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Na construção de sua narrativa o autor cita jetos de alto risco e inovadores, acabou negando
teorias sobre a morte clínica e analisa resultados, o financiamento por julgar “o conceito de testar
sempre com um senso crítico científico e esfor- as afirmações das pessoas de estarem ‘fora do
çando-se em construir explicações claras e “tra- corpo’” como sendo algo inaceitável para eles. Te-
duzidas” para leigos. A despeito de certo descui- miam que a pesquisa tivesse um impacto negati-
do na revisão da tradução para o português, a vo para a instituição na imprensa, e a Parnia su-
linguagem é acessível, com analogias simples e geriram que não pesquisasse mais esse tipo de
próximas das pessoas, para que todos possam assunto, por não ser bom para sua carreira.
entender a idéia que visa ser transmitida. Porém, Não é necessário aprofundar a enorme sen-
há momentos mais “tensos”, como na aproxi- sação de fracasso, abandono, carência de recur-
mação que é feita da forma e expressão da cons- sos e falta de confiança que tomou o pesquisador.
ciência com a teoria das 11 dimensões do univer- Também, não é preciso discutir sua obsessão e
so, fruto do pensamento quântico. afinco em reativar a Horizon Research Foundati-
De acordo com essa teoria, do mesmo modo on (www.horizonresearch.org), uma instituição
que não somos aptos (ainda, talvez) a ver as ou- patrocinadora de pesquisa, com o objetivo de não
tras tantas dimensões existentes no universo, tam- somente arrecadar fundos para seu próprio estu-
bém não podemos ver a consciência humana. Dessa do, como também ser uma fonte de financiamen-
maneira, como Faraday que sugeriu haver algo a to para outros que queiram pesquisar sobre a
mais na espiral além da corrente elétrica gerada morte. Desse modo o autor prossegue seus estu-
por ele afetando a circunferência, e só pôde prová- dos de forma árdua, buscando dar visibilidade a
lo anos depois, também há essa sugestão quanto à suas ideias nos meios científico e não científico.
consciência, e, para o autor, apenas não encontra- Para concluir, o autor deixa ver que as pes-
mos ainda uma forma satisfatória de medi-la. quisas continuaram, sobretudo calcadas no ques-
Já formado e com pós-graduação em treina- tionamento da onipotência do cérebro e na dú-
mento clínico na medicina interna, e tendo obtido vida sobre se ele é o único responsável por nossa
o título de Membro da Faculdade Real de Médi- consciência. Em suas palavras: “o que foi desco-
cos, decidiu combinar um PhD em biologia celu- berto até agora talvez seja apenas a ponta de um
lar (sua carreira na pesquisa médica) com uma iceberg, mas possui enormes implicações para
especialização em tratamento respiratório (sua todos nós”. Tendo como única certeza na vida a
carreira na medicina clínica). Mesmo assim, não nossa própria morte, o assunto torna-se de inte-
abandonou suas pesquisas e acabou chegando a resse geral senão no aspecto científico, pelo me-
um ponto em que não poderia continuar os estu- nos por curiosidade ante um momento que se
dos sem um patrocínio. Porém, conseguir o cus- apresentará a todos nós. Além disso, Sam Parnia
teio de uma pesquisa tão ousada como essa não explicita que o papel da ciência não é somente
seria fácil. As instituições médicas de apoio pro- duvidar e rotular como impossível, mas sim de
curadas não tinham interesse pelo tema da mor- ir à busca de evidências. De forma que se ainda
te, ou dispunham de um orçamento extremamen- não somos capazes de provar, não significa que
te limitado. Uma das maiores e mais bem-sucedi- o fato seja improvável. O papel do investigador é
das instituições patrocinadoras de pesquisa do buscar os meios possíveis para compreender e
Reino Unido, que na época almejava apoiar pro- explicar as experiências de fronteira.