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GRUPO EDITORIAL PLANETA -ARGENTINA- 1986

Traduzido por Ricardo Ryo Goto entre 24/12/23 e 27/01/24

Na atualidade milhões de pessoas no mundo creem em alguma forma de vida depois da


morte. Essa convicção estimula um amplo corpo de investigação científica, e o tema da
reencarnação continua crescendo com sua imensa fascinação e curiosidade. Mas existe um campo
especial de interesse muito pouco investigado: o período entre reencarnações, o tempo que segue a
morte e precede o renascimento. Esse estado de existência se conhece como bardo e é na realidade
uma vida entre vidas. Agora, num estudo minucioso o neurofisiologista doutor Joel L. Whitton
professor de psiquiatria da Universidade de Toronto e especialista em hipnose clínica e Joe Fisher,
autor de A defesa da reencarnação, investigam esse âmbito surpreendente da experiência humana.
Baseado num programa de investigação que se desenvolveu ao longo de 13 anos, conduzido
pelo Dr. Joel L. Whitton, A vida entre as vidas é uma exploração metafísica que reúne mais de 30
histórias clínicas contemporâneas assim como os ensinamentos de muitas figuras espirituais e
históricas.
Os resultados são surpreendentes e reveladores. Os testemunhos dos pacientes do Dr.
Whitton recebidos mediante o emprego de uma técnica conhecida como hipno-regressão, coincidem
no fato de que escolhemos nossas vidas, escrevendo o roteiro cármico para cada encarnação
enquanto estamos no bardo. E observando nossas vidas passadas (mais que a infância) aprendemos
como certas pautas emocionais e de conduta influem em nosso presente e nosso futuro.
Nos inteiramos de por que assumimos as cargas de nossas vidas...e que podemos fazer para
aliviá-las.
O estudo da metaconsciência com sua capacidade para romper as barreiras do nascimento e
a morte, não poderia aplicar-se melhor à condição humana. A vida entre as vidas é uma parte
importante, que entusiasma e esclarece, de um campo cada vez mais popular da literatura.

Dedicatória

Àqueles que viajaram além do espaço e tempo. Seus testemunhos são valiosíssimos.

Os autores querem expressar sua especial gratidão a:


Dominick Abel, por sua fé no conceito; David Blizzard, pela assessoria sobre computação; Luc E.
Bourdreau, por seus pontos de vista na investigação: Felipa Gavrilos, Russell Parnick e outros
embaixadores eloquentes da consciência entre vidas; David Kendall, por uma minuciosa revisão
literária do manuscrito; Daniel Kolos, por seus conhecimentos sobre o antigo Egito; Aube Kurtz,
por incentivar a ideia original; Elise McKenna, por coordenar o processo em colaboração; Reva
Pomer, por analisar os rascunhos dos capítulos sobre o estudo de casos; Allen Spraggett, por sua
ajuda para o início; Lisa Wager, por sus assessoria editorial; Michelle Whitton, por sua investigação
das fontes secundárias.

Introdução pelo Dr. Joel L. Whitton

Reconheço que a reencarnação é parte de minha tradição religiosa. Desde cedo estive em
relação com o hassidismo e suas raízes na Escola de Gerona e as diversas cabalas, o neoplatonismo
cristão, a forma tibetana do budismo e o misticismo do século XX – representado pela teosofia, a
francomaçonaria a Igreja Unida da Verdade, a Ordem Rosacruz (AMORC) – entre outros e sem
dúvida isso deu forma a meu pensamento eclético.
A evidência da reencarnação, principalmente circunstancial, é já tão sufocante que a
aceitação intelectual é natural. A aceitação emocional pode ser mais comedida.
Essa evidência tem sido reunida por outros escritores e nos referimos a ela na bibliografia. O
leitor que deseja consultar a literatura a encontrará ampla e compensadora e espero, chegará à
mesma conclusão a que cheguei: temos vivido anteriormente em vidas passadas e é provável que
vivamos outras vezes em vidas futuras; nossa vida atual não é mais que um pequeno elo numa longa
cadeia sem interrupções.
Neste livro não analisamos a evidência. Isto só requereria um livro e esse trabalho já foi
feito. Nós partimos da suposição de que a reencarnação ocorre. Mas não obstante não aceitamos que
todos os informes sobre recordações de vidas passadas, obtidos em estado de hipnose ou toda
declaração de que tem recordações de vidas anteriores sejam o que expressam. As provas não são
simples.
Há suposições ocultas e importantes na teoria da reencarnação assim como complexos
assuntos psicológicos na recordação de uma vida passada. Não analisamos essas questões nesse
livro, mas creiam que as temos estudado e só incluímos os casos em que a hipótese de vida passada
é a única válida.
Não é raro que um médico escreva um livro teológico. Quem senão um médico que assiste
aos seres quando chegam ao mundo está presente quando morrem e intervém em seus mal-estares
está melhor qualificado para oferecer sua opinião sobre o sentido da vida e o sofrimento. Os
mistérios da vida e da morte, das desigualdades entre os indivíduos leva a perguntas que por ora a
ciência material não pode responder. Mas que um médico escreva um livro sobre a reencarnação
isso é raro. Dois terços dos norte-americanos adultos acreditam na vida depois da morte. A pesquisa
Gallup de 1982 que 23% dos norte-americanos creem na reencarnação mas só 5% de meus colegas
crê. Apesar do êxito que teve Darwin ao suprimir Deus da natureza, Freud a reduzir a divindade do
homem à necessidade de mamar e apesar do triunfo dos behavioristas na extinção da consciência,
persiste a crença em algo além da morte. Há pouco mais de 100 anos os médicos engrossavam filas
a favor da imortalidade. A educação médica já não parece incluir o estudo da vida.
Devo tratar outro aspecto. As críticas de alguns de meus colegas em psiquiatria e psicologia
e sem dúvida de outros com menos preparo nas ciências psicológicas serão duas pontas : ad
hominum y ad captandum. A reticência dos psicanalistas clássicos proclamará como no caso de
Richard Bucke, a onipotência infantil na crença da possibilidade do impossível ou a nostalgia do pai
perdido na busca da experiência mística. Como uso a teoria psicanalítica em meu trabalho clínico
sei que essas interpretações não são realmente produtivas quando se trata de entender o que alguém
está dizendo. É provável, a respeito dos informes de meus sujeitos que os estetas se burlem dizendo
que são objetos sem analisar, objetos em transição que simulam egos múltiplos ou pelo menos
fantasmas de transferência. Os menos informados simplesmente, ad populum, dirão que é fantasia.
Decidi apresentar esses dados obtidos ao longo de muitos anos porque creio que em alguma
medida têm contribuído para a compreensão da condição humana. Apresento nessa forma popular
na esperança de que chegue ao maior número de pessoas. Não quero contribuir ao debate sobre a
validade, senão sobre a teosofia das vidas passadas. Uso a “terapia da vida passada” como um foro,
um instrumento para estudar a dimensão espiritual do homem.

Doutor Joel L. Whitton


Toronto, 13 de janeiro de 1986.

Introdução por Joe Fisher

Joel e eu nem sempre fomos tão bons amigos. Conheci o nome do dr. Joel L. Whitton
quando reunia material para meu livro A defesa da reencarnação. Segundo minhas fontes de
informação era um psiquiatra altamente qualificado dedicado à investigação da reencarnação de
forma sumamente discreta. Ninguém parecia saber exatamente o que abarcava sua investigação mas
todos os que o conheciam me asseguravam que era um homem brilhante de cujos estudos
metafísicos valeria a pena saber algo.
Esperando preencher meus arquivos incipientes sobre a evidência do renascimento fui
apresentado ao dr. Whitton numa manhã de primavera de 1982. Realmente não foi um encontro
satisfatório. Tomei meu caderno e lapiseira, mas o dr. Whitton não queria que se falasse de seu
trabalho. Indiferente e deixando bem claro que não ia convidar-me a entrar no castelo de sua
investigação, me disse:
-Sinto, mas não posso ajudá-lo. Sou um psiquiatra respeitável. Não quero ser o para-raios da
hostilidade dos ortodoxos.
Não pude ocultar minha frustração.
-E se Darwin, sabendo o que sabia sobre a evolução decidisse não escrever A origem das
espécies? - exclamei. - Você é obrigado a apresentar ao público o conhecimento adquirido.
O dr. Whitton sorriu e não disse nada.
O que eu ignorava era que estava totalmente decidido a publicar suas descobertas …mas no
momento que achasse oportuno.
Em 1982 ainda dependia do apoio da comunidade acadêmica para obter os fundos
necessários para investigar o que lhe interessava, entre tudo, o estudo das ondas cerebrais nas
crianças com dificuldade de aprendizagem. A última coisa que o dr. Whitton queria era publicar
seus trabalhos sobre a reencarnação para que as publicações desonestas atacassem sua reputação
“respeitável”. Já se havia filtrado algo sobre meu interesse na reencarnação e um diretor de
departamento da Universidade de Toronto havia comentado sombriamente numa reunião:
-Cuidem-se dos místicos.
Desalentado pelo fracasso de meu intento de abrir uma brecha nas defesas do dr. Whitton,
voltei à máquina de escrever e ao trabalho imediato. Havia outros terapeutas da vida passada sobre
os quais escrever, depois de tudo. Mas tinha consciência de que tinha sido rejeitado por um dos
melhores. Os mais célebres da Califórnia e Grã-Bretanha haviam falado muito nas entrevistas. Por
que não o dr. Whitton, cujo consultório ficava tão perto de minha casa? Me havia jogado umas
migalhas...o resumo publicado sobre um de seus casos de regressão hipnótica um que agora se
apresenta completo no capítulo 11 deste livro. Reescrevi o relato e o apresentei numa pequena parte
de A defesa da reencarnação.
O livro foi publicado em mais de 30 países. Esqueci o dr. Whitton até 22 de outubro de
1984, quando sua secretária Elise McKenna me ligou por telefone.
-Queria falar com o dr. Whitton? Me perguntou. Tem um projeto que gostaria de discutir
com você.
Minha primeira reação foi pensar em dizer ao dr. Whitton o que podia fazer com seu projeto.
Mas a curiosidade evitou a descortesia. No dia seguinte escutei quando me propôs colaborar num
livro sobre o intervalo entre as reencarnações. Suas reservas para não perturbar aos que podiam
negar-lhe os fundos e para não provocar a ira dos ortodoxos haviam terminado.
De repente me entregava as chaves do castelo. Aceitei o desafio atraído pela perspectiva de
aprender sobre os mistérios do estado entre vidas. Todo o ano seguinte o dr. Whitton atuou como
meu guia e intérprete enquanto explorávamos os arquivos de sessões de hipnose desde 1973 em
busca de semelhanças notáveis entre os testemunhos de seus pacientes e as antigas suposições das
autoridades bíblicas. Juntos tentamos dar um sentido à evidência antiga e moderna. O resultado de
nosso esforço é esse livro: A vida entre as vidas.

Joe Fisher
Toronto, 21 de janeiro de 1986.

Sugestões de imortalidade

“Nunca existe a perda da consciência pessoal. Jamais haverá que deplorá-la.”


- Erwin Shroedinger, O que é a vida ?

O maior mistério da vida tem 2 pontos: De onde viemos? Que nos ocorre depois da morte?
Desde os tempos mais remotos cada religião e escola filosófica e cada ser humano ainda com a
menor curiosidade tem pensado nesse enigma. Embora tenha escassas evidências, o consenso da
humanidade, antiga e moderna se inclina a crer na imortalidade.
Sempre tem havido ateus que insistem em que o nascimento é um fenômeno puramente
biológico e que a consciência se apaga com o último suspiro. Esse pensamento materialista é o de
uma minoria ainda no mundo atual de maravilhas mecânicas e sedução tecnológica.
Em 1982 uma pesquisa Gallup demonstrou que 67% dos norte-americanos creem na vida
depois da morte e subsiste a incógnita: se há vida depois da morte, como é na realidade? Se bem
que a maioria creia que a consciência sobreviva ao corpo a natureza da atividade post mortem tem
esquivado à compreensão e às vezes até à imaginação. Mais que gerar imagens de animação e
vitalidade, os pensamentos sobre a imortalidade se inclinam para a imprecisão e abstração. “A ideia
da vida depois da morte resulta totalmente vazia”, notou H.H.Prince, ex-presidente da Sociedade de
Investigação Psíquica da Inglaterra, “a menos que possamos ter...alguma concepção do que poderia
ser o outro lado”. A mitologia, o folclore, as religiões do mundo e o espiritualismo, expressaram
ideias sobre o próximo mundo. Mas só nos últimos 15 anos com o surgimento da intensa
investigação de quase morte, há um acordo entre a evidência médica moderna e as conjecturas dos
antigos.
Os investigadores das experiências de pessoas ressuscitadas depois de haver estado
clinicamente mortas têm acumulado dados fascinantes. Seus achados representam as visões
espontâneas das “testemunhas em seu leito de morte”, de outro plano de existência muito diferente
do nosso. Os relatos estão de acordo em que, no momento da morte clínica a consciência se separa
do corpo e é levada por um “túnel” até uma luz de brilho indescritível e sensações de profundo gozo
e paz. Apesar de não querer retornar à existência terrestre, essas testemunhas sentem a compulsão
de reunir a suas almas incorpóreas que vagam livremente com as limitadas fronteiras dos veículos
corporais abandonados. Ao reviver, se dão conta da transformação sofrida. Falam de forma instável
de haver perdido o medo da morte (a morte se descreve como um “regresso”, como um “escape da
prisão”) e sempre resultam frustrados pela falta de palavras para descrever a maravilhosa viagem
nessa outra forma de consciência.
Se bem que os relatos resultem estimulantes e entusiastas, o conhecimento que aportam é
muito limitado, como o que poderia informar um correspondente estrangeiro sobre uma nação se só
desenvolve suas atividades na fronteira. O Dr. Kenneth Ring autor de A vida na morte, expressou a
incompletude da investigação do estado de quase morte quando escreveu: “O que ocorre depois das
etapas iniciais da morte...segue sendo uma interrogação”.
A vida entre as vidas está dedicado a responder essa pergunta. Baseado nos testemunhos dos
pacientes do dr. Whitton que em estado de hipnose viajaram por essa terra de ninguém, da morte,
este livro ilumina um campo desconhecido da experiência humana. Desconhecido para o homem
encarnado. A mensagem do transe profundo é que a vida depois da morte é sinônimo da vida antes
do nascimento e que quase todos nós temos residido nesse mundo muitas vezes como entidades
incorpóreas. Na forma subconsciente nos resulta tão familiar a existência desencarnada como a do
plano terrestre: o próximo mundo é o estado que deixamos atrás quando nascemos e ao que
voltaremos ao morrer.
Enquanto gira a roda da vida, o nascimento e a morte se sucedem repetidamente na evolução
do indivíduo. Daí o título desse volume: a morte não é mais que o umbral da consciência que separa
uma encarnação da seguinte. É verdade que há vida entre as vidas. Os pacientes do dr. Whitton,
cujas formações religiosas são tão variadas quanto seus preconceitos iniciais pró ou contra a
reencarnação têm testemunhado de maneira consistente que o renascimento é fundamental no
processo de evolução de que participamos. Dizem eles que na morte a alma deixa o corpo para
entrar num estado sem espaço nem tempo. Ali se avalia nossa vida mais recente na Terra e se
planeja a encarnação seguinte segundo nossos requerimentos cármicos. Por exemplo: um indivíduo
em estado hipnótico cujas ações haviam contribuído para o suicídio de sua irmã numa existência
anterior escolheu voltar a encarnar como irmão dela para pagar sua dívida.
Desde a idade de 14 anos o dr. Whitton teve grande habilidade para hipnotizar. Durante um
tempo praticou a hipnose com pessoas voluntárias nas festas sem tentar que alguém recordasse de
uma vida passada. Tinha pouco mais de 20 anos quando se sentiu fascinado pela ideia da
reencarnação e então refinou sua técnica para hipnotizar. Depois de formar-se médico e vir a
Toronto, onde foi chefe de Psiquiatria do departamento escolar descobriu que a cooperação
daqueles que são capazes de entrar em transe profundo - aproximadamente de 4 a 10 % da
população – era muito valiosa quando ele lhes pedia que fossem mais além do nascimento e
entrassem numa existência anterior.
Lhes dizia: “Volta a uma encarnação anterior a essa. Agora...Quem eras e onde estás ?”. E a
pessoa no sono hipnótico, no divã procedia a contar e até a atuar em episódios vividos em outro
tempo e lugar.
À medida que o dr. Whitton ia compreendendo melhor a mente inconsciente instruía seus
pacientes em transe para que levassem recordações de experiências traumáticas da vida passada
para a consciência. Isso deu como resultado curas rápidas e assombrosas que ele mesmo não podia
explicar. Algumas perturbações graves, físicas e mentais, simplesmente desapareciam à medida que
as recordações terríveis e perturbadoras trabalhavam como uma espécie de calmante mágico
produzindo uma sensação de libertação por meio da autocompreensão. Outros pacientes se curavam
de forma progressiva quando tomavam contato com as experiências que haviam tido na vida
passada e na intermediária. Havia pessoas que buscavam o dr. Whitton depois de haver percorrido
de uma clínica a outra sem nenhum resultado. Contavam que o tratamento de muitos médicos não
havia alcançado nenhuma melhora apreciável de seus males, que iam desde fobias incapacitantes
até enfermidades terminais. Como a regressão à vida passada às vezes funcionava em casos que a
medicina convencional havia fracassado, ao dr. Whitton chamavam de “o médico dos casos
perdidos”.
Não há prova objetiva de que os que se curaram de enfermidades graves por regressão a uma
vida anterior tenham voltado a experimentar uma encarnação passada. Os pacientes estão
convencidos da realidade da experiência e o dr. Whitton tendo passado cerca de 20 anos estudando a
terapia da vida passada, tem fé em que o subconsciente solta conhecimentos armazenados em
encarnações anteriores. Por sorte, os espetaculares resultados dessa terapêutica falam por si
mesmos. Como disse John Langdon-Davies em sua obra: O Homem: conhecido e desconhecido: “A
medicina tem uma grande vantagem sobre outros ramos da ciência: o único critério de verdade na
medicina é a cura.”
Uma vez que é guiado a outra vida, o paciente hipnotizado assume uma personalidade
diferente sem saber que compartilha com esse outro a mesma identidade fundamental. É comum a
troca de sexo e de raça. A personalidade na vida passada pode revelar-se em qualquer momento de
sua existência, desde o nascimento até a morte, com uma voz que reflete a idade, o sexo, a
educação, o caráter e a época histórica. Quando se esgota o arquivo das recordações significativas
emocionalmente, o dr. Whitton pode decidir se vai mover o paciente a uma existência anterior. A
pessoa em transe assume então outro aspecto de sua personalidade, quando levava uma existência
totalmente diferente. Ao voltar à consciência normal sempre se lhe pede que leve um diário de suas
experiências durante o transe para ajudá-lo a captar e reter a essência dos estados emocionais nas
encarnações prévias. Para descobrir a origem do problema atual, o dr. Whitton chega a analisar a
personalidade do paciente em suas vidas anteriores. Ao fazê-lo está empregando um procedimento
padrão da psiquiatria mas no contexto da reencarnação. Desde o desenvolvimento da psicanálise
muitas figuras históricas e de ficção tem sido submetidas a um rigoroso exame. O mesmo Sigmund
Freud analisou Moisés e Leonardo Da Vinci, Ernest Jones, o biógrafo de Freud analisou Hamlet;
Carl Jung a Picasso e até Adolf Hitler foi analisado in absentia por uma equipe de psiquiatras nos
Estados Unidos. Tendo adotado princípios freudianos em sua prática como psiquiatra, o dr. Whitton
tem um profundo respeito pelo inconsciente. Como Freud crê que nada mental é acidental, que todo
pensamento e conduta tem causas prévias. Mas à diferença de Freud, crê que essas causas podem
chegar muitíssimo mais além do nascimento, a reencarnações anteriores e ao estado entre vidas.
No século passado, faz pouco, acreditava-se que os humores do fígado e da vesícula e a
posição do útero estavam entre as causas do temperamento de cada pessoa. Os primeiros
investigadores da psicologia como Jean-Martin Charcot, Pierre Janet e Freud tiraram o estudo da
mente da cavidade abdominal e dos vasos sanguíneos e o colocaram na região do subconsciente. Os
desejos reprimidos e as provas do desenvolvimento psicossexual se reconheceram como
determinantes dos objetivos, desejos e fantasias humanas.
A investigação psicológica continuou até chegar a importantes descobrimentos. No entanto a
psicologia contemporânea ficou limitada em geral pela premissa de que toda conduta neurótica
adulta está motivada pelas experiências da infância ou da adolescência. Carl Jung teve o
pressentimento do beco sem saída em que havia de encontrar-se sua profissão. Em Recordações,
sonhos e reflexões, escreveu:
As enfermidades de nossa época são o racionalismo e a fé nas doutrinas que pretendem ter
todas as respostas. Mas se descobrirão muitíssimas coisas que nossa limitada visão atual tem dado
por impossíveis. Nossos conceitos de espaço e tempo têm só uma validade aproximada…
Assim como os primeiros psicólogos expuseram o primitivismo da medicina do século XIX
o pensamento psicológico contemporâneo é revisto à luz de evidências mais recentes. A notável
recuperação – psicológica e física – que tem alcançado os terapeutas da vida anterior como o dr.
Morris Netherton, a dra. Edith Fiore e, na Inglaterra, Joe Keeton para nomear somente 3 dos mais
famosos tem demonstrado que o subconsciente é só uma parte de todo nosso subliminal. A terapia
da vida passada reconhece o ser superior que transcende as épocas da vida e exerce uma manifesta
influência em nossa maneira de pensar e comportar-nos.
O estudo do dr. Whitton sobre o estado de vida intermediário que se produz naturalmente
durante suas investigações hipnóticas das vidas anteriores tem aumentado nossos conhecimentos
sobre este ser superior. Ao levar a seus pacientes repetidas vezes ao vazio entre reencarnações
aprendeu que a consciência na vida intermediária chega a um nível muito mais agudo que a
experimentada durante a regressão, seja esta uma etapa desta vida ou uma vida anterior. Essa
consciência que vai mais além de nossa concepção terrestre da realidade, capacita as pessoas para
ver suas vidas desde uma perspectiva diferente. No estado entre vidas as ideias mundanas de
moralidade são aumentadas e a percepção visionária se atém ao significado e o propósito da
existência humana. O dr. Whitton tem um nome para esse estado extraordinário de percepção:
metaconsciência.
Como se compara a metaconsciência com outros níveis de consciência? A seguinte
classificação poderia ajudar a explicar a transcendência desse estado especial. Primeiro no nível
mais baixo está…
A consciência dissociativa: estado do ser em que a consciência no sono ou na vigília se
divide em 2 ou mais correntes de experiência. Mas o indivíduo costuma perceber uma só corrente
em um momento determinado. Essa categoria inclui os sonhos, a fantasia, o déjá vu, os estados
múltiplos da personalidade, a recordação da vida passada e as experiências incorpóreas. Algo mais
sutil é…
A consciência afetiva: é a apreensão de estados subjetivos – visuais, emocionais ou ambos-
que nem sempre podem ser expressos pela linguagem. Entre eles estão o amor, o ódio, e as demais
emoções, atitudes, percepções e a consciência cósmica: a unidade com o universo que experimenta
o místico. E isso conduz ao nível superior…
A metaconsciência: um extraordinário e paradoxal estado de alerta da memória no qual o
que percebe perde todo sentido de identidade pessoal ao fundir-se com a existência mesma com o
resultado de que se faz mais intensamente consciente de si mesmo que nunca. Para experimentar a
metaconsciência – memória direta da vida intermediária- há que chegar mais além da realidade
tridimensional para conhecer a própria razão de ser e a natureza do carma pessoal. Esse outro
mundo é tão radicalmente diferente que a linguagem não pode atuar como intermediária e até os
símbolos podem fracassar se quiserem expressar sua essência.
O dr. Whitton descobriu que esses 3 tipos de consciência podem coexistir. Por exemplo, uma
pessoa pode estar sonhando (consciência dissociativa) e experimentar um estado de sentimento
subjetivo (consciência afetiva) enquanto tem algumas lembranças da vida
intermediária(metaconsciência). Compara os 3 tipos de consciência com um cavalo, uma ovelha e
um frango, em que pese suas diferenças podem comer no mesmo recipiente.
Que a qualidade da vida passada e a experiência da vida intermediária têm grande
importância nas circunstâncias e relações principais nesta vida se vê com clareza no estudo dos
casos cármicos apresentados em alguns capítulos deste livro, que informam sobre as vidas passadas
e as vidas intermediárias de 6 dos pacientes do dr. Whitton todos capazes de entrar em transe
profundo. Ao descobrir suas histórias referentes às reencarnações foram capazes de entender os
motivos das situações duras e as dificuldades emocionais de suas vidas atuais e essa compreensão,
por sua vez lhes produziu grandes mudanças. Em ocasiões se faz necessário uma suposição quanto
ao tempo ou a localização de uma personalidade na vida passada. Isso ocorre porque os pacientes
em transe às vezes não dão informação que, ainda que vital para os investigadores da reencarnação
não importa para a pessoa que volta a experimentar a experiência traumática e é desnecessária para
o processo terapêutico. Os nomes e em alguns casos, as ocupações dos pacientes se trocam para
proteger suas identidades. Mas os episódios e emoções se registraram fielmente.
Faz uns poucos anos o dr. Morris Netherton, da Califórnia um dos mais respeitados
terapeutas da vida passada, negou que alguém pudesse provar algo sobre o estado entre as vidas. “É
virtualmente impossível provar algo sobre o espaço entre vidas…” declarou em seu livro Terapia de
vidas passadas. “Não é mensurável nem observável para os seres vivos”. O dr. Whitton demonstrou
que não só é observável senão tem valor terapêutico e educativo e que é uma fonte potencial de
esclarecimento. Mais de 30 pacientes sob hipnose – o que representa uma pequena porcentagem dos
casos tratados pelo dr. Whitton – podem afirmar as propriedades extraordinárias desse outro mundo.
Têm viajado além do espaço e tempo no estado metaconsciente: têm trazido de volta as percepções
interiores e a informação que constituem as bases das pioneiras observações deste livro.

Nosso lar natural

“A morte e o vazio são a terra firme sobre a qual caminha a vida…”

Alan Watts, Cloud-Hidder, Whereabouts Unknown

Os antigos tibetanos tinham uma palavra para evocar a imagem da vida entre as vidas. A
palavra é bardo, que significa literalmente o espaço que separa as ilhas, o espaço recheado por
acontecimentos de suma importância para alma ao separar-se do confinamento do corpo. O Bardo
Thodol mais conhecido pelos ocidentais como O livro tibetano dos mortos, é uma descrição do
século VIII do plano da consciência entre as reencarnações terrestres em que a entidade humana
tendo cruzado o umbral da morte, encontra uma experiência incorpórea após outra. Recompilado e
resumido das viagens fora do corpo de gerações o livro se recita ainda aos agonizantes e os mortos
na espera de dirigir a alma liberada através da “perigosa emboscada” do bardo e de apartá-la da
necessidade do renascimento. A vida entre as vidas segundo O livro tibetano dos mortos dura uns
simbólicos 49 dias e vai desde a ditosa imersão na “Luz Clara” até a confrontação com o Senhor da
Morte, que consulta seu Espelho do Carma “no qual se reflete de forma vívida toda ação má ou
boa”.
O bardo tibetano se conhece em outras civilizações com muitos nomes diferentes. Por
exemplo os egípcios – que construíram modestas casas e as tumbas mais esplêndidas – falaram de
amenthe, lugar em que as almas se regozijam antes de voltar a descer para animar um outro corpo.
Os okinawenses do Pacífico Sul passam sua existência incorpórea no gusho antes de regressar a esta
dimensão. Os aborígenes australianos criam que a alma residia nos bosques primitivos da Terra:
Anjea. Era o lugar entre reencarnações. E cumpriam uma cerimônia quando nascia uma criança para
decidir de que lugar em particular tinha vindo. O menino era conhecido depois como originário de
uma árvore, uma rocha, uma lagoa ou algum outro acidente de paisagem. Essa tradição fez eco na
Odisséia de Homero que fala de como as pessoas haviam “nascido de um carvalho ou uma rocha”.
Os antigos hebreus criam em uma estada em pardish, onde se lhes davam instruções para a vida
seguinte e se lhes enviava segundo o Zohar:
“A entristecer-se no exílio ; a um lugar em que não existe a verdadeira felicidade…”
Os antigos sabiam o que o homem moderno está começando a compreender: que a vida
entre as vidas é nosso lar natural do qual saímos para aventurar-nos em árduas viagens dentro dos
corpos físicos. Manly P. Hall em Da morte ao renascimento, compara a experiência da encarnação
com a de um mergulho que abandona a luz e o ar fresco em que se sente cômodo e desce até o
fundo do mar…

...o pesado traje de mergulho é o corpo físico e o mar é o oceano da vida. Ao nascer o
homem se põe o traje de mergulho, mas seu espírito está conectado sempre por uma corda à luz de
cima. O homem desce às profundidades do mar da tristeza e da mortalidade para buscar tesouros
escondidos de sabedoria pois a experiência e a compreensão são pérolas valiosíssimas e para
ganhá-las o homem deve suportar toda classe de coisas. Quando encontra o tesouro içam-no ao
bote e tirando o pesado escafandro respira o ar fresco e volta a sentir-se livre. Os sábios se dão
conta de que este incidente que chamamos vida é somente uma viagem ao fundo do mar, que temos
estado aí muitas vezes e voltaremos a baixar até que encontremos o tesouro.

Muitas tribos primitivas e civilizações perdidas como a dos antigos egípcios criam na vida
entre as vidas e por isso se asseguravam de que seus mortos estivessem bem equipados para
enfrentar o mundo seguinte. Enterravam com eles objetos úteis como roupas, armas e utensílios de
cozinha como gesto de apoio no caso de que a entidade desencarnada mas demasiado ligada à terra
por um tempo e retivesse as necessidades da vida anterior. Na sociedade suméria que floresceu ao
norte do Golfo Pérsico 3400 anos antes de Cristo, matavam-se os serventes do amo quando este
morria para que pudessem atendê-lo na próxima vida.
Platão no décimo livro de A República conta o estranho mito de Er, o panfílio que voltou à
vida na pira funerária 12 dias depois de ter morrido em uma batalha. E então falou da vida entre as
vidas, contando como cada alma tinha a oportunidade de escolher a forma da próxima reencarnação.
Uma vez escolhida esta, as almas bebiam do rio do esquecimento para apagar toda a recordação
consciente antes de entrar no corpo físico. O esquecimento antes do nascimento é um tema
persistente nas tradições religiosas que vão desde o budismo chinês até o cristianismo esotérico.
Segundo os cabalistas hebreus o anjo da noite, Layela invoca a amnésia dando um pequeno beliscão
no nariz da alma errante enquanto aplica uma ligeira pressão no lábio superior. Assim se diz que
todos levamos a marca do dedo do anjo em nossos lábios. Os escritos mitológicos e bíblicos contam
outros fatos comuns no estado de vida intermediária entre eles a sensação de intemporalidade, a
intrusão arrebatadora de uma luz insuperavelmente brilhante, a visão total da vida recém-passada e
o juízo da alma que costumam fazer 3 figuras sábias.
É provável que a ideia católica do purgatório derive da antiga interpretação grega da vida
incorpórea entre encarnações. Segundo Rudolf Steiner, o fundador da antroposofia o purgatório da
Igreja católica é um quadro reconhecível se bem inexato dos estados iniciais do estado de vida
intermediária em que a alma se desprende de todos os desejos, apetites e paixões. Steiner que
conheceu a existência incorpórea mediante a clarividência tinha muito que dizer sobre o plano da
consciência entre vidas insistindo que “a vida entre a morte e o renascimento é... uma continuação
da vida aqui”. Para Steiner a morte era simplesmente um meio de restauração e rejuvenescimento.
Escreveu: “Para manter ativa a consciência temos estado destruindo continuamente nosso
envoltório corporal”. Estava demonstrando que a consciência entre as vidas é vital para a evolução
imortal tanto como o sono para nosso bem-estar físico.
Desde a morte de Steiner em 1925 tem aumentado a fascinação pelos segredos da
consciência incorpórea. A cultura hippie da década de 1960 representou algo mais que o escapismo
sem pensar. Tanto a ânsia de elevar-se com os alucinógenos como a necessidade coletiva do
misticismo oriental, indicaram o anseio pela experiência além do físico: a essência mesma do estado
entre as vidas. E se bem que a mentalidade do poder da flor seja um anacronismo subsiste o desejo
de conhecer a natureza e o alcance da viagem da alma. E por isso nos últimos anos tem havido
várias tentativas quase científicas de penetrar a mística do bardo.
O investigador da reencarnação mais famoso do mundo, o dr. Ian Stevenson se referiu à
entrevida como um “tema que desperta extraordinária curiosidade em todo o mundo”. De longe a
incidência mais alta do que o dr. Stevenson chama “recordações intermediárias” se encontrou na
Tailândia, onde muitos indivíduos disseram haver visto seus próprios corpos físicos depois da morte
e ter observado os ritos fúnebres. Muitos descreveram que no mundo seguinte os recebeu um
“homem de branco” e que se lhes ofereceu “o fruto do esquecimento” antes de renascer. Ao comer
esse fruto se apagam as recordações da vida anterior e muitos indivíduos assinalaram que
conservaram as recordações porque recusaram a tentadora oferta.
Algumas das testemunhas declaram que recordam da cremação de seus próprios corpos e
outros se recordam de como os dirigiram ao local de seus futuros nascimentos. Um indivíduo até
alegou que havia “andado pelo ar e nas copas das árvores” entre sua morte em 1928 e o
renascimento em 1974. Um fato relativamente comum narrado por Stevenson é o sonho
premonitório que tem uma futura mãe antes da concepção pelo qual sabe que alguém conhecido
renascerá nela. Supõe-se que esse sonho representa o contato direto com a consciência incorpórea e
às vezes dita a escolha do nome da criança. Às vezes são os indivíduos os que recordam ter
aparecido ante suas futuras mães enquanto estavam no estado de transição entre vidas.
Enquanto o dr. Stevenson percorria o mundo para averiguar a validade das recordações
espontâneas de renascimento se tentavam nos Estados Unidos estudos “de escritório” com objetivos
similares mas utilizando a hipnose para provocar as recordações.
A dra. Edith Fiore, hipnoterapeuta da Califórnia informou em 1978 que alguns de seus
pacientes se aventuravam nesse ínterim entre as vidas para encontrar energia pura e luz enquanto
que outros viam “belos lagos, belas cenas, resplandecentes cidades”. Alguns também mencionavam
encontros com “planejadores” ou uma “junta de conselheiros” que os ajudavam na escolha da
reencarnação seguinte, a que estava em alguns casos estava precedida pela “perambulação” da alma
sobre sua mãe antes de nascer. Em 1979 os resultados dos estudos da hipnose de massa dirigidos
pela dra. Helen Wambach uma psicóloga clínica de São Francisco indicaram que a maioria escolhe
nascer em que pese o desejo de permanecer na “iluminação e amor” do estado entre vidas. Os
pacientes da dra. Wambach contaram que não se tem gênero no lugar entre as vidas e mencionaram
que concordaram de má vontade a reencarnar-se depois de haver consultado com “assessores” ,
“uma pasta” ou “um grupo de autoridades”.
Os que tem informado sobre observações pessoais de uma vida entre vidas podem comparar-
se aos antigos marinheiros que regressavam de uma longa viagem ao sul contando coisas absurdas
como que o sol brilhava desde o norte. Os que haviam ficado duvidavam desses testemunhos
porque diferiam da experiência europeia do caminho do sol e desafiavam a razão e a lógica
daqueles tempos. Ao aventurar-se no desconhecido costumam saborear experiências que confundem
a sabedoria contemporânea.

Encontros casuais com o bardo

“Os equívocos, o erro, são disciplinas pelas quais avançamos”.

William Ellery Channing - Adress on the present age

As investigações do dr. Whitton sobre a vida intermediária estavam muito avançadas mas
não haviam sido publicadas ainda na época em que os mais famosos propulsores da regressão
hipnótica na Califórnia registravam suas observações.
O dr. Whitton queria ter um corpo importante de evidência antes de tirar conclusões. Com
essa finalidade passaria anos levando seus pacientes muitas vezes ao estado intermediário na busca
das experiências que corroborassem no que todos podemos esperar depois da morte de nossos
corpos.
Como se relatará nesse capítulo, o descobrimento inicial que levou a mais de uma década de
investigação ocorreu como resultado de um erro técnico. Quando o dr. Whitton tropeçou com o
bardo em 1974 aos 28 anos de idade, não havia pensado que havia vida ativa entre as
reencarnações. Estava tão dedicado a traçar a continuidade pessoal de uma vida a outra que nunca
se perguntou o que se passava com as entidades humanas quando não habitavam corpos físicos.
Naqueles dias sua investigação metafísica consistia em regressar os pacientes hipnotizados a uma
série de vidas passadas. Mais que tentar provar a teoria da reencarnação explorava a hipótese
segundo princípios científicos.
Através de muitas horas de seguir rastros minuciosamente mediante o hipnotismo o dr.
Whitton aprendeu a reunir os inventários pessoais das vidas anteriores que se estendiam ao longo de
milhares de anos. Descobriu que segundo a necessidade cármica os indivíduos entravam e saíam de
suas encarnações para interagir com as mesmas entidades em relações sempre modificadas. Viu
como as provas, os triunfos, e os fracassos de cada vida haviam contribuído para a formação do
indivíduo atual. Mais ainda, ainda que as vidas em cada história de reencarnação de uma pessoa
fossem muito diferentes sempre se desenvolviam segundo causa e efeito. Em outras palavras, as
ações e atitudes numa vida determinavam as situações e os desafios das vidas futuras.
Depois de milhares de horas de sessões hipnóticas o dr. Whitton se viu obrigado a aceitar as
antigas escrituras que declaravam que, na vasta maioria dos casos o esclarecimento é um prêmio
que se ganha mediante lentas e penosas purificações de corpo em corpo. A observação pessoal lhe
demonstrou que a superalma- o eu interior que funciona atrás das diferentes personalidades
encarnadas – depende do processo purificador do renascimento para crescer e desenvolver.
No outono de 1973 o dr. Whitton estava chegando a essas conclusões. Ainda com a
ansiedade desses estudos preliminares propôs ao comitê médico da Sociedade de Pesquisas
Psíquicas de Toronto assumir um experimento de longo prazo para determinar a legitimidade da
regressão hipnótica como meio de estudar a reencarnação. Havia muito que era necessário um
estudo desse tipo já que a popularidade da hipnose regressiva havia ultrapassado os conhecimentos
científicos sobre o tema.
Desde meados da década de 1950 haviam proliferado os informes sobre a volta a existências
anteriores depois da publicidade que se deu às memórias de Virginia Tighe, uma dona-de-casa de
Colorado que falou com desenvoltura sobre sua vida como Bridey Murphy, uma moça irlandesa do
século XIX. Famosos psicólogos e psiquiatras clínicos - especialmente na Califórnia – estavam
voltando-se para a regressão hipnótica, de maneira que podiam praticar a terapia da vida passada,
último grito da terapêutica. A ciência ortodoxa recusou-se a prestar atenção ao fenômeno e
descartou a recordação espontânea da vida passada como fantasia elaborada. Não fez diferença o
fato de que o dr. Ian Stevenson publicara Vinte casos que sugerem a reencarnação, um volume
sobre os casos estudados, documentado cuidadosamente em que aparecem declarações sobre vidas
passadas muitas delas efetuadas por crianças de curta idade, e outras por famílias.
A curiosidade popular pela hipnose e as vidas anteriores deu como resultado que se
recebessem mais de 50 solicitações de voluntários que desejavam participar do experimento do dr.
Whitton . Depois de um estudo minucioso dos candidatos, escolheu-se Paula Considine. Aos 42
anos, Paula era de temperamento estável muito sensível à hipnose e sendo totalmente comum em
seu estilo de vida, gostos, conduta e expectativas – resultava o exemplo típico da dona-de-casa
norteamericana. Estava casada com um caminhoneiro e trabalhava como contadora para uma
companhia de calefação de Toronto. O fato de ser completamente comum a convertia no paciente
perfeito para um estudo tão extraordinário. Paula nem cria nem negava a reencarnação e estava de
acordo com a sugestão pós-hipnótica que se lhe efetuaria – para sua proteção – para apagar toda
memória consciente da vida passada. Como se tratava de um estudo de investigação mais que uma
prática terapêutica, o dr. Whitton instruiu Paula que não recordasse nada de suas vidas anteriores
quando recuperasse a consciência normal. Temia que o fato de despertar-lhe a recordação de vidas
anteriores que pelo poder da experiência da reencarnação pode acarretar episódios de sofrimento e
brutalidade, lhe fizesse sentir-se mal.
Desde outubro de 1973 Paula cruzava a cidade depois do trabalho todas as terças-feiras até
uma mansão imponente onde funcionava a Sociedade de Investigação Psíquica de Toronto. Ali, no
“quarto amarelo” – um quarto para hóspedes que dava ao jardim – tirava os sapatos e deitava-se no
divã pronta para as instruções hipnóticas do dr. Whitton. Durante todo o ano seguinte passou mais
de 100 horas em transe profundo dando descrições coerentes de uma longa sucessão de
reencarnações, a maioria femininas. Entre elas:

*Martha Paine, nascida em uma granja em Maryland em 1822. Morreu caindo por uma
escada quando era jovem.
*Margareth Campbell, dona-de-casa que viveu perto de Quebec, Canadá. Em 1707 tinha 17
anos e logo se casou com um caçador de nome Arsenault que trabalhava com peles.
*Hermana Augusta Cecília, 34 anos em 1241, que passou quase toda a sua vida
trabalhando em um orfanato português perto da fronteira com a Espanha.
*Telma, a irmã menor de um chefe de tribo na Mongólia que estava sob o domínio de
Genghis Khan, a quem ela conhecia como “Temujin”. Para ela sua idade era “16 verões” quando
morreu numa batalha.

O inventário das vidas de Paula havia chegado até uma escrava no antigo Egito, quando
inesperadamente sua viagem hipnótica mudou de caminho. A tarde de uma terça-feira 1974 quando
estava falando da vida de Matha Payne na granja, o dr. Whitton se recordou que queria ter mais
detalhes dos últimos dias de Margareth Campbell. Interrompeu a mulher e lhe disse: “Vê a vida
antes de ser Martha...”
Esperando que a voz infantil de Martha mudasse para a da dona-de-casa canadense, o dr.
Whitton esperou vários minutos o acento afrancesado. Mas não se produziu mais som que algum
suspiro ocasional. Os lábios de Paula se moviam e a expressão facial mudava continuamente, o que
indicava que ela via o desenrolar dos acontecimentos. Mas quais eram? Não sabendo onde estava no
tempo, o dr. Whitton se perguntava o que havia ocorrido, em que havia se equivocado, quando
Paula interrompeu as preocupações do dr. Whitton com um rápido movimento de pálpebras. Seus
lábios também se moviam com rapidez como se ela estivesse buscando as palavras e não as
encontrasse. Então com muita lentidão e dificuldade expressou de forma monótona e sonhadora:

Estou no céu...posso ver uma granja e um granjeiro...É... cedo, pela manhã. O sol está
baixo e faz sombras longas sobre os campos queimados...campos com mato.

O dr. Whitton não podia acreditar no que ouvia. Paula não devia estar “no céu”. Ele devia ter
cometido um erro técnico, mas qual? Os indivíduos hipnotizados têm muito em comum com os
programas para computadores. As respostas se baseiam em ordens literais. Deve dizer-lhes
exatamente o que se quer. Um só erro faz que as coisas não funcionem ou pelo menos que não se
obtenha o que o hipnotizador quer. O dr. Whitton havia dito a Paula: “Vê a vida antes de ser
Martha…” Normalmente lhe diria: “Vê a encarnação anterior a Martha”. Havia uma diferença entre
as 2 ordens.
-Que estás fazendo no ar ?- perguntou o assombrado hipnotizador.
-Estou esperando...nas...cer. Estou olhando...o que faz minha mãe.
-Onde está tua mãe?
-Está... na bomba e... tem dificuldades para ...encher ...o balde…
-Por que tem dificuldades?
-Por que...meu corpo lhe pesa. Quero ...quero dizer-lhe que...tenha cuidado...Por ela...por
mim…
-Como te chamas?
-Não...tenho...nome…
Muito confuso, o dr. Whitton murmurou a ordem usual para produzir a amnésia pós-
hipnótica e trouxe de volta a paciente ao quarto amarelo e ao século XX. Mas a mente de Whitton
estava em outra parte. Ao cometer o erro de imprecisão verbal havia chegado por acidente a um
campo desconhecido da experiência humana: o intermédio entre reencarnações. Suas notas
mostravam que 55 anos separavam a morte de Margareth Campbell do nascimento de Martha
Payne. Poderia ser que a mente inconsciente de Paula tivesse estado no bardo dos antigos tibetanos?
Diante do público Whitton guardou silêncio . Se ateve às diretrizes originais do experimento
e se mostrou objetivo a respeito de suas descobertas (sem mencionar a entidade errante que
esperava seu nascimento). O informe publicado no periódico da Fundação para a Investigação de
Novos Horizontes dizia: “As recordações obtidas por hipnose do paciente se confirmam no
experimento, sua origem é um mistério. Os que creem na reencarnação insistirão em que essas
recordações são verdadeiras e de vidas anteriores. Os que não creem dirão que se tratam de
fantasias. Não crer não significa negar e crer não significa provar.”
Particularmente por trás dessa ambígua cortina de fumaça o dr. Whitton aceitava as
recordações de Paula como genuínos e correspondentes a vidas anteriores e sua memória do estado
incorpóreo referente a zona rural de Maryland deixou-o pensando na possibilidade de uma
existência incorpórea. Em sua expressão de preocupação e sentimentos adultos, Martha se havia
mostrado muito viva antes de entrar no corpo físico e sua alma sem corpo, ao estar protetoramente
sobre sua futura mãe havia possuído uma consciência de maior alcance que a de um ser humano
encarnado. Durante séculos houve indivíduos que ao recuperar a consciência depois de ter estado
“mortos clinicamente” informaram que haviam visto seus corpos colocados na cama do hospital, ou
em lugar do acidente. Lhe parecia ao dr. Whitton que esse tipo de testemunho era similar ao de
Paula que recordava ter estado viva “no céu”. A única diferença era que aqueles recordavam ao
ressuscitar os poucos segundos ou minutos depois da morte em lugar dos dias ou semanas antes do
nascimento.
Em lugar de precipitar-se num experimento novo para investigar a consciência incorpórea o
dr. Whitton começou a buscar chaves que pudessem sugerir alguma versão antiga da alma errante.
Consultando o Livro tibetano dos mortos, encontrou a descrição apropriada da entidade humana
incorpórea entre reencarnações…
“… não se tem corpo físico de carne e sangue, assim que os sons, as cores e os raios de
luz não podem ferir e não se pode morrer...Esse é o estado de bardo.”
Da mesma forma , o Katha Upanishad da Índia que data do século VI a.C., diz:
“O espírito não morre quando morre o corpo. Escondido no coração de cada ser jaz a
alma, o Espírito, o Eu; menor que o menor dos átomos, maior que os maiores espaços.”
Plutarco o filósofo grego pode ter estado se referindo a alma errante que andava por
Maryland quando expressou:
“Toda alma... recebe a ordem de vagar entre encarnações na região entre a Lua e a
Terra…”
Não se pode dizer que essas referências verifiquem a existência da consciência entre vidas
mas cada citação apoia de forma tácita a ideia da vida entre as vidas, a posse de uma consciência
ininterrupta entre uma e outra vida. No entanto o dr. Whitton não sentiu o incentivo de explorar os
mistérios do bardo até 1975, quando se publicou A vida depois da vida, o minucioso estudo do dr.
Raymond Moody que relata as experiências de pessoas que reviveram depois de consideradas
clinicamente mortas. O famoso livro que enfocava a experiência de morrer não dizia nada de
reencarnações. No entanto os pacientes de Moody falavam de “ter visto” seus corpos e ter estado
imersos numa mistura de sensações que tiravam o medo da morte. Alguns dos fenômenos mais
comuns foram uma intensa sensação de amor, alegria e paz, a presença de uma luz
indescritivelmente brilhante a participação num processo de auto-avaliação e a eventual consciência
de uma barreira limitante, uma fronteira. A vida depois da vida produziu tanto interesse na ideia do
além que o dr. Whitton se sentiu obrigado com suas investigações e reexaminou a recordação de
Paula flutuando sobre Maryland.
Quanto mais refletia o dr. Whitton sobre a evidência do renascimento e a consciência
incorpórea e quanto mais comparava essa evidência com a percepção teológica e mística mais
aguda se voltava sua curiosidade. Existiam testemunhos de vidas anteriores e das fronteiras da
morte e do nascimento, mas a terra de ninguém mais além da encarnação continuava sendo um
mistério ao parecer impenetrável e assim, como o astrofísico atraído pelos mistérios do espaço
exterior o dr. Whitton se viu levado a averiguar a natureza e a dimensão do bardo. Com o tempo se
converteria no cartógrafo não oficial dessa terra de ninguém, no explorador do mundo do limbo.
Mas partiu cautelosamente armado só com sua técnica hipnótica e uma pergunta instigante: “Que
nos ocorre entre as encarnações terrestres?”

A vida entre as vidas

“A vida entre a morte e o novo nascimento é tão rica e variada como a vida entre o nascimento e a
morte.”

Rudolf Steiner

Como a linguagem é um produto da experiência mundana, tendem a faltar palavras no


ambiente etéreo da vida entre as vidas. Como pode expressar-se o inexprimível? Como pode-se
dizer o indizível? Robert Browning em seu poema “Paracelsus” esteve perto de capturar a
indescritível essência do bardo. Assinalando que é acessível no mais profundo de nosso ser,
escreveu:

Em todos existe um centro muito profundo em que só reina a verdade...e “saber” consiste
em abrir um caminho para que possa escapar o esplendor aprisionado, para que chegue a luz que
não esperamos.

O dr. Whitton tem acompanhado mais de 30 indivíduos a quase todos por períodos de vários
anos nessa zona de “esplendor aprisionado” sem tempo e sem espaço. Tão poderosa e inefável é a
experiência para os que a visitam pela primeira vez que ficam sem palavras e seus rostos expressam
emoções de maravilha e assombro enquanto os lábios lutam inutilmente por poder descrever a
magnificência do ambiente.
Mais adiante fazem o possível para decifrar a infinidade de imagens e impressões. Nas
palavras de um indivíduo:

Nunca me senti tão bem. Um êxtase que não é desse mundo. Luz brilhante, brilhante. Não
tinha um corpo como na Terra. Em seu lugar tinha uma sombra, um corpo astral. E não caminhava
sobre nada. Não há terra, não há céu. Não há fronteiras de nenhuma classe. Há outras pessoas e
quando queremos comunicar-nos podemos fazê-lo sem escutar, sem falar…

Este benéfico que o dr. Whitton chama metaconsciência pode definir-se como a percepção
de uma realidade mais além de qualquer estado conhecido da existência . É algo distinto do sonho ,
das experiências fora do corpo , da volta a viver as vidas anteriores e de todos os outros estados
alterados de consciência. Ser metaconsciente é fundir-se com a quintessência da existência, abdicar
do sentido da própria identidade só para absurdamente tornar-se mais consciente de si mesmo. Ser
metaconsciente é liberar-se das limitações corporais, sentir-se em unidade com o Universo
converter-se em uma nuvem dentro da nuvem interminável e se bem que isso pudesse sugerir uma
atmosfera de livre flutuação num vazio de nuvem de algodão a vida entre vidas não é um conto de
fadas. Os que têm provado sua riqueza sabem que viram a realidade suprema, o plano da
consciência do qual partimos para sucessivas reencarnações e ao que voltaremos quando o corpo
morre.
Uma vez no estado intermediário das vidas os indivíduos hipnotizados são bombardeados
com todas as formas de significado e drama que de alguma maneira devem decodificar e traduzir
para poder aceitar sua situação e comunicar sua experiência.
É assim como usam símbolos universais (de modo inconsciente), arquétipos do inconsciente
coletivo, chamado assim por Carl Jung. Só mediante esses símbolos podem esperar entender e
descrever seu mundo os viajantes do bardo, desse mundo desprovido de tempo e espaço. Os que
podem simbolizar facilmente têm mais que dizer, os que têm dificuldade para visualizar tendem a
comunicar pouco.
Os indivíduos que se aventuraram no bardo fizeram de forma experimental sem esperar
nenhuma recompensa exceto o conhecimento de que estavam viajando por onde poucas pessoas
encarnadas o haviam feito. Mas não passou muito tempo até que a suas experiências - que iam
desde as percepções do tribunal do julgamento até escrever “roteiros cármicos” para a próxima vida
– se lhes encontrou valor terapêutico. Se bem que o fato de reviver recordações terrificantes e
perturbadoras das vidas anteriores já houvesse trabalhado uma cura mágica em muitos, a imersão na
vida entre as vidas contribuiu enormemente na compreensão de suas personalidades. Pela
metaconsciência se inteiraram de por que estavam metidos nas circunstâncias da encarnação atual.
Além disso se deram conta de que eles enquanto estavam no estado incorpóreo haviam
escolhido o lugar e os compromissos de sua existência terrena. Os pais, as carreiras, as relações e os
acontecimentos principais com suas penas e alegrias se viram como selecionadas de antemão.
Quase todas as viagens à vida entre as vidas começam com uma cena de morte. Primeiro o
dr. Whitton leva ao paciente hipnotizado a uma existência prévia e examina as horas finais de sua
vida até que a pessoa que está no divã esteja no umbral do bardo. De vez em quando faz uma
pergunta para conhecer os passos do processo para a morte, como “Onde estás agora?” E “Que estás
vendo?” É típico que o paciente expira na personalidade de uma vida anterior e então gradualmente
começa a relatar acontecimentos muito similares aos que escutaram e relataram os doutores
Raymond Moody, Kenneth Ring , Michael Sabom , Maurice Rawlings e outros médicos de pessoas
à beira da morte.
A aquisição da metaconsciência produz mudanças drásticas na fisionomia do paciente. Cada
franzir de sobrancelha, careta, temor, ansiedade e dor que tenha acompanhado a experiência de
morrer desaparece para deixar o rosto inexpressivo no início e logo tranquilo e relaxado e
finalmente maravilhado. Os olhos podem estar fechados mas é evidente que o indivíduo tem visões
sedutoras. Essas visões são tão avassaladoras que o dr. Whitton costuma deixar uns minutos aos
pacientes para que se adaptem a essa outra realidade antes de interromper-lhes com suas perguntas.
Quando se comunica com a pessoa que jaz no divã o faz não com a personalidade que está diante
dele senão com o ser eterno que produziu essa personalidade temporária. Um paciente (engenheiro
eletrônico) disse:

Quando se tem a experiência da vida passada, vê-se como uma personalidade única que
engendra uma reação emocional. Na vida intermediária não posso ver nenhuma parte de mim. Sou
um observador de imagens.

No despertar da existência incorpórea é onde começa a vida entre vidas. Os que têm
informado fenômenos de ‘quase morte”, tais como o brilho enceguecedor da luz e a revisão
panorâmica da vida que está por abandonar tem “espiado” apenas a vida intermediária. Ao
ressuscitar das experiências de quase morte, os indivíduos a miúdo falam de haver-se aproximado
de uma barreira que percebem como a fronteira entre a vida e a morte. Os pacientes do dr. Whitton
não encontraram nenhuma influência que lhes restringisse em suas viagens ao outro mundo porque
se havia completado a transição.
Mas sempre os confunde e surpreende uma vez que se tenham adaptado às benéficas ondas
do êxtase e a maravilhosa luz, a falta do transcurso do tempo e das 3 dimensões do bardo. Desde a
perspectiva terrena não há lógica; não há ordem, não há progressão: tudo ocorre de forma
simultânea.
Para alcançar a percepção interior e a compreensão do caos que se percebe o dr. Whitton
aprendeu rapidamente a pedir aos pacientes que isolassem e descrevessem acontecimentos
específicos tomados desse amálgama de simultaneidade. Esse exercício pode comparar-se com o de
meter as mãos muitas vezes numa bolsa com dados e tirar uma por vez para estabelecer um
ordenamento. Por necessidade assinalaremos uma ordem à vida entre as vidas ao detalhar as
distintas experiências informadas pelos pacientes do dr. Whitton. Mas deve ter-se presente que a
sucessão lógica só se encontra em ocasião de uma proximidade com a Terra no período imediato à
morte e prévio ao nascimento . Analisemos as características comumente informadas da vida entre
as vidas tendo em conta que a maioria dos pacientes hipnotizados fazem relatos fracionários e
incompletos. O que se segue se compôs a partir de muitas experiências.

Retirando-se do plano terrestre

A ideia da morte despertou os instintos mais rebeldes no poeta Dylan Thomas. “Não se
submeta a essa grata noite”, exigia a seu pai débil e enfermo. “Irrite-se, enfureça-se contra a morte
da luz”. Seus sentimentos não podiam ser mais alheios à sensibilidade de Walt Whitman que
escreveu esse rogo ante o inevitável da morte: “Vem, encantadora e suave morte”. Cada um tem sua
própria ideia do que poderia ser a morte, mas poucos se dão conta de que as atitudes pessoais junto
com a qualidade de vida de uma pessoa e o estado de adiantamento espiritual exercem uma
influência considerável sobre a natureza da experiência mesma.
A transição mais suave do corpóreo ao incorpóreo é a dos indivíduos que tem passado a vida
modelando o caráter de acordo com os impulsos mais elevados da alma. Sentem regozijo pela
desintegração do corpo e euforia porque vão libertar-se da prisão. Uma pessoa de desenvolvimento
avançado que tem a sensação de não ter-se realizado na vida sentirá remorsos por sua
incompetência ainda quando esteja desejando unir-se ao sublime do estado do bardo. As
personalidades menos desenvolvidas adotam usualmente uma de 2 posições. Temem pelo que a
morte possa trazer e lutam em vão para permanecer no corpo. Ou, sobretudo se estão com má saúde
querem mudar o veículo corporal o mais rápido possível por um novo e voltar rapidamente à
existência física. O choque da morte violenta faz a miúdo que a alma vague pelo plano terreno
talvez pela surpresa, a fúria, a autocompaixão, ou o desejo de vingança. Um professor universitário
que reviveu seu assassinato uma centena de anos antes quando era um índio no sudeste americano,
recordou seu estado emocional quando estava por entrar na metaconsciência:

Depois de ter sido torturado, assassinado e mutilado por outros 3 índios , flutuei fora de
meu corpo sentindo-me furioso. Pensei que se houvesse tido melhor preparação e estado físico
poderia salvar a vida. Enquanto abandonava o corpo fiz umas manobras de caratê no ar. Queria
ter uma segunda oportunidade de me defender, de conservar a vida.

A experiência muito publicada do “túnel” – uma transição típica – é um fato muito comum
de retiro da existência terrena. Uma e outra vez os pacientes do dr. Whitton dizem que “veem” seus
corpos diante deles antes de ser empurrados por uma passagem cilíndrica e alta. Logo descobrem
que deixaram seus corpos físicos e que não podem consolar aos parentes e amigos que ficaram para
trás. Em quase todos os casos a iniciação de experiências estranhas e maravilhosas dissipam logo
todos os laços com a Terra.
O tubo ou túnel parece servir como o canal de guia para mais além . Algumas pessoas são
recebidas por “guias” enquanto ainda estão em trânsito e são escoltadas à vida intermediária, mas
quase todos os indivíduos falam de viajar sós e fundir-se com uma multidão de estranhos ao final da
viagem. Quem quer que receba eventualmente o recém-chegado ao bardo – um parente ou amigo,
um condutor ou guia que tenha estado observando sua “carga” durante a última vida – costuma ser
visto como se levasse uma tocha para para iluminar o caminho. O de tocha ilustra como o imaterial
pode traduzir-se em símbolos. Por sua mesma natureza a vida intermediária não pode ser um
“lugar” e não há tochas nem nada próprio da parafernália terrena. Só existe o pensamento e este é
traduzido a um objeto em forma subconsciente.
O autor Stewart C. Easton escreveu que o estado de vida intermediária, “...não está no céu
nem em nenhuma parte. É melhor imaginá-lo como um estado do ser desconectado de todo o físico
e corporal”. No entanto vai-se perceber essa outra dimensão, seus elementos abstratos devem
converter-se em algo imaginável usando símbolos da vida corrente ou de alguma outra encarnação.

As luzes iniciais

O livro egípcio dos mortos é um manual sobre os estados depois da morte que data de 1300
a.C. O título do original egípcio é Avançando na luz e reflete com exatidão a experiência da
transição. A luz enceguecedora,a iluminação avassaladora é o fato predominante da entrada na vida
entre as vidas. A experiência oceânica de Consciência Cósmica poderia ser a percepção dessa luz.
Nenhuma bênção terrena pode comparar-se com o êxtase que se apodera de quem cruza o umbral .
O amor é tudo. O arrebatamento oblitera o medo e o negativo enquanto a alma é absorvida na
unidade sem diferenciação da existência.
Ainda que essas luzes iniciais nos recebam uma ou outra vez depois da morte de cada
encarnação sempre se percebem como uma grande surpresa . De repente se abrem os telões e somos
plenamente conscientes do cosmos e de nosso lugar no esquema universal. Os enigmas da
continuidade pessoal, a natureza da imortalidade e o processo da reencarnação ficam desvelados
facilmente, sem nenhum esforço. Uma assistente social que havia visitado 7 de suas vidas entre
encarnações disse:

No transe sinto uma completa mudança física quando passo por uma morte anterior. Meu
corpo se expande e enche todo o ambiente. Então me inundam os sentimentos de maior euforia que
conheci. Esses sentimentos se acompanham com a consciência e entendimento total de quem sou,
de minha razão de existir e do lugar que ocupo no Universo. Tudo tem sentido, tudo é
perfeitamente justo. É maravilhoso saber que o amor é que controla. Para voltar à consciência
normal há que deixar atrás esse amor que o envolve todo, esse conhecimento , essa segurança.
Quando estou decaída, quando a vida é desagradável , quase desejo a morte porque sei que
significa o retorno a esse estado maravilhoso de ser. Costumava ter medo da morte. Agora não
tenho mais.

Outro disse:

É tão claro, tão belo, tão sereno. É como aproximar-me do sol e ser absorvido sem sentir
sensação de calor. Você retorna à totalidade. Eu não queria retornar.

A natureza dessa profunda e bonita revelação varia em cada pessoa e parece modular-se com
a experiência, a consciência e as expectativas pessoais. Muitos pacientes se encontram envoltos
num manto de luz que irradia bem-estar e paz.
Outros veem tonalidades e matizes tão gloriosos que o arco-íris parece desbotado. Alguns
recebem iluminação na forma de esclarecimento associado aos interesses de suas vidas. Um homem
que viveu 2 vidas como matemático recebeu uma série de equações que continham as respostas
referentes à ligação entre as distintas formas de energia, que os físicos buscavam desde muito tempo
atrás. Uma mulher que havia tido encarnações sucessivas como musicista, escutou sons de grande
virtuosismo. Disse: “Eram umas composições incríveis. Só os maiores compositores poderiam
escrevê-las”.
Às vezes se recompensa a quem tem ideias preconcebidas sobre o outro mundo. Uma artista
que voltou a uma encarnação em que era uma jovem sueca recém-casada, reviveu o momento de
morrer afogada quando o galeão espanhol em que viajava afundou durante uma tormenta no Mar do
Norte ao final do século XVII. Era católica apostólica romana e as expectativas próprias de sua
religião foram cumpridas quando entrou na metaconsciência, com visões de querubins e serafins
contra um fundo púrpura, um coro e a figura de Jesus Cristo recebendo-a de braços abertos.

“Penso, logo existo”

Na Terra, para nos aproximarmos à unidade com o Universo por meio da meditação ,
devemos desarmar o processo do pensamento. Mas na vida entre as vidas temos que começar a
pensar para apreciar nossa individualidade. A vida incorpórea prossegue de maneira inconsciente e
só o ato de pensar na vida entre as vidas nos permite ver as bordas de nossas nuvens individuais
dentro da nuvem infinita da existência . A famosa expressão de René Descartes: “Penso, logo
existo”, resulta especialmente adequada para o estado de vida intermediária. Não há experiência de
existência sem o pensamento.
A magnitude da consciência individual que se tem no bardo varia de pessoa a pessoa . As
que prosseguem ativamente seu desenvolvimento espiritual são mais conscientes durante a vida
intermediária. As que sentem pouco interesse pelo processo evolutivo tendem a “dormir” durante
um lapso equivalente a muito tempo terrestre.

O domínio do desencarnado

O lar está onde você o constrói. Isto é, o ambiente da vida entre as vidas é um reflexo das
formas de pensamento e das expectativas de cada um. O livro tibetano dos mortos diz em repetidas
oportunidades que o habitante do bardo produz com sua mente o ambiente que o rodeia.

Rudolf Steiner sustentava que os pensamentos e as imagens mentais de nosso espaço


interior aparecem depois da morte como nosso espaço exterior. Ele disse: “Depois da morte todos os
nossos pensamentos e representações mentais aparecem como um grandioso panorama diante da
alma”. Os pacientes do dr. Whitton no estado metaconsciente informaram uma topografia muito
variada. Alguns exemplos:

Vejo palácios esplêndidos e os jardins mais bonitos.


Estou rodeado por formas abstratas de todos os tamanhos, algumas oblongas, outras
cilíndricas…
Paisagens, sempre paisagens e as ondas lambendo as praias…
Estou caminhando num nada sem fim ...não há piso, não há teto, não há terreno, não há
céu…
Tudo é de uma extrema beleza. Não há coisas materiais e no entanto tudo está
aqui...igrejas, escolas, bibliotecas e parques com jogos…
Não tenho consciência de estar em alguma parte. As imagens parecem como que vindas do
nada.

Um homem que sob hipnose chegou a seu nascimento nesta vida se encontrou ao princípio
numa enorme caverna. Ao fundo dela havia um muro e ele, elevando-se até o final olhou e viu o
plano terrestre verde e exuberante. Continua assim o seu relato:

Estava consciente de ter um pé em cada mundo. Desde meu lugar de observação podia
sentir a vegetação e a atmosfera da Terra. Mas na outra direção havia muito mais luz e o ar estava
rarefeito como numa cena do Mediterrâneo. Tranquilo, discreto, aprazível. Nas bases das colinas
viam-se edifícios brancos . Havia uma luminosidade especial sobre os edifícios e cada um tinha
arcadas baixas de bases largas. A luz dourada e suave se curvava sob as arcadas e brilhava de
dentro das casas.
Pareceria que às pessoas lhes fora concedida a possibilidade de habitar os lugares que
sonharam ou desejaram enquanto viviam na Terra. Mas os ortodoxos que creem que só a forma
estritamente respeitosa da doutrina será recompensada por uma audiência com Jesus Cristo com um
banco de igreja no reino dos céus vão desiludir-se. Os pacientes do dr. Whitton com vidas anteriores
estreitamente ligadas a alguma religião tem descoberto que o complexo curso da evolução pessoal
não pode ser suplantado pela simples noção de ser “salvos”. Victor Bracknell, personalidade de uma
vida de Michael Gallander, o paciente de nosso primeiro caso de estudo cármico (cap. 7) foi um
piedoso puritano do século XVII inquebrantável em sua fé de que estava fazendo a vontade de
Deus. Também cria de pés juntos que seria recompensado com a visão de Jesus. Mas a vida entre
vidas não lhe proporcionou uma visão de Cristo nem nada celestial. Em lugar disso teve que
enfrentar os conflitos que haviam feito que ele, em sua obsessão, fizera sofrer os demais.

A identidade do bardo

Entrar na metaconsciência é unificar-se com a superalma que é a pedra fundamental


invisível dos poderes do indivíduo. A consciência intuitiva desse ser interior é o “germen da
realização metafísica” como disse Alan Watts em seu livro A identidade suprema. É difícil imaginar
o que é fundir-se com o mais profundo do ser: o conhecimento está oculto na experiência . Como
disse Brihadaranyaka Upanishad de forma tão lírica:
Não podes ver ao que vê;
Não podes ouvir ao que escuta
Não podes pensar naquele que pensa
Não podes conhecer aquele que conhece
Esse és tu dentro do todo
E tudo o que não é isso é perecível.

Parece que cada perispírito tem um nome que está mais além da compreensão humana.
Vários pacientes do dr. Whitton contaram que em transe viram o nome de sua identidade interior
escrito numa linguagem desconhecida que desafia todas as tentativas de pronunciação. Nos
sentimos tentados a pensar se essa linguagem não poderia ser o que o místico Emanuel Swedenborg
descreveu como “linguagem dos anjos” ...Um homem teve a visão de seu nome escrito com
símbolos em um livro. Fez todo o possível para expressar oralmente esse nome mas não pôde emitir
os sons apropriados. Parecia que esteve tratando de abordar a linguagem essencial da mente
totalmente alheio à expressão vocal. Essa linguagem de comunicação telepática é a que usam os
seres incorpóreos que povoam o bardo, muitos dos quais se conhecem de encarnações anteriores.
Quando Jesus Cristo disse “O reino dos céus está dentro de vós” é provável que tenha estado
se referindo ao perispírito que contém uma multidão de personalidades que se materializaram em
existências prévias. O paciente em transe pode repassar as existências corpóreas e incorpóreas
dessas personalidades para tomar consciência de lições passadas que acelerarão o processo para o
objetivo da perfeição .
Na hipnose qualquer personalidade de uma vida anterior pode, se a dirige, possuir uma
autoconsciência muito mais ampla da que tinha na vida terrena. Podia perguntar-se a uma
personalidade anterior: “Que está ocorrendo em sua mente consciente?” pergunta a que não poderia
responder nenhum indivíduo consciente.
Não obstante as luzes iniciais mencionadas antes, a personalidade da vida anterior mais
recente é consumida pelas emoções que se originam em pensamentos, palavras e ações na
encarnação que acaba de terminar.
As emoções animais como a ira, o prazer sexual, a luxúria, a tristeza e os ciúmes ficam atrás
junto ao corpo físico, exceto em alguns casos raros em que os sentimentos são tão intensos que a
alma que se separa está marcada por esses sentimentos. As emoções cognitivas - amor, culpa,
êxtase, admiração, remorso, perda, temor, entre outras – se mantém à sombra ou no corpo astral . E
assim é como, para sua avaliação, a alma deve enfrentar o …
Tribunal do julgamento

A crença no julgamento depois da morte está presente em todas as tradições místicas,


filosóficas e religiosas. Os egípcios acreditavam na “pesagem da alma” diante de um temido
tribunal segundo os ensinamentos de Zoroastro. Os espíritos judiciais pesam cada ação do homem
segundo a qualidade de sua vida. Essas figuras celestiais de autoridade costumam aparecer em
triunvirato.
Três juízes aparecem na mitologia grega e a ideia da trindade divina ressurge na filosofia de
Lao-Tzu, nos Trimurti dos hindus e no Pai, Filho e Espírito Santo do cristianismo.
Se bem que os símbolos e a natureza do juízo difiram nas distintas culturas, o propósito do
julgamento é sempre o mesmo: avaliar as atitudes da alma e planejar seu curso futuro. O comum
estado de imperfeição humana sempre produziu um grande temor diante do juízo. Na epístola aos
hebreus em 10:27 se referem a “uma expectativa temerosa do juízo” na Canção de Olaf Ostesen da
mitologia escandinava se adverte “que grande é a tristeza da alma...quando as almas estão sujeitas
ao juízo cósmico”.
Os pacientes do dr. Whitton testemunham a existência de um tribunal e aumentam de forma
considerável as descrições provenientes do Velho Mundo. Quase todos os que se aventuraram na
metaconsciência se veem diante de um grupo de anciões sábios geralmente 2, às vezes 4 e
raramente até 7 percebidos de formas diferentes. Podem ter identidades indeterminadas ou o aspecto
dos deuses mitológicos ou dos mestres religiosos. Um paciente disse:

O guia me tomou o braço e me conduziu a uma casa onde estavam os juízes sentados a uma
mesa retangular. Vestiam roupas soltas e brancas. Senti sua idade e sabedoria. Em sua companhia
me senti como um menino.

Os membros do tribunal etéreo estão muito avançados espiritualmente e podem ter


completado seu ciclo de reencarnações humanas. Sabendo de forma intuitiva tudo o que se refere à
pessoa que está diante deles o papel que desempenham é o de ajudar o indivíduo a avaliar a vida
que viveu e fazer-lhe recomendações, às vezes, a respeito da reencarnação seguinte.
Se existe um inferno privado na vida entre as vidas, é o momento em que a alma se
apresenta diante do tribunal. É quando o remorso , a culpa e a auto-recriminação pelos maus atos
da última reencarnação se confessam com uma intensidade visceral que produz angústia e lágrimas
amargas ao ponto que sua percepção pode ser muito perturbadora. No estado corpóreo as ações
negativas podem racionalizar-se e reprimir-se sempre há muitas desculpas disponíveis. Na
entrevista as emoções geradas por essas ações surgem de forma crua e irreconciliável . Qualquer
sofrimento que se causou a outros se sente agudamente como se o vivesse de forma direta. Mas
talvez o pior de tudo seja dar-se conta de que já é tarde para mudar de atitude e retificar os erros. A
porta da vida anterior está fechada com chave e as consequências dos atos e evasões devem
enfrentar-se ante o tribunal e isso exige conhecer exatamente quem somos e que esperamos. As
opiniões alheias não servem ; o que está em jogo é nossa integridade pessoal nossa moralidade
interior.
No caos emocional os pacientes em transe se percebem como impedidos por sua más ações.
Um homem que havia assassinado sua amante na vida anterior apareceu ante o tribunal dos Três
com um corte no pescoço. Uma mãe que sem dar-se conta havia matado a seu filhinho se viu
acorrentada. E uma mulher que não podia perdoar-se de um traição que havia feito em sua
existência anterior, expressou sua sentimento de culpa com o clássico símbolo cristão…

Estou apoiada sobre um joelho e há uma grande cruz sobre meu ombro direito. Toda minha
alma está convulsa pela dor , o remorso, a tristeza, a culpa, o luto...É tanta a minha vergonha que
não posso olhar os Três. No entanto ao meu redor há cálidos raios azuis e paz , uma paz que sou
incapaz de compreender…
A “paz” que sentiu essa mulher, secretária de um médico, na presença do tribunal é
experimentada comumente. Os juízes irradiam uma energia restauradora, curativa que anula
paralisia e limpa as culpas. A secretária sentiu que levantavam a cruz de seu ombro, o homem com o
corte na garganta foi curado no instante e a mulher com as correntes sentiu que elas caíam de seus
pulsos e tornozelos. Outro paciente comentou:

Me dava medo estar frente aos juízes. Mas logo me dei conta de que não deveria assustar-
me. Irradiavam uma atenção benevolente e então o medo me abandonou.

No lugar de confirmar o auto-desprezo e a insatisfação da alma atormentada, o tribunal do


juízo dá ânimo, assinalando o que nessa vida foi positivo e correto. É como se dissesse :”Vamos,
não esteve tão mal sua vida” . Para justificar esse ponto de vista mais equilibrado, os juízes
presidem…

A vida em revisão

Com o propósito de que a alma tenha todo presente se enfrenta com a visão panorâmica e
instantânea que contém todos os detalhes da última encarnação. Emanuel Swedenborg comparou
essa revisão com a declaração do diário da vida de um indivíduo desde o nascimento até a morte.
Mas a experiência dos pacientes do dr. Whitton é que o processo é mais imediato e que abarca tudo:
é como reviver totalmente a última vida. Um paciente expressou:

É como entrar num filme de sua vida. Cada momento de cada ano da vida volta a viver-se
com todos os detalhes sensoriais. É a recordação total. E ocorre num instante.

A revisão diz à alma mais sobre sua última vida que o que poderia recordar o indivíduo
sozinho, ainda que tivesse uma boa memória. Expressa-se todo um mundo de que o indivíduo não
foi consciente. O quadro, muito maior, tem detalhes vívidos de maneira que a alma se dá conta
quando deixou de ser feliz ou quando sua falta de consideração causou dor a outros ou quando um
perigo mortal esteve próximo na esquina.
A alma absorve todos os significados desse videotape pessoal e isso desencadeia um
exercício rigoroso de auto-análise.
Para a alma esse é um momento da verdade, enquanto isso, os juízes não intervém. Segundo
os pacientes do dr. Whitton os juízes não atuam de maneira autoritária como sugere a tradição. Mas
se comportam como mestres carinhosos cujo objetivo é estimular o estudante a aprender e
beneficiar-se dos erros do passado. O tribunal inicia frequentemente a discussão dos episódios
críticos dessa última vida, oferece conselhos retrospectivos e instila confiança em cada experiência,
por desagradável que seja, coopera com o desenvolvimento pessoal.
As esperanças. Amizades, ideais, inclinações estéticas, processos mentais do indivíduo,
todos fazem parte da revisão. As reações emocionais, se mantém no mínimo enquanto os juízes
amavelmente ajudam a alma a entender com objetividade suas ações dentro do contexto de muitas
vidas. Só observando as tendências e pautas cármicas - sempre difíceis de analisar entre os limites
de uma só vida – pode a alma alcançar algum progresso no longo caminho da evolução espiritual.
A revisão da vida passada é provável que tenha sido resumida nos registros akáshicos que os
videntes e ocultistas têm visto desde muito como as impressões indeléveis deixadas na substância
etérica do Universo por tudo o que tem ocorrido. Edgar Cayce o grande clarividente norteamericano
disse que os registros akáshicos “eram para o mundo mental como o cinema para o mundo físico”.
Os clarividentes podem vislumbrar algo dessa consciência cósmica e pareceria que os pacientes
hipnotizados têm acesso à mesma imensa biblioteca não molecular. Cada vez que na regressão se
foca uma cena, uma instantânea de alguma experiência prévia , a pessoa em hipnose é consciente,
de maneira intuitiva, de detalhes importantes que estão mais além dos confins da instantânea. Esse
quadro em profundidade se relata de maneira que sugere que a informação se tomara de um
videotape de memória total.

Planejando a próxima vida

A descoberta mais significativa na investigação do dr. Whitton é que muitas pessoas


planejam suas vidas futuras enquanto estão em estado incorpóreo. O conhecimento de si mesmo
obtido mediante o processo de revisão habilita a alma para tomar decisões vitais que determinam a
forma da reencarnação seguinte. Mas a alma não age sozinha. A decisão sofre a forte influência dos
membros do tribunal, que, conscientes das dívidas cármicas dessa alma e de sua necessidade de
determinadas lições, a aconselham.
Segundo a tradição cristã, Jesus se vê como o único encarnado a quem lhe foi dado o
privilégio de escolher seus pais. A metaconsciência mostra que a opção se oferece a todos e que a
escolha dos pais para estabelecer o lugar e o endereço da vida futura é imensamente importante . Os
antigos tibetanos conheciam bem o procedimento de seleção; o Bardo Thodol adverte a alma
incorpórea: “...analisa onde vais nascer e escolhe o continente”.
Os conselhos dos juízes têm em conta o que a alma necessita , assim que essas
recomendações costumam receber com sentimentos misturados a menos que a alma queira
prosseguir seu desenvolvimento a todo custo. Uma mulher disse:

Estão me ajudando a determinar minha futura vida de modo que possa encarar todas as
dificuldades que apareçam em meu caminho. Eu não quero tomar a responsabilidade porque sinto
que não tenho forças suficientes. Mas sei que devemos enfrentar os obstáculos para ultrapassá-los
para nos tornarmos mais fortes, mais conscientes, mais responsáveis.

O preço do adiantamento é sempre um desafio e a dificuldade. Essa é a razão pela qual as


reencarnações se fazem cada vez mais difíceis quando a alma se eleva. O planejamento da vida
futura costuma fazer-se em consulta com outras almas, com as que se estabeleceram laços em
muitas vidas. Por isso a escolha do tempo e do lugar é de suma importância; uma escolha
equivocada equivale à perda da oportunidade de uma união produtiva.
A reencarnação em grupo , no qual o mesmo conjunto de almas progride mediante relações
que mudam constantemente em diferentes vidas, se produz com frequência segundo os pacientes do
dr. Whitton . O “roteiro cármico” requer a miúdo que voltem a estabelecer-se relações entre pessoas
que as tenham tido, agradáveis ou não em reencarnações anteriores. Um paciente que se sentiu
obrigado a compensar outros, expressou o seguinte:

Há gente a quem não tratei bem na última encarnação e devo voltar ao plano terreno e pagar
minhas dívidas. Essa vez, se as pessoas me ferem vou perdoá-las porque o que desejo é voltar para
casa. Esta é minha casa.

Pareceria que a expressão “almas afins” se aplica às entidades que conscientemente


reencarnam juntas muitas vezes para ajudar-se no progresso. Mas o progresso a miúdo depende da
reunião com aqueles cuja companhia não produz tanto prazer.

-Oh! Não! Outra vez ela! - exclamou um paciente, que havia sido professor de escola
quando lhe disseram que sua evolução pessoal se facilitaria se voltasse a nascer da mulher que havia
assassinado numa vida anterior. Para colocar-se em boa situação cármica, se aconselha a muitos
pacientes que aceitem corpos defeituosos. Por certo que a aflição corporal às vezes se aceita como
causa de maior evolução. Uma mulher contou:

Escolhi minha mãe sabendo que em sua família havia uma incidência alta do mal de
Alzheimer e que era muito provável que eu chegaria a sofrer dele. Mas os laços cármicos com
minha mãe eram muito mais importantes que essa deficiência genética. Havia também outra razão
para escolher minha mãe . Os juízes me disseram que me convinha passar pela experiência de criar-
me sem pai e eu sabia que meus pais haveriam de divorciar-se logo. Também sabia que a escolha
desses pais me colocava no lugar ideal para conhecer o homem com quem me casaria.

Nem todos os planos se elaboram de maneira tão específica. As personalidades menos


desenvolvidas parecem requerer um plano detalhado enquanto que as mais evoluídas só necessitam
em linhas gerais, assim atuam mais criativamente quando se apresentam os acontecimentos. A um
homem que tenha passado várias encarnações no estado depressivo e retraído lhe atraiu saber que
sua evolução exigia que estivesse exposto ao sensual e erótico na encarnação seguinte . Este homem
planejou ser uma mulher ardente recusando a possibilidade de exercer influência sobre os futuros
acontecimentos exceto na escolha do gênero e a atitude. Enquanto planejava a vida seguinte
visualizou:

...uma espécie de mecanismo de relojoaria em que podiam inserir certas partes para
verificar as consequências dessas mudanças. Deduzi que estava trabalhando para mudar algo. E
estava determinando essas mudanças com o mecanismo, fazendo as alterações necessárias no
plano de vida intermediária para que se revelassem em minha próxima vida na Terra.

O mesmo paciente foi consciente de “entidades amorfas” que conhecia de reencarnações


anteriores. Uma entidade que havia de ter papel proeminente na sua vida seguinte apareceu na
forma simbólica de metade rosa, metade cobra. Interpretando esse simbolismo, o paciente entendeu
que a cobra havia sido 2 vezes responsável pela sua morte e a rosa representava as qualidades do
amor que os havia unido durante várias vidas.
Descobrir qual é o plano pode produzir uma desilusão espantosa. A despachante de uma
empresa de táxis que tinha grandes problemas emocionais e um profundo sentimento de
inferioridade sentia-se destinada a grandes coisas se pudesse recordar o plano feito na vida
intermediária. Mas a metaconsciência revelou que o propósito de sua vida era simplesmente
aprender a superar suas dificuldades emocionais com outras pessoas. Resultou que ela esperava algo
grandioso que compensasse seu complexo de inferioridade.Desiludida pelo que percebeu como um
roteiro cármico muito prosaico se deprimiu tanto que tiveram que receitar-lhe drogas
antidepressivas. Mas se bem que doloroso, a exposição com seu plano pessoal capacitou-a
finalmente para levar a cabo a tarefa a que tinha se proposto.
Aqueles que fracassam muitas vezes nas tentativas de superar os obstáculos se veem
impelidos pelo tribunal a colocar-se em situações similares até que possam vencer esses obstáculos.
As pessoas que se suicidam costumam ter medo na vida intermediária , sabem que devem voltar a
encarar o nível de dificuldade que as levou a sua partida prematura do plano terrestre. Uma mulher,
candidata ao doutorado em ciências da nutrição se inteirou pela investigação das vidas passadas que
fazia 2 mil anos que não alcançava superar o abandono. Nessa vida havia dependido demasiado de
seu filho e quase sofreu um colapso nervoso quando ele se foi de casa para estudar na universidade.
A metaconsciência lhe revelou que havia falhado outra vez na prova e que devia seguir em situações
similares até aprender a dominar essa debilidade.
Os planos podem mudar de forma drástica ainda quando a reencarnação esteja vigente. Um
exemplo é o paciente Steve Logan que quando era jovem tinha sentimentos negativos em relação a
seu pai e raramente o visitava no asilo de Miami onde estava recluso com uma enfermidade grave.
Numa ocasião Steve sentiu a compulsão de visitar seu pai porque cria que fosse algo
importante. Chegou ao local para encontrar seu pai doente e conectado a uma quantidade de
dispositivos para mantê-lo vivo. Estando só, ao lado da cama, onde jazia o pai, viu que ele tinha
dificuldade para respirar porque o tubo do respirador estava bloqueado. A situação apresentou um
dilema a Steve: podia chamar a enfermeira para salvar a vida do seu pai ou podia deixar que
morresse. Depois de um momento de reflexão saiu correndo a buscar uma enfermeira que
rapidamente trocou o tubo.
Uns anos depois , quando tinha 29 anos, Steve teve um acidente indo de bicicleta numa
pequena cidade do Oregon. Um caminhão o atropelou e se considerou com muita sorte por haver
fraturado nada mais que o fêmur. Até que Steve tivesse mais de 40 anos e fosse conduzido à
metaconsciência não soube que entre os acontecimentos havia uma conexão que figurava no plano
feito na vida intermediária . Steve informa:

Meu roteiro cármico expressava com clareza que o incidente de vida ou morte de meu pai
era uma prova importante que eu havia idealizado. Se pudesse perdoar a meu pai suas injustiças –
que pareciam estender-se ao longo de várias vidas – eu não morreria no acidente. O plano
figurava a possibilidade de que em vista de minha conduta passada eu deixaria meu pai morrer.
Mas passei a prova e depois do acidente...o plano terminou! Aprendi que os roteiros para as vidas
futuras são levados à realidade na vida atual.

Pareceria que os que têm feito planos para várias vidas futuras são os que estão firmemente
decididos a evoluir. Essas entidades decididas falam que passam todo o tempo do bardo estudando
algo. As almas materialistas, por outro lado, falam de voltar rapidamente a encarnar em um corpo
enquanto possam sair da vida intermediária enquanto que os desprovidos de ambição dormem uma
vez que tenham comparecido ao tribunal e só despertam quando sentem a pressão de ter que
incorporar num corpo terreno.
Os conhecimentos adquiridos na vida intermediária, preparam a alma para a próxima
encarnação que é a oportunidade de colocar em prática o que aprendeu. Só mediante a aplicação
prática pode chegar-se ao domínio das situações. Quase todos os pacientes do dr. Whitton se viam
trabalhando intensamente em grandes salas de estudo equipadas com bibliotecas e salas para
seminários. Por exemplo, os médicos e advogados contam que estudavam suas respectivas
disciplinas durante a vida intermediária, enquanto que outros recordam ter estudado temas como “as
leis do Universo” e outros próprios da metafísica. Algumas pessoas até contam que estudaram
temas que não podem descrever porque não há na Terra nada semelhante.
Uma mulher informou de forma indireta suas investigações para descobrir o caminho para
Deus…

Estamos criados à imagem de Deus e a ideia é que devemos tratar de ser semelhantes a Ele,
devemos voltar a Ele. Há muitos planos superiores e para voltar a Deus para alcançar o plano em
que reside seu espírito há que desprender-se do invólucro uma e outra vez até que o espírito fique
realmente livre. O processo de aprendizado não termina nunca… Às vezes nos permitem visões dos
planos mais altos e cada um é mais elevado e brilhante que o anterior.

O processo de planejamento nos diz que muito do que sucede na Terra foi ensaiado em
maior ou menor grau na vida entre vidas. Ralph Waldo Emerson em No Uníssono com o universo
diz:

Tudo se elabora no invisível, antes de manifestar-se no visível, no ideal antes que no real,
no espiritual antes que no material. O âmbito do invisível é o âmbito da causa. A natureza do efeito
está determinada e condicionada sempre pela causa.

Quando estamos entre vidas é quase como se fôssemos pintores que fazem um esboço de um
afresco. Uma vez encarnados nos pomos a trabalhar tentando a obra de arte, executando dia a dia os
mínimos detalhes da obra geral.
Eventualmente na morte ou na metaconsciência, podemos dar uns passos atrás e analisar a
obra de arte. Só voltando à vida entre as vidas podemos saber se temos sido fiéis a nossos objetivos.
Naturalmente que o rascunho não assegura a obra de arte. Pode elaborar-se um plano mas
não implementar-se. É possível então saber se somos fiéis a nossas intenções na vida intermediária
à medida que progride a vida terrena? A resposta deve vir de dentro. Os que estão vivendo seus
roteiros cármicos e que até o tenha ultrapassado têm a sensação de que a vida está se desenvolvendo
como devido. Os que tem se afastado do plano sentem que tudo está fora do controle. Reina o caos.
Como os atores que esqueceram o roteiro e entram em cena são obrigados a improvisar enquanto se
desenrola o drama. Mas também há pessoas que parecem ter um equilíbrio precário entre o destino
e o fado, entre seguir o roteiro e entrar em cena improvisando. Têm um plano mas que está aberto à
improvisação .
E esse era o caso de uma mulher de 37 anos a quem arrastaram a um matagal e violentaram
perto de um cemitério índio em Illinois faz vários anos. Antes de consultar o dr. Whitton perdeu
muito tempo e energia porque havia sido vítima desse atropelo. Nada lhe serviu. Sua viagem à vida
entre vidas revelou que o estupro não estava planejado. Mas ao mesmo tempo soube que seu roteiro
cármico indicava que seria vulnerável a uma tragédia pessoal que lhe mudaria muito sua vida.
Disse:

Meu plano era que um acontecimento trágico faria mudar minha alma quando tivesse
pouco mais de 30 anos. Ao concentrar-me nesse acontecimento iria encontrar um sentido mais
profundo em minha vida. E isso foi exatamente o que se passou.

Se bem que tenha liberdade para recusar os conselhos dos juízes sobre o planejamento, a
alma não deve deixá-los de lado. Pois a recusa das recomendações significa que a reencarnação terá
lugar sem um plano ratificado e isso é um convite a uma vida de provas e dificuldades duras e
improdutivas. Nascer sem um plano também é uma questão de escolha.
O problema reside em que sem um roteiro a alma se sente avassalada pelo vento, uma vítima
do destino e não um participante dele. Não há castigos por não seguir o conselho dos Três, exceto o
da futura confrontação, com remorsos ao final de uma vida que, muito provavelmente se terá
desperdiçado.
Em ocasiões um paciente em transe se inteira de que não havia feito planos de vida durante a
vida intermediária e esse conhecimento o comunica ao dr. Whitton com uma invariável sensação de
medo. Em troca, os que têm um roteiro cármico respondem sem emoções no estado de hipnose
ainda quando estão descrevendo um plano de vida cheio de vicissitudes. Pareceria que nada é pior
que um futuro não planejado.

Regressando à Terra

Uma vez que se tomam as decisões cruciais só resta descer uma vez mais à reencarnação. A
metaconsciência deixa bem claro que enquanto a morte é realmente uma volta ao lar, uma trégua
das lutas cruentas, o nascimento é um primeiro dia de um duro projeto novo. Enquanto existem
aqueles que esperam com ansiedade os desafios da vida terrena, a maioria vê com desalento a
mudança do bardo sem tempo e espaço para a limitação que representa a vida terrena.
Supostamente alguns mostram mais desalento que outros. Um homem que numa encarnação
costumava abusar de jovens na antiga Grécia, sentiu uma recusa terrível para voltar à Terra como
um homossexual perseguido.
-Oh, não, maldição! Isto não ! Qualquer coisa menos isso ! - exclamou em transe.
Mais tarde disse:
-Não há maneira de que possa me adaptar a esse corpo. Mas já havia escolhido, sem desejo,
seguindo o conselho dos juízes e devia seguir adiante. Me senti empurrado.
Pareceria que o ato de reencarnar pode ser resistido durante um certo tempo e não mais.
Eventualmente se produz um acúmulo de pressão cósmica que exige que o paciente renove seu
desenvolvimento dentro dos limites de um corpo físico como explicou o paciente.
O tempo que transcorre entre duas reencarnações depende de cada pessoa e de cada vida.
Entre os pacientes do dr. Whitton, 10 meses resultou como intervalo mais curto entre vidas, o mais
longo durou mais de 800 anos. O período médio – uns 40 anos – tem encurtado nas últimas
centenas de anos. No mundo antigo quando o mundo mudava pouco de século em século, havia
menos incentivos para reencarnar-se que os que existem hoje. A transformação do mundo moderno
parece seduzir as entidades sempre famintas de experiências terrenas novas e isso tem reduzido o
tempo entre encarnações, fator esse que bem poderia explicar o imenso aumento da população.
Muitos dos pacientes do dr. Whitton que morreram durante a Segunda Guerra Mundial
reencarnaram a tempo de participar do “boom dos bebês”.
As almas menos evoluídas que anseiam por um novo corpo, qualquer corpo, não passam
muito tempo na vida entre vidas. Nem tampouco as que veem a oportunidade de elevar-se no plano
terreno para compensar carmicamente as ações de vidas anteriores. As longas permanências podem
originar-se no desejo de preparar conscientemente a planificação da vida futura ou podem provir da
atitude apática para o processo de evolução, atitude que dá por resultado o sono incorpóreo até o
“despertar” para a encarnação seguinte. Heródoto, o historiador grego que viveu durante o século V
a.C. menciona que os antigos egípcios ensinavam que cada alma devia passar um período de 3 mil
anos entre encarnações. Os hipnoterapeutas modernos têm recusado esse cálculo ao notar de muitos
dos pacientes têm renascido várias vezes dentro do século XX. Seth, o famoso espírito guia que se
comunicava mediante a escritora e médium Jane Roberts, sustentava que a escolha pessoal era a que
determinava a permanência no bardo. Seth disse: “Sempre depende do indivíduo. As respostas estão
dentro de vocês então como estão agora”.
Para entrar no plano terreno a entidade passa uma barreira etérea que diminui as vibrações
de sua consciência. Atrás da barreira - simbolizada pelo clássico “rio do esquecimento” –
desaparece a lembrança da magnificência do bardo. Essa amnésia é indispensável porque evita a
nostalgia pela grandiosidade que se abandonou e permite que o indivíduo embarque na nova vida
sem que o perturbem os ecos das ações boas e más do passado. Igualmente importante é o
conhecimento do plano que pôde traçar a alma para essa vida e fica no esquecimento. Assim como
seria irracional dar as respostas ao estudante antes do exame, a prova da vida exige que certas
informações se retirem temporariamente da mente consciente.
A tomada de consciência de ter ingressado num corpo pareceria, segundo as informações
disponíveis que vai desde alguns meses antes do nascimento até mesmo depois de sair do ventre.
Muitos dos pacientes do dr. Whitton mencionaram estar “revoluteando” sobre a mãe, instando-a a
escolher certos alimentos e música, desestimulando-a a beber álcool e fumar e dirigindo sua
conduta de maneira a alcançar bem-estar para ambos. Em muitos casos se comunica um nome para
a criatura em estado embrionário.
Entra a alma no corpo de repente ou de forma gradual? Antes do nascimento, durante ou
depois? Ou varia entre as pessoas? Essas perguntas vitais não têm ainda respostas definitivas pois as
evidências são de outro caráter. O assunto se complica pela existência de 2 tipos de memória : a do
cérebro e a da alma. Como a memória cerebral funciona dentro dos 3 meses da concepção, é difícil
saber se os indivíduos em estado de hipnose proporcionam mensagens que provém do sistema
nervoso central ou da eterna presença do “Eu”. Essa incerteza se bem que seja importante para o
problema do aborto, não tem solução. Diríamos que se a alma está dentro do corpo quando se
realiza o aborto, a morte do feto é um assassinato, se não, o que efetua o aborto está extirpando
somente um pedaço de tecido.
A questão do aborto se vê complicada mais ainda pela crença dos drusos do Líbano em que a
encarnação se produz sem a existência do bardo, que nasce um ser no momento de morrer seu
corpo anterior. Os adeptos do jainismo da Índia tampouco falam de um estado intermediário da vida
e dizem que se concebe uma criatura quando seu corpo anterior morre. Os dados de Edgar Cayce
sugerem que a alma pode entrar no corpo pouco antes do nascimento, pouco depois ou no momento
de nascer. Em geral, os pacientes do dr. Whitton apoiam as afirmações do clarividente Cayce
quando comunicam suas experiências no momento de nascer, como a do paciente a seguir:

Estava na sala de partos observando minha mãe e aos médicos ao redor . Uma luz branca
rodeava tudo e eu era um com essa luz. Ouvi o que os médicos diziam : “já vem”. Soube que devia
introduzir-me no corpo. Não tinha desejo de entrar nessa vida. Me havia sentido maravilhosamente
como parte da luz.
À medida que progride a nova vida, a vida entre vidas é como se não tivesse existido. A
criança desenvolve uma identidade central que supõe que seu eu e o ambiente físico que a rodeia
seja a única realidade. À medida que vai se desenvolvendo a linguagem é possível que sejam
relegadas à “irrealidade” algumas sensações sobre um estado mais refinado da existência.
Relegadas como vagas, abstratas e imaginárias.
Quando uma pessoa volta à consciência normal depois de ter viajado pela vida intermediária
, com frequência se sente perturbada, desorientada e desalentada. Como criaturas às que se
separaram do quiosque de guloseimas, os pacientes do dr. Whitton anseiam voltar ao âmbito da
compreensão perfeita em que o sentido da vida é claro e a alma e seu propósito imortal é diáfano
como cristal. Um indivíduo se queixou dizendo:

Me despertei num mundo irreal. Agora sei onde está a realidade.

Até uma mera olhada na “verdadeira realidade” proporciona o conhecimento de que a


experiência do bardo está destinada a ocorrer, ainda que mais não seja porque está contido no
veículo corporal perecível. E isso suprime o medo da morte. Outro indivíduo disse:

Agora posso esperar a morte sabendo que é algo realmente belo.

Se bem que quase todos que viajam pela vida entre vidas retenham o sentido desse outro
mundo maravilhoso quando despertam, poucos são os que podem relatar algo coerente que os
satisfaça plenamente apesar de haver feito boas descrições quando estavam em transe.
-É tão diferente – dizem buscando as palavras.
Uma mulher disse:

Não posso explicá-lo. Mas agora conheço os porquês, as razões de minha própria vida.

Parte da dificuldade da interpretação reside nas características especiais da metaconsciência .


Os seres humanos tratam de descrever os acontecimentos estranhos em função do que conhecem
mas na Terra não há nada que possa comparar-se com algo da vida intermediária. Até os símbolos
fracassam quando se tenta apreender a natureza e o sentido da experiência. E também sucede que as
pessoas censuram suas recordações. Um paciente comentou:

Posso omitir informação mas não posso mentir.

Há uma inclinação muito forte a suprimir qualquer emoção negativa. A amnésia voluntária
se produzirá sem dúvida quando a alma decide que o conhecimento consciente dos acontecimentos
que se avizinham afetarão o desenvolvimento cármico.Várias vezes os sujeitos hipnotizados têm
visto acontecimentos futuros em suas vidas e têm pedido ao dr. Whitton que apagasse essas
premonições de suas consciências.

Por favor, não permita que recorde disso quando despertar. Poderia sentir a tentação de
interferir em meu carma.

Outros têm saído do transe enquanto relatavam as circunstâncias de seus futuros e se


encontram incapazes de lembrá-las.
No entanto, alguns sentem-se em liberdade para rever seus roteiros cármicos, de levar os
conhecimentos à consciência e predizer fatos do futuro de suas vidas. Quando as predições eram a
curto prazo o que permitia sua verificação, demonstram ser acertadas. Mas o que ocorre com maior
frequência é que se permite aos indivíduos ter só uma visão borrada do que os espera. Em agosto de
1984, um operador de máquinas pesadas soube, quando estava no estado de metaconsciência que
lhe esperava algo “terrivelmente mau” no outono de 1985. Não tinha ideia de qual podia ser esse
acontecimento desgraçado e sabia que não devia tratar de descobrir para não tomar medidas para
evitar que sucedesse. O paciente disse:

Seja o que for, devo passar por ele em prol de minha evolução.

Em 15 de setembro de 1985 teve um gravíssimo ataque de asma pelo qual esteve internado 2
semanas, primeiros 4 dias em unidade de terapia intensiva. Todos os que voltam do bardo contam
uma história diferente.
O tema é similar mas os relatos variam quanto à intensidade da luz ou do esclarecimento no
umbral , ao aspecto dos membros do tribunal (alguns não visualizam aos Três senão somente
sentem os conselhos de uma autoridade superior) o grau até o qual podem permitir-se rever o roteiro
cármico e muitos outros detalhes. Mas num aspecto fundamental os poucos privilegiados que
visitam a vida intermediária recebem a mesma mensagem: somos totalmente responsáveis por quem
somos e as circunstâncias em que nos achamos . Nós fazemos as escolhas.
A total responsabilidade por si mesmo pode perceber-se como liberdade sobre o fio da
navalha mas o terror se atenua com o conhecimento de que todos tomamos parte de um processo
evolutivo assombroso em que participam todos os pensamentos, palavras e fatos com sentido e
propósito.
Tendo visto como se escolhe cada encarnação sucessiva sobre a base do passado, os
viajantes da vida intermediária são obrigados a retornar a esta vida com uma maior clareza sobre
suas responsabilidades.
Mas também retém a apreciação profunda da sensibilidade moral que opera no
macrocosmo , sensibilidade que perdura ainda em complexas viagens de ida e volta da vida
corpórea. Expor-se a essa realidade mais profunda a essa maior harmonia, não promete mais que a
libertação mediante a compreensão. Como disse Cícero em De Legibus depois de haver visto o além
: “Por fim sabemos as razões pelas quais devemos viver, e não só estamos ansiosos por viver senão
que temos maiores esperanças na morte”.

A ponte aérea do nascimento: Nossa viagem até aqui…

“Todos voltamos, essa certeza é a que dá sentido à vida”

Gustav Mahler

Se não existisse a reencarnação não poderia conceber-se a vida intermediária, da mesma


maneira que não poderíamos pensar num rio sem margens nem em sono sem despertar. A natureza
mesma do bardo requer que cada experiência incorpórea esteja ladeada por existências corporais.
Daí a necessidade dessa “ponte aérea” do renascimento que nos leva à encarnação física e nos
devolve, ao morrer, ao plano imaterial da consciência entre vidas.
A hipótese de que estamos obrigados a voltar para a vida uma vez depois da outra em
distintos veículos corporais está apoiada na tradição cultural, na doutrina religiosa, e na
investigação científica. Mas toda eloquência e evidência no mundo não fará a ideia mais aceitável
para os que decidiram não acreditar. Aceitar o renascimento vai na mão com a exploração de nossas
verdadeiras naturezas espirituais e existe pouco alento para um escrutínio desse calibre na sociedade
moderna. O componente espiritual da humanidade tem sido quase descartado até convertido em
objeto de escárnio por uma civilização ocidental baseada em condicionamento dogmático.
A origem das espécies de Charles Darwin tão revolucionária durante a segunda metade do
século XIX apenas insinuava a vastidão da evolução humana. Darwin tratou somente da evolução
física. Deixou sem tratar o tema mais amplo e complexo do progresso intelectual que leva a
humanidade de vida em vida mediante mudanças de consciência.
Em um mundo predominantemente materialista “o instinto de progresso na carreira” como
descreveu Henri David Thoreau à reencarnação se apega cedo. Contudo, em 1982, numa pesquisa
Gallup indicou que 23% dos norteamericanos creem no renascimento (como se disse antes , 67%
crê na vida depois da morte)enquanto que 3 anos antes uma pesquisa do Sunday Post de Londres
informou que crê na reencarnação 28% da população britânica , o que representa um aumento de 10
% em 10 anos . Nas ilhas britânicas vendem-se uns botões de metal com a engenhosa inscrição:
“Está voltando a reencarnação”. Mas não há nada radical nessa tendência . O renascimento sempre
tem sido proclamado pelos sábios filósofos e espirituais mais profundos : desde Platão ao Jesus
Cristo. E historicamente tem figurado de forma proeminente nos anais do pensamento e
comportamento humanos.
Comecemos com nossos antecessores pré-históricos. Há muito tempo as tribos do mundo
aceitavam a reencarnação como a lei da vida. A morte significava o retorno à Mãe Terra, de cujo
ventre voltaria a surgir o indivíduo. Os esqueletos do homem de Neanderthal (entre 200mil e 75
mil a.C) foram encontrados dispostos em posição fetal como se esperasse uma próxima
reencarnação. A crença xamânica do período paleolítico superior ( de 15mil a 25mil anos)
sustentava que os humanos e os animais voltavam a nascer de seus mesmos ossos onde se pensava
que residia a força vital. Em algumas tribos de índios norteamericanos o que aspirasse a ser xamã
devia recordar suas 10 últimas mortes. A memória tribal, os antigos mitos e fábulas, a crença
religiosa e a sabedoria clássica todas apoiam a convicção de que são necessárias muitas encarnações
para a evolução espiritual como é necessário os anos para o desenvolvimento físico. O renascimento
se vê como mecânica, o marco da imortalidade, os meios pelos quais pode chegar-se ao
esclarecimento perfeito.
Entre as vidas estamos unidos com nossa herança celestial. Quando voltamos a Terra para
assumir nossos destinos ao calor da experiência física, esquecemos temporariamente nossos
conhecimentos do verdadeiro manancial. O reprimido conhecimento da vida intermediária se
transforma em fé. Esta por sua vez se converte em religião: as ânsias e as lutas por aquilo que foi
deixado para trás. O ensino da reencarnação figura nas mais veneráveis escrituras religiosas. Nos
textos budistas se compara a transição de corpo a corpo com a chama que passa de vela em vela e a
alma é representada como dando forma aos corpos de acordo com suas necessidades como o
ourives trabalho o metal. As antigas escrituras dão muitas referências sobre a roda do renascimento
dos seres humanos presos a ela pelas cadeias do carma em todos os ciclos de existência .
“Carma” – o tema do próximo capítulo – é o nome que se dá ao fator de autodeterminação
que regula os estados da série de reencarnações. Literalmente significa “ação”. O carma representa
o jogo de causa e efeito na vida depois da vida, enquanto que suas demandas, como veremos nos
casos estudados se sentem de forma aguda nos estados de vida intermediária. São Paulo diz na carta
aos Gálatas 6:7 : “O que o homem plantar sempre colherá”. Essa é a explicação do funcionamento
do carma: tudo o que o indivíduo pensa ou faz atua sobre o Universo para criar sua reação. De
acordo com os ensinos hindus e budistas mais de 2 bilhões de asiáticos aceitam a repetição dos
ciclos de nascimento e a morte.
Sua esperança é que mediante a generosidade, a compaixão e a busca do conhecimento a
temida escravidão na roda poderá mudar pela libertação ou moksha. Mas também reconhecem que
em quase todos os casos as falhas humanas o impedem, que as cargas do carma e os desejos de
prazeres sensuais da vida terrena fazem que o caminho da purificação seja muito longo e requeira
muitas reencarnações. Gautama Buda, de quem se disse que viveu 550 vidas prévias durante mais
de 25 mil anos assinalou que os laços que unem os seres humanos com a existência terrena os
confinaram à obrigação de renascer.
Muito antes de nascer Buda, os antigos gregos haviam desenvolvido uma consciência
profunda do processo de reencarnação. As escrituras egípcias nos contam como o Deus Osíris que
personifica o conhecimento esotérico foi conduzido ao Egito desde a Índia na forma de um touro
malhado. Os textos gregos fazem referência com uma fraseologia que antecipa a clássica crença
hindu “a tristemente e tediosa roda”. Os antigos habitantes do norte da Europa estavam tão seguros
do renascimento que choravam cheios de compaixão quando nascia uma criança e recebiam a morte
com regozijo . Se diz que os druidas com uma convicção maior ainda , admitiam que se não se
podia pagar o dinheiro emprestado nessa vida, poderiam fazê-lo na próxima encarnação. Por certo
que o mundo antigo estava tão imbuído dessas ideias que a palavra “educação” significava
originalmente “extrair algo do que já se sabe”. Platão em sua teoria sobre a reminiscência declarou:
“O conhecimento facilmente adquirido é aquele que se adquiriu numa vida anterior , por isso flui
com facilidade”. Cícero um grande orador e filósofo romano estava de acordo com Platão ao dizer
que a velocidade com que aprendem as crianças “é uma prova de que os homens sabem quase tudo
antes de nascer”. As crianças prodígio proporcionam evidências circunstanciais de que o talento
não necessariamente se desenvolve na vida que está transcorrendo senão que pode ter se originado
em existências anteriores.
Embora o cristianismo ortodoxo, o judaísmo, o islamismo neguem a reencarnação, em cada
uma dessas 3 grandes escolas do pensamento religioso houve grupos que argumentaram
decididamente em favor da reencarnação. Ao invés do que se crê comumente ,o renascimento foi
aceito amplamente por muitos cristãos primitivos de forma notável por Orígenes que figura na
Enciclopédia Britânica como “o mais proeminente dos padres da Igreja com exceção de Santo
Agostinho”. Santo Agostinho se angustiava ante a perspectiva de existências múltiplas. Escreveu:
“Diz-me Senhor, acaso minha infância sucedeu a outra idade de mim que morreu antes ?” Talvez
ignorasse que Jesus Cristo atestou em favor da reencarnação tanto na Bíblia como mais
explicitamente nas escrituras gnósticas. O evangelho gnóstico Pistis Sophia cita Jesus dizendo que
“as almas são vertidas em corpos mundanos diferentes”.
Não foi somente no século IV, quando o cristianismo evoluiu de grupos de devotos,
perseguidos, a uma instituição madura para a manipulação política, quando se desenvolveu a
oposição à reencarnação na teologia cristã. A nova aliança entre Igreja e Estado com o objetivo da
dependência cultural das massas se sentiu ameaçada pelos que criam no renascimento, porque os
cristãos eram indivíduos que tinham confiança em si mesmos e praticavam a liberdade de
pensamento e então podia não ser fácil obter sua subserviência.
Como não se lhes convencia com promessas de felicidade no mais além nem se lhes
assustava com a ameaça com o fogo do inferno se lhes chamou hereges (por sua raiz significa nada
mais que “capaz de escolher”). Mas não houve um edito oficial que condenava a doutrina da
reencarnação durante o Império romano até 553 d.C. quando o imperador Justiniano ditou
maldições eclesiásticas formais contra a “monstruosa repetição” do nascimento.
À censura seguiu-se a perseguição de todos os que se negavam a abjurar de suas convicções.
Mas a resistência foi tão tenaz sobretudo pelos cristãos chamados “cátaros” que só no século XIII a
campanha de terror e matança da Igreja alcançou erradicar a ideia de reencarnação no ocidente. Mas
ficou uma luz acesa. Grupos místicos secretos como os alquimistas e rosacruzes conseguiram
contrabandear a crença até as épocas modernas.
O afrouxamento da camisa de força eclesiástica começou no Renascimento com a exaltação
espontânea da individualidade. Durante a época do Iluminismo que se seguiu muitos dos grandes
cérebros europeus adotaram a ideia de que ter numerosas vidas dava sentido, propósito e justiça à
existência que de outro modo é fútil e injusta. Voltaire disse: “Depois de tudo não é mais
surpreendente nascer duas vezes que uma”. Mas esse tipo de raciocínio não convencia as massas. A
maioria tinha a ideia ortodoxa da alternativa post mortem entre o paraíso e a condenação eterna. O
tempo transcorria mas pouco mudava. A estrita mentalidade vitoriana e o entusiasmo da revolução
industrial era difícil que levasse ao ressurgimento do interesse pela reencarnação. E no entanto a
negativa implícita dessa era a respeito da existência de uma consciência mais elevada convidava o
desafio ao materialismo que apareceu com o movimento teosófico e a expansão da Ordem
Rosacruz.
Durante a segunda metade do século 19 os teósofos nadaram contra a corrente ao importar
ao Ocidente o que passou a chamar “a sabedoria do Oriente”. Mas a causa não resultou atrativa e
logo foi contestada pela aparição de pensadores que negaram a existência do mundo espiritual,
homens como Karl Marx, Sigmund Freud e Bertrand Russel. Os teósofos não podiam esperar que
simplesmente por repetir e esmagar os escritos místicos orientais, sobrevivesse a ideia do
renascimento no áspero clima intelectual do século 20.
Contra o grandioso pano de fundo do desenvolvimento tecnológico se pressionava para que
se confirmasse ou negasse, sobre bases empíricas a realidade do enigma chamado reencarnação.
Durante a década de 1890, um francês, o coronel De Rochas deu os primeiros tímidos passos para
uma metodologia científica. Imitando o estilo de Franz Anton Mesmer, o médico austríaco que deu
seu nome à hipnose ou “mesmerismo”, De Rochas levou a seus pacientes mais além do nascimento
e a uma série de “vidas passadas”. Havia se levantado o véu que ocultava uma nova dimensão da
experiência humana e ao mesmo tempo formulava a pergunta que ainda está em vias de responder:
Refletem uma existência prévia os testemunhos dados em estado de transe ? Como ele não pôde
provar a veracidade histórica das vidas de seus pacientes - se bem que deu testemunhos plausíveis
mencionando lugares e famílias que soube que existiram- De Rochas ficou meditando sobre a
“obscuridade em que têm que lutar todos os observadores no começo de cada ciência nova”.
Por anos, depois das experiências de De Rochas, os psiquiatras e psicólogos citavam a
perturbação mental como causa de que seus pacientes às vezes recordassem outras vidas. Outras
explicações, como a percepção extrassensorial, a possessão da vida atual – se oferecem ainda para
descartar os testemunhos das vidas passadas. A dificuldade está em que ainda que uma vida
anterior se verifique historicamente ninguém pode provar que a pessoa mesmo com toda
emoção foi o indivíduo que disse ter sido. Como os conceitos de céu e inferno o de reencarnação é
uma proposta metafísica e não pode colocar-se em termos terrenos de realidade nem julgar-se com
as limitações terrenas.
Há que sacrificar a prova à percepção. Os primeiros experimentos de regressão hipnótica
produziram muita agitação nos círculos profissionais mas o hipnotizador amador Morey Bernstein
despertou a imaginação do público em 1954, com Bridey Murphy, personalidade que aparecia cada
vez que hipnotizava a dona-de-casa Virginia Tighe, de Colorado, usando a chama de uma vela. Os
relatos vividos da vida de Bridey na Irlanda no século 19 alcançaram as manchetes dos jornais de
todo o mundo ocidental provocando milhões de conversações sobre o renascimento e a explosão de
festas de baile de máscaras estilo “veja como você era”.
Nos finais da década de 1920 o trabalho de Edgar Cayce atraiu para a ideia da reencarnação
um público menos numeroso mas mais interessado. Ele, um devoto presbiteriano, rechaçou a
princípio a ideia do renascimento. Mas em 10 de agosto de 1923 emergiu de um transe
autohipnótico declarando que as pessoas renascem em corpos diferentes. Temendo a princípio que
suas faculdades subconscientes tivessem estado dirigidas pelo diabo logo aceitou seu próprio
testemunho : as pautas cármicas estão mescladas nas histórias pessoais ao longo de milhares de
anos . Cayce chegou a compreender que a reencarnação não é oposta aos ensinamentos de Jesus
Cristo. Deu 2500 conferências a respeito nos 21 anos seguintes . Muitas vezes encontrou que
enfermidades atuais estavam ligadas à presença – ou ausência- de fatos nas vidas passadas . Isso o
levou a rechaçar o conceito de herança. Quando alguém lhe perguntou:
-De que ramo da família herdei minhas características ?
Cayce respondeu:
-Você herdou quase tudo de si mesmo, não de sua família. A família é só um rio pelo qual
flui a alma.
A voz de Edgar Cayce se escutou numa época em que o mundo se agitava com os tremores
da revitalização espiritual. Depois de séculos de mútua alienação, a ciência e o misticismo
começaram a andar juntos à medida que a interdependência da mente e o corpo, da matéria e o
espírito iam reconhecendo-se. As teorias de Albert Einstein sobre a relatividade demonstram que a
clássica física newtoniana não alcançava penetrar a verdadeira natureza do tempo, o espaço e o
movimento. A chamada “nova física” que se seguiu descobriu que as partículas subatômicas estão
morrendo e renascendo constantemente, que as interações subatômicas consistem no aniquilamento
das partículas originais e a criação de outras novas. Em outras palavras, uma forma
submicroscópica de renascimento subjaz a todo fenômeno no mundo físico. O mesmo princípio
parece funcionar nos âmbitos mais amplos quando os astrofísicos propõem que o Universo mesmo
está sempre morrendo para poder renascer. Essa visão universal de morte e renascimento esteve
sempre simbolizada por Shiva, a deusa hindu de 4 braços que rege a criação e destruição
permanente. Também está implícita no antigo Tao chinês, cujos incessantes ciclos de vida de ida e
volta expressam a natureza mesma do processo de vida.
Enquanto os físicos investigavam o pulso cósmico, os expoentes da regressão hipnótica
continuaram explorando a nebulosa fronteira do inconsciente humano. Os mais notáveis sucessores
do pioneiro coronel De Rochas foram o sueco John Bjórkhern e o dr. Alexander Cannon, um inglês
a quem outorgaram títulos por 9 universidades europeias. Reuniram muito material sobre as vidas
anteriores. Se bem que o dr. Cannon induziu à regressão 1382 voluntários a períodos tão longos
como vários milhares de anos antes de Cristo, só chegou a aceitar o testemunho dos pacientes com
muitas dificuldades.
Em 1950 o dr. Cannon escreveu em O poder interior:
Durante anos a teoria da reencarnação resultou como pesadelo para mim e fiz todo o
possível por descartá-la e até discuti com meus pacientes em transe dizendo que falavam tolices.
Mas passavam os anos e todos os pacientes me contavam a mesma história, ainda que tivessem
crenças diferentes. Agora, depois de ter estudado mais de mil casos devo admitir que existe algo
chamado reencarnação.
O dr. Cannon, que declarou que a obra do psicanalista Sigmund Freud havia sido “ajudada
pela reencarnação” se especializou em buscar as origens dos complexos e temores em incidentes
traumáticos ocorridos em vidas passadas.
O trabalho do dr. Whitton se baseia nesse legado. Cannon abriu o caminho para uma
profissão que nas décadas de 1970 e 1980 tem sido responsável pela cura de centenas de milhares
de pessoas. A terapia de vida passada em sua melhor expressão exige a quem a pratica um alto grau
de paciência, intuição e virtuosismo técnico. Muitas são as horas que tem que passar investigando a
sucessão de existências prévias de um paciente para localizar a fonte original do mal-estar em outro
tempo, outro lugar e outro corpo. Mas a cura das perturbações físicas e mentais costuma ser
sumamente rápida e efetiva quando se reuniu a informação pertinente extraindo-a do subconsciente.
Ninguém pode afirmar com certeza como nem porque funciona o processo curativo, mas
parece que o fato mesmo de enfrentar e aceitar a negatividade presa na psiquê durante tanto tempo
provoca uma alquimia de liberação. Entre os beneficiários da terapia da vida passada há desde
caminhoneiros até estrelas de cinema. Eles se encontram identificados emocionalmente com suas
personalidades encontradas tanto se o transe lhes permite entrar em corpos anteriores como se
somente podem observá-los de longe. Praticamente todos os terapeutas da vida passada estão
convencidos de que seus pacientes estão voltando a experimentar suas existências anteriores. A dra.
Edith Fiore psicóloga clínica em Saratoga, Califórnia, disse: “Se a fobia de alguém se elimina de
forma instantânea e permanente pela recordação de algum acontecimento do passado, parece lógico
crer que esse acontecimento ocorreu”.
A dra. Helen Wambach, outra psicóloga clínica de Califórnia começou há anos uma
investigação para apoiar ou negar a ideia da reencarnação. Seus estudos se baseavam nas estatísticas
de centenas de sujeitos hipnotizados, que, sem ter em conta o sexo da vida atual, foram agrupados
sobre a base do sexo que tinham em períodos tão afastados como em 2000 a.C. e se encontrou
50,6% de vidas masculinas e 49,4% de vidas femininas. Se bem que os pacientes eram , na época de
sua regressão norteamericanos brancos de classe média, todas as reencarnações que recordaram
refletiam a raça, classe e distribuição da população no mundo histórico. Além do mais, o que
disseram sobre roupa, calçado, utensílios para comer usados nas épocas anteriores coincide com a
verdade histórica. Seus estudos deixaram-na “sabendo” mais que crendo no processo da
reencarnação. Ela explicou:
-Se está em um local ao lado do caminho e passam mil pessoas dizendo que acabam de
cruzar uma ponte na Pensilvânia, acaba-se por crer que realmente existe uma ponte na Pensilvânia.
É impossível obter na prática uma evidência indiscutível do renascimento porque não pode
provar-se que uma pessoa com recordações de uma existência anterior haja sido realmente o
indivíduo recordado. Este dilema traz à mente as palavras do psicólogo William James, que disse:
“ Se você quer refutar a lei que diz que todos os corvos são negros não necessita demonstrar que
nenhum o é, basta encontrar um só corvo branco”. Durante mais de um quarto de século 2
investigadores da memória da vida passada, o dr. Ian Stevenson e Hemendra Banerjee, fizeram
todo o possível para encontrar aquele único corvo branco. Mas até agora o corvo desbotado se nega
a aparecer.
Sem se deixar intimidar Stevenson e Banerjee têm concentrado seus esforços em comprovar
e comparar as recordações espontâneas de vidas anteriores de centenas de crianças que viviam em
distintas partes do mundo. Um atrás do outro, encontraram que os relatos das crianças estavam de
acordo com a vida real de certas personalidades históricas e os lugares em que habitaram. Os
arquivos desses dedicados pesquisadores mostram que, se não podem mostrar ao público os corvos
brancos sua existência não pode recusar-se facilmente. O dr. Stevenson que tem mais de 2 mil casos
arquivados no computador do Departamento de Parapsicologia da Universidade de Virgínia, disse
que “um homem racional pode, se deseja crer na reencarnação sobre a base da evidência e não
simplesmente sobre a base da doutrina religiosa ou a tradição cultural”. Ao mesmo tempo assinala
com prudência: “Não há um só caso de todos os investigados que ofereça algo similar a uma prova
da reencarnação. O que proporcionam os casos é um corpo de evidência que sugerem a
reencarnação, corpo que vai crescendo em quantidade e qualidade”. Indicadores do acúmulo de
evidências são as marcas de nascença (mais de 200) dos meninos que declaram haver sido mortos
por balas ou punhais que perfuraram distintas partes de suas anatomias em uma vida anterior. Em
17 desses casos o dr. Stevenson obteve documentos médicos como registros hospitalares ou
informes de autópsias que estabelecem que o indivíduo, em sua vida anterior foi morto da maneira
como descreveu.
Hemendra Banerjee, que fundou o Instituto Hindu de Parapsicologia em 1957 e vive nos
EUA desde 1970, se convenceu da realidade da reencarnação observando como as crianças
reconhecem emocional e espontaneamente os familiares e amigos da vida passada. Nesse contexto
as crianças são testemunhas de confiança; o testemunho dos pequenos comumente entre 2 e 5 anos
de idade não foi contaminado pelo preconceito cultural nem atrapalhado pelas exigências crescentes
da experiência mundana. É comum que um ato de violência tenha posto fim às vidas que eles
recordam. Pode supor-se que a violência produziu uma reação emocional bastante forte como para
perfurar a amnésia natural que os separa de reencarnações anteriores.
Criancinhas que se recordam de vidas passadas murmuram coisas como “Quando eu era
grande…” e talvez se queixam de não ter o mesmo sexo que antes. Podem estranhar a companhia
perdida de um familiar , um amigo, e ansiar a comida, a roupa, o estilo de vida (até o álcool, as
drogas, o tabaco) de uma existência anterior. Mas a probabilidade de que se os compreenda é
mínima ainda que estejam gritando em tom de protesto pelo trauma que os precipitou à vida
intermediária. O que dizem esses testemunhos inocentes costuma ser ignorado e desalentado no
Ocidente, enquanto que no Oriente pela superstição de que os que recordam suas vidas passadas
estão destinados a morrer jovens não é raro que os pais interrompam o relato das recordações
enchendo a boca da criança com terra ou sabão.
Uma pergunta que se faz com frequência é “Se a reencarnação existe porque não podemos
todos recordar as vidas passadas ?” Mohandas K. Ghandi o grande filósofo hindu e apóstolo do
pacifismo atribuiu certa benevolência ao processo cósmico quando respondeu a essa pergunta
dizendo: “É por bondade da natureza que não recordamos os nascimentos passados. A vida
seria uma carga se arrastássemos todas as recordações”. No entanto é possível passar através da
amnésia mediante a hipnose ou ativando a “memória remota” com a prática das técnicas de
meditação. Um dos argumentos mais populares contra a reencarnação sustenta que a memória da
vida passada é de origem genética , que a linha hereditária é responsável não só pela aparência
física e da força, a debilidade e as inclinações de uma pessoa senão também das recordações de
antes do nascimento que se supõe estarem codificados nas moléculas do DNA. A evidência da
regressão hipnótica descarta em seguida essa suposição. Em transe há pacientes brancos que relatam
existências como escravos negros e muitos pacientes disseram haver reencarnado quando ainda
viviam os pais. De todos os modos não há bastante DNA para codificar nem sequer as recordações
da vida presente , menos ainda para as das vidas passadas.
A evidência de que se dispõe sugere que a ponte aérea do renascimento é uma exigência da
evolução, que nos assegura a maneira de aprender pela experiência e mediante o aprendizado nos
leva ao uso de nosso vasto potencial. Uma vida não basta. A especialista mais importante em morte
e em morrer, a dra. Elizabeth Kübler-Ross, escreveu que “é praticamente impossível” cumprir nosso
destino em uma só vida. O dr. Morris Netherton, terapeuta de vidas passadas da Califórnia expressa:
“Levou 10 milhões de anos a natureza para criar o Gran Canyon. Não posso crer que leve só 70 ou
80 anos fazer a alma de um indivíduo”. Os estudos de casos do dr. Whitton confirmam que
continuamente mudamos da vida intermediária à vida corpórea com a expressa intenção de
empregar maiores esforços para refinar nosso ser interior. Não há substituto para a experiência
pessoal, e só escolhendo diferentes corpos segundo nossas necessidades podemos aprender desde
perspectivas diferentes.
Na Terra, a imersão em vidas de guerra, enfermidade, delitos, bem-estar, maternidade,
confinamento, fama, culpa, fome, desilusão e muito mais, serve para estimular o aumento de
conhecimentos, sabedoria, compaixão e tudo o que nos prepara para um estado mais elevado mais
além da atração da encarnação terrena. Dizer que a perfeição leva muito tempo seria dizer pouco. A
viagem seria intolerável sem a mudança constante de cenário e substância que produz no ciclo
dentro e fora da encarnação.
A vida terrena não só é difícil: é míope. Raramente vemos mais além dos desejos e as
imperfeições de nossos imperfeitos marcos físicos e do fluxo de circunstâncias que nos toca viver.
Mas ao morrer recobramos a ampla visão do estado incorpóreo para descansar, avaliar, e adquirir
mais conhecimentos e alistarmo-nos para a próxima encarnação. Então, sabendo o que nos espera,
nos mergulhamos uma vez mais no caldeirão da existência terrena onde os fatos determinam o
destino.

A aula cósmica

“Escolhemos nossas alegrias e penas muito antes de experimentá-las”

Kahlil Gibran, Areia e espuma

O impulso é essencial para a evolução pessoal. Sem isso não haveria aprendizado, não
haveria nada que dirigisse a alma entre a variedade de experiências que aparecem no transcurso das
viagens de encarnação em encarnação. Esse impulso, seu ímpeto, é totalmente autogerado e se
conhece por uma palavra sânscrita que se instalou com firmeza em outros idiomas: “carma”.
O carma é o que os indivíduos puseram em movimento por si mesmos de vida em vida, por
suas motivações, atitudes e condutas. Aceitar a ideia do carma descarta a noção de que os seres
humanos são meros peões no xadrez cósmico. Aceitar o carma é reconhecer que o mundo é onde
atua a justiça natural: não pode haver injustiça, desigualdade e desgraça se todos os estados do ser
humano surgem como resultado direto da conduta passada. O carma une a responsabilidade por si
mesmo com a lei de causa e efeito, as ações na vida dão forma e conteúdo à continuidade pessoal e
ao destino de cada um. Disse Gautama Buda: “Se queres conhecer o passado, olha tua vida
presente. Se queres conhecer teu futuro, olha tua vida presente.”
Por sua definição tradicional, o carma é um sistema de justiça sobre a base da retribuição
que perpetua o renascimento e determina a forma e lugar de cada encarnação sucessiva. Os antigos
ensinavam que o carma segue uma filosofia do tipo “olho por olho”, que sustenta que cedo ou tarde
o indivíduo experimentará as alegrias e as penas que criou para os outros. Mas segundo os pacientes
do dr. Whitton a vida não tem que funcionar dessa maneira. Os que têm visitado o bardo insistem
em que o carma é essencialmente aprendizado.
É o princípio que faz funcionar todas as coisas que fazem possível o desenvolvimento da
alma. Aprender é vital mas a forma em que se realiza o aprendizado – seja por um intercâmbio
violento, pela dedicação laboriosa ou a introspecção refinada tem pouca importância. Por certo que
o serviço é fundamental para o processo. A declaração “quando ajudas aos outros te ajudas a ti
mesmo”, surge como a base da lei cármica. Jesus Cristo aconselhava “amai-vos uns aos outros”.
Não existe melhor conselho para os que buscam o caminho mais direto para reduzir o acúmulo
cármico. Enquanto que os hindus e budistas em seus textos representam a humanidade atada à roda
do renascimento pelas correias do carma os pacientes do dr. Whitton apresentam uma visão mais
instrutiva do funcionamento do carma. A representação é a de toda raça humana trabalhando numa
aula cósmica na qual vida após vida aprendemos lição após lição. Todos somos alunos e mestres e
temos o poder, por nossas ações, de dirigir nosso próprio curso de aprendizado. Essa é em essência
a mensagem do Brihadarunyaka Upanishad :

Como um homem atua, nisso se converte…


O que um homem deseja, assim é seu destino.

As pautas cármicas se formam como resultado dos esforços da alma por melhorar-se
mediante determinados obstáculos. Essas pautas influem muito na escolha e planejamento pessoal
das reencarnações sucessivas. No estado de vida intermediária a alma revê seu desempenho no
curso de muitas vidas e escolhe resolver ou ajustar certos fatos na próxima vida. Se bem que os
erros do passado enfrentam a alma no bardo quase todos os ajustes cármicos só podem ser feitos
voltando à existência física e ao reencontro em muitos casos com aqueles com os quais se
estabeleceu o carma.
Historicamente o carma tem sofrido transformações profundas nos últimos 5 mil anos. Os
antigos egípcios apresentavam a justiça cármica como o frio balanço do livro das ações morais
segundo o qual se castigavam as más ações. “Tua ação te julga” se declara no verso 28 da instrução
de Ptahhotep , que data de 2600 a.C. O velho e o novo testamento tampouco se comprometiam a
nada e expressavam um agudo gosto pela vingança. A Revelação 13:10 diz: “Aquele que conduziu a
cativeiro será cativo, o que matou pela espada, pela espada morrerá”. Os séculos depois de Jesus
Cristo viram uma interpretação mais refinada da lei arcaica. Os gnósticos cristãos e os judeus
cabalistas entenderam o carma como uma lei de compensações.
O que matasse outro não estaria condenado a morrer da mesma maneira, mas se esperava
que ele compensasse sua má ação de alguma maneira, talvez voltando numa vida futura para
atender aos moribundos e mutilados.
Uma terceira interpretação que segue tendo validade no presente e que se crê originado no
misticismo europeu da idade média declara que o carma é simplesmente um processo de
aprendizagem, uma “escola de choques” que proporciona conhecimento mediante prova e erro. O
cometer um assassinato porá em marcha acontecimentos que não necessitam nem de uma vítima
nem da compensação ativa. Quaisquer que sejam as repercussões ensinarão ao assassino que ao
atuar como o fez só foi auto destruidor, que ao destruir o corpo físico de outra pessoa retardou seu
próprio progresso espiritual.
Os inventários da vida passada dos pacientes do dr. Whitton tendem a refletir as 3
interpretações do carma: a do “olho por olho” se manifesta nos primeiros estados da evolução
pessoal. Os pacientes mesmo levados ao estado de vida intermediária falam do carma como do que
criaram para eles mesmos como meios para refinar pouco a pouco suas naturezas. Uma e outra vez,
em transe têm declarado que devem passar por certas experiências para purgar imperfeições e
avançar na evolução. O manejo dessas experiências determina o progresso que tenham alcançado e
se não aprenderam deve repetir-se a situação. A prática se aperfeiçoa na aula cósmica. Vejamos
alguns exemplos do arquivo do dr. Whitton que mostram como a necessidade cármica chega através
de séculos:
Por regressão a vidas passadas Ben Garonzi voltou a experimentar uma sucessão de vidas
femininas e masculinas nas quais matava a quem o tratasse mal. Nesta vida participava outra vez de
uma situação repugnante em que devia optar entre adotar ou não uma solução violenta. Desde
criança o haviam tratado com brutalidade e Ben cresceu odiando o pai tão intensamente que à idade
de 18 anos esteve perto de matá-lo. Uma noite o pai estava embriagado pelo álcool. Ben foi à
despensa tomou uma faca de trinchar com a intenção de cortar-lhe a garganta. Mas escutou uma voz
interior que o fez mudar de ideia e guardou a faca. A decisão de não matar foi um ponto de inflexão
na vida de Ben. Desde esse momento, a ambição substituiu sua característica falta de de objetivos,
se fez mais empreendedor e seguiu uma carreira que lhe proporcionou responsabilidades
administrativas.
Na vida intermediária Ben aprendeu que estava envolto em circunstâncias cármicas que
foram desenhadas para ensinar-lhe a suportar mais forte sem recorrer à violência. Descobriu que
havia escolhido essa infância difícil sabendo que seria posto à prova por um pai que havia figurado
em uma série de relações antagônicas em encarnações prévias. No bardo, Ben foi consciente de
uma voz que dizia: “se desta vez atuas bem as coisas andarão bem para ti. Se não, terás que viver
em um ambiente de maior intensidade ainda.”
Ben compreendeu em seguida que ao atuar bem com seu pai no incidente crucial com a faca
de trinchar havia triunfado na situação cármica. Passando por sua própria prova havia se livrado ao
fim de uma pauta errônea em suas vidas.
Uma mãe de 3 criaturas cujo marido morreu num acidente de aviação em 1971 está pagando
em forma direta por suas ações de mil anos atrás. Em estado de hipnose se viu como dirigente
religioso na civilização maia da América Central a quem lhe encantava condenar ao sacrifício a
qualquer que não estivesse de acordo com ela. Hoje ela que deve fazer frente a dor que alguma vez
produziu a outros. A metaconsciência revelou que ela se havia proposto desenvolver a compaixão
nesta vida.
Um cirurgião judeu, agora aposentado, se inteirou que estava compensando a conduta que
havia tido em uma vida anterior, especialmente sua crueldade com os judeus quando foi um
sargento romano com destino na Judeia, onde se sucediam as revoltas pouco depois da morte de
Cristo. O dr. Simon Ezra teve vividos recordações de haver destroçado os corpos de judeus
semienterrados na arena passando com seu cavalo sobre eles. Nessa vida seu papel cármico havia
sido o de curar corpos e de experimentar os rigores da perseguição. No princípio de sua carreira
pouco depois de seu primeiro divórcio trabalhava em um dos principais hospitais escola de Toronto
e foi rejeitado por seu sangue judeu. Antes de tratar-se com hipnose o dr. Ezra aterrorizava às vezes
as enfermeiras do hospital porque atirava os instrumentos cirúrgicos quando se aborrecia. Essa
atitude agressiva se suavizou muito quando soube os motivos pelos quais escolheu a raça e
profissão.
Uma dona-de-casa egocêntrica tirou em conclusão de suas visitas à vida intermediária que
seu egoísmo era um obstáculo cármico que lhe provocava dificuldades desde séculos atrás. Hillary
Jackson soube que havia encarnado em ordem inversa como uma beldade narcisista em Georgia ,
um arrogante sacerdote francês e um escocês que só se preocupava com si próprio e ignorava as
necessidades de sua família. Esclarecida pelo que viu. Hillary se deu conta de que não podia
continuar dessa maneira. Examinou suas atitudes egoístas e assim reviveu seu matrimônio que já
parecia destruído.
Tony Kalamaris, um professor da escola secundária que está lutando por acomodar seu
interesse no erótico com as inclinações profundamente espirituais, se inteirou na metaconsciência
da pauta cármica que havia originado essa luta. Soube que em suas 10 reencarnações mais recentes
havia tido uma conduta alternada entre o santo e o licencioso e que sua tarefa era integrar os
aspectos eróticos e espirituais de sua natureza. Informa:
Enquanto me via flutuar de um extremo a outro em vidas diferentes me assombrou o
processo e exclamei: “Não entendo o sentido da vida física”. Depois disso vi o rosto incrivelmente
vívido de uma mulher quase assustador em sua nitidez. Esse rosto me disse que o elemento erótico é
a levedura que desenvolve a consciência, o altruísmo e a preocupação benevolente. O erotismo,
sendo uma força rudimentar que provoca interação obriga a gente a relacionar-se intimamente e
portanto pode iniciar e ajudar no desenvolvimento espiritual. Isso é o que tenho que aprender
porque sempre vi o sexo e o espírito totalmente apartados. Isso é o que agora tenho que devo
experimentar.
A reação iniciada pela intimidade na vida passada dura mais de 1700 anos no caso de Becky
Roberts e seu amante Clive Edensor. Nesta vida Becky lutou para criar 3 filhos quase sem ajuda do
marido, indiferente e alcoólatra. Mas a carga resultou aliviada por uma relação amorosa secreta que
tem com um homem que conheceu há 20 anos. A investigação de vidas passadas revelou que Clive
Edensor, que era totalmente leal e colaborava com Becky para que superasse suas dificuldades
domésticas, está no processo de compensação cármica. Quando Becky regressou a uma vida em
Alexandria no século III d.C. se viu como uma virgem do templo dedicado ao culto de Osíris.
Também reconheceu a Clive no sacerdote neófito. Os 2 se sentiram fortemente atraídos, se
enamoraram e ainda que tivessem feito voto de celibato – tiveram uma relação apaixonada. Um dia
os anciões do templo descobriram fazendo amor. O jovem sacerdote declarou que havia sido
seduzido e os anciões acreditaram em sua história, o deixaram ir e condenaram-na à morte. Como o
carma não se pode negar, Clive está compensando agora sua traição anterior. Como ilustra o último
exemplo o amor e sexo vivificam o processo cármico ao estimular a interação humana.
Muitos pacientes do dr. Whitton tem explorado os laços com suas esposas, maridos ou
amantes até uma série de vidas anteriores e tem percebido a natureza cármica dessas relações.
O estudo desses casos sugere que quem tem relações muito positivas numa vida anterior
busca renovar o companheirismo com as mesmas pessoas. Que a conexão possa voltar a
estabelecer-se nesta vida depende a miúdo de que se tenha planejado em conjunto quando estavam
no estado de vida intermediária. O caso de Andrew Ornsby mostra como a falta de planejamento
pode conduzir à frustração emocional. Quando se conheceram Andrew e Maureen Richard e esta se
tornou sua amante na Inglaterra no século XIX Andrew já estava casado e sua mulher esperava seu
primeiro filho. Apesar desse compromisso prévio se desenvolveu entre ele e Maureen uma intensa
relação amorosa que continuou discretamente durante mais de 40 anos. Na metaconsciência Andrew
se deu conta de que ele não havia planejado sua vida atual por sua falta de desejo de reencarnar .
Disse em transe:
“Ela (Maureen) está me falando ao ouvido. Mas não quero regressar. “
Andrew teve uma visão muito vívida de Maureen como era na vida anterior e se viu a si
mesmo sem querer planejar sua reunião no plano terreno. Se bem que os impulsos cármicos os
uniram novamente, tiveram que conformar-se com uma aliança instável em lugar de um laço
conjugal.
As perturbações físicas e psicológicas e as tragédias pessoais de toda classe podem atribuir-
se ao carma. Como ilustram os capítulos referentes ao estudo de casos sobre futuras reencarnações
caem as deficiências morais e as emoções reprimidas e não resolvidas em forma de enfermidade,
trauma, fobia, e outras manifestações. A hipnose pode esclarecer estados cármicos específicos e
fazer compreender – vital para a cura- que o sofrimento tem sido voluntário.
O trabalho não concluído do carma sempre apresentará problemas e as lamentações só
podem ser dirigidos a nós mesmos. Stewart C. Easton em O homem e o mundo à luz da
antroposofia diz:

Cada vez que nos queixamos de nosso destino na Terra e da má sorte estamos queixando-nos
de nossa própria escolha não de algum deus ou deuses arbitrários que nos tem imposto uma má
fortuna. Por conseguinte o único vício que não pode permitir-se quem tenha algum conhecimento
do carma é a inveja, seja a inveja da situação que vive outra pessoa ou de seus talentos, fortuna e
amizades. Porque nós temos escolhido o que temos e o que merecemos…
Se devemos suportar uma vida difícil não necessariamente estamos pagando por fatos de
uma existência anterior. Ao passar por certas provas podemos estar preparando-nos para tarefas e
realizações futuras. O carma, apesar de suas exigências e consequências não deve considerar-se
como uma lei férrea que nos obriga a atuar de maneira determinada. A essência mesma do carma
implica a presença de um motivo que, por sua vez, necessita do exercício do livre arbítrio.
A evolução cármica compreende o desenvolvimento da personalidade e o refinamento das
habilidades e atitudes. O dr. Whitton notou como seus pacientes no transcurso de muitas vidas
avançaram por um caminho que conduz desde o infantil e egocêntrico ao adolescente e,
eventualmente, à personalidade madura. O progresso se determina pela força de vontade. O dr.
Whitton tem visto também como se usam os talentos em sucessivas encarnações. Uma comodidade
especial nessa vida pode seguir a uma história de esforço e aplicação em reencarnações anteriores.
Daí é lógico supor que os grandes estadistas, músicos, filósofos e outros que tenham chegado a ser
mundialmente famosos deveria haver aprendido pouco a pouco a usar suas capacidades em vidas
passadas até que deram seus frutos produzindo uma vida importante com influência em sua época.
E uma pessoa sem qualidades para a organização nem a direção é quase impossível que tenha sido
alguém de importância histórica em uma vida prévia.
O carma funciona em todos os aspectos da vida. Em seu livro A sabedoria dos mestres
místicos, Joseph J. Weed expressou as seguintes relações entre causa e efeito que funcionam na lei
cármica:
-as aspirações e desejos se convertem em capacidades
-os pensamentos repetidos se voltam como tendências
-a vontade para levá-los a cabo se converte em ação
-as experiências dolorosas se convertem em consciência
-as experiências repetidas levam à sabedoria
O problema do carma é que pode obscurecer os propósitos mais elevados da alma ainda
quando seus rodeios e escalas proporcionem os meios para alcançar esse propósito. A cacofonia
cármica que acompanha todas as lutas pessoais da interação humana com frequência afoga o tema
de fundo de nossas vidas: a luta interior da alma por conhecer-se melhor. Para expressar com outra
metáfora é como se todos conduzíssemos veículos por uma grande rota da evolução mas se
obstruem os pontos de chegada com os congestionamentos do trânsito cármico. Na vida entre vidas
o conhecimento do propósito está sempre à mão. A expressão terrena da busca do cumprimento do
destino, no entanto, se desperta de forma progressiva mediante a “investigação da alma” a que
parece avançar em 5 etapas características que podem estender-se ao longo de muitas vidas. Essas
etapas são:
1-O materialismo: a busca do bem-estar físico, do mundo dominado pelo anseio sexual. Se tem
pouca consideração pelos sentimentos dos demais e não existem objetivos filosóficos.
2-A superstição: a tomada de consciência de que existem forças e entidades maiores. Praticamente
nada se sabe esse poder onisciente, só se percebe que há algo que não pode controlar-se exceto,
talvez, mediante amuletos e rituais. Continua prevalecendo o estilo materialista de vida.
3-A ortodoxia: a prática simples , supersticiosa e rígida da crença em Deus Todo poderoso. Essa
ideia se adapta para a vida. Se crê que com orações, a prática do ritual e certas formas de
comportamento se garante a recompensa suprema: um lugar no céu ou a vida eterna. Geralmente se
requer de um líder que interceda ante Deus para apaziguar. Importa pouco se o líder é um guru que
usa turbante ou se chama Jesus Cristo, se necessita alguém que expresse, dirija e defenda uma
convicção fundamental.
4-A filosofia: o primeiro despertar à consciência da própria responsabilidade. Se mantém a
convicção religiosa, mas se julga que não basta ater-se ao dogma. Esta etapa está assinalada pelo
respeito à vida a tolerância às crenças dos demais, e a compreensão dos ensinamentos mais
profundos das religiões ortodoxas.
5-A perseguição: predomina a tensão interior e a angústia que surgem do desejo intenso de entender
o sentido da vida. Há consciência de que existem um significado e um propósito da existência e
aparece a incerteza sobre os medos para adquirir esses conhecimentos. A busca das respostas
costuma tomar a forma de ler muito, estudar e associar-se a grupos metafísicos e místicos. O nome
dessa etapa foi tomado do Sermão da Montanha, de Cristo e da frase: “Bem-aventurados os
perseguidos”. (Mateus 5:10)
Quando se vão cumprindo as etapas, o indivíduo entra no caminho da evolução. A evolução
pode comparar-se com uma altíssima montanha sulcada por caminhos alguns mais percorridos que
outros. Esses caminhos podem ascender pelo Oriente com a contemplação e a meditação ou pelo
Ocidente mediante o misticismo e a metafísica intelectual.
Enquanto subsistir o desejo de ser, fazer e possuir, a consequência cármica continuará.
Quanto melhor se entender a lei do impulso mais poderá prever-se como as motivações, atitudes e
conduta pessoais estão elaborando as condições cármicas. Até Buda que derivou muito de sua
filosofia das sagas hindus ainda sofreu pelo longo braço do carma ante o grande assombro de seus
discípulos. Um dia, quando um espinho de cacto penetrou em um dos seus pés, uns desconhecidos
falaram mal dele e ninguém colocou uma esmola em sua bacia, e pediram a Buda que explicasse
seu carma como elo das vidas anteriores. Buda disse:
...os elos do carma, como verdadeiros servos sempre estão juntos às criaturas...O carma é
como a corrente do tempo. Nunca pode interromper-se seu curso na perseguição constante do
homem. Longos são os ramos do carma, novos e no entanto cobertos de antigos frutos; é um
maravilhoso companheiro de todas as criaturas e no entanto não pode modificar-se. Se se tira de
seus ramos, se lhes arranca, se as parte, se as torce, se as esfrega, ou se as divide em átomos, nunca
se destroem.
Buda estava explicando claramente que os grandes triunfos nunca apagam os erros das vidas
passadas. Uma lei é uma lei e não se pode cortar caminho para a sabedoria: o objetivo da
circunstância cármica. “...O carma do homem viaja com ele como sua sombra. Na realidade é sua
sombra pois se diz: “O homem está em sua própria sombra e se pergunta por que está escuro”. Isso
escreveu Alan Watts em Espírito de Zen. Pois para que o carma termine, devem saldar-se as velhas
dívidas e não devem criar-se novas. E a única forma de equilibrar-se as contas de muitas vidas é
adotando com sinceridade os preceitos de amor e generosidade. Como disse Joseph Weed:
Enquanto existir o menor egoísmo em qualquer de nossas ações, enquanto formos bons
esperando recompensa, deveremos voltar aqui para recebê-la. Cada causa tem seu efeito, cada ação
dá seu fruto e o desejo é o elo que os une. Quando se rompe o elo e se queima, termina a conexão e
a alma fica livre.
A conclusão mais importante que se tira da ideia do carma é que o azar não tem tomado
parte alguma no arranjo das circunstâncias em que nos encontramos. Na Terra somos a
personificação das escolhas que temos feito no bardo. Nossa decisão tomada no estado incorpóreo
nos tem atribuído nossa situação de vida, mediante a inclinação subconsciente e contínua
apresentando-nos as flores e pedras do destino. Convencer-se da verdade da lei do carma é aceitar o
estado de coisas em que se colocou, por mais difícil que seja. O indivíduo busca desafios e desastres
sabendo que contém as oportunidades para aprender e evoluir.

O poder da vontade

“Busca e encontrarás; bate e se lhe abrirá”

São Mateus (7:7)

O dr. Michael Gallander foi um desses raros indivíduos que tinha praticamente de tudo ou
pelo menso criam seus companheiros de pesquisa da IBM. Michael era brilhante, atlético, bom
moço e simpático. Seu pensamento agudamente analítico o convertia no “mago” da eletrônica. Sua
mente inovadora havia ganho o respeito dos mais altos executivos da empresa. Também era um
homem que despendia gratuitamente seu tempo e energia. Quase todos os dias Michael tinha numa
bolsa moedas destinadas aos bêbados e desamparados que encontrava pelo caminho; no outro bolso
estava com uma bolsinha de plástico com migalhas de pão do dia anterior. Eram para alimentar
pombas que se aninhavam num barranco próximo de seu escritório.
Muito poucas pessoas sabiam – e ninguém suspeitava – que Michael estava sumamente
perturbado por conflitos interiores que estava além de seu entendimento. Só Michael sabia como as
sensações de culpa e auto-desprezo haviam carcomido seus triunfos. Cada manhã, quando se mirava
no espelho se sentia cheio de asco por si mesmo e enquanto se barbeava a repugnância subia como
bile. Talvez esse profundo desagrado estivesse conectado com as tendências suicidas que às vezes o
faziam caminhar pelo centro da calçada contra o trânsito. Mas Michael não estava seguro. E não
tinha ideia de por que esses sintomas alarmantes o haviam perseguido durante anos...Estava
avassalado por uma sensação espantosa quando fazia o amor com sua esposa Sharron.
Michael lutara duramente para triunfar. Nascido no Bronx, de pais judeus de classe operária,
não havia sido querido por sua mãe e seu pai o ignorava. Essa infância de tirania emocional e
insultos o havia deixado muito inibido em sua adolescência. Se sentia ameaçado pelo mundo
exterior e com frequência evitava o contato com desconhecidos. Tão marcado era seu retraimento
que às vezes não ia abastecer seu carro porque não desejava falar com o empregado.
Se bem que tivesse ido bem no secundário e na universidade, depois dos 20 anos se viu
atacado por numerosas fobias, angústias e inibições. Desde o princípio esteve decidido a lutar
contra suas dificuldades por mais penosas que viessem a ser. E isso foi o que o fez embarcar num
tratamento de psicoterapia ortodoxa que duraria 15 anos. À medida que, por sua carreira tinha que
mudar-se de cidade, (St. Louis, Missouri, Cleveland, Ohio, e Nova York) 3 analistas puderam
aliviá-lo de forma gradual de alguns temores e inseguranças relacionados com sua criança. Mas
ninguém pôde explicar e menos ainda suprimir os sentimentos de culpa e de autodesprezo nem a
sensação que experimentava ante Sharron. Em seus encontros sexuais com outras mulheres durante
sua adolescência jamais havia tido o problema que se apresentava com Sharron. Somente quando se
aproximava de sua esposa sentia esse medo irracional de que ela sofreria enquanto faziam amor.
Michael tinha outras aflições também. Nenhum dos 3 analistas pôde estabelecer porque
Michael tinha o temor crônico de que o enterrassem vivo, medo que lhe produzia ataques de pânico
com sudorese profusa e hiperventilação. O porquê, ainda que os ruídos fortes não o despertassem se
alguém murmurasse ou andava na ponta dos pés despertava de imediato e se sentava alarmado,
atirando as cobertas para longe. Nem porque se aterrorizava ao aborrecer-se. Ou porque desde a
primeira infância o atormentava uma fantasia recorrente em que via o assassinato de uma mulher
vestida de branco. Ou porque sentia uma coceira intermitente nas partes internas dos braços. A
coceira o atacava sem prévio aviso, em qualquer lugar e situação e durava só uns minutos. Quando
era pequeno havia entrado uma vez no dormitório dos pais e havia visto sua mãe contemplando-se
nua frente ao espelho. Desconcertada, ela o tomou pelos braços sacudindo-o e gritando coisas. Cada
um dos analistas acreditou haver descoberto a causa do prurido...mas este não se curou.
Durante uma visita a seu psiquiatra de St. Louis, recorda Michael que sentiu a coceira
enquanto esperava ser atendido. Por um instante teve uma visão de si mesmo, mas não como
Michael Gallander, senão como um ser diferente que se pegava nos braços justamente onde sentia a
coceira. Quando começou a consulta Michael não mencionou essa imagem porque acreditou que o
analista acharia que estava louco.
Quando transferiram Michael a Toronto tinha 38 anos e estava cansado de análise, que, se
bem que tivesse sido útil nos primeiros anos, parecia incapaz de anular o veneno que levava em seu
interior. Ainda obcecado pela necessidade de resolver seus conflitos, cria obstinadamente que o
alivio devia estar em alguma parte. Por conseguinte decidiu por uma alternativa: uma forma mais
profunda, mais nova de ser, de perceber. Estudou astrologia, as manifestações místicas e a antiga
sabedoria oriental. Em uma oportunidade suas pesquisas o levaram o conhecer a Sociedade de
Investigação Psíquica de Toronto em que o dr. Whitton estava dando uma conferência sobre as
consequências metafísicas da reencarnação. Revitalizado pelo que escutou, Michael se apresentou
ao dr.Whitton, lhe contou como o prurido que sofria havia resistido 15 anos de tratamento e lhe
perguntou se podia explicar em função de experiências de vidas anteriores. Sabia que dessa vez não
iriam achá-lo louco.
Assim foi como um dia terrivelmente frio de fevereiro de de 1979, Michael estava esperando
a primeira sessão com o dr. Whitton. Michael não tinha a certeza da reencarnação até que assistiu a
conferência, nunca havia pensado muito nisso. Tudo o que sabia era que às vezes o dr. Whitton
curava as dificuldades de seus pacientes fazendo-os regressar hipnoticamente a “vidas passadas”. E
Michael estava disposto a provar qualquer coisa.
A primeira sessão deu pouco resultado. Com sua figura desajeitada estendida no divã de
couro vermelho do dr. Whitton, Michael caiu num transe profundo depois de umas tentativas.
Quando se lhe perguntou sobre alguma vida passada murmurou uma resposta sobre uma época de
1915...logo se retirou rapidamente como se sua mente tivesse tocado em ferro quente. Tremendo,
Michael rompeu o transe sem dar-se conta sequer do que via. E ainda que se convencesse de se
deixar hipnotizar outra vez, nada pode persuadi-lo para que retomasse a conexão com aquele ano. A
investigação do dr. Whitton era resistida com firmeza pela mente subconsciente do paciente. A
importância emocional e terapêutica desse clarão inicial havia de evitar ao médico e ao paciente
durante anos.
A resistência de Michael diminuiu de forma considerável nas sessões seguintes, permitindo
visões de existências anteriores. Michael preferia estender-se sobre a ampla almofada do dr.
Whitton em vez de fazê-lo no divã e mediante a autopercepção inspecionava um desfile de
personalidades do passado. Se viu como Gustavus, um carpinteiro sueco ambulante que trabalhava
nas Igrejas de Colônia no tempo da Reforma. Como Henri, um comerciante de algodão, francês, do
século XVI angustiado pelos ataques turcos a seus barcos. Como Henri, experimentava a angina, a
dor do peito e a falta de alento desse homem velho, falava com acento marcado e dizia palavras em
francês antigo. Acostumando-se gradualmente ao estado de transe, Michael de forma instintiva
aceitava que esses caracteres eram ele, ele mesmo que havia se materializado em encarnações
diferentes. Só quando se encontrou em 1216 o afetou algo mais que a fascinação. Logo uma
sensação visceral se introduzia em sua consciência.

Sobre a colina está o castelo. Os grossos muros de pedra encerram um ambiente repulsivo.
Deslocando-se de maneira febril por um salão sombrio está a fonte dessas emanações negativas:
um homem de aspecto imponente e rude e de humor espantoso. É um cavalheiro entrando na
velhice um teutônico chamado Hildebrandt van Wesel, o governante solitário de um pequeno
principado ao sudeste d Westfália. Sua vida transcorreu na barbárie e como seus impulsos
idealistas não lhe dão trégua, está consumido pela culpa, o autodesprezo, e a paranóia. Mas ainda
se apega a ilusões e grita ao dr. Whitton: Sou o braço de Deus! Sou o braço de Deus!

Dentro de Hildebrandt pareceria haver muito material importante e nas sessões seguintes o
dr. Whitton fez regressar a Michael a distintas etapas da vida do cavalheiro. O que Michael via não
era agradável - em realidade costumava ser horrível – mas às vezes experimentava efeitos
posteriores quase prazerosos. Um vago sentimento de consolidação interior lhe disse que estava por
levantar-se o véu da repressão, de sua repressão. Era o véu que 15 anos de análise não haviam
podido levantar. Mas por que nem Michael nem os especialistas suspeitaram que os problemas não
se haviam gerado na infância senão em outras encarnações ?
Como se limpasse um imenso painel de vidro com um palito e um pedaço de algodão, o dr.
Whitton limpou a tela das recordações sepultadas de Michael, tratando que brilhassem à luz.
Pretendia não só desvendar a Michael de 800 anos atrás senão também analisá-lo. Se bem que tenha
levado muito tempo os diferentes pedaços da vida de Hildebrandt, o dr. Whitton foi consciente
desde o princípio de que tratava com alguém capaz de fazer muito dano…

Hildebrandt deixou muito longe seu principado. Em 1189 aos 31 anos é cavaleiro
comandante da Terceira Cruzada estacionada no deserto perto de Acre, Palestina. O orgulhoso
teutônico que veste mantos brancos com uma cruz negra maldiz o calor intolerável enquanto
mulheres árabes suplicam por suas vidas. Mas os rogos não sensibilizam Hildebrandt que olha
com desdém as cativas. Ao redor se veem muitas armaduras pertencentes a cavaleiros mortos em
batalha. Esses homens valentes e leais haviam sido como irmãos para ele. Hildebrandt sente
desejos de chorar por havê-los perdido. Em lugar de chorar, temendo trair seus sentimentos ,
recorre à barbárie. Ordena a seus homens que coloquem as pequenas mulheres nas armaduras
fixadas no solo como gigantescos caranguejos de aço e que as deixem morrer ao sol. Os gritos das
mulheres não logram salvá-las.

Michael tremia e suava ao voltar à consciência normal, mas o trabalho deu seus frutos em
poucas horas. Pela primeira vez desde que era menino Michael não sentiu o terror de ser enterrado
vivo. Nos meses que se seguiram Michael haveria de observar os múltiplos delitos de Hildebrandt.
Uma vez se sentiu no corpo do cavaleiro a cavalo, olhando uma mulher que,com bebê nos braços
rogava por sua salvação. “Estou olhando-a como como quem contempla um verme. Sem simpatia.
Sem compaixão.” contou depois. A ação de atravessar com sua lança os corpos da mulher e do bebê
o tirou do transe com lágrimas caindo sobre o rosto. Sabia que ele era o responsável mas não queria
aceitar nem crer no que havia visto. Também sabia que como Michael era incapaz de uma crueldade
semelhante. Quando esse dia se foi do consultório do dr. Whitton caminhou até um parque próximo
e se deteve para alimentar as pombas. Ao observar as aves que buscavam e comiam as migalhas de
pão e se perguntava como o mesmo homem com tão bons instintos havia assassinado uma mulher
indefesa. E então recordou que até Hitler gostava de cães.
O primeiro ano de sessão de Michael com o dr. Whitton não havia concluído ainda quando,
depois de muita resistência, encontrou Hildebrandt quando tinha 12 anos. E essa vez sua atenção se
concentrou em outros atores do drama medieval. Os pais de Hildebrandt lhe resultavam mais que
familiares...eram seus pais na vida presente. As circunstâncias não haviam sido muito diferentes
para ele em Westfália no século XIII. Aí estava ele, nascido de uma união sem amor que lhe havia
oferecido uma infância perturbada. Sua sensação de sentir-se rejeitado às vezes se convertia em
antagonismo ativo…

O pai de Hildebrandt está ensinando-o como soldar uma espada. O menino, recordando
ofensas vê que se apresenta a oportunidade de vingar-se e fere o pai num olho. Umas semanas
depois o tirano muito ferido morre de um tumor cerebral. Todos creem que a morte é acidental mas
Hildebrandt sabe a verdade.

Em cada sessão Michael aprende mais...a mãe de Hildebrandt é uma mulher calculista,
conspira para proteger seus interesses e navega triunfante na corrente das intrigas cortesãs. Aos 13
anos se considera a Hildebrandt no início da virilidade e um curto período o separa do poder, do
controle das posses que podem recorrer na direção em “um dia de cavalgar cruzando o bosque”.
Mas sua incipiente virilidade o faz atraente sexualmente para sua mãe que, não conformada com
uma série de aventuras na corte, se insinua a seu filho. Isso repugna tanto ao jovem príncipe que
reage rejeitando sua mãe empurrando-a do alto da escada. Lutam e a sedutora fracassada cai, não
sem antes aferrar-se aos braços do filho a quem deixa os tríceps cheios de arranhões.
A partir da recordação desse episódio não voltou a produzir-se o prurido que molestava
Michael. Algo estava sucedendo; uma espécie de descongelamento lento parecia haver-se posto em
marcha no congelador de sua psiquê. Tudo era muito alentador mas havia muito mais na experiência
de Michael como Hildebrandt e outros. Outros 9 meses de sessão transcorreram até que obteve o
relato, passo a passo, da desastrosa relação amorosa do cavaleiro…

Antes que Hildebrandt herdasse seu principado se enamorou de uma jovem chamada
Rachael filha de um judeu letrado (ninguém na família de Hildebrandt sabia ler ou escrever) que
servia como médico da corte. Ao mesmo tempo o príncipe estava muito influenciado por um monge
da corte que havia conduzido os pais de Hildebrandt durante anos. Pouco lhe custava dominar ao
filho e herdeiro. Enquanto Hildebrandt e Rachael creem que mantém sua relação em segredo, os
espiões do monge não só descobrem o casal senão que se inteiram de que Rachael está grávida. O
monge suspeita que Rachael pedirá a Hildebrandt que se case com ela. Considerando que essa
união seria um sacrilégio, planta sementes de desconfiança na mente de Hildebrandt . Insinua-lhe
que Rachael quer o matrimônio para roubar-lhe o trono . E lhe diz: “não podes casar-te com uma
judia. Os judeus tem sido amaldiçoados por Deus; deves fazer um bom matrimônio político.”
Hildebrandt é um jovem idealista convencido agora de sua incapacidade de levar o idealismo à
realidade. Quer que o mundo respeite sua vontade mas sente-se sacudido pelos ventos das
circunstâncias . Assim que quando Rachael lhe dá a notícia de que está grávida, o príncipe explode
ao dar-se conta de que os acontecimentos são os que manejam sua vida. É invadido pela fúria
como queria o monge. A fúria e a frustração são tão grandes que golpeia Rachael no estômago e
lhe quebra o pescoço com suas fortes mãos. Então, com um rápido movimento a atira de um dos
terraços do castelo à fossa. Hildebrandt, em estado de choque, olha abaixo sem poder crer o corpo
de sua amada o que está logo abaixo semi-submerso na água estancada e malcheirosa.
Descomposto, vomitando, se afasta para bloquear de sua mente o sucedido. Mas é tão extenuante a
repressão que aperta os punhos até que sangram as mãos… Quando emerge do retraimento
Hildebrandt está calmo e é novamente dono de si. É como se Rachael nunca houvesse existido…
Essa repressão gera uma neurose que o transforma num cristão obsessivo que, como
organizador local da Terceira Cruzada converte seu auto desprezo em vingança contra os
muçulmanos na Terra Santa. Não exerce a piedade porque não pode senti-la.

Houve momentos durante a representação do assassinato de Rachael em que o dr. Whitton


apesar de sua experiência no manejo da intensidade emocional durante as sessões de hipnotismo
temeu que as contorções de Michael produzissem um ataque cardíaco. Mas tanto o dr. Quanto o
paciente capturaram o temporal do drama de Hildebrandt e Michael se encontrou ofegando sobre a
almofada quando recuperou a consciência normal, perguntando-se quanto mais teria que saber.
Esgotado e devastado por esses episódios horríveis de suas vidas passadas pelo menos compreendeu
porque nesta vida sentia a compulsão por castigar-se. Não só havia sido responsável pela violência
mais terrível senão que havia matado a Sharron, sua esposa. Porque em sua mente não tinha dúvidas
de que Sharron e Rachael eram elementos da mesmo alma unida à história de suas vidas por um
longo braço do carma. A conexão se corroborou quando Sharron entrou em transe e foi levada à
vida em que era Rachael. Ela proporcionou vívidos relatos de quando foi assassinada pelo seu
amante Hildebrandt:

Era uma cálida noite de primavera. Eu estava em um dormitório com uma saída que dava a
um parapeito. Estava discutindo com Hildebrandt e indo e vindo do parapeito ao dormitório . Os 2
vestíamos roupas soltas. Hildebrandt vestia meias compridas e uma camisa sob a túnica. Eu não
levava nada sob a minha. Nos golpeávamos e gritávamos . Os gritos eram numa língua que eu não
entendia e quando tratei de entendê-lo me dei conta de que parecia um inglês deformado.
Hildbrandt gritou: “Judia puta! Nenhum judeu bastardo vai herdar-me!’
Estávamos os 2 pelo parapeito e Hildebrandt me socou forte no estômago. Me saía sangue
pelo canto da boca. Me pegou pelo pescoço e começou a estrangular-me. Seguiu apertando e eu
perdi a consciência. Me atirou sobre a balaustrada e algo se quebrou em minhas costas. Me soltou
e com um empurrão me atirou abaixo, à fossa, onde caí com a cara para cima, o cabelo solto e
flutuando enredado na sujeira. Mais tarde, no pátio do castelo umas mulheres levaram meu corpo
em uma espécie de padiola. Se via meu rosto mas o resto até o cabelo estava envolto em uma tela
branca.

Depois que Michael viu os resultados terríveis da falta de controle de Hildebrandt


diminuíram seus temores a respeito de cair em iras muito fortes. Também diminuiu a tendência a
despertar-se sobressaltado por sons suaves. Michael havia observado que os ruídos fortes do pátio
não perturbavam o sono de Hildebrandt, mas como temia que o assassinassem sempre se despertava
quando os ruídos eram tênues. Michael era Hildebrandt mas não tinha por que sê-lo. Não tinha que
ater-se às pautas de conduta do cavaleiro. Enquanto isso, o dr. Whitton tinha intenções de continuar
tirando do cortinado que escondia outras existências de Michael. E decidiu fazê-lo de outra maneira.
-Volta atrás – instou ao paciente em estado de hipnose - ou volta ao momento antes de
nascer como cavaleiro.
Michael ficou sem fala durante um momento. As expressões faciais e o piscar de olhos
esporádico, denotavam que estava ante visões desse outro mundo, o vazio misterioso entre
encarnações. Quando falou, suas palavras recordaram o velho ditado de que o caminho do inferno
está cheio de boas intenções. Pois sua vida como Hildebrandt havia sido planejada como algo muito
positivo e esclarecedor e não como a experiência nefasta que havia sido. A voz de Michael soava
com ardente otimismo:

Sou um com o Universo. Sou um com as estrelas e estou ansioso por nascer. Tentarei
construir ...uma terra sem fronteiras. Serei um bom rei, terei bons conselheiros e estimularei o
comércio, o estudo, as viagens.

Quando se viu declarar tão bons propósitos, Michael se deu conta com algum alívio de que
Hildebrandt não foi Adolf Hitler. Devido a sua impulsividade não havia cumprido suas nobres
aspirações. Ainda que possuísse elevados ideais, não havia sido capaz de de viver respeitando-os.
Hildebrandt degenerou em um ser torturado mais que um ser essencialmente mau. Agora se estava
instruindo a Michael para que voltasse à vida intermediária depois da morte de Hildebrandt.
-Que é que vês ? - perguntou o dr. Whitton.
Depois de um silêncio Michael começou a chorar descontroladamente. Murmurou algo
sobre suas más ações como Hildebrandt, mencionou o assassinato da mãe e seu filho com a lança .
Isso produziu mais soluços de uma intensidade que partiam o coração. As reprovações que se fazia
Michael estavam além de sua autoconfiança.
Que é que vê?- perguntou outra vez o dr. Whitton. Com lentidão, penosamente, Michael
respondeu:

Tudo é negro e mas não vou olhar. Houve muita coisa boa que poderia ter feito mas não fiz.

A experiência do remorso na vida intermediária é uma forma de inferno. Porque há um


tempo – que começa logo segundo disse a maioria dos pacientes - em que a culpa ataca com toda
crueldade e fealdade destituída das racionalizações e desculpas que todos usamos para desculpar
nossas falhas. Mas esse inferno não é a condenação eterna. Quando se avalia a vida passada a
compaixão do tribunal do juízo nos permite perceber até nossos atos mais repreensíveis com certo
grau dessa mesma compaixão.
Por mais desperdiçada que tenha sido a vida passada as almas superiores sabem que sempre
há outra oportunidade para retificar os erros. E assim foi com Michael, estando no bardo,
reconheceu a falha neurótica em seu desenvolvimento e planejou sua reencarnação como Magnus,
um sacerdote que viveu na Polônia perto de Moscovia, durante a primeira metade do século XV.
Essa nova vida foi criada para proporcionar uma oportunidade especial de que aumentara o
autocontrole de Michael. Quando este, em estado de hipnose examinou a vida de Magnus, viu que
de acordo com as exigências da Igreja o sacerdote havia alcançado diminuir sua agressão inata e
suprimir a sexualidade.
Havia vezes em quem Michael se sentia à mercê de suas reencarnações. Tinha pesadelos e as
percepções internas que as produziam. E também deixaram de manifestar-se as vidas passadas. Por
mais que médico e paciente se empenhassem se encontravam bloqueados para posteriores
investigações. Como Michael rechaçava toda intenção de averiguar em estado de transe, o dr.
Whitton sabia que pelo menos havia uma vida anterior que continha segredos cuja revelação seria
crucial para o tratamento do paciente. Chegou o momento em que outra encarnação apareceu, mas
tudo o que Michael divulgou foi o nome - Victor - que por si só nada significava. Depois de vários
meses infrutíferos, Michael recebeu um convite para visitar a casa de Maisie Newman em Cape
Anne, Massachusetts. Maisie era uma colega que havia oferecido a casa muitas vezes a Michael e
Sharron para que passassem férias percorrendo a costa da Nova Inglaterra. Nunca haviam aceito o
oferecimento mas dessa vez Maisie havia insistido e Michael, que se sentia frustrado nas
investigações sobre vidas passadas queria afastar-se para algum lugar.
Voaram a Boston, se alojaram na casa e alugaram um carro para ir visitar a velha cidade de
Salem. Caminharam pela cidade tristemente célebre pelos julgamentos a bruxas no século XVII,
entraram numa biblioteca e ali Michael tomou com indiferença um livrinho velho sobre a história
da bruxaria no lugar. De imediato o atacou uma inquietude aguda que chegou a experimentar como
física.
“Foi como se algo estivesse me sacudindo”, recordou mais tarde. “Estava aí tremendo e
transpirando. Algo estava funcionando no fundo de minha mente...algo que não podia entender.”
Michael ignorava a relação entre ele e o livro ou algo de seu conteúdo: só sentia que havia
piorado a sensação de autodesprezo. E seguramente isso era significativo. Ao partir de Salem e
abandonar a sensação enfermiça Michael sentiu impaciência para retornar a Toronto e recomeçar as
sessões de hipnotismo nas que voltaria a enfrentar a culpabilidade, o sexo, e a religião

Victor Bracknell vive numa fazenda em Nova Inglarerra. É um moralista puritano que crê
que o prazer obsta o progresso espiritual dos que aspiram a entrar no Reino dos Céus. Se
aproximava o dia das bodas de Victor e o dilema de diminuir o prazer sexual. Como tinha o ofício
de ferreiro, fez um tubo de metal com um buraquinho num extremo para usar o dispositivo na
inseminação de sua esposa com a ideia de reduzir ao mínimo o prazer dos 2. Na noite de bodas, o
instrumento feriu gravemente a zona vaginal da recém-casada. Victor foi presa do pânico e tratou ,
sem êxito de conter o sangramento. Em poucas horas sua mulher estava morta…

Saindo do transe, Michael se agitava convulsivamente no chão enquanto experimentava


mentalmente o potencial mortífero do ato de amor. Não podia deixar de comparar Victor com
Hildebrandt. Os 2 haviam matado o ser amado ainda que dos 2 Hildebrandt era o mais malévolo.
Mas na sessão seguinte Michael se inteirou de que a neurose sexual de Victor era mais perigosa e
perversa…

Depois de enterrar a esposa no bosque e dizer a todos que lhe perguntavam por ela, que
havia fugido na noite de núpcias, Victor bloqueou as recordações daquela noite. Mas a
perturbação sexual de Victor guiada por fortes sentimentos de culpa, o levou a Salem em 1692,
onde se comprazia em observar na forca as mulheres convictas de bruxaria. Não conformado em
ser um entusiasta espectador contribuiu para que uma anciã patética fosse condenada à morte
servindo de falso testemunho contra ela.

Michael que nessa vida é incapaz de dizer uma mentira importante- se estremeceu ao
recordar sua visita recente a Salem e começou a perguntar-se se alguma vez haveria de terminar o
horror. Por isso então Michael era muito versado nos sofrimentos do carma e no funcionamento da
vida intermediária. Já havia unido muitas fibras do tecido de centenas de anos de vidas passadas
estendendo-se na eternidade. Era como se visse essas fibras entrelaçando-se um uma corda
perturbadora ainda que coerente. E se bem que isso o ajudasse a compreender melhor sua angústia
nessa vida, era muito pouco reconfortante saber que cada existência agregava peso à carga cármica
em vez de aliviá-la. É terrível a escola da eternidade – murmurou uma vez em transe, em uma
sessão especialmente forte.
A exploração de outras vidas de Michael descobriu mais fealdade. Foi Angela Fiore, uma
camponesa de uma aldeia pequena perto de Gênova que se converteu na amante maltratada de um
oficial do exército de ocupação de Napoleão em 1809. Foi também Robert MacReady, um culto
cavalheiro inglês de fins da época vitoriana que, cheio de culpas e neuroses sexuais bebia e se
drogava tanto que morreu acabado fisicamente pondo-se diante de uma carruagem para que o
atropelasse quando tinha pouco mais de 40 anos.
Quando a mente de Robert se deslizava em delírio Michael entendeu sua tendência
inconsciente ao suicídio. Costumava ser “distraído”como dizia ele e várias vezes o haviam
“despertado” no meio da rua , uma buzinada ou um pedestre alarmado que o pega pelo braço.
Dentro de tudo, Michael dava sinais que estava experimentando mudanças positivas. Ainda que em
forma obstinada permaneciam a culpa e o desprezo se mostrava mais intuitivo, mais seguro, mais
cômodo com ele mesmo e com os demais. Talvez o mais alentador era que o dr. Whitton se sentia
com o olfato de um cão farejador seguindo a pista. Depois de mais de 3 anos seguindo a história das
reencarnações de Michael sentia que estava a ponto de dar com uma vida que, se tivessem sorte,
seria o catalisador que alentaria a descarga emocional contida durante 800 anos. Recordava como
Michael se havia retraído na primeira sessão, da experiência que tinha no ano de 1915 e esperando
vencer essa resistência, decidiu, guiado à vida intermediária, imediatamente anterior a essa
reencarnação. No que o dr. Whitton considerou a sessão crucial desse caso, levou o paciente à
metaconsciência e esperou pacientemente enquanto o rosto de Michael mostrava a maravilha e o
assombro que mostram todos os que passam o umbral do bardo. O dr. Whitton esperou uns minutos
antes de fazer a primeira pergunta:
-Como renascerás
Houve uma longa pausa.
Como uma mulher.
-Qual será o propósito de tua próxima vida ?
Outra pausa longa.
Fazer preparativos para a entidade seguinte do processo de aprendizado da alma.
Compensar o carma.
No interrogatório que se seguiu se revelou que na vida intermediária se aconselhava a alma
de Michael que tentasse por maiores que fossem as dificuldades- resolver os conflitos que haviam
produzido vidas caóticas. Os conselhos se referiam à solução do trauma sexual e ao abandono das
atitudes religiosas dogmáticas. Se o plano tivesse êxito, essa vida poderia ser o pivô da mudança, a
que inverteria a progressiva acumulação de dívidas.
Para Michael, ainda que tivesse muita experiência no estado de transe, as sessões seguintes
foram as mais difíceis de todas. Com a confiança despertada pela visita à vida intermediária,
começou a reviver – sem vontade- os episódios traumáticos da vida de Julia Murchison, nascida em
1910 em uma família muito pobre e temente a Deus, da Kentucky rural. Uma e outra vez o corpo de
Michael se arqueava no chão ao enfrentar o que não queria recordar. Gritando, chorando,
protestando, suspirando, com vozes que mudavam de timbre, desde o de uma menininha até o de
uma mulher jovem, relatou os acontecimentos da vida, curta mas com objetivos importantes de
Julia…

Depois da morte prematura da mãe, Julia foi criada pelo pai, um bêbado que a castigava e
atormentava. Violentada brutalmente por ele aos 5 anos, ela reprime o fato - aquele ano, 1915, era
o que Michael não queria visitar – e crescer perturbada profundamente. Apesar de tudo, chegou a
ser uma moça com vontade e resoluta que tomou a decisão de apartar-se das restrições de sua
comunidade batista sulista. Abandonou o lar na primeira oportunidade, e se dirigiu a Louisville,
onde, sonhando em chegar a Califórnia, para atuar nos filmes mudos, trabalhou como camareira e
logo como prostituta. O estupro da infância deixou-a incapaz de sentir o orgasmo e de forma
inconsciente decidiu reviver o traumático incidente. Isso é o que a levou à prostituição. Mas seu
trabalho como prostituta não produziu a experiência que necessitava. Apesar do ódio por seu pai,
faz planos para seduzi-lo, esperando – também de maneira inconsciente- que a repetição do
estupro a ajude a redescobrir o passado e aprender as lições que havia deixado. “Então talvez
possa sentir algo – disse Michael ao dr. Whitton com o arrastado sotaque sulista. Julia tem agora
pouco mais de 20 anos e veste uma provocativa anágua branca, esperando o pai que visitava
Louisville para um serviço religioso. Era domingo à tarde quando ela ouve os passos do pai que
está subindo para o apartamento no segundo piso. Por certo que está bêbado quando abre a porta
até ouvir o convidativo “entra” que ela diz. De pé, inseguro, no hall, sente que ela tenta seduzi-lo e
que isso é uma brincadeira. Quando começa a aborrecer-se, Julia segue fazendo caretas e
sorrindo...caretas e risos...Ele lhe diz para que deixe de fazer, mas ela continua. Sentindo-se
provocado além do desejo sexual, toma um punhal, corre para ela e a mata com punhaladas…
Na cura de qualquer neurose traumática há um elemento que exige a repetição da causa para
levar o trauma à mente consciente. Ao demonstrar que isso ocorre na vida, Freud chamou esse
fenômeno de “compulsão em repetir”. Os estudos do dr.Whitton mostram que o princípio segue
sendo válido para todas as vidas. A tomada de consciência em hipnose de um acontecimento
traumático ocorrido em vida anterior pode conduzir à interrupção das alterações psicológicas e
físicas. Às cegas, Julia buscou essa repetição trabalhando como prostituta e quando não pode
alcançá-la obedeceu à compulsão iniciada nas experiência entre as vidas de buscar uma forma mais
drástica de repetir a experiência. Julia não pensou que iria morrer quando estivesse por repetir o ato
de estupro da infância. Na vida, Michael reviveu as penosas recordações que explicaram por fim a
fantasia do assassinato de uma mulher vestida de branco.
Foi muito desagradável voltar a ser Julia, mas à medida que as sessões se aproximavam do
fim, Michael sentiu que terminava a opressão que o havia acompanhado durante séculos, deixando-
o com uma desconhecida sensação de bem-estar. Já não estava perturbado pelo temor de sua relação
com Sharron; a culpa e o auto-desprezo foram desaparecendo e sua inclinação à distração (que era
uma tendência suicida) desapareceu. Descobriu que podia olhar-se no espelho todas as manhãs sem
desespero e que, quando dava de comer aos pombos, e dava dinheiro aos mendigos, era não só por
compaixão senão também porque essas ações lhe produziam prazer.
Os amigos e familiares de Michael notaram as mudanças em suas atitudes a respeito da vida.
Havia deixado de lado certo puritanismo que o afastava do ócio e o prazer e era mais capaz de
sentir-se livre quando, por exemplo, dançava com sua esposa. Sharron que aceitou seu papel na
história das reencarnações de Michael apenas podia crer na transformação de seu marido.
-Libertou-se das aflições - disse ela – ou sua mente já não é seu carcereiro.
Apareceram outros efeitos benéficos. Ao ser consciente dessa espécie de trama pessoal que
se havia elaborando ao longo de 800 anos, Michael descobriu que seu conceito de realidade se havia
feito de novo.
Me tem sido permitido – comentou, referindo-se a suas visitas às vidas intermediárias – dar
uma olhada a níveis de criação muito mais elevados que o que pudesse expressar em palavras.
Nossos sofrimentos têm um sentido: são parte de um plano eterno mais complexo e assombroso do
que somos capazes de imaginar.
Umas últimas visitas à vida intermediária – ao período entre reencarnações como Julia e
Michael, esclareceu mais a natureza da cura de Michael. Antes de nascer aconselhou-se a Michael
que serviria a seu propósito ter os mesmos pais que teve quando era Hildebrandt e que renovasse
sua importante relação com Rachael. A interação com esses indivíduos poderia aumentar o
conhecimento necessário para o caminho que tentava seguir. Se lhe aconselhou que perseverasse até
entender seus problemas e resolver as dificuldades. Apesar disso, o perispírito de Michael talvez
desalentada pelos fracassos anteriores, planejou esta reencarnação sem ter em conta que poderia
haver um progresso rápido.
Comparando seu desempenho na vida até o momento com as observações da vida
intermediária, Michael se deu conta de que começava a perceber planos esquemáticos para as
encarnações futuras e que esses esquemas haviam aparecido à medida que ele ia dando conta dos
obstáculos do roteiro cármico. Em outras palavras, Michael havia podido viver várias vidas em uma
só reencarnação resultado que está à disposição de todo aquele que segue seu destino com energia
excepcional. Em uma encarnação havia alcançado resultados que comumente requerem o trabalho
de várias vidas.
A ânsia por curar-se de Michael - tão vital para o êxito terapêutico – surgiu diretamente da
decisão de Julia de efetuar uma autoterapia embora não tenha obtido resultados. Como escreve
Manley P. Hall em A morte para renascer: “o indivíduo paga seu carma com generosidade devido
ao processo que perpetua uma atitude existente no momento particular. Se persiste essa atitude no
instante da morte prévia, será a guia para voltar ao estado corpóreo da nova personalidade.”
O estudo do caso cármico de Michael mostra que o que ficou sem fazer em uma vida pode
completar-se na reencarnação seguinte, supondo supostamente que existe uma grande vontade. Por
haver aplicado sua força de vontade na busca do conhecimento e então transcender os delitos e
conflitos , Michael se libertou para poder prosseguir com o idealismo expresso na vida
intermediária anterior a seu nascimento com Hildebrandt.

Alergia à vida ?

“Os remédios extremos são bons para os males extremos”.

Hipócrates – Aforismos

Meu corpo é um desastre e minha vida está em pedaços – disse Heather Whiteholme ao dr.
Whitton quando se conheceram na primavera de 1979. Esta queixa estava apoiada por uma história
clinica que consignava o fracasso da medicina convencional para deter esse misterioso e contínuo
deslizamento para a desintegração física.
Heather parecia gozar de boa saúde. Seu bom ânimo, sua pele corada ocultavam o fato de
que seu organismo era um campo de batalha de reações alérgicas que lhe alteravam a audição com o
constante zumbido dos ouvidos e produziam dores de cabeça congestão do peito e garganta,
pruridos e urticária. O simples fato de respirar colocava sua vida em risco de sofrer moléstias
produzidas por coisas tão comuns na vida diária como o pó, o pólen, o pelo dos gatos, a fumaça do
cigarro, os produtos lácteos, os suéteres felpudos, perfumes, tintas, detergentes. Heather, de 44 anos
declarou com humildade:
-Às vezes penso que sou alérgica à vida.
Seu mal-estar consistia em repetidos ataques de pneumonia e bronquite que deixavam
prostrada na cama quase todo o inverno, a primavera e o outono. Desde que Heather e seu marido
Philip, biólogo se mudaram a Toronto vindo da cidade do México em 1977, os ataques haviam
piorado em resposta aos invernos canadenses. No entanto, os Whiteholme se foram porque um
especialista advertiu Heather:
-Vão-se daqui ou a poluição atmosférica a matará em 5 anos.
O especialista era um de um longa série de médicos que haviam tentado tratar Heather. Um
médico declarou que o seu organismo “estava em estado de guerra” e que o papel de pacificador
estava mais além de suas possibilidades; outro lhe ordenou fazer repouso absoluto durante 6 meses
para que o organismo pudesse ter a oportunidade de recuperar-se do “esgotamento total”. Havia
uma série interminável de radiografias e análises de sangue e urina que não indicavam nada e eram
inconclusivos. Enquanto o declínio físico continuava, médico após médico receitavam grandes
quantidades de medicamentos – antialérgicos,antibióticos, anti-histamínicos, e cortisona- que às
vezes exerciam algum efeito benéfico e outras vezes davam origem a novas reações alérgicas.
Heather também sofria sérios problemas psicológicos. Não tinha a menor autoestima, era facilmente
intimidada, e muito suscetível a crítica. Essa avassaladora sensação de inadaptação lhe havia feito
abandonar uma carreira promissora como designer de joias. Cada vez que fazia o esforço de criar se
sentia compelida a se retirar do local de trabalho por temor da expectativa de fracasso. As negras
depressões periódicas aumentavam seus temores que avançavam “como ondas”. Essas depressões –
que sempre a atacavam quando se sentia mais feliz – haviam inundado seus talentos desde os anos
da universidade. E Heather não tomava antidepressivos porque era alérgica a eles !
Notando a aguda vulnerabilidade de Heather, o dr. Whitton sabia que havia que anular com
rapidez a tendência à incapacidade total. Visando localizar e erradicar a doença, prescreveu uma
série de provas médicas que revelaram que Heather sofria de alergias graves que não respondiam a
nenhum tratamento, exacerbadas pelo que aparentava ser uma resistência baixíssima à bronquite e
pneumonia. Tendo em conta os problemas emocionais de Heather, o dr. Whitton pensou que ela
para preservar a saúde mental devia ter reprimido suas dificuldades psicológicas e só havia
alcançado que estas se manifestassem na forma de perturbações físicas.
Antes de pensar na regressão hipnótica, usualmente o dr. Conversa várias vezes com o
paciente de maneira a inteirar-se dos detalhes da vida presente. Mas a urgência do caso de Heather
indicava outro método. Juntos decidiram, médico e paciente, explorar as vidas passadas de Heather
na esperança de despertar algum trauma que tivesse importância terapêutica para a existência atual.
Heather demonstrou ser um paciente excelente para o transe, tão bom na realidade que
depois da primeira sessão, imitando a técnica do dr. Whitton, se auto-hipnotizou o que lhe produziu
horror a princípio. Não passou muito tempo até que a auto-hipnose se converteu em rotina. Para
economizar tempo de sessões e aumentar a probabilidade de cura, se decidiu que Heather
explorasse suas recordações inconscientes entrando em transe em sua casa e anotasse tudo num
diário para conversar nas sessões semanais com o dr. Whitton.
As primeiras tentativas de Heather de observar sua mente inconsciente estavam longe de ser
compensadoras. Mas perseverou até que o olho interior adquiriu a prática necessária para ver na
obscuridade. Então Heather foi compensada com material superabundante – tudo em 3 dimensões
gloriosas – que chegava tão longe como na era das cavernas. Mas ver o sentido de tudo era outra
questão.
-Você é como um caminhão que derrama toda a carga em meus joelhos – disse o dr. Whitton
olhando as folhas escritas com ações de vidas passadas que pareciam irrelevantes, mescladas com
fantasias. Essa “descarga” continuou durante umas 6 semanas e já o dr. Whitton estava pensando
mudar o curso da ação quando uma manhã, bem cedo Heather se acomodou em sua poltrona
favorita, contou, se auto-hipnotizou e encontrou… Isobel.

Isobel Drummond tinha algo que produzia tristeza e angústia. Alta e esbelta com cabelo
longo escuro enrolado em coque na nuca usava um vestido longo de chiffon rosa com mangas com
babados duplos. Se deslocava com graça pela sala de estar da bonita casa de estilo inglês. Sentou-
se frente ao piano de cauda e começou a tocar deliciosamente estudos de Chopin…

Heather que escutava o recital de Isobel como se tocasse o piano ali mesmo, chorava
amargamente quando saiu do transe. Nunca havia sentido antes essa identificação com nenhuma
pessoa que tivesse encontrado em transe. Soube que Isobel havia levado sua própria alma em um
corpo diferente não muitos anos atrás. Mas ignorava porque a visão e os sons dessa mulher jovem a
faziam sentir-se tão desgraçada.
O dr. Whitton encarou o tema na visita seguinte de Heather ao consultório.
-Por que a deprime Isobel? - perguntou. Busque-a e siga-a até que possa responder essa
pergunta.
Heather pensou em Isobel pelo resto do dia. Ainda se perguntava por que Isobel a deprimia
quando aquela mesma noite foi apagar a luz do dormitório antes de deitar-se. Tinha a mão sobre o
interruptor da luz quando um impacto estremecedor e repentino a fez suspirar ...seu corpo inteiro se
sentiu sacudido por um choque brutal.
-Não posso descrever a sensação – disse Heather depois – podia dizer que era como ter tido
um acidente terrível sem haver-me movido de casa.
Ela ainda não havia tido ideia da natureza do acidente. Teve-a quando esteve no corpo de
Isobel. Estava estendida na terra, seu lado direito estava em chamas e ela sabia, em meio ao terror
que o automóvel em que havia viajado havia despencado. Era o ano de 1931…
essa tormenta emocional que durou somente um ou dois segundos deixou Heather em estado
de colapso mais além das palavras reconfortantes do marido. Durante toda a noite chorou de forma
intermitente enquanto sua mente consciente recusava esquecer a terrível cena. Às 5 da manhã
quando Philip ainda dormia, foi ao estúdio, sentou-se na máquina e escreveu: “Tenho estado
tremendo. Impossível dormir.”
A comoção não terminou aí. Durante os 3 dias seguintes uma combinação de insônia com
náuseas, soluços, nervos destroçados, e uma tosse seca deixou Heather muito mal e retraída. Em seu
diário há uma entrada feita às 4:20 da manhã do sábado 10 de setembro de 1979 que disse:
Tive que anular todos os meus planos diários. Como dizer a meus amigos que estou
sofrendo o trauma de um acidente de automóvel que ocorreu 4 anos antes de eu nascer ? Lhes disse
que tenho gripe e me afeta o estômago. Estão acostumados a que eu esteja enferma.
Quando Heather se afastou da máquina e voltou a deitar na cama não podia saber que estava
a poucas horas de uma magnífica melhora. Primeiro chegou o sono, o esgotamento superou a
agitação. Dormiu até 6h da tarde quando abriu os olhos pesadamente para descobrir que estava
respirando bem sem a ajuda das pílulas antialérgicas. E mais ainda: haviam desaparecido a
enxaqueca e o zumbido habituais.
Também a opressão do peito. Tinha a cútis mais clara. A princípio Heather não podia crer em
sua boa sorte. Tampouco o dr. Whitton, quando escutou o relato de Heather pelo telefone. Quando
durante 2 dias não sentiu sintomas de alergia sem tomar remédios, Heather saiu de casa
aventurando-se no ambiente exterior com suas rajadas de vento. Seu diário registra a transformação:

Quinta, 4 de setembro de 1979. Vi K. depois de minha aula de canto. Estive entre peles de
gato, respirando a fumaça de cigarro dela sem espirrar nenhuma tosse e depois não tive que tomar
nenhuma pílula antialérgica. Isto é único e me dá grande prazer.
Terça-feira, 20 de setembro de 1979. Vi a dra. H. hoje. Me resultou muito difícil explicar-lhe
como de repente se foram minhas alergias. Nós duas rimos muito e ela está encantada de que não
tenha que tomar as pílulas. A enfermeira notou que minha pele está melhor.

Ainda que Heather estivesse contentíssima com o evidente retrocesso de sua alergia esteve 3
semanas com ataque de choro, pesadelos e depressão. Durante esse tempo ela se retraiu a seu
mundo privado desobedecendo o conselho do doutor Whitton, que, sem saber que era o que se havia
ativado no inconsciente de Heather preferia ser cauteloso e não otimista, se bem que esperasse que a
melhora espetacular da paciente não fora temporária. Quando Heather se sentiu suficientemente
estabilizada como para recorrer às sessões, o dr. Whitton não perdeu tempo e em seguida a colocou
em transe. Queria ver por si mesmo o acidente…

Isobel e um homem chamado Robert estão indo num carro velozmente para o sol da tarde
que brilha com esplendor contra o horizonte do Mediterrâneo. Estão irritados e discutem
calorosamente. Isobel está grávida de Robert e quer casar-se com ele; Robert não tem a menor
intenção de fazê-lo. Em sua fúria, Robert despreza o perigo das curvas fechadas do longo caminho
da costa dos Alpes marítimos e Juan Les Pins. No fim de uma das curvas a estrada quebra
bruscamente para o nordeste. O Bugatti conversível vai muito velozmente. O carro choca-se contra
uma barreira baixa, voa pelo ar e cai saltando no recife, arrancando arbustos e árvores pequenas.
Algo explode no veículo quando se destroça contra o solo. Robert está preso pelo volante e morre
instantaneamente. Isobel é arremessada fora do assento e cai num solo arenoso em que permanece
inconsciente. Há mais explosões. A fumaça e as chamas envolvem o lado direito de Isobel. O
vestido e o cabelo de Isobel pegam fogo e as chamas queimam o lado direito do rosto…

O impacto do acidente havia sido mais que suficiente para Heather. Estava outra vez
comovida, arrasada pelo drama como poderia estar um observador. Mas ela era também a vítima do
acidente, tossindo e murmurando enquanto os pulmões eram atacados pela fumaça quente e negra
que saía do automóvel incendiado. Sabendo que podia retirar-se do estado hipnótico quando
quisesse, Heather contemplou o resgate, as pessoas que se aglomeravam os veículos “de formas
quadradas” que eram os caminhões de bombeiros franceses e a ambulância com “campainhas em
vez de sirenes”. De um caminho mais baixo chegaram 4 homens com uma maca para transportar
Isobel. Heather desejava evitar o que se aproximava. Mas não era fácil desviar o olhar agora que
estava chegando ao coração de seus males. O desejo de olhar foi irresistível…

Isobel jaz num quarto de hospital. Há enfermeiras com uniformes brancos que molham
grandes vendas de gaze e as colocam sobre as partes do corpo enrijecido e ferido ...Isobel se
queixa da dor. Todo seu lado direito está queimado. O olho e a sobrancelha direita estão dentro de
um edema que destila algo vermelho. As enfermeiras seguem aplicando as compressas e tirando-as
com muito cuidado. Estão dizendo que vão dar-lhe morfina se necessário. Mas sentem que a
paciente, que abortou durante o acidente, morrerá dentro de 24 horas.

Heather emergiu do transe sentindo-se enferma fisicamente e o dr. Whitton esperou vários
minutos antes de dizer-lhe que acreditava que ela havia chegado ao coração do seu problema
alérgico ao voltar a experimentar a inalação da fumaça proveniente do automóvel incendiado.
Supostamente Heather se sentiu contente por liberar-se das alergias mas as conhecidas “ondas” de
depressão pareciam redobrar de intensidade. Além do mais pareciam inexplicavelmente enlaçados
às terríveis recordações do transe com as ondas de desespero.
Enquanto Heather se esforçava no meio da tensão produzida pelo lembrança, se voltava
mais e mais curiosa a respeito de Isobel e se sentia compelida a satisfazer a curiosidade. O dr.
Whitton estimulava-a a investigar essa vida porque cria que existia uma boa probabilidade de que
Isobel fosse também a solução das depressões.
Durante as semanas seguintes, cada transe hipnótico de Heather lhe dava mais informação
sobre Isobel e a vida que levou até o acidente. A experiência não era sempre agradável. Na
realidade, quanto mais Heather sabia de Isobel, menos lhe gostava dessa personalidade de sua vida
passada…

Sob a delicada firmeza com que tocava piano, sua origem social, encanto, popularidade e
atraente beleza, Isobel tem profundos problemas psicológicos. É uma concertista muito talentosa,
tem tudo o que uma mulher jovem desejaria no entanto é egoísta e autodestrutiva e parece incapaz
de sentir e entender o verdadeiro amor. Talvez se deva a que sua infância esteve desprovida de
afeto. Ficou órfã pequena e foi criada por uma governanta que lhe invejava a fortuna e a beleza.
Aos 19 anos Isobel cruza o Atlântico para estudar piano numa academia de música de Nova
Iorque. O ano é 1924. Seu representante é um russo chamado Nickolaus e conseguiu vários
recitais para ela nos Estados Unidos. Mas pouco depois de sua chegada ao país começa a diminuir
a dedicação de Isabel a sua profissão. Sente-se atraída pelo estilo de vida social, as festas com
muita bebida e a promiscuidade sexual que cada vez mais tomam seu tempo.
Quando Isobel volta à Inglaterra decide casar-se com Nickolaus que, além de ser como um
pai para ela, representa sua única segurança. Mas uma vez estabelecida sua maneira de viver,
continua tendo aventuras amorosas em Londres e no sul da França. Sua desorientação sexual
termina quando conhece Robert numa festa num iate no Mediterrâneo. Voltam juntos a Londres e
quando descobre que está grávida quer fugir com Robert. Então tem uma discussão muito forte
com Nickolaus. No meio da discussão Isobel se vai precipitadamente da casa de Londres. Mais
tarde quando já levam vários dias juntos, ela e Robert , depois de ter escapado no Bugatti se
inteira Isobel de que Nickolaus morreu pois da discussão que tiveram provocou-lhe uma ataque
cardíaco fulminante…

Heather tomava consciência de que havia herdado muito de isobel, tanto em predisposições
como em dívida cármica. Havia sido criada na cidade do México, tocava piano, e lhe haviam dito
que tinha talento para isso e havia se inscrito na melhor escola de música do México. Apesar do
intrigante que resultava a existência de conexões entre vidas diferentes, havia algo que Heather
preferia esquecer: a imagem recorrente do corpo queimado de Isobel, cheio de compressas de gaze.
Essa visão aterradora levava implícita a pergunta: havia sobrevivido Isobel ? A resposta que chegou
numa sucessão de transes produziu pesadelos e choro quando viu a horrível degradação da bela e
dotada concertista na mulher mutilada e suicida, isolada da sociedade frívola que uma vez a havia
honrado e adorado. O que segue é um resumo do que conta Heather em seu diário sobre os
episódios mais significativos que viu em transe.
No inverno de 1933 Isobel está vivendo com uma enfermeira e 2 serviçais numa casa às
margens do mar perto da cidade de Rye em Sussex, Inglaterra. Isobel se movimenta com lentidão e
dor. Sua expressão vocal está limitada a uns penosos murmúrios . Me esforço e a olho de perto:
que horror! Seu rosto está queimado e deformado. Usa um comprido xale de seda de cor bege, ao
redor da cabeça e pescoço. A mão direita, coberta de chagas, e pele enrugada, parece inútil. Na
casa há um piano mas terminaram os dias de pianista de Isobel. Com a mão esquerda pinta
aquarelas de flores com estilo semi realista. Muitas vezes Isobel pensou em por fim à vida de
penúrias e essas ideias se afirmam quando a visita Eleanor, uma “amiga” de Londres que se veste
com extravagância de acordo com a moda. Eleanor está sentada no divã bebendo chá e abrindo as
feridas as feridas de Isobel com seus comentários.
-Todos falam da ruína de tua beleza e de tuas mãos, querida Isobel. Supostamente que
enquanto dizem algo desagradável de ti lhes digo que estão equivocados. Eu não creio que poderia
viver como tu. Como podes suportá-lo, querida? Como podes suportar olhar-te?
Não muito depois, Isobel sai de casa numa noite fria de inverno. Com o granizo caindo em
seu rosto cruza o terreno que separa sua casa da costa e caminha penosamente olhando o mar
turbulento. Por umas escadas de madeira escorregadios desce a uma praia de cascalhos. Lenta,
decididamente, entra caminhando nas águas rodopiantes e segue, segue caminhando…

As depressões de Heather estava ligadas de forma direta com aquela noite amarga em que
caminhou pela última vez sobre a terra como Isobel. Depois de experimentar no transe a tumba das
águas do Canal da Mancha não voltaram a afetá-la as ondas de depressão. Com grande surpresa ,
Heather recordou haver escrito uma composição na qual descrevia a morte de Isobel com todo
detalhe. Como escolar, havia dado rédea solta a seus sentimentos e pensamentos sem importar-se
que pudessem parecer estranhos. “Deves sentir-te muito desgraçada” lhe havia dito a professora.
Tomando o comentário como uma crítica, sufocou seu desejo de escrever histórias e reprimiu
durante muitos anos a recordação, aparentemente espontânea do suicídio de Isobel.
Agora que se havia revelado a natureza da morte de Isobel, os problemas psicológicos
restantes de Heather se fizeram mais claros para o dr. Whitton que perseverava na busca de
ressonâncias capazes de curar. Com seu guia, Heather passou várias semanas fazendo o inventário
de 19 vidas passadas. Incluíam a de um artista rupestre de 13.000 a.C. em Dordogne, França, um
artesão do Egito, antes das dinastias, por 3100 a.C. um artesão pobre de Changan, China 2 séculos
antes de Cristo, uma romana que morreu ao dar á luz na província imperial de Lusitânia 2500 a.C.
uma sacerdotisa druida do século XII da Bretanha, França, e uma mulher nobre, francesa que foi
cruelmente assassinada na Espanha no final do século XV. Em muitas das vidas de Heather se
dedicava à arte em alguma forma como na vida presente. Mas nenhuma existência dava ideia de
porque se sentia paralisada nesta vida em relação à criação artística.
Além da existência de Isobel, a única vida que parecia ter uma ligação direta com o
problema de Heather foi uma especialmente feia no reinado de Fernando II. A auto-hipnose revelou
a uma mulher nobre, chamada Evangeline que viajou a Castilla, onde conheceu, se enamorou e se
casou com um nobre espanhol que estava comprometido com outra mulher a quem Heather
reconheceu como sua mãe nessa vida. Entre as 2 mulheres se desenvolveu uma aguda rivalidade
que culminou numa conspiração contra Evangeline, acusada ante o Tribunal da Inquisição. O
estômago de Heather se rebelava quando registrou as últimas horas de Evangeline numa masmorra
de Alcazár de Segóvia na Espanha:

Se desvanecem visões de cenas confusas, as tochas acesas colocadas em suportes nos muros
da prisão. Mais luz proveniente de um braseiro ardente expõe nas chamas ferros e tenazes. O odor
de carne queimada paira no ar. Em um local uma mulher de cabelo escuro está falando com uns
homens com capuzes...Evangeline está suspensa pelos pulsos por umas algemas de ferro unidas a
correntes atadas ao teto. Sente como se houvessem arrancado os braços, a cabeça pende para
baixo. Soltam o corpo inerte de Evangeline, envolvem-no em estopa e o levam para uma cela.
Muito depois de fechar a porta Evangeline começa a recuperar a consciência, e mais tarde
aparecem ratos que mordem seu corpo. Não tem forças para afastá-los..

A cena deixou Heather muito alterada. Escreveu:

Gritava nesse transe e estive a ponto de vomitar...Por que me afetam fisicamente essas
cenas? Escrevo com muita dificuldade. Meus braços estão quase paralisados, quase inúteis…

O fato de que Heather reconhecesse sua mãe na “mulher de cabelo escuro”, galvanizou ao
dr. Whitton, que interrogou a Heather sobre as relações entre mãe e filha nesta vida. Havia muito
por saber. No material, a infância de Heather havia sido um banquete suntuoso e inextinguível. Mas
emocionalmente não teve o carinho e o apoio de uma mãe muito zelosa que, com uma atitude
similar à da noiva desdenhada via sua filha como rival que devia derrotar e desmoralizar.
-Minha mãe detestava que eu me dedicasse à arte – recorda Heather.
Esse espírito de obstrução prevaleceu durante a vida de Heather ainda nos anos de
Universidade. Com pouco mais de 40 anos, quando Heather lutava com a pior época do processo
degenerativo de sua enfermidade, “cada palavra desalentadora que me havia dito minha mãe voltava
a cair em mim. Me sentia inútil e que não merecia ser feliz.”
Por fim surgiram detalhes fundamentais para a terapia. O dr. Whitton estava quase seguro de
que os problemas psicológicos atuais de Heather não derivavam de reencarnações passadas senão
de sua infância infeliz. E se bem que a terapia ortodoxa aliviasse os sintomas que ficaram, antes
queria que Heather tivesse claro o sentido de sua vida atual. Isso significava enviá-la ao bardo entre
as vidas de Isobel e Heather. Em termos terrenos, essa permanência na vida intermediária era breve,
menos de 10 meses separavam a morte de Isobel no inverno de 1933 e o nascimento de Heather no
verão de 1934. Numa entrada no diário fechada em 3 de dezembro de 1980, Heather descreveu sua
viagem à metaconsciência que começava com a capitulação de Isobel às águas tormentosas do
Canal da Mancha.

Vejo flutuar o corpo de Isobel no mar escuro e turbulento. Rugia uma forte tormenta. Eu
sabia que havia sido Isobel, mas agora não tinha corpo. Estava flutuando numa luz dourada que o
abarcava todo. Me sentia confortável e cálida e os elementos não me tocavam. Ainda que não
tivesse corpo me sentia inteira e formando um todo com o que me rodeava. Me dei conta de que via
em todas as direções. Olhando o corpo de Isobel não sentia nenhuma emoção. Nem medo nem
solidão, ainda que parecesse estar só. A luz se estendia, parecia que me movia para cima. Me
sentia muito cômoda, cheia de amor e felicidade. Tudo a meu redor era luz dourada como se
estivesse aproximando-me de um sol muito brilhante. Não havia divisões, nada estava separado.
Tudo era um. Incrivelmente belo e tranquilo. Tive visões fugazes com matizes do arco-íris e escutei
centenas de vozes cantando melodias simples mas belas. Flutuava tão feliz sentindo-me parte do
todo, sentindo que pertencia a esse lugar.

Heather sentiu uma forte tentação de ficar nesse espaço delicioso sem amarras e cheio de
luz. Mas prevaleceu a necessidade de obter respostas e não se podia seguir nesse estado de graça
quando se revelara o roteiro cármico de Isobel. O roteiro indicava uma longa e brilhante carreira
musical que Isobel haveria alcançado se houvesse seguido o caminho escolhido. Gravações,
concertos em Londres e Paris, composições, tudo estava aí esperando o esforço necessário para
alcançá-lo. Mas Isobel, desviando-se das intenções de sua vida intermediária, havia aberto as portas
para o caos e a desgraça e havia dilapidado as perspectivas de seu desenvolvimento compensador.
Segundo Heather pode inteirar-se na vida intermediária sua própria vida atual foi elaborada
como medida de emergência; foi quase obrigada a encarregar-se das repercussões cármicas da
existência desperdiçada de Isobel e de seu final prematuro. Soube que suas alergias eram mais que o
legado do trauma não resolvido do acidente do automóvel. Eram o que a obrigaria a corrigir o
passado. Portanto, se Isobel não se desviasse para a vida fácil, Heather não existiria.
-Na entrevida soube que Isobel morreria agora como uma mulher triunfante e feliz. E teria
sido bisavó. Se só tivesse tido paciência.
De todas as maneiras os “só” e os “tivesse sido” não têm nenhuma consequência prática. As
ações de Isobel haviam criado a personificação de seu carma: uma pessoa chamada Heather,
também equipada com um roteiro cármico em que detalha suas intenções de encarregar-se das
repercussões dos fatos da vida anterior. Quando ficou consciente de que na vida intermediária se
havia comprometido a reparar as deficiências de Isobel, Heather buscou esclarecer o sentido da
tarefa que lhe correspondia realizar na vida. Isso a levou a um encontro eletrizante com os membros
do tribunal que se revelaram no fundo de um vastíssimo templo. Os Três apareciam como as
deidades Ra, Osiris e Ísis…

Quando entrei no templo tirei da corneta de sistro, que soou mais e mais persistente. Se
ouvia o som de flautas e címbalos...belo e indescritível ao mesmo tempo. Caminhei diretamente
para Ísis. Era incrivelmente alta e se comunicava sem palavras. Me disse que devia prosseguir
minhas inclinações artísticas e que trabalhando encontraria as respostas.

No entanto a visão da seguinte reencarnação como Heather estava longe de ser estimulante.
Tudo indicava que havia de experimentar uma porção de frustrações, rejeições e tristezas. Mais
perturbadora ainda era a recomendação de que escolheria o ventre em que nasceria. Era a última
coisa que Heather desejaria escutar…

De repente senti horror e medo. Roguei não nascer de minha mãe mas tive a impressão de
que isso era parte do que devia pagar por Isobel. Não posso descrever meu horror. Logo voltei a
ver minha avó a que reconheci de uma reencarnação mais feliz e comecei a sentir-me melhor. Eu a
queria muito e desejava voltar a vê-la.

Como quase todas as viagens à metaconsciência esse mais além da terceira dimensão
abarcava todas as emoções humanas experimentadas em um nível de intensidade inolvidável.
-Quase gritei ante a ideia de reunir-me com minha mãe - contou Heather depois.
A impressão esteve acompanhada de um ataque agudo de pneumonia bronquial que durou
várias semanas. Quando melhorou da enfermidade, Heather viu tudo com mais clareza, calma e
otimismo e nunca voltaram a aparecer os problemas pulmonares nem pneumonias. A entrada do 4
de dezembro em seu diário é quase um suspiro de alívio.

Pela primeira vez em muito tempo estou sentindo esperanças nesta vida. Sinto que se posso
acalmar o temporal as coisas irão melhorando à medida que amadureça. Já minha vida está
mudando lentamente para melhor e estou começando a dar-me conta de que posso agradar às
pessoas. Até creio que posso trinfar na carreira se lutar o suficiente.

Durante os 3 anos seguintes o dr. Whitton ajudou Heather a lutar capacitando-a a aceitar as
influências negativas que arruinaram sua infância e quase desfazem sua vida adulta. Mediante a
terapia ortodoxa sem ajuda da hipnose Heather chegou a dar-se conta no mais profundo do seu ser
de que é merecedora de afeto e respeito. Pode admitir que a sensação de insegurança não se
originava na falta de atitude senão das exigências cármicas de castigo emocional pelos anos juvenis.
Gradualmente Heather se sentiu menos insegura e suscetível a reações dos demais. À
medida que aumentava a confiança em si mesma, também aumentava sua capacidade de expressão.
Se sentia mais inclinada a escutar os demais ainda que as opiniões não fossem coincidentes com as
dela. Seu marido Philip resumiu a “nova” Heather quando disse:
-Antes tinha medo até da própria sombra e agora não!
Esse rejuvenescimento da psique- que atraiu muitas amizades- libertou Heather o suficiente
para canalizar sua energia como designer de joias. Sua primeira exposição se realizou pouco depois
de terminar as sessões em 1983. E suas criações continuam atraindo o interesse dos joalheiros e
colecionadores.
Em mais de um sentido, Heather está respirando melhor. Com um estado de saúde e de
capacidade de trabalho que só havia tido antes em sonhos se detém para refletir sobre suas
personalidades anteriores, em especial Isobel. Agora Heather compreende que teve obstáculos na
expressão de suas habilidades porque Isobel dilapidou os dons que tinha no nascimento. Com a
ajuda do dr. Whitton acabaram as frustrações para Heather e pôde refazer sua vida e renovar sua
capacidade criadora. Em 1979 uma entrada em seu diário dizia melancolicamente: “Me sinto como
que vagando sem objetivos em uma vida sem sentidos nem propósitos.” A metaconsciência e a
investigação das vidas passadas mudaram tudo isso. Agora ela tem consciência de que deve tentar
resolver aspectos de sua personalidade que, tendo empurrado Isobel á destruição, lhe proporcionam
a razão de sua existência.

A outra mulher

“No amor há pouco descanso”

Geoffrey Chaucer – Troilus and Criseyde

Gary Pennington era muito feliz em sua vida matrimonial. Em um mundo em que as
relações parecem ter tendência a romper-se, ele se maravilhava de sua boa sorte. A relação com sua
esposa Elizabeth havia começado na adolescência quando ambos assistiam a mesma Igreja
anglicana. Se casaram quando cursavam estudos universitários – ele de psicologia e ela de literatura
inglesa – e logo se estabeleceu uma relação de apoio mútuo em que ambos se ajudavam. Depois dos
30 anos Elizabeth deu à luz um menino e logo a uma menina que foram criados num lar feliz e
tranquilo. O lar era o refúgio ideal para Gary, que, tendo obtido o doutorado estava trabalhando para
a justiça como psicólogo forense, estudando as pessoas perturbadas acusadas de delitos com
violência. Gary vivia com sua mulher e filhos. Essa relação familiar suscitava a inveja entre os
amigos cujos matrimônios haviam descambado para separação de divórcio.
Depois de 16 anos de matrimônio a paixão de Gary por Elizabeth não diminuíra já que o
tempo havia realçado a beleza e sensualidade de Elizabeth. Bem adaptado à dieta emocional de
lareira e lar, Gary não sentia nenhum desejo de escapar das responsabilidades familiares. Jamais
havia sentido a tentação forte, em alguma oportunidade, de ter uma aventura sexual. No entanto,
quando quase se chocou com Caroline Me Vittie em uma festa em 1982, o intercâmbio de olhares o
deixou sentir-se como um adolescente ardente. Perturbado e estranhamente deleitado por esse fugaz
encontro, Gary andou distraidamente pelo salão entre fitas negras e elegantes vestidos até chegar a
uma fileira de balcões em que se dispunham cestas com plantas tropicais.
Observando o salão cheio de gente soube que devia falar com a mulher de cabelo escuro que
tanto o havia impressionado. Buscou com o olhar até que a viu entre o bar e a mesa. Olhava em sua
direção falando com uma mulher maior de vestido verde. Nervoso, Gary foi até o bar entre
cotoveladas, copos de vinho e bandejas de hors d’oeuvres até que esteve ao lado dela. Se bem que
fosse arrogante e seguro por natureza, sentiu-se desajeitado ao apresentar-se. Mas quando
começaram a conversar o nervosismo passou em função da total afinidade que se apresentou.
-Foi como se bem recebido em casa.
Ignorando a todos que os rodeavam, falaram os 2 durante o resto da festa. E quando esta
terminou, sentiram a compulsão de voltar a se ver.
A velocidade e intensidade da relação que se estabeleceu entre Gary e Caroline exigia muito
do tempo livre de Gary. Mas ele não ocultou de sua mulher os motivos pelos quais passava cada vez
menos tempo em casa. Contou a Elizabeth a relação que tinha começado esperando que ela
tolerasse e compreendesse a situação. Elizabeth, muito ferida, não podia nem queria compreender,
mas durante quase 3 meses suportou as ausências de Gary e o afastamento que isso provocava entre
os 2. Elizabeth estava desesperada e furiosa. Mas sobretudo tinha medo. De modo inexplicável
sempre havia temido que algum dia Gary a deixasse. A aventura amorosa dele confirmou os temores
de Elizabeth e esta chegou a senti-la como um agente palpável de terror.
A gelada noite de uma sexta-feira de março de 1983, o desespero mudo de Elizabeth rompeu
as barreiras. Gary voltou para casa depois da meia-noite e a encontrou deitada na cama. A princípio
acreditou que estivesse dormindo. Mas mudou de ideia quando foi ao banheiro e encontrou um
frasco quase vazio de pastilhas para dormir ao lado da pia. Correu de volta ao dormitório e tentou
despertar sua esposa dando-lhe palmadas no rosto e nas mãos. Só conseguiu provocar uma leve
movimentação e uns suspiros em Elizabeth. Todo o tempo Gary estava cheio de angústia e tormento
sabendo qual era a causa do desespero de Elizabeth: ele. Deveria chamar a ambulância Logo
respondeu se não fosse pelas complicações que haveriam de produzir. Por seu trabalho Gary era
conhecido por todos os motoristas de ambulância da cidade. Elizabeth ia se sentir muito mal quando
os médicos internos do hospital a interrogassem e sua aventura amorosa ia ser objeto de
comentários de toda comunidade médica legal.
Apesar da importância do problema Gary acreditou que só poderia evitar que Elizabeth
caísse em coma. A cada momento lhe movia a cabeça e esfregava os braços mas sobretudo lhe falou
continuamente até que a primeira luz do alvorecer começou a passar pela janela. Lentamente
Elizabeth recuperou a consciência. Para Gary havia muito que decidira abandonar Caroline. A
aventura havia terminado.
Caroline se sentiu arrasada pela dor diante da decisão repentina de Gary de terminar a
relação. Reagiu pouco depois indo viver com James Hughes, um solteirão muito rico de pouco mais
de 50 anos. Aos 3 meses de vida em comum, ao parecer alterada porque ele não queria um
compromisso sério com ela, Caroline tentou se matar. Atou um corda no banheiro como havia visto
no filme – Oficial e cavalheiro. Quando chegou, Hughes a encontrou pendurada na corda atada ao
chuveiro. Baixou-a imediatamente e levou-a ao hospital onde ela permaneceu internada durante
quase 2 meses. Ainda que a intenção do suicídio de Caroline fosse parecesse consequência da falta
de romantismo de Hughes, os amigos íntimos e Hughes sustentavam que o desejo de se matar se
havia originado na profunda e condenada paixão que ela sentia por Gary. Mais adiante Hughes
ajudou muito na recuperação de Caroline. Durante mais de um ano pagou as passagens de Caroline
a Nova Iorque para que tivesse suas sessões de terapia com um analista. Por que Nova Iorque ?
Porque Hughes não confiava nos terapeutas de Toronto: muitos deles eram amigos pessoais de
Gary.
A vida de Gary estava voltando ao normal, seu matrimônio ia curando as feridas com o
tempo. Elizabeth se empenhara em esquecer e perdoar e aceitou a palavra de Gary de que era de
novo dela, de forma total e absoluta. Gary por sua parte descobriu que poderia perdoar a si mesmo:
os delitos das pessoas às quais aconselhava na prisão faziam com que sua escapada extraconjugal
parecesse um pecadilho sem importância. Além do mais estava convencido da verdade do que dizia
Bertrand Russel em Matrimônio e moral: “A psicologia do adultério tem sido falseada pelas morais
convencionais que supõem nos países monogâmicos que a atração para um pessoa não pode
coexistir com o amor por outra. Todos sabemos que isso não é verdade.”
Gary pôde perdoar-se facilmente mas não esquecer. Não só teve que acostumar-se com a
perda de Caroline e sua responsabilidade pela tentativa de suicídio senão que se sentiu decidido a
buscar as causas de sua conduta tão diferente da usual. Havia uma falha em seu caráter? Estava
deprimido ou alguma falha na relação com Elizabeth foi a responsável de que ele se entregasse ao
romance de forma irresistível? Havia outra suposição verossímil. Podia ser que o entendimento
entre ele e Caroline proviesse de muito mais longe que o aqui e agora?
Gary conhecia bem o conceito de reencarnação. E enquanto meditava sobre sua aventura
recordou a conversa com um colega sobre o interesse do dr. Whitton na regressão hipnótica. Sendo
um profissional muito respeitado cujos talentos para a assessoria psicológica eram reconhecidos.
Gary não estava predisposto a buscar ajuda de um psiquiatra e durante muito tempo não quis fazer
averiguações a respeito. Quando finalmente buscou ajuda do dr. Whitton lhe explicou que como
haviam passado 8 meses desde o término do romance não estava aflito nem apurado. Mas cedo ou
tarde queria saber o que o havia impulsionado de forma tão apaixonada ao adultério.
Ao conhecer toda a história pessoal e matrimonial de Gary, o dr. Whitton pensou que não
havia motivos psicológicos para o adultério. Portanto hipnotizou o paciente e lhe pediu que
buscasse alguma encarnação que tivesse compartilhado com Caroline que pudesse explicar sua
intimidade nessa vida. A resposta inicial de Gary no estado de transe foi repentina e dramática. De
imediato Gary sentiu o ruído do motor de um avião e o penetrante odor do combustível...Era o
oficial Peter Rargreaves, piloto do avião. Estava ao lado da máquina que preparavam para que
partisse de uma pista perto de Salerno, Itália. O país estava arrasado pela Segunda Guerra Mundial e
a presença da Royal Air Force era vital para o êxito da campanha aliada na Itália. Transcorria o ano
de 1944…

Rargreaves era um oficial de inteligência da RAF e não um piloto oficialmente ainda que
estivesse preparado para voar. Preocupado pelas fotografias aéreas que indicavam um contra-
ataque massivo por parte dos alemães, queria saber mais inspecionando a zona em questão com
um avião no qual pudesse voar baixo. Está ansioso por embarcar no Mustang P-51, sem artilharia
mas alguns camaradas oficiais lhe dizem que a missão é muito arriscada, quase suicida e que faria
bem em deixar a confirmação dos dados ao pessoal de reconhecimento por ar.
Desprezando os conselhos, Rargreaves sobre à cabine e levanta vôo. Quando se aproxima
da zona de observação, o intercepta um caça alemão. As balas dão na fuselagem e uma delas fere
sua perna esquerda. Isso lhe impede de controlar bem os pedais e se vê obrigado a fazer um pouso
de emergência num campo. O capturam e o levam ao Norte num trem para que o interroguem num
centro da SS no qual não tratam sua perna e ela gangrena. Num quarto, nu, golpeiam fortemente
Rargreaves com a intenção de que revele informações sobre as operações dos Aliados. Mas apesar
do que sofre, sem comida, sem dormir, e sem atenção médica, não revela nenhum dado ao inimigo.
Seu heroísmo recebe em paga uma agonia terrível. Em um esforço final para extrair-lhe
informações enquanto agoniza, os torturadores nazistas começam a arrancar-lhe as unhas…

Gary voltou do transe muito alterado. No estado hipnótico não experimentou os sofrimentos
físicos de Rargreaves mas sentiu agudamente o desespero e a desolação do oficial. Como não tinha
conhecimentos da campanha na Itália na Segunda Guerra Mundial, a princípio Gary duvidou da
veracidade da experiência porque haviam feito a referência a Monte Cassino.
É isso real? Perguntou ao dr. Whitton. Que importância poderia ter um lugar de jogo no
meio da guerra?
Gary não tinha ideia de que Monte Cassino, o imenso monastério beneditino que estava na
entrada do vale Liri deu seu nome à batalha mais importante da campanha. Em fevereiro de 1944 o
monastério ficou em ruínas por 600 toneladas de bombas enquanto os aliados marchavam para
Roma…
A mente de Gary voava aquele dia de março de 1984 quando deixou o consultório do dr.
Whitton. Repassando sua vida se deu conta de que havia coerência entre experiências e inclinações
antes inexplicáveis. O transe lhe explicou as inolvidáveis sensações de terror que havia
experimentado aos 16 anos pouco depois de conhecer Elizabeth . A breve mas estranha visão que o
assaltava geralmente quando estava divertindo-se em uma festa, o transportava a um quarto nu onde
um oficial com uniforme nazi lhe arrancava as unhas. Como recém havia aprovado no exame para
dirigir automóvel, Gary se perguntava agora se ter trabalhado com os pedais não lhe recordou, de
forma inconsciente a luta de Peter Rargreaves com os pedais do avião. Talvez isso tenha precipitado
a recordação da cena da tortura. Gary recordava todo seu passado nesta vida e lhe veio à memória
que ainda que tivesse nascido no Canadá costumava falar com acento britânico quando criança. Isso
confundia os professores e os fazia pensar que fosse adotado. O acento foi desaparecendo e seguiu
sendo um mistério...até agora.
O episódio do transe esclareceu a Gary seu temor a quebrar uma perna. Era como uma fobia
que lhe havia impedido praticar esportes como esqui. Também esclarecia sua angústia quando
viajava de avião. Até havia pensado em aprender a voar e ter permissão para lutar contra esse temor;
sentia de forma instintiva que sabia como dirigir um avião pequeno. Era o temor a arriscar-se - que
agora entendia bem – o que o impediu. O gosto pelos riscos era parte da natureza de Gary e o havia
levado a tocar na morte, em especial dirigindo automóveis.
Gary começou a refletir sobre a semelhança do seu trabalho e a espionagem. A psicologia
forense era uma consequência lógica de seu trabalho na vida anterior. Além do mais entendeu
porque roía as unhas e porque a tortura era algo que o fascinava de uma forma quase perversa. A
Gary lhe era dada a oportunidade conhecer-se rapidamente mas ainda devia averiguar o porque de
sua conduta adúltera. Na sessão seguinte aumentaram as informações sobre sua vida imediatamente
anterior e isso o colocou frente a outra mulher…

Peter Rargreaves era de uma família católica inglesa de classe média alta e havia tido uma
babá italiana. Seu domínio do italiano é uma das razões de sua designação para trabalhar com os
combatentes da Resistência enquanto os aliados colocam o pé na Itália. Em Salerno, seu contato
principal com o movimento da Resistência é uma jovem chamada Elena Bocchi, que facilita a
comunicação de Rargreaves com os guerrilheiros da montanha. Desde o começo Rargreaves e
Elena se sentem atraídos e se enamoram trabalhando juntos nas condições mais perigosas. O pai
de Elena é morto em combate faz pouco e Rargreaves ajuda como pode a família Bocchi. Promete
casar-se com Elena quando terminar a guerra.

Como vimos, Rargreaves não sobreviveu. Mas o tratamento brutal que recebeu dos nazistas
e sua preocupação por Elena o mantiveram no plano terreno várias semanas depois de sua morte.
Em sua primeira visita à vida intermediária Gary encontrou que sua personalidade da vida passada ,
ainda ligada à Terra, estava avassalado pela emoção sobretudo pela ira. A metaconsciência revelou
que Rargreaves havia sido atacado porque um agente nazista se havia infiltrado entre os
guerrilheiros e avisou os alemães da viagem de exploração de Rargreaves no avião monomotor.
Furioso, o ser incorpóreo de Rargreaves seguia repassando as circunstâncias da traição.
Elena se inteirou da morte de Rargreaves por suas conexões. Observando-a desde a vida
entre vidas ele percebeu o desalento de Elena que logo levou-a a uma profunda e duradoura
depressão.

Com crescente apreensão vê que Elena se detém em cima de um recife perto de Salerno,
decidida a suicidar-se. Quando chega na borda, o eu incorpóreo de Rargreaves trata
desesperadamente de materializar-se para evitar que ela se mate. “Se tivesse um corpo...”repete
sua mente, isso não ocorreria”. Totalmente impotente por seu estado incorpóreo não pode fazer
outra coisa que ver como Elena se lança ao espaço.

Os esforços de Rargreaves para impedir o suicídio de sua amante não passaram inadvertidos.
Caroline que recordou várias reencarnações com a meditação, encontrou que o final de sua vida
anterior era igual ao que Gary havia visto em seu transe. E ela recorda haver lutado com uma força
invisível antes de atirar-se.
Tendo fracassado com o suicídio de Elena, a consciência sem matéria de Rargreaves volta à
cena de sua agonia no quarto do centro de interrogatório da SS. Ali também tratou de intervir mas
não pôde evitar a tortura dos outros prisioneiros que haviam sobrevivido. Se sentia furioso porque o
haviam traído, culpado por não haver podido cumprir as promessas que havia feito a Elena e
atormentado por não haver podido evitar sua morte. Também se sentia horrivelmente impotente
para impedir a perseguição dos que se debilitavam no centro de interrogatório. Só quando se lhe
acercou um sábio ancião, seguramente um guia, consentiu em desprender-se de sua ligação terrena.
Com grande relutância abandonou as circunstâncias trágicas da vida de Rargreaves.
A atração de Gary por Caroline lhe foi esclarecida pelo romance de Rargreaves e Elena
Bocchi, mas a associação entre os 2 era de caráter mais profundo. O dr. Whitton ajudou Gary a
encontrar uma vida russa na qual viveu uma relação incestuosa com uma irmã menor. Vendo-se
como a figura pouco imponente de Sevastjan Umnov, Gary identificou Caroline com Lisenka, a
irmã de Sevastjan.

Sevastjan era um emissário da czarina Isabel Petrovna na corte de Luis XV durante inicio
do século XVIII. Como as relações entre França e Rússia são um tanto bizarras, sua principal
tarefa diplomática é semelhante à de um agente do serviço secreto e se especializa em operações
de contra-espionagem e em efetuar exportações de armas para sua terra natal. As exigências da
diplomacia fazem que Sevastjan fique afastado de Lisenka por longos períodos. Muito enamorada
dele, ela se aflige constantemente pensando que ele pode unir-se a outras mulheres em Paris ou
Versalhes. Seus ciúmes são infundados mas ao ouvir rumores sobre o comportamento de seu irmão,
reage impulsivamente, e se casa com um de seus admiradores. Umas semanas depois de enforca ,
desesperada por haver-se negado a esperança de continuar a relação com seu irmão. Quando a
notícia chega a Sevastjan na França, se desespera e não volta nunca mais à Rússia. Morre por
causas naturais, só e infeliz…

Pode haver sido uma coincidência que Gary e Caroline estivessem ceando em um
restaurante russo na noite em que Elizabeth tomou as pastilhas. Mas Gary acreditava menos nas
coincidências: preferia aceitar as palavras de Walter Pluer. “O gosto é a memória de uma cultura
que conhecemos”.À luz da experiência com as reencarnações tudo parecia cheio de sentido. Os
transes de Gary refletiam seu eu, suas ações e reações como se tivesse em uma sala de espelhos.
Dois temas principais apareciam: a incorporação das mesmas habilidades e atitudes nas
vidas laborais de Gary e a tendência ao suicídio de Caroline. Os investigadores de reencarnações,
como o dr. Ian Stevenson têm demonstrado que as tendências exercem seus efeitos de uma vida a
outra. Por sua história passada era claro que Gary e Caroline tinham que voltar a encontrar-se em
outra relação. Mas entender isso abria uma questão muito importante sobre o matrimônio de Gary.
Haviam compartilhado alguma vida Gary e Elizabeth? A sessão seguinte mostrou Gary como
Jeremy Everett, um matemático do século XIX, professor na Universidade de Oxford e esse
personagem respondeu de maneira afirmativa…

Durante anos Jeremy estava vivendo uma vida dupla. Nos fins de semana, sem aulas, se
reúne com sua esposa e dois filhos no lar perto de Oxford. Durante a semana Jeremy vive no
campus da Universidade. Próximo dali vive sua amante com quem tem 2 filhinhos. Jeremy as
reconheceu e prometeu protegê-las e assegurar sua educação. Nunca poderá cumprir suas
promessas. Perto dos 40 anos Jeremy morre de pneumonia deixando duas famílias que dependiam
dele. Sua esposa fica bem. Recebe as propriedades familiares e uma pequena herança. Mas a
amante e as crianças não têm tanta sorte. Jeremy, ainda jovem e não previdente não lhes há
deixado nada. Cheia de rancor por falta de preocupação do seu amante, ela o culpa da situação de
pobreza e dificuldades em que ficou…

A esposa de Gary nessa reencarnação é desconhecida para ele. Mas o estado de transe revela
que sua esposa atual e sua amante são a mesma pessoa. Elizabeth tem tido papéis trocados,
característica das reencarnações grupais. Gary seguiu averiguando e se inteirou de que ele e
Elizabeth haviam compartilhado vidas anteriores como amantes secretos. Pareceria que esta era a
primeira vida em que podiam gozar abertamente sua relação. Outra regressão hipnótica revelou uma
vida no antigo Egito em que Elizabeth apreciada por sua beleza era uma consorte do faraó
Amenhotep III. Gary era guarda do palácio. Entre eles houve uma relação clandestina e Elizabeth
perdeu seu amante quando mataram Gary numa luta. Não é de estranhar que Elizabeth tenha temido
sempre que seu marido a deixasse, havia precedentes em vidas anteriores.
Os motivos em vidas anteriores dos temores de Gary iam aclarando. Por não haver cumprido
suas promessas à amante na Inglaterra, podia entender agora sua exagerada ansiedade pela situação
econômica de sua família. Seu temor maior era não chegar a manter sua família de forma adequada.
Agora sabia porque havia firmado seguros por grandes somas para o caso em que ele sofresse um
acidente fatal.
Quando Gary voltou ao bardo entre a morte de Peter Rargreaves em 1944 e seu próprio
nascimento uns 2 anos depois, recebeu a sensação de que a força emocional de vidas anteriores
havia impulsionado uma vez mais a Elizabeth, Caroline e a ele a refinar suas naturezas mediante
uma interação intensa. Quando Gary estava por conhecer o tribunal, teve a sensação de que se
possuísse um corpo esse corpo não teria unhas: uma clara consequência do trato recebido dos nazis.
Percebeu aos Três como formas idealizadas de Jesus Cristo, representação talvez originada na
educação católica dos Rargreaves.
Gary teve a sensação de que estavam em perfeito conhecimento da identidade de sua alma e
enquanto repassavam a vida de Peter Rargreaves, foi consciente de que seu “corpo” astral voltava a
possuir dedos inteiros. Ele acreditou que isso simbolizava que o haviam perdoado- ou melhor dito –
que ele se havia perdoado pela temeridade que o havia levado a uma morte prematura. Os Três lhe
advertiram que cuidasse desse traço de temeridade que havia sustentado no curso de várias
reencarnações e lhe aconselharam que não seguisse outra carreira militar até que controlasse
totalmente essa característica.
(Durante os primeiros anos da década de 1970, Gary quis alistar-se no exército americano
que lutava no Vietnam como oficial de inteligência. Mas uma voz interior dissuadiu-o).
Também lhe disseram os Três que o orgulho pelos seus conhecimentos e capacidade
intelectual deviam dar lugar à humildade, não devia voltar débil, mas humilde.
Nesta vida Gary ainda está lutando com sua temeridade inata com orgulho por sua
capacidade – ainda que às vezes apareça como arrogância – e uma suscetibilidade à ideia da traição
tanto no campo pessoal como profissional. Este último não foi tratado pelo tribunal mas pareceria
que a fúria de sua alma por ter sido traído foi tão incorrigível durante a vida intermediária que Gary
levou esse sentimento negativo para sua reencarnação. Por isso lhe resulta difícil confiar, até nos
que estão muito próximos inclusive seu irmão Graham. Pouco depois que Gary e Caroline iniciarem
seu romance, Elizabeth confiou em Graham e lhe pediu que a ajudasse a restabelecer o equilíbrio do
matrimônio. Graham convidou seu irmão a jantar fora e Gary foi com a expectativa de ter uma
escuta compassiva de seus sentimentos. Mas Graham atuando como agente de Elizabeth condenou a
conduta de Gary, e este se sentiu ferido com essa reação.
Quatro meses de sessões de hipnotismo deram a Gary a chave da situação assim como uma
compreensão mais ampla das motivações da conduta humana. Antes de suas viagens às vidas
passadas e à metaconsciência costumava ser um juiz duro. Agora, tendo em conta as energias
cármicas mostrou mais tolerância para ele mesmo e os demais.
Mentalmente Gary havia resolvido os motivos pelos quais a aventura amorosa não só havia
terminado devido à desesperada ação de Elizabeth senão porque Gary e Caroline sempre estavam
desafiados pelas circunstâncias. A atração emocional os reunia mas a falta de planificação na vida
intermediária - o adesivo das relações- decretava que não tinham nenhum futuro nesta encarnação.
-Éramos como atores que ficaram sem roteiro – disse Gary.
Por outro lado, sua relação com Elizabeth podia comparar-se a um duo harmonioso que,
ainda que interrompido brevemente por uma terceira voz, continuaria até que baixasse o pano.
O estudo do caso cármico de Gary coloca uma pergunta monumental sobre a natureza de
todas as relações românticas. Em 1953, o famoso sexólogo Alfred Kinsey informou que nos Estados
Unidos aproximadamente a metade dos homens casados e uma quarta parte das mulheres casadas
têm pelo menos uma relação extraconjugal durante a vida. A maior parte dessas relações nascem do
tédio matrimonial destruído pela atração sexual de uma pessoa que convencionalmente “não exige
compromisso”. A origem dessas relações assegura seu colapso a curto prazo, quando decresce a
paixão inicial. Mas há outras relações em que emoções poderosas estão unidas ao magnetismo
sexual. Isso cria laços fortes de afeto genuíno. As experiências de Gary no estado de hipnose
sugerem que a intimidade em outras vidas pode ser um dos fatores mais importantes no despertar ou
redespertar dessas emoções.
10

A iluminação viva

“O mundo é minha ostra e a abrirei com minha espada.”

William Shakespeare – As alegres comadres de Windsor

Retrocedendo aterrorizada ao divã do dr. Whitton, Linda Irving olhava a longa folha curva
que se introduzia no seu lado. Notou que o assaltante que a atacava estava mascarado e admirou o
cinzelado da empunhadura enquanto a espada penetrava abaixo do tórax e perfurava os intestinos.
Lançava horríveis gritos guturais. Mas ela não estava gritando nem ela estava morrendo...era ele,
esse homem corpulento que compartilhava sua identidade, esse assassino chamado Rudolf Meyer
que mereceu morrer no cárcere de Paris que chamavam la Conciergerie. Era uma noite fria e úmida
de 1761...O ser que observava como caía Rudolf no chão sujo de sua cela não era Linda nem Rudolf
no entanto abarcava os 2. Mediante seu eu incorpóreo Linda viu a fuga do assassino pelos
corredores lúgubres da prisão. Por um momento flutuou alto acima do cadáver de Rudolf notando a
luz da tocha mais além das altas janelas com barras que se estendiam ao logo da cela. Logo escutou
uma voz, a do dr. Whitton instando-a a deixar Rudolf.
-Segue mais além- murmurou- que vês ?
De repente, gloriosamente a obscuridade foi quebrada por um luminosidade intensa e Linda
se sentiu aspirada num túnel pulsante e cheio de luz. Atrás ficaram todos os temores e as
dificuldades. O espaço e o tempo não eram mais que recordações. Linda estava totalmente em paz
consigo mesma e formava parte desse todo de beleza e serenidade quando emergiu do túnel à
inefável imensidade cheia de luz. Sentiu que havia voltado para casa. Uma vez que se acostumou
com o resplendor de seus arredores, Linda se encontrou sobre uma plataforma de mármore
quadrada que irradiava a mesma luminosidade que havia encontrado na viagem até ali. Três
esquinas estavam ocupadas por seres que ela identificou como seus juízes. Quanto tomou seu lugar
na quarta esquina descobriu que podia repassar com toda objetividade a vida que acabava de
abandonar.
-Fala! Ordenaram os juízes em uníssono.
Linda disse que ela merecia ser morta violentamente. Os juízes estiveram de acordo e lhe
disseram que suas ações como Rudolf teriam como consequência um longo sofrimento em sua vida
seguinte como Maria Tovar. Mas na vida seguinte a essa em que reencarnaria como Linda Irving,
ela “veria o que andou mal e o que emendaria.”
Nesta vida Linda é uma mulher de 30 anos, miúda, de fala suave e caráter decidido mas
gentil. É uma vegetariana estrita, evita a cafeína e álcool, pratica yoga e meditação e em seu tempo
livre pinta aquarelas e ensina dança de salão. Mas o que é quase toda sua vida é seu trabalho como
terapeuta ocupacional. Quando cursava a escola secundária em Detroit, Linda decidiu fazer sua
carreira em arte aplicada à reabilitação. Depois de mudar-se ao Canadá começou a estudar Terapia
Ocupacional na Universidade de Toronto e quando se formou começou a trabalhar num hospital ao
oeste da cidade.
O instinto e a intuição haviam dirigido Linda a uma carreira em que podia ajudar aos que
sofriam por acidente ou enfermidade, de incapacidades emocionais, mentais e físicas. Mas só as
viagens às vidas passadas e a vida intermediária puderam descobrir-lhe as razões dessa compulsão
interna. E as repetidas excursões ao estado de hipnose a capacitaram para desprender-se das
depressões enervantes e irregulares e de um bloqueio que a impedia de trabalhar com todo seu
potencial. Na metaconsciência se fez quase tangível o significado e o propósito de vida de Linda. O
estudo de caso cármico de Linda começa muito antes de seu encontro com Rudolf Meyer…
Em novembro de 1983 uma amiga lhe recomenda que se ponha em contato com o dr.
Whitton com a esperança de que a exploração de vidas passadas aliviasse os problemas que se
negavam a desaparecer. Ainda que Linda não sentisse que os problemas estivessem relacionados
com a infância, na realidade se havia criado em um ambiente difícil. Recordava que o pai sempre
havia tido uma tendência suicida e seu desespero às vezes ocasionava que o matrimônio estivesse a
ponto de separar. Mas Linda possuía um entendimento intuitivo dos problemas do pai e nas épocas
de crise podia manter unida a família. Em lugar de debilitar-se Linda se havia fortalecido com os
desafios e os desgostos de sua infância. Era naturalmente autocrítica e passou a adolescência
tratando de alinhar-se ao ambiente de seu lar.
Aproximadamente aos 25 anos Linda sentiu que se havia adaptado bem, mas que não podia
evadir das depressões periódicas que a assaltavam e que obscureciam suas iniciativas e seu bom
caráter natural. Junto com as depressões experimentava a sensação de que algo bloqueava a
satisfação de sua natureza.
-Tinha a impressão - explicava Linda – de que havia vindo à vida com limitações e que não
poderia progredir até que as eliminasse.
Essa barricada emocional causava dificuldades de distintas maneiras: reduzia sua capacidade
de mostrar-se franca e carinhosa com os demais, fazia temerosa de falar em público e a fazia sentir
não espontânea em suas relações pessoais. Também devia lutar contra outro problema psicológico:
o temor crônico a cometer erros. Essa fobia a levava à passividade e à inércia e fortalecia a sensação
de que uma força invisível a jogava para trás.
Como acreditava na reencarnação não teve que convencê-la da realidade das vidas passadas.
Mas durante as 2 primeiras sessões com o dr. Whitton, sentiu que sua imaginação era a responsável
do conjunto de imagens que se rodopiavam ao redor de um castelo situado em algum lugar da
Inglaterra medieval. Se viu como John, um guarda do castelo vestido com uma túnica marron,
amarela e azul. Então, de repente, o ano 1842 apareceu como um flash em sua mente. Totalmente
fora de época, pensou Linda. Mas as imagens medievais seguiam passando fugazmente até que
subitamente foram mais que imagens. Eram fatos que estavam ocorrendo e Linda foi esquecida
quando John corria atrás de um carro puxado por um cavalo ofegante e gritando que se detivesse.
Não se deteria...Linda voltou à consciência normal verdadeiramente iniciada nos mistérios das
experiências das vidas passadas.
O dr. Whitton havia dito a Linda que devia buscar as causas de seu bloqueio e ele pensou
que a súbita aparição do ano de 1842 em uma circunstância obviamente anacrônica indicava que o
inconsciente de Linda evitava de alguma maneira a recordação. Tudo o que podia fazer era
pressionar e confiar que em algum momento se anularia a resistência a examinar acontecimentos
desagradáveis de vidas passadas. Sua insistência logo se viu recompensada. A próxima vez que
Linda entrou em transe, se encontrou no corpo de uma jovem de 17 anos que bailava com
entusiasmo a música espanhola em um salão de baile em Madri. Como sua cabeça se movia de um
lado a outro ao compasso da música de ritmo rápido, os bordados da bainha do vestido giravam ante
seus olhos e o desenho foi preenchendo pouco a pouco o campo visual até que pode observar até o
bordado. Linda sentiu que atravessava o desenho e entrava no salão. E compreendeu que estava no
ano de 1842 que essa vez realmente a recordação haveria de estar bem localizada. Ela era Maria
Tovar filha de um rico comerciante. Estava dançando alegre com Carlos Baroja, um jovem muito
bom moço que teria a mesma idade dela.
-Busca um acontecimento que tenha muita importância em tua vida atual – instou o dr.
Whitton. Cativada por sua própria alegria e a encantadora companhia de Carlos, Linda não queria
abandonar o salão de baile. E tampouco queria ver o que o dr. Whitton queria que visse, pois em
resposta ao pedido dele, Linda caiu num mar de tristeza. A vivaz jovenzinha de 12 anos atrás havia
sido substituída por uma viúva inconsolável. Maria, vestida totalmente de negro, estava de luto pela
morte de Carlos, seu esposo, oficial do exército a quem acabaram de matar na revolução de 1854.
Ao lado de Maria estavam seus filhos: Fernando e Jorge, os gêmeos de 6 anos e uma filha, Katarina,
de 3, a quem Maria queria especialmente. Seu desespero era sufocante. Não foi uma aflição
temporária. À medida que Linda se deslocava na vida de Maria só sentia o aumento da depressão e
a autocompaixão. Uns 14 anos depois da morte de Carlos,Fernando e Jorge foram lutar pela rainha e
pela pátria a sufocar outra rebelião e nunca regressaram. Logo se casou Katarina e se foi da casa.
Maria se retraiu do mundo em uma grande mansão situada numa avenida de Madri, que a
compartilhava, com certo rancor, com sua sogra. Maria cultivava a amargura como se fosse uma
flor rara e preciosa. Levada ao último dia de vida de Maria, Linda se encontrou aos 45 anos
percorrendo a sepultura enquanto na rua tocavam os tambores, os gritos e passos do povo. O 29 de
janeiro de 1984 Linda escreveu em seu diário sobre o estado mental de Maria em suas últimas
horas…

Odeio minha casa, esta casa que devia ter sido nosso lar. Esta casa vazia que devia estar
cheia. Às vezes odeio Carlos e aos meninos por terem ido, sobretudo Katarina, que teve escolha.
Mas é mais fácil odiar o que fica. Odeio a casa vazia escura, e me odeio. Quanto mais permaneço
em casa mais me pareço com ela. Como anseio pela luz! Mas a janela que dá para a rua não deixa
entrar a luz. Só a visão horripilante da cegueira humana. Outro desfile em homenagem a outro
líder. Os líderes seguem mudando e cada um conduz à obscuridade, e os soldados aí fora na rua
seguem-nos cegamente. Por que não entendem que esse líder os levará todos à morte igual a que
fizeram com os demais? Mudaria as coisas se pudesse. Mas que sou eu? A obscura, vazia e
desiludida Maria. Eu também deveria unir-me a eles na rua do desespero. Não posso mais suportar
a obscuridade…

No consultório do dr. Whitton as recordações de Maria haviam sido tão vívidos que tudo era
como se Linda visse com os olhos de Maria. Permaneceu imóvel por um tempo olhando a janela
desse segundo andar que dava para a rua. E então foi consciente do halo de luz que começava mais
além das persianas e subjugada pelo esplendor, caminhou para a janela, para a luz… A rua elevou
para recebê-la e Maria sentiu o golpe terrível seguido pelas rodas de uma carruagem puxada por
cavalos que atingiram o peito. Mas também, de uma outra perspectiva, viu seu corpo sobre as
pedras apertado pelos raios da roda. Que trivial parecia a cena agora que a luz enceguecedora atraía
sua atenção e a guiava para cima, longe da rua. A rua não importava. Ela se movimentava na luz ,
uma luz mais brilhante e ofuscante que a do sol mas desprovida de calor. Esse esplendor absorvente
trazia paz e serenidade e Maria se banhava em sua benevolência. Também chegou a impressão de
estar fechada em um túnel ou tubo ou casulo. Não havia palavras adequadas para a tarefa de
descrever essa magnificência por que passava Linda a grande velocidade.
-Quem eras ?- perguntou o dr. Whitton.
Linda não estava segura. Os nomes de Maria e Linda apareceram em sua mente ao mesmo
tempo e nenhum parecia apropriado.
-Onde estás ?
Tudo o que parecia importar era o esplendor e a serenidade e a voz do dr. Whitton soava tão
fora de lugar, tão alheia que, se bem queria responder, Linda não sentia desejo de fazê-lo. Tudo o
que podia fazer era ir assimilando a maravilha ambiental dessa paisagem sem terreno...até que
lentamente começou a estabelecer suas andanças. O diário de Linda, em 5 de fevereiro de 1984 diz:

O que era esse lugar? Necessitava tempo para adaptar-me. Eventualmente foi
desaparecendo o impacto de minha transição e comecei a ficar consciente de minhas emoções. A
tristeza era tão intensa que queria chorar. Não havia nada mais a fazer. As lágrimas foram se
acumulando mas outra vez soava essa voz… Disse ao dr. Whitton que o sofrimento de Maria era
injusto. Era como se estivesse defendendo-me mas devia justificar a Maria sua última ação. Maria
não havia pensado numa vida posterior. No entanto tinha sentido que eu estava consciente depois
da morte do corpo. Essa vida era onde eu estava. Nessa vida era eu. Era bela, maravilhosa. Não
queria ir-me dali.

Se bem que a vida intermediária seja intemporal, as explorações na metaconsciência são


limitadas: o trabalho do dr. Whitton exigia que Linda voltasse a realidade terrena. Poucos são os que
regressam da vida intermediária sem necessitar uma readaptação. No diário, Linda descreve como
depois de sua viagem à vida entre vidas como Maria Baroja e Linda Irving ao voltar para casa
dormiu 2 horas apesar de sua companheira tocar o bongô. Logo se encontrou incapaz de funcionar
normalmente pelo resto do dia e esteve sem vivacidade habitual durante uma semana. Diariamente
experimentava muito sono e muito baixo nível de energia quando sentia nas profundezas do seu ser,
as exigências justificadas que precedem a transformação psicológica. Também recordava o êxtase
da metaconsciência. Linda expressou:

Tenho recordado com nostalgia esse mundo luminoso. Me alegra poder recordar porque
passará tempo até que possa deixar para trás Linda.

Linda voltou ao bardo com a recordação muitas vezes nos dias seguintes, menos para sentir-
se feliz que para buscar o esclarecimento de sua situação. Meditar sobre a vida entre vidas lhe deu
as primeiras percepções de que o desespero de Maria se bem que proveniente da morte de Carlos,
podia não ter sido tão injusta assim…
Quando Linda voltou à vida intermediária na sessão seguinte, estava decidida a aprender
mais sobre a dor de Maria. Na entrada de 6 de março de 1984, em seu diário, disse:

Vendo Maria do ponto de vista da vida intermediária me dei conta de que era egoísta, que
só lhe preocupava o bem-estar e sua necessidade de amor e companhia. Também vi que ela havia
se bloqueado para satisfazer essas necessidades. Maria não sofria tanto pela morte de Carlos e
seus 2 filhos como pelas suas próprias perdas. Depois da morte de Carlos podia ter aplicado a
energia de sua dor em algo positivo, aprofundando o entendimento com seus filhos e fortalecer os
laços com eles. Mas recusou qualquer luz que pudesse iluminar sua vida e os esforços para ser
uma boa mãe e superar a dor foram muito fracos. A morte dos 2 filhos foram mais uma
confirmação de sua tristeza pela morte de Carlos que uma dor pelo fato mesmo. Centrando-se mais
ainda nessa pena, minou a relação com Katarina. O egoísmo de Maria evidencia sua reação ante o
casamento de Katarina: não sentiu alegria pela sua filha só mais tristeza e desolação por si
mesma.

Esse conhecimento era vital. Mas, como sempre, tinha que aprender mais. O dr. Whitton
queria que ela interpretasse na vida intermediária a vida e a morte de Maria e sua influência na
reencarnação como Linda. Em respostas a uma cuidadosa investigação, Linda teve a visão de seu
perispírito como um repolho de luz com uma massa interior escura de tristeza. Viu que com cada
reencarnação o repolho produzia outro facho de luz para soltar outras partículas de obscuridade e
aliviar um pouco a pena. Depois do crescimento de muitos fachos ou vidas o repolho expulsou a dor
e se encheu de luz. O repolho era símbolo pessoal de Linda para o desenvolvimento da alma. Suas
vidas pareciam perenes como as folhas de um repolho (em contraste com as da rosa que morre
enquanto suas pétalas se abrem) . Assim chegou a ser claro que Maria, por entregar-se ao luto e a
dor havia permitido que sua vida (a folha do repolho) ficava imóvel, sem potencial para a evolução.
Esse fracasso se transportou de reencarnação e provocou as depressões de Linda e o bloqueio que se
interpunha entre ela e sua satisfação pessoal.
Ao dar-se conta disto, Linda sentiu os primeiros estremecimentos de sua libertação. Ainda
que sua vida não tivesse sido tão traumática como a de Maria, a semelhança entre as atitudes de
Linda e as de sua personalidade naquela vida anterior, eram difíceis de superar. Ela também se
havia deixado capturar pelo estado derrotista da depressão, a melancolia, o bloqueio, eram heranças
de Maria. Linda, ao dar-se conta disso, foi capaz de rechaçar essa influência inibidora. Com a
compreensão chegou a libertação…
O primeiro ato de libertação de Linda foi chamar por telefone seu ex-noivo, por quem havia
sentido saudades desde que ele havia se casado, 2 anos atrás. Durante 2 horas falaram de forma
animada a 540 milhas de distância: a que separa Toronto de Montreal e depois disso Linda supôs
que seus dias de espera tinham terminado. Se havia liberado da sua ansiedade sem esperanças.
Linda disse:
-Igual que quando Maria esperava Carlos regressar, muito depois de sua morte minha
tendência era irreal: seguir esperando apesar da pena. Só depois da minha segunda visita à vida
intermediária pude admitir que, agindo assim, estava impedindo-me ter uma boa relação com outro.
Nas semanas seguintes se levantaram bolhas de esclarecimento das experiências de Linda na
metaconsciência e passaram às vezes à sua consciência normal. Por exemplo começou a
compreender que a extraordinária compaixão por seu pai e suas tendências suicidas provinha de sua
encarnação como Maria e o mais importante foi que seu diário demonstrava que ela havia
começado a sentir-se bem…

14 de março de 1984: Nos últimos dias tenho me sentido como libertando-me. A energia flui
tanto mais livremente esta semana...Começou a desaparecer o bloqueio. Quanto mais feliz é esta
vida que a passada! Quanto progresso!
8 de abril de1984: Creio que já elaborei todos os problemas de Maria. Me sinto mais leve,
mais clara. Sou mais “eu”. As intensas depressões têm desaparecido…

A nova alegria de Linda foi evidente para todos os que a conheciam. Sem sentir-se debilitada
pela negatividade, era capaz de dar e receber. A imagem do repolho resplandecente se repetia uma
vez e outra exortando-a a “irradiar tanta luz quanto fosse possível”. Só ficava um problema: o
medo crônico a cometer um erro terrível.
Os sonhos podem ser indicadores das experiências das vidas passadas e um sonho
especialmente vívido na noite de 15 de maio de 1984 lhe deu a pista para resolver esse problema.
No sonho aparecia um amigo ante Linda e dizia: “Vou mostrar-te algo de uma vida passada” e então
Linda se pôs de lado e se transformou em homem. Esse homem estava preso e se queixava de uma
profunda punhalada que haviam dado no lado direito com uma espada parecida a uma longa adaga.
No momento de sua morte a corrente de imagens se deteve. Quando acabou a pausa Linda gritou
novamente, mas dessa vez como um recém-nascido. Apesar de acabar de nascer gritava por causa
da recordação da punhalada.
Linda contou ao dr. Whitton o sonho que havia tido e disse que pensava que se tratava de
uma intenção do subconsciente por assinalar um episódio de uma vida passada da qual deveria
tomar consciência. O dr. Whitton esteve de acordo e instruiu Linda, em estado de hipnose, que
localizasse aquela vida e explorasse a importância que pode ter tido para as circunstâncias
presentes. Logo Linda viu novamente a cena do sonho, do apunhalamento. Ela era um preso
chamado Rudolf Meyer que olhava como a folha brilhante penetrava em seu flanco, sabendo que
merecia essa morte violenta. Logo abandonou a cena lúgubre e foi até os 12 anos de Rudolf Meyer.
O jovem, maravilhado pela visão das flores e mariposas corria por um prado com pasto alto numa
fazenda na Alemanha, próximo à fronteira com a Suíça. Linda comentou mais tarde:
-Tinha a sensação de que estava desfrutando de meus últimos momentos de inocência.
Quando o dr. Whitton lhe disse que deixasse para trás o jovem e adiantasse uns 10 anos, se
encontrou com um ser humano muito diferente. Rudolf aos 22 anos era um cínico estudante na
Universidade de Paris. Falava com reserva sobre sua associação a um clube secreto de 13 homens.
Recusou firmemente as perguntas formuladas pelo dr. Whitton mas revelou que objetivo do grupo
na França pré-revolucionária era ativar a sociedade. E admitiu com certo orgulho que a organização
“assusta os dirigentes políticos ameaçando-os”.
-São terroristas ?- perguntou o dr. Whitton.
-Nós não cremos – respondeu Rudolf com duro acento francês – mas os demais nos veem
assim. Nossos métodos não são sempre aceitáveis mas os fins são bons.
O dr. Whitton disse a Linda que adiantasse um ano na vida de Rudolf. De repente apareceu
este temeroso e agitado…

Os membros do clube estão desaparecendo um a um e ninguém sabe como nem porque isso
ocorre. Há rumores de que uma bela ruiva chamada Henriette, casada com um membro do clube se
inteirou das atividades revolucionárias clandestinas. Quis entrar no clube mas a recusaram por ser
mulher. Mas muitos homens se enamoravam dela e as desaparições fizeram Rudolf pensar que
Henriette estivesse seduzindo esses homens e matando-os por vingança. Mas só quando Jan, o
melhor amigo de Rudolf morre em situações suspeitas, Rudolf em suas próprias palavras
“enlouquece” e decide matar Henriette. “Ela é malvada...como uma bruxa”, lhe explica Rudolf ao
dr. Whitton: “Devo evitar que siga matando”.

Na sessão seguinte, estando em transe, Linda descobriu Rudolf num cárcere tratando de
negar o ato vil que havia cometido. Como resistiu às perguntas do dr. Whitton. Quando Linda lutava
tentando quebrar a resistência de Rudolf, via chamas que obstruíam a visão, sempre chamas. E por
fim viu o corpulento Rudolf empurrando para o fogo uma mulher com longos cabelos ruivos. Podia
cheirar a carne queimada.
Dr. Whitton: Por que fazer isto ?
Linda (fazendo caretas): não me perguntes agora. Já me resulta muito difícil acabar com
isso.
Dr. Whitton (insistente): Por que fazes isto ?
Linda: A odeio. É parte de um plano.
Sr. Whitton: Que plano ?
Linda: Alguém sentirá o cheiro...Devo fugir em seguida. Depois de empurrar Henriette para
as chamas e esperar que acalmassem os gritos, Rudolf não permanece livre por muito tempo. O
capturam e o levam acorrentado para a Conciergerie onde, dia após dia vê a mulher queimada
dançando entre as chamas nas parede de sua cela. O remorso o persegue continuamente até que o
irmão de Henriette se vinga conspirando o assassinato de Rudolf. A voz de Linda é um lamento
quando diz ao doutor Whitton: “Tive que impedir que matasse mais homens mas devia ter feito sem
matá-la. Foi um erro terrível…”

Linda permanecia aflita pela culpa ao ir-se do consultório depois da sessão de hipnose e o dr.
Whitton sabia que a emoção contida logo haveria de descarregar-se. Inexpressiva, mantendo o
controle, Linda chegou à casa, correu e se jogou na cama gritando: “A matei!” com tal intensidade
que ela mesma se surpreendeu. Depois de várias horas de soluços, quando seu corpo se havia
debilitado pelo pranto, Linda se deu conta de que havia se produzido uma readaptação em seu
estado psicológico: já não a perseguia o medo de cometer um erro grave. O medo de Linda era
provocado pelo trágico erro de Rudolf. Só nesses momentos pôde Linda pensar que a auto-
reprovação de Rudolf havia sido levada até sua vida atual como um medo de repeti-lo. Já isso não
era necessário. O 26 de julho de 1984 escreveu em seu diário:

Desde minha vida como Rudolf tenho estado me castigando. Senti que mereci ser
assassinado no cárcere. Logo, como Maria me fiz sofrer vivendo como se estivesse morta. Nesta
vida estava seguindo os passos de Maria…

Enquanto apareceu Rudolf como a fonte dos problemas de Linda, essa descoberta terminou
com eles. Liberta das cadeias dos erros das vidas passadas, Linda se encontrou muito mais cômoda
nesta vida. Além do mais, a experiência na vida intermediária relatada no começo deste capítulo lhe
deu um ensinamento vital que recarregou as energias de Linda. Na vida entre Rodolf e Maria o
tribunal lhe havia dito:
-Verás o que estava mal e o emendarás.
Hoje em seu trabalho como terapeuta ocupacional está levando a cabo o que se propôs na
via intermediária: contrapor os instintos assassinos de Rudolf ajudando diariamente a emendar a
vida dos outros.

11

O grito do coração
“O ato mais sublime é dar precedência a outro”

William Blake – Provérbios do céu

As provas de laboratório confirmaram os piores temores de Eillen Cayley. A cirurgia não era
uma possibilidade, senão uma necessidade. As mamografias e as biópsias de grandes caroços que
haviam se formado no seio direito indicavam um tumor canceroso. Na primavera de 1974 só o
exame cirúrgico poderia detectar a extensão do tumor maligno e segundo os médicos que a
atendiam a probabilidade de que tivessem que extrair o seio todo era grande. Não se falava na
probabilidade de sobrevivência; o silêncio da família era uma negação da pior das possibilidades.
A crise não havia deixado um parente ou amigo mais perturbado que Harold Jaworski, o
irmão menor de Eillen. 10 dias antes da operação, Harold, um cientista comportamental de 37 anos
se deitou cedo esperando o alívio do sono, pelo menos temporário. A letargia dissimulava seu
desespero. No princípio ficou deitado na obscuridade ...pensando. Pensou no luto do marido e
especialmente nos 2 filhos que recorriam sempre a ela em busca de consolo, guia e ajuda. E quanto
mais pensava, mais angustiado se sentia; sua mente parecia insistir nos mesmos pensamentos uma e
outra vez, até o alvorecer…
Justamente quando Harold acreditava que já não viria o sono, se desvaneceu sua inquietude
e espontaneamente se encontrou rezando com mais veemência que nunca. Rogou a Deus que, de
alguma maneira Eillen sobrevivesse à crise e estivesse sã de novo e então sondando a profundeza de
suas emoções, ofereceu sua própria vida em troca da da irmã. Era mais que um gesto de amor
fraterno: era um grito apaixonado do coração que nem mesmo ele pôde compreender. Na véspera da
cirurgia Harold chegou ao lado da cama de Eillen. Encontrou a irmã aterrorizada ante as
perspectivas. Harold acalmou-a da melhor forma que podia antes de ir acalmar a si próprio.
Sentindo-se infeliz, foi até um auditório num bairro de Toronto onde se gravava um concerto para a
Canadian Broadcasting Corporation.
O programa de obras de Brahms e Mozart estava avançado quando Harold de repente se
sobressaltou. Havia um spot apontando para ele. A princípio olhou ao redor nervosamente porque
pensou que o resto das pessoas estariam estirando o pescoço para ver o homem iluminado pelo
brilhante facho de luz.
-Mas logo me dei conta – disse Harold – que ninguém me olhava porque ninguém mais
podia ver a luz. E então o êxtase me invadiu; me envolveu como uma enorme onda desde os pés à
cabeça. Perdi a noção do tempo e me senti levado para a luz. Tinha os olhos fechados e as lágrimas
corriam pelas faces. E no coração a mais estranha das experiências, soube que minha irmã estaria
bem.
A experiência de Harold conhece-se como “consciência cósmica”, expressão que se origina
num livro do mesmo nome, Consciência Cósmica do médico canadense Richard Bucke, publicado
pela primeira vez em 1901. Diz Bucke: “ A característica principal da consciência cósmica é, como
seu nome indica, uma tomada de consciência do cosmos, isto é, da vida e da ordem do
universo...Junto com a consciência do cosmos se produz um esclarecimento intelectual ou
iluminação que basta para colocar o indivíduo num novo plano de existência, como se fosse
membro de uma nova espécie. A isso se agrega um estado de exaltação moral, uma sensação
indescritível de elevação e de gozo e uma ativação do sentido moral que é mais forte, potente e
importante, tanto para o indivíduo como para a raça humana, que o destacado poder intelectual.
Com esses sentimentos chega uma sensação, digamos de imortalidade, uma consciência da vida
eterna, não a convicção de que vai tê-la senão a consciência de que já a tem.”
Como incorpora a iluminação resplandecente e a perda da noção do tempo, a consciência
cósmica pode ser a descarga espontânea e súbita de recordações da vida intermediária ou uma
picada pessoal e transitória da membrana que separa a existência carnal da incorpórea.
No dia seguinte Harold voltou ao hospital calmamente a esperar a saída de Eillen da sala de
cirurgia. Quando saiu o cirurgião “sacudindo a cabeça em sinal de descrença” Harold se aproximou.
Não só o tumor era benigno senão que havia se reduzido tanto que foi localizado com dificuldade.
Se extirpou o resíduo não maligno, se evitou a mastectomia e Eillen se recuperou perfeitamente.
Um ano mais tarde, Harold caiu vítima de hepatite, enfermidade viral grave do fígado, às
vezes letal. Os sintomas típicos da enfermidade, náusea, vômito, fadiga e icterícia obrigaram Harold
a lutar, sem ir ao trabalho durante 3 meses. Durante os 9 meses seguintes Harold se sentiu bem .
Mas em maio de 1976 notou que se lhe inchavam os tornozelos. O estudo médico detectou uma
quantidade anormal de proteínas na urina e as análises e ensaios que efetuaram levou a um médico
solicitar uma biópsia do rim. Em agosto o médico determinou que Harold padecia de
glomerulonefrite membranosa idiopática que é uma forma obscura, clinicamente esotérica de
descrever uma enfermidade do rim potencialmente fatal, de origem desconhecida.
O médico estava longe de sentir-se otimista.
-Por desgraça você não é um menino – disse o médico ao paciente – porque eles têm maior
probabilidade de cura. Quando Harold se inteirou de que a probabilidade de sobrevivência do adulto
era de 10 a 20%, saiu ao sol sentindo-se como se acabasse de escutar sua sentença de morte.
-Tudo o que fez o médico – disse – foi recomendar-me que diminuísse a ingestão de sal.
Supostamente Harold buscou ajuda médica em outra parte. Encontrou um especialista de rim
no Toronto Sunnybrook Hospital, que o alarmou com a notícia de que o vírus da hepatite do ano
anterior estava ativo apesar da ausência de sintomas. Isso levou à conclusão de que a contaminação
no fígado havia produzido um complexo antígeno anticorpo que atacava pouco a pouco os rins. A
gravidade do estado de Harold fora produzida então pelo fracasso dos órgãos que por estar
enfermos, eram incapazes de eliminar as toxinas. Essa descoberta não facilitava a cura. Mas se
faziam sugestões sobre o tratamento. Enquanto um médico propiciava uma transfusão de sangue
total, outro pensava na administração de interferon, uma droga custosa e em experimentação, para
uma possível ajuda imunológica.
Quanto mais se deteriorava Harold, mais pensava naquele rogo para salvar a vida de sua
irrmã. Estava o Todo Poderoso cobrando a dívida ? Ou era ele mesmo que trabalhava
inconscientemente para os médicos que tanto necessitava ? Qualquer que fosse a resposta, Harold se
voltava cada vez mais débil. A esperança estava convertendo-se em uma palavra sem sentido.
Durante 6 semanas esteve tomando Cyclophosphamide mas a ineficiência do tratamento ficou
demonstrada pela diminuição de cálcio que amolecia seus dentes e produzia contrações nos dedos
que duravam vários segundos. Por um tempo os diuréticos tomados com regularidade haviam
alcançado estimular a excreção do líquido mas já voltavam a inchar suas pernas e tornozelos .
Tomava remédios para diminuir o colesterol, cada tanto se lhe produzia um eczema, cada vez estava
mais pálido e havia emagrecido dos 70 ao 62 kg. Só esporadicamente podia Harold estar
presencialmente no seu trabalho. Cada vez passava mais tempo em Sunnybrook Hospital onde
submetiam-no a provas e análises de sangue e urina.
- Me sinto como uma cobaia num laboratório - disse uma vez- os médicos não sabem como
curar-me e estou decaindo com rapidez. Quando o futuro parecia mais negro, Harold começou a
sentir uma ira surda.
-Me indignava pensar que a medicina convencional não só não podia curar-me senão que
piorava as coisas. Me dei conta de que era tempo de encarregar-me da situação.
Harold não era alheio à parapsicologia. Já em 1959 havia visto experimentos de regressão
hipnótica e conhecia bem as teorias da reencarnação e o carma. Agora, pela primeira vez aplicou as
teorias à sua situação perguntando-se: “É o carma o fator de minha enfermidade? Poderia a
regressão hipnótica às vidas passadas ter êxito onde os métodos ortodoxos fracassaram?” Enquanto
meditava sobre essas perguntas, Harold retomou a leitura sobre parapsicologia na biblioteca do
hospital. Um livro que tomou da estante foi Exorcizando Philip de Iris Owen. Folheando-o chegou
ao capítulo intitulado A Psicologia da reação do Poltergeist do dr. Joel Whitton.
-Por algum motivo o nome ficou na mente.
Vendo que o dr. Whitton se autodenominava médico psicólogo, perguntou a uma amiga com
inclinações para a metafísica se havia ouvido falar dele. A amiga que conhecia pessoalmente o dr.
Whitton lhe explicou que era um psiquiatra e hipnotizador clínico de Toronto. Ofereceu apresentá-
lo e antes do Natal, Harold se deitou no divã do dr. Whitton. Envelhecido, urêmico e deprimido,
parecia que só um milagre poderia salvá-lo. “Milagrosa” é talvez o único adjetivo adequado para
descrever a melhoria de Harold nas semanas seguintes. Apenas havia começado a explorar sua
história reencarnacional no estado de hipnose quando – às 7 semanas – os exames de sangue
revelaram que a função hepática havia voltado ao normal e os rins estavam curando-se rapidamente.
Nos fins de março de 1977 Harold voltou a sentir-se perfeitamente bem. Se bem que os
motivos da cura estejam abertos a discussão não é irracional supor que o encontro com uma
existência prévia em que Harold havia incorrido numa dívida cármica foi suficiente para liberá-lo
da necessidade inconsciente de sacrificar sua vida para pagá-la.
A natureza exata da cura de Harold é discutível porque fica muito por aprender sobre os
efeitos físicos dos encontros com vidas passadas. Pelo período em que recuperou a saúde, Harold
ainda tinha que investigar suas reencarnações com profundidade. Havia tomado conhecimento de 7
vidas anteriores que incluia a de um invasor viking Thor, que viveu pelo ano 1000; Harry, um
trabalhador das docas da Inglaterra Isabelina; Xando, um jovem sacerdote de Zoroastro, no século
VII na Mesopotâmia; um menino norteamericano, Barret, que morreu de varicela em 1911 e Edgar
Courtney um jovem oficial de Virginia que morreu nos primeiros dias da guerra civil
norteamericana.
Só quando haviam transcorrido 7 meses de sessões hipnóticas surgiu a existência como
Edgar Courtney como a mais influente na reencarnação atual. Sessão após sessão a investigação do
dr. Whitton montou o quebra-cabeças de uma trágica história referente a Edgar e sua irmã Sarah,
que agora é Eillen, sua irmã. A relação entre os 2 na América do Norte do século XIX explica de
forma satisfatória os sentimentos de culpa reprimidos por Harold a respeito de sua irmã, uma culpa
tão forte como para provocar a oferenda de sua vida pela vida de Eillen. O que segue é o resumo da
história relatada por Harold em estado de transe.

O carinho especial entre Edgar e Sarah se faz cada vez mais evidente à medida que vão
crescendo numa grande propriedade rural perto de Harrisonburg, Virginia. Quando Edgar tem 12
anos e Sarah 16, o carinho se estende a uma breve relação incestuosa. O episódio ocorre quando o
pai está longe, comprando cavalos e eles foram ao piquenique num bosque perto da casa. Naquele
momento Edgar promete a Sarah que jamais contará a ninguém o que fizeram. Mas, quando anos
depois Sarah se compromete com um rapaz a quem Edgar despreza, sente-se impelido a revelar o
segredo para afastar o noivo. O segredo revelado logo se converte no escândalo da comunidade.
Sarah é obrigada a sair de casa. A vingança não lhe dá trégua e quando já não pode resistir a
solidão e o tormento, se suicida. Edgar sente remorsos. Tendo alistado numa academia militar, se
entrega ao mais duro da guerra em favor dos confederados ao declarar-se a guerra civil. Em um
dos primeiros encontros ferem Edgar no estômago e no ombro esquerdo. Morre no campo de
batalha rogando a Deus por sua vida.

Ao abandonar a cena terrível em que se oprime o estômago e sente o sangue quente e


espesso nas mãos, Harold estava tremendo quando retomou a consciência. Apesar da umidade de
julho e os 40 graus de temperatura ambiente, Harold teve que esfregar os braços e pernas durante
vários minutos para aquecer-se. Às vezes se produz uma queda de temperatura corporal quando se
vivem emoções muito fortes em estado de transe. O dr. Whitton tem uma manta no consultório para
essa eventualidade.
A vida prévia de Harold foi a de Barret que morreu aos 7 anos num povoado chamado
Quincy, nos Estados Unidos. Existem pelo menos 12 povoados com esse nome e Harold nunca
descobriu onde havia sucumbido de varicela em 1911.
-Como se chama o estado ? - perguntou o dr. Whitton.
-Não sei- respondeu Harold com a voz de um menino- Teria que perguntar a mamãe.
Segundo o tempo terreno Harold passou 26 anos na vida entre vidas depois de sua morte
como Barret e seu nascimento em 1937. Não acompanhou a consciência de Barret desde sua
enfermidade até o estado entre vidas. Mas entrou na vida intermediária pouco depois da transição
para encontrar a seu ser incorpóreo lamentando a morte do menino. Ao voltar assombrado da
metaconsciência, Harold informou:

Estava olhando Barret que jazia na cama com uma camisola branca. Ainda que soubesse
que estava morto, não queria abandoná-lo. Mas alguém me chamava de longe e eu devia ir-me. Me
encontrei num salão imenso sem teto nem paredes. Estava olhando como o faria uma criança, a
muitos outros personagens que conversavam entre eles. Não me demonstravam nenhum interesse.
Eu era só um garoto e eles estavam ocupados. Era estranho mas minha perspectiva era a de que a
consciência de um menino e no entanto me sentia maior. Não havia cores. Tudo era como o
negativo de uma foto ou uma foto em preto e branco. Barret parecia estar no processo de fundir-se
gradualmente com sua superalma ou identidade eterna que não tem tempo nem substância nem
nome e que no entanto era mais o mesmo que qualquer das reencarnações que Harold tivera
encontrado durante a terapia. Enquanto esperava no “salão sem paredes” que ele percebeu como
uma espécie de estação para os sobreviventes recentes da morte física se aproxima um ancião que
pôs as mãos sobre os ombros da criança.
-Que estranho! Não tenho ombros . Já não tenho medo. Barret se foi ...seu corpo já não é o
meu.

-Então se não podes voltar a Barret terás que ir para adiante no tempo – sugeriu o dr.
Whitton.
(Depois Harold assinalou sua irritação pela referência ao tempo).
Não há tempo na vida entre as vidas.

Harold sentiu-se conduzido pelo ancião a um edifício como um templo com uma alta
cúpula. Seu venerável guia partiu e 3 anciãos de branco entraram e tomaram assento atrás de uma
mesa. Haviam chegado 2 membros do tribunal . Harold recorda que o primordial que lhe
aconselharam foi que devia estudar entre as reencarnações e fazer todos os esforços para não
desperdiçar a experiência.

Alentado pelo dr. Whitton empreende a busca dos planos que puderam ter feito para a
próxima encarnação, Harold visualizou sua mãe como era antes dele nascer.
-Foi como se olhasse uma fotografia dela quando era jovem - comentou.
Harold também viu a seu pai e o reconheceu num tio muito afetuoso que teve numa vida no
século XIX na Virgínia. Eillen também estava lá e possuía a mesma identidade de Sarah, a irmã de
Edgar Courtney.
As explorações de Harold na vida entre vidas confirmou que ele havia escolhido a
reencarnação em que voltaria a encontrar sua irmã para poder equilibrar a herança cármica. Harold
se inteirou de que alcançar a harmonia era o propósito principal de sua vida atual. Aprendeu
também que o cumprimento desse propósito estaria a seu alcance ao recordar, quando tivesse menos
de 40 anos, a natureza específica da relação cármica. Não se especificava como apareceriam essas
recordações mas agora ele compreendia porque havia procedido a investigar-se com muitas formas
de incômodo, estava buscando descobrir e resolver a fealdade de um passado.
-A enfermidade não figurava no roteiro cármico – disse Harold. Suponho que foi algo que eu
produzi para cumprir o plano.
Essa percepção coincide com as palavras de Howard Murphet, que escreveu: “Só estão
ordenados os padrões, o esboço e nós temos escolhido esses padrões. Os detalhes nós os inserimos
à medida que avançamos pelo largo caminho de nosso destino.”
Hoje Harold segue prestando atenção ao que tem aprendido por haver estado exposto a uma
variedade de encarnações e a vida entre vidas. É muito mais consciente de sua razão de ser e por
isso já não tem tempo para o superficial, a frivolidade, e os aspectos mais triviais da existência;
segue vivendo como um homem que nasceu depois de morto que na atualidade está longe da
realidade. Quando sua irmã se curou de forma espetacular, estava seguro de que a oferenda de sua
vida significava o término de sua vida. As circunstâncias pareciam confirmar isso. Mas ele
aprenderia que havia um plano em que não figurava a troca de uma vida por outra. O plano
decretava que ele mais que morrer prematuramente devia viver e recordar em prol da harmonia, em
prol da reconciliação.
Harold não se curaria se não tivesse seguido sua intuição e tomado parte ativa no processo
de cura. A auto responsabilidade conduz à auto determinação. A aceitação do processo da
reencarnação é aceitar e tomar a responsabilidade sobre nós mesmos, o que leva a uma evolução
pessoal mais rápida mediante o ciclo de renascimentos sucessivos. Enquanto a Eillen, a irmã de
Harold, ela ignora a história que há por trás dos “milagres médicos” e não conhece a história que há
em sua relação cármica com Harold. Ele diz:
-Eillen não se sente cômoda com a ideia da reencarnação e eu não quero perturbá-la. Há
outro aspecto muito sugestivo no estudo desse caso que se bem que não correlacionado com o
assunto cármico principal, apoia a validade das vidas passadas recordadas por Harold. Quando
estava em hipnose profunda em duas personalidades de suas vidas passadas (Thor o vicking e
Xando o sacerdote de Zoroastro) começou a recordar e “escutar” os idiomas que falava durante as
reencarnações. Quando Harold estava re-experimentando a vida de Thor, o dr. Whitton lhe pediu
que escrevesse foneticamente os intercâmbios verbais que tinham lugar. Harold respondeu
escrevendo 22 palavras e frases nenhuma das quais entendia. Trabalhando de forma independente
autoridades de linguística que falavam islandês e norueguês, identificaram 10 dessas palavras do
antigo nórdico a língua dos vikings e precursora do islandês moderno. Outras palavras pareciam
derivar do russo, sérvio ou eslavo e também foram identificadas. Quase todas as palavras se referem
ao mar precisamente o tipo de informação verbal que poderia esperar-se de um guerreiro viking.
O dr. Thor Jakobsson um investigador científico do Departamento de Ambiente do Canadá e
especialista no idioma islandês, estudou as transcrições de Harold e chegou à conclusão de que
muitas palavras – incluindo as que significam “tormenta”, “coração”, e “iceberg” eram
“decididamente de origem islandesa’. O dr. Jakobsson disse que o fato de que houve palavras de
outras origens agregava verossimilhança porque os inquietos vikings invasores percorriam toda
Europa.
-Seria apropriado para um viking empregar uma língua que contivesse palavras e frases de
outras línguas do período- assinalou. Diria que isso é o que corresponderia ao remador viking.
“Xenoglossia” é o termo para a fala de idioma desconhecido para o sujeito, e “xenografia” é
a expressão escrita do idioma desconhecido para o escritor. No princípio Harold se mostrava
incrédulo de sua capacidade xenoglóssica, mas se convenceu da autenticidade do assunto quando
seu urgente “Roko!Roko!” exclamado em transe foi identificado com “tormenta” em islandês.
-Estávamos mar afora - disse Harold relatando a sessão que produziu a palavra em sua
mente – e podia ver que se aproximava uma grande tormenta e eu lhes gritava aos remadores de
meu barco. Minha mente me dizia que eu estava expressando: “Vamo-nos daqui”. Tem sentido que
os especialistas tenham encontrado a palavra “tormenta” se bem que não esperava essa tradução.
Damos alguns exemplos das palavras produzidas por Thor, o viking. A fonética em cursiva é
para as que têm interpretações coincidentes. Na segunda coluna figuram os equivalentes em
islandês (ou de outra origem)e a tradução em português.

YAKI – JAKI : iceberg


DESJESVKONJA – NES VIK: parte de terra entre duas baias
ROKO – ROK : tormenta
VOLNYKIAGE – VOLNY em russo significa ondas
YAKI LEDDEREN – JAK LED em sérvio significa gelo duro
HYARTA KNOLOTTEN – HJARTA: coração
VLOGNIA- LOGN: tempo calmo
NEGI LOKUSNO- LOK LOKS: envase final, por fim (NIJE USUSNO em sérvio significa não é
saboroso)
KIAK 80 SANTI- 80 SANTI em sérvio significa 80 icebergs
Quando se descobriu a vida anterior de Harold como Xando, o dr. Whitton hipnotizou-o, e
ele permaneceu sentado ao lado de uma escrivaninha com um lápis na mão. Primeiro o levou a seu
nascimento na Mesopotâmia mais de 1300 anos atrás. Logo lhe pediu que avançasse no tempo até a
idade em que soube escrever e lhe disse que reproduzisse no idioma atual os equivalentes das
palavras “irmão”, “casa”, “roupa”, “aldeia” e outras. Sustentando o lápis e oprimindo apenas,
Harold cuidadosamente criou uma escultura estilo árabe misteriosa com uma caligrafia infantil.
-Quando vi o que tinha feito – disse Harold – me pareceu que era um monte de garranchos.
Acreditei que não serviam para nada. Mas o dr. Whitton opinou de outra forma. Como não pude
encontrar nada parecido nos livros de escritura antiga da biblioteca, enviou o que tinha escrito ao dr.
Ibrahill Pourhadi, especialista em línguas persas e iraniana à Seção do Oriente Próximo da
Biblioteca do Congresso de Washington. Depois de examinar as amostras o dr. Pourhadi afirmou
que os “garranchos” eram representações autênticas da linguagem extinta chamada Sassanid
Pahlavi que se usava na Mesopotâmia entre 226 e 651 e que não tem relação com o irani moderno.
“Xenoglossia” é uma palavra criada pelo dr. Charles Richet (1850-1935) o fisiologista francês
ganhador do Prêmio Nobel. A palavra deriva do prefixo xeno que significa “estrangeiro” e da
palavra glosa que quer dizer língua. Nas épocas medievais a xenoglossia se via como o primeiro
sinal da presença do diabo. O Compendium Maleficorum de Guazzo, de 1608 um texto cristão de
demonologia, inclui esse fenômeno raro e usualmente involuntário como um dos 47 sinais de
possessão demoníaca.
Durante os últimos 100 anos a xenoglossia foi considerada geralmente como uma descarga
da memória inconsciente. Sabe-se de casos examinados por eminentes pesquisadores desde William
James até o dr. Ian Stevenson. A incidência crescente da terapia das vidas passadas desde a década
de 1970 produziu numerosos exemplos de sujeitos em transe que se expressam em línguas
estrangeiras que não as conhecem dessa vida. Encontramos assim idiomas europeus modernos,
chinês antigo, e até dialetos da selva, entre outros.
Mas é possível que Harold seja o único ser humano que demonstra capacidade para
comunicar-se em outras línguas que não existem.

12

Quando sangra o remorso

“Quem, condenado a ir em companhia da dor, do medo, da violência, horríveis companheiros,


converte sua necessidade em vitória gloriosa!…”

William Wordsworth – Caráter do feliz guerreiro

Na quinta-feira, 10 de abril de 1980 deveria ter sido outro dia rotineiro para a assistente
social Jenny Saunders. Pensando estar às 9hs no seu trabalho, se levantou pouco depois das 7:30 ,
colocou um robe e saiu do dormitório para preparar um café. Não chegou muito longe. Os pés
descalços estavam por cruzar o tapete do living quando se detiveram em seco. Os olhos sonolentos
de Jenny se abriram assombrados. Jenny viu na parede 4 ou 5 manchas de uma substância vermelho
escuro que haviam salpicado o dormitório da casa de bonecas que conservava desde a infância. Se
aproximou para examinar as manchas . Pareciam ser de sangue. Rapidamente examinou suas mãos
e corpo em busca de algum machucado. Não, ela não estava sangrando. Se lhe ocorreu então que
havia derramado algo de molho de tomate na noite anterior. Mas teve que descartar a ideia porque
não havia usado nada disso, nem parecido. Além do mais as manchas pareciam de sangue e não de
catchup. Tudo era muito desconcertante. Quando finalmente Jenny preparou o café, apenas era
consciente do que estava fazendo. Bebeu pouco a pouco sem sair de seu assombro.
Teve um dia com muitas tarefas. Sempre exigiam muito do tempo e experiência de Jenny
para que investigasse os casos de estudo no departamento dedicado ao bem-estar das crianças com
retardo mental. Até onde podia lembrar-se, Jenny, de 28 anos tinha querido trabalhar em prol de
deficientes mentais. Não lhe importava o horário longo nem o salário modesto porque amava seu
trabalho e empregava suas energias com uma generosidade que a seus colegas parecia maravilhosa.
Aquele dia em particular como em muitos outros, o estudo de caso manteve Jenny em seu escritório
até depois das 7 da noite. Não era para surpreender-se que desde muito antes tinha esquecido das
marcas da parede . Só depois de ter aberto a porta do apartamento e acendido a luz e entrado no
living teve que recordar-se forçosamente do que havia deixado atrás .
Jenny se acovardou à vista do “sangue” fresco na parede sobre a casa de bonecas. Havia
novas manchas perto das que viu de manhã e que agora estavam secas. Duvidou um momento e
logo se aproximou para examinar a coagulação estendendo um dedo para comprovar a consistência
e se verdadeiramente se tratava de sangue. As manchas haviam se materializado na superfície da
parede pintada de branco. Não haviam infiltrado desde o interior.
Nos dias seguintes apareceram mais manchas. Em várias ocasiões 3 das amigas mais íntimas
de Jenny verificaram o estranho fenômeno. As amigas entraram no apartamento, viram as marcas,
sairam com Jenny por uma hora ou mais e voltaram para constatar que manchas frescas haviam
aparecido durante sua ausência. Uma testemunha, Michelle Ouellette disse:
-Acreditei que Jenny, sonâmbula as tenha feito. Mas recusei a hipótese quando voltamos ao
apartamento e encontramos manchas novas que não estavam antes de irmos ao cinema. Não podia
crer no que via!
A situação voltou para Jenny mais apreensiva que assustada mas já não podia trabalhar sem
sentir-se preocupada pelo que estaria ocorrendo na casa. É curioso mas não sentia desejos de lavar
as manchas que dominavam seus pensamentos. Cada vez cobriam uma superfície maior na parede e
se estendiam ao lado do televisor. Supostamente que não lhe agradava a extensão desse mural
abstrato. Continuamente pensava como se produzia aquilo e que podia fazer a respeito. A indecisão
acabou quando uma manhã um jorro de sangue sujava o teto da casa de bonecas. Nesse dia Jenny
chamou seus pais para pedir-lhes conselhos.
Que Jenny chamasse seus pais indicava um certo desespero. Rara vez via a seus pais. As
reuniões familiares se limitavam ao Natal, casamentos, e funerais. No entanto o sr. e sra. Saunders
responderam de imediato ao chamado da filha e chegaram ao seu apartamento na mesma noite.
Examinaram as manchas e com grande consternação a mãe de Jenny disse:
-Esse lugar está encantado.
O encantamento podia ter sido a sugestão óbvia de qualquer que conhecesse a realidade
metafísica e essa possibilidade se lhes havia ocorrido já às amigas de Jenny e a ela mesma. Mas
ninguém havia dito de maneira tão rigorosa.
A insistência da mãe na “possessão por algum espírito maligno” deixou Jenny tão assustada
que fugiu do apartamento. Aquela noite, uma sexta-feira, dormiu na casa de uma amiga e no dia
seguinte encontrou outro apartamento em Toronto e se mudou para lá no sábado com todos os seus
pertences, inclusive a casa das bonecas. Enquanto isso, o pai de Jenny tratava de por-se em contato
com o dr. Whitton, que estava num lugar de férias perto de Peterborough em Ontário. Havia visto o
dr. Whitton pela TV como especialista em fenômenos estranhos e lhe pediu que ajudasse sua filha.
O dr. Whitton concordou em ver Jenny quando regressasse.
Só fez uma pergunta ao sr. Saunders:
-Tem uma amostra das manchas de sangue ?
Muito tarde Jenny estava pensando nisso. Quando seus temores se aliviaram, voltou ao
apartamento para tirar fotografias e raspar a parede para ter evidências mas o encarregado do
edifício havia passado o dia anterior pintando o living do apartamento vazio. Havia tentado lavar as
manchas com escova e água e sabão, mas viu que a substância das manchas havia penetrado por
baixo da capa de pintura. Resolveu aplicar uma mão de latex cinza escuro para que não se visse o
“sangue na parede”.
Quando Jenny foi ao consultório do dr. Whitton para a primeira entrevista, estava
convencida de que havia atraído um fantasma maligno com poderes arrepiantes. Mas o dr. Whitton
pensava de outra maneira. Havendo investigado casos de atividade poltergeist e psicocinética (um
poltergeist é o trabalho de um espírito travesso enquanto que a psicocinese é o movimento ou a
materialização de objetos que produz a mente de uma pessoa viva), acreditava que o estado
psicológico de Jenny devia haver produzido as misteriosas manchas de sangue como expressão
simbólica de um conflito interior. Segundo o psicanalista Nandor Fodor a conduta desse tipo indica
“um acúmulo de repressões que se projetam”.
Os raros indivíduos que podem produzir PK como se conhece comumente a psicocinese,
nunca fazem só uma vez senão que têm toda uma história dessas manifestações. Duas perguntas
exigiam resposta: Tinha Jenny uma história de atividade psicocinética? E se era assim, quais eram
os acontecimentos que haviam provocado o profundo conflito que preenchia a parede de manchas
de sangue?
A resposta à primeira pergunta foi assombrosamente afirmativa. Jenny confessou que havia
estado ligada e era supostamente responsável de muitos eventos psicocinéticos. O dr. Whitton
chegou a chamar Jenny “a dama PK” e mais adiante seria testemunho de seus poderes
inconscientes, por exemplo na forma de piscar de luzes durante uma sessão de assessoramento. Por
agora se inteirou dos acontecimentos estranhos: a explosão de copos no secador de louça de Jenny.
As cortinas fechadas na janela do apartamento de uma amiga se abriram de repente,
ruidosamente, enquanto conversavam longe do lugar.
Convidada a cear na casa dos pais olhava uma gaiola de bambu que estava fixada ao teto
com suas correntes. Dentro da gaiola havia um pássaro artificial de material sintético colorido.
Enquanto Jenny pensava se algum pássaro verdadeiro havia vivido ali, a caixa e um metro e vinte
da corrente caíram. Depois de bater no solo, a corrente desapareceu ou se desmaterializou e nunca
foi achada.
Uma amiga havia presenteado Jenny com um vaso de cristal. Mais tarde essa amiga chamou
por telefone Jenny para convidá-la a ir a seu apartamento. Mas Jenny não queria ir e sentindo-se
incomodada, começou a arranjar desculpas. Quando desligou o fone a dama PK atuou. Jenny viu
assombrada como o vaso que estava sobre uma prateleira do outro lado da sala se quebrara na haste,
caía ao chão e se fazia em pedaços.
Sem vontade, Jenny permitiu a um conhecido voltar a seu apartamento depois de sair a cear.
Ele insistiu em voltar à casa de Jenny para “tomar um café”, mas não passou muito tempo até que
começou a fazer insinuações de tipo sexual. Jenny não estava interessada e por sua mente passou a
ideia “se fosse mais tarde, se sentiria obrigado a ir-se”. A ideia fez que os 4 relógios do apartamento
e o relógio de pulso de Jenny adiantaram de um salto até 1:37 da manhã. O visitante logo pôs-se de
pé e se foi. Fechando a porta, Jenny ligou o rádio para ter a hora certa. Terminava o noticiário das 9
da noite.
A pergunta referente ao conflito interior foi muito mais difícil de responder. Segura e
decidida em seus tratos profissionais Jenny era extremamente tímida e facilmente intimidável numa
situação de intimidade social. Ainda que nunca houvesse sido tratada por um psiquiatra, nem pelo
médico da família por desordens emocionais sua conduta sugeria que estava paralisada pela
angústia. Para o dr. Whitton era claro que se a ela a torturava um conflito interno, esse conflito
estava profundamente reprimido. Necessitaram muitas sessões de 1 hora cada uma para extrair um
pouco de informação básica sobre a vida de Jenny. Ao parecer incapaz de proporcionar detalhes, ela
se referia a uma infância miserável. Quando adolescente sentia-se tão deprimida e não
compreendida que trabalhava em 3 empregos para poder ir-se de casa. Mas conflitos?
-Não, verdadeiramente não...-disse Jenny.
O dr. Whitton sabia que essa era a reação típica dos que se criaram num ambiente de
brutalidade; ficam reprimidos emocionalmente e raramente se queixam se alguma vez o fazem,
durante o tratamento. No livro As síndromes fronteiriças o dr. Michael H. Stone descreve uma
“forma sutil de desordem mental”. Escreve: “Não se recordam os sentimentos ou não podem
qualificar-se apropriadamente, ou se extinguem antes de chegar a ser conscientes”.
Então por que a dama PK, intencional ainda que inconsciente fez que fluísse sangue da sua
parede de seu living em 10 de abril ? O dr. Whitton havia observado muitos pacientes que,
seguindo, os ditados inconscientes das decisões tomadas na vida intermediária precipitaram
acontecimentos drásticos ou espetaculares que os conduziram à busca da origem de suas
dificuldades. Talvez as manchas de sangue na parede eram um exemplo do que se costuma chamar
“fenômeno do aniversário”. A manifestação PK pode ter-se produzido numa data carregada de
significado traumático para o paciente. Ignorante de qualquer aniversário pessoal de importância
emocional, Jenny não podia confirmar a hipótese. No lugar disso confessou de forma reticente:
-Estive grávida o verão passado. Tive um aborto...ninguém soube.
O dr. Whitton se concentrou nessa pista como um cão de caça em busca de algo promissor.
Se deu conta de que o aborto havia feito sentir-se culpada. Além do mais descobriu que se bem que
Jenny se preocupava pelas crianças deficientes e ensinava procedimentos a adultos deficientes
tinha um medo atroz de ter um filho. Também notou que o filho havia sido concebido em 23 de
junho de 1979, data fácil de identificar porque foi a única vez que Jenny teve relações sexuais em
muitos anos. O dr. Whitton calculou que o parto devia ter tido lugar nos primeiros dias de abril. Os
registros do Toronto Hospital Geral, onde atendiam Jenny confirmaram o cálculo. Se o bebê tivesse
sobrevivido teria nascido em 10 de abril de 1980, o dia em que apareceram as primeiras manchas de
sangue na parede.
Jenny revelou outro incidente PK obviamente ligado à gravidez. O ano anterior em seu
apartamento cheio de plantas tinha uma, chamada Helxine soleirolii, mais conhecida por “lágrimas
de bebê”. Sem motivo aparente, a planta saudável murchou e secou nas primeiras horas de 2 de
setembro, pouco tempo depois que Jenny se internou no hospital em função do aborto. O exame
revelou que já não era necessário porque o feto havia morrido 3 dias antes. Então Jenny recordou a
planta “lágrimas de bebê” que se havia secado ao mesmo tempo que o feto deixou de existir. Esse
aborto espontâneo conhecido como “aborto frustrado” não é raro e ocorre em 10 a 20 % das
gravidezes. Mas psicologicamente a atividade psicocinética relacionada com o ventre de Jenny
indicava uma atividade emocional extraordinária assim como uma capacidade psíquica
sobrecarregada.
A psicocinese se acreditava ser uma possessão pelo diabo, mas agora se sabe que é uma
manifestação física induzida pela mente que indica grande tensão subliminar. Se bem que algumas
pessoas possam realizar atos de PK em forma voluntária, outras atuam inconscientemente. Durante
fins da década de 1960 e princípios da década de 1970, o adolescente Matthew Manning – cujas
raras habilidades foram testemunhadas pelo dr. Whitton e o dr. A. R. George Owen em Toronto, em
1974 – produzia em forma inconsciente exemplos sensacionais do fenômeno PK. Na casa de
Matthew em Londres, se movimentavam misteriosamente de um lado a outro da casa, adornos,
cadeiras, cobertas, cinzeiros, cestas, pratos, uma mesa de café e muitos outros artigos. Em muitas
dessas oportunidades a casa se enchia de ruídos dia e noite.
Depois que a sua família se mudou ao povoado de Linton m 1968,pesadas mesas
costumavam colocar-se umas sobre as outras e as camas se movimentavam e às vezes davam volta .
No dormitório de Matthew na escola de Oakham, Cambridgeshire, se moviam as camas de aço e
uma vez 14 facas de mesa se lançaram contra as paredes e camas. Por um tempo foi impossível
dormir no dormitório geral devido à misteriosa aparição de vidros quebrados, pregos, pratos, pedras
e outras coisas.
Durante a década de 1970, um israelense chamado Uri Geller assombrou o mundo ocidental
com sua capacidade de dobrar objetos de metal. Sua capacidade PK era consciente e deixava os
estúdios de TV e os laboratórios científicos cheios de colheres, garfos e chaves dobradas. Geller se
submeteu a toda série de provas mas nem os cientistas nem os especialistas da Sociedade
Americana de Mágicos puderam explicar seus poderes. A história está repleta de exemplos de
psicocinese similares às produzidas por Jenny. Em 1919 frente a jornalistas e outras testemunhas o
teto e as paredes da Reitoria de Swanton Novers Suffolk fizeram fluir água e óleo.
A investigação preliminar do dr. Whitton confirmou o que havia pensado desde o princípio:
a atividade psicocinética era a forma em que Jenny dissipava suas tensões e dessa vez indicava
um trauma profundamente reprimido. Não se surpreendia que Jenny não tivesse associado suas
energias PK com a aparição das manchas de sangue nem que não tivesse tratado de limpá-las. Jenny
queria recordar e esquecer ao mesmo tempo. Se bem que houvesse tentado valentemente
reprimir a recordação do filho que não chegou a ter outra parte de sua mente estava fadada a evitar a
amnésia, e as manchas de sangue representavam uma descarga que foi o que provavelmente a
manteve sadia mentalmente. Mas também representavam uma perturbação profunda e desgastante
que exigia inspeção.
Com a tarefa de expor o cerne das perturbações de Jenny, o dr. Whitton começou por levá-la
à infância por meio da hipnose. Em sessões que transcorreram durante 2 anos foram exumados
todos os acontecimentos importantes em sua vida até a idade de 11 anos.
A máscara da jovem tímida e inexpressiva caiu quando Jenny, em estado de transe, sufocava
e fazia caretas provocadas pela dor e a ira. Foi horrível reviver as experiências atrozes que ela havia
ocultado no esquecimento. No entanto, paradoxalmente que tranquilizante! Juntos, médico e
paciente descobriam que Jenny desde uma tenra idade havia sido vítima de uma brutalidade
incansável e de torturas sexuais. Para poder sobreviver ela havia reprimido a memória consciente do
horror que foi sua infância.
Como adulta Jenny não sentia mais que medo e ódio contra sua mãe, a repressão não pôde
obscurecer sua orientação emocional. Ainda assim Jenny se sentiu horrorizada quando descobriu
que essa mulher não só não era carinhosa e descuidava dela, senão que foi o flagelo de sua infância.
Em transe, Jenny se inteirou de que desde os 5 anos havia sido violada por sua mãe em
diversas oportunidades com palitos e até cabos de vassoura. Se deu conta de que 2 cicatrizes perto
dos genitais cuja origem sempre se havia despertado curiosidade foram feridas feitas por sua mãe
com tesouras. Jenny, horrorizada, contemplava as intenções de sua mãe.
-Quero que fiques de maneira que nenhum homem te deseje – havia dito sua mãe.
No princípio Jenny não podia crer que sua própria mãe houvesse cometido semelhantes
atrocidades. Foram necessárias várias sessões para que a realidade dessas recordações se assentasse
na consciência de Jenny. Nadando hipnoticamente pelos tormentos do passado, voltou a
experimentar os golpes, a depravação sexual, os gritos enlouquecedores de sua mãe e seus próprios
períodos de confinamento solitário. O pai de Jenny, diretor de relações públicas de uma grande
companhia de eletrônica é provável que nunca tivesse sabido da desgraça de sua filha. Estava
sempre trabalhando e longe de casa.
A primeira recordação de Jenny é ter estado no berço com fome. Se abriu uma porta do
quarto e lhe puseram uma mamadeira a seu lado. Como não podia pegá-la com suas mãozinhas
Jenny teve que mover-se com grande dificuldade até colocar-se em posição em que pudesse mamar
no bico. Essa incapacidade materna para dizer eufemisticamente, pressagiava o que iria ocorrer no
futuro.
A mãe de Jenny, uma droga adita que havia estado internada em instituições psiquiátricas
indiretamente acusou sua filha, quando maior, de ser uma assassina. Repetia que Jenny nasceu
depois que ela perdera um bebê no parto. Dizia:
- Esse bebê teve que morrer para que tu pudesses viver.
Outros membros da família disseram logo que essa criança morta era somente um produto
da imaginação perturbada da mãe de Jenny. Mas no que concerne a Jenny esses sentimentos de
culpa foram tão reais quantos os golpes em seu corpo. E a culpa se reavivou no aborto de 1979.
Outra vez estava “matando” um feto para sobreviver. As sessões de hipnose não foram capazes de
extrair as recordações até a superfície. Às vezes seus sonhos completavam o processo. Outras vezes
a mão invisível da psicocinese proporcionava o incentivo necessário para que pudesse recordar de
forma consciente. Uma manhã Jenny despertou e viu que um canto do piso de madeira de seu
apartamento tinha mais de 20 estrias de uma substância vermelha e gordurosa. Não podia explicar
isso porque não usava lápis labial nem nenhum lápis vermelho, mas esses eventos já não a
surpreendiam. Quando se lavou, soltou uma exclamação: na coxa direita tinha uma marca negra e
larga de uns 13 cm de comprimento. Na sessão seguinte Jenny recuperou uma recordação. Quando
tinha 6 anos, um dia esteve mexendo nos frascos de esmalte para unhas de sua mãe. Pegou um tom
de vermelho que fazia jogo com as estrias vermelhas da madeira do piso e começou a pintar uma
parte da parede do dormitório de seus pais. Quando a mãe descobriu, bateu nela com um cinturão.
As pernas de Jenny ficaram tão machucadas que teve que faltar uma semana no colégio.
Numa outra ocasião, quando Jenny despertou, encontrou manchas como de sangue no frasco
de tranquilizante que havia sido receitado pelo dr. Whitton para ajudá-la a dormir bem depois da
etapa perturbadora que vivia ao sair do transe. O frasco manchado catalisou a produção de outra
recordação: o de sua mãe ingerindo pílulas de forma massiva. Esses exemplos de psicocinese deram
a oportunidade ao dr. Whitton de testemunhar e fotografar os fenômenos.
A escavação das recordações de Jenny aliviou muitas de suas angústias: a fez menos
temerosa das pessoas, deixou de ter medo de sua mãe (ainda que persistisse o ódio) e no geral ela
sentia de forma mais positiva a seu respeito.
Tão positiva que se apresentou a outro departamento para um posto de maior
responsabilidade e o conquistou. Nessa época, agosto de 1981, o dr. Whitton apresentou o caso de
Jenny na Décima conferência internacional de Paraciências da Universidade de Toronto. Embora
tenha descrito detalhadamente ante seus colegas a fantasmagoria psicocinética, ele tinha bem claro
que o caso de Jenny não estava terminado. Ela estava longe de ter-se libertado de seus problemas.
Seus sentimentos de culpa haviam diminuído mas não desaparecido. Ainda a aterrorizava a ideia de
ser mãe. Tinha fobia a facas afiadas. E sofria uma aversão irracional em relação a seu pai, que não
foi fundamentada pelas recordações de infância.
Estava preocupada com um sintoma que ela descrevia como “nó na vagina”. Quando a
estimulavam sexualmente sentia dor em lugar de prazer e a dor se transformava em ira assassina.
Como resultado disso, por anos Jenny havia levado uma vida retraída em termos sexuais. Sentia
atração sexual mas detestava que se lhe despertassem sentimentos de fúria que faziam querer matar
a quem a estivesse tocando. Se a ira persistisse a tornava contra si e tinha fantasias em que cortava o
clitoris com a tesoura. Em vista da brutalidade da mãe, o dr. Whitton encontrou essa reação muito
compreensível. Mas, tendo esgotado os recursos da infância sem aliviar esses sintomas, supôs que
sua fonte devia estar além da presente encarnação. Havia chegado o momento de levar Jenny além
de sua infância. Buscando a origem de seu temor em relação à maternidade, o dr. Whitton fez voltar
a uma vida no século XVII na Inglaterra. Jenny fez a transição sem nenhum esforço…

O ano é 1689 e Londres um lugar implacável para um mulher sozinha com um filho
retardado. Tudo conspirava para que Lucy Bowden se desvencilhasse de sua filhinha de 3 anos
devido a sua situação. As pessoas lhe diziam: “É uma carga, nada mais que uma carga”. Quase
todos pensavam que uma criatura retardada devia matar-se ou abandonar-se nos arredores de uma
cidade. Mas Lucy, de 21 anos quer muito a sua filha mais que tudo nesse mundo. Mantidas pela
família de Lucy, as duas vivem no terceiro piso, no sótão de uma casa em Whitechapel. Lucy
mantém a filha escondida, por medo que alguém ainda que bem-intencionado a sequestre e a
abandone. Sempre a deixa em casa trancada e Lucy nunca passa muito tempo fora. Bom, quase
nunca…
Um dia, depois de fazer as compras no mercado, Lucy vai a uma cervejaria a reunir com
amigos. Convidam-na a beber e ela que não está acostumada a beber sente o efeito e fica muito
mais tempo que pensava. Passam várias horas até que se dá conta assustada do tempo
transcorrido. Toma as provisões e corre para casa. Quando chega na esquina, vê fumaça negra que
sai de uma casa: sua casa. Debaixo do teto a casa está em chamas. Corre desviando dos curiosos
mas se dá conta de que não há esperanças de resgatar sua filha. Nenhuma esperança. Avassalada
pelo desespero, não faz mais que culpar-se. Se tivesse chegado à casa mais cedo. Se…

Ao voltar à consciência normal, Jenny sentiu-se aliviada por não ser mais Lucy. Estava
começando a entender porque tinha medo de ser mãe. Também se deu conta do que a havia
impulsionado a trabalhar em favor das crianças retardadas com tanta dedicação e generosidade. A
segunda sessão levou a Jenny mais adiante na vida de Lucy…

Lucy está atada a uma roda horizontal de madeira que fazem rodar os sacerdotes no sótão
úmido e lúgubre de uma igreja. Está vestida com uma túnica branca. Os sacerdotes manejando as
alavancas ao lado da roda entram e saem do campo visual oscilante de Lucy. Há cantos, preces e
conjuros. Lucy se submeteu de bom grado a essa tortura para molestar o diabo e que abandone a
possessão de seu corpo. Lucy se diz que sim, que seguramente os homens de Deus tem razão.
Seguramente foi o diabo que a fez ficar mais tempo na cervejaria, o suficiente para que sua
filhinha morresse no incêndio. Cheia de dor e remorso, Lucy havia visitado seu pastor anglicano.
Ele escutou o trágico relato, expressou condolências e lhe disse que havia sido tão estranho que ela
ficasse tanto tempo fora de casa que isso devia ser um trabalho do diabo. E a levou a esse lugar
para o exorcismo.
As paredes giram . Vertigem...náusea...esquecimento...redenção...náuseas. Ao final da
cerimônia derrubam pela parede o sangue de um cordeiro, símbolo do sangue de Cristo…

Outra parede com manchas de sangue.Uma vez mais os ecos de algo distante esclarecem o
presente. Mas terapeuticamente faltava muito por fazer e apareceria outra parede manchada com
sangue. O dr. Whitton guiou Jenny à vida imediatamente anterior…

Ângela tem 5 anos quando seus pais a deixam na escadaria de um orfanato de Chicago em
1846. Aos 16 anos Ângela rouba algum dinheiro e escapa da rigidez da instituição. Vivendo como
pode, viaja ao Meio Oeste e cai num povoado de fronteira chamado Colona no território de
Colorado.
Como é bonita, pegam Ângela para trabalhar num salão onde logo ganha dinheiro extra
trabalhando como prostituta também. Seus atrativos chamam a atenção de um médico do povoado,
um homem casado, que foi cativado por Ângela e paga ao dono do bar para ter exclusividade
sobre ela. Ela se apaixona pelo médico fica grávida e deseja ardentemente ter o filho. O médico
realiza o parto num quarto do piso superior do bar e nasce um menino sadio. Apesar da relação
sórdida Ângela se sente feliz com sua vida. Mas sua alegria não pode com a interferência do cura
do povoado, um ortodoxo convencido que está encolerizado e proclama que “uma mulher da vida”
deu à luz o filho do médico. Diz que tem que internar a criança numa instituição onde a santidade
moral da criança seja preservada e mediante chantagem consegue a colaboração do médico.
Ângela está na cama, convalescente, com o filho, quando entra no quarto o cura, o médico
e 2 oficiais. Ao ver a expressão no rosto do médico Ângela se dá conta do propósito da visita e tem
um ataque de histeria. Quando não pode evitar que um dos oficiais tome o bebê se inclina para um
lado e saca uma pistola de debaixo da cama, dispara e mata o oficial e o bebê em seu colo. Se
enche de sangue o do oficial e do bebê a parede atrás deles. Muda, arrasada Ângela cai ao solo em
estado de choque. O médico foge do local e o cura desce a escada onde encontra 6 vaqueiros
bêbados e estimulados pelo disparo. O cura não perde tempo e lhes dá sua versão das ações de
Ângela e os incita a castigá-la como merece uma prostituta assassina. Os vaqueiros arrastam-na
fora do quarto e a levam para um local perto onde se matam animais. Entre gritos e risos tiram-lhe
a roupa e a estupram. Logo a prendem a uma larga viga de madeira e lhe dão chicotadas até que a
pele se solte em tiras. Quando está prestes a morrer é esfolada com facas de caça…

Os horrendos sofrimentos de Ângela em sua últimas horas deixaram Jenny estremecendo em


convulsões que gradualmente foram desaparecendo até que chegou a morte. Segura de que
permaneceria em transe abandonou seu corpo desolado em um lago de sangue para entrar na
metaconsciência: sua primeira e cautelosa entrada na vida entre vidas. Flutuando sobre as cabeças
de seus assassinos viu como levavam seu corpo até um poço onde se punham as carcaças dos
animais. Tendo abandonado o corpo Ângela parou de sofrer fisicamente. Mas a dor psicológica não
tinha alívio. Era a dor do remorso de ter pego a arma, a angústia de ter matado seu próprio filho. Ao
experimentar de novo a dor de Ângela soluçou fortemente pela primeira e única vez diante do dr.
Whitton. De criança havia aprendido a não emitir som quando estava alterada já que qualquer forma
de queixa ocasionava um tratamento mais brutal de sua mãe. Tão profunda era essa linha de conduta
que ainda sob hipnose Jenny não chorava nem se queixava, nem sequer choramingava um
pouco...até que se encontrou com a dor da tragédia de Ângela.
Nas semanas seguintes Jenny se sentiu mais otimista. Havia se curado das fobias das facas
afiadas no esfolamento. O “nó da vagina” produzido pelo estupro coletivo também se curou e o
medo enorme que tinha do pai se explicou e desvaneceu de repente quando o reconheceu num dos
rufiões que a haviam estuprado, castigado e esfolado naquele dia sinistro no século XIX no
Colorado. Hoje ainda encontra dificuldades para querer seu pai e confiar nele mas pelo menos pode
encarar o problema de forma intelectual. Depois da experiência como Ângela pôde, pela primeira
vez, abraçar seu pai.
Como resultado da compreensão dela mesma alcançada mediante a terapia de vidas
passadas, os talentos psicocinéticos não voltaram a ocorrer. O dr. levou-a uma vez ao transe.Aí
encontrou Elee uma sacerdotisa vestida de branco de uma ordem mística de Roma durante o século
II. Elee dizia que podia mover objetos com a mente. Dizia que os poderes tinham um uso ritual e ela
era a responsável de instruir outras moças para que tivessem a mesma habilidade. Depois dessa
revelação Jenny tentou sem êxito reviver a capacidade perdida. Não mais à mercê de seus poderes
inconscientes, a dama PK está lutando para fazer consciente essa herança psíquica.
Em 3 anos Jenny havia aprendido muito a seu respeito. Escoltada ao ponto da observação de
sua mente, havia penetrado nas entranhas de seus traumas. A recompensa era a libertação de si
mesma, do que havia sido e já não necessitava e nem desejava compartilhar. Por experiência pessoal
havia aprendido que não há coisas que possam denominar-se acidentes ou fatos inexplicáveis;
descobriu que tudo em seu passado havia tido um sentido, um propósito, uma razão de ser. Por certo
que, se bem que a aparição de manchas de sangue na parede de Jenny em abril de 1980 parecesse
misteriosa e insondável, o estudo desse caso complexo mostra que podem encontrar-se as respostas
se a investigação se realiza até às últimas consequências.
No entanto sempre há mais perguntas. O intrincado do caso de Jenny exigia a explicação da
progressão desde Lucy, passando por Ângela até Jenny. O dr. Whitton sabia que a metaconsciência
podia conter as respostas e guiou Jenny à vida entre vidas de Ângela e Jenny.
-Que vês ? -perguntou.
Jenny parecia sentir com tal intensidade que o dr. Whitton desistiu de interromper seu
deslizamento no bardo sem tempo e sem espaço. Eventualmente repetiu a pergunta mas em forma
algo diferente.
-A quem vês ?

A minhas ...correntes uso um manto negro ...Há correntes em meus pulsos e tornozelos. O
juízo...sinto muita vergonha...muita culpa e vergonha. Não quero…

Interrompendo-se, Jenny começou a descrever 3 seres sinceros e satisfeitos que a esperavam


para dar-lhe consolo e segurança. Estava assombrada com a sabedoria e a compreensão desses seres
e sentia que não merecia sua atenção e por isso não desejava aproximar-se deles. Tudo o que podia
fazer era culpar-se pelos erros cometidos na vida de Ângela, sobretudo o impulso que teve como
resultado a morte de seu filho.
Mas os Três seguiam apoiando-a e Jenny sentiu que as correntes soltavam dos pulsos e
tornozelos e começou a compreender que havia uma esperança. O tribunal a ajudou a avaliar a vida
que acabava de abandonar e se discutiram alguns episódios cruciais em particular.
A confiança de Jenny nos Três seres se fortalecia à medida que repassava sua vida. Então
como para estimular a compreensão de seu eterno propósito se lhe concedeu o entendimento de que
a criatura de Lucy e a de Ângela eram elementos da mesma alma que por suas próprias razões
cármicas necessitou duas vidas muito curtas (a existência corpórea pode interromper-se brevemente
para cumprir algum requisito dos planos feitos na vida intermediária. Desde a perspectiva da
metaconsciência, a morte, não importa quando ocorra, sempre incentiva o aprendizado e a
evolução).
Logo Jenny se viu com um vestido longo entre um grupo de crianças. Uma delas notou sua
presença e ela o reconheceu como o mesmo ser cujas mães haviam sido Lucy e Ângela. O menino
se aproximou e tocou o vestido de Jenny. Ela respondeu com um cálido resplendor interior e sentiu
que se inchava o ventre. Teve a impressão de que mais adiante em sua vida atual esse menino
voltaria a ser dela.
Jenny estava ansiosa por aprender tudo o que podia em sua prolongada imersão na vida
intermediária. Aprendeu que Ângela não havia cumprido nada dos assuntos cármicos e que para
fazer algum progresso como Jenny primeiro teria que levar-se à situação em que Ângela abandonou
o mundo. Em outras palavras: necessitava do trauma de Ângela e – com o conselho dos Três –
decidiu passar a horrível infância que descrevemos antes. A identidade incorpórea de Jenny vendo
chegar os terríveis desafios da reencarnação seguinte tratou de resistir à atração do plano terrestre.
-Não estou preparada para voltar...Tenho medo - disse a uma figura luminosa que
identificou como seu guia e que apareceu para presidir o momento do renascimento.
Aceitando sem entusiasmo as recomendações do tribunal Jenny tomou a decisão de trabalhar
para descarregar o carma na vida a começar dedicando a força de sua personalidade ao bem-estar
das crianças deficientes mentais. Compreendeu além disso que o aborto havia sido escolhido
especificamente para que iniciasse a compreensão de seu turbulento passado. Foi depois de toda a
gravidez junto com os fenômenos psicocinéticos que levaram Jenny à terapia.
-Deves encarar o medo e a ira – lhe disseram os Três.
E isso é exatamente o que fêz. Carmicamente falando pareceria que Jenny não havia
merecido essa infância espantosa que teve que suportar. Depois de tudo, acaso não havia lutado por
conservar sua filha deficiente na Inglaterra? Acaso não fez todo o possível seu bebê no Colorado?
Sem dúvida a resposta é sim, mas a opinião de Jenny sobre seu comportamento nas 2 situações
estava distorcida por uma percepção carregada de culpa e em grande parte a percepção constitui a
própria realidade, aqui e no além. Como Lucy, acreditou que por ter se distraído umas horas na
cervejaria havia sido responsável pela morte de sua filha que era o que os demais desejavam. Como
Ângela não podia perdoar-se pelo assassinato por mais casual que fosse. Apareceu ante os juízes
com as correntes porque ela quis aparecer assim. E ainda que as correntes se soltassem de seus
punhos e tornozelos porque os juízes estavam estimulando-a dessa maneira ela não estava de acordo
com o alívio de sua culpa. Ainda presa na trama do que acreditava serem seus erros não queria criar
mais problemas na vida atual. E problemas era o que ela acreditava que merecia. Até que viveu na
vida entre vidas Jenny era incapaz de aceitar que não era culpada.
Na vida intermediária Jenny reviu seu roteiro cármico e viu que era muito detalhado até que
tivesse pouco mais de 30 anos. Depois, se tudo fosse segundo o plano haveria compensado as
influências cármicas negativas. Só então podia decidir que fazer com o resto de sua vida.
Enquanto esse livro se imprime, Jenny tem 34 anos e está pensando numa mudança de
carreira. Se bem que reconheça a importância passada de seu trabalho com as crianças deficientes já
não quer seguir nessa linha. Tendo perdido o temor da maternidade, está decidida a ter um filho.
Pela primeira vez na vida está buscando ativamente alguém com quem compartilhar a experiência.
Mas no caso de que não encontre o companheiro adequado antes de que seu relógio biológico não
funcione bem, pode optar pela inseminação artificial. A solicitação de Jenny foi acompanhada de
uma cálida recomendação do dr. Whitton: “Depois de tudo pelo que passou, será muito difícil
encontrar uma mãe mais devota e carinhosa que Jenny Saunders”.

13

Guia para auto-exploração da vida intermediária

“Abrir o caminho para dentro do indivíduo é a mais sublime das aventuras humanas…”
James S. Perkins – Através da morte para o renascimento

Só pode apreender-se o infinito com uma faculdade superior à razão entrando num estado do
que deve retirar-se o ser finito.
Quando Plotino, o filósofo grego escreveu essas linhas no século III estava descrevendo
conscientemente ou não, o princípio da exploração pessoal do estado da vida intermediária. Para
“explorar o rio da Alma; donde ou em que ordem tens vindo” como disse o profeta Zoroastro o
mundo cotidiano deve deixar-se muito atrás. Então e só então – mediante a concentração, o
relaxamento, a diligência e a paciência para esperar os resultados – é possível buscar e sujeitar o
conhecimento da vida entre as vidas.
A regressão instigada pelo hipnotizador pode ser um método mais rápido de revelar as
recordações do que se viveu entre as encarnações mas qualquer que deseje, por si mesmo,
perseverar com o método de visualização, tem grande possibilidade de êxito e quando se sabe como
realizar a auto-exploração pode praticar-se à vontade sem necessidade de depender da mediação de
outra pessoa.
A visualização não é mais que um meio para um fim, uma maneira de programar o
subconsciente para revelar experiências do bardo ou de vidas passadas, o que deseje o explorador.
Da grande variedade de técnicas disponíveis o dr. Whitton prefere o método tradicional chamado
“celestial sanctum” que provou sua eficiência desde vários séculos. Essa introdução passo a passo
para a afinação interna crê-se que originou dos Cavaleiros Templários, uma ordem mística cristã
que floresceu na época das Cruzadas.
A ideia fundamental é simples. Visualize uma imensa e magnífica catedral - segundo a
preferência religiosa pode ser um templo, uma mesquita, uma sinagoga – que flutua muito acima da
Terra. Essa estrutura flutuante, o celestial sanctum tem uma vasta biblioteca que contém os registros
akáshicos. Como já dissemos, os registros akáshicos contém no éter de forma indelével, tudo o que
ocorreu, o relato completo e detalhado das vidas e vidas intermediárias de cada alma que tenha
existido. Ao trazer o sanctum à consciência tenha em conta que nenhuma biblioteca poderia conter a
enorme quantidade de informação armazenada nessa coleção celestial.
Praticar o exercício de visualização que segue exige reverência e fé: reverência pela
inteligência imortal e fé em que o conhecimento será revelado. Gautama Buda disse uma vez:
“Se a mente fixa-se na aquisição de qualquer objetivo, esse objetivo será alcançado”.
Como exercício preliminar para estimular a memória, imagine que está olhando um álbum
de fotografias de sua infância. Volte as folhas e por aí encontrará a fotografia de quando completou
10 anos. Olhe você e os que o rodeiam. Não só reconhecerá os rostos que aparecem na foto senão
que recordará acontecimentos e emoções que estão fora do quadro. Poderia dizer-se: “aquele ano
me fiz amiga de Sally. No ano seguinte ela foi a outra escola”, ou “Meu irmão Jimmy tinha o braço
engessado porque tinha caído da casa da árvore.” A fotografia excita outras recordações além dos
limites do requadro. O mesmo ocorrerá quando entrar na biblioteca etérea e tomar o livro que
contém a vida passada que queira rever.
Como é pouco provável que as recordações da vida intermediária apareçam em ordem
cronológica podem ser tão confusos como um holograma, que, à primeira vista não tem mais
sentido que um monte de linhas onduladas. Mas sob a ação de um raio laser o holograma se
transforma em uma fotografia tridimensional assim como a vida intermediária produzirá imagens
com sentido enquanto a pessoa exercite seu processo de pensamento. Parafraseando Descartes,
diremos: “Penso, logo vejo”. As analogias com a fotografia e o holograma se mencionam
simplesmente como uma ajuda para excitar a saída das recordações de seu esconderijo. Alguns
encontram que suas recordações aparecem na forma de um filme. Se esse fosse o caso, imagine que
pega da biblioteca um videocassete, mais que um livro ou um álbum de fotografias, o leva ao quarto
de projeção e o insere no reprodutor de vídeo para que comece a fluir imagens no clímax do
exercício de visualização.
Há que destacar que o exercício tem como objetivo a recuperação do conhecimento dos
acontecimentos que já tiveram lugar. Esses dados já existem e não podem mudar-se. Quando a
informação chega à mente há uma só maneira de dizer se veio de uma recordação autêntica: uma
profunda certeza interior acompanhará o fluxo das imagens. Se, por outra parte as cenas ou vistas
parecem ser produto da fantasia ou imaginação o mais provável é que sejam. A regra de ouro é: se
duvida, não acredite.
Os que têm dificuldade em visualizar deverão educar-se para ver, com os olhos da mente, a
chama trêmula de uma vela ou uma imagem geométrica específica como um quadrado ou círculo.
Também ajuda entrar num quarto inspecionar seu conteúdo cuidadosamente e logo fechar os olhos e
tratar de reconstruir o que acaba de ver. Qualquer que duvide de sua capacidade para visualizar com
clareza deveria repetir esses exercícios preliminares várias vezes antes de tentar penetrar no
celestial sanctum. Se não têm êxito os esforços mais decididos para visualizar ainda poderá alcançar
a informação: se perceberá de forma intuitiva, não visível no momento da percepção ou pouco
depois.
Agora estamos quase preparados para a indução. Você pode escolher ler você ou que leia um
companheiro. Também pode gravar quando lê em voz alta e logo escutar-se quando estiver pronto
para iniciar a auto-exploração. Mas antes de começar pode ser necessária uma maior preparação da
mente. Nunca se repete demasiado que a auto-exploração do próprio passado não deve tomar-se
rapidamente: a aproximação por desejo de aventura vai ser fortemente obstado. Aventurar-se na
vida intermediária é explorar o sentido e o propósito de ser e essa importante investigação
necessita reverência e humildade. O celestial sanctum “deve representar para cada um o mais alto
grau de pureza e santidade do que se é capaz” segundo Charles Dana Dean que escreveu um folheto
sobre as origens e propósitos do sanctum. Agora o ritual preparatório final…
Primeiro, encontre um lugar tranquilo onde possa realizar o exercício sem ser interrompido.
Lave as mãos com água limpa e seque-as bem. Isso simboliza a limpeza do corpo. Logo passe
vários minutos de relaxamento total – deitado talvez ou sentado na poltrona – para livrar-se pouco a
pouco dos pensamentos e negatividade de todos os dias. Para ajudar nesse processo pode expelir sua
aura de influências negativas fechando simplesmente os olhos concentrando-se em pensamentos
positivos e deslizando as mãos com rapidez pelos contornos do corpo, muito próximo da pele
sem tocá-la. Espere sentir uma sensação de formigamento. Imagine que está afastando tudo que
distrai ou bloqueia. Sacuda as mãos periodicamente para assegurar que esse resíduo indesejável se
afasta de sua aura. Se deseja, outra pessoa pode fazer a limpeza por você.
Como prelúdio do exercício real vale a pena recordar as palavras de Bernard Shannon, autor
de A imortalidade em um mundo temporal…
O aspirante deve ser consciente de outro ser enquanto está no estado físico e retirar uma
parte de si do caos da existência humana. Para tomar consciência não é necessário o estudo nem a
meditação profunda. Pensem simplesmente num campo mais amplo do ser, sem preocupar-se
demasiado pela natureza desse campo. A pura energia do pensamento sem realidades materiais
será suficiente… Vejam o campo superior com o olho da mente; sintam que o campo está aí sem
pensar nem meditar sobre ele. A figura mental deve existir…
Agora já está preparado para o exercício em si, que, ainda que capaz de facilitar a
exploração de qualquer vida intermediária ou reencarnação anterior, se centrará no período mais
recente da vida entre vidas. Se prefere examinar outra encarnação ou outra existência incorpórea
modifique o exercício pedindo para ver essa existência em lugar da permanência mais recente no
bardo…

Deite-se, respire profundamente várias vezes e viaje suavemente para o estado de


relaxamento. Se alguém lê o exercício feche os olhos e goze do estado de relaxamento, de escutar a
pronúncia de cada palavra. Se você lê o exercício, faça-o lentamente deixando que o estado de
calma vá apoderando de você antes de dar o primeiro passo para o celestial sanctum. De qualquer
maneira viaje ao profundo de seu ser centrando-se somente em penetrar num estado diferente da
realidade. Você não tem consciência de mais nada do que sua mente e das palavras que vão
entrando na sua consciência…
Agora visualize o céu alto, mais acima das nuvens, uma grande catedral muito maior que
qualquer outro lugar de adoração que exista na Terra. Esse celestial sanctum tem uma porta de 2
folhas de tamanho colossal colocada abaixo de imensos arcos e espirais gêmeas. Uma imponente
escadaria de pedra conduz até essa entrada...Concentre-se em inspecionar cada mínimo detalhe,
inclusive a complicada construção e logo veja-se só ao pé da escadaria olhando expectante para a
entrada...comece a subir os degraus, note o granito irregular quando seus pés tocam um degrau
após o outro. É uma longa subida mas finalmente você chega e se detém ante as portas imensas de
madeira. Respire profundamente e depois estenda uma mão para sentir a textura da madeira
passando a mão suavemente sobre a superfície lustrada, com nós, junções e gretas. Agora empurre
uma das folhas. Se abre convidativa e gradualmente vê o interior apenas iluminado enquanto as
dobradiças giram e você cruza o umbral e pisa as grandes e polidas pedras do vestíbulo.
Fique aí e olhe ao redor; contemple a cúpula alta e as filas de banco. Raios de luz caem em
diagonal sobre os bancos; no ar há um odor doce de incenso e você se sente invadido pela
solenidade, a tranquilidade, e a magnificência da cena. No lugar de continuar o caminho pela nave
central até o altar vá para a esquerda e caminha até um muro afastado. Está muito distante.
Enquanto avança sente que as pedras do solo dão lugar ao mármore e que a parede está coberta
de painéis de madeira escura desde o piso até o teto. Agora busque uma porta nessa parede uma
porta pequena. Não é fácil de ver, deve buscar com muita atenção. Mas finalmente vê uma
maçaneta de bronze e se dirige a ela. Quando chega, abre a porta…
Passa por ela e vê uma escadaria de pedra. Os degraus são estreitos e estão gastos. Levam
ao porão. Quando vai descendo a escada, sinta-se descendo as entranhas da catedral. Ao pé da
escada espera um homem, um ancião. Tem o cabelo branco e usa uma longa túnica negra que lhe
chega quase aos tornozelos . É o guardião dos arquivos e o está esperando mas deseja saber
porque está aí.
Explique que está efetuando sua auto-exploração e que deseja ver o registro de sua última
permanência na vida intermediária.
O ancião, inclinando a cabeça, escuta atentamente a explicação e atende seus
requerimentos…
O guardião faz um sinal para que você siga para a biblioteca. Você se sente flutuando atrás
do manto esvoaçante do ancião enquanto ele vai por intrincados corredores que parecem não
terminar nunca em que há estantes ocupadas por pilhas de livros. Por fim se detém entre 2 filas
paralelas de livros. Assinala um grupo particular. Você segue o sinal do braço do ancião e vê seu
próprio nome escrito em letras de ouro. Lê o nome atentamente e verifica que é seu, o nome pelo
qual se conhece. E inspeciona os livros dessa estante…
Há muitos livros nessa estante dedicada a você, um para cada vida passada e uma para
cada vida intermediária. Observe a sucessão de lombadas de couro colocadas em ordem
cronológica da esquerda para a direita. Como esta vida ainda não terminou o livro que se encontra
mais à direita contém todos os detalhes de sua experiência mais recente na vida intermediária.
Peça esse livro ao guardião e observe como ele o toma e o entrega. Tome o livro com firmeza, sinta
a textura da encadernação de couro e tenha a consciência de que em um momento o abrirá e lerá o
conteúdo da sua última existência incorpórea. Você poderá escolher o que lerá desse livro...o
umbral, o tribunal, o planejamento de sua vida atual...o que quiser. Quando abrir o livro (recorde
que um álbum de fotos ou vídeo te podem substituir o livro ) deve fazê-la sem nenhum temor. O que
está ali é o que ocorreu; não há surpresas para seu subconsciente. Simplesmente está vendo o que
está registrado.
Busque no livro a seção da vida intermediária que deseja explorar. Leia e assimile com
calma, sem emoções. Tem todo o tempo que queira.
Quando viu tudo o que deseja feche o livro e devolva ao guardião que está esperando
pacientemente a uma discreta distância. Ele volta a colocar o livro na estante e faz um sinal para
que o siga outra vez pela biblioteca labiríntica para a escadaria que sobe à catedral. Você segue o
ancião até que voltam ao lugar onde se encontraram pela primeira vez. Você se despede pelo
momento e sobe pela escadaria. Entra pela portinha ao silêncio e majestade da nave. Fecha a
porta e se detém por um momento sob as cúpulas amadas antes de voltar ao vestíbulo e as imensas
portas. Sai do celestial sanctum e desce com lentidão os degraus de pedra. Ao mover um pé depois
do outro descobre que lentamente vai voltando à consciência normal, de maneira que quando
chega ao pé da escada você já está consciente totalmente de tudo que o rodeia.

Algumas pessoas experimentam as recordações da vida intermediária na primeira


visualização guiada. Mas a maioria necessita repetir o exercício várias vezes para que as
recordações cheguem à consciência. Os mais perseverantes - ou os que são visualizadores
“naturais” como Heather Whiteholme, cuja história é narrada no capítulo 8 – veem uma corrente de
imagens. A miúdo ocorre que a percepção interior se manifesta mais tarde nos sonhos ou como
faíscas intuitivas que vão produzindo no estado normal de vigília. Como tem encontrado alguns
pacientes do dr.Whitton durante a hipnose o subconsciente armazena as informações e as páginas
em branco enfrentam o olho interior quando se abre o livro da vida intermediária. Mas qualquer que
encontre resistência intuirá que deve existir uma razão válida para esse bloqueio na torrente de
recordações. A propósito: a memória da vida intermediária pode aumentar se se leva um diário no
qual se anotem os sonhos e intuições. Se se segue escrevendo quando se fazem sucessivas visitas ao
celestial sanctum, o conhecimento das vidas intermediárias da alma e das vidas passadas vai tornar-
se tão seguramente como uma cidade sepultada se revela nas escavações dos arqueólogos.

14

O significado do ínterim

“Qualquer coisa que lance a luz sobre o Universo, qualquer coisa que nos revele a nós mesmos,
deveria ser bem-vinda a este mundo de enigmas.”

Aleister Crowley, Magick

Através da autorrevelação, o estágio entre vidas coloca o ser físico na perspectiva correta. A
metaconsciência nos diz sobretudo que o sutil e o espiritual no homem, nossa essência, está além da
destruição. Na morte deixamos atrás o veículo escolhido de carne e osso para que possa iniciar
outra etapa de vida. O além, por seu nosso lar natural nos traz o despertar e a recordação nos
devolve a claridade. E quando nos vemos como somos realmente podemos aprender da última
expedição à realidade terrena, avaliar nossos progressos e chegar a planejar a reencarnação seguinte
segundo nossas necessidades.
Se o mundo é um cenário, o bardo é a vida nos bastidores com todos os objetos necessários
e o roteiro do apontador e tudo o que faz possível uma produção teatral e que deve estar disponível
para seu uso eficiente. Bem ou mal desempenhado o “papel” da vida corpórea se interpreta quando
se tomou a decisão de fazê-la, ensaiando e com todo o trabalho preparatório já realizado. Cada
roteiro é escrito, dirigido e produzido pelo protagonista e se requerem muitos roteiros para atuar em
muitas vidas. Somente mediante uma incessante entrada e saída do cenário pode-se chegar ao
aprendizado e evolução.
Com cuidado ou com a aventura, escolhemos nossas circunstâncias terrenas. A mensagem da
metaconsciência é que a situação da vida de cada ser humano – seja uma vítima da AIDS, uma
criança abortada, um artista do cinema, um jornaleiro sem pernas ou o presidente dos Estados
Unidos - não é o produto do azar nem é inapropriada. Vista desde a vida intermediária, de forma
objetiva, cada experiência humana é nada mais que outra lição na aula cósmica. Quanto mais
aprendemos em cada lição mais rapidamente evoluímos. Na planificação da vida intermediária
sempre buscamos as oportunidades para amar e servir, e, por conseguinte, devem ver-se como
fundamentais para nossa evolução. Se bem que experimentar a solidão de tempos em tempos resulte
calmante e rejuvenescedor, o desenvolvimento cármico exige a interação humana.
A existência humana resulta compreensível somente quando o diminuto segmento entre o
nascimento e a morte - nossa realidade terrena – se localiza no contexto cósmico. A vida eterna já
deixou de ser o conceito religioso que podia ou não ter validade, de repente é uma realidade e então
o sentido e o propósito da existência se volta claro e resplandescente ainda que difícil de expressar
com palavras. O panorama da vida intermediária tira o alento se se trata de o expressar: sem
tempo...sem espaço...o infinito assombroso para sempre.
Todas nossas vidas e vidas intermediárias estão nesse infinito, como os padrões cármicos
que dão forma à evolução pessoal. E como até os detalhes mais microscópicos das ações de nossas
vidas anteriores e a experiência entre as vidas estão à nossa disposição em nosso estado atual,
também o está a vista panorâmica de nossa viagem até agora...da longa odisseia que tece uma
reencarnação com outra.
A consciência dessa realidade mais ampla submete os valores, atitudes e preocupações
terrenas a uma revisão rigorosa quando se sabe que a morte representa somente uma transição. A
imortalidade consciente não pode menos que levar-nos a uma superação pessoal. Como escreveu
Jung em Recordações, sonhos, reflexões, “somente sabendo o que temos que enfrentar é que
podemos evitar as futilidades”.
O testemunho dos pacientes do dr.Whitton nos leva até onde pudemos mostrar. O primeiro
passo é o de tomar consciência dos guias, o tribunal, o processo de planejamento e outros elementos
da vida intermediária. Logo devemos buscar uma maior compreensão de suas funções respectivas e
de sua influência na vida corpórea. À medida que se avança no aprendizado, a ciência médica
ortodoxa, materialista e racionalista deve preparar-se para reconhecer uma nova dimensão. Um dos
médicos norteamericanos mais famosos, o dr. Stanley R. Dean criou a palavra “metapsiquiatria”
para denominar a integração da nova dimensão com a prática psiquiátrica estabelecida. Em
Psiquiatria e Misticismo, Dean declara: A metapsiquiatria é uma ciência fortemente interdisciplinar
que têm relações sinérgicas com a parapsicologia, a filosofia a religião e a lógica empírica. Esses
componentes que colaboram entre si podem produzir resultados que nenhum poderia obter por si só.
Durante demasiado tempo se considerou que a cura dos corpos e mentes eram disciplinas
separadas. O surgimento da terapia de vidas passadas indica que o enfoque holístico voltará a gozar
do status que já ganhou uma vez. Em seu livro A psique na medicina, o psiquiatra inglês Arthur
Guirdham percebeu que…

Os fatores cósmicos na medicina irão ganhando reconhecimento geral à medida que vá


acentuando o grau da consciência psíquica do homem atual ...A medicina do presente voltou as
costas à sabedoria tal como era entendida pelos grandes sábios e filósofos, que viam as coisas não
desde o ponto de vista religioso ou científico mas como um todo. Tudo o que se pede é que
aceitemos que as verdades da existência possam iluminar os sombrios corredores da medicina
contemporânea.

Uma vez que o pulsar do coração do espírito se encontra na vida intermediária, há muitos
motivos para supor que a metaconsciência pode abrir as artes de curar e outras disciplinas mais
profundas de entendimento. À medida que mais e mais pessoas fazem contato com a profundidade
de seu ser e sentem a harmonia com a ordem universal que caracteriza o estado incorpóreo a
psicoterapia tem melhores oportunidades. Simplesmente saber que existe essa outra realidade pode
mudar a vida, pode proporcionar segurança. Com essa garantia de absoluta segurança deveríamos
sentir menos inclinação a fraquejar e temer, dentro das fronteiras da vida corpórea. Se o fazemos a
falta reside em nossa incapacidade para manter a visão da verdade enquanto lutamos com a
realidade terrena.
O mais importante é que o conhecimento da vida intermediária intensifica a
responsabilidade pessoal. Se admitimos que o plano terreno é onde se põem a prova as intenções da
vida intermediária, a vida cotidiana adquire um novo significado e propósito. E por difíceis que
sejam as circunstâncias terrenas uma fonte de amor espera para submergir a cada ser humano na
beleza e no esplendor quando termina cada existência. Pertencemos ao bardo e o planeta Terra não
é mais que o campo de prova que nos conduz à evolução espiritual.
Se bem que tenha alcançado muito, a vida entre vidas é um recurso humano apenas utilizado
que permanece na etapa preliminar de sua compreensão. Só a investigação em escala massiva
poderá revelar os segredos mais profundos desse outro mundo e de seu potencial para o
desenvolvimento humano. Este livro é um registro de algumas explorações iniciais. À medida que
os cientistas penetrem e avancem mais na vida intermediária seguramente surgirá maior
compreensão de nossa herança incorpórea. O estudo da metaconsciência com sua capacidade para
passar as barreiras do nascimento e da morte poderá aplicar-se, com toda sua importância ao
melhoramento da condição humana. Nos impele a entender por que estamos aqui e que devemos
fazer.

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