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Dedico esse livro a Jesus, que foi a maior prova de

morte e renascimento em toda história da


humanidade!
Agradeço a todas as pessoas e situações que me
jogaram no chão, pois neste exato momento
conheci outras que me levantaram e me fizeram
melhor
Prefácio

palavra morte sempre me assombrou.


Mesmo que eu soubesse que ela fazia parte da
vida. Talvez, a
única parte certa e confiável dela.

Então, quando surge o Ricardo, com a provocativa


fra- se “Espero que você Morra”, recuei. Morrer, até
então, significava perder a vida. Só que o sentido da
frase era muito mais profundo. Eu precisava morrer,
para viver.
A morte, na verdade, era a única palavra que nos
fazia sentir vivos. Comecei a experimentar pequenas
mor- tes. E era difícil morrer.
Temos, todos os dias, recursos que alimentamos para
não deixarmos certas coisas morrerem na gente. O
ape- go é grande demais para ser desprezado.
Então, dei o primeiro salto. O que exigiu mais
coragem. Matar aquilo que estava velho dentro de
mim era ne- cessário, para que nascessem coisas
novas.
Justo eu que era tão amiga das mudanças, estava ape-
gada à rotina e ao conforto de uma vida com
segurança.
Morri para a segurança e olhei para minha intensa ca-
pacidade de sabotar a mim mesma. Matei esse
pedaço de mim, que insistia em me segurar. Esqueci
meus hábi- tos e alguns deles morreram de fome.
Parei de nutrir ilusões e muitas delas morreram.

Matei a culpa. Assumi a responsabilidade. Deixei de


lado papéis, que morreram de esquecimento. As
neuro- ses precisaram ser exterminadas, uma a uma.
E eu velei todos os problemas, sabendo que não me
acompanhariam mais.
O Ricardo é um exterminador de limitações.
Através de suas provocações, ele consegue que cada
ser huma- no faça uma alquimia, transformando
aquilo que limi- ta em algo que potencializa.
Na prática, ele faz a gente morrer um pouco por dia.
Através das reflexões, traz para a consciência coisas
que ficavam guardadas na caixa de Pandora e nos
sen- sibiliza a entender finitude, permanência e os
ciclos que perpetuamos sem perceber.
Vivemos como se fossemos eternos, e quando recebe-
mos um chamado que nos acorda para a vida,
consegui- mos entender a força de transformação que
temos para deixar de viver a vida em ponto morto.
‘Espero que você morra’, não é uma ferramenta que
te ajuda a matar o que te impede de viver. Ele te
convida a refletir sobre a finitude, o tempo, as
limitações e ex- termina AS POSSIBILIDADES DE
VOCÊ SER INFELIZ.
Se ninguém vai sair vivo daqui, é bom matar o que
nos impede a viver, dia após dia.
Obrigada por nos desejar isso!

— Cinthia Dalpino
Jornalista, escritora, ghost
writer e criadora do Mãe At
Work
Prólogo

odos sabemos que a morte não existe sem a


vida, mas poucos se dão conta de que a vida
não exite
sem a morte.
Foi através desta descoberta que renasci.

Hoje todos dizem que sou um cara intenso. Me jogo


sem rede de proteção nas experiências que a vida me
traz e tento me reinventar diariamente fazendo com
que todo meu sistema de crenças, meus julgamentos e
con- vicções sejam queimados com o raiar do dia.
Desta forma, é como se a cada manhã eu me deixasse
contaminar por uma nova maneira de enxergar a vida.
Mais que um mutante, me sinto parte dessa
experiência que contagia.
Por isso, eu espero que você morra, ao terminar esse
li- vro. Porque só a morte do seu velho eu pode fazer
com que você sinta a vida pulsar.
Não existe nada mais impactante que a iminência da
morte para provocar na gente a experiência da trans-
formação. A alquimia da qual o sábio Jung tanto
falava.
Nessa trajetória, percorri caminhos que me fizeram
dar de cara com a morte – física, mental, espiritual e
energé- tica. Foram tantas mortes ao longo da minha
vida, que quando olho para trás, vejo que parece que
vivi muitas vidas em uma.
Esse entendimento foi possível porque abandonei o
apego – e entendi que para me relacionar com o
mundo eu precisava, primeiro, entender como me
relacionar comigo mesmo.
De todas as inteligências que desenvolvi, talvez a
inte- ligência relacional tenha sido a mais importante
delas. Graças a ela, consegui ser um agente de
transformação, além de transformar a mim mesmo.
Vivo, não me apavoro com o medo da morte.

Esse livro fala sobre a vida, sobre a morte, sobre o re-


nascimento, perdas e principalmente, como nos rela-
cionamos com tudo isso enquanto estamos com o
cora- ção batendo.
Que a morte nos acompanhe e para sempre nos
lem- bre que é preciso saber viver.
“O valor de um ser humano reside na capacidade de ir além de ele
próprio, de sair de dentro de si próprio, de existir dentro de si próprio
e para as outras pessoas.”

Milan Kundera
Sumário
A relação
COM A MORTE
A relação
COM A VIDA
A relação
COM MINHA ORIGEM
A relação
COM O DINHEIRO
A relação
COM O SUCESSO
A relação
COM A DISCIPLINA
A relação
COM O COTIDIANO
A relação
COM O HUMOR
A relação
COM OS SACRIFÍCIOS
A relação
CURINGA
A relação
COM O PÚBLICO
A relação
COM AS REAÇÕES
A relação
COM A AUSÊNCIA
A relação
COM A MINHA HISTÓRIA

MORRENDO UM POUCO POR DIA


A relação
COM A MORTE

u era amante da Certeza quando ela trouxe o


Medo. Sorrateiramente. Mesmo que eu soubesse que
ele circulava por aqueles arredores e que chegaria
quando eu estivesse desprevenido, jamais tinha
imaginado que lidaria com ele justamente quando
estava de mãos da-
das com ela.

Mas a vida tem dessas. Ela te faz perceber que você


não é invencível justamente quando você está ali. No
pódio. E eu estava de braços dados com ela. Ela não
podia ter me traído. Não daquele jeito. Mas talvez
tenha sido a maneira que ela descobriu que me
desarmaria por com- pleto. Eu, que pretendia
entender tudo, não entendia o que a vida queria me
dizer.
Quando a Certeza me deixou, disse apenas: “A vida
não é feita de Certezas”. Eu fiquei ali, com aquela
sombra que restava dela, sem saber que o Medo não
me provo- caria só a dor. Ele me mostraria um outro
caminho.
Quando a Certeza me deixou, eu fiquei com o Medo.
Mas só através dele conheci a Força. Ela tinha uma
es-
tratégia clara. E ela viria de onde eu menos esperava.
A comunicação me possibilitava entender os outros –
mas será que eu entendia a mim mesmo?
O Medo fez com que eu enxergasse minhas Fraquezas
e resgatasse a Força. Aprendi a perdoar e a enxergar a
mi- nha vida de outro jeito quando a Certeza se
despediu. “Eu já fui embora tantas vezes”, ela disse.
Mas ela nunca tinha saído daquele jeito. Não pela
porta dos fundos.
Já fazia tempo que tentávamos engravidar. Eu e
minha esposa Adriana tínhamos uma comunicação
verbal e não verbal excelente entre quatro paredes.
Mesmo assim, estávamos desconectados da fonte da
vida no momento que mais precisaríamos confiar no
que não podíamos enxergar.
Os tratamentos tinham sido diversos, e só quando de-
sistimos da ideia de ter filhos, a vida se encarregou de
trazer a força do incontrolável.
Pois bem: ela estava grávida. Grávidos e felizes, nos
vi- mos num momento mágico de nossas vidas. A
felicida- de reinava absoluta dentro da nossa casa.
Cada pequena peça de roupa daquele bebê que vinha
com presença sem estar presente trazia um novo signi-
ficado e ocupava lugar de destaque num ambiente
que parecia ter esquecido que os sonhos ainda
podiam ser alimentados.
Naquela tarde, quando decidimos ir para o hospital,
ela já estava de oito meses. Demos as mãos. Eu sabia
que a Certeza tinha aparecido num momento em que
eu du- vidava dela. Tinha entrado nas profundezas do
ateísmo até reencontrar a minha própria fé e me
reconectar
com tudo que desacreditava. Os milagres tinham sido
a prova de que a vida era o maior dos milagres. E o
sol do Miguel, meu filho, estava prestes a brilhar. Eu
estava seguro.
Entrei no banheiro do hospital e encarei minha ima-
gem no espelho. Quem era aquele homem?
Ele estava sobre a mesa de bilhar. Era uma criança.
Ti- nha três anos. Dançava, falava pequenas bobagens
per- mitidas para sua idade. Fazia as pessoas rirem.
Ele gostava de extrair o melhor das pessoas. Sabia
que era bom nisso. Lavou o rosto. Estava nervoso com
a pos- sibilidade do nascimento do filho.
“A morte é nossa única Certeza”

Foi alguém que soprou essa frase no meu ouvido


quan- do me vi quase inconsciente de dor. Quem já
sentiu esse eclipse da vida que oculta a luz e traz uma
escuridão sem precedentes, entende a dimensão da dor
e das pro- fundezas que eu visitava naquele momento.
Não que minha morte estivesse próxima. Talvez a
nossa morte nem doa tanto assim. As mortes que
acontecem durante a nossa vida é que nos fazem
enfrentar as noi- tes escuras da alma.
Estávamos no último mês de gravidez. Ele tinha
nome. Miguel. Mas o coração não batia. A dor maior
foi a de sair da maternidade pela porta dos fundos.
Enquanto os pais saiam do hospital com seus bebês
no colo, eu acompanhava seu corpo sendo levado
para o carro do IML, cuidadosamente estacionado
naquele local onde ninguém conseguia enxergar
quando chegava ali cheio
de esperança.

Não tive tempo de segurar meu filho no colo com


vida. Talvez por isso tenha pensado no meu pai
naquele ins- tante. Talvez por isso, tenha pensado na
vida.
Fazia quatro anos que eu não o ouvia, não o abraçava.
E ele estava vivo. Talvez precisasse de colo.
Por que, em vida, temos que deixar os
arrependimentos para a hora da morte?
Um ano depois deste dia, eu estaria alimentando meu
próprio pai, minutos antes que ele próprio abandonasse
a vida.
Essa foi a possibilidade que a morte me deu. De
enxer- gar a vida. Mergulhar nas profundezas da dor
e me comunicar com as minhas tristezas – dialogar
com o medo.
Hoje quando a Certeza aparece eu a convido a saltar.
Sei que ela não traz nenhum aprendizado. A certeza
me fez acreditar. O medo me fez enfrentar a vida. E
me mos- trou que nunca sabemos o que vem depois.
Nesses momentos, em que já sabia me comunicar com
o mundo, escutei o grito da minha alma. Eu já não
podia deixar de conversar com ela.
Eu precisava me comunicar com o mundo, sabia que
essa era a habilidade importante e revolucionária – tão
importante quanto a inteligência emocional – mas an-
tes de mais nada eu precisava saber me comunicar
co- migo mesmo.
Enxergar todas as dores, todos os sentimentos, com
ho- nestidade e perceber que me permitir saltar era a
única coisa que eu poderia fazer enquanto estivesse
vivo.
A vida era uma impermanência. Eu tinha que viver.
A relação COM
A VIDA

rapiraca é um município brasileiro situado


no in- terior do estado de Alagoas.
Um lugar mais conhecido como ‘agreste Alagoano’.
Mas era ali que eu estava naquela noite, durante uma
das turnês da Liga dos Vendedores.
Basicamente o que fazíamos era ensinar as pessoas a
se comunicarem.
De comunicação eu entendia bem – sabia me
expressar, ler o outro, interpretar o que o outro dizia
sem falar nada e fazer com que cada uma das pessoas
que participassem do treinamento, soubessem o poder
de uma boa comunicação.
Compartilhar o que eu tinha aprendido fazia com
que eu tivesse uma nova experiência de vida.
Era inspirado e movido por contribuição. Como se
dei- xar marcas na vida do outro fosse uma maneira de
per- manecer no mundo. Como se o sucesso alheio
fosse uma extensão da minha existência. Eu me
orgulhava ao
conseguir perceber em cada pessoa, o desdobramento
daquilo que fazia através dos meus ensinamentos.
Muitos dos meus alunos chegavam onde eu jamais
che- garia. E talvez por isso a experiência era ainda
mais fan- tástica, já que a individualidade de cada
um, que pega- va o conhecimento transmitido e
aplicava em sua vida com suas habilidades próprias,
fazia com que a mágica acontecesse de maneira
adversa para cada um.
Não eram fórmulas prontas: eu buscava fazer com
que cada um encontrasse o melhor dentro de si e a
partir daquilo, experimentasse em sua vida, algo que
pudesse transformar os outros e causar impacto.
Somos a coisa mais rara do Universo. Cada um de
nós
– por termos vida, DNA específico, impressão digital
e ideias que por mais que sejam compartilhadas,
jamais podem ser iguais, porque temos
particularidades espe- cíficas que nos fazem
incorporar todas as informações que processamos
através do conhecimento e da nossa própria história,
antes mesmo de aplicar qualquer téc- nica. A nossa
história de vida nos faz únicos.
A comunicação é a habilidade do século e a
inteligência relacional – uma habilidade de mobilizar
pessoas e re- cursos em prol de um objetivo comum –
nunca foi tão ne- cessária. Com a cegueira coletiva que
vivemos, seguimos com um clique e em poucos
segundos deixamos nosso mundo ser impactado pelo
olhar do outro – mesmo que ele não tenha nada para
colaborar com nosso propósito.
Se em um segundo 67 mil pesquisas são feitas no
Google e 69 mil vídeos são vistos, estamos vivendo
numa era onde a comunicação é rápida, instantânea –
mas nun-
ca foi tão superficial. Enquanto dois milhões e meio
de e-mails são enviados a cada segundo no mundo,
poucos deles dizem o que querem dizer.
Antes do boom da internet, meu maior
instrumen- to sempre foi minha voz – ou melhor, a
comunicação. Se uma boa comunicação é capaz
de potencializar a criatividade, a inovação e
gerar resultados aci- ma da média, uma
comunicação pífta pode colocar tudo a perder.
Desde pequeno sempre fui o cara que tentava enxer-
gar através das palavras. Enquanto circulava entre as
pessoas que entravam na loja de sapatos do meu pai
para escolher o parceiro de caminhada, eu conseguia
entender o que determinava uma compra. Mesmo que
nenhuma palavra tivesse sido dita.
Naquela época, ainda pequeno, eu ainda não tinha
cur- so de metalinguagem e programação
neurolinguística. Não imaginava que eu me tornaria
palestrante, treina- dor, coach, psicólogo, terapeuta e
vendedor.
Nem sonhava o que o mundo me reservava. Mas era
faminto e curioso por natureza. O termo inteligência
relacional ainda não era conhecido, e eu usava essa
ha- bilidade para me relacionar com as pessoas e
extrair o melhor de cada uma. Intuitivamente ou
através de téc- nicas que eu aprendi na escola da vida.
Era uma fome insaciável de decifrar pessoas. Quanto
mais eu as decifrava, maior era minha capacidade de
interagir com elas.
Habilidoso em perceber mais do que as pessoas que-
riam dizer, eu treinava isso dentro de casa com a
minha
mãe, quando ela fingia estar brava e sorria por dentro,
sem conseguir dar bronca no seu filho caçula que
insis- tia em fazer o que não estava no script.
Dentro daquela velha loja de sapatos eu me via no
olhar de cada um que ali entrava.
Sabia quando estavam dispostos a gastar, quando ti-
nham dinheiro contado no bolso, e quando estavam
em dúvida se fariam uma compra. E logo que meu
pai partiu, por motivos desconhecidos, das nossas
vidas, deixando aquele negócio para que pudéssemos
admi- nistrar, me vi diante de um grande desafio.
Se instintivamente eu entendia um pouco de vendas
e comunicação, na prática, não sabia nada de estoque,
fluxo de caixa e muito menos do rombo que tínhamos
na empresa.
Só que tinha que resolver, e se aquilo não fosse
resolvido, não tinha comida em casa. Era simples
assim. Por força dos acontecimentos, precisei
desenvolver aptidões como comunicação, vendas e
negociação.
Eu precisava de todas elas para viver e sobreviver na-
quela selva de pedras onde morava. E se eu tinha a
fa- cilidade natural de entender as pessoas, em suas
lin- guagens corporais e verbais, identificando
padrões de comportamento, paixões e habilidades, eu
conseguia identificar o que cada um tinha de melhor
com o pé nas costas.
Mesmo que ninguém tivesse me ensinado nada disso
nos inúmeros cursos que eu tinha feito para alavancar
as vendas, aperfeiçoar a comunicação e me tornar im-
placável em tudo que me dispunha a fazer.
Eu não sabia ao certo se aquela era uma necessi-
dade de agradar tinha nascido comigo – o quar-
to filho de uma família numerosa, ou uma habi-
lidade que eu ia desenvolvendo dia após dia para
construir relacionamentos consistentes e criar conexão
com as pessoas.
De qualquer forma, eu tinha que buscar meu lugar ao
sol dia após dia, por isso, me virava como podia
desde criança. E esse era um desejo quase insaciável
de apro- vação. Relacionar-se com as pessoas era
necessário. En- tendê-las e me fazer entender era
quase obrigatório.
Então, quando eu estava no palco, era como se eu
com- pilasse todos os meus anos de vendas, estudos,
imersões e transmitisse para uma plateia em algumas
horas. E eu fazia aquilo com paixão.
Eu já estava fazendo aquele percurso pelas cidades
durante algum tempo. Gostava de pessoas, mas não
imaginava o quanto podia impactá-las. Como todo ser
humano, em determinados momentos, mesmo depois
daquelas apresentações calorosas, onde todos aplaudem
do começo ao fim, eu não me sentia preenchido.
Pensava em como podia ter feito melhor, me preocu-
pava se as pessoas sairiam dali com algo que pudesse
transformar a vida delas e não recuava e nem desistia
enquanto não encontrava alguma faísca no olhar de
alguém que provasse que havia possibilidade de que
aquela chama se espalhasse.
Eu sabia, desde pequeno, que uma boa comunicação
era o segredo para uma venda efetiva. Já tinha escrito
dois livros, gravado vídeos sobre o assunto, e
palestrado em
boa parte do país introduzindo conceitos de PNL para
que as pessoas pudessem e soubessem se comunicar
com maestria. Uma boa comunicação era a chave para
conse- guir qualquer coisa na vida.
Pela primeira vez na história, bilhões de pessoas
de todos os países estavam conectadas graças à
internet. Mas quem conseguia construir
relacionamentos con- sistentes?
Somos impactados pela mídia que nos vende com
maes- tria tudo aquilo que não precisamos – e
passamos a ter como objeto de desejo. Somos
persuadidos a comprar no- vas ideias, de pessoas que
nem conhecemos, através das redes sociais. Por isso,
sempre busquei a consciência de que precisava pensar
por mim mesmo – e ter uma boa comunicação que me
permitisse expor o que eu pensava para quem estivesse
disposto a me ouvir.
Foi dessa forma que conquistei milhares de
seguidores nas redes sociais, vendi milhares de livros
e espalhei aquilo que me movia – a sede por
comunicação.
Sabia que a comunicação era o primeiro ponto ao
qual eu precisava me dedicar para desenvolver a
inteligên- cia relacional. Tudo o que fazemos na vida
gira em torno de uma conversa. Era assim que eu
estabelecia padrões de relacionamento, e sabia que
aquilo era essencial.
Naquela noite abafada com o calor – não só do clima
como da emoção gerada depois do evento - eu senti
que um homem se aproximava com lágrimas nos
olhos. Seu coração chegava perto de mim antes
mesmo que seu corpo se aproximasse. Sua expressão
era de gratidão.
“Eu gostaria de te agradecer”, ele disse, quase engasgado
com aquela emoção a flor da pele. Subiu ao palco
com uma folha na mão.
Peguei aquela folha enquanto ele dizia que queria me
agra- decer por ter mudado sua vida. Até então eu não
tinha tido a dimensão de como impactava a vida das
pessoas.
Mesmo que já tivesse recebido inúmeros feedbacks,
pessoas batendo na porta do instituto relatando casos
incríveis de como tinham revertido inclusive
problemas sérios como a depressão, aquele momento
era como uma confirmação de que eu deveria
continuar no caminho que estava.
Lembrei da minha indecisão, ainda no hotel, e olhei
em seus olhos enquanto ele contava que tinha
faturado meio milhão graças aos meus vídeos. Aos
poucos, foi contando sua história.
Era um professor sem muita expressão no interior de
Arapiraca e sempre sonhou em ser dono de algo. Até
o dia que encontrou um vídeo meu na internet.
Começou a consumir todo o meu conteúdo e dia após
dia assistia meus vídeos e lia tudo que pudesse
alimen- tar seus sonhos. Quando viu um dos vídeos
que falava sobre pegar as rédeas da própria vida, teve
um estalo. Precisava de coragem.
Sentindo como se eu estivesse ao seu lado o
encorajan- do, ele abriu a empresa e começou com
um primeiro contrato de 500 mil reais. A empresa
fazia limpeza em tubulações, e começou a atender
grandes clientes. Cada um pagava milhares de reais.
Fiquei honrado. Não pelo impacto que tinha causado na
vida de um professor esperançoso de um lugar
distante, mas em como eu estava conseguindo, através
do digital, chegar em pessoas do mundo todo, que
depois eu conhe- ceria pessoalmente, porque
simplesmente não conse- guia ficar longe daquele
calor humano.
Era aquela troca que me nutria. Mais que o reconhe-
cimento, mais que o lucro, mais que ser aplaudido. Á
medida que ele contava sua história, era como se um
filme passasse pela minha cabeça.
Justo eu que estava passando por uma crise existencial
na noite anterior, com a sensação de que tudo que eu
cons- truía não teria uma ‘continuidade’, me deparava
com uma grande prova de que eu já estava deixando
minhas mar- cas pelo mundo.
Deixar uma marca no mundo estava intimamente ligado
com o fato de deixar pegadas. E quando eu pensava em
pe- gadas, logo vinha a lembrança de que eu tinha
vestido o último sapato do meu avô, e o do meu pai
também, e não conseguia imaginar quem vestiria meu
último sapato.
Eu ainda não conseguia entender que as marcas que
eu deixaria no mundo seriam estas histórias e comecei
a entender o quanto a minha história e as histórias das
pessoas que tinham cruzado meu caminho simples-
mente porque seguiam meus rastros, eram mais que
uma herança ou uma forma de me manter vivo mes-
mo depois que meu coração parasse de bater.
Tinha passado bons anos remendando a história de
meu pai, mas já vivia a minha fazia muito tempo. Ao
ouvir aquele relato, num lugar onde a probabilidade
de encontrar alguém que seguisse meus passos era tão
pequena, comecei a entender algo que eu já dizia nas
minhas palestras, quando estava inflamado diante de
milhares de pessoas num palco, mas que nem sempre
incorporava em minha vida.
Então, ali em Arapiraca, diante daquele homem, que
me mostrava num papel o faturamento de sua
empresa, fiz um compromisso comigo mesmo. Me
comprometi em transmitir a minha verdade.
Me comprometi a continuar propagando tudo aquilo
que eu aprendia, compartilhando conhecimento, afim
de transformar a vida de pessoas que estivessem dis-
postas a absorver aquilo que eu tinha para falar.
Me comprometi a viver, no sentido literal da palavra,
sem me deixar abalar com as críticas que poderiam
me brecar quando eu inventava uma moda qualquer
den- tro do meu escopo de trabalho.
Me comprometi, acima de tudo, a mostrar para as
pes- soas que elas deveriam se permitir para que
pudessem viver suas vidas no máximo potencial,
mergulhando nas experiências de vida que tinham
nascido para ter, emocionando e deixando-se
emocionar.
Acima de tudo, entendi que por mais que eu dissesse
para todo mundo que eles próprios eram a coisa mais
rara do Universo, eu ainda não valorizava a minha
história.
Tinha muita convicção de que tudo que eu estudara e
adquirira de conhecimento poderia impactar muita
gente, mas ainda me via tímido para escancarar meus
defeitos e expor minhas feridas mais profundas.
Nunca tinha compartilhado, com franqueza e humilda-
de, como aprendera cada um dos métodos que
pareciam ter nascido comigo, mas tinham sido
talhados desde o momento do meu nascimento.
Eu sabia que a minha história de vida, que não tinha
como ser a mesma história de qualquer outra pessoa
no Universo, poderia transmitir muito mais do que se
eu simplesmente contasse as técnicas e métodos que
ti- nha aprendido, treinado e incorporado.
Minha vida tinha trazido a verdade que eu carregava
no bolso e tentava espalhar por onde passava. E se as
pessoas achavam que ser vendedor era ser mentiroso,
eu queria quebrar esse paradigma. Mas, para levar a
verdade no meu discurso, tinha que contar porque eu
odiava a mentira.
Então, resolvi que abriria a caixa de Pandora. Era
hora de me desnudar. Meu coração começou a bater
com for- ça. Só perceber as batidas do coração já me
emocionava. Porque, no fundo, eu sabia que a vida só
acontecia en- quanto ele estivesse batendo.
Olhar para a morte sempre tinha me ensinado a
viver.
“Ás vezes paro para pensar e me pergunto – se não houvesse
consciência humana, o que seria de nós?

Foi através da maça que Eva recebeu a consciência. E a partir


daquele momento, metafórico, tirou o
véu de Isis e passou a enxergar a nudez, o erótico. E passou a ter um
entendimento maior das coisas.

Até então, o homem vivia no Paraíso.

No momento de consciência, vemos a nudez do outro. Deve ser por


isso que, quando nos desnudamos para o outro, trazemos consciência.
Consciência de quem somos de verdade. Não das mentiras que
contamos a nós mesmos.”
A relação
COM MINHA ORIGEM

eu primeiro despertar – o momento que passei a ter


consciência do meu eu – foi aos três anos. A ruptura
se deu quando tive a notícia de que minha mãe – aquela
que me protegia e me trazia segurança através de seu olhar
– estava bem longe de mim – internada em um hospital.

Naquele momento eu ainda não sabia que ela tinha


um problema no coração.
Mas quem via o coração apertar era eu. Corações são
criaturas selvagens. Talvez por isso as costelas lhes
sir- vam de gaiolas.
“Esse menino está doente. Precisa levar ele ao
hospital”, disse minha tia.
Lembro que aquelas palavras ressoavam e ecoavam.
Eu vomitava de desgosto e tinha febre. Dois sintomas
que remetiam à uma doença que ganhava status de
epide- mia naquela época – a meningite.
No caminho do hospital, não suspeitei que o pior
podia acontecer. Se estar longe de minha mãe já era
ruim, fi-
car internado sozinho em observação era ainda pior. E
quando me vi num berço ao lado de um monte de
crian- ças, sendo obrigado a adormecer sem nenhum
adulto, a febre veio implacável.
Era uma febre que me deixava quase inconsciente –
mas trazia uma consciência – era como se, através
dela, eu me apoderasse do meu corpo.
Quando acordei, ensopado de suor, a enfermeira
entendeu que aquele era um sinal ruim. Mas eu queria ir
embora.
Os procedimentos e a burocracia do hospital os
obriga- vam a me manter sob observação para
controlar os pos- síveis riscos de um surto se espalhar.
Então, enquanto eu gritava que queria sair daquele
lugar, a enfermeira me amarrava braços e pernas para
que eu ficasse imó- vel, sucumbindo à doença
imaginária.
Naquele dia, a memória inicial que marcou minha
vida foi a força que precisei encontrar dentro de mim
para conseguir desamarrar aqueles panos e fugir do
berço, assim como Hermes, o Deus dos viajantes e
vendedores.
Era como se a febre tomasse todo meu corpo e me
des- se uma nova energia. Eu sabia que ela me movia
– e eu tinha consciência de que ninguém poderia me
manter ali, nem amarrado.
Naquele dia, depois de me soltar, pulei. E enquanto
ten- tavam me manter ali, amarrando com todas as
forças, minha tia voltava do pediatra, que pedia para
que assi- nassem os termos de alta.
“Esse menino não está com meningite. Ele está com
sin- toma de saudade. Saudade da mãe”. Estava
explicado.
Meu pai e minha tia, numa saga heroica me tiraram
dali e me levaram para o hospital onde minha mãe
estava internada. Mesmo que ela estivesse sem
condições de receber visitas, burlaram a segurança
dizendo que eu seria internado e conseguiram me
enfiar no quarto dela. De pijamas, sentei ao seu lado
em sua maca e senti meu coração se acalmar.
Talvez tenha sido a primeira vez que me recorde da
sensação de ter um coração batendo dentro do peito.
Enquanto minha mãe afagava meus cabelos e dizia
que sairia dentro de pouco tempo, mesmo com o
coração dando sinais de que já não batia muito bem,
eu sentia.
Quando sentimos, somos humanos.

Talvez seja isso que nos diferencie dos robôs. A


inteli- gência artificial pode reproduzir qualquer
comporta- mento, ou profissão. Os algoritmos, em
pouco tempo, substituirão pessoas.
Mas só os humanos têm a capacidade de se
emocionar ou fazer com que os outros se emocionem.
O coração humano é o maior comunicador que existe
dentro do corpo. Ele manda oxigênio para todos os
órgãos indis- criminadamente, acelera quando nos
apaixonamos e bate devagar quando estamos sem
vontade de viver.
O coração é capaz de dizer muito, mesmo quando
está machucado. Ou quando está em seu pleno
funciona- mento.
Naquele cenário, ao lado de uma mãe quase incapaz
de falar, eu ouvia seus batimentos através de uma
máqui- na que os reproduzia.
Eu ainda nem sabia que poderia existir qualquer doen-
ça que pudesse fazer o coração parar de bater. De
algu- ma forma, aquele problema do qual ninguém
falava abertamente, existia. E era remediado por uma
equipe de médicos que testava uma nova solução
ainda muito pouco conhecida na época – a tal ponte
de safena.
Quando voltei para casa minha mãe permaneceu no
hospital. Mas meu coração já tinha sido remendado.
Só o fato de a encontrar curava todas as minhas dores.
Em casa recebi a visita da assistente social que não
en- tendia como os meus sintomas tinham sumido em
pou- cas horas.
Essa era a primeira vez que eu tinha consciência de
al- guma coisa. E a consciência aumenta nossa
percepção acerca de tudo. Sem consciência qualquer
ato pode ser justificado. Conscientemente, eu só
entendia que era responsável pelos meus atos. Mesmo
os inconscientes.
Claro que aos quatro anos eu não elaborava nada
disso. Só sentia que não conseguia ficar perto da
minha mãe. Tinha sentido meu coração doer com a
ausência dela e não queria mais sentir aquele aperto
dentro do peito.
Nessa época, coincidia o período que minha família
tentava me dissuadir a ir para a escola.
Só que a escola, além de me afastar das atividades de
moleque na rua, me faria estar longe dela novamente.
Talvez por isso eu sabotasse a ideia de que ela me
matri- culasse. E mamãe tentava a todo custo me
convencer. Mesmo que indiretamente.
Para mim estava bom demais ficar em casa na barra
da saia dela. Já gostava de andar pela rua com
crianças
mais velhas, entrar e sair da loja de sapatos do meu
pai enquanto observava os funcionários e observar o
com- portamento das minhas irmãs, que na maioria
das ve- zes faziam exatamente aquilo que era
esperado delas.
Como caçula da família eu tinha certa atenção da mi-
nha mãe. Minha vinda, além de desejada, tinha sido
ar- quitetada por ela que com 3 filhas mulheres, queria
um menino a qualquer custo.
De fato, tínhamos um laço daqueles que a gente sabe
que é forte, mas ninguém pode ver – só sentir.
Esperta, ela não tentava me persuadir. Ela fazia com
que eu en- contrasse as respostas.
Assim, numa conversa improvável ela me convenceu
a ir à escola pela primeira vez sem muito esforço. Me
levava na lábia como ninguém.
Como eu era uma criança daquelas que adoravam
gibis e vivia para cima e para baixo olhando as
figurinhas, ela entendia que ler seria uma grande
vantagem– e me tentava me convencer que era na
escola que eu seria capaz de assimilar letras e
números.
Duro na queda, eu dizia que não ia. Que entendia as
fi- guras. Sem saber, já estudava a comunicação
corporal dos personagens e sabia exatamente o que
estavam di- zendo em cada uma das tirinhas.
Estava decidido a não ir à escola. Mas minha mãe
insis- tia – ‘então, você não quer ser nada quando
crescer? ’ Eu pensava, pensava, e não encontrava
qualquer argu- mento que pudesse contradizê-la.
Certa noite, enquanto esperava o tempo passar na
janela, depois do jantar, ouvi um barulho – e logo de-
pois, surgiu uma figura carismática pela rua e acenou
para mim.
Sorri de volta e na manhã seguinte eu já tinha a
respos- ta na ponta da língua.
“Mãe. Eu quero ser lixeiro”

Ela me olhou, surpresa com aquela


afirmação. “Jura? ”
“Juro. Eu não preciso ir na escola para aprender a ler.
Quero ser lixeiro”.
Entendendo onde eu queria chegar, começou a arti-
cular com o pequeno garoto de cinco anos que já
sabia como buscar argumentos para não estar onde
queriam que ele estivesse.
“Hun...”, disse, enquanto colocava a panela no fogo
para esquentar um pão amanhecido na manteiga.
“Sabe o lixeiro que sempre vem recolher os lixos aqui
da rua? ”, ela disse.
Fiz sinal afirmativo com a cabeça.

“Ele deve saber ler... senão como ele vai saber em que
rua ele precisa recolher os lixos? ”
Meu estômago já dava sinais de fome ao sentir o
cheiro da manteiga derretida no pão e foi impossível
argumentar.
Mas logo no primeiro dia de aula, depois de ser
conven- cido de aprender a ler, voltei com ares de
quem tinha conseguido uma informação valiosa.
“Mãe, você sabia que para ser lixeiro não precisa
saber ler? Quem precisa saber ler é o motorista do
caminhão de lixo”.
Ela me olhou, enquanto eu jogava a mochila sobre a
mesa e respirou fundo.
“Sabe... vai ter o dia das mães daqui a pouco. Eu
adora- ria que você participasse da apresentação.
Adoraria ga- nhar esse presente”.
Ela tinha ido na jugular – ou melhor – no coração.

Para um menino que era o quarto filho numa


numerosa família e vivia sendo esquecido pelo pai nos
lugares, ter a oportunidade de dar um presente único
para a mãe era mais que uma maneira de chamar a
atenção. Era uma maneira de se fazer lembrar.
“Tudo bem... eu vou dar esse
presente”. Selamos aquele acordo com
um beijo.
Um dia depois da apresentação, dei o veredito:
“Mamãe, agora já dei seu presente. Não vou mais à
escola”.
Talvez ela soubesse que aos cinco anos não haveria
nada tão importante para se aprender numa escola.
Talvez ela tivesse sido vencida pelo cansaço. Talvez
ela simplesmente tivesse decidido respeitar meu
argumen- to. De qualquer forma, ela concordou –
mesmo que isso gerasse uma onda de comentários
dos familiares, que implicavam que eu seria um
vagabundo.
Mesmo que o coração dela não fosse forte, ela
tinha a força certa para decidir e enfrentar
aqueles que con- frontavam sua decisão. Até
mesmo quando a decisão fosse absolutamente
contra todos os paradigmas.
Prova disso é que, um ano depois, quando entrei na
es- colinha, me tornei um dos destaques da sala. No
final do ano, na festa de formatura, quando as crianças
precisa- riam escolher uma fantasia, decidi o que
seria.
Não – não era um lixeiro. Era um palhaço.

Mas eu não queria ser um palhaço qualquer. Eu queria


ser um palhaço com pompons cor de rosa. Até a pro-
fessora achou estranho quando minha mãe a intimidou
com seu jeito atrevido.
“E qual o problema? ”

Enquanto me vestia, ela dizia que independente do


jei- to que as pessoas me olhassem, era para eu me
lembrar de duas coisas para o resto da vida: ser
verdadeiro e honesto.
Sorri, ainda sem entender o motivo daquele discurso
e nem percebi se haviam olhares diferentes à minha
direção.
Vestido de palhaço rosa recebi meu primeiro diploma
– e até hoje quando vejo aquela foto entendo de onde
veio a força para que eu não bloqueasse minha
criatividade.
Quando você libera sua criatividade e tem um
propósi- to, você alcança qualquer objetivo.
Tudo que eu precisei para chegar onde estou com
deze- nas de diplomas, livros e sendo reconhecido
como uma autoridade em comunicação e vendas, foi
de uma pes- soa que permitia na medida certa ser
quem eu era.
Se hoje me tornei um cara que simplesmente quer
que as pessoas vejam que podem mais e que saiam da
Ma- trix em que vivem é porque mesmo atacado e
ridicula-
rizado eu construí, desde pequeno, uma maneira pecu-
liar de enxergar a vida – simplesmente porque minha
mãe não me ensinou que eu precisava ser sério para ser
levado a sério.
Eu vivia fantasiado por onde andava. Como ganhava
apenas uma fantasia por ano, na época de Carnaval,
usava até não poder mais – e mudava a personalidade
de tal forma que minha mãe se via obrigada a tirar a
capa das fantasias para que eu não alucinasse e saísse
querendo voar.
- Filho, você pode voar, mas eu vou tirar essa capa,
por- que na sua idade não é apropriado
E eu embarcava no mundo da fantasia.

Ela dosava bem a fantasia com a realidade fazendo


com que todos os filhos absorvessem os valores que
ela con- siderava importantes – por isso, era comum
tanto ver a família na Igreja quanto os próprios padres
dentro da minha casa.
Talvez tenha sido através da fé que ela tenha suportado
tantos desafios ao longo da vida.
Seu coração, frágil desde o dia que ela foi internada
pela primeira vez quando eu ainda era pequeno, em
ne- nhum momento ficou 100%. Hoje eu percebo que
a úni- ca coisa que talvez tenha ajudado minha mãe a
sobre- viver foi a linguagem do médico e a maneira
como ele lidava com as aflições dela quando estava
preocupada.
Talvez isso reforce minhas crenças do quanto é
impor- tante o poder da linguagem.
No caso dela, foi vital.
Em sua primeira operação, o cardiologista percebeu
que ela tinha quatro filhos e disse que tentaria salvá-
la de qualquer jeito, pois uma mãe não podia deixar
qua- tro crianças desamparadas.
Então, mesmo que ela surgisse com sintomas, o
médico sempre colocava ela para cima. Por isso, ela
mal tomava remédios. Quando tinha uma queixa ele
dizia que não era nada e ela saia do consultório
tranquila. Os sinto- mas passavam antes que ela
chegasse dentro de casa.
No final das contas, o médico morreu antes dela. E
com a morte dele que os problemas começaram.
Coinciden- temente seu substituto tinha participado de
sua cirurgia anos antes e ficou espantado que ela ainda
estivesse viva.
“Ninguém apostava que a senhora viveria mais de
dois anos”, soltou, deixando-a boquiaberta.
Este mesmo médico determinou sua ruína, pouco a
pouco. Dizia que ela tinha uma cardiopatia grave
quan- do ela tossia, determinava que poderia ser
tuberculose e se tinha qualquer dor de barriga,
mandava fazer exa- mes no rim.
Como ela somatizava os sintomas, cada vez que ia no
consultório, voltava pior. Então passou a prescrever
dietas porque considerava que ela tinha problemas no
intestino. Ela deixou de comer quase tudo.
Magra, na base da papinha, pegou uma virose e foi
in- ternada. Foi nessa internação que seu coração
parou de bater.
Assim como em sua primeira internação, quando eu
ti- nha uma febre que queimava tudo e obrigava meu
pai a me internar, em sua última internação eu também
es-
taria internado. A suspeita era de ter contraído o vírus
influenza.
Até hoje não sei porque adoeci. Talvez meu corpo
esti- vesse sentindo que era hora dela se despedir e
essa des- pedida fosse difícil o bastante para que eu
não pudesse enfrenta-la.
Mesmo adulto, reagi à sua morte como uma criança
de quatro anos.
Era aquele mesmo menino de quatro anos internado
enquanto sua mãe ficava ausente pela primeira vez.
Mais uma vez, eu sentia as dores da alma no próprio
corpo.
Quando ela partiu a dor da perda me fazia entender a
sensação que ela tinha tido quando, aos cinco meses
de gravidez, achou que eu estaria morto, porque
ninguém podia ouvir meu coração dentro de sua
barriga.
Talvez naquele momento, num ato de generosidade,
ela tenha dado alguns compassos para que o meu vol-
tasse a bater. Tinha três meninas, dois abortos e sabia
que se eu morresse, suas tentativas de ter um menino
se esgotavam.
Contrariando a tudo e a todos, confiando no próprio
instinto, ficou de repouso absoluto crente de que eu
es- tava vivo.
Só fui saber dessa história durante uma sessão de re-
gressão, anos depois.
Mas foi aí que entendi que ela tinha emprestado um
pouco do seu generoso coração para dar forças para
que
eu pudesse nascer. Talvez por isso eu era guiado por
ele na maioria das vezes.
Por alguns segundos, logo depois de sua morte,
lembrei do Miguel cujo coração tinha parado de bater
ainda na barriga da minha esposa.
Olhei para a foto do meu filho, que durante anos
tinha sido a foto de fundo do meu celular e deixei ele
ir.
Me lembrei da regressão que tinha feito e do quanto
tinha chorado – lembrei do choro daquele menino
que dizia “Mãe... Eu estou aqui”.
Então, chorei.
“Mas sei que uma dor assim pungente Não há de ser inutilmente...
A esperança
Dança na corda bamba de sombrinha E em cada passo dessa linha
Pode se machucar
Azar!
A esperança equilibrista Sabe que o show de todo artista
Tem que continuar...”

Elis Regina. O bêbado e o equilibrista


A relação
COM O DINHEIRO

eu avô era sapateiro. Português, veio para


o Brasil ainda novo tentar a vida.
Foi ele quem ensinou o ofício ao meu pai, que nasceu
no Brasil, depois que meu avô trouxe toda a família.
Meu avô veio e começou a vida aqui como sapateiro
e logo abriu uma pensão. Então deu um jeito de se
aven- turar com uma loja de calçados. Era um cara que
confia- va em todo mundo – característica de quem é
generoso demais para desconfiar de alguém.
Além disso ele era um cara aberto que tinha CNPJ e
podia trazer quem quisesse de Portugal. Então fazia
favores pra todo mundo e chamava as pessoas de Por-
tugal para trabalharem com ele. Era desse jeito que
ele abarcava as pessoas em sua rede de contatos e se
tor- nava uma figura especial que centralizava em si,
uma grande teia. Só que conforme a teia ia ficando
maior, ele ia tendo dificuldade de ter domínio sobre
ela. Sem esse domínio não tinha como ter controle.
Logo, perdeu a capacidade de administrar até
mesmo seu próprio
negócio que ficava a mercê de pessoas que se
aproxima- vam na tentativa de arrancar um pedaço
daquilo que era pequeno demais para ser dividido.
Meu pai, como herdeiro da loja, passou a administrar
aquilo como a sua vida.
Só que se engana quem acha que ele administrava
bem a própria vida: meu pai tinha um vício bem
conhecido nas redondezas – não podia sentir o cheiro
de uma cana que logo entrava no bar.
Assim, mesmo que a gente não percebesse, quem se
dava conta de que no meio da semana ela já estava
trançando as pernas, dava um jeito de passar a mão
no dinheiro dele ali mesmo na loja.
Eu ouvia um pouco de tudo – e como desde pequeno
ficava circulando pela loja, sabia pelo menos que o
pa- pai bebia e que muita gente enganava ele. Ele era
uma figura que me desconcertava.
Como estava sempre brincando, tinha um espírito
des- prendido e uma facilidade em fazer amigos, eu
cresci com a imagem de que ele era uma figura
conhecida no bairro. O jeito irresponsável dele, de
certa forma, o tor- nava atraente de vez em quando.
Me lembro uma vez quando roubaram seu carro que
ele chegou sem qualquer resquício de preocupação
dizen- do que aquilo não era nada.
Foi com o passar do tempo, esse implacável, que
come- cei a entender que a facilidade de fazer amigos
dele não era tão constante assim. Na verdade era uma
depen- dência de álcool que o fazia descontrair e
parecer mais descontraído.
Embora parecesse até charmoso, sua maneira de levar
a vida levou a família à ruína financeira – e eu só
desco- bri isso aos vinte anos – quando ele fugiu com
a amante e nos deixou.
Foi naquele momento que despertei – era no meu
colo que cairiam as pendências e fios desamarrados
que ele tinha deixado pelo caminho.
As dívidas eram astronômicas.

Eu olhava para toda aquela bagunça e sentia raiva de


todas as vezes que ele tinha dito que sucesso dependia
de sorte. “Meu filho, sucesso é coisa de quem nasce
com a quina virada para a lua”, era o que costumava
dizer.
Naquele instante eu comecei a entender que a sorte ja-
mais o favoreceria – ele era um cara que não tinha a
mí- nima ideia do que acontecia dentro da loja, ou fora
dela.
Era o pai pobre. Comprava, vendia, fazia escambo.
Era um comerciante que andava mal das pernas e
sempre tentava se equilibrar.
Ainda um estudante, eu conseguia identificar que
tudo que ele sempre fizera era terceirizar os maus
resultados. Sempre dizia que o mercado estava ruim, a
política, bo- tava a culpa nas pessoas, mas nunca
puxava a respon- sabilidade para si.
Ou eu assumia a loja e tentava reverter aquele quadro
ou não teríamos para onde fugir.
Talvez esse tenha sido um dos momentos que fui
exigi- do – e passei a ter a responsabilidade que até
então nun- ca imaginava que teria. Trabalhava
incansavelmente e tinha em mente que não ia parar
enquanto não cobrís- semos os rombos e a loja
estivesse prosperando.
Aos poucos as contas começaram a estabilizar. Eu
tinha que tirar aquilo do buraco – e estava, pouco a
pouco, dando um jeito de sobreviver.
Foi nesse período que ele reapareceu. Das cinzas,
pediu perdão à família, voltou à nossa casa, mas eu já
ocupava seu espaço dentro da loja de sapatos.
O tempo foi passando e eu entendia cada vez mais do
ne- gócio. Batia metas, colocava novas metas,
aprendia com os erros e começava a ficar viciado em
vender. Mas sabia que o segredo de uma boa venda era
a verdade. Enten- dia que um bom vendedor de
sapatos precisava, acima de tudo, conhecer o pé que
calçaria aquele calçado.
Era como vestir um sonho.

Eu conseguia entender mais do que o simples gosto


do freguês. Eu conseguia observar não só a maneira
de ca- minhar daquelas pessoas, como que trilhas
queriam tri- lhar. Eu via seus sonhos nas pontas dos
pés. E entendia as pegadas que elas queriam deixar.
Era decifrando o olhar de cada um que entrava na loja
que eu conseguia entender exatamente o que iam
com- prar. E aquilo começou a ficar cada vez mais
intuitivo e automático. Eu saia para comprar as novas
coleções e já as observava com o olhar de cada
cliente.
Era um olhar de observador. Eu via além do que as
pala- vras diziam. Se a pessoa dizia que estava ali só
para olhar, eu conseguia atravessar seu desejo e
encontrar justa- mente aquilo que nem ela sabia que
estava procurando.
Com o passar do tempo, comecei a transmitir esse
olhar para os colaboradores da loja, que ficavam
felizes com suas vendas.
Os representantes, linguarudos, contavam para os ou-
tros lojistas que iam até lá justamente para saber o que
eu estava fazendo de tão especial.
Eu dizia que o segredo de um bom vendedor era
obser- var e ser verdadeiro.
Então, comecei a aconselhar pessoas que queriam
abrir lojas de calçados. Já palpitava nas tendências e
enten- dia de curva de demanda e oferta. Quando eu
compra- va uma coleção, ela esgotava das prateleiras.
Aquela facilidade de fazer negócio começou a ficar
cada dia mais evidente. Eu sabia antecipar o desejo do
clien- te. Por isso, não precisava sequer argumentar.
Eu trazia justamente o que ele estava buscando,
estando sempre um passo à frente na negociação.
Enquanto estava ali, na minha zona de conforto, era
al- guém que não tinha medo de arriscar.
Mesmo que ainda houvesse um medo de rejeição –
era contornável ter o não de um cliente. Meu produto
era um sapato.
Mas meu calo começou a apertar quando comecei a
relembrar a história que lia nos gibis quando ainda era
criança. Lembrava do Tio Patinhas nadando em
dinhei- ro e das autobiografias que tinha devorado na
adoles- cência quando quis descobrir a fórmula para
ficar rico.
Certa tarde, enquanto pensava diante de uma nuvem
cinza que parecia se aproximar espantando os clientes
da região, vi um carro brilhante estacionar.
Era uma Mercedes.
De dentro dela saia uma figura tão simpática quanto
enigmática.
Era uma época em que eu andava pensativo. Queria a
fórmula para ficar rico, mas sabia que sem muito
traba- lho seria impossível prosperar.
Aquele homem, com sotaque português carregado
che- gou de mansinho e se apresentou. Ele era o que a
gente chamava de ‘fornecedor de caixa branca’, ou
seja – fazia sapatos sem marca.
Analfabeto, tinha vindo de Portugal, onde morava no
verão e aparecia pelo Brasil quando fazia frio na
Euro- pa. Assim, estava sempre bronzeado – o que
reforçava sua aparência de bom vivant.
Tudo que eu já tinha ouvido falar era que ele tinha
feito fortuna. Com mais de sessenta anos e uma
experiência respeitável, ele me olhou curioso e
perguntou o que es- tava acontecendo.
Minha cabeça estava estourando de tanto pensar.

Ele mostrou os sapatos e logo entrou dentro da minha


mente, sem pedir licença.
“Posso te falar uma coisa? ”
Despertei daquela viagem sem rumo e o encarei.

“Você assumiu a loja do seu pai. Eu trabalho só por


pra- zer. Você sabe o que é trabalhar por prazer? ”
Fiquei pensativo. Eu tinha a impressão que gostava
do que fazia. Era fascinado por pessoas, estava
conseguin- do bons resultados, mas não eram
suficientes e aquela loja não me deixaria rico.
Nos meus sonhos, queria me aposentar aos 40 e não
precisar mais trabalhar.
Não por dinheiro.
“Você quer ficar rico?

Aquela pergunta me fazia voltar ao tempo. De
repente eu era aquele menino com moletom do
Mickey e calça velha. Tinha doze anos e entrava
numa festa onde um amigo dizia ‘que bom que você
vem sempre com a mes- ma roupa. Assim as pessoas
te reconhecem’.
Era meu uniforme das festas – a única roupa que eu ti-
nha de sair – e só ganhávamos uma nova no
aniversário.
Mesmo que eu soubesse que aquelas eram as
condições da minha família, sonhava com o dia que
não precisaria me privar de tanta coisa.
“Eu vou te ensinar o que é preciso”
Disse, como se lesse meus
pensamentos.
“Para ser rico você só precisa de três coisas. Abra
as torneiras ao máximo, feche todos os ralos e
atrase seu padrão de vida em seis anos”.
Fiquei ali, me sentindo a própria Alice no País das
Ma- ravilhas diante de um universo imaginário.
Cheguei a lembrar da figura do Chapeleiro Maluco
que dizia a ela quando pensava que estava louca.
“Vou te contar um segredo: as melhores pessoas são
assim! ”
Eu estava acordado e lúcido diante do português que
disparava a falar. Dizia que eu deveria deixar o
dinhei- ro entrar, cortar os custos com mãos de ferro e
atrasar
o padrão mesmo com muita vontade de comprar algo
melhor.
“No sétimo ano você vai ver o resultado”, disse, convicto.

Daquele dia em diante eu não procurava mais a saída.


Porque a saída dependia do lugar para onde eu queria ir.
Foi justamente nessa época que passei a dar
consultoria para colegas varejistas. Compartilhava
meu conheci- mento com todos eles que me
perguntavam o que fazer para crescer como vendedor
e lojista.
Meu pai, sentado em sua cadeira observando meus
mo- vimentos, certa vez interrompeu meu
movimento;
“Filho, você está criando cobras. Você está
alimentando seus inimigos”.
Foi só nesse momento que eu percebi que tinha um
po- der de fogo nas mãos.
Eu tinha reestruturado a loja, estava financeiramente
estável, prosperando, e já tinha muito conhecimento
aplicado.
“Conhecimento é o que move o mundo”, pensei.

Eu gostava de me comunicar, sabia vender, identificar


o que as pessoas queriam e antecipar desejos de
compra, mas ainda estava nos bastidores da operação.
Me lembrei do dia em que ainda era jovem e para es-
capar de dançar a quadrilha pedi para ser o locutor da
festa junina.
Tinha sido a primeira vez que pegara um microfone e
fi- zera algo no improviso. Só que tinha feito de uma
forma tão intensa, que as pessoas passaram a não
apenas se
acostumarem com a minha presença, como elas não
conseguiam dissociar a quadrilha com a minha
locução.
Eu tinha entrado naquela função com a minha alma.
E, como dizem, todo dom traz um compromisso. E eu
não podia fugir dele. Nem do dom, nem do
compromisso.
Aquela sensação veio forte. Eu lembrava das palavras
do português, da minha mãe e as de meu pai. E
tentava tirar minhas próprias conclusões.
Eu sabia que estava viciado no lance de vender, mas
existia algo por trás daquilo que eu ainda não podia
identificar.
Já tinha facilidade de transitar por onde eu queria,
sabia me portar tanto num jantar de gala como num
churrasco na laje, lia muito, fazia cursos e mais cursos
e aplicava tudo que sabia ali na loja de calçados.
Mas eu queria mais.

Entendia que quanto mais consciência eu adquiria das


coisas, mais demência vinha. Minha teoria era de que
quem não tinha nada dentro de uma bexiga conseguia
enxergar toda a bexiga. Quanto mais informação eu
co- locasse nela, mais ela expandiria.
Mais uma vez, lembrei da Alice no País das
Maravilhas. Eu era a própria Alice, perdida, dizendo:
“Quando acordei hoje de manhã, eu sabia quem eu
era, mas acho que já mudei muitas vezes desde
então”.
Calcei meus sapatos e resolvi que era hora de dar
pega- das maiores.
Se o português dizia que era uma questão de tempo,
eu sabia que tudo começava no segundo seguinte em
que se tomava uma decisão.
“Quando eu tinha 17 anos, li uma citação que dizia o seguinte:

‘Viva cada dia da sua vida como se fosse o último, um dia você com
certeza vai estar certo’.

Aquilo me impressionou e, desde então, nos últimos 33 anos, eu me


olho no espelho toda manhã e pergunto para mim mesmo:

‘Se hoje fosse o meu último dia de vida, eu gostaria de fazer o que eu
tenho que fazer? ’. Sempre que a resposta é ‘não’ por muitos dias
seguidos, eu sei que preciso mudar alguma coisa.”

Steve Jobs
A relação
COM O SUCESSO

empre fui um grande fã do Michael Jackson.

No começo nem sabia o porquê, mas ficava


hipno- tizado cada vez que assistia uma performance
daquele cara. Não era o show de luzes, a
infraestrutura, a mega- lomania. Era algo que me
seduzia em suas apresenta- ções, como se elas
trouxessem o ingresso a um universo paralelo do qual
eu queria fazer parte.
Comecei a notar as pessoas extraordinárias logo que
me dei conta de que existiam alguns seres humanos
que se destacavam em áreas diferentes.
Se quando jovem era aficionado por gibis e depois
bio- grafias – assim que comecei a crescer, entendi
que o su- cesso de pessoas reais era o que me
interessava. Porque nenhuma daquelas pessoas
tinha qualquer traço dife- rente, DNA mágico ou
sangue azul correndo nas veias. Eram
simplesmente humanos que tinham algum ta-
lento e sabiam extrair o melhor de si mesmos
quando estavam em cena.
Em algum momento, entendi que era aquilo que eu
queria ser.
Mas para um jovem sapateiro que ainda perdia grande
parte do tempo contando os cheques devolvidos pelo
banco, pensando em estratégias para vender mais sapa-
tos ou agradar clientes, era difícil imaginar uma
transi- ção de carreira que me colocasse sob a luz dos
holofotes.
Naquela época eu nem sabia se gostava de holofotes.
Ge- ralmente uma luz direcionada em nós faz crescer
nossas aptidões e coloca uma lente de aumento em
nossos de- feitos. Muitos preferem fugir das posições
de destaque, justamente por querer evitar essa lente de
aumento.
Eu me limitava a ser um bom observador.

Observava trejeito, postura, olhar, tom de voz e uma


série de características de pessoas sem tanto brilho ou
qualquer entendimento de como se comunicar da me-
lhor maneira possível. E se você quer uma boa amos-
tragem é só entrar numa loja de sapatos. Ali eu tinha
a variedade que tanto procurava. Diariamente, estava
apto a identificar comportamentos dos mais diversos
tipos – e interações entre pessoas que jamais se cruza-
riam em outra ocasião.
Pode se dizer que eu tinha facilidade de identificar
perfis, mesmo que a pessoa não abrisse a boca para
falar. Era a maneira como movia o olhar em direção ao
objeto de desejo, ou como movimentava os lábios ao
dar uma des- culpa qualquer para não adquirir um
produto ofertado.
Diante de tanta informação, eu sabia que por mais
que estudasse PNL, técnicas diversas de interpretar e
trans- formar pessoas, meu maior laboratório era a
vida.
Por isso, sempre gostava de estar entre pessoas. E
conseguia estabelecer padrões de relacionamento
com base nas conversas, me colocar no outro, pensar
no co- letivo e estudar o comportamento de cada um
que pas- sava por mim, sem o filtro do julgamento.
Isso fazia com que as pessoas naturalmente
confiassem em mim. Sem saber, eu usava as
ferramentas da inteligência re- lacional dia após dia.
Ao mesmo tempo, sentia uma facilidade de interca-
lar idades. Á medida que começava a desenvolver pa-
lestras sobre vendas – no que dizia respeito a questão
comportamental – conseguia absorver feedbacks tanto
de pessoas com mais de oitenta anos, quanto de
jovens
– além de interagir e transitar por espaços ocupados
por todas as idades.
Isso me intrigava.

Eu tinha às vezes a impressão de ser um ermitão ou


um guru daqueles que á estão na maior idade e
quando me expressava, chegava na mente de jovens
que tinham idade para serem meus filhos. Claro que
no começo eu me sentia uma espécie de forjador de
vínculos. Meu sa- botador interno me fazia acreditar
que eu estava fin- gindo ser quem não era para agradar
qualquer público.
Só no dia em que me deparei com um espetáculo do
Mi- chael Jackson, no intervalo do Super Bowl, que
percebi do que se tratava a comunicação.
O intervalo do Super Bowl tinha a maior audiência
do mundo na televisão – e era responsável pela maior
ver- ba de publicidade americana. Portanto, era um
espaço pra lá de requisitado. Nesse espaço figuravam
músicos
da estirpe do Michael. E eu, intrigado para entender
qual a lógica permeava a escolha do artista que estre-
laria no intervalo mais concorrido do ano, comecei a
perceber que era justamente a facilidade de se
comuni- car com todos os tipos de público que
tornava o artista popular.
Ali você não via um músico de um nicho específico
que não conversava com o público jovem – ou um
rock star que não fosse conhecido pelos tigrões da
velha guarda.
E não era um espaço dedicado a amadores.

Ali, só quem conseguia se comunicar com a massa –


com excelência – falar com todas as idades e ainda
emo- cionar, é que teria espaço garantido.
E para isso, um bom astro não poupava esforços. Até
sa- patos antigravidade que o fizessem se inclinar sem
cair, ele mandava fazer especialmente para que suas
apre- sentações levassem ao público a sensação de
estarem participando de algo mágico.
Tive esse insight muito antes de começar a fazer isso.
Na verdade, quando percebi, nem sabia que um dia o
Michael Jackson me inspiraria a fazer meu próprio
tra- balho.
Quando a gente começa a enveredar por um novo
cami- nho – seja ele qual for – somos bombardeados
de infor- mações e muitas vezes não fazemos uma
triagem do que pode agregar em nossa vida e do que
podemos descartar sem pensar duas vezes.
No meu caso, foi fácil identificar o que eu deveria
des- cartar.
Comprometido com a verdade e absolutamente con-
victo de que eu não repetiria fórmulas prontas, passei
a investigar pessoas obsessivamente.
Não que eu tivesse virado detetive ou coisa assim –
mas ao mesmo tempo que eu estudava o jeito de cada
per- sonalidade que admirava, continuava observando
os hábitos de consumo de cada pessoa que cruzava
meu caminho.
E quando eu falo em consumo, falo em consumir.
Desde um sapato, até uma foto no Instagram.
A grande verdade é que os bons vendedores conse-
guiam curtidas, vendas, e bons resultados – indepen-
dente daquilo que estivessem ofertando ao público.
Compartilhar ideias e dividir inspirações me fazia
construir uma rede sólida de relacionamento, criando
laços produtivos nos negócios por meio de afinidades
pessoais.
Logo que saquei a lógica, percebi que se tratava de
comunicação, pura e simples.
Um chef de cozinha precisava vender o prato para o
dono do restaurante, que precisava vender o prato para
o garçom, que precisava vender o prato tanto para a
Dona Maria que entrasse ali para celebrar seu aniver-
sário de casamento, quanto para o Seu João, que
fosse jantar diariamente após sua jornada de executivo
bem-
-sucedido.
Da mesma forma, o músico precisava encantar o em-
presário, que precisaria vender a ideia para o dono da
gravadora, para que pudessem agradar ao público.
O segredo de um bom negócio – independente do
seg- mento – era mais que o poder de convencimento
– era conseguir traduzir aquilo que o artista fazia de
melhor numa embalagem que atingisse o público.
Quando me dei conta de que a matemática das vendas
não tinha a ver com nicho certo e sim com o jeito
certo de levar o produto – percebi que o produto
pouco im- portava. Eu conseguia vender qualquer
coisa. Desde que soubesse do que estava falando e
levasse a mensa- gem correta – e esse telefone sem
fio chegasse direiti- nho onde deveria chegar.
Curiosamente, nesta época, comecei a palestrar. Por-
tanto, o produto que eu vendia tinha nome e sobreno-
me: Ricardo Ventura.
Longe de ser artista, eu era quase um operário. Porque
eu só queria controlar minhas emoções, entender
como fazer o que eu queria fazer e repetir infinitas
vezes até que aquilo desse certo. O maior desafio era
não tornar um processo criativo em algo mecânico.
Mas eu estava decidido. E, além de decidido, tinha a
ambição de traba- lhar em algo que me desse mais
prazer e não precisasse me preocupar tanto com
dinheiro.
Porque, por mais que o comércio estivesse prosperan-
do, minha posição era estratégica e mergulhada em
bu- rocracias. Eu contava centavos para entender o
que o português falava e parecia ouvir suas palavras
ecoando em minha mente – fechar os ralos e abrir as
torneiras.
Isso significava que, mesmo quando começasse a
entrar mais dinheiro que sair, eu precisaria resistir ao
impul- so do gasto frenético, como todo empresário
em cresci-
mento. Mas eu não deveria fazer isso uma ou duas
ve- zes – eu precisaria fazer isso durante sete longos
anos. E ao mesmo tempo que aquilo parecia
massacrante, eu sentia que era um desafio perfeito.
Meu entusiasmo ao começar a fazer palestras sobre
vendas era nítido – e quando fazemos algo com
prazer, por mais que nos falte técnica – aquilo parece
despertar algo adormecido em nós há muito tempo.
Eu entrava no palco e sentia que tinha nascido para
falar em público. E nem conseguia reconhecer aquele
menino que mal sabia como interpelar a garota mais
bonita da sala. Foi curioso que, nessa época, quando
eu ainda era inábil em comunicação, uma das maiores
per- das ficou tatuada na minha memória.
Apaixonado por uma garota que mexia com os
instintos masculinos dos garotos da sala, ficava todos
os dias aguardando que ela passasse diante de nós. Era
quando eu e meu amigo Lui- sinho suspirávamos
diante da presença dela.
Só que um dia, sozinho, esperando ela passar, tomei um
susto. Eis que o próprio Luisinho surgiu com ela de
mão dada na esquina de onde ela surgia, porque tinha
tido a ou- sadia de conversar com ela quando ela desceu
do ônibus.
Naquela tarde, fiquei desconsolado. Primeiro porque ti-
nha perdido a oportunidade de conversar com ela.
Segun- do, porque meu amigo tinha feito aquilo antes
de mim.
Por sorte, anos depois, conheci a minha esposa e
sabia que não podia perdê-la para outro Luisinho.
Da mesma forma que me enchi de coragem para
abor- dá-la, hoje eu uso esta mesma energia para
seduzir a minha plateia.
A melhor hora sempre é agora.

Era diante do público, onde eu levava aquilo que sa-


bia por ter assimilado tantos anos de conhecimento
em vendas atrelado ao conhecimento em PNL que
me movia para outro patamar, que eu recebia o
feedba- ck de pessoas que começavam a se
movimentar por minha causa. E aquilo, além de me
encher de orgulho, me fazia ter a certeza de que era
aquele um caminho sem volta.
Conforme a procura pelas palestras ia aumentando, eu
ia testando novos formatos. Workshops, treinamentos
– e mesmo quando não tinha quem pagasse por
aquilo eu dava um jeito de encher a sala e fazer a
coisa acon- tecer. Era dessa forma que eu me
movimentava rumo ao meu sonho – ganhar dinheiro
com o que se ama e trabalhar por prazer não deveria
ser algo inatingível.
Observava as estratégias dos caras de talento e as se-
guia. E quando ouvia críticas em relação a ser um
ven- dedor, sempre fazia o sujeito questionar a si
mesmo
– afinal, quem não vende a si mesmo quando quer
con- vencer alguém de algo?
Eu questionava na medida e tentava sempre identificar
oportunidades futuras. Tinha atenção ao que era dito e
preservava a qualidade das relações, mais que a quan-
tidade delas.
Uma vez, depois de uma discussão acalorada com um
daqueles amigos que insistia em me sabotar, dizendo
que persuadir alguém era o mesmo que enganar, eu o
fiz refletir sobre como era o funcionamento de um
júri num tribunal.
- Você acredita que a justiça condena com base em
que? Em justiça ou conforme a melhor peça
apresentada pelo advogado?
Entramos num consenso quando ele percebeu que
quem convencia, de fato, era a melhor peça
apresentada.
Portanto, saber comunicar e argumentar era quase
uma questão de sobrevivência – em qualquer âmbito
da vida. Toda vez que eu lembrava da maneira como
mi- nha mãe me levava, através da linguística – e o
quanto aquilo tinha sido fundamental para minha
formação como ser humano desde criança eu tinha
mais certeza do caminho que estava percorrendo.
Certo dia, antes de começar uma concorrida palestra,
na qual eu inventava uma abordagem diferente, ouvi
um ritmo diferente e me vi a cantarolar. Era o hino
na- cional – em jazz. Aquilo me remeteu à minha
infância, quando a Silvia, minha primeira professora,
tinha pe- dido para os alunos levarem o hino
nacional. Como eu tinha aquele vinil guardado, levei,
orgulhoso.
Enquanto ela ouvia, eu aguardava seu posicionamento.

Quando terminou de escutar, me olhou fundo nos


olhos com um sorriso e disse que aquela versão era
fantástica.
“Me empresta esse disco? ”
Senti meu coração bater mais forte. Minha professora
queria levar meu disco para casa.
“Olha o seu não tem letra então vamos escolher o da
Mariana para ver a letra, mas esse é muito legal e eu
quero ouvir na minha casa! ”, completou.
Nem imagino de onde ela tenha resgatado a
psicologia para conseguir que aquele dia não se
transformasse num trauma. Era justo meu início na
escola e eu era ávido por aprovação, com uma
timidez que atingia ní- veis acima da média.
A maneira como ela tinha se colocado, o tom de voz,
a postura – e as palavras escolhidas a dedo, tinham
feito toda a diferença na minha vida.
Talvez por causa dela, comecei a me soltar mais em
sala de aula. Eu sabia que, de alguma forma minha
opinião, gosto e estilo eram importantes. E começava
a me mos- trar – exatamente do jeito que eu era. Sem
pretensão de atrair a atenção. Só que naturalmente
acabava lideran- do a turminha que precisava sempre
de um porta voz.
Foi ainda na infância que eu aprendi a negociar –
desde as balas de troco na adega perto de casa, até as
horas de sono com a minha mãe. Eu era bom de
negociação, principalmente porque fazia aquilo com
jogo de cin- tura e as pessoas, quando notavam já
estavam sendo conquistadas.
Costumo dizer que todo canalha é um conquistador,
mas nem todo conquistador é um canalha.
Por isso, quando comecei a identificar os padrões de
comportamento das pessoas ficava fácil entender o
que fazia com que uma pessoa fosse persuadida a fazer
algo.
Quando percebi, já era tão natural para mim que,
mes- mo sem eu querer, já exercia o papel de
‘influenciador’ nas rodas de conversa. Engraçado que
alguém com um poder de comunicação nas mãos
pode fazer grandes avanços ou grandes estragos.
A sorte é que eu não usava minha facilidade em con-
vencimento para o mal – o que eu queria mesmo era
que todo mundo entendesse o poder que tinha dentro
de si.
O curioso é que, para isso, eu tinha que aprender a
des- pertar a comunicação com o velho Ricardo, com
o novo e com o futuro. Era como falar com aqueles
que estavam fora, tentando entender cada vez mais
aquele que esta- va dentro – e ambos mudavam na
mesma velocidade – quase impossível de se
acompanhar.
O que eu tinha em mente era mais que formar vende-
dores ou coaches. Eu até usava a PNL como
habilidade complementar – mas o processo era quase
intuitivo.
Eu começava a perceber num piscar de olhos o que
aquela pessoa poderia fazer para ser a melhor versão
dela mesma e isso começou a formigar dentro de
mim.
Só que, para ensinar outras pessoas a serem a melhor
versão de si mesmas eu precisava ser a minha melhor
versão.
Quando me dei conta já estava assistindo vídeos de
grandes oradores e contemplando cada detalhe na
comunicação não verbal. Sabia que as palavras
diziam muito, mas que os detalhes poderiam dizer
ainda mais.
Ao mesmo tempo que também observava meus pró-
prios avanços, tinha medo de estar criando um
persona- gem de mim mesmo. Esse medo me
acompanhava com tanta força que às vezes eu visitava
o meu eu jovem para ver tudo aquilo que tinha
mudado.
Tinha mudado tanta coisa que às vezes eu tinha a im-
pressão de ter vivido dez vidas em uma.
Compartilhar conhecimento era cada vez mais impor-
tante e quando senti que estava apaixonado por isso a
ponto de fazer sem precisar que me pagassem, senti
que era essa minha verdadeira missão. Mas já estava
ganhan- do pra fazer isso. O que era ainda mais
recompensador.
Até que um dia, num treinamento que eu tinha bati-
zado de ‘extreme speaker’, onde eu fazia justamente
aquilo que nem ousava chamar de trabalho – me de-
parei com a força que movia aquele trabalho. Se
antes eu imaginava que meu trabalho só impactava
aqueles que estavam se relacionando comigo, naquele
dia, per- cebi que o fruto deste mesmo trabalho
poderia impac- tar muito mais.
O Moisés – como vou chamá-lo aqui – era uma
figura política de grande relevância em sua cidade.
Daquelas pessoas com o coração tão bom que logo
enche a sala de amor quando entra em qualquer
ambiente.
Como não é tão comum assim encontrar uma pessoa
em cargo político que seja íntegro, congruente e
hones- to, me senti honrado em tê-lo em um dos
meus cursos, mesmo sem saber ao certo o que ele ia
fazer lá- já que aparentemente tinha sido eleito
algumas vezes em car- gos públicos e era ovacionado
em sua região.
Até que ele foi se apresentar. Tinha verdade na voz, e
uma paz de espírito no olhar que transmitiam mais que
confiança.
Depois de sua apresentação, onde geralmente trago
um feedback positivo e algumas críticas construtivas,
ele se pôs a chorar.
Era um choro de felicidade, que me comovia e
delegava a mim um poder que eu nem sabia que tinha.
Surpreso, perguntei o porquê daquela reação emotiva
– e ele estava simplesmente feliz – em poder ter
alguém que o fizesse extrair o melhor de si – porque
ele sabia que podia ir mais longe.
Sentia isso com toda a energia que circulava em seu
corpo. Mas nunca soubera como transformar ou colo-
car para fora esse leão que rugia. Era como se o medo
de parecer um grande orador o impedisse de se
comunicar com transparência, porque sabia que a
maioria dos po- líticos corruptos fossem habilidosos
em construir gran- des personagens em torno de si
mesmos.
Tentei explicar que ele trazia a verdade. E não há
nada mais poderoso para um ser humano do que
encontrar dentro de si, a essência daquilo que quer
explodir para o mundo e transformar aquilo em
potência, articulan- do a voz, postura, jeito de se
posicionar – entregando, de fato aquilo que quer
entregar, mas numa embala- gem que valoriza o
produto.
Por isso, ele não deveria ter medo de brilhar. De ser
quem ele estava disposto a ser e ocupar esse espaço,
fa- zendo aquilo que mais tinha habilidade.
Naquele instante eu entendi a proporção do que estava
fazendo. Meu papel, naquele lugar, era ensinar as pes-
soas a se inclinarem, sem cair. Ou seja, fazerem as
pes- soas repercutirem o show, sem entenderem o
truque por trás da apresentação.
E, como um eco do meu pensamento, comecei a in-
terpretar uma figura que me inspirava – e que era um
grande líder político e espiritual de seu tempo.
“Nosso maior medo não é sermos inadequados.
Nosso maior medo é que nós somos poderosos além do
que po- demos imaginar.
É nossa luz, não nossa escuridão, que mais nos
assusta. Nós nos perguntamos: “Quem sou eu para
ser brilhan- te, lindo, talentoso e fabuloso?
Na verdade, quem é você para não ser? Você é um
filho de Deus.
Você pensando pequeno não ajuda o mundo. Não há
nenhuma bondade em você se diminuir, recuar para
que os outros não se sintam inseguros ao seu redor.
Todos nós fomos feitos para brilhar, como crianças
bri- lham. Nós nascemos para manifestar a glória de
Deus dentro de nós.
E enquanto permitimos que nossa própria luz brilhe,
nós inconscientemente damos permissão a outros para
fazer o mesmo.
Quando nós nos libertamos do nosso próprio medo,
nossa presença automaticamente libertará outros”.
Enquanto citava o discurso de Nelson Mandela,
sentia a sala vibrar em outra frequência.
Aparentemente, ninguém mais tinha medo de ser
quem era de verdade.
Nem de trazer aquela verdade à tona.

Percebi que possibilitar que as pessoas encontrassem


sua própria grandeza era mais que uma missão de vida
– era também o meu jeito de fazer a minha luz brilhar
e dar permissão aos outros para que fizessem o
mesmo.
“Há um lugar no seu coração E eu sei que é amor
E este lugar pode ser
Muito mais brilhante do que amanhã

E se você realmente tentar Você descobrirá que não há necessidade de


chorar Neste lugar você vai sentir
Que não há mágoa ou tristeza Há caminhos para chegar lá

Paremos o existir e comecemos o viver”

Michael Jackson, Heal The World


A relação
COM A DISCIPLINA

u tinha aproximadamente seis anos quando a luta


marcial entrou na minha vida. Minha primeira ex-
periência foi com o judô.

Como toda criança eu sabia que aquilo era mais que


um esporte – era quase uma arte conseguir com tão
pouca idade, aliar técnica, força e disciplina. E à
medida que fui crescendo, a disciplina foi ganhando
cada vez mais minha atenção.
E isso fazia uma diferença absurda no meu desempe-
nho em outra esfera – a dos negócios.
Meu professor, o Rossano, dizia que se a gente
treinas- se duas horas por dia, nosso oponente
treinaria três. Se treinássemos quatro, nosso oponente
treinaria seis. Se treinássemos seis, ele faria
musculação além do treino.
Então, tentávamos sempre dar o melhor de nós em
cada treino. Porque ele não aceitava menos que isso.
Assim, desde jovem, cresci com a ideia de que dava
para fazer sempre um pouco mais. Tanto no esporte,
quanto na vida.
Quando eu sentia que aquilo estava confortável,
bus- cava dar um passo adiante. Era como uma
obsessão pelo desconforto causado pelas novas
sinapses – não que fosse desconfortável fazer novas
sinapses – é que eu estava sempre ávido por algo que
ainda não tinha feito. Era como uma sede de realizar e
me surpreender.
Foram muitos anos de judô, até eu começar o jiu jitsu
que exigiu ainda mais de mim. Eu sabia que
desportis- tas se cercavam de uma cadeia de
profissionais de alto nível para conseguirem os
melhores resultados.
Foi através dos treinos que eu entendia que, para traba-
lhos braçais, preferia fazer em grupo. Para os
mentais, só conseguia fazer sozinho.
Para mim, era impossível estudar em grupo por
exem- plo. E isso começou justo na época da
faculdade. O bom era que como eu gostava de fazer
apresentações, eu pegava o conteúdo dos trabalhos e
pedia para apresen- tar – só pra que não tivesse que
ficar mais de uma hora confinado tentando fazer
alguma atividade intelectual ao lado de alguém.
Não sei se isso bloqueava minha linha de raciocínio
ou eu simplesmente não tinha desenvolvido uma
certa resiliência em aceitar o ritmo dos outros. De
qualquer forma, eu me auto impunha um ritmo
sempre maior do que parecia suportar.
Era a mesma premissa dos treinos – se estava
confortá- vel, eu procurava algo mais. Gostava de me
sentir pro- vocado, desafiado ou simplesmente estar
um passo à frente. Eu queria que as pessoas
olhassem e não vissem mais. Que quando olhassem,
enxergassem apenas um frame do passado.
Sabe como a luz da estrela?

Você olha aquela luz da estrela e ela não est á mais


bri- lhando daquele jeito. Aquilo é um frame do
passado. E eu queria levar esse conceito para os
negócios.
Sabia que quando as pessoas me olhassem, elas
teriam que ver um Ricardo que já estava no passado,
por mais que eu estivesse um passo à frente.
Por isso, buscava alcançar os resultados das atitudes
que via anteriormente enquanto já estava articulando
novas coisas nos bastidores.
Isso me norteou muito durante um bom tempo, quan-
do eu ainda tentava implementar outras coisas além do
que se tornava cotidiano. Porque eu via que tudo que
se tornava cotidiano já não bastava mais para
preencher minha sede de chegar mais longe.
Eu estava começando a ficar viciado em desafios –
to- mava novas ações para digitalizar e imprimir o
meu futuro.
Hoje tenho em mente que sempre tenho que
imprimir meu futuro com as ações que os outros
não veem. Mas nem sempre isso é fácil e
confortável de ser feito.
Na transição, do comércio para a vida de mentor de
pa- lestrantes, muitas águas rolaram. Na verdade, foi
ainda na loja que percebia que as pessoas vinham
aceitar o que eu dizia por aderência ao grupo.
Se um vendedor estava tendo maus resultados, ele
simplesmente procurava replicar a maneira como eu
instruía os demais e naturalmente mudava a perfor-
mance. E eu não queria falar de vendas. Queria falar
de neurolinguagem – e falar de coisas complexas para
pessoas simples em ambientes populares acabou se tor-
nando a minha especialidade.
Essa era minha habilidade – a inteligência relacional.
Eu estava apto a circular em todos os tipos de
ambien- tes, persuadir e me comunicar com toda a
variedade de pessoas, em distintas classes sociais – e
adaptar a comu- nicação, de forma que conseguisse
atingir cada camada desejada.
Quando comecei a cobrar pelos treinamentos que
fazia, entendi que um bom treinador era que nem o
Rossano, de quem eu reclamava muito no começo,
mas que ex- traía o melhor de mim como atleta. Um
bom treinador provocava. E eu tinha que provocar as
pessoas que que- riam resultados.
Eu tinha que fomentar perguntas, fazê-las se compro-
meterem, mostrar que a ótica do meu professor de
luta, que me fazia treinas o mesmo movimento até
que ele tivesse perfeito, era uma clara estratégia de me
fazer fi- car melhor e invencível naquilo.
Era como o Ayrton Senna, que dizia que corria com
chuva ou sem chuva e fazia o percurso mesmo de
olhos fechados, repetidas vezes. Ou como o Oscar,
grande es- trela do basquete, que não saia da quadra se
não tivesse feito cem cestas seguidas durante seu
treino matinal.
Só que meu maior oponente estava longe de ser um
ad- versário que vinha de fora.
Á medida que meu trabalho foi crescendo e a
exposição aumentando, eu tinha que brigar comigo
mesmo. Como eu era referencial externo – e mesmo
que soubesse que
tinha feito um bom trabalho, precisava que alguém
me dissesse isso – quando recebia feedbacks
negativos, da- queles fortes, que me detonavam, ainda
assim, buscava a ressignificação.
Eu precisava de reconhecimento.

Foi nesse período que comecei a trabalhar com cren-


ças potencializadoras e crenças limitantes. Eu cortava
quando alguém dizia que eu era um lixo e também ig-
norava quando me colocavam num pedestal como se
fosse um Deus.
O crescimento me fazia perceber que mais difícil do
que ingressar numa nova área, era crescer dentro dela.
Assim fui entendendo que essa era a grande ruína das
celebridades.
Não que eu fosse uma celebridade – mas sustentar a
base emocional para se desprender de uma crítica era
tão relevante quanto conseguir falar em público.
Era justamente entendendo isso que eu sentia o porquê
de tantas pessoas sabotarem a si mesmas e preferirem
não encarar um palco – o tal do medo do oponente
que vivia dentro delas – aquele medo das críticas que
fatal- mente viriam.
Todos nós temos defeitos – e uma grande dificuldade
que, com holofotes pairando sob nós, esses defeitos
fi- quem evidentes. Quando a gente se expõe, está
corren- do o risco de não ser aceito. E ninguém quer
lidar com a rejeição.
Certa vez subi a um palco com centenas de pessoas.
Confiante, entrei de salto alto e literalmente me dei
mal. A plateia que geralmente conquisto em 4
minutos,
só esquentou depois de 40 minutos – e isso demandou
uma energia tremenda para que eu pudesse identificar
onde não estava agradando.
Eu estava em busca do sentir. E quando se está no
palco, a coisa que mais amedronta é que os
sentimentos ga- nham proporções gigantescas.
Só que o ser humano tem fugido cada vez mais do
sen- tir. Ele tem medo do que provoca desconforto.
Comecei a notar que aqueles que chegavam a mim
para vender, na verdade queriam entender como lidar
com as pró- prias emoções que pareciam cavalos
selvagens quando estavam diante de uma plateia.
Foi nesse mesmo período que comecei a gravar
vídeos no Youtube.
Com medo de parecer um idiota ridículo, já que era
um território basicamente jovem, eu comecei a rir de
mim mesmo. Entender que quem ria de quem tentava,
não tinha a coragem de tentar. Que todo mundo,
quando di- zia que não deveríamos fazer algo, queria
era nos puxar para dentro do quadrado, para que não
explorássemos as possibilidades ilimitadas do
universo.
As pessoas não querem sair da zona de conforto. Essa
é a diferença do tímido e do louco. Tímido não se
aceita e tem medo. O louco não tem medo do que as
pessoas possam pensar.
Mas eu ainda estava no fio. Naquele fio invisível, que
também me impedia de ser louco. Ser louco era ir
con- tra as crenças, as regras, os regulamentos, os
protoco- los sociais. E cada vez mais eu sentia que as
pessoas se- guiam tantos protocolos que quanto mais
os seguiam, mais limitavam o próprio sucesso.
Eu entendia que a grande fórmula – se é que chamar
isso de fórmula também não era limitar algo – era se
permitir. E permitir.
O grande aprisionamento mental se dá quando somos
crianças. Para minha sorte, tinha tido uma grande
mu- lher na minha infância que jamais aprisionara
minha mente.
Diferente do Rossano, a minha mãe não exigia
discipli- na – ela deixava eu me expressar da maneira
que qui- sesse – onde quisesse.
Foi desse jeito que eu aprendi o que era estar aberto ao
que a vida tinha a oferecer. Nesse aspecto eu percebia
que a vida sempre trazia coisas que eu não estava
espe- rando. Tanto no positivo, quando as
oportunidades se abriam por portas que eu jamais
imaginara, como no negativo, quando você dava tudo
de si e se sentia usado pelo outro.
Assim como a minha mãe tinha permitido que eu
usas- se a roupa rosa de palhaço na infância, eu
percebia que quanto mais eu me despisse de pré-
conceitos, mais tra- ria possibilidades.
Então quando comecei a entender e gostar do univer-
so dos treinamentos e palestras a primeira peneira que
passei para falar sobre qualquer tema era: ‘vou me di-
vertir com isso? ’
Desde que passei a sentir prazer no que fazia, enten-
di que eu só conseguiria fazer algo bem quando fizes-
se com prazer. Logo, o processo se retroalimentava. E
como eu gostava de trabalhar emoções, lúdico, diver-
são e interesse e sabia que adultos nada mais eram que
crianças envelhecidas, comecei a me dedicar à forma
mais que ao conteúdo daquilo que apresentava.
Eu já não era um simples palestrante – onde eu
estava, tentava tocar as pessoas com o olhar. Sabia
que todos queriam ser sentidos com os olhos. E
entendia que as janelas da alma não poderiam ficar de
fora já que abrir as cortinas para o mundo era
fundamental para quem queria interagir em qualquer
nível.
Foi um processo interessante e prazeroso – principal-
mente porque, para falar com qualquer público, eu ti-
nha que ter repertório. Para ter repertório, qualquer
um precisa consumir tudo. Televisão, internet,
memes. O que estivesse na boca do povo acabava
abastecendo minhas ideias.
No dia que fiz o primeiro evento para formar
comunica- dores, tentando ensinar cada um como
quebrar o gelo, magnetizar a plateia e envolver os
convidados, percebi que não era só treino, como dizia
meu professor de luta. Não era só permitir e dialogar,
como dizia minha mãe. Não era só se relacionar,
como fazia meu pai. Era en- contrar o que cada um
tinha de único e explorar isso de maneira que o
diferencial trouxesse impacto.
Era saber se relacionar consigo mesmo, saber aquilo
que tinha de melhor dentro de si e conseguir expressar
isso da melhor forma possível para ser entendido pelo
outro.
Como dizia a essência do Jiu Jitsu para conseguir re-
sultado, valia a lei do ‘mínimo esforço, para máxima
eficiência. E se os samurais acordavam todos os dias
di- zendo ‘hoje é um belo dia para morrer’, eu já tinha
inte- riorizado esse princípio fazia muito tempo.
Cada dia eu deixava o velho Ricardo morrer para que
nascesse outro novo.
Era desse jeito que eu descobria como ainda tinha
tanto tesão em fazer coisas que nunca tinha
experimentado. Eu não era mais um equilibrista.
Soltei o peso do corpo e saltei.
“Na era da informação, a invisibilidade é equivalente à morte.”

Zygmunt Bauman
A relação
COM O COTIDIANO

utro dia ouvi que a maior autorização que


recebe- mos na vida é quando alguém nos
autoriza a ser-
mos imperfeitos.

Fiquei reflexivo enquanto Tólstói ecoava na minha


mente, dizendo o quanto a sociedade exigia de nós
uma felicidade permanente que seria incompatível
com a nossa condição humana.
Logo, eu estava tão rodeado de pessoas inquietas em
busca da felicidade que elas não conseguiam perceber
que quanto mais procuravam, mais se distanciavam
dela. Elas não conseguiam enxergar a felicidade na
im- perfeição, e ficavam sempre esperando janeiro do
ano que vem – sem se darem conta de que o tempo
cronoló- gico era uma mera contagem criada pelo
homem.
Assim, nessa busca frenética, criava-se mais ansiosos
crônicos que esqueciam do campo de possibilidades a
serem exploradas no hoje, para projetarem a vida para
um futuro que nunca chega.
Ao mesmo tempo, via gente agarrada ao passado que-
rendo reviver épocas em que tinha feito algo ou reali-
zado um grande feito. Ambos não conseguiam estar
no presente. Viviam presos no eco do tempo.
Só que ânsia das pessoas que experimentam a dor e o
vazio de uma existência incompleta fazem com que, a
cada dia, esse vazio seja preenchido de alguma
forma.
Percebi isso quando ainda era um simples vendedor
de sapatos.
Talvez não tenha coisa mais comum na vida de um
ven- dedor, que perceber certos padrões de
comportamento entre mulheres – e o primeiro padrão
que eu percebi foi o do consumo para preencher um
vazio.
Para muitas mulheres, cujo vazio existencial era evi-
dente, os sapatos vinham a calhar – e elas pareciam
encher os armários com todos os tipos que pudessem
fazê-las esquecer do quanto era importante dar passos
concretos em busca daquilo que queriam.
Lembrei de um episódio, onde uma mulher aparente-
mente bem-sucedida saiu de seu carro em direção à
loja de sapatos e não hesitou em comprar todos os pa-
res que podia.
Em silêncio, saiu da loja e me deixou reflexivo. No
seu sorriso com requintes de superficialidade eu
podia en- xergar sua infelicidade, quase escancarada
no rosto. Eu era perito em comunicação não verbal,
mesmo sem ain- da ter feito qualquer especialização
que me capacitasse para isso.
Se hoje posso decifrar através de pequenos gestos, o
que aquele ser humano é capaz de esconder através
das pa-
lavras, na época eu já tinha o olhar treinado, e não
pre- cisava de muito para entrar a fundo na alma de
quem entrava na loja de sapatos para encontrar
companhias para os pés cansados, mas vivia uma
simbólica dor exis- tencial que impedia que
caminhasse por onde queria.
Se eu pudesse dizer que tinha lido a mente dela – o
que não era verdade – eu apostaria que aquela sua
atitude escondia uma insegurança em se relacionar,
em viver a vida com plenitude, em escolher o sapato
que mais gos- tava ao invés de seguir a moda.
Era através dos gestos matematicamente calculados
que ela dizia que estava dentro da normalidade, tentan-
do timidamente ser comum. Sufocando loucamente a
vontade de tirar aquela máscara e se jogar na vida.
À s vezes tenho a impressão de que essa película
prote- tora nos faz perder a conexão não só com o
mundo real, mas com quem somos de verdade. E essa
máscara vai ficando cada vez mais grossa, impedindo
que possamos viver a vida do jeito que somos.
Então, desde aquele dia, quando alguém que parecia
tão feliz e realizada com suas compras tentava escon-
der sua angústia com um sorriso e uma nota fiscal em
mãos, percebi que o teatro que muitos estavam susten-
tando era a grande ruína da humanidade. A psique
hu- mana cobraria seu preço, mais cedo ou mais tarde.
Sabendo disso, fiquei atento aos movimentos que me
rodeavam. Era raro encontrar vida e espontaneida-
de. Era quase um presente quando eu me deparava
com alguém que tinha a capacidade de ser quem era
de verdade.
Mas estas pessoas que frequentemente eram chamadas
de loucas ou subversivas, tinham suas próprias ideias
– e não viviam como zumbis tecnológicos ou em
busca de likes para aumentar a estima, perdida em
algum lugar do passado.
Naquela tarde, a caminho do local onde eu faria uma
palestra para o TED, no coração do Rio de Janeiro,
ex- perimentei as mais diversas sensações
relembrando os trejeitos superficiais daquela madame
– que se torna- vam cada dia mais comuns no meu dia
a dia.
Então, percebi que as compras eram apenas uma das
fugas. Os vazios estavam sendo preenchidos com a
so- fisticação dos softwares que não deixavam que a
me- mória se lembrasse de sensações ruins.
Era como uma anestesia permanente para a alma.

Anestesiados e sendo guiados por uma tecnologia que


detecta todas as nossas preferências através dos algo-
ritmos, muitos viviam como personagens dos filmes
de ficção científica que víamos anos atrás e
imaginávamos serem fantasiosos demais.
Estávamos não só preenchendo os vazios com os
apli- cativos, como nos alimentando com o que eles
nos forneciam.
Subi ao palco ansioso para falar sobre o assunto que
me perturbava – os aplicativos que resolviam tudo.
Percebi que poderia ter comprado uma passagem aérea
para me deslocar ao Rio, chamar um motorista, esco-
lher um hotel, me hospedar na casa de alguém, esco-
lher onde comer e quais lugares visitar, simplesmente
através dos algoritmos que faziam esse papel de ras-
trear minhas preferências.
O vazio do cotidiano líquido também me fazia postar
fotos nas redes sociais, curtir as fotos dos amigos, e
pas- sar o dia mergulhado na própria solidão, na
companhia de um robô instalado dentro de um celular
que faz as vezes de um grande anfitrião que nos
mostra por onde caminhar enquanto não temos tempo
de viver.
Sentindo falta do olho no olho entendi que aquele dia
eu falaria sobre o dano irreversível que estávamos
cau- sando à nós mesmos. Lembrei do tempo das
cavernas, onde nossos ancestrais tinham que fazer
conexões ob- servando o outro para conseguir
comida.
Lembrei de como estamos desconectados de nós
mesmos para economizarmos tempo – terceirizando
decisões.
Os aplicativos estão apagando nossos genes. E isso é
preocupante.
Naquele dia, diante daquelas pessoas que se identifi-
cavam com meu discurso, que ainda contava sobre as
companhias fugazes atraídas através de um aplicativo
que fazia match entre pessoas, fiz com que todos se
le- vantassem e se reconectassem com a pessoa que
esti- vesse ao lado.
Enquanto pedia que eles encarassem seus parceiros e
olhassem nos olhos do outro, podia sentir a expressão
de desconforto causada pelo estranhamento que era
olhar para o outro.
“Olha para os olhos desta pessoa”, comecei. “O que
es- ses olhos já viram e querem ver? ”, perguntei.
“Quais
lembranças esses olhos querem apagar da memória? ”
“Olha os lábios dessa pessoa. O que já proferiram?
Que palavras rudes já disseram? ”
Foi desta forma que os fiz enxergar quanta comunica-
ção existia entre duas pessoas sem que houvesse ne-
nhuma palavra.
Talvez este dia, no qual precisei passar uma
mensagem em um curto espaço de tempo, tenha sido
o meu maior desafio na minha carreira de
comunicador.
Eu tinha sido convidado pelo próprio anfitrião do
even- to – que já tinha passado pela formação de
extreme speaker, e se portava como um grande
maestro, coorde- nando as energias e ritmos de cada
convidado, afinando a sintonia com o palco.
Como ele me conhecia, logo que levou meu nome
para conhecimento da curadoria para que eu pudesse
con- tribuir com o evento, houve um certo
desconforto.
Um palestrante?

As palestras naquele tipo de evento eram sempre feitas


por doutores, mestres, porta vozes de ONG´s,
cientistas, pessoas que normalmente não palestram –
mas são fei- tas com o intuito de tocar as pessoas.
Existia a ideia de que um palestrante seria um repli-
cador de conteúdo e não um criador. E eu precisaria
quebrar essa barreira, emocionar, dar vida ao meu dis-
curso, de forma que impactasse as pessoas e desse
uma dinâmica diferente ao que eu tinha para dizer.
Coloquei os elementos que eu sabia que funcionariam
no meu roteiro, mas ainda precisava de coragem para
colocar a minha digital e meu estilo. E trazer
profundi- dade com clareza era o maior desafio.
Emocionar com poucas palavras é comunicar com
sentido. Dar voz para coisas complexas de um jei- to
simples é uma verdadeira arte. Se comunicar com
o corpo, além de simplesmente impactar através da
voz que chega aos ouvidos e pode ser interpretada de
diversas maneiras, dependendo do ouvinte.
Naquela tarde, enquanto o evento era transmitido
para o mundo todo, pude entender, como um grande
cientista da vida, como experimentar e fazer com que
as pessoas experimentassem – a vida em todas as
suas tonalidades – era a força do meu trabalho.
Logo no começo da minha carreira como palestrante
tive que lidar com o ceticismo de algumas pessoas das
pla- teias que se perguntavam, ‘mas onde isso foi
estudado? ’
Eu tentava fazer as pessoas sentirem para que soubes-
sem do que eu iria falar a seguir. Desta forma,
mostrava, na prática, o que era rapport, mapa, filtro,
critério, entre outras coisas que eu já tinha estudado,
mas não sabiam nomear.
Nomear algo que sentimos é algo que não fazemos
com tanta frequência.
E me incomodava quando simplesmente se dedicavam
a teorias ao invés de mostrarem exemplos práticos do
que diziam. Para mim, a prática ensinava muito mais
que qualquer teoria. Principalmente quando fazíamos
uma pessoa entender um contexto, para depois explicá-
lo.
Só que desde pequenos éramos instruídos a seguir pa-
drões. Já a escola, que tenta seguir uma grade
curricular,
adestrar e robotizar crianças para que vivam em socie-
dade.
A única coisa que pouca gente percebeu é que a vida
não segue uma grade. E os pais, na ânsia de
quererem que seus filhos cheguem num lugar onde
todo mundo chega, ficam cegos para as possibilidades
que pode- riam existir caso se abrissem ao novo.
Talvez por isso o vazio e a inenarrável facilidade de
de- legar aos aplicativos todas as decisões que a vida
coti- diana pede.
Quando não somos os donos das decisões, não nos
dei- xamos contaminar pelo que vem de fora. E
impedimos a nós mesmos de ter um repertório maior.
Desde pequeno me deixei contaminar pelo mundo do
ou- tro. Sempre acreditei que a melhor maneira de
evoluir, aprender e criar meu mundo, era através
dessa contami- nação – que poderia abrir meus
horizontes e me fazer en- xergar de uma outra forma.
A primeira vez que percebi que tinha uma silenciosa
contaminação fazendo com que eu absorvesse algo
que não era meu, foi quando a minha professora, Nei-
de, discretamente me pediu para ler uma poesia na
sala de aula.
No auge dos meus quatorze anos, hormônios saltando
pela pele, eu exercia certa liderança no meu grupo de
amigos. Rápida, ela identificou o lobo chefe da
matilha e me usou com sapiência para que eu
influenciasse meu pequeno grupo de amigos.
Dizendo que minha voz era de veludo, me fez ler
poe- sias para a classe. E isso me fazia entender que
poesia
era um alimento para a alma. Eu era convidado a co-
nhecer um novo mundo, o das metáforas.
Foi a partir deste momento que comecei a notar que
eu era a somatória de todos os meus
comportamentos. E que estes comportamentos eram
a somatória de vivên- cias e crenças.
Eu passei a perceber que éramos a contaminação do
ex- terno e não tinha como existir sem contaminação.
Cada livro que eu lia, cada pessoa com a qual
conversa- va, cada universo particular que me afetava
fazia com que eu me moldasse, pouco a pouco.
Por isso passei a não evitar a comunicação com qual-
quer tipo de instrumento ou voz.
Até mesmo os aplicativos faziam parte do
experimento com a vida.
A princípio achei que eles aceleravam a
comunicação, mas pouco a pouco entendi que o que
fazíamos quando confiávamos as decisões a eles era
terceirizar o controle da nossa vida.
Aquilo começou a dar um nó na minha cabeça. Eu
sabia que o livre arbítrio não existia totalmente. Até
mesmo numa loja de sapatos para que uma escolha
aconteces- se, aquele sapato escolhido, mesmo dentre
300, tinha sido escolhido por alguém anteriormente.
Perceber que estávamos sempre dentro das opções que
nos eram dadas entendi que nosso universo de
escolha é sempre controlado. E, dentro dele,
escolhemos algu- mas coisas.
O lado bom disso era que quanto menos opções
tivésse- mos, mais rápidas seriam as decisões, e
menos energia gastaríamos.
Só que aí me dei conta que o Big Data sempre
escolhia com base no rastro que eu deixava.
O que os aplicativos e redes sociais faziam era
simples- mente pegar meu rastro e jogar para frente,
tentando prever meus padrões de comportamento. E
comecei a acreditar que essa inteligência artificial, na
verdade, não trazia qualquer evolução. Patinávamos
na mesmi- ce – repetindo padrões ad infinitum.
Se eu pegasse o e-mail dos meus clientes no
Facebook, ele rastreava estes e-mails e me dava as
coordenadas de acordo com o perfil de quem me
seguia. Ou seja: es- colhia novos seguidores de
acordo com um perfil para mostrar a minha
propaganda para estas pessoas.
Desta forma, quanto mais massificado fosse meu con-
teúdo, mais pessoas eu teria o poder de atingir. Isso
es- tava claro.
Quanto mais massificado, mais fácil para os
aplicativos de massa e para o comércio. Esses
pequenos insigh- ts iam construindo novas crenças.
Eu sabia usar essa inteligência a meu favor, para
vender meus produtos. Mas será que eu queria ser
tocado por ela? Será que eu queria experimentar o
sorvete que o meu algoritmo di- zia que eu ia gostar
com base no que eu já tinha experi- mentado? Ou
seria possível participar a cada momento de novas
experiências, de modo que o algoritmo ficasse cada
vez mais complexo e dificultasse seu trabalho de
decidir por mim?
Eu queria ter a possibilidade de não usar o aplicativo
e andar pela rua. Ser impactado pelo cheiro, pela cor,
pela fachada de cada lugar e decidir, genuinamente,
se era ali que eu iria entrar.
Eu precisava experimentar a vida. Caso contrário,
me tornaria um ser humano limitado pelas
próprias es- colhas.
Conforme fui crescendo, entendi que onde não tinha
contaminação, não tinha evolução, quanto menos pes-
soas eu conversasse, menos repertório teria. Quanto
menos livros lesse ou menos programas assistisse,
meu jeito de ver o mundo seria limitado e incoerente
com a realidade.
Então, percebi o quanto as pessoas estavam fechadas
em seus microuniversos, impedindo a própria
evolução.
Entendi porque demorava tanto para o ser humano
evoluir, já que isso só aconteceria se fossemos
contami- nados por uma invasão alienígena que nos
fizesse dar um salto de milhões de anos.
E percebi que limitar a complexidade das decisões
fazia nosso cérebro ficar burro.
Se eu passasse a vida fazendo as mesmas coisas, passa-
ria a vida passando pelas mesmas experiências.
Uma pessoa que passa 30 anos comendo pizza de
muça- rela e calabresa não é uma entendedora de
pizza, ela é uma entendedora de pizza de muçarela e
calabresa.
Essa é uma grande questão. Muitos de nós acreditam
que os anos sejam repetitivos. Eu sou da opinião que
os anos são uma criação humana. E que não existe
tempo.
O tempo que temos para viver é hoje. É agora. É o
que está.
Mas os responsáveis pela repetição dos anos, que se
tornam rotinas maçantes com zero aprendizado, so-
mos nós, quando andamos em círculos e não saímos
do lugar.
Estamos catalogando tempo e tendo a falsa ideia
de que sempre poderemos fazer aquilo que temos
von- tade. Que podemos experimentar o que
quisermos quando quisermos. Mas não nos
permitimos experi- mentar, escravizados pelos
nossos próprios rastros que nos mantém reféns
das mesmas experiências vividas no passado.
Vejo pessoas que só se deixam contaminar pela
própria família, passando 30 anos fazendo
exatamente as mes- mas coisas e indo para o mesmo
lugar, e entendo como existem vertentes radicalmente
distantes.
O significado da palavra experiência pode mudar
num segundo: se uma empresa considera que um
colabora- dor tem experiência por ficar 30 anos no
mesmo cargo, será que, de fato, ele tem experiência
se fez a mesma coisa ao longo de 30 anos?
Ter experiência em uma coisa só nos limita. E eu, que
gosto de comunicação, tento me reinventar diariamen-
te. Sou o cara que não vê problema em entrar toda se-
mana na pizzaria, desde que não se coma sempre o
mes- mo sabor de pizza.
Só que as pessoas estão vivendo repetidas doses – e
overdoses – daquilo que já viveram.
O Facebook, que traz um rastro de tudo que você cur-
tiu, gostou, digeriu ou odiou na internet, consegue
tra- çar uma linha de raciocínio com base no que
você era no dia anterior.
Por mais que você tenha interesse por coisas
novas, sempre vai ter o fantasma do seu rastro,
deixado para trás, mas trazendo referências de
outras coisas, reves- tidas de novidades, com base
no que você já viveu.
Tenho uma amiga que deu um match numa rede
social de relacionamento, porque a tal rede
identificou que aquele era o perfil ideal para ela.
Semanas depois, ela percebeu que o cara era a cópia
do seu ex, de quem ti- nha se separado por falta de
afinidade. Só que a rede tinha se baseado nos gostos
anteriores, então, de fato, ela só encontraria mais
sugestões do mesmo, porque aquele aplicativo em
especial, entendia que ela gostava daquele perfil.
Nosso cotidiano está nos empobrecendo. E nos
deixando menos questionadores .
Como dizia Bauman, “nenhuma sociedade que
esquece a arte de questionar pode esperar encontrar
respostas para os problemas que as aflige”.
Quando nos deixamos contaminar, podemos agregar
à nossa personalidade aquilo que faz sentido. Mas,
muitas vezes, nos contaminamos com tudo e
esquecemos de cultivar nossas próprias ideias.
Esquecemos de formar a nossa verdade a partir de tudo
aquilo que absorvemos do mundo. E ficamos
incapazes de tomar decisões.
E se eu estou falando de decidir, não estou falando
ape- nas do perfil consumidor existente dentro de
cada um
de nós – estou falando, sobretudo, do perfil que
criamos para atender uma demanda social e sermos
aceitos – sem que precisemos mostrar a nós mesmos.
Vamos alimentando a ideia de que temos que ser
bons filhos, bons funcionários, bons amantes, e
quanto mais colocamos carga, mais distantes ficamos
do que somos. Replicamos conceitos que os outros
esperam que replique- mos – e perdemos a
originalidade – que é o que é nosso de origem.
Enquanto trainer de palestrantes, observo muito. Prin-
cipalmente o tanto de gente que pega modelos prontos
de ideias que caem no gosto popular, para não criar
no- vos conceitos e correr o risco de ser julgado.
Antes era difícil chegar no mundo do outro. Hoje
pode- mos ter um rastro superficial dos gostos e
preferências de cada um. Com isso, quem entende de
estratégias digi- tais de vendas, consegue levar ao
público algo customi- zado – e, desta maneira, muitos
empreendedores fazem conteúdo sob demanda,
sabendo onde estão pisando.
Desta forma, a rede se retroalimenta. As pessoas cur-
tem determinados conteúdos, são agrupadas, as mes-
mas coisas lhes são oferecidas e elas sentem a falta
sensação de pertencimento. Assim, não
experimentam nada novo.
Ser um cientista da vida é ser um experimentador
de conceitos, ideias, e novas versões de si mesmo.
É se reinventar, se reescrever, se permitir entrar e
sair de cena, sem medo dos julgamentos e
aplausos.
Ser um cientista da vida é ter a capacidade de
absorver um pouco de cada um dos lugares – de não
se deixar
cegar pela facilidade com que nos são ofertadas as
opor- tunidades para que possamos perder menos
tempo es- colhendo o que é melhor para nós.
Ser um cientista da vida é saber que o ‘melhor’ ou
‘pior’ não precisa ser tabulado como bom ou ruim. É
se deixar levar pelas experiências, sejam elas boas ou
ruins, para que façam parte da constituição da sua
realidade.
Nesses tempos líquidos, vejo que minha missão se
apro- xima de integrar o ser humano, fazendo com
que ele entenda que é muito maior do que supõe ser.
Tudo é comunicação e o que vejo cada vez mais é que
as pessoas não sabem usar as formas de comunicar o
que está acontecendo, nem com elas próprias – nem
entre elas. A comunicação entre as pessoas está doente.
E pre- cisamos curar isso. A sobrevivência humana
depende da comunicação. Podemos criar novas
janelas de opor- tunidade a partir do momento que
entendemos como co- municar – nossas necessidades,
desejos, e principalmen- te, dar voz a aquilo que nos
toca e pode ser uma poderosa ferramenta de
transformação para outras pessoas.
Vejo, cada vez mais, durante os treinamentos que
faço, que as pessoas podem criar novas realidades.
Podem ser curadoras de suas histórias, trazendo
alegria, sain- do da depressão, criando novos
caminhos.
Quando descobrimos nossa melhor versão, e conse-
guimos levar ela para o mundo, devolvemos a ele
tudo aquilo que recebemos – e, desta forma,
multiplicamos e ampliamos.
Hoje, mesmo quando estou gravando um vídeo ou
me vejo no palco, ainda me vejo um comerciante.
Um
comunicador – uma pessoa que tenta exercitar a cada
dia novas aptidões. Sei que as oportunidades de negó-
cios estão em todos os lugares e buscava a cada
momen- to construir redes sólidas de relacionamento
que não fossem forçadas.
Você não precisa mentir para ser um vendedor de
sonhos. Você não precisa mentir para criar um novo
mundo.
Em tempos líquidos, onde as pessoas acreditam que
a comunicação está ligada à velocidade do roteador
quando postam, conectadas no sinal da internet banda
larga, a verdadeira comunicação está longe do
universo tecnológico – e é só se conectando de
verdade com você mesmo que você se conecta com o
outro.
É só sabendo o que pode oferecer para si,
preenchendo um vazio existencial com aquilo que faz
sentido, é que pode ofertar aquilo que muda a vida do
outro.
Caso contrário, seríamos meros robôs. E até eles
estão criando sua própria linguagem.
Como diria o Chacrinha, um dos maiores comunica-
dores de todos os tempos ‘Quem não se comunica, se
trumbica’.
“Não importa o que as pessoas te dizem. Palavras e ideias podem
mudar o mundo”

Robin Williams
A relação
COM O HUMOR

m dos caras que mais admiro é o Silvio


Santos. A capacidade dele de ser um showman,
empresário, comunicador, e se misturar com todos os
públicos, clas- ses, sendo unânime em todas elas, faz
dele uma espécie de gênio – que temos o prazer de
contemplar ainda vivo.
Acredito que quem sabe se comunicar, não envelhece.

Assim como o Silvio, todo bom comunicador tem a


ida- de que ele quiser ter.
Percebi isso quando comecei a interagir com grupos
de adolescentes e jovens em meu canal do Youtube,
ao mesmo tempo que conseguia dialogar com
senhores de mais de 80 anos em minhas palestras,
Talvez o segredo da comunicação – e também do
não envelhecimento – seja se banhar na experiência
do ou- tro – e conseguir ser o que o outro é naquele
momento.
Sempre que vi o Silvio em ação, notei o quanto ele
era habilidoso em vender, desde simples títulos de
capitali- zação, até sonhos.
Quem sabe vender – vende qualquer coisa. E é capaz
de seduzir através das palavras para que o outro abra
lite- ralmente as portas da esperança e sinta aquela
vontade de pertencer a uma tribo exclusiva.
Da primeira vez que comecei a estudar comunicação
subliminar e persuasão, estudei obsessivamente um
cara chamado Neil. Eu tinha contato com PNL e gati-
lhos de persuasão, e pensava o tempo todo ‘como
esse cara consegue manipular? ’
Infelizmente muitos de nós veem a palavra
‘manipular’ com conotação negativa.
E ela até pode ser – se usarmos a manipulação para
atendermos objetivos contrários ao que a pessoa
deseja.
Mas também podemos manipular uma pessoa
sim- plesmente mostrando a ela aquilo que ela
verdadeira- mente quer – mas não tem coragem
de verbalizar.
Por isso a manipulação em vendas pode servir tão bem.

Certo dia, acompanhando minha cunhada numa con-


cessionária de carros, ela observava três modelos
dife- rentes de veículos – com valores diferentes entre
si.
Naquele dia, ela tinha um claro interesse em comprar
um modelo que estava avaliado em R$42 mil reais,
mas estava quase efetivando a compra do modelo de
R$ 36 mil, justamente porque o vendedor, sem
qualquer habi- lidade, apenas se limitava a responder
suas perguntas.
Fiquei observando a situação, sem tentar persuadir
ninguém, e quando ela olhou para mim, perguntou:
“Ricardo, o que você acha? ”
Com permissão para entrar em cena, pedi ao vendedor
um papel, uma calculadora e uma caneta – ferramen-
tas de trabalho simples que ele não tinha em mãos – e
comecei a enumerar as diferenças entre cada um dos
modelos.
Escrevi num papel:

“Temos isso aqui por 36 mil e isso tudo aqui por 6 mil
a mais. Agora me responda ‘Quanto tempo você vai
ficar com o carro?’
Ela disse que talvez durante 5 anos e eu continuei.

“Então 6 mil divido por 5 anos igual a 1200 reais ao


ano, divido por 12 meses igual a 100 reais, divido por
30 dias igual a 3,33 reais.
Você vai deixar de comprar o carro dos seus sonhos
por três reais por dia?”
Ela pensou e optou pelo modelo de 42 mil reais, e eu
saí de lá convicto de que as pessoas não sabem
utilizar as formas de comunicar o que está
acontecendo.
Neste caso estamos falando da venda de um carro,
mas podemos tirar algumas lições desse episódio.
Quantas oportunidades perdemos diariamente porque
não nos dedicamos com energia e entusiasmo
naquilo que queremos? Quantas vezes durante o dia
deixamos de contribuir com as pessoas ou gerar
qualquer resul- tado impactante na vida do outro?
Se a nossa maior arma na comunicação é a energia,
de que forma estamos usando? Estamos nos
comunicando com presença, transmitindo nossas
ideias com clareza?
Estamos sendo hábeis na identiftcação das
necessida- des das pessoas? Transparentes nas
conversas? Temos a capacidade de envolver as
pessoas levando-as a faze- rem um questionamento
mais intenso? Um questiona- mento interno que as
mova para uma ação?
Desde pequenos dizem que eu faço perguntas que são
difíceis de se responder.
Perguntas que desencadeiam uma leitura interna, in-
comodam, e, através delas, consigo identificar as
quali- dades extraordinárias de cada um fazendo com
que as pessoas se sintam capazes de fazer qualquer
coisa.
Olhar as pessoas requer tempo, humildade, discerni-
mento e espiritualidade. E enxergar mais do que as
pes- soas conseguem ver naquele momento nos traz
uma nova dimensão dos relacionamentos.
Talvez eu seja um grande provocador de sensações. E
goste de transformar o abacaxi em suco, e juntar tudo
para fazer ficar com um gosto diferente. Ou talvez eu
seja só aquele cara que gosta de provocar.
De qualquer forma, tento sempre estremecer os pi-
lares de quem estiver pela frente. Quando tenho pi-
lares sólidos não me permito experimentar. E se não
experimento, não me permito mudar.
Desde criança minha mãe me dava a liberdade de ser
– e mesmo que eu sempre soubesse que tinha o poder
de escolher quem eu queria que me contaminasse, eu
cresci sabendo que entrar na vida do outro é diferente
de ser um cara invasivo. O segredo é que as pessoas
te convidem a entrar no mundo delas – e não o
contrário.
Conforme fui crescendo, fui sendo impactado pela
ava- lanche tecnológica que hoje recria a maioria das
profis- sões. Desta forma, muito do material humano,
no futu- ro, será substituído por robôs.
A única habilidade humana que sempre será
necessá- ria é a capacidade de se comunicar e
emocionar.
O robô pode até passar uma linguagem, mas jamais
conseguirá interpretar seus sentimentos. Algoritmo
nenhum consegue distinguir se seu sorriso é verdadei-
ro ou falso na alma!
Inevitavelmente, as máquinas estão cada vez mais hu-
manas, e os seres humanos cada vez mais robóticos.
Porque, como estamos limitando nossas experiências
e revivendo nossos próprios rastros, sem criar novas
perspectivas, enclausurados no mundo das telas do
celular que não nos permitem conversar numa mesa
de bar, está cada vez mais fácil e previsível entender
o comportamento humano já que ele repete padrões
como uma máquina faria.
As relações humanas estão frias e as máquinas cada
vez mais humanizadas. Pessoas robotizadas numa
convi- vência doentia com aplicativos que simulam até
mesmo o tom de voz de um humano.
Desta forma, tem sido desafiador para aqueles que vi-
vem a própria vida sem amarras, porque são justamen-
te estes que tem sido alvo das maiores críticas, já que
aquilo que incomoda no outro geralmente é uma
carac- terística sua que te fere e está relegada à
sombra.
Percebo o quanto a comunicação externa é capaz de
conquistar o outro, mas o quanto a comunicação
inter- na conquista você mesmo.
Sem extrair o melhor de si mesmo, você é incapaz de
extrair o melhor do outro. E dentro de cada um de
nós existe uma melhor versão de si mesmo.
Mas muitos passam a vida toda sem encontrar e
resga- tar essa versão. É como se as pessoas não se
permitis- sem ser quem elas realmente podem ser.
Talvez por isso os grandes comunicadores e pessoas
com destaque naquilo que fazem pareçam seres de
ou- tro planeta. Talvez eles sejam – do planeta dos
loucos. O louco faz o que deseja sempre.
Independente das con- sequências. Eles permitem ser
quem são e através da espontaneidade conseguem
tocar seu público.
Mas só conseguem tocar seu público porque estão
abso- lutamente conectados com sua própria verdade
e per- mitem-se desconstruir e reconstruir a cada
instante.
Desde pequeno estudo histórias e biografias de gran-
des personagens e personalidades que passaram pelo
mundo. Em comum, eles deixaram suas marcas – e
estas marcas são perceptíveis justamente porque eles
se per- mitiram ser eles mesmos – e jamais aceitaram
ser quem a sociedade dizia que deveriam ser.
Uma das grandes damas da televisão brasileira, Hebe
Camargo, que foi uma comunicadora capaz de atingir
grandes massas e extrair de seus entrevistados a gar-
galhada, mesmo quando o assunto parecia sério
demais para ter um ponto de vista permeado pelo
humor, mos- trou o quanto aprender com humor podia
ser a manei- ra mais rápida e efetiva para o
telespectador.
As pesquisas apontavam que as pessoas
memorizavam mais as entrevistas feitas pela loura que
aparentava ser
fútil mas interagia de verdade com seus convidados,
do que as matérias tradicionais dos noticiários.
Isso porque aprender com humor é mais rápido, e traz
uma aderência maior e mais instantânea, quando você
ri, você se diverte e acontecem reações químicas
dentro de você.
A relação
COM OS SACRIFÍCIOS

inha aproximadamente nove anos.

Estávamos todos na cozinha de casa, onde nos


reu- níamos para as refeições. Família numerosa,
quatro filhos, e eu tive a ideia de abrir a geladeira
para pegar uma garrafa de vidro fechada com um
refrigerante.
Tinha acabado de voltar da rua, mãos sujas de tanto
brin- car. Talvez por isso não tenha percebido que
havia algo nas palmas das mãos que faziam as coisas
escorregarem.
Naquele momento, quando agarrei a garrafa com as
duas mãos, senti o peito disparar por segundos. En-
quanto ela vagarosamente escorregava pelas minhas
mãos, eu via tudo em câmera lenta.
O movimento dos olhos do meu pai, observando com
pânico, aquela garrafa de vidro estraçalhando no
chão. O rosto da minha mãe, como se tivesse
presenciando um atropelamento – e o silêncio que
interrompia até as batidas do meu coração – que
duraram apenas alguns segundos depois que aquele
vidro se quebrou.
Talvez aquela cena não tivesse ficado tão marcada na
minha memória se meu pai tivesse dito que era só
uma garrafa de refrigerante. Ou se eu levasse uma
simples bronca por sujar toda a cozinha.
O fato é que, mesmo sem apanhar, o que eu
presenciei depois daquela cena, foi um ritual de
palavrões, ódio e gritos. Meu pai estava
absolutamente descontrolado com o que eu acabara
de fazer, como se tivesse cometi- do o desperdício do
século, mesmo que aquele refrige- rante custasse o
equivalente a três reais.
Hoje sei que aquela ira não veio só por causa do tal
li- trão de Coca Cola. Ela começou bem antes,
quando, do dia para a noite, saímos do que
chamávamos de ‘classe média’, para a total escassez.
Mesmo sendo dono de uma loja de sapatos, meu pai
acumulava dívidas que faziam com que seus credores
vivessem de juros. Quando resolveu pagar todo
mundo, vendeu praticamente tudo que tínhamos, até
mesmo um carro recém adquirido pela minha irmã
mais velha que se esforçava para pagar o consórcio.
Dessa maneira, era como se todas as fontes secassem
da noite para o dia, e eu, que parecia ser o filho do
comer- ciante mais popular do bairro, aprendi a
conviver com a rotina do ‘não temos dinheiro para
isso’.
A escassez era tamanha que economizávamos no litro
de óleo. Me lembro que certa vez, quando os alunos
da escola precisavam levar doações para um evento,
es- crevi que não poderíamos contribuir com nada, o
que desencadeou uma onda de ironia por parte da
professo- ra de classe, que me interpelava como um
filho de um comerciante não tinha como trazer nada.
Naquela época, eu não os desafiava, apenas aprendia
a conviver com a realidade da maneira como ela se
apre- sentava. Até o dia em que a diretora me chamou
em sua sala – sem que eu tivesse cometido qualquer
inconve- niência em sala de aula.

_ Feche a porta por favor


Ela disse quando entrei.
- Você sabe que seu pai não paga a mensalidade da
es- cola há três meses?
Para mim, além de ser uma novidade, aquele assunto
não deveria estar sendo levado a meu conhecimento.
Mesmo assim, ela continuava, com sua pedagogia in-
clusiva, educativa e religiosa.
- Se seu pai não pagar a mensalidade atrasada, você
vai precisar sair da escola.
Era como se eu fosse um adulto sendo demitido de
seu local de trabalho, onde cultivava seus únicos e
melho- res amigos.
Cheguei em casa cabisbaixo e passei o recado para a
mi- nha mãe, que interpelou meu pai de maneira
incisiva e quase autoritária.
“Aqui estão as mensalidades do seu filho. Dê um jeito
de pagá-las”
Sabe-se lá como ele arranjou dinheiro, mas, naquele
dia, quando o refrigerante caiu no chão da cozinha,
era como se ele descontasse toda a raiva – dos
credores, da diretora, e talvez até de si mesmo – e
descontasse no fi- lho mais novo.
Mesmo sem proferir um único golpe, suas palavras
fe- riam mais do que uma bofetada. Só que não era só
em casa que minha vida era de luta. Como ainda
treinava judô, era desafiado a lutar fora dos tatames –
e nunca revidava.
Da primeira grande surra, tomada depois de um
valen- tão me desafiar em frente a todos, tirei uma
grande li- ção – meu mestre afirmava que eu tinha
condições para ter revidado. Então, daquele dia em
diante, prometi a mim mesmo que se fosse desafiado,
levaria até as últi- mas consequências.
Bastou um menino maior e mais forte me bater para
minha certeza cair por terra. O segundo ensinamento
era que, além de ter condições, eu tinha técnica –
coisa que ele não tinha.
Então, no terceiro desafio, levei a maior surra de
todos os tempos. O meu adversário era muito grande.
Meu mestre disse de uma vez por todas – não impor-
ta o tamanho do seu oponente e sim o quanto você se
prepara.
Eu tinha uma vaga ideia do que ele estava falando –
mas eu usava essas lições para me preparar para uma
outra batalha – a da vida adulta.
Se meu pai parecia perdido na organização financeira
da casa e tínhamos tão pouco dinheiro para contar no
fim do mês, eu pensava que me preparar era
necessário, mas queria me preparar para ser alguém
que não preci- sasse lutar tanto quanto meus pais.
Não que eu não quisesse lutar, mas estava exausto de
sentir aquela sensação. Ver minha mãe nadando con-
tra a maré e colocando a cabeça para fora para tentar
respirar era desgastante. Ninguém gosta de ver a pró-
pria mãe sofrer.
Ao mesmo tempo, para os filhos, ela tentava fazer
não faltar nada – e carinho e atenção nós tínhamos
mais que realmente merecíamos – ela era mais que
uma pes- soa que nos desafiava ir além – se não tinha
dinheiro para o óleo de cozinha, ela dava um jeito de
ter para comprar os livros.
Ah, os livros. Nessa época eu acreditava que se
detives- se conhecimento, teria poder – e poder para
mim era o mesmo que dinheiro. Via como o fato de
não ter dinhei- ro impactava na autoestima da minha
família e como as pessoas humilhavam meu pai por
dever para os outros. Então, eu acreditava que quem
tinha dinheiro seria bem tratado. E, por isso, queria
ficar rico.
Só que achava que o caminho para isso era entender
o que ninguém entendia.
Naquela época eu era crente que o dinheiro poderia
tra- zer respeito. Mas não tínhamos grana nem para
com- prar os livros que eu queria tanto ler.
A solução vinha da minha mãe, que coordenava
grupos de evangelho na Igreja e dava um jeito de
levar livros para casa.
Se eu não me alimentava tão bem, porque a gente só
tinha arroz feijão e ovo para comer, por outro lado eu
devorava os livros que ela trazia.
Até mesmo as enciclopédias – tão grossas e aparente-
mente difíceis de ler – eram alvo da minha
curiosidade.
Eu era faminto por conhecimento.

Mesmo que nenhuma delas detivesse a fórmula do


sucesso, elas me inspiravam e faziam com que eu vis-
lumbrasse novos horizontes. Para mim, a matemática
era: se você for inteligente e souber se comunicar,
têm poder.
Na época, já estudava a história de Assis
Chateubriand, um dos homens públicos mais
influentes do seu tempo. E entendia que ele tinha feito
tanto dinheiro sabendo usar a comunicação a seu
favor.
O mais curioso era que, embora eu buscasse ler enci-
clopédias, não buscava apenas respostas. Cada página
fazia com que eu tivesse um ímpeto ainda maior por
perguntas.
E, quanto mais eu crescia e os anos se passavam,
mais percebia o movimento contrário – as pessoas
estavam com um acesso cada vez maior ao
conhecimento, só que ao mesmo tempo, cada vez mais
rasas. A cultura era massiva, mas era superficial.
Como as redes sociais que traziam a facilidade de
postar coisas com poucos caracteres – o poder de
síntese, ao in- vés de contribuir para se extrair o
melhor conteúdo de cada coisa, estava servindo para
que as pessoas não se aprofundassem no conteúdo – e
cada vez mais eu sentia um desinteresse profundo – até
começar a onda da leitu- ra e interpretação de títulos e
matérias. Com desculpas como ‘falta de tempo’, as
pessoas encontravam o jeito perfeito de não raciocinar
por elas próprias.
Claro que isso criava uma brecha gigante para quem
produzia conteúdo poder manipular quem não a lia –
e se eu já acreditava que comunicação e
conhecimento eram a chave do poder, pude perceber
com meus pró- prios olhos como números na internet
faziam com que novos ídolos nascessem. E à medida
que isso acontecia, me espantava com a repercussão
do meu próprio canal.
Quando eu entrava numa tela de celular dando minha
opinião sobre um assunto, aquilo repercutia de várias
maneiras. Muitos relatavam como tinham sido impac-
tados – e da mesma forma que era assustador perceber
que minha voz podia ser ouvida – era curioso notar
como era simples e fácil manipular a opinião pública.
Quanto mais lia sobre as pessoas que admirava – já
adulto – entendia que até mesmo a simples
combinação de roupa de cada um deles, passava uma
mensagem. Se comunicar estava além de dizer algo.
A maior transação futebolística do mundo, envolven-
do um jogador de futebol brasileiro, também trouxe à
tona fatos interessantes – a maneira como ele foi
vesti- do para assinar o contrato bilionário – dizia
muita coisa.
Era o mesmo jeito despojado do criador do Facebook
quando saia de chinelos para assinar os contratos que
movimentavam sua fortuna. E até isso passava uma
mensagem.
Eu sabia que conhecer algo era o nosso maior tesouro
– nem que esse conhecimento fosse relacionado a
domi- nar uma bola em campo. Mesmo assim,
também tinha plena certeza que nenhuma técnica
poderia ser repro- duzida e copiada por outras pessoas
da mesma maneira.
Jamais existirá outro Pelé, ou um novo Ayrton Senna.
Justamente porque só se encontra o próprio potencial
quando se encontra a si mesmo – e as pessoas
estavam caminhando cada vez mais para a
massificação.
Cada vez que se tenta copiar o outro, perde-se o brilho
da originalidade, da espontaneidade e essa poeira
cósmica, que forma os seres humanos, relatada de
maneira tão bela por Einstein, começa a se desfazer,
Porque fica fácil copiar modelos prontos.

É como escolher entre abrir um negócio próprio e


comprar uma franquia. Com a franquia você não
precisa decidir nada – as decisões e orientações são
dadas por alguém que já percorreu aquele caminho.
Desta forma, você simplesmente obedece algo cujo
ris- co é matematicamente calculado, mas não sai da
linha nem tenta arriscar nada novo.
Quando não criamos nosso estilo de vida agimos
como se estivéssemos adotando um modelo pronto
que nos foi vendido e obedecendo cegamente a este
estilo, sem cogitar a hipótese de criar algo novo e
percorrer um caminho que pode ser único.
A alquimia da vida é encontrar a medida certa de
criar a sua realidade sem se deixar transformar por
aquilo que não condiz com o que acredita. Entrar
num lugar, absorver conhecimento sem
necessariamente precisar concordar com aquilo que
viu, viveu ou ouviu.
Nessa odisseia, fui entender o quanto quem domina o
conhecimento domina o mundo, logo no México, du-
rante a lua de mel em Chichen Itza, cujas ruínas são
consideradas uma das sete maravilhas do mundo. Foi
lá que o guia turístico nos contou sobre como eram
feitos os sacrifícios humanos.
Para que chovesse, eles diziam que era preciso extrair
o coração das crianças ainda vivas e oferecer aos
deuses. Desta forma, abriam o abdome abaixo da
caixa torácica e, inseriam a mão para agarrar o
coração, puxá-lo ainda batendo e cortar os ligamentos
para soltá-lo, mas de for- ma que ele continuasse
pulsando.
Diante do relato daquela atrocidade, que parecia fazer
sentido para os moradores locais da época, já que
todos celebravam a chuva que caia após os rituais,
entendi, finalmente, como o conhecimento fazia com
que ho- mens detivessem o poder.
Anos depois, descobriu-se que quando sabiam que ia
chover, providenciavam o sacrifício. Desta forma, os
líderes eram tidos como sábios e poderosos, já que a
po- pulação acreditava que o milagre da chuva tinha
sido possível graças ao esforço e à oferenda
concedida ao Deus da chuva.
Com aquele nó na cabeça se desfazendo, voltei para o
hotel com um nó em outra região do corpo – desta
vez no estômago.
Era a primeira vez que me deparava com uma
situação na qual a crueldade inimaginável dos
humanos precisa- va ser observada com frieza.
Sem conseguir comer, mesmo com a fartura de ali-
mentos do restaurante do hotel, fui dar uma volta em
busca de respostas. Queria entender o porquê de os
líderes religiosos usarem o poder e o conhecimento
para manipular a população, fazendo-a crer que eram
os portadores dos milagres.
Me lembrei dos padres frequentando minha casa,
ainda pequeno. De como as religiões travavam o co-
nhecimento humano e modificavam as histórias para
trazerem suas próprias versões, coniventes com seus
interesses – e comecei a buscar algum motivo para
acreditar em Deus.
Sem conseguir encontrar, me vi como aquele menino
que, ainda criança, decorava fórmulas prontas para a
prova, repetindo o que era dito, sem sequer entender o
significado da frase.
Se a relação entre poder, dinheiro e conhecimento era
tão óbvia, eu começava a enxergar tudo sob um outro
prisma – e esse prisma me distanciava daquilo que
até então tinha sido cultivado com tanta pureza pela
mi- nha mãe – me distanciava da minha fé.
Cético, voltei para o hotel e pedi o vinho mais caro.
Por alguns segundos, lembrei do padre tomando
goladas es- condido, do tal sangue de Cristo que ele
mostrava nas cerimônias.
Buscando as respostas, mais uma vez, eu encontrava
ainda mais perguntas. E refletia sobre a minha
própria existência.
“Da escola de guerra da vida: o que não me mata, me fortalece”

Friedrich Nietzsche
A relação
CURINGA

uando a gente começa a refletir sobre a


própria existência é inevitável parar para pensar
no valor
de nossas vidas. De vez em quando a gente percebe
que viver pode ser uma grande aventura – mas antes
de se dar conta disso, passamos a tentar explorar a
origem das coisas.
Mesmo sem ter feito filosofia, sempre fui um filósofo –
se aquela figura do Palhaço com a roupa rosa era a
marca da minha infância, na vida adulta, ser um
palhaço era como ser uma figura provocativa,
espontânea que criava novas oportunidades de trazer
alegria ao dia a dia.
Na prática, era como se, dentro do jogo da vida, eu
fosse o curinga, aquela carta que não está formando
par com nenhuma outra dentro do baralho, e se
diferencia das demais. Como um bobo da corte que
não se deixa levar a sério.
Mesmo vivendo nossas vidas num mundo de aventu-
ras, consideramos tudo dentro da normalidade. Só que
houve um momento da vida em que eu buscava
algo
fora do normal para explicar racionalmente a presença
de um criador.
Estava desenganado, acima de tudo das religiões, e
ten- tava explicar tudo através da biologia e da razão.
Já não considerava que os padres podiam ser
intermediários de Deus desde os meus 15 anos, mas
depois de adulto fiquei ainda mais questionador.
Através da biologia eu pensava – Deus não existe. E
desde que o padre disse para minha mãe que eu seria
ateu, eu me considerava um.
Eu buscava o self desde sempre. Queria entender o
mís- tico, o sobrenatural, desde que me conhecia por
gente. Só que quando cai em Jung, comecei a
questionar Deus.
Um dia, nessa provocação, desafiei Deus.

Pedi que ele fizesse então um milagre para todo


mundo entender que ele existia de fato.
Eu tinha uns 34 anos quando pedi isso.

Certa noite, acordei assustado na madrugada e me dei


conta – estar vivo já era um milagre. O organismo era
uma coisa muito louca. 23 pares de cromossomos,
mais 23 pares de cromossomos.
Nessa época tentávamos engravidar e não conseguía-
mos, mesmo com os tratamentos.
Curiosamente, era o milagre que estávamos buscando
– gerar uma vida parecia simples – e biologicamente
to- dos aparentemente eram capazes de fazê-lo.
Mas o milagre se dava quando aquela energia se fazia.
Jung dizia que quando retornássemos para p self, não
estaríamos mais aqui – e era um retorno para o
sagrado. Um retorno para o paraíso e para a
consciência plena.
Todo esse processo, de anos, teve uma certa alquimia.
Primeiro me coloquei contra, depois admiti ser ateu e
então não acreditava em mais nada – até que a coisa
ia indo, indo e justamente naquilo que eu mais
acreditava era o mais sagrado de tudo.
Como eu não tinha percebido aquilo antes?

Como vivíamos em mais perfeita harmonia dentro da


natureza? Como essa poeira cósmica criava vida?
Qual era a metáfora da vida? Deus pegou um pedaço
de bar- ro, fez o homem e soprou nas narinas dele.
Isso era só poeira cósmica. Tudo era matéria do
Universo.
Não dava pra ser por acaso. Não era normal juntar
um monte de matéria e essa matéria ter vida. Matéria
com vida era algo inexplicável.
E aí que percebi que o grande milagre que eu tanto
pe- dia era a nossa vida.
Eu tinha pedido um grande milagre e a resposta estava
dentro de mim:
o grande milagre de Deus é você.

Acordei e chorei, eram quatro horas da manhã e eu


pe- dia perdão por ter sido ateu por tanto tempo.
Era como uma revelação universal me provocando de
volta e me dizendo ‘cara, você quer mais prova que
eu existo? Você é a prova. Você é o milagre”
Mas eu só poderia ter esse discernimento por causa da
minha inteligência.
Era como a resposta que Jung dera a um repórter em
sua época, quando este lhe perguntava se ele acredita-
va em Deus ‘Não. Eu conheço Deus’
Era tudo muito mais simples. Não tinha que ter qual-
quer doutrina, o pecado, o pode e não pode. E percebi
que as religiões eram manipulações do sagrado. Eu
po- deria ter esse discernimento.
Toda religião detinha o poder. E esse poder vinha
atra- vés do conhecimento.
Primeiro eu associava conhecimento a dinheiro,
depois eu comecei a entender que o verdadeiro poder
não esta- va no dinheiro, estava no próprio
conhecimento em si.
Na linha natural, dinheiro era o último estágio.

Fazia mais sentido que as pessoas não compravam o


que você era, e sim o que podia fazer por elas.
Foi desse jeito que compreendi que os loucos
governa- vam o mundo, porque além do
conhecimento, tinham uma impetuosidade que levava
tudo até as últimas con- sequências.
Mesmo que o limite entre a inconsequência e a loucu-
ra fosse tênue, eles sabiam dosar a coragem de
maneira que, quando tinham resultado, aquilo se
tornava mais que uma certeza absoluta – era como se
não enxergas- sem qualquer possibilidade de derrota.
O louco faz o que deseja sempre – independente das
consequências.
Além de sermos o maior milagre do Universo,
conser- vamos dentro de nós uma chama ardente que
carrega
nossa melhor versão. E talvez tudo que precisemos
fa- zer é permitir que a alquimia da qual Jung tanto
falava, venha à tona.
Assim como ele foi a encontro de sua pedra filosofal
e conseguiu atingir e expressar a essência de sua
psico- logia, o fato de estarmos conectados através
deste li- vro demonstra que estamos ambos em busca
de nossa vida eterna. E a vida eterna pode ser
representada de várias maneiras – seja através de um
livro que eterni- ze seus pensamentos para a
posteridade mesmo depois que você for embora, como
uma ideia que você dita pro vento.
Durante nossa vida passamos por transformações
e estados de consciência sempre em busca da paz
inte- rior – só que esquecemos que essa paz só é
alcançada se damos voz a todos os outros
sentimentos e emoções.
Então, sufocamos impiedosamente tudo que nos faça
sentir, para que a tal meditação – ou o aplicativo que
si- mule um barulho de água de cachoeira – traga a paz
que nem sabemos se um dia existiu dentro de nós.
Quando trago questionamentos, trago desconforto.
Porque só através da expressão do que somos,
podemos nos tornar quem queremos ser. Só se
comunica com quem está fora, quem é capaz de se
comunicar consigo mesmo.
Se passado, presente e futuro se misturam nesse cal-
deirão do tempo que nos deixa afundados em medo
do desconhecido e nos faz repetir velhas fórmulas
para que saibamos tatear onde estamos pisando,
alguém que queira expandir o próprio movimento
dentro do mundo
deveria estar apto a soltar as amarras com o passado e
a se libertar do medo e da aprovação de quem não se
deixa embarcar na vida.
Quando digo que a vida é uma grande viagem, é por-
que esse é o único barco que podemos guiar, mas não
podemos controlar. Podemos dar a direção em busca
do caminho que queremos seguir, mas não podemos
dar meia volta e revisitar lugares que já visitamos.
Nos treinamentos, onde tento extrair o melhor de cada
um para que a comunicação seja efetiva com o
mundo externo, tento deixar claro que, para que
saibamos co- municar aquilo que queremos, temos
que saber nos co- municar com nós mesmos. E isso
implica em conhecer e reconhecer o que somos de
verdade.
É improvável que um grande comunicador seja de
mentira. Não dá para atuar em cena fingindo ser um
personagem, porque a vida não é uma peça de teatro.
Só conseguimos contagiar, energizar e tocar as
pessoas quando extraímos o melhor de dentro de nós.
E acessar essa fonte é um caminho que devemos
percorrer antes que seja tarde.
Porque, por mais que devamos nos contaminar com o
que nos rodeia, o ideal seria que todos soubessem o
seu caminho, para levar uma rota para aqueles que
ainda não sabem por onde ir.
Desgovernados, somos arrebanhados por quem ter o
melhor discurso. Na política e na vida, vivemos como
espectadores ao invés de subirmos no palco e mostrar-
mos a que viemos.
No dia a dia, poucos fazem suas atividades com vida,
magia e prazer. Os movimentos, frases e trabalhos
aca- bam sendo mecanicamente reproduzidos, e,
quando entramos numa empresa, é comum vermos
pessoas até mesmo seguindo o mesmo dress code, com
a mesma ma- neira de agir, falar e se conectar com o
que vem de fora.
Quando temos medo de assumir nossa loucura, que
nos eleva, somos mediamos e ficamos dentro da
normalida- de. E a normalidade nos embota.
Timidamente ficamos no limiar, sem saber dar um
passo adiante, com medo de se destacar no rebanho e
ser advertido.
Outro dia um amigo disse que quando me via
trabalhar nem conseguia imaginar como era trabalhar
com tanto prazer.
Eu estava descontraído, rindo, conversando e montan-
do as apresentações de uma palestra que faria na sema-
na seguinte.
Estupefato, ele não conseguia entender como conse-
guir resultado sendo ele mesmo.
“Eu sigo o padrão da empresa. Faço as coisas como
me mandam”, dizia.
Mesmo assim, insisti para que ele começasse todos os
dias a fazer as coisas que mais lhe davam prazer. Para
mim, essa era a melhor forma de ser criativo. Ou,
como eu gostava de dizer – o curinga da empresa.
A carta curinga era aquela que era diferente das
outras, e podia circular entre o baralho todo,
exercendo seu papel de maneiras absolutamente
diferentes em cada lugar, justamente por não se
prender a nenhum padrão.
“Não são as técnicas que tem que funcionar – são as
pes- soas”, expliquei.
Queria que as pessoas expandissem a consciência.
Era como se elas precisassem de permissão para isso.
Para isso elas precisariam se tornar observadoras para
que pudessem entender as situações e interagir com
elas.
Só conseguimos falar em todas as línguas quando
nos despimos do julgamento e vivemos nossa vida,
absor- vendo aquilo que podemos levar adiante – e
simples- mente observando o que não nos agrega.
Não temos obrigação de deixar nada – só viver nossa
própria vida. Mas antes de querermos impactar os ou-
tros, subir ao palco ou emocionar, teríamos que
buscar nossa fonte e, desta forma, buscar o que
houvesse de melhor em nós mesmos.
Um bom comunicador transmite tudo com
simplicida- de, mas nunca se acomoda diante da vida
nem se deixa emburrecer.
Certa vez assisti um filme que contava a história de
um cara que tinha sido selecionado para participar de
um experimento secreto militar que o colocava em
hiber- nação.
Quando acordava em 2505, encontrava uma
sociedade tão emburrecida pelo comercialismo de
massa e pela alienante programação de TV que
acabava sendo o cara mais inteligente do planeta.
Se a comédia trazia um quê de realidade perturbadora,
a vida real perturba mais ainda quando tomamos cons-
ciência que cada vez mais estamos nos tornando
como
torcedores uniformizados de torcidas rivais, criando e
repetindo comportamentos padronizados e permeados
por crenças e valores unilaterais, sem dar espaço para
escutar o outro e ampliar horizontes.
Quando me dou conta disso, resgato a velha e boa
me- mória da minha mãe, dizendo baixinho, enquanto
me via fantasiado de palhaço, com pompons rosa,
confian- te para encarar os olhares de espanto dos
colegas:
“Seja você, meu filho. Não ligue para o que as pessoas
possam dizer ao seu respeito. O que importa, é o que
você é”
A relação
COM O PÚBLICO

s vezes quando olho para a minha infância


fico pensando que em alguns momentos usei o
riso
para evitar a violência. Como nem sempre conseguia
ser o bom de briga, tentava impressionar sendo
alguém capacitado a falar com todo mundo.
E ser capacitado era um diferencial, saber coisas que
os outros não sabiam me colocava em posição de
desta- que. Por isso, um dos meus hobbies mais
frequentes era jogar videogame. E como eu não tinha
um, tinha que saber jogar mais que os outros para que
os amigos que o tinham me chamassem para jogar em
suas casas. As- sim, ainda cedo eu dava aulas.
Aquele palhacinho do pré-primário tentava se infil-
trar em todos os pequenos, médios e grandes grupos,
na tentativa de absorver tudo que via diante de si. E,
aos poucos eu via que aquilo não era só uma
estratégia inconsciente de fazer parte dos grupos. Eu
sabia que o dinheiro podia me levar a alguns lugares,
mas que as amizades que eu fazia poderiam me levar
muito mais longe – talvez mesmo sem dinheiro.
Era assim que eu viajava com os amigos nas férias
por ser sempre o cara que todo mundo queria ter por
perto. Desse jeito, eu dava o meu melhor, mas sempre
tinha o melhor das pessoas. Antes de me tornar
popular entre os amigos, me tornei o queridinho das
mães, que muitas vezes me chamavam até mesmo
para cuidar dos filhos pequenos.
De alguma maneira, eu transmitia confiança para
quem estivesse por perto. Hoje, olhando friamente,
percebo que é fácil confiar num menino que vai com
a mãe nos grupos bíblicos e se esmera em agradar
todo mundo.
Naquela época, eu não via meu valor, mas entendia
que era bom quando as pessoas valorizavam minha
presen- ça. Talvez por isso eu tenha crescido com um
chip que fazia com que eu valorizasse sempre a
presença do outro.
Benjamin Franklin dizia que quando você está
numa mesa, é bom ser o cara que escuta. Eu não
conhecia essa frase, mas já era o escutador oficial,
por onde fosse.
Ao mesmo tempo, devorava biografias dos caras
ricos, tentando encontrar o mapa do tesouro, sem
saber que a vida me mostraria muito mais elementos
que a escola ou qualquer fórmula mágica.
Foi assim que me tornei um observador. Muito antes
de ser um provocador. Minha habilidade de
relacionar com o mundo e com quem estava à minha
volta era evi- dente – só que ninguém sabia ao certo
porque eu estava em todos os lugares. Nem eu.
Como meu pai estava literalmente quebrado e não tí-
nhamos dinheiro para nada, comecei a me adaptar aos
mais diversos tipos de situações – o que me favorecia
sem que eu percebesse, pois raramente precisava de
di- nheiro para estar onde queria, com quem queria.
Digamos que eu era um bom ouvinte. E a grande qua-
lidade dos ouvintes é justamente saber o que as outras
pessoas pensam – e como raciocinam.
Mesmo que hoje eu pareça um falastrão, desde
peque- no era aquele típico cara quieto que só abria a
boca se confiava em alguém. Estava sempre na minha
e quando chegava em qualquer lugar, tentava fazer
um raio X do local. E quando falava, falava o que
sabia que interessa- ria quem estava ali para ouvir.
Não desperdiçava pala- vras em vão.
Cresci sendo o sujeito que escutava e sabia
aconselhar todo mundo. Talvez essa seja a habilidade
de quem para enxergar o outro. Era simples para mim
desenhar um cenário, como era simples negociar um
par de sapatos.
Só que, justo nessa época, eu exercitava mais do que
o simples poder de barganha para convencer as
pessoas a comprarem o que eu tinha para vender.
Como já era um comerciante e trabalhava com vendas
– no sentido lite- ral da palavra, também desenvolvia
habilidades extras de comunicação – que diziam
respeito ao pós-venda.
Nessa época era comum termos cheques devolvidos
por não terem fundos. E eu era o cara que ia cobrar os
que não queriam pagar. Numa dessas, bati na porta da
casa de uma jovem que fugia há meses de uma
pequena dívida – e dei de cara com um valentão que
me espera- va, pronto para me bater.
Naquele dia entendi que não era minha facilidade em
lu- tar jiu jitsu que me protegeria. Era a minha
comunicação.
As palavras me tirariam daquela enrascada – e eu
pre- cisava convencer o cara que não era um bom
negócio ficar contra mim.
Sem conhecer qualquer estratégia de PNL, usei a boa
e velha argumentação. O fiz perceber que a garota
tinha adquirido as dívidas por causa do ex namorado –
e, por incrível que pareça, naquele dia, saímos dali
abraçados.
Era incrível saber como uma boa argumentação podia
persuadir alguém a ficar ao meu lado. No caso, eu
nem imaginava que depois de tanto apanhar dos
amigos na rua, tinha um poder muito maior que o
deles de me defender.
Uma boa defesa não precisa de ataque.

Alguns insights foram caindo a partir de então. Como


eu conseguia me comunicar bem com todo mundo,
per- cebia que podia ir além – e fazer com que as
pessoas se tornassem melhores.
Se eu já conseguia me comunicar com aquele sujeito
que vivia dentro de mim, eu podia estabelecer uma boa
con- versa com quem estava do lado de fora. E, pouco
a pouco eu me tornava perito em fazer com que todos
que esti- vessem ao meu redor se tornassem pessoas
melhores.
Para isso, ouvia muito. Me interessava, sobretudo,
pelas histórias de cada um. E me adaptava a elas.
Flexibilida- de também era meu ponto forte.
Essa característica tinha nascido com o Ricardo
crian- ça. Na infância eu conseguia tanto estar à
vontade num lugar onde fosse necessário se portar
elegantemente, como andar com meus amigos da rua,
que vez ou outra estavam cheios de piolhos.
Quando pequeno, minha mãe passava dias caçando
piolhos na minha cabeça quando eu me metia com os
meninos da favela. Mesmo assim, eu continuava
jogan- do bola com eles e sentado na calçada
contando piadas.
Era assim que eu conseguia lidar com meu dia a dia
quando cresci e via tanta gente diferente entrando na
loja. Para mim, o diferente sempre merecia uma aten-
ção igual a qualquer um.
Ás vezes entravam travestis para comprar as sandálias
que eu encomendava em número maior só para atendê-
los. Ou grandes empresários, com suas amantes, que
contavam com a minha descrição, mesmo sabendo
que suas esposas eram conhecidas na área.
Me relacionar com todo mundo, independente da cul-
tura do indivíduo, me fazia ser bem quisto por todos.
A grande verdade é que eu não julgava ninguém. E
esse respeito pela verdade do outro fazia parte do meu
cará- ter desde bem cedo.
Conforme fui ingressando na área de desenvolvimen-
to humano, entendi que os profissionais de sucesso
não tinham as melhores notas – mas sabiam se
comunicar. Logo, vi que ter sucesso era questão de
escolha.
Até os livros que falavam sobre influenciar pessoas,
di- ziam claramente que para ser entendido não era
neces- sário apenas falar de forma clara – era
necessário saber o que se queria comunicar.
Era assim que as situações apareciam para mim num
es- talar de dedos. Quanto mais eu estudava
Programação Neurolinguística, mais conseguia
entender o outro – e a magia era justamente perceber
que eu já enxergava a
linguagem não verbal das pessoas muito antes de estu-
dar aquilo.
O exercício tinha sido ainda na loja de calçados,
quando os clientes vinham tentar efetuar a troca com
todos os tipos de artimanhas para que eu pudesse
trocar o par de sapatos – já usado.
Como um bom gatuno de rua, eu já sentia no ar a ma-
landragem de quem tentava me enganar, e, através de
perguntas sugestivas, conseguia arrancar a verdade de
cada um.
Por isso, quando criei o quadro ‘não minha para
mim’, muitos anos depois, eu já sabia, além de
decifrar pes- soas, a técnica que precisava para isso.
E foi na televisão que o negócio começou a
acontecer. Como numa conjunção estelar, eu estava no
lugar certo e na hora certa quando um amigo me
chamou para par- ticipar de um dos quadros do
programa na TV.
A emissora era a Gazeta e a apresentadora, Cátia
Fon- seca, metralhava eu e mais dois rapazes de
perguntas. Quando falava sobre detectar mentiras, a
audiência subia – e logo fui chamado para ter um
quadro indivi- dual, onde eu analisava a postura não
verbal de cada um quando tentava contar aquela
mentira cabeluda.
Era assim que analisava grandes acusados que
estavam na mídia dizendo que não tinham cometido
crimes. E não era só a polícia, como o grande
público, me assis- tiam e percebiam claramente os
sinais e as palavras não ditas de quem queria esconder
alguma coisa.
Os temas muitas vezes também giravam em torno do
relacionamento humano. E, ali, aprendi a mágica do
ao
vivo. Era bom improvisar e eu tinha facilidade de me
adaptar aos temas que surgiam dos telespectadores que
enviavam perguntas.
Sempre disse que quem ensaia a vida, morre uma
única vez.
Numa tarde qualquer, saindo dali me deu um estalo.
Eu nunca havia me preparado para aquele momento.
Muito menos para estar em um programa na televisão
aberta, ao vivo. Foi então que entendi que nunca tinha
levado a vida como um ensaio, me preparando para
algo maior.
Era claro que as pessoas estavam sempre tentando se
preparar para algo. E pareciam nunca estarem prontas.
Muita gente levava a vida como se não fosse ao vivo.
E era preocupante perceber que ensaiavam durante
anos como se pudessem reescrever a vida na semana
seguinte.
Foi justo naquele ano que eu percebia que a vida não
era ensaio. Grandes perdas me faziam entender clara-
mente que a morte não anunciava data e hora. E eu fi-
quei cada vez mais presente para a vida que acontecia
a cada manhã.
Estrear na televisão num programa ao vivo me fez
en- tender a dinâmica da vida sem ensaios que eu
estava vi- vendo. Lidando com a iminência da morte
de meu pai, eu saia do estúdio e me perguntava ‘será
que ele mor- reu outras vezes?’ quando me via a
caminho do hospital onde ele estava em seu leito –
ainda vivo.
No entanto, apesar de viver entre as polaridades de
vida e morte, quando estava com meu pai, tentava le-
var um pouco da vida que estava me fazendo brilhar
os
olhos. Assim, mesmo quando me via triste com a
pos- sibilidade de sua morte, conseguia reverter a
situação, observando as coisas sob uma outra ótica.
Talvez a televisão tenha feito com que eu me apaixo-
nasse pela possibilidade de estar com pessoas mesmo
sem estar ao lado delas.
Com essa energia, levei ainda mais presença para os
meus treinamentos. Entendia que não importava o que
eu estava falando, mas a energia e a presença que eu
colocava na minha apresentação.
Era isso que o público – tanto da TV, quanto das
pales- tras, esperava. Era curioso que quando as
pessoas para- vam para te ouvir, não importava muito
a qualidade do que você dissesse, mas como dizia
aquilo.
Na internet eu também via a consagração do meu tra-
balho, já que o meu canal no Youtube fazia com que
mi- nhas palavras chegassem no mundo todo.
Conforme eu fazia network as oportunidades apare-
ciam para mim. Eu conseguia vender minhas convic-
ções, resolver problemas e acima de tudo, conquistar
pessoas.
Em todos os lugares por onde andava eu era um con-
tador de histórias. Tinha argumentos sólidos para em-
basar o que tinha a dizer e além de motivar as
pessoas, emocionava e as fazia chorar.
Se eu já falava com elas, entendia que o segredo não
es- tava no que eu vendia, mas na maneira como
vendia. E uma das minhas frases de maior impacto
era ‘não adianta conhecer as dores do seu cliente se
você não for irresistível.
Via pessoas me perguntando como vender e que tipo
de palestra fazer para ganhar mais dinheiro, e as acon-
selhava a olhar para dentro. O que ia contra qualquer
outro vendedor dizia.
Não ensinava apenas técnicas de persuasão. Mostrava
para o cara que se ele soubesse o que fazia seu
coração vibrar, faria uma palestra com seu cheiro, sua
expertise e seu roteiro de vida.
Percebi que o que realmente importava era o que a
gen- te tinha passado e construído na vida. Não o que
apren- dia na universidade – que podia ser facilmente
copiado pelo concorrente.
Minha missão era fazer com que as pessoas detectas-
sem o que tinham feito de diferente para sair de situa-
ções comuns.
Se eu tinha estudado persuasão, sabia gerir pessoas,
abrir negócios, com dinheiro, sem dinheiro e sair de
di- ficuldades reais durante a vida – eu tinha um ativo
mui- to maior do que poderia supor. E as pessoas
pagavam para me ouvir.
Aos poucos aquilo começou a se tornar uma grande
brincadeira e eu entendi que estava vivendo minha
missão.
Quando o trabalho não parece um trabalho, é porque
chegamos no ponto de mudar de estação e contagiar
quem está ao nosso redor – inspirando e compartilhan-
do aquilo que temos de melhor.
A intersecção do que eu fazia de melhor com o que
eu faria de graça, com o que era minha paixão fez
com que eu encontrasse meu nicho.
De tanta paixão acabei atraindo a atenção da grande
mídia. E foi num dia, que acordei com um telefonema
da Globo, que percebi que meu trabalho estava
impac- tando as pessoas, de fato.
O programa Profissão repórter falaria sobre vendas. E
eu abriria o programa com ninguém mais ninguém
me- nos que o cara que tinha inspirado o filme ‘O
Lobo de Wall Street’.
Quando ouvi o Caco Barcellos falando meu nome,
es- tremeci. Não era apenas mais um sonho sendo
realiza- do. Era como se eu finalmente fosse
reconhecido pelo que eu sabia fazer melhor.
Se eu entendia de inteligência relacional, era hora de
usá-la ao meu favor.
Naquela reportagem, além de convidar o
telespectador para entrar na minha vida, contei meus
segredos, mos- trei meu entusiasmo, mostrei que era
mais que um ven- dedor. Eu vendia ideias.
Quando vi o programa no ar, não tive dúvidas – eu
tinha herdado aquele dom do meu avô. E a evolução
daquela herança me permitia ser quem eu tinha me
transfor- mado. Ele vendia sapatos. E eu ensinava as
pessoas a deixarem suas pegadas.
Meu avô vendia sapatos que deixavam pegadas. Eu
vendia ideias que deixavam pegadas.
“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim, esquenta e esfria,
aperta e depois afrouxa e depois desinquieta.

O que ela quer da gente é coragem.

O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar


alegre e amar, no meio da tristeza. Cair não prejudica demais. A gente
levanta, a gente sabe, a gente volta.”

Guimarães Rosa
A relação
COM AS REAÇÕES

ra uma segunda feira. Lá estava eu, no meu


escri- tório, fazendo planos para criar mais
programas
no Youtube, um cronograma das datas dos cursos se-
guintes, desenhando estratégias e fazendo aquilo que
eu mais gostava e tinha nascido pra fazer – me
comuni- cando com pessoas.
De repente, entre um café e outro, o número de
mensa- gens no inbox triplica e vejo que é hora de
respondê-las. Desde o dia que me tornei uma pessoa
pública, as coi- sas mudaram – a exposição vem com
uma bagagem que cola no corpo – e eu, além de
lembrar do meu avô que quando não tinha cliente na
loja, enfiava uns cintos na bicicleta e saia vendendo
pelo bairro, me vejo atenden- do cada uma das
solicitações, como se estivesse frente a frente com
cada uma das pessoas que me procuram.
Numa dessas, meus olhos começam a marejar. As
pala- vras sempre vieram com um significado muito
forte para mim. Quando bem colocadas e certeiras, são
um tiro cer- to no meu coração. Ainda lembro dos
poemas que lia na
escola porque a professora gostava de ouvi-los na
minha voz – e talvez o reflexo disso hoje é que eu
sinta cada uma das estrofes reverberando dentro de
mim.
Só que naquele dia não era a fluidez das palavras que
me tocavam – era o conteúdo dirigido a mim. Uma
mãe empreendedora me escrevia, cheia de gratidão na
pon- ta dos dedos, que eu tinha salvado sua vida.
Fiquei perplexo. Como eu podia salvar a vida de uma
mulher com um filho recém-nascido? E, desse jeito,
contando as miudezas do seu dia a dia, ela me encan-
tava dizendo que na solidão materna do pós-parto, em
casa, enquanto ninguém a ouvia e ela se sentia
silencia- da durante a sua licença maternidade, tinha
encontra- do meus vídeos – e eles tinham mudado sua
vida.
Através deles, ela tinha encontrado forças para montar
seu próprio negócio e levantar da cama, continuando
a vida, mesmo enquanto o menino crescia.
Atingido na jugular, senti uma emoção intensa. Quase
palpável. Não conseguia mensurar quanto dinheiro ti-
nha ganhado gerando esse tipo de conteúdo, mas cada
vez mais eu percebia que o maior ganho não era o fi-
nanceiro – estava ligado ao meu propósito de vida.
A mensagem viera de uma moça cujo mestrado tinha
sido de comunicação não verbal – e através dos
vídeos no qual eu fazia um scanner das pessoas que
aparente- mente estavam dizendo verdades, mas a
comunicação corporal dizia o contrário. Minha mente
viajava, como se fizesse um mergulho no tempo. E eu
me recordava do dia que decidira fazer o primeiro
vídeo a respeito do que enxergava através das
palavras.
Todo mundo sabe que o corpo diz muito, mas
poucos conseguem decifrar seus sinais. Talvez
porque esteja- mos dispersos demais – talvez
porque não tenhamos o desejo genuíno de nos
conectarmos uns com os outros.
A verdade é que, desde o dia em que comecei a
vender sapatos, comecei a ter faro para mentiras – que
surgiam em ocasiões inimagináveis. Era nos
momentos de tro- cas em que as pessoas tentavam me
convencer que o sapato não tinha sido usado. Ou nos
momentos que pro- curavam uma desculpa qualquer
para não pagar.
Intuitivamente eu já usava a estratégia que aprenderia
mais tarde, com as técnicas de programação neurolin-
guística. No dia que efetivamente coloquei em prática
tudo aquilo que tinha aprendido – percebi como
aquela habilidade atraia a curiosidade das pessoas.
De atrair a curiosidade eu entendia – desde menino era
ávido por atenção. Mesmo quando criança, subindo
nas mesas de bar para contar piadas, sabia que
despertar uma reação era algo que me fazia bem. Eu
entendia de me conectar com pessoas.
Costumo dizer que a gente se conecta com as pessoas
quando elas se permitem ver o que estamos dizendo.
E mesmo que você não seja igual a elas, elas te
enxergam como igual quando esse olhar acontece.
É claro que quando não conseguimos essa
permissiva, não tocamos as pessoas. E isso eu percebi
da pior maneira possível – no palco. Foi no palco que
um dia, depois de trinta minutos de palestra, entendi
que precisava fazer a coisa acontecer, mas não
conseguia fazer com que a mensagem chegasse até
as pessoas simplesmente porque havia uma barreira
muito grande em nós.
A questão é que nenhuma barreira é intransponível.
Por isso sempre tento começar de uma maneira diverti-
da e bem-humorada. Principalmente porque sei que as
pessoas cada vez mais têm menos tempo, e se
questio- nam se deveriam estar ali, dedicando seu
tempo para ouvir um outro alguém.
Só que, dada essa permissão, você tem passe livre
para emocionar. E quando permitimos que as pessoas
nos to- quem, elas também ganham, com isso, a
permissão de nos causar qualquer tipo de incômodo.
Logo, todo mundo que ganha nossa indiferença, não
nos causa absolutamente nada. Porque quando nos im-
portamos com alguém, em qualquer nível, somos
toma- dos por essa pessoa.
Então, sabendo que eu precisava sempre da permissão
alheia, que tinha sido dada desde a infância pela
minha mãe, tentava sempre construir vínculos
criando essa atmosfera. Aos poucos me tornei um
viciado em rea- ções – como se fosse uma droga.
Como gosto de passar conteúdo, fazer com que as
pes- soas pensem de maneira macro e expandam suas
cons- ciências enxergando algo nelas e no mundo é o
que me move desde que parei de vender sapatos e
comecei a carreira de comunicador.
No início, as reações eram tão espontâneas que eu
ficava animado com isso. Só que, à medida que eu
encontrava resistência, buscava cada vez mais tocar as
pessoas para que elas mudassem seu estado emocional
comigo.
Quase sempre me lembrava de minhas raízes – a
Dona Neide, professora de literatura que dizia que eu
emocio-
nava com as palavras e o professor Juvêncio, que me
ensinava que palavras tinham vida própria.
Era assim que eu percebia que metaforicamente podia
tocar as pessoas. E tocar as pessoas é algo que faz
mui- to mais que ganhar dinheiro. Mesmo que eu
tenha sido um cara de vendas, que gostava de receber
por oferecer algo a alguém, quando eu recebia um
feedback positi- vo, minha alegria era tanta que não
tinha cheque que pagasse o preço da felicidade
sentida.
Por isso, talvez, segui nesse vício – conquistar
pessoas era quase uma obrigação por onde eu
passava. Era eu quem animava as festas, mesmo que
chegasse sem falar oi ou me despedir. Quando
conseguia me enturmar e ficar à vontade, entendia
como poderia me enquadrar naquele cenário.

Mas foi na internet que a repercussão do meu trabalho


ganhou uma visibilidade que eu jamais pensei em al-
cançar. Enquanto fazia o quadro ‘Não Minta para
mim’, na TV Gazeta, tive a ideia de criar o mesmo
quadro na internet e analisar entrevistas para verificar
a comuni- cação não verbal das pessoas e entender
quem estava mentindo e quem não estava.
Eu assistia inúmeras entrevistas – sempre com o intui-
to de desmascarar eventuais mentiras. E, a partir dis-
so, tudo começou a caminhar numa outra
velocidade
– a dos views, incontroláveis, que se multiplicavam a
cada dia.
Aparentemente, as pessoas me deixavam entrar em
suas casas – e eu não tinha a menor ideia da
dimensão que
aquele trabalho estava tomando. A princípio, investi-
gadores, policiais, pessoas engajadas com a justiça,
co- meçaram a me procurar. Depois, mulheres que
queriam que eu investigasse as palavras em vídeos de
maridos e namorados.
Aos poucos, minha sede de conquista era satisfeita de
uma outra maneira. Eu tinha a permissão das pessoas.
E ter a permissão delas me possibilitava criar novos
for- matos.
Quanto mais à vontade eu ficava para criar, maior
era a repercussão dos vídeos. Eu notava que quanto
mais me permitia, mais feliz eu era e mais leve.
Através da internet eu não conseguia medir
imediatamente a rea- ção do outro.
Isso trazia maturidade. Porque, no palco, a reação
espe- rada era atendida ou não – de forma que eu
sempre me sentia impactado por ela. Só que comecei
a não esperar reações de nenhum tipo. E fazer aquilo
que eu tinha que fazer.
Todas as vezes que ligava a câmera, lembrava de um
amigo que fazia uma apresentação fantástica de
hipno- se e certa vez viu-se diante de uma plateia que
não se permitiu contaminar.
Sem medo da represália, ele fez o que tinha que fazer
e se retirou, sem se lamentar por não ter conseguido a
reação esperada. Quando conversamos, ele não
parecia estar incomodado com a situação. Pelo
contrário. Dizia que tinha feito seu possível. E seu
melhor. Acima de tudo, tinha tido tesão em dividir o
que tinha ido com- partilhar. Aquilo era o bastante.
Minha saga na internet estava só começando. Engati-
nhando no Youtube, publiquei um vídeo que teve
uma repercussão de mais de dois milhões de
visualizações.
Eu mal podia acreditar. Por causa da análise não
verbal de uma entrevista que uma atriz muito famosa
tinha dado, acabei sendo assistindo por pessoas que eu
jamais pude imaginar ser visto.
Então, chegou o dia em que eu me surpreenderia. Fiz
um vídeo contando sobre o assassinato da filha da
Gló- ria Perez – com a entrevista do assassino. E,
minutos de- pois, recebi uma mensagem
Simplesmente a maior autora de novelas da televisão
brasileira estava entrando em contato comigo para elo-
giar meu trabalho.
Estupefato, perguntei o que ela tinha achado e ela dis-
se que havia pesquisado sobre análise não verbal para
compor a personalidade de um personagem de suas
no- velas. Curiosamente, tinha chegado ao meu canal.
Por uma dessas coincidências malucas e divinas, eu
es- tava conectado com a pessoa que mais
conseguia emo- cionar a massa através de
histórias, em todo o Brasil, com suas telenovelas.
Então, percebi que minha habilidade em emocionar o
outro estava cada vez mais apurada.
A relação
COM A AUSÊNCIA

enho observado as pessoas e pergunto sempre


a quem encontro:
O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?

As respostas são as mais intrigantes, mas a pergunta,


em si, quer trazer reflexão para como nos
relacionamos com o futuro. Como nos relacionamos
com o tempo?
A grande questão da vida é saber se relacionar. Saber
se relacionar com o Passado, Presente e Futuro.
Como você se relaciona com o mundo? Que compro-
misso tem tido com a sua vida?
O mundo existe dentro de você e não fora. Viva no
pre- sente.
Porque haverá o dia em que você vai morrer para re-
nascer. Comecei a refletir sobre ausência quando
entrei na casa de minha mãe e não a encontrei.
Ausência é não estar presente ou não estar presente no
presente?
Na busca da vida, nos ausentamos dela.

Será que estamos nos permitindo estar presentes quan-


do devemos estar presentes? Ou confundimos querer
estar presente com a responsabilidade de viver a vida
do outro?
Não vivendo só no passado e sim no futuro.

A falta que a ausência da morte traz choca. Entrega


de bandeja as emoções que nos fazem sentir a vida.
Esteja presente no presente. Permita-se.
A relação
COM A MINHA
HISTÓRIA

le morreu.

Aquela frase ecoava na minha mente repetidas


ve- zes e eu tentava repeti-la para mim mesmo para me
cer- tificar de que ela era, de fato, real.
Como se estivesse num pesadelo existencial, senti meu
peito apertar em dor. Estávamos em 2012. O Miguel
tinha vivido durante oito meses dentro da barriga da
Adriana, minha esposa, e aguardávamos sua vinda, com
vida, mais do que ansiávamos pela nossa própria
existência.
Tínhamos passado anos tentando engravidar, e o pre-
paro dos meses que antecediam sua chegada eram de-
licadamente cobertos com um fio invisível, como se
ele estivesse protegido de nossos anseios e
expectativas.
Mas ele não
veio.

Aquela notícia, inenarrável, me tirava o chão. A prin-


cípio me dei conta do quanto eu tinha esperado pelo
momento de ser presenteado pela vida de um filho.
De- pois, experimentei todas as sensações possíveis e
ima- gináveis. A dor da perda, da qual eu já tinha
lido, mas jamais poderia relatar sem ter vivido. E a
dor de um pai que não tem controle sobre a vida e a
morte.
Experimentar a finitude de uma maneira tão impac-
tante me fez delirar de dor enquanto pensava no amor
represado, pronto para ser doado ao Miguel.
Hoje, quando penso na morte, inevitavelmente,
lembro do Miguel. E percebo cada vez mais que as
pessoas estão perdendo a capacidade de entender a
própria finitude. Cegas diante da vida que não vivem,
experimentam cada vez menos a aventura de viver e
buscam aneste- siar sentimentos para fugir do que as
torna humanas.
Curiosamente, um ano depois da despedida de meu
filho, meu pai adoeceu e precisou de meus cuidados.
Foi então que eu pude direcionar aquele amor, que tinha
sido rece- bido a vida toda, mas estava guardando para
meu filho, para cuidar de meu próprio pai, invertendo
a ordem na- tural das coisas. Eu o vestia e cuidava de
suas necessida- des como se estivesse cuidando de
uma criança.
Eu o perdoava. Não que ele precisasse do meu
perdão. Mas aquele perdão fazia bem a mim, e curava
feridas que tinham se instalado fazia tempo na nossa
relação.
Nesse período, devastado pela dor da perda, pude
expe- rimentar, no colo de meu pai, o amor de um
pai. E en- tender o ciclo da vida, que foi implacável
com ele, me fez despertar para o agora.
A morte do meu pai e a do meu filho me deram a di-
mensão exata de que eu precisava lutar com todas as
minhas forças pelo amor e pela vida. Eu precisava
acor- dar todas as manhãs com brilho no olhar, com
tesão de trabalhar, de viver, de encarar as pessoas que
me cer- cavam. E eu precisava deixar uma marca no
mundo. Através do meu trabalho acabei interferindo
na vida de pessoas. E naturalmente isso começou a me
alimentar.
Ao mesmo tempo, eu fiquei presente para cuidar da
minha mãe, que se foi alguns anos depois. Durante
um bom tempo, dormia no quarto dela para dar o
remédio na hora certa e acordar para ajudá-la a ir ao
banheiro. Mas como seus alarmes eram sempre
falsos, eu nunca sabia quando ela ia nos deixar. Vivia
com a perspectiva da morte, desde sempre. Talvez por
isso, quando ela se foi, eu não tenha sentido um
impacto tão grande.
Quando me vi sem meus pais, mesmo casado, me vi
sozinho. E aí me dei conta de que somos sempre sozi-
nhos porque ninguém conhece todos os nossos dese-
jos e pecados.
Precisamos constantemente conviver com a nossa
so- lidão que não é ruim, mas nos faz entender que
somos humanos. E tentar equilibrar essa solitude
com o con- tato com as outras pessoas é o que me faz
entender que sempre fui movido pelo contato humano
porque gosto de trocar energia, sentir emoções e me
deixar contami- nar pelos ambientes pelos quais me
movo.
Destes ambientes, na minha memória mora a minha
tia, que desde criança nos carregou pela vida com
meus pais e sempre estava com eles. Era ela que me
benzia quando eu tinha mau olhado e, no dia que ela
se foi, senti que uma parte de mim tinha ido junto.
Costumo brincar que tem coisas que não lembramos
e as pessoas que fizeram parte da minha vida
carregam com elas, como se fossem HD externos. E a
morte apa- ga muito em vida parte da nossa história.
Isso sempre me incomodou.
Alguns dizem que isso é página virada. E eu não
gosto dessa comparação, que nos tira o poder de
reescrever nossa própria história. Eu acredito que ela
está ali, aber- ta e escancarada pra ser reescrita a
qualquer momento.
Mas será que estamos vivos para reescrevê-las? Esta-
mos prontos? Atentos?
O índice de pessoas que se anestesiam para não
sentir a vida é cada vez maior. As pessoas não
querem dor. Não experimentam a dor da perda, da
falta e masca- ram as emoções, sem saber o que é
ser triste, e também sem experimentar a felicidade.
Neutras, elas não experimentam qualquer tipo de
emo- ção e não se permitem viver.
Quando vemos pessoas cujos relacionamentos são bem-
-sucedidos, entendemos que os seres humanos chega-
ram onde chegaram porque criaram seus vínculos,
seus próprios acordos, seja através da moeda corrente,
seja através de bitcons, as criptomoedas que surgiram
a par- tir de acordos.
Tudo que existe no mundo é um acordo. Desde o di-
nheiro, até as empresas. O ser humano é o único que
cria coisas na natureza que não são espontâneas. Ou-
tro dia assisti um filme que mostrava uma civilização
do futuro cujo acordo era não sentir qualquer
emoção. Logo, viviam uma vida vazia de
sentimentos, sensa- ções, emoções e eram impedidas
de sentir.
Quando nos jogamos pra vida, temos que saber que
ela trará emoções e todas elas são válidas e
necessárias. Quem não conhece a traição não valoriza
a fidelidade. Quem não conhece a desilusão, não
valoriza o amor. Quem não conhece a paixão, não
sabe a dor de perder um amor.
Faz parte do ser humano sentir as coisas. Temos
que parar com essa loucura de sermos sempre
felizes. Acreditarmos que a vida é dar risada,
como um Bozo que cheira cocaína e gargalha
repetidamente.
É natural ficarmos tristes, decepcionados e até
mesmo, nos sentirmos bem.
Costumo dizer que o suprassumo do negócio é
quando começamos a perceber que as dores vão vir,
mas vamos conseguir curá-las e ultrapassá-las. Sem
qualquer arti- fício para fingir que elas não existem.
Porque elas nun- ca deixam de existir – é só a gente
que aprende como lidar com elas.
No caso das mortes que enfrentei em vida, sempre
perdi um pouco de mim conforme alguém ia embora.
Cheguei à conclusão que a gente não quer morrer
por- que não faz tudo que a gente quer e precisaria de
muito tempo para realizar aquilo que a gente gostaria
de fazer em vida.
Nessas horas eu me pergunto: será que se a gente
fosse libertário teria medo da morte? Se soubéssemos
viver, sem medo, ficaríamos tão apavorados com o fim
da nos- sa própria existência?
Raro enxergar quem vive a vida em sua totalidade.
Aqueles que brincam com a aventura do dia e da
noite,
bailando numa total sintonia com aquilo que parece
su- focar muita gente, mas que na verdade nos
humaniza: as tais emoções.
Quando assumimos as emoções, somos vistos como
doentes. Sendo assim, não podemos nos assumir por-
que isso seria como se estivéssemos doentes. E nessa
sociedade doentia, muita gente replica comportamen-
tos pra não ficar de fora de nada. É como se todo
mundo quisesse surfar na mesma onda – e desse jeito,
nada sai além do que se espera.
O foco parece sempre estar no outro e a felicidade
fica comprometida, porque enquanto realizamos
sonhos que não são nossos, alguma coisa pulsa ali
dentro, de- nunciando que existe algo errado.
Uma vez ouvi que todos os nossos desejos nascem
por causa da comparação e aí começamos a desejar
algo que não temos. Invejamos o outro, a realização
alheia e não entendemos nosso próprio roteiro de
vida.
A gente quer se relacionar. A gente precisa, a gente
se move. Mas chega um momento da vida que
você tem que conversar muito é com você.
Qual o ritmo que te move? Aquele ritmo que foi
impos- to por quem está de fora? Ou o seu ritmo?
Sempre que ouço aquela música do Almir Sater que
conta ‘ando devagar, porque já tive pressa’, penso
exa- tamente na minha atual posição. Só pode andar
deva- gar quem já teve pressa. E temos que
experimentar essa loucura da matrix antes de chegar à
conclusão de que todos temos nosso próprio ritmo.
Quando entendemos essa loucura, valorizamos a nos-
sa libertação e passamos a diferenciar luz e escuridão.
Tanto dentro quanto fora.
É como a alquimia da qual Jung falava – e, para
chegar na plenitude, há de se passar por essas fases.
Não há como fugir dos processos. É sublime saber que
podemos nos tornar outra pessoa. E é bonita essa
metamorfose.
Enquanto treinador, meu papel é proporcionar essa
sensação e tentar desencadear mudanças de dentro
pra fora. Através das dinâmicas, ensino que como
não podemos reproduzir a vida durante um
workshop, ao menos tentamos fazer com que uma
experiência nos faça mudar.
Porque eu posso te dizer como se anda de bicicleta,
mas você nunca vai saber o que é se não andar, por
mais que eu te conte com requinte de detalhes.
Só pode experimentar quem vive.

Com a experiência, vem o aprendizado. Rico e capaz


de provocar transformações para toda a vida. Porque
aprender é uma saga emocionante e intransferível. É
nosso registro em vida. Nossa experiência, pulsante,
que vem de dentro e dignifica nossa vida.
É preciso se relacionar com a vida.

As pessoas precisam aprender a se relacionar com si


mesmas, com seus medos, dúvidas, acertos, expecta-
tivas porque ninguém tem um manual de instruções
da vida.
O maior guru da sua vida é você.
A grande provocação que tive comigo mesmo foi
essa. Somos nossas interações. A soma de todas elas.
O que é de fato a consciência a personifica a alma?
Isso transcende ou não? Formo meu eu a partir do
meu co- nhecimentos e verdades? Através do que
recebo do mundo?
Mesmo que se não tiver nada do outro lado, a vida já
é um presente absurdo que nós, como matéria do
univer- so, não percebemos.
Entregamos a vida em prol de algo que não sabíamos.
Morra todos os dias, até que chegue a última morte.
MORRENDO UM
POUCO POR DIA
Pílulas para MATAR O QUE TE
LIMITA E VIVER
INTENSAMENTE A SUA vida
“Todos sabemos que a morte não existe sem a vida,
mas poucos se dão conta de que a vida não existe
sem a morte.”

“Não existe nada mais impactante que a iminência


da morte para provocar na gente a experiência da
transformação.”

“Que a morte nos acompanhe, para sempre nos


lembrar que é preciso saber viver.”

“Mas a vida tem dessas. Ela te faz perceber que você


não é invencível justamente quando você está ali. No
pódio.”

“Quando a Certeza me deixou, eu fiquei com o


Medo. Mas só através dele conheci a Força”

“Por que, em vida, temos que deixar os


arrependimentos para a hora da morte?”

“Compartilhar o que eu tinha aprendido fazia com


que eu tivesse uma nova experiência de vida.”

“Somos a coisa mais rara do Universo. Cada um de


nós – por termos vida, DNA específico, impressão
digital e ideias que por mais que sejam
compartilhadas, jamais podem ser iguais, porque
temos particularidades específicas que nos fazem
incorporar todas as informações que processamos
através do conhecimento e da nossa própria
história, antes mesmo de aplicar qualquer técnica. A
nossa história de vida nos faz únicos.”

“Se uma boa comunicação é capaz de potencializar


a criatividade, a inovação e gerar resultados acima
da média, uma comunicação pífia pode colocar tudo
a perder.”

“Pela primeira vez na história, bilhões de pessoas


de todos os países estavam conectadas graças à
internet. Mas quem conseguia construir
relacionamentos consistentes?”

“Eu sabia que a minha história de vida, que não


tinha como ser a mesma história de qualquer outra
pessoa no Universo, poderia transmitir muito mais
do que se eu simplesmente contasse as técnicas e
métodos que tinha aprendido, treinado e
incorporado.”

“No momento de consciência, vemos a nudez do


outro. Deve ser por isso que, quando nos
desnudamos para o outro, trazemos consciência.
Consciência de quem somos de verdade. Não das
mentiras que contamos a nós mesmos.”
“O coração é capaz de dizer muito, mesmo quando
está machucado. Ou quando está em seu pleno
funcionamento.”

“Quando você libera sua criatividade e tem um


propósito, você alcança qualquer objetivo.”

“Para ser rico você só precisa de três coisas. Abra


as torneiras ao máximo, feche todos os ralos e
atrase seu padrão de vida em seis anos”.

“Quando acordei hoje de manhã, eu sabia quem eu


era, mas acho que já mudei muitas vezes desde
então”.

“Nenhuma daquelas pessoas tinha qualquer traço


diferente, DNA mágico ou sangue azul correndo nas
veias. Eram simplesmente humanos que tinham
algum talento e sabiam extrair o melhor de si
mesmos quando estavam em cena.”

“Quando a gente começa a enveredar por um novo


caminho – seja ele qual for – somos bombardeados
de informações e muitas vezes não fazemos uma
triagem do que pode agregar em nossa vida e do que
podemos descartar sem pensar duas vezes.”

“E não há nada mais poderoso para um ser humano


do que encontrar dentro de si, a essência daquilo
que quer explodir para o mundo e transformar
aquilo em potência, articulando a voz, postura, jeito
de se posicionar – entregando, de fato aquilo que
quer entregar, mas numa embalagem que valoriza o
produto.”

“Todos nós fomos feitos para brilhar, como crianças


brilham. Nós nascemos para manifestar a glória de
Deus dentro de nós.”

“Hoje tenho em mente que sempre tenho que


imprimir meu futuro com as ações que os outros não
veem. Mas nem sempre isso é fácil e confortável de
ser feito.”

“Os aplicativos estão apagando nossos genes. E isso


é preocupante.”

“Emocionar com poucas palavras é comunicar com


sentido. Dar voz para coisas complexas de um jeito
simples é uma verdadeira arte. Se comunicar com o
corpo, além de simplesmente impactar através da
voz que chega aos ouvidos e pode ser interpretada
de diversas maneiras, dependendo do ouvinte.”

“Desde pequeno me deixei contaminar pelo mundo


do outro. Sempre acreditei que a melhor maneira de
evoluir, aprender e criar meu mundo, era através
dessa contaminação – que poderia abrir meus
horizontes e me fazer enxergar de uma outra forma.”
“Se eu passasse a vida fazendo as mesmas coisas,
passaria a vida passando pelas mesmas
experiências.”

“Estamos catalogando tempo e tendo a falsa ideia


de que sempre poderemos fazer aquilo que temos
vontade. Que podemos experimentar o que
quisermos quando quisermos. Mas não nos
permitimos experimentar, escravizados pelos nossos
próprios rastros que nos mantém reféns das mesmas
experiências vividas no passado.”

“Passei anos questionando Deus, pedindo um


milagre universal para que todos vissem e cressem
nele. Acordei no meio de uma noite com Deus
sussurrando em meu ouvido – Você é meu maior
milagre! – chorei.”

“Por mais que você tenha interesse por coisas


novas, sempre vai ter o fantasma do seu rastro,
deixado para trás, mas trazendo referências de
outras coisas, revestidas de novidades, com base no
que você já viveu.”

“Nosso cotidiano está nos empobrecendo. E nos


deixando menos questionadores.”

“Vamos alimentando a ideia de que temos que ser


bons filhos, bons funcionários, bons amantes, e
quanto mais colocamos carga, mais distantes
ficamos do que somos. Replicamos conceitos que os
outros esperam que repliquemos – e perdemos a
originalidade – que é o que é nosso de origem.”

“Ser um cientista da vida é ser um experimentador


de conceitos, ideias, e novas versões de si mesmo. É
se reinventar, se reescrever, se permitir entrar e sair
de cena, sem medo dos julgamentos e aplausos.”

“A sobrevivência humana depende da


comunicação.”
“As pessoas podem criar novas realidades. Podem
ser curadoras de suas histórias, trazendo alegria,
saindo da depressão, criando novos caminhos.”

“Você não precisa mentir para ser um vendedor de


sonhos. Você não precisa mentir para criar um novo
mundo.”

“É só sabendo o que pode oferecer para si,


preenchendo um vazio existencial com aquilo que faz
sentido, é que pode ofertar aquilo que muda a vida
do outro.”

“Talvez o segredo da comunicação – e também do


não envelhecimento – seja se banhar na experiência
do outro – e conseguir ser o que o outro é naquele
momento.”
“Mas também podemos manipular uma pessoa
simplesmente mostrando a ela aquilo que ela
verdadeiramente quer – mas não tem coragem de
verbalizar.”

“Quantas oportunidades perdemos diariamente


porque não nos dedicamos com energia e entusiasmo
naquilo que queremos? Quantas vezes durante o dia
deixamos de contribuir com as pessoas ou gerar
qualquer resultado impactante na vida do outro?”

“Olhar as pessoas requer tempo, humildade,


discernimento e espiritualidade. E enxergar mais do
que as pessoas conseguem ver naquele momento nos
traz uma nova dimensão dos relacionamentos.”

“A única habilidade humana que sempre será


necessária é a capacidade de se comunicar e
emocionar.”

“Sem extrair o melhor de si mesmo, você é incapaz


de extrair o melhor do outro. E dentro de cada um de
nós existe uma melhor versão de si mesmo.”

“Cada vez que se tenta copiar o outro, perde-se o


brilho da originalidade, da espontaneidade e essa
poeira cósmica, que forma os seres humanos,
relatada de maneira tão bela por Einstein, começa a
se desfazer.”
“Quando não criamos nosso estilo de vida agimos
como se estivéssemos adotando um modelo pronto
que nos foi vendido e obedecendo cegamente a este
estilo, sem cogitar a hipótese de criar algo novo e
percorrer um caminho que pode ser único.”

“O grande milagre de Deus é você.”

“Mesmo que o limite entre a inconsequência e a


loucura fosse tênue, eles sabiam dosar a coragem de
maneira que, quando tinham resultado, aquilo se
tornava mais que uma certeza absoluta – era como
se não enxergassem qualquer possibilidade de
derrota.”

“Durante nossa vida passamos por transformações e


estados de consciência sempre em busca da paz
interior – só que esquecemos que essa paz só é
alcançada se damos voz a todos os outros
sentimentos e emoções.”

“Quando digo que a vida é uma grande viagem, é


porque esse é o único barco que podemos guiar, mas
não podemos controlar. Podemos dar a direção em
busca do caminho que queremos seguir, mas não
podemos dar meia volta e revisitar lugares que já
visitamos.”

“Só conseguimos falar em todas as línguas quando


nos despimos do julgamento e vivemos nossa vida,
absorvendo aquilo que podemos levar adiante – e
simplesmente observando o que não nos agrega.”

“Não ligue para o que as pessoas possam dizer ao


seu respeito. O que importa, é o que você é.”

“Percebi que o que realmente importava era o que a


gente tinha passado e construído na vida. Não o que
aprendia na universidade – que podia ser facilmente
copiado pelo concorrente.”

“Todo mundo sabe que o corpo diz muito, mas


poucos conseguem decifrar seus sinais. Talvez
porque estejamos dispersos demais – talvez porque
não tenhamos o desejo genuíno de nos conectarmos
uns com os outros.”

“O mundo existe dentro de você e não fora. Viva no


presente.”

“Precisamos constantemente conviver com a nossa


solidão que não é ruim, mas nos faz entender que
somos humanos.”

“O índice de pessoas que se anestesiam para não


sentir a vida é cada vez maior. As pessoas não
querem dor. Não experimentam a dor da perda, da
falta, e mascaram as emoções, sem saber o que é ser
triste, e também sem experimentar a felicidade.”
“Faz parte do ser humano sentir as coisas. Temos
que parar com essa loucura de sermos sempre
felizes. Acreditarmos que a vida é dar risada, como
um Bozo que cheira cocaína e gargalha
repetidamente.”

“Raro enxergar quem vive a vida em sua totalidade.


Aqueles que brincam com a aventura do dia e da
noite, bailando numa total sintonia com aquilo que
parece sufocar muita gente, mas que na verdade nos
humaniza: as tais emoções.”

“A gente quer se relacionar. A gente precisa, a gente


se move. Mas chega um momento da vida que você
tem que conversar muito é com você.”
Como MANIPULAR e
PERSUADIR milhares
de pessoas

Comunicação é
tudo! Vivemos por ela,
para ela e pensando
nela o tempo todo.
Basta olhar as pessoas
nos ônibus, metrôs,
ruas, estádios, shoppin-
gs... Encontros e desen-
contros. Ninguém sai
do celular, todos só
querem mandar
mensagens, ler
mensagens... escrever,
falar. Se comunicar!
Ri- cardo Ventura é
um
mestre na COMUNICAÇÃO, chega a ver através
dela em: gestos, entonações, expressões, olhares...
TUDO se comunica!
É um animado comunicador nos seus cursos e
palestras. É generoso, não se furta a dividir seus
conhecimentos, a se dedicar em formar mais e mais
comunicadores. É um motivador, porque sempre
procura no outro o melhor que ali há e ajuda este
outro a se comunicar, se expres- sar, se mostrar e ser
um COMUNICADOR EXTREMO!
Ricardo Ventura no livro Como Manipular e Persua-
dir Milhares de Pessoas, ensina as linguagens verbais
e não verbais e como podemos usá-las a nosso favor.
Ele ensina também A PERDER O MEDO DE
FALAR EM PÚBLICO, dá muitas lições de
persuasão das mais di- versas formas e situações para
que você se torne não só um COMUNICADOR, mas
o melhor COMUNICADOR EXTREMO de seus
sonhos, suas histórias no palco e na vida.

Resumo da ópera:

Ricardo Ventura ensina a você, o passo a passo pra se


tornar um EXTREME SPEAKER de sucesso como é
RI- CAAAARDO VENTURA, um
COMUNICADOR apaixo-
nado que também apaixona a plateia. — Leda Nagle

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COMUNICAR,
VENDER E
NEGOCIAR COM PNL

Será que sabendo todas


as técnicas de vendas
ou de comunicação é o
bastante para ter resul-
tados? NÃO!
Se fosse assim
qualquer otário teria
sucesso! Neste livro,
Ricardo Ventura, um
dos mais reconhecidos
estudio- sos do
comportamento
humano, mistura sua
prática no mundo dos
negócios. Ele nasceu
dentro de uma loja de calçados e teve sua própria rede
de lojas por 20 anos.
Ricardo Ventura reuniu todos seus estudos sobre psi-
cologia, programação neurolinguística, persuasão e
se-
dução, para formar um manual completo em
VENDAS, desde as entranhas psicológicas, passando
pelo primei- ro contato indo até a negociação e
fechamento!
Não pense em encontrar fórmulas prontas e
fofinhas… pois aqui não é a Disney!
Venha para o mundo do #RevolucionaVendas seu
anfi- trião será o próprio Ricardo Ventura.

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CRENÇAS: O inconsciente
influenciando resultados
proftssionais

Neste livro, Ricardo


Ventura, primeiro bra-
sileiro a escrever um li-
vro de estudos de casos
sobre a PNL aplicada a
terapia, relata sessões
concretas em forma de
diálogos entre paciente
e terapeuta.
Uma leitura leve onde
ao fim de cada sessão o
autor explica, detalha-
damente, o que aconte-
ceu, quais técnicas
usou
e as ensina de modo simples e de fácil replicação.!

Livro usado e indicado em vários cursos de practitioner


e master em PNL.

Esse livro é muito útil e não existe nada parecido com


outro autor nacional. Pelo jeito da aplicação e da
forma clara e simples que Ricardo Ventura expõe é
um prato cheio para quem quer ter um primeiro
contato com a PNL e também para quem já tem grau
de practitioner ou master para acompanhar o processo
e experimentar a experiência de outro colega!

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MESTRES
da PERSUASÃO:
Hoje em dia, mais do que nunca, precisamos
persuadir e seduzir além de termos bons produtos.
Precisamos ter segurança EXTREMA para falarmos
com nossos clien- tes nas mais diversas
oportunidades.
• Mesmo que você não se enxergue como vendedor.

• Mesmo que você tenha fobia de falar em público e


de gravar vídeos.
• Mesmo que você nunca tenha usado a internet para
vender.
No Mestres da Persuasão, você vai convencer
qual- quer tipo de pessoa a aceitar os seus
argumentos de forma instantânea. Você vai se
sentir muito mais se- guro em comandar uma
reunião, falar com estranhos e fazer com que eles
ftquem atentos e magnetizados a sua
proposta/mensagem.
Você vai, sem usar qualquer ferramenta ou fórmulas
complicadas, expor seus produtos, ideias ou verdades
pela internet falando exatamente o que os seus interlo-
cutores desejam ouvir.

São três dias consecutivos em São Paulo. (Sexta,


Sábado e Domingo). Mais de 30 horas de imersão,
com muito conteúdo prático, mão na massa, intenso e
dinâmico, sem ôba-ôba nem autoajuda.
Você vai sair da Imersão Mestres da Persuasão
sabendo exatamente o que fazer para ser: mais
PERSUASIVO, se tornar uma AUTORIDADE e usar
as REDES SOCIAIS ao SEU FAVOR!
Temos um encontro marcado! Nos veremos no
Mestres da Persuasão – A Influência a favor dos seus
Negócios!

Torne-se um Mestre da Persuasão!


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DO ZERO AO PALCO:
Programa PalestranteXpress
O Programa PalestranteXpress nasceu de muitos
pedi- dos de pessoas que gostariam de ter contato com
a For- mação de Comunicadores Extremos, mas “n”
motivos não podiam se deslocar até São Paulo ou não
tinham agenda.
Por isso criei este programa que contempla todas as
fa- ses da capacitação de um Treinador ou Palestrante.
Dividido em 7 passos ou como costumo dizer
“cortinas”, as quais irão revelar desde o zero absoluto
até a perfor- mance profissional em cima do palco!
CORTINAS:

Cortina 1 – MindSet/Conteúdo – Nessa cortina eu


vou revelar o meu “MindSet”; Vou mostrar como
funciona a minha mente e quais as minhas ações para
produzir e gerenciar palestras, treinamentos,
workshops, etc... Além de gerenciar pessoas, recursos
e comportamento, incluindo, como criar conteúdo.
Cortina 2 – Palco – Nessa cortina você vai aprender
como se posicionar de modo profissional em cima do
palco ou diante a sua plateia, seja qual for o número
de pessoas; E, também, como interagir com o seu
público de modo a criar engajamento.
Cortina 3 – Voz – A voz é o seu principal recurso... E
você vai aprender a como cuidá-la, criar emoção a
par- tir da sua entonação, do volume, do ritmo e
variações vocais, criando assim sua identidade vocal.
Cortina 4 – Recursos – Para uma boa palestra aconte-
cer, não é necessário mais do que sua presença e voz,
entretanto, podemos impactar ainda mais a plateia uti-
lizando-se de recursos, tais como: PowerPoint,
microfo- ne, flip-chart, apostilas, dinâmicas, dentre
outros.
Cortina 5 – PNL – Aqui você vai aprender as técnicas
da Programação Neurolinguística aplicadas na
sedução e conquista da sua plateia ou treinandos.
Cortina 6 – Dicas/Macetes – Aqui você vai encontrar
a minha coletânea particular de técnicas que eu criei
quando encontrei: plateias arredias, o “engraçadinho”,
perguntas demoradas, o “especialista”, o “terrorista”, o
“do contra”, dentre outros…
Cortina 7 – Sacadas de Ouro – Aqui você terá
sacadas e insights que eu anotei durante os últimos 10
anos e que continuarão sendo atualizadas a todo
tempo. (já são mais de 100 Sacadas de Ouro).
A hora é AGORA! Veja mais em:
www.PalestranteXpress.com.br
EXTREME SELLER:
Crie produtos, clientes
e ofertas irresistíveis em
24 horas
Num mundo onde tudo muda em uma velocidade
incrí- vel, sua carreira ou o seu negócio está em risco!
NÃO IMPORTA SE VOCÊ É: EMPRESÁRIO,
PROFIS- SIONAL LIBERAL, TRABALHA POR
CONTA, PASTOR OU POLÍTICO...
Preste atenção nestas perguntas:

• Seu faturamento ou participação no mercado vem


di- minuindo ano após ano?
• Os clientes estão cada vez mais exigentes ou
deixando seu negócio?
• Tudo que sempre funcionou no marketing e promo-
ção, não está mais dando certo?
• Parece que você está lutando contra gigantes?

Se você respondeu sim para alguma destas perguntas,


devo te alertar... VOCÊ ESTÁ INDO PARA O
BURACO!
E como eu sei disso? Já estive à beira de entrar em
um colapso nervoso por não entender, e o pior,
ACEITAR certas mudanças... Eu já tinha nome,
carreira, chance- las e prêmios, mesmo assim, vi meu
negócio estagnar de uma hora pra outra e pessoas com
muito menos tempo de estrada ou nenhum tempo,
passarem voando sobre mim! Foi difícil tomar certas
atitudes e decisões, eu, tal- vez, de forma
inconsciente, quisesse me agarrar a zona de conforto
e acreditar que o cenário ruim era apenas uma fase...
Sorte que sou um bicho doido e não tenho medo do
novo...
Misturei minha experiência de vendedor – que sempre
fui a vida toda – as mais modernas técnicas de marke-
ting e persuasão, que fui buscar até fora do Brasil!
Colo- quei em prática e ufa! Me salvei do buraco que
engoliu e está engolindo diversos colegas e amigos!
E como tudo na minha vida foi assim, ajudando um
aqui outro ali... Acabei cedendo aos pedidos e montei
um programa para ensinar o meu passo a passo!
Sim! Em dois dias eu vou passar o que demorei 5
anos para aprender! Você até pode fazer sozinho tudo
o que fiz... Perder noites de sono, discutir com a
esposa, com os filhos e amigos, sem saber a real
causa do seu mal hu- mor. Poderá, por tentativa e
erro, descobrir o caminho das pedras – Não tem
mágica, tem processo... Tem o que deve ser feito!
Dividi todo o processo em 2 dias intensos, onde eu
vou trabalhar seu negócio, seu NOVO negócio,
mesmo sem você precisar sair dele!
E isso serve para qualquer tipo de produto, serviço ou
ideia! Já ajudei:
• Empresários;

• Empreendedores;
• Infoprodutores;
• Profissionais liberais;

• Pastores (sim, o pastor deve saber se posicionar e


sal- var mais almas);
• Políticos (não adianta prometer, você precisa se
desta- car da multidão);
• Enfim, todas pessoas que precisam ser VENDEDO-
RAS DE SI.
Então criei o EXTREME SELLER, um programa de
dois dias presenciais em sampa, comigo, com até 15
pessoas em sala – nem uma pessoa a mais –, pois eu
vou traba- lhar o seu negócio junto com você!
O que veremos nestes dois dias? Além da
mentoria ali na hora (onde são criadas soluções e
produtos sur- preendentes), vamos nos concentrar em
modo de ofici- na sobre os temas que vão fazer seu
negócio entrar em um novo nível de jogo!
• O novo jogo do século XXI;

• Descobrindo seu produto premium;


• Como criar sua “cadeira de expert”;
• Como encontrar o que mais aflige e o que mais atrai
seu cliente;
• Como se tornar irresistível;
• Como empacotar sua expertise e experiência;

• Conhecer e montar, pelo menos, 5 formas diferentes


de ganhar dinheiro com seu conteúdo;
• Como ter fãs e seguidores do seu trabalho de forma
constante e crescente;
• Utilizando as redes sociais para gerar negócio e
posi- cionamento;
• Como lançar seu micro produto ainda dentro de sala;

• E o melhor... tudo isso se divertindo e criando network!

Resumo:

• Mude sua forma de se vender, se não será destruído;

• Aprenda as principais estratégias para virar um EX-


PERT;
• São apenas 15 vagas por turma (ou menos);
• Você vai criar seu novo produto dentro de sala;

• Investimento à vista com desconto ou facilitado em


até 12 vezes;
• Não se demore, a cada dia o mercado se torna mais
e mais complexo e tudo o que foi feito até hoje não
fun- ciona mais tão bem...
Você tem 3 opções:
• Ir e adiantar 5 anos na sua estratégia;

• Percorrer sozinho os próximos 5 anos;


• Deixar como está...

Tem interesse? Acesse:


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EXTREME SPEAKER:
Destrua o medo de falar em
público e torne-se um
Mestre da Comunicação
Este treinamento é exclusivo no Brasil, onde você
verá tudo para tornar-se um palestrante/treinador ou
ain- da realizar apresentações em público de maneira
pro- fissional! Trabalhando desde a ideia inicial,
criação de conteúdo, execução, comunicação com a
plateia (inclu- sive plateias arredias), recursos
audiovisuais, dinâmi- cas/exercícios de aplicação,
oratória padrão e moderna e muito mais!
SÃO APENAS 10 PESSOAS POR TURMA!

Muitas vezes nos deparamos com situações onde


tere- mos que passar nosso conteúdo prático e
intelectual. Sabemos muito bem todo o conteúdo, mas
como fazer com que nossos ouvintes tenham a
“vontade” de apren- der estes conhecimentos? Como
deixar um treinamen- to leve, prático e com
resultados mensuráveis? E a em- patia? É possível
conquistar empatia mesmo com uma plateia arredia?
Carisma é uma capacidade nata ou se
aprende? Seria bom construir um treinamento onde
o conteúdo fosse didático e ao mesmo tempo aprazí-
vel e interessante? É isto que Ricardo Ventura, um
dos melhores palestrantes do Brasil, promete!
Treinador atuante, ministrando palestras e
treinamentos no Bra- sil inteiro – Aprenda com quem
FAZ!
No treinamento, Ricardo vai passar o seu método
exclu- sivo, o passo a passo que fará você construir e
gerenciar suas palestras e treinamentos de forma
simples e eficaz.
Conteúdo Programático:

A maior parte do treinamento será em formato de


“ofi- cina”, ou seja, o Ricardo Ventura vai eliciando e
desco- brindo quais as competências natas de cada
participan- te e quais precisam aprimorar.
Parte conceitual e prática do treinamento:

• O mindset secreto do Ricardo Ventura – O passo a


pas- so pessoal de como ele constrói uma palestra
infalível.
• Técnicas clássicas, modernas e ultramodernas de ora-
tória.
• Exterminando a fobia, o medo e a insegurança em
fa- lar em público – Ricardo fará isso em apenas 40
segun- dos!
• Despertando o palestrante que há em você – Ricardo
vai te acompanhar de forma singular para descobrir
qual o seu melhor estilo.
• Formas de apresentação – Um caminhão de macetes
e dicas que o Ricardo colecionou durante os últimos
20 anos.
• A hora das dinâmicas – A cereja do bolo das
palestras. Análise – aplicação – devolutiva

Comunicação Assertiva com a PNL:

• Mapas e Filtros – percepções diferentes de cada trei-


nando.
• Jiu-jitsu linguístico – desobstruindo pessoas resisten-
tes.
• Rapport – como criar empatia de uma forma muito
efi- caz e verdadeira com os treinando.
• Sistemas representacionais – Criando um show a
cada apresentação.
• Andragogia – Desmistificando o ensino para adulto.

• Storytelling – Criando e incluindo histórias em suas


apresentações.
• Jornada do herói – O clássico da persuasão.

Materiais e Recursos: Como utilizar recursos


audiovi- suais (mas sem ser escravos deles).
• Apostilas – Criação, formatação e quando utilizá-las!
• PPS – Como montar e utilizar o PowerPoint/Slides.

• Flip-chart
• Microfones – Mão; lapela; e head set.
• Dramaturgia
• Posicionamento de Palco

• Entonação e potencia de voz


• Gravação de vídeos (infoprodutos)

Se você deseja: Tornar-se um treinador interno em


grandes empresas; Realizar grandes apresentações em
reuniões, convenções, faculdades e encontros; Tornar
suas aulas dinâmicas, atrativas com uma comunicação
moldada a cada aluno; e Ser um Profissional
Palestran- te – Está oficina é pra você!
Tem interesse? Acesse:
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Programação Neurolinguística e Psicologia
Comporta- mental com o especialista Ricardo
Ventura. Compon- do-se de videoaulas, aplicativos,
testes, grupo de estudo e muito mais!
Entre LITERALMENTE na cabeça de quem está à
sua volta!
Vendedores, Coaches, Terapeutas, Analistas, Advoga-
dos, Psicólogos, Policiais, Curiosos sobre a mente
huma- na.... já se beneficiam desta técnica...
Se fosse possível você saber se estão sendo sinceros
com você?
Se fosse possível descobrir que aquela é a última
oferta que o vendedor pode te dar naquela
negociação?
Se fosse possível descobrir que a pessoa a sua frente
es- conde algo de você?
Se fosse possível saber o que realmente seus amigos,
pa- rentes, filhos estão sentindo...
Ficção? Série de TV? Magia?

Não! Isso é: LINGUAGEM NÃO VERBAL – A


metalinguagem da comunicação.

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