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Terapia de vidas passadas – Técnica e prática – Dr.

José Luis Cabouli-20240309-20240404


tradução da primeira edição pela Ediciones Continente, setembro de 1995
pg. 148

Índice
Prólogo

Capítulo I – Vou às catacumbas

Capítulo II- Memória e esquecimento

Capítulo III- Uma terapia da alma


O que é a Terapia de Vidas Passadas?

Capítulo IV – Como funciona a TVP

Capítulo V – Um pouco de história


As experiências do coronel Albert de Rochas
O nascimento da Terapia de Vidas Passadas

Capítulo VI – Do sono magnético ao estado expandido de consciência


Que é o sono magnético?
O estado expandido de consciência

Capítulo VII – O plano de trabalho


1) Introdução
2) Viagem no tempo
3) Regressão propriamente dita
4) Desprogramação
5) Reformulação do modelo de vida e retorno
6) Algumas precisões quanto ao manejo da regressão

Capítulo VIII- O ancião arquivista

Capítulo IX- O carma

Capítulo X – A técnica do Samyama


O medo de Penélope

Capítulo XI – Outra variante técnica


A fobia de Aída
Capítulo XII – O espaço entre vidas
A psoríase de Roberto

Capítulo XIII – O propósito de vida


A experiência de Nádia

Capitulo XIV – A vida fetal


Uma mãe dormindo e um ouvido que não funciona
A rebeldia de Rosaura

Capítulo XV- Como trabalhar situações difíceis


Uma vida de tortura

Capítulo XVI – Reminiscências do passado


A experiência de Lamartine
As ruínas de São Inácio

Capítulo XVII – Como trabalhar os sonhos


O pesadelo de Checha

Capítulo XVIII – Regressões como animais


Criatura aquática, tigre e pantera
Os mandamentos de um coelho

Capítulo XIX – O suicídio


Pedro
Flávia
Julieta

Capítulo XX – Como trabalhar uma depressão


O medo de Mário

Capítulo XXI – Reflexões, indicações e contraindicações


Quais são as indicações da TVP ?
1)Fobias
2)Perturbações emocionais
3)Alterações orgãnicas
4)Problemas de conduta
5)Delírios, ideias fixas, e psicose
6) A culpa
Contraindicações
Crianças. Gestantes. Enfermidades orgânicas descompensadas. Psicose.

Capítulo XXII – Fechamento e despedida

Quem sou?

Bibliografia
Prólogo
Tinha 5 anos quando disse que queria ser médico. E não havia dúvida a respeito. Sabia
exatamentte o que estava dizendo.
Ao redor do 8, comecei a perguntar-me donde vinha. Quem sou ? Quem fui antes d ser José
Luis ? Em minhas fantasias pensava grande. E se fui Cristóvão Colombo ou San Martin ? Como
havia chegado a ser José Luis ? Por que não me lembrava ?
Ninguém soube jamais dessas inquietudes de minha infância. Em minha família não se
falava dessas coisas. Nunca se falou da reencarnação. Nem sequer sabia da existência dessa palavra.
E no entanto tinha a forte sensação de ter existido antes, de haver sido sempre eu. Donde vinha essa
sensação ?
Passaram alguns anos e me esqueci dessa questão. Até que ao redor dos 15 , li o livro de
Milton Steinberg Como uma folha ao vento. A angustiante busca do rabi Elisha ben Abuya, o
herege, atualizou em mim a pergunta. Donde vinha ? Quem ou o que era Deus ? Que era a morte ?
Por que ocorriam tragédias que não tinham explicação ? Por que um criminoso andava solto e
morria uma criança inocente ?
Então conheci meu amigo Nicolás Rey e dele escutei pela primeira vez a palavra
reencarnação, e tudo começou a encaixar como num quebra-cabeças. E o primeiro livro que li foi
Autobiografia de um iogue, de Paramahansa Yogananda, e depois seguiu a leitura e o estudo
apaixonado de Lobsang Rampa, Blavatsky, Leadbeater, Allan Kardec e muito mais. Me formei
médico e quase simultaneamente comecei a frequentar uma escola espírita kardecista e aí encontrei
minha mestra espiritual. Melhor dizendo, me reencontrei com minha mestra e mãe espiritual.
O círculo se fechava. E estava no caminho. Ali, pela época dos 20 anos, aprendi a trabalhar
com o que hoje chamam emergências espirituais. Aprendi a reconhecer as distintas manifestações
mediúnicas como também a diferenciar os seres de luz dos mistificadores. Adquiri assim uma
grande experiência que mais tarde me seria de inestimável ajuda a trabalhar com a Terapia de Vidas
Passadas (TVP).
Enquanto isso, me especializei em cirurgia geral primeiro e mais tarde em cirurgia plástica e
comecei a desenvolver a microcirurgia como subespecialidade.
Me formei no velho Hospital Rawson, na escola de Finochietto, sob a supervisão de meu
professor, o dr. Delfin Vilanova, e mais tarde com o dr. José Alberto Cerisola. De um e de outro
aprendi o valor de uma técnica precisa e detalhada passo a passo para o principiante, como também
a planejar com antecipação a estratégia a seguir e o objetivo a alcançar.
E quando tudo fazia crer que minha vida estaria sempre ligada à cirurgia, ocorreu algo
imprevisto ou talvez previsto. Em 1986 assisti a um seminário de regressão a vidas passadas da dra.
Maria Júlia Prieto Peres, da cidade de São Paulo. Posteriormente efetuei meu treinamento com ela e
me surpreendeu a facilidade e a naturalidade com que trabalhava com a regressão. Como se
houvesse feito sempre.
De imediato me dei conta de que podia unir a arte da medicina com o conhecimento
esotérico e metafísico que possuía. Podia continuar o ato médico de outra maneira.
Durante um tempo alternei a cirurgia com a terapia, até que uma noite, no verão de 1988
estando de férias em Ostende, tomei a grande decisão.
Estava na praia, recostado olhando as estrelas, contatando comigo mesmo e quase
instantaneamente soube o que queria fazer. Aí mesmo decidi deixar a cirurgia e dedicar-me por
inteiro à Terapia de Vidas Passadas. Todo o anterior não havia sido mais que uma preparação para
esse grande momento.
O caminho estava traçado, só restava percorrê-lo.
Capítulo I

Vou às catacumbas

Quinta-feira 23 de maio de 1991. 11:15h

Aquela manhã, Luísa (54 anos) chegou ao consultório um pouco antes do habitual. Apenas
me viu e me disse:
-Descobri que tenho claustrofobia. Me dei conta no sábado, quando saí com uns amigos.
Íamos 2 casais no carro quando subiram 2 pessoas mais. De início me senti apertada entre 2 pessoas
e me sufoquei. Tive uma sensação de morte e comecei a gritar: “Assim não viajo!”
Isso é algo que nunca antes lhe havia ocorrido. Ocasionalmente experimentava certo mal-
estar dentro de elevadores com portas blindadas, mas isso não lhe impedia de utilizá-los. Antes de
começar com a regressão sugeri que fosse ao toilete e então sussurrou:
-Vou às catacumbas.
Sem saber, Luísa já estava em regressão. Quando voltou, pedi-lhe que se deitasse sobre o
tapete, que fechasse os olhos e que voltasse à situação do carro, sem nenhum tipo de preparação
prévia. Luísa vinha trabalhando com TVP fazia um tempo e era muito fácil entrar em regressão.

Terapeuta: Muito bem fecha os olhos. Agora...quero que me contes a situação do carro desde o
princípio, passo a passo.
Luísa: Chegamos à casa de minha amiga. Estou sentada no assento de trás com meu marido. Na
frente não podem ir 3, assim os 2 sobem atrás. Cedo meu lugar a minha amiga, mas seu corpo
aperta o meu contra o banco. Queria mover-me, mas não podia, porque estava presa de ambos os
lados. Não podia me mover nem respirar. Pensei que morria.
T: Muito bem, agora deixa sair tudo o que sentes nesse momento.
L: Saiam daí ! Deixem-me sair! Não posso respirar! (Luísa não sabe, mas essa reação não se deve
ao que está ocorrendo no carro, senão em outra realidade, de outro momento que deixou uma
impressão emocional muito forte e que está reverberando no nível subconsciente de sua memória. A
situação no automóvel só é um eco do passado).
T: Agora conta até 3 e vê diretamente a origem dessa emoção. Um...dois...três. Que está passando ?
L: A pessoa grita…é uma estrada de terra...com pontes...vamos caminhando um atrás do
outro...tenho muito medo...nos levam. Aonde nos levam? Ai! Não entendo bem o que passa.
T: Fixa-te como era aí. Que veste?
L: Tenho o cabelo longo, negro. (Em sua vida atual é ruiva de cabelo curto) Visto um abrigo
marrom sem mangas, tipo túnica ou poncho. Tenho umas sandálias com tiras atadas à perna e
carrego uma cesta com frutas.
T: Isso é. Segue adiante. Que está passando?
L: As pessoas correm. Há soldados por toda parte...não nos deixam passar, vão nos levar a
todos...ninguém vai se salvar. Ai! Eu também vou correr, mas adiante há uma barreira de soldados
com cavalos. Não podemos escapar e de trás também vêm perseguindo-nos.
T: Que estás sentindo nesse momento?
L: Me sufoco, quero escapar e não posso...a multidão me arrasta porque os soldados nos empurram.
T: Como são os soldados?
L: São enormes, são maus. Têm capacete e nos levam por um caminho de terra. Agora caminhamos
sem que nos empurrem, mas nos guardam de ambos os lados da coluna. Não há maneira de escapar.
T: Segue um pouco mais.
L: Chegamos a um lugar onde há uns túneis. Acima há um parque. Temos que entrar aí. São prisões,
são escuras...Quero olhar o sol pela última vez...Há portas de grades...Já não vemos nada mais,
estamos debaixo da terra, falando em sussurros. Isto é a morte...Não podemos respirar. A terra nos
tampa e estamos vivos! Deus! Me falta o ar! (a mesma sensação que no automóvel) Nos deixam aí.
Que espanto! Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome...(reza o Pai Nosso).
Ajuda-nos Senhor! Ajuda-nos a morrer em paz! Vem recolher meu espírito.
T: Segue adiante.
L: Assim, devagar nos fomos indo. O mestre está aqui. Vou deixar este lugar. Meu corpo fica e eu
me elevo. É como se o teto se abrisse e por ele nos vamos. Sinto que saio daí mas há muitos que não
sabem que têm que sair. Tenho que ajudá-los.
T: E então, que fazes?
L: Vou ao espaço, tenho que pedir que me deixem voltar.
T: E...como vais voltar ?
L: Com outro corpo. Tenho que voltar a salvá-los. Tenho que voltar como soldado para defendê-los.
T: Agora quero que vejas, qual foi o momento mais difícil dessa experiência?
L: Foram 2, quando o povo me apertava e quando entramos nesse lugar.
T: Vê o momento quando o povo te apertava e deixa sair tudo o que sentes para esgotar essa
emoção. Que estás sentindo?
L: Me sufoco! Me vão matar! Me apertam! É muita gente em cima de mim (as mesmas emoções
que experimentou no carro).
T: Agora vê o episódio sob a terra.
L: Isso é entrar numa tumba. Isso é saber que não se sai mais. É despedir-se da luz do sol. Estamos
debaixo da terra. É a morte.
T: Agora...já podes deixar esse corpo. Quero que tomes consciência de que já não estás mais aí.
Nada disso te pertence. Esse corpo morreu, e ao morrer esse corpo terminaram todas as sensações.
Agora podes libertar-te para sempre de tudo isso que já não te pertence.
L: Veio o Mestre e eu me elevo e se abre a terra e por aí saio. Subo como se fora um globo.

Que é tudo isso ?


Fantasia? Realidade? Dramatização? Temos vivido outras vidas antes dessa? É possível que
hoje, em nossa vida cotidiana reajamos sem saber ao influxo de antigas emoções não resolvidas? De
que maneira e até onde nossas vidas passadas condicionam nossa forma de vida atual? É possível
recordar nossas existências anteriores? E se podemos recordar, por que nos esquecemos?
Da mesma forma que Luísa, muitas pessoas que atravessaram por essa experiência,
descobriram que os sintomas e conflitos que os perturbaram desapareciam ou se resolviam ao
reviver cenas de outras vidas.
Como terapeuta, não estou interessado em provar a existência das vidas passadas.
Pessoalmente não tenho dúvidas a respeito. De modo que parto da aceitação da reencarnação como
fato natural e desde aí exerço o ato médico.
O que veremos aqui é como funciona a Terapia de Vidas Passadas (TVP). Assistiremos ao
desenvolvimento de uma técnica clara, precisa e segura, fruto da experiência obtida em mais de
1200 regressões individuais. Fiel aos ensinamentos de meus mestres, “curar quando se pode,
aliviar ás vezes, e consolar sempre”, é como abordo meu trabalho com a TVP.
Capítulo II
Memória e esquecimento

A possibilidade de recordar existências prévias é uma faculdade inerente do ser humano. Na


antiguidade, várias personagens famosas recordavam algumas de suas personalidades anteriores.
Talvez o caso mais notável seja o de Pitágoras. Diógenes Laércio nos conta o seguinte:

“...dizia de si mesmo que em outro tempo havia sido Etalides e tido por filho de Mercúrio;
que o mesmo Mercúrio lhe tinha dito que pudesse o que quisesse, exceto a imortalidade, e que ele
lhe havia pedido que vivo e morto retivesse na memória quanto sucedesse. Assim que enquanto
viveu se lembrou de tudo e depois de morto conservou a mesma memória. Que tempo depois de
morto passou ao corpo de Euforbo e foi ferido por Menelau. Que sendo Euforbo disse que havia
sido em outro tempo Etalides, e que havia recebido de Mercúrio em dom a transmigração da alma.
Que depois que morreu Euforbo, se passou sua alma a Hermótimo, o qual, querendo dar fé dele,
entrando no templo de Apolo, mostrou o escudo que Menelau havia consagrado aí e dizia que
quando voltava de Tróia consagrou a Apolo seu escudo e que já estava estragado, ficando-lhe só a
face de marfim. Que depois que morreu Hermótimo, se passou a Pirro, pescador delio e se lembrou
de novo de todas essas coisas, a saber, como primeiro havia sido Etalides, depois Euforbo, logo
Hermótimo e finalmente que depois de morto Pirro veio a ser Pitágoras e se lembrava de tudo
quanto temos mencionado.” (1)

(1) Vidas, opiniões e sentenças os filósofos mais ilustres, Diógenes Laércio. Ed.Perlado Paez,
Madri, Espanha, 1914.

Também Ovídio dizia haver assistido ao sítio de Troia e o imperador Juliano o apóstata
afirmava ter sido Alexandre de Macedônia. Napoleão cria ter sido Carlos Magno, tanto que tinha
em seu poder o talismã que havia pertencido ao grande imperador e o general George Patton, herói
da Segunda Guerra, recordava ter combatido contra Ciro, junto a Alexandre Magno.
Essas recordações podem surgir espontaneamente, como ocorre às vezes com crianças, ou
ser despertadas por algum impacto emocional ou pela visita a algum lugar desconhecido que
surpreendentemente resulta familiar. Alguns sonhos podem ser reminiscências de vidas passadas.
Mas, além do mais, a memória de vidas anteriores pode ser induzida ou provocada, e é esta
possibilidade o que permite seu uso terapêutico e da origem da Terapia de Vidas Passadas (TVP). O
mecanismo ou técnica pelos quais se acessa o reviver do passado, tanto dessa vida como de uma
anterior, se denomina regressão de memória.
Seguramente, se perguntarão: se é possível ter essas recordações, por que o esquecimento
então? ”É por bondade da natureza que não recordamos nossos nascimentos anteriores”, responde
Ghandi. A vida seria uma carga se arrastássemos todas essas recordações. Quantas vezes em nossa
vida atual quiséramos apagar tudo e ter a oportunidade de começar novamente? Poderíamos levar
uma vida social normal se todos recordássemos nossas faltas do passado e conhecêssemos as dos
outros ?
E aqueles que foram poderosos, não quereriam reclamar suas riquezas materiais, suas terras,
ou talvez países inteiros, amparados em seus títulos do passado? A recordação de nossas anteriores
personalidades traria graves inconvenientes, pois poderia em alguns casos humilhar-nos
profundamente, e em outros exaltar nosso orgulho e escravizar nosso arbítrio.
Não em vão, a figura do esquecimento está presente em todas as culturas, tanto na hebraica,
como entre os gregos ou hindus. Na República, Platão relata que as almas, antes de voltar à vida, se
encaminham juntas à planície do Letes. Ali corre o rio Ameleto, cujas águas não podem ser
recolhidas por nenhuma vasilha. É preciso que todas as almas bebam dessa água certa quantidade,
mas aquelas que por imprudência bebem além da medida, perdem absolutamente a memória.
Na tradição hindu, ao explicar a Kali os segredos da iniciação sexual, Shiva diz: “A
primeira iniciação sexual pela qual passam todos os seres, tem lugar ao sair pelo yoni (2) da mãe,
passo que faz esquecer suas vidas anteriores”. Durante esta primeira iniciação, a mãe oferece a seu
filho o mundo inteiro e apaga todas as recordações dolorosas do passado.(3)
Há outras razões para o esquecimento. Ao entrar na atmosfera material, a alma atravessa
uma barreira energética que diminui as vibrações de sua consciência. O rio do esquecimento seria a
metáfora dessa barreira. Ao completar o processo de encarnação a passagem do estado de energia ao
estado de matéria faz que diminuam ainda mais essas vibrações. O corpo físico é um material muito
denso e a alma já não pode transmitir todas suas sensações.
Por outra parte se comprovou que a ocitocina, um hormônio que regula as contrações
uterinas no momento do parto, provoca amnésia em animais de laboratório e que ainda os mais
treinados não são capazes de realizar suas tarefas habituais logo após se submetidos à ação deste
hormônio.(4). Sabe-se que a ocitocina liberada pela mulher durante o trabalho de parto passa à
circulação sanguínea de seu filho. Esta podia ser outra das razões físicas para o esquecimento do
passado.
Essa amnésia é indispensável para poder assumir a nova personalidade. Não só se esquecem
os fatos da anterior encarnação como também a angústia e a nostalgia que provocam a perda de um
mundo de luz e amor como é o mundo da essência espiritual.
O esquecimento nos permite recomeçar do zero, em igualdade de condições, sem
preconceitos. Ao nascer, todos iniciamos uma nova vida, uma nova experiência, uma possibilidade
de retificação de nossos caminhos.
O esquecimento é a anistia cósmica.

Se o esquecimento é a anistia cósmica, para que recordar, então?


Ainda que não tenhamos consciência disso, nos bancos de nossa memória subconsciente,
todos temos recordações de outra encarnações que, de uma ou outra maneira estão incidindo em
nossa vida atual. E não se trata de recordações anedóticas, senão de registros emocionais muito
fortes que nos estão afetando agora. Não recordamos mas esses registros estão presentes em nossa
vida cotidiana, seja em nosso caráter, em nossas crenças, em nossos padrões de conduta ou na forma
como reagimos frente a determinadas situações.
De igual maneira não recordamos o que temos aprendido, e, no entanto esse conhecimento
se mantém intacto. O aprendizado alcançado em vidas anteriores se manifesta através de atitudes ou
habilidades inatas para realizar determinadas atividades ou empreender estudos especiais. A
facilidade que tem certas pessoas para entender um idioma que escutam pela primeira vez é sinal de
que tem estado em contato com ele numa existência anterior. As crianças prodígio são exemplo
clássico. É como se eles não tivessem bebido da água do esquecimento. Cícero dizia que a
velocidade com que aprendem as crianças é uma prova de que os homens sabem quase tudo antes
de nascer e Platão afirmava que o conhecimento facilmente adquirido é aquele que se obteve numa
vida anterior. Aprender é recordar.
Assim como o aprendizado realizado em vidas anteriores se expressa em atitudes na vida
presente, da mesma forma os traumas do passado se manifestam em forma de conflitos emocionais.
Quando essas emoções impedem o livre fluir nesta vida, chegou o momento de recordar, de trazer à
consciência o trauma original para resolver o conflito em sua origem. É aí quando entra em cena a
Terapia de Vidas Passadas.

(2) órgão sexual feminino (N.do A.)


(3) Segredos sexuais. N.Douglas & P.Slibger, Ed. Martinez Roca, Barcelona, Espanha, 1982
(4) a vida secreta da criança antes do nascimento, Thomas Verny, Ed. Grasset, Paris, França, 1982.
Capítulo III
Uma terapia da alma

Que é a Terapia de Vidas Passadas?

Se tentasse uma definição acadêmica, poderia dizer que a TVP é uma técnica
psicoterapêutica transpessoal, entendendo por esse termo todas as experiências da pessoa que
transcendem a si mesmo para integrar-se com a consciência cósmica, o êxtase e os estados místicos.
Experiências transpessoais são aquelas que viveram os profetas e os Mestres de Luz como Buda,
Moisés, Jesus ou Maomé. A vida de Joana d’Arc é uma experiência transpessoal toda ela, igual aos
atos dos xamãs.
Intimamente prefiro uma definição mais simples para a TVP: é uma terapia da alma, porque
as dores estão na alma, e é a alma que se deve curar. É a cura pelo espírito.
Os gregos denominaram psique à alma, donde deriva a palavra psiquê, e daí psicologia. Por
conseguinte, quando falamos do estudo da psiquê, estamos falando do estudo da alma e de suas
manifestações.
Se examinarmos por um instante nossa vida presente, seguramente encontraríamos uma
infinidade de experiências que nos marcaram profundamente. Um espancamento na infância, a
morte de um ser querido, a separação de nossos pais, o afastamento de um deles, alguma
experiência difícil na escola, um amor frustrado ou uma traição amorosa, a perseguição política, o
exílio, um acidente grave, talvez uma iniciação sexual traumática ou pior, uma violação na infância
e centenas de outros episódios marcantes ou dolorosos. Uma só dessas experiências é suficiente
para condicionar a conduta de uma pessoa por toda sua vida. Tão só um incidente desses pode
converter-se em trauma.
E que é um trauma? Simplesmente é a recordação de um fato associado a uma carga
emocional. Com o tempo, a recordação desaparece, é esquecida, mas a carga emocional permanece
intacta em nosso subconsciente e daí determina nossa conduta, nossa forma de vida e nossa resposta
frente a situações similares. Tudo isso pode suceder com apenas um só incidente de nossa vida
atual.
Agora, sucede que, ao longo de milhares de existências temos atravessado por incontáveis
situações marcantes. Em cada acontecimento ficam gravados em nossa memória espiritual cada
gesto, cada palavra, cada emoção, pensamento ou sensação. Não se trata de nossa memória física ou
genética; os investigadores de hoje chamam-na memória extracerebral. Dois mil anos atrás Plutarco
dizia que a memória era uma faculdade da alma.
Em cada nova existência, a alma vai adquirindo conhecimentos, desenvolvendo atitudes,
aprendendo lições que na vida seguinte se converterão em degraus para seguir crescendo. Mas ao
mesmo tempo nesse aprendizado se geram emoções, sensações e pensamentos que também ficam
gravados profundamente. Um desejo insatisfeito buscará satisfazer-se na vida seguinte. Uma
experiência prazerosa tentará repetir-se. Uma conduta repetida se converterá em tend~encia. Uma
culpa que não se resolveu buscará acalmar-se mediante o auto-castigo. Uma dor não resolvida
seguirá arrastando sua pena até sanar a ferida que ficou aberta. Uma experiência traumática se
converterá em advertência e sua manifestação na vida cotidiana será um bloqueio, um medo ou
incapacidade para fazer determinadas coisas.
No entanto hoje, nosso mundo é cenário da violência em todas as suas formas. Pense no
passado, onde experimentamos centenas de mortes violentas; desde o crânio destruído pela maça de
um guerreiro primitivo, até queimado pela Inquisição, guilhotinado durante a Revolução Francesa,
enterrado vivo numa mina, afogado num naufrágio ou asfixiado numa câmara de gás. Uma só
dessas experiências é suficiente para gerar uma fobia, uma dor de cabeça crônica, o temor de falar
em público, de expressar uma crença religiosa ou uma conduta temerosa e defensiva ou, pelo
contrário uma resposta agressiva e violenta ante a menor oposição.
Mas essas situações se repetem ao longo de várias vidas, e, em cada uma delas se reforçam
ainda mais. Nem sempre foi a morte o fato traumático. Igualmente a nossa vida presente ocorreram
milhares de incidentes que gravaram a fogo nosso espírito. A escravidão, a mentira, a infidelidade, o
abuso de poder, a recusa e centenas de situações onde a dor psíquica foi muito mais intensa que a
física. Assim, o conjunto de emoções não resolvidas se projeta desde a memória subconsciente,
como uma sombra sobre cada ato de nossa vida.
Os antigos sábios hindus identificaram essas forças do subconsciente com o nome de
samskaras ou vâsanâs, impressões passadas e tendências latentes, respectivamente. Essas
impressões e tendências são resíduos das experiências do passado que ficaram gravados na memória
da alma e desde aí condicionam a vida da maioria de nós. Aí se originam nossos temores, nossas
crenças, nossos padrões de conduta, nossa escolha de vida como também a aversão ou atração a
determinadas pessoas ou lugares. Frente a cada situação de vida cotidiana que nos move
respondemos sem sabê-lo, de acordo com essas forças do subconsciente. Quando Luísa reage no
episódio do automóvel, deve-se a que em outro nível de sua consciência se reativaram os samskaras
ou impressões residuais de sua antiga experiência com os soldados. Antiga para a consciência
cotidiana, mas não para a alma ou para a consciência transpessoal, cósmica e eterna, para a qual o
tempo não existe.
Quanto mais extemporânea, quanto mais insólita e fora de lugar é uma reação, mais
provável tem de se tratar de uma emoção originada num evento de outra vida. A situação de hoje só
atua como gatilho, reativando a memória emocional do passado.
Dizíamos que para a alma o tempo não existe. Tudo está aí, ao mesmo tempo. Assim como
podemos recordar episódios de nossa vida presente instantaneamente, sem necessidade de uma
sequência cronológica, da mesma forma estão registradas todas as vidas e as experiências
vivenciadas. Na realidade, estamos vivendo muitas vidas ao mesmo tempo. Enquanto vivemos o
presente, frente a cada situação, ante cada emoção, nossa alma está revivendo, em uníssono, o fato
ou fatos onde experimentou pela primeira vez ou pela última vez essa emoção. Reagimos no
presente, não de acordo com o que está sucedendo, senão ao que nossa alma está revivendo. Se não
podemos vivenciar o aqui e agora, se não podemos ser o que somos, deve-se a que o passado está
invadindo o presente com sua carga de forças subconscientes, impedindo-nos de ver a situação atual
tal como é. Estamos vendo o presente tingido com as cores dos samskáras.
Por meio da TVP podemos ir à origem dessas impressões, à raiz de nossas dores. Podemos ir
ao lugar e o momento preciso onde se geraram essas forças emocionais profundas. Podemos
encontra-las, identifica-las e liberar agora, nesse preciso instante, essa energia presa, latente, que
está condicionando nossa vida.
Mas não é suficiente recordar. É necessário vivenciar, sentir no corpo o fato que originou
essa emoção. Por isso a TVP é fundamentalmente vivencial e implica por o corpo e sentir
vivamente essas emoções que estão batendo na alma.
E não se requer viajar a nenhum lado. Simplesmente se trata de trazer à consciência habitual
esse instante, essa emoção que nossa alma revive sem que saibamos. Ao reviver a situação original,
permitimos que essa emoção encontre saída através de nosso corpo, experimentando não só as
emoções senão também as sensações físicas desses momentos. O corpo, a sensação consciente, atua
como dreno da alma, limpando, purificando, liberando por fim essas energias incrustadas. E então
se produz o alívio. Subitamente a compreensão surge na mente. Agora entendo porquê. E ao outro
dia, ou à semana seguinte, a mesma situação ante a qual sentia medo ou angústia, agora a posso ver
com outros olhos, posso vê-la tal qual é. Sem me propor, respondo de forma diferente. Talvez nem
sequer me dê conta de que passou algo, porque essa emoção que estava reprimida, já não está. Não
há nada que elaborar. Simplesmente atuo de forma livre e espontânea.
As dores, emoções, os samskáras não estão no cérebro físico. Estão na memória
extracerebral, na alma, no espírito, o corpo suprafísico ou corpo astral como preferir.
Por isso a Terapia de Vidas Passadas é uma terapia da alma.
Capítulo IV
Como funciona a TVP

Por meio da regressão a pessoa revive os fatos traumáticos ou significativos não resolvidos,
gravados e reprimidos na memória subconsciente, e cuja carga emocional ainda está atuando,
causando os distúrbios psíquicos, psicossomáticos e de comportamento.
Durante a regressão, a pessoa revive os acontecimentos originais, sentindo em seu corpo as
sensações físicas, experimentando as emoções vividas e tomando consciência de seus pensamentos
nesses momentos. Isto é fundamental, porque não basta recordar. Uma regressão não é uma
regressão efetiva se não se vivenciam os fatos do passado como se se estivesse ali.
Durante esse trabalho há uma grande liberação de energia emocional, o que produz uma
reestruturação nos diferentes níveis de consciência. A regressão se desenvolve no plano físico,
mental, emocional e espiritual. Trata-se de uma experiência pessoal e direta, onde o terapeuta não
interpreta nada. Simplesmente atua como condutor da experiência acompanhando e assistindo o
paciente para que faça contato com sua verdade, ajudando-a a descobrir o que tem que descobrir.
O reviver dos fatos originais proporciona à pessoa o conhecimento subjetivo de sua própria
verdade. Há um dar-se conta e um contato íntimo numa experiência nitidamente gestáltica. O
paciente está experimentando seu passado aqui e agora. Não é necessário crer na reencarnação.
Muitos se perguntam se isto não é mais que uma fantasia. Na verdade poderia ser uma
fantasia. Mas ainda assim, o efeito terapêutico se cumpre da mesma forma. Por que a fantasia é
própria de cada um. Para o subconsciente a fantasia é real. Uma vez escutei dizer Ernesto Sábato(1)
que o inconsciente é a realidade mais verdadeira que existe. Os mestres tibetanos nos ensinam que a
experiência absoluta da ilusão é, ela mesma, a experiência da não ilusão. Porque ao vivenciar a
ilusão, desaparece a dualidade. A única realidade é o que sentimos e experimentamos. Esta é a nossa
verdade.
A recordação de uma vida passada poderia ser uma ilusão, mas se experimento as sensações
dessa ilusão, significa que, em algum lugar de meu subconsciente, essa ilusão está afetando minha
vida atual.
No entanto, a experiência demonstra que numa regressão se pode começar fantasiando ou
inventando uma história, mas em algum momento, a fantasia escapa ao controle da pessoa, e os
fatos, as imagens e as sensações começam a produzir-se e a surgir independentemente do que a
pessoa crê, pensa ou imagina. Costuma acontecer que algumas pessoas, que começaram fantasiando
uma história logo se encontram vivenciando uma situação que não esperavam e então exclamam
algo assim:
-Não pode ser que isto esteja passando comigo!
-Isto é uma loucura!
-Isto não pode estar passando comigo!
E no entanto está passando.
As sensações são muito profundas e falamos de sensações físicas, falamos de dor, de frio,
angústia, pânico, de prantos incontidos, emoções e pensamentos tão intensos que a pessoa os
vivencia como se realmente estivessem ocorrendo aqui e agora.
Este é um dos aspectos mais importantes da terapia. Quanto mais sensações se
experimentam no corpo, tanto mais efetivo e espetacular é o resultado da regressão. Estas sensações
são tão vívidas, tão intensas, que a pessoa não tem nenhuma dúvida do que está se passando, porque
o está vivendo. Recordo nesse momento de um paciente que durante a regressão sentiu que lhe
cravavam uma lança no estômago. É frequente sentir esses impactos. Mas além do mais, nesse caso,
o paciente sentiu que tocava a lança com as mãos. Estava cravado contra o piso e com sua mãos fez
o gesto de agarrar a lança e exclamou: É impressionante! Estou tocando, e é de madeira!
Tanto ele como eu ficamos impressionados com a vivência.
Ao terminar a regressão, a maioria das pessoas assinalam o mesmo: “Eu nunca havia me
imaginado uma coisa assim.”
Em 99% dos casos, as cenas que surgem durante a regressão não tem nada que ver com o
que se pensava antes dela.
E chegamos assim a outro aspecto particular da TVP. A vivência é tão profunda que a
regressão se converte em uma experiência vital, em uma experiência de vida, na qual a pessoa
incorpora isso à sua história como se realmente tivesse vivido. É como se algo nos tivesse ocorrido
recentemente ou nos tivesse comovido profundamente, e além de nos comover, nos enriqueceu com
seu aprendizado, com uma tomada de consciência. Da mesma maneira, as vivências durante a
regressão a vidas passadas se incorporam como experiências realmente vividas. Por isso são tão
mobilizadoras. Por isso se produzem essas mudanças. É como se no lapso que dura a regressão,
tivéssemos tido uma experiência de vida. É como se tivéssemos amadurecido de improviso.
Muitas vezes o que não se aprendeu em muitos anos de vida se aprende na regressão. Por
quê? Porque essa experiência comove profundamente todas as estruturas psíquicas e emocionais da
pessoa. Se produz isso que se chama insight, a visão interior. Se produz essa iluminação, esse
conhecimento, esse amadurecimento imprevisto que faz o que parecia uma fantasia agora se
converte em uma experiência vital. E isso não pode ser proporcionado por nenhuma história que
imaginemos ou inventemos. Porque o que fantasiamos ou inventamos logo se esquece. Em troca, a
regressão passa a integrar-se a nossa memória como uma experiência real, como algo que se viveu e
poderão passar os anos, mas os detalhes não se esquecem. Agora, isso é incorporado como uma
recordação, daí o grande valor de integração que possui, porque é integrar uma parte de nossa
personalidade, uma parte de nossa história que tínhamos esquecido.
Qual é o mecanismo intrínseco pelo qual funciona a regressão?
É difícil dizer. Através da experiência recolhida com os pacientes é comprovado que o mais
importante durante a regressão é que o paciente sinta e experimente as sensações em seu corpo. Que
experimente no corpo o que está passando na cena do passado, seja nessa vida, na primeira infância,
dentro do ventre materno ou em uma existência anterior.
O mais importante de tudo é experimentar as sensações e emoções, e resgatar os
pensamentos e reações mentais que surgem quando se têm essas emoções e sensações. É aí onde se
originam os medos, culpas, comandos, crenças e padrões de conduta. Não interessa o que se faz
depois. Se a pessoa experimenta e sente com o corpo, o trabalho está feito, porque se mobilizou
uma energia, porque algo se desprendeu ou se transmutou, porque algo mudou na organização
psíquica emocional dessa pessoa.
É como se as emoções e sensações estivessem ainda ancoradas em algum lugar da alma, e a
alma necessitasse do corpo para desprender-se dessa energia. É como se o corpo fosse a cloaca do
espírito, como se o corpo fosse o dreno através do qual o espírito descarta essa energia que o está
perturbando.
De alguma maneira poderíamos ilustrar isto com o modelo da estruturas dissipativas
elaborado por Ilya Prigogine, prêmio Nobel de Química de 1977 (2). As estruturas dissipativas são
sistemas abertos que intercambiam energia e onde as formas e estruturas são mantidas por uma
dissipação contínua de energia. As grandes flutuações de energia produzem uma ruptura da
estrutura antiga que se reorganiza então de uma maneira mais complexa e elevada. De alguma
maneira, o sistema escapa a uma ordem superior.
Pareceria que com a estrutura psíquica passaria algo similar. Durante a regressão, ao trazer
um traumatismo antigo à consciência e vivenciá-lo no corpo intensamente se produz uma grande
catarse conhecida como aberração. Esta grande mobilização de energia perturba a estrutura
correspondente a essa recordação e desencadeia uma reação, criando uma nova estrutura dissipativa.
Alcançada a origem do trauma a estrutura deste quebra, se desintegra e desaparece. Ao desaparecer
a estrutura do trauma se modifica todo o sistema psíquico e a pessoa alcança um estado de
compreensão diferente e superior.
A mudança se produz praticamente de forma espontânea.A pessoa não tem que elaborar nada
nem pensar no que vai fazer de agora em diante. Simplesmente atua de uma maneira diferente
porque já não está condicionada pela estrutura emocional antiga. É frequente que, tempo depois, as
pessoas digam algo como: “a mudança notei mais pelas coisas que deixei de fazer do que pelo que
faço.”
Espontaneamente, a pessoa deixa de fazer algumas coisas e pode fazer outras. Deixa de ter
certas reações porque já não está com o espinho irritante que, frente a determinados estímulos,
provocava essas reações.
Agora pode viver o presente aqui e agora.

(1)Ernesto Sábato-escritor argentino – 1911 a 2011(N. Do T.)


(2)Somos todos imortais, Patrick Drouot, ed. Edaf, madrid, Espanha
Capítulo V
Um pouco de história

É provável que na antiguidade se praticava a regressão de memória. Tanto Patanjali como


Buda fazem referência à possibilidade de recordar as existências anteriores. Por outra parte, no
mundo antigo estava difundido o uso do sono hipnótico com fins terapêuticos. Heródoto cita vários
templos onde levavam os enfermos a quem se colocava em sono para obter sua cura.(1)
A primeira experiência de regressão documentada oficialmente foi realizada na Espanha,
em 1887, por Fernández Colavida. Esta foi recém comunicada em público por Esteban Marata, no
Congresso Espírita de Paris de 1900, na sessão de 25 de setembro. Deve-se notar que tal regressão
foi levada a cabo em um sensitivo.
Fernández Colavida decidiu provar se poderia provocar em um médium, em estado de
transe, a recordação de suas existências anteriores. O médium foi magnetizado por ele – logo
explicaremos isso – ordenando-lhe que dissesse o que havia feito no dia anterior, uma semana, um
mês, um ano antes e logo o fez chegar assim até sua infância. Ordenando-lhe que fosse mais atrás, o
médium relatou sua vida no espaço, a morte de sua última encarnação e chegou assim a 4
existências anteriores, a última das quais era uma existência totalmente selvagem. Em cada
existência os traços do médium se modificavam completamente. Logo o fez voltar a sua existência
presente e o despertou. Para evitar a possibilidade de um engano, uns dias mais tarde, fez
magnetizar ao mesmo médium por outro magnetizador, quem lhe sugeriu que as existências
passadas não eram verdadeiras. Apesar dessa sugestão, o médium reproduziu novamente as 4
existências exatamente da mesma forma como o havia feito antes. Segundo León Denis, essas
experiências foram tentadas em vários centros de estudos, obtendo-se numerosas indicações sobre
as vidas sucessivas da alma. A esse fenômeno se chamou renovação da memória. (2)
As experiências do coronel Albert de Rochas

Nascido em 1837, Rochas não era um homem vulgar. Coronel de engenheiros, administrador
da Escola Politécnica de Paris, ao aposentar-se em 1888 já havia escrito inúmeras obras sobre temas
militares, ciências naturais, direção técnica, história e linguística. Várias obras suas foram
premiadas pela Academia de Besançon, a Sociedade Francesa de Arqueologia, a Sociedade para o
Estímulo dos Estudos Gregos e a Sociedade de Línguas Românicas. Não era pois um amador. Após
sua aposentadoria, se dedicou ao estudo dos estados profundos da hipnose, valendo-se para isso da
velha hipnose, o sono magnético. Escreveu uma dezena de livros a respeito, o último dos quais, As
vidas sucessivas, publicado em 1911, o que nos interessa. (3)
Recentemente, em 1991 pude dar com o livro de Rochas. Em uma visita à França 2 anos
antes, minha busca havia sido infrutífera. Foi graças à perseverança e o ofício de minha irmã
Cláudia, restauradora de museus, ao fim, que o livro de Rochas chegou a minhas mãos.
Cláudia o rastreou em Paris e conseguiu nada menos que um exemplar de primeira edição
original, zelosamente custodiado por um velho livreiro, que consentiu em desapegar-se dele ante a
surpresa que lhe causou que este livro fora tão importante para um desconhecido médico que
morava na Argentina.
Ler Rochas foi entrar em contato com a fonte original. Ante sua leitura, não se pode
experimentar menos que surpresa e admiração. Ali detalha passo a passo suas experiências com a
regressão realizadas em 19 pessoas entre os anos 1893 e 1910. algumas delas foram seguidas
durante vários anos. Sempre teve testemunhas qualificadas presenciando as sessões, e algumas delas
foram levadas a cabo na Faculdade de Medicina de Grenoble.
Rochas foi o primeiro em utilizar o termo regressão da memória. Suas experiências foram
levadas a cabo como investigação, e não sabemos se lhe ocorreu ou não seu uso terapêutico. O certo
é que, já naquele então, Rochas descreveu todos os passos que hoje se investigam em uma
regressão. As vidas passadas, a morte, o espaço entre vidas, a concepção, a vida fetal e ao
nascimento.
Rochas se encontrou por acaso com o fenômeno da regressão de memória enquanto estudava
os estados profundos da hipnose provocada com a imposição de suas mãos. Rochas trabalhava
então com o que se conhece sono magnético. Utilizava sua própria força vital projetando-a com
suas mãos.
Suas primeiras experiências com regressão foram publicadas nos Anais de Ciências
Psíquicas, em 1895. Aí relatava o caso de Laurent, um estudante de Letras de 20 anos. Com Laurent
descobre a regressão de memória, mas só chega até a infância. Haveria de passar vários anos antes
de dar-se conta de que podia acessar a recordação de vidas passadas. Isto ocorre em 1904, quando
hipnotiza mediante passes com suas mãos, Joséphine, uma jovem de 18 anos, levando-a primeiro à
idade de 7 e logo de 5 anos. Ali decidiu seguir exercendo sua ação magnética, e ao interroga-la
novamente, Josephine lhe fez saber que ainda não havia nascido, que o corpo no qual devia
encarnar estava no ventre de sua mãe. Aprofundando mais ainda o sono magnético, Josephine deu
lugar à aparição de um personagem que falava com voz de homem e dizia chamar-se Claude
Bourdon, nascido em 1912 em Champvent. Assim descreve Rochas esse momento transcendental:

“Me encontrei assim lançado numa investigação que estava longe de suspeitar. Envelhecia
ou rejuvenescia o paciente em suas existências anteriores, por meio de passes apropriados.”(4)

Nessa primeira experiência, além do fato da regressão em si mesma, aparece uma constante
que se repetirá em todos os casos: a avaliação da vida passada no espaço entre vidas; o conceito da
reparação nas vidas seguintes das faltas cometidas nas vidas precedentes e os ensinamentos que se
desprendem espontaneamente ao efetuar a regressão.
O tal Bourdon havia ficado 4 anos em serviço militar, em cujo transcurso havia abusado de
muitas jovens. Interrogado por Rochas se não havia engravidado alguma delas, respondeu muito
tranquilamente: “Bom, não será nem a primeira nem a última”. Morreu aos 70 anos, zombando dos
padres. Então Rochas, adiantando-se em muitos anos a Joel Whitton (5),segue-o no espaço entre
vidas. Ao morrer, permanece atado a seu corpo por um longo tempo. Segue acompanhando seu
enterro. Na igreja, o padre, dando voltas ao redor de seu corpo, criou com seus passos um muro
luminoso que o protege dos maus espíritos. Reconhece que a morte não era o que pensava. Se
tivesse sabido o que sabe agora, não teria zombado do padre. Tem então a inspiração de encarnar-se
em um corpo de mulher, porque as mulheres sofrem mais que os homens, e ele tem que expiar suas
faltas por ter se aproveitado das jovens. E então passa a descrever como se encarna. Se aproxima de
quem será sua mãe e a rodeia, até que a menina vem ao mundo e entra pouco a pouco nesse corpo.
Diz então que, até os 7 anos havia ao redor desse corpo como uma aura de brilho flutuante com o
qual havia visto muitas coisas que logo depois não viu mais.
Ainda aguardavam mais surpresas a Rochas. Aprofundando a magnetização, aparece uma
personalidade anterior: Philomene Carteron; e antes de Philomene havia sido uma pequena menina,
morta precocemente, e antes havia sido um homem que havia matado e roubado pelo qual sofria na
obscuridade. Mas isso não era tudo. De repente Josephine lhe disse que era um símio. Imaginem
Rochas em 1904. Devia ter caído de costas. Afortunadamente se recobrou de sua surpresa e pode
resgatar esse conceito fundamental que lhe entregou Josephine. Disse que entre os animais havia,
como entre os homens, naturezas boas e más, e que, quando se convertiam em homens, se
guardavam os instintos daquilo que havia sido como animal. Retenham esse conceito, porque mais
adiante assistirão a regressões de pacientes que se viram como animais.
Também disse que entre seu estado de bandido e de símio havia tido várias encarnações
sucessivas.
Rochas deve ter tido um grande senso de humor, porque ao comentar essa experiência relata
a seguinte anedota de Alexandre dumas (6), pai. Certa vez perguntaram ao escritor se era certo que
seu pai era negro. A ele não lhe gostava que perguntassem sobre sua origem, e respondeu da
seguinte maneira: “Perfeitamente, e meu avô era símio. Minha família começou onde terminou a
sua.”
No afã por encontrar uma prova que confirmasse os dados fornecidos durante a regressão,
Rochas investigou sempre que pôde cada caso em particular. Em algumas ocasiões encontrou
evidências significativas, em outras não encontrou nada. No caso de Josephine não encontrou traços
de Jean Claude Bourdon no registro paroquial que lhe corresponderia, mas esse nome era comum
numa região vizinha. No entanto, sim, pôde confirmar algo. Jean Claude lhe disse que havia feito o
serviço militar no sétimo de artilharia em Besançon. Rochas constatou que, efetivamente o sétimo
de artilharia havia tido sua guarnição em Besançon de 1832 a 1837. É difícil de compreender de que
maneira Josephine, que em 1904 tinha 18 anos, tivesse essa informação tão precisa. Por outra parte,
de acordo com essas datas, Jean Claude teria uns 20 anos no momento de cumprir seu serviço
militar, o qual é perfeitamente possível.
Uma das evidências mais significativas teve Rochas com outra mulher, a quem ordenou que
avançasse no tempo. Em lugar de fazer uma regressão, fez uma progressão. Eugene era viúva, e em
1904 tinha 35 anos. Leva-a aos 37 anos e, com muita vergonha, porque não havia voltado a casar,
Eugene disse que tem um parto. Até aqui nada de extraordinário. A faz envelhecer 2 anos mais.
Novos sintomas de parto, e diz que está sobre a água. Ante essa resposta Rochas pensou que a
mulher estava divagando, e rapidamente voltou-a ao estado de vigília normal. No entanto, 2 anos
depois em 1906 teve um bebê de um homem que não conhecia no momento de fazer a experiência e
em 1909 teve outro. Este nascimento se deu sobre uma das pontes do rio Isére onde lhe sobrevieram
as dores do parto. Ali estava a água que havia visto durante a sessão com Rochas.
Na sexta sessão com Josephine ocorre outro fato importante. Desta vez simplesmente lhe
tem as mãos e lhe pergunta o que é necessário fazer para que vá ao passado ou ao futuro. Ela
responde que é suficiente desprender seu corpo fluídico; logo irá para o lado que deseje. Isto é
muito significativo, posto que tem a ver com a técnica que se utiliza atualmente. Não é necessário
recorrer, nem ao magnetismo nem à hipnose moderna, nem a drogas, nem à hiperventilação. O
mesmo Rochas conclui que o essencial é relaxar os laços que unem o corpo astral ao corpo físico
para permitir ao primeiro tomar a direção que se lhe sugere.
Em seu trabalho de investigação, Rochas encontrou detalhes que hoje são a base do trabalho
terapêutico. Por exemplo, ao experimentar com a senhorita May, encontrou que em 3 reencarnações
sucessivas morreu com transtornos respiratórios. A primeira foi uma morte tísica, a segunda uma
morte por resfriamento com tosse, e a terceira uma asfixia por imersão. Em cada caso a mulher
reviveu essas mortes por asfixia, experimentando a falta de ar e a sufocação. O reviver do fato
traumático constitui a base da ação terapêutica da TVP.
Outro caso que nos interessa é o da sra. Trinchant, mulher de 40 anos que vivenciou haver
sido uma jovem árabe assassinada aos 20 anos com uma punhalada. Essa mulher contou à sua mãe
essa experiência como se fosse uma ocorrência disparatada. Qual não foi sua surpresa,quando sua
mãe lhe disse que de menina frequentemente se queixava de experimentar a sensação brusca de um
golpe de faca, sensação para qual não havia nenhum motivo que a justificasse.
Isso coincide com as experiências de pessoas com enfermidades psicossomáticas, as quais
relacionam os sintomas presentes com traumas físicos experimentados em vidas anteriores.
Uma anedota mais de Rochas: seu pai faleceu aos 75 anos de uma embolia. Conservou a
plenitude de suas faculdades intelectuais e a visão bem nítida de sua morte iminente. Rochas
assistiu a seus últimos momentos, onde, recordando suas conversas filosóficas, seu pai lhe disse
com serenidade:

“Amanhã ou passado amanhã saberei mais que tu a respeito. E não me desagrada pensar
que bem logo terei a solução do problema que tanto me tem preocupado.”

Em suas conclusões, Rochas nos deixou a seguinte mensagem:

“A porta está aberta; os senhores sábios e psicólogos podem desde agora investigar o que
há de certo ou não neste domínio do pensamento.”

O nascimento da terapia de vidas passadas

É difícil estabelecer com exatidão quem foi o primeiro que seguiu os passos de Rochas. É
provável que mediante a hipnose vários terapeutas tenham encontrado que seus pacientes lhes
relatavam ocorrências de outras vidas. Mais de um deve ter considerado que isto era uma fantasia e
nada mais. Christie-Murray (6) disse que o primeiro seria o Dr. Mortis Stark, quem explorou essa
possibilidade em 1906, mas não há registro de suas experiências. Também cita o sueco John
Bjokhem (1910-1963), que publicou um livro intitulado De Hypnotiska Hallucinationerna.
Finalmente disse que a Dra. Blanche Baker, de San Francisco, começou a usar em 1950 uma técnica
hipnótica ligeira e de livre associação, que permitia a regressão a vidas passadas de seus pacientes.
Whitton cita o trabalho do psiquiatra inglês Alexander Cannon que desde 1950 já havia
incluído a regressão em 1382 voluntários. No princípio Cannon resistia a aceitar a teoria da
reencarnação e até discutiu com seus pacientes em transe, afirmando que diziam tolices. Ele se
especializou em buscar as origens dos complexos e os temores em incidentes traumáticos de vidas
anteriores.
Em 1967, Joan Grant e Denis Kelsey, também ingleses, publicam seu livro Muitas vidas,
onde relatam, entre outras coisas, suas experiências com a regressão(7).
Nascida em 1907, desde menina Joan tinha recordações vívidas de 7 vidas anteriores, que
abarcavam desde a primeira dinastia no Egito, 3 mil anos a.C., até uma vida entre os primitivos
aborígenes de Norte América. Joan chamou essas recordações memória distante, e sobre sua base
escreveu 12 livros que constituem uma autobiografia de suas vidas passadas. O primeiro dessa série
se chamou Winged Pharaoh (O faraó alado) e foi publicado em 1937, muito antes que outros livros
que se fizeram mais famosos. Para Joan essas memórias eram parte de sua experiência pessoal e
sempre falava de suas vidas. Joan relata que em sua primeira vida no Egito se chamava Sekeeta e
havia sido treinada para recordar 10 de suas mortes anteriores, requisito indispensável para poder
assistir a outras pessoas. Durante o transcurso da Segunda Guerra, Joan começou a apreciar que
alguns problemas dos pacientes se originavam em ocorrências de existências anteriores.
Por sua parte, Denis Kelsey, psiquiatra, começou a trabalhar com hipnoanálises em 1948. A
partir daí começaram a trabalhar juntos. Joan era uma grande sensitiva, e enquanto Denis conduzia
a regressão, ela podia ver a cena que o paciente estava vivenciando e comprovar assim a validade da
experiência. O mesmo Stanislv Grof, em seu livro A mente holotrópica, relata uma regressão que
efetuou com eles.
Denis Kelsey é o primeiro que chama a atenção sobre a importância do perdão para si
mesmo. Encontrou que às pessoas lhes resulta mais fácil castigar-se que perdoar-se a si mesmas.
Entre os ano 1960 e 1970, a TVP começa a tomar forma. Seja por acaso ou
intencionalmente, vários profissionais começam a aplicá-la em seus pacientes. Aqui me referirei aos
que mais tem contribuído nos aspectos técnicos.
Em 1968, Thorwald Dethlefsen, trabalhando com hipnose em voluntários levou a um jovem
reviver a experiência dentro do claustro materno. Se animou a retroceder mais um pouco e lhe
ordenou que fosse ainda mais para o passado. Depois de uma emocionante pausa surgiu a história
de um homem nascido em 1852, chamado Guy Lafarge. Vivia na Alsácia e morreu em 1880,
quando trabalhava como garçom. Logo, Dethlefsen encontrou que havia relação entre os sintomas
psíquicos da vida presente e as experiências traumatizantes de encarnações anteriores. O sintoma
tinha como causa alguma experiência desagradável que foi deslocada da consciência. Comprovou
que, quando se investiga de maneira consequente a verdadeira origem de um sintoma, tropeça de
forma quase automática em encarnações anteriores. Assim desenvolve o que ele chama Terapia da
Reencarnação, afirmando que a causa de todo comportamento e de toda atitude equivocada tem sua
raiz na alma. O resultado de suas experiências pode encontrar-se em seu livro A reencarnação,
publicado em 1976, onde propõe uma psicologia apoiada na teoria da reencarnação.
Em 1973 a psicóloga Edith Fiore assiste a um seminário de fim de semana sobre
autohipnose, no instituto Esalen. Na segunda-feira seguinte decide por em prática essa técnica com
um de seus pacientes que sofria problemas sexuais. Diante de sua surpresa, o homem lhe disse que é
um sacerdote católico no século XVII. Edith Fiore não acreditava em reencarnação e considerou o
relato do paciente como uma fantasia. A surpresa foi ainda maior quando na sessão seguinte seu
paciente lhe disse que se havia curado. A partir daí começou a estudar seriamente o tema da
reencarnação, convertendo-se numa das pioneiras da TVP.
Outro caso notável é o do psiquiatra Brian Weiss. Sua experiência é outro exemplo de como
as circunstâncias nos levam a fazer o que temos que fazer. Weiss desconfiava de tudo aquilo que
não pudesse demonstrar segundo métodos científicos tradicionais. Como exemplo, fez sua tese de
investigação sobre a química do cérebro e o papel dos neurotransmissores. Em 1980 conheceu
Catherine, uma mulher paralisada emocionalmente, dominada pela ansiedade, sua fobia a água,
ataques de pânico e um pesadelo recorrente com ponte que caía. Depois de 18 meses de terapia
convencional sem obter resultado, Weiss decidiu empregar hipnose. Assim que lhe deu ordem de
voltar à época em que se haviam iniciado os sintomas, Catherine começou a relatar uma vida no
Egito, 1800 antes de Cristo. Nem Catherine nem Weiss acreditavam em reencarnação, mas uma
semana depois, o medo de afogar-se e o pesadelo da ponte que caía haviam desaparecido.
Apesar de que para essa época já houvesse abundante literatura sobre vidas passadas, como
a Weiss não lhe interessava o tema, não estava a par dos trabalhos anteriores. Isto ressalta mais
ainda o valor de sua experiência, porque não pode dizer-se que estivesse influenciado por leituras
prévias. Sua história com Catherine está contida em seu livro Muitas vidas, muitos sábios.
Deixei para o final o comentário do trabalho de Morris Netherton, por considerá-lo de vital
importância.
Psicólogo de formação protestante, tinha um sonho recorrente no qual um navio afundava.
Trabalhando esse sonho com seu terapeuta, reviveu sua morte num naufrágio, descobrindo seu
nome e o do navio. Investigou o fato, e pode comprovar que, efetivamente esse barco havia
afundado, e na lista de passageiros mortos encontrou o seu. Terapeuta, finalmente, deduziu que seu
caso não deveria ser único e é assim como em 1967 começa a desenvolver sua técnica particular,
publicando seu livro Terapia de Vidas Passadas em 1978.
A contribuição fundamental de Netherton é que é o primeiro em dar-se conta de que não é
necessária a hipnose para efetuar a regressão a vidas passadas. Ele descobriu que, simplesmente
com uma entrevista cuidadosa, a experiência de vida passada pode ser trazida mais próxima da
superfície, até que sua presença se faz óbvia para o observador treinado. Mas Netherton avança
muito mais. Descobre que quando o paciente entra no consultório, já está em regressão e afirma que
se alguém está vivendo de acordo com condições de outra realidade já está parcialmente em transe.
Não é necessário provocar um estado de transe para efetuar a regressão, porque o transe se
desenvolve como consequência da regressão. Esta é a diferença básica entre a técnica de Netherton
e a dos outros. A premissa de que a pessoa já está em estado de transe e portanto não é necessária
uma indução adicional.
O fundamental disto é que o paciente não está perdido num transe hipnótico e pode olhar
para fora e para dentro de si mesmo ao mesmo tempo. Karl Schlotterbeck, discípulo de Netherton é
quem melhor explica sua técnica. Enfatiza a necessidade de reconhecer os sintomas de ansiedade,
dor, conduta ou compulsão, como evidência de que a regressão já se produziu.
A focalização no sintoma aprofunda o estado regressivo e as imagens e palavras associadas
ao sintoma do passado começam a aflorar livremente na consciência do paciente.(8)
A técnica de Netherton foi introduzida no Brasil, em 1980, pela Dra. Maria Júlia Moraes
Prieto Peres. Em 1986 a dra. Prieto Peres dita um seminário aqui em Buenos Aires, onde apresenta
sua técnica mista, combinação das de Netherton e de Edith Fiore. Nesse seminário eu a conheci e a
partir daí treinei-me com ela junto com outros profissionais. Para ser justo, devo dizer que alguns
deles já haviam efetuado algumas regressões, ainda que de forma esporádica. Também quero
acrescentar o dado que me brindou um amigo, que me disse que faz 40 anos um médico no Paraguai
efetuou com ele uma regressão utilizando hipnose. De modo que já naquela época, por essas
latitudes, havia profissionais incursionando pelas vidas passadas.
De algum modo, esta é minha árvore genealógica na TVP. A partir daqui, o que segue é
minha visão pessoal, nutrida pelos ensinamentos dos que me precederam, e enriquecida pela
experiência adquirida com os pacientes.

(1) Os novos livros da história, Heródoto, ed. Jackson, Buenos Aires, Argentina, 1960
(2) O problema do ser e do destino, León Denis, ed. Kier, Buenos aires, Argentina, 1981,
publicado primeiramente em 1905.
(3) As vidas sucessivas, Albert de Rochas, Chacornac, Paris, 1911
(4) Chama-se passe o ato de recorrer com as mãos parte ou todo o corpo do paciente para
exercer a ação magnética (N.do A.)
(5) A vida entre as vidas. Joel Whitton & Joe Fisher, Planeta, Bs.As.,1988
(6) Reencarnação, David Christie-Murray, Ed. Robin Book, Barcelona, Espanha, 1990
(7) Muitas vidas, Joan Grant & Denis Kelsey, Ed. Ayer.
(8) Vivendo suas vidas passadas, Karl Schlotterbeck, Ed. Ballantine, New York, USA
https://archive.org/details/nossasvidasanteriores1967/page/11/mode/2up
Capítulo VI
Do sono magnético ao estado expandido de consciência

Durante o verão de 1774 – relata Stefan Zweig(1)- um estrangeiro em passagem por Viena,
solicita ao pe.Hell, jesuíta e astrônomo, que lhe confeccione um ímã para aliviar uma súbita cólica
de estômago de sua esposa. O padre se limita a confeccionar o objeto na forma solicitada, mas não
deixa de comunicar a seu amigo, o sábio doutor Franz Mesmer (1733-1815) a curiosa ocorrência.
Mesmer não era nenhum vigarista como ainda crêem muitos. Doutor em filosofia, médico e
advogado, no teatro de jardim de sua residência estreou a ópera Bastien e Bastienne de Mozart.
Exímio executante da harmônica de cristal, Mozart não só comporá um quinteto para seu
instrumento como além disso lhe dedicará uns versos em Cosi fan tutte.
Admirado com a imediata melhoria provocada na enferma pela aplicação do ímã, Mesmer
começa seus experimentos. No princípio crê que o segredo da cura está nas propriedades do ímã,
por isso chama magnetismo a seu tratamento. Assim chega a construir a célebre “cuba da saúde”.
Era um grande recipiente de madeira, no qual 2 fileiras de garrafas de água magnetizada, corriam
convergentes a uma barra de aço providas de pontar condutoras móveis das quais o paciente podia
aplicar algumas na região dolorida. Ao redor dessa bateria magnética se situavam os enfermos em
contato uns com os outros pelas pontas dos dedos. Mesmer sustentava em sua mão uma varinha de
ferro, em cuja ponta concentrava o fluido magnético, intensificando assim seus efeitos. Em pouco
tempo alcança curas espetaculares, colhendo fervorosos seguidores e ferrenhos inimigos enre seus
colegas. Cinco vezes tenta obter em distintas faculdades um exame atento de seu sistema,
solicitação que lhe foi sempre negada. Emigra de Viena a Paris, onde seu tratamento causa furor,
sobretudo entre a nobreza. Logo Mesmer se dá conta de que não é o ímã o que produz a cura,senão
suas próprias mãos. Mas já o termo magnetismo está cunhado e não pode voltar atrás. Por esse
motivo chama a esse fenômeno magnetismo animal. Não pode vê-lo, mas sabe que de suas mãos se
desprende algo que opera sobre os enfermos.
Mesmer provocou tal alvoroço com suas curas que logo seu êxito se voltou contra ele. Por
todos os lados surgem profanos que se ocupam do novo jogo de sociedade, magnetizando animais,
grutas, e se produzem lutas entre partidários e detratores. O problema de Mesmer é que até
Lafayette e a mesma rainha Maria Antonieta são seus fervorosos admiradores. A Luís XVI isto não
lhe agradava. Ordena à corporação de médicos e à Academia de Ciências que abra uma investigação
oficial sobre o magnetismo. Na comissão investigadora se encontram, entre outros, o dr. Guillotin,
que anos após inventará a cura definitiva para todas as enfermidades: a guilhotina. Acompanham-no
Bailly, astrônomo, o químico Lavoisier e o botânico Jussieu. Não sabem que mais tarde, Bailly,
Lavoisier e o próprio Guillotin, perderão suas cabeças com o remédio inventado por este último.
A comissão leva seu tempo. Assiste às sessões de Mesmer com seus pacientes. Comprovam
o fenômeno. O incrível é que o documento final no qual proclamam a nulidade do magnetismo,
começa reconhecendo os inegáveis efeitos da terapêutica, e certificam a presença de algo
inexplicável, desconhecido, apesar de toda sua ciência. O mesmo Bailly, apesar de seu profundo
desdém por Mesmer, escreve:

“Todos os enfermos estão cegamente submetidos ao que os magnetiza; ainda quando se


achem mergulhados no mais intenso torpor, basta a voz, o olhar ou o gesto do magnetizador para
tirá-los dele instantaneamente.”(2)

“Em seu informe, a comissão observa que “...à vista desses efeitos constantes não é possível
negar a existência de uma força que atua sobre o homem e o domina e que está latente no
magnetizador”. Aí está o X da questão. A presença dessa força. Magnetismo? Fluido? Energia vital
ou força psíquica? Qualquer nome que se lhe dê é o mesmo.
O informe público se deu a conhecer em 11 de agosto de 1784. A comissão concluiu que
“...não há nada que demonstre a existência de um fluido magnético-animal, e que em consequência
este fluido imponderável não têm utilidade alguma”. No privado, a comissão assinalou ao rei os
perigos que para os bons costumes encerrava a prática de Mesmer. Terão que passar ainda cem
anos, até que por fim em 1882, Charcot consegue que a Academia tome nota oficialmente da
hipnose, nome com que se re-batizou o magnetisno.
O paradoxo foi que nesse mesmo ano de 1784, em que a Academia deu por terminada a
questão, um discípulo de Mesmer, o conde de Puysègur, descobre o que nos interessa: o
sonambulismo ou sono magnético. E com ele nasce a hipnose e a psicologia moderna.
Um dia, um jovem pastor, chamado Victor, em lugar de responder à magnetização com a
crise característica com espasmos e convulsões, fica dormindo. Puysègur, assustado, chama-o,
sacode-o, mas Victor dorme profundamente. Logo, ao ordenar-lhe que se levante, o jovem se
incorpora, e apesar de ter suas pálpebras fechadas, se comporta como uma pessoa que estivesse
desperta, ainda que sem cessar seu sono. Se acha em estado de sonambulismo em pleno dia.
Puységur redescobriu o sonambulismo ou sono magnético, que foi ensinado e praticado nos
santuários antigos com fins terapêuticos e proféticos.
Puysègur dá um passo mais e dá ordens pós- hipnóticas, isto é, ordena à pessoa mergulhada
em letargia, que, ao despertar, execute com toda pontualidade aquilo que lhe foi indicado durante o
sono. Puysègur publica suas descobertas e o fenômeno da hipnose estabelece-se pela primeira vez
no mundo moderno.
As consequências desta descoberta sofre Mesmer. É que junto com os científicos e os
investigadores que vêem abertas as portas ao domínio da mente e da alma, se encontram os curiosos
e os charlatães. Não passa muito tempo sem que floresça uma nova carreira: o sonambulismo
profissional. Do magnetismo, todos passam a falar do mesmerismo. Mesmer é acusado de charlatão
e deve fugir uma vez mais. Na Áustria, uma intriga política o obriga a refugiar-se na Suíça. Ali
permanecerá até sua morte. Em 1812, a Academia de Berlim, que em 1775 havia recusado sua
solicitação se dispõe a estudar o magnetismo. Convida-o a honrar a Academia com sua presença. O
mesmo rei o espera. Mas Mesmer declina, aduzindo que já é demasiado velho.
As investigações continuaram entre os sucessores de Mesmer. Em 1818, Wienhot, um
magnetizador alemão, observa que seu sonâmbulo se dormia mais rapidamente quando o vestia um
casaco especial, provida de brilhantes botões de vidro. A ideia de que a sugestão é um dos principais
fatores na produção do sono provocado começa a rondar as mentes dos investigadores. E esse
processo de domínio da vontade é demonstrado por James Braid, um médico de Manchester, que
estudou o fenômeno em 1841, presenciando as sessões do magnetizador suíço Charles Lafontaine.
Braid é o primeiro que utiliza a técnica de cansar a vista do paciente, valendo-se de bilhantes
bolinhas de cristal e, continuando, procede aos passes magnéticos. Em 1843 publica seu
Neurohipnologia, onde re-batizou o magnetismo, palavra que soava mal aos sábios, com o nome de
hipnotismo, derivado do grego hypnos, que significa “sono”. De modo que a hipnose tradicional
não é outra coisa que o sono magnético com o nome trocado.
Finalmente, a pedido de Charcot, na sessão de 13 de fevereiro de 1882, a Academia de Paris
reconheceu que o hipnotismo, que antes se chamava magnetismo, era um elemento terapêutico
científico. A partir daí, a hipnose foi evoluindo lentamente a partir da teoria da sugestão, até chegar
a nossos dias com a técnica de Milton Erickson, a sofrologia de Raymond Abrezol e a programação
neurolinguística.
A hipnose de hoje não tem nada que ver com a de Puysègur e Braid. Nem sequer com a de
Charcot. Mas ainda a maioria das pessoas associam hipnose com perda do conhecimento e, pelo que
temos visto, têm razão, porquanto hipnose segue querendo dizer sono. Há uma grande confusão,
porque muitos profissionais que dizem utilizar hipnose, na realidade o que estão fazendo é um
relaxamento associado a técnicas de sugestão, tal como a pratico eu mesmo quando o paciente o
requer.
A hipnose evoluiu, é certo, mas no caminho se perdeu algo muito importante. Aquilo de que
se serviu Rochas em suas experiências: o sono magnético.

Que é sono magnético ?

Sob a ação do magnetizador, a pessoa entra em estado de consciência que não é nem o da
vigília nem do sono natural. A esse estado se denominou sonambulismo magnético por sua
semelhança com o sonambulismo natural. É sabido que o sonâmbulo pode caminhar com os olhos
fechados, realizar alguma atividade com perfeição, saltar obstáculos sem dificuldades e regressar a
seu leito para continuar com o sono normal. Ao despertar-se, não recorda nada do sucedido. Se o
sonâmbulo tem os olhos fechados e pode evitar os obstáculos que se apresentam, é óbvio que a
percepção dos objetos não passa pelo sentido da visão. Aí já temos uma pista.
Que ocorre no sonambulismo provocado pelo magnetizador? La resposta foi dada por
Josephine a Rochas. Afrouxam-se os laços que sujeitam a alma ao corpo. Sob a influência
magnética, os laços que unem o corpo astral, alma ou corpo energético, ao corpo físico, se afrouxam
pouco a pouco. À medida que se aprofunda a ação magnética, a alma se desprende mais e se eleva.
Ao acentuar-se o desprendimento aparece um estado de consciência diferente e as faculdades
psíquicas entram em jogo. Os sentidos psíquicos substituem aos materiais. Aparece a clarividência
de profetizar, a habilidade para diagnosticar doenças e indicar seu tratamento, como faziam as
sibilas nos antigos santuários, ou Edgar Cayce, chamado o profeta adormecido. Ao mesmo tempo se
amplia o campo da memória. As recordações distantes se despertam e o indivíduo pode reviver suas
vidas passadas.
Isto é o que se conhece como transe. A palavra transe deriva do latim transire, e designa o
momento culminante de um evento. O estado de transe é o momento do sono magnético em que a
alma se desprende do corpo carnal, para viver então a vida do espírito e exercer seus poderes.
León Denis denominou a estado da consciência estado de desprendimento psíquico.(3)
Assim o explica ele mesmo:

“Em cada estado de desprendimento psíquico, o círculo de nossas percepções pode


ampliar-se em proporções incalculáveis; entramos em relação com a imensa herarquia das almas
de potestades celestes. O espírito pode remontar-se até a causa das causas, até a inteligência
divina, para quem o passado, o presente e o futuro se confundem em um todo.”

Não é isso mesmo, acaso, o estado de êxtase e transcendência que nos ensinam os mestres
espirituais?
Mas vejamos como descreve um profano essa experiência. Esta é a palavra de Mireille, uma
mulher magnetizada por Rochas:

“Quando estou desperta, minha está ligada a meu corpo e sou como uma pessoa que,
fechada no piso inferior de uma torre, não pode ver o mundo exterior mais que através das 5
janelas de seus sentidos, os quais têm, cada uma, cristais de diferentes cores. Quando você me
magnetiza, me libera pouco a pouco de minhas cadeias e minha alma começa a ascender a
escadaria da torre, escada sem janelas e não vejo outra coisa que a você que me guia, até o
momento em que desemboco na plataforma superior. Ali minha vista se estende em todas as
direções com um sentido único muito agudo que me coloca em relação com os objetos que não
podia perceber através dos vidros da torre. Entre esses objetos estão os pensamentos de outros
humanos que circulam no espaço.”

Bela e simples descrição, não é? Coincidente com o que explicávamos antes. Mas qual a
implicação de tudo isso?
Simplesmente que o estado de desprendimento psíquico não é outra coisa que o estado
expandido de consciência, mas o mais importante é que este estado de consciência pode alcançar-se
sem a intervenção de agentes externos. Não é necessária a ação do magnetismo nem da hipnose,
nem o uso de drogas psicodélicas, nem dos sincroenergizadores cerebrais nem sequer da
hiperventilação.

O estado expandido de consciência

Recordam que Rochas chegou finalmente à conclusão de que tudo o que se precisa é
afrouxar os laços que atam a alma ao corpo físico? Quando um magnetizador aplica sua energia
sobre uma pessoa, está provocando uma aceleração vibratória no campo energético dela. A alma,
corpo astral ou corpo energético começa a aumentar sua frequência vibratória. À medida que
aumenta a frequência vibratória a alma expande. A pessoa começa a ter acesso a outros níveis de
consciência. Agora pode sintonizar distintas bandas de frequência diferentes da consciência
habitual. A consciência cotidiana seria como um receptor de rádio fixado sempre na mesma estação.
À medida que vou recorrendo o dial, posso receber os sinais de outras estações de rádio que
transmitem em frequências diferentes. Com a consciência ocorre o mesmo. Ao aumentar a
frequência vibratória, sintonizamos a frequência de outras dimensões. Sintonizamos a frequência do
mundo espiritual e aí temos acesso, entre outras coisas, a rever os fatos de nossas vidas passadas.
Agora, o passo seguinte é compreender que não necessitamos de um agente externo para
alcançar esse estado de consciência, porque todos temos a capacidade de acessar naturalmente os
estados de consciência diferentes. Quando fazemos um relaxamento estamos fazendo o que dizia
Rochas. Estamos afrouxando os laços energéticos. Muitas pessoas que praticam ioga, têm
experiências espontâneas como visões, imagens de outras vidas ou transportes a lugares distantes.
Estas são manifestações de distintos níveis de desprendimento psíquico.
A física quântica nos explica que a expansão da consciência passa por uma modificação de
taxas vibratórias que delimitam os diferentes níveis do ser, que acessa assim a outros universos que
estão simplesmente situados em planos de consciência diferentes, em outra banda de frequência.
Quando o pensamento se concentra na meditação, se converte em um radar capaz de entrar em
contato com a consciência do Universo.(4)
A maioria dos autores fala de estados alterados de consciência, de estados modificados ou
não ordinários de consciência. Pessoalmente, prefiro a expressão estado expandido de consciência,
já que se falamos de alteração ou modificação seguimos presos na ideia de que não é algo normal
ou natural e além do mais trata-se de um conceito limitante.
Como podemos definir o estado expandido de consciência?
Podemos dizer que é um estado no qual temos consciência do que está ocorrendo em outra
dimensão, em outro espaço-tempo diferente de nossa realidade física cotidiana, ao mesmo tempo
que conservamos a consciência do aqui e agora e do lugar onde estamos. Seria como ter consciência
do que está acontecendo no planeta Marte, nesse preciso momento, ao meu redor. Seria como passar
de um universo a outro, sem perder a consciência em nenhum momento. Por isso, é um estado
expandido de consciência. Porque não estou alterando, senão que simplesmente estou ampliando o
campo de ação de minha consciência.
O dr. Mário Percow, docente de farmacologia, que atravessou por esta experiência e a viveu
intensamente, definiu com facilidade esse estado como um tempo sem tempo: “É atravessar o
tempo, como se todo o tempo fosse um registro instantâneo”. Vivencia-se o espaço atemporal, um
espaço-tempo no qual poucos minutos permitem vivenciar acontecimentos que no plano físico
levariam anos.
Bom, nesse estado expandido, podem ocorrer todos os fenômenos que se dão no sono
magnético, com a diferença de que não é necessária a ação de um magnetizador nem de nenhum
outro agente externo. O mais importante de tudo é que a pessoa não está sujeita à vontade de
ninguém. O terapeuta acompanha e guia a pessoa através de sua vivência e trabalha as cenas que se
apresentam com sentido terapêutico, mas não intervém na experiência em si mesma. O trabalho é
exclusivo do paciente.
Há outro detalhe importante e é que não se necessita provocar o estado expandido pela
simples razão de que o estado expandido de consciência se produz como consequência da regressão.
Recordem que Netherton descobriu que o transe se desenvolve como consequência da regressão. Da
mesma maneira, durante a regressão a pessoa vai expandindo sua consciência à medida que vai
progredindo nesta. Isto não quer dizer que todos o alcancem. Há distintos níveis, que dependem da
entrega e do compromisso individual em cada caso.
A vivência da regressão se assemelha à experiência do estado místico. O ego transcende os
limites do corpo e subitamente se converte em um só com tudo o que tem existido. Maurice Bucke
chamou a isto consciência cósmica e Stanislav Grof a chama consciência transpessoal. Quando se
chega a esse ponto, a regressão é só uma das coisas que podem ocorrer. Alcançado esse nível de
consciência, a pessoa pode ter contatos com seres de outras dimensões, pode receber ensinamentos
ou mensagens de mestres espirituais, pode conectar-se com todo o universo e , o mais transcendente
de tudo, é que pode alcançar a reunificação com seu eu superior, integrando todos os seus níveis de
consciência. A regressão facilita esse processo e, resolvido o problema que originou a consulta, o
fim último é que a pessoa alcance o estado de unificação com sua consciência superior.
Não tenho nenhuma dúvida disto, porque tenho testemunhos incontáveis em meu
consultório. E o coincidente é que geralmente ocorrem para o final da regressão. Em várias
oportunidades, distintas pessoas me disseram que estavam fora do corpo e que me viam desde o
teto. Isto sempre ocorreu espontaneamente, sem buscá-lo e como consequência da regressão.
Uma das experiências mais notáveis foi a de Beatriz, uma médica que durante seu
treinamento como terapeuta se desprendeu de seu corpo. A sessão estava sendo conduzida por outro
profissional, também em treinamento, enquanto eu supervisionava seu trabalho. A regressão já
estava chegando a seu fim, quando Beatriz disse:
-José Luís, estou te olhando desde o teto.
Eu olhei para cima e a saudei com a mão. Ela estava com os olhos fechados, e no entanto
sorriu com a ocorrência. E então falou assim:
-José Luís, isso é incrível. Estou vendo dentro de teu corpo. Sabes qual é o teu problema?
Tens uma inflamação do esfincter de Oddi. Isso é o que te passa. E a teu lado um mestre que está
trabalhando contigo. Há um raio de luz que entra por tua cabeça e que percorre teu interior.
A verdade é que Beatriz desejava seguir um bom tempo nesse estado. Me surpreendi com
seu diagnóstico porque naquela época eu tinha um mal-estar digestivo, cuja sintomatologia
coincidia com o que havia dito Beatriz.
De todos os modos o importante aqui é o que vivenciou Beatriz, que é o mesmo que sucede
durante o sono magnético, com a diferença de que Beatriz estava consciente em todo momento e
não dependia da vontade de ninguém.
Tudo isso não é fantasia, porque a física quântica nos demonstra claramente que isto é
possível. Não sei muito de física, mas posso explicar-lhes em umas linhas como o entendi eu
mesmo.
Em 1935, na universidade de Princeton, Einstein, Podolsky e Rosen, tentando refutar a
teoria quântica, terminam confirmando-a e descrevem o que se chamou Efeito EPR pelas iniciais de
seus nomes:

“Duas partículas, separadas por um quase-espaço, se encontram em comunicação de


maneira inexplicável.”

Um quase-espaço é um espaço tal que não há tempo suficiente entre as partículas para que
um sinal luminoso as conecte. Portanto, deve haver uma conexão quântica entre elas e isto implica
que a informação deveria ser comunicada a velocidades superiores à da luz.
Em 1964, Bell aperfeiçoa essa teoria com seu teorema:

“Quando 2 partículas gêmeas separadas se afastam uma da outra à velocidade da luz, uma
mudança provocada em uma produzirá uma mudança simultânea em outra.”

Como se uma informação pudesse circular entre elas à velocidade supralumínica.


Posteriormente, Gary Zukav, outro físico, disse que uma das consequências do teorema de Bell é
que as distintas partes do universo estariam a nível mais profundo e mais fundamental relacionadas
entre elas de maneira íntima e imediata.
Em 1975, Jack Scarfatti chega à conclusão de que as partículas estão conectadas
intimamente de uma maneira que transcende o tempo e o espaço. Quem deseje aprofundar no tema,
pode ler o famoso livro de Fritjof Capra, O Tao da física.
Para nós, isto é suficiente. Se todas as partículas estão conectadas intimamente além do
tempo e do espaço, isto quer dizer que temos a capacidade de conectarmos no instante com todo o
universo, só que ainda não sabemos como fazê-lo. O estado expandido de consciência seria uma
forma de alcançá-lo, porque nesse estado nos movemos em um espaço-tempo diferente, onde
estamos fora das limitações da velocidade da luz ou do tempo linear. Então, como dizia León Denis,
o espírito pode recuar até a causa das causas, até a inteligência divina, para quem o passado, o
presente e o futuro se confundem no todo.

(1) A cura pelo espírito, Stefan Zweig, Ed. Anaconda, Buenos Aires, Argentina, 1945.
(2) A arte de magnetizar, David Perry,Ed.Kier, Buenos Aires, Argentina, 1978
(3) No invisível, León Denis, Ed. Edicomunicación, Barcelona, Espanha, 1987, publicado pela
primeira vez em 1903
(4) Patrick Drouot, op.cit.
Capítulo VII
O plano de trabalho

Como se trabalha numa regressão a vidas passadas? Como se chega ao núcleo do trauma
onde se originou o problema atual?
Existem várias modalidades, segundo o paciente, o problema a trabalhar e o terapeuta que
conduz a sessão.
A técnica básica foi desenvolvida por Netherton e foi sistematizada, em um esquema de
trabalho, por minha mestra, a dra. Maria Júlia Prieto Peres.(1) Continuando, vamos ver este plano
de trabalho, tal como pratico hoje, com as modificações introduzidas, produto da experiência
recolhida nos últimos anos.

1) Indução

A memória do passado pode ser espontânea ou induzida. É espontânea quando a recordação


do passado surge de improviso, como em algumas crianças ou como ocorre em pessoas ao visitar
algum lugar ou durante exercício de meditação.
É induzida quando se provoca ou se induz com um fim determinado, em nosso caso com
objetivo terapêutico. Portanto, a indução é a técnica que empregamos para induzir a memória do
passado em uma pessoa.
A indução pode ser feita de forma direta ou indireta. É direta quando, partindo de uma
emoção ou sensação como faz Netherton, imediatamente surge a cena do passado a está originando.
Pessoalmente, na maioria dos casos utilizo essa via. Isto é, parto diretamente do sintoma que
apresenta o paciente. Isto veremos mais adiante, ao explicar o que chamo a técnica do Samyana.
Quando isso não é possível, recorro a uma indução indireta. Isto significa que é necessária
uma preparação determinada para acessar o passado. Na realidade, tudo o que necessita é encontrar
uma ponte entre a experiência atual e a da vida passada. A ponte pode ser uma imagem, uma
emoção, uma palavra ou sensação. Quando não dispomos dessa ponte, há que fabricar uma
mediante a indução. Para alcançar isso, é suficiente um relaxamento mais ou menos profundo
segundo as necessidades da pessoa em questão. Recordem que tudo o que se necessita é afrouxar os
laços que unem a alma ao corpo físico. É suficiente para alcançar o primeiro nível de meditação.
Nada mais.
Alguns profissionais consideram que um exercício de relaxamento ou de meditação é
hipnose. No entanto, agora vocês sabem que não é assim. A hipnose verdadeira tem lugar quando o
hipnotizador induz o sono no paciente para desenvolver ser trabalho terapêutico.
Podemos sintetizar dizendo que como indução direta usamos um exercício de relaxamento
associado a técnicas de sugestão.

2) Viagem no tempo

A viagem no tempo forma parte da indução. Pontuamos separadamente para fins de


explicação e para que fique claro como é o diagrama com o qual trabalhamos em regressão. O
mesmo ocorre com os passos seguintes. Na prática, essas etapas se sobrepõem. Poderíamos
simplificar ainda mais tudo isso dizendo que há uma introdução, um desenvolvimento e um final.
Quanto à viagem no tempo, não existe tal coisa, porque não viajamos a nenhum lado. O que
fazemos, é trazer à consciência o que está oculto no subconsciente. A figura da viagem no tempo é
só uma sugestão para induzir a regressão. É a ponte a construir. Para ela pode-se utilizar diferentes
figuras. Sugere-se ao paciente a ideia de que vai retroceder no tempo à medida que percorre um
túnel luminoso ou viaja numa máquina do tempo, ou desce por uma escada ou uma viagem no trem
ou em globo, uma nuvem que o vem buscar, um guia que o leva pela mão, etc. Cada um pode criar
sua própria indução ou perguntar ao paciente como gostaria de fazê-lo. Em um dos cursos de
profissionais, a dra. Mirta Glustron elaborou uma indução, tomando a ideia do espelho de Alice no
pais das maravilhas. Pedia ao paciente que se imaginasse frente a um espelho mágico e se visse
claramente refletido nele. Logo lhe indicava que se acercasse deste até passar uma mão através do
espelho, depois o braço e assim até passar totalmente do outro lado. Ao atravessar o espelho entrava
em outra dimensão diferente e o guiava assim ao passado.
Mais tarde ensinarei minha indução favorita. Há algo importante a ter em conta e é que ao
voltar deve utilizar-se, de forma inversa, o mesmo caminho que se empregou para viajar ao passado.
Não é imprescindível mas ajuda muito a desprogramar-se dos fatos vivenciados.

3) Regressão propriamente dita

Chegamos aqui ao ponto que nos interessa, ao objetivo central. Que é o que vamos buscar na
regressão? Aí está a questão. Não se trata de fazer uma regressão porque sim, sem saber o que se vai
fazer uma vez aí. Uma coisa é fazer uma regressão e outra coisa é saber que fazer com o que
aparece na regressão.
As cenas devem ser trabalhadas como corresponde, para obter o máximo de proveito da
experiência e que não seja um mero ato de esnobismo ou curiosidade banal. Se uma pessoa tem um
conflito, seguramente sairá beneficiada da regressão, mas se quem o faz não é um profissional e a
pratica para satisfazer a curiosidade de si mesmo e de outros, pode criar um conflito em quem o
tinha, despertando um núcleo psicótico ou neurótico que até esse momento estava dormindo. É
possível que não passe nada, mas também é possível que surja uma situação dramática e não se
saiba o que fazer com ela. Tenho visto profissionais entrar em pânico frente a experiências que não
se imaginavam, de modo que se você não é profissional, por favor, não tente. Feita essa
advertência, sigamos em frente.
Que é então o que vou procurar? Se estou conduzindo a sessão com um objetivo terapêutico,
meu trabalho consiste em encontrar o trauma ou fato que está provocando o problema atual. A
história em si é anedótica. O que devo encontrar são as vivências traumáticas, significativas ou
marcantes, seja numa vida passada ou na atual. Essas vivências traumáticas podem ocorrer durante
o transcurso de uma existência anterior, durante a etapa intrauterina, no momento do nascimento ou
na primeira infância.
Como regra geral, as situações traumáticas desta vida atuam como gatilho, reativando as
emoções do passado. Por exemplo, a asfixia que se experimenta ao nascer quando o cordão
umbilical circunda o pescoço reativa as sensações e recordações de uma morte na forca. Assim se
instalam na vida presente todas as emoções e pensamentos experimentados na morte precedente. Do
pânico, da falta de ar, da raiva, da injustiça ou o desejo de vingança surgidos nesse instante se
origina o posterior comportamento dessa pessoa em particular. Essas são pessoas que mais tarde não
tolerarão o uso de gravatas ou lenços ou cachecóis ao redor de seu pescoço e que, frente a situações
de estresse, reagirão com sensação de sufocamento, asfixia, medo ou talvez com violência. Por isso
Netherton afirma que nenhum incidente de vida passada está totalmente apagado se não se investiga
o trauma que o reativou. De modo que, se ao trabalhar uma vida passada aparece um fato
traumático, devo buscar na vida presente a situação que o disparou. Atenção que também tenho que
saber que muita pessoas resolverão seu conflito trabalhando somente a vida fetal e o nascimento.
Em algumas ocasiões, todo o problema está aí. De modo que, tudo o que tenho que fazer durante a
regressão é conduzir o paciente para que reviva o evento traumático, marcante ou significativo. O
paciente deve vivenciar profundamente essa situação e aí então onde se chega o momento
culminante da regressão, ao momento transcendental da terapia, onde está encerrado o segredo e a
alquimia da cura. Uma vez que a pessoa tenha vivenciado a situação traumática agora tenho que
resgatar o momento mais difícil, mais traumático, mais doloroso desta situação. Aí nesse momento
está o centro do centro. O núcleo do núcleo. E aí nesse momento mais difícil, há que identificar 3
coisas: reações físicas, emocionais e mentais.
Agora sim, cheguei à raiz do problema atual. Porque são essas reações físicas e emocionais
as que experimenta a pessoa em sua vida presente e são os pensamentos surgidos nessas
circunstâncias o que originam os futuros padrões de comportamento. Esta é a origem dos
samskáras e vâsanâs das impressões passadas e das tendências latentes. Aqui se originam os medos,
as fobias, os bloqueios, as incapacidades, as culpas, os conflitos sexuais e também o rancor, a
violência e o desejo de vingança.
E esse é o momento durante o qual ao liberar-se essas emoções, se produz a drenagem, a
limpeza da alma. É o momento onde a saída impetuosa de energia reprimida provoca a ruptura da
estrutura do trauma. Imediatamente sobrevêm o alívio e o desaparecimento do sintoma.
Falando de mandamentos, que é um mandamento?
É uma força tremenda, inserida em nossa memória subconsciente cuja presença ignoramos e
cujos efeitos condicionam nossa forma de comportamento. Um mandamento não é outra coisa que
nossa programação subconsciente passada.
O mandamento se origina espontaneamente, sem pensar sequer nele. Sem enunciá-lo. É
como uma conclusão não verbal do subconsciente como reação a uma situação limite. Por isso é tão
importante resgatar as reações no momento mais traumático ou doloroso de uma situação. Nem
sequer é necessário um pensamento. Uma sensação é suficiente para originá-lo e daí surge todo o
sistema de crenças inconscientes de uma pessoa. Aí se originam os padrões de conduta. Ao longo
das experiências dos paciente, teremos oportunidade de identificar diferentes tipos de
mandamentos.
Esses mandamentos habitualmente se expressam como afirmações positivas ou negativas, de
forma tão absoluta que não permitem outra alternativa.
Aqui vão alguns exemplos:

-Não mereço ser feliz.


-Mereço ser castigado.
-A vida é para sofrer.
-Há que obedecer, porque senão me matam.
-Não se pode ser feliz. Há que estar triste para ser igual que os demais.
-Sempre há que esperar o pior dos demais.
-Não importa o que faça, ninguém me vai querer.
-Se me mostro como sou, me deixam só.

E a lista poderia encher um livro inteiro.


Resumindo:

Reações físicas
Vivência traumática Momento mais difícil Reações emocionais
Reações mentais

Uma vez identificadas as reações e os mandamentos que estão afetando a vida atual,
podemos seguir adiante. O próximo passo é a desprogramação de todo o vivenciado.

4)Desprogramação

O momento em que se efetua a desprogramação depende um pouco de cada experiência em


particular e da intuição do terapeuta para eleger o instante mais adequado. Pode-se fazer uma
desprogramação após cada vivência traumática, pode-se fazer logo após a morte na vida passada, ou
bem se pode fazer ao finalizar a regressão, imediatamente antes de trazer o paciente à sua
consciência habitual.
Se o paciente está muito envolvido na regressão, vivendo intensamente cada acontecimento
é preferível seguir adiante, esgotar todas as emoções e deixar a desprogramação para o final. Se,
como sucede com algumas pessoas, a regressão transcorre em um plano mais intelectual, pode-se ir
fazendo a desprogramação passo a passo. Um momento excelente para fazê-la é imediatamente
depois da experiência da morte. A contemplação do próprio corpo morto em uma vida passada pode
ser tudo o que necessite uma pessoa para desprender-se do passado, ao tomar consciência de que já
nada disso lhe pertence. Seja como for, sempre é bom fazer uma desprogramação final, antes do
retorno e da reformulação do modelo de vida.
Em que consiste a desprogramação?
Muito simples; trata-se de uma tomada de consciência, por parte do paciente, de que todo o
vivenciado pertence ao passado e que já não tem nada que ver com sua vida atual. Trata-se de
perdoar as experiências passadas e aos seres envolvidos em tais acontecimentos. E o mais
importante de tudo, se trata do perdão a si mesmo, sobretudo quando subjazem situações que
geraram sentimentos de culpa na pessoa que está fazendo a regressão. O objetivo é desprender-se de
todas as emoções vivenciadas e, de ser possível resgatar o aprendizado obtido na experiência.
Esgotadas as emoções, em ocasiões poderemos ver que nos foi necessário viver determinadas
situações para aprender algum aspecto em particular. Um paciente que experimentou uma vida
como inválido, disse que necessitou essa experiência para aprender que todos somos iguais. Em
uma vida mais distante, havia sido muito soberbo e desprezava a todo mundo. E se deu conta de
que, ainda hoje, restava parte dessa soberba para seguir trabalhando.
De todos os modos, nas situações muito traumáticas, a prioridade é que a pessoa se
desprenda das emoções vivenciadas. Se há lugar para o aprendizado, seja benvindo.

5) Reformulação do modelo de vida e retorno

Chegamos assim ao final da experiência. Agora, o paciente deve voltar a seu estado de
consciência habitual. Mas antes de abrir o olhos, é necessário dar um toque final. Efetuada a
desprogramação, a pessoa pode reformular-se para um vida diferente e melhor. Pode criar um novo
modelo interior, uma nova imagem, uma nova concepção e valorização de si mesma. Para isso
utilizo um simples exercício de visualização criativa. A criação de uma imagem diferente. Há um
detalhe muito importante e é que, desde o momento da desprogramação já não mencionamos mais o
problema original. De agora em diante, a ênfase está centrada nos aspectos positivos.
Primeiramente, peço ao paciente que escolha uma cor de seu agrado para introduzir uma
nova vibração energética em sua vida. Logo peço que visualize ou pense nessa cor que se envolva
completamente nela. Continuando, peço que, envolta nessa cor, projete uma imagem de como lhe
gostaria ser, de como lhe gostaria ver-se a si mesmo de hoje em diante. Esta imagem é muito
poderosa, porque é uma criação do paciente. Não é uma invenção do terapeuta. Esta imagem se
converte no novo modelo interior, que a pessoa começará a reproduzir lentamente em sua vida
cotidiana. Mas deve ter-se presente que, para que esta criação funcione, a pessoa deve desejá-la
sinceramente e sobretudo, necessita desprogramar-se previamente das emoções, mandamentos e
crenças do passado, do contrário não funcionará.
Uma vez concretizada a reformulação do modelo de vida, só resta pedir ao paciente que
retorne à sua consciência física habitual. Um detalhe de fundamental importância: situar à pessoa na
data atual. Se se simulou uma viagem pelo tempo, não esquecer utilizar a mesma figura para o
retorno. Ao abrir os olhos, o paciente estará aqui, tranquilo e sereno.

Algumas precisões quanto ao manejo da regressão

Em primeiro lugar, a terapia se aplica de forma estritamente individual. Não é possível


efetuá-la de forma grupal, pela simples razão de que o terapeuta não pode saber o que está passando
com 20 ou mais pessoas ao mesmo tempo. É possível fazer regressões grupais, mas não têm valor
terapêutico porque não podem ser trabalhadas as vivências traumáticas. Uma coisa é fazer uma
regressão e outra fazer uma terapia de vidas passadas. Por outro lado, como verão nas histórias, o
paciente requer um acompanhamento e um contato constante com o terapeuta. Não é possível
atender a duas pessoas ao mesmo tempo, como poderão comprová-lo.
Em segundo lugar, é uma excelente técnica terapêutica mas não é um bom método para
provar a reencarnação. Os dados históricos, nomes, e datas são próprios da personalidade física,
mas são irrelevantes para o espírito que atravessou por milhares de existências. Não obstante, em
ocasiões, algumas pessoas tem encontrado evidências surpreendentes.
Em terceiro lugar, quanto dura uma sessão de TVP?
Não menos de 2 horas, se se trabalha a consciência. O tempo médio de uma regressão bem
feita, varia entre 60 e 90 minutos. Às vezes mais. Agreguem o tempo necessário para falar com o
paciente antes e depois, e verão que não é possível trabalhar em menos de 2 horas. Por outra parte,
isto não é como a terapia convencional que ao cumprir-se a hora termina a sessão. Se o paciente está
vivenciando uma cena traumática não se pode cortar a sessão até terminar de trabalhar essa cena e
efetuar a harmonização. É como estar em uma sala de cirurgia com uma ferida aberta. A operação
não termina até que a ferida seja fechada. Portanto, há que estar preparado se a sessão se estende
mais além das 2 horas e isto costuma ocorrer de vez em quando.
Repassando, vejamos os passos principais da regressão:

1) Indução
2) Viagem no tempo
3) Regressão propriamente dita
-Vivências significativas ou traumáticas em vidas passadas
-Experiência da morte em vida passada
-Vida fetal e nascimento
-Primeira infância
4) Desprogramação das cenas vivenciadas
5) Reformulação e retorno

Agora passemos à parte prática.

(1) Apostila para cursos de TRVD, Maria Júlia Prieto Peres, São Paulo, Brasil, 1989.
Capítulo VIII
O ancião arquivista

Promessa é dívida. Veremos agora minha indução favorita, mas recordem que na maioria
dos casos não faço indução. Desenvolvi a partir da ideia de Whitton, do celestial sanctum e a
meditação do arco-iris que utilizam outros autores.(1)
A verdade é que nunca faço uma mesma indução 2 vezes. Sempre há alguma variante,
segundo as circunstâncias. O que quero dizer com isto é que o melhor é deixar-se levar pela
inspiração do momento e permitir-se criar continuamente. Vamos aproveitar essa indução para
conhecer a história de Alícia e de sua insônia.
Alícia é uma mulher jovem com filhos de 8 e 10 anos, que quando me consulta levava 10
anos pendente de uma medicação para poder dormir. Tudo começou quando nasceu seu primeiro
filho. Sentia-se incapaz de cuidá-la. Imediatamente se instalou em Alícia uma profunda depressão e
já não pode desfrutar da vida como antes. Os primeiros meses, não dormia mais que uma hora por
dia. Logo, assistida com medicação psiquiátrica, chegou a dormir 3 ou 4 horas diárias, mas sempre
com interrupções. Uma vez chegou a estar 3 dias seguidos sem dormir. Fácil é imaginar-se a
deterioração que produz em uma pessoa semelhante situação. Nos últimos tempos dormia graças à
administração de um hipnótico, mas nunca mais de 3 ou 4 horas e sempre se levantava 2 ou 3 vezes
por noite. Ao levantar-se, controlava se as crianças respiravam e voltava a deitar.
Alícia começou a trabalhar com TVP de forma espaçada. Às vezes cada 15 dias, outras uma
vez por mês. Resolveu primeiro a depressão, logo superou seu medo de dirigir automóveis e ao
mesmo tempo foi diminuindo a dose do hipnótico para dormir. Já haviam aparecido 2 vidas
relacionada com a insônia, mas ainda faltava algo mais. Assim foi como aos 6 meses de sua
primeira visita em sua regressão número 11. Alícia chegou ao núcleo de seu problema de insônia.
Continuando, veremos então primeiro a indução e logo o desenvolvimento desta regressão.

Sexta-feira, 23 de abril de 1993.

Indução:

Terapeuta:Muito bem, Alicia...agora...fecha suavemente teus olhos e deixa que teu corpo se
acomode por si mesmo no tapete...sente como teu corpo entra em contato com o piso...sente o
contato íntimo do piso com teu corpo...o piso te sustenta e te recebe incondicionalmente e não te
pede nada em troca...e então...poderias entregar-lhe o peso de teu corpo ao piso...e teu corpo...se
afrouxa e descansa...e enquanto teu corpo se afrouxa e descansa...poderias imaginar uma pirâmide
de energia prateada cobrindo este lugar onde te encontras deitada sobre o piso...imagina-te dentro
desta pirâmide de energia prateada...te ensinarei a meditação do arco-íris...Toma uma inspiração
profunda...bem profunda e ao exalar...imagina que pelo vértice da pirâmide...ingressa o raio de cor
vermelha...imagina a cor vermelha descendo em fluxos...expandindo-se enchendo o interior da
pirâmide...envolvendo-te...rodeando-te completamente...e à medida que a cor vermelha te vai
envolvendo...vai irradiando sua energia vibratória...e agora...absorve profundamente a energia
vibratória que emana da cor vermelha...envolve-te na cor vermelha...Continua agora com a cor
laranja...agora...o raio de cor laranja...ingressa pelo vértice da pirâmide...e se expande...e te
envolve completamente...agora...a vibração da cor laranja vai impregnando todos seus
átomos...todas tuas partículas...absorve profundamente a vibração que emana da cor laranja...e
continua com a cor amarela...agora...o raio de cor amarela ingressa pelo vértice da
pirâmide...lentamente...o raio amarelo te vai envolvendo...interpenetrando-se com todo teu
ser...envolvendo-te na energia vibratória que emana do centro de cor amarela...envolve-te
profundamente na cor amarela...E continua agora com a cor verde...observa como a cor verde vai
ingressando pelo vértice da pirâmide...descendo em fluxos espiralados...agora a cor verde te vai
envolvendo lentamente...respirando profundamente a cor verde...e prossegue agora com a cor
azul...agora...a cor azul vai ingressando na pirâmide, o raio azul vai descendo, impregnando todos
seus átomos...imantando todas tuas partículas com a vibração radiante da cor azul...envolve-te...na
cor...azul...e continua agora com o raio de cor índigo...agora...a cor índigo está ingressando na
pirâmide...expandindo-se...rodeando-te, envolvendo-te...absorvendo profundamente a energia que
emana de cor índigo...envolve-te na cor índigo...e...agora...chega o raio de cor violeta...agora...a
cor violeta desce desde o vértice da pirâmide...seus eflúvios te rodeiam e te envolvem...respira
profundamente a energia vibratória da cor violeta...imantando todos os seus átomos à cor
violeta...envolve-te na cor violeta...e finalmente...envolve-te na luz branca...radiante..brilhante...e
luminosa...e envolta na luz branca...imagina uma escada de luz...com corrimões também de
luz...que partindo desde o centro da pirâmide...se eleva para o espaço...agora...poderias imaginar
que deixas teu físico aqui...protegido pela pirâmide e pelas cores do arco-
iris ...e...lentamente...começa a ascender pela escada de luz...tomando-te do
corrimão...Lentamente...começa a ascender degrau por degrau...essa escada...te levará para uma
estrela...segue ascendendo em direção a essa estrela...um pouco mais...Ali, nessa estrela...se
encontra o Arquivo Universal...Nesse Arquivo Universal… se encontram registrados todos os
fatos...todas as histórias das pessoas que habitam esse planeta... Ali também estão registrados
todos os fatos que têm que ver com teu problema de insônia...Segue ascendendo e aproxima-te da
estrela...verás o Arquivo Universal...É um edifício majestoso...observa sua estrutura...seu contorno
e dirige-te para a porta de entrada...Ali...está te esperando o Ancião Arquivista...o Ancião
Arquivista te ajudará na busca que te empreendeste...Ao chegar...saúda-o e diz mentalmente:
Venerável ancião...hoje...cheguei aqui...porque quero resolver meu problema de insônia.
Amavelmente , o ancião arquivista te conduz ao interior do Arquivo e...percorrendo longos
corredores te leva à biblioteca central...Ali estão os arquivos...milhares de estantes repletas de
livros...manuscritos...rolos...pergaminhos...tudo está aí...O ancião te leva a recorrer esses
arquivos...até que se detém frente a uma estante...Dessa estante...o ancião toma um livro e te
entrega...Observa atentamente esse livro...olha como são suas lombadas...como são suas folhas.
Observa-o detidamente...Este é o livro de tua vida...vê a sala de leitura e senta-te com o livro em
tuas mãos...Abre-o cuidadosamente...Neste livro estão registrados todos os fatos relacionados com
teu problema de insônia...cada página desse livro pode ser um dia ou uma semana ou um
ano...Cada capítulo pode ser uma existência diferente...Agora...concentra-te em qualquer de suas
páginas...Em breve...ao contar de um a dez...teu inconsciente...traduzirá em imagens...em
sensações e em emoções...o que ali está registrado...Ao contar de um a dez, retrocederás ao
fato...ao acontecimento...que originou teu problema de insônia...Um...concentra-te nessa
página...dois...três...retrocedendo à raiz de teu problema atual...quatro...cinco...segue
retrocedendo...seis...pronto estarás ali...sete...oito...nove...dez. Diz o primeiro que te venha à mente.
Que está passando ? Que estás experimentando?
Alícia:...(não responde, mas levanta a mão e o antebraço esquerdos e os move fazendo círculos).
T: Que estás fazendo?
A: Estou acariciando algo...a cabeça de um bebê de cabelo comprido.
T: Onde te encontras?
A: Não sei, vejo tudo negro.
T: E se soubesses?
A: Pode ser um sótão e faz frio aí dentro.
T: E que estás fazendo aí?
A: Estou cuidando desse bebê, porque tem medo desse lugar escuro.
T: A que se deve que estejam aí?
A: Estamos nos escondendo de algo. Nos escondemos aí para escapar de alguém.
T: De quem estão escapando?
A: Fora é como que houvesse soldados.
T: Segue, que mais?
A: Há gente que está correndo...escapando...como se fosse tempo de guerra...Nós seguimos aí
escondidas...Por cima passam soldados com botas negras...é como se estivéssemos debaixo de algo
de madeira...Não é um sótão...posso ver as pernas, mas não se vêem os rostos.
T: Muito bem, agora conto até 3 e retrocederás um pouco antes de estar aí. Ao contar 3, tudo se fará
claro como o cristal. Um… dois...três, retrocede um pouco antes de entrar nesse lugar. Que está
passando?
A: Há soldados batendo nas portas com armas...levam as pessoas…
T: Como são esses soldados?
A: Estão vestidos de verde e negro...levam capacete verde, botas negras até os joelhos...são altos…
T: Continua, não te detenhas.
A: Batem nas portas com a parte de trás de armas longas...fazem-nos subir num caminhão.
T: Segue.
A: Há uma bebê pequenina ruiva que sai correndo só...eu a vejo através da janela...está como
perdida...quando passam os soldados, saio, agarro a bebê e me meto no sótão.
T: E onde achas que é isto ?
A: É um lugar, pequeno, humilde, uma casinha ao lado de outra...As ruas estão cheias de soldados;
vem nos expulsar das casas...a bebê está perdida...trato de ajuda-la...
T: Avança um pouco mais.
A: Agora todos se foram...levanto a bebê e levo-a para minha casa, em frente a esse lugar...Tenho
que cuidar da bebê e cuidar-me (Atenção! Logo Alícia deixou passar sua preocupação nesse
momento. Isto pode estar relacionado com seu problema de insônia. Agora há que resgatar os
pensamentos desses momentos e obteremos o mandamento que está provocando a insônia.)
T: Muito bem. Agora isto é muito importante. Quero que vejas quais são os pensamentos que te vêm
à mente nesses momentos quando tens que cuidar da bebê.
A: Tenho que estar atenta a qualquer ruído! Não posso dormir! Tenho que estar atenta se nos vêm
buscar! (Aí está! Assim se origina um mandamento. Sob a pressão do momento essa ideia ou
pensamento que talvez nunca foi enunciado fica gravado a fogo na memória subconsciente. Assim
nasce um samskâra ou um vâsâna. Ali se inicia a tendência, a força que se transmitirá intacta à vida
seguinte e que desde o subconsciente manterá Alicia desperta para estar atenta a qualquer ruído.
Sigamos adiante)
T: Muito bem, que mais?
A: Estou muito esgotada...não posso sair de casa...não tenho comida e sigo cuidando da bebê e ela
segue dormindo. Não como nem durmo...estou esgotada. (A essa altura eu suspeitava que a bebê
não estava dormindo, mas há que perguntar de modo a não influenciar o paciente.)
T: Agora, fixa-te numa coisa: a bebê está dormindo ou lhe passa algo?
A: Me parece que está morta. Não me havia dado conta...não se move...está fria...não ficou
ninguém, ficamos as duas sós.
T: Segue adiante.
A: Tenho que ficar aí...não posso sair da casa...
T: Segue avançando até o momento de tua morte.
A: Não tenho meios de sobreviver...estou esgotada...sinto uma dor forte no peito...estou fraca...
T: Segue um pouco mais.
A: Deito-me ao lado da bebê...sigo acariciando-a e sei que eu também vou morrer...
T: segue um pouco mais.
A: É como que, pouco a pouco vou dormindo, abraçada a ela...
T: segue adiante.
A: Já não sinto nada...fiquei dormindo abraçada à bebê.
T: E agora fixa-te. Qual foi o momento mais difícil dessa experiência?
A: Quando me dou conta de que não posso fazer nada pela bebê.
T: Quais são tuas reações físicas nesses momentos?
A: Não podia dormir por uma responsabilidade! (Uma vez mais vai-se reforçando a ideia central.)
T: Agora fixa-te. Como se relaciona isto com teu problema de insônia?
A: A insônia começou com o nascimento da bebê (Mais claro, impossível)
T: Muito bem, agora chegou o momento de desprender-te desse corpo.
A: Vejo-o desde cima...
T: Isto é. Como está o corpo?
A: Está deitado, abraçado à bebê.
T: Muito bem, agora já podes afastar-te daí, tomando consciência de que esse corpo morreu e ao
morrer terminaram todas as sensações. Já nada disso te pertence. Já não estás mais aí. Tudo isso se
acabou e ao morrer esse corpo terminaram todas as sensações e todos os fatos dessa vida. Agora te
vais desvincular para sempre de tudo isso. (À continuação, investigamos a vida fetal, o nascimento
e primeira infância, sem encontrar nenhum incidente aí. No momento do nascimento de sua filha,
chorou e sentiu angústia no peito. Talvez aí se reativou a memória do passado, despertando um
pensamento: “Tenho que cuidar dela”.)
T: Pergunta ao ancião arquivista se há algo mais para tratar.
A: Minha mão esquerda se move. Disse que já está.
T: Escolhe então uma cor de teu agrado para dormir profundamente.
A: Verde suave.
T: Muito bem, como gostaria de dormir de agora em diante?
A: Bem relaxada, profundamente.
T: Agora envolve-te profundamente na cor verde. Sente como a cor verde te vai rodeando,
interpenetrando-se em cada um dos teus átomos...e à medida que a cor verde se vai processando em
teu interior, vai removendo os resíduos das experiências passadas, apagando as sensações, apagando
as imagens, desvinculando-te dos fatos vivenciados. Agora, envolta na cor verde, projeta uma
imagem de como gostaria de dormir de agora em diante. Olha a ti mesma dormindo, descansando
profundamente, relaxada, tranquila e serena. E lentamente, envolta na cor verde, fecha o livro que
estavas lendo. Entrega-o ao ancião e agradece por ter te assistido nessa experiência. Saúda-o e
lentamente começarás a regressar descendo pela escada de luz, voltando a esse lugar, onde está teu
corpo protegido pelas cores do arco-iris, tomando uma respiração profunda e quando abrir os olhos,
estarás de regresso aqui, à tua consciência habitual, neste dia sexta-feira 23 de abril de 1993,
sentindo-se calma, tranquila, serena, em profundo bem-estar.

É interessante voltar a assinalar que o problema de Alícia se desencadeou logo após o


nascimento de sua bebê. Essa mesma noite, teve medo do que vinha. Sentiu que o mundo vinha
abaixo. “E agora, que faço ?” se perguntou Alícia. Agora sabemos o que foi que se passou. O
nascimento da bebê não fez mais que remexer na memória subconsciente a impressão do passado.
Uma vez que a recordação foi trazida à consciência e se esgotaram as emoções experimentadas
nesses momentos de angústia. Alícia se liberou de sua influência. Atualmente não necessita o
hipnótico para dormir, só toma um miorrelaxante de vez em quando e dorme entre 6 e 7 horas
diárias, o que para ela é muito.
No desenvolvimento da regressão quero que tomem nota da forma como se interroga o
paciente. Não deve perguntar-se nada que possa interferir ou sugestionar a pessoa. As perguntas
estão formuladas de tal maneira para que o paciente descubra o que tem que descobrir sem
interferências de parte do terapeuta. As perguntas dirigidas, ou por si ou por não, restam validez à
experiência.
Por outra parte, como terão podido observar, as referências históricas são desnecessárias. O
único que nos pode fazer presumir que se trata deste século é a referência a um caminhão. No mais
não há nenhuma precisão nem de lugar nem de tempo.
Com respeito a indução, a figura do ancião arquivista é um valioso auxiliar. Atua como
acompanhante e em ocasiões se pode recorrer a ele quando o paciente se encontra bloqueado por
alguma razão. Não creiam que é só uma figura sugerida. Muitas pessoas o vêem antes que eu possa
dizer algo. A maioria o vê como um ancião, alguns dizem que não é um velhinho e outros o vêem
como alguém familiar já desencarnado. Cria um vínculo de confiança e dá segurança ao paciente.
Podem-se utilizar distintas variantes na indução, mas se a pessoa se sente mais à vontade
com uma determinada, convém utilizá-la sempre. De alguma maneira se cria um reflexo
condicionado. Recordo-me de um adolescente de 15 anos que, na segunda sessão, quando lhe disse
que se preparasse para subir a escada me disse: “Já estou aqui com o velhinho”. Nem me deu
tempo de acomodar-me em minha almofada.

(1) Meditações sobre a cor, S.G.J. Ouseley, Ed. Sirio, Málaga, Espanha, 1992, primeira edição,
1949.
Capítulo IX
O carma

Classicamente tem-se considerado o carma com uma visão fatalista. É visto como algo
inexorável, ineludível, que o homem devia aceitar com resignação. No entanto, à medida que vamos
adquirindo uma nova consciência, podemos entender o carma de uma maneira totalmente diferente.
Agora podemos ver o carma como uma oportunidade de aprendizado e não de castigo. É
necessário voltar às origens desta palavra para compreender sua verdadeira dimensão.
A palavra karma é de origem sânscrita e na realidade se pronuncia karman e é composta de
2 sílabas: kar e man(1). A sílaba man significa pensador e é origem da palavra inglesa man para
homem. A sílaba kar é a raiz do verbo fazer e, por extensão, quer dizer ação, atividade. Donde
karman significa então, a ação, a atividade do pensador. E a atividade fundamental e características
do pensador é pensar.
A ação do pensador é pensar, e seu resultado são os pensamentos. Agora: cada pensamento é
uma força, uma energia que se põe em movimento. Pelo princípio de ação e reação, sabemos que a
ação de uma força gera outra da mesma intensidade e em sentido contrário.
E chegamos assim ao conceito básico e fundamental do carma:

“Todo pensamento ou ação gerada pelo homem-pensador volta para si mesmo.”

Igual que um bumerangue, as forças que nós mesmos colocamos em movimento, seja com o
pensamento ou com nossas ações, cedo ou tarde voltam sobre nós mesmos. Aqui não há castigo,
aqui não há fatalidade. De fato, estamos desfrutando ou padecendo por nossas ações do passado,
seja desta ou de outra vida. Todo pensamento produz efeitos que recaem sobre nós, seja como
bênçãos, como golpes ou como perdas, dependendo do móvel causador do pensamento original. Na
medida em que começamos a compreender as coisas que nos sucedem como vindo de nós mesmos,
aceitando a responsabilidade que nos toca na origem delas, começamos a ter um maior controle
sobre nosso destino. Se seguimos crendo que as coisas simplesmente nos passam por acaso ou má
sorte; se seguimos vendo os outros como causadores de nossas desgraças, o carma seguirá atuando
contra nós. Aceitar a possibilidade de que, em algum momento do passado, fui o gerador do que
está me sucedendo, faz que a força se equilibre e se detenha em sua ação.
Os grandes mestres ensinam que a sabedoria apaga o carma. O carma segue atuando
enquanto se segue repetindo a mesma atitude, sem pensar, sem despertar. No momento em que
aceito minha responsabilidade, começo a ser dono de meu carma. Se estou vivendo uma situação
difícil e dolorosa, se dentro da dor posso perguntar-me: que estou tratando de aprender com isto? O
que terei feito antes para estar passando por essa situação? Se compreendo para que estou
atravessando por essa experiência, a partir daí minha vida se modificará.
Na realidade, do ponto de vista cármico, o que ocorre não é importante; é episódico. O
essencial é como reagimos frente ao que nos passa. Isto é o que indica o nível de consciência
alcançado. Ao aceitar a responsabilidade de minhas ações passadas, começo a gerar um carma
diferente, começo a manejar meu destino mais livremente.
Aqui convém introduzir um novo conceito: a ideia da reparação ou retificação de ações.
Não há castigos. O castigo não traz proveito a ninguém. Deus ou a Energia Criadora não se
beneficiam em absoluto com nossa dor e sofrimento. O que se espera de nós é que retifiquemos ou
reparemos nossas ações passadas. Se alguma vez ocasionamos alguma dor ou prejuízo a alguém,
não é necessário passar pelo mesmo. Se maltratado não apagará a dor da pessoa a quem o
causamos. Pelo que sei o que podemos fazer é reparar esse sofrimento contrarrestando-o com uma
atitude de serviço, ajudando ou servindo a quem temos prejudicado. Se uma pessoa foi um
criminoso em outra vida e matou vários indivíduos, quantas vezes teria que ser morto para pagar
sua dívida cármica? Necessitaria muitas vidas inúteis para ele. No entanto, pode levar a cabo uma
vida digna e proveitosa se aceita realizar ações de serviço em favor daqueles a quem matou em
outra vida. O sofrimento e a dor aparecem quando nos negamos a aceitar nossa responsabilidade e a
ajudar aqueles a quem temos prejudicado numa vida anterior. É aí então, quando as forças do carma
entram em ação e nos empurram a situações similares às cometidas por nós mesmos para que
experimentemos a dor na própria carne e assim não voltemos a repeti-lo com nossos semelhantes.
Tudo é aprendizado. As situações as vivemos como castigo quando nos negamos a aprender. Então
aparecem a dor e o sofrimento.
Recordo que em sua visita a nosso país, Sua Santidade o XIV Dalai Lama disse em uma das
palestras: “O propósito da vida humana é a felicidade e a alegria”. E assim é. Na realidade podemos
ser felizes, o sofrimento não é obrigatório. Se não somos felizes é porque nós mesmos, com nossas
ações, com nossa obstinação, tiramos a possibilidade de sê-lo.
Edgar Cayce dizia que a alma sempre dispõe de uma alternativa: a lei da Graça. Pode
liberar-se das dívidas acumuladas, dedicando-se generosamente a fazer o bem a quem são ainda
mais desgraçados.(2)
Também encontramos o conceito de reparação na cabala hebraica. Em hebraico existe um
temo equivalente a carma: tikún(3). O tikún é o trabalho de correção que deve fazer uma alma
encarnada sobre suas ações passadas. Cada um vem à vida física com um tikún determinado. Cada
um vem a realizar seu trabalho de correção de ações passadas. Às vezes esse trabalho costuma ser
um pouco pesado mas também temos a nosso redor seres que nos acompanham e nos ajudam neste
trabalho de correção. Nossos pais, avós, mestres amigos ou cônjuge estão para ajudar-nos e nós para
ajudá-los nesse trabalho de correção de erros do passado. De modo que cada um está cumprindo seu
tikún ou carma, como preferir.
Corrigir, reparar o efeito de nossas ações passadas. Disso se trata. Não há castigo, não há
ninguém ali acima apontando-nos com o dedo. Tudo o que nos pede é que corrijamos nossos erros,
que reparemos a dor ou ofensa causada a um semelhante. Somos tão responsáveis por nosso
sofrimento como por nossa felicidade. Se aceitamos efetuar tarefas de serviço em favor daqueles a
quem temos prejudicado, poderemos ser felizes. Se, pelo contrário, por orgulho, por soberba, nos
negamos a tal tarefa, não teremos mais remédio que sofrer porquanto os ofendidos de ontem
quererão cobrar sua dívida hoje. E não fazem por maldade. Simplesmente é a reação à força que nós
mesmos pusemos em movimento com nossa ação primitiva. Assim funciona o carma. É uma
concatenação de causas e efeitos. Se a ofensa se responde com a ofensa, sobrevirá uma ofensa
maior e assim sucessivamente, até que um dos contendores reaja, desperte, tome consciência, peça
desculpas e perdoe. Nesse preciso instante de detém a roda do carma. Por isso Jesus ensinava: “Se
alguém te bater na face, dá-lhe a outra”. Porque reagir à ofensa significa entrar na roda do carma
com todas suas dolorosas consequências. E nesse momento me vem à mente outra coincidência da
cabala, porquanto em hebraico o termo correspondente para reencarnação o guilgul neshamot, que
significa rodas de uma alma, e não é outra coisa que a roda do carma dos hindus.
“O príncipe de hoje é o mendigo de amanhã e o mendigo de hoje será o príncipe de
amanhã”. São as idas e vindas de uma alma, até alcançar a compreensão que lhe permita deter o
giro incessante da roda e sair dela.
Quero compartilhar com vocês minha experiência pessoal a respeito. Isto compreendi depois
de vários anos de trabalho com a TVP e logo de ter passado eu mesmo pela experiência de
regressão.
Nelas, muitas vezes me vi empunhando lanças, facas e espadas. Em batalhas, como
gladiador ou em ações pessoais, feri, mutilei e matei muitos de meus semelhantes. Em minha vida
presente fui cirurgião durante 14 anos. Com a evolução, a espada se transformou e terminei
empunhando o bisturi. Agora posso ver claramente, que a cirurgia me permitiu limpar meu carma,
aliviando a dor dos demais, utilizando o mesmo elemento com o qual eu havia provocado essa dor.
Assim como o ditado diz: “Aquele que com ferro mata, com ferro morre”, eu posso dizer: “O que
com ferro fere, com ferro cura”. Mas há algo mais. Como cirurgião, nunca ganhei dinheiro e isso
porque fui cirurgião plástico. Recentemente comecei a desfrutar de vida boa quando me desenvolvi
como terapeuta de vidas passadas. Quer dizer, então, que minha etapa de cirurgião foi totalmente
uma ação de serviço, dedicada a reparar minhas ações passadas. E ainda mais, para que não restem
dúvidas durante 10 anos trabalhei em 3 hospitais diferentes, em forma totalmente “ad honorem”. De
modo que a cirurgia me deu a oportunidade de cumprir com meu tikún. Pude fazer, assim, meu
trabalho de correção com uma tarefa de serviço, reparando o prejuízo que havia provocado com
minhas ações passadas.
E falando de reparação, por coincidência (que agora sei que não é coincidência)como
cirurgião plástico me dediquei fundamentalmente à cirurgia reparadora. Creio que não falta dizer
nada mais.

(1) A lei do carma, José Luis Martin, Ed. Orion, México, 1983
(2) Edgar Cayce, sobre a reencarnação, Noel Langley, Ed. Mirach, Madri, Espanha, 1994.
primeira edição em inglês,1967.
(3) As rodas de uma alma, Philip S. Berg, Centro de Investigação da Cabala, Nova Iorque,
USA,1991
Capítulo X
A técnica do Samyama

Na Índia, se atribui ao deus Shiva uma técnica milenar para transcender nosso nível habitual
de consciência. Em Vijñana Bhairava Tantra, Shiva responde através de 112 conselhos para sua
companheira Parvati que deseja conhecer a essência que expressa ao universo inteiro.(1) Em um
desses conselhos, convida a focar a atenção sobre qualquer acontecimento do passado e onde nossa
própria forma perde suas características atuais e se transforma. A partir desse momento, outros
incidentes antigos, que se acreditavam esquecidos, se encontram intactos, tão fortes como se fossem
atuais. A memória se desliza e pode remontar o tempo até a primeira infância, o nascimento, a vida
fetal e sobrepassar a existência uterina para reunir-se com a recordação de uma vida precedente.
Aqui se origina o adhyatma toga, cuja prática é justamente a regressão.
Patanjali nos abre a porta a esse conhecimento, quando nos diz nos Yoga Sutras: “Praticando
o samyana sobre os resíduos subconscientes (samskáras), o iogue conhece suas existências
precedentes” (III-18)(2).
Samyama significa a concentração perfeita e sua técnica é a meditação hindu clássica.(3)
Consiste em 3 passos aplicáveis a qualquer objeto de meditação. Os 3 passos são:
1.Fixação da atenção em um objeto
2.Manutenção da observação no objeto até que este ocupe integralmente todo o campo da
consciência, com exclusão de qualquer outro objeto
3.Fusão com o objeto no qual este deixa de ser percebido como objeto para, em troca, aparecer no
seu significado.

A fusão entre observador e objeto de observação faz que desapareça a dicotomia entre
externo e interno, sujeito e objeto ou eu e tu para, em troca, alcançar a unidade entre ambos.
O objeto de meditação pode ser também uma emoção, uma sensação ou um pensamento. Os
3 passos de Samyama, adaptados agora a nossa investigação, são:

1.Concentrar a atenção em uma sensação ou emoção. Localizá-la no lugar do corpo onde mais se
sente. (Isto é fundamental)
2.Aprofundar a sensação até assemelhá-la a algo que pudesse produzi-la ou que apareça como
imagem.
3.Fusão. Vivenciar a sensação e a imagem como experiência real. Nesse momento, as imagens, as
sensações e as emoções deixam de ser percebidas como algo separado. Agora se está aí,
vivenciando o fato que está provocando as sensações.

Vejamos um exemplo simples. Trata-se de uma mulher implacável consigo mesma e com os
demais. Não permite a ninguém que se equivoque. Tem discussões frequentes e é muito ofensiva,
faz calar o outro. Em uma discussão é muito fácil resgatar sensações. Peço-lhe que me conte sua
última discussão e que identifique a sensação dominante.

Terapeuta; Fixe-se no momento culminante da discussão, qual é a sensação dominante?


Paciente: Raiva, sinto muita raiva.
T: Isso é, agora fecha os olhos...e sente essa raiva...isso é. Onde a sente? Localize-a no corpo.
P: Aqui. (aponta o estômago)
T: Muito bem. Agora sente essa raiva mais profundamente e veja...como é essa raiva, com que se
parece?
P: Sinto um punho que me aperta aqui. (Aponta o mesmo lugar.)
T: Que mais?
P: É como uma caldeira que explode. (Atenção! Isto é muito forte, já está surgindo a memória do
passado.)
T: Sinta tudo isso. Que mais?
P: Sinto que estou deslocada...sinto raiva na garganta...sinto que me afogo...
T: Isto é, sente tudo isso. Que mais?
P: Me sinto apertada...(começa a agitar-se) não posso respirar...
T: E se estivesse num lugar, onde estaria?
P: É como se estivesse fechada num lugar...me suam as mãos e os pés.
T: Muito bem. Agora, retenha todas as sensações e ao contar de 1 a 3, irá diretamente ao fato que
está provocando essas sensações. Um...dois...três. Que está passando?
P: A caldeira de um barco (Aí está!) É todo sujo, não se pode respirar...não quero estar mais
aqui...vou produzir muita fumaça...
T: Segue, que mais?
P: Explodiu a caldeira...eu o fiz. Que idiota!
T: E isso, como se relaciona com seu problema com as discussões?
P: Eu sou responsável. Eu ponho fogo na situação.

Vejam que interessante. Ao princípio, assemelhou a sensação de raiva a uma caldeira que
explode. A maioria das vezes, a definição que o paciente dá a uma sensação tem que ver com uma
situação do passado. Há que estar atendo a essas expressões, porque através delas fala o
subconsciente. Interessante também a definição do final: “eu ponho fogo na situação”. Agora pode
fazer-se cargo de sua responsabilidade e também compreender porque não permite a ninguém que
se equivoque.
Continuando, vamos ver o desenvolvimento completo de uma regressão que começou
utilizando a técnica de samyama. Esta é a técnica que emprego na maioria dos casos.

O medo de Penélope

Há mais de um ano que Penélope (50) vinha traalhando com TVP, para resolver diversos
problemas. O motivo que a trouxe à consulta já havia ficado para trás. No transcurso desse ano
Penélope introduziu profundas modificações em sua vida, concorrendo à terapia 2 vezes ao mês.
Mas havia algo que ainda não podia resolver: a relação com sua mãe ou, melhor dito, a influência
que sua mãe ainda exercia em sua vida. Mais ainda,não podia concretizar num bom trabalho tudo o
que havia avançado na terapia.
Esta manhã, Penélope entrou com fastio e muito aborrecida. Já no elevador me disse: “Me
sinto mal”. Apenas se sentou, a primeira coisa que disse foi: “Me sinto uma babaca. Na minha vida
nunca passa nada. Estou atolada.”
Em lugar de deixá-la falar como das outras vezes, sem dar-lhe tempo a nada, sem sequer
pedir-lhe que se estendesse sobre o tapete, pedi que fechasse os olhos e que sentisse o que estava
sentindo nesse momento. Penélope estava sentada sobre o tapete, as costas apoiadas sobre a parede
e assim (isto é o que quero mostrar) sem nenhuma preparação prévia, simplesmente fazendo contato
com suas sensações praticando o Samyama, começou a reviver cenas de seu passado, de sua
primeira infância primeiro e de 2 existências anteriores depois. Observem atentamente, sobretudo o
processo inicial. Como se formulam as perguntas para que a pessoa entre em contato com sua
memória subconsciente.

Terça-feira 10 de agosto de 1993.

Terapeuta:...Diga-me, que sente quando te sentes atolada?


Penélope: Sinto que tudo me custa muito.
T: Qual é sua sensação íntima? Que sente dentro de você quando passa tudo isso?
P:Sinto raiva.
T: Isto é. Agora feche os olhos...isso é...e sente essa raiva.
P: É como uma angústia.
T: E onde sente essa angústia? Localize-a em alguma parte do corpo...onde a sente?
P: Na barriga.
T: Muito bem, agora sinta essa angústia na barriga. Que mais sente?
P: Sinto que não posso crescer.
T: Que mais está sentindo?
P: Frio ...e medo.
T: Isso é, experimente agora esse medo.
P: Me sinto como metida num balde. (Já está associando a associação a uma imagem).
T: Que mais? Siga.
P: Me sinto como quando me trancavam quando garota (Já está em regressão)
T: Siga. Que mais ?
P: Me sinto como quando me fechavam no dormitório...(Já está, a sensação é clara, agora
simplesmente há que pedir-lhe que viva essa experiência no dormitório. Isso fará que se reatualize
uma emoção mais profunda e isso permitirá a associação com outra vida).
T: Agora conto até 3 e vá a esse momento quando te fechavam no dormitório, quando era criança.
Um...dois...três..Que está passando? Que está experimentando?
P: Tenho que ficar sentada numa cadeira.
T: Que idade tem aí?
P: Cinco anos, me encerravam sempre.
T: Muito bem, sinta-se com 5 anos e experimente o que está ocorrendo. Que está passando?
P: Não posso me mover daí. Sinto muito medo porque vão me bater.
T: Isto é, sinta esse medo agora, sinta-o profundamente...e veja quais são suas reações físicas ante
esse medo.
P: Me encolho (exatamente o que passa hoje)
T: Quais são suas reações emocionais nesse momento?
P: Tenho medo que minha mãe me mate! (Atenção! Aqui está la crença que condiciona toda sua
atitude de vida e a chave para o passado.)
T: Muito bem, sinta esse momento quando tem medo de que sua mãe a mate. Sinta esse medo...isso
é...sinta profundamente e ao contar até 3, retrocederá ainda mais, a outra existência anterior a essa, a
uma cena similar a esta, a um fato relacionado com essa situação...um...dois...três...Que está
passando?
P: Sou criança, mas grande, 12 anos. Sou muito ruiva...tenho o cabelo longo, estou gritando.
T: Que está passando?
P: É uma cena horrível, há fogo, algo está incendiando.
T: Que coisa está incendiando?
P: Espere que veja...há muita confusão...somos muitos os que estamos aí...é como uma barraca que
se está queimando…
T: Siga, que mais?
P: Subi no telhado e me encontrei com uma mulher. Eu chamava minha mãe, mas essa mulher não é
minha mãe. Tem um olhar muito duro e tenho frio no meio do fogo…
T: Segue.
P:...peço que me ajude, mas quando se aproxima, vejo em seus olhos que não vai me ajudar. Tem a
pele fria como minha mãe nesta vida. (Atenção!) No lugar de dar-me a mão...me...empurra para trás
e me atira às chamas…
T: Siga.
P: Me vejo cair como uma boneca de trapo...me enjôo.
T: Siga.
P: Não posso seguir; me congelou a imagem.
T: Em que momento?
P:Quando estou caindo (Algo forte há aqui que deve ser trabalhado. Por isso não posso seguir.
Vejamos como se resolve.)
T: Até aqui, qual é o momento mais difícil disso tudo?
P: Tenho muito medo quando vejo o olhar dessa mulher.
T: Volta então a esse momento. Que está sentindo nesse momento?
P: Medo, frio. Sinto que essa mulher me quer matar! (Aí está! Igual que na cena do princípio,
quando disse: Tenho medo de que minha mãe me mate!)
T: Veja quais são suas reações físicas nesse momento.
P: Morro de frio, me paraliso, fico dura.
T: Quais são suas reações mentais?
P: Já não falo, nem grito, nem nada.
T: E qual é o pensamento dominante que está afetando sua vida atual?
P:A vida é um inferno! Sempre atiram alguém às chamas.
T: E isso de que maneira está te afetando?
P:Não há que pedir ajuda a ninguém, porque podem te atirar às chamas!(Outro mandamento. Agora
sim, já pode seguir adiante com a cena.)
T: Agora vá ao momento da queda e experimente a queda.
P: Estou caindo...tudo está rodando...como se me tirarem o chão...me bato contra as chamas...me
sufoco…
T: Onde sente esse sufocamento?
P: Me fecha aqui (toma a garganta).
T: Agora sinta esse sufocamento para esgotar toda essa energia
P: Me encho de fumaça...me doem os braços...me ardem...me queimam…
T: Siga.
P: Os pés os tenho frios não os sinto… os cabelos queimados…
T: Siga.
P: Os ouvidos explodem…
T: Siga.
P: Me sai algo pelos ouvidos (toca os ouvidos)...sangue ou líquido.
T: Siga.
P: Estou aí deitada...estou morrendo...mas penso que isso me passou porque…
T: Diga.
P: Eu era uma menina linda e feliz que tinha tudo. Talvez ...nesse momento...penso…
T: Diga no que acredita.
P: Para salvar-se de uma morte assim não há que ter tantas coisas. Essa mulher me matou por inveja
e por ciúmes.
T: Siga.
P: Por isso nessa vida, tinha medo de que minha mãe me matasse. Já sei porque. Sempre senti que
nesta vida minha mãe me tinha inveja. De criança tinha a fantasia de que me ia matar.
T: Então, que decisão tomou?
P: Decidi desleixar-me, não me destacar, não conseguir coisas, para não despertar mais ciúmes e
inveja, e que terminasse por me matar (Aí está tudo: não se cuidar, não se vestir bem, não se
arrumar, não sobressair, não desenvolver seu potencial criativo, não seja coisa que a mãe mate). Que
horror que a pessoa acredite que sua mãe a possa matar!
T: Agora vá ao momento em que se desprende desse corpo. Veja bem como se desprende.
P: Estou saindo...não entendo muito o que passa. Creio que terminarei assim em castigo por ser
feliz! (Outra volta de parafuso, reforçando o anterior.)
T: Avance um pouco mais.
P: Não estou só aqui. Somos vários os que morremos e não entendemos onde estamos. Ainda
estamos muito abaixo.
T: Onde se encontra?
P: Estou à altura das chamas, mas já não me queimo, nem sinto calor (Prestem atenção, porque
espontaneamente esta descrevendo a confusão post-mortem e os primeiros passos no espaço entre
vidas)
T: Siga;
P: Mas é um instante de muita confusão...há gente que não está confusa, está chateada. São como
sombras de distintas cores…
T: Siga.
P: O erro dessa vida foi não ter sofrido. Não ter feito um culto do sofrimento. Se tivesse sofrido não
terminaria assim. (Esta é a crença dominante que fica fixada no momento em que deixa o corpo e
que vai constituir-se em sua programação de vida).
T: Frente a essa situação, que decisão toma?
P: Se volto a encontrar com uma pessoa assim (a mãe) não provocá-la para que não me mate! (outra
vez) A forma de provocá-la seria ser feliz!
T: Agora veja como isto está afetando sua vida atual.
P: Eu nesta vida fiz sempre as coisas para não provocar minha mãe. Me portava bem, não me
sujava, ia bem na escola, não questionava coisas, mas minha mãe igualmente me batia. Agora me
dou conta de que minha mãe não se incomodava com que eu fazia...
T: Sim?
P: Lhe incomodava o que eu era. (Tenham em conta que assim como se comporta frente a sua mãe,
esta conduta se repete em todas as relações, fundamentalmente no trabalho e com o marido).
T: Siga.
P: ...Tenho medo de tê-la conhecido antes minha mãe...e no momento em que pensei senti fome e
vazio no estômago. (Aí está presente outra sensação que pode fazer o nexo com outra existência.
Novamente lhe peço que se concentre nessa sensação).
T: Muito bem, agora sinta essa fome e esse vazio no estômago, sinta-os profundamente.
P: Tenho fome, como se fizesse muito tempo que não comesse...sinto dor...a boca seca...
T: Sinta essa dor e vá ao fato que a está provocando. Que está passando?
P: Estou...em outra vida...
T: Sim?
P: Estou encerrada...
T: Siga.
P: ...Em um sótão...como uma cova...é todo de terra...faz muito frio aqui dentro...tenho muita
fome...estou castigada aqui...
T: E...a que se deve que esteja castigada aí?
P: Me colocaram aqui para tirar-me do meio...a ideia foi de uma mulher. É minha tia...minha mãe
morreu...
T: Siga.
P: Queriam me casar e mandar-me para longe para que não incomodasse...Esta mulher quer tudo
para seus filhos, mas eu me rebelei e não quis, então me colocou aqui, até que mude de ideia ou
morra.
T: Agora veja essa mulher. Como é seu olhar? Olhe-a nos olhos. Viu-a em outro lugar?
P: Começa a doer muito a cabeça, sinto enjoo. Se não é minha mãe de agora, sinto que é a mesma
energia.
T: Como é essa energia?
P: É uma energia muito forte; me dá dor de cabeça...é escura...forte...é como se me perseguisse
sempre.
T: Como é isso? (Atenção, porque a história agora vai por outro caminho.)
P: Às vezes minha mãe, nesta vida, vejo-a débil e em outros momentos vejo-a possuída desta
energia que me assusta tanto é o que pode me matar.
T: Muito, agora...ao contar até 3...vá à origem desta energia...Um...dois...três...
P: Vai aparecendo cada tanto...em distintas vidas...como se fosse uma nuvem de fumaça...alguma
vez, deve ter sido alguém que viveu comigo.
T: Muito bem, agora faça um esforço mais e ao contar até 3 vá à origem do vínculo com essa
energia. Um...dois...três...
P: Vejo uma paisagem muito linda...muito sol...como uma pradaria, vejo pastores...vejo uma pedra
muito grande...
T: Segue adiante.
P: Aí vão me abrir a cabeça...
T: Retroceda um pouco e veja como chega a essa situação.
P: Sou um pastorzinho...estou com meu pai...temos ovelhas...escuto vozes (Toca no ouvido
esquerdo).
T; Que vozes?
P: Vozes em outro idioma, mas não posso reproduzir.
T: A que idioma se parece?
P:...Me ocorreu fenício, mas não tenho a menor ideia.
T:Segue adiante.
P:Tenho 5 anos e sou o preferido de meu pai, o menor. Me quer muito. Meus irmãos me odeiam,
sobretudo um. É um ser muito mau, me bate escondido de meu pai. Esse é o que vai me matar.
T: Vá a esse momento.
P: Agora entendo...
T: Que é o que entende?
P:Quando minha mãe nesse vida me agarrava a cabeça e me batia contra a parede, tinha a fantasia
de que minha cabeça iria se abrir em dois e me iria matar, porque nessa vida me mataram assim.
T: Experimente essa morte agora.
P:Tinha cabelos encaracolados...me pegaram e me esmagaram contra a pedra. Me arrebentou a
cabeça...
T: Sinta o momento do impacto.
P: Meu irmão me toma assim(toma o cabelo de um lado) e me esmaga contra a pedra...
T: Segue.
P: Se me rompe a cabeça.
T: Como é essa morte?
P:É fulminante, instantânea, sinto que saio e me desprendo...
T: Siga.
P: Enquanto estou saindo, chega meu pai e mata meu irmão com uma pedra afiada pelas costas.
T: Veja atentamente o que se passa.
P: Meu pai está chorando e meu irmão é uma energia negra muito escura, que se quer fundir
comigo, mas não pode.
T: Como é isso?
P: Explico. Pode-se unir as energias de mesma cor. Ele vai poder fundir com outra energias, mas
comigo não.
T: E então que sucede?
P: Isto aumenta o ódio de meu irmão. Isso não serviu para nada bom, senão para aumentar seu ódio
contra mim. Me diz que não vai me deixar em paz. Eu me vou e ele fica.
T: E como a está afetando essa energia agora?
P: Penso que através de minha mãe.
T: De que maneira?
P: Vejo-a como algo enorme, avassaladora, dominante. Tenho-a acima, não posso me desprender,
tenho-a colada em mim.
T: Sua mãe ou a energia?
P: É essa energia, é como gelatina. (Aqui há que fazer outro trabalho. Essa energia está funcionando
como uma alma perdida. O importante aqui é levar a ambos o perdão.)
T: Muito bem. Tudo isso passou há muito tempo e ambos tem sofrido muito. Já é hora de terminar
com o passado. Diga agora a seu irmão, mentalmente, que você já o perdoou. Diga-lhe que a
felicidade, a luz e o amor também são possíveis para ele. Envie-lhe um pensamento de amor e luz.
Envolva essa energia em cor rosa e perdoe essa experiência e diga-lhe que agora pode ir para a luz.
P: Sinto como se me houvesse saído uma nuvem da cabeça, como uma tela, como se visse as coisas
mais claras.
T: Como vê as coisas agora?
P: Penso que não necessito buscar o sofrimento para evitar que me matem.
T: Como gostaria de ser?
P: Queria ser segura, tranquila, serena e feliz.
T: Muito bem, escolha uma cor para envolver-se.
P: Rosa.
T: Isso é. Agora envolva-se na cor rosa e sinta como a cor rosa vai interpenetrando com todos os
seus átomos, limpando os resíduos das passadas experiências, desprendendo-se do passado,
perdoando, e, envolta na energia da cor rosa, grave profundamente em todo seu ser esta nova
imagem sua, segura, tranquila, feliz e valente. Veja-se a si mesma vivendo feliz. Veja seu rosto, seu
olhar quando é feliz e assim, com essa imagem, envolta na cor rosa, regressará aqui, a este dia ,
terça-feira, 10 de agosto de 1993, tomando uma respiração profunda e ao abrir os olhos, regressará
aqui, a sua consciência habitual.

Ao abrir os olhos, Penélope disse:


-Me passou algo raro. Vim aqui com muita raiva e agora não tenho nada. Me sinto
“passada”, esgotada, como se me tivessem tirado uma energia, como se tivesse feito um esforço
muito grande. Mas quando cheguei hoje aqui havia matado alguém.
-E de que mais se deu conta?
-Me dei conta de que tenho medo de minha mãe. Por favor! A essa altura ter-lhe medo de
uma mulher de 72 anos. Se não me pode fazer nada!

E este medo era o que não lhe permitia sobressair, destacar-se, melhorar suas condições de
trabalho, cuidar de sua apresentação, não foi por ser feliz, por estar bem, provocava a inveja dos
outros e terminaram matando-a.
Temos visto de que maneira, fazendo contato com uma sensação de raiva, tão só sentindo
essa raiva e angústia imediatamente surgiram as imagens do passado e não só isso, senão que, além
do mais, a paciente vivenciou 3 situações traumáticas relacionadas entre si e a aparição dessa
energia que vinha do passado. Simplesmente seguindo o fio da emoção. Deixando deslizar a
memória como aconselhava Shiva.

(1) A memória de vidas anteriores, Ed. La Table Ronde, Paris, França, 1980
(2) Sabedoria hindu, Lin Yutang, Biblioteca Nova, Buenos Aires, Argentina, 1946
(3) Técnicas de meditação transcendente, Jacobo Grinberg-Zylberbaum, Ed. Heptada, Madri,
Espanha, 1990

Capítulo XI
Outra variante técnica

A fobia de Aída

Esta é uma abordagem diferente, inspirada na técnica de Robert Young(1) que simplifiquei
de acordo com minha experiência. Parto do conceito de Morris Netherton que sustenta que quando
uma pessoa está relatando seu conflito, já está em regressão, posto que está revivendo, sem saber,
uma situação anterior. Partindo do momento atual e sem necessidade de nenhuma preparação,
vamos retrocedendo, reatualizando a emoção através de 4 situações básicas que nos levaram à
origem do conflito em uma vida passada.
Essa 4 situações são:

1.A última vez em que se experimentou o problema.


2.A ocasião mais forte nesta vida em que se experimentaram as emoções surgidas.
3.A primeira vez em que se experimentaram essas emoções.
4.O momento do nascimento.

A partir daí, a pessoa está em condições de ir à origem do problema. Costuma suceder que,
ao pedir à pessoa que vá à primeira vez, apareça diretamente na vida passada. Mais ainda, se a
emoção é intensa, a cena do passado surgirá espontaneamente em qualquer momento.
Vejamos agora uma história típica de fobia na qual procedi desta maneira.
Aída é uma terapeuta que me consultou por seu medo de falar em público. Tinha
oportunidade de dar palestras e conferências, mas era impossível para ela enfrentar o público. Uma
vez teve que preparar uma aula na faculdade. Quando se encontrou no palco, sentiu que lhe faltava
o ar e que não podia respirar. Uma onda de terror e pânico a envolveu. Não podia falar, tremia como
folha e estava totalmente paralisada. Havia perdido o controle absoluto sobre si mesma. Nunca mais
pode enfrentar um público.

Quarta-feira 7 de setembro de 1994.

Terapeuta: Muito bem, Aída, agora fecha os olhos, inspira profundamente e quando contar até 3 vê
a última vez em que experimentaste estas sensações de pânico e terror. Um...dois...três...
Aída: A semana passada no hospital.
T: Muito bem, o que está se passando?
A: Tenho que dar um informe de um paciente. Estão os familiares. Tenho que explicar de que se
trata.
T: E então?
A: Começo a falar e o medo me invade. Quero falar e não posso.
T: Que estás sentindo nesse momento?
A: Sinto algo que me aperta o peito...sinto calor...sinto que me afogo…
T: Que mais?
A: Sinto as palpitações como golpes.
T: Qual é o momento mais difícil, mais traumático dessa situação?
A: Quando me observam em silêncio, esperando que diga o que passa.(Atenção com isso).
T: Quais são tuas reações físicas nesses momentos? (Isto é importante para começar a despertar as
emoções).
A: Baixar os olhos.
T: Quais são tuas reações emocionais?
A: Estou olhando o coração.
T: Que estás sentindo nesses momentos?
A: Sinto o coração destruído. Sinto dor.
T: Sente essa dor...e ao contar até 3 irás à ocasião mais forte nesta vida, na que experimentaste esta
mesma dor. Um… dois...três… que está passando?
A: É a dor que senti sempre.
T: Qual dor?
A: A dor de não ser querida por meu pai. (Começa a chorar).
T: Como é essa dor?
A: É uma dor muito profunda. É um vazio.
T: Quero que retenhas essa sensação e ao contar até 3 irás à primeira vez em que experimentaste
essa dor. Um… dois...três.
A: Tenho uns 4 anos, estou na cozinha de casa, em um banco.
T: Que está passando?
A: Eu estava pedindo algo...queria que minha mãe me escutasse e me desafiou...tomou como uma
exigência.
T: E que estás sentindo nesse momento?
A: Não me escutam, não importa o que diga nem o que pense.
T: Agora...quando conte até 3…retrocederás um pouco mais. Ao contar até 3, irás ao momento de
teu nascimento. Um instante antes de teu nascimento. Conto até 3 e estarás aí. Um…
dois...três...Que estás sentindo?
A: Ahgg! Me afogo aí dentro! Tenho vontade de vomitar!
T: Segue. Que mais?
A: Não quero estar aí dentro. Quero sair!.
T: Segue.
A: Mas não quero sair. Quero e não quero!
T: Como é isso? Que está passando?
A: Não quero que vejam o que sou. Não me estão esperando. Querem outro!(chorando). Não
querem a mim!
T: A quem querem?
A: Querem um menino!
T: Que pensas quando te dás conta de que querem um menino?
A: Vou demonstrar que vou ser melhor que outro. Tenho que ganhar o carinho deles. (Já estão os
mandamentos que vão originar uma vida de exigências.)
T: E isso, que te leva a fazer?
A: Me leva a fazer tudo o que querem e muito mais.
T: Agora vê o momento em que nasces.
A: Ai! A cabeça! Não posso respirar! Me falta o ar! Quero ficar! Não quero que me vejam! (Aí
estão as mesmas sensações que tem frente ao público). Ai! A cara de desilusão que têm! Que é isto?
(Chorando e gritando ao mesmo tempo.)
T: Fixa-te, quais são tuas reações física nesses momentos?
A: Não quero respirar! (Veremos a importância disso mais tarde.)
T: Quais são tuas reações emocionais?
A: Me equivoquei! Aqui não! Que faço aqui? Quero ir! (O nível emocional agora é intenso. Não é
necessário dizer nada mais. Aída está pronta para ir à raiz de seu problema.)
T: Muito bem. Agora ao contar até 3 retrocederás um pouco mais. Ao contar até 3 irás diretamente à
origem dessas sensações. Conto até 3 e dirás a primeira coisa que te vem à mente. Um...dois...três.
Diz a primeira coisa que te vem à mente.
A: Vejo o Partenon...fora está cheio de gente...Não quero que me vejam. (Aí está! Outra vez o
mesmo.)
T: Que está passando?
A: Há um defeito...em mim...Não quero que vejam.
T: Qual é esse defeito?
A: Sou débil...sou mulher...e não sou inteligente e capaz (Igual que no momento do nascimento,
quando esperavam um menino.)
T; Segue adiante, que mais?
A: Todos estão me observando. Há muita gente e estão esperando que cante ou atue.(Recordem a
cena do hospital quando a observam e esperam que diga algo.)
T: Segue, não te detenhas.
A: Eu os olho e me dou conta de que não sei fazer nada. Me pergunto que estou fazendo aí. Se
equivocaram ou me equivoquei eu.
T: Agora fixa-te. Qual é o momento mais difícil dessa experiência?
A: Quando estão esperando que eu faça algo e não sei fazer nada e deixo que me olhem.
T: Que está passando nesse momento/
A: Não é o que querem ver. (Igual ao momento do nascimento.)Tenho que explicar-lhes que não sei
fazer nada...mas tenho que demonstrar algo (mandamento que gerará exigência) mas não sei fazer
nada (Vejam que contradição, que luta interior deve se desenrolar entre a exigência e o não saber
nada.)
T: Segue adiante, que mais?
A: O exterior não serve para nada. Não sirvo para nada. Não lhes posso explicar nada.
T: Agora fixa-te, quais são tuas reações físicas nesses momentos?
A: Estou vermelha...sinto calor...me fecha a garganta...quero respirar e não posso (Começam a
surgir as mesmas reações que experimenta na atualidade.)
T: Quais são tuas reações emocionais nesses momentos?
A: Não há reação...me paralisa o pensamento...perco o controle e não posso me cuidar assim.
T: Segue adiante agora, que está passando?
A: ...Estou me afogando outra vez...estou morrendo...frente a todos estou morrendo...Sinto que me
mataram olhando. “Conseguiram”. Conseguiram o que queriam (Aí está o ponto crucial. Como vai
falar em público se seu subconsciente crê que pode morrer? Agora é o momento de rever esta
situação.)
T: Quero que vejas esta situação novamente. Como é que te mataram olhando?
A: Não, não me mataram eles. Sou eu que não quero respirar (Agora pode discriminar e assumir-se
a si mesma.)
T: E que te leva a não respirar?
A: Estou me castigando e não quero respirar.(Aí está a questão. A exigência deu lugar à culpa.)
T: Agora completa a experiência de tua morte.
A: O coração se esgota de tanto bater...pára...
T: Segue.
A: Há paz...já não faz falta o coração para viver o ar para respirar.
T: E que estás pensando quando vês esse corpo?
A: Pobre estúpida, morrer assim. Afogada sem respirar. Morrer de medo. Morrer de susto. Pobre
retardada.
T: Gostaria de mudar algo nessa história agora?
A: Sim.
T: Escolhe então uma cor de teu agrado para introduzir uma nova vibração em tua vida. Que cor
escolherias?
A: Celeste (Fazemos a desprogramação e a harmonização como sempre)
T: Agora, envolta na cor celeste, projeta uma imagem de como gostaria de ser de agora em diante.
A: Mais segura, mais forte, serena, relaxada e firme.
T: Muito bem, grava profundamente esta imagem e quando tu quiseres, ao abrir os olhos,
regressarás aqui, a este dia quarta-feira 7 de setembro de 1994, sentindo-se bem, profundamente
bem.

Ao incorporar-se, Aída disse:


-Estou surpresa, sinto paz. Não parece tudo tão grave. Sinto menos culpa e projeto menos
culpa no resto.

Esta é outra variante técnica que costumo utilizar frequentemente. Não requer preparação
prévia, nem indução nem relaxamento. Quase sem dar-se conta, como se fosse uma conversa, a
pessoa vai tomando contato com suas emoções. À medida que as sensações começam a aflorar, a
recordação do fato traumático vai se acercando ao plano da consciência, até que, chegado um ponto
é suficiente com um empurrão mais e a vivência passada se instala no presente. À medida que
progride a experiência, a consciência vai se expandindo até entrar num espaço-tempo diferente.
Com respeito a Aída, vejam quantas crenças e mandamentos associados à sua fobia surgiram
durante a regressão. Como costuma acontecer, neste caso a fobia originava-se numa presunção
errada: a crença de que o povo havia matado olhando-a. Muitos conflitos se originam assim, em
falsas crenças. Esgotada a emoção do momento traumático, Aída pode dar-se conta de que, na
realidade, as pessoas não tinham nada que ver com sua morte. Foi sua própria exigência e seu
sentimento de culpa o que a matou nessa vida. O auto-castigo. Há que estar atento a esse tipo de
situações para resolvê-las no momento. Conhecer a verdade pode ser suficiente para terminar um
conflito, uma fobia neste caso. Se o povo não a matou, a fobia já não tem sustentação. Aparecem,
em troca, a exigência e a culpa como responsáveis de seu angustiante final e de muitos dos
inconvenientes de sua vida atual. E aqui quero colocar uma pergunta: a quantos de nós nos ocorrerá
nesta vida algo similar ao que ocorreu a Aída? A que situações extremas nos podem arrastar a
exigência e a culpa?

(1) Reencarnação livro de bolso (Manual de reencarnação) Robert e Loy Young, Fundação de
pesquisa e educação de reencarnação, Santa Mônica, Califórnia, USA, 1980. Essa história
foi publicada na revista Segredos, numero 1, novembro 1994.
Capítulo XII
O espaço entre vidas

Denomina-se espaço entre vidas ao espaço compreendido entre uma morte eu nascimento
seguinte. É o que corresponde ao bardo thodol dos tibetanos e que a maioria chama simplesmente
bardo. Na realidade há diferentes bardos. No entanto não vou me estender nesse conceito porque
precisaria todo um livro para isso. Meu propósito aqui é mostrar como se trabalha este período na
TVP, mas quero deixar claro que a palavra bardo compreende muito mais do que habitualmente se
conhece.
Assim mesmo, quando falo de espaço entre vidas, estou fazendo para identificar o período
que vamos trabalhar. O que chamamos espaço entre vidas é a dimensão em que transcorre nossa
verdadeira vida,a vida espiritual. Da mesma maneira, a alma poderia chamar espaço entre vidas a
nossa vida na terra dentro de um corpo físico.
Vejamos como se deve trabalhar esse período. Como terapeuta não devo perder de vista em
todo momento que a pessoa necessita extrair o máximo proveito dessa experiência. Não se trata de
explorar esse espaço por que sim, sem um sentido claro e preciso. Uma vez trabalhada a cena da
morte, podem se seguir vários cursos de ação:

1)Pode-se levar o paciente à outra vida relacionada com o problema que se está trabalhando.
Em ocasiões isso ocorre espontaneamente.
2)Seguir com a vida fetal, nascimento ou primeira infância em sua vida atual.
3)Continuar o curso espontâneo logo após a morte e entrar no espaço entre vidas.

O caminho a seguir depende, em primeiro lugar, do tempo que nos resta de sessão. Se não há
tempo suficiente para seguir trabalhando, é melhor terminar a regressão e continuar na sessão
seguinte começando no ponto em que se alcançou da vez anterior. Se dispomos do tempo
necessário, agora tudo depende o problema que se está tratando, do que surja espontaneamente e da
intuição ou feeling do terapeuta.
Se se está trabalhando uma fobia, a regra é investigar a vida fetal, o nascimento e a primeira
infância buscando o trauma que reativou a memória do passado. Neste caso, o ideal é fazer toda a
volta numa mesma sessão.
Se o tema que se está tratando tem que ver com condutas da pessoa, com atitudes ou lições
não aprendidas, a experiência do espaço entre vidas pode completar esse aprendizado e levar a
pessoa a outro nível de consciência.
Em ocasiões, o paciente pode passar espontaneamente e com grande facilidade no território
do bardo. Outras vezes alcançará um ponto mais além do qual não pode progredir. Quando é assim,
não deve forçar-se a situação. Há que ter presente que a experiência no espaço entre vidas depende
do grau de evolução da pessoa nesse momento. Depende também de como se produziu a morte. Às
vezes costuma existir um estado de confusão post-mortem. Nem todos têm consciência do que
sucede do outro lado.
Algumas pessoas chegam a presenciar seu funeral, logo entram em estado de sonolência e ao
despertar se encontram em outra vida ou dentro do ventre de uma mulher que não é sua mãe nessa
vida. Mais que nunca, há que evitar sugestionar a pessoa com crenças do terapeuta. Há que ser
muito cuidadoso com a forma de perguntar, para que o paciente descubra por si mesmo o território
que está explorando.
Existe a crença difundida de que há um tribunal do espaço que avalia nossas ações. Pois
bem, eu não encontrei tal coisa mais que um par de vezes. Em minha experiência, a maioria das
pessoas que tem vivenciado o espaço entre vidas, ou bem avaliam suas ações por si mesmas, ou
bem se encontram com um guia, ou um ser de luz que lhes assinala seus erros e lhes aconselha o
caminho a seguir.
Pode-se abordar o espaço entre vidas de 2 maneiras. Uma é fazê-lo logo após a experiência
de morte em uma vida passada. A outra é investigá-la antes dessa vida. Esta segunda modalidade
dará à pessoa a oportunidade de resgatar seu anteprojeto de vida e de compreender o sentido das
circunstâncias que lhe foi indicado viver.
Seguidamente veremos uma sequência interessante, que compreende todo um ciclo de
morte-reencarnação-morte e regresso ao espaço e, no seguinte capítulo abordaremos o espaço entre
vidas antes de nascer.

A psoríase de Roberto

Roberto é um homem de 56 anos, com uma história de psoríase em suas mãos, de longa
data. Quando atravessava uma situação de stress, suas mãos se viam vermelhas como um tomate.
Trabalhando com suas vidas passadas, suas mãos sempre estiveram envolvidas, às vezes
curando e outras, abusando de seu poder. Em sua nona regressão, Roberto começa com uma vida
passada e facilmente segue com o espaço entre vidas e a existência subsequente.

Quinta-feira 25 de outubro de 1990

R: Me vejo como um negro alto, batendo nuns escravos que arrastam algo. Tenho uma tanga e faz
muito calor.
T: Fixa-te como eras aí.
R: Sou corpulento, moreno, olhos ligeiramente amendoados. Levo um cinturão com algo dourado
como o sol. Me vejo batendo no povo com um látego. Carregam uma pedra quadrada, grande. Há 2
filas de tipos e eu estou no meio. Passam por baixo de mim e bato-lhes a um ou outro lado e me rio.
T: Como é o lugar onde te encontras?
R: É um lugar desértico, há umas serras baixas, faz muito calor e eu transpiro. Tenho uma bandana
branca no cabelo e me chamo Oxala. Sou um escravo com mais autoridade que os outros. Sou
arrogante. Não compreendo que fui como eles. Faço o mal com eles e depois me encolho com os
outros.
T: Avança um pouco mais.
R: Me vejo deitado em uma choça como um cone. Tenho um cãozinho branco ao lado. Estamos
construindo um edifício muito grande. É quadrado como um forte. Põem pedras, uma em cima da
outra.
T: Como as movem?
R: Movem-nas com alavancas. Fazem cair de um lugar mais alto para o mais baixo. Aí eu bato com
o chicote de volta. Uma pedra esmagou a vários deles. Eu me rio e bato com o chicote.
T: Segue avançando.
R: Vejo uma cerimônia. Há gente de branco adorando o sol. Ouvem-se cânticos. Eu sei que sou
inferior a eles.
T: Que sentes nesses momentos?
R: Me sinto onipotente. Tenho orgulho de minha força bruta. Sinto prazer e raiva ao bater-lhes.
Enxergo-os como animais.
T: Avança agora no tempo até um pouco antes de tua morte.
R: Me vejo velho, decrépito, abandonado. Ninguém me quer. Sei que toda gente me tem raiva.
Começo a compreender que o único que fiz foi colher inimigos. Pobres e ricos me tem raiva.
T: Avança ao momento de sua morte.
R: Estou só. Morro com grande tristeza. Estou enfermo dos pulmões ou do coração.
T: Quais são tuas reações nesses momentos?
R: Sinto raiva, tristeza e depressão. Vejo meu corpo só, atirado aí em baixo. Olho surpreso.
T: Que sentes quando olhas teu corpo?
R: Arrependimento de todas as besteiras que fiz.
T: E como se relaciona isto com teu problema de psoríase?
R: Está muito claro. Castigar o povo.
T: Avança um pouco mais logo após tua morte (Aqui entra no espaço entre vidas).
R: É tudo negro, feio, desagradável. Há pranto, lamentos, ao redor de mim. Estou morto de medo.
Quero perguntar e ninguém escuta. É um lugar triste, cinzento, feio. Alguns passam vomitando algo
verde. Gente má.
T: Que fazes aí ?
R: Corresponde pelo que fiz.
T: Avança um pouco até que ocorra uma mudança em tua situação. (Observem como há de guiar o
paciente para que saia desse estado, sem influir com nossos pensamentos).
R: Há um lugar mais claro. Há seres com hábitos brancos. Olham-me com comiseração. Um me
diz: “Não te preocupes, que tudo vai passar”. Me ponho a chorar. Por todos os males que fiz me
passa isso. Me parece terrível o que fiz antes.
T: Avança um pouco mais.
R: Flutuo como em um estado latente. Uma voz me diz: “Quando voltares terás oportunidade de
fazer o bem e não o mal”. Lentamente me vou tranquilizando.
T: Avança até a próxima mudança.
R: Há um redemoinho que me envolve, me ergue para cima. Gozo com isso. Parece que subo e
subo. Como por um orifício parece que entro em outra coisa, cor verde.
T: Segue adiante.
R: Há um velhinho.
-Te estava esperando – me diz – Tenho que mostrar umas coisas. Olha todo o mal que tem
feito – e me mostra um livro.
-E que quer que fizesse? - digo-lhe
-Poderias ter optado por não castigar as pessoas.
-Mas me castigariam a mim!
-Pior o castigo que tiveste!
-Que castigo?
-Viver nesse lugar cinzento. Agora terás que voltar a viver para reparar o dano que fizeste.[
-Como?
-Fazendo o bem- me disse.
-Dê-me possibilidades!
-Tem todas. Há que saber aproveitá-las. Fizeste sofrer, irás sofrer.
-Mas não é para tanto!
-Mas tinhas uma vida muito boa (Se refere a encarnações anteriores positivas). Arruinaste
nessa etapa. Tens que recuperar.
-Quando?
-Agora- me disse, e fico só. Desaparece de repente. Outra vez me envolve um redemoinho e
me encontro dormindo.
T: Avança ao momento em que despertas.
R: Me vejo dentro de um útero. Me vejo um feto, envolto por líquido amniótico. É feio estar aí. Não
é prazeroso. Minha mãe sofre e eu recebo todo o sofrimento. Parece que meu pai é muito mau. Bate
em minha mãe. Bateu na barriga. Me assustei.
T: Segue um pouco mais.
R: Vejo o momento do parto. Não é agradável passar por esse tubo. Pressinto em meu corpo algo
distinto. Me batem nas nádegas e choro. Oh! Surpresa! É um hospital. Passou muito tempo. Há
mulheres com vestidos longos, monjas, chapéus grandes. É em um convento ou monastério. Minha
mãe é muito bonita, pele branca, trança comprida. Parece que está enferma. Está numa cama com
teto e 4 colunas.
T: Segue.
R: Entra um tipo de barba grisalha. É mau e é meu pai. Na realidade não sei se é mau ou bruto. Não
gosto dele. Me carrega nos braços com risadas. Está bêbado. Deve ser muito importante. Mas me
parece que não é meu pai.
T: Que quer dizer?
R: Ele pensa que é meu pai, mas minha mãe sabe que não é.
T: Avança um pouco mais.
R: Estamos só minha mãe e eu. Minha mãe toma um copo de metal e...paf! Cai morta. Se
envenenou.
T: Que sentes nesse momento?
R: Solidão, estranheza, choro.
T: Segue um pouco mais.
R: Passei a noite com minha mãe morta. É de dia. Entra uma mulher e solta um grito. Agora o corpo
de minha mãe está sobre artigos brancos. Há outro homem, de nariz afilado, olhos azuis. Não sei
porque mas pressinto que esse é meu pai. Pareceria que isto é em algum lugar de Espanha. Meu pai
se ri. Terminou uma situação. Não era um filho desejado.
T: E que pensas nesses momentos?
R: Ia embalado a pagar minhas culpas.

Até aqui, fiz toda a regressão sentado numa cadeira, com os olhos abertos, focados no piso,
como se estivesse vendo uma tela de cine. Eu não tive mais que empurrá-lo suavemente para que
progredisse em sua experiência, sempre cuidando de não sugerir nenhuma ideia que pudesse
contaminar sua vivência. Espontaneamente apareceu dentro do ventre de uma mulher em uma
existência passada. E vejam que notável a capacidade para discernir quem era seu verdadeiro pai.
Essa experiência se completou na sessão seguinte, onde simplesmente pedi que voltasse ao
ponto onde havia deixado da vez anterior.

Quinta-feira 1 de novembro de 1990.

Terapeuta: Conto até 3 e voltas ao momento em que morre tua mãe. Um… dois...três…
Roberto: Volto a ver o enterro. Não entendo o que passa. Estou como que deslocado. Há uma
monja que me cuida.
T: Avança um pouco no tempo.
R: Devo ter 5 ou 6 anos. Me vejo rezando frente a uma imagem de um Cristo crucificado. Vivo num
convento. Meu pai me colocou em reclusão aí, mas estou muito contente. Levo uma vida muito
mística aí.
T: Avança um pouco mais.
R: Tenho uns 16. Visto um hábito franciscano, com sandálias. Não sou monge, sou aprendiz. Gosto
dos pássaros, dos pobres, dos animais. Desfruto da natureza. Sou alegre e feliz.
T: Avança a um fato significativo.
R: Me avisam que meu pai morreu. Vou vê-lo depois de muito tempo. Me recebem como alguém
muito importante. Sou herdeiro de seus bens. Vejo-o morto e isso me preocupa. Rezo por ele e me
volto. Todos me olham assombrados. Não há nada que me prenda. Dizem que há muita fortuna.
Dou a volta e me vou.
T: Segue, que mais?
R: Me recebe o superior. Ele esperava que eu reagisse assim. Me ocorre fazer outro monastério. O
superior me diz que sou muito jovem. Que tenho que fazer no momento oportuno.
T: Avança então ao próximo fato significativo dessa existência.
R: Tenho 40 anos e estou dirigindo uma ordem de sacerdotes. Saímos à rua dando de comer aos
pobres. Me revolta a injustiça. Sinto muita raiva. Somos 7 sacerdotes. Trabalhamos a horta nesse
castelo que era de meu pai. As pessoas da corte se colocam muito “zangadas”. Os cortesãos ficam
se palácio porque fiz uma ordem aí.
T:Avança um pouco mais.
R: Estava muito feliz aí com os sacerdotes. Aparece uma peste. Ajudo a curar as feridas. Uma
manhã vejo que meus irmãos têm a peste; também os pés. Sofro muito. São feridas purulentas. É
repugnante. Me sinto mal porque não posso ajudar ninguém. Passo o tempo rezando. Não posso
mover-me nem comer.
T: Fixa-te como estão tuas mãos.
R: Tenho-as muito inchadas. Cor violeta, igual que nos pés. Se parece quando tive a primeira
manifestação de psoriase.
T: Muito bem, avança agora ao momento de tua morte.
R: Me vejo deitado em minha cama, na cela de sacerdote. Outros irmãos me vêm dar de comer.
Tenho muita febre. Me aparece uma imagem. Parece a Virgem Maria. Olha com olhos doces e diz:
“Vais ter comigo. Já tem feito bastante”. Entro num torpor, um sono. Muito placidamente vou
morrendo. Meu corpo astral se desprende da mão dessa imagem.
T: Segue um pouco mais.
R: Vejo muitos sacerdotes e gente reunida chorando por mim. Muita gente (que diferença com a
morte anterior!) Isso me emociona muito. A imagem me diz: “Viste que fizeste muito bem?” E eu
lhe digo que gostaria ficar para fazer mais bem. “Agora estás pecando como orgulhoso. Tua etapa se
há cumprido.” Vejo meu corpo morto. Já não tem chagas. É como se tivessem desaparecido. “Tua fé
te curou, diz a imagem, mas já não estás mais nesse mundo”. Ela me leva pela mão e deixo as
pessoas, afastando-me dali.
T: Que avaliação fazes dessa experiência?
R: Relaciono muito com esta vida. Ficou a imagem das pústulas nas mãos. Tomo como prova de
Deus. É algo que tenho que passar.

Apesar disso, o tema das mãos não era fácil para Roberto. Estava melhor, mas a raiva e a
impotência frente a determinadas situações reativavam a psoríase. Não era fácil lidar com as
paixões da alma. A prova está na alternância de vidas positivas e vidas nas quais tinha algum deslize
ou cometia algum abuso de poder. Pode-se vir com grandes intenções, mas enquanto o orgulho e a
soberba estiverem latentes na alma, podemos equivocar-nos e teremos que começar de novo. Vamos
seguir Roberto em sua última regressão, que é muito ilustrativa a respeito.

Quinta-feira 6 de dezembro de 1990.

Roberto: Me vejo caminhando com uma túnica branca, barba branca. Levo um cajado na mão
direita. Tenho olhar penetrante, olhos azuis. Me seguem 3 discípulos. Estou aborrecido. Sinto muita
fúria, raiva. Os discípulos estão assustados.
Terapeuta: Que é o que ocasionou tua raiva?
R: Vejo uma cabana, há uma garotinha esquartejada. Me ponho mais furioso e bravo. Isso foi feito
por um discípulo meu e ando atrás dele.
T: Segue adiante.
R: Os outros 3 que me seguem estão assustados. Estou muito furioso. Tenho vontade de destruir o
tipo que fez isso.
T: Segue.
R: É de noite e não posso encontrá-lo. É uma zona de montanhas baixas. Sabe que o estou
perseguindo. É a segunda vez que o faz. Mas não está enfermo, é perverso. Matou-a e esquatejou e
era um discípulo que eu queria muito. Como me enganou!
T: Avança ao momento em que te encontras com ele.
R: Está contra uma parede de rocha. Tem nariz aquilino, bigodes finos, sobrancelhas largas, olhos
castanhos e lábios grossos. Tem um brinco na orelha esquerda. Me olha aterrorizado e eu o insulto
em outro idioma.
T: Que idioma?
R: Não sei, não é castelhano.
T: Segue adiante.
R: Levanto o cajado e bato no corpo com toda minha raiva, mas não tenho muita força. É como se
não fizesse nada. Perco o controle e sigo batendo. Ele me tira o cajado e o quebra. Então vejo que
sai de meus olhos como uma energia e penso: “Tenho que destruir-te”.
T: Segue adiante.
R: Não sei como, mas lhe queimo as mãos (Outra vez as mãos). O tipo se revolve no chão. Então
pego uma pedra e bato na sua cabeça e ele desmaia. Aproveito e cravo no estômago a ponta do
cajado com todo peso de meu corpo. Sai o sangue. Sigo muito furioso, não me importa nada…
T: Segue, não te detenhas.
R: Sofro uma forte dor no peito pelo esforço e caio ao lado dele. Estou só com o outro, que está
morrendo ao meu lado. Me segue a fúria. Não posso permitir que esse degenerado siga fazendo o
mesmo. Toda uma vida ensinando-o o amor aos demais para que faça isso.
T: Segue.
R: Noto que minha vida escapa. Sinto uma grande paz. A raiva se transformou em paz. Me vejo
como sempre, atraído pela luz. Me aproximo dessa luz.
T: Segue.
R: Mas ao aproximar-me dessa luz sinto convulsões. Me encontro com um velhinho.

Continuando, se suscita o seguinte diálogo entre o velhinho e Roberto:

V: Alto! Para onde vais? (O velhinho também fala a Roberto)


R: Vou para a luz.
V: Não podes passar. Mataste a um irmão e antes o torturaste. Cometeste uma injustiça. A justiça
não está em ti. Foi enviado à Terra para algo superior. Te erigiste em justiceiro e tu tinhas que
ensinar a curar. Usaste a energia que re foi dada para matar uma pessoa. A teus 90 anos não podias
pegar essa pedra como fizeste. Fizeste justiça com tuas mãos. Fora! Não podes passar.
R: Estou com raiva, desconcertado. Eu sempre ia com a luz branca. Aonde vou agora?
V: Tu sabes que tens que ir purgar suas culpas. Já foste uma vez por algo menor.
T: E então, que passa?
R: Então me encontro numa zona cinzenta, com energias que passam a meu lado. Ninguém fala e eu
sinto fúria, raiva e nojo. A mesma que senti abaixo.
T: Continua, que mais?
R: Me pergunto, afinal, estou aqui sentindo o mesmo que abaixo. Uma voz me responde: “Até que
não deixe de senti-la, daqui não vais sair”. Tudo fica mais negro e estou só.
T: Segue.
R: Entro num estado de letargia nesse lugar. Há pontos brilhantes sobre o negro, como o céu de
noite. Se aproxima o velhinho que vem de novo. Por que o vejo como velhinho? Se ri.
V: Que tal, não tens mais raiva, mais fúria?
R: Não, estou confortável.
V: Muito tempo passarás aqui, até que te vás a outro lugar.
R: Que outro lugar?
V: Terias que sabê-lo, tu que eras tão evoluído ou foste. Eras orgulhoso, que acreditavas superior
aos demais. Te erigiste um Deus.
R: Mas eu fazia o bem.
V: Sim, mas não para a graça de Deus. Por dentro eras muito orgulhoso.
R: E agora escuto uma voz que me diz:
Voz: Calfaz ou Califaz. Tu tens sido preparado para uma missão, mas o farás quando tirar o orgulho
e a onipotência de dentro de ti. Gostas muito da vida. Não gostas de vir aqui.
R: Mas eu sou austero.
Voz: Não digas que eras austero. Gostas dos prazeres terrenos. Treme pelo que te passará.
R: Que me vai passar?
Voz: Aqui nada, ali, muito.
R: Que é esse muito?
Voz: Já o verás.
R: Peço perdão por haver-me equivocado.
Voz: Tu estavas preparado para outras coisas. Arruinaste o plano. Não eras uma energia comum.
Começarás de baixo de novo. Os passos serão mais curtos, dependerá de ti. Tens feito muitas vidas
e farás muitas mais.
R: Aparece uma energia dourada que me envolve e outra azul violácea que envolve a dourada. Toda
essa energia me rodeia e agora aparece uma central branca. Se misturam as 3 energias. Como se
fosse minha própria energia e agora tudo se faz puro branco.
T: Que avaliação fazes desta experiência ?
R: Não devo deixar-me levar pela fúria. Formei-me para fazer outras coisas. Por me julgar um
justiceiro, me passam as injustiças. (Em sua vida presente, Roberto havia sofrido uma grande
sequência de injustiças.)
T: Que poderias aprender disso tudo?
R: Tenho que reconhecer que me posso equivocar.

Esta foi a última regressão de Roberto. Efetuou no total 12 regressões. Suas mãos estiveram
sempre envolvidas. Às vezes fazendo o bem, outras equivocando-se, como acabamos de ver. É
notável como, quando se encontrava com o velhinho no espaço entre vidas, Roberto procurava
minimizar seus deslizes como quando disse: “Bom, para tanto não é”. Mas o velhinho conhecia
mais a Roberto do que ele mesmo se imaginava.
Queria que prestassem especial atenção à última parte, quando fala a Voz. Ali está a chave
do problema de Roberto e há além disso, um ensinamento de profundo conteúdo ético e evolutivo.
Suas mãos melhoraram, mas a psoríase não desapareceu totalmente. Parece que em seu caso,
funcionava como um sinal ou advertência para recordar-lhe seu ponto fraco. Pessoalmente, creio
que Roberto poderia haver trabalhado um pouco mais, mas há que respeitar os limites até onde uma
pessoa pode e quer chegar.
Quero acrescentar também, que em nenhum momento falamos com Roberto sobre carma. A
ideia de uma vida de reparação apareceu espontaneamente no curso da experiência, sem nenhuma
sugestão de minha parte.
Capítulo XIII
O propósito de vida

Um dos aspectos mais transcendentais do trabalho no espaço entre vidas, constitui a


possibilidade de resgatar e rever o anteprojeto ou o propósito que se traz para essa vida.
Essa experiência costuma ser esclarecedora e de vital importância, sobretudo para pessoas
que não encontram sentido para sua vida, que não sabem para que estão aqui e que se sentem
perdidas como num oceano, navegando com rumo incerto.
O trabalho em si é simples e sumamente gratificante. Não obstante, pode-se comprovar que
para alcançá-lo se requer certas condições. Se bem que seja possível contatar-se com o propósito de
vida em uma primeira regressão, isto não é habitual. Como regra geral, esse momento pode ser
recuperado para o final do processo terapêutico ou quando a pessoa tem trabalhado, em
profundidade, determinados aspectos de sua personalidade. É como se necessitasse de uma limpeza
prévia, uma purificação emocional para poder vivenciar esse momento sublime da alma. Se a
pessoa o faz por simples curiosidade, o mais provável é que não encontre nada ou que se engane a si
mesma. Pareceria que é necessária certa preparação e uma disposição especial, como se se tratasse
de uma iniciação. É um momento que requer entrega e humildade para poder reconhecer que se
vem a aprender e não a realizar sonhos de grandeza. Também existe um momento adequado para
cada pessoa em particular.
Em uma oportunidade, Raquel a quem conhecerão em sua regressão como animal, quis
buscar a resposta à pergunta clássica: “Para que estou aqui? Que tenho que fazer?”. Raquel
trabalhou bastante tempo com TVP. Essa era sua regressão número 35 e, no entanto, vejam o que
ocorreu:

Raquel: Estou num lugar cheio de livros. Há um ancião que me olha com rosto indefinido. Não me
quer mostrar os livros. Me diz que não é o momento.
Terapeuta: Como é esse ancião?
R: É uma pessoa de rosto muito doce, mas não é o momento para fazer a pergunta. Tenho que seguir
trabalhando. Me diz que não deixe de voltar, mas que esse não é o momento. É como que não seria
bom para mim. É muito astuto o velhinho. Tem um sorriso esperto. Me olha como dizendo-me:
“Para que me perguntas se tu sabes que este não é o momento?” Ele sabe, na realidade isto é por
curiosidade. No fundo, é como se não houvesse um compromisso real. É como uma atitude infantil
de querer manipular coisas que não posso. Me diz que siga trabalhando e que volte mais adiante.

Como vêem, não se pode enganar o ancião. Assim e tudo, não se desanimem. Algumas
pessoas alcançaram em sua primeira regressão. Mas recordem que é fundamental a motivação e a
humildade com que se encara essa busca e que cada pessoa tem seu momento evolutivo adequado
para fazê-la.

A experiência de Nádia

Nádia é médica e trabalha com técnicas alternativas de vanguarda, de modo que quando me
disse que queria começar o ano de 1995 fazendo uma regressão ao espaço entre vidas antes de
nascer, concordei com prazer. Agora, quero compartilhar com vocês sua experiência que é uma das
mais maravilhosas e impactantes em todos os sentidos. Pela vivência intensa de suas emoções –
impossível de reproduzir no papel – pelos ensinos que contém e pela definição clara e simples de
conceitos difíceis de compreender. Como para confirmar o que lhes dizia antes, Nádia alcançou esse
ponto logo após ter efetuado 15 regressões e quase um ano depois de sua última experiência com
vidas passadas. No momento justo e adequado para ela.
Para situá-los na atmosfera em que transcorreu essa regressão, conto-lhes que, salvo os
momentos de explosão emocional, a voz de Nádia era um sussurro apenas audível. A sessão foi
gravada e necessitei de vários dias para poder decifrá-la. Ainda assim, há uma passagem que é
totalmente ininteligível. Nem sequer Nádia pôde decifrar sua voz. Agora… tomem uma profunda
inspiração e acompanhem-me na experiência.

Domingo, 1 de janeiro de 1995.

Depois de um breve relaxamento, guiei-a para o espaço entre vidas antes de nascer, da
seguinte maneira:

Terapeuta: E agora...imagina ou sente que uma nuvem de energia luminosa vai envolvendo
lentamente todo teu corpo...Como se formasse uma aura protetora a teu redor...e lentamente, muito
lentamente, poderias imaginar que te desprendes suavemente de teu corpo...apenas uns
centímetros...um pouco mais...um pouco mais...e agora observa teu corpo protegido por uma nuvem
de energia luminosa...Tudo está bem...Teu corpo está protegido e seguro...e lentamente...começa a
elevar-te...flutuando para o espaço...afastando-se dessa cidade...afastando-se desse país...como um
globo que se solta da mão que o retém...atravessando a atmosfera terrestre...afastando-se da
Terra...elevando-te para o espaço infinito...E à medida que te afastas...a Terra se vai fazendo cada
vez mais pequena...mais pequena...até converter-se num ponto luminoso...Agora...te encontras no
espaço infinito...Toma consciência de teu pertencimento ao Universo Infinito...sentindo-te parte
desse Universo...sentindo como o Universo bate em tua centelha interior...sentindo-te uma estrela
mais no espaço infinito...Agora...nesse espaço em que te encontras podes mover-te
livremente...agora podes mover-te no espaço sem tempo...agora podes mover-te até encontrar o
ponto do espaço onde te achavas quando estavas preparando tua descida para essa existência...antes
de nascer...antes de tua concepção física...Em breve...ao contar de um a dez...te moverás através do
espaço sem tempo...para o ponto onde te encontravas antes de tomar corpo...para o ponto onde se
diagramava esta existência física...Conto até 10 e te moverás para esse ponto do tempo e do
espaço...Um...movendo-te pelo espaço sem tempo...dois...antes dessa vida...três...para o ponto onde
te encontravas antes de tua concepção...quatro...movendo-te pelo espaço sem
tempo...cinco...seis...sete...um pouco mais...oito...nove...dez...Onde te encontras? Que está
passando?
Nádia: É como se fosse uma nave...é como o interior de uma nave…
T: Segue adiante, muito bem.
N: Há muita luz...e é como que estivesse com gente que já conheci.
T: Que está passando aí?
N: Estamos recordando e ao mesmo tempo esquecendo…
T: Que mais?
N: Como se estivéssemos falando e somos todos homens…
T: Segue.
N: Mas ao mesmo tempo...tenho a sensação de que estamos deixando de ser.
T: Como é isso?
N: É muito estranho...porque o que até esse momento somos…
T: Sim?
N: É como que se dissolvesse…
T: E que é que são?
N: Me dá a sensação de ser homem...a sensação de ter feito coisas…
T: Segue.
N: Agora é como se estivéssemos num longo tubo...que dá voltas…
T: Segue.
N: Aí não rimos...nos olhamos muito seriamente…
T: Que está sucedendo?
N: Estou sentindo uma mudança…
T: Como é essa mudança?
N: Sinto que algo está se movendo...me veem ideias...conceitos…
T: Segue.
N: Como um reconhecimento vertiginoso de tudo o que fiz… e me vem como um tremor…
T: Segue.
N: E eu busco...busco no rosto deles...e a eles deve estar passando o mesmo...porque é como que
seus olhares já não olhassem...estão para dentro…
T: Quem são eles?
N: Meus companheiros…
T: Há mais alguém?
N: ...Há um ser de muita luz...muito magnânimo...um ser de muito amor e muita paz...já não nos
rimos mais…
T: Segue adiante, que está passando?
N: ...Sinto que estou entrando por uma espécie de metal muito raro…
T: Segue.
N: ...Há coisas de que não gosto...Vejo coisas de mim e que não gosto…
T: Segue.
N: Sei que estou sendo preparada para partir...e não quero partir.
T: Segue adiante.
N: Sinto como que me rodeiam...e sei que tem que ser assim...e sei que…
T: Sim?
N: Sei que estou sendo diferente...estou sendo diferente...estou mudando coisas...e sinto como que
me acompanhasse um ser…
T: Segue.
N: Tem muita luz ao redor….(O que segue é ininteligível)...Há coisas que tenho que mudar…
T: Como é esse ser?
N: É um ser de muita luz...muito magnânimo...sinto que é muito quente, que é muito protetor…
T: Segue.
N: Sinto como que apoiasse uma mão sobre meu ombro...e me deixo levar...e sinto algo muito
forte…
T: Que sentes?
N: Sinto algo no peito...Ai! Não .(Nádia começa a agitar-se progressivamente).
T: Que está passando?
N: Ahhh! Ahhh! Ahhh!Ai!
T: Que está passando?
N: Sinto que algo me atravessa! Ah!Ah!Ah!Ai!É muito forte!
T: Que coisa é?
N: É uma luz muito forte! Ah! Ah! Ah!
T: Segue adiante, não importa o que seja, segue adiante.
N: Aiii! Não vou sair como sou! Quero que me expliquem! (À medida que vai progredindo, sua
agitação é cada vez mais forte.)
T: Segue adiante.
N: Por que tenho que ser diferente? Por que? Ai! Não. Não estou acostumada com esse corpo. Não!
Não! (Agora começa chorar).
T: Segue adiante.
N: Não quero! Não! Não vou poder! Não vou poder com isso! (Entre lamentos e gemidos, começa a
percorrer seu corpo com suas mãos como se estivesse descobrindo algo novo. Primeiro apalpa seu
peito, descendo logo para seus genitais) Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! (Lentamente se vai
aproximando de seus genitais. Quando chega aí solta um alarido mescla de terror, desconforto e
desconsolo profundo e se afoga num pranto incontido) Ai! Não! Não! Não! Não! Aiiii!
T: Que ocorreu?
N: Vou nascer como uma mulher! Não estou acostumada a ser mulher! No futuro serei uma mulher!
Por que eu? Se eles seguem igual e eu não! Ai! Me dá muito medo! Ai! Que posso fazer assim? Que
posso fazer assim? Que posso fazer assim?
T: Fixa-te, para que necessitas esta experiência de ser mulher? (Logo após essa pergunta Nádia se
vai acalmando e sua voz volta a ser um sussurro.)
N: Agora entendo...como homem...tinha muito poder…
T: Sim?
N: Fui condutor...havia feito muitas coisas e não entendia porquê ia passar por isso.
T: Fixa-te, para que necessitas passar por isso?
N: Minha prova é essa. Me dizem que este é outro momento...e que agora a condução tem que ver
com a mulher...que os homens não o fizeram bem…
T: Segue adiante.
N: E me dizem que é importante que siga o que estava fazendo...mas como mulher...que confie...que
siga fazendo o que sei.
T: Segue. Que mais?
N: ...Que confie...que só muda meu corpo físico...que tudo o mai vou aprendendo...mas que minha
essência não se vai...minha essência é sempre a mesma.
T: Muito bem, avança um pouco mais.
N:...Abre-se como uma espécie de comporta…
T: Segue.
N: Há como uma espécie de corredor ou passarela, algo assim, comprido.
T: Segue.
N: Adiante estão meus amigos. Sabemos que vamos fazer uma viagem semelhante...Atrás vem
outro.
T: Segue.
N: ...E há outro em que não posso entrar, não sei porque. Fica do outro lado dessa espécie de
comporta...
T: Continua adiante.
N: Ao que vai antes de mim, junto comigo, mostram-lhe coisas semelhantes...Ao outro sei que
também, mas como que...
T: sim?
N: ...é como que o acompanha outro guia.
T: Segue.
N: Agora estamos olhando para baixo e há camas...gente que sofre...é como um hospital.
T: Que experimentas quando vês isso?
N: Me angustio. Não entendo muito bem que posso fazer com isso. Meu companheiro sim, sabe.
Ele está seguro do que tem que fazer com isso. Eu sinto que talvez seja porque sou mulher e ainda
não me acostumo com isso.
T: Segue adiante.
N: Agora nos cruzamos...estamos entrando do outro lado...e há como um lugar com muita gente...
T: Segue.
N: ...Muita gente olhando...estão esperando que digamos algo...e ele fala...diz algo...escutam-no e
eu...o único que faço é levantar os braços e as pessoas se calam e sinto que algo muito forte vibra
em todo lugar...
T: Segue.
N: Me causa muita felicidade...
T: Muito bem. Agora fixa-te, qual é o propósito para essa vida? Qual é a ideia geral ou o plano geral
para essa existência?
N: Sei que vou trabalhar com a energia...Conheço o que é isso...faz muito tempo que conheço o que
é isso...
T: Segue.
N: Agora não o vejo...também não vejo meu outro companheiro...o corredor agora é como que se
estreitou.
T: Segue.
N: Somente...somente me acompanha esse ser de luz...
T: Segue.
N: Me quer mostrar algo que não quero olhar...
T: Que é que não queres olhar?
N: Não! Não quero! Não quero ver! Não quero ver isso!
T: Que está passando? Que é que não queres ver?
N: Há um homem e uma mulher que estão juntos. Me dão medo!
T: Quem são esse homem e essa mulher?
N: Não sei quem são. Mas agora sinto pressões e forças dentro de mim. É algo parecido a quando
estava lá dentro.
T: Segue. Que está passando?
N: Sinto tensões...sinto como que algo se arranca dentro de mim...como algo que se partisse...Não
quero! (Nádia grita ao mesmo tempo que se contorce e geme e seu rosto toma uma cor roxa pelo
esforço). Não! Não! Não! Nnnn! Aaaaiii! Nnnn! Aaahhh! (Um suspiro longo e pouco a pouco os
gemidos vão diminuindo e Nádia vai se tranquilizando.)
T: Onde te encontras agora?
N: (Mais tranquila) É algo macio...quentinho...Me custou muito entrar...custou muito entrar...
T: Segue.
N: Como que eu fosse muito maior.
T: Onde te encontras?
N: Estou dentro dessa mulher. Que vai ser de mim agora?
T: Que está passando?
N: É uma mulher que não sabe...não sabe porque estou aí...Quero ir-me! Quero ir-me! Quero sair
daqui! Não estou segura aqui! Quero ir-me mas não posso...
T: Fixa-te, para que necessitas estar com essas pessoas?
N: Já sei...já sei...já sei! Mas me dá medo. Eles têm que ter-me. Não quero! Eles são responsáveis
pela minha morte. Eles têm que ter-me.
T: Que passou?
N: Me mataram! Me mataram uma vez e vão fazer de novo! (Aqui rompe a chorar
desconsoladamente).
T: Segue.
N: Me dá medo, porque agora estão pensando novamente em matar-me.(Continua chorando, por
momentos seu murmúrio é ininteligível.) Não quero! Não quero! Quero ir-me daqui. Não quero! Ai!
Ai!Ai! Aaahhh! Aí vem! Aí vem!
T: Quem vem?
N: Meu mestre, meu mestre de luz. Me acaricia...me reconforta...me diz que fique tranquila...que
tudo vai sair bem...
T: Fixa-te, para que te vai servir a experiência de ter esses pais?
N: O mestre me diz que eles vão poder limpar coisas. Que necessitam evoluir e que eu...
T: Sim?
N: ...É para que aprenda o desapego...
T: Que mais?
N: Me diz que necessito partir logo...que depois vou compreender mais...me diz que...que não
julgue...
T: Segue.
N: Que não fale do bem e do mal...que simplesmente...
T: Que mais te disse?
N: Que se parece com esse medo que tive quando me dei conta de que não era homem, porque não
estava acostumada...me diz que confie...peço que me acompanhe...que não me deixe só...e me diz
que sempre estará comigo...e eu sinto que tenho que me entregar.
T: Agora fixa-te, há algo pendente de outra vida que tenhas que resolver?
N: Quando me mostraram esse lugar, que eu olhava desde uma passarela...me mostraram esse lugar
de gente sofredora...esse hospital...
T: Sim?
N: Eu não sabia o que fazer...havia gente intoxicada...havia gente machucada, com feridas e a mim
tudo isso me produziu uma sensação muito feia…
T: Segue.
N: Isso me fez recordar de outras coisas de muito tempo atrás...de outros tempos...de outras
feridas...de outros lugares...de gente que morreu envenenada por coisas que preparei...em outros
tempos. Também tenho que resolver isso…
T: E como pensas resolvê-lo?
N: O mestre me disse que há muitas formas...disse que me deixe levar...que vou encontrar outro
modo...Disse que não necessito suturar feridas para me justificar...nem necessito fabricar outras
drogas...mas que necessito também estar aí.
T: E qual é a lição mais difícil que vens aprender nessa vida?
N: É poder contactar-me com cada ser humano, deixar o melhor e partir. E permitir que também
eles partam quando tenham que fazê-lo e não agarrar-me a nada nem a ninguém...
T: E para que te vai servir o desapego?
N: ...Para poder ter limpo esse caminho para transitar...Tenho que estar sempre pronta a partir.
T: Agora fixa-te, que condições te oferece este planeta e este país em particular?
N: A necessidade de estar aqui...os grandes desenraizamentos estão aqui...em outros lugares não há
enraizamentos, não existe sequer essa palavra.
T: Muito bem. Agora avança ao momento de teu nascimento. Podes vê-lo desde fora. Simplesmente
observa como chegas ao mundo, como entras na vida.
N: Ah! Que pressa! Que pressa tenho para sair! Quase caio no chão! Graças a meu mestre que
estava aí, me agarrou essa mulher. Já não me aguentava dentro. Houve um momento em que senti
que tremia toda.
T: E qual é tua atitude ao sair ao mundo?
N: Gostei. Essa mulher me salvou.
T: Fixa-te, como se relaciona tua forma de nascer com tua vida atual?
N: Nos momentos difíceis sempre há alguém do mundo que me recebe em seus braços e me
protege. Sempre está meu mestre.
T: E como é teu mestre?
N: É muito grande, muito brilhante. Tão grande que te poderia chegar a dizer que nunca vejo sua
cabeça e seus pés, se é que os tem.
T: Muito bem. Agora que chegou até aqui, observa se estás no caminho correto ou se te desviou em
algum momento.
N: Durante muito tempo transitei sem saber...Era como que se me saía um pouco, me voltavam a
ajudar a entrar. Mas durante muito tempo não tinha muito claro que esse era o caminho. Buscava-o
e não sabia onde ir...quando era pequena...quando era adolescente. Mas sempre houve algo que me
levou novamente. Nunca me demorei muito tempo fora do caminho. Saía como a olhar as
veredas...e voltava.
T: Fixa-te o que tem alcançado daquilo que estava programado antes de nascer, e que coisa te falta
realizar ainda.
N: Agora estou fazendo o que tenho que fazer, mas me falta muito...muito…
T: Que é que te falta?
N: Me falta animar-me a abrir-me mais ao mundo. Me dá medo ser muito conhecida e essa é uma
das coisas para que estou aqui. Tenho que desenraizar-me mais e isso também me dá medo.
T: Há algo que queiras modificar do projeto original? Agora podes revê-lo e modificá-lo e melhorá-
lo se quiseres.
N: Quero estar acompanhada em meu caminho. Não quero que seja uma caminho solitário…
T: Sim?
N: E tenho medo do desapego que funciona tão fortemente em mim. Tenho medo de que esse
desapego me leve à solidão. Quero poder fazer o que tenho que fazer, mas não sozinha.
T: Revê então o conceito de desapego e fixa-te se o desapego implica a solidão.
N: O desapego tem a ver com o crescimento. Todos os seres humanos nascemos para seguir um
crescimento que é próprio e que conflui na essência de todos os crescimentos individuais.
T: Há algo aí que diga que o desapego vai junto com a solidão?
N: Não, mas disse que é individual. Significa a companhia adequada no momento adequado, até
que volte a partir.
T: Há algo que queiras perguntar a teu mestre? Agora podes fazê-lo?
N: Sim...(Silêncio prolongado)
T:Adiante.
N: Perguntei-lhe se tinha que ver com o desapego o fato de que tivesse um só filho, e me disse que
os filhos são o mesmo. São no momento adequado e na situação adequada; e que os filhos tem que
ver com a mesma confluência com que se encontra uma alma com outra alma e que, se esse filho é
bom para mim, como parte de meu crescimento, e também tem que ver com a outra pessoa, será, e
se não, não. Mas me disse que tenho um filho mais, que não me faça problema, que não pense mais
nisso. Disse que será no momento adequado e a situação adequada. Que confie...que confie no
plano.
T: Há algo mais que queiras perguntar ou acrescentar/
N: Não.
T: Enão, nesse espaço em que te encontras, te irás movendo, lentamente, para regressar aqui, a este
lugar onde se encontra teu corpo. Escolhe uma cor de teu agrado para envolver-te e rodear-te com
sua energia.
N: Violeta.
T: Muito bem. Envolve-te então na cor violeta, absorvendo a energia vibratória da cor violeta. E ao
regressar trarás contigo todo o conhecimento positivo que tenha adquirido nessa experiência.
Recuperando o aprendizado e a segurança de que sempre estarás acompanhada por teu mestre.
Lentamente, envolta na cor violeta, empreenderás o regresso a esse planeta. Pouco a pouco verás
esse ponto luminoso que é a Terra, que começa a aproximar-se e se fazer cada vez maior.
Aproximando-se da Terra, entrando na atmosfera terrestre, conservando claramente o aprendizado e
a plenitude desta experiência. Voltando a esse país, à Argentina, a esta cidade de Buenos Aires, a
esse lugar onde está teu corpo, protegido pela energia. Lentamente, a teu tempo irás tomando
consciência de teu corpo físico, respirando profundamente e quando desejares, abrirás os olhos e
isso fará que regresses aqui, à tua consciência física habitual, neste domingo, primeiro de janeiro de
1995. Sentindo-te bem, profundamente bem.

Ao incorporar-se, Nádia exclamou:


-Que aterrissagem forçada. Vinha a uma velocidade impressionante e quando atravessei a
atmosfera, senti que já estava na rua Cabildo e me veio uma coceira impressionante em todo o
corpo. Me veio como uma alergia. Terá que ver minha alergia com a atmosfera terrestre?
-Do que te deste conta com essa experiência -perguntei-lhe.
-O que mais me impressionou foi atravessar as energias. Sentia que me doía muitíssimo.
Atravessar esse espaço, por exemplo, até chegar ao que seria o corpo físico de minha mãe.
Atravessar o corpo de minha mãe.
-Como era essa sensação?
-Eu era demasiado grande e me doeu muitíssimo. Sentia dores físicas, tensões, como se me
esticassem. Como se rompesse algo. Me impressionou muito. E vi a vós.
-A mim? – perguntei surpreso.
-Sim. Tu estavas diante de mim. Compreendeste muito bem o que tinha que fazer. Eu não.
Osvaldo era outro companheiro que vinha contigo. (Osvaldo é seu mestre em temas espirituais). E
mais atrás ficou Raul (um amigo). Ele foi o que ficou atrás da comporta e não pôde entrar. Osvaldo
não entrou na parte do hospital. Ficou na parte da energia. Eu tinha um mestre que era mais
masculino. O de vocês era uma energia mais feminina com uma atitude mais maternal. Me pareceu
que podia ser a Virgem. Era como se eu pensasse nada mais e eles me respondessem. Quando me
encontrei só indo por esse corredor, me assustei um pouco. Não sentia que vocês vinham. Mas eles
me diziam que sim, que já os iria encontrar. Quando estávamos nessa espécie de passarela, de onde
olhávamos para baixo, o que aceitou mais rapidamente foi Osvaldo, como ele entendeu em seguida.
Eu, mais que nada, me dei conta de que não passava por uma coisa de entendimento. Era algo que
tinha que ver com a energia. Tu pudeste dar explicações a isso. Já depois daí perdi vocês. Me
mostraram meus pais e isso me angustiou muitíssimo. Também me dei conta de porque não queria
que fossem eles. Nesse trabalho pude ver mais claro o tema do hospital. Recordei a regressão que
tive quando fui médico nessa campanha de guerra e me dei conta de que não queria fazer isso. Não
queria mais remover balas, operar e todas essas coisas. E o tema da farmacologia unida a isso. Em
seguida me apareceu essa recordação de alquimista(outra regressão). Meu primeiro obstáculo em
medicina foi quando comecei a cursar farmacologia. Cada vez que começava a estudar fármaco, me
prendia uma coisa de medo, de angústia, de querer fugir, de não querer desistir. A maioria das vezes
tive que ver com não querer apresentar-me. E aí também vi isso. (Conto-lhes que Nádia, finalmente
adotou a farmacologia e se formou médica, após trabalhar esse medo na TVP).
-Algo mais que queiras comentar/
-Quando estava nessa espécie de passarela, havia uma varanda da qual olhava para baixo.
Via camas de hospital, com cabeceiras em forma de arcada e grades de ferro e até vi as colchas que
tinham um quadriculado, brancas. Também havia momentos nos quais sentia que me falavam.
Agora não posso recordar o que disse nesses momentos. Me ocorre outra coisa.
-Que te ocorre?
-Foi terrível quando me dei conta de que ia ser mulher. Até esse momento me sentia homem.
Me pergunto se a sensação de castração que tem algumas mulheres não terá que ver com o fato de
ter sido homens em outra vida. Eu senti que não estava acostumada a ser mulher.
Vejam quantas coisas mais ocorreram nessa regressão ao espaço entre vidas antes de nascer.
Na realidade a vivência do paciente é muito mais rica do que o terapeuta possa imaginar. O que a
pessoa alcança a relatar em qualquer regressão é apenas uma parte de tudo o que está vivenciando.
Com respeito à experiência de Nádia, em princípio há 2 grandes aspectos a ter em conta. Por
um lado está a face técnica da condução. Por outro, o conteúdo em si mesmo.
Quanto à condução, o importante é que se efetue de tal maneira que a experiência seja o
mais espontânea possível, sem interferências por parte do terapeuta. No início tudo o que fiz foi
guiar Nádia até chegar ao espaço entre vidas. Como fez Rochas com Mireille no exemplo da torre,
lembram-se? A partir daí, a experiência foi sua. Minha participação se limitou fundamentalmente a
acompanhá-la e estimulá-la a seguir adiante. Só para o final lhe pedi que fosse ao momento de seu
nascimento para completar a experiência.
Logo aparecem as perguntas chaves, para que Nádia extraísse o conhecimento positivo de
sua vivência. Essas perguntas são indispensáveis porque do contrário muitas coisas se perderiam.
Observem, por exemplo como muda o ânimo de Nádia quando lhe pergunto para que vai servir a
experiência de ser mulher. Para ela foi doloroso descobrir que não ia ser homem. No entanto,
apenas formulei a pergunta começou a acalmar-se, porque soube para que necessitava dessa prova e
imediatamente compreendeu que era parte de sua evolução. O mesmo sucedeu quando descobriu
quem seriam seus pais. Não se trata de perguntar qualquer coisa para satisfazer a curiosidade do
terapeuta. Todas as perguntas são formuladas com o firme propósito de que o paciente obtenha a
informação necessária para compreender e aproveitar melhor suas circunstâncias atuais.
Com toda segurança, o mais importante dessa experiência está em seu conteúdo. Um
conteúdo cheio de ensinamentos e de implicações para refletir. Por exemplo a relação cármica com
os pais e a negativa e a recusa de Nádia para entrar no ventre. Por muito evoluído que alguém
acredite ser, há coisas de que não gostamos e, no entanto, não outra opção senão fazê-las. Nádia
tinha suas disciplinas pendentes e uma vez mais aparece espontaneamente a ideia de reparação,
quando seu mestre lhe diz que não necessita costurar feridas para corrigir-se de seus erros passados.
É interessante também o acionar de seu guia, presente todo o tempo, até o instante de seu
nascimento.
Um dos momentos mais reveladores, a meu juízo, é quando lhe pergunto qual é a lição mais
difícil que veio aprender, e Nádia me responde dizendo que é o desapego. Desde muito tempo que
escuto falar o desapego. Mas confesso que nunca compreendi de forma tão clara, tão simples e tão
profunda como fez Nádia com sua definição. O notável é que após a experiência Nádia não
recordava do que havia dito do desapego e se surpreendeu muitíssimo quando uns dias depois li sua
definição. Segundo Nádia, alguém lhe falava e ela simplesmente repetia o que lhe diziam.
Ainda que esse não fosse o caso, quero dizer-lhes que é possível rever o anteprojeto de vida
e modificá-lo ou trocá-lo se se dá conta de que se equivocou ao fazer o plano. Nádia foi assistida
por seu mestre, mas nem sempre ocorre assim. Alguns seres passam de uma vida a outra quase sem
dar-se conta, levados pelo influxo de suas paixões. Se uma pessoa descobre que elaborou um plano
de vida influenciada pela força de uma culpa ou de um rancor, pode modificá-lo se toma
consciência de como essa decisão está afetando sua vida cotidiana. E não há nenhuma transgressão
nisto. Recordem que a sabedoria apaga o carma e que Deus só quer nosso bem. Quanto antes nos
dermos conta, melhor.
Seguramente há muitas coisas mais para comentar dessa experiência. Mas vou deixar esse
trabalho para vocês. É muito mais estimulante e não quero privá-los do prazer de descobri-lo por
vocês mesmos. Toda a experiência de Nádia é um ensinamento. A mim, o que mais me fez refletir
foi a definição de desapego. A vocês, que foi que mais os comoveu?
Me esquecia de uma coisa. Nádia disse que lá acima me viu a mim e a outos amigos.
Costuma acontecer. Uma evidência mais de que os encontros aqui abaixo não são casuais.(*)

(*)”Todo encontro casual, uma reunião”- Jorge Luis Borges

Capítulo XIV
A vida fetal

No curso de uma terapia de vidas passadas é fundamental trabalhar a etapa da vida


intrauterina e o nascimento. Em algumas ocasiões o problema da pessoa se resolverá tão somente
trabalhando essa sequência. Aqui é onde as recordações, os mandamentos, os padrões de conduta,
os medos e as crenças de vidas passadas, são reativadas e reforçados. O feto escuta, sente, se
emociona, memoriza e aprende no ventre da mãe. A vida intrauterina é o período mais longo de
nossa vida onde o subconsciente reina de forma absoluta. Tudo fica gravado sem discriminação
possível. Tudo o que ocorre à mãe nessa etapa, incidirá no feto. Se não é desejado, sentirá rejeição.
Se a mãe pensou em abortar, ainda que logo não o faça, sentirá rejeição e medo da morte. As
dificuldades do cônjuge, as limitações econômicas, os conflitos familiares ou sociais deixarão sua
impressão no subconsciente fetal. Os medos e angústias da mãe são experimentados pelo feto como
próprios. O feto não discrimina; o que sente a mãe, ele sente. Se a mãe sente dor, sentirá dor. Se a
mãe é rejeitada pelo cônjuge ou sua família, sentirá o abandono. Mas além do mais, pode sentir a
presença ou ausência do pai e até perceber os pensamentos e emoções deste. Sabe se seu pai o
deseja ou o rejeita, se espera um menino ou menina, como já temos visto na história de Aída.
O dr. Thomas Verny tem feito e recompilado investigações científicas que demonstram o
comportamento e as reações do feto, dentro do ventre materno.(1) Este é um período que deve ser
investigado durante a regressão, para desprogramar a pessoa de todos os medos e emoções que a
tenham marcado. Muitas depressões da vida adulta tem sua origem na vida fetal. A ansiedade, a
insegurança e os medos da mãe põem em perigo o desenvolvimento de um Eu forte. Pelo contrário,
uma mãe segura de si mesma e de seu amor para seu bebê tem o poder de apagar ou suavizar as
experiências traumáticas de vidas passadas.
Trabalhando esse período, a pessoa pode discriminar suas emoções das de sua mãe. Às vezes
o só fato de tomar consciência que a emoção que está experimentando não é sua, senão que pertence
à mãe, pode ser suficiente para desprender-se dela.
O momento do nascimento é o instante culminante da vida fetal. Chegou a hora de sair e de
encontrar-se com esses pais e com o mundo. O nascimento pode chegar a ser a situação mais
traumática na vida de uma pessoa. Para a maioria é mais fácil morrer que nascer. Morrer significa
terminar, libertar-se. Nascer implica começar de novo, assumir responsabilidades, resolver os
assuntos pendentes.
O trauma do nascimento está associado às impressões de vidas passadas e do período pré-
natal, que se reativam nesse momento. Mas além de sua carga emocional própria, no instante de
nascer o novo ser pode encontrar-se com o medo, a insegurança ou o pânico da mãe e um mundo
hostil povoado por pessoas desconhecidas, uso de drogas, manobras de reanimação, luzes, oxigênio,
circulares de cordão, tudo misturado com os ruídos do instrumental, chistes e comentários do
pessoal médico e enfermeiras. O trauma do nascimento pode marcar tanto uma pessoa, que muitos
pacientes descobrem que em sua vida reagem da mesma maneira como fizeram no momento de
nascer.
Como regra geral, as situações da vida fetal e do nascimento reativam as emoções do
passado, reatualizando o conflito. Quase todas as histórias seguem esse padrão. Mais ainda, um
episódio de vida passada pode permanecer latente e não objetivar-se em sintomas ou emoções se
não houver um incidente pontual que o desperte. Uma fobia, que se manifesta tardiamente (como no
caso de Luísa, aos 50 anos) é um exemplo.
Mas, à medida que fui ampliando a experiência, comecei a perguntar-me: os traumas da vida
fetal, do nascimento e da primeira infância reativam a memória do passado por casualidade, ou
acaso, essas situações são preparadas de antemão, para resolver justamente as questões pendentes
ou aprender algo em particular?
As experiências de muitos pacientes, que se deram conta de que necessitavam de situações
difíceis ou pais conflituosos para realizar um determinado aprendizado, parecem sugerir a segunda
hipótese. Em definitivo, o resultado é o mesmo: a reativação das emoções do passado; mas além do
mais pareceria que há uma intencionalidade prévia à concepção para que isso ocorra assim. Estou
convencido de que as circunstâncias que rodeiam uma pessoa, a carga genética familiar, a
personalidade dos pais e irmãos, o ambiente social, o país e o meio social em que se desenvolve,
não são mais que um cenário para que ela desenvolva o papel que veio representar. Na realidade,
toda essa cenografia o que faz é facilitar que se expressem determinados aspectos ou qualidades do
indivíduo e impedir ou limitar a manifestação de outros, que talvez seriam nocivos para sua
evolução. Tal poderia ser o caso de Roberto e suas mãos.
Feita essa digressão, vamos ver agora como trabalhar esse período apaixonante de nossa
existência.
A vida intrauterina pode ser trabalhada de várias maneiras. A sequência clássica é faz~e-lo
logo após a experiência de vida passada. Se se está trabalhando uma fobia, recordem que a regra é
fazê-lo na mesma sessão. Em algumas ocasiões o paciente pode começar espontaneamente na vida
fetal, logo ir a uma vida passada e voltar uma vez mais ao nascimento. Todas as variantes são
válidas. Também se pode trabalhar a vida fetal de forma exclusiva, o que nos permite explorar mais
detalhes. Isto é o que vamos comprovar agora, com as histórias que seguem.

Uma mãe dormindo e um ouvido que não funciona

César é um colega de 35 anos, com uma relação muito conflituosa com sua mãe, sem
diálogo possível. O motivo original de sua consulta era uma surdez muito particular, já que
habitualmente se manifestava em situações de stress ou de agressão. Durava uma semana e logo se
recuperava no término de outra semana.
Trabalhando na terapia, César se deu conta de que a surdez ele a manipulava ele próprio e
que na realidade havia coisas que não queria escutar como, por exemplo, que não o queriam. Frente
a situações que lhe desagradavam, reagia de 2 maneiras: ou bem agressivamente ou bem com a
surdez. À medida que foi progredindo com a TVP, se fez evidente que tinha que resolver o conflito
com sua mãe.
César tinha dificuldades para vivenciar episódios de outras vidas. No entanto ao trabalhar a
vida fetal, eu mesmo me surpreendi com a facilidade com que surgiram essas vivências, que
acenderam uma luz de compreensão nessa situação. Quero dizer, também que essa experiência não
foi sugerida. Pedi que fosse ao início do conflito com sua mãe e então me respondeu assim:

Quinta-feira 14 de maio de 1992.

C: O inconsciente me diz que a relação começou nesta vida.


T: Então, ao contar até 3, veja o ventre de tua madre, no primeiro trimestre de tua vida intrauterina.
Um...dois...três...
C: Estou cômodo, mamãe está contente, vejo-a linda e jovem.
T: E tu, como te encontras?
C: Estou tomando consciência de que estou num lugar novo, sabendo que ela sabe que estou aí.
T; E teu pai?
C: Não o vejo.
T: Que tempo tens aí?
C: Três meses.
T: Avança um pouco até o quarto mês. Que está sentindo?
C: Meu corpo está maior, percebo o calor. Às vezes vejo luzes...
T: Como está tua mãe?
C: Está brigando, não sei com quem, mas está aborrecida.
T: E tu, que sentes?
C: Sinto surpresa. Depois de gritar, chora e eu sinto essa mudança. É como se houvesse quebrado
algo. É como que o amor que me estava dando me deixasse de dar.
T: E que sentes nesses momentos?
C: Me sinto só. (Vejam como já, tão cedo, César sente-se afetado pelo que ocorre com sua mãe).
T: E teu pai?
C: Não o sinto, não sei se existe.
T: Avança agora ao quinto mês, que está passando?
C: Me vejo maior, me movo como quero.
T: Como está tua mãe? (Permanentemente há que buscar o ponto de conflito).
C: Sinto ambivalência. (Atenção!)
T: Que está passando?
C: Mamãe se acaricia o ventre e pensa se não serei eu o culpado da infelicidade que sente. Agora
está reconsiderando que não tenho nada que ver se tem desavença com meu pai. (O que dissemos no
princípio. O feto sente e percebe até os pensamentos da mãe.)
T: Que sentes nesses momentos?
C: Sinto que está se aproximando outra vez de mim.
T: E teu pai?
C: Como que está apalpando a barriga de minha mãe (Aparece o pai na cena.)
T: E que sentes com isso?
C: Sinto que há alguém mais com minha mãe.
T: Avança até o sexto mês, que estás experimentando?
C: Me vejo maior, me posso mover, mas já não tenho tanto espaço.
T: Segue, que mais?
C: É como que analiso o que passou no quarto mês.
T: E qual é tua reação com o que passou no quarto mês?
C: Não posso perdoá-la. (Aí está! Começa a aclarar-se a situação atual.)
T: Segue. Que mais?
C: Creio que minha mãe me quer, mas algo se rompeu. É como que em um momento duvidou de
mim.
T: Agora fixa-te como te está afetando isso.
C: Tenho que perdoar a mim mesmo antes de perdoá-la.
T: Que é que necessitas perdoar-te?
C: O não ser tão perfeito, e que ela tampouco seja perfeita, como eu acreditava (A exigência de sua
vida atual).
T: Muito bem, avança agora ao sétimo mês. Que estás sentindo?
C: Tem medo, está atemorizada, sabe que falta pouco para o nascimento. Percebo que algo está
passando.
T: Que é que percebes?
C: Noto meu crescimento, sei que vou nascer e sinto seu medo.
T: E isso como te afeta?
C: Estou atento, trato de escutar coisas. Reconheço a voz dela, a voz de meu pai...estou atento
esperando sons que são familiares.
T: Que sons?
C: O timbre, o telefone. Não há brigas, mas há gente que a quer e gente que não a quer. Ela sabe.
T: Como é isso?
C: Há gente que não a perdoa que tenha engravidado. Minha avó e meu tio. Ele tinha que ter tido o
primeiro filho e minha mãe se adiantou.
T: E como te afeta essa situação?
C: Me ponho na defensiva. Posso perceber sentimentos. Posso ver o que há por trás do que dizem.
Sinto as vibrações. Sinto se são sinceras ou não. Não entendo mas sinto. (Observem o poder de
percepção que pode ter o feto).
T: Segue. Que mais?
C: Minha mãe se dá conta de que sua felicidade causa infelicidade a outra gente e cobre a barriga, a
esconde. É como se eu fosse o culpado disso.
T: E teu pai?
C: Papai está contente mas sabe que seu irmão mais velho está triste e não lhe permite desfrutar a
gravidez. Mas meu avô está contente. Ele separa as coisas, é mais sábio, mais inteligente. Mamãe
duvida, tem medo de que a gravidez a separe de meu pai e ele sabe que com a gravidez está
magoando o irmão.
T: Avança agora ao oitavo mês.
C: Mamãe já não está assustada, sabe que as coisas vão bem, sabe que não vai sofrer. Vai dormir.
T: E teu pai?
C: Está ansioso, quer ver-me, saber quem sou.
T: E tu, que sentes?
C: Me sinto com vontade de sair, sabendo que falta muito pouco. Me dou conta de que vou
encontrar com coisas lindas e feias. É como que já as conhecesse.
T: Que é o que conheces?
C: É como que já conhecesse esses sentimentos: a inveja, o ódio, a falsidade, a hipocrisia.
T: E que sentes com isto?
C: Não os entendo.
T: Avança agora ao nono mês.
C: Estou de cabeça para baixo, vejo tudo nessa posição. Não me posso mover, sinto que a cabeça
está apoiada em algo meio duro. Como se fosse uma almofada dura.
T: Como está tua mãe?
C: Está se arrumando para ir à clínica.
T: E teu pai?
C: Está ansioso. Já não pode esperar o momento de ver-me.
T: Até aqui, qual foi o momento mais difícil de tua vida fetal?
C: Quando minha mãe duvidou de mim. É como se eu tivesse sido a causa da infelicidade que
sentiu nesses momentos.
T: Fixa-te que sentimentos, que sensações, que pensamentos te vêm nesses momentos (Naquela
época trabalhava assim. Mais tarde comecei a perguntar pelas reações).
C: Senti que me abandonava. Era como que o cordão umbilical estava frio e não chegava calor.
(Vejam tudo o que pode ocorrer por um momento de dúvida.)
T: E como se relaciona isso com tua vida atual?
C: É a negação; não funciona o ouvido. (Aí está o motivo original de consulta.) É como um sinal de
que algo está mal. Como uma luz que se acende no painel do automóvel.
T: E agora, o que pensas disso?
C: Talvez tenha chegado o momento de resolver conflitos antigos. Defeitos que via em meus pais,
vejo-os em mim.
T: E então?
C: Tenho que aprender a dizer: bom, sou um ser humano, eu também posso me equivocar, então vou
poder perdoar os outros. Agora sei que não sou perfeito.
T: Poderias perdoar-te agora?
C: Me dou conta de que não necessito perdoar. O importante era compreendê-lo e agora sim posso
compreendê-lo (Vejam como tudo se vai ordenando espontaneamente).
T: Muito bem, avança agora ao momento de teu nascimento.
C: Sinto que tudo se move, como se algo vai estourar. Sinto como que vou ser expulso. Sinto que
fazem força...que me vou movendo...me vou acomodando. Sinto que saio para um lugar frio, com
luz...choro...me separam de minha mãe…
T: Segue, não te detenhas.
C: Há pessoas contentes, mas tenho frio. Há gente que o toma como trabalho. (Que tal?) Sinto que
estou num lugar frio, frio como mármore. Me lavam, me limpam! Quero que parem! Logo me
agarram, me abraçam, mas não é minha mãe.
T: Onde está tua mãe?
C: Minha mãe ficou aí, está dormindo.
T: Que sentes nesse momento?
C: Me sinto desprotegido, como que me separam dela. Agora, desde meu ponto de vista atual, vejo
que se perdeu a felicidade do parto. É algo que dói, mas é maravilhoso ver o filho chorando. Tudo
isso se perdeu. Se perdeu de ver-me.
T: E isso, como influenciou em tua vida?
C: Não sabe que existiu. Haveria enriquecido. Papai também não estava. É algo que não se teria
esquecido nunca. É algo muito grande. É como o final de um filme. (Vejam quantas coisas podem
suceder no momento do nascimento que nem sequer suspeitamos).
T: Segue um pouco mais.
C: Me levam a um lugar onde olham de fora. Me apontam com o dedo. Meu avô está contente. O
primeiro neto homem. Meu tio teria preferido que fosse mulher. Não lhe haveria doído tanto. Meu
pai está tão contente que não consegue ver o que eu percebo. Minha avó paterna sabe que o filho
mais velho sofre. Minha avó materna sabe que tem que proteger minha mãe e a mim (Tomem nota
de tudo que pode registrar um recém-nascido. Depois se perguntam porque será que uma criança
prefere ou rejeita determinados membros da família).
T: E tua mãe?
C: Minha mãe ainda está se recuperando.
T: Avança ao momento de teu primeiro encontro com tua mãe.
C: Me abraça, está contente.
T; Isso é. Sente esse abraço, isto é importante para ti.
C: Sim, me dou conta de que é ela. Sinto que é minha mãe. Agora sei que é ela. (Como se darão
conta, não se pode enganar um bebê.)
T: Qual foi o momento mais difícil de teu nascimento?
C: Quando me separaram de minha mãe.
T: Quais são tuas sensações e sentimentos nesse momento?
C: Que minha mãe não me vê. Está dormindo, não me escuta. Não sabe que nasci. A todo mundo
provoquei algo. A ela não. Todos sabem que nasci, menos ela.
T: E qual a sensação dominante desse momento que está afetando tua vida atual?
C: Como que lhe sou totalmente indiferente (Ali está o resumo do conflito.)
T: Poderias modificar isto agora?
C: Agora sei que estava dormindo. Sinto que há outras coisas que passaram em minha infância. Dói
aceitar que alguém pode chegar a ser causa de infelicidade de outra pessoa. De alguma maneira
incomodei ou machuquei. Não posso pretender que todos gostem de mim.
T: Que podes aprender à luz dessa experiência?
C: Sinto que estou crescendo. Agora sou maior que meus pais quando eles cometeram esses erros.
Sinto que se avizinha uma grande mudança.

Como corolário de seu trabalho, César pode falar com sua mãe. Levou um tempo para poder
fazê-lo, mas 6 semanas depois desta regressão, entrou exultante no consultório.
-Tenho novidades importantes – disse. Falei com minha mãe. Creio que foi um “golaço”. A
compreendi, nos pusemos a conversar. Minha mãe me disse; “Que raro, nunca vens falar comigo”.
Eu não animava a dizer-lhe que gostava dela. Estava muito emocionado. De repente, lhe disse: “Tu
sabes para que vim?” Não, me respondeu. E então lhe disse: “Vim para dizer-te que te amo.”
Me abraçou e me deu um beijo. Se colocou muito contente. Já antes de falar me dei conta de
tudo o que sentia por ela. Depois me dei conta de que me sentia muito bem e que ela me ama. Estou
mudando e a surdez também está mudando. Até estou me escutando a mim mesmo.

A rebeldia de Rosaura
Rosaura tinha 35 anos quando me consultou por seu estado depressivo, sua tendência suicida
e a frustração reiterada com parceiros mais velhos que nunca chegavam a um bom termo. No
transcurso da terapia se pôs em evidência seu medo à solidão, sua insegurança, sua profunda
rebeldia e o conflito com seus pais. Sabia que seu nascimento não havia sido fácil e que havia
nascido com 2 voltas do cordão umbilical.
Em uma vida anterior havia se suicidado disparando-se um tiro na cabeça. Já havia
trabalhado a vida fetal em 2 oportunidades, mas eu intuía que ainda ficaram coisas por resolver aí.
Rosaura estava modificando sua vida paulatinamente, mas a rebeldia ainda era muito forte nela.
Trabalhando essa rebeldia, foi como Rosaura fez esta experiência, que começa antes de sua
concepção e culmina com seu nascimento.

Quarta-feira 9 de outubro de 1991.

T: ...e ao contar de um a dez, retrocederás ao momento prévio a tua concepção, ao momento em que
conheces teus pais. Conto até 10 e à medida que vá contando, te irás movendo para esse ponto do
tempo e do espaço...Um...dois...três...movendo-te para o instante prévio a tua
concepção...quatro...cinco...seis...retrocedendo um pouco mais...ste...oito...nove...dez...Que estás
vendo, ouvindo ou sentindo?
R: Vejo a casa de minha mãe e meu pai e que me apresentam. Ela está sorridente e contente, ele,
mais ou menos.
T: Que mais?
R: Mas estou cansada e não tenho vontade de ir. Ainda necessito de tempo, mas o tempo se acaba e
tenho que baixar.
T: Estás só ou acompanhada?
R: Estou numa nebulosa, só, mas bem. Uma voz me disse que tinha que nascer. Como uma ordem.
T: Como te impressionam teus pais?
R: Quando me apresentavam senti que minha mãe queria agarrar-se a mim. Está só.
T: E que sentes ante isso?
R: Rejeito. Tenho que começar uma vida nova e preferiria ficar aqui em cima.
T; Que pensas nesses momentos?
R: Nenhum dos dois está preparado para ter um filho e eu não estou preparada para ter pais (Vejam
que dilema.)
T: Que te leva a ter esses pais e voltar para Terra.
R: Tenho que fazer coisas.
T: Que coisas?
R: Muito bem não o sei.
T: Fixa-te, qual seria a ideia geral?
R: Sabes que tenho raiva por descer! Não o quero, ademais em outra vida me matei e posso chegar a
fazer outra vez. Tenho que lutar com isso e não sei se vou poder. Além do mais tenho pais que não
me vão entender…
T: E que é o que te empurra a descer?
R: O tempo terminou e tenho que descer. Não posso estar aqui acima muito tempo. Tenho que
resolver coisas minhas. Mas essa vida me vai resultar muito difícil. Tenho que resolver muitas
coisas.
T: Procura resgatar o que tens que resolver.
R: Tenho que amadurecer. Tenho que sair adiante sozinha. Há momentos em que me aterroriza a
ideia, mas se não conserto nesta, tenho que consertar em outra.
T: Há algum propósito para ter esses pais?
R: Eu não os escolhi, me tocaram. Só sei que não gosto.
T: E que esperas aprender com a experiência de ter esses pais ?
R: Eles são rancorosos; não se pode viver com rancor. Eu tenho que ajudá-los a viver sem rancor,
mas me vai custar muito tempo e não tenho vontade.(Vejam como, insensivelmente, vai aparecendo
o propósito e aprendizado para esta vida.)
T: Avança agora ao momento de tua concepção.
R: Tenho raiva. Se não estivesse cansada, teria descido em outros pais, mas agora me tocaram eles.
Sabes que me vou suicidar?
T:Como é isso?
R: Tenho planejado. Mas não vou poder me matar. Vou morrer quando nascer, mas me vão salvar.
Porque tenho que nascer nessa vida. Não tenho outro tempo. Tenho que descer e pronto.
T: Segue adiante.
R: Minha mãe está contente e me sinto mal, me dá nojo tudo.
T: Onde te encontras?
R: Estou na barriga de minha mãe (Se coloca na posição fetal.)
T: Quantos meses?
R: Três ou quatro meses.
T: Retrocede um pouco; que passou em tua concepção, como a viveste?
R: Mal, foi tudo apressado.
T: Em que momento entraste em teu corpo?
R: O primeiro dia em que se casaram. Lhes arruinei a vida. Eles não puderam desfrutar e eu não
pude descansar mais. Me dá raiva. Se não tivesse estado cansada, teria escolhido outros pais.
T: Avança ao primeiro mês de tua vida fetal. Que está passando?
R: Minha mãe passa retornando. Está preocupada, com muita angústia.
T: Que passa com tua mãe?
R: Chora porque morreram os pais, sente-se desprotegida e tem vontade de ter um bebê ruivo como
o irmão que era ruivo...Mas eu não vou ser nem menino nem lindo. Vou decepcioná-la. (Novamente
vejam como o feto está ao tanto de tudo o que passa à sua mãe)
T: E tu, o que sentes com isso?
R: Me sinto pior, mas já estou aqui. Se escurece tudo e me dá vontade de chorar.
T: E teu pai?
R: Vejo-o frustrado em seu mundo.
T: Avança ao segundo mês.
R: Está tudo igual. Sigo sentindo nojo.
T: Esse nojo é teu ou de tua mãe?
R: É o nojo que sente minha mãe, mas eu também o sinto. Sabes que não sou feliz? Teria gostado de
pais mais companheiros. Tampouco sei por que eles se juntaram.
T: Tu, que crês?
R: Porque minha mãe tinha que se casar com alguém, porque não sabia viver só e porque meu pai
tinha que casar-se com uma moça de sua casa. Por isso se casaram.
T: E tu, que podes aprender disso?
R: Tenho que aprender a viver só! Para isso é que vim! Isso é o que tenho que aprender! E não
necessito viver com um homem para me apegar! Sabes que é verdade que isso é o que tenho que
aprender? (Insight! Se sacudiu. De improviso apareceu a grande revelação, sua escolha de parceiro
influenciada por seu medo à solidão e este medo que deixa de ser medo para converter-se em lição
de vida.)
T: Segue. Que mais?
R: Na outra vida havia me matado porque não suportei a solidão. Me vai custar, porque vou ter que
aprender sozinha.
T: Avança ao seguinte fato significativo em tua vida fetal.
R: Minha mãe não deixa seus pais morrerem tranquilos. Sempre está pensando neles, lamentando-se
de que não vão me conhecer.
T: E como te afeta isso?
R: Me afeta porque passa chorando o dia todo e eu sinto raiva. Não os perdoa porque morreram e a
deixaram só. Não sabe o que fazer.
T: E isso, como está te afetando?
R: Recebo dela que não vou saber lutar, não vou saber valorizar o que tenho. Não vou saber manter
o que tenho. Isso é o que me deixa. (Os mandamentos maternos.)
T: Agora te vais desprogramar disso tudo. Te vais desprender disso tudo, tomando consciência de
que nada disso te pertence. Ao contar até 3 irás ao próximo incidente significativo em tua vida
fetal...Um...dois...três…
R: Há problemas com os familiares de minha mãe. Estão falando mal de meu pai.
T: E tu, o que sentes?
R: Me indigna toda essa gente. É gente escura e me dão escuridão. Ahhh! Me doi as costas.
T: Dói em ti ou em tua mãe?
R: Dói em minha mãe, mas sinto igualmente em mim e deve lhe doer a barriga, porque me dói
também. Ela se põe nervosa e os músculos não me deixam mover. Ela se põe nervosa e me doem as
costas, me dói tudo.(Vejam como até a menor dor da mãe é experimentada pelo feto.)
T: Que sentes quando passa isso?
R: Sinto raiva. Não entende que está incomodando a mim. Para que estou aqui se me está fazendo
isso?
T: Quanto tempo estás aí?
R: Sete ou oito meses.
T: Até aqui, qual foi o momento mais difícil de tua vida fetal?
R: Quando as pessoas vinham dizer algo à mamãe. Se punha nervosa e me apertava. Sentia
impotência porque não lhe podia dizer nada. Não me escutavam porque estava na barriga e, ao ficar
nervosa, minha mãe me esmagava e apertava.
T: Como se relaciona isto com tua vida atual?
R: Me sinto apertada, cansada, amarrada. Não posso falar porque não me escutam.
T: Avança agora ao momento de teu nascimento.
R: Não sei se nascer ou não nascer. O corpo de minha mãe é um desastre. Não me dá nenhum sinal.
Sempre está nervosa. Não sei se tenho que sair agora ou não. Sei que estou perdendo tempo, mas
não me dou conta de quando tenho que sair. Isso me põe mal. Sabes que vou nascer? Sim! Vou
nascer!
T: Então avança a esse momento.
R: Tenho um pequeno problema. Estou amarrada ao pescoço e sei que vou me asfixiar. Sabes por
que? Porque dei voltas, porque tinha raiva e me amarrei eu mesma. Minha mãe tem que lutar pelo
que tem. Porque não vou morrer e ela tem que seguir lutando pelo que tem. Por isso me amarrei.
T: Então, queres viver?
R: Claro! Tenho que viver para consertar minhas coisas! (Elementar.)
T: Muito bem, então experimenta teu nascimento.
R: Me dói a cabeça. Me estão tirando. Não se dão conta de que estou com o cordão agarrado. Me
falta o ar...não posso respirar...Estou toda “machucada”. Minha mãe está chorando como de
costume...Me movem para todos os lados para que possa respirar, para que possa mover-me...Vejo
uma injeção enorme...Me injetam...não sei onde porque me assuto e não quero ver. Vejo ao bebê
todo negro...sobre uma mesa.
T: Onde te encontras agora?
R: Acima, vejo tudo e não quero ver.
T: E que estás fazendo acima?
R: Nada. Estou esperando que comece a respirar para poder-me colocar.
T: Que estás pensando nesses momentos?
R: Vejo o bebê todo negro e que o estão espremendo todo. Minha mãe chora. Quando começo a
respirar me meto no corpo (Vejam que descrição interessante.) Já está...já me meti no corpo. Tudo
isso me deixa louca. Os gritos...o desespero deles...tudo isso. Minha pergunta é: como vou saber
quando saí de dentro e como saí ?
T: Como é isso?
R: Eu não estava dentro do bebê quando estava saindo. Estava cuidando-o. Mas quando começaram
a maltratá-lo, me fui para não sentir dor. Quando vi a injeção que tomou um pânico eme fui para
cima. Por isso não sei bem quando nasci. Via como o tiravam. Sabias que se pode fazer isso?
(Vejam quantas coisa há para aprender.)
T: Há algo de teu nascimento que esteja afetando tua vida atual?
R: Não suporto as dores. É como se me quisesse ir, mas já não posso ir. O que passa é que como não
experimentei a dor do nascimento, a dor está em minha mente. Sabes que experimento todas as
cores na cabeça? Como posso livrar-me disso?
T: Talvez poderias libertar-te experimentando em teu corpo as dores do nascimento. Farias a prova?
R: Tenho medo, por medo me fui.
T: Tentarias com minha ajuda?
R: Sim, porque tenho medo de ter um bebê.
T: Então, ao contar de 1 a 3, retrocede ao princípio de teu nascimento e desta vez, viverás desde
dentro do corpo. Um… dois...três…
R: Estou dentro...estou passando...não lhes posso dizer que estou amarrada...Me estou pondo toda
negra...me estão desmontando toda. Ai! Me dói muito a cabeça...Ai! Se me vai partir!… Essa gente
não sabe nada! (Atenção os médicos.) Me põem numa mesa...tratam de mover-me...Aiii! Me dói
muito a cabeça! (Chorando e revolvendo-se sobre o tapete.) Essa dor de cabeça me segue como se
me mordessem o cérebro! Não se decidem o que fazer. Têm medo de que eu morra. Me dão uma
injeção nas nádegas.
T: Segue adiante, estou aqui a teu lado.
R: Já se tranquilizam e eu me vou tranquilizando. Posso respirar...Ahhh! Já está.
T: Como te encontras agora?
R: Agora bem. A dor que tinha era como se me mordessem o cérebro. Depois de tantos anos
descobri. De noite tinha um sonho. Gente que falava e falava e me apertava a cabeça. Era isso do
nascimento (Vejam como ela sozinha vai resolvendo outras coisas.)
T: Há algo que queiras acrescentar?
R: Me deu pena de que meu pai não estivesse com mamãe.
T: E isso como te afeta?
R: Não quero ter filhos porque sei que meu marido não vai estar. Agora me dou conta de que não
tenho que buscar algo parecido de meu pai. Isso era o que estava fazendo inconscientemente.
T: Muito bem. Agora estás em condições de desprogramar-te de todas as sensações do passado.
Agora te desprenderás de todas as emoções vivenciadas, tomando consciência de que já nada te
pertence. Agora solta e perdoa o passado e as experiências passadas, és livre para reformular-te para
uma vida diferente e melhor.
R: Sim, agora sou livre e posso viver só. Ahhh! Que alívio! Me sinto feliz porque compreendi de
onde vinha a dor de cabeça. A dor me atacava quando dormia, quando me despertava. O murmúrio
das pessoas, do computador, quando trabalhava. Parecia que me haviam comido o cérebro.

Quinze dias depois, na sessão seguinte, a dor de cabeça havia desaparecido. Nesta ocasião ?
Rosaura disse:
-Quando me fui daqui, depois da regressão, deixei atrás um monte de coisas que não eram
minhas.
Explorar a vida intrauterina é crucial, porque é o momento onde se cristalizam ou se
resolvem os conflitos que se arrastam de outra vidas. Se tenho dados contundentes de uma gestação
complicada ou suspeito pelos comentários do paciente, em algum momento devo trabalhar esse
período passo a passo, como no caso de César ou Rosaura. Seguramente vocês encontrarão muitas
coisas que os farão refletir. Eu queria assinalar algumas.
Em primeiro lugar, Rosaura disse claramente que não escolheu seus pais, senão que “lhe
tocaram”. Existe a ideia generalizada de que nós escolhemos quem serão nossos pais. Das
experiências dos pacientes, surge que às vezes podemos escolher e em outras ocasiões não
podemos. Às vezes se escolhe a um dos pais e em ocasiões a escolha destes é irrelevante para a
pessoa. É como se houvesse coisas mais importantes que programar e se deixa nas mãos dos guias a
decisão sobre quem serão nossos progenitores.
Em segundo lugar, quero chamar a atenção sobre a intencionalidade do feto para complicar
seu nascimento. Imagino que é difícil aceitar isso. Mas muitas pessoas coincidem nisso. Elas
mesmas se envolveram com o cordão umbilical porque não queriam sair. A primeira vez que escutei
isso me surpreendi totalmente. Foi em 1988, quando comecei a explorar a vida fetal, passo a passo.
Desde então, muitas pessoas tem relatado que se envolviam com o cordão umbilical ou se
atravessavam, ou faziam força com os pés, ou se iam para o fundo uterino para não sair. No
momento de nascer, alguns chegavam a não respirar para não viver.
Geralmente uma pessoa anda aos tombos pela vida, sem encontrar o rumo, sentindo-se
estranha neste mundo, vivendo na contra-mão, quando regressa ao momento do nascimento, se
encontra com o sentimento de não querer nascer. Posso assegurar que isto quase constitui uma
regra. O protesto por ter que nascer já se manifesta no espaço entre vidas, antes da concepção. Essas
pessoas estão mal com sua existência simplesmente porque estão desgostosas. É como a criança
leva por seus pais a uma festa a que não quer ir, e uma vez ali, podendo divertir-se, faz todo o
possível para aborrecer-se para mostrar a seus pais sua desconformidade. É como se dissesse:
Viram, eu lhes disse que iria passar mal. E não se dá conta de que o único prejudicado é ele mesmo.
Assim ocorre com essas pessoas. Ao dar-se conta do fato, tomam consciência de que as únicas
prejudicadas por sua rebeldia são elas mesmas. De modo que, em todo nascimento complicado, há
que ter em conta que pode haver sido provocado pelo feto. Imagino que, talvez, uma conversa com
o futuro bebê, assegurando-lhe que tudo estará bem, poderia ajudar nesses casos.
Concomitantemente com isso, devemos tomar consciência de que as atitudes do pessoal
médico, na sala de partos, são vividas pelo recém-nascido como um atropelo ou um mal-trato.
Como disse César: Para eles é um trabalho. Mas para o recém-nascido é seu primeiro contato com
o mundo. Uma coisa é sair alegremente e ser abraçado pela mãe, e outra coisa é ser extraído por
força com fórceps, ventosa, ou ser batido para respirar ou intubado para aspirar secreções. Em
algumas ocasiões não há alternativa, mas há que ter presente que isto pode afetar negativamente
uma pessoa para toda sua vida.
Recordem o que dizia Rosaura: Os médicos estão falando e eu sinto como se mordessem o
cérebro. Por anos Rosaura sonhou com gente que falava e lhe apertava a cabeça. Era a impressão
que ficou de seu nascimento. Ademais, há algo inevitável, ao menos em nossa cultura. As primeiras
mãos a tocar o bebê sempre serão as do médico ou as da obstetra. De como o recebem, pode
depender sua futura reação ante o mundo.
Outro aspecto fundamental que temos visto é a oportunidade que nos oferece esse trabalho
para desprogramar a pessoa de todos os mandamentos e sensações maternas. O só fato de tomar
consciência de que um mandamento pertence à sua mãe é suficiente para que a pessoa se livre dele.
Mas o mandamento deve ser identificado. Essa é a condição básica. Não basta com a experiência da
vida fetal. Os mandamentos devem ser identificados um por um e então, ao dar-se conta
vivencialmente, a pessoa pode desprogramar-se deles. Simplesmente é a tomada de consciência de
que esses pensamentos não nos pertencem.
O mesmo ocorre com as dores, sensações ou medos que experimenta a mãe. Como dissemos
no princípio, tudo que experimenta a mãe, o feto o sente como em si mesmo. Mas agora, durante a
regressão, a pessoa tem a possibilidade de rever essas sensações e discriminar-se delas. Ao tomar
consciência de que os medos ou dores da mãe não lhe pertencem, podem desvincular-se totalmente
deles de forma instantânea. Rosaura se deu conta disso quando disse. Deve estar doendo a barriga,
porque dói a minha. É notável de quantas coisas se pode livrar ou desprender uma pessoa com essa
experiência da vida fetal, que não é nem mais nem menos que um exercício de discriminação.
Finalmente a vivência da vida fetal e do nascimento nos dá a possibilidade de revalorizar as
situações difíceis como oportunidades de aprendizado. Uma vez desprogramada de todos os
mandamentos e de todas as dores da alma, a pessoa pode ver o lado positivo das coisas e tomar tudo
como uma lição de vida que veio aprender. Tanto César como Rosaura descobriram de que
necessitavam esses pais para realizar esse aprendizado em particular.
Como eu colocava no início: as situações traumáticas da vida fetal, o nascimento ou a
primeira infância, são fatos fortuitos ou estão planejados de antemão com um propósito definido?

(1) Thomas Verny, op cit.


Capítulo XV
Como trabalhar situações difíceis

Alguns conflitos da vida atual têm sua origem em acontecimentos extremamente traumáticos
de vidas anteriores. Essas situações foram muito violentar ou insuportáveis pela dor que
ocasionaram. Reviver essas experiências, na regressão, tem um grande poder liberador. É possível
que uma sessão deste tipo termine com muitos anos de perturbação emocional. No entanto, não é
fácil atravessar por essa experiência, ainda sabendo que ali está a solução do problema atual. A
maioria das vezes o paciente se bloqueará quando se encontra frente a frente a uma situação desse
tipo, ainda que já tenha realizadas várias regressões anteriormente.
É provável que o paciente saiba ou intua o que vai ocorrer. É possível que tenha a cena
frente a seus olhos e não possa prosseguir nela, por pânico ou medo de experimentar essa dor. Às
vezes o paciente quererá terminar a sessão ali mesmo, dirá que quer se levantar e inclusive abrirá os
olhos e se incorporará para afastar-se dessas cenas terríveis.
As situações que com maior frequência provocam esses bloqueios são as cenas de violação,
incesto, tortura ou atos criminosos cometidos pelo próprio paciente. Nas primeiras, está em jogo o
pudor da pessoa. Nos casos de tortura ou situações insustentáveis estão presentes o terror e a dor.
Finalmente, tampouco é fácil reconhecer e aceitar que alguma vez cometemos atos que hoje nos
horrorizam.
Em todos os casos, a atitude, a condução e o acompanhamento do terapeuta são
fundamentais. O paciente necessita de uma confiança absoluta no profissional. Necessita da
segurança de que não será censurado nem criticado, aconteça o que acontecer. Por sua parte, o
terapeuta necessita estar totalmente centrado em si mesmo. Deve manter a calma em todo momento.
Necessita compreender o sofrimento do paciente, mas não pode sofrer por ele. Seja o que for, o
terapeuta deve manter a serenidade e a calma o tempo todo e não deve interromper a sessão para
evitar a dor do paciente. Se o fizer, a emoção não estaria esgotada, com o agravante de que agora
fica uma ferida aberta, que pode ser mais perturbadora que o conflito original.
Em todos os casos, essas cenas devem ser trabalhadas até o final e, em algumas ocasiões é
necessário fazê-lo mais de uma vez para esgotar assim todas as emoções vinculadas ao fato original.
Por isso é importante a tarefa de acompanhamento do terapeuta nesses casos. Na realidade é tudo o
que o paciente necessita. Acompanhamento e assistência permanente. À medida que o paciente vai
progredindo na vivência, o terapeuta deve reassegurá-lo a cada instante, dizendo-lhe que tudo vai
sair bem, reafirmando sua presença a cada momento. Transmitindo a segurança de que é
compreendido e aceito, passando o que passar, fazendo o que fizer. Há que recordar ao paciente que
só está efetuando um exercício de memória para compreender e libertar-se do passado.
Veremos o desenvolvimento de 2 sessões com 2 pacientes com circunstâncias difíceis, para
ver a ação de acompanhamento nesses casos.
A primeira experiência pertence a Célia, uma mulher de 50 anos,que enviuvou aos 35 e que
desde então não pôde refazer sua vida afetiva. Já havia trabalhado outros problemas na terapia, que
foi resolvendo, mas ainda ficava esse aspecto. Tinha medo de aproximar-se de um homem.
Pretendentes não lhe faltavam, mas cada vez que recebia um convite para conhecer alguém,
invariavelmente sua resposta era “não”. Vivia com o “não” na boca. Quando um homem se
aproximava, se via tensa e nem sequer se permitia escutá-lo. Em uma regressão anterior, vivenciou
uma cena de violação sendo uma menina de 7 anos. Foi enforcada com uma fita vermelha e se viu
morta, no chão, coberta por uma poça de sangue. Ali decidiu não aproximar-se mais de homens. O
que se segue é um extrato da 13a. Regressão.

Terça-feira 1 de setembro de 1992.

Terapeuta: Concentre-se em seu medo de aproximar-se dos homens. Como é esse medo? Diga o
primeiro que vier à mente.
Célia: É como um afogamento.
T: Onde sente o afogamento?
C: No pescoço, na garganta.
T: Como é essa sensação de afogamento?
C: Como uma opressão no peito.
T: E como é essa opressão no peito?
C: Como que me falta o ar...me custa respirar.
T: Que mais?
C:…..(Fica em silêncio. Intuo que está se bloqueando.)
T: Siga, não se bloqueie, não se reprima. Diga o primeiro que lhe vier à mente. Agora conto até 3 e
diga o primeiro que te vier à mente. Um… dois...três...Que lhe vêm à mente?
C: Uma luta numa relação sexual (Aí está a causa do bloqueio.)
T: Que mais está passando?
C: ………...(Novo silêncio.)
T: Não tenha medo. Não importa o que está ocorrendo aí. Por difícil que seja essa cena, isso é muito
importante para você. Você sabe que aqui não há censura. Sou médico e você confia em mim. Agora
poderá relatar-me tudo isso. Que está passando nessa luta. Como se vê você aí?
C: Maltratada.
T: Que idade tem você aí?
C: Meia idade, mais ou menos.
T: Como está vestida? (Essas perguntas são irrelevantes. Simplesmente servem para ajudar a
paciente a delinear a cena, para ir do mais fácil ao mais difícil.)
C: Uma blusa branca, uma saia vermelha.
T: E com quem está lutando?
C: Há um homem.
T: Como é esse homem?
C: Tem aspecto feio...é muito bruto e ordinário.
T: Muito bem. Agora, por mais difícil e dura que seja esta cena, você sabe que aqui está a resolução
de seu conflito. Permita-se agora vivenciar essas emoções e sensações. Isto é muito importante para
você. Que está passando, que está experimentando?
C:...Me está forçando a uma relação que não quero…
T: Siga, não se detenha.
C: Estou muito mal e muito nervosa...estou muito assustada…
T: Siga, estou aqui a teu lado...que mais?
C: Ele quer levar-me para cama e eu não quero…
T: Siga, não se detenha.
C: Estamos lutando muito… está tratando de tirar-me a roupa e eu não quero…
T: Siga adiante, continue.
C: Sinto como que me segura a cabeça…
T: Segue.
C: Trata de atirar-me na cama e estou lutando o mais que posso, até que me joga na cama e não
posso mais com a força dele.
T: Segue adiante, que ocorre?
C: É uma relação muito feia...asquerosa…
T: Siga.
C: É uma luta contínua de minha parte e ele é muito bruto para alcançar o que quer.
T: Siga, o que está fazendo muito bem e eu estou acompanhando-a. Que mais?
C: É como que já não tenho mais forças para seguir lutando. É como que deixo que ele faça o que
quer, porque não tem sentido seguir lutando mais. Sinto muita dor dentro de mim.
T: De onde é essa dor?
C: Na cabeça, parece que me vai explodir.
T: Segue. Que mais?
C: É algo muito sujo, muito feio...sinto que fui amarrada.
T: Segue, não se detenha.
C: É como que me ponho a chorar porque ele alcançou o que quis. Tenho muito medo…
T: Como é esse medo?
C: Tenho medo que me machuque mais.
T: Que lhe faz dizer isso?
C: É um homem meio louco...se põe a rir com o que conseguiu.
T: Que mais?
C: É como se dissesse: “Viste? Não pudeste comigo”.
T: Agora veja, qual o momento mais difícil, mais doloroso, mais traumático dessa experiência?
C: A luta na cama para que não conseguisse o que queria.
T: E quais são suas reações físicas nesse momento?
C: Não me vou aproximar nunca mais de um homem (Aí está o mandamento! Mas ainda havia
mais.)
T: Quais são suas reações emocionais?
C: Horror, desespero, não poder fazer nada.
T: E se nesse momento tivesse tomado uma decisão que esteja afetando sua vida atual, qual seria a
decisão ou pensamento que ficou gravado nesse momento?
C: Não ter mais relações (Aí está outro mandamento.)
T: Agora veja em sua mente, de que forma é você responsável por essa situação?
C: Por tê-lo escutado.
T: Que foi que escutou?
C: Que me queria.
T: Veja se a raiz disso, seu inconsciente tomou alguma decisão a respeito.
C: Não escutar mais aos homens (E já temos o quadro completo. Não permitir que os homens se
aproximem e nem sequer dar-lhes a oportunidade de falar. Mas ainda há mais. Vejamos como segue
a regressão.)
T: Agora, concentre-se nessas sensações e, ao contar até 3, irá a outra situação traumática
relacionada com seu problema dom os homens. Conto até 3 e vá até a outra situação relacionada
com seu problema de não aproximar-se dos homens. Um… dois… três. Que está vendo, ouvindo ou
sentindo?
C: Nada. (Novo bloqueio, há que voltar a insistir.)
T: Pergunte a seu inconsciente se há alguma outra situação, em seu passado,que se encontre
relacionada com esse medo que lhe faz dizer “não” quando um homem se aproxima de você. Conto
até 3...Um...dois...três. Que lhe diz seu inconsciente?
C: É como que me rasgaram…
T: Segue, que mais?
C: É como que vejo uma mulher jogada no chão e um homem sobre ela.
T: Segue adiante, o que está fazendo muito bem.
C: ……..(Silêncio.)
T: Sei que isto é muito difícil. No entanto, você sabe que tudo isso pertence ao passado e agora,
necessita vivenciar essa situação para esgotar essas emoções que já não te pertencem. Que está
passando aí ?
C: É muita brutalidade…
T: Que aspecto tem? (Novamente esses dados não têm importância, mas essas perguntas servem
para que a paciente se vá entrando cada vez mais na cena.)
C: Cabelo comprido...com tranças…
T: Que idade tem aí?
C: Trinta anos mais ou menos...parece uma época como dos índios…
T: Como está vestida?
C: Me parece que tenho as tranças que usavam as índias.
T: Que está passando?
C: É como se quisessem me tomar pela força (Outra vez)...Não existe o amor…
T: Que mais?
C: Tudo isso é pela força e isso me põe mal.
T: Segue adiante.
C: Não quero uma relação sem amor, e isso me dá muito nojo…
T: Segue.
C: Sigo lutando...alcanço colocá-lo de costas e isso o enfurece mais…
T: Está indo muito bem, segue adiante.
C: Vejo como se atira impulsivamente com muita força…
T: Segue. (Agora, simplesmente há que acompanhá-la. Fazer com que saiba que alguém está aí.
C: Se põe dentro de mim…
T: Segue.
C: Sinto que me dilacera totalmente a vagina…
T: Sinta essa sensação, é importante que se permita sentir tudo isso (A paciente padece de
hipermenorreia – menstruação excessiva- de longa data, que lhe ocasiona anemia.)
C: É uma luta...uma briga...não é um ato de amor…
T: Que mais?
C: Grito que não quero...mas sua força é maior que a minha…
T: E então, o que ocorre?
C: É como que se afrouxa o corpo...não tenho mais forças para lutar...parece uma besta
enfurecida…
T: Siga.
C: Vejo sangue, me machucou muito...fico desmaiada.
T: Siga.
C: Estou sem forças aí...atirada no chão e ele se levanta e vai.
T: E que ocorreu com você?
C: Estou desmaiada...sinto como o sangue molha as pernas…
T: Experimente essa sensação do sangue molhando as pernas (A regressão anterior terminou numa
poça de sangue.)
C: Sinto as pernas tensas...o calor do sangue me deixa pior...quero levantar-me e não posso...não sei
se desmaiei ou se morri.
T: E qual é o momento mais difícil, mais traumático de toda essa situação?
C: Quando sinto que o sangue começa a correr. (Contrariamente ao que se poderia supor, a violação
não foi o mais difícil. Isto é importante, porque o momento mais traumático depende de cada
pessoa.)
T: Volta a esse momento, quando sente que o sangue começa a correr e veja quais são suas reações
físicas nesse momento.
C: Medo, estou tremendo.
T: Quais são suas reações emocionais quando corre o sangue e está tremendo?
C: Medo de morrer.
T: E quais são seus pensamentos?
C: É uma bestialidade.
T: Veja se tomou alguma decisão nesse momento que esteja afetando sua vida atual.
C: Penso que, inconscientemente, sem saber, me está marcando.
T: E se, nesse momento, sem você saber, seu inconsciente tivesse tomado uma decisão, qual seria?
C: Não me aproximar de um homem (Outra vez).
T: Pergunte a seu inconsciente se há alguma outra situação de vida passada relacionada com esse
medo de aproximar-se dos homens.
C: Não.

Até aqui temos visto como uma situação bloqueada a princípio, se foi destravando pouco a
pouco, mediante um acompanhamento constante e próximo. Na mesma sessão, a paciente vivenciou
sua vida fetal. Ali experimentou o estupro mais uma vez. Dessa vez era sua mãe a que foi forçada
pelo marido a uma relação sexual, enquanto a paciente se encontrava no ventre materno. Sente que
seus pais não se querem.
O mais importante ocorre no momento do nascimento, quando se vê manchada com sangue
e isto lhe recorda sua experiência como índia.
Vejamos agora como termina essa sessão:
Terapeuta: Veja se no momento do nascimento há algo que se relacione com sua experiência de
vida passada.
Célia: O sangue, é como quando o sangue se fosse pelas pernas. É como se o sangue me marcasse
em todas as épocas.
T: Agora veja, com que emoção, com que pensamento, com que sensação está relacionado o
sangue?
C: Com uma relação sexual.
T: Veja se no momento do nascimento e diante da visão do sangue há algum pensamento que esteja
afetando em sua vida atual.
C: Eu nasci para sofrer. (Terrível. Imaginem-se que classe de vida pode conduzir uma crença
assim.)
T: Agora veja como todos esses pensamentos: não me vou aproximar mais de um homem; não vou
ter relações; não vou escutá-los; o medo de morrer; nasci para sofrer; veja como tudo isso está
afetando sua vida atual.
C: É o medo de viver, de volta.
T: Gostaria de modificar tudo isso?
C: Sim.
T: Como gostaria de ser?
C: Quero olhar as pessoas sem medo
T: Em vez de olhá-las sem medo, como gostaria de fazê-lo?
C: Olhar as pessoas com confiança e alegria.
T: Muito bem. E como modificaria o pensamento “Eu nasci para sofrer”?
C: Eu nasci para ser feliz. (Muito sutil, porque só se muda uma palavra).
T: Que cor escolheria para introduzir esta nova vibração energética em sua vida?
C: Lilás.
T: Muito bem. Envolva-se na cor lilás e veja-se a si mesma olhando as pessoas com confiança e
alegria. Veja-se a si mesma alegre e feliz, tomando consciência de que merece ser feliz, tomando
consciência de que nasceu para amar e ser amada. Envolta na cor lilás, envolta na radiação luminosa
da cor lilás, tomará uma inspiração profunda e ao contar de 1 a 4 abrirá os olhos e isso fará com que
regresse aqui, à sua consciência física habitual, neste dia, terça-feira, primeiro de setembro de 1992.

Célia efetuou um total de 16 regressões. Ao finalizar a terapia disse:


-O que mais me custou foi vencer o pudor, a vergonha que sentia quando me vinham as
palavras. (Se refere às cenas com compromisso sexual.)
Nem mais nem menos. Como temos visto, Célia sabia o que estava ocorrendo, mas se
bloqueava pelo pudor. Este é um elemento que há que ter presente quando surgem vivências desse
tipo. Ao encerrar a experiência terapêutica, Célia manifestou:
Me trouxe paz interior. Tenho as ilusões de meus 15 anos. Agora tenho vontade de viver.

Uma vida de tortura

A regressão que vamos ver agora é uma das mais dramáticas a que se pode assistir. Faço
fincapé nisto, porque é impossível reproduzir aqui o fundo dramático e a intensidade das emoções
que afloraram durante essa sessão.
Blanca é uma mulher de 46 anos, que chegou arrastando uma vida de torturas, sofrimento,
angústias e medos terríveis, tal como ela mesma relatava. Sempre lhe custou integrar-se ao mundo.
Seu terror à violência a paralisava. Afetivamente, se unia a companheiros violentos que a faziam
sofrer. Sempre foi uma vítima sofredora com um agressor ao lado.
-Busco sempre alguém que me castigue- refletia.
Desde há 30 anos sofria dores nas costas. Pelas dores foi operada em 2 oportunidades,
apesar delas ainda persistiam.
Tenho como um punhal cravado nas costas – gemia Blanca.
Vejamos os trechos mais importantes de sua primeira regressão.
Sexta-feira, 30 de outubro de 1992.

Pedi que se concentrasse em seu problema de angústia, de medo, em sua vida de tortura e
sofrimento e que dissesse o primeiro que viesse à mente.

Blanca: Sinto que estou isolada totalmente, sinto uma angústia muito forte…
Terapeuta: De onde sente essa angústia? Localize-a numa parte do corpo. Onde a sente?
B: Sinto no estômago.
T: Muito bem, agora aprofunde essa sensação de angústia em todo o corpo. (Começa a chorar.) Isso
pe...deixe sair tudo o que sente.
B:…...(Começa a chorar desconsoladamente.)
T: Que está sentindo?
B: (Chorando) Sinto que estou fora do mundo. Não encontro com quem dialogar, com quem falar,
minha linguagem desde o humano...muita crueldade...vejo falta de comunicação com as pessoas (A
emoção já se despertou e esses elementos aparecerão mais adiante no passado. Daqui a paciente foi
ao momento de seu nascimento, onde ao dar-se conta de que não é querida, tomou a seguinte
determinação: Vou fazer todo o possível para que me queiram. Com o que já temos uma
programação de vida desgraçada que a impulsionará a agradar os demais, postergando-se a si
mesma.)
B: Sempre me preocupei com todo mundo e nunca ninguém me quis...Faça o que fizer, assim me
matei por agradar, sempre se mostram insatisfeitos. Todo mundo me aponta as culpas, me apontam
o que faço mal. Para que nasci? Não teria que ter nascido (chorando todo o tempo)
T: Agora contarei até 3, e ao fazê-lo, vá à vida onde se originou tudo isso. Um… dois...três… Que
está vendo, ouvindo ou sentindo?
B: Tenho medo de ir. (Chorando)
T: Onde está sentindo esse medo?
B: ...(Chorando.) Em todo o corpo, estou paralisada...os braços…
T: Que está provocando esse medo, essa paralisia.
B: (Novo acesso de choro.) Ninguém entende o que digo. Muita crueldade.
T: Siga.
B: (Segue chorando.)...Temos que conectar-nos aos seres humanos com base na compreensão…
T: Segue.
B: Há muita crueldade…
T: Deixe sair tudo isso.
B: Ai! Muita crueldade, muita crueldade! (Chorando).
T: Agora vá diretamente à cena que está provocando tudo isso.
B: Ai! Ai! Não há piedade!
T: Segue. Que mais?
B: Todos se impõem...impõem e castigam…
T: Quem a está castigando?
B: Não o vejo.
T: Não importa, não necessita ver. Se você soubesse, que está passando?
B: Ai! Ai! Ai! (Chorando intensamente.)
T: Isso é, siga, deixe sair tudo isso.
B: Ai! Ai! Ai!
T:Siga.
B: Ai! Ai! Ai! (Nesse momento o sofrimento é tão intenso que a paciente não pode falar. Então há
que acompanhá-la empurrando-a para o final da cena, para que vá esgotando as emoções. Enquanto
a paciente está chorando, está avançando na cena. Sabe e sente o que está ocorrendo, mas não pode
articular palavra. Meu objetivo agora é levá-la para o final da cena, ao tempo que vai esgotando
parte da energia emocional, para logo, numa segunda intenção, voltar ao princípio. Em situações de
fundo dramatismo e dor como esta, pode ser necessário que a paciente reviva a experiência duas ou
três vezes, até esgotar todas as emoções.)
T: Segue avançando até o final dessa cena.
B: Ai! Meu Deus! Por que, se não faço mal a ninguém, por que me está passando isso?
T: Que está passando?
B: Ai! Ai! Ai! (Chorando e com voz entrecortada.) Estou amarrada só...me vão torturar...Não! Não!
Não!
T: Segue avançando até depois desta cena (Se a cena termina com a morte, ao levá-la mais além
desse momento, sobrevirá a calma.)
B: Ai! Estou só no mundo! Alguém que me ajude! Ai! Ai! Ai!
T: Conto até 3 e avance até depois de ter passado essa cena. Avance rapidamente até ter passado
essa cena. Um… dois...três…
B: Ai! Ai! Ai! Me dóem os braços! Ai! Deus meu!
T: Avance até depois de ter superado esse episódio. Conto até 3 e se encontrará depois de ter
passado esta cena...Um…dois...três…
B: Aaaahhh! (Suspiro longo e logo silêncio.)
T: Onde se encontra agora?
B: Mmmmmmmmmmmmm…
T: Onde se encontra?
B: Sinto que não estou aqui.
T: Onde crê que se encontra?
B: No Cosmos.
T: E como se sente agora?
B: Bem (O que disse, é importante ter em conta esse recurso. Uma vez transposto o umbral da
morte, se apagam todas as sensações de dor. Agora se pode levar o paciente novamente ao princípio
da cena traumática, para fazer o apagamento das emoções.)
T: Muito bem. Quero que veja que, logo desta cena, tudo vai estar bem. Tudo está bem, verdade?
B: Sim.
T: Isso é. Agora, não importa o que passe ai, após passar por tudo isso, você se encontrará em
contato com o cosmos e tudo estará bem. Agora que foi o que passou aí. Que ocorreu nessa cena?
B: ………..(Silêncio.)
T: Sim?
B: ….Não sei.
T: Isto é muito importante para você. Por difícil e duro que seja tudo isso, você sabe que ao finalizar
este episódio tudo vai estar bem. Por isso é muito importante para você que recupere o
conhecimento do que passou aí, que esgote toda energia desse momento.
B: Me dói todo o corpo...me dói muito o braço direito…
T: Que está passando com o braço direito?
B: Tenho-o paralisado. Ai!
T: Conto até 3 e volta ao princípio dessa cena para esgotar todas essas emoções. Agora...tudo se fará
mais claro em sua mente e resgatará o aprendizado dessa experiência e se livrará de todas as
emoções que estão afetando sua vida atual. Conto até 3 e retrocede um instante antes desta cena.
Agora, tudo se faz mais claro. Um… dois...três...Que está ocorrendo,que está vendo, ouvindo ou
sentindo?
B: Mmmmmmmm. Estou de costas…
T: Siga.
B: Os braços amarrados às costas…
T: Siga.
B: Mmmmmmmm. Mas tudo está em penumbra…
T: É homem ou mulher?
B: ...Sou mulher...mas estou amarrada de barriga para baixo...tenho o rosto para o lado esquerdo…
T: Que idade tem aí?
B:...Não, não...é a sala de cirurgia; me estão operando as costas...Tenho a sensação de que me vai a
anestesia.(Observem como, por analogia de sensações e emoções, se vão conectando as cenas de
uma e outra vida. Tudo está aí na memória. Tudo o que corresponda à mesma emoção surge ao
mesmo tempo. Aqui saltou de uma vida passada para a presente.)
T: Isto é aqui ou em outra vida?
B: Não, aqui. É como que estou recobrando o conhecimento, mas se me vai a anestesia. Ai! Que
dor! Parece que não se dão conta de que me vai passando o efeito da anestesia. Ai! Oh!
T: Siga.
B: Ai! Que dor! Me estão operando e não se dão conta de que me vai passando o efeito da anestesia
e de que me dói muito. Ai! (Este é o momento para levá-la novamente à outra cena.)
T: Agora concentre-se nessas sensações e ao contar até 3 volta à cena original onde estava antes da
tortura. Conto até 3 e volte a essa cena. Um…dois...três... Que está passando?
B: Estou de barriga para baixo...se me misturam…
T: Que se mistura?
B: Se mistura com a operação (Exato! A vivência é a mesma.)
T: Agora deixe a operação para mais tarde. A operação só é um eco da situação anterior. Agora
deixe a operação para mais tarde e volte à cena original. Agora necessita esgotar toda a emoção que
está aí. Volte à cena original. Que está passando?
B: Também estou amarrada.
T: Como está amarrada?
B: De barriga para baixo. (Igual que na operação.)
T: Segue, que mais?
B: ...(Chorando.) Me estão esticando as mãos e os pés…
T: Segue adiante.
B:...Aiii!
T: Siga.
B: ...(Chora.)
T: Segue avançando, por difícil que seja essa experiência, é importante para você essas sensações
que estão perturbando sua vida atual. Que está passando?
B: ...Me esticam os braços...Ai!
T: Isto é, siga.
B: Me vão a rasgar toda!
T: Siga.
B: Me abrem as costas! Deus meu, ajuda-me por favor! (Chorando e gritando.)
T: Segue avançando.
B: Que mal fiz para ser castigada assim?
T: Siga.
B: Que culpa tenho eu? Ai! Ai! Ai! Qual é minha culpa para passar por isso?
T: Conto até 3 e retrocede no tempo à situação que originou que chegasse a isto. Retroceda ao fato
que motivou que a torturassem. Que está passando? Um… dois...três…
B: Não sei.
T: Não importa o que seja. Agora vá e tome contato com esse fato. Um… dois...três...Diga o
primeiro que vier à mente.
B: Mmmmmmm...eu curava.
T: Como curava?
B: Com as mãos; eu curava com as mãos.
T: Como cura?
B: Com amor, imponho as mãos. Curo as pessoas que estão na rua, mendigos, mas o faço às
escondidas.
T: A que se deve o o faça às escondidas?
B: Tenho medo que me vejam.
T: Segue avançando. Como é que chega a essa situação de tortura?
B: Há várias pessoas que se aproximam a olhar e fazem comentários…
T: Segue, não se detenha.
B: Há várias pessoas que me apontam.
T: Segue adiante.
B: Quem acredito que sou, me dizem.
T: Siga.
B: Está louca, dizem todos...(chorando)...me olham e se riem...Me repelem e me empurram...são
todos loucos e a cara de loucos que têm é terrível...Eu digo: Não! A única coisa que quero é ajudá-
los.
T: Siga.
B: Estão todos loucos de crueldade e de maldade. Quanta injustiça, Deus meu!
T: Siga.
B: (Chorando)...Me empurram...me golpeiam e se riem...Por que estou tão sozinha?...Por que
ninguém me entende? Que passa? Estou louca realmente? (chorando todo o tempo) Estou louca
porque sou diferente de todos?...Que faço? Por que o faço? Por que não posso fazer o que fazem
todos? Por que não posso me integrar ao mundo? Por que não posso ter gente ao meu lado? Ai! Ai!
Ai! Têm razão que sou louca. Todos têm razão, porque não posso ser a única que pensa assim…
T: Segue.
B: Está bem...que me matem...que façam o que quiserem...não posso viver mais assim. Deus meu!
Por que não serei como eles para estar acompanhada, para estar com alguém a meu lado?
(Importante. Depois veremos que este pensamento tem que ver com sua programação de vida.)Por
que, por que, por que? Não entendo! Que castigo, Deus meu!
T:Vá ao momento da tortura, para terminar com tudo isso.
B: Que façam o que quiserem, já não me importa o que fizerem.
T: Siga.
B: Me perguntam: Quem sois?
T: Siga.
B: Ai! Como me doem os braços.
T: Isso é, siga.
B: Ai! Que dor!
T: Siga.
B: Ai! Que horror!
T: .Siga. Que está passando com os braços?
B: Se dilaceram! Se dilaceram!
T: Siga.
B: As costas! Tudo! Se dilaceram.
T: Segue avançando, esgote tudo isso, siga.
B: Se dilaceram as costas. Aiiii! (Grito prolongado de dor, como se realmente a estivessem
dilacerando.)
T: Siga.
B: Ai! Ai! Ai! Ai! Ai!
T: Siga, siga, siga.
B: Ai! Ai! Ai! Ai! Ai!
T: Siga.
B: Ai! Basta, basta! Deus meu! Basta!
T: Siga.
B: Não me torturem mais! Por favor! Por favor! Não posso mais! Não posso mais!
T: Siga até deixar esse corpo. Avance até o momento de sua morte.
B: Justiça, por favor!
T: Siga.
B: Se isto é o mundo, não quero esta no mundo.
T: Siga.
B: Quero ir-me antes possível. Aiii!
T: Siga.
B: Que crueldade, Deus meu, que crueldade!
T: Avance ao momento em que se desprende do corpo.
B: Mmmmmmmmmmmmmm.
T: Isso, veja o momento em que sai do corpo.
B: Aaahhh! (Expressão de alívio).
T: Onde se encontra agora?
B: Não sei.
T: Pode ver seu corpo?
B: Mmmmmmmmm...sim.
T: Onde está você quando vê seu corpo?
B: Acima (sussurrando).
T: Como vê esse corpo?
B: Todo despedaçado, os braços estirados.
T: Que pensa quando vê esse corpo?
B: Nada, olho-o.
T: Que sente quando vê esse corpo?
B: Nada, vejo-o como algo que não sou eu. (Vejam que notável. Depois de o sofrimento
experimentado, agora seu corpo é uma coisa estranha.)
T: Agora veja que foi o mais difícil dessa experiência.
B: A injustiça. (Mais tarde, ao terminar a regressão, a paciente diria que a dor psíquica foi mais
importante que a dor física.)
T: E quando sente a injustiça, quais são suas reações físicas?
B: Me paraliso toda.
T: Quais são as emoções que sente nesses momentos?
B: A solidão.
T: E quais são seus pensamentos, suas reações mentais nesses momentos?
B: Não encontro sentido nas coisas. Não encontro sentido na vida. Não entendo para que são as
coisas. Não entendo nada.
T: Agora veja, se através de todas as sensações, seu inconsciente haveria tomado uma determinação
que estivesse afetando sua vida atual, qual seria?
B: Voltar para integrar-me ao mundo, para ser um como os demais. (Recordem que anteriormente
havia dito: “Por que não serei como eles?”.)
T: E isto, como está afetando sua vida atual?
B: Me leva a acompanhar todo mundo, nas coisas que fazem, tratar de ser como eles.
T: E isso, como a está afetando?
B: Me afeta porque não sou eu.
T: Há algo mais daquela vida que esteja perturbando agora, dessa solidão, desse não entender nada?
B: Sim, sempre foi minha visão de mundo.
T: Agora volte a ver esse corpo dilacerado. Tome consciência de que já não lhe pertence, de que não
sente nada. Já não está mais aí. Já não está mais nesse corpo e todas as sensações, emoções e
pensamentos dessa vida terminaram ao morrer esse corpo. Esse corpo morreu e você não está mais
aí. Nada disso lhe pertence.
B: Sim.
T: Agora, escolha uma cor de seu agrado para introduzir numa nova vibração energética em sua
vida.
B: Rosa.
T: Muito bem. Agora envolva-se na cor rosa.
B: Sim.
T: Isso é. E...envolta na cor rosa, veja-se a si mesma, como lhe gostaria de ser de agora em diante.
B: Espontânea, mostrando o que sinto, sem medo.
T: Em vez de dizer sem medo, como o diria?
B: Segura, sendo como sou, mostrando minhas coisas interiores. Livre, com uma imagem distinta
do mundo.
T: E como se vê, quando és espontânea?
B: Alegre, desfrutando da vida.
T: Então agora, envolta na cor rosa, veja-se a si mesma alegre, espontânea, livre, segura, mostrando-
se tal como és. De hoje em diante se sentirá mais alegre, mais segura, espontânea, livre, sentindo-se
segura de si mesma. E, envolta na cor rosa, trazendo a energia dessa cor ao seu corpo, sua mente e
seu espírito. Faça uma profunda inspiração e quando você desejar, abrirá os olhos e isso fará que
regresse à sua consciência física habitual, sentindo-se calma, tranquila, serena e segura.
Após essa regressão, Blanca viu com clareza como a necessidade de ser como os outros para
estar acompanhada, a afastava de si mesma e a levava a unir-se com parceiros violentos, como
dizendo: Bom, talvez, se me faço amiga deles, então não me vão fazer nada, porque agora sou um
deles.
Tudo isso surgiu na primeira regressão. E isto foi possível por duas razões fundamentais.
Pelo lado de Blanca, porque confiou em mim e porque estava decidida a terminar com seu
sofrimento. Por minha parte porque fui o suporte e realizei o acompanhamento constante que
Blanca necessitava para ir através desta experiência.
Além do acompanhamento, isto requer uma profunda convicção e concentração do terapeuta
ao longo de toda sessão. É fundamental manter contato com o paciente, todo o tempo. Se o paciente
não fala, há que reafirmar nossa presença, constantemente. Para isso é suficiente uma palavra de
alento ou um murmúrio de aprovação, impulsionando-o a seguir adiante. O trabalho de assistência é
a pedra angular para que o paciente possa atravessar por essas vivências. É óbvio que uma
experiência deste tipo não pode ser levada a cabo de forma individual.
Com respeito a Blanca, o notável é que só efetuou 3 regressões no total, com um intervalo
de vários meses entre elas. As mudanças começaram a produzir-se de forma impressionante logo
após a primeira regressão. Essa experiência foi suficiente para catapultá-las a outra forma de vida e
para encarar empreendimentos pessoais de envergadura.

Capítulo XVI
Reminiscências do passado

Antes de tudo, é necessário diferenciar as reminiscências do sentimento do “já visto” ou


“déjà vu”, também conhecido como paramnésia.
O termo “déjà vu” é atribuído ao dr. Chauvet e consiste na sensação de repetição, de ter
assistido à mesma cena, faz muito tempo, no mesmo ambiente, com os mesmos personagens, com
as mesmas atitudes, igual expressão e expondo as mesmas ideias, com as mesmas palavras,
sublinhadas pelos mesmos gestos ou estando a ponto de falar; aperceber-se, logo, de que se acaba
de dizer ou fazer algo que parece haver sido visto e ouvido anteriormente(1) A pessoa está
intimamente persuadida de que o que experimenta é a reprodução de uma cena vivida
anteriormente. Contudo, o sentimento do já visto é extremamente breve e não revela nada de novo a
quem o experimenta. Na presença de uma paisagem que lhe é familiar, é incapaz de indicar os
aspectos dessa paisagem que se encontram fora do alcance de sua visão.
Na realidade, o “déjà vu” não é um sentimento do passado, senão que se trata de uma cena
que foi vivenciada por adiantado durante o sono. Durante a etapa de sono profundo, o corpo astral
da pessoa se desprende e vive por antecipado alguma cena em particular. O regresso ao corpo físico
e o despertar fazem que essa experiência se apague da consciência. Mais tarde, ao vivenciar o fato
na realidade física, tem-se a sensação de tê-la visto anteriormente.
Distinto é o caso da reminiscência. À vista de uma paisagem que em vida jamais
contemplara, a pessoa tem a certeza de havê-lo conhecido anteriormente, mas ademais, esse
sentimento vai acompanhado e se completa pelo conhecimento de coisas e detalhes dessa paisagem,
que não pode ver no momento em que, com perfeita exatidão, descreve. Isto é o que lhes sucede a
algumas pessoas, que ao visitar pela primeira vez no lugar, sentem que é algo conhecido, como se já
tivessem estado aí em outro tempo. Podem recorrer o lugar sem necessidade de planos ou mapas
(como sucedeu a um advogado, que me relatou que, ao visitar um castelo na Europa, conhecia
perfeitamente a disposição dos quartos e até assinalou um compartimento secreto, ante o assombro
do guia, que o desconhecia).

A experiência de Lamartine
O grande poeta Lamartine relata uma experiência clara de reminiscência, em seu livro
Viagem pelo Oriente. O 23 de outubro de 1832, se achava a caminho de Jerusalém quando chegou
ao vale de Terebinto. Assim relata sua experiência:

“O local era sublime: dominávamos o profundo vale de Terebinto, onde David, com sua
funda matou o gigante filisteu. O fluxo em cujas bordas David recolheu a pedra, traçava sua linha
branca no meio do estreito vale e marcava, como disse o relato da Bíblia, a separação dos 2
campos. Eu não tinha ali nem Bíblia nem guia de viagem, nem pessoa que pudesse dar-me o nome
antigo dos vales e montanhas, no entanto, minha imaginação de menino se havia apresentado tão
vivamente o aspecto físico das cenas do Antigo e Novo Testamento segundo relato e as gravuras
dos livros santos, que reconheci em seguida o vale de Terebinto e o campo de batalha de Saúl.
Quando chegamos ao convento, os padres confirmaram minhas palavras. Meus companheiros
resistiram a crer.
Em Séfora assinalei com o dedo e chamei pelo seu nome uma colina dominada por um
castelo em ruínas, como lugar possível do nascimento da Virgem. No dia seguinte, a mesma coisa
me sucedeu com os Macabeus: ao pé de uma montanha árida, semeada de restos de um aqueduto,
reconheci a tumba dos últimos grandes cidadãos do povo judeu, em que disse a verdade sem saber.
Excetuando o vale do Líbano, as ruínas de Balbek, as margens do Bósforo em Constantinopla e a
primeira impressão de Damasco desde o alto do Anti-Líbano, quase nunca se achou um lugar ou
uma coisa que não fosse para mim uma recordação. Temos vivido, pois, duas vezes, mil vezes? Não
será nossa memória mais que uma imagem escurecida que o sopro de Deus reaviva?”

Notem a afirmação de Lamartine: “...quase nunca achei um lugar ou coisa que não fosse
para mim uma recordação”. Essas reminiscências não podem ser atribuídas a recordações dos
relatos de sua infância, porquanto a Bíblia não descreve exatamente as paisagens nem precisa a
geografia das cenas históricas; só relata os acontecimentos. Quando Lamartine chegou ao vale de
Terebinto, a que contemplou desde o alto de uma montanha, não havia ali placa alguma que
indicasse o sitio histórico. Menos ainda em 1832. Simplesmente o reconheceu.
Veremos a experiência de uma paciente que despertou nela tais emoções, que foi necessário
fazer uma regressão para apagar o surgimento do passado.

As ruínas de Santo Inácio

Numa excursão às Cataratas de Iguaçu, Luísa, a mesma das catacumbas, visitou as ruínas de
Santo Inácio. Ao descer do ônibus, sentiu um impacto emocional muito forte e soube que havia
estado aí, em outro tempo, em outra vida. À vista do lugar, repentinamente e de forma espontânea,
surgiu a memória do passado.
-Senti um formigamento no corpo – relata Luísa. Sentia que conhecia tudo isso. Disse a uma
amiga que me acompanhava: venha que te mostro onde estamos enterrados. Me lembrei de tudo que
havia passado nesse lugar. É espantoso. Foi um calvário. Não sei para que o mantêm. Teriam que
dinamitar tudo isso. Aqui matavam em nome de Deus e eu não era dos bons. Me senti muito mal.
Quando surgem reminiscências ou recordações do passado de forma espontânea, não é
necessário fazer uma regressão. Mas nesse caso em particular, junto com a recordação, se haviam
reativado emoções muito profundas, que só podiam ser esgotadas revivendo a situação original.
Luísa já estava em regressão, de modo que simplesmente lhe pedi que me relatasse passo a
passo sua chegada a Santo Inácio, permitindo-se sentir as sensações e emoções à medida que
fossem surgindo. Dado a crueza das cenas, algumas delas não figuram nesse relato.

Quinta-feira 17 de outubro de 1991.

Luísa: Estou na porta. Que desespero! Tenho sensação de tremor no corpo. Me separo do grupo e
caminho para a frente do templo. Quando chego às colunas de entrada, sinto uma sensação estranha.
Como se fossem reais. Aos lados do tempo há uma habitação e vejo que está “o mesmo piso de
sempre”; umas cerâmicas hexagonais, perfeitas. Cruzo o largo do templo e vou ver onde estou
enterrada. Vou ver o cemitério. Abaixo de umas árvores, ao lado do templo, estão as tumbas. Não
gosto de estar aí. É terrível. Me sinto muito mal. Tenho náuseas, vômitos. É horrível estar aí. Era
tudo tão feio. Tanta matança. Como podem deixar isso aí (Começa a chorar). Matávamos em nome
de Deus! Quanto horror! Para que serve? Para que tanto sacrifício? E está tudo aí. Me sinto mal.
Quero que me tires daí (Este era um momento muito difícil, porquanto a emoção era muito intensa e
Luísa não queria seguir com a experiência. E observem que até aqui eu não disse nada. Nem sequer
lhe pedi que tomasse uma inspiração profunda. Como lhes disse antes, Luísa já estava em regressão,
vivendo em outro tempo e em outro lugar. A ferida estava aberta e era necessário trabalhar essas
cenas em sua origem para poder esgotar essa emoção. Vejamos então como procedi.)
Terapeuta: Por mais difíceis e duras que sejam essas cenas, isto é muito importante para livrar-te
de todas as sensações do passado. Agora te pedirei que vá a essa vida para esgotar todas as emoções
que te estão perturbando. Não temas que te acompanharei e estarei sempre aqui, a teu lado. Agora
conto até 3 e vê essa vida. Um...dois...três...
L:...Me vão castigar. Tenho muito medo. Eles mesmos vão me castigar.
T: Quem são eles?
L: Meus companheiros. Ai! Sei que vão fazer comigo.
T: Quem são eles?
L: Meus companheiros. Ai! Sei o que vão fazer comigo.
T: Que vão fazer contigo?
L: Vão cortar minhas mãos, vão cortar a língua e deixar-me presa.
T: A que se deve isso?
L: Porque não os ajudei, porque lhes dei comida, porque lhes falei.
T: A quem ajudaste?
L: Aos escravos, às crianças sem Deus. Eu tinha um grupo a quem tinha que mandar e fazê-lo
trabalhar, mas eles são seres humanos e eu creio em Deus. Não foi por rebeldia, não quis ser
rebelde. Quis ajudar. Quis que se convertessem em pessoas e agora vou pagar e tenho muito medo.
A todos os que não obedecemos nos castigam. Estão cegos.
T: E tu, quem eras?
L: Sou um monge. Tenho essa cruz, vês? (Com sua mão direita faz um gesto como se mostrasse
algo.) Ela é meu guia. Eles também a têm mas não a veem. Eles roubaram, roubaram tudo dos
índios, a terra, a liberdade. Por que vieram?
T: E tu, como chegaste aí?
L: Me disseram que era uma boa missão, que viríamos ajudar seres que não conheciam Deus, que
lhes poderíamos ensinar, mas não foi assim.
T: Que ocorreu?
L: Me encontrei com o horror. Como pode ser que um ser consagrado a Deus possa fazer isso? Não
posso compreender.
T: De onde vens?
L: Venho de um povoado cheio de flores, um pequeno monastério. Sou espanhol, ali havia paz,
estava bem. Cultivávamos a terra e as flores. O ar era puro, havia sol e agora estou aqui, preso e
sem luz.
T: Há algo que possas repreender, causaste algum dano? (A pergunta é importante porquanto Luísa
tinha a sensação de que não havia sido bom.)
L: Não, mas eu estava aí. Tinha gostado de ter podido defendê-los. Pobrezinhos, não tinham direito
nem de pensar.
T: Avança um pouco mais, que está passando?
L: Estou trabalhando na terra. Há crianças correndo, indiozinhos. Não lhes deixam passar onde se
lavra a terra. Às crianças maiores mandam fazer trabalhos pesados. Há monges bons e outros maus.
Gosto dessas crianças mas não posso falar com eles. Se te escutam, depois te castigam, não se pode
confiar em ninguém. Entre nós mesmos somos inimigos. Que mentira!
T: Qual é a mentira?
L: Que somos irmãos. Somos iguais aos demais e, no entanto, dizem que somos distintos porque
estamos a serviço de Deus. Melhor que me cale, se me escutam, pobre de mim! Deus meu! Aonde
vim! Isto é um inferno. Em vez de um monastério é um cárcere. Quantas coisas passam aqui!
T: Agora conto até 3, e vê o fato traumático relacionado com tuas emoções. Um...dois...tr~es...
L: Me amarraram. Tenho os braços atados e me vão cortar as mãos. Me vão cortar as mãos! Por
que? Isto é um inferno! Aaahhh!
T: Que passou?
L: Me cortaram a língua! Já não posso falar nem escrever!
T: Segue adiante.
L: Já não há adiante. Ai! Não! Não! Não!
T: Que está passando?
L: Há um amigo, disse-lhe que vá! Porque a ele também lhe vão cortar as mãos e a língua. Que não
o vejam aqui.
T: Quem é esse amigo?
L: Não lhe vejo bem o rosto. Mas os olhos sim. Me parece que é Rosaura (a mesma que não queria
nascer). Que pena! Me consola e me diz que Deus vai me receber, mas agora está tudo muito
escuro. Já não tenho nada que contar-te.
T: Qual foi o momento mais difícil dessa experiência?
L: Não pensei que me iriam cortar a língua. Não esperava. É muito feio. Tem-se muito medo. Não
podes fazer nada, só ter medo.
T: A que se deve que te cortassem a língua?
L: Me cortaram a língua porque queria falar e explicar-lhes.
T: E isso, de que maneira está afetando tua vida atual? (Ainda que tudo isso surgisse de uma
reminiscência não há que perder de vista a cura da alma e da mente.)
L: Se explico, me cortam a língua (Aí está! Apareceu um mandamento que faz sentido em sua vida
atual.)
T: E isso, como se relaciona com tua vida atual?
L: É igual a ontem. Falo e não me entendem. Ontem não me entenderam. Se tivessem escutado,
teria sido tudo muito distinto. Mas os seres humanos não queremos escutar nada. Escutamos a nós
mesmos. Agora me custa fazer-me entender. Dentro de mim há uma ideia que exprimo mal e então
há confusão. E há algo mais.
T: Que mais?
L: Descubro que o corte de minhas mãos me impede de escrever. (Aí apareceu outro bloqueio.)
T: Muito bem. Agora vê o momento de tua morte nessa vida, para desprender-te de tudo isso.
L: Fui secando pouco a pouco. Me haviam cortado as asas, não podia voar e agora vou morrer. Peço
a Deus que mande um raio de luz para iluminar suas mentes. Tem que ser um raio muito forte. Que
os perdoe. Eles não sabem o que fazem. Isso foi o que disse meu mestre e eu compreendo que teve
razão. Essa é a verdade...Se abre a luz, se abre o teto e vejo a luz e por essa luz me vou. Terminou a
escuridão. Sabes que? Agora há uma escada que baixa pela luz. Agora vou deixar o que ficou de
minha matéria. Pobre, que parece um trapo velho. Mas meu corpo parece como se houvesse
renascido. Está luminoso, não está encurvado e se pode elevar. É transparente e me vou ao espaço.
Olha! (E aqui se ri pela primeira vez na experiência.) Sabes o que? Estão descontentes e tocam as
trombetas. Me dizem que estive bem. Que fiz bem, me recebem bem. Há muita luz, muita paz,
muito calor. É incrível! Tanta tristeza e me dizem que estive bem! Estão contentes de verdade!
T: Quem está contente?
L: Todos meus irmãos que estão aí. É como uma festa. Nunca vi uma coisa assim. Me abraçam,
estão contentes comigo.
T: E que aprendeste com essa experiência?
L: Aprendi que o que dás te devolvem. Se dás amor, vás receber amor. Não te imaginas a alegria
que têm. Gostaria que visses. (Vejam que extraordinário: está vivenciando algo inefável e bonito ao
qual não tenho acesso.) Me dizem: “Fizeste o que se esperava de ti, nem mais nem menos”. Cumpri
minha missão.
T: Muito bem, agora vais desprender-te para sempre de todas essas sensações…
L:(Adiantando-se.) Já me tiraram dali.(O trabalho já está feito.)
T: Muito bem, então quero que experimentes plenamente todas essas sensações maravilhosas,
conservando em teu interior toda paz, alegria e a grandiosidade deste momento.
L: (Abrindo os olhos e regressando a sua consciência habitual) Creio que era melhor que te
cortassem a cabeça no Coliseu. Isto era pior.

Temos visto assim, como uma reminiscência do passado terminou em uma grande catarse
emocional. Como disse antes, não é necessário fazer uma regressão cada vez que a memória do
passado surge em uma pessoa. No entanto, se concomitantemente com a recordação surgem
emoções perturbadoras, então é inevitável apagá-las voltando à situação original. Não se trata aqui
de satisfazer a curiosidade, senão de procurar o alívio e de resolver os mandamentos ou bloqueios
originados na experiência. Como um achado surpresa, Luísa descobriu que suas dificuldades para
ser ouvida e compreendida e para escrever, tinha, origem no corte das mãos e da língua nessa vida.
Pouco depois, Luísa refletia:
-Me dei conta de que as mãos sempre as tive como adorno. Desde pequena não tive força
nas mãos. Não podia apertar algo, eram inúteis. Nem sequer agora, posso abrir uma garrafa de
refrigerante.
Após essa experiência, Luísa aprendeu a cuidar e valorizar suas mãos, voltou a escrever e
está realizando grandes empreendimentos na sua vida pessoal.

(1) A reencarnação, Gabriel Delanne. Ed. Bauza, Barcelona, Espanha, 1925

Capítulo XVII
Como trabalhar os sonhos

Alguns sonhos também são reminiscências de outras vidas. O sonho é uma forma que a alma
tem de trazer à consciência um fato não resolvido do passado e que ainda segue provocando
perturbações emocionais na esfera psíquica da pessoa. É uma tentativa por reviver o trauma
original, para resolvê-lo de uma vez por todas.
É comum que a cena do passado apareça misturada com personagens e episódios da vida
cotidiana. Em algumas ocasiões, a pessoa pode resgatar, sem nenhuma dúvida,imagens que não
pertencem ao momento atual, como por exemplo, uma casa antiga, uma paisagem ou pessoas com
vestimenta de outra época.
O que ocorre durante o sonho é muito simples. Ao dormir-se o cérebro físico, a alma se
desprende e volta a encontrar-se em sua consciência expandida. Não é mais que outra forma do
desprendimento psíquico que já temos visto anteriormente. León Denis disse que o sonho não é
outra coisa que a saída da alma do corpo (1) e H.P. Blavatsky explica que os sonhos são, na
realidade, as ações do Ego – o Eu Superior – durante o descanso físico.(2)
Durante o sonho, desprendidos já das amarras do corpo, desenvolvemos uma atividade
intensa da qual não conservamos recordação porque ao voltar ao corpo, o impacto com a matéria e a
mistura com as impressões do cérebro físico fazem que esqueçamos a maior parte do que foi
sonhado. Os sonhos se desenvolvem em distintos níveis, dependendo do grau de desprendimento
alcançado pela alma. Mas sempre ao regressar ao corpo físico, a atividade da alma se sobrepõe com
a atividade cotidiana e daí resultam os sonhos disparatados onde se confundem tempos, lugares e
pessoas.
É por esse motivo que as mensagens profundas ou transcendentais, se manifestam
habitualmente mediante símbolos, porque dessa maneira a alma se assegura uma imagem nítida e
duradoura.
O importante do sonho, como o explica muito bem Trigueirinho, é que também vivemos
enquanto sonhamos e que a terça parte de nossa vida se desenrola enquanto dormimos.(3)
Enquanto o corpo físico descansa a alma se desprende e pode elaborar situações da vida
diária, resolver problemas difíceis, encontrar-se com outros seres, realizar aprendizado, viagens
astrais e também rever suas encarnações passadas. Assim o enuncia claramente o rabino Berg:
“Os sonhos são manifestações da consciência cósmica em que flui todo o saber.
Frequentemente, durante o sonho a alma volta a viver encarnações passadas. A alma se desprende
livremente fora das limitações que lhe impõe o tempo, o espaço e o movimento.”(4)

Sonhos de perseguições, de morte, de afogamento, pesadelos, sobretudo quando recorrentes,


são recursos da alma para trazer à consciência situações traumáticas do passado, desta ou de outra
vida anterior, para que sejam resolvidas, porque de uma ou outra maneira estão perturbando a vida
emocional da pessoa.
Em algumas ocasiões os sonhos trazem chave que permitem à pessoa descobrir-se a si
mesma. Este foi o caso de uma mulher educada na fé católica, que aos 45 anos descobre através de
sonhos reiterados com rabinos, que era de origem judaica. Nestes sonhos escutava palavras em
hebraico desconhecidas para ela e um ancião lhe dizia: “Isto é teu”. Incomodada pela intriga,
inquiriu a um familiar mais velho, que lhe confessou a verdade sobre sua origem.
Trabalhar um sonho com TVP é muito fácil. A energia já se mobilizou e a cena já está na
consciência da pessoa. Tudo o que se necessita é pedir à pessoa que volte a vivenciar o sonho para
que aflorem as emoções que farão a ponte com a vida à qual o sonho está se referindo.
Como verão na continuação, a técnica é sempre a mesma. Trate de um sonho, uma foto, um
quadro ou situação da vida cotidiana, as cenas se trabalham sempre do mesmo modo e isso nos
assegura que se cumpra o objetivo terapêutico.

O pesadelo de Checha

Durante seu treinamento como terapeuta de vidas passadas, Checha, uma psicóloga de 29
anos, trabalhou em regressão um pesadelo que havia tido um par de dias atrás. Nesse pesadelo,
Checha se encontrava em sua casa com seu bebê nos braços quando pela varanda se introduziram 2
indivíduos. Um deles levava nas mãos uma lata de pêssegos, que na realidade era um spray que
lançava gás.
-Digo que façam o que quiserem – relata Checha- mas não nos toquem. Mas o tipo disse; -
Não. A você quero matar.
-Senti que estava entre a espada e a parede – continua relatando- É a mesma sensação que
tive quando era menina e voltava da escola. Quando chego em casa, 2 garotos se metem no elevador
e param no entrepiso. Um me aponta uma pistola e me pergunta se havia alguém em casa. Lhes digo
que há vários homens e então se vão. Nesse momento senti a sensação de querer urinar.
-Como era essa sensação? – lhe pergunto.
-Como uma opressão na zona genital – precisa Checha. E o efeito de tudo isso é que agora
tenho medo de ficar sozinha em casa de noite. Para piorar, quando me desperto do pesadelo, leio no
jornal que assaltaram uma casa e enforcaram uma mulher com o cordão do sapato.
Vejamos, então, como se desenvolve esse pesadelo na regressão.

Sábado, 7 de janeiro de 1995.

Ch: Sinto que estou tremendo e agora que escuto a chuva, recordo o episódio quando voltava do
colégio, pois também chovia.
T: Muito bem, vê então nesse momento quando estavas no elevador. Que está passando?
Ch: Me apontam a pistola e sinto vontade de urinar. Não posso controlar essa sensação.
T: Que mais está sentindo?
Ch: Essa pergunta, se há alguém em minha casa. É como se estivesse de volta entre a espada e a
parede (a mesma sensação que no sonho).
T: Qual é o momento mais difícil dessa situação?
Ch: Quando vi que podia chegar a não responder.
T: Quais são tuas reações físicas nesse momento?
Ch; Frouxidão nas pernas. Perco o controle da parte inferior do corpo.
T: Quais são tuas reações emocionais nesses momentos?
Ch: Que injustiça! Por que têm que se apegar comigo?
T: Quais são tuas reações mentais nesses momentos?
Ch; Que ganham se perder minha vida?
T: Muito bem, agora vê o princípio do pesadelo. Que está passando?
Ch: Vejo-os entrar pela varanda. O que mais vejo vem com um lata de pêssegos, mas tem algo
acima que parece que vai atirar um gás. Digo que levem tudo. Mas dizem que não, que é a mim que
vieram matar. Creio que já não tenho saída.
T: Agora fixa-te, qual é o momento mais difícil, mais traumático desse pesadelo? (como veem, a
forma de trabalhar é sempre a mesma).
Ch; Quando não havia forma de convencê-lo de que não me matasse.
T: Muito bem, quais são tuas reações físicas nesse momento?
Ch: A sensação de querer urinar. Como se não dominasse essa parte e sinto vontade de urinar agora.
(A mesma sensação do episódio do elevador.)
T: Quais são tuas reações emocionais?
Ch: Quero dominar essa debilidade.
T: E quais são tuas reações mentais?
Ch: Superar esse problema físico. Não gosto de estar nesse momento em que querem me matar. Não
me cai bem essa obscuridade.
T: Muito bem, agora ao contar até 3, retrocederás no tempo e irás para cena que está relacionada
com esse pesadelo e com essas sensações. Um… dois...três...que está passando?
Ch: Sinto muito frio em todo corpo e principalmente nas plantas dos pés...sinto que estou
esfriando...me dormem as mãos.
T: Onde te encontras?
Ch: É um lugar gelado e o frio está me penetrando. Vejo tudo branco, posso chegar a ver montanhas
cobertas de neve.
T: Segue, que mais?
Ch: Me vejo deitada, creio que sou homem. Tenho uma camisa tipo lenhadora...tem algo de cor
vermelha...Não sei porque...caí aí.
T: Conto até 3 e retrocede um pouco antes de cair. Um…dois...três…
Ch: ...Me empurram...me empurram entre 2...é como que lhes incomodo...são uns tipos
grandes...muito desleixados...com muita barba e me empurram…
T: Segue, que mais?
Ch: É como se saíssemos a escalar uma montanha e eu estou com problemas...Aahh!
T: Que está passando?
Ch: Estou sentindo aqui, uma dor na região genital. Devo ter vontade de urinar, mas muita dor. (A
mesma sensação que no elevador e em seu sonho.)
T: Segue.
Ch: O corpo está todo frio, mas aí sinto ardor. Me revolvo, começo a rodar. Vejo-os baixar por outro
lado. Tenho algo nas costas, como um bolso ou uma mochila…
T: Segue adiante.
Ch: Cada vez que dou uma volta, me incomoda essa coisa aí atrás...Estou dando voltas...me parece
que caio de um lado...já não tenho mais forças...estou gelada...os pés estão gelados...e a dor me
oprime...estou deitada e não posso fazer nada. Me deixo estar aí...Já não posso fazer nada.
T: Segue um pouco mais.
Ch: Me caem lágrimas. Tenho-as aqui. (Aponta o ângulo interno de ambos os olhos. Não está
chorando, no entanto sente as lágrimas.) Não posso crer que esteja aí. Cada vez tenho mais frio.
T: E os outros, que passou?
Ch: Querem salvar-se à custa de me deixar. Não sinto raiva. Sinto lástima. Parece que são meus
irmãos.
T: Segue adiante.
Ch: Estou deitada ali, de bruços...devo ter urinado de dor e de frio e não pude controlar (A mesma
sensação que no pesadelo.)
T: Segue um pouco mais
Ch: Me parece que fico aí. Não saio dessa. Desta sei que não saio...É a minha sensação de estar
entre a espada e a parede (Igual que no sonho.)
T: Avança um pouco mais.
Ch: Me dá muito medo passar a noite. O frio me vai entrando e me vai gelando toda...me está
doendo a garganta...não posso mais...me está cobrindo o corpo de neve...sinto que estou
morrendo...Me parece que yá não estou nesse corpo…
T: Onde te encontras?
Ch: Sentia outro corpo com outra dor.
T: Como é isso?
Ch: Logo senti uma dor aqui atrás (nas costas). Caí de um cavalo de mau jeito. Aí não me vejo
como homem. Sou uma menina de uns 10 anos.
T: Muito bem. Agora deixa essa cena para mais tarde. (Às vezes, o paciente pode estar evitando o
contato com uma cena traumática, como veremos em seguida. O salto a outra vida atua como um
bypass saltando o fato traumático.) Ao contar até 3, vê o momento mais difícil de tua experiência
como homem. Um… dois...três…
Ch: O mais difícil foi que outros homens tenham se ligado a mim e me tenham abandonado.
T: Fixa-te quais são tuas reações físicas nesses momentos.
Ch: Angústia, vontade de choras.
T: Onde sentes essa angústia?
Ch: É como um nó e opressão na garganta.
T: Isso é, sente esse nó e essa opressão profundamente.
Ch: Ajjj! Sinto como se me enforcassem! (Aí está a cena que estava sendo evitada.) Com um cordão
ou dois fios que jogam assim (aponta na direção oposta).(Recordem também o impacto ao ler a
notícia no jornal do assassinato de uma mulher da mesma maneira.)
T: Retrocede um pouco antes.
Ch: Me parece que agarram por trás, assim (toca o maxilar). Ai! Vi agora! Não me dou conta da
presença e me jogam para trás e eu tenho um laço aí. Parece que morro assim. Alguém me mata.
Não é tanto o frio.
T; Segue, que mais?
Ch: Devo ter o pescoço cortado, sinto que sai sangue...e voltei a ver a criança...não sei porque.
T: Dentro de instantes trabalharás essa cena. Agora volta à cena anterior.
Ch: Me matam...apareceu essa pessoa e me agarrou por trás. Sigo viva depois do ataque. Sinto dor e
frio. Mas não são meus irmãos. É alguém que queria se vingar de nós. Tínhamos que correr e me
agarraram. Ai! Me sinto mal. Sinto que vou morrer! (Feito o contato com o verdadeiro fato
traumático, começa a aflorar toda a emoção.)
T: Isso é, deixa sair tudo isso.
Ch: Ai! Não quero morrer! Por que/ Ai! Não há remédio, me parece!
T: Isso é, deixa sair tudo isso.
Ch: É que como homem não posso chorar.
T: Agora sim podes fazê-lo.
Ch: Tenho muito frio. Não posso mais. (Agora sim chora.) Não posso mais! Basta! Não posso mais!
Não posso respirar! Ai! Me reviram os olhos! (Ao tempo que chora, se arqueia no solo e sufoca.)
T; Isso é, agora segue até deixar esse corpo.
Ch: O corpo se cobre de neve. Estou acima mas sigo com a sensação de frio.
T: Como se relaciona essa experiência com o sonho?
Ch: Esse gás era como a neve. Como um gás branco que ia me congelar. Como que me iria fazer
reviver essa vida dessa neve que me cobria e me iria matar, mas ao mesmo tempo sentia que não me
iria deixar respirar.
T: Muito bem, agora vê a cena da menina.
Ch: Caí do cavalo e tenho uma dor aqui (as costas).
T: Segue.
Ch: Como que me quebrei. Sinto que me vêm buscar. Me levantam, mas estou mal. Não posso
levantar a cabeça. Me sinto igual a quando num acampamento que quebrei e um amigo me levantou
e me levou. Sinto essa mesma sensação.
T: Que sensação?
Ch: Que me transferem porque estou quebrada.
T: Segue adiante.
Ch: Me parece que me quebrei. Não tenho bem a coluna. Tenho irmãs e irmãos, estão meu pai e
mãe.
T: Segue.
Ch; Não entendo bem o que está passando. Estou inconsciente. Escuto que eles dizem que caí do
cavalo. Era uma fazenda. Não posso caminhar. Me parece que estou assim na cama.
T: Avança um pouco mais.
Ch: Têm que ir e fico sozinha. Me deixam uma pistola ou revólver, algo longo. Tenho medo. É a
mesma situação de medo que tenho agora.
T: Segue um pouco mais.
Ch; Me parece que brincando me mato. Se dispara uma bala. Me disseram que não tocasse.
T: Como é que isso ocorre?
Ch; Tenho-a aí, estou brincando e se dispara. Me atinge aqui (no abdômen) e vejo uma poça de
sangue.
T: Segue um pouco mais.
Ch: Sinto que estou esvaindo em sangue, mas é rápido. Não há tempo. Já não tenho forças...Caí da
cama...Aaahh!
T: Segue.
Ch; Me vejo de bruços...Há sangue no chão...eu estou aí...mas me sinto como se me visse desde
acima, desde o teto. Me vejo deitada aí...os cabelos estão com sangue...Quando vi essa imagem me
veio outra vez a sensação de urinar.
T: E qual foi o momento mais traumático, mais difícil dessa experiência?
Ch; Ficar sozinha. Não queria que se fossem.
T: E quais são tuas reações físicas nesse momento?
Ch: A dor, que não podia me mover.
T: E quais são tuas reações emocionais?
Ch; Medo.
T: E quais são tuas reações mentais nesses momentos?
Ch; Não os perdoo por me deixarem só.
T: E de que maneira se relaciona tudo isso com tua vida atual?
Ch: Quando fico sozinha me dá esse medo. Como agora que tenho que cuidar de meus filhos e
como que nessa vida não soube cuidar porque terminei me matando.
T: Então?
Ch; Então é como que tivesse um temor de não saber cuidar ou não saber cuidar-me.
T: Muito bem. Agora, te vás a desprender de tudo isso, tomando consciência de que já não esta aí.
Tudo isso terminou. Ao morrer esse corpo terminaram todas as sensações dessa vida. Já não estás aí.
Já nada disso te pertence. Agora deixa tudo isso e escolhe uma cor de teu agrado para introduzir
uma nova vibração energética em tua vida. Que cor escolherias/
Ch; Violeta.
T: Muito bem, então imagina como se um raio de cor violeta...
Ch: Mmmmmm! Vejo um raio que passou aí, oblíquo.
T: Muito bem, então, permite que a energia desse raio violeta se interpenetre com todo teu ser e,
envolta nesse raio projeta uma imagem de como gostaria de ser de agora em diante.
Ch: Tranquila, esbelta, com forças para sair adiante.
T: Muito bem. Então envolta na cor violeta, grava profundamente essa imagem que criou de ti
mesma e quando desejares, abrirás os olhos e isso fará que regresses aqui, à tua consciência física
habitual, neste sábado 7 de janeiro de 1995.

Acabamos de ver com que facilidade se pode trabalhar um sonho com TVP. Não há nenhum
mistério nisso. É muito simples, pela simples razão de que, com o sonho, a pessoa já está em
regressão. As cenas já foram examinadas durante o sonho, só que ao despertar, se confundem com
outras imagens. Isto não quer dizer que todos os sonhos contenham acontecimentos de outras vidas.
Tampouco invalida seu trabalho com outras técnicas. Para cada caso há uma técnica apropriada.
Mas se o sonho é muito vívido e se acompanha de sensações e emoções profundas é quase certo que
se trata de um fato de vida passada ou de uma experiência transpessoal. No caso de Checha,
pudemos comprovar que ainda que as imagens não se correspondessem com as cenas vivenciadas
na regressão, as sensações e emoções eram as mesmas. Talvez as imagens do sonho ficaram
condensadas no gás que era branco e que Checha relacionou com a neve. Por outra parte, a vida
relacionada com o sonho abriu a porta a outra existência vinculada a seu temor de não saber cuidar
de seus filhos ou de não saber cuidar de si mesma.
Me ocorre uma coisa: a vida da menina, surgiu porque a reativaram as emoções da morte na
neve ou talvez também essa vida foi revista por Checha durante o sonho, ainda que ela não recorde?
Há algo mais: a sincronicidade(5) de ler num jornal a notícia da mulher enforcada com o
cordão do sapato, imediatamente depois de ter tido o pesadelo. Recordem que Checha sentiu um
profundo impacto nesse momento e na regressão descobre que foi enforcada com um cordão. Tanto
no sonho como a notícia do diário estavam vinculados com a mesma experiência. A única coisa que
posso dizer é que é uma coincidência significativa.

(1) León Denis, op.cit.


(2) Os sonhos, H.P. Blavatsky, Adyar, Rosário, 1985
(3) Também vivemos enquanto sonhamos, Trigueirinho, Kier, Buenos Aires, 1988
(4) Philip s. Berg, op.cit.
(5) Sincronicidade: “(...)a coincidência cronológica de 2 ou mais acontecimentos que não estão
relacionados entre si num nexo causal e cujos conteúdos no que diz respeito a significados, são
iguais ou similares.” C.G.Jung.

Capítulo XVIII
Regressões como animais

Já é difícil aceitar que temos vivido outras vidas antes dessa, e não uma, mas várias. Mas
agora se coloca outra interrogação: alguma vez fomos animais, ou vegetais, ou talvez uma pedra?
Distintas correntes espirituais afirmam que a alma evolui desde o reino mineral. A ciência
clássica fala de três reinos: mineral, vegetal e animal. Mas do ponto de vista da evolução espiritual
deveríamos falar de pelo menos 5 reinos: mineral, vegetal, animal, humano e angélico. O reino
angélico é o próximo passo na escala espiritual do homem. Sem contar além disso, que há outra
linhas de evolução diferente, como a dos elementais da natureza.(1)
Todos os que trabalham com a energia dos cristais têm consciência de que estes constituem o
ponto mais alto da evolução no reino mineral e que, além do mais, se comportam como organismos
vivos. Há pedras que parem pedras. Tal é o fenômeno das pedras parideiras em Portugal, na aldeia
de Castanheira.
Depois de mais de 3 décadas de estudos sistemáticos sobre a consciência humana, Stanislav
Grof afirma que, por meio de nossa consciência podemos transcender o tempo e o espaço, cruzar as
fronteiras que nos separam de diversas espécies animais e experimentar processos do reino vegetal e
do mundo inorgânico. Grof relata que trabalhando com respiração holotrópica e drogas
psicodélicas, várias pessoas tiveram experiências de consciência animal e vegetal. Essas
experiências não se limitaram tão só às espécies mais evoluídas. Uma pessoa, por exemplo, se
identificou com uma lagarta e experimentou o processo da metamorfose. Sentiu a desintegração do
corpo da lagarta no interior do casulo, para logo emergir desse líquido amorfo com a forma de uma
mariposa. Após sair do casulo, experimentou o processo de secagem e sentiu que esticava suas asas
molhadas e dobradas para empreender triunfalmente seu primeiro vôo(2). Após isso, me ocorre
perguntar se A metamorfose de Kafka, não se terá originado numa experiência de tipo transpessoal.
Há mistérios ainda insondáveis para a mente humana, mas o concreto é que pessoas que, em
regressão, tem experimentado vidas como animais e muito vívidas, por certo.
A questão aqui é que faço quando uma pessoa, no meio da regressão, me diz que é um
animal. É muito simples. Sigo adiante com a experiência com a mesma técnica de sempre. Sem
censurar, sem interpretar. Trabalho exatamente igual como sempre. Não importa que o paciente diga
que é cachorro, gato ou extraterrestre. A técnica é sempre a mesma. A experiência é do paciente e
não minha. Devo ajudá-lo a que faça sua experiência e se sigo fielmente a técnica e respeito sua
vivência obterei também o ensinamento terapêutico para a pessoa. Seja como for, essa vivência tem
algo que ver com a vida atual e as emoções e conflitos do paciente.

Criatura aquática, tigre e pantera

Raquel havia iniciado essa regressão, trabalhando seu medo da rejeição e a necessidade de
proteção. Atravessa por experiências de sua primeira infância, nascimento e uma vida passada na
qual morre num torneio com um punhal cravado no peito. A sensação dominante nesse momento é
de não saber para onde ir, nem que fazer. Vê claramente como se desprende do corpo. À altura do
umbigo, sai uma nuvenzinha muito brilhante que contrasta com a obscuridade da noite. A regressão
já está chegando ao fim. Só resta efetuar a harmonização, para a qual escolhe a cor laranja como se
fosse um traje. É então quando imprevisivelmente, tropeça com uma dificuldade e se desenvolve a
seguinte experiência.

Quinta-feira 26 de abril de 1990.

R: Não posso colocar o traje laranja.


T: Que está passando?
R: Sinto que sou uma figura negra.
T: Como é essa figura?
R: Como se fosse um peixe grande.
T: Que classe de peixe?
R: Tenho algo colocado fora...gelatinoso...
T: Como é isso gelatinoso?
R: É uma sensação estranha, que me cobre todo o corpo, como uma gelatina negra...como ter um
traje anfíbio.
T: Segue, que mais?
R: Faz muito frio e há água...não sei se vivo dentro da água.
T; Veja suas mãos, seus pés, como são?
R: Minhas mãos são negras...os pés também, mas são grandes, como se fosse um pinguim...é como
o corpo de uma foca, todo gelatinoso...
T: Segue.
R...Mas o corpo não tem forma...é uma massa inteira...como se fosse...um elefante marinho.
T: Está dentro ou fora da água?
R: Estou fora da água, mas há mar.
T: A que sexo pertence?
R: Não há sexo.
T: E quais são seus pensamentos?
R: Não tenho inteligência.
T: Quais são suas sensações?
R: Não tenho sensações.
T: Como é isso?
R: Não sei o que é...é como olhar para longe...de repente me fundo na água...e nado...como se fosse
uma baleia.
T: Segue.
R: Na profundidade há outras criaturas iguais.
T: E agora, que está sentindo?
R: Tenho uma sensação de alegria, tudo está bem. As outras criaturas se comportam igual.
T: Como se comportam?
R: Flutuam na água, se tocam de vez em quando e seguem.
T: Veja como se comunicam.
R: Comunicação existe...mas não sei como é...é sem falar...não há palavras...Há confusão ao estar
na praia. (A sensação dominante no momento da morte experimentada previamente). Ao entrar na
água e ver os demais, tudo está bem.
T: E o que é o mais importante dessa experiência?
R: A sensação de ver preto e branco. O sol e a profundidade.
T: E isso, como se relaciona com sua vida atual?
R: É como ter que unir essas 2 coisas. Não posso unir essas 2 partes.
T: E como gostaria de ser?
R: Entender o branco e o negro.

-Ao sair a figura da água, a sensação foi que o sol a desestruturava. Havia alegria de
entrechocar-se. Não havia inteligência. Havia sensação dos companheiros, sensação de grupo, de
calor dentro do frio da água. Ao estar parado na praia, a sensação era: “que faço aqui, onde estou?”
É interessante notar que antes de começar a regressão, Raquel se perguntava: “Quando vou
encontrar meu grupo?”.
Nessa vivência, Raquel pôde resgatar aspectos de si mesma. Esta era uma etapa de
reencontro de partes e desprendimento de outras e resgatou a sensação interna de ternura da
criatura. Igualmente conheceu a luz e queria voltar a sair à superfície.
Raquel estava finalizando sua sessão, quando surgiu a dificuldade na harmonização que a
levou a vivenciar essa experiência. Há que estar atento a qualquer imprevisto que aconteça. Aqui
não se podia terminar a sessão simplesmente porque o tempo se havia acabado. Havia que resolver
a dificuldade que se apresentara. Assim foi como se sucedeu o que ocorreu. Da sensibilidade e da
intuição do terapeuta depende que situações desta natureza não passem despercebidas. Quando
durante a regressão aparece algum impedimento, imediatamente há que pensar que esse
impedimento pode ser a manifestação objetiva de um fato do passado. Talvez não encontremos
nada, mas se o investigamos podemos nos surpreender com histórias como essa.
Raquel se sentiu como uma criatura subaquática. Grof relata o caso de uma mulher bela que
se viu como uma baleia prenhe e que sentiu o parto e nascimento de seu bebê como se fosse uma
baleia. Tempos depois quando Grof descreveu a um grupo a experiência desta mulher, um biólogo
marinho que se encontrava presente, confirmou plenamente o descrito pela mulher belga.(3)

(1) Os espíritos da natureza, Charles W. Leadbeater, sírio, Málaga, 1985.


(2) A mente holotrópica, Stanislav Grof, Ed. Planeta, Buenos Aires,1994.
(3) Grof, Stanislav,op.cit.
Bibliografia
Sobre a Terapia de Vidas Passadas

Apostila para cursos de TRVP, Maria Julia Prieto Peres, São Paulo, Brasil, 1989.
Através do tempo, Brian L. Weiss, Vergara, Buenos Aires, 1989.
Guia prático da regressão a vidas passadas, Florence Wagner McClain, Luís Cárcamo, Madri,
Espanha, 1987.
A memória de vidas anteriores, Denise Desjardins, La Table Ronde, Paris, França,1980.
A reencarnação, Thorwald Dethlefsen, Ed. Bruguera, Espanha, 1977.
A vida entre as vidas, Joe Fisher & Joel Whitton, Sudamericana Planeta, Buenos Aires, 1988.
As vidas sucessivas, Albert de Rochas, Chacornac, Paris, França, 1911.
Vivendo suas vidas passadas, Karl Schotterbeck, Ballantine, Nova Iorque, 1990.
Muitas vidas, muitos sábios, Brian L. Weiss, Vergara, Buenos Aires, 1989.
Somos todos imortais, Patrick Drouot, Ed. Le Rocher, Mônaco, 1987.
Outras vidas, outras identidades, Roger J. Woolger, Martinez Roca, Barcelona, Espanha, 1991
Terapia de vidas passadas, N. Shiffrin & M. Netherton, Morrow, Nova Iorque,1978.
Manual de reencarnação, Robert & Loy Young. Reincarnation Research & Education Foundation,
Santa Mônica, Califórnia , USA, 1980.
Você já esteve aqui, Eidth Fiore, EDAF, Madri, 1980

Sobre a reencarnação e o carma

Clarividência e projeção astral, Posada, México, 1985.


Como se reencarna (Capítulos 12, 13 e 14 da obra Missionários da Luz)Francisco Cândido Xavier,
Kier, Buenos Aires, Argentina, 1988.
Edgar Cayce sobre a reencarnação, Noel Langley, Mirach, Madri, 1994.
O livro dos espíritos, Allan Kardec, Kier, Buenos Aires, 1972
O problema do ser e do destino, León Dennis, Kier, Buenos Aires, 1972.
No invisível, León Dennis, Edicomunicación, Barcelina, Espanha, 1987.
A lei do carma, José Luis Martin, Orión, México, 1983.
A reencarnação, Gabriel Delanne, Bauza, Barcelona, Espanha, 1925.
A sabedoria antiga, Annie Besant, Eisa, México, prólogo de 1897, Reencarnação, Pensamento, São
Paulo, Brasil
As rodas de uma alma, Philip S. Berg. Centro de Investigação da Cabala, Nova Iorque, USA, 1991.
A vida depois da morte, Yogi Ramacharaka, Kier, Buenos Aires, 1991.
Reencarnação, Davis Christie-Murray, Robin Book, Barcelona, Espanha, 1987
Reencarnação no Brasil, Hernani Guimarães Andrade, O Clarim, São Paulo, Brasil, 1988.
Um livro de texto sobre teosofia, Charles W. Leadbeater, Edit. Teosófica Argentina, Rosário, Santa
Fé, 1967
Vida depois da vida, Raymond A. Moody Jr., Edaf, Madri, 1977.
Vinte casos sugestivos de reencarnação, Ian Stevenson. University Press of Virginia, Charlottesville,
Vi, USA, 1974.

Bibliografia geral

Cirurgia experimental, J. Marcowitz, Labor, Buenos Aires, 1943.


A arte de magnetizar, David Perry, Kier, Buenos Aires, 1978.
O livro dos sonhos, Charles Leadbeather, Gomez Gomez, México, 1985.
A cura pelo espírito-Stefan Zweig, Anaconda, Buenos Aires, 1945
A mente holotrópica, Stanislav Grof, Planeta, Buenos Aires, 1994
A experiência mística e os estados de consciência, Aldous Huxley, A. Maslow, M. Bucke e outros,
Kairós, Barcelona, 1979.
A vida secreta da criança antes de seu nascimento, Thomas Verny, Grasset, Parés, 1982, publicado
por Urano, Barcelona, 1988.
Os espíritos da natureza, Sírio, Málaga, Espanha, 1985
Os sonhos segundo a filosofia esotérica. Helena Blavatsky, Adyar, Buenos Aires, 1985.
Muitas vidas, D. Kelsey & J. Grant, Ayer Co. Publishers, 1994
Meditações sobre a cor, S.G.J.Ouseley, Sírio, Málaga, Espanha, 1992.
Sabedoria hindu, Lin Yutang, Biblioteca Nueva, Buenos Aires, 1946.
Segredos sexuais, P.Slinger &N.Douglas, Martinez Roca, Barcelona, 1982.
Também vivemos enquanto sonhamos, Trigueirinho, Kier, Buenos aires.
Técnicas de meditação transcendental, Jacobo Grinberg-Zylberbaum, Heptada, Madri, 1990
Vidas, opiniões e sentenças dos filósofos mais ilustres, Diógenes Laércio, Perlado Páez, Madri,
Espanha, 1914.
Visualização criativa, Shakti Gawain, Selector, México, 1989.
Viagem pelo Oriente, Alphonse Lamartine, Hachette, Paris, 1875.

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