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Há jovens estudantes que não apresentam uma rejeição a priori pelos trabalhos da crítica
externa, e que talvez até estejam dispostos apreciá-los, mas que são – a experiência tem
demonstrado – totalmente incapazes de realizá-los. Não seria algo estranho se fosse o caso
dessas pessoas serem intelectualmente frágeis; essa incapacidade seria então uma
manifestação de sua fraqueza geral; algo que não se resolveria nem mesmo se tivessem
passado por estudos técnicos.
Por exemplo, quando visitou a cidade de Adelaide, na Austrália: “Vimos”, diz ele, “abaixo de
nós, numa bacia com um rio serpenteando por ela, uma cidade de 150.000 habitantes, sendo
que nenhum deles jamais tenha conhecido, ou conhecerá, a menor apreensão a respeito da
regularidade de suas três refeições diárias”. Assim disse Froude; agora vamos aos fatos:
Adelaide foi construída em um pequeno planalto; nenhum rio passa por ela; quando Froude
a visitou, a população não ultrapassava 75 mil pessoas, e que padeciam de fome. E outros
erros semelhantes.
Froude estava perfeitamente ciente da utilidade da crítica, e foi inclusive um dos primeiros
na Inglaterra a fundamentar o estudo da história em documentos originais, tanto inéditos
quanto publicados; mas sua conformação mental o tornava totalmente inadequado para a
correção de textos; na verdade, mesmo sem intenção ele os assassinava, sempre que os
tocava.
Assim como o Daltonismo (uma doença da vista que impede que um homem diferencie
corretamente sinais vermelhos e verdes) o incapacitaria para um emprego em uma ferrovia,
sua imprecisão crônica, ou “mal de Froude” (uma doença não muito difícil de diagnosticar)
deveria ser considerada incompatível com a prática profissional da erudição crítica.
O mal de Froude não parece ter sido estudado por psicólogos, nem, de fato, deve ser
considerado como uma entidade patológica única. Cada um comete erros “por descuido”,
“por precipitação” e de muitas outras maneiras. O que é anormal é cometer muitos erros,
e permanecer errando, apesar dos mais constantes esforços para ser exato.
Provavelmente, esse fenômeno esteja ligado à pouca a atenção e à atividade excessiva da
imaginação involuntária (ou subconsciente) que a vontade do paciente, desprovida de
força e estabilidade, é incapaz de controlar.
Mas, abandonemos as causas psicológicas do mal de Froude, para analisarmos outro ponto
que nos chama a atenção. O homem de mente mais equilibrada é susceptível de destruir o
mais simples trabalho crítico se não lhe dedicar o tempo necessário. Nesse campo, a
precipitação é a fonte de inúmeros erros. Diz-se corretamente que a paciência é a qualidade
fundamental do erudito. Não trabalhar às pressas, agir como se houvesse prêmio pela
paciência, manter o trabalho incompleto preferencialmente a arruiná-lo: são máximas
bastante fáceis de serem enunciadas, mas que na prática só podem ser seguidas por pessoas
de temperamento tranquilo.
Há pessoas nervosas e excitáveis, que têm pressa de chegar ao fim, buscando diversidade
em suas tarefas, e ansiosas de brilhar e causar sensação: possivelmente estas pessoas podem
encontrar empregos honrosos em outras carreiras; mas se abraçam a erudição, estão
condenadas a acumular uma massa de trabalhos provisórios, susceptíveis de serem mais
prejudiciais que benéficos e que, no longo prazo, muito provavelmente, a atividade não lhes
tratará nada mais que aflição.