute com o marido, Masha sabe que na frente dos seus homens
ele não pode demonstrar nenhum tipo de sutileza. — Domênico leve
sua noiva e minha mãe para casa.
Ele segura firme a mão da esposa e caminha até Francesco,
parando bem perto dele.
— Por duas vezes neste mês você levantou a voz para mim.
— Rosna essas palavras. — Não haverá uma terceira vez sem que
haja um castigo bem doloroso. — O rosto do meu irmão é tão
ameaçador, que estremeço com o medo que me domina só de
pensar no que pode acontecer se Francesco abrir a boca. — Hoje
eu decidi poupar sua esposa e filhos de vê-lo sendo castigado na
frente de todos, mas não pense que terei novamente outro gesto de
consideração. Segure seu ódio de mim e nunca use minha irmã
para me atingir de alguma forma.
Dando as costas para ele, Paolo sai da sala de jantar
arrastando a esposa do seu lado. Todos começam a segui-lo,
enquanto Francesco não se move.
Domênico apoia a mão nas minhas costas, me incentivando a
andar. Faço minhas pernas ganharem vida e, também me retiro do
local. Quando chegamos na sala, Paolo nos aguarda.
— Se não quiser levar Gio, tudo bem, Dom, só falei aquilo
para você não ter que aturá-lo.
— Eu vou levar, só preciso falar com meu irmão Guido para
ele ficar aqui esta noite. — Os dois se olham de maneira estranha.
— Giovanna, eu volto em um minuto.
Ele some rapidamente sem esperar pela minha resposta.
— Esse velho está pedindo a morte — Paolo resmunga.
— Francesco apenas gosta de te provocar para encontrar um
meio de fazê-lo perder o controle, para que possa jogar todo o clã
contra você — Giane diz com desgosto.
— Quando eu me descontrolar, pode ter certeza de que terei
razão, ele não vai poder fazer nada comigo.
— Podemos ir? — Carmelo decide abrir a boca.
— Claro que podem. — Meu irmão olha para Fiorella com
pesar. — Vá lá para casa amanhã ficar com Masha, tenho uns
compromissos de negócios que levará muito tempo, vocês podem
aproveitar o domingo juntas, já que Carmelo passa o dia jogando
golfe. — Ela olha para o marido.
— Minha esposa irá, Paolo, a deixarei logo cedo na sua casa.
— Ótimo.
Ella vem me abraçar e eu a aperto com força, lamento tanto
pela minha irmã ser obrigada a viver ao lado de um marido que não
sente um pingo de afeto.
— Fique bem, Domênico é um grande homem — diz baixo
antes de se afastar.
Assim que eles saem Dom volta para a sala.
— Vamos?
— Estávamos contando os segundos para sair daqui —
Paolo resmunga ao caminhar até a porta.
Que final de jantar tenso, não gosto de imaginar o terror que
vai ser meu casamento com todos os membros do Conselho
presentes.
Rapidamente nos despedimos e Domênico nos encaminha
para o seu carro. Ele abre a porta para que eu entre no banco do
passageiro, quero pedir para ir atrás, mas se eu fizer isso posso
causar um aborrecimento entre nós, desnecessário.
Agradeço sua gentileza e me acomodo no banco de couro do
seu luxuoso Maserati. Ele também abre a porta para a minha mãe,
que entra no carro toda sorridente.
Olho para frente e respiro fundo, segundos antes dele sentar-
se ao meu lado, deixando o espaço do veículo extremamente
minúsculo. O seu perfume amadeirado se espalha, causando um
arrepio inusitado pelo meu corpo.
— Coloque o cinto, Gio — pede ao ligar o carro.
— Claro, eu esqueci. — Puxo o cinto.
— Sem problemas. — Ele me lança um olhar intenso. —
Agora eu estarei sempre aqui para tomar conta de toda a sua
segurança, você é minha. — O meu coração dispara quando vejo
seus olhos ganharem um brilho perigoso.
Dom acelera, seguindo logo atrás do carro do meu irmão.
O meu corpo fica trêmulo, nunca um homem me olhou como
Domênico fez agora, estou completamente assustada e nervosa.
Perto dele eu sou apenas um cervo, esperando para ser devorada
pelo seu predador.
Remexo o canudo do meu drink sorrindo com Leonardo
fazendo uma trança em Fiorella. Como a minha irmã passaria o dia
com Masha, pedi a Paolo para me juntar às meninas e ele permitiu
prontamente. Para a nossa sorte Leonardo avisou que também
apareceria e agora estamos nos divertindo com as loucuras dele.
— Estou achando que meu verdadeiro talento é deixar as
mulheres lindas — ele fala ao finalizar a trança de Ella. — Acho que
farei um curso de cabeleireiro.
— Tem todo meu apoio. — Fiorella abre a câmera do celular
para conferir o penteado. — Uau! Você é bom mesmo, Leo.
— Sei disso. — Ele apoia o queixo no ombro dela quando
minha irmã decide tirar uma selfie.
— Quero foto também. — Eu me junto a eles e Masha
também se mistura com a gente.
Tiramos várias fotos enquanto sorrimos como bobos, em um
raro momento de divertimento familiar. Esse pensamento me
entristece, pois percebo que todos nós enfrentamos mais problemas
do que alegrias em nossas famílias.
— E aí, noivinha? — Leonardo me puxa para o seu lado. —
Como está sendo a experiência de ser noiva do gostoso do
Domênico? — Ele se abana. — Se eu estivesse “prometida” para
ele, já estaria de quatro implorando por aquele homem me pegar
com força.
— Leonardo! — Masha praticamente grita. — Contenha sua
boca, Giovanna não precisa ouvir seus delírios sexuais.
— O que mais ela vai ter é sexo com aquele homem imenso.
— Leonardo me olha sorridente. — Já viu a mão dele? E aqueles
dedos longos? Jesus! — Ele volta a se abanar. — Amore mio, você
será uma mulher muito feliz ao lado daquele mafioso, Dom é um
pedaço delicioso de pecado.
— Não quer se casar com ele no meu lugar? — brinco. — Eu
não ligo de passar a vez. — Leo aperta os lábios e segura a minha
mão.
— Ah, minha bela ragazza[11], sei que nada está sendo como
sonha, mas casar como Domênico é um golpe de sorte. Além de
lindo, é um homem completamente fiel às pessoas que tem estima e
ele tem muito mais que estima por você. — Ele me encara com um
olhar malicioso. — Dom é um safado enrustido, você será uma
mulher feliz.
— Para com isso, Leo — peço sem graça.
— Só estou sendo sincero.
— Você não vale nada, deixa Gio em paz. — Fiorella me olha
sorrindo. — Se serve de consolo, eu queria me casar mil vezes com
Domênico a ter que viver com Carmelo.
Mais uma vez me sinto mal por ela, queria muito libertar
minha irmã do seu casamento falido.
— Paolo prometeu se livrar dele.
— Sei disso, mas pode demorar. — Antes que eu tenha
chance de falar algo, nosso irmão surge no quintal ao lado do seu
inseparável amigo.
Ele está vestindo uma camisa social azul-escura e calça
preta, tem um cigarro entre os dedos e os óculos escuros no topo da
cabeça.
Já Dom veste uma calça cinza-chumbo, camisa preta com
mangas arregaçadas, mostrando suas belas tatuagens e um pesado
relógio de ouro no pulso. Ao contrário do meu irmão está de óculos
escuros, o que não me deixa saber para quem está olhando.
Há quinze dias aconteceu o nosso noivado e desde então
não nos falamos mais. Não sei como reagir ao seu redor, estar perto
dele é completamente desconcertante.
— Vejo que temos uma festa na piscina. — Paolo cruza os
braços e olha para Leo. — O que faz aqui, ragazzo[12]?
— Estou apenas aproveitando o seu champanhe caríssimo,
esse sol maravilhoso na sua piscina e tomando conta das minhas
bambinas [13]preferidas — fala ao passar o braço por meus ombros.
— Inclusive estava dando umas dicas à Gio, acho que Domênico vai
amar o que falei para ela. — Sinto meu rosto pegar fogo e não é por
causa do sol. — E falando no noivo mais badalado da máfia, eu
preciso dizer com muito respeito que você está deslumbrante nessa
roupa, não é mesmo, Gio? — O desgraçado me olha. — Mio amore,
você é a noiva mais invejada do clã, pegou um solteiro muito
apetitoso.
— Dom, o Leo já bebeu demais, desconsidere as palavras
dele. — Masha tenta amenizar o clima que o amigo instaurou.
— Mal comecei a beber, estou apenas sendo sincero. —
Rapidamente a contesta.
— Leonardo. — Paolo se aproxima lentamente, parecendo
um felino prestes a atacar. — Não lembro se te falei — diz
calmamente e serve-se com o champanhe. — Quer um pouco,
Dom? — pergunta ao olhar para trás onde meu futuro marido está
parado, com as mãos nos bolsos da calça, em uma pose
perturbadoramente máscula.
— Por favor. — Ele não se move, continua olhando na nossa
direção, me causando a estranha sensação de que seus olhos estão
completamente em mim. — Boa tarde, meninas e... menino. —
Ergue uma sobrancelha ao falar a última palavra, levantando um
canto da boca em um discreto sorriso, provocando Leo.
— Continuando, Leonardo. — Paolo serve Domênico, que
agora se aproxima das espreguiçadeiras que estamos sentadas. —
Eu tenho exatamente três ótimas técnicas para afogar pessoas que
falam demais em uma piscina. — Ele bebe todo o champanhe em
um único gole. — Quer que eu experimente uma delas com você?
— Dio santo, uomo, pare de ficar me ameaçando, eu não sou
um risco.
— Você é um risco para si mesmo com sua boca grande. —
Seus olhos vão para a esposa. — Seu amigo disse algo
inapropriado para Giovanna?
— Claro que não! — Imediatamente ela nega e apoia a mão
na barriga com uma expressão estranha. — Leonardo só gosta de
uma boa provocação, deveria saber disso.
— Tá bom. — Paolo volta a pegar mais bebida. — Vou levar
vocês para jantar fora hoje à noite, então estejam arrumadas em
três horas, não quero atrasos.
— Todas nós? — Fiorella questiona.
— Sim. — Ele começa a se afastar. — Já avisei ao seu
marido que você vai para casa só amanhã, Gio também não vai
hoje, se não tiverem nenhuma roupa aqui que sirva para o jantar,
mandem alguém pegar o que precisarem.
— Eu estou neste convite, chefe? — Leo pergunta. — Por
San Genaro diga que estou.
— Vá se foder, Leonardo. — Domênico segue atrás dele
depois de acenar para nós.
— Acho que o jantar vai ficar para outro dia — Masha fala ao
fazer uma careta.
— Está sentindo algo? — pergunto ao notá-la ficar pálida.
— Minha bolsa estourou. — Levo alguns segundos para
entender exatamente o que falou, até que me ergo nervosa. —
Paolo! — grito pelo meu irmão antes que ele e Dom entrem na casa.
— Masha vai ganhar a bebê.
Uma confusão se desenrola a nossa volta com ela me
olhando com lágrimas nos olhos, Leo falando sem parar, Fiorella
pedindo calma à nossa cunhada e Paolo correndo ao seu encontro
blasfemando agitado.
— A minha bolsa e a da bebê estão no closet do quarto,
ainda não está na hora dela nascer, faltam duas semanas.
— Se ela quer nascer agora que assim seja, vamos embora
la mia passione[14]. — Ele a ergue e sai em disparada para seu
carro.
Vou para dentro da casa agitada e sigo para o quarto do
casal. Encontro as bolsas que Masha falou e as levo para o
corredor. Encontro Fiorella subindo e ela me avisa que vai colocar
uma roupa.
Faço o mesmo e quando estamos prontas descemos
correndo as escadas.
— Eu não sei Domênico, espero que fique tudo bem. — Ouço
a voz angustiada de Leo. — Ela já está com mais de oito meses,
então acredito que não seja uma coisa ruim a bambina antecipar a
sua chegada.
— Eles já foram? — pergunto ao segurar uma das bolsas
com força.
— Já. — Sou pega de surpresa quando Dom segura a minha
mão. — Vamos embora. — Ele me puxa para o lado de fora e abre a
porta do carona para que eu possa entrar.
Minha irmã e Leo se acomodam atrás e, antes que ele entre,
eu coloco o cinto para evitar que chame a minha atenção.
Assim que ele coloca o carro em movimento eu me viro e Ella
segura a minha mão. Vejo nos seus olhos a preocupação, essa é a
primeira vez que lidamos com uma grávida na nossa família e
espero que tudo corra bem.

Pego mais um pouco de água e me encosto à parede


enquanto bebo aos poucos. Já estamos no hospital há três horas e
fomos informados que Masha entrou para a sala de cirurgia há mais
de trinta minutos.
Assim que chegou aqui ela começou a ter uma rápida
dilatação e, ao que tudo indica, seu parto será natural. Ainda assim
todos os procedimentos para realizar uma cesárea foram tomados.
— Vai ficar tudo bem. — Quase pulo de susto quando ouço a
voz potente de Domênico ao meu lado. — A médica disse que pode
acontecer antecipação do parto.
— Ainda assim me preocupo, o certo é ela nascer nas
semanas previstas pela obstetra.
— Bem... — Dom coloca as mãos nos bolsos da calça e
encosta na parede ao meu lado. — A bebê é uma Torcasio, vocês
são acelerados de natureza. — Ergo o rosto para encará-lo e o vejo
com os olhos brilhando de diversão.
— Quanto a isso não posso discordar, Paolo é o mais agitado
de nós.
— Agitado não define seu irmão. — Ele coloca uma mecha
do cabelo que se desprendeu do seu coque atrás da orelha.
Esse seu gesto me chama atenção e me faz observar como
as mechas do seu cabelo tem um tom dourado extremamente
luminoso. As tatuagens nos seus braços prendem meus olhos,
assim como os anéis de prata nos seus dedos.
Domênico está longe da imagem padrão de um mafioso que
as pessoas têm em mente, ele parece mais um ícone fashion do
rock, com esse seu jeito misterioso e rebelde.
Isso me faz lembrar que sou sua noiva e que em breve
estaremos casados e morando sob o mesmo teto. Todo o meu corpo
se agita, ao pensar que serei totalmente dele, estarei à mercê dos
seus desejos.
— Você já pensou na data certa do casamento? Está
precisando de alguma coisa para os preparativos? — Seus olhos
gélidos caem em mim, causando um calafrio pelo meu corpo.
— Provavelmente será na última semana de junho, estou
esperando minha mãe fechar a data com a igreja para poder marcar
todo o resto.
— É uma boa data. — Ele olha para o local onde minha mãe
conversa com minhas irmãs e Antonia. — Já avisei a Paolo que a
suíte do hotel onde será a nossa recepção é por minha conta,
quando marcar a data avise-me que vou providenciar tudo.
A mão que está com o copo de água estremece quando
penso na minha noite de núpcias, sinto certo enjoo me dominar.
— Falo com sua mãe, ela está acompanhando tudo.
— Pode me ligar, Gio, você é minha noiva. — Seus olhos vão
para meu anel. — Acho que precisamos de um pouco de contato
antes do casamento, gostaria de te conhecer um pouco.
— Você me conhece desde que nasci — digo o óbvio.
— Não como desejo te conhecer agora. — Prendo a
respiração quando ele toca meu rosto. — Quero saber tudo sobre
você, só assim poderei tentar entender quem será minha futura
esposa. — Fico paralisada quando seus olhos fitam meus lábios.
Não sei como reagir, nunca estive tão próxima de um homem
como ele, Domênico sabe ser bem assustador com todo esse seu
tamanho e expressão fria.
A agitação da minha família me salva, vejo ao fundo alguém
da equipe médica se aproximar.
— Acho que temos notícias. — Rapidamente escapo dele e
me aproximo das minhas irmãs.
— Está tudo bem? — Antonia pergunta.
— A senhora é a avó do bebê?
— Na verdade, sou a bisavó.
— Que maravilha. — O médico sorri. — Está tudo bem com a
mãe e a criança, o parto foi normal e ambas passam bem. A
obstetra está encerrando o trabalho e a pequena menina sendo
avaliada pelo pediatra, em pouco tempo irá para o berçário e todos
poderão vê-la. Já a senhora Masha está sonolenta e cansada, terão
que esperar até amanhã para poder visitá-la.
— Graças a Deus! — Antonia abraça Franco e minha mãe
enxuga as lágrimas emocionada com a chegada da primeira neta.
Minhas irmãs me envolvem em um abraço e acabamos
chorando, somos três manteigas derretidas, mas não podemos ficar
imunes quando nossa primeira sobrinha acaba de nascer.
— A pequena mafiosa já chegou ao mundo me trazendo
cabelos brancos e eu só tenho vinte e dois anos — Leo comenta ao
me abraçar. — Que susto que passei.
— Passamos. — Devolvo seu abraço. — Graças a Deus tudo
deu certo.
— Ainda bem, meu anjo. — Ele me solta para falar com
Fiorella.
Apoio as mãos no rosto feliz em saber que poderei ver minha
sobrinha ainda hoje, estou ansiosa para conhecer seu rostinho.
— Eu disse que ia ficar tudo bem. — Dom se aproxima com
um discreto sorriso. — Sua sobrinha só se cansou de ficar
descansando na barriga da mãe, quer vir agitar a vida dos pais. —
Sorrio.
— Paolo já não é muito equilibrado, com a chegada da filha
não sei como ele vai ficar.
— Eu prefiro não falar sobre esse assunto. — O meu corpo
se sobressalta quando ele toca a parte de trás das minhas costas.
— Tenho certeza de que precisarei de ainda mais paciência com
ele.
— Talvez ele fique mais calmo. — Minha voz sai engasgada
por sentir a quentura da sua mão queimar o local onde toca.
— Duvido disso. — Ele acaricia minhas costas, fazendo
minha respiração ficar presa. — Espero que não demore muito para
conhecermos a pequena Torcasio, estou curioso para saber se será
ruivinha.
Um genuíno sorriso escapa dos meus lábios, porque tudo o
que desejo é que ela tenha a mesma cor de cabelo da minha amiga.

Apoio a mão no vidro do berçário e admiro o pequeno pacote


que dorme tranquilamente. Ela parece um anjo, tão inocente e
fofinha. Não tem ideia do mundo cruel que vai enfrentar, assim como
eu, ela está condenada as leis da máfia.
Meus olhos ficam marejados, uma miríade de sentimentos
consome meu coração neste momento. Sei que ela terá um pai bem
diferente do meu, ainda assim não poderá fugir de algumas
tradições.
— Eu sabia que ela seria ruiva — Dom comenta ao meu lado.
— É tão delicada quanto a mãe.
— Ela é perfeita — digo com a voz embargada.
— É sim. — Tento me manter estática quando ele segura a
minha mão. — Precisamos ir embora, vou levar você e Fiorella para
a casa de Paolo, todos já foram, Masha só receberá visitas amanhã.
— Claro. — Ergo meus olhos até os dele e vejo Dom me
observar de uma maneira estranha, que me deixa completamente
constrangida.
Sigo ao seu lado até à sala de espera e encontro Fiorella
sentada. Não perco o momento que seus olhos vão para nossas
mãos unidas, ela me lança um discreto sorriso e segue conosco até
o carro de Domênico.
Fazemos o trajeto até a casa do meu irmão, falando sem
parar sobre a beleza da nossa sobrinha e, loucas para saber qual
será o nome dela. Masha disse que só iria escolher quando visse o
seu rostinho, porém confessou que já tinha alguns nomes em
mente.
Quando chegamos ao nosso destino, Fiorella se despede de
Dom e corre para dentro da casa. Já eu fico para trás, sem saber
exatamente o que falar com ele.
— Obrigada pela carona, Domênico.
— Não precisa agradecer. — Ele para na minha frente, me
fazendo erguer a cabeça para poder encarar seu rosto sério. —
Amanhã virei cedo buscar vocês para visitar Masha.
— Leonel pode nos levar, não precisa se incomodar.
— Você é minha noiva, Gio, na ausência de Paolo eu sou seu
responsável. — Travo quando ele ergue a mão e acaricia minha
bochecha. — Em breve eu serei totalmente responsável por você.
— Não digo nada, apenas tento não correr dele. — Entre logo,
quero te ver segura. — A voz dele sai profunda, nunca ouvi esse
seu tom antes e, não posso negar, estou assustada pela maneira
que me fita.
Para o meu desespero Dom se inclina e beija meu rosto, me
fazendo sentir muito de perto seu cheiro másculo e a maciez dos
seus lábios. O meu coração acelera e eu me sinto quente com sua
proximidade.
— Tenha uma boa noite, Domênico. — Rapidamente me viro
e tento não correr em busca da segurança da casa do meu irmão.
O que foi exatamente que aconteceu lá fora? Ele estava me
olhando com desejo ou eu que imaginei isso?
— Ei, beijou seu noivo? — Ella aparece com um copo na
mão? — Dom não parava de te olhar no hospital, ele te quer.
— Para de bobagem. — Eu a recrimino. — Domênico assim
como eu está se casando por obrigação.
— Pode até estar sendo obrigado, isso é um fato, mas ele
está gostando de saber que vai ser seu marido. Eu vi bem o modo
como te encarava quando achava que ninguém estava reparando.
— Acho melhor irmos dormir, o dia foi longo e amanhã iremos
cedo visitar Masha.
— Se não quer conversar tudo bem, mas saiba que estou
aqui para o que precisar. — Ela beija minha têmpora e sobe as
escadas.
Fico parada no mesmo lugar pensando nas suas palavras e,
me lembrando da maneira intensa que ele me olhou há poucos
minutos.
Balanço a cabeça e espanto todo tipo de pensamento, hoje
não vou pensar em mais nada além do rostinho fofo da minha
sobrinha. Minha situação estranha com Domênico pode ficar para
outro momento.
Quase não dormi a noite, meu sono foi extremamente
agitado. Ou eu sonhava com o rosto delicado da minha sobrinha, ou
com os lábios macios de Dom tocando minha pele.
Quando os primeiros raios da manhã despontaram desisti de
dormir e vi o sol nascer pela janela do meu quarto.
Amanheceu com um vento frio, acabei pegando no closet da
Masha um casaco mais quente do que eu tinha trazido comigo.
Fiorella também fez o mesmo, nenhuma de nós veio preparada para
essa mudança brusca na temperatura.
— Estou tão ansiosa para ver de perto nossa sobrinha.
— Nem me fala, quero poder segurá-la.
— Eu também.
Seguimos para a mesa do café da manhã de braços dados,
Mirta aparece e começa a nos fazer muitas perguntas. Como Paolo
não está presente ela senta-se conosco e começa a falar como foi o
nosso nascimento.
Conversamos animadas, até que meu noivo chega e Mirta
imediatamente ergue-se.
— Bom dia, Domênico. — Ela o cumprimenta. — Vai tomar
café?
— Bom dia! Obrigado, Mirta, já comi algo em casa. — Seus
olhos caem em mim. — Vim buscar as meninas para ir ao hospital.
— Ah... estou tão ansiosa para conhecer a pequena bambina.
—Mirta diz emocionada.
— Se Masha estiver disposta peço para te levarem ao
hospital mais tarde. — Os olhos dela brilham com as lágrimas.
— Ficarei feliz — afirma emocionada.
— Estão prontas? — ele pergunta ao olhar o celular.
— Eu estou. — Fiorella rapidamente se levanta. — Não vejo
a hora de pegar minha sobrinha no colo.
— Não irá demorar. — Dom a fita com diversão. — Vamos,
Gio? — Quando ele me encara acabo saindo do transe que me
joguei e levanto.
Mal tive tempo de me recuperar da noite passada e mais uma
vez terei que ficar perto dele. Sinceramente não sei o que será de
mim quando o casamento for realizado, ficar perto do Dom me deixa
muito confusa e agitada.

— Eu quero mordê-la. — Fiorella diz ao acariciar a mão de


Caterina. Esse foi o nome que eles escolheram para a minha
sobrinha. — Ela é tão perfeita.
— Perfeita e cheia de fome — Masha choraminga. — Não
está sendo fácil amamentá-la.
— Vi que pode ser dolorida a amamentação no início —
comento ao passar a mão pelo suave cabelo ruivo de Caterina.
— Estou sofrendo, as enfermeiras estão tentando me ajudar,
mas a cada vez que preciso amamentá-la eu choro. — Ela suspira
fundo. — Não pensei que seria tão difícil.
— Com o tempo vai melhorar. — Tento consolá-la.
— Eu sei, mas até tudo ficar normal, não vai ser fácil. — Seus
olhos vão para a filha. — Ainda assim toda a dor é pequena perto de
senti-la comigo. — O meu coração se derrete. — Tê-la se
alimentando em mim é algo que não consigo explicar.
— Deve ser especial.
— É único. — Masha sorri. — Quando tiver seus filhos com
Dom saberá o que estou falando. — Fico rígida. — Vi que chegaram
juntos, estão conseguindo interagir?
— Domênico só falta babar quando está perto da Gio, eu não
falo nada, mas vejo tudo. — Fiorella comenta sem tirar os olhos de
Caterina. — Ele está amando ter Giovanna como futura esposa.
— Pode parar com suas brincadeiras.
— E qual o problema de ele gostar da ideia de se casar com
você? — Minha cunhada pergunta. — Isso é um bom sinal.
— Domênico não gosta de mim, ele só me trata bem porque
nos conhecemos desde sempre.
— Eu acredito mais no que Fiorella falou, para mim Dom está
curtindo casar com você.
— Vamos mudar de assunto? — peço nervosa.
Por sorte nossa conversa é interrompida com a entrada de
Paolo e Domênico. Fico agitada com a sua presença, principalmente
quando ele se aproxima de mim.
Por que não pode ficar longe? Eu me sentiria bem mais
tranquila se ele não insistisse em termos intimidade.
— Andrei está chegando para ficar com você — Paolo avisa.
— Sua avó também está a caminho, eu vou passar em casa para
trocar de roupa e resolver uns problemas, à tarde estou de volta.
— Vá descansar um pouco, passou a noite do meu lado —
pede ao marido.
— Posso descansar amanhã quando tiver alta. — Ele beija
seu cabelo.
— Isso se a pequena deixar — Dom comenta com diversão.
— Até onde sei, bebês não dão muita paz aos pais.
— Vá brincando, Domênico, quando Gio tiver o filho de vocês
será a minha vez de implicar com sua paz. — Vejo Paolo trincar os
dentes com a fala da esposa.
— Isso irá demorar, não pretendo ter filhos tão cedo.
— Filhos acontecem — Masha fala sorrindo ao encarar a
filha.
— Ella, eu quero pegá-la mais um pouco antes de irmos. —
Peço à minha irmã, que me estende Caterina.
Aconchego-a nos meus braços sorrindo, é tão delicada e fofa.
O seu cheirinho de bebê é uma delícia, eu queria poder ficar o
tempo todo com ela em meus braços.
— É uma verdadeira princesa a pequena Torcasio — Dom diz
por sobre meus ombros. — Seu irmão ficará ainda mais perturbado
por causa dela, tenho pena de Masha — sussurra para Paolo não
ouvir.
— Minha cunhada sabe contê-lo. — Não tiro os olhos de
Caterina.
Sou surpreendida quando Dom apoia a mão na minha cintura
e estica o braço para tocar a mão da minha sobrinha.
— Tão delicada que sinto até medo de tocá-la — comenta
baixinho. — Ela é muito linda.
— Realmente é. — Esqueço o seu toque quando volto a
encarar o rosto dela.
— Com licença. — Olho para a porta e vejo o irmão da
Masha chegar. — Desculpe o atraso, tive um problema na oficina,
mas consegui resolver. — Ele me fita e fixa o olhar na sobrinha.
— Entre Andrei, a vovó está para chegar, vocês ficarão
comigo até Paolo voltar.
— Eu não vou demorar. — Meu irmão beija a testa da
esposa. — Ligue-me se precisar de algo, Andrei.
— Não se preocupe.
Com relutância eu entrego Caterina à Masha e me despeço
delas. Saio do quarto contrariada, queria ficar mais tempo com as
duas.
— Dom, vá cuidar de tudo nos escritórios, vou resolver
alguns assuntos direto de casa. Giorgio está orientado a te ajudar
no que for necessário, se algo incontrolável acontecer me ligue.
— Fique tranquilo, podemos resolver qualquer problema —
afirma ao chegarmos no estacionamento. — Gio, não esqueça de
me avisar quando tiver a data do casamento.
— Não vou esquecer. — Nossos olhos se encontram.
— Certo. — Ele me encara parecendo querer se aproximar,
mas Paolo me chama para entrar no carro e eu me afasto rápido.
Não sei como será quando o casamento acontecer, por mais
que eu saiba que Dom nunca irá me ferir, não consigo deixar de
temê-lo. Ele é frio demais, fico intimidada com todo o seu controle,
esse homem me deixa completamente apreensiva.
Saber que viverei ao seu lado para o resto da minha vida, me
faz pensar que fugir deste casamento até que não seria um mau
negócio.
Retiro os óculos escuros quando entro no hotel onde será
realizada a festa do meu casamento. Hoje terá a degustação de
todo o cardápio que será servido na festa e, apesar de não ser
necessária à minha presença, fiz questão de vir apenas para passar
um tempo com Giovanna.
A última vez que pude estar sozinho com ela foi há três
meses, na maternidade, desse dia em diante sempre estivemos
juntos quando ela estava na casa do irmão visitando a sobrinha.
Não posso negar que penso muito nela e em toda a sua
beleza. Nunca estive tão ansioso para tomar uma mulher como
agora, a sensualidade inocente da minha noiva é cativante. Quando
vejo sua expressão confusa sempre que me aproximo, eu fico
extremamente duro, desesperado para beijá-la e tocá-la como eu
tanto desejo.
Ela tem uma sensualidade natural e, apesar de ser um
homem centrado, eu ando um pouco desesperado com o tesão que
ela me desperta. Não vejo a hora de irmos para a lua de mel,
preciso desbravar seu corpo, fazê-la completamente minha.
Pergunto onde fazem a degustação do buffet e uma
recepcionista me passa todas as orientações.
Quando abro a porta de uma sala bem iluminada com
grandes janelas de vidro, vejo ao longe os cabelos longos de
Giovanna caindo sedoso por suas costas.
O meu corpo vibra de desejo, estou verdadeiramente
surpreso por querê-la tanto, desde que soube que iríamos nos casar
eu passei a prestar atenção em cada parte do seu corpo.
— Desculpa o atraso, tive um problema no trabalho. — Seus
olhos dourados erguem-se até os meus. — Como vai, Gio?
— Muito bem. — Ela sorri e lambe os lábios.
Gemo internamente, essa boca volumosa dela me faz pensar
uma infinidade de sacanagem.
Porra! Ela vai ser a minha mulher, eu preciso respeitá-la e
não pensar em foder a sua boca até me derramar entre seus lábios.
— Martina, mãe. — Cumprimento as duas mulheres à minha
frente.
— Sente-se meu filho, só estávamos te esperando.
Rapidamente me acomodo ao lado da Gio, colocando a
minha cadeira bem próxima a sua, querendo ter algum contato com
ela. Sinto seus músculos ficarem rígidos quando minha perna
encosta na sua, ela coloca uma mecha do cabelo atrás da orelha e
mexe no garfo em cima da mesa.
— Como está? Ansiosa para o dia do casamento? — Puxo
assunto.
— Estou — sua resposta me faz observar seu rosto.
— Não é o que parece. — Toco sua mão enquanto começam
a servir a comida. — Uma noiva deveria estar feliz, não se sentindo
pesarosa com o casamento.
— Uma noiva deveria escolher quando se casar. — Ela ergue
o rosto e sorri docemente. — Vamos começar a degustar o cardápio
que escolhi? Se não gostar de algo só avisar que trocamos, ainda
dá tempo.
Não digo nada, apenas espero ser servido e provo cada item
que é disposto a minha frente, ficando feliz com as escolhas que
minha noiva fez. Quando tudo acaba, eu decido que preciso de um
tempo a sós com Giovanna, quero conversar um pouco com minha
noiva antes do casamento.
— Martina, enquanto termina de conversar com o Chef eu
posso ter um momento com Gio no bar da piscina?
— Claro que sim, quando terminarmos aqui encontramos
vocês.
— Obrigado. — Giovanna me encara meio que assustada. —
Vamos? — Ofereço meu braço para ela, por alguns instantes hesita,
mas acaba apoiando a mão na curva dele.
Seguimos tranquilamente para a piscina e, quando chegamos
lá, eu a ajudo a subir no banco do bar e chamo o barman. Pergunto
o que Giovanna vai querer e ela pede apenas que seja algo bem
refrescante por causa do calor que está fazendo hoje.
— Gostou mesmo da comida? — Gio inicia a conversa
enquanto aguardamos nossos drinques.
— Para mim tudo está perfeito, você tem bom gosto.
— Na verdade, nossas mães são as grandes responsáveis
pelas escolhas, eu dei apenas algumas sugestões. — Nossas
bebidas chegam.
— Obrigado. — Agradeço e experimento a minha, sentindo o
sabor refrescante do abacaxi se espalhar na minha boca. — Fale-
me um pouco de você — peço ao apoiar o cotovelo no balcão e me
virar para ela.
— Como? — Gio pergunta confusa.
— Quero que fale sobre o que gosta, os seus sonhos, seus
amigos, o que quiser me contar. — Ela não esconde o quanto está
surpresa com o meu pedido. — Quero te conhecer um pouco, acho
que precisamos disso já que iremos nos casar e, não tivemos
oportunidade de nos conhecermos com profundidade.
— Vai me falar sobre você também? — Movo os lábios em
um discreto sorriso.
— Sou um mafioso, acho que sabe disso. — Ela sorri com
leveza e vê-la fazer isso na minha presença me deixa contente, Gio
fica ainda mais bonita quando sorri. — Sou o Consigliere do meu
clã, passo o dia tentando conter o mau humor do meu Capo, ele é
um homem difícil.
— Posso imaginar — comenta sarcasticamente.
— Fui criado para ser sempre o melhor soldado, gosto de
rock, um bom vinho tinto, carneiro assado e comer pizza aos finais
de semana, enquanto assisto futebol ou jogo videogame.
— Gosta de videogame?
— Na verdade, sou viciado, quando não tenho trabalho jogo
por horas.
— É estranho te imaginar jogando.
— Em breve você não achará isso. — Gio respira fundo,
parecendo só agora lembrar que vamos morar juntos. — Eu tenho
paixão por motos, às vezes passo o final de semana na estrada,
andando pelas cidades sem rumo, apenas sentindo o vento bater no
meu rosto, enquanto me sinto livre de tudo o que me rodeia.
— Deve ser fascinante pilotar uma moto.
— É libertador. — Bebo mais um pouco do drinque. — Agora
sua vez. — Ela corre a língua pelos lábios, me deixando louco para
puxá-la e beijá-la.
— Eu gosto de séries, em especial de suspense, prefiro
música pop, sou viciada em chocolate e uma boa massa sempre me
deixa feliz. — Gio corre a ponta da unha na borda do copo. — Meu
sonho era poder cursar História na faculdade, acho o passado do
nosso país incrível, queria me aprofundar mais nas nossas raízes.
Também queria poder dirigir, deve ser uma sensação de poder estar
atrás do volante de um carro e escolher por si só por onde seguir.
— Mais o quê? — pergunto interessado em saber um pouco
mais sobre ela.
— Eu queria ter um cachorro, amo bichos. — Agora ela
chegou em um bom ponto.
— É muito bom ouvir isso, Gio. — Encaro-a antes de voltar a
falar. — Tenho um cachorro e estava um pouco apreensivo que isso
fosse um problema para você. — Os olhos dela se iluminam.
— Você tem um cachorro? Não sabia disso.
— Não tivemos tempo de nos conhecermos, por isso quis
essa conversa, acho importante, em especial para você. — Pego
meu celular e destravo a tela, busco por uma foto de Mercury. —
Esse é meu grande companheiro.
— Ah, que lindo. — Giovanna pega o celular sorrindo. — Ele
é um fofo, tem carinha de levado.
— Pode ter certeza de que apronta muito. — Penso em todas
as meias que ele já roeu.
— Estou feliz em saber que poderei finalmente ter um animal
de estimação.
— Mercury é um bom cão, ele irá gostar de você.
— Assim espero. — Ela me devolve o celular.
— Preciso saber de mais alguma coisa?
— Acho que já disse tudo. — O seu olhar fica triste.
— Sei que está sendo difícil para você esse casamento, mas
prometo te proporcionar uma vida tranquila.
— Eu queria ter muito mais que uma vida tranquila. — Com a
ponta do dedo ela contém uma lágrima. — Nós nunca seremos
felizes, muito menos dividiremos amor.
Não posso contestar suas palavras, ela está coberta de
razão. Eu serei sempre justo como seu marido, mas amá-la já é algo
que não está ao meu alcance.
— Pense que muitas mulheres na máfia sequer conseguem
ter um casamento pacífico. — Cubro sua mão com a minha. —
Jamais irei te ferir, ao meu lado terá paz.
Giovanna solta um longo suspiro e quando seus olhos
encontram os meus, vejo tanta dor neles, que um desconforto
inesperado cai sobre mim.
— Acho que está na hora de irmos, ficamos tempo demais
sozinhos. — Gio pula do banco interrompendo nossa conversa.
— Estamos em público, não tem problema em conversarmos.
— Seguro seu pulso. — Precisa aceitar nosso destino, estamos
presos um ao outro e devemos nos esforçar para de alguma
maneira nos darmos bem.
— Nunca vou me conformar em ser infeliz, em estar casada
sem querer e não poder realizar nenhum dos meus sonhos. — As
bochechas dela ficam vermelhas. — Tenho o direito de querer mais
para minha vida, ainda que nunca consiga nada do que desejei. —
Admiro o fogo da raiva no seu rosto, ela fica desesperadoramente
sexy enfurecida. — Eu quero que me solte. — Ela olha para a minha
mão que aprisiona seu pulso.
— Posso te tocar, é minha noiva.
— Não é certo termos muita intimidade antes do casamento,
se minha mãe ver não vai gostar — afirma ao puxar o braço, mas eu
não alivio meu aperto.
— Sua mãe sabe que você é minha. — O meu corpo se agita
de desejo. Ela pode estar pesarosa com o casamento, mas eu gosto
da parte em que a terei na minha cama. — Em breve vou tocar
muito além do que seu pulso. — Gio arregala os olhos e eu me
xingo mentalmente por não controlar minha boca.
Inferno! Ela conseguiu com muito pouco me descontrolar.
— Não precisa me olhar com medo, Giovanna, sempre que te
tocar vou me certificar de que goste.
— Impossível gostar do toque de um homem que não amo.
— Ergo um canto da boca, gosto desse seu lado arisco, será um
prazeroso desafio domá-la.
— Para o que iremos fazer não precisa de amor. —
Escorrego a ponta do dedo pelo seu braço e vejo sua pele arrepiar.
— Precisamos de tesão e isso eu tenho de sobra por você e farei
com que também tenha por mim, não se preocupe com isso.
A nossa conversa é interrompida quando Martina se
aproxima junto da minha mãe.
Giovanna tenta se recompor, já eu envio um severo aviso ao
meu pau para se comportar.
Será um grande desafio controlar meu tesão por ela até o dia
do casamento. Preciso de uma boa foda hoje para tentar acalmar o
fogo que corre sem controle pelo meu sangue.
Parece que foi ontem que eu recebi a notícia que teria que
me casar com Domênico. Em um piscar de olhos o fatídico dia
chegou, trazendo a minha prisão a um casamento sem amor.
— Pronto, pode olhar agora. — A voz animada da
maquiadora me faz abrir os olhos e erguer a cabeça.
Encaro o meu reflexo admirando o belo trabalho dela, estou
definitivamente deslumbrante. A maquiagem marca bem meus
olhos, eles estão expressivos com os volumosos cílios que ela
colocou. O resto é tudo delicado, um batom rosa dá luminosidade
aos meus lábios e o blush me deixa corada.
Estou elegante e sexy, com um equilíbrio majestoso.
Meu cabelo está em um coque elaborado e fios delicados
caem por meu rosto. Tudo está perfeito como o programado, a única
coisa fora de tom é o meu humor.
Esse anda ruim faz tempo, difícil conseguir sorrir quando
estou próxima de pertencer a uma vida que nunca quis ter.
— Agora falta o vestido, vamos te ajudar com ele.
Uma das funcionárias do meu cerimonial chama as meninas
da equipe da estilista que fez meu vestido de última hora.
Elas entram no meu quarto em polvorosas e começam a me
vestir. Enquanto vão ajustando o vestido em mim, fico pensando
como será a minha vida de agora em diante.
Vou passar os dias como minha mãe, trancada em casa,
vigiada por seguranças e preparada para realizar os desejos do meu
marido, sejam eles quais forem.
Bato os cílios rapidamente, evitando chorar e borrar a
maquiagem. Não vai adiantar cair em lágrimas, não existe nada
neste mundo que possa evitar meu casamento.
Quando estou arrumada, elas me levam até o espelho, para
que eu possa observar o meu visual. Todas sorriem felizes, mas eu
me encaro séria, vendo o quanto estou bonita, no entanto, só quero
ficar eternamente na segurança da minha casa.
— O seu noivo vai ficar deslumbrado quando vê-la, você está
incrivelmente linda.
— Obrigada — digo à assistente da minha cerimonialista.
— O que houve, meu amor, por que está triste? — pergunta
preocupada.
— Porque minha vida nunca mais será a mesma. — Inspiro
fundo.
— Gio, você está uma princesa — minha mãe fala
emocionada ao entrar no quarto. — Minha última criança vai casar,
o tempo passa tão rápido. — Ela segura a minha mão. — Dessa vez
estou em paz com seu casamento, Domênico vai cuidar de você.
— Podemos ir? Quero acabar logo com isso.
— Filha, não fique assim.
— Mãe, já disse mil vezes que preferia a morte a ter que
casar sem querer, nada mudou, se eu cair morta na frente do altar,
saiba que morri muito feliz.
— Não diga isso. — Ela faz o sinal da cruz. — Fique aqui,
vou conferir se já podemos ir.
Vou até a janela do meu quarto e observo as folhas das
árvores balançarem. Essa é a última vez que olho o jardim sendo
solteira, em poucos minutos me caso e viro a senhora Pizzorni,
nunca mais serei a Giovanna sonhadora, que um dia acreditou que
poderia encontrar uma maneira de viver a própria vida.
Por que não fugi? Eu tinha dinheiro suficiente para me
sustentar alguns meses até poder encontrar algum emprego. A
minha covardia acabou me trazendo para esse momento e agora eu
vou ter que enfrentar tudo com muita coragem.
— Tudo pronto, Gio, vamos. — A minha mãe me chama e eu
sigo para as escadas sentindo meu coração morrer, a cada passo
que me leva até meu fatídico destino.

Seguro a mão do meu novo segurança. Como era esperado,


Domênico designou um dos seus homens para que possa ficar de
olho em cada um dos meus movimentos.
A partir de hoje ele será a minha sombra, não vou poder dar
um passo sem que esse brutamontes saiba.
Meus olhos vão para Paolo descendo as escadas da igreja
para poder me encontrar. Ele está com um smoking alinhado com
perfeição ao seu corpo forte e tem uma nova argola de ouro branco
na orelha. Seu semblante é compenetrado, ainda não superou toda
a história que envolve o meu casamento.
— Você está belíssima, mio amore — diz ao segurar minha
mão. — Seja forte como todos nós Torcasio somos, Dom será um
bom marido, ele sabe das consequências se te ferir de alguma
maneira.
— Ainda que ele seja bom eu serei infeliz por não poder fazer
tudo o que sempre sonhei — digo ao olhar a igreja grandiosa que irá
simbolizar o início da minha prisão. — Vamos? Não quero mais
esperar.
Ele não diz nada, apenas apoia a minha mão no seu braço e
me ajuda a subir. Seguro a saia do meu vestido e uma das meninas
da minha equipe do cerimonial ergue a minha cauda.
Quando chego no topo da escada, Paolo beija a minha testa
e desce meu véu cobrindo meu rosto. Faço um esforço fenomenal
para não chorar, não vou demonstrar a ninguém as minhas
emoções, eu sou forte e vou passar por isso de cabeça erguida.
A música que escolhi começa a tocar e as portas da igreja
abrem. Caminho lentamente ao lado do meu irmão, tentando sugar
um pouco da sua força para não desabar no meio deste corredor.
Pela pouca visão que o véu me oferece, vejo Domênico na frente do
altar, parecendo ainda mais alto e imponente.
Paolo quebra o protocolo e afaga a minha mão enquanto
andamos, ele está sentindo o quanto estou sofrendo neste
momento.
Assim que alcançamos o altar, ele fica na minha frente e
ergue meu véu. Seus olhos estão apreensivos, claramente não está
satisfeito em me entregar ao seu amigo.
— Eu sempre estarei com você em qualquer momento,
sempre. — Segurando meu rosto, beija longamente minha testa e
volta a abaixar o véu.
Dando um passo para trás, acena para o amigo e sobe no
altar. Domênico ocupa o seu lugar e me estende a mão. Por alguns
segundos não me movo, sinto o terror começar a se espalhar por
mim. Respiro profundamente e, mesmo trêmula, eu coloco a minha
mão sobre a dele.
Dom tem o rosto sério, ele também parece desgostoso com o
casamento neste momento. Depois da nossa última conversa,
pensei que estivesse confortável em dividir um futuro comigo, mas
agora, pela sua postura rígida, acho que entendeu que estamos
mergulhando em um mundo onde nenhum dos dois irá poder se
afastar um do outro, ao menos perante a sociedade.
O padre inicia os ritos do casamento e eu não consigo
acompanhar nada. Minha mente vai para o que irá acontecer em
poucas horas, quando eu estiver sozinha com meu marido.
As palavras dele ainda pairam sobre mim, relembrei delas em
cada segundo e não pude deixar de temer o que pode fazer comigo.
Levo um susto quando Dom aperta a minha mão e o padre
me olha feio.
— Giovanna Torcasio, hoje está aqui para celebrar seu
casamento. É de vossa vontade e de todo coração estar aqui?
— Sim. — A minha voz sai trêmula.
Ele faz a mesma pergunta a Dom, que não tem problemas
em responder com sua voz potente e levemente rouca. Tento me
manter atenta enquanto o padre vai falando e, quando chega o
momento dos votos, quero correr como uma desesperada, porque
depois desses votos não tem mais volta.
— Uma vez que é de comum acordo contrair o matrimônio,
unam suas mãos direitas para os votos.
Mais uma infinidade de palavras são ditas, enquanto os olhos
de Domênico me prendem. A filhinha da minha prima traz nossas
alianças e o padre as benze antes que Dom as pegue e diga seus
votos.
— Giovanna, receba esta aliança como sinal do meu amor e
da minha fidelidade. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
A minha mão treme quando a estendo para que ele coloque a
aliança no meu dedo. Sinto vontade de sorrir, porque o juramento de
Domênico é uma mentira deslavada na frente de Deus. Ele não me
ama, muito menos vai ser fiel. Sei que passarei noites sozinhas,
enquanto ele se esbalda com uma infinidade de mulheres
diferentes, assim como meu pai fazia com a minha mãe.
Eu faço o meu juramento e, ao contrário de mim, Dom tem a
mão estável quando deslizo a aliança por seu dedo.
O padre nos abençoa, diz mais algumas palavras até que ele
chega nos ritos finais e diz: — Pode beijar a noiva.
Domênico vira-se e eu faço o mesmo, ele ergue meu véu e
seus olhos estão incandescentes, apesar da sua expressão contida.
Segurando meus ombros, vai se aproximando de mim, não consigo
sustentar seu olhar e fecho os olhos. O seu hálito quente me
alcança, logo em seguida sinto os seus lábios macios roçando nos
meus lentamente.
As suas mãos que aprisionam meus ombros apertam-nos
com força. Ele não aprofunda o beijo, se afasta rapidamente e me
encara. Sinto a minha respiração acelerar, o meu corpo está quente
e minha cabeça gira sem controle.
Ele quebra o nosso olhar e coloca a minha mão na curva do
seu braço virando-se na sequência para os nossos convidados, que
nos aplaudem sorridentes. Todos aqui sabem que estou sendo
forçada a casar, mas fingem que tudo está bem, que somos um
casal feliz.
Apesar de todo o meu corpo tremer, desço os degraus do
altar com a cabeça erguida e tento sorrir para as pessoas enquanto
caminho sem pressa pelo corredor, sentindo o calor intenso do meu
marido me envolver.
Uma limousine nos espera na frente da igreja e outro carro
está parado logo atrás. Certamente é a nossa escolta, hoje é dia de
festa e ficamos mais vulneráveis do que nunca aos nossos inimigos.
O motorista abre a porta do carro assim que nos
aproximamos, Domênico me ajuda com meu vestido quando me
enrolo com a saia imensa. Eu me acomodo no banco de couro e fico
rígida quando meu marido se junta a mim e bate a porta, nos
trancando no meu novo mundo.
Eu estou casada com Domênico Pizzorni, o melhor amigo do
meu irmão, o Consigliere frio, o grande torturador da Cosa Nostra.
Obrigada, pai pelo marido que escolheu para mim, sempre
soube o quanto o senhor amava a sua família.
Penso com ironia, enquanto sinto o carro se mover, deixando
a vida que estava acostumada a ter para trás.

Ajeito a minha gravata sentindo uma vontade imensa de tirar


essa merda, estou sufocando nessa roupa, hoje o dia está
extremamente quente e não ajuda nada ter a minha linda esposa
deslumbrante ao meu lado.
Na cerimônia eu tive a plena certeza de que meu coração
está em dia. Consegui sobreviver a beleza arrebatadora da
Giovanna entrando na igreja.
Pensei que no dia do nosso casamento eu estaria
extremamente irritado por saber que unirei para sempre a minha
vida a dela, mas ando tão louco para possuir Gio, que tudo o que eu
queria era dizer o maldito “sim” e levá-la logo para a lua de mel.
Não consigo mais ficar só imaginando como deve ser tocá-la,
todas as mulheres que passaram pela minha cama, desde que
ficamos noivos, não mataram meu desejo. O que realmente preciso
para me satisfazer é provar Giovanna, fazê-la minha mulher.
Inspiro fundo quando sinto meu pau se animar, estou
completamente ensandecido ao pensar que agora eu vou ter acesso
a qualquer parte do seu corpo. Não vou mais precisar encontrar
alguma brecha para tocá-la como ando fazendo desde o noivado,
agora Gio é completamente minha.
Giro o rosto e vejo Gio olhando pelo vidro do carro, ela
parece uma pedra de tão rígida, mal consigo notar a sua respiração.
Fecho os olhos e lembro da sensação prazerosa ao sentir
seus lábios contra os meus. Precisei usar de todo meu sangue frio
para não a trazer para mim e beijá-la de verdade.
Essa boca dela é uma tentação, quando eu puder tê-la como
desejo, serei a porra de um homem feliz.
— Gio, tudo bem? — pergunto para tentar quebrar o clima
entre nós, sei que ela está nervosa, o tremor das suas mãos durante
toda a cerimônia me disse isso.
— Sim. — Ela lança um discreto sorriso.
É admirável a maneira como busca controlar suas emoções,
Giovanna me lembra muito Paolo, tem uma personalidade intensa e
determinada como a do irmão.
— Quer beber um champanhe para relaxar até chegarmos ao
salão da festa?
— Por favor. — Ela solta a respiração.
Abro o frigobar e pego a garrafa de champanhe que pedi para
deixar disponível para nós. Eu sabia que ela estaria nervosa e nada
melhor que uma bebida para amenizar a tensão.
— Ao nosso casamento — digo quando entrego sua taça e a
toco com a minha em um brinde. — Que tenhamos uma vida
tranquila e uma convivência pacífica.
Ela não diz nada, apenas bebe metade da taça de uma única
vez. Ainda em silêncio volta a olhar pela janela, parecendo estar em
um mundo distante.
— Pode me servir mais um pouco? — pede ao terminar seu
copo.
Olho para ela por um instante e volto a encher sua taça.
— Essa é a última, temos uma festa pela frente.
— Já está me dando ordens? — pergunta com os olhos
raivosos.
— É uma sugestão. — Gio volta a virar rosto e beberica o seu
champanhe.
Decido não puxar mais assunto, ela está nervosa, todas as
noivas ficam agitadas no dia do casamento. Giovanna então, ainda
precisa lidar com a pressão de encarar um enlace que foi
programado secretamente por nossos pais.
Vou esperar estarmos na nossa festa para me aproximar e
começar a seduzi-la aos poucos. Quando chegar a hora de irmos
para o quarto, tenho certeza de que ela já estará excitada e pronta
para consumar o casamento.
Sorrio contra a borda do copo ao imaginar que a terei nua e
entregue a mim.
Porra!
Entramos no hotel onde será a festa pela entrada lateral, um
funcionário nos leva para uma sala próxima ao salão e pede que
aguardemos lá até que a cerimonialista venha nos buscar.
Arrasto meu vestido e sinto vontade de tirá-lo imediatamente,
para a minha sorte a saia grande é removível, vou poder tirá-la em
breve e me livrar um pouco desse peso.
— Você tem outro vestido para colocar? Esse parece pesado
— Dom pergunta atrás de mim.
— Depois que cumprimentarmos os convidados e tivermos a
primeira dança eu vou tirar a saia grande e ficar apenas com o
vestido de baixo. — Viro e o encaro.
Ele ainda está perto da porta, olhando para mim com seu
olhar profundo, que me deixa completamente perturbada.
— Bom saber disso, já estava pensando como eu ia fazer
para te carregar no colo.
— Como assim me carregar?
— Esqueceu da tradição que o noivo precisa carregar sua
esposa no colo antes de entrarem para o quarto onde terão as
núpcias?
Apoio a mão contra meu pescoço sentindo um tremor
incontrolável me consumir ao imaginar o que ainda precisarei
enfrentar hoje.
Para a minha sorte a porta abre e Masha entra carregando
Caterina no colo, ela olha entre nós tentando detectar se está tudo
bem, Paolo vem logo atrás da esposa com o rosto fechado, não
escondendo toda sua tensão.
— Viemos fazer companhia a vocês até tudo ficar pronto, não
quero Paolo misturado, ele está com péssimo humor — minha
cunhada diz enquanto entra e vem até onde estou.
— Acho que Paolo só fica de bom humor quando vocês dois
estão sozinhos no quarto, porque só o vejo azedo — Domênico
comenta ao seguir para o balde com champanhe.
— E você está bem-humorado demais. — Meu irmão cospe
essas palavras.
— E por que não estaria? É o dia do meu casamento.
— Não me lembre disso. — Dom estende uma taça para ele.
— Ei, está tudo bem? — Masha pergunta.
— Estou sobrevivendo. — Realmente é isso que estou
tentando fazer, sobreviver a essa festa para seguir ao outro nível e
lutar para mais uma sobrevivência. — Posso pegá-la? Vai me
acalmar.
— Claro. — Ela me estende o corpo adormecido de Caterina.
— Mirta vai ficar com ela em um dos quartos do hotel, assim eu
posso ir até as duas, caso esta sapeca não fique quieta.
Não digo nada, apenas observo silenciosa o rostinho
rechonchudo da minha sobrinha. Desde que ela nasceu passei mais
tempo na casa do meu irmão só para poder curtir Caterina, ela é o
grande xodó da nossa família.
— Nunca me canso de admirar a beleza dela — digo ao
acariciar seu cabelo ruivo.
— Confesso que também fico toda boba, nem dá para
acreditar que saiu de dentro de mim. — Masha sorri cheia de amor
para a filha. — Em breve terá o seu bebê, aí vai poder babar sobre
ele como eu faço. — Inspiro fundo.
— Ai, Masha, não lembre dessa parte. — Olho para meu
marido e o vejo conversar tranquilo com meu irmão.
— Tenha calma, Dom é um bom homem, conversei com ele
recentemente e tive sua promessa que sempre te respeitará. — Ela
afaga minhas costas. — Se é para ter um casamento arranjado que
seja com ele. — Tento segurar a vontade de chorar.
— Agradeço tudo o que fez por mim, mas não tenho como
me sentir tranquila. — Sou sincera. — Dom sempre fez parte da
minha vida, mas não sinto nada por ele.
— Com o tempo pode sentir. — Tento não fazer uma careta.
— Sendo sincera, amiga, o tempo vai me destruir, como está
destruindo Fiorella.
— Desculpa atrapalhar. — Stella, a cerimonialista, corta a
nossa conversa. — Já está tudo pronto para os noivos entrarem na
festa.
— Pense no que falei, olhe Domênico como homem e tente
abrir seu coração. — Masha me beija e pega a filha antes de se unir
a Paolo.
Eles vão embora e eu fico com meu marido e Stella. Ela
pergunta se estamos prontos, Domênico espera a minha resposta e
eu digo que podemos ir.
Seguro a minha saia e me aproximo dele, sua mão grande
busca a minha e a aperta com força. Olho para o alto e encontro
seus olhos azuis um pouco preocupados. Sorrio tentando mostrar
que estou bem, ainda que por dentro uma tempestade esteja
sacudindo cada parte de mim.
Depois de quase uma hora recebendo os cumprimentos dos
convidados e mais outra tirando fotos, estou exausta e apenas
querendo sair desta festa, ainda que isso signifique ficar a sós com
meu marido. Não tenho para onde fugir de qualquer maneira, então
que acabe logo toda essa tortura.
— Você parece cansada — Dom comenta enquanto rodamos
pelo salão na nossa primeira dança.
— Só quero que tudo acabe — digo sem esconder minha
exaustão.
— Prometo que vamos para a nossa suíte o mais rápido
possível, só precisa aguentar mais um pouco. — Não digo nada,
pensar na nossa suíte me faz lembrar que terei que permitir que me
possua.
— Minha vez. — Ouço a voz de Paolo e sua mão toca as
minhas costas. — Quero dançar com a minha bambina. — Sorrio
quando ele enlaça minha cintura.
Dentro dos seus braços eu me sinto segura, é assim desde
que nasci, meu irmão sempre me protegeu de todas as maldades do
nosso pai.
— Você está tão linda, mio amore.
— Obrigada por providenciar tudo o que eu quis para o
casamento.
— Não agradeça, você merece qualquer coisa. — Giramos
pelo salão lentamente.
Vejo Masha dançando com Domênico, os dois sorriem
enquanto conversam. Paolo como sempre resmunga, ele morre de
ciúmes da amizade deles.
Quando a música acaba eu vou tirar a saia do meu vestido e
volto para a festa, mais leve. Agora é continuar sorrindo, fingindo
que estou feliz até que eu possa ir embora e enfrentar outra
maratona, só que dessa vez na cama.
O meu rosto esquenta quando penso no que está por vir,
depois do que Masha falou sobre filmes eróticos, eu criei coragem e
acabei fazendo umas pesquisas, consequentemente assisti alguns
deles. Ainda me sinto em dúvida se foi inteligente vê-los, alguns
foram bem assustadores e me deixaram ainda mais apreensiva.
— Giovanna, venha aqui. — Dom me chama assim que entro
no salão. — Nikaros e sua esposa Hellena querem te cumprimentar,
eles acabaram de chegar.
— Olá! — digo aos dois, a última vez que os vi foi em Vichi,
no casamento do príncipe.
— Ah, minha querida, você está tão linda, Domênico teve
muita sorte em casar com uma mulher tão bela — Hellena comenta
alegre.
— Muito obrigada. — Recebo dois beijos dela.
— Não aceite nada menos do que ser tratada como uma
legítima rainha, você é bonita demais para ele — Nikaros diz com
humor e beija a minha mão. — Estou feliz por minha sugestão sobre
o casamento de vocês se concretizar. — Os olhos dele brilham ao
olhar meu marido.
— Sabe bem como aconteceu nosso casamento. —
Domênico o fita sério.
— Quero agradecer por nos presentearem com a viagem no
iate de vocês, foi muito generoso. — Mudo o rumo da conversa.
— Esqueça os agradecimentos, apenas aproveitem a
viagem. Nada melhor do que uma lua de mel ao mar sem ninguém
incomodando, não é mesmo, querida?
— Ahhh... sim, eu amo quando saímos para navegar, temos
boas memórias no mar. — Eles sorriem, claramente apaixonados.
Que inveja eu tenho deles, se casaram por amor.
— Podemos entrar nessa confraternização? — Olho para o
meu lado e vejo o deslumbrante príncipe de Vichi acompanhado da
sua esposa, logo atrás dele está sua irmã.
— Mitchell, como vai?
— Ótimo, Domênico. — Ele me olha com interesse. — Você
ficou uma bela mulher, Giovanna, nem parece irmã do Paolo.
— Muito obrigada. — Agradeço sem graça.
— Acho que já conhece a minha esposa, Kimberly.
— Eu a conheci na festa do casamento de vocês, mas com
certeza Kimberly não lembra de mim.
— Aí que você se engana, eu me lembro sim, não poderia
esquecer da irmã de Paolo. — Ela me beija. — Seu casamento foi
lindo, meus parabéns.
— Obrigada.
Recebo os cumprimentos da princesa Hill Cassel, ela é
extremamente simpática e nos convida para um jantar quando
estivermos em Vichi.
O príncipe avisa que o irmão não pôde comparecer por ter
um evento de trabalho em Nova York.
Como presente do Mitchell, ganhamos alguns dias em um
hotel de luxo no país dele. Depois ficaremos na Grécia, em uma
casa que Paolo alugou.
Enquanto todos nós conversamos, Domênico se aproxima e
enlaça a minha cintura. Mantenho a minha posição e escuto o que
Kimberly fala sobre os lugares que devo conhecer em Vichi. Paolo
se junta ao grupo e começa a implicar com o príncipe herdeiro.
Mitchell tem um humor tão sombrio quanto o meu irmão e os
dois se irritam fácil com a leveza de Nikaros, que não perde a
oportunidade de fazer alguma piada com as aventuras que eles já
dividiram.
Em certo momento Leonardo se aproxima e me tira para
dançar, Dom o alerta para não fazer gracinhas, mas Leo o ignora e
sai puxando a minha mão.
— Primeiro preciso dizer que chorei quando entrou na igreja,
você parecia uma princesa, todo mundo estava encantado com a
beleza do vestido.
— O estilista fez um bom trabalho.
— Não fique triste, mio amore, sei o quanto vai ser difícil, mas
eu tenho certeza de que terá um grande marido. — Ele beija minha
mão. — Se Paolo consegue ser bom para Masha, Domênico será
muito melhor, ele é um gentleman sempre, apesar daquele olhar
frio, quando se trata de você tem fogo suficiente para Roma ser
incendiada outra vez. — Sorrio, só Leo mesmo para me alegrar.
— O problema não é só Dom, mas tudo o que envolve um
casamento na máfia, nós mulheres não temos muitos afazeres e eu
não queria ficar em casa como um bibelô.
— Entendo essa parte. — Seus olhos são compreensivos.
— Posso dançar com minha nora? — A voz do pai do
Domênico me faz congelar.
Leo me olha e fica sem saber o que fazer quando percebe a
minha tensão.
— Vamos, moleque afeminado, saia daqui. — Ele puxa o
meu braço bruscamente e Leonardo o olha com raiva.
— Olha aqui, seu...
— Leo, não! — ordeno nervosa. — Está tudo bem, desculpa.
— Não peça desculpa por mim, agora saia daqui aberração.
— Ele aperta o meu braço e me puxa para longe do meu amigo. —
Não sei como deixaram essa coisa entrar na festa, no meu tempo
um afeminado como ele no meio da máfia teria a morte como
destino.
— Graças a Deus estamos em outro tempo — digo com
sarcasmo e ele me encara com raiva.
— Tem a boca ágil, não é mesmo? — Sorri maliciosamente.
— Espero que essa boca aguente um pau até a garganta, porque
hoje você vai descobrir o que os homens Pizzorni são capazes de
fazer. — O meu corpo gela. — Estou com inveja do meu filho, faz
muito tempo que não fodo uma virgem. É tão bom ver vocês
gritando desesperadas, sexo e dor andam juntos e dá um prazer
alucinante a nós homens.
— Com licença, mas eu quero dançar com minha esposa. —
Domênico segura a minha cintura.
— Ainda não acabei aqui, estamos conversando.
— Vá conversar com a minha mãe, não quero dividir a
atenção da minha mulher com ninguém. — Ele me puxa pela cintura
contra seu corpo.
Os olhos cruéis do seu pai se voltam para mim, ele sorri de
uma maneira tão suja, que sinto meu estômago revirar e a vontade
de vomitar é quase incontrolável.
— Gio. — Dom vira meu corpo e envolve as mãos no meu
rosto. — Você está bem?
— Não. — Ele segura a minha mão e percebe o quanto está
gelada. — Dio Santo! O que aquele bandido te falou? — Seus olhos
escurecem. — Eu vou matá-lo. — Antes que se afaste seguro seu
braço.
— Por favor, esqueça isso, seu pai só quis ser desagradável,
não permita que ele estrague a nossa festa.
— Como esquecer se você está tremendo?
— Vai passar. — Tento me controlar. — Pode adiantar a hora
de cortar o bolo? Eu quero ir embora, não estou me sentindo bem.
Ele enlaça o braço ao meu redor e apoia uma mão no meu
rosto. Seus olhos antes tempestuosos se acalmam. Dom beija a
minha testa e faz um carinho lento com o polegar na minha
bochecha.
— Vou providenciar para encurtarem a nossa presença, vá
ficar com Masha, vou avisar a Amaro para manter meu pai longe.
Segurando a minha mão ele me leva até a nossa mesa e
pede que a minha cunhada fique comigo.
— O que aconteceu? — pergunta assim que senta ao meu
lado.
— Preciso de uma bebida. — Ela me olha com preocupação
e vai em busca de champanhe, retorna com uma taça e me entrega.
— Vamos lá! Por que está com essa cara? — Sorvo um longo
gole antes de falar.
— O meu maldito sogro me falou algumas atrocidades.
— Como assim? — Masha fala alto e atrai a atenção de
Fiorella, que se aproxima.
— Algum problema? — pergunta ao se juntar a nós.
— Pelo jeito temos, o sogro da Gio foi desagradável.
— Na verdade, ser desagradável não chega perto do que ele
me falou.
— E o que aquele desprezível te disse? Já falou isso para
seu marido? — Fiorella se exalta.
— Não posso ou a festa acaba em tragédia. — Masha se
empertiga.
— Quero saber o que ele falou. — Balanço a cabeça
negando seu pedido, não posso contar, pois sei que ela vai relatar
ao meu irmão e Paolo matará Francesco na frente de todos.
— É uma reunião? Quero participar. — Chiara senta à minha
frente. — Opa! O que houve? — questiona ao notar meu semblante
tenso.
— O maldito Francesco falou algo para Gio. — Ella a
atualiza.
— Aquele velho te maltratou? — Leo aparece atrás da
cadeira de Chiara. — Eu devia ter chamado Domênico na hora que
ele me expulsou ao me chamar de afeminado.
— Ele te chamou do quê? — Masha está mais vermelha que
seu cabelo.
— Fui enxotado do lado da Gio aos insultos daquele
homofóbico.
— Vou falar com Paolo agora mesmo. — Ela se levanta.
— Não! — Eu e minhas irmãs falamos ao mesmo tempo. —
Se falar alguma coisa Paolo perde a cabeça, ele odeia Francesco —
digo nervosa.
— E meu marido o odeia com razão, agora eu também odeio
esse bastardo.
— Já passou, tá? Nesse momento eu estou aqui com vocês e
não vou mais permitir que ele se aproxime de mim. — Vejo Dom
retornar com o rosto tenso.
— Pedi para adiantarem a partida do bolo. — Ele toca meu
cabelo. — Quero saber o que ele te disse.
— Hoje não. — Ninguém vai me arrancar nenhuma palavra
que possa causar uma confusão. — Prometo contar depois, só não
o deixe se aproximar de mim, por favor. — As narinas dele se
dilatam, sei que está se controlando para não explodir.
— Ele não chegará mais perto, fique calma.
O restante da festa transcorre de maneira tranquila, eu tive
que dançar novamente com Domênico por causa das fotos e
filmagem. Ele dispensou a minha dança com o pai quando a
cerimonialista disse que ainda faltava gravar essa parte e me deixou
aliviada.
Paolo percebeu que algo aconteceu, mas como Dom não
saiu mais do meu lado, ele apenas manteve seus olhos em mim.
Quando parti o bolo senti alívio, no início do meu dia, não imaginei
que estaria ansiosa para sair da minha festa e ficar sozinha com
meu marido. No entanto, quando entramos juntos no elevador, senti
uma paz gigante.
— Acabou. — Ouço a voz dele ao deslizar a mão pelos fios
do meu cabelo. — Agora você vai ter seu merecido descanso.
Se para ele sexo é descanso, eu já penso em algo bem
diferente, mas não digo nada, infelizmente não tenho poder de
impedir o que está para acontecer. Espero apenas que ele não faça
nada do que o pai falou, quero confiar em Domênico, mas se ele me
machucar, eu vou odiá-lo pelo resto da minha vida.
Quando as portas do elevador se abrem me preparo para
sair, mas sou impedida por sua mão no meu braço.
— Esqueceu que eu preciso te levar no colo? — diz sorrindo
e não me dá chances de protesto, ergue-me com facilidade.
— Domênico! — grito seu nome e rodeio meus braços em
seu pescoço para poder me equilibrar.
Ele caminha a passos largos para a suíte presidencial que
reservou para passarmos a noite de núpcias, antes de viajarmos a
Vichi.
Após digitar uma senha, entramos na imensa suíte e sou
colocada no chão quando alcançamos a elegante sala de estar.
— Enfim sós — fala com a voz rouca e faz meu corpo se
arrepiar.
Chegou a hora, não dá para fugir do meu marido. Que San
Genaro me ajude e faça Dom ser gentil.
Giovanna me olha com tanto pavor, que me causa a
sensação de que a qualquer momento me transformarei em um
monstro e a devorarei.
Bem... eu quero devorá-la mesmo, não nego, estou cheio de
tesão pela minha bela esposa, mas para isso acontecer eu também
espero que ela deseje ser devorada.
O problema é que seu olhar me diz outra coisa e eu sei que
meu pai tem responsabilidade na maneira que está me encarando.
Não sei o que aquele maldito falou, só tenho a plena certeza que foi
algo grave, pois a desestabilizou completamente.
Apesar da apreensão na hora da igreja, ela se soltou na festa
e eu a vi sorrindo e relaxando progressivamente enquanto
conversava, em especial, com a esposa de Mitchell e a irmã dele.
Sua mudança ocorreu quando o crápula do meu pai se
aproximou. Pelo que Leo me contou, os ataques dele já começaram
quando o xingou de afeminado.
Não gosto nem de pensar o que disse para Gio, foi até bom
ela não me contar a verdade, porque certamente a festa teria
terminado em sangue.
— Por que não toma um banho? Vai te fazer bem.
— É uma boa ideia. — Ela se afasta e vai na direção do
quarto.
— A bolsa com os seus itens pessoais está no armário, o
restante da nossa bagagem já foi para o iate.
— O.k.
Inspiro fundo e sinto seu cheiro, agora ela é toda minha, mas
ainda preciso ir devagar. Ao contrário do que pensei mais cedo, já
percebi que não será minha noite de sorte, preciso de Gio relaxada,
para poder seduzi-la como o devido.
Sirvo uma dose dupla de uísque e deixo a bebida se espalhar
por minha boca. Olho para o céu escuro de Roma enquanto repasso
cada momento dela entrando na igreja.
Essa será uma memória que guardarei para sempre, foi algo
estranho vê-la se aproximando, sabendo que a cada passo que
dava significava que estava mais perto de entrelaçar nossas vidas.
Giovanna Torcasio agora é a minha esposa, virou a linda e
sexy senhora Pizzorni.
Sorrio contra a borda do copo, sentindo meu corpo se agitar
com a possessividade que me domina. Amanhã nós estaremos em
alto mar sozinhos e eu vou poder seduzi-la até que minha esposa
esteja pronta para que eu a possua.
Sinto meu pau pulsar dentro da calça social, ele está sedento
por ela, necessitando urgentemente se perder no seu calor.
Abandono o copo de uísque e começo a tirar a minha roupa,
até que fico apenas com a calça. Vou até a varanda e me debruço
sobre o parapeito, olho os carros minúsculos passando abaixo de
mim e o vento levemente fresco toca meu rosto.
Perco a noção do tempo, apenas quando sinto um
movimento nas minhas costas, é que noto que Gio está parada na
entrada da varanda.
— Se quiser tomar seu banho já pode ir. — Não respondo
nada, apenas deslizo meus olhos pelo seu elegante robe de seda
branco.
Giovanna se encolhe e passa os braços ao redor do corpo.
Ela olha para o chão constrangida, a sua timidez é tão sexy, que eu
preciso me controlar para não voltar a ficar duro.
— Sei que não comeu quase nada na festa, se quiser peça
alguma coisa leve ao serviço de quarto, eu não vou demorar no
banho.
— Não estou com fome.
— Seria bom se comesse algo, só te vi beliscar. — Seguro
seu queixo e a faço me olhar. — Ao menos coma chocolate, pedi
para deixarem disponível alguns da sua marca favorita.
— Sério? — pergunta com olhos arregalados.
— Viu como foi bom nos conhecermos um pouco? — Seguro
sua mão e levo até à sala de estar e mostro a ela uma caixa grande
em cima da mesa de centro. — Aproveite.
Sigo para o banho antes que eu perca a cabeça e tome seus
lábios fervorosamente.

Saio do banheiro e encontro Giovanna sentada na cama, com


a caixa de chocolate aberta, assistindo um canal de música. Ela
ergue os olhos quando nota a minha presença.
Não deixo de observar seu olhar curioso para o meu tronco
nu, ela parece surpresa por me ver com a calça de seda do pijama,
pelo jeito achou que eu não estaria vestindo nada.
Eu até já queria estar nu mesmo, mas no contexto de tudo o
que aconteceu nesta noite vou precisar ajustar meus planos.
— Gostou da surpresa? — pergunto ao me aproximar da
cama.
— Não sabe o quanto. — Ela lambe os dedos, após comer
mais um bombom.
Porra, Giovanna, não faz isso comigo!
Penso puto, porque não é fácil tê-la na minha cama e não
poder realizar tudo o que está passando na minha cabeça suja.
— Quer um? — Ergue a caixinha para mim.
— Ao contrário de você, eu comi bastante, estou cheio. —
Com calma me aproximo dela. — Agora que estamos a sós, pode
me falar o que meu pai te disse? — Ela endurece o rosto.
— Não vamos estragar a nossa noite com coisas
desagradáveis.
— Eu preciso saber o que foi, só assim poderei tomar algum
tipo de providência. — Giovanna fica tensa.
— Dom, o seu pai é um ser desagradável de natureza e ele
apenas tentou me amedrontar dizendo que seria bruto comigo na
nossa intimidade. — Todo o meu corpo vibra de raiva. — Acabei
ficando abalada com as palavras sujas que usou, mas já passou.
— Não passou porra nenhuma! — digo furioso ao sentar ao
seu lado na cama. — Posso não ser um bom homem, mas eu não
vou te ferir em momento nenhum. — Encaro seus olhos. — Não
sinto prazer em ferir mulheres, Gio, muito menos quando se trata da
minha esposa — ela suspira fundo.
— Fico aliviada em ouvir isso. — Seus olhos vão para suas
mãos em seu colo. — Estou confiando que nunca será como
Carmelo.
— Não me compare a ele nunca mais. — Seguro o seu rosto.
— Eu serei sempre respeitoso com você e jamais sentirá minha mão
pesar no seu corpo. — Vejo um brilho de lágrimas cruzar seus
olhos. — Já te falei do meu desejo de que tenhamos um casamento
pacífico. — Apoio a mão na sua cabeça e sinto meu corpo ferver.
Ela tem a boca espetacular, o lábio inferior é tão inchado,
perfeito para ser mordiscado antes de um beijo. Hoje não tenho a
intenção de torná-la minha, mas ao menos um beijo eu mereço.
— Alguém já te beijou de verdade, Giovanna? — pergunto
sentindo o ciúme me corroer, só de pensar em outro homem a
tocando, o desejo de cortar as mãos do infeliz me deixa cego.
— Nunca tive permissão para me aproximar dos garotos —
diz com um fio de voz. — Meu primeiro beijo foi mais cedo, na
igreja. — Abro um lento sorriso, satisfeito com sua resposta.
— Não, minha querida, aquilo não foi um beijo. — Deslizo a
mão pelo seu cabelo, encarando sua boca com extremo desejo. —
Agora sim você será beijada.
Antes que ela tente se afastar eu aprisiono sua cabeça e
afundo meus lábios nos seus. Sugo seu lábio inferior, lambendo na
sequência o superior e correndo a língua entre ambos. Vou
pressionando minha boca contra a sua, mordendo lentamente seus
lábios, ela aperta com força meus ombros, ficando com o corpo
rígido.
Forço a entrada da minha língua entre seus lábios, Gio fica
ainda mais tensa, porém acaba me dando permissão para inseri-la.
Vou ao encontro da sua língua e sinto a sua hesitação, faço um
lento movimento circular com o polegar na sua cintura, tentando
relaxá-la.
Meu movimento surte efeito e ela começa a corresponder
meu beijo gemendo baixinho. Seguro seu corpo e a faço sentar no
meu colo, inclino sua cabeça e devoro a sua boca tentando ao
máximo não a assustar. A minha vontade mesmo é jogá-la nessa
cama e me perder no seu corpo macio.
Giovanna sobe a mão e toca a minha nuca, ela ainda está
insegura com seus movimentos, mas ao menos consegue me
acompanhar no beijo e gemer enquanto minha mão percorre seu
corpo.
Rosno contra seus lábios, ensandecido com o sabor doce do
chocolate se espalhando por minha boca. Beijá-la é um paraíso, eu
me sinto um verdadeiro demônio invadindo toda a sua angelical
inocência.
Afasto a minha boca da sua, precisando de um pouco de
tempo para me equilibrar e não perder a cabeça. No entanto, não
ajuda muito ver sua boca inchada do meu beijo e sua respiração
ofegante. Gio tem as bochechas vermelhas e me encara com um
misto de surpresa e desejo.
Ela é sensual demais, eu estou fodido essa noite com a
minha decisão de não encostar na minha esposa.
— Puta que pariu! — esbravejo antes de voltar a beijá-la,
quero possuir cada parte dela.
Desta vez eu tombo seu corpo contra a cama e subo sobre
ela. Meu beijo é mais exigente, preciso só de um pouco mais para
poder me afastar. Os braços dela rodeiam meu pescoço, é um bom
ponto para me tocar, nessa área não sinto incômodo, só espero que
ela não vá mais para baixo e quebre o clima.
Amanhã nós precisaremos conversar, odeio pensar que ela
me veja como um homem frágil, mas não posso esconder algumas
verdades da minha esposa, principalmente uma que pode causar
desconforto entre nós.
Involuntariamente a minha mão vai para a sua perna, onde
sua longa camisola subiu. Toco a pele quente e delicada, um
rosnado inesperado escapa de mim quando sinto seus pelos se
arrepiarem ao meu toque. No mesmo momento Gio enrijece e
quebra o nosso beijo.
Ela me fita assustada, seus olhos cheios de desejo agora
ficam temerosos. Certamente está achando que chegou o momento
que eu vou reivindicar o seu corpo.
Como eu queria ser um cretino e tomar o que é meu por
direito, mas não quero que seja assim, meu maior desejo é que ela
também me queira e sinta prazer dentro dos meus braços.
Pressiono mais uma vez meus lábios contra os dela, só que
agora salpico vários beijos sem tirar meus olhos dos seus, até que
me afasto e sento na cama.
Porra! Se por apenas beijá-la eu já estou a ponto de explodir,
não gosto de pensar como será quando estiver dentro do seu corpo.
— Vamos dormir um pouco, já está tarde e amanhã saímos
cedo para a nossa viagem. — Não perco o choque no seu rosto, ela
abre a boca para dizer algo, mas nada sai.
Apago o abajur do seu lado, e me jogo contra o meu
travesseiro, sentindo meu pau protestar querendo mergulhar em Gio
imediatamente.
— Você não vai... — Ela gagueja.
— Não vou o quê? — Viro o rosto para poder observá-la.
— Sabe o que quero dizer. — Ela para de me olhar e encara
o teto.
— Hoje não. — Apago o meu abajur, desligo a TV, deixando
o quarto no escuro. — Você está cansada e passou pelo estresse
de ter que ficar a sós com meu pai, o clima acabou só nesse
encontro de vocês, temos uma viagem incrível pela frente amanhã,
teremos tempo para muita coisa até chegarmos a Vichi. — Já deixo
claro que quando estivermos no iate ela não vai ter para onde fugir.
Entendo seu nervosismo, a primeira vez para uma mulher é
sempre um momento difícil, mas somos um casal e eu a quero mais
que tudo neste mundo. Estou abrindo uma exceção hoje porque
entendo todas as pressões que passou para chegar até aqui. Só
que quando estivermos no mar sozinhos e com um iate de alto
padrão a nossa disposição, será impossível não a possuir.
Gio é minha esposa e eu quero desbravar cada parte do seu
corpo.
Espero ela pegar no sono, quando sinto que dorme
profundamente saio do quarto e sigo para o do lado. Nunca durmo
ao lado de uma mulher e não vou mudar isso por causa do
casamento.
Prendo o meu cabelo em um rabo de cavalo e passo o
protetor solar no rosto. Escolho um gloss rosa para não ficar sem
usar nenhum tipo de maquiagem.
— Giovanna, já está pronta? — Ouço a voz de Dom e corro
para o quarto em busca da minha bolsa.
Ainda estou confusa com ele depois da noite passada.
Quando me beijou, achei que havia chegado a hora de consumar o
nosso casamento, principalmente quando sua mão começou a subir
pela minha perna, mas aí ele me surpreendeu ao interromper o beijo
e avisar que iríamos dormir.
Na hora não soube o que pensar e, para a minha surpresa,
eu me senti frustrada.
As minhas amigas sempre me disseram que beijar era algo
bom, mas eu não pensei que fosse tanto. No momento que ele
encostou a boca na minha eu senti o ímpeto de me afastar, mas aí
ele foi mordendo meus lábios, lambendo, sugando e eu relaxei,
permitindo que sua língua entrasse na minha boca.
Daquele momento em diante eu não queria mais parar de
beijá-lo e senti meu corpo ser possuído por uma sensação inédita,
que jamais havia experimentado.
Entro na sala agitada, estou completamente sem controle das
minhas emoções. Mal consegui dormir, em cada um dos meus
sonhos Domênico aparecia e me beijava, me deixando
enlouquecida e sentindo desejo de seguir além do beijo.
— Podemos ir? — Seus olhos mapeiam todo o meu corpo,
levando um tempo maior nas minhas pernas nuas. — Bonito vestido
— diz ao encarar meu rosto.
— Que bom que gostou, foi Fiorella que me deu. — Aliso o
vestido branco com uma saia rodada e sem mangas, ideal para o
destino que estamos indo.
— Ela tem bom gosto. — Ele olha para o relógio. — Vamos?
— Estende a mão para mim.
— Sim. — Seguro sua mão e caminho ao lado dele para o
corredor.
Amaro já nos aguarda do lado de fora da porta, ele acena
para mim e segue até o elevador carregando nossas duas bolsas
que estavam na suíte.
— Iremos direto para o iate?
— Isso. — Ele me puxa para perto quando entramos no
elevador. — Está tudo pronto para zarparmos assim que
chegarmos.
Não digo mais nada, fico em silêncio até o elevador chegar
ao saguão do hotel e nós seguimos até à saída. Um carro já nos
aguarda quando o calor do sol nos recepciona do lado de fora.
Domênico coloca os óculos escuros, em seguida abre a porta
do carro e me espera entrar. Se acomodando ao meu lado, volta a
unir nossas mãos e as deposita sobre sua coxa dura.
O meu corpo esquenta e sinto uma inquietação me dominar.
Olho para frente e Amaro senta no banco do carona. Ele coloca os
óculos escuros, me fazendo lembrar que também trouxe um.
Puxo minha mão para poder pegar os óculos, mas Dom não
a libera e me encara com sobrancelhas contritas.
— Quero pegar meus óculos na bolsa — digo percebendo
que ele acha que não quero seu toque.
— Certo. — Liberta minha mão.
Coloco os óculos e fecho a bolsa, imediatamente ele pega
minha mão de volta, colocando-a na mesma posição. Passo um
tempo em silêncio, mas acabo ficando incomodada.
— Nós vamos ter segurança na viagem?
— Sim — responde seco. — Não podemos correr riscos.
— Paolo sempre disse que Vichi é tranquilo.
— Realmente é, mas também iremos para Grécia, lá a
situação não é a mesma. — Fico pensativa.
— Acha que algum dos nossos inimigos poderia ir atrás de
nós?
— Sempre existe a possibilidade e eu não vou arriscar sua
segurança.
Volto a ficar em silêncio, não sei mais o que falar, ainda
conheço pouco Domênico na intimidade para poder manter um
diálogo.
Em certo momento do trajeto Masha me liga, o que me faz
passar um longo tempo conversando com ela. Quando encerro a
ligação já estamos chegando à marina.
— Chegamos. — Dom sai do carro e me estende a mão.
Caminhamos juntos pelo píer até que ele me encaminha para
um iate gigantesco. Já estive na embarcação de Nikaros quando fui
ao casamento do príncipe Mitchell em Vichi e sei exatamente o luxo
que me espera.
Um homem vestido de marinheiro se aproxima de nós
sorrindo.
— Sejam bem-vindos, sou o capitão Aeton. — Ele estende a
mão para Domênico que a aperta firmemente.
— Muito prazer, Aeton, sou Domênico Pizzorni e essa minha
esposa Giovanna Pizzorni. — Como é estranho saber que eu sou
casada com o melhor amigo do meu irmão e agora tenho um novo
sobrenome.
— É um imenso prazer ter a senhora e seu esposo no grande
Pégaso. — Ele também aperta a minha mão. — Vamos entrar, toda
a tripulação os espera.
Indo a nossa frente Aeton nos mostra a entrada. Domênico
não deixa de me tocar nem por um segundo, até mesmo quando o
capitão nos apresenta a todos os tripulantes e nos mostra cada
canto do esplendoroso iate de três andares, ele não se afasta.
— Aqui no final fica a suíte principal, já arrumamos todos os
pertences do casal, se algo não estiver do agrado apenas chamem
Hagne que ela providencia o que desejarem.
— Muito obrigada, é muito gentil da parte de vocês tanta
organização. — Agradeço feliz por saber que não vou precisar
arrumar nada, ainda me sinto exausta de todo o estresse do
casamento.
— É o nosso dever, senhora. — Ele sorri amistosamente. —
Tem champanhe na sala com os cumprimentos do senhor Kouris. —
Acenando, ele se afasta e nos deixa sozinhos.
— Acho que nunca vou me acostumar a ser chamada de
senhora aos dezoito anos — digo ao olhar a suíte belíssima.
— Você agora é casada e precisa ser tratada com respeito —
Dom comenta com tranquilidade.
— Ainda assim é estranho. — Corro meus olhos pela suíte.
— Uma pessoa poderia morar aqui tranquilamente — digo ao ver o
luxo em cada canto do local.
Todo o quarto é decorado em tom pastel com madeira-clara,
cortinas suaves balançam com a brisa marítima que entra pela
pequena janela. Uma cama imensa com a cabeceira acolchoada se
destaca no meio do quarto e um lindo sofá de canto faz um explícito
convite para uma tarde tranquila lendo um bom livro.
Vou olhando cada detalhe completamente encantada com
tudo o que meus olhos alcançam. Quando estive no iate não
conheci a suíte principal.
Entro no banheiro e não me surpreendo quando encontro
uma banheira que cabe duas pessoas com conforto. Noto meus
itens de higiene pessoal dispostos na bancada e dois felpudos
roupões de tamanhos diferentes pendurados perto da pia.
Certamente Hellena teve o cuidado de providenciar cada
detalhe, Paolo sempre disse que ela é uma mulher organizada e
muito solícita.
— Até mesmo meus produtos de higiene eles arrumaram —
revelo a Domênico que já está descalço e apenas vestindo a
bermuda de linho branca.
— Excelente. — Ele se aproxima. — Vá colocar seu biquíni
enquanto peço para servirem o champanhe na piscina, está quente
demais, vamos aproveitar um pouco o sol antes do almoço.
— Tudo bem. — Faço menção de voltar ao banheiro, mas ele
me puxa contra seu corpo.
Seguro em seus braços, sem saber ao certo se ele gosta que
o toque assim. Como não diz nada, eu apenas o encaro com a
respiração suspensa, esperando o que pretende fazer.
Não demoro muito para descobrir suas intenções, pois Dom
abaixa a cabeça e domina meus lábios em um beijo profundo, que
rouba o meu ar.
Agora ele não é tão gentil quanto ontem, seu beijo é mais
forte e sua mão que aperta a minha cintura tem um toque duro. O
meu corpo fica quente, o que me faz erguer os braços e cruzá-los
atrás do seu pescoço.
Acabo de confirmar que gosto muito de ser beijada, é muito
bom ter a boca dele contra a minha, é uma sensação prazerosa
sentir nossas línguas se envolvendo, buscando por algo que sequer
sei explicar.
Inesperadamente ele se afasta e me faz soltar um gemido de
lamento, quero mais beijos, acho que posso me viciar nisso.
— Tem certeza de que nunca burlou sua segurança e beijou
alguém? — pergunta com o cenho franzido.
— Absoluta. — Não vacilo na minha resposta.
— Então você aprende rápido, porque está beijando
fabulosamente bem.
— Jura? — Inesperadamente me sinto feliz.
— Juro. — Ele passa o polegar pelo meu lábio sensível. —
Eu poderia passar o dia apenas te beijando. — O meu coração dá
uma acelerada preocupante.
Mais uma vez ele me beija, só que agora é mais calmo, sua
boca desliza pela minha pacientemente, apenas provando meus
lábios sem pressa me fazendo gemer.
— Vá se arrumar, eu te espero na piscina — pede quando
quebra nosso beijo e me olha com desejo.
Dando um passo atrás, vira-se e deixa o quarto.
Eu fico parada ainda me sentindo confusa e extremamente
excitada por conta do nosso beijo.
Será que o sexo é tão bom quanto o beijo?
Bem... Masha me disse que depois de um tempo eu ia querer
fazer sempre, o problema é saber como será se ele decidir me
amarrar, não gosto dessa ideia.
É melhor ficar nos beijos, essa parte eu gosto muito, o sexo
não vou apressar. Se ele não der nenhum passo na minha direção,
não serei eu a tentar algo.

Chego à piscina e encontro Dom sentado em um banco alto


onde fica o bar, conversando com Amaro. O seu segurança é o
primeiro a notar a minha presença e avisa o chefe.
Domênico gira o rosto e fixa a atenção na minha direção.
Como não posso ver seus olhos, por conta dos óculos escuros, me
sinto de certa maneira insegura.
— Venha aqui, Gio, vamos brindar o início da nossa viagem.
Eu me aproximo com passos lentos e retiro alguns fios de
cabelo do rosto que o vento faz questão de revirar. Amaro me
entrega uma taça de champanhe, ele é um homem jovem, com um
rosto duro, porém bonito e possui o corpo coberto de tatuagens.
Suas orelhas têm diversos piercings, na sobrancelha uma
pequena lança de prata dá um charme perigoso. Ele não só se
parece com um mafioso, como também um modelo.
— Que façamos uma boa viagem. — Dom toca a sua taça na
minha.
— Que assim seja. — Experimento o meu champanhe e olho
o belo horizonte azul.
O iate já está navegando com tranquilidade, nós não estamos
em alta velocidade, o capitão apenas desliza calmamente pelas
águas suaves do mar, deixando o vento soprar agradável ao nosso
redor.
— Com licença, vou deixar vocês sozinhos, se precisarem
estarei lá embaixo.
— Pode ir, Amaro. — Domênico pega a garrafa de
champanhe e coloca mais um pouco na sua taça.
Ele apoia um cotovelo no bar e sinto que me analisa através
das lentes escuras. Mesmo estando com uma saída de praia de
tecido fino, eu me sinto nua perante o seu olhar.
— Venha aqui, Gio — pede com a voz baixa.
Um arrepio transpassa meu corpo e não tem nada a ver com
a brisa do mar, eu estou ansiando por ser beijada e isso é um pouco
contraditório, já que os beijos podem levar a outro nível.
Quando paro à sua frente ele me puxa pela cintura e retira a
taça que está na minha mão, colocando-a ao lado da sua. Dom se
apruma no banco e abre as pernas para me encaixar entre elas.
Segurando meu rosto ele me beija sem prévio aviso.
Sua boca envolve a minha pedindo passagem com a língua,
cruzo meus braços em seu pescoço, me deixando levar por seu
beijo possessivo com um longo gemido. Dom sobe a mão por
minhas costas, fazendo um carinho delicado e lento.
Eu me solto e deixo as pontas dos meus dedos alisarem os
fios dos seus cabelos aprisionados pelo coque.
Agora posso confessar a mim mesma que sempre achei esse
cabelo longo dele charmoso. Todas às vezes que o via nas festas
com seus ternos elegantes e cabelo preso, pensava nele como um
personagem sexy dos livros de romance.
Ofego contra seus lábios quando a mão dele aperta a minha
bunda. Dom crava os dedos com gosto na minha pele e intensifica o
beijo. Sinto a umidade se espalhar entre minhas pernas, mais
intensa do que aconteceu na noite passada.
Levo um susto quando algo grande e grosso cutuca a minha
barriga, estremeço dentro dos seus braços ao sentir o quanto ele
está excitado. Lembro de uma conversa que tive com Masha, onde
ela dizia que certamente não era só a mão dele que deveria ser
grande. Minha amiga estava certa, Domênico é grande em cada
parte do seu corpo.
Estou com medo, receosa do que vai acontecer a partir de
agora, só que não posso negar que a minha curiosidade está
falando mais alto, e se ele me quiser neste momento, eu não vou
pará-lo.
Com todas essas pessoas ao nosso redor, acho que a
possibilidade dele me amarrar é quase nula. Essa é oportunidade
perfeita para deixá-lo me possuir com segurança. Quando
estivermos no hotel em Vichi, já não terei tanta sorte.
— Tira esse vestido — pede ao afastar a boca da minha. —
Quero te ver. — Ele ergue os óculos e me faz perder a respiração
com o seu olhar luxurioso.
Cambaleio para trás, instável com a maneira que me
observa, começo a sentir minhas mãos trêmulas, já não sei se estou
tão curiosa sobre o sexo. Domênico é um homem experiente e eu
apenas uma tola que fui beijada pela primeira vez ontem à noite.
O que vai ser de mim nas mãos desse homem?
Volto à realidade e o obedeço, ainda não o conheço de
verdade, então, não é sábio contrariá-lo. Domênico pode estar
sendo charmoso para me domar, apenas Deus sabe como ele
realmente irá se comportar quando tiver o que deseja.
Puxo a saída de praia por sobre minha cabeça e jogo-a ao
meu lado, fico apenas com o biquíni branco com flores rosa que
escolhi junto das minhas irmãs.
Respiro fundo, fazendo meus seios estufarem, chamando à
sua atenção. Ele perde um tempo os admirando, até que desce por
minhas pernas e depois se concentra entre elas com uma
expressão indecifrável.
— Caralho! — Seu xingamento sai rouco. — Você é linda. —
Ele levanta e me puxa contra seu corpo. — Tudo em você é perfeito.
— Sua boca deposita um beijo no meu pescoço. — Vamos para a
piscina? — Fico confusa com a sua proposta, não esperava algo
assim neste momento.
— Por mim tudo bem — digo sentindo um calafrio percorrer
meu corpo.
Dom tira a blusa, a bermuda e deixa os óculos sobre o balcão
do bar, ele segura a minha mão e me leva para a escada da piscina.
Assim que entramos na água me abraça e volta a me beijar.
Como já entendi que abraçar seu pescoço não lhe causa
desconforto, eu me enrosco nele e correspondo o seu beijo
intensamente. Domênico imprensa meu corpo contra a parede da
piscina e segura as minhas coxas me fazendo rodear os seus
quadris.
Aperto meus dedos em seu pescoço quando o sinto duro
entre minhas coxas. Ele aperta a minha bunda e se encaixa ainda
mais contra mim. Sua boca desce pelo meu queixo deslizando sobre
o meu pescoço e seguindo entre o vale dos meus seios.
Estou quente demais para frear o seu avanço, apenas me
agarro contra ele e o deixo morder a carne exposta do meu seio
direito.
Eu só posso estar louca em gostar tanto da boca dele me
devorando, mas não posso negar o quanto estou me sentindo
insana.
A minha respiração fica presa quando Dom joga para o lado a
cortininha do sutiã do meu biquíni e fecha a boca contra meu seio.
Um gemido alto escapa dos meus lábios quando o sinto correr a
língua sobre o bico.
Isso é muito bom, nunca imaginei me sentir tão febril por ter
um homem sugando o meu seio. Ele corre a língua pela minha
aréola e depois prende o bico entre os dentes. Choramingo sentindo
uma emoção inédita me consumir, quero mais, só não sei
exatamente o que devo pedir.
Domênico ergue o rosto e me encara com claro desejo,
parecendo querer me devorar.
Segurando meu rosto, ele esfrega o nariz contra o meu
pescoço e beija o meu queixo.
— Eu quero tanto você, mas sei que precisa de um tempo. —
Se afastando, ele cobre o meu seio desnudo. — Vou esperar mais
um pouco para te fazer minha, mas saiba que desta noite não abro
mão de consumar o nosso casamento.
Ele não me dá chance de resposta, apenas sela os lábios
contra os meus e me faz mais uma vez perder o controle das
minhas emoções.
Entro na área externa do iate caminhando lentamente nos
saltos altos que escolhi. Domênico está sentado à mesa, com uma
blusa de malha azul com gola tipo canoa e o cabelo preso em um
coque no alto da cabeça.
Charmoso como sempre. Estou começando a me
desestruturar com o seu visual sexy, ele está mexendo
intensamente com a minha cabeça.
Quando nota a minha presença levanta e exibe um discreto
sorriso. Ele se afasta da mesa e vem ao meu encontro, tocando o
meu corpo ao encarar meus olhos.
— Você está linda — diz com os olhos repletos de desejo.
— Obrigada. — Seguro seus braços, ansiando por ser
beijada. — Eu tentei ficar apresentável para o nosso primeiro jantar
como casados.
— “Apresentável” não exemplifica o quanto está bonita. —
Sua boca roça a minha e me faz ficar arrepiada. — Tudo em você é
perfeito.
Sinto meu corpo vibrar com a maneira que fala sobre mim.
Domênico sempre me deixa nervosa, o seu jeito intenso me
desestrutura.
Segurando a minha mão ele me encaminha até meu assento.
Eu me acomodo na cadeira e o espero servir o meu vinho.
A nossa entrada chega, enquanto conversamos amenidades,
que incluem meu irmão, a sua esposa, a pequena Caterina e nossa
viagem a Vichi. Ele está relaxado como nunca vi antes e, pela
primeira vez desde o nosso casamento, eu me sinto relaxada ao
lado do meu marido.
O jantar transcorre com tranquilidade, cada prato servido está
delicioso, só não aprecio mais cada um deles porque estou ansiosa.
A promessa de Domênico de que serei dele esta noite não sai da
minha cabeça.
— Vamos terminar nosso vinho na proa? — ele pergunta
quando terminamos a sobremesa.
— Claro. — Levanto e seguro a sua mão.
Caminhamos até o gradil no ponto extremo do iate, Domênico
se recosta nele e me puxa contra seu corpo. Apoio uma mão em
seu braço e o encaro, admirando seus intensos olhos azuis. Ele
segura a minha nuca e lentamente aproxima o rosto do meu.
A sua boca sonda a minha tranquilamente, em um beijo
sereno, sem toda a intensidade dos beijos que trocamos mais cedo.
Toco seu pescoço e subo a mão até à sua nuca, ele me puxa
para mais perto, inclinando a minha cabeça para poder aprofundar o
beijo. Quando nossas bocas se separam encara-me alguns
segundos antes de beber um pouco do vinho.
— Estamos perto de chegar a Sicília, vamos passar o dia lá
antes de seguirmos para Vichi — avisa ao capturar uma mecha do
meu cabelo.
— Faz tanto tempo que não vou lá.
— Se quiser podemos passear um pouco em terra, ou
ficamos apenas na praia, é você que sabe.
— Decidimos o que fazer quando chegarmos. — Tomo um
longo gole do vinho.
— Gio. — Ergo a cabeça para poder olhá-lo. — Você está
tomando algum anticoncepcional? — a sua pergunta me pega de
surpresa.
Quebro o nosso olhar, estou constrangida demais para poder
encará-lo.
— A minha mãe me levou ao médico assim que soube do
nosso casamento, estou tomando injeção contraceptiva.
— Certo. — Ele apoia a mão no meu quadril. — Não quero
filhos por ora, tenho planos para você.
— Como assim planos? O que está querendo dizer? —
pergunto confusa.
— Em breve saberá — responde sorrindo. — O primeiro
plano é tê-la só para mim por um longo tempo. — Sua boca vai até
o meu pescoço, espalhando beijos delicados.
Solto um longo gemido quando suga a minha pele, é uma
verdadeira loucura estar me sentindo excitada por Dom, ele é o
melhor amigo do meu irmão, passei a vida vendo-o na minha casa,
é difícil aceitar que quero desesperadamente beijá-lo o tempo todo.
Ele me encara com os olhos brilhando de desejo, sua mão
vai para o meu rosto e seu olhar fica sombrio, causando um intenso
tremor por meu corpo.
— Quero você, Gio, não posso mais esperar. — Fico tensa,
sei que esse momento chegaria, ainda assim não consigo conter o
temor que sacode meu corpo. — Vamos para o nosso quarto. —
Não é um pedido.
Segurando a minha mão ele começa a caminhar para dentro
do iate, no meio do caminho descarta as nossas taças de vinho na
mesa que jantamos.
Tento manter a calma, Domênico tem sido um homem calmo
comigo até o momento, eu espero que ele mantenha esse
comportamento na cama.
Quando entramos no quarto começo a me descontrolar.
Algumas cenas nada agradáveis dos filmes que assisti passam na
minha cabeça e diversas delas envolvem amarras, chicotes e gritos.
— Não fique nervosa — pede ao perceber que estou
temerosa. — Prometo que vou ser gentil.
Lambo os lábios, tentando acreditar nas suas palavras.
— Posso pedir uma coisa? — Crio coragem para falar o que
venho programando o dia todo.
— O que quiser. — Ele me segura pela cintura.
— Não quero ser presa, nem que me bata. — Vejo o choque
no seu rosto.
Ele se afasta e corre a mão pelo cabelo.
— Por que está me pedindo isso?
— Não importa, só não quero ser amarrada. — Olho para o
chão.
— Foi Paolo que te pediu para me fazer este pedido?
— Não! — nego firmemente. — Meu irmão jamais falaria
comigo sobre... — Não termino de falar, fico com vergonha. — Eu
ouvi uma vez uma conversa no escritório do meu pai quando vocês
estavam reunidos e alguém disse que você amarra e bate nas suas
parceiras. — Domênico abre a boca surpreso. — Todos riram do
comentário e você não negou que fazia o que foi dito, inclusive eles
falaram outras coisas mais pesadas, que não vêm ao caso agora.
— E foi por isso que você passou a ter medo de mim por
achar que sou um agressor de mulheres? — Apenas aceno
confirmando suas palavras.
Dom solta uma risada e se senta na cama, ele parece
chateado com a nossa conversa, acho que falei demais, não devia
ter aberto minha boca.
— Vem aqui, Giovanna — O seu tom duro me faz ficar
paralisada, ele está com raiva de mim. — Apenas venha aqui, não
vou te bater ou amarrar, não sou um idiota.
Faço meus pés se moverem, é melhor seguir suas ordens.
Ele puxa a minha mão e me faz sentar no seu colo,
Domênico me encara como se estivesse travando uma guerra
intensa por dentro.
— Gio, eu não gosto de ser tocado em nenhuma parte do
meu tronco. — Sua expressão está tensa. — Foi nesta parte que
recebi as piores torturas do meu pai, isso me gerou um trauma que
não consigo superar para a minha vergonha.
— Por que vergonha? — pergunto sem entender.
— Isso é uma fraqueza, eu não deveria ter essa restrição.
— Você está longe de ser fraco, Dom, ter algum tipo de limite,
ou trauma não te faz ser fraco. — Apoio a mão no seu rosto. — Eu
odeio seu pai.
— Odiamos. — Agora ele ergue um canto da sua boca
rosada, em um discreto sorriso. — Eu amarro as mãos das minhas
parceiras apenas para evitar que me toquem, não quero ter que
explicar a cada uma delas que tenho trauma de toques, prefiro fingir
que gosto de vê-las amarradas.
— E por que está me explicando isso?
— Porque você é minha esposa. — Fico pensativa.
— Então, você vai me amarrar também?
— Só se você pedir, porém irei segurar as suas mãos quando
ficarmos frente a frente. — Sua expressão é tensa. — Mas se você
por ventura me tocar onde não desejo, infelizmente eu te amarrarei.
— Onde posso te tocar sem te incomodar? — Meu coração
corre acelerado com sua declaração.
— Pode tocar meus ombros, pescoço, pernas e na minha
bunda. — Ele ergue uma sobrancelha e eu fico envergonhada ao
imaginar tocar sua bunda. — Com suas mãos só pode tocar meu
tronco se eu permitir.
— Certo. — Corro a língua pelos lábios nervosa. — Prometo
não tocar onde não gosta.
— Eu vou garantir que não faça isso. — Ele beija abaixo da
minha garganta e sobe a mão pela minha coxa. — Você tem um
cheiro tão gostoso. — Envolvo meus braços por seu pescoço,
tentando ficar relaxada. — A sua pele é tão macia. — Ele morde
meu queixo, me fazendo gemer. — Levanta, Gio, quero tirar sua
roupa.
Mesmo com as pernas trêmulas eu me ergo e vejo Domênico
fazer o mesmo. Ele tira a minha blusa, expondo o meu sutiã de
renda branco. O calor nos seus olhos indica que gosta do que vê,
por algum motivo fico feliz em saber que sente atração por mim.
Com calma abre o zíper da minha saia e vai deslizando-a por
minhas pernas. Quando fico apenas de lingerie, ele escorrega os
olhos por meu corpo.
— Porra! Você é fodidamente gostosa. — Sua mão me puxa
contra si e seus lábios aprisionam os meus.
Seguro em seus ombros e acompanho ansiosa o seu beijo,
ele aperta a minha bunda com força, me fazendo gemer com a
sensação de prazer que me domina.
Apenas com uma mão abre o meu sutiã. Interrompendo o
nosso beijo se afasta e me livra da peça. Seus olhos agora são
como lavas incandescentes, enquanto encara os meus seios nus.
Fecho meus próprios olhos quando ele os apalpa parecendo
fascinado por tê-los dentro da sua mão. Eu não esperava que fosse
tão bom senti-lo me tocar assim, estou sentindo a minha calcinha
extremamente molhada, a excitação está correndo sem controle
através do meu corpo.
— Você não sabe o quanto é linda. Dio santo! É muita
perfeição para apenas uma mulher. — Solto um longo gemido
quando abocanha um dos meus seios.
Afundo as mãos no seu cabelo e choramingo quando ele
suga meu seio com força.
— Dom... — gemo seu nome sem saber ao certo o que falar.
A mão dele alcança entre as minhas pernas e um rosnado
profundo escapa da sua garganta, quando sente o quanto estou
molhada.
— Deita na cama, Gio — ordena ao se afastar, deixando-me
meio tonta.
Faço o que pediu e me deito, esperando para saber qual será
o seu próximo passo. Dom tira a blusa e bermuda, ficando apenas
com uma boxer branca, que não esconde o quanto está excitado.
Meu bom Deus, ele tem um corpo perfeito, seus músculos
são na medida certa e as suas tatuagens ao longo do tronco, braços
e pernas o deixa ainda mais sensual.
Fixo minha atenção na sua ereção e me sinto agitada por
pensar no que está prestes a acontecer.
Um canto da sua boca ergue-se quando nota que encaro seu
volume, Dom sobe na cama e paira sobre mim parecendo ser ainda
maior.
— Não me toque, não quero te prender.
— Eu não vou, confie em mim. — Seus olhos ganham um
brilho diferente.
Encosto a mão no seu rosto, necessitando sentir seu calor,
estou temerosa, não nego, mas eu quero Domênico, para a minha
própria surpresa. Depois da conversa que tivemos, eu me sinto mais
interligada a ele.
Sua boca vem contra a minha furiosa, ele insere a língua
entre meus lábios e me beija intensamente. Seguro sua cabeça, me
entregando ao beijo sentindo o calor do seu corpo sobre o meu.
A sua mão desce para o meio das minhas pernas esfregando
o dedo bem em cima do meu clitóris. Gemo imediatamente, sentindo
uma onda de prazer eletrizar meu corpo.
Domênico começa a espalhar beijos pelo meu pescoço, vai
descendo até chegar ao meu seio. Ele corre a língua pelo bico e
encara meus olhos.
Fico cativa do seu olhar, enquanto suga meu seio faminto. A
minha respiração começa a ficar irregular, eu me contorço ao sentir
o seu toque entre minhas pernas intensificar.
Grito quando ele puxa o bico antes de se afastar. Espalhando
beijos por minha barriga, vai descendo lentamente até que chega
entre minhas pernas. Erguendo os olhos me encara e sorri, em
seguida morde a parte interna da minha coxa.
Suas mãos grandes engancham nas laterais da minha
calcinha e a desliza lentamente por minhas pernas. Sinto meu rosto
ruborizar quando ele encara minha intimidade. Não imaginei que
seria tão constrangedor ficar nua na frente de um homem.
— Não sei se mereço uma mulher como você, mas prometo
tentar estar à altura deste presente inusitado que foi tê-la só para
mim. — Eu queria poder tocá-lo agora sem restrição, Dom parece
tão carente que faz meu coração ficar pequeno.
— Pode ter certeza de que você tem o que merece.
— Sei que não te mereço — diz ao segurar minhas coxas. —
Mas eu estou me fodendo para esta verdade, você é minha e eu vou
tomar o que é meu agora mesmo.
— Oh! — exclamo ao senti-lo abocanhar a minha intimidade
com fome.
Seguro na colcha que recobre a cama e sinto uma sensação
inédita me consumir. Dom corre a ponta da língua por minha
entrada, depois suga meus pequenos lábios avançando sobre meu
clitóris.
Tremo quando ele o lambe lentamente, correndo a língua
sem pressa, me degustando como se eu fosse um delicioso sorvete.
Isso é bom, na verdade, é muito melhor do que beijá-lo.
As coisas se intensificam quando Domênico parece devorar
desesperadamente a minha vagina. Ele avança sem piedade, me
sugando avidamente. Sou surpreendida quando sinto um de seus
dedos infiltrando o meu canal.
Não consigo me conter e seguro seu cabelo, puxando os fios
com força enquanto o sinto mover o dedo no meu interior, sem
deixar de sugar meu clitóris.
O elástico que prende seu cabelo acaba saindo, permitindo
que a sedosa massa dos seus fios caia por sua face, espalhando-se
entre minhas coxas.
Grito quando meu corpo começa a ser eletrocutado. Uma
onda de prazer me sufoca, meus músculos tremem sem controle,
enquanto Dom continua me sugando, alongando a sensação
prazerosa que me faz sair da realidade.
Fico letárgica ao sentir meu corpo se acalmar, meus olhos
estão pesados e minha respiração sai com dificuldade. Domênico
beija entre minhas coxas, depois vai subindo os beijos até que ele
me encara.
— Sentir seu gosto é maravilhoso, bem melhor do que
pensei. — Ele beija meu queixo. — Mas eu preciso sentir como é
estar dentro de você. — Aperto minha mão no seu ombro, sentindo
o meu coração acelerar com o próximo passo que iremos dar. —
Calma, Gio, eu prometo que vou ser cuidadoso — diz ao se esfregar
em mim. — Apenas fique relaxada, quanto mais calma estiver mais
tranquilo será.
— Tudo bem. — Inspiro fundo quando o vejo tirar a boxer.
Encaro seu membro duro com a respiração presa.
— Não pense, Gio — alerta ao afastar minhas pernas com os
joelhos. — Prometo ser delicado hoje. — Não perco a sua última
palavra.
Amanhã ele será exatamente o quê?
Não tenho tempo de pensar, pois ele pressiona a sua ereção
contra a minha entrada, me fazendo cravar as unhas nos seus
ombros.
— Só me deixe entrar — pede ao beijar meu pescoço.
Limpo a minha mente e apenas o beijo para poder me distrair
e não fazer nada estúpido. Ele começa a me penetrar, avançando
aos poucos. Eu estou muito excitada, após o sexo oral incrível que
ele fez em mim, ainda assim sinto uma pressão forte no meu canal
que me faz dar uma retraída.
— Ai! — resmungo contra a sua boca quando uma ardência
forte tenciona meus músculos internos.
— Calma, eu só rompi seu hímen, continue tentando ficar
relaxada.
Busco seguir seu pedido e aos poucos ele vai ganhando
espaço e se movendo bem lentamente, ajustando-se ao meu
interior.
Afundo minhas unhas na sua pele e recebo em troca um
gemido.
— Por Deus, Gio, você é gostosa demais. — Ele recua e
volta a entrar, me fazendo perder o fôlego.
O meu corpo está coberto de suor e eu não consigo pensar
em mais nada além da sensação estranha em senti-lo se
conectando tão intimamente comigo.
Com calma ele começa a se mover, indo cada vez mais
fundo, roubando a minha respiração várias vezes. Dom acelera e
isso me faz ofegar quando fogo parece incendiar entre minhas
pernas com o ardor que me consome.
Ele me surpreende ao segurar meus braços e erguê-los
acima da minha cabeça aprisionando meus pulsos com uma mão.
Seus olhos encontram os meus e o desgraçado sorri, sua mão livre
toca meu clitóris, me fazendo gemer.
Gotas de suor despontam da sua testa enquanto ele se
movimenta cada vez mais rápido. A dor que me consumia vai
arrefecendo quando ele intensifica o toque no meu clitóris, acabo
gemendo quando sinto meus músculos tremerem com o prazer que
seu toque certeiro começa a me causar.
Levanto o rosto querendo um beijo, preciso dele, sentir seu
gosto, estou supreendentemente viciada na sua boca e nas
sensações extraordinárias que me faz sentir. Ele entende meu
pedido e esmaga a minha boca em um beijo forte.
— Dom — sussurro seu nome quando mais uma vez meu
corpo desintegra prazerosamente.
Ele não para de mover o dedo contra meu clitóris,
prolongando o meu prazer e me fazendo esquecer que ainda está
dentro de mim, me alargando dolorosamente.
— Gostosa! — diz rente ao meu ouvido ao estremecer e
gozar. — Porra! — Joga a cabeça para trás e geme alto.
A minha respiração sai em lufadas rápidas, enquanto observo
seu rosto vermelho contorcido de prazer.
Domênico solta meus pulsos e se joga ao meu lado. Ele seca
o suor da testa e inspira fundo, tentando controlar a respiração.
Sinto algo pegajoso entre as minhas pernas, mas não me atrevo a
me mover, ainda estou perdida demais com tudo o que aconteceu.
Sou pega de surpresa quando ele me puxa contra seu corpo
e me abraça por trás.
— Você é deliciosa Gio e cada parte do seu corpo pertence
apenas a mim. — Ele beija meu pescoço.
Não digo nada, estou me sentindo confusa demais para dizer
qualquer coisa. O que acabou de acontecer entre a gente não foi o
que eu esperava, Domênico se superou e eu preciso analisar com
calma todas as emoções que eu estou sentindo.
É difícil colocar em palavras tudo o que Giovanna me fez
acabar de sentir. Estar dentro do seu corpo foi uma sensação
perturbadora. Já fodi muitas mulheres, algumas também eram
virgens, mas nenhuma me deixou tão ensandecido.
Não pensei que fazê-la minha seria algo tão intenso, estou
completamente surpreso com essa inédita sensação de profundo
desejo que está me consumindo.
Posso facilmente ficar viciado no corpo da minha esposa, Gio
é um verdadeiro perigo.
Saio da cama precisando de um pouco de espaço, ficar
sentindo esse perfume de rosas dela não está me ajudando a
controlar minhas emoções.
Caralho! Que merda está acontecendo comigo?
— Tudo bem com você? — pergunto enquanto entro no
banheiro.
— Sinto como se um caminhão tivesse me atropelado, não
sabia que sexo causava tanta exaustão.
Pego um papel higiênico para retirar o sangue dela do meu
pau. Em seguida coloco a banheira para encher, será agradável ela
tomar um banho para relaxar os músculos.
— Ainda não está acostumada, depois não será tão cansativo
— afirmo quando retorno ao quarto e visto a boxer.
— Assim eu espero. — O jeitinho tímido com que sorri é sexy
pra caralho.
Ela não tem noção do seu poder de sedução, difícil resistir ao
seu olhar inocente.
— A banheira está enchendo, será bom para você tomar um
banho.
Estendo a mão e Gio a segura, o seu cabelo está todo
desgrenhado e a boca inchada por causa dos meus beijos. A
vontade de voltar para a cama é imensa, mas eu não posso exigir
tanto dela hoje.
— Vou beber alguma coisa lá fora, se precisar de mim só
chamar — aviso assim que a ajudo a entrar na banheira.
Vejo o choque no seu rosto ao ouvir minhas palavras,
certamente estava pensando que tomaríamos banho juntos.
Acho que chegou o momento de explicar a ela que não deve
esperar muito de mim, meu comprometimento no nosso casamento
é protegê-la sempre, não ser um marido amoroso.
— Não preciso de nada — sussurra, mágoa está brilhando
nos seus olhos.
Inspiro fundo, buscando uma maneira não muito rude de
relembrá-la da nossa conversa antes do casamento, quando avisei
que precisávamos apenas ter tesão um pelo outro, não amor. Nós
nunca seremos um casal apaixonado, então não existe motivos para
ficarmos com carinhos tolos, até porque eu não gosto disso.
— Sei que esperava que eu fosse afetuoso neste momento
— afirmo com a voz serena. — O problema é que não sou um
homem que goste de muito contato, nós não nos casamos por amor,
não é necessário criar uma mentira. — Sou bem sincero.
Como minha esposa ela merece sempre a verdade, não vou
criar uma ilusão fazendo-a acreditar que podemos ter um
casamento perfeito, assim eu anulo de imediato qualquer
possibilidade de ela criar qualquer tipo de sentimento romântico por
mim.
— Nasci na máfia, Dom, não tive muito carinho na minha vida
— diz ao se sentar dentro da banheira. — Nós não podemos mudar
nossas realidades, eu sei disso.
— Realmente não podemos — respondo feliz por ela não
fazer desse momento algo dramático.
Deixo-a sozinha e saio do quarto. A vida na casa dela não foi
melhor que a minha, seu pai era tão sádico quanto o meu. Apesar
de ele não ser tão cruel com as filhas, também não era um exemplo
de afeto.
Jogo o cabelo para trás e caminho para área externa ainda
consumido pelo intenso desejo por Giovanna. Posso não a amar,
mas tesão por ela não falta, não gosto sequer de imaginar a merda
que será quando ela aprender a trepar de verdade.
Puta que pariu! Não me lembro de alguma vez já ter me
sentido tão insano por uma mulher. Tudo o que eu queria era poder
foder com ela naquela banheira até que gritasse mais uma vez meu
nome.
— Aconteceu algo, chefe? — Amaro pergunta quando me
aproximo de onde está.
— Tudo tranquilo. — Encosto no gradil ao seu lado.
— Pensei que não o veria mais nesta noite. — Ele me
encara com diversão.
— Pode apostar que também não queria te ver, mas lua de
mel é complicado.
— Entendo — responde com um gesto afirmativo de cabeça.
— Se não for ficar com a sua esposa agora, podemos beber e jogar
truco.
— Excelente ideia. — Bato no seu ombro.
Qualquer coisa é melhor do que voltar para o quarto e
encarar Giovanna.
Jogo com Amaro pelas próximas três horas, quando ele se
recolhe para dormir, decido verificar minha esposa. Entro bem
devagar no quarto e a encontro dormindo pacificamente.
Sua boca está levemente aberta, os cabelos longos formam
uma massa espessa no travesseiro e um dos seus braços está
apoiado sobre a barriga.
Linda até mesmo dormindo.
Saio do quarto e vou para o sofá da sala dormir. Talvez uma
noite de sono consiga colocar a minha cabeça em ordem.

Passamos o dia seguinte na praia de Giardini Naxos na


Sicília, Gio decidiu que queria andar pela cidade e aproveitar o sol
na areia. Felizmente ela pareceu não ter se abalado com o meu
distanciamento depois da nossa primeira transa, muito menos
pareceu notar que não dormi ao seu lado, se notou, ela não se
incomodou em não me ter na cama.
Espero que seja última opção, assim não teremos nenhum
problema quanto a isso.
Durante à noite apesar de querê-la muito optei apenas por
sexo oral, que fez Gio gozar intensamente na minha boca. Já hoje é
outro dia e eu não posso mais me segurar, preciso urgentemente da
minha esposa.
Entro no quarto e encontro Giovana na frente de um pequeno
armário mexendo em uma caixinha. Ela vira o rosto quando me
escuta batendo a porta.
— Já chegamos a Vichi? — pergunta ao voltar sua atenção
para o conteúdo da caixa.
— Chegaremos mais ou menos em três horas. — Eu me
aproximo devagar.
— Nós vamos direto para o hotel?
— Vamos. — Rodeio meus braços por sua cintura e beijo seu
pescoço. — Estou louco para ficarmos sozinhos, assim ficamos
mais à vontade.
— Mas aqui ninguém nos incomoda.
— Aqui você não pode andar nua. — Mordo o lóbulo da sua
orelha. — Infelizmente neste iate eu não posso tê-la onde eu quiser.
— Aperto o seu quadril e esfrego a minha ereção contra sua bunda.
— Vamos aproveitar nosso tempo até chegarmos a Vichi — digo ao
abrir o botão da sua bermuda.
Deslizo a peça por suas coxas e engasgo quando vejo a
pequena calcinha sumindo entre as bandas da sua bunda. Aperto
sua carne redonda e recebo em troca um gemido longo.
Rapidamente a livro da blusa e apalpo seus seios quando os tenho
nus.
Beijo seu ombro, enquanto corro os polegares nos bicos
sentindo-os ficarem duros. Ela joga a cabeça contra meu peito e me
dá acesso ao seu pescoço.
Mordisco a sua pele lentamente, saboreando prazerosamente
cada um dos seus gemidos. Desço a mão e toco sua boceta, um
sorriso de satisfação escapa dos meus lábios, o fino tecido da renda
já está molhado.
Giovanna não noção de como me deixa excitado em saber
que ela também me deseja.
— Venha para cama — peço ao me afastar e segurar a sua
mão.
Quando olho para o seu rosto vejo o quanto está excitada,
Gio é naturalmente sensual e muito receptiva aos meus toques. Ela
deita e me encara, esperando atenta pelo que vou fazer.
Ajoelho no colchão e tiro a sua calcinha, ela morde o lábio
inferior quando eu corro a ponta do indicador ao longo da sua fenda.
Sua boceta é tão delicada, fica até difícil acreditar que ela consiga
me receber.
Abro suas pernas desesperado para prová-la, o gosto de Gio
é fabuloso, nada se compara ao seu sabor. Ela solta um soluço alto
quando lambo seu clitóris, seu corpo se contorce a cada vez que o
sugo.
Hoje eu sou mais agressivo, é difícil conseguir me conter
quando a tenho na minha boca. Ela apoia a mão na minha cabeça e
requebra o quadril. Solto um discreto sorriso, minha doce esposa já
está começando a aprender buscar seu próprio prazer.
Com um gemido intenso ela explode na minha boca, gozando
ao chamar meu nome e puxando dolorosamente os fios do meu
cabelo.
Tão bom ouvi-la me chamando com essa voz rouca e
ofegante, só eu sei como fica linda quando está se desmanchando
de prazer.
Lambo todo o seu gozo enquanto ela vai se acalmando,
espalhando beijos ao longo da sua barriga vou subindo devagar até
que nossos olhos se encontram.
— Você não sabe como é bom ouvir meu nome saindo
desses lábios tentadores quando goza. — Gio faz aquela carinha
linda de tímida, que me deixa ainda mais duro.
Avanço contra a sua boca ansioso para poder mais uma vez
sentir sua boceta me recebendo, ela é tão apertada que só de
pensar em estar dentro das suas dobras, já me faz sentir um prazer
indescritível.
Volto a beijá-la enquanto esfrego a minha ereção na sua
umidade, Giovanna se abre para mim, me convidando
silenciosamente para que vá adiante. Eu começo a entrar nela e
sinto seu corpo ficar tenso, aprofundo o beijo, tentando deixá-la
mais excitada.
Meu movimento dá certo e seu corpo se acalma, vou
entrando no seu calor, gemendo contra seus lábios quando a sinto
me acomodar. Seu canal é tão estreito, que acaba sendo um
trabalho extremamente difícil não gozar rapidamente.
Um homem qualquer não resistiria muito tempo, mas eu
aprendi a duras penas a controlar minhas emoções e neste
momento eu preciso de muito controle para dar um bom orgasmo a
ela, antes de ter meu próprio momento de prazer.
Vou me movendo em um ritmo calmo, mantenho meus lábios
nos dela. Gio infiltra as mãos no meu cabelo, fazendo uma bagunça
nos fios que agora estão soltos.
Ela geme alto quando eu avanço contra seu pescoço, seguro
as suas mãos acima da cabeça e aumento a velocidade.
— Dom... — Ela me chama com a voz rouca.
— Estou aqui. — Desço a mão e toco seu clitóris.
— Ohhh! — exclama quando começo a friccioná-lo.
Vou movimentando meu dedo no seu botão e intensifico a
penetração. Olho para seu rosto querendo saber se ela está
sentindo algum desconforto, mas vejo apenas seus lábios carnudos
entreabertos e sua expressão de tesão.
Linda pra caralho! Ela é surrealmente bonita e sensual.
O seu corpo estremece quando goza, ela joga a cabeça
contra o travesseiro e grita. Lambo uma gota de suor que escorre
por seu pescoço e continuo a me mover com movimentos curtos e
profundos. Ela tenta se desprender da minha mão que aprisiona as
suas. Como estou prestes de gozar, relaxo. Gio imediatamente
afunda as unhas no meu traseiro, gemendo enquanto todo o meu
corpo incendia.
— Porra! — rosno quando o gozo me sufoca.
Se na primeira vez foi maravilhoso, agora eu não tenho
palavras. Giovanna foi feita para mim, o seu corpo é uma fonte
inesgotável de prazer.
Caio para o lado não querendo esmagá-la. Tiro os fios do
meu cabelo que grudaram em meu rosto e seco o suor da testa.
Essa mulher é de enlouquecer qualquer homem, Giovanna
tem algo que me deixa fascinado. A sede que sinto pelo seu corpo
não me agrada.
— Descanse um pouco, quando chegarmos a Vichi venho te
avisar — digo quando me levando, já instaurando um
distanciamento entre nós.
— Certo. — Ela respira fundo e puxa o lençol para cobrir seu
corpo.
Noto que está chateada, mas não diz nada, Gio sabe se
segurar, isso é muito bom. Tudo o que não preciso é de uma esposa
sensível e que me traga dor de cabeça.
— Fiquem à vontade. — O gerente do hotel abre a porta da
nossa suíte todo solícito. — Com os cumprimentos do príncipe
herdeiro de Vichi, vocês têm champanhe na sala, com alguns
aperitivos preparados por nosso chefe com exclusividade para o
casal. — Ele sorri. — Vocês também possuem uma reserva no
nosso restaurante.
— Muito obrigado. — Domênico aperta a mão do gerente. —
Também farei um agradecimento pessoal ao príncipe.
O homem se afasta junto de um dos funcionários que trouxe
nossa bagagem e nos deixa sozinhos.
Não espero pelo meu marido, entro na suíte presidencial
curiosa para saber como é por dentro. Fico de boca aberta quando
encontro uma sala gigantesca, o lugar é deslumbrante, com amplas
portas de vidro que dão uma visão espetacular do mar de Vichi.
Abro uma das portas e vou até à varanda. Apoio a mão no
gradil e observo as ondas que chegam suaves na areia. Já
escureceu e as luzes da cidade proporcionam um charme todo
especial para o local. Vichi é um dos lugares mais bonitos que eu já
conheci, tudo aqui é de uma beleza paradisíaca.
— Gostou? — A voz de Dom vem juntamente com suas
mãos aprisionando meus quadris.
— É lindo. — Inspiro fundo sentindo o calor das suas mãos
incendiar meu corpo. — Acho Vichi um dos lugares mais
maravilhosos que já conheci.
— De fato aqui é especial em vários sentidos. — Uma de
suas mãos se espalma na minha barriga, grudando-me a ele. —
Vamos beber nosso champanhe?
— Sim. — Sigo na sua companhia para a sala.
Fico ao seu lado enquanto pega a bebida para abri-la.
Aproveito para observá-lo, ele tem sido atencioso e educado
comigo, sempre está preocupado se preciso de algo, mas fora isso
se mantém distante.
Em cada um dos momentos íntimos que tivemos até agora
ele teve o cuidado de me dar prazer, porém quando terminamos de
transar, vira um verdadeiro iceberg.
Não posso dizer que estou surpresa com sua atitude, ele
nunca escondeu de ninguém o quanto é frio, então eu não esperava
um marido cheio de chamego.
O fato dele se preocupar comigo enquanto transamos já
representa muito, a maioria das mulheres na máfia não têm essa
sorte, minha mãe e Fiorella são grandes exemplos. Por isso não
posso reclamar de nada, apenas aproveitar os momentos que
estamos juntos sem cobranças ou romantismo.
Quando eu era adolescente sonhava em viver um grande
amor, mas o tempo passou, as minhas obrigações dentro da máfia
bateram à minha porta e destruíram todas as minhas ilusões.
— Ao nosso casamento. — Ele entrega a minha taça e
fazemos um brinde.
Os seus olhos ganham um brilho luxurioso quando me
encara, causando um tremor de excitação percorrer meu corpo.
Ele me quer agora e eu também o quero. Podemos não nos
amarmos, mas ao menos ambos gostamos de estar juntos. No
mundo em que vivemos, esse tipo de conexão é raro.

Visto a camisola de seda azul e avalio meu visual. Ela é curta


demais, foi claramente feita para sedução, é ideal para uma lua de
mel.
É um pouco difícil acreditar que gosto dos meus momentos
de intimidade com Domênico. Não pensei que eu me adaptaria tão
rapidamente ao sexo e, que ansiaria para cada nova aventura que
temos na cama.
Antes do casamento ele havia me dito que não precisávamos
de amor, apenas tesão. Bem... infelizmente Dom tinha razão, não
existe nada de sentimentos entre nós, mas tesão até sobra.
Abro a porta do banheiro e encontro meu marido sentado na
cama digitando algo no celular. Ele não nota a minha presença de
imediato, apenas quando subo na cama é que vira o rosto e me
encara.
Seus olhos descem pela minha camisola curta e param nas
minhas coxas, as analisando sem pressa. Quando sobe o olhar e
me fita, o meu corpo fica aceso com o fogo que presencio em suas
íris.
Sem me falar nada ele volta para o celular, digita com
agilidade, até que descarta o aparelho e joga sua atenção
totalmente em mim.
— Algum problema? — pergunto para tentar puxar assunto.
— Nada que seu irmão não possa resolver sem a minha
presença.
— Era Paolo? — Inesperadamente sinto falta do meu irmão
implicante.
— Sim. — Dom apoia a mão no meu quadril. — Seu irmão
gosta de infernizar a minha vida, principalmente se eu estiver em lua
de mel com a irmãzinha caçula. — Ele beija entre o vale dos meus
seios. — Acho que os anos irão passar e ele não vai aceitar nosso
casamento.
— Meu irmão é meio possessivo.
— Meio? — Ergue uma sobrancelha e me faz sorrir.
— Tá bom! — Corro a mão pelo seu cabelo, esse é um toque
que ele gosta. — Ele é muito possessivo.
— Melhor assim. — Sou surpreendida quando ergue meu
corpo para que eu monte sobre ele. — Seu irmão é
insuportavelmente chato, mas tolero suas implicâncias porque é
meu melhor amigo. — Aperto seus ombros quando ele beija bem no
meio da minha garganta. — Gio, hoje eu quero propor algo novo.
— Como assim novo? — pergunto ressabiada.
— Quero que me prove. — Levo algum tempo para entender
o que está querendo dizer, mas quando suas palavras fazem
sentido, eu fico nervosa. — Vamos apenas tentar, caso não se sinta
confortável deixaremos para outro dia.
Aperto seus ombros, sabendo que para ele esse ato é
importante. Domênico me deu prazer com sua boca em todos os
nossos momentos até aqui, nada mais justo do que retribuir.
— Eu quero tentar. — Realmente quero, só estou temerosa
de não conseguir fazer como ele gosta.
Sei que meu marido tem uma vasta experiência com as
mulheres, certamente nada do que eu faça estará o satisfazendo de
verdade, mas eu espero que com o tempo possa corresponder as
suas expectativas.
— Tudo está em suas mãos, pare quando quiser.
— Certo — concordo segundos antes dele me beijar.
Ahhh... como eu gosto de ser beijada. Ainda não tenho
segurança o suficiente para beijá-lo por iniciativa própria, mas assim
que tiver vou beijar meu marido a cada instante.
Sua mão entra por baixo da camisola e desliza pela minha
bunda. Dom morde meu lábio inferior e vai espalhando beijos pelo
meu pescoço. Quando chega ao decote, joga o tecido para o lado e
expõe meu seio.
Erguendo os olhos lambe a ponta do bico, arrepiando a
minha pele. Afundo as mãos no seu cabelo, adorando a textura
suave dos fios. Gemo quando ele suga o seio com força, fazendo
uma corrente elétrica ir direto para o meio das minhas pernas.
Eu me esfrego nele, tentando aplacar um pouco a vontade de
senti-lo dentro de mim. Masha me disse que poderia ser doloroso o
sexo nas primeiras vezes e eu não nego que foi tenso o nosso
primeiro momento íntimo, mas na segunda vez meu corpo já parecia
pertencer ao meu marido, eu me moldei a ele com mais facilidade.
Seguro a cabeça de Dom e ofereço ainda mais acesso a
mama, já descobri que beijá-lo está no topo do que mais gosto de
fazer, depois vem quando ele está entre as minhas pernas e, por
último, enlouqueço quando devora meus seios em sua boca quente
e ávida.
— Ah, Dom, eu gosto disso — assumo querendo mais. —
Quero mais forte. — Ele me olha com curiosidade, mas não para o
que está fazendo, pelo contrário ele suga com tanta força, que me
faz gritar.
Puxo seus fios, mas ele não me solta, apenas prende meus
olhos aos seus e vejo um fogo intenso os consumindo. Eu deveria
ter medo da maneira que me olha, mas apenas fico ainda mais
excitada.
Eu queria que ele me olhasse assim a todo momento, em
especial quando terminamos de transar.
A mão dele vai para o meio das minhas pernas, me causando
um profundo gemido. Remexo contra seu toque, querendo sentir
seus dedos dentro de mim, porém Dom mantém o toque superficial.
Em determinado momento ele se afasta e iça meu corpo me
colocando ao lado do seu. Em silêncio levanta da cama e desce a
cueca samba-canção revelando seu membro rijo e grosso.
Não sei se conseguirei fazer tudo certo, mas eu vou tentar
dar o meu melhor, quero retribuir cada grama de prazer que já me
deu até agora.
— Você precisa relaxar e evitar que seus dentes machuquem
meu pau, por San Genaro não me morda — pede ao olhar para mim
com certa apreensão.
— Não posso morder nem um pouquinho? — o provoco
quando me sento na beira da cama.
— Gio, isso é algo sério. — Passo a língua pelos lábios,
apenas para provocá-lo, sei que fica abalado quando faço isso.
— Não vou te morder. — Fico de joelhos na sua frente. —
Mas se eu fizer algo errado avise.
— Farei isso. — Ele segura o próprio membro. — Agora que
tal experimentar só a cabeça?
Faço o que ele pediu e corro a língua apenas ao redor da
ponta, Dom rosna, fitando meus movimentos com atenção. Eu
avanço e faço uma leve sucção.
Ele aperta a minha cabeça, soltando mais um gemido.
— Segure-o, Gio, ele é todo seu, levo-o até onde conseguir
— pede e eu obedeço.
Começo a provar Domênico a princípio com cuidado, mas
logo eu me empolgo e vou chupando-o energicamente, feliz em
ouvir os seus sons de prazer. Ergo os olhos e o flagro com a cabeça
para o alto e a boca aberta. Estou indo por um bom caminho, ele
está gostando.
Tomo uma iniciativa perigosa ao decidir tocar suas bolas.
Com os olhos ainda sobre ele, vejo-o abaixar a cabeça e me
encarar. Observo com atenção a sua expressão, tentando ver se
estou fazendo alguma coisa errada, mas Dom apenas aperta os
olhos em uma fenda e fica atento ao que estou fazendo.
Sigo em frente com meu toque e o levo intensamente dentro
da minha boca, me sentindo poderosa ao notar o quanto de prazer
está sentindo.
— Dio Santo! — ele puxa meu cabelo com força me fazendo
gemer dolorosamente com a sua pegada bruta. — Se você não
fosse quem é, e eu mesmo não tivesse tirado a sua virgindade, diria
que já chupou muito pau por aí, porque você está maravilhosamente
perfeita para um primeiro boquete.
Ele me levanta e joga meu corpo sobre a cama, me fazendo
soltar um gritinho com a surpresa do seu gesto.
— Gio, você foi feita para o sexo — diz ao se debruçar sobre
mim. — Acho que não sabe o quanto é fodidamente gostosa. —
Suas mãos puxam apressadamente a minha calcinha.
Eu me agarro a ele, beijando-o com desespero, apreciando
seus lábios macios e experientes, enquanto sinto meus músculos
vaginais se contraírem necessitando dele.
Quando se afasta vejo o seu rosto tenso, Dom parece estar
se controlando e, ao invés de me sentir temorosa, eu me excito.
— Vire-se — ordena.
Faço o que me pede e sua mão aperta a minha bunda com
força. Prendo a respiração, a sua pegada está mais bruta e
surpreendentemente isso me deixa ainda mais molhada.
Abafo um grito quando sinto sua boca mordê-la, não vejo a
hora dele entrar em mim, quero demais que me possua.
— Ainda não vou te comer de quatro, mas faremos isso em
breve. — Sinto sua ereção contra a minha bunda. — Mas hoje eu
vou montar sobre você, te mostrarei um novo ângulo. — Gemo
quando ele mordisca a minha orelha.
Domênico abre as minhas pernas e centraliza a ereção na
minha entrada. Lentamente ele vai mergulhando no meu canal,
fazendo um som estrangulado escapar da minha garganta ao
deslizar até o fundo.
Seu corpo cobre o meu enquanto se move com velocidade,
realmente é um ângulo novo, nesta posição ele não vai tão fundo,
mas me excita senti-lo sobre mim.
— Gio, sua boceta é uma delícia.
Eu estou tão excitada que não fico constrangida com as suas
palavras indecentes, apenas quero que ele me dê prazer.
— Dom, eu preciso gozar — praticamente suplico.
— Você vai, mio amore, eu vou garantir que tenha um prazer
imenso.
O meu corpo superaquece e eu sinto o meu prazer se
aproximando. Domênico me pega de surpresa ao se erguer e sentar
sobre meu corpo arremetendo no meu canal agilmente. Ele separa
as bandas das minhas nádegas, as segurando de maneira que me
faz gemer por sentir uma pontada de dor ao afundar os dedos
brutalmente na minha carne.
Como em uma avalanche o meu prazer me faz perder o
fôlego, grito contra o travesseiro, sentindo todo o meu corpo
estremecer. Dom volta a deitar sobre mim, respirando com
dificuldade contra o meu ouvido, movendo-se aceleradamente no
meu interior.
Ele rosna quando goza e se afunda no meu canal arrancando
um grunhido da minha garganta. O seu corpo desaba sobre o meu,
fazendo a minha respiração ficar curta.
Não me movo, apenas tento controlar o meu coração e
respirar. Ele beija meu pescoço e corre a língua sugando o suor que
se formou no local. Minha pele arrepia, o seu toque inusitado é bem-
vindo.
— É até difícil tentar falar o quanto é gostosa. — Sua mão
acaricia meu cabelo. — Descanse um pouco.
Não discuto com ele, estou exausta, preciso dormir. Fecho
os olhos e não demoro muito a cair no sono.
Nós tínhamos agendado um almoço com o casal de príncipes
de Vichi na mansão do rei. Porém meu marido acabou mudando o
local do almoço e convidou não só Mitchell e sua esposa para um
dia no iate, como também seus irmãos e um amigo deles que veio
ao país acompanhando o príncipe Thomas.
E falando no príncipe mais jovem, ele chegou ontem a Vichi
para um evento familiar importante. Thomas é tão bonito quanto seu
irmão, porém é menos sisudo que Mitchell.
Acabamos passando o dia todo no mar e eu pude me divertir
bastante ao lado das meninas que me surpreenderam com sua
extrema simpatia.
— Ai gente, essa mordomia é boa demais — Stuart, o amigo
das meninas comenta ao colocar os braços atrás da cabeça. —
Minha vida seria muito mais feliz se eu pudesse trabalhar
diretamente no mar.
— Você é um abusado, Stu. — Kimberly sorri. — Giovanna,
como está sendo passar a lua de mel navegando? Um dia quero
fazer um passeio assim com Mitchell.
— Estou gostando muito, mas atualmente estamos no hotel,
hoje viemos até aqui por causa de vocês, só voltaremos ao mar
daqui a dois dias, quando formos para a Grécia.
— Eu tenho lembranças especiais da Grécia, foi lá que eu e
Mitchell nos apaixonamos perdidamente.
— Acho que vocês se apaixonaram no primeiro olhar. — Hill,
a princesa, comenta ao tirar uma selfie. — Desde que ele colocou
os olhos em você meu irmão mudou completamente.
— A grande verdade é que fomos destinados um ao outro. —
Kimberly sorri, mas seu semblante tem uma nota de tristeza. — Eu
tirei a sorte grande, infelizmente nem todos tem essa oportunidade.
— Ei. — Stuart estica o braço e a toca. — Nada de tristeza,
por favor.
— Não estou triste. — Ela acaricia a mão dele. — Só
reflexiva.
Compreendo o diálogo enigmático deles quando recordo de
Paolo contando que ela perdeu a melhor amiga de forma trágica.
— Que tal mergulharmos um pouco nesse mar maravilhoso?
— Stuart sugestiona ao sentar-se na espreguiçadeira. — Já
descansamos o almoço bastante tempo.
— Eu topo. — Hill se anima.
Ela é um doce de pessoa, nos conectamos assim que entrou
no iate e não nos desgrudamos mais.
É bom poder ter contato com outras mulheres, especialmente
próximas a minha idade. Estou passando tempo demais apenas
rodeada de homens, as únicas mulheres que tive contato são as
camareiras do hotel e uma das meninas que auxiliam o chef e cuida
da limpeza do iate.
— Por mim tudo bem — digo esperando pela resposta de
Kimberly.
— Vamos. — Ela olha para o alto em busca do marido. —
Preciso falar com Mitch antes.
— Por Deus, criatura, você não vai fugir, não precisa avisar
ao controlador compulsivo. — Stuart a recrimina.
— Justamente por ser um controlador tenho que avisar. —
Ela não esconde um sorriso e Stuart revira os olhos. — Ei! — grita
na direção onde seu marido está reunido junto de Dom e Thomas.
— Nós vamos mergulhar, querem ir?
— Estamos terminando um assunto, vão na frente e tenham
cuidado. — Mitchell pede.
— Santino ficará de olho em vocês. — Dom faz um gesto
para seu segurança descer.
— Pelo jeito temos dois controladores. — Stuart bufa. — Não
sei como aguentam esses homens.
— Nós o amamos, não é mesmo, Gio? — Olho para Kimberly
sem saber o que responder, porque eu não amo Domênico, tenho
atração por ele, gosto de estar dentro dos seus braços, sinto meu
coração acelerar apenas com a sua presença, mas amor, isso estou
longe de sentir.
— É claro — por fim digo, porque não quero revelar a todos
que me casei forçadamente e que hoje apenas gosto do meu
marido, mas amor não sei se um dia irei sentir.

Estico o corpo me espreguiçando com um longo gemido.


Olho para o lado da cama e não vejo Domênico. Giro na direção da
mesa de cabeceira e verifico no celular que já passa das oito da
noite.
Eu dormi por duas horas depois que chegamos do iate, ficar
o dia todo embaixo do sol me deixou exausta.
Vejo que tem uma notificação de mensagem da Masha,
destravo a tela e vou ver o que ela escreveu.
Masha: E aí? Está tudo bem com vocês?
Decido não responder e sim ligar, eu preciso muito conversar
com ela, porque ando me sentindo perdida com a intensa atração
por Domênico e a maneira estranha que se comporta sempre que
terminamos o sexo.
Hoje, por exemplo, foi um dia difícil, pois passamos o tempo
todo rodeados de pessoas e tudo o que eu queria era estar a sós
com ele, para poder mais uma vez me perder dentro dos seus
braços.
— Gio! — Ela praticamente grita ao atender. — Você está
bem?
— Estou sim, acabei de acordar, passei o dia no mar, com a
família real.
— Ai que chique, você está podendo. — Nós duas sorrimos.
— Onde está Dom?
— Não sei, acho que na sala da nossa suíte, quando
chegamos do passeio eu tomei um banho e apaguei, acordei agora
e ele não está no quarto.
Na verdade, raramente ele está por aqui, como tenho sono
pesado nunca vejo quando vai dormir e sempre que desperto já saiu
da cama.
— E aí? Como estão as coisas entre vocês? — Penso no que
responder.
— Masha, sendo sincera está tudo bem, Dom tem sido
sempre atencioso comigo.
— Só isso? — questiona curiosa. — Você não parece nada
animada — suspiro fundo.
— É difícil estar casada com uma pedra de gelo. — Assumo.
— O sexo entre a gente é incrível, não foi difícil pra mim como foi
para você. Rapidamente peguei o ritmo.
— Isso é bom, amiga.
— É sim, mas eu me sentiria mais feliz se ele não pulasse da
cama assim que terminamos de transar.
— Ele faz isso? — pergunta sem esconder a surpresa.
— Todas às vezes.
— Meu Deus! Não acredito que Dom é tão imbecil assim.
— Eu não me sinto surpresa com sua atitude, Dom é sempre
distante de todos, mas não consigo deixar de me ressentir. Na
nossa primeira vez ele preparou um banho na banheira pra mim,
pensei que fosse ficar comigo, mas ele me deixou sozinha, depois
de me alertar que não é um homem carinhoso.
— O quê? Vou matar Domênico!
— Masha, ele me alertou antes mesmo do nosso casamento
que não existiria amor, em momento nenhum meu marido me
prometeu romance. Eu gosto de estar com ele, anseio para que me
toque, isso é bom, não posso exigir muito dele, esse é meu mundo.
— Admiro tanto sua força, você não parece ter apenas
dezoito anos.
— Se você tivesse crescido na casa do meu pai, não iria ficar
tão admirada, nós tínhamos que ser fortes, ou ele nos engolia.
— Odeio seu pai — diz com raiva. — Mesmo Dom não
dizendo que não vai te amar, você ao menos pode fazê-lo comer na
sua mão. Seduza o seu marido, deixo-o louco por você, pode
dominá-lo ao menos no sexo.
— Não sei se tenho tanta ousadia.
— Ahhh pode apostar que tem, vá atrás dele agora mesmo e
faço-o ficar de joelhos.
— Foi assim que fez com meu irmão? Por isso ele baba por
você?
— Bem... não posso negar que usei esse recurso. — Nós
duas sorrimos.
— Agora me conta sobre a minha sobrinha, estou com
saudades dela.
— Aquela gulosa acabou de mamar e foi dormir, cada dia que
passa está mais sapeca.
Conversamos mais um pouco sobre Caterina, até que nos
despedimos e eu decido descobrir o que meu marido está fazendo.
Passo rapidamente no banheiro para fazer minha higiene,
lavo o rosto e ajeito meu cabelo. Vou tentar seguir o conselho da
minha cunhada e começar a seduzir meu marido, quanto mais ele
sentir atração por mim melhor, é uma maneira segura de mantê-lo
feliz e, talvez, fazê-lo se desarmar.
Encontro Dom sentado no sofá, com o notebook sobre o colo.
Nem mesmo na nossa lua de mel ele para de trabalhar, Paolo
sempre pede para ele realizar algum tipo de serviço.
Inspiro fundo e, com passos lentos me aproximo, ganhando a
sua atenção quando olha para o alto e percebe a minha
aproximação.
— Atrapalho? — pergunto insegura.
— Não. — O seu rosto está inexpressivo e isso me deixa
desconfortável. — Venha aqui — pede ao descartar o computador.
Faço o que pediu, mas decido ser mais ousada, apesar de
estar um pouco apreensiva. Apoio as mãos em seus ombros, para
logo depois montar no seu colo. Domênico enruga as sobrancelhas
e me analisa com curiosidade.
— Vamos jantar fora? — pergunto despretensiosamente,
enquanto acaricio sua nuca.
— Depende apenas de você. — Suas mãos seguem para o
meu quadril.
— Quero ficar aqui. — Busco toda a força que existe dentro
de mim e encosto meus lábios nos seus.
Nunca fiz isso, é sempre ele o responsável a iniciar um beijo,
mas quero mostrar o quanto quero beijá-lo.
— Então ficaremos na nossa suíte. — Sinto sua mão subir
por minhas costas até que prende a minha cabeça. — Já sabe o
que vai pedir?
— O que quiser. — Mais uma vez salpico um beijo na sua
boca.
— Certo. — Ele parece me analisar. — Vou fazer o pedido
logo, enquanto esperamos podemos nos distrair.
— Acho sua ideia ótima — digo com a voz rouca e sinto o
exato momento que ele endurece embaixo de mim.
Ai senhor! Eu estou seduzindo meu marido e isso está me
deixando extremamente excitada.
— Fique aqui — pede ao me colocar sentada no sofá.
Com calma se afasta e vai na direção do telefone pedir o
jantar. Enquanto conversa com o atendente, eu acabo tendo uma
ideia louca e decido colocar em prática.
Como Masha mesmo falou, eu posso fazer meu marido cair
aos meus pés.
Ando até onde está e o observo ditar ordens para a pessoa
do outro lado do telefone. Corro a língua pelos lábios ao observar as
tatuagens que se espalham ao longo do seu tronco.
Os gomos do seu abdômen fazem minhas mãos formigarem
com a vontade tocar cada um deles, mas não posso avançar, ele me
repeliria e acabaríamos em um momento tenso.
Nossos olhos se encontram e eu percebo o exato momento
que a excitação brilha em seu olhar. É uma loucura querê-lo tanto,
mas eu não posso negar que Dom conseguiu ser objeto do meu
desejo.
— Pode ser isso, mande também duas garrafas de Cabernet
— pede com a voz grossa no exato momento que paro na sua
frente. — Ótimo, estamos esperando — diz ao encerrar a ligação.
Sorrio despretensiosamente e apoio as mãos em seus
braços. Ele inclina a cabeça, deixando evidente que está curioso
com a maneira estranha que estou agindo.
— Quero fazer algo, posso? — peço, porque ainda não me
sinto segura de tomar alguma iniciativa sem comunicá-lo.
— Depende do que queira fazer.
Não respondo nada, apenas me ajoelho na sua frente e apoio
a mão no elástico de sua samba-canção. Ele capta a minha
intenção e faz um gesto com a cabeça para que eu siga em frente.
A sua ereção desponta furiosa, mostrando o quanto está
pronto para mim. Ergo os olhos e o acaricio com delicadeza,
sentindo meu corpo ficar quente e ao mesmo tempo com receio de
que não aprecie a minha inciativa.
Ainda não o conheço de verdade, tenho receio de ele achar
que como sua esposa não devo fazer algo tão ousado.
— Porra! Quer me matar? — pergunta quando engulo boa
parte da sua ereção. — Caralho, Gio, você está ficando boa nisso.
Suas palavras me servem de incentivo, o que me faz ir mais
adiante, o levando ainda mais fundo e chupando-o com intensidade.
Dom começa a se movimentar na minha boca, me fazendo
engasgar com sua ereção e precisando de alguns minutos de ar.
Ele me fita sério, enquanto eu pisco para espantar as
lágrimas. Puxo uma profunda respiração e volto a abocanhá-lo e o
sugo com vontade, Domênico geme e agora se movimenta contra
minha boca com mais calma, só que eu desejo mais e o levo fundo.
Sua mão que aprisiona a minha cabeça puxa meus fios com força,
no entanto, eu não paro, continuo me deliciando na sua ereção.
— Gio, se não se afastar gozarei na sua boca — avisa com a
voz rouca.
— Quero saber como é seu gosto, você já sabe o meu —
digo ao encarar seu rosto.
Os olhos dele viram uma fenda e não demoro a sentir o seu
prazer dominar a minha boca, quando ruge furiosamente ao se
derramar entre meus lábios.
Masha estava certa, eu posso ter poder sobre ele, basta eu
querer reivindicar o que é apenas meu.
Engulo o seu gozo tentando não me prender ao sabor, mas
acabo percebendo que não é tão ruim como eu pensei. Lambo os
lábios o encarando e vejo os olhos de Dom ficarem escuros.
Ele me levanta e assalta a minha boca em um beijo, seus
braços me prendem com força contra seu corpo, enquanto me ergue
seguindo na direção do sofá.
— Você é um presente fodidamente delicioso. — Meu corpo é
depositado no estofado. — Agora é a minha vez de provar você. —
Acaricio o seu cabelo.
— Estou ansiosa por isso — confesso, porque realmente eu o
quero com a boca entre minhas pernas e, também o desejo dentro
de mim, cobrindo o meu corpo de prazer.
Depois de darmos adeus a Vichi passamos alguns dias na
Grécia, nos dividindo entre passeios pelas praias de Santorini, uma
ida a Atenas para visitarmos os principais pontos turísticos e o
nosso quarto, é claro.
Gio anda sendo ótima aprendiz no sexo, seguindo à risca
cada passo novo que lhe ensino. Eu estou extremamente feliz com
a minha esposa, ela superou todas as minhas expectativas.
— Eu não queria ir — ela diz tristonha quando caminhamos
para o jatinho particular que fretei para retornarmos à Itália.
— Voltaremos em breve, prometo. Infelizmente não podemos
ficar mais tempo, tenho problemas a resolver em Roma.
— Que raiva do seu trabalho — diz ao entrar na aeronave.
Sorrio, ela está emburrada desde que saímos de Santorini,
Gio amou estar na Grécia e eu não a julgo, aqui é um lugar de
magia, quando chegamos não queremos ir embora.
A nossa viagem até Roma é feita com tranquilidade, o trajeto
é curto e bem rápido. Chegamos perto da hora do almoço e
seguimos direto para o meu apartamento.
Esta será a primeira vez que Giovanna estará lá, eu espero
de verdade que goste do meu espaço. Desde que soube do nosso
casamento fiz algumas reformas, para deixar o lugar mais cômodo
para ela.
Quando o carro que nos trouxe do aeroporto para na frente
do meu prédio, seguro a mão da Gio e saio do veículo.
Santino e Amaro ficam encarregados das nossas malas,
enquanto eu subo com a minha esposa ansiando para saber o que
ela achará do seu novo lar.
Abro a porta e a espero entrar. Gio passa por mim e anda
lentamente até à sala. Seus olhos correm por todo o ambiente,
atenta a tudo que está ao seu redor.
Como o esperado Mercury surge feliz vindo do meu quarto e
vem direto na minha direção, sem se importar com a presença da
Gio.
— E aí, garoto? Cosima cuidou bem de você? — Coço sua
orelha quando pula nas minhas pernas.
— Que recepção calorosa. — Olho para Giovanna que sorri
da alegria de Mercury.
— Ele é muito apegado a mim. — A sua voz chama a
atenção dele, que rapidamente vai na sua direção e começa a
cheirar seus pés. — Fique calma, ele não irá te morder, só quer
sentir seu cheiro.
Por alguns segundos ela fica parada, até que afaga a sua
cabeça e o safado abana o rabo feliz.
— Ele é lindo, assim como seu apartamento.
— É nosso apartamento a partir de agora. — Puxo seu corpo
contra o meu. — Se não gostar de algo só avisar que eu mudo. —
Beijo levemente sua boca.
Estou louco para tê-la na minha cama, Giovanna é uma
perdição, a cada foda que nós temos, fico ainda mais louco por seu
corpo.
— Não precisa mudar nada, eu não sou uma pessoa
exigente, gosto de simplicidade.
— Bom saber disso. — Corro a mão pelo seu cabelo. — Mas
quero que se sinta em casa, caso queira mudar algum detalhe eu
não me importo.
— De verdade acho que não é necessário. — Amaro e
Santino chegam com a nossa bagagem atraindo a atenção de
Mercury.
— Apenas guardem tudo e depois podem ir descansar,
amanhã teremos muito que resolver — digo aos dois que
prontamente me obedecem.
— Estou louca para rever Masha, Caterina e minhas irmãs —
Gio comenta quando ficamos sozinhos.
— Amanhã te levo para ficar com Masha, hoje vamos apenas
descansar.
— Vou amar poder conversar um pouco com ela.
Os meninos voltam e eu tenho uma breve conversa com eles
antes de dispensá-los para um merecido descanso.
Quando eles partem, vejo que Gio foi para o solário e
Mercury anda ao seu redor cheirando o chão. Ela olha tudo
parecendo encantada, o que me dá a oportunidade de observá-la
com calma.
Seu cabelo castanho está caindo por suas costas, ela usa um
vestido rosa justo, que chega até o meio das suas coxas. Enquanto
a vejo caminhar até um vaso de flores, deixo meus olhos caírem até
sua bunda empinada.
Como eu quero foder essa bunda, agora que estamos em
casa e ela mais solta na cama, vou avançar um pouco mais e iniciá-
la prazerosamente no sexo anal.
— Gostou? — pergunto ao me aproximar.
— É lindo. — Seus olhos brilham quando me encara. — Não
imaginei que em um apartamento pudesse ter um espaço com
tantas plantas.
— Esse é um dos benefícios de se ter uma cobertura. —
Lentamente me aproximo dela. — Vamos fazer um tour no seu novo
lar?
— Eu adoraria. — Seguro a sua mão e a levo para dentro,
seguido de perto pelo curioso do meu cachorro.
Vou apresentando cada parte do apartamento e aviso que
tenho duas mulheres do clã que deixam tudo organizado. Amanhã
ambas estarão aqui e poderei apresentá-las a ela.
Entramos na minha suíte e Gio anda pelo lugar olhando tudo
atentamente.
— Seu quarto é tão elegante quanto você.
— Obrigado pelo elogio. — Chegou o momento de revelar
que não iremos dormir juntos.
Durante a lua de mel ela não notou a minha ausência na
cama, como todo jovem, Gio dorme pesadamente, nem mesmo
quando eu estava no banheiro ela despertava. Agora que estamos
em casa eu não posso mais adiar essa revelação.
— Giovanna, o quarto que vimos ao lado será o seu. — Ela
ergue a cabeça e me encara sem esconder o choque com a minha
revelação. — Você sabe que não gosto de ser tocado, então acho
que é melhor cada um ter o seu espaço para evitar problemas. —
Gio abre a boca parecendo querer dizer algo, mas sua voz não sai.
Fico parado esperando que se recupere, ela aperta os olhos
e vejo o exato momento que se recompõe. É bem fascinante
acompanhar o seu autocontrole, a personalidade dela tem partes
parecidas com a minha, nós dois sabemos conter as emoções.
— Entendo, Domênico — diz com a voz controlada. — Eu
vou para meu quarto desfazer minha mala.
— Não precisa, amanhã Cosima arruma tudo.
— Quero fazer isso para me distrair. — Ela me encara. —
Não tenho muito que fazer de qualquer maneira, então será bom me
ocupar com algo.
Uma das coisas que Masha me contou, quando conversou
comigo, sobre a resistência de Gio em casar era que ela não
desejava ser um bibelô e ficar trancada sem fazer nada.
O normal no nosso meio é manter as nossas mulheres em
casa, seguras e cuidando da família. Claro que a vida delas no geral
é um inferno, os homens da máfia são educados para serem
abusivos, eu mesmo fui, mas não significa que irei replicar toda a
maldade que meu pai me ensinou.
Vi de perto tudo o que minha mãe passou na mão dele, ainda
passa, na verdade, agora com menos frequência. Eu não quero
jamais ter que feri-la, assim como não a quero como minha
prisioneira.
Giovanna terá alguns dos seus desejos realizados e o
primeiro deles será sua habilitação, vou providenciar em breve sua
matrícula na autoescola.
A única coisa que não permitirei é que nutra sentimentos
românticos por mim. Jamais serei capaz de amá-la, mas irei ao
máximo deixá-la satisfeita com o nosso casamento.
— Eu quero que descanse por ora, mais tarde jantamos fora.
— Com calma me aproximo dela. — O que acha?
— Acho perfeito.
— Então, faremos isso. — Seguro a sua mão e a puxo contra
mim. — Agora que tal tomarmos um vinho no solário?
— É uma boa ideia — diz ao segurar meus braços.
Como sempre acontece o clima entre nós esquenta, é difícil
ficar perto dela sem pensar em jogá-la na cama e me perder nesse
seu corpo repleto de curvas.
Seguro sua cabeça e a beijo, não me lembro de gostar tanto
de beijar uma mulher. Ela é tão doce e saber que é minha esposa
me deixa com uma sensação incontrolável de possessividade.
Sou o único homem que a tocou e pode dominar seu corpo.
Isso é algo bem fodido, porque eu adoro saber que cada parte dela
pertence completamente a mim.

Bato à porta do quarto da Gio e a espero me atender. Ela


demora alguns segundos até que abre a porta. No primeiro
momento meus olhos param no seu rosto ainda inchado do sono.
Seu cabelo está preso em um coque e ela está com uma camisola
preta curta.
Gostosa como sempre, Giovanna é perfeita a qualquer
momento.
Ela morde maliciosamente o lábio inferior enquanto a avalio.
Adoro seu lado sacana, ela é fogosa e isso é um afrodisíaco do
caralho. Meu maior temor era que fosse fria na cama, mas ela anda
me surpreendendo positivamente.
— Bom dia. — A cumprimento ao apoiar a mão no batente da
porta. — Conseguiu dormir bem?
— Não vi a noite passar, acordei tem pouco tempo.
— Que bom. — Estou satisfeito por ela não fazer um drama
por dormimos separados. — Há essa hora as meninas já chegaram,
quero que conheça ambas antes de te levar para a casa do seu
irmão.
— Vou me arrumar rapidamente. — Ela começa a ir na
direção do banheiro, mas eu a seguro pelo braço.
— O que acha de termos um tempo nosso antes de te
apresentar a elas? — Gio me encara e seus olhos brilham de tesão.
— Acho uma ótima ideia.
Caralho! Como ela é perfeita.
Entro no quarto e a puxo contra meu corpo, avançando
faminto contra a sua boca.
Gio corresponde com entusiasmo o meu beijo, em poucos
segundos eu tiro a sua camisola e a deixo completamente nua.
Abocanho um dos seus seios enquanto minha mão vai para o meio
das suas pernas.
Sorrio contra seu mamilo ao sentir o quanto está molhada,
ela gosta de uma boa putaria e isso é bom. Eu tenho tantas coisas a
ensiná-la, vou fazer minha gostosa esposa experimentar um mundo
diversificado de sacanagens.
Como ela está pronta para mim não perco tempo, tombo seu
corpo na cama e abro suas pernas trazendo-a para a beirada do
colchão, em seguida me afundo na sua boceta quente, que me
recebe avidamente.
— Não esqueça que temos pessoas ao redor, não berre
como ontem à noite — alerto quando ela geme alto.
Eu estou pouco me lixando para as minhas funcionárias,
ambas são casadas e sabem bem como funciona um casal ainda
em lua de mel, mas sei que Gio ficaria constrangida se elas
soubessem que eu a fodi gostoso logo pela manhã.
Ela arregala os olhos e afunda as unhas nos meus braços.
Prendo a vontade de sorrir e continuo metendo nela sem piedade.
Indo cada vez mais fundo no seu canal, me deliciando com a
maneira voluptuosa que sua boceta me recebe.
— Dom... — Gio geme quando eu deslizo todo meu pau no
seu interior.
— Porra, Gio, você é um tesão do caralho. — Saio dela e
abocanho sua boceta.
Ela é toda minha. Ninguém a teve, eu sou o dono do seu
prazer, apenas eu posso fazê-la gozar.
— Oh, Senhor! — exclama ao segurar meu cabelo.
Sugo seu clitóris com força e ela se contorce, sorvo o líquido
que escorre da sua abertura, me sentindo ensandecido por saber
que ela está tão molhada por mim.
— Posso ir mais forte? — pergunto, quando volto para seu
interior, não aguento mais me segurar.
— Só me faça gozar. — Sorrio da resposta.
— Sempre faço, mio bellissimo angelo[15].
Liberto todo o meu tesão e a fodo com força, sentindo meu
corpo vibrar com cada um dos seus gemidos.
Giovanna morde a mão quando começa a gozar. Ela tenta se
controlar, mas ainda assim geme alto e me deixa ainda mais
descontrolado ao ver a liberação do seu prazer.
Aperto suas coxas e vou mais ágil até que gozo. Sinto fogo
rasgar meu peito, suor escorre por meu rosto, quando todo meu
corpo estremece de prazer.
Saio dela e mantenho suas pernas abertas, olho fixamente
sua boceta ainda sofrendo espasmos do seu orgasmo, enquanto
meu gozo escorre do seu canal, uma sensação de domínio me
sufoca, o que me faz espalhar minha porra por sua carne macia.
— Minha — digo em um sussurro, hipnotizado ao ver a minha
porra deixar seu corpo.
Puta que pariu! Ela está fodendo a minha cabeça, não pensei
que me sentira tão feliz em comer a minha esposa, mas agora que a
tenho, eu só consigo desejá-la cada dia mais.
Entro na cozinha ao lado do meu marido e as duas mulheres
que conversam animadamente imediatamente se calam.
— Bom dia. — Dom as cumprimenta.
— Bom dia, senhor! — respondem ao mesmo tempo.
— Quero apresentar a vocês a minha esposa. — Ele solta a
minha mão e passa o braço por meus ombros. — Essa é Giovanna
Pizzorni, a irmã mais nova do nosso Capo. — As mulheres me
avaliam com curiosidade. — Gio, esta é Maria — aponta para a
mulher mais velha sorridente e de cabelos loiros. — É ela que
comanda a cozinha, antigamente vinha apenas duas vezes na
semana organizar minha comida, agora você deve acertar com ela
como será seu horário.
— Muito prazer, senhora. — Maria faz um aceno respeitoso.
— O prazer é todo meu. — Lanço um sorriso sincero, gostei
dela, parece ser simpática.
— Essa é Cosima, ela organiza a casa e toma conta do
Mercury.
— Seja bem-vinda, senhora. — Cosima é jovem e parece ser
menos acessível do que Maria.
— Muito obrigada, prefiro que me chamem de Giovanna, eu
me sinto uma idosa quando se referem a mim como senhora. —
Maria sorri discretamente.
— Prometo tentar lembrar desse detalhe. — Ela pega um
pano de prato. — O café já está servido, espero que gostem do que
preparei.
— Você nunca decepciona. — Dom apoia a mão na minha
cintura. — Hoje Gio passará o dia na casa do irmão, não se
preocupe com o almoço, deixe algo congelado caso jantemos em
casa.
— Tudo bem, senhor.
— Vamos para a mesa?
— Sim. — Aceno para as meninas quando ele me puxa para
fora da cozinha.
Tomamos o nosso café com tranquilidade, Maria aparece e
me faz algumas perguntas sobre o que gosto de comer. Enquanto
conversamos Amaro e Santino chegam, em seguida Domênico
some no seu escritório com os dois.
Quando acabo de comer vou até o solário e ganho a
companhia de Mercury, que passou todo o café da manhã deitado
no sofá. Eu amei este espaço, esse será um lugar que passarei
bastante tempo a partir de agora.
— Está pronta? — Levo um susto com a chegada do meu
marido.
— Estou. — Ele estende a mão e eu rapidamente a seguro.
Antes de sairmos ele passa algumas instruções a suas
funcionárias, até que seguimos para o elevador. Os seguranças nos
acompanham de perto em silêncio. Eu queria muito poder ser uma
pessoa comum e não ter sempre alguém me rodeando.
O caminho até a casa do meu irmão é feito em relativo
silêncio, gosto disso, me dá a oportunidade de pensar um pouco
sobre tudo o que está acontecendo entre nós.
Estranhamente me sinto tranquila ao lado dele, não imaginei
que em tão pouco tempo estaria adaptada a tê-lo sempre comigo.
Muito menos pensei que o desejaria tanto, apesar de toda a sua
frieza.
Foi um baque quando ele me disse que íamos dormir
separados, eu não esperava por isso. Quando estávamos bebendo
vinho perguntei se ele dormiu em algum momento comigo na lua de
mel, Dom foi bem direto em revelar que passou todas as noites
sozinho.
A sinceridade dele deveria me chocar, mas eu gosto de não
mentir para mim, assim eu posso manter os meus pés sempre no
chão com relação ao nosso relacionamento.
Quando Dom ultrapassa os portões da casa do meu irmão
abro um grande sorriso. Estou com tanta saudade da minha
sobrinha, não vejo a hora de poder pegá-la no colo.
— Não pensei que sentiria tanta falta da Caterina — digo
quando saio do carro sem esperar que Dom abra a minha porta.
— Estou vendo sua ansiedade. — Ele segura a minha mão.
Entro na casa de Paolo radiante, além de poder passar um
tempo com Caterina vou conversar com minha cunhada.
— Até que enfim chegaram. — Masha percebe nossa
presença assim que entramos na sala.
— Bom dia. — Dom a saúda com um discreto sorriso.
— Bom dia, senhor Domênico. — Ela é sarcástica. — Como
vocês estão? — O seu olhar é repleto de expectativa.
— Estamos bem — respondo por nós dois e vou beijá-la. —
Estava ansiosa para ver vocês duas. — Caterina agita as
mãozinhas gordinhas quando me aproximo. — Como eu queria ver
essa pequena. — Rapidamente roubo minha sobrinha da mãe.
— Ela anda terrível, deu para gritar quando está feliz.
— Não diga? — Beijo sua cabeça.
Esse cheirinho dela é tão bom, sou completamente
apaixonada pela minha sobrinha.
— Dessa vez você conseguiu voltar de viagem bronzeado —
ela diz a Domênico, que se aproxima e beija o topo da sua cabeça.
— Tive um bom tempo ao mar. — Meus olhos caem para a
mão da Masha que descansa tranquilamente contra seu peito, sem
que meu marido se afaste.
Sei da ligação deles, do quanto são amigos, mas não consigo
conter o ressentimento de vê-lo permitir que ela o toque, enquanto
eu preciso me conter o tempo todo e nem posso dormir ao seu lado.
Desvio meu olhar dos dois juntos, quando Paolo entra na sala
acompanhado de Nicolo.
— Giovanna, como você está? — O olhar dele é repleto de
preocupação.
— Estou ótima. — Paolo passa por Dom sem sequer encará-
lo.
— Tem certeza? — pergunta baixinho ao beijar minha testa.
— Correu tudo bem na viagem?
— Foi um bom momento, me diverti muito, em especial
quando estive com a família real e, na casa da Hellena. — A
expressão do meu irmão suaviza.
— Mitchell me disse que vocês passaram o dia em alto mar.
— Foi maravilhoso. — Caterina estende a mão e agarra a
blusa do pai.
Meu irmão abre um sorriso sincero e leva a mãozinha da filha
até os lábios, exibindo um olhar repleto de amor.
— Não adianta me agarrar, mocinha, o papai tem que ir
trabalhar.
— Bom dia, chefe, está bem? — Domênico pergunta
ironicamente ao colocar as mãos nos bolsos da calça.
— Não quero gracinhas logo cedo. — Paolo rosna. — Agora
vamos para o La Fontaine, temos muito que resolver, teremos um
dia cheio.
— E qual a novidade? — Dom ergue uma sobrancelha.
— Masha, vou pedir que Chiara e Fiorella venham almoçar
aqui e passar a tarde com vocês, elas estão ansiosas para ver
Giovanna, provavelmente minha mãe também virá, se ela aprontar
apenas a coloque no seu devido lugar. Lembre-se que a casa é sua,
não dela.
— Ela aprendeu a ficar quieta, não se preocupe com nada.
— Certo. — Ele olha para o relógio. — Vamos embora,
Domênico, Giorgio já deve estar chegando ao escritório para a
reunião que marquei.
— Vamos sim. — Dom ergue os olhos até os meus. — Amaro
ficará aqui, Giovanna, se quiser ir embora antes que eu venha te
buscar é só chamá-lo.
— Não acho que eu vá querer sair daqui até que retorne.
— Vão trabalhar logo e esqueça a parte da Gio ir embora
cedo, Domênico, vocês ficarão para o jantar. — Masha decreta.
— Você está mandona demais. — Dom implica com ela.
— Aprendi com o melhor. — Ela encara meu irmão, que
apenas resmunga algo e beija o rosto da esposa antes de sair da
sala.
Domênico me lança mais um olhar e, ao contrário do meu
irmão, não se aproxima para me beijar, apenas vira-se e sai da casa
com o seu andar elegante e seguro.
— Senta aí e me conta tudo, quero saber cada detalhe da
sua lua de mel e o como está sua interação com Domênico. —
Masha me puxa para sentar no sofá. — Senti a tensão sexual de
vocês, Dom está muito apaixonado.
— De onde tirou isso? — A encaro surpresa.
— Eu vi como ele te olhava — diz toda animada. — Ai meu
Deus! Você dobrou Dom em pouco tempo.
— Não inventa, Masha, meu marido sequer me permite tocá-
lo, esse privilégio só você e a mãe dele possuem. — Não consigo
esconder meu ressentimento.
— Gio, você sabe que Domênico precisa de tempo para
conseguir permitir que o toquem, levei dois anos para que pudesse
abraçá-lo sem que fugisse de mim.
— Sou a esposa dele, eu deveria poder tocá-lo. — Ela me
olha com preocupação.
— O que está acontecendo?
— Ai! — resmungo quando Caterina puxa com força meu
cabelo. — Menina você está muito levada. — Ela solta um gritinho
animado e volta a puxá-lo.
— Eu disse que ela estava terrível. — Minha cunhada
acaricia o cabelo da filha. — Vamos lá, diga o que realmente está
acontecendo entre vocês.
— Tanta coisa. — Roço meu nariz no da minha sobrinha. —
Nós nos damos bem, em especial na cama, mas ele é muito
problemático. A última novidade é que teremos quartos separados,
ele não quer muita intimidade, muito menos arriscar que o toque
enquanto durmo.
— Não acredito.
— Meu marido é estranho demais, ao menos ele sabe me
tratar bem na cama, eu gosto de estar com ele, porém já entendi
que terei um casamento completamente gélido, sem nenhum
sentimento.
— Gio, vocês começaram a viver juntos tem muito pouco
tempo, deixe as coisas se assentarem. Dom também nunca teve um
relacionamento, ele é um lobo solitário e não dá para mudar os
costumes de uma hora para a outra, tenho certeza de que com o
tempo essa situação vai mudar.
— Eu não penso como você, conheço a fundo os homens da
máfia e estou feliz por ser Dom o meu marido. Não espero amor,
não quando fui obrigada a casar, já me sinto afortunada por desejá-
lo e gostar dos momentos que ficamos juntos.
— Você parece que tem cem anos. — Sua voz tem uma nota
de reprovação. — Não aceito que se contente com uma vida sem
amor, conquiste o coração dele.
— Se ele tivesse um, talvez eu até poderia conquistar. —
Sorrio para Caterina. — Vamos esquecer esse assunto, às coisas
não irão mudar e eu também não estou infeliz, ele é bom para mim.
— Escuta o que vou te falar. — Ela apoia a mão no meu
ombro. — Por trás daquela fachada fria, existe um grande homem,
com um coração imenso. Tanto ele quanto seu irmão possuem um
lado cruel bem violento, mas eles são homens incríveis para quem
amam. E não me venha com essa história que seu marido não tem
coração, tem sim! Mais rápido do que você imagina, esse coração
vai bater forte por você. Guarde essas minhas palavras. — Ela fica
em pé. — Agora vamos na cozinha, preciso avisar Mirta que
teremos visita, ela também está ansiosa para te ver.
— Vamos sim. — Levanto e mudo Caterina de braço, vou
aproveitar enquanto ela é só minha, porque quando minhas irmãs
chegarem acabou meu monopólio sobre essa sapeca.
Depois de uma tarde animada com minhas irmãs e a mamãe,
agora eu me sinto cansada e louca para jantar e ir para casa. O dia
foi extremamente divertido, até mesmo Leo apareceu antes de ir
trabalhar para me encher de perguntas sobre como é Domênico na
cama.
Ele me fez ficar constrangida diversas vezes, não sei como
uma pessoa consegue ser tão pervertida, porém não nego que
gosto das loucuras dele.
— Será que Paolo consegue fazer Carmelo me deixar dormir
aqui? Não quero ir para casa. — Fiorella olha para Masha. — Cada
dia que passa tolero menos meu marido.
— Pode deixar que eu converso com seu irmão quando ele
chegar — assim que ela termina de falar Paolo e Domênico entram
na sala.
O meu coração dá uma disparada ao ver meu marido
segurando o paletó do terno no braço e alguns fios de cabelo estão
escapando do seu coque.
Ele parece cansado, assim como meu irmão, mas quando
nossos olhos se encontram, eu vejo um brilho de desejo nublar seu
rosto.
— Foi falar nele que apareceu. — Masha se aproxima do
marido. — Você está péssimo, aconteceu algo? — Ele beija sua
têmpora.
— Mais um dia de merda. — Caterina se agita no colo de
Chiara ao ver o pai. — Não precisa ficar nervosa, bambina, eu já
vou te pegar. — Ele estende os braços e a filha se joga toda feliz.
— Boa noite, meninas! — Dom cumprimenta minhas irmãs.
— Boa noite, novo cunhado — Fiorella diz com um sorrisinho.
— Como vai, Dom? — Chiara o avalia. — Você e Gio
curtiram bem o sol, estão com um bronzeado incrível.
— Não podia ser diferente. — Ele vem até mim. — Tudo
bem?
— Sim. — Não sei explicar exatamente o motivo da minha
agitação, acho que depois de passar uma semana ao lado dele o
tempo todo, ficar o dia sem vê-lo mexeu comigo.
Dom não diz nada e vai até o bar se servir de uma dose de
uísque.
— Paolo, Fiorella quer dormir aqui, pode pedir autorização ao
marido dela? — Masha faz o pedido.
— Já havia avisado a ele que ficaria conosco, não contei para
fazer surpresa.
— Ah, Paolo, não sei como agradecer — Ella diz feliz.
— Deixe para me agradecer quando eu matar Carmelo. — A
voz dele sai fria. — Não pense que estou de braços cruzados, só
preciso fazer um serviço limpo, Giorgio é um homem valioso para
mim, tê-lo como inimigo não está nos planos.
— Eu entendo. — Fiorella não esconde sua tristeza. —
Sobrevivi até aqui, posso esperar mais um pouco.
Inspiro fundo, odiando seu marido e a merda do sistema
opressivo que somos obrigadas a viver. Não posso dizer que estou
infeliz com Domênico, mas também não me casaria com ele se eu
fosse livre. Ter um sexo satisfatório pode ser bom agora que tudo é
novidade, mas eu sei que no futuro, quando ele enjoar do que
temos, as coisas irão se complicar.
Aí eu ficarei sozinha, vivendo aprisionada no meu castelo
dourado, sem poder realizar os meus sonhos.
Jogo o braço para o alto enquanto me espreguiço, olho para
o lado e vejo que já está quase dando 9h da manhã.
Pulo da cama assustada, eu não costumo dormir até tarde,
certamente o cansaço da viagem, do dia que passei com Masha e a
noite intensa de sexo, me deixou mais cansada que o normal.
Sigo para o banheiro relembrando toda a loucura da noite
anterior, quando Dom me deu dois orgasmos potentes, que exauriu
meu corpo. A cada vez que ficamos juntos tudo fica mais acelerado,
ele parece não se satisfazer, enquanto eu adoro a maneira firme
que sempre me possui.
Neste momento que estou dentro dos seus braços esqueço
dos problemas do nosso casamento, só me importa em todas as
sensações que ele me faz sentir.
Depois de me arrumar saio do quarto e encontro a casa
silenciosa. Mercury ergue a cabeça do sofá quando percebe minha
presença. Ele vem me cheirar e eu perco um tempo o acariciando.
— Bom dia, senhora. — Olho para o alto e encontro Amaro
parado. — O seu café está servido, Maria aguarda instruções sobre
o almoço, o chefe disse que a senhora escolheria o que deveria ser
feito.
Suspiro fundo, me sentindo aborrecida por ser chamada de
senhora.
— Quero que me chame apenas de Giovanna. — Bato na
cabeça do Mercury antes de me afastar. — Você deve ser um pouco
mais velho que eu, então pelo amor de Deus para de me chamar de
senhora.
— Desculpa, senho... — ele para de falar. — É que devo
respeito, é a esposa do chefe.
— Você pode manter o respeito mesmo me chamando pelo
nome. — Amaro faz um gesto de concordância com a cabeça. —
Pelo jeito meu marido já foi trabalhar.
— Ele tinha um compromisso cedo, preferiu não a acordar.
— Certo. — Passo por Amaro e vou até à cozinha.
Encontro Maria cantarolando enquanto guarda alguns copos
no armário.
— Bom dia, Maria. — A pobrezinha leva um susto e quase
deixa um copo cair no chão. — Perdão, não quis te assustar.
— Eu que sou desastrada. — Ela fecha a porta do armário.
— Bom dia, senhora. — Reviro os olhos. — Desculpa, mas será
difícil chamá-la pelo nome.
— Apenas tente. — Lavo minhas mãos. — Vou comer
alguma coisa, depois acertamos o almoço.
— Fique à vontade, eu posso esperar para começar a
organizar tudo.
Sigo para a mesa principal e vejo uma vasta opção de
comida. Acabo não sentindo muita fome, sempre estive acostumada
a ter companhia para as refeições, estar sozinha em uma casa
estranha com funcionários cheios de etiqueta para falar comigo é
desanimador.
Vou beliscando algumas coisas e sou presenteada com
Mercury se acomodando ao lado da minha cadeira. Faço um carinho
com a ponta do pé nas suas costas e o safado rapidamente vira o
corpo e abre as pernas querendo mais.
Sorrio e sigo o acariciando, enquanto isso como mais um
pouco até que dou meu desjejum encerrado.
Pego meu celular no quarto e vou para o solário checar
minhas mensagens. Enquanto pego um pouco de sol com Mercury,
vejo que tenho mensagens da minha mãe, Masha e Leonardo.
A dele me faz sorrir, porque o abusado se convida para
conhecer minha nova casa. Claro que eu dou permissão para ele vir,
sei que Domênico não será contra. Mesmo os dois se estranhando
às vezes, meu marido gosta do humor do Leo.
Converso rapidamente com a minha mãe, ela está radiante
com meu casamento, ontem me deu vários conselhos e novamente
me alertou que não devo aborrecer meu marido. Ela sabe como
funciona os casamentos dentro da máfia e, apesar de saber que
Dom não é abusivo como o pai dele, teme que ele possa perder o
controle em algum momento.
Ao terminar de falar com minha cunhada vou até à cozinha
decidir qual será o cardápio do almoço e jantar. Essa é a minha vida
a partir de agora, ser responsável pelo bom andamento da casa.
Tudo o que temi está acontecendo e eu não tenho para onde
fugir.
— Vamos conversar sobre o almoço? — Chamo atenção de
Maria.
— Só estava aguardando a senhora. — Ela faz uma careta
ao perceber que não me chamou pelo nome.
Para não a constranger, ignoro o fato e me sento, após pegar
um copo de água.
— Não sou enjoada com comida, gosto muito de legumes,
peixe e, obviamente, massa. — Maria sorri. — Faça algo simples,
preocupe-se mais com o jantar, não sei se Domênico virá comer em
casa, ele não falou nada.
— Com a sua presença aqui certamente virá.
— O trabalho dele não anda fácil, então não vou contar com
sua presença.
Sei bem que tanto ele quanto meu irmão as vezes chegam
tarde em casa, liderar um clã não é fácil e Dom é o braço direito de
Paolo.
O meu celular indica uma nova mensagem e vejo que é Leo
avisando que virá almoçar comigo antes de ir para o trabalho.
— Maria, eu terei um convidado para o almoço.
— E quem será? — Ela não parece gostar muito da notícia.
— Leonardo, é um amigo da minha família, ele fazia
faculdade com Masha antes dela engravidar.
— Ah, sim, tudo bem, vou começar a preparar algo especial
para vocês.
Aproveito o tempo livre antes do almoço para organizar
alguns itens no meu closet. Não posso negar que tenho mania de
organização, tudo tem que ser disposto do meu jeito.
Perco a noção do tempo, apenas quando Amaro bate na
porta do meu quarto avisando que tenho visita, é que volto à
realidade.
Corro para receber Leo e o encontro na sala, olhando
desconfiado para Mercury.
— Tão bom te ver aqui. — Ele me abraça.
— Amore mio, o apartamento do gostoso do seu marido é
deslumbrante. — Sorrio, Leo é um descarado. — Não sabia que o
bonitão tinha um apartamento tão lindo. — Ele abaixa a voz. — E o
segurança? Molhei minha calcinha na hora que ele me mandou
entrar. Nunca tinha falado com ele pessoalmente, só o via rondando
Domênico, mas hoje quando ouvi sua voz, meu Deus! — Ele se
abana.
— Sossega. — Bato no seu braço. — Provavelmente Amaro
tem namorada, ele é muito bonito.
— Danadinha — diz ao puxar minha mão para nos sentarmos
no sofá. — Também já notou a beleza do seu segurança.
— Eu não sou cega. — Dou de ombros. — Ele é uma bela
visão.
— Mas seu marido é ainda mais bonito. — Mercury se
aproxima e eu o chamo para perto de mim.
— São belezas diferentes — afirmo ao correr a mão pela
cabeça de Mercury. — Dom é mais imponente.
— Fico imaginando como deve ser imponente em quatro
paredes.
— Para, Leonardo. — Sinto meu rosto esquentar.
— Só me diz uma coisa? — Ergue o dedo para demonstrar
que fará apenas uma pergunta.
— Vai em frente.
— Ele é quente na cama? Porque aquele olhar frio dele é
fachada, Domênico não me engana, é um predador nato. — Não
aguento e sorrio, Leonardo conhece realmente os homens.
— Não tenho experiência com homens, você sabe disso. —
Ele assente. — Mas pelo pouco que sei, não são todos os homens
que fazem suas mulheres gozarem em cada uma das relações
sexuais que realizam.
— Eu sabia. — Leo bate palmas. — Aquele homem deve ser
um vulcão, você tá feita, meu anjo, vai ter bons orgasmos pelo resto
da vida.
— Talvez eu tenha, até que ele se canse de mim.
— Ei! O que está acontecendo? — Seus olhos perdem a
diversão e ficam preocupados.
— Sou casada com um mafioso, Leo, eles não costumam ser
fiéis.
— Paolo é fiel a Masha.
— Eles se amam, não é o meu caso com Dom.
— Você é linda, duvido que ele não vá se apaixonar, é só
questão de tempo.
— Nosso mundo não é tão simples.
— Eu lamento, Gio, sei dos seus sonhos. — Ele entrelaça os
dedos aos meus. — Mas ao menos seu marido é um gostoso,
concentre-se nessa parte, é um bom ponto para manter sua
sanidade.
Vou ter que seguir o pensamento do Leonardo, é o que me
resta a partir de agora.

Resmungo quando lábios macios roçam meu pescoço.


Começo a voltar para a realidade e, o cheiro de Dom me alcança
causando uma aceleração no meu coração.
Ele ligou no início da noite avisando que não viria para jantar,
estava fora da cidade e só retornaria para casa tarde.
Fiquei extremamente desapontada por ter que comer
sozinha. Acabei forçando Amaro a dividir a refeição comigo. Ele
relutou bastante, mas quando disse que reportaria a Dom sua
recusa, sentou-se comigo e comemos trocando uma conversa
tranquila.
Eu gosto dele, Amaro é sempre calmo e discreto, apesar de
não falar muito, sinto que em breve conseguiremos nos aproximar.
Como é minha companhia constante, eu quero que ao menos
tenhamos uma boa interação.
— Que horas são? — pergunto ao tocar a sua mão que está
apoiada contra minha barriga.
— É muito tarde. — Ele me vira e eu observo seu rosto
cansado. — Tive que ir a Milão de última hora.
— Problemas?
— Nada que não possamos resolver — diz ao beijar meu
queixo. — Quero você, Gio.
Eu estou triste por ele me deixar sozinha no jantar, mas
também não posso negar que estava louca para revê-lo.
Não falo nada, apenas envolvo meus braços em seu pescoço
e o beijo lentamente.
Dom apoia a mão no meu quadril e suga a minha língua
arrancando um gemido profundo da minha garganta. Sua mão vai
para o meio das minhas pernas e toca com o polegar o lugar exato
onde fica meu clitóris.
O seu toque me incendeia completamente, todo o meu corpo
se arrepia quando ele vai espalhando beijos por meu pescoço até
que chega ao vale entre os seios.
Resmungo quando morde um deles, porém fico ainda mais
excitada. Ele expõe um dos seios e o suga da maneira forte que eu
gosto.
Minhas mãos vão para os fios soltos do seu cabelo, eu adoro
que eles sejam longos, deixa meu marido ainda mais sexy. A minha
calcinha some e sinto Dom me preencher até o fundo, causando
uma sensação de extremo prazer.
Ele vai me penetrando enquanto chupa meu seio
dolorosamente. Eu estou extremamente excitada, gemo alto
apreciando sua invasão profunda.
— Dom... — Ronrono seu nome, querendo que ele me dê
mais.
— Fica de quatro — pede ao se erguer e jogar o cabelo para
trás do rosto.
Faço o que me pediu e me exibo para ele sem pudor, quero
apenas que meu marido me cubra de prazer.
— Gostosa. — Rosna segundos antes da sua boca sugar
desesperadamente minha vagina.
Agarro o travesseiro e grito quando uma onda forte de
satisfação me domina. Ele não para de avançar contra meu clitóris,
correndo a língua por toda sua extensão.
Não demoro muito e gozo na sua boca, estremecendo com a
profundidade do meu orgasmo.
Prendo a respiração quando ele bate na minha bunda, o
ardor se espalha pelo local, mas ao invés de sentir medo, eu gemo,
gostando da sensação da sua mão pesando na minha pele.
— Gosta disso, Gio? — pergunta com a voz divertida.
Eu não respondo, estou me sentindo envergonhada demais
para assumir que gosto da sua mão pesada na minha pele.
— Quero minha resposta. — Outro tapa me assalta, dessa
vez com mais força.
— Gosto — assumo.
— Para quem tinha medo de apanhar na cama... — Ele me
bate outra vez e mergulha sua ereção no meu canal, arrancando de
mim um grito. — E eu gosto de você bem sem vergonha, fico com
ainda mais tesão.
Seguro o lençol enquanto Dom me fode sem piedade, ele
afunda os dedos na minha bunda e arremete em meu interior com
vigor.
Mais uma vez eu me desintegro, feliz quando meu corpo
convulsiona com o orgasmo. Ele me firma na mesma posição e
continua seu ataque brutal até que estremece violentamente e
grunhe quando goza.
Afundo o rosto contra o travesseiro, sentindo meus pulmões
chiarem enquanto tento respirar.
Relaxo o corpo quando ele se afasta e esqueço
completamente que passei parte do dia chateada por ficar sozinha.
— Exagerei? — ouço a sua voz pela névoa de cansaço que
me rodeia.
— Sinceramente não consigo pensar em nada. — Dom sorri
e beija meu ombro.
— Não eleve tanto meu ego. — Sua mão grande afasta o
cabelo do meu rosto. — Terei dias de muito trabalho pela frente,
mas prometo tentar jantar sempre com você, hoje foi algo
excepcional, mas Amaro me contou que te fez companhia.
— Tive que ameaçá-lo para que jantasse comigo.
— Ele sabe o seu devido lugar, mas se você dá uma ordem
que não causa perigo à sua segurança, já avisei que deve cumprir.
— Fecho os olhos quando ele corre as pontas dos dedos pelo meu
braço. — Descanse, eu exigi muito de você.
— Gosto do nosso sexo, Dom, acho que nesse quesito
seremos felizes. — Ele inspira fundo.
— Formamos um belo par na cama. — A maneira fria com
que fala, faz meu coração comprimir. — Isso é muito bom.
Como sempre acontece ele se levanta e vai para seu próprio
quarto. A vida real bate novamente na minha porta, avisando que
tudo o que terei do meu marido é um sexo divino.
É o suficiente para mim?
O meu cérebro diz que sim, mas o meu coração nunca vai
aceitar, apenas isso.
Fecho os botões da minha blusa e coloco a gravata. A minha
atenção vai para a porta do meu quarto, onde Gio aparece já
arrumada. Uma fagulha de desejo se acende dentro de mim quando
a vejo em um vestido esvoaçante amarelo, está difícil controlar o
meu desejo por ela, já estamos casados há um mês e meu tesão
pela minha bela esposa só fez crescer. Passo o dia pensando no
momento de chegar em casa e me perder no seu corpo.
— Você vai chegar tarde novamente? — Aperto os olhos ao
ver certa inquietação na sua face.
Giovanna anda ficando sozinha muito tempo, eu preciso
agilizar logo sua habilitação, vou pedir que minha assistente no
escritório providencie tudo para mim.
Quanto a sua faculdade já está tudo acertado para que curse
História, na próxima semana a levarei para fazer a matrícula.
— Vou me esforçar para estar em casa o quanto antes. —
Ajeito minha gravata e pego o colete. — Eu te mantenho informada.
— Quando fecho todos os botões do colete me aproximo dela. — Se
quiser passe à tarde com Masha, ela vai gostar e eu fico menos
preocupado.
— Não quero invadir a vida dela. — Vejo a tristeza nublar seu
rosto delicado.
— Vocês são família, não existe essa história de invadir nada.
— Puxo-a para mim. — Se preferir chame-a para um lanche da
tarde, convide suas irmãs também, pode até chamar o intrometido
do Leonardo.
— Vou pensar sobre isso. — Seguro sua cabeça e a beijo.
Em meus trinta e um anos eu nunca beijei tantas vezes uma
mesma mulher com tanta vontade. Gio é uma delícia em todos os
sentidos, estou completamente viciado em cada centímetro do seu
corpo, o que me deixa completamente preocupado.
Sei que estamos há pouco tempo juntos, mas a intensidade
dos meus sentimentos está um pouco assustadora para o meu
gosto. Preciso pisar no freio com ela, dá uma esfriada nas coisas
antes que eu perca o controle da situação.
— Tem hora marcada para chegar no trabalho? — pergunta
ao interromper o beijo.
— Por que deseja saber disso? — Ela morde o lábio inferior,
claramente constrangida. — Vamos lá, é só dizer. — Gio olha para
além de mim, mas eu ergo seu queixo curioso para saber o motivo
de tanta timidez. — O que você quer? — Na verdade, eu sei a sua
intenção, mas quero que ela fale.
— Não é nada, esquece. — Ela tenta escapar, mas eu a
seguro.
— Apenas diga — ordeno e vejo o brilho de tesão incendiar
seus olhos dourados.
— Gosto de você com essas roupas. — Seus olhos caem
para o meu peito. — Eu queria... — Ela para de falar e inspira fundo.
— Queria? — A incentivo continuar.
— Você sabe o que quero. — Sorrio quando fecha os olhos e
fica toda vermelha.
— Só terá o que tanto quer se me falar com todas as
palavras. — Desço minha mão e aperto sua bunda. — Diga-me.
— Quero transar com você agora, vestindo essas roupas. —
Solto a respiração de uma só vez.
Foda-se Paolo e suas reuniões matinais, eu vou comer a
minha esposa se é isso que ela quer.
Seguro seu rosto e a beijo, Gio cruza os braços por meu
pescoço e abre a boca para mim. Aperto com brutalidade sua
bunda, ela gosta do meu toque mais áspero e esse é um dos
motivos que me deixou viciado nesta mulher. Eu também gosto de
sexo forte e ela divide comigo o mesmo gosto.
Com apenas um braço ergo seu corpo e a levo até o espelho
de corpo inteiro em um canto do closet. Coloco-a de frente e desço
minha mão por seu corpo.
— Não precisa ficar envergonhada quando quiser trepar, eu
quero isso o tempo todo, só tento me segurar para não ir muito além
com você.
— Nunca pensei que fosse gostar tanto de sexo, a minha
mãe não me passou boas referências, ela me disse que eu
precisava esperar meu marido vir me procurar. — Endureço o rosto.
A mãe dela teve uma criação bem arcaica e obviamente
passou seus ensinamentos a filha.
— Eu sou o seu marido e te autorizo a ser explícita quando
quiser trepar.
— Quero agora, Dom — diz com um sorriso. — Já estou
pronta. — Rosno quando ergo seu vestido e afasto sua calcinha
para poder sentir quão pronta está.
— Porra, Gio! — Ela está tão molhada que meu dedo desliza
por suas dobras sem dificuldade.
Libero a minha ereção e jogo sua calcinha de lado, ela apoia
as mãos ao lado do espelho e me encara enquanto eu suspendo
seu vestido e a invado.
Quente. Ela está pegando fogo e isso me deixa ensandecido,
fico à beira do precipício quando vejo o quanto gosta dos nossos
momentos juntos.
Ela morde o lábio inferior quando eu começo a fodê-la com
brutalidade, eu não me seguro, vou fundo, rápido, segurando-a em
um ângulo que eu possa me afundar ao máximo.
Giovanna geme, erguendo a bunda pedindo mais. Eu dou,
sou seu homem e tenho a obrigação de satisfazê-la plenamente.
— Quero foder seu rabo, Gio — digo quando sugo a pele do
seu pescoço. — Tenho tara nessa sua bunda gostosa, eu quero te
dar um novo nível de prazer. — Nossos olhos se cruzam e eu vejo a
luxúria a dominar. — Quando sentir vontade de me dar esse traseiro
eu juro que vou te fazer gozar como ainda não gozou. — Ela sorri.
— Promessa é dívida.
— Eu cumpro todas. — Enrolo seu cabelo na mão e puxo
bruscamente. Intensifico a penetração sempre atento ao seu rosto,
quero acompanhar o exato momento que ela gozar.
Não demoro muito a ver Gio estremecer e soltar um gemido
longo no mesmo momento que sinto sua boceta me ordenhar
quando todo o seu corpo se contrai.
Diabo de mulher gostosa, ela me estragou para todas as
outras. A sua inocência e sensualidade natural está acabando
comigo. Eu durmo e acordo pensando em fodê-la.
Resmungo quando meu corpo se perde e me derramo nela
feliz por saber que também me deseja. Nosso casamento pode não
ser perfeito, mas ao menos quando estamos juntos, fodendo
loucamente como animais, não existe nada mais certo.
— Tem alguma coisa errada aí. — Paolo expira uma densa
fumaça. — Os russos estão indo nos pontos certos, alguém do
nosso clã está passando informações.
— Ninguém seria louco de nos trair. — Giorgio se manifesta.
— Sempre tem um atrevido querendo mais dinheiro — digo
ao me servir de uma xícara de café.
— Vou conversar com Andon, ele está na cidade, preciso
acalmá-lo para que eu não tenha problemas com o maldito búlgaro,
irei garantir que suas drogas sejam entregues.
— Não acho que deva ir pessoalmente. — Olho preocupado
para Paolo. — Podemos mandar um emissário.
— Andon é um ótimo comprador, não me custa conversar
pessoalmente com ele, também quero saber dos movimentos de
Petrovic, não confio naquele infeliz, ele sempre causa problemas.
— Já marcou horário com o búlgaro? — pergunto tentando
pensar nos meus compromissos do dia.
— Ainda não, vou ligar para ele.
— Tente marcar depois do almoço, você vem comigo ver o
novo imóvel que iremos comprar para abrigar as drogas e depois
podemos ir juntos conversar com ele.
— Está com medo do seu Capo morrer? — Paolo brinca, mas
eu não acho graça.
Esse pedaço de merda é meu melhor amigo antes de ser
meu líder e, eu prezo por sua vida.
— Ligue para ele logo e pare de ser um pau no meu cu. —
Finalizo o meu café.
— Estou preocupado com a nova liderança russa estar aliada
aos sérvios, eles juntos podem ser um problema dos grandes —
Giorgio comenta pensativo.
— Eu sei. — Corro a ponta das unhas pelo meu cabelo. — O
que me preocupa é que eles não terem revidado a morte de
Vladislav, passaram um longo tempo quietos e apenas agora
voltaram a nos enfrentar. — Meus olhos caem em Paolo falando ao
celular. — Sinto que temos tempestade se aproximando.
— Tenho a mesma sensação.
— Marquei às duas da tarde com Andon, podemos almoçar
no meio do caminho, o que acha, Dom? — Paolo pergunta ao
encerrar a ligação.
— Perfeito, vou desmarcar alguns compromissos.
— Chefe. — Nicolo abre a porta. — O filho do Giorgio está
aqui querendo falar com o pai. — Imediatamente Paolo muda a
expressão.
— Mande-o entrar. — Sua voz sai mais grossa que o normal.
— Com licença. — Carmelo nos olha com atenção. —
Cheguei em um mau momento?
Eu odeio esse cara, se dependesse de mim dava um único
tiro na sua testa e encerraria seus dias. Ele tem uma sorte do
caralho em ser filho de Giorgio, se fosse de outro membro, já o teria
desafiado a uma briga de facas.
Do jeito que é um bosta, não duraria três minutos na minha
mão.
— O que faz aqui, filho? — Giorgio não esconde seu
desconforto com sua presença, sabe bem que Paolo deseja a
cabeça dele.
— Vim trazer os documentos da nossa nova loja, estava por
perto e decidi passar por aqui rápido.
— Ah, sim, vou enviar ao nosso advogado já.
— Giorgio fique por aqui cuidando de tudo, eu vou estar
preso em uma reunião agora, depois sairei com Dom para resolver
nossos problemas, no final da tarde retorno rapidamente, hoje quero
estar cedo em casa.
— Não se preocupe com nada.
Sem olhar para Carmelo ele sai da sala apressadamente.
Não consigo imaginar o tipo de ódio que sente por esse stronzo. Eu
que não tive uma irmã espancada só penso em matar esse infeliz.
Mesmo o odiando preciso manter um tom diplomático por
conta da minha esposa. Ela é apegada às irmãs e farei tudo para
que fique perto delas.
— Carmelo, será que poderia permitir que Fiorella fique com
Gio hoje? Ela ainda está se adaptando a nova vida e sente-se
sozinha.
— Sua esposa tem casa e comida, não é suficiente? — Dou
um passo à frente, mas Giorgio me para.
— Relaxa, Dom — pede nervoso. — Fiorella irá passar o dia
com a irmã.
— Por acaso está fodendo aquela puta frígida e eu não sei,
pai? Mudou de esposa?
— Cale a porra desta sua boca! — Giorgio o encara com
raiva. — Sabe bem que está vivo porque Paolo tem consideração
por mim, vai querer a animosidade de Domênico também?
— Pouco me lixo pro cachorro do Capo. — Agora nem
Giorgio me impede de socar o filho da puta.
Carmelo vai contra a mesa com a potência do meu soco e
espalha papéis para todo lado. Os meus homens e de Giorgio
entram na sala e tentam me segurar.
Sou conhecido por manter meu temperamento sob controle
em qualquer situação, mas se enganam se acreditam que não corre
sangue por minhas veias. Não vou admitir que chame a minha
cunhada de puta na minha frente, ela merece o mínimo de respeito.
— Podem me largar — ordeno ao enrolar a gravata de
Carmelo na mão e puxá-lo para ficar cara a cara comigo. — Você é
um filho da puta sortudo por ser filho de um homem de honra
confiável, mas se eu ouvi-lo falar da minha mulher como fala da sua,
irei te desafiar para uma briga de facas e você sabe bem como
terminará nosso duelo. — Solto-o bruscamente e ele tomba para
trás. — Controle o merda do seu filho, Giorgio, e mande Fiorella até
minha casa em no máximo uma hora.
Ajeito meu terno e saio do escritório, não vou perder meu
tempo com esse imbecil, se Paolo não providenciar a morte dele o
quanto antes, eu mesmo tomarei uma atitude.

— É um bom lugar, rua tranquila, imóveis vazios, ligação


direta com a autoestrada. Perfeito para esconder e distribuir drogas.
— Paolo amassa o cigarro no chão.
— Também gostei — afirmo ao parar ao seu lado. — Vamos
fazer a proposta, será bom ter um novo local quando estamos tendo
problemas com essas invasões estranhas. — Ele inspira fundo.
— Temos um traidor e estou receoso que seja Mattia ou
Giuseppe, ambos possuem motivos para me prejudicar e reivindicar
uma nova liderança.
— Inclua meu pai nessa lista, ele sonha tomar o poder —
digo com desgosto.
— Neste momento não penso nele, você se casou com Gio,
qualquer coisa que aconteça a mim será elevado a Capo, ele pode
querer me prejudicar, não a Famiglia.
Neste ponto ele tem razão, meu pai não iria comprometer
nossos lucros.
— Precisamos ficar atentos a eles.
— Eu vou. — Olho para o relógio. — Temos que ir, nosso
horário está apertado para o próximo compromisso. — Coloco um
fio de cabelo que se desprendeu atrás da orelha. — Quero chegar
cedo no meu apartamento, Fiorella estará lá, quero jantar com as
suas irmãs.
— É muito fodido você casado com Giovanna, não me
conformo com isso.
— Melhor eu estar com ela, do que um filho da puta como
Carmelo.
— Isso é o que me consola.
Saímos do galpão e Santino vem ao meu lado, enquanto
Nicolo e Nino seguem Paolo. Não sei ao certo em que momento
tudo virou um caos, apenas quando três carros param próximos de
nós e o primeiro tiro acerta Nino, é que eu percebo que estamos
sendo fortemente atacados.
Não levo muito tempo para sacar a minha arma e pular para
atrás do meu carro. Uma infinidade de tiros é disparada contra nós e
eu apenas tento me manter vivo.
Acerto os quatro pneus de um dos carros, impossibilitando
que ele saia do lugar. Os nossos agressores saem dele correndo na
direção do outro carro, mas dois deles acabam sendo abandonados,
quando os seus comparsas fogem em disparada.
Santino atira na perna de um, enquanto Paolo acerta o outro.
Saio da minha posição e olho tudo ao redor, porém não vejo mais
nenhum tipo de risco.
— Que merda foi essa? — pergunto completamente atônico
com a violência que nos atacaram em apenas alguns segundos.
— Não faço ideia. — Paolo pressiona a coxa.
— Você foi atingido.
— Foda-se. — Ele tem a expressão transtornada. —
Sofremos uma emboscada, alguém contou onde estaríamos.
— Chefe. — Nicolo o chama. — Nino não está bem. — Ele
pressiona seu terno bem perto do coração do amigo. — Precisamos
chamar o médico.
— Inferno! — Paolo corre a mão pelo cabelo. — Leve-o para
um dos quartos do La Fontaine, o médico irá atendê-lo.
Santino corre para ajudar Nicolo a colocar Nino no carro.
— Cuide desses dois merdas, Dom, coloque-os no galpão e
tire qualquer tipo de informação deles, preciso saber o quanto antes
quem entregou a nossa localização.
— Eles me dirão tudo o que eu quiser — afirmo ao olhá-lo. —
Devo me preocupar com você?
— Não será hoje que se livrará de mim, vá cuidar desses
merdas que preciso ver se a droga do projétil está na minha perna
ou dei sorte dele ter vazado.
Paolo sai mancando para o próprio carro, enquanto Nicolo
acelera carregando Nino.
— O que faremos chefe? — Santino pergunta.
— Iremos descobrir quem causou todo esse caos. —
Caminho determinado até onde os homens estão deitados. —
Vamos levá-los para um passeio.
— Amaro, como estão as coisas por aí? — pergunto
enquanto sigo o carro de Santino.
— Tranquilo, chefe, sua esposa está no solário com a irmã.
— Perfeito. Não deixe nenhuma delas saírem, se porventura
Carmelo aparecer aí para pegar Fiorella não permita sequer que
suba ela só sai da minha casa com uma ordem direta minha ou do
Paolo.
— O que está acontecendo? — Sua voz fica grave.
— Algo fodido e grande. — Inspiro fundo. — Meu instinto diz
que Carmelo está nos fodendo, mas vou esperar para ter certeza,
não sai de perto delas, coloque o sistema de segurança em alerta
máximo, ninguém pode subir pelo elevador sem você autorizar.
— Não se preocupe, elas ficarão seguras.
— Ótimo. — Confio plenamente nele, apesar de ter apenas
vinte e cinco anos, Amaro foi treinado fortemente por mim desde
que tinha quatorze, ele é uma verdadeira máquina de guerra. — Eu
te ligo assim que possível.
— Alguém está ferido?
— Nino não está bem, mas não estou com ele, Paolo foi
atingido, eu estou seguindo com os prisioneiros para o galpão,
espero saber tudo o que aconteceu em menos de uma hora.
— Lamento não poder ajudá-lo.
— Cuidando da minha esposa e da irmã dela você tem toda a
minha consideração.
— Não tirarei os olhos delas.
— Muito bom, ligo mais tarde e não conte nada à minha
esposa. — Encerro a ligação e sinto a adrenalina correr fortemente
por minhas veias.
Sei que meu lado frio é o que chama a atenção das pessoas,
mas hoje eu preciso abrir uma exceção e ir mais fundo, não tenho
tempo de cozinhar em fogo brando meu inimigo, preciso o quanto
antes saber quem dedurou o nosso paradeiro, para assim eliminar,
de maneira exemplar, quem tentou matar o Paolo. Pois o ataque
claramente foi direcionado a ele, os malditos sequer esconderam
isso.

Puxo a faca da coxa do bastardo e limpo em sua calça o seu


próprio sangue, ele está em um estado lastimável e ainda assim não
me forneceu nenhuma informação relevante.
— Eu tenho todo o tempo do mundo, meu único receio é você
não ter sangue suficiente para me oferecer — digo ao erguer seu
rosto.
— Esse aqui acordou. — Carlo mostra o outro infeliz que
depois de passar por uma sessão de sufocamento na água
desmaiou exausto.
Estamos há quatro horas nesse galpão e os malditos russos
não cederam. São bons filhos da puta, não posso negar.
— Vamos nos divertir com ele. — Meu celular toca e vejo o
nome de Paolo no visor. — Como você está? — pergunto
preocupado.
— O filho do nosso médico me cutucou até eu quase matá-lo,
mas tirou a merda do projétil que me acertou, levei uns pontos,
tomei um antibiótico e remédio para dor, estou indo aí.
— Nem pensar, você precisa dormir um pouco para poder se
recuperar.
— Você não manda em mim, eu sei o que faço. — Rosna.
— Paolo você tem família, eu estou lidando com tudo aqui,
apenas confie em mim.
— Eu confio meu amigo, mas meu instinto de destruição
precisa estar presente quando matarmos esses merdas. — Sem me
dar chance de uma réplica ele desliga.
— Porra! — esbravejo puto. — Paolo quer vir até aqui.
— Mas ele não está ferido? — Santino pergunta o óbvio.
— Está sim, só que é teimoso demais para ficar quieto. —
Ligo para o filho do nosso médico e prontamente ele me atende. —
Paolo quer vir até onde estou, dê um jeito de colocá-lo para dormir.
— Eu dei um analgésico que costuma derrubar qualquer um,
ele nem deveria estar acordado.
— O problema é que ele não é uma pessoa comum, sua
raiva é mais forte do que essa merda de remédio, procure algo forte
e não o deixe sair do La Fontaine.
— Eu vou ver o que faço. — Desligo e programo meu
próximo passo, preciso urgentemente descobrir quem está
passando informações para eles.
Rodo o pescoço tentando me livrar da tensão e me preparo
para ser mais agressivo. Olho entre os vários objetos de tortura e
decido usar um que não é meu estilo, mas para o momento pode
me servir para o meu objetivo.
— Vamos tentar descobrir se ele despertou mesmo — falo
quando pego um taco de beisebol. — Quem está passando
informações para vocês?
— Já disse que não sei — responde sem esconder o
cansaço.
— Alguma coisa precisa saber.
— Vai se foder.
Sorrio, gosto de homens que não se rendem, é estimulante.
O tempo não está ao meu favor, mas tentarei me divertir o máximo
possível.
— Vou ajudar a refrescar sua memória. — Ergo o taco e
acerto seu joelho com toda força.
Ouço os seus ossos quebrarem e o seu urro de dor se
espalha por todo o galpão. Meus homens sorriem, satisfeitos com o
show de tortura que se desenrola.
— Tudo pode acabar, apenas me dê o nome do nosso
homem que está passando informações para vocês.
Ele respira com dificuldade, sua perna está em um ângulo
estranho, depois que seu joelho foi destruído.
— O Collalto está ajudando o novo chefe russo, ele quer a
cabeça do seu Capo. — Enrijeço o corpo ao ouvir o sobrenome da
família de Giorgio ser mencionado.
— A qual Collalto está se referindo? — pergunto cuidadoso,
pois preciso saber que Giorgio não tem nenhuma participação nesta
traição.
— Carmelo, o cunhado do seu Capo, ele quer matá-lo, mas é
covarde demais para tal ato, por isso se uniu ao nosso chefe.
Corro a mão pelo rosto, não estou surpreso com a
informação, Carmelo odeia Paolo principalmente depois que
quebrou sua mão e o humilhou na frente da Famiglia ao tirar Fiorella
da própria casa. Já era esperado que ele tentasse uma retaliação,
só não esperava que fosse se unir ao inimigo.
— Ele está envolvido nos recentes ataques a nossa máfia?
— Está — responde exausto. — Anda trabalhando ao nosso
lado há quase um ano.
Fecho os olhos e silencio toda a minha raiva, preciso ter
equilíbrio para os próximos passos que darei. Pego o celular e
busco pelo número de Franco, nesse momento ele é a única pessoa
que posso confiar plenamente e que tem a experiência necessária
para caçar Carmelo. Infelizmente Giorgio está fora do jogo, ele só
receberá o corpo do seu filho.
— No que posso ajudar, Domênico?
— Tenho uma missão importante para você, mas precisa me
dar a sua palavra que não irá contar a ninguém.
— Tem a minha palavra, basta dizer o que deseja. — Como
esperei não vacila. — Carmelo nos traiu, preciso que o ache agora
mesmo. Fomos atacados e Paolo está ferido, assim como Nino,
nosso chefe está bem, já não sei nada sobre seu homem de
confiança. Acabo de receber a informação que Carmelo trabalha há
um ano com os russos, quero-o capturado agora mesmo, Paolo
dará o seu destino.
— Ele estará sob a minha custódia em pouco tempo, para
onde devo levá-lo?
— O La Fontaine é um bom lugar, nosso Capo está sendo
atendido lá, podemos reunir o Conselho e mostrar em primeira mão
o que acontece com traidores, a morte de Ciro não foi o suficiente.
— Perfeito, tome como concluída esta missão.
— Não irei esquecer sua fidelidade. — Desligo e olho para
Santino. — Sabe o que fazer.
— Não se preocupe, chefe.
Deixo todos para trás e sigo na direção do banheiro, preciso
me limpar. Não quero chegar em casa sujo, Giovanna não merece
ver o meu pior lado.

Chego ao La Fontaine apressado, estou completamente


acelerado por dentro, ainda que para todos eu finja que tudo está
bem.
Franco já sabe onde Carmelo está e não vai demorar a
chegar aqui com o bastardo, Paolo dormiu com o novo remédio que
o médico lhe deu. Infelizmente Nino não resistiu, o tiro acertou uma
veia importante e mesmo com a tentativa de transfusão de sangue
ele não conseguiu sobreviver.
Quando Paolo acordar ficará completamente transtornado.
Nino trabalha com ele há mais de dez anos, sempre foi de extrema
confiança.
Entro no escritório e encontro tudo vazio, dei ordens para que
todos os conselheiros esperassem minhas instruções para
aparecerem aqui. Até mesmo Giorgio está no escuro sobre o que
realmente aconteceu hoje.
Aproveito que estou sozinho e ligo para minha esposa, hoje
será mais um dia que não poderei jantar com ela, com sorte chego a
nossa casa antes de amanhecer.
— Oi. — Sua voz suave ameniza todas as merdas do meu
dia.
— Como você está? — pergunto ao ir até o bar pegar um
pouco de uísque.
— Feliz. Ella passou o dia comigo. Obrigada por convidá-la a
ficar aqui. — Derramo uma grande quantidade de bebida no meu
copo.
— Não precisa agradecer. — Bebo um pouco. — Gio, eu
estou com um problema grande no trabalho, não estarei tão cedo de
volta e preciso que fique com sua irmã aí, ela não irá embora até
que eu permita. Amaro também ficará com vocês enquanto não
chego.
— O que está acontecendo? — Sua voz fica aflita.
Jogo a cabeça para o alto e inspiro fundo, não posso contar
toda a verdade para ela, mas posso ao menos dar um vislumbre do
que vai acontecer.
— No momento não tenho como falar muito, mas se tudo
correr bem Fiorella será uma viúva hoje. — Ouço-a ofegar. —
Guarde essa informação para você, apenas diga a ela que pedi ao
marido que passasse a noite aí, chego a nossa casa o mais cedo
que eu puder.
— Por favor, cuide-se, eu estou ansiosa te esperando. —
Caralho! Ela quer me matar.
— Eu estou bem, mio bellissimo angelo, em breve nos
vemos. — Antes que eu fale alguma merda desligo e busco pelo
número da Masha, preciso deixá-la avisada que o marido também
não irá chegar.
— O que foi? — Sua voz soa tensa.
— Nada demais, estamos com problemas, Paolo não pode
falar com você agora e me pediu para avisar que não tem hora para
chegar.
— Ele está bem mesmo? — Odeio mentir para ela.
— Seu marido não está nos melhores momentos, estou
tentando segurar seu lado cruel, não me pergunte muito, você não
merece saber certos detalhes do nosso trabalho.
— Controle-o, Dom, temos uma filha para criar.
— Sou o anjo da guarda dele, apenas confie em mim. —
Ouço sua risada.
Pobre Masha, se soubesse que seu marido levou um tiro na
perna não estaria tão tranquila.
— Eu te amo. — Odeio suas demonstrações de amor.
— Se cuida, ruiva, prometo devolver seu marido praticamente
inteiro.
— Dom... — Sua voz sai apreensiva.
— Apenas relaxe e não o espere tão cedo, mas ele chegará
aí com péssimo humor.
— Isso não é novidade, obrigada por me avisar.
— É o meu dever.
Guardo o celular e me sirvo de mais um pouco de uísque. As
próximas horas serão intensas e, eu preciso mais do que nunca
sustentar minha face fria. Quando Paolo acordar ele vai se
descontrolar e serei eu a conter o gênio mau do meu amigo.

— Como você está? — pergunto quando Paolo levanta e


sacode a cabeça.
— Pronto para te matar por permitir que aquele fedelho de
médico me aplicasse um remédio para dormir.
— Você não sucumbiu ao analgésico e antibiótico, precisava
de algo mais forte até que eu resolvesse tudo.
— Sou o Capo desse caralho de Famiglia, eu tenho que estar
por dentro de tudo.
— Eu sou seu braço direito, posso resolver alguns assuntos
quando leva um tiro na perna.
— Vai se foder, uomo! — esbraveja. — Que merda está
acontecendo? Descobriu quem nos traiu? Quanto tempo eu dormi?
— Dormiu o suficiente para que eu resolvesse tudo. —
Seguro seus ombros. — O Conselho está formado, Franco pegou
nosso traidor e agora é com você. — Paolo pisca os olhos,
claramente tentando sair do transe do remédio. — Se não estiver
bem agora, deixamos para amanhã nosso acerto de contas.
— O caralho que não estou pronto. — Ele corre a mão pelo
rosto. — Quem nos traiu? — Endureço o rosto.
— A pessoa que você mais queria matar. — Seu semblante
muda e parece que todo o efeito do remédio evapora.
— Tem certeza absoluta?
— O russo deu nome e sobrenome, o traidor não foi
resistente à prisão quando Franco o achou.
— Giorgio sabe?
— Está esperando como os outros sobre os detalhes da
traição e como nós fomos atacados, eu não quis falar nada até que
acordasse.
— Ótimo. — Paolo levanta com dificuldade e pega seu
coldre. — Lamento por Giorgio, mas misericórdia não é uma palavra
que figure no meu vocabulário.
— Você está bem para realizar o que está por vir? —
pergunto preocupado.
— Eu sou a porra de um Capo, não um covarde, caralho!
— Paolo. — O chamo antes que entre em ação.
— O que foi? — Olha-me irritado.
— Nino não resistiu. — Seus olhos ficam sombrios.
— Irei honrar sua morte.
Ajudo-o a andar porque ele não consegue pisar no chão
direito, quando entra na sala de reuniões, vejo o exato momento que
fita Carmelo preso a uma cadeira, rodeado por Franco e seus
homens.
— Ora, ora, meu momento chegou. — Paolo sorri para
Carmelo. — Estou tão feliz!
— Ele sabe dos seus erros e está calado, esperando sua
punição — Franco alerta.
— Chamem os conselheiros, hoje eles aprendem ao vivo o
que acontece a um traidor.
Faço um gesto de cabeça para Santino reunir a todos e não
demora muito para que os membros do Conselho cheguem e se
deparem com Carmelo preso no centro da sala.
Olho para Giorgio e o vejo em desespero, ele já sabe o
destino do seu filho e não tem nada a fazer a não ser aceitá-lo.
— Senhores. — Apesar dos remédios Paolo tem a voz firme.
— Nosso clã anda sendo traído há algum tempo e todos sabem que
estávamos em busca de quem passava informações sobre nossas
ações. — Enquanto fala mantém seus olhos em Carmelo. — Todos
possuem ciência do meu desentendimento com meu cunhado, eu
ainda não o matei porque é filho do meu subchefe e Giorgio é meu
homem de confiança.
O silêncio se estende pela sala, até mesmo a respiração dos
presentes parece suspensa.
— Só que Carmelo nos traiu e hoje entregou a minha
localização aos russos. Eu sofri um ataque ao lado de Dom, que
resultou na morte de um dos meus homens de confiança. —
Ninguém se manifesta. — Ele não só nos fez perder um expressivo
montante de dinheiro ao longo desses meses, como também tramou
o assassinato do líder supremo do clã. — Paolo se aproxima dele se
apoiando em mim. — O que tem a dizer em sua defesa, Carmelo?
Ele não fala nada, apenas olha Paolo em silêncio, um tempo
depois encara seu pai e finalmente se pronuncia.
— Pela primeira vez te darei orgulho, pai, irei morrer sem
pedir piedade ao merda do Capo do nosso clã. — Seus olhos vão
para Paolo. — Vá se foder você e a puta maldita da sua irmã, que
nunca me serviu nem para fazer um boquete decente. — Encerra
sua ofensa ao cuspir no pé do cunhado.
— Obrigado por me fazer feliz por te matar pessoalmente —
Paolo diz sem nenhuma emoção e dispara três vezes na cabeça
dele, fazendo Carmelo cair da cadeira como um boneco de pano. —
Mais algum traidor? Estou louco para matar mais pessoas hoje.
Todos se calam, podem odiar Paolo, mas sabem que não
conseguem enfrentá-lo.
— Cuide do seu filho, Giorgio — ordena ao guardar a arma
no coldre. — Com tudo o que aconteceu, está dispensado da função
de subchefe, não posso mantê-lo comigo quando fui responsável
pela morte de Carmelo.
— Sei disso, Paolo. — Ele tem a postura rígida. — Preciso
apenas deixar claro a todo o Conselho que jamais trairia a Famiglia
e me envergonho do que Carmelo fez.
— Ele teve o castigo merecido e agora eu me sinto satisfeito.
— Paolo corre os olhos por todos os membros. — Eu espero que
não aconteça outra traição, porque a partir de hoje, quem trair o clã,
condenará toda a sua família a morte, eu não pouparei ninguém.
Então, pensem duas vezes antes de pensar em me trair.
O silêncio cai pesado pelo ambiente, essa mudança nas
regras pegou a todos de surpresa.
— Estão dispensados. — Ele lança mais um olhar a Carmelo
e começa a mancar até à porta, se apoiando em mim. — Que dia
mais fodido — resmunga ao entrar no seu escritório. — Masha deve
estar louca me esperando, preciso avisar que estou indo embora.
— Já avisei a ela que não tinha hora para chegar, está tudo
sob controle. — Ele ergue uma sobrancelha.
— Contou que levei um tiro?
— Não sou idiota. — Reviro os olhos. — Disse apenas que
estávamos com um grande problema.
— Fez bem. — Agora ele exibe todo o seu cansaço. — Vou
embora, essa merda de perna tá doendo pra caralho.
— Nicolo está te esperando, vá descansar, amanhã
conversamos.
— Fiorella está na sua casa?
— Segura ao lado de Gio, vou cuidar delas, será bom Fiorella
ficar com a irmã nesse primeiro momento, depois você vê como fica
a vida dela.
— Ela ficará com a mamãe, não a quero morando na casa
que viveu com Carmelo.
— Concordo. — Apoio a mão no seu ombro. — Mais uma
aventura para contarmos aos nossos netos.
— Se continuarmos nesse ritmo, não iremos tão longe. —
Sorrio do drama dele.
— Vamos chegar sim, aposte em mim.
Saio do escritório ao seu lado, louco para chegar em casa e
ver minha esposa. Preciso dela mais do que nunca, apenas Gio vai
conseguir silenciar todos os meus demônios.
Não consigo dormir, estou angustiada demais sem saber
notícias do meu marido. Masha me ligou mais cedo, ela parecia
tranquila, disse apenas que meu irmão demoraria a chegar porque
algo aconteceu no trabalho.
Em momento nenhum ela citou que Carmelo tivesse
envolvido em algum atrito com o meu irmão.
— Senhora... quer dizer... Giovanna, por que não vai dormir?
— Amaro aparece na sala e me surpreendo ao vê-lo de calça de
moletom e com uma blusa de malha branca, deixando evidente as
tatuagens nos seus braços.
Sempre o vejo com seus ternos elegantes, esse seu visual
mais despojado cai bem nele, fica mais de acordo com sua idade.
— Estou agitada demais para dormir, então preferi vir tomar
um vinho enquanto espero meu marido.
— Não fique preocupada, o chefe está bem, Santino me
garantiu isso.
— Ainda assim estou nervosa. — Rodo a taça de vinho na
mão. — Por que não bebe comigo? Podemos conversar um pouco.
— Estou a serviço, não posso beber. — Olho para ele
desanimada.
— Vamos ao menos conversar, já vai me distrair.
— Não sei se é uma boa ideia, o chefe pode não gostar. —
Rolo os olhos para o alto.
— Qual o problema de conversarmos? Senta logo aí, é uma
ordem. — Amaro pensa por alguns segundos, até que se senta em
uma poltrona longe de mim.
Mercury ergue a cabeça e o observa, mas rapidamente perde
o interesse e volta ao seu cochilo.
— Você sabe o que está acontecendo? — pergunto curiosa.
— Em partes, mas prefiro não falar nada, quando seu marido
chegar, certamente irá contar tudo o que ocorreu.
— Só espero que Carmelo já esteja morto. — Pela borda da
taça vejo Amaro arregalar os olhos. — Não me olhe assim, tenho
todos os motivos do mundo para odiar aquele homem.
— Eu sei disso. — Ele levanta um canto da boca. — Só é
estranho uma mulher meiga como a senhora ser tão enfática quanto
a morte de um homem.
— Sou uma Torcasio, Amaro, a maldade corre no meu
sangue hereditariamente, ainda que eu não cometa atos violentos,
sou protetora com a minha família. Tudo o que aquele monstro já fez
com a minha irmã não tem perdão, ele merece morrer.
— Está certa — ele assente. — Não sou a favor de violência
contra mulher.
— Sério?
— Meu pai também é um soldado da máfia, porém nunca foi
um homem mau com minha mãe, nem com minhas irmãs.
— E você tem quantas irmãs?
— Duas. — Ele abre um genuíno sorriso. — Elas são mais
jovens, eu sou o filho mais velho.
— Não tem irmãos?
— Somos apenas nós três.
A nossa conversa morre quando a porta abre e Domênico
surge através dela com o semblante cansado e roupas novas. O
meu coração começa a martelar, se ele trocou de roupa foi porque
as que saiu de casa tinham sangue. Sei bem como é o
comportamento dos homens da máfia.
— Como você está? — pergunto ao me levantar.
— Bem. — Vou na sua direção e estico a mão para tocá-lo,
rapidamente Dom a intercepta e leva até seus lábios, exibindo um
olhar tenso.
Seu gesto me faz retrair, fiquei tão agitada com a sua
chegada, que esqueci do seu problema com o toque, a minha
intenção era justamente apoiar a mão no seu peito.
Por reflexo puxo a minha mão e a coloco atrás das costas,
em seguida me afasto dele completamente desconcertada.
— Pode ir para sua casa, Amaro. — A voz dele sai arisca. —
Caso queira dormir aqui tudo bem, você tem seu próprio espaço de
qualquer maneira.
— Vou ficar, está tarde. — Sinto Amaro se aproximar de nós.
— Se precisar de algo só chamar, com licença.
Fico parada, observando Amaro sumir e nos deixar sozinhos.
— Desculpa, eu... — Fico sem saber o que falar. — Estava
preocupada e quando chegou... eu não pensei direito.
— Não precisa se desculpar por nada. — Ele se aproxima. —
Amaro estava bebendo com você? — pergunta ao ver o vinho sobre
a mesa de centro.
— Só estávamos conversando, eu estava ansiosa e queria
que alguém me distraísse.
— E onde está a sua irmã? Por que ela não te fez
companhia? — O que está acontecendo com ele?
— Ella foi dormir no meu quarto, fiz como pediu e não falei
nada sobre o marido. Eu não poderia conversar com ela sobre
minha angústia.
— Por que ela não ficou no quarto reservado aos hóspedes?
— Gostamos de ficar juntas, pedi que dormisse comigo. —
Ele ergue uma sobrancelha, parecendo não ter gostado dessa
informação.
— Amaro é seu segurança, não seu amigo — diz
rispidamente ao mudar o assunto. — E quando a Carmelo ele já deu
entrada no inferno.
Esqueço o momento tenso que está entre nós e sorrio. Pode
não ser certo ficar alegre pela morte de uma pessoa, mas neste
momento eu estou exultante em saber que aquele nojento se foi.
— Paolo o matou? — Dom apenas faz um resmungo
afirmativo. — Não acredito que minha irmã está livre daquele
monstro. — Ele se aproxima de mim.
— Nunca mais ele irá feri-la, o bastardo teve um fim mais que
merecido. — Sua mão escorrega até minha bunda. — Quero você.
— Seus olhos que normalmente são frios agora estão crepitando de
desejo. — Prometo contar o que quiser depois.
Seguro seu rosto e o beijo, eu passei boa parte da noite aflita
e agora que o tenho perto de mim também quero me perder no seu
corpo.
Domênico passa os braços ao meu redor e suspende meu
corpo com facilidade. Ainda com a boca na minha ele caminha para
o seu quarto.
Foram poucas as vezes que transamos ali, no geral é ele que
fica no meu até que tenhamos saciado nossos corpos.
Quando fecha a porta me imprensa contra ela e afunda as
mãos na minha bunda. Ele roça a ereção em mim, mostrando o
quanto já está pronto. Gemo contra sua boca quando me toca por
cima do short, espalhando um choque de excitação por cada um
dos meus músculos.
— Quero uma foda rápida, bruta e bem gostosa — diz ao
puxar a cordinha que segura meu short. — Prometo provar cada
parte sua amanhã.
Não digo nada, apenas o ajudo a tirar rapidamente a peça e
corro para abrir seu jeans. Dom sorri com a minha ansiedade, eu
não ligo, vou parar de me reprimir com relação ao desejo que tenho
em transar com ele.
Apoio as mãos em seus ombros quando me ergue e entra no
meu interior com um movimento firme. Gemo no seu ouvido, feliz
em tê-lo comigo depois de passar por momentos de apreensão com
tudo o que estava lidando no trabalho.
Ele começa a foder intensamente, nunca imaginei que fosse
gostar tanto de sexo duro, mas não posso negar que fico
ensandecida quando ele fica rude como agora. Adoro esse seu
olhar de predador, sua pegada firme e o cheiro do seu suor.
Meu marido é um tesão em qualquer momento, mas quando
ele está dentro de mim, empenhado no nosso momento de prazer,
fica irresistível.
Mordo o lábio inferior tentando me conter, mas no fundo
queria gritar, externar toda a louca sensação que está me
consumindo. Aperto a nuca de Domênico e abro a boca buscando ar
quando ele se afunda profundamente em mim e segura a sua
ereção no meu interior.
— Gostosa demais — diz antes de me beijar e continuar a
tirar meu juízo quando começa a me foder loucamente.
Choramingo quando meus músculos travam no momento que
o orgasmo me consome. Eu ainda infarto por causa dele, meu
coração não vai aguentar a sua intensidade.
Só percebo que nos movemos quando ele me deita na cama
e escancara as minhas pernas. Dom me fode profundamente, em
uma velocidade alucinante. Afundo as unhas nos seus braços,
sentindo meu orgasmo ser alongado. Ele grunhe contra meu ouvido
estremecendo quando goza.
Afasto o cabelo do seu rosto e espalho beijos por sua face.
Como eu queria poder abraçá-lo, sinto tanto por não poder tocá-lo
livremente. Sei que ele precisa de tempo para confiar em mim, mas
temos momentos tão intensos quando estamos na cama, que o meu
toque não deveria assustá-lo tanto.
Quando nossas respirações se acalmam eu me ergo e
arrumo meu cabelo. Ouço Dom fechando seu zíper, em seguida ele
se ajeita ao meu lado.
— Carmelo nos traiu, hoje sofremos uma emboscada e Paolo
levou um tiro na perna. — Prendo a respiração. — Nino infelizmente
não resistiu.
— Meu Deus! — exclamo perplexa. — Meu irmão está bem?
— Sim, o médico retirou o projétil, ele só vai precisar de uns
dias de repouso.
Ouço atentamente tudo o que meu marido me conta, fico
aliviada ao saber que Paolo não corre risco, terá apenas que fazer
repouso até que se cure.
— Com essa traição Paolo teve a desculpa perfeita para
eliminar Carmelo, agora sua irmã é uma mulher livre.
— Sempre soube que aquele desgraçado não valia nada, foi
capaz de trair a Famiglia.
— Nunca esperei nada de bom vindo dele, mas trair o próprio
clã foi um pouco demais.
— Realmente foi. — Levanto-me da cama. — Bem... — Dou
um laço no cordão do meu short. — Vou deixar você descasar, seu
dia foi exaustivo com toda essa confusão. — Ele segura a minha
mão.
O encaro confusa, pois vejo nos seus olhos certa indecisão,
ele parece estar pensando em algo.
— Pode dormir aqui, sua irmã está no seu quarto. — Sua
proposta me pega de surpresa.
— Estou acostumada a dormir com ela, não se preocupe,
hoje precisa de uma boa noite de sono.
Puxo a minha mão e saio do seu quarto. Quando entro no
meu vejo que Ella deixou um abajur ligado. Olho para a minha irmã
dormindo serenamente, sem saber que sua vida mudou para
sempre.
Agora está livre e eu me sinto muito feliz por isso.

Cruzo os braços ao encostar o ombro no batente da porta


enquanto converso com Domênico. Ele descarta o pente sobre a pia
e prende o cabelo.
— Se a sua irmã ainda não acordou a chame, quero
conversar com vocês duas ao mesmo tempo.
— Quando saí do meu quarto a deixei no banheiro. Vou ver
se já está pronta. — Começo a me afastar, mas ele me puxa.
Eu me derreto inteira quando sua boca cai sobre a minha,
adoro quando me beija inesperadamente como fez agora.
Quando me solta nos encaramos, o desejo brilha no seu
olhar e, se não fosse a conversa que teremos com minha irmã, eu
atrasaria sua ida ao trabalho.
Saio do banheiro dele antes que perca a cabeça e sigo para
o meu quarto, para minha surpresa encontro tudo vazio. Vou até à
sala e, também não a encontro, mas ouço vozes vindas da cozinha.
Chegando lá vejo minha irmã, Maria e Amaro conversando
tranquilamente.
— Bom dia. — Revelo minha presença.
— Bom dia! — Os três me respondem ao mesmo tempo.
— Fui te procurar no quarto, Ella.
— Vim seguindo o cheiro da comida, está maravilhoso. —
Maria abre um largo sorriso satisfeita com o elogio.
— Realmente está, Maria sempre se supera. — Olho em
volta e não vejo o cachorro. — Cadê o Mercury?
— A Cosima ainda não voltou com ele do passeio da manhã.
— Amaro me informa.
— Ah, sim. — Aceno para ele e foco a atenção na minha
irmã. — Vamos para a mesa do café? Dom precisa conversar
conosco.
— Aconteceu algo?
— Uma coisa boa. — Seguro a mão dela e a arrasto para a
mesa. — Seu dia ficará mais alegre.
— Para de me deixar curiosa. — Prendo o sorriso, é difícil
lidar com a alegria da morte de alguém, mesmo essa pessoa sendo
Carmelo.
— Bom dia, Fiorella. — Domênico aparece vestindo o seu
tradicional colete.
— Bom dia, Dom. — Troco um rápido olhar com meu marido.
— Vamos tomar nosso café, depois conversamos.
Começo a ficar ansiosa e perco o apetite, apesar da mesa
estar repleta de guloseimas. Fiorella começa a falar sobre nossa
sobrinha e isso me distrai um pouco, quando estou finalizando meu
suco, Domênico atende o celular.
— Oi, Paolo, como você está? — Ergo rapidamente o rosto
interessada na conversa. — Precisa ter calma, pois sua perna
necessita de tempo para ficar boa. — Fiorella me olha com
apreensão. — Pare de teimosia, Masha já precisa cuidar de
Caterina, não ajuda nada você dando trabalho à sua esposa.
Tenho pena da minha cunhada, ela vai passar sufoco com
meu irmão ferido.
— Vou conversar com Fiorella agora, eu levarei as duas para
sua casa, não iremos demorar a chegar. — Ele olha rapidamente
para a minha irmã. — Eu gostaria que ela ficasse aqui para fazer
companhia a Gio, mas vai ficar ao critério dela onde vai passar
esses primeiros dias.
Fiorella parece entender a conotação da conversa, pois olha
intensamente para Domênico.
— Certo, nos vemos em breve. — Ele desliga e deixa o
celular ao lado do seu prato. Seu olhar frio cai direto na minha irmã.
Os olhos dela ficam marejados e não demora muito para que
as primeiras lágrimas comecem a cair.
— Acabou! — A voz do Dom é extremamente suave. — Você
está livre, Paolo cumpriu a promessa.
O peito dela treme quando um choro compulsivo sacode seu
corpo. Levanto-me e vou para o seu lado, ela abraça a minha
cintura ao afundar o rosto contra minha barriga. Acaricio o seu
cabelo, também permitindo que algumas lágrimas escapem. Não
consigo imaginar o alívio que está sentindo em saber que nunca
mais vai precisar viver com medo dentro da própria casa.
— Calma, tome um pouco de água. — Pego o copo e entrego
a ela. — Agora seu sofrimento acabou, está finalmente livre.
— Não consigo acreditar — fala ao soluçar. — Eu o odeio
tanto, vivi no inferno desde que me casei com aquele maldito, foi
tanta dor, humilhação, violência, estupros, não sei como cheguei até
aqui sem acabar com a minha própria vida. — Seco as lágrimas que
caem pelo meu rosto, se eu pudesse já tinha matado há tempos
aquele infeliz com minhas próprias mãos.
— Ele teve o fim merecido, Fiorella, morreu como um traidor
do clã, repudiado por todos da Famiglia — Dom comenta com raiva.
— Como tudo aconteceu? — ela pergunta ainda sob forte
emoção.
Domênico se recosta na cadeira e começa a relatar os
principais detalhes do dia anterior.
Ficamos sabendo que Franco capturou Carmelo e, que o
cretino assumiu na frente de todo o Conselho sua traição. Foi aí que
Paolo o matou, encerrando de vez o sofrimento da nossa irmã.
— Agora Giorgio perdeu seu cargo, pois Paolo não consegue
mais confiar cem por cento nele.
— Acho que ainda estou sonhando.
— Não está, Fiorella. — Dom se aproxima e acaricia o cabelo
dela. — Sua vida vai mudar a partir de agora e fique tranquila
porque já arranquei a promessa do seu irmão que não vai interferir
tão cedo na sua vida. Precisa de um momento de paz, para poder
cicatrizar sua alma.
— Obrigada, Domênico, você não é como os outros homens
da máfia, Gio teve muita sorte em ser sua esposa. — Os olhos dele
buscam os meus e um brilho intenso se espalha por eles.
— Prefiro a morte a ferir sua irmã como aquele maldito fez
com você. — O rosto do meu marido endurece. — Agora se
arrumem, Paolo quer as duas o quanto antes na casa dele, com o
tiro que levou não pode ficar se movendo.
— Já vou me arrumar. — Ela rapidamente se levanta e corre
para o quarto.
Inspiro fundo observando minha irmã sumindo da minha
visão. Estou me sentindo tão aliviada em saber que ela não precisa
mais sofrer. Queria ter a metade da sua força, se eu estivesse no
lugar dela não conseguiria ir tão longe.
— Vá se arrumar também. — Domênico apoia a mão na base
da minha coluna. — Com Paolo imobilizado e Giorgio fora de jogo
terei que resolver tudo sozinho até seu irmão escolher o novo
subchefe, ficarei muito tempo fora de casa, tente convencer Ella a
ficar aqui, não quero deixá-la tanto tempo sozinha.
— Vou fazer o convite, mas depois de passar tanto tempo
aprisionada, onde ela decidir ficar por mim está bem, só a quero
feliz. — Ele segura o meu queixo e ergue meu rosto até que nos
encaramos.
— Você é madura demais para sua idade, às vezes me
assusto com todo o seu equilíbrio. — Seu polegar acaricia meu lábio
inferior. — Mesmo quando está com medo, você sabe se segurar,
eu a admiro muito por isso, sua força é inspiradora. — Fecho os
olhos quando roça os lábios nos meus. — Agora vá, precisamos
chegar na casa do seu irmão o quanto antes.
— Não vou demorar. — Eu me afasto dele sentindo meu
coração acelerado.
Saber que me admira foi uma agradável novidade, sei que
Dom não é de muitas palavras, muito menos de elogiar alguém,
então ouvir algo assim dele representa muito para mim.
Paolo nos espera na sala com a perna estirada em um banco
acolchoado. Sua atenção vai diretamente para nossa irmã, que
corre na sua direção e o abraça já chorando.
— Obrigada, Paolo, você me libertou do inferno.
— Não chore, ragazza, fiz a minha obrigação como seu
irmão. — Ele beija o cabelo dela. — Demorei mais que o apropriado,
mas agora tudo acabou, você é uma mulher liberta.
— Como você está? — pergunto ao me aproximar.
— Puto porque esse caralho de perna dói demais, andar tem
sido um esforço fodido.
— Graças a Deus, chegaram. — Masha aparece na sala
carregando Caterina. — Não aguentava mais aturar o humor do
Paolo sozinha.
— Eu estou ouvindo — ele resmunga.
— Ficaremos o dia com você. — Rapidamente pego minha
sobrinha. — Tente relevar o humor dele, levar um tiro deve doer.
— Pare de ser condizente com seu irmão. — Ela me olha feio
e vira-se para Dom. — Obrigada por cuidar desse teimoso, quero te
matar por mentir para mim, mas te perdoo por tê-lo me devolvido
vivo.
Masha o abraça e Domênico a envolve em seus braços
beijando o alto da sua cabeça. Meus olhos caem na mão dela que
descansa bem no meio do seu peito. Inesperadamente o ciúme e
raiva me dominam, ontem ele repeliu meu toque, mas o dela aceita
de bom grado.
Confio em Masha, sei que ela ama meu irmão, mas não
posso deixar de desconfiar que meu marido sinta algo por minha
cunhada. Enquanto eu não posso tocá-lo nem dormir ao seu lado,
Masha pode se aproximar sem restrição.
Infelizmente eu me perco na mistura de sentimentos que me
engolem e não noto que Dom me encara com o cenho franzido.
Desvio o olhar e beijo a testa da minha sobrinha, tentando fingir que
não estou fervendo de ciúmes da cumplicidade deles.
— Domênico se afasta da minha mulher, você tem a sua,
pode sair daí — Paolo resmunga ainda abraçado a Fiorella.
— Quando vai parar com esse ciúme bobo? — Masha
pergunta com as mãos rodeadas na cintura do meu marido.
— Eu não estou vivendo meus melhores dias, não venha com
suas provocações inferno vermelho. — Ela rola os olhos.
— Você é insuportável.
Evito olhar os dois e brinco com Caterina que sorri ao puxar
meu cordão.
— Preciso ir trabalhar, hoje estou sem ajuda. — Ouço a voz
do Dom soar pela sala.
— Pedi para Franco vir aqui daqui a pouco, ele ocupará o
lugar de Giorgio e te ajudará esses dias que ficarei preso em casa,
meu cunhado Giane ficará com o cargo do avô da Masha.
— Tudo bem, por hoje eu controlo tudo, preciso ir agora.
— Pode me ligar a qualquer horário, não tenho nada a fazer
de qualquer maneira. — Paolo parece que vai explodir.
— Não se preocupe com nada, chefe. — Dom é sarcástico.
— Aproveite seu tempo de molho e aprecie a companhia das suas
ragazze, você é um homem de sorte. — Fico rígida quando ele se
aproxima de mim. — Chegarei tarde, se quiser dormir aqui para ficar
com seu irmão apenas me avise.
— Certo. — Não olho para ele, estou passando por um
conflito interno intenso e não quero que perceba o quanto estou
magoada por aceitar o toque da minha cunhada e rejeitar o meu.
— Gio. — Meu nome sai baixo. — Você está bem?
— E por que não estaria se estou com minha família? — Ergo
os olhos até os seus. — Bom trabalho. — Passo por ele e saio da
sala indo na direção da varanda.
Não queria estar tão chateada com os dois, mas não consigo.
Sou a esposa dele, passaremos o resto da vida juntos e me sinto no
direito de ficar afetada por não poder tocá-lo. Quero tentar
compreender que precisa de tempo para tal ato, mas se ele pode
transar comigo, também pode me deixar tocar qualquer área do seu
corpo.
Prendo os lábios em uma linha fina e respiro fundo. Preciso
aceitar que Domênico nunca me dará amor, tudo o que terei dele é
um bom sexo até que possua interesse por mim e eu preciso me
contentar com isso.

— Estou te achando um pouco triste, o que houve, filha? —


Minha mãe enrosca o braço ao meu enquanto descemos as
escadas.
— São eventos demais acontecendo ao mesmo tempo, estou
me sentindo um pouco exausta. — Minto, pois na realidade ainda
estou com a imagem da Masha tocando livremente meu marido.
— Como Domênico anda se comportando? Tudo bem, entre
vocês?
— Ele tem sido bom para mim, passa muito tempo fora e
quando chega já é tarde.
— Sei. — Ela fica em silêncio quando entramos na sala.
— O dia que quiser venha almoçar comigo, eu vivo sozinha.
— Faço o convite.
— Será um prazer, filha.
Olho para frente e vejo que Paolo tem Caterina dormindo
contra seu peito, enquanto fala ao celular. Ele só fez uma pausa do
trabalho quando foi obrigado a sucumbir aos efeitos dos remédios.
Porém, não demorou muito na sua soneca e já estava acordado
despejando ordens e mau humor, para todo lado.
Se ele bom já tem o temperamento difícil, doente é
praticamente insuportável de aguentar.
— Você teve sorte, filha, seja uma esposa exemplar, Dom
jamais irá te fazer passar o mesmo que sua irmã.
— Eu sei mãe, isso é o que me consola a viver na minha
prisão dourada.
Chiara chega toda empolgada ao lado do marido, ela não
pôde vir cedo, ligou para Fiorella e conversou um pouco com nossa
irmã, aliviada em saber que finalmente está livre de Carmelo.
— Até que enfim chegou. — Minha mãe vai abraçá-la.
— Como vai, Gio? — Giane vem falar comigo.
— Estou bem. — Graças a Deus ele é ótimo para minha irmã,
os se amam demais.
— E Paolo? Dando muito trabalho? — pergunta baixo.
— O que você acha? — Meu cunhado balança a cabeça em
sinal de desagrado.
— Esse não tem jeito. — Ele passa por mim e vai conversar
com meu irmão.
— Onde está Masha e Fiorella? — Chiara pergunta.
— Ella está no quarto e Masha resolvendo o jantar com Mirta.
— Preciso de uma reunião de família, tenho algo a contar.
— E o que é? — questiono curiosa.
— Surpresa.
Pelo sorriso dela é coisa boa, então não vou insistir para me
contar logo.
Vou chamar Fiorella e minha mãe fica responsável pela nora.
Ao menos agora elas se dão bem. Masha não é a mulher que minha
mãe sonhou para o filho, mas ela sabe que o ama e faz tudo por ele,
isso deixa a mamãe mais maleável.
Quando todos estão reunidos na sala, Chiara se aproxima do
marido e segura sua mão.
— Que porra está acontecendo aqui? — Paolo pergunta
impaciente com uma das mãos nas costas da filha que continua
jogada sobre seu peito dormindo.
Eu poderia até dizer que Caterina tem uma queda especial
pelo pai, mais isso seria mentira, porque a menina tem verdadeira
paixão por ele. Se meu irmão estiver em casa, a bambina
simplesmente esquece da mãe e só fica colada nele.
— Por Deus, Paolo, será que não pode ser educado um
único momento do dia? — Masha o recrimina, mas como sempre
ele não muda sua expressão carrancuda.
— Talvez o momento não seja o melhor... — Chiara começa a
falar.
— O momento é o melhor sim, ninguém aqui gostava de
Carmelo, então, não vamos fingir que lamentamos a morte dele. —
Giane interrompe a esposa. — Todos nós estamos aliviados e
felizes que Fiorella está livre daquele stronzo e junto dessa boa
notícia da morte dele temos outra que significa muito amor e novo
sangue à família. — Abro a boca entendendo bem o que ele quis
dizer.
— Você está grávida? — pergunto animada.
— Estou! — Ela alarga o sorriso. — Acabamos de vir do
médico, estou com seis semanas.
— Ah, meu Deus! — Minha mãe vai abraçá-la.
Eu me reúno a elas, assim como Fiorella. Mais um membro
para nossa família está chegando, a minha irmã já tentava
engravidar há algum tempo e finalmente conseguiu realizar seu
sonho.
— Meus parabéns, vocês merecem. — Vou abraçar Giane.
— Caterina vai ter um novo priminho. — Masha também a
abraça. — Estou tão feliz.
— Ei! — Paolo chama a atenção de todos. — Eu estou aqui,
também quero parabenizar o casal. — Neste momento Caterina já
acordou e nos encara com um rosto contrariado, que lembra muito o
pai.
Acho que nós a acordamos com toda nossa comoção.
— Jamais te excluiríamos de algo. — Chiara vai para perto
dele. — Caterina não está me olhando bonito, ela parece
ameaçadora. — Paolo beija o cabelo ruivo dela.
— Vocês acordaram minha pequena, ela não precisa estar
feliz com essa confusão. — Os olhos dele brilham de diversão
quando Chiara para perto deles. — Venha aqui, ragazza, quero te
beijar.
— É impressão minha ou está amoroso? — pergunta ao
sentar-se ao lado dele.
— Você já está sob efeito dos hormônios da gravidez, anda
vendo amor onde ele não deve — afirma ao puxá-la para perto. —
Parabéns, vocês merecem muito uma família.
Paolo é tão ridículo, essa mania dele em ser durão o tempo
todo é patética.
— Obrigada. — Ela se aninha ao nosso irmão. — Parece que
a vida de todos nós está entrando no eixo ao mesmo tempo.
Queria poder concordar com ela, mas nem todos nós
estamos bem de verdade. Não posso reclamar da minha vida, mas
também não posso deixar de ter consciência de que ela está muito
longe do que eu imaginei como o ideal.

Dou um nó em meu cabelo e subo na cama, o dia foi


extremamente agitado e cheio de revelações. A notícia da gravidez
da Chiara trouxe um novo suspiro de alegria e esperança para todos
nós.
Agora tudo parece estar ganhando rumo, Fiorella livre da
violência que vivia com o marido e, Chiara formando a família que
tanto sonhou.
Suspiro fundo, porque apesar de ter um bom marido, eu
nunca terei tudo o que desejo de um casamento. Domênico pode
me oferecer o melhor sexo do mundo, mas ele nunca me amará,
está bem nítido o quanto seus olhos gelados refletem o que existe
no seu coração.
O meu celular toca e eu levo um susto, olho para o visor e
vejo o nome de Dom piscar. Fico em alerta, com medo de algo ter
acontecido.
— Alô! — Tento controlar a ansiedade na minha voz.
— Estou chegando na casa do seu irmão, vou te buscar. —
Fico em choque, não esperava por isso.
— Você disse que eu podia dormir aqui.
— Apenas se arrume, Gio, não quero demorar, estou
cansado e faminto. — A sua voz está tensa. — Chego em cinco
minutos.
Ele encerra a ligação e eu fico alguns segundos em inércia,
tentando entender o que está acontecendo.
Sem opção, desço da cama e vou em busca das minhas
roupas, não posso simplesmente me negar a ir embora, ele é meu
marido e eu preciso seguir suas ordens.
Essa é a minha vida, sou uma mulher presa a tradições e
fadada a seguir os desejos do esposo.
Quando estou arrumada desço e encontro Domênico na sala,
olhando algo em seu celular. Imediatamente nota a minha presença
e guarda o aparelho no bolso.
— O que aconteceu? — pergunto ao me aproximar. — Você
está bem?
— Estou. — Ele segura a minha mão. — Podemos ir?
— Dom, você disse que eu poderia ficar.
— Disse, mas não quero mais que fique. — Começa a andar
e eu sou obrigada a acompanhá-lo.
— E por que mudou de ideia? — Vejo-o suspirar fundo.
— Não tive um dia fácil e mereço a minha mulher comigo. —
Abre a porta do carro e me espera entrar.
Sem ter para onde ir entro no carro e espero-o se acomodar
ao meu lado. Ele não diz nada, faz todo o trajeto até o apartamento
em silêncio. Subimos ainda sem trocar uma palavra e somos
recepcionados por um Mercury entusiasmado.
— Vou tomar um banho, você pode ver o que Maria deixou
congelado? Estou com fome.
Apenas aceno e sigo para a cozinha com Mercury me
seguindo.
— Seu dono é muito estranho, quero muito entendê-lo, mas
ele não me ajuda.
O cão apenas acompanha meus movimentos, parecendo
curioso por eu ficar falando sozinha.
Acho um delicioso ravióli congelado e o coloco no micro-
ondas. Eu tive um ótimo jantar na casa do meu irmão, não estou
com fome, apenas com vontade de beliscar algo.
Enquanto a comida dele esquenta pego um vinho e procuro
por algum queijo. Com tudo o que preciso em mãos eu me sento ao
redor da mesa, encho minha taça e corto algumas lascas do queijo.
Mercury como é um espião nato fica de olho no que
mordisco, mas eu o ignoro, ele tem o potinho de ração, que se
divirta por lá. Quando ouço o apito do micro-ondas, vou verificar se
tudo esquentou.
Como tudo está certo volto para a mesa e bebo o meu vinho
enquanto acaricio o danadinho do cachorro carente. Sempre quis ter
um animal, estou feliz demais por finalmente poder realizar meu
sonho. Apesar de Mercury ser muito apegado ao dono, ele sabe me
oferecer muitos momentos de carinho.
Estou em meio a pensamentos quando Dom entra na cozinha
vestindo apenas uma cueca samba-canção. Meus olhos traidores
escorregam por seu corpo forte, parando nas suas coxas firmes e
nas diversas tatuagens que se espalham sobre elas.
— O que preparou?
— Eu nada — digo displicentemente. — Mas Maria deixou
um ravióli, está com um cheiro divino.
— Ela tem mãos de fada para comida, não perde para
nenhum chef renomado.
Com movimentos seguros se move pela cozinha e em
poucos minutos se senta ao meu lado com seu prato fumegante de
ravióli.
— Não vai querer comer?
— Jantei no Paolo, não estou com fome, peguei o queijo só
para beliscar enquanto bebo o vinho.
— Cadê a minha taça? — Ele me lança um olhar inquisidor
ao experimentar a sua comida.
Não respondo nada, apenas levanto e pego outra taça.
Fazendo meu papel de esposa exemplar, encho-a com o vinho e
volto a me acomodar ao seu lado.
Fico em silêncio bebendo enquanto ele vai devorando seu
prato. Mercury fica atento ao seu dono, esperançoso que algo sobre
para que coma.
Quando termina sua refeição, Dom levanta e descarta a
embalagem no lixo. Ele lava as mãos e volta a sentar ao meu lado.
— Como foi o dia com sua família? Fiorella está mais calma?
— Ela está feliz, finalmente livre do terror que vivia. — Giro a
haste da taça entre o polegar e o indicador. — Chiara está grávida,
tivemos um jantar comemorativo.
— Sério? — Seus olhos se expandem. — Que boa notícia.
— Hoje o dia foi de alegria para a nossa família. — Bebo um
pouco do vinho. — Minhas irmãs estão felizes. — Fico pensativa e
acabo não notando que o silêncio pesou sobre nós.
— E você não está? — a pergunta dele quebra a tensão que
caiu sobre nós.
— Eu estou segura ao seu lado, isso no mundo em que
vivemos vale muito, Domênico. — Levanto-me. — Vou dormir,
ontem o dia não foi fácil com você e Paolo em risco, ainda me sinto
estressada — digo ao apoiar a mão sobre a mesa.
Começo a me afastar, mas ele segura a minha mão e me
puxa.
— Todos nós temos sonhos, Gio, poucos conseguem realizá-
los — diz ao se erguer em sua imponente estatura. Acho que Dom
deve ter mais de 1,90m de altura — Não pense que eu também não
tenha meus desejos, mas com o tempo aprendi a me adaptar à
realidade e ser grato com alguns agrados que a vida me concede.
— Segura a minha nuca com força. — Você, por exemplo, foi uma
grata surpresa que aconteceu no meu destino. — Sua mão desce
por minhas costas e para na altura da minha bunda. — Às vezes
precisamos apenas aproveitar o momento — fala antes de depositar
um beijo na minha clavícula.
— Às vezes também podemos não aceitar migalhas. — Ele
me encara e eu não recuo, ainda estou com a imagem das mãos da
minha cunhada o tocando.
— Nunca te ofereci migalhas — diz com o rosto tenso. —
Sempre fui sincero.
— Eu sei. — Toco o seu rosto. — Você me oferece todo dia o
que tem. — Escorrego a mão por seu pescoço. — O seu tesão por
mim é o que possuo e não nego que gosto de tudo o que vivemos
na cama.
— Só que você quer mais — afirma com as sobrancelhas
franzidas.
— Quero muito para quem sou, Dom, mas desde que eu
disse sim naquela igreja, tenho o que a maioria das mulheres da
máfia jamais possuirão.
Não dou tempo para que ele fale nada, fico nas pontas dos
pés e o puxo para um beijo, tentando interromper de vez essa nossa
conversa estranha, que não vai nos levar a lugar nenhum.
Ele me senta sobre a mesa e se infiltra entre minhas pernas.
Nossas bocas duelam com força, os dois tentando conter os seus
próprios demônios.
Domênico começa a abrir a minha calça, mas um movimento
ao nosso redor chama a minha atenção. Saio da minha névoa de
luxúria e vejo Mercury nos encarando.
— Dom. — Seguro sua mão que já desliza o zíper. — O
Mercury está aqui.
— E qual o problema?
— Não vou transar com ele nos olhando.
— Porra! — pragueja e chama seu cão.
Quando Mercury é isolado do lado de fora da cozinha, ele
retorna e puxa a minha calça a jogando no chão.
Prendo a respiração quando afasta a minha calcinha para o
lado e abocanha a minha vagina com certa selvageria. Aproveito
que estamos sozinhos e deixo um grito escapar, apoio a mão na sua
cabeça e me arreganho para ele querendo muito mais.
Estou com raiva dele, frustrada com suas limitações,
ciumenta pela relação dele com minha cunhada, porém não posso
negar o quanto fico louca quando me toma como agora.
Já entendi que quando eu estou ao seu lado eu não controlo
meus desejos e quero apenas que ele me faça sentir essa infinidade
de sensações enlouquecedoras.
Gozo gritando seu nome, puxando os fios do seu cabelo,
enquanto o sinto sugar o meu prazer. Ele ergue-se e me encara,
seus olhos tempestuosos deveriam me assustar, mas eu apenas me
arrepio com a adrenalina que corre por minhas veias.
— Você não é qualquer mulher da máfia, Gio — diz ao baixar
um pouco a samba-canção e revelar a sua grandiosa ereção. —
Você é a minha mulher.
Ofego quando ele me penetra, sem tirar os olhos dos meus,
fodendo-me com a brusquidão que tanto gostamos.
Isso é tudo o que vou ter dele, é bom, eu gosto, no entanto
nunca será o suficiente.
Acaricio a cabeça do Mercury enquanto o elevador segue
para nosso andar. Amaro checa suas mensagens ao meu lado, hoje
decidi liberar Cosima de passear com o cachorro, sempre que
possível farei esse serviço, será uma maneira de sair um pouco de
casa e conquistá-lo ainda mais.
— Chegamos, Mercury — digo animada e o liberto da sua
guia.
O danadinho sai na frente todo feliz e me espera
pacientemente abrir a porta.
— Meu marido te avisou se ele vai chegar mais cedo?
Há uma semana Dom tem trabalhado como louco, sempre
saindo cedo e chegando extremamente tarde.
— Até o momento não, mas com seu irmão em casa e
Giorgio fora do jogo, o chefe fica responsável por tudo.
— Que confusão esta que estamos passando — comento
com desânimo. — A única coisa boa é que minha irmã está livre do
maldito marido abusivo. Vou tirar essa roupa e preparar um lanche
para nós, o que acha?
— A senh... — Ele interrompe sua fala. — Por mim tudo bem.
— Certo, já volto. — Rapidamente tiro a legging e a bata que
usei para o passeio de final de tarde, substituindo as roupas por um
vestido fresco. O verão ainda está sufocante e eu já anseio pela
chegada do outono.
Vou direto para a cozinha e começo a preparar nosso lanche.
Amaro ainda é um pouco resistente a conversar comigo, mas depois
da noite que interagimos na sala, ele ao menos passou a responder
as minhas perguntas com mais de três palavras. É um avanço, aos
poucos eu o conquisto.
Como fui criada para ser um exemplo de esposa aprendi a
cozinhar com perfeição e, ao contrário das minhas irmãs que
odeiam essa tarefa, eu gosto de preparar minhas refeições. Se não
fosse Maria aqui, comandaria a cozinha por prazer, não sendo uma
obrigação.
— Venha comer, Amaro — grito por ele que não demora a
surgir na porta da cozinha. — Eu espero que goste, vi na televisão
esse sanduíche a base de presunto de parma que me deu água na
boca.
— Parece bom. — Ele sorri e eu me animo, estou quebrando
suas barreiras.
Comemos inicialmente em silêncio, mas aos poucos vou
perguntando das suas irmãs e ele se desarma. É tão lindo ver o
quanto gosta delas, Amaro fala sobre a família com muito amor.
Descubro que ele tem vinte e cinco anos, a irmã do meio fez
dezenove anos e a mais nova tem quatorze. Assim como eu, elas
são fanáticas por chocolate, isso já me causa uma grande
identificação com as meninas.
Consigo fazê-lo relaxar e terminamos o nosso papo em uma
conversa tranquila, que acaba sendo direcionada para séries de
suspense, um gosto que temos em comum.
Assim como o esperado, um tempo depois Dom liga avisando
que chegará tarde e que não devo esperá-lo para o jantar. Faço a
refeição com Amaro, que agora já conversa comigo com
tranquilidade.
Comentamos sobre o enterro vergonhoso de Carmelo, pois
como um traidor do clã perdeu o direito de ter a presença de toda a
Famiglia, apenas seus pais estiveram presentes na sua despedida.
Nunca estive tão feliz com a morte de alguém, desde que ele
se foi minha irmã parece ter rejuvenescido. É muito bom vê-la sorrir
novamente, Fiorella agora está mais leve, mais parecida com a
minha irmã do passado, quando ainda morava na casa dos nossos
pais.
— Sabe, eu estou pensando em reformar meu quarto, colocar
um papel de parede, comprar uns móveis novos, fazer algumas
decorações que tenham a ver com minha personalidade, não estou
gostando como está — digo pensativa.
— Não é querendo me gabar, mas sou bom com reformas, se
não quiser contratar ninguém, podemos fazer tudo sozinhos, é bom
que ocupa nosso tempo livre. — Olho para ele animada.
— Está falando sério? — Amaro balança a cabeça em um
gesto positivo.
— Estou — responde sorrindo. — É só avisar o que deseja
que montamos a lista de compras.
— Vou falar com Domênico, vamos começar imediatamente.
— Estou radiante.
Um tempo depois ele avisa que irá para o seu próprio quarto
descansar um pouco, enquanto espera por meu marido. Faço o
mesmo e aguardo Dom lendo um livro.
Mercury se acomoda ao meu lado na cama, ele descobriu
que não ligo que fique comigo em qualquer lugar. Eu me jogo na
leitura e, apenas quando ouço o som da porta de entrada bater, que
percebo que perdi a noção do tempo.
Olho para a hora e vejo que já se passa das dez da noite, ele
realmente chegou tarde. Não ouço seus passos no corredor,
certamente está dispensando seu segurança. Quando penso em ir
atrás dele, Dom entra no meu quarto e imediatamente vejo em seu
rosto o quanto está exausto.
— Pensei que já estivesse dormindo. — Na mesma hora
Mercury desce da cama e vai cumprimentar seu dono.
Dom passa um tempo o acariciando, até que o coloca na sua
cama na sala. Quando retorna ele parece ainda mais cansado.
— Queria te ver chegar. — Não sei o porquê disse isso, ele
vai achar que sou uma mulher carente, mas realmente precisava
saber se estava tudo bem.
Dom suspira fundo e se aproxima da cama, ele segura a
minha cabeça e me beija. Puxo-o para mim, moldando minha boca à
sua. Eu queria ficar mais tempo com meu marido, depois que
voltamos de lua de mel só enfrentamos problemas.
Ele se afasta e me encara de uma maneira estranha, fico
incomodada com seu olhar, Domênico é o tipo de pessoa que sabe
camuflar todas as suas emoções, mas agora ele parece
completamente perdido.
— Você já jantou? — pergunto para quebrar esse clima
esquisito.
— Comi qualquer coisa no La Fontaine, só pude ir ao
escritório da máfia no início da noite, passei o dia entre reuniões
com empresários, não adiei os compromissos do seu irmão, apenas
reagendei alguns.
— Quer um lanche? Eu fiz um delicioso a tarde, Amaro
adorou. — Ele ergue uma sobrancelha.
— Gostou é? — diz com ironia e se afasta ao tirar a gravata.
— O que foi? Não posso fazer lanche para o meu segurança?
— Amaro tem mão. — Rosna quando descarta o terno.
Ele está com ciúme? Não. Duvido que Domênico seja capaz
de ter ciúme, o que ele tem é posse por mim. Para ele sou como
uma propriedade, todos os homens da máfia veem suas mulheres
dessa forma.
Ele se vira e entra no meu banheiro, passa um longo tempo
por lá, quando retorna está completamente nu e se joga ao meu
lado soltando um resmungo.
— Quer que eu prepare uma bebida? — pergunto tentando
de alguma maneira ajudá-lo a eliminar um pouco do seu estresse.
— Bebi o suficiente por hoje — responde de olhos fechados.
— Mas tem algo que pode fazer por mim.
— Só dizer que faço.
— Eu quero que me monte. — Dom abre os olhos e me fita.
Fico o encarando sem entender seu pedido, até que minha
mente acorda e entendo o significado das suas palavras. Um gatilho
de excitação se espalha por minhas veias, achei que hoje não
faríamos sexo, mas pelo jeito ele não está cansado ao ponto de
dormir direto.
— Nós nunca fizemos isso, estou um pouco insegura.
— Justamente por não termos feito vamos experimentar,
ando esperando este momento. — Ele me segura pela cintura e me
puxa contra seu corpo. — Tira essa camisola e fica nua.
Quando me dá ordens com essa voz rouca eu perco meu
equilíbrio.
Faço rapidamente o que me pediu e Dom bate contra suas
coxas, pedindo silenciosamente que eu o monte. Abro as pernas e
me posiciono sobre sua crescente ereção, enquanto ele apalpa o
meu seio sorrindo.
— Primeiro monte sobre meu rosto, depois meu pau é seu
para o que quiser.
Ainda morro do coração com este homem, ele é de uma
obscenidade que deveria me chocar, mas já me perverti ao seu
lado, agora só me importo em sentir prazer.
Seguro na cabeceira da cama e vou descendo contra seu
rosto lentamente, no meio do caminho Dom engancha as mãos nas
minhas coxas e me puxa de uma vez. Caio contra seu rosto e tenho
minha boceta assaltada por sua boca experiente.
Grito sem controle, ensandecida pela forma como me chupa.
Não tenho outros homens a quem compará-lo, mas eu duvido que
todos façam uma mulher gozar com tanta facilidade.
O meu orgasmo vem em uma onda poderosa, que me faz
tremer sem controle. Domênico suga cada gota do meu prazer e
quando se dá por satisfeito, me faz sentar sobre ele.
— Não encoste no meu peito, se apoie nas minhas pernas ou
na cabeceira da cama. Se a posição te incomodar vire-se de costas,
mas eu queria de verdade ver de frente sua boceta engolindo meu
pau. — O meu corpo treme com suas palavras cruas.
Porém, seu alerta também me desperta lembranças ruins e a
imagem da minha cunhada o tocando volta com tudo. Devo ter
mudado a expressão do rosto, porque os olhos dele ganham um
tom de preocupação.
Tento me controlar, não vou perder meu prazer porque estou
ressentida com meu marido. Domênico não possui comigo a mesma
ligação que desenvolveu com Masha. Preciso aceitar isso, até
porque não posso fazer nada, um pedido de separação, no meu
caso, é algo impossível.
Seguro o seu pau e o centralizo na minha entrada, vou
descendo aos poucos e quando ele me preenche completamente,
coloco as mãos nas suas coxas e começo a me mover.
A posição é nova, me deixa exposta à sua visão, assim como
seu membro entra bem fundo. Sinto certo desconforto, parece que
ele está alcançando um lugar diferente dentro de mim, mas quando
pego o ritmo, eu me transformo em uma estrela pornô.
— Caralho! — Dom aperta meus seios. — É uma visão que
deveria ser eternizada. — A voz dele sai arrastada. — Você me
montando, essa boceta molhada e sua cara de tesão... Porra! — Ele
toca meu clitóris e por instinto faço o movimento de fechar as
pernas, mas sua mão me impede. — Quero ver tudo, você não sabe
o que me faz sentir com meu pau enterrado nesta boceta tão
pequena.
Os olhos dele não saem do nosso encaixe e com o passar
dos minutos sinto minhas pernas protestarem.
— Estou cansada. — Assumo.
— Apoie-se na cabeceira e continue me fodendo, hoje você é
a responsável por nosso orgasmo. — Sua voz é inflexível.
Sigo suas instruções e começo a requebrar sobre seu colo.
Nesse ângulo Domênico pode sugar meu seio e ele faz isso da
maneira firme que me enlouquece. Quando meu orgasmo chega, eu
monto sobre ele sem controle, grito e gemo enquanto o mantenho
até o fundo. Ele rosna e me segura pela cintura, erguendo um pouco
meu corpo para poder estocar fundo e rápido.
Sinto o momento que goza, o seu prazer me aquece por
dentro.
Caio contra ele sem forças, estou completamente esgotada.
Dom beija minha testa, em seguida coloca meu corpo de lado. Ele
sorri e corre a mão pelo meu cabelo.
— Perfeita. Você é um fenômeno na cama e só eu posso te
foder gostoso, se isso não é ganhar na loteria, eu não sei mais o
que é sorte — diz com a voz rouca. — Durma, mio bellissimo
angelo.
Ele não precisa pedir duas vezes, eu estou completamente
exausta. Já tivemos muito sexo intenso, mas o de hoje superou
todas as minhas expectativas.

Mordo um pedaço de pão e tomo um pouco de café,


enquanto meu marido espia algo no celular. Ele enruga as
sobrancelhas, em seguida volta a comer.
— Dom, eu estava pensando em algo. — Chamo sua
atenção.
— E o que seria?
— Quero redecorar meu quarto, deixá-lo com a minha
personalidade.
— Faça o que quiser, eu já te dei um cartão de crédito, use-o
como desejar.
— Eu tenho meu próprio dinheiro. — Sei que ele é meu
marido e que no meu mundo deve suprir todas as minhas
necessidades, mas sou uma rebelde de natureza.
— Neste caso eu faço questão de pagar, se usar seu dinheiro
entraremos em atrito — afirma de maneira dura.
Trocamos um olhar tenso, até que eu aceno concordando
com ele.
— Certo, vou usar o cartão que me deu.
— Ótimo. — Ele olha para o relógio. — Fiorella virá passar o
dia com você?
— Não só ela como Chiara e minha mãe, iremos comprar
roupinhas para meu novo sobrinho.
— Perfeito, como todos os dias devo chegar tarde.
— Tudo bem, só me avise se vai jantar em casa.
— O.k. — Ele levanta e se aproxima de mim. — Ligue se
precisar de algo.
— Fique tranquilo, nada vai acontecer. — Dom estica a mão
e toca meu rosto, seus olhos têm um brilho estranho, algo diferente
do que estou acostumada a ver.
— Até mais tarde. — Roça a boca contra a minha antes de
pegar seu terno e sair.
Fico com o coração acelerado, um clima estranho aconteceu
aqui e eu não sei ao certo o que pensar.
Balanço a cabeça e vou atrás do Amaro, ele disse que ia me
ajudar e amanhã mesmo quero começar a providenciar minha
reforma.

— Este é lindo. — Minha sogra ergue uma roupinha vermelha


para Chiara.
Como minha mãe agora se tornou a melhor amiga de
Concetta, chamou ela e Ambra para nos acompanhar nas compras.
No fundo, eu gostei, desde que cheguei de lua de mel,
apenas conversei por telefone com minha sogra, pois meu marido
não quer muito contato com sua família, por conta do pai.
— Ahhh meu Deus! Eu quero levar — Chiara diz animada.
Sorrio, pois ela quer levar tudo o que vê pela frente.
Acabamos escolhendo uma quantidade ultrajante de roupas, fora
alguns itens para a decoração do quarto, que terá como tema:
ursos.
Como Masha nos acompanhou, Caterina veio junto e ficou
encantada com alguns brinquedos. A minha cunhada não se
aguentou e comprou alguns itens para a filha. Um tempo depois
Paolo ligou e ela acabou indo para casa, sem poder almoçar
conosco.
Meu irmão tem sido um paciente difícil, ele não aceita ficar
em casa e só sossega um pouco quando a esposa e filha estão do
lado.
— E aí como têm sido seus dias na casa do Paolo finalmente
livre do seu marido? — pergunto à Fiorella quando estamos
esperando nosso almoço.
— Gio, eu me sinto dentro de um sonho, não acredito que
vou passar o dia sem ter que olhar para Carmelo. — Ela fita o
horizonte. — A voz dele era o suficiente para me fazer vomitar. —
Sua mão vai para o seu ventre. — Eu odiava aquele homem, ele foi
mau para mim desde que fechou a porta da nossa suíte de lua de
mel. — Meu corpo estremece. — Você é uma mulher de sorte em
ter Dom ao seu lado, jamais saberá o terror que passei.
— Lamento muito, Ella. — Apoio a mão sobre a sua. — Não
consigo imaginar o que passou.
— Nem quero que imagine. — Ela entrelaça os dedos aos
meus. — Mas passou, estou livre e agora quero só paz, Paolo me
garantiu que não vai me comprometer com ninguém, no momento,
eu poderei me recuperar de tudo sem pressa.
— Bom saber disso. — Aperto nossos dedos. — Leve seu
tempo.
— Eu vou levar sim, estou pensando em viajar, sair um pouco
de Roma.
— Faça isso, será bom para você.
Chiara chama nossa atenção e acabamos entrando em uma
conversa animada, que quebra completamente o assunto pesado
que nos rodeava.
Três semanas depois

— Para onde nós estamos indo? — pergunto curiosa.


— É uma surpresa. — Dom está tranquilo e muito misterioso
para o meu gosto.
Ele me acordou logo cedo e pediu que eu me arrumasse,
pois iríamos sair juntos. Já perguntei inúmeras vezes o que está
aprontando e apenas tenho como resposta que é surpresa.
Já não aguento mais tanta curiosidade.
— Não pode me dar nenhuma dica?
— Infelizmente, não. — Cruzo os braços, sem esconder a
minha irritação. — Você emburrada parece o Paolo, os dois não são
exemplos de paciência.
Meu irmão enfrentou problemas na sua recuperação, a sua
perna deu uma inflamação e ele levou mais tempo do que o
esperado para voltar a trabalhar, apenas ontem assumiu, em parte,
suas funções na direção dos negócios.
— Sou paciente sim, mas neste caso não vejo motivos para
tanto mistério.
— É algo bom. — Ele estaciona o carro.
Não espero que abra a minha porta, saio rapidamente do
veículo me corroendo de curiosidade para onde estamos indo logo
cedo.
— Vamos. — Domênico segura a minha mão e anda
apressado pela calçada.
Sigo seus passos tentando adivinhar para onde estamos
indo. Quando ele desacelera eu fico com o coração aos saltos ao
notar que estamos em frente da autoescola.
— Entre — ordena ao abrir a porta do estabelecimento. —
Você vai ter um dos seus sonhos realizados — diz com a voz baixa
rente ao meu ouvido.
Encaro seu rosto sereno com olhos marejados, não acredito
que meu marido vai permitir que eu dirija, só posso estar em um
sonho.
— Dom... — sussurro seu nome.
— Apenas entre, Gio. — Ele apoia a mão nas minhas costas,
me incentivando a andar.
Um tempo depois eu estou matriculada na autoescola e com
a agenda das minhas aulas em mãos. Na próxima segunda-feira já
começo todo o processo e vou me dedicar ao máximo para tirar
rapidamente minha habilitação.
— Eu estou tão feliz — comento quando entrelaço os dedos
aos do meu marido. — Não acredito que vai me deixar dirigir.
— Você é minha mulher, não uma prisioneira. — Dom
acaricia com o polegar a minha mão. — Só não aceito que arrisque
sua segurança.
— Obrigada, por ser tão bom para mim — falo quando
chegamos ao seu veículo.
— Não precisa agradecer nada, agora entre no carro,
precisamos ir em outro lugar.
— Pode parar, Domênico, vai me fazer ficar curiosa
novamente?
— Vou — responde com diversão. — Agora entre.
Não discuto com ele, depois do que acabou de fazer eu só
quero cobrir meu marido de beijos.
Enquanto dirige conto que marquei um almoço com a sua
mãe na nossa casa, ele fica contente em ver que estou disposta a
me aproximar dela, porém me alerta que não me quer em contato
com o pai, se ele não estiver por perto.
Quanto a isso eu concordo, no que depender de mim ficarei
eternamente longe de Francesco, não gosto sequer de olhar para
aquele homem.
Estou tão envolvida na nossa conversa que apenas noto
onde estamos quando Dom ultrapassa os portões da faculdade, que
Masha e Leo estudam.
— Meu Deus, Dom! — Olho para o meu marido, que apenas
estaciona o carro e me encara.
— Hora de realizar mais um sonho. — Ele cobre a minha
mão com a sua. — Em breve terei uma esposa historiadora.
Não me contenho e me penduro no seu pescoço para
abraçá-lo, esse homem só pode estar querendo acabar comigo.
Estou completamente perdida, sem saber no que pensar sobre
todas as novidades que ele lançou sobre mim.
Como posso segurar meu coração quando Dom é muito mais
do que um dia imaginei?
— Não acredito que Domênico fez isso. — Assim como eu,
Fiorella está em choque.
Depois de formalizar minha matrícula na faculdade, ele me
deixou na casa da minha mãe, onde Ella está morando agora.
Desde que o marido faleceu faço questão de estar com ela, se eu
não posso passar o dia ao seu lado, Chiara fica no meu lugar.
— Também não acredito, sinto que vou acordar a qualquer
momento.
— Sempre soube que ele seria um bom marido para você,
mas o que está fazendo jamais passou pela minha cabeça.
— Do que estão falando? — minha mãe pergunta ao entrar
na sala.
— Gio vai aprender a dirigir e cursará História na faculdade.
— Ella anuncia.
— Como é? — Mamãe arregala os olhos. — Seu marido
concordou com isso?
— Ele pessoalmente me fez essa surpresa hoje cedo,
começo a autoescola na próxima segunda.
— Dom aceitou essa loucura?
— Por que loucura, mãe? Sempre sonhei em dirigir e fazer
faculdade, contei ao meu marido e ele não viu problema em realizar
meus desejos.
— Como esposa seu lugar é em casa, cuidando do seu
marido, não achando que pode dirigir e ir a uma faculdade.
Inspiro fundo tentando me controlar, o pensamento da minha
mãe é tão arcaico, que me deixa enjoada.
— Se o esposo dela não vê problemas em Gio estudar e
dirigir, a senhora não pode se meter, ele sabe o que faz.
— Sei muito bem disso, Fiorella, no entanto não concordo
com essa loucura, o lugar da sua irmã é dentro de casa, cuidando
do lar, foi criada para isso. Irei falar com Paolo sobre essa situação,
não quero o nome da nossa família sendo motivo de comentários
maldosos, já me basta seu irmão se casando com uma mulher de
origem duvidosa.
— Pare de falar assim da Masha, ela é uma de nós. É neta
de Franco e ama meu irmão, deveria se envergonhar em pensar mal
dela. — Minha irmã protesta.
— Sonhei com a elite da máfia para todos os meus filhos, não
aceito gente pequena para vocês.
— A senhora aceita gente igual ao Carmelo? — Fiorella a
fuzila com o olhar. — É mais importante status do que a felicidade,
mãe? — Pegando-nos de surpresa, ela ergue a blusa e mostra uma
marca entre suas costelas. — Está vendo esse furo? — grita. — Foi
o porco do meu falecido marido que fez quando me surrou com o
cinto e afundou a fivela na minha carne. Passei uma semana com
febre, porque inflamou e ele não permitiu que eu procurasse ajuda
de um médico.
A minha mãe apoia as mãos contra o peito, olhando em
choque para a filha. Já eu fico parada, sentindo as lágrimas rolarem
pelo meu rosto, porque não consigo imaginar o terror que foi a vida
de Fiorella.
— Devia agradecer por Gio ter um homem bom, que cuida
dela, se importa em agradá-la. Já Paolo encontrou uma mulher
perfeita para ele, que o ama mais que tudo. Pare com esse
pensamento ridículo ligado a essas tradições malditas da máfia,
precisamos evoluir, libertar nossas mulheres de tanta maldade.
— Filha, eu... — Ela não termina de falar, cobre o rosto
quando começa a chorar.
Apesar de estar com raiva dela por criticar as ações do meu
marido, eu a abraço e tento confortá-la. Fiorella faz o mesmo, se
aproxima e ficamos as três juntas.
— Desculpa, minhas meninas, fui criada para ser uma mulher
submissa ao nosso sistema, estou acostumada a aceitar o pouco
que me é oferecido — diz ao acariciar o rosto da minha irmã. — Sei
o que quanto sofreu, seu pai foi ainda pior que Carmelo.
— Justamente por saber disso, deveria estar feliz por Gio ter
Dom ao seu lado.
— Eu estou sim. — Ela me olha e beija minha testa. —
Apenas tenha cuidado, meu anjinho, Domênico é um homem
centrado, mas a maldade faz parte dele, não o aborreça.
— Não se preocupe comigo, sei até onde posso ir com ele.
Estudar não irá me fazer negligenciar meu casamento, pelo
contrário, mãe, a cada dia estou mais feliz em ter Dom como
marido.
— Sem querer seu pai fez uma boa escolha.
— Dentro do nosso universo, eu não poderia ter melhor sorte.
— Apoio a cabeça no seu ombro.
Ter Dom como meu companheiro não é só sorte, é algo muito
maior, que no momento não tenho palavras para definir, apenas me
sinto feliz em tê-lo ao meu lado.

— Eu estou tão empolgada — digo a Amaro. — Está ficando


tudo como eu queria.
— Estamos fazendo um bom trabalho — afirma ao encaixar a
gaveta na minha nova cômoda, em estilo princesa.
É bem parecida com a que tinha na casa da mamãe, eu
amava aquela cômoda e não a trouxe comigo porque precisava da
autorização do Domênico.
— Estou gostando de participar pessoalmente da minha
reforma, vai me distrair bem até a próxima segunda.
— As ruas de Roma não serão mais as mesmas depois que
conseguir sua habilitação, algo me diz que meu trabalho vai dobrar.
— Por acaso está querendo dizer que vou ser ruim no
volante? — Olho-o zangada.
— Não. — Amaro seca a testa exibindo um discreto sorriso.
— Só estou querendo dizer que vou precisar ficar atrás de você o
tempo todo, porque podendo dirigir, não vai querer que eu faça isso.
— Nisso você tem razão, eu irei conduzir meu veículo por
mim mesma.
— Sabia. — O seu olhar zombeteiro me faz sorrir.
Há um mês descobri um Amaro mais leve, sempre com uma
piada pronta e empenhado a me distrair quando estou entediada.
Ele virou um amigo, passo a maior parte do tempo ao seu lado e
gosto das nossas conversas. Por termos idades próximas, dividimos
gostos em comum, o que nos leva a termos longas conversas sobre
nossas séries favoritas.
— Vou colocar o papel de parede, amei fazer isso.
— Giovanna, a parte que falta é no alto, eu faço isso, só me
espera terminar aqui.
— Bobagem, eu posso fazer.
— Você é muito teimosa, idêntica ao seu irmão. — Reviro os
olhos, todo mundo tem a péssima mania de me comparar a Paolo.
Eu não sou chata como ele, talvez um pouco teimosa, mas
ainda assim não chego aos pés do meu irmão ranzinza.
Faço todo o processo de aplicar a cola nas costas do papel e
começo a subir a escada. Com calma vou esticando o papel,
tomando cuidado para não deixar nada enrugado. Em algum
momento eu me inclino demais e a escada bambeia.
— Merda! — Praguejo ao tentar controlar a escada.
— Gio! — Amaro exclama exasperado o meu nome e sinto
imediatamente suas mãos circulando a minha cintura. — Você é
muito teimosa, caralho.
— Amaro... — minha fala se quebra quando uma voz de
trovão ressoa pelo quarto.
— Que porra está acontecendo aqui? — De onde estou sinto
a fúria de Dom. — Tira as mãos da minha mulher agora mesmo.
Olho para trás e vejo que encara fixamente o local onde
Amaro me segura. Eu me desequilibro de vez e sou segurada pelos
braços musculosos do meu segurança.
Acho que acabo de colocar o pobre Amaro em uma
enrascada, pelo rosto raivoso do Domênico, ele está disposto a
causar um conflito.
Só espero segurar meu temperamento, porque se ele passar
dos limites com Amaro, teremos sérios problemas nesta noite.
Coloco um fio de cabelo atrás da orelha e guardo o celular no
bolso. Hoje tivemos uma dor de cabeça do caralho com a polícia
interceptando nossas drogas vindas da América do Sul.
Tentamos como loucos não permitir que a apreensão vazasse
para a imprensa, só mantendo tudo em silêncio para tentarmos
reaver com nossos contatos parte da droga.
Claro que sempre tem um maldito repórter por perto e alguém
disposto a entregar informações sigilosas. O pior aconteceu e agora
estamos sem esperanças de conseguir nossa mercadoria.
Inferno! Teremos um prejuízo imenso, beirando a meio milhão
de euros.
Em outro tempo eu estaria no bar do Mattia, bebendo um
bom uísque e escolhendo uma mulher para foder até liberar todo
meu estresse. Só que agora eu tenho uma esposa e só penso em
estar ao seu redor.
Giovanna anda fodendo a minha cabeça das mais diversas
maneiras possíveis, eu não sei o que faço com ela, a cada dia eu
me sinto mais perdido.
Que merda está acontecendo comigo? Eu sempre soube que
a respeitaria em qualquer ocasião, só não esperava ficar tão
dependente da sua presença, desejando intensamente chegar em
casa para poder beijá-la.
Caminho para seu quarto, agora que inventou a tal reforma,
vive por lá fazendo algo e, Mercury não sai do seu lado, perdi meu
fiel escudeiro para Gio, ele literalmente a adotou como sua principal
tutora.
Paro na porta e paraliso ao ver Amaro com as duas mãos
grandes na cintura da minha esposa. Por alguns segundos fico sem
reação, até que eu me recupero da surpresa e tomo uma atitude.
— Que porra está acontecendo aqui? — Rosno sem
esconder minha fúria. — Tira as mãos da minha mulher agora
mesmo!
Ela me olha surpresa, enquanto o maldito Amaro mantém as
mãos nela. Gio se desequilibra caindo sobre ele, minha visão fica
completamente nublada ao ver seu corpo entre seus braços.
Entro no quarto em um rompante e puxo Gio contra mim,
tirando-a do domínio do segurança. Amaro me encara com receio,
mas eu me perco quando sinto a mão dela apoiada abaixo do meu
ombro. Todo o meu corpo enrijece, por instinto puxo sua mão com
brusquidão a afastando de mim.
Os olhos dela encontram os meus e vejo a mágoa se
espalhar por eles.
Merda! Não queria feri-la.
— Chefe não é nada demais. — Amaro se manifesta. — Eu
estava evitando a queda da senhora Giovanna. — Tento me
controlar.
— A verdade é que uma equipe de decoração devia estar
reformando o quarto, você já tem o seu serviço.
— Eu quis fazer a reforma com o Amaro — Gio finalmente
fala algo.
— Talvez esse seja o problema, você quer coisas demais o
tempo todo. — Olho para ela sentindo algo estranho ferver dentro
de mim. — Acho que chegou o momento de fazer as coisas do meu
jeito. — Seu peito se expande e seus olhos ficam agitados.
— Amaro, preciso ficar a sós com meu marido, pode ir
embora, amanhã continuamos nossa reforma. — Ele não se move,
fica indeciso se deve ou não obedecer a Giovanna.
Faço um leve aceno com a cabeça dando a permissão para
sair, abaixando a cabeça, deixa o quarto apressado. Nunca tive
motivos para desconfiar dele, mas a intimidade que se formou entre
os dois anda me incomodando profundamente.
— O que deu em você? — Ela se afasta. — Por que todo
esse escândalo?
— É sério sua pergunta? — Faço um esforço descomunal
para não expor toda a raiva que sinto. — Chego em casa
estressado depois de enfrentar grandes problemas no trabalho e
encontro minha esposa nos braços do segurança. — Gio aperta os
lábios, seu rosto se retorce em uma careta.
— Qual o seu problema, Domênico, não ouviu Amaro dizer
que me desequilibrei?
— Foda-se o que ele disse, não quero outro homem te
tocando.
— Ele não estava me tocando, só me ajudou a não cair.
— De onde eu estava vi claramente as mãos dele sobre
você, se eu não chego na hora, muita coisa poderia acontecer. —
Assim que termino de falar essas palavras me arrependo.
Jamais ajo no calor da emoção, sempre consigo me afastar
de um conflito e manter a frieza para não me perder. O problema é
que quando tenho a minha esposa na equação, simplesmente não
sou eu mesmo.
— Dom, pare com isso, se continuar por esse caminho pode
acabar com a paz do nosso casamento.
— Cuidado, Gio, você pode sair ilesa por ser minha mulher,
mas Amaro sofrerá as consequências se eu captar algo errado.
— O que está querendo dizer? — Ela apoia as mãos na
cintura. — Por acaso está sugerindo que estou tendo um caso com
seu segurança?
— Estou apenas alertando que não gosto dessa porra de
intimidade, muito menos ele no seu quarto, com as mãos em você.
Ela avança na minha direção, seu rosto está retorcido e seus
olhos explodindo de raiva.
— Nessa relação, Domênico, não sou eu que tenho traumas,
mas permito que outra pessoa me toque, quando não deixo meu
próprio parceiro me tocar. — Ela me acerta em cheio. — Amaro é
um ótimo rapaz, me respeita, ouve o que falo, tenta me entreter
quando meu marido some por causa do trabalho e só aparece para
me foder e depois vai para o próprio quarto dormir sozinho. — Cada
uma das suas palavras é como um soco. — Sou eu que deveria te
cobrar algo, mas não posso, porque sou uma boneca inanimada,
que deve dizer sempre sim para seu mestre. Sei do meu lugar, das
minhas responsabilidades, fui criada para ser a esposa ideal e
quando não fugi do nosso casamento aceitei meu papel. Nunca
mais insinue que posso ser infiel, porque eu jamais seria capaz
disso, tenho consciência das consequências deste ato e até o
momento não tenho a intenção de morrer.
Não reajo a sua explosão, ainda estou tentando me recuperar
de toda a mágoa que sente por eu não permitir que me toque.
— Gio... — Tento arrumar as palavras certas a falar.
— Por favor, saia do meu quarto, eu quero ficar sozinha.
— Precisamos conversar.
— Não precisamos, no momento só preciso ficar sozinha. —
Ela tenta se conter, ainda assim sua voz sai alterada. — Sei que
para você não represento nada, minha utilidade aqui é abrir as
pernas quando quer o seu prazer. Desde cedo aprendi a minha
função nessa merda de vida que nasci, não vou fugir do meu fardo,
mas agora estou extremamente magoada por pensar que eu posso
ter algum caso com Amaro e por repelir tão veementemente um
simples toque meu, quando me fode com tanto empenho quando
deseja trepar.
Dou um passo atrás, a sua raiva é tão intensa, que me
alcança em ondas pesadas.
— Acha mesmo que é apenas um objeto sexual para mim?
— Você me disse um dia que precisávamos ter tesão. —
Joga na minha cara as minhas palavras. — Temos tesão até
demais, mas acho que podemos ter respeito também, hoje você o
perdeu por mim. — Ela passa a mão pelos olhos. — Eu não posso
te tocar mesmo que seja sem querer, mas Masha te toca a hora que
quiser. — Sua voz sai repleta de mágoa. — Sai do meu quarto, não
quero mais discutir.
— Porra! — Não sei o que falar. — Foi instintivo te afastar
quando me tocou.
— Não foi, você me repele, sequer dormimos juntos. — Seu
rosto está vermelho. — Nunca vou te cobrar nada, pois não espero
nenhum sentimento no nosso casamento. Só não insinue que posso
te trair, por mais respeito que eu tenha obrigação de ter por você,
não vou me calar quando me acusa de algo que jamais teria
coragem de fazer.
Nossos olhos se prendem, vejo toda a sua dor e mágoa. Eu
não sei exatamente explicar tudo o que eu estou sentindo. Tenho
raiva de mim por ser um homem limitado, raiva dela por mexer tanto
comigo e, principalmente, raiva por me permitir perder o controle na
frente dos outros.
Dou as costas para Giovanna e saio do seu quarto, estou a
ponto de explodir, quero socar algo, torturar algum inimigo,
extravasar de alguma maneira toda fúria que estou sentindo.
Chego na sala e me deparo com Amaro parado perto das
portas francesas que levam ao solário. Ele rapidamente vira-se e me
encara. Faço algo inesperado e o puxo pela camisa.
— Não quero que você encoste na minha mulher.
— Senhor! — Ele segura a minha mão. — Eu só cuido da
senhora Giovanna, evitei apenas que caísse, ela é uma boa menina,
só tento não a deixar tristonha quando o senhor está ausente. —
Seus olhos prendem os meus. — Até que me permita, cuidarei dela
como faço com minhas irmãs.
Minha respiração sai acelerada, porque estou passando por
um turbilhão de emoções que é desconhecido por mim.
— Não quero te matar Amaro, sempre foi um bom soldado.
— Também não quero morrer, sou fiel às suas ordens. —
Solto-o.
— Vá para casa, pedirei para Carlo ficar com Gio, preciso
espairecer um pouco, vou para o bar do Mattia. — Suas feições
ficam tensas.
— A sua esposa é uma boa mulher, trata todos seus
funcionários com muito respeito, ela merece toda sua consideração.
— Não me diga o que fazer, agora vá embora! — ordeno com
minha tradicional voz fria.
Ele se afasta em silêncio, ligo para Carlo e peço que fique de
plantão. Estou precisando retomar a minha vida, trepar com a
mesma mulher por mais de dois meses não está me fazendo bem.
Sou um homem fodido, nunca serei o marido que Giovanna
sonhou e, na verdade, pouco me importo com isso. Meu
compromisso é protegê-la sempre, o resto foda-se, já estou me
esforçando para deixá-la feliz permitindo que dirija e estude. Não
posso ser perfeito, também não quero ser.
Chegou o momento de entrar em uma nova fase do nosso
casamento, preciso me reencontrar, voltar a ser dono das minhas
emoções.

Peço um uísque e apoio os braços sobre o balcão, estou


explodindo de raiva e frustração. Não me lembro da última vez que
perdi meu controle, nem mesmo quando meu pai me torturava eu
demonstrava o que sentia.
Corro a mão pelo rosto irritado, nunca uma mulher
permaneceu tanto tempo rondando a minha mente.
— Desde que se casou não te vejo por aqui. — Cassiano, um
dos conselheiros, para ao meu lado. — Já cansou da sua esposa?
— Ele ergue um dedo e pede uma bebida.
— A minha esposa não é da sua conta. — Ele sorri
sarcasticamente.
— Paolo não ficará feliz se descobrir que está trepando com
as putas do Mattia.
— Ele tem a própria família, eu trepo com quem eu quiser,
meu compromisso é proteger a irmã dele e, não sendo um porco
como Carmelo. — A sua bebida chega.
— Você não está bem, raramente te vejo agressivo, Paolo é
que não tem paciência.
— Talvez eu também não a tenha, só me esforço para
camuflá-la.
— Preciso dizer que é um bom ator. — Ele sorve um longo
gole no seu uísque.
— Bom saber disso. — Coloco alguns fios de cabelo atrás da
orelha.
— Anna está por aí, sei que ela é sua protegida — diz ao
beber mais um pouco. — Acho que já deve estar livre para poder te
agradar.
— Virou sócio do Mattia? — pergunto com deboche. — Está
exibindo o cardápio do estabelecimento? — Cassiano sorri.
— Hoje você realmente não está bem. — Bate no meu ombro
ao encerrar seu uísque. — Procure uma puta para foder de
verdade, sua esposa não tem experiência para te satisfazer, por isso
esse humor nebuloso.
Ele se afasta, enquanto reprimo um sorriso. Se existe alguém
neste mundo que sabe como proporcionar tudo o que necessito na
cama, esse alguém é minha mulher.
Giovanna é um verdadeiro furacão. Ela é extremamente
gostosa e sempre pronta para uma trepada forte. Sou a porra de um
homem com a sorte de ouro. Ganhei uma mulher linda, que possui o
gosto para sexo igual ao meu.
Com ela não preciso me conter, posso extravasar todo meu
tesão, porque sei que quanto mais bruto eu for, mais forte ela vai
gozar.
Claro que tem o lado complicado, ela tem uma personalidade
forte, hoje tive um belo exemplo disso.
Apesar de muito jovem consegue segurar as emoções e com
a segurança que apenas um Torcasio possui, sabe o momento certo
de erguer suas próprias lutas.
Um homem qualquer não saberia lidar com ela, mas eu sou
treinado para qualquer situação e consigo neutralizar seus arroubos
de raiva. O que fode a minha vida é minha própria fraqueza, a cada
vez que evito seu toque eu me sinto pequeno.
Esse meu ponto de vulnerabilidade é vergonhoso, desperta
em mim um sentimento que nunca mais pensei sentir. É como se eu
voltasse no passado e fosse o frágil menino trancado no escritório
do pai, pronto para receber mais uma sessão de espancamento
para se tornar um homem de honra forte.
Fecho as mãos em punho, me odiando por ainda permitir que
meu pai me domine. A cada vez que recuo de um toque da minha
mulher, ele me vence. Eu o odeio profundamente, por causa
daquele maldito, sou um homem fodido, que se treme como um
covarde ao pensar em receber um simples toque, no lugar onde o
maldito mais me feriu.
Preciso de uma nova boceta para me acalmar, tenho certeza
de que se eu experimentar outra mulher, vou entender que estou
fissurado em Gio porque é tudo novidade. Sei que no fundo o velho
Domênico ainda está vivo e, doido, para voltar a ser o amante
disputado por todas as mulheres.
— Que surpresa o ver por aqui, Dom. — Olho para o lado e
acompanho Anna se postar rente a mim.
Desde que me casei não a vi mais, estive com ela semanas
antes do meu casamento e percebi naquele dia que não deveria
mais me aproximar. Anna desenvolveu sentimentos inapropriados
por mim e sabendo disso não é certo manter qualquer tipo de
proximidade, principalmente agora que tenho uma esposa.
É uma pena, ela seria uma boa pedida para mostrar a mim
mesmo que ainda posso foder outras mulheres sem ser Giovanna.
— Como você está? — pergunto sem ter interesse
verdadeiro.
— Sentindo falta das suas visitas, ninguém supera você. —
Anna se senta ao meu lado e toca meu braço.
Olho para o local onde encosta e surpreendentemente sinto
repúdio. Não esperava por isso, estou sem saber o que pensar por
sentir tanto desconforto por sua aproximação, nunca senti isso
quando estive com ela.
Para não revelar meu sentimento, pego o copo de uísque e
me desvencilho da sua mão.
— Se quiser eu estou livre.
— Vim beber um pouco só para relaxar, as coisas andam
corridas, hoje decidi fazer uma pausa.
Fico surpreso com as minhas palavras, pois minha intenção
era justamente trepar, mas agora que a tenho por perto, já não sei
se é uma boa ideia.
— Você sabe que posso te proporcionar um bom
relaxamento. — A ansiedade brilha em seus olhos. — Sei cuidar de
você como gosta.
Ela realmente sabe, mas eu não quero, porque estou
completamente viciado na minha mulher.
Puta que pariu!
— Tem pouco mais de dois meses que me casei, estou sendo
muito bem cuidado em casa. — Anna solta uma risada rouca.
— Não como eu posso cuidar. — Apoio o cotovelo no balcão
e a encaro com um sorriso de canto.
Hoje meu humor está sombrio e quando isso acontece eu sou
uma pessoa extremamente cruel.
Se eu disser que ela não me atrai mais mentirei. Anna é uma
das prostitutas mais bonitas de Mattia e, os homens da máfia a
disputam porque é boa no que faz. Só que olhando agora para ela,
entendo que nada do que possa fazer vai me agradar, na verdade
nenhuma delas irá. Preciso assumir que Giovanna é insubstituível.
Estou enfeitiçado pela minha esposa, não posso mais fugir
desta verdade. Todas as putas deste lugar podem aparecer agora
que eu não vou querer nenhuma delas.
— E quem te garante que minha esposa não sabe cuidar de
mim?
— Ela é uma menina, Domênico, nunca suprirá suas
necessidades, você precisa de impacto, de alguém que sustente
tudo o que tem entre as pernas, ela não tem chances com você.
Solto uma risada alta, atraindo a atenção de alguns homens.
Bebo um pouco do meu uísque e rodo o copo na mão fazendo o
gelo se mexer.
Se Anna visse Gio sob a mesa da minha cozinha gritando
enquanto eu afundo todo meu pau nela, não diria que ela não me
aguenta. Se existe algo que minha linda mulher consegue é me
deixar exausto quando eu a fodo.
— Anna, a minha esposa tem dezoito anos, talvez seja eu
que devesse ter medo de não a acompanhar, muito em breve.
— Você entendeu o que eu disse. — Faço um gesto positivo
com a cabeça.
— Entendi sim. — Eu me aproximo e Anna se anima. Não
queria ser indelicado, mas não gosto que ninguém subestime a
minha mulher. — Se ela não fosse casada comigo e decidisse um
dia ser puta, teria uma fila de homens para foder com ela, eu
mesmo seria um deles e pagaria o que me pedisse, porque mulher
nenhuma fode como a minha esposa. — O sorriso sedutor que
exibe nos seus lábios morre. — Eu só saio de dentro dela porque
Gio precisa descansar, se não fosse isso, eu morria de tanto fodê-la.
Anna arregala os olhos e parece em choque com a minha
revelação. Eu também estou, porque além de falar o que não devia,
disse a mais pura verdade a mim mesmo. Gio me satisfaz em cada
detalhe, nenhuma das putas que já comi, até hoje, me deram
metade do prazer que sinto com a minha mulher. Preciso assumir
que sou refém dela, fui nocauteado.
— Que orgulho, meu filho mal casou e já veio se divertir. — A
voz do meu pai me faz retesar o corpo. — A ninfeta não conseguiu
te aguentar? Veio foder um pouco sua preferida?
— Não é da sua conta. — Encerro meu uísque e olho para o
relógio. — Preciso ir, tenho um compromisso.
— Fique, vamos beber um pouco. Depois que se casou e,
para meu desgosto, seu amigo sobreviveu ao atentado que o filho
de Giorgio planejou, não tivemos tempo para conversar.
— E quando foi que conversamos desde que saí da sua
casa? — Levanto e me inclino contra o ouvido de Anna. — Não
esqueça da proposta que fiz de te tirar daqui, ainda está de pé, você
merece mais que isso. — Aceno para ela e vou embora ainda mais
irritado do que quando cheguei.
Não consegui realizar nada do que pensei e, ainda terei que
lidar em casa com uma Giovanna furiosa.
Jogo a cabeça para trás e sorrio, Leonardo é a melhor
pessoa deste mundo. Eu poderia estar choramingando neste
momento, lamentando ser chamada pelo meu próprio marido de
infiel, mas não, eu decidi chamar a única pessoa que poderia me
fazer sorrir e que também não me causaria problemas com meu
digníssimo esposo.
Hoje eu passei dos limites, não deveria ter enfrentado
Domênico, se ele fosse outro homem, certamente agora eu estaria
cuidando das minhas feridas. Só que doeu não só ele me acusar de
traição, como repelir tão veementemente meu toque.
As duas ações me feriram, mas a última atingiu um ponto
profundo no meu coração. Sou a sua esposa, estamos vivendo
juntos há dois meses, transamos todos os dias e não posso tocá-lo,
mas minha cunhada tem livre acesso ao seu corpo.
Magoa demais essa verdade, não posso mais fingir o quanto
me afeta cada vez que vejo Masha o tocando. Já não consigo conter
meu rancor e ciúmes.
— Estou decepcionado por Amaro não estar aqui, quero
matar seu marido. — Leo pega o vinho e abastece nossas taças.
Quando chegou contei tudo o que aconteceu, precisava
desabafar com alguém, para tentar extravasar um pouco da minha
raiva.
— Por mim pode matar, nem ligo. — Bebo o vinho. — Estou
com muita raiva dele, você não sabe o quanto me magoou hoje.
— Calma, minha linda, Dom só teve ciúmes.
— Pode parar, Leo, ele não tem ciúme, apenas me vê como
sua propriedade.
— Aí que você se engana — diz com um sorriso. — Seu
marido não é tão frio quanto quer parecer, ele tem sentimentos e a
senhorita mexeu com o coração do mafioso gostoso.
— Você viaja, ele não possui sentimentos. — Leonardo se
ajeita na cadeira e me encara bem sério.
— O que eu vou te falar é algo que vi, não quero que se sinta
ofendida, tudo bem?
— Certo. — Dou permissão para ele continuar a falar.
— Conheci Domênico por conta da Masha e desde a primeira
vez percebi o zelo que tinha por ela. — Meu corpo fica rígido com
sua fala. — Seu marido é ótimo em camuflar as emoções, mas ele é
muito mais humano que seu irmão. Já perdi a conta das vezes que
ele protegeu sua cunhada, Dom possui um coração imenso, apesar
de ser um mafioso perigoso. Pode acreditar que ele tem muito
sentimento por baixo daquela fachada fria e vou mais longe. —
Ergue o indicador para enfatizar sua fala. — Ele está apaixonado
por você, o olhar dele entrega tudo.
— Infelizmente não concordo, Leo. Meu marido está longe de
sentir algo por mim — digo com amargura. — Não dormimos juntos
e não posso tocá-lo, isso não é atitude de quem tenha algum
sentimento.
— Já parou para pensar que ele também possa estar
incomodado com esta situação? Esse homem teve uma vida de
miséria, não é fácil assumir que possui sentimento por sua mulher.
— Dom é uma pessoa segura em tudo o que faz, ele não
gosta de mim romanticamente, para ele sou uma responsabilidade e
mulher que pode ter a qualquer momento.
— Você está tão pessimista, não gosto disso.
Ouço um barulho ao fundo que chama a minha atenção.
Mercury se levanta e vai para a sala quando Dom começa a falar
com Carlo, o que me surpreende por ele ter voltado tão rápido.
— Chegou o poderoso homem de gelo — Leo diz
sarcasticamente.
Faço uma careta e espero Domênico aparecer, não demora
muito para ver sua sombra ganhar espaço no solário. Ele para na
porta e me encara, com sua costumeira máscara de indiferença.
O meu temperamento ruim ganha vida, o que me faz o
encarar da mesma maneira, fingindo não me importar com sua
presença.
— Gostando do vinho, Leonardo? — Dom pergunta ao me
ignorar.
— Tão bom quanto os do Paolo — afirma sorrindo. — Mas
devo dar os créditos a Gio, ela que escolheu. — Os olhos dele caem
sobre mim.
— Giovanna tem bom gosto. — Sua fala sai fria.
Mercury aparece saltitante e pula com as duas patas sobre
meu colo. Sorrio, adoro o carinho dele, se não fosse sua companhia
constante, certamente meus dias seriam mais tristes.
— O que foi, meu amor? — pergunto ao beijá-lo.
— Quer uma taça, bonitão? — Como sempre Leo o cutuca.
— Obrigado, podem ficar à vontade, já vou me deitar, hoje
tive um dia difícil. — Ignoro seu olhar, ainda estou muito ressentida
com ele.
— Ah, que pena, sua presença é sempre uma alegria, sei que
é casado com Gio, mas não consigo deixar de admirar tanta beleza,
você é meu eterno crush.
— Leonardo, pare de caminhar na beira do precipício. —
Dom o alerta.
— Relaxa, sei que você é todo da minha amiga.
— Você não tem juízo.
— Vá descansar, eu e o Gio iremos terminar essa garrafa de
vinho enquanto colocamos o papo em dia, temos muito o que
fofocar.
— Se precisarem de algo é só me chamar. — Sinto seus
olhos em mim, mas finjo não notar, foco toda a minha atenção em
Mercury.
Ouço-o bufar e se afastar, ele que apronta e ainda acha que
tem o direito de ficar chateado.
— Seu maridinho está bem aborrecido.
— Não mais que eu. — Leo estica a mão e segura a minha.
— Apenas relaxe, amanhã vocês dois estarão de cabeça fria
e conversam. Pela maneira que ele te olhou, está doido para uma
reconciliação.
— Por que a vida é tão difícil? — pergunto me sentindo
cansada.
— Realmente não é fácil, mas a sua tem um bônus de quase
dois metros de altura, músculos nos lugares certos e tatuagens
quentes. Não reclame tanto. — O cretino me lança uma piscadinha
sacana.
— Como você é terrível. — Sorrio, só mesmo Leonardo para
pensar tanta besteira. — Dorme comigo esta noite? Não quero ficar
sozinha. — Leonardo aperta os olhos.
— Está querendo me seduzir?
— Para de ser bobo. — Soco seu ombro. — Só quero uma
companhia, às vezes me sinto muito sozinha neste apartamento.
— Eu te entendo, querida, mas depois do atrito que teve com
seu marido, acho melhor não abusar. Se amanhã não estiver
melhor, eu venho até aqui assim que sair do trabalho.
— Você tem razão, não posso esquecer a essência dele.
— Isso aí. — Leo beija a minha mão. — Siga apenas o fluxo,
não se abale tanto. Como boa cria da máfia, você sabia que não
seria fácil manter um casamento.
Não digo nada, apenas aceno, meu amigo está coberto de
razão. A minha vida não é de uma mulher comum, por isso preciso
sempre pensar com calma em todos os passos que irei dar.
Quando Leo se despede e vai embora, caminho para o meu
quarto ao lado de Mercury, meu grande amigo dentro deste
apartamento. Ele tem sido um valioso aliado, meus dias são
melhores apenas por ter sua alegria sempre ao meu redor.
No momento em que me deito, bato ao meu lado e ele
rapidamente se acomoda. Beijo sua cabeça, em seguida começo a
acariciar o seu pescoço, até que relaxo e durmo.

Escuto os passos de Gio pelo corredor e a porta do seu


quarto se fecha, deixando tudo em silêncio. Olho para o teto sem
conseguir dormir, a minha mente está acelerada demais e a
frustração com tudo o que aconteceu mantém meu corpo tenso.
Como não consigo dormir me levanto, ficar nesta cama está
me deixando sufocado. Saio do quarto e a luz do corredor acende
automaticamente, passo pela porta da Gio e acabo parando.
Será que ela já foi dormir?
Abro suavemente a porta, a luz do corredor ilumina
parcialmente o cômodo, me dando a visão de Gio dormindo com
Mercury, ambos estão em sono pesado, sequer notam que os
observo.
Eu sou um merda de homem mesmo, tenho uma mulher linda
e permito que minhas limitações a magoe. Enquanto vou passar a
noite sozinho, o traidor do meu cachorro está ao lado dela.
Fecho a porta e sigo para a sala, não vou conseguir dormir
de qualquer maneira. Como me sinto elétrico, decido jogar para fora
a minha raiva na academia do meu apartamento. Um pouco de
exercício vai ser bom, quem sabe assim eu consiga relaxar e dormir.

Vou para a cozinha em busca de Amaro frustrado por não ter


a presença da minha esposa para o café da manhã. Em alguns dias
ela realmente acorda mais tarde, porém hoje eu sei que está me
evitando.
Encontro meu segurança conversando com Maria. Assim que
nota a minha presença ele me olha desconfiado.
— Preciso falar com você — aviso com a voz dura.
Caminho até meu escritório com ele no meu encalço. Quando
nos isolamos no local sou direto:
— Hoje não quero Gio se arriscando em alguma escada,
contrate alguém para terminar a maldita reforma.
— Não falta muito, senhor, só o papel de parede que não
colocamos ontem, o resto são móveis que ela comprou e ainda vão
chegar. Posso terminar sozinho, não vai levar sequer duas horas. —
Olho para ele pensativo.
— Tudo bem, mas não quero que ela faça mais nada, se me
desobedecer terá consequências.
— Não se preocupe, eu a manterei longe.
— Ótimo. — Olho para o relógio e vejo que minha hora já
está avançada. — Agora preciso ir, tenho uma reunião no primeiro
horário.
— Bom trabalho, senhor.
Volto para sala e nada de encontrar Giovanna, saio para
trabalhar irritadíssimo, odeio essa situação que se instaurou entre
nós. Não gosto de vê-la magoada comigo, assim como não gosto
dessa sensação estranha de que ela me desperta.

— Eu sei o que preciso fazer, Franco, não tente ensinar o


meu serviço, porra!
— Calma, Dom, não estou tentando te ensinar nada, só fiz
um comentário.
Aperto o indicador e polegar contra a testa, tentando me
acalmar. Estou em um péssimo dia, não consigo parar de pensar na
minha mulher, na sua mágoa por não me tocar e na minha estranha
explosão furiosa ao ver Amaro a segurando.
— Hoje Dom não está em um bom dia, deixo-o em paz,
Franco. — Paolo me analisa. — Veja você mesmo o que pode fazer
para recuperar algo das nossas drogas, preciso conversar com
Domênico a sós.
— Tudo bem. — Fico quieto enquanto Franco vai embora.
— Tome. — Paolo me estende um copo de uísque. — O que
deu em você? Está com o humor pior que o meu.
— Nada demais. — Provo a bebida.
— Está achando que sou idiota? — Ele encosta contra a sua
mesa e cruza os braços. — Quero saber o que está acontecendo.
Paolo quando quer é um verdadeiro pau no cu, que homem
insuportável.
— Apenas tive um atrito com Gio e isso me irritou.
— Atrito? — pergunta cauteloso.
— Não quero entrar em detalhes, mas tivemos uma
discussão intensa.
— É natural discussões em um casamento, eu e Masha
ficamos até sem nos falar, você sabe que meu inferno vermelho não
é fácil e eu não fico atrás.
— Sei sim, mas... — paro de falar sem querer contar o que
realmente aconteceu.
Por mais que ele seja meu melhor amigo, não gosto de
conversar sobre os meus traumas.
— Você sabe o quanto sou fodido. — Paolo apenas acena.
— Nós dois somos, mas podemos ao menos buscar sermos
melhores para nossas mulheres.
— Estou tentando, mas é complexo, Paolo, eu não sei me
relacionar.
— Também não sei, é um desafio diário.
— Você anda se saindo bem, nunca imaginei te ver tão à
vontade com uma família.
— Nem eu pensei que saberia lidar com mulher e filha, mas
de alguma maneira parece natural tê-las comigo.
Ele nunca fala abertamente sobre o que sente por Masha,
mas eu o conheço desde que nasci, sei que surpreendentemente
ama a esposa, é claro o sentimento dos dois.
— Bom ver você tão tranquilo.
Penso em Gio, também sinto o mesmo que meu amigo, eu
me adaptei a tê-la dentro da minha rotina. Depois de um dia de
trabalho, tudo o que penso é em voltar para casa e vê-la me receber
sempre sorrindo.
Que merda essa mulher está fazendo comigo?
Pergunto quando sinto uma vontade intensa de vê-la, estou
completamente dependente dela. Preciso encontrá-la
imediatamente, não posso passar mais uma noite sem tocá-la,
sabendo que está magoada comigo.
— Tenho que ir embora.
— O quê? Nós ainda não inspecionamos os relatórios da
contabilidade das drogas.
— Faremos isso amanhã, hoje não vai dar.
— Não fode, Dom! — exclama com raiva. — Estamos no
meio da tarde, não pode simplesmente dizer que vai para casa.
— Algumas coisas precisam ser resolvidas imediatamente,
não dá para esperar.
— Volte aqui, Domênico. — Ele grita, mas já estou batendo a
porta e indo embora, não posso mais manter essa situação com a
minha mulher.
Ela foi uma das poucas coisas boas que tive na vida e não
vou permitir que se afaste de mim, porque sou um maldito homem
fodido.
Quando tudo se acalmar penso no que ela anda me fazendo
sentir, no momento só preciso colocar meus olhos nela e voltar à
nossa rotina.
Não vou analisar nada do que estou sentindo agora, neste
momento só preciso restabelecer o clima harmônico com a minha
esposa. Até o momento eu não havia percebido o quanto necessito
estar bem com ela, ouvir sua voz e poder tocá-la.
Vozes animadas chamam minha atenção, percebo que elas
estão vindo do quarto da Gio, caminho até lá e encontro todos os
meus funcionários rindo e conversando com descontração,
enquanto Mercury está deitado em um canto do quarto.
— Ficou a cara da senhora — Cosima comenta.
— Por favor, nada de senhora.
— Desculpa.
— Vou contratar Amaro, não sabia que ele era tão bom em
reforma — Maria fala. — Ficou tudo perfeito.
— Não foi muita coisa, o que mudou mesmo foram os móveis
que Giovanna comprou. — Enrijeço o corpo ao ouvi-lo chamar
minha esposa de maneira tão íntima.
Fecho os olhos ao inspirar fundo, não sou homem que me
deixo guiar pelas emoções, eu calculo todos os meus passos, agora
preciso manter minha face de indiferença para não foder de vez
minha relação com Gio.
— Posso participar da reunião? — Todos me olham
surpresos.
Não é por menos, eu nunca estou em casa na parte da tarde,
chego sempre à noite, com um pouco de sorte, perto da hora do
jantar, então a minha presença em um horário tão inusitado é para
surpreender a todos.
— Aconteceu alguma coisa, senhor? — Amaro é o primeiro a
se manifestar.
— Nada demais. — Entro no quarto e olho toda a
transformação.
Mercury vem me cumprimentar, passo a mão no seu pelo,
enquanto analiso tudo.
Realmente ficou bonito, Gio cobriu as paredes em um tom
creme, com detalhes em branco, móveis femininos rodeiam todo o
ambiente, assim como peças decorativas delicadas.
Está charmoso e elegante como minha mulher, reflete bem
sua personalidade. Nunca irei admitir em voz alta, mas Amaro fez
um bom trabalho.
— Vocês podem me deixar sozinhos com a minha esposa?
Eles não falam nada, apenas se afastam e deixam o quarto.
Giovanna me fita com desconfiança, ela também está perdida com a
minha presença tão cedo.
— O seu bom gosto é indiscutível — digo ao me aproximar
da sua penteadeira em estilo princesa. — Isso aqui é muito você —
afirmo ao pegar o seu perfume.
Como gosto de senti-lo direto na sua pele, o seu cheiro de
rosas é extremamente embriagador.
— Está tudo bem, Dom? — Gio pergunta preocupada.
— Vai ficar. — Viro-me para ela. — Vista um jeans e pegue
uma jaqueta, nós vamos sair. — Ela ergue as duas sobrancelhas.
— Aonde iremos?
— Você vai saber em breve — respondo enigmaticamente. —
Vou trocar de roupa, não demore, te encontro na sala.
Não a espero falar nada, saio do seu quarto e sigo para o
meu. Peço para os meus seguranças ficarem atentos que irei sair
com Giovanna. Escolho uma jaqueta de couro preta, calça da
mesma cor e uma blusa com a estampa do Iron Maiden, uma das
minhas bandas preferidas.
Calço uma bota também preta e ajeito meu cabelo. Prendo
minha adaga na parte baixa da perna e coloco a minha arma no
bolso interno da jaqueta. Em seguida pego a chave da moto e dois
capacetes. Hoje chegou o dia de levar Gio na minha garupa para
um passeio, ela sempre disse que gostaria de dividir essa
experiência comigo e não existe momento melhor do que este, será
uma boa maneira de mostrar que quero erguer uma bandeira de paz
entre nós.
Chego na sala e descarto os capacetes no sofá, vou até à
cozinha deixar algumas instruções para Maria. Encontro meus três
funcionários conversando baixinho.
— Maria, provavelmente não iremos jantar em casa, se já
tiver feito algo congele ou deixe na geladeira.
— Tudo bem, senhor.
— Cosima, assim que levar Mercury na rua pode ir embora,
já você, Amaro, espere as meninas terminarem o serviço para
encerrar seu dia, eu e Gio não temos hora para voltar.
— Certo. — Ele acena.
Deixo todos para trás e retorno à sala no exato momento em
que Giovanna aparece vestindo uma calça jeans clara com rasgos
nos joelhos, uma blusa justa e uma jaqueta preta. Seu cabelo
castanho está solto e, um batom brilhoso ilumina seus lábios
volumosos.
Porra! Que vontade de mudar a programação e levá-la para a
minha cama.
— Vamos? — pergunto ao me aproximar do sofá.
— Você não me disse o nosso destino. — Ela acompanha
atentamente meus passos.
— É porque não temos um. — Ergo seu capacete. — Pegue
e vem comigo.
Ela arregala os olhos, claramente surpresa com a minha
atitude. Ainda assim segura o capacete e me acompanha até o
elevador.
Quando alcançamos a minha moto eu monto sobre ela e ligo
o motor, fazendo minha menina rugir.
— Sabe fechar o capacete?
— Acho que sim. — Puxo-a pela cintura para ficar perto de
mim.
Fitando intensamente seus olhos fecho corretamente o seu
capacete. Vejo o brilho de felicidade se espalhar no seu olhar e
tenho vontade de chutar a minha bunda por nunca a ter levado para
passear na minha moto.
Por que gosto tanto de vê-la feliz? Por que me importo com a
sua satisfação?
— Agora sente-se aí atrás — ordeno.
Gio se acomoda na minha garupa e apoia uma das mãos em
meus ombros. Fecho os olhos e me concentro fervorosamente no
que tenho em mente.
Eu a feri, sei disso e me arrependo, então para mostrar que
entendo o seu ressentimento, eu vou ultrapassar todos os meus
limites unicamente por ela.
Você não é um covarde, Domênico, enfrente os seus medos,
caralho!
Ordeno mentalmente, sentindo uma vergonha imensa das
minhas limitações. Ganhando força, tiro a mão da Gio que está no
meu ombro e apoio bem abaixo da minha cintura, faço o mesmo
com a outra. Involuntariamente meu corpo fica rígido, mas eu me
forço a seguir em frente.
— Fique nesta posição — peço, sem conseguir conter minha
fraqueza.
— Tem certeza?
— Apenas faça o que pedi. — Minha voz saí ríspida, pois não
consigo conter todos os sentimentos conflituosos que me dominam
agora.
Giovanna não diz nada, apenas se mantém quieta atrás de
mim quando acelero a moto e nos coloco em movimento.
Ganho as ruas de Roma sem nenhum trajeto preestabelecido
em mente, quero apenas sentir o vento em nossos rostos,
juntamente com a liberdade que apenas quem pilota sabe sentir.
Pelo retrovisor vejo Santino e Carlo nos seguindo.
Vou passando por diversos bairros, até que alcanço a
autoestrada e acelero com vontade.
Passeamos por pequenas cidades, deixando a noite cair,
enquanto a sinto colada em mim, causando-me uma inédita
sensação de conforto.
Não sei o que ela possui, mas eu me sinto bem ao seu lado.
É como se Gio fosse minha referência de casa, paz. Eu a quero
tanto, estou extremamente assustado por desejá-la com esse fervor,
por sentir essa necessidade de que também me queira na mesma
proporção.
Quando dou por satisfeito o nosso passeio, sigo para
Ludovisi, um bairro ao redor do centro de Roma. Consigo estacionar
a moto em uma rua tranquila. Giovanna desce e retira o capacete,
ela sorri, exibindo toda a felicidade com a nossa aventura.
Tão fácil deixá-la feliz. Eu preciso fazer mais isso, ela é
minha mulher e merece que eu a trate com a maior consideração
possível.
— Aqui tem um restaurante incrível — digo ao retirar meu
capacete. — Quero que conheça.
— Vou amar — fala sorrindo.
Gosto de vê-la assim, vou me esforçar para que sorria muito
mais.
Seguro a sua mão e espero os meninos se aproximarem.
Aviso que eles devem entrar para jantar também. Levo Gio para o
pequeno espaço onde Giacomo e sua família mantém um singelo
restaurante, mas que é procurado por diversas pessoas do mundo,
em busca da sua gastronomia simples e muito saborosa.
Ele não está presente, mas seu irmão nos recepciona,
direcionando-nos para a área exclusiva do restaurante, que fica na
parte superior.
— Este lugar é lindo — Gio diz ao analisar cada detalhe do
ambiente.
— A comida é melhor ainda — afirmo ao provar um dos
aperitivos que disponibilizaram na nossa mesa.
— Você está bem? — pergunta parecendo preocupada.
— E por que eu não estaria? — Fico quieto quando o garçom
aparece com o cardápio para nosso jantar.
Em silêncio escolhemos o que queremos comer, começamos
a conversar sobre a beleza do lugar e, assim que nosso pedido é
servido, comemos pacificamente. Quando chega a hora da
sobremesa, Gio fica indecisa, até que escolhe uma Pavlova com
frutas vermelhas, alegando que é a sua sobremesa favorita.
Eu a acompanho e nos deliciamos juntos com cada grama da
sobremesa.
— Isso não é divino? — pergunta ao encerrar seu doce. —
Queria poder comer todos os dias.
— Acredita que é a primeira vez que como? — Ela arregala
os olhos.
— Não brinca?
— Sério, nunca senti vontade de provar, mas a partir de
agora mudei de opinião.
— Qualquer dia desses vou preparar uma, gosto tanto deste
doce que aprendi a fazer.
— Você realmente sabe fazer isso? — Ela acena toda
sorridente.
— E fica tão boa quanto essa.
— Estou impressionado.
A alegria dela com meu elogio deixa seu rosto luminoso,
exaltando ainda mais sua beleza.
Caralho! Não canso de olhar para Giovanna, estou
completamente fascinado pela minha esposa.
— Pronta para ir embora?
— Vou no banheiro rapidinho e já volto.
Pago a conta e espero Gio voltar, quando ela está retornando
um homem olha para a sua bunda. Fecho as mãos em punho,
sentindo vontade de furar os olhos do imbecil.
No momento que ela para na minha frente, apoio a mão na
sua cintura e selo nossos lábios.
Não consigo ficar sem provar essa boca, eu adoro o seu
sabor.
— Vamos? — pergunto quando me afasto.
— Claro. — Sua voz sai um pouco alterada.
Entrelaço as nossas mãos e saio do restaurante, sigo na
direção da moto e volto a colocar o seu capacete. Quando ela se
acomoda atrás de mim, seguro suas mãos e rodeio seus braços um
pouco abaixo da cintura.
Faço a moto rugir e, dessa vez, piloto direto para o centro de
Roma. Como minha moto tem o assento traseiro mais alto, Gio
aproveita para apoiar o queixo no meu ombro.
Não seguro o sorriso, depois do nosso passeio e jantar, ela
está relaxada, funcionou a minha ideia de sairmos juntos. Preciso
repetir isso, não posso deixar meu trabalho me consumir, a minha
vida mudou e agora eu tenho uma mulher em casa para cuidar.
— O que acha de passearmos um pouco pelo centro
histórico? — pergunto quando estamos nos arredores de onde fica a
Fontana di Trevi.
— Acho excelente ideia.
Consigo a sorte de achar um local para estacionar. Caminho
de mãos dadas com Gio sem pressa, apreciando a noite agradável
do final do verão.
Em breve o outono chega e iremos enfrentar temperaturas
mais frias, que não proporcionam caminhadas noturnas como a que
estamos tendo agora.
O lugar está cheio de turistas, que tiram fotos e jogam
moedas na fonte seguindo a tradição. Não me lembro da última vez
que estive aqui, como odeio aglomeração, evito andar pelos pontos
populares da cidade.
— Vamos tirar uma foto na frente da fonte? — Gio sugere.
— Se você quer. — Dou de ombros.
Ela pega o celular quando paramos ao lado da fonte e ergue-
o para fazer uma selfie, só que ela é pequena e não consegue me
focalizar.
Pego o aparelho da sua mão sorrindo, beijo o topo da sua
cabeça e faço três cliques. Giovanna pega o aparelho e vai verificar
se as fotos ficaram boas.
— Esta aqui ficou perfeita — diz ao mexer no celular. — Vou
colocar de plano de fundo.
Em seguida ela ergue o aparelho e me mostra a nossa foto.
Fico estático, sem saber como reagir ao me ver com um
rosto... feliz?
— Você está um gatão, Dom. — Pisco várias vezes antes de
conseguir me estabilizar.
— Não mais que você. — Puxo-a para perto de mim. — Sei
que está chateada comigo, mas preciso que saiba que não quis te
ofender, eu só...
— Já passou, não vamos ficar presos no passado. — Ela
guarda o celular. — Você me feriu sim, não posso negar, porém não
vou levar esse ressentimento adiante. — Ela segura meus braços.
— Saber que você entendeu o quanto me feriu é importante para
mim, jamais te trairia Dom, não só por saber das consequências,
mas por você ser um bom marido para mim.
Puta que pariu, ela sabe foder comigo.
Esqueço que estamos em espaço público e a beijo com
vontade. Nunca necessitei ter alguém comigo como agora, quero
tanto Giovanna que estou me sentindo assustado, como não ficava
há muito tempo.
— Vamos para casa — digo quando me afasto.
Encaro seu rosto e deixo meus olhos fixarem nos seus lábios
úmidos pelo meu beijo.
Ela não diz nada, apenas me acompanha quando seguro a
sua mão e rumo para onde estacionei a moto.
Foda-se todos os questionamentos que estão explodindo na
minha mente, eu só preciso estar com a minha mulher agora e me
perder no seu corpo. O resto não importa, não quero saber, nem
pensar, muito menos deixar de sentir.
Gio é meu paraíso e eu quero apenas desfrutar dessa
calmaria que ela me traz.
Eu não sei o que deu no meu marido, mas eu estou amando
poder estar o abraçando, enquanto ele pilota com tanta segurança.
Dom é naturalmente sexy, mas quando está sobre uma moto...meu
Deus! O homem fica completamente irresistível, impossível não
babar por ele.
Não resisto e espalmo as mãos sobre suas coxas, fazendo
um leve movimento de pressão.
— Pare de me provocar — pede com a voz grossa. — Já
estamos chegando em casa.
Prendo os lábios segurando um sorriso, se não fosse
arriscado, eu iria provocá-lo muito mais.
Quando chegamos ao nosso prédio ele estaciona a moto
rapidamente desço animada. Estou feliz não só por ele assumir que
errou, mas em ter pensado em se reconciliar comigo me levando
para passear na sua moto e, me deixar tocá-lo em uma região que
sei que o incomoda.
Hoje Dom mostrou que está disposto a se abrir ao nosso
relacionamento e isso me deixou extremamente feliz. Sei que nunca
contarei com o seu amor, mas poder tocá-lo sem restrição é algo
que para mim será de extrema importância.
— Amei nosso passeio — digo ao retirar o capacete.
— Bom saber disso. — Ele apoia o próprio capacete embaixo
do braço e me puxa para si. — Vou te levar para outras aventuras.
— Eu vou adorar.
Ele me olha com uma profundidade que faz meu corpo
esquentar. É difícil conter o desejo que sinto por ele, quando está
perto de mim, como agora, só sinto vontade de me perder dentro
dos seus braços.
— Vamos subir logo — ordena ao segurar a minha mão e me
puxar na direção do elevador.
A excitação me domina, já estou na expectativa do que irá
acontecer quando subirmos. Toda a raiva que estava sentindo dele
sumiu, agora só desejo me jogar sobre ele e experimentar todo o
prazer que sabe me dar.
No momento que entramos no elevador Dom rodeia a minha
cintura e sua boca vem contra a minha violentamente, em um beijo
exigente, que arrepia cada parte da minha pele.
Gemo contra sua boca, me sentindo quente com a fúria com
que devora meus lábios. Não posso negar o quanto estou
apaixonada pelo meu marido, podemos não ter o relacionamento
dos meus sonhos, mas ao menos temos uma química inigualável.
Ao chegarmos ao nosso andar ele segura a minha mão e
caminha apressado para nosso apartamento. Mercury nos
recepciona com sua costumeira empolgação, subindo
imediatamente sobre mim.
— Oi, meu amor, sentiu falta da mamãe? — Beijo seu focinho
ao afagar sua orelha.
— Agora ele é filho? — Dom pergunta ao segurar meu
capacete.
— É como se fosse, eu e Mercury nos apegamos demais.
— Estou vendo isso — diz ao se afastar. — Só que agora ele
não vai poder ficar com a “mamãe” dele. — Ergo meus olhos e o
vejo descartar nossos capacetes sobre o sofá. — Ela tem que ficar
com o papai. — Seus olhos que normalmente são frios agora
parecem um rio de lava incandescente.
Senhor! Hoje meu marido está disposto a me matar do
coração, não é possível.
— Deixe esse safado aí — pede ao segurar a minha mão. —
Estou explodindo de tesão, não aguento mais esperar. — Ele
começa a me puxar para o corredor e, Mercury vem no nosso
encalce. — Fique — Dom ordena de maneira firme.
O cão imediatamente paralisa, fico com pena do meu
companheiro, mas no momento não posso fazer muito por ele, terá
que esperar a hora que eu for dormir para poder ficar comigo.
Com certa brusquidão Dom me arrasta para o seu quarto.
Quando bate a porta, me encosta contra ela e devora a minha boca,
enquanto suas mãos ágeis abrem o botão do meu jeans e desliza a
peça por minhas pernas.
Faço o que mais gosto e solto seu cabelo, embrenhando
minhas mãos nos fios sedosos, ao mesmo tempo que me entrego
ao seu beijo.
— Diz para mim que está pronta — sussurra contra meus
lábios. — Eu não aguento mais esperar, estou louco para entrar em
você.
— Só tire essa droga de roupa, Dom, eu te quero
completamente nu — peço ao empurrá-lo e tirar minha blusa.
Dom ergue um canto dos lábios em um sorriso velado, sem
deixar de me encarar, vai se livrando das próprias roupas, assim
como eu. Quando estamos nus, ele me puxa para a cama e me
senta sobre seu colo.
— Preparada para me cavalgar? — pergunta ao espalmar as
mãos na minha bunda.
— Sempre estou. — Centralizo a sua ereção na minha
entrada e vou descendo sobre sua rigidez lentamente, sem tirar os
olhos dele.
Mordo o lábio inferior quando começa a me preencher, Dom
lambe o meu pescoço até que sua boca captura um dos meus seios.
Jogo a cabeça para trás e gemo alto, completamente ensandecida
em senti-lo me sugando com tanta sofreguidão.
Nossa vida está longe de ser perfeita, mas quando estamos
conectados, como agora, impossível não sentir dentro de mim uma
felicidade imensa.
Busco pela boca dele, enquanto me movo intensamente
sobre seu colo.
Ofego quando sinto a mão do Dom estapear a minha bunda,
ele me encara com luxúria e aperta minhas nádegas com força.
Travamos um olhar cheio de desejo, enquanto ele vai cada vez mais
fundo.
Meu corpo estremece quando gozo, parece que uma corrente
elétrica transpassa os meus músculos. Continuo me movendo,
prolongando meu orgasmo até que o sinto enrijecer. Dom apoia o
rosto contra meus seios e rosna.
Dio Santo! Este homem é malditamente delicioso, não me
canso de tê-lo dentro de mim.
— Porra! Isso só fica melhor — diz ao mudar nossas
posições e se deitar sobre mim. — Nem saí de você e quero mais.
— Sossega — falo sorrindo. — Você precisa se recuperar.
— Eu sei disso. — Ele me dá um beijo antes de se afastar e
abandonar o meu interior. — Mas já deixo claro que não foi o
suficiente.
Reviro os olhos, fingindo contrariedade, pois no fundo
também quero mais.
— Venha, vamos tomar um banho, depois pego um vinho
para nós.
Seguro a sua mão e desço da cama, Dom rodeia os braços
pelo meu corpo e me ergue ao caminhar para o banheiro. Seus
olhos brilham com descontração, ele está tão leve que nem parece
o homem frio que todos conhecem.
Passo a mão por seu cabelo sorrindo como uma boba, gosto
desta versão suave do meu marido.
Tomamos banho entre beijos e toques íntimos, esta é a
primeira vez que ele está tão aberto, com um jeito mais carinhoso
de me tocar.
Quando saímos do box Dom me envolve em um dos seus
roupões, já ele apenas enrola uma toalha na cintura.
— Vou pegar o nosso vinho, quer algo para comer?
— Não, só a bebida está ótima.
— O.k.
Sumindo pela porta me deixa para trás pensativa. Estou
passando por um turbilhão de emoções, mas no momento eu não
quero pensar muito nisso, vou viver o agora, porque é apenas isso
que eu posso esperar do meu marido.
O meu pensamento se quebra quando ele retorna com a
nossa bebida. Sentando-se ao meu lado, serve minha taça antes de
pegar a sua.
— Estamos brindando sobre o que exatamente? — pergunto
ao levar a taça a boca.
— Só a nós — responde ao acariciar minha coxa. — Gostou
mesmo do nosso passeio?
— Foi incrível, não vejo a hora de também poder pilotar.
— Não vai demorar. — Ele sobe mais um pouco a mão,
fazendo a minha pele ficar eriçada. — Mas só irá pilotar se eu
estiver do seu lado, não quero que nada aconteça a você.
— Eu sei me cuidar, não preciso que fique na minha cola.
— Já disse que quando se trata da sua segurança não existe
discussão — fala ao erguer a taça. — Em uma moto você fica
exposta demais e logo que tirar sua habilitação não terá a destreza
necessária para sair sozinha, inicialmente terá uma moto pequena.
— Reviro os olhos.
— Tudo bem, você venceu.
— Que bom. — Com as pontas dos dedos ele abre um pouco
meu roupão em busca do meu seio.
— Hoje você está terrível — digo ao bater na sua mão furtiva.
— Uma noite sem você me deixou insaciável. — Ele salpica
um beijo na minha boca. — Já comprou todo o material para a
faculdade? Vai começar semana que vem mesmo?
— Vou sim, está tudo pronto. — A animação me domina e
começo a falar sobre minhas expectativas para o curso.
Em certo momento troco de assunto e falo sobre as
modificações que fiz no meu quarto, não deixo de perceber que
Dom faz questão de me tocar a cada segundo, esta noite ele está
ainda mais intenso e acredito que seja por causa da nossa briga.
Quando meu vinho está quase acabando ele descarta a
minha taça e me puxa para mais perto, sua boca vai para a curva do
meu pescoço. Lentamente vai espalhando beijos, até que corre a
ponta da língua pela aréola do meu mamilo, me fazendo gemer
profundamente.
Acabamos nos embolando na cama aos beijos e, Dom
começa a me enlouquecer com a sua mão. Ele me toca com
precisão, explorando com segurança meu ponto de prazer, me
levando à beira do precipício. Quando estou perto de gozar o
desgraçado recua e fita meus olhos com diversão.
Penso em reclamar, mas quando vai espalhando beijos pela
minha barriga, eu fecho os olhos e deixo minha mão vagar pelos fios
sedosos do seu cabelo.
Engasgo quando ele lambe lentamente a entrada da minha
boceta, com a ponta da língua encontra meu clitóris e o suga
arrancando um longo gemido da minha garganta.
Com a precisão que já conheço, Dom me devora sem
nenhuma piedade. Depois desses mais de dois meses de casados,
eu já perdi qualquer pudor, então eu me esfrego contra seu rosto
pedindo mais.
Abrindo completamente as minhas pernas o seu toque vai
descendo, até que a sua língua alcança o meu ânus. Imediatamente
congelo, o que ele pensa que está fazendo?
— Dom... — A minha queixa se quebra quando fricciona o
polegar no meu clitóris e continua a correr a língua na minha outra
abertura.
Como isso pode ser tão bom? Não estava preparada para
sentir uma sensação tão intensa com ele acariciando um local tão
impróprio.
Gemo alto quando sinto o seu dedo invadir minha bunda. Ele
continua acariciando meu clitóris, tudo ao mesmo tempo e com uma
sincronia incrível.
— Está disposta a uma nova aventura? — pergunta ao beijar
a parte interna da minha coxa.
— E essa aventura seria? — Sei o que ele quer e,
surpreendentemente, também quero.
Se ele me fizer sentir a mesma sensação de segundos atrás,
eu topo tudo.
— Quero te foder aqui. — O dedo que ainda está no meu
interior vai um pouco mais fundo. — Essa sua bunda é um tesão,
Gio, sonho em fodê-la gostoso desde a nossa lua de mel.
Quando nossos olhos se encontram vejo que os dele
queimam de luxúria. É uma imagem memorável ver Dom tão sem
controle dos seus sentimentos.
— Eu confio em você — digo ao erguer a mão e acariciar sua
orelha. — Sou toda sua, Dom.
— Caralho, Gio! — Ele segura minhas coxas com força e
começa a devorar a minha boceta com uma fome assustadora.
Eu me perco em cada um dos seus toques, deixo meu marido
me dominar completamente. Quando Dom se ergue e precipita-se
no meu interior, gemo alto com a sensação incrível de tê-lo me
preenchendo.
Sem nenhuma pressa vai se movimentando dentro do meu
canal, elevando a minha temperatura. Finco as mãos na sua bunda,
trazendo-o para ainda mais fundo. Seu gemido contra meu ouvido
deixa claro o quanto ele gostou do meu movimento.
Nós nos perdemos em nosso momento de prazer, ele me
fode com força, fazendo com que eu grite em alguns momentos.
Quando acho que vou gozar se afasta e me observa atentamente.
— Ainda não — fala exibindo seu olhar misterioso. — Agora
você vai descobrir um novo tipo de sexo — afirma ao beijar meu
queixo. — Prometo que vai ser extremamente prazeroso.
Descendo da cama vai até o banheiro, ao retornar tem um
frasco na mão.
— Só relaxe, o resto deixa comigo.
— Quanta confiança, marido. — Implico com ele.
— O que posso fazer se eu sei exatamente o que pretendo
fazer? — Solto um gritinho quando ele engancha as mãos por baixo
dos meus joelhos e me puxa para à beirada da cama.
Apoio a mão na sua cabeça quando mais uma vez se afunda
entre as minhas pernas e começa a chupar loucamente.
Mais uma vez sou impedida de gozar, estou começando a
ficar frustrada, eu preciso libertar toda essa tensão que está me
consumindo.
— Para de jogos, Domênico — resmungo irritada.
— Calma, minha gatinha arisca. — Ele abre ainda mais as
minhas pernas, seus olhos encaram a minha intimidade e um sorriso
safado se espalha por sua boca. — Vamos começar a brincadeira
de verdade.
Esticando o braço resgata o frasco que trouxe do banheiro,
quando vejo despejar uma espécie de gel na sua mão entendo que
se trata de lubrificante.
Eu deveria estar temerosa para meu primeiro sexo anal, mas
Dom foi tão eficiente em me deixar excitada, que agora eu só desejo
gozar.
Ele não economiza na quantidade de lubrificante, espalha o
produto abundantemente pelo meu ânus, em seguida passa um
pouco na sua ereção e descarta a embalagem, sem parar de me
encarar.
Apoiando as mãos em cada lado da minha cabeça, aproxima
o rosto do meu, sua boca espalha beijos por meu pescoço. Gemo
quando seu polegar roça no bico do meu seio. Passo os braços por
seu pescoço e me esfrego nele.
Dom envolve meu corpo e nos leva para o meio da cama, ele
me vira de lado e fica nas minhas costas. Segurando minha perna a
ergue e roça sua rigidez na minha boceta.
Desejo-o imediatamente dentro de mim, sinto uma
necessidade sufocante de senti-lo conectado ao meu corpo.
— Toque-se, Gio. — A sua ordem me pega de surpresa,
porém não demoro muito a obedecê-lo.
Deslizo a ponta do dedo médio no meu clitóris e gemo
quando uma corrente de prazer se espalha pelo meu corpo. Sinto a
sua ereção cutucar meu ânus e meus músculos tensionam
involuntariamente.
— Continue se tocando, vá dando prazer a si mesma.
Resmungo quando ele morde o meu ombro no momento que
começa a penetração. Ofego quando ele vai deslizando lentamente,
Dom parece não ter pressa, mas a sua respiração pesada deixa
claro que está se esforçando para ir devagar.
— Porra que delícia! — Rosna ao ir um pouco mais além.
O calor que se espalha pela minha pele é insuportável, senti-
lo me possuir dessa maneira é algo extremamente erótico. Agora já
não existe nenhuma parte minha que não tenha sido entregue ao
meu marido, mais do que nunca, eu me sinto completamente dele.
Gemo quando Dom modifica um pouco nossa posição e
assume o toque na minha vagina penetrando dois dedos no canal,
enquanto seu polegar esfrega meu clitóris.
— Ohhh! — exclamo ao sentir meu corpo ser bombardeado
por uma sensação inédita de prazer.
Estremeço sem controle quando Dom vai me fodendo
duplamente, jamais imaginei que pudesse me sentir tão excitada
com algo assim. Neste momento pareço um carro desgovernado,
sem freio, descendo uma ladeira em alta velocidade.
— Senhor! Acho que você vai me matar — digo ao afundar
as unhas no seu braço.
— Hoje você vai gozar como nunca gozou antes — afirma ao
afundar ainda mais os dedos na minha boceta.
Começo a sentir meu orgasmo ganhar espaço, grito quando
um choque violento me atinge. Meus músculos travam, a minha
respiração sai em lufadas inconstantes e minha visão perde o foco.
Um zunido estridente faz minha cabeça girar, fecho os olhos
tentando retomar meu controle, mas a sensação poderosa do
orgasmo só cresce enquanto Dom continua a me foder.
Ele solta um gemido contra o meu ouvido no instante que seu
corpo tensiona atrás do meu. Segurando-me com força, afunda o
rosto contra meu pescoço arrepiando a minha pele com o calor da
sua respiração.
— Caralho! Isso foi... — para de falar e solta uma risada. —
Porra, Gio! Você é muito gostosa.
Não consigo falar nada, me sinto completamente esgotada.
Nada me preparou para este momento, realmente hoje experimentei
um novo tipo de prazer.
Aperto os meus olhos quando o sinto roçar o nariz na minha
orelha, lentamente Dom sai de mim, apoiando a mão no quadril,
enquanto beija o meu ombro.
— Como se sente? — Agora sua mão está na minha barriga.
— Cansada, sinto que corri uma maratona. — Ouço seu
sorriso.
— Essas são as consequências de um bom sexo anal, é um
nível de prazer extremamente poderoso quando feito da maneira
certa.
— Isso significa que nem sempre é assim?
— Se trepar com qualquer merda poderá ser muito ruim, mas
como você é apenas minha e o seu prazer é prioridade, em cada um
dos nossos momentos, sempre terá um anal de alta categoria te
esperando.
Este meu marido é muito convencido, o pior é que nem posso
contestá-lo, Dom sabe o que faz na cama.
Como sempre acontece quando transamos ele se afasta e
segue para o banheiro.
Mesmo me sentindo exausta e querendo dormir, eu começo a
pegar minhas roupas para ir embora. Visto a calcinha, em seguida
coloco a minha blusa, apoio a calça no braço juntamente com o
sutiã. Quando estou pegando a jaqueta, Dom aparece na porta do
banheiro.
— Onde está indo? — pergunta com as sobrancelhas
enrugadas.
— Para o meu quarto, não quero invadir o seu espaço além
do apropriado, já acabamos de qualquer maneira, depois deste
último orgasmo eu só preciso dormir.
O rosto dele parece uma pedra, como se ele estivesse
chateado com algo. Não consigo entender sua reação, sei bem que
não gosta de contato depois que terminamos de transar.
— Até amanhã, Dom.
Saio do quarto deixando-o na mesma posição. O meu
barulho atrai Mercury, que vem imediatamente animado na minha
direção.
— Vamos dormir, meu amor? Sua mamãe está morta.
Abanando o rabo ele entra no meu quarto e sobe na cama.
Quem diria que meu companheiro de cama seria o Mercury. Solto
um longo suspiro, mas sei que não devo reclamar, podemos não
dormir juntos, mas quando estamos acordados, vale a pena cada
segundo que ficamos juntos.
Apoio o terno no braço e sigo para a sala. Estou
extremamente irritado depois de passar uma noite praticamente em
claro. Ainda estou preso ao momento que Gio bateu à porta e foi
embora me deixando igual a um babaca parado no meio do meu
quarto.
Ontem eu estava disposto a avançar um pouco mais, ficar um
tempo com ela depois do melhor sexo que fizemos até aqui. Minha
intenção era terminarmos a noite na banheira, relaxando os
músculos, após nossa intensa atividade sexual. No final eu iria
colocá-la na sua cama e ficaria ao seu lado até que dormisse e, só
então, viria para o meu quarto.
Só que minha esposa me pegou de surpresa ao decidir ir
embora rapidamente. Fiquei tão chocado com sua atitude, que não
consegui fazer nada além de observar sua partida e,
consequentemente, ouvi-la chamando a porra do meu cachorro para
dormir na sua cama.
Caralho! Até o meu cachorro me trocou por ela, a mulher tem
um poder de sedução inacreditável. Por onde passa todos caem de
amores, Gio tem um carisma único que conquista qualquer pessoa,
inclusive a mim.
Não posso mais negar que estou dominado por ela, a
necessidade que sinto de tocá-la é absurda, depois de ontem à
noite estou ainda mais fissurado na sua figura graciosa.
Vê-la me dar as costas provocou alguns pontos de reflexão, o
que me levou a perder o sono por pensar em tudo o que a fiz passar
todas as vezes que a deixei sozinha após o sexo.
Nunca tinha parado para pensar nos sentimentos dela, para
mim sempre foi instintivo ficar sozinho após uma transa, até porque
jamais me relacionei com uma mulher tão intimamente por tanto
tempo.
Só que ontem, quando ela partiu, a sensação que senti me
sufocou. Foi algo que jamais experimentei, fiquei completamente
confuso e assustado por necessitar tanto da sua presença.
— Depois que minha aula acabar quero procurar por uma
mochila, posso precisar para a faculdade, vou ver se Ella se anima a
ir comigo. — Ouço-a dizer quando me aproximo da sala.
— É só avisar o trajeto, não tem problema, Giovanna. —
Amaro mais uma vez a chama pelo nome, não gosto disso.
— É “dona” Giovanna — digo rispidamente.
Meus olhos escorregam pelo corpo da minha esposa, ela
veste uma blusa rosa justa, calça e jaqueta jeans. Seu cabelo está
solto, no alto da sua cabeça tem uma tiara de prata e um batom
roxo completa o visual.
Caralho! Ela está linda demais, minha vontade é arrancar
toda a sua roupa e passar o dia com ela na cama.
— Desculpa senhor, é que Gio... — Ele tosse ao perceber
que ia mais uma vez falar de novo o primeiro nome dela. — A sua
esposa reclama quando a chamamos de senhora.
— Bem... ela vai ter que se acostumar com isso, é uma
mulher casada e o seu status exige esse tipo de tratamento. — Sou
ríspido na fala.
A amizade dela com Amaro está começando a me
incomodar, talvez esteja na hora de mudar sua segurança. Vou
treinar um dos meus homens mais sisudos, assim evito que se
aproxime demais da minha mulher.
— Bom dia, Domênico. — Pelo erguer da sua sobrancelha,
ela não está contente comigo. — Não dormiu bem? — pergunta ao
apoiar uma mão na cintura.
Aperto os olhos, ela está me desafiando, já conheço quando
está irritada. Adoro esse seu temperamento forte, gosto de uma
mulher de atitude, é sempre um grande prazer domá-las.
— Podia ter dormido melhor.
— Que pena, eu e Mercury tivemos uma noite de sono
pesado. — Ela olha para o relógio. — Agora preciso ir, tenho aula
logo cedo, estou correndo para poder conseguir minha habilitação o
quanto antes, ando ansiosa para começar a dirigir. — Seu sorriso se
alarga. — Vamos Amaro? Não quero me atrasar.
— Eu levo você — falo por impulso. — Vamos embora.
— Você sequer tomou café.
— Como algo no escritório. — Seguro a sua mão.
— Mas, Dom, não precisa...
— Já disse que te levo, por acaso não posso? — Gio enruga
as sobrancelhas.
— Claro que pode.
— Então, vamos. — Puxo-a na direção do elevador, sem me
importar em conferir se Amaro nos segue.
Estou extremamente irritado com ele, se eu pudesse
dispensava seus serviços agora mesmo.
Passo o braço pela cintura de Gio quando entramos no
elevador, ela ergue o rosto para me encarar, desconfiada com meu
comportamento impulsivo.
Eu nunca perco o controle, mas desde que nos casamos eu
não sou mais Domênico, o homem de gelo da máfia. Agora eu sou
uma bomba ambulante, que fica a ponto de explodir quando está
perto da sua esposa.
Amaro nos acompanha no elevador e rapidamente fica de
costas para nós quando entra no espaço, ele abaixa a cabeça para
evitar ver nosso reflexo pelas portas metálicas. Para o bem dele,
espero que comece a se colocar no seu devido lugar, já o alertei
uma vez, não vou fazer isso novamente.
Quando chegamos na garagem, caminho de mãos dadas
com Giovanna até meu carro, abro a porta para ela e a espero
entrar. Vou para o meu lado e coloco o veículo em movimento,
quando paramos no primeiro semáforo, sinto sua mão sobre minha
coxa.
— O que você tem? Está agindo estranho. — Aperto o
volante com força, tentando me acalmar.
— Não tenho nada. — Estico o braço e pego no porta-luvas
os meus óculos escuros. — Só não quero Amaro cheio de
intimidade com você. Ele é o seu funcionário e tem que te tratar com
respeito.
— Mas ele nunca me desrespeitou, Amaro é um ótimo rapaz.
— Foda-se se ele é um docinho, você é minha mulher e eu
quero que a chame de senhora, porra! — Acelero puto, ela está me
fazendo parecer um maldito moleque ciumento.
Espero que retruque, mas Giovanna apenas olha pela janela,
o que me deixa incomodado, ela sempre tem algo a dizer, seu
silêncio não me agrada.
Um tempo depois paro em frente a sua autoescola, ainda
com um estranho silêncio pairando sobre nós. Ela segura a bolsa e
se prepara para abrir a porta do carro.
— Espero que seu humor melhore, porque você está azedo
demais.
— Você nunca me viu azedo. — Seguro seu pulso. — E
espero que nunca veja, não sou agradável quando estou
experimentando um mau momento. — Ela não esconde a irritação
ao me encarar.
O que essa mulher possui que me descontrola tanto? Não
estou reconhecendo as minhas atitudes, eu não sou um homem
passional como Paolo, me orgulho de manter a cabeça fria em
qualquer situação.
Puxo Gio para um beijo, foda-se o controle, de qualquer jeito
não sei o que é isso quando estamos juntos. Apoio a mão na sua
cintura e enrosco minha língua na dela.
Giovanna cruza os braços por meu pescoço, gemendo contra
a minha boca quando aprofundo o beijo.
Maldição de mulher! Ela me viciou no seu sabor.
Sugo seu lábio inferior antes de interromper nosso beijo,
encaro seu rosto e vejo suas bochechas ruborizadas. Perfeita. Esse
seu jeitinho inocente esconde uma mulher fogosa e disposta a se
arriscar no sexo.
— Borrei um pouco seu batom, você vai ter que retocar.
— Droga, Domênico! — ela resmunga e olha pelo espelho o
estrago que fiz.
— Tenho certeza de que pode ajeitar isso.
— Pare de ficar rindo — pede ao me olhar feio. — Agora
preciso ir.
— Boa aula, mio bellissimo angelo.
— Até mais tarde. — Ela sai toda empertigada e caminha na
direção da entrada da autoescola rebolando sua bunda arrebitada,
que ontem eu fodi intensamente.
Gostosa demais. Impossível não ficar encantado por ela,
minha mulher é irresistível.
Balanço a cabeça e manobro para sair da vaga, pelo
retrovisor vejo Amaro sair do seu carro, não sei o que vou fazer com
ele, mas preciso colocá-lo em outra função antes que eu perca meu
equilíbrio e tenhamos um grave atrito.

— Senhor Pizzorni, com licença. — Ergo os olhos para a


secretária que entra na minha sala. — Chegou uma
correspondência para o senhor. — Enrugo as sobrancelhas. — Um
mensageiro trouxe. — Ela estica o envelope para mim.
— Muito obrigado. — Aceno e espero que saia.
Abro o envelope rapidamente, curioso para saber quem me
enviou. Imediatamente fico atento ao perceber que se trata da
promotora de justiça, Rosanna Milani.
Ela é uma mulher influente no estado, atualmente está
casada com o secretário de segurança pública.
No passado tivemos um caso intenso, Rosanna é uma
mulher extremamente quente, vivemos bons momentos na cama.
Quando tivemos nossas drogas apreendidas pela polícia e a
imprensa soube do ocorrido, eu decidi entrar em contato com ela,
buscando algum tipo de ajuda para que conseguíssemos parte da
nossa mercadoria. Receber uma mensagem dela é uma boa notícia.
“Posso te ajudar, claro que terá um ônus, mas você não terá
problemas em pagar. Estou enviando o endereço para nos
encontrarmos ainda hoje, já venha com os planos de recuperar sua
mercadoria.”
Ela não só deixa o endereço de um renomado hotel, como o
número da sua suíte. Rosanna está aprontando algo, não gosto
disso.
— Não fode, Nero. — Paolo entra na minha sala como
sempre exibindo seu péssimo humor.
— Pensei que depois de ser papai você fosse ficar mais
maleável. — Nero não esconde o sorriso.
Ele é primo do Paolo por parte de mãe, mora em Nova Iorque
e está sendo preparado para ser o futuro capo da Famiglia nova-
iorquina. Raramente aparece por aqui sem avisar com
antecedência, algum problema deve ter acontecido.
— Sou maleável com minha filha, não com os outros.
— Que surpresa — digo ao me levantar. — Não sabia que
viria nos visitar. — Aperto sua mão e o abraço rapidamente.
— Tive negócios na Espanha, como não pude vir ao seu
casamento, decidi passar por aqui para parabenizar o novo casal da
família e conhecer a bambina do Paolo.
— Gio vai ficar feliz em vê-lo.
— Pedi para a tia Martina reunir todas as minhas primas para
um almoço, estarei com sua esposa em breve.
— Muito bom. — Volto a me sentar. — Se não tiver
compromisso, jante na minha casa.
— Será um prazer. — Nero olha para o primo. — Cheguei a
pensar que Paolo te mataria quando fiquei sabendo sobre o acordo
que os pais de vocês fizeram.
— Vontade não faltou. — Paolo rosna.
— Como consegue aguentá-lo? — Troco um sorriso cúmplice
com Nero.
— Preciso assumir meu carma. — Dou de ombros.
— Ah, não fode, Domênico. — Balanço a cabeça sorrindo,
Paolo é extremamente mal-humorado.
— Sente-se aí, Nero, vamos conversar um pouco antes que
eu tenha que sair.
— Aonde você vai? Hoje nós não temos que trabalhar nos
relatórios? — Paolo pergunta.
— Só vamos poder fazer isso quando eu voltar, recebi um
recado de Rosanna, eu havia pedido a ajuda dela para tentar reaver
parte das nossas drogas.
— Não podemos ter problemas com a imprensa, ela vai
precisar ser bem discreta na hora de nos ajudar.
— Tenho algumas coisas em mente e Rosanna é esperta.
— Ela vai cobrar caro, a promotora é bem ladina, nunca dá
ponto sem nó.
— Sei bem disso, mas vou ouvir a proposta, se for dentro das
nossas possibilidades eu aceito.
— Certo, faça o que for preciso.
— E como está sua sociedade com o príncipe Thomas?
Fiquei sabendo que a empresa de tecnologia em games dele está
em alta — Nero concorda com minha fala.
— Aquele príncipe é um prodígio, fiz um negócio excelente
quando investi nele, a Famiglia está ganhando muito bem.
— Quem diria que um fedelho daquele fosse se sair tão bem.
— Paolo fica pensativo. — Acho que devemos pensar em pescar
uma fatia na empresa dele, Dom.
— Penso o mesmo. — Concordo com meu amigo. — Se não
apostar o dinheiro do clã nele, eu aposto o meu pessoal.
— Você está muito esperto. — Paolo ergue um canto da
boca.
— Aconselho a pensarem nisso, vocês irão gostar e será um
prazer se forem a Nova Iorque negociarem pessoalmente.
— Vamos analisar essa possibilidade com muita calma, agora
conte-me como estão as coisas por lá? Já sabe quando assume a
liderança da Famiglia?
— Não vai demorar, Dom, as coisas andam calmas, os
russos estão enfraquecidos, já não digo o mesmo dos chineses e a
da Yakuza.
Ele começa a nos contar sobre algumas dores de cabeça
com a Tríade, isso me faz pensar em quão fodido é o nosso mundo.
Nós não temos nenhum momento de paz, a cada dia precisamos
enfrentar novos desafios e isso é cansativo demais.

Mesmo a contragosto subo até o andar que Rosanna marcou


comigo, sei que ela é uma mulher pública e não pode se expor à
curiosidade da imprensa, mas não gosto deste encontro tão íntimo.
Paro em frente a sua suíte e bato na porta anunciando minha
presença. Por precaução coloco a mão dentro do terno, pronto para
sacar minha arma. Não acredito que Rosanna armaria uma
emboscada, mas eu não confio em ninguém.
Não demora muito e ela abre a porta exibindo o seu sorriso
sedutor. Seu cabelo loiro está preso em um elegante coque e um
vestido azul justo modela seu corpo esguio.
Ela é extremamente bonita e elegante, não posso negar isso,
porém está longe da beleza exultante da minha esposa. Ninguém se
compara a Giovanna, ela está acima de qualquer mulher.
— Pontual como sempre — diz ao dar um passo atrás me
convidando a entrar.
— Nunca deixo uma dama esperando. — Levo sua mão aos
lábios, Rosanna gosta de ser cortejada e como preciso dela, vou ter
que ser bem sedutor para conseguir meu objetivo.
— Todos os homens deveriam ser charmosos e bonitos como
você, Dom. — Ela segue para o meio da pequena sala de estar. —
Pedi um vinho para nós. — Estende para mim uma taça. — Sei que
é sua marca preferida.
— Obrigado, pela gentileza. — Toco a minha taça na sua. —
Vamos aos negócios?
— Por que a pressa? — Ela senta-se e cruza as pernas,
fazendo a saia azul do vestido subir.
Puta que pariu! Ela não quer apenas negociar, vou ter sérios
problemas para conseguir o que desejo.
— Você sabe como minha vida é corrida, estou com um dia
turbulento. — Tento não ser muito desagradável.
— Sempre temos tempo para o prazer. — Rosanna levanta e
se aproxima. — Você é praticamente o chefe no seu grupo, pode
tirar um tempinho para se divertir. — Ela arranha a unha pelo nó da
minha gravata. — Adoro essa sua elegância, os homens atuais não
usam mais ternos de três peças no trabalho, você é uma raridade.
— Gosto de ser elegante.
— Eu sei e aprovo isso, cai bem em você, te deixa ainda
mais bonito.
“Calma, Domênico, não fale nada que estrague seu objetivo”.
Digo mentalmente, tentando encontrar uma forma de afastá-
la sem foder meu propósito.
— Como está seu marido? — Ergo uma sobrancelha e
espero sua resposta.
— Muito bem, mas não quero falar dele. — Ela toca a
tatuagem de estrela que tenho no pescoço. — No momento tudo o
que eu quero é você.
Afasto o rosto quando ela tenta me beijar. Rosanna me
encara com estupefação, não acreditando que a repeli. Eu espero
não ter fodido tudo, mas eu não vou trepar com ela para ter as
malditas drogas.
— O que está acontecendo, Domênico? — pergunta irritada.
— Não vim foder, estou aqui para tentar recuperar minha
mercadoria, você disse que poderia ajudar.
— E eu também disse que teria um ônus para isso. — Trinco
os dentes, me segurando para não falar merda e perder minhas
chances com ela.
— Disse sim e podemos chegar a um acordo.
— O único acordo que desejo é você entre as minhas pernas.
— Rosanna, nossa vida mudou, agora somos casados.
— Nada do que iremos fazer aqui tem a ver com nossos
casamentos. — Ela enruga as sobrancelhas. — Está apaixonado
por sua esposa? É isso, Domênico? — pergunta com curiosidade.
— A minha relação com a minha esposa não está em
discussão. — Rosanna arregala os olhos, em seguida se afasta
sorrindo.
— Não acredito que o homem de gelo, o mafioso sem
sentimentos e piedade, está apaixonado pela esposa ninfetinha.
— Presta atenção como fala da minha mulher — eu a alerto.
Rosanna joga a cabeça para trás e solta uma gargalhada. Ela
caminha até uma mesa e descarta a sua taça.
— Eu esperava muita coisa, menos que você estivesse de
quatro por sua mulher. — Seus olhos risonhos encontram os meus.
— O que tem em mente para recuperar suas drogas? Eu consigo
liberar a entrada dos seus homens ao depósito da polícia, o
problema é que não podemos deixar rastros.
— Nós não iremos — digo confiante — colocaremos drogas
falsas no lugar das verdadeiras, deixaremos apenas uma
quantidade mínima para não levantar suspeitas.
— Essa sua inteligência é maravilhosa. — Ela volta a se
aproximar. — Quando estiver com tudo pronto me avise que eu faço
a minha parte.
— E o que vai cobrar pela ajuda? — Encaro seu rosto,
esperando para descobrir como ela vai foder a minha vida.
— Desta vez nada. — Fico surpreso. — Descobrir que ama a
sua esposa foi um senhor pagamento.
— Não posso amar ninguém quando não acredito no amor.
— Rosanna acaricia minha orelha sorrindo.
— Diga essas mesmas palavras olhando no espelho, meu
querido. — Com o indicador contorna minha mandíbula. — Os seus
olhos não concordam com o que sua boca fala. — Ela me dá as
costas e caminha até sua taça, sem me olhar sorve um longo gole.
— Entre em contato quando estiver com tudo organizado.
— Você não me conhece de verdade, Rosanna, se
conhecesse não diria que sou capaz de amar. — Sua afirmação é
tão ridícula, que não deveria ter uma resposta, mas eu preciso
deixar claro que está enganada.
— Quando sair da fase da negação conversamos, agora já
que não quer foder um pouco pode ir. — Com um gesto de mão ela
me manda sair.
Abro a boca para rebater sua dispensa, mas acabo me
calando, é melhor ficar quieto, não posso perder o controle e
prejudicar nosso acordo.
Deixo minha bebida de lado e saio do quarto puto, nosso
encontro só não foi desastroso porque consegui alcançar meu
objetivo, porém nossa conversa foi terrivelmente ridícula.
Apaixonado.
Patético o pensamento dela, não estou apaixonado por
Giovanna, muito menos a amo. Apenas gosto do que temos, ela é
uma mulher diferente, sem contar que é apenas minha, mas não
tem nada a ver com amor, Rosanna está completamente
equivocada.
Eu não sou capaz de amar e ponto final.
Coloco duas pedras de gelo no copo e derramo o uísque,
remexo um pouco e sigo até onde Nero conversa com a família.
— Aqui. — Estendo a bebida para ele.
— Muito obrigado, Dom. — Ele cruza a perna e experimenta
o uísque. — Acho que seria bom Fiorella passar um tempo em Nova
Iorque, espairecer um pouco, lá terá as primas para poder fazer
companhia.
— Não quero Fiorella em outro país sozinha, isso pode
causar ainda mais burburinho com o nome dela, já basta tudo que
seu falecido marido aprontou, tivemos nossa cota de fofoca
esgotada. — Minha sogra se manifesta. — Fora que futuramente ela
terá que se casar novamente, ficar com você pode acabar afastando
futuros pretendentes. Ela não é mais pura, isso já não trará os
melhores partidos, ficando solta em Nova Iorque só me dará dor de
cabeça.
— Mãe, como é capaz de falar algo assim? — Giovanna
pergunta sem esconder a indignação. — Ella sequer se recuperou
do casamento traumático com aquele monstro e a senhora já pensa
em casá-la novamente?
— Não quero um novo marido. — Fiorella se manifesta. —
Prefiro virar freira a me casar novamente.
— Você não pode ficar sozinha, se casará sim, uma mulher
precisa ter marido. — As duas se olham com raiva. — Não vou
permitir que jogue o nome da nossa família na lama descumprindo
nossas tradições, já basta o seu irmão que... — Ela para de falar e
inspira fundo.
— Acabou seu show? — Paolo estica a mão contra o encosto
do sofá fingindo calma.
— Eu não quis... — Completamente sem graça pelo que
quase falou, Martina gagueja.
— Dom, pode segurar Caterina um pouquinho? — Não tenho
tempo de falar nada, pois Masha joga a filha nos meus braços e
segue na direção do lavabo.
Caterina ergue os olhos até os meus e sorri, ela espalma as
duas mãos gordinhas contra meu peito toda feliz. Enrijeço na
mesma hora, nunca a peguei justamente para evitar que me toque e
agora estou com ela grudada em mim, na frente de todos e não
posso me descontrolar de maneira nenhuma.
Ela agarra a minha blusa e puxa com força enquanto balança
os pezinhos.
O que eu vou fazer agora?
— Você quis sim. — Paolo ergue a voz. — Depois de todo
esse tempo não superou meu casamento?
— Não tenho nada contra seu casamento, eu só... — Ela não
sabe o que falar.
Erguendo a mão Caterina puxa os pelos da minha barba, ela
solta uma risada alta, parecendo gostar do que fez. Continuo
estático quando dessa vez o alvo é o meu cabelo e a sua outra mão
vai contra meu peito.
— Fiorella vai para Nova Iorque quando ela quiser, Nero,
quem manda nesse caralho de família sou eu e apenas eu digo o
que ela deve fazer. — Martina se cala. — E esqueça o assunto
casamento, Ella, não vamos pensar nisso tão cedo, você precisa de
um tempo, respeitarei seu espaço.
— E quando for escolher um marido para nossa irmã deve
levar em consideração a opinião dela, Paolo. — Chiara entra na
conversa. — Não deixe que Fiorella seja infeliz novamente.
— Claro que eu não vou entregá-la a qualquer um —
responde rispidamente.
Caterina cansa de puxar meu cabelo e desta vez gruda no
meu cordão, levando o crucifixo à boca. O seu olhar é de pura
felicidade, está claramente se divertindo no meu colo.
Ela é tão linda, seu corpo é fofo e seu cheirinho de bebê me
faz roçar o nariz no seu cabelo ruivinho.
— Vamos esquecer essa história de casamento. — Nero
tenta conter o desconforto que se instalou na sala. — Quem sabe
Ella não encontra um bom partido dentro da máfia nova-iorquina que
seja do seu agrado? Temos ótimos partidos e lá não possuímos as
mesmas tradições daqui, somos mais modernos que vocês, uma
viúva do alto escalão da Cosa Nostra romana vale muito.
— Ela não é um objeto para dizer a quantia que vale —
Giovanna protesta.
— Não quis ofender, Gio, foi apenas uma forma de
expressão. —Ele ergue a mão pedindo calma.
— Péssima maneira de se expressar. — Minha esposa rosna.
— Vamos nos acalmar? — Giane pede.
— Gio. — Chamo minha mulher, que me olha irritada.
— Você está com Caterina no colo? — pergunta chocada.
— Masha praticamente a jogou contra mim, não pude evitar.
— Calma. — Ela se aproxima para pegar a sobrinha. —
Venha comigo gatinha, seu tio não sabe cuidar de você.
No momento em que Gio coloca as mãos nela, Caterina grita
atraindo a atenção de todos. Os olhos da minha esposa encontram
os meus quando a pequena agarra com força a minha blusa se
recusando a sair do meu colo.
— E agora? Ela não quer largar você.
— Ah, que lindo, Caty gostou do colinho do tio Domênico —
Chiara comenta toda derretida.
— É o efeito sedutor do Dom, as mulheres morrem de
amores por ele. — Nero implica comigo.
— Por que não cala essa boca grande, Nero? — Paolo
resmunga. — Vem com o pai, filha. — Ele estica os braços para ela,
mas Caterina vira o rosto, se negando a ir com o pai também.
A sala explode em risadas, deixando Paolo completamente
vermelho de raiva.
Puta que pariu! Ele vai me matar, estou muito ferrado.
— Eu... — Penso no que falar para evitar que ele cause uma
guerra. — Nunca a segurei, ela está achando novidade — digo a
primeira idiotice que vem na minha cabeça, só para ele não ter um
surto e estragar ainda mais a noite. — Por que não vai ver como
Masha está? Ela foi para o lavabo depois do que sua mãe disse,
acho que ficou chateada, quando voltar certamente Caterina já
enjoou de mim.
Consigo conter a fera o distraindo com a esposa. Bufando,
Paolo vai na direção do lavabo.
— Pensei que ele fosse te enforcar — Gio prende os lábios
para não sorrir. — Está muito difícil ela te tocando? — pergunta
baixinho. — Posso tentar pegá-la de novo.
— Já esteve pior, não se preocupe. — Apesar de ainda estar
rígido, gosto de sentir a fofura do seu corpo entre meus braços.
Com alívio vejo Paolo ainda mais emburrado voltando com a
esposa do lado.
— Oh, meu Deus! — Masha se aproxima rapidamente
quando me encara parecendo só agora perceber o que fez. — Eu
acabei não pensando direito quando a deixei com você — comenta
ao segurar a filha, sem também ter sucesso em tirar a bambina dos
meus braços. — Mas o que é isso? — pergunta ao me encarar.
— Ela gostou de mim. — Dou de ombros. — Deixe-a comigo
por enquanto, estou bem agora.
Mal acabo de falar e Caterina desfere um tapa bem doloroso
no meu peito enquanto grita feliz.
Como pode alguém tão pequena ter tanta força?
— Essa é a minha filha — Paolo diz orgulhoso. — Continue,
meu anjo, papai gosta do que está fazendo.
O desgraçado sorri, contente em me ver sendo o saco de
pancadas da sua pequena.
Ele me paga.

— Muito ansiosa para amanhã? — pergunto quando descarto


o joystick na mesa lateral.
— Um pouco, mas estou evitando pensar muito sobre meu
primeiro dia de aula.
Giovanna está deitada com a cabeça no meu colo, enquanto
lê um livro no seu leitor digital. Hoje ela amanheceu manhosa e
passou o dia me rondando. Depois do almoço quando me sentei
para jogar, se aninhou no meu colo para ler.
Acho que por ter passado o dia anterior na casa do irmão em
uma despedida a Nero e longe de mim, ela decidiu passar o
domingo agarrada comigo.
Confesso que gosto disso, ter Gio por perto passou a ser
meu passatempo favorito.
— Vai dar tudo certo. — Apoio a mão sobre sua barriga. — E
terá Leo e Masha por perto para te apoiar.
— Graças a Deus. — Ela desliga o aparelho e o coloca na
mesa de centro. — Posso pedir uma coisa? — pergunta ao montar
sobre mim.
— Peça. — Seguro-a pela cintura.
— Que tal mais tarde jantarmos fora e passearmos de moto?
— Coloco seu cabelo atrás do ombro.
— Será bom sairmos de casa um pouco. — Ela sorri toda
feliz. — E falando em moto, semana que vem tem corrida de Moto
GP em San Marino, nós vamos. — Os olhos dela se arregalam. —
Quero que você veja de perto a adrenalina de uma corrida, é surreal
a velocidade que os pilotos correm.
— Vou amar poder assistir, nunca vi uma corrida, antes de
nos casarmos, moto não era algo que me interessava.
— Agora interessa? — Beijo sua clavícula.
— Claro que sim. — Gio corre os dedos por todo o
cumprimento do meu cabelo. — Depois que nos casamos acabei
pegando seu amor por moto.
Rodeio meus braços na sua cintura, encarando seus olhos
brilhantes. Sua beleza angelical sempre me fascina, quanto mais a
tenho mais a desejo.
— Prometo que iremos passear mais vezes.
— Eu vou adorar. — Gio se inclina e me beija. — Que tal nos
divertimos um pouco antes do jantar? — Ela se quebra sobre meu
pau.
— O que você tem em mente, esposa? — Ergo uma
sobrancelha.
Giovanna morde o lábio, fazendo a carinha de safada que
sempre me deixa de pau duro.
Sem dizer uma palavra ela pula do meu colo e vai até o
solário e fecha a porta, isolando Mercury que está dormindo por lá.
Quando retorna se ajoelha na minha frente e sobe as mãos
por minhas coxas até que alcança meu pau. Sem tirar os olhos dos
meus o massageia, deixando-o rapidamente duro.
Como vou pensar em trepar com qualquer outra mulher
quando tenho Gio toda para mim?
Faço essa pergunta internamente enquanto ela desata o laço
do meu short e revela minha ereção.
Não é que eu seja apaixonado por ela como Rosanna
afirmou, isso é uma idiotice, eu apenas a quero. Giovanna me
satisfaz completamente, então não preciso me preocupar em
procurar fora o que tenho dentro da minha casa.
Infiltro as mãos na massa encorpada do seu cabelo quando
ela suga a ponta do meu pau. Fecho os olhos e jogo a cabeça para
trás quando ela começa a me engolir.
Obrigado “querido” pai! Você não sabe o bem que me fez em
torná-la a minha prometida.
— Não saia do campus sozinha, sempre espere pela sua
segurança.
— Você já falou isso mil vezes, eu não sou criança.
— Só estou zelando por você. — Seguro seu rosto. —
Espero que seu curso seja tudo o que sonhou. — Beijo sua boca
lentamente.
Gio geme contra meus lábios e coloca os braços ao redor do
meu pescoço grudando o corpo ao meu. Passo os braços por sua
cintura, me deliciando com o seu sabor de café.
Eu deveria estar feliz em proporcionar mais um dos seus
sonhos, no entanto, só consigo pensar em todos os homens
naquela merda de faculdade que irão desejar a minha mulher.
Quando foi que eu me tornei um homem tão ciumento?
— Chega! — digo ao me afastar. — Se não pararmos você se
atrasa para seu primeiro dia de aula e, eu para a minha reunião.
Não quero seu irmão despejando logo cedo seu mau humor sobre
mim.
— Foi você que começou. — Ela sorri. — Vou retocar meu
batom antes de sair.
— Boa sorte. — Acaricio seu rosto. — Agora preciso ir,
qualquer coisa me ligue.
— Bom trabalho, Dom. — Ela acena e corre para o banheiro.
Vou atrás do Amaro e passo algumas instruções antes de ir
embora. Mesmo tendo tomado todas as medidas para manter a
segurança dela dentro da faculdade usando os mesmos homens
que cuidam da Masha, não consigo deixar de me sentir apreensivo.
Gio é o que tenho de mais valioso, se algo acontecer a ela não sei o
que faço.
Quando estou quase perto de chegar ao La Fontaine, meu
telefone toca e vejo que se trata da minha mãe.
— Oi, mãe.
— Filho, estou sentindo sua falta, depois que se casou quase
não temos nos vistos.
É... eu sei que ando afastado dela, mas não quero meu pai
por perto. Sinto falta em poder ter contato mais íntimo com minha
mãe, só que se eu abrir espaço para ela, o infeliz do meu pai vai se
aproximar e tudo o que não desejo é que fique perto da minha
mulher.
— As coisas ainda estão difíceis no trabalho, mãe, ando com
problemas. — Realmente as coisas não estão fáceis. — Também
estou recém-casado, quero um tempo mais isolado com minha
esposa.
— Entendo, meu filho, faz bem em ficar com ela.
— A que devo a ligação tão cedo?
— Não é nada demais, apenas queria convidar você e
Giovanna para jantar aqui em casa nesta quinta-feira. Esta semana
é aniversário do seu irmão, decidi fazer um jantar surpresa.
— Eu esqueci completamente o aniversário do Guido.
— Estou aqui justamente para lembrar todos vocês, sei o
quanto trabalham.
— Tudo bem, nós vamos sim, avisarei a Gio mais tarde.
— Ótimo, estou ansiosa para tê-los aqui em casa, fica com
Deus, querido.
— Tchau, mãe.
Encerro a ligação segundos antes de estacionar o carro.
Enquanto ela está ansiosa, eu já sofro por saber que terei que olhar
para o meu pai.
Olho para o relógio esperando o momento que Giovanna
aparecerá. Decidi fazer uma surpresa para ela no seu primeiro dia
de aula. Vou levá-la para um almoço especial, sei o quanto esse dia
é importante para ela.
Não demora muito e a vejo surgir ao lado de Masha e
Leonardo. O abusado como sempre está no meio das duas, com o
braço enroscado ao da minha mulher.
Giovanna é a primeira a notar minha presença e pela
expressão do seu rosto, jamais imaginou que eu pudesse aparecer.
Leonardo me lança aquele sorriso arteiro, certamente vai fazer um
comentário irônico, ele adora brincar com o perigo.
— Vocês três juntos é um pouco assustador — comento ao
me aproximar.
— Assim você me ofende, bonitão, eu sempre cuido bem das
minhas ragazze.
— É por isso que ainda está vivo e falando gracinhas. —
Apoio a mão na cintura da minha esposa — Como foi o primeiro dia
de aula?
— Empolgante. — Ela abre um sorriso tão radiante, que
deixa evidente que fiz a coisa certa ao matriculá-la na faculdade.
— Isso é bom. — Realmente estou satisfeito em vê-la tão
feliz. — E você? Como foi ficar tanto tempo sem a sua bambina? —
pergunto a Masha quando beijo seu cabelo.
— Só estou calma porque conversei com Mirta, mas não vejo
a hora de chegar em casa.
— Leonel está te esperando a frente do meu carro, vá logo,
eu vou levar Gio para almoçar, uma pena não poder ir conosco.
— Mas eu posso ir, inclusive estava indo para a casa de
vocês não só almoçar, como também paquerar o segurança da Gio.
— Leo se mete na conversa. — E falando naquele gato, sabe me
dizer se ele é gay? Às vezes sinto os olhos dele em mim. — Abaixo
a cabeça tentando me controlar, esse merda me desperta várias
emoções, entre elas vontade de matá-lo e rir.
É um verdadeiro palhaço.
— Leonardo, vá se foder. — Puxo Gio para perto de mim. —
Almoce com Masha, eu dispenso você falando bobagem no meu
ouvido.
— Você não era agressivo assim, Paolo está te influenciando.
— Meu Deus, Leo, cala essa boca! — Masha o recrimina. —
Vamos embora, almoce comigo e fique quieto. Tchau gente, bom
almoço pra vocês.
Sem deixar de resmungar ele se afasta ao lado da amiga e
como é de costume, sobra para Leonel as cantadas baratas dele.
— Seu amigo gosta de perturbar — digo ao encaminhá-la
para o carro. — Vamos logo, temos uma reserva nos aguardando.
— Não estava te esperando hoje, você disse que tinha um
dia cheio.
— Queria fazer uma surpresa. — Vejo a emoção se espalhar
por sua face.
Abro a porta do carro e Gio entra em silêncio, mas pelo brilho
nos seus olhos, fiz a coisa certa ao surpreendê-la neste dia tão
especial.
Ponto para mim. Nunca serei o marido perfeito, mas sempre
tentarei ser o melhor que posso por ela.
Encontro Masha e Leo me esperando embaixo de uma
árvore, caminho até onde estão, saltitante, estou tão feliz que sinto
que posso flutuar.
— E aí, minha linda gatinha, como foi sua estreia no ensino
universitário? — Leo me abraça e beija meu rosto.
— Sinceramente nem sei te falar, sinto que estou em um
sonho. — Encaro seus olhos. — Primeiro eu aprendo a dirigir e
agora estou na faculdade.
— Quem mandou se casar com Domênico? — Masha me
puxa pela mão e começa a andar para a saída. — Você não podia
ter se casado com outra pessoa, meu amigo é perfeito para você.
— Sendo um pouco mais sincero. — Leonardo entra no
assunto. — Dom é perfeito para qualquer pessoa, que homem lindo
e sexy, você tem muita sorte, querida, aquele homem é um deus
grego.
— Para de cobiçar meu marido. — Leo solta uma gargalha e
engancha o braço ao meu.
— Não posso fazer nada se tenho uma paixão platônica por
ele. — Definitivamente Leonardo não tem um pingo de juízo. —
Posso almoçar na sua casa? Assim paquero um pouco seu guarda-
costas já que Dom está fora do jogo.
— Você é impossível. — Ele nunca sossega. — Será um
prazer ter sua companhia no almoço.
Saímos animados pelo portão da faculdade e meus passos
vacilam quando olho a frente e vejo o meu marido encostado no
potente Maserati preto, com seu elegante terno de três peças e
óculos escuros estilosos, o deixando o reflexo da elegância.
— Esse seu marido ainda me mata, olha como o desgraçado
está lindo? — Leo fala ao meu lado. — Perdi meu almoço, que
merda!
— Bem-feito. — Masha não perde a oportunidade de implicar
com ele.
Dom me pergunta como foi meu primeiro dia de aula, não
consigo esconder a empolgação ao responder o quanto foi perfeito.
Estou me sentindo nas nuvens e tudo graças ao meu marido.
Ele fala com Masha antes de começar trocar farpas com
Leonardo, no fundo tanto meu marido quanto Paolo gostam das
loucuras do meu amigo.
Quando minha cunhada arrasta Leo para o próprio carro,
Dom nos encaminha até o nosso.
— Temos uma reserva nos aguardando.
— Não estava te esperando hoje, você disse que iria
demorar.
— Queria fazer uma surpresa — revela ao abrir a porta do
carro.
Meus olhos marejam, ele é tão gentil comigo. Em momentos
como este eu sinto que um dia posso quebrar o gelo do seu
coração.
Não digo mais nada, apenas entro no carro sentindo meu
corpo vibrar de alegria. Ele se importar comigo é um bom sinal,
pode não ser o que eu queria, no entanto, é mais do que eu
esperava.

Quando Dom me avisou que teríamos um jantar na casa dos


seus pais, eu não me importei muito. Gosto demais da sua mãe e
irmã, porém, não tenho contato com seus irmãos.
O mais novo Davide, faz faculdade em Londres, ele tem vinte
e dois anos e não se dá bem com o pai. Prefere ficar longe de
todos, já Guido está fazendo vinte e cinco e assumiu os negócios da
família, de acordo com Dom, o coitado tenta sempre conter os
arroubos do pai. É um bom rapaz, mas não temos contato, a última
vez que o vi foi no dia do meu casamento, depois disso só sei dele
quando ouço alguma ligação do meu marido para o irmão.
Já Ambra sempre aparece nos encontros que nossas mães
combinam, gosto dela, mas assim como eu quando era solteira, não
pode sair sem estar grudada nos pais. Ano que vem vai fazer
dezoito anos e, pelo que já me falou, o pai já está procurando por
um marido.
Só que agora que estamos na casa do seu pai, eu estou me
sentindo extremamente incomodada. Da última vez em que
estivemos juntos, ele foi extremamente desagradável comigo.
— Ei. — Ele puxa a minha mão antes de chegarmos à porta
de entrada. — Não vou sair do seu lado, apenas relaxe, se meu pai
passar dos limites iremos embora.
Inspiro fundo, tentando me controlar, não quero causar
nenhum tipo de confusão com ele.
— Não se preocupe comigo, eu estou bem.
— Sabemos que não está — afirma ao abrir a porta. —
Apenas fique tranquila, eu estou aqui e ninguém irá ser
desagradável com você, sem que sofra as consequências.
Seguro sua mão com força e caminho ao seu lado até à sala.
Encontramos sua família já reunida, com exceção do seu irmão
mais novo, que eu já sabia que não estaria presente.
— Chegaram. — Como sempre Concetta é extremamente
educada. — Como está, minha querida?
— Muito bem. — Troco dois beijos com ela. — Obrigada, pelo
convite.
— Não agradeça, vocês são da família, eu queria tê-los
sempre por aqui.
— Como vai, mãe? — Dom pergunta dando um beijo em sua
testa.
— Filho, você está cada dia mais bonito, o casamento te fez
bem. — Sua mão vai para o meio do peito dele e vejo que meu
marido não recua em nenhum momento.
Não fico ressentida com sua atitude, ela é sua mãe e deve ter
livre acesso ao seu corpo. Meu problema está quando Masha o
toca, nesses momentos eu não consigo me controlar.
— Gio tem cuidado bem de mim. — Ele me lança um olhar
descontraído. — Cadê o aniversariante? — O irmão dele o encara
com um leve sorriso.
Os dois trocam um abraço, Dom diz algo a ele que o faz
acenar em concordância. Enquanto meu marido vai falar com a
irmã, eu parabenizo Guido e entrego o presente que compramos.
Ele como sempre é extremamente educado e me agradece a
gentileza. Vou cumprimentar Ambra, feliz, mas quando chega a vez
de falar com meu sogro, fico tensa.
— Boa noite, senhor. — Sou bem formal.
— Boa noite. — Os olhos dele me avaliam atentamente.
— Giovanna, aceita uma taça de vinho?
— Claro, adoraria. — Sorrio para a minha sogra.
Fico aliviada quando Dom me puxa para perto, colocando um
espaço seguro entre seu pai e eu.
Depois que recebo minha taça, Ambra me chama para um
canto, deixando os homens conversando na sala.
— Como está sendo a faculdade?
— Eu nem sei te explicar, ainda me sinto fora do corpo, a
cada aula que tenho, fico mais realizada.
— Você teve muita sorte de se casar com meu irmão. — O
rosto dela fica triste. — Dom repudia todas as maldades que meu
pai faz.
— Seu irmão é um marido justo, ele cuida bem de mim,
sempre me respeita.
— Não podia ser diferente, ele pode parecer um homem sem
sentimentos, mas é apenas uma máscara para sobreviver dentro da
máfia. Domênico sempre foi bom para mim e nossa mãe, Guido não
é como ele, mas também não posso compará-lo ao meu pai, só que
não consigo confiar plenamente nele para me proteger.
— Posso imaginar como deve ser difícil conviver com seu pai,
ele me causa arrepios.
— A sorte é que ele não fica muito em casa e quando está,
eu evito seu caminho, quem sofre de verdade é a mamãe, eu não
sei como ela suporta essa vida miserável ao lado dele.
Olho para a minha sogra que serve um uísque ao marido e
sinto pena dela, assim como a minha mãe, vive dentro de um
casamento cruel, com um sádico controlando toda a sua vida.
Se eu tivesse que ter uma vida como a dela, já teria desistido
de tudo.
Decido mudar de assunto e convido Ambra para passar uma
tarde comigo e Fiorella. Ela vive isolada demais, precisa sair um
pouco da opressão que enfrenta em casa.
Faço uma promessa que pedirei a Dom para conversar com o
pai dela, com sorte ele não irá criar um problema e, caso crie, eu
coloco Paolo no meio. Peço à Masha para levar Ambra para sua
casa, Francesco não vai poder refutar um pedido do seu Capo.
Quando o jantar é servido eu me sinto aliviada, está
chegando a hora de ir embora.
Enquanto seguimos para o jantar Dom vai na frente com o
irmão, os dois conversam algo que faz meu marido sorrir, é estranho
vê-lo mais aberto estando perto do seu pai. O meu sogro segue logo
atrás dos dois filhos, enquanto Ambra está ao meu lado.
Quando chegamos à entrada da sala de jantar, Francesco
interrompe seus passos e dá passagem para nós duas irmos à
frente. Minha cunhada segue antes de mim, eu vou logo na sua
sequência, mas quando passo pelo meu sogro, ouço seu sussurro:
— Meu filho teve sorte, uma pena ele não ser aberto a dividi-
la comigo. — Fico rígida quando corre a mão pela minha bunda.
Um tremor intenso varre todo o meu corpo. Tento continuar a
andar até onde meu marido está, sem deixar transparecer o horror
que me consome.
Desabo na cadeira sentindo minhas mãos tremerem,
Francesco me olha e sorri de maneira tão suja, que eu sinto vontade
de vomitar.
Eu odeio profundamente esse homem, ele é tão podre quanto
Carmelo.
— Você está bem? — Dom pergunta ao apoiar a mão na
minha coxa.
— Claro que sim. — Ajeito meu cabelo mesmo com as mãos
trêmulas.
Se ele perceber algo, o jantar vai terminar em briga e não
quero isso quando é um dia de comemoração.
Tento me concentrar na comida que é servida, ainda que eu
não sinta o gosto de nada. Finjo comer um pouco, mas, na verdade,
apenas reviro o que está no prato. Já o vinho vira meu melhor
amigo, talvez com a ajuda dele eu consiga terminar esta noite sem
causar uma confusão.
— Cassiano vai oferecer uma festa, quero você lá, Guido, as
melhores opções de esposas estarão disponíveis. Quero que
escolha alguma das ragazze do alto escalão, você está na época de
se casar.
— Não estou com pressa, prefiro esperar mais um pouco,
Dom casou-se depois dos trinta.
— Ele estava esperando a sua prometida chegar no ponto. —
Os olhos dele caem em mim. — E ela ficou melhor do que eu
esperava, fiz uma boa escolha para meu filho e vou arrumar alguém
tão atraente e apta a te satisfazer como a mulher do seu irmão.
— O que pensa que está fazendo? — A voz do meu marido
sai tão ameaçadora, que eu me arrepio. — Como fala desta maneira
da minha esposa na minha frente?
— Dom, calma — peço a tocar seu braço.
— Não me defenda sua vadia, eu não preciso de mulher para
interceder por mim.
Volto a tremer quando Dom se levanta abruptamente, seu
irmão faz o mesmo, enquanto sua mãe e Ambra ficam caladas e de
cabeça baixa.
Meu Deus! Eu queria Paolo aqui, ele iria tomar à frente e faria
o seu show sem que Francesco pudesse revidar. Com Domênico as
coisas são diferentes, como a briga é com seu pai, o maldito tem
mais autoridade.
— Por que gosta tanto de ser nojento? — pergunta com sua
voz fria. — Acha que para ter respeito de uma mulher precisa ser
um porco?
— Eu sou o que eu quiser, a casa é minha, sou o líder aqui e
falo como achar melhor.
— Bem... — Dom segura meu braço de maneira brusca. —
Como a mulher é apenas minha, eu não admito que ninguém a
chame de vadia e só não está com os dentes quebrados porque eu
tive o azar de tê-lo como pai e, preciso manter o caralho do respeito.
Mas não é porque eu não possa te bater, que eu vá permitir que
ofenda a minha esposa.
— A boceta dela deve ser muito doce para te deixar tão
transtornado. — O aperto de Domênico no meu braço fica tão
intenso que mordo o lábio inferior para não gemer de dor. — Só não
vou ficar muito preocupado porque já te vi no bar do Mattia com
Anna, a sua puta preferida, se não fosse isso, acharia que está
dominado por ela.
Fico rígida com o seu comentário, ouvir que meu marido sai
com uma prostituta me abala profundamente.
— Você é um maldito! — Dom tenta partir para cima dele.
— Por favor, não. — Apoio a mão no seu braço quando se
move para agredir o pai. — Apenas vamos sair daqui. — O rosto
dele está transformado, não lembra em nada o homem contido que
estou acostumada a conviver. — Só vamos embora.
— Amanhã cedo eu estarei aqui, se você tiver feito algo com
a minha mãe ou Ambra é um homem morto.
— Não me ameace, moleque.
Francesco rosna, mas já estamos deixando a sala de jantar
com ele me arrastando para fora da casa.
Que noite terrível, o pai dele é uma das piores pessoas que já
conheci em toda a minha vida.
— Dom. — Puxo o meu braço que segura fortemente e o faço
parar de andar. — Está tudo bem — afirmo com a voz baixa. — Seu
pai só quis nos desestabilizar e conseguiu. — Apoio uma mão no
seu rosto.
— Eu não estou trepando com nenhuma puta, Gio. — Tento
me controlar para não piorar a situação.
— Sei como funciona a vida dos homens, Domênico, dói
saber que não sou única, mas não posso fazer nada. — Ele fica
com o rosto duro.
— Não tenho motivos para mentir, meu pai me viu bebendo
no Mattia naquele dia da nossa briga por conta do Amaro. Anna
estava conversando comigo, oferecendo seus serviços, mas eu não
quis, porque não preciso foder com outras quando é você que eu
quero. — Não existe nenhuma hesitação no seu olhar, meu marido
está falando a verdade.
— Eu acredito em você. — Abraço-o bem abaixo da cintura,
onde eu sei que não o incomodo. Depois do que Francesco fez
comigo, não me admira ele ter falado sobre essa Anna para causar
uma briga entre nós. — Vamos esquecer esta noite, seu pai não
merece ter a nossa atenção.
Domênico solta toda a respiração e devolve o meu abraço,
ouço as batidas frenéticas do seu coração. Ele deposita um beijo no
meu cabelo e se afasta um pouco para poder encarar meu rosto.
— Você não deveria ser tão madura assim, Giovanna. — Sua
boca gruda rapidamente na minha. — Vamos sair deste maldito
lugar, nunca mais voltaremos aqui, quero você longe de toda essa
maldade.
Entro no carro quando ele abre a porta, espero aflita
Domênico se acomodar ao meu lado. Se passar pela cabeça dele
que seu pai me tocou, uma tragédia em família estará formada. Não
posso revelar isso para ninguém, será melhor enterrar em definitivo
esta noite terrível.
Depois do incidente com Francesco, eu me senti mais
conectada a Domênico. É bom saber que ele está disposto a me
defender em qualquer ocasião e que não tem interesse por outras
mulheres. De alguma maneira me sinto importante para ele, o que
faz meu coração bobo e apaixonado se derreter completamente por
meu marido.
Não contei para ele sobre o assédio do seu pai, depois da
briga deles, se eu abro a minha boca uma guerra se instala na
Famiglia, porque nem Dom, muito menos Paolo, deixarão barato o
que meu sogro fez comigo.
O problema é que estou angustiada com esse segredo,
preciso desabafar com alguém e só consigo pensar em Fiorella, ela
é a única pessoa que eu tenho plena certeza que vai saber manter
segredo.
Dom segura a minha mão quando entramos no camarote de
onde assistiremos a corrida. Estou animada, nunca tive a
oportunidade de assistir algo assim, sendo bem sincera essa será a
primeira vez na minha vida que verei uma corrida.
Já estive em corrida de Fórmula 1, mas de motos será uma
novidade que está me deixando muito empolgada.
— Nessas corridas tudo acontece muito rápido, então fique
atenta, ou vai perder os pilotos passarem.
— Já vai começar? — pergunto ansiosa.
— Daqui a pouco.
Seguimos até o bar do camarote e Dom pede dois drinques.
Ele me puxa contra si e beija meu ombro nu. Estou vestindo uma
blusa de seda azul com alças finas e uma calça justa branca.
— Já disse o quanto está gostosa? — Sorrio como uma
boba, gosto quando me elogia.
— Acho que umas três vezes.
— Ainda é pouco.
O meu coração dispara, a cada dia ele rouba mais um
espaço dentro de mim. Estou tentando me segurar, não demonstrar
o quanto estou apaixonada, mas ele não facilita a minha vida.
Ergo a mão e acaricio seu cabelo, hoje ele prendeu apenas
uma parte, o resto escorre sensualmente por seu pescoço.
— Se você estivesse com um macacão de corrida, tenho
certeza de que se passaria por um piloto, esse seu visual é
chamativo.
— O que tem meu visual?
Nossos drinques chegam e eu experimento. É um domingo
de calor com o final do verão e uma bebida refrescante cai bem.
— Você tem estilo, poderia ser comparado com um roqueiro,
um modelo ou mesmo piloto.
— Bem que eu queria ser um piloto, seria incrível pilotar em
alta velocidade.
— Graças a Deus não é, eu morreria do coração se te visse
correndo como louco em uma moto arriscando a vida. — Dom
morde o lábio para não sorrir.
— Mio bellissimo angelo — diz rente ao meu ouvido. — Sou
um mafioso, é bem pior do que ser piloto.
Arregalo os olhos, não tinha pensado nisso, acho que estou
tão acostumada com sua vida paralela, que em determinados
momentos esqueço o quanto sua rotina é arriscada.
Um casal se aproxima de nós, quebrando o nosso assunto.
Eles são simpáticos demais e acabamos conversando até que
escutamos o ronco dos motores, indicando que a corrida irá
começar.
Dom me puxa para ficar perto do gradil e assim ter uma boa
visão da pista. Ele se posta atrás de mim, envolvendo-me em seus
braços.
— Não esqueça de prestar bem atenção, pois eles passam
em uma velocidade alucinante.
— Tipo os carros de Fórmula 1?
— Como são motos, a sensação é ser ainda mais rápido. —
Faço um gesto positivo com a cabeça.
— Para quem está torcendo?
— Guilhermo García[16], ele é um fenômeno das pistas, é
incrível assisti-lo pilotar.
Para receber um elogio tão entusiasmado do meu marido,
certamente esse rapaz é muito bom.
A corrida começa e eu vibro a cada vez que as motos
passam a nossa frente. Realmente é mais rápido que os carros, eles
parecem apenas borrões nas pistas.
O piloto preferido do meu marido lidera, ele é ágil e tem uma
desenvoltura surpreendente sobre a moto. Em certa altura da
corrida sinto vontade de ir ao banheiro e Dom aponta o caminho.
Apesar da corrida se desenrolar, muitas pessoas conversam
por todo o camarote, algumas parecem mais interessadas em
paquerar, do que apreciar os pilotos.
Uso o banheiro e quando retorno, Santino está parado em um
canto, com os olhos em uma bela mulher.
Esses homens...
Não consigo conter um sorriso, mas tudo muda quando vejo
uma mulher com a mão no braço do meu marido de uma maneira
íntima demais, falando algo rente ao seu ouvido.
O ciúme se alastra sem controle, nunca senti uma emoção
tão intensa quanto agora. Minha vontade é ir até lá e arrancar de
maneira nada pacífica suas mãos dele.
Inspiro fundo e me aproximo dos dois, não posso fazer uma
cena, infelizmente, mas vou acabar com a conversa deles. Dom é o
primeiro a notar a minha presença e tensiona o rosto. Estou com
raiva dele por permitir que deixe ser tocado com tamanha intimidade
quando eu estou presente.
— A minha esposa chegou — ele diz para a tal mulher ao
segurar a minha mão. — Gio, essa é Madelaine, uma amiga.
— Olá! — Sou seca ao cumprimentá-la.
— Oi. — Seus olhos correm por todo meu corpo.
Madelaine tem uma beleza exuberante, com seus
encorpados cabelos castanhos longos e olhos cheios de confiança.
— Ela é uma Chef de cozinha extremamente talentosa, nos
conhecemos quando visitei o restaurante que trabalha em Londres.
— Interessante. — A minha voz, na verdade, não tem
nenhuma nota de interesse no que ela trabalha.
— Não imaginei que sua esposa fosse uma menina. —
Claramente ela está desdenhando de mim.
— Eu não sou uma menina, sou maior de idade e apenas
bem mais jovem que você. — Sorrio de maneira debochada, se ela
quer me diminuir, eu farei isso também. — Com licença, quero ver a
corrida, é mais interessante.
Virando as costas para ela, me aproximo do gradil. Ouço sua
risada irônica, o que faz meus olhos se fecharem. Não posso me
descontrolar, meu lado passional às vezes fala mais alto. Sei que
devo me comportar como uma dama, mas fica difícil quando uma
mulher como ela que, certamente já foi amante do meu marido e
ainda está interessada nele, ri de mim.
Aperto o ferro do gradil com força, repetindo inúmeras vezes
que preciso me conter. Se eu fizer uma cena, minha mãe irá passar
o resto do ano me acusando de ser uma péssima esposa.
Não ajuda nada relembrar a afirmação do meu sogro que
Dom transa com uma prostituta. Eu acreditei nele quando disse que
era mentira, mas quando se trata de uma mulher como Madelaine,
não me sinto tão segura.
Antes de sentir o toque do Dom, seu cheiro me alcança.
Estou com raiva dele, porque nessa história é esse idiota que tem
compromisso. Também estou chateada comigo, por estar com
ciúmes de um homem que fez questão de dizer olhando nos meus
olhos que nunca irá me amar.
Se ele não pode ter sentimentos verdadeiros por mim, vai ser
eternamente fiel?
Como você é patética, Giovanna.
— Tira as mãos de mim — digo para que apenas ele ouça. —
Vá tocar sua amiga, ela está interessada.
— Gio, que merda é essa? — Mais uma vez ele tenta me
tocar, mas eu não permito, quero-o distante.
— Não vou repetir, mantenha distância. — Espero-o ignorar
meu pedido, mas Domênico não volta a tentar me tocar e fica
apenas atrás de mim, enquanto a corrida se desenrola.
Perco o interesse em tudo e sinto vontade só de ir embora.
Não sabia que ciúmes poderia ser algo tão ruim, nunca senti nada
parecido, nem mesmo quando Masha o toca, estou um pouco
assustada com a raiva que está me consumindo.
A corrida termina com o favorito do Domênico campeão, o
jovem piloto passa a nossa frente fazendo piruetas com a moto e
saudando a plateia em uma velocidade reduzida, que nos permite
vê-lo com mais calma.
— Nós iremos poder encontrar o Guilhermo — ele diz quando
volta a se aproximar.
— Prefiro ir para o carro, te espero lá. — Tento passar por
ele, mas Dom segura meu braço.
— Você vai conhecer o Gui comigo.
— Não vou, chame sua amiga. — Nos encaramos com raiva.
Tenho um péssimo temperamento, em certos momentos fica
difícil me controlar, agora por exemplo, quero chutar as bolas do
meu marido.
— Madelaine não é minha esposa, você que é — afirma com
a voz raivosa, porém contida. — Iremos juntos parabenizar o
vencedor. — Ele segura a minha mão, mas eu a puxo.
Por Deus que ele vai acabar me descontrolando e eu vou
estar dentro de um problema, porque quando eu saio da linha é um
desastre.
— Pare! — Domênico sussurra, seus olhos agora estão frios,
ele também está passando por um conflito. — Você vai me
acompanhar porque como minha mulher precisa fazer isso. —
Retraio pela maneira que me encara. — Trepei com Madelaine há
bastante tempo, acabou e não tenho mais interesse. Não sou
grosso com mulheres sem ser necessário, ela veio falar comigo, eu
avisei que estava com minha esposa e ela foi deselegante ao falar
com você. Porém, antes ouviu de mim que estou comprometido e
não tenho interesse em um caso, assunto encerrado. Agora vamos
embora e pare com isso, nenhuma mulher daqui é você, então não
se compare ou se incomode com qualquer uma delas.
Sigo-o com o coração disparado, neste momento estou me
sentindo uma tola. Ele realmente deve estar me achando uma
criança, meu comportamento impulsivo pode acabar o afastando-o
de mim se eu não aprender a segurar as pontas.

— Como sempre impecável. — Dom aperta a mão do piloto.


— Meus parabéns, você fez uma corrida incrível.
— Muito bom ouvir isso de alguém que conhece bem esse
universo da motovelocidade.
— É a minha paixão, não posso negar. — Domênico passa a
mão pela minha cintura. — Queria te apresentar a minha esposa,
Giovanna, essa foi a primeira experiência dela em um Moto GP.
— Que prazer. — Guilhermo sorri e aperta a minha mão. —
Espero que tenha gostado.
— Foi incrível, meus parabéns. Apesar de pensar algumas
vezes que cairia, foi emocionante. — Ele sorri.
— Às vezes eu caio mesmo, mas faz parte da profissão —
comenta com diversão e pisca para mim. — Vamos ter uma
comemoração no box que a minha esposa Lola preparou, estão
convidados.
— Agradeço muito, Guilhermo, mas eu e Gio temos um
compromisso inadiável. — Dom volta a apertar a mão dele. —
Espero vê-lo mais uma vez como campeão este ano, você está
correndo demais.
— Pode apostar que vou me esforçar para isso.
Acenamos em despedida para Guilhermo, estou curiosa para
saber que “merda” de compromisso que teremos, não estou
sabendo de nada.
— Vamos embora — Dom ordena aos seguranças quando
segue para o estacionamento.
— Que compromisso nós temos? — pergunto sem conseguir
me segurar.
— Saberá quando chegarmos na nossa casa, agora entra no
carro — exige quando abre a porta.
— O que exatamente vai acontecer quando chegarmos em
casa? — Seu jeito sério está me fazendo ficar temerosa, não
conheço de verdade Domênico, a minha explosão de ciúmes pode
ter despertado seu lado cruel.
— Apenas entre no carro, Gio. — Estremeço com a maneira
fria que me encara.
Faço o que pede já que não tenho para onde fugir,
infelizmente ele tem domínio sobre mim e, por mais que sempre
transpareça ser um homem equilibrado, sei bem o quanto pode ser
letal.
Fico estática esperando-o falar algo, mas Dom apenas dirige
completamente compenetrado na estrada. Começo a ficar
angustiada, não gosto desse seu silêncio, por mais que ele seja
uma pessoa reservada, sempre que estamos juntos conversamos
sobre qualquer tipo de assunto.
Quando chegamos ao nosso prédio continuamos sem nos
falar. Estou ainda mais raivosa, a culpa é toda dele, se não
permitisse que aquela mulher o tocasse, eu não teria me
descontrolado.
— Santino e Marco, vão descansar, Carlo ficará a postos
hoje, amanhã teremos um dia cheio.
Não gosto dele dispensando os seguranças com tanta
urgência.
— Posso esperar Carlo chegar, senhor. — Santino se oferece
para ficar.
— Não será preciso, eu dou conta de tudo. — Domênico
segura minha mão com força.
— Até amanhã — digo a Santino com um olhar aflito, ele
enruga as sobrancelhas, parecendo estranhar minha postura.
Não sei o que vai acontecer quando subirmos, mas se Dom
encostar um dedo em mim, ele me perderá para sempre, eu o
odiarei profundamente até meu último dia de vida.
Ele entra no elevador e o coloca para subir, fico rígida ao seu
lado, me preparando emocionalmente para qualquer coisa que
possa acontecer.
No segundo que pisamos no nosso andar, começo a ficar
nervosa, estávamos indo tão bem desde que tivemos o último atrito
na casa do seu pai. Não queria enfrentar mais uma briga entre nós.
— Oi, meu amor. — Cumprimento Mercury quando entramos
no apartamento. — Sentiu falta da mamãe? — Ele pula feliz e lambe
meu rosto.
— É um puxa saco mesmo. — Dom rosna ao passar por nós
e descartar a carteira, o celular e as chaves na mesa de centro.
— Ele só gosta de mim.
Observo ele se livrar dos sapatos, meias e blusa.
Caminhando sem pressa vai para o bar e começa a preparar dois
drinques.
Deixo Mercury para trás e fico o observando pegar várias
garrafas e ir medindo as bebidas para colocar dentro da
coqueteleira. Com uma segurança extremamente atraente ele
remexe tudo parecendo um experiente bartender.
Em seguida deposita tudo em um copo bonito, repleto de
gelo.
— Tome. — Empurra o copo pelo balcão do bar. — Beba um
pouco, vai tirar esse bico da sua boca.
— Não estou de bico — contesto.
— Então eu estou cego. — Dom experimenta a sua bebida
enquanto me observa.
Pego meu copo e bebo um pouco, o sabor denso e
adocicado explode na minha boca. Uau! Isso está muito bom.
— Que drinque é esse?
— Algo que gosto de fazer, eu mesmo criei.
— É sério?
— Aprendi alguns truques de drinques e comida ao longo da
vida. — Enrijeço o corpo.
— Certamente a parte da comida foi sua amiga que te
ensinou.
— Foi. — Confirma com tranquilidade ao dar a volta pelo
balcão e parar na minha frente. — Ela me ensinou a me virar se for
necessário.
— Humm... — Começo a me afastar, mas ele segura meu
braço.
— Por que está com ciúmes dela?
— Não estou com ciúme. — Nego rapidamente e fico irritada
quando ele sorri. — Está rindo de mim? — pergunto já sentindo meu
sangue ferver.
— Estou rindo por achar que Madelaine possa te oferecer
algum risco.
— Nenhuma mulher é risco para mim, Dom — digo ao erguer
o nariz e observo ele enrugar as sobrancelhas confuso. — Sou a
sua esposa até que a morte nos separe, então ela não pode te tirar
de fato de mim. Só que mesmo sabendo dessa verdade, eu tenho
plena consciência que você não precisa ser fiel, por ser homem
pode ter quantas mulheres quiser. É como funciona nosso sistema e
eu não posso mudar absolutamente nada.
— Por acaso acha que Madelaine é minha amante? —
Enruga as sobrancelhas. — Já te disse que só quero você.
— Disse sim, mas falou com relação a uma prostituta, não
com uma mulher como Madelaine. — Ele solta uma risada amarga.
— Não fodo mulheres por muito tempo, Giovanna, eu não me
relaciono, gosto apenas de sexo com minhas parceiras e sou claro
nisso. Madelaine assim como as outras mulheres que passaram na
minha vida acharam que podiam me conquistar, mas eu nunca me
interessaria em ter mais que três noites com qualquer uma delas.
O meu corpo estremece com o ciúme que se espalha por
meu sistema.
— Não quero saber da sua lista de mulheres — esbravejo e
puxo o meu braço, mas ele o aperta com mais força, fazendo um
movimento firme que me leva contra seu peito.
— Pare de gritar comigo — sua voz fria deveria me assustar,
mas eu estou explodindo de raiva e agora já não sou mais capaz de
me conter. — Lembra que ficou magoada comigo quando não gostei
de Amaro te tocando? — Fico estática. — Você me disse que eu
exagerei, está fazendo o mesmo.
Não consigo dizer nada, estou me sentindo uma tola por
perder o controle.
— Amaro estava evitando que eu me machucasse, se ele me
tocasse com tanta intimidade e eu estivesse gostando seria outro
caso. Você por acaso gostaria de ver algum homem que eu pudesse
ter trepado com as mãos em mim? — Suas narinas se expandem
quando ele inspira fundo.
— Eu mataria o bastardo. — Abro um sorriso irônico.
— Devo matar sua amiga? — Dom aperta os lábios irritado.
— Entendi, Gio. — Finalmente ele concorda comigo. — Mas
se eu te trair, jamais farei isso na sua frente. Você é minha mulher,
eu te respeito mais do que tudo e jamais te rebaixaria na presença
de outras pessoas. — Sinto meus olhos ficarem marejados, ele está
implicitamente querendo dizer que sempre deixará suas amantes na
escuridão. — Aprenda uma coisa sobre mim. — Ele descarta sua
própria bebida e faz o mesmo com a minha. — Desde meus treze
anos, quando fui obrigado a trepar com a primeira puta que meu pai
me ofereceu, eu não sou exclusivo de uma mulher. A única mulher
que já fodeu comigo por basicamente três meses seguidamente é
você e não vai haver outra, porque eu não gosto de intimidade,
muito menos quero que acreditem que possam me conquistar.
Ele segura a minha cabeça e me beija. O seu toque é brusco
e a sua boca devora a minha com ferocidade. Eu estou fervendo de
raiva, quero empurrá-lo, gritar com ele ainda mais, só que meu
corpo está indo para o lado contrário, já se rendendo a atração
avassaladora que sinto pelo meu frio marido.
— Só se eu fosse louco para querer Madelaine quando te
tenho comigo — diz quando interrompe o beijo.
— Ela é linda e certamente é mais experiente.
— Vou ter que discordar um pouco. — Ele corre o polegar
pelo meu lábio inferior. — Ela não é você. — O meu coração
acelera, ele está me olhando de um jeito tão intenso,
completamente diferente do que estou acostumada.
Seguro o seu rosto e o beijo, não quero pensar que ele possa
vir a ter outras, vou me apegar ao presente e tudo o que ele me faz
sentir quando estamos juntos. Domênico está sendo muito mais que
esperei, não vou exigir demais, ele poderia ser como o pai e
transformar a minha vida em um verdadeiro inferno.
A cena de ciúmes da Gio me deixou louco, eu gosto de saber
que ela é possessiva e não quer outras mulheres perto de mim.
Também não gosto de homens ao seu redor, na verdade, não gosto
sequer que eles a olhem. Quero matar cada filho da puta que estica
os olhos na sua direção, por isso entendo a raiva que sentiu,
quando viu Madelaine me tocar.
O seu toque foi muito breve, infelizmente Giovanna pegou o
momento antes que eu pudesse afastá-la. Meu caso com Madelaine
já tem tempo e, ainda que eu não fosse casado, não iria querer ficar
com ela novamente.
Olho para cima e vejo minha mulher com a respiração
acelerada. Linda pra caralho depois de um orgasmo.
Beijo sua barriga e me levanto, hoje quero fazer algo que
venho desejando desde que nos casamos. Entro no closet e abro a
gaveta onde ficam as minhas gravatas. Pego uma delas e retorno
ao quarto, encontro Gio ainda na mesma posição, com os olhos
fechados e a respiração descompensada,
Eu espero que ela goste do que tenho em mente.
— Coloque as mãos para o alto, Gio — ordeno ao subir na
cama.
— O quê? — ela abre os olhos e me encara surpresa.
— Faça o que pedi. — Seus olhos vão para a gravata que
enrolei na mão.
Aguardo ansioso para o que vai fazer, sei que ela tinha medo
de ser amarrada quando nos casamos, mas agora que já está
acostumada com o sexo, espero que esse medo tenha se
extinguido.
Respiro aliviado quando a vejo erguendo os braços. Minha
linda esposa nunca me decepciona, ela sempre se entrega quando
o assunto é sexo, talvez seja por isso que eu a deseje tanto.
Apoio os joelhos em cada lado do seu corpo e rodeio a
gravata em seus pulsos. Gio encara meu rosto com os olhos
brilhando de excitação. O meu pau pulsa com o desejo de
mergulhar no seu interior, não vejo a hora de poder fodê-la,
enquanto a tenho completamente sob meu domínio.
— É bom saber que perdeu o medo de ser amarrada — digo
quando prendo a gravata na cabeceira da cama.
— Hoje eu sei que não vai me machucar. — Meus olhos vão
até os dela e sinto uma emoção estranha me invadir por saber o
quanto confia em mim.
— Jamais te machucaria. — Corro a mão entre seus seios. —
Tudo o que eu quero é sempre te mostrar um novo mundo de
prazer.
Capturo um seio na boca e o sugo com força, arrancando um
gemido doloroso dela. Eu me perco no seu corpo, experimentando
cada pedaço de pele exposta, mesmo estando desesperado para
me encaixar entre suas pernas.
Por diversas vezes ela implora que eu pare de torturá-la, mas
eu ignoro todos seus pedidos e a levo para um nível de excitação
extremo. Quando eu mesmo já não aguento mais de tanto tesão,
abro suas pernas e exibo a sua boceta molhada, perfeitamente
preparada para me receber.
Finco os joelhos contra o colchão e passo os braços por
baixo das suas pernas, apoiando as mãos em suas coxas. Puxo um
pouco seu corpo para baixo e centralizo a ereção na sua entrada.
Quando eu começo a mergulhar no seu calor gememos
juntos, confesso que exagerei no tempo das preliminares, nós
estamos sedentos pelo nosso orgasmo, sei que tanto eu quanto ela
não iremos durar muito.
— É uma visão fenomenal vê-la presa na minha cama — digo
enquanto me movimento com vigor.
Ela não responde nada, apenas geme enquanto eu a fodo
com a intensidade que ambos gostamos. Olho para seus seios
chacoalhando e sinto vontade de ter um deles na minha boca, mas
na posição que estou não posso ter esse prazer.
Giovanna geme mais alto quando mudo a posição e
arreganho suas pernas, em seguida toco o seu clitóris. Ela puxa as
mãos, tentando se soltar, quando seu objetivo não é bem-sucedido
pragueja me fazendo sorrir.
Estou quase no limite, o que me faz desacelerar um pouco só
para provocá-la. Ela me olha com raiva, Giovanna quando está na
cama é ainda mais temperamental, a mulher não sossega enquanto
não goza, adoro esse seu lado sacana.
— Calma, mio bellissimo angelo, não fique tão irritada.
A minha mão vai até o seu seio e o aperto, fazendo-a gemer
ao fechar os olhos.
— Dom... — ela sussurra o meu nome.
— Preparada para uma trepada bem bruta?
— Você sabe que estou — diz quase sem fôlego.
— Gosto dessa sua disposição esposa. — Mantenho suas
pernas abertas e começo a fodê-la na mesma proporção do tesão
que sinto sempre que estamos juntos.
Estar dentro dela é como ter acesso VIP ao paraíso, nunca
vou cansar de afirmar o quanto minha mulher é perfeita na cama,
sendo um pouco mais sincero, ela é perfeita em qualquer ocasião.
Giovanna é o mais valioso presente que já pude receber nesta
minha vida fodida.
Mantenho seu corpo na mesma posição enquanto a fodo sem
piedade, ouvir seus gemidos é como música para meus ouvidos.
O meu corpo superaquece e eu fico tenso com a iminente
chegada do meu orgasmo, não quero gozar agora, preciso de um
pouco mais de tempo para aproveitar cada segundo desse
momento.
— Dio, Dom, eu... — ela fala com a voz entrecortada. —
Ohhh! — O seu orgasmo vem em uma avalanche intensa, fazendo
com que cada músculo do seu corpo se retraia.
Perco o controle quando sua boceta ordenha com força o
meu pau, mando o meu controle para puta que pariu e intensifico
minhas investidas, outro dia eu tento ser mais controlado, hoje não
tenho disposição para me segurar.
Deixo o orgasmo cair sobre mim e solto um gemido profundo
quando todo o meu corpo estremece de prazer.
Caralho! Isso foi espetacular, não tenho palavras para
descrever o quanto Gio me satisfaz. Ela é incrível e o melhor... é só
minha.

Entro na sala de reuniões apressado, saí de casa atrasado,


porque simplesmente não consigo deixar de tocar a minha mulher.
Porra! Giovanna está acabando comigo, eu não paro de
pensar nela e já avançamos para três meses de casados. Eu
deveria no mínimo ter saciado o tesão que ela me desperta.
Encontro todos me esperando e, pelo olhar irritado que Paolo
me lança, ele não está contente com a hora que cheguei.
— Desculpe o atraso, senhores — digo ao bater à porta a
minhas costas.
— Vou tolerar sua falta de compromisso com o horário
porque sei que esteve em San Marino com minha irmã, certamente
passaram o dia pela rua e está cansado, mas se não fosse isso... —
Ele ergue uma sobrancelha deixando em aberto que não gostou
nada do meu atraso.
Se ele soubesse que me atrasei porque estava trepando com
Gio no banheiro, não estaria tão tranquilo.
— Bem... como todos estão aqui, vamos começar logo o
nosso plano para resgatar nossas drogas, Rosanna avisou que hoje
será o dia ideal para a operação, o chefe da segurança está do
nosso lado e irá facilitar nossa entrada.
— Estamos esperando “o grande arquiteto da máfia” dizer
seu plano. — Tento não revirar os olhos com a implicância do Paolo.
Ele já é azedo, mas nas segundas-feiras, fica ainda pior. Por
isso decido ignorá-lo e começo a expor o que planejei.
— Tudo é muito simples — digo aos homens que
participarão do resgate as drogas. — Nossa entrada já está
liberada, precisaremos apenas levar toda a droga falsa e substituir
pela verdadeira. Teremos que pegar oitenta porcento do que é
nosso, o restante deixaremos para despistar caso haja alguma
verificação, antes da polícia incinerar tudo.
— Não podemos pegar noventa porcento? — Paolo pergunta.
— Você prefere perder tudo?
— Não — responde sem esconder sua infelicidade.
— Stefano, você juntamente comigo vai liderar nossos
homens, tente fazer um serviço limpo, não podemos errar.
— Esse serviço é moleza. — Realmente para ele não é só
fácil, como entediante, o que gosta mesmo de fazer é eliminar
qualquer inimigo.
— Se seguirem minhas ordens, não teremos problemas. Hoje
à noite vamos nos encontrar depois da meia-noite.
— Eu vou também. — Paolo se pronuncia.
— Nem pensar, não pode se envolver nisso, fique apenas na
retaguarda, se precisarmos de algo, você assume as rédeas.
— Na verdade, você também não deveria ir, Dom — Stefano
comenta. — Não tem nada demais para fazer, podemos dar conta
de tudo, é desnecessário qualquer um dos dois estarem presentes.
— Quero estar com vocês, é mais seguro — digo convicto.
— Se eu não posso ir você também não vai. — Como sempre
Paolo é implicante.
— Por que não ficam do lado de fora? — Franco sugestiona
ao encerrar uma ligação e se envolver na nossa conversa. —
Quanto menos a liderança envolvida na operação é melhor,
podemos dar apoio aos nossos homens, Stefano está acostumado a
missões mais arriscadas, ele dá conta sem a chefia do clã ter que ir
para a linha de frente.
— Obrigado por sua sensatez, Franco. — Stefano bate no
seu ombro.
— Vão os dois se foderem. — Paolo não esconde seu
descontentamento. — Eu quero um pouco de adrenalina, porra!
Entendo meu amigo, também quero, depois que Carmelo
morreu, nada de interessante aconteceu.
— Calma... — Corro a mão pelo rosto. — Então, fico com
Paolo aguardando tudo terminar.
— Você não manda em mim. — Ele me encara com raiva.
— Paolo, não complica, eu já tive uma dor de cabeça fodida
para conseguir nossas drogas.
— Ainda não me contou o que Rosanna pediu. — Desde o
momento que avisei que teríamos as nossas drogas de volta, ele
não para de me perguntar qual foi o pagamento.
Mesmo não sendo explícito, sei que ele está achando que
trepei com ela para conseguir nossa droga.
— Não fodi com ela se é o que está querendo insinuar, não
gosto de mulheres comprometidas, fora que eu tenho a minha, sou
recém-casado, você sabe o que isso significa.
Stefano coça a testa já esperando uma briga, eu também
espero, pela maneira que Paolo está me encarando, ele vai partir
para cima de mim.
— Então ficou acertado que Stefano lidera todos os homens
e a reunião está encerrada. — Franco tenta evitar a briga. — Podem
ir rapazes.
— Quem encerra a porra da reunião sou eu. — Paolo encara
desgostosamente seu subchefe. — Acabamos! Estejam no nosso
galpão do subúrbio na hora marcada, todos sairemos de lá.
Rapidamente a sala fica vazia e restamos apenas nós dois.
— Não me importo com sua vida, mas nunca magoe minha
irmã por causa das suas vadias. Sei que fodeu com Rosanna, eu
não nasci ontem.
— Se tivesse feito isso assumiria. — Nos encaramos
intensamente, ele sabe bem que eu assumo todas as minhas ações.
— Vai ser fiel a Gio? — pergunta com as sobrancelhas
enrugadas.
— Você não é fiel a Masha? Por que eu não posso ser à sua
irmã? — Ele arregala os olhos.
— Está apaixonado por Giovanna? — Empertigo o corpo.
— Você ama Masha, por isso é fiel? — Paolo fica sério.
Todo mundo sabe que ele ama incondicionalmente a esposa,
mas nunca assume.
— Vai trabalhar, Domênico — diz ao pegar o seu terno. —
Tenho algumas reuniões hoje, devo aparecer aqui só à tarde.
— Bom trabalho — respondo ironicamente e ele faz uma
careta.
Começo a entrar em contato com o homem de Baltez na
Europa para uma nova entrega de drogas, em seguida falo com
Baruc, meu contato em Israel, pedindo algumas armas.
Em determinado momento meu celular indica uma nova
mensagem e, quando olho quem enviou me recosto na cadeira e
sorrio.
Giovanna me mandou uma foto dela com Leonardo e Masha,
avisando que eles vão almoçar na nossa casa, porque Leo quer
paquerar Amaro.
Esse merda não dá sossego, não sei muito sobre a vida
íntima do Amaro, mas já o vi com muitas mulheres, então Leonardo
vai perder tempo, porque não vai conseguir sucesso com meu
segurança.
Envio uma mensagem dizendo que estou preocupado por
eles estarem juntos. Imediatamente Gio responde que todos estão
comportados e que Caterina chegou para passar a tarde com ela e
Masha.
Sorrio como um idiota, não sei que merda ela faz comigo,
mas quando estou sob a sua vibe, tudo parece mais leve.
Essa mulher me detona, eu sou um verdadeiro merda perto
dela.
O dia passa em uma velocidade alucinante, quando chego
em casa, parece que faz poucas horas que saí para trabalhar.
Encontro Gio na sala, com o notebook ligado, concentrada
em algo que lê.
— Estudando? — pergunto ao revelar minha presença.
— Que susto! — Ela me encara — Estou lendo sobre os
filósofos gregos, têm muita coisa interessante.
— Humm — Inclino-me sobre ela e a beijo. — Continue sua
pesquisa, vou resolver uns assuntos e jantar, hoje terei que sair
mais tarde.
— Como assim sair? — Ela me olha intrigada.
— Preciso resolver um problema do clã, tivemos nossa carga
de drogas apreendida, vamos recuperar esta noite. — Giovanna me
fita apreensiva.
— O quanto isso é arriscado? — Sinto algo intenso remexer
dentro de mim, gosto de saber que ela se importa com a minha
segurança.
— Fique tranquila, eu e o seu irmão ficaremos apenas na
retaguarda, Stefano assumirá tudo.
— Que bom. — Gio descarta o notebook. — Ainda não tomei
banho, podemos fazer isso juntos. — Olho para ela maliciosamente.
— Podemos é? — A safada sorri e se aproxima de mim.
— Economizamos água e salvamos a natureza.
— Acho perfeito. — Rodeio os braços por seu corpo e
começo a carregá-la para o meu banheiro.
— Por favor, só tome cuidado. — Gio cruza os braços ao
redor do meu pescoço ao me abraçar.
— Não se preocupe com nada, em pouco tempo estarei em
casa. — Dou um longo beijo nela, me sentindo infeliz por ter que
deixá-la sozinha e preocupada. — Vou deixar o sistema de
segurança ativado ao máximo, Carlo está em alerta, se algo
acontecer ligue pra ele.
— Comigo nada vai acontecer, mas já não posso dizer o
mesmo sobre você.
— Sei me cuidar, mio bellissimo angelo — digo ao roçar os
lábios nos seus. — Vá dormir com Mercury, não tenho hora para
chegar.
— Não vou conseguir dormir até que eu veja que esteja bem.
— Pare de se preocupar. — Acaricio seu rosto. — Beba um
vinho, vai te deixar relaxada.
— Vou fazer isso.
Mesmo sem querer deixá-la sozinha eu sigo para minha
missão. Dirijo até o galpão onde combinamos de nos encontrar e,
Paolo já está presente ao lado de Franco e Stefano.
— Boa noite, senhores! — digo ao me aproximar.
— Demorou. — Paolo reclama.
— Estou no horário. — Ele solta uma densa fumaça do
cigarro.
— Podia ter chegado antes. — Ignoro-o e vou conversar com
Stefano para repassar cada passo do meu plano.
Quando chega a hora de sairmos estou com a adrenalina à
flor da pele. Seguimos juntos até o prédio onde nossa droga está
armazenada, sigo para o carro do Paolo e acompanho remotamente
ao seu lado nossos homens se movimentarem.
Tudo corre como o programado e não demora muito Stefano
surge com nossos homens carregando a mercadoria. Seguimos
para o galpão felizes pelo sucesso da operação.
No entanto, a situação muda quando começamos a encontrar
pacotes diferentes do que costumamos usar. Um de nossos homens
experimenta a droga e constata que não é o nosso carregamento.
— Não é o que compramos, trocaram nossas drogas.
— Puta que pariu! — Paolo esbraveja. — Que merda
aconteceu?
— Chegaram antes de nós — digo ao jogar um dos pacotes
no lixo. — Você sabe bem quem nos roubou. — Nossos olhos se
encontram.
— Vou abrir as portas do inferno em cima desses malditos
russos, ninguém rouba Paolo Torcasio e fica impune.
Mantenho minha mente fria, preciso controlar a fera antes
que ele faça merda e inicie uma guerra gigante com a Bratva.
— Separem todos os pacotes com a nossa droga, o resto
incinere, não podemos vender algo com péssima qualidade —
ordeno. — Vem comigo. — Seguro o braço do Paolo e o puxo para
um canto.
— Não me venha com seus discursinhos, eu vou botar pra
foder em cima desses malditos.
— Precisamos esfriar a cabeça primeiro.
— Vai tomar no cu, Domênico! — esbraveja. — Roubaram a
porra das minhas drogas, eu não posso ficar de braços cruzados.
— Sei disso, mas também não dá para abrirmos uma guerra
com os russos, não vai ser bom para os negócios.
— Eles que pensassem antes de pegar o que é meu, eu vou
atacar esses desgraçados e foda-se o resto.
Corro a mão pelo rosto quando ele se afasta e vai embora.
Paolo vai nos meter em uma confusão, que pode nos expor demais
e trazer sérios problemas.
Amanhã vou ter que encontrar um jeito de pará-lo, por hoje
só preciso da minha mulher e de um pouco de sono.

— Paolo está certo, precisamos retalhar, aceitar esse roubo é


uma demonstração de fraqueza — Mattia diz irritado.
— Devemos atacar um dos seus depósitos, será um recado
bem dado para aqueles canalhas. — Meu pai incentiva a ideia de
retaliação de Paolo.
— Uma guerra neste momento não será algo bom para nós,
precisamos agir com cautela sem estarmos envolvidos pelo calor da
raiva. — Tento trazer um pouco de racionalidade para todos.
— Eu criei um bosta. — Mantenho o rosto inexpressivo
quando meu pai começa a me atacar. — Se já não bastasse ser
controlado pela esposa, ainda é um covarde. Eu devia ter sido mais
duro com você, talvez assim soubesse agir como um homem de
verdade.
— Usar o cérebro não é ser covarde. — Ainda estou fervendo
de ódio dele por conta do que disse à Gio, se dependesse de mim
nunca mais olharia para ele. — Todos sabem como Paolo é
passional, como conselheiros deveriam pensar nas consequências
que um ataque direto pode provocar à Famiglia.
— Domênico está certo. — Franco me apoia. — Os russos
demoraram a vingar a morte de Vladislav, este roubo foi uma
maneira inteligente que eles conseguiram de revidar o assassinato
do seu líder.
— Quem apoia um ataque? — Paolo que até então estava
quieto se manifesta.
Giorgio, Franco e eu somos contra, já o restante do Conselho
segue a ideia de Paolo.
Inferno! Esses idiotas não conseguem pensar direito.
— Perfeito, vamos reunir nossos homens e faremos hoje à
noite uma ação contra esses filhos da puta. Reunião encerrada,
quando tudo acabar vocês serão avisados.
— Até o merda do seu amigo tem mais culhão que você.
— Por que não vai se foder? — Perco o controle com meu
pai. — A sua opinião sobre o que faço ou falo não me importa.
— Fale baixo comigo. — Ele vem na minha direção e eu não
recuo, estou no meu limite.
— Ei! Calma. — Franco espalma a mão contra o peito do
meu pai. — Você está descontrolado, Francesco, por que está
atacando Dom assim? — Meu pai não tira os olhos de mim.
— Chega! — Paolo se aproxima. — Vá encher a paciência de
outra pessoa, Francesco, aqui não quero você com suas ofensas.
Saia antes que eu perca a cabeça, estou com um humor do cão
para te aturar criticando seu filho.
Espero que discuta com Paolo, mas ele me surpreende ao se
calar e ir embora.
— Hoje ele está pior do que o usual — Franco comenta ao
vê-lo bater a porta.
— Ele está com raiva de mim, por isso tanta agressividade.
— Por acaso Gio está envolvida nessa história?
— Sim. — Não vou negar a verdade a Paolo.
— Acho que chegou a hora de Francesco sofrer um... — Ele
faz uma pausa e acende o cigarro. — Acidente — diz ao expirar a
fumaça. — Estou de saco cheio dele.
— Cuidado, Paolo, não coloque sua cabeça a prêmio por
causa de Francesco. — Franco o alerta.
— Sei o que faço, fique tranquilo.
— Em se tratando de você não tem como termos
tranquilidade. — Sorrio, porque Franco está coberto de razão.
— Qual a piada, Domênico? — Paolo me olha feio.
— Nada. — Espio o relógio. — Vou para o escritório no
centro.
— Não vai me ajudar com o nosso plano para à noite?
— Fui contra, lembra? — Ergo uma sobrancelha. — Franco é
seu subchefe, ele te ajuda, pode chamar Stefano também.
— Vai ficar de birra?
— Claro que não, vou trabalhar, nos falamos depois, boa
sorte na sua ofensiva.
Deixo-o bufando igual um touro bravo, não vou me aborrecer
mais ainda, ele que faça o que acha certo e aguente as
consequências.

O ataque aos russos acabou bem-sucedido, todos os


membros do clã ficaram satisfeitos e Paolo teve a sua vingança, no
entanto, eu tenho a sensação de que teremos dor de cabeça.
Só espero que o estrago não seja grande quando a Bratva se
vingar de nós.
Tentei descobrir com a ajuda da Rosanna como os russos
nos roubaram, mas não conseguimos nada, pelo jeito eles também
possuem um contato forte dentro da polícia, pois até parte das
filmagens das câmeras de segurança sumiram.
Eles bolaram um bom plano e nos foderam bonito, se eu não
estivesse tão preocupado com o contra-ataque deles, certamente
estaria feliz por ter destruído um dos seus laboratórios de drogas.
Paolo passou a última semana me evitando, ele está com
raiva porque não o apoiei na sua vingança, parece até uma criança
mimada. Para lidar com ele tenho que ter muita paciência, porque
não é fácil.
Coço a barba enquanto minha mente dá um giro deixando de
lado os problemas no trabalho e vai para a minha mulher. Ela já está
nos trâmites finais para receber sua habilitação, preciso providenciar
logo um carro para ela, vou falar com um dos membros da Famiglia
que possui várias agências para poder comprar seu veículo.
— Dom posso te pedir uma coisa? — Ergo uma sobrancelha
quando Gio aparece na sala de mãos dada com Fiorella.
Eu convidei minha cunhada para passar o final de semana
conosco, ela precisa se distrair um pouco e na casa da mãe fica
complicado, já que a mulher parece um cão de guarda atrás da filha.
— E o que seria?
— Você nos leva ao La Fontaine? Fiorella queria dançar um
pouco e eu também.
— Acho que as duas querem foder meu sábado, isso sim.
— Não seja exagerado, está parecendo até Paolo. — Fiorella
retorce o nariz em desagrado.
— Deus me livre parecer com seu irmão, ele é insuportável.
— Ambas riem. — Tudo bem, eu levo sim.
— E podemos chamar Leo? — Gio me olha empolgada.
— Não abuse da sorte, Giovanna.
— Pare de ser implicante, Leo vai animar a nossa noite.
— Ele vai é encher meu ouvido com suas cantadas baratas.
— Tadinho, Dom. — Ela solta uma risadinha fofa. — Leo é
apaixonado por você.
— E pelo resto do clã, o fogo dele é demais. — Reviro os
olhos. — Chame aquele intrometido, mas mantenha a boca dele
fechada.
— Deixa comigo.
As duas correm na direção do quarto da Gio, realmente ela
me domina como o meu pai falou, faço absolutamente tudo o que
minha esposa pede.
Essa mulher ainda vai ser a minha ruína.
Sou um homem que não toma atitudes por impulso, mas
desde que ganhei uma esposa, eu ando esquecendo algumas das
minhas convicções.
Ergo meu copo de uísque enquanto observo Gio rente à
grade do mezanino seguindo a batida da música ao falar no ouvido
da sua irmã.
Ela está com um vestido justo preto, ele acaba um pouco
antes do meio das suas coxas e se molda ao seu corpo de maneira
sedutora. Impossível não a notar, Giovanna é reluzente demais para
passar despercebida.
— Admirando sua esposa? — Leo pergunta ao parar ao meu
lado.
— Apenas me deixe em paz, já te deixei vir junto, com tudo
liberado.
— Não esperava menos de você, bonitão. — Ele ergue sua
garrafa de cerveja. — Você fica um tesão com essa barba, minha
amiga é uma mulher de sorte.
— Leonardo, para de cantadas baratas. — O desgraçado
sorri.
— Difícil quando você é meu crush, sabe disso.
— Eu não sei de nada. — Evito dar asas para sua loucura.
— Posso te fazer uma pergunta? — Sinto que não vou gostar
disso.
— Fale. — Leo sorri feliz.
— O seu segurança, aquele que cuida da Gio, existe alguma
possibilidade de ser gay? — Como Leonardo é cansativo.
— Não me meto na sexualidade dos meus prestadores de
serviços, se Amaro for gay, ele mantém isso para si. Na máfia os
homossexuais não são bem-vistos, você sabe disso. — Ele faz uma
careta.
— Seu clã é nojento.
— Não posso mudar as regras, infelizmente.
— Acho seu segurança um tesão, também quero um mafioso
para chamar de meu. — Sorrio, Leonardo tem um ótimo humor.
— Invista nele e descubra se é gay, na minha casa Amaro
não irá te matar se não gostar da sua investida, mas não garanto
quando estiver na rua.
— Odeio essas ameaças de vocês. — Ele encerra a sua
cerveja. — Posso levar as meninas até a pista no andar de baixo
para dançar?
— Não demore.
— Eu não vou, bonitão.
Leonardo flerta com o perigo de uma maneira tão desenvolta
que me diverte.
Ele leva as meninas para a pista de dança, enquanto eu fico
na área VIP conversando com alguns conhecidos. Tenho vários
homens em alerta por toda a casa noturna, o que me deixa mais
tranquilo com relação a Gio e sua irmã.
Aos poucos me envolvo nas conversas e faço alguns bons
contatos. Em certo momento me aproximo da grade do mezanino e
olho para a pista.
Meus olhos varrem o local, até que identifico Gio dançando
com a irmã. Elas sorriem felizes, Fiorella então, parece flutuar. Eu
não gosto de imaginar tudo o que passou nas mãos daquele
stronzo, mas me sinto feliz em saber que está livre do seu calvário.
Percebo alguns homens observando as duas, isso me faz
decidir entrar em cena e mostrar ao menos que Giovanna não está
à disposição.
Desço as escadas rapidamente e avanço pela massa que
dança animada. Meus olhos avistam Gio se remexendo feliz, sem
perceber o quanto chama atenção.
Um homem se aproxima dela, mas antes que a toque eu o
puxo para trás com violência. Ele me encara, mas notando meu
olhar assassino se afasta.
Sigo até minha mulher e paro nas suas costas, apoio as
mãos no seu quadril e a sinto enrijecer. Gio olha para cima nervosa,
mas quando nota que sou eu, relaxa.
Não sou muito de dançar, reservo esse momento no geral às
festas que sou obrigado a frequentar, mas hoje quero me divertir
com minha esposa.
— Está chamando atenção demais — digo rente ao seu
ouvido. — Tive que vir mostrar que tem dono.
— Não acha melhor me colocar uma coleira? — Ela me
provoca.
— Eu só preciso estar por perto para afastar os insetos. —
Subo a mão até quase tocar seu seio. — Você está muito gostosa,
eu queria te foder aqui, na frente de todos esses homens que te
querem. — Ela joga o corpo contra o meu.
— Para, Dom. — Seu pedido me deixa duro, pois sei o
quanto ela já está excitada.
— Está molhada? — pergunto já perdendo o controle. — Não
minta — ordeno.
— Você sabe que estou.
Caralho! Ela consegue acabar comigo com todo esse fogo.
Esqueço que temos Leonardo e Fiorella por perto e apenas
tiro Gio da pista. Sigo com ela por uma entrada lateral que leva ao
elevador privado onde fica a área restrita do espaço de negócios da
máfia.
Entro no escritório e tranco a porta, pego Gio pela cintura
carregando-a até à minha mesa. Quando a posiciono sobre a
superfície de madeira abro suas pernas e me infiltro entre elas.
— É muito foda estar ao seu lado e não conseguir parar de te
desejar. — Seguro a sua cabeça e encaro seus olhos. — Você é
uma tentação que não estou disposto a resistir — Giovanna ofega.
— Eu te quero mais que tudo.
Puxo seu vestido até que ele se embola em sua cintura e
afasto sua calcinha. Não posso mais esperar para possuí-la,
Giovanna me aprisionou completamente, eu sou seu refém.
Duas semanas depois

Coloco meus óculos escuros quando saio do campus, o


outono chegou amenizando a temperatura, apesar de estar fazendo
um sol opaco, o tempo esfriou bastante.
Cruzo os braços a frente do corpo e caminho até onde Amaro
me espera. Ele está bem bonitão com um terno azul e gravata de
seda preta, se Leo estivesse aqui, certamente babaria pelo meu
segurança.
— Vamos para a casa do seu irmão mesmo? — pergunta ao
abrir a porta do carro.
— Sim — confirmo ao entrar.
Jogo meu caderno no banco de trás e coloco o cinto de
segurança, enquanto espero Amaro se sentar ao meu lado.
— Eu e Masha decidimos cozinhar juntas, vamos preparar
um jantar especial para os nossos maridos.
— Eles vão gostar da surpresa.
— Assim eu espero.
Pego meu celular e vejo que Chiara me enviou uma foto da
sua barriga. Acho que ela já está com quatro meses, não sei ao
certo, minha irmã só fala nas semanas de gravidez e isso confunde
a minha cabeça.
Conversamos um pouco enquanto Amaro dirige
tranquilamente. Quando guardo meu celular estamos entrando na
rua da casa do meu irmão.
— Amaro, eu não vou embora até Dom vir me buscar, se
quiser pode ir embora, lá no Paolo têm segurança de sobra, não tem
perigo.
— Prefiro ficar por perto, o chefe não gosta que eu a deixe
sozinha. — Ele para na frente do portão e espera que o segurança
abra.
— Que bobagem, que tipo de risco posso correr aqui? — digo
ao destravar o cinto e me virar para pegar meu caderno. — Eu vou
só... — Não tenho tempo de terminar de falar, pois uma sequência
assustadora de tiros começa a atingir a lataria do carro.
Tudo acontece em uma velocidade alucinante, em um
momento estamos sendo alvejados intensamente, no outro Amaro
acelera e bate no ferro do portão ao forçar a nossa entrada na casa
do meu irmão.
Tento me segurar, mas acabo sendo jogada na direção do
painel do carro. Coloco o braço à frente, buscando proteger a minha
cabeça, no entanto, a manobra que Amaro faz joga-me contra o
vidro com muita força.
A minha vista escurece, uma infinidade de pontos brilhantes
pisca à minha frente. Imediatamente sinto um latejar na mão
esquerda, acho que quebrei o dedo, está doendo demais.
— Você está bem? — Amaro apoia a mão na minha cabeça.
— Por que tirou o cinto, Giovanna? — questiona irritado.
— Eu não sei. — Com a mão que não está ferida toco a
minha testa e sinto algo pegajoso, olho para meus dedos e os vejo
coberto de sangue.
— Fique quieta, vou te pegar, sua cabeça está ferida.
Começo a tremer quando Amaro sai do carro, sofremos um
atentado e, talvez tudo poderia ser pior se não estivéssemos
entrado na casa do meu irmão.
— Venha, eu vou te levar para dentro da casa, em seguida
chamarei nosso médico.
Ele me segura no colo, apoio meus braços nos seus ombros
e gemo com a dor que se alastra pelo meu dedo.
— Acho que quebrei o dedo — digo ao descansar a cabeça
contra seu peito, ainda me sinto tonta.
— Tenta deixar a mão imóvel.
— Ela está bem? — Um dos seguranças pergunta.
— Ainda não sei, alguém foi atrás dos merdas que nos
atacou?
— Eles estavam de moto, não dá para persegui-los de carro.
Amaro não diz mais nada, apenas entra na casa comigo nos
braços.
— O que está acontecendo? — Ouço a voz aflita da Masha
ao descer as escadas. — Estava no quarto com Caterina quando
ouvi os tiros.
— Certamente foram os russos que nos atacaram. — Com
cuidado Amaro me coloca no sofá. — Olhe para mim. — Pede ao
segurar meu rosto. — Não durma, o.k.?
— Estou tonta. — Pisco os olhos e tento focar seu rosto.
— Meu Deus, o que aconteceu com Giovanna? — Mirta entra
na sala aflita.
— Traga um pouco de gelo e o kit de primeiros socorros,
Mirta, precisamos cuidar da testa dela — Amaro ordena.
— Certo, certo, vou providenciar tudo.
— Masha ligue para o médico, Gio precisa de atendimento.
— Leonel segure Caterina.
— Eu? — ele questiona temeroso.
— Não, o Papai Noel — ela resmunga.
— Ei. — Amaro encara meu rosto. — Por favor não durma, o
médico não vai demorar. — Tento me concentrar nele. — Se esforce
para ficar acordada. — Ele pega o celular. — Chefe, temos um
problema.
Tombo o corpo para frente sentindo minha mente girar, mas
Amaro me ampara.
— Porra, Giovanna! — ele rosna. — Não durma.
Quero obedecê-lo, mas tudo gira, estou me sentindo
completamente perturbada e com muito sono. Faço um esforço
imenso para seguir as ordens dele, mas eu não consigo e apago.

— E o que eu posso fazer? Não vou me meter nesse


assunto, seu neto é bem grandinho, sabe o que faz. — Paolo entra
rosnando ao lado de Franco.
— Você podia tentar convencer Masha a falar com Andrei,
tenho certeza de que a opinião dela seria levada em consideração.
— Por Deus, uomo! Deixa o garoto viver do jeito que acha
certo.
— Ele é meu neto, não deveria ficar morando no subúrbio,
trabalhando como mecânico.
— Só que ele não quer mudar a vida, você que virou um
velho teimoso que não respeita a posição dos outros. Deixa o garoto
fora dos negócios da máfia, vai ser melhor.
— E você respeita? — Acompanho com interesse a briga
familiar.
— Cala a boca, Franco, vá procurar o que fazer. — Paolo
explode como de costume.
O meu celular toca e vou atender enquanto os dois se
estranham.
— Estou ouvindo, Amaro.
— Chefe, temos um problema. — O meu corpo enrijece
imediatamente. — Porra, Giovanna! — Ele rosna. — Não durma.
— O que está acontecendo com a minha mulher? —
pergunto ao levantar e atrair a atenção de Franco e Paolo.
— Sofremos um ataque, chefe, sua esposa acabou se
ferindo, Masha chamou o médico, estou prestando os primeiros
socorros.
Não sei contar quantas vezes matei pessoas, torturei inimigos
e participei de várias operações arriscadas, mas em nenhum desses
eventos, eu senti medo.
Esse é um sentimento filho da puta, porque ele te consome
de tal maneira, que você sequer consegue raciocinar.
— Estão, na casa do Paolo? — pergunto ao caminhar para a
porta.
— Estamos.
— Que merda está acontecendo, Domênico? O que tem Gio?
Não o respondo, preciso apenas encontrar minha mulher e
ver como ela está.
— Mas que caralho! Volta aqui, criatura. — Ele vem gritando
atrás de mim, mas eu o ignoro, estou agitado demais para
responder qualquer tipo de pergunta.
Entro no meu carro e acelero com tudo, pronto para passar
por cima de quem entrar na minha frente e retardar a minha
chegada na casa do Paolo. Se Amaro não tomou conta direito da
minha esposa, hoje assina sua sentença de morte, porque eu não
vou deixá-lo vivo, aquele bastardo vai sangrar em minhas mãos, até
o último suspiro.

Não me importo em desligar o carro, apenas saio correndo e


entro na casa. Meus olhos seguem direto para a sala, onde avisto
Gio no sofá, com a cabeça apoiada no ombro do Amaro, enquanto
ele tem um saco de gelo na sua testa.
Eu me orgulho muito de ser um homem frio, em saber manter
o controle em qualquer ocasião, mas acabo de descobrir que não
sou ninguém se Giovanna está ferida.
— Solta a minha mulher — digo ao segurar Gio e puxar
Amaro pela blusa o forçando a levantar. — Que porra aconteceu
para ela estar assim? — Seguro seu rosto e vejo o imenso
hematoma na sua testa.
Ela tem a boca ferida e a maçã do rosto está com uma
mancha roxa. Machucaram meu anjo, alguém vai ter que pagar por
isso.
— Como deixou essa merda acontecer, Amaro? — Olho para
ele querendo arrancar sua cabeça.
— Já entendi, inferno! — A voz raivosa do Paolo preenche a
sala, em seguida ele para a nossa frente. — Como você está? Por
que diabos o médico ainda não chegou? Pago uma fortuna para
aquele infeliz largar tudo o que está fazendo e vir atender minha
família quando é chamado.
— Já deve estar chegando, ligamos assim que tudo
aconteceu. — Masha nos olha aflita com a filha no colo.
Neste momento o médico chega para meu alívio ao lado de
Franco.
— Que demora é essa, doutor? Estava vindo a passos de
tartaruga? — Paolo esbraveja espalhando toda sua irritação.
— Vim o mais rápido que pude, eu estava em atendimento.
— Foda-se seu atendimento, se existe uma emergência aqui,
você larga tudo e vem atender.
O homem bufa e se senta na mesa de centro encarando Gio.
— Podem resumir o que aconteceu? Como ela ficou nesse
estado? — Olho na direção do Amaro.
Fiquei tão desesperado com a ligação do meu segurança,
que não pensei em ligar para Leonel e descobrir como tudo
aconteceu, eu só precisava colocar meus olhos nela, para saber se
estava tudo bem.
— Sofremos um atentado, eu estava esperando o portão abrir
quando os tiros começaram. Eram três motoqueiros, só tive tempo
de acelerar para a segurança do quintal, pois mesmo o carro sendo
blindado, eu não sabia se eles tinham alguém por trás que poderia
ter um armamento mais pesado que nos pusesse em risco. Cheguei
a bater com o carro no portão, enquanto os outros seguranças
revidavam o ataque, infelizmente a senhora Giovanna retirou o cinto
para pegar seu material de estudo justamente quando eu estava
esperando o portão abrir, por isso que ela acabou se ferindo. — Ele
me encara aflito. — Fiz de tudo para proteger a sua esposa, chefe,
foi uma infeliz coincidência ela não estar com o cinto.
Não digo nada, ainda estou furioso demais para ter um
pensamento lógico. No momento, só preciso saber se ela está bem.
— Vamos olhar esse ferimento na cabeça. — O médico ajeita
os óculos ao começar a verificá-lo mais de perto.
— Acho que ela tem um dedo fraturado, doutor, está
reclamando de muita dor no local. — Amaro o alerta.
Olho para suas mãos e identifico que seu dedo mínimo está
muito inchado. Aperto os olhos, não posso me descontrolar na
frente de todas essas pessoas, preciso me acalmar.
— Alguém foi atrás desses filhos da puta? Quero saber quem
atacou minha irmã — Paolo reclama aos seus seguranças.
— Eles estavam de moto, senhor, não tivemos como
persegui-los, mas pelo tipo de ação dos bandidos certamente eram
os russos — Um dos seus homens comenta.
O meu corpo começa a ser tomado por um sentimento
perturbadoramente poderoso, isso tudo é culpa do Paolo e sua sede
de vingança desmedida. Eu sabia que não ficaria barato o ataque
dele, porém jamais imaginei que minha mulher seria o alvo.
— Vou buscar nossos contatos na polícia para tentar
descobrir algo pelas câmeras de segurança da rua — Franco diz
também raivoso.
— Eles certamente cobriram a placa, não vamos achá-los,
vou foder a vida desses russos, se eles pensam que isso vai ficar
impune, estão enganados — Paolo afirma ao seu subchefe.
O resto de controle que ainda estava me agarrando
simplesmente evapora. Deixo Gio aos cuidados do médico e parto
para cima do Paolo. Ele não tem tempo de reagir ao meu primeiro
soco, talvez eu esteja me jogando nos braços da morte por agredi-lo
em público, mas foda-se, o que aconteceu é culpa desse maldito.
— Isso tudo é culpa sua, você os atacou com uma força
desproporcional. — Empurro-o e Paolo tropeça para trás. — Não é
justo eles virem atrás da minha mulher, quando eu fui contra toda
essa loucura.
— Calma, Dom. — Masha pede enquanto Caterina começa a
chorar. — Vocês não podem brigar.
— Calma caralho nenhum! — Pela primeira vez na vida grito
com ela. — O merda do seu marido é um egoísta, não pensa, só
age como um lunático. — Volto a empurrar seu peito, ele dá dois
passos para trás, mas não se precipita para revidar meu avanço.
— Você está certo, a culpa é minha. — Seguro sua blusa e o
prenso contra a parede, derrubando um vaso que está sobre uma
mesa decorativa.
— Leonel, faça alguma coisa — Masha grita desesperada.
— Ninguém se mete — Paolo ordena e segura meu braço
que o prende. — Sou a última pessoa deste mundo que quero ver
alguma das minhas irmãs feridas, não passou pela minha cabeça
que qualquer uma delas virasse alvo.
— Mas virou, caralho! — Puxo sua blusa para logo em
seguida empurrar suas costas na parede.
— Dom... — A voz suave da Gio quebra o meu mundo de ira.
— Pode vir aqui?
Sou amigo de Paolo desde que nasci, temos meses de
diferença de idade, sempre brigamos, mas no final do dia
estávamos rindo juntos. Nunca senti ódio dele, mas neste momento,
só desejo o matar com minhas próprias mãos.
Solto-o porque minha mulher precisa de mim, mas quando
tudo isso acabar, eu vou acertar as contas com ele. Sem deixar de
olhá-lo vou me afastando, até que lhe dou as costas e sigo para Gio.
— Estou aqui — digo quando me sento ao seu lado e a
abraço.
— Teremos que levá-la para o hospital, vai precisar tirar raio-
X e imobilizar o dedo, parece que teve uma fratura, mas só
saberemos a extensão dela, após os exames — o médico
comunica. — Leve-a para o hospital perto do La Fontaine, meu
genro está atendendo lá, ele é ortopedista, vou avisar que estão
chegando.
— Certo. — Ergo minha esposa nos braços. — Venha
comigo, Amaro, você vai dirigir.
Passo por Masha e Paolo sem me importar em olhar para
ambos, sei que ela não tem nada a ver com essa história, mas neste
momento eu não estou disposto a me preocupar com ninguém além
da Giovanna, ela é tudo o que me importa.
— Vai ficar tudo bem — afirmo quando entro no carro e a
sento no meu colo. — Eu vou cuidar de você. — Passo a mão pelo
cabelo e beijo a parte da testa que não está ferida.
Se eu descobrir quem tentou feri-la, terá uma morte tão cruel,
que depois que eu acabar com os filhos da puta, nem um exame de
DNA será capaz de identificá-los, não sobrará muito para servir de
amostra.
Deposito o corpo adormecido da Gio na minha cama, depois
de passarmos horas no hospital para que imobilizassem seu dedo e
saísse a tomografia da sua cabeça, ela acabou dormindo por conta
dos analgésicos.
Apesar da tomografia não apontar nenhuma alteração, o
médico pediu que ficasse de olho nela nas próximas vinte e quatro
horas, caso ela vomite ou apresente confusão mental, devemos
voltar ao hospital imediatamente.
Neguei o pedido da mãe dela para ficar cuidando da filha, já o
do Paolo nem respondi, quero muita coisa neste momento, menos
olhar para a cara dele ou deixar a minha mulher aos seus cuidados.
Ela é minha responsabilidade e eu não vou abrir mão de zelar pela
sua recuperação.
Vou até seu quarto e pego uma camisola, ela ainda está com
as roupas que foi para a faculdade, não posso deixá-la dormir com
algo tão desconfortável.
Tento não a acordar enquanto troco sua roupa, ela solta uns
resmungos, porém não desperta.
Quando termino tudo, beijo lentamente os nós dos dedos da
sua mão que não está machucada, em seguida cubro-a com as
minhas próprias mãos e a trago contra o meu peito.
Preciso me tornar um homem de verdade para ela, parar com
esse trauma infeliz e permitir que explore meu corpo sem restrição.
Passar por todo esse estresse com ela me mostrou o quanto
Giovanna virou o centro do meu mundo.
Ela conseguiu o impossível, fez meu coração bater de uma
maneira diferente, durante o trajeto até à casa do seu irmão, quando
não sabia o que realmente havia acontecido com ela, eu entendi
que estou apaixonado por minha esposa e essa verdade me
transformou em um menino amedrontado.
Eu sabia que ela estava mexendo comigo, mas me neguei a
avaliar o que sentia. Só que pensar em perdê-la, foi o estopim para
encarar a verdade e, aceitar que ela despertou meus mais
profundos sentimentos.
Antes de deixá-la, beijo sua testa e vou falar com Amaro,
agora que esfriei a cabeça, preciso agradecer por ele protegê-la o
quanto pôde. Se ele não agisse rapidamente, de repente
poderíamos ter um problema maior.
— O senhor precisa de alguma coisa? — pergunta assim que
entro na sala.
— Agora está tudo bem. — Mercury se senta à minha frente,
ele está agitado porque o impedi de se aproximar da Gio. Até
mesmo meu cachorro caiu de amores por ela, o seu feitiço nos
envolveu sem que pudéssemos resistir. — Quero te agradecer por
ter agido rápido, se não fosse sua competência as coisas poderiam
ter se complicado.
— Fiz o meu trabalho, só lamento a infelicidade dela não
estar com cinto.
— Acontece, vai servir de lição, a partir de hoje ela só tira a
porra do cinto quando o carro não estiver mais em movimento — ele
acena concordando.
— Se quiser fico aqui hoje, pode precisar de alguma ajuda.
— Não precisa, eu cuido de tudo a partir de agora. — Bato no
seu ombro. — Vá descansar, aproveite que fez a coisa certa e não
vai morrer, porque eu tinha planos em te matar lentamente. —
Amaro me olha temeroso.
— Jamais colocaria a sua esposa em perigo de propósito.
— Bom saber disso. — Fiz a coisa certa ao escolhê-lo para
cuidar da minha mulher. — Pode ir, Amaro, eu vou tomar um banho
e procurar algo para comer, enquanto Gio dorme.
Ele acena e vai embora, agora que estou mais calmo permito
que Mercury entre no quarto para ficar com sua dona. Vou para o
banheiro e tomo um banho relaxante.
Depois sigo para a cozinha em busca de comida. Com toda
essa confusão eu não tive tempo de comer nada. Enquanto eu vou
olhando as opções de congelados, Mercury aparece interessado na
minha refeição.
— Você não deveria estar de vigia? — pergunto a ele ao
levar a embalagem para esquentar. — Agora não desgruda mais da
sua mamãe. — Faço um carinho na sua cabeça.
Quando minha comida esquenta eu me acomodo ao redor da
mesa e começo a comer, enquanto minha mente repassa todos os
detalhes do dia.
Abandono o talher quando penso na aflição que senti durante
o tempo que não sabia o que tinha acontecido ao mio bellissimo
angelo. Jamais me senti tão aflito em toda a minha vida, nunca mais
quero passar por esse tipo de situação.
Escuto um barulho, Mercury olha para trás no exato momento
em que Gio aparece na cozinha.
— O que está fazendo em pé? — pergunto ao ir até ela. —
Devia ter me chamado. — Coloco seu cabelo atrás da orelha.
— Só estou com o dedo da mão fissurado, não é nada
demais.
— Como não, Giovanna? — Eu a abraço sentindo meu
coração acelerar.
Agora que descobri o quanto gosto dela, não vou permitir que
absolutamente ninguém chegue perto da minha esposa. Vou triplicar
a sua segurança, tomarei todas as medidas possíveis para que
nunca mais passe por um susto desses.
— Está com fome? Maria deixou vários congelados. — Ela
retorce o nariz.
— Na geladeira tem ingredientes para um sanduíche, não
quero nada pesado, vou tentar preparar um para te acompanhar.
— Não vai nada. — Puxo uma cadeira e a sento. — Fique
aqui, eu mesmo preparo, basta me dizer o que vai querer.
Sigo todas as suas orientações e faço seu sanduíche, sirvo
um suco e me acomodo ao seu lado. Comemos em silêncio, vez ou
outra ela dá um pedacinho de pão para o safado do Mercury, que
aceita feliz cada migalha.
Assim que ela termina eu aproximo a minha cadeira da sua e
passo o braço por suas costas.
— Como se sente? Ainda está tonta?
— Só com o corpo dolorido. — Gio descansa a cabeça no
meu ombro. — Tive tanto medo, Dom, é a primeira vez que passo
por algo assim, na hora pensei que eles pudessem sequestrar o
carro. — Seus olhos buscam os meus. — Pensei que poderia nunca
mais te ver. — Aperto os lábios em uma linha fina.
— Eles não seriam capazes de te tirar de mim, até porque o
carro é blindado, para conseguirem te alcançar teriam que ter um
armamento pesado. — Acaricio seu rosto. — Vou me certificar que
este tipo de evento não aconteça mais. — Beijo sua boca. — Vamos
nos deitar? Eu estou cansado e você precisa de repouso, ordens
médicas. — Ela faz uma careta linda.
— Estou sem sono, dormi demais por causa dos remédios.
— Você vai ter que tomar mais, certamente ficará sonolenta.
Vou colocar nossa louça na pia e iremos para o quarto.
Ela não fala nada, apenas me espera ajeitar tudo e seguimos
de mãos dadas para o corredor que leva aos quartos. Quando
estamos perto da porta do seu quarto, ela me encara de uma
maneira estranha.
— O que foi? Está sentindo algo? — pergunto preocupado.
Vejo hesitação na sua postura, o que me deixa agitado.
— Será que pode ficar comigo no meu quarto até eu dormir?
Não quero ficar sozinha, ainda me sinto tensa. — Inspiro fundo.
Eu me odeio por não dar a ela tudo o que merece, preciso
encontrar um jeito de me livrar de todos os meus temores, não
posso mais manter essa distância entre nós.
— Você vai voltar para onde saiu. — A trago para perto de
mim. — Vai dormir na minha cama, comigo, não vou te deixar
sozinha nem por um segundo, venha. — Volto a segurar sua mão.
— Mas, Dom...
— Shiu! — A silencio. — Apenas vamos nos deitar, a
adrenalina do dia me deixou exausto, estou acostumado aos
assuntos da máfia, não a ter a minha esposa em perigo. — Os olhos
dela brilham de emoção.
— Quero tomar um banho, tirar esse cheiro de hospital do
corpo.
— Só me espere aqui. — Tento soltar a sua mão, mas ela
não permite.
— Vou com você.
Não impeço, ela ainda está com medo, entendo sua
apreensão. Giovanna viveu em um castelo cheia de proteção, ela
não sabe a metade do mal que o mundo lá fora pode oferecer.
Sento-a na beira da banheira e vou preparar o nosso banho,
quando a água chega na metade entro com ela e fico nas suas
costas.
Vou dando banho nela lentamente, esfregando a minha
esposa em cada parte do seu corpo. Quando a sinto meio
sonolenta, carrego-a para fora da banheira e a seco. Volto a colocar
sua camisola e a levo para se deitar.
Como já está na hora do seu remédio, pego um copo de água
e dou para Gio. Assim que ela termina de tomar o medicamento, eu
me ajeito ao seu lado e a abraço por trás, colocando sua mão
machucada em uma posição confortável.
— Se você sentir qualquer coisa me chame, mesmo sua
tomografia não mostrando nenhuma lesão, a pancada foi forte.
— Estou verdadeiramente bem agora, só dolorida.
— Certo. — Beijo seu pescoço. — Tente descansar mais um
pouco, não vai demorar o analgésico fazer efeito para que durma.
— Obrigada, por cuidar de mim. — Afundo meu nariz na
curva do seu pescoço, sentindo seu cheiro fresco.
— Você é minha mulher, Gio, eu cuido de você a qualquer
momento, com o maior prazer do mundo.
E digo isso não por um dever, mas porque eu quero mais que
tudo não só cuidar, como tê-la comigo. Hoje descobri da pior
maneira possível, que Giovanna representa todo o mundo, sem ela
nada faz sentido.
Coço meu nariz e abro os olhos, a primeira imagem que vejo
são os olhos caramelos da Gio. Ela me observa atentamente,
parecendo não acreditar que estou do seu lado.
Só agora lembro que dormimos juntos e, para a minha
surpresa, eu não senti nenhum incômodo em tê-la ao meu lado.
— Bom dia — diz com a voz rouca. — Você realmente dormiu
comigo.
— Bom dia. — Apoio minha mão no seu quadril. — Dormi,
algum problema?
— Nenhum. — Um discreto sorriso nasce nos seus lábios
carnudos. — Não achei que realmente fosse me deixar aqui a noite
toda.
— A verdade é que se eu não fosse um imbecil, você
dormiria aqui todas as noites. — Beijo sua testa e me levanto. —
Vou pedir para Maria preparar um bom desjejum para você, não
pode tomar o remédio sem se alimentar.
— Não estou com muita fome.
— Coma o que conseguir — falo entrando no banheiro.
Um tempo depois Gio aparece, ela me encara com um olhar
pesaroso.
— O que foi? — Jogo meu cabelo para trás.
— Sei lá, estou me sentindo estranha. — A preocupação já
me domina.
— Está tonta ou com enjoo? O médico disse que se sentisse
algo assim, era para voltarmos para o hospital.
— Não é isso, eu ainda me sinto presa a tudo o que
aconteceu. — Trago-a para um abraço, entendo sua sensação,
passar por esse tipo de situação não é fácil.
— É normal depois do que passou. — Seguro seu rosto. —
Vou providenciar seu café, trago daqui a pouco, enquanto isso faça
sua higiene matinal.
— Prefiro tomar o café na mesa, não quero ficar sozinha
neste quarto.
— Você sabe que precisa descansar. — Ela revira os olhos.
— Dom, só estou com problema de verdade no dedo, a
minha testa está apenas dolorida, mas nada que me impeça de
comer na mesa e ficar no sofá com Mercury.
— Como é teimosa — digo ao sair do banheiro.
Chego na sala e encontro Maria ajeitando a mesa, ela nota a
minha presença e me olha com preocupação.
— Como está a senhora Giovanna?
— Bem e cheia de teimosia, não quer o café na cama. —
Maria sorri.
— Tadinha, se ela estiver em condições de andar deixe sair
do quarto, vai fazer bem se movimentar.
— Vou ficar atento a ela. — Olho para a mesa. — Já está
tudo pronto?
— Sim, senhor, pode tomar seu café.
— Obrigado, Maria.
Ela vai para a cozinha enquanto me sento, eu pego o celular
e vejo algumas chamadas não atendidas, uma delas é do Franco,
outra da minha mãe, meu irmão Guido e Leonardo. Já Paolo ligou
dez vezes, sorte que coloquei o telefone no mudo e não tive que
aturá-lo me perturbando.
Não vou falar com ninguém no momento, primeiro tomarei
meu café ao lado da minha esposa, agora que ela está bem e em
casa, não me importo com mais nada.
Ela se junta a mim e eu a ajudo a se servir, Maria aparece e,
também presta um auxílio enquanto as duas conversam sobre o que
aconteceu. Amaro se aproxima de nós e ajuda a Gio a relatar toda a
ação, ouço tudo atentamente e não tenho dúvidas que se trata dos
russos, eles são os únicos que andamos tendo problemas.
Amaro se retira junto com Maria e neste momento Mercury
chega da rua. Cosima também vem falar com Giovanna, todos os
meus funcionários gostam dela. Até mesmo Santino e Carlo ficaram
o tempo todo comigo no hospital preocupados, só foram embora
quando ela teve alta.
Nunca duvidei do quanto Giovanna era especial, mas a cada
dia que convivo com ela, percebo que sou um homem afortunado
por ter tido a honra dela ser a minha esposa.
— Senhor! — Amaro aparece com o semblante tenso. —
Chefe Paolo está subindo, ele parece irritado.
— Tudo bem, vá recebê-lo.
Não queria uma perturbação logo cedo, mas não posso
impedir que visite a sua irmã. Depois da briga que tivemos ontem,
terei que enfrentar as consequências, Paolo não irá deixar barato a
minha agressão.
— Bom dia, Amaro. — Ouço a voz da Masha.
Já Paolo como sempre não tem educação e entra na sala
como um tufão. Ele tem Caterina no colo, mas imediatamente
entrega à esposa. O seu rosto está inexpressivo, mas seus olhos
mostram toda a raiva que está sentindo.
— Como você está, Gio?
— Bom dia, irmão. — Ela leva a xícara de café aos lábios. —
Eu estou bem, meu dedo doí, mas nada insuportável.
— E quanto a sua testa? Precisou levar ponto?
— Não, foi só um pequeno corte, fizeram um curativo.
— Pedi que uma enfermeira do clã venha cuidar de você, ela
deve chegar daqui a pouco. — Agora chegou a hora de me meter na
conversa.
— Giovanna é minha mulher, eu decido se ela precisa ou não
de uma enfermeira. — Limpo a boca com o guardanapo e me
levanto. — Como eu mesmo vou cuidar dela, pode dispensar sua
funcionária. — Ele ergue a sobrancelha.
— E desde quando sabe cuidar de um doente?
— Desde que o doente é minha esposa e eu não quero
estranhos ao seu redor.
— Dom... — Gio toca meu braço. — Pode se acalmar? Não
quero outra briga entre vocês. — Respiro fundo, ainda quero socar a
cara dele.
— Quero conversar com você. — Paolo me dá as costas e
segue na direção onde fica meu escritório.
— Será que consegue se controlar por mim? — Ela pede ao
levantar-se.
— Claro. — Passo o braço por seus ombros e beijo seu
cabelo. — Já volto.
Masha me olha com desconfiança, estou me sentindo
péssimo por ontem ter gritado com ela, não foi justo o que fiz.
— Desculpa — peço quando paro a sua frente.
— Não precisa se desculpar, todos nós estávamos nervosos.
— Ainda assim eu jamais deveria perder o controle e gritar
com você. — Acaricio seu cabelo e Caterina aproveita para segurar
a minha blusa, começando a balbuciar palavras ininteligíveis.
— Ela gosta de você — Masha comenta sorrindo.
— Também gosto da pequena. — Levo sua mãozinha
rechonchuda aos lábios antes de ir falar com Paolo.
O encontro olhando pela janela exibindo uma postura rígida,
como prometi a Gio que não vou criar uma briga, tentarei ser o
ponto de equilíbrio na nossa conversa.
— Lamento tudo o que aconteceu, nunca me passou pela
cabeça que aqueles malditos iriam ser tão covardes. Esperei a
destruição de algum estabelecimento, outro roubo ou eles nos
fodendo nas ruas, mas atacar uma de nossas mulheres jamais. —
Paolo balança a cabeça. — Porra, Dom! Gio é minha menina, eu
morro pelas minhas irmãs.
Quando ele me encara vejo o quanto está perturbado. Eu me
desarmo, sei o quanto Paolo cuida da sua família.
— Não vamos mais brigar por isso, é justamente um atrito no
clã que a Bratva deseja, só te peço para ser mais racional da
próxima vez, não tome decisões por impulso.
— Eu sou impulsivo, porra! — diz ao correr a mão pelo
cabelo. — Mas eu vou tentar me segurar, não quero que algo assim
aconteça novamente.
— É bom ouvir isso.
— Mas você sabe que vou me vingar deles, estou tentando
achar qualquer pista de quem participou desse ataque.
— Faça isso, vamos agir na hora certa.
Nos encaramos tensos, até que Paolo dá um passo à frente e
me puxa para um abraço. Ele bate nas minhas costas com força, em
um sinal claro de paz.
— Você é como irmão, por isso não vou te matar por me
bater. — Solto uma risada.
— E você mereceu apanhar.
— Eu sei. — Ele coça a cabeça sem graça ao se afastar. —
Já estava desconfiado que amava Gio, ontem eu confirmei isso. —
Fico sério. — Eu também amo meu inferno vermelho, Dom, e disse
isso a ela pela primeira vez no dia do nosso casamento. —
Mantenho o silêncio. — No momento que resolver se abrir para
minha irmã, vai descobrir que mostrar a ela o seu amor é a melhor
coisa que fará na sua vida. As leis da máfia nos tornam um bando
de homens idiotas, aprendemos a apenas matar, porém amar uma
mulher é algo muito foda, mas se contar isso a alguém, eu esqueço
que é meu irmão e te mato.
Solto uma gargalhada, Paolo num minuto é um conselheiro
amoroso, no outro é o mafioso durão.
— Você é um grande babaca. — Apoio a mão na sua nuca o
trazendo para fora do escritório. — Ligue para sua enfermeira e
avise que não precisa mais vir, vou tirar a semana de folga, só saio
de perto da Gio quando ela estiver bem.
— Não pode ficar sem trabalhar, preciso de você.
— Eu posso e vou, você formou essa confusão, então é você
que vai se foder sozinho. — Pisco para ele e me afasto.
Para o meu azar encontro Leonardo na sala, parado ao lado
de Amaro, enquanto ouve toda a história do ataque, praticamente
babando no meu segurança.
Eu mereço,Senhor!
— Mãe, pode ir tranquila, realmente estou bem e agora
preciso descansar, os remédios me dão muito sono, hoje só cochilei
depois do almoço porque Masha me obrigou.
— Eu espero que Paolo dê um bom corretivo nesses russos,
não me conformo com o que fizeram com você. — Ela faz uma
careta. — Seu rosto está um horror, não deveria ter tirado o cinto.
— Chega, mama. — Fiorella a interrompe. — Vamos embora.
— Ela olha para a minha sogra, que também veio me visitar
juntamente com a filha. — Vai conosco, Concetta?
— Claro que sim, hoje Gio teve o dia cheio de visitas, chegou
a hora de descansar. — Ela me abraça com carinho. — Se precisar
de algo só me chamar, estou à disposição.
— Posso vir ficar com você alguns dias? Assim te distraio um
pouco — Ambra pede.
— Claro que sim, venha a hora que quiser. — Troco dois
beijos com ela.
— Quando Ambra vier me avise, quero participar também
desse encontro. — Ella me abraça. — Fique bem.
— Obrigada.
Neste momento Dom entra na sala com uma blusa de
mangas compridas e calça de moletom, todas as peças na cor
preta. Ele está vindo da sua academia particular e suor escorre por
seu pescoço. Alguns fios de cabelo escaparam do rabo de cavalo e
prendem-se na lateral do seu rosto.
Dio Santo! Meu marido é incrivelmente gostoso, impossível
não o desejar.
— Vocês já estão indo? Pensei que jantariam conosco.
— Sua esposa está cansada, ela quer dormir um pouco. — A
mãe dele informa.
— Está se sentindo bem, Gio? — pergunta ao me encarar
preocupado.
Esse novo Dom que surgiu após meu acidente está
acabando com meu coração, ele dormir comigo abrindo mão dos
seus traumas foi algo que me surpreendeu. Quando acordei e o vi
dormindo tranquilamente, eu não acreditei, fiquei um longo tempo
admirando meu marido, tentando entender como ele ganhou meu
coração e despertou em mim o mais puro dos sentimentos.
Amo Domênico, como jamais pensei amá-lo. O que um dia
achei impossível, hoje vejo que é real, sou feliz ao seu lado e não
me imagino casada com outro homem a não ser ele.
— Só preciso descansar — ele assente e acompanha todas
até à porta.
Enquanto ouço-o conversar com a mãe, vou para o meu
quarto. Parece que corri uma maratona, passar o dia com visitas foi
extremamente exaustivo.
Ajeito o corpo sobre a cama e apoio a mão ferida em cima da
minha barriga. Ainda me sinto acelerada, não consegui relaxar
desde que tudo aconteceu.
— O que está fazendo aqui? — Levo um susto com a voz
profunda do meu marido.
— Quero dormir um pouco, não posso?
— Não só pode como deve — afirma ao se aproximar da
cama. — Mas não fará isso aqui. — Ele não me dá tempo de falar
mais nada, apenas me segura em seus braços fortes.
— Dom, sei que gosta da sua privacidade, hoje vou ficar bem
sozinha.
É mentira, não quero ficar sozinha, mas também não vou
forçar minha presença, sabendo o quanto ele não gosta de muito
contato.
— Sei o que faço, Gio — diz ao me deitar na sua cama. —
Vou tomar um banho, precisa de algo? — Olho para o seu rosto tão
perto do meu e sinto vontade de beijá-lo, o seu cheiro de suor
misturado ao seu perfume acaba me excitando.
— Acho que no momento não dá para ter o que preciso. —
Descanso minha cabeça no travesseiro e coloco a mão imobilizada
em uma posição confortável.
— E do que precisa? — Olho para sua boca, em seguida
desço um pouco o olhar e encaro a veia alterada do seu pescoço.
Quero lamber essa veia.
— Giovanna... — Meu nome sai em um tom rouco. — Você
está se recuperando.
— Não me quer por causa do meu rosto? Sei que estou
horrorosa, mas... — Ele me faz parar de falar ao colocar o indicador
contra meus lábios.
— O seu rosto só me faz lembrar que tenho uns russos para
achar e matar, nada mais que isso.
— Está dizendo isso para não me magoar.
— Não, querida, estou apenas afirmando que não é o
momento para o que deseja. — Ele se senta ao meu lado e segura
minha mão, a colocando sobre sua ereção. — Isso te mostra o
quanto quero você?
— Mas nós podemos.
— Infelizmente não podemos. — Deposita um beijo na minha
mão.
— Por que, não? Basta eu deixar minha mão quietinha. —
Dom sorri.
— Mulher, pare com esse fogo. — Ele segura o meu queixo e
me beija. — Amanhã quem sabe, hoje você teve um dia com muitas
pessoas dentro de casa, precisa relaxar. Durma um pouco, antes da
hora do seu remédio trago alguma coisa para comer. Agora preciso
de um banho, depois farei algumas ligações, não fui trabalhar
presencialmente, mas tenho alguns assuntos a resolver por
telefone.
— Você é um estraga-prazeres. — Não escondo meu
descontentamento.
— Apenas espere ficar boa. — Ele tira a blusa e me mata ao
revelar seu tanquinho perfeitamente esculpido coberto por suas
tatuagens. — Quando estiver completamente recuperada, vou te
prender nesta cama, com a bunda pra cima e ai de você reclamar
quando minha mão pesar nesse seu traseiro gostoso.
Com a clara intenção de me provocar, ele tira a calça e fica
apenas com uma boxer branca, revelando a sua poderosa
excitação.
Acabo de começar a odiar meu marido, não é nada justo ele
me atiçar desse jeito e depois ir embora.

Termino minha maquiagem e fico satisfeita com o resultado,


escondeu bem o hematoma da maçã do meu rosto, a testa ainda
tem um pequeno curativo, já minha boca o corte foi pequeno, o meu
lábio inferior já está normal, apenas com um discreto corte aparente.
Após quatro dias de toda a confusão, eu me sinto muito
melhor. A minha mão ainda é um grande incômodo, mas nada que
eu não possa suportar.
Para minha sorte o dedo que quebrei fica na mão esquerda,
como sou destra, certas atividades realizo com tranquilidade.
Pentear o cabelo é uma delas, consigo fazer sem precisar da ajuda
do meu marido.
E falando nele, de hoje aquele homem não me escapa, estou
cansada de dormir ao seu lado e não poder tocá-lo como eu quero.
Dom está me castigando, anda sendo inflexível quando o assunto é
sexo, fizemos algumas brincadeiras, mas não é o que eu desejo.
Ele faz questão de afirmar que não tem nada a ver com
minha aparência, mas já estou ficando insegura.
Saio à caça dele, durante boa parte da tarde ficou trancado
no escritório com Franco. Ele realmente não foi trabalhar fora de
casa, mas também não ficou longe de tudo relacionado aos
assuntos da Famiglia.
Eu me aproximo do escritório seguida de Mercury, ele não
pode me ver que fica na minha cola.
— Porra, Santino, não dá! — Ouço a voz irritada do meu
marido ao parar na frente da porta do escritório. — Veja o que Anna
necessita, você está aí justamente para resolver esse tipo de
problema. — Fico rígida.
— Chefe, ela disse que precisa falar com o senhor
pessoalmente, parecia aflita.
— Estou com a minha mulher em recuperação, não posso vê-
la agora, Gio é minha prioridade, se Anna estiver com qualquer
problema, você pode resolver por mim. — Não consigo me mover.
— Domênico, precisa se afastar dessa prostituta, você é
casado com a irmã do Capo, sabe que Paolo é truculento.
— Franco, não se meta no que não sabe, eu tenho meus
assuntos e os resolvo do meu jeito. — Dou um passo atrás, me
sentindo completamente perdida com tudo o que ouvi. — Descubra
o problema que Anna está passando, resolva e depois me reporte
os detalhes.
— Certo, senhor!
Antes que eles descubram a minha presença, corro para meu
próprio quarto, sem saber ao certo o que pensar em tudo o que ouvi.
Será que Dom me traiu o tempo todo com essa mulher? Se
ele fez isso, mentiu para mim quando disse que queria apenas a
mim.
Não! Meu marido jamais mentiria, ele tem sido tão correto até
o momento, vem demonstrando um carinho imenso comigo, em
especial agora que estou me recuperando.
Vou acreditar que existe algo a mais nessa história, apesar
de ser um mafioso, Dom tem um coração generoso, talvez essa
mulher apenas realmente esteja precisando de uma ajuda e não é
nada relacionado a sexo.
Caso seja...bem...o que eu posso fazer além de desprezá-lo?
Não vou sofrer por antecedência, mas irei ficar atenta à sua rotina e
em cada um dos seus passos. Não quero ser uma mulher obsessiva
com relação ao marido, mas mereço saber se não sou a única na
sua vida.

Apesar de já ter se passado duas semanas, a história sobre


Anna ainda não saiu da minha cabeça, mas decidi ser racional e
investigar tudo com calma, sem fazer pré-julgamentos. Apesar de
ter sido criada para aceitar tudo em um casamento, eu nunca me
conformei com essa submissão e, Dom me fez acreditar, até o
momento, que posso cobrar dele sua fidelidade.
Meu marido desaba ao meu lado, ele está apenas com uma
cueca samba-canção e seu cabelo castanho-dourado escorre por
seu pescoço. Eu espero de verdade que ele não me decepcione
tendo um caso com uma prostituta, o que construímos até aqui para
mim foi especial, seria difícil ver tudo ruir por conta de uma traição.
— Você parece irritado — digo quando ele solta uma
respiração profunda.
— É difícil lidar com tantos problemas. — Dom se vira e apoia
a mão na minha perna. — Hoje o dia foi intenso, não consegui
chegar mais cedo para ficar mais tempo com você. — O meu
coração acelera, não é possível que esse homem tão atencioso
esteja transando com uma garota de programa. — Como você está?
— Bem. — Estico a mão e passo no seu cabelo. — Quero
você — digo sentindo uma necessidade extrema de me conectar a
ele.
— Gosto quando é direta assim. — Ele sobe a mão até minha
barriga.
— Demorei, mas aprendi que não preciso me conter quando
te desejo. — Ele sorri.
— Você só precisa pegar o que é só seu — diz ao beijar o
osso da minha clavícula, fazendo meu coração esmurrar meu peito
ao ouvir sua declaração.
— Faz amor comigo, Dom, eu preciso de você dentro de mim
— peço fazendo questão de enfatizar a palavra amor, porque é isso
que sinto por ele e espero sentir por toda a minha vida.
A sua boca esmaga a minha e eu preciso me segurar para
não esquecer que tenho uma mão que precisa de cuidados
especiais.
Fico feliz com a sede com que me beija, continua aqui o
tesão que sempre nos uniu, eu espero que meu marido não jogue
fora a nossa relação, já entendi que o amo, mas não serei capaz de
manter esse sentimento se ele me trair.

Espero com expectativa o diagnóstico do médico, desde o


atentado já são quarenta dias com essa imobilização e não vejo a
hora de ter minha mão livre.
— Sua fratura já se regenerou, o seu osso teve apenas uma
rachadura muito pequena, então a recuperação é mais rápida. — O
médico me informa.
— Que bom. — Olho para a minha mão livre da imobilização.
— Vou te encaminhar ao fisioterapeuta para uma avaliação,
apenas ele vai poder afirmar se precisará ou não de algum tipo de
fisioterapia. Se sentir alguma dificuldade para movimentar o dedo
volte aqui que faremos uma radiografia.
— Está bem — concordo animada.
— Doutor, isso significa que se ela não fizer a fisioterapia
está livre para todas as suas atividades? — Dom pergunta.
— É melhor vocês conversarem com o fisioterapeuta, só ele
terá de fato esta resposta.
— Certo. — Ele aperta a mão do médico e eu faço o mesmo.
Saímos do consultório de mãos dadas, eu estou feliz demais
em poder voltar à minha vida normal, desde que tudo aconteceu, só
tenho ido a faculdade, fora isso fico sempre em casa.
— O que vai querer fazer agora? — meu marido pergunta
quando saímos.
— Quero que me leve para marcar a fisioterapia e depois
para a autoescola, preciso apenas do ato final para ter minha
habilitação.
Ele me encara sorrindo e leva minha mão até os lábios.
— Vamos lá! — Apoio a mão no seu braço, radiante por estar
perto de realizar mais um sonho.

— Tão bom te ver recuperada — Fiorella diz ao descansar a


cabeça no meu ombro. — Quando pega sua habilitação?
— Se tudo correr bem, na próxima semana.
— Domênico é incrível, todos os homens da máfia podiam
ser como ele.
— Infelizmente não são. — Lembro do pai dele. — Ella,
posso te contar algo muito confidencial? Mas precisa prometer que
não falará para ninguém.
— Claro que prometo, o que é? — Seus olhos verdes me
encaram com preocupação.
Ganho coragem e relato a fatídica noite que fui jantar na casa
do meu sogro. Fiorella fica chocada com o que ouve e, assim como
eu, a repulsa a domina. Aproveito e falo sobre Anna e minhas
suspeitas que Dom possa a manter como amante. Desde que ouvi a
conversa dele com o segurança, não presenciei mais nenhum
assunto sobre essa mulher e ele tem mantido uma rotina sem
alterações que possam me fazer ter suspeitas de que esteja me
traindo.
— Você não pode realmente contar nada a Dom, mas se o
pai dele voltar a te assediar, aí terá que tomar uma providência,
porque isso pode acabar perdendo o controle.
— O que está querendo dizer?
— Ele pode tentar algo a mais, Gio, homens como Francesco
não possuem escrúpulos. — Um arrepio percorre meu corpo.
— Não acredito que ele chegaria a tanto.
— Você teve a sorte de ter Dom na sua vida, se tivesse um
Carmelo, saberia o quanto os homens podem ser sujos.
— Ah, minha irmã, eu lamento tanto por você. — A abraço. —
Queria poder te livrar de todas as lembranças do seu sofrimento.
— Infelizmente vou ter que carregar toda essa dor até meu
último dia de vida, mas o importante é que eu sobrevivi. — Ela me
lança um sorriso que não alcança seus olhos, aquele maldito parece
ter sugado toda a vivacidade dela, desde que se casou com ele, os
olhos da minha irmã ficaram tristes, perdeu o brilho. — Vou para
Nova Iorque, já falei para Paolo, só vou esperar a festinha de
aniversário de Caterina acontecer e Chiara ganhar o bebê.
— Faça isso, vai ser bom para você, lá terá uma nova rotina
e nossas primas são animadas.
— E não terá a mamãe sempre pensando em um novo
casamento para mim.
— Ela não muda.
— Não mesmo. — Mercury aparece e Fiorella coça sua
cabeça. — E sobre essa Anna não perca o relacionamento que tem
com Dom por causa de uma prostituta, ainda que ele a encontre,
você é a esposa, em algum momento ela será passado.
— Não consigo ser fria assim, se eu descobrir que estão
juntos, nada será igual entre nós.
— Irmã, Dom te ama, é nítido isso, esqueça essa mulher e
apenas aproveite seu marido, ele é um homem maravilhoso.
Fico calada, não vou discutir com ela, até porque minha irmã
teve um casamento tão caótico, que ser traída não seria nada
demais se o marido fosse um bom homem. Só que eu não vivo em
outra realidade e a ideia de outra mulher tocando Dom, me deixa
completamente enfurecida.
Encerro a ligação com o gerente do hotel que abrimos em
Ibiza. Tivemos um sério problema por lá, quando um influente
empresário tentou matar à sua esposa quando ambos estavam sob
efeito de drogas.
A confusão rendeu e acabou chamando a atenção, não só da
polícia, como também da imprensa. Abafar toda essa situação está
sendo complicado e tudo o que eu não preciso é de jornalistas
investigando o nosso hotel.
— Senhor Pizzorni, tem uma pessoa aqui querendo vê-lo. —
Ergo as duas sobrancelhas.
— E quem é essa pessoa? — A secretária se afasta e dá
passagem para a minha mulher entrar.
Fico surpreso com sua presença, Giovanna nunca veio ao
meu trabalho.
— Incomodo? — pergunta ao se aproximar.
— Nunca. — Levanto e rodeio a mesa. — Pode aparecer a
hora que quiser. — Coloco os braços ao seu redor e a beijo. — O
que veio fazer aqui? — Ela sorri.
— Você está olhando para uma mulher habilitada. — Seu
sorriso se alarga. — Agora eu posso dirigir.
— Meus parabéns. — Ergo-a do chão e estalo um beijo na
sua boca. — Acho que vou ganhar alguns cabelos brancos com
você andando por essa cidade. — Gio aperta os braços ao redor do
meu pescoço.
— Para de ser bobo, eu nem vou poder ir muito longe, é um
saco ter um monte de segurança na minha cola.
Ela faz uma careta linda, desde que redobrei sua segurança
anda reclamando, porém não posso fazer nada. Agora além de
Amaro, Gio tem Carlo sempre escoltando o seu carro e mais outro
segurança de moto, porque se tentarem algo novamente, quero ter
como perseguir os malditos.
— Sabe que precisa dos seguranças — Gio suspira.
— Eu sei, mas agora que posso dirigir, Amaro vai ficar no
banco do carona.
— Ele já sabe disso? — pergunto escondendo um sorriso.
— Sabe e está morrendo de medo. — Jogo a cabeça para
trás rindo. — Para Domênico — resmunga chateada. — Eu quero
comprar meu carro, preciso que me ajude.
— Vamos ver isso depois. — O carro dela já está comprado,
assim que ela for embora vou mandar entregar no meu prédio.
— Depois não, quero hoje, de preferência agora.
— Hoje estou com a agenda apertada, mas vou ver com
minha secretária um horário amanhã à tarde para irmos a uma
agência, você pode esperar um dia.
— Estou ansiosa, quero começar a dirigir logo e, também
quero minha moto.
— A moto no momento não será possível, você ficará
exposta demais, não quero outro susto como o que passamos.
— E quando poderei ter minha moto? Eu quero poder pilotar
ao seu lado.
— Vamos nos concentrar no carro, depois que as coisas
acalmarem pensamos na moto. — Ela faz um biquinho lindo, o que
me faz beijá-la outra vez.
Sou completamente viciado nessa boca, beijar Giovanna é
meu passatempo favorito, nunca me canso desses lábios
tentadores.
— Promete que amanhã compraremos meu carro? Eu
mesma quero pagar, tenho dinheiro na minha conta da herança do
papai.
— Claro que vamos, agora vá embora ou eu não consigo
terminar meu dia de trabalho. — Ela prende o lábio inferior entre os
dentes, fazendo a carinha de safada que me deixa duro.
— A gente podia aproveitar essa mesa, você sabe que gosto
quando está com essas roupas elegantes, sem falar nessa barba,
não quero que tire, eu gosto quando sinto-a arranhando entre
minhas pernas.
— Giovanna... — Minha voz sai grossa, já estou começando
a ficar duro. — Não podemos ir longe aqui, o seu...
— Sim, já entendi, foi um serviço perfeito, como sempre você
é competente. — Paolo para ao notar a presença da irmã. — Nos
falamos depois. — O que faz aqui? Aconteceu alguma coisa? — Gio
se afasta de mim.
— Aconteceu algo maravilhoso. — O irmão a encara confuso.
— Consegui minha habilitação, amanhã Dom vai me levar para
comprar meu carro.
— Dio Santo! Será que as ruas de Roma estão preparadas
para você? — Giovanna aperta os lábios irritada. — Compre um
carro com um bom sistema de airbag, Domênico, é melhor não
arriscar.
— O que está querendo dizer? Que serei um desastre no
trânsito? — Ela coloca as mãos na cintura.
— Paolo está de brincadeira, meu anjo. — Olho feio para ele.
— Vá para casa, vou levar você para jantar fora hoje, vamos
comemorar a sua habilitação e amanhã compraremos o seu carro.
— Vou preparar um jantar para nós, estou animada.
— É você que sabe, eu acho melhor irmos a um restaurante.
— Não. — Ela balança a cabeça enfatizando sua negativa. —
Eu mesma quero preparar nosso jantar, vou comprar o que preciso
agora. — Ficando na ponta dos pés ela me beija rapidamente.
Como sempre acontece eu esqueço de tudo quando tenho
seus lábios contra os meus, mas no momento que encaro Paolo, o
vejo fazendo uma careta.
— Não preciso ver vocês se agarrando — reclama.
— Dom é meu marido, posso me agarrar com ele. — Gio o
desafia.
— Acho melhor ir, não provoque a fera — digo rente ao seu
ouvido.
Ela dá de ombros e vai embora, deixando o irmão emburrado.
— Agora já não sei se gosto dela dirigindo, estou com receio
de correr algum risco.
— Giovanna é uma Torcasio, vocês sabem o que fazem. — A
sua expressão suaviza. — Ela não terá um carro potente e só irá se
movimentar em trajetos curtos, acompanhada sempre dos seus
seguranças, fique tranquilo.
— Tudo bem, você tem razão — diz ao sentar-se à minha
frente. — Como está a situação em Ibiza?
— Estou abafando tudo, não se preocupe.
Começamos a conversar, até que a hora da minha próxima
reunião chega e deixo Paolo no escritório. No meio do caminho
aviso para deixarem o carro da minha mulher no meu prédio, assim
que chegar em casa quero fazer uma surpresa para ela.

Encosto no carro novo da Gio e cruzo os braços enquanto a


aguardo descer. Liguei para Amaro e pedi que avisasse que a
espero na garagem. Estou ansioso para saber o que ela achará da
surpresa.
— Senhor, esqueci de avisar que a mãe da Anna já está em
casa, ela pediu para agradecer a ajuda e, continua insistindo em vê-
lo pessoalmente — Santino me informa.
A mãe dela teve um sério problema no coração, como
sempre deixei claro que a ajudaria se precisasse de mim em algum
momento, ela me procurou e providenciei o tratamento da mulher.
Gosto da Anna, a maneira com que protege sua família é algo de se
admirar. Ela conseguiu me cativar com sua força e por ser uma
ótima parceira de cama, acabou sendo sempre uma opção para
foder constantemente.
Porém, tudo mudou com o meu casamento, agora não cabe
mais me aproximar dela. Além de querer apenas Gio, eu sei que
Anna acabou nutrindo sentimentos por mim e não vou permitir que
ela acredite que podemos ter qualquer tipo de envolvimento. Estarei
sempre disposto a ajudá-la, especialmente arrumando um novo
emprego, mas não passará disso, tudo o que tivemos juntos
acabou.
— Ela não tem que insistir em nada, eu não tenho
compromisso com Anna, seja bem explícito se insistir novamente a
falar comigo. Se ela precisar de mais alguma coisa providencie, mas
encontrá-la está fora de cogitação.
A nossa conversa é interrompida quando Gio aparece ao lado
de Amaro. Ela está linda com o cabelo preso em um rabo de cavalo,
vestindo blusa rosa de gola alta e mangas compridas, que
evidenciam seus seios, acompanhado de uma calça jeans clara.
Essa mulher linda é toda minha e eu vou procurar sempre
fazê-la sorrir.
— Entrega especial para Giovanna Pizzorni — digo ao bater
no capô do carro.
Ela cobre a boca com as duas mãos e vejo lágrimas
despontando dos seus olhos.
Porra! Eu amo vê-la feliz, faço qualquer coisa para ver
sempre minha linda esposa contente.
— Dom... — Gio não se move.
— Venha. — Estendo a mão. — Vamos ver se seu novo carro
está funcionando direito.
Ela aperta a minha mão ainda com a expressão de
incredulidade.
— Como comprou esse carro tão rápido?
— Comprei há algum tempo, estava apenas esperando a sua
habilitação chegar.
— Você não existe. — Ela envolve meu pescoço e me
abraça. — Muito obrigada.
— Não precisa agradecer, só quero que seja prudente no
trânsito.
— Eu serei. — Ergo a chave e entrego para ela.
— Vamos dar uma volta. — Agora os seus olhos brilham de
empolgação.
— Vai querer ir comigo mesmo? Tem certeza?
— Claro que tenho. — Abro a porta do carro para ela. —
Preciso me certificar que realmente pode sair por aí dirigindo.
— Óbvio que posso dirigir. — Ela empina o nariz e se senta
atrás do volante.
Que San Genaro nos proteja e essa mulher não bata em
outro carro. Jamais vou desestimulá-la, mas não posso negar que
estou apreensivo com ela dirigindo pela primeira vez.
Faço sinal para Santino e Amaro nos seguir, pela expressão
de ambos, estão se divertindo com a aventura que terei ao lado da
minha mulher.
Desgraçados! Eles me pagam.
Quando me sento Gio está ajeitando a altura do banco. Sinto
minhas mãos suarem, espero que ela não perceba meu nervosismo,
não quero que pense que não confio nela.
— Pronto? — pergunta ao me encarar sorrindo.
— Mais que pronto. — Tento sorrir, mas acho que fiz uma
careta, sorte que ela está empolgada ligando o carro e não notou.
Lentamente coloca o carro em movimento, seu sorriso é tão
largo, que eu dou uma relaxada, presenciar a sua empolgação não
tem preço.
Ela acaba não se saindo mal no trânsito para uma primeira
vez, o carro morreu apenas duas vezes, quando parou nos sinais.
Fora isso Gio dirigiu com tranquilidade e com uma desenvoltura
impressionante, estou verdadeiramente orgulhoso.
— Só posso te dar os parabéns — digo quando saímos do
veículo. — Você se saiu muito bem.
— Jura? — Ela me encara com expectativa.
— Juro. — Beijo sua boca. — Está mais que preparada para
dirigir.
— Ai meu Deus! — Ganho um abraço apertado. — Muito
obrigada, Dom, você realizou meu sonho.
— Quero realizar muito mais. — Seguro sua mão. — Amaro
pode ir embora, amanhã venha preparado para ser o carona da
minha esposa. — Ele ergue uma sobrancelha para ela escondendo
o sorriso.
— Pelo que vi dona Giovanna está dirigindo bem, estou
aliviado que não correrei risco de vida.
— Nossa, Amaro, para de ser exagerado. — Ela revira os
olhos.
— Até amanhã. — Com um aceno ele se despede de nós.
— Agora quero saber uma coisa — digo ao seguir na direção
do elevador.
— O que é? — Gio me olha curiosa.
— Qual o cardápio do nosso jantar comemorativo? — Ela se
anima.
— É surpresa, mas eu espero que você goste. — Rodeio as
mãos por sua cintura quando as portas do elevador se fecham.
— Desde que você seja a sobremesa, eu vou gostar de
qualquer coisa que preparou. — Ela sobe a mão pelo meu pescoço
e solta meu cabelo.
— Que tal você comer a sobremesa antes do jantar?
Eu sou um homem de sorte mesmo, tenho a esposa perfeita,
tão safada quanto eu.
— Acho a ideia ótima. — Firmo meu aperto na sua cintura e a
ergo do chão quando chegamos ao nosso andar. — Vou me
lambuzar na minha deliciosa sobremesa — digo rente ao seu ouvido
e ouço sua risadinha sacana.
Essa mulher está acabando comigo, tenho que assumir que
estou muito apaixonado por ela.

Entro no bar do Mattia ao lado de Paolo, faz tempo que não


venho aqui, agora que tenho Gio, não existe mais motivo para
frequentar esse tipo de ambiente. Meu amigo também se afastou,
nós estamos rendidos por nossas esposas.
— Não tinha um lugar melhor para esse encontro? —
pergunto a Paolo.
— Mattia que fez o convite e todos aceitaram, paciência. —
Ele se encaminha para a área onde é reservada à máfia, longe dos
outros clientes.
— Chegaram — Franco fala quando atravessamos a porta.
— Só faltava vocês.
— Ótimo. Já que estamos aqui vamos ao que interessa, não
tenho tempo a perder. — Como sempre Paolo não é simpático. —
Como já havia avisado a vocês, estamos com problema na
alfândega do aeroporto. Mudaram toda a equipe e isso nos
prejudica, já que não temos mais as pessoas que facilitavam a
entrada das drogas, vindas da América do Sul, precisaremos agir
rápido e comprar o maior número de fiscais possíveis. Isso vai sair
muito caro, porém não temos o que fazer.
Todos encaram o nosso Capo descontentes, ninguém do
Conselho gosta de perder dinheiro, mas neste caso, realmente não
temos para onde fugir.
— Vamos ter que pagar, não podemos ficar sem fornecer
nossas drogas. — Giuseppe fala o óbvio. — Gaste o que for
necessário, só deixe nosso tráfego livre.
— Todos estão de acordo? — pergunto encarando os
conselheiros.
Mesmo alguns demonstrando insatisfação, eles acabam
concordando, não podem fazer nada.
— Ótimo. — Paolo acende um cigarro. — Agora vamos para
mais um problema, parece que o universo resolveu nos foder de
uma só vez.
Ele começa a falar sobre um empasse em um dos nossos
investimentos, enquanto a discussão se intensifica, Anna e outra
garota entram na sala trazendo mais bebida. Seus olhos
imediatamente buscam os meus, ela parece ansiosa em falar
comigo.
Não mudo a minha expressão e me mantenho parado
enquanto as duas distribuem as bebidas. Quando ela serve meu pai
ele sobe a mão pela sua perna e aperta a bunda dela. Vejo o corpo
de Anna travar, ela está claramente desconfortável com seu toque.
— Quando eu acabar aqui quero que você me sirva, não
arrume outro cliente. — Ela tenta se afastar, mas meu pai não
permite. — Esteja preparada para tudo.
O meu corpo esquenta, ele certamente tem a intenção de
machucá-la, conheço bem seu sadismo.
Nunca o vi se interessar por ela, certamente seu avanço é
para me irritar.
— Infelizmente ela é minha esta noite. — Acabo sendo
impulsivo. — Escolha outra. — A maneira que ele me olha é um
misto de satisfação e indignação.
— Vai foder a puta na frente do seu cunhado? — A sua fala
atrai a atenção de todo o Conselho.
— Eu sei o que faço, não preciso da autorização de ninguém.
— Algum problema? — Paolo pergunta.
— O marido da sua irmã vai foder Anna — ele diz com
satisfação — e isso bem na sua frente.
Troco um olhar com Paolo, ele entende que existe algo
acontecendo.
— Não tenho nada a ver com isso, Francesco, agora presta
atenção no caralho da reunião, depois você escolhe a puta da noite.
Meu pai bufa, mas não o contesta, a reunião prossegue e
quando termina meu amigo se aproxima.
— O que está acontecendo?
— Nada demais, meu pai apenas disse que iria trepar com
Anna, mas a maneira com que falou isso deixou claro que vai ser
agressivo.
— E o que você tem a ver com isso?
— Não vou permitir que ele a agrida porque está com raiva
de mim. — Paolo passa o polegar pelo lábio inferior.
— Você tem que se preocupar com a sua mulher, Anna é
uma puta da máfia, ela sabe os riscos que corre. — Fico rígido, sei
que ele está certo, mas não seria eu se não impedisse uma das
maldades do meu pai.
Ninguém mais do que eu sei o quanto pode ser cruel, se ele
decidir mata Anna, nem Mattia vai descobrir que o maldito a
eliminou.
— Irei pagar a noite dela para garantir que fique bem.
— Certo. — Ele deixa bem claro que não está satisfeito. —
Não irei me meter no que vai fazer.
— Fique tranquilo. — Saímos da sala e seguimos para o bar.
— Como está Gio dirigindo?
— Feliz da vida. — Sorrio ao pedir um uísque. — E ela é boa
atrás do volante, Amaro disse que essa semana se saiu bem em
todos os dias que foi para a faculdade.
— Vê-la com você ainda não é fácil para mim, mas não posso
negar que foi o marido ideal para ela.
— Sempre vou tentar fazer sua irmã feliz, ela é um ponto de
equilíbrio na minha vida.
— Sei o que sente. — Ele toca o seu copo no meu. — Somos
dois homens afortunados.
— Verdade.
Bebemos dividindo uma conversa tranquila, até que Paolo
decide ir embora e eu vou atrás da Anna. Encontro-a nos fundos do
bar, conversando com uma das suas amigas.
— Venha aqui. — Chamo quando nota a minha presença.
— Eu queria muito falar com você, precisava te agradecer
pelo que fez por minha mãe.
— Sempre te disse que podia te ajudar. — Mantenho uma
distância segura entre nós. — Inclusive minha oferta de emprego
continua valendo, você precisa sair daqui.
— Eu vou, Dom, só preciso de mais um pouco de tempo para
juntar mais dinheiro.
— Não, Anna, você precisa largar essa merda e cuidar da
sua família. — Não escondo a minha irritação. — Agora pegue suas
coisas, vou pagar a sua noite, não quero meu pai em cima de você,
ele é uma merda de pessoa.
— Por que não vamos para um dos quartos? Faz tanto tempo
que não ficamos juntos. — Ela toca o meu braço me fazendo
enrijecer. — Sinto falta dos nossos momentos.
— Apenas pegue as suas coisas, vamos sair daqui. — Dou
as costas para ela e sigo novamente para o bar.
Um tempo depois Anna aparece e eu sigo com ela para a
saída, para meu azar encontro meu pai e o seu sorriso maldoso me
enoja.
— Não vai foder sua puta aqui? Vai querer um lugar mais
privado?
— Isso não te interessa — digo ao apoiar a mão nas costas
da Anna. — É melhor cuidar da sua vida. — Ele sorri.
— Eu vou cuidar sim, pode apostar.
Levo Anna para fora do bar e desço ao seu lado no elevador.
Pego algumas notas na minha carteira e estendo para ela.
— Isso é o suficiente para ficar uns dias em casa, tente evitar
meu pai.
— Francesco nunca se importou comigo, não entendi o que
fez hoje.
— Ele só quer me atingir, não estamos vivendo nosso melhor
momento. — Chegamos ao térreo e saímos do elevador.
— Dom, podemos ir para outro lugar. — Inspiro fundo antes
de respondê-la.
— Sim, nós podemos, só que eu não quero. — Olho
seriamente para Anna. — Acabou o que tínhamos, pare de insistir
em algo que não vai mais acontecer. Quando resolver largar essa
merda de vida entre em contato comigo.
Dou as costas para ela e vou embora, estou disposto a ajudá-
la a encontrar um novo rumo, nada além disso. Não vou trair a
minha esposa com uma prostituta, Gio merece meu respeito e eu
não tenho interesse em alguém além dela.
O tempo deu um salto incrível com a minha correria com a
faculdade e as aventuras no trânsito. Agora estamos há duas
semanas do Natal e eu estou na correria para comprar todos os
presentes para minha família.
Na primeira semana de dezembro fiz seis meses de casada e
preparei um jantar especial para meu marido. Dom merece o
melhor, ele me apoia em tudo e a cada dia me sinto mais feliz ao
seu lado.
Claro que ele não lembrava da data comemorativa, homens
como ele não se apegam a esses detalhes, no entanto a sua ação
após descobrir que já estávamos juntos por seis intensos meses foi
a coisa mais fofa do mundo para mim.
Dom preparou uma rápida viagem a Barcelona, uma das
cidades que ele mais gosta de visitar. Passamos dois dias nos
divertindo por lá e ter esse tempo com ele, só nós dois juntinhos, me
fez amá-lo um pouquinho mais.
Ele me dominou completamente, sempre que estou ao seu
lado meu coração transborda de tanto amor. Saber que o tenho
como meu porto seguro me faz ser mais confiante.
Essa confiança se reflete toda vez que entro no meu carro,
amo dirigir e a cada dia eu me sinto mais segura atrás do volante.
Ainda não tenho uma moto, Dom está receoso pela minha
segurança.
Não fui muito adiante com esse assunto, depois do susto que
passei também fiquei mais cautelosa, se ele acha que ter uma moto
neste momento é perigoso, eu entendo. Dirigir já está sendo um
grande sonho, então a moto pode esperar.
Amaro segura as minhas bolsas quando seguimos para meu
carro. Comprei os últimos presentes para a festa de Natal na casa
do meu irmão, também fiz uma surpresinha para meu segurança.
Ele merece um presentinho, desde que virou minha sombra tem
sido um ótimo acompanhante. Eu valorizo muito a amizade que
dividimos.
— Acabamos por hoje? — pergunta ao descartar as bolsas
no banco traseiro.
— Sim. — Entro no carro e me ajeito no assento. — Se não
me engano comprei todos os presentes que queria.
— Que bom. — Ele tira uma mecha de cabelo que caiu na
sua testa. — Você comprou muita coisa.
— A festa do Paolo será grande, preciso presentear toda a
minha família.
— Pelo que comprou, parece querer presentear todo o clã —
diz sorrindo.
— Para de exagero. — Sorrio enquanto acelero o carro. —
Só fui um pouco generosa.
— Na verdade, extremamente generosa. — Ele coloca o
cinto, agora Amaro não fica mais tenso em ser o meu carona, já
entendeu que nasci para dirigir.
Decido não contar que comprei presentes para toda a sua
família, não conheço nenhum deles, mas o amor que meu
segurança tem por todos, me faz ter um carinho imenso por cada
um.
Quando chego em casa, Mercury corre para investigar todas
as bolsas, descarto tudo em cima da minha cama, ela acabou
virando meu depósito de presentes. Agora que passei a dormir
todas as noites com meu marido, meu antigo quarto serve apenas
para que estude e tenha meu próprio banheiro privado.
Separo as bolsas que irei entregar a Amaro, não quero correr
o risco de me confundir com nada. Também comprei lembranças
para Maria e Cosima, gosto demais das duas.
Fiorella me liga e passamos um longo tempo conversando.
Estou amando essa proximidade que voltamos a ter, depois que se
casou com aquele monstro nem sempre podia falar comigo,
Carmelo às vezes a privava até mesmo do seu celular.
Mesmo já fazendo meses da sua morte, eu ainda o odeio
com extrema força, espero que neste momento esteja ardendo no
inferno.
Queria muito que minha irmã encontrasse um homem como
Dom, ela merece ter um amor arrebatador. Talvez Nero esteja certo
e em Nova Iorque ela possa se conectar a alguém. Pensar nela
longe não me agrada, mas se estiver feliz, finalmente vivendo ao
lado de alguém que a valorize, eu aguento essa distância. Ao
menos tenho um lugar certo para sempre ir visitar.
— Giovanna, tudo está pronto para o jantar, precisa de mais
alguma coisa? — Maria pergunta ao aparecer na sala.
— Não, pode ir embora. — Sorrio na sua direção.
— Então tudo bem, nos falamos amanhã.
— Certo.
Cosima aparece minutos depois do seu passeio de final de
tarde com Mercury. Trocamos uma rápida conversa, até que ela vai
embora com Maria.
Decido ir atrás do Amaro, não quero ficar nessa sala sozinha
enquanto espero Dom, mas no exato momento que levanto, meu
marido liga.
— Oi — digo animada. — Já está chegando?
Nessas duas últimas semanas anda chegando sempre tarde,
parece que surgiram mais problemas no trabalho.
— Infelizmente não vou chegar cedo, não me espere para o
jantar.
— Poxa, Dom. — Já fico desanimada.
— Lamento, mio bellissimo angelo, mas tenho assuntos a
resolver.
— Dom, te vejo lá no Mattia. — Ouço a voz do Franco.
Meu estado de alerta é ativado, o que ele vai fazer no bar do
Mattia?
O ciúme começa a se espalhar por cada parte do meu corpo,
sei que ele afirmou que não procura mais a Anna, no entanto não
posso fingir que estou bem em saber que estará no mesmo lugar
que ela trabalha e outras prostitutas também.
— Vou tentar sair o mais rápido que puder da reunião, peça
para Amaro me esperar, não quero que fique só.
— Não se apresse por mim, acho que vou para a casa da
minha mãe, Fiorella me fará companhia.
— Gio, juro que vou tentar ser rápido.
— Leve seu tempo. — Encerro a ligação, estou fervendo de
ciúmes e não quero falar algo que possa causar uma grande
confusão entre nós. — Amaro — grito por ele.
— O que foi? — Rapidamente aparece na sala.
— Vou dormir na casa da minha mãe, Dom vai para o bar do
Mattia, irá demorar. — O rosto do Amaro fica tenso.
Droga! Será que ele sabe de algo e não quer me falar?
Lembro do que Ella me disse e decido não me exaltar,
preciso manter a cabeça fria ou eu meto os pés pelas mãos e
instauro uma guerra no meu casamento.

— Não fica assim, é normal encontro dos conselheiros no


Mattia, às vezes o monstro do meu marido acompanhava o pai.
— Dom anda chegando tarde em casa, sei que o trabalho na
máfia é complexo, mas ele não falou que estava indo para aquele
puteiro, se Franco não diz nada, eu não saberia.
Sempre tento ser racional, mas estou apaixonada demais
pelo meu marido para conseguir me controlar quando sei que ele
estará no mesmo ambiente da mulher que costumava transar.
— Amo Domênico, Ella, não quero pensar que outra mulher
pode tocá-lo. — Minha irmã segura a minha mão.
— Pare de pensar o pior, se Dom afirmou que não tem nada
com essa tal de Anna, acredite.
Quero confiar totalmente nele, mas é difícil.
— Espere um momento. — Se afastando ela pega o seu
celular.
Fiorella passa um tempo trocando mensagem com alguém,
até que retorna e volta a sentar do meu lado.
— Fique tranquila, Paolo também está na reunião, Masha
disse que a maioria do clã decidiu ir para lá.
— Ainda assim não me sinto tranquila.
— Pare com isso, seu marido tem sido exemplar até agora.
— Ele pode me trair e continuar sendo bom para mim, mas
imaginá-lo com outra mulher é insuportável.
— Gio, não estrague seu casamento, por favor se acalma.
Tento ouvir minha irmã, mas meu coração está angustiado
demais.
A minha mãe nos chama para o jantar e, quando descobre o
porquê estou chateada, me passa um sermão. Entendo o ponto
dela, tenho um marido que me protege de tudo, que realiza meus
sonhos e me trata com todo respeito. Só que eu não posso fingir
que vou ficar bem com uma traição, porque eu me conheço e minha
personalidade não aceita isso, principalmente pelo tipo de
relacionamento que desenvolvemos.
Se ele fosse tão cruel quanto Carmelo, eu ficaria feliz que
tivesse mil mulheres na rua, só que Domênico é a minha perfeição
em forma de homem, ele se transformou em tudo o que sonhei em
um marido e saber que possa estar com outra mulher destrói meu
castelo de ilusões.
Como o inverno está próximo e a temperatura cada dia está
mais baixa, eu e Ella levamos uma garrafa de vinho para o seu
quarto e nos acomodamos debaixo da coberta.
— Estou ansiosa para o aniversário da Caterina, assim que
passar a festinha eu vou para a América.
— Ficar sem você vai ser difícil.
— Chiara está aí para te fazer companhia e com o
nascimento do bebê precisará de você.
— Vai perder o nascimento da nossa segunda sobrinha?
— Nossa irmã ganha a filha logo após o aniversário da
Caterina, vou poder conhecer a criança, também não quero ficar
muito tempo por lá, acho que um mês será suficiente.
— Vai te fazer bem — digo no mesmo segundo que meu
celular toca.
O nome do meu marido pisca na tela e faz meu coração
acelerar.
— É melhor você atender e mantenha essa cabeça fria, não
estrague o seu casamento por suspeitar de algo, Dom nunca te deu
motivos sólidos para isso.
Não discuto com ela, para minha irmã ser traída não
representa nada quando sofreu tanto nas mãos de um homem,
entendo seu lado, mas minha relação é bem diferente da que teve.
— Oi, Dom.
— Estou indo te pegar, você foi de carro até aí?
— Sim, estou com meu carro.
— Certo, eu te escolto até em casa, se arrume, estou
chegando.
— Amaro não te avisou que eu ficaria a noite toda aqui?
Estou bebendo vinho com Fiorella.
— Já estou chegando, Gio. — Ele desliga.
— O que foi? — Ella me encara curiosa.
— Ele quer que eu vá para casa — falo desanimada.
— Vá. — Minha irmã segura meu braço. — Esqueça tudo e
apenas fique com seu marido, escute o que falo, Dom é uma joia
rara, não o perca por causa do ciúme, você é uma mulher de sorte.
Ela me abraça e eu me agarro às suas palavras, realmente
tenho um marido incrível, preciso me controlar, ou posso perder tudo
o que construímos até aqui.

Saio do carro e espero por Dom, ele ajeita o sobretudo nos


ombros enquanto caminha na minha direção. Como a noite está
extremamente fria, meu marido tem luvas de couro protegendo suas
mãos, enquanto seu terno de três peças completa o visual
extremamente elegante e sexy.
Sem dizer nada segura a minha mão me levando para o
elevador. Inspiro fundo e tento silenciar o meu ciúme, preciso me
apegar ao que Ella falou, não posso ter um atrito com ele quando
não sei se realmente esteve com Anna.
— Só estive trabalhando, saí do Mattia com seu irmão — ele
diz ao segurar meu queixo.
Nossos olhos se chocam e não vejo Dom vacilar em nenhum
momento, ele me encara com certa tranquilidade.
— Não quero outra mulher te tocando. — Assumo toda a
minha angústia.
— Assim como não quero que outro homem te toque. — Ele
acaricia meu rosto e a textura do couro da luva me causa um
estranho estremecimento. — Agora venha, passei o dia louco para
chegar em casa e ter minha esposa só para mim.
Jogo todos meus medos para o canto e me entrego
completamente ao meu marido, torcendo para ele não destruir a
confiança que sempre deposito nele.
Finalmente o Natal chegou e com ele o frio gostoso do
inverno. Hoje inclusive está nevando, teremos uma noite natalina
congelante.
Pego as sacolas que comprei para a família de Amaro, Maria
e Cosima. Eles foram minhas companhias durante o ano e merecem
alguns mimos. Chamo todos até à sala, não demora muito estão
reunidos a minha volta.
— Primeiramente quero agradecer o carinho que me
receberam nesta casa, vocês foram maravilhosos comigo.
— Não precisa agradecer, foi um prazer tê-la conosco. —
Maria se manifesta.
— Ainda assim preciso agradecer. — Pego as bolsas que
destinei a ela. — É um pequeno mimo para sua família, espero que
todos gostem.
— Ah, Giovanna, não precisava, eu não comprei nada para
você.
— E nem precisa, quase todos os dias está aqui, me cobrindo
de carinho e comidas deliciosas. — Dou um abraço nela.
Em seguida distribuo os presentes da Cosima, que também
se emociona por eu ter lembrado dos seus familiares. Trocamos um
abraço apertado, ela é bem quieta ao contrário de Maria que
conversa demais, porém não deixa de ser atenciosa comigo.
— Esses aqui são para você, suas irmãs e seus pais, Amaro.
— Entrego as cinco bolsas para ele. — Espero que todos gostem do
que comprei, você sempre fala com muito carinho da sua família,
então para mim todos são pessoas especiais. — Ele me encara
sério.
— Não deveria ter feito isso.
— Sei o que faço, Amaro. — Empurro as bolsas nas suas
mãos. — Vocês me fizeram sentir em casa em pouco tempo e
passaram a alegrar meus dias, esses presentes representam
apenas um pouco da minha gratidão.
Todos me olham com extremo carinho, acabamos
desenvolvendo ao longo desses seis meses uma boa amizade.
Apesar de eles manterem um extremo respeito por mim, nos nossos
momentos de descontração nos divertimos muito.
— Estou muito feliz em saber que vocês ganharam o carinho
e respeito da minha esposa. — Dom nos surpreende com sua
presença. — Saber que ela aprecia a companhia de todos me deixa
satisfeito. — Ele entrega a cada um dos seus funcionários um
envelope. — É um presente pela fidelidade de vocês.
— Obrigada, senhor — eles dizem ao mesmo tempo.
— Bom Natal para todos, nos vemos após as comemorações,
podem ir para suas famílias, daqui a pouco eu e Gio sairemos para
a ceia na casa de Paolo.
Antes que eles partam eu abraço cada um, desejando um
feliz Natal. Quando eles vão embora, Dom segura a minha mão e
me puxa contra seu corpo.
— Vá se arrumar, sei que precisa de tempo para se maquiar.
— Ele roça os lábios nos meus. — Só não demore muito, não quero
me atrasar.
— Eu não vou demorar. — Corro para meu próprio quarto, é
lá que mantenho todas as minhas maquiagens.
A casa do meu irmão está cheia, normalmente fazemos o
Natal na mamãe, mas este ano Paolo quis mudar. Com seu
casamento com Masha, a descoberta que ela é neta de Franco e o
aparecimento do seu irmão, a nossa festa acabou crescendo,
ganhando novos convidados. Graças a Deus esse ano Carmelo não
está presente, estragando a harmonia da confraternização.
— Como estão as coisas entre você e Dom? — Fiorella me
pergunta quando nos afastamos da confusão da sala.
— Estamos bem, fiz como me orientou e não penso muito
todas as vezes que chega tarde. Não nego que seja fácil, sou muito
ciumenta, mas sei que preciso me segurar.
— Tem mesmo, não seja o tipo de mulher que surta por tudo,
tente manter a cabeça fria.
— Sempre tento, não se preocupe.
— É tão bom ver Paolo feliz. — Os olhos dela brilham ao ver
meu irmão com a filhinha no colo.
Caterina tem o polegar na boca e sua cabeça está encostada
no ombro do pai, que conversa tranquilamente com Franco, Andrei e
meu marido. Ela é muito manhosa quando está com ele, sabe como
derrubar meu pobre irmão.
Quem diria que Paolo Torcasio, o temido Capo de Roma,
seria um pai tão dedicado e carinhoso?
— Não sei como meu irmão consegue, mas sabe ser um bom
homem para a nossa família — digo com um leve sorriso, ao ver
Caterina se jogar para Dom.
Ele a pega e como sempre Paolo faz uma cena de ciúmes,
ele não supera o fato dela trocar seu colo pelo do amigo.
— Domênico será bom pai também, olha como nossa
sobrinha gosta do seu marido. — Agora Caterina brinca com o
cordão dele.
Ele superou o fato dela tocá-lo, não estou chateada com isso,
porém sigo ansiosa para que ele também se desarme comigo.
Sempre que dormimos juntos eu busco me controlar para não o
tocar, minha sorte é que tenho sono pesado e mania de dormir com
as mãos embaixo do rosto, no entanto uma noite acordei com ele
tirando minha mão de cima do seu peito.
Pedi desculpas e ele apenas resmungou
desconfortavelmente que eu não precisava me desculpar, que era
ele quem devia fazer isso. Não gosto muito de conversar sobre este
assunto, vejo quanto fica constrangido, ter esse tipo de fraqueza
para um homem como ele é difícil, tanto que ele se nega a tentar
uma terapia.
— Quando você vai me dar uma nova sobrinha?
— Quero terminar minha faculdade, Fiorella, depois penso
nisso, meu marido também não quer filhos agora.
— Masha também não queria e olha só. — Nesse ponto ela
tem razão. — Com o marido que tem, você precisa ter todo cuidado.
Não respondo nada, apenas fico imaginando como seria um
filho nosso. Ainda não me sinto preparada para ser mãe, mas
quando eu sentir que é o momento certo, vou amar poder ter meus
filhos.
— Aí estão vocês. — Leo aparece. — Por que seu segurança
gato não veio?
— Porque ele está de folga, curtindo o Natal com a família.
— Ele podia curtir comigo, eu seria feliz.
— Pode parar, você precisa deixar o Amaro em paz, ele não
é gay.
— Preciso de um mafioso também, gente.
— Você precisa é sossegar, esse mundo da máfia não é para
você. — Fiorella o recrimina e enlaça o seu braço ao dele. — Agora
vamos beber um pouco de vinho, venham.
Ele fica emburrado, mas logo se anima quando minha irmã
começa a falar sobre sua viagem a Nova Iorque.

A hora de distribuir os presentes acaba virando um caos com


Paolo provocando Leonardo ao afirmar que não comprou nada para
ele. Os dois começam a brigar e cada vez que meu irmão implica
com Leo mais vermelho meu amigo fica.
— Venha aqui, deixe esses dois se matarem. — Dom segura
a minha mão.
— Só um minuto. — Corro para pegar o presente que
comprei para ele.
Retorno para o seu lado e entrelaço meus dedos aos seus.
Ele vai para o escritório do meu irmão, nos deixando longe de todo o
falatório da sala.
— Espero que goste, não sabia o que comprar. — Ele me
entrega uma bolsa de uma marca famosa de joias.
— Não precisava gastar tanto.
— É o nosso primeiro Natal casados, queria algo bem
especial. — Fico na ponta dos pés e o beijo.
— Obrigada, aqui seu presente. — Ele sorri ao pegar o
embrulho. — É algo simples, você já tem tudo.
— Realmente tenho. — Seus dedos deslizam por meu rosto.
— Agora abra seu presente.
Eu me livro da bolsa e desfaço o laço elegante que enfeita a
caixa. Quando revelo o conteúdo dela, abro a boca encantada pela
belíssima pulseira de diamantes.
— Meu Deus... é linda.
— Você é mais. — Ele retira a pulseira da caixa e coloca no
meu braço. — Adorei o meu presente.
— O que é um perfume perto disso? — questiono ao admirar
a bela joia no meu pulso.
— Tenho uma solução para você elevar um pouco o seu
presente. — Ele me abraça. — Pode me montar mais tarde e eu
aceito comer esse teu traseiro gostoso também — diz rente ao meu
ouvido.
— Como você é depravado. — Os olhos dele brilham
maliciosamente. — Talvez eu faça tudo isso que falou, vou pensar.
— Dom segura a minha cabeça e a sua boca desaba sobre a minha
em um beijo possessivo e quente.
Ele sabe como me enlouquecer apenas com um maldito
beijo, tudo neste homem me atiça, já estou ansiosa para sairmos
daqui e poder colocar em prática cada um dos pensamentos
sacanas que estão passando pela minha cabeça.
Levanto a cabeça assustada quando ouço a porta bater com
força. Vejo Domênico tirar suas luvas de couro e colocar o
sobretudo sobre o suporte perto da porta e entrar na sala sem
esconder a irritação.
— O que aconteceu?
— Esses malditos russos comendo nosso rabo. — Ele joga o
terno no sofá e se senta ao meu lado. — Paolo está puto e sofrendo
com os conselheiros querendo um contra-ataque depois deles
destruírem o restaurante de um dos nossos associados mais
poderosos.
— E agora? O que vocês vão fazer?
— Estamos tentando acalmar todo mundo, não dá para tomar
uma atitude sem pensar com calma, da última vez que seu irmão
agiu no calor da emoção, o resultado foi catastrófico com o seu
atentado.
— Calma, você está agitado demais.
— Agitado não descreve a metade do que estou sentindo,
quero matar esses russos, ainda não tive a minha vingança depois
do que fizeram com você.
— Esqueça esses malditos. — Beijo seu pescoço. — Ao
menos na nossa casa não quero que pense neles. — Roço o nariz
na sua barba. — Amanhã vou passar o dia na casa da mamãe
preparando a decoração para o nosso Ano Novo e, vou jantar por lá
mesmo. — Mudo de assunto para distraí-lo.
— Tudo bem. — Ele me aperta em seus braços. — Não vá
com seu carro, eu vou te buscar.
— Não precisa se incomodar.
— Eu quero — afirma ao segurar meu rosto. — O que vai
fazer com seu marido já que ele chegou cedo do trabalho? — Dom
ergue uma sobrancelha.
É muito safado.
— Que tal uma xícara de chocolate quente? — Prendo a
vontade de soltar uma gargalhada com a cara de decepção que ele
faz.
Antes que diga algo eu o beijo, tenho várias ideias do que
fazer com ele, somos dois tarados, não conseguimos nos desgrudar
nem por um segundo.

Entro na casa da mama ao lado de Dom e admiro a


decoração que eu e Fiorella fizemos para nossa comemoração de
Ano Novo, ficou tudo elegante como queríamos. Chiara como está
com a barriga grande demais nos ajudou em detalhes que não
cobravam tanto esforço.
— Vocês fizeram um bom trabalho — Domênico comenta ao
observar tudo.
— Foi cansativo, mas ficou como queríamos.
Neste momento Paolo chega carregando a filha e Masha
segue logo atrás. Ele troca um olhar tenso com meu marido, os dois
estão há três dias tentando controlar os conselheiros.
— Esqueçam o trabalho ao menos hoje — ordeno aos dois.
— Gio, tem razão. — Masha me apoia.
— Mas não falamos nada. — Domênico tenta se defender.
— Como se vocês precisassem falar algo para nós sabermos
que já estão pensando nos assuntos da máfia — digo ao pegar
Caterina.
— Não começa, Giovanna — Paolo resmunga.
Desisto dos dois e me afasto ao lado da minha cunhada.
Fiorella aparece carregando uma bandeja com alguns aperitivos e
coloca na mesinha de centro.
Nós três nos acomodamos no sofá e começamos a
conversar. Chiara chega e entra no assunto.
Olho para Ella sorrindo com tanta tranquilidade e me sinto
extremamente feliz. Esse ano foi uma mudança grande na nossa
família e todas essas transformações foram positivas.
Meus olhos seguem para onde meu marido conversa com
Giane e Paolo, ele entrou na minha vida e fez uma grande
revolução.
Parecendo notar que o observo, ele olha na minha direção.
Fico sem graça por ser flagrada o admirando, abro um discreto
sorriso, ele pisca e volta a conversar com os meninos.
Minha mãe chega para confiscar a netinha, ela pode ainda
não ter superado o casamento do meu irmão, mas quando se trata
de Caterina as coisas mudam, ela ama incondicionalmente essa
menina.
A nossa noite em família é aconchegante e harmoniosa, acho
que nunca vi todos tão tranquilos, até mesmo Paolo parecia agitado
quando chegou aqui, agora está sereno.
Caterina não aguenta muito tempo e dorme, ela brincou
bastante com todos nós, acabou se cansando rápido. Quando
chega meia-noite meu irmão abre o champanhe e comemoramos a
chegada de mais um ano, que eu espero que seja de ainda mais
alegria.
— Feliz Ano Novo. — Dom toca sua taça na minha.
— Na verdade, é mais que feliz. — Eu me aconchego nele.
— Esse ano foi muito especial.
— Foi mesmo — concorda comigo antes de beijar meu
cabelo. — Eu ganhei você. — Ergo o rosto para poder encará-lo.
— Eu fui ainda mais sortuda, me casei com você, aprendi a
dirigir, estou na faculdade, Caterina chegou, Chiara está gravida e
pude ver Fiorella renascer. Não tenho como agradecer tantas
bênçãos, sou uma mulher de sorte.
— Você ainda vai ter muitas outras realizações, eu vou
providenciar todas elas, porque te ver feliz é minha maior missão. —
Segurando meu queixo ele me beija. — Que tenhamos muitos e
muitos anos pela frente, mio bellissimo angelo.
Contendo fortemente a vontade de dizer “eu te amo”. Queria
ter coragem de me abrir para ele, mas não sei o que acharia da
minha declaração. Ainda me sinto insegura para revelar
completamente o que sinto.
Mas em algum momento eu vou ter que falar, porque não
aguento mais conter todos os sentimentos que nutro por ele.
O novo ano chegou com a Bratva disposta a nos foder,
atacando posições dos nossos aliados. Eles parecem querer que os
ataquemos de qualquer jeito, cada dia Paolo está ficando mais
instável e os conselheiros o pressionando de todos os lados
exigindo demonstração de força.
— Chefe, Anna entrou em contato comigo e pediu para avisar
que vai aceitar a sua oferta de emprego. Ela quer encontrá-lo o
quanto antes.
A informação de Santino me surpreende, parece que o novo
ano trouxe juízo para ela.
— Avise que a encontro hoje à noite.
— Certo. — Ele sai da minha sala.
Finalizo o meu serviço e sigo para o compromisso de final de
tarde com dois empresários de tecnologia, quero diversificar meus
próprios negócios.
A reunião é produtiva e acabamos estendendo para um
jantar. Aviso minha mulher que vou chegar tarde, como sempre ela
não reclama, ainda bem que não temos problema quando o assunto
é trabalho.
Já não digo o mesmo em relação a mulheres, Giovanna é
bem ciumenta e se souber que estou indo encontrar Anna terei
sérios problemas.
Chego no bar do Mattia e encontro o lugar bem
movimentado, vou para a parte superior, onde fica a área reservada
a seletos clientes. Peço que chamem Anna e vou esperá-la no bar, o
barman já sabe o que costumo beber e providencia a minha bebida.
Um tempo depois sou informado que ela está com um cliente.
Como quero resolver esse assunto o quanto antes, decido esperá-
la.
No momento que sigo para o segundo copo de uísque,
Bianco Rossi, um competente advogado da máfia se senta ao meu
lado. Começamos a conversar, ele é um homem agradável e muito
bom de papo.
A conversa flui que não vejo o tempo passar e acabo
percebendo que eu estava necessitado de um momento assim, fora
da minha rotina e longe das confusões do trabalho.
Quando Anna aparece encara Bianco com certo receio, peço
licença a ele, dizendo que tenho um assunto a resolver. Pelo
sorrisinho que nasce no seu rosto está achando que vou fazer um
programa com ela, odeio que pensem isso, mas não posso sair por
aí dizendo que não vou trair a minha esposa, porque sou
perdidamente apaixonado por ela. Isso causaria muita fofoca e,
principalmente, atrairia a atenção do meu pai.
Levo Anna para um canto do bar, onde ficam algumas mesas
redondas e altas. Ela se acomoda em uma das baquetas e cruza as
pernas.
Tenho alguns amigos que me devem favores, vou arrumar
alguma colocação nos negócios deles para que ela largue de vez
essa vida de miséria.
— Então tomou juízo? — Ela molha os lábios, parece
nervosa. — Você está bem? — pergunto preocupado.
— Claro que estou. — Aperto os olhos desconfiado, a postura
dela me diz outra coisa.
— Certo. — Opto por não a pressionar, talvez seu programa
da noite não tenha sido dos melhores. — Amanhã eu vou fazer
algumas ligações, buscarei um emprego que pague um valor
suficiente para você sustentar dignamente sua família, mas preciso
saber se tem alguma especialização, um curso, qualquer coisa que
me dê um norte para pensar onde começar a procurar seu emprego.
Anna apenas me encara, ela parece querer me dizer alguma
coisa.
— Dom, sabe que gosto muito de você, não é? Sou grata por
sempre me proteger e ter me ajudado quando minha mãe teve o
problema no coração.
— O que não está me dizendo? — Os olhos dela fixam-se
sobre meu ombro.
Tento olhar para trás, para saber o que está acontecendo,
mas Anna inesperadamente desce da banqueta e segura o meu
rosto para me beijar.
Paraliso, encaro seu rosto chocado, o que ela pensa que está
fazendo?
— Senhora, não pode estar aqui. — A voz grave de Santino
chama a minha atenção.
Meus olhos colidem com os da Giovanna e eu vejo a mágoa,
raiva e decepção se estampar no seu rosto. Os olhos dela marejam,
segundos depois grossas lágrimas caem por sua face.
— Eu te odeio, você é um mentiroso.
Ela empurra Santino que tenta interceptá-la e segue para o
elevador.
Ergo-me rapidamente e olho para Anna, que me encara com
o rosto inexpressivo. O meu corpo se agita e o meu lado cruel surge
sem que eu consiga controlá-lo. Seguro Anna pelo pescoço, ela
prende a mão no meu pulso, me encarando assustada.
— Agora, eu preciso me acertar com a minha mulher, mas eu
vou atrás de você e Anna... — Faço uma pausa. — Você não vai
gostar do que vou fazer, eu sou mau, não acredite no homem
educado que demonstro ser para a sociedade, posso e serei seu
pior pesadelo.
Eu a empurro e ela tropeça quase caindo no chão. Caminho
a passos largos e não espero o maldito elevador, desço correndo
pelas escadas, preciso interceptar Gio. Não faço ideia de como ela
entrou aqui, esse espaço é reservado aos homens da máfia, alguém
facilitou a sua entrada e eu vou descobrir quem foi.
— Senhor! O que está acontecendo? Como dona Giovanna
subiu? — Santino me pergunta, mas estou agitado demais para
respondê-lo.
Assim que piso no bar aberto ao público vasculho
rapidamente todo o local em busca da minha mulher, mas não a
acho.
— Merda! — praguejo. — Tente achar Giovanna ou Amaro,
certamente aquele maldito também está por aqui, ela não pode ir
embora — ordeno ao meu segurança.
— Amaro não a traria neste lugar — Santino fala ao andar
atrás de mim.
— Ela não estaria aqui sozinha.
— Dom, o que Giovanna fazia aqui? — Franco aparece na
minha frente. — Ela acabou de sair sozinha e entrou no próprio
carro, não vi Amaro com ela.
— Puta que pariu! — Passo por Franco e corro na direção
das portas duplas de saída.
Quando chego no lado exterior vejo o carro dela virar a
próxima esquina. Corro para o meu veículo que está estacionado
um pouco à frente. Não faço a mínima ideia de como ela ludibriou
sua segurança, mas se algo acontecer, eu não terei piedade de
quem está metido em toda esta história.
Manobro e saio da minha vaga, entro na frente de outro
veículo e quase colido com ele. O motorista buzina forte, mas pouco
me importo, só preciso chegar até minha esposa e explicar que tudo
o que ela viu não é o que parece.
A minha sorte é que o carro da Giovanna não é potente,
como ela começou a dirigir agora, nossa legislação de trânsito não
permite automóveis com muitas cilindradas, não vou precisar
acelerar muito para encontrá-la.
Avisto seu carro e certo alívio me domina, agora eu só
preciso me aproximar e fazê-la descer do veículo. Ligo para ela,
mas o seu celular toca até cair na caixa postal, tento mais três vezes
e não sou bem-sucedido.
Só para me foder ela consegue passar por um sinal, me
deixando para trás. Bato contra o volante, puto, não posso
ultrapassar essa merda sem causar uma colisão.
Angustiado espero o caralho do sinal abrir, assim que o verde
aparece, eu piso no acelerador. Preciso parar essa mulher o quanto
antes, por mais que ela seja boa dirigindo, ainda é inexperiente e
pode acabar se envolvendo em um acidente.
Enrugo a testa quando vejo o carro que vem logo atrás forçar
uma ultrapassagem. Esse idiota não vai passar por mim, a
prioridade aqui é chegar até minha mulher o quanto antes.
Não permito a sua ultrapassagem, bloqueio seu avanço,
acelerando um pouco mais.
É neste momento que recebo uma batida na minha traseira,
isso me faz olhar pelo retrovisor. O carro volta a me atingir, desta
vez com mais força.
Puta que pariu! Estão me perseguindo. Isso não é nada bom.
Preciso ter calma, não posso deixar que eles me ultrapassem
ou Giovanna estará em risco. Não sei se estão atrás dela ou de
mim, de qualquer maneira permitir que se aproximem da minha
mulher está fora de cogitação.
Volto a impedir que eles me ultrapassem e torço para que o
sinal feche e Gio passe novamente por ele, ganhando assim mais
distância de nós.
Infelizmente nós três ultrapassamos o sinal. Merda! Um
pouco de sorte não me faria mal neste momento.
Volto a ligar para Gio e dessa vez ela me atende.
— Dom, o que está acontecendo? Esse carro está te
perseguindo? — Fecho os olhos e solto toda a minha respiração.
Calma, Domênico, esse não é momento de se desesperar,
precisa trazer seu lado frio à superfície e encontrar um jeito de
proteger sua mulher, o grande amor da sua vida.
Sim. Eu a amo profundamente, entendi isso quando a vi
ferida, ali tive que assumir que preciso dela mais do que tudo.
— Apenas me ouça e fique calma, acelere o quanto
conseguir e entre em uma rua mais calma, eu vou impedir que me
ultrapassem, você está perto da casa do Paolo, siga para lá.
— Não posso deixar você sozinho, eles podem te pegar. —
Como pode pensar em mim quando está correndo risco? Essa
mulher não tem juízo.
— Meu carro é blindado, para eles me pegarem teriam que
ter uma arma potente que fure a blindagem, isso não vai acontecer,
apenas siga minhas instruções, eu posso lidar com eles sem
maiores problemas.
— Quero continuar a conversar com você, não desligue.
— Tudo bem.

Um pouco antes

Ajeito minha última camisola na gaveta e fico satisfeita com a


arrumação que fiz no meu closet. Andei um pouco relaxada e tudo
estava fora do lugar, então como estou com tempo livre, já que Dom
vai chegar tarde, eu decidi organizar meu espaço.
Ouço meu celular tocar e corro para atender, achando ser
meu marido, vejo um número fora da minha agenda aparecer na
tela.
Quem será?
— Alô. — Atendo curiosa.
— Se quiser saber quem é mesmo seu marido, vá ao bar do
Mattia agora, ele está com sua amante lá, nunca deixou de manter
Anna desde que se casaram, é com ela os compromissos que têm a
noite. Basta seguir para o elevador, uma pessoa te espera, vai
poder subir sem problemas, só não demore.
A ligação é encerrada e eu fico apenas olhando para o
celular, completamente perplexa com as informações que o homem
do outro lado da linha me deu.
Dom está me traindo com uma prostituta neste exato
momento?
Não, isso só pode ser mentira.
Uma batalha intensa acontece dentro de mim, não sei se
realmente quero saber que ele me traí. Se eu o ver com outra, tudo
o que construímos até agora irá desmoronar, não vou mais
conseguir manter o sentimento que sinto por ele, Dom me fez
acreditar que é um homem diferente, que posso confiar nele.
Meu corpo é sacudido por um tremor intenso, o medo de
descobrir a verdade não supera a minha curiosidade.
Pego a minha bolsa e saio do meu quarto, não consigo
pensar com racionalidade, porém me lembro do Amaro.
O que vou fazer para despistá-lo? Ele não me deixará sair
daqui, principalmente se eu contar aonde vou. Amaro deve saber o
que meu marido faz quando sempre diz que está trabalhando até
tarde, ele é fiel a Domênico, não a mim, fui uma tola em acreditar
que existe uma amizade entre nós.
Pense, Gio, pense rápido.
Volto para o meu quarto e pego a chave do banheiro, faço o
mesmo com a porta de entrada. Se eu trancar ambas, ele vai
demorar a conseguir sair, será o tempo suficiente para fugir. A essa
hora não vou mais à rua, então os outros seguranças que me
seguem já foram embora, só restou Amaro que sempre espera o
chefe chegar.
Grito pelo nome dele após esconder a minha bolsa sob as
almofadas. Não demora muito ele aparece, com seu semblante
tranquilo.
Será que fui realmente enganada por todo esse tempo?
— O que foi, Giovanna?
— Estou com um probleminha no banheiro, você pode me
ajudar? — Não demostro a angústia que me domina.
— Claro, o que está acontecendo?
— Sinceramente não sei, a torneira da banheira não está
funcionando.
— Vou ver o que pode ser.
Ele caminha até meu quarto rapidamente, quando entra no
banheiro eu espero que chegue perto da banheira. Amaro abre a
torneira e a água escorre com força.
— Não tem nada aqui, Gio. — No momento em que ele se
vira, eu bato a porta e tranco.
Corro desesperada ao ouvi-lo gritar, fecho a porta do quarto e
não penso duas vezes antes de caminhar para o elevador em busca
da verdade. Se Dom realmente me traí, hoje acabou em definitivo
nosso casamento, posso ficar presa ao meu marido por toda a
minha vida, porém nunca mais ele terá meu afeto, muito menos o
meu amor.
Estaciono de qualquer jeito, não sei se é autorizado parar
aqui, mas não me importo, não vou demorar tanto, preciso só ver
com meus próprios olhos essa possível traição.
Entro no bar e fico perdida, nunca vim neste lugar, não sei
onde fica a entrada para o andar superior.
— Por aqui. — Um homem elegante estende a mão
indicando que devo acompanhá-lo.
Essa deve ser a pessoa que vai me ajudar a subir, quem me
ligou alertou que alguém me esperaria.
Sigo ao seu lado até que ele me mostra o elevador, o homem
avisa que devo subir e seguir para o final do bar, que encontrarei o
meu marido na mesa a esquerda.
O meu coração bate tão forte que sinto que todos irão ouvi-lo.
Faço exatamente o que me foi orientado e, quando avisto Dom com
a boca grudada na da sua amante, o meu mundo de sonhos desaba
completamente.
Fico estática, ouvindo os cacos do meu coração caindo um
por um, em pedaços tão pequenos que jamais conseguirei juntá-los.
Acabou! Tudo o que vivi com Domênico foi uma mentira, passei seis
meses sendo enganada, quando ele esteve o tempo todo se
divertindo com uma puta.
— Senhora, não pode estar aqui. — Ouço Santino dizer ao se
aproximar, mas não ligo para ele.
Domênico nota a minha presença e nossos olhares se
encontram. Eu o fito em meio as lágrimas que começam a
despontar dos meus olhos sem que eu possa controlá-las. Não
queria que ele visse minha dor, mas conter tudo o que está
explodindo dentro de mim é algo impossível.
— Eu te odeio, você é um mentiroso. — Não sei como
consigo falar essas palavras, estou me sentindo completamente
sem rumo.
Empurro Santino quando ele tenta me segurar, estou com
tanto ódio me consumindo, que uso uma força tão desproporcional,
que consigo desestabilizá-lo.
Corro para o elevador e tenho a sorte de encontrá-lo vazio.
Desço em lágrimas, sem saber para onde ir. A cena dela com as
mãos em seu rosto e os lábios envolvendo os seus, nunca sairá da
minha mente.
Fui enganada esse tempo todo, Dom soube me seduzir e
garantiu que eu confiasse nele irrestritamente. Como eu o odeio, ele
não é melhor que o próprio pai, os dois se merecem.
Passo desnorteada por entre as mesas do bar quando saio
do elevador, preciso sumir daqui, sair deste maldito lugar. Corro até
meu carro, não sei para onde ir, mas ficar parada não é a opção.
Dirijo no automático, neste momento meu instinto me
controla, porque minha mente repete infinitamente o beijo deles. O
meu estômago se revira, penso em todos os beijos que trocamos,
depois de estar com uma prostituta.
— Como te odeio, Domênico, te odeio tanto, mas tanto... —
grito entre lágrimas.
Pelo retrovisor avisto o seu carro, piso no acelerador, mas
essa merda não tem potência, não vai demorar muito e ele me
alcança. O meu celular toca, sei que é ele, não vou atender.
Tenho a sorte de atravessar o sinal antes que ele fique
vermelho, abro um sorriso, vou tentar despistá-lo, com sorte consigo
me esconder em alguma rua. Aí eu pego um táxi e sigo para algum
hotel. Impossível ficar perto dele hoje, pensar em olhá-lo já me
causa repulsa.
A raiva que me consome parece um veneno, estou me
sentindo sufocar, são tantos sentimentos explodindo dentro de mim,
que fica difícil descrever cada um deles.
Olho pelo retrovisor e vejo Dom longe, preciso encontrar
alguma rua para entrar antes que ele se aproxime demais.
Volto a observar seu automóvel e um movimento estranho
chama a minha atenção. Ele parece interceptar o veículo que tenta
ultrapassá-lo.
Revezo meu olhar entre o trânsito e o que acontece com os
dois carros. Esqueço a minha intenção de fugir quando vejo que o
carro bateu na traseira do Dom.
Agora meu coração acelera ao entender que ele está sendo
perseguido por alguém. Ainda o odeio, mas nem por isso vou
desejar qualquer mal ao meu marido.
Meu telefone volta a tocar, desta vez atendo, porque pior do
que falar com meu marido traidor, é levar um tiro.
— Dom, o que está acontecendo? Esse carro está te
perseguindo? — pergunto aflita.
— Apenas me ouça e fique calma, acelere o quanto
conseguir e entre em uma rua mais calma, eu vou impedir que me
ultrapassem, você está perto da casa do Paolo, siga para lá. — A
voz dele é tão calma, que sequer parece que estamos enfrentando
um perigo.
— Não posso deixar você sozinho, eles podem te pegar.
— Meu carro é blindado, para eles me pegarem teriam que
ter uma arma potente que fure a blindagem, isso não vai acontecer,
apenas siga minhas instruções, eu posso lidar com eles sem
maiores problemas.
— Quero continuar a conversar com você, não desligue —
peço nervosa.
— Tudo bem. — Agora sinto certa tensão na sua voz.
Faço o que ele me orientou e entro em uma rua com menos
fluxo de trânsito, dirijo o mais rápido que consigo, sempre atenta ao
que acontece na traseira do meu carro.
Acesso outra rua, essa está ainda mais vazia, dois carros
seguem muito à frente de mim. Prendo a respiração quando ouço
tiros, meus olhos vão para o espelho retrovisor, acompanho o exato
momento que Dom atira, mesmo estando dirigindo.
Meu Deus! Meu marido é louco, ele pode morrer nesta
maldita troca de tiros.
Apesar dos disparos, os carros mantêm a alta velocidade por
conta da rua vazia. Eles se aproximam perigosamente de mim, o
meu coração já não bate, ele esmurra meu peito. O meu carro
também é blindado, não tenho medo dos tiros, mas temo que
Domênico seja atingido enquanto revida o ataque.
— Gio, não pare de dirigir, siga para o seu irmão, eu vou
parar esses malditos, entre na próxima rua e não olhe para trás. —
A voz dele está afobada, parece que correu muitos quilômetros.
— O que vai fazer?
— Apenas não pare, meu amor, por favor. — Ele encerra a
ligação e me deixa desesperada.
— Não Dom! Você não pode desligar — grito em meio as
lágrimas.
Apesar do desespero sigo em frente e entro na rua que ele
indicou. Meus olhos buscam pelo carro do meu marido e meu
mundo parece ruir quando ele faz um jogo cinematográfico com o
carro ao acelerar e logo em seguida atravessa o veículo na rua,
enquanto o empina em apenas duas rodas.
Piso no freio desesperada quando o outro automóvel passa
por cima do dele e capota três vezes. O carro do meu marido
também vira violentamente, mas estou tão desesperada tirando o
cinto, que não percebo mais nada além do medo do que possa ter
acontecido com ele.
Corro para socorrê-lo, mas antes de conseguir alcançá-lo,
vejo o carro dos bandidos saindo fumaça. Um deles tenta se livrar
do airbag, mas meus olhos são atraídos para perto do homem que
está no banco de trás e eu percebo um cigarro acesso.
Tudo acontece muito rápido, só consigo ter tempo de me
jogar no chão quando a explosão acontece. Minhas mãos ardem
quando o asfalto fere a minha pele, olho para cima a tempo de
presenciar mais uma explosão, desta vez com menor força.
Rastejo para a calçada, um homem aparece e me ajuda a
levantar.
— Você está bem? — ele pergunta preocupado.
— Meu marido, preciso ajudá-lo. — Consigo me desvencilhar
do homem e corro até Domênico.
Avisto-o desacordado, tento puxá-lo pela janela que graças a
Deus está aberta, mas ele é pesado demais para mim. Entro em
desespero e começo a pedir por ajuda, estou com medo do seu
carro também explodir.
— Se afasta, Giovanna, eu vou pegá-lo. — Olho para o alto e
vejo Santino.
Alívio me domina com a sua presença, ao contrário de mim,
ele consegue retirar Dom do veículo, o afastando do carro.
O seu rosto está coberto de sangue, mal consigo ver sua
face. Como seu cabelo se soltou, vários fios grudaram em sua pele.
— Chame a emergência, Santino, ele precisa de
atendimento.
— É melhor o nosso médico vê-lo.
— Não! O acidente foi grave, ele precisa de exames
específicos. — Apoio as mãos em seu rosto. — Vai ficar tudo bem,
eu estou aqui.
A raiva que estava sentindo desaparece por completo, agora
só preciso que fique comigo, podemos conversar depois, sou capaz
de perdoá-lo, só não posso perdê-lo.
Ele geme e faz uma careta quando abre os olhos. Queria ser
forte o suficiente para não chorar, mas vê-lo ferido assim, tão
vulnerável, está me matando por dentro.
— Gio... — Sua voz sai fraca.
— Não fale, os médicos estão chegando, eu estou com você,
só fique quieto.
Dom tira a mão que tenho em seu rosto e leva até seu peito.
Ele a cobre com a sua e me encara. Fico parada, sentindo seu
coração acelerado sobre a palma da minha mão.
— Eu te amo, Gio, nunca te trairia. — Ao fundo ouço as
sirenes. — Desculpa por ser um fraco, mas saiba que desde sempre
me tocou bem aqui. — Faz uma pressão com minha mão sobre o
seu coração. — Nele, você mais que tocou, na verdade, você o
tomou em suas mãos. Ele é seu, sempre será, não sei como toda
essa merda vai acabar, mas se eu me for, não duvide da minha
fidelidade nem por um segundo, mio bellissimo angelo.
— Dom... — Não consigo retribuir a sua declaração, pois o
socorro chega.
— Senhora se afaste, precisamos imobilizá-lo. — Ignoro o
pedido do paramédico e o beijo, engolindo o medo de ser a última
vez que vou vê-lo com vida.
Mãos firmes me seguram e quando olho para o alto, Amaro
me tira de perto da movimentação dos socorristas. Não sei como
chegou até aqui, mas estou feliz de vê-lo.
— Vai ficar tudo bem, ele é forte.
— A culpa é minha, eu causei tudo isso.
— Existe um culpado sim, só que não é você. — Ele me
abraça e eu me sinto desintegrar quando choro sem controle contra
seu peito dominada pelo medo de perder o homem que amo.
— Coloque meu casaco, você está tremendo de frio. —
Amaro ajeita a peça nas minhas costas.
— Não estou com frio. — Na verdade, estou tremendo de
nervoso.
— Você saiu fugindo de casa e está só com essa blusa fina
que não esquenta nada. — Seu olhar é duro. — Quando tudo isso
passar e seu marido voltar para casa, iremos conversar.
— Eu não... — Interrompo meu pedido de desculpas quando
Paolo aparece ao lado da esposa.
— O que está acontecendo? — pergunta ao encarar minhas
mãos que estão com curativos, pois ficaram feridas com a minha
queda.
Corro até ele e o abraço aos prantos, estou com tanto medo
de perder Dom, ele desmaiou na ambulância e teve uma parada
cardíaca bem na minha frente, foi a pior cena que já vi em toda a
minha vida.
— Paolo, Dom sofreu um acidente grave, ele quase morreu
na ambulância, chegou aqui desacordado.
— Calma, pequena, você está agitada demais, sente-se aqui.
— Ele segura meu rosto ao se agachar na minha frente. — Vai ficar
tudo bem, seu marido já passou por coisas piores, ele vai sair
dessa. — Balanço a cabeça em negativa.
— Você não viu como estava, eu presenciei sua parada
cardíaca. — Paolo fica sério. — Meu Deus! Eu podia tê-lo perdido
ali, a culpa é minha.
— Como assim?
— Paolo, por que não conversa com Santino e Amaro sobre
todos os detalhes? Sua irmã não está em condições de falar nada.
— Masha apoia a mão no ombro do marido.
— Recebi uma ligação avisando que ele estava com a
amante, quando cheguei no Mattia vi os dois se beijando, aí eu me
descontrolei e fugi, mas acabei sendo perseguida, certamente pelos
russos e... — Inspiro fundo. — Dom causou um acidente para me
salvar.
— Dio Santo! — Ouço minha cunhada exclamar, mas estou
concentrada em Paolo. Eu vejo uma diversidade de emoções
explodirem em seus olhos.
— Senhor, houve alguma situação estranha nessa história. —
Santino para ao nosso lado. — Sua irmã subiu sem ser impedida, no
andar superior ela não poderia ter acesso.
Paolo ergue-se, ele parece a ponto de matar alguém.
— Não vamos pensar em nada agora, Dom vem em primeiro
lugar, eu vou resolver esse assunto mais tarde. — Ele estende a
mão e acaricia meu cabelo. — Alguém tentou foder o casamento de
vocês, Domênico não te traí, eu saberia se isso estivesse
acontecendo.
Lembro das últimas palavras do meu marido e me sinto uma
completa idiota por perder o controle, acabei nos colocando em
risco e a vida dele agora está em jogo.
— Calma, vamos pensar no melhor, Dom vai sair dessa,
confia, minha amiga. — Masha me envolve em seus braços e, mais
uma vez nesta noite, eu desabo.

Horas depois já não tenho mais lágrimas para chorar, só


tivemos a notícia de que estavam tentando estabilizar meu marido,
mas que precisávamos esperar.
— Tenha fé, minha querida, vai dar tudo certo. — A minha
sogra aperta a minha mão.
Não digo nada, estou exausta, preciso apenas ter certeza de
que ele está vivo e vai voltar para casa. Ao menos o seu pai não
está presente, ninguém conseguiu falar com o miserável, o telefone
do homem está desligado e espero que fique por muito tempo, vê-lo
não me ajudaria em nada.
Como ando com pouca sorte ultimamente, o maldito aparece
e já chega com aquele seu olhar de pura arrogância.
— O que aconteceu ao meu filho? Recebi a notícia agora.
— Por onde andava, Francesco? — Paolo pergunta mal-
humorado.
— Não é da sua conta, tinha assuntos particulares a resolver.
Que homem nojento, posso imaginar o tipo de assunto que
estava resolvendo.
— Como aguenta esse porco? — pergunto à Concetta. Ela
me encara chocada, pois não fiz nenhuma questão de falar baixo,
quero que ele ouça o quanto o desprezo.
— Do que me chamou, menina? — Francesco me encara
com ódio.
— Porco, nojento, miserável, abominável. Você representa
tudo de ruim, tenho ódio de você.
Ele dá um passo à frente, mas Paolo apenas estica o braço
paralisando-o.
— Pare agora ou eu quebro o seu pescoço aqui mesmo,
foda-se se estamos em um hospital, eu não ligo.
Neste momento surge um médico e interrompe a discussão.
Rapidamente levanto e peço a Deus que as notícias sejam boas.
— Vocês fazem parte da família de Domênico Pizzorni.
— Exatamente — meu irmão responde. — Sou o cunhado,
esta é a esposa dele e os pais. Como está meu amigo? — O médico
me encara.
— O estado dele neste momento é crítico. — Eu me agarro a
Paolo, como se ele fosse minha tábua de salvação. — O acidente
foi bem impactante e o paciente teve uma hemorragia interna,
conseguimos conter o sangramento, ainda assim estamos
preocupados. Ele também tem um coágulo no cérebro, estamos
medicando, com sorte vai se dissolver apenas com os remédios.
Afundo o rosto contra o peito do meu irmão, tudo o que
acabei de ouvir não é nada bom.
— Isso significa que ele corre risco de vida? — Francesco
pergunta.
— As primeiras 48h serão fundamentais, se ele passar bem
por este momento, estaremos mais que otimistas com a sua
recuperação.
— Posso vê-lo? — pergunto aflita.
— Seu marido está na UTI, não pode ficar recebendo visitas,
mas pedirei para que uma enfermeira venha buscar você e a mãe
dele, ambas precisarão vestir uma roupa especial para vê-lo e cada
uma não pode passar mais que cinco minutos.
— Tudo bem. — O médico acena e vai embora.
— Olha pra mim. — Paolo apoia a mão nas laterais do meu
rosto. — O pior já passou, quando menos esperar ele vai para casa
com você. E esqueça toda essa história de amante, eu vou achar
quem inventou isso e resolverei as coisas do meu jeito.
Aceno para ele, depois de tudo o que estou passando só
consigo pensar na recuperação do Dom, a parte da possível traição
veremos depois, quando ele estiver recuperado. Assim como o
médico alertou, a enfermeira aparece e nos encaminha para uma
sala especial onde nos vestimos para poder acessar a área da UTI.
Deixo Concetta ir na frente, ela é mãe e está desesperada
com o acidente do filho mais velho. Até porque eu tenho
responsabilidade em tudo o que aconteceu, agi impulsivamente e
contribuí para que toda essa tragédia acontecesse.
Pareço enfrentar uma eternidade até que ela sai do quarto
chorando. Fico imóvel, em dúvida se realmente quero vê-lo
desacordado. Ainda estou com a imagem do médico em cima dele,
pressionando seu peito, enquanto o barulho da máquina de
batimentos apitava sem controle.
— Vá, querida, converse com ele, vai fazer bem ao meu filho.
— Concetta beija minha testa, ela é tão doce para viver ao lado de
alguém como o marido.
Entro na UTI e o barulho das máquinas dos pacientes é
opressor, o cheiro estéril causa um rebuliço no meu estômago.
Avisto Dom inerte, com uma série de aparelhos presos em seu peito
e uma máscara estranha controlando a sua respiração.
Ainda bem que ele está sedado, porque se acordar e ver o
tanto de aparelhos grudados em sua pele, vai enlouquecer.
Paro ao seu lado e seguro sua mão, está tão fria, longe do
calor que estou acostumada a sentir. Apoio a mão na sua cabeça e
vejo que rasparam uma parte do seu cabelo para poder cuidar da
sua ferida, ele não vai gostar disso, pois tem um apego imenso aos
seus fios longos.
— Você vai sair dessa, meu amor. — Beijo sua testa. — Eu
vou estar aqui o tempo todo, vou cuidar de você a cada segundo.
Uma lágrima cai e desce por sua face machucada. Sinto
vontade de me deitar ao seu lado, vê-lo tão sozinho e frágil acaba
comigo.
— Não posso ficar mais tempo, preciso ir, mas estarei por
perto, te esperando acordar. — Encontro um espaço entre os
diversos aparelhos contra seu peito e o toco, feliz em poder acessar
livremente essa parte do seu corpo sem incomodá-lo. — Te amo
mais que tudo, volta pra mim.
A enfermeira avisa que meu tempo acabou, olho feio para
ela, mas vou embora, sei que está fazendo seu trabalho.
Descarto minhas roupas e volto para área de espera, Fiorella,
minha mãe, Paolo e Masha me rodeiam. Chiara não veio porque
todos nós proibimos, mas estamos mantendo-a informada sobre
tudo.
— E aí? Como foi lá dentro? — meu irmão pergunta.
— Horrível ver tantos aparelhos espalhados por seu corpo, é
uma cena difícil.
— É para o bem dele. — Fiorella me abraça. — Vamos para
a casa da mama, ficaremos cuidando de você.
— Não. — Nego rapidamente. — Quero ficar na minha casa.
— Mas Gio... — Ella me olha aflita.
— Fico tomando conta de você, então — Paolo se oferece.
Olho para Amaro, que conversa em um canto com Santino.
— Amaro, pode ficar comigo hoje? Quero permanecer no
meu apartamento.
— Claro, senhora, se quiser podemos ir embora agora
mesmo.
— Então, eu vou com você, fico quietinha, juro não te
perturbar. — Vejo a preocupação nos olhos da minha irmã.
— Tudo bem.
Eu me despeço de todos e sigo atrás de Amaro e Santino.
Quando passo ao lado de Francesco, ele apenas me lança um
sorriso torto, que não chega aos seus olhos.
Odeio esse homem, os russos deveriam caçá-lo, não a mim e
meu marido.

Cinco dias se foram e o pior passou, Dom anda respondendo


bem ao tratamento e saiu do estado crítico, o médico o transferiu
para a ala de terapia semi-intensiva.
Agora estou mais calma e esperançosa de que em breve vão
poder diminuir os sedativos para ele acordar. Esse apartamento não
é o mesmo sem ele, tudo é tão vazio, Mercury tem sido meu ponto
de apoio, passamos o período, que fico aqui, sempre juntos.
— Olha o que preparei. — Leo aparece com duas canecas
fumegantes. — Chocolate quente para aquecer esta noite fria.
— Você é demais. — Ele se acomoda entre Mercury e eu,
rapidamente o safado bate a pata na perna dele pedindo carinho.
— Esse cachorro é um carente de carteirinha, como gosta de
um chamego.
Enquanto Leonardo coça a barriga dele, eu acaricio sua
cabeça. Experimento o chocolate e o sabor adocicado se espalha
pela minha boca.
— Ei, não quero você triste, o bonitão está bem, em breve
voltará para casa.
— Ainda não estou sossegada, só quando ele acordar e eu
ver que está bem é que ficarei calma.
— Eu te entendo, meu anjo, mas você precisa estar forte
para receber seu marido.
— Tanta coisa aconteceu entre nós, não sei se vou ter o
mesmo casamento. — Suspiro fundo. — Paolo me garantiu que
Dom não me traí, mas e o beijo que vi? Estou confusa, Leo, não sei
o que pensar sobre toda essa história. Estou disposta a ouvir meu
marido e perdoá-lo depois de toda essa loucura. Quase perdê-lo me
mostrou que preciso lutar pelo nosso amor, porque ele me ama,
disse isso antes de ser socorrido.
Sou pega de surpresa quando Leonardo segura a minha
cabeça e me beija na boca. Eu fico surpresa, não consigo esboçar
nenhuma reação. Ele move lentamente os lábios contra os meus,
em seguida se afasta sorrindo.
— E aí? — pergunta ao experimentar sua bebida. — Eu te
beijei, se o seu marido tivesse aparecido, pensaria que estávamos
nos pegando. Nem tudo é o que parece ser, Gio, não perca o amor
que tem com Domênico.
Fico muda, não sei o que falar. Repasso a cena na minha
mente e acabo percebendo que Dom estava parado, era Anna que
tinha as mãos nele e o beijava. Não havia nenhum toque do meu
marido, ele estava tão inerte quanto eu fiquei quando Leo me beijou.
— Meu Deus! Como fui estúpida. — Finalmente tenho a
certeza de que tudo não passou de uma armação como Paolo e
Amaro afirmaram.
— Você não foi estúpida. — Ele segura a minha mão. —
Apenas viu uma cena forte, teve ciúmes e quis ir embora. Ninguém
pode te exigir maturidade quando tem apenas dezoito anos e foi
obrigada a casar sem nunca ter se relacionado com um homem.
Todo mundo vê o quanto ama aquele pedaço de mau caminho do
seu marido, quem não teria ciúmes dele?
— Será que essa Anna fez tudo isso porque Dom se afastou
dela?
— Dinheiro faz muitas coisas baby, a rejeição também. — Ele
ergue uma sobrancelha. — Você recebe uma ligação, flagra seu
marido com ela e tem bandidos na sua cola. Isso não é
coincidência, vai por mim. — Abro a boca perplexa. — Já conversei
com o carcamano e esbocei as minhas suspeitas, Paolo concordou
comigo, mas disse que precisa ir a fundo nesta história, para assim
tomar uma atitude racional.
Não consigo dizer nada, se a teoria de Leonardo for
verdadeira, ou essa Anna é muito perigosa, a ponto de se unir aos
russos, ou eles estão dispostos a tudo para derrubar os líderes da
Cosa Nostra a qualquer custo.

Entro no consultório de mãos dadas com meu irmão. Ele foi


me buscar para que viéssemos conversar com o médico.
— Por favor, sentem — ele pede. — Hoje vamos começar a
diminuir os sedativos do senhor Pizzorni, nas próximas horas ele
deve começar a esboçar discretas reações. Não iremos despertá-lo
de uma vez porque precisamos acompanhar com calma sua
evolução clínica.
— E o coágulo no cérebro dele? — pergunto nervosa. —
Existe alguma possibilidade de perda de memória?
— Os medicamentos foram suficientes para diminuí-lo, não
existe mais risco de cirurgia. Quanto à memória só quando ele
acordar que poderemos saber, mas pelas tomografias acredito que
não haverá nenhum problema, o coágulo ficou localizado em uma
área oposta da memória.
— Ai que alívio. — Sorrio para Paolo.
— Ele vai poder ter companhia?
— Sim, senhor Torcasio, agora alguém pode ficar com ele
vinte e quatro horas por dia.
— Perfeito. — Meu irmão aperta a mão do médico. — Muito
obrigado, doutor, gostaria de visitá-lo antes de ir embora.
— Não precisa agradecer, é o meu trabalho. — Também
aperto a mão do doutor, reafirmando o agradecimento do meu
irmão. — Vou pedir que alguém acompanhem vocês até o quarto do
paciente.
Saímos do consultório e rapidamente nos levam para o novo
quarto que colocaram Domênico. Quando entramos a cena é bem
diferente dos últimos oito dias, quando o visitei na terapia semi-
intensiva. Não existe mais um arsenal de aparelhos ligados a ele,
agora é apenas meu marido dormindo serenamente.
Paro ao seu lado e seguro sua mão, ainda está fria, mas eu
sei que em breve tudo será diferente e finalmente o levarei para
casa.
— Desculpa, Dom, se eu não fosse tão estúpida nada disso
aconteceria — digo me sentindo uma tola por duvidar dele e não
permitir que se explicasse adequadamente.
— Não diga isso. — Meu irmão para do outro lado da cama e
passa o dedo pelo curativo da cabeça dele. — Porra, quando Dom
acordar e descobrir que acabaram com seu cabelo vai ser uma
confusão. Acho que a última vez que cortou o cabelo tinha uns
dezesseis anos, depois disso sempre o manteve na altura dos
ombros.
— O importante é ele estar vivo, o cabelo cresce. — Coloco a
minha mão no meio do seu peito, meu irmão ergue as sobrancelhas
surpreso, mas fica quieto.
— Assim como o importante é você parar de se culpar, eu
vou achar quem realmente é o culpado e aí eu acerto as contas.
— Acha que foi uma armação da Anna com os russos?
— É bem provável, a mulher sumiu, ninguém têm notícias
dela e, o homem que a ajudou não conhecemos, mas preciso
descobrir com quem ele tem contato dentro da máfia, pois só
alguém do nosso meio consegue autorização para subir.
— Essa história é muito louca, Paolo. — Ele ergue um canto
da boca.
— É a realidade da máfia, pequena, só sobrevivem os fortes
e eu não nasci para ser um fraco. Alguém irá pagar e será com
muito sangue.
Como agora Dom pode ter visitas, combinei com minha sogra
que ela ficaria com o filho durante o dia e, a partir do final da tarde
eu assumiria tudo. Faço questão de estar com ele diariamente, não
admito que ninguém fique no meu turno. Não ligo que venham
visitá-lo ou que alguém decida ficar comigo, mas não abro mão de
estar com meu marido.
Há dois dias estão diminuindo sua sedação e já estamos
vendo pequenos movimentos nas suas mãos, às vezes suas
pálpebras tremem. Hoje a equipe médica interrompeu de uma vez
os sedativos, agora todos estamos na expectativa dele começar a
demonstrar algum tipo de reação.
Só peço a Deus que conserve a memória dele, não gosto de
pensar que Dom possa acordar sem se lembrar de mim.
— Oi — revelo a minha presença a Concetta quando entro no
quarto. — E aí? Como ele está?
— Bem, não houve alteração da sua pressão e a tomografia
que fizeram mostrou uma melhoria incrível do coágulo, já não é
mais uma preocupação, agora estamos apenas na expectativa do
meu filho despertar. — Ela acaricia seus cabelos com ternura.
— Em breve ele estará acordado, fique tranquila.
Estou ansiosa para ver seus olhos, poder novamente ouvir
sua voz e ter sua presença imponente de volta à vida.
— A senhora pode ir, ando preocupada com sua apatia, a
cada dia está mais magra e com a aparência mais frágil. —
Concetta, corre a mão pelo rosto demonstrando cansaço.
— Não é fácil lidar com Domênico neste estado e, Francesco
sendo uma pessoa pior a cada dia, está insustentável ficar lá em
casa quando ele está presente. — Sinto piedade dela, passar a vida
ao lado de um homem como seu marido é um castigo sem fim.
— Vamos esperar Dom melhorar, depois pensamos no seu
marido, Paolo pode acabar com esse inferno.
— Eu não posso desejar a morte dele, é meu marido, isso é
contra as leis de Deus.
— Mas eu posso. — Abraço a minha sogra. — Agora vá
descansar, amanhã precisa voltar.
— Fica com Deus, minha filha, você é uma menina especial,
Domênico teve sorte em ser destinado a ser seu esposo.
— Quem diria que nossos pais fossem nos presentear com
algo tão bom? — Concetta sorri e vai embora.
Quando fico sozinha no quarto me sento na poltrona ao lado
do Dom e, descanso a cabeça sobre o seu peito. Deslizo os dedos
entre os fios do seu cabelo, pedindo a Deus que o desperte logo,
não aguento mais sentir sua ausência, preciso do meu marido de
volta.
— Eu acredito em você, meu amor, me perdoa por levantar a
suspeita que estivesse me traindo, fui uma tola e ajudei a causar
essa confusão. Quando voltar para mim juro que sempre te darei a
chance de se explicar, nunca mais deixarei o ciúme me dominar, eu
prometo.
Acordo com um gemido, pisco os olhos várias vezes, até que
percebo que é Dom. Prendo meus olhos no seu rosto, ele resmunga
algo, mas parece permanecer dormindo.
Aperto o botão que fica atrás da cama para que alguma
enfermeira venha verificar o que está acontecendo. Não demora
muito e uma mulher baixinha e sorridente entra no quarto.
— O que aconteceu?
— Acordei com ele gemendo, parece estar despertando.
Ela se aproxima e começa a verificar sua pressão, faz outros
tipos de procedimentos, até que se vira para mim com o semblante
bem tranquilo.
— Finalmente ele está voltando, aos poucos você vai
perceber reações mais acentuadas no seu marido, neste momento
provavelmente está tendo um sonho, mas o efeito dos sedativos é
bem forte, demora a sair do corpo.
— Entendi, muito obrigada por ter vindo rápido.
— É meu serviço, querida, me chame se precisar de mais
alguma coisa.
Quando ela sai volto a me sentar ao lado dele e levo sua mão
até meus lábios.
— Acorde logo, Dom, quero te levar para nossa casa.
Infelizmente ele não esboça nenhuma reação, mas eu tenho
certeza de que está muito perto de irmos embora daqui.

Coloco o casaco e ajeito a gola, hoje no final da manhã Dom


teve outro tipo de reação, ele balbuciou meu nome e apertou a mão
da mãe quando ela pediu.
Meu marido está voltando, a cada hora que passa estamos
mais perto de tê-lo lúcido. Estou eufórica, louca para poder estar
novamente com ele, mal consegui descansar pensando que ele
possa acordar sem eu não estar por perto.
Pego minha bolsa e saio do quarto, Mercury vem atrás de
mim, o pobrezinho anda ficando tempo demais sozinho. Fico com
pena dele, mas no momento não tem o que fazer.
— Amaro, vamos, estou com pressa — grito por ele. — Seja
bonzinho quando Cosima te levar para passear, amanhã mamãe
está de volta e, com um pouco de sorte, até o final da semana
teremos nosso grande amor em casa. — Beijo a cabeça dele.
— Esse cachorro vai ficar mal-acostumado com tanto
carinho. — Amaro sorri.
— Ele é como filho. Vamos logo, quero ver meu marido.
— Santino acabou de me ligar, disse que ele moveu a
cabeça, parece que o chefe vai acordar a qualquer momento. —
Olho para o meu segurança animada.
— Jura? Ai meu Deus! Estou contando os segundos para ele
sair daquele hospital.
Quando entro no carro Fiorella me liga para avisar que vai
passar no hospital para ficar um pouco comigo, a mamãe também
vai junto. Digo que já estou a caminho e ela comunica que também
não demora a chegar.
O trajeto até o hospital é feito rapidamente, Amaro como
sempre me acompanha, ele fica ao meu lado até o início da noite,
depois outro homem da equipe de Dom assume a segurança.
Para minha surpresa não encontro Concetta no quarto, quem
está por lá é Paolo e Masha.
— Ué, minha sogra foi embora mais cedo?
— Pedi para ela descansar, a mulher parece um zumbi. —
Beijo meu irmão enquanto ele explica a ausência dela, em seguida
faço o mesmo com Masha.
— Ela me disse que está tendo problemas quando o marido
está em casa, aquele homem é abominável — Paolo suspira fundo.
— Francesco anda sendo um pé no saco, vou esperar Dom
ficar bom e penso no que faço com aquele diabo velho.
— Eu não me importo com o que vá fazer desde que não se
prejudique.
— Não se preocupe com nada, bambina. — Ele afaga meu
cabelo.
Falo um pouco com Dom, sempre tenho esperança de que vá
despertar. Minha mãe e Fiorella chegam e passamos um tempo em
família, ouvindo de Masha sobre os preparativos para a festinha da
filha e acabamos conversando com Chiara por telefone, ela está
chateada por não poder vir constantemente ao hospital.
Minha irmã fez apenas duas visitas a Dom, como está indo
para a reta final da gravidez, não a queremos andando pelo
ambiente hospitalar.
Assim que minha família vai embora, Amaro entra e passa
um tempo comigo. Ele pede que o chefe volte logo e, avisa que
Mercury anda manhoso demais.
— Preciso ir — avisa quando o segurança da noite chega.
— Obrigada por sempre estar comigo. — Ele para à minha
frente.
— Ainda não conversamos a fundo sobre o que aconteceu,
mas quero te pedir uma coisa: — Faço sinal para prosseguir. —
Nunca mais se coloque em risco como fez. Para a sorte de todos o
seu marido vai ficar bem e vocês retomarão a vida, mas podia ser
diferente.
— Sei disso, se eu pudesse voltaria no tempo.
— Infelizmente não pode, porém deve aprender com seus
erros.
— Pode apostar que eu aprendi. — Seus olhos vão para
Dom.
— O chefe não te trocaria por Anna, ele só se ofereceu para
ajudá-la a ter uma vida digna, mas afeto verdadeiro tem apenas por
você. Ele te ama, só um cego não vê. — Amaro beija a minha testa.
— Amanhã estarei aqui para te pegar e espero ver esse dorminhoco
acordado. — Sorrio.
— Também espero por isso, até amanhã.
Vou até à cama do Dom e ajeito o seu lençol um pouco acima
da sua cintura. Sua barba está grande demais, depois de quase
duas semanas neste hospital. Ainda assim ele continua lindo,
apesar da sua pele pálida.
Corro a ponta do indicador por suas sobrancelhas, elas têm
um tom bem claro, fica tão linda no seu rosto sexy.
— Acorda logo, eu não aguento mais te ver dormindo. —
Beijo seus lábios e acaricio seu rosto.
— Com tanto carinho assim, ele não vai acordar. — O meu
corpo fica tenso ao ouvir a voz do meu sogro.
— O que faz aqui a esta hora? — Ele sorri e se aproxima da
cama.
— Vim visitar meu primogênito.
Francesco exala maldade, de todos os homens do clã ele é o
que mais desprezo. Nunca o vejo sendo agradável ou ao menos
sociável, ele se esforça para sempre ser uma pessoa abominável.
— Bem... deveria fazer isso quando sua esposa está com ele.
— Francesco ergue um canto da boca, exibindo aquele sorriso vil,
que me enoja.
— Faço a hora que quiser, ninguém me diz o que fazer, sua
puta. — Levo um susto quando ele puxa a arma com um silenciador
do interior do terno e a encosta embaixo do meu queixo. — Se você
gritar por socorro, eu atiro em você e mato o imprestável do meu
filho. O segurança que está lá fora terá o mesmo destino, não será
problema para mim sair daqui.
Não consigo ter reação, estou sem acreditar no que está
acontecendo, só posso ter dormido e estou tendo um pesadelo.
— Vai fazer tudo o que eu pedir, se não quiser ficar viúva.
— O que você quer?
— Sua boceta. — Arregalo os olhos com pavor. — Siga para
o banheiro e tire essa calça. — Ele afunda a arma na minha pele.
— Pode me matar, não vou sair daqui. — Francesco bate no
meu rosto.
— Se não me obedecer, vou fazê-la ver seu marido agonizar
até morrer.
A vontade de vomitar é quase insuportável, mas eu não
posso permitir que mate Dom. Se eu mantiver a calma, posso
encontrar um jeito de desestabilizá-lo e pegar sua pistola.
Faço o que me mandou e sigo para o banheiro, Francesco
mantém a arma na minha nuca, ele realmente está disposto a tudo.
Olho ao redor e não vejo nada pesado o bastante que possa me
ajudar a derrubá-lo.
Pense Gio, você precisa encontrar um jeito de escapar.
Se eu ao menos estivesse de frente para ele, poderia tentar
algum movimento.
— Abra a porra da calça, estou doido para te foder, sei que o
merda do meu filho nunca te comeu de verdade. Você é apaixonada
demais por ele, se o covarde tivesse sido o tipo de homem que o
ensinei a ser, você o veria com medo e respeito, não com amor.
Abafo um grito quando ele puxa meu cabelo brutalmente e
escorrega o cano da arma pelo meu pescoço.
— Quando eu acabar com você, não poderá foder por no
mínimo uma semana. — Sinto a bile subir quando roça a ereção na
minha bunda. — Você ainda cheira a leite, se eu tivesse tempo, ia te
foder de várias maneiras, seria música para meus ouvidos, fazê-la
implorar por piedade.
— Você sabe que vai ter que ir embora do país quando tudo
acabar, não é? — pergunto ao esconder o tremor na minha voz. —
Quando Paolo souber o que fez, é um homem morto.
— Talvez eu o mate antes — diz rente ao meu ouvido. —
Abaixa logo essa calça.
Com mãos trêmulas faço o que ordena, neste momento me
recuso a chorar, não vou permitir que ele veja todo meu pânico.
— Que bunda linda, talvez eu precise de mais tempo, só a
sua boceta não será o suficiente.
— Você é um velho nojento. — Fecho os olhos quando ele
aperta a minha bunda com extrema força, claramente tendo a
intenção de me machucar.
— Isso, me xingue sua vadia, assim eu fico mais excitado. —
Solto um som sufocado quando lambe meu pescoço. — Fui eu que
armei para você, sequestrei o filho daquela puta e a obriguei a beijar
Domênico quando você chegou ao bar. — Arregalo os olhos em
choque. — A ideia inicial era apenas arruinar a felicidade de vocês,
mas os russos entraram inesperadamente em jogo e deixou tudo
mais divertido. — Francesco solta uma risada maligna. — Uma pena
Dom ter sobrevivido, seria maravilhoso te ver viúva e culpada por
perder seu amado marido depois que soubesse que Anna não é sua
amante.
— Meu Deus! Que tipo de doença você tem? Como pode
desejar a morte do próprio filho?
— Criei esse desgraçado para ser Capo, mas ele se aliou ao
seu irmão, não quero um filho fraco, todo homem da família Pizzorni
deve mostrar força.
— Dom é muito mais forte que você, jamais chegará aos pés
dele.
— Eu vou chegar aonde ele nunca permitiria. — Mantendo a
arma no meu pescoço ele começa a puxar minha calcinha.
Fico sem reação quando o seu toque me abandona e um
baque alto soa atrás de mim. Giro o rosto e vejo Amaro com um
cilindro de oxigênio acertando Francesco sem piedade. Sua arma
voa para o lado, enquanto meu segurança destrói a cabeça dele
com sucessivos golpes.
— Desgraçado! — blasfema e desfere mais um golpe. —
Acabou para você, finalmente o seu fim chegou.
Tento falar algo, mas me sinto em choque com a fúria de
Amaro e o sangue espirrando para todo o lado. Algo esponjoso sai
da cabeça de Francesco, o seu crânio foi rompido e massa
encefálica está se espalhando pelo chão.
— Pare! — Meus olhos vão para a porta, onde Domênico tem
as mãos apoiadas no batente. — Ele está morto, só pare, Gio está
vendo — pede a Amaro.
— Dom... — Tento ir ao seu encontro, mas quase caio ao
tentar me mover e, só agora, noto que ainda tenho a calça arriada,
juntamente com parte da calcinha.
Rapidamente eu as levanto, fechando o zíper e botão. Corro
até meu marido, abraçando seu pescoço.
— Você acordou. — Ele tomba para trás soltando um gemido,
ainda assim apoia uma mão na minha cintura.
— Foi porque precisava de mim que despertei. — Fecho os
olhos quando ele beija meu cabelo. — Estou muito tonto, preciso
que me ajude a deitar na cama.
— Oh, meu Deus! — Só agora percebo sua instabilidade. —
Preciso da sua ajuda — peço ao outro segurança que está parado
no quarto com a arma em punho depois de escutar toda confusão.
— Que porra aconteceu aqui? — pergunta ao me ajudar a
levar Dom para a cama. — Estava conversando com a minha
esposa no telefone quando escutei barulhos estranhos depois que
Amaro voltou para buscar o celular, aí eu vim verificar o que era.
— Francesco tentou me violentar, Amaro me salvou —
respondo ao colocarmos Dom na cama.
Meu marido fecha os olhos e parece ter corrido uma
maratona. Sua mão vai para a lateral da barriga e lembro que ele
ainda está se recuperando, certamente está sentindo dor.
— Por que não me chamou, senhora? Eu permiti a entrada
do maldito por ser o pai do chefe, nunca imaginei que ele fosse
fazer algo assim.
— Ele ameaçou matar a todos nós se eu gritasse, não podia
arriscar, aquele homem era um maníaco. — Apoio a mão no braço
do meu marido. — Está com muita dor? Vou chamar a enfermeira.
— Não — ordena ao segurar meu pulso. — Antes você
precisa ligar para Paolo e avisar o que aconteceu, temos que limpar
a cena do crime e silenciar a diretoria do hospital. — Dom abre os
olhos e encara o segurança. — Fique de guarda e não permita que
ninguém entre. — O homem concorda e vai embora.
Amaro aparece na porta do banheiro coberto de sangue, sua
respiração ainda é irregular.
— Peça alguma roupa ao seu irmão para mim, Giovanna,
preciso tomar um banho e me livrar de todo esse sangue. — Aceno
e pego o celular, para a minha sorte meu irmão atende no terceiro
toque.
— Dom acordou? — pergunta sem esconder a ansiedade.
— Você precisa vir agora para o hospital.
— O que aconteceu? — Meu queixo treme e, pela primeira
vez, depois que tudo aconteceu, eu permito que as lágrimas caiam.
— Francesco está morto, Amaro o matou quando o flagrou
tentando me estuprar no banheiro. — Recebo apenas o seu silêncio
como resposta. — Dom finalmente acordou, você precisa limpar a
cena do crime, trazer roupas novas para Amaro e silenciar a
diretoria do hospital. — Minhas palavras saem atropeladas.
— Gio, precisa ser forte agora, apenas me espere, eu estou
chegando com meus homens, irei cuidar de tudo.
— O.k. — Inspiro fundo tentando me controlar. — Dom está
comigo, eu vou ficar bem.
Paolo desliga e eu fico parada no meio do quarto, ainda
tentando acreditar que toda essa loucura aconteceu. Se Amaro não
volta para buscar seu celular, eu estaria neste exato momento
sendo brutalmente violentada, tendo meu marido sem condições de
me defender a poucos passos de mim.
Um soluço alto escapa da minha boca, quando penso que
escapei desse terror, eu tive sorte, minha irmã nunca teve, ela
passou anos por esse tipo de atrocidade.
— Gio, venha aqui, sente-se ao meu lado. — Olho para meu
marido e o vejo tão fraco, que meu coração se quebra
completamente. — Não chore meu amor, acabou! Ele não vai mais
nos importunar.
— Você se lembra de tudo o que aconteceu? — pergunto
querendo testar sua memória. — Sabe como veio parar aqui?
— Lembro de tudo, só não posso te dizer o que aconteceu
depois que eu apaguei.
— Essa parte foi pura angústia. — Sinto um tremor percorrer
meu corpo ao lembrar de tudo o que passei, quando achei que ele
morreria. — Foi ele, Dom, seu pai tramou para nós, aquele maldito
confessou que odiava nossa felicidade. O sonho dele era que você
fosse mau comigo.
— Na verdade, ele odiava o mundo. — Domênico estende a
mão. — Só fique aqui comigo até seu irmão chegar, não tenho
condições de te proteger agora, mas posso ao menos te abraçar.
— Você sempre me protegeu. — Consigo me mover e me
acomodo ao seu lado. — Eu te amo, Dom já faz tanto tempo, só
nunca tive coragem de te contar isso.
— Não mais do que eu a amo. — Seus lábios macios
pressionam a minha testa. — Eu tenho até medo de dizer o quanto
de amor sinto por você. — Minha respiração fica presa quando ele
volta a colocar a minha mão contra seu peito. — Você é minha vida.
— Nossos olhos se encontram.
Pela primeira vez desde que nos casamos vejo meu marido
desarmado de sua fachada de homem frio. Agora é apenas ele e
todo o sentimento que sente por mim.
Esqueço tudo o que acabou de acontecer e me agarro a ele,
ouvindo seu coração bater, aliviada por tê-lo novamente comigo,
principalmente por saber que nunca mais teremos que colocar os
olhos no seu pai.
Ainda estou atordoado demais para pensar direito em tudo o
que aconteceu neste quarto. Não sei quanto tempo passei
desacordado, mas lembro de ouvir em especial as vozes da Gio e
minha mãe.
Por diversas vezes tentei despertar, mas uma força maior
parecia me aprisionar. Só que em algum momento a minha mente
pareceu dar um estalo e eu comecei a emergir da escuridão quando
ouvi a voz do meu pai ameaçando Gio.
Os momentos em que tentei ganhar consciência para me
levantar, enquanto ela corria perigo, foram os mais aterrorizantes da
minha vida. Bem pior do que quando ela apareceu naquele maldito
bar e acreditou que eu estava beijando Anna.
Quando Amaro entrou no quarto eu senti um alívio
indescritível, não sei como consegui gaguejar que ele precisava ir
ao banheiro, pois Gio estava em perigo.
Sem pestanejar ele seguiu meu pedido e quando parou em
frente a porta, voltou e pegou um pequeno cilindro de oxigênio que
ficava no canto do quarto.
Em seguida só ouvi os golpes. Naquele momento sabia que
meu pai não sairia vivo, fiquei grato ao meu segurança, ele estava
livrando o mundo de uma fera cruel.
— Se você não voltasse para pegar seu celular... — Gio
comenta quando Amaro sai do banheiro já sem a blusa e com as
mãos e rosto limpos do sangue.
— Esqueça tudo o que aconteceu aqui, em especial a parte
que esmaguei a cabeça de Francesco. — Ele me olha ainda tenso.
— Nunca vou te pagar pelo que fez por minha mulher.
— Eu jurei ser leal ao senhor e... — Amaro olha para Gio. —
Sua esposa é como se fosse uma das minhas irmãs, eu dou a
minha vida para proteger todas elas.
Não tenho tempo de falar mais nada, pois Paolo entra
acompanhado dos seus soldados, juntamente de Franco e Giane.
— Giovanna, como você está? — Ele segue para perto da
irmã, que está sentada na cama segurando a minha mão.
Rapidamente ela desce e vai abraçá-lo. Envolvendo seus
braços ao redor dele, que a ampara enquanto Gio chora
intensamente. Eu queria poder sair dessa cama e cuidar dela, mas
meu corpo dói, minha cabeça lateja e a tontura que sinto, quando
tento me mover, é insuportável.
Estou um inválido, não sirvo para nada neste momento.
— Calma, meu anjo, passou, agora está segura. — Os olhos
do meu amigo buscam os meus. — Bem-vindo ao mundo real.
— Na verdade, ao nosso mundo fodido. — Mal acordei e a
desgraça que vivo já caiu sobre mim.
— Foi Francesco que armou tudo na noite do acidente, ele
queria destruir meu casamento. — Paolo fica surpreso com a
revelação da irmã. — Ai, meu Deus! — Giovanna arregala os olhos.
— O que foi? — ele pergunta assustado.
— Eu esqueci com essa confusão de toda a conversa que
tivemos. — Ela me encara. — Seu pai disse que sequestrou o filho
da Anna, até onde sei ela sumiu desde aquela noite, será que eles
ainda estão vivos? — O meu coração dispara, o maldito do meu pai
é bem capaz de ter matado os dois.
— Franco, providencie um rastreador para caçar Anna, e se
achá-la quero que a levem até mim — Paolo ordena.
— Farei isso em minutos, agora venha aqui — pede ao voltar
a olhar para o corpo do meu pai.
Beijando a cabeça da irmã, Paolo se afasta e vai na direção
do banheiro, onde Franco, Giane e Nicolo olham toda a cena
nefasta.
— Aconteceu uma festa aqui — Giane comenta.
— Festa é pouco, isso é para ficar como ensinamento dentro
do clã, ótima forma de matar alguém com agilidade. — Franco
parece satisfeito com o serviço do meu segurança.
— Uau! — Paolo assovia. — Você esmagou a cabeça dele.
— Sorrindo olha para Amaro. — Por que usar um cilindro? — A sua
curiosidade mórbida chega a ser engraçada.
— Ele tinha uma arma contra a cabeça da Giovanna, não
sabia se estava ou não destravada, se soubesse da minha presença
poderia atirar antes que eu tivesse a chance de agir. Já havia visto o
cilindro no quarto, quando pensei em pegar o bastardo de surpresa
lembrei do objeto, sabia que o primeiro golpe seria o suficiente para
derrubar alguém sem que tivesse tempo de esboçar uma reação.
Infelizmente Francesco nem deve ter sentido a sua morte, ele caiu
tonto e no segundo ataque apagou.
Amaro diz tudo isso com calma, com a perícia de alguém que
foi treinado para matar e, agir de maneira fria quando uma
emergência acontecesse. Ele aprendeu bem, esse foi um dos
motivos que o escolhi para ser o segurança da Gio, assim como eu,
meu soldado sabe manter a cabeça fria.
— Meus parabéns! — Paolo aperta a mão dele. — Matou
Francesco de forma justa, sangrenta e sem chances de defesa, uma
pena que ele não sofreu, mas nada é perfeito nesta vida, com
exceção da minha pequena filha, então tudo bem — comenta ao dar
dois tapas no ombro do Amaro. — Vou te elevar de cargo, agora
será um dos meus capitães, fez por merecer a promoção.
— Como é? — Ele fica sem reação.
— Isso significa que Amaro não será mais meu segurança?
— Gio pergunta tensa.
— Seu marido arrumará outro tão bom quanto ele, Santino é
um grande nome, Dom pode ter a companhia de um novo soldado,
até porque sabe se defender sozinho.
— Não quero Santino.
— Assim você me magoa. — Ela olha para trás surpresa ao
perceber que Santino entrou sorrateiramente no quarto, certamente
Amaro ou Paolo o avisou do ocorrido.
— Desculpa, Santino, não é nada pessoal, mas Amaro é meu
amigo, ele me faz companhia todo o tempo que meu marido está
longe.
— Você vai superar a ausência do seu ex-segurança. —
Paolo pega um cigarro, mas paralisa quando Franco olha feio para
ele.
— Estamos em um hospital, não pode fumar aqui.
— Quem disse que não?
— Paolo... — Seu subchefe o recrimina com autoridade.
— Vai pra puta que pariu. — Paolo guarda o cigarro. —
Limpem esse caralho todo, eu vou ver se o Diretor-geral já chegou,
pedi que viesse me encontrar. Teremos que isolar todo o andar para
retirar esse abutre podre do banheiro, quero cada canto bem limpo,
nada de deixar vestígios para que não haja burburinhos do que
aconteceu aqui.
— Seremos cirúrgicos, chefe. — Nicolo faz sinal para sua
equipe começar a preparar o ambiente.
— Também preciso ir, vou tentar encontrar Anna. — Franco
se aproxima de mim. — É bom vê-lo de volta, você nos deu um
susto.
— Sou duro na queda. — Ele sorri e vai embora. — Por que
não fica comigo enquanto toda essa loucura não acaba? — Gio me
olha exibindo um nariz vermelho do choro.
Estou me sentindo exausto, quero muito dormir, mas preciso
me forçar a ficar acordado, porque sei que minha mulher precisa de
mim.
— Eu estou com medo do que seu pai possa ter feito a uma
criança — diz ao se sentar ao meu lado e encostar a cabeça no meu
ombro.
— Não vamos pensar em nada, no momento só precisamos
esperar para saber o que Franco vai achar. — Beijo sua testa. —
Espero que ambos estejam bem.
Gio apoia a mão no meu peito e, ao invés de me retrair, sinto
conforto com seu toque. Agora eu entendi que ela faz parte de mim
e que eu a quero por perto o tempo todo.

— Eu não sei o que falar, tudo isso é inacreditável. — Minha


mãe olha para Giovanna, assim que soube do ocorrido ela veio
direto para o hospital com meus dois irmãos. — Só posso te pedir
perdão, querida, jamais pensei que Francesco fosse tão longe,
ainda estou em choque.
— A senhora não tem que se desculpar, acabou, agora todos
nós estamos livres da presença do seu falecido marido.
— Nunca esperei nada de bom vindo do pai, mas o que ele
fez com você é fora da curva. — Meu irmão Guido apoia a mão na
cabeça da minha esposa. — Ainda bem que Amaro te salvou.
— Felizmente terminou tudo bem. — Gio fica séria. —
Francesco me assediou na última vez que participei do jantar na
casa de vocês — ela diz essas palavras encarando minha mãe. —
Ele tocou na minha bunda e me disse palavras desagradáveis.
— E por que não me contou sobre isso? — pergunto irritado.
— Fiorella me aconselhou a não falar nada para evitar uma
tragédia, ela pediu para que eu ficasse longe do seu pai e apenas
contasse o que aconteceu caso se repetisse.
— Você não pode simplesmente esconder do seu marido
esse tipo de informação — esbravejo.
— Tive medo de que você o matasse e causasse uma
confusão na Famiglia.
— O importante é que nós estamos livres do papai, não
briguem por causa dele. — Ambra olha entre todos nós. — Agora é
Dom que ficará responsável por mim e a mamãe, estou aliviada com
sua morte, não consigo ter nenhum tipo de empatia por nosso pai,
ele era tão mau.
— Acho que todos nós estamos aliviados — digo ainda me
sentindo irritado, por saber só agora sobre o assédio que minha
esposa sofreu. — Cuide de tudo Guido, eu não sei quando vou ter
alta.
— Não se preocupe com nada, pense só na sua
recuperação. — Ele escorrega a mão pelo cabelo. — Se já não
bastasse ele ser o responsável direto pelo seu acidente, ainda tenta
abusar da própria nora, o nosso pai foi longe demais.
— Que vergonha. — Minha mãe apoia as duas mãos contra o
rosto e volta a chorar.
— Se acalme, mãe, a senhora não tem motivos de sentir
vergonha, ao menos agora nós teremos paz — digo me sentindo
cansado demais. — Preciso dormir, estou exausto.
— Vá descansar, você passou por muito estresse. — Gio
acaricia meu braço.
— Você devia ir para casa, posso ficar aqui sozinho.
— Não vou sair do seu lado. — Ela segura a minha mão. —
Agora durma, eu estou bem.
— Nunca mais esconda nada de mim.
— Prometo que não vou.
Como não tenho muito o que fazer apenas fecho os olhos e
mergulho em um sono agitado, com cenas horripilantes do meu pai
sobre Gio e eu sem conseguir socorrê-la quando me pedia ajuda.

Dois dias após a morte do meu pai recebi alta e pude deixar o
hospital, sendo um alívio do caralho. Odeio ficar aprisionado em um
quarto com pessoas me tocando, pior que isso foi descobrir que
acabaram com o meu cabelo e eu tive que cortá-lo curto, depois de
quase quinze anos mantendo o corte.
Estou em um estado de frustração e, irritação, que só não é
pior porque Giovanna não sai do meu lado.
— Tão bom te ver em casa, tive tanto medo de te perder. —
Seguro a mão da minha mulher e levo até os lábios.
— Você não vai se livrar de mim tão rápido — digo sorrindo.
— Não estou brincando, quando eu te vi estendido naquela
rua coberto de sangue, pensei que não sairia vivo. — Ela fecha os
olhos. — Fui tão impulsiva, me perdoa Dom.
— Gio, esqueça essa história, o importante é que
sobrevivemos a tudo e agora estamos bem.
— Com licença. — Amaro aparece na sala. — Paolo está
subindo com a esposa.
Giovanna me olha apreensiva, também me sinto agitado,
espero que ele traga boas notícias.
Não demora muito Paolo chega acompanhado da Masha e a
filhinha, sua expressão não demonstra que teremos más notícias.
— Achamos Anna escondida na casa de uma amiga, ela e a
família estão bem — diz sem rodeio.
Aceno satisfeito, não seria justo que sofressem algo por
causa do meu pai.
Apesar de ela ter me traído, existe uma criança nesta história
que não entende nada do mundo dos adultos.
— Que alívio, pensei muito nessa criança — Gio comenta,
ela passou todos esses dias preocupada com o menino.
— Todos nós estamos aliviados. — Masha se senta e ajeita a
filha em seu colo.
— Acho que Francesco não teve tempo de fazer nenhuma
maldade, pelo que Anna contou o desgraçado foi bem cruel com
toda a família dela. O homem que ajudou Giovanna a subir no bar
era o capanga que a vigiava para cumprir as ordens do maldito, ela
não teve como avisar a Dom o que estava acontecendo.
— Pelo jeito, ele planejou tudo com muita cautela.
— Seu pai era ardiloso. — Paolo se acomoda ao lado da
esposa. — Anna queria te ver pessoalmente para se desculpar, mas
não permiti, o que está feito não pode ser mudado e eu não a traria
para a casa da minha irmã. — O rosto dele está com a expressão
dura.
— Fez bem, não temos mais nada a conversar, mas como te
pedi se puder a ajude com um emprego.
— Já providenciei o futuro dela bem longe de Roma. — Ele
apoia os braços sobre os joelhos e cruza as mãos. — E você?
Como está?
— Pelo rosto corado está bem. — Masha sorri satisfeita.
— Realmente estou cada dia melhor, ainda irritado por
perder meu cabelo, porém em breve estarei de volta ao trabalho. —
Paolo ergue um canto da boca quando falo do meu cabelo.
— Cabelo cresce, meu amigo, o importante é que está entre
nós — concordo com ele, no entanto, não consigo deixar de
lamentar a obrigação de assumir um novo visual. — Quando se
recuperar vamos pensar em uns dias para viajar com minha irmã,
vocês merecem um descanso. — Ergo uma sobrancelha surpreso
com sua proposta.
— Paolo sendo bonzinho?
— Jamais! — rapidamente nega. — Agora quero saber
quando irá dispensar os serviços do Amaro, eu preciso formalizar a
sua mudança de cargo.
— Não quero que Amaro saia da minha segurança — Gio
protesta.
Eu até poderia me irritar com a resistência da minha esposa
em abrir mão do seu segurança, mas entendo que para ela a
imagem do Amaro representa confiança, depois de tudo o que ele
fez.
— Ele merece essa promoção, Giovanna, não vou impedir
que siga seu caminho.
— Eu confio de olhos fechados nele, Dom.
— Sei disso, mas tenho outros homens que também tomarão
conta de você, com a mesma competência e fidelidade.
— Podem pensar na segurança depois, com você ainda se
recuperando, Gio vai passar a maior parte do tempo em casa. —
Paolo se aproxima do sofá e beija a testa da irmã. — Não dê muito
mole para seu marido, se for mimado demais vai protelar a voltar às
atividades normais.
— Eu não estou com pressa dele voltar a trabalhar. — Ela
passa os braços ao redor de mim.
— Parem de se agarrarem na minha frente — pede quando
seguro o queixo de Giovanna.
— Será que pode deixar de ser implicante? — Masha
pergunta irritada.
Ignoro completamente meu cunhado e afundo meus lábios
nos dela, foda-se se ele vai espumar de raiva, eu estou na minha
casa, ao lado da minha mulher. Posso beijá-la quando eu bem
entender.
— Que inferno! — Ouço Paolo resmungar. — Vamos embora,
Masha.
— Vá você, eu vou conversar com Maria e descobrir o que
ela preparou para o almoço, vou passar a tarde aqui.
— Volta aqui, inferno vermelho. — Ele segue atrás dela.
— Não deveria provocá-lo desse jeito. — Gio acaricia meu
peito. — Gosto tanto de te tocar assim.
— Eu gosto ainda mais de ser tocado pela minha esposa —
digo a última palavra lentamente. — Desde que coloquei uma
aliança no seu dedo tem sido apenas você na minha mente, na
minha vida e bem aqui. — Pressiono sua mão contra meu coração.
— É só você, meu amor.
— Ah, Dom. — Ela segura o meu rosto e me beija. — Eu te
amo mais que tudo e quero te amar por toda minha vida.
— Sempre estaremos juntos, eu prometo.
E para confirmar minhas palavras selo os nossos lábios, feliz
por saber que temos uma vida inteira pela frente e uma família a
construir.
Nunca imaginei que encontraria tanta felicidade,
principalmente por ela vir das mãos de alguém que eu odiei a vida
toda.
Meu pai foi meu maior algoz, porém também foi o
responsável por me unir a um verdadeiro anjo.
Fecho o robe de seda e ajeito meu cabelo, sorrio para o meu
reflexo no espelho, contente com a minha produção. Eu espero que
meu marido goste da surpresa que preparei.
Desde que ele saiu do hospital, há um mês, entramos em
uma nova lua de mel e, para completar nossa felicidade, espero
apenas meu marido arrumar um tempo para que possamos viajar.
Entro no quarto e o encontro revirando a gaveta da mesinha
de cabeceira. Ele está sem blusa e as tatuagens nas suas costas
ganham destaque.
Poder tocá-lo sem restrição era tudo o que sonhei, hoje eu
me sinto de fato interligada a ele, é como se agora realmente nosso
casamento fosse completo.
Acaricio seu cabelo que agora é curto e beijo sua nuca, em
seguida espalho beijos pelo ombro. Ele gira o rosto e enruga as
sobrancelhas, seus olhos azuis me fitam com curiosidade.
— O que eu fiz de bom para merecer esse momento de
beijos?
— Você sabe que gosto de beijá-lo. — Descanso os braços
ao redor do seu pescoço. — E gosto ainda mais de tocá-lo.
Dom tenta me segurar, mas eu escapo e pulo para fora da
cama sorrindo.
— Fica quietinho, tenho planos para nós esta noite. — Ele
olha desconfiado. — Quero que deite e relaxe.
— Você está bem mandona. — Colocando as mãos atrás da
cabeça ele me observa. — Que planos você tem?
Não digo nada, apenas desfaço o laço do robe e o deslizo por
meus ombros. A peça cai no chão e ver a expressão de choque do
meu marido não tem preço.
No dia que completei dezoito anos, o Leonardo me deu um
lindo espartilho com ligas sexys. Naquele dia fiquei extremamente
envergonhada, principalmente porque na hora Dom chegou e me
flagrou com a lingerie na mão.
Desde então nunca o usei, mas hoje eu quero estar bem
sensual para o meu marido.
Os olhos dele descem lentamente pelo meu corpo, em uma
avaliação silenciosa, que me faz pegar fogo com o desejo que
observo espalhar em seu olhar.
— Lembra o dia que ganhei isso? — pergunto ao me
aproximar da cama.
— E como esquecer? Aquele cretino do Leonardo me fez te
imaginar nisso e até aquele momento eu nunca tinha tido nenhum
pensamento impuro com você.
— E depois teve? — Jogo o cabelo para o lado ao me
posicionar rente a cama.
— Como não ter? — Reprimo um gemido quando sua mão
toca a minha coxa.
— Não é nada legal ter pensamentos sacanas com a irmã do
seu melhor amigo.
— De qualquer maneira a irmã dele seria minha mulher. —
Apoio as mãos nas suas coxas quando subo na cama.
— Tivemos um bom destino. — Escorrego minha mão por
seu abdômen, desde que nos casamos queria sentir os gomos da
sua barriga na palma da minha mão, finalmente posso ter acesso a
cada parte dele.
— O melhor possível. — Dom toca meu cabelo quando vou
espalhando beijos por sua barriga. — Se um dia alguém me
dissesse que existe felicidade dentro da máfia, eu acharia essa
pessoa uma estúpida. — Seus dedos embrenham-se entre os fios
do meu cabelo. — Só que aí surgiu você e muita coisa aconteceu
desde então.
— Aconteceu o amor. — Espalmo as mãos contra seu peito
sorrindo. — Você não imagina como eu tinha vontade de fazer isso.
— Rodo a ponta da língua no seu mamilo, recebendo em troca um
gemido. — A vontade de poder beijar e tocar cada parte sua, sem
que me afastasse, era quase uma obsessão.
— Por sua causa venci meus medos — gemo quando aperta
minha bunda. — Ainda não gosto que me toquem, mas isso não se
aplica a você, necessito ter seu contato a cada segundo. — O meu
coração explode de tanto amor.
— Ninguém além de mim precisa chegar perto. — O
desgraçado sorri.
— Ciúmes?
— Você sabe que sim. — Arranho a unha por sua pele. —
Nós, os Torcasios, somos naturalmente possessivos.
Volto a espalhar beijos por seu tronco, lambo, me esfrego
nele, mostro sem pressa o quanto o desejo, cada parte do seu corpo
é perfeita e eu quero provar.
Foi um caminho tão tortuoso até que nos encontrássemos de
verdade, que pudéssemos nos abrir, deixar a paixão que nos unia
falar mais alto.
Foi preciso a vida agir de uma maneira brutal para que nos
libertássemos de todos os temores.
— Sua sobrinha deixa bem claro a tendência possessiva da
família quando monopoliza o pai. — Prendo um grito quando ele
infiltra a mão entre os fios do meu cabelo e me força a encará-lo. —
Não quero que tire nenhuma peça.
Sem que eu possa impedi-lo muda nossas posições, sorrindo
quando prende minhas mãos acima da minha cabeça. Com os olhos
presos aos meus ele me toca por cima da calcinha, mordo o lábio
inferior gemendo enquanto fricciona tentadoramente meu clitóris.
Contorço o corpo, tentando me desprender, mas Dom não se
abala e começa a mordiscar meu pescoço, em seguida sua boca cai
para o vale entre meus seios. Ele lambe a minha pele e suga a parte
exposta do seio esquerdo.
Neste momento sou puro líquido, preciso urgentemente senti-
lo me invadir com a potência que sempre me enlouquece.
— Não aguento mais, quero você.
— Ah, mio bellíssimo angelo, você aguenta sim.
Com um sorriso diabólico ele me tortura sem nenhuma
pressa, sequer se importa quando ameaço o matar se não me der
um orgasmo.
Quando acho que não vou mais suportar ele solta uma das
ligas usando apenas uma mão. Prendendo meu olhar faz o mesmo
com a outra, em seguida beija meu queixo.
— Eu vou te foder com cada um desses itens, enfeitando seu
corpo, exceto essa maldita calcinha. — Mordo o lábio inferior
quando sinto-o afastá-la para o lado e testar minha umidade. —
Mais que pronta.
— Você sabe que estou. — Forço novamente minha mão,
dessa vez ele me deixa livre.
Rapidamente ele tira a minha calcinha e livra-se da cueca
samba-canção. Sorrio satisfeita quando encaixa sua ereção entre
minhas pernas, gememos juntos quando inicia a penetração.
Puxo-o para um beijo, enroscando minhas pernas na sua
cintura, fazendo com que vá mais fundo. Gememos satisfeitos com
a perfeição que sempre nos moldamos.
Passo a mão por seu cabelo curto, ele sofreu tanto para
cortá-lo, ainda não se acostumou com o novo visual, no entanto, eu
o achei lindo de qualquer jeito, amo Dom na sua essência, o seu
exterior apenas o deixa ainda mais perfeito.
— Te amo, Domênico — declaro sentindo meu corpo pegar
fogo. — Você é o grande amor da minha vida. — Ele perde um
pouco o ritmo, mas volta a se mover.
— Eu não sei como nós conseguimos encontrar o amor nesta
loucura que vivemos. — O seu olhar está profundo, cheio de
sentimentos. — Mas eu te amo também, te amo pra caralho. —
Sorrimos, parecemos dois bobos, estamos tão apaixonados que fica
difícil não espalhar a felicidade que estamos vivendo.
Rapidamente encontramos o nosso ritmo, forte, primitivo,
cheio de paixão. Nós nos completamos em cada detalhe, Dom é
minha alma gêmea e, enquanto eu viver, ele terá todo o meu
coração.
— Papa! — Caterina grita quando avista o pai. — Papa. — O
dia que ela falou “papai” pela primeira vez foi uma comoção, isso
tem mais ou menos quinze dias.
Masha ficou mais vermelha que seu cabelo de tanta raiva,
enquanto Paolo parecia que ia explodir de orgulho. Os dois
discutiram, ela se mostrou ferida pela preferência da filha aprender a
chamar pelo marido, até que eles se acertaram quando o marido
prometeu ensinar à pequena a também chamar por “mamãe”.
É um pouco estranho ver Paolo carregando uma criança para
todo lugar, ele não deixou de ser o homem truculento que preciso
sempre estar contendo nos assuntos da máfia, mas quando se trata
da família vira outra pessoa.
— Meu Deus você está toda suja. — Ele toma a filha dos
braços da minha mulher.
— Ela se divertiu com o próprio bolo de aniversário. — Gio
sorri.
Observo no seu queixo um pouco de recheio que a sobrinha
deixou, instintivamente passo o polegar pelo local e levo até os
lábios.
— Dom? — Ela me encara confusa.
— Tinha recheio aí. — Rodeio a sua cintura. — A festa foi
animada.
— Isso porque eu restringi a presença da maior parte dos
conselheiros — Paolo comenta.
— Você fez bem, eles não são seus maiores fãs. — Caterina
se atira para o meu lado, agora nós dois nos damos bem, já não me
importo que me toque.
— Que traidora. — Ele olha chateado para a filha, mas sua
atenção logo é distraída pelas irmãs que se aproximam.
Chiara está bem perto de ter sua primeira herdeira e, Fiorella
pronta para passar um tempo em Nova York.
— Estou indo embora, meus pés estão inchados demais
nessa reta final da gravidez. — Chiara abraça o irmão.
— Vá descansar sim, onde está seu marido?
— Conversando com Franco e o irmão da Masha. — Ela
beija seu rosto. — A festa estava linda, Caterina se divertiu horrores,
espero que quando for a vez da minha filha ela também seja
animada como a prima.
— Terá minha pequena para ajudá-la a se divertir — o irmão
comenta.
Giane aparece e leva a esposa embora, a sua barriga está
imensa, sempre que a vejo fico imaginando Gio grávida. Sei que ela
precisa se formar, ainda é jovem demais, porém não posso negar
que sonho com ela carregando o nosso filho.
— E você? Já está com tudo pronto para viajar? — pergunto
à Fiorella, já Caterina enjoa de mim e volta para o colo do pai.
— Só esperando o bebê da Chiara nascer, Dom.
— Sentirei sua falta, Ella, mas eu sei que para você será um
momento importante. — Com a morte de Carmelo, Giovanna e a
irmã puderam voltar a conviver diariamente.
Elas têm quase a mesma idade, possuem apenas quatro
anos de diferença.
— Nos falaremos todos os dias, não vou demorar, só um
tempinho para enterrar de vez o meu passado.
— Leve o tempo que quiser, pedi a Nero que encontre algo
para você fazer, qualquer coisa que sinta vontade de aprender —
Paolo avisa.
— Isso significa que posso fazer um curso?
— Se for seguro pode. — Os olhos dela brilham.
— Obrigada, Paolo, estou empolgada para o meu tempo na
América.
— Não nego que me preocupo por estar tão longe, mas terá
sua própria segurança lá sem ser a de Nero.
— Até onde sei não estamos tendo problemas na cidade, não
acho que seja um risco.
— Sempre há riscos — ele rebate a irmã.
— Às vezes o risco pode ser só o seu coração — brinco com
a minha cunhada.
— Já pensou se Fiorella encontra o seu grande amor em
Nova Iorque? Tipo nos filmes de comédia romântica? — Minha
mulher une as mãos empolgada. — De repente você saindo de um
café e puff! Esbarra no seu príncipe encantado.
— Giovanna e seus sonhos tolos. — Paolo solta uma risada
debochada, deixando a irmã com raiva.
— Não existe príncipe encantado, Giovanna, se Paolo não
me obrigar a casar eu morro sem permitir que outro homem me
toque. — A determinação dela mostra o quanto Carmelo a quebrou.
Entendo bem minha cunhada, passei anos sem conseguir
superar tudo o que meu pai já me fez, ela não é muito diferente de
mim.
— Existem muitos tipos de toques, Fiorella, não podemos
evitar quando alguém consegue tocar nossa alma.
Assim que termino de dizer essas palavras Paolo olha para
Masha, que vem feliz na nossa direção, ao lado do inseparável
amigo Leonardo.
Já eu, mergulho no olhar da minha esposa, agradecido por
ela tocar em cada canto do meu coração.
Nenhum de nós sabíamos naquele momento, mas realmente
toda a vida de Fiorella estava prestes a mudar na nova aventura que
iria embarcar.
Os príncipes dos contos de fada podem até não existir, mas
os verdadeiros, sim. E eles podem ser homens modernos, com um
coração quebrado, precisando de alguém que segure sua mão e
lhes mostre o caminho do amor.
O Coração do Príncipe – Livro 4 – Série
Homens Dominantes

Aqui do alto, olho através das janelas de vidro as pessoas


andando tão pequenas, mediante a grandeza de Nova Iorque. Cada
uma tem a sua história de dor, família, solidão, amizade, amor,
rancor, desespero... entre tantos outros sentimentos inerentes a
humanidade.
A verdade é que somos bombas-relógios ambulantes, prestes
a explodir por motivos mínimos, nenhum de nós estamos a salvo
das desventuras que o mundo nos proporciona. Somos apenas
cobaias, sujeitas aos experimentos do destino.
Não ter o controle de todos os fatos da minha própria vida é
algo que não sei lidar. Eu gosto de planejar meus passos, saber
qual caminho seguir, quais atalhos acessar para alcançar meus
objetivos. Entender que quando se trata do jogo da vida eu sou
apenas uma peça, me causa uma sensação de impotência
sufocante.
Algumas pessoas acreditam que por eu ser um príncipe
tenho a sorte de poder realizar todos os meus desejos. Que grande
ilusão. Privilégios financeiros, status social, fama, não significa que
você realmente tenha o que deseja.
Não é assim que funciona e, justamente por determinados
caprichos da vida, todos nós em algum momento nos tornamos
iguais.
Eu tenho poder, dinheiro, fama, um corpo esculpido por horas
na academia, uma legião das mais belas mulheres, sempre
buscando a minha atenção. Só que nada disso me faz acordar
sorrindo ou me causa qualquer tipo de satisfação.
Tudo perdeu a cor, quando ela se foi e me deixou para trás
com um vazio que não sei explicar o quanto me sufoca. Eu fui um
tolo em me calar, não revelar o quanto ela me encantava nos
mínimos detalhes. O seu sorriso era sempre tão espontâneo, sua
alegria quando comprava roupas poderia ser comparado a uma
criança na hora de abrir os presentes de Natal.
Clover[17] era pura luz, a suavidade da sua personalidade foi o
que me encantou. Acreditei que teríamos uma bela história para
contar, por infinitas vezes eu me preparei para confessar o quanto a
queria, mas sempre colocava um empecilho para não me aproximar.
Que idiota eu fui. Ela foi arrancada deste mundo sujo de uma
maneira tão vil, que depois de quase cinco anos da sua partida, eu
ainda não consegui assimilar tudo o que aconteceu.
Até hoje seguro a minha dor, meu irmão sabe que não
superei o que aconteceu, Stuart, meu melhor amigo, não toca no
assunto, mas tenta de todas as maneiras me fazer ser o antigo
Thomas, só que eu não consigo, sinto que uma tonelada de cimento
segura meus pés.
Por que ela se foi? Por que não fui capaz de viver tudo o que
sonhei? Por que tanta gente ruim anda pelas ruas e, alguém tão
bondosa teve que pagar um preço alto pelos erros alheios?
Por quê?
Essas perguntas me consomem todos os dias e, enrijece o
meu coração a cada batida que não obtenho essas respostas.
Eu sou um homem arruinado, destruído pela dor, consumido
pela culpa. Vivo o agora, não penso no futuro e sigo sempre
sozinho, livre de sentimentos, expectativas e esperança.
Lembrem-se sempre: Contos de fadas só existem nos livros,
príncipes encantados são sempre canalhas como eu e, finais felizes,
é a mais pura ilusão que a humanidade inventou.
O quarto e último livro da Série Homens Dominantes será
entre o príncipe Thomas e Fiorella Torcasio, irmã do Paolo.
Em breve uma história emocionante e quente chegará. Já
tragam os lencinhos quando forem ler, porque vocês irão precisar.
Aguardem.
Impossível não começar esse agradecimento sem falar da
minha amiga e beta Wilka Andrade. Tanto ela quanto eu nos
apaixonamos por Dom nas primeiras palavras, o livro virou um vício,
nós precisávamos de um capítulo a cada dia.
Graças ao incentivo e dedicação dela consegui construir uma
história apaixonante, do jeito que nós duas imaginávamos. Kika,
meu anjo protetor, difícil explicar o quanto você é especial, obrigada
por tudo, você é parte essencial do sucesso desta série.
Agradeço também a minha leitora, divulgadora e amiga Mary
Dias, que sempre me incentivou a escrever sobre o Dom. Ela é uma
peça primorosa na construção de todos esses livros.
Não posso deixar de agradecer aos profissionais que estão
envolvidos neste projeto: minha revisora Margareth Antequera, a
capista Gisele Sousa e a diagramadora Jack F. Santos. Obrigada
meninas, vocês sempre deixam meus livros perfeitos.
Finalizando agradeço a Deus, pois foi ele que me trouxe
esses meninos em um sonho, desde que Mitchell apareceu na
minha vida, tudo mudou.
Obrigada a todos que se jogaram na Série Homens
Dominantes, a cada dia vocês me fazem mais felizes com todas as
mensagens de carinho.
Com amor, Lily Freitas
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Avaliação:

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[1]
Líder da Máfia
[2]
Equivalente a filho da puta em português.
[3]
Maldito
[4]
Mãe.
[5]
Homem
[6]
Meu amor
[7]
O La Fontaine além de ser uma boate famosa, também serve de escritório da
máfia.
[8]
Santo Deus.
[9]
Família.
[10]
Tem o sentindo de droga, merda.
[11]
Garota.
[12]
Garoto.
[13]
Meninas.
[14]
Minha paixão.
[15]
Meu belo anjo.
[16]
Guilhermo é um personagem do livro Faster For Love, da duologia Rivers
Nolan, da autora Caroline Nonato.
[17]
Personagem do primeiro livro da série O Amor do Príncipe

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