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ÍNDICE

SINOPSE
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
EPÍLOGO
LEIA TAMBÉM: UMA VIRGEM RESGATADA PELO CEO
SINOPSE
Da mesma autora de “Uma virgem resgatada pelo CEO”, vem aí: Uma
virgem comprada pelo CEO.
Thomas de Albuquerque foi traído pelo seu sócio e melhor amigo. A
empresa da família é o que tem de mais precioso na vida e agora o CEO se vê
prestes a falir e jura vingança. Ele sabe que não vai conseguir o dinheiro de
volta e nunca mais vai recuperar o que perdeu. Vai ter que trabalhar duro para
reerguer o seu império, mas não está disposto a deixar com que o traidor saia
impune. E a melhor forma de fazê-lo pagar pelo que fez é também tomando o
que ele tem de mais precioso.
Cecília Magalhães tinha muitos planos para a sua vida, e nenhum deles
jamais envolveu ser forçada a se casar com um homem que mal conhece
como pagamento por um erro do seu pai. Ela não entende como acabou nessa
situação, mas sabe que não tem escolha: ou aceita ou seu pai vai morrer na
cadeia.
Assim que coloca os olhos na garota, Thomas percebe que cometeu um
erro. Ele esperava uma garotinha assustada que serviria apenas de enfeite na
sua casa, e não alguém que o desafiaria a todo momento. Na tentativa de
mantê-la sob controle, ele exige que o casamento aconteça logo, mas promete
esperar os seis meses que faltam para ela se formar antes de fazê-la ir embora
com ele.
O que ele não esperava é que esses seis meses seriam o suficiente para
que ela virasse sua cabeça do avesso.
Dois mundos diferentes colidem em uma explosão.
E agora os dois precisam decidir: um acordo comercial ou um
casamento por amor?
CAPÍTULO 1
Thomas de Albuquerque
Eu tenho vontade de destruir cada parte do corpo daquele maldito.
Coloco os cotovelos na mesa do escritório, apoio o rosto nas palmas
das mãos e puxo o cabelo com força. Eu falhei. Pela primeira vez em muitos
anos, eu falhei.
Sempre administrei meus negócios muito bem, melhor do que as
expectativas do meu pai. Melhor do que ele mesmo fez. Fiz o que devia fazer,
sem me preocupar em ter que destruir algumas pessoas no caminho. No
mundo do sucesso, empatia e compaixão não existem. Contratei gente de
confiança e me certifiquei de que os transformaria em menos que nada se
algum deles falhasse ou traísse a minha confiança. O que eu não fiz foi
imaginar que ia ser traído pelo homem que está comigo desde que nós éramos
pirralhos. Foi exatamente aí que falhei.
César Magalhães, meu quase irmão, amigo de longa data, estava me
roubando há anos. Anos. Como gestor financeiro da minha empresa, ele tinha
métodos de desviar o dinheiro sem que ninguém percebesse. E meu erro foi
confiar nele cegamente. Mas isso não vai acontecer nunca mais. Com
ninguém, sob hipótese nenhuma.
Escuto o telefone do escritório tocando alto e arrumo a postura antes de
atender.
— Fala, Diana.
— Senhor Thomas, ele está aqui. Peço para ele entrar?
— Sim, e não deixe ninguém chegar perto desse andar até eu abrir a
porta, Diana. Entendido? — Não espero que ela responda e desligo na sua
cara. Sinto meus músculos travados de tensão e meu corpo treme com ira
crua e devastadora que toma conta de mim.
Nunca tive muito controle da minha raiva. Hoje mais do que nunca não
consigo evitar ter pensamentos homicidas em relação ao sujeito lá fora.
Escuto uma batida de leve na porta e olho para lá. Apoio um cotovelo
no braço da cadeira, coloco um dedo na bochecha e espero.
Assim que César entra na sala, tudo o que sinto é ódio do homem que
sempre foi muito mais do que meu parceiro de negócios. É como se ali fosse
o meu maior concorrente no meio dos negócios, meu maior inimigo. Uma das
pessoas que entrou facilmente na lista de gente que não faço oposição
nenhuma a deixar no fundo do poço, a deixar sem nada.
O homem alto, já grisalho apesar de não passar dos quarenta anos, de
olhos castanhos e cabelos ruivos, se aproxima com a postura descontraída de
sempre e se joga na cadeira em frente à minha mesa.
Somos o completo oposto em muitos aspectos da nossa vida. Em
relação à personalidade: eu sou explosivo e ele é descontraído. No jeito de
levar a vida: eu sou libertino e ele é “família”. Mas uma coisa temos em
comum: a ambição.
— Caralho, Thomas, você vai morrer congelado nessa sala. Precisa
colocar o ar-condicionado para congelar desse jeito?
Não respondo, porque estou ocupado demais tentando controlar a
explosão que ameaça vir, pela primeira vez. Mas ele me conhece bem
demais. No segundo em que olha para meu rosto, inclina a cabeça para o lado
e pergunta:
— O que aconteceu? Algum problema?
Eu me levanto e ando devagar até sua cadeira. César franze a testa e
ergue a cabeça para me olhar. Fico de costas para ele, ando até a porta e a
tranco para ninguém me interromper.
— Está planejando abaixar minha calça e comer meu rabo, porra? —
pergunta e solta uma risada. Não consigo falar nada. Sinto minha boca
amarga, meu estômago revirado, o nervo da minha testa tremulando. Cravo
as unhas na palma da mão com força. Tento e falho controlar a raiva e a
decepção. — Você está me preocupando, Thomas.
— Você me ensinou muita coisa, César — digo. Raspo a garganta e
vou em direção às janelas de vidro que mostram a grande metrópole de São
Paulo abaixo de mim. — Me ensinou que não devemos confiar em ninguém.
— O que você está falando?
Volto a olhar para ele e me aproximo devagar, com a mão esquerda
dentro do bolso da calça social.
Sem conseguir mais um segundo de controle ao olhar para sua
expressão dissimulada, eu o tiro da cadeira de forma abrupta e o seguro pelo
seu colarinho.
— Que por…
— Você vai calar a sua maldita boca nesse instante, seu filho da puta
desgraçado! Vai escutar tudo o que eu digo e fazer absolutamente tudo o que
eu quero. Entendido? — esbravejo e sacudo seu corpo.
Seus olhos se arregalam e ele toca minhas mãos. Tenta se desfazer do
aperto forte, mas eu não o solto.
— Achou mesmo que eu não ia descobrir seu roubo, hein? Você já foi
mais inteligente, César. Achou mesmo que podia me fazer de idiota dentro da
minha própria empresa por anos, seu filho da puta? Por anos!
Eu o sacudo mais uma vez antes de levar uma mão à sua garganta para
sufocá-lo.
— Eu… Me deixa ex…
— Te deixar explicar o que, César? Que você é um traidor de merda?
Que você ria pelas minhas costas enquanto afundava cinco hotéis de uma
vez? Você tem noção do prejuízo que me causou? Vou ser obrigado a
recorrer a investidores que nunca precisei contar por sua culpa, seu merda! Se
eu não fosse tão bom no que faço, teria ido à falência!
— Vou explicar, Thomas. Não traí… você. Eu não… — diz com as
frases entrecortadas por causa da falta de ar causada pelo meu apertão.
Eu o jogo no chão e arrumo as mangas da minha camisa social. Sinto a
respiração acelerada, as narinas inflamadas e o coração saltando. Sinais da
minha ira. Às vezes sinto que vou me dividir em mil pedaços.
— Vou te deixar explicar, César. Vamos, te dou um minuto em nome
da nossa bela amizade — falo com ironia e abro um sorriso predador
enquanto o olho.
Eu quero matar esse verme. Desde que ele pisou no escritório, não o
vejo mais como o cara que compartilhou bons momentos comigo. Quero
destruir tudo o que existe de melhor na sua vida. Quero fazer com que o resto
dos anos sejam de pura dor, sofrimento e amargura. Quero que César nunca
mais descubra o que é confiar e nem ter a confiança de ninguém. Quero que
sofra.
— Eu estava precisando de dinheiro. Você sabe que a Paula tem gostos
caros e acaba extrapolando nos gastos. Não queria pedir dinheiro para minha
família. Começou com um empréstimo pequeno, você nem ia notar… — fala,
se senta no chão e coloca a mão no pescoço marcado pelo meu aperto. —
Mas… as coisas se descontrolaram. Eu não fiz de propósito. Você é meu
mano, cara. Qual é… Acha que eu ia te foder de propósito?
— Seu mano… — debocho. Sorrio abertamente e sacudo a cabeça. Me
aproximo mais dele e o chuto. Ele arregala os olhos de surpresa ao mesmo
tempo em que leva à mão até a barriga.
Monto nele e o acerto com vários socos no rosto. César não reage, e
não acho que ia conseguir se quisesse.
Estou cego pela fúria, mas paro minutos depois quando me lembro de
que, se ele morrer agora, vai fácil demais. Não vai ter o sofrimento que
merece.
Sinto meus dedos fodidos e doloridos. Aperto a mão e vejo a
vermelhidão do sangue do seu nariz ali.
Não me importo se ele está com o rosto fodido, não me importo se está
pedindo ajuda através de gemidos. Não me importo com mais nada, só com o
fato de que esse homem quase destruiu uma empresa de anos, um império. O
meu império. A rede de hotéis de luxo não era nada quando meu avô a criou
quando ainda era novo. Não era muito mais quando meu pai a assumiu
muitos anos depois, mas se transformou na maior rede de hotéis do Brasil e
alcançou diversos países do mundo quando eu assumi. Tenho orgulho de tudo
o que construí e absolutamente ninguém vai me tirar isso.
Tiro um lencinho de dentro do paletó do terno e limpo meus dedos.
— Nós vamos ter uma conversa séria agora. Consegue me ouvir?
— Seu filho da…
— Não, César. O filho da puta aqui é só você.
Me ajoelho em frente ao seu corpo ainda estirado no chão e o encaro.
Patético.
— Passei todos esses dias tentando pensar em uma maneira de te
presentear pelo que você me fez — falo, ouvindo seus gemidos de dor. —
Shh, quietinho porque ainda não acabei de falar.
— Eu vou…
— Pensei em pegar a sua mulher. Uma troca, sabe? — interrompo e
ele tenta me atingir com um chute. — Aquilo que mais importa para mim por
aquilo que mais importa para você. Ou melhor, por quem mais importa para
você.
— Não vai… — diz com uma careta de dor. Seus olhos já começam a
ficar inchados pelos socos que dei e eu sorrio.
— Mas aí eu pensei… Você ama a sua mulher, tanto que quase faliu a
minha empresa por ela. — Aperto o maxilar de raiva. Quero partir para cima
dele de novo. Bater nele até ele se acabar, mas preciso terminar o que
planejei. Vou até o fim com isso. — Mas quem você ama mais no mundo não
é a sua mulher, nem a sua mãe. Quem você mais ama no mundo é Cecília,
sua queridinha filha. Aliás, como ela está?
— Você não vai tocar na minha filha, seu desgraçado!
— Será que não vou, César? — falo. Sorrio para ele e dou um soco no
seu braço como costumávamos fazer. — Sua princesinha doce, meiga, seu
anjinho. Como você a chama mesmo? Seu cristal…
Me levanto e o deixo tentar lutar para se levantar, mas a dor o impede.
Gosto de vê-lo ali, rastejando como um verme. Vou até o armário de bebidas
e tiro uma garrafa de conhaque. Encho um copo e viro a bebida quente de
uma vez. Repito o gesto e volto a me sentar na cadeira, esticando o pescoço
para vê-lo.
— Por que ainda está aí no chão, cara? Senta aqui para eu te ver
melhor… — falo. Ele xinga, resmunga, tenta se mover, mas a dor o vence.
Volto a me levantar, vou até ele e o levanto de uma vez.
Praticamente o arrasto em direção ao sofá de couro preto no canto do
escritório e o jogo ali. Me sento ao seu lado no outro assento e apoio a lateral
do pé sobre um joelho.
— Como ela está, hein, César? — pergunto, mas não o deixo
responder, porque tudo o que eu quero é deixá-lo irado. Não existe nada que
ele não faça por sua preciosa filha, para a proteger. — Quando ela volta dos
Estados Unidos? Lembro de como ela era um anjinho. Vai ser bom ter uma
pessoa doce e recatada assim do meu lado.
— Do seu lado? — diz e passa a manga do paletó no nariz que está
escorrendo sangue. — Que porra você está falando, Thomas? Não mexe com
a minha família!
— Ah, César… Você mexeu com a minha vida, por que eu não vou
mexer com a sua?
— Ela… É diferente, cara. Aqui é só dinheiro. Eu te devolvo tudo!
Consegui multiplicar com investimentos e você sabe como minha família é
rica. Eles podem me…
— Ah, você devolve? Simples assim? — pergunto e sacudo a cabeça.
— Escuta bem, as coisas não vão ser fáceis para você daqui para frente. Não
basta me devolver tudo o que me roubou, você vai ter que sentir o que eu
senti quando quase perdi tudo.
— Você está louco.
— Você não viu nada, César. Não viu nada. — Estico o braço e pego o
contrato meticulosamente planejado com meu advogado. — Vamos deixar de
falar de família. Vamos para o que mais gosto: negócios. Aqui está o que
você vai precisar fazer. Vou ser bondoso e ler enquanto você está
impossibilitado.
Ele se remexe no sofá e me encara com raiva, mas não ligo e leio o que
está escrito no papel.
— Cecília Magalhães será obrigada a se casar com Thomas de
Albuquerque e realizar todos os seus desejos — falo e paro só para apreciar a
expressão de surpresa e revolta em seu rosto. — Não é o máximo, César? De
tudo o que a gente foi na vida, amigos, irmãos, parceiros de negócios, eu vou
ser seu genro. A vida é irônica demais, não acha?
— Casar? Você está louco? A minha Cecília é uma menina! Ela só tem
dezenove anos, Thomas. Não faz uma besteira.
— Besteira, eu? Não se preocupe. Jamais ia fazer alguma coisa para te
machucar, amigo!
Ele me olha cético e eu explodo em uma risada pela sua expressão. Se
tem algo que me dá mais prazer além de pisotear quem se mete no meu
caminho é brincar com a presa como se fosse um filhotinho. Amo ver a ira, a
esperança e o desespero se misturarem enquanto faço o que eu quero.
— Você acreditou, não foi? Ai, César, parece que não me conhece.
— O que você quer? Faço tudo, mas não mexe com a minha filha.
— É exatamente por isso que eu a quero — falo e jogo o contrato de
lado. — E eu vou ter, porque eu tenho tudo o que quero, César. Você devia
ter pensado nisso antes. Agora vai embora daqui. Vou te procurar daqui uns
dias. Não tente fugir com sua filha, porque acho todo mundo nem que seja no
inferno. E aí vai ser pior.
— Você vai se arrepender.
Me levanto e não respondo. Volto para a minha cadeira e começo a
trabalhar para recuperar o prejuízo. Vou ter que me desdobrar para não perder
os hotéis que demoraram anos para serem reconhecidos e renomados, mas
não desisto do que quero.
César se levanta com dificuldade e anda até a porta devagar, tocando a
costela.
— Até mais, sogro! — provoco com um sorriso, que se fecha assim
que ele destranca a porta e sai dali.
O primeiro passo já dei, agora falta o resto.
CAPÍTULO 2
Thomas de Albuquerque
Uma semana se passou desde que confrontei César e o informei sobre
meus planos. Ele não apareceu na empresa novamente, mas está na minha
mira. Não vou permitir que fuja ou se esconda antes que meus planos de
vingança sejam concretizados. Aposto que acha que estava blefando quando
disse que ia tomar seu bem mais precioso, provavelmente contando com a
amizade, mas eu não estava. Apenas tinha coisas mais importantes para fazer,
como me reunir com diversos especialistas para ver a melhor forma de sair
desse golpe sem perder muito.
Eu odeio perder qualquer coisa. Odeio que as coisas não estejam ao
meu alcance, que eu não tenha o controle de cada respiração dentro da
empresa. As coisas vão voltar ao que eram antes, custe o que custar. Custe
quem custar.
Alarmo o carro depois de estacionar na frente o prédio que já visitei
mais vezes do que consigo contar. Ando até a portaria e sou facilmente
recebido pelo porteiro que me conhece muito bem e nunca me anuncia. Subo
o elevador olhando minha imagem no espelho. Ajusto as mangas da camisa
social e passo a mão nos cabelos, aguardando a subida lenta em direção à
cobertura. Assim que as portas metálicas se abrem, ando até o apartamento
dele. Toco a campainha apenas uma vez antes de a funcionária aparecer para
me receber.
— Seu Thomas, que surpresa! — diz com simpatia e eu sorrio em um
cumprimento. — Entra, vou chamar o seu César.
A senhora de meia-idade some pelos corredores e eu olho pelo
cômodo. Busco algo de diferente, qualquer coisa que eu possa usar contra o
homem, mas minha inspeção é interrompida por Paula, a esposa do meu ex-
sócio.
— Thomas, querido… — Percebo, pelos anos de convívio e pelo seu
olhar, que ela não sabe o que está acontecendo. Pelo menos ela não sabe que
eu estou ciente da facada que seu marido me deu. Agora, se sabe sobre o
golpe, vou descobrir agora.
— Paula — digo em um cumprimento frio, o oposto do que ela está
acostumada a receber de mim. — Onde está sua família?
— César está no escritório, só está saindo de lá para comer nos últimos
dias — fala e faz um gesto de indiferença com a mão, como se estivesse
acostumada a isso. — Venha, querido, se sente aqui e me conte por que está
tenso.
— Não quero me sentar, Paula. Vou esperar pelo seu marido aqui
mesmo. — Enfio as mãos nos bolsos da calça social e olho meu reflexo na
parede espelhada à minha esquerda.
Pareço mais cansado do que o normal. Noto as olheiras escuras por
causa das noites acordado tentando pensar em uma solução para todos os
meus problemas. Apesar disso, que não pode ser disfarçado, o resto da minha
aparência está meticulosamente no lugar: terno alinhado, roupa bem passada,
o cabelo preto bem cortado e penteado para trás, a barba escura e bem
aparada. Só quem me conhece bem demais e está atento aos detalhes que ia
conseguir notar os sinais de cansaço e de estresse. Felizmente, existem
poucas pessoas dessas na minha vida.
— Thomas… — Escuto a voz do homem e volto meu olhar para onde
ele está.
Seu rosto está completamente fodido da surra que levou de mim e é
inevitável abrir um sorriso fraco.
— Você parece bem — zombo e vejo seu maxilar travado, sinal de que
está com muita raiva. Ótimo. Para mim, quanto mais choro, ira e sofrimento,
melhor.
— O que você quer? — pergunta e olha para sua esposa sentada no
sofá, como se só agora tivesse notado a sua presença. — Minha preciosa,
você pode nos dar licença por alguns minutos? Temos negócios a tratar.
— Ah, Paula, não precisa sair — falo, tendo a minha resposta. Ele
escondeu a verdade da sua mulher. — Eu sei que vocês não têm segredos
entre si. Não vou ser eu a mudar isso.
— Thomas, deixa a minha mulher fora disso… — César aponta para
mim, mas não consigo mesmo o levar a sério com esses olhos e nariz
inchados e roxos, boca cortada e o resto do rosto com uma coloração meio
verde.
— Mas por quê, meu amigo?
A mulher alta e esguia, com os cabelos castanho-escuros cortados nos
ombros e olhos da mesma cor, me encara com desconfiança. Olha de mim
para o marido e eu aproveito para deixar o caos reinar por alguns minutos.
Vejo vários porta-retratos espalhados pelos poucos móveis da sala de
visitas imensa e me aproximo deles. Cecília está na maioria das fotos, desde a
bebê com a cabeça cheia de fios ruivos como o do pai até adolescente, de
óculos de grau e aparelho. Não a vejo desde que ela se mudou para estudar
fora, mas me lembro da menina calada, comportada e educada que vivia
grudada no pai. O seu maior orgulho, seu cristal…
— Fica longe da minha filha, seu doente do caralho! — César exclama
e eu me viro a tempo de ver o olhar de choque no rosto de Paula.
— O que é isso, César? Ficou doido? — ela pergunta e o homem passa
a mão pelo cabelo.
— Querida, prometo que te explico depois. Mas eu preciso mesmo
conversar com Thomas a sós.
— Senta aqui, Paula — digo, ignorando o homem, que me fuzila com o
olhar enquanto me aproximo da sua mulher. — Nossa, você está com um
cheiro fantástico hoje.
— Eu… — Ela arregala os olhos e se senta no sofá, enquanto eu me
ajeito ao seu lado. Seu rosto branco cora até a raiz dos cabelos e seguro a
risada. — Obrigada.
Nunca fui nada além de cortês com ela, afinal, eu valorizava demais a
amizade com César para sequer pensar em algo assim. Paula acabou se
tornando minha irmã também no caminho, mas agora que a amizade acabou,
faço questão de usar tudo para irritar o homem.
— O que acontece é que vou me casar com a sua filha — falo e o rosto
que já estava surpreso se torna cômico.
— Como é? Com… Cecília? — indaga, se levantando do sofá de uma
vez. — Desde quando? Você sabe que minha filha só tem dezenove anos, não
é? Ela é uma menina!
— Eu sei, Paula. Pretendo a respeitar, claro — falo e sua expressão
parece se suavizar, mas não contenho a gargalhada. — Ah, vocês dois… São
tão fáceis de serem enganados.
— O que… O que está acontecendo, César? — ela pergunta para o
marido, que solta um suspiro longo e uma sequência de xingamentos antes de
se virar para ela.
Ele abre e fecha a boca mais vezes do que consigo contar e isso
começa a me irritar. O homem tem coragem de afundar a minha empresa a
sangue frio, mas não tem coragem de contar a verdade à sua mulher. O quão
patético isso é?
— Pode deixar que eu te ajudo — digo e aperto o ombro dele com
força. — É o seguinte, Paula: o seu marido me roubou. Estava há anos
roubando minha empresa para sustentar as suas futilidades, segundo ele.
Espero a mulher processar a informação, de olhos arregalados, boca
aberta, corpo paralisado. Seu olho vai incrédulo de mim para seu marido.
— Você não fez isso, César… — ela sussurra e seus olhos se enchem
de lágrimas. Queria dizer que fico com pena, mas não fico. César me fez
perder a esperança na humanidade e me ensinou que qualquer coisa pode ser
mentira, um teatro para me enganar.
— Ah, querida, não chora… Eu vou cuidar direitinho da sua filha.
— Mas… O que você se casar com Cecília vai resolver?
— Minha preciosa, tudo vai ficar bem. — César se aproxima e arruma
os cabelos da esposa, os colocando atrás das orelhas antes de se virar para
mim com raiva. — Vou convencer Thomas de que isso é uma insanidade.
— Não perca seu tempo, César — falo e ele se vira para mim.
— Quem é você? Que tipo de pessoa se tornou? Você é mesmo capaz
de uma coisa tão baixa? Se envolver com Cecília apenas para me ferir? Você
a viu nascer! Você estava ao meu lado quando comemorei que ela deu os
primeiros passos!
— Verdade, César. Eu… — Toco os cabelos e solto um suspiro. Em
seguida, abro um sorriso de orelha a orelha. — Não me importo. Me poupe
do seu discurso melodramático. Eu vou me casar com ela e ponto final.
Quero o endereço de onde sua cristalzinho está até amanhã de manhã.
Acredite em mim, meu amigo, as coisas podem ficar muito piores se você
não colaborar.
Olho mais uma vez para o porta-retratos de Cecília e sorrio quando
César tenta vir para cima de mim, mas é impedido por sua mulher.
— Até amanhã de manhã, César. Estou esperando.
Faço um sinal com os dedos da lateral da cabeça e ando em direção à
porta.
— Os jantares de família vão ser interessantes, não acham? Até mais,
sogros.
Escuto milhares de xingamentos gritados por César antes de eu fechar a
porta. Enquanto desço pelo elevador, penso que vai ser um pé no saco ter que
me casar para os meus planos se concretizarem. Não que eu esperasse me
casar por amor um dia ou nada do tipo, o que eu tinha em mente era
exatamente isso: um casamento por conveniência. Mas é uma merda que isso
tenha que ser justamente com uma pirralha que mal saiu das fraldas.
Só que vou fazer o que tiver que fazer para que meu império seja
vingado. Desistir não está nos meus planos.
CAPÍTULO 3
Cecília Magalhães
Parece que foi ontem que eu me mudei para cá, que minha mãe estava
chorando no aeroporto e prometendo que ia me ligar todos os dias. Eu fiquei
com muito medo no começo porque nunca tinha morado sozinha, ainda por
cima em um país onde não conhecia ninguém. Foi por isso que eu decidi
morar em uma sororidade, igual às meninas dos filmes das universidades
americanas que eu adorava assistir quando era mais nova. Pelo menos assim
eu não ia ficar sozinha.
Meu pai não queria. Ele é muito ciumento e cismou que eu ia passar
todo o meu tempo livre enfiada em festas e bebendo ao invés de estudar.
Precisei prometer que ia me comportar para ele concordar. César Magalhães
nunca conseguiu dizer não para mim mesmo. Mas era verdade, eu realmente
ia me comportar. Até porque nunca me interessei em ir em festas nem encher
a cara.
Eu terminei o ensino médio bem cedo, com dezesseis anos, e sempre
quis estudar para poder trabalhar com ele, então quando ele decidiu que ia me
mandar aqui para Nova Iorque para estudar, eu já sabia o que queria fazer:
contabilidade.
Nem acredito que já faz quase quatro anos e faltam seis meses para eu
me formar!
— Você está linda, Cecília! Vinho é sua cor.
Eu sorrio para a minha melhor amiga, Kelly, que mora na sororidade
comigo. Ela está em frente ao espelho ao meu lado com um vestido verde que
tem a mesma cor dos seus olhos e fica lindo com o seu cabelo preto e longo.
Olho para o meu reflexo e mordo o lábio.
— Você acha? Eu não sei.
Eu sou pequena e magra demais, então é difícil achar alguma coisa que
faça parecer que eu não sou uma criança. O vestido até que ficou bonito, pelo
menos faz parecer que eu tenho algum peito para encher o decote. E a cor
combina com o meu cabelo ruivo.
— O Josh vai ficar doido quando te ver dentro disso — ela diz,
mexendo as sobrancelhas de um jeito insinuativo, e eu me vejo corar pelo
espelho.
— Não quero nada com ele, Kelly — digo e volto andando para a
cabine para trocar de roupa de novo.
— Porque é idiota! — Kelly grita do lado de fora do provador. — Ele
está correndo atrás de você há meses. Não entendo por que não dá uma
chance para ele.
Abro a cortina depois que tiro o vestido e coloco minha calça jeans e
camiseta de novo. Ela para na minha frente e me impede de passar.
— Ele é lindo, inteligente, rico e está doido por você.
— Já disse que não quero nada com ele! — reclamo e ela cruza os
braços, me olhando irritada. — O quê?
— E por que não? Me dá um bom motivo para isso. Você passou a
faculdade inteira fugindo de todos os caras gatos!
— Não estou interessada em nenhum deles! — digo e tento passar,
mas ela me embarreira de novo.
— E por que não? — ela pergunta e eu começo a bater o pé no chão.
— Você fez alguma promessa para morrer virgem?
— Shh! — Coloco a mão na boca dela porque Kelly tem a mania de
falar alto e atrai a atenção de todo mundo ao redor. Que vergonha! — Fala
baixo!
Eu a empurro para o lado e fico parada no meio da loja com o vestido
na mão. Ela me olha emburrada e vai trocar de roupa. Depois de pagar pelos
vestidos, nós seguimos para o Starbucks para tomar um café, e Kelly
continua insistindo.
— Se você acha o Josh tão maravilhoso, por que você não sai com ele?
— pergunto.
— Porque eu já tenho namorado — ela diz, e eu mostro a língua. Kelly
ri e segura as minhas mãos em cima da mesa da cafeteria. — Mas é sério,
Cecília. Eu só me preocupo com você. Você está sempre enfiada no quarto
estudando, a gente tem que te arrastar para os lugares. Você não sai, não se
diverte, não faz nada!
— Eu já te disse que preciso estudar — falo e coloco uma mecha do
cabelo atrás da orelha. — Papai não vai me deixar trabalhar na empresa se eu
não for muito boa. Ele leva aquele lugar muito a sério. E o sócio dele então,
acho que é capaz de matar alguém por causa da empresa — digo, pensando
em Thomas. Ele é amigo do meu pai desde sempre e eu só me lembro da sua
cara fechada e séria o tempo inteiro. Não sei nem se o homem sabe sorrir. E
eu sei que ele não vai me deixar trabalhar lá só porque sou filha do seu
amigo. — O que tem de bonito, tem de assustador.
Só noto que falei em voz alta quando Kelly ergue as duas
sobrancelhas.
— Você tem um crush no amigo do seu pai, Cecília? — ela pergunta, e
eu sinto meu rosto pegando fogo.
— É claro que não! — respondo e bebo um gole do meu café gelado.
— Ele só é… bonito. Você sabe, para um cara da idade dele. Não importa! A
questão é que eu preciso estudar. Esse é meu último semestre, não posso
ferrar com tudo.
— Um beijinho só não vai te fazer mal — ela implica, e eu reviro os
olhos rindo.
Não estou mentindo, preciso mesmo estudar. Mas não vou repetir para
ela a outra parte da verdade. O Josh é legal, ele é muito bonito e divertido,
inteligente, mas… Não é o cara. É idiota, mas eu quero meu príncipe
encantado, um cara que me tire do chão e por quem eu vou me apaixonar
tanto que vai doer até respirar sem ele. Esse cara que vai ser meu futuro
marido, e ele com certeza não é o Josh. Então para que vou perder meu
tempo?
— Ah, eu acabei de lembrar! — digo. — Tenho que comprar um
celular. O meu quebrou tem alguns dias e eu preciso de um novo. Minha mãe
deve estar desesperada achando que eu morri porque não falo com ela há três
dias.
Kelly e eu voltamos para o shopping e depois de algum tempo
escolhendo um modelo novo, precisamos correr para a aula para não
chegarmos atrasadas.

As aulas começaram tem pouco mais de um mês, mas já é começo de


outubro e está começando a esfriar. O inverno aqui é muito diferente do que o
que eu cresci acostumada em São Paulo, e eu simplesmente amo a neve. Mal
posso esperar para a cidade estar toda coberta em branco.
Quando saio da aula já está no final da tarde e eu ando pelo campus da
faculdade em direção à casa da minha sororidade. Só então lembro do celular
que comprei mais cedo e vasculho a minha bolsa atrás do aparelho que ainda
está desligado. Vou caminhando e configurando o celular, e só termino
quando já estou na porta de casa.
Tudo finalmente conecta e meu celular sincroniza. Dezenas de
mensagens dos meus pais começam a pular na tela. Eu estranho. Tudo bem
que fiquei alguns dias sem celular, mas nem eles tentam falar tanto assim
comigo. Abro as mensagens enquanto entro na casa. Várias delas só pedem
para eu ligar para casa e dizem que precisam falar comigo.
Começo a ficar preocupada e estou tão distraída que não noto ninguém
até que esbarro em uma das garotas que mora comigo.
— Desculpa — digo e olho para ela.
A menina tem os olhos arregalados e a boca aberta em animação.
— O que foi? — eu pergunto e ela aponta para a sala.
— Você tem visita.
— Eu? — pergunto confusa. Ela faz que sim com a cabeça e eu vou
para lá. Vejo mais três ou quatro meninas circundando o sofá e me pergunto
quem está aqui para ter essa recepção toda.
Travo no lugar quando vejo o homem bonito dentro de um terno
elegante, com o cabelo preto bem arrumado e um sorriso sedutor para uma
das garotas, que nem disfarça que está toda derretida por ele.
— Anh…
Perco as palavras, mas o som atrai a atenção dele. Thomas de
Albuquerque me olha e franze o cenho, como se não me reconhecesse.
— Cecília? — pergunta com a voz confusa.
Aperta os olhos e me olha de cima a baixo com interesse no olhar.
Estremeço no lugar. Conheço o amigo de papai há muitos anos, mas ele
nunca me olhou assim. Quando ele volta a olhar para o meu rosto, tem uma
sobrancelha arqueada. Sinto um arrepio na coluna quando um sorriso
malicioso corta o seu rosto de ponta a ponta.
Ele se levanta.
— Thomas? — falo finalmente quando recupero a voz. Sinto meu
rosto pegar fogo, porque ele não desvia o olhar enquanto dá alguns passos na
minha direção. Aperto a bolsa na frente do corpo como se pudesse me
proteger do brilho malicioso nos seus olhos claros, mas decido que devo estar
ficando maluca. É claro que estou entendendo tudo errado e ele não está me
olhando com desejo nenhum. — O que você está fazendo aqui?
— Seu pai não te disse? — ele pergunta em português, abrindo ainda
mais o sorriso no rosto. — Eu vim te buscar.
CAPÍTULO 4
Cecília Magalhães
— Pronto, a gente pode conversar aqui.
Eu fecho a porta do meu quarto e o lugar parece muito pequeno. Não é,
é bem espaçoso que nem todos os quartos dessa casa, mas Thomas é grande,
alto e forte, e parece que toma todo o lugar. Ele está olhando ao redor, para a
decoração do quarto, e eu não sei por que fico tão nervosa, mas fico. Ele anda
pelo quarto e vai até a penteadeira que fica no canto da parede. Pega um
porta-retratos com uma foto minha com meus pais e abre um sorriso que
arrepia a minha espinha. Parece maldoso, mas não faz sentido que seja, já que
ele sempre foi um ótimo amigo da família.
— Está tudo bem? — eu pergunto. Ele não fala nada. Só faz que sim
com a cabeça e continua olhando para a foto por mais alguns segundos.
— Então seu pai não te ligou? — ele pergunta e eu começo a ficar
preocupada. Pego o celular da bolsa e começo a ler rapidamente as
mensagens que perdi nos últimos dias.
— Meu celular estragou há alguns dias, só consegui comprar outro
hoje — digo sem olhar para ele porque estou olhando para a tela. — Mamãe
me mandou várias mensagens, mas só estou vendo agora. Aqui ela diz que
precisa falar comigo sobre… você?
Olho para ele, confusa, e mostro o celular. Thomas coloca o porta-
retratos de novo na penteadeira e vem até mim. Ele pega o celular, começa a
passar o dedo pela tela para ver as mensagens e abre outro daquele sorriso
que parece perigoso. Quando ele olha para mim, os olhos parecem estar
pegando fogo.
— Sua mãe provavelmente só queria te avisar que eu vim te buscar,
Cecília — ele diz e dá um passo para mais perto de mim. Quase prendo a
respiração pela surpresa. Thomas nunca chegou tão perto de mim assim.
Quando eu vim para cá, eu era uma garotinha. Thomas me deu alguns
presentes de aniversário, mas foi só isso. Não acho que ele ia saber nem dizer
a cor dos meus olhos se precisasse. É a primeira vez que eu o vejo depois
de… adulta. É estranho como eu o acho tão mais bonito agora.
Não posso mentir, eu tinha sim uma queda pelo amigo do papai. Mas
era coisa de adolescente. É claro que eu tinha uma queda por ele. Thomas de
Albuquerque é o homem dos sonhos de qualquer garota. Bonito, rico, com
um olhar que faz as pernas de qualquer mulher ficarem bambas. Faz quase
quatro anos que eu não o via e parece que ele só ficou mais bonito com o
tempo.
— Me buscar… para quê? — pergunto com um fio de voz.
Seus olhos sobem e descem por mim e eu prendo a respiração quando
Thomas estica a mão e toca uma mecha do meu cabelo.
— Você virou uma mulher linda, Cecília. Não estava esperando por
isso.
— O-Obrigada — gaguejo. O sorriso dele se amplia.
— Agora entendo por que seu pai protege tanto você — ele diz e dá
mais um passo para perto de mim. Eu prendo a respiração, sem entender o
que está acontecendo, mas sentindo meu coração bater disparado no peito. —
Mas você não precisa se preocupar. Vou cuidar bem de você, garota.
Mordo a ponta do lábio e tento manter os olhos presos no dele, mas a
proximidade é demais. Principalmente quando vejo Thomas respirar fundo
olhando para a minha boca.
Ele me solta bruscamente e eu quase caio porque me desequilibro pela
surpresa. Thomas se afasta alguns passos e passa uma mão irritada pelo
cabelo.
— Arrume suas coisas — diz, agora grosseiro, e me confunde. —
Tenho alguns assuntos para resolver, mas o motorista vem te buscar daqui a
meia hora.
— Arrumar minhas coisas? Para onde eu estou indo? — pergunto
quando ele começa a ir em direção à porta para ir embora.
Ele suspira exasperado e olha para mim.
— Vou te levar para um dos nossos hotéis — explica. — Você vai
ficar lá por um tempo, até tudo se acertar.
— Que tudo? — pergunto, cada vez mais confusa. — Eu tenho aula,
tenho uma casa, eu não… O que está acontecendo? Não posso simplesmente
ir embora com você assim sem saber o que está acontecendo.
Thomas aperta os olhos e abre um sorriso carinhoso. Abaixa a voz e
pergunta:
— Você me conhece desde que nasceu, Cecília. Sabe que eu não faria
nada para te machucar. Se estou aqui para te buscar, é porque é o melhor para
você. — Ele tomba a cabeça para o lado e sorri ainda mais. — Você confia
em mim, não confia?
Faço que sim com a cabeça, porque é verdade. Papai sempre disse que
se um dia alguma coisa acontecesse com ele e com a minha mãe, Thomas ia
cuidar de mim.
— Tudo bem — concordo, e ele assente.
— Quando chegar lá, você liga para o seu pai e vocês conversam sobre
o que está acontecendo — ele garante. — Vocês dois vão precisar ter uma
conversa muito longa.
Eu reconheço o hotel, porque já fiquei aqui algumas vezes. É um dos
mais luxuosos do centro de Nova Iorque, e um dos mais caros também. A
recepção é grande e chamativa. Assim que eu entro, um dos funcionários vem
para pegar a minha mala.
Ando até a mesa da recepção e uma mulher loira sorri para mim de um
jeito profissional, mas antes que ela possa falar qualquer coisa, vejo seus
olhos se arregalando e eu sinto uma mão na base das minhas costas.
— Cecília vai precisar de uma chave. — A voz de Thomas chega grave
em meu ouvido e me arrepia. A mulher faz que sim com a cabeça e começa a
digitar alguma coisa no computador. Meu corpo fica rígido quando sinto a
boca dele na minha orelha. — Espero que a suíte presidencial seja boa o
suficiente para você. Eu não ia querer que a princesinha do César ficasse
desconfortável.
Não respondo nada, porque desaprendi a falar. Meu coração bate tão
rápido no peito que não sei nem explicar o que está acontecendo. A mão dele
sobe e desce pelas minhas costas e meu corpo inteiro fica quente de um jeito
que nunca ficou antes. Meu Deus, o que está acontecendo comigo?
— Aqui está, senhor — a recepcionista avisa e estende um cartão na
direção dele.
Não consigo dizer nada no caminho até o último andar do prédio alto,
porque estou estranhamente nervosa. Quando chegamos no quarto certo,
minha mala já está lá e Thomas entra comigo. Ele se senta na cama enquanto
eu continuo incerta sobre o que está acontecendo.
Nervosa, coloco o cabelo atrás da orelha e pego o telefone no bolso da
minha calça mais uma vez. Tentei ligar para os meus pais enquanto vinha
para cá, mas nenhum dos dois atendeu. Não sei se é por causa da diferença de
horário entre Nova Iorque e São Paulo ou se eles tão ocupados com trabalho,
mas nenhum dos dois pegou as ligações. Estou começando a ficar muito
preocupada.
Thomas me olha como se analisasse cada movimento meu e é
impossível saber o que ele está pensando. Ele usa o mesmo terno que estava
usando mais cedo e afrouxa a gravata, ainda olhando para mim. É
desconcertante, e eu desvio o olhar.
— Você vai ficar confortável aqui? — ele pergunta. Eu faço que sim
com a cabeça e abro a boca para perguntar o que acontece agora, mas o
celular dele começa a tocar. Olho para ele enquanto pega o aparelho dentro
do bolso do paletó e abre um sorriso enorme. — Olha só quem resolveu ligar.
É o seu pai. — Ele leva o celular à orelha. — César, meu amigo, você vai
ficar muito satisfeito de saber que sua princesa está comigo, sã e salva.
Dou um passo para perto dele, e não sei o que papai diz do outro lado
da linha, mas Thomas sorri ainda mais.
— É claro que ela está bem. Gostaria de falar com a sua filha? — ele
oferece com uma risada. — Perfeito. Assim você pode explicar para ela o que
está acontecendo.
Thomas se levanta da cama e vem até mim. Me entrega o celular e
abaixa a boca até a minha orelha.
— Não é nada pessoal com você, Cecília. São apenas negócios — ele
diz e a respiração quente no meu pescoço me faz arrepiar.
Dou um passo para trás e vejo seu olhar divertido e malicioso. Trago o
celular à orelha com um pressentimento ruim.
— Pai? — digo ao telefone e ouço um suspiro pesado do outro lado da
linha.
— Cecília, meu amor, como você está? Você está bem? Onde você
está?
Franzo o cenho, sem entender.
— Eu estou em um dos hotéis — explico, olhando para Thomas. — O
que está acontecendo? Por que o senhor Albuquerque veio me buscar?
— Oh, meu amor, eu sinto muito — papai diz do outro lado da linha.
— Eu sinto tanto, querida.
— Você está me assustando — sussurro, mexendo no cabelo por causa
do nervosismo. — O que aconteceu?
— Cecília… Eu cometi um erro. E é você que vai ter que pagar por
isso, meu amor.
CAPÍTULO 5
Thomas de Albuquerque
Escuto com atenção enquanto Cecília conversa com seu querido pai
pelo telefone. Vejo o segundo em que seu rosto se transforma de preocupação
para puro desespero. Sento, espero e olho para o relógio com impaciência.
Estou entediado.
— Como você pôde fazer isso, papai? — a garota sussurra em um fio
de voz e as lágrimas escorrem pelo seu rosto pálido.
Espero.
Acompanho toda a raiva despejada de um jeito até meigo, até que
Cecília desliga o telefone.
— Oh, querida, eu sinto muito. Sabe que sempre tive seu pai como um
irmão. Estou tão decepcionado quanto você. — Abro um sorriso cínico,
porque sei que vou usar a tristeza que vejo no seu rosto agora contra seu pai.
— Como você pôde? — ela explode enquanto limpa as lágrimas com
raiva do rosto.
— Como eu… — Olho para ela com surpresa pela explosão. — Como
eu pude? Como o seu pai pôde seria a pergunta certa, garota!
— Você se acha muito melhor do que ele, não é? Acha que pode
simplesmente sair comprando as pessoas para pagar os erros das outras.
Solto uma risada sarcástica e sacudo a cabeça de descrença. Me
aproximo dela, e a garota perde completamente a pose. Ela dá vários passos
para trás, mas logo a porta atinge suas costas, sem saída. Seus olhos estão
vermelhos do choro e seu rosto está corado, não sei dizer se de raiva ou de
excitação. Percebi os sinais que seu corpo me deu assim que ela me viu.
Notei que a garota ficou mexida com a minha presença, mas não quero nada
com ela. Não faz meu tipo. Não gosto de ratinhas assustadas. Apesar de ter
sido surpreendido pela mulher que se tornou, não me interessa. Como eu
disse para ela: tudo não passa de negócios. Uma relação que vai me trazer
muitos benefícios. O primeiro deles vai ser me vingar de César e o segundo é
para acalmar a mídia e os investidores, que estão frequentemente me
cobrando um casamento. Aí está. Mato dois problemas de uma vez.
Resolvido. Nada que faço na minha vida é em vão. Minhas atitudes são muito
bem pensadas e caem sempre para a mesma pergunta: o que eu vou ganhar
com isso?
— Cecília… — digo e limpo a lágrima que escorre do seu rosto. —
Você não vai querer me irritar, Cecília. Colabora comigo que eu vou ser o
melhor dos maridos para você. O que acha, cristal?
Sorrio pelo deboche do apelido que seu pai usa e ela parece notar,
porque sua expressão volta a se fechar e a ficar feroz.
— E você vai fazer o quê? Me vender para outra pessoa se eu não
colaborar? — pergunta com frieza, e arqueio a sobrancelha. — Eu não sou a
droga de uma mercadoria! Não sou uma moeda de troca, não sou um objeto
que se usa para atingir seus objetivos. Eu sou um ser humano.
— Ah, você vai ser minha moedinha, querida. Não fique tão chateada.
Não leve para o lado pessoal. Não é você, sou eu.
Solto uma risada pela cara de choque que a garota faz. Essa família me
entretém como nenhuma outra faz. Ela continua na batalha contra as lágrimas
que mancham seu rosto.
— Ok, já perdi a minha paciência com o seu chororô. Já está tudo
resolvido? Tem alguma dúvida? Não? Tudo bem.
Me afasto e olho a hora no relógio. Percebo que perdi tempo demais
nessa brincadeira. E meu tempo custa caro. Tenho algumas reuniões aqui em
Nova Iorque, para tentar resolver uma parte do problema que meu querido
sócio me meteu.
— Arrume as suas coisas que nós vamos voltar para o Brasil daqui uns
dias. Assim que chegarmos, nós vamos espalhar para a imprensa a nossa
união — digo, olhando de volta para ela. — “Thomas de Albuquerque, o
solteiro mais gostoso e cobiçado do Brasil, finalmente encontra uma
sortuda”. Vai ser uma boa manchete, não acha?
— Você é louco! Eu não posso simplesmente ir embora daqui. Eu…
— Você…?
— Faltam seis meses para terminar os meus estudos. Batalhei muito
por isso aqui e ninguém vai me tirar essa chance — fala. Empina o queixo,
mas encolhe o corpo assim que volto a me aproximar.
— O que você cursa?
— Contabilidade — murmura com um fio de voz e abaixa o rosto.
Solto uma risada sarcástica. Mas é claro que ela ia seguir o caminho do
papai.
— Ah, verdade, começou para trabalhar na empresa, não foi? Seu
paizinho me contou. Uma pena. Mas me diga… Estava planejando golpes
como o papai?
A garota ergue a mão para acertar meu rosto, mas eu prevejo a ação e
seguro sua mão no lugar.
— Eu achei que você fosse meiga e delicada, garota. Mas você só está
me irritando.
— Estamos falando do meu futuro — fala e sacode a cabeça,
decepcionada. Eu não poderia me importar menos com a sua revolta. Só me
deixa mais motivado para concretizar meus planos, porque se ela sofre, César
sofre o dobro. — Como você tem coragem? Pelo que meu pai conta, você me
viu nascer e crescer. Você estava sempre na minha casa, com a minha família
e…
Sua voz embarga e ela não consegue falar. Solto sua mão e a garota
parece desabar. Suas mãos vão para os braços e deslizam pela pele
freneticamente, como se estivesse com frio.
— Não quero ouvir seu discurso, garota. E isso aqui — aponto para
sua mão — nunca mais vai se repetir. Não ouse levantar a mão para mim,
entendido?
Ela não responde e eu ergo seu rosto para o meu.
— Entendido, cristal?
Cecília puxa o rosto com força, se afasta de mim o máximo que pode e
vai para a cama. Ela se senta e puxa as pernas. Apoia o queixo nos joelhos e
chora. Eu vou até a porta e a abro, pronto para sair dali.
— Ok, vou te deixar aí no seu drama juvenil. O motorista vai te levar
de volta para você buscar o resto das suas coisas. Seja rápida. E esteja aqui
quando eu voltar. Temos um contrato para assinar.
— E a minha faculdade? — pergunta e eu volto pela porta já aberta.
— Existem faculdades no Brasil, querida. Você pode cursar uma delas.
E não é como se você fosse precisar mais dela, afinal, você nunca vai poder
pisar naquela empresa.
Pisco para ela, saio dali apressado e olho para o relógio. Quase me
atrasei. Odeio atrasos. No caminho para a reunião, tiro o celular do bolso do
paletó e disco o número de César.
— Meu amigo, quanto tempo! — digo e ouço a sequência de
xingamentos vindo do outro lado. — Que isso, César? Eu sabia que não
estava com saudade, mas precisa ofender meus sentimentos assim? E a nossa
amizade, como fica?
— Vá se foder, Thomas! Você é um miserável de merda.
— Você se esqueceu de me falar que a Cecília se transformou numa
bela mulher, César. Sua princesinha cresceu rápido. Quanto orgulho… Uma
pena ela não poder mais exercer a profissão como você, não acha? Ela parece
inteligente e esforçada — zombo, pisando na proteção e no cuidado que sei
que sempre teve com a filha. — Vou cuidar direitinho dela, sogro. Não se
preocupe.
Desligo na sua cara e volto a guardar no paletó. O motorista estaciona
em frente ao restaurante onde marquei a reunião e desço do veículo.
Hoje uma parte da confusão vai ser resolvida, porque não aceito perder
mais nada do meu império. Assim como não aceito que ninguém que mexe
comigo saia impune

Quando estou livre de todos os compromissos, volto para o hotel.


Espero encontrar a ruivinha nervosa ali, então vou direto para a suíte
presidencial onde ela está. Bato na porta, mas ninguém me responde. Volto a
bater, impaciente com a atitude adolescente.
— Cecília, abre essa porta!
Como não tenho resposta, pego meu celular e ligo para o motorista que
ficou encarregado de levar a garota até a sororidade onde ela mora. Ele
atende no primeiro toque.
— Sim, senhor?
— Onde ela está? Onde está Cecília? — pergunto, impaciente.
— Eu a deixei lá, senhor. Ela disse que ia precisar de tempo para
organizar tudo, mas que depois me ligava.
— E quanto tempo faz isso?
— Al-Algumas horas, senhor — o idiota gagueja e eu praguejo.
Desligo o telefone na sua cara e ando a passos largos até a saída do hotel.
Pirralha irritante.
O que era para ser uma coisa tranquila está se transformando em uma
maldita dor de cabeça. Preciso que aquela garota entenda de uma vez que a
vida do seu pai está nas minhas mãos. Infelizmente, ela foi a selecionada para
resolver o prejuízo que ele me causou. Ou é isso ou o desgraçado vai morrer
na cadeia. Custe o que custar.
Peço para o motorista que está comigo me levar de volta para onde
Cecília mora e tento falar com ela pelo número que meus investigadores
descobriram, mas a ligação nem chama.
— Garota filha da… — xingo e falo com o motorista: — Mais rápido.
Assim que o veículo para em frente ao lugar, eu subo as escadinhas
que mostram as letras grandes do nome da sororidade. Toco a campainha e
não demora para uma das garotas assanhadas de mais cedo aparecer na porta.
— Cecília está aí?
— Hum… Não. Acho que ela saiu com a Kelly. Tinha alguma festa e
elas foram.
— Festa? — pergunto sem acreditar e ela acena. — Obrigado.
Desço as escadas rapidamente e tento ligar para ela mais uma vez.
Como não atende, deixo um recado na sua caixa postal.
— Cecília, se você não estiver no hotel daqui a vinte minutos, vai se
arrepender, garota. Não ache por um segundo que vou ter pena do seu
paizinho, porque não vou.
Volto para o hotel e espero. Sei que o ratinho assustado com pose de
gavião irá voltar cedo ou tarde.
CAPÍTULO 6
Thomas de Albuquerque
Cecília não voltou. Já são três horas da manhã e a garota pentelha
sumiu. Seu celular continua indisponível. Já liguei para os seus pais
perguntando por ela, ameaçando, mas os dois pareceram surpresos e
preocupados, então descartei uma fuga dela a mando deles. Eu estou puto,
porque odeio quando me desobedecem. Eu disse para ela estar aqui no hotel
quando voltasse, e era para ela estar aqui. Simples.
Desisto de esperar.
Levanto da cama e coloco uma camisa antes de pegar a chave do carro.
Desço pelo elevador e faço algumas ligações. Busco informações das festas
nas redondezas e não é difícil encontrar o local da “grande festa” nas redes
sociais. Coloco a localização no GPS e demora apenas dez minutos para
chegar. Vejo um monte de pirralho em frente à casa de uma fraternidade com
os copos vermelhos nas mãos e a algazarra rolando solta pelo meio da rua.
Amaldiçoo Cecília alto, querendo esmagar o seu pequeno pescocinho,
e estaciono o veículo. Desço e desvio das pessoas bêbadas que entram na
minha frente até chegar à porta da fraternidade. Penso em perguntar pela
garota, mas não tenho paciência para lidar com adolescente, muito menos
bêbados, então decido procurar eu mesmo. Olho para todos os lados e faço
cara feia ao ver a zona que isso aqui está. De repente, paro quando vejo um
cabelo ruivo destacado no meio de um círculo de bêbados.
— Cecília! Cecília! Cecília! — eles gritam, enquanto a garota vira uma
garrafa de bebida na boca.
Passo as mãos pelos cabelos e me aproximo. Aperto o ossinho do nariz
e penso em que porra eu me meti. Paro perto do grupinho, que se afasta e me
encara com receio. Todos ficam em silêncio e a garota maluca parece ser a
única a não notar que cheguei, pois segue virando a bebida.
— Cecília — uma garota fala baixinho, mas a ruiva não para.
Quebro completamente a distância e seguro a garrafa. Ela resmunga e
solta um “ei” alto antes de se virar para mim.
— O que acha que está fazendo, Cecília?
— Ah, é você… — Bufa e joga os cabelos para trás.
Seu rosto agora está maquiado, o que a deixa mais com cara de mulher
e menos de menina. Os lábios grandes e fartos estão preenchidos por um
batom rosa demais, e é neles que foco enquanto um bico se forma ali.
— Vocês são todos uns irresponsáveis — falo e aponto o dedo para a
galerinha ao redor, que se dispersa e se espalha. Só fica a garota que a
chamou, uma morena dos olhos verdes e de cabelos longos.
— Você é amiga dela? — pergunto em inglês e solto um suspiro ao ver
que a garota começou uma espécie de dança desengonçada.
— Sou. Eu não sei realmente o que aconteceu com ela — fala,
segurando o riso. — Cecília nunca aceitou sair comigo até hoje. E o pior que
foi ideia dela. Começou a beber e não parou mais. Acho que estava
precisando extravasar.
— Garota maluca — resmungo e me apresso para segurar quando
quase cai de cabeça no chão após tropeçar nas próprias pernas. — Eu vou a
levar daqui.
— Ela não vai sair daqui com um desconhecido. Não vou deixar. — A
amiga arqueia uma sobrancelha e tenta afastar Cecília de mim.
— Não sou um desconhecido. Sou Thomas de Albuquerque, amigo da
família e futuro marido dela. Agora, com licença que não tenho paciência.
Ergo a garota bêbada nos braços sob protestos e a levo para fora dali.
Praticamente grito para que as pessoas saiam da frente, enquanto Cecília se
debate no meu colo e me xinga. Só a solto quando chegamos ao carro.
Coloco a garota no chão para poder abrir a porta para a colocar no banco de
trás.
— Você não devia ter… — Ela não termina a frase, pois seu corpo
convulsiona e a pequena pentelha vomita na minha camisa.
Fecho os olhos, prendo a respiração e aperto as unhas na palma das
mãos.
— Eu vou te… — falo, mas ela me interrompe novamente, sujando a
minha camisa inteira.
— Acho que eu sujei você bem… aqui — fala rindo e empurra a unha
no meu peito.
Me afasto dela e me livro da camisa. Deixo jogada ali no meio da rua
mesmo. Abro a porta sem paciência e coloco Cecília ali, sem me preocupar
em colocar o cinto de segurança nela. Estou puto e precisando socar alguma
coisa para que a raiva não me faça desintegrar. Dirijo rapidamente até o hotel
e nem estaciono. Tiro a garota do banco de trás e a levo no colo. Não ligo
para os olhares dos funcionários que trabalham na recepção durante a
madrugada, apenas sigo pelo elevador até seu quarto.
Abro a porta com dificuldade por ter Cecília no meu colo, mas
finalmente consigo. Eu a deito na cama e penso em só a deixar ali mesmo.
Estou quase fazendo isso quando lembro que o único erro dela foi ter nascido
de um filho da puta de merda. Arrumo a garota na cama direito e a cubro com
o edredom que está na cama. Tiro seu vestido curto e apertado por debaixo do
tecido. Olho feio para a peça em estado de calamidade e tiro meu celular do
bolso da calça. Disco para a recepção, que atende rapidamente.
— É o Thomas falando. Preciso que alguma funcionária venha para o
quarto 905 agora.
— Sim, senhor Thomas. Vou providenciar alguém agora mesmo —
responde a mulher do outro lado.
Em menos de cinco minutos, uma senhora aparece.
— Preciso que contate alguém para lavar essas roupas e que você fique
de olho nela durante a noite. Pode deixar o seu trabalho de lado até a manhã,
só cuide para que nada aconteça e que ela não morra afogada no próprio
vômito.
— Sim, senhor. O senhor precisa de alguma coisa? — pergunta,
olhando para minha calça suja graças a Cecília.
— Vou deixar essas roupas na porta do meu quarto. Peça que busquem
também.
— Sim, senhor — confirma com a cabeça e se aproxima de Cecília.
Saio dali e vou direto para meu quarto. Meu celular vibra assim que o
coloco em cima da mesinha de madeira no canto do lugar. Vejo o nome de
César na tela e sorrio. O homem deve estar morto de preocupação pensando
que a filhinha dele fugiu, que algo aconteceu e ele está do outro lado do
mundo, sem saber notícias, sem poder fazer nada.
Eu podia mandar uma mensagem para o tranquilizar, mas que graça ia
ter? Só desligo o aparelho e tiro as roupas. Faço como falei para a funcionária
e volto para tomar um banho para limpar a meleca que aquela pentelha fez
em mim.
Amanhã ela vai aprender, assim como seu paizinho, que não se brinca
comigo. Que ninguém ousa me desobedecer.

Levanto cedo mesmo tendo dormido de madrugada pelo costume. Meu


corpo já está treinado a acordar às sete e meia da manhã todos os dias, e não
tem quem me faça ficar na cama até tarde.
Coloco uma roupa limpa depois de tomar um banho e escovar os
dentes. Passo a mão pelos cabelos para pentear, coloco o relógio no pulso e
calço os sapatos antes de ir até onde Cecília está dormindo. Bato na porta e
demora alguns minutos até a funcionária abrir. Entro e vejo que a garota
ainda está dormindo. Não sei o que ela estava pensando ao sair como uma
louca bebendo todas as bebidas do mundo, mas não vou dar o gostinho de
deixar a princesinha descansar depois de tudo.
— Pode deixar que cuido de tudo a partir daqui — falo para a senhora,
que apenas acena e sai.
Me aproximo da cama e observo o rosto manchado de maquiagem da
garota. Sacudo seus ombros de leve e ela resmunga, batendo na minha mão.
— Acorda, Cecília — falo e sacudo seu corpo de novo. — Acorda!
A garota acorda em um salto e arqueio a sobrancelha quando vejo que
seus seios ficaram rapidamente expostos com o movimento.
— O que… — Apenas escuto sua voz rouca de sono. — O que
aconteceu com a minha cabeça? Eu morri?
— Você está de ressaca — respondo e coloco as mãos no bolso da
calça social. — Dá para se cobrir de novo com o edredom?
— Eu… — Espero a confusão dar lugar à realidade. — Por que eu
estou sem roupa? O que você fez comigo, seu maluco?
Assim que ela se cobre, olho para seu rosto. Os cabelos ruivos estão
bagunçados, grudados no rosto todo marcado de algo preto que escorre pela
bochecha.
— Não fiz porra nenhuma. Não quero nada contigo nem sóbria,
imagina bêbada, garota. Não sou um estuprador.
— Eu… Me desculpa — fala e passa a mão no cabelo. Seu rosto cora e
quase fica da cor do seu cabelo. — Não me lembro de nada.
— Consequências da sua bebedeira desenfreada — murmuro sem
paciência e travo o maxilar, puto da vida com ela. — Consequências de você
ter desobedecido minhas ordens.
— Você não manda em mim — fala e me encara de baixo.
— Pensa assim, garota. Vou descer para tomar café da manhã. Você
tem dez minutos para se recompor, limpar essa sujeira do seu cabelo e descer
até o restaurante. Não tente fazer mais nenhuma gracinha, Cecília. Não
brinque comigo.
— Eu não vou descer.
— Você vai. Preciso te dizer as consequências para seu pai se você
pensar em fugir ou tornar as coisas difíceis? — pergunto e ela abre e fecha a
boca, chocada. — Imaginei que não. Dez minutos.
Olho as horas no relógio e ando em direção à porta.
— Você pode me trazer um remédio para dor de cabeça? — pergunta e
eu arqueio a sobrancelha. — Por favor…
— Dez minutos. — É tudo o que respondo antes de bater a porta com
mais força que o necessário, sabendo o quão doloroso isso deve ter sido para
sua cabeça.
Encontro um funcionário no meio do caminho e peço que ele faça o
que Cecília pediu. O homem acena e corre para cumprir minhas ordens
enquanto eu desço em direção ao restaurante.
Espero mesmo que não tenha causado mais dor de cabeça para mim
com esse plano que agora me parece completamente idiota. Não sei até
quando consigo aturar aquela garota imatura, inconsequente e irresponsável
sem surtar.
CAPÍTULO 7
Cecília Magalhães
Não sei o que é pior, se é a dor de cabeça que me faz querer chorar ou a
vergonha que me impede de sair da cama. Meu Deus, onde eu estava com a
cabeça? Tento me lembrar do que aconteceu na noite passada, mas só me
lembro de alguns pedaços.
Ouço a batida na porta e uma senhorinha entra trazendo remédio para
dor de cabeça. Agradeço e fico olhando confusa para o comprimido na minha
mão quando ela sai. Não achei que Thomas fosse mesmo trazer remédio para
mim. Parece que existe uma pessoa decente embaixo daquela pose de homem
arrogante, no fim das contas.
Me arrasto para fora da cama e tomo um banho. Quase choro quando
me olho no espelho e vejo o estado horrível que eu estou. Sofro para
conseguir tirar a maquiagem toda borrada do rosto e desisto de tentar ficar
pelo menos um pouquinho apresentável. Prendo o cabelo de qualquer jeito
em um coque frouxo e visto a primeira coisa que vejo dentro da minha mala,
uma blusa qualquer e calça jeans.
Mordo a unha dentro do elevador enquanto desço para o restaurante.
Não é difícil achar a mesa onde ele está sentado, todo carrancudo olhando
para o celular enquanto digita alguma coisa rapidamente. Ele só tira os olhos
do aparelho quando eu puxo a cadeira e acabo fazendo barulho para me
sentar do lado dele.
Thomas me olha de cima a baixo com uma sobrancelha arqueada. Ele
não diz nada enquanto eu me sento e volta a digitar no celular por alguns
segundos antes de o colocar na mesa. Apoio o cotovelo na mesa e encosto a
testa na mão, apertando os olhos fechados porque tudo dói. O barulho e a
claridade não ajudam em nada com a dor de cabeça e o remédio ainda não
começou a fazer efeito.
Abro os olhos só quando sinto a mão dele no meu pulso e tomo um
susto porque não estava esperando o toque. Ele me olha de um jeito intenso,
com os olhos presos no fundo dos meus. Respiro fundo e prendo a respiração
quando Thomas se inclina na minha direção e estremeço quando sinto sua
boca na minha orelha. A barba roça na pele do meu rosto e eu sinto minha
pele pegar fogo sem entender o que está acontecendo.
— Para referências futuras, quando eu disser para você se arrumar para
ir para algum lugar comigo, tenta se vestir menos como uma garotinha que
não tem que se preocupar com nada e vê se lembra de que agora você vai ser
mulher de um empresário. — Sinto meu rosto pegar fogo de vergonha e tento
me afastar, mas ele segura meu braço. Mordo o lábio e ofego porque sinto
sua boca tocar o meu pescoço. — A sua sorte é que você até que é gostosinha
e fica bem dentro desse saco de batata que resolveu vestir.
Pisco chocada quando ele encosta de novo na cadeira onde está sentado
com um sorriso debochado no rosto. Levanta a mão para chamar o garçom e
cruza os braços na frente do peito.
— Pois não, senhor? — o garçom pergunta quando chega na mesa.
Thomas faz o seu pedido de café da manhã, e eu só continuo olhando
para ele com a boca aberta sem acreditar nesse homem. Ele acabou… de
dizer que eu sou gostosinha? Pisco confusa e ele estala os dedos na frente do
meu rosto.
— Ele não tem o dia todo, cristal — reclama, apontando para o garçom
com a cabeça.
— Eu… anh… Só um café, por favor.
Thomas fecha a cara e vira para o garçom de novo.
— Ela vai querer panquecas e suco de laranja — diz para o homem que
sai logo depois.
— Mas eu não estou com fome — protesto. Meu estômago está
embrulhado por causa de tudo que eu bebi ontem de noite e só a ideia de ver
comida na minha frente me faz querer vomitar de novo. É então que eu
lembro que vomitei em Thomas e sinto meus olhos arregalando em pavor.
Meu Deus!
— Se você vai se comportar feito criança, vou te tratar feito criança,
Cecília — ele diz e cruza as mãos em cima da mesa. Sua expressão fica
severa, com as sobrancelhas grossas franzidas e os olhos pegando fogo de
raiva. — Onde você estava com a porra da cabeça? Eu te mandei esperar no
hotel!
— Eu não sou sua propriedade, você não pode me dizer o que fazer —
reclamo baixinho, olhando para os meus dedos entrelaçados no meu colo. Ele
ri ácido.
— Que foi? Cadê a coragem? Foi embora junto com o álcool? — ele
provoca. — Olha para mim, garota, que eu estou falando com você. —
Levanto a cabeça para encontrar seu rosto bravo. Thomas respira fundo. —
Você é sim minha propriedade, graças ao seu papai. Agradeça a ele depois.
Eu estava tão brava com tudo que Thomas está tentando me forçar a
fazer que aceitei ir para uma festa com Kelly, coisa que nunca faço. Não é
justo. Eu sempre faço tudo certo, sou uma boa filha, uma boa aluna. E para
quê? Para ser vendida em casamento para um homem grosso que só quer se
vingar do meu pai.
— A culpa não é dele, é sua! — digo e empino o queixo mesmo que eu
só queira sair correndo por ele me olhar desse jeito intimidante. — Foi você
que decidiu me punir sem eu ter feito nada.
Thomas tomba a cabeça para o lado e abre um sorriso carinhoso que
me confunde. Ele estende a mão sobre a mesa e segura meus dedos. Sua mão
é quente e macia, e de um jeito estranho faz meu corpo relaxar.
— Foi seu pai que escolheu isso, Cecília. Ele poderia ser homem e
pagar pelos seus erros. Mas ele escolheu te vender para mim, não escolheu?
Ele prefere que você sofra pelo resto da sua vida ao invés de ir para a cadeia
como é justo. — Sinto meus olhos encherem de lágrimas e Thomas acaricia
minha mão. — Não, querida, não chore. Está tudo bem.
Papai… Não posso acreditar que ele pôde fazer uma coisa dessas.
Como ele pôde roubar do seu próprio sócio, seu amigo de tantos anos? E
como pôde destruir minha vida desse jeito?
— Eu vou cuidar de você — Thomas promete. — Você vai ser minha,
e eu cuido do que é meu. Só precisa me prometer que vai ser uma boa
menina, e eu prometo que vou te dar a vida de princesa que você está
acostumada, tudo bem? — ele pergunta com uma voz carinhosa. Sinto meu
lábio inferior tremendo pelo choro que não posso derrubar aqui na frente de
todo mundo.
Não era isso que eu queria para a minha vida. Não era mesmo.
O garçom volta com nossa comida e Thomas solta a minha mão.
Agradece ao homem, que vai embora logo depois. Ele toma um gole do seu
café e indica com a cabeça para o meu prato.
— Coma. Não quero lidar com você desmaiando hoje de novo.
Pego o garfo e brinco com a panqueca no meu prato. Tem um cheiro
bom, mas perdi completamente o apetite. Thomas suspira, irritado.
— O que é agora? Preciso te dar na boquinha? — Respiro pela boca e
deixo os lábios separados quando volto a olhar para ele. Thomas abre um
sorriso malicioso e vejo seus olhos brilharem quando mordo o lábio inferior.
— Sabe que olhando daqui, não parece uma má ideia colocar na sua
boquinha — diz em um tom que faz minha coluna arrepiar e meu corpo
esquentar.
— O que você quer dizer? — pergunto e coloco uma mecha de cabelo
que caiu do coque atrás da orelha.
O sorriso dele se amplia e Thomas esfrega o polegar na boca.
— Nada, querida. Coma seu café da manhã e vou te levar de volta para
o quarto.
Nós terminamos de comer em silêncio. Eu fiquei presa nos meus
próprios pensamentos confusos e Thomas não pareceu se importar muito, já
que não tirou a cara do celular. Então ele me trouxe para o meu quarto e é
onde estamos agora. Eu sento na cama e abraço os joelhos. Ele está de pé no
meio do quarto olhando ao redor.
— Eu vou sair, Cecília. Vou precisar te buscar em outra festa hoje de
novo ou você vai se comportar como a adulta que é e obedecer a uma ordem
simples?
— Não vou a lugar nenhum — garanto com um suspiro resignado.
— Ótimo — ele diz e arruma a gravata do terno alinhado. — Não devo
demorar muitos dias aqui para resolver o que preciso. Em menos de uma
semana, nós vamos estar de volta ao Brasil.
— Não! — protesto e fico de pé em um pulo. — Por favor, não. Só
faltam seis meses para eu terminar a faculdade. Me deixa terminar — peço e
sinto meus olhos encherem de lágrimas de novo, mas dessa vez elas escorrem
pela minha bochecha e um soluço escapa da minha garganta. — Por favor…
Thomas parece congelar no lugar, como se não soubesse o que fazer
comigo. Ele dá um passo para mais perto e me alcança sem qualquer
dificuldade. Ele é bem mais alto que eu e seu corpo me cobre quase por
completo. Thomas puxa meu queixo para cima e passa o polegar pela minha
bochecha, espalhando as lágrimas.
— Você sabe o que podia ter acontecido com você ontem à noite,
garota? — pergunta com a voz raivosa. — Sabe o que aqueles merdinhas que
você chama de amigos podiam ter feito com você?
— Como se você se importasse!
— Não me importo — ele responde com uma risada e segura meu
rosto. — Mas tenho uma reputação a zelar e não posso ter minha noiva
envolvida em escândalos por aí.
— Eu prometo que vou me comportar — garanto e respiro fundo.
Prendo os olhos nos dele e por um segundo me perco no azul bonito. — Eu
prometo.
Thomas não diz nada por um tempo. Passa o polegar na minha boca,
desce os olhos pelo meu corpo e eu me sinto muito exposta, mas não é de um
jeito ruim. Nunca gostei muito quando outros caras me olham desse jeito,
mas não me incomoda quando ele faz.
— Vou pensar — diz e olha para o meu rosto. — Se você se comportar
hoje, nós conversamos mais tarde.
Faço que sim com a cabeça e ele suspira.
— E vai dormir, você está com uma cara horrível — diz quando me
solta e sai batendo a porta.
CAPÍTULO 8
Cecília Magalhães
— Eu estava preocupada com você.
Abraço o travesseiro e suspiro quando Kelly se arruma na cama do
meu lado.
Faz alguns dias desde que minha vida virou do avesso e eu estou sem
saber o que fazer. Estou ficando desesperada por estar perdendo aulas, mas
mandei e-mail para alguns dos professores e eles me deixaram repor depois.
Só que eu quero minha vida de volta. Não quero ficar presa em um quarto de
hotel esperando pela boa vontade de um tirano arrogante que decidiu me
fazer de fantoche.
Meu pai não para de ligar, mas não atendi o telefone nenhuma vez.
Não quero falar com ele, não quero ouvir suas desculpas. Da última vez que
falei com mamãe, ela disse que ele está sofrendo muito com toda essa
situação, mas e eu? Estou pagando por um erro que não é meu e eles não
estão fazendo nada para me ajudar.
— Eu estou bem — minto e tento sorrir para a minha melhor amiga.
— Não entendi nada quando aquele cara foi te buscar na festa. Só te
deixei ir com ele porque ele falou o nome e eu me lembrei de que você me
disse que era amigo do seu pai. — Ela abre um sorriso malicioso e belisca
meu braço. — Você não disse que ele era bonito, mas ele é muito gato!
— Kelly! — repreendo. Rio de verdade pela primeira vez em dias. Ela
se abana e joga as sobrancelhas para cima.
— Fiquei com inveja quando ele te pegou no colo e te carregou de lá
— ela confessa com um risinho. — Queria eu estar nos braços daquele
homem. Mas, Cecília… — Ela aperta as sobrancelhas. — Eu estava bêbada e
não sei se lembro direito, mas tive a impressão de que ele disse que… é seu
futuro marido?
Solto um gemido sofrido e me jogo na cama. Preciso contar para
alguém, conversar com alguém ou vou enlouquecer. Então conto para ela,
mas deixo de fora a parte que papai cometeu um crime.
— Foi um acordo entre ele e meu pai — digo e olho para a minha
amiga. — Ele veio me buscar para… casar — digo a última palavra chorosa e
os olhos de Kelly brilham de animação.
— Sua sortuda! — grita e bate palmas. Faço uma careta.
— Não quero me casar com ele! — reclamo e ela me olha como se eu
fosse doida.
— E por que não? Nem vem com essa conversa de príncipe encantado,
Cecília. É a coisa mais normal do mundo que os herdeiros de famílias ricas se
casem para aumentar as empresas. Ou você acha que meu pai vai me deixar
casar com qualquer um? Claro que não.
Paro para pensar por um segundo, porque nunca tinha considerado
isso.
— Mas você tem um namorado. Achei que você gostasse dele.
Kelly suspira e acaricia meu cabelo.
— E eu gosto, mas sei que não é com ele que vou me casar. Talvez a
gente até continue juntos depois, porque sei que meu casamento quando
chegar vai ser só de fachada.
— Kelly! Como pode dizer uma coisa dessas? Não quer se casar por
amor?
Ela suspira e dá de ombros.
— Só estou sendo prática, amiga. Você tirou a sorte grande. Ele é um
baita homão, gostoso, rico. Vai te dar uma vida de princesa. Fora que ele tem
cara de que sabe o que fazer com uma mulher. Ai, amiga, sua primeira vez
vai ser bem coisa de filme. Queria eu que a minha tivesse sido com alguém
que sabia o que estava fazendo — ela diz com uma careta.
Afundo o rosto no travesseiro de novo, querendo chorar. Isso não pode
acontecer comigo. Não me interessa o que Kelly acredite, eu sempre quis me
casar com um homem que me amasse mais que tudo no mundo. Não com um
que só está me usando para fazer a vida do meu pai um inferno.
— Eu não vou perder minha virgindade com ele — decido. — Prefiro
morrer virgem a ir para a cama com… com… aquele homem arrogante!
Ela arqueia uma sobrancelha.
— Arrogante, é? Por que você está afetada desse jeito se não está
interessada? — ela provoca. — Até porque você tem olhos, duvido que não
esteja afetada pelo gostosão. Amiga, não desperdiça um homem daqueles.
— Vamos mudar de assunto, tá? — peço e me sento no colchão. —
Faz dias que não saio desse quarto, preciso me distrair.
— Tudo bem — ela concorda. — Festa do pijama?

Acordo com uma batida na porta e demoro a me levantar da cama.


Kelly está dormindo ao meu lado, completamente apagada no travesseiro. A
televisão ainda está ligada com o filme que nós estávamos assistindo, mas
nenhuma de nós duas estava prestando atenção. Nós fofocamos e comemos
besteira até tarde. Foi bom sentir minha vida voltar ao normal por algumas
horas pelo menos.
Procuro meu celular. Junto com um milhão de chamadas perdidas de
papai, vejo a hora. Passa de uma da manhã e não tenho ideia de quem pode
estar batendo na minha porta a essa hora.
Ando no escuro até lá para não acordar Kelly com a luz e luto para
encontrar a maçaneta. Quando abro a porta, um pouco de luz do corredor
entra no quarto e eu tomo um susto quando vejo Thomas parado ali com uma
das mãos apoiadas na parede.
Ele parece cansado. Tem olheiras fundas no rosto e seus olhos claros
estão irritados. Ele não usa o mesmo terno que normalmente está vestindo
todas as vezes que o vi. Ao invés disso está só com a camisa social com os
primeiros botões abertos, e consigo ver um pouco da pele clara exposta ali.
— Thomas? — pergunto, confusa. Dou um passo para fora do quarto e
encosto a porta. Bocejo, ainda terminando de acordar.
Ele não diz nada. Sinto seus olhos quentes passeando pelo meu corpo
de cima a baixo. Subitamente, ele prende uma mão de cada lado do meu
corpo e eu sinto minhas costas na parede do corredor.
— Que merda é essa que você está vestindo? — ele pergunta. Olho
para baixo, sem entender qual o problema com o meu conjunto de dormir.
Thomas respira fundo e me olha com raiva. — É isso que você usa para abrir
a porta? E se fosse um dos seguranças?
— Qual o problema? — pergunto, confusa. Ele ri, seco.
— O problema é que consigo ver a porra do seu peito atrás dessa
coisinha transparente, Cecília — ele rosna. Eu imediatamente tento cruzar os
braços, mas ele os segura para baixo.
— Eu…
Respiro fundo sob seu olhar intenso sobre mim. Meu peito sobe e
desce e Thomas solta meu pulso e leva uma mão à minha cintura. Coloca a
boca na minha orelha e diz:
— Quantas vezes eu vou ter que dizer que tenho uma imagem a zelar,
garota? — pergunta e aperta minha cintura. — Não posso ter minha futura
esposa andando por aí vestida desse jeito.
— É uma da manhã, Thomas — respondo, quase inconscientemente
chegando meu corpo para mais perto do dele. — Eu estava dormindo. Não
achei que ninguém ia bater na minha porta e… Por que você está aqui?
— Vim ver se você estava viva, o que acha? — pergunta, irritado.
Estremeço quando a sua mão entra pelo meu cabelo e ele puxa meus fios com
força. — Não achei que fosse te encontrar seminua no corredor do hotel.
Não tenho tempo para me defender e dizer mais uma vez que eu estava
dormindo e que se estou no corredor é porque ele está aqui, porque Thomas
me pressiona contra a parede e esmaga meu corpo com o seu, e eu perco as
palavras.
— Eu tive um dia de merda, cristal — ele diz no meu ouvido e arrasta
a barba pelo meu pescoço.
Eu devia o empurrar daqui. Meu Deus, ninguém nunca me tocou tanto
assim, o que eu estou pensando? Mas seu toque é tão bom, tão quente e
macio. Eu me esqueço de todos os motivos por que o odeio por um segundo.
— Passei a porra do dia inteiro resolvendo problemas que seu papai
criou — rosna. Debocha quando diz “papai”. — A última coisa que preciso é
ter que lidar com você também.
— Mas… foi você que veio aqui — falo baixinho, mas ofego quando a
outra mão dele aperta minha coxa. Sinto minhas pernas bambearem e apoio
as mãos nos seus braços para me manter de pé.
— Você não faz meu tipo, garota, mas eu estou mesmo precisando de
uma boa foda depois do inferno que foram as últimas horas — ele diz e
arrasta o nariz pelo meu pescoço.
— Thomas, eu não…
Então, do mesmo jeito que ele me agarrou, Thomas me solta. Ele me
deixa com as costas coladas na parede e com a respiração acelerada, e se
afasta alguns passos. Sinto minha pele quente e posso apostar que estou toda
vermelha, com a boca entreaberta o olhando sem entender nada enquanto ele
passa a mão pelo cabelo, nervoso.
Thomas pigarreia e balança a cabeça.
— Eu vim para avisar que volto para São Paulo amanhã à tarde e não
tenho qualquer intenção de te deixar aqui sozinha para que você arrume
tempo de tramar alguma coisa com seu pai — diz, severo e recomposto como
se nada tivesse acontecido enquanto eu ainda me sinto derretendo apoiada na
parede. — Mas vou te deixar ficar e terminar sua faculdade.
Uma onda de esperança e felicidade me atinge, mas ele continua:
— Amanhã de manhã vamos encontrar com um advogado e assinar um
contrato. Quando eu voltar para o Brasil, vou anunciar nosso noivado para
todas as mídias. Nós nos casamos assim que você se formar.
Mordo o lábio e faço que sim com a cabeça, sentindo minha mente dar
voltas e mais voltas depois dos últimos minutos que foram uma montanha-
russa.
— Volta para o quarto e vai dormir — ele diz com os olhos na minha
boca. Então, solta uma das suas risadas desdenhosas. — E se recomponha,
cristal. Ninguém tem paciência para uma garotinha que cora o tempo inteiro.
Pisco várias vezes, confusa, enquanto o assisto se afastar, sem ter a
menor ideia do que acabou de acontecer aqui.
CAPÍTULO 9
Thomas de Albuquerque
Espero por Cecília na sala de reuniões do hotel. O advogado está do
meu lado, revendo a papelada que solicitei que revisasse e trouxesse pronta
para hoje. A maldita garota está atrasada e preciso controlar a vontade de ir
atrás dela e sacudi-la até que entenda que precisa agir diferente do que está
acostumada a partir de agora. Não vou me envolver com alguém que corre o
risco de manchar a boa imagem que sempre passei para a mídia. A garota vai
ter que andar na linha.
Escuto uma batidinha leve na porta minutos depois e sei que é ela.
— Entra.
Estou de costas para a porta e ouço os passos hesitantes se
aproximando.
— Você está atrasada, Cecília. Quando eu marcar um horário com
você, chegue nele. Nem um minuto depois.
— Eu me perdi. Não sabia onde era a sala de reunião — ela sussurra e
anda até a cadeira do outro lado da mesa, oposto ao meu.
Arqueio a sobrancelha quando vejo que ela se produziu toda. A roupa
folgada não existe mais e muito menos o pijama horrível e transparente. Não
digo nada. Não vou elogiar porque, a partir de agora, não vai ser mais que
obrigação que ande bem vestida.
— Não tenho o dia todo. Senta. O contrato está aí na sua frente. Leia
com atenção. Nenhum tópico está aberto para discussão, é apenas para ter
ciência do que precisa fazer — murmuro, e ela franze a testa em confusão.
Olha para as folhas com uma expressão devastadora de que está indo
para a forca. Pega a caneta de cima dos papéis e começa a ler. Conforme vai
lendo, sua expressão muda de triste para raivosa. Eu esperava por isso.
— Que tipo de contrato é esse? — pergunta e levanta a cabeça para me
olhar, chocada. — Achei que fosse apenas para garantir que eu não fosse
desistir e não para controlar toda a minha vida, o que eu uso, o que eu como,
o que eu faço da vida. Você é louco?
Olho para o advogado, que é muito bem pago para ser discreto e não
opinar em nada que não seja da sua conta.
— Você nos dá licença por alguns minutos? Logo te chamo.
Ele acena, se levanta da cadeira e sai em silêncio. Assim que pisa para
fora da sala, eu também me levanto, ando até a porta e a tranco. Quando me
viro para Cecília, ela parece acuada como um animalzinho indefeso prestes a
sair correndo.
— Eu vou falar isso apenas uma vez… Você não vai falar comigo
nesse tom nunca mais, entendido? — pergunto, enquanto me aproximo de sua
cadeira. — Muito menos na frente das outras pessoas. Você vai ser uma boa
menina. Obediente, delicada, inteligente e esforçada. Não vai, Cecília? Sei
que a boa moça de alguns anos atrás está aí em algum lugar.
— Você… — Seu rosto está corado e ela parece nervosa. — Você não
vai falar comigo assim também. Não é melhor que eu só por ter poder.
— Não sou? Você acha mesmo isso?
Mexo a boca de um lado para outro, como se estivesse pensando, mas
só estou pensando em uma forma de cortar essa insolência. Não iria tolerar
isso de qualquer outra pessoa, muito menos dela, filha do homem que quase
arruinou toda a minha vida.
— Mas sabe o que eu sou, Cecília? — digo e ergo seu queixo, mas ela
o afasta. — Eu sou vingativo. Não levo pendências para casa e não perdoo,
nunca, quem vacilou comigo. E seu querido papaizinho, cristalzinho, errou
feio comigo. Não precisa de muito para eu destruir a vida dele.
— Você é um monstro — ela fala com lágrimas aparecendo nos olhos
castanhos.
— Oun, fiquei triste com sua ofensa. Nunca ouvi nada parecido —
digo ironicamente. — Você não vai querer que nada de ruim aconteça com
ele, não é? O quão ruim ia ser se alguma coisa terrível acontecesse
acidentalmente. Ou talvez seja exatamente isso o que você quer. Se livrar do
fardo de estar comigo independentemente do que aconteça a ele, como uma
forma de punição pelo que César te fez. Aí você seria bem parecida comigo,
cristal.
— Jamais vou ser parecida com uma pessoa sem coração como você
— rosna e seca o rosto. — Eu posso não ter o seu poder, a sua idade, a sua
malícia, mas eu tenho honra.
— Bom para você — digo sério e me afasto imediatamente. — Vamos
ao contrato porque tenho mais o que fazer. Não tenho o dia todo para isso.
Ela se arruma na cadeira, seca mais lágrimas e volta a ler. Seus olhos
se arregalam a cada linha que lê e eu a observo.
— “Cecília Magalhães não poderá ter qualquer tipo de relação íntima
com ninguém durante o casamento” — ela lê baixinho. — Até aí tudo bem,
porque é isso que se espera de um casamento. Mas “Thomas de Albuquerque
terá outras companhias sempre que desejar, desde que seja discreto”.
— É normal. Não vou fazer nada para manchar a minha imagem.
Consequentemente, nem a sua — respondo com calma e ela arregala ainda
mais os olhos. — O que foi, cristalzinho?
— Não vou assinar isso — fala, sacudindo a cabeça. — Você pode…
dormir com quem quiser, mas eu vou também.
Cerro os olhos e a garota segue lendo o contrato.
— “Não haverá relação física e sentimental entre Cecília Magalhães e
Thomas de Albuquerque”. — Ela lê e ri de desespero antes de completar. —
Como se você soubesse o que é sentimentos. E como se eu quisesse ter você
me tocando.
Eu a examino e percebo os traços de raiva no seu corpo: nos ombros e
maxilar travados, na forma como aperta o papel, na ira dos seus olhos. A
ratinha acha que tem fibra, coitada.
— Por que, Cecília? — pergunto e volto a me aproximar dela. Viro a
cadeira para mim e a garota se assusta, segurando no assento com força. —
Não foi o que seu corpo me disse ontem, quando eu deslizava minha barba
pelo seu pescoço. Não foi isso o que o arrepio me disse. Na verdade, não é o
que ele me diz agora…
Me aproximo somente para provocar e a vejo travando a respiração,
mas ainda com uma expressão de brava.
— Seu corpo está implorando por meu toque, garota. Você está
apertando as coxas, segurando a respiração, apertando as mãos para controlar
o quanto excitado seu corpo está agora.
— Meu corpo pode ser burro, mas a minha cabeça não é — ela
responde e se afasta para longe. — Concordo com esse tópico aqui. Você
nunca vai ousar se aproximar de mim. Tudo o que vai ter é a minha repulsa!
A última coisa que eu quero na vida é ter a minha primeira vez com um
escroto!
Ela puxa a cadeira de leve e a vira de volta para a mesa, folheando os
papéis.
Algo me chama a atenção nessa sua fala furiosa. Primeira vez? Era
tudo o que me faltava. Uma mocinha que além de ingênua é virgem.
— Primeira vez, hein? — zombo e puxo sua cadeira de novo para
mim. — Não me dê as costas quando eu estiver falando contigo, Cecília.
Quer dizer que você é ainda mais pura do que pensei? O que foi? Deixa eu
adivinhar… Está procurando um príncipe encantado? O homem perfeito que
te mime, se apaixone loucamente por você?
— Você é… — Mais lágrimas aparecem no seu rosto, mas ela seca
rapidamente, furiosa.
— Um monstro, eu sei — digo, revirando os olhos de forma
debochada. — Ou já sei! Ninguém te quis? Eles só queriam foder contigo e
isso nunca te interessou? Você é frígida? Fria? Me…
Antes que eu possa prever, o tapa estala com força no meu rosto e ela
se levanta, empurrando meu peito.
— Cala a boca! — grita. — Você não vai falar comigo assim, seu
miserável! Eu te odeio! Eu te odeio!
Descontrolada, Cecília soca meu peito com força, enquanto eu
pressiono o lado ardido da minha bochecha que ela bateu.
— O que eu falei sobre me bater, garota? — Seguro seus punhos para
que ela pare de me socar e me afasto. — Eu estava disposto a ser bonzinho
contigo, mas estou vendo que você não merece, cristal. Senta e termina de
ler.
Aponto para os papéis na mesa e Cecília se senta, chorando de forma
descontrolada. Não tenho pena, agora menos ainda. A garota está me saindo
melhor do que a encomenda no quesito fragilidade. Vai ser ótimo tripudiar
em cima da proteção e do cuidado de César com a filhinha. Quero que ele
sinta toda a dor ao imaginar seu bem mais precioso sozinho com um homem
que ele agora vê como um predador. Sorrio ao imaginar a expressão de
desespero no seu rosto quando eu descrever como vou desvirginar sua
preciosa. Não que isso vá acontecer de verdade, mas ele não precisa saber.
Minha relação com Cecília não vai passar de negócios. Uma forma que
achei de chantagear César para que o homem faça tudo o que eu mandar.
— Não vou assinar até você mudar isso de eu não poder sair com
ninguém — ela fala, agora mais controlada apesar do rosto manchado de
maquiagem. — E eu vou ter meu próprio quarto. Não vou dormir ao seu lado.
— Não te quero na minha cama, Cecília — respondo. — Vou pensar
no seu caso. Se estiver tão desesperada para perder a virgindade, posso te
ajudar.
— Prefiro ser comida por vermes — rebate com o olhar feroz, o que
me faz soltar uma gargalhada.
Não dá para negar que às vezes a ratinha tem fibra.
— Vou mandar o contrato reformulado ainda hoje pelos meus
advogados, antes de eu voltar para o Brasil.
Ela acena devagar e empurra os papéis pela mesa.
— Não faça eu me arrepender disso, Cecília. Vou confiar que você vai
se comportar como uma boa menina, entendido? Se você sair da linha, eu
volto e te levo comigo para o Brasil.
— Sim, senhor — diz sarcástica, e eu abro um sorriso predador.
— Boa menina.
CAPÍTULO 10
Thomas de Albuquerque
Assim que cheguei a São Paulo, vim direto para a empresa porque
agora, mais do que nunca, o descanso não faz parte da minha vida. Consegui
investidores em Nova Iorque, mas a confusão está longe de acabar. O
prejuízo deixado nos cofres da empresa foi grande. O homem além de roubar
grande parte do caixa destinado à mão de obra, sabotou a compra dos
materiais, trocando os de boa qualidade para uma inferior, mas não era isso o
que apareciam nas notas fiscais.
Só de pensar na pilantragem daquele desgraçado, fico mais motivado
ainda a destruí-lo. A dor de cabeça que estou tendo agora não vai ficar por
isso mesmo.
Estou trabalhando concentrado, relendo e-mails, revendo relatórios,
quando escuto uma batidinha na porta.
— Pode entrar.
— Senhor… — Diana parece agitada. — Os seguranças entraram em
contato dizendo que César está tentando falar com o senhor lá embaixo. Ele
parece furioso, e como proibiu sua entrada…
— Pode o deixar entrar, Diana.
Ela acena, prestativa, e sai de forma apressada. Isso vai ser
interessante. Não tive mesmo tempo de extravasar minha raiva de nenhuma
das formas que gosto, socando o saco de pancadas, a cara de alguém ou
metendo meu pau em alguma boceta por aí. Por isso, sinto cada parte do meu
corpo tensa, precisando de uma aliviada. César vai servir para resolver a parte
de socar a cara de alguém.
Não demora para o homem aparecer ali. Ele entra de rompante,
empurrando a porta de uma vez.
— Onde ficou a sua educação, César? Achei que vinha de berço —
falo, sem tirar os olhos do computador. Digito um e-mail de urgência antes de
olhar para ele. — Como está, sogrão?
— Como está a minha filha? O que você fez com ela, seu desgraçado?
Ela… não me atende. — Ele passa as mãos pelos cabelo, nervoso e tenso, e
eu sorrio.
— Acho que a sua cristalzinho ficou muito magoada porque você a
vendeu, César. — Solto um suspiro exagerado, propositalmente dramático, e
em seguida sorrio. — Não acho que ela vá querer olhar na sua cara nunca
mais.
— O que você falou com ela, seu maldito?!
Ele se aproxima rapidamente e tenta me segurar pela gravata, mas eu
seguro sua mão e o soco, o fazendo cambalear para trás com a mão no rosto.
— Você quer sair daqui com mais ferimentos como esses aí quase
cicatrizados, César? Não me oponho a isso.
— Vai se foder!
Sorrio abertamente e aproveito a brecha. Encosto completamente no
assento da cadeira e observo.
— Falando nisso… Você sabia que a sua doce filhinha ainda é virgem,
César? — Arqueio as sobrancelhas em provocação e ele arregala os olhos,
chocado com o teor da conversa. — Meu amigo, você não sabe o prazer que
vai ser realizar esse casamento. Ela está tão… gostosinha.
César se aproxima de mim e tenta me socar novamente, mas eu me
levanto e o esmago na estante atrás de nós, fazendo com que vários livros
caiam no chão com o gesto.
— Vou ficar realizado por ser o primeiro dela, César. Desfrutar
daquele corpo intocado, puro. Ela deve ser doce. — Ele tenta sair o meu
aperto, com raiva, mas não deixo. — Ter Cecília embaixo de mim… Ah,
César… Nada vai me dar mais prazer.
O homem consegue se soltar e se afasta. Arruma a camisa social no
corpo.
— Você vai me pagar, Thomas. Eu vou te levar para o inferno, seu
desgraçado.
— Ah, vai? Posso levar sua filha comigo?
Ele me xinga alto, esbraveja e soca a parede antes de os seguranças
chegarem para o expulsar daqui. Sacudo a cabeça, alinho o terno e me sento,
voltando a me concentrar na tela do computador.
Tenho um longo dia de trabalho pela frente para me preocupar com
uma pedra no meu sapato.

Estou em um estresse fodido. Faz duas semanas que cheguei de Nova


Iorque e tudo parece estar dando errado. Quando dou dois passos para frente,
parece que algo me puxa para trás. Descubro que o buraco que César me
colocou é bem maior do que pensei. Mas isso só me deixa mais motivado.
Saio do trabalho e passo em um barzinho perto de casa. Estou
precisando de uma bebida e de outros ares para relaxar, porque já fiz tudo o
que podia hoje.
Cecília está andando nos trilhos, como prometeu. Tenho pessoas a
vigiando para que não apronte nada que vá manchar a minha imagem. Depois
de todo o trabalho dos últimos dias, só tive tempo de anunciar nosso noivado
para a imprensa hoje. A notícia rodou em todos os lugares, com especulações
e fofocas. Mas não me importo.
Me sento em uma das mesas afastadas e levanto o dedo para pedir um
conhaque. O lugar é discreto, vazio e tranquilo. Venho raramente pela falta
de tempo, mas é um bom passatempo quando preciso me aliviar. Em todos os
sentidos da palavra.
Vejo uma mulher sentada no banco do bar, não muito longe de mim, e
chamo o garçom novamente. Ele se aproxima e falo perto do seu ouvido. O
rapaz acena e não demora para meu objetivo ser atingido. A ruiva de belas
curvas se vira para mim e arregala os olhos ao me ver. Vejo a aliança no seu
dedo, mas isso não me freia. Pelo contrário, só me motiva. Agora que fiquei
noivo, qualquer cuidado é pouco. Procurar uma mulher comprometida me
garante discrição, porque ela também não vai querer se expor.
Ela sorri abertamente, com o desejo sendo demonstrado em cada gesto.
Ergo o copo para a mulher, que se levanta do banco e se aproxima com
elegância. Os seios grandes saltam pelo vestido apertado, que marca todas as
curvas do seu corpo.
— Obrigada pela bebida. É a minha preferida.
— Eu sei. Estava te observando. Sou Thomas.
— Julieta, muito prazer.
Pego sua mão por cima da mesa, a puxo para perto e dou um beijo.
Ela sorri sem graça, mas não me engana. Já tive mais mulheres do que
posso contar, então conheço todos os joguinhos que elas usam porque acham
que enganam alguém.
— Você quer ir para um lugar mais reservado? — pergunto
diretamente. Ela pisca os cílios longos e finge surpresa.
— Para… onde?
— Para um dos meus hotéis. — O que antes era um interesse apenas
pela minha aparência se transforma em muito mais. Exatamente como eu
previ.
— Tudo bem.
Me levanto rapidamente e deixo duas notas em cima da mesa antes de
sair guiando Julieta, tocando suas costas de leve.
Vou para um dos hotéis que fica perto da minha casa e não demora
para subirmos para o apartamento. Mal fecho a porta e invado sua boca.
Imprenso a mulher na parede e ela não resiste. Solta a bolsa no chão e agarra
meus cabelos. As mãos rápidas tiram meu paletó e o joga. para longe. Dá o
mesmo destino para o resto da roupa e para meus sapatos logo em seguida.
Não perco tempo a levando para a cama. Pego uma camisinha que fica
em uma das gavetas na mesa perto da porta e me protejo. Levanto o vestido e
curvo a mulher para encostar na parede. Ergo seu traseiro grande e meto de
uma vez. Ela geme alto e crava as unhas na parede. Puxo seu cabelo longo
para trás e meto com força, sem mudar de posição, apenas para aliviar a
tensão do meu corpo. Para me deixar cansado a ponto de só apagar.
Estapeio sua bunda com força enquanto ela grita. Sinto a boceta
melada expelindo meu pau e volto a estocar até gozar puxando seu cabelo
para trás com força.
Controlo a respiração e saio de dentro dela. Eu a arrasto até a cama e a
jogo ali. Vou até o banheiro e me desfaço da camisinha. Volto para o quarto e
encontro a mulher largada na cama com um sorrisinho malicioso no rosto.
— Já está quase pronto de novo?
— Sempre. Abre a boca e me chupa, Juliana.
— Julie… — Antes que ela complete, ajeito seus cabelos e levo meu
pau até sua boca.
Ela sorri contra meu pau, devassa, e começa a tirar o vestido que ainda
estava no seu corpo. A mulher aperta os próprios mamilos enquanto me forço
na sua garganta. Ela engasga, mas não para de me chupar. Do jeito que eu
gosto.
Estou prestes a gozar quando escuto meu celular tocando. Me afasto e
ando até perto da porta para pegar o aparelho abandonado no bolso do paletó.
Pode ser algo da empresa.
Vejo que a mulher me olha sem entender por eu ter interrompido. Mas
nada é mais importante que o meu trabalho, muito menos uma foda. Atendo e
me aproximo dela de novo, com o telefone na orelha.
— Chupa em silêncio — murmuro, tampando o microfone e enfiando
meu pau na sua boca. Volto para a ligação. — Thomas falando.
— Seu Thomas, desculpa ligar essa hora, mas o senhor precisa ver as
fotos que mandei. São importantes. O senhor me pediu para…
— Vou olhar, Celso.
Desligo a ligação e acesso o aplicativo de mensagens. O que vejo
congela meu sangue de raiva e me faz afastar da mulher que me sugava.
Imagens de Cecília bêbada novamente enchem a minha tela. Para
piorar, ela postou as imagens nas suas redes sociais e me marcou em todas
elas, se apresentando como minha noiva naquela situação deplorável.
Eu vou matar aquela garota.
CAPÍTULO 11
Cecília Magalhães
Imaginei que fosse ficar mais fácil depois do primeiro porre, mas não
ficou. Minha cabeça parece a ponto de explodir e tudo dói. Parece que está
tudo claro demais, barulhento demais. Demoro alguns segundos para
reconhecer onde estou e percebo que estou na minha cama na casa da
sororidade.
Desde que o arrogante de marca maior do Thomas voltou para o Brasil
e me deixou em paz, voltei a morar aqui. Mas agora tudo parece meio
estranho. Diferente. Como se minha vida fosse outra. E é outra mesmo. Tudo
que eu conhecia ruiu como se fosse feito de areia e agora estou tão perdida
que não sei o que fazer comigo mesma. Perdi a motivação de ir para as aulas
que tanto amo. Para quê? Não vou nunca poder trabalhar na empresa de
papai, se bobear não vou poder trabalhar nunca. Não duvido que o idiota do
Thomas me tranque em casa como se eu fosse um enfeite de mesa.
Ainda vou me formar, porque não vou jogar fora todo o meu trabalho
duro. Vou terminar o semestre e pegar meu diploma, mas decidi aproveitar
meus últimos meses de liberdade. Só que não estou acostumada com isso.
Kelly surtou quando concordei em ir para a primeira festa com ela e agora
não me deixa mais em paz. Meu corpo está pedindo arrego e só de pensar em
beber mais alguma coisa, meu estômago embrulha.
Eu sou mesmo uma idiota.
Estou aqui, tendo minha vida inteira sacrificada por causa dos erros do
meu pai, e nem encher a cara em paz eu consigo. Idiota!
Durmo e acordo o dia inteiro, mas não consigo sair da cama. Já é fim
da tarde quando Kelly invade meu quarto como se fosse um furacão, e eu
gemo de dor, afundando o rosto no travesseiro.
— Faz silêncio, por favor — peço baixinho, sentindo tudo doer.
— Desculpa! — ela sussurra e se aproxima da cama. Ela senta do meu
lado e me estende um copo de água e alguns comprimidos. — Achei que já ia
estar melhor a essa altura. Aqui, toma isso.
Engulo os comprimidos amargos com um gole de água e afundo o
rosto no travesseiro de novo. Kelly ri.
— Você é muito fraca — implica e alisa meu cabelo. — Vai devagar
da próxima vez, Cecília. Não está acostumada, não pode beber tanto assim de
uma vez só.
— Eu sei — choramingo. — E eu nem gosto do gosto, só… Só quero
esquecer meus problemas, Kelly.
— Oh, minha amiga. Se continuar nesse ritmo, você só vai arrumar
mais problemas — ela fala com uma risada.
Olho para ela confusa, e Kelly pisca várias vezes. A boca dela cai
aberta e seus olhos arregalam.
— Você não lembra? — pergunta, surpresa. Balanço a cabeça que não
e me sento no colchão, preocupada.
— O que aconteceu? — pergunto.
— Você não está recebendo as notificações no seu celular? — ela
pergunta. Ela puxa o celular do bolso e mexe no aparelho por alguns
segundos antes de entregar para mim.
— Está sem bateria, não botei para carregar — digo com um fio de
voz. Não botei para carregar principalmente porque papai não para de ligar e
eu não estou com cabeça para continuar recusando suas ligações. Me dói
muito não falar com ele. Sinto muita falta de casa, dele, da mamãe. Mas não
consigo perdoar os dois pelo que estão me fazendo passar.
Pego o celular e olho para as fotos postadas em uma rede social. Ofego
e levo a mão à boca, chocada.
Uma série de fotos muito comprometedoras aparece na tela. Eu estou
muito, muito bêbada em todas elas. Sinto meus olhos encherem de lágrimas
quando clico em um vídeo e vejo que o vestido minúsculo que Kelly me
convenceu a usar dá uma visão privilegiada de todas as partes privadas do
meu corpo enquanto eu danço em cima da mesa.
— Meu Deus… — sussurro, horrorizada. O que foi que eu fiz? É então
que eu vejo que o que já está ruim, pode ficar pior.
Porque Thomas está marcado nas fotos. Todas elas.
Sinto meus olhos marejarem quando vejo a quantidade de comentários
e curtidas. Não, não, não, isso não pode estar acontecendo. O desespero bate
com tudo quando eu vejo que ele curtiu o vídeo.
Aperto os olhos fechados.
— Ele vai me matar — digo. Ouço o riso despreocupado de Kelly e
abro os olhos para olhar para ela movendo a mão para dispensar o que eu
falei.
— Não, ele não vai. É só você chorar. Homem nenhum resiste quando
vê mulher chorando.
Ah, Kelly, você não conhece esse homem. Se eu chorar, ele vai dizer
que é pouco. Meu Deus, eu estou muito ferrada.
Levanto da cama em um pulo e vou até a janela, só para constatar o
que eu já sabia.
— O que é? — minha amiga pergunta.
— Os seguranças estão na porta — digo, olhando para a entrada da
casa. Volto para a cama e finalmente coloco o celular para carregar. Quando
o aparelho liga, prendo a respiração. Tem uma mensagem dele. Uma única
mensagem dele de catorze horas atrás.
“Você está tão fodida, cristal.”
Mordo o lábio, sentindo um arrepio na coluna. Não sei se bom ou ruim.
Ruim, porque eu estou aterrorizada. Mas… por algum motivo, lembro da sua
voz rouca no meu ouvido naquela madrugada que ele me prendeu na parede
do corredor do hotel. Lembro da sua barba no meu pescoço, lembro da sua
boca no meu ouvido dizendo que…
— Por que você está toda vermelha assim, Cecília? — Kelly pergunta.
Porque meu corpo estúpido está todo quente só de lembrar do jeito que
aquele idiota me tocou sem ter sido convidado.
Posso apostar o que for que Thomas não vai demorar para estar aqui.
— Posso ir para a sua casa? — pergunto e arregalo os olhos para
Kelly.
Ela me olha confusa.
— Para a minha casa? A casa dos meus pais? — Faço que sim com a
cabeça. — Por que você quer ir para a casa dos meus pais?
— Porque tenho certeza de que Thomas vai estar aqui a qualquer
minuto e eu não quero ter que lidar com ele — confesso como a bela covarde
que sou. Já sei que estou presa a ele pelo resto da minha vida, ou pelo menos
por quanto tempo ele quiser torturar papai antes de enjoar de mim, mas não
consigo pensar direito agora. Ainda estou me sentindo doente e não duvido
que ele tente me obrigar a voltar para o Brasil depois dessa.
Preciso de tempo para pelo menos pensar.
— Por favor? — insisto. Ela parece dividida. — Só por alguns dias.
Até porque não vai demorar mais do que isso para ele me achar.
Kelly suspira e faz que sim. Ela começa a digitar alguma coisa no
celular.
— Vou avisar para a minha mãe que você vai para lá.
— Obrigada, amiga.
Ela aponta para a janela.
— E como você pretende fugir daqueles dois brutamontes lá embaixo?
Mastigo a ponta da unha e tento pensar rápido.
— Acho que já sei.

No fim da noite, entro na mansão dos pais de Kelly. Não foi tão difícil
assim fugir dos seguranças. Deus, o que foi que se fez de mim? Nunca, nem
quando eu era adolescente, precisei fugir de ninguém assim. Nunca fiz nada
escondido, nunca fiz nada de errado. Nem me reconheço mais e nem gosto
dessa mulher que virei nos últimos dias. Sinto falta da Cecília chata e sem
graça que só quer saber de estudar. Daria tudo para voltar a ser aquela garota.
Os pais de Kelly me recebem muito bem e dizem que posso ficar o
tempo que eu quiser. Eles me mostram onde fica o quarto de hóspedes e me
levam para fazer um tour pela casa. A mãe dela me mostra onde fica a
piscina, sauna, academia e mais um milhão de coisas que estão disponíveis na
casa.
Eu estou morta de cansaço e só quero dormir por mais doze horas, mas
acabo acordando bem cedinho no dia seguinte quando a mulher bate na porta
do meu quarto e me pede para a acompanhar nas compras. Não consigo dizer
não. Estou aqui de favor e mamãe me ensinou a sempre ser uma boa hóspede.
Então poucos minutos depois de chegar, sou arrastada para algumas lojas de
roupas com ela. A mulher de pouco mais de quarenta anos é bem bonita e
vaidosa, então também não escapo quando ela me leva para o salão para fazer
as unhas e um corte novo de cabelo.
Eu nunca fui muito vaidosa, mas deixo que ela me faça de boneca por
algumas horas, porque sei que ela sente falta de Kelly assim como eu sinto
falta da minha mãe.
Já é quase noite de novo quando voltamos para casa, carregando um
milhão de sacolas.
— Muito obrigada por passar o dia comigo, Cecília — ela diz a
caminho da escada. — Às vezes me sinto muito sozinha nessa casa
gigantesca.
— O prazer foi todo meu — respondo educada. — Obrigada pelas
roupas novas.
Ela me dispensa com a mão e agora sei de onde Kelly pegou essa
mania. O dia foi bom, no fim das contas. Ajudou a tirar minha cabeça dos
problemas e pelos menos fingir que minha vida é normal.
— Por que você não vai tomar banho para jantar? Já deve estar quase
pronto. Meu marido deve chegar em casa em breve.
— Tudo bem — concordo e subo as escadas para o meu quarto.
Coloco as sacolas do pé da cama e tiro a minha roupa a caminho do banheiro
da suíte.
Fico nem sei quanto tempo debaixo da água quente. Seco o cabelo
ainda no banheiro com um secador para poder exibir um pouco o meu novo
corte e até gosto do que vejo no espelho. Quando acabo, me enrolo na toalha
e volto para o quarto.
Solto um grito de susto assim que piso no quarto.
— Ai, meu Deus — sussurro para mim mesma, sabendo que estou
muito, muito ferrada.
Thomas está sentado na cama, segurando um dos vestidos que a mãe
de Kelly comprou para mim hoje. Ele brinca com a peça entre os dedos e
levanta os olhos para mim quando ouve minha voz. Ele está dentro de um
terno, como sempre, bonito como o próprio diabo. Ele está com muita raiva.
Consigo ver no seu rosto. Os olhos azuis estão escuros. Ele respira
pesadamente. Quando olha para mim, aperta o vestido na mão.
— Você não achou que podia fugir de mim, achou?
CAPÍTULO 12
Cecília Magalhães
— Thomas…
Dou um passo para trás quando ele se levanta da cama. Espero que ele
grite ou ameace acabar com a minha vida de novo, mas Thomas
simplesmente cruza os braços e me olha em silêncio.
— Eu posso explicar — digo. Ele abre um sorriso demoníaco e começa
a andar na minha direção em passos curtos. Continuo dando passos para atrás
até que a parede está nas minhas costas.
— Acho melhor você começar logo — ele diz quando me alcança.
Coloca uma mão de cada lado da minha cabeça e aproxima o rosto do meu.
— Que porra você estava pensando quando me marcou naquelas fotos,
garota? — rosna. Sinto a respiração quente no meu rosto e engulo em seco.
— Eu achei que a gente tinha a merda de um acordo.
— Me desculpa… — sussurro. Ele ri de novo.
— Você vai precisar de muito mais do que um pedido de desculpas
para sair dessa — diz baixo. Respiro fundo e sinto meu peito subir e descer
com o movimento. Thomas repara também, porque os olhos deles caem bem
ali.
Seus olhos escurecem ainda mais enquanto encaram meu corpo mal
coberto pela toalha e meu corpo esquenta sob seu olhar. Ele termina de colar
o corpo no meu, e eu ofego. A boca vem ao meu ouvido e fala:
— Sua anfitriã muito educada ofereceu para nos servir o jantar antes de
eu te arrancar daqui de volta comigo. Vai se vestir que eles estão esperando lá
embaixo. Lido com você quando a gente voltar para o hotel — diz. Fecho os
olhos quando sinto a barba roçando na minha pele e estremeço. Ele percebe e
solta uma risada debochada.
Do mesmo jeito que fez no hotel, Thomas passa a barba pelo meu
pescoço e sem querer eu solto um gemido baixinho. Quando faço isso, ele me
prende ainda mais na parede.
— Ou talvez ao invés de se vestir, você prefira terminar de tirar essa
toalha da frente, cristal — sugere no meu ouvido. A mão dele aperta minha
coxa e eu me odeio por quão excitada fico de repente. — Você é um pau no
cu, garota, mas não é de se jogar fora.
Sem pensar, coloco as mãos nos seus ombros e o puxo para mais perto.
Thomas grunhe satisfeito no meu ouvido e a próxima coisa que sei é que sua
boca está na minha. O beijo… não é nada que eu podia esperar. Não é nada
que eu tenha experimentado antes. Já fui beijada, mas não assim.
Thomas é bruto e firme. Ele devora a minha boca e comanda tudo.
Controla o ritmo e os movimentos. Segura meu rosto com força enquanto me
beija até que eu esteja sem ar. Meu coração começa a bater forte e minhas
pernas amolecem com o toque. A mão dele agarra meu seio por cima da
toalha e eu gemo na sua boca. Aperto mais os seus ombros e ele puxa o nó da
toalha para baixo e a faz cair no chão.
Instintivamente, tento cobrir o corpo. Ninguém nunca me viu sem
roupa antes, mas meu cérebro não está funcionando direito, porque ele segura
meu pulso para me impedir e eu deixo. Ele belisca meu bico sensível e
aprofunda ainda mais o beijo.
Estou completamente sem ar quando Thomas solta a minha boca.
— É isso aqui que você quer? — ele pergunta no meu ouvido e coloca
a mão entre as minhas pernas. Estremeço e aperto mais seus ombros. A boca
dele desce pelo meu pescoço e sobe de novo até a minha orelha.
— Thomas… — gemo seu nome quando sinto um dedo me tocar onde
homem nenhum tocou antes. Aperto as penas fechadas num reflexo, mas ele
consegue escorregar um dedo ali.
— Puta merda, você está molhada, garota — diz no meu ouvido e ri.
— Achei que você tivesse gritado na minha cara que prefere ser comida por
vermes, agora está toda molhadinha pra mim.
— Seu… idiota — digo, mas minha voz falha quando ele esfrega o
dedo no meu ponto sensível e eu gemo de novo. — Babaca arrogante.
— Isso, xinga — debocha e acelera o movimento do dedo. — Xinga
mais que eu gosto.
Fecho os olhos e jogo a cabeça para trás. Minha boca está aberta em
um O, mas não sai nenhum som. Não consigo dizer nada, só sentir. Meu
corpo nunca reagiu assim a ninguém. Estou pegando fogo e cada pedaço meu
parece a ponto de derreter. Estremeço por causa do estímulo. Thomas beija
minha pele com brutalidade enquanto continua o movimento dos dedos no
meio das minhas pernas.
Aperto mais os seus braços porque tenho a sensação de que vou cair se
não me segurar.
— Oh… — solto quando começa a ser demais.
— Você vai gozar, cristal? — pergunta no meu ouvido. Faço que sim
com a cabeça, imaginando que é essa a sensação que está tomando conta do
meu corpo. — Então goza, porra — manda, e eu sinto meu corpo inteiro
explodir.
Afundo o rosto no seu ombro, trêmula, e Thomas me segura por alguns
segundos sem tirar os dedos do meio das minhas pernas.
— Da próxima vez que quiser sair por aí bancando a desmiolada,
lembra a quem você pertence, sua irresponsável — ele fala no meu ouvido.
— Você assinou um contrato, Cecília. Você é minha. Se precisa de alguém
para apagar esse seu fogo no rabo, então eu cuido disso. Mas eu juro que se
você me envolver em mais algum escândalo, vou fazer da sua vida um
inferno. Entendidos?
Faço que sim com a cabeça, ainda sem conseguir dizer nada. Eu me
sinto mole, completamente drenada. Thomas começa a me soltar, mas me
seguro de novo nos seus braços para não cair. Olho para o chão para não
olhar para ele, porque uma vergonha sem tamanho começa a tomar conta de
mim.
Meu Deus, o que eu fiz? O que eu o deixei fazer comigo?
E eu gostei…
Só então lembro que estou nua e me abaixo rapidamente para pegar a
toalha e colocar na frente do corpo.
Thomas pigarreia e dá um passo para trás.
— Vou te esperar lá embaixo. Não demora.
Ele sai do quarto como um furacão e eu fico parada encostada na
parede por mais alguns minutos, me perguntando o que estou fazendo da
minha vida.

Não sei se foi o álcool que ainda não saiu do meu organismo, a noite
mal dormida, a preocupação com o que vai acontecer daqui para frente ou a
completa vergonha que estou sentindo, mas estou a ponto de desmaiar.
O jantar foi uma tortura e a viagem da casa dos pais de Kelly até o
hotel também. Estou tonta e preciso me segurar na parede do elevador para
não cair. Thomas manteve uma distância gigantesca de mim desde o…
incidente no quarto mais cedo e mal olhou na minha direção. Acho que a
primeira vez que tira a cara do celular e olha na minha direção.
— O que foi? — ele pergunta com um vinco entre as sobrancelhas. —
Você está pálida.
— Não é nada — digo baixinho, sem querer dar o braço a torcer. Ele
me olha de cima a baixo como se tentasse decidir se acredita em mim e dá um
passo na minha direção.
— Cecília? — pergunta e me segura bem a tempo antes que eu desabe
no chão. — Puta que pariu, garota teimosa do cacete. Por que não disse que
estava passando mal? — pergunta e me pega no colo.
Como se eu não pesasse nada, ele passa os braços por baixo dos meus
joelhos, e eu prendo os braços em volta do seu pescoço.
— Como se você se importasse — murmuro. As portas do elevador se
abrem e ele sai me carregando no colo. Abre a porta do quarto e me leva
direto para a cama.
Thomas me coloca em cima do colchão e eu imediatamente abraço
meu próprio corpo como se isso fosse me impedir de me sentir tão mal. Ele
fica de pé do lado da cama, me olhando com atenção.
— Você pode ir — digo baixinho. — Prometo que não vou fugir. Não
estou nem conseguindo ficar em pé, muito menos pular a janela.
Ele não fala nada. Só continua me olhando por algum tempo antes de
sair andando. Some das minhas vistas, e eu fecho os olhos porque minha
cabeça começa a doer de novo. Ouço Thomas falando com alguém no
telefone e depois o som da água do chuveiro. Alguns minutos depois, o
colchão afunda do meu lado. Giro para o outro lado e arregalo os olhos
quando o vejo entrar debaixo das cobertas. O peito está descoberto e não
consigo desviar o olhar dos músculos firmes.
— O que… o que está fazendo? — gaguejo.
— Me preparando para dormir, Cecília. O que acha? — diz, seco.
— Mas… aqui? — pergunto confusa.
— Preciso garantir que você não vai morrer durante a noite. Não me
serve de nada morta, garota — diz rude.
Suspiro pesadamente e afundo a cabeça de novo no travesseiro. Alguns
instantes depois, sinto sua mão no meu braço e olho para ele.
— Bebe isso — diz e me estende um copo de água e alguns
comprimidos. Confusa, obedeço. Ele continua me olhando por alguns
instantes e pergunta: — Precisa de ajuda para trocar de roupa?
Faço que não com a cabeça, mas ele me ignora e sai da cama. Abre a
mala que eu trouxe comigo e que algum funcionário do hotel deve ter
deixado aqui antes de a gente chegar no quarto. Ele revira minhas roupas e
volta com o mesmo conjunto de dormir que eu estava usando naquela outra
noite.
Sem falar nada, estica a mão para mim e eu aceito. Fico de pé e apoio
no seu braço. Thomas abre o zíper do meu vestido nas costas e tira a peça
pela minha cabeça.
— Thomas, o que…
— Só vou te vestir — ele me corta. Não digo mais nada enquanto ele
me ajuda a vestir a roupa e depois volto para a cama. Me cubro com o lençol
até o pescoço como se pudesse me proteger de alguma coisa.
Ele apaga as luzes e deita do meu lado. Thomas não fala mais nada por
muitos minutos e eu acho que ele dormiu, até que sinto sua mão na minha
cintura. Solto um suspiro pelo susto e meu coração dispara quando Thomas
puxa minhas costas ao encontro do seu peito. A boca dele vem ao meu
ouvido por trás.
— Você tem razão, eu não me importo — ele fala no meu ouvido, a
voz baixinha que me faz estremecer. — Mas é do seu pai que eu estou com
raiva, Cecília, não de você. Não preciso fazer da sua vida um inferno, você só
tem que colaborar comigo. E não tenho interesse nenhum em te ver doente.
— Tudo bem… — sussurro, sem saber o que mais dizer. Não entendo
essa mudança de comportamento dele. No quarto escuro, não consigo ver
nada, só ouço sua respiração.
— Eu vou tomar conta de você agora — diz no meu ouvido. —
Aqueles seguranças claramente são uns incompetentes, então eu vou ficar de
olho em você. A sua sorte é que sou um homem de palavra e prometi te
deixar terminar a faculdade, mas de hoje em diante você mora comigo.
Entendidos?
Faço que sim com a cabeça e não sei se ele consegue ver. Thomas não
diz mais nada, mas sinto sua mão subindo por dentro da minha blusa e
estremeço.
— Thomas…
— E sobre o que aconteceu mais cedo — ele diz quando a sua mão
cobre o meu seio. — Foi a primeira vez que você gozou?
Abro e fecho a boca, surpresa pela pergunta. Sinto meu rosto esquentar
e agradeço por estar escuro e ele não poder ver.
— Te fiz uma pergunta, Cecília — insiste, rude.
— Foi — admito e a mão sobre o meu seio fica mais pesada. Sinto o
meio das minhas pernas começar a ficar molhado de novo quando ele brinca
com o meu bico. — O que você está fazendo? — pergunto baixinho.
Ele tira a mão do meu peito e aperta meu quadril. Me puxa para trás e
eu ofego quando sinto alguma coisa dura atrás na minha bunda. Arregalo os
olhos quando percebo o que é.
— Você é uma garota estranha — ele fala no meu ouvido. Mordo o
lábio e solto um gemido baixinho quando ele se esfrega em mim. — Achei
que toda virgem fosse idiota, mas você me enfrenta.
— Eu odeio você — sussurro, sentindo minha voz falhar. — Você está
acabando com a minha vida. Eu te odeio.
— Seu corpo não me odeia — ele diz. — Se eu colocar a mão nessa
sua bocetinha agora, ela vai estar pronta para mim. Se eu quiser te foder
agora, você não vai me dizer não.
Ele coloca a mão no meu pescoço e puxa minha cabeça para trás.
— Mas como eu disse, a sua sorte é que eu sou um homem de palavra.
Não vou te foder nem quando você implorar.
— Eu… eu nunca vou fazer isso — digo e preciso me concentrar
muito para não gemer de novo quando ele aperta minha bunda com a outra
mão.
— Você vai — Thomas diz com um riso convencido. — Antes desses
seis meses acabarem, você vai implorar para eu te foder bem gostoso.
Ele me solta de repente e se afasta no colchão. Meu coração está
disparado e mal consigo manter os pensamentos em ordem.
— Me acorda se piorar durante a noite — ele ordena. — E vai dormir.
Pisco várias vezes, encarando o escuro. Esse homem é muito confuso e
se tem uma coisa que eu tenho certeza é que ele vai me deixar louca, de um
jeito bem ruim.
CAPÍTULO 13
Thomas de Albuquerque
Estou puto por ter que me mudar para Nova Iorque temporariamente
para ter que ficar de olho em uma pentelha que gosta de me desobedecer.
Mas preciso fazer sacrifícios para atingir meus objetivos, e esse vai ser um
deles.
Acordo na mesma hora de sempre e a vejo dormindo ao meu lado. Os
cabelos ruivos e cheios cobrem quase todo o rosto. Ela é mais bonita do que
gosto de assumir, até porque não preciso que Cecília ache que tem algum
poder ou influência sobre mim. Não quero que pense que pode usar de algum
joguinho de sedução para ter o que quer, porque isso não funciona comigo.
Então gosto que ache que não a desejo, mas seria quase impossível que isso
acontecesse.
Apesar do corpo pequeno e magro, ela tem curvas e uma cintura fina.
Os seios enchem minhas mãos e são deliciosamente rosados e firmes. Ela não
é de se jogar fora. Estou quase considerando alterar o contrato para pelo
menos poder desfrutar de algo nesse casamento. A garota me deseja tanto que
perde os sentidos quando me aproximo, então sei que apesar da negação de
que me quer, está doida para eu seja o primeiro a acalmar o fogo no rabo que
parece sentir. Essa só pode ser a única explicação para ela fazer tanta
besteira.
— Por que está me olhando assim? — Escuto o sussurro e volto meu
olhar para seu rosto sonolento. Ela esfrega os olhos e se senta na cama.
— Melhorou?
— Sim — diz baixinho, evitando olhar para mim.
— Ótimo. A partir de hoje, você mora comigo aqui no hotel — falo.
Seus olhos se arregalam, quase saltando. — E você vai ter seguranças te
vigiando.
— Thomas… Por favor, não precisa disso. Eu prometo que não vou
mais fazer nenhuma estupidez.
— Você prometeu isso da outra vez, Cecília. Não dou segundas
chances. Não acredito mais em palavras. Foi assim que seu querido pai me
traiu — digo, encerrando o assunto, e vou até o banheiro da suíte. Tomo um
banho rápido e amarro uma toalha na cintura antes de voltar para o quarto.
Cecília continua sentada na cama, desolada, com o queixo apoiado nos
joelhos e os olhos marejados. Seu olhar percorre meu corpo rapidamente, mas
logo a garota constrangida volta a encarar os pés esticados no colchão.
— Você vai poder ter a sua rotina normal, cristal. Não precisa ficar
com essa cara de menina que teve o brinquedo estragado — digo e solto um
suspiro alto pelo drama adolescente.
— Uma rotina normal de uma prisioneira. Vou ser mantida em
cativeiro por um carrasco que vai cortar a minha cabeça se eu sair da linha —
resmunga baixinho, mas alto o suficiente para que eu ouça.
Franzo a testa e me aproximo dela. A garota não me olha, continua
resmungando baixo e mexendo nas unhas dos pés.
— Você vai ver que eu sei ser um doce com quem não pisa no meu
calo. — Ergo seu queixo para que me olhe e de novo seus olhos desviam para
meu peito nu. — Tudo bem?
Me afasto e tiro a toalha. Vou em direção ao guarda-roupa para trocar
de roupa. Escuto uma tosse alta de quem se engasgou e sacudo a cabeça com
a inocência da garota. Constrangida porque está vendo um pau. Chega a ser
surreal ainda existir alguém assim no mundo. Quando volto a olhar para ela,
já vestido no meu terno habitual, noto que seu rosto está quase da cor dos
seus cabelos.
— Eu vou ter meu próprio quarto aqui? — pergunta, baixinho, fazendo
um esforço sobre-humano para manter o olhar fixo no meu ao invés de no
meu corpo.
A garota tenta demonstrar uma força e coragem que sei que na maioria
das vezes não tem, mas eu a admiro por tentar. São poucas as pessoas que
ousam me enfrentar.
— Para você fugir de madrugada despistando os seguranças
incompetentes? Não. Vou pedir para colocarem mais uma cama de casal aqui,
para o caso de você estar com medo de eu te atacar.
— Não tenho medo de você — afirma com a voz ácida, enquanto
arrumo os botões do paletó.
Sorrio de forma predatória e ela ergue o nariz arrebitado,
demonstrando força.
— Pois devia.
Me sento na cama e calço os sapatos sociais, porque vou ter um dia
longo de reuniões pela frente. Vai ser bom resolver as coisas daqui de Nova
Iorque no final das contas, facilita os encontros com os investidores grandes
que vão me tirar do sufoco.
— Vou te levar para um jantar de negócios hoje. Venho te buscar.
Cecília, por favor, esteja apresentável. Pessoas importantes vão estar lá.
— Para que você precisa que eu vá? Não me sinto bem nesses lugares.
Só vou atrapalhar.
— Você é minha noiva agora — respondo e me levanto. — Precisa
estar ao meu lado nessas situações. Nós precisamos nos aproximar, nos
conhecer. Você não quer isso, cristalzinho?
Ela percebe a ironia na minha voz, porque sua expressão se fecha. Vejo
a vontade que está de liberar a insolência que habita ali. Mas Cecília não fala
nada. Trava o maxilar e apenas acena antes de se levantar
— Suas coisas vão ser trazidas hoje, todo o resto que ficou lá. Se
divirta. E juízo.
Saio após pegar meu celular e a chave do carro. Escuto um palavrão
atrás de mim, mas não me importo. Ela não sabe que quanto mais resistência
apresentar, mais seu paizinho vai ficar irritado e preocupado com a filha.
Consequentemente, mais eu ganho com isso e mais eu fico feliz.

Faltam cinco minutos para as oito horas. Estou parado, encostado no


carro em frente ao hotel esperando por Cecília. Só espero que a garota não
seja irresponsável além de inconsequente. São muitos defeitos de uma vez
para aguentar.
Estou prestes a ir buscá-la no quarto quando a vejo saindo do hotel. Eu
a encaro porque quase não a reconheço olhando rápido demais. Se não
fossem pelos cabelos ruivos naturais e exóticos teria passado batido por mim.
Ela se aproxima devagar, usando um vestido preto colado, marcando todas
suas curvas, e um salto alto da mesma cor. Usa uma maquiagem forte que tira
um pouco dos traços de garota.
— Não me atrasei, nem precisa me olhar com essa cara — fala quando
chega perto e eu olho para o relógio. — E aí? Do seu agrado?
Arqueio uma sobrancelha pelo tom de zombaria e passo a língua pelos
lábios.
— Você está bonita, Cecília — elogio sincero e ela parece surpresa
com o elogio. — O que eu falei? Sei ser um doce com quem me obedece.
Vamos?
O manobrista abre a porta do veículo para ela e nós entramos juntos.
Antes de dar a partida, abro o compartimento do carro e tiro uma caixinha
dali. Entrego para ela, que parece surpresa.
— O que é? — pergunta baixinho, com a caixa vermelha nas mãos.
— Abre.
Eu a vejo com os dedos trêmulos enquanto abre e vê a joia ali.
— Por que isso? — indaga. — Não posso aceitar.
— Porque eu quis te dar. Não seja teimosa. Vira de costas para mim.
Cecília morde o lábio farto marcado com um batom vermelho forte, em
dúvida, mas me obedece no final das contas. Pego o colar de esmeralda e
encaixo no pescoço fino e macio. Colo a boca no seu ouvido e sussurro:
— Boa menina.
Abro um sorriso pelo arrepio da sua pele e pego os brincos. Ela tira os
que estava usando e encaixo nas suas orelhas. Sinto sua respiração acelerada
e falhada enquanto se vira. Observo o conjunto chamativo que se destaca
ainda mais com a cor dos cabelos.
— Ótimo.
— Obrigada — fala baixinho e toca o pescoço, segurando a ponta do
colar.
Ligo o carro e saio em direção ao restaurante, que fica a poucos
quarteirões do meu hotel. Assim que paro em frente, o manobrista se
aproxima e assume o veículo. Guio Cecília até a entrada com a mão nas suas
costas e a hostess nos leva até a mesa quando dou meu nome. Vejo os
homens que procuro já sentados com suas esposas do lado.
— Boa noite — falo em inglês após me aproximar. — Espero que não
tenham nos esperado muito, mas não consegui conter a euforia da minha
noiva.
Cecília me olha rapidamente, com o choque no olhar, mas logo
recupera a pose quando uma das esposas a cumprimenta.
— Querida, você é linda! E muito jovem! Estou me sentindo até mal
agora — comenta com a outra esposa, que solta uma risadinha que não me
passa despercebida.
— Não se sinta — Cecília diz, abrindo um sorriso simpático e doce
para a mulher. — A senhora está linda.
Nós nos sentamos após os cumprimentos. Não demora e eu e os dois
homens engatamos em uma conversa de negócios. Observo Cecília de
relance, praticamente sendo excluída pelas duas senhoras com assuntos que
aparentemente não interessam a garota.
— E então, Cecília, o que você faz? — uma das mulheres pergunta.
Tento me concentrar nas duas conversas para controlar se a garota não
vai falar nenhuma besteira.
— Faço contabilidade. Termino esse ano.
— Ah, você está na faculdade. É um bebê ainda — zomba uma delas.
— E você, o que faz? — Pelo tom afiado, o mesmo que costuma usar
comigo, percebo que seu lado estourado apareceu.
Levo minha mão para debaixo da mesa e aperto sua coxa em
repreensão. A garota salta na cadeira e me olha de um jeito acusatório.
— Eu faço compras — responde a mulher e cai na risada com a amiga.
— Estudar e trabalho não são para mim.
— Percebe-se. — Escuto Cecília falando baixinho e volto a apertar sua
coxa. Ela tenta afastar minha mão dali me olhando feio, mas eu a mantenho
onde está.
Quando o assunto com os dois investidores conhecidos meus se
encerra, um deles volta sua atenção para Cecília.
— Sua noiva é linda, Thomas. Como se conheceram? Você é um
homem de sorte.
— Eu sou — respondo dissimulado com um sorriso enorme no rosto e
Cecília me olha, completamente chocada. — Eu sou um amigo da família. O
pai dela é meu melhor amigo.
— Ah, que maravilha! — o homem exclama — Ele deve estar muito
feliz com a união.
— Você não tem ideia — respondo e olho para a minha querida noiva,
que me fuzila com o olhar. Não sei se pela minha fala ou se pela minha mão
atrevida que segue acariciando a sua coxa.
Logo os casais nos esquecem quando a comida chega. Eu me aproximo
do ouvido de Cecília para sussurrar:
— Você está muito estressada, cristalzinho. Posso te fazer relaxar, se
quiser.
Ela morde o lábio e consegue afastar a minha mão usando um gesto
brusco. Quando se levanta, eu arqueio a sobrancelha.
— Com licença. Vou até o toalete. — Ela sorri com uma falsa doçura e
se afasta. Assim que some das minhas vistas, me viro para os quatro.
— Com licença. Vou conferir se está tudo bem com ela.
Eles acenam em concordância e seguem conversando enquanto me
afasto. Sigo até os banheiros e encontro Cecília com a cabeça abaixada e as
mãos apoiadas na pia. Só tem ela ali. Fecho a porta e seu rosto se levanta,
mostrando a raiva ao me ver.
— O que acha que está fazendo com essa mão?
— Te dando carinho, cristal. Não gosta?
Quebro a distância entre nós dois e toco seu rosto.
— E te lembrando de que você precisa agir como uma boa menina. Se
lembra?
— Eu não fiz nada — responde com o nariz em pé, mais uma vez me
desafiando. — Você quer que a sua noiva seja uma mosca-morta que aceita
ser ofendida indiretamente? Então acho melhor procurar outra.
Arqueio uma sobrancelha e deslizo o polegar pelos seus lábios cheios e
convidativos.
— Só quero que não atrapalhe meus negócios, cristal. É pedir demais?
Hein?
Afasto seus cabelos e os jogo para trás, deixando o colo liberado.
Deslizo os dedos ali, passando pela joia.
— Quando você me pedir para te foder, quero você com esse colar e
esses brincos apenas. Combinou com você — sussurro contra a sua boca.
— O-O quê? Você não pode falar comigo assim — murmura com um
fio de voz, fingindo braveza.
— Você vai aceitar minha proposta de te relaxar ou não?
Dou um selinho nos seus lábios e ela os entreabre. Fecha os olhos,
liberando o acesso completo a sua boca. Subo uma mão por dentro do vestido
e Cecília geme baixo quando aperto sua bunda.
— Você fica deliciosa assim, caladinha e entregue. Me obedecendo.
Quando deslizo a calcinha de leve para o lado, eu a sinto molhadinha
para mim e xingo. É difícil não desejar essa garota, ainda mais com ela
vestida assim, tentadora.
— Abre as pernas, Cecília. Deixa eu fazer você gozar. Quero você bem
calminha.
Ela se apoia nos meus ombros e me obedece. Seu rosto se afunda no
meu pescoço e não consigo controlar a ereção por tê-la gemendo assim perto
do meu ouvido.
Enfio um dedo com cuidado dentro dela, o melando só para voltar a
deslizar seu líquido pelo clitóris inchado.
— Thomas… — ela geme e eu acelero a fricção.
— Isso, cristal. Goza para mim. Fica calminha, relaxada. Goza gostoso
— sussurro no seu ouvido e chupo seu lóbulo.
Não demora para que eu a sinta estremecer com o corpo agarrado ao
meu. Quando o orgasmo chega ao fim, eu a solto. Noto a mulher abalada ao
lado na pia enquanto lavo as mãos. Sorrio com o quão perturbada ela fica
assim que termina.
— Você ainda vai implorar, Cecília. Anota isso.
— Nem morta — murmura ofegante.
Seco as mãos com um sorriso no rosto e ando em direção à porta.
— Não me faça fazer disso minha missão, cristal. Porque nós sabemos
quem vai sair perdendo. — Ela me encara furiosa e pisco antes de completar:
— Não demore.
CAPÍTULO 14
Thomas de Albuquerque
A semana voa como sempre quando tem mil compromissos. As coisas
estão ficando mais promissoras nos negócios e sinto que tudo vai dar certo.
Consegui recuperar parte do prejuízo que César me deu com alguns
investimentos.
Me sinto até bem-humorado para variar. É sábado, mas acordo no
mesmo horário de sempre. Vejo Cecília na outra cama, com a bunda
arrebitada no pijama velho que insiste em usar. Visto um conjunto de
moletom e saio para correr. O vento frio quase queima meu rosto, mas não
paro. Perco a noção de quantos quilômetros corri e decido voltar. Gasto cerca
de duas horas entre a ida e a volta. Sinto meu corpo quente e os músculos
protestando pelo desgaste em excesso, mas nem isso abala meu humor.
Eu sou bom pra caralho no que faço, isso já é motivo suficiente para
que o sábado fique alegre.
Funcionários do hotel me cumprimentam enquanto subo até o quarto
onde estou morando. Cecília se acostumou a estar aqui, pelo que pude ver.
Apesar de ter me evitado como diabo foge da cruz, eu estou de olho nela.
Abro a porta do quarto e paro quando a vejo nua de costas para mim.
Ao escutar minha movimentação, a garota vai até a cama e puxa a toalha de
uma vez para se cobrir.
— Eu, você e a nudez temos algo, cristal — falo, indo em direção ao
frigobar.
Ela bufa e vai até o banheiro para se trocar. Volta minutos depois com
um vestido rodado que a deixa muito mais nova.
— Se a gente estivesse em quarto separado, isso não ia acontecer. Não
posso nem trazer minhas amigas aqui porque não tenho privacidade.
— Por que não? Elas iam adorar a visão.
— Que… — Sua fala é interrompida quando tiro a parte de cima do
moletom. — Tá. Não sei para que pergunto.
— Você se comportou bem, Cecília. E eu estou de bom humor. Em
troca, você pode fazer o que quiser hoje sem segurança.
— Jura? — pergunta com empolgação. Mas logo sua expressão se
fecha, como a de uma menina que perde um doce. — Logo esse final de
semana que Kelly foi viajar. Não tenho o que fazer.
— Cadê o resto das suas amigas? — pergunto e ela dá de ombros. —
Tudo bem. Então hoje é o seu dia de sorte. Me espera para tomar café. Já
volto.
A garota me olha esquisito antes de eu sumir para o banheiro. Quando
eu saio, ela finge que está lendo no celular, mas consigo ver seu olhar me
espiando. A garota se acostumou com a minha falta de pudor para a nudez e
aposto que espera por esse momento.
— Você está de bom humor — ela comenta. — O que foi? Seu
sacrifício de virgem inocentes deu certo?
Solto uma risada e sua expressão de choque piora.
— É assim que eu sou quando as coisas estão dando certo na minha
vida, cristalzinho. Quando me obedecem e fazem as coisas como eu quero.
— Quando está no controle de tudo que quer dizer — resmunga e volta
a digitar no celular.
— Basicamente. Vamos?
Ela suspira e larga o aparelho em cima da cama, me seguindo em
direção ao restaurante do hotel. Quando chegamos, nossa mesa já está pronta
no canto mais discreto dali. Cecília come bem pouco e me olha o tempo
inteiro.
— Pergunta, Cecília. Consigo ler a dúvida no seu olhar.
— O que você quis dizer que hoje é meu dia de sorte? — indaga, mal
esperando eu terminar minha frase.
— Você vai sair comigo hoje. Vou te dar o prazer da minha
companhia.
Ela ri alto, atraindo olhares para nossa mesa, e tampa a boca com a
mão. Arqueio uma sobrancelha e espero que explique o riso fora de hora.
— Achei que fosse sorte mesmo, e não você sendo irônico — rebate,
sacudindo a cabeça.
— Eu posso ser divertido se quiser, garota. Posso ser tudo.
— Ou seja, você é dissimulado — provoca e eu sorrio.
Minha mão chega a coçar para dar uns tapas na sua bunda como forma
de punição pela língua afiada.
— Eu só dou a versão minha que cada um merece — explico e ela
sorri debochada e descrente. — Quer apostar?
— Você, apostando?
— Sim. Estou de bom humor, já disse. — Encosto no assento da
cadeira e penso. — Se você ganhar e eu realmente for chato e entediante
como você parece pensar, está liberada para sair sem mim ou sem segurança
todo final de semana. Desde que não envolva você bêbada.
Seus olhos se arregalam de surpresa e vejo a empolgação tomar conta
do seu rosto.
— E se você for divertido como diz? — indaga com curiosidade.
— Eu tenho você quando e como eu quiser.
— Eu…? — Seu rosto cora e eu sorrio abertamente.
— Você, Cecília. — Eu me aproximo da mesa para sussurrar. — De
quatro, com a bunda empinada, com meu pau dentro de você enquanto grita
meu nome. Assim…
Ela abre e fecha a boca, tosse e engasga, desvia o olhar e me encara.
— Eu não… Não vou fazer… isso com você.
— Tudo bem. — Ergo as mãos para o alto. — Sem apostas. Sem
saídas.
Cecília morde o lábio de leve e abaixa o olhar. Nós terminamos nossa
refeição e voltamos para o quarto. Ela se senta na cama e eu ligo meu
notebook para conversar com o pessoal da sede do escritório em São Paulo.
Faço uma reunião rápida para que eles me repassem como estão as coisas lá e
desligo.
— Tudo bem — Cecília sussurra e eu a olho. — Eu aceito a aposta.
Sorrio quando a vejo torcendo os dedos de expectativa.
— Mas só porque quero muito ter dois dias livres de você e dos seus
monstros.
— Ah, claro, só por isso. Então a diversão começa agora, cristal. No
domingo à noite vamos saber que vai ser o vencedor. Ela morde o lábio e
acena. Pega um casaco no meio das suas coisas e vai até a porta. Antes de a
gente sair, eu a prendo contra a madeira de costas para mim e murmuro no
seu ouvido:
— Nós dois sabemos que de qualquer forma, você é quem ganha.
Ela arfa e eu abro a porta. Estamos bem agasalhados e andamos pela
cidade movimentada.
— O que você conhece daqui? Já conhece os pontos turísticos de Nova
Iorque? — pergunto, e Cecília nega com a cabeça. — Você está aqui há
quatro anos e não conheceu a cidade?
— Não, eu estava ocupada estudando. — Dá de ombros e coloca as
mãos dentro do casaco.
— Em quatro anos? — pergunto de novo, surpreso. — Tudo bem. Vou
ser seu primeiro então.
Ela arregala os olhos e fico com vontade de rir. Eu vou ganhar essa
aposta, porque não brinquei com Cecília quando digo que cada pessoa tem de
mim a versão que merece. Como ela foi uma boa garota e não me causou
maiores problemas durante a semana, vai ganhar esse prêmio. Cecília, por
incrível que pareça, me ajudou no jantar com os investidores na semana
passada. Com seu jeito leve, meigo e doce, ganhou a atenção dos homens e se
mostrou mais inteligente do que parece.
— Guia, Cecília. Vou ser seu primeiro guia. — Sorrio e ela me encara
com os olhos apertados.
— Acho que essa sua versão me assusta mais do que sua carranca —
fala, enquanto andamos pelo meio da avenida até chegar no primeiro ponto.
Não falo nada, apenas a guio em direção ao interior do Empire State
Building. Cecília está agitada como uma criança em um parque de diversões
após eu comprar as entradas que vai nos levar para o centésimo primeiro
andar. Ele é mais vazio pelo fato de a entrada ser mais cara. Assim que
pisamos na área externa, o vento forte nos atinge. Cecília arregala os olhos e
quase corre em direção à vista. O sol está fraco e o céu está lindo apesar de
estar um pouco frio. Os prédios enormes preenchem a vista de tirar o fôlego,
mas foco na atenção da garota animada ao meu lado.
— Ah, meu Deus… É lindo — sussurra, esticando o corpo para olhar
para baixo. — Incrivelmente assustador e maravilhoso.
Seu olhar encontra o meu e ela sorri de empolgação.
— Vamos ver dali! — fala e corre até o canto mais vazio. — Você já
veio aqui muitas vezes?
— Algumas — respondo com as mãos nos bolsos, olhando o laranja
que se estende pelo céu.
— Eu podia ficar aqui por muitas horas, apenas olhando os prédios.
Aceno e foco na vista. Nós ficamos ali durante algum tempo e Cecília
aproveita para tirar fotos. Ela foca com a câmera no meu rosto, mas coloco a
mão para impedir.
— Tão entediante você, Thomas — provoca com um sorriso atrevido
no rosto de quem sabe que vai conseguir o que quer.
Pego o celular da sua mão e me aproximo dela, fazendo uma selfie
séria. Ela sai com os olhos arregalados de surpresa.
— Pronto, cristal. Super divertido. Vamos. Ainda temos mais lugares
para conhecer.
Ela anda olhando para a foto no celular e parece animada. Nunca a
tinha visto assim. Quer dizer, sóbria. Sempre está prestes a lançar mil facas
em mim com o olhar. Se isso vai fazer com que nossa convivência se torne
mais fácil, tudo bem por mim. Afinal, não vou desistir que Cecília se torne
minha esposa.
Nós descemos os andares e a levo direto para a Times Square, onde
costuma ter lojas de grife que mantêm as mulheres entretidas o dia inteiro.
Mas não Cecília. Ela me arrasta para uma loja geek cheia de camisetas,
canecas e quadrinhos.
— Sempre quis vir aqui. Eu amo! — fala empolgada e entra na loja,
olhando várias coisas de uma vez.
Ela experimenta bonés e quase grita sempre que encontra alguma coisa
de algum personagem que gosta.
— Aqui é o paraíso — murmura e ignora completamente a minha
existência enquanto junta tudo o que pode para ir até o caixa.
Eu me aproximo e pago por ela, que começa protestar, mas algo a faz
mudar de ideia. Seu olhar vai em direção à entrada e vejo que um garoto mais
ou menos da sua idade se aproxima de nós com um sorrisinho no rosto. Olho
para a garota, que cora ao ver sua aproximação.
— Hey, Cecil — diz com um sotaque norte-americano. — Eu vi você
entrando aqui e pensei na coincidência.
— Oi, Josh. Como vai? — Ela pega as sacolas e vai para andar em
direção à saída. — Estamos de saída. Foi bom te ver.
— Espera. Quer sair com a galera? A gente vai em um barzinho mais
tarde. Se o seu pai deixar. — Ele olha para mim e estende a mão. — Prazer,
sou o Josh.
Cecília segura uma risada, mas fica séria quando eu a olho de cara feia.
— O senhor é novo para ser pai da Cecília. Ela me fala muito bem do
senhor e…
— Sou Thomas. — Aperto sua mão com força. — O noivo dela. Muito
prazer. Com licença, nós estamos com pressa para chegar ao hotel. Você
sabe…
Cecília cora até a raiz do cabelo e acena um tchau constrangido para o
garoto, que não tem tempo de reagir. E não me importo com sua reação.
Pai é o meu caralho.
Guio Cecília até a saída da loja e vejo que ela segura a risada ainda.
— A sua cara foi impagável — diz finalmente.
— Quieta, Cecília, meu humor acabou. Só… fica quieta.
— Mas eu não fiz nada! — protesta e eu suspiro fundo. — A gente
pode assistir a uma peça agora?
— Não — respondo categórico. — Vamos voltar para o hotel.
— Por favor, Thomas! Eu passei uma semana inteira da faculdade para
o hotel, sem praticamente falar com ninguém. Não quero ser uma prisioneira.
— Não.
— Então eu vou com o Josh para o bar. Pelo menos alguém quer fazer
alguma coisa comigo.
Travo o maxilar e a puxo pela cintura. Encaixo seu corpo no meu e ela
ofega.
— Não sei quem é aquele merdinha, Cecília, mas você agora é minha.
Só minha. Não vou te dividir. Entendido?
Ela acena obediente, com os olhos arregalados e fixos na minha boca.
Quando me afasto, aperto o osso do nariz e respiro fundo duas vezes.
Isso precisa dar certo, para o bem da minha sanidade mental.
— Eu vou ser boazinha — fala baixinho, com as mãos juntas na frente
do rosto. — Faço o que você quiser.
A voz macia e doce prometendo isso faz meu pau reagir e solto um
pigarro antes de acenar.
— Tudo bem, Cecília.
— Obrigada!
Da mesma maneira que estava quase chorando, ela se alegra de novo e
volta a andar em busca de diversão na Times Square.
Eu acabo mesmo de ser manipulado por uma expressão doce? Não,
não. Thomas de Albuquerque não é manipulado por ninguém. Jamais.
CAPÍTULO 15
Cecília Magalhães
Eu nem sei mais o que está acontecendo com a minha vida. Que as
coisas mudaram e nunca mais vão ser as mesmas eu já entendi. Não sou
burra. Meio idiota às vezes, mas não sou burra. O problema é que não
consigo mais entender como as coisas mudaram dessa vez. Já tinha me
acostumado com Thomas grosso, sem me dar atenção.
Eu não tenho a menor ideia do que está acontecendo com o Thomas
agora. Ele está até parecendo um ser humano nos últimos tempos e eu não
gosto disso, porque faz coisas estranhas comigo.
Ele acabou indo assistir uma peça comigo ontem, e depois me levou
para jantar. Até me deixou escolher o restaurante. E eu não sei o que estava
pensando quando a gente voltou para o hotel, mas acabei dormindo na mesma
cama que ele. E Thomas nem encostou em mim. Só dormiu do meu lado. Me
deu boa noite e dormiu.
Acho que algum espírito ocupou o corpo dele, é a única explicação.
Acordo sozinha na cama, porque para variar o maníaco que ele é
acordou cedo mesmo que seja domingo. Fico enrolando para levantar, mas
saio correndo para o banheiro quando ouço o som da porta sendo
destrancada. Pulo direto no chuveiro e nem sei quanto tempo fico aqui,
tomando coragem para encarar Thomas de novo.
Esse… dissimulado de uma figa! Ele bem disse que ia ser divertido
nesse fim de semana e está cumprindo.
Eu me sinto tão próxima dele que me confunde. Não foi só ontem,
desde que eu vim morar nesse hotel ele tem me mostrado um outro lado que
não conhecia. E eu… gosto desse lado. Mais do que devia.
Quando finalmente tomo coragem de sair do banheiro, enrolada na
toalha porque no susto esqueci de pegar roupa, vejo que Thomas está
arrumando alguma coisa na mesa que tem no canto da sala.
Ele olha para mim com aquela cara maliciosa de sempre que parece
que vai fazer a toalha cair, e eu seguro mais apertado no corpo só por
garantia.
— Já acabou com a água toda do planeta, cristal? — pergunta naquele
tom debochado que me faz corar.
— Eu…
Thomas ri e começa a vir na minha direção.
Ele está suado com a roupa de moletom que usa para se exercitar, e eu
consigo ver os músculos todos marcados por baixo.
— Pedi para trazerem o café da manhã aqui — diz quando chega até
mim. Preciso olhar para cima porque ele é muito mais alto que eu. Thomas
brinca com meu cabelo molhado e segura meu queixo. — Nós podemos sair
mais tarde se você quiser, como eu prometi. Mas pensei que o café da manhã
aqui ia ser uma boa ideia.
Faço que sim com a cabeça e ele passa o polegar na minha boca.
— Vou tomar banho — avisa, me solta e vai andando para o banheiro.
Não olha para trás, Cecília. Não olha!
Mas eu olho, e como ele sempre faz, começa a tirar a roupa antes de
chegar no banheiro. Vejo as costas fortes quando ele tira a camiseta e as
pernas firmes quando ele tira a calça. Mordo o lábio, sabendo que ele vai tirar
a boxer preta também. Quero e não quero que ele vire, porque o tamanho
do… pênis dele me assusta. Não sabia que podia ser tão grande.
— Você pode vir tomar banho comigo se quiser, cristal — ele fala
quando me pega espiando, e eu viro para frente em um pulo com o rosto
queimando de vergonha. Ouço sua risada e espero para ouvir o barulho da
porta fechada para trocar de roupa.
Coloco um vestido que Thomas comprou para mim ontem e me olho
no espelho. Fica bonito em mim. Até disfarça minha falta de curvas. Decido
que combina com o cordão que Thomas me deu e coloco a esmeralda
também, já que ele gostou tanto quando eu usei no outro dia. Estou
terminando de colocar o fecho quando ele sai do banheiro só de toalha. Fico
olhando pelo espelho, tentando disfarçar, mas sei que não consigo porque ele
tem aquele sorriso no rosto.
Para piorar minha situação, ele nem termina de se vestir. Só coloca
outra calça de moletom e fica sem camisa, exibindo o tanquinho irresistível e
ombros largos. Devia ser proibido um homem tão arrogante ser tão bonito.
Ele vem até mim e para nas minhas costas. Tira meu cabelo ainda
úmido da frente e abaixa o nariz no meu pescoço.
— Você está bonita nesse vestido — diz e beija minha pele. Eu ofego,
e ele puxa minha cintura para trás, grudando minha bunda na parte da frente
do seu corpo. A sua mão entra por baixo do vestido e alcança minha calcinha.
Ele grunhe e morde meu pescoço enquanto brinca com a calcinha com os
dedos. — Tão pequena… Já está pronta para implorar que eu te foda?
— Já disse que isso nunca vai acontecer — digo com a voz falhando.
Ele ri e arrasta o dedo pela calcinha.
— Uma pena — diz e estala o elástico na minha pele. — Já que não
posso te comer, vem comer o café da manhã.
Depois dessa provocação idiota, demoro alguns minutos para me
recuperar. Thomas parece inabalado como sempre e vai direto para o sofá,
mas desiste de tentar me torturar. Nós dois comemos e temos uma conversa
decente. Quando acabamos de comer, ele olha para mim e pergunta:
— Onde quer ir hoje?
Olho ao redor e mordo o lábio, pensando.
— A gente pode ficar aqui? — pergunto. Ele ergue uma sobrancelha e
me olha confuso.
— Você passou a semana toda reclamando de estar presa nesse quarto
e agora quer ficar aqui?
Dou de ombros.
— Pensei que a gente podia assistir um filme, não sei — digo e coloco
uma mecha de cabelo atrás da orelha.
Ele me olha por alguns segundos como se tentasse descobrir o que
fazer comigo, e eu me lembro de uma coisa que aprendi ontem, sem querer.
Pisco devagar e arregalo os olhos, coloco as mãos fechadas na frente do rosto
e faço um bico manhoso.
Ele aperta os olhos, como se soubesse exatamente o que estou fazendo,
e parece bravo.
— Você está louca se acha que vai conseguir me manipular com essa
carinha de menina que não ganhou presente de aniversário.
— Por favor? — peço com uma voz doce e me arrasto no sofá para
perto dele. Apoio o rosto no seu ombro. — Só um filme. Por favor.
Ele suspira pesadamente e solta um palavrão.
— Não vou assistir comédia romântica nenhuma — diz, áspero, e eu
comemoro internamente. — Liga a televisão, garota irritante.
Antes que ele mude de ideia, ligo a TV e começo a procurar alguma
coisa no catálogo. Escolho um filme qualquer, porque não me importo o que
está passando, só quero passar algum tempo com ele. Não sei por que, mas
quero. Thomas limpa a mesa, apaga as luzes e volta para o sofá. Eu me sento
do seu lado quando o filme começa, e ele me puxa para perto. Solto um
gritinho de susto quando Thomas me prende de lado no seu colo e coloca a
boca no meu ouvido.
— Se eu vou ficar aqui preso assistindo filme, pelo menos você vai me
deixar tirar uma casquinha, não vai? — pergunta baixinho e me arrepia
inteira. Ele sobe a mão pela minha cintura e aperta meu seio.
— Você… você ainda não ganhou a aposta — digo. Ele belisca meu
mamilo por cima da roupa.
— Ganhei sim — insiste. — Eu disse que ia te mostrar que posso ser
uma boa companhia e mostrei.
Faço que não com a cabeça.
— Ainda não — sussurro, tendo dificuldade de me concentrar quando
a outra mão dele sobe pela minha coxa. — A gente pode… conversar —
tento. — Não sei nada de você. Nem você sabe nada de mim. A gente vai
casar e eu nem sei quem você é.
Suspiro e solto um gemido baixinho porque ele beija meu pescoço.
— Você é uma garotinha estúpida que acha que sabe alguma coisa da
vida, mas não sabe de nada — ele diz no meu ouvido, me segurando com
força pela cintura. — É inocente e acredita demais nas pessoas. — Tento me
soltar, mas ele me segura com mais força. — Mas é surpreendentemente
inteligente e esforçada. Nunca vi ninguém da sua idade se esforçar tanto com
os estudos. Você vem de uma família rica, não precisava disso, mas mesmo
assim se dedica a essa faculdade como se fosse sua vida inteira. Você me
enfrenta quando ninguém mais se atreveria a fazer isso, o que me faz
acreditar que ou você é completamente louca ou é corajosa.
— Thomas…
Ele me puxa ainda para mais perto e suga meu lóbulo.
— E você é linda, Cecília. Doce, irritante e linda. Eu já sei tudo que
preciso saber de você. — Ele desce a boca pelo meu pescoço e começa a abrir
o zíper do meu vestido nas costas. Eu me derreto inteira nos seus braços. Sua
voz está baixa e rouca, sem o deboche e acidez de sempre. Ele realmente
parece acreditar no que diz, e meu coração dispara, meu estômago explode
com borboletas agitadas e meu corpo inteiro amolece. — Você não é nada do
que eu esperava que fosse, cristal. E isso não é uma coisa ruim.
Fecho os olhos e jogo a cabeça para trás, completamente entregue.
— Mas eu não sei nada de você — insisto, ofegante. Seguro seus
ombros porque parece que vou desabar, mesmo que ele esteja me segurando.
— Uma pergunta — ele ordena com a boca na minha. — Você tem
direito a uma pergunta.
Penso, ou tento pensar, porque é muito difícil com as mãos dele sobre
mim.
— Estou esperando — ele insiste.
— Sua… família — digo, e ele parece congelar debaixo de mim. — Eu
te vi a vida toda na casa dos meus pais, mas não sei nada da sua família.
Thomas não fala nada por muito tempo. Abro os olhos e encontro seu
rosto de novo coberto por aquela máscara fria que ele adora exibir o tempo
inteiro. As sobrancelhas estão franzidas e a voz sai ácida:
— Não tenho família. — Pisco surpresa e sinto minha boca cair aberta.
— Meus pais morreram quando eu tinha sua idade. Sou só eu. — Ele ri, seco.
— E o filho da puta do seu pai foi a única família que eu tive por muito
tempo, então parece que agora não tem ninguém mesmo.
Ele trinca o maxilar e eu sinto meus olhos marejarem.
— Eu sinto muito — sussurro, me ajeitando no colo dele para tentar o
abraçar.
Thomas ri, mas eu ignoro e consigo virar de frente para ele. De repente
faz sentido ele ser assim, todo grosso e fechado. E eu já descobri que por
baixo daquela carcaça, existe um homem bom.
Prendo minhas pernas na sua cintura e seguro seu rosto com as duas
mãos. Ele me olha tão confuso como nunca vi, como se não entendesse o que
eu estou fazendo.
— Eu sinto muito — falo de novo e tenho a impressão de ver tristeza
nos olhos azuis por um segundo, mas ele disfarça. Eu o abraço e ele congela,
mas retribui o gesto e me abraça de volta. Seu corpo relaxa um pouco e ele
respira fundo. Thomas afunda o rosto no meu pescoço e eu o aperto mais
apertado. — Você tem alguém — digo no seu ouvido. — Tem a mim. Eu
prometo que tem.
Ele me abraça mais apertado por alguns segundos, mas de repente
enrijece o corpo de novo e me afasta. Thomas arrasta uma mão no rosto e eu
tenho a impressão de que é para disfarçar que seus olhos estão marejados,
mas devo estar errada. Nunca que esse homem ia chorar.
— E para que eu preciso de você, garota? — pergunta no seu tom seco
de sempre. — Está com pena de mim porque não tenho mais pais? Prefiro
pais mortos do que pais que me vendam para um filho da puta de merda para
livrar o próprio rabo.
Sinto meu lábio tremer com o choro que ameaça vir e pulo para fora do
seu colo. Viro de costas para ele não me ver chorar e me afasto a passos
largos até a cama, onde eu deixei meu celular. Agarro o celular e enfio uma
bota nos pés e começo a ir em direção à porta. Esfrego o rosto para secar as
lágrimas, mas assim que seguro a maçaneta, ele segura meu braço.
— Onde você acha que vai? — pergunta. Eu puxo meu braço da sua
mão.
— Não é da sua conta! — grito, e ele dá um passo para trás, surpreso.
— Eu venci a sua aposta, Thomas. Você disse que eu podia ir para onde eu
quisesse sozinha se você fosse um babaca, e adivinha só? Você é o rei dos
babacas! — grito, apontando um dedo para ele.
Ele arregala os olhos e cruza os braços na frente do peito.
— E para onde você vai, cristal? Achei que sua amiguinha estivesse
viajando.
— Eu não sei — digo, mas depois corrijo: — Tenho certeza de que o
Josh vai arrumar tempo para me ver.
A expressão no rosto dele muda para irritado em menos de um segundo
e Thomas me prende na parede.
— Quantas vezes vou ter que dizer que você é minha? — rosna. —
Você não vai sair daqui para ir atrás daquele merdinha.
— Só que eu não sou sua! — falo e empurro seu peito. — Esqueceu do
contrato? Eu posso fazer o que quiser se não atrapalhar a sua reputação.
Prometo que não vou arrumar nenhum escândalo, senhor Albuquerque —
digo com ironia. — Vou ser muito discreta.
Ele segura minha cintura e levanta meu queixo com a outra mão.
Thomas está furioso.
— Vai atrás daquele babaca para que, Cecília? — pergunta com a boca
na minha.
— Não é da sua conta — respondo com a voz trêmula. — Talvez eu vá
para a cama com ele — falo em um impulso de coragem. — Aí meu corpo
não vai se derreter todo toda vez que você chegar perto, seu idiota!
Ele ri e arrasta a boca pelo meu rosto até chegar na minha orelha.
— Foda-se aquela merda de contrato — diz no meu ouvido. — Filho
da puta nenhum vai encostar em você. Você é minha sim. Sua primeira vez é
minha. Não vou deixar um moleque te ter.
— Não é você que decide isso — protesto, segurando seus ombros.
— Me diz que não me quer — ordena no meu ouvido. — Me diz que
prefere que sua primeira vez seja com um idiota que não vai saber o que
fazer. Diz, Cecília. Porque você sabe que vou te fazer gozar até não aguentar
mais ficar de pé. Que vou te comer tão gostoso que você nunca vai esquecer.
Ele coloca a mão nas minhas costas onde o zíper ainda está aberto e eu
esqueci.
— Porque eu te quero — ele fala com a voz sincera como eu nunca
ouvi, e eu estremeço. — Estou com as bolas doendo de vontade de te foder.
— Thomas…
— Eu vou cuidar de você, cristal. Se entrega para mim, e eu vou cuidar
de você.
CAPÍTULO 16
Cecília Magalhães
Não consigo pensar direito com ele assim tão perto, mas até eu sei que
é uma ideia muito ruim me entregar para Thomas. Não vai ter volta, sei que
não vai. Eu já não o odeio como devia odiar, gosto de ficar perto dele. Se eu
deixar Thomas ser meu primeiro, nunca vou conseguir escapar desse CEO
arrogante. E o problema é que não quero escapar.
Thomas me beija e meu cérebro termina de derreter. Que nem da
última vez, é um beijo bruto e violento, que me toma inteira. Thomas me
agarra pela bunda e me puxa para cima. Sem pensar muito, eu prendo as
pernas em volta da sua cintura para não cair e quando faço isso o beijo fica
ainda mais forte.
Thomas me joga no colchão e deita por cima de mim no mesmo
segundo. Sua boca sai da minha e vai para o meu pescoço com a mesma
intensidade, beijando e chupando a minha pele. Ele puxa as alças do meu
vestido para baixo e abocanha meus seios.
— Thomas… — gemo e arqueio o peito. Ele segura minha cintura com
força enquanto alterna entre um seio e o outro, e o meio das minhas pernas
começa a ficar molhado.
Aí ele começa a descer ainda mais com a boca e um pânico sem
tamanho toma conta de mim. Aperto as pernas fechadas quando a boca dele
chega no meu umbigo, e Thomas aperta minhas coxas.
— Abre as pernas para mim, cristal — diz com a voz rouca de desejo
como nunca ouvi. Ele me olha ali de baixo, ri aquela risada convencida dele e
beija a minha barriga. — Abre essas pernas que eu quero te chupar.
Arregalo os olhos e faço que não com a cabeça. Ele faz que sim e desce
mais um pouco. Thomas começa a beijar e morder as minhas coxas e minhas
pernas derretem que nem manteiga. Se abrem sozinhas para ele e Thomas não
hesita nem por um segundo antes de me abocanhar ali.
Eu gemo o nome dele quando sinto sua língua me atacando e agarro os
lençóis debaixo de mim, sem entender essa sensação tão intensa que nunca
senti antes.
— Você é doce, cristal — ele diz antes de voltar a me chupar. Ele
aperta minhas coxas com força. Tento responder, mas tudo que sai é outro
gemido. — E tão mais gostosa com meu nome saindo dessa sua boca abusada
assim.
Quero xingar Thomas, mas tudo que faço é continuar gemendo até que
meu corpo inteiro pega fogo e aquela sensação que agora conheço bem me
invade inteira.
— Goza na minha boca — ele manda, apertando ainda mais os dedos
nas minhas pernas, e gozo menos de um minuto depois.
Estou toda mole na cama quando ele me solta e sem forças nem para
me mexer. Só consigo acompanhar com os olhos enquanto ele levanta e
lambe os lábios, como se tivesse acabado de comer sua comida preferida. Os
olhos dele estão escuros e Thomas me encara sem nem piscar enquanto tira a
camiseta. Mordo o lábio quando vejo a frente da sua calça estufada.
Ele abre um sorriso convencido quando me pega espiando e puxa a
calça e a cueca para baixo de uma vez só. O pênis grande, grosso e cheio de
veias pula na minha frente e eu respiro fundo. Não paro de olhar quando ele
coloca a mão em volta e começa a mover para cima e para baixo.
Ele vem até mim e se ajoelha na cama do meu lado. Enrosca meu
cabelo com a outra mão e pincela o pênis na minha boca.
— Eu… nunca fiz isso — digo. Ele grunhe e puxa mais ainda meu
cabelo. Seu peito sobe e desce com força.
— Eu sei — fala de volta com a voz rouca. Solta meu cabelo e acaricia
meu rosto. Passa o polegar no meu lábio e puxa para baixo. — Se você
soubesse a vontade que eu estou de calar essa sua boca com meu pau desde a
primeira vez que te vi.
Hesitante, coloco os lábios em volta da cabeça rosada, e um sentimento
de poder sem tamanho toma conta de mim quando ele fecha os olhos e solta
um gemido rouco. Então faço de novo e de novo, mas não consigo colocar
muita coisa na boca nessa posição estranha. Engasgo quando ele impulsiona
o quadril para frente e ele geme de novo.
— Puta que pariu — rosna e puxa o pênis da minha boca. Sua
respiração está toda descompassada e Thomas me puxa para um beijo bruto
que deixa meus lábios doloridos.
Ele sai de cima de mim de novo, mas é só para vasculhar a carteira e
pegar uma camisinha. Assisto com os olhos arregalados enquanto ele
desenrola a camisinha e vem até mim com aquela mesma pose de homem
decidido que ele sempre teve. E um medo sem tamanho me atinge.
Thomas é bruto nos toques e eu não achei que fosse gostar disso, mas
eu gosto muito. Mas se ele for bruto assim quando… Ele monta em mim de
novo e se encaixa entre as minhas pernas. Eu o sinto bem ali e respiro fundo,
mordendo o lábio. Ele aperta minha cintura e segura meu rosto com a outra
mão. É então que ele me surpreende, porque sua voz chega baixa e doce no
meu ouvido.
— Preciso que você relaxe, cristal — ele sussurra e dá beijos doces
pelo meu pescoço. Ele solta minha cintura e alisa minha coxa. — Eu sou
grande e não quero te machucar, minha linda.
Estremeço com o “linda”, porque é a primeira vez que ele me chama
assim. Não sou idiota e já entendi que ele me deseja sim, mas Thomas nunca
foi doce. Ele beija meu rosto e depois a minha boca, mas dessa vez é devagar
e carinhoso.
— Vai doer? — pergunto nos seus lábios.
— Vai. Mas eu prometo que vou fazer ser bom. Prometi que não ia te
machucar, cristal. Já disse que sou um homem de palavra. — Ele se move só
um pouquinho para frente e sinto uma ardência lá embaixo. — Você está bem
molhadinha pra mim — diz e morde meu lábio.
Solto um gritinho de dor quando ele força um pouco mais, e Thomas
para.
Ele beija meu pescoço e coloca a mão entre nós dois. Gemo baixinho
quando ele começa a esfregar meu clitóris. Thomas me beija, e dessa vez é
um beijo longo e apaixonado. Do jeito que eu sempre imaginei que seria um
beijo nessa hora. Ele não para de me beijar enquanto entra mais em mim, bem
devagar. Thomas sai e entra de novo, cada vez mais um pouco. Dói bastante,
mas ele não para com os dedos no meu clitóris e não para de me beijar.
Ele só solta a minha boca quando está todo dentro. Abro os olhos e me
surpreendo quando vejo seu rosto. As pupilas estão enormes e escuras. A
boca dele está aberta e Thomas respira com dificuldade, como se estivesse se
controlando muito.
— Tudo bem? — pergunta.
— Está doendo um pouco — falo baixinho. Ele desce a boca para o
meu pescoço.
— Essa boceta apertadinha está me estrangulando todo — fala no meu
ouvido. — Você é uma delícia, cristal. Eu quero tanto te foder com força. Te
colocar de quatro e socar nessa bocetinha até você não conseguir mais andar.
Estremeço toda com as safadezas que ele fala e meu corpo esquenta
ainda mais. Junto com os seus dedos me estimulando lá embaixo, a dor
começa a passar e o prazer toma conta de tudo.
— Mas eu vou devagar hoje — ele fala. — Tenho a vida toda para
meter bem gostoso na minha esposinha — ele debocha no meu ouvido e
começa a se mexer bem devagar.
Quando eu não consigo prender um gemido alto de prazer, ele acelera
um pouco.
— Thomas… — gemo, e ele vai mais rápido, quase um pouco
descontrolado.
— Goza pra mim, cristal — ordena no meu ouvido, chupando a pele do
meu pescoço. — Goza no meu pau.
Eu gozo, não sei se porque ele sabe o que faz comigo ou se porque eu
pelo visto não consigo não obedecer a Thomas. Mas eu gozo e gemo mais
alto, aperto seus braços porque parece que vou desabar. Ele me penetra mais
algumas vezes, mais rápido, antes de gozar também com um gemido rouco e
desabar em cima de mim.
De repente, me sinto tão cansada. Como se os dois orgasmos e receber
um homem tão grande dentro de mim tivesse sido demais. Sinto meu corpo
todo mole e meu coração bate descompassado. Meus olhos estão pesados e só
sinto um ardor quando ele sai de dentro de mim, mas não levanta. Continua
em cima de mim beijando meu pescoço e rosto.
Acho que pego no sono, porque acordo nos braços dele, sendo
carregada para o banheiro. A banheira está cheia e a água quente me envolve.
Thomas entra na banheira comigo e me prende contra o seu peito. Encosto o
rosto no seu peito e ele passa a esponja no meu corpo. Estremeço e solto um
gemido de dor quando ele chega entre as minhas pernas.
— Dolorida? — ele pergunta, e eu faço que sim com a cabeça. Thomas
ensaboa com cuidado debaixo da água e depois larga a esponja para passar os
dedos ali. Ele grunhe no meu ouvido. — Toda inchadinha, cristal. Vai
demorar uns dias para esquecer que eu estive dentro de você — diz com
orgulho na voz. Ele começa a esfregar meu clitóris de novo e eu solto um
gritinho pelo susto. — Shhh… vai ajudar com a dor — fala no meu ouvido.
Mordo o lábio e deixo que ele continue. Me agarro no seu peito e gemo
baixinho enquanto ele me faz gozar pela terceira vez.
— Melhor? — pergunta nessa voz nova e carinhosa que não sabia que
ele tinha. Faço que sim com a cabeça, porque realmente está um pouco
melhor. Então de repente Thomas volta à sua versão de sempre: puxa meu
cabelo com força e me faz olhar para cima, para os olhos que estão pegando
fogo. Ele ataca minha boca com violência e morde meu lábio antes de soltar.
Fala contra a minha boca: — Eu estou pouco me fodendo para que merda
estava escrito naquele contrato, cristal. Você é minha agora e homem nenhum
encosta mais em você. Você é minha, essa bocetinha é minha. Estamos
entendidos?
Respiro fundo, sentindo meu corpo inteiro arrepiar.
— Entendidos, cristal? — ele insiste. — Minha.
Faço que sim com a cabeça.
— Sua.
CAPÍTULO 17
Thomas de Albuquerque
Não fui trabalhar hoje. Preferi resolver as burocracias daqui do hotel
mesmo, para ficar de olho em Cecília. A garota ainda dorme, largada na cama
do mesmo jeito que pegou no sono, enquanto tomo uma xícara de café e
confiro a contabilidade. Depois do golpe de César, estou atento a tudo o que
o novo diretor financeiro faz, mesmo que de longe. Não entendo muito da
parte de contabilidade, mas sei investigar muito bem se nada está sendo
desviado.
— Ah, Thomas… — Ergo o olhar para a cama e vejo Cecília se
contorcendo. Ela continua gemendo meu nome e eu abro um sorriso. — Não
sei fazer isso.
Parece que alguém gostou mesmo da trepada. Eu a observo por mais
alguns segundos e volto a trabalhar. Olha a hora no relógio e me lembro de
que ela tem aula. Se não acordar agora, vai perder o horário. Suspiro com a
irresponsabilidade da garota e me levanto. Vou até ela e a sacudo de leve.
— Thomas… — resmunga e se vira para o outro lado. Ela deixa à
mostra a bunda mal coberta pelo short do pijama.
— Sou eu mesmo, e você precisa se vestir.
— Eu quero mais, Thomas — fala safada e sorrio de novo.
— Eu sei que quer, Cecília. Se for boazinha e se levantar, te dou mais.
Resmunga de novo e se vira para mim, mas não abre os olhos. Dou um
tapa na sua bunda e a garota acorda rapidamente. Ela se senta na cama e me
olha assustada.
— O que…
— Hoje é segunda. Vai se atrasar para a aula.
Ela se levanta assustada e passa a mão pelos cabelos. Procura por algo
e acha o celular jogado em uma pilha de roupas suas.
— Ah, merda.
Entra correndo para o banheiro e sai alguns minutos depois. Quando vê
que estou olhando, seu rosto cora e ela se esconde no banheiro para trocar de
roupa. Sai toda vestida, em uma calça jeans e um casaco, quase sem
maquiagem e com um rabo de cavalo que deixa os longos fios ruivos quase
na cintura.
— Eu… — Ela aponta para a porta sem graça e se aproxima de mim.
— Você vai se atrasar — falo e volto meu olhar para a tela do
computador.
Assim que levanto meu olhar para ela, me assusto quando sua boca
toca a minha. Pisco de surpresa e seguro seu rosto, mas me afasto logo em
seguida.
— O que é isso, Cecília?
— Eu achei que… — Seu rosto cora e ela se afasta, com os olhos
assustados e marejados. — Esquece.
A garota sai antes que eu possa falar algo. Corre como o diabo foge da
cruz. Sinto o cheiro de um algo doce na minha boca e passo a mão, tirando o
batom que ficou em meus lábios.
O que foi isso que acabou de acontecer?
Enfio os cabelos nas mãos e de repente penso de não foi uma péssima
ideia me envolver com ela. Desde o início, era para ser algo meramente
contratual, para ferir e controlar César. Não estava previsto me envolver de
forma nenhuma com Cecília.
Mas também eu não tinha previsto que ela fosse tão gostosinha e
interessante. A garota falta me deixar louco. Ela me irrita, me desobedece e
parece achar que me controla, para de repente me agradar, me obedecer e ser
submissa. Não sei se faz de propósito ou se realmente seu jeito oscila de uma
hora para outro, mas me deixa… curioso.
A ideia nunca foi fazê-la sofrer, porque na minha cabeça ela era apenas
uma menina recém-saída das fraldas. Não sou tão cruel a esse ponto. Mas ao
vê-la tão madura, esforçada e provocante com esse jeito meigo e estourado ao
mesmo tempo, foi natural que meu corpo desse sinais de desejo por ela.
Então, vai ser natural ela se ferir, porque não desejo nada além de sexo. Nós
vamos casar, vamos trepar quando der vontade, mas não posso oferecer mais
do que isso. Preciso que isso fique claro para Cecília.
Mas também o que eu esperava? Eu fui seu primeiro homem, então é
natural ela ficar deslumbrada, encantada e confunda as coisas. Preciso que
não confunda.
Meu pau reage das calças quando me lembro do quão molhada e
entregue ela estava para mim. O quão rendida e submissa ficou nos meus
braço. Aperto os olhos e fecho a tela do computador. Não consigo mais me
concentrar assim. Ligo para o segurança que devia a levar para a faculdade e
não demora para o homem atender.
— Sim, senhor?
— Quantas horas a Cecília sai hoje? — pergunto direto.
— Hoje ela só tem aula até a hora do almoço, senhor.
— Tudo bem. Pode voltar para cá. Eu a pego hoje — falo e ele
confirma antes de eu desligar.
Em seguida, ligo para meu informante do Brasil, o homem que vem
acompanhando César e sua esposa de perto. Não posso o deixar assim livre
para ele aprontar de novo. Ele sempre vai ficar sobre a minha mira. É
pensando nisso que sorrio e disco seu número. Ando até a varanda do hotel e
fico ali, vendo a vista de prédios e trânsito.
— O que você fez com a minha filha, seu desgraçado? Por que ela não
me atende? Você tem sorte que…
— Ei, amigo… Calma, calma, sua cristalzinho está bem — interrompo.
— Sou um bom homem, César. Prova disso é que eu estou deixando que ela
termine a faculdade para a levar de volta. Não sou um doce?
— Você é um monstro!
— Shh, sem ofender o amigo — zombo e ele me xinga mais do outro
lado da linha. — Preciso te dar os parabéns, César. Você fez Cecília com
muito… capricho.
— Do que você está falando?
— Você não vai querer saber dos detalhes, não é, sogro? Só preciso
que saiba que ela aprende direitinho e que me sinto muito honrado por ter
sido o primeiro — digo e escuto o silêncio do outro lado da linha.
— Você não fez isso, Thomas. Você não…
— Ah, eu fiz. Ela adorou, devo dizer.
Escuto as centenas de xingamentos do outro lado da linha com um
sorriso no rosto. Me sento na cadeira da varanda e espero o homem descontar
a ira dele. Me faz muito bem que ele esteja assim.
— Acabou? Você tem um bom dicionário de xingamentos.
— A sua sorte é que eu…
— Que o que, César? Que está de mãos atadas? Que está de cagando
de medo porque sabe que ia morrer na cadeia se eu te denunciasse? Hein?
Fico sério e bato na mesa, porque jamais vou esquecer dessa traição.
Não gosto de assumir porque o homem era toda a família que eu tinha, mas
sua traição me deixou abalado. Só que César jamais vai saber disso.
— Preciso ir, sogrão. Preciso arrumar a sua bagunça. Até mandaria um
beijo seu para a Cecília, mas ela não quer saber de você, amigo. Até mais.
Desligo e fico um tempo ali pensando nos meus próximos passos.
Nada que faço é em vão. Querendo ou não, César vai pagar.
Trabalho mais até dar a hora de buscar Cecília. Saio dirigindo até a
universidade e estaciono perto da entrada do seu departamento. Desço do
veículo e a espero ali, olhando a hora no relógio. Assim que ergo o olhar, eu a
vejo saindo com a sua amiga de sempre, a morena de olhos verdes. Mas dessa
vez elas estão com o carinha do outro dia. Travo meu maxilar quando ele tira
uma mecha do cabelo dela do rosto. Vejo o rosto dela ficando vermelho.
Sua amiga me vê primeiro e fica séria. Ela fala algo com Cecília e a
garota olha na minha direção. Seus olhos quase saltam do rosto. Se despede
dos dois e se aproxima de mim com um rosto pálido. Os dois amigos dela
ainda ficam ali perto. A garota sorri abertamente e o garoto fica com a cara
fechada.
— O que está fazendo aqui? — ela pergunta baixinho e olha para os
lados, vendo que estamos atraindo a atenção.
Não respondo. Seguro os livros que estão na sua mão, jogo dentro do
carro pela janela e a puxo para beijar. Cecília se assusta, mas retribui, joga o
corpo para frente e encaixa as mãos no meu pescoço.
Assim que me afasto, sorrio e mordo seu lábio.
— Minha, Cecília. Só minha — digo baixinho e ela parece
desnorteada. — Vamos almoçar.
Demora para ela entender que é para entrar no carro. Quando o faz, seu
rosto está corado. Ela acena um tchau de longe para os dois e eu saio rápido,
cantando pneu até virar a esquina.
— Você não precisava ter sido tão… babaca.
— Eu fui babaca? Só te beijei — falo despreocupado e coloco o óculos
de sol no rosto. Dirijo em direção ao restaurante com raiva. Nem sei por que
estou assim.
— Só faltou mijar em cima de mim para ficar melhor. Não quer
colocar uma coleira no meu pescoço? — provoca. — Hoje mais cedo você
me olhou como se eu fosse um duende por te dar um selinho.
Fala essa última parte ressentida, com a voz baixa. Estaciono o carro e
olho para ela.
— Vamos comer, depois você continua com seu discurso raivoso.
Saio do veículo e ela faz o mesmo, mas resmungando. O que falei
sobre a mudança de atitude? Essa garota é muito inconstante, pelo amor de
Deus.
Guio Cecília até o interior do restaurante e em seguida em direção à
mesa. Quando nos sentamos, ela evita me olhar e sorri para o garçom quando
ele se aproxima.
— Boa tarde — digo em inglês para o homem. — Dois Gigi Salad, por
favor.
— Dois não, um. Eu vou querer um Steakhouse Wedge. Obrigada —
Cecília fala e sorri novamente para o homem. Quando ergo uma sobrancelha
para ela, a garota responde abusada: — Que foi? Vai querer controlar a minha
alimentação também?
— Não, Cecília — respondo e aceno para o garçom, que sai apressado.
— Você está brincando com fogo, garota.
Ela mexe nas unhas, pirracenta, e olha para as demais mesas no
restaurante. Vejo que seu olhar se foca de um jeito sonhador em um casal de
idosos que almoça com uma das mãos entrelaçadas. Cecília sorri abertamente
com isso e solta um suspiro.
Merda…
Quando se vira para mim, seu rosto cora e ela volta a ficar séria.
— Posso te perguntar uma coisa? — questiona baixo e eu faço um
sinal com a mão para que ela vá em frente. — Você ainda vai manter o
contrato ou… a gente vai ter uma relação normal?
— Sim, Cecília. — Suspiro. — Nada mudou.
Ela acena e parece decepcionada. Seu olhar se volta novamente para o
casal de idosos e um bolo se forma na minha garganta.
— Eu nunca vou poder te dar aquilo ali. Você sabe, não é? Nós somos
só…
— Eu sei. Agora eu sei — fala sem olhar para mim.
— Cecília, eu não quero te magoar. Você não tem culpa de nada.
— Mas magoa de todo jeito. — Dá de ombros e arruma o corpo na
mesa, mas não me olha. — Eu entendi, Thomas. Sua empresa é a coisa mais
importante do mundo, não é? Eu realmente não espero nenhum afeto,
compaixão, misericórdia ou… amor de uma pessoa que agora que sei cresceu
com perdas.
Travo o maxilar porque sei que ela está se referindo à minha família.
Não gosto de falar disso. Relembrar o que eu perdi só me torna mais fraco.
Pela primeira vez, não sei o que responder. Não quero ser grosseiro,
então fico calado. Olho para o casal de idosos e me pergunto se eu tivesse
tido uma vida diferente, crescendo com uma família, com irmãos, se eu
poderia ter um fim como aquele. De qualquer forma, não me importa. Eu
tenho a empresa e isso para mim basta. Sempre foi o suficiente.
CAPÍTULO 18
Thomas de Albuquerque
Cecília está estranha desde nosso almoço há dois dias. Calada, sem me
olhar nos olhos, distante. Era tudo isso o que eu esperava dela antes de a
conhecer, mas agora acho estranho. Apesar de ser meiga e tímida em alguns
momentos, normalmente ela faz questão de me desafiar, de mostrar
petulância quando se irrita comigo, mas agora está indiferente e
desinteressada. Falo com ela e a garota só concorda e responde apenas o que
pergunto, sem estender. Quando chega, enfia a cara nos livros e só sai na hora
de dormir. Estou curioso para saber o que a deixou assim.
— Senhor Thomas? — Escuto a voz ao longe e ergo o queixo, olhando
para a porta. — Senhor Thomas?
— Estou ouvindo — falo aéreo, finalmente focando na secretária que
trabalha para mim aqui na filial de Nova Iorque.
— O senhor tem duas reuniões hoje. Os investidores já estão na sala —
avisa e eu aceno com a cabeça, olhando para o relógio.
Deixo Cecília de lado na minha mente e me reúno com os homens
sérios na sala da reunião. Coloco o celular em cima da mesa, enquanto a
secretária nos serve com água. Discuto termos e renovações em um dos
hotéis e os homens me escutam atentos, até que a luz do meu telefone se
acende, mostrando o nome de Cecília na tela. Recuso a ligação e sigo
falando, mas novamente o telefone volta a tocar.
— Pode atender. Parece importante — fala um dos homens e eu aceno
fraco, curioso pela ligação. Ela nunca me ligou antes.
Me levanto da cadeira e saio da sala para atender a ligação.
— Diga, Cecília. Estou ocupado.
— Thomas, preciso da sua ajuda. Vai ter trabalho aqui daqui a pouco
e eu esqueci a minha pesquisa no hotel. Pode trazer para mim, por favor? —
Ela parece tensa do outro lado da linha.
— Cecília, por que não pediu para um dos seguranças?
— Eles falaram que não têm autorização para entrar no seu quarto,
Thomas! E não posso sair daqui. — O tom insolente está de volta, mas logo a
doçura retorna. — Por favor, Thomas.
Aperto o ossinho do nariz e respiro fundo.
— Cecília, eu não posso sair do meio de uma reunião importante para
ir aí te entregar papéis. Vou pedir para um dos homens levar e…
— Esquece, Thomas. Vou dar meu jeito. Não é como se eu pudesse
contar com a sua boa vontade — rosna e desliga na minha cara.
A pentelha mimada desligou a porra do telefone na minha cara! Aperto
o celular na mão e volto para a sala de reunião. Ela acaba cerca de uma hora
depois e só dá tempo de almoçar antes de ir para a próxima, que dura muito
mais do que o planejado. Tive que ficar ali sentado com a cabeça pensando
em mil formas de torcer o pescoço daquela garota enquanto fingia prestar
atenção na apresentação do desenvolvimento da construção de alguns hotéis.
— Mande essas informações para só meu e-mail, Ashley — falo e a
mulher acena, quase saindo da sala, mas eu a chamo. — Ashley? Tem
alguma coisa para hoje.
A mulher olha para deu tablet que carrega o tempo inteiro e nega com
a cabeça.
— Não, senhor, esse foi o último, mas amanhã…
— Só quero saber o de hoje, Ashley — interrompo. — Estou indo para
casa. Qualquer coisa, peça para me ligar no celular. Vou estar atento.
A garota acena e finalmente sai da sala de reunião. Vou até meu
escritório e pego minhas coisas antes de sair. Quando saio pelo elevador,
disco para Cecília para ver se conseguiu resolver seu drama adolescente.
Desligou na minha cara! Francamente… Quem aquela pentelha pensa que é?
Ela não me atende e ligo de novo, mas nada.
Volto para o hotel e acho que vou encontrá-la ali. Ligo para um dos
homens responsáveis pela sua segurança e ele me atende imediatamente.
— Onde ela está?
— Ela veio ao cinema com uns amigos, senhor. Me pediu para esperar
no carro — fala e eu a xingo.
Cinema? Sério?
— Com quem ela está? — pergunto, já prevendo pela resposta porque
Cecília é a princesinha da inconsequência. Quando quer me tirar do sério, ela
consegue com maestria.
— Com aquela amiga que está sempre com ela e dois garotos, senhor.
— Nomes, Gonzales. Eu preciso de nome.
— Er… A senhorita é Kelly e o outro aparentemente é o namorado
dela, senhor. O nome dele é Taylor! — O homem fala devagar, como se
resgatasse os nomes da memória, e eu fico impaciente. — E o outro é Josh.
— Josh — repito com escárnio. — Me mande uma mensagem quando
eles saírem. Quero saber tudo, Gonzales.
Desligo e vou tomar um banho. Vou trabalhar até ela chegar. E quando
chegar, preciso reforçar a Cecília que ela não pode me tratar assim. A garota
não vai fazer o que quer e achar que pode ficar por isso mesmo.
Recebo uma mensagem do segurança horas depois, quase cinco horas
da tarde. Não demora para a garota chegar. Por um momento, tive dúvidas de
que ela me viu porque passou por mim como se fosse invisível. Não falo
nada. Espero que se livre dos livros e da mochila e tome banho. Quando volta
dali, está vestida. Ela prende os cabelos em um rabo de cavalo e vai em
direção à varanda com os livros. De novo como se eu não existisse. Observo
de onde estou, na mesa de dentro do quarto, e a vejo espalhar várias folhas
pela mesa da varanda.
Me ergo e vou até ela.
— Por acaso estou invisível, Cecília? — pergunto rude e ela responde
sem erguer o olhar.
— Boa tarde, Thomas.
— Conseguiu resolver seu problema da faculdade? — pergunto, mas
novamente ela fica em silêncio, concentrada na calculadora. Bato na mesa,
irritado, e ela se sobressalta. — Estou falando com você, garota. Dá para
olhar para mim?
Os olhos castanhos se erguem assustados e sua expressão se fecha.
— Você não vai me tratar assim, Thomas. Você pode me trancar, se
casar comigo sem eu querer e fazer da minha vida um inferno, mas você não
vai me tratar mal — fala baixo, com mágoa no olhar.
— O que deu em você?
— Não deu nada. Só estou tentando me formar em paz — diz e solta
um suspiro. — Eu posso, senhor? Ou você não vai querer que eu estude
também?
Franzo a testa com a ironia descarada na sua voz. Hoje ela está mais
petulante do que os outros dias.
— Resolveu ou não o seu problema?
— Resolvi, não graças a você. Obrigada por isso. Josh me emprestou
as anotações dele. — Ela volta a olhar para os papéis, com o lápis na boca.
— Josh… O falei sobre você ser minha, Cecília? — Me aproximo dela
na mesa e ergo seu rosto para mim.
— Eu… — Seus olhos se enchem de lágrimas e ela pisca várias vezes
para impedir que elas caiam. — Nunca vou ser sua. Nunca mais. Posso ser
sua em um pedaço de papel, mas vai ser só isso.
Ela se desfaz do meu toque e se levanta, recolhendo as folhas de cima
da mesa. Eu a encaro sem entender nada do que está acontecendo com essa
maluca. Não fiz nada de diferente, apenas disse algo que ela já sabia.
— Para onde você vai?
— Para longe de você! — esbraveja e seca o rosto. — Eu preciso do
meu espaço. Não era isso o que você queria? Paz, tranquilidade, uma esposa
muda e sonsa? É isso o que você vai receber de mim. Contrato fechado.
Ela tenta passar por mim, mas eu a seguro pela cintura. Cecília arfa
pelo toque e seu olhar vai desejoso para minha boca. Seu corpo implora pelo
meu, eu sei disso.
— Sem drama, Cecília. A gente estava se dando bem, não estava?
Afago sua bochecha e ela suspira, fecha os olhos e entreabre os lábios
quando meu polegar desliza por ali. Aproximo minha boca e a roço na sua.
De repente, Cecília parece despertar, porque coloca as mãos no meu peito
para me afastar.
— Eu não quero — sussurra. — Por favor, me deixa ir. Preciso
estudar.
Eu me afasto, chocado, e a deixo sair da varanda. Ela sai apressada do
quarto do hotel e bate a porta. Fico aqui parado pensando que porra deu nessa
garota para ficar assim. Quando nós trepamos, ele estava consciente de que
aquilo ali era tudo o que eu podia oferecer. Nós estamos nos casando por um
contrato, porra! O que ela queria? Flores, flerte, romance? Não sou assim, e
não acho que um dia possa ser.
Me sento em uma das cadeiras da varanda e tento pensar em uma
solução para acalmar essa ruiva surtada.
Levanto e saio pelo hotel. Quando encontro um dos funcionários,
pergunto por Cecília e eles me apontam que ela foi em direção à área das
piscinas. Sigo para lá e cumprimento os clientes do hotel, que me olham
estranho; não sei se por eu estar com terno e gravata em um espaço daqueles
ou se por me reconhecerem. Mas não me importo.
Demoro a achar Cecília, porque ela se enfiou no canto mais isolado,
atrás de uma pilastra, com o guarda-sol aberto bem em frente ao seu rosto
para a proteger do sol.
Assim que apareço nas suas vistas, ela arregala os olhos de surpresa e
abaixa a cabeça, como se tivesse perdido toda a coragem de minutos atrás.
Conhecendo como estou, não duvido que seja isso.
— Você está com algum problema comigo, Cecília? Hein? Me diz —
falo, pego uma das cadeiras da mesa e coloco ao seu lado.
Colo seu corpo ao meu e a garota arfa.
— Não, Thomas. Não estou.
— Você não vai me tratar como se eu fosse um dos seus amiguinhos,
Cecília. Eu não sou moleque para você gritar comigo e sair como se fosse a
dona da razão. Se você tem algum problema comigo, nós vamos resolver e
seguir em frente — digo baixo e calmo. — Entendidos?
Cecília abaixa a cabeça, suspira e fica calada. Ergo seu rosto para o
meu com delicadeza e ela acena.
— Vamos. — Me levanto e estico a mão para ela.
— Para onde? Eu preciso fazer esses exercícios. Não posso… — Olha
para as folhas espalhadas e eu a recolho.
— Vou te ajudar com isso lá em cima e nós vamos ver um filme.
Seus olhos se arregalam e ela franze a testa logo em seguida, sem
entender. Morde o lábio e parece dividida. Sei que quer ir, mas o lado
petulante que gosta de me desafiar briga com o desejoso.
— Uma comédia romântica boba? — pergunta e abre um sorriso fraco,
provocando.
— Que seja, garota. Vamos.
Cecília estica a mão para pegar a minha e eu a levo até o quarto de
hotel assim. Quando chegamos na porta, a garota sorri e olha para nossas
mãos entrelaçadas. Não me incomodo em soltá-la até que estejamos lá dentro.
Ela guarda suas coisas, se deita na minha cama de frente para a televisão e
coloca um filme qualquer.
O que está dando em mim para me esforçar tanto para agradar essa
garota?
CAPÍTULO 19
Cecília Magalhães
— Eu nem acredito que você finalmente perdeu essa virgindade, minha
amiga!
— Shhhh! — Olho em volta para ver se alguém ouviu os gritos sem
noção da minha amiga, mas não acho que ninguém está prestando atenção em
nós duas enquanto andamos pelo campus da faculdade.
As semanas estão passando e está ficando cada vez mais frio. Já nem
sei o que sou eu e o que é roupa debaixo desse casaco enorme que me faz
parece um pneu de caminhão.
Kelly me leva até a cafeteria que tem aqui perto e nós sentamos em
uma mesinha que tem no canto para continuar conversando. Vejo o rosto
malicioso dela e sinto o meu queimar de vergonha. Não sei se é por falar
sobre isso ou se porque não consigo parar de lembrar daquela noite.
— Foi bom? — ela pergunta enquanto assopra o café quente. Mordo o
lábio e sinto meu pescoço esquentar com as memórias do corpo de Thomas.
Kelly ri muito alto. — É claro que foi bom, olha só essa sua cara de panaca.
Rio junto com ela da minha própria vergonha, mas logo suspiro e
apoio o queixo na mão.
— Não foi assim que eu sonhei que fosse, amiga — falo baixinho.
— Não sonhou que fosse com um homem muito gostoso e experiente
que ia te fazer gozar até desmaiar? — ela pergunta com as sobrancelhas
erguidas. — Porque eu sonhei foi com isso mesmo e no lugar disso ganhei
um idiota de uma dessas fraternidades aqui que não sabia o que fazer com
uma boce…
— Kelly! — interrompo com os olhos arregalados. Ela revira os olhos
e bebe o café. — Eu achei… que fosse ser com alguém que eu estivesse
apaixonada. Que a gente fosse casar e ter uma família…
— Vocês vão casar — ela diz. Bufo.
— É, por causa de um contrato idiota. Ele nem gosta de mim, só está
bravo com meu pai.
— E você gosta? — ela pergunta. Aperto as sobrancelhas. — Dele.
Você gosta dele? Porque a Cecília que eu conheço não ia pra cama com um
cara se não gostasse dele.
Sinto meus olhos arderem e prometo para mim mesma que não vou
mais chorar por causa daquele idiota.
— Não quero gostar dele — falo para ela e mordo o lábio. — Não
posso gostar dele, Kelly.
Ela respira fundo e coloca a caneca na mesa. Segura minha mão e a
aperta.
— Minha amiga, presta atenção. Eu sei uma coisinha ou outra sobre
homens, então me escuta. — Rio, porque é bem verdade que ela sabe mesmo.
— Ele pode não estar apaixonado por você do jeito que você sonhou, mas…
você disse que até filme na cama ele assistiu com você? — Kelly pergunta
para confirmar o que eu contei.
Faço que sim com a cabeça, porque foi mesmo estranho.
Eu sou uma idiota mesmo. Achei de verdade que as coisas iam mudar
depois… da nossa noite juntos. Que Thomas ia me livrar daquele contrato e
ficar comigo porque me quer, e não por causa da vingança nenhuma. Fui
boba de acreditar que significou alguma coisa para ele. Um homem como
Thomas deve estar acostumado a ter a mulher que quer a hora que quer. Eu
fui só mais uma. E ele foi meu primeiro… Me sinto uma boba, porque por
um momento eu acreditei que ele seria meu único.
Até que acordei no dia seguinte e ele me tratou com aquela mesma
frieza de novo. Então eu decidi que não podia mais deixar Thomas ter tanto
poder assim sobre mim. Vou me casar com ele porque não posso deixar papai
ir para a cadeia, mas decidi que ia ser exatamente o que ele esperava de mim:
uma esposa de enfeite. Não quero esperar mais nada dele porque só vou me
machucar.
Mas Thomas parece que caiu de cabeça no chão e não me deixa em
paz. Acho que ele só gosta de me atormentar.
— Ele assistiu um filme comigo ontem de noite — eu concordo. —
Mas eu acho que foi só para eu não ficar tão brava com ele.
Kelly me dá um tapa na mão.
— E você acha que ele ia perder o tempo dele tentando te fazer não
ficar brava se não se importasse, Cecília?
— Mas…
— Mas nada — ela me corta. — Coloca essa cabeça pra funcionar! Ele
está tentando te agradar, só nunca vai dizer isso em voz alta.
Mordo a ponta da unha, pensando no que ela está dizendo. Então
lembro de quando Thomas falou dos pais, e do meu pai. É quando percebo
que talvez ele tenha medo. É difícil pensar em um homem desses com medo
de alguma coisa, mas eu vi o rosto dele quando me contou que perdeu os pais
e que perdeu meu pai também. Será que essa pose de homem frio é só para
afastar os outros?
— Será? — pergunto. Ela dá de ombros e me olha com aquela cara de
quem diz “vai ter que descobrir sozinha”.
Nós ainda conversamos por mais algum tempo antes de meu celular
tocar e eu ver que é meu pai. De novo. Ele está ligando há algumas semanas,
mas faz alguns dias que não para. Sempre que pego meu celular, tem infinitas
chamadas perdidas.
— Preciso atender — eu falo e Kelly se despede dizendo que tem que
ir embora mesmo.
Eu saio da cafeteria no vento frio e começo a andar. Atendo o telefone
e quase choro quando ouço a voz de papai do outro lado da linha.
— Cecília, meu amor, finalmente! — ele fala, parecendo aliviado por
eu ter atendido.
— Oi, pai — eu falo baixinho. Meu peito aperta e não sei se é de
saudades ou de chateação. Ainda estou muito brava e magoada pelo que ele
fez, mas então eu percebo que boa parte da raiva já foi embora.
— Como você está, cristal? Ele… te machucou?
Franzo as sobrancelhas e paro de andar. A voz dele está muito
preocupada.
— O Thomas? — pergunto, piscando rápido sem entender.
Ele suspira pesado do outro lado da linha e não fala nada por algum
tempo.
— Pai?
— Me perdoa, minha filha — ele diz. Suspiro e volto a andar. — Eu
sei que o que fiz foi errado, Cecília, mas eu fiquei desesperado, eu… Sua mãe
e eu estamos tentando chegar aí o mais rápido possível, querida. Tivemos um
problema no visto e não estamos conseguindo entrar nos Estados Unidos,
mas estamos tentando, meu amor, eu prometo. Sei que essa situação toda é
muito errada, mas acho que uma parte minha quis acreditar que Thomas
nunca ia fazer nada para te machucar. Me perdoa.
— Ele não me machucou, pai — eu falo, sem entender. — Por que
você acha que ele me machucou?
Percebo que cheguei no estacionamento quando vejo o carro preto
conhecido parado ali. Thomas está encostado na porta com aquela cara de
poucos amigos de sempre digitando alguma coisa no celular.
— Ele… não? — Papai está confuso do outro lado da linha, e eu estou
muito mais.
— Não — falo. Acho que minha voz atrai a atenção de Thomas,
porque ele olha na minha direção. A carranca continua ali no rosto bonito,
mas ele guarda o celular e cruza os braços na frente do peito, me esperando.
Começo a andar na direção dele.
— Então… Era mentira. Eu sabia que era mentira — papai fala
parecendo aliviado. — Isso foi baixo até mesmo para ele! Se soubesse como
eu fiquei preocupado, cristal. Não sabe como eu estou aliviado por ser
mentira.
— Eu não estou entendendo nada, pai. O que era mentira?
Thomas me olha surpreso quando falo e tomba a cabeça para o lado.
— Ele… Thomas disse que ele… Que vocês… Você sabe.
Entendo o que ele está dizendo alguns segundos depois e sinto meu
rosto inteiro pegando fogo. Não falo nada. Ele chama meu nome no telefone.
— Cecília? É mentira, não é?
— Não, pai, não é — falo baixinho, morrendo de vergonha.
— Mas… você disse que ele não te machucou, cristal. Você… — A
voz dele muda e papai agora parece muito irritado. — Não me diz que você
foi para a cama com esse filho da puta porque você quis, Cecília! — ele
grita. Sinto meu corpo inteiro estremecer pelo susto. Dou um passo para trás
sem nem perceber.
— Você preferia que não tivesse sido porque eu quis? — pergunto e
sinto meus olhos marejarem.
— Eu e sua mãe estamos nos matando para conseguir ir para aí, para
te buscar, para te tirar dele e te trazer para casa, e você está indo para a
cama com esse filho da puta nesse meio tempo? Eu não acredito que você se
deitou com um homem que te comprou, Cecília! — papai grita.
Uma lágrima desce pelo meu rosto e eu tento disfarçar, mas sei que
não consigo quando Thomas parece perder a paciência de me esperar e me
puxa pela cintura. Ofego quando sinto seu peito firme e ele segura meu rosto
com força e levanta meu queixo na sua direção.
— O que aconteceu? — ele pergunta naquele tom firme que não
permite discussões.
— O senhor quer dizer o homem pra quem você me vendeu, né? —
falo no telefone e mordo o lábio. — Achei que tivesse ligado para pedir
desculpas, papai.
Não sei o que meu pai ia responder, porque não ouço nada. Thomas
toma o celular da minha orelha e eu o deixo fazer isso. Minha vista fica
embaçada enquanto o olho. Ele leva o celular ao ouvido.
— César — diz entredentes. Tem uma raiva muito grande na sua voz,
mas o seu toque no meu rosto fica leve e carinhoso. Ele não tira os olhos do
meu rosto e passa o polegar na minha bochecha, secando a lágrima. — Por
que a sua garotinha está na minha frente chorando, meu amigo? — pergunta
com a voz irritada.
Um soluço dolorido sai da minha garganta. Eu tento me soltar dele,
mas Thomas inverte as posições e me prende entre o carro e o seu corpo. Não
sei o que ele ouve, mas Thomas ri aquela sua risada ácida e aperta o celular
com tanta força que acho que vai quebrar.
— Não tenho tempo para perder com você. Eu prometi que ia cuidar da
sua menina, não prometi? — diz com uma voz debochada. — Você
claramente é um incompetente nesse quesito.
Ele arremessa o celular dentro do carro pelo vidro aberto do meu lado
e volta a segurar meu rosto para me fazer olhar na sua direção.
— O que aconteceu, Cecília? — pergunta grosseiro.
— Não é nada — respondo e tento me soltar dele. Thomas não deixa.
— Não me irrita, cristal — pede com a voz mais branda e abaixa a
boca até a minha. — O que aconteceu? Por que você está chorando?
Balanço a cabeça que não e ele suspira irritado.
— Entra no carro — diz e abre a porta. Eu me sento no banco do
carona e ele não fala nada enquanto arranca com o carro rapidamente.
Thomas dirige, mas não sai do campus da faculdade. Só vai até um canto
mais escondido, meio isolado entre árvores onde não tem ninguém, e
estaciona ali.
Ele empurra seu o banco para trás e depois tira meu cinto. Me puxa
para o seu colo e eu solto um gritinho de surpresa quando ele me coloca com
as pernas abertas em volta das suas.
— Achei que já tivesse entendido como me deixa irritado quando você
não fala comigo — ele diz e me puxa para mais perto. Ofego quando sinto
seu membro colado entre as minhas pernas nessa posição.
— Tudo te deixa irritado, Thomas — respondo baixinho. Ele puxa meu
pescoço de um jeito que meu rosto quase cola no seu.
— Mais irritado que o normal — rosna na minha boca. — Preciso
saber que você está bem, cristal. E quando não sei, fico puto. Então quando
eu te perguntar o que aconteceu, você precisa me dizer.
Meu coração dá um pulo no meu peito e eu apoio as mãos no seu
ombro.
— Por que precisa saber se eu estou bem? — pergunto.
Thomas solta um resmungo qualquer e puxa minha boca para a dele de
um jeito brusco. Estou sem ar quando ele me solta. Suas mãos acariciam
minhas pernas.
— Porque sim, Cecília — responde. — Fui claro?
Faço que sim com a cabeça e passo as mãos pelos seus braços
delicadamente.
— Me beija de novo? — peço. Ele pisca confuso. — Não desse jeito
que você me beija quando está com raiva, daquele outro jeito… que você
beijou quando a gente…
Não termino a frase porque sinto meu pescoço queimar de vergonha ao
me lembrar de novo da nossa noite. Thomas trava no lugar e parece não saber
o que fazer comigo. Eu pisco devagar daquele jeito que sei que o deixa meio
perdido e peço de novo com a voz doce:
— Por favor?
Ele respira fundo pela boca e aperta os olhos fechados.
— Puta que pariu, garota. As merdas que você me perde.
Ele reclama, mas puxa meu pescoço de novo até minha boca estar na
sua. E dessa vez quando ele me beija, é doce e carinhoso.
CAPÍTULO 20
Cecília Magalhães
Parece que foi ontem que Thomas apareceu na minha porta com essa
conversa insana de casamento, mas já se passaram alguns meses. Estou há
tanto tempo com a cara enfiada nos livros que mal vi o tempo passar.
Pelo menos é isso que eu falo para mim mesma porque não posso
admitir que não estou nem sentindo as semanas voarem porque é isso que
acontece quando a companhia é boa. Só que desse jeito mandão e grosseiro
dele, Thomas é mesmo uma boa companhia.
Ele está… diferente. Ainda todo resmungão e irritado o tempo inteiro,
mas não comigo. Ele me busca na faculdade todos os dias e janta comigo. Me
pergunta do meu dia, das minhas aulas. Nos fins de semana, ele me leva para
passear pela cidade e quando não pode, me deixa sair com a Kelly ou com
outros amigos da faculdade, e desde que o Josh não esteja no meio, não
preciso nem levar os seguranças. Não entendo essa implicância que ele tem
com o Josh, mas não ligo. Eu nem gosto tanto dele assim, então tanto faz.
A única coisa que não mudou foi que Thomas está o tempo inteiro
estressado por causa da empresa. E eu consigo ver que o estrago que papai
fez nas contas foi realmente grande, porque ele não para de trabalhar.
Estou tentando me concentrar nos meus trabalhos, mas consigo ouvir
daqui os resmungos baixos de Thomas, que está sentado na mesa no canto do
quarto olhando para o computador e alguns papéis.
Me levanto da cama na ponta dos pés para não fazer barulho e vou até
onde ele está. Paro atrás dele e estico o pescoço para olhar por cima do seu
ombro para a planilha que ele está segurando.
— Esse negócio está muito caro — eu falo e Thomas praticamente
pula no lugar.
— Puta que pariu, Cecília — reclama e fecha a pasta com os papéis. —
O que você quer?
Puxo a cadeira do lado dele e espio os documentos, mas Thomas
praticamente esconde tudo.
— Posso dar uma olhada naquele ali? — peço e aponto para o que
estava na mão dele.
Thomas cruza os braços e ergue uma sobrancelha.
— Pra quê? Quer começar a treinar me roubar que nem o papai? —
pergunta seco.
A acusação dói um pouco no peito. Coloco uma mecha do cabelo atrás
da orelha e fecho a cara.
— Eu nunca ia fazer uma coisa dessas — falo. Ele ri.
— Achei que o César não fosse também, e olha só onde nós estamos.
Suspiro e me levanto, balançando a cabeça em derrota. Contorno a
mesa, e Thomas volta a abrir a pasta em que estava trabalhando. Corro pelo
outro lado, tomo o papel da mão dele e corro para o outro lado do quarto.
— Cecília! — ele grita e se levanta da cadeira.
Eu solto um gritinho e corro pelo quarto para longe dele.
— Me devolve esse papel, garota — ele ordena entredentes.
Pulo na cama e fico em pé no meio do colchão. Thomas tenta agarrar
meu tornozelo e eu ando para trás até estar com as costas na parede.
— Cecília, eu não tenho tempo para isso — ele rosna, mas eu ignoro e
começo a ler a planilha de novo. — Cecília!
— Aqui! — grito de volta e me jogo sentada no colchão. Thomas me
encara como se eu tivesse perdido a cabeça. — Vem aqui — chamo e bato no
colchão do meu lado.
Thomas bufa e vem, se senta do meu lado.
— O que é? — pergunta impaciente. — Não tenho o dia todo. Se você
quer que eu assista aquele filme de menininha com você depois do jantar,
precisa me deixar trabalhar em paz.
— Eu estou tentando te ajudar, seu chato — falo e me aproximo dele.
Eu me penduro no seu ombro e Thomas me segura pela cintura para eu não
cair. — Aqui, nessa linha. Por que você está pagando isso tudo?
Thomas respira fundo como se estivesse usando cada gota de controle
para não explodir.
— Porque é quanto custa no mundo real, cristal. Você está acostumada
a pagar tudo com cartão de crédito e não entende como os números
funcionam, mas…
— Para de me tratar como se eu fosse estúpida — reclamo e bato no
braço dele. Seus olhos escurecem perigosamente.
— O que eu disse sobre me bater? — pergunta em um tom mais baixo
que me faz estremecer. Mas não dou o braço a torcer e continuo falando.
— O pai da Kelly tem essa empresa, eu tenho quase certeza de que
você consegue cortar pelo menos metade desse valor aqui se contratar ele.
Thomas franze o cenho e para de tentar me fazer parar de falar. Ele me
puxa para o seu colo e olha para onde estou apontando no papel.
— Aqui — mostro. — Posso te dar o telefone dele, se quiser.
Thomas me olha por mais alguns segundos com a expressão incerta.
— E já que estamos falando disso…
Escapo do seu colo e vou até a mesa. Pego mais meia dúzia de papéis e
volto a sentar nas suas pernas.
— Não fica bravo, mas eu dei uma olhada quando você estava
dormindo.
— Cecília…
— Eu sei, eu sei — falo. Dispenso com a mão e mostro os papéis.
Mordo a ponta dos lábios e ergo os olhos para ele. Thomas me encara com os
olhos azuis escurecidos. — Eu tenho algumas ideias de coisas que podem
ajudar. Você sabe, a reduzir os custos.
— E por que uma garotinha que nem saiu das fraldas saberia como
cuidar do meu negócio melhor do que eu mesmo? — ele pergunta, arrogante.
— Porque a garotinha está prestes a se formar como a melhor da turma
— digo baixinho. — E, sem ofensa, Thomas, se você fosse tão bom assim,
meu pai não ia ter te enganado bem debaixo do seu nariz.
Ele aperta os olhos e quase posso ouvir o som do seu maxilar travando.
— Cuidado… — avisa. Aperta minha cintura e me puxa para mais
perto dele. Thomas arrasta o nariz pelo meu pescoço até chegar à minha
orelha. — Eu mordo quando estou com raiva, cristal — diz e faz exatamente
o que disse: morde meu pescoço com força e me faz soltar um gritinho.
— Me escuta… — peço no meio de um gemido quando ele beija a área
que mordeu. — E eu juro que me comporto.
Thomas ri e se afasta.
— Essa eu quero ver — diz e ergue as sobrancelhas para mim.
— Eu prometo. Juro mesmo — garanto. Faço o que posso para manter
o olhar preso no dele e não derreter toda. — Me deixa ajudar com isso aqui,
eu prometo que vai funcionar. Se não funcionar, eu me comporto. Até acabar
o semestre e você me arrastar de novo para o Brasil com você pelo menos,
prometo que me comporto. Faço o que você quiser…
— É uma proposta tentadora, cristal… — ele sussurra e puxa meu
queixo.
— Prometo — digo mais uma vez.
Thomas suspira.
— Tudo bem, Cecília. Me mostra o que você tem.

Chego cedo da aula pela primeira vez em muito tempo e aproveito para
descansar um pouco. A piscina aquecida do hotel é a escolha perfeita e é para
lá que eu vou. Acabo pegando no sono na espreguiçadeira e acordo quase em
um pulo quando sinto mãos em mim e uma boca cobrindo a minha.
— O que…
Grito quando Thomas me puxa para cima e me joga por sobre seu
ombro como se eu fosse uma boneca. Eu sacudo minhas pernas enquanto ele
atravessa o hotel comigo.
— O que você está fazendo? — pergunto, mas ao invés de responder,
ele estapeia minha bunda. Todo mundo está olhando, mas ele não parece se
importar. Aperta o botão do elevador e só me coloca no chão quando entra
comigo ali. — O que você está fazendo?! — pergunto de novo.
Só então olho para ele. Thomas está… sorrindo. Muito. Os olhos azuis
brilham quando ele vem na minha direção e me prende na parede.
— O que…
— Você está uma delícia dentro desse biquini — ele diz e desce os
olhos pelo meu corpo. — Não sei se gosto de te ver exibindo o que é meu por
aí para quem quiser ver — reclama e me puxa de novo.
O elevador apita no andar certo e eu estou muito confusa quando ele
me puxa pela cintura e me leva até o quarto. Fico parada no meio do cômodo
sem entender o que está acontecendo enquanto ele tranca a porta e tira a
gravata.
Thomas vem até mim e me vira de costas para ele. Dá outro tapa na
minha bunda e eu dou um pulinho no lugar, mas ele desfaz o laço da parte de
cima do meu biquini e puxa a peça de mim. Eu tampo meus seios e ele ri.
— Nada que eu não tenha visto antes, cristal — fala no meu ouvido.
— Thomas… — chamo confusa. Ele começa a desfazer os laços da
parte de baixo do biquini também.
— Estou feliz, Cecília — diz no meu ouvido. — Você estava certa.
Acabei de sair da reunião com o pai da sua amiga e suas ideias malucas
funcionaram.
Viro de frente para ele com os olhos arregalados e a boca aberta.
— Jura? — pergunto. Ele faz que sim com a cabeça e me puxa pelo
quadril.
— Funcionou, cristal. — Thomas suga meu lábio e aperta minha
bunda. — E eu preciso comemorar.
Respiro fundo pela boca, sentindo meu corpo esquentar pelo jeito
predatório que ele me olha.
— Comemorar?
Thomas faz que sim com a cabeça.
— E como você vai comemorar?
Ele ri e diz na minha boca:
— Enterrado bem fundo na bocetinha da minha mulher.
Não tenho a chance de responder nada, porque Thomas me joga na
cama e não me dá qualquer chance de respirar quando me beija com
brutalidade. Mas então ele desacelera e toca meu rosto com delicadeza.
— Você vai me deixar te comer ou vai continuar fugindo de mim que
nem fez nos últimos meses? — pergunta e engole meus lábios daquele jeito
gostoso.
— Thomas… — gemo quando ele começa a beijar meu pescoço e
desce para sugar meus seios. Quando ele volta para a minha boca, eu
pergunto: — Você… você dormiu com mais alguém nesse tempo?
O corpo dele enrijece em cima do meu por um momento.
— Não, Cecília — responde com um suspiro. — Não dormi com
ninguém.
Ele beija meu pescoço e separa minhas pernas com o joelho.
— Por-por que não? — pergunto no meio de um gemido.
— Porque eu não quis. Não tive vontade — responde com sinceridade
na voz. Meu coração bobo dispara com essa simples frase. Ele não quis?
Mas… — Mais alguma pergunta, cristal? — fala no meu ouvido enquanto
passa a mão pelo corpo. Faço que não com a cabeça e ele aperta meu seio. —
Boa menina… Você gosta devagar, não é?
Nem tenho tempo de responder porque, que nem da outra vez, ele
desce a boca até o meio das minhas pernas e não para até eu gozar na sua
boca e estar toda mole na cama.
De repente, ele me vira de barriga para baixo e dá outro tapa na minha
bunda. Ouço o som de Thomas tirando suas roupas e ele deita em cima de
mim. Passa um braço pela minha cintura até alcançar meu clitóris que ainda
está sensível nessa posição.
— Quer que eu te coma bem devagarinho também? — ele pergunta no
meu ouvido e eu o sinto na minha bunda. Sem pensar, eu empino contra ele e
Thomas grunhe. — Cecília…
Gemo quando o sinto forçando a minha entrada e agarro o colchão.
— Você continua tão apertadinha, cristal — fala no meu ouvido e enfia
mais. — Devagarinho vai ter que ficar pra outro dia — rosna. — Preciso te
foder.
Assim que fala isso, Thomas enfia tudo e eu grito pela ardência de
receber aquilo tudo dentro de mim. Mas que nem da outra vez, a dor logo dá
lugar ao prazer quando ele me estimula nos lugares certos.
— Posso ir mais rápido? — pergunta ofegante e aperta minha cintura.
— Diz que posso meter bem gostoso nessa boceta.
— P-pode — gemo e ele me puxa até me colocar de quatro na cama.
Afundo o rosto no colchão quando ele segura meu quadril e estoca com força.
Sinto meu corpo esquentar e aquela sensação gostosa que Thomas me
mostrou começar a tomar conta de tudo. Estremeço debaixo dele e ele grunhe
quando eu gemo e gozo, chamando seu nome.
— Cristal… — chama e estoca mais algumas vezes antes de desabar
em cima de mim.
A respiração dele está descompassada que nem a minha, e eu
estremeço quando Thomas passa os dedos pelo meio das minhas pernas. Ele
cola o peito nas minhas costas e acaricia meu clitóris.
— Como está essa bocetinha? — pergunta no meu ouvido. —
Dolorida?
— Um pouco — admito. Ele ri.
— Você é uma delícia, Cecília — diz. — Eu poderia te foder a noite
toda. A vida inteira.
— Eu vou casar com você — falo baixinho. — Você pode.
Sinto aquele aperto familiar no peito que vem sempre que penso que
isso é tudo que vou ser para ele. Thomas suspira e me puxa para mais perto.
Beija meu pescoço e acaricia meu seio.
— Você vai ser minha esposa — diz no meu ouvido. — E eu preciso
descobrir o que vou fazer com você depois que se formar, cristal. Meu plano
era só te levar nos eventos que precisasse aparecer e te entregar um cartão de
crédito sem limite.
Meus olhos marejam com a perspectiva de uma vida que eu nunca
quis.
— Mas você realmente me ajudou — ele diz e me puxa para mais
perto. — Não sei se te foder quando eu fechar um bom contrato para
comemorar é tudo que quero de você. Não vou mentir, garota, não consigo te
separar do seu pai. Estou só esperando a hora que você vai me esfaquear nas
costas também e…
— Eu não vou — digo e viro de frente para ele. Olho nos seus olhos e
coloco a mão no seu rosto. — Eu prometo que não vou.
Thomas me olha incerto e suspira.
— Eu não sei. Preciso pensar, cristal. — Ele deixa um beijo curto nos
meus lábios. — Mas até eu sei a hora de agradecer. Você ajudou. Obrigado.
Não consigo esconder o sorriso bobo no meu rosto e subo em cima
dele. Thomas geme rouco quando acidentalmente me esfrego no seu membro
semiereto e agarra meus seios.
— Desse jeito você não vai conseguir sentar amanhã — ele diz
entredentes. — Continua assim e eu vou te comer de novo, e dessa vez não
vou devagar.
Arregalo os olhos.
— Aquilo foi devagar? — pergunto assustada. Ele ri e me joga na
cama de novo.
— Você não viu nada — promete na minha boca e começa a me
penetrar de novo. Ele entra e sai algumas vezes, mas antes de poder acelerar,
o som de uma batida forte na cama o interrompe. — Quem é o filho da
puta…
Thomas se levanta e me joga um lençol.
— Se cobre — ordena e pega a cueca boxer jogada no chão. Ele a
veste antes de chegar na porta e a abre.
Não tenho nem tempo de entender o que está acontecendo quando meu
pai invade o quarto como um furacão e empurra Thomas contra a parede.
— Onde está minha filha, seu filho da puta?
Aperto o lençol contra o peito.
— Papai? — chamo e só então ele me vê.
Meu pai dá um passo para trás e olha de mim para Thomas, que ri.
— Sua cristal está bem ali, meu amigo.
CAPÍTULO 21
Thomas de Albuquerque
Não tem melhor expressão para ver no rosto de César do que essa de
espanto ao olhar para mim vestido apenas em uma cueca boxer e sua filha do
outro lado, deitada na cama apenas enrolada em um lençol. Paula, ao ouvir o
gritinho de susto de Cecília, também entra no quarto e olha para nós dois com
os olhos arregalados.
— Ah, meu Deus. O que está acontecendo aqui?
— Acho que você sabe muito bem, Paula. — Antes que eu possa
prever, a mulher se aproxima de mim e acerta um tapa muito forte na minha
cara.
— Mamãe! — Cecília grita, mas a mulher permanece me olhando
enquanto levo a mão até o rosto, chocado.
Como ela ousa?
— Você pode ter a briga que for com o meu marido, vocês dois podem
se odiar e fazerem o que quiserem da vida, mas quem você pensa que é para
tocar na minha filha? O que você fez com ela? Ela é uma menina!
— Olha como você fala comigo, Paula — falo e aperto o maxilar para
conter a raiva que sinto.
— Vou falar do jeito que eu quiser, porque te considerei meu amigo
por anos, mas não vou permitir que brinque com a minha filha. Essa
palhaçada já foi longe demais.
Ela se vira para Cecília, que está acuada encostada na cabeceira da
cama, olhando para nós três com os olhos arregalados.
— Saiam os dois, eu preciso conversar com a minha filha.
Fico boquiaberto, porque Paula sempre foi uma pessoa muito pacífica.
Agora já sei quem Cecília puxou. Me visto puto da vida, mas o pequeno
cristal deitado na cama só falta me implorar com o olhar para que eu tire seu
pai dali. Saio do quarto e sinto César atrás de mim. Quando sua mão toca
meu ombro e me puxa com força, aproveito para descontar o tapa da sua
querida mulher com um soco no seu nariz. Alguns funcionários que estão
passando ali se espantam, mas continuam seu destino sem pararem para
interromper.
— Seu filho da puta! — ele me xinga. Ando em direção à área mais
reservada do hotel, porque sei que César não vai me dar sossego.
E não dá outra. Quando chego no canto das saunas, o homem vem logo
atrás.
— Ela é uma menina, Thomas. A minha menina. — Ele toca a barba
rala do rosto e ergue os olhos para o céu. — Você não devia ter feito isso. Era
meu irmão.
— E você me traiu, porra! — grito. — Você era a única pessoa em
quem eu confiava na vida, a única que eu tinha, e não perdeu a chance de
foder com a minha empresa!
— Eu não fiz com a intenção de te passar a perna, seu pau no cu!
Solto uma risada amarga e me afasto dele para não socar sua cara. Têm
alguns hóspedes mais ao longe de nós. Não conseguem nos ouvir, mas podem
nos ver muito bem.
— Uma parte muito grande de mim imaginava que você não fosse
permitir que eu tomasse sua cristal, César. Você já foi mais paternal — digo,
bravo.
E é verdade. No início, esperei que ele tentasse fazer da minha vida um
inferno por causa de Cecília. Que virasse o mundo do avesso antes de me
permitir chegar perto da sua filha dessa forma, que preferisse ir preso a deixá-
la nas minhas mãos, sem saber o que eu poderia fazer com ela. Mas não foi
isso que ele fez, pelo contrário, foi fácil demais, simples demais. Fora os
xingamentos, César não moveu um dedo para impedir que eu viesse para cá e
a obrigasse a se casar comigo. Quando digo isso a ele, puto, o homem me
olha com um olhar ressentido, sem entender.
— Você preferiu destruir a vida da sua filha a pagar pelo que me fez.
Você é um merda medroso, César — rosno baixo para ele e me aproximo de
um jeito ameaçador. — Cecília não merece um pai de merda como você. A
garota merece pessoas que se importam com ela. Não sei de quem ela puxou
a coragem que tem de enfrentar as coisas.
César pisca várias vezes, abre e fecha a boca, mas não diz nada. O
homem fica em silêncio por muito tempo, o suficiente para me irritar.
Quando decide falar, o que sai da sua boca me faz rir.
— Você se apaixonou por ela, seu filho da puta. Como isso foi
acontecer, Thomas? — César fala e eu me viro para ele sem entender porra
nenhuma.
— O que você está falando? Bateu com a cabeça?
— Conheço você há muito anos, Thomas. Só perde um segundo da sua
vida para defender alguém que não seja você mesmo se se importar o mínimo
com essa pessoa — diz e ri de forma sarcástica. Ele bagunça os cabelos
ruivos e fica de costas para mim, pensativo. — Eu vi o jeito que vocês se
olharam ali dentro. Como isso foi acontecer?
— Não fala merda! — grito e dou as costas para ele.
Eu me apoio na grade que separa a área da sauna das piscinas e encosto
a cabeça ali.
— Se não fosse da minha filha que estivesse falando, eu quase poderia
rir da situação. O poderoso Thomas foi brincar com o destino e foi laçado —
ele fala e eu me aproximo dele em poucas passadas, segurando-o pelo
colarinho da camisa social.
— Você não sabe do que está falando.
— Ah, eu sei, Thomas. — Ele sorri fraco. — Sua reação só me
confirma isso. Mas você não vai brincar com os sentimentos da minha cristal.
Você vai ficar longe dela a partir de hoje, porque vou a levar de volta. Foda-
se o que vai fazer comigo.
— Não vai a levar. Cecília vai terminar a faculdade, você querendo ou
não.
Ele abre um sorriso de quem entende das coisas e isso só me faz querer
socar ainda mais a sua cara. César tira minhas mãos do seu colarinho e se
afasta de mim, indo de volta para a recepção do hotel.
Respiro fundo e fico aqui pensando na merda que ele disse. Merda.
— Porra! No que você se meteu, Thomas? — falo sozinho e passo a
mão pelo cabelo. Aperto o ossinho entre os olhos e saio dali.
Não quero ter que ver nenhum daqueles dois agora. Não quero ter que
olhar para Cecília com a merda dessa fala de César rondando a minha mente.
Vou para o escritório, mesmo que não esteja vestido de forma apropriada
para isso.
Quando chego lá, aproveito para tomar um banho no banheiro do
escritório. Visto um dos ternos que sempre deixo ali para emergências porque
a outra roupa está cheirando a sexo, cheirando a Cecília.
Tento trabalhar, mas pela primeira vez em muitos anos não consigo me
concentrar como devia, não consigo me dedicar cem por cento ao que estou
lendo na tela do computador.
Pego o telefone e disco para a secretária me trazer um remédio para
dor de cabeça. Quando ela entra, traz uma jarra com água e dois
comprimidos. Serve o líquido se inclinando na mesa, mostrando o decote de
forma proposital.
— Você é nova — falo e ergo meu olhar para ela.
— Eu estou substituindo a Ashley hoje, ela está de folga — diz,
mordendo o lábio de um jeito provocante.
Apenas aceno enquanto viro o conteúdo do copo junto com os
remédios.
— O senhor deseja mais alguma coisa? — pergunta em um inglês
carregado e eu penso.
Porra, quando é que eu penso para foder com uma mulher gostosa?
Nunca penso. Mas aqui estou eu, com a porra do pau morto dentro da calça,
enquanto me pergunto se eu quero comer alguém.
— Não, só isso. Pode ir — respondo seco, irritado.
A mulher sai, parecendo decepcionada. Eu apoio os cotovelos na mesa
e encaixo a testa ali, sentindo a cabeça latejando pelo estresse.
— O que você fez comigo, Cecília?
Solto um suspiro e me forço a continuar a trabalhar depois de alguns
minutos. Faço as coisas que não exigem tanto da minha concentração, com a
mente vagando vez ou outra para a ruiva que deixei naquele quarto com
aqueles pais lamentáveis. Só saio dali à noite, quando o prédio está
praticamente vazio.
Quando dirijo de volta para o hotel, faço o mais lentamente possível,
sem pressa de chegar lá para enfrentar Cecília. Não sei de que forma ela está.
Assim que entro no quarto, não a encontro. Suas coisas estão ali, mas
ela não está nem no banheiro.
Ligo para um dos seguranças que deveria estar com ela nesse turno e o
homem atende.
— Senhor?
— Onde ela está? — pergunto, pensando o pior.
— Senhor, ela não saiu do hotel.
— Sabe dos pais dela? — pergunto, mais aliviado que eles não
levaram a garota daqui.
— Eles foram para outro hotel, senhor. Saíram faz algumas horas e
não voltaram.
Desligo e tiro o terno, colocando algo menos formal para ir procurar a
garota que adora fugir. Pergunto por ela, mas ninguém a viu. As áreas do
hotel estão vazias pela hora, então não vai ser difícil a encontrar. Isso é o que
penso até vagar cerca de trinta minutos porque parece que todo mundo é cego
nessa porra e ninguém a viu.
Quando entro no centro aquático abafado pelo vapor do aquecedor e
das piscinas, eu vejo o movimento e logo os fios ruivos submergindo na água
enquanto o pequeno corpo nada. Ando até lá devagar e ela solta um pequeno
gritinho quando me vê.
— O que está fazendo aqui? Aqui já devia estar fechado — pergunto e
ela suspira, passando a mão pelos fios para jogá-los para trás.
— Eu pedi para um dos funcionários. Aparentemente eles têm medo de
você e sabem que eu sou.
Aceno, olhando para a criatura à minha frente. Eu me xingo
mentalmente. Me xingo muito e chuto a minha bunda na cabeça, porque…
— Por que está me olhando assim? — ela pergunta baixo e percebo
que seus olhos estão vermelhos demais, mais do que o normal para ser só a
água da piscina.
— Por que estava chorando? O que o seus pais fizeram?
— Não quero falar disso.
Ela me ignora e volta a nadar, me deixando ali na beira da piscina
falando para o nada. Chega na outra extremidade, longe de mim.
— Cecília, você pode, por favor, ser um pouco menos teimosa e
responder quando eu te pergunto algo? — pergunto, tentando ser gentil.
— Desde quando você pede por favor? — pergunta surpresa e eu
suspiro.
— Desde quando estou tentando conversar com você…
Ela morde o lábio e aperta os olhos. Quando o choro parece querer
voltar, eu suspiro e ando até a porta do lugar.
— Onde você vai? — ela pergunta e não respondo.
Tranco a porta com a primeira coisa que vejo, uma mesa pesada que
acomoda os equipamentos de natação, e volto para perto dela. Tiro a roupa e
fico apenas de boxer para entrar na água. Cecília arregala os olhos e eu nado
até ela, a imprensando na borda da piscina.
— Vou precisar perguntar de novo ou vai me dizer o que está
acontecendo?
CAPÍTULO 22
Thomas de Albuquerque
— Eu estou cansada, Thomas.
Os lábios de Cecília tremem e as lágrimas se misturam com a água no
rosto molhado. Instintivamente, meus dedos o secam. Eu me afasto. Tomo
distância, porque não estou me reconhecendo mais.
Sei que nós nos aproximamos nos últimos dois meses e tive que ser
mais simpático com ela porque a garota parece de fato um cristal delicado
que não pode quebrar, mas essa preocupação excessiva que tenho com
Cecília não é normal. Como César disse, não sou acostumado a defender
ninguém.
— Cansada do que exatamente? — pergunto com um pigarro quando
meus pensamentos voltam a se bagunçarem.
— Da minha vida inteira — sussurra e funga baixinho. O nariz fica
vermelho pelo choro. — Estou na fase mais difícil do meu curso, que sempre
fiz por amor e me dedicando como uma louca para trabalhar com meu pai,
que descubro por acaso que me vendeu para o melhor amigo dele, que eu…
— Que você…?
— Nada, Thomas. Só queria que as coisas fossem mais fáceis — ela
sussurra e suspira. — Queria que vocês não se odiassem assim, que não
decidissem a minha vida como se eu não tivesse escolha a nada.
Minha garganta se aperta pelo desabafo desesperado da garota, mas me
contenho no lugar. Não vou a abraçar como meu corpo parece implorar. O
que está havendo comigo, porra?
Cecília meu olha por meio das lágrimas durante muito tempo. Como
eu, tenho a impressão de que a garota busca respostas ao olhar para mim.
Pela primeira vez, não sei o que dizer. Parte de mim quer acabar com esse
martírio que parece ser para ela estar comigo, ser forçada a se casar, mas a
outra parte ainda deseja vingança pelo que César me fez.
— Por que não diz nada? — ela indaga baixo. — Você está estranho,
Thomas. O que meu pai te falou?
Solto uma risada baixa e sacudo a cabeça. O homem não tem o poder
de me abalar. Não tem. Repito isso para mim mesmo, mas sou racional
demais para me enganar dessa forma. Sei muito bem o que está acontecendo
comigo, mas não quero acreditar que fui tão… tolo dessa forma.
— Ele não falou nada, cristal. Seu pai é um imbecil.
Ela sorri fraco e aperta os olhos, como se fosse doloroso eu dizer isso.
— Por que está tão perturbada com o ódio que sinto pelo seu pai,
Cecília? Isso não pareceu te preocupar antes — falo e quebro a distância
entre nós dois. Volto a prender seu corpo com os braços. — Por quê?
— As coisas estão diferentes, Thomas.
— Por quê, Cecília?
A garota fica calada e seu olhar vai para a minha boca. Ela coloca as
mãos nos meus ombros e desliza as mãos ali, receosa. Seu olhar busca o meu
e ao invés de me afastar, olho para ela com curiosidade. As unhas curtas
raspam na minha nuca e sobem para os fios de cabelo.
— Você é tão bonito — fala em tom de admiração. — Bonito como o
diabo.
Fico calado e Cecília sobe a mão delicada pela minha barba. Estou
paralisado, apenas olhando para seu rosto atraente de lábios fartos.
— Meus pais quase surtaram quando contei para eles sobre nosso…
envolvimento — ela fala e abre um sorrisinho fraco. — “Como você
consegue dormir com aquele monstro, Cecília?”, eles perguntaram. Parte de
mim concorda, mas a outra parte é ingênua e tem um pouco de esperança
que…
Não deixo que ela termine a frase e a calo com um beijo. Cecília se
assusta, mas logo abre espaço para eu invada a sua boca. Mordo seu lábio
inferior com força e ela solta um gemido baixo. Ergo suas pernas e as passo
ao redor da minha cintura, empurrando meu pau duro na sua boceta por cima
do biquíni.
Raspo a barba pelo seu pescoço e ela fecha os olhos, inclinando a
cabeça para o lado para me dar abertura.
— Você fala demais, Cecília. Me deixa louco da cabeça, me
desobedece, tenta me bater, me desafia sempre que pode, mas muda de
repente para essa carinha doce de que não tem ideia do que está fazendo da
vida — falo e dou uma mordida no seu ombro. — Você me enlouquece quase
o tempo inteiro e ainda assim… Eu desejo você assim, rendida para mim. O
que fez comigo, garota?
— Eu não sei…
Puxo a parte de cima do biquíni e deixo os seios livres para mim. Me
agacho na piscina, seguro os dois e aperto os bicos com força. Ela geme de
olhos fechados e encaixo a boca em um deles, mordendo um dos mamilos
para o ver eriçado.
— Thomas… — Cecília chama e eu ergo meu olhar para ela. — Você
acha que um dia… pode se apaixonar por mim?
Eu me afasto dela e vejo seu olhar doloroso quando faço isso. Xingo
baixinho e a noto arrumando seu biquíni, com o rosto vermelho de vergonha,
antes de virar de costas para ela. A intenção é sair daqui para evitar esse tipo
de conversa banal. A intenção é deixar o que quer que a gente tenha para trás
para não ter de ouvir esse tipo de pergunta esperançosa.
Mas Cecília não deixa.
— Thomas, por favor… — O tom de súplica misturado com choro me
para. Essa garota é uma peste. — Não foge. Só preciso de um “sim” ou de um
“não”.
Suspiro e volto a olhar para ela.
— Sinto muito, Cecília. Não posso.
— Não pode ou não quer? — pergunta com um tom afiado. — Por que
é tão difícil? Sou tão intragável assim? Eu te irrito tanto? O que é? É pelo
meu pai?
— Isso é o suficiente, você não acha? Até uns meses, seu pai e a
empresa eram tudo o que eu tinha, Cecília! Eu perdi um e quase perdi o
outro.
— Você sente a falta dele, não é? Está magoado pela traição, por
perder seu quase irmão. Isso dói mais do que quase perder a empresa —
supõe e fico com raiva.
— Para de falar como se me conhecesse! Você é uma garota que não
sabe de nada da vida. É uma mimada que tem tudo o que quer na mão,
Cecília.
Ela morde o lábio e acena. Fecha a cara para mim, seca o rosto e
impulsiona o corpo para sair da piscina. Pega a toalha que deixou na beirada
e enrola no próprio corpo.
— Cecília… — falo, apertando o ossinho do nariz. — Não me deixa
falando sozinho, garota. Para onde você vai? Cecília!
Calça as sandálias de dedo e anda em direção à porta. Saio da piscina e
a alcanço com poucas passadas. Impeço que ela saia do lugar me
posicionando na sua frente.
— Você não tem ideia do quanto me irrita quando age como uma
garota birrenta, Cecília.
— Então me deixa em paz, Thomas! Só me deixa! Eu não entendo
você, juro! — ela grita e aponta o dedo para meu peito. — Ao mesmo tempo
em que parece que tem um coração, você se transforma. Mas quer saber?
Cansei. Cansei de você, das suas mudanças de humor, desse seu jeito cavalo
de ser, desse bloco de gelo que tem no lugar do seu coração. Eu…
Me aproximo para a calar novamente com um beijo, mas ela agora
prevê e se afasta. Sua mão pequena vai no meu peito.
— Não. Você não vai resolver tudo com um beijo. Não vai se
aproveitar da minha fraqueza por você para me calar.
Arregalo os olhos de surpresa e ela permanece firme. Me deixa ali e
vai em direção à porta. Cecília tenta arrastar a mesa que tampa a entrada, mas
é pesada demais para o corpo pequeno.
— Pode me ajudar aqui ou vai ficar só olhando?
Sacudo a cabeça para a petulância, mas me aproximo para liberar a
passagem. Mal o faço e a garota atrevida sai dali, me deixando sozinho,
confuso e com o pau dolorido. Eu sabia que meu juízo estava perturbado, mas
agora tive a certeza.
Visto minha roupa e volto para o quarto. Escuto o barulho do chuveiro
ligado e me sento na cama. Quero dar umas palmadas na bunda daquela
garota enquanto eu a fodo. É a única maneira que consigo pensar para acabar
com um pouco dessa perturbação que toma conta de mim.
Quando sai do banheiro já vestida, ela finge que não me vê e seca os
cabelos de costas para mim, sentada na cama dela. Ela se deita e se enrola
com o edredom, ignorando completamente a minha existência. Decido não
dar corda para ela também e vou tomar um banho rápido para tirar o cloro da
piscina. Coloco uma boxer e uma calça de moletom quando saio.
Olho para o corpo pequeno deitado na outra cama.
Solto um suspiro alto, conto até três e me aproximo. No meio do
caminho, volto para trás, me perguntando por que insisto tanto em acalmar
essa garota. Mas volto a chegar perto dela. Me sento na cama e toco seu
braço, achando o gesto estranho para mim.
— Cecília.
— Me deixa em paz, Thomas — fala e percebo o tom de choro. Escuto
um soluço e levo a mão para meu cabelo, puxando os fios em busca da
paciência que nunca tive.
— Chega para lá.
Eu a empurro para o outro lado da cama e ela se afasta, ainda de costas
para mim.
— Cecília, me desculpa por ter falado com você daquele jeito.
Satisfeita? Você é muito sensível, garota.
— Boa noite, Thomas.
Solto uma risada descrente e coloco a mão nos fios ruivos. Ela se
sobressalta e se vira para me olhar, os olhos grandes arregalados.
— O que está fazendo? — pergunta baixinho.
— Não tenho ideia, Cecília. Eu não tenho ideia.
Eu me deito e puxo seu corpo pequeno para perto do meu. Ela vem.
Assustada, mas vem. Se aconchega ali e de repente não sei o que fazer. Fico
travado porque é a primeira vez na minha vida inteira que tenho uma mulher
assim, tão perto nesse gesto tão íntimo, sem trepar ainda por cima.
— Eu gosto de carinho na cabeça — fala baixinho e levo minha mão
para os fios ruivos devagar, sentindo-os ainda molhados.
De repente, escuto uma risada baixa seguida de um fungado.
— O que foi?
— Você parece que está fazendo coisa de outro mundo. — Ela ri de
novo.
— Para mim é de outro mundo — resmungo e ela se aconchega mais,
parecendo satisfeita.
— Eu gosto.
Solto um suspiro e aspiro o cheiro do seu shampoo. Seu rosto se
inclina e encontra o meu. Ela estica a mão e acaricia meu cabelo também,
fazendo círculos com os dedos, enrolando os fios curtos. Em seguida, explora
meu rosto e para nos meus lábios. Sinto o corpo pequeno se erguendo e a sua
boca encontrando a minha, tímida e receosa. Fecho os olhos e, quando vou
aprofundar o beijo, Cecília se afasta.
Ela volta e dá pequenos selinhos na minha boca. Grudo minha mão no
seu cabelo e a puxo de volta, afundando minha língua ali.
— Você não conhece a delicadeza, não é? — pergunta, se afastando.
— Nada na minha vida é delicado, Cecília. Quer dizer, você é —
respondo, e ela ri baixinho.
— Posso fazer uma coisa?
Arqueio a sobrancelha e não respondo. Ela toma isso como um sim e
se desembrulha, jogando o edredom para longe de nós. Cecília monta em
mim e eu me espanto, porque isso não é bem o que imaginei que fosse fazer.
Encho uma mão minha com sua bunda.
Ela a tira dali e a ergue junto com a outra, levando as duas para o lado
da minha cabeça, enquanto se deita sobre mim e me beija, do mesmo jeito
delicado de antes. Quando abro os olhos, o sorriso pequeno me arrebata.
— Imaginei como seria ter você assim — confessa, com o rosto
pegando fogo de constrangimento.
Essa garota é mesmo uma graça. Está montada no meu pau por contra
própria e com vergonha disso. Não respondo nada, porque quero ver até onde
vai.
— Você não vai dizer nada? — pergunta e morde o lábio. — Vai gritar
comigo de novo?
— Não, Cecília. Não vou. — Solto um suspiro. — Vem cá. Deita aqui.
Seus olhos se arregalam e ela vem, voltando para a posição que estava.
— Você não me quer mais depois do que falei?
Pego sua mão e a levo até meu pau dolorido.
— Está bom para você assim? — pergunto em um rosnado e ela arfa.
— Vai dormir, Cecília. Boa noite.
Ela suspira, gruda seu corpo ao meu, passando uma perna para cima de
mim, e eu a acaricio até que pegue no sono.
Ah, merda. Estou fodido.
CAPÍTULO 23
Cecília Magalhães
— O que está acontecendo com você, querida?
Aperto os joelhos e não consigo olhar para a minha mãe porque tudo
que eu sinto é vergonha. Eu sou uma idiota, mas disso eu já sabia. Dói muito
ela estar me olhando com essa cara de quem sabe a grande estúpida que eu
sou.
— Eu não sei — falo baixinho e aperto ainda mais os joelhos. — Eu
só…
Olho para ela, mas não consigo ver nada porque meus olhos estão a
ponto de transbordar com as lágrimas. Ela e papai chegaram há dois dias e
tem sido um festival de gritos e xingamentos para todos os lados. Thomas e
meu pai estão a ponto de se matar. E toda vez que papai diz que vai me levar
embora, tenho vontade de vomitar.
— Eu não quero ir, mãe — digo e mordo o lábio. — Quero terminar a
faculdade e ficar aqui com…
— Com Thomas? — ela pergunta chocada. — Com o homem que vai
te forçar a se casar com ele para se vingar do seu pai? Cecília, onde você está
com a cabeça?
Faço que não com a cabeça e não falo nada, porque não sei nem como
explicar. Thomas tem esse jeito grosso dele, mas… Talvez eu só esteja sendo
uma completa idiota, mas tenho tanta certeza de que ele gosta de mim.
— Minha filha… Volta pra casa comigo. A gente deixa esses dois
brigando e vamos só nós duas. Só vão perceber quando a gente já estiver de
volta em casa.
Eu arregalo os olhos.
— Você? Contrariando o papai? — pergunto surpresa, porque isso
nunca aconteceu.
— Seu pai… seu pai fez uma coisa muito ruim quando roubou do
Thomas, mas fez uma coisa pior ainda quando deixou você pagar pelo erro
dele. Eu não… Não sei se um dia vou conseguir perdoar.
— Ah, mamãe…
Ela me abraça e a gente fica assim por um tempo muito longo.
— Você tem certeza do que está fazendo, Cecília? — ela pergunta e
alisa meus cabelos. — Seu pai já disse que vai pra cadeia se Thomas quiser
prestar queixa, que você não precisa ter que lidar com esse homem. — Mordo
o lábio e me afasto dela. Sinto meu rosto pegar fogo e os olhos da minha mãe
arregalam. — Você está apaixonada por ele, não está?
Faço que sim com a cabeça e ela aperta minhas mãos com força.
— Cecília…
— Eu sei, mãe. Ele é muito mais velho que eu, é um idiota, grosso,
arrogante, irritante… — Ela sorri daquele jeito carinhoso que é só dela. —
Mas… Ele me faz sentir coisas que nunca senti antes.
Mamãe suspira e aperta mais minhas mãos.
— Promete que vai tomar cuidado, querida.
— Prometo — digo, mesmo sem saber cuidado com o que exatamente.
Porque se for com o meu coração, já sou um caso perdido. É dele. Nem sei
como isso aconteceu, mas é dele, e se Thomas quiser mesmo me destruir, ele
pode.

As coisas ficaram um pouco esquisitas depois que meus pais foram


embora, por um tempo. Não sei o que Thomas e meu pai resolveram, porque
eu mal falei com papai no tempo em que eles estavam aqui. Mamãe me liga
quase todo dia para saber como eu estou, mas também não fala mais nada
sobre toda essa confusão. E eu não tomei coragem de perguntar se aquele
contrato ainda está valendo, porque as coisas mudaram tanto que eu nem sei
mais o que tudo isso significa.
A gente não conversou sobre nada disso, mas aquela cena do Thomas
acariciando meu cabelo até eu dormir se repetiu toda noite desde então. E
quase toda noite também nós dois transamos antes de dormir. Ou de manhã
antes de ir para o trabalho. Às vezes, os dois. Já se passaram mais alguns
meses agora e o prazo de tudo já está quase acabando.
Minha festa de formatura é nesse fim de semana, e se o contrato ainda
estiver valendo, vai ser quando eu vou ter que voltar para o Brasil com ele.
Para me casar com ele e virar a esposinha de cristal em casa sem nada para
fazer além de gastar dinheiro. Ou deixar papai ir preso. Esses últimos meses
foram como um conto de fadas, daqueles que eu sempre quis viver, mas sei
bem que Thomas é um homem de negócios, e eu sou um negócio.
Mas não posso pensar nisso agora porque hoje é minha última prova da
faculdade. Decido que vou ter essa conversa com ele mais tarde. De noite,
quando eu chegar em casa. Agora preciso me concentrar em ler todo o
material de novo antes de ter que sair de casa daqui a algumas horas.
E é isso que estou fazendo quando Thomas sai do banho e me encontra
na cama no meio de um monte de papéis e computador. Me distraio, porque
sempre me distraio quando o vejo com a toalha enrolada na cintura assim e
com o corpo todo meio úmido. Ainda não me acostumei com como ele é
bonito.
— O que aconteceu? — ele pergunta e vem até mim. — Você está com
uma cara de quem vai explodir.
Passo a mão no cabelo, nervosa.
— Só estou nervosa para a prova… Eu não… — Respiro fundo e
aponto para uma folha na minha frente. — Acho que não entendi isso aqui
muito bem e, com a minha sorte, vai ser exatamente o que vai cair na prova.
Thomas olha por sobre o meu ombro para onde estou apontando e
suspira.
— Chega pra lá — manda. Eu me arrasto para o lado na cama e ele se
senta ali na pontinha do colchão.
— Você não tem uma reunião agora? — pergunto quando ele pega a
folha na minha mão.
— Você quer ajuda ou não quer, cristal? — pergunta e me olha com os
olhos azuis que me hipnotizam. Faço que sim com a cabeça e ele começa a
explicar a parte da matéria que não entendi. É difícil me concentrar com ele
perto assim, mas no fim consigo entender. Meia hora depois, ele se levanta e
vai se vestir.
Assisto enquanto ele coloca o terno e se arruma para sair. Quando está
pronto, vem até mim de novo e puxa meu rosto para cima pelo queixo.
— Boa sorte na prova — diz na minha boca. Antes que eu possa
responder, ele me beija daquele jeito que só ele sabe, bruto, como se estivesse
com fome e eu fosse sua comida preferida.
Thomas sai e me deixa tonta sentada ali, precisando recuperar o fôlego
e tentando me concentrar de novo na matéria.
— Nem acredito que acabou! — Kelly grita e me abraça quando nós
duas saímos do auditório onde foi a prova. Minha cabeça parece que vai
explodir depois de horas sentada ali, mas eu sorrio para a minha amiga e a
abraço apertado também.
— Mal posso acreditar também — concordo, respirando aliviada. O
problema é que agora que a prova final está fora do caminho, tudo que a
minha cabeça tem para se preocupar é Thomas.
Vou com a Kelly até a cafeteria da faculdade e encontramos outros
amigos ali. Todo mundo começa a conversar sobre as provas, sobre a
formatura que está chegando, sobre os planos para o ano que vem e tudo
mais. Kelly me convence a ir comprar um vestido novo para festa de
formatura amanhã e a sair para comemorar depois das compras, e eu
concordo com tudo, mas estou muito aérea para conseguir prestar atenção.
Só acordo para a vida quando meu celular toca e eu vejo o nome do
Thomas ali. Me despeço de todo mundo e vou até o estacionamento que é
onde ele sempre me espera. Quase congelo no lugar quando vejo que ele está
parado do lado do carro segurando um buquê.
— Thomas? — pergunto confusa. Ele me estende as flores e eu seguro,
olhando maravilhada para o arranjo todo vermelho. — O que…
— Parabéns, Cecília — diz e me puxa para ele. Thomas esmaga as
rosas entre nós dois quando me beija de um jeito que não devia fazer com
tanta gente por perto para ver, mas não me importo tanto assim. — Sei que
você vai querer comemorar com seus amigos e que seus pais vêm esse final
de semana para a sua formatura, mas hoje você vai comemorar comigo.
— Mas eu…
— Não foi uma pergunta, cristal — diz e morde meu lábio. Thomas
abre a porta do carro e eu entro. Sento e continuo encarando o buquê,
passando os dedos nas pétalas macias sem conseguir acreditar.
Meu coração se aperta todo, que nem faz toda vez que lembro que isso
não é real.
Thomas dirige por muitos minutos em silêncio, e eu dou um pulinho
no lugar quando ele aperta meu joelho.
— O que está acontecendo com você hoje? — pergunta e eu vejo que
chegamos de novo no hotel. Olho para ele e Thomas tem a sobrancelha
vincada. — Achei que estava nervosa por causa da prova, mas você continua
assustadoramente quieta. O que está acontecendo?
Faço que não com a cabeça e ele ergue uma sobrancelha.
— Quantas vezes eu vou ter que dizer que…
— Se você faz uma pergunta é porque quer a resposta, eu sei — digo.
Ele aperta os olhos para mim e sai do carro sem falar nada. Abre a minha
porta e me ajuda a sair. Mas ao invés de ir para o elevador, ele me leva para
os fundos do hotel. — Onde estamos indo?
— Você vai ver — ele diz.
Estranho quando entramos a área bonita onde fica a piscina e demoro
alguns segundos para conseguir absorver tudo. O lugar está fechado, não tem
mais ninguém aqui, e está inteiro decorado com velas. Tem uma música lenta
tocando no fundo e uma mesa arrumada para o jantar. A piscina também está
iluminada e a água está coberta de flores.
— Thomas… — digo com os olhos marejados. Ele apoia a mão na
base das minhas costas e me conduz até a mesa.
— Você merece uma comemoração decente, Cecília. Você parece que
adora esse lugar, então achei que ia ser uma boa escolha — diz no meu
ouvido por trás. — Assisti você se esforçando muito nesses meses.
Viro de frente para ele, olhando para o seu rosto sem entender. Thomas
parece um garotinho perdido e fecha os olhos quando eu toco no seu rosto.
— Não parece muito coisa sua fazer isso — digo baixinho. — Está
lindo e… romântico — falo a última palavra quase em um sussurro.
Ela tira as flores que ainda estou segurando da minha mão e me puxa
pela cintura com força.
— Já desisti de entender o que você está fazendo comigo, garota. Só
janta comigo, está bem?
Faço que sim com a cabeça e ele puxa a cadeira para eu me sentar.
Thomas serve vinho da garrafa que está no gelo e se senta ao meu lado. Não
consigo parar de olhar para ele com um sorriso bobo no rosto, e ele continua
me olhando como se não soubesse o que fazer, até que desvia o olhar.
— Eu tenho uma coisa para você — diz e pega uma caixinha de dentro
do bolso do paletó. — Presente de formatura.
Ele me entrega a caixinha e me olha com atenção enquanto eu abro.
Ofego quando vejo o que tem dentro. Eu estava esperando uma joia ou
alguma coisa assim, mas só tem um cartão. Pego o pedaço de papel com os
dedos tremendo e meus olhos marejam quando leio.
— Cecília Magalhães, gerente de contabilidade — leio com a voz
trêmula no cartão de visitar com a logomarca da empresa de Thomas. —
Mas…
— Você merece isso — ele diz, me olhando com atenção. — Não vou
te enfiar na empresa como diretora de nada, você acabou de se formar e
precisa aprender muita coisa ainda, mas se trabalhar duro para…
Ele nunca termina a frase, porque eu me jogo no seu colo e Thomas
precisa me segurar para eu não cair e não o derrubar comigo.
— Obrigada — digo no seu ouvido e as lágrimas começam a cair pelo
meu rosto.
Eu soluço, sem conseguir prender o choro, e ele me abraça ainda mais
apertado.
— O que foi? — pergunta e acaricia meu cabelo. Tento me agarrar no
seu pescoço, mas Thomas se afasta para olhar meu rosto. — Por que você
está chorando?
— Eu… — Fungo e seco as lágrimas da minha bochecha. Thomas me
olha confuso e preocupado. — O combinado era que eu podia ficar até
terminar a faculdade, mas você disse… Você disse que eu nunca ia trabalhar
na empresa. Achei… — Dou de ombros e desvio o olhar, mas ele puxa meu
queixo para cima e me faz olhar para ele de novo. — Era o que estava no
contrato.
Thomas não tira os olhos dos meus. Vejo alguma coisa nos olhos azuis
escurecidos que me encaram assim de perto, mas não tenho certeza do que é.
Ele acaricia minha bochecha e me puxa para mais perto.
— Não vamos falar de contrato hoje, tudo bem? — diz, arrastando a
boca na minha. Eu me movo no seu colo para conseguir me encaixar com as
pernas abertas ao redor das dele. A outra mão dele aperta minha coxa por
baixo do vestido. — Hoje a gente só comemora.
— Não tem contrato hoje à noite? — pergunto na sua boca. Thomas
hesita, mas respira fundo e faz que não com a cabeça. Desço as mãos pelo seu
peito e começo a desabotoar sua camisa. Toco a pele quente e os músculos
firmes, e desço a mão até o botão da sua calça.
— O que você está fazendo, cristal? — pergunta, mas não me para.
Thomas geme rouco na minha boca quando alcanço dentro da sua cueca.
— Quero fazer amor com você. Sem contrato — falo baixinho. Ele
aperta minha bunda com força.
— Fazer amor? — pergunta com uma risada, mas não é a sua risada
debochada de sempre. Posso estar ficando louca, mas parece que é de
nervoso.
Faço que sim com a cabeça e puxo seu membro ereto para fora da
calça. Thomas afasta minha calcinha para o lado e eu me encaixo nele.
— Só hoje — peço. — Por favor.
Ele me agarra pela cintura e me puxa para baixo. Geme junto comigo
quando eu me encaixo nele. Depois desses meses todos, já aprendi como ele
gosta, então começo a me mexer para cima e para baixo rápido, mas ele me
para e me segura no lugar. Coloca a boca no meu ouvido.
— Você gosta devagar — ele fala e beija meu pescoço. Com as duas
mãos na minha cintura, ele começa a me conduzir para cima e para baixo
devagar. — Só hoje — repete.
Concordo com a cabeça.
— Só hoje.
CAPÍTULO 24
Cecília Magalhães
Kelly está a ponto de me bater porque não consegue terminar a minha
maquiagem.
— Não quero ficar parecendo um palhaço — reclamo quando ela volta
com o pincel com a sombra para olhos para perto de mim.
— Não vai! — ela grita comigo e me dá um tapa. — Fica quieta e me
deixa te maquiar em paz. Você só não está acostumada a usar maquiagem.
— Eu não gosto! — eu reclamo, mas ela me ignora e continua me
maquiando.
— Não me interessa — ela responde e pega um batom vermelho. —
Fica quieta. O Thomas vai gostar de te ver assim.
Sinto meu pescoço pegar fogo e o sorriso que Kelly me dá me prova
que estou mesmo toda corada.
— Ele não liga — eu respondo e dou de ombros. Kelly revira os olhos.
— Acha que eu não vejo o jeito que ele te olha? — ela implica. — Ele
só falta te comer no meio da rua todas as vezes.
— Claro que não! — protesto. Ela me ignora, tampa o batom e abre
um sorriso.
— Você está linda, Cecília.
Kelly me ajuda a me levantar e eu me olho no espelho com a boca
aberta. Eu realmente estou muito bonita.
O vestido que a gente comprou há alguns dias está lindo no meu corpo.
Apertado nos lugares certos, longo e com uma frenda grande na minha coxa.
Escolhi verde para combinar com o cordão que Thomas me deu há alguns
meses.
Kelly também está maravilhosa no vestido que ela escolheu, mas não
tenho tempo de dizer isso porque tem uma batida na porta e a cabeça de
Thomas aparece no vão um segundo depois.
— Seus pais estão te esperando, Cecí…
Ele para na metade da frase e termina de abrir a porta. Encosta no
batente de cruza os braços na frente do peito. Eu o vejo pelo reflexo do
espelho e consigo sentir seus olhos me queimando daqui. Ele está lindo
dentro do terno preto, todo arrumado para a festa também.
— Vocês já acabaram de se arrumar? — ele pergunta com a voz rouca.
Faço que sim com a cabeça. — Kelly, você pode nos dar um minuto?
Minha amiga abre um sorriso malicioso e pega sua bolsinha que está
na cama. Me dá um beijo estalado na bochecha e sussurra:
— Tenta não bagunçar muito o cabelo.
— Kelly!
Ela ri, pisca para mim e vai para a porta.
— O motorista já está esperando lá embaixo — Thomas diz para ela e
depois entra no quarto e tranca a porta.
— Gostou? — pergunto baixinho. Ele vem na minha direção, andando
bem devagar e fazendo meu nervosismo aumentar.
Thomas para atrás de mim e coloca a mão nas minhas costas onde o
vestido não cobre.
— Você está uma delícia — fala no meu ouvido. Mordo o lábio e ele
desce a mão até a minha bunda. — Não sei se quero te deixar sair desse
quarto assim, toda gostosinha desse jeito.
Jogo a cabeça para trás e a apoio no seu ombro. Ele beija meu pescoço
e aperta meu seio por cima do vestido.
— Está avisada que vou rasgar esse vestido de você mais tarde —
avisa. — Então é melhor você não beber demais nessa festa, cristal, porque
preciso de você bem acordada quando chegar.
Thomas me vira de frente para ele e me segura pela cintura. Ele me
beija sem aquela brutalidade toda, como tem sido desde aquela noite. Ele
disse que ia ser “só hoje”, mas faz quase uma semana que a gente tem feito
amor, bem devagar daquele jeito, carinhoso. E é assim que ele me beija
agora, e me deixa completamente sem ar.
— Seus pais estão te esperando lá embaixo. Vamos antes que eu te
coloque de quatro nessa cama.
Thomas me arrasta pela mão para fora do quarto e me puxa de novo
para os seus braços assim que estamos sozinhos no elevador.
— Você só quer saber de me levar para a cama — reclamo. Ele tomba
a cabeça para o lado e segura meu queixo.
— Está reclamando que eu quero foder você o tempo inteiro? — ele
pergunta com a boca na minha. — Porque eu quero mesmo.
Estremeço com a boca suja dele e Thomas me puxa para mais perto.
— Mas não, Cecília, não é só isso que eu quero de você.
Pisco surpresa e ele beija meu pescoço com doçura.
— E o que mais você…
Não consigo terminar a pergunta porque o elevador chega no térreo e
vejo meus pais me esperando ali. Papai tem a cara fechada olhando para mim
e para Thomas assim tão perto, e eu praticamente pulo para fora dos braços
dele. Mas Thomas não deixa e me puxa de novo para perto, enlaça meu braço
no seu e caminha comigo até onde eles estão. Mamãe me dá um beijo no
rosto.
— Você está linda, querida — ela diz e eu sorrio.
Quando papai vem me abraçar, respiro fundo e ele percebe.
— Espero que um dia você consiga me perdoar por tudo, meu amor —
ele diz e passa os braços ao meu redor.
— Está tudo bem, papai — digo e forço um sorriso. — Ainda estou
magoada, mas vai passar.
Sei disso, principalmente quando sinto a mão de Thomas de novo na
minha cintura quando me conduz para o carro.

Consigo sentir os olhos de Thomas me queimando a noite inteira. Onde


quer que eu olhe, ele está lá. Mas ele não se aproxima e me deixa me divertir
com os meus amigos de curso, dançar, beber, gritar até ficar rouca. Meu
coração se aquece por isso. Kelly já está mais para lá do que para cá, e eu
estou há algumas horas já tentando fugir de Josh, que também já bebeu mais
do que devia e insiste em vir atrás de mim.
E a festa não está nem longe de acabar.
A cerimônia da formatura aconteceu há algumas horas. Depois da
entrega do diploma, todos os pais foram fazer outra coisa e a festa é só para
os formandos. Então o pessoal está realmente perdendo a linha e
comemorando com tudo que tem direito.
Quando a música muda para uma música lenta, começo a olhar ao
redor para tentar encontrar Thomas. Antes que eu consiga, Josh me acha e
tenta me puxar para dançar.
— Não, eu não quero — digo, sorrindo para tentar ser educada, mas
ele insiste e me puxa. Solto um “ai” baixinho porque o aperto no meu braço
dói e ele me segura com força no seu peito.
— Só uma dança, Cecil — ele fala e consigo sentir o cheiro de bebida
na sua boca.
Droga, Thomas! Foi sumir logo agora?
— Josh…
— O que você viu naquele velho? — ele pergunta com a voz bêbada.
— Eu passei os últimos quatro anos tentando te convencer a sair comigo, e aí
você fica com um cara que tem idade para ser seu pai?
— Você é só um amigo, Josh, eu já te disse isso várias vezes — falo
com cuidado, porque não quero o magoar. Ele ri e me aperta mais. — Tá,
agora você está me machucando. Me solta — peço e tento puxar o braço, mas
ele não larga. — Josh, você…
— Eu estava mesmo procurando um motivo para socar a sua cara. —
Eu estremeço quando ouço a voz de Thomas e vejo a mão dele apertando o
ombro de Josh, que me solta na mesma hora. Thomas olha para mim e eu
faço que não com a cabeça desesperadamente. Ele fica irritado, mas faz o que
eu peço. — Some da minha frente, moleque, que da próxima vez que eu te
encontrar sozinho, vão precisar te buscar no hospital.
Josh sai correndo e Thomas me puxa para ele.
— Você está bem? — pergunta. Faço que sim com a cabeça.
— Você não precisava falar com ele assim.
Thomas ergue uma sobrancelha.
— Vai defender o filho da puta agora? — pergunta irritado. Reviro os
olhos e ele me prende pela cintura. — Quantas vezes vou ter que repetir que
você é minha?
Mordo o lábio e ele me conduz no ritmo lento da música.
— Sou? — pergunto depois de alguns minutos. — Eu sou sua mesmo?
Thomas suspira e apoia a testa na minha.
— Você é minha, Cecília — garante, acariciando minhas costas. —
Toda minha, inteira minha.
Esqueço que estamos no meio de um monte de gente quando ele
começa a beijar meu pescoço e me agarro nos braços dele.
— E você… — Ofego, perdendo a voz quando a mão dele vai para a
minha bunda. — Você é meu também?
Sinto o corpo inteiro de Thomas enrijecer com a pergunta e me
arrependo imediatamente do que disse.
— Esquece, eu não…
Ele me beija e não me deixa terminar a frase. Quando me solta, coloca
a boca no meu ouvido.
— Você ainda quer aquela coisa de mãos dadas e não sei mais o que,
cristal, e eu não… — Ele respira fundo. — Não sei como fazer essas coisas.
Não fui feito para isso.
— Mas…
— A gente vai casar — ele fala no meu ouvido. — E eu vou respeitar
esse casamento. Vou cuidar de você. Vou tentar te fazer feliz.
Sinto meus olhos marejados e apoio a testa no seu ombro. Isso não foi
um “sim”. Ele não disse que é meu. E eu quero tanto que seja…
— Me leva embora? — peço. Thomas se afasta e me olha confuso.
— A festa ainda não acabou.
— Eu sei, só… Quero ir embora.
Thomas analisa meu rosto com o cenho vincado e faz que sim com a
cabeça. Segura minha mão com firmeza e me conduz até a saída. Quando a
gente chega do lado de fora e a música não está tão alta, ele me beija de novo.
— Vou pedir para o manobrista trazer o carro — ele diz. Um vento frio
bate e eu estremeço. Thomas tira o paletó e o coloca em volta dos meus
braços. Beija minha testa e se afasta.
Abraço meu próprio corpo, enroscando o paletó em volta de mim, e
pisco várias vezes para não chorar feito uma boba. É estranho demais. Nós
dois estamos vivendo como um casal apaixonado, mas Thomas se recusa a
admitir isso. Dói muito pensar que vai ser sempre assim. Que ele vai ser doce
e fofo. Que vai ser romântico, mas nunca vai dar o braço a torcer. Será que
estou pedindo demais?
— Cecília?
Olho por cima do ombro e vejo um homem dentro de um uniforme
preto e branco de aproxima com uma chave de carro na mão,
— Cecília Magalhães? — pergunta de novo. Faço que sim com a
cabeça. — O senhor Albuquerque pediu para te levar até o carro.
Estranho e franzo o cenho, mas faço que sim com a cabeça e começo a
seguir o homem para o estacionamento. Mas só dou alguns passos e paro de
andar. Ele para também e me olha confuso.
— Espera… — falo para mim mesma. O homem se aproxima alguns
passos e sorri.
— Está tudo bem, senhorita? — pergunta. Olho ao redor, só então
notando como o lugar está vazio. — O carro está logo ali.
Nego com a cabeça e dou um passo para trás.
Não. Thomas não faria isso. Ele é insano com a minha segurança, não
ia mandar uma pessoa aleatória qualquer.
— Vou esperar aqui — eu digo e dou outro passo para trás.
O homem para de sorrir e me olha irritado. Ele começa a andar rápido
na minha direção, e eu solto um grito e tento correr, mas não consigo ir longe
com esses saltos.
A próxima coisa que sei é que ele está me segurando e tampando a
minha boca com força com um pano com um cheiro forte.
— Shh… está tudo bem — ele fala no meu ouvido.
Tento me soltar, mas ele aperta mais o pano no meu rosto e eu começo
a me sentir mole, até que eu não vejo mais nada.
CAPÍTULO 25
Thomas de Albuquerque
Volto para a festa para buscar Cecília, mas não a encontro em lugar
nenhum. Olho ao redor, buscando no meio da multidão de alunos bêbados e
descontrolados. Só encontro Kelly, a amiga em que ela vive grudada. Desvio
das pessoas e chego perto dela. Fico na frente da garota, que para de dançar e
me olha com surpresa pela minha aparição na sua frente.
— Você viu a Cecília?
— Eu a vi saindo com um homem, acho que era um dos seguranças
dela — fala e aponta com o polegar para a saída atrás dela.
— Os seguranças não estão aqui hoje — respondo e a garota inclina a
cabeça para o lado, sem entender.
Agradeço e busco cerca de trinta minutos por ela. Nada. Começo a
ficar preocupado, com um sentimento muito ruim no peito. Saio dali e disco
para todos os seguranças que normalmente cuidam de Cecília, pedindo para
que eles tentem a encontrar mesmo que estejam de folga. Em seguida, ligo
para César. Demora para o homem para me atentar.
— Thomas? — fala com um suspiro.
— Cecília está com vocês? — pergunto de uma vez.
— Cristal? Ela não estava com você?
— Se estou te ligando é porque não está, porra! Se isso for algum
plano seu para a levar de mim, César, eu juro que…
Passo a mão pelos cabelos e chuto a roda do carro com força. Onde
diabos ela se meteu?
— Não estou com ela! Já disse! O que…
Desligo sem esperar que ele complete a frase e sem responder nada e
tento discar para seu celular, mesmo sabendo que ela não é muito atenta ao
aparelho. A garota consegue ficar dias sem mexer no celular sem sentir
faltam
Chama, chama e Cecília não atende. Ligo de novo e dessa vez aparece
que o número está fora da área de cobertura.
Dirijo de volta para o hotel olhando pelas ruas para ver se não a
encontro por ali por acaso, mas não a vejo. Onde ela poderia ter ido? Cecília
parecia chateada quando pediu que voltássemos para o hotel. Sei que ela
busca muito mais do que tenho a oferecer, então será que se irritou com isso e
fugiu de mim?
— Porra, Cecília! — Soco o volante e acelero. — Um dia você ainda
me mata do coração, garota.
Paro em frente ao meu hotel e jogo a chave para o manobrista.
Praticamente corro em direção ao elevador. Quando entro em nosso quarto
para a procurar, vejo que as coisas estão exatamente como as deixamos antes
de sairmos. Confiro no banheiro como garantia, e nada.
Meu celular toca e o pego rapidamente do bolso do paletó, achando
que é ela, mas é César.
— Você a encontrou? — pergunta aflito assim que atendo.
— Não. Sabe de algum lugar que ela poderia ter ido?
— Você devia cuidar da minha cristal, seu desgraçado! Claro que não
sei onde ela pode ter ido! Provavelmente para algum lugar longe de você.
— Se não ajuda, não atrapalha! — grito, desligo e jogo o celular em
cima da cama.
Sento no colchão por alguns minutos e penso. Se ela estivesse
chateada, para onde iria? Ou para a casa da amiga ou para o lugar de sempre.
Pego meu aparelho novamente para o caso de ela ligar e corro até a área de
natação. Está vazia. Consigo visualizar Cecília nadando ali, tão provocante e
linda com os cabelos ruivos boiando na água. Me acostumei com essa visão
nos últimos meses.
No caminho de volta para o quarto, encontro alguns funcionários e
pergunto por ela, mas ninguém a viu. Sou interceptado pela gerente do hotel,
que diz que tem alguém lá fora procurando por mim.
— Como o senhor não estava no quarto, não deixei que eles subissem.
O homem e a mulher estão lá fora fazendo um barraco e chamando a atenção
dos hóspedes.
Aceno e ando até lá, vendo César e Paula na entrada, com um misto de
raiva e preocupação estampado em seus rostos.
— Onde está a minha filhinha, Thomas? O que você fez com ela? —
Paula pergunta, gritando, enquanto os seguranças do hotel se aproximam para
conter a confusão.
Ergo um dedo para impedi-los e eles voltam para o lugar na entrada.
— Não fiz nada, porra! Nós estávamos na festa, falei que ia pegar o
carro porque ela pediu para vir para cá e, quando voltei, não a encontrei mais
— falo, andando de um lado para outro, tentando pensar em uma solução, em
alguma pista. Em qualquer coisa!
Por que é tão difícil ser racional quando se trata daquela garota? Por
que é tão difícil manter a frieza que normalmente eu teria para lidar com uma
situação como essa?
— Se algo acontecer com ela, Thomas… — ameaça César, passando a
mão pelos fios de cabelo.
— Nada vai acontecer com ela — repito para me acalmar, mas eu não
tenho certeza de nada se não sei nem onde Cecília. — Não vou deixar nada
acontecer com ela.
Ando de volta para o quarto para pensar sozinho, mas os dois me
seguem sem pedir permissão. Disco para os seguranças quando chego e
nenhum deles encontrou nada dela.
— Continuem procurando. Vocês só dormem hoje quando eu encontrar
a Cecília, entendidos? Encontrem ela! — mando um áudio e encaminho para
todos eles no aplicativo de mensagem.
— Minha menina… — Paula choraminga e se senta na cadeira no
canto do quarto. — Onde minha menina pode ter ido? O que você falou para
ela? O que você fez para ela?
— Já disse que não fiz nada, caralho! — Pego um jarro em cima da
mesa de cabeceira e acerto a parede com força, na direção oposta à de Paula.
— Que inferno! Eu não fiz nada!
— Eu não acredito! Ela deve ter se magoado. Cecília é doce, sensível e
se machuca com facilidade. Você é um brutamontes que não a merece. —
Paula se levanta e fica de frente para mim. — Se tiver algo a ver com isso,
Thomas, eu juro que mato você.
Ignoro o que ela diz, porque posso entender que está preocupada. Mas
estou puto. Puto por não saber como encontrar Cecília e ainda por ter essas
pessoas buzinando no meu ouvido. Se isso for mais uma das coisas daquela
garota, juro que não aguento.
— Vamos ligar para a polícia — César fala, com o rosto entre as mãos,
sentado no colchão. — E se ela estiver machucada em algum lugar por aí?
Minha menina, eu morro sem ela.
Sacudo a cabeça rapidamente, porque não gosto de pensar nessa
possibilidade. Me… machuca pensar nisso. Me sento ao lado de César na
cama, enquanto ele liga para a polícia.
Penso nela.
No rosto doce e travesso ao mesmo tempo, me olhando com os olhos
grandes e amáveis, esperando por alguma declaração, por qualquer sinal de
que o que tínhamos era mais do que um contrato, do que essa porra de
vingança. Cecília estava praticamente implorando que eu dissesse qualquer
coisa, mas meu medo me travou. Eu vivi os melhores meses da minha vida
com aquela garota enlouquecedora dos diabos. Passei anos fugindo de
qualquer mulher grudenta e me apaixonei justamente por uma garota maluca
que era para ser um negócio, uma merda de vingança.
A minha garota maluca.
Não a ter aqui ao meu lado, me encarando daquele jeito doce que só
ela me olha, vendo muito mais do que eu mostro para o mundo, me
enlouquece. Por que não falei para ela a verdade? Por que a deixei pensar que
não era a dona do meu coração, do meu corpo?
Ela só queria que eu dissesse que era dela. E eu sou.
Jogo tudo o que encontro no chão, e Paula choraminga mais de
desespero, enquanto César ainda fala ao telefone.
— Eu preciso a achar — falo e empurro a testa nas palmas das mãos.
— Não posso ficar sem ela.
— A polícia disse que tem que esperar um prazo para começarem a
buscar por ela, só assim é considerado desaparecimento — César fala e eu
xingo.
— Foda-se a porra da polícia!
Eu me levanto e pego meu celular quando ele toca novamente. É um
número desconhecido.
— Alô?
— Ora, ora, Thomas de Albuquerque — um homem fala em português
do outro lado da linha, mas não identifico quem é. — Se não é o CEO mais
durão do Brasil.
— O que você quer? Quem é?
— Não se lembra de mim, amigão? Que decepção, Thomas. — Ele
solta um suspiro dramático demais e eu me alerto. Sinto que o problema está
ali. — Na hora de foder com a minha vida, você se lembrou muito bem de
mim. Não foi, Thomas? Eu estava esperando aquele contrato e você o tirou
de mim. É ruim quando as coisas são arrancadas à força da gente, não é?
E então eu entendo.
— Seu filho da puta! Onde ela está?
Vejo Paula e César se aproximarem de mim, com os olhos arregalados
e fazendo gestos com a cabeça, perguntando sobre a filha.
— Calma, calma, Thomas. Ela está bem. Devo dizer que valeu a pena
ter vindo de tão longe para conhecer a sua preciosa — ele fala e escuto
barulhos do outro lado da linha. — Finalmente encontrei a sua fraqueza
depois de anos, Thomas. Anos esperando uma chance para te foder, sem
nenhuma brecha.
— Devolve a minha mulher, seu filho da puta! Ou eu vou te matar com
as minhas próprias mãos! Desgraçado!
Ele ri do outro lado da linha e escuto gritos que arrepiam meu corpo,
porque sei que são de Cecília.
— Ela morde — ele diz rindo. — É bravinha a sua mulherzinha. Será
que ela arranha também? Consigo pensar várias formas de ela me arranhar.
Passo a mão pelos cabelos e ando de um lado para o outro, tentando
pensar.
— O que você quer, infeliz?
— O que acha, Thomas? Dinheiro. Muito dinheiro. O suficiente para
conseguir reerguer a minha empresa.
Escuto mais um grito bravo de Cecília e xingo uma infinidades de
palavrões.
— Quanto, porra? Vá direto ao assunto!
— Vou te mandar um endereço com a quantia e com o lugar que você
precisa ir — ele diz ainda com o tom de zombaria na voz.
Desgraçado! Não sei nem quem é o infeliz. Já destruí muitas pessoas
para atingir meus objetivos. Nunca me importei com isso, até me tirarem
Cecília. Eu vou foder com esse desgraçado por ter mexido com ela. Vou fazer
o filho da puta se arrepender de ter cruzado o meu caminho.
— Já sabe, não é? Se vier com gracinha, a princesinha não vai
sobreviver. Venha sozinho. Você tem até meia-noite.
Ele desliga na minha cara e xingo. Logo recebo a mensagem com o
que ele quer. É um valor absurdo que o insano quer, o suficiente para
atrapalhar meus planos de consertar a merda que César fez. Xingo alto e os
dois vêm para cima de mim.
— O que foi? — Paula pergunta. — Era sobre ela?
— Era. Ela foi sequestrada por um lunático. Ele quer o resgate.
— Ai, meu Deus.
A mulher desaba na cama aos prantos e César se aproxima de mim
quando tiro o terno e o jogo para longe. Busco a arma que tenho guardada e a
coloco na cintura.
— Para onde vai? Eu vou com você — César fala, se aproximando de
mim quando faço menção a sair.
— Eu vou sozinho. Você só vai atrapalhar.
— Ela é a porra da minha filha! Está maluco se acha que vou te deixar
ir sem mim — berra, com o rosto vermelho de raiva.
— Liga para a polícia e para os meus seguranças e fala para eles irem
para esse endereço, Paula. Peça discrição, por favor.
Mando as informações para o celular dela e a mulher acena, ainda
chorando.
Saio do hotel e ando apressado até o carro. César vem no meu encalço
e entra no veículo sem que eu autorize.
— Qual seu plano? Chegar lá e invadir. Com certeza têm um monte de
gente com ela.
— Não pensei nisso. Eu só… — Aperto as mãos no veículo, sentindo
raiva e desespero tomando conta de mim. — Só preciso da minha garota de
volta. Eu preciso dela, César.
O homem me olha, vejo isso de canto de olho.
— Tudo bem. Nós vamos a encontrar.
CAPÍTULO 26
Thomas de Albuquerque
Quando eu e César chegamos no lugar indicado na mensagem, vejo
que é uma casa escura e isolada. Faço um sinal para que ele fique do lado de
fora, na lateral. Espero alguns minutos para que dê tempo de os seguranças
chegarem porque não sou idiota de entrar em um lugar desconhecido sem
saber com quem e onde estou me metendo. Assim que os homens aparecem,
sei que preciso agir rápido, antes da polícia. Não confio em ninguém para
manter Cecília em segurança, não depois dessa.
Eles ficam escondidos, com as armas em mãos, enquanto vou para a
frente da casa. Mal bato e um homem grisalho abre. Ele abre um sorriso
imenso ao me ver e faz um gesto para que eu entre, como se eu fosse um
convidado ali.
Observo a tudo com atenção e procuro mais homens, com armas e
capuzes na cara como os filmes que a gente vê, mas está só o homem ali.
— Ela não está aqui, Thomas. Cadê o dinheiro? Você não está com
nada.
— Você acha que sou idiota de andar por aí com aquela quantia em
dólares. Queria o quê? Que eu chegasse com um caminhão? Quero ver
Cecília primeiro.
Ele para, pensa e eu o observo. Procuro por alguma arma, mas ou ele é
burro demais ou confiante demais, porque não encontro nenhuma por perto e
nem no seu corpo.
— Vai na frente. Ela está no porão. Não vou dar as costas para você.
Ele me guia pela casa e olho a tudo atentamente. Que tipo de
sequestrador de merda é esse que não tem homens armados para proteger a
refém? Assim que chegamos em frente à porta do porão, o infeliz me entrega
uma chave para que eu abra e eu faço.
— Espero que ela esteja bem, desgraçado — rosno e escuto um clique
de uma arma na minha cabeça.
— Você não tem que esperar nada, Thomas de Albuquerque. Entra.
Ele me guia pela escuridão e escuto um grito abafado. Quando o
homem acende a luz, vejo Cecília amarrada em uma cadeira, sacudindo o
corpo para se soltar.
— Filho de uma puta! — Eu me viro para agredir o homem e ele
encaixa o dedo no gatilho.
Paro. Se eu fizer alguma coisa impulsiva agora, quem vai pagar é
Cecília.
— Quer saber, Thomas, acho que quero mais do que dinheiro — ele
fala, como um louco. — O único herdeiro da maior rede de hotéis do Brasil
tem mais para me oferecer, diz aí? Acho que vou te usar como refém.
Solto uma risada amarga e me viro para olhar para ele, mesmo que a
arma esteja bem no meio da minha testa.
— E quem vai me sequestrar? Você?
Ele aperta o maxilar.
— Você me subestima, seja lá qual for seu nome. Você não me
conhece de verdade, não é — digo, me aproximando dele devagar. —
Ninguém me ameaça, pega o que é meu e fica por isso mesmo. Você não vai
me matar porque precisa de mim se quiser o seu dinheiro, seu maldito. E
você não vai tocar na minha mulher. Porque ninguém toca nela, porra!
Seus olhos se arregalam pela minha raiva e ele vira a arma em direção
à Cecília.
Quando faz isso, perco completamente o controle e me coloco na
frente dele. O tapa que dou na sua mão faz a arma cair no chão. Ele tenta
pegar, mas eu monto nele antes que consiga.
Fico cego de ódio, como sempre é quando as coisas saem do controle
das minhas mãos. Soco seu rosto várias vezes mesmo depois de ele desmaiar.
Fico em uma espécie de transe e só paro quando escuto os gritos de Cecília
abafados pelo pano.
Eu me olho para ela sentada naquela cadeira, com a pele branca do
rosto avermelhada. Só aí me dou conta de que ela é a minha prioridade no
momento. Vou até lá e me agacho para desamarrar o nó das cordas que a
prendem nas pernas e nos punhos. Tiro também a mordaça da sua boca e a
garota se joga nos meus braços. Eu a aperto com força enquanto ela chora.
— Estava com tanto medo de nunca mais te ver, Thomas. Eu sabia que
ia me achar — fala soluçando e eu a aperto mais.
— Você não vai se livrar de mim nem tão cedo, cristal. Estou aqui.
Respiro acelerado e algo que nunca acontecer comigo antes decide
acontecer justo agora. Não sei se de alívio, de ódio ou se de outra coisa, mas
o choro que vem alivia minha alma junto com o de Cecília.
— Está tudo bem, linda. Ninguém vai machucar você. Estou aqui. —
Ela soluça forte contra meu peito e me abraça como se eu fosse seu salvador.
— Thomas… — sussurra e levanta o rosto. Os olhos vermelhos e
inchados me encaram com surpresa ao ver as lágrimas que escorrem do meu
rosto. — Você está chorando?
— Eu não… — Não consigo falar nada, apenas a puxo para mais perto
de mim. — Fica aqui comigo um minuto.
Não temos esse minuto todo, porque logo César entra ali com os
seguranças e a polícia logo atrás. Eles vão direto no corpo deitado no chão e
escuto de um dos policiais:
— Ele está vivo.
Cecília chora mais nos meus braços e me viro para César, o vendo
surpreso ao nos ver assim.
— Meu cristal… — ele fala baixo e se aproxima com receio.
— Papai! — Ela se solta de mim mesmo que eu não esteja preparado
para a ter longe de mim ainda. — Fiquei com tanto de morrer antes de dizer
que eu te perdoo. Eu te perdoo.
Ele também chora junto com ela, a abraça com força e acaricia seu
cabelos. Fala palavras para a tranquilizar enquanto os policiais me chamam.
Sei que uma longa burocracia vai começar agora. Vou ter que
responder uma série de perguntas antes de me livrar desse pesadelo de vez.
— Você vai ter que vir com a gente, senhor — fala um homem alto
enquanto digita algo no celular.
Aceno e olho para Cecília.
— Quero ir com você — diz e se afasta do César.
— Cristal, você precisa descansar.
— Nós precisamos do depoimento dela também — o policial diz e eu
suspiro. Aceno em concordância.
Tudo o que eu queria era ir para o hotel para ter Cecília ao meu lado o
tempo inteiro, mas preciso me livrar disso primeiro.

Após duas horas, nós finalmente fomos liberados depois de um


interrogatório detalhado. Ainda bem que é o desgraçado não morreu, porque
isso ia ser só uma pedra no meu sapato. Também não vou ser indiciado por
agressão porque até mesmo em um país como esse existe certa… facilidade
em escapar de certas situações quando se tem dinheiro. Eles alegaram
legítima defesa e me liberaram.
Cecília já foi para casa antes que eu, porque ela estava cansada e
passou por traumas demais por hoje. Saio dali e encontro César do lado de
fora da delegacia me esperando.
Ele se aproxima devagar, com as mãos nos bolsos.
— Obrigado. Nunca vou conseguir te agradecer. Não sei o que seria de
mim sem ela.
— Tudo bem. O importante é que Cecília fique bem — falo e suspiro.
Ainda estou sentindo uma adrenalina e uma raiva absurdas só pela ideia de
perder aquela garota.
— Cuida dela.
Aceno e começo a me afastar, mas César me chama.
— O que fez você confiar nela? — pergunta e eu franzo a testa, sem
entender o que o homem quis dizer. — O que fez você confiar nela mesmo
depois do que eu te fiz? Ela me contou sobre o cargo na empresa e todo o
resto.
— Ela conquistou meu coração. — Dou de ombros e ele sorri fraco.
Acena em seguida e parece pensar.
— Nunca pensei que um dia você fosse se apaixonar pela minha filha.
Quando te enchia o saco para que gostasse de alguém, não foi isso o que
pensei.
Fico calado.
— Um dia você vai me desculpar? Não quis mesmo te foder pelas
costas. Foi mais um ato de desespero.
— Não sei, César — respondo cansado. — Não esperava me apaixonar
por uma garota, e aqui estou eu, doido para sair daqui para ir até ela, para ver
se ela está bem. Então, não sei. O tempo dirá.
César está surpreso. Ele acena com a cabeça e sai em silêncio. Não
demoro para entrar no carro e ir para o hotel. Minhas mãos estão doloridas
pelos socos que dei no desgraçado. Eu as estico para tentar aliviar e estaciono
em frente ao hotel. Não sei que horas são, mas tenho a impressão de que o dia
está quase amanhecendo pelo céu. O manobrista olha chocado para minha
mão enquanto o entrego a chave, mas logo se recompõe.
Subo pelo elevador que parece lento demais e bato na porta, porque
não sei onde enfiei as chaves. É Cecília quem abre, com os olhos cheios de
lágrimas e o rosto todo vermelho. Ela me aperta de novo em um abraço e
cheiro seu pescoço.
— Que bom que chegou. Fiquei preocupada de eles de prenderem e…
— Shh, está tudo bem.
Eu entro com ela e vejo Paula sentada ali. Ela também está com uma
expressão de choro no rosto.
— Obrigada, Thomas. Muito obrigada. — Me choco quando a mulher
levanta e me abraça. Apoio uma mão nas suas costas de leve. — Já vou.
Descansa, meu amor. Amanhã eu volto bem cedo.
— Obrigada, mamãe.
Elas se despedem com um abraço apertado. Enquanto Cecília a
acompanha até a porta, eu me livro da arma que estava na cintura, guardando
no cofre do hotel. Quando minha garota volta, eu a puxo pela cintura e
afundo minha boca na sua. Puxo os fios ruivos e molhados com força e a
aperto.
— Fiquei louco de medo de te perder, Cecília. Eu nunca senti tanto…
medo na minha vida inteira — desabafo e ela arregala os olhos. — Eu achei
que o mais importante na minha vida fosse a empresa, até quase perder você.
— Thomas… — sussurra com um sorriso pequeno no rosto.
— Vem, toma um banho comigo.
Ela acena e me ajuda a tirar a roupa. Me desfaço dos seus pijamas e a
levo comigo até o banheiro. Encho a banheira, deito ali e a chamo com os
braços enquanto enche mesmo.
Cecília se deita de costas após prender o cabelo em um coque. Me
estico para pegar a bucha e o sabonete líquido e a esfrego.
— Ele machucou você? — pergunto e olho para seu corpo para
conferir.
— Não, ele era um idiota que só sabia ladrar — fala baixinho. — Você
me salvou. Obrigada.
— Eu ia o matar — falo e ela pega a minha mão, limpando os
ferimentos avermelhados.
— Eu sei. Mas está tudo bem agora. Nós vamos ficar bem, não vamos?
— pergunta baixinho.
Fico calado e sinto meu coração bater acelerado contra as suas costas.
Encosto a boca no seu ouvido e a aperto. Cheiro seu pescoço, a sua orelha e
sussurro.
— Eu… amo você, Cecília.
Sinto seu corpo travando, mas logo ela tenta se virar. Não deixo. Não
quero que ela me veja assim tão vulnerável porque é novo demais para mim.
— Me deixa olhar para você — pede e eu suspiro.
Ela se vira e me olha com um sorriso que faz valer a pena cada
desgraça desse mundo.
— Você me ama? — pergunta baixinho e mordo os lábios antes de
acenar. — Ama de verdade?
— Amo, garota pentelha — falo e abro um sorriso fraco.
— Ah, Thomas… Eu te amo muito mais.
Cecília joga os braços ao redor do meu pescoço e me beija todo.
— Eu te amo há tanto tempo e não aguentava mais guardar isso com
medo de você sumir da minha vida.
— Não vou sumir, cristal. — Retribuo o aperto. — Nunca. Você é
minha. Se esqueceu?
— Eu sou. Toda sua.
CAPÍTULO 27
Cecília Magalhães
Eu nunca pensei que ia passar por uma coisa dessas. No meu
planejamento de vida estava me formar, começar a trabalhar com papai, casar
com um homem que me ama mais que tudo na vida e ter muitos filhos com
ele. Ser sequestrada definitivamente não estava na lista.
Confesso que fiquei com medo de Thomas não aparecer. Ao mesmo
tempo em que eu tinha certeza de que ele faria de tudo para me encontrar, um
pedacinho do meu coração estava com medo de ele não aparecer.
Mas quando Thomas disse que me ama, todos esses medos ficaram de
lado. Ele me ama! Meu Deus, a bagunça que tudo virou nos últimos meses. E
eu nem acredito que está quase no fim. A faculdade já acabou e vamos voltar
para o Brasil em breve. Minhas coisas já estão arrumadas e Thomas está
resolvendo algumas coisas da empresa, então aproveito para me despedir de
Kelly.
— Eu nem acredito que essa é a última vez que você fez compras
comigo! — ela reclama e faz um bico. Eu rio e me sento na cadeira do
restaurante para onde ela me arrastou depois de entrar em cada uma das lojas
do shopping. Ela tem mais sacolas do que posso contar, e eu acabei
comprando uma coisa ou outra para mim também.
— Não é a última vez! — digo e rio quando o bico dela aumenta. —
Eu venho te visitar. E você precisa prometer que vai me visitar também.
Sinto meus olhos marejados com a saudade que vou sentir dela. Kelly
foi minha melhor amiga por muitos anos e não consigo imaginar como minha
vida vai ser sem as loucuras dela todos os dias.
O garçom chega e nós pedimos nossa comida. Quando ele vai embora,
ela segura minha mão em cima da mesa.
— Animada? — ela pergunta com os olhos brilhando. — Pronta para ir
embora com o CEO bonitão?
Sinto meu rosto esquentar e desvio o olhar. Kelly ri e me dá um tapa na
mão.
— Ainda não consigo acreditar nisso tudo — falo e mordo o lábio. —
Em algumas semanas, eu vou começar o emprego que sempre sonhei em ter,
vou morar perto dos meus pais de novo…
— Vai se casar com o CEO bonitão.
— Para de falar “CEO bonitão”! — reclamo e ela ri.
— Você achou seu príncipe encantado no fim das contas — ela fala e
abre um sorriso enorme. — Uma história de amor como você sempre quis.
— Com direito a sequestro e tudo — comento e faço uma careta.
Ainda tenho pesadelos com aquele dia. Já faz quase um mês e o cara foi
preso. Thomas não desgrudou de mim desde então e não me deixa sair de
debaixo das suas vistas, e eu gosto, me sinto segura assim.
— Você está bem? — ela pergunta me olhando preocupada. Faço que
sim com a cabeça. Estou sim. — Fiquei tão preocupada quando soube,
Cecília!
— Thomas estava lá — digo depois de alguns segundos. E é tudo que
eu preciso dizer, porque é a única verdade que importa. Thomas estava lá e eu
entendi que ele sempre vai estar lá. Sempre vai estar comigo, sempre vai
cuidar de mim.
As coisas podem ter começado de um jeito muito errado, mas nada
disso importa mais. E eu estou muito, muito pronta para o resto da minha
vida com ele.

Ainda estou meio grogue por causa da mudança de fuso horário desde
que voltamos para São Paulo. Faz alguns dias só e ainda não me acostumei.
Estou dormindo mais do que o normal e ando me sentindo cansada
ultimamente, então realmente espero que melhore logo, porque preciso
trabalhar.
Fiquei nervosa no meu primeiro dia, mas agora já peguei o ritmo da
coisa e estou adorando cada segundo. Thomas não perdeu tempo e mergulho
direto no trabalho logo que chegamos aqui. Ele está mesmo decidido a
colocar esse lugar nos trilhos depois de tudo que papai fez, e está
conseguindo, porque a pilha de trabalho não para de aumentar. Todo mundo
que trabalha na contabilidade está atolado até os cabelos com todos os
contratos e compras e tudo mais que Thomas tem mandado nos últimos dias.
— Cecília?
Um dos homens que trabalha aqui bate na porta da minha sala e entre
segurando uma pasta. Sorrio e ele me entrega a pasta.
— Aqui aqueles relatórios que você pediu. Já está tudo pronto, só
precisa assinar aqui.
— Obrigada.
Olho e confiro tudo. Franzo o cenho porque tem uma parte do relatório
que não parece certa.
— Na verdade… Acho que eu preciso discutir isso aqui com o senhor
Albuquerque — digo. É estranho usar o sobrenome de Thomas assim e toda
vez que faço isso me faz lembrar que em poucos meses vai ser o meu
sobrenome também.
Eu devia estar mais animada com isso, não devia? Vou me casar com o
homem que eu amo e que me ama também, eu devia estar pulando de alegria.
Mas tem um gosto ruim saber que aquele contrato ainda existe.
Pego o elevador até o último andar, que é onda a sala do Thomas fica.
Assim que eu saio do elevador, consigo ouvir os gritos e paro no lugar
apertando a pasta na frente do meu corpo. A secretária dele está com os olhos
arregalados e batendo uma caneta na mesa, nervosa.
— O que aconteceu? — pergunto e ando até ela. A mulher abre a boca,
mas nada sai.
— Algum problema com algum contrato — ela responde com a voz
baixinha. Fiquei amiga da mulher desde que cheguei aqui e ela adora contar
fofocas de tudo que acontece no escritório. — Senhor Albuquerque está
furioso a manhã inteira.
Franzo o cenho e lembro que ele estava mesmo agitado essa manhã
quando saímos de casa.
— Eu vou entrar — aviso e ela só faz que sim com a cabeça e nem se
dá ao trabalho de me anunciar. Bato na porta e entro antes de ele responder.
Thomas está sentado na mesa, furioso, e tem um pobre coitado sentado
na cadeira na frente dele parecendo querer morrer.
— O quão estúpido você é que não consegue fazer uma coisa simples?
— ele pergunta entredentes para o homem, que gagueja e não diz nada com
nada. Thomas olha na minha direção. — E o que você… Cecília?
O grito para na metade do caminho e ele só olha confuso na minha
direção.
— Está tudo bem? — pergunta e escaneia meu corpo de cima a baixo.
Mostro a pasta para ele e Thomas suspira. Aperta o ossinho no meio
dos olhos e olha de novo para o homem.
— Você está esperando um convite para sair daqui e ir fazer o seu
trabalho? — pergunta. O homem praticamente pula no lugar e sai correndo da
sala como um garotinho assustado.
Quando ele fecha a porta atrás de mim, eu rio.
— Do que você está rindo? — ele pergunta e arqueia uma sobrancelha.
Mordo o lábio e ando devagar na direção dele, segurando a pasta na frente do
corpo.
— Você fica uma gracinha todo bravo desse jeito.
A próxima coisa que eu sei é que Thomas me puxa pela cintura e
segura a parte de trás do meu pescoço.
— Gracinha, Cecília? — pergunta bravo. Aceno que sim e ele me
aperta mais. — Vou te mostrar a gracinha, cristal…
Gemo quando ele me beija e morde meu lábio com força. Thomas
aperta minha bunda e eu me seguro nos seus braços. O telefone em cima da
sua mesa toca e ele me solta.
— Puta que pariu — reclama e anda até o outro lado da mesa. Senta na
sua cadeira e atende o telefone. — O que é?
Assisto seu rosto se encher de irritação de novo e Thomas passa a mão
no rosto.
— Pra que eu pago vocês? — pergunta naquele tom irritado. Assisto
por mais alguns segundos e dou a volta na mesa também. Paro atrás dele de
pé na cadeira e coloco as mãos nos seus ombros. — Eu não quero saber das
suas desculpas, preciso desse contrato para hoje. Não, eu não quero saber! —
ele grita.
Arranho seu pescoço com as unhas e ele fecha os olhos. Quando os
abre de novo, os olhos azuis estão escuros. Sento no seu colo e ele aperta o
telefone no ouvido.
— Se você tiver qualquer interesse de ter um emprego na segunda-
feira, é melhor dar um jeito — rosna no telefone.
— Você não precisa ser tão mau assim — sussurro no seu outro
ouvido. Eu beijo seu pescoço e ele aperta a minha cintura.
— Dá um jeito — ele fala ao telefone, mas sua voz está um pouco mais
mansa. Afasto o rosto do seu pescoço e pisco os olhos devagar, daquele jeito
doce que eu sei que o derrete inteiro.
Thomas molda um “Cecília…” com os lábios sem fazer nenhum som e
eu mordo o lábio.
Acaricio seu rosto e beijo a ponta do seu nariz, depois dou um selinho
na sua boca. Ele suspira.
— Tudo bem — ele diz no telefone. — Só… faz o que puder, tudo
bem?
Ele fala mais algumas coisas no telefone, sem gritar com ninguém, e
desliga. Assim que coloca o telefone no lugar, ele me puxa mais para perto.
— Você precisa me deixar trabalhar, garota — fala na minha boca. —
Não vou conseguir manter essa empresa de pé se eu for um cachorrinho com
essas pessoas. Eu preciso ser mau, é meu trabalho ser mau.
Acaricio seu pescoço e puxo seu cabelo.
— Eu sei — sussurro.
Thomas dá um tapa na minha bunda e segura meu pescoço.
— Então para de tentar me manipular com esses olhos arregalados,
cristal — diz naquele tom mandão que agora me faz derreter. Eu rio baixinho
e ele me beija devagar, do jeito que sabe que eu gosto. — O que você veio
fazer aqui, afinal? Não tenho nada contra foder minha mulher no meio do dia
de trabalho, mas você não me deixou fazer isso dia nenhum.
— Porque eu tenho que trabalhar! — reclamo e rio, porque é bem
verdade. Desde que comecei a trabalhar aqui, Thomas arruma qualquer
motivo para me arrastar aqui para a sala dele. — Eu vim discutir um relatório
com você, senhor Albuquerque.
Thomas acaricia meu rosto.
— Estou tão orgulhoso de você — ele fala e me beija de novo. —
Você está trabalhando tão duro.
— Você confiou em mim — falo. — Depois de tudo que papai fez,
você confiou em mim.
Ele abre um sorriso pequenino e tão raro, e me abraça.
— Eu amo você, cristal — diz no meu ouvido. — Tenho uma surpresa
para você hoje.
— Uma surpresa — pergunto e olho para o seu rosto reticente. — O
que é?
Ele me segura pelo queixo e passa o polegar no meu lábio.
— Vem comigo em um lugar mais tarde.
CAPÍTULO 28
Cecília Magalhães
— Cuidado para não cair.
Thomas está com as duas mãos em cima dos meus olhos e me guia no
escuro para algum lugar. Quase tropeço em alguma coisa, mas ele me segura.
Assim que saímos do trabalho, ele me começou a me dirigir para algum
lugar e não me disse para onde. Não tenho a menor ideia de onde nós estamos
quando Thomas me deixa parar de andar.
— Vou tirar as mãos dos seus olhos agora — ele fala no meu ouvido e
me arrepia inteira com a voz grossa tão perto da minha pele.
— Tudo bem — sussurro. Pisco algumas vezes para me acostumar com
a iluminação quando ele me deixa olhar e franzo o cenho sem entender onde
nós estamos.
Olho para a casa na nossa frente, tão grande quanto a casa onde cresci.
Tem um quintal grande ao redor, e Thomas segura a minha mão e começa a
me conduzir por ele.
— Onde a gente está? — pergunto, olhando tudo ao redor enquanto ele
praticamente me arrasta pelo lugar.
A casa é linda por fora, e o jardim é mais bonito ainda. Vejo uma
piscina grande nos fundos, flores muito bem cuidadas espalhadas por todo
lugar, e solto um gritinho surpreso quando Thomas me puxa pela cintura.
— O que acha?
— É linda, mas eu não entendo — falo e olho de novo ao redor.
Thomas arrasta no nariz no meu e beija minha boca.
— É nossa — diz. Arregalo os olhos e coloco as mãos na boca. — Se
você quiser. É nossa.
— Mas… — Sinto meus olhos marejarem e olho de novo em volta
antes de olhar para ele. — E o apartamento?
Thomas sorri e segura meu rosto.
— Vem comigo.
Ele abre a porta da casa e me leva pela sala já inteiramente mobiliada,
do jeito que eu faria se fosse eu a escolher tudo. Não sei como ele soube o
que escolher, mas essa casa é perfeita para mim. Ele me leva até uma mesa
posta, com velas e mais flores.
— Não estou acostumada com você sendo romântico — falo quando
ele puxa a cadeira para mim. Me sento e ele serve vinho para nós dois. —
Você comprou mesmo essa casa para nós dois?
— Claro que sim, cristal — ele diz e se senta do meu lado.
Eu me perco nos olhos bonitos que brilham tanto para mim agora.
Thomas segura minhas mãos e beija meus dedos.
— Eu compraria o mundo inteiro para você. Cecília… — Ele aperta
meus dedos. — Eu fiquei louco achando que ia te perder. Quando aqueles
filhos da puta… Eu não ia suportar se alguma coisa acontecesse com você.
— Nada vai acontecer comigo…
— Eu não vou deixar — ele interrompe. — Mas Cecília… Eu não
posso fazer isso. Não quero fazer isso. Nós não vamos nos casar.
Sinto meu coração apertado e mordo o lábio para tentar impedir uma
lágrima de escapar.
— O que… do que você está falando?
Thomas solta minha mão e suspira. Ele pega uma pasta que está no
outro canto da mesa que eu não tinha reparado. Ele a abre e eu vejo o
contrato que nós dois assinamos seis meses atrás.
— Eu entrei na sua vida e te forcei a isso. Te forcei a conviver comigo
e a me aceitar na sua vida porque eu estava tão cego de raiva do seu pai que
nada mais importava, mas eu não posso fazer isso com você.
Thomas pega o contrato da pasta e, sem tirar os olhos de mim, rasga as
páginas em pedaços bem pequenininhos.
— Eu não quero nenhum contrato, cristal. Não quero que isso aqui seja
negócios, nem uma vingança. Não quero me casar com você porque
assinamos um contrato.
As lágrimas escorrem pelo meu rosto e eu prendo um soluço. É de
felicidade porque isso foi o que eu mais quis desde o começo, mas agora…
rasgar esse contrato significa ficar sem Thomas, e essa é a última coisa que
eu quero na vida.
— E o que acontece agora? — pergunto.
Ele me olha por segundos longos, com os olhos presos nos meus.
Thomas fica de pé e eu levanto os olhos para continuar olhando para ele. Ele
mexe em alguma coisa dentro do bolso do terno e meu olhos arregalam
quando o vejo tirando uma caixinha dali de dentro.
— Thomas…
Ele se ajoelha na minha frente e abre a caixinha, mostrando um anel
com um diamante brilhante em cima.
— Eu comprei essa casa porque apartamento nenhum é lugar para criar
uma família. Eu quero ter uma família com você, cristal — ele fala. — Eu…
não tenho uma há muito tempo, e você chegou e mudou tudo. Você tomou
minha vida inteira de mim, garota, e eu não sei mais ficar sem você. Esses
meses com você foram os melhores da minha vida e quero isso para sempre.
Quero acordar do seu lado e enlouquecer todos os dias porque não para de me
enfrentar por coisas idiotas. Mas eu quero que você queira isso tudo. Não por
causa de um contrato, mas porque você… me ama, tanto quanto eu te amo.
Saio da cadeira e me ajoelho na frente dele. Seguro seu rosto e mal
consigo ver nada porque meus olhos estão embaçados pelas lágrimas.
— Não são negócios, cristal, não é vingança… — Eu beijo a sua boca
e ele segura o meu rosto também. — É um amor como eu nunca senti antes.
Casa comigo, Cecília. Fica comigo para sempre.
— Caso — falo no meio de uma risada. — Claro que eu caso, Thomas.
Eu te amo tanto…
Ele segura a minha mão e coloca o anel no meu dedo. Thomas beija
minha mão e me puxa para beijar a minha boca. Sem parar de me beijar, ele
me levanta e nos conduz pela sala até esbarrar em um sofá. Sorrio quando ele
me deita no sofá e deita por cima de mim. Suas mãos percorrem meu corpo e
eu aperto seus braços.
— Agora você é minha noiva de verdade — ele fala na minha boca e
aperta meu seio por baixo da minha blusa. — Minha, Cecília. Só minha, toda
minha. E eu sou todo seu.
— Me mostra — peço e começo a desfazer os botões da sua camisa. —
Me mostra que você é todo meu, Thomas.
Ele começa lento e doce, do jeito que eu gosto, mas hoje eu quero mais
dele. Quero Thomas do jeito que ele gosta de me ter, daquele jeito bruto dele
que me deixa de pernas bambas. Ele tira a minha roupa e beija meu corpo
inteiro no processo. Ele me toca em todos os lugares e me puxa para mais
perto dele quando se encaixa entre as minhas pernas.
— Você é tão gostosa — ele fala no meu ouvido. — Eu sou um filho
da puta sortudo, Cecília.
Ele começa a se mover devagar dentro de mim e eu sinto meu rosto
pegar fogo em antecipação, mas peço mesmo assim:
— Mais forte, Thomas — falo baixinho no seu ouvido.
— Cecília…. Não me pede uma coisa dessas, garota — ele rosna.
— Por favor — choramingo. — Do jeito que você gosta, Thomas.
Ele puxa meu cabelo e mete mais rápido. Eu grito seu nome e ele
chama o meu.
— Minha coisa favorita no mundo é te foder, Cecília — ele fala no
meio de um gemido e me faz gemer também. — Goza pra mim, cristal.
Eu gozo e ele me penetra mais algumas vezes, com força e fundo, antes
de gozar também e desabar em cima de mim. Sua respiração está acelerada
igual ao seu coração, mas eu não poderia estar mais em paz do que agora.
Nos braços do homem da minha vida, do meu futuro marido e meu mundo
inteiro.
CAPÍTULO 29
Thomas de Albuquerque

Olho para o relógio de tempo em tempo para saber se já posso ir para o


altar. Ainda não acredito que eu estou me casando, e com uma mulher que eu
amo ainda. Sempre me imaginei indo ao altar com alguma mulher rica, da
alta sociedade em um casamento puramente de fachada para manter as
aparências. Rico casa com rico, é o que costumam dizer. E não estão errados.
Agora estar aqui, nervoso e ansioso para ver Cecília vestida em um vestido
de noiva não estava nos meus planos.
Arrumo a gravata azul em frente ao espelho, arrumando o que não tem
mais o que arrumar. Escuto uma batida de leve na porta do quarto onde estou.
— Entre.
— Senhor Thomas, tenho um problema. A sua noiva está nervosa e
ameaçou até desistir do casamento — a uma das cerimonialistas fala após
colocar a cabeça na porta.
— O quê? Por quê? Onde ela está?
A mulher me guia com uma expressão de pesar e eu a acompanho
pelos corredores do castelo. Ah, sim, meu casamento não podia ser nada
menos do que grandioso. Cecília tentou me convencer de que a gente não
devia gastar tanto assim agora que a empresa conseguiu se reerguer, que a
gente devia ir devagar com os gastos, mas vi nos seus olhos brilhando que
queria isso. Queria o seu momento de princesa completo, porque ela é o tipo
de mulher que sonha com conto de fadas. E se ela quiser ser uma rainha hoje,
ela vai ser.
Por isso, não medi esforços para que tudo desse certo. O Castelo de
Chantilly, na França, vai ser o palco do casamento do ano. Pelo menos é o
que espero.
Estou tenso enquanto ando atrás da cerimonialista. Ela parece
familiarizada com o lugar porque nós damos tantas voltas que eu estou
perdido. Isso porque não temos acesso a todas as áreas para a recepção, só a
parte destinada ao público.
— Chegamos — ela diz. — Se que a tradição fala que…
— Não ligo para porra de tradição.
Ela acena e abre a porta. Quando entro no quarto, vejo Cecília sentada
na cama de dossel, com o rosto entre as mãos.
— Cristal? O que foi, meu anjo? Por que está assim?
Ela se assusta ao ouvir a minha voz, mas logo vem para os meus
braços.
— Você não devia estar aqui, Thomas — fala e funga.
Eu a afasto o suficiente para a ver em um vestido branco demais, que
destaca os fios ruivos que agora descem em cachos pelo seu colo.
— Você está linda — digo e abro um sorriso. Ela retribui com um
fraquinho que me preocupa. — O que foi?
— Eu preciso te dizer uma coisa — diz e morde o lábio. — Isso pode
fazer com que você não queira mais casar comigo.
Estranho, porque nada no mundo me faria desistir dela. Me afasto para
encarar o rosto agora manchado pelo choro e seco com o polegar.
— Nada vai me fazer desistir de você, cristal. Você é minha noiva
linda. Eu te amo.
— Ah, Thomas, mas você vai pensar que eu fiz de propósito e… Não
estou preparada. — Ela se afasta e começa a falar sozinha, andando de um
lado para o outro do quarto. — Nós nem casamos.
— Cecília… — Vou até ela e a paro. Seguro seus ombros com carinho
e os aliso para que olhe para mim. — Respira. Só conversa comigo. Estou
preocupado.
Os lábios cheios cobertos por um batom claro tremem e mais lágrimas
caem do seu rosto.
— Eu… estou esperando um filho — ela diz e eu travo
momentaneamente.
Não é muita coisa nessa vida que tem o poder de tirar minha fala, mas
isso tem. Fico mudo e estático.
Passo a mão pela barba e em seguida pelos cabelos.
— Você odiou, não foi? Você acha que quis dar o golpe antes de casar.
Thomas, juro que não foi…
Me aproximo dela e seguro seu rosto. Beijo sua boca com voracidade,
do jeito que ela aprendeu a amar também. Sinto seu corpo relaxando quando
o colo no meu. Assim que nos afastamos, ela me olha ainda com medo.
— Um bebê? Eu vou ser… pai? — pergunto baixo. — Pai…
Me afasto de novo e processo a informação. Porra, eu vou ser
responsável por uma criança. Me viro para Cecília e a vejo receosa. Olho
para sua barriga, sem sinal nenhum de que uma criança cresce ali.
— Pai — repito baixinho para ver se a informação chega até meu
cérebro.
Quando ela chega, meus olhos imediatamente se enchem de lágrimas.
Vou ter um herdeiro com a mulher que eu amo. Abraço Cecília apertado e me
afasto para me agachar à sua frente. Toco sua barriga com cuidado e imagino
um bebê nascendo ali. Meu filho…
— Eu estou sem palavras. Nunca imaginei que ia ficar tão feliz por me
imaginar sendo pai — digo emocionado em frente à sua barriga e Cecília
funga. Abre um sorrisinho fraco e coloca a mão em cima da minha.
— Você não está com medo? — ela pergunta baixinho.
— Eu estou com medo pra caralho. E nunca sinto medo — confesso.
— As pessoas mais importantes do mundo estão aqui. Tenho medo de perder
vocês e…
— Shh… — Ela me puxa de leve para que eu me levante e segura meu
rosto. — Você não vai perder a gente, Thomas. Nunca. Nós vamos ser uma
família.
Sorrio e aceno. Toco a sua barriga devagar, porque agora mesmo que
não quero desgrudar dela.
— Por que achou que eu ia fugir? — pergunto, inclinando a cabeça
para o lado.
— Fiquei assustada de que pensasse que foi um golpe, você sabe…
— Nunca, meu amor. Aquela fase da nossa vida está encerrada há mais
de seis meses. Agora tudo o que me importa é você e esse bebê.
Ela sorri, linda e perfeita para mim.
— Ai, meu Deus. Eu estraguei a minha maquiagem e você me viu de
noiva! Vai dar azar.
— Não vai, cristal. A gente faz a nossa sorte. — Dou um beijo nos seus
lábios de leve. — Vou te deixar terminar de se arrumar, porque não vejo a
hora de você ser completamente minha.
Me afasto sorrindo e a deixo ali. Meu coração está agitado no peito e
estou com muito medo. Pela primeira vez na vida tenho medo de errar, de
não ser um bom pai para nosso filho, de não ser um bom exemplo de homem.
Não quero que meu filho cresça como eu cresci, sozinho e sem uma família.
Vou dar o mundo para essa criança e para Cecília.
Encontro outra cerimonialista, que me guia em direção ao lugar onde
será a cerimônia. No caminho, cruzo com César. Ele parece estar me
esperando, porque se aproxima ao me ver.
— Posso falar com você um instante? — pergunta e franzo a testa.
A mulher se afasta para nos dar privacidade e eu me viro para o
homem.
— E então?
— Eu… — Ele passa as mãos pelos fios ruivos, indicando que está
nervoso. — Sei que você nunca vai me desculpar pelo que eu fiz. Te entendo.
Mas agora que você vai se casar com a minha filha, pensei que…
— Eu perdoo você, César — interrompo.
Seus olhos se arregalam de surpresa.
— O quê?
— Eu… — começo e abro um sorriso fraco. — Nunca vou conseguir
te odiar como antes sabendo que você é o pai da pessoa que mais amo no
mundo. É por ela que eu perdoo. Nada vai ser como antes e ainda te quero
longe da minha empresa, mas você vai ser o avô do meu filho.
— Tudo bem — ele diz. — Espera, o quê?
Sorrio de orelha a orelha, porque a cada segundo que passa o
sentimento de encaixa mais no meu coração. Eu vou ser pai.
— Cecília está grávida — falo e seus olhos quase saltam.
— Eu vou ser… avô. Mas ela é tão nova.
— Vou cuidar dela.
Ele acena e eu dou um tapa no seu ombro antes de finalmente ir em
direção à cerimônia. O lugar está lindo, devo admitir. A noite está chegando e
a iluminação do castelo se destaca ainda mais. Cumprimento várias pessoas
no caminho, a maioria parentes de Cecília que ela fez questão de trazer em
um jatinho alugado exclusivamente para isso.
Quando me posiciono para a esperar, solto um suspiro. Demora para
ela aparecer e percebo que só assim para eu suportar atraso. Desde que ela
minha cristal esteja comigo pelo resto da vida, eu a espero o tempo que for.
Quando a marcha nupcial começa a tocar, arrumo o paletó de
nervosismo e eu a vejo. Mesmo a tendo visto alguns minutos atrás, ainda
perco o fôlego. Acho que sempre vou perder.
Seu rosto já está completamente recomposto e um sorriso lindo está ali.
Ela brilha como um cristal. Como o meu cristal. Meu bem mais
precioso que apareceu na minha vida da forma mais inesperada. Quase quero
agradecer César. Quase.
Ela anda os longos metros que a separam de mim e seu corpo treme
quando eu encaixo o braço ao redor do seu.
Não consigo prestar atenção em nada mais enquanto eu a tenho ao meu
lado. Meu olhar vaga para o céu enquanto o juiz de paz celebra a cerimônia.
— Agora é a hora dos votos.
Fico de frente para ela e encaro os olhos marejados. Cecília faz uma
respiração de cachorrinho para não as derramar antes de falar.
— Eu sempre fui o tipo de garota que sonhava com o príncipe
encantado, com um amor perfeito, livre de dramas, com uma família feliz. E
você definitivamente não se encaixava em nada disso. — Todos riem, e eu
abro um sorriso, porque é verdade. — Foi quando eu te conheci que descobri
que o amor não precisa ser perfeito, não precisa ser cem por cento correto.
Você é a pessoa perfeita para mim, Thomas. Mesmo bravo, cabeça dura,
mandão e teimoso, você abriu seu coração para mim e me deixou ocupar um
espaço aí. Nos deixou ocupar. Eu te amo muito.
Escuto os barulhos de surpresa quando ela toca a barriga de leve. Um
desses gritos é o de sua mãe. Afago sua barriga também, sem deixar de sorrir.
O que antes era raro para mim se tornou automático ao ter Cecília assim na
minha vida.
— Sua vez, Thomas — o juiz de paz fala.
— Eu sempre achei que o amor fosse uma fraqueza antes de conhecer
você, e até depois disso. Achei que eu perderia o controle de tudo se me
entregasse para alguém. Nunca quis isso, mas nunca tive que me preocupar
porque não cheguei a sentir nada parecido com o que sinto por você. Sempre
fui um homem com muitas falhas, Cecília, e o maior erro da minha vida te
trouxe para mim. Então eu faria tudo de novo se a gente chegasse aqui. Eu te
amo, cristal.
Ela seca os olhos com a ponta dos dedos e morde os lábios.
O homem diz mais algumas palavras antes de chegar no momento que
espero há meses, desde que a pedi em casamento.
Pego a aliança discreta de ouro branco e encaixo no seu dedos,
deixando a palavra pequena que vai mudar todo o meu mundo. Eu sigo sim
para minha pequena mulher.
— Pode beijar a noiva.
Eu a puxo contra mim, enfio a mão nos seus cabelos e a beijo com todo
meu coração, com o melhor que há em mim, que só existe porque ela está na
minha vida.
EPÍLOGO
Cecília Magalhães
CINCO ANOS DEPOIS
Faz muitos anos que eu não venho aqui. Desde que acabei a faculdade
e fui para o Brasil com Thomas que não volto para Nova Iorque. E faz esse
mesmo tanto de tempo que eu não via Kelly, mesmo a gente se falando quase
todo dia, então nem tento segurar as lágrimas quando ela me abraça.
O tempo passou para ela também. Kelly agora é uma mulher recém-
casada e a barriga está enorme com a gravidez já batendo os seis meses.
Thomas e o marido dela sumiram assim que a gente chegou na casa deles e
posso apostar que os dois estão discutindo negócios. No fim das contas, Kelly
acabou casando com o namorado da faculdade depois de brigar com o pai
para não ter um casamento arranjado.
— Não acredito que você vai ter um filho! — eu falo e aliso a sua
barriga grande. A minha amiga abre um sorriso enorme e bobo.
— Eu estou tão feliz, Cecília — ela diz e acaricia a barriga também. —
A culpa é sua.
— Minha? — pergunto com as sobrancelhas erguidas. Ela faz que sim
com a cabeça.
— Você ficou buzinando no meu ouvido essa história de príncipe
encantado, e se casou com um homem que te trata igual a uma princesa, e
tem uma família linda…
Ela olha pelo quintal enorme da casa e eu faço a mesma coisa. Sorrio
para os meus dois filhos correndo pelo gramado.
Arthur acabou de fazer quatro anos e está praticamente arrastando a
irmã para brincar com ele. Nossa princesinha chegou há dois anos e corre
desengonçada com o irmão mais velho, gritando e rolando como se o jardim
fosse um parque de diversões.
— Eu quis isso pra mim também, minha amiga. Você me fez acreditar
no amor.
Sorrio e a abraço, porque nem reconheço a garota desmiolada que ela
costumava ser. Mas eu nem me reconheço também. Esses anos todos do lado
de Thomas me transformaram em uma mulher forte e cada vez mais
apaixonada. Mesmo sendo bem diferente do que imaginei, estou vivendo o
meu conto de fadas.
Converso com Kelly por mais algumas horas até o sol começar a se
pôr, e a gente entra na casa para o jantar. Pego Jasmine no colo e seguro
Arthur pela mão para levar os dois para tomar um banho antes de comer, e
vira uma festa na água como é todas as vezes com esses dois peixinhos.
— Vai buscar o papai, meu amor — peço para Arthur depois que ele já
está vestido enquanto estou terminando de arrumar minha menina.
— Papai! — ela começa a gritar e correr pela casa.
Eu rio e termino de colocar o vestidinho rodado nela, que agarra minha
mão quando começamos a andar pela casa. Ouço as risadas de Arthur com o
pai na cozinha e vou até lá.
O marido de Kelly sorri para mim e me dá um beijo no rosto.
— Vou procurar minha mulher — ele diz e sai da cozinha, deixando
meu marido e eu com as crianças ali.
Thomas está com Arthur no cola, mais bonito do que nunca. Ele não
parece que envelheceu nadinha. Os olhos azuis mais bonitos do mundo me
olham com tanto amor que me derretem. Ele está dentro do mesmo terno de
sempre, com os músculos todos marcados embaixo da roupa, e me tira o ar
como foi desde a primeira vez que eu o vi.
— A mamãe não é a mulher mais linda que você já viu? — ele
pergunta para Arthur e passa a mão no cabelo ruivo que ele puxou de mim.
Jasmine ficou com os olhos azuis e cabelo escuro do pai. Meu filho faz que
sim com a cabeça e começa a se debater no colo de Thomas até conseguir ir
para o chão.
Thomas o coloca no chão e ele vem correndo até mim.
— Mamãe, posso levar a Jasmine pra brincar com o cachorrinho da tia
Kelly?
— Claro que pode, meu amor — falo e o deixo segurar a mãozinha da
irmã, que solta um gritinho animado e vai com ele.
Quando os dois somem da cozinha, olho para Thomas, que me encara
com o mesmo fogo nos olhos.
— Vem aqui, cristal — ordena naquele tom autoritário que eu amo.
— Você não manda em mim — desafio só porque eu sei que ele até
finge que não, mas gosta.
Thomas dá poucas passadas longas antes de me alcançar e me puxar
com força pela cintura para me prender contra o seu corpo.
— Você me faz querer calar essa sua boquinha o tempo inteiro — fala
na minha boca e me beija. Eu gemo e ele me aperta mais. Quando me solta,
acaricia meu rosto. — Eu estava pensando… O que você acha de nós
ficarmos aqui por um tempo?
— Aqui em Nova Iorque? — pergunto e ele faz que sim.
— Você costumava amar a cidade. Eu tenho alguns negócios para
resolver aqui, talvez abrir mais alguns hotéis. Posso usar a ajuda da minha
vice-presidente — ele fala e aperta a minha bunda. Eu rio na sua boca e
envolvo seu pescoço.
Jogo a cabeça para trás e ele beija meu pescoço.
— Acho uma ótima ideia, mas você vai precisar achar outra pessoa
para te ajudar daqui a alguns meses.
— Por quê? — ele pergunta e chupa a minha pele.
— Sua vice-presidente vai precisar sair de licença maternidade…
Thomas congela no lugar e afasta o rosto para me olhar boquiaberto.
Ele coloca a mão na minha barriga e seus olhos bonitos ficam marejados.
— Você… está grávida de novo?
Mordo o lábio e faço que sim com a cabeça.
— Nós vamos ter outro filho? — ele pergunta, eu faço que sim de
novo. — Porra, Cecília…
Ele me beija de novo com todo o amor que me mostrou nesses anos
todos.
— Você me faz o homem mais feliz do mundo todos os dias, cristal —
ele diz com um sorriso enorme no rosto. — Eu amo você. Vem aqui e me
deixa te amar direito — fala e me puxa para outro beijo.
Eu rio e falo na sua boca:
— E eu te amo muito mais, meu CEO mandão.

FIM
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RESGATADA PELO CEO

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Daniel Vilella é um CEO frio, rude e que não tem interesse em
relacionamentos. Com a vida rodeada de luxúria, o dono da maior rede de sex
shops do país repele tudo o que não esteja relacionado ao sexo.
Até conhecer Sofia Pires, sua nova secretária. A garota vinte anos mais
nova é delicada, sensível, meiga. E virgem. O tipo oposto de mulher que para
na cama de Daniel. Mas tem alguma coisa nela que vira a cabeça dele do
avesso.
Ela carrega problemas demais para uma garota tão nova e desperta em
Daniel um instinto protetor que ele não sabia possuir.
Ele vai fazer de tudo para que ela seja sua, e Sofia precisa decidir que
pode confiar no homem grosseiro e distante que conheceu.
DANIEL
Mas que semana de merda eu tive.
Às vezes parece que estou cercado de idiotas e que sou o diretor de um
jardim de infância, e não o CEO da maior rede de sex shops do país. Não
essas lojas de esquina que têm em toda cidade, não. Vendo sexo caro para
mocinhas de família rica e esposas de empresários que não estão nada
satisfeitas com a ausência do marido que provavelmente está mais ocupado
fodendo a secretária que dando conta da própria mulher. Ofereço fantasias,
promessas, sedução e horas de diversão suja e quente. E ajuda muito que seja
a minha cara junto com os produtos, porque se tem uma coisa que eu sei que
sou é a promessa de uma foda muito satisfatória.
Sexo é a minha vida, e eu sou muito bom no que faço. E é exatamente
de uma foda que estou precisando agora, porque estou puto da vida,
estressado e precisando extravasar. Não tem nada melhor do que uma bela
mulher gemendo debaixo de mim para resolver isso.
Meu celular toca quando estou chegando na garagem privativa do
prédio onde moro. Atendo sem olhar o visor.
— Está com as bolas presas no trabalho de novo ou vai me dar a
honra da sua companhia? — meu irmão pergunta. Aperto o botão do alarme
e destravo o carro. Coloco o celular no viva-voz e jogo no banco do
passageiro antes de ajustar o retrovisor.
— Minhas bolas presas no trabalho são o que bancam sua vida de
farra, seu inútil — respondo, colocando o cinto e dando a partida. Samuel é
dez anos mais novo que eu, mas mais parece um adolescente. Quando assumi
a empresa da família depois que nosso pai morreu, não éramos nem de longe
o império que somos hoje. Trabalhei muito e agora, dez anos depois, sou um
dos homens mais ricos do país aos quarenta anos. Samuel nunca quis saber de
nada e gasta mais tempo torrando o dinheiro da família com farra e mulheres.
Onde tem uma festa, sei que meu irmão está no meio, e hoje isso vai vir a
calhar. — Onde você está?
— Não acredito que o poderoso Daniel Vilella vai finalmente festar
comigo! — ele debocha.
Acelero o veículo pelas ruas vazias da orla carioca a essa hora da noite.
Saí da empresa tem pouco mais de uma hora e agora, quase meia-noite, não
tem quase nenhum carro na rua.
— Vai se foder, Samuel. Se não me disser onde está, vai ter que bancar
as bebidas desses seus amigos inúteis. Quem perde é você.
Ouço Samuel resmungar no telefone. Ele sabe que não pode me
contrariar, e eu adoro essa sensação de controle. Desligo a ligação quando
paro em sinal de trânsito depois que meu irmão me diz o nome da boate onde
está e, poucos minutos depois, estou lá.
A fila do lado de fora está enorme, mas não me dou ao trabalho de ir
para lá. Largo o carro de qualquer jeito no estacionamento VIP e jogo a chave
para o manobrista antes de seguir até a entrada privativa. É um lugar
normalmente frequentado por celebridades com quem não me importo e
empresários que usam uma boa garrafa de uísque para fechar um negócio. Já
vim aqui algumas vezes exatamente para isso, mas hoje só tem um negócio
que estou interessado em fechar e é com alguma das garotas sempre muito
dispostas a se divertir que encontro facilmente pelas pistas de dança. É de
uma boa trepada no banheiro que estou precisando. Preciso socar meu pau em
uma boceta gostosa para não socar a cara de alguém.
O segurança abre passagem sem nem se dar ao trabalho de pedir por
identificação, e a porta dá acesso direto a uma área bem reservada da boate.
Não é difícil encontrar meu irmão e o seu grupinho de sempre.
— Daniel! — Ele tira uma garota do seu colo e praticamente a joga
para lado quando se levanta para vir até mim, tropeçando de bêbado. Meu
irmão passa um braço ao redor do meu ombro e aponta para a pista de dança
com a outra mão. — Bem-vindo à melhor parte da vida! — grita por cima da
música eletrônica alta.
Sei bem como funciona essa “melhor parte da vida” de Samuel. Das
poucas vezes em que encontrei com ele aqui, só me sentei em um dos sofás
confortáveis reservados por cordões de isolamento, esperei me servirem uma
bebida e apreciei a vista um pouco antes de encontrar alguém que chamasse
minha atenção na pista de dança e pedir para uma das funcionárias trazer a
garota até mim.
Só que antes mesmo que eu possa me sentar, bato os olhos em uma
mulher.
— O que vai querer? — Samuel pergunta, gritando no meu ouvido, o
bafo de cerveja chegando em mim. Empurro meu irmão um pouco para
longe, mas ele se pendura em mim de novo igual a um carrapato. — Você é
desses que gosta de uísque caro, né? Vou pedir para descer uma garrafa! —
grita, mas balanço a cabeça que não.
— Não quero uísque. Quero ela.
Aponto com o queixo para a pista de dança e começo a puxar as
mangas da camisa social até o cotovelo enquanto dou uma boa olhada na
mulher que dança junto com uma amiga.
Mulher não, garota. O rosto de menina não deve passar dos vinte anos,
o que a faria ter vinte a menos do que eu. Não me importo. O cabelo loiro cai
pelos ombros até a metade das costas, mas deixa à mostra um decote
generoso que aperta os peitos redondos. Ela é pequena mesmo em cima de
saltos gigantes e as curvas discretas ficam visíveis no vestido que mais parece
uma lingerie de tão pequeno e apertado.
Sorrio como um predador prestes a devorar uma pobre presa indefesa.
Ela deve ser toda pequena e apertada. Decido que é com ela mesmo que
quero terminar a noite. A boquinha de lábios rosados vai ficar linda em volta
do meu pau.
— Está achando que sou seu empregado, porra? — Samuel ri e me
empurra pelo ombro. — Vai buscar sua comida.
Olho para ele de lado. Como esse imbecil tem o mesmo sangue que
eu? Não me surpreende que é um desastre com mulheres. Samuel parece um
adolescente que só precisa de uma punheta para gozar. As mulheres que ele
come só abrem as pernas depois que ele dá carteirada, porque se dependesse
da lábia, não ia ser ninguém. Ele nunca aprendeu que a melhor parte é fazer a
mulher se derreter inteira e implorar para ser fodida. Essa é a minha
especialidade.
Vejo a loirinha dizer alguma coisa no ouvido da amiga, se afastar dela
e começar a ir em direção ao bar, que tem uma fila gigantesca. Saio da área
reservada e começo a atravessar a pista de dança até conseguir chegar onde
ela está. Paro atrás dela e inclino a boca no seu ouvido.
— Vai demorar para você ser atendida.
Ela parece levar um susto quando me nota e pula no lugar, levando
uma mão ao peito.
— Eu… — ela gagueja e passa a língua pelos lábios. Abro um sorriso
ao ver que ela parece um animalzinho assustado com a boca entreaberta,
piscando os cílios devagar, mas que isso não a impede de me olhar de cima a
baixo. Espero para ver se vai correr, mas ela não se move um centímetro,
então diminuo a distância entre nós dois. — Eu só queria água — diz por fim
com a voz fina.
Seu peito sobe e desce rapidamente, e encaro seu decote onde a pele
alva começa a ganhar uma coloração rosada.
— Vai demorar para ser atendida mesmo se só quiser água —
respondo e volto a olhar para o seu rosto. Ela não diz nada, só continua me
olhando, e abaixo a boca até o seu ouvido. Sou atingido em cheio pelo cheiro
doce da sua pele e sinto meu pau pulsar dentro da calça. — Posso te fazer
companhia enquanto espera.
Ela dá uma risada nervosa e apoia uma mão no meu peito.
— Eu não… — diz baixinho e pigarreia.
— Não quer? — interrompo. Coloco uma mão na sua cintura e puxo o
corpo pequeno para mim. — Se não quiser é só dizer.
Tiro a boca do seu ouvido para olhar para o seu rosto. Ela continua me
encarando com os olhos arregalados como se não tivesse a menor ideia do
que fazer. Arrasto a mão da sua cintura para a base das suas costas, parando
bem em cima da curva da bunda. Ela dá um pulinho nos meus braços e
afunda as unhas da mão apoiada no meu peito.
— Acho que preciso ir ao banheiro — diz com a voz trêmula,
respirando fundo enquanto encara minha boca. Arqueio uma sobrancelha e
espero. Ela prende a pontinha do lábio entre os dentes. — Você pode vir
comigo, se quiser.
Sorrio aberto para o convite e faço que sim com a cabeça. Começa a ir
em direção onde assumo serem os banheiros e seus corredores escuros, mas
seguro seu braço e começo a levar a garota em outra direção. Ela me olha,
mas não diz nada, só vem comigo para o lado oposto. Volto para a área
reservada da boate, e o segurança ali libera minha passagem. Ela finalmente
pergunta:
— Para onde está me levando?
Tem curiosidade na sua voz, mas nenhuma preocupação. Ela não
perguntou meu nome e nem tentou me dizer o seu, o que me diz que está
acostumada com isso. É esse o tipo de mulher que eu gosto, que sabe do que
gosta e sabe o que faz.
Paro com ela em um canto pouco iluminado longe dos sofás. A música
não está tão alta aqui e estamos longe da vista de todos. Encosto o corpo
pequeno contra a parede e cubro com o meu sem encostar nela. Apoio uma
mão de cada lado da sua cabeça e a olho de cima. Seu peito sobe e desce
rapidamente, enchendo o decote profundo com os seios pequenos. Levo um
dedo até ali.
— Isso é medo ou excitação? — pergunto.
A garota parece completamente hipnotizada olhando para mim, e meu
pau está perto de explodir dentro da calça. Engancho os dedos nas alças do
vestido e espero a resposta.
— Os dois — responde em um sussurro fraco. Satisfeito, puxo as alças
para baixo até liberar os seios redondos de bicos rosados e caio com a boca
bem ali.
Não tenho nenhuma delicadeza para oferecer quando sugo e mordo um
dos bicos durinhos. Ela solta um grito agudo surpreso e aperta meus braços
enquanto alterno entre os dois. Aperto sua cintura e mamo com força,
arrancando gemidos tímidos da garota. Solto seus peitos e vejo seu rosto
corado, sua respiração descompassada. Enrosco o cabelo no meu punho e
puxo sua cabeça para trás. Imprenso seu corpo inteiro contra a parede e levo a
boca até seu ouvido de novo. Com a outra mão, seguro o pulso dela e levo
seus dedos até a frente estufada da minha calça.
— Aperta meu pau, pequena — ordeno, puxando seu cabelo com
força. — Abre minha calça e aperta meu pau.
Ela congela por um segundo, mas começa a desabotoar minha calça
bem devagar. Os movimentos são lentos e hesitantes. Essa tentação em forma
de mulher me tortura. Aperto sua bunda com força, e ela ofega.
— Vamos, pequena — insisto e mordo seu pescoço, chupando a pele
em seguida. — Sente como eu estou duro.
A mão trêmula toca meu pau por cima da boxer, e eu sorrio na sua pele
enquanto ela tenta fechar os dedos ao redor. Ela move a mão de um lado para
o outro devagar e começo a ficar impaciente. Levo uma mão até a sua coxa
por baixo do vestido e sinto como está quente.
— Se eu colocar a mão nessa bocetinha, vou ver que você está toda
molhada para mim? — pergunto no seu ouvido e começo a levar a mão para
o meio das suas pernas.
— Ai, meu Deus! — ela diz e me solta. Franzo o cenho e olho para o
seu rosto. Não entendo o que aconteceu quando vejo seus olhos arregalados
como se só agora se desse conta do que estamos fazendo. — Ai, meu Deus.
Ai, meu Deus — ela repete e me empurra pelos ombros.
— O quê…?
A loirinha se solta de mim e sai praticamente correndo do canto em
que estamos. Boquiaberto, vejo a garota correr para fora da área restrita e se
perder no meio da multidão que dança.
Xingo alto, passando a mão no cabelo, exasperado.
Essa louca acabou de me deixar plantado aqui de pau duro?
SOFIA
O que foi que eu fiz?
Eu tenho probleminha na cabeça, só pode ser isso. É a única razão para
o que acabou de acontecer, para eu ter permitido ser tocada daquela forma
pela primeira vez na vida. Não que ninguém tenha tentado antes. E por
ninguém, me refiro ao meu noivo. Ex-noivo. Não sei. É realmente difícil
deixar o rótulo de lado quando tudo está tão recente ainda.
Sou interceptada por Daiane no meio da saída da boate. Ela agarra
meus ombros com força e tem os olhos arregalados ao me olhar, ao ver meu
estado eufórico e minhas alças fora do lugar. Imagino que eu não esteja lá
muito bem recomposta agora.
— O que foi? — pergunta, mas mal a escuto pelo barulho alto da
música que toca, apenas leio seus lábios.
— Eu me sinto… estranha. Posso ir embora? — grito perto do seu
ouvido, e ela apenas acena, tocando a minha cintura e dando um tchau para
quem quer que ela estivesse se entretendo na noite. — Dai, não precisa me
acompanhar. Vou sozinha.
Ela me ignora e segue me guiando até a saída, sempre tão atenciosa e
companheira. Assim que piso para fora da boate que não tem nada a ver com
o tipo de ambiente que estou acostumada, respiro de alívio.
Meu corpo está trêmulo, quente e… excitado.
A imagem do homem me vem à cabeça, e sinto meu rosto
esquentando. Fico de costas para Daiane porque minha amiga me conhece
bem demais e basta um olhar para saber tudo o que acontece comigo. Até
quando nem mesma eu entendo o que se passa, ela sabe.
— O que foi, Sofia? Você me assusta sempre que aparece com esses
olhos gigantes e cheios de lágrimas. Isso tem que parar de acontecer, minha
amiga. — Dai me vira para que eu fique de frente para ela. Eu suspiro,
prendendo o choro. Sim, talvez minha amiga esteja acostumada com minhas
crises bobas e exageradas de choro. E ela é a melhor para lidar com todas
elas. — Não me diga que viu o embuste do seu ex-noivo com o pau dentro de
outra pessoa de novo?
— Daiane! Cadê o seu tato? — A lágrima escorre antes que possa
controlar, e eu a limpo rapidamente.
Ainda dói muito me lembrar disso.
— Desculpa, às vezes me esqueço de que você é sensível demais —
fala com a voz mais branda e me puxa para um abraço. — Você está quente e
tremendo, Sof. O que aconteceu ali dentro?
— Nós podemos sair daqui antes? Eu… — Olho para a entrada da
boate luxuosa, e meu corpo treme de medo daquele… ser de outro mundo
aparecer aqui.
Daiane assente e já pega o celular para pedir um Uber. Não demora
para o veículo chegar e nós entrarmos ali. Ela não fala nada durante o
caminho, me conhecendo bem demais para saber que eu preciso do meu
tempo para processar tudo antes de despejar as coisas em cima dela. Dai sabe
lidar bem demais com as minhas crises de choros ao contar meus dramas.
Essa mulher é mesmo perfeita.
Assim que o carro para na sua casa, ela sorri fraco para o motorista do
Uber e passa o braço ao redor dos meus ombros. Abraço-a quase na bunda
porque ela é bem alta do que eu. Um mulherão, completamente diferente de
mim. Sabe o clichê de sem graça? Sou eu. Enquanto Daiane tem os cabelos
volumosos pretos, um corpo de violão que ela faz questão de exibir por aí,
uma pele negra, maravilhosa e bem cuidada, tenho o cabelo cor de ovo, um
olho verde cor de água suja e um corpo que precisa de muitas técnicas para
que se destaque. A vida não é justa.
— Vamos. Você não vai escapar de me contar o que aconteceu. —
Minha amiga me guia em direção ao seu quarto e se senta na cama, batendo
no colchão para que eu faça o mesmo. — Me diga que não teve outro surto
por causa do emb… Marcos.
Faço um beicinho para ela, agradecendo por controlar a fala tão direta
em um momento de confusão mental como esse.
— Não. É exatamente ao contrário. Você me conhece, não é? — falo,
sentindo meu corpo quente. — Sabe que eu jamais faço nada por impulso,
que sempre fui sensata e que nunca me… entreguei ao desconhecido. Nem ao
conhecido para falar a verdade.
— Sim, amiga. Sei que você é literalmente pura, recatada e do lar.
Acho que é a única pessoa com o hímen e a integridade intactos em pleno
século XXI — ela zomba. Eu pego um travesseiro e jogo de leve no seu
braço, sem conseguir evitar o riso. — Mas o que isso tem a ver com o
assunto?
— E-Eu… — gaguejo, tendo dificuldade de seguir o assunto. —
Quando fui buscar uma água no bar naquela hora, eu… meio que fiquei
atraída como um mosquito pela luz por um homem. Um aparentemente mais
velho e do tipo mafioso.
— Você o quê? — Nos quinze anos que temos de amizade, nunca vi
Daiane tão animada com uma frase que saiu da minha boca. Nunca mesmo.
Não sei se me sinto animada ou frustrada com isso.
— Ele deu em cima de mim e já chegou tão direto, tão… Não sei
descrever, Dai — sussurro a última parte, com as lembranças pipocando na
minha mente.
Seu timbre rouco, seu cheiro, seu olhar. Tudo muito estimulante,
chamativo e intrigante.
O que diabos deu em mim?
— Só sei que ele era a pessoa mais bonita que já vi na vida. Másculo,
alto, com a pele bronzeada e os cabelos escuros bem cortados, caindo
levemente pela testa. Lábios fartos, olhos escuros, barba bem aparada, cara
de… safado. Tinha uma aparência de mafioso bad boy que nunca me
interessou antes, amiga.
Encaixo a testa nas mãos e sinto meu rosto pegando fogo só por pensar
em dizer o que deixei que ele fizesse comigo, em tudo o que poderia ter
acontecido ali naquele cantinho isolado. Se não fosse pelas palavras chulas e
diretas que não estou nada acostumada, eu não teria despertado do transe em
que aquele cheiro de homem gostoso me colocou.
— E o que exatamente aconteceu? — Dai pergunta ansiosa, se
arrumando na cama com o travesseiro no colo.
Dei a ela um prato cheio para me atormentar pelo resto da vida, mas já
era. Não posso mais voltar atrás. Preciso de alguém para me ajudar a entender
em que parte do caminho perdi meu cérebro.
Narro tudo em detalhes para Daiane, que me encara com os olhos
pretos arregalados de choque, como se estivesse olhando para um
extraterrestre e não para a amiga que conhece desde os cinco anos de idade.
— Ele chupou seus peitos? Você, Sofia Pires, minha amiga doce,
meiga, virgem e pura deixou um desconhecido que você não sabe nem ao
menos o nome chupar seus peitos? Meu Deus… O dia finalmente chegou.
Está ouvindo? Esse é o som do arrebatamento.
Solto um gemido de protesto, ficando ainda mais envergonhada por
ouvir as coisas assim, tão diretas pela boca de Daiane.
— Para, Dai. Já estou me sentindo mal com isso… — sussurro,
encaixando os dedos nos cabelos e bagunçando os fios com força.
— Mal por quê? Você está solteira agora, Sof. Não tem que se sentir
culpada por viver a primeira experiência como jovem que teve na vida
inteira! Você tem vinte anos, amiga. Conhece duas bocas apenas e já ia se
casar com a segunda delas — ela fala, segurando minhas mãos com
delicadeza, o tom doce apesar da reprimenda implícita na fala. — Eu te amo
ainda mais por começar sua vida agora.
— Ele era tão…
— Tesudo? Gostoso? Não acredito que você não pegou no pau dele,
Sofia! Ele deve ter ficado frustrado.
— Daiane! Está louca? Eu nunca… Nem ia saber satisfazer um homem
daqueles. Sem falar que… — interrompo a fala e mordo os lábios, me
questionando se sigo com o assunto já sabendo a resposta de Daiane. Mas seu
olhar me diz que ela já sabe o que vai sair da minha boca a seguir. Minha
melhor amiga é a pessoa que mais me conhece no mundo. — Faz só duas
semanas que terminei com o Marcos. Ainda o amo, amiga. Não é do meu
feitio sair por aí me agarrando com qualquer um.
— Às vezes tenho vontade de te bater, Sofia. Sinceramente. Não vou
repetir tudo o que já te disse, mas vou falar o seguinte: isso que você sente
pelo Marcos não é amor, é comodidade.
Eu a encaro com uma expressão de repreensão, e ela ergue as duas
mãos para o alto em sinal de rendição. Esse assunto foi abordado vezes
demais para que eu consiga contar, então deixo que ele morra antes de
retornar com força total.
Eu me jogo no colchão ao lado de Daiane e fecho os olhos, tentando
me lembrar de quando minha vida pacífica, calma e bem planejada se
transformou nisso aqui.
Eu tinha planos. Basicamente uma casa grande, cheia de filhos, um
marido carinhoso, um emprego calmo que me permitisse cuidar das crianças
enquanto Marcos trabalhava. Pelo menos era isso o que achava que queria.
Ou talvez ele tenha dito tanto isso que impregnou na minha mente como se
fosse um desejo meu. Mas eu queria… Não queria?
Esse vazio que sinto por não o ter perto de mim só pode ser a ausência
do amor dele. Eu achava que ele me amava… Como um noivado que estava
quase predestinado pelos nossos pais desde que éramos adolescentes se
transformou em um buraco tão vazio no meu coração?
Ao invés de sofrer por isso mais uma vez, meu cérebro me leva para
vias perigosas. O rosto do homem desconhecido surge na minha mente, e
uma pequena parte se questiona se não o viu em algum lugar, porque a
imagem refletida é nítida e perfeita demais para quem só o viu apenas uma
vez, em um lugar escuro ainda por cima. Mas eu ia me lembrar se já o tivesse
visto. Aquele rosto é inesquecível.
— Você está se lembrando dele, sua safada! Das coisas que mafioso
fez com seu corpinho sarado! — Daiane grita, e quase pulo do colchão. Eu
tinha me esquecido de que estava ao seu lado de tão quieta que ela ficou.
— Não estou!
— Está sim! Não mente para mim, Sofia Pires.
Solto um resmungo, me levanto do colchão de uma vez e vou em
direção ao banheiro da suíte. Dou língua para Daiane, que gargalha e me joga
o travesseiro, mas fecho a porta do banheiro antes que me acerte. Respiro
fundo e começo a me despir para tomar um banho. Uso meus pertences que
praticamente fazem parte do banheiro de Daiane e tiro a maquiagem forte que
minha amiga insistiu em tacar em mim para me tirar da fossa. Tiro o vestido,
que também foi presente dela, e ligo o chuveiro. Deixo a água quente cair no
meu corpo, ainda com a imagem do mafioso tarado na minha mente.
Demoro propositalmente no banho, esperando que a euforia de Daiane
tenha diminuído para que ela possa me deixar em paz pelo menos por hoje.
Estou confusa, agitada e curiosa demais para conseguir pensar com
racionalidade. Sei que não há nada o que fazer, só me resta esquecer o
episódio e seguir adiante, mas sinto que não vai ser fácil como estou achando.
Saio do banheiro e encontro Daiane mexendo no celular, com a bunda
para cima, quase quicando na cama de agitação.
— Adivinha? — ela grita e se levanta de uma vez, pulando de
animação. — Consegui uma entrevista para você! Uma amiga minha me
disse que abriu uma vaga na empresa que ela trabalha. Ela me disse que é
difícil e que o chefe é exigente, mas que o salário vale muito a pena. O que
me diz? Posso confirmar com ela?
— Uau… Mas tão rápido? Não tenho experiência nenhuma, Dai. Será
que contratam uma pessoa sem faculdade? — pergunto, secando meu cabelo
com a ponta da toalha.
— Amiga, normalmente não, mas como a Raquel é muito minha
amiga, vai fazer esse favorzinho para mim. A licença-maternidade dela vai
começar antes do que ela previu, então eles estão precisando com urgência. E
você dá conta do recado mesmo sem faculdade.
Aceno, distraída.
— É estranho pensar em tomar decisões assim, sozinha.
— Sof…
— Eu sei, Daiane. Marcos não vale nada e tudo mais. Você já me disse
seu ponto, mas eu planejei a minha vida inteira com ele. Só é difícil assimilar
tudo.
Ela acena, mesmo que não concorde em nada.
Quando meu futuro não estava traçado por Marcos, estava por meus
pais, que sempre apoiaram meu relacionamento com ele desde o início. Ou
melhor, ainda apoiam, porque eles não têm noção de que terminei meu
noivado com o homem depois da facada nas costas que levei.
Mordo meu lábio inferior, pensativa, e engulo em seco. Sinto o
nervosismo de começar a agir mais por mim tomando de conta do meu corpo.
— Tudo bem. Pode agendar a entrevista.

Continue lendo aqui: Uma virgem resgatada pelo


CEO

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