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Nova Hipótese Sobre Esse Mundo

Um Ensaio para a Liberdade


Renato Rock
Capítulo Único

Diante dos modelos díspares que nos são apresentados como o mundo
onde vivemos, não há motivos suficientes para aceitar nenhum, pois não
podemos verificar objetivamente a veracidade deles, apenas escolher algum
para acreditar. Imagens oficiais de agências espaciais e explicações
acadêmicas conquistam pessoas com tendências seculares, enquanto
pictogramas da história antiga e descrições em livros religiosos seduzem os
devotos. No final, nenhuma tentativa de explicação fornece provas irrefutáveis
que fossam ser facilmente confirmadas por todas as pessoas.

No entanto, nesse ensaio o que mais importa sobre esse lugar é que
estamos em um sistema fechado, sem contato com outros mundos. Um fato
que iguala desde a teoria da Terra plana até o globo oficial.

Similarmente, não há nenhuma tangibilidade atestando que há vida


depois da morte. Caso houvesse, não existiriam multidões de ateus no mundo.
Há numerosas crenças, inclusive o ateísmo afirmando que deus não existe,
mas sem demonstrar nada concreto, apenas argumentos. Os únicos
congruentes nesse sentido são os agnósticos, pois utilizam a lógica e não
professam nenhuma crendice.

A verdade é que ninguém sabe o mínimo sobre os fundamentos


existenciais. Todos vivemos nossas vidas sem saber de fato de onde viemos e
porque estamos nesse mundo. Alguns indivíduos afirmam que têm as respostas
e muitas pessoas têm fé em alguém que supostamente sabia, mas morreu e
um dia voltará para contar tudo de novo. Entretanto, a falta de provas
permanece e devemos utilizar a lógica básica e o método socrático para tentar
chegar a alguma hipótese minimamente coerente.

Não é possível que as mais de 50.000 religiões ativas no mundo estejam


corretas, pois são divergentes. Se não fossem, haveria apenas uma religião.
Nesse contexto, é possível que todas estejam erradas, inclusive o ateísmo com
suas crenças contrárias à qualquer conceito relativo à espiritualidade.

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Continuando com a falta de provas, em uma linha investigativa sobre
essas questões, o máximo que podemos contar são relatos de pessoas que
tiveram experiências de quase morte. Longe de serem materiais suficientes
para concluir nosso inquérito, são fenômenos que merecem ser discutidos.

O próprio termo indica que as pessoas que passaram por essas situações
não morreram e voltaram para contar o que viram. Elas apenas estavam
clinicamente mortas por meros segundos ou minutos, segundo o que os
instrumentos e saberes médicos atuais conseguem constatar. Conforme a
ciência avança, talvez descubra que o processo de morte leva horas após a
parada cardíaca e até mesmo da atividade cerebral, concluindo que as
experiências de quase morte são apenas decorrentes de um fluxo de
substâncias químicas, majoritariamente a dimetiltriptamina, comumente
chamada de DMT, causando alucinações vívidas nos pacientes. Por outro
lado, se eles acessaram o mundo espiritual, não trazem provas consigo,
apenas relatos com muitas discrepâncias entre eles.

Muitas pessoas que foram declaradas mortas e voltaram para contar


suas histórias dizem ter tido experiências religiosas, conforme as
respectivas culturas nas quais estão inseridas. Em maior número estão os
pacientes que não viram nada, afirmando que foi como se estivessem
dormindo. Mas, para os propósitos desse ensaio, o primeiro grupo é o
mais interessante.

Após ouvir diversas declarações, é possível estabelecer alguns


pontos mais comuns. Os mais destacados são o notório túnel de luz, a
sensação anestésica de amor incondicional nunca antes experimentado e
a presença de figuras religiosas, guias espirituais ou parentes falecidos
direcionando ao túnel de luz ou dizendo que ainda não era o momento
para o desenlace. Muitos também viram cenas de suas vidas passando
como se fosse um filme e alguns tiveram experiências aterrorizantes.

Lembre-se que essas pessoas foram declaradas mortas por somente


alguns segundos ou minutos, mas relatam experiências de horas, como se
o tempo fosse dilatado, exatamente como o DMT age no cérebro.

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Devido à intensidade das experiências sofridas pelos pacientes, há
uma carga emocional associada às suas comunicações. Sem invalidar
suas descrições sobre o suposto mundo espiritual, é válido questionar a
personalização do que aconteceu com essas pessoas.

Caso a vida em corpo etéreo após a morte do físico seja conforme as


experiências e crenças das pessoas enquanto encarnadas, seria uma
extensão desse sistema fechado com diferentes compartimentos para
cada grupo de pessoas, similar aos países e nações onde vivemos.

Nesse contexto, convém analisar alguns materiais que tratam esse


mundo como uma prisão criada por seres predadores. Os primeiros a
serem expostos publicamente, foram os escritos gnósticos em 1947,
supostamente encontrados em Nag Hammadi, Egito, datados de quase
dois mil anos atrás. É curioso que esses textos cristãos e os do Mar Morto
tenham sido descobertos em tão curto espaço de tempo entre eles,
justamente quando o orientalismo estava em voga no mundo ocidental
com todo seu misticismo oferecendo uma alternativa à teologia judaico-
cristã, portanto, é lícito duvidar da autenticidade desses textos.

De qualquer forma, eles foram levados muito a sério por pessoas


que se declararam neo-gnósticas e outras que basearam estudos em seus
conteúdos para descrever o mundo espiritual.

Resumindo o gnosticismo, esse mundo teria sido criado pelo


demiurgo, comandante das legiões dos arcontes, seres parasitas que
escravizam os humanos. Em uma nova roupagem, o escritor e acadêmico
Carlos Castañeda produziu uma série de livros cerca de uma década após
os textos gnósticos serem traduzidos do copta arcaico. Em O Lado Ativo
do Infinito, Castañeda postula que seres predadores vieram do Cosmos
para alimentarem-se de energia humana. Igualmente, Robert Monroe,
alguns anos após Castañeda, lançou o livro Viagens Distantes, no qual
descreve suas experiências em projeção astral, encontrando seres
parasitas que se nutrem das emoções humanas, o que ele cunhou como
Loosh.

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Mais uma vez, estamos no campo das declarações sem provas. Até
mesmo experientes viajantes astrais podem estar enganados, induzidos
por alucinações ou manipulações, e alguns podem estar simplesmente
mentindo. Por outro lado, a visão remota é algo comprovável por qualquer
pessoa que se disponha a praticá-la, podendo observar eventos próximos
ou distantes enquanto o corpo físico encontra-se imóvel em um local
fechado. No entanto, esse tipo de visão é verificável apenas com objetos
físicos como, por exemplo, ver e ouvir uma conversa em tempo real entre
pessoas localizadas em uma sala, enquanto o praticante de visão remota
está em outra sala isolada.

Quando extrapola-se para visões etéreas, fora da pequena banda de


frequência a qual os seres humanos normalmente acessam, assemelham-
se às experiências psicodélicas causadas por substâncias alucinógenas, e
não é possível confirmar qualquer relato tanto daqueles que ingerem
enteógenos como das visões remotas que descrevem outros mundos e
seres. Mesmo que sejam parcialmente reais, podem estar acompanhadas
de enganos, equívocos e manipulações. Especulando que haja 90% de
verdade em tais descrições do mundo espiritual, os 10% restantes são
suficientes para desencaminhar qualquer investigação.

A mente humana é algo ainda pouco explorado pela incipiente


neurociência. Há mais desenvolvimentos para afetar a mente das pessoas
do que para explicar o que é a consciência. Contudo, devemos suspender
o ceticismo exagerado para prosseguir com as considerações sobre os
relatos disponíveis, utilizando apenas doses saudáveis de dúvidas para
tentar entender esse tema.

Voltemos ao princípio, Sabemos apenas que esse mundo é um


sistema fechado. Somemos, com menores valores, a possibilidade dele ter
sido criado dessa forma e que o processo reencarnatório evidencia que ele
foi projetado para aprisionar corpos e almas.

Até aqui, não há nenhuma novidade no âmbito das afirmações de que


estamos em uma armadilha para corpos e almas, servindo de alimento para
seres parasitas. E é nesse ponto que esse ensaio apresenta uma nova hipótese
sobre o porque estamos nesse sistema.

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Essa visão de que somos vítimas inocentes subjugadas por seres
malévolos é muito similar às religiões que atribuem nossas ações erradas à
influência de um suposto diabo e seus demônios. Na psicanálise, temos o ego,
aquela voz interior que acreditamos ser nós mesmos, mas que está apenas
disfarçada com o que entendemos como nossa identidade, culpando os outros
por todos os nossos problemas e até mesmo o diabo inexistente ou qualquer
inimigo exterior imaginário. Após Castañeda, o ego se tornou a mente dos
parasitas, nos emprestando a própria mente deles para nos manipular enquanto
pensamos ser a nossa. São versão diferentes significando que padecemos
injustamente sob a tirania do mal.

Como não temos certeza de nada disso, é válido formular uma explicação
alternativa baseada nas experiências cotidianas que todos nós passamos.
Verifique ao seu redor e dentro de si os pequenos ou grandes atos de opressão
que são considerados normais na sociedade. Os seres humanos parecem ter
horror ao livre-arbítrio para ou outros, enquanto o exigem para si mesmos. Em
toda família há pequenos tiranetes comprovando esse fato, assim como a mais
libertária das pessoas ocasionalmente também apresenta esse comportamento.

A frase “o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente”,


escrita por Lord Acton em uma carta endereçada ao bispo Mandell Greighton
em 1887, sintetiza realisticamente a conduta geral dos seres humanos
investidos com qualquer tipo de autoridade. Na mesma linha, Abraham Lincon,
enquanto era presidente dos Estados Unidos, disse, “dê poder a um homem e
você conhecerá o verdadeiro caráter dele”. Algo fácil de verificar desde pais
oprimindo seus filhos, a relação autoritária de professores com alunos, porteiros
barrando visitantes que julgam serem inadequados, policiais tratando cidadãos
comuns como objetos e governantes impondo suas loucuras nas populações,
somente para citar alguns exemplos mais comuns.

Seguindo o costumeiro hábito de culpar um inimigo externo, pode-se


argumentar que estaríamos apenas refletindo o comportamento dos nossos
predadores. Se esse pensamento estiver correto, precisa ser congruente com o
fato de que não pedimos permissão de ninguém para oprimirmos, censurarmos
ou cometermos qualquer tipo de maldade.

Nunca se ouve dizer de um predador que peça permissão para sua presa
permanecer capturada. Algumas linhas da Nova Era que aderem à hipótese
mais comum de estarmos em uma armadilha para almas, postulam que os
parasitas agem assim de acordo com uma suposta lei universal do livre-arbítrio.

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Nesse caso, deve haver uma força policial intergalática que não faz seu
trabalho direito, pois permitem que seres inocentes sejam sequestrados
mediante enganos para serem escravizados e consumidos indefinidamente em
um sistema fechado. Incongruentemente, essa força superior impõe respeito
suficiente para que os predadores sejam obrigados a contar com a permissão
das presas para que continuem sendo manipuladas. Não faz nenhum sentido.

Alguns ainda tentam conciliar o livre-arbítrio com o determinismo, como


quem tenta misturar água e óleo. Utilizam malabarismos mentais para tentar
justificar o sistema, mas estão em desacordo com a lógica.

Por enquanto, deixemos o determinismo de lado, pois admiti-lo significaria


que nada do que possamos fazer teria qualquer efeito prático, pois o futuro
estaria escrito definitivamente.

Considerando a opção do livre-arbítrio, em um universo onde ele é a lei, o


crime mais grave seria transgredi-lo. Seres sencientes teriam chances para
cercear a liberdade de outros, mas estariam cometendo um ato bárbaro,
passível de punições por seres mais avançados, que evoluíram continuamente
por eras.

Se há um ser ou conjunto de seres mais antigos e poderosos no universo,


incluindo todas as dimensões, está longe de ser um deus ou deuses absolutos.
A fonte de toda a existência não tem vontades ou necessidades, ela é inefável e
tentar explicá-la é uma aberração intelectual. Seria necessário ser absoluto
para compreender a fonte, e qualquer existência provinda dela é e sempre será
apenas uma parte da criação, uma criatura.

Aprisionar almas para servirem de alimento em criadouros não parece ser


uma ação de seres altamente evoluídos. Assemelha-se ao comportamento
humano diante de animais. Portanto, seres vistos como parasitas podem ser
humanos de antigas civilizações avançadas tecnologicamente e hierarquizadas
ao ponto de um grupo determinar o fechamento desse mundo, isolando-o do
Cosmos para escravizar novas civilizações sendo ciclicamente formadas para
extrair recursos energéticos e biológicos. As figuras horrendas relatadas como
reptilianas antropomorfizadas seriam disfarces e projeções holográficas para
impressionar e assustar os incautos.

Uma das características humanas igualada aos predadores é a


parasitação. Não somente exploramos outras pessoas e vivemos em uma

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época em que o trabalho análogo à escravidão é mais numeroso do que
quando ela era legalizada, mas vampirizamos uns aos outros inconsciente e
constantemente. O psicólogo e novelista norte-americano James Redfield
publicou o best-seller A Profecia Celestina em 1993, um romance cativante para
explicar algo muito importante acerca das relações humanas. O drama de
controle, a disputa pela energia, é aprendida desde tenra infância para dominar
três tipos de estratégia que roubam energia dos outros. O intimidador exaure
seus alvos com sua agressividade, o interrogador faz o mesmo criticando as
pessoas, o distante deixando os outros preocupados e o coitadinho de mim
fazendo com que sintam pena. Cada pessoa tem uma dessas características
como dominante, mas também utilizam as outras três conforme sentem
necessidade.

De fato, quando fazemos qualquer ato para chamar atenção, estamos em


busca de energia. Inclusive à distância, ao publicarmos uma foto estamos
consciente ou inconscientemente querendo que o maior número possível de
pessoas canalizem suas energias em nossa direção para nos sentirmos mais
fortes. Não significa que seja vampirização se identificar em uma rede social,
por exemplo. Ao fazer de forma consistente ou exuberante denota roubo de
energia. Esses comportamentos parasíticos são análogos aos predadores,
embora eles possam ser antigos seres humanos desencarnados. De qualquer
forma, essa possibilidade ainda não desvia da corrente que afirma estarmos
aprisionados, é apenas uma variação.

O cerne da nova hipótese começa agora. Estamos presos por termos


violado o livre-arbítrio de outros. Fizemos isso de forma tão grave e abrangente
que fomos colocados em uma prisão eletromagnética a qual não podemos sair
nem depois de mortos, tendo que reencarnar indefinidas vezes em curtas vidas
que não nos permitem adquirir conhecimentos suficientes para entender o
funcionamento desse mundo ao ponto de poder escapar, assim como as
civilizações precisam ser reiniciadas para não acumularem saberes que
possibilitariam uma tentativa de fuga em massa.

Cada ato opressor que cometemos, cada crença em um ser superior que
domina o universo e todas as nossas ações déspotas ou passivas diante da
tirania são o que realmente nos mantêm prisioneiros.

Pode parecer uma posição do proverbial advogado do diabo, mas é


apenas assumir a responsabilidade pelas próprias ações.

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Outras hipóteses não podem ser descartadas enquanto nenhuma evolui
para, pelo menos, uma teoria bem fundamentada que posteriormente possa ser
uma lei irrefutável. No entanto, essa novidade é tão válida quanto todas as
tentativas de explicar porque estamos aprisionados nesse mundo.

A mudança drástica que ela implica é que, ao invés de tentarmos escapar


da prisão, precisamos nos corrigir como seres opressores, um trabalho interno
que anule qualquer traço de interferência na liberdade alheia e exige a nossa
própria sem prejuízos para terceiros.

Outra característica imediatamente evidenciada ao especular essa


posição é o empoderamento que nos traz. Ao contrário de nos colocarmos em
uma posição de vítimas desamparadas ou dependentes de salvação, nos
obriga a assumirmos um papel central em nossa própria libertação. Aliás, ter fé
em um suposto salvador que traz a remissão dos pecados se acreditarmos
nele, independente das nossas ações, seria clamar por um ser poderoso que
atue reprimindo o livre-arbítrio daqueles que nos aprisionaram, algo que reforça
o ímpeto déspota, apesar da aparência de justiça. Em nome dela e da fé mutos
crimes foram legalmente perpetrados ao longo da história e ainda são
diuturnamente cometidos, inclusive pelos sistemas religiosos, governamentais e
jurídicos em todos os países.

A história das guerras e os múltiplos conflitos contemporâneos atestam a


tendência violenta dos seres humanos. Atualmente exitem 185 conflagrações
armadas no mundo, apesar de apenas algumas serem publicadas
constantemente nas mídias, tanto as grandes como as alternativas.

Outro sintoma indicando que podemos ser os culpados por estarmos


presos é o egoísmo generalizado na sociedade. Não apenas o consumismo
desenfreado de grande parte das pessoas, mas também a passividade
daquelas que são pacíficas, vivem frugalmente, mas querem ser deixadas em
paz e não se esforçam para que outras pessoas vivam em paz também.

Ao sabermos que estamos em uma prisão, seja por nossa culpa ou não,
tentar escapar sozinho não condiz com o ideal libertário. Muitos apontam todos
os dedos que têm para a elite mundial, os mestres e controladores da
humanidade, sem perceber que esses são os mais aprisionados. Na hipótese
de termos sido capturados por predadores, a elite é a classe mais apegada a
esse mundo e nem pensa em abrir mão do que possui. E se estamos
encarcerados por termos cometido o crime hediondo de limitar o livre-arbítrio de

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outros, a elite que supostamente domina esse mundo, sendo a classe
opressora da sociedade, está perpetuando sua estada no cárcere, ou seja, os
libertários deveriam ter compaixão pelos controladores, principalmente quando
eles não têm, e torcer para que mudem de pensamento algum dia.

Entrando em um pensamento circular, assim como existe a possibilidade


de sermos culpados por estarmos presos, tendo violado a liberdade de outros
seres sencientes, podemos ser vítimas de seres que assim estão agindo, o que
retornaria à hipótese mais divulgada desde o gnosticismo até o presente,
apontando para inimigos externos. Entretanto, se antiguidade e número de
adeptos fossem critérios para validar alguma hipótese, as grandes religiões
estariam em vantagem disparada na disputa pela verdade sobre o que é esse
mundo, como ele funciona e até mesmo porque e quando ele foi criado. Em
seguida, viria a ciência e suas explicações contrárias às religiões. Porém, pela
mobilidade de suas teorias, natureza da própria ciência, não agem com tanta
força no imaginário popular e, de fato, não providenciam provas cabais que
qualquer pessoa possa verificar sobre as questões hora tratadas. A maioria
quer respostas simples para perguntas complexas, motivo pelo qual há tantas
pessoas religiosas, espiritualistas, místicas e afins.

Algo que a ciência atual vem se alinhando com o gnosticismo e algumas


religiões orientais, principalmente o hinduísmo, o jainismo e o budismo, é o
argumento da simulação, popularizado em filmes e séries, mas também
divulgado em artigos científicos baseados em experimentos como, por exemplo,
o da dupla fenda, replicado por pesquisadores e estudantes em diversos
laboratórios de física no mundo, demonstrando que a luz se comporta como
partícula ou onda dependendo se está sendo observada.

No campo da matemática, os estudos mais avançados em supersimetria,


relacionado à teoria das cordas, foram realizados pelo professor William Gates,
norte-americano que descobriu códigos de autocorreção de erros, como os que
funcionam nos navegadores da Web, inserido nas equações que descrevem o
universo. Poucas pessoas no mundo entendem essas equações, mas outros
matemáticos, principalmente os especialistas em geometria, podem suspeitar
que esse mundo é simulado analisando o conjunto de Mandelbrot.

Os leigos nas ciências físicas e matemáticas podem verificar a simulação


por si mesmos, caso sejam afetados pelo Efeito Mandela, termo cunhado
recentemente sobre um fenômeno que existe há muito tempo, demonstrando
que essa realidade é eventualmente modificada em alguns detalhes. Por algum

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motivo, os acontecimentos mais debatidos são da cultura popular norte-
americana, como frases de filmes, palavras em letras de músicas, literatura
infantil, personagens de desenhos animados, logomarcas de produtos
populares e outros fatores sendo modificados, mas sendo historicamente como
se sempre tivessem sido da forma como são hoje. Invariavelmente, as novas
versões são piores do que aquelas que as pessoas lembram, como se essa
simulação estivesse degenerando. Em português, temos a troca de Exército da
Salvação para Exército de Salvação e muitos exemplos bíblicos como a ovelha
se deitando com o lobo em vez de com o leão no livro de Isaías e a famosa
oração do pai-nosso que agora termina pedindo para que deus não nos
conduza à tentação ao invés de não nos deixeis cair em tentação, no livro de
Mateus, dentre dezenas de exemplos apenas na bíblia.

Na filosofia contemporânea, Nick Bostrom, especialista em filosofia da


tecnologia e filosofia da mente, é reconhecido pelo seu famoso Argumento da
Simulação. Sem entrar em detalhes, essa referência é para quem não for
afetado pelo Efeito Mandela nem tem conhecimentos suficientes em física e
matemática para confirmar as suspeitas de que estamos em um mundo
simulado.

Na verdade, vivemos em algo semelhante a uma simulação, portanto,


podemos pegar emprestado um prefixo utilizado na ciência e chamarmos de
uma quasi-simulação, em contraste com a palavra quase, que denotaria
proximidade ou aproximação. Há uma semelhança parcial porque
experienciamos esse mundo como se fosse a realidade, enquanto algumas de
suas propriedades denunciam estarmos em uma simulação, desde as
características da água até o limite da velocidade da luz, mas explicar
elaboradamente esses detalhes não convém a esse ensaio.

O ligação que a simulação tem com esse mundo fazenda-prisão é como


se fosse uma camada extra para torná-lo um presídio de segurança máxima.
Estamos presos no espaço-tempo, sofrendo amnésia individual e coletiva, sem
sabermos como e porque estamos presos.

Enquanto respostas definitivas não estiverem disponíveis publicamente,


tudo o que podemos fazer é especular. Com esse ensaio sobre uma nova
hipótese sendo apresentado, é possível haja um estímulo à busca pela verdade
sobre esse mundo.

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Ainda há muito a ser desenvolvido nesse tema. Portanto, peço que, por
favor, mantenha a mente aberta e reflita profundamente sobre esses assuntos
para contribuir com suas opiniões. Elas podem ser muito importantes para a
sua libertação e para outras almas.

Permaneçamos firmes no propósito libertário de não-interferência no livre-


arbítrio, abrangendo o nosso próprio e de outros seres sencientes.

Seja qual for o motivo de estarmos aprisionados, o mais importante é a


nossa liberdade. Se a saída é escapando ou merecendo, ou ambas, ainda não
sabemos.

Contudo, reencarnar é indesejável. Ter a memória apagada a cada


encarnação só degrada o espírito, ao contrário dos que acham que pessoas
evoluídas reencarnaram muitas vezes. Não há como aprender se não retermos
na memória o que aprendemos e nem sabemos o que devemos aprender. O
argumento dizendo que esse mundo é uma escola é um dos mais frágeis
quando superficialmente escrutinado, semelhante a dizer que atraímos o que
acontece conosco enquanto há natimortos, crianças com câncer e
sequestradas para serem escravas sexuais, só para citar alguns exemplos das
limitações da tal lei da atração. Quem a defende radicalmente, certamente vive
em relativo conforto e prefere acreditar no que diz para justificar seu egoísmo
disfarçado de espiritualidade.

Da mesma forma que afirmar saber de algo sem saber, dizer não saber de
absolutamente nada é fraude intelectual. Não saber de nada tornaria alguém
incapaz de fazer qualquer declaração, pois não saberia as palavras. Porém, no
âmbito espiritual, pode ser dito por força da expressão que não sabemos de
nada, no sentido de que não temos conhecimentos suficientes para transmiti-
los para outros que possam confirmar qualquer afirmação.

A crença da Nova Era de que somos deuses, cocriadores, não cabe na


hipótese de que fomos ludibriados e capturados por parasitas energéticos. Na
hipótese de estarmos cumprindo pena nessa prisão quasi-simulada, acreditar
que somos ou que algum ser é deus corrobora e reforça a permanência no
presídio, dispensando qualquer audiência para possível libertação.

Se o livre-arbítrio impera, o universo é anárquico. Não no sentido


pejorativo, mas significando que não há governo, ninguém está no controle. Na
infinitude existencial, talvez existam prisões locais para quem viola a liberdade

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dos outros, gerenciadas por seres voluntários para essa função. Como guardas
de detentos, não dão moleza, mas se algo ruim acontece no presídio,
geralmente são os próprios presidiários que causam. Por outro lado, talvez
aqueles que violam o livre-arbítrio agem assim sem impedimentos, mas nesse
caso seríamos vítimas indefesas e deixadas com mais dúvidas do que
respostas.

A diferença entre essas duas hipóteses traz implicações acerca do que


fazer para sair do prisão. Se o alvo for a porta da frente, devemos merecer
nossa liberdade deixando de pensar e agir como tiranos, parar de apoiar
opressores, não ignorar o despotismo, rejeitar ser oprimido e respeitar o livre-
arbítrio de todos. No caso de termos sido capturados, todas essas ações são
válidas, mas também será necessário ter um plano para fugir de um sistema
tecnológico altamente sofisticado, buscando buracos na grade eletromagnética
que envolve esse mundo, além de confrontar seres interdimensionais e
experientes, os quais continuam com suas consciências ativas por eras.

De qualquer forma, caso não seja possível sair antes do próximo reinício
da civilização ou em qualquer momento, é preferível permanecer como
fantasma após a morte do corpo físico para poder acumular saberes que
possibilitem sair desse sistema do que reencarnar e ter a memória novamente
apagada. Por um período de tempo, talvez seja melhor assumir a posição como
algo chamado de Serenão, almas que ainda não conseguiram sair e não
reencarnam, mas alcançam um nível tão alto de serenidade que afetam
positivamente todos os lugares por onde passam.

Talvez, todos os seres mencionados como anjos e demônios, mestres


ascensionados e predadores parasitas, ou quaisquer das suas variações, sejam
originalmente humanos que morreram e quiseram continuar na Terra ou estão
contidos, ou mesmo mantendo esse mundo como uma prisão. A princípio, até
provas contrárias serem apresentadas, convém considerar todos como
hologramas projetados pela tecnologia que aprisiona corpos e almas nesse
mundo.

Apesar da eternidade ser tão incompreensível como a infinitude para a


mente humana, digamos que somos extremamente longevos até voltarmos
para o absoluto. Talvez ajude pensar em termos numéricos como, por exemplo,
bilhões de anos. Com esse tempo de consciência ativa e constante, séculos e
milênios são como horas e dias comparados com a curta expectativa de vida

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dos seres humanos. Portanto, um dia todos serão livres. Mas, enquanto
estamos aprisionados, temos pressa, e com ótimos motivos.

Há grandes chances de haver uma saída durante os eventos de


conversão dos polos magnéticos da Terra. Tanto em inversão como reversão, o
campo eletromagnético fica temporariamente nulo e um buraco é formado no
centro do firmamento. Por horas ou talvez alguns dias, é possível escapar por
essa porta, mas seria uma péssima ideia fazer isso em corpo físico, pois tudo é
sugado por esse fenômeno que chamam de arrebatamento, ou seja, o corpo
físico morre no meio do caminho e pode não haver tempo hábil para se orientar
em meio a um cataclismo mundial. A melhor posição é sobreviver ao iminente
evento de reinício da civilização, acumular mais conhecimentos sobre o
funcionamento desse mundo e aguardar a próxima inversão dos polos, caso
seja necessário. Não se preocupe, leva apenas alguns séculos entre inversões
e reversões. Mantenha suas memórias e consciência contínuas para saber
quando e o que fazer na hora certa, Talvez haja buracos na grade
eletromagnética que possibilitem a saída logo após a morte, desde que
aconteça enquanto a mente estiver sã, haja determinação para sair desse
mundo e conhecimentos suficientes de como fazer,

Note que essas indicações são adequadas apenas no caso de sermos


vítimas aprisionadas. Termos planos de fuga seriam as chaves para
escaparmos. Se formos culpados e estamos pagando pena, provavelmente há
mecanismos impedindo a fuga durante as conversões eletromagnéticas.
Adicionalmente, as intensas descargas de plasma em todo o mundo,
principalmente no buraco central, podem afetar corpos etéreos, os quais são
essencialmente eletromagnéticos como os corpos físicos, apenas mais sutis.

Essa nova hipótese, como um ensaio para a liberdade, não descarta


outras possibilidades, principalmente a de termos sido capturados como seres
inocentes. Nessa linha, precisamos apenas excluir o conceito que a
acompanha, dizendo que os predadores precisam do consentimento das
presas. Além da incongruência, facilitaria o trabalho deles, pois nos fariam
pensar que é fácil conquistar a liberdade. De fato, essa ideia de permissão
certamente serve para o funcionamento do sistema. Os escravos que
finalmente perceberam que nunca foram livres nesse mundo, são levados a
acreditar nessa incoerência para não terem a iniciativa de planejar nenhuma
fuga, pois bastaria dizer que os parasitas não têm poder sobre eles e não
permitem mais serem aprisionados e reencarnar. A jogada é autoevidente.

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Caso estejamos na posição de vítimas desamparadas, considerar sermos
culpados não prejudica nenhuma estratégia para sair. Assumir responsabilidade
pela liberdade e corrigir atitudes contra o livre-arbítrio auxilia mesmo na
hipótese de termos sido capturados em uma armadilha para almas, pois reforça
na prática o propósito de liberdade. E se realmente estamos em uma prisão
para almas condenadas, a única saída é a redenção, eliminando qualquer
resquício de despotismo.

Voltando ao argumento da simulação, há alguns vegetais que


supostamente ajudam a induzir sonhos lúcidos e viagens astrais como a
Artemísia, o Lótus Azul, o Cenastrus Piniculatus e a Raiz dos Sonhos dos
Xhosa. Porém, existe a poderosa erva-dos-sonhos, a Calea Zacatechichi,
capaz de induzir sonhos lúcidos duradouros. Há casos de superdosagens
quando pessoas dormiram por dois dias e sonharam como se tivessem
passado trinta anos. Felizmente, ninguém perdeu a sanidade, mas houve
conjecturas para que o princípio ativo dessa planta fosse sintetizado e aplicado
em pessoas sentenciadas com longas penas a serem cumpridas, por exemplo,
passando mil anos dentro de um sonho enquanto estivessem dormindo em
suas celas por um mês, recebendo hidratação e alimentação por meio de
aparelhagem hospitalar.

Sem entrar em questões éticas, abre a possibilidade de estarmos


sonhando nossas vidas em um mundo fechado e hostil, refletindo nossa própria
natureza no mundo real, o qual só teremos acesso quando o sonho acabar.

Ilustrando essa possibilidade com uma obra ficcional, somos exploradores


de outros mundos e nossa nave-mãe defeituosa está afundando cada vez mais
nas águas primordiais. Estamos perdidos. Enquanto não encontramos uma
solução, a Inteligência Artificial Senciente que administra a nave nos mantém
em estado de hibernação, cada tripulante sonhando múltiplas vidas, uma de
cada vez e passando por todas as versões até que o conhecimento acumulado
de todos desencadeie a fórmula que resolva a situação. As dificuldades desse
mundo-prisão de pesadelos é justamente para estimular a vontade de encontrar
uma saída e possamos voltar para casa ou encontrar um novo mundo.

Não é um argumento melhor nem pior do que todos já apresentados. Pelo


menos é apresentado como ficcional e não tenta convencer ninguém de que
possa ser real, além de representar o conceito de qualia, um termo usado na
filosofia que define as qualidades subjetivas das experiências mentais
conscientes. Além de sermos fontes de combustível para predadores ou a

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nave-mãe, somos todos, inclusive os parasitas, produtores de qualia, enviando
nossos pensamentos para algum lugar que os utilizam para fins que não
sabemos.

Se estivermos em uma simulação, sair dela seria tão inviável como um


personagem de videogame sair do console. Caso estejamos em um sonho, a
única saída é acordando. Mas, por enquanto, voltemos às poucas evidências
que podem fundamentar essa nova hipótese apresentada nesse ensaio.

Na prática, quando sentimos dores não adianta saber que o universo é


holográfico e somos seres eletromagnéticos, tampouco que estamos em uma
simulação ou em um sonho. Da mesma forma, classificar pessoas como NPCs,
non-player characters, traduzido livremente para personagens não-jogáveis, os
figurantes dos videogames, é deletério para a própria consciência. Muitos agem
dessa forma atualmente, e não afirmo que seja impossível existirem robôs
biológicos sem alma, totalmente programados para atuarem sem pensar. Talvez
sejam a maioria da população, mas não há nenhuma forma objetiva para os
diferenciar dos seres sencientes com alma, portanto, devemos tratar a todos da
mesma forma, ou seja, como gostaríamos de ser tratados.

Em uma prisão para aqueles que violaram o livre-arbítrio não há


prisioneiros de outras categorias, motivo pelo qual a tirania é tão generalizada
na sociedade. Apenas níveis diferentes do mesmo crime estão misturados entre
os encarcerados. Aqueles que cometeram esse crime de forma mais
abrangente e duradoura, talvez se passando por deuses, seriam os poderosos
na Terra, pois ainda estão longe da redenção. Os mais oprimidos seriam
aqueles que violaram o livre-arbítrio de formas mais brandas, estão purgando e
bastariam poucos testes, lhes oferecendo algum tipo de autoridade nessa ou
em outra vida, para que possam provar que não têm mais nenhum ímpeto
opressor.

Volto a dizer que tudo aqui escrito é especulativo. No entanto, considero


um avanço na hipótese da armadilha para almas, pois amplia o horizonte e as
ações a serem tomadas conforme esse argumento favorecem qualquer das
possibilidades sendo apresentadas desde o gnosticismo.

Em termos práticos, respeitar o livre-arbítrio é demandar o próprio e


apoiar o de todos, contanto que não estejam prejudicando o de terceiros, pois
seria paradoxal. Contudo, é preciso que seja natural, como o conceito de Wu
Wei, não-forçar. Muitas pessoas que leem sobre o taoismo e traduzem Wu Wei

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como não-ação imaginam que significa não fazer nada, mas o conceito é muito
mais realista. Não-forçar é como as bailarinas que se destacam por terem
movimentos mais fluidos e naturais em contraste com outras que dominam a
dança mas apresentam movimentos forçados, apesar de belos. Ser libertário é
ter o livre-arbítrio tão enraizado que não precisa ser forçado quando diante de
alguma situação que pareça pedir alguma ação autoritária para ser resolvida.

Ser um virtuoso em algum instrumento musical requer muita dedicação.


Ser natural tocando o mesmo instrumento necessita de algo além. É preciso ser
um com a música. Da mesma forma, sejamos integralmente dedicados à
liberdade.

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