Você está na página 1de 176

A Luz que em do Além

Prosseguindo suas pesquisas sobre as Experiências de Quase-


Morte — relatos de pessoas consideradas clinicamente mortas e
que retornaram ao mundo dos vivos — o doutor Raymond A.
Moody JR. ampliou, ainda mais, o alcance de seus estudos.
Autoridade mundialmente conhecida nessa área, o escritor fala,
neste livro, ao público emí geral, levando a paz para aqueles que
buscam respostas diante da morte.
Divulgadas pela primeira vez, em 1975 quando Moody lançou A 1
Vida Depois da Vida, best-seller publicado no Brasil pela Butterfly
Editora, com mais de 13 milhões de exemplares vendidos no
mundo inteiro suas pesquisas provocaram uma verdadeira onda
de novas investigações. Moody influenciou uma geração de
pesquisadores, os quais comprovaram suas conclusões
inicialmente contestadas.
Profunda reflexão em torno dá necessidade de incorporar
fraternidade, amor e desprendimento ao cotidiano de nossas vidas,
A Luz que vem do Além emociona e fala à razão, abrindo um portal
para aqueles que desejam conhecer de perto a incrível realidade de
uma outra dimensão da existência a vida num plano ainda
inexplorado.
RAYMOND A. MOODY JR.

Pioneiro na investigação das Experiências de Quase-Morte,


influenciou toda uma geração de pesquisadores e estudiosos
dedicados à compreensão científica da morte, ao publicar o livro A
Vida Depois da Vida também editado no Brasil pela Butterfly
Editora mais de 13 milhões de exemplares vendidos no mundo
inteiro.
Psicólogo gieciona na Universidade de Nevada, em Las Vegas,
Estados Unidos, onde ocupa a Bigelow Chair of Consciousness
Studies. Autoridade mundial mente reconhecida no campo das
Experiências de Quase-Morte, é palestrante requisitado e ainda é o
autor de Reflection of life after life. Hoje, em grande parte graças
às suas pesquisas científicas, mais da metade das faculdades norte-
americanas promovem cursos sobre os aspectos espirituais da
morte. Novas e extraordinárias pesquisas confirmam: pessoas
consideradas clinicamente mortas que retornaram ao mundo dos
vivos relatam suas fantásticas aventuras. Conduzidos por "Seres de
Luz”, esses viajantes do mundo invisível encontraram-se com
parentes e amigos já falecidos...
Depois de investigar mais de mil casos de Experiências de
QuaseMorte as EQMs o doutor Raymond Moody Jr., autoridade
mundialmente reconhecida nessa área de estudo, revela um
incrível e benéfico efeito colateral dessas viagens. Radicais
mudanças de personalidade são provocadas por Iplpp breves e
reais incursões a uma região ainda não Çmápeada fcela ciência: o
fascinante mundo dos mortos... d' Atravepse o túnel na direção da
luz que vem do além. óí Descúbrá/toda a verdade sobre o que o
aguarda do outro lado da vida...
ISBN 8588477-38-6 flyed.com.br flyed@flyed.com.brTítulo Jo
original norte-americano:
The Light Beyond
Copyright © RaymonJ A. MooJy, Jr., M.D. 1988
A Luz que Vem do Além Copyright Ja traJução © Butterfly
EJitora LtJa. 2004
%Direitos autorais reservaJos.
E proihiJa a reproJução total ou parcial, Je qualquer forma ou
por qualquer meio, salvo com autorização Ja EJitora. (Lei na 9.610,
Je 19 Je fevereiro Je 1998.)
Ficha catalográfica elahorada por Lucilene Bemardes Longo —
CRB-
8/2082
MooJy Jr., RaymonJ À.
A luz que vem Jo além RaymonJ A. MooJy Jr. ; traJução Melissa
Kassner. — São Paulo : Butterfly, 2004. ISBN 85-88477-38-6
1. EspiritualiJaJe. 2. Morte. 3. Quase-morte. I. Kassner, Melissa.
II. Título.
CDD: 133.3
Butterfly Editora Ltda.
Rua Atuai, 383 — Sala 5
Mia Esperança/Penha
CEP 03646-000 São Paulo SP Fone: (Oxxll) 6684-9392 WWW. flyeJ
.com.Lr fly e J@flye J. com. hr pela:
Impresso no Brasil, na primavera Je 2004 Yangraf Gráfica e
Editora Ltda. 1-10-04-6.000

EU estava extremamente doente e próximo da morte e com meus


problemas cardíacos ao mesmo tempo que minha irmã estava próxima da
morte em outra parte do mesmo hospital num coma diabético. Deixei
meu corpo e fui até o canto da sala, onde observei os médicos trabalharem
em mim.
De repente, encontrei-me conversando com minha irmã, que também
estava no alto da sala. Sempre fui muito apegado a ela, e estávamos
tendo uma ótima conversa sobre o que acontecia ali embaixo, quando ela
começou a se afastar de mim.
Tentei segui-la, mas ela continuava a me dizer que ficasse onde estava.
“Não é sua hora”, ela dizia. “Você não pode vir comigo porque não é sua
hora”. Então ela começou a se afastar e a desaparecer por um túnel
enquanto fui deixado ali sozinho.
Quando acordei, disse aos médicos que minha irmã havia morrido.
Eles negaram, mas com a minha insistência, enviaram uma enfermeira
para verificar. Ela havia de fato morrido, exatamente como eu sabia que
havia acontecido.
Tradução livre
Para melhor entendimento do prezado leitor, alguns títulos de
livros citados em inglês nesta obra foram traduzidos de forma livre
para a língua portuguesa (entre parênteses), podendo não
corresponder a eventuais publicações já existentes em nosso
idioma.

Notas do Revisor:

Obra digital:
Digitalização: Web / Desconhecido /
Produção: GEALI 2017
A revisão textual atende o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa em
vigor desde 2009
Ficha catalográfica: acima descrita.

Eventuais erros ou omissões na digitalização foram corrigidas quando


identificadas e registradas em Notas da Revisão (NR), quando possível.

Obra Física:
Editora: Butterfly
Ano: 2004 Edição: 2004
ISBN: 9788588477384
CASO TENHA DISPONIBILIDADE ADQUIRA O LIVRO EM LIVRARIA,
PORQUE OS RECURSOS SÃO UTILIZADOS EM OBRAS SOCIAIS E
ASSISTENCIAIS
A LUZ QUE VEM DO ALÉM

“O que acontece após a morte é tão indescritivelmente glorioso que


nossa imaginação e nossos sentimentos não são suficientes para formar
até mesmo uma concepção aproximada disso. ”
C. G. Jung
Prefácio
Raymond Moody alcançou um feito raro na busca pelo
conhecimento humano: ele criou um paradigma.
Em seu livro clássico, The Structure ofScientific Revolutions (A
Estrutura das Revoluções Científicas[1]) , Thomas Kuhn aponta que
as revoluções científicas ocorrem quando alguém cria uma nova
perspectiva, um novo modelo, uma nova abordagem para a
realidade. Após tal avanço, um grande progresso pode ser feito,
quando antes era impossível. O progresso científico, argumenta
Kuhn, é menos resultado do trabalho obstinado de aplicar
métodos científicos aos problemas e mais o resultado de um
insight brilhante e original que acontece no caminho de tal
trabalho.
Como aponta o doutor Moody no presente livro, A Vida Depois da
Vida [2] não é o primeiro livro sobre tais experiências. De fato, Carol
Zaleski de Harvard, em seu estudo fascinante, Otherworld Joumeys
(Jornadas a Outros Mundos), conta-nos que a literatura da Idade
Média está repleta de relatos similares. Então, Moody não
descobriu tais experiências, mas deu-lhes um nome, e esse nome
Experiência de Quase-Morte (EQM) fornece o paradigma para a
pesquisa considerável que se deu desde a publicação de A Vida
Depois da Vida.
Por que o fato de dar um nome ao fenômeno é tão importante?
Stephen Hawking, o grande físico teórico inglês, disse que o nome
buraco negro para o fenômeno que ele está estudando é de
importância crítica. O mesmo acontece com toda a atividade
humana, já que damos nomes às criaturas que conferem
significado aos fenômenos os nomes que escolhemos determinam
como explicamos os fenômenos e o que os outros fazem com nosso
trabalho.
O doutor Moody não apenas redescobriu uma experiência que,
como sabemos agora, acontece amplamente na condição humana,
mas, também, ao dar a essa experiência o rótulo adequado,
garantiu que haveria mais pesquisa e estudos sobre o fato. E
impossível superestimar a importância de tal contribuição para o
conhecimento humano.
A Luz que Vem do Além, assim como os esforços anteriores do
doutor Moody, é caracterizado pela franqueza, sensibilidade e
modéstia. Acredito que a última característica é a mais importante
em seu trabalho. Ele não faz qualquer declaração extrema de suas
descobertas. O próprio rótulo, Experiência de Quase-Morte, é tão
eficaz porque é extremamente modesto. O doutor Moody não
anuncia ter provado nada mais do que a experiência e a ampla
prevalência da EQM.
A pesquisa da EQM provou cientificamente que existe vida após
a morte? Acho que não, apesar de algumas declarações
entusiasmadas que foram feitas em relação a isso. Ela meramente
prova que no momento da morte muitas pessoas passam por uma
experiência benigna e promissora. Não acredito que qualquer
outra coisa possa ser concluída além disso sobre a questão da
sobrevivência humana. Portanto, não vejo por que muitos dos
estabelecimentos científicos e médicos não possam se dar por
satisfeitos com o fato demonstrado de que essas experiências
ocorrem e estudá-los com interesse e respeito.
A pesquisa de EQM aumenta as probabilidades da sobrevivência
humana além da morte? Acredito que sim; mas, quando se está
trabalhando com probabilidades, ainda é necessário um salto de
fé, e a maioria das pessoas que passam por EQMs não hesitam em
dá-lo.
Próximo ao final deste livro, o doutor Moody cita um homem
que talvez tenha sido o maior pensador americano, William James.
A EQM é uma experiência “abstrata”, uma experiência de
iluminação que pretende fornecer uma compreensão que é
incontestável para aquele que passou por isso. Como o próprio
James coloca, tais experiências não podem se restringir à aceitação
da ciência empírica; mas, como tal experiência ocorre, a ciência
empírica não pode exigir um monopólio sobre as formas humanas
de conhecimento. Carol Zaleski chega à mesma conclusão no final
de sua investigação; assim como o doutor Moody, ela recai sobre as
categorias de William James: a EQM é uma experiência de
iluminação mística.
“Visões do além-mundo são produtos da mesma força
imaginativa que está ativa em nossas formas ordinárias de
visualizar a morte; em nossa tendência a retratar ideias de forma
concreta, encorpada e dramática; na capacidade de nossos estados
internos transfigurarem nossa percepção de paisagens externas;
em nossa necessidade de internalizar o mapa cultural do universo
físico; e em nosso desejo de experimentar esse universo como um
cosmos moral e espiritual ao qual pertencemos e onde temos um
propósito.”
Então, a EQM é uma de várias experiências que renovam a
esperança durante a vida humana embora seja uma experiência
espetacular. É uma pista de uma explicação, embora seja uma pista
poderosa.
Não é apenas uma pista qualquer.
A doutora Zaleski, em correspondência comigo sobre seu
trabalho, comentou que sua carta estava atrasada devido ao
nascimento de seu primeiro filho. Respondi dizendo que me
perguntava se o nascimento de uma criança não seria uma pista
tão forte quanto a EQM, talvez uma pista muito mais comum e
aceita. Do ponto de vista do Ser Supremo, a questão poderia muito
bem ser se Ele pode nos dar pistas melhores ou em maior número
do que as que Ele já nos deu.
Seja como for, as pistas, os rumores dos anjos, não são muito
úteis para aqueles que estão inclinados a ouvi-los, a menos que
isso influencie suas vidas; Como a doutora Zaleski coloca: “Uma
convicção de que a vida supera a morte, por mais intensa que seja
a sensação, acabará perdendo sua vitalidade e se tomará um mero
registro fóssil tão estranho quanto qualquer doutrina emprestada,
a menos que seja testado e redescoberto na vida cotidiana”.
Ao ler as explorações do doutor Moody em relação à luz e à Luz,
ele parece estar expondo o mesmo argumento. A Luz entrou na
escuridão, e a escuridão não conseguiu expulsá-la.
Andrew Greeley CHICAGO ALL-SOULS/SAMAIN 1987
1 A experiência de quase morrer
O que acontece quando as pessoas morrem? Essa é
provavelmente a pergunta feita com mais frequência, e uma que
deixa a Humanidade perplexa. Será que simplesmente deixamos
de vivo-, sem deixar nada além dos nossos restos mortais para
marcar nossa passagem pela Terra? Será que somos ressuscitados
mais tarde por um Ser Supremo apenas se tivermos boas notas no
Livro da Vida? Será que voltamos como animais, assim como
acreditam os hindus, ou talvez como pessoas diferentes gerações
mais tarde?
Não estamos mais próximos de responder à questão básica
sobre, o pós-morte agora do que estávamos há milhares de anos
quando os antigos refletiram sobre o assunto pela primeira vez.
Mas há muitas pessoas comuns que estiveram à beira da morte e
relataram vislumbres miraculosos de um mundo além deste, um
mundo que brilha com amor e compreensão e que somente pode
ser alcançado através de uma viagem por um túnel ou por uma
passagem.
Esse mundo é habitado por parentes falecidos, imersos numa
luz gloriosa e guiados por um Ser Supremo que encaminha os
recém-chegados para uma revisão de sua vida antes de mandá-los
de volta à Terra para viver por mais tempo.
Quando retomam, as pessoas que “morreram” nunca mais são
as mesmas. Elas abraçam a vida plenamente e expressam a crença
no amor e no conhecimento como as coisas mais importantes,
porque são as únicas que podemos levar conosco.
Como precisamos de um termo melhor para descrever esses
incidentes, passaremos a dizer que essas pessoas tiveram
Experiências de Quase-Morte (EQMs).
Criei esse termo no meu primeiro livro, A Vida Depois da Vida.
Outras pessoas denominaram essas experiências de outras formas
incluindo “Viagens ao Outro Mundo”, “Voo do solitário para o
Solitário”, “Pane do avião”, “Visões da pré-morte”. Mas os sinais
desses episódios sem importar como sejam chamados todos
apontam para uma experiência semelhante. As pessoas que
passam por EQMs experimentam alguns ou todos os seguintes
eventos: uma sensação de estar morto, paz e ausência de dor
mesmo durante uma experiência “dolorosa”, separação do corpo,
entrada numa região escura ou num túnel, subida rápida ao céu, o
encontro com amigos e parentes falecidos que estão imersos em
luz, encontro com um Ser Supremo, revisão da própria vida e o
sentimento de relutância em voltar ao mundo dos vivos.
Isolei esses sinais ao longo das duas últimas décadas numa
pesquisa pessoal que começou, por coincidência, quando eu tinha
vinte anos e estudava filosofia na Universidade da Virgínia.
Eu estava sentado com uns doze alunos em uma sala de
seminários ouvindo o professor John Marshall discutir as questões
filosóficas relacionadas à morte. Marshall mencionou conhecer um
psiquiatra na cidade doutor George Ritchie que havia sido dado
por morto com pneumonia dupla e, então, ressuscitado com
sucesso. Enquanto esteve “morto”, Ritchie teve a experiência
marcante de passar por um túnel e ver Seres de Luz.
Essa experiência, meu professor comentou, havia marcado
profundamente esse médico, que estava convencido de ter tido
permissão para espiar no mundo pós vida.
Francamente, naquela altura da minha vida, a possibilidade de
que pudéssemos sobreviver espiritualmente após a morte física
nunca me havia ocorrido. Eu havia sempre acreditado que a morte
era a destruição do corpo físico da pessoa assim como da sua
consciência. Naturalmente, fiquei intrigado pelo fato de que um
médico respeitado estivesse convicto o suficiente para admitir
publicamente ter tido uma visão do pós-morte.
Poucos meses depois, ouvi o próprio psiquiatra descrever sua
experiência para um grupo de estudantes. Ele nos disse ter visto o
próprio corpo morto, a uma certa distância, deitado numa cama de
hospital, e depois ido em direção a uma luz brilhante que emanava
amor e de ter também revivido cada momento de sua vida num
plano tridimensional.
Arquivei a história de Ritchie na minha memória e continuei
com meus estudos, terminando o doutorado em filosofia em 1969.
Foi quando comecei a lecionar na universidade que deparei com
outra experiência de quase morte.
Um dos meus alunos quase havia morrido no ano anterior e eu
lhe perguntei como tinha sido a experiência. Fiquei espantado ao
descobrir que ele havia tido um episódio quase idêntico àquele que
o doutor Ritchie tinha narrado mais de quatro anos antes.
Comecei a encontrar outros estudantes que sabiam de outras
EQMs. Quando entrei na escola de medicina em 1972, eu já tinha
nada menos do que oito casos de estudo de EQMs de pessoas
sinceras e confiáveis.
Na faculdade de medicina descobri mais casos e logo eu tinha
casos de estudo suficientes para compilar A Vida Depois da Vida,
que se transformou num best-seller internacional. Havia
claramente uma sede em saber o que nos acontece após a morte,
O livro levantou várias questões que não puderam ser
respondidas e provocou a ira dos céticos, que consideraram os
casos de estudo de algumas centenas de pessoas sem valor para o
“verdadeiro” estudo científico. Muitos médicos afirmaram jamais
ter ouvido falar em experiências de quase-morte, embora tivessem
ressuscitado centenas de pessoas. Outros consideravam os relatos
simplesmente como uma forma de doença mental, como a
esquizofrenia. Alguns diziam que essas EQMs somente
aconteciam a pessoas extremamente religiosas, enquanto outros
acreditavam ser uma forma de possessão demoníaca. Essas
experiências nunca acontecem com crianças, disseram alguns
médicos, porque elas não foram “culturalmente contaminadas”
como os adultos. Pouquíssimas pessoas passaram por EQMs para
que fossem consideradas significativas.
Algumas pessoas se interessaram em pesquisar o assunto das
EQMs posteriormente, sendo eu uma delas. O trabalho que
desenvolvemos na última década esclareceu muitas questões sobre
o assunto. Temos conseguido lidar com a maioria das perguntas
feitas por aqueles que acreditam que as EQMs não passam de uma
doença mental ou o cérebro pregando peças em si mesmo.
Na verdade, foi bom ter céticos à nossa volta, porque isso nos fez
olhar para esse fenômeno de maneira muito mais séria e intensa
do que teríamos feito. Muito do que nós, pesquisadores,
descobrimos está descrito neste livro.
Quem, Quantos e Por Quê
Uma coisa que eu gostaria de discutir neste capítulo é o grande
número de EQMs que realmente acontecem. Quando comecei a
analisar este fenômeno, pensei que havia muito poucas pessoas
que realmente tivessem vivenciado essas experiências.
Eu não tinha nenhuma referência, e não havia certamente
nenhuma mencionada na literatura médica, mas se tivesse de fazer
uma projeção, diria que uma em oito pessoas que foram
ressuscitadas ou tiveram um breve encontro com a mortalidade,
tiveram pelo menos um dos sintomas de EQM.
Quando comecei a dar palestras e a perguntar aos estudantes se
eles já haviam passado por uma EQM ou conhecido alguém que
tivesse vivenciado uma, minha percepção da frequência deste
fenômeno mudou
dramaticamente. Nas palestras, eu costumava perguntar à
plateia: “Quantos de vocês já vi vendaram uma EQM ou conhecem
alguém que passou por isso?” Cerca de uma pessoa em cada trinta
levantava a mão em resposta.
Pollster George Gallup Jr. descobriu que oito milhões de adultos
nos Estados Unidos sofreram uma EQM. Isso equivale a uma em
cada vinte pessoas.
Posteriormente, ele pôde analisar o conteúdo dessas
experiências pesquisando seus elementos. Aqui está o que ele
descobriu:
ELEMENTO PORCENTAGEM
FORA DO CORPO 26
PERCEPÇÃO VISUAL PRECISA 23
SONS OU VOZES AUDÍVEIS 17
SENSAÇÃO DE PAZ, AUSÊNCIA DE DOR 32
FENÔMENO DE LUZ 14
REVISÃO DA VIDA 32
ESTAR EM OUTRO MUNDO 32
ENCONTRO COM OUTROS SERES 23
EXPERIÊNCIA DO TÚNEL..., 9
PREMONIÇÃO.......... 6
Tal pesquisa mostrou claramente que as EQMs são muito mais
comuns na sociedade do que qualquer pesquisador do assunto
jamais imaginou.
Os Sintomas da EQM
Conforme mencionei antes, consegui chegar a um conjunto de
nove sintomas que definem uma experiência de quase-morte. Fiz
isso entrevistando centenas de pessoas e examinando seus
episódios únicos em relação a esses elementos comuns.
Em A Vida Depois da Vida eu disse que nunca havia encontrado
alguém que tivesse experimentado todos esses sintomas durante
uma EQM. Mas desde que escrevi o livro, entrevistei mais de mil
pessoas e encontrei várias que tiveram episódios completos, com
os nove sintomas de uma EQM.
Contudo, é importante dizer que nem todas as pessoas que
passam por uma EQM experimentam todos esses sintomas.
Algumas podem ter um ou dois desses sintomas; outras, cinco ou
seis. E a presença de um ou mais deles que define uma EQM.
Sensação de Estar Morto
Muitas pessoas não percebem que a experiência de quasemorte
que estão vivenciando está ligada à morte. Elas se veem flutuando
acima do seu corpo, olhando para ele a uma certa distância, e, de
repente, sentem medo e/ou confusão. Então se perguntam: “Como
posso estar aqui em cima olhando para mim mesmo lá embaixo?”
Isso não faz nenhum sentido e então elas ficam muito confusas.
Nesse momento, talvez não reconheçam realmente o corpo para
o qual estão olhando como sendo o seu.
Um rapaz me disse que, enquanto esteve fora do corpo, ele
passou por um hospital militar e ficou surpreso ao ver quantos
homens jovens estavam ali e que se pareciam com ele tanto na
idade como na aparência. Na verdade, ele estava olhando para
esses corpos diferentes, perguntando-se qual era o seu.
Outro homem que esteve envolvido num acidente horrível no
qual perdeu dois de seus membros lembrou-se de ter ficado
observando o próprio corpo na mesa de cirurgia e de ter sentido
pena daquela pessoa mutilada. Só então percebeu que era ele
mesmo!
Nesse momento, aqueles que atravessam essa experiência
frequentemente sentem medo, que então cede lugar à
compreensão perfeita do que está acontecendo. Elas podem
entender o que os médicos estão tentando transmitir uns aos
outros (mesmo não tendo, na maioria das vezes, nenhum
conhecimento médico formal), mas quando tentam falar com os
demais ou com qualquer outra pessoa presente, ninguém pode vê-
las ou ouvi-las.
Nesse instante, é possível que tentem atrair a atenção das
pessoas presentes tocando nelas. Mas quando fazem isso, suas
mãos passam através do braço da outra pessoa como se não
houvesse nada ali.
Isso me foi descrito por uma mulher que eu mesmo ressuscitei.
Eu a vi ter um ataque cardíaco, f imediatamente comecei, a
massagear seu peito. Ela me disse mais tarde que, enquanto eu
tentava reanimar seu coração, ela subiu acima do corpo e olhou
para baixo. Ela estava em pé atrás de mim, tentando me dizer para
parar, que ela estava bem onde estava. Como eu não a ouvia, ela
tentou agarrar meu braço para impedir que eu inserisse uma
agulha no seu braço para injetar um fluido intravenoso. Sua mão
atravessou o meu braço, mas ao fazer isso, mais tarde ela disse ter
sentido alguma coisa com a consistência de gelatina muito
rarefeita, como se houvesse uma corrente elétrica passando através
dela.
Já ouvi descrições semelhantes de outros pacientes.
Depois de tentar se comunicar com os outros, as pessoas que
passam por uma EQM frequentemente têm a sensação de
autoidentidade aguçada. Uma pessoa descreveu esse estágio como
sendo um momento em que você não é a esposa do seu marido,
você não é o pai dos seus filhos, você não é o filho dos seus pais.
Você é total e completamente você. Outra mulher disse que sentiu
como se estivesse atravessando um “emaranhado de fitas” como a
liberdade dada a um balão quando seus fios são cortados.
É nessa hora que o medo se transforma em felicidade e também
em compreensão.
Paz e Ausência de Dor
Enquanto o paciente está encarnado, frequentemente pode
haver dor intensa. Mas quando os “fios são cortados” há uma
sensação real de paz e ausência de dor. Eu falei com pacientes
cardíacos enfartados que disseram que a dor intensa de seu ataque
cardíaco deixou de ser uma agonia para se transformar num
grande prazer. Alguns pesquisadores teorizaram que o cérebro,
quando experimenta uma dor intensa como essa, elimíha uma
química própria, que interrompe a dor. Eu discuto essa teoria no
Capítulo 7, mas posso dizer aqui que ninguém jamais fez
experimentos que provassem ou negassem essa teoria. Ainda que
seja verdadeira, ela não explica os outros sintomas desse
fenômeno.
A Experiência de Sentir-se fora do Corpo I

Frequentemente, quando o médico diz “Nós o perdemos”!« o


paciente passa por uma mudança completa de perspectiva. Ele se
sente levantar e pode ver o próprio corpo abaixo dele.
A maioria das pessoas diz que não passam a ser apenas um
ponto de consciência quando isso acontece. Elas ainda parecem
estar em algum tipo de corpo, embora estejam fora de seus corpos
físicos. Elas dizem que o corpo espiritual tem forma e aparência
diferentes do nosso corpo físico. Esse corpo tem braços e uma
silhueta, embora a maioria dessas pessoas não consiga descrevê-lo.
Algumas delas dizem que parece uma nuvem de cores ou um
campo de energia .
Uma das pessoas que passaram pela EQM me disse anos atrás
que observou suas mãos enquanto estava nesse estado e percebeu
que eram pequenas e feitas de luz, e que era possível ver as linhas
delicadas das digitais, com tubos de luz subindo pelos braços.
À Experiência do Túnel
A experiência do túnel geralmente acontece depois da separação
do corpo. Só depois de escrever A Vida Depois da Vida é que percebi
que as pessoas passam pelo “corte das amarras” e pela
“experiência de estar fora do corpo” antes de realmente
perceberem que isso tudo está relacionado à morte.
Nessa hora, uma passagem ou túnel se abre e elas são impelidas
para a escuridão. Elas começam a atravessar esse espaço escuro e
no final entram numa luz brilhante da qual falaremos em seguida.
Algumas pessoas sobem escadas em vez de atravessar um túnel.
Uma mulher disse que estava ao lado de seu filho enquanto ele
morria com câncer no pulmão. Uma das últimas coisas que ele
disse foi ter visto uma linda escada em espiral que subia. Ele
acalmou sua mãe quando lhe disse que tinha decidido subir por
aquela escada.
Algumas pessoas contaram ter atravessado portas lindas e
ornamentadas que pareciam simbolizar muito bem a passagem
para um outro reino.
Algumas pessoas ouvem um barulho de corrente de água
quando entram no túnel. Ou ouvem uma vibração elétrica ou um
zumbido.
A experiência do túnel não é algo que descobri. Existe uma
pintura do século XV feita por Hieronymus Bosch intitulada A
Subida ao Império, que praticamente descreve essa experiência. No
primeiro plano, vemos as pessoas que estão morrendo. Era volta
delas estão seres espirituais que tentam desviar sua atenção para
cima. Elas passam por um túnel escuro e saem em direção a uma
luz. Conforme se dirigem para a luz, essas pessoas se ajoelham
numa reverência.
Numa das experiências de túnel mais surpreendentes que ouvi,
o túnel
foi descrito como sendo quase que interminável em extensão e
largura, e repleto de luz.
As descrições são muitas, mas a sensação do que está
acontecendo é a mesma: a pessoa está atravessando uma passagem
em direção a uma luz intensa.
Pessoas de Luz
Depois de atravessar o túnel, a pessoa geralmente encontra
Seres de Luz. Esses seres não são feitos de luz comum. Eles
brilham com uma luminosidade linda e intensa, que parece
permear tudo e encher a pessoa de amor. Na verdade, uma pessoa
que passou por essa experiência disse: Eu poderia descrever isto
como “luz” ou “amor ” e significaria a mesma coisa. Alguns dizem
que é como ficar encharcado por uma tempestade de luz.
Eles também descrevem essa luz como sendo muito mais
brilhante que qualquer coisa que experimentamos na Terra. Mas,
ainda assim, a despeito de sua intensidade brilhante, ela não
machuca os olhos. Ao contrário, é quente, vibrante e viva.
Nessa situação, as pessoas que passam por uma EQM,
frequentemente reencontram amigos e parentes que morreram.
Muitas vezes, dizem que essas pessoas também estão em corpos
tão indescritíveis como os seus próprios.
Além da luz brilhante e de amigos e parentes iluminados,
algumas pessoas também descrevem cenas bucólicas. Uma mulher
que conheço falou de um campo cercado por plantas, cada uma
com sua própria luz interior.
Às vezes, as pessoas veem lindas cidades de luz que desafiam a
descrição, tamanha a sua grandeza.
Nesse estado, a comunicação não acontece em palavras como as
conhecemos, mas de forma telepática e não verbal que resulta
numa compreensão imediata.
O Ser de Luz
Depois de encontrar vários Seres de Luz, a pessoa que passa por
uma EQM encontra um Ser Supremo de Luz. As pessoas de
formação cristã frequentemente O descrevem como Deus ou Jesus.
Aquelas com outras formações religiosas podem chamá-lo de Buda
ou Alá. Há aqueles que disseram não se tratar de Deus nem de
Jesus, mas mesmo assim de grande santidade. ’
Seja ele quem for, o Ser irradia amor e compreensão totais. Tanto
assim que a maioria das pessoas quer ficar com ele para sempre..
Mas não podem. Nessa hora, geralmente o Ser Supremo lhes diz
que é preciso retomar ao corpo físico. Entretanto, antes, é sua
tarefa conduzi-los a uma revisão de sua vida.
A Revisão da Vida
Quando a revisão da vida acontece, não há mais nenhuma
ambientação física. No lugar, há uma revisão panorâmica da vida
num plano tridimensional, totalmente colorido, onde a pessoa
pode rever cada uma das coisas que fez em sua vida.
Isso geralmente acontece numa perspectiva de terceira pessoa e
não ocorre num tempo assim como o que conhecemos. A descrição
mais próxima que já ouvi para esse momento é que toda a vida da
pessoa se apresenta ali, de uma só vez.
Nessa situação, você não vê apenas cada ação que fez, mas
também percebe imediatamente que efeitos cada uma dessas
ações teve sobre as pessoas na sua vida.
Então, por exemplo, se eu me vir cometendo um ato não
amoroso contra alguém, estarei imediatamente na consciência
dessa pessoa, e poderei sentir sua tristeza, sua dor e, então, me
arrepender.
Por outro lado, se fizer uma boa ação a alguém, estarei
imediatamente no seu lugar e poderei perceber os sentimentos de
alegria e carinho.
Durante todo esse processo, o Ser permanece com essas;
pessoas, perguntando o que fizeram de suas vidas. Ele as ajuda
nessa revisão e as ajuda a colocar todos os eventos de sua vida em
perspectiva.
Todas as pessoas que passam por isso retomam acreditando que
a coisa mais importante da sua vida é o amor.
Para a maioria delas, a segunda coisa mais importante é o
conhecimento. À medida que assistem a cenas de sua vida nas
quais estão aprendendo coisas, o Ser assinala que uma das coisas
que podem levar com elas na hora da morte é o conhecimento. A
outra é o amor.
Quando as pessoas voltam, elas têm sede de conhecimento.
Frequentemente se tomam leitores ávidos, mesmo que não fossem
apreciadores de leitura antes, ou ainda inscrevem-se numa escola
para estudar algum assunto diferente daquele em que atuam.
Ascensão Rápida ao Céu
Devo dizer que nem todas as pessoas que têm uma EQM passam
pela experiência do túnel. Algumas relatam uma sensação de
“flutuar ” na qual elas sobem rapidamente aos céus, vendo o
universo de uma perspectiva possível apenas para satélites e
astronautas.
O psicoterapeuta C. G. Jung teve uma experiência como essa em
1944 quando sofreu um ataque cardíaco. Ele disse que sentiu estar
subindo rapidamente para um ponto acima da Terra.
Uma criança com quem conversei disse que se sentiu muito
longe, acima da Terra, passando através das estrelas e se
encontrando lá em cima com os anjos. Uma outra se viu passar
zunindo pelos planetas em tomo dela e ver a Terra embaixo como
se fosse uma bola de gude azul.
Relutância em Voltar
Para muitas pessoas, â EQM é tão agradável que das não querem
voltar. Como consequência, costumam ficar muito bravas com seus
médicos por trazê-las de volta.
Dois médicos amigos meus tomaram conhecimento das EQM
por eles mesmos quando os pacientes que salvaram se tornariam
hostis.
Um deles estava ressuscitando outro médico que tinha acabado
de sofrer um ataque cardíaco. Quando o homem enfartado voltou a
si, disse muito zangado: “Cari, nunca mais faça isso comigo!”
Cari ficou atordoado diante de tanta ira. Mas depois o médico
ressuscitado se desculpou por seu comportamento e explicou sua
experiência. “Eu fiquei louco porque você me trouxe de volta para a
morte e não para a vida”.
Outro médico amigo meu descobriu o fenômeno da EQM
quando ressuscitou um homem que voltou gritando com ele por
ter sido tirado “daquele lugar lindo e resplandecente”.
As pessoas que passam por uma EQM frequentemente agem
dessa forma. Mas é um sentimento passageiro. Se você falar com
elas uma ou duas semanas depois, já estarão felizes por terem
voltado. Embora sintam falta da sensação de felicidade, ficam
felizes por terem a chance de continuar vivendo.
Curiosamente, muitas dessas pessoas sentem que têm a escolha
de voltar ou de ficar. Talvez essa oferta venha do Ser de Luz, ou de
um parente que morreu.
Todas as pessoas com quem falei ficariam se tivessem de se
preocupar só consigo mesmas. Mas geralmente dizem que querem
voltar porque têm filhos para criar ou porque seus cônjuges ou
pais podem sentir sua falta.
Uma mulher em Los Angeles enfrentou essa questão do Ser de
Luz duas vezes na sua vida. Uma vez, no final dos anos sessenta,
quando entrou em coma após um acidente de carro, o Ser lhe disse
que era hora de morrer e ir para o céu.
Ela discutiu com ele, reclamando que era muito jovem para
morrer. Mas o Ser não cedeu até ela dizer: “Mas eu sou jovem,
ainda não dancei o suficiente”.
Nessa hora, o Ser deu uma boa risada e permitiu que ela vivesse.
Aproximadamente trinta anos mais tarde, ela teve um ataque
cardíaco enquanto fazia uma pequena cirurgia. Novamente, ela
passou pelo túnel e se encontrou com o Ser, e de novo ele lhe disse
que era hora de morrer.
Dessa vez, ela argumentou que tinha filhos para criar e que não
podia deixá-los nesse momento de suas vidas.
“Está bem”, disse o Ser. “Mas esta é a última vez. Da próxima
vez, você terá de ficar ”.
Tempo e Espaço Diferentes
Além desses nove sintomas, as pessoas que passaram por uma
EQM dizem que o tempo é altamente comprimido e nada
semelhante ao tempo que observamos em nossos relógios. Essas
pessoas o descrevem como “estar na eternidade”. Uma mulher,
quando inquirida sobre quanto tempo sua EQM durou, disse-me:
“Pode-se dizer que durou um segundo ou que durou dez mil anos
e não faria diferença nenhuma a forma empregada”.
Os limites impostos pelo espaço na nossa vida são
frequentemente quebrados durante as EQMs. Se as pessoas
quiserem ir a algum lugar, frequentemente basta imaginar-se lá.
As pessoas disseram que, enquanto estavam fora do corpo,
observando o trabalho dos médicos na sala de cirurgia, bastava
simplesmente desejar para logo estarem na sala de espera vendo
seus parentes.
Tais experiências são talvez a melhor resposta para as pessoas
que pensam que as EQM são truques que o nosso cérebro prega
em nós mesmos. Afinal, superficialmente, é totalmente possível
que o cérebro, quando sob grande angústia, possa tentar acalmar-
se criando situações de túnel e Seres de Luz para relaxar a pessoa.
Mas essas pessoas que conseguem descrever o que estava
acontecendo em outros lugares enquanto estavam sofrendo, estão
realmente passando por uma experiência extracorpórea.
Tenho vários exemplos de pessoas que tiveram experiências
extracorpóreas durante o processo de ressuscitamento e que
conseguiram sair da sala de operações para observar os parentes
em outras partes do hospital.
Uma mulher que deixou seu corpo foi até a sala de espera e viu
sua filha com roupas xadrez que não combinavam. O que ocorreu
foi que, na pressa de levar a menina ao hospital, a empregada
pegou as duas primeiras coisas que viu na pilha da lavanderia.
Mais tarde, quando contou à família sobre sua experiência e o
fato de ter visto a menina nessas roupas descombinadas, eles
tiveram certeza de que ela havia estado ali com eles naquela sala
de espera.
Outra mulher teve uma experiência fora do corpo e deixou o
quarto onde seu corpo estava sendo ressuscitado. Do saguão do
hospital, ela observava o cunhado quando algum parceiro
comercial dele se aproximou e perguntou o que ele fazia ali.
“Bem, eu ia deixar a cidade numa viagem de negócios”, disse o
cunhado, “mas parece que June vai bater as botas e então é melhor
que eu fique por aqui para dar uma força”.
Uns dias depois, enquanto se recuperava, o cunhado foi visitá-la.
Ela lhe disse que estava na sala enquanto ele falava com o amigo, e
afastou qualquer dúvida dizendo: “Na próxima vez que eu morrer,
você pode fazer sua viagem de negócios porque eu ficarei bem”.
Ele ficou tão pálido que ela pensou que ele também estava prestes
a ter uma EQM.
Outra dessas experiências aconteceu com uma senhora idosa
que eu tentava ressuscitar. Eu estava lhe fazendo uma massagem
no coração numa mesa do pronto-socorro, e a enfermeira 9 que me
assistia foi para outra sala pegar um medicamento de que
precisávamos.
Era uma ampola de vidro que deve ser segurada com uma toalha
de papel ao se quebrar a tampa, para não se cortar. Quando a
enfermeira voltou, o gargalo estava quebrado e eu pude usar o
medicamento imediatamente.
Quando a senhora voltou a si, olhou docemente para a
enfermeira e disse: “Querida, eu vi o que você fez naquela sala,
você vai se cortar fazendo aquilo”. A enfermeira ficou chocada, Ela
admitiu que na pressa em abrir o remédio, havia quebrado o vidro
com os dedos nus.
A mulher nos contou que enquanto a ressuscitávamos, ela havia
seguido a enfermeira até a outra sala para ver o que ela estava
fazendo.
Um Pouco da Pesquisa: Quanto, Quantos?
Como já foi mencionado, o instituto Gallup de pesquisa
descobriu em 1982 que oito milhões de adultos americanos tinham
vivido uma EQM. Uma vez que isso representa quase uma pessoal
em cada vinte, os pesquisadores concluíram que não teriam
problemas em encontrar pessoas com uma EQM para estudar. Na
verdade, muitos desses estudos começaram antes que o Gallup
propusesse a questão da vida após a morte para a América.
Um estudo, apropriadamente intitulado “O Estudo Eterno’'
conseguiu examinar as EQMs de quarenta e nove residentes do
noroeste dos Estados Unidos.
Essas pessoas foram entrevistadas pelos pesquisadores (James
Lindley, Sethyn Bryan e Bob Conley da Universidade Evergreen
em Olympia, Washington) seguindo um critério. Primeiro, as
pessoas tinham permissão de fazer um relato ininterrupto de seu
encontro com a morte. Então, assim que completassem sua
narrativa, uma série de perguntas padrão sobre a experiência eram
feitas.
Essas perguntas eram as mesmas usadas por Kenneth Ring,
psicólogo de Connecticut, que também examinou as EQMs de
dezenas de pessoas e publicou os resultados num livro excelente
Life at Death: A Scientific Investigation ofthe Near-Death Experience
(Vida na Morte: Um Estudo Científico da Experiência de Quase-
Morte), 1980. Seu método de questionamento se tomou o método
reconhecido e aceito para descobrir se uma pessoa realmente
passou por uma EQM. Suas perguntas são neutras até certo ponto
e, então, gentilmente inquiridoras.
Os pesquisadores da Evergreen usaram as mesmas perguntas
para poder comparar seus resultados com os de Ring:
1.O tipo de experiência vivido foi difícil de descrever? (Se sim:)
Você pode, ainda assim, tentar me dizer por quê? O que na
experiência faz com que ela seja tão difícil de relatar? Ela se
parecia com um sonho ou era diferente de um sonho?
2.Quando esse episódio ocorreu, você pensou que estivesse
morrendo ou perto da morte? Você realmente achou que estava
morto? Ouviu realmente dizer que estava morto? O que mais você
lembra de ter ouvido enquanto estava nesse estado?
3. Quais eram seus sentimentos e sensações durante o episódio?
4.Você ouviu algum barulho ou sons incomuns durante o
episódio?
5.Sentiu em algum momento que estava viajando ou se
movendo? Como foi essa experiência? (Se apropriado:) Essa
experiência estava de alguma forma associada ao barulho (som)
que você descreveu antes?
6.Você sentiu em algum momento durante a experiência que, de
alguma forma, você estava separado do seu próprio corpo físico?
Durante esse tempo, você estava consciente para ver seu próprio
corpo físico? (Faça essas perguntas uma a uma e então, se
apropriado, faça as demais perguntas.) Você poderia descrever
essa experiência para mim? Como se sentiu enquanto estava nesse
estado? Enquanto esteve fora do corpo, onde você estava? Você
tinha outro corpo? (Se sim:) Havia algum tipo de conexão com seu
corpo físico? Algum tipo de ligação entre os dois, que você
pudesse ver? Descreva! para mim. Enquanto esteve nesse estado,
qual era sua percepção de tempo? E de espaço? E de peso? Havia
alguma coisa que você pudesse fazer nesse estado e que: você não
poderia fazer no seu corpo físico normal? Você tinha consciência
de gostos ou cheiros? Como, se for o caso, sua visão e audição
foram afetadas nesse estadoa Você experimentou uma sensação de
solidão durante esse tempo? Como foi?
7. Durante o seu episódio, você encontrou outros indivíduos,
vivos ou mortos? (Se afirmativo: Quem eram eles
O que aconteceu quando você os encontrou? Eles falaram com
você? O quê? Como? Por que você acha que eles se comunicaram
com você? Como você se sentiu na presença deles?
8.Você em algum momento viu uma luz, brilho ou iluminação?
Você pode descrever isso para mim? (Se afirmativo:) Essa luz
comunicou alguma coisa para você? O quê? O que você achou
dessa luz? Como se sentiu? (Ou como ela fez você se sentir?) Você
encontrou alguma figura religiosa como anjos, anjos da guarda,
Cristo ou outros? Você encontrou algum espírito assustador como
demônios, bruxas ou o diabo?
9.Enquanto passava por essa experiência, sua vida ou cenas da
sua vida apareceram como imagens mentais ou memórias? (Se
sim:) Você pode explicar isso melhor? Como foi a experiência?
Como ela o fez sentir? Você sente que aprendeu alguma coisa com
essa experiência? Se sim, o quê?
10.Em algum momento você teve a sensação de se aproximar de
algum tipo de barreira, obstáculo, fronteira ou um ponto qualquer
sem volta? (Se sim:) Você pode descrever isso para mim? Você se
lembra de ter pensado ou sentido alguma coisa à medida que se
aproximava desse ponto? Você tem alguma ideia do que esse ponto
representava ou significava?
11.(Se o paciente afirmou anteriormente quase ter morrido,
pergunte:) Quando você percebeu que estava à beira da morte,
como se sentiu? Você quis voltar para o seu corpo, para a vida?
Como foi quando você se viu de volta ao seu corpo? Você se lembra
de como voltou para o corpo? Você tem alguma ideia de por que
não morreu dessa vez? Você se sentiu julgado por alguma força
impessoal?
12.Essa sua experiência é recente, mas eu me pergunto se ela o
transformou de alguma maneira. Você acha que sim ou não? De
que forma ela o modificou? (Se necessário e adequado, então
pergunte:) Essa experiência mudou sua atitude em relação à vida?
Como? Ela alterou sua crença religiosa? Se sim, como? Comparado
a como você se sentia antes dessa experiência, você tem mais ou
menos medo da morte, ou isso permanece inalterado? (Se
apropriado:) Você afinal tem medo da morte ou não? (Se o paciente
tiver tentado suicídio, pergunte:) Como essa experiência afetou sua
atitude em relação ao suicídio? Qual a probabilidade de você
tentar o suicídio novamente? (Seja cuidadoso).
13.(Se isto não tiver sido completamente abordado na questão 12,
então pergunte, caso o paciente tenha afirmado que esteve à beira
da morte:) Na qualidade de alguém que esteve à beira da morte,
você pode me dizer, com suas próprias palavras, o que você
acredita ser a morte agora? O que ela significa para você?
14. Há mais alguma coisa que você gostaria de acrescentar aqui
sobre essa experiência e os efeitos que tiveram em você?
Usando as mesmas perguntas feitas por Ring, os pesquisadores
de Evergreen puderam comparar seus resultados ao estudo, mais
amplo dos pesquisadores de Connecticut.
Eles dividiram a experiência de quase-morte em cinco grandes
estágios em vez dos nove estágios específicos que tracei
anteriormente:
Paz, Separação do Corpo, Escuridão, Luz e Cenário Interior.
No estudo de Evergreen, 74,5 % dos entrevistados
experimentaram uma sensação de paz durante a EQM, ao passo
que apenas 60% vivenciaram essa mesma sensação no estudo de
Ring.
Os pesquisadores de Evergreen acharam os relatos desse estágio
exaustivos, já que as pessoas entrevistadas frequentemente se
alongavam interminavelmente na descrição da paz, felicidade e
calor humano que sentiram nessa fase.
O estágio de separação do corpo foi experimentado por 70,9%
dos sujeitos da Evergreen e por 37% da Ring. A Escuridão, que
também poderia ser descrita como a experiência do túnel, foi
detectada em 38,2% dos entrevistados da Evergreen e em 23% da
Ring. A Luz, que poderia incluir os Seres de Luz, foi
experimentada por 56,4% dos participantes da Evergreen e por
16% de Ring.
O Cenário Interior, descrito como o paraíso por muitos dos
entrevistados, foi vivenciado por 34,5% dos pacientes na Evergreen
e por 10% na Ring.
De todas as pessoas estudadas pelos pesquisadores da
Evergreen, só houve uma EQM “infernal”, que eles definem como
uma EQM que contém medo intenso, pânico ou ira e pode também
conter visões de criaturas demoníacas. Nessa experiência, um
homem relatou que foi levado ao inferno por engano durante a
segunda de suas três EQMs. Sua entrevista foi esclarecedora e
divertida:
ENTREVISTADO: A segunda experiência foi diferente, eu fui para
baixo! E lá embaixo estava escuro, as pessoas uivavam, [havia] fogo, elas
queriam uma bebida ou água... Então alguém veio até mim, eu não sei
quem era, me puxou de lado e disse: “Você não vai ficar aqui embaixo,
você vai voltar para cima”.
ENTREVISTADOR: Ele realmente usou essas palavras?
ENTREVISTADO: Sim, “Você vai voltar para cima. Nós não
queremos você aqui porque você não é tão mal".
ENTREVISTADOR: Você primeiro experimentou a escuridão e então...
ENTREVISTADO: Preto como breu. Primeiro descemos... estava
escuro como breu.
ENTREVISTADOR: Você desceu por um túnel?
ENTREVISTADO: Não era só um túnel, era mais que um túnel, era
um túnel bem grande. Eu estava flutuando para baixo... Havia um
homem ali esperando, ele disse: “Não é ele ”{.
ENTREVISTADOR: Você podia ver as pessoas que estavam gritando?
ENTREVISTADO: EU vi um monte de gente lá embaixo, gritando,
uivando...
ENTREVISTADOR: Elas estavam vestidas?
ENTREVISTADO: Não, não, não. Sem nenhuma roupa.
ENTREVISTADOR: Elas estavam nuas!
ENTREVISTADO: Sim.
ENTREVISTADOR: E quantas você acha que havia?,,
ENTREVISTADO: Oh, Cristo, não dava para contar.
ENTREVISTADOR: Milhares?
ENTREVISTADO: EU diria que cerca de quase um milhão para mim.
A Luz QUE VEM DO ALÉM
ENTREVISTADOR: É mesmo ? E elas estavam todas péssimas? -
ENTREVISTADO: Estavam péssimas e horríveis. Ficavam me
pedindo água. Elas não tinham água.
ENTREVISTADOR: E havia alguém presente que observava essas
pessoas
ENTREVISTADO: Sim, ele estava lá. Ele tinha seus pequenos
chifres...
ENTREVISTADOR: Ele tinha chifres! Você quem você acha... você
reconhece essa pessoa?
ENTREVISTADO: Ah, sim. Eu o reconheço em qualquer lugar.
ENTREVISTADOR: Quem era? ' ,
ENTREVISTADO: O demônio em pessoa! ,
Experiências como essa são raras. Os pesquisadores da
Evergreen combinaram sua pesquisa com a minha e a de Ring e
descobriram que somente 0,3% descreveram suas EQMs como
“infernais”.
Mas uma coisa que não é rara na EQM é sua tendência de
modificar a pessoa que passa por isso. Essas experiências são
instrumentos tão poderosos de mudança que muitas pessoas têm
de se submeter a uma terapia psicológica para descobrir como isso
se encaixa em suas vidas.
Em geral, as EQM mudam as pessoas positivamente. Mas
mesmo com uma mudança positiva pode ser difícil de se lidar
apenas pelo fato de ser inesperada. Além disso, há os efeitos
emocionais de se ver um mundo melhor e ainda assim ter de viver
neste aqui.
Talvez um dos melhores exemplos de como uma EQM pode
afetar uma pessoa vem da escritora Katherine Anne Porter, que
vivenciou uma EQM durante um ataque quase fatal de influenza
em 1918. Conforme disse a autora do Ship ofFools (Navio dos Tolos)
em uma entrevista:
Eu tinha tido uma visão do paraíso, e o mundo ficou | muito chato
depois disso. Minha sensação muitos anos depois ainda era de que não
valia a pena viver neste mundo. E ainda assim se tem fé, ainda se tem
uma força interior vinda de < algum lugar, provavelmente herdado de
alguém. Durante a minha vida houve vezes durante o dia em que eu tive
'i tanta vontade de morrer e, mais tarde, uma ânsia que não podia
esperar para ver o dia seguinte. Na verdade, se eu não tivesse sido forte
como um gato de rua, eu não estaria aqui hoje.
A Visão do Futuro
Para alguns, a EQM permite uma espiada no futuro. Isso
acontece numa porcentagem tão pequena de EQMs que fico
indeciso em considerá-la como um dos sinais da EQM. Entretanto
ela realmente acontece.
Descobri isso sozinho, acidentalmente. Foi em 1975, vários
meses antes da publicação de A Vida Depois da Vida. Era Dia das
Bruxas e minha esposa na época, Louise, tinha levado as crianças
para o ritual do “Doces ou Travessuras”.
Elas chegaram a uma casa e foram recebidas por um homem e
uma mulher muito simpáticos, que começaram a falar com as
crianças. Eles perguntaram seus nomes e suas idades e quando q
meu mais velho disse:
“Raymond Avery Moody III”, a mulher pareceu assustada.
“Eu tenho de falar com seu marido”, ela disse para Louise
Quando falei com essa mulher mais tarde, ela me contou sobre
sua EQM em 1971. Ela havia tido uma parada cardiorrespiratória
durante uma cirurgia e esteve clinicamente morta por um longo
tempo. Durante essa experiência, ela encontrou um guia que a
levou por uma revisão de sua vida e lhe deu informações sobre o
futuro. Perto do final da experiência, mostraram-lhe uma foto
minha, deram-lhe meu nome completo e lhe disseram que
“quando fosse a hora certa” ela me contaria sua história.
Achei esse encontro marcante. Mas ainda mais marcante são
algumas das previsões que Kenneth Ring descobriu em sua
pesquisa sobre esse tema.
Embora o número de casos na amostra de Ring seja tão pequeno
que não possa fornecer qualquer análise estatística, ele conseguiu
encontrar muitos exemplos do fenômeno por meio da comunidade
dos pesquisadores de EQMs. Nesses casos, a pessoa que vive uma
EQM tem uma visão do futuro, geralmente durante uma EQM
profunda. Às vezes, essa informação permanece com a pessoa
imediatamente após a EQM. Mas, outras vezes, ela volta depois,
acompanhada por uma forte sensação de déjà vu, aquela sensação
de que um evento já foi vivido antes.
Um exemplo dessa visão do futuro nos trabalho de Ring vem de
um homem que hoje mora nos Estados Unidos, mas que nasceu e
foi criado na Inglaterra. Aos dez anos ele passou por uma EQM
durante uma cirurgia de emergência de um apêndice supurado.
Numa carta a Ring ele escreveu:
Após a operação, enquanto convalescia, eu tinha consciência de que
havia algumas lembranças e isso é o que elas eram — eventos
relacionados à minha vida futura. Eu não sei como foram parar ali (...)
elas simplesmente estavam lá (...) Entretanto, naquela época (1941), e
na verdade até 1968, eu simplesmente não acreditava nelas,
Ele então descreveu cinco lembranças específicas, incluindo as
idades e circunstâncias de sua morte, a qual eu não mencionarei
aqui. Aqui estão as duas primeiras dessas memórias:
1. Você se casará aos vinte e oito anos.
Essa foi a primeira das lembranças, e isso foi recebido como uma
afirmação absoluta não havia emoção atrelada à fala... e isso
realmente aconteceu, embora no meu vigésimo oitavo aniversário
eu ainda tivesse de encontrar a pessoa com quem me casaria.
2. Você terá dois filhos e morará na casa que você vê.
Ao contrário da primeira previsão, essa foi sentida; talvez
“experimentada” seja um termo melhor. Eu tinha uma lembrança
viva de me sentar numa cadeira de onde eu podia ver duas crianças
brincando no chão à minha frente. E eu sabia que estava casado,
embora nessa visão não houvesse indicação de com quem eu me
casaria. A verdade é que uma pessoa casada sabe como é estar
casado porque ele ou ela é casado. Mas não é possível para uma
pessoa solteira saber como é ser casado; em particular, não é
possível para um menino de dez anos saber como uma pessoa
casada se sente! E desse sentimento estranho e impossível que me
lembro tão claramente, e a razão para esse incidente permanecer
em minha mente. Eu me lembrava de algo que não iria acontecer
nos próximos quase vinte anos da minha vida! Mas não era como
prever o futuro, da forma convencional, era como experimentar o
futuro. Nesse episódio, o futuro era o agora. Nesta “experiência”
eu vi diretamente à minha frente e à direita, como indicado. Eu
não podia ver à esquerda, mas sabia que a pessoa com quem eu me
casaria estava sentada daquele lado da sala. As crianças brincando
no chão tinham cerca de quatro e três anos, a mais velha tinha
cabelos escuros e era uma menina; a criança mais nova tinha
cabelo claro e era um menino. Mas, na verdade, são duas meninas.
E eu também tinha consciência de que atrás da parede... havia
alguma coisa muito estranha que eu não entendia absolutamente.
Minha mente não conseguia decifrar, mas eu sabia que alguma
coisa diferente estava ali.
Essa “lembrança” de repente tomou-se presente em um dia de
1968, quando eu estava sentado numa cadeira, lendo um livro, e
simplesmente olhei para as crianças... Percebi que essa era a
“lembrança” de 1941. Depois disso comecei a compreender que
havia algum mistério nessas estranhas memórias. E o objeto
estranho atrás da parede era um aquecedor de ar. Esses objetos
não eram e segundo me consta, ainda não são usados na
Inglaterra. É por isso que eu não conseguia decifrar o que era
aquilo; não estava na minha esfera de conhecimento em 1941.
À medida que a ciência se esforça para entender as experiências
de quase-morte, ela não pode nem sequer começar a compreender
as visões do futuro durante essas experiências. Num nível bastante
especulativo, Ring tenta fazê-lo sugerindo a existência de uma
quarta dimensão. Nessa dimensão, as pessoas que passam por
uma EQM podem ver sua vida como numa perspectiva aérea de
uma cadeia de montanhas em alguns casos do começo ao fim. Elas
não podem mudá-la. Só podem “vê-la”.
2 Vidas modificadas: o poder transformador das experiências de
quase-morte

Há um elemento comum em todas as EQM: elas transformam as


pessoas que as vivenciam. Nos meus vinte anos de intensa
exposição a essas pessoas, eu ainda não encontrei uma que não
tivesse sofrido uma transformação positiva como resultado de sua
experiência.
Não pretendo sugerir que uma EQM transforma as pessoas em
seres dóceis e nada críticos. Embora certamente fiquem muito
mais positivas, o que faz com que sejam uma companhia mais
agradável (principalmente se não eram tão agradáveis antes da
EQM), essa experiência também leva a um engajamento ativo com
o mundo real. Isso as ajuda a lidar com os aspectos desagradáveis;
da realidade de uma forma racional e com clareza de raciocínio
uma forma que é nova para elas.
Todos os acadêmicos e clínicos com quem conversei e que
entrevistaram essas pessoas chegaram à mesma conclusão: elas
são pessoas melhores devido à sua experiência.
Embora as experiências de quase-morte sejam conhecidas em
psicologia como “eventos críticos”, elas não têm os efeitos
negativos que alguns outros eventos críticos podem ter. Por
exemplo, uma experiência ruim em combate poderia deixar o
soldado preso naquele ponto no tempo. Muitos veteranos do
Vietnã, por exemplo, revivem as cenas horripilantes de morte e
destruição que testemunharam anos atrás em combate. Eles têm
alucinações ao ponto de sentirem o cheiro da pólvora e sentir o
calor tropical. Essa é uma resposta negativa a um evento crítico.
Outros eventos traumáticos como enchentes, tomados,
incêndios e acidentes automobilísticos podem deixar as pessoas
assoladas e incapazes de deixar as memórias para trás. Quando
isso acontece, elas também ficam emocionalmente “presas”.
Uma EQM é um evento tão crítico quanto um combate, um
acidente de carro ou um desastre natural. Na verdade, as EQM são
frequentemente causadas por um deles. Mas em vez de ficarem
emocionalmente presas, as pessoas respondem a essa experiências
de um único jeito. A experiência parece exigir que a pessoa tome
uma ação positiva na vida. Alguns dizem que a paz vem do
sentimento de que haverá vida após a morte. Outros acham que
sua exposição a um ser superior as levou a um certo
esclarecimento.
Uma das minhas obras favoritas de pesquisa sobre os poderes
transformadores das EQMs vem de Charles Flynn, um sociólogo
da Universidade de Miami, em Ohio.
Ele examinou os dados de vinte e um questionários que foram
aplicados por Kenneth Ring, o notável pesquisador de experiências
de quase-morte, para ver especificamente quais mudanças foram
feitas pelas pessoas que sofreram uma EQM.
Acima de tudo, ele descobriu que essas pessoas se preocupam
mais com as outras do que faziam antes. Também têm uma crença
maior na vida após a morte e um medo diminuído da morte.
As descobertas de Flynn são muito auspiciosas. Pesquisas !
como essa nos informam que as EQM embora chocantes são :
experiências positivas. Embora ainda não saibamos como essas 1
experiências afetam os milhões de pessoas que as vivenciaram em
seus sentimentos diante de assuntos como guerra nuclear ou
fome, ou até mesmo os efeitos extremos nos seus casamentos,
certamente sabemos que as EQM são boas para o coração.
Toda a minha prática psiquiátrica é dedicada a aconselhar
pacientes que tenham passado por uma EQM. Embora essa EQM
os coloque cara a cara com uma infinidade de problemas que a
maioria de nós nunca enfrentará, eles foram todos transformados
para melhor. Como você poderá ver a partir dos casos de estudo a
seguir, uma EQM aumenta o crescimento pessoal do indivíduo.
Um dos exemplos mais surpreendentes que vi de cresci-1 mento
pessoal devido a uma EQM foi o caso de um homem que chamarei
de Nick. Ele era um artista trapaceiro e um criminoso declarado,
que tinha feito todo tipo de coisa, desde arrombar janelas até
traficar drogas. O crime havia garantido uma vida boa para Nick.
Ele tinha bons carros, roupas finas e casas novas, e nenhum
problema de consciência que o perturbasse.
Então sua vida mudou. Ele estava jogando golfe num dia
nublado quando, de repente, um forte temporal começou. Antes
que pudesse deixar o campo de golfe, ele foi atingido por um raio e
“morreu”.
Ele pairou sobre seu corpo por um momento e então se viu
descendo rapidamente por um túnel em direção a um ponto de
luz. Emergiu num cenário bucólico resplandecente onde foi
recebido por parentes e outras pessoas que “brilhavam como
lanternas fluorescentes”.
Ele encontrou um Ser de Luz que ainda descreve como Deus, e
que graciosamente o conduziu por uma revisão de sua vida. Ele
reviveu toda a sua existência, não somente vendo suas ações em
três dimensões, mas vendo e sentindo os efeitos dessas ações nos
outros.
Essa experiência transformou Nick. Mais tarde, enquanto se
recuperava no hospital, ele sentiu todo o efeito da revisão de sua
vida. Com o Ser de Luz, ele havia sido exposto ao amor puro;
Sentiu que quando realmente morresse teria de passar pela revisão
de sua vida novamente, um processo que seria muito
desconfortável caso ele falhasse em aprender com a sua primeira
revisão,
“Agora”, diz Nick, “eu sempre vivo minha vida sabendo que
algum dia terei de passar por outra prestação de contas”.
Não direi o que ele faz agora para viver, apenas lhes asseguro
que é uma profissão honesta e útil.
Outra pessoa que foi transformada dramaticamente: por uma
EQM foi um homem que chamarei de Mark. Por toda a sua vida ele
foi obcecado por dinheiro e posição social. Tinha uma empresa de
equipamentos médicos e mostrava ter mais interesse pela venda e
pelo dinheiro rápido do que por fazer a manutenção dos
equipamentos depois de vendidos.
Então, por volta dos seus quarenta anos, ele teve um ataque
cardíaco severo. Durante essa experiência, reencontrou sua avó e
muitos outros parentes, e foi exposto ao amor verdadeiro deles.
Depois de ser reanimado, sua perspectiva de vida mudou
completamente. Todas as coisas que haviam norteado sua vida até
ali estavam agora numa posição muito inferior em sua lista de
prioridades muito abaixo de sua família, amizades e
conhecimento.
Ele me disse que, enquanto estava “do outro lado”, fez um
acordo com o Ser de Luz de que nunca mais se concentraria tanto
em dinheiro, mas, ao contrário, dedicar-se-ia a ser
generoso. Ironicamente, essa nova atitude levou-o a ganhos
maiores. “Eu sou uma pessoa melhor ”, ele me disse com um
sorriso. “Então as pessoas querem comprar mais de mim”.
Os pesquisadores que entrevistaram um grande número de
pessoas que passaram por EQMs confirmaram os efeitos
posteriores de tais experiências. Alguns aludiram à “serenidade
luminosa” que emana de muitas dessas pessoas. É como se elas
tivessem olhado para o futuro e agora soubessem que tudo ficaria
bem. Consegui isolar oito tipos de mudanças pessoais que
acontecem a uma pessoa que atravessa uma EQM. Essas mudanças
estão presentes em todas as pessoas com quem falei. É a
combinação desses fatores que confere a todas elas essa
serenidade radiante.
Sem Medo da Morte
Após o evento, os indivíduos que passam por uma EQM não
temem mais a morte. Isso significa coisas diferentes para pessoas
diferentes. Para algumas, o medo primário é da dor terrível que
imaginam que acompanha a morte. Outras se preocupam com
quem tomará conta de seus entes queridos na sua ausência. A
interrupção definitiva de sua consciência é o que preocupa ainda
outras.
Pessoas controladoras e autoritárias temem a perda do controle
sobre elas próprias e os outros, o que, segundo elas, virá com a
morte. O medo do fogo do inferno e da maldição assusta a muitos,
enquanto outros simplesmente têm medo do desconhecido*
Quando essas pessoas dizem que perderam seu medo da morte,
geralmente querem dizer que não temem mais a destruição da
consciência ou do eu. Isso não quer dizer que queiram morrer
logo. O que dizem é que a experiência toma a vida mais rica e mais
completa do que antes. Aquelas que conheço querem mais do que
nunca continuar a viver. Na verdade, muitas sentem que estão
vivendo pela primeira vez.
Uma pessoa disse assim:
Pelos primeiros 56 anos da minha vida, vivi um medo constante da
morte. Minha atenção estava focada em evitar a morte, que eu
considerava uma coisa terrível. Depois da minha experiência, percebi que
ao viver a minha vida toda com medo da morte eu estava bloqueando o
meu gosto pela vida.
O medo da punição terrível por atos terrenos não é mais um
problema para muitos. Quando passam pela revisão de sua vida,
as pessoas percebem que o Ser de Luz as ama e cuida delas.
Percebem que ele não é crítico, mas, ao contrário, quer que elas se
tomem pessoas melhores. Isso as ajuda a eliminar o medo e a se
concentrar em tomar-se pessoas dedicadas.
Você tem de entender que o Ser de Luz não está dizendo que
elas têm de mudar. Minha conclusão, depois de ouvir centenas
desses casos, é que as pessoas mudam espontaneamente porque
estão na presença de um padrão de divindade que faz com que
queiram mudar seu comportamento radicalmente.
Um homem com quem conversei tinha sido um pastor fervoroso.
Ele confessou que era comum dizer à sua congregação que se não
acreditassem na Bíblia de certa forma, seriam condenados a
queimar eternamente.
Quando teve sua EQM, ele disse que o Ser de Luz lhe ordenou
que não falasse com sua congregação daquela forma. Mas o pedido
foi feito de uma forma não autoritária. O ser simplesmente sugeriu
que o que ele estava fazendo só tomava a vida de sua congregação
insuportável. Quando esse pregador retomou ao púlpito, fê-lo com
uma mensagem de amor, e não de medo.
Também, a perda do controle não assusta mais as pessoas que
eram compulsivas antes de suas EQMs. Para muitas, a necessidade
do controle nasce do medo. Mas muitas pessoas me disseram que
depois de suas experiências, elas sentem que não podem mais
viver a vida com medo. Isso se deve em parte ao fato de agora
acreditarem numa vida após a morte; é também o resultado de um
vislumbre de felicidade que receberam. Como podem permanecer
amedrontadas e infelizes depois de contemplarem uma felicidade
tão grande?
Embora o medo da morte seja menor, o de viver não é. A maioria
das pessoas que conheci, são mentalmente mais saudáveis que
antes das experiências. A despeito da sua certeza de uma vida após
a morte, nenhuma delas tem pressa de encerrar sua existência 1 na
Terra. Assim como uma delas me disse:
Isso não faz com que você queira sair para a rua e ser atropelado por
um caminhão e voltar para lá. Eu ainda tenho um forte instinto de
sobrevivência. A experiência que tive me faz ver que o desejo de
sobreviver é um instinto.
Logo depois dos meus ataques cardíacos, caí da escada da frente da
minha casa. Conforme descia, tentei desesperadamente agarrar alguma
coisa para não cair. Naquele mesmo instante eu pensava, “Isso é
estranho. Você sabe para onde vai se você morrer, quão maravilhoso vai
ser”. Mas ainda assim eu sentia aquela sensação de medo atravessar
minha garganta o instinto da sobrevivência. Ele não desaparece, mesmo
quando você tem uma dessas experiências.
Percebendo a Importância do Amor
“Você aprendeu a amar?” É uma questão enfrentada por quase
todas as pessoas que passam por uma EQM. Quando elas voltam,
quase todas dizem que o amor é a coisa mais importante na vida.
Muitas dizem que ele é a razão de estarmos aqui. Muitos acham
que ele é a marca da felicidade e da realização, com outros valores
complementando este.
Assim como você poderia supor, essa revelação muda
radicalmente a estrutura de valores da maioria dessas pessoas. Se
um dia foram intolerantes, elas agora vêm cada indivíduo como
uma pessoa amada. Se antes a riqueza material era o auge da
realização, o amor fraterno agora é o que reina. Conforme uma
dessas pessoas me disse:
Sabe, essa experiência tem um efeito sobre você no seu dia-a-dia,
daquele momento em diante. Andar pela rua é uma experiência
completamente diferente, acredite, Eu costumava andar na rua no meu
próprio pequeno mundo, com meu pensamento voltado para uma dúzia
de problemas diferentes. Agora ando pela rua e sinto que estou num
oceano de humanidade. Cada pessoa que vejo, eu quero conhecer, s eu
tenho certeza de que se as conhecesse eu as amaria.
Um homem que trabalha no escritório comigo me perguntou porque eu
sempre estou com um sorriso no rosto. Ele não sabia da minha
experiência, então eu lhe disse que era porque quase havia morrido,
então estava feliz por estar vivo e deixei por isso mesmo. Algum dia, ele
descobrirá por si mesmo.
Uma Sensação de Conexão com Todas as
Coisas
As pessoas que passam por uma EQM retomam com uma
sensação de que tudo no universo está conectado. Para elas, esse é
um conceito difícil de definir, mas a maioria delas tem um respeito
recém-descoberto pela natureza e pelo mundo que as rodeia.
Uma descrição eloquente desse sentimento me foi dada por um
homem de negócios muito sério e trabalhador que vivenciou uma
EQM durante um ataque cardíaco quando tinha sessenta e dois
anos:
A primeira coisa que vi quando acordei no hospital foi uma flor, e eu
chorei. Acredite ou não, eu nunca tinha visto uma flor até retomar da
morte. Uma grande coisa que aprendi quando “morri” foi que nós somos
todos parte de um universo grande e vivo. Se pensarmos que podemos
machucar uma pessoa ou ser vivo sem nos machucarmos, estamos
redondamente enganados. Agora eu olho para uma floresta ou uma flor
ou um pássaro, e digo, “Esse sou eu, parte de mim ”. Estamos conectados
com todas as coisas e se enviarmos amor através dessas conexões, então
seremos felizes.
O Gosto pela Aprendizagem
As pessoas que passaram por uma EQM têm um respeito recém
descoberto pelo conhecimento. Algumas dizem que isso foi
resultado da revisão de suas vidas. O Ser de Luz lhes disse que a
aprendizagem não para quando você morre; que o conhecimento é
algo que você leva consigo. Outros descrevem todo um reino da
vida após a morte, que é deixado de lado em favor da busca
apaixonada do conhecimento.
Uma mulher descreveu esse lugar como uma grande
universidade, onde as pessoas estavam envolvidas em conversas
profundas sobre o mundo em volta delas. Outro homem descreveu
esse reino como um estado de consciência onde o que quer que
você queira está disponível para você. Se você pensar em alguma
coisa que queira aprender, ela aparece imediatamente e está lá para
você aprender. Ele disse que é como se a informação estivesse
disponível em “pacotes de pensamentos”.
Isso inclui informações de qualquer tipo. Por exemplo, se eu
quisesse saber como é ser o presidente dos Estados Unidos, eu
precisaria apenas desejar viver a experiência e isso aconteceria. Ou
se quisesse saber como é ser um inseto, eu simplesmente
precisaria “pedir ” a experiência e assim seria.
Essa breve entretanto poderosa experiência de aprendizagem
mudou a vida de muitas pessoas que passaram por uma EQM. O
pouco tempo em que ficaram expostos à aprendizagem total fez
com que ficassem ávidas por conhecimento quando retornaram ao
corpo.
Frequentemente, elas embarcam em novas carreiras ou iniciam
cursos ou estudos sérios. Nenhuma delas, que eu saiba, perseguiu
o conhecimento pelo conhecimento. Ao contrário, todas sentem
que o conhecimento é importante só se ele contribuir para a
totalidade da pessoa. Mais uma vez, uma sensação de conexão
entra em cena: o conhecimento é bom quando ele ajuda a totalizar
algo.
O homem de negócios citado na primeira parte explicou melhor
que qualquer pesquisador:
Doutor, tenho de admitir para o senhor que antes deste ataque
cardíaco, eu só tinha desprezo pelos estudante. Subi na vida com pouco
estudo e trabalhei muito. Há uma universidade perto de casa e eu
costumava pensar que aqueles professores eram preguiçosos, que não
faziam nada de útil e que se aproveitavam da “terra farta”. Eu disse a
mais de um deles que me ressentia disso, que achava que acabava
trabalhando sete dias por semana, de dez a doze horas por dia só para
que pudessem pesquisar # escrever livros que não tinham nada a ver com
coisas reais.
Mas enquanto os médicos diziam que eu estava morto, ; essa pessoa
com quem eu estava, essa luz, Cristo, mostrou-me o que chamarei de
uma dimensão do conhecimento. Não posso explicá-la deforma alguma
para o senhor, mas isso não tem importância, porque cada pessoa na
Terra vai vê-la por si mesma em breve, acreditem ou não.
Agora, ela foi uma experiência humilhante para mim.
Eu não desprezo mais os professores. O conhecimento é importante. Eu
leio tudo o que vejo, de verdade. Não é que eu me arrependa do caminho
que tomei na vida, mas fico feliz que tenha tempo agora para aprender.
História, ciência, literatura. Eu me interesso por tudo isso. Minha esposa
reclama comigo por causa dos meus livros em nosso quarto. Isso me
ajuda a entender melhor minha experiência, eu diria.
Tudo ajuda, de uma forma ou outra, porque, como eu digo, quando você
passa por uma dessas experiências, você vê que tudo está conectado.
Uma Nova Sensação de Controle
Todas as pessoas que passam por EQM sentem-se mais
responsáveis pelo curso de sua vida. Elas também ficam
extremamente sensíveis às consequências imediatas e de longo
prazo de suas ações. É a dramática “revisão da vida” com sua
característica de terceira pessoa, que lhes permite examinar sua
vida objetivamente.
Essas pessoas me dizem que a revisão da vida lhes permite olhar
para sua vida como se ela fosse um filme numa tela.
Frequentemente podem sentir as emoções associadas à ação a que
estão assistindo, não só as suas, mas também as das pessoas que
as rodeiam. Elas podem ver eventos aparentemente não
relacionados, encontrarem conexão e testemunhar os “acertos” e
os “erros” com total transparência. Essa experiência ensina que no
final de sua vida, elas terão de ser o agente e recipiente de cada
uma das suas ações.
Ainda não encontrei uma pessoa que tivesse passado por essa
experiência e que não reconheça que isso o tomou mais cuidadoso
na escolha de suas ações. Contudo, não quero dizer que a
experiência as tenha tomado neuroticamente culpadas. O senso de
responsabilidade é positivo e não se manifesta como culpa.
Uma mulher que vivenciou uma EQM no seu vigésimo terceiro
aniversário, logo depois de ter terminado a faculdade de
sociologia, disse-me:
A coisa mais importante que aprendi dessa experiência é que sou
responsável por tudo o que faço. Desculpas e distanciamento não eram
possíveis enquanto eu estava lá, com ele, revendo minha vida. E não é
só isso, eu vi que a responsabilidade não é ruim de jeito algum,
que não posso dar desculpas ou tentar atribuir meus fracassos a
ninguém. É engraçado, mas os fracassos se tomaram importantes
para mim de certa forma, porque eles são meus fracassos, e
caramba, eu vou aprender com eles, aconteça o que acontecer
Lembro-me de um incidente em particular nessa revisão quando
eu, ainda criança, peguei a cesta de Páscoa de minha irmã porque
havia um brinquedo ali que eu queria; entretanto, durante a
revisão, percebi seus sentimentos de frustração, perda e rejeição.
O que fazemos com as outras pessoas quando agimos sem amor!
Mas é maravilhoso que estejamos predestinados a não permanecer
indiferentes a isso. Se alguém não acreditar em mim, OK, eu as
encontrarei depois da vida quando elas tiverem uma chance de
viver essa experiência, e então poderemos discutir a respeito.
Tudo o que você fez está lá (na revisão) para você avaliar, e ainda
que seja desagradável ver algumas partes dela, também é muito
bom livrar-se de tudo isso. Na vida, você pode se divertir, criar
desculpas e até se dar bem, ou pode se sentir péssimo, se quiser,
fazendo tudo isso. Mas quando estive lá, nessa revisão, não havia
saída, eu estava no lugar das próprias pessoas que magoei, e
também das pessoas que ajudei a se sentir bem. Eu gostaria de
encontrar alguma forma de mostrar para todos como é bom saber
que você é responsável, e como é bom passar por uma experiência
como essa, em que é impossível não enfrentar os fatos.
É a sensação mais libertadora do mundo. É um verdadeiro
desafio, cada dia da minha vida, saber que quando eu morrer terei
de testemunhar cada uma de minhas ações novamente, só que
dessa vez realmente sentindo os efeitos que eu provoquei nos
outros. Isso realmente me faz parar e pensar. Eu não tenho medo
disso. Isso me entusiasma.
Uma Sensação de Urgência
Sensação de Urgência é uma expressão que surge toda hora que
falo de pessoas que passaram por uma EQM. Frequentemente elas
se referem à brevidade e a fragilidade de sua própria vida. Mas
sempre expressam um sentimento de urgência em relação a um
mundo onde grandes poderes destrutivos estão nas mão de meros
humanos.
Por que elas se sentem assim, não sei. Mas esses fatores parecem
manter as pessoas que tiveram a experiência num estado de
profunda apreciação pela vida. Depois da EQM, as pessoas tendem
a declarar que a vida é preciosa, que são “as pequenas coisas” que
contam, e que a vida é para ser vivida plenamente.
Uma mulher me disse que a revisão da vida não mostra apenas
os grandes acontecimentos da existência de alguém, como você
poderia acreditar. Ela disse que as pequenas coisas são exibidas
também. Por exemplo, um dos incidentes que apareceu com muita
intensidade na revisão dela foi quando ela encontrou uma pequena
garota perdida numa loja de departamentos. A garota estava
chorando, e a mulher a sentou num balcão e conversou com ela até
que a mãe da menina chegasse.
São essas coisas as pequenas coisas que você faz sem sequer
pensar que aparecem com mais importância nessa revisão.
Muitas pessoas recebem a seguinte pergunta do ser, “O que ia
em seu coração enquanto isso acontecia?” É como se ele estivesse
dizendo a essas pessoas que os simples atos de generosidade que
vêm do coração são os mais importantes por serem os mais
sinceros.
O Lado Espiritual Mais Desenvolvido
Uma EQM quase sempre leva a uma curiosidade espiritual.
Muitas das pessoas que passam por isso estudam e aceitam os
ensinamentos espirituais de grandes pensadores religiosos.
Entretanto, isso não significa que se tomem pilares da igreja
local. Ao contrário, elas tendem a abandonar doutrinas religiosas.
Um relato muito sucinto e que provoca reflexão sobre essa
atitude, foi-me dado por um homem que havia estudado num
seminário antes da sua EQM.
Meu médico me disse que “morri" durante a cirurgia, mas eu lhe disse
que nasci para a vida. Vi, naquela visão, como eu era imbecil e arrogante
com toda aquela teoria, menosprezando qualquer um que não pertencesse
ao meu culto ou que não compartilhasse as minhas crenças teológicas.
Muitas pessoas que conheço ficarão surpresas ao descobrir que o
Senhor não está interessado em teologia. Na verdade, Ele parece achá-la
um tanto divertida, porque não ficou absolutamente interessado pelo
meu título. Ele queria saber o que havia no meu coração, e não na minha
cabeça.
Reentrando no Mundo “Real”
Esse reajuste ao mundo mundano foi traduzido como “síndrome
da reentrada” por alguns pesquisadores. Por que as pessoas que
passam por uma EQM não deveriam ter dificuldades em se
reajustar? Depois de experimentar um paraíso espiritual, a volta ao
mundo não seria maçante para qualquer um? ,
Há mais de dois mil anos, Platão, referiu-se a essa síndrome em
“A República ". Nesse livro, ele nos convida a imaginar um mundo
subterrâneo no qual prisioneiros estão detidos desde nascimento,
olhando para o fundo de uma caverna, para que pudessem ver
somente a sombra dos objetos que se moviam diante do fogo
ardente atrás deles.
Suponha, ele propõe, que um desses prisioneiros fosse libertado
das suas amarras e levado para cima, completamente fora da
caverna, para o nosso mundo e a sua beleza. Se fosse então forçado
a voltar ao mundo das sombras, Platão diz, ele seria ridicularizado
pelos prisioneiros que nunca haviam deixado a caverna, quando
tentasse lhes contar sua experiência. Ridicularizado dessa forma,
ele teria problemas em se conformar com o dogma de um mundo
agora mais restrito.
É com esses problemas que lido na minha prática psiquiátrica.
Comecei o que chamo de uma “prática espiritual” em 1985 quando
percebi que muitas das pessoas que tinham experiências
espirituais incomuns tinham dificuldades em integrá-las no dia-a-
dia.
Por exemplo, muitas pessoas não dão ouvidos às pessoas que
passaram por uma EQM. Elas ficam perturbadas pelo evento e às
vezes até pensam que a pessoa é insana. Já do ponto de vista
daqueles que passaram pela experiência, alguma coisa muito
importante aconteceu e transformou sua vida, mas ninguém quer
ouvi-las com compreensão. Assim, elas simplesmente precisam de
alguém que entenda sua experiência, que as ouça.
Surpreendentemente, essas pessoas geralmente recebem pouco
apoio de seus cônjuges ou família quando chega a hora de lidar
com suas experiências. Frequentemente, as mudanças de
personalidade marcantes que ocorrem com uma EQM causam
tensão na família. Por exemplo, pessoas que reprimiram suas
emoções por anos no seu casamento, de repente, tomam-se muito
abertas depois de uma EQM. Isso pode ser muito constrangedor
para o cônjuge. Para eles, é quase como estar casado com uma
pessoa diferente.
Um homem me disse:
Quando “ voltei ”, ninguém sabia exatamente o que fazer
comigo. Antes de ter o ataque cardíaco, sempre fui muito
impulsivo e bravo. Se as coisas não corressem bem para mim, era
impossível viver comigo. Isso era em casa e também no trabalho.
Se minha esposa não estivesse vestida na hora e tivéssemos um
lugar para ir, eu estouraria e tomaria o resto da noite um inferno
para ela.
Por que ela tolerava isso, eu não sei. Mas acho que ela se
acostumou através dos anos, porque depois da minha EQM, ela
mal podia aguentar minha doçura. Eu não gritava mais com ela.
Não a forçava a fazer coisas, nem ela nem mais ninguém. Tomei-
me a pessoa mais fácil de se conviver, e essa mudança foi quase
maior do que ela podia suportar. Precisei ser muito paciente — e
isso eu nunca fui antes y? para manter nosso casamento. Ela vivia
dizendo, "você está tão diferente desde seu ataque cardíaco ”. Eu
acho que na verdade ela queria dizer, "você ficou louco”.
Para aliviar essa tensão, eu às vezes reúno um grupo que tenha
vivenciado uma EQM, e seus cônjuges para que eles possam
compartilhar com outras pessoas os efeitos da EQM na vida da
família. Assim descobrem que outras pessoas estão passando
pelos mesmos problemas, e então tentam lidar com esse novo
indivíduo.
Outra coisa que acontece a esses indivíduos é que eles passam a
esperar ansiosamente pelo estado de felicidade existencial que
descobriram em suas EQMs. Quando voltam desse reino, sentem
falta do outro lugar. Elas têm de aprender a lidar com essa
ausência.
Em 1983, conduzi uma conferência sobre como lidar com uma
pessoa que teve essa experiência e que foi atendida por dúzias de
profissionais e médicos especializados em indivíduos que
vivenciaram uma EQM. Durante esse encontro de três dias,
chegamos a várias conclusões sobre como lidar com essas crises
espirituais.
Estou incluindo-as aqui para que vocês vejam alguns dos
aspectos envolvidos ao lidar com essas pessoas.
♦Deixe que elas falem livremente sobre suas experiências. Ouça com
consideração e deixe que falem sobre suas experiências de quase-
morte o quanto quiserem. Não use esse momento para tentar
aliviar suas próprias preocupações sobre a vida após a morte ou
para provar algumas de suas teorias sobre o assunto. A pessoa teve
uma experiência intensa, e precisa de alguém aberto que ouça o
relato sobre o episódio tal como aconteceu.
♦Conforte-as dizendo que não estão sozinhas. Diga-lhes que
experiências como essas são muito comuns. Diga-lhes também que
não compreendemos totalmente por que acontecem, mas que
muitas das outras pessoas que as tiveram cresceram com a
experiência.
♦ Diga-lhes o que é a experiência. Embora milhões de pessoas já as
tenham vivido, poucas delas sequer sabem como são chamadas.
Diga-lhes que passaram por uma experiência de quase-morte. Ao
saber do nome clínico: para esse episódio, a pessoa terá um apoio
para compreender esse evento confuso e inesperado.
♦Envolva a família no assunto. As mudanças que a EQM traz para
a pessoa são frequentemente difíceis para a família. Um pai do
tipo impulsivo antes de uma EQM, pode de repente transformar-se
num tipo amoroso. Tal mudança pode ser difícil para uma família
acostumada a um chefe de família exigente.
E importante encorajar o diálogo na família para garantir que o
sentimento de todos sobre a mudança seja conhecido e assim
contornado antes que cause uma ruptura na estrutura familiar.
♦ Conheça outras pessoas que passaram por EQMs.
Frequentemente, faço com que essas pessoas se encontrem. Ao
longo dos anos, envolvi-as em várias terapias de grupo trazidas por
alguma indicação médica. Idealmente, o grupo deve ser formado
por cerca de quatro pessoas que simplesmente conversem sobre
suas EQMs.
Essas sessões de grupo estão entre as mais surpreendentes que
já presenciei. As pessoas envolvidas falam claramente sobre um
evento em comum, e não uma ilusão, fantasia ou sonho. É quase
como se tivessem feito uma viagem juntas para outro país.
Geralmente convido os cônjuges de pacientes de EQM para
essas sessões de grupo, já que estar perto de outras pessoas e de
seus cônjuges é reconfortante para eles. Pesquisadores observaram
que, com frequência, o divórcio acontece depois de uma EQM,
porque a pessoa sofre muitas mudanças de personalidade. Estando
perto de outras na mesma situação, os novos pacientes de EQM e
seus cônjuges, podem ver como os outros se adequaram às suas
famílias.
É claro que algumas pessoas ficam encantadas em ter um esposo
mais amoroso na casa. Mas outras não. Embora tenham dito para
essa pessoa, por anos a fio, que gostariam que ela fosse mais
calma, quando isso acontece de fato, ela não gosta. Essa
transformação pode ser interpretada como uma evidência de
psicose ou de perda de energia,
Nos Estados Unidos, a Associação Internacional de Estudos do
Pós-Morte (IANDS)[3] patrocina grupos de apoio aos pacientes em
todo o país, atualmente em quase trinta cidades. Para informações,
escreva para “Amigos da IANDS”, departamento de psiquiatria,
Centro de Saúde da Universidade de Connecticut Health Center,
Farmington, CT 06032.
♦ Faça com que essas pessoas leiam sobre o assunto. Esse tipo de
terapia é chamado de biblioterapia e geralmentel não é
recomendado por psiquiatras ou psicólogos. A razão para isso é
que a maioria dos pacientes não achai que ler sobre seus
problemas psicológicos os alivie Afinal de contas, pacientes com
esquizofrenia não encona trariam tranquilidade ao ver os sintomas
da sua doença impressos em branco e preto. As EQMs, entretanto,
são muitos diferentes, já que são consideradas experiências
espirituais e não uma doença.
Descobri mais tarde, depois que os pacientes tiveram tempo de
assimilar suas experiências, que é importante buscar bons livros
sobre o assunto. Dessa forma, eles mesmos têm a oportunidade de
rever a variedade de experiências e pensamentos sobre o assunto
quando puderem, O objetivo disso é integrar essa experiência à
sua vida e certificar-se de que uma certa mudança que vem junto
com uma experiência de quase-morte é positiva e enriquecedora. A
pouca pesquisa que existe em tomo do assunto mostra que as
mudanças são muito positivas. Essa pesquisa mostra que quer
sejam estas EQMs viagens a outro mundo ou qualquer outra coisa,
elas têm efeitos significativos nas pessoas que as vivenciaram. Ou
como colocou o sociólogo: “as coisas são reais quando são reais na
sua consequência”.
3 As crianças e as eqms: encontrando o anjo da
guarda
As experiências de quase-morte das crianças têm um significado
especial. Ao lidar com tais inocentes, os pesquisadores têm a
oportunidade de examinar indivíduos que tiveram muito pouco
tempo de pensar sobre a vida, a morte e o além-mundo. Uma vez
que as crianças não estão impregnadas das especulações do
mundo adulto ao seu redor, elas não têm conhecimento de nada
parecido bom uma experiência de quase-morte.
É pelo fato de essas crianças estarem mais livres do
condicionamento cultural dos adultos que seus episódios agregam
validade ao âmago da experiência de quase-morte.
Até mesmo em idades muito precoces com apenas seis [meses,
como você lerá mais adiante as crianças relatam os mesmos
sintomas em suas EQMs que os adultos de todas as culturas: a
sensação de ver seu próprio corpo de um ponto de observação fora
do corpo físico; exame panorâmico da vida; entrar em um túnel
encontrar outros, incluindo parentes vivos e mortos; encontre com
um Ser de Luz; sentir a presença de uma divindade; e retomai ao
corpo.
Das bocas dos bebês vem a sabedoria é um axioma que bem se aplica
às crianças que passam por EQMs, assim comi acontece com
muitas coisas na vida.
Minha Primeira Criança com EQM
Minha primeira criança com EQM chegou a mim de surpresa
enquanto eu era médico residente em um hospital da Geórgia Eu
estava fazendo um exame de rotina em um paciente a quem?!
chamarei de Sam, um garoto de nove anos que quase morrera nó
ano anterior de uma parada cardíaca devido a uma doença na
glândula suprarrenal.
Eu estava conversando com ele sobre sua doença quando ele
ofereceu espontânea e timidamente: “Mais ou menos há um ano
atrás eu morri”.
Comecei a induzi-lo a contar sobre sua experiência. Ele me
contou que depois que morreu, flutuou para fora de seu corpo li
olhou para baixo ao mesmo tempo em que o doutor comprimia seu
peito para reavivar seu coração. Sam, em seu estado alterado!
tentou fazer com que o doutor parasse de esmurrá-lo, mas o
doutor não prestou a menor atenção.
Naquele momento, Sam teve a experiência de mover-se
rapidamente para cima e ver a Terra desaparecer atrás dele.
Então passou por um túnel escuro e estava sendo esperado, do
outro lado por um grupo de “anjos”. Eu perguntei a ele se aqueles
anjos tinham asas e ele disse que não.
“Eles estavam brilhando”, ele disse, luminescentes, e todos
pareciam amá-lo muito.
Tudo nesse lugar era cheio de luz, ele disse. Todavia através de
tudo aquilo, ele viu belas cenas bucólicas. Esse lugar celestial era
circundado por uma cerca. Os anjos contaram que se ele fosse
além da cerca, ele não seria capaz de retomar à vida. Um Ser de
Luz (Sam o chamou de Deus) lhe disse que ele teria de voltar e
reentrar em seu corpo.
“Eu não queria, mas ele me fez voltar ”, Sam disse.
Essa conversa foi especialmente excitante para mim. Quando
indivíduos sofrem uma EQM em uma idade tão precoce, ela parece
ser incorporada em suas personalidades; É algo com que vivem
suas vidas inteiras e isso os transforma. Eles não têm mais medo
da morte da maneira que seus semelhantes tem. Ao contrário, eles
têm o ar de alguém que viu nossa próxima existência.
Esses insights m transformam em pessoas muito sensíveis e
maduras que abordam a vida de uma maneira inusitadamente
adulta. Então é comum que expressem uma saudade da
experiência através dos anos. E quando as coisas se tomam difíceis,
eles acharão conforto em, como uma pessoa me disse, “ter estado
do outro lado”:.
Um homem que vivenciou uma EQM quando criança contou que
nos anos intervenientes, ele foi ameaçado de morte duas vezes.
Uma dessas experiências aconteceu durante a guerra. Outra vez ele
foi imobilizado no chão de uma mercearia por um pistoleiro
enlouquecido que estava roubando o mercado e ia matá-lo como
um exemplo aos outros reféns.
Ele disse que em nenhuma daquelas ocasiões ficou
amedrontado. O medo que poderia ter sentido foi substituído
pelas memórias de seu encontro com o Ser de Luz.
“A Luz Era Muito Brilhante”
Alguns pesquisadores concluíram que EQMs são o mecanismo
de defesa da mente contra o medo de morrer. Mas EQMs em
crianças refutam essa teoria, uma vez que as crianças têm
percepções muito diferentes dos adultos em relação à morte,
Crianças abaixo de sete anos de idade, por exemplo, tende a pensar
na morte como temporária, como um período de férias talvez. Para
eles a morte é algo de onde se retoma. Dos sete aos dez anos, a
morte é um conceito mágico, que é substituído nos anos seguintes
pelo conhecimento de que a morte envolve uma decomposição
orgânica. Durante o período dos sete aos dez anos as crianças
personificam a morte. Elas pensam nela como um J; monstro ou
algum tipo de gnomo que vai comê-las. Acham que m a morte se
esconde no escuro e que elas poderão correr dela se a morte
chegar.
De qualquer modo, as percepções de uma criança sobre a morte
são muito diferentes daquelas dos adultos. Por exemplo muitas
pessoas mais velhas temem uma obliteração da consciência
enquanto outras temem a dor que imaginam ter de passar durante
o processo de morte. Algumas temem ficar sozinhas ou serem
isoladas de seus parentes e amigos, enquanto outras temem o fogo
do inferno e a condenação. Algumas pessoas temem a perda de
controle que a morte implica, já que não serão mais responsáveis
por seus negócios, família ou qualquer coisa que estejam tentando
dirigir. Algumas têm o medo primitivo do desmembramento.
As crianças não têm esse condicionamento cultural ainda® E
aqueles que passaram por EQMs não costumam experimentar
esses medos mais tarde. Eles têm pouco medo da morte e
frequentemente falam afetuosamente de suas experiências de
quase-morte. Algumas das crianças com quem falei expressaram
um desejo de “retomar para a luz”.
Uma dessas crianças é uma menina de nove anos de idade a
quem chamarei de Nina. Ela passou por uma EQM durante uma
cirurgia de apendicite. Os cirurgiões imediatamente trabalharam
para ressuscitá-la, um evento durante o qual ela esteve num ponto
de observação fora de seu corpo.
Eu os ouvi dizer que meu coração havia parado, mas eu estava lá
no teto observando. Eu podia ver tudo dali. Eu estava flutuando
perto do teto, assim, quando vi meu corpo, eu não sabia que era
eu. Então eu o reconheci. Saí para o corredor e vi minha mãe
chorando. Perguntei por que ela estava chorando, mas ela não
podia me ouvir. Os médicos acharam que eu estava morta.
Foi quando uma senhora bonita apareceu e me ajudou, porque
ela sabia que eu estava assustada. Nós fomos através de um túnel
até o céu. Há lindas flores lá. Eu estava com Deus e Jesus. Eles
disseram que eu tinha de voltar para ficar com minha mãe porque
ela estava muito triste. Disseram que eu tinha de terminar minha
vida. Efoi assim que eu voltei e acordei.
O túnel no qual passei era longo e muito escuro. Eu passei por
ele muito rápido. Havia uma luz no final. Quando ; vimos a luz, eu
fiquei muito contente. Eu quis voltar durante muito tempo. E
ainda quero voltar para a luz quando eu morrer... A luz era muito
brilhante.
Outra criança que fala de sua EQM com saudades é um menino
que chamarei de Jason. Ele vivenciou uma EQM após ser atingido
por um carro enquanto andava de bicicleta. Seu episódio é uma
EQM interessante e “desenvolvida”, no sentido de exibir muitos
dos sintomas da experiência essencial e ter sido muito intensa.
Conversei com ele quando tinha quatorze anos, três anos após
sua experiência. Apesar de seu acidente ter sido muito sério, os
exames mostraram que não houve danos ao cérebro. E, como você
verá, suas respostas são inteligentes e brilhantes.
JASON: ISSO aconteceu quando eu tinha onze anos. Ganhei
uma bicicleta nova de aniversário. No dia seguinte, eu estava
andando de bicicleta e não vi um carro vindo e ele me acertou.
Eu não me lembro de ter sido atropelado pelo carro mas de repente eu
estava no alto, olhando para mim mesmo lá embaixo. Vi meu corpo
debaixo da bicicleta e minha perna estava quebrada e sangrando.
Lembro-me de ver meus olhos fechados. Eu estava em cima. Estava
flutuando mais ou menos a um metro e meio acima de meu corpo e havia
pessoas em volta. Um homem no meio da multidão tentou me ajudar.
Uma ambulância chegou. Fiquei pensando por que as pessoas estavam
preocupadas comigo se eu estava bem Eu os vi pondo meu corpo na
ambulância e eu tentava dizer-lhes que estava bem, mas nenhum deles
podia me ouvir. Dá para repetir o que estavam dizendo. “Ajudem-no ”
alguém estava dizendo. “Acho que ele está morto, mas vamos trabalhar
nele ”, disse outra pessoa.
A ambulância partiu e eu tentei segui-la. Eu estava acima da
ambulância seguindo-a. Pensei que estava morto. Olhei em volta, e já
estava em um túnel com uma luz brilhante no final dele. O túnel
parecia ir para cima. Eu saí do outro lado do túnel.
Havia muitas pessoas na luz, mas eu não conhecia nenhuma delas.
Contei sobre o acidente e elas disseram que eu tinha de voltar. Disseram
que não era minha hora de morrer ainda, então era preciso voltar para o
meu pai, minha mãe e minha irmã.
Fiquei na luz por um longo tempo. Parecia um longo período. Senti
que todos me amavam lá. Todos estavam contentes. Sinto que a luz era
Deus. O túnel girava em direção à luz como um redemoinho. Eu não
sabia por que estava no túnel ou para onde estava indo, Eu queria chegar
àquela luz. E quando cheguei, não queria voltar. Quase esqueci do meu
corpo. Conforme subia pelo túnel, duas pessoas estavam me ajudando.
Eu as vi no momento em que saíram do túnel para a luz. Elas ficaram
comigo durante o trajeto todo.
Então me disseram que eu tinha de voltar. Voltei pelo túnel e cheguei
de volta ao hospital onde dois médicos estavam trabalhando em mim.
Eles diziam “Jason, Jason”. Eu vi meu corpo em uma mesa e parecia
azul. Eu sabia que voltaria porque as pessoas na luz tinham me dito.
Os médicos estavam preocupados, mas eu tentava lhes dizer que
estava bem. Um médico colocou chapinhas em meu peito e meu corpo deu
um pulo.
Quando acordei, contei ao doutor que eu o havia visto quando colocou
chapinhas em meu peito. Tentei contar à minha mãe também, mas
ninguém queria ouvir. Contei para minha professora um dia na classe e
ela contou para você.
MOODY: Jason, o que você pensa de tudo isso? Eu quero dizer, isso
aconteceu com você há três anos. Isso o transformou de alguma maneira?
O que você acha que isso significa?
JASON: Bem, eu tenho pensado muito sobre isso. Para mim eu morri.
Eu vi o lugar para onde se vai quando morre. Não tenho medo de morrer.
O que aprendi lá é que a coisa mais importante é amar enquanto se está
vivo. Um menino da minha classe morreu no ano passado. Ele tinha
leucemia. Ninguém queria falara respeito, mas eu disse que Don está
bem onde ele está, que a morte não é algo tão ruim. Eu contei a eles sobre
quando eu morri, e foi por isso que minha professora contou para você.
MOODY: Jason, você notou algo sobre as pessoas que estavam no
túnel com você?
JASON: AS duas pessoas comigo no túnel me ajudaram a partir : do
momento em que cheguei lá. Eu não sabia exatamente onde estava, mas
eu queria chegar até aquela luz no final. Eles me disseram que eu ficaria
bem e que eles me levariam até a luz. Eu podia sentir amor vindo deles.
Eu não vi seus rostos, apenas contornos no túnel. Quando chegamos à
luz, pude ver seus rostos. É difícil de explicar porque isso é muito
diferente da vida no universo. Eu não tenho palavras para isso. Era como
se eles estivessem usando túnicas muito brancas. Tudo estava iluminado.
MOODY: Você disse que eles falaram com você. O que disseram?
JASON: Não. Eu conseguia dizer o que estavam pensando e eles
conseguiam dizer o que eu estava pensando.
MOODY: Em algum momento Você me disse que estava morto. Você
pode me falar a respeito?
JASON: Você quer dizer quando eu estava flutuando por cima da
ambulância? Eu olhava para baixo de cima da ambulância e sabia que
meu corpo estava dentro da ambulância, mas eu estava lá por cima dela.
Um dos homens na ambulância disse que achava que eu estava morto e
quando falei com eles ninguém me ouviu, assim eu soube que estava
morto. Tão logo soube que estava morto, esse túnel se abriu e eu vi uma
luz no final dele. Quando entrei nele, ouvi um “assobio”. Era divertido
estar lá.
As memórias obviamente prazerosas das crianças em relação às
suas EQMs são um sinal saudável. Muito frequentemente essas
crianças criam ligações com as pessoas que encontraram do “outro
lado”. Quando voltam, falam sobre a linda mulher que tomou
conta deles quando morreram.
Para mim essa é mais uma indicação dos efeitos positivos da
EQM, até mesmo em um segmento “culturalmente não
condicionado” da sociedade. A experiência não causa medo nem
afeta as crianças como uma doença mental; em vez disso, jovens
com EQM comumente criam um certo tipo de ligação com seus
episódios. Esse “anseio pela luz bonita”, como um paciente me
disse, fez da maioria das crianças com EQM pessoas melhores à
medida que cresceram. Mais uma vez, é seu conhecimento especial
que faz delas mais gentis e muito mais pacientes.
Um paciente mais velho que passou por uma EQM quando
criança me disse:
Eu nunca me envolvi em brigas de família como meus irmãos e irmãs
faziam. Minha mãe dizia que era porque eu “tinha uma visão geral da
situação”. Eu acho que podia ser verdade.
Mas eu só sabia que nada do que estávamos discutindo tinha qualquer
importância real. Após ter encontrado o Ser de Luz, eu sabia que
qualquer discussão que acontecesse não teria sentido. Assim, quando
algo daquele tipo acontecia na família, eu apenas me enroscava com um
livro e deixava que os outros resolvessem seus problemas. Os meus já
tinham sido resolvidos para mim. Eu ainda sou desse jeito, até mesmo
agora mais de trinta anos após o que aconteceu comigo.
As Conclusões de Outros Pesquisadores
Há pouca pesquisa médica que lida com crianças e EQMs. Mas,
certamente o que há merece ser examinado, porque os
pesquisadores chegaram às suas conclusões sobre o significado
das EQMs em pessoas muito jovens.
Um desses pesquisadores é o doutor David Herzog do Hospital
Geral de Massachusetts em Boston. Em um relatório de casos
intitulado “Experiências de Quase-Morte em Pessom Muito Jovens”[4] ,
Herzog escreve sobre uma menina de seis meses que foi admitida
na unidade de terapia intensiva com uma doença grave. Ela foi
medicada imediatamente com terapia adequada, incluindo
oxigênio para estabilização, e em um curto período de tempo ela
estava bem novamente.
Contudo, muitos meses depois, ela entrou em pânico quando
encorajada pelos irmãos e irmãs a engatinhar através de um túnel
em uma loja de departamentos local. O doutor Herzog, que
identificou esse medo como “pânico do túnel”, diz que o problema
ocorreu em várias ocasiões subsequentes.
“De acordo com sua mãe”, lê-se no relatório de casos, “durante
esses episódios a paciente falava muito rápido, ficava
excessivamente assustada e indefesa e parecia conhecer o túnel
muito bem. Com três anos e meio, quando sua mãe estava
explicando morte iminente de sua avó, a criança retrucou. A vovó
terá de passar através do túnel na loja para chegar a ver Deus?”
Apesar de Herzog reconhecer que a imagem do túnel é a mesma
daquela experimentada por adultos, ele evita interpretar o
significado do episódio. Em vez disso, ele aponta a necessidade?
de compreensão imediata, conforto e reafirmação pelos médicos
e pais de uma pessoa com EQM e diz:
“Ajudar a criança a expressar suas emoções e entender suas
reações a eventos traumáticos passados permitirá que ela resolva
medos iniciais e traumas passados”.
Outro estudo de casos vem do doutor Melvin Morse do Hospital
Ortopédico de Crianças e Centro Médico em Seattle. Ele escreve
sobre uma menina de sete anos que quase se afogou em uma
piscina local.
Morse a viu pela primeira vez quando ela foi trazida para a sala
de emergência. Ele administrou medicação adequada e a colocou
em um respirador por três dias. Depois de uma semana no
hospital, ela foi liberada.
Ela admitiu ter tido uma EQM aproximadamente duas semanas
mais tarde, durante um exame de acompanhamento. Questionada
sobre o que lembrava da experiência, ela contou ao médico que
apenas lembrava de “ter falado com o Pai Celestial”. Então ela
ficou muito desconcertada em continuar a discutir o assunto mais
profundamente.
Uma semana depois, Morse entrevistou a menina. Ela ficou
desconcertada quando ele mencionou a EQM pela primeira vez,
mas decidiu discutir o episódio com ele porque “você se sente bem
falando sobre isso”. Ela não permitiu que a entrevista fosse
gravada e só falou a respeito do incidente após ter primeiro
desenhado figuras do que havia acontecido. Para citar o relato de
Morse:
A paciente disse que a primeira lembrança que teve de seu quase
afogamento foi de “estar na água ”. Ela declarou, "eu estava morta.
Então fui parar num túnel. Estava escuro e eu estava com medo. Eu não
conseguia andar". Uma mulher chamada Elizabeth apareceu e o túnel
ficou brilhante. A mulher era alta e tinha cabelos louros brilhantes. Elas
andaram juntas para o céu. Ela declarou que "o céu era divertido. Era
brilhante e havia muitas flores". Disse que havia uma fronteira em
volta do céu através da qual ela não podia ver nada. Ela afirma ter
encontrado muitas pessoas, incluindo seus avós falecidos, sua tia
materna morta e Heather e Melissa, dois adultos esperando para
renasceram Então encontrou o “Pai Celestial e Jesus", que perguntaram
m se ela queria voltar à Terra. Ela respondeu "não”. Eles perguntaram
então se ela queria ver sua mãe. Ela disse que sim e acordou no hospital.
Finalmente, ela afirmou lembrar de ter me visto na sala de emergência,
mas não M conseguiu fornecer mais detalhes sobre o período de três 5
dias nos quais esteve em coma [5].
Morse investiga a formação religiosa da paciente. Sendo
Mórmon, foi ensinado à menina que a Terra nada mais é do que
um ponto de parada no caminho para o céu. Foi dito a ela que
finalmente se reuniria a seus parentes mortos, incluindo sua tia
que morrera dois anos antes de seu quase afogamento.
Sua mãe descreveu a morte como “dizer adeus às pessoas em
um barco a vela. Podemos simplesmente ir até a margem e acena:
para elas”. A alma foi descrita como sendo similar a uma luva que
sai de sua mão na morte e se junta a você novamente no céu.
Morse admite que os eventos durante a EQM de sua paciente;
encontrar Jesus, ver parentes mortos se enreda caprichosamente
com seu ensino religioso. Mas, apesar de tal ensino religioso, ele
aponta que sua experiência é a mesma daquela de muitas pessoas
não religiosas que vivenciaram EQMs. Da mesma maneira que
experimentaram a passagem através de um túnel, a visão de Seres
de Luz, uma conversa com divindades e a visão do céu, assim
também foi a experiência dela.
Ele conclui assim como outros pesquisadores que a formação
religiosa não altera a essência da experiência, mas apenas a sua
interpretação.
Mais de Morse

Desde seu relato sobre esse caso em 1983, o doutor Morse


continuou a estudar EQMs em crianças.
Em 1985, ele publicou um estudo intitulado Near-Death
Experiences in a Pediatric Population (Experiências de QuaseMorte
em uma População Pediátrica), no qual entrevistou sete crianças
que tinham de três a dezesseis anos quando ficaram em estado
crítico (isto é, sofriam de condições de saúde com altas taxas de
mortalidade). Em sua maioria, as crianças sofreram paradas
cardíacas causadas por trauma ou quase afogamentos, Outros
pacientes na mesma faixa etária, mas com condições graves (não
necessariamente de risco de vida) também foram entrevistados.
Eles não experimentaram episódios de EQM.
As crianças foram entrevistadas pelo menos dois meses após
terem deixado o hospital. Elas estavam acompanhadas pelos pais,
que foram requisitados a apresentar seu ponto de vista do
histórico médico da criança. Depois, tanto para os pais como para
o filho foram feitas perguntas abertas sobre as lembranças da
criança sobre sua hospitalização. Havia perguntas como: “Você
tinha sonhos?”, “O que você lembra sobre o tempo em que estava
inconsciente ou adormecido?” As crianças também eram
encorajadas a desenhar figuras de suas experiências.
Quando a entrevista estava quase terminada, as crianças foram
submetidas a uma série de perguntas diretas com respostas de sim
ou não sobre os sintomas da EQM, como por exemplo! “Você viu
um túnel?” “Você viu um Ser de Luz?”
Quatro dos sete pacientes que estiveram em estado crítico!
relataram EQMs. Dois daqueles quatro disseram que a EQM teve
um efeito tranquilizador, dois tiveram experiências fora do corpo*
um viu um túnel brilhante e o outro uma escada escura; dois
foram questionados sobre o Ser de Luz, se eles queriam ficar nesse
lugar celestial e se decidiram retomar.
Algumas das entrevistas eram realmente surpreendentes! Um
dos pacientes que “morreu” de parada cardíaca na mesa de
operação contou a seus pais: “eu tenho um segredo maravilhoso
para contar a vocês. Eu estive a meio caminho do céu”. Ele disse
que “estava em uma escada escura” e “subia”. Na metade do
caminho ascendente, ele resolveu voltar porque tinha um irmão
mais novo que havia morrido e ele achou que não era tempo de se
juntar a ele ainda porque seus pais se sentiriam sozinhos.
Desse estudo, Morse concluiu que as crianças vivenciam EQMs
muito parecidas com as dos adultos. Ele também esperou que o
estudo “alertasse” outros médicos para o fato de que essas
experiências ocorrem com um “número significativo de crianças
muito doentes”. Mas o estudo também o encorajou a olhar parâ
outra questão intrigante: Uma pessoa tem de estar próxima da
morte para ter uma EQM, ou alguém pode ter a experiência com
uma doença que não apresente risco de vida?
O doutor Morse tentou responder a essa questão com seu estudo
seguinte. Nesse trabalho, os pesquisadores selecionara dentre 202
relatos médicos onze pacientes que sobreviveram a doenças muito
graves estados definidos como condições com taxa de mortalidade
maior do que dez por cento. Também foram estudados vinte e
nove pacientes da mesma idade que sobreviveram a “doenças
graves” aqueles com taxas de mortalidade muito pequenas.
Apesar de nenhum dos gravemente doentes terem passado por
EQMs, sete dos onze doentes em estado crítico tinham lembranças
que incluíam estar fora do corpo (seis pacientes), entrar na
escuridão (cinco), efeitos positivos ou tranquilizadores (três); ver
pessoas ou seres vestidos de branco (três), visões de colegas de
classe ou professores (dois), visões de parentes mortos (um),
chegar a uma fronteira (um), estar em um túnel (quatro) e decidir
retomar ao corpo (três).
As entrevistas foram conduzidas de maneira similar àquelas que
o doutor Morse fez no estudo sobre crianças e EQMs. Mas as
respostas foram muito mais interessantes. Um menino de onze
anos, por exemplo, teve uma parada cardíaca no saguão do
hospital. De repente, de acordo com o estudo:
Ele lembra de estar no saguão do hospital e sentir uma sensação de
mergulhar “como quando você passa por um solavanco em um carro e
seu estômago vem até a boca”. Ele ouviu um barulho em seus ouvidos e
pessoas falando. Logo estava flutuando no teto da sala, olhando para seu
corpo abaixo dele. A sala estava pouco clara e seu corpo estava iluminado
por uma luz suave. Ele ouviu uma enfermeira dizer, “gostaria , que não
tivéssemos de fazer isso”, e examinou o continuado , ressuscitamento
cardiopulmonar. Efe viu uma enfermeira “colocar gel em meu corpo”, e
então ela “entregou chapinhas.ao doutor”. As chapinhas foram colocadas
em seu corpo e quando “o doutor apertou o botão, de repente eu estava de
volta ao meu corpo olhando para o médico”,
Ele percebeu uma dor significativa à medida que o choque percorreu
seu corpo e relatou que teve pesadelos recorrentes da dor dessa técnica,
conhecida como cardioversão[6].
As enfermeiras presentes ao evento narram que ele abriu os olhos
depois da cardioversão e disse: Aquilo foi real& mente estranho. Eu
estava flutuando acima do meu corpo e fui sugado de volta para dentro
de mim mesmo". Ele não tinha lembrança de ter feito aquela declaração.
Outro dos pacientes entrevistados lembrou de um ser de
aproximadamente dois metros e meio que o levou através de um
túnel. “Não era Cristo”, ele garantiu a Morse. “No entanto, pode
ter sido um anjo, levando-me para Cristo”
A conclusão de Morse foi que a essência da EQM é
experimentada apenas por pessoas que sobreviveram a uma
doença gravíssima ou aqueles que passaram por um estresse
causada pelo risco de vida.
Eu me Vi como um Adulto
Nesses últimos anos, comecei a perguntar às crianças quantos
anos elas têm durante a EQM. Em outras palavras, seu corpo
espiritual é de uma criança ou de um adulto? Um número
surpreendente delas diz que são adultas durante o episódio,
apesar de não conseguirem dizer como sabem disso.
Se você acredita na EQM como o espírito deixando seu corpo
terrestre, então isso pode significar que ó espírito é uma entidade
que não envelhece e se encontra alojado em um corpo em
constante mutação. Quando finalmente se cansa do corpo, o
espírito vai para outro mundo.
Outra explicação possível é que os Seres de Luz fazem essas
crianças ficarem tão à vontade que elas se sentem como se
estivessem entre iguais. Isso pode levá-las a pensar que têm a
mesma idade que aqueles ao seu redor.
Uma mulher me contou sobre uma EQM que teve quando
criança.
Certa vez, próximo ao meio-dia quando eu tinha sete anos, eu estava
indo da escola para casa almoçar. Havia um fragmento de gelo no meio
da rua e corri para escorregar nele como as crianças fazem. Bem, quando
eu cheguei nele, meus pés escorregaram na minha frente e bati a cabeça.
Levantei e andei os três quarteirões até minha casa, mas eu não estava
nada bem.
Minha mãe me perguntou o que tinha acontecido e eu contei que havia
escorregado e batido a cabeça. Ela me deu uma aspirina, mas quando fui
tomá-la, não conseguia encontrar minha boca.
Imediatamente ela me fez deitar e chamou o médico. Foi então que
desmaiei. Fiquei desacordada por doze horas e eles não sabiam se eu
viveria ou morreria naquele período de tempo.
É claro que não me lembro de nada daquilo. Tudo o que lembro foi ter
acordado em um jardim cheio deflores grandes. Se tivesse de descrevê-las,
eu diria que elas pareciam dálias grandes e altas. Estava quente e claro
nesse jardim e ele era muito bonito.
Olhei em volta do jardim e vi esse ser. O jardim era
extraordinariamente belo, mas tudo empalideceu diante de sua presença.
Eu me senti amada e nutrida completamente por sua presença. Foi o
sentimento mais agradável que já conheci. E apesar de ter sido há muitos
anos, ainda posso sentir aquela sensação.
O ser me disse—sem palavras —“Então você vai voltar’*.' E eu
respondi da mesma maneira, “Sim". Ele perguntou por que eu queria
voltar ao meu corpo e eu respondi: “Porque minha mãe precisa de mim”.
Naquele momento, eu lembro de descer por um túnel e a luz
continuava a ficar cada vez mais fraca. E quando não dava mais para ver
a luz, acordei.
Levantei, olhei em volta e disse, “Olá, mamãe”.
Ao pensar na experiência, compreendi que eu estava completamente
madura quando estava em sua presença. Como disse, eu só tinha sete
anos, mas sabia que era adulta.
À medida que pesquisas de EQM avançarem, finalmente
seremos capazes de descobrir o quão difundido é esse fenômeno.
Conclusão
Para muitos, as experiências de quase-morte em criança#:
fornecem maior evidência da vida após a morte do que aquelas*
que ocorrem em pessoas mais velhas. Não é difícil entender o
porquê. Pessoas mais velhas tiveram mais tempo de ser
influenciadas e moldadas pelas experiências de sua vida e uma
infinidade de crenças religiosas.
Por outro lado, as crianças vêm para a experiência com um certo
frescor. Elas não tiveram tempo de ser influenciadas
profundamente pelo material cultural que começa a rodeá-las
rapidamente.’
Mas em nível clínico, o aspecto mais importante das EQMs em
crianças é o vislumbre que têm do “além-vida” e como isso as afeta
pelo resto da vida. Elas são mais felizes e esperançosas do que
outras pessoas ao seu redor. Elas apresentam evidências mais
fortes de que EQMs são transformações positivas na vida de uma
pessoa.
4 Por que experiências de quasemorte nos
intrigam
Agora, estamos lidando com os efeitos da experiência de quase-
morte em pessoas que passaram por isso. Mas como isso afeta as
pessoas ao redor delas? E por que as pessoas ficam tão fascinadas
pela experiência de quase-morte?
Francamente, quando escrevi A Vida Depois da Vida mais de dez
anos atrás, eu não teria imaginado que o interesse público em
EQMs continuaria tão forte por tanto tempo. Pensei que seria uma
daquelas áreas da ciência que desapareceria em laboratórios de
pesquisa e salas de aula médicas, apenas para emergir quando um
paciente experimentasse uma EQM e, portanto, precisasse de
explicações e aconselhamento.
No entanto, mesmo que as explicações para o fenômeno da
experiência de quase-morte não estejam necessariamente mais
claras, o interesse público tem crescido inalteradamente. Em
minhas viagens a diferentes conferências e encontros públicos, as
pessoas ainda querem respostas para muitas das questões básicas
sobre experiências de quase-morte:
♦As pessoas em EQM estão mortas?
♦Como elas consideram seu corpo?
♦A EQM atua como confirmação religiosa?
♦As EQMs aparecem em literatura
♦Como as “EQMs de combate” podem ser explicadas?
♦As EQMs podem dar esperança para aqueles atingidos pela
dor?
♦Como as EQMs afetam os suicidas?
♦A ciência se alteraria pela comprovação da EQM'«
♦As EQMs intrigam simplesmente porque são novidade e estão
na moda?
Neste capítulo, planejo responder a essas perguntas o melhor
que puder. Mas primeiro quero mostrar por que a quase-morte
pode ser mais perturbadora para os vivos que a própria morte.
Muitos anos atrás, um psiquiatra me contou sobre um incidente
que ocorreu no avião enquanto ele voltava para casa nos Estados
Unidos após uma visita à índia.
No momento em que o jantar estava sendo servido, um
passageiro passou muito mal. Havia muitos médicos a bordo, que
se propuseram a ajudar. Mas a despeito de suas tentativas de
ressuscitamento, o homem parecia ter morrido.
Seu corpo foi deixado no corredor coberto com cobertores. Logo,
a curiosidade excitada de outros passageiros se acalmou e
surpreendentemente eles continuaram a jantar.
Após alguns minutos, muitos passageiros sentados perto do
corpo notaram espasmos e mexidas debaixo dos cobertores. Eles
chamaram os médicos novamente, que logo correram até o corpo e
desta vez foram capazes de ressuscitar o homem, que sobreviveu.
O que o psiquiatra notou naquele momento foi que ninguém
continuou a comer. Quando ele fez perguntas para aqueles ao
redor dele, descobriu que as pessoas no avião ficaram mais
perturbadas pelo retomo do morto do que o aparentemente aceito
estado de morte propriamente.
A mensagem é clara: nós seres humanos levamos a vida
estabelecendo limites. Estamos muito mais preparados para lidar
com a morte do que com um suposto retomo dela. Designamos
alguns fenômenos para um dos lados de nossas fronteiras mentais
e alguns para o outro lado. Quando crianças, aprendemos as
diferenças entre meninos e meninas,, por exemplo. E mais tarde
na' vida ficamos confusos com as pessoas que cruzam a linha que
divide os sexos, sejam eles transexuais ou travestis.
Acreditamos que “um corpo, uma pessoa” é uma lei natural.
Assim quando descobrimos personalidades múltiplas como as
personalidades alternantes no filme As Três Máscaras de Eva,
nossas fronteiras mentais são quebradas pelo pensamento que
mais do que uma pessoa pode habitar o mesmo corpo.
Aprendemos que um humano é uma coisa e um animal é outra.
Assim, quando encontramos crianças criadas por lobos ou
macacos, nossas fronteiras são desafiadas e ficamos
profundamente perturbados. O mesmo é verdade para nossa
fascinação com coisas como irmãos siameses e o Homem Elefante.
Eles desafiam nossas fronteiras sobre como pensamos que o
mundo deveria ser e nos fazem questionar aqueles valores que
sempre consideramos verdadeiros.
A relação de tudo isso com a questão de por que ficamos 1 tão
intrigados pelas EQMs deve ser esclarecida.
A linha entre a vida e a morte é a mais inquietante de todas.
Aprendemos que a morte é algo a ser evitado. Tentamos manter
pensamentos de morte fora de nossa consciência e geralmente
aprendemos o significado da morte de maneira gradual.
É essa linha divisória entre vida e morte que é desafiada pela
EQM. Muitas vezes durante os últimos vinte anos, pude vera
fascinação nos rostos da plateia à medida que alguém reconta sua
experiência de quase-morte. Parece que muitas pessoas nunca sé
acostumam com a ideia de que a pessoa que se encontra diante
delas não apenas “retomou dos mortos”, mas também
testemunhou algo espiritual que muitos identificam como vida
após a morte.
Pessoas com EQMs Estão Realmente Mortas?
Certa vez, após uma palestra que ministrei sobre o meu
trabalho, uma mulher idosa da plateia veio até mim. Ela havia
perdido o marido mais ou menos um ano antes, ela disse. Ele
morreu de um ataque do coração após os médicos tentarem
reavivá-lo por algum tempo. Após ouvir sobre pessoas com EQMs
que tiveram ataques do coração e foram ressuscitadas, ela ficou
com dois únicos pensamentos em sua mente: Os médicos
desistiram de seu marido muito cedo? E quão perto da morte essas
pessoas em EQMs estão?
Medi minhas palavras cautelosamente para responder à
primeira pergunta. Como eu não estava lá, declarei, seria
impossível dizer se tudo o que podia ter sido feito fora feito ou
não.
A segunda pergunta “As pessoas com EQMs estão realmente
mortas?” é uma pergunta difícil de responder. Muitas vezes as
tentativas de ressuscitamento são interrompidas porque os
médicos não detectam sinais vitais. Outras vezes os monitores
eletroencefalográficos ligados ao cérebro registraram linhas retas,
o que significa que não há nenhum sinal de atividade de onda
cerebral que possa ser detectado. Ainda assim algumas vezes essas
pessoas retomam e ninguém na medicina pode dizer realmente o
porquê.
Pela definição clássica, a morte é um estado de onde você não
retoma. É definida como irreversível. Portanto, como todas as
pessoas em EQMs retomaram, elas nunca estiveram realmente
mortas. O que aconteceu foi que vários critérios de morte foram
preenchidos. Por exemplo, o coração delas parou de bater por um
longo período de tempo ou elas não estavam respirando. Há até
mesmo certos exemplos nos quais as ondas cerebrais param e
então espontaneamente começam novamente. Algumas pessoas
que experimentam a hipotermia (uma queda dramática da
temperatura corporal) não mostram sinais de atividade de onda
cerebral até que comecem a se esquentar novamente.
Apesar de estarem muito perto da morte, por definição, eles
ainda não estão lá. Muitas dessas situações trazem a questão da
regra dos cinco minutos, que afirma que se o coração para pôr
mais de cinco minutos, não há razão para continuar a tentativa de
ressuscitamento porque o cérebro estaria irremediavelmente
morto por falta de oxigênio. Com as modernas técnicas para
reavivar os pacientes, esse método empírico talvez tenha de ser
reconsiderado.
Um homem que conheço ficou gravemente ferido em um
acidente de carro e foi levado para o pronto-socorro de um
hospital, onde foi declarado morto ao chegar.
Seu corpo foi colocado em uma maca e o empurraram atrás das
cortinas na sala de emergência, onde foi deixado enquanto os
médicos se ocupavam de cuidar das outras pessoas feridas no
acidente. Muitas horas depois, quando os assistentes começaram a
empurrar o corpo para outra parte do hospital, o homem se
contorceu!
Apesar da ausência de sinais vitais tais como o batimento
cardíaco e as pupilas funcionando, esse homem estava vivo e está
até hoje.
Outro homem que conheço anda com seu próprio atestado de
óbito, Ele foi trazido ao hospital, declarado morto e mandado ao
necrotério com um lençol sobre ele. Extraordinariamente, ele
espontaneamente reviveu algumas horas mais tarde.
A lição que tiramos de tudo isso é que há muito que não
sabemos a respeito da fisiologia da morte. Portanto, falando
tecnicamente, as pessoas com EQMs nunca estão realmente
mortas, mas estão muito mais perto que a maioria de nós já
esteve...
Como as Pessoas com EQMs Consideram seu
Corpo?
Uma experiência de quase-morte faz muitas pessoas pensarem
sobre seu corpo de formas diferentes. A maioria das pessoas com
EQMs que conversaram comigo consideram o corpo como uma
Casa para o espírito. Como resultado, elas se tomam menos
assustadas pelo mundo que os cerca e pelas opiniões “de foral!
sobre sua aparência.
Por exemplo, uma pessoa com EQM que se tomou uma de
minhas melhores amigas levava uma vida normal até “morrer ” de
parada cardíaca durante uma cirurgia de vesícula biliar. Seu
médico tentou vigorosamente fazer seu coração voltar a bater por
vinte minutos antes de desistir e mandar os assistentes na sala
preencherem o atestado de óbito. Um sopro de vida o encorajou a
recomeçar a tentativa de ressuscitamento e finalmente seu coração
voltou a bater novamente.
Durante aquele tempo, ela experimentou uma separação, de seu
corpo e observou o médico e as enfermeiras enquanto eles
tentavam salvar sua vida. Ela subiu por um túnel para um lindo
reino de luz e amor no qual ela viu todos os acontecimentos de sua
vida passarem novamente com grande detalhe. Ela viu parentes e
amigos que morreram anos antes e foi-lhe dada a escolha de
retomar ou ficar. Por mais difícil que a decisão tivesse sido, ela
escolheu retomar à sua vida presente por causa de sua filha e de
seu marido.
Desde aquele acontecimento dez anos atrás, sua saúde física
continuou a falhar. Ela tem diabetes e problemas crônicos na
espinha que exigiram várias cirurgias para fusão e outros reparos.
Entretanto, pelo tempo que a conheço, nunca a ouvi reclamar de
dor ou sofrimento. Embora, às vezes, deva sentir considerável
desconforto, sua atitude é de uma serenidade luminosa.
Descobri recentemente que ela superou as fronteiras
determinadas por seu corpo enfermo mais uma vez quando visitou
um parque de diversões e andou em todas as atrações; até mesmo
na montanha russa com looping. Em minha opinião, isso foi
simbólico de sua crença na vida após a morte.
Muitas pessoas que tiveram uma experiência fora do corpo
durante suas EQMs não reconhecem nem mesmo o corpo que
deixaram como sendo deles próprios. Muitos me contaram que,
antes da experiência, estavam acostumados a reconheceria eles
mesmos ao olhar no espelho e em fotografias. Mas a EQM fez com
que olhassem para o próprio corpo de maneira diferente.
Um dos exemplos mais memoráveis desse fato veio de um
psiquiatra que vivenciou uma EQM. Ele disse: “Em vida, você pode
achar que conhece sua aparência. Mas quando você sai de seu
corpo e vê seu próprio corpo físico* é muito difícil ver qual de
todos os corpos no mundo é o seu”.
No seu caso, ele estava vagueando em um hospital militar
olhando as fileiras de corpos em camas e ele não conseguia dizer
qual era o dele. Ele havia saído de seu corpo e saído do hospital ao
tentar voltar para casa. Mas quando percebeu que ninguém podia
ouvi-lo ou vê-lo, ele voltou e começou a tentar achar a si mesmo.
Ele literalmente teve problemas para encontrar-se, até que
descobriu um corpo com o anel de sua fraternidade no dedo e
percebeu que aquele deveria ser o seu corpo.
Outro homem que conheço caiu de um outdoor sobre cabos de
alta voltagem. Ele perdeu as pernas e parte de um braço por causa
das queimaduras. Ele teve uma experiência fora do corpo na sala
de operações. Enquanto olhava para baixo, para seu próprio corpo,
o primeiro pensamento que veio à sua mente foi: “Olhe para
aquele pobre homem”. Ele nem mesmo reconheceu o corpo na
mesa como sendo o seu próprio. Quando finalmente entendeu que
aquele corpo gravemente danificado era o seu, notou algo mais
peculiar: seu corpo espiritual não estava aleijado de maneira
nenhuma.
Muitas pessoas com deficiência físicas e que atravessam EQMs
descobrem que suas deficiências somem. No reino espiritual, eles
são seres completos e altamente ágeis. Tem sido minha experiência
ver que a EQM permite que os deficientes aceitem melhor seus
problemas.
Apesar de as EQMs fazerem muitas pessoas pensar no seu corpo
como a casa para seu espírito, não quero sugerir que eles se tomam
pessoas que passam a correr riscos desnecessários como resultado
da experiência. Eles não desenvolvem a atitude leviana de muitos
paraquedistas ou alpinistas. O que acontece é que pessoas que
viveram EQMs tornam-se mais cuidadosas com o corpo.
As EQMs como Confirmação Religiosa
Apesar de alguns pesquisadores teorizarem que EQMs são
causadas pela crença intensa em Deus e no além-mundo, o fato é
que essas experiências acontecem com a mesma frequência para os
não crentes e os crentes.
Durante esses anos, descobri pacientes de EQMs com todo tipo
de formação religiosa. Alguns me dizem que antes da experiência
eles não acreditavam em Deus. Outros dizem que eram muito
religiosos.
O ponto interessante é que após a EQM os efeitos parecem ser
os mesmos: pessoas que não eram publicamente religiosas antes
da experiência dizem depois que realmente acreditam em Deus e
têm um apreço pelo espiritual, assim como as pessoas que
acreditavam em Deus o tempo todo.
Ambos os grupos emergem com um apreço da religião que é
diferente daquela estreitamente definida e estabelecida pela
maioria das igrejas. Eles vêm a entender através da experiência que
religião não é uma questão de um grupo “certo” contra muitos
grupos “errados”. Pessoas que passam por uma EQM saem dela
dizendo que a religião diz respeito à sua habilidade de amar não a
doutrinas e denominações. Para resumir, eles acham que Deus é
um ser muito mais magnânimo do que pensavam antes e que
denominações não contam.
Um bom exemplo disso é uma mulher idosa em New Hampshire
que passou por uma EQM após uma parada cardíaca. Ela tinha
sido muito religiosa e atinha-se à doutrina luterana desde criança.
Mas após a EQM, ela desprendeu-se e se tomou uma pessoa mais
contente. Quando membros de sua família pediram que ela
justificasse a mudança em sua personalidade, ela simplesmente
disse que entendeu Deus após seu episódio e percebeu que, por
fim, Ele não se importava com a doutrina da igreja.
Há muitas religiões ao redor do mundo que prontamente
aceitam as EQMs como a entrada para o mundo espiritual. A mais
proeminente das religiões ocidentais a fazer isso é a Igreja de
Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, mais comumente
conhecida como a Igreja Mórmon.
A doutrina Mórmon sustenta que a EQM é como uma olhadela
para o mundo do espírito. Eles acreditam que o mundo do espírito
é uma dimensão que não pode ser percebida pelos vivos, mas que
é habitado por aqueles que deixaram seu corpo físico.
O Jornal de Discursos Mórmon, em um comentário sobre a crença
Mórmon, escrita pelos anciãos da igreja, diz que o corpo espiritual
retém os cinco sentidos do corpo físico (visão, audição, tato,
paladar e olfato) enquanto tem “capacidades aumentadas” e a
habilidade de considerar muitas ideias diferentes ao mesmo
tempo. Também pode se mover com a velocidade da luz, ver em
muitas direções diferentes ao mesmo tempo e comunicar-se de
muitas maneiras além da fala. E está livre de incapacidades e
doenças.
A doutrina Mórmon diz que o espírito entra no corpo no
nascimento e o deixa na morte. Ela define a morte como uma
“mera mudança de um status ou esfera de existência para outra”.
“Nós viraremos e olharemos sobre ele (o vale da marte) -h e
pensaremos quando o tivermos cruzado, ora essa é a maior vantagem de
minha existência toda, por eu ter passado de um estado de dor, mágoa,
tristeza, pesar, miséria, sofrimento, angústia e desapontamento para um
estado de existência « em que eu posso desfrutar a vida no âmbito
máximo contanto que isso possa ser feito sem um corpo ”.
Muitos dos traços da EQM são descritos pelos líderes Mórmons.
Um diz, “a luminosidade e a glória do próximo apartamento é
inexprimível”, que é o mesmo que ser tragado pela luz suave.
Outro diz que “lá como aqui, todas as coisas serão naturais, e você
as entenderá como você entende agora as coisas naturais”, que
está de acordo com muitas pessoas com EQMs que
experimentaram um tipo de entendimento universal. :
A experiência de ver parentes e amigos após a morte, é
sustentada no Jornal dos Discursos.
Temos mais amigos atrás do véu do que deste lado, e eles nos saudarão
mais alegremente do que você já foi benvindo pelos seus pais e amigos
neste mundo, e você exultará mais quando encontrá-los do que você
jamais exultou em ver um amigo nesta vida.
Alguns líderes Mórmons dizem que “alguns espíritos que
experimentaram a EQM são chamados de volta para habitar seu
corpo físico novamente. Essas pessoas passam pela morte natural
ou temporal duas vezes”.
Talvez uma das mais famosas dessas EQMs Mórmon aconteceu
com Jedediah Grant e foi gravada pelo líder da igreja Heber
Kimball para o Jornal de Discursos:
Ele me disse: “Irmão Heber, eu estive no mundo do espírito
duas noites sucessivas, e de todos os medos que enfrentei, o pior
foi ter de retomar ao meu corpo, apesar de eu ter de fazê-lo ”.
O medo de Grant veio como resultado de encontrar sua mulher e
filha, assim como muitos amigos, enquanto no mundo do espírito.
Ele viu sua mulher, ela foi a primeira pessoa que veio a ele. Ele
viu muitos que conhecia, mas não conversou com nenhum deles a
não ser com sua esposa Caroline. Ela veio até ele e ele disse que ela
estava linda e tinha sua pequena filha, que morreu na campina, em
seus braços, e disse, “Senhor Grant, aqui está a pequena Margaret;
você sabe que os lobos a comeram; mas isso não a machucou, aqui
está ela muito bem”.
Também há menção da vida após a morte na Bíblia, quando
Paulo descreve o tipo de corpo que teremos no outro mundo.
Mas dirá alguém, “Como ressuscitarão os mortos? E com que
corpo virão?” Seus tolos... o que tu semeias, não semeias o corpo
que há de nascer, mas um simples grão... Porém, Deus dá-lhe...
semeie seu próprio corpo... E há corpos celestes e corpos terrestres:
mas uma é a glória dos celestes, outra a dos terrestres... Assim
também é a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo
corruptível, ressuscitará incorruptível: Semeia-se na desonra;
ressuscitará na glória: Semeia-se na fraqueza; ressuscitará em
poder: Semeia-se um corpo natural; ressuscitará um corpo
espiritual. Há um corpo natural e há um corpo espiritual... Eis que
vos digo um mistério: Não dormiremos todos, mas todos seremos
mudados. Num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da
última trombeta: porque a trombeta soará e os mortos
ressuscitarão incorruptíveis...
1 Coríntios 15:35-52[7]
EQM na Literatura
Deve-se notar que há todo um gênero literário e cinematográfico
que lida com o retomo dos mortos. Infelizmente, a maioria desses
exemplos pode ser considerada da categoria de filmes de terror,
nos quais os mortos retomam à terra dos vivos com malícia em
mente.
Embora a EQM comumente envolva algum tipo de retomo dos
mortos, os resultados são bem diferentes daqueles de um vampiro
ou Frankenstein. Em vez de ser um evento destruidor, as EQMs
são usualmente benignas. Ao invés de ser assustadora e sombria,
as EQMs oferecem esperança e paz. Há vários exemplos das EQMs
na boa literatura. No Conto de Natal de 8 deixa de ser um viúvo
Charles Dickens, por exemplo, Ebenezer Scrooge[8] avarento e
cínico para se transformar num “bom amigo, um bom mestre e um
bom homem como a boa e velha cidade conheceu”, por ter tido um
tipo de experiência de quase-morte.
Na clássica história, Scrooge encontra três fantasmas o do Natal
Passado, o do Presente e o do Futuro que o levam para um exame
de vida que termina em seu próprio local de sepultura.
O exame no qual ele é acompanhado por esses três Seres de Luz
transforma Scrooge. Ele se arrepende profundamente por não ter
demonstrado mais amor pelos outros. Ao final da experiência, ele
é um homem mudado, pronto para demonstrar compaixão pelos
outros a fim de recuperar o tempo perdido.
Há também referências às EQMs no maravilhoso romance de
Victor
Hugo, Os Miseráveis. Durante toda a vida, o personagem
principal, Jean
Valjean, é perseguido por um policial por ter escapado da prisão
onde foi colocado por ter roubado um pãozinho para alimentar a
criança faminta de sua irmã.
Ao longo do livro, ele faz grandes atos de bondade. Um deles é
cuidar de uma mulher grávida e faminta chamada Fantine, que
acaba morrendo. Como Hugo escreveu:
Jean Valjean tomou a cabeça de Fantine em suas mãos e a arrumou em
um travesseiro, como uma mãe faria por seu filho... Feito isso, ele fechou
seus olhos.
O rosto de Fantine, nesse instante, pareceu estranhamente iluminado.
A morte é a entrada para a grande luz.
Da morte de Valjean, Hugo escreveu:
A cada momento, Jean Valjean enfraquecia... A luz do desconhecido já
era visível em seus olhos.
E então as últimas palavras de Valjean:
Amem-se uns aos outros ternamente sempre. Certamente não há mais
nada no mundo a não ser isso; amar uns aos outros... Eu vejo uma luz...
Eu morro feliz.
Induzida por seu próprio acesso quase fatal de gripe, Katherine
Anne Porter escreveu Pale Horse, Pale Rider (Cavalo Branco,
Cavaleiro Branco), uma história desesperadora que acontece
próximo ao fim da Primeira Guerra Mundial.
No Capítulo 1, inclui comentários de uma entrevista que ela deu
sobre o assunto de seu pequeno encontro com a vida após a morte.
Aqui está uma parte de Pale Horse, Pale Rider, na qual sua
personagem Miranda vê parentes mortos há muito tempo:
Movendo-se em sua direção lentamente como nuvem pelo ar
bruxuleante veio uma grande companhia de seres humanos, e Miranda
viu com alegria que eles eram todos vivos que ela conhecera. Suas faces
estavam transfiguradas cada um em sua própria beleza, além do que ela
se lembrava deles, seus olhos eram límpidos e tranquilos como o tempo
bom e eles não lançaram sombras. Eles tinham identidades puras e ela
conhecia a todos eles sem chamar seus nomes ou lembrar que
relacionamento ela mantinha com eles, Eles a cercaram suavemente com
pés silenciosos, então viraram suas faces em transe novamente em
direção ao mar, e ela se movia no meio deles facilmente como uma onda
entre as ondas.
Há muitos outros exemplos de experiências de quase-morte na
literatura, desde cartas de Emest Hemingway até histórias de
Thomton Wilder. O ponto é que as próprias EQMs têm um lugar
na literatura e não devem ser confundidas com aquela categoria
excitante, mas distinta, da literatura de terror.
Explicando EQMs de Combate
Às vezes acontece que pessoas têm estados alterados sem nem
mesmo terem sido feridas. Mais exatamente, elas se encontram no
meio de uma situação intensamente perigosa o combate é o
melhor exemplo e de repente encontram sua percepção
extremamente alterada.
Essa experiência tem sido confundida com EQMs por algumas
pessoas. Eles então formulam a pergunta lógica: Como uma
experiência de quase-morte pode acontecer a alguém que não está
doente ou traumatizado?
Minha resposta é que a pessoa não vivenciou uma EQM. Muito
simplesmente, essas experiências intensas não envolvem os traços
de uma EQM. Coisas como descer por um túnel e passar para um
bonito reino de luz não foram relatadas nessas chamadas EQMs de
combate. Geralmente essas experiências envolvem uma breve
retrospectiva de eventos experimentados pela pessoa em sua vida,
ou de tudo subitamente parecer ter tido seu ritmo reduzido.
Algumas dessas experiências, como você verá pelo exemplo,
envolvem “ir a algum outro lugar ”, possivelmente para evitar a
situação desagradável na qual se encontram. As experiências não
envolvem o estado enlevado da EQM, mas elas certamente estão
em uma série contínua com as últimas.
Aqui está um exemplo de experiência de combate relatada a
mim por um veterano da Segunda Guerra Mundial:
Isto aconteceu comigo na Sicília durante a invasão da Itália. Meu
pelotão estava passando por um campo quando fomos encurralados pela
frente por um enxame de metralhadoras alemãs. Como eu era o sargento
do pelotão, considerei minha responsabilidade livrar-nos do enxame a
fim de continuar a avançar.
Dei a volta por fora, usando uma mata de árvores frutíferas
como cobertura. Em aproximadamente trinta minutos, eu tinha
dado uma volta em tomo do campo para chegar pela frente de
maneira a me posicionar atrás deles. Eu estava extasiado. Havia
três deles em um buraco cavado ali do outro lado de uma ponte.
Eles estavam tão envolvidos em manter o pelotão encurralado que
nenhum deles estava olhando para trás.
Eu provavelmente poderia ter me aproximado uns dois metros
deles e não ser visto. Pensei em fazer isso, mas optei, por jogar
uma granada de mão quando cheguei em cima da ponte.
Lembro-me de ter puxado a agulha e preparado para atirá-la de
uns vinte metros dali. Levantei o braço e um pouco * antes de jogá-
la no buraco eu gritei: “Aí está, idiotas”. Então eu deitei e esperei...
...E esperei e esperei. A granada não explodiu. Ela era inútil, sem
valor algum como uma pedra.
Antes que pudesse fazer qualquer coisa, eles viraram as
metralhadoras na minha direção e começaram a atirar. . Eu me
enrolei como uma bola e esperei que algo me atingisse, mas nada
me atingiu. Talvez foi a elevação na ponte que me deu cobertura ou
talvez apenas pura sorte, mas nada que atiraram me atingiu.
Mas algo estranho aconteceu. Enquanto eu estava deitado lá,
subitamente deixei meu corpo e a Sicília, no caso, Eu “viajei” para
uma fábrica de munições em Nova Jersey, onde eu flutuei acima de
uma linha de montagem de mulheres que estavam montando
granadas de mão. Tentei falar com elas e lhes pedir para que
prestassem atenção ao seu trabalho, mas elas não me ouviam. Ao
invés disso, elas continuaram a tagarelar enquanto faziam o
trabalho.
- Senti como se tivesse ficado lá por quinze ou vinte minutos.
Então de repente voltei à Itália, deitado no alto daquela ponte, vivo
ainda. Nessa hora, os alemães já pensavam que eu estava morto e
voltaram suas armas em direção ao pelotão novamente. Eu levantei
e puxei o pino de outra granada de mão e atirei no buraco onde
estavam. Dessa vez ela explodiu.
O pelotão havia visto tudo e pensado que eu estava morto, então
ficaram muito surpresos de me ver andando. Eu estava muito
calmo em relação à experiência toda, tão calmo que o comandante
da companhia me mandou a um psiquiatra. Eu contei a ele o que
aconteceu e ele me deu um atestado de saúde e me mandou de
volta para a batalha.
Ele me disse que ouviu a mesma coisa acontecer a outros
homens antes, e que eu deveria manter sigilo a respeito da
experiência para não ser enviado a ele novamente. E foi exatamente
o que fiz.
Como vocês podem ver, essa experiência difere muito das EQMs
e não deve ser confundida com uma delas. Todavia, deve ser
estudada mais a fundo, porque esse tipo de experiência acontece
com muita frequência entre soldados em combate e outras pessoas
em situações semelhantes de estresse.
Esperança para Aqueles Acometidos pelo
Sofrimento
O maior sofrimento de todos é a morte de um ente querido. Para
muitos, esse sofrimento recebe um alívio muito grande com o
relato de experiências de quase-morte.
Pouco depois de A Vida Depois da Vida ser publicado, recebi
uma carta de uma família cuja filha havia sido assassinada. Ela era
uma professora jovem e brilhante, que foi morta por um ladrão
que a havia surpreendido em sua casa. Ela era filha única, e seus
pais estavam vivendo uma experiência insuportável desde sua
morte.
Eles disseram que quando leram sobre experiências de quase-
morte, eles se sentiram muito melhor a respeito de sua dolorosa
perda.
Todos nós que pesquisamos EQMs temos histórias sobre pessoas
que se reconciliaram com a morte de um ente querido ao ouvir
sobre as experiências de quase-morte. Acredito que a EQM faz
muitas pessoas aflitas perceberem que a morte é uma passagem
para outro lugar, que mesmo que os eventos que levaram à morte
possam ser agoniantes, uma vez que a pessoa sai de seu corpo não
há dor, mas, sim, um grande sentimento de alívio. E, baseado em
muitas EQMs, haverá uma reunião com os entes queridos no reino
espiritual. Esse fato sozinho acalma muitas pessoas.
Os Efeitos das EQMs nos Suicidas
A melhor maneira de abordar essa questão é olhar o efeito das
EQMs em pessoas que as vivenciaram como resultado de tentativas
de suicídio.
O doutor Bruce Greyson fez um estudo extensivo com essas
pessoas e descobriu que não apenas passar por uma EQM, mas
também saber da existência de EQMs praticamente apaga o desejo
de suicídio.
O doutor Greyson é um médico de emergência psiquiátrica na
Universidade de Connecticut e lida com tentativas de suicídio em
seu dia-adia. Ele descobriu que se compararmos um grupo de
pessoas que viveram EQMs como resultado de tentativa de suicídio
com um grupo que não passou por EQMs enquanto tentavam o
suicídio, descobre-se que quase nenhum dos que tiveram EQMs
tentam se matar novamente. Por outro lado, uma grande
porcentagem dos que não tiveram uma EQM tentará cometer
suicídio novamente. Então ter uma EQM tende a resolver
inclinações suicidas.
Um pesquisador em Nova York mostrou os estudos de caso de
sobreviventes de EQMs para pacientes que tentaram o suicídio. Ele
notou que isso fez a ideia de suicídio como solução desaparecer.
Esse experimento foi repetido diversas vezes com o mesmo
resultado: a exposição à experiência de quase-morte realmente
impediu pessoas de cometer suicídio.
Esses resultados não me surpreendem. A perda da esperança é
frequentemente a razão pela qual as pessoas cometem suicídio.
Eles se sentem sobrecarregados pela vida e destituídos de crenças
espirituais. As EQMs preenchem esse vazio. Onde antes essas
pessoas sentiam que a vida não levava a lugar nenhum, elas agora
sentem que uma vida após a morte rica e cheia de satisfação espera
por eles. Nesse conhecimento há algo que alivia a dor em sua vida.
Isso os faz sentir que a vida vale a pena ser vivida.
Um amigo testemunhou essa reação em uma vizinha dele que
estava cometendo suicídio por autonegligência. No meio do dia, o
telefone de meu amigo ficou mudo. Como a maioria dos vizinhos
estava no trabalho, ele foi até a rua pedir para uma senhora reclusa
se podia usar o telefone dela para reclamar com a companhia
telefônica.
Ele bateu na porta da cozinha e a ouviu arrastando os pés
devagar e dolorosamente, vindo de outra parte da casa para
atendê-lo. Ela o deixou entrar e exausta pelo esforço, sentou na
mesa da cozinha e começou a respirar oxigênio de um grande
tanque verde.
Quando terminou a ligação, ele conversou com ela e descobriu
que não havia nada de errado com ela clinicamente. Ela estava
apenas velha e deprimida, dizia, e todo o tempo em que passou
sentada fez com que ela ficasse tão fraca que seu médico lhe deu
uma garrafa de oxigênio a fim de facilitar qualquer pequeno
movimento que fizesse.
Meu amigo se recusou a aceitar aquela explicação. Ele pensou
que ela estava morrendo pela simples falta de exercício e decidiu
dar-lhe algo que alteraria seu humor. Ele foi para casa e trouxe uma
cópia de A Vida Depois da Vida para ela ler.
Poucos dias depois, ele a viu andando devagar pela ma com o
livro nas mãos. Ela agradeceu-lhe profundamente e disse que essa
era a primeira vez que saía de casa em mais de um ano porque era
a primeira vez que sentira vontade de fazê-lo. Ela não se sentia
mais tão mal sobre a velhice e seus resultados inevitáveis, ela
disse. A esperança da vida depois da vida fez com que tivesse mais
vontade de aceitar o aqui e agora.
Agora meu amigo relata que esta mulher tomou-se uma
jardineira ativa e que não precisa mais da constante companhia
daquelas grandes garrafas verdes de oxigênio.
A Ciência se Alteraria com a Prova das EQMs?
O mundo é governado, dizem os cientistas, por uma série de leis
naturais. Por exemplo, a ideia de que a gravidade prende nossos
pés ao planeta é uma simplificação das leis da gravidade. Outra
dessas leis afirma que todas as formas de vida na Terra são
baseadas no carbono. O mundo da ciência é baseado nessas e em
outras muitas suposições, e muito progresso tem sido feito porque
sabemos essas leis e vivemos de acordo com elas.
Se fôssemos abrir uma nova dimensão pela prova da vida após a
morte, ela revolucionaria a ciência com a introdução de outras
dimensões para o estudo científico do que aquelas que
conhecemos.
Por exemplo, se ficasse provado que uma pessoa poderia deixar
seu corpo e viajar através das paredes apenas com o pensamento,
isso mudaria o modo como a ciência pensa sobre a comunicação e
as viagens, isso sem mencionar as propriedades da vida.
Isso provaria a existência de todo um outro universo, um que é
certamente mais desenvolvido do que este em que vivemos agora.
As implicações de tal achado quase desafiam a descrição. Você
pode imaginar-se penetrando outra dimensão e conversando com
membros de civilizações mortos há muito tempo? Ou, no caso,
você poderia imaginar o efeito que a prova de um mundo
espiritual teria sobre a ciência de guerra? Acho que a faria
virtualmente obsoleta.
Se soubéssemos que haveria um mundo espiritual no qual o
amor e o conhecimento seriam os únicos atributos de importância
e as coisas pelas quais se fazem as guerras dinheiro, terra, poder
político seriam importantes apenas aqui na Terra, nossas atitudes e
crenças sobre as pessoas que consideramos inimigos mudariam.
, Isso faria com que olhássemos essas pessoas sob uma nova luz.
Afinal, a existência do mundo espiritual significaria que
estaríamos destinados a passar a eternidade com essas pessoas.
Também significaria que em nossa vida depois da vida, seríamos
capazes de saber exatamente como os outros se sentiram sobre a
vida na Terra e sobre nós. Apenas saber que tal reino existe faria
com que fôssemos seguramente mais tolerantes uns com os
outros.
Há um problema com as EQMs: Da maneira como se encontram
agora, elas são apenas evidências relatadas. Não tem sido possível
reproduzi-las cientificamente ou estudá-las em um nível mais
profundo do que chamamos de “forma verbal”. Até que o
fenômeno da EQM possa ser reproduzido, a ciência não pode
aceitar essas histórias como prova de nada além da existência de
algo que acontece com as pessoas que quase morrem.
Embora esses casos sejam extremamente convincentes para mim
e para um grande número de outros médicos, até que possam ser
repetidas, as EQMs podem ser sempre questionadas.
As EQMs nos Intrigam Porque Estão na
“Moda”?
Algumas pessoas dizem que as EQMs são de interesse público
porque são algo novo. Meu livro A Vida Depois da Vida é citado por
algumas pessoas como sendo a primeira história gravada das
experiências de quasemorte. Por causa da observada novidade do
tema, algumas pessoas acham que o interesse diminuirá, e as
EQMs seguirão o caminho do bambolê ou dos calhambeques.
De fato, nada disso é verdadeiro. Há casos de EQMs desde
tempos remotos, até as referências em A República, de Platão,
escrita na Grécia antiga.
Há muito mais relatos de EQM agora do que há duas décadas,
graças ao desenvolvimento do ressuscitamento cardiopulmonar.
Essa técnica de salvamento permite-nos trazer muito mais pessoas
à beira da morte de volta do aquelas que já sobreviveram antes.
A grande maioria das pessoas com quem tenho falado teria
morrido trinta ou quarenta anos atrás em vez de ter ressuscitado.
Portanto, em vez de as EQMs serem meramente curiosidades,
singulares em jornais obscuros de medicina, como eram muitos
anos atrás, podemos encontrar hoje milhares de pessoas que
passaram por essa experiência.
Outra diferença é que as pessoas estão muito mais dispostas a
falar a respeito de suas experiências abertamente. Hoje as pessoas
têm menos medo de receber o estigma de estranhas por parte dos
médicos. E, logicamente, elas certamente não têm de se preocupar
mais em serem trancadas em um hospital psiquiátrico, como
poderia acontecer trinta anos atrás.
Agora as pessoas falam sobre experiências peculiares. E quando
elas o fazem, conseguem apoio social de outras pessoas com
EQMs.
No entanto, como estamos procurando por paralelos históricos,
os primeiros relatos de A Vida Depois da Vida dos quais estou a
par estão[9] contidos nos Diálogos de Gregório, o Grande , um
conjunto de escritos espirituais feitos por esse papa do século seis.
No livro final dos Diálogos, há quarenta e dois casos que dão
“prova” da imortalidade da alma. Essas são uma variedade de
visões no leito de morte, histórias assombradas e relatos de
quasemorte. A maioria desses foi enfeitada por Gregório para
estabelecer a oportunidade para moralização pesada.
No relato que se segue, um soldado “morre” e retoma com uma
história poderosa da vida após a morte e com o destino de um
homem de negócios de Constantinopla chamado Stephen.
Um certo soldado nessa nossa cidade foi atacado (por uma
praga). Ele foi arrancado de seu corpo, ficando prostrado, sem
vida, mas logo retomou e descreveu o que ocorreu com ele.
Naquele tempo havia muitas pessoas experimentando essas coisas.
Ele disse que havia uma ponte, embaixo da qual corria um rio
negro e sombrio que exalava um vapor fétido intolerável. Mas, do
outro lado da ponte havia prados maravilhosos acarpetados com
grama verde e flores de doce perfume. Os prados pareciam ser
ponto de encontro para pessoas vestidas de branco. O odor muito
agradável enchia o arde tal maneira que o perfume doce era o
suficiente para satisfazer todas as necessidades dos habitantes que
estavam passeando lá. Naquele lugar, cada um tinha sua própria
habitação separada, cheia de uma magnífica luz. Uma casa com
capacidade espantosa estava sendo construída lá, aparentemente
com tijolos de ouro, mas ele não conseguiu descobrir para quem
ela poderia ser. Na margem do rio havia habitações, algumas das
quais estavam contaminadas pelo vapor fétido que subia do rio,
mas outras não eram tocadas por ele.
Na ponte, havia um teste. Se alguma pessoa injusta desejasse
cruzar, ela escorregaria e cairia na água escura e fedorenta. Mas os
justos, que não eram bloqueados pela culpa, facilmente e com
liberdade passavam para a região do prazer. Ele revelou ter visto
Pedro, um ancião da família eclesiástica, que morrera quatro anos
atrás; ele estava deitado no lodo horrível embaixo da ponte,
dobrado com o peso de uma corrente de ferro enorme. Quando
perguntou por que isso era assim, foi-lhe dada uma resposta que
traz à nossa mente exatamente o que sabemos sobre os feitos
desse homem. Foi-lhe dito, que ele sofre essas coisas porque
quando ele recebia ordens de punir alguém, ele costumava infligir
golpes mais pelo amor à crueldade do que por obediência ”.
Ninguém que o conhecia está alheio que ele se comportava dessa
maneira.
Ele também viu um certo padre peregrino se aproximar da ponte
e cruzá-la com tanto autocontrole em seus passos quanto havia de
sinceridade em sua vida. Na mesma ponte ele relatou haver
reconhecido aquele Stephen de quem falamos antes. Em sua
tentativa de cruzar a ponte, o pé de Stephen escorregou e a parte
de baixo de seu corpo estava agora pendente. Alguns homens
medonhos saíram do rio e agarraram-no pelos quadris para puxá-
lo para baixo. Ao mesmo tempo, alguns homens esplêndidos
vestidos de branco começaram a puxá-lo para cima pelos braços.
Enquanto a luta continuava, com espíritos bons puxando-o para
cima e espíritos maus arrastando-o para baixo, a pessoa que estava
assistindo a tudo isso foi mandada de volta a seu corpo. Por isso
ele nunca soube do resultado da luta.
0 que aconteceu com Stephen pode ser, contudo, explicado em
termos de sua vida. Porque nele o mal da carne competia com o
bom trabalho de doação de esmolas. Por ter sido arrastado pelos
quadris e puxado pelos braços, é claro ver que ele adorava dar
esmolas mas ainda não se privava completamente dos vícios
carnais que faziam com que ele fosse arrastado para baixo. Que
lado saiu vitorioso naquela disputa foi escondido de nossa
testemunha ocular, e não está mais claro para nós do que para
aquele que viu tudo isso e então voltou à vida. Ainda, é certo que
mesmo tendo ido para o inferno e voltado, Stephen, como relatado
acima, não corrigiu completamente sua vida. Consequentemente,
quando ele saiu de seu corpo muitos anos depois, ainda teve de
encarar uma batalha de vida e morte.
Conclusão

Logo após A Vida Depois da Vida ter sido publicado, era óbvio
que
esse era um tema amplamente popular, e que minha vida jamais
seria a mesma. Percebi rapidamente que a morte é nosso maior
mistério e todos estão interessados em resolvê-lo.
As EQMs nos intrigam porque são a prova mais tangível da
existência espiritual que pode ser encontrada. Elas são literalmente
a luz no fim do túnel.
5 Por que a eqm não é uma doença mental
Ao final de uma das palestras do doutor Michael Sabom, um
cardiologista irado levantou-se e desafiou o renomado pesquisador
da EQM. Ele declarou ter sido médico por trinta anos, durante os
quais havia trazido de volta do limiar da morte centenas de
pessoas.
“Estou envolvido com isso há anos”, disse furiosamente. “E
nenhum dos pacientes com quem falei relatou ter tido qualquer
destas experiências de quase-morte”.
Antes que pudesse responder, um homem sentado atrás de
Sabom levantou-se. “Eu sou uma das pessoas que o senhor salvou,
e lhe digo agora que o senhor seria a última pessoa a quem eu
contaria sobre minha experiência de quase-morte”.
A mensagem daquele encontro era clara: vários médicos e outros
envolvidos com a medicina não simpatizam com pacientes que
vivenciaram uma EQM porque não sabem como lidar com eles,
então não são receptivos. Vários pacientes com quem conversei ao
longo dos anos me contaram que seus médicos os aconselharam a
ignorar a experiência. No máximo declararam que a EQM era um
sonho ruim, algo a ser esquecido e, num caso extremo, sugeriram
que tal experiência era um tipo de doença mental que poderia ser
tratada no divã de um psicoterapeuta ou em um hospital
psiquiátrico. Não se importavam com o fato de a EQM estar sendo
discutida como uma experiência positiva e enriquecedora. Para
vários profissionais da medicina, a EQM é um sinal de insanidade.
Um número bem maior de pessoas com quem conversei nem
mesmo perdem seu tempo contando aos seus médicos, nem
mesmo à maioria dos parentes e amigos, justamente por essa
razão. Desde o momento em que retomaram da experiência de
quasemorte, eles tinham consciência de que podiam ser
considerados “loucos” caso contassem a qualquer um sobre “o
túnel” ou sobre “0 Ser de Luz”. Sendo assim, acabam guardando
para si esta experiência maravilhosa, sem revelar a ninguém o
acontecimento que os transformara tão profundamente. Às vezes,
contar a alguém sobre uma EQM pode trazer muitos problemas.
Foi esse o caso de Martha Todd, uma respeitada professora de
inglês de uma faculdade sulista. Há vários anos ela passou por
uma intensa EQM ao submeter-se a uma cirurgia de rotina para a
remoção de um cisto.
Quase imediatamente após a anestesia ter sido ministrada, ela
sofreu uma reação alérgica que fez seu coração parar. Ela se lembra
de ter ouvido o médico gritar para que alguém trouxesse o
“desfibrilador ”, equipamento necessário para ressuscitamento de
emergência. Ela diz que tinha consciência de que estava “em
apuros”, mas ao mesmo tempo sentia-se “tão relaxada e em paz
que não se preocupava”. Ela ouviu alguém na sala dizer “parada
cardíaca”, e então aconteceu:
Vi-me flutuando em direção ao teto e tive uma visão clara de todos os
que estavam em volta da cama e até mesmo do meu próprio corpo. Achei
estranho que estivessem tão preocupados com ele. Eu estava hem e queria
que soubessem disso, mas não parecia haver um modo de dizer-lhes. Era
como se houvesse um véu ou tela se interpondo entre mim e os outros na
sala.
Percebi então uma abertura, se é que posso chamá-la assim. Ela
parecia alongada e escura, e comecei a projetar-me rapidamente através
dela. Sentia-me confusa, mas extasiada. Ao atravessar o túnel encontrei-
me em um mundo de amor e luz suave e brilhante. O amor estava por
toda parte. Cercava-me por todos os lados e penetrava todo o meu ser.
Num determinado momento eu vi ou me foram mostrados — todos os
acontecimentos de minha vida, numa espécie de panorama ampliado.
Tudo isso é simplesmente indescritível. Pessoas que eu conhecera e
haviam falecido estavam lá comigo na luz: um amigo de faculdade que
havia morrido, meu avô e minha tia-avó, entre outros. Eles irradiavam
felicidade.
Eu não queria voltar, mas um homem trajando branco me disse que eu
tinha de fazê-lo. Ele me dizia que eu ainda não havia realizado tudo o
que devia em minha vida.
Voltei ao meu corpo com um sacolejo brusco.
Quase que imediatamente após a experiência, Martha sabia que
sua vida havia mudado, que novas realidades haviam se revelado
para ela, e que ela jamais seria a mesma. Ela queria contar aos
parentes e amigos — e até mesmo ao médico — sobre sua
experiência. No entanto, enquanto buscava as palavras certas para
explicar-lhes o acontecimento, ela percebeu uma terrível realidade.
Em vez de ver interesse e alegria no rosto das pessoas em volta de
seu leito, ela sentiu neles preocupação e medo. “Eles pensaram
que eu estava descontrolada”, diz Martha. “Minha mãe estava
muito preocupada. A princípio ela tentou me dar um sermão.
Tentou me dizer que eu podia ter me deixado levar facilmente
pelas leituras bíblicas e que deveria tentar manter a cabeça fria.
Tentei dizer-lhe que não estava falando de nada que havia lido ou
ouvido na igreja, mas de algo que realmente havia acontecido
comigo”.
Se a reação dos pais de Martha foi ruim, a de seu médico foi
ainda pior. “Ele disse aos meus pais que eu estava tendo
alucinações e delirando. Ele queria que eu consultasse um
psiquiatra imediatamente. Pensavam que eu havia enlouquecido e
me mandaram para um hospital psiquiátrico para tratamento. Eu
não podia acreditar que tal coisa estava acontecendo comigo”.
Prefiro imaginar que as coisas seriam diferentes caso Martha
Todd passasse hoje por uma EQM. Uma das razões para isso é que
os psicólogos e psiquiatras hoje têm conhecimento sobre
experiências de quase-morte, e provavelmente alguém que vivesse
tal experiência não acabaria em um hospital psiquiátrico. Mas,
infelizmente, um grande número de médicos e assistentes sabem
muito pouco a respeito da EQM e como diferenciá-la de uma
doença mental. E uma vez que eles são provavelmente as primeiras
pessoas a entrar em contato com alguém que a tenha
experimentado, podem fazer com que a pessoa se sinta
envergonhada por ter passado por uma experiência tão bela.
É uma pena, pois, diferentemente de uma doença mental, é mais
provável que uma EQM permita ao indivíduo atingir um estado de
equilíbrio mental e bem-estar que o tomará mais adaptado do que
poderia antes de ter a experiência. Uma doença mental, por outro
lado, traz infelicidade, desespero, depressão e desesperança.
Mesmo agora, alguns profissionais da medicina insistem que as
EQMs são uma forma de doença mental. Dizem isso porque de
maneira superficial uma típica EQM lembra algumas formas de
doenças mentais. Enfatizo que as EQMs lembram tais problemas
apenas de modos superficiais. Quando examinadas, a exemplo do
que faremos aqui, você verá que uma doença mental se assemelha
tanto a uma experiência de quase-morte quanto um cordeiro se
assemelha a um leão.
Os tipos de distúrbios mentais mais equivocadamente
associadas à EQM são (1) as principais psicoses, como
esquizofrenia e paranoia e (2) alguns problemas cerebrais
orgânicos como delírios, demência e uma condição conhecida
como “epilepsia lobular temporal”. Vejamos como tais desordens
são confundidas com as EQMs e mais importante como elas nada
têm a ver com ela.
Psicose Relacionada à Esquizofrenia
Uma psicose, basicamente, é uma condição em que as pessoas
sofrem uma ruptura com a realidade. Elas não têm mais contato
com o mundo ao seu redor, por exemplo. Este problema se revela
por alguns sintomas:
♦Alucinações: Ver pessoas ou coisas que não existem.
♦Ilusões: Falsas crenças das quais não se pode convencer o
indivíduo do contrário, como, por exemplo, acreditar ser Napoleão.
♦Associações desconexas: Condição na qual a pessoa passa de um
pensamento a outro não relacionado, de modo desorganizado e
geralmente indecifrável.
Embora existam vários tipos de psicose, a esquizofrenia é
provavelmente a mais conhecida. É uma condição que envolve
“ouvir vozes” (alucinações auditivas), manias bizarras, associações
desconexas que envolvem o uso de palavras e frases bizarras e sem
sentido, chamadas neologismos, e uma apatia crescente e gradual.
Em um caso de esquizofrenia, uma pessoa pode ser atormentada
por vozes e pensamentos caóticos e fragmentados que possuem
um efeito debilitante sobre a personalidade, algo que tende a se
agravar durante a evolução da doença em muitos casos.
Frequentemente, os esquizofrênicos tomam-se isolados, incapazes
de relacionar-se com qualquer pessoa de maneira significativa. Em
resumo, tomam-se incapazes de integrar-se à sociedade.
De imediato, pode-se perceber a diferença entre essa terrível
doença mental e a geralmente enriquecedora experiência de
quasemorte. Embora várias pessoas que vivenciaram EQMs ouçam
vozes durante a experiência, eles ouvem palavras coerentes, e não
baboseiras indecifráveis.
Onde a habilidade de lidar com a sociedade tende a “deteriorar-
se” nos esquizofrênicos, aqueles que passam por uma EQM são
mais propensos a uma integração melhor com o mundo ao seu
redor. E embora possam ter visto um “Ser de Luz” durante suas
experiências, eles não acreditam ser Napoleão ou Deus por causa
disso. A EQM é uma experiência coerente que acontece e termina,
surtindo um efeito positivo na vida de quem a teve. A
esquizofrenia consiste de experiências incoerentes que se
estendem por longos períodos às vezes por uma vida inteira e
geralmente pioram a condição da pessoa.
Na minha experiência como psiquiatra, a similaridade entre a
EQM e a esquizofrenia é superficial e se dissolve rapidamente
quando analisamos cuidadosamente casos individuais.
A fim de ilustrar isso, mencionarei duas entrevistas em
particular A primeira com um esquizofrênico e a segunda com
alguém que passou por uma experiência de quase-morte. Cada
entrevista é um exemplo típico de cada um dos tipos. Elas o
ajudarão a decidir se alguém que passou por uma EQM deve ser
considerado mentalmente doente.
Esquizofrênico

Aqui está parte de uma entrevista conduzida em um hospital


psiquiátrico com uma paciente de cinquenta e oito anos de idade
que sofre de esquizofrenia crônica. O médico a estava
entrevistando a fim de descobrir os acontecimentos de sua vida e o
que se passava em sua mente.
MÉDICO: Olá. Eu gostaria de saber o que a trouxe ao hospital. Por
que você foi internada?
HELEN: Não sei por que me trouxeram aqui.
MÉDICO: Bem, que tipo de dificuldades você tem hoje? Há algo que a
perturbe?
Helen: Bem, eu sei que eles estão colocando ondas de rádio na minha
cabeça... numa frequência alheia ao nosso mundo. MÉDICO: Que
pessoas são essas?
Helen: Não sei quem são. Eles estão no mínimo a mil milhas de
distância, mas não param de enviar mensagens à minha mente o tempo
todo. Por favor, chame o FBI. Eu sei que eles possuem meios de rastrear
de onde vêm essas ondas de rádio, e isto está ficando insuportável. Há
transmissões dentro de minha cabeça o tempo todo.
MÉDICO: Eles estão transmitindo agora? HELEN: Sim, estão.
MÉDICO: Você consegue ouvi-los agora?
HELEN: Sim.
MÉDICO: Então você está ouvindo vozes agora?
HELEN: Sim.
MÉDICO: Você sabe o que as vozes dizem?
HELEN: Bem, não sei exatamente o que estão dizendo.
MÉDICO: São vozes masculinas ou femininas?
HELEN: (pausa de alguns momentos para escutar e refletir). Eu
simplesmente não sei.
Este breve segmento do que foi uma entrevista bem mais longa é
típico de como os esquizofrênicos falam a respeito das “vozes” que
ouvem. Na maior parte do tempo, os pacientes não conseguem
ouvir o que as vozes estão dizendo, pois são distantes ou
deturpadas. Algumas vezes chegam mesmo a soar como uma
espécie de ruído de um trovão distante. Quando um paciente
consegue entender as vozes, elas geralmente dizem coisas hostis a
seu respeito ou a respeito das pessoas ao redor.
Tendo em vista o comportamento dos esquizofrênicos, fica claro
que
tais alucinações são de caráter auditivo. Eles frequentemente
mexem a cabeça quando ouvem as vozes, chegando a mover seus
olhos ou ouvidos na direção da “conversa’
Quem Passa por uma EQM
Para podermos fazer um contraste, tomemos a seguinte
passagem de uma entrevista com Alice, uma mulher de sessenta
anos de idade que teve uma EQM clássica enquanto era
ressuscitada de uma parada cardíaca. Nessa entrevista, ela conta
ter deixado o corpo e assistido ao ressuscitamento do alto. Em
seguida, ela atravessou um túnel em direção a uma luz brilhante,
onde encontrou três parentes falecidos: seus pais e uma irmã. Mais
tarde, o médico entrevistou-a em detalhe a respeito de algumas
características de sua EQM.
MÉDICO: Bem, você disse que quando deixou seu corpo na sala do
hospital você podia ver as pessoas que estavam tentando reanimá-la e
sábia o que estavam dizendo? ALICE: Sim, podia, mas não podia
chamar a atenção deles. Para eles era como se eu não estivesse lá.
MÉDICO: Bem, o que eu quero descobrir é como você podia saber o que
estavam dizendo. Quero dizer, você conseguia ouvir suas vozes ou era
mais algo como... ALICE: Não, eu não ouvia vozes. Não se tratava de
ouviras vozes como eu posso ouvir a sua voz agora. Não me recordo de
ouvir nada com meus ouvidos. Eu os compreendia sem que tivessem de
pronunciar quaisquer palavras. Eu conseguia compreender o que o meu
médico estava pensando. Eu sentia como ele estava ' preocupado comigo e
que ele achava que eu acabaria morrendo.
Ele estava prestes a dizer: “é melhor eu chamar a família, pois ela vai
morrer”. Eu sabia antecipadamente que ele diria aquilo. Não era como se
eu estivesse ouvindo sua voz. Acho que não poderia ter ouvido a voz dele
de maneira alguma. Eu estava morta. Eu somente podia assimilar o que
ele estava pensando.
MÉDICO: Você sabe se o médico pediu que alguém chamasse sua
família?
ALICE: Sim, ele pediu. Conversei com meu médico a respeito disso por
um longo tempo e ele não sabia o que pensar. Ele me pediu que eu falasse
a respeito de tudo repetidas vezes e balançava a cabeça continuamente.
Ele disse que tudo o que eu havia dito sobre o que acontecera era verdade,
mas não conseguia acreditar que eu sabia de tudo, pois pensava que eu
estava morta naquele momento.
MÉDICO: Ele mesmo chamou sua família ou pediu que alguém ,
afizesse? ALICE: Sim, ele disse que ele mesmo o fizera, e eu sabia disso.
Assim como outras coisas que lhe contei e ele confirmou.
MÉDICO: No entanto, você disse que não havia exatamente escutado
tudo?
ÀLICE: Correto. Era mais como se eu pudesse ler a mente deles.
Lembro-me de vê-los movimentando a boca para falar, mas não me
lembro de ter ouvido a voz,, deles. Era mais como compreensão. Apenas a
compreensão do que pensavam.
O entrevistador pediu a Alice que lhe desse mais detalhes sobre
a parte de sua experiência em que, depois de passar pelo túnel, ela
se viu na presença de seu pai, sua mãe e sua irmã, os quais haviam
falecido vários anos antes.
MÉDICO: Foi também nessa luz que você sentiu a presença de seus
parentes que haviam falecido.
ALICE: Sim; meu pai, que faleceu em 1932, creio eu. Minha mãe estava
lá e havia falecido em 1949. Minha irmã faleceu por volta de 1970.
MÉDICO: Você sentia que podia comunicar-se com eles de alguma
maneira?
ALICE: Ah, sim. Havia muito amor, de ambos os lados. sabia o
que sentiam no coração. Eles também disseram que eu tinha de
voltar. Eles sabiam que e ainda não podia estar lá. Disseram que eu
teria de voltar e completar minha vida.
MÉDICO: Hummm... Você sabe o que quiseram dizer com isso?
ALICE: Não, nunca compreendi por que eu não tinha permissão
para ficar lá, mas acho que eles tinham mais condições de saber do
que eu. Ainda não sei porque eu tinha de voltar.
MÉDICO: Você disse que eles a mandaram voltar. Era como se você
pudesse ouvi-los?
ALICE: Não, doutor. Mais uma vez, não aconteceu assim. Quando
se está lá, palavras não são necessárias. De imediato você sabe o
que estão pensando e os outros sabem o que você está pensando.
Não é possível dar descrição melhor.
Como podemos ver, há uma diferença real entre uma experiência
psicótica e uma EQM. Como observei anteriormente, a EQM tende
a ser uma experiência enriquecedora, que nos eleva a um nível
maior de felicidade e realização. Experiências psicóticas seguem o
caminho contrário, trazendo depressão e desespero.
Além disso, não se pode dizer que aqueles que sofrem uma EQM
têm alucinações quando passam por uma experiência
extracorpórea, pois alucinações implicam a perda de contato com a
realidade de tudo ao seu redor.
Como se pode constatar com a experiência de Alice, ela estava
ciente de todos os acontecimentos enquanto estava “morta”.
Seu caso não é raro. Eu mesmo e outros pesquisadores
descobrimos que as pessoas que tiveram uma EQM e experiências
fora do corpo podiam descrever o que acontecia ao seu redor,
embora estivessem efetivamente “fora da cena”. E as histórias de
quem sofreu uma EQM têm sido verificadas por observadores
independentes, como profissionais da área médica e familiares.
Cada vez mais, tais observadores têm se impressionado com a
precisão dos relatos daqueles que passaram por uma EQM.
Desordens Mentais Orgânicas
A maioria das EQMs ocorre sob condições que privam o cérebro
de oxigênio. Já que o cérebro pode reagir de maneiras bem
peculiares na falta desse gás vital, muitos sugeriram que as EQMs
nada mais são do que uma reação do cérebro a situações críticas,
ou que o cérebro encontra-se num estado comumente conhecido
como “delírio”
O delírio frequentemente acompanha vários tipos de
enfermidades graves e envolve um desequilíbrio químico agudo no
cérebro, o qual é geralmente reversível, sem que haja danos ao
estado mental da pessoa.
Quando em delírio, as pessoas estão desorientadas por essa
condição e sua percepção do mundo ao redor é reduzida. Com
frequência, em suas alucinações, elas têm pesadelos que envolvem
animais ou insetos. Os pensamentos são em geral fragmentados,
desorganizados e não é possível concluí-los. Pessoas em delírio
raramente conseguem ter uma boa concentração e, quando não
estão envolvidos em uma conversa, podem voltar a seus estados
alucinatórios.
As pessoas em delírio parecem observar suas alucinações de
modo impessoal, como se estivessem revelando-se a distância,
projetadas numa tela de cinema. Um paciente, por exemplo,
contou-me que vira o estouro de uma manada de cavalos que
atravessava um vasto deserto. Embora estivesse em meio aos
cavalos, era mais como se estivesse assistindo a tudo numa tela.
Depois que o delírio passa, os pacientes geralmente retêm
apenas vagas lembranças do ocorrido e o descrevem como se fosse
uma colcha de retalhos. Eles não o descrevem como se tivesse Um
significado pessoal profundo ou como sendo, por si só, uma
transformação espiritual.
Há vários anos tenho entrevistado dúzias de pessoas que sofrem
de delírio, tanto enquanto estavam delirando quanto depois,
quando o delírio já havia terminado. A experiência que relatam é
completamente diferente da experiência de quem passa por uma
EQM.
As vítimas de delírio não relatam as características comuns a
uma EQM: experiências fora do corpo, memória panorâmica; amor
intenso e penetrante ou quaisquer outras. Os que deliram relatam
o que acontece a eles como se fosse uma casualidade, uma
aberração perturbadora, sentindo-se felizes que tenha terminado.
Eles não descrevem suas experiências como uma revelação
espiritual, uma visão que lhes trouxera alegria e um novo
significado para sua vida. Elas não são descritas como algo que
lhes traga orientação moral. Na verdade, o delírio raramente é
descrito como algo além de uma simples “viagem ruim”.
Por exemplo, um homem com quase oitenta anos de idade que
acidentalmente recebera uma dose maciça de medicamentos foi
trazido à sala de emergência de um hospital, violentamente
agitado e falando de maneira balbuciante e incoerente. Tive a
oportunidade de entrevistá-lo enquanto ele estava amarrado à
mesa de exames, para que não se debatesse e acabasse ferido.
Enquanto conversávamos, pareceu-me que ele fitava o infinito.
Ele então apontou adiante e me disse para olhar para os cães que
corriam às margens do riacho.
Dois dias depois, quando seu estado estava normalizado, ele não
conseguia lembrar-se de nada sobre sua experiência na sala de
emergência.
*
**
Fui chamado várias vezes para ver pacientes em estado de
delírio e alucinação. Um homem com febre alta reclamava da visão
de peixes que voavam ao redor de sua cabeça. Um jovem que
sofrera queimaduras graves estava atormentado com visões de
bebês que cozinhavam em caldeirões. Uma mulher com pouco
mais de trinta anos de idade que havia sofrido seriamente com
uma infecção seguida de uma cirurgia disse ter visto caixões em
um campo de futebol de intensa coloração verde. Nenhuma das
pessoas atormentadas pelo delírio com quem conversei
descreveram suas experiências com o mesmo brilho de uma EQM.
Alucinações Autoscópicas
Existe uma variedade de fenômenos médicos de que o público
leigo jamais ouve falar a respeito. Entre eles estão as alucinações
autoscópicas. Desejo discutir isso porque alguns céticos afirmam
que as experiências extracorpóreas dos que passaram por uma
EQM trata-se de nada mais do que alucinações autoscópicas.
No entanto, existe realmente uma grande diferença entre as
duas. A alucinação autoscópica é a projeção da imagem de um
indivíduo dentro de seu próprio espaço visual. Portanto, a pessoa
“vê” a si mesma do modo como Veria Um outro indivíduo. É uma
experiência rara, relacionada à enxaqueca e à epilepsia. De acordo
com a minha experiência isso é algo que nunca vi em literatura
médica está também relacionada a derrames.
Geralmente a pessoa pode ver seu próprio torso. Contudo,
ocasionalmente, alguns relatam visões mais amplas. Com
frequência a imagem imita os movimentos da pessoa que tem uma
experiência autoscópica. Ela é geralmente descrita como sendo
uma imagem transparente e, por razões que são totalmente
incompreensíveis para mim, é um fenômeno que ocorre
frequentemente ao crepúsculo.
O presidente Lincoln relatou ter tido tal experiência enquanto
estava na Casa Branca. Certa noite ele estava deitado num sofá e
viu uma imagem inteira de si mesmo, como se estivesse olhando
num espelho. Seria difícil dizer o que um relato deste tipo causaria
à nação se viesse da Casa Branca dos dias de hoje!
Aristóteles é a primeira pessoa de que tenho conhecimento a
registrar um estudo a respeito de uma alucinação autoscópica. Ele
descreveu um homem que caminhava pelas ruas de Atenas e
frequentemente via a si mesmo em meio à multidão.
Pude presenciar um caso semelhante, em primeira mão, que
ocorreu com uma vítima de derrame que eu havia internado num
hospital. Ele me disse que o primeiro sinal da doença surgiu
enquanto estava sentado à mesa durante um jantar solene, e
começou a sentir uma dor de cabeça. Não deu muita importância
ao ocorrido até que ergueu sua cabeça e se viu adentrando o salão.
Ele vestia um temo com uma pequena flor na lapela. Então se
sentou em uma das mesas e começou a servir-se.
Esse homem imaginava estar na zona do crepúsculo. Ide certa
forma ele estava. Seu derrame havia desencadeado uma alucinação
autoscópica.
Esses fenômenos existem e são amplamente relatados. Contudo,
são muito diferentes das experiências extracorpóreas que ocorrem
durante uma EQM.
Em uma típica experiência fora do corpo, ou EFC, a pessoa relata
estar num ponto de observação fora de seu corpo físico, e o
observa a distância. Ela não vê seu corpo em transparência, mas
sólido, como na vida real.
Quem passa por uma experiência extracorpórea fala sobre um
centro de consciência que está presente fora do corpo físico.
Em uma alucinação autoscópica a consciência ainda se encontra
dentro do corpo físico, exatamente como sua experiência agora, ao
ler este livro.
A experiência fora do corpo é diferente também em outros
aspectos. Por exemplo: quem passa por ela frequentemente relata
que vaga pelo ambiente e pode dizer exatamente o que acontece
em lugares onde seu corpo físico não se encontra. Uma vez que a
perspectiva tem origem no corpo físico em alucinações
autoscópicas, esse fenômeno não permite que a pessoa “viaje”.
Fascina-me saber que a mente seja dotada de funções como a
alucinação autoscópica. Não tenho a mínima ideia do propósito de
tais coisas. No entanto, posso afirmar que as alucinações
autoscópicas nada têm a ver com as experiências de quase-morte.
“Entre Você e Deus”
Como espero ter conseguido demonstrar, existe pouca correlação
entre doenças mentais e uma EQM. Esta crença está começando a
ser assimilada pela comunidade psiquiátrica. Em vez de tratar os
pacientes com EQM como doentes mentais, vários psiquiatras e
psicólogos estão começando a ajudá-los a integrar suas
experiências à sua vida, possibilitando que sejam utilizadas de
maneira positiva, sem que tenham de reprimi-las.
Um homem que conheci certa vez após uma palestra me deu um
exemplo excelente de como um sábio psiquiatra pode intervir de
maneira útil e inspiradora. Esse homem, Charlie Hill, tinha quase
cinquenta anos de idade quando teve uma parada cardíaca após
uma cirurgia de emergência por causa de uma úlcera que sangrava.
Ele teve uma típica EQM. No entanto, como isso aconteceu no
início dos anos setenta, tais episódios não eram amplamente
discutidos na época. Consequentemente, quando ele contou ao
médico e à esposa tudo o que ocorrera, ambos pensaram que ele
estava mentalmente perturbado. Imediatamente ele foi
encaminhado a um psiquiatra.
O psiquiatra o ouviu pacientemente enquanto Charlie descrevia
a visão incrível e maravilhosa que havia tido na mesa de cirurgia.
Ao final de sua narrativa o psiquiatra estava nitidamente
comovido. “Senhor Hill, o senhor não é um psicótico”, declarou.
“O senhor teve uma experiência espiritual, como alguns dos
grandes nomes da história tiveram. O que aconteceu é algo entre o
senhor e Deus”.
Quem poderia esperar maior compreensão?
6 Pesquisadores da experiência de quase-morte
Até a publicação de A Depois da Vida não havia praticamente
nenhuma pesquisa no campo de experiências de quase-morte. Na
verdade, quase nenhum profissional se interessava pelo assunto.
A maioria dos médicos ignorava tais ocorrências se as ouvissem
de seus pacientes. Às vezes chegavam a pensar que seus pacientes
estavam “loucos” e recomendavam tratamento psiquiátrico ou
hospitalar às pessoas que passavam por tais experiências. A
exemplo de vários médicos de hoje, os médicos de uma década
atrás jamais haviam ouvido sobre experiências de “um outro
inundo”. Mesmo que tivessem se dado ao trabalho de checar a
literatura médica sobre o assunto, não encontrariam praticamente
nada a respeito. Naquela época, havia poucos casos estudados,
mas nada que trouxesse conselhos claros sobre o que dizer ou
fazer.
Hoje tudo é diferente. Graças a um punhado de pesquisadores
que leram A Vida Depois da Vida e se interessaram pelas EQMs, os
médicos dispõem de uma rica pesquisa anedótica e empírica da
qual podem aprender sobre esse fenômeno comum.
Não somente podem aprender sobre as características de uma
EQM, como também podem encontrar maneiras de conversar com
pacientes a respeito dessa maravilhosa e confusa experiência,
consultando o trabalho desses pesquisadores corajosos.
Eu os chamo de corajosos porque ir aonde ninguém jamais
ousou ir exige coragem. Como os grandes exploradores do planeta,
essas pessoas exploram a geografia do espírito. Alguns, como o
doutor Michael Sabom e Kenneth Ring, fazem sua exploração de
maneira metódica a fim de obter fatos médicos concretos. O
doutor Melvin Morse também busca fatos médicos concretos, mas
somente através do estudo de EQMs que ocorrem com crianças
pequenas. Outros, como o filósofo Michael Grosso, observam a
EQM através da ótica da filosofia, tentando descobrir o significado
da experiência e suas ligações com outros fenômenos espirituais.
Em algum momento todos eles se confrontaram com adversidades,
que foram da ridicularização à dúvida. Entretanto, eles persistiram
em suas pesquisas, pois sentiram a necessidade de encontrar
respostas para essas perguntas espirituais.
As pessoas que enfoco aqui são alguns dos pioneiros mais ativos
neste rico e novo campo de pesquisa. E claro que existiram outros,
mas esses são os que serviram de luz-guia.
Doutor Melvin Morse
Pediatra de Seattle, Washington, o doutor Morse abriu caminho no
estudo da EQM em crianças. Suas pesquisas são particularmente
importantes no estudo de experiências de quasemorte, uma vez que ele
lida com uma população “inocente" pessoas que não foram expostas a
um intenso treinamento cultural ou religioso. Quando suas experiências
são idênticas às vividas por pacientes com muito mais idade, elas
adquirem um significado especial.
0 doutor Morse se interessa pelas EQMs desde que deparou com elas
pela primeira vez, quando era residente em um hospital de Idaho. Desde
então, ele as tem pesquisado.
“Fui cético durante muito tempo”, disse o doutor Morse quando o
visitei em sua casa em Seattle. “Então, certo dia, li um artigo em uma
publicação médica que tentava explicar as EQMs como sendo uma
variedade de truque do cérebro. Nessa época eu já havia estudado as
EQMs exaustivamente, e nenhuma das explicações que o pesquisador
dava fazia sentido. Finalmente, ficou ciam para mim que ele ignorara a
mais óbvia explicação de todas: as EQMs são reais. Ele ignorara a
possibilidade de que a alma realmente pode viajar
Contada com suas próprias palavras, eis aqui a história do doutor
Melvin Morse:
Interessei-me pela primeira vez pelas experiências de
quasemorte em crianças quando era médico residente em um
hospital de Pocatello, Idaho. Eu estava de plantão quando uma
menina que quase havia morrido afogada chegou. Era um caso
surpreendente.
Ela estava nadando na piscina de uma ACM[10] num dia em que
o lugar estava lotado. Quando todos deixaram a piscina, ela ainda
permanecia no fundo.
Por acaso, havia um médico lá. Era o tipo de sujeito que trazia
consigo todos os tipos de medicamentos em sua sacola de
ginástica, o que lhe permitiu iniciar um processo de
ressuscitamento na garota no próprio local. Ela foi transportada ao
hospital da comunidade, e então fui chamado para vê-la.
Ela estava em coma profundo: pupilas dilatadas e imóveis* não
emitia sons e não se podiam ver suas córneas. Pensei que
provavelmente morreria, mas tive de submetê-la a uma tomografia
para averiguar quão crítico era seu estado. Para fazê-lo, coloquei
em sua veia um tubo para que pudesse injetar contraste e ter uma
visão clara de seu cérebro. Nunca esquecerei aquela cena, eu
inserindo o tubo em seu corpo. Havia sangue esguichando por
todo o lugar, enquanto seus pais e familiares faziam um círculo de
preces à nossa volta.
Eu não tinha dúvida alguma de que ela sofreria graves danos
cerebrais. Eu estava errado. Ela se recuperou completamente em
três dias.
Quando cursei a faculdade de medicina sempre me havia sido
dito que devemos questionar de maneira irrestrita. Não devemos
nunca fazer perguntas cujas respostas sejam “sim” ou “não”. Isso
é crucial em minha profissão. Meu parceiro atende cinquenta
pacientes por dia. Eu, no entanto, não posso atender tal número,
pois gosto muito de conversar e desejo ouvir a história por
completo.
Pois bem, eu fiz um acompanhamento com a menina após ela ter
recebido alta do hospital. Eu disse: “conte-me o que aconteceu
quando você estava na piscina”. Eu queria saber se ela havia tido
um ataque, se alguém a havia atingido na cabeça ou qualquer coisa
do tipo. Em vez disso, ela me disse: “você se refere ao momento
em que me sentei no colo do papai do céu?”, I
Uau, pensei. “Isso parece interessante”, eu disse. “Conte-me a
respeito”. Nem é preciso dizer como fiquei surpreso com o que
ouvi.
O que essa menina de sete anos me contou era incrivelmente
detalhado. Ela disse que estava em um lugar escuro, e não sabia
onde estava ou como havia chegado lá. Ela não conseguia falar.
Obviamente, era uma espécie de túnel. Então, essa mulher veio
recebê-la. Ela tinha cabelos longos e dourados e chamava-se
Elizabeth. Ela a tomou pela mão, então o túnel ficou ainda mais
escuro e a garotinha percebeu que podia caminhar. Elas
caminharam juntas até um lugar que, para ela, parecia o paraíso.
Ela contou-me que o lugar para onde foi possuía uma
delimitação. Parecia ser um círculo além do qual ela não conseguia
ver, pois seus limites eram cercados por flores.
Eu somente queria aplicar-lhe um teste de veracidade, então
perguntei: “O que significa morrer?”. E ela respondeu: “Você verá.
0 céu é divertido”. Jamais me esquecerei daquilo, pois a menina
me disse com tremenda confiança. Olhando bem nos meus olhos,
ela disse: “Você verá”.
Então perguntei novamente: “O que significa morrer?”, e ela
disse: “Bem, o que aconteceu comigo não foi exatamente morte,
pois quando você está morto você é enterrado em uma caixa”.
Eu lhe perguntei se a experiência havia sido um sonho. Ela
respondeu: “Não, é algo que realmente aconteceu comigo. Mas não
era a morte. Morrer é quando você é enterrado em uma caixa”.
Isso é perfeito, pois combina exatamente com a percepção que
uma criança de sete anos possui da morte.
Então ela disse ter encontrado Jesus, que a levou até o papai do
céu, que lhe disse algo como: “Você não devia estar aqui. Você quer
ficar aqui ou quer voltar?”. Ela respondeu que queria ficar. Então
ele perguntou de modo diferente. “Você não gostaria de estar com
sua mãe?”. Ela disse que sim, e então acordou.
Ao despertar, perguntou por seus amigos às enfermeiras.
Aquelas foram as primeiras palavras que pronunciou. Ela disse:
“Onde estão esse e aquele sujeito?”. Referia-se às pessoas que
havia encontrado no céu. E claro que as pessoas no hospital não
tinham ideia do que ela estava falando.
Conversei com as enfermeiras e elas confirmaram tudo. Elas
contaram que quando ela acordou começou a perguntar por
pessoas com as quais não possuía nenhuma ligação e sobre as
quais ninguém parecia saber nada a respeito. Então ela ficou
inconsciente uma vez mais e aquelas lembranças desapareceram
completamente.
Na verdade, ela não falou mais sobre o episódio até que eu a
visse novamente para um acompanhamento.
Foi uma experiência tão real que me deixou extremamente
interessado. Decidi que escreveria sobre isso em literaturas
médicas, uma vez que não havia nenhuma descrição do tipo
envolvendo uma criança de sua idade. Questionei outras famílias
cujos filhos haviam passado por uma EQM a respeito de suas
crenças e tentei descobrir quais eram seus ensinamentos a respeito
da morte. Eu realmente queria descobrir se tudo aquilo tinha
origem cultural.
É claro que, potencialmente, nada daquilo era cultural. Parece
cultural de uma maneira aparente, mas quando investigamos e
perguntamos à criança o que lhe foi ensinado a respeito da morte e
da vida após a morte, nada se compara à experiência dessa menina.
Disseram-lhe que a morte era como um barco a vela; que quando
morremos embarcamos em um pequeno barco e atravessamos o
mar em direção a uma outra terra. Certamente não havia conceito
algum sobre anjos da guarda, pessoas conduzindo-a ao céu ou
decisões entre voltar à Terra ou ficar lá. Praticamente nenhuma de
suas experiências guardava qualquer semelhança com os
ensinamentos de sua família a respeito da morte.
Ainda assim, vários de meus colegas insistiam que isso devia ser
uma experiência cultural, relacionada à sua família profundamente
religiosa. Decidi então estudar aquilo por conta própria.
Trabalhei para um serviço em Idaho chamado Airlift Northwest,
que faz transportes aéreos até o hospital. Isso me deu a chance de
estar em contato com dúzias e dúzias de crianças ressuscitadas
como parte de minha rotina diária.
Perguntei ao chefe do programa de transporte aéreo se eu podia
estudar as EQMs informalmente. Ele concordou, então entrevistei
cada criança que havia sobrevivido a uma parada cardíaca nesse
hospital durante um período de dez anos. Meu estudo levou
aproximadamente três anos e exigiu que eu revisse centenas de
registros.
Ninguém acima da idade de dezoito anos podia fazer parte do
estudo. Entrevistei cada sobrevivente de paradas cardíacas, todos
que haviam estado em coma até o nível quatro na escala Glascow e
todos que sofressem de uma doença das quais provavelmente
morreriam.
Durante esse tempo, li também tudo o que pude encontrar a
respeito da despersonalização transitória (DT), que consiste na
teoria de que a mente faz truques consigo mesma quando
defrontada com uma situação crítica. Fiz isso porque um dos
médicos sugeriu que isso poderia esclarecer as EQMs.
Li casos sobre DT e não achei que se parecessem de maneira
alguma com as experiências de quase-morte.
Analisei então cada droga que meus pacientes pudessem estar
tomando e li registros sobre como cada uma das drogas poderia
afetar alguém. Nada se parecia com uma EQM. Mas eu queria
também ver tudo pessoalmente.
Entre minha população de pacientes havia um punhado deles
que não haviam passado por uma EQM, mas que eu imaginava
sofrerem de processos de enfermidade particularmente graves. Se
havia alguém que pudesse sofrer uma EQM por qualquer uma
destas razões — narcóticos, drogas ou despersonalização
transitória. teriam de ser estes.
Deliberadamente, selecionei alguns casos bem sérios. Eu tinha
uma paciente que estava paralisada da cabeça aos pés fazia alguns
meses. Ela sentia dores tão fortes que estava tomando todos os
tipos de narcóticos e drogas imagináveis que alteram a
consciência, incluindo Torazina, Valium, Demerol e morfina. Ela
também estava sendo tratada intensa e continuamente com
sessões de hipnose, durante as quais ela tinha visões de seu
próprio corpo de fora dele. Não havia caso melhor que aquele para
estudar. Ou seja, se ela não tinha nenhum tipo de EQM em
consequência da despersonalização transitória, ninguém mais
podia ter.
Bem, ela não teve. Ninguém no grupo-controle tinha
experiências semelhantes a uma EQM. Eles não tinham experiência
alguma. Todos diziam a mesma coisa: “Sonhei que os médicos se
aproximavam de mim com seringas”, ou então “Tive sonhos com
monstros”. No entanto, nenhum passou pelo que chamamos de
EQM.
O outro grupo, composto de pessoas que haviam estado
próximas da morte, apresentou EQMs. Cada um deles. Eles
atravessavam túneis, viam seus corpos de fora deles, viam seres de
luz. Todos tinham experiências praticamente idênticas.
De um modo ou de outro havia sempre uma luz em seus casos.
Uma paciente, num caso fascinante, chegou mesmo a ficar
luminescente brilhavas de acordo com seu pai. Em um local
chamado Puget Sound ele teve de mergulhar quarenta pés de
profundidade para salvá-la, e disse que só conseguiu encontrá-la
porque ela estava banhada por essa luz branca.
Um outro paciente contou-me que não via qualquer luz ou túnel,
mas seu próprio corpo emanando luz. Ele via um mundo de trevas
acima de si, e abaixo via seu próprio corpo banhado por uma suave
luz branca. Então foi sugado de volta ao corpo quando lhe
aplicaram choques no peito. Não havia emoções reais nem
sentimentos reais. Não havia felicidade ou tristeza. Simplesmente
aconteceu.
A maioria das crianças no estudo não achava que esse havia sido
o acontecimento mais importante de sua vida, o que para mim era
muito realista. Eles o encararam de modo muito natural: isso é o
que acontece quando se morre.
Cheguei a algumas conclusões com meu trabalho com crianças:
- Sei que isso não parece muito científico, mas estou convencido
de que quase todas as pessoas que sofrem uma parada cardíaca
passam por algum tipo de experiência de quase-morte, seja ela fora
do corpo ou indo na direção de um Ser de Luz. A única razão pela
qual não se lembram dela seja talvez porque as drogas que lhes
são dadas Valium, por exemplo causam amnésia. Cheguei a essa
conclusão porque pacientes em meu estudo que tomavam menos
desses medicamentos tinham as experiências mais poderosas. Faz
sentido, se pensarmos a respeito. Afinal, os pacientes que estão
sob efeito de morfina têm menos probabilidade de lembrar de
uma experiência do que aqueles que tomam menos dos
medicamentos que interferem na memória.
- Aprendemos na faculdade de medicina a encontrar a
explicação mais simples para problemas médicos. Após considerar
todas as outras explicações para experiências de quase-morte,
acredito que a explicação mais simples é que EQMs são, na
verdade, vislumbres do mundo do além. E por que não? Li todas as
equivocadas explicações psicológicas e fisiológicas para as EQMs, e
nenhuma delas parece muito satisfatória*
Quem sabe quem realmente sabe se as almas dos que passam
por uma EQM realmente deixam seus corpos físicos e viajam para
um outro mundo?
Considerei todas as evidências e não vejo por que não.
Doutor Michael Sabom
O doutor Michael Sabom era um cético quando ouviu falar sobre
experiências de quase-morte pela primeira vez. Contudo, à medida
que seu interesse sobre o assunto crescia, Sabom decidiu elaborar
um estudo que se tornou uma pedra fundamental no campo das
pesquisas sobre a EQM. Ele examinou as EQMs de 116 pessoas,
dividindo suas experiências em três tipos: autoscópicas (quando se
deixa o corpo), transcendentais (quando se entra num “mundo
espiritual ”) e mistas, em que a pessoa tem uma experiência com
características autoscópicas e transcendentais.
Talvez o aspecto mais interessante das pesquisas de Sabom seja
sua avaliação meticulosa de uma experiência extracorpórea. Em tal
experiência, a pessoa afirma ter deixado seu corpo e assistido ao
seu próprio ressuscitamento enquanto os médicos trabalhavam
dentro da sala de emergência ou durante uma cirurgia. Em seu
estudo, Sabom tinha trinta e dois pacientes desse tipo.
Ele comparou suas descrições dos procedimentos de
ressuscitamento
às conclusões tiradas por vinte e cinco pacientes mais
esclarecidos sobre o que acontece quando um médico tenta fazer o
coração bater novamente. Ele queria saber o que o paciente com
“conhecimento de medicina ” sabe, comparado a alguém que teve
uma experiência fora do corpo.
Ele descobriu que vinte e duas em vinte e três pessoas do grupo
controle cometeram grandes erros ao descrever os procedimentos
de ressuscitamento. Por outro lado, nenhum dos pacientes que
tiveram uma EQM errou ao descrever o que ocorria durante o
processo — forte evidência de que essas pessoas estavam
realmente olhando para seu corpo de fora dele.
Conversei com Sabom em Atlanta, onde agora pratica
cardiologia em sua clínica particular. “Sou um cristão devoto e vejo
a vida após a morte como uma das crenças básicas do
cristianismo’’, disse Sabom. “Não acho que isso deveria ser
sensacionalizado como tem sido em alguns casos, mas
considerado parte dos processos normais da vida e da morte. Se as
pessoas vissem as EQMs | dessa maneira, elas talvez não lhes
parecessem tão estranhas” Em suas próprias palavras, aqui está
como surgiu seu interesse pelas EQMs e ç.omo ele cresceu até
culminar em um estudo importante e em seu livro Recollections of
Death: A Medicai Investigation {Lembranças da Morte: Um Estudo
Médico).
Em 1978 eu estava em Gainsville, Flórida, quando ouvi a respeito
do livro A Vida Depois da Vida, com a psiquiatra e assistente social
Sarah Kreutziger, que o apresentava em uma aula dominical. Logo
depois ela me perguntou o que eu havia achado sobre ele, e eu
disse ter achado ridículo. Meus pacientes jamais haviam me falado
sobre aquelas experiências. Cheguei até a ir ao hospital e
perguntar a outros médicos se eles já haviam ouvido falar a
respeito, e eles disseram que não.
Mesmo assim, ela me desafiou a ler o livro, e eu o fiz. Eu o achei
muito divertido, mas francamente, não achei que apresentava
muitos fatos substanciais.
Pediram que ela apresentasse o livro para a igreja em geral, e
achamos que seria interessante se o fizéssemos juntos.
Mas para fazê-lo, decidimos que deveríamos tentar encontrar
alguns pacientes que haviam passado pela experiência. De modo
casual, falei com vários de meus pacientes e fiquei surpreso ao V
constatar que um grande número a havia tido. Fiquei mais
surpreso ainda com o fato de tais experiências estarem
acontecendo bem debaixo do nosso nariz, com pessoas de quem
cuidávamos, e nem ao menos sabíamos.
Ficamos tão intrigados com o assunto que decidimos realizar um
estudo sobre as EQMs. Começamos entrevistando pessoas que
haviam tido uma parada cardíaca ou quaisquer outros
acontecimentos de quase-morte para avaliar que percentual havia
passado por EQMs, que tipo de pessoas eram, sob quais
circunstâncias etc...
Entrevistamos em tomo de cento e vinte pessoas em um estudo
que se estendeu por mais cinco anos. Isso formou o núcleo do livro
que escrevi.
Vocês sabem que eu inicialmente tinha uma visão bem cética
sobre esse assunto. Minha formação é muito tradicional. Essa foi
realmente a primeira vez em que me envolvi com qualquer coisa
que não estivesse de acordo com a educação médica tradicional.
Estudar as EQMs era um processo de rompimento com algumas
noções preconcebidas. Afinal, durante minha educação eu havia
me concentrado no aspecto físico do homem, não no espiritual.
O aspecto da experiência no qual fiquei mais interessado foi o
autoscópico, ou experiência fora do corpo. As pessoas que passam
por isso parecem realmente poder ver o que está ocorrendo de
modo um tanto par anormal.
O caso responsável por meu interesse foi o de um veterano do
Vietnã que trabalha no hospital de veteranos aqui em Atlanta, que
teve sua experiência no campo de batalha.
Ele estava gravemente ferido e saiu de seu corpo no meio do
combate. Ele observava seu corpo físico enquanto os vietcongues
se aproximavam e levavam tudo o que ele tinha seu relógio, sua
arma, até mesmo seus sapatos.
Ele assistiu a isso do alto, e continuou observando? enquanto os
americanos voltavam no final daquela tarde, colocando seu corpo
em um saco preto e então no alto de uma pilha de corpos num
caminhão que os levariam ao necrotério onde seriam
embalsamados.
O embalsamador fez uma incisão sobre sua veia femoral
esquerda para injetar o fluido de embalsamamento e notou que
havia um escoamento excessivo de sangue.
Os médicos foram chamados e concluíram que ele ainda estava
vivo. Fizeram uma checagem geral e o levaram direto para a sala de
cirurgia, onde seu braço foi amputado.
Ele assistiu a tudo isso.
Eu sabia que ele havia se ferido no Vietnã, mas não tinha ouvido
nada sobre ele ter tido essa experiência. Ele me contou a respeito
enquanto conversávamos sobre o Vietnã.
Eu acreditei nele até certo ponto, mas como cientista era preciso
obter algum tipo de prova. Então perguntei: “Você se importa se eu
der uma olhada em sua virilha esquerda?” Eu o fiz, e havia uma
pequena cicatriz de dois centímetros bem acima de sua veia
femoral esquerda. Para mim, aquilo realmente me convenceu de
que a história que ele contara era verdadeira.
Várias pessoas realmente pensavam que ele havia morrido no
campo de batalha, mas ele ainda estava consciente em um outro
mundo. Seu comportamento enquanto estava nessa situação era
tranquilo e pacífico. Ele não estava horrorizado nem sofria dores
terríveis. Acho isso confortante. Também penso nisso quando trato
de pacientes em coma. Será que eles estão me observando de
algum lugar?
De qualquer modo, o veterano do Vietnã foi convincente, mas
não posso dizer em que ponto comecei a acreditar que essas eram
ocorrências reais. Tive de pesquisar várias pessoas que tiveram
EQMs, mas quando todas elas começaram a relatar basicamente a
mesma história, comecei a investigar se elas haviam ouvido ou lido
a respeito ou se haviam tido acesso às experiências de uma outra
pessoa depois de ressuscitada.
A primeira coisa que me vinha à mente para perguntar a esses
pacientes era: “Você leu o livro de Raymond Moody, não leu?”. E
eles não haviam lido. A maioria dessas pessoas era do norte da
Flórida. Eles não eram influenciados pela mídia ou coisa do
gênero. Raramente liam livros, e liam jornais somente
ocasionalmente. No entanto, as experiências eram tão semelhantes
que seus relatos eram como se estivessem me contando um filme.
Durante minhas pesquisas ouvi sobre vários casos em que,
enquanto alguém morria, outra pessoa em outro lugar tinha
consciência disso. Não incluí isso em meu livro, pois não achava
que telepatia estava realmente relacionada às EQMs. Agora, não
tenho tanta certeza. Quanto mais ouço a respeito, mais acredito
que ela possa ser algum tipo de experiência fora do corpo.
Um exemplo surpreendente é o de um garoto de seis anos de
idade que estava morrendo. Ele estava recebendo intravenosas de
morfina, mas após sua primeira ou terceira visões ele não
precisava mais dela, pois não sentia dor nenhuma.
Durante a primeira visão, ele viu um cavalo branco e uma esfera
celestial, para a qual se dirigiu. Lá ele falou com Deus.
Durante a segunda, ele contatou telepaticamente sua avó, que
havia estado confinada a uma cama por vários anos devido a uma
grave artrite. Sei que isso aconteceu realmente porque o garoto
teve essa visão às quatro da manhã, a mesma hora em que a
senhora idosa acordou e insistiu para que seu enfermeiro a levasse
ao hospital onde a criança estava internada. Quando ela chegou,
ele passava, em espasmos, por sua terceira visão, e parecia quase
totalmente incoerente. Ele faleceu pouco depois disso.
Eu sei que isso parece mais uma matéria do National Enquirer,
mas essa e outras histórias do tipo têm sido investigadas.
Após algum tempo, os fatos se tornaram tão impressionantes
que eu não podia negar a realidade da EQM. Ainda hoje, quando
penso a respeito de uma forma tradicional, concluo que havia
descobrindo algo do nada. Comecei então a ler algumas
entrevistas que fiz com algumas dessas pessoas e mais uma vez
percebi que realmente havia algo aqui.
Infelizmente, esse sentimento não é compartilhado por muitas
pessoas que controlam o mundo das publicações médicas, onde há
negativismo no que se refere à EQM, pois ela causa um pouco de
estranhamento.
E lamentável que esses editores médicos não nos permitam
atingir mais profissionais com informações sobre as EQMs,
especialmente nestes tempos de alta tecnologia, quando tantas
pessoas estão sobrevivendo a calamidades médicas que
costumavam matá-las. Hoje, o que um dia era classificado como
“visões do leito de morte” tomou-se uma EQM para o paciente que
precisa de aconselhamento sobre sua impressionante experiência.
Se os médicos não sabem o que tudo isso significa, eles não estão
dando ao paciente aquilo que ele merece.
Michael Grosso
O doutor Michael Grosso é um filósofo, e por causa disso ele ocupa um
lugar de destaque entre os pesquisadores da EQM. Em vez de reunir
informação empírica, a exemplo de seus colegas mais científicos, o doutor
Grosso procura conexões entre experiências de quase-morte e as grandes
verdades filosóficas, mas ele também as encontra. Como veremos aqui, o
doutor Grosso encontra fortes ligações entre as experiências daqueles que
passaram por EQMs e os ensinamentos de grandes filósofos, de Platão a
Cristo.
Contudo, ele encontrou também outras ligações. Quando conversei com
esse filósofo treinado na Universidade de Colúmbia em sua residência em
Riverdale, Nova York, fiquei intrigado ao ouvir sobre sua crença de que
as EQMs estão ligadas a vários outros fenômenos parapsicológicos, como
recepção de ondas de rádio. “Existem várias portas para o mundo
espiritual ”, diz o doutor Grosso, “e várias delas são mais acessíveis do
que quase morrer”.
Para o doutor Grosso, a EQM é um vislumbre da religião não
nominativa, a “religião conforme Deus a concebera Aqui estão suas
próprias palavras sobre o assunto.
Existe esse mito maravilhoso em Platão chamado “O mito da
verdadeira Terra”. Ele é contado por Sócrates» da prisão, onde está
prestes a beber veneno como sua punição fatal por “corromper ” os
jovens atenienses.
Ele está dialogando com seus seguidores a respeito da
“verdadeira Terra” e do espírito enquanto ele se liberta do corpo.
Nesse mito, ele diz:
Mas aqueles que viverem uma vida de completa santidade esses são os
que são libertados do confinamento nessas regiões terrenas, ascendendo
até sua pura morada, fazendo sua residência por sobre a face da Terra. E
esses, que foram purificados o suficiente pela filosofia, vivem juntos uma
vida posterior sem seus corpos, e chegam a moradas ainda mais belas,
muito difíceis de descrever.
A observação interessante que Platão faz é que, nessa
modalidade mais elevada na verdadeira Terra, seres humanos
estão em comunicação direta com os deuses.
Essa tem sido minha experiência com pacientes com EQM. Creio
que eles se comunicaram com os “deuses” como resultado de sua
experiência, e por causa dessa comunicação temos muito o que
aprender com eles.
***
No período em que fazia meu doutorado, passei por um grande
número de experiências extraordinárias. Em uma delas avistei um
OVNI, o que de certo modo ajudou a expandir minha imaginação.
Então comecei a ler a respeito de parapsicologia e, poucos anos
depois, deparei com estudos sobre experiências de quasemorte. De
repente, vi-me fazendo pesquisas sobre evidências de vida após a
morte.
O que particularmente me fascinou na EQM foi que parecia que
aqueles que as tiveram haviam visitado a “verdadeira Terra”
descrita por Platão. Além disso, essas eram experiências reais, e
não simbólicas. Havia pessoas no século vinte que estavam tendo
experiências que ressoavam com as descrições das visões de Platão.
Aquilo instigou minha imaginação. Comecei a procurar essas
pessoas que haviam tido tais experiências. Pensei que a maioria
delas não estaria disposta a falar, mas rapidamente descobri que
ansiavam por alguém que as ouvisse. Elas sempre caracterizavam
nossas discussões com a seguinte frase:
“Sabe, eu não conto isso para a maioria das pessoas”. Daí me
relatavam suas histórias fascinantes.
Eu ficava empolgado a maior parte do tempo. Era como ouvir sobre
uma viagem a um outro país, um que eu mesmo temesse conhecer,
mas sabia que teria de explorá-lo algum dia.
Por exemplo, uma mulher estava tendo um parto muito difícil
quando seu coração parou de repente. Os médicos imediatamente
começaram a trabalhar nela vigorosamente enquanto seu marido,
que estava presente, entrava em pânico. Ele estava tão abalado que
os médicos praticamente o consideraram um segundo paciente na
sala de cirurgia.
No entanto, eles conseguiram reanimá-la e fizeram o parto
através de operação cesariana.
À noite ela contou ao marido que havia deixado o corpo e
testemunhara do teto tudo o que acontecia enquanto ela estava
próxima da morte. Embora ainda estivesse um pouco atordoada,
ela contou que o havia visto sofrendo do canto do teto.
Outro paciente com EQM descreveu de maneira muito clara sua
poderosa experiência, que envolveu desde a experiência
extracorpórea até a visão de toda sua vida passando diante de seus
olhos.
Entretanto, a EQM não o impressionou tanto quanto os efeitos
que ela provocara. Ele estava surpreso com sua sensibilidade
amplificada. Ele era uma pessoa rígida e lógica antes da
experiência. Agora era muito mais flexível e imaginativo.
***
A maior parte do tempo, minha reação era intelectual, pois eu
tentava fazer conexões com todo tipo de coisa. Por exemplo,
encontrei conexões com O Livro Tibetono dos Mortos e com a
experiência de São Paulo na Bíblia. Ao ouvir esses contos eu me
preenchia com reminiscências de minha educação.
Por exemplo, existe uma história maravilhosa de São Tomás de
Aquino, o filósofo e teólogo do século doze, que escreveu
profusamente até o fim de sua vida. Certo dia ele teve uma visão
da luz, após a qual disse: “Tudo o que escrevi é como palha”. Ele
parou de escrever e em um ano morreu silenciosa e
misteriosamente.
Depois que ouvi todas essas histórias, senti que estava
recebendo dessas pessoas comuns, sem treinamento, sem
interesses filosóficos ou místicos, uma visão de um reino de
existência sobre o qual só havia ouvido falar através de fontes
como místicos, filósofos e poetas. De certa forma, essas eram mais
peças do quebra-cabeça: era o entusiasmo de ver uma imagem que
entrava em foco para mim. Isso era o meu entusiasmo.
Às vezes me pergunto se talvez o que um dos grandes sábios
hindus disse é verdade. Sua ideia era de que somente por estar na
presença de um ser altamente evoluído, o choque que o espírito
sofre se toma menor, como se fosse um estender de mãos. Às
vezes me pergunto também se é essa a atração de se ouvir tais
histórias, que dizem que somente por entrar em contato com tais
pessoas experimentamos uma espécie de absorção de energia.
Acho também que essa é uma verdadeira energia divina.
Acredito, como tantos outros, que a EQM é uma passagem para a
dimensão divina da consciência humana, que é latente em todos
nós. Outros pesquisadores sugeriram ou argumentaram que
existem outros meios de fazer contato com essa dimensão da
consciência. De certa forma, então, se usarmos o modelo teutônico
de conhecimento de Platão — esse conhecimento é uma lembrança
de coisas que já sabemos então essa consciência espiritual já se
encontra latente dentro de nós.
Então pergunto se a razão para essa profunda atração pelas
EQMs é que ao ouvirmos a seu respeito, isso desperta uma
memória guardada em nosso interior. E quase como que voltar
para casa. Os relatos dos que vivenciaram uma EQM são como ecos
que ressoam de algum lugar dentro de nós, assim desejamos
continuar a ouvir histórias que nos despertam mais
completamente para essa consciência.
Ao mesmo tempo me ocorreram algumas perguntas. Como
podemos explicar tais experiências? São ilusões ou fantasias?
Suponho que as que mais me impressionaram foram aquelas em
que havia algum tipo de experiência fora do corpo que pudesse ser
constatada. Quando esses relatos são precisos, não se pode ignorá-
los.
Em geral, as EQMs são acontecimentos positivos que
transformam as pessoas de modo positivo. No entanto, ocorre
ocasionalmente a EQM negativa. Sempre considerei com seriedade
as experiências negativas e me perguntava por que não ocorriam
com maior frequência. Elas provocam geralmente um efeito
positivo nas pessoas, assim como as experiências celestiais, mas
podem ser absolutamente apavorantes quando acontecem.
Deixe-me contar um caso impressionante. Havia um jovem que
tentara o suicídio. Ele havia sido desajustado por toda a sua vida e
pouco se importava com isso. Tivera algum tipo de overdose de
drogas e passou por dois diferentes estágios da experiência. 0
primeiro estágio consistia apenas de dor, desconforto e terror,
enquanto ele adentrava a quase-morte. Ele teve um ataque cardíaco
na presença de amigos e ficou azul.
Por sorte, conseguiram trazer uma equipe médica ao local, onde
foi ressuscitado. Depois que havia passado pela fase crítica da
morte ele me descreveu a mais terrível história de EQM que eu
jamais ouvira.
Ele descreveu imagens de seres horrendos que tentavam segurá-
lo com suas garras. Parecia algo como a descida ao inferno de
Dante. Ele tivera uma EQM claustrofóbica, hostil e perturbadora,
sem a menor chance de se tomar uma experiência positiva. Não
houve experiência fora do corpo, nenhum Ser de Luz, nada belo,
nada agradável.
Contudo, a experiência o transformou totalmente. Eu podia
sentir que ele era uma pessoa diferente. Ele havia adquirido uma
espécie de clareza. Ele demonstrava integridade e
autodeterminação. Ele não era particularmente talentoso ou
ambicioso, mas possuía um notável senso de direcionamento em
sua vida.
Existe um fato muito estranho a respeito dessa história: Eu
estava feliz por ter podido gravar o relato detalhado de sua
perturbadora EQM, mas depois de ele ter me contado tudo, eu
tentei ouvir o que eu havia registrado no gravador. Toda a
experiência havia sido apagada. O gravador que eu havia usado por
aproximadamente dez anos jamais havia falhado antes, e não tem
falhado desde então. Quando tentei reproduzir a experiência, tudo
havia sido apagado.
Não tenho explicação para isso. Talvez seja uma coincidência,
mas é certamente um detalhe curioso.
O estudo das EQMs me transformou de duas maneiras.
Primeiro, sinto-me mais em contato com a vida, e isso é um efeito
libertador. Uma outra mudança interessante é que a experiência de
quase-morte oferece um vislumbre de várias coisas associadas à
experiência religiosa.
Curiosamente, quando penso que já vi o suficiente a respeito,
descubro que há sempre mais, pois é pertinente a várias coisas em
minha vida.
O aspecto religioso também significa muito para quem passou
por uma EQM. E paradoxal que várias das pessoas que tiveram
uma EQM digam que o melhor momento de sua vida aconteceu
quando estavam à beira da morte. Isso me lembra Euripides, que
disse: “Como saber se os vivos não estão mortos e os mortos não
estão vivos?”. Observe que isso sugere uma inversão do senso
comum. Acho isso atraente, embora muitos o considerem
perturbador. Há algo aqui quase surrealista, e sempre fui um
admirador dos surrealistas. De certo modo, essas experiências
indicam que a nossa percepção óbvia e normal do mundo pode
estar equivocada.
***
Houve tentativas de se explicar as EQMs como um mecanismo
biológico que é ativado quando a morte se aproxima. Não aceito tal
explicação, pois não consigo ver como um organismo humano
possa se beneficiar dessa experiência depois que o processo de
morte irreversível se instala. Acho difícil imaginá-la como uma
função biológica, pois seria um paradoxo. Que bem faria ao corpo
evoluir desse jeito?
Já a evolução espiritual é outra questão. Como um filósofo disse
certa vez: “A genialidade acontece quando se está prensado contra
a parede”. Como uma sociedade, estamos definitivamente
prensados contra a parede, uma parede nuclear. Se pensarmos a
respeito, não sobreviveremos biologicamente por muito tempo
nesse ponto, a menos que tenhamos evoluído ou involuído
espiritualmente, já que acredito que o que fazemos representa um
retomo ao conhecimento espiritual dentro de nós.
Pode até ser que no incompreensível esquema de evolução, o
desenvolvimento dessa tecnologia autodestrutiva irá, na verdade,
estimular o despertar espiritual. Talvez a evolução espiritual seja o
que acontece conosco quando, enquanto espécie, não nos restam
alternativas.
Acredito que o risco de autodestruição em massa através de
armamentos sofisticados força o acontecimento dos fenômenos
que parecem ocorrer agora.
A experiência de quase-morte é apenas um entre vários padrões
que surgiram durante esse acelerado desenvolvimento intelectual
e técnico.
Todos esses acontecimentos espirituais têm características
comuns. Existem algumas relações interessantes entre certas
EQMs profundas e EQMs proféticas, por exemplo ver a “Visão do
Futuro” no Capítulo 1.
Também existem associações entre alguns dos casos de contatos
com
OVNIs e os incríveis padrões de aparições coletivas chamadas
visões Marianas, em que a virgem Maria toma-se visível em
paredes ou outros objetos em certas cidades.
Acredito que haja uma correlação fundamental que todas essas
experiências sejam manifestações de uma transformação de
consciência coletiva, que ocorrem em virtude de um possível
aniquilamento nuclear.
É interessante, no entanto, que os fenômenos relacionados a
OVNIs tenham ganhado força em 1947, alguns anos após a
primeira bomba nuclear. Ao mesmo tempo houve um repentino
crescimento mundial das aparições Marianas.
Acredito também que o assim chamado fenômeno da captação,
no qual as pessoas podem comunicar-se com os mortos, seja uma
versão do processo de abertura. Na verdade, pode-se dizer que o
fenômeno da captação é um caminho fácil para as EQMs, uma
abertura que não ameaça a vida, do mesmo mundo de consciência
que é aberto numa EQM. Acho que as pessoas que têm todas essas
experiências passam por uma mesma porta, mas de diferentes
modos.
***
Essa maneira de pensar não ameaçou minha reputação, nem
contribuiu para aumentá-la, entre meus colegas. Alguns dos meus
colegas da Faculdade Estadual da Cidade de Jersey, onde leciono,
dispuseram-se a discutir tais fenômenos, mas um número
equivalente demonstrou antagonismo.
Os acadêmicos tendem a associar o estudo desses eventos a algo
retrógrado, supersticioso e irracional. Essa atitude não me
prejudicou, como também não me ajudou junto aos meus colegas.
Suponho que deveria ser grato pela gentil neutralidade.
Doutor Kenneth Ring
Eu sempre disse que foi Kenneth Ring que legitimou meu trabalho.
Uma vez que meu livro dependia das “histórias” de EQM de várias
dezenas de pessoas, das quais eu pude descobrir alguns padrões, ele foi
duramente criticado pela comunidade médica. Eles sentiram que minha
abordagem do assunto era demasiadamente como a de um repórter, e
pouco como a de um cientista. Felizmente Ring estava lá para
acrescentar o aspecto científico:
Ele havia tomado conhecimento das EQMs quando estudava
psicologia, mas só ficou intrigado o suficiente para estudar a EQM
quando leu A Vida Depois da Vida, em 1977. \
Ring examinou com detalhe as experiências de 102 pacientes e
conseguiu demonstrar que a religião é um fator tão sem importância
quanto ar raça nas experiências de quase-morte. 0 mesmo podia ser dito
a respeito da idade. Ele também confirmou minhas descobertas de que a
EQM é principalmente uma experiência positiva, e que a pessoa que
passa por ela é transformada.
0 trabalho de Ring é uma referência para todos aqueles que fazem
pesquisas significativas sobre a EQM. Como vimos no Capítulo 1, o
método e as perguntas que ele elaborou para seu estudo tomaram-se
padrão para os pesquisadores da EQM. Os resultados de seus estudos
estão contidos em seu livro, Life at Death: A Scientific Investigation
of the Near-Death Experience {Vida na Morte: Um Estudo Científico
da Experiência de QuaseMorte. Eis aqui sua história.
Precisei apenas ouvir a primeira história sobre experiência de
quasemorte para ficar fascinado. Foi em 1977, depois de ter lido o
suficiente sobre esse fenômeno para realizar uma pesquisa.
No entanto, aquela primeira experiência era tudo o que eu
precisava.
Eu queria ouvir mais e mais.
A primeira história que ouvi foi a de uma mulher que sofrera
uma queda de pressão muito rápida durante o parto. De repente,
tudo ficou escuro. Quando ela “recobrou a consciência”, estava no
alto da sala de cirurgia, observando os médicos enquanto eles
trabalhavam para revivê-la e retirar a criança.
Ela não atravessou nenhum túnel nem viu qualquer Ser de Luz,
mas os pensamentos começaram a invadir sua mente, como se
alguém estivesse conversando com ela. Eles disseram que ela
ficaria bem e que tinha de retomar ao corpo. “Você sentiu o gosto
disso”, disse a voz. “Agora você deve voltar ”.
A voz revelou a ela que seu bebê deveria chamar-se Peter (até
então
eles planejavam chamá-lo de Harold) e que ele teria um
problema de coração que deveria ser corrigido rapidamente.
Aconteceu exatamente isso, conforme dissera a voz.
Essa história me fascinou, mas tenho de admitir que não fui
sempre interessado em experiências de quase-morte. Em meu
papel como psicólogo, eu me interessava por estados alterados de
consciência, razão pela qual eu li pela primeira vez alguns artigos
sobre o assunto em publicações médicas. As experiências sobre as
quais li revelavam o que acontece a alguém no limiar da morte.
Depois disso, li alguns livros sobre parapsicologia, e então li A Vida
Depois da Vida. Fiquei fascinado. Lembro que tive uma sensação
eletrizante enquanto o ua sentado em meu quintal. Até mesmo
comecei a rascunhar ideias para projetos de pesquisa em suas
margens. Meu primeiro sentimento foi: “Isso é o que quero fazer ”.
Decidi elaborar um projeto próprio que respondesse a algumas
perguntas sobre a experiência:
♦Quantas pessoas passam pelos cinco estágios gerais de uma
EQM (sentimento de paz, separação do corpo, penetração na
escuridão, visão da luz e penetração na luz)?
♦A religião tem efeito sobre a EQM?
♦Quais eram os efeitos resultantes de uma EQM? Eles realmente
faziam as pessoas sentirem menos medo da morte e aceitarem melhor a
vida?
Eu queria responder a essas perguntas, mas tinha antes de
encontrar pessoas que houvessem vivenciado uma EQM. A fim de
fazê-lo, fui até alguns hospitais de Connecticut e dei palestras para
vários comitês para familiarizar os funcionários com o que eu
desejava fazer.
Tive de falar muito para convencer os mais resistentes nesses
hospitais de que minhas pesquisas eram válidas. Finalmente,
consegui permissão para executar o trabalho que eu precisava
realizar. Recebi dos hospitais até mesmo referências sobre pessoas
que haviam estado próximas da morte ou clinicamente mortas.
Visitei então seus médicos para conseguir autorização para falar
com elas.
' Não me importava se elas tinham passado por uma EQM ou
não, já que um dos propósitos do estudo era descobrir quantas das
pessoas que haviam estado próximas da morte haviam tido alguma
dessas experiências. Eu esperava que várias tivessem, pois desejava
ouvir sobre mais outra EQM.
Bem, a segunda pessoa com quem conversei havia vivenciado
uma EQM.
Eu estava tão empolgado que parecia estar sentado em dinamite,
e sinto-me assim até hoje, não importa quantos desses pacientes
eu ouça.
Era costume eu dirigir até a região da Nova Inglaterra para
entrevistar alguma pessoa que tivesse vivido uma EQM. Nesse
momento, a pessoa já havia deixado o hospital, então eu me
sentava em sua sala de visitas e conduzia a entrevista. Depois eu
dirigia de volta a Hartford ouvindo a fita gravada da conversa
durante o percurso. Eu estava tão empolgado com esses relatos
que os ouvia várias e várias vezes.
Eu não iria tão longe a ponto de dizer que eu estava tendo uma
experiência religiosa enquanto ouvia essas histórias, mas confesso
que o envolvimento com as EQMs lhe causa um certo “impacto”.
Sabe aquela sensação que se tem quando se conversa com alguém
que visitou uma terra distante sobre a qual sempre estivemos
curiosos, ou quando se tem a oportunidade de falar com um
astronauta ou outro tipo de explorador? É um sentimento
semelhante, como se estivéssemos fazendo contato com uma
ordem espiritual mais elevada.
O mais engraçado é que as pessoas com quem falei apreciavam
as entrevistas tanto quanto eu. Várias jamais haviam falado com
ninguém sobre suas experiências, ou o haviam feito
hesitantemente, pois o que precisavam era simplesmente
desabafar. Geralmente elas eram mal interpretadas e algumas
vezes até ridicularizadas.
Encontrar alguém como eu, que tinha interesse genuíno em suas
EQMs as aliviava do peso em sua mente. Elas podiam confiar em
mim e sabiam que eu podia compreender. Elas frequentemente me
faziam tantas perguntas quantas eu fazia a elas.
Algumas queriam saber se eram “especiais”; outras se eram
“loucas”. Faziam perguntas sobre por que se sentiam tão
diferentes' depois da EQM e por que suas famílias não apreciavam
a experiência. Em quase todos os casos que ouvi, elas somente
queriam conversar com alguém que as compreendesse e não as
julgasse. Para elas eu era alguém aberto que não desejava impor
limites às suas experiências.
Em praticamente todos os casos, elas diziam: “Essa é a
experiência mais profunda, mais secreta e mais espiritual que
jamais tive”. Elas me contavam e eu acreditava. Eu podia verem
seus olhos que suas palavras podiam exprimir talvez apenas um
milésimo da experiência. Certamente havia algo pessoal e sagrado
sendo compartilhado.
Meu entusiasmo tomava difícil seguir as perguntas que eu havia
programado. Às vezes eu me repreendia por ficar tão emocionado, até
que percebi que conversando com tais pessoas eu me conectava a uma
fonte de insight espiritual Eu tinha de me abrir, a menos que fosse algum
tipo de pedra.
Por exemplo, aqui está uma transcrição de um relato sobre uma
poderosa EQM sofrida por uma mulher que quase morrera em
consequência de uma cirurgia nos intestinos:
Lembro-me de estar acima da cama não estava mais nela olhando para
meu próprio corpo deitado e me lembro de ter dito a mim mesma: “eu não
quero ser cortada”. Sei que os médicos trabalharam em mim por várias
horas, e lembro de primeiro ter pairado por sobre meu corpo e depois de
estar dentro de um vale. Esse vale me lembrava de algo que eu
descreveria como o vale da sombra da morte. Lembro-me também de que
era um belo vale, muito agradável, e nesse momento me sentia muito
tranquila. Lá encontrei uma pessoa, e mais tarde percebi que era meu
[falecido] avô, que eu jamais conhecera. Lembro-me de que ele me disse:
“Helen, não desista. Ainda precisam de você. Ainda não estou pronto
para você”. Era algo mais ou menos assim. Então ouvi uma música, que
de certo modo parecia música de igreja, música espiritual. Havia algo de
triste nela, algo impressionante.
Ouvi milhares dessas histórias, mas nunca consegui parar de
lhes dar atenção. As pessoas me dizem: “Eu sei que você já ouviu
todas as histórias de que precisava, mas eu tenho mais uma”. E eu
continuo com a mesma empolgação. Não é um vício, mas
certamente algo do qual nunca me canso.
Sinto-me tão íntimo dessas pessoas que faço algo que psicólogos
não devem fazer com seus pacientes. Eu os chamo de “amigos”.
Na verdade, tenho mantido contato com várias das pessoas que
entrevistei para o estudo.
Acho que isso aconteceu porque compartilhamos algo difícil de
entender para algumas pessoas. Isso criou um vínculo que
transcendeu o relacionamento habitual entre psicólogo e paciente.
Além disso, é muito agradável estar na companhia dessas pessoas;
portanto, seria uma pena encontrá-las apenas uma vez. Várias
vezes lhes pergunto se gostariam de comparecer a uma de minhas
aulas ou participar de programas de rádio ou televisão.
É claro que se toma muito difícil ter de pesquisar seus próprios
amigos.
Pesquisar as experiências de quase-morte mudou minha vida de
várias formas. Por exemplo, fiquei mais “espiritualizado”. Não
religioso, veja bem, mas espiritualizado. E qual é a diferença? Um
sábio disse certa vez: “Uma pessoa religiosa segue os
ensinamentos de sua igreja, enquanto a espiritualizada segue a
orientação de sua alma”.
O estudo das EQMs me fez acreditar nisso. Se você examiná-las,
as experiências sustentam várias das grandes religiões do mundo.
Que mensagem os que atravessam uma EQM tentam passar? Que
o conhecimento e o amor são as coisas mais importantes. Foram as
religiões formais que adicionaram o dogma e a doutrina.
Lidar com as EQMs também mudou o que sinto a respeito da vida
após a morte. Na verdade, nem uso mais esta frase. Em vez disso,
acredito que exista apenas vida. Quando o corpo físico para de funcionar
o espírito o abandona e continua a viver. As EQMs me deram uma boa
ideia de como é a separação f do espírito do corpo. Elas me
convenceram de que existe apenas vida, e que a morte é algo que
vemos do lado de fora.
Meus estudos também me ensinaram a não temer o fim, do modo
como o conhecemos. Eu aguardo ansioso por tal experiência, seja eia
como for.
Bobert Sullivan
Estou no ramo de plásticos como um meio de ganhar a vida”, diz Bob
Sullivan, “Mas não é isso o que eu sou ”. Na realidade, este residente da
Pensilvânia é um pesquisador de EQMs.
Sua especialidade: esclarecer as EQMs.
Sullivan começou a interessar-se pelas EQMs no final dos anos
setenta, após ouvir uma palestra de Kenneth Ring.
Fiquei intrigado com o assunto ”, conta Bob. “Perguntei a Ring se
havia alguma pesquisa sobre o que acontece com pessoas em combate. Ele
disse que não havia nenhuma, e sugeriu que eu a fizesse. Então decidi me
tomar um pesquisador naquele momento”.
Sullivan possuía todas as qualidades necessárias para pesquisar o
assunto. Além de curiosidade, ele possuía experiência militar, tendo
servido o exército nos anos sessenta e como reservista por vários anos
depois. Além disso, ele havia estudado psicologia na faculdade, mas
possuía uma visão bem reducionista sobre o assunto. “Para mim, tudo se
resumia em substâncias e impulsos elétricos ”, diz ele. Paralelamente ao
trabalho com os negócios da família, Sullivan oferecia aconselhamento
em um hospital local, onde lidava com pessoas que ameaçavam tentar
suicídio.
“Todo o tempo que passei fazendo esse aconselhamento ajudou-me a
lidar com as EQMs”, diz Sullivan. “No decorrer de minha pesquisa
deparei com alguns casos realmente impressionantes, e para conseguir
tudo o que me interessava eu tinha dê realmente pesquisar”.
Agora Sullivan está de volta aos negócios como presidente de uma
indústria de plásticos, mas em seu tempo livre, pormenor que seja, ele
ainda dá palestras sobre o fenômeno da EQM.
Durante os três anos em que realizei pesquisas sobre a EQM
conversei com aproximadamente quarenta veteranos de guerra que
haviam passado por ela. Os relatos iam desde ocorrências
altamente detalhadas até sensações de paz e tranquilidade de
soldados gravemente feridos. No geral, suas experiências eram as
mesmas que as das pessoas que não haviam experimentado a
intensidade de um combate, o que serve como mais uma prova de
que elas transcendem as culturas, no verdadeiro sentido da
palavra.
Uma EQM aconteceu com um sujeito que chamarei de Tom. No
Vietnã, ele pisou em uma mina que literalmente arrancou sua
perna. Ele teve a experiência completa: deixou o corpo, projetou-se
por um túnel, viu um Ser de Luz e assistiu a todo um retrospecto
de sua vida. De repente, já estava lá no campo de batalha, com
lama que subia pelos ares e sangue que jorrava de seu corpo.
Quando os médicos chegaram, ficaram chocados. Lá estava ele
sem uma perna e tudo o que falava enquanto lhe colocavam um
torniquete dizia respeito à sua viagem através do túnel.
Essas pessoas eram incríveis, mas ao contrário dos relatos de
EQM de cidadãos comuns, alguns tinham experiências incomuns
relacionadas ao combate.
Por exemplo, dois indivíduos me contaram que podiam ver balas
vindo em sua direção, mas tinham tempo suficiente para desviar
delas. Disseram que, para eles, as balas pareciam bolas de
beisebol, objetos tão visíveis que podiam esquivar-se delas como
um jogador de beisebol se esquiva de uma bola rebatida.
Um veterano da Segunda Guerra afirmou que possuía visar [ de
trezentos e sessenta graus enquanto fugia de rajadas de
metralhadoras alemãs. Não só podia ver o que estava à sua frente
como ' também via os atiradores tentando atingi-lo por trás. Outro
veterano contou que podia prever com cem por cento de precisão
quem estava preste a ser morto ou ferido antes de um conflito.
Quando a notícia de que ele possuía tal habilidade se espalhou, os
soldados faziam fila ao lado de seu beliche todas as manhãs para
saber quem morreria naquele dia.
A exemplo de todos os que passam por EQMs e suas ocorrências
metafísicas, essas pessoas não desejavam possuir tais poderes.
Elas simplesmente os tinham, e eram tão inexplicáveis para elas
quanto o são para nós que os estudamos.
Tudo isso me diz que toda vez que pensamos ter abrido uma
porta para a compreensão das EQMs encontramos muito mais
portas abertas. Nesse caso, outras questões parapsicológicas vêm à
tona nas investigações sobre EQMs. Para elas e para as EQMs não
tenho explicação alguma, apenas suposições.
Quase todo mundo me pergunta o que eu acho que as EQMs são.
Faço a mesma pergunta a mim mesmo: São um vislumbre do
mundo do além ou simplesmente uma combinação química
peculiar? Minha resposta: Não sei.
Quando ouvi a respeito pela primeira vez, pensei que as EQMs
eram uma porta aberta para o mundo do além. Juntei tudo o que
havia aprendido sobre psicologia, química, filosofia e religião e
comecei a investigar tão minuciosamente quanto podia. O
problema é que cada pergunta levantava mais outras doze. Essa
eterna falta de compreensão tem sido minha principal frustração.
Agora concluo que talvez o real significado de uma EQM não
possa ser determinado. Acredito que as EQMs sejam um
vislumbre de um outro plano de realidade. Mas seriam elas a vida
após a morte? Simplesmente não sei.
Acredito realmente que as EQMs são uma desculpa para
falarmos da morte, que é um assunto pelo qual somos
profundamente interessados, mesmo que num nível
subconsciente4 Esse é o modo mais positivo que conheço para
discutir o assunto.
Darei um exemplo disso. O sujeito para quem vendi minha
empresa vários anos atrás era um homem de negócios conservador
e rígido.
Depois que assinamos os contratos ele me levou para jantar e
me perguntou o que eu planejava fazer, agora que estava livre das
preocupações com negócios. Pensei que ele fosse me considerar
um louco caso eu lhe contasse que iria estudaras EQMs, mas
prossegui mesmo assim.
Ele ficou fascinado. Contou-me então sobre sua tia, que havia
vivido uma EQM. Passamos então uma noite inteira conversando
animadamente sobre a morte. Achei depois que as pessoas
sentadas em outras mesas pensaram que estávamos conversando
sobre um time de beisebol ou coisa do gênero. Mas não estávamos.
Falávamos sobre a morte.
Cheguei a algumas conclusões irrefutáveis sobre pessoas que
têm experiências de quase-morte.
Por exemplo* não acho que quem passa por tal experiência
irradia um tipo especial de energia. Certamente você pode senti-lo
quando está próximo a eles.
Certa noite, eu tinha de dirigir por uma nevasca para fazer uma
palestra sobre as EQMs. Pensei que ninguém apareceria por causa
do tempo, mas quando cheguei lá havia cinquenta pessoas me
aguardando.
Fiz minha pequena palestra sobre as EQMs e então abri para
perguntas. Várias pessoas na plateia haviam passado por EQMs e
começaram a contar suas histórias. A sessão continuou por
aproximadamente duas horas.
Devo confessar que depois que tudo terminou eu estava
positivamente “alto”. Era como se eu tivesse tomado drogas.
Fiquei acordado a maior parte da noite por causa da energia que
essas pessoas compartilharam.
Desde então, eu chamo isso de “experiência de aura grupai”.
Várias pessoas que conheço a tiveram. O que torna os
pesquisadores da EQM viciados no assunto é certamente a energia
que recebem dessas pessoas. Outra conclusão a que cheguei é que
as EQMs são experiências positivas, mesmo entre veteranos
devastados pela guerra. Isso é importante diante do estresse pós-
traumático pelo qual vários veteranos passam. Embora vários
indivíduos que passaram por uma EQM com quem conversei
tivessem sentido o estresse pós-combate, eles acabaram por
compreender a EQM à luz de suas outras experiências e tomaram-
se pessoas melhores como resultado disso.
7 Explicações
Existem várias tentativas de explicar as experiências de quase-
morte como algo diferente de eventos espirituais ou vislumbres do
além-mundo. Pretendo apresentar o maior número possível de
discussões como essas e oferecer meu ponto de vista, além do
ponto de vista de outras pessoas. Mas, primeiro, quero discutir por
que acredito que as EQMs são experiências espirituais.
Como você verá nesse capítulo, existem várias teorias teológica,
médica e psicológica que tentam explicar a experiência de quase-
morte como um fenômeno físico Ou mental que está mais
relacionado com uma disfunção do cérebro do que com uma
aventura do espírito.
Entretanto, há duas coisas que apresentam uma enorme
dificuldade para esses pesquisadores: Como os pacientes podem
dar detalhes tão elaborados dos ressuscitamento, explicando de
maneira integral o que os médicos estavam fazendo para trazê-los
de volta à vida? Como tantas pessoas podem explicar o que estava
acontecendo nas outras salas de um hospital enquanto o corpo
deles estava na sala de cirurgia sendo ressuscitado?
Para mim, esses são os pontos de maior dificuldade para os
pesquisadores de EQMs. Na verdade, até agora foram incapazes de
explicar, exceto com uma única resposta: essas experiências
realmente ocorreram.
Antes de apresentar a grande variedade de explicações que
existem acerca das EQMs, vamos dar uma olhada em alguns
exemplos desses eventos inexplicáveis.
Um homem de quarenta e nove anos sofreu um ataque cardíaco
tão severo que, após trinta e cinco minutos de esforços vigorosos
de ressuscitamento, o médico desistiu e começou a preencher o
atestado de óbito. Então alguém percebeu um sopro de vida, e o
médico voltou ao seu trabalho com a massagem cardíaca e os
equipamentos respiratórios e foi capaz de reavivar o coração do
homem.
No dia seguinte, quando já conseguia falar com mais coerência,
o paciente foi capaz de descrever com grande detalhe o que a
ocorrera na sala de emergência. Isso surpreendeu o médico, mas o
que o deixou ainda mais perplexo foi a descrição vívida que o
paciente fez da enfermeira do pronto-socorro que entrou correndo
na sala para auxiliar o médico.
Ele a descreveu perfeitamente, desde o seu penteado até o
sobrenome, Hawkes. Ele disse que ela empurrou um carrinho pelo
corredor com uma máquina que tinha o que pareciam se duas
raquetes de pingue-pongue (aparelho de eletrochoque que é um
equipamento básico do ressuscitamento).
Quando o médico perguntou como ele sabia o nome da
enfermeira e o que ela fizera durante seu ataque cardíaco, ele disse
que saiu do corpo e enquanto caminhava pelo corredor para ver a
esposa passou pela enfermeira Hawkes. Assim pôde ler seu crachá
enquanto passava por ela, e guardou na memória para poder
agradecer mais tarde.
RAYMOND A. MOODY JR,
Conversei com o médico por muito tempo sobre esse caso. Ele
estava bastante atordoado com o fato. Estar ali, ele disse, era a
única maneira de esse homem poder ter contado o que aconteceu
com tamanha exatidão.
Em Long Island, uma mulher de setenta anos que era cega desde
os dezoito foi capaz de descrever com riqueza de detalhes o que
estava acontecendo à sua volta enquanto os médicos a
ressuscitavam após uma parada cardíaca.
Ela não apenas descreveu como eram os instrumentos, mas
também descreveu suas cores.
O mais surpreendente de tudo isso para mim é que a maioria
desses instrumentos não tinha sequer sido concebida cinquenta
anos atrás quando ela ainda podia ver. Além de tudo isso, ela
também foi capaz de dizer ao médico que ele estava usando um
temo azul quando iniciou o processo de ressuscitamento.
*
**
Outro caso surpreendente que mostra que as EQMs são mais do
que simples truques da mente me foi contado por um médico na
Dakota do Sul.
Dirigindo até o hospital certa manhã, ele bateu na traseira de
um carro. Foi uma experiência muito perturbadora. Ele estava
bastante preocupado que as pessoas no outro carro reclamassem
por ter sofrido danos no pescoço e o processassem por uma grande
soma em dinheiro.
O acidente o deixou perturbado e não saiu de sua mente durante
toda a manhã quando ele correu para a sala de emergência para
reavivar uma pessoa que estava sofrendo uma parada cardíaca.
No dia seguinte, o homem que foi salvo contou-lhe uma história
marcante: “Enquanto você me salvava, saí do corpo e observei seu
trabalho”.
0 médico começou a fazer perguntas sobre o que o homem havia
visto e ficou surpreso com a exatidão de sua descrição. Com
detalhes precisos, ele contou ao médico como eram os
instrumentos e até mesmo a ordem em que foram usados.
Descreveu as cores dos equipamentos, formas, e até mesmo as
configurações estabelecidas nos botões das máquinas.
No entanto, o que finalmente convenceu esse jovem
cardiologista de que a experiência do homem era genuína foi
quando ele disse: “Doutor, deu para perceber que o senhor estava
preocupado com o acidente. Mas não há por que se preocupar com
coisas assim. Você dedica seu tempo às outras pessoas. Ninguém
irá machucá-lo”.
Esse paciente não percebeu apenas os detalhes físicos à sua
volta, mas também leu a mente do médico.
Após uma palestra dirigida aos médicos da base do Exército
Americano em Fort Dix, Nova Jersey, um homem se aproximou e
contou sobre sua EQM marcante. Mais tarde confirmei a
experiência com seus médicos.
Eu estava extremamente doente e próximo da morte com meus
problemas cardíacos ao mesmo tempo em que minha irmã estava
próxima da morte em outra parte do mesmo hospital mm coma diabético.
Deixei meu corpo e fui até o canto da sala, onde observei os médicos
trabalharem em mim.
De repente, encontrei-me conversando com minha irmã, que também
estava no alto da sala. Sempre fui muito apegado a ela, e estávamos
tendo uma ótima conversa sobre o que acontecia ali embaixo, quando ela
começou a se afastar de mim.
Tentei segui-la, mas ela continuava dizendo que eu deveria ficar onde
estava. “Não é sua hora”, ela dizia. “Você não pode vir comigo porque
não é sua hora”. Então ela começou a se afastar e a desaparecer por um
túnel enquanto fui deixado ali sozinho.
Quando acordei, disse aos médicos que minha irmã havia morrido.
Eles negaram, mas com a minha insistência, enviaram uma
enfermeira para verificar. Ela havia de fato morrido, exatamente como eu
tinha dito.
Esses são apenas alguns poucos casos que provam que as EQMs
são mais do que apenas alucinações ou “pesadelos”. Não existe
explicação lógica para as experiências dessas pessoas. Embora as
experiências de túnel e os Seres de Luz possam facilmente*ser
descartados como meros “truques da mente”, as experiências fora
do corpo aturdem até mesmo os mais céticos da profissão* médica.
Agora vamos dar uma olhada em algumas das teorias acerca das
EQMs e por que não funcionam realmente como explicações desse
fenômeno.
Carl Sagan: Nascimento como a Experiência do
Túnel
Carl Sagan, notório cientista e astrônomo da Universidade
Comell, está entre aqueles que tentaram explicar a experiência de
túnel como memórias perdidas da experiência do nascimento.
Superficialmente, a comparação faz sentido. Todas as pessoas do
mundo vi venciam o nascimento, o que poderia explicar por que as
EQMs são iguais quer ocorram na cultura budista ou batista.
Passar pelo canal do nascimento e ser puxado para um mundo
brilhante e colorido por pessoas que estão felizes em vê-lo são
coisas que a maioria de nós já vivenciou.
Não é de se surpreender que Sagan faça a conexão entre
nascimento e morte. Em seu best-seller, Broca's Brain: Reflections on
the Romance of Science (Cérebro de Broca: Reflexões sobre o
Romance da Ciência), Sagan escreve:
A única alternativa, até onde posso ver, é que todo ser humano, sem
exceção, já compartilhou uma experiência igual à desses viajantes que
retomam da terra da morte: a si sensação de voar; a emergência da
escuridão para a luz/ uma experiência na qual, pelo menos às vezes, uma
figura heroica pode ser vista com pouca clareza, banhada em luz e glória.
Existe apenas uma experiência comum que se encaixa nessa descrição. É
chamada nascimento.
A teoria de Sagan pode parecer lógica, até que você faça o que
Carl Becker fez. Esse professor de filosofia da Universidade de
Illinois examinou uma pesquisa pediátrica para determinar quanto
uma criança sabe em seu nascimento e quanto pode lembrar da
experiência. Sua conclusão: os bebês não lembram de ter nascido e
não têm faculdades para reter a experiência no cérebro.
Aqui está o exame ponto a ponto de Becker sobre a discussão:
♦A percepção infantil é muito pobre para ver o que está
acontecendo durante o nascimento. Na teoria de Sagan, a pessoa
que passa por uma EQM e é recebida por Seres de Luz está
simplesmente revivendo a experiência de sair pelo canal do
nascimento e ver a parteira, o médico ou o pai.
Mas Becker aponta para a falha dessa suposição ao referir-se a
estudos extensos da percepção infantil que mostram que a mente
da criança ainda não está desenvolvida o suficiente para perceber
muita coisa.
O estudo mostra que os recém-nascidos não conseguem
distinguir figuras. Outros estudos mostram que:
♦Os recém-nascidos não apresentam reações à luz, a menos que
exista um contraste de pelo menos setenta por cento entre a luz e a
escuridão.
♦Eles raramente focalizam ou se fixam num objeto, e quando
isso acontece, conseguem apenas examinar um pequeno segmento
do objeto por um curto período de tempo.
♦Os recém-nascidos têm “foco não centralizado”, o que significa
que quando conseguem focalizar, focalizam uma porção próxima e
altamente contrastiva de um objeto e não o objeto como um todo.
♦Metade dos recém-nascidos não consegue coordenar a visão de
objetos à distância de um braço. E nenhuma criança com menos de
um mês consegue focalizar completamente um objeto a um metro
e meio de distância.
♦Os movimentos oculares das crianças são “rápidos e
desorganizados”, especialmente quando estão chorando. E, nesses
casos, os olhos ficam frequentemente embaçados pelas lágrimas,
especialmente no nascimento.
Outro ponto apoiado pelos estudos é o fato de as crianças terem
pouca memória para formas ou padrões. E como o cérebro nessa
fase não está bem desenvolvido e ainda não foi exposto à vida fora
do útero, elas têm pouca capacidade para codificar o que veem.
Mesmo que fosse verdade que a EQM é algum tipo de reprise
dramática da experiência do nascimento, preciso perguntar se ela
seria revista num contexto tão positivo quanto é a experiência de
quase-morte para a grande maioria das pessoas. Afinal, o
nascimento envolve uma grande ruptura do universo do bebê não
nascido. Os bebês são trazidos para um mundo onde são virados
de cabeça para baixo, espancados, e cortados com tesouras para se
separar do cordão umbilical.
Se a EQM fosse uma reprise da experiência do nascimento, como
sugere Sagan, provavelmente não seria uma transformação tão
positiva para a maioria das pessoas.
Uma nota final sobre a teoria de Sagan. A experiência do túnel
frequentemente envolve uma passagem rápida em direção à luz no
final do túnel. Na experiência real do nascimento, o rosto da
criança é pressionado contra as paredes do canal do nascimento.
Elas não estão olhando para cima e vendo uma luz que se
aproxima, como sugere a teoria de Sagan. Não é possível ver nada
enquanto são empurradas para sua-entrada no mundo.
Sobrecarga de Dióxido de Carbono e a
Experiência do Túnel
A experiência do túnel foi chamada por alguns como “o portão
para o mundo do além” e geralmente é descrito como a sensação
que você teria se estivesse passando rapidamente por um túnel em
direção a um ponto de luz crescente no final.
Alguns pesquisadores sentem que a experiência do túnel nas
EQMs é causada pela reação do cérebro aos níveis elevados de
dióxido de carbono (C02) no sangue. Esse gás é um subproduto do
metabolismo do corpo o oxigênio é inspirado, e o ar que contém
níveis maiores de C02 é eliminado.
Quando uma pessoa pára de respirar, devido a uma parada
cardíaca ou um trauma severo, o nível de C02 na Corrente
sanguínea aumenta rapidamente.
Quando o nível fica alto demais, os tecidos começam a morrer.
Como a inalação de C02 foi usada na década de cinquenta como
uma forma de psicoterapia, seus efeitos foram vivenciados por
urna série de pacientes e seus sintomas são bem conhecidos.
Existem estudos de casos sobre essa técnica já abandonada que
descrevem a experiência como uma sensação de viajar por um
túnel ou cone, ou ser cercado por luzes brilhantes.
Não existem relatos de que a inalação de C02 seja acompanhada
de coisas como Seres de Luz e revisões da vida.
Eu até poderia aceitar a crença de que o excesso de C02 causa a
experiência do túnel se não fosse pela pesquisa do doutor Michael
Sabom.
Em um de seus casos, o cardiologista de Atlanta
coincidentemente mediu os níveis de oxigênio no sangue de um
paciente no exato momento em que uma poderosa EQM acontecia,
e descobriu que o nível de oxigênio estava acima do normal.
Isso questiona a teoria da experiência do túnel como uma
sobrecarga de COr No mínimo, o estudo de caso de Sabom aponta
para a necessidade de sé pesquisar mais a fundo antes de chegara
uma conclusão.
Essas Pessoas Precisam Estar Perto da Morte?
Muitos céticos disseram que as EQMs são causadas
simplesmente pelo fato de o corpo estar sob estresse, ou pelo fato
de a pessoa estar muito doente. Embora admitam que as EQMs
ocorram com pessoas que quase morreram, eles também
acreditam que a mesma experiência pode ser vivenciada por
pessoas com doenças graves, mas que não ameaçam a vida.
Para testar essa teoria, o doutor Melvin Morse entrevistou onze
crianças, com idades entre três e dezesseis anos, que sobreviveram
ao seu encontro com a morte. Foram incluídos jovens que tivessem
estado em coma e que fossem vítimas de parada cardíaca.
Sete dessas crianças apresentavam elementos da experiência de
quasemorte, incluindo memórias de estar fora do corpo, entrar na
escuridão, estar num túnel e decidir retomar ao corpo,
Esses onze pacientes foram comparados a vinte e nove crianças
da mesma idade que sofreram de doenças sérias com baixo índice
de mortalidade e que não envolviam encontros com a morte.
Nenhuma das crianças desse grupo tinha lembranças de qualquer
elemento da EQM.
Isso levou Morse e sua equipe de pesquisadores a concluir que
“independente da ... causa dessas experiências únicas, fica claro
que as crianças que sobreviveram a eventos que ameaçavam-lhes a
vida vivenciaram EQMs”.
Isso mostra que a experiência de quase-morte é algo
especificamente ligado ao fato de estar à beira da morte em
oposição a estar apenas doente.
EQM como Alucinação
Algumas pessoas postulam que as EQMs são meramente
alucinações, eventos mentais causados pelo estresse, falta de
oxigênio, ou em alguns casos, até mesmo drogas.
Entretanto, um dos argumentos mais fortes contra a EQM como
alucinação é sua ocorrência em pacientes que apresentam Unhas
retas no eletroencefalograma.
O eletroencefalograma, ou EEG, mede a atividade elétrica do
cérebro. Ele registra essa atividade ao desenhar uma linha sobre
uma folha de papel contínua. Essa linha sobe e desce em resposta
à atividade elétrica do cérebro enquanto a pessoa pensa, fala,
sonha, e virtualmente faz qualquer outra coisa. Se o cérebro estiver
morto, a leitura do EEG é uma linha reta, o que implica que o
cérebro é incapaz de pensar ou agir, Um EEG reto agora é a
definição legal da morte em vários estados americanos.
Para que qualquer coisa aconteça no cérebro, é preciso haver
atividade elétrica. Até mesmo as alucinações são medidas no EEG.
No entanto, existem muitos casos em que as pessoas com EEGs
retos passaram por experiências de quase-morte. Claro que
sobreviveram para contar a história. O simples número de casos
me diz que em algumas pessoas, as EQMs ocorreram enquanto
elas estavam tecnicamente mortas. Caso fossem alucinações, elas
teriam sido registradas no EEG.
Devo dizer aqui que os EEGs nem sempre são uma medida exata
da vida cerebral. Acredite se quiser, mas existem casos registrados
de máquinas de EEG serem fixadas em potes de gelatina trêmula e
registrarem padrões de onda cerebral.
Claro que isso não significa que a gelatina esteja viva! Significa
apenas que o EEG está registrando uma interferência
(provavelmente de ondas de rádio), e isso está sendo registrado no
instrumento. Algumas pessoas chamam isso de fantasma na
máquina.
Às vezes, o cérebro pode estar vivo num nível tão baixo que o
EEG não registra a atividade. Um exemplo disso me foi dado por
um médico da Universidade de Duke. Ele disse que colocaram
uma menina num EEG, e que ela não apresentava atividade de
onda cerebral na máquina.
Os médicos pensaram que ela estava morta e iriam removê-la
dos equipamentos de apoio à vida, mas a família se recusou. Eles
insistiram que haveria um milagre e se reuniram em volta da cama
dela para uma novena.
Ela escapou. O médico que me contou essa história disse que ela
voltou à vida e recentemente terminou a primeira série. Ele
enfatiza que a menina teria morrido caso ele contasse apenas com
o EEG. Ele descobriu o que muitos outros médicos já haviam
descobrido: a atividade cerebral pode continuar num nível tão
profundo do cérebro que os eletrodos superficiais não conseguem
registrar.
A Religião Não é Necessária
Algumas pessoas acreditam erroneamente que apenas os muito
religiosos vivenciam EQMs. As pesquisas mostraram, no entanto,
que isso não é verdade. Pesquisadores como Melvin Morse e outros
descobriram que os muito religiosos apresentam maior tendência
a acreditar que o Ser de Luz é Deus ou Jesus, e com frequência
chamam o lugar no final do túnel de paraíso. Mas sua formação
religiosa não altera a essência da experiência de quasemorte. Elas
ainda deixam o corpo, passam pela experiência do túnel, veem
Seres de Luz, e fazem a revisão de sua vida assim como as pessoas
que não são religiosas. E apenas mais tarde que colocam a
experiência num contexto religioso. ,
Como um pequeno aparte, descobri que há geralmente dois
tipos de pessoas que perguntam sobre religião e EQM. Um grupo
está tentando provar algo relacionado com sua interpretação das
escrituras pelas experiências de quase-morte de alguém. O outro
grupo quer saber se os ateus se tomam religiosos após uma EQM.
0 que deduzem é que uma experiência contada por um ateu seria
mais válida e objetiva. Eles supõem que essa pessoa não traria
conceitos anteriores para sua EQM.
Descobri que toda a questão da “formação religiosa” é
imensamente mais complexa do que o simples fato de ter religião
ou não.
Quando lidamos com isso, é preciso levar em consideração mais
do que apenas a mente consciente. Também devemos considerar
fatores inconscientes, porque podem ser muito diferentes daquilo
que a pessoa sente num nível consciente.
Percebi que muito embora algumas pessoas se digam ateias, elas
têm algum conhecimento de religião. Afinal, você consegue
imaginar alguém que chegue à idade de seis ou sete anos e não
tenha qualquer conceito de Deus? Eu não. Mesmo que os pais
tenham tentado protegê-la contra a religião, a criança certamente
seria bombardeada com as mesmas imagens que todos nós vemos,
especialmente pelo fato de pastores na televisão e igrejas na
vizinhança serem inevitáveis. Essas imagens criam uma noção de
Deus na mente de todos.
Quando uma pessoa enfrenta uma crise como a morte, isso
certamente faz com que qualquer noção de religião venha à tona.
Assim como não existem ateus no campo de batalha, acredito que
não haja nenhum à beira da morte.
Portanto, na minha opinião, existem predisposições
inconscientes para crenças religiosas que até mesmo os
pesquisadores não podem medir durante uma entrevista após uma
EQM.
De modo geral, as pessoas muito religiosas voltam de suas
EQMs nada eclesiásticas. Elas relatam que Deus está mais
interessado nos aspectos espirituais da religião do que nos
aspectos dogmáticos.
Por Que Todas as EQMs Não São Iguais
Algumas pessoas discutem que caso as EQMs fossem realmente
vislumbres do reino espiritual, então todas as pessoas que passam
pela EQM deveriam passar pela mesma experiência. Todas
deveriam ver seu corpo a partir de um ponto de vista externo,
flutuar por um túnel, encontrar parentes há muito mortos, ver um
magnífico Ser de Luz e passar por uma revisão da vida.
Mas, de fato, essas pessoas não vivenciam as mesmas
experiências. Citei vários relatos e estudos nos capítulos anteriores
que mostram uma variedade de detalhes exibidos por esses
indivíduos. Algumas pessoas passaram apenas por experiências
extracorpóreas, enquanto outros tiveram EQMs completas, que os
levaram a um mundo espiritual.
Um estudo que ainda precisa ser discutido foi conduzido na
Universidade Estadual da Califórnia em Nothridge, por J. Timothy
Green e Peneiope Fríedman. Eles conduziram entrevistas
profundas com quarenta e uma pessoas que estiveram
clinicamente mortas ou próximas da morte como resultado de
acidente, doenças ou suicídio. Como Green e Fríedman estavam
usando uma amostra menor, as porcentagens encontradas nos
diferentes estágios são, em alguns casos, muito diferentes
daquelas encontradas no estudo deRing. Tendo isso em mente,
aqui está a comparação:

Esse estudo e sua comparação com o trabalho de Ring reforçam


a variedade das experiências que ocorrem dentro da EQM. Embora
as pessoas abordadas nesses estudos tivessem vivenciado o que
chamamos de experiências de quase-morte, suas características são
diferentes. Algumas simplesmente passaram pela experiência
extracorpórea, enquanto outros passaram pelo túnel. Outros ainda
vivenciaram EQMs completas.
Mas, a pergunta básica ainda permanece: todos aqueles que
quase morreram não deveriam passar pela mesma experiência?.
Minha resposta é “Não”. Pense da seguinte maneira: se dez
pessoas visitassem a França, duvido que todas passassem pela
mesma experiência. Três delas poderiam dizer que viram um
prédio muito alto. Cinco poderiam dizer que provaram uma
comida deliciosa, e dois deles poderiam dizer que navegaram por
um rio. Todas as pessoas ao voltarem da França teriam uma
história um pouco diferente, embora houvesse áreas similares.
Do mesmo modo, nas EQMs, embora traços similares sejam
reportados dentro de uma estrutura comum, não existem duas
experiências que sejam exatamente iguais.
Última História de Ninar
Algumas pessoas pensam que as EQMs são o mecanismo que a
mente tem para lidar com nossa pior realidade: a morte. A teoria é
que a severidade da situação leva a mente a se enganar colocando-
se numa situação melhor. Aqui está uma versão simplificada da
cadeia de eventos proposta:
♦Existem duas maneiras de reagir diante do perigo. Se você
puder fazer algo fisicamente para mudar a situação sair da frente
de um carro em alta velocidade, por exemplo — você faz isso. Se
não houver nada que você possa fazer para mudar a situação
digamos que você bata no carro - então a mente deve procurar
dentro de si mesma uma forma de lidar com o problema. Isso é
feito ao se dissociar da situação, em alguns casos indo ao extremo
de criar um mundo de fantasia.
♦Embora essa abordagem fantástica possa parecer uma maneira
passiva de enfrentar um problema como ser atingido por um carro,
isso só vem ajudar; como essa situação que ameaça a vida é
dolorosa e imobilizadora, você se encontra muito agoniado para
ser capaz de tomar atitudes físicas contra a dor.
♦Para conservar energia e manter o corpo funcionando, a mente
se deixa levar por uma fantasia confortável. Isso não apenas
permite que você volte sua atenção para outra coisa que não a dor
excruciante de ser atingido por um carro, mas também permite
que o corpo relaxe para que possa lidar melhor com seus
problemas internos.
♦Essa atitude vem acompanhada da própria habilidade do
cérebro em fabricar substâncias químicas. Quando em dor, ele
fabrica os assim chamados opiatos, ou endorfinas, que são trinta
vezes mais poderosos do que a morfina. Você já deve ter sentido os
efeitos relaxantes dessas substâncias após uma sessão de
exercícios vigorosos. Elas causam a gostosa sensação conhecida
como “êxtase do corredor ”. Mas ser atingido por um carro fez com
que o cérebro fabricasse uma quantidade da substância muito
maior do que o exercício físico de correr. E essa produção também
foi muito rápida.
A dissociação e a fantasia tomam-se mais intensas. Coisas
fegpauito estranhas começam a acontecer. Você pensa que deixou
seu corpo. Ou talvez se encontre voando por um túnel a
velocidades supersônicas em direção a uma luz brilhante. Talvez
veja avós falecidos ou antigos tios e tias. Um magnífico Ser de Luz
pode recepcioná-lo e levá-lo a uma revisão da vida. Talvez você
deseje ficar nesse “paraíso”. Mas o Ser de Luz diz que é hora de
retomar, Em poucos instantes você não sabe ao certo quanto você
sente como se estivesse sendo “sugado” de volta ao corpo.
♦Você retoma ao mundo real como uma pessoa transformada.
Essa experiência produzida por drogas cerebrais o transformou.
Agora você vê o mundo com um olhar diferente. Talvez pense que
esse episódio, que você descobre ser chamado de experiência de
quase-morte, é um vislumbre do além-vida. Contudo, alguns
pesquisadores acreditam simplesmente que você quase ouviu sua
última “história de ninar ”.
Essa é uma teoria muito bem estabelecida de várias formas. Mas
ainda não explica as EQMs. Para começo de conversa, não conheço
nenhuma pesquisa que relacione endorfinas com alucinações ou
qualquer outro tipo de fenômeno visual.
No entanto, sei que corredores de maratona e outros atletas de
resistência produzem uma quantidade extraordinária de
endorfinas enquanto estão treinando ou competindo. Eles
costumam se sentir quase eufórico após um esforço contínuo, o
que demonstra como esses neurotransmissores devem afetar uma
pessoa.
Mas não conheço nenhum caso em que atletas de resistência
tenham relatado aspectos da EQM, a menos que quase tenham
morrido durante o exercício.
Essa teoria também não explica as experiências fora do corpo
que discutimos neste livro, em que as pessoas descrevem com
exatidão objetos e eventos que viram enquanto estavam fora do
corpo.
Suponho que essa discussão encontre sua plausibilidade no fato
de que as endorfinas realmente criam um estado de paz e grande
êxtase. E não seria de se esperar menos, já que são o mecanismo do
corpo para lidar com a dor. Contudo, do ponto de vista lógico, o
argumento não pode ser levado adiante.
Realização do Desejo
As pessoas incapazes de enfrentar a aproximação rápida da
morte podem negá-la ao criar uma fantasia de que vão sobreviver.
Trata-se de uma forma de realização de um desejo. Apresenta uma
natureza defensiva porque finge nos defender da aniquilação final.
O argumento mais óbvio contra essa explicação de realização do
desejo é que as pessoas que passam pelas EQMs apresentam
basicamente as mesmas experiências. Se fosse apenas a realização
de um desejo, as pessoas provavelmente dariam preferência às
lembranças vívidas daquele delicioso piquenique no Dia do
Trabalho ou sonhos em que estão cercados por lindas mulheres,
em vez de vivenciar experiências de túnel e revisões de vida.
Os eventos associados com a quase-morte não poderiam ser
apenas a realização de um desejo comum. Se fossem, os relatos de
EQM seriam completamente diferentes, sem nenhum laço comum.
Outra dificuldade com essa explicação é que ela não se encaixa
nos fatos daquilo que acontece durante uma EQM. Uma defesa
psicológica como a realização de um desejo mantém sua situação
no mesmo estado, já que o estado da psique quer se manter
intacto.
Uma experiência de quase-morte é muito diferente, já que é uma
revelação. Em vez de manter as pessoas como são, a experiência as
obriga a enfrentar a vida de maneira que nunca fizeram antes.
Após as EQMs, as pessoas enfrentam a verdade pessoal de
maneira muito profunda, e isso as deixa felizes. Diferentemente da
realização do desejo conhecido como “sonhar acordado”, que
fornece um alívio temporário do mundo à nossa volta, a EQM é
uma plataforma para a mudança de uma vida toda.
Inconsciente Coletivo de Jung
O grande psicoterapeuta Cari Jung percebeu que muitos dos
mesmos mitos e crenças existem em culturas diferentes, embora
não estejam conectados uns com os outros. Por exemplo, a história
da criação é quase a mesma para os índios Papago e os antigos
gregos.
RAYMOND A. MOODY JR.
Jung chamou a teoria geral de “inconsciente coletivo” e os
exemplos individuais de “arquétipos”. Trata-se de reações
programadas de todos os seres humanos. Um exemplo simples de
arquétipo é a “mãe”. Pronunciar essa palavra em qualquer cultura
terá significados similares, uma universalidade básica.
Embora o próprio Jung tenha vivenciado uma experiência de
quasemorte, ele não relacionou as EQMs com o inconsciente
coletivo. Mas os acadêmicos jungianos relacionaram as EQMs com
os arquétipos porque a experiência é multicultural (vivenciada
pelas pessoas independente de sua raça), e contém essencialmente
os mesmos elementos para homens e mulheres de todas as idades.
A experiência arquetípica pode ser descrita assim: Uma pessoa
tem um sonho que contém elementos que não estão presentes em
sua experiência consciente, mas que são similares aos elementos
encontrados na mitologia ou nos rituais antigos. Esses elementos
sem explicação são os arquétipos.
Alguns acadêmicos jungianos acreditam que a morte e a quase-
morte fazem com que esse imaginário de arquétipos seja trazido
de um subconsciente profundo. Esse imaginário é basicamente
igual para toda a humanidade: experiências de túnel, Seres de Luz,
revisões de vida passada etc.
Trata-se de uma teoria difícil de refutar, especialmente por ser
apenas isso, uma teoria. E, assim, como as outras teorias
apresentadas aqui, tem seu fundo de verdade. No entanto, o
principal problema que encontro aqui é que a teoria não explica as
experiências fora do corpo. Até que isso seja feita, a teoria não se
encaixa.
Uma experiência de Luz
Durante anos venho tentando descobrir uma explicação
fisiológica para as EQMs. E durante anos saí de mãos vazias.
Simplesmente parece que todas as explicações propostas são
incompletas ou malformadas. Em sua maioria, as pessoas que
propuseram essas explicações são pessoas que nunca se deram ao
trabalho de conversar com pessoas que vivenciaram EQMs, nunca
olharam para elas nem ouviram suas histórias.
Se fizessem isso, talvez chegassem às mesmas conclusões do
filósofo William James ao descrever o misticismo.
Ele disse que não se trata de uma experiência intelectual. É uma
experiência que confirma a si mesma porque é, em si, uma forma
de conhecimento. É tão pessoal que não pode ser explicada, e
transforma a vida profundamente.
Trata-se, simplesmente, de uma experiência de luz. “O
Indescritivelmente Glorioso”
Durante mais de vinte anos venho trabalhando na pesquisa de
ponta de EQMs. No curso dos meus estudos, ouvi milhares de
pessoas contarem sobre suas viagens profundas para... o quê? O
mundo do além? O paraíso que aprenderam em suas religiões?
Uma região do cérebro que se revela apenas em momentos de
desespero?
Conversei com quase todos os pesquisadores de EQM do mundo
sobre o trabalho deles, sei que a maioria deles no fundo acredita
que as EQMs são um vislumbre da vida depois da vida. Mas como
cientistas e médicos, eles ainda não encontraram uma “prova
científica” de que uma parte de nós segue vivendo após nosso ser
físico ter morrido. Essa falta de provas os impede de tomar público
seu verdadeiro sentimento. Mas, enquanto isso, continuam
tentando responder de forma científica à questão desconcertante:
o que acontece quando morremos?
Não acredito que a ciência possa algum dia responder a essa
pergunta. Ela pode ser ponderada de quase todos os ângulos, mas
a resposta resultante nunca estará completa. Mesmo que a
experiência de quase-morte possa ser duplicada em laboratório, o
que aconteceria? A ciência apenas ouviria o relato de mais uma
viagem que não pôde ser vista.
Vários pesquisadores sugeriram formas de examinar as EQMs
mais perto do que nunca. Suas sugestões são interessantes por
aquilo que podem revelar, mas é improvável que sejam executadas
por razões de ética médica. Embora não haja problema em pensar
sobre algumas dessas técnicas, realmente aplicá-las pode violar a
privacidade e a segurança do paciente.
Quando um médico está trabalhando num paciente que está
prestes a morrer, é óbvio que o ponto mais importante não é
conduzir uma pesquisa científica, mas trazer a pessoa de volta à
vida.
Acredito que seria errado se nós, pesquisadores de EQM,
defendêssemos a pesquisa com seres humanos nesse momento
crítico da vida deles. Isso seria uma intrusão em um dos
momentos más particulares e insuperáveis da vida de uma pessoa.
Interferir de qualquer forma na tarefa crítica a ser realizada seria
moralmente repreensível. Ademais, pouco poderia ser pesquisado
para revelar mais sobre as EQMs do que a pesquisa detalhada e
exposta neste livro.
No entanto, existe um tipo de pesquisa que pode ser
interessante além de discreto. Um pesquisador sugeriu que
objetos que não se encontram comumente no pronto-socorro
talvez medalhões de formatos estranhos fossem colocados sobre a
barriga dos pacientes que estivessem sendo ressuscitados durante
uma parada cardíaca.
Assim, se realmente tivessem uma experiência fora do corpo,
eles poderiam identificar o objeto ao olhar para baixo a partir de
sua posição no teto.
Superficialmente, isso pode parecer uma boa ideia. Mas pense
melhor: você gostaria que um médico brincasse com medalhões de
formas estranhas enquanto deveria estar usando todos os seus
esforços para salvar sua vida? Eu acho que não.
Tal procedimento não apenas apresentaria os problemas éticos
já mencionados, como também apresentaria problemas legais de
segurança tanto para o médico realizando (ou tentando realizar) o
ressuscitamento, como para o hospital que permitisse a realização
de um experimento como esse.
Outra sugestão, uma que considero mais razoável, seria fixar
alguns pontos nas salas onde esses ressuscitamentos ocorrem, de
maneira que pudessem ser vistos apenas de um ponto de vista
próximo do teto. Assim, a pessoa poderia provar a experiência
extracorpórea ao descrever essas referências enquanto descreve
seu próprio ressuscitamento.
Referências que imagino funcionarem especialmente bem
seriam adesivos grandes e coloridos colocados em cima dos
lustres, de modo que seria impossível não vê-los caso a pessoa
estivesse flutuando acima deles.
*
Um método bastante peculiar de pesquisa envolvendo gorilas foi
sugerido em determinado momento. Mencionarei isso aqui apenas
porque ilustra a frustração que enfrentamos com a
impossibilidade de replicar a EQM num ambiente clínico.
Já se sabe que os gorilas podem aprender a linguagem de sinais;
eles seriam conduzidos à beira da morte num ambiente controlado
por médicos que então os ressuscitariam. Quando os primatas se
recuperassem, eles poderiam ser “questionados” sobre sua
experiência através da linguagem de sinais.
Sou contra essa ideia. Para começar, seria uma crueldade com os
animais. Além disso, haveria poucos ganhos. Ainda que uma EQM
possa acontecer num ambiente controlado ou na vida real, é
provável que a experiência seja a mesma. Algo como a experiência
do túnel ou a revisão tridimensional da vida não pode ser
testemunhado de maneira nenhuma por ninguém além do sujeito
em questão. Portanto, por que arriscar a vida do gorila numa
tentativa?
Acho que se trata de uma sugestão fanática e que mal merece
comentários. Apenas a exponho aqui porque é a única forma
concebível de realizar um estudo sobre a experiência de
quasemorte em animais.
Na ausência de prova científica consistente, as pessoas
frequentemente perguntam se eu acredito que as EQMs são uma
evidência da vida depois da vida. Minha resposta é “Sim.” f
Existem vários aspectos das EQMs que me trazem essa convicção.
Um dos aspectos é a experiência fora do corpo que pode ser
verificada como mencionei no capítulo anterior. Que maior prova é
necessária de que as pessoas sobrevivem à morte de seu corpo
físico do que os vários exemplos de indivíduos que o deixam e
presenciam as tentativas de salvá-lo? '
Embora essas experiências fora do corpo possam ser a razão
científica mais sólida para acreditar na vida após a morte, o mais
impressionante nas EQMs para mim é a enorme mudança na
personalidade das pessoas que passaram pela experiência. O fato
de que as EQMs transformam totalmente as pessoas que passaram
por isso mostra sua realidade e força.
Após vinte e dois anos observando a experiência de quasemorte,
acho que não existe prova científica suficiente para concluir que
existe vida após a morte. Mas aqui estou falando de prova
científica.
As questões do coração são diferentes. O coração está aberto
para julgamentos que não exigem uma visão estritamente
científica do mundo. Mas, com pesquisadores como eu, isso exige
uma análise mais instruída.
Baseado em tais exames, estou convencido de que as pessoas que
passam por EQMs realmente vislumbram o além, passam
brevemente para outra realidade.
O psicoterapeuta C. G. Jung resumiu meu sentimento em
relação à vida depois da vida numa carta que escreveu em 1944.
Essa carta é especialmente significativa porque o próprio Jung
vivenciou uma EQM durante um ataque cardíaco que sofreu
poucos meses antes de escrever isto:
O que acontece após a morte é tão indescritivelmente glorioso que
nossa imaginação e nossos sentimentos não . . são suficientes para
formar até mesmo uma concepção aproximada disso...
Mais cedo ou mais tarde, todos os mortos se tomam o que também
somos. Mas, nessa realidade, sabemos pouco ou nada sobre tal modo de
existência. E o que ainda saberemos desta Terra após a morte? A
dissolução de nossa ... forma vinculada ao tempo na eternidade não traz
qualquer perda de sentido. Em vez disso, o dedo mindinho toma
conhecimento de que faz parte da mão.
Bibliografia
Além dos trabalhos citados em todo o livro, a seguinte pesquisa
ajudou a formar meu conhecimento e opinião sobre o assunto da
experiência de quase-morte.
Raft, David e Andersen, Jeffry, Transformations in Self-
Understanding
After Near-Death Experiences (Transformações no Auto
Entendimento Após Experiências de Quase-Morte), Contemporary
Psychoamlysis, julho de 1986, v. ,22, p. 319-346.
Sentimentos e pensamentos associados com experiências de
quase-morte são revisados e os casos de dois pacientes que
apresentaram um tipo especial de autocompreensão após uma
EQM são usados como exemplos. Esses indivíduos mostraram um
interesse aguçado em saber mais sobre si mesmos, ficaram
extremamente sensíveis a estímulos sensoriais e buscaram criar
experiências com a qualidade de devaneios. Os dois apresentaram
uma recuperação de lembranças, uma consciência de pensamentos
e sentimentos anteriormente não reconhecidos nos outros e uma
dor pelas perdas. Outro caso, de um homem que vivenciou uma
sensação de completo autoconhecimento e atividades elevadas
após uma parada cardíaca, também é apresentado. As revelações
que podem potencialmente ocorrer durante a EQM também são
discutidas . ;
Gabbard, Glen e Twemlow, Stuart, An OverView of Altered
MindJBody Perception (Uma Visão Geral da Percepção Alterada
entre Mente/Gorpo), Bulletin ofthe Menninger Clinic, julho de 1986,
v. 50, p351-366.
Resumo: Descreve as várias formas de percepção alterada da
mente-corpo, como as experiências extracorpóreas,
despersonalização, autoscopia, distúrbios esquizofrênicos do
limite corporal e experiências de quasemorte. Juntas, essas
experiências formam uma gama contínua desde experiências
integradoras que transformam a vida até distúrbios altamente
patológicos. São discutidas considerações de tratamento, e é
enfatizado que esses estados são distinguíveis e exigem
intervenções diferentes.
Kirshna, V., Near-Death Experiences: Evidence for Survival?
(Experiências de Quase-Morte: Evidência de Sobrevivência?),
Anabiosis, primavera de 1986, v. 5, II21-38.
O autor discute que as experiências fora do corpo e outros
elementos das experiências de quase-morte, junto com o efeito
agradável que as seguem, não são evidências conclusivas da
sobrevivência após a morte.
Becker, Cari, View from Tibet: NDEs and the Book ofthe Dead (Visão
do Tibet: EQMs e o Livro dos Mortos), Anabiosis, primavera de
1985, v. 5, p. 3-20.
O autor apresenta uma perspectiva tibetana sobre as
experiências de quasemorte e a vida após a morte ao discutir as
crenças da religião Bon e do Budismo Vajrayana e as teorias
derivadas do Livro Tibetano dos Mortos. São apontadas
similaridades com os relatos modernos de EQM, incluindo
experiências fora do corpo, revisão da vida e julgamento Bauer,
Martin, Near-Death Experiences and Attitude Change (Experiências
de Quase-Morte e Mudança de Atitude), Anabiosis, primavera de
1985, v. 5, p. 39-47.
A associação entre experiências de quase-morte e as
subsequentes mudanças de atitude é explorada ao administrar um
questionário de atitude de vida para avaliar sete categorias de
atitudes em um grupo de vinte mulheres e oito homens entre
trinta e cinco e setenta e cinco anos que vivenciaram uma EQM. O
questionário foi desenvolvido para determinar se o indivíduo está
vivendo como deseja ou se lhe falta sentido na vida, e também a
força da crença do indivíduo numa existência significativa.
Rodabough, Tillman, Near-Death Experiences: An Examination
ofthe Supporting Data and Altemative Explanations (Experiências de
QuaseMorte: Um Exame dos Dados de Apoio e Explicações
Alternativas), Death Studies, 1985, v. 9, p. 95-113.
Este artigo resume um modelo de A Vida Depois da Vida, de R. A.
Moody, com uma breve listagem de suas partes componentes.
Explicações para experiências de quase-morte similares são
organizadas em três categorias; metafísica, fisiológica e
psicossocial. Isso conclui que as pessoas que acreditam na vida
após a morte não encontraram contradição nem apoio nos estudos
de EQMs.
Pasricha, Satwant, e Stevenson, Ian, Near-Death Experiences in
India: A
Preliminary Report (Experiências de Quase-Morte na índia: Um
Relatório Preliminar), Journal of Nervous and Mental Disease, março
de 1986, v. 175, p. 165-170.
Os autores relatam características clínicas de dezesseis casos de
experiências de quase-morte investigados na índia. Após breves
descrições clínicas de quatro experiências, os autores descrevem e
discutem características em que os casos indianos diferem de uma
mostra maior de casos americanos. Essas características
tipicamente incluem a percepção de ser levado a um mensageiro,
que, após consultar uma lista, determina que houve um erro e que
o doente não está pronto para morrer. Sugere-se que, enquanto
algumas características parecem refletir a influência das crenças
vinculadas à cultura, essas representações culturais podem refletir
diferenças reais na manifestação do conceito de vida após a morte
nas diferentes culturas.
Greyson, Brace, A Typology of Near-Death Experiences (Uma
Tipologia das Experiências de Quase-Morte), American Journal of
Psychiatry, agosto de 1985, v. 142, p. 967-969.
O autor administra a Escala de Experiência de Quase-Morte com
89 indivíduos que passaram pela experiência. A escala quantifica
os componentes cognitivos, afetivos, paranormais e
transcendentais da EQM. A análise revelou três grandes grupos:
EQMs transcendentais, afetivas e cognitivas. Os indivíduos que
relatam esses três tipos de EQMs não diferem significativamente
em variáveis demográficas nem na Escala de Desejabilidade Social
Marlowe-Crowne. O tipo de EQM não estava significativamente
relacionado com a causa específica dá EQM. Contudo, as EQMs
que ocorreram de forma repentina e inesperada raramente foram
associadas a experiências cognitvas, mas frequentemente com
experiências transcendentais e afetivas. Os resultados não apoiam
a hipótese de K. Ring de que as EQMs são essencialmente
invariáveis de caso a caso e sugerem que a condição psicológica
pode influenciar o tipo de experiência.
Straight, Steve, A Wave Among Waves: Katherine Anne Porter’s
NearDeath Experience (Uma Onda Entre Ondas: A Experiência de
QuaseMorte de Katherine Anne Porter), Anabiosis, outono de 1984,
v. 4, p. 107-123.
Esse trabalho argumenta que a visão principal da história de
1938, de Katherine Anne Porter, “Pale Horse, Pale Rider ”, baseada
em sua quasemorte por causa de uma epidemia de influenza em
1918, é uma profunda experiência de quase-morte do tipo descrito
pela primeira vez por Raymond Moody. As fontes bibliográficas e
as entrevistas com Porter são usadas para demonstrar a visão da
história e os efeitos físicos e psicológicos que a experiência teve
sobre ela. A visão do paraíso na história é analisada como uma
EQM. Dois estudos críticos da história são brevemente discutidos.
Rogo, Scott, NDEs and Archetypes: Reply (EQMs e Arquétipos:
Resposta), Anabiosis, outono de 1984, v. 4, p. 180.
Esse artigo responde aos comentários de Michael Grosso que diz
que Scott Rogo, em seu trabalho sobre experiências de quase-
morte em pacientes anestesiados por quetamina, não prestou
atenção suficiente à teoria de Grosso sobre os arquétipos nas
EQMs. Rogo classifica sua posição em relação à teoria dos
arquétipos como sendo uma “não teoria” e argumenta que os prós
e os contras listados para cada uma das três teorias de EQM por
quetamina , foram apresentados a partir de um ponto de vista
objetivo, e não pessoal. Embora Rogo seja favorável à ideia dos
arquétipos, nenhuma evidência concreta fie que eles existem pôde
ser vista ém uma pesquisa objetiva.
Grosso, Michael, NDEs and Archetypes (EQMs e Arquétipos),
Anabiosis, outono de 1984, v., p. 178-1179.
Grosso oferece uma interpretação da experiência de quase-morte
que usa o conceito de arquétipos. S. Rogo refutou essa teoria como
uma “não teoria” já que explica 0 desconhecido com outros
conceitos desconhecidos. Grosso afirma que Rogo descartou essa
teoria com muita pressa, especialmente em virtude do fato de que
o próprio Rogo usou a teoria dos arquétipos para explicar
experiências incomuns de aparições.
Siegel, Ronald, e Hirschman, Ada. Hashish Near-Death
Experiences (Experiências de Quase-Morte por Haxixe), Anabiosis,
primavera de 1984, v. 4, p. 69-86.
Esse artigo revisa a literatura histórica das experiências de
quasemorte induzidas por haxixe. Boa parte da pesquisa endossou
a visão do psiquiatra francês, Jacques Joseph Moreau, de que essas
experiências eram alucinações; outros acreditaram que as EQMs
induzidas por haxixe revelavam uma realidade subjacente como a
descrita nos trabalhos de Emanuel Swedenborg. A maioria dos
relatos dessas experiências, que resultam de uma alta dosagem da
droga, continham elementos e sequências das EQMs não
induzidas por drogas.
[1]
Para melhor entendimento do prezado leitor, alguns títulos de livros citados em
inglês nesta obra foram traduzidos de forma livre para a língua portuguesa (entre
parênteses), podendo não corresponder a eventuais publicações em nosso idioma (Nota
do Editor). .
[2]
MOODY JR., Raymond A. A Vida Depois da Vida. São Paulo: Butterfly, 2004.
(N.E.)
[3]
IANDS: International Association for Near-Death Studies (Nota da Tradutora).
[4]
HERZOG, “Near-Death Experiences in the Very Young”, Critical Care
Medicine, v. 13, n. 12, p. 1.074 (Nota do Autor).
[5]
MORSE, A Near-Death Experience in a Seven Year-Old Child, The American
Journal of the Disabled Child (A Experiência de Quase-Morte numa Criança de Sete
Anos, Jornal Americano da Criaiiça Portadora de Deficiência), v. 137, p. 939-961
(N.A.).
[6]
Cardioversão: técnica em que se aplica um choque elétrico no tórax para
reverter uma anormalidade dos batimentos cardíacos (N.T.)
[7]
Epístola de Paulo aos Coríntios; Vide capítulo 15, de onde foram transcritos p§
seguintes versículos: 35 a 38; 40; 42 a 44; 51 e 52 (N.E.).
[8]
Scrooge: em inglês, significa uma pessoa mesquinha, avarenta que quer todo
Seu dinheiro somente para ela mesma (N.T.),
[9]
9 Gregório, o Grande: Nomeado Núncio Apostólico em 578. Em 590, é
consagrado o sucessor do Papa Pelágio 2a. Escritor notável, é autor de Liber Regulae
Pastoralis, Diálogos e Magna Moralis. Considerado o criador do Canto Gregoriano. Sua
obra é referenciada na atualidade: trechos de Diálogos são destacados para apoiar o
contexto de ideias e pensamentos (N.E.)
[10]
ACM: Associação Cristã de Moços (N.E.).
Índice
A Luz que em do Além 2
RAYMOND A. MOODY JR. 3
Tradução livre 6
A LUZ QUE VEM DO ALÉM 7
Prefácio 8
1 A experiência de quase morrer 11
Quem, Quantos e Por Quê 14
Os Sintomas da EQM 16
Sensação de Estar Morto 17
Paz e Ausência de Dor 19
A Experiência de Sentir-se fora do Corpo I 20
À Experiência do Túnel 21
Pessoas de Luz 22
O Ser de Luz 23
A Revisão da Vida 24
Ascensão Rápida ao Céu 25
Relutância em Voltar 26
Tempo e Espaço Diferentes 28
Um Pouco da Pesquisa: Quanto, Quantos? 30
A Visão do Futuro 36
Sem Medo da Morte 43
Percebendo a Importância do Amor 45
Uma Sensação de Conexão com Todas as Coisas 46
O Gosto pela Aprendizagem 47
Uma Nova Sensação de Controle 49
Uma Sensação de Urgência 51
O Lado Espiritual Mais Desenvolvido 52
Reentrando no Mundo “Real” 53
3 As crianças e as eqms: encontrando o anjo da guarda 58
Minha Primeira Criança com EQM 59
“A Luz Era Muito Brilhante” 61
As Conclusões de Outros Pesquisadores 66
Mais de Morse 69
Eu me Vi como um Adulto 72
Conclusão 74
4 Por que experiências de quasemorte nos intrigam 75
Pessoas com EQMs Estão Realmente Mortas? 78
Como as Pessoas com EQMs Consideram seu Corpo? 80
As EQMs como Confirmação Religiosa 83
EQM na Literatura 86
Explicando EQMs de Combate 88
Esperança para Aqueles Acometidos pelo Sofrimento 91
Os Efeitos das EQMs nos Suicidas 92
A Ciência se Alteraria com a Prova das EQMs? 94
As EQMs nos Intrigam Porque Estão na “Moda”? 96
Conclusão 99
5 Por que a eqm não é uma doença mental 100
Psicose Relacionada à Esquizofrenia 104
Esquizofrênico 106
Quem Passa por uma EQM 108
Desordens Mentais Orgânicas 111
“Entre Você e Deus” 115
6 Pesquisadores da experiência de quase-morte 116
Doutor Melvin Morse 118
Doutor Michael Sabom 124
Michael Grosso 129
Doutor Kenneth Ring 136
Bobert Sullivan 141
7 Explicações 145
Carl Sagan: Nascimento como a Experiência do Túnel 149
Sobrecarga de Dióxido de Carbono e a Experiência do Túnel 152
Essas Pessoas Precisam Estar Perto da Morte? 153
EQM como Alucinação 154
A Religião Não é Necessária 156
Por Que Todas as EQMs Não São Iguais 158

Última História de Ninar 160


Realização do Desejo 162
Inconsciente Coletivo de Jung 163
Uma experiência de Luz 164
Bibliografia 168

Você também pode gostar