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Theos Bernard
“O objetivo deste livro – escreveu o dr. Bernard – é o de revelar, em primeiro lugar, as
distintas práticas do Yoga em uma forma orgânica, de modo que um estudante independente possa
contar com os elementos e bases necessários para poder atuar sozinho. Todo o escrito surge de
minha experiência pessoal…”
Quando apareceu este livro já clássico da literatura do Yoga, foi saudado como um dos
melhores instrumentos com que se podia contar para que a ciência Yoga chegasse de forma simples
e completa às grandes multidões que em todos os países se mostravam cada vez mais apaixonadas
pelo tema. Isto motivou, em primeiro lugar, que fosse traduzido rapidamente a distintos idiomas da
Ásia, Europa e América.
O doutor Bernard foi o primeiro homem branco que viveu entre os lamas do Tibet, sendo
iniciado por eles nos antigos ritos do budismo tibetano. A “história pessoal” que relata nesta obra se
refere a como se converteu ao estudo do Yoga, e como, de um estado de semiparalisia, conseguiu
alcançar uma saúde perfeita graças à prática do Yoga. Deste modo esse trabalho se converte em uma
fascinante narrativa, além de constituir uma introdução completa ao sistema de vida que ensina o
Yoga.
Algumas opiniões sobre o livro:
“Não se podia pretender um livro mais apaixonante sobre a prática do Yoga”- Light
“Sua honestidade e sinceridade conferem um valor especial ao livro”-The canadian
Theosophist
“Não se necessita ser um especialista para compreendê-lo”- Sunday Empire News
“...nada melhor se pode fazer que estudar esse livro”- Psychic News
ÍNDICE
Tradução de
Ao preparar este livro, tem sido meu desejo constatar como um norte-americano de minha fé
e cultura tem provado e experimentado a Maneira de Viver que ensina o Yoga e poder atestar
pessoalmente suas virtudes.
Há quase 2 anos que regressei do Oriente e desde que voltei a pisar as costas da América
tenho vivido num ritmo vertiginoso. Isto se deve a uma série de circunstâncias materiais às quais
involuntária e frequentemente nos vemos afogados neste mundo ocidental. Não obstante, tenho
regulado minhas ações e mantive uma atitude mental em relação a vida de acordo com esta nova
maneira que já é parte de meu ser.
A experiência me tem demonstrado que essa Maneira de Viver sem dúvida me permitirá
chegar a grandes profundidades do conhecimento e obter muito mais da vida através da experiência
diária. Esta já não se perderá, mas se converterá numa bênção. Se alguém não tem êxito ao seguir o
caminho traçado, não será por que o Yoga não indique a direção correta, deve-se mais à minha
inépcia para explicar seus princípios ocultos. Porque o Yoga é uma “filosofia vivente” e está
virtualmente mais além da palavra impressa.
Há que ter presente que na Índia tudo se acha envolto nos véus da religião. Não se faz nada
sem nenhum rito religioso. Às vezes se encontrarão as mentes mais racionais manifestando uma fé
cega. Isto é assim em todas as camadas sociais. Recordo uma visita a um homem de negócios hindu
possuidor de uma grande fortuna e tão moderno como qualquer corretor de Bolsa de Nova York,
que se levantava às 4 da manhã para banhar-se nas águas do sagrado Ganges. Se se considera que
até os laicos enchem suas vidas de cerimônias, é fácil compreender os cerimoniosos que são os
devotos.
Se fez necessário que eu viajasse a Índia como discípulo e não como erudito investigador,
para comparar e apreciar seus ensinamentos desde o ponto de vista da ciência ocidental. Meu
propósito era tratar de aprofundar nas formas do culto para descobrir o verdadeiro valor que há de
achar-se nas diversas práticas do Yoga. Antes de partir dos EUA, possuía um apreciável
conhecimento dos ensinamentos e práticas que havia podido recolher de fontes pessoais e revisando
uma enorme quantidade de confusa literatura escrita por eruditos carentes de experiência pessoal.
Como se verá, havia feito consideráveis progressos quanto às práticas. Adiantei o suficiente
para saber que os métodos por si sós não levariam ao estudante a realização mental e espiritual a
que se podia aspirar. Era necessário seguir um método regular e só poderia fazê-lo com ajuda de um
mestre. Isto significava uma viagem à Índia, a pátria do Yoga. Não havia lugar na América onde ir
para tal aprendizado nem quem possuísse conhecimentos suficientes para atuar como guia. Quando
me graduei na escola de Direito, ingressei na Universidade de Colúmbia para obter o grau de doutor
em Filosofia como base para meu futuro trabalho, porque me parecia que, como ocidental, devia me
familiarizar primeiro com nossa própria herança filosófica.
Ao iniciar meus estudos na Índia, a primeira indicação de meu mestre foi que esquecesse
tudo que havia aprendido até então. Isso tinha por objetivo desprender-me de todo pré-julgamento e
capacitar-me para atuar com independência mental e de sentimentos. Para alcançá-lo devia
submeter-me a uma infinidade de rituais que eram aparentemente tão inúteis para mim quanto para
qualquer outro leitor. Somente assim poderia chegar a ser um deles, um devoto, um discípulo, o que
era o meu mais desejado anseio. Devo confessar que às vezes me resultava sumamente difícil
manter uma mente racional porque os mesmos rituais tinham por objetivo substituí-la. No entanto
tinha que me submeter a essas experiências – em alguns casos aprendia só o que já sabia – e logo
agradecer a quem havia dirigido o Puja (culto). De todas as maneiras isto era essencial para penetrar
os véus do Maya.
Ao referir por escrito minhas experiências, tratei de não atrapalhar o leitor insistindo
demasiadamente no aspecto dos rituais que requereriam por si sós um volume. O objetivo desta
obra é revelar principalmente as diversas práticas do Yoga de uma maneira organizada para que um
estudante independente possa ter uma base sobre a qual possa seguir sozinho, e constituí a trama em
torno de história pessoal. Espero que isso inspirará confiança e facilitará o caminho àqueles que
desejam adaptar essa Maneira de Viver a suas próprias necessidades.
Me referi às dificuldades e à rígida disciplina que tive que seguir. Para esclarecer um pouco
o objetivo dessas práticas ofereço algo da teoria filosófica. Seria tedioso e ininteligível aferrar-se à
ordem cronológica em que foi reunido esse material, porque o recolhi aqui e ali, de uma infinidade
de fontes no transcurso de minhas viagens e estudos na Índia e no Tibet.
Especialmente um pensamento que me expressaram meus mestres deve ser transmitido a
outros para ajudá-los em suas futuras leituras e estudos. No princípio me disseram que “não havia
mistérios no Yoga”; que tudo podia ser explicado, que toda técnica se baseava em fundamentos
lógicos e era cimentada por uma concepção filosófica da vida; que tudo era de acordo com a Lei e
nada carecia de razão.
O que se requeria de mim era uma mente independente. A seu devido tempo, me
prometeram, compreenderia o significado latente por trás do exterior. No princípio não devia me
esforçar por buscar a razão das coisas. Meu conhecimento não era ainda suficiente para isso. Pela
minha experiência posso assegurar ao estudante potencial do Yoga que a “política de mente
independente” é essencial e que se a respeita achará igualmente que não há posturas ociosas.
Muitos considerarão que são muito velhos para começar as práticas de Yoga. É um grande
erro. Na Índia se ensina que nunca é demasiado tarde para começar e que não se acha perdido nem o
menor esforço. Recorda-se na Índia o caso autêntico de um famoso iogue que iniciou as práticas
depois dos 50 anos e que viveu mais de 200. Ao iogue não lhe interessa tanto achar a fonte de
juventude para continuar o Espirito da Juventude até o fim.
Nada suprirá o coração humano de mais entusiasmo que a prática do Yoga. Confere as
maiores alegrias e ajuda a encarar as fases mais perigosas da vida com compreensão e valor. O
Espirito da Juventude será um bem vitalício.
Agradeço aos autores que me ajudaram com suas contribuições ao tema. E a meus mestres
com quem tenho conversado durante horas sobre a Arte do Yoga, estou profundamente reconhecido
por sua inestimável ajuda, sua infinita paciência, e seu generoso estímulo e alento.
Theos Bernard
Em fins do verão já estava em condições físicas e espirituais para seguir os cursos. Havia
encontrado uma riqueza interior que compreendi possuiria o resto da vida. Havia resolvido
preparar-me para cumprir meu trabalho na vida cuidando do aspecto econômico e dedicaria meu
tempo a estudar neste novo mundo do pensamento que havia descoberto.
Dediquei-me a uma intensa busca de mais material de leitura sobre Yoga. Ademais tratei de
entrar em contato com todos aqueles que sabia terem estado na Índia ou conheciam algo dos
ensinamentos hindus; porque à medida que passava o tempo se reafirmou minha convicção de que
aqueles ensinamentos me sinalizavam o caminho a seguir. Os exercícios contidos nos livros que
havia lido não eram mais nem menos que variantes de exercícios que já havia estudado e podia
efetuar com grande facilidade. Os exercícios respiratórios pareciam os mais valiosos, mas não pude
encontrar a relação entre a teoria e a prática. Sentia a necessidade de um mestre. Tentei os
exercícios respiratórios ainda que ao acaso. Dado o estado de meu coração devia ter muita
prudência. Todos os livros que li insistiam nos perigos de realizar as práticas sem a ajuda de um
mestre. Como podia achá-lo no Arizona? Havia lido com frequência nos livros de ensino oriental
que quando um estudante se achava em condições apareceria um mestre para ele; além do mais era
muito mais difícil achar um discípulo que um mestre. Este pensamento me reconfortou. Por sua vez,
ignorando o que me reservava o futuro, dedicava cada vez mais tempo livre a aperfeiçoar as práticas
ao meu alcance sem a colaboração de um mentor.
Então, um dia em que o céu estava muito límpido me apareceu uma pessoa que recém
chegara da Índia. Foi meu primeiro mestre espiritual ou guru.
Durante várias gerações sempre tinha havido um membro de minha família que vivia na
Índia; assim, pois, havia um motivo para que aquilo se sucedesse. Meu guru conhecia quanto a
mim se referia e estava inteirado de minha enfermidade. Havia muito que eu havia aprendido que o
estudante devia desprender-se de toda preocupação pessoal. Por isso não interroguei a respeito dos
mistérios de sua aparição e de seu conhecimento de minha existência. Bastava-me que me achasse
digno de consideração. Estava só de passagem e nosso encontro devia ser breve. Comunicou-se
comigo por telefone e combinamos a hora da reunião.
Ao aproximar-se o momento do encontro, minhas emoções se intensificaram ao máximo.
Minha imaginação cheia de ideias e ideais culminava em aturdimento. Planejamos encontrar-nos
depois da ceia no lugar onde se alojava. A visita que devia durar um par de horas prolongou-se por
toda noite. Nos separamos quase ao alvorecer. Era um homem de certa idade, alto e de traços
delicados que irradiava energia espiritual. Os olhos reluziam e sua voz ressoava como campainha.
Bastava sentar-me diante dele e escutar os sons que surgiam de seus lábios, sons cujo significado
literal apenas compreendia. Não obstante, me transmitiram seu significado de uma maneira que me
resulta difícil definir aqui.
Como era de esperar, minha primeira reação foi de abandonar a vida mundana e partir de
imediato para as montanhas onde passaria meus dias em idílica contemplação, como um recluso. No
entanto, meu guru me assinalou que esse era o caminho dos não iluminados e que tal precipitação
seria em vão. Me disse: “Toda ação sem o comando da inteligência é inútil”. Compreendi que seu
ponto de vista era sensato e pela primeira vez me dei conta que me chamavam à realidade.
Continuou dizendo que a senda da realização era breve, mas a da preparação era longa. Agregou
que nos anos seguintes eu não teria impaciência no tocante à chegada e que meu esforço seria
ardente.
Para que tivesse uma noção de lugar e compreendesse a importância da prática do Yoga
pelas pessoas de nossa Era, destacou em síntese os ensinamentos que lhe haviam chegado durante
os anos de discípulo, ensinamentos que proporcionavam ao estudante uma ideia do mundo.
Na filosofia hindu o universo em que vivemos tem 4 idades, da mesma maneira que nossa
terra tem 4 estações. Presumivelmente vivemos na Era conhecida como Kali Yuga. Pode-se
considerá-la como o inverno. Esta idade é reconhecida por suas múltiplas manifestações das quais
as principais são as ações dos homens. Supõe-se que revelam grande debilidade neste momento por
esgotamento de vitalidade. Se diz que as mulheres tomarão o poder. Por todo lado haverá comoções,
lutas, o caos. As pessoas mostrarão inquietude, e haverá muito falatório inútil, os corações humanos
estarão cheios de orgulho, vaidade, ignorância da Verdade real. Os homens se entregarão à
glutonaria à crueldade, o egoísmo, o engano, à malícia, à depravação. Dominarão a insânia, e
aumentarão muito os litígios. Diminuirá a amizade. Os homens preferirão o luxo e errarão
constantemente. Terá muita falta de distração. Se relaxará a moral e haverá muita hipocrisia.
Aumentarão as mortes por enfermidades causadas por Kapha (muco). Haverá grandes secas, fome,
inundações, furacões, terremotos, as nações do mundo lutarão uma contra outra sob a égide da paz.
As pessoas esquecerão dos ritos religiosos que serão formalidades vazias. Perderão de vista o
Dharma (a lei moral) que foi criada para aperfeiçoar a forma. É uma idade em que os homens estão
“ligados à terra”.
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Só há uma senda para a liberação durante esta Era e é a da Verdade. A senda para a Verdade
tem sido revelada para cada idade. Durante a primeira Era, Krita ou Satya Yuga se realizou
mediante o estudo dos Vedas, junto com a observância de Dharma.
Na segunda Era, Treta Yuga, os homens acharam mais difícil aderir às regras estritas dos
Vedas. Daí que apareceu esse monumento da literatura formado pelas Escrituras Smriti, leis de
Manu e Upanishads.
Na terceira Era, Dvapara Yuga, os homens abandonaram gradualmente as regras e normas
prescritas nos Smriti; então lhes foi revelada a literatura denominada dos Puranas.
Na quarta e última Era, Kali Yuga, quando Dharma (a lei das formas e as normas da vida
correta) foi totalmente destruída revelando-se para a liberação dos homens os Tantras (1) que se crê
tem o poder de conferir o Gozo e a Liberação. O caminho para a Liberação passava pela prática do
Yoga.
No entanto há uma grande variante no método do Yoga. Sofre mudanças em cada Era e é
distinto em sua aplicação a diferentes indivíduos. Estes tem sido classificados em 3 grupos gerais de
acordo com seus temperamentos. Os de natureza puramente física estão dentro da classe
denominada Pashu. A classe mental é conhecida como Vira, enquanto o último grupo, o mais
elevado que possui uma natureza extremamente espiritual pertence a classe Divya. É evidente que
pode haver uma mescla e superposição infinita destes 3 grupos. Daí que o culto e método de
aplicação serão diferentes em cada caso. Se ensina que nem todos os homens podem render culto da
mesma maneira nem podem render a suprema experiência mediante o mesmo e único processo. Por
essa razão, diferentes formas de culto e práticas são prescritas pelos gurus, de acordo com o
temperamento particular de cada indivíduo específico. O primeiro requerimento é, pois, para o
Guru, determinar as qualidades peculiares de seu discípulo antes de tentar iniciá-lo.
(1) Os tantras eram enciclopédias de conhecimentos de sua época porque tratavam quase todos
os temas, desde a doutrina da origem do mundo às leis que regem as sociedades e sempre
tem sido considerados a fonte de credos e práticas esotéricos especialmente as da Ciência
Espiritual, o Yoga cuja chave sempre tem o iniciado e só se transmitiu oralmente. Em termos
gerais é a designação dos manuscritos das diversas tradições que expressam a cultura de
certa época na história antiga da Índia.
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Ante minha insistência de que estava disposto a abandonar tudo e dedicar o resto de meus
dias à maneira de viver indicada, me assinalou que os 4 objetivos do homem conhecidos como
Chaturvarga devem ser realizados passo a passo unicamente.
O primeiro objetivo é o Dharma que requer que o indivíduo primeiro aprenda a viver de
acordo com a lei. Esta deve ser Natural e Ética em harmonia com a ordem social prevalecente onde
se vive. A Felicidade se obtém mediante a obediência à Lei, de maneira que deveria primeiro
aprender a aderir à lei social que conhece. Isto lançará as bases para o avanço posterior.
O segundo objetivo se denomina Artha e é o meio pelo qual pode alcançar a última meta. No
mundo em que nos achamos, é necessário prover as necessidades materiais como as de alimento e
alojamento; é essencial que obtenhamos certa medida de bem-estar material se queremos a
oportunidade de nos desenvolver. Por isso somos superiores ao reino animal que só vive ao dia.
Mediante o acúmulo de uma quantidade módica de riqueza que nos assegura a sobrevivência até um
ponto indeterminado do futuro, temos suficiente disponibilidade para dedicar uma parte de nossa
energia ao autoconhecimento, na pobreza, ao contrário, a dissipamos em inútil esforço para
sobreviver. Pouco importa que alguém faça conforme a lei e a ordem estabelecida e que esteja de
acordo com sua natureza porque as leis humanas com frequência são errôneas. Por outra parte se
alguém não pode em certa medida seguir a ordem estabelecida, se torna incapaz de cumprir com sua
própria natureza. Em todo momento é necessário usar a inteligência.
O terceiro objetivo é o Kama que é o desejo e sua realização. Isto significa sempre o desejo
correto e aqui é onde se necessita um mestre ou guia. O pai diz constantemente ao filho que não
grave suas iniciais na mesa da cozinha. O filho talvez não compreenda o motivo dessa restrição.
Mas seguramente chegará o dia em que compreenderá. O mesmo princípio pode ser aplicado a
maioria dos homens que para os iluminados são ainda crianças; creio que os psicólogos atuais
confirmam este ponto de vista. Logo me disse o guru que quem não tenha renunciado ainda ao
mundo deve buscar a felicidade mediante desejos e ações meritórios e os meios pelos quais se
realizam. No princípio as pessoas deveriam cultivar todos esses objetivos porque é inútil seguir um
só. Cada um, à sua maneira é um degrau na escada celestial para a perfeição. Há severas penas para
quem esteja sempre comprometido ao culto ritual com exclusão dos assuntos mundanos. Em nossa
parte do mundo há tempo e lugar para tudo.
O quarto e último objetivo de todos os seres que pensam e sentem é Moksha ou Libertação.
Tem havido uma grande polêmica filosófica quanto a natureza desse estado. Os Tantras ensinam
que é a união do eu pessoal (consciência pessoal) com o eu universal (consciência universal). Isto
pode se realizar descartando a condição de ignorância que lhes faz supor diferentes e se alcança
durante essa idade mediante a prática do Yoga. Desde o ponto de vista cristão se pode considerar
como chegar ao paraíso; para o budista seria alcançar o Nirvana. Não se tratará de que ambos se
referem ao mesmo objetivo, mas se expressam de maneiras distintas? Não nos apressemos a tirar
conclusões.
Os primeiros 3 objetivos se conhecem, agrupados, como os Trivarga e constituem a senda
para o prazer que no princípio é o caminho para todos. Os ensinamentos asseguram que o fracasso
em recorrer essa senda durante uma vida recolocam a necessidade de fazê-lo na próxima
manifestação terrena (2). Contudo, quando esta obrigação se cumpre o afortunado indivíduo está
preparado para realizar o último objetivo que é o da renúncia. O único lugar onde o homem pode
ganhar a Liberdade é neste mundo, daqui que sua maior bênção é o mero fato de estar vivo. Este
mundo oferece prazer e liberdade e se deve tomar um por vez. Esta é a lei divina.
Dentro da ordem estabelecida a primeira parte da vida deve dedicar-se ao estudo e a
preparação, a aquisição de conhecimentos. Depois o estudante deve seguir rigidamente a disciplina
de seu guru. Durante esse período que pode ser de um ano a vários, o discípulo deve observar
estritamente as regras de Grahmachayya, uma das quais é respeitar a continência durante todo o
período de iniciação. Ao finalizar, o mesmo deve retornar ao mundo e contrair matrimônio; deve
levar a vida de um dono de casa e acumular bens. Durante a idade madura se dedicará a ações de
caridade e piedade. Quando chegar aos 50 anos mais ou menos tendo realizado os 3 primeiros
objetivos deve deixar de lado todo prazer mundano e retirar-se para percorrer a senda da libertação.
O homem de hoje deixa a Bolsa de Valores para retirar-se e viver a vida cultural. Em nenhuma
circunstância deve deixar sua família passar necessidade. Isto é um pecado.
Quando a luz do novo dia começou a iluminar a casa, meu guru me recordou uma vez mais
que durante essa época não pode sofrer nenhum dano quem esteja purificado pelo conhecimento da
Verdade. Se dizia que havia só uma Verdade, mas 2 modos de conhecê-la: a direta e a indireta. Se
manifestava em todo aspecto da natureza e mediante nossos sentidos era possível para todos
conhecê-la. O homem foi dotado da aspiração de seguir o caminho correto, mas por ignorância do
verdadeiro propósito do sentido se perdeu nessa aspiração. Para aprender a Verdade se ensinou ao
indivíduo a seguir o curso dos prazeres terrenos porque desta maneira semearia em si mesmo o
desejo de perceber diretamente a Verdade. Isto poderia realizar-se só mediante o Yoga. É um
método que requer cuidados preliminares e uma fé intensa. Não é para todos. O culto do homem
sempre há de estar de acordo com seu Adhikara ou competência e somente se o pratica dentro de
seu Adhikara gozará de seus frutos. Só assim aprenderá a conhecer a Verdade e se estiver bem
imbuído dela evoluirá nesta Idade.
Para não ser prejudicado se lhe ensina a viver livre de toda malícia, inveja, hipocrisia, ódio,
falsidade; deve ser sincero e honesto dedicado ao bem dos demais. Se diz que não sofrerá dano
algum quem estiver acompanhado dos mestres. É importante esforçar-se por alcançar os mais
elevados níveis de pensamento porque as ideias são o impulso motriz da força da vida. Desejar
intensamente a perfeição que seja esta a verdadeira estrela guia da vida de alguém é achar-se no
caminho de alcançá-la.
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Antes de despedir-se, meu guru me recordou que o objetivo mais elevado de minhas
atividades neste momento era preparar-me em primeiro lugar para ser economicamente
independente, porque a pobreza era o pior dos males. A pobreza física conduzia inevitavelmente à
pobreza espiritual. Contudo a pobreza mais degradante era a da imaginação. De maneira que
constantemente devia manter-me em contato com os mestres das idades lendo toda literatura
filosófica que pudesse conseguir. Nela se incluíam livros sobre o pensamento ocidental e oriental.
Naturalmente estava ansioso por começar de imediato minhas práticas de Yoga. Me
desalentou a respeito, insistindo que tudo devia chegar em sua oportunidade. Naquele momento
meu problema consistia em adquirir os rudimentos, colocar os cimentos. Quando estivesse pronto,
chegaria o resto. Devia manter um padrão de saúde e desenvolver toda energia física que me fosse
possível. Até alcançar uma mais profunda compreensão de seus princípios e desenvolver o controle
iogue sobre o corpo devia continuar vivendo estritamente de acordo às normas da saúde, respeitar
minha dieta de vegetais e esquecer o hábito de fumar e a tolerância para as bebidas.
Me disse que poderia ser bastante fácil condicionar a saúde física com os métodos do
Ocidente. Somente quando chegasse o momento de aprender as técnicas necessárias para a
purificação corporal e o controle respiratório careceria de valor direto o treinamento ocidental. Para
este fim me daria 2 séries de exercícios, uma para o aspecto físico de meu corpo e a outra para o
mental. Esta última seria muito útil em relação a minhas leituras de filosofia Tantrik. Me prometeu
uma lista de obras sobre esta filosofia.
Sugeriu que enquanto lesse, estivesse sentado em um dos muitos Asanas que se mostram em
quase todos os livros de Yoga. Os Asanas são as posturas distintas que alguém executa. Não havia
que preocupar-se com o motivo das mesmas ou especular sobre a natureza de seus benefícios. Me
bastava saber que podia adotá-las no momento oportuno.
Capítulo II
ALGUNS PRELIMINARES
Meu Guru insistiu em que devia tratar de aprender uma postura. Era a de Padmasana ou pose
do lótus. Se considera que é o mais avançado dos asanas e devia aprendê-la se queria obter algum
progresso na prática do Yoga. Se realiza sentando-se no chão com as pernas estiradas. Logo se
dobra a perna direita à altura do joelho de maneira que seja possível retraí-la colocando o pé sobre a
articulação da cadeira esquerda com o que o pé fica junto ao início da coxa esquerda ou virilha com
a planta para cima.
Depois se dobra da mesma maneira a outra perna enquanto o pé descansa sobre a cadeira
direita o mais perto possível da virilha direita. Os calcanhares se colocam de modo a ficar frente aos
ossos do púbis, apertando a parede abdominal adjacente. As plantas dos pés devem exercitar-se para
manter eventualmente sua posição para cima. Para descansar e meditar nessa posição devem
colocar-se as mãos sobre os calcanhares com as palmas para cima; uma mão se apoia na palma da
outra. Se a perna esquerda está acima, a mão do mesmo lado deve descansar sobre a direita e vice-
versa.
O guru aconselhou-me a não me apressar e realizar o Asana pouco a pouco, até poder
manter-me cômodo em tal postura. Era da maior importância para o futuro trabalho que não tentasse
conservar a postura durante mais de uma hora sem assessoria de um especialista. Não sei como
pude manter-me assim por uma hora.
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Meu primeiro exercício era aprender a prática denominada Uddiyana, ou controle intra-
abdominal. Para isso deve-se elevar e baixar as vísceras e o diafragma, o que se alcança mediante
alguns efeitos fisiológicos. A debilidade dos músculos de toda a região abdominal provoca o êxtase
de seus órgãos e partes; o funcionamento saudável desses órgãos é da maior importância no Yoga e
na terapia iogue. Por meio do Uddiyana os nervos e músculos desses órgãos se submetem ao
controle da vontade e pelo suave movimento do estômago e intestino os órgãos logo perdem sua
imobilidade e atuam com crescente vigor proporcionando abundante saúde e força ao aluno. Meu
guru não aprofundou os benefícios psíquicos desta prática porque limitava suas instruções ao que se
refere a saúde física para que eu descobrisse o resto à medida que desenvolvesse a prática.
A técnica para esse exercício era parar com os calcanhares a um pé de distância e o corpo
dobrado para frente, as mãos ligeiramente encurvadas e colocadas sobre os joelhos. Se trata de que
o corpo adote uma posição de semiagachamento enquanto a coluna vertebral descreve uma curva.
Se inicia a prática com uma exalação total que permite ao diafragma ascender até a maior altura
possível. Eliminado todo o ar, se contraem vigorosamente os músculos do abdome, o plexo solar
sobe sob as costelas e o umbigo está o mais próximo da coluna vertebral. Esta contração ocasiona
uma maior inclinação do tronco para adiante que é o desejado.
Nesta ação há uma contração dos 2 músculos das costas. Como esses músculos são paralelos
e controlam a coluna vertebral, mantendo-a em seu lugar, atuam exercendo um movimento para
cima e dentro dos 2 músculos que correm ao longo do abdome desde a união das costelas até a
pélvis, provocando um aspecto de concavidade. O diafragma ocupa então a posição mais alta
possível tendo sido aspirado para a cavidade torácica. Para ajudar o esforço muscular, deve-se
encurvar um pouco mais e pressionar um pouco mais os joelhos com as mãos, empurrando para
cima todo o tronco. Havendo levado todos os músculos o mais para dentro e acima possível, para a
coluna vertebral se realiza uma ação como de vômito, consiste em comprimir as vísceras e movê-las
para cima. Este movimento para cima e para dentro deve continuar com repetidos relaxamentos dos
músculos abdominais. Quando já não se pode suspender mais a respiração, se relaxam todos os
músculos e o abdome volta a sua posição normal, então se volta a aspirar.
No princípio o estudante deve proceder lentamente. Em nenhum momento tem de esforçar-
se e chegar além de sua capacidade; a intensificação dos exercícios se fará de forma natural. No
começo não fará mais contrações e relaxamentos para suspender a respiração dos que lhe seja
possível. Em outras palavras, exalará todo o ar de seus pulmões e logo contrairá e relaxará seus
músculos abdominais 10 ou 15 vezes segundo o tempo que possa conter o alento sem incômodo.
Então interromperá o exercício e voltará a respirar normalmente antes de repetir o processo.
Denominemos a esta a primeira etapa. O número de repetições dessa etapa que fará o
estudante dependerá da força dos músculos abdominais. E não os forçará até a fadiga. Advertiu-me
que a regularidade era absolutamente essencial. Isto é, quando decide que pode fazer 10 séries de 10
contrações cada, totalizando 100 contrações vigorosas é imperativo que esse padrão seja mantido
regularmente todos os dias a mesma hora durante um prolongado período. Aconselharam-me
praticá-lo cada manhã e cada tarde e o mínimo de vezes que devia realizar para obter benefícios era
750 e o máximo 1500. Insisti em proceder lenta e cautelosamente observando com atenção toda
mudança que tivesse lugar enquanto praticasse. Minha meta era fazê-lo 1500 vezes diariamente
durante um período continuado de 6 meses.
3
Amanhecia e me revelavam um novo mundo. Meu guru me havia dito que o Yoga havia sido
idealizado pelos antigos mestres como um método para que os homens desta época alcançassem a
direta compreensão da Verdade. E insistiu que Padmasana, Uddiyana, Nauli e Sirshasana eram os
cimentos da prática do Yoga.
Tendo me revelado as técnicas e os ensaios para aperfeiçoá-las, o resto era assunto meu. Não
me aconselharia como começar a desenvolvê-las nem a ordem em que haveria de seguir para isso.
Era, para recorrer a um lugar comum, um caso de “faça-o ou deixe de fazer”. Talvez fizesse parte de
meu desenvolvimento o fazê-lo todo pelos meus meios.
Antes de separar-nos tinha que dizer-me algo mais, algo que considerava muito importante.
Disse-me que no oriente se costumava fazer com que o discípulo realizasse muitos ritos sagrados
antes de iniciar-se nas práticas; depois, ao ser iniciado nas práticas devia fazer voto de “silêncio”.
Isto evidentemente tinha um significado, um sentido que pertencia a uma antiga verdade
mas cuja forma exterior mudava com os tempos. O guru me lembrou a frase bíblica: “não lances
tuas pérolas aos porcos”. Isto é, é um erro dar algo ao estudante até que esteja em condições de
recebê-lo. Me perguntou se meus pais me haviam dado um relógio de 21 rubis ao presentear-me
com o primeiro relógio que tive quando garoto. Evidentemente a resposta era negativa. No entanto
usava o barato “Ingersoll” cuja garantia havia muito que vencera. Me explicou que de certo modo
eu havia realizado meus ritos sagrados durante minha enfermidade porque através daquela
experiência havia chegado à realização de que a senda para a felicidade eterna devia achar-se no
íntimo e que na busca de um método conveniente para mim achava que todas as minhas esperanças
residiam na prática do Yoga.
O homem poderia tratar de abreviar e contornar todo formalismo mas em última instância
haveria de descobrir que não existia “um atalho para chegar ao céu”. A natureza nos oculta seus
segredos. É necessário seguir a Senda da Adoração ou a da Experiência que também pode
denominar-se Senda do Sofrimento. Podemos ver neste, algo de nossa própria filosofia que tratamos
de transmitir aos jovens estudantes que finalizam os cursos secundários. Se lhes ensinam que
podem preparar-se para a vida de 2 maneiras: continuar seu aprendizado assistindo ao Colégio ou
aprender na Escola dos Golpes Fortes. É este o caminho mais árduo.
Em nosso tempo as formas são vãs; os homens tem perdido de vista a Lei pela qual foram
criados. Portanto me resultaria inútil fazer voto de Silêncio. Seria uma formalidade nitidamente
superficial sem verdadeiro propósito. Contudo, devo tratar de manter algo do espírito de tal voto.
Disse-me que jamais haveria de falar de minhas práticas a ninguém. Devo circunscrever meus
esforços a mim mesmo. Como? Era assunto meu. Na realidade me assegurou, não havia nada de
misterioso nessas práticas. Podia ler sobre elas em muitos livros. Sem dúvida – me disse- não há
nada misterioso sob o Sol. Tudo se realizava de acordo com a Lei Divina. A felicidade era
harmonia. Isto significava que o indivíduo, vivendo de acordo com a Lei de que toma parte achará a
felicidade. Essa mesma Lei é a que proíbe que revele meus esforços aos demais. O Silêncio é Poder.
Me explicou ainda que as ideias eram o impulso motriz da vida e que as implantam na
consciência nossas ações e experiências. Não deve confundir-se isso com a mera informação dos
fatos que acumulamos no curso do tempo. Não somos impulsionados para a ação até que nossos
pensamentos tenham expressão nos sentimentos; porque ninguém se transforma somente pela
lógica. Há muitas maneiras de levar os pensamentos a nossos sentimentos e uma delas consiste no
sofrimento mental. A única maneira de obter benefícios das ideias nascidas durante minha
enfermidade era transformá-las em ações. Se me limitasse somente a falar não passaria muito antes
que se dissipassem. Jamais devemos permitir que nossa antecipação supere a realização, mas isto é
o que sucede com frequência. Só depois de haver aperfeiçoado as práticas e de ser iniciado poderia
falar disso sem limitações. Não devia fazer um voto comum. Isso era o que queria explicar-me: falar
de uma coisa antes de fazê-la causava uma perda de energia que devia utilizar em sua realização.
Chegou o momento de despedir-me; às 6 devia abrir o restaurante onde trabalhava para
ganhar o suficiente para frequentar a escola, porque meus pais afirmavam que uma pessoa sempre
deve ganhar seu sustento. Enquanto estreitava sua mão, suas últimas palavras foram:
“Paciência e perseverança são a chave da salvação”.
Capítulo III
COMEÇOS
É demais dizer que encontrei infinitas dificuldades nos meus esforços para cumprir o
programa de práticas que me assinalou meu guru.
Na escola sempre havia tido um condiscípulo com quem competir, para não referir-me ao
tempo limitado de que dispunha. Seguia os cursos e tratava de cumprir o plano de estudos. Meu
problema não era fácil mas devia resolvê-lo e assim o fiz.
O esforço tinha também seu lado alegre. Recordo que quase me tiraram de uma casa de
pensão. Cada mês, quando a proprietária vinha receber o aluguel, via a mancha gordurosa na parede
onde friccionava meus calcanhares quando me punha de cabeça todos os dias. Rapidamente me deu
ordem de tirar as manchas, mas voltaram a aparecer no mês seguinte. Parecia não haver motivo para
explicar a misteriosa reaparição da mancha. Depois de 7 ou 8 meses com um gesto de desespero me
censurou: “Céus, que faz, rapaz para sujar cada mês a parede no mesmo lugar?”. Confuso, tratei
desesperadamente de encontrar uma desculpa. Sugeri que devia haver um cano de água quente ou
alguma outra causa que fazia transpirar a parede neste lugar. Duvido que minha explicação a tenha
satisfeito, mas pelo momento ficou tranquila. Quando voltei à escola no ano seguinte minha
habitação já estava ocupada e tive que buscar outra vítima.
Em pouco tempo recobrei a saúde e pude passar o verão nas montanhas, trabalhando nas
minas de meus pais. Levantando-me às 5 da manhã tive suficiente oportunidade de cumprir a
disciplina que me havia imposto para o verão. As tardes, depois do trabalho as utilizava para as
práticas e para ler. Quanto aos livros recomendados pelo meu guru, que tanto necessitava, se
tratava de pedir, conseguir emprestado ou roubar. Consegui obter muitos dos mais importantes.
Sempre podia ler até altas horas da noite porque não me perturbavam visitantes ou cinematógrafos.
Os verões na mina constituíram a parte mais proveitosa de minha vida.
A cada ano que transcorria com a gradual perfeição dos exercícios comecei a ampliar meu
panorama de experiências visitando as grandes zonas metropolitanas como Los Angeles, São
Francisco, Chicago e finalmente Nova York. Passei a maior parte do tempo recorrendo bibliotecas
públicas e privadas. Tratei de buscar a todos os que conheceram algo dessas práticas. Sempre me
apresentava como um noviço porque meu guru me havia dito que nunca devia fazer alarde por
conhecer algo. Isto se devia a que cada indivíduo pode oferecer um aspecto diferente e só
conservando a mente independente poderia estar em condições de receptividade. Em nenhum
momento formulei uma crença minha.Limitava-me a recolher preceitos filosóficos.
2
Durante aqueles primeiros anos me mantive em contato com meu guru mediante uma
constante correspondência. Escrevia com frequência cartas muito extensas. Devia tomar nota das
ideias que surgiam em nossa correspondência. Nunca me explicava meu problema. No melhor dos
casos dizia que eu estava no caminho correto. Seu método não era ensinar-me, senão estimular-me a
autoaprender. Se limitava a chamar minha atenção a certos aspectos do problema segundo o que lhe
escrevia. Isto me abria uma nova porta, para encontrar na continuação outra fechada. Jamais
esquecerei as semanas sucessivas de fracassos que transcorriam quando pensei que compreendia
tudo em conjunto só para que me chamasse à atenção a circunstância de que o método de vida
filosófico oposto fosse tão factível. Tudo me pareceu inútil porque parecia não haver resposta. Mas
então me escreveu que podia explicar tudo e que oportunamente me daria um Yantram (diagrama ou
esboço que abarcaria todos os aspectos de nome e forma manifestos na natureza sendo possível ver
como os diversos fenômenos da vida encaixavam num todo coerente. Qualquer modo de vida seria
correto de acordo com a Lei Universal. Mas nem todas as sendas conduziriam diretamente à última
meta ainda que eventualmente todos os que se esforçassem perseverando encontrariam o Caminho
Real ao Céu, a Senda do Conhecimento.
Periodicamente me referia em minhas cartas às experiências íntimas que alcançava em
relação às minhas práticas à medida em que as desenvolvia. Temia haver especulado
prematuramente com minha capacidade. Desta maneira alterava constantemente meu sistema
enquanto fazia ensaios sobre os limites a que podia chegar levando a vida ativa que é normal para o
norte-americano. A resposta de meu mestre foi que devia aprender a usar minha cabeça (não limitar-
me a parar sobre ela) porque o senso comum era o melhor mestre. Devia advertir a mim mesmo
quais eram os erros. Em muitos casos o motivo de minhas lamentações desaparecia por completo
antes de receber sua resposta, porque estava muito longe e o correio demorava muito. Se durante
minhas leituras reparava em uma prática que desejava aprender, a invariável resposta de meu guru
era negativa. Dizia que chegaria o momento oportuno para tudo. O entusiasmo deve ser controlado.
A perfeição de uma prática era a de todas. Finalmente comecei a captar suas indicações. Se
começava a saltar de uma coisa a outra só chegaria à confusão e a não conhecer coisa alguma. Não
chegaria a nenhuma parte.
3
Então me concentrei em 2 das 6 práticas. Dhauti e Neti. Meu guru reconhecia que não era
necessário seguir os métodos Yoga de purificação corporal quando existia um método ocidental de
singular eficácia. Os métodos de Yoga haviam sido criados havia séculos e se adaptavam a sua
maneira de viver. As formas haviam sofrido uma constante transformação e os novos métodos são
tão bons senão mais adequados para nossa maneira atual de viver. Mas como podia estar seguro?
Por isso devia adquirir primeiro a experiência de seguir estritamente suas normas e teria que
aprender todas as suas técnicas. Ao dominar os métodos do Oriente podia readaptá-los ao Ocidente.
Até que não os dominasse por completo e fosse iniciado em seus esotéricos objetivos apenas podia
julgar seu verdadeiro significado. O que parecia um exercício físico desnecessário podia ser de
importância primordial.
Não devia formular perguntas, senão aprender tudo gradualmente. Já o disse antes, mas há
que insistir constantemente nisso. Pelo momento, contudo, em vez de empregar o processo de Basti,
podia utilizar o enema para higienizar o cólon; seu método requeria outra técnica que ainda devia
aprender. Quanto aos processos de Trataka e Kapalabhati, podia esperar, seriam utilizados no
momento oportuno.
Dhauti é um processo para higienizar e massagear com uma tela a membrana mucosa da
garganta, o esôfago e o estômago. Recomenda-se para eliminar o excesso de muco, bile e outras
impurezas do estômago. Antes de praticar Yoga, deve estar livre de muco, excesso de bile e suco
gástrico. Para isso se utiliza uma tela. Deve ser de 3 ou 4 polegadas de largura e 22 pés e meia de
comprimento, uma gaze de cirurgia de 4 polegadas, cortada de comprido adequado se obtém
facilmente e pode usar-se para tal fim.
A técnica é simples. Se toma um dhauti curto de uns 2 ou 3 pés de comprimento e depois de
umedecê-lo cuidadosamente se espreme para que fique moderadamente saturado de água. Se toma
uma ponta entre o indicador e o polegar e se insere o mais profundamente na garganta. Ali se deixa
para ser deglutido como os alimentos. Uma simulação de comer enquanto se insere suavemente o
dhauti pedaço a pedaço com a mão junto ao processo de ajudá-lo com a língua, levará a tela ao
estômago. Às vezes um movimento do tronco, como se engolisse uma cápsula grande, acelerará o
processo.
No princípio se engole algumas poucas polegadas. Depois que a garganta começa a
acomodar-se se engole um pé mais. Toda irritação da garganta se curará logo, de modo que não há
que se alarmar. Se persiste o rejeito da garganta, se aumenta a saturação da tela. No princípio o
dhauti pode submergir-se em leite ou água açucarada se se experimenta muita dificuldade para
engolir. Quanto mais tempo se investe no começo, mais fácil será engolir o dhauti. Depois que a
garganta se adaptou à tela se verificará que mediante uma prática diária, sistemática, em uns 15 dias
se poderá engolir todo o dhauti. Realmente é muito simples.
Se se provoca tosse, se congestionam os olhos pelas lágrimas e se espirra, só posso
transmitir o conselho que me deram: “não desesperar”. Posterga-se a tentativa para a manhã
seguinte. Em nenhuma circunstância se há de forçar os acontecimentos e em nenhum caso se
recorrerá à violência. Ainda na intenção de maior êxito, a garganta, o esôfago e o estômago se
ressentem pela irritação que causa a tela e há tendência a expulsá-la. Quando isso se sucede se fecha
a boca e se descansa alguns minutos. Depois de 2 ou 3 espasmos o sistema se achará em condições
de tentar novo esforço.
Retirar o dhauti é muito simples porque desliza por sobre o muco que absorve. Só necessita
um puxão suave. Às vezes a garganta se fecha em torno da tela. Mas logo se pode abrir e tirar o
dhauti com ambas as mãos. O tempo que se investe em engolir o dhauti, depois de haver
aperfeiçoado o processo não é mais que 10 minutos. De nenhuma maneira se deixará o dhauti no
estômago durante mais de 25 minutos porque o estômago atua sobre a tela do mesmo modo que
sobre os alimentos depois desse período: há possibilidade que atravesse o esfincter do piloro.
Se por uma causalidade quase impossível toda a tela cai no estômago não há que alarmar-se.
Ingere-se um emético e se vomitará. Uma solução salina saturada será muito eficaz.
Me aconselharam a realizar a prática todas as manhãs enquanto ensaiava a posição de cabeça
para baixo. Isto era a fim de eliminar o muco acumulado durante a noite. Não me levou muito
tempo dominar o processo, mas devo confessar que passei momentos difíceis. Sempre deixava soar
o toque da porta. Às vezes também repicava com tenaz insistência a campainha do telefone porque
a pessoa que chamava sabia que eu estava de manhã em casa.Fazia-lhe supor que estava na
banheira. Ou às vezes meu interlocutor ficava perplexo enquanto tratava de falar-lhe por telefone
com uns 4 metros e meio de tela dentro de mim e o resto pendendo da boca. A intimidade era algo
essencial que não se podia alcançar de todo.
A outra prática que aperfeiçoei por então foi a de Neti, para higienizar os seios cranianos, a
zona entre sobrancelhas e eliminar o muco da cabeça. No princípio se usa uma linha fina. Se insere
em uma das narinas enquanto se sustenta o outro extremo com a mão. Inalando com força o fio
passará à garganta, onde se pode agarrar e se tira pela boca. Então se move atrás e para frente
através do nariz e da boca. Depois de uns minutos se repete a operação de outro lado. Em curto
período se pode usar um fio mais comprido.
O processo úmido do Neti consiste em aspirar água pelo nariz e eliminá-la pela boca. O
processo pode inverter-se tomando um bocado de água e eliminando-a pelo nariz. Todas essas
práticas são muito simples.
5
Ao sair da escola de Direito, voltei a passar férias em meu refúgio das montanhas, na mina,
para recuperar-me. Comecei a perguntar-me onde iria e porquê. Verdade que me haviam dito que
acharia a maneira de ser economicamente independente. Parecia-me que se me dedicava à prática
da advocacia não disporia de tempo para meus outros estudos, de maneira que decidi seguir
Filosofia. Isto permitiria não só ganhar o sustento, senão que, por outro lado, poderia dedicar-me ao
que havia convertido em meu principal objetivo. Se alguma vez havia de difundir os ensinamentos
orientais na América, seria necessário que me familiarizasse primeiro com nossa herança filosófica.
Confiei que estaria em posição de interpretar o Oriente desde o ponto de vista do Ocidente. Como
passo final de minha preparação no Ocidente me inscrevi na Universidade de Colúmbia com a
intenção de graduar-me em Filosofia.
Então havia aperfeiçoado todo o treinamento físico aconselhado por meu guru naquela noite
inesquecível. Comprovei que era verdade quanto me havia dito e ganhei uma riqueza íntima de que
nunca poderia ser despojado. Estava completamente convencido de que essa maneira de viver era a
correta para mim. Dessa vez havia chegado à realização de quanto devia aprender. Sabia que ainda
viajava à Sombra da Verdade mais que à sua Luz. Isto só poderia alcançar viajando à Índia para ser
iniciado. Meu guru, com quem trocava tão frequente e volumosa correspondência estava na Índia.
Havia insistido em que não viajasse até haver-me equipado plenamente com os conhecimentos
necessários para mim no Ocidente. Dizia que se eu tivesse que ensinar aos outros, era imperativo
que fizesse primeiro um estudo intensivo de todos os ensinamentos sobre sua maneira de viver
porque aos homens somente se lhes podia ajudar segundo suas próprias experiências. Não só devia
estudar Filosofia como se aprende nos círculos acadêmicos, senão que aprenderia os ensinamentos
de todas as seitas religiosas que existiram em meu país. Me recordou novamente que a Verdade
tinha um infinito número de manifestações e que nenhuma seita, ordem ou credo tinha uma
prerrogativa divina na Senda Real para o Céu. Havia tantos caminhos distintos quanto classes de
pessoas, mas devia conhecê-los todos para poder seguir o meu. Tentei fazê-lo.
O dia dos dias chegou quando, tendo cumprido os requisitos indicados por meu guru, parti
para Índia para empreender meus estudos sob sua supervisão direta. Pareceu que um sonho se
convertia em realidade.
Capitulo IV
A Índia tem sido acertadamente descrita como “um país que ninguém conhece. Um milhão e
oitocentas milhas quadradas em que se alternam os altares e a sujeira, a fantasia e a imundície, os
rajás e as ruínas; um caleidoscópio de campesinos e pobres do sagrado e de ódios, pó, diamantes e a
morte; mas sempre um país de mistério”.
Ao chegar a Calcutá estava tão excitado que não pude ocupar-me dos detalhes de controlar
minha bagagem e ainda ignoro como chegaram meus baús no hotel. Recordo haver tomado um
“gharry” aberto (taxi hindu) conduzido por um “sikh” de espessa barba que vestia uma camisa cáqui
empapada de suor e ao voltar a cabeça quando nos afastamos do cais vi que me seguiam os baús
transportados por um par de “collies” de esquálida aparência.
Havia reservado cômodo em um hotel onde os empregados me saudaram como se fosse seu
antigo amo. Quando cheguei a meu quarto me despi e pus em movimento o grande ventilador.
Ainda assim transpirava como se trabalhasse com picareta e pá sob o sol do deserto do Arizona.
Depois de beber o sumo de um par de limões espremidos, escrevi uma carta a meu mestre,
notificando-lhe minha chegada. Havia transcorrido certo tempo desde que recebera sua última
mensagem porque estava muito ocupado para escrever-lhe. Chegava ao final as monções e me
disseram que a maioria das vias férreas estavam interrompidas. Isto significava que poderia haver
considerável demora antes de receber resposta.
Depois de fazer várias viagens por dia à minha caixa postal durante quase 2 semanas,
chegou a mensagem que estava esperando. Não a reconheci em princípio porque provinha do chefe
da família com a qual havia residido meu mestre durante alguns anos. Se costuma na Índia que uma
família rica tome a seu cargo um homem santo e os membros da família são denominados seus
protetores espirituais. A primeira página era uma comprida e fervorosa saudação de boas vindas à
Índia. Depois anunciava que meu mestre estava ausente pelo momento e que um membro da família
viria me visitar. Fiquei excitado pela expectativa.
No dia seguinte chegou o filho mais velho da família. Tinha a minha idade. Havia ouvido
falar muito dele. Durante os últimos anos haviam planejado que quando eu chegasse a Índia, os 2
começaríamos a estudar o sânscrito sob a direção de seu erudito pai. O encontro foi rápido. Logo
nos reconhecemos porque previamente havíamos trocado fotografias. Conversamos tão abstraídos
que passaram várias horas antes que lhe perguntasse quando chegaria meu guru. Respondeu-me que
vinha falar sobre isso. Não estava preparado para tal comoção: meu guru havia falecido poucos dias
antes de minha chegada.
2
Não me atrevi a revelar a meu visitante meus sentimentos íntimos. Na realidade não captei
todo o significado daquela perda até que fiquei só e me dominou a sensação de fracasso. Onde
acharia orientação? Estava muito deprimido. Naquele momento compreendi quão profundo era o
abismo que separava o estudo da Filosofia de tomar com filosofia as tragédias da vida. Para mim,
nesse momento, a morte de meu guru era uma tragédia, ainda que para aqueles homens santos a
morte era outra parte da vida, como o nascimento. Dava ao espírito humano a oportunidade de
revitalizar-se e manifestar-se de novo em outra forma.
No dia seguinte me visitou o pai do jovem, um erudito de uma família em que houve sábios
durante várias gerações. Compreendia minha perda, que também era para ele. Aparentemente
haviam falado de mim durante anos e conhecia minhas cartas que lhe revelaram o gradual
amadurecimento de minha personalidade. Esse conhecimento era uma grande vantagem para mim,
porque as pessoas sinceras da Índia não se revelam aos estrangeiros nos primeiros dias de
relacionamento. Muitos chegavam e iam ostentando suas crenças. Uma vez superado esse
obstáculo, não poupariam tempo e esforço para fazer tudo que estivesse a seu alcance para que o
outrora estranho continuasse sua busca e na verdade consideravam que era seu dever fazê-lo.
Meu visitante sugeriu que viesse rapidamente a um Tantrik, que seria mentor de meus
próximos estudos. Dito e feito. Chamamos um “gharry” e saímos em busca do Tantrik que meu
companheiro não conhecia pessoalmente. Abrimos caminho entre as características multidões de
uma grande cidade hindu detendo-nos na casa de um parente a certa distância da residência de meu
amigo. Daí nos dirigiram para a casa de outro amigo que nos indicou, por sua vez, consultar a um
terceiro. Por fim nos encontramos frente a um grande edifício rodeado por um alto muro cuja
entrada estava fechada por uma gigantesca porta de ferro.
Depois de algumas explicações, o porteiro encarregou outro servidor para que anunciasse ao
dono da casa a chegada de estranhos. Uma vez admitidos, entramos na casa, um edifício de
ladrilhos vermelhos de dois pisos. Um servidor nos conduziu ao estúdio de nosso anfitrião no
segundo piso onde em seguida nos serviram refrescos. Depois de nos apresentar, meu amigo
explicou os motivos daquela intrusão. Logo se estabeleceu uma cordial relação. Resultou que nosso
anfitrião era íntimo amigo do Tantrik a quem desejávamos ver.
Como anoitecia, pedimos para nos retirar sem demora para poder visitar de imediato o
Tantrik para quem tínhamos já uma apresentação. Ao chegar, nos conduziram ao santuário privado
do homem a quem buscávamos. Meu amigo explicou o objetivo de nossa visita e, como já era tarde,
deixou que ficássemos.
Permaneci longo tempo com o Tantrik depois da partida de meu amigo. Já no primeiro
encontro tive a sensação de que neste homem estava a verdadeira fonte do que buscava há tanto
tempo. Alto, de rosto gentil, com a luz da inteligência e a compreensão espelhada em sua face, me
pareceu como um pai. Partiria dentro de alguns dias para passar férias fora do calor da cidade em
seu refúgio na floresta e me perguntou se poderia ir com ele. Como acabava de passar a monção, a
temperatura aumentava cada vez mais e a oportunidade de passar em regiões arborizadas e mais
frescas prometia uma mudança bem-vinda. Além do mais meu anfitrião sugeriu que nos daria um
tempo de ócio que nos permitiria conhecer-nos melhor.
Recordei das palavras de meu guru: “quando estiver preparado, aparecerá o mestre.”
3
(1) viver fisicamente no mundo mas não estar apegado a ele – (nota do tradutor)
4
SIGNIFICADO DO YOGA
“Assim como a água flui continuamente de um copo partido, o período de nossa vida é
constantemente abreviado; contudo a morte toma parte da vida tal como a noite é parte do dia”.
Vida e morte são apenas 2 aspectos da natureza. Uma funciona desde o exterior e tende a manter à
parte os centros individuais; a outra faz desde o interior em um esforço por perpetuar-se. A força
externa que nos separa é a Morte; a interna que mantém unidas nossas unidades de experiência é a
Vida. Ambas constituem o processo de evolução.
Antes de poder compreender totalmente o homem, temos que examinar a força que o
sustenta e o converte no que é. Estas energias mais sutis, mais abstratas, são sempre invisíveis. Os
aspectos físicos do organismo podem ver-se através de seus instrumentos mas as energias abstratas
requerem o poder da percepção espiritual. O Yoga é o método que faz possível isso. Para alcançar
esse fim o primeiro objetivo é dominar os 6 inimigos :
1.O desejo de gozos sexuais e outros.
2.O impulso de prejudicar o próximo.
3.O apetite por riqueza.
4.Ignorância do real.
5.Orgulho de casta, riqueza, instrução, etc.
6.Inveja.
Isto tem que ser conquistado por “as oito ramas” do Yoga, segundo os ensinamentos do Raja
Yoga que é a conclusão do Yoga. Dividem-se em práticas externas e internas. As primeiras
consistem no aspecto de controle mental das distintas energias corporais.
1.Yama, controle.
2.Niyama, regulação.
3.Asana, postura.
4.Pranayama, práticas de respiração.
5.Pratyhara, restrição, retiro.
Os processos internos, que culminam ao alcançar a percepção espiritual, são:
6.Dharana, concentração.
7.Dhyana, meditação.
8.Samadhi, comunhão ou estado de superconsciência.
Dado que esses “oito ramas” são tão fundamentais para quem se prepara para praticar o
Yoga, seria aconselhável apresentar um breve esboço dos princípios que estão por trás desses
passos, coisa que fiz comigo. Isto permitirá a cada estudante estimar por si mesmo como podem
aplicar-se os distintos princípios em seu ambiente atual.
Yama e Niyama proporcionam a disciplina mental, requisito prévio a toda cultura Yoga.
Tentam liberar a mente das emoções fortes e permitir ao indivíduo desenvolver a satisfação tão
essencial para uma mente perfeitamente equilibrada. Yama requer a disciplina para restringir as
tendências ao mal que herda todo ser. Sob essa denominação se incluem as mais elevadas máximas
morais de uma natureza religiosa e ética. Provê o seguinte:
1.Negação a prejudicar os outros, ausência de toda violência para com todos os seres
viventes, ausência de rancor contra o agressor, imperturbabilidade, compaixão para com todos.
2.Evitar o inexato, prática da inocência universal da humanidade.
3.Negativa a roubar.
4.Negativa ao prazer sexual.
5.Ausência da cobiça, não desejar o que pertence ao outro, desinteresse, não aceitar
presentes.
6.Restrição de alimentos às necessidades essenciais para a conservação do organismo.
7.Pureza perene.
Niyama proporciona disciplina no campo dos atributos morais, fortaleza de caráter,
tolerância, paciência em sofrer os danos que ocasiona o destino, não lamentar-se, manter a calma
em circunstâncias tendentes a provocar vexação e irritação. Requer penitência, satisfação,
altruísmo, purificação dos pensamentos, crer na continuidade de Jiva (alma) conducente à prática de
Dharma (mérito religioso), atender aos ensinamentos religiosos e filosóficos, detestar o ruim e
perverso, a discriminação, recitar Mantras (sons místicos) com concentração à maneira indicada
pelo guru. Deve fazer a caridade segundo os meios de que dispõe e pagar as dívidas ao mestre e
mentores que nos tem beneficiado. Também se deve adorar a única Suprema fonte de sabedoria e
poder e sentir devoção à própria forma do Ser Supremo adotada pelo Sadhaka. A higiene também se
inclui nesta divisão. O maior cuidado em atender o organismo e as roupas ficam a cargo de cada
um. Yama e Niyama significam moderação em todo hábito e fé constante no Supremo.
Diz-se que a dieta frugal é o principal dos Yamas, enquanto não prejudicar é o maior dos
Niyamas. Só aquele cujas mentes estão perturbadas pela ira, a luxúria e outras tendências
igualmente malignas e se inclinam à perturbação física e mental estão inibidos de praticar Yama e
Niyama. A estrita observação dessas regras traz sua recompensa.O homem isento deste e outros
vícios está qualificado para o Yoga sem preparação prévia.
Agora se compreende porque meu amigo Tantrik me dedicava tanto tempo. Não me poria
em contato com um novo guru até estar seguro de que estava totalmente preparado. Isto só podia
determiná-lo em jornadas de íntima associação. Todo o tempo estive formulando-lhe perguntas que
lhe revelariam indiretamente o desenvolvimento de minha personalidade.
2
Logo o asana. Isto significa postura ou posição correta. As posturas fundamentais são 4:
1.Padmasana.
2.Siddhasana.
3.Swastikasana.
4.Vajrasana.
Oportunamente me referirei a isso em detalhe.
O Pranayama trata dos métodos específicos de funcionamento da respiração, controlando a
mente com esse procedimento.
Pratyahara é o controle dos nervos. É a acomodação dos sentidos à natureza da mente,
induzindo a ausência de preocupação pelo objetivo de cada sentido. A eliminação das funções
sensoriais produzirá abstração, o que dá calma e valor e torna a mente introspectiva, concentrando-a
em si mesma. Há 5 classes de Pratyahara:
1.O desvio forçado das sensações das atrações que colocam os objetos que influem o mundo
sensorial.
2.Contemplação de tudo o que vê como se fosse o Eu (Atma).
3.Tornar a mente introspectiva e com um ponto de vista.
4-Renunciar a todos os frutos da ação trabalhando para a alegria de haver cumprido.
5.Restrição de todas as emoções externas.
Agora que tudo começava a adquirir uma nova profundidade de significação, comecei a
verificar como poderiam aplicar-se essas práticas a todos nós, no Ocidente. Compreendia a
importância das normas observadas durante meu período de aprendizagem. Atrás delas havia algo
mais que regras de pura cultura física. Os costumes sociais que até então me haviam parecido
inúteis e sem objetivo começavam a revelar algum fim. Os princípios de psicologia aplicada
adquiriam forma no conjunto das coisas. Tudo achava lentamente seu caminho em um grande
conjunto coesivo. Agora podia compreender o provérbio de que a aprendizagem é a percepção das
diferenças enquanto que a sabedoria é a percepção das semelhanças.
Estabelecemos um momento do dia para nossas conversas, porque meu amigo Tantrik se
aferrava a uma rígida disciplina. Sempre se levantava às 4 da manhã para suas meditações. Eu não
havia abandonado ainda meus costumes americanos o suficiente para poder levantar-me
comodamente tão cedo, de maneira que não bebia minha Chota Harzi (chá matinal) até as 5.
Desempenhava ainda o papel do estudante mais que praticante. Passava quase todas as primeiras
horas da manhã lendo e refletindo e muitas horas realizando as práticas iogue que havia aprendido
nos Estados Unidos. Sempre começava o dia com algumas séries de Uddiyana antes de beber o chá.
Apenas estava desperto e dava um passeio pela floresta. Sempre soprava uma suave brisa
nas primeiras horas da manhã e a agitação da natureza despertava em mim uma resposta,
estimulando minhas faculdades. Os dias na Índia são bastante intoleráveis, mas é impossível achar
em alguma outra parte algo semelhante à beleza do amanhecer. O alvorecer estimulava o espírito
criador e me ajudava a achar respostas aos problemas do dia anterior. Depois das 7 e meia da manhã
voltava à minha pequena habitação de adobe com seu teto de cana que contribuía para mantê-la
muito fresca sob o tórrido sol do meio-dia. Os servidores sempre me tinham preparado o banho de
maneira que estava seguro de ser pontual para o desjejum.
Era geralmente uma hora de ócio e às vezes se prolongava até às 10. Às 8 quando nos
sentávamos no solo para servir-nos a comida matinal, meu anfitrião já havia realizado o que o que
equivalia a meia jornada de trabalho. Não é de estranhar que a Índia tenha produzido tantos
eruditos, porque perdem muito pouco tempo. Essa parte do dia abundava em pormenores, a maioria
sobre filosofia. Sempre começávamos com um algum incidente menor e gradualmente nos conduzia
a debater o princípio filosófico latente. Mediante este método ia aprendendo como tudo sob o sol se
unia no Supremo e que o conhecimento dos princípios da filosofia capacitava para achar a síntese
para uma variedade de fatos e experiências. Os pontos a discutir se postergavam para considerá-los
à hora do chá, porque ele estava muito ocupado durante o resto da manhã. Depois do almoço
fazíamos a sesta. Li muito neste período. O resto do dia e à noite a dedicávamos geralmente à
conversa, às vezes até altas horas da noite.
Creio que formulei muitas perguntas absurdas, às vezes porque não sabia fazer outras e às
vezes intencionalmente porque tratava de ver tudo desde o ponto de vista do Ocidente atual. Era
meu desejo reconciliar – ao menos em minha mente – Oriente e Ocidente. Com frequência havia
ouvido dizer que era impossível para os ocidentais praticar o Yoga, como se os orientais fossem
seres especiais, dotados de distintas qualidades. Havia chegado à razoável conclusão de que as
normas estabelecidas no Oriente para o homem podiam vigorar em qualquer parte. O mero
atravessar de um oceano não mudava a constituição humana nem alterava a distribuição dos átomos
do organismo humano. Só eram diferentes as formas externas; o homem permanecia igual. É
verdade que levava minha pequena série de preconceitos adquiridos com minha cultura e me
resultava impossível lançá-los fora rapidamente. Apesar disso, algo em meu interior estava sempre
em completo acordo com os preceitos do Yoga. De todas as maneiras me mantinha alerta para
descobrir qualquer forma entre nós que manifestasse o mesmo princípio. Somente dessa maneira
podia confiar em discernir o panorama e unicamente assim podia readaptar novas formas às
Verdades Eternas. Porque somente muda a forma, mas jamais a Verdade.
4
Certas ideias errôneas prevalecem a respeito do Yoga. Entre elas está a noção de que seus
discípulos têm profundo deleite pelo conhecimento per se e no desenvolvimento físico per se. E
também a crença de que o estudo e a prática se empregam para subjugar os sentidos, que se conta
com despertar o Kundalini(energia psíquica) somente mediante certas práticas físicas que a devoção
aos caminhos do conhecimento terá o efeito desejado sobre os Nadis (nervos) e sentidos, e que pode
incluir-se prontamente ao Samadhi (transe) ingerindo certas substâncias químicas ou determinados
alimentos. É verdade que o ópio, o bhang, charas, ganju e uma classe especial de vinho
administrados habilmente são utilizados por alguns que se acham adiantados na prática do Yoga
para provocar um rápido estado de abstração mental, mas isto não pode realizá-lo quem tem um
corpo impuro e domina imprópria ou insuficientemente o Yoga.
Os ocidentais parecem crer que é impossível praticar o Yoga se se leva uma vida doméstica.
Pedi a meu amigo que me esclarecesse o ponto. Respondeu-me que a riqueza e o ambiente familiar
não significavam nenhum obstáculo se alguém realiza adequadamente seus deveres para com o
Yoga. O Yoga não era somente para o asceta. Era a herança comum de todos. O rico, o pobre, o
erudito e o analfabeto. Aos homens apáticos com segurança não lhes atrairiam as práticas do Yoga.
Buscariam o progresso pelo caminho da virtude e devoção. Quanto ao matrimônio, longe de ser um
obstáculo, facilitaria na realidade o desenvolvimento. Não é demais insistir que a primeira e mais
poderosa tentação do estudante provém de suas paixões das quais a mais intensa é o desejo sexual.
No entanto, satisfazer moderadamente este desejo é uma condição essencial para o êxito.
É verdade que quem pratica o voto de Brahmacharia (celibato em sânscrito) creem que a
abstinência sexual é uma necessidade positiva para toda cultura espiritual e que o Yoga não tolerará
outra condição que a do celibato. Na realidade não é este um mandato absoluto no Yoga. Alguns de
nossos homens mais espirituais tem sido chefes de família e alguns dos mais destacados iogues
foram homens casados com família e até com reinos para cuidar. O Kularnava Tantra diz: “O
mesmo que ocasiona a queda dos homens causa sua elevação”(1).
Em alguns casos a indulgência sexual atua em prejuízo e até impede alcançar a meta
desejada. No entanto, uma vez que se tenha cumprido a prática do Yoga e se tenha chegado à meta,
não há norma que o sujeite ao celibato. A energia sexual conservada da potência para desenvolver a
suspensão da respiração e quanto mais se pode conservar a essência do sexo tanto mais luz se fará
no coração.
Nas formas mais elevadas da prática do Yoga há maior conservação de energia e força
nervosa. Não há aqui lugar para o prazer sexual, tendo-se elevado a uma esfera superior os prazeres
de quem pratica. Não se abandonam os prazeres sexuais pelos seus efeitos prejudiciais senão
porque simplesmente há desaparecido do reino do desejo da mesma maneira que o jogo das bolas,
das bonecas, dos títeres e outros entretenimentos infantis tem desaparecido dos desejos dos adultos.
Nessas etapas do Yoga as mesmas práticas tendem a sublimar as forças sexuais e a transformá-las
em atividades mais elevadas. No entanto tal condição não prevalece na experiência Yoga normal e o
que pratica o Yoga poucas vezes deve recorrer a extremos neste assunto do sexo.
A curiosidade filosófica é o primeiro passo na ascensão mental para o Yoga. Por isso o
mestre estuda tão detidamente seu aluno antes de permitir-lhe realizar alguma das práticas. O
processo do nascimento da curiosidade filosófica não é distinto ao do nascimento do desejo. O
impulso do desejo provém do mundo externo enquanto que o da curiosidade filosófica vem
diretamente através da mente. A intensidade da última depende do poder de reflexão da mente e
como esse poder é relativamente mais fraco no princípio que o desejo alimentado pelos estímulos
externos, a mente deve ser estimulada e treinada para render benefícios, deve ensinar-se-lhe a
retirar-se do mundo externo para poder concentrar-se no espiritual, no que não é perceptível aos
sentidos. A mente começa a funcionar verdadeiramente quando começa a formular perguntas sobre
si mesma e para de errar de um lado a outro às cegas como antes de alcançar certa medida de
disciplina.
O autoensino requer um seletivo e intenso trabalho da mente e do corpo. O que o homem
tem aprendido a controlar faz parte de sua vida emocional que é então realmente sua.
À minha pergunta : “Como começa um e quais são as etapas de desenvolvimento na prática
do Yoga?”, meu amigo Tantrik respondeu que o devoto, antes de tudo, teria que aprender a sentar-se
desde que esta era uma arte que lhe dava controle sobre o corpo e todas as suas partes. As posturas
se calculam para manter em equilíbrio as forças físicas e desenvolver indiretamente as potências
mentais e espirituais. Na segunda etapa empreenderá a prática dos exercícios respiratórios
particulares que lhe capacitam para afirmar a mente de maneira que possa concentrar-se em um só
objeto digno dele. Depois de haver dominado estas práticas, achará que na terceira etapa poderá
exercer tal restrição sobre seus sentidos que lhe será possível realizar mais vividamente o objetivo
que tem em mente. Na quarta etapa poderá ter em mente o objeto de sua adoração para contemplá-
lo. Na quinta, quando a mente pode ter seu objeto por certo tempo pode realizá-lo sem ser
perturbado pelo Eu e suas derivações. Depois da perfeição dessa etapa se chega à sexta que se
cumpre quando a mente pode unir-se com a Deidade. Esta etapa representa o mais elevado esforço
da mente finita e só se chega a ela quando se tenha alcançado uma pura e completa absorção da
mente em seu objetivo.
6
Com muita frequência, inclusive os que têm fé no Yoga, o consideram como algo misterioso,
perigoso, algo mais além do que confiam alcançar. Ocorre isso quando se tem só a ideia de uma
necessidade ou um desejo futuro e nunca realiza um esforço para consegui-lo. Muito pode alcançar-
se mediante esforço perseverante e é propósito dessa obra oferecer o conhecimento e métodos
mediante os quais o estudante possa adiantar para chegar a ser iogue.
No Oriente o iogue dedicará todo seu tempo a praticar, de maneira que possa, mediante um
treinamento intenso, chegar rapidamente a certa perfeição. Sua mente se dedica totalmente ao Yoga.
É evidente que, considerando as condições no Ocidente ali se procede mais lentamente e o
treinamento leva um período mais prolongado. Quando se chega a um certo grau de maestria se
pode continuar com algo do entusiasmo dos orientais. Tempo e perseverança são necessários para
demonstrar o valor do Yoga. Já se há evidenciado que a moralidade, a prática e a disciplina são os
requisitos prévios essenciais do Yoga.
Para purificar sua alma, o iogue cultiva o silêncio, a tranquilidade, o repouso, a solidão, a
moderação na comida e na bebida. Suas 10 normas de conduta são: não danificar, respeitar a
verdade, não roubar, a continência, o perdão, a resistência, a compaixão, a mansuetude, a dieta
frugal e o silêncio. Ao obter o autocontrole a fé se estabelece firmemente.
Mediante a persistência, a vida correta, e a adaptabilidade se capacita para permitir que
atravesse a corrente da vida. Somente a prática e o trabalho darão benefícios que nenhum mestre
pode transmitir, como não pode fazê-lo com o poder da razão. O mestre só pode sinalizar o
caminho. Assim como a fruta madura sempre é precedida pela brotação e a floração, a
autorrevelação do iogue é precedida pelo seu autodesenvolvimento. À medida que aprofunda o
aprendizado se debilitam mais e mais os sinais do mundano e uma criação com novas cenas, uma
nova linguagem, novos pensamentos, novas aspirações e deleites surgem ao olho interno do devoto.
Desde o começo o estudante deve ter fé em sua compreensão e em si mesmo. Por fé se
compreende a condição mental que crê poder realizar qualquer coisa e realizará o aparentemente
impossível. Por sua vez, jamais deve perder a noção de que o homem está em trevas e tudo o que
pensa, diz e faz não é mais nem menos que uma reunião na obscuridade para uma remota luz ainda
invisível. O êxito e a liberação são a meta. O método que se persegue é bastante realista; não há
nele nada de sobrenatural ou mágico. É trabalho e sempre trabalho. A prática constante com
regularidade. Os surtos espasmódicos de intensa atividade não levam a nenhum lado. Tanto no Yoga
como em outras empresas deve recordar-se que se o estudante se desilude demasiado rapidamente
porque não observa resultados visíveis aos que tem aspirado com impaciência e chega em
consequência à conclusão de que não há nada no Yoga, o erro é dele, não do Yoga.
2
É quase impossível no Ocidente ser guiado por alguém competente na arte do Yoga. Foi
satisfazer essa urgente necessidade que me levou á Índia. Há muita literatura sobre o Yoga e não se
pode negar que se alguém sente um intenso desejo é possível aprender algo dos mais simples
rudimentos de arte exótica. No entanto, é igualmente certo que as práticas iogue de ordem mais
elevada não podem realizar-se senão com a instrução de um especialista nas mesmas. A natureza
altamente técnica destas práticas requer uma explicação verbal e a demonstração de um guru
qualificado.
Já indiquei que o discípulo merecedor é pouco menos raro que um mentor qualificado. Meu
amigo Tantrik me explicou que o mero fato de que tivesse abandonado uma carreira escolhida para
o que havia estudado, viajando à Índia para dedicar minha vida a aprender o Yoga não bastava por si
mesmo para qualificar-me como um futuro discípulo iogue. Muitas vezes me pus à prova. Em cada
oportunidade eu me desanimava. Tinha a impressão de que tivesse sido melhor não haver começado
do que fracassar em meu intento. Estava ansioso de assegurar-me que meu entusiasmo não era cego.
Quanto tempo se necessita para dominar a prática do Yoga? Foi a pergunta que fiz a meu
mentor Tantrik. E recebi a resposta de que não podia haver uma regra geral dada a distinta
capacidade humana. Uma das tarefas do Yoga é indicar como podem estimular-se estas capacidades
variáveis para desenvolver toda energia útil e natural do homem. Este raramente assimila quase
tudo o que capta. Mas possui grandes quantidades de energia latente que o Yoga ajuda a transformar
em energia ativa, funcional, de maneira que o homem possa converter-se em um ser independente,
eficiente e seguro de si mesmo. Quando o trajeto foi determinado e corretamente dirigido,
lentamente e com segurança se produzirá no corpo uma mudança molecular. Em seis meses essa
mudança produzirá a correspondente transformação de seus hábitos. Supostamente haverá uma
definida expansão de sua potencialidade mental. Ao despertar a força interior seu estado de
consciência mudará e cessará de estar só; seus temores se desvanecerão e a felicidade se encontrará
a seu alcance.
Os dotes conferidos pela vida não podem acrescentar-se imediatamente para benefício
próprio. Isto só pode suceder depois de um prolongado e árduo treinamento, cuidadosa e
inteligentemente preparado. Devem considerar-se os meios e o fim, de maneira que o método e a
meta estejam perfeitamente equilibrados. A perfeição molecular do homem pelo que advoga o Yoga
pode alcançar-se só depois de um longo período de exercício. No princípio o discípulo deve
qualificar-se liberando seu corpo e mente dos obstáculos que já assinalei.
Para praticar o Yoga deve abandonar-se o consumo de alimentos amargos, ácidos e salgados,
as substâncias estimulantes e os alimentos que causam constipação; há que evitar a gula, o jejum e a
desnutrição. Não se há de dormir ou cochilar de dia nem fazer longas jornadas nem abuso físico;
tampouco banhar-se com tempo muito frio e sentar-se ante o fogo. Há que manter-se longe de
companhia dos mal-intencionados e das mulheres. Não se fará distinção entre parentes e estranhos.
Se eliminará o ódio, a inveja, o orgulho, a excitação, as discussões, a crueldade, a falsidade, o
engano, a loquacidade, as expressões desagradáveis, a hostilidade contra qualquer pessoa ou coisa,
provocar incômodo ou dor ao organismo.
Por outra parte o discípulo há de usar roupas cômodas e manter o corpo higienizado interna
e externamente. Deve levantar-se cedo e ter costumes regulares. Cuidará de sua saúde. A pureza do
corpo é essencial. Será valente, caridoso, tolerante, constante, piedoso, ansioso de fazer o bem aos
demais e de respeitar seus instrutores.
O poder - nunca se insistirá demasiado a respeito – se desenvolve como qualquer outra
faculdade, exercitando-a. Deve obedecer-se aos “farás” e “não farás” do Yoga; ambos são objeto de
restrição, e a restrição mesma implica um grau de valor. Me aconselharam que me medisse pelo
padrão de minha restrição. Os que com maior frequência fracassam na vida são homens e mulheres
que não obedecem a si mesmos. Não podem aderir a um curso de ação dado. Perdem seu contato.
Não cumprem com as promessas que eles mesmos se fizeram. Mas pode fazer-se um padrão se se
dedica ainda uma pequena fração de tempo à reflexão concentrada sobre a natureza do Verdadeiro
Eu.
Pode-se dizer que os aspirantes ao Yoga são de 4 classes: suaves, moderados, ardentes e
superardentes.
Para os primeiros se prescreve o Mantra Yoga. Para os moderados o Laya Yoga. Para os
ardentes o Hatha Yoga. Mas o superardente tem direito a todas as formas de Yoga.
Se o discípulo moderado é tenaz, independente e enérgico, pode obter seu prêmio em 8 anos
ou mais. Se o ardente é a classe de homem isento de defeitos ou emoções cegas, que não se
confunde facilmente, e mantém em segredo sua empresa, pode, com persistência, receber seu
prêmio em 6 anos ou mais. O discípulo superardente pode completar suas práticas em 3 anos ou
mais. Estes períodos se referem à perfeição final na arte dentro dos limites do Jiva (alma).
3
Me senti muito confuso quando meu mentor Tantrik começou a falar-me das distintas classes
de Yoga. Pedi-lhe que definisse concretamente as variedades de Yoga porque os livros que havia
lido a respeito não esclareciam tal conceito.
Me explicou que todas buscavam a mesma meta e mais ou menos da mesma maneira; como
em meu país todas as escolas tinham por objetivo educar o estudante, ainda que empregassem uma
variedade de sistemas e métodos. Observou que algumas daquelas se denominavam escolas
progressivas e destacou que todas haviam sido projetadas para satisfazer as necessidades de certo
tipo de estudantes. O mesmo sucedia no campo de treinamento físico em nosso país. O propósito
comum de todos os métodos é desenvolver o indivíduo fisicamente. No entanto sabemos que um
sistema requer que o estudante trabalhe com grandes pesos enquanto que outro – sustentando que
esse método é demasiado fatigante para certas pessoas - oferece ao estudante uma série de
exercícios progressivos pensados para desenvolver uma medida de força antes de iniciar a prática
do sistema mais vigoroso. O mesmo sucede com o Yoga, cujos diversos sistemas tem sido
organizados para satisfazer a capacidade dos distintos estudantes. Esta é uma razão pela qual o guru
deve dedicar tanto tempo a estudar as potencialidades de seu aluno antes de colocá-lo a trabalhar.
Como já disse, as 4 formas principais do Yoga (segundo o texto aceito) são: Mantra Yoga,
Hatha Yoga, Laya Yoga e Raja Yoga. Outras denominações como as de Brakti Yoga. Karma Yoga,
Jnana Yoga, Yantra Yoga, Dhyana Yoga, Shakti Yoga, Kundalini Yoga e Samadhi Yoga, não são de
distintos tipos de Yoga, senão que se referem a ações, formas, ou disciplinas especiais dentro desses
4 tipos.
O Yoga tem um significado mais amplo do que se supõe comumente. Se achará que a
maioria pratica o Yoga constantemente, em uma ou outra forma. Na realidade o Yoga é, nem mais
nem menos que as normas para a vida. Contudo, tais regras são praticadas sem sistema, sem direção
real e é função do Yoga prover o sistema de maneira que a vida possa conduzir-se segundo o
método em vez de cair em sombrias confusões. Os fiéis que praticam regularmente o culto nas
igrejas fazem Bhakti Yoga; os que obtém alimento espiritual da música praticam Mantra Yoga, os
que buscam gozo e conforto nas atividades mentais seguem o caminho do Jnana Yoga e os que
treinam o corpo para sua felicidade estão praticando moderadamente o Hatha Yoga.
Posso seguir assinalando interminavelmente como o Yoga existe por todo lado. No entanto é
evidente que são escassos os iogues se é que existem. O mal no Ocidente é que não existe
integração espiritual entre a vida diária do homem e sua meta final. Tudo está desligado. Cumpre
com sua religião aos domingos, com seu treinamento mental cada manhã. A prática física desde as 4
até o entardecer e logo trata de ser feliz o resto do dia e passá-lo o melhor que pode. No Oriente se
ensina que devemos ter presente a religião 24 horas por dia durante 365 dias por ano; toda a vida.
Isto não significa que devemos seguir formas vazias de culto. A adoração no século 20 se baseia na
ação mas uma ação guiada pela inteligência para a meta comum de toda a humanidade. Todos
devem despertar o fluxo criador da consciência e nele mergulhar até o fim. O iogue detesta a ideia
de deixá-la ainda durante as poucas horas de sono diário.
Capítulo VII
Meu anfitrião me proporcionou uma compreensão mais clara da que eu possuía dos
princípios básicos dos requerimentos do Hatha Yoga. Há 7 etapas na prática do Hatha Yoga:
1.Primeiro, se purifica o corpo.
2.Depois se fortalece e o torna resistente. Este método tem sido denominado a ciência para o
aprendizado da ousadia e das forças vitais.
3.Logo se faz com que o corpo permaneça tranquilo, imóvel.
4.Se estabelece a paciência para a fé e a confiança.
5.O corpo se torna ágil.
6.O corpo usa suas forças de forma objetiva.
7.O corpo usa suas forças subjetivamente para que a mente se torne independente.
A purificação proporciona um padrão de saúde adequado. O Asana faz o corpo forte e
resistente, Mudra o mantém tranquilo, Pranayama o torna ágil e Pratyahara lhe dá paciência.
Dharana confere o controle objetivo sobre os sentidos e Dhyana proporciona o controle subjetivo.
Os verdadeiros devotos do Yoga têm como objetivo a união entre Jiva (consciência
individual) e o Paramatma (consciência universal ou transcendental). O Hatha Yoga se denomina
como a “Tartaruga Base” e se previne que se deve praticar muito privadamente este sistema Yoga.
Permite-se revelar só àqueles que têm fé no sistema e buscam a introspecção. Depois de ter
conseguido o tesouro pode ensinar-se a outros, mas até então se ordena o segredo. Se supõe que o
Hatha Yoga é o método mais breve de purificação e controle do corpo.
Uma das primeiras funções do Hatha Yoga é resolver as dúvidas da mente. Se requer que o
discípulo observe um ato da Vontade, a capacidade de dizer Sim ou Não. Depois busca a unidade do
corpo e da mente para que possam cooperar totalmente. Se o corpo reclama, a mente o consola e o
faz obedecer, se a mente é que protesta, o corpo argumenta fazendo-a avançar.
São essas as etapas iniciais, sem as quais devem destacar-se outras. Uma vez cumpridas,
indicam que o corpo está completamente purificado e se identificou com o desejo da mente de
praticar o Yoga; isto é, se tornou adequado ao Yoga. A etapa seguinte se refere ao conhecimento do
Eu, mental e físico. Consiste numa análise de cada desejo que deve traçar para sua fonte. Tende ao
estudo completo do temperamento e a tendência de cada um. É mister seguir com precisão o estado
de saúde corporal e conhecer o alimento e medicamentos adequados para manter tal padrão. Depois
devem tomar medidas para impedir que se confunda com o Eu; não é conveniente que o discípulo
se sinta ligado aos fenômenos de sua criação ou que revele orgulho por sua realização. A etapa final
é o estado de inconsciência que o iogue obtém à vontade e em que pode permanecer
indefinidamente. Essas últimas etapas, cujas funções expliquei neste parágrafo, podem alcançar-se
depois de dominar os 6 sistemas de prática de Asana, Pranayama, Pratyahara, Dharana, Dhyana e
Samadhi.
3
A educação dos nervos é o objetivo primário das práticas Hatha. São as fibras mais
importantes de nosso corpo. A falta de resistência pode atribuir-se ao estado de enfermidade
daqueles. O equilíbrio mental também reflete um bom equilíbrio motor e muscular. Os nervos
estáveis dão calma e eficiência. A função do Hatha Yoga é melhorar o abastecimento nervoso
degenerado e dar saúde ao órgão enfermo.
A importância disso apenas pode ser exagerada quando se adverte que as enfermidades
degenerativas do coração, rins, as artérias e o sistema nervoso aumentam atualmente. Diz-se que 2
milhões de pessoas morrem anualmente nos Estados Unidos. 3 milhões estão sempre enfermas
acamadas e 40 milhões morrem por ano de câncer de estômago. Na época em que uma raça mostra
sinais de degeneração física prevalecem o vício e a luxúria e se demanda estímulo artificial. Todas
as naturezas esgotadas o testemunham. Pode dizer-se de certo modo que milhares e dezenas de
milhares de pessoas que presumivelmente faleceram de morte natural tenham cometido na realidade
uma espécie de suicídio progressivo.(1)
Adquirir uma perfeita circulação do sangue e controlar os apetites pode parecer um começo
muito lento para uma grande investigação. No entanto, não é demais insistir que esse trabalho,
tendo um propósito espiritual, não deve ser confundido com qualquer sistema de cultura física, com
a realização corporal como meta primária. Muitas das práticas Yoga podem parecer pueris e inúteis,
e até ridículas. No entanto, são uma parte essencial do sistema e estão calculadas para a revelação
espiritual. Não se deve desprezar o pequeno, que é depois de tudo, sintomático do todo; e em um
estado de perfeição é tão importante quanto o grande.
Pode estabelecer-se como lei que o corpo e a mente são interdependentes e num ser humano
harmonioso se apoiam mutuamente. As práticas do Yoga são com efeito, um reconhecimento real
desta lei. Quanto ao físico, o supremo bem do Yoga é eliminar todas as desordens do sistema,
produzir o mais alto padrão de saúde e dirigir a energia nervosa a qualquer ação desejada. No
mental é controlar todos os desejos e guiá-los segundo nossa vontade. Suas práticas tendem ao
melhoramento dos nervos, glândulas e músculos, que são responsáveis pela saúde de distintos
órgãos, a eliminação das substâncias tóxicas e oxigenação do sangue. As desordens do metabolismo
se corrigem principalmente pela prática do Pranayama. É necessário chegar à perfeita eliminação
antes que se possa ter o poder de recebê-la ou assimilá-la. Mediante a eliminação e a higienização
do corpo, aumenta o elemento divino interno e se melhora física, mental e moralmente.
As práticas sobre o organismo físico são essenciais somente onde existem impurezas nos
Nadis (canais por onde passa a energia nervosa) e dado que ninguém é fisicamente perfeito se
aconselha não abandonar totalmente as que são de alguma ajuda, ainda que seja só por medida de
precaução. Há 2 processos para purificar os Nadis. Um é um processo mental que inclui os
exercícios respiratórios, e o outro é físico. No entanto, alguns mestres asseguram que o Pranayama é
a terapêutica requerida para queimar as impurezas do corpo e que os Nadis se purificarão se as
práticas se mantém sem interrupção durante 3 meses. Isto significa praticamente que desde o
princípio deve-se ter aperfeiçoada a arte do Yoga.
Antes que seja possível praticar o Pranayama é essencial que o discípulo libere seu corpo de
todo excesso de Kapha (muco) porque isso exclui o Prana (energia respiratória ou nervosa) das
veias e nervos. Este muco perturba a mente, causa defeitos na linguagem, deixa impuro o sangue, e
no geral inibe toda função corporal. Não se pode obter o êxito iogue até que os Nadis estejam
depurados de toda substância obstrutiva. Os nervos em seu estado natural estão cobertos de
impurezas que devem ser eliminadas antes que possa haver algum resultado no Pranayama.
Entre os 3 Nadis mais importantes está Sushumna, situado centralmente dentro da coluna
vertebral estendendo-se desde o cérebro até o plexo pélvico. A parte inferior de Sushumna desce
pelo centro da massa de nervos à parte sacra e coccígea das vértebras. A parte superior penetra no
crânio e se estende à região do forame de Monroe conhecida na literatura como a “Porta de
Brahma”. Este grande Nadi é o sustentáculo do corpo, que apoia a todos os Nadis e conduz o iogue
ao caminho da abstração mental e da salvação. Dentro deste Nadi central o iogue identifica um Nadi
invisível conhecido no Ocidente como a fibra de Reissner mas que na Índia se chama Chittra (a
passagem celestial, em sânscrito). Diz-se que mediante este nervo filiforme a energia (Kundalini)
ascende por diversos plexos nervosos da coluna vertebral.
O sistema nervoso simpático tem sua conexão principal com Sushumna no plexo solar. Ida e
Pingala são 2 nervos externos à coluna vertebral que se consideram cordas ganglionares do sistema
simpático. Estes 2 Nadis se unem com Sushumna no crânio, no lugar entre as sobrancelhas
conhecido como Ajna Chakra (centro). Ida vai ao lado esquerdo do nariz e Pingala ao direito. Em
seu trajeto abaixo ao longo da coluna estes 2 Nadis se cruzam várias vezes, assim como se
comunicam livremente com o nervo raquidiano terminando na base da coluna no plexo pélvico, em
um ponto horizontal ao osso ilíaco. As regiões dentro da coluna vertebral onde se cruzam os Nadis
são os Círculos Místicos e se denominam Chakras.
5
Aprendi muito dos objetivos do Yoga, mas devo reconhecer que começava a sentir-me
inquieto no refúgio da floresta de meu anfitrião Tantrik. Havia viajado à Índia para praticar o Yoga e
não para aprendê-lo. Não tive tempo para apaziguar meu temperamento ocidental e me sentia
impaciente por encarar o problema que havia vindo resolver, descobrir o significado que devia ter
para minha vida. Se estava no Yoga, queria dedicar-me às práticas do mesmo. Meu anfitrião não
dizia ser um iogue senão um erudito da filosofia do Yoga. Havia dedicado a vida ao estudo da
literatura Tantrik, e havendo sido iniciado, possuía uma profunda visão interior de seus insondáveis
mistérios. Toda a literatura Tantrik está escrita de uma forma tão altamente simbólica que só o
iniciado que possui a Chave por assim dizer, pode interpretá-la. Meus antecedentes, minha
educação e meu interesse foram suficientes para que me falasse livremente de temas que considerou
ao alcance de minha compreensão. No entanto esclareceu que devia ser iniciado antes que me fosse
possível entender os aspectos mais exóticos das práticas iogues. Não lhe agradava muito meu
propósito de achar um guru capaz de preparar-me para a iniciação. Estes elevados ensinamentos
Tantrik haviam caído aparentemente em desuso, ainda na Índia. As guerras e o clima difícil haviam
causado deterioração nos manuscritos, enquanto a acelerada difusão das ideias ocidentais e o
materialismo haviam banido os mestres da Índia de maneira que então os únicos mestres
disponíveis – fui informado – estavam no Tibet. Além disso, antes da grande invasão mongol, um
exército de eruditos tibetanos chegou à Índia e levou outra vez ao Tibet o grande conjunto de
manuscritos com os antigos ensinamentos.
A ideia de viajar ao Tibet para estabelecer contato com os manuscritos Tantrik me atraiu
poderosamente. Os antigos mestres conservados nos 64 volumes dos Tantra, livros zelosamente
guardados pelos Lamas através dos séculos, pareciam conter uma atração inestimável para mim, e
comecei a sonhar em ir ao Tibet e trazer uma série de tão preciosos livros. Perguntei a meu anfitrião
como era que alguns dos iniciados não haviam viajado ao Tibet para trazer os ensinamentos para a
Índia. Explicou que até para os hindus estava vedado entrar na Terra Proibida; era mais difícil para
um bengali que para qualquer outro estrangeiro penetrar no Tibet. Além do mais, nada se ganharia
com a viagem a menos que se iniciasse primeiro como Tantrik, porque só um Tantrik teria
probabilidade de entrar em contato com os verdadeiros mestres. Criava uma barreira a circunstância
de que aqueles que realizaram o esforço para entrar no Tibet haviam sido atraídos pela aventura
mais que pelo aspecto espiritual. Outra dificuldade era que inclusive as pessoas qualificadas como
Tantrik eram em sua maioria indivíduos de terras baixas e de clima cálido; careciam de resistência
para suportar uma viagem tão árdua nas alturas tibetanas. Só uma pessoa que pudesse satisfazer os
requisitos poderia empreender esta viagem com probabilidades de êxito físico e espiritual.
Depois de uma quinzena, meu amigo, tendo se assegurado de minha sinceridade e
capacidade, me disse que estava disposto a apresentar-me a um homem que podia ser meu guru.
Dito e feito. Resolvemos regressar rapidamente à casa de meu amigo na cidade.
6
Com meu regresso a Calcutá já não me senti estranho. Algo da Índia havia penetrado na
minha alma e formava parte integrante de mim. Ao entardecer do dia de nosso regresso saímos a
visitar meu futuro guru, que se chamava Swamaji. A viagem levaria algumas horas pelo sagrado rio
hindu, o Ganges.
O Swamaji conhecia menos o idioma inglês que meu amigo Tantrik que o dominava. No
entanto, me arranjei para conversar com ele até que tocamos em temas mais abstratos e técnicos.
Ambos estavam versados na literatura sânscrita e haviam realizado sua contribuição a ela. Seu
conteúdo é tão altamente especializado que é quase impossível vertê-lo a outra língua. Nossa
primeira visita foi breve. Depois que meu amigo Tantrik lhe deu sua impressão sobre mim,
resultado de nossa associação de 15 dias, o Swamaji consentiu em encarregar-se de minha iniciação.
Então voltamos para a cidade, depois de um delicioso passeio pelas serenas águas do dia, à luz da
lua.
Depois de outras entrevistas com o Swamaji transcorreu um tempo antes que me enviasse
uma mensagem indicando uma data e hora auspiciosa para minha iniciação e dizendo que estaria
então em casa para receber-me. Previamente me havia dado instruções preparatórias.
Para não chegar tarde empreendi com bastante antecedência a viagem fluvial e ao chegar,
me detive nas margens, esperando a hora em que pudesse apresentar-me para o Swamaji. O suave
balanço da lenta corrente no entardecer cálido e a brisa refrescante me encheram de inexprimível
terror e minhas emoções culminaram. Toda minha ansiedade parecia concentrar-se naquela noite
esperando ser liberada em minha iniciação que seria o começo de minha primeira compreensão
íntima. O objeto desta iniciação era despertar em mim o impulso criador, liberar a mente de
preconceitos, fazer a alma receptora de toda minha busca da Felicidade Eterna.
Me parecia raro haver chegado tão longe, desde o deserto do Arizona a esta terra devota, de
um meio tão jovem a uma cultura tão antiga. Que havia plantado em minhas sementes do desejo de
vir aqui? Que me atraía a esta Terra de Mistério? Por que me aceitavam? Era evidente, assim me
parecia que todo meu esforço para alcançar certa compreensão das leis da Vida não havia sido em
vão. O velho ditado de que quando o aluno estiver preparado apareceria o mestre passou pela minha
mente e compreendi que era verdade. Sabia que estava em vésperas de ser liberado, para verificar
por experiência o que havia aprendido em teoria. Já compreendia como as emoções se expandem
enquanto o intelecto se contrai, porque quase não reparava no transcurso do tempo. A iniciação
começaria à meia-noite. Seria começar uma nova vida, um renascimento espiritual. Me livraria
definitivamente dos laços da consciência pessoal e perceberia diretamente a manifestação universal
da Lei Divina.
7
Havia chegado a hora de apresentar-me diante do Swamaji. Ao chegar à sua residência, fui
recebido por outros que participariam comigo na cerimônia. Entregaram-me 2 peças de tela, uma
era em Dhoti (para cobrir a parte inferior do corpo) e a outra era Chadar (para a parte superior).
Estavam tingidas de cor vermelho tijolo e tinham importância simbólica. Assim que vesti essas
roupas, me levaram à presença do Swamaji que estava em companhia de outros 5 Tantrik.
Devo notar que, tendo feito voto de silêncio, me é permitido referir apenas aos aspectos
formais da cerimônia que se considera como muito exótica.
Como mestre do Chakra (círculo sagrado) o Swamaji era supremo e seu desejo devia ser
obedecido em todo momento durante a cerimônia de iniciação. Estava em uma cadeira um pouco
mais alta diante da deidade do Chakra. Os demais estávamos sentados em Asana (postura sagrada)
em semicírculo em torno dele; eu era o segundo desde o extremo a sua esquerda. O Chakra estava
impregnado do aroma de muitas flores reunidas para o rito e pulverizado com água perfumada.
Tudo tinha o propósito de capacitar o Sadhaka (adorador) para despertar sua consciência interior.
Primeiro houve um período de silêncio durante o qual eu devia fazer uma oferenda de minha
ignorância para poder receber o que o Swamaji iria transmitir-me. Esta é a lei natural no mundo de
mestre e discípulo. Porque seguramente não pode haver necessidade de um guru (mestre espiritual)
a menos que seja ignorante. Alguém pode ser instruído em outros temas e ignorar completamente o
campo do Sadhana (prática espiritual). O aluno não tem a menor noção, nem vestígios dela, do que
o guru lhe ensinará. O conhecimento espiritual não se mede pelos mesmos padrões que o
conhecimento mundano. Depois de meditar brevemente, me explicaram o objetivo da cerimônia.
Havendo me aspergido com água benta do ritual, o Swamaji nos fez repetir um Mantra e logo
recitou cânticos para encantar-me e despertar a consciência universal em meu interior. Então deu a
conhecer a manifestação da consciência universal em sua infinita variedade de formas. Tomou um
aspecto por vez e antes de cada um, recitava Mantras para provocar uma sensação totalmente
diferente logo dissipada pela compreensão que trazia uma simples verdade que enunciaria e na qual
insistiria um momento.
Assim passaram as horas enquanto eu nascia em um novo mundo de conhecimentos.
Finalmente a cabeça de Swamaji e a minha foram cobertas com uma tela enquanto ele sussurrava 7
vezes em meu ouvido esquerdo e 7 vezes no direito o Mantra que devia manter inviolado no
recôndito de minha mente para que jamais fosse emitido por meus lábios. Ao tirar-me a tela e sentir
a alvorada desse renascimento, meu coração lentamente despertou numa silenciosa alegria. Se
dissipavam para sempre as sombras da dúvida. Estava livre.
Ao terminar o Chakra me levantei e fiz a oferenda do sacrifício. Depois interrompemos meu
jejum com um ligeiro festim. Era necessário estar em jejum desde o amanhecer do dia antes da
iniciação até terminada a cerimônia. O assistente do Swamaji havia preparado alimentos muito
saborosos e nos trouxeram ao Chakra. Era ele quem havia disposto o Chakra e os instrumentos de
adoração para minha iniciação.
Estava para romper a alvorada e como já não havia barcos disponíveis para mim, ao retornar
à cidade, um dos Tantrik , que vivia no campo, me guiou por uma rota longa e sinuosa a um lugar
onde poderia tomar um “gharry” que me levasse a meu alojamento. Cheguei aí a tempo para Chota
Hazri.
Capítulo VIII
APRENDIZAGEM DA MENTE
Quando cheguei à casa de meu amigo Tantrik para contar-lhe de minha iniciação, me
recebeu de braços abertos como um pai que saúda seu filho depois de ter se graduado no colégio.
No entanto, o verdadeiro trabalho estava só a ponto de começar. Devia por em prática minha
recente experiência. E era agradável comentar meus planos com quem, apesar de nossa breve
relação, parecia um amigo de toda a vida. A próxima etapa requeria certa reflexão. O êxito dependia
agora totalmente de minha capacidade, de minha habilidade para interpretar o desenvolvimento
universal da consciência neste refúgio da existência terrena. Me havia sido revelada a Verdade mas
ainda havia que estudar sua função em nosso mundo dinâmico de luta e ação. Voltar novamente à
floresta com meu amigo não me seria de ajuda. Era necessário que estivesse entre os homens.
Não há lugar na terra em que seja possível achar tal mescla de seres humanos como na Índia.
Oferece o maior conjunto de credos que se possa encontrar. Cada um desses credos é o
desenvolvimento de uma mente que tratou de interpretar a Verdade tal como a viu. Era esse um
laboratório vivo. Não era assunto meu descobrir até onde era equivocado cada culto, senão onde
coincidiam na mesma meta. Através de tudo isso devia captar a eterna busca do Homem no cego
esforço que denominamos evolução espiritual. Em outras palavras, devia levantar os véus de Maya
(ilusão) e descobrir a Verdade presente onde quer que estivesse. Como alcançar tal compreensão era
meu problema. Como conhecer a Verdade e reconciliá-la com o falso?
Me fizeram um plano para percorrer a Índia e nas vésperas de partir em turnê meu amigo
Tantrik e eu fomos despedir-nos de meu novo guru, o Swamaji. Apenas chegamos a sua casa,
comecei a assediá-lo com perguntas, todas referentes ao problema de desenvolver a mente e seus
ensinamentos e possibilitando a compreensão de todas as probabilidades segundo meu novo
conhecimento. Estava especialmente ansioso por aprender a atitude iogue para as raridades nos
reinos mentais. Me possuía um exultante entusiasmo que, desde o ponto de vista deles, era uma
duvidosa possessão a menos que a dirigisse com inteligência. Do contrário não seria mais que uma
rajada de vento. No entanto, era excelente para abrir o coração a um coração aberto para possibilitar
a verdadeira percepção que é sempre um sentimento. Aprendi isso desde minha iniciação. Agora me
resultava necessário adquirir um método pelo qual pudesse despertar sempre o coração para escutar
tudo o que queria saber. Um dos métodos mais eficazes era dirigir ao coração todo o entusiasmo.
2
Em resposta a minhas perguntas meu guru começou sua exposição sobre a mente como a
compreende o iogue. Em nenhum sistema de Yoga há diferenciação entre mente e matéria, sendo a
primeira meramente produto da matéria altamente organizada que participa das qualidades de
Espírito e Matéria. Todo esse mundo móvel e imóvel é a Mente e quando chega ao Brahma
(Consciência Suprema) cessa de funcionar. A mente aparece só nos seres vivos que respiram
(Prana). No homem o Espírito (Atma) se manifesta mais. Equipado de conhecimento, diz o que sabe
e está consciente do que ocorreu ontem e hoje. Também do visível e invisível. Mas nos animais a
fome e a sede são o conhecimento principal.
O propósito da mente é averiguar. É uma espécie de superfície refletora, a ponte entre o Eu-
Intelecto inferior e superior por baixo e a Inteligência acima. É o poder diretivo que está atrás de
tudo. É a mente que comete pecados, atos censuráveis; por sua vez o pecado não a toca nem sabe
como reter sua função. Quando a dominam desejos e imagens sensuais não pode refletir ou revelar
sua mais íntima faculdade, a do Espírito. O poder é seu maior ativo e ao cultivá-lo por métodos
adequados produzirá uma força, uma capacidade e uma elevação que ainda não foram realizadas
pelos sábios ocidentais.
No indivíduo ordinário a mente tem uma função totalmente descontrolada. O ser humano
médio é escravo de seus pensamentos. Não tem poder sobre sua vida mental não pode descartar os
pensamentos indesejáveis nem dispor do que deseja. Por essa razão se exclui o discípulo com
apetites sensuais. Somente a pureza mental induz a concentração e a meditação.
A mente é dona dos sentidos e a respiração o é daquela. Assim como a abelha segue a
rainha, a mente segue o Prana. As forças externas afetam diretamente o Prana e a mente pode ser
afetada indiretamente mediante o Prana. Nunca se pode restringir a mente sem restringir a
respiração. A atividade mental marcha ao ritmo respiratório. Assim como as ondas avançam
impulsionadas pelo vento e cessam de avançar quando este não sopra, a mente se aquieta quando se
controla a respiração. Enquanto se restringe a respiração dentro do corpo, a mente não se perturba.
Portanto se a mente há de permanecer firme e gozar de paz deve-se regular a respiração. Quando
esta se agita afeta o coração e este por sua vez excita a mente, cujas percepções desta maneira se
perturbam e alteram.
A respiração diminui na proporção que a mente se concentra. Isto significa que são de igual
atividade e que uma começa no mesmo ponto que a outra. Daí que pelo controle respiratório se
conquistam a mente e a morte (1). Quando se suspendem as modificações do princípio do
pensamento torna-se um iogue, possuidor do conhecimento puro.
Para funcionar adequadamente, o cérebro deve ter um pulso normal. A pressão sanguínea e
seu ritmo são os critérios pelos quais se julga isso, desde que o funcionamento do coração
determina o ritmo do pensamento ativo. Normalmente teremos 4 pulsações a cada inalação e outras
4 a cada expiração; é a respiração rítmica. Isto significa simplesmente a manutenção dessa escala de
proporção entre o pulso e a respiração. Por outro lado não inalamos a mesma quantidade de ar que
exalamos, sendo regulada a proporção pelas demandas do organismo, que nunca são iguais. O pulso
será de 32 por minuto quando se inala 8 vezes por minuto. Se o pulso excede esse ritmo sabemos
que domina o homem físico. Mas se a respiração é mais acelerada predomina o homem mental.
Tudo se coordena ao ritmo de 1 por 4. A respiração rítmica significa o controle do valor tempo das
coisas, pondo fim a nossas emoções em relação ao tempo. Isto indica controle sobre as emoções,
possibilitando adequar uma emoção particular a um tempo particular.
No Yoga o tema da mente se resolve em 3 partes: 1) A Mente; 2)Suas modificações; 3) O
modo de restringi-las. Todas as questões em mente final e naturalmente caem na terceira divisão. Há
2 meios de controle que ensina o Yoga: 1) práticas específicas; 2) a liberdade de desejos.
No geral, a mente vai sem cessar de um objeto a outro no comprimento e largura do espaço,
revelando que é de caráter superficial. Então, como fazer para que se aprofunde? Para fazê-la
aprofundar no espaço, primeiro deve fazer-se que tenha uma direção. Podemos considerar o
seguinte exemplo como ilustração: Enquanto se nada na superfície da água como se pode submergir
profundamente? Primeiro deve cessar de nadar para frente e para trás. Depois, detendo-se em um
ponto da superfície da água, suspende a respiração e se submerge. Da mesma maneira a mente
deixará de errar na superfície do espaço e se concentrará sobre um ponto ou objeto e logo
submergirá. Somente então poderá “pensar profundamente”. O homem comum somente pode
imaginar ou deduzir, aprende por ensaio e erro, mas o iogue conhece diretamente. É objetivo
primário do Yoga fazer a mente unilateral, torná-la capaz de manter uma atitude habitual de atenção
sobre o objeto desejado. Sem forma, assume no entanto a da coisa em que pensa. É uma espécie de
substância natural, receptora de quanto chega por meio dos sentidos e refletindo tudo como em um
espelho. A mente faz um contato tátil, como os sentidos, criando sua própria realidade.
Condicionados pelo contato, surgem os sentimentos. Percebe-se o que sente e pensa nisso somente.
E o que alguém pensa, pode obcecá-lo.
Todo estado mental tem uma respiração correspondente. Como exemplo, consideremos o ato
mental de escutar para perceber um som débil e confuso; se suspende a respiração. É impossível
escutar quando se respira profunda e amplamente. Na melancolia se suspende a respiração e na
surpresa o homem toma alento espasmodicamente. Cada ação de concentração significava igual
suspensão. Quando se deseja levantar um peso pesado, o primeiro que se faz é suspender o fôlego.
Se se pergunta a um jovem que não pode levantar uma rocha que tem a seus pés se aceita o desafio,
instintivamente adota a postura ereta e depois aspirando amplamente, levante em triunfo a rocha.
Há uma filosofia prática e profunda no que faz. Primeiro se forma uma ideia da força e depois a
transfere para uma atitude corporal e finalmente a sua forma de respiração; por último há uma
vigorosa contração muscular e levanta a rocha. A respiração determina a pressão atrás de todas as
emoções, atividades e circulação; tem relação com os sentimentos, a vida e os sentidos. Sua
influência é muito maior do que suspeitamos.
No pensamento profundo a respiração é lenta e funda; no intenso, a mente cessa o fluxo do
Prana (respiração). E pode observar-se que a respiração se detém por um tempo ou se suspende
muito quando de repente se sente a necessidade de mais ar e se aspira profundamente uma ou mais
vezes até ter satisfeito a necessidade depois da qual a mente pode fixar-se novamente. O homem de
ciência quando está concentrado pratica em realidade o Pranayama, mas seu Kumbhaka (suspensão)
é geralmente externo. Assim achamos que todos os nossos hábitos, pensamentos e sentimentos,
regulam constantemente a respiração corporal. Isto levou aos antigos a considerar que se alguém
podia controlar a respiração, podia igualmente controlar a mente.
Há 2 causas da atividade mental. Uma é o desejo e a outra o Prana. A destruição de uma
significa a da outra. No entanto convém recordar que ainda quando se leva a mente a um ponto
morto temporário mediante a detenção do Prana, continuará concentrada em seus desejos favoritos.
Daí que para seu controle completo se requer: indiferença aos desejos e a prática. Ainda quando
nossos desejos sejam controlados, Prana agita a mente e a mantém em constante movimento.
Portanto é necessário controlar ambos. Se a mente é controlada, o Chitta (consciência do
sentimento) também está e não há obstáculos para a Inteligência que trata de fluir em nós.
4
O intelecto é para a mente o que os sentidos são para o corpo, uma oficina de informação em
que se reúnem os fatos. Não se deve confundir com a inteligência, ainda que esteja incluída nesta.
Se utiliza o intelecto para alcançar o conhecimento. Pode fazer 3 coisas: Pensar, Recordar, Imaginar.
A primeira tem lugar no Presente; a memória traz o Passado ao Presente e a Imaginação nos leva ao
Futuro. O intelecto é uma função da mente; a inteligência está por cima e à parte da mente. Não é
parte desta. A mente é somente um instrumento mediante o qual pode se expressar a inteligência. É
o que ilumina e confere compreensão.
As seguintes 5 classificações da mente, de muita antiga origem me recordam um adágio:
“Esta terra é o manicômio dos demais planetas”:
1.O estado de insânia em que a mente nunca está serena, sendo constantemente agitada no
mar do mundano.
2.A mente sempre perturbada por paixões tão dominantes como a ira, luxúria, vaidade,
cobiça, etc.
3.Um estado muito semelhante ao segundo, exceto os ocasionais intervalos lúcidos. O
primeiro pode ser comparado a um estado febril contínuo, e terceiro a uma febre intermitente.
4.Neste estado a mente se concentra firmemente em um objeto valioso, evitando perder-se
em um torvelinho mundano.
5.Um estado em que a mente não tem necessidades externas ou internas senão que é
supremamente feliz; um estado potencial – imutável.
É objeto do Yoga serenar a mente na primeira etapa, eliminar o mundano da segunda e
terceira com vistas a chegar à quarta e quinta.
Se um homem descobre seus erros e trata cuidadosamente de corrigi-los, estes
desaparecerão. A ignorância é destruída somente pela ininterrupta prática da discriminação portanto
a constância é melhor dom da potência mental. Há 2 coisas essenciais para o controle da mente:
controlar o Prana e a associação. Com esta, significa a dissociação com a ânsia de coisas e
objetivos. Isto é, o que se necessita é a ausência de vínculos, a completa indiferença.
Meu guru, (o Swamaji) assinalou que graças à investigação científica, em meu país se
demonstrou satisfatoriamente que o cérebro é só um aparato que consome açúcar, que se transforma
em corrente elétrica distribuída a todo corpo pelo sistema nervoso. O cérebro simplesmente possui
um mecanismo fisiológico que existe a fim de realizar um trabalho determinado. Este mecanismo
há de conservar-se em ordem e requer mais cuidado que uma máquina comum, mas recebe menos.
Se uma pessoa se beneficia por possuí-lo deve cuidar que esteja constantemente irrigado de sangue
e só então manterá seu mais elevado padrão de funcionamento.
Capítulo IX
CONHECIMENTO
Como se há de cultivar a mente? Cultivar algo, seja uma planta, um animal ou a mente é
fazê-la crescer e desenvolver-se. A autocultura é a necessidade do homem de autotransformar-se
em um ser bem proporcionado, vigoroso, feliz, harmonioso. Sua prática tem 4 etapas: Física,
Mental, Moral, Espiritual. Cada etapa prepara o terreno para melhorar na seguinte.
Chegar ao Autodomínio é um prolongado e árduo esforço, penoso ao princípio mas doce ao
fim, como veneno no começo mas finalizando em ambrosia. Seus prêmios são a serenidade e a
felicidade das quais surge o conhecimento. Assim se mostra que a disciplina é um meio para chegar
a um fim que é o Autocontrole, caminho para a mais elevada manifestação no homem. É a
disciplina mental que capacita aos maiores homens do mundo para destacar-se como eminências.
Mas também têm importância nos negócios. O êxito se acha em seu caminho. A disciplina abarcará
toda a natureza humana, seu conhecimento, seus desejos e sua vontade.
Para ilustrar melhor a verdade do que me havia dito o Swamaji, citarei o que escreveu J.
Gallhuber referente a seleção dos homens que haveriam de tomar parte na expedição britânica ao
Monte Everest:
A força de vontade é o móvel das grandes façanhas. É o segredo do êxito dos grandes
homens.
É a força de vontade a que guia o cientista, o comerciante, o artista, o desportista e também
ao alpinista desde a cinzenta “rota comum” até as grandes realizações.
Ao escolher os membros da expedição britânica ao Monte Everest se encarou a tarefa de
obter a participação de homens de grande energia.
Idealizou-se um experimento para possibilitar a medição da força de vontade com certa
exatidão. No entanto, esse experimento é algo muito sério e pode empreender-se depois de consultar
um perito médico e sob seu conselho.
O procedimento era o seguinte: o candidato a examinar sentava-se em uma poltrona
confortável, com roupas folgadas. Logo fazia uma profunda aspiração e se lhe pedia que não
voltasse a respirar; isto é, até quando pudesse suportar. No entanto, se permitia exalar.
Sucederam os seguintes fenômenos: depois de 30 a 55 segundos um ligeiro incômodo e o
desejo de respirar. Logo vinha um período de dor mais ou menos aguda que durava de 40 a 80
segundos. Era necessário então exercer um forte autocontrole para suprimir a respiração.
A dor cedia gradualmente, se fazia mais branda e era tolerável. Por sua vez, o esforço
requerido para não respirar aumentava enormemente e depois de 3 a 5 minutos e meio a pessoa se
desvanecia, se é que não desmaiava antes.
O intervalo que pode suportar o homem sem inalar oferece uma escala da força de vontade
que permite a comparação.
Portanto, se é capaz de não inalar até que desmaie, possui a maior força de vontade possível
e parece bem qualificado para bater recordes.
3
A mente é lugar de apetites, pesar e fadiga, cujo fruto é o prazer ou a dor. A filosofia do
Yoga contorna tais obstáculos para a sabedoria e a verdadeira realização. Elimina todas as falsas
noções do que é a vida e ajuda o discípulo a alcançar o controle sobre toda paixão material. Depois
desenvolve os poderes mentais latentes e anima a revelação desses poderes e atributos em condições
específicas essenciais. A aplicação e concentração são a raiz de todo êxito mundano ou espiritual.
Duas tendências acham-se sempre presentes na mente, uma para excitar outra para controlar.
Quando uma dessas tendências é derrotada ou suprimida, a outra se torna mais poderosa.
Neste sistema a mente tem 5 estados:
1.Rajaguna. Neste estado está inquieta e tende a todas as direções.
2.Tamaguna. Neste estado são próprios da mente os atos perversos impulsionados pela
luxúria, ira, etc.
3.Sattwaguna. Neste estado a mente é levada a diversos deleites e formas de gozo.
4.Samadhi. Neste estado a mente é afastada daquilo que não seja aquilo em que está
concentrada.
5.Felicidade suprema. Quando a mente chega ao Samadhi deixa seu vínculo com o externo e
se confunde com sua fonte de origem. Nesse estado o discípulo estabelece sua identidade com a
fonte de seu Ser.
O discípulo se prepara primeiro para esvaziar sua mente de maneira a libertá-la de toda
excitação e de prepará-la para receber o que lhe impõe a vontade. A força de vontade domina e a
mente atua sem ser afetada por seus impulsos. Este é o mais elevado estado de cultura mental em
que o homem esquece o Eu e atua para realização de seu dever mais elevado. No curso da
concentração mental a força de vontade está totalmente mergulhada no objeto da meditação e se
identifica gradualmente com o objeto em que se concentra o discípulo. Quanto mais estreita é a
união entre ele e o objeto, menor será o esforço e a mente será reduzida finalmente a um estado de
inação.
As 4 etapas do desenvolvimento mental são:
1.Abstração. Consiste em afastar os sentidos de seus diversos objetos.
2.Concentração. É a fixação da mente sobre qualquer objeto.
3-Contemplação. É a função continuada da mente sobre um objeto, uma corrente regular de
pensamento não perturbada por outros, a parte do objeto em que se concentrou a mente.
4.Meditação. É o descanso da mente em uma coisa, eliminando todas as distinções; isto é,
dissipando-se estas, fica só o pensamento puro. É a realização da coisa contemplada.
Dhyana consiste em um estado progressivo de conhecimento que começa com análise,
depois reflexão, que é um estado feliz do conhecimento; e leva ao êxtase que se concretiza quando a
sensação física aparente do primeiro estado se confunde gradualmente com o quarto estado que se
apresenta em suspensão e leva à concentração total.
O estado Samadhi significa que Uddiyana, Jalandhara e Mulabundha se cumpriram e de
maneira que Prana Wayu (respiração vital ) não tem aonde ir senão a Sushumna. Prana Wayu se
suspende assim em um lugar e pode ser levado ao Lótus de Mil Pétalas na Cabeça. Ida, Pingala e
Sushumna são os 3 Nadis principais (passagem para a energia nervosa) que já foi descrito.
Jalandhara e Mulabundha são 2 Mudras (posturas do corpo) que devem realizar-se quando se
pratica o Uddiyana, que é a primeira prática iogue que descrevi. Mais adiante agregarei outros
detalhes.
Na contemplação há um fluir de atividade mental que adquire a forma do objeto de
meditação sem ser obstaculizada por outra função. É a corrente do princípio de pensamento baseado
na firmeza em um lugar determinado. A contemplação pura, que é o Samadhi, estado primordial da
mente, consiste em estar livre de todas as ideias do objeto e daquele que as contempla. O que
medita, fixando sua mente no Espírito, está abstraído de todo o interno e o externo. O Samadhi é a
etapa final da meditação. O Swamaji ilustrou a ideia com a seguinte: Um homem que flutua em um
rio submete-se passivamente à corrente que o leva com suavidade. Mas se agarra um objeto que está
na água se interrompe a serenidade do movimento. Da mesma maneira a formação do pensamento
impede o fluxo natural da consciência. O Samadhi se obtém permanecendo no estado de não pensar.
Essa intensa vivacidade não é um estado de vacuidade senão a falta de felicidade extática
sem obstáculos. A consciência se diferencia da faculdade de conhecer mediante a qual conhece ou
percebe seu existir. É um vazio como um céu sem nuvens, uma luz imutável e inseparável do
grande corpo de radiação que não tem nascimento nem morte, uma condição eterna de luz
independente. Durante a visão extática o iogue vê o Eu sem evoluir, livre de toda pluralidade,
apresentado ante a mente do Eu mais elevado. Aqueles que contemplam a natureza ou o Deus se
confundem com ele. Passaram pelo estado de Maya (irrealidade) e chegaram ao Grande Princípio.
Isto não é possível no caso da meditação. A meditação abstrata tem sido denominada meditação sem
base, porque quando se a alcança tudo o mais se destrói por completo; portanto o iogue se denomina
“ sem semente” . Tal mente não necessita posteriormente de um organismo físico.
5
Enquanto se está em isolamento, sem tarefas com que se ocupar a dificuldade consiste em
reprimir sistematicamente todos os pensamentos mundanos e os anseios familiares, dificuldade
tanto maior porque o neófito tem trabalhado árdua e largamente em aparência sem resultado. Pode
lhe parecer que não realizou progresso nenhum e pode achar-se quase inclinado a abandonar tudo,
desesperado, quando, sem saber por que, sua dificuldade desapareceu e o aparentemente impossível
se converteu num fato realizado.
Não há normas estritas quanto ao que deve fazer para alcançar a concentração e meditação.
Os exercícios e o isolamento devem utilizar-se até onde seja possível. Nunca se deve recorrer ao
extremo nem passar do ponto onde se diz: “basta”. O estado mental demasiado ansioso e apressado
é hostil ao êxito na concentração. O alimento adequado, o Pranayama e um meio ambiente próprio
podem influir muito na hiperexcitação dos centros nervosos.
A concentração é o estado em que se faz a mente regular os processos de pensamento para
dirigi-los a um só ponto. A prática (Abhyasa) de concentração é o esforço repetido de manter Chitta
em seu estado de latência, em uma posição firme, sem ter em conta o fim, ininterruptamente durante
um longo tempo. A ideia é que a mente retenha pensamento durante 4 minutos sem esforço por
parte do sujeito. Este é o estado primário de concentração. Todos os movimentos pensados (Writtis)
adquirem o matiz desse pensamento ou ideia. Neste estado se impede o errar da mente. Os
processos mentais são: primeiro, formar um gosto, logo uma preferência e por último um desejo,
seguido por um hábito que se desenvolve em instinto. Essas etapas sucessivas assinalam-se em
Chitta, formando valores potenciais que são nosso Karma, causas de futuros desejos, dado que o
ambiente se torna fértil para a expressão do Chitta. O significado básico de Chitta é que dá a
primeira ideia das coisas, a causa das coisas, o sentimento como tal. As ondas de tal consciência do
sentimento causados por formas de pensamento são as que dão origem à diferenciação (um mundo
de desejo). Sua função é a da contemplação mediante a qual a mente forma por si só o objeto de seu
pensamento e nele se refugia. Por essa razão é que se cita também como o Princípio de Pensar.
Chitta é o mundo dos sentimentos, a redução final de tudo, a sua semente, a sede da
inteligência. Assim como o espaço entre as paredes de uma casa é o que constitui a casa e não as
paredes por si mesmas, Chitta, o mundo do sentimento é equivalente ao espaço que constitui o lar.
Ela é que representa o todo. Chitta está tão agitada como o mar em uma tormenta; o propósito do
Yoga é aquietar o vento, para que Chitta se fixe e seu Writti chegue a ser o perfeito reflexo da
existência não diferenciada, um reflexo do verdadeiro Eu. No sono profundo todos os Writtis estão
submersos em sua sede e não se diferenciam. Chitta pode ir por onde quiser, mas está sujeita ao
corpo. Corre constantemente a todo lugar e deve ser controlado; se se lhe permite liberdade de ação
não pode obter jamais o Nirvana.
Se se suspende a ação da mente, Chitta permanece no conhecimento total do Eu. Portanto
deve controlar-se a respiração para que Chitta possa ter um melhor canal por meio do qual se
expressar. As ondas de Chitta causadas pelas formas de pensamento chamam-se Wittris. O efeito de
toda concentração é matizar os Wittris com aquilo com que se concentra. Estes Wittris vão se
apaziguar, se acalmar. Um Wittri concentrado equivale a uns 4 minutos e se denomina Wittri
intencional, porque leva latente a intenção.
Chitta e Prana estão muito estreitamente ligados. Karma é o que constrói Chitta e é sua
mesma essência. Para a concentração perfeita Chitta deve estar dotado de Luz e Verdade. A
concentração da mente pode efetuar-se meditando no que se aprova, fixando a atenção num objeto
conhecido mediante os sentidos, como um ponto, uma luz (grande ou pequena), o espaço, uma
pessoa sagrada, a ponta do nariz, o centro da língua, Kundalini, o coração, o centro ígneo (umbigo),
entre as sobrancelhas, etc. A mente, que tem predileção pelas formas, pode fixar-se facilmente em
alguma. Assim se instrui para fixar-se um uma forma escolhida e deve recuperar o objeto toda vez
que se afastar dele. Haverá economia de energia se o objeto escolhido para a concentração se adapta
ao indivíduo particular. Um mestre com adequada experiência seria o melhor guia para esse curso.
Para facilitar a concentração pode-se permanecer no conhecimento que se apresenta em
transição de estar desperto a dormido; essa transição é natural para um iogue. Ao passar do estado
desperto a mente atravessa um ponto morto que afeta os sonhos se a mente não está treinada. Esse
estado de ponto morto é intermediário entre despertar e dormir um estado comatoso, um estado de
concentração natural em que se retém o que se fixou na instrução. Quando se dorme toda a noite, o
estado de lucidez não se perde totalmente no inconsciente e se permanece no limite, com algo de
lucidez difusa ainda nos órgãos dos sentidos. Se o sensorial confirma os sonhos, serão recordados;
se a inteligência é o testemunho só restará uma breve recordação.
6
Devemos concentrar-nos no que vale mais para nós e estudá-lo até que atue como obsessão,
ou até que sejamos conscientes da ideia em todo seu detalhe. Quando fazemos várias vezes, se
unirão várias ideias à central “posso fazê-lo”, e se verá apoiada por uma recordação de ter feito algo
semelhante. A memória dedutiva compara tudo. A memória triunfal testemunha o que fizeram os
sentidos. A memória toma objetos dos sentidos e está constantemente em guarda. Sem o fenômeno
da memória não podemos ter confiança. Esta não é só parte do lado mental, senão que também
provém do passado já conhecido, tendo feito algo no aspecto muscular. Sem essa confiança não
podemos possuir a segurança nem a resolução necessárias para cumprir. Reflete o resultado direto
de nossas memórias. Desse modo o concreto é sempre convertido em abstrato e vice-versa. O
concreto está limitado pelo tempo e espaço, enquanto que o abstrato está só limitado pelo tempo.
Nossa memória é igual à nossa inclinação ao pensamento e é a medida da intensidade deste.
Todas as impressões são ampliadas ou diminuídas pelo grau de nossa atenção. A memória depende
também da qualidade do organismo que é instrumento de sua ação. Quando os canais físicos são
imperfeitos, a memória é afetada e corrompida. Por outra parte, a ausência da memória se deve com
frequência à carência de desejo de projetar a memória ao futuro, isto é, quiséramos recordar ou ter a
tendência à memória futura, mas não o desejo de convertê-la em realidade no presente.
A vontade, fonte de energia abstrata, é obra da inteligência. É discriminação, poder direto.
Está dentro da força de vontade forçar ou inibir tendências desfavoráveis. Sustentar um conceito
mental ante a mente na ausência do objeto correspondente, reproduzi-lo, modificar e combinar
materiais proporcionados, são todas funções dentro da força de vontade. A atenção desempenha um
papel importante na concentração porque forma a base da vontade. Convenientemente dirigida para
o mundo interno com o objeto de introspecção funciona na análise da mente e ilumina todos os
fatos. Mediante o poder de atenção a mente desenvolve suas atividades.
A fixação e a unilateralidade da atenção induzem a uma espécie de transe e exaltação das
faculdades mentais. Para produzir esse estado de transe se utiliza a atenção seletiva. Isto pode
denominar-se o “farol do intelecto” porque se cultiva o poder de visualização, de sentimento, com o
que vem a maior discriminação, compreensão e capacidade. Intensificando artificialmente os
processos mentais naturais, a mente se concentra rápida e totalmente sobre o objeto de sua atenção a
expensas do que é uma expectativa geral e polifacética. Se desejamos uma ideia no mundo do
pensamento, temos que traduzi-la do mundo do sentimento. Da mesma maneira, se temos uma
emoção forte como resultado de certo contato dos sentimentos, devemos vertê-la ao mundo do
pensamento. Isto facilitará o desenvolvimento interno.
Desta maneira conversamos toda a noite. Depois amanheceu. Dado que havia de atender a
muitas coisas antes que partisse o trem noturno, pedimos para declinar o convite do Swamaji de
tomar um refresco antes de viajar.
Era uma manhã radiante. Sentia o impulso da vida e desde meu ponto de exaltação era difícil
retornar à realidade. Era como se tivesse vindo de outro mundo, o mundo com que havia sonhado
com tanta frequência. Apenas podia crer que se concretizava o que desejava ardentemente. Vivia a
vida que havia desejado.
Poucas palavras trocamos meu amigo Tantrik e eu enquanto nossa embarcação deslizava
silenciosamente ao longo da corrente ao ritmo dos remos que batiam na água. Passei uma espécie de
transe que me impunha a noite. As respostas a minhas interrogações foram rapidamente dadas.
Agora era assunto meu achar a maneira de fazer parte de mim o pensamento daquela experiência,
parte de minha segunda natureza. Já acharia o meio, tinha confiança nele.
Atracamos junto à cidade, entre as multidões que chegam cada manhã às margens do rio
sagrado da Índia para render culto e desprender-se de seus pecados. De regresso a meu alojamento,
abrimos caminho entre a imensa multidão de devotos que portavam seus recipientes de bronze
cheios de água benta. Outros, que já haviam realizado seu culto matinal (Puja) conduziam seus
rebanhos de vacas e cabras pelas ruas; outros traziam seus produtos ao mercado em carros
oscilantes puxados por búfalos fatigados. O sol recém surgia no horizonte e as ruas estavam
cobertas de vapor enquanto o ar rapidamente se avolumava. Os mendigos estavam em seu posto e
os leprosos estendiam seus braços carcomidos implorando esmola.
Perdemos pouco tempo em reunir o pouco que ainda não estava embalado. Me apressei a
dirigir-me ao escritório de telégrafo onde entreguei os formulários ao Babu (empregado). Perguntei-
lhe quanto custaria enviar um telegrama a Nova Iorque e outro ao Arizona. Então já estava um
pouco familiarizado com a maneira hindu de fazer as coisas e não me incomodou muito que o Babu
se demorasse meia hora. Sabia que estava consultando a tabela para responder-me. Por fim,
levantando a vista de um grande livro, inflou o peito e se dirigiu à janela. Me anunciou que não
existia a cidade de Nova Iorque. Esquecendo minha instrução oriental, senti vontade de assassiná-
lo. Minha ira logo atraiu vários empregados em seu socorro e depois de haver-me serenado voltei a
explicar-lhe qual era minha pergunta. Desapareceram e voltaram com a mesma resposta: não existia
a cidade de Nova Iorque. Pedi o livro e assinalei o que necessitava, em 10 segundos. Insistiram em
que eu não tinha razão porque aí dizia Nova Iorque e não cidade de Nova Iorque, como lhes havia
pedido. No entanto, muito apesar disso, repeti que esse era o destino do telegrama.
Então começava a duvidar a respeito do que poderia suceder com Arizona. Depois de voltar
a consultar o guia retornaram com a informação que tampouco existia. Lhes desenhei o mapa do
Arizona, assinalando que era quase tão grande quanto seu país. Aquilo os apaziguou mas voltaram a
aparecer com outra pergunta: Queria Arizona no Canadá, na América do Sul ou nos Estados
Unidos? Devo confessar que aquilo era novo para mim. Nunca havia suspeitado que pudesse haver
outro Arizona além do vasto estado que conhecia. Em pouco menos de uma hora e meia, havíamos
conseguido determinar a tarifa correspondente. Não exagero. Ainda tinha que comprar selos, pois
com eles se pagavam os telegramas. Se adquiriam em um balcão, se colavam no formulário, que se
devolvia no balcão de informes. O empregado que vendia os selos não estava. Era a hora do chá ou
algum outro período de descanso. No entanto apareceu logo e só necessitou de uns 15 minutos para
contar os selos e dar-me o troco. Que alívio tive imediatamente depois ao dirigir-me ao escritório do
American Express, onde em 10 segundos me asseguraram que se encarregariam que tudo se fizesse
de acordo com minhas instruções. Deveria ter-me dirigido ali em primeiro lugar, mas queria
conhecer o país pelo seu colorido local. Temo que todo o colorido exibia eu (creio que estava
vermelho) com meu constante furor que oferecia tão violento contraste com a serenidade mental
que me haviam ensinado a ter. Então entendia o que queria dizer o Swamaji ao insistir que o
ambiente constituía com frequência o maior obstáculo no caminho para a Verdade Eterna.
Na Índia é conveniente terminar tudo com um dia de vantagem; ali não existe a pressa. Para
provar a lentidão dos costumes é necessário aprender a arte do ócio e o repouso, tão difíceis para
um americano. Nossa correria não tem valor naquele país. O externo carece de importância. Há que
atendê-lo, supostamente, mas, se pode esperar, por que tanta pressa? Um pouco disso não nos faria
mal se o praticássemos também.
Meu amigo Tantrik me acompanhou até a estação ferroviária porque seria a primeira vez que
viajaria em um trem hindu. Quando cheguei, o cenário era muito distinto do de nossas estações. Os
carregadores se ofereciam aos gritos para levar minha bagagem. Ali não se usavam grandes baús
como nos Estados Unidos. Imitei o costume dos viajantes ingleses de levar 15 ou 20 pequenos
volumes sem mostrar a menor confusão. Permiti aos carregadores levar tudo, menos minha caneta e
minha máquina fotográfica. Ao entrar na sala de espera me surpreendi achar centenas de nativos
vestidos com roupas brancas, todos agachados e rodeados pelos seus humildes pertences.
Quando chegou o trem, a plataforma tinha o aspecto de uma colmeia. Com ajuda de muitos
empregados e de meu amigo pude subir e me encontrei num compartimento cheio com 7
passageiros nativos. Além da bagagem era necessário levar a roupa de cama. Dado que cada um de
nós tinha uns 10 volumes a mais que o conveniente, tinha como resultado um problema para dispor
de nossa bagagem. Nos ajeitamos colocando o quanto pudemos nos bagageiros superiores podendo
nos estender um pouco durante a noite nos estreitos e duros bancos estofados de couro.
Neste primeiro período de visita à Índia não estava ainda suficientemente relacionado com o
povo para poder diferenciá-lo. Considerava todos muito parecidos. Era só questão de ver alguns
magros e outros mais magros ainda. Felizmente, para mim, considerando o limitado espaço do
compartimento a maioria de meus companheiros eram desses últimos. Vestiam seus frescos e
cômodos “dhotis” enquanto eu transpirava com meu tecido tropical. Os ventiladores funcionavam a
toda velocidade e ainda me secava a transpiração quando o trem saiu da estação.
Capítulo X
Pode parecer estranho que inicie este capítulo referindo-me a meu retorno a Calcutá depois
de longos meses de viagem durante os que cruzei em todas as direções de tão estranho país. Mas
não resultará estranho se se considera o principal objetivo de minha viagem o fato de que, desde
meu ponto de vista não se tratava de uma turnê dia por dia, senão de sua perspectiva que é o
importante neste relato da experiência espiritual na que direta ou indiretamente o Yoga e sua
investigação desempenham um papel importante.
Ao chegar nas primeiras horas da manhã, fui saldado por uma infinidade de corvos que
enchem o ambiente com seus gritos roucos. Estava contente por achar-me de regresso. Feliz,
sabendo que nunca é demasiado cedo para visitar um amigo na Índia, saí rapidamente em direção à
casa de meu amigo Tantrik, onde me informaram que havia viajado a seu alojamento na montanha.
O Swamaji também se achava em seu refúgio na floresta. Todos os meus amigos da cidade partiram
pouco depois de sair eu de viagem e ainda não regressaram. Havia prometido a meu amigo Tantrik
visitá-lo em seguida de meu regresso; não tendo, pois, muito que fazer, preparei novamente a
bagagem e me dispus a chegar a meu refúgio.
Ali fui objeto de cálidas boas-vindas. Poucos povos podem superar em hospitalidade os
hindus. Sempre fazem com que alguém se sinta como da família e o preferido. Me reconfortou
sentir o carinho e não perdemos tempo em retomar nossa conversa.
Fizemos uma resenha de minha viagem, que teve altos e baixos, comodidades e incômodos,
depressões e exaltações. Eu havia conhecido toda classe de pessoas, desde rajás até mendigos,
“Kavirajas” a magos, eruditos a estudantes, santos a “sadus”. Vi todas as glórias da Índia:
Allahabad, Benarés, Agra, Delhi, Lahore, Srinagar em Cachemira, Peshwar, o Kyber, Uddipur,
Bombaim, Hyderabad, Mysore, Balgalore, Madrás, Madura, Trichinopoly e depois realizei uma
viagem pelo Ceilão. Não havia perdido nada, desde as amplas avenidas às vielas. Visitei palácios,
museus, colégios, bibliotecas, templos, ashrams, ghats, e muitos altares. Havia aprendido a
importância daquela afirmação segundo a qual a Índia está perdida na lama da ignorância, mas
também é origem de toda filosofia. Isto é verdade.
Falamos até altas horas e revivi minha viagem à luz de uma nova sabedoria, produto do
êxito e da análise de duas mentes que atuam juntas para discriminar o profundo do superficial.
2
Meu amigo Tantrik me perguntou qual considerava como experiência mais destacada de
minha viagem. Não pude determinar naquele momento e rindo destaquei que com segurança sabia
que experiência era mais perturbadora e comecei a relatá-la.
Disse-lhe que havia vindo à Índia para aprender e não admirar a paisagem. Sendo norte-
americano, a última coisa que me ocorria seria levar um cinturão branco, só por casualidade tinha
um smoking. Por uma feliz coincidência havia chegado a Mysore durante o importante festival
religioso de Dasara, que durava 10 dias e incluía o grande Durbar. Fui hóspede do Primeiro
Ministro do Estado para quem tinha uma carta de apresentação de amigos mútuos dos Estados
Unidos. Me enviou um convite do marajá para assistir ao Durbar. Aquela era minha oportunidade de
ser apresentado a um dos mais famosos marajás da Índia. Quando criança havia imaginado nas
nuvens toda a pompa da corte do rei Artur. E agora um conto de fadas do século 20 se convertia em
realidade para mim. Nem todos têm a oportunidade de ser apresentados a um famoso marajá hindu.
Ao ler o convite impresso percebi seu caráter cerimonioso e observei que todos os oficiais
viriam de uniforme usando suas medalhas. Aquilo não me incomodava porque eu não tinha
uniforme nem medalhas e o convite não falava de traje de gala. Além do mais, estava de viagem e
não podia esperar-se que levasse toda roupa que corresponde a uma vida ultrassofisticada. De todas
as maneiras tinha um smoking e ao vesti-lo pensei que era bastante apresentável não me havendo
ocorrido nesse momento que existe a euforia antes do fracasso. Como hóspede oficial o primeiro
ministro enviou-me um veículo para transladar-me e presenciar o espetáculo. Não economizou
esforços para satisfazer minhas necessidades com a possível exceção de um cinturão branco.
O Durbar seria às 8 e pedi para que me enviassem o veículo muito antes para poder
bisbilhotar um pouco ao chegar, porque considerava que seria um dos mais suntuosos espetáculos
que veria em minha vida. Os arredores do palácio estavam rodeados por uma elevada muralha com
uma bonita arcada de entrada cuja iluminação elétrica conferia magnificência ao palácio de
mármore, que se recortava contra a obscuridade da noite com seu vasto contorno destacado por uma
miríade de cintilantes lampadinhas elétricas. Ao chegar na entrada da arcada que conduzia ao
palácio 2 cavalheiros da corte se aproximaram mencionando que meu casaco era curto. Olhando por
sobre o ombro e contemplando-me os calcanhares, respondi que assim estava cortado. Como não
me conheciam, resultava incômodo insistir, sabiam que se houvesse algum inconveniente alguém
me impediria a entrada. Com a cabeça erguida e as costas retas segui com todo aprumo que pude,
porque os cavalheiros da Inglaterra chegaram com suas esposas, dando um espetáculo realmente
deslumbrante.
Cautelosamente segui um grande grupo e o porteiro me perdeu de vista. Uma vez dentro,
damas e cavalheiros me deixaram para tirar os abrigos e me encontrei só no centro de um vestíbulo
luxuosamente decorado. Ouvi alguém que dizia que a sala do Durbar era acima. Ao começar a subir,
outras pessoas me seguiram, advertindo-me que meu casaco era demasiado curto. Concordei mas
continuei subindo. Me encontrei em meio do mais surpreendente espetáculo que jamais havia visto,
a grande sala do Durbar. Era um imenso recinto com um alto teto abobadado em que haviam
encaixadas pedras reluzentes. A cada passo mudavam de cor, dando a sensação de um
caleidoscópio. Frente às colunas talhadas que sustentavam o teto estava o trono do marajá com joias
incrustadas. Tudo aquilo me assombrou como se me achasse na Corte do rei Artur.
Preocupado como estava com os detalhes daquela esplendorosa grandeza e o imponente
espetáculo dos lordes, os cavalheiros e damas, apenas me dava conta do transcorrer do tempo.
Logo, no entanto, todos se alinharam. Se aproximava o marajá. Meu corpo estava alinhado, mas a
cabeça não, porque tentava olhar em todas as direções simultaneamente sem perder minha
localização; havia manobrado habilmente para obtê-la achando-me em uma situação vantajosa para
a entrada de Sua Alteza. Quando chegou ao grande salão 2 assistentes interromperam minha
observação de suas roupas e sua coroa coberta de pedras preciosas. Esta vez me disseram: “senhor,
esta noite não usas cinturão branco”. Voltei a concordar e tratei de contornar, mas insistiram em que
era parte do cerimonial e que a ninguém se permitia apresentar-se ante Sua Alteza sem um laço
branco. Me escoltaram e me levaram a uma poltrona onde poderia permanecer contemplando o
espetáculo que se oferecia no vasto anfiteatro, mais abaixo. A disposição dos assentos se
assemelhava muito à de um palco coberto. Me interessou aquilo porque o espetáculo era moderno.
Entre o devaneio passou o tempo e chegou o momento de retirar-se. Todos deviam passar frente a
Sua Alteza que obsequiaria uma blusa a cada uma das damas. Pensei que chegara por fim minha
oportunidade, mas os 2 assistentes tinham outros planos. Insistiram em escoltar-me e uma vez mais
me encontrei entre as colunas. Ali me deixaram como centro da atenção dos lordes, cavalheiros e
damas que me contemplavam com curiosidade, de soslaio, sussurrando não sei que comentários.
Novamente um dos assistentes se dirigiu a mim e desta vez muito cortesmente, perguntou-
me quem havia me convidado. Respondi que foi o marajá. Sem pronunciar outra palavra se
aproximou o primeiro ministro, cuja presença havia evitado ao dizer que estava ocupado. Deve ter
confirmado ao assistente que eu era um hóspede de honra, porque desde aquele instante fui alvo da
mais assídua atenção. Mas o Durbar havia terminado e não me haviam apresentado.
Meu amigo Tantrik me explicou então que na prática do Yoga deve-se estar sempre
preparado tanto exterior como interiormente, para enfrentar o mundo em que vivemos.
Assim aprendi que até um iogue necessita um laço branco.
3
Na manhã seguinte, durante o desjejum, meu anfitrião me perguntou a respeito dos mestres e
dos santos que havia conhecido. Dispúnhamos de tempo para nos referir apenas aos mais
destacados.
Em Benares, havia visto uma infinidade de fiéis que acudiam cada manhã aos barcos nas
margens do sagrado Ganges para lavar seus pecados. Muitos deles esperavam morrer ali porque os
devotos consideravam auspicioso deixar de existir nas margens do rio sagrado e vinham de todos os
confins da Índia ao sentir chegar sua última hora. Estivemos de acordo ambos quanto ao anti-
higiênico e ingênuo procedimento que é um vazio formalismo. Os pecados são eliminados de
dentro. Aquilo era só um símbolo.
Em Delhi havia aprendido quanto se fazia para reviver a antiga prática médica local,
ensinada e praticada pelos Kavirajas (médicos nativos), que obtiveram seus conhecimentos
oralmente, de seus antepassados, durante séculos e séculos. Me ensinaram que alguns de seus
medicamentos se preparavam com diamantes, ouro, pérolas, madeira de sândalo, etc. Até as provei.
A arte de preparar o mercúrio para que possa tomá-lo o iogue durante sua instrução, se perdeu por
séculos, mas ainda pode-se adquirir mercúrio para utilizar com fins medicinais. Na realidade se
pode encontrar quase toda classe de medicamentos.
Em Bombaim conheci várias pessoas famosas por sua obra literária. Especialmente me
agradaram 2 visitas a autores de 2 livros de Yoga. Um era S’rimat Kuvalayananda e o vi em seu
Ashram em Lonavla, perto de Bombaim, onde o doutor Kovoor T. Behanan havia passado 2 anos
estudando enquanto reunia o material para sua Avaliação Científica do Yoga para doutorar-se na
Universidade de Yale. Eu havia estudado cuidadosamente os artigos que S’rimat Kuvalayananda
havia publicado sobre os Asanas e Pranayama. Ao inteirar-se de meu interesse e meus estudos se
mostrou ansioso de fazer o possível para colaborar em minhas investigações. Me falou de um
famoso santo de Hyderabad a quem acreditava me seria conveniente conhecer. Os gurus variam
como os alunos; cada um tem seu método próprio, mais adequado para um aluno que para outro, de
maneira que desejava conhecer a maior quantidade possível daqueles para ampliar meus
conhecimentos. De todos os modos estava decidido a tratar de vê-lo e não perder a oportunidade.
A outra visita fiz a Vasant G. Rele, de Bombaim, autor de “O misterioso Kundalini”. Tendo
estudado muitos anos os trabalhos de sir John Woodruffe (Arthur Avalon) que nos proporcionou a
mais autorizada produção de muitas doutrinas Tantrik, que sustentam que Kundalini é a força vital
do homem, me interessava especialmente conhecer o dr. Rele, que tinha a sua teoria a respeito desta
força misteriosa que associava ao sistema glandular abolindo assim o mistério da “Serpente
Enrolada” que se crê achar dentro de nós. Tratou algumas das teorias propostas por Arthur Avalon
em seu livro “O poder da serpente”. Escutei seus pontos de vista tanto mais quanto sabia que se
aproximava o momento que devia efetuar um intenso estudo da teoria desta doutrina com meu
amigo Tantrik.
Muitos anos antes, me haviam aconselhado estudá-lo todo e não aceitar nada, porque havia
uma mudança constante enquanto eu evoluía. Nunca devia ficar na compreensão estática. Sempre
havia algo mais profundo e o requisito prévio para resolvê-lo era a mente livre. Assim foi que
formulei infinidade de perguntas e escutei atentamente a série de respostas. O mais aparente durante
minhas investigações foi que cada um de meus interlocutores dava a última resposta. Seguramente
os demais deviam estar equivocados. Assim continuei recolhendo valiosas conclusões das oscilantes
árvores do preconceito.
Em Bombaim como em outros círculos, conheci muitos eruditos nos ensinamentos do Yoga.
Era bastante fácil encontrar a quem pudessem demonstrar toda a instrução exótica do Yoga. Mas os
que possuíam aquele conhecimento estavam sempre longe dos grandes centros e só eram
conhecidos por pequenos grupos de amigos cuja elevada estima por seu nobre propósito nesta vida
lhes impedia de revelar ao público onde viviam eles.
4
A partir de Bombaim empreendi a busca do santo de Hyderabad. Logo averiguei que agora
vivia em Madras e sem perder um instante, segui viagem. Ao chegar a Madras encarei a tarefa de
descobrir seu endereço. Tomei um táxi que me levou, rua por rua e esquina por esquina.
Afortunadamente encontrei alguém que o conhecia e quando cheguei a seu domicílio soube que se
havia ido e ninguém sabia até quando. Havia empreendido uma peregrinação que podia durar um
dia ou a vida toda. Enquanto me dirigia ao Ceilão, em vão perguntei constantemente por ele.
Conheciam-no em quase todo sul da Índia. Ao regressar a Madras voltei ao lugar onde havia
encontrado seus amigos durante minha visita anterior. Se haviam mudado e ninguém podia dar-me
notícias dele. Comecei então a percorrer as livrarias e bibliotecas esforçando-me por encontrar
algumas de suas obras, mas como escrevia em sua língua natal, não tive êxito ainda que continuasse
buscando. Finalmente descobri o nome de seus editores. Ao visitá-los me informaram que o homem
santo havia partido a Mysore. Voltei a viajar e aí me indicaram que fosse a Bangalore onde fui bem
recebido por Shri Paramahamta Sachitananda Yogiswarar em seu modesto santuário, onde
continuava seus estudos para poder iluminar o caminho do desenvolvimento espiritual de seu povo.
Era um homem magro, de ventre proeminente. Seu longo cabelo branco misturando-se com
a barba lhe caía sobre os ombros e o peito. Ainda que estivesse perto dos 70 anos, ainda era muito
vigoroso. Cada sílaba que pronunciava emitia vitalidade. Seus olhos brilhavam como só podem
fazer em quem é interiormente puro. Refulgiam irradiando o bem-estar interior, na compreensão da
vida. Havia dedicado toda sua existência a seu desenvolvimento espiritual. Agora dedicava o resto
de seus dias a ajudar aos demais. Seu conhecimento dos ensinamentos nativos era vasto e profundo
e havia trabalhado durante anos na arte do Pranayama, controle da respiração. Para revelar-me seu
desenvolvimento desta arte me mostrou fotografias dele mesmo, tomadas quando estava sentado
sobre as águas instruindo a um grupo de discípulos. Aprendi dele outra técnica da arte do
Pranayama. Sendo esta, virtualmente, a chave do Yoga, sempre tratava de aprender algo mais a
respeito, porque sabia que aquela seria o caminho que haveria de percorrer quando voltasse o
momento de submeter-me à disciplina.
5
Sendo meu anfitrião uma das poucas pessoas que havia encontrado com amplitude de
critério e sempre disposto a obter mais conhecimentos pela experiência do próximo, me solicitou
que repetisse a técnica que me havia ensinado o homem santo.
Aquela técnica era de conhecimento comum, de maneira que meu amigo Tantrik me revelou
outra especial, conhecida somente por poucos homens que tenham cumprido realizações e que não
estão contentes senão com os meios mais breves e heroicos de alcançar sua ambição. Me disse que
aquela era uma técnica especial para benefício dos que já haviam sido discípulos durante um tempo
e eram eficientes nos métodos importantes de purificação – Dhauti, Neti, Basti, Nauli, Trataka e
Kapalabhati, tendo aperfeiçoado todos os Asanas e Mudras necessárias. Em outras palavras, era só
para os bem instruídos. Me assinalou que havia muitos métodos de Pranayama e que os que o
praticavam defendiam por vários distintos meios. Agregou que em sua maior parte eram muito
lentos em desenvolver o individual e que alguns não tinham nenhum valor. Era evidente que
convinha ao estudante conhecer quase tanto quanto o mestre, se havia de discriminar entre o método
útil e o completamente inútil. A técnica especial era essencialmente o seguinte:
Depois de sentar-se em Siddhasana ou Padmasana se tomam 4 bocados de água doce e fria,
e se mantém o corpo erguido com a cabeça em descanso; depois se fecha a boca e se apertam
firmemente os dentes. Fecham-se os olhos, olhando a ponta do nariz e se observa a respiração. Se
exala o ar dos pulmões com esforço para eliminá-lo todo. Isto é possível mediante 3 exclamações de
“Uh”, uma espécie de grunhido como de um porco. Logo se coloca o polegar da mão direita sobre a
narina direita do nariz e os dedos menores da mesma mão na asa esquerda. Fechando a asa direita se
inala pela esquerda. Não há necessidade de acumular ar. Depois de haver enchido os pulmões se
engole como se deglutisse saliva deixando cair o queixo na pequena cavidade da base da garganta
(se chama Jalandhara) e se suspende a respiração.
Podem-se colocar agora as mãos sobre os joelhos ou mantê-las na mesma posição. Enquanto
se suspende a respiração se conta lentamente até 50 ou até o número que se possa. Sempre se deve
ter cuidado de não suspender a respiração até o extremo de bloqueá-la. Quando se chega a um limite
razoável se fecha a narina esquerda deixando que o ar saia limitadamente pela narina direita, até
umas 4 polegadas de distância. Deve fazer-se isso até que a tensão nos pulmões se tenha reduzido;
imediatamente se inala pela narina direita para voltar a encher os pulmões e logo se repete o
processo pelo lado esquerdo. Depois de voltar a aspirar pelo lado esquerdo se exala uma vez mais,
como antes, pelo direito. Este processo de curta respiração se mantém até que já não se possa reter o
fôlego. Então os pulmões se esvaziam lentamente até que tenham eliminado todo vestígio de ar,
depois do qual pode reiniciar a respiração normal. Toma-se um tempo de descanso e se repete a
mesma técnica. Durante o descanso é conveniente concentrar a mente e não lhe permitir nenhuma
ação. Isto se conhece como Unmani (não-mente). Deve manter-se hermeticamente fechada a boca
em cada etapa. O processo recém citado se considera como uma só etapa do Pranayama.
No começo, o fôlego tenderá a eliminar-se mais completamente em cada breve respiração,
mas isso deve controlar-se da maneira citada. Em nenhum momento há de permitir-se que o ar saia
rapidamente dos pulmões dando-lhes um descanso total. Depois do descanso se repetirá o processo.
Esta vez se inala pelo lado direito do nariz. A prática de alterar uma e outra narina deve seguir-se
ainda durante o período de respirações curtas. Este período pode manter-se uns 5 minutos quando se
praticou algum tempo. Depois de cada etapa se deve permanecer sentado, em silêncio, com as mãos
sobre os joelhos ou as coxas, com a mente em branco e os olhos fixos sobre um ponto entre as
sobrancelhas.
Quando se desenvolveu a prática ao ponto em que se pode realizar adequadamente, com
comodidade, se começa a segunda etapa. Depois do período de descanso da primeira etapa se
começa a encher os pulmões pela narina direita de maneira que só entrem 4 polegadas de ar; logo se
respira pela esquerda, novamente pela direita, e assim sucessivamente até que se tenham enchido
por completo os pulmões e a última inalação se faz pelo lado direito. Depois de engolir se suspende
a respiração contando até o mesmo número anterior; logo se começa com as respirações curtas até
onde se possa. Então se esvaziam lenta e totalmente os pulmões mediante a emissão do som “Uh”
(como explicado anteriormente) e o abdome se contrai com cada som. Só se permite o escape da
tensão superficial neste ato de respiração curta, emitindo o ar até umas 4 polegadas do nariz. Isso é
muito importante. O instinto tende a permitir a eliminação de todo o ar, coisa que deve controlar-se.
A inalação e exalação devem cumprir-se lentamente. Nunca se permitirá que a duração do
Kumbhaka (suspensão) exceda as razoáveis limitações individuais. Jamais se há de chegar ao
extremo. Se aumentará lentamente o lapso dessa suspensão e só depois que o período de cada
prática tenha sido desenvolvido até um razoável estado de perfeição. Como se trata de energia deve
ter-se cuidado de desenvolvê-la gradual e lentamente.
Há que considerar a dieta do ponto de vista do indivíduo. Seus requerimentos variarão de
acordo com seu estado físico. É aconselhável uma quantidade suficiente de leite e manteiga; no
entanto no princípio a Ghee (manteiga purificada) deve ingerir-se com certa precaução, pensando
no poder de digestão e assimilação. No princípio se tomarão 3 refeições por dia se só se preenche a
quarta parte do estômago com a refeição matinal, 3 quartos ao meio-dia e a metade ao anoitecer.
Pode-se ingerir mostarda negra e gengibre para ajudar a digestão e aquecer o estômago. Quando for
necessário pode-se utilizar um pouco de alguma substância azeda para dar sabor ao alimento. Pode
recorrer-se ao trigo, arroz, Ghee e leite, entre os produtos alimentícios principais, sempre em
pequenas quantidades. Se utilizará açúcar de cana ou mel para adoçar. Com o tempo se reduz a dieta
a um padrão fixo que consiste quase por completo em líquidos. Isto não pode nem deve ser feito no
princípio, porque conduzirá a resultados desastrosos. Transcorrerão 30 minutos depois da prática
antes de ingerir alimento; mas, no entanto, pode-se beber um copo de leite imediatamente.
Quanto a relações sexuais pode-se praticar 2 vezes por mês sem prejuízo, mas deve-se ter a
precaução de conservar o fluido vital tanto quanto seja possível.
Tratar de controlar a respiração brevemente é incitar o desastre. Só depois de um período,
depois de muita experiência e o lento desenvolvimento de nossa capacidade cresce o poder
mediante a arte do Pranayama. O aluno pode começar realizando 3 práticas por dia; de manhã, ao
meio-dia, e ao entardecer. Será cuidadoso e não excederá sua capacidade do momento; não há de
chegar ao ponto de esgotar suas energias. A prática será regular e terá seu momento oportuno. Os
resultados aparecerão ao longo do tempo. Eventualmente o Prana (respiração) eliminará a tensão no
corpo e o estudante descobrirá que pode realizá-lo com facilidade. No princípio, depois de praticar,
os nervos podem estar tensos, e se poderá sofrer ligeiras convulsões. Não é preciso ficar ansioso.
Por isso se ingerirá uma boa ração de trigo, cevada, leite e Ghee em algumas refeições. A excitação
nervosa passará a seu tempo. No princípio também a transpiração fluirá mais livremente. Mas essa
umidade do corpo não se deve enxugar, mas massageá-la, como se tomasse um banho oleoso.
Se aconselha que contar 50 segundos de Kumbhaka será suficiente no começo e é
conveniente repeti-lo durante 2 meses. Quando isso se cumpre com facilidade pode aumentar-se a
conta até 75 ou mais. Não há que alarmar-se por qualquer dor que se sofra; em uns 2 meses não se
voltará a sentir. Se utilizará a dor como medida e se evitará a próxima etapa até que ela tenha
desaparecido.
Quando se chega ao ponto em se pode alcançar uma centena de segundos de Kumbhaka, o
estudante exalará até o umbigo, logo inalará imediatamente, repetirá o Kumbhaka por outros 100
segundos e voltará a exalar até a distância do umbigo mediante a narina oposta do nariz inalando
rapidamente e repetindo o Kumbhaka uma, duas, três, quatro ou cinco vezes, que equivalerá a um
controle sobre a respiração para os mesmos 100 segundos: 100, 200, 300, 400, 500. Então poderá
adiantar seu Kumbhaka até 125 segundos respirando alternadamente por uma ou outra narina e
finalmente pelas 2, aumentando a capacidade para 150 e 200 segundos ou mais, segundo seu
desenvolvimento. Quanto maior seja o Kumbhaka, mais livremente transpirará o corpo porque
aumentam suas calorias. Para mitigar o calor, quando se faz demasiadamente intenso, pode realizar-
se a prática em água ou se massageará o corpo da cabeça aos pés com uma mistura de leite de
amêndoas, óleo de amêndoas e um pouco de pimenta preta ou suco de gengibre, açafrão e produtos
refrescantes. Tais bálsamos deixam-se no corpo por meia hora ou mais para ser absorvidos
livremente. Isto se fará 2 vezes por semana.
Depois de cumprir-se todo o Kumbhaka se exalará o ar em pequenas doses, ora por uma
narina ora por outra, até esvaziar os pulmões. Se inala logo da mesma maneira com curtas
respirações até o umbigo, antes de cada Kumbhaka. Se insistirá no processo até fazer o Kumbhaka
durante um total de 1200 segundos. Gradualmente se aumenta o processo até que o estudante possa
suspender a respiração de 3000 a 5000 segundos.
O ar ficará nos pulmões até chegar a uns 4000 segundos de Kumbhaka; depois tentará
eliminar-se dos pulmões e buscará o canal alimentar. Se experimentará uma espécie de retrocesso
contra a garganta ao tratar de entrar o ar no esôfago e estômago. O iogue ajuda o processo
deglutindo e apertando o queixo contra o espaço da garganta (Jalandhara Mudra). Se descobrirá
nessa operação que o ar encontra um obstáculo em seu movimento para baixo que lhe faz voltar a
garganta; portanto há que se manter assim o queixo e impedir que seja eliminado. Este processo de
rebote se encontrará continuamente em toda a extensão do trato alimentar. Quando o ar chega ao
ânus, fecha-se este (Mulabandha) contraindo os esfíncteres do reto e se impede aí seu escape. Essa
operação se realiza com certa dor no princípio que desaparecerá com o tempo e o processo se fará
natural e facilmente.
Durante o desenvolvimento da prática, os intestinos roncarão e se sentirá que o ar se
movimenta de um lado a outro sob o umbigo. Para preparar o caminho com objetivo que o ar entre
no trato digestivo é aconselhável tomar uns 4 goles de água antes de começar o Pranayama. Nas
refeições também será conveniente consumir uma pequena quantidade de cevada, trigo, arroz bem
empapado de Ghee para lubrificar os canais e facilitar a entrada de alimentos no estômago e
intestinos. Quanto maior a capacidade para o Kumbhaka mais tempo estará livre da fome o que
pratica. Esse efeito se deve ao ar que circula pelo trato digestivo e o processo se denomina “Viver
de ar”. Quando o indivíduo chega a essa etapa pode reduzir com êxito sua dieta a leite, azeite de
manteiga clarificada, e umas poucas frutas doces e começar suas práticas de concentração e
meditação.
Pode considerar-se suficientemente desenvolvido o Pranayama quando se faz o Kumbhaka
durante 5 ou 6 minutos. Nesse estado o iogue pode dedicar-se a treinar a mente para concentrar-se.
Logo a mente se auto concentrará, não importa onde esteja, e se pode começar então a despertar o
Kundalini. No caso em que a mente esteja inquieta durante o período de meditação, se aquietará
diminuindo a contemplação e fazendo do descanso o principal objetivo.
Para cumprir o “Kumbhaka Maior” há que começar por fechar a narina esquerda e inalar
pela direita e se segue com um Kumbhaka que dura até contar 15.000. Depois se exala pelo lado
direito e imediatamente se inala pelo esquerdo, repetindo o Kumbhaka até contar 15.000. O
processo se repetirá até haver realizado 4 desses Pranayama. Então se aperta a narina direita do
nariz e se exala pela narina esquerda a uma distância de 4 polegadas, inalando igual quantidade de
ar pela mesma narina. Se permite que o ar entre e saia dentro dos limites desta distância, mas
constantemente o grosso do ar deve ser retido nos pulmões e a prática se finalizará como se indica.
Se verá que este método dá lugar a um Kumbhaka líquido de 60.000 segundos.
Para transcender a relatividade e a existência condicional de maneira que se possa unir com
o Espírito Universal e assegurar, portanto, o Auto esquecimento chegando a um estado
superconsciente de Auto abstração, é necessário começar a inalar pela narina direita e seguir com
Kumbhaka de 12.000 segundos. Depois o discípulo deve permanecer concentrado 10 minutos.
Repetirá o processo inalando essa vez pela narina esquerda. Seguindo com 10 minutos de
concentração deve repetir o processo por ambas as narinas. Não passará muito até que todos os
sentidos cessem em sua atividade. Pode alcançar-se o Samadhi quando o Kumbhaka chega a 60.000
segundos. Fazendo-o gradualmente se poderá controlar a respiração por uma hora e meia. Só então
se manifestarão os poderes psíquicos.
Quando se pode reter o fôlego durante uns 3.000 a 5.000 segundos o sentirá em todo o
corpo. Se experimentará uma sensação de formigamento latejante em toda superfície. Isto
desaparecerá de imediato ao exalar. Se há de realizar o Kumbhaka sem temor algum e se suportará a
experiência para fazer algum progresso. Se insistirá que a dieta deve observar cuidadosamente para
que a digestão fique no melhor estado possível. É essencial ter a quantidade adequada de alimento
gorduroso (Ghee) para ter os nervos serenos e o organismo convenientemente lubrificado. É
importante ter presente que a melhor época do ano para a prática do Pranayama é março e abril ou
em setembro e outubro. Nunca se iniciará na estação fria, cálida ou chuvosa. Durante o verão o
iogue faz suas práticas de noite.
6
Havia muito que passara a hora do desjejum e era tempo de começar o dia. Meu amigo
Tantrik me assegurou que o que me havia relatado era uma das mais importantes técnicas da prática
do Pranayama. É raro ensinar este método a outra pessoa antes de tê-la experimentado num longo
período de aprendizagem. No entanto era evidente que detalhar verbalmente uma prática não
constituía, de nenhum modo, a revelação total da técnica. Era essencial a mão guia de um mestre.
Geralmente se apresentavam diferentes obstáculos nos distintos indivíduos e só o que conhecia a lei
em que se baseavam todas as técnicas iogues podia ajudar o aluno a vencer sua dificuldade
específica. As técnicas da maioria das práticas iogues se obtinham em livros, mas é uma deplorável
verdade que até as instruções escritas são insuficientes. Não há curso por correspondência para
chegar ao Céu.
Como meu plano era, eventualmente, traduzir essa instrução a outro ocidental, meu amigo
Tantrik assinalou a necessidade de aprender as formas mais simples. Prometeu informar-me na hora
do chá sobre os princípios básicos; entretanto devia atender seus próprios estudos e eu os meus.
Voltei à minha pequena habitação, com seus simples móveis que consistiam em uma mesa
torta, uma cadeira, e alguns pregos na parede para pendurar as roupas. Ainda tinha as malas feitas e
devia fazer algo mais, antes de empreender meus estudos. Depois de um ligeiro almoço, me alegrou
um período de descanso porque era a primeira vez que o fazia desde minha partida de Bangalore.
Minha mente divagava, especulando sobre o futuro. Tive a crescente sensação de que meus esforços
não eram em vão, que seguia um impulso de inspiração divina que me perturbava cada vez que saía
do curso predestinado. Tinha a noção de que me enchia de teoria e informação e estava cada vez
mais inquieto por meu desejo de transformá-lo todo em ação.
No entanto tive que me conformar com meus estudos e meu lapso diário de “Silêncio”
durante o qual me dedicava à introspecção. Era tão devoto nisto como um hindu. Sabia que não
devia apressar as coisas. Preparar-me e esperar...essa era minha tarefa. Em alguma parte alguém me
observava; quando chegasse a hora em que estivesse pronto sucederia todo o demais. Pensava que
quem passa o período mais longo em preparativos avança muito mais quando chega o momento,
sob a guia de seu guru. Eu teria paciência.
Capítulo XI
Eram 4 horas e entrei na sala de meu amigo. Nos acomodamos no chão. Sentando-me dessa
maneira em todas as oportunidades, me acostumava rapidamente a achar mais descanso que ao
sentar-me na cadeira. Tinha a vantagem de estirar os membros, de modo que quando me chegou o
momento de dedicar-me aos Asanas, pude dominá-los em um período relativamente curto. Sempre
havia sido bastante ágil, e portanto, não sofri o período de intenso incômodo como a maioria dos
ocidentais que tentaram acostumar-se aos hábitos domésticos dos hindus. Apenas nos haviam
servido o chá quando meu amigo começou a instruir-me.
Antes de poder cumprir totalmente a arte do Pranayama é imperativo informar-se da teoria
em que se baseia. No entanto, até que se tenha aperfeiçoado seu Pranayama, é quase impossível
utilizar os conhecimentos da teoria. Por isso me era necessário saber algo dos fundamentos antes de
prosseguir com meu trabalho.
Para poder adiantar mais com minha prática do Pranayama quando me dedicasse a tal
disciplina, meu amigo me daria o material útil para minhas imediatas necessidades. É evidente que,
quanto mais conhecesse a teoria, mais intenso seria meu impulso de ser competente no caminho do
Yoga que confere a vitória definitiva. Compreendi que me instruíam de maneira que chegaria com
segurança à meta pela qual me esforçava.
Primeiro me relatou, em termos gerais a teoria da respiração como se expõe na obra Tantrik
denominada Swarodaya.
Nenhuma teoria sobre a Vida do Universo é tão simples e no entanto tão grande e completa
como a da respiração. Esta (Prana) é o inseparável poder de Deus (Shakti). É o Poder Supremo
sobre todo o criado, o Pincípio Vital do Universo. É o substratum de toda causa e efeito que se
expõe como contas no colar da vida. O Shakti (poder) está sempre presente no homem. A respiração
(Prana) emergiu primeiro de Deus. É o alento de Deus que soprou ao Universo e que finalmente
será devolvido a Deus. Se diz que é tão incompreensível como o Oceano do Infinito. É a mente do
homem que o impede de ter consciência de sua presença.
O vocábulo Prana vem da raiz sânscrita “Pra” que significa Primeiro. “Na” é a menor
unidade de força. Portanto Prana seria a primeira respiração. Toda ação é só uma variação nas fases
do Prana.
Na ciência do Yoga sua função é a lei da existência do Universo. O sol é que lhe dá
existência e o mantém em atividade. Seu reflexo no homem dá origem ao esforço humano. Quando
chega ao individual se divide nas 10 funções de Wayu. Cada uma dessas tem sua denominação:
Prana, Apana, Samana, Udana, Vyana, Naga, Kurma, Krkara, Devadatta e Dhanamjaya.
Prana (o Princípio Vital) é a força dinâmica ou motora do homem e de todos os seres
viventes. É a força que suporta o corpo e todas suas forças propulsoras. É a morada de Jiwa (alma).
Os Nadis (condutores nervosos) são os tubos pelos quais se move o Prana.
2
Diz-se que o ar que entra pela narina direita do nariz é quente e o que flui pela esquerda é
frio. Por isso o Nadi direito é denominado o alento solar ou Pingala e o esquerdo o alento lunar ou
Ida. A energia que flui pela narina direita produz calor no organismo. É catabólica, aferente e
aceleradora para os órgãos do corpo. A energia da narina esquerda tem um efeito refrescante; é
anabólica, eferente e inibidora para os órgãos. Aumenta a nutrição e a força.
A respiração alterna entre as narinas do nariz. Se a ação é normal, a respiração alternará
aproximadamente cada hora e 50 minutos. Esta ação normal só de alcança depois de ter
aperfeiçoado o Pranayama. Nas pessoas médias tais mudanças da respiração variam muito e são
influenciados por maus hábitos, dieta errada, enfermidades e causas similares. Tudo causa efeito
sobre a respiração, desviando-a de seu fluxo normal. Quando a respiração continua durante um
período maior que 1 hora e 50 minutos por um lado do nariz é uma indicação de desordem devido
ao excesso de calor ou frio. Essa respiração alternada tem o objetivo de manter o equilíbrio da
temperatura do corpo. A respiração nasal aquece o ar muito mais que a oral, em razão da grande
superfície utilizada no processo.
Nosso corpo é uma réplica em miniatura do Universo. O sol e a lua ao deslocar-se em suas
órbitas de norte ao sul no macrocosmo estão por sua vez viajando no microcosmo mediante Ida e
Pingala durante o dia e a noite. A lua, que viaja em Ida pulveriza seu néctar de trevas sobre o
organismo e o sol, mediante Pingala enxuga todo o sistema. O encontro do sol e a lua em
Muladhara (centro vital inferior) se chama Amabashya, dia da Lua Nova. Próxima a esse centro,
Kundalini (a energia psíquica) dorme em Adharkunda. Se alguém com a mente controlada pode
confinar a lua e o sol a seus respectivos lugares de modo que a primeira não possa espargir seu
néctar e o segundo não possa retirá-lo, enquanto o néctar do corpo seca pelos fogos do
Swadhisthana Chakra (segundo centro do corpo) Kundalini despertará por si mesma.
O alternar da respiração é afetado pela membrana mucosa da cabeça, que se torna cálida e se
inflama do lado em que não flui o ar. A membrana se acha neste estado a cada mudança de
respiração de um lado a outro do nariz. Os que praticam o Swarodaya pretendem poder calcular o
momento exato do dia e determinar a natureza dos sucessos pela ereção rítmica da membrana
mucosa nasal que é regular como um relógio para tornar-se inchado com o funcionamento de um
corpo perfeito.
4
Desde meia-noite ao meio-dia, o Prana flui nos nervos e por isso a energia nervosa é mais
ativa durante esse período. De meio-dia à meia-noite flui pelos vasos sanguíneos que têm maior
força durante esse intervalo. Ao meio-dia e meia-noite esta energia se iguala em ambos os sistemas
de Nadis. Com o por-do-sol o Prana passa com todo seu poder aos vasos sanguíneos e no alvorecer
passa à medula de acordo com o curso do sol (corrente solar do Prana).
Na saúde perfeita há um equilíbrio do Prana nos Nadis. Isto significa que as correntes
positiva e negativa fluem em ordem regular e por condutores definidos. A operação de Livre
Vontade e certas outras forças mudam a natureza do Prana local, afetando o fluxo negativo e
positivo em graus variáveis. O caráter desse fluir é a mais exata indicação de um registro perfeito
das mudanças Tattwic no corpo. A saúde é resultado deste equilíbrio e a enfermidade é da ruptura
desse balanço. O iogue faz um esforço para ordenar essas correntes.
A respiração de 24 horas por um só lado do nariz prevê que está próxima uma enfermidade.
Se dura um período mais prolongado, significa que a afecção será séria. Se se respira por um lado
durante 2 ou 3 dias continuamente, pode-se esperar uma enfermidade grave. Isto se deve ao fato de
que os gânglios de algum centro nervoso são recarregados como consequência de que a respiração
permanece neste centro por um período maior que o normal.
Há 5 importantes centros nervosos no corpo, partindo da base da medula: Muladhara,
Swadhis-thahna, Manipura, Anathata e Vishuddha, todos na medula. Tudo deve ter um veículo e
estes Chakras (centros) são veículos de classes especiais de conhecimentos. As características da
energia e suas funções em cada centro se classificam assim: Prithivi (Terra), Apa (Água), Agni
(Fogo), Wayu (Ar), Akasha (Éter). Tratam-se de coisas que estão longe de serem compreendidas no
Ocidente. Os 5 centros influem na respiração, cada um afeta o fluxo de acordo com hábitos e
atividades do indivíduo. No estado normal, em pleno desenvolvimento, essas correntes nervosas
fazem que a respiração flua 960 vezes por hora. Por outra parte, quando um lado do nariz está
fechado, se sabe de imediato que a respiração (corrente nervosa) está em Prithivi (centro terrenal)
ou em Muladhara Chakra.
Cada uma dessas correntes influi no elemento do corpo segundo o centro mais ativo da vez.
Se o Prana circula em Apa (Água) atua sobre os fluidos do organismo; o mesmo sucede com os
outros centros. Os exercícios e práticas do Yoga se usam para liberar os movimentos do Prana
nesses centros desenvolvendo-os para revelar a potência latente neles. Cada Chakra (centro) tem um
número dado de importantes Nadis que se chamam pétalas. À parte de suas funções físicas têm um
aspecto metafísico definido do qual aprende o iogue à medida que progride com suas práticas.
5
No sono sem visões, Prana dorme nos vasos sanguíneos, no pericárdio e no interior do
coração. Quando se agita o Prana ou se está em movimento, tocando os Nadis se manifesta o estado
ordinário de conhecimento. O movimento regulado de Ar Vital (Prana) despertará maior
consciência, luz, sabedoria, e a potência latente que invade todo o corpo. Os 5 Ares Vitais se
originam nos atributos ativos de Akasha (Éter) enquanto seus elementos – Prana, Apana, Samana,
Udana e Vyana, constituem o que se designa o Saco da Vida (Linga Sharina). No Prana Gopala
Tapani-Upanishad se afirma: “O ar, que é um, se transforma em 5 ao entrar no mundo e assim se
manifesta em cada corpo”. Para suspender os fenômenos ativos da vida por um momento é
necessário controlar essas energias.
O iogue mantém controle sobre a respiração em todos os momentos de ação especial para
fazer mais eficazes seus esforços. Se o pratica continuamente chegará a ser automático.
Sempre é conveniente ter conhecimento do Tattwa que flui em um momento dado; sua
presença exerce considerável influência no resultado da ação particular do momento. O
conhecimento da natureza desta ação permitirá com frequência evitar ou impedir uma enfermidade
e ajudará a manter a saúde.
Há vários métodos simples para usar no começo para mudar o fluir da respiração. O iogue às
vezes fecha a narina que deseja com um pedaço de algodão. Outro método fácil é exercer uma
ligeira pressão sob a axila do lado da narina que se quer fechar. Isto pode se realizar apertando
fortemente a axila contra uma cadeira colocada debaixo dela. Se se mantém a pressão durante
alguns minutos, a respiração começará a efetuar-se pelo outro lado do nariz. Outro método eficaz é
manipular o nervo principal do dedo grande do pé no tornozelo do lado em que se deseja a
respiração. Um método simples é sentar-se no solo e levar o joelho a uma posição em que seja
possível colocá-la sob a axila; então apoiando-se nela, a respiração começará a realizar-se pelo lado
oposto do nariz. Ou se pode sentar no piso e apertar o ombro contra a parede, ou pressionar o nervo
sob a panturrilha. Com frequência os iogues levam uma bengala curta na qual podem se apoiar
quando sentados; desta maneira mantém a respiração de um lado determinado.
Mediante a prática contínua é possível mudar muito rapidamente a respiração. Na maioria
dos casos bastará com 10 minutos. O iogue instrui a alguém que se acostume a dormir do lado
esquerdo, de maneira que o alimento que se acha no estômago possa ser completamente digerido
antes de passar ao intestino. Isto se assegura pelo fato de que mantém a Pingala (respiração solar)
ajudando aos fogos digestivos. Para adquirir poderes psíquicos o iogue confia muito na respiração
solar.
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Havíamos mantido uma contínua conversa desde a hora do chá até meia-noite sem termos
movido de nossa posição. Depois nos servimos de uma xícara de chá como despedida. Me sobraram
ainda 2 horas para anotar em meu Diário a essência de nossa conversação: era esse um hábito que
seguia estritamente.
Não se aprovava nenhum método que requeresse a imediata transcrição de quanto se dizia e
se ouvia. Se esperava que os estudantes tivessem memória para recordar palavra por palavra da
instrução oral. Para o estudante nativo é possível memorizar literalmente volumes de palavras. Esta
é a maneira como chegaram até nós seus ensinamentos através de séculos. Há crônicas, é verdade,
mas se veem afetadas pela interpretação moderna. Se lhes dão novos significados que não guardam
relação com os antigos. E quando, como sucede com frequência, o texto é reescrito várias vezes,
perde-se todo o significado original.
A instrução que recebi foi consequência das perguntas que formulei. No começo me
haviam dito que não existiam “perguntas tontas”: o fazer perguntas era uma verdadeira indicação de
meu desenvolvimento. Era importante fazer a interrogação da maneira adequada; era uma espécie
de chave da inteligência e a sinceridade da pessoa. Não havia sistema particular neste método de
perguntas e respostas, mas sim um realismo muito eficaz em aprender o fundamental. Meu
conhecimento recém-adquirido chegou a ser parte integral de mim, de uma maneira que seria
impossível com qualquer outro método. No entanto a constância do que se havia dito no curso do
dia me resultava útil porque me ajudava a uma maior compreensão dos ensinamentos que me
haviam oferecido.
Antes de separar-me de meu anfitrião essa noite, se havia decidido que permaneceria com
ele durante o resto da semana e depois viajaríamos juntos para visitar o Swamaji, que estava no
eremitério da floresta de seu mestre. Talvez ali poderia começar minha tarefa prática como discípulo
de Yoga. Dei boa noite a meu amigo seguindo o costume de estreitar uma das mãos e inclinar-me
ligeiramente.
Capítulo XII
IMPORTÂNCIA DO PRANAYAMA
Ainda que ficasse até muito tarde essa noite, não deixei de cumprir com meu silêncio do
amanhecer. Havia ordenado que me servissem o chá às cinco.
Em meu passeio matinal meditei sobre o que me sucedia. Tratava de vislumbrar através da
ilusão da realidade, de dar uma olhada à lei do Karma que estava em funcionamento, porque
compreendia que todas as minhas atividades eram resultado do cumprimento de uma lei. Não era eu
quem decidiria o que haveria de fazer. Devia realizar o destino que guiava meus passos.
Sabia que não transcorreria muito tempo antes de empreender a esforçada disciplina da vida
de um iogue. Poderia realizar tal esforço? Era ambicioso, resoluto e sentia minha dinâmica energia.
No entanto tinha presente a advertência dos médicos depois de minha enfermidade. Assim, pois,
tratava de estabelecer o equilíbrio de conhecimentos entre Oriente e Ocidente. Os ensinamentos do
Oriente me asseguravam que não havia perigo e no mais íntimo sentia que estavam acertadas,
opinião até então confirmada por meus triunfos. No entanto, a advertência da morte deixava ressoar
seu eco desde o Ocidente, prevenindo-me a ficar alerta.
Minha mente recebia cada vez mais informação, fui dando conta que poderia me afastar da
Verdade. A energia e tempo investidos me afastavam cada vez mais de meu objetivo, porque tudo o
puramente mental é uma ilusão. Certo é que a mente é o único meio para verter o conhecimento dos
sentidos em consciência íntima; essa é sua divina função. É o instrumento de precisão pelo qual se
alcança entrar no Eu Interior. Mas se perde constantemente na mesma mente. Esse era o perigo para
mim. No entanto minha noção do mesmo atuou como salvaguarda para não ser apanhado nas redes
fatais de Maya (ilusão).
2
Um dia antes de nossa partida, meu amigo Tantrik passou a manhã transmitindo suas ideias
sobre Pranayama. Tratou de dar-me uma visão simples e clara dos ensinamentos Tantrik desta
ciência. Já havia lido ou ouvido muito daquilo. No entanto o valor principal da prática era oferecer
uma excelente resenha, esclarecendo em particular os aspectos ainda confusos de minha mente.
Prana significa respiração e Yama, pausa; portanto, Pranayama é simplesmente uma forma
regulada de um fluxo de ar irregular e acelerado. Controla o triplo processo da inalação (Puraka),
suspensão (Kumbhaka) e exalação (Rechaka). É a prática de inalar até o limite de capacidade
suspendendo até quanto seja possível e exalando depois até esvaziar quanto se possa os pulmões.
Pranayama é uma das práticas mais importantes de todas as formas de Yoga; é um processo
pelo qual se pode isolar o Eu Interior do influxo e a influência dos pensamentos mundanos. É uma
espécie de instrumento para alcançar as forças mais sutis que funcionam no corpo. Seu objetivo é
capacitar o iogue para alcançar o controle sobre o sistema nervoso; este controle lhe permite
dominar gradualmente o Prana ou energia vital e a mente. Este é o verdadeiro objetivo da prática
que é veículo para a revelação de aspectos da vida e a natureza que não podem ser estudados de
outra maneira.
O corpo deve cooperar na tarefa do iogue. Se diz que “O que jejua e o que come demasiado,
o que não dorme e o que não trabalha...nenhum desses pode ser um adepto”. Um Sadhaka (o que
pratica) necessita da solidão. Isto é essencial. Para a prática do Pranayama e a cultura mental deve-
se ter um lugar de retiro, onde, se é possível, se possa estar só com a natureza sem os refinamentos
dessa Era. O retiro mais desejável é uma pequena câmara de uns 6 pés quadrados, sem ornamentos
e longe de todo ruído. Se não se pode conseguir isso, o mais conveniente é uma habitação
silenciosa, uma célula, um desvão, ou um refúgio entre o bosque. Há de ter ventilação, não ser
demasiado frio ou quente, e perto de uma fonte de alimentos. O ideal seria uma caverna de uns 6
pés quadrados, perto de uma fonte de água. Em tal lugar se realizam as mais elevadas formas de
aprendizagem do Yoga. Atualmente é difícil achar um lugar ideal para a prática do Yoga, de maneira
que é necessário selecionar o mais vantajoso que se possa conseguir e aproveitá-lo ao máximo.
Meu amigo Tantrik assinalou que talvez o único lugar do mundo onde seria possível achar
um lugar ideal para a meditação seria o Tibet. Mas estava muito além do alcance de quase todos. É
sabido que ali não permitem o ingresso de estrangeiros, com raras exceções. Em consequência há
que se utilizar da melhor maneira o que se pode conseguir e deixar que o tempo resolva os
problemas futuros.
O lugar finalmente escolhido não deve estar demasiado afastado de fontes de alimentos,
água, etc, e será protegido de curiosos e perturbadores. É melhor levar uma vida solitária que estar
acompanhado por estúpidos e gente de mentalidade mundana; até a própria família há de ver-se o
menos possível.
A força é a única limitação importante em qualquer prática iogue. A capacidade física limita
a frequência, mas se há de medir cuidadosamente as limitações sem tentar demasiado, senão
atendendo ao escolhido em cada prática até que se faça fácil e logo se aumente gradualmente.
O Yoga deve praticar-se só quando a mente e o corpo estão frescos e não perturbados por
pensamentos malignos ou carnais. A castidade é essencial para acumular energia vital e no caso de
um homem casado sua mulher lhe será de maior ajuda se é estimuladora e compreensiva. Mas em
nenhuma circunstância a prática do Yoga limitará a felicidade a que tem direito a mulher. Deve-se
esforçar-se por “estar no mundo, porém viver deste” (1), sempre sério, mas contente, nunca
invejoso nem vaidoso. Se os pensamentos malignos penetram a mente não se recorrerá à força de
vontade para afastá-los, basta ignorá-los. Permanecendo indiferente e passivo, irão tão
misteriosamente como vieram. Em tal momento não se praticará o Yoga, é melhor praticar alguma
forma de atividade física. Não há de haver causa de ansiedade, no entanto, porque são obstáculos
encontrados e vencidos por todos os iogues.
A preparação do corpo pode começar em qualquer estação do ano, mas se há de começar a
prática do Pranayama na primavera ou outono. No inverno e verão são mais frequentes as
enfermidades, mas em outono e primavera o ar é puro e não é tão provável que não debilite seus
princípios vitais. As mudanças atmosféricas afetam muito as funções do organismo e têm um efeito
correspondente sobre a mente. O corpo é mais vigoroso, ativo e forte e o espírito mais ardente e
vivaz quando o céu está sereno e limpo e o vento sopra do leste, noroeste e sudeste. Também é
superior o ar seco e cálido ao frio e úmido. O frio intenso obstrui os delicados vasos da cabeça,
pulmões e articulações. Um estado mórbido é com frequência resultado da contínua umidade.
O corpo são é alicerce de uma mente sã. A purificação dos Nadis (nervos) é a primeira etapa.
O Pranayama é de grande ajuda para isso. A higienização dos Nadis pode ser realizada pelo
Pranayama em 3 meses e se alguém se acha em bom estado físico, no princípio pode fazê-lo ainda
em menos tempo.
Sem Nadis purificados não haveria realizações no Pranayama. Pode-se praticar 2 vezes por
dia, manhã e tarde, ou 3 vezes: manhã, meio-dia e tarde; ou 4 vezes: manhã, meio-dia, tarde e meia-
noite; ou 8 vezes nas 24 horas, praticando a cada 3 horas. Toda prática se fará quando não esteja
faminto nem saciado de comida. Se há de evitar a prática se estiver fatigado.
Deve insistir-se constantemente que o cumprimento do Yoga é impedido pelo excesso de
comida, esforço, excessiva permanência em banho frio matinal, comer de noite, limitar a dieta a
frutas somente, demasiada companhia, hábitos irregulares, etc. A excessiva aplicação traz a
distração; o sono imoderado produz preguiça, entorpece a mente, obstrui a memória e causa a
desintegração das forças físicas e espirituais do homem.
Dormir de dia altera os 3 Doshas, princípios orgânicos de Wayu, Pitta, Kapha (energia
nervosa, calor de metabolismo, e função linfática), por que se deve evitar estritamente.
O estudante se levantará cada manhã ao alvorecer, ou ao redor das 4. Levantar-se cedo pela
manhã não é difícil uma vez formado o hábito; se faz tão natural quanto levantar-se às 9. Se
começará a prática fazendo alguns Asanas (posturas), Sarvangasana (uma postura) se realizará ao
final de maneira que Jalandhara (o queixo caído) possa fazer-se mais facilmente. Mirtasana (postura
do cadáver) se realiza quando se está fatigado. Há que sentar-se no mesmo lugar à mesma hora,
mantendo fechados os olhos e ereto o corpo e a cabeça.
É absolutamente essencial a regularidade. Como mínimo se fará uma prática de 3 meses.
Nesse período pode obter-se um controle muito bom.
A prática de Pranayama até 4 períodos por dia é aconselhável apenas ao estudante que esteja
em condições. Este padrão se manterá durante 3 meses. O padrão ideal de prática é de 4 vezes
durante 24 horas; de 4 a 6; de 10 a 12; de 4 a 6; e de 10 a 12 de noite. Se continuará até que seja
possível fazer 8 séries de Kumbhaka em cada sessão. Haverá pois 320 séries no período de 24
horas. O estudante começará com 10 no primeiro dia aumentando a prática ao ritmo de 4 séries por
dia. Em 3 meses poderá chegar ao máximo. Vaschaspti, famosa autoridade em Yoga, dá 36
segundos como a menor taxa de Pranayama. Considera isso como expressão média. Setenta e cinco
segundos lhe parecem moderados e 108 um Pranayama intenso. Para o recém iniciado 12 segundos
é pouco, 24 aceitável e 36 bom.
Quem possui conhecimentos da respiração tem uma fortuna a seus pés, porque a respiração
determina a pressão latente em toda atividade e circulação. É uma das 2 causas da atividade da
mente, sendo outra o desejo. Mediante a regulação da respiração, o Karma obtido nesta vida como o
de vidas anteriores pode eliminar-se. Se aprenderá por experiência que o Pranayama destrói todo o
pecado e o mundo da ilusão, da mesma maneira que o fogo consome a lenha seca. O fogo latente na
lenha arde só com a fricção e da mesma maneira a sabedoria latente em todo ser vivente surge só
mediante a prática do Pranayama. Com este pode-se adquirir o poder de aliviar, curar as
enfermidades, despertar a energia espiritual. Se obtém a serenidade e a potência mental. Está cheio
disso o caminho de quem pratica o Pranayama.
Quando se adquire finalmente o controle completo sobre o sistema nervoso simpático se é
dono do corpo e se pode morrer à vontade. Se pode alcançar o Brahma (o Super-Eu) mediante a
prática contínua do Pranayama durante um ano. Sem esta, nenhum iogue pode realizar a iluminação
de sua alma durante o Kali Yuga.
O objetivo desses exercícios respiratórios é, primeiro, controlar o Prana-Wayu e deter a ação
orgânica. Todas as forças que surgem do íntimo devem ser controladas para que a mente se torne
concentrada para a Suprema Consciência. Depois se faz voluntário todo o sistema involuntário. A
culminação é o Samadhi, quando há total suspensão da animação.
Mediante Kumbhaka as fibras eferentes do vago são estimuladas, produzindo o estímulo do
centro vago da medula oblonga, que causa uma diminuição da ação cardíaca. Este nervo possui uma
distribuição mais extensa que qualquer outro nervo cranial. Contém mais fibras sensoriais e
motoras. Proporciona aos órgãos da voz e da respiração fibras motoras e sensoriais e à faringe,
esôfago, coração e estômago fibras motoras. O estímulo desse nervo em seu centro da medula
oblonga causa inibições a órgãos como o coração, pulmões, laringe e a aceleração dos movimentos
do estômago. Este centro vago também é excitado pelo estímulo de suas fibras aferentes, da
membrana mucosa nasal, a laringe e os pulmões. Kundalini Shakti (a energia nervosa) pode ser
excitada quando o nervo vago é violentamente impulsionado pelo Pranayama.
Quando se inala, se absorve Prana. Quanto mais Prana se possa absorver mais vitalidade se
possuirá. Na prática do Pranayama é importante absorver conscientemente tudo o que ocorre no
fenômeno da respiração. Outro princípio importante é criar sempre certa pressão “prânica” no
sistema. Isto se faz inalando durante um período dado maior quantidade de ar que normalmente. A
relação entre período de inalação e o efeito da “pressão” é de um a 60. Uma pessoa que faz longas,
profundas respirações, durante um minuto, criará pressão para uma hora. Isto é, o valor da
respiração profunda não se esgotará por uma hora aproximadamente. Para um período de 24 horas
se deve praticar pelo espaço de 24 minutos. Alguns acham impossível praticar 24 minutos por vez e
dividem o período pela metade fazendo de 12 minutos diariamente. O iogue que pode reduzir a
exalação normal gozará de perfeita saúde e adquirirá energia espiritual.
4
Devido a uma necessária lei da vida a mente sofre diversas mudanças ao despertar e ao
dormir. Com a aproximação da escuridão se altera o estado físico comum e se reúnem as forças
positivas da natureza. Isto produz uma diminuição da atividade sensorial: já não se recebem
impressões e o sono as domina. A expressão “descanso absoluto” durante o sono de uma noite se diz
que é de 11 minutos e meio. Durante o resto do tempo passado no que se denomina sono, o
indivíduo está submetido à ação muscular e mental. O sono como norma, tem uma influência
dominante sobre a mente em razão de sua qualidade de Tamaguna.
Se ensina no Yoga que o despertar, sonhar e dormir sem sonhar é resultado de certo grau de
temperatura em que trabalham comumente os órgãos sensoriais todos sob a temperatura cardíaca.
Em sânscrito o fenômeno se denomina Sadhaka Titta. Quando a Ida negativa (corrente nervosa fria)
chega ao limite, isto é, predomina sobre Pingala (corrente nervosa cálida) a consciência dorme no
coração. Quando a corrente positiva Pingala chega a seu extremo diário a ação dos órgãos sensoriais
já não é sincronizada com as diversas modificações internas dos Tatwas e então temos a
manifestação do despertar em toda sua atividade. A natureza busca sempre manter o equilíbrio
nesses 2 elementos de frio e calor. Quando o iogue, mediante o poder do Prana ou Mantra torna
ativa essa temperatura cardíaca, pode obter os resultados que permita sua competência.
Os budistas ensinam que o excesso de sono destrói todo mérito religioso e pretendem que se
achará muito útil uma vigília ocasional.
Com aperfeiçoamento do Pranayama se produz uma diminuição do sono e o iogue nota seu
corpo tão leve como o ar. Jamais transpira, o sêmen se lhe seca e a força seminal ascende para
retornar como néctar (Amriti de Shiva, Shakti). Fica livre de enfermidade e dor. Não há aumento
nem diminuição nos Princípios Vitais. Quando chega esta última etapa, o iogue pode, com
impunidade, ser irregular em sua dieta e seus demais hábitos, sem resultados prejudiciais por
desviar das antigas normas rígidas. Pode “comer, beber e divertir-se sem más consequências”.
Pelo Pranayama pode-se viver sem ar, alimento ou bebida, e obter o poder de iluminar-se. A
mente se faz serena e se enche de felicidade. Há uma exaltação de potências mentais e se desperta a
energia espiritual. Com o controle do Prana, Agni (calor corporal) aumentará diariamente. Com o
aumento de Agni se digerirá facilmente o alimento. Estando o alimento adequadamente digerido,
Rasa (essência metamorfoseada do alimento) aumenta e também Dhatus (princípios arraigados do
corpo) e com estes aumenta a sabedoria. Os pecados que duram dezenas de anos são eliminados.
O que se conhece como suspensão total requer 13 minutos e meio. É o Samadhi. Se diz que
os sentimentos ficam suspensos quando se pode realizar Kumbhaka durante um período de 10
minutos e 48 segundos. Gradualmente o iogue poderá suspender sua respiração por uma hora ou
hora e meia quando alcance todos os poderes que deseja. Na realidade não há nada que não lhe seja
possível.
O iogue pode gozar então do maravilhoso estado de Pratyahara quando suspende a
respiração por 3 horas.
5
Havia transcorrido a hora do almoço sem que percebesse o passar do tempo, tão distraído
estava com os ensinamentos. Era momento de descansar até que refrescasse, à tarde. Ainda havia
muito calor apesar de estar no outono. Ao meio-dia o calor era tão intenso como em Nova Iorque ou
Chicago à mesma hora em meados de julho. Na Índia isso se considera cômodo e assim calculei. À
hora do chá continuaríamos conversando sobre o Pranayama. Então meu amigo Tantrik me relataria
as técnicas mais importantes, utilizadas para realizar a arte do Pranayama.
Apenas faz falta dizer que durante a manhã havia vivido virtualmente em outro mundo. Era
meu sonho constante passar e provar o iluminismo do coração a que o Tantrik se referira. Estava
seguro de que se me permitissem seguir a disciplina, chegaria ao estado inicial de paz interior que
produzia alegria e felicidade para sempre.
Poderia seguir a disciplina? Se aproximava minha oportunidade…
Capítulo XIII
À tarde, a primeira prática que consideramos foi Kapalabhati, que segundo me explicou meu
mestre não é um Pranayama no estrito sentido da palavra senão um exercício essencial que deve
utilizar-se. É um processo de lavagem e purificação dos nervos e de eliminar do corpo Kapha
(muco). É um dos 6 processos de higienização dos Nadis e uma prática que também tem
considerável valor espiritual. Não há Kumbhaka regular nessa prática. Se toma a postura Lótus
(Padmasana). O exercício consiste só em Rechaka e Puraka. Rechaka (exalação) é a parte principal
do exercício, enquanto que Puraka(inalação) só é um complemento.
A prática vigorosa, por poucos minutos, de Kapalabhati, faz vibrar todos os tecidos do
corpo. Isto se fará cada vez mais violento à medida que o exercício avança com seu vigor original
até que se faz difícil controlar a postura. Por isso é tão necessário realizar a prática na postura Lótus,
que tem a chave do pé. Seria impossível de outra maneira manter-se sentado durante a prática. A
coluna vertebral tem que estar ereta e as mãos apoiadas sobre os joelhos. No Kapalabhati há um
jogo dos músculos abdominais e do diafragma. Estes são súbita e vigorosamente contraídos
impulsionando para dentro as vísceras abdominais. O diafragma penetra então na cavidade torácica,
que expulsa todo ar dos pulmões.
Na respiração normal a inalação é ativa enquanto o processo de exalação é passivo. No
Kapalabhati é o inverso. Rechaka e Puraka se realizam em rápida sucessão, mediante um súbito e
vigoroso impulso dos músculos abdominais. Este é instantaneamente seguido pelo relaxamento de
tais músculos. Rechaka ocupa a quarta parte do tempo de Puraka. O relaxamento é um ato passivo
enquanto a contração é muito ativa. Não há intervalo entre eles até que se completa uma série. No
princípio a série compreende 10 expulsões. Geralmente se realizam 3 séries em cada sessão, que se
efetua 2 vezes por dia, de manhã e à tarde. Geralmente podem agregar-se 10 expulsões cada
semana, até que atinjam 120 em cada série.
Entre séries sucessivas se permite a respiração normal para proporcionar o descanso
necessário. Os que se sentem em condições podem duplicar a quantidade, mas o mínimo será de 3
séries de 3 minutos por sessão. De nenhuma maneira se fará um esforço. É importante lembrar isso.
Só deve prestar-se atenção aos músculos abdominais, concentrando a mente nos golpes
abdominais contra o centro do abdome no umbigo onde se acumula a energia espiritual (Kundalini).
Esta concentração deve manter-se durante a prática. Eventualmente o sistema nervoso se tornará
espiritualmente ativo. Isto se manifestará por uma sensação de palpitação e brilhará uma forma de
luz serena neste centro contemplado pela mente.
Grandes quantidades de anidrido carbônico (dióxido de carbono) são eliminadas
assimilando-se quantidades similares de oxigênio que enriquecem o sangue e renovam os tecidos.
Kapalabhati não tem paralelo como exercício de grande valor de oxigenação. Corrige todas as
afecções provocadas pelo frio e é muito útil para postergar a aproximação da velhice. Sua cultura
nervosa é muito eficaz e é sumamente importante seu efeito sobre a circulação e o metabolismo.
Além de ser um processo de purificação nervosa também se pratica para despertar certos
centros nervosos que tornam mais eficiente a prática do Pranayama, serenando o centro respiratório.
Deve-se fazer diariamente umas séries dessas práticas antes do Pranayama. Cinco minutos são
suficientes para produzir um estado de transe quando se desenvolveu totalmente a arte do
Kapalabhati.
A velocidade depende da prática de cada um e nunca há de sacrificar-se a ela a perfeição.
Começando com uma expulsão por segundo, pode chegar-se a 2 por segundo que é uma boa
velocidade para uma pessoa normal. É possível desenvolvê-la a ponto em que se possa fazer 200
por minuto, mas exceder esse ritmo afeta tanto as expirações que se perde a eficácia. O vigor das
expulsões deve ser constantemente vigiado e não se há de reduzir nunca em benefício da
velocidade. O vigor, a velocidade, a medida de uma série o número por sessão e a quantidade total
realizada em um dia se determinam de acordo com a capacidade de cada indivíduo.
Só farei menção de outros 2 métodos usados com frequência para purificar os Nadis. Um,
que requer uns poucos meses, se realiza apertando a narina direita do nariz e aspirando fortemente
pela narina esquerda, suspendendo depois até onde se possa e exalando o mais lentamente possível
pela narina direita. Se repete, invertendo o processo e inalando pela narina direita. Pratica-se 4
vezes por dia: de manhã, ao meio-dia, à tarde e meia-noite, 6 ou 8 vezes por sessão. Esta prática
alivia o corpo, aumentando o apetite e produzindo ruídos surdos na cabeça. Quando isso ocorre, o
estudante deve parar. O segundo método é apertar os lábios fazendo-os sobressair um pouco, inalar
lentamente pela boca e tratar de sentir o contato do ar contra a parte posterior da garganta. Quando
se completa a inalação se engole e logo se suspende pressionando na parte baixa do abdome. Esta
segunda prática cura a indigestão e outras enfermidades contribuindo para a longevidade.
A respiração intensa induz os Apas (Água) e Prithivi (Terra) Tattwas. Segurando o braço
direito sobre o cotovelo e a perna esquerda sob o joelho é possível excitar esses Tattwas
especialmente o de Prithivi.
2
Suryabheda Kumbhaka (segredo do sol) foi o seguinte processo que meu amigo Tantrik me
explicou aquela tarde.
Há 4 Bhedas: Surya, Ujjavi, Sitali e Bhastrika. Suryabheda aumenta as calorias do corpo.
Com esse processo o iogue cura enfermidades que dependem de uma insuficiência de oxigênio. A
prática nos livra de enfermidades pulmonares, cardíacas, e de hidropisia. Higieniza os seios frontais,
destrói os transtornos do Wayu, desperta a Kundalini e impede a decadência física da morte
prematura.
A técnica é simples. É um processo de inalar pelo lado direito do nariz. Depois de fazê-lo até
a plenitude, se engole, se suspende e se faz a chave de queixo (Jalandhara). Mantém-se o
Kumbhaka até onde seja possível, mas sem esforçar-se. Depois se exala lentamente pelo lado
esquerdo do nariz. Repete-se. É importante manter o controle e a tensão dos músculos abdominais.
Mediante a prática de pressionar o plexo solar se desenvolve o lado mental. Pressionando em
qualquer parte do tronco se regula a respiração e se evapora o Kapha (muco). Esta prática pode
começar-se com 10 Pranayamas por dia, aumentando 5 diariamente até o máximo de 80. Quando o
estudante desenvolve totalmente pode continuar repetindo ainda mais enquanto a transpiração não
chegue à raiz dos cabelos e à ponta dos dedos, mantendo o Kumbhaka. A transpiração é um sinal
saudável e preserva o corpo de enfermidades.
Padmasana ou Siddhasana podem usar-se para esta prática. Depois de praticar Suryabhedana
se fará Ujjayi, Sitkari, Sitali e finalmente Bhastrika. Não tem importância que se façam outras
práticas.
Ujjayi significa “pronunciando em voz alta”. Se começa a prática mediante a completa
exalação pela boca. É um exercício respiratório profundo; se inala profundamente com a glote
ligeiramente fechada, depois se suspende e se faz uma lenta exalação até que começa a respiração
rítmica. Esta prática aumenta o calor do corpo. Qualquer postura é conveniente. A inalação se
realiza por ambas as narinas expandindo o peito e fechando parcialmente a glote, fazendo um som
como de soluço, de tom baixo, mas doce e uniforme. Os músculos abdominais devem ser
controlados mediante uma ligeira contração que se mantém durante a inalação.
Além da inalação que deve ser suave e uniforme, se faz a deglutição. Logo Kumbhaka e
Jalandhara. A verdadeira vantagem está em Kumbhaka, mas não se deve insistir até o ponto de
sufocação nem até que seja impossível controlar uma suave exalação bem regulada pelo lado
esquerdo ou por ambos os lados, com a glote parcialmente fechada emitindo o mesmo som que
antes.
O período de exalação levará 2 vezes o tempo de inalação e se deve tratar de prolongar a
duração em cada série. No começo 4 séries por minuto são um ritmo conveniente. Ao finalizar o
período de prática não se deve estar demasiado fatigado. Se engolirá o ar que preenche a boca
levando-o à região do plexo solar, onde se realiza uma espécie de arroto sem abrir as narinas do
nariz nem a boca. O ar sobe e baixa novamente. Ajudará a despertar todos os Nadis desde a
garganta ao umbigo. Esta prática é de grande ajuda quando o Kundalini começa a mover-se e segue
sua marcha.
Para preparar-se para a prática pode dedicar-se mais ou menos uma semana a Ujjayi,
abandonando Kumbhaka. Sete séries são suficientes ao princípio; se agregam 3 cada semana mais
ou menos segundo a capacidade. A quantidade máxima de séries diárias será de 320, distribuídas de
2 a 4 sessões. 240 bastam para quem esteja interessado somente nos aspectos da prática. Seu
aperfeiçoamento protegerá das enfermidades como: indigestão, disenteria, tuberculose, resfriado,
febre, melancolia e enfermidades nervosas.
Sitkari é o processo de respirar somente pela boca que tem o efeito de manter fresco o corpo.
Se realiza aspirando pela boca com todo o ruído possível e exalando de imediato. É importante
manter os dentes firmemente apertados e suspender a língua de maneira que não toque o céu da
boca, a sua base ou os dentes. Ao inalar, o impulso deve vir da parte baixa do abdome para
preencher a capacidade dos pulmões. Isto se faz de 50 a 80 vezes e é melhor praticá-lo de noite. Se
bebe um copo de leite quente uns 20 minutos antes de começar. Esta prática oxigena o sangue, cura
a insônia, acalma a fome e a sede, elimina a indolência e o sono e contribui geralmente para a
acomodação do sistema. Aumenta a beleza e o vigor do corpo e cura a tuberculose. Respirando esse
ar úmido o corpo logo se libera de todas as enfermidades. Mediante este Kunbhaka o iogue pode
chegar a ser de sangue frio e independente. Se diz que em 6 meses pode adquirir o gênio poético ao
aperfeiçoar esse exercício. Um iogue perfeito em outros aspectos também alcança a clarividência e
a clariaudiência.
Sitali Kumbhaka é o processo de Pranayama feito inalando pela boca e exalando pelo nariz.
Isto também mantém fresco o corpo. É equivalente a Sitkari junto com Kumbhaka. Qualquer
método pode usar-se sem o Kumbhaka quando se deseja só agregar umidade ao sistema.
Depois de dobrar a língua com a ponta sobre o véu palatino se inspira, fazendo atuar em
combinação com ambos. Isto se chama Manduka Mudra (Rã Mudra) porque se faz como uma rã.
Depois de inalar se suspende a respiração antes de exalar através do nariz enquanto descansa todo o
sistema. Esta forma de Kumbhaka é uma imitação da serpente. É necessário alimentar-se de leite,
manteiga purificada, e água fria. Induzirá ao amor, ao estudo, e ao isolamento e dará lugar à
faculdade de entrar em transe.
Se se realizar previamente o Pranayama, um mês de prática dará suficiente poder para
reparar os efeitos do pré-juízo, agregar tenacidade à vida e liberar o corpo dos perigos da febre.
Mediante a prática de Sitali Kumbhaka as serpentes mudam a pele e praticando Bhastrika produzem
seu chiado. A esplenite (inflamação do baço) e diversas enfermidades orgânicas podem curar-se
mediante esta prática. Se poderá suportar a privação do ar, água e alimento. Se estará dotado da
capacidade de renovar a pele e realçar a beleza. Se adquirirá sangue frio e será fácil passar o tempo
em solidão e em devoção.
O iogue que pode combinar Apana com Prana é feliz e se pode respirar ar puro apoiando a
língua contra o céu da boca, se libera de todas as enfermidades. Aspirando diariamente o ar saturado
de água se libera da fadiga. Quando o iogue aperfeiçoou a técnica do Pranayama, se pratica só, por
breve tempo, não há dúvida que pode livrar-se das enfermidades e da velhice, alcançando uma
apreciável longevidade.
Quando o iogue pode preencher de ar todo seu trato intestinal adquire o poder de
desprender-se da pele e alterar à vontade seu peso específico. Pode ser obeso ou magro à vontade.
Torna-se leve ou pesado. Outro método de realizar essa prática é esticar a língua fazendo-a
sobressair um pouco entre os lábios. Se aspira então muito lentamente enchendo os pulmões até
onde seja possível. Segue-se com o ato de deglutição antes de fazer um Kumbhaka por pouco
tempo. A exalação será por ambas as narinas. Se visualizará mentalmente o fato de que o ar vai à
boca por Kundalini.
Este método nos livra da indigestão, cólica, prolongada melancolia, febre, transtornos
biliares e catarro. Cura as afecções pulmonares, atua como antídoto, impede a fome e a sede e nos
preenche de uma sensação de felicidade. Este Mudra se denomina Kaki Mudra (Mudra do corpo) e
deve praticar-se ao amanhecer e entardecer. Se adquirirá um conhecimento intuitivo da mente do
próximo, uma introspecção da natureza dos objetos e conhecimento profundo da vida.
Bhastrika Kumbhaka conserva a temperatura regular do corpo. Isto equivale à prática do
Kapalabhati com Kumbhaka. É melhor praticá-lo em Padmasana; no entanto, no princípio pode
usar-se Siddhasana ou Vajrasana. Para o aperfeiçoamento final da prática é absolutamente essencial
recorrer ao Padmasana, para poder reter o fôlego. Depois de adotar a postura correta se endireita as
costas e o pescoço, se inala lentamente até expandir por completo o estômago e depois se exala
forçadamente pelo nariz. Logo se inala e exala rapidamente forçando o último. Se emite um ruído
que se sente na garganta, no peito e na cabeça. Deve fazer-se umas 20 vezes ou até fatigar-se.
Depois se inala pelo lado direito, enche o abdome, se suspende e se fixa a vista na ponta do nariz.
Kumbhaka se realiza até onde possa fazê-lo com comodidade. Depois da suspensão se exala pelo
lado esquerdo e logo se inala pelo mesmo lado voltando a suspender a respiração e exalando pelo
lado direito. Isto completa uma série.
Cada expulsão de ar deve ser súbita. A inalação automática é muito mais lenta. O processo
imita a ação do fole de um ferreiro. Se pratica lentamente ao princípio e logo se aumenta de maneira
gradual a quantidade de Rechakas (exalações) até 120 por minuto. É conveniente começar com 10
séries e aumentá-las de acordo com a capacidade individual.
A cada respiração e batida funciona o cérebro. Aumenta em volume com cada exalação e
diminui a cada inalação o que significa que o cérebro constantemente aumenta e diminui de volume.
Este movimento está estreitamente relacionado com a rapidez da circulação sanguínea no cérebro
proporcionando-lhe um renovado e generoso afluxo de sangue. O que sucede no cérebro por
necessidade deve suceder em outros órgãos com a mesma manifestação. A respiração exerce uma
modificação sobre a circulação do sangue nas veias. A veia do pescoço se esvaziará subitamente
quando o peito se dilata para inspirar. Se encherá, pelo contrário quando se contrai o peito. Quanto
mais marcados os movimentos respiratórios, mais acentuados serão estes.
Quando se contrai o átrio o sangue é impulsionado para a cabeça e quando aquela se dilata é
enviada ao coração. Como os movimentos do átrio são muito mais frequentes que os do tórax, a
batida da veia jugular é muito irregular. Isto é o que sucede durante a enfermidade.
A circulação sanguínea aumentada em todo o corpo pela prática de Bhastrika tonifica todo o
sistema nervoso. Uma prática prolongada excita todos os átomos do corpo pondo em movimento
todo o sistema até que é totalmente reconstruído e purificado. Oportunamente se despertam as
forças ocultas e a pessoa se transforma num ser novo e infinitamente mais poderoso.
No princípio o calor corporal aumenta com a circulação acelerada, seguida por uma
temperatura corporal devido a abundante transpiração e os rápidos e violentos movimentos
respiratórios que terminam em Kumbhaka. Quando a ativa circulação sanguínea é acompanhada de
livre transpiração se eliminam as impurezas e se mantém melhor a fortaleza e nutrição do corpo.
Isto capacitará a mente e o corpo a realizar suas funções com maior facilidade.
A prática deve ser feita por pelo menos 2 vezes ao dia, até que se sinta bastante calor ou
pressão nas têmporas.
Então se há de descansar antes de continuar. Se se sente fadiga durante a prática enchem-se
os pulmões aspirando pelo lado direito do nariz, se suspende quando seja possível e se exala pelo
lado esquerdo.
Esta prática corrige qualquer desequilíbrio de Wayu, Pitta ou Kapha. Facilita a digestão, ou
enriquece o sangue e melhora a ação cardíaca. Se constitui uma forte resistência ao contágio e as
enfermidades infecciosas. É esplêndida para impedir a febre, se se deve viver em lugares
pantanosos ou em zonas infectadas. Quando se prepara para tais condições seus efeitos durarão
muitos meses.
Bhastrika Kumbhaka permite ao iogue alterar à vontade seu peso específico. Aumenta o
apetite, cura as enfermidades pulmonares e hepáticas, purifica o sistema, destrói as impurezas que
se acumulam à entrada de Brahma Nadi, rapidamente desperta Kundalini e lhe oferece grande
prazer. Se se pratica 10 ou 20 vezes, cada vez seguido por um Kumbhaka, se converte em um
tratamento contra a impotência. É eficaz em tantos aspectos porque dá a todo o sistema uma espécie
de choque elétrico.
É o melhor exercício que se descobriu para o sistema vascular e nervoso. Desperta e
eletrifica o sistema nervoso em escala assombrosa. A rápida circulação sanguínea em Bhastrika e as
vibrações dos tecidos de todo o corpo levam a um acúmulo de energia em quase a totalidade dos
sistemas nervoso, muscular e circulatório. Para abrir as 3 vásculas superiores do Shatki Nadi é
necessário praticar Bhastrika Kumbhaka.
Bhastrika realizado plenamente rompe os 3 nós; o da pelve, denominado Brahma Granthi
(situado no Muladhara Chakra); o do umbigo conhecido como Vishnu Granthi (situado no
Manipura Chakra) ; e o que está entre os olhos que é Rudra Granthi (situado no Ajna Chakra).
Todos funcionam livremente mediante um esforço.
Apenas se há deixado o Kundalini, se praticará plenamente Bhastrika para despertá-lo.
Quando se aperfeiçoa pode atender-se ao próprio desejo de praticar ou não outros Kumbhaka.
Bhastrika e Ujjayi são consideradas as melhores variedades de Pranayama. Sempre seguirão a
completa evacuação e o banho. É aconselhável usar um pouco de azeite ou manteiga clarificada
quando se pratica Bhastrika. Se permite ingerir soro de manteiga. A comida principal será ao meio-
dia.
Suryabheda e Ujjayi produzem calor. Sitkari e Sitali são refrescantes. Bhastrika conserva a
temperatura normal. Suryabheda destrói Wayu. Ujjayi destrói Kapha em excesso. Sitkari e Sitali
destroem o excesso de Pitta. Bhastrika equilibra os 3, Sitkari e Sitali são mais úteis em tempo de
calor. Bhastrika pode realizar-se em todas as estações.
Sahita Kumbhaka é de 2 classes e se pratica com ou sem Mantras. Senta-se em Padmasana e
fecha as narinas, a direita com o polegar e a esquerda com o mínimo e o anelar. Nunca se fará com
o dedo indicador ou o médio. Soltam-se os 2 dedos e se inala lentamente, o mais lentamente pelo
lado esquerdo. Quando se enchem os pulmões se traga o fôlego. Assim se acumula o ar e os
músculos da garganta têm melhor tensão para reter o ar inspirado. Então se faz a chave de queixo
(Jalandhara) e se suspende. O ar fica nos pulmões até onde seja possível sem dor ou sufocação,
depois se exala pelo lado direito do nariz enquanto o esquerdo se mantém fechado com os 2 dedos.
Imediatamente se aspira o ar pelo lado direito, retendo-o e exalando pelo esquerdo, igual que antes.
Este alternar de inalação e exalação contínua finaliza com exalação pelo lado esquerdo. Enquanto se
pratica, a mente está concentrada no Centro Ígneo do umbigo ou no Néctar que flui da Lua no alto
ou se se prefere no fluir da respiração pelo nariz.
Este Kumbhaka se realizará todo o dia. Os Nadis e o sistema nervoso se purificarão
totalmente se se faz diariamente durante 3 meses. Uma vez purificados todos os Nadis, fica-se livre
dos transtornos funcionais e avança na primeira etapa da prática do Yoga. O corpo se desenvolverá
harmoniosamente e emitirá um doce aroma, seu porte será atraente e bonito, sempre estará animado,
terá muito valor e intenso entusiasmo. O corpo será bonito e cheio de força e energia. A prática
continuará até que apareçam tais sinais.
A relação das 3 respirações será: inalação de 1 segundo para 4 segundos de suspensão e 2 de
exalação. Segundo a capacidade do estudante a prática pode durar até 48 minutos para cada um dos
4 períodos diários e termina sempre exalando pelo lado esquerdo do nariz, que estabelece equilíbrio.
No princípio é conveniente praticar só Puraka e Rechaka sem Kumbhaka. Depois de uma semana
pode-se acrescentar o Kumbhaka, mas sem apressar-se. Puraka, Rechaka, Kumbhaka se adaptarão
com grande cuidado à capacidade individual. A experiência e a prática constante podem assegurar o
êxito. A rotina sistemática é positivamente essencial e garantirá o imediato aumento de Kumbhaka.
Esta disciplina deve ser seguida com a prática de Asana (postura), Japa (recitação de Mantras),
concentração, meditação e demais práticas do Yoga. Puraka (inalação) favorece o desenvolvimento
e a nutrição e iguala os princípios vitais. Kumbhaka (retenção) causa estabilidade e aumenta a
segurança na vida; Rechaka (exalação) elimina todo pecado e dá completo controle sobre o corpo.
Sempre há de sair da prática revigorado e totalmente refrescado. Nunca se chegará à fadiga.
O espírito sempre há de se regozijar. Não se deve expor o corpo à desidratação e se aconselha não
banhar o corpo imediatamente após a prática. É normal um descanso completo de 30 minutos. Se
obterão os melhores resultados se se escolhe uma forma de prática e se desenvolve até o mais alto
grau antes de tentar realizá-las todas.
Sem a ajuda pessoal de alguém mais versado neste método de instrução espiritual, o
estudante não se arriscará mais de 16, 32, 64 segundos. O valor do tempo se estabelece contando
lentamente o número de segundos escolhido ou se pode usar o Mantra que nos deu o guru.
3
A prática mais elevada, Uttama Pranayama leva o sujeito a efetuar a suspensão aérea
apoiando no piso somente as pontas dos dedos das mãos e dos pés. Com o tempo poderá alçar-se do
solo sem tocar nada (1) e girar como uma bola de goma inflada. Há práticas especiais que lhe farão
caminhar sobre água e realizar façanhas semelhantes.
Uma escola de investigadores espirituais pratica Pranayama inalando abundantemente como
para fazer possível ouvir a própria respiração; depois de suspender enquanto se conta até 120 se
exala da mesma maneira. O objetivo é desenvolver sobre a exalação um controle que não permitirá
provocar a oscilação da chama de uma vela nem deixar marcas num espelho que se encontre junto
às narinas. Há que se abster de ingerir 5 tipos de alimentos: cânhamo, painço, milho, arroz e
leguminosas. Este método requer uma prática constante e também possuir elevadas qualidades
mentais e morais. Se há de ter objetivo correto e se estará disposto a cumprir equipando-se com as
ideias adequadas a respeito do mundo e a importância da Vida. Se enfrentarão os fatos da existência
e se captará a primeira Verdade, a Ilusão Universal. Para alcançar o ponto de vista correto é
essencial basear-se no necessário alheamento de todos os desejos sensuais e abundar em bondade e
cordialidade.
A respiração forçada às artérias se realiza mediante o Kumbhaka. Ao penetrar no sangue,
esquenta o corpo dando-lhe uma espécie de calor mágico e uma vertigem extática. O calor
produzido pelo Pranayama queima certos elementos de desejo como o fogo queima a palha. Liberta
o iogue de qualquer transgressão à lei divina e destrói seus vínculos.
Quando se reúnem as calorias suficientes, Prana adquire bastante força para afetar as dobras
mentais. Enquanto a temperatura cardíaca não é bastante forte para afetá-lo se mantém o estado de
sono. Mediante o controle de Prana se aumenta o calor interno (Agni) e então se digere facilmente o
alimento. Quando isso se sucede há um acréscimo da essência nutritiva (Rasa). Havendo
desaparecido todas as tendências e enfermidades malignas há um aumento de sabedoria. Mediante a
prática constante o estudante pode obter o controle em 6 meses. Quando seu Wayu ingressa no canal
central do corpo (Sushumna) lhe dá controle sobre a mente e lhe permite alcançar êxito no mundo.
Me perguntei se chegaria alguma vez o dia em que pudesse presenciar todas essas
misteriosas demandas e pronunciar a Verdade de que falava meu mestre. Não refleti muito em sua
meta de eterna felicidade porque sabia que meu júbilo surgiria ao entrar em ação. Estava impaciente
por começar minha disciplina. Como tudo estava embalado, nos demoramos um pouco depois da
ceia, conversando sobre o Swamaji que me havia iniciado. Visitava a seu velho mestre, um
Maharishi cujo retiro achava-se oculto nas montanhas da Índia Central. Meu amigo me disse que
esse homem santo, que era um verdadeiro iogue havia sido discípulo de meu primeiro guru – que
me havia ensinado na América – e que haviam planejado que ele guiasse minha futura disciplina.
Ao deixar essa vida meu primeiro mestre lhe pediu a seu discípulo preferido que me ajudasse a
continuar minha instrução. Aparentemente meu primeiro guru lhe contou muito de mim e de meu
sincero desejo de aprender os ensinamentos, assim como viver de acordo com suas leis. O Swamaji
deixou encarregado que meu amigo Tantrik me levasse ao eremitério do Maharishi quando
regressasse de minha viagem.
No entanto um mestre não aceitaria um estudante até havê-lo examinado primeiro
cuidadosamente. Deve determinar a capacidade do estudante para poder escolher o método a seguir.
Depois o jovem discípulo há se submeter-se a uma simples iniciação para que o mestre possa
estabelecer um vínculo psíquico com seu subconsciente. O guru pode então assistir ao iniciado em
seus esforços para fazer descansar totalmente a mente e ajudá-lo assim a recorrer o caminho da
Compreensão Íntima.
Este vínculo de consciência permite ao mestre estar ao par sempre do desenvolvimento
alcançado pelo discípulo. Ainda que grande parte deste treinamento me resultava de importância
secundária, adverti que ainda tinha seu esplendor quando pensei que enfrentaria a disciplina com
um guru instruído pelo mestre que guiou meus passos durante tantos anos.
Tinha pouco tempo para pensar em meus sentimentos porque devia levantar-me às 4 para
poder tomar o trem para Calcutá.
CONTRASTES NA ÍNDIA
Chegamos a Calcutá na manhã seguinte ao redor das 7 dispondo de bastante tempo durante o
dia para fazer umas compras e atender aos detalhes menores da vida diária. Pela tarde, sem demora,
havíamos de partir para a casa da floresta do Maharishi.
Uma estação ferroviária na Índia está sempre cheia de homens carregados com uma
infinidade de malas, muitos dos quais são levados na cabeça pelos trabalhadores que entram e saem
da multidão com suas abas das camisas vermelhas oscilando com a brisa. Com frequência usam nos
braços faixas com a inscrição “Un Anna” que é o preço que se supõe cobrar por um volume, mas na
realidade há que pagar 2. Viajamos na classe intermediária que às vezes permite esticar-se para
dormir se sobrar algum espaço disponível.
Afortunadamente estávamos sós no vagão de classe intermediária e gozamos de completa
intimidade. Que mais podíamos desejar? Era um vagão em que viajavam comumente 14 pessoas
sentadas. De um lado havia pequenos bancos de madeira todos dispostos em uma direção e
transversais ao vagão como em um grande ônibus. Contra a parede oposta havia um estreito banco
de madeira em todo o comprimento da parede como se vê em alguns bondes, mas não tão cômodo;
os assentos não estavam estofados. Sentava-se sobre a madeira de costas à janela.
Ao viajar na Índia, sempre se leva a roupa de cama qualquer que seja a classe em que se
viaja. Então estava acostumado a viajar em trens hindus e nunca me ocupava com as roupas de
cama. Levava somente uma manta branca para enrolar-me e proteger-me um pouco do pó. É pior se
achar em um trem na Índia que passar por uma tormenta de pó na América. Com a manta era mais
fácil lançar o pó reunido durante a noite. Aquela vez tinha tudo a meu alcance e planejava viver um
prolongado tempo na floresta. Minha roupa de cama incluía o luxo de uma almofada, de maneira
que pensei que estaria realmente cômodo por uma noite.
Uma hora depois o trem se deteve e subiram 2 pessoas. Como sempre dormia bem, ocupei o
lugar na extremidade do banco, com as pernas estendidas na borda. Isto tinha a vantagem de
permitir-me estender as pernas e manter o equilíbrio evitando ter que me deslocar durante a noite.
Às duas fui despertado por um grande tumulto. O carro estava repleto de passageiros. Havia
26, apertados como às 5 da tarde no metrô de Nova Iorque. Me levantei e entrei no pequeno lavabo.
Quando voltei ao reduzido lugar que ocupava, estava ali um desconhecido. Considerei que ao
advertir aos passageiros que o carro estava cheio até o limite, podiam ter se alojado em outros
carros do trem, mas, à maneira hindu se arrumaram como animais, satisfeitos de permanecer
durante horas tão apertados como para não poder se mover. Não tinha tendência a seguir tal
costume de viajar e insisti em reclamar meu lugar. Pedi-lhe que se movesse e ele quis indicar-me
que não falava inglês, mas não me satisfez sua resposta. Era um recurso muito comum. Me sentei na
meia polegada de espaço que restava e empurrei com força até acomodar-me novamente. Depois
informei a meu vizinho que havia dormido ali e como não notei a menor reação, coloquei minha
almofada sobre seus joelhos e me estendi para dormir outra vez. Como não se movia, acreditei que
poderia apoiar a cabeça durante a noite. Logo senti que deslizava e voltei o rosto para a parede e me
dispus a dormir. Mas não por muito tempo. Me despertou alguém que me puxava a camisa.
Depois de pensar, me voltei. Um homem de uniforme estava junto a mim e me reprovou à
maneira típica da Índia, se não me envergonhava de apoderar-me do assento do pobre homem
deslocando-o do carro. Eu, um homem branco, me aproveitava de uma humilde alma, continuou.
Me enfureci e quase reagi como se o fizesse no Ocidente onde a ação era a maneira mais rápida de
resolver tais conflitos. Mas, como um relâmpago, cruzou pela minha mente a ideia de que um
homem branco jamais há de golpear um nativo, qualquer que seja a provocação. Me controlei, pois,
e comecei a explicar que havia tomado o trem no ponto de partida e como tinha passagem completa,
aquele era meu lugar. O homem de uniforme insistiu que eu mentia e que o pobre diabo ocupava
aquele lugar antes de mim, que lhe havia tirado o assento. Continuei explicando, mas em vão.
Minha ira se renovou.
Finalmente insistiu que demonstraria meu erro se me levantasse. Eu o fiz e então buscou
debaixo de minha almofada e tirou pertences do hindu que as havia colocado depois que dormi. Já
era demais… Estalei e lhe disse com expressão inequívoca que se o usurpador devia sentar-se ou
dormir sobre alguém, havia ao redor bastante de sua raça e de sua classe e não tinha porque escolher
um estrangeiro. Enquanto prosseguia nossa acalorada discussão vimos que o hindu se acomodava
entre os demais e deixamos a polêmica. O trem voltou a deter-se meia hora mais tarde e todos
desceram, exceto meu amigo Tantrik e eu. O resto da noite o carro esteve à nossa disposição. Assim
se viaja na Índia, de noite, em classe intermediária.
2
Descemos do trem na tarde seguinte e bebemos um par de xícaras de chá em uma pequena
estação. Tendo avisado da viagem, encontramos quem nos esperava numa carroça de bois. O retiro
na floresta do Maharishi a quem iríamos visitar estava a considerável distância da linha férrea. Não
queria ser molestado em sua tarefa pelo modernismo.
Como tínhamos pela frente uma longa viagem, nos apressamos a empreendê-la. A carroça
puxada por bois anda demasiado lenta como alguém que possa caminhar e a única maneira de
suportar a travessia é descansar num leito de palha. No entanto, havia tanto que viajávamos em trem
que decidimos tentar a caminhada. Apesar de nosso passo lento, sempre estávamos à frente da
carroça.
Ao entardecer chegamos a uma aldeia onde nos deteríamos para tomar um refresco na casa
de um nativo e esperar que nos alcançasse a carroça que levava nossa bagagem.
Com o fresco do anoitecer voltamos a sair e passamos a noite dormindo em intervalos na
oscilante carreta que percorria o tortuoso caminho. Era uma noite clara e viajávamos à luz da lua.
Minha imaginação impedia o descanso. A cada instante uma nova ideia parecia surgir de minha
mente e devia esforçar-me por concentrar-me na oportunidade que se me oferecia e traçar meus
planos em consequência. Estava a ponto de realizar meus primeiros sonhos.
Chegamos quando o sol saía no alvorecer; pendia no alto como uma imensa bola de fogo. Os
servidores há horas de pé, estavam preparados para receber-nos. Nos acompanharam até nossas
habitações e nos trouxeram o tão necessário banho.
Desde que cruzei a entrada da pequena habitação que seria meu lar durante os próximos
meses se converteu em meu santuário. Despojar-me de minhas roupas europeias, banhar-me e vestir
o Dhoti (roupas usadas pelos nativos) me deu a sensação de renascer num novo mundo. De 6 ou 7
jardas de comprimento, o Dhoti se enrola em torno da cintura ajustando-o como uma fralda,
disposto como um par de calças, se deixa quase totalmente nua a parte interna das pernas que fica
exposta ao ar. Uma camisa comum com o colarinho aberto e as abas pendurando cobrem a parte
superior do corpo. É a maneira mais cômoda de vestir. Não só é fresca senão que permite muita
liberdade de ação especialmente quando se está sentado com as pernas cruzadas, segundo o
costume.
Em um canto, no piso havia uma baixa plataforma de madeira coberta com uma esteira.
Servia de leito. Ali haveria de dormir e faria também todo o meu trabalho. Tinha forma ovalada e
era bastante comprida para permitir muita liberdade de ação, porque ali realizaria minhas práticas e
também seria meu altar. Uma vez que tivesse consagrado aquele local, ninguém mais o tocaria.
Junto à parede oposta havia estendida no piso uma pequena esteira; era para sentar-se um visitante.
Perto de minha esteira havia uma gaveta sobre a qual coloquei minha máquina de escrever. Também
me serviria para guardar meus papéis privados. Além disso não havia outra coisa na habitação. As
paredes estavam recém pintadas e davam a sensação de imaculada limpeza. O leito estava disposto
de maneira a permitir dormir com a cabeça ao norte ou ao sul. Sobre meu ombro uma janela dava
luz adequada para os estudos durante o dia quando não estava ocupado com minhas práticas. A
pouca distância da janela ao pé do meu leito, uma porta levava a minha habitação que servia de
banheiro, com as costumeiras instalações nativas, pouco diferentes das dos confins do Ocidente um
século atrás.
Tinha poucos pertences além de meus livros, mas destes, levava uma apreciável coleção.
Alguns eram volumes raros. Havia reunido a maioria em minhas viagens. Sempre os tinha ao
alcance, como parte essencial de meu ser, inseparáveis de mim. Os dispus para consultar facilmente
em minhas maletas.
3
Depois de banhar-me saí num longo corredor que rodeava o pavilhão, que consistia em
várias habitações iguais à minha. Duas eram usadas pelo meu amigo Tantrik e o Swamaji que havia
me iniciado, enquanto outras eram ocupadas pelos assistentes. Atrás do pavilhão havia uma vasta
construção dos servidores e próximo se achava a cozinha. O Maharishi sob cuja direção devia
realizar minha disciplina, tinha seu santuário a poucos minutos de marcha dali. No pátio havia uma
árvore rodeada por um muro baixo para poder sentar-se à sua sombra. Ali permaneci longo tempo
pensando no que iria me suceder. Seria o mesmo a partir daquele lugar?
Os servidores me chamaram logo para servir-me o desjejum em um local à parte para a
oportunidade em que houvesse hóspedes. Era a primeira vez que via o Swamaji desde meu regresso.
Se interessou muito em ouvir o relato de minhas viagens pela Índia e no que havia podido aprender
nelas. Foi necessário fazer uma resenha de minha experiência.
O Swamaji havia vindo efetuar um trabalho de investigação sobre química Tantrik, porque o
Maharishi tinha fama de possuir vastos conhecimentos sobre o tema. Me disse que não podia
continuar muito mais porque se esgotavam seus recursos. No entanto, meu amigo Tantrik e ele
permaneceriam o tempo suficiente para ver que eu estivesse encaminhado em minha prática. Então
já não necessitaria intérprete. Assinalaram que apenas o Maharishi me houvesse iniciado não
importaria que me falasse ou não, porque não saberia exatamente o que ocorreria em meu interior.
Falaram do Maharishi com expressiva reverência.
A pessoa escolhida pelo homem santo para cuidar de suas necessidades diárias (como
preparar e servir-lhe a comida, etc) era um homem de vastos conhecimentos que falava um pouco
de inglês. Os homens santos eram muito exigentes a respeito de quem lhes cuidavam e preparavam
os alimentos. Não se permitia ao servidor comum penetrar em seus santuários. Eu seria uma
responsabilidade e carga adicional para o assistente do Maharishi, que também me teria a seu cargo.
Habitualmente os ocidentais que viajam à Índia acham que os servidores comuns têm baixa
capacidade mental e não se pode confiar neles. Pode ser um esforço tratar de que façam tudo
corretamente de maneira que foi para mim um grande alívio poder deixar aqueles detalhes nas mãos
de um “brahmin” de classe superior que me prepararia a comida e vigiasse para que os servidores
cumprissem com seu dever. Isso me permitiria reservar todo o tempo a meus estudos e à disciplina a
que me dedicaria.
4
Pouco depois de almoçar demos um passeio de 5 minutos por um caminho que conduzia ao
santuário do Maharishi. Seu santuário consistia numa pequena construção cheia de flores da
estação. Não estavam abertas senão em botão. A entrada estava coberta por uma densa parreira que
dava sombra e proteção contra o intenso sol. Era uma edificação de ladrilho de manufatura nativa
longa e estreita dividida em 3 partes. A primeira era sua habitação privada, onde residia e realizava
suas práticas. A segunda tinha um pequeno altar e a última se utilizava provavelmente como
despensa.
Apenas transpusemos a porta e seu assistente acudiu a dar-nos boas-vindas. Um minuto
depois nos escoltou à habitação privada. Ao cruzar o umbral nos ajoelhamos, apoiando a cabeça e as
mãos dobradas sobre seus pés. Nos benzeu, tocando-nos com a mão. Bonitas esteiras destinadas a
nós cobriam o piso e além disso trouxeram algumas guloseimas hindus deixando-as ao alcance da
mão para poder saboreá-las enquanto conversávamos.
Necessitei de alguns minutos para acostumar-me com a penumbra do recinto que só tinha
uma janelinha. Próxima a esta havia um leito de madeira coberto com uma pele de tigre sobre a qual
é costume que se sente um homem santo. Tinha o corpo coberto com uma manta de tela
avermelhada que indicava sua faixa. Iluminava seu rosto um sorriso que não lhe produzia nenhuma
ruga. Seus olhos chispavam e pareciam vislumbrar no mais recôndito de nossa mente. Sua cabeça
tonsurada era quase luminosa. Estava erguido, mas em descanso e falava com voz clara, suave e
melodiosa que retinha a atenção ainda quando não se entendesse o que dizia.
Mediante meus intérpretes lhe expressei o quanto apreciava o privilégio de ser aceito.
Significava muito para mim continuar minha tarefa sob a direção de quem fora discípulo de meu
guru que recentemente havia falecido.
Me disse que meu primeiro guru lhe havia falado de mim e que esperou tanto tempo para
conhecer-me pela fé que me tinha meu primeiro mestre. Com grande interesse seguia meus estudos
e esforços, continuou e depois me fez perguntas sobre se gostei da viagem à Índia além de meus
estudos. Queria saber se sentia saudades.
Meu amigo Tantrik interveio na conversação e relatou minhas experiências, o progresso de
meus estudos e presumo que acrescentou sua opinião sobre mim. Me conhecia melhor que ninguém.
Antes de retirar-nos, participamos de um debate filosófico sobre a necessidade de
compreender a filosofia latente nas práticas para obter dela o benefício introspectivo. As práticas em
realidade são só meios para um fim. É necessário que se recorra à mente e esta não pode fazer nada
sem as práticas. O conhecimento é somente acessório para o fim e não é o verdadeiro caminho
porque não pode alcançar o fim só mediante a tarefa mental. A interpretação filosófica é essencial
para fortalecer-se na rígida disciplina das práticas.
O Maharishi disse que muitas de minhas cartas lhe haviam sido lidas e que estava seguro
que eu estava preparado e que escolheria um dia auspicioso para minha iniciação. Entretanto devia
preparar-me para esse dia. Não falou mais, mas compreendi sua intenção. Aquela era sua maneira
de descobrir que eu ignorava.
Achei uma profunda paz interior no fato de que me permitisse sentar-me em sua presença.
Havia algo tão misterioso, mas simples, algo tão divinamente magnético em torno dele que as
chamas da inspiração interna quase estavam fora de controle. Me senti fundamente comovido. Seria
alcançar o céu na terra se houvesse lugares no seio da estridente atividade ocidental onde quem
aspirasse a outra coisa pudesse reunir-se para renovar suas energias em sua comum compreensão e
afã. Era minha oportunidade de provar a felicidade que se pode encontrar se alguém vive ainda que
seja temporariamente com um indivíduo cuja vida é dirigida e guiada pelo verdadeiro propósito da
existência humana.
Cada hora era uma inspiração e cada atividade assinalava a única meta do Desenvolvimento
Espiritual. Poder estar sentado escutando ainda que não entendesse uma palavra era uma fonte de
grande energia interna. Me sentia tão abstraído que me pareceu que havia transcorrido poucos
segundos quando deixamos o Maharishi que havia de continuar sua disciplina.
Estava demasiado mergulhado na corrente de emoções para poder fazer algo no resto da
tarde e assim recorri parte dos caminhos vizinhos para escolher um para minha caminhada diária.
Assim se descansa entre os períodos de prática. Havia observado que o Maharishi percorria para
descansar um curto caminho de uns 150 pés de comprimento. Esta técnica a utilizam com
frequência os homens santos que se confinam por muito tempo. Realizam de tal maneira grande
parte de suas reflexões. Assim foi que escolhi o meu. Sabia que tinha que escolher o que mais
gostasse porque não desejava fazer mudanças. Alguém se acostuma a percorrer o mesmo caminho e
chega a conhecer o contorno das pedras e até quase uma por uma as folhas de erva. Então lhe
desagrada abandoná-lo e começar a conhecer outro.
Capítulo XV
Aquela noite depois de cear, o Swamaji, meu amigo Tantrik e eu começamos uma breve
polêmica sobre os Asanas (posturas) que se devem aperfeiçoar na instrução Yoga preliminar.
Destaquei o tema porque sabia que havia chegado o momento de aperfeiçoar os Asanas básicos. O
Swamaji assinalou que o significado básico do Asana é chegar a mestre, gozar, alcançar a meta; que
há tantas posturas quanto o número de espécies de seres viventes no Universo. De 84 posturas
especiais se escolheram 32 como as mais úteis para a humanidade. Estas se citam no Geranda
Samhita, que é um texto autorizado de Yoga e como referência as mencionamos aqui:Sidhasana,
Padmasana, Bhadrasana, Muktasana, Vajrasana, Swastikasana, Simhasana, Gomukhasana, Virasana,
Dhanurasana, Mritasana, Guptasana, Matsyasana, Matsyendrasana, Goraksasana,
Pashchimottanasana, Utkatasana, Samkatasana, Mayurasana, Kukkutsana, Kurmasana, Uttana
Kurmakasana, Uttana Mandukasana, Vriksahasana, Mandukasana. Garudasana, Vrishana,
Shalabhasana, Makarasana, Ushtrasana, Bhujangasana e Yogasana.
Continuou explicando que os Asanas são os primeiros complementos do Hatha Yoga e são
essenciais 16 deles para completar suas práticas, enquanto 4 são de especial importância. Estes 4
são: Siddhasana, Padmasana, Swastikasana e Vajrasana.
Se praticam posturas para igualar e apaziguar as forças corporais, controlar a circulação e a
respiração e levar a coluna vertebral à sua curvatura natural. A produção de gás carbônico no
sistema se reduz mediante a redução das atividades internas do corpo, que também causa uma
diminuição proporcional no gasto de energia durante o tempo em que se mantém a posição. A ação
cardíaca se torna mais lenta e gradualmente apenas se sente que se tem um corpo. Liberada da
noção do estado físico a mente pode ficar em meditação por períodos mais prolongados.
Os Asanas não têm ação específica sobre as artérias, no entanto algumas ajudam as veias.
Diversas posturas são essenciais para a saúde, enquanto outras asseguram a imunidade contra
enfermidades, acalmam as paixões, dão paz mental, e capacitam o iogue para atender suas
ambições. Tem-se demonstrado que se se adota e mantém durante certo tempo determinadas
posições do corpo e se praticam exercícios respiratórios, resultarão diferentes efeitos de acordo com
as posturas.
Não há uma só postura que não leve indiretamente a acrescentar as forças espirituais. No
entanto fazem-se duas classificações dos Asanas: espiritual e física. A última se usa para estabelecer
um equilíbrio nas diversas funções fisiológicas do corpo de maneira que suas energias possam ter o
vigor orgânico. As principais são: Sirshasana, Sarvangasana e Halasana.
Os principais Asanas espirituais para colaborar no processo de abstração, concentração,
meditação e transe são: Siddhasana, Padmasana, Swastikasana e Sukhasana.
2
Havia terminado nossa conversa da noite. Para levantar-me às 4 e começar a prática devia
deitar-me a uma hora conveniente. Agora tinha que levar a vida de um iogue cumprindo ao pé da
letra todas as normas da vida diária de um iogue. Isto significava que devia reduzir gradualmente as
horas de sono, mas a primeira noite não era momento de começar.
Meus amigos estavam satisfeitos por meu desejo de começar as práticas e ansiosos por
ajudar-me o quanto pudessem. Mas como me assinalaram, aquela tarefa me incumbia. Podiam
guiar-me e instruir-me, mas só mediante a prática se pode chegar a ser um verdadeiro iogue.
Devia omitir o chá matinal e de nenhuma maneira me incomodariam antes das 8, hora em
que podia servir-me mel, cevada e leite quente. Sorri ao compreender que me seria necessário
romper com todas as normas de vida que me haviam indicado nos Estados Unidos. Meu médico e
meus amigos me haviam advertido que não bebesse leite no Oriente e nem comesse frutas ou
verduras a menos que as lavasse primeiro cuidadosamente com permanganato de potássio (1).
Evidentemente que me era impossível seguir esse conselho. Vinha para viver como discípulo
e me haviam dito que as práticas me livrariam de todas as enfermidades.
Devia ter fé.
Apenas dormi profundamente, deram as 4 horas e tive que levantar-me. Logo me dediquei
ao Dhauti, que, recordando, é deglutir um longo pedaço de tela a fim de higienizar totalmente o
estômago e eliminar todo excesso de Kapha (muco). Esse exercício tem também um efeito
estimulante sobre determinados centros nervosos importantes.
Depois realizei o Neti. Em vez de passar o fio pelas narinas e tirá-lo pela boca, utilizei o
método da água que consiste em absorver água pelo nariz e eliminá-la pela boca e logo inverter o
processo sorvendo água pela boca e expulsando-a pelo nariz. Assim se higieniza e reaviva os
centros nervosos da cabeça.
Durante longo tempo havia praticado regularmente estender a língua para realizar o Khecari
ou deglutição da língua exercício que era necessário dominar antes de empreender as práticas
Pranayama mais adiantadas. Dediquei uns 15 minutos a esse exercício.
Já eram 5 menos um quarto porque havia perdido uns minutos em lavar e limpar a tela
depois do Dhauti. Queria esterilizar tudo; era uma recordação de meu passado ocidental. No
entanto, devia descartar a esterilização segundo o costume ocidental. Em troca, utilizei um pequeno
recipiente com água que me haviam trazido do poço; com isso devia me arrumar. No princípio
pensei num possível risco mas para tranquilidade mental do leitor posso assegurar-lhe que não
contraí nenhuma das doenças que prevalecem no Oriente.
Havia realizado a prática do Uddiyana durante alguns anos e não tive dificuldade em fazer o
exercício 1500 vezes. Isso geralmente me ocupava uma meia hora. Depois tinha que dedicar 15
minutos ao Nauli que é o treinamento dos músculos retos para poder fazê-los girar em todas as
direções.
A essa hora do dia já tinha feito algumas incursões no dia; nada podia ser mais eficaz para
manter abertos os olhos sonolentos que as práticas mencionadas. O único momento difícil é aquele
em que se deve ter a decisão de levantar da cama.
Para poder preparar-me para minha iniciação me era necessário levar todas as práticas de
higienização até seu padrão máximo. Já havia aperfeiçoado as práticas rudimentares durante meus
anos de instrução na América; era só uma questão de reuni-las como uma série de exercícios. Me
haviam dito que efeito psicológico teria com o tempo e agora minha experiência pessoal o
confirmava. Só tinha que realizá-los em seu padrão máximo e não só estaria física senão também
espiritualmente disposto a receber o que meu guru me transmitia. Havia mantido todos aqueles anos
minha disciplina iogue para estar disposto a seguir meu trabalho com o mestre e agora compreendia
que meus esforços não tinham sido em vão. De todas as maneiras tinha consciência do despertar de
todas as forças psíquicas de meu corpo. Os 8 ou 10 dias seguintes seriam um período de reconforto
espiritual.
2
Às 6 menos um quarto era o momento que estabeleci para começar a colocar-me de cabeça
durante meia hora. Tendo levado essa prática à duração máxima de 3 horas, não tive dificuldade em
realizá-la durante só 30 minutos ainda que passasse alguns meses sem realizá-lo. Na realidade era a
única prática que havia dispensado nos meses de abstenção; em muitos sentidos nunca encontrei
uma equivalente. É possível experimentar nela uma paz e descanso que não se pode alcançar de
outra maneira. No entanto, devo prevenir por experiência própria que se há de proceder lentamente
para desenvolver essa prática. Entre outras coisas esse exercício é a melhor indicação do estado
orgânico. Deve-se estar bem sadio para poder obter benefícios em vez de incômodos. Há de insistir-
se que implica um perigo não desprezível se não se está bem higienizado e o organismo
funcionando imperfeitamente. No entanto, é exercício perfeito para quem se acha em perfeito
estado. Os demais devem ter cuidado.
É um assunto relativamente simples determinar a capacidade individual nesta ou qualquer
outra prática do Yoga. A primeira vez que se para de cabeça sentirá um descanso completo, mas à
medida que se aproxima o limite da capacidade se sentirá inevitavelmente uma crescente tensão
nervosa que se manifestará no desejo de mover-se, de agitar as pernas em todas as direções. Com o
tempo a mente fica intrigada, inquieta no transcorrer do tempo e se deseja olhar para o relógio a
cada 10 segundos, tendo a impressão que passaram vários minutos. Pequenas gotas de suor surgem
pelo corpo. É tempo de interromper. Deve-se controlar porque se está no limite da capacidade, além
do qual não se deve ultrapassar. No entanto, mediante a prática diária se perceberá que, por fim,
cessam essas perturbações. Somente então, quando se alcançou a paz e não se percebe o transcurso
do tempo se compreenderá que se alcançou o ponto em que tratando de aumentar levemente o
esforço se começa a sentir a aproximação da tensão nervosa; então é preciso parar. Sempre é
conveniente ficar dentro do limite da capacidade.
Antes de começar a prática provei e observei que podia fazê-la comodamente durante uma
hora. Como desde então devia cumpri-la regularmente num período de tempo, era melhor reduzir o
limite à metade para estar seguro do resultado. Sabia que não ganharia nada se prolongasse até uma
hora e depois não pudesse repeti-lo. Seria muito melhor manter o ritmo durante vários meses. Ia
seguramente. Desejava o resultado ainda que fosse pequeno.
Ao finalizar o exercício de me colocar de cabeça, comecei a prática do Pranayama.
Eventualmente dedicaria a maior parte do tempo a essa prática cujo propósito era proporcionar a
chave para a maneira de viver iogue, mas para isso, deve-se achar em perfeito estado se deseja
alcançar o resultado. Com o tempo aumentaria o período dessa prática e diminuiria o das de
purificação.
No começo, Pranayama serviria como medida de meu progresso nas práticas de
higienização; daria a pauta para controlar meu trabalho.
Comecei minha prática de Pranayama às 6 e meia depois de praticar um pouco as de
respiração higienizantes.
Pratiquei Padmasana (a postura de Lótus) no espaço em que realizava meu trabalho. Era
uma maneira de fazer as coisas simultaneamente. Fazia muito que cumpria meu trabalho sentado
com as pernas cruzadas de maneira que estas se tornassem gradualmente bastante flexíveis para
permitir-me fazer todos os Asanas necessários. Então também compreendi que podia alcançar
resultados muito melhores com meu Pranayama apenas podendo realizar a prática naquela posição.
Comecei a prática com Bhastrika que é um exercício de depuração dos nervos necessários
para todos os que tentam a prática do Yoga. Devido ao fato de haver desenvolvido em alto grau os
músculos abdominais, me resultava fácil esse exercício ao ritmo de 60 por minuto. Observei que
podia realizar até 120 mas com o risco latente de fadiga me limitei à velocidade inferior e fiz só por
um minuto. Inalei lenta e profundamente todo o possível, depois suspendi por um minuto e exalei o
mais lentamente que pude. No princípio isso me levava 2 minutos e meio. A segunda série
começava por 3 minutos e assim fiz 3 séries em 30 minutos. Depois de uma semana levei a
suspensão a 2 minutos. Meu plano era aumentar o Kumbhaka ao ritmo de um minuto por semana,
até alcançar o primeiro grau de perfeição. Todas as práticas tinham por objetivo tal meta. Aquela
manhã terminei às 7, depois de 3 horas de prática. Esse seria meu mínimo diário durante os meses
seguintes. Supostamente tudo podia variar segundo os resultados e meu mestre vigiava minhas
práticas para se assegurar de meu êxito.
Como me faltava uma hora antes do desjejum, resolvi dar um passeio.
Nunca havia experimentado uma felicidade tão profunda, tal êxtase, e alegria de viver como
neste momento. Tinha consciência de cada minuto que transcorria. Meu corpo parecia radiante em
harmonia com a natureza. Minha euforia superava toda descrição. Parecia não existir a causa dessa
centelha que surgia do contato de minha alma com o Fluir Universal da Vida. Todo meu sistema
vibrava ao ritmo da natureza.
Uma grande paz e fortaleza aparecem como o alvorecer e enquanto se fica sem alento ante
sua grandeza, se desvanecem. Agora já poderia estabelecer à vontade o contato com o Fluir
Universal da Vida. Não necessitaria nenhum chamejante e fugaz pôr-do-sol nos desertos do
Arizona. Podia retê-lo em minha consciência íntima até estar saciado e vitalizar assim minha vida
diária.
Aquela manhã alcancei o contato sob uma árvore ao finalizar meu curto passeio. Via os
campos circunvizinhos. Era uma experiência fugaz mas sabia que não passaria muito até que
pudesse mantê-la por um período mais prolongado. Com minha prática diária tentava aumentar
minha capacidade para poder acumular o suficiente em todos os tecidos de meu organismo para os
anos do futuro. Tinha em mãos minha oportunidade e iria Beber Profundamente.
3
Depois do desjejum, estudei. Meu plano era estudar a teoria à medida que praticava. Me
parecia essencial se havia de ensinar a outros que ansiavam aprender essa antiquíssima ciência
espiritual transmitida oralmente de mestres a alunos durante séculos. Afirma-se que este é o método
mediante o qual Buda e Cristo foram iluminados.
A verdade é imutável; só as formas mudam. Portanto é necessário descobrir novas formas
que revelarão ao homem seu Eu interior e lhe permitirão o contato com a eterna fonte da vida. Isto
tornava imperativo que encontrasse o caminho à Verdade Eterna através de arcaicas formas do
passado e vivendo a vida poderia achar a mesma Verdade nas novas formas de nossa Era Moderna.
Às 10 e meia retomei minhas práticas começando com Khecari, que realizei durante 15
minutos. Às 11 menos um quarto me pus de cabeça para baixo durante 30 minutos. Então podia
fazê-lo no centro da habitação sem a menor dificuldade.
Nenhuma regra proíbe ao que começa a colocar-se de cabeça apoiar-se na parede para
manter melhor o equilíbrio. Se recomenda nestes casos, para apoiar a cabeça colocar uma grande
toalha de banho ou uma manta dobrada várias vezes, mas eu não necessitava mais que uma
almofada comum. Depois desse exercício me sentei na postura Padmasana e passei 30 minutos em
Pranayama. Sempre começava o exercício com Bhastrika como se prescreve.
Meu corpo estava bastante preparado para praticar os Asanas. É costume praticá-las depois
que se fez todo o demais, como algo secundário. Se trata de um pequeno recurso para interromper a
monotonia. Como descobrirá o estudante, no Yoga tudo é trabalho, e não um jogo.
Me era necessário desenvolver 16 Asanas; no entanto alguns eram mais ou menos
combinações de outros. Esta lista de Asanas é de conhecimento comum a quem está familiarizado
com a literatura publicada sobre o Yoga.
Me bastaria realizar o Padmasana durante um período de 3 horas, mas seria essencial
aprender a técnica dos demais porque cada um tem um fim definido e nunca poderia prever quando
necessitaria algum para vencer uma dificuldade que pudesse encontrar.
À uma me serviram o almoço. Era minha única verdadeira comida. Consistia em alguns
vegetais típicos preparados com Ghee (manteiga clarificada) e um par de copos de leite. Sempre
havia sido glutão mas jamais saboreei tanto um alimento. Ainda que minha dieta ficou reduzida a
líquidos somente; 2 copos de manteiga clarificada e vários copos de leite. Me bastavam e jamais me
senti em melhor estado.
Depois de almoçar me deitei por uma hora mais ou menos. Este período, quando o calor era
mais intenso o dedicava geralmente à leitura. É com frequência um costume do iogue deixar esse
período para os visitantes.
Pouco depois das 2 saí com meus amigos a visitar novamente o Maharishi e relatar-lhe
minhas atividades matinais. Me pediu que lhe mostrasse os diferentes Asanas que havia praticado.
Depois me ensinou como devia fazê-las corretamente. Era uma inspiração vê-lo fazer as difíceis
posturas. Fazia com grande facilidade e graça e me ofereceu uma clara visão de como havia de
executar. Chegava a um grau de perfeição que eu provavelmente não alcançaria nunca. Havia
dedicado 10 anos exclusivamente à prática dos Asanas. Me disse que em sua juventude havia
seguido caminhos que resultaram becos sem saída. Isso foi antes que tivesse a felicidade de
encontrar um mestre que o guiasse convenientemente. Então havia pensado que as práticas e
perfeição dos Asanas somente lhe permitiam chegar a sua meta interna. Me referiu piscando e me
disse que não havia um Caminho Real. Era assunto de combinar com inteligência muitos caminhos.
Tudo varia de acordo com o individual.
O Maharishi se assombrou quando lhe contei quantas vezes havia realizado Uddiyana e
Nauli. Me assinalou que o que eu havia feito se considerava a perfeição. Solicitou-me que lhe
demonstrasse como fiz. Depois me explicou que estava em condições de aprender Basti, que é um
método de depuração interna. Disse que com minha capacidade seria só questão de um dia mais ou
menos para cumprir o exercício. Supostamente, antes devia aprender o método.
Para ensinar-me como fazê-lo me mostrou o primeiro exercício requerido para obter o
controle sobre os músculos retos. A prática se chama Aswini Mudra. Em nenhum momento me
daria resultados finais. Até que não aperfeiçoasse aquela etapa não me exporia a seguinte.
No entanto, para esclarecer, explicarei juntos Aswini Mudra e Basti no capítulo seguinte.
Capítulo XVII
OS MUDRAS
Aswini Mudra é uma prática para relaxar os músculos retos. É um dos Mudras mais
importantes. Isto pode praticar-se com Uddiyana para obrigar a abrir o reto. Deve realizar-se um
trabalho considerável com os esfíncteres anais que são os músculos que comprimem o reto.
Primeiro se apoia nos cotovelos e joelhos e depois de exalar se leva o umbigo o mais possível para a
coluna vertebral e se contraem os músculos anais. Tenta-se fazer atuar juntos o ânus e o umbigo.
Suspendendo a respiração se contrai o ânus e logo se relaxa tratando de projetá-lo o quanto seja
possível. Depois se contrai novamente. Mediante a prática constante desse exercício o estudante
alcançará o controle completo sobre os músculos do reto.
Uma pessoa normal obterá em umas 2 semanas se dedicar à pratica uma hora por dia. O
resultado fará possível contrair o ânus e relaxar os esfíncteres de maneira que os gases alojados no
cólon serão expulsos quando o abdome é comprimido em Uddiyana.
O gás Apana não se eliminará enquanto houver no intestino água ou substâncias sólidas.
Quando esse gás sutil emerge do reto é muito fresco e não produz som ou cheiro. O objetivo é
afastá-lo do sangue. Então se controlará o Apana Wayu.
Meu mestre me assinalou novamente que primeiro é necessário aperfeiçoar o Uddiyana e o
Nauli. Com meu grau de aperfeiçoamento pensou que provavelmente poderia fazê-lo quase de
imediato. Quando se controlam esses esfíncteres e se realiza o Nauli o ar fresco entra no cólon. Isto
dá uma sensação de leveza e alívio.
Depois de alcançar certo controle o estudante se porá de cócoras com as nádegas apoiadas
sobre os calcanhares. O resto do corpo se achará entre os joelhos e os braços se unirão em torno
para alcançar a pressão necessária. Se praticará nessa posição até que possa abrir à vontade os
esfíncteres. Mediante a prática constante de contrair e relaxar o orifício anal pode obter-se tal
controle que é possível abrir o reto e aspirar água para dentro do cólon. Este fluir iogue para o cólon
chama-se Basti.
Aswini Mudra estimula o sistema nervoso simpático porque os nervos do ânus e o reto estão
principalmente relacionados com aquele sistema. Grande quantidade de nervos finalizam na
membrana mucosa do orifício anal de maneira que essa prática proporciona um estímulo definido a
todo o sistema simpático. Se diz que Aswani Mudra destrói as enfermidades do reto e confere
energia e vigor a todo o corpo. Impede a morte prematura e ajuda a despertar o Kundalini.
2
Na tarde seguinte durante o momento de descanso me reuni com meu amigo Tantrik e o
Swamaji. Imediatamente me perguntaram que resultado obtive com o Basti. Quando o relatei, se
surpreenderam. Me asseguraram que o fato de haver podido realizá-lo sem dificuldade se devia aos
anos que havia dedicado ao Uddiyana e Nauli antes de viajar à Índia. Então lhes interroguei sobre o
significado e propósitos dos Mudras e as diferentes classes desses. O Swamaji se ocupou de
responder a minhas perguntas, fazendo-o brevemente.
Mudra significa Selar e os Mudras consistem em métodos de Fechar. Toda ação que serve
para selar a energia de um homem é um Mudra. Também significa Corte. Há ajudas e meios para
alcançar diversas realizações do Yoga, particularmente úteis nas primeiras etapas dos exercícios
respiratórios. Dão firmeza, satisfação e ajudam a competência. Os Mudras liberam os homens das
influências malignas e destroem as ligações que os escravizam.
Para despertar a deusa dormente (Kundalini) se praticam mudras acompanhadas de
Pranayama. Os mudras são substitutos dos Asanas e o Pranayama. Também complementam esses
processos. Ajudam a liberar o corpo de toda classe de enfermidades, dão controle sobre os nervos e
músculos, serenam a mente, colaboram em higienizar os Nadis, requisito prévio a toda prática de
Yoga. Também ajudam a despertar os Tattwas e Kundalini. Um importante tratado sobre Yoga, o
Gheranda Samhita, inclui 25 Mudras: 1. Mhah-mudra. 2. Nabho-mudra. 3. Uddiyana. 4. Jalandhara.
5. Mulabhanda. 6. Mahabhanda.7. Mahavedha. 8. Khecari. 9. Viparitayarani. 10. Yoni. 11. Vajroli.
12. Shaktichalani. 13. Tadagi. 14. Manduki. 15. Shambhavi. 16. Pancadharana (cinco dharanas). 21.
Aswini. 22. Paschini. 23. Kaki. 24. Matangi. 25. Bhujangini.
Consideraremos poucos dos mudras mais importantes. O estudante iniciará as práticas
cautelosamente limitando-se a 5 ou 10 minutos e aumentando pouco a pouco os períodos de prática.
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Yoni-mudra destrói todos os pecados mortais e veniais. Com uma forte inspiração se
concentra a mente em Muladhara, depois em contrair o órgão genital. Este Mudra se pratica para
estudar os Tattwas. As orelhas se fecham com os polegares, os olhos com os indicadores, as narinas
com o dedo maior o lábio superior com o anelar e o inferior com o mínimo de cada mão. Se realiza
então Kumbhaka e a mente se concentra na chama de Kundalini. Surgirão os Tattwas ou luzes e se
pode notar qual aparece por sua cor e forma. Essa ciência dos Tattwas é especial na arte do Yoga.
Revela tudo o que pertence ao homem. Este Mudra se pratica só quando é chegado o poder da Visão
com o propósito de contornar o Tempo.
Yoga-mudra é especialmente útil ao liberar o Poder da Serpente que se denomina
tecnicamente Kundalini. Para fazê-lo primeiro se adota a postura Padmasana. Os calcanhares
apertam a parte do abdome que tocam. O direito exerce pressão sobre o arco pelviano e o esquerdo
contra o ceco. As mãos passam por trás das costas e a direita segura o pulso esquerdo. Se estendem
para baixo ao longo da coluna vertebral realizando um grande esforço. Na etapa seguinte o
estudante se inclina para frente e trata de repousar sobre os calcanhares tocando o piso com a face.
Nunca há de estremecer-se nem fazer um movimento rápido. Só dobrar-se quando possa
comodamente. Se mantém a posição por algum tempo.
À medida que continua a prática, o estudante verificará que pode inclinar-se mais e com o
tempo até poderá realizar facilmente a última postura. É um esplêndido exercício pelviano.
Conforma uma poderosa parede abdominal. As vértebras lombares e sacrais recebem
posteriormente um firme empuxo e os nervos da região se tonificam. A prática tende a reduzir a
prisão de ventre estimulando a ação do ceco e do arco pelviano e recompondo as vísceras
abdominais. Também é útil para vencer a debilidade seminal.
Deve deixar-se o corpo nesta posição de 5 a 10 segundos. Se repete o exercício 7 a 10 vezes
por sessão. A respiração flui como habitualmente a menos que se use para atuar sobre Kundalini
quando se faz Pranayama especial.
Manduca-mudra é a mudra da rã. Se fecha a boca e se coloca a ponta da língua na base do
céu da boca. Se encontrará um lugar onde há uma sensação de cócegas. É o lugar que se há de
massagear rapidamente com a língua. Depois de um tempo haverá um gosto agradável e fluirá uma
quantidade de saliva. Deve-se engoli-la.
Essa prática controla a enfermidade e a velhice e impede que branqueie o cabelo.
Shambhavi-mudra é a prática de fixar a vista para a frente, entre as sobrancelhas ou no
espaço.
Nas práticas Yoga há muita massagem interna. Nos exercícios respiratórios a expansão e
contração dos pulmões dá uma espécie de massagem ao coração. Os exercícios abdominais
massageiam todos os órgãos da região abdominal e o mesmo sucede nas distintas práticas,
massageando, cada uma, determinados órgãos.
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Vajroli Mudra deriva seu nome do Nadi que termina no oco dos órgãos sexuais na bexiga,
onde se une à uretra. A perfeição desse Mudra confere completo controle sexual.
Para a perfeição do corpo se deve controlar o sexo por um mês sem a menor ereção, porque
a perda do líquido vital implica a de todos os constituintes do organismo. Debilita a constituição e
apressa o colapso físico. O homem débil neste aspecto se irrita com a menor provocação. Perde o
equilíbrio mental; se converte em escravo da ira, dos zelos, da preguiça, do temor, etc. A falta de
memória, a impotência, a debilidade visual, o rosto pálido e sem sangue a prematura velhice
vencerão a tais homens em sua juventude.
A Mente, Prana, e Sêmen são os 3 elos de uma cadeia e cada um apoia o outro. São os 3
suportes de nossa vida. Se um falta ou está debilitado, os outros sofrem. O controle de um é
automaticamente o dos outros. O líquido seminal é potência latente. Quando se conserva se
converte indiretamente em uma forma sutil denominada Ojuh e se acumula no cérebro como
energia mental para o sistema nervoso e participar da Vida Espiritual.
Ojuh é a melhor e a última secreção. É a quintessência suprema. É a que mantém a vida.
Invade todo o organismo capacitando a cada órgão para realizar sua função específica. Influi sobre a
ação mental e física. Os músculos do coração estão principalmente associados com essa substância
e por isso se considera que aquele é sua sede. Estão latentes nela a saúde e a força. Quando há
deficiência se verifica a diminuição da atividade física e mental; a vida não pode continuar. Sua
importância não se pode superestimar.
É Ojuh o que mais se consome na tuberculose, cólera, infelicidade, a preocupação, o excesso
de trabalho, a fome e o ato sexual. É produto do sêmen e em consequência quando este se gasta,
decresce Ojuh. Sobre essa relação recíproca de Sêmen e Ojuh se baseiam as práticas do Yoga.
Se Bindu (líquido seminal) se faz calmo e fixo, Prana Wayu o limita. Os que não podem
praticar os Mudras que pacificam a Bindu, podem fazer Pranayama que confere controle sobre
Prana e então Prana controlará a Bindu.
Chega-se à perfeição de Vajroli quando o sêmen pode reabsorver-se depois de ter sido
eliminado.
Posto que é impossível explicar as práticas de Vajroli em um livro de edição popular me
referirei em troca a outra prática para controlar o sexo, que me ensinou meu mestre.
Se adota a postura de Siddhasana, se inala até quanto seja possível pelo lado do nariz ao que
lhe toca o turno, se fecha a narina e se faz Kumbhaka. Se contrai o reto e se mantém assim enquanto
se contrai o umbigo e se expande até o limite. Isto se há de fazer muito lentamente. Em nenhuma
ocasião se reterá a respiração mais além de um limite fácil, nem se exercerá pressão em nenhuma
parte da prática, exceto na contração dos músculos do reto. Antes de chegar ao limite do poder de
suspensão se exala lentamente através do lado oposto do nariz.
Se pratica 3 vezes por sessão durante o primeiro mês, no segundo mês se aumenta a 5 vezes.
No terceiro mês pode aumentar-se 10 vezes e a 15 no quarto. Depois a prática continuará até que se
possa manter contraídos os músculos do reto apesar dos abdominais. Quando se aperfeiçoa a prática
se poderá manter o ânus contraído durante o coito. Este poder de retenção irá aumentando com a
prática contínua. A prática de um ano dará controle para vinte. No entanto a prática se manterá até
que o indivíduo tenha obtido o controle sobre os músculos involuntários do sexo como para
controlar o sêmen ainda que necessite mais tempo.
Os padrões citados são para o homem comum. Um homem forte pode aumentar a prática
segundo sua capacidade, mas nunca há de chegar até o esforço. Não é necessário.
Os que são fortes e resolutos podem praticar de manhã, à tarde e à meia-noite. A prática de 5
vezes diárias durante 3 meses conferirá o controle total sobre o sexo. Se se produz alguma dor, se
alivia com um pouco de massagem. De nenhuma maneira se perderá uma prática durante um só dia
dos primeiros 3 meses. Isto é importante porque Wayu se rebelará e produzirá a desgraça. As
relações sexuais não se farão mais de 2 vezes por mês até aperfeiçoar a prática. A dieta usual para
praticar o Yoga será observada e não se dormirá de dia.
A prática de Vajroli tem sido um segredo zelosamente guardado e revelado só a quem pode
conhecê-lo pessoalmente por um guru qualificado. É uma prática idealizada especialmente para
quem possui uma forte natureza sexual e acha difícil eliminar da mente os desejos sexuais. Se
estima imprudente incluí-la aqui porque é um risco considerável tratar de realizá-la sem a
orientação pessoal de quem tenha dominado a técnica. Descrevê-la seria apenas satisfazer a
curiosidade vulgar. Afirmo porque primeiro há que aperfeiçoar a prática de Uddiyana, Nauli e
Aswini Mudra e há poucas possibilidades de que alguns dos leitores esteja preparado para ele. Uma
vez aperfeiçoadas essas outras práticas acharão oportunidade de aprender essa técnica.
9
Terminava o momento da visita. Pedi licença para voltar à minha disciplina. Em nenhuma
outra parte havia podido interromper a conversação e pedir a meus amigos que me desculpassem
para poder colocar-me de cabeça para baixo. Aqui era algo natural. Essa é uma das razões de que
progridem mais essas práticas no Oriente. Na Índia e em outros lugares do Oriente cerca o estudante
a simpática compreensão. Se aprecia o verdadeiro significado destes exercícios aparentemente
inúteis e que consomem o tempo. E qualquer estudante que cumpre tão rígidas normas é visto com
grande respeito.
Capítulo XVIII
Uma vez começada minha rotina nunca a deixei nem por um instante. Na realidade
continuamente aumentava a disciplina. Fizemos planos para que o Maharishi me iniciasse antes que
meus amigos empreendessem o regresso à cidade. Enquanto permaneciam, passei todas as tardes
com eles assediando-os com perguntas. Com frequência me esclareciam com uma simples
declaração ou exemplo um ponto para o qual, do contrário, haveria necessitado horas de leitura.
Lhes perguntei pelo método de instrução mental ensinado pelo Yoga porque compreendi que
adiantaria mais rapidamente se seguisse seu método de desenvolvimento. Tendo ouvido de diversos
exercícios para o controle mental perguntei sobre esses ao Swamaji e a meu amigo Tantrik.
A instrução para a disciplina mental chama-se Dhyana. Para alcançar domínio sobre o Eu, o
estudante deve primeiro sentar-se em Asana, firmemente e sem movimento evitando incômodo de
luz e som e mudanças de temperatura. Primeiro deve ter controle sobre a consciência corporal.
No princípio, o curso deve ser exato e rígido. A língua se dobrará sobre si mesma colocando-
a na cavidade atrás da úvula enquanto o corpo permanece erguido e a cabeça se inclina ligeiramente
para frente. As pálpebras se fecham mas não firmemente e a vista se dirige a um ponto entre as
sobrancelhas. O globo ocular deve ficar nessa posição, sem movimento. A mente estará livre de
pensamento. A respiração se fará lentamente e firme e seguirá a mente em branco. Se pratica de
noite e de manhã.
Os que serenam sua mente podem alcançar a perfeição na aquisição de poderes ocultos
(Siddhi). É um aforismo entre budistas que quem começa refletindo sobre a operação de respirar e
segue as diversas etapas da meditação com a mente inalterada, chegará à perfeição.
Posto que toda vida se desenvolve em certos tempos, movimentos e ciclos se alerta que ao
praticar a concentração é muito mais conveniente ajustar a prática a certos períodos nos
movimentos das forças da natureza. O melhor período para a atividade mental é entre meia-noite e o
amanhecer. De manhã, entre as 4 e as 6 o momento é particularmente favorável para uma intensa
concentração. A mente e o corpo tem então um completo descanso, a natureza está em calma e se
obtém melhor o autodesdobramento.
A noite é menos favorável à atividade mental. A diminuição da ação e a escuridão tendem a
suspender a atividade mental, de maneira que este período é mais favorável para avaliar a
meditação. Não há que tratar de estudar neste momento, porque a mente não seguirá nem reterá o
que lê. Desde as 8 da manhã até às 4 da tarde as vibrações se reduzem às coisas materiais e desde
então até meia-noite são ainda mais lentas.
Deve recordar-se que a mente pode atuar só dentro de certos limites de temperatura. Assim
como os olhos registram a luz e a cor somente dentro de certos limites, e os ouvidos captam o som
só entre certos limites, a mente também tem sua função limitada. Para a maior eficácia e atividade
mental a temperatura deve estar ao redor de 20 graus Celsius.
A mente não pode trabalhar com o estômago cheio de comida nem quando a corrente
sanguínea está carregada pela essência dos alimentos ingeridos. O alimento reforça a respiração e
por sua vez a mente se excita. Duas refeições por dia é o melhor plano no princípio. Entre as 2
refeições não se tomará mais que água ou uma pequena quantidade de leite.
Nunca se excederá na prática. A fadiga, o torpor e a “ingestão mental” impedem o
verdadeiro progresso; portanto deve observar-se a moderação nos hábitos e nas práticas. Uma
postura cômoda e firme se manterá para eliminar os transtornos físicos e liberar a mente para que
possa concentrar-se.
A mente pode concentrar-se em uma luz ou objeto de qualquer classe. É mais fácil
concentrá-la em certa imagem porque tem uma tendência natural a visualizar. Quando se tenta
projetar o pensamento é natural que se formem imagens mentais. Um pequeno disco da lua do
tamanho da unha com tênues linhas, pode visualizar-se ou se pode tomar nota da respiração e fixar a
mente no ponto de contato que tem na cabeça.
Um quarto de segundo é o tempo requerido para que um pensamento passe ante a
consciência. Impondo um pensamento ante si mesmo e mantendo-o ante a consciência durante meio
segundo o pensamento fica fixo na mente. A meditação profunda requer de um minuto a um minuto
e meio.
A meditação é uma prática subjetiva para fixar o princípio de pensar (Chitta). Produz a
primeira etapa na liberação da ação, o poder de discriminar e de diferenciar. Pode obter-se somente
mediante um severo treinamento que consiste em identificar-se consciente e voluntariamente com
algo ou um estado de ser. Se deve ter consciência do objeto de meditação e da unidade de
pensamento operativa, assim como das diversas etapas de consciência pelas quais passa. Combinar
tudo isso requer a concentração mental.
2
A forma de Yoga que trata da absorção da mente no som se denomina Laya Yoga. Consiste
em sumir-se em um objeto interno e tratar de ouvir sons místicos.
Esta prática se faz sentado em Siddhasana com a mirada fixa em um lugar entre as
sobrancelhas e os globos oculares voltados para cima de maneira que as pálpebras permaneçam
meio fechadas. Os olhos, as orelhas, o nariz se fecharão com os dedos. Depois se aguarda escutar
um som na orelha direita. Se ouvirá um som claro. Ao princípio os sons são muito intensos e de
grande variedade, mas com a prática se fazem cada vez mais sutis. Parecem o bater de um tambor,
na etapa intermediária se parece mais ao som de uma concha marinha e ao final uma flauta ou
zumbido de abelhas. Todos esses sons se reproduzem no corpo e não podem ser ouvidos por
ninguém mais. Se praticará com os sons fortes e os sutis, de um ao outro, posto que desta maneira a
mente distraída não terá tendência a divagar.
Quando a mente iogue está atentamente concentrada neste som supera as distrações.
Abandona todas suas atividades e fica serena, unificando-se com a respiração. Se induz o transe, o
iogue esquece todo o externo e perde consciência de si mesmo. Quando a mente se absorve em si
mesma se obtém a consciência cósmica, a felicidade eterna. Compreenderão os que tenham
experimentado a sufocação.
Essa absorção produzida pela mente em que penetra o som (Nada) dá imediatamente poder
espiritual com uma espécie de êxtase. Se esquece toda a existência material. Essa absorção se
denomina Moksha (libertação). O que se ouve em forma de som é o poder de Shakti, o informe, a
primeira etapa dos Tattwas. Tattwa é a “semente”. Hatha Yoga é o “campo” e a indiferença a
“água”. Mediante a ação desses 3, o iogue alcança a abolição da mente e avança na compreensão.
Desejando o Reino do Yoga se deve, com a mente livre de toda preocupação, realizar a
prática de ouvir o Som Anahata (no coração) e resolver repeti-lo constantemente. Deve escutar-se
com atenção. Então a mente se combina com o som e perde sua insegurança. Por fim essa
meditação culmina e a intensa concentração mental faz que o elixir vital se elimine do crânio. Passa
pelos Nadis superiores onde se une com Prana (substância mental) e nutre a alma. Esses sons
internos do corpo só podem ouvi-los aqueles cujos Nadis estão isentos de toda impureza e que são
práticos no Pranayama.
A concentração nos órgãos do corpo implicados nos diversos exercícios aumenta muito a
sensibilidade daquelas partes e a intensifica e reforça em grau maravilhoso. Como nos órgãos
sensoriais, se os pensamentos moram em alguma parte do corpo, a sensação se dirige a essa parte e
a consciência lhe parece momentaneamente a única parte existente. Insistindo nele podem
despertar-se os poderes de diversas partes.
A meditação no centro para o que se sente crescer a pressão depois de um Kumbhaka
completo (suspensão) dá acesso à luz de Ojuh. Se concentra essa luz onde se quer. A primeira vez se
vê em constante movimento; depois, à medida que se leva ao plano sensorial, se tornará mais
iluminado. Um objetivo importante do Yoga é alcançar essa luz.
A concentração se mostra em 5 etapas mentais progressivas: Análise, Reflexão, Afeição,
Felicidade, Concentração. Na primeira etapa o estudante obtém conhecimento da natureza da Forma
e chega à concentração ordinária. A segunda etapa é somente de reflexão. Aqui se transcende a
etapa inferior de análise. Na terceira a reflexão cede lugar a um ditoso estado de consciência e
depois, na quarta etapa, se confunde com o êxtase puro. Na quinta etapa a sensação é suprimida e dá
lugar à completa concentração, estado de “mera existência”. No Samadhi não há visão nem ouvido,
consciência física nem mental, só existência pura.
Quando se pratica a meditação se vê o tipo ao fechar os olhos, ao entrar em sua câmara ou
qualquer outro lugar; se chama a Marca Adquirida. Quando medita fazendo seu artífice desse tipo,
vê uma luz. Desde esse estado, sem reparar no tipo, concentra seus pensamentos na luz que emana
desse tipo. Mediante a prática prolongada e assídua pode difundir esta luz sobre todo o Universo.
7
Levaria muito tempo interpretar e compreender tudo o que meu mestre me referiu aquela
tarde. No entanto não perdi tempo em tomar notas. Durante os próximos dias, antes que meu amigo
Tantrik e o Swamaji regressassem à cidade, voltei a interrogar sobre os pontos que me faltavam
quando tratei de escrever minhas notas. Não somente devia realizar as práticas físicas do Hatha
Yoga, senão que cumpriria sua forma de disciplina mental.
Ao desenvolver meu Pranayama, me era necessário compreender a função da mente e como
obter controle total da mesma. Aquela tarde comecei a observar as divagações mentais e analisar
suas atividades. Tomei notas para observar o desenvolvimento que alcançava como resultado das
práticas. Logo descobri quão pouco estava desenvolvida estava minha mente e compreendi que
transcorreria algum tempo antes de poder beneficiar-me com a prática de Trataka ou produzir a
sombra.
Submetido a essa rígida disciplina, os dias passavam como minutos. Nunca havia estado tão
ocupado: não podia perder nenhum segundo. Ao finalizar a segunda semana, o Maharishi me
iniciou. Era uma simples iniciação a fim de estabelecer um vínculo de conhecimento entre nós.
Dessa maneira saberia que progresso interior realizava eu. Também lhe permitiria ajudar-me a
enfrentar muitos obstáculos que encontrei durante minhas meditações e reflexões. A cerimônia foi
algo parecida à que já descrevi.
Depois meu amigo Tantrik e o Swamaji regressaram à cidade por um par de meses. Sabiam
que tinha o suficiente em que me ocupar e que aquilo era coisa minha. Devia checar a outra etapa de
desenvolvimento e só poderia alcançá-la mediante as práticas que seguia.
Podia suportar a rígida disciplina que me asseguraram daria tão grande resultado?
Capítulo XIX
KUNDALINI
Durante 3 meses havia praticado minha disciplina antes que meus amigos regressassem a
nosso refúgio na floresta. Estavam muito ansiosos de conhecer meus progressos. No Ocidente
haveria interrompido minha vida normal ao receber visitas e celebrar seu retorno. Mas esse era o
alojamento de um iogue e minha disciplina continuou como de costume, enquanto meus amigos
esperavam a hora de visita para ver-me.
Ao princípio algumas práticas me perturbaram, mas não desanimei. Venci os obstáculos e
alcancei a perfeição dos aspectos externos das práticas. Fiquei por descobrir se havia desenvolvido
minha consciência interna no mesmo grau. Iam me ensinar testes para poder averiguar.
Havia seguido suas instruções sem preocupar-me com a meta. Encontrava prazer nas
práticas. Sabia que o desenvolvimento só se obtinha mediante a atividade e considerava que essa
oportunidade de disciplina era a maior felicidade de minha vida.
Quando regressaram meus amigos, já havia reduzido minha dieta a líquidos somente e me
parecia suficiente. Bastavam-me 4 horas de sono e até isso tinha que interrompê-lo porque havia
levado a disciplina ao ponto de praticar 3 horas 4 vezes ao dia. No entanto, me mantinha fresco
como um menino.
Com pouca dificuldade me punha de cabeça uma hora cada vez; eu o fazia antes de sair dos
Estados Unidos. Realizando-o em 3 sessões, podia passar de cabeça cada dia as 3 horas requeridas.
Nenhuma outra prática dá um descanso tão completo. A consciência interior aflui à mente e esta é
sua maior vantagem. Com esta prática surge uma forte tendência para a investigação filosófica e a
percepção que traz a felicidade.
Se o estudante deseja descobrir a instabilidade mental em que vive, não há melhor maneira
que colocar-se de cabeça e observar o que sucede. É assombroso.
Depois de adotar a posição, se esquece tudo e se trata de observar com objetividade. Ao
princípio se ouvirá sons e a mente divagará em todo sentido. Então se trata de seguir alguma linha
de pensamentos. Se achará que a mente quer pensar em qualquer coisa, menos no tema escolhido.
No entanto, ao desenvolver-se a prática, e adaptar-se o corpo, a mente começa a ceder pouco a
pouco. Não transcorrerá muito até que chegue a um ponto morto e então será possível atender ao
pensamento escolhido. Depois de desenvolver a prática, notei que não reparava no tempo, ainda que
algum pequeno mecanismo interno seguia seu transcurso. Me punha de cabeça, levava a mente a
um ponto determinado e aí ficava. Desde esse instante já não dependia do passar do tempo.
Meus amigos estavam ansiosos de saber como havia progredido no Pranayama. Quando
chegaram, realizava meu Kumbhaka no tempo requerido. Tive que vencer grandes dificuldades para
consegui-lo. Vários Asanas me ajudaram a superar os primeiros obstáculos, mas ao chegar aos 6
minutos tinha que aumentar o tempo de meu Bhastrika. Parecia ser o limite normal para mim e
estimulava o impulso de voltar a respirar. Então descobri o propósito de Khecari Mudra. Deglutindo
a língua pude vencer este impulso natural. Depois vinha a tarefa de obter a pressão necessária para
despertar a sutil energia corporal denominada Kundalini.
Finalmente pude prescindir da cânula do irrigador e fazer Basti sem ajuda mecânica. Com o
aperfeiçoamento dessa técnica e de Vajroli obtive o completo controle do centro nervoso da região
que é sede de Kundalini.
2
Constantemente indagava a meus amigos sobre Kudalini e a teoria em que se baseia. Queria
saber quanto se referia a sua natureza. Me esboçaram em linhas gerais seus princípios e as técnicas
pertinentes.
O êxito final de todas as práticas Yoga depende de despertar Kundalini. Todos os
ensinamentos e práticas de Hatha Yoga se baseiam em Kundalini. O sistema nervoso proporciona a
base fisiológica deste sistema de Yoga. Sem este conhecimento é impossível levar a cabo as
práticas.
Daí que o objetivo e a realização mais importante que busca o Sadhaka é o despertar de
Kundalini. Comumente essa força nunca se desperta no homem se não se desenvolvem as práticas
iogues. Se diz que enquanto Kundalini está latente no corpo, Jiva (alma) parece um irracional e o
verdadeiro conhecimento não surgirá ainda que o estudante pratique Yoga toda a vida. Só mediante
o despertar de Kundalini se eliminam as camadas mortais da matéria. Quem impulsiona este Shakti
entra no caminho que o liberta de toda ligação. Mediante nossa respiração estamos relacionados
com o Princípio da Vida Universal. Aqui cada vida se funde e confunde com a Única Vida.
Como potência, Kundalini é a mais elevada manifestação de consciência no corpo.
Representa a força criadora do mundo posta de manifesto no homem. Está eternamente empenhada
na criação. A criação ordinária é do espírito à matéria, mas o Yoga inverte esse processo e trata de
transformar a matéria em espírito. É energia criadora em estado estático; força espiritual. “O Grande
Potencial”, a força residual que fica depois da criação do mundo, uma forma grosseira de Prakriti
(Energia Cósmica). Abarca todos os poderes e assume todas as formas, é sede de todas as
manifestações corporais e mentais. Segundo o princípio cósmico, deve haver um fundo estático em
qualquer plano de atividade de energia, daí que as forças corporais pressupõem necessariamente um
apoio estático, posto que não pode existir um aspecto dinâmico sem seu contrapeso estático.
Em toda vida, isto é Kundalini. As forças Prânicas são o movimento de Kundalini que é o
centro estático de todo o corpo. Primeiro deve haver um centro neutro para a manifestação de toda
energia. As forças que emanam deste ponto neutro atravessam toda forma corporal e voltam a esta,
assim como a eletricidade emerge do polo positivo da bateria e volta pelo negativo. Se diz que essa
parte central do corpo é a manifestação reflexa do centro neutro de todas as forças que atuam desde
o cérebro no ser humano. Como o magnetismo está latente na parte central do ímã, Kundalini o está
no centro corporal.
3
Se afirma que Kundalini é a mãe das 3 qualidades: Sattwaguna, Rajaguna e Tamaguna. “Sat”
significa existência, luz, iluminação. “Raj” significa atividade e “Tam” significa obscuridade. O que
obstrui. Podem expressar-se como as qualidades de construção, destruição e regulação. Este centro
vital é como uma raiz no corpo. É a energia corporal estática ou potencial, o poder corporal central,
a fonte do conhecimento. De seu seio nasce este veículo corporal, daí nasce a mente e de Kundalini
aumenta Agni (o Fogo de Prometeu da Vida). Da sede de Kundalini surge Wayu (energia corporal),
Bindu (semente da vida) e Nada (som).
Deve entender-se que Kundalini não é objeto de ouvido, senão algo mais sutil, em forma de
luz. É o poder de onde procedem todos os dons da natureza. Como todos os poderes do Universo
existem em Deus, os de cada indivíduo existem em Kundalini.
Este Shakti é o que fundamenta principalmente as maravilhas realizadas do iogue. Na Roda
giratória da vida, Kundalini pode comparar-se ao movimento imperceptível do eixo e o da periferia
é a respiração.
A energia manifesta tem 3 aspectos: Neutro, Centrípeto e Centrífugo. No sistema nervoso
centrípeto as correntes se denominam sensoriais ou aferentes. As correntes centrífugas se
denominam motoras ou eferentes. Essas correntes têm seu estágio neutro em Muladhara Chakra
(Kundalini). O oxigênio e a nutrição são assimilados pelas correntes centrípetas. As matérias em
desuso são lançadas pelas correntes centrífugas. A força vital que está atrás de todas as
manifestações de força nervosa não deve confundir-se com as funções do cérebro ou do coração ou
qualquer outra parte do corpo criadas por este. Não se há de confundir as coisas criadas pelo
Criador.
Se diz que a posição de Kundalini se acha na borda superior do osso triangular da coluna
vertebral que está como cunha entre os 2 ossos da cadeira e que se denomina sacro. Está a quase
meio caminho entre o umbigo e os órgãos sexuais, a uns 22 centímetros acima do períneo. Este
espaço é a raiz. Dali surgem os 72 mil Nadis. Kundalini, suave e reluzente com um halo de Luz
Dourada, iluminado por sua própria Luz, se acha em estado letárgico, atropelada 3 vezes e meia,
cobrindo a entrada de Shusumna (Brahma Nadi). Se simboliza com uma serpente que tem 3 espiras
e meia com sua cauda em sua boca.
O objetivo do Yoga é despertar a Força Vital, Kundalini, que se move em Sushumna, onde
chega a Brahmarandra, o lótus de mil pétalas na cabeça. Quem desperta Kundalini e renuncia a toda
ação, alcança Samadhi e se abre a porta de Brahma. O despertar Kundalini só é questão de tempo e
prática até que os Chakras são penetrados em sucessivas etapas. Isto se realiza por meio de posturas
especiais, Mudras e a prática de Kumbhaka. A perfeição das diferentes técnicas é essencial porque
cada uma tem seu propósito específico. Jalandhara Bandha e Mula-bandha controlam a tendência
para abaixo do Prana. Aswini Mudra faz ascender a Apana. Uddiyana Bandha faz entrar em
Sushumna à união Prana-Apana. Mediante Shaktichalana se faz ascender a Kundalini de Muladhara
através dos plexos. Tudo isso é impossível sem ajuda de um guru.
Deve observar-se uma estrita dieta Yoga e deixar o coito pelo menos durante um mês.
Nenhum estado de superconsciência é possível sem despertar Kundalini. Primeiro se detém a ação
orgânica, depois vem o transe ou completa suspensão da animação. Submetem-se todas as forças
internas e externas e a mente se identifica com sua fonte.
Kundalini é luz e som e por essa razão se usa com frequência Mantra Yoga para despertá-
lo. Mantra está dotado de poderes de ação e sensação e circula pelo corpo. O som quase
imperceptível da respiração se denomina Mantra, designado Hamsa. “Ham” é o fluxo eferente e
“Sa” o aferente. O Jiva (alma) tem seu apoio em Hamsa. Este Mantra é realizado 21.600 vezes em
24 horas.
Os termos Bija Mantra e semente Mantra e um específico relacionado a cada Chakra,
representam a energia que persiste. Usando a semente Mantra se alcança o controle dos respectivos
centros.
Uma breve explicação da ação fisiológica de Mantra pode aclarar isto. Sabe-se que os
órgãos sensoriais respondem às vibrações dentro de certos limites. O limite pode ser estendido ou
diminuído. Mediante a constante repetição do estímulo aos centros nervosos não só aumenta a
reação, senão que há uma alteração permanente. Da mesma maneira, a ação da respiração na prática
de Mantra causa uma mudança na função da energia nervosa. A fórmula de Mantra é a mais exótica
de todo Yoga.
O iogue, fixando sua atenção no Mantra e fazendo-o fielmente 100 mil ou mais vezes,
alcança Siddhi. Todos seus desejos estão assegurados. Até a pessoa muito sobrecarregada de Karma
alcança êxito com Mantra Yoga se repete seu Mantra 200 mil vezes. Obtém o poder de atrair outros
e este permanece sempre sob seu controle se leva a prática a 1 milhão e logo a 1 milhão e meio, 1
milhão e 800 mil, 2 milhões e 800 mil e 3 milhões de vezes. Cada realização como esta de controle
respiratório agrega poder e perfeição.
4
É conveniente aqui fazer uma sumária referência aos Siddhis. Aparecem mascarados ao
discípulo uma vez que tem baixo controle seu Prana e mente. Quando começam a ascender e tomam
forma se apresenta ante a mente um fenômeno em forma de neblina (ou fumaça) de ar quente, de
vento, de fogo, de luz, de cristal, da lua. Essas são todas experiências ou etapas no caminho aos
Siddhis.
Os Siddhis se consideram possessões, podem ser obstáculos que expõem ao possuidor a
tendências malignas. Não são o mal por si mesmas e só se convertem neste quando são instrumento
de ações reprováveis. Podem ser um maravilhoso estímulo ao progresso se se mantém em segredo e
se aplicam só nas ocasiões mais cuidadosamente consideradas.
Citaremos agora algum dos métodos para despertar Kundalini que me transmitiu meu mestre
em distintas ocasiões.
Coloca-se uma bola macia ou almofadinha em posição que pressione o espaço entre os
órgãos sexuais e o ânus, quando está na postura Siddhasana ou Padmasana. Depois se pratica
Khekari Mudra. Com a vista rigidamente fixa na sobrancelha se faz Kumbhaka e depois Jalandhara.
Se contrai o ânus e o umbigo e se pressiona a respiração para o extremo inferior de Sushumna, em
vez de permitir que vá a Ida ou Pingala. O Agni se acenderá devido ao fluir de Wayu. Isto permite a
Kundalini atravessar o Nadi primário, Sushumna depois do qual pode abrir todos os Chakras.
Quando se abre Sushumna sente-se o ascender do fogo ao cérebro. Como se uma corrente de ar
cálido soprasse por um tubo desde a parte inferior à superior. A liberação de poder nos Chakras lhes
faz tremer e o Kundalini se absorve na “Grande Alma”.
Quando o estudante se decide a despertar Kundalini manterá esse Shakti ante a mente. O
considerará estendendo-se até a ponta da língua e lhe obedecerá com cada porção de alimento e
bebida que ingerir.
Outra variante dessa técnica é sentar-se sobre uma bola de algodão segura com um
ligamento, de modo que aperte o períneo; depois se estendem os membros mantendo separadas as
pernas rígidas. Se apoia a cabeça sobre os joelhos e se prendem os dedos grandes dos pés com o
polegar e indicador de cada mão, mantendo o tronco o mais perto possível das coxas. Se inala pelo
lado esquerdo do nariz e se faz Kumbhaka com tensão sobre o ânus e o umbigo. Este ato de
empurrá-los juntos força o Prana em Sushumna Nadi. Ao fatigar-se exala-se pelo lado direito do
nariz e se repete inalando pelo mesmo lado. Continua-se por um tempo esse processo respiratório,
alternando os lados do nariz, no entanto se termina sempre a prática exalando pelo lado esquerdo.
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Um dos mais importantes Mudras se denomina Shaktichalana que é outra prática para
despertar Kundalini.
Kundalini que está adormecido no Muladhara Chakra recebe energias e começa a mover-se
quando é agitado por Apana Wayu. Primeiro se considera Baddha Padmasana. Se não se pode
adotar este Asana, se substitui por Siddhasana. Se inala pelo lado direito do nariz, se faz Jalandhara
e se concentra a visão sobre a ponta do nariz ou entre sobrancelhas. Se suspende em Svadhisthana
Chakra, que é o Centro Aquoso. Depois se fecha o resto mediante Aswini Mudra e se funde o
umbigo realizando Uddiyana. Antes de enfraquecer a suspensão se exala muito lentamente pelo lado
esquerdo do nariz. Se repete várias vezes. Desta maneira a serpente Kundalini começa a sentir-se
afogada e sobe. Depois faz-se Yoni Mudra.
Para forçar Kundalini em Sushumna se deve trabalhar uma hora e meia. Se pratica Bhastrika
e depois se faz Kundalini, realizando várias centenas de séries de Nauli. Com o curso do tempo
adquirirá vida. Esta realização se apressará se o estudante se alimenta de arroz, leite adoçado com
açúcar puro de cana, caldo de cevada e frutas.
Esta prática se continuará pelo menos por 40 minutos diários para obter algum resultado. Se
pode dedicar mais tempo, o resultado será proporcional. Supostamente a falta de força de vontade
implicará demora ou fracasso. Nem todos podem praticar Hatha Yoga. A raiz “Hat” significa
determinação.
A eficácia dessa prática tem sido reiteradamente demonstrada, por que não há que se
desesperar se se necessita um pouco mais de tempo do projetado para alcançar algum resultado. É
melhor começar com umas poucas séries de Bhastrika. Deve suportar-se a dor física.
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Me referirei agora a um método breve para despertar Kundalini que me ensinou meu mestre.
Toma-se uma tela suave e se dobra várias vezes, formando uma almofadinha de uns 22 cm
quadrados e 10 cm de espessura. Se coloca sobre o umbigo e se ata. Senta-se em Siddhasana, se
suspende e se segue com Jalandhara, Uddiyana e Aswini Mudra. Quanto maior é o impulso sobre o
reto tanto melhor. Depois se pratica Nauli, até excitar Kundalini. Se se faz essa prática 40 minutos
por dia se fará viver Kundalini em um ano. Deve advertir-se ao estudante que nunca chegue
Kumbhaka ao ponto que seja imperativo uma exalação súbita.
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Há várias formas de Kumbhaka que deve conhecer o aluno. Uma se denomina Bhramari
Kumbhaka ou Kumbhaka do zumbido do besouro. Se faz à meia-noite, quando reina absoluto
silêncio. Enquanto o iogue pratica seu Kumbhaka deve fechar os ouvidos com as mãos e escutar
atentamente para perceber som com o ouvido direito. Mediante a prática diária os ouvirá. São de 10
classes: 1, Igual ao zumbido de abelha; 2, Como o som de uma flauta de bambu; 3, Como o barulho
de campainha; 4, Como o som de uma concha marinha; 5, Como o de um instrumento de corda; 6,
Como um címbalo de prata; 7, Como um tímpano; 8, Como um tambor de argila ou uma trombeta;
9, Como o trovão; 10, O som Anahata que surge do coração.
Este último som tem uma ressonância em que há uma luz onde há de fixar-se a mente.
Quando é absorvida aí, a mente alcança a sede de Vishnu, alcançando o êxito positivo em Samadhi.
Esta prática é preparatória ao Samadhi Rasananda-Yoga que começa com Bhramari
Kumbhaka. Depois de fazer Bhramari se exala lentamente com um som como de zumbido de
abelha.
Outra forma Kumbhaka se denomina Murchchha Kumbhaka. Torna passiva a mente e
provoca o desfalecimento. Senta-se em Siddhasana e inala por ambos os lados do nariz. Depois
deglute e faz Jalandhara e Aswini Mudra. Logo, com a pressão na região abdominal inferior, se
expele lentamente o ar. Depois se faz um Kumbhaka externo que fará desfalecer a mente
produzindo uma sensação de bem-estar. Se se produz o colapso se está seguro do êxito de
Kumbhaka. Para completar Murchchha, se praticará ao mesmo tempo Shaktichalana. Esta prática é
muito eficaz para produzir a passividade mental.
Outra forma importante de Kumbhaka na que me instruiu meu mestre, era Kevala
Kumbhaka que consiste em reter a respiração sem esforço físico ou muscular. Se diz que essa
prática cura todas as enfermidades, promove a longevidade, elimina as trevas da mente, ilumina a
natureza moral, depura todos os pecados e desperta a alma. Este estado é Samadhi e a respiração do
que a pratica se absorve na Grande Alma.
Chitta, a consciência sensorial, pode ser perfeitamente dirigida e o iogue pode alcançar
facilmente a perfeição no que deseje. Há que ser hábil nas diversas práticas de respiração antes de
poder empreender o Kevala Kumbhaka e dominar a concentração mental até chegar ao ponto de
transe em que se visualizam os pensamentos.
Depois de aperfeiçoar Khekari Mudra e viver no refúgio subterrâneo de regulação, o iogue
reduz a dieta a leite somente, da qual se mantém durante 6 meses. Logo agrega manteiga clarificada
por uma semana. Depois se abstém de todo alimento durante um ou dois dias. Contando
conscientemente o número de respiração se duplica em relação ao normal e se pratica isto por um
tempo. Mais tarde se enchem os pulmões de ar e se fecham as narinas. A glote é pressionada para
trás pela ponta da língua, que é deglutida. Suspende-se a respiração, concentrando a visão entre as
sobrancelhas ou na ponta do nariz. Ao ficar a mente em ponto morto se alcança o poder espiritual.
8
Nos dias seguintes, me indicaram que dirigisse toda minha disciplina para um supremo
esforço para despertar Kundalini e captá-lo à consciência. O Maharishi havia começado os
preparativos para minha iniciação final com o objetivo de despertar Kundalini. Mas como me
haviam indicado frequentemente, poderia chegar a esta suprema experiência só mediante meu
próprio esforço. O único que podiam fazer por mim os mestres e o Maharishi era guiar-me. Durante
os dias seguintes não perdi um instante, não economizei energias. Dediquei-me por inteiro ao
esforço final.
Fizeram-me os testes. Podia produzir a luz interior e sumir-me nela durante um período
considerável. Não tinha dificuldade em produzir a sombra humana e compreendi que estava
disposto para a liberação consciente da força psíquica do homem.
O Maharishi me deu as instruções necessárias para poder preparar-me para a iniciação.
Havia Mantras que devia usar e umas poucas formalidades rituais com as que já estava
familiarizado. As práticas de Hatha Yoga que havia feito estavam criadas para despertar fisicamente
este poder.
Essa iniciação provavelmente é menos cerimoniosa que qualquer outra. Depois que o
estudante fez suas oferendas a seu guru, que se supõe estabelecer um contato consciente interior
entre eles para poder guiar a ação da mente de seu aluno, este, mediante sua imaginação tenta
mentalmente despertar Kundalini.
Se ensina que em Kali Yuga o homem perdeu tanto de sua força vital que já não possui a
capacidade mental para realizar esta liberação. Um guru que está muito desenvolvido deve ajudá-lo.
Mas antes é essencial que o estudante passe pelo árduo treinamento do Yoga para poder reunir a
suficiente vitalidade e força de vontade, preparando o corpo para receber esta quando for liberado.
Em outras condições há grande perigo de demência ou até de morte ao liberar-se esse poder.
Os diversos testes que me deram demonstraram a meu guru que eu estava em condições.
2
Chegou o dia. Havia jejuado durante 24 horas. Durante a jornada havia dirigido minha
meditação a preparar minha mente para a iniciação daquela noite. Às 10 comecei minha Puja
(adoração) com objetivo de despertar totalmente o coração.
Ao chegar ao altar que haviam preparado, tomei um banho antes de entrar. À entrada, fiz
minha oferenda de humildade. Tracei um triângulo e fora, um círculo. Fora do círculo, um
quadrado. No centro, coloquei minha vasilha e com flores aromáticas adorei ao Fogo, o Sol e a Lua
na água benzida do recipiente. Verti perfume e lancei flores na água recitando Mantras enquanto
fazia diferentes Mudras (gestos místicos simbólicos) com as mãos. Estes Mudras consistiam em
formações especiais com os dedos, mãos e punhos.
Tomando meus objetos de adoração, cruzei o umbral sagrado com o pé esquerdo, golpeando
ligeiramente meu ombro esquerdo com o quadro da porta. Primeiro rendi culto à deidade suprema
desse Chakra ou Altar. Depois me dirigi ao lugar onde devia adorar e o pulverizei com água tomada
da vasilha.
Enquanto fazia Trataka e repetia o que se conhece como o Mantra-Arma borrifei com água
para eliminar todos os obstáculos celestiais, depois para suprimir os obstáculos entre o céu e a terra
e finalmente todos os terrestres golpeando o solo 3 vezes com o calcanhar. O lugar se saturou com o
incenso de sândalo ardente, açafrão e cânfora. Marquei um espaço retangular para sentar-me.
Depois de traçar dentro deste um triângulo e render culto, coloquei ali minha esteira e adotei a
posição de Padmasana, olhando ao norte. No entanto, meu guru permanecia sentado, imóvel.
Não realizei todo esse ritual tão artificialmente como parece ao descrever-se. Era como se
outro poder não só dirigia minhas ações senão que controlava meus sentimentos. Os diversos
Mantras me faziam perder o reconhecimento consciente do ambiente e de meus atos.
Ocasionalmente meu guru repetia um Mantra e seu ritmo me mantinha tão encantado como uma
grande sinfonia.
Depois de adotar minha postura, realizei os ritos de purificar minha oferenda que consistia
no narcótico Bhang preparado de folhas de cânhamo. Como parte da cerimônia de consagração
devia recitar 7 vezes o Mulamantra e fazer diversos Mudras. Uma vez consagrado, o oferecia à
deidade que residia dentro de meu coração e minha cabeça e finalmente à boca de Kundalini
enquanto pronunciava Mantras e fazia gestos místicos.
Depois de recitar o Mantra composto de palavras de elogio a Kundalini, bebi o narcótico e
me inclinei para meu guru para saudá-lo, colocando as mãos dobradas primeiro sobre a orelha
esquerda, depois sobre a direita, e finalmente no centro da face. Simultaneamente me sentei em
silêncio para dedicar uns minutos à meditação. Colocando os objetos do ritual à direita e o vinho à
esquerda, borrifei com água e depois tracei um círculo ao redor de mim, também com água. Então
mentalmente me rodeei de um muro de Fogo Simbólico e purifiquei as palmas das minhas mãos
esfregando entre elas uma flor coberta com uma pasta de sândalo e lançando-a sobre meu ombro
esquerdo.
Como proteção final contra os possíveis males que se aproximassem das 4 direções fiz tocar
3 vezes o polegar e pelo indicador na palma da mão esquerda. Repeti em cada um dos 4 pontos
cardeais. Eu estava disposto a purificar os elementos do corpo que permitem a Kundalini unir-se
com sua fonte divina. Sentado ainda em posição Padmasana e colocando as palmas dobradas sobre
o joelho permaneci em silêncio uns minutos para serenar a mente e dirigi-la a Kundalini. Durante o
processo realizei Kumbhaka e logo Jalandhara e Aswini Mudra. O que se sucedeu naquele intervalo
permanecerá sempre em mistério... até para mim. Jamais saberei se vivia na realidade ou em estado
de superconsciência. Tinha a experiência física de ver e sentir o despertar de um Poder Divino. E
desde então não pude dizer se era obra de minha imaginação o guiar aquela força ou se a
experiência era real.
Haviam-me instruído mentalmente para despertar Kundalini, que devia conduzir desde o
Muladhara Chakra mediante Mantras pelos demais Chakras do corpo, o Svadhishthana Manipura,
Anahata Vishuddha e Ajna, dissolvendo finalmente esta força em Ahangkara, que é o aspecto
pessoal da consciência ou o primeiro nascimento da autoconsciência.
A faculdade da consciência devia pois confundir-se no Mahat, que é a formação da grande
Inteligência Impessoal, primeira evolução no desenvolvimento do Universo. Então o Mahat devia
confundir-se no Prakriti. Esta é a substância cósmica não diferenciada, a causa do Universo a que
com frequência se cita como “Grande Mãe”, na qual existe tudo. Finalmente Prakriti devia
confundir-se em Brahman que é a Primeira Causa, o desconhecido e o inqualificável.
Cada uma dessas etapas era tão real para meu Eu interior como qualquer êxtase emotivo que
houvera experimentado enquanto estava sentado na borda de um penhasco do Arizona,
contemplando as sombras do entardecer sobre o deserto açoitado pelo sol ardente, enquanto se viam
os últimos esplendores no ocaso. Com frequência naqueles tempos havia pensado na emoção do dia
da partida enquanto meditava na natureza das coisas. Agora tudo parecia haver-me sido revelado.
Me havia identificado com a Consciência Universal da Vida.
Ainda ignoro se estava sob a influência do narcótico em um transe autoinduzido ou sob o
controle hipnótico de meu guru. No entanto, sei que em nenhum momento estive totalmente
inconsciente.
Possuía uma compreensão interior que nunca perdi. Tinha a sensação de achar-me sob a
influência de uma luz mística. Estava consciente de seus incessantes e cálidos raios penetrantes.
Esse estado se havia produzido em mim gradualmente. Comecei a perder a noção do caminho que
percorria minha imaginação. Era um tranquilo amanhecer com suave brilho. Me dominava o
assombro enquanto não cessava a luz do sol. Aumentava seu brilho e a intensidade era cada vez
mais penetrante.
Se havia desvanecido o elemento Tempo. Havia perdido a noção do ambiente. Em meio de
tudo, algo ressonou e tudo ficou em silêncio. Ainda estava a luz e me absorvia. Não pude achar
mais sua origem. Tudo era luz. Eu também. Tudo era paz.
Logo houve indícios de consciência e recordações de meu propósito. A luz se desvanecia e
meu sentido das coisas aumentava. Devia retornar. A recordação de meu propósito se intensificava.
Depois de mergulhar todo o corpo nessa luz devia encerrá-la em mim repetindo uma série de
Mantras. Depois, com minha imaginação, devia voltar a levar essa luz por todos os centros do corpo
e voltar o Kundalini ao Muladhara Chakra, onde sempre se acha em estado de felicidade.
O retorno de minha consciência era gradual. Devia refletir um pouco no fato de haver
realizado totalmente a identidade do indivíduo e o Brahman ou a completa união da Consciência
Individual ou a Consciência Universal. Já não tinha dúvidas. Nenhuma fantasia poderia tirar-me
aquela experiência.
3
Isto não significava que devia fugir do mundo. A iniciação me havia conferido uma
compreensão da Unidade de todas as coisas. Já não havia divisão entre corpo e espírito. Tudo era
uma consciência que se manifestava mediante uma infinidade de formas. Era meu privilégio não só
ver intelectualmente senão sentir intuitivamente a presença da Consciência Universal na Matéria.
Me assinalaram que uma completa União com a realidade só podia cumprir-se pela completa
união do espírito com a matéria. Não era evitar o mundo físico, porque este era parte do cósmico.
Não era eu que necessitava comer e beber, era o Divino Shakti quem comia e bebia por meio de
mim. Portanto não devia perseguir com egoísmo as atividades da vida, senão sempre a consciência
universal íntima.
Para mim, abandonar ou negar as necessidades do corpo seria proceder da mesma maneira
com aquela consciência. Devia interpretar a consciência cósmica até as menores necessidades
físicas. O corpo com todas as suas necessidades é uma manifestação do divino e para realizá-lo por
completo devia aperfeiçoar minhas potencialidades pessoais, sem perder-me no Ego que é somente
o instrumento consciente de direção. Faria vivendo, o que significava voltar à vida comum mas
fazendo desta a Vida Real em grau máximo. Desta vez devia dominar a inteligência. Dado que toda
vida é ilusória, só mediante a total compreensão do sofrimento do homem pode alcançar a
verdadeira sabedoria que liberta. A felicidade da libertação pode obter-se quando se alcança a
identidade de todas as coisas. Pode chegar-se a isso fazendo de cada função humana um ato de
sacrifício. É errôneo crer que a felicidade pode obter-se somente no futuro.
Tudo é um. O físico, o mental e o espiritual jamais podem separar-se. São meramente
diferentes aspectos do único. O desenvolvimento de um aspecto é o dos demais. A maneira de
despertar totalmente a consciência é viver.
Quem é tão sagrado que desdenha o corpo, se perde em seu próprio Eu. A realização só virá
discernindo o espírito em cada atividade. O caminho do homem é viver. A vida inteligente é o
instrumento de Deus. Todas as ações conferem prazer quando se efetuam com o sentimento e
pensamento corretos. Se isto se repete e se prolonga o suficiente produzirá ao final a divina
experiência da Libertação.
Havia aprendido a viver.
Tendo o desejo de aprender mais da filosofia latente na prática do Yoga, voltei a perguntar
onde me seria possível conseguir os manuscritos dos 64 Tantras. O Tibet, foi a resposta. Era como
dizer que se podia achar no Céu, porque o Tibet é a Terra Proibida e os poucos viajantes que haviam
cruzado seus planaltos açoitados pelos ventos só puderam aprender os aspectos materiais da cultura.
A ninguém se havia permitido jamais aprofundar os conhecimentos deste povo e conhecer seus
ensinamentos zelosamente guardados.
O Maharishi sorriu quando eu lhe disse que iria para lá.
Era suficiente para mim. Disse-lhe que tinha confiança. De imediato traçamos planos para
minha partida para a fronteira com o Tibet onde continuaria minha disciplina Yoga e começaria a
estudar o idioma do Tibet, deixando que a mão do Destino se encarregasse do demais. Essa
experiência relatei no meu livro: “A terra de mil Budas”.
5
Theos Casimir Hamati Bernard (1908–1947) foi um explorador e autor, conhecido por seu
trabalho sobre yoga e estudos religiosos, particularmente no budismo tibetano. Ele era sobrinho de
Pierre Arnold Bernard, "Oom the Omnipotent", e como ele se tornou uma celebridade do yoga.
Seu relato do antigo estilo de hatha yoga como um caminho espiritual, Hatha Yoga: The
Report of A Personal Experience, é uma visão rara de como essas práticas, conhecidas por
documentos medievais como o Hatha Yoga Pradipika, realmente funcionavam.
Seu biógrafo Paul Hackett afirma que muitas das experiências de viagem que Bernard relata
em seus livros são exageradas ou fabricadas. No entanto, não há dúvida de que Bernard tornou-se
fluente na língua tibetana, viajou pelo Tibete, conheceu figuras importantes e reuniu uma extensa
coleção de fotografias, notas de campo, manuscritos e objetos rituais.
Vida pregressa
Índia e Tibete
Em 1936, ele viajou pela Índia com sua esposa e pai; ambos foram para casa depois de
alguns meses. Ele viajou por toda a Índia, do Ceilão à Caxemira, encontrando religiosos e gurus do
yoga. Em Calcutá, ele marcou um encontro com o Lama Tharchin de Kalimpong e estudou a língua
tibetana. Depois de quase um ano, ele obteve permissão em Sikkim do oficial político britânico para
visitar o Tibete. Ele conheceu vários altos funcionários do governo do Tibete, estudou yoga tântrica
e colecionou muitos livros sobre o budismo tibetano.
Bernard foi um fotógrafo talentoso e enérgico, filmando "espantosos 326 rolos de filme
(11.736 exposições), bem como 20.000 pés de filme cinematográfico" durante seus três meses no
Tibete em uma "documentação quase obsessiva" do que ele viu. Na opinião de Namiko Kunimoto,
as fotografias de Bernard tiradas no Oriente serviram para autenticar a narrativa da viagem e para
construir o Tibete "como um local de transformação pessoal". Poses de yoga como
Baddhapadmasana no estúdio (uma foto que também aparece como placa XX em seu Hatha Yoga ),
apareceu com frequência na revista The Family Circle de 1938, "revelando sua vontade de
mercantilizar a espiritualidade e as suposições de exotismo ".
Em seu retorno aos Estados Unidos em 1937, ele alegou ser um lama, "o primeiro homem
branco a viver nas lamaserias e cidades do Tibete", e "iniciado nos antigos ritos religiosos do
budismo tibetano". Suas descrições de suas supostas experiências foram publicadas em todo o país
durante várias semanas pela North American Newspaper Alliance e Bell Syndicate. Viola se
divorciou dele logo depois. Isso foi seguido por uma série de palestras e aparições no rádio em 1939
e pela publicação no mesmo ano de seu livro de memórias Penthouse of the Gods.
O livro foi lançado na Grã-Bretanha como Terra dos Mil Budas, atraindo "relatórios
sensacionalistas" da imprensa sensacionalista sobre o "lama branco" e o status de "fraude e
impostor" da inteligência britânica, que o estava rastreando no Tibete.
Bernard foi destaque em revistas populares, incluindo cinco histórias de capa no Family
Circle em 1938 e 1939, logo seguido por seu segundo livro, Heaven Lies Within Us, que explorou
Hatha Yoga sob o disfarce de uma autobiografia. De acordo com Barbarian Lands, de Paul Hackett,
de 2008, muitas das experiências que Bernard descreve nesses livros foram exageradas ou
fabricadas, com base nas experiências de seu pai.
No entanto, ele realmente aprendeu tibetano fluentemente, viajou pelo Tibete, conheceu
lamas importantes e funcionários do governo e voltou com uma coleção inigualável de fotografias,
filmes, notas de campo e manuscritos, essencialmente desde o único momento em que o Tibete
permitiu a entrada de estrangeiros e desde seus últimos anos como um país independente com uma
cultura espiritual vibrante. Sua coleção tibetana incluía 22 estátuas de bronze de deuses budistas, 40
pinturas thangka, 23 tapetes, 25 mandalas, mais de 100 xilogravuras de tecido, 79 livros e muitos
tecidos, mantos, chapéus, implementos rituais e objetos domésticos. A coleção está armazenada na
Universidade da Califórnia, Berkeley.
De um ponto de vista diferente, Bernard certamente foi pioneiro na abordagem espiritual de
uma geração de ocidentais interessados no budismo, yoga e outras tradições religiosas da Índia. Sua
busca por aventura e uma tradição espiritual perdida ou oculta também pode ser vista como
perpetuando o mito ocidental do Oriente exemplificado pelo popular romance de James Hilton, Lost
Horizon, de 1933, e o filme de 1937 baseado nele; estes retratam um reino oculto de felizes imortais
em Shangri-la, no alto das montanhas do Tibete.
Em 1939, Bernard abriu o Instituto Americano de Yoga e o Pierre Health Studios.
Hatha yoga
Durante a década de 1940, Bernard completou seu Ph.D. na Columbia University sob a
supervisão de Herbert Schneider. Ele descreve suas experiências como um praticante erudito com
asanas e a razão pela qual ele foi "prescrito" para eles, purificações (shatkarmas), pranayama e
mudras, e dá uma explicação mais teórica do samadhi. Ele aprendeu isso por volta de 1932-1933,
enquanto estudava na Universidade do Arizona. Ele publicou sua dissertação em 1943 como o livro
Hatha Yoga: O Relato de Uma Experiência Pessoal. Foi ilustrado com fotografias de estúdio de alta
qualidade de Bernard nas práticas de yoga que ele havia dominado. Foi uma das primeiras
referências no Ocidente, possivelmente a primeira em inglês, sobre asanas e outras práticas de hatha
yoga, conforme descrito em textos como Hatha Yoga Pradipika. Ele representa, nas palavras do
estudioso e praticante de yoga Norman Sjoman "praticamente a única documentação de uma
tradição de prática hatha yoga", o uso real de hatha yoga para alcançar estágios sucessivos em um
caminho espiritual em direção a moksha, liberação, seja o que for pode-se pensar na genuinidade
de seus relatos e experiências.
Tibetland, Lotusland
Enquanto trabalhava no Hatha Yoga, ele conheceu e em 1942 se casou com a estrela da
ópera polonesa Ganna Walska, tornando-se seu sexto e último marido. Eles compraram a histórica
propriedade "Cuesta Linda" de 37 acres (15 ha) em Montecito, Califórnia, batizando-a de Tibetland,
pois esperavam convidar monges tibetanos para vir e ficar. Isso se mostrou impossível durante a
guerra. Em 1946 eles se divorciaram e Walska mudou o nome para Lotusland
Jornada final
Em 1947, Bernard, com sua terceira esposa, Helen, visitou novamente o norte da Índia, em
uma expedição ao mosteiro Ki em Himachal Pradesh, na tentativa de descobrir manuscritos
especiais. Em outubro, nas colinas de Punjab, onde hoje é o Paquistão, estourou a violência
intercomunitária associada à Partição da Índia. Ele e seu companheiro tibetano foram baleados e
seus corpos jogados em um rio. Ele foi declarado morto vários meses depois, embora seu corpo
nunca tenha sido encontrado.
OBRAS
Cobertura dos Deuses: uma peregrinação ao coração do Tibete e à cidade sagrada de Lhasa
(1939).
O céu está dentro de nós: a yoga me deu uma saúde superior (1939).
Hatha Yoga: The Report of A Personal Experience (1943) ilustrado com 37 fotografias em
preto e branco de Bernard em diferentes asanas.
Os fundamentos filosóficos da Índia (1945)
Sobre o tradutor
Ricardo Ryo Goto nasceu em Campinas (SP) em 1958. É nutricionista, trabalha como
consultor de sistemas de gestão de Food Service, tendo atuado no Brasil, Argentina, Chile, Espanha,
México e Portugal. Publicou contos e poesias em diversas coletâneas. Em 2011 lançou o livro de
contos “Em busca do tempo primordial”. Contatos: ricardoryogoto@gmail.com.