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CAPÍTULO 1
Introdução Geral
indevidamente do nome e pode estar enganando pessoas que confiam nela e que pensam
estar seguindo uma tradição indiana milenar.
Pessoas com excelentes intenções têm escrito sobre RÓJA-YOGA sem muita
fundamentação. Há, por exemplo, em português, vários livros do “Yogue Ramacháraka”
sobre YOGA – e um deles trata especificamente sobre RÓJA-YOGA. O verdadeira
autor desse livro é um inglês, chamado William Atkinson, que se escondia sob o
pseudônimo de “Yogue Ramacháraka” para aparentar uma autoridade que não tinha, de
fato. Por melhor que tenha sido a intenção desse autor, ele não conseguiu exibir o
verdadeiro RÓJA-YOGA. Não basta um nome indiano para garantir a autoridade de um
texto. Aliás, também não basta ter nascido na Índia ou ter morado lá. Quem quer
conhecer, por exemplo, a antiga filosofia grega, não vai para a Grécia. O que ele faz ?
Procura estudar os textos gregos clássicos de Platão, Aristóteles, Epicuro, etc. Para a
maioria dos gregos atuais, o pensamento de Aristóteles é totalmente desconhecido; e
não se pode garantir que um professor de filosofia atual, nascido na Grécia, conheça o
pensamento de Platão melhor do que um professor inglês. É preciso tomar cuidado com
os critérios utilizados para selecionar um especialista. A sua nacionalidade pode ser
irrelevante.
Há vários autores estrangeiros que estudaram cuidadosamente os textos indianos
clássicos e que produziram obras que trazem, de forma fiel, a tradição do YOGA. Dois
bons exemplos são Mircea Eliade e Jean Varenne1. Seguindo exemplos como estes, o
presente livro procura recorrer aos textos clássicos, respeitados na Índia há muitos
séculos, para esclarecer o que significava o RÓJA-YOGA originalmente.
Pode-se considerar o trabalho aqui apresentado como uma pesquisa de um
historiador, que aplica ao estudo da tradição indiana as mesmas técnicas que se utiliza
para o estudo de qualquer outra tradição cultural. Quando investiga o passado remoto,
um historiador precisa se basear em documentos. No nosso caso, esses documentos são
os textos indianos antigos relativos ao YOGA. Alguns desses textos foram escritos três
mil anos atrás, em uma língua “morta”2, em um contexto social e cultural muito
diferente do atual. É extremamente difícil compreender esses documentos. Diferentes
tradutores compreendem de formas diferentes esses mesmos textos. Há conflitos até
entre comentários indianos dos documentos mais antigos.
De certa forma, é impossível traduzir os textos clássicos do YOGA, pois eles
descrevem coisas para as quais não dispomos de palavras adequadas. O vocabulário dos
idiomas ocidentais não permite a tradução correta do sânscrito, pois não temos aqui as
mesmas vivências que foram descritas pelos antigos “yogues”. Por isso, a compreensão
do significado de um texto clássico indiano só é possível gradualmente, por sucessivas
aproximações. E nesse trabalho de interpretação é importante sempre evitar
interpretações apressadas e evitar identificar aquilo que está sendo estudado com aquilo
que já conhecemos. É preciso sempre admitir que aquilo que o texto está dizendo talvez
seja muito diferente do que estamos pensando – e que, talvez, nem sejamos capazes de
1
ELIADE, Mircea. Le yoga, immortalité et liberté. Paris: Payot, 1975. VARENNE, Jean. Le yoga et la
tradition hindoue. Paris: Culture, Art, Loisirs, 1973.
2
Os textos tradicionais indianos mais antigos são escritos em “vêdico” – um idioma que era falado entre
os séculos 20 e 10 antes da era cristã; esse idioma foi se transformando e gerou o “sânscrito”, que também
foi utilizado para a composição de textos antigos; mas nenhum deles é o idioma falado pelos indianos
atuais. O idioma oficial da Índia, o “hindi”, é o “neto” do védico. Um indiano culto, atual, que conheça
muito bem o hindi, é tão incapaz de compreender o sânscrito quanto um italiano atual de compreender o
latim falado em Roma no tempo de Cristo. Nesse sentido, pode-se dizer que o sânscrito é um idioma
“morto”, como o latim, apesar de haver pessoas que os aprendem.
“Significado e bases do RÓJA-YOGA” 4
compreender o que o texto diz, porque nos falta exatamente a vivência daquilo que o
texto está indicando.
É possível esclarecer essa dificuldade por algumas comparações. Suponhamos
que um esquimó nunca tenha visto (nem em filmes) um papagaio, uma galinha ou um
cachorro e que um brasileiro que soubesse falar esquimó tentasse lhe dizer o que são
esses animais. Em primeiro lugar, seria tolice procurar simplesmente uma palavra que
traduzisse os nomes “papagaio”, “galinha”, “cachorro” – pois, mesmo se a palavra
existisse, em esquimó, ela não significaria nada para o próprio esquimó, que não
conhece os animais. Seria preciso ir gradualmente falando, através de comparações,
sobre como esses animais se parecem, como se comportam, etc. Algumas coisas, no
entanto, seriam muito difíceis de transmitir: como explicar o sabor de uma fruta
desconhecida? Como explicar um perfume? Ou – pior ainda – como explicar uma cor a
um cego?
Uma palavra desligada da vivência que representa não significa nada. É por isso
que a compreensão de um texto clássico do YOGA exige também uma gradual
familiarização com as próprias vivências do YOGA. Nesse sentido, é muito mais difícil
traduzir um texto indiano do que um filósofo grego, como Platão. Pois as vivências de
Platão devem ter sido muito mais semelhantes às nossas do que as vivências dos yogues.
Assim, nossas palavras são muito mais adequadas para a tradução de Platão do que de
um texto indiano.
Em muitos casos, é melhor utilizar um termo sânscrito do que tentar traduzir
certos conceitos. Por exemplo: a palavra “meditação” é comumente utilizada para
traduzir o termo sânscrito DHYÓÔA3. Ocorre, no entanto, que cada um de nós tem um
conceito sobre o que é “meditar” e esse conceito já existente vai interferir com qualquer
explicação nova que se tente dar para o que é a “meditação” do RÓJA-YOGA. Pode ser
mais útil, por isso, utilizar a própria palavra DHYÓÔA, porque ela nos fará lembrar
sempre que se trata de algo novo e diferente, que não corresponde a nada que seja
previamente conhecido. Especialmente no caso de termos-chave como este, o uso do
vocabulário sânscrito não é um “esnobismo” nem uma sofisticação inútil. É o único
modo de se prevenir interpretações falsas.
Isso que foi dito deve ter deixado claro quão difícil é a tarefa aqui proposta. E
isso não é dito apenas para dizer que este trabalho é difícil. É dito também para alertar o
leitor: embora eu próprio tenha certa competência, posso me enganar ao interpretar os
antigos textos indianos – como qualquer outro ser humano. Como seria possível testar
aquilo que vai ser exposto aqui, para verificar se está correto ou não? Repetindo o
mesmo caminho que trilhei: procurando, como fiz, as fontes mais antigas, mais
respeitadas, da tradição indiana; examinando esses textos, diversas de suas traduções e
comentários – antigos e recentes; utilizando a experiência pessoal, adquirida em uma
prática bastante longa de RÓJA-YOGA, para interpretar alguns pontos obscuros; e – por
que não? – invocando a proteção de ÍIVA4 para conseguir realizar adequadamente este
trabalho e colocar à disposição de todos o antigo conhecimento indiano sobre o ser
humano.
Mesmo se este livro conseguir atingir aquilo que se propõe, ele não poderá dar a
ninguém uma experiência prática do YOGA. Isso não pode ser dado por nenhum livro.
O ensinamento do YOGA é, essencialmente, um treinamento envolvendo exercícios e o
3
Todos os termos sânscritos serão representados aqui em letras maiúsculas pequenas e com os sinais
especiais, estabelecidos no final do século XIX, que permitem representar todos os sons do sânscrito com
o alfabeto romano modificado. Ver, ao final do livro, um apêndice sobre a pronúncia do sânscrito.
4
ÍIVA (ou “Shiva”) é a forma divina ou DEVA que pode ser considerado o “patrono” dos yogues.
“Significado e bases do RÓJA-YOGA” 5
CAPÍTULO 2
Os textos mais antigos da Índia são os VEDAS. Embora não tenham sido
compostos de uma só vez e sim gradualmente, pode-se dizer que suas partes mais
antigas foram elaboradas há mais de três mil anos – no mínimo 12 séculos antes da era
cristã – talvez remontando ao século 20 antes de Cristo5. Uma parte dos VEDAS é
considerada como revelação sagrada ou mística (ÍRUTI) e outra parte é considerada
como tradição humana (SMÙTI). O conjunto de todos os textos vêdicos6 forma a base
na qual se fundamentam todas as correntes tradicionais, ortodoxas, da Índia7.
Dos textos vêdicos, os mais antigos são as coletâneas (SA»HITÓ8) de hinos e
de textos rituais. Existem quatro coletâneas, associadas a quatro escolas vêdicas
diferentes. Essas coletâneas são o ÙGVEDA, o SÓMAVEDA, o YAJURVEDA e o
ATHARVAVEDA. A maior parte desses textos compreende fórmulas (MANTRAM)
que eram utilizadas em rituais solenes ou domésticos. Essas coletâneas não possuem
uma estrutura lógica e ordenada. Só fazem sentido para quem já conhece, por alguma
outra fonte, o pensamento vêdico. A dificuldade em entendê-los é agravada por terem
sido compostos em um idioma arcaico, o vêdico, que foi depois substituído pelo
sânscrito. Embora o sânscrito tenha saído do vêdico, a passagem dos séculos acabou por
trazer grandes diferenças de ortografia, fonética, gramática, vocabulário, etc. – do
mesmo tipo das que ocorreram quando o latim gerou as línguas neo-latinas.
Em cada escola vêdica, além das coletâneas, desenvolveram-se outros tipos de
textos vêdicos mais recentes: BRÓHMAÔA, ÓRAÔYAKA, UPAÔI›AD, SÚTRA.
Os textos classificados como BRÓHMAÔA são, basicamente, os manuais dos
sacerdotes (os próprios sacerdotes se chamam também BRÓHMAÔA). Ensinam
principalmente a estrutura e o significado dos rituais solenes. Descrevem também
muitos mitos sobre as formas divinas (DEVA) e, às vezes, contêm discussões
5
É muito difícil determinar a data de qualquer texto indiano antigo. Muitas vezes é também difícil
descobrir seu autor. Os antigos indianos não davam importância a datas e autores, já que consideravam
que os textos sagrados eram, na verdade, provenientes de inspiração divina (não tendo um “autor”
humano, propriamente) e, em certo sentido, eternos. Por isso não tinha muito sentido registrar sua “data” e
“autor”. Como nos faltam indicações diretas, na maior parte dos casos só é possível proporcionar
conjeturas de pesquisadores recentes sobre as datas e autores dos textos.
6
A palavra “veda” se pronuncia como “vêda” e não como “véda”. Por isso, embora se costume falar nos
textos “védicos”, é mais correto dizer “vêdico”.
7
A história da literatura indiana foi estudada por diversos autores; Max Müller escreveu uma importante
obra sobre a literatura do período vêdico: Müller, Max. History of ancient sanskrit literature. Uma obra
que cobre tanto o período vêdico quanto posterior é: MACDONELL, Arthur A. A history of sanskrit
literature. Delhi, Motilal Banarsidass, 1971. Uma obra que se concentra principalmente no período mais
recente é: AGGARWAL, Hans Raj. A short history of sanskrit literature. 2. ed. Delhi, Munshi Ram
Manohar Lal, 1963.
8
O plural, em sânscrito, não se faz colocando um “s” no final da palavra, como em português. As palavras
recebem diferentes terminações, conforme sejam masculinas, femininas e neutras, conforme o seu papel
na frase e conforme o plural se refira a um número igual a dois (dual) ou superior a dois. Seria muito
complicado, para o leitor, indicar corretamente a terminação de cada palavra sânscrita que apareça neste
livro; por isso, optou-se por utilizar a palavra no singular, mesmo quando, pelo seu uso na frase,
represente um plural ou dual.
“Significado e bases do RÓJA-YOGA” 7
filosóficas. Mas sua ênfase central é a discussão das regras exatas de como realizar os
grandes rituais – alguns dos quais duram até um ano inteiro.
Vinculados aos BRÓHMAÔA e, em muitos casos, fazendo parte deles (como
sua parte final), há outros textos chamados ÓRAÔYAKA que são, basicamente, os
textos para serem estudados pelos eremitas (VÓNAPRA›ÈHA) que viviam na floresta
(ÓRAÔYA). Em parte, seu estilo é semelhante ao dos BRÓHMAÔA, descrevendo a
estrutura e significado de rituais. Em parte, desenvolvem discussões filosóficas a
respeito do processo de evolução espiritual e sobre o Absoluto.
Esses dois tipos de texto parecem ter sido elaborados entre os séculos 10 e 7
antes da era cristã.
As UPANI›AD vão um passo além dos ÓRAÔYAKA. Exceto no caso das mais
antigas, falam pouquíssimo sobre rituais, sendo seu conteúdo predominantemente
filosófico. No entanto, não representam uma ruptura ou reação contra os rituais, como às
vezes se diz. As UPANI›AD mais antigas constituem anexos de cada BRÓHMAÔA e
de ÓRAÔYAKA, estando portanto claramente vinculadas à tradição e a cada uma das
quatro escolas vêdicas.
Os ÓRAÔYAKA e UPAÔI›AD são, em seu conjunto, denominados como
VEDÓNTA (o final dos Vedas); este nome é dado talvez por serem os textos vêdicos
mais recentes, por estarem localizados no final dos BRÓHMANA e – principalmente –
por representarem a essência ou culminação do pensamento vêdico.
As UPAÔI›AD mais antigas (como a famosa BÙHADÓRAÔYAKA
UPAÔI›AD) foram escritas provavelmente no período dos BRÓHMANA, ou seja,
entre os séculos 10 e 7 antes da era cristã. Outras UPAÔI›AD são posteriores a esse
período e algumas são certamente recentes (posterior ao século 10 depois do início da
era cristã).
De um modo geral, cada UPAÔI›AD é um texto curto. Algumas ocupam poucas
páginas, como a importante Á›Ó UPAÔI›AD. Há, no entanto, algumas que são grandes
livros, como a CHANDOGYA UPAÔI›AD e a BÙHADÓRAÔYAKA UPAÔI›AD.
O tema central das UPAÔI›AD é a natureza mais íntima (ÓTMAN) do ser
humano, a natureza do Absoluto (BRÓHMAN) e o processo de evolução espiritual.
Algumas UPAÔI›AD tratam de temas pertencentes ao YOGA. Algumas destas são
antigas, anteriores à era cristã, como a SVETÓSVATARA UPAÔI›AD. Há outras que
são posteriores ao início de nossa era e que são chamadas coletivamente de YOGA-
UPAÔI›AD.
Os SÚTRA vêdicos são textos que parecem ser todos eles mais recentes do que
os BRÓHMANA. São textos bem estruturados e de estilo bem direto. Alguns deles são
códigos éticos e legislativos (são os chamados coletivamente de DHARMA-SÚTRA);
outros são códigos que descrevem sistematicamente os rituais solenes ou domésticos;
outros descrevem conhecimentos auxiliares da prática religiosa. Embora respeitados,
não são textos sagrados: representam a tradição humana (SMÙTI) e não a revelação
divina (ÍRUTI). Devem ter sido compostos no período entre o século 5 antes da era
cristã e os primeiros séculos da era cristã. No entanto, seu conteúdo é, muitas vezes,
mais antigo, vindo de uma longa tradição oral. Um dos SÚTRA mais famosos é o
chamado “Código de Manu” (MANAVADHARMAÍASTRA).
Aproximadamente no século 5 antes da era cristã apareceram correntes de
pensamento contrárias à tradição, na Índia. Entre essas correntes heterodoxas estão o
Budismo, o Jainismo e algumas correntes materialistas. Embora combatessem muitos
pontos da tradição – e, em particular, as práticas religiosas dos rituais – essas correntes
heterodoxas conservaram muitas das idéias tradicionais.
“Significado e bases do RÓJA-YOGA” 8
9
No Brasil e em outros países ocidentais, o nome HAÈHA-YOGA tornou-se sinônimo de um processo de
condicionamento físico suave, anódino, e poucos sabem que sua origem histórica é o Yoga tântrico.
“Significado e bases do RÓJA-YOGA” 10
CAPÍTULO 3
misturar duas receitas culinárias diferentes: o resultado costuma ser pior do que cada
receita isoladamente.
Como o resumo acima colocado mostra, é preciso esclarecer muitas idéias
diferentes, para se começar a compreender o que é o RÓJA-YOGA. Vamos inicialmente
discutir o próprio significado da palavra “YOGA” e os diferentes tipos de YOGA.
No YOGA-SÚTRA, a palavra “YOGA” e seus derivados aparecem em poucos
lugares. Logo no início do texto, vemos:
Este trecho fornece, até certo ponto, uma definição de YOGA, segundo PATAÑ
JALI. Ele afirma claramente que o YOGA está associado à mente e não ao corpo; e que
leva a uma mudança de ponto de vista do “Observador”. Este “Observador” é a
consciência, a parte do ser humano que percebe ou contempla as sensações, as idéias, os
sentimentos, etc. O texto afirma que, quando as atividades mentais estão sob controle, o
“Observador” deixa de se identificar com as atividades mentais e percebe sua própria
natureza. Poderíamos dizer portanto que YOGA é uma prática de controle mental que
leva a consciência a contemplar a si própria, quebrando sua identificação com os
pensamentos, as sensações, etc.
Essa mesma idéia aparece em um trecho posterior do texto:
11
Cada frase do YOGA-SÚTRA é numerada, da seguinte forma: o algarismo romano indica a parte
(PÓDA) e o número arábico depois do ponto indica a frase ou aforismo (SÚTRA).
“Significado e bases do RÓJA-YOGA” 13
Uma descrição mais detalhada dos tipos de YOGA, que permite identificar com
clareza a natureza do RÓJA-YOGA, encontra-se na YOGATATTVA-UPAÔI›AD:
YTU 18 Vou agora expor o YOGA. Embora único, ele é, de fato, múltiplo,
quanto às formas de praticar.
19 As formas do YOGA são MANTRA-YOGA, LAYA-YOGA, HAÈHA-
YOGA e RÓJA-YOGA, que podem ser assim descritos:
20 O MANTRA-YOGA consiste em repetir incessantemente durante 12 anos as
fórmulas (MANTRAN) e os sons primordiais.
21 Adquire-se assim progressivamente os conhecimentos e os poderes tais como
o de tornar-se tão pequeno quanto um átomo (AÔU).
22 Um tal YOGA, portanto, só se aplica ao yogue pouco dotado
intelectualmente.
23 O LAYA-YOGA, embora descrito de forma diferente, consiste apenas em
destruir a atividade mental...
YTU 129 Quando o yogue venceu todas essas etapas, sem exceção, pode dizer
que dominou completamente o RÓJA-YOGA.
130 Ele está enfim livre de suas paixões e sabe discriminar o espectador
(“observador”) do espetáculo...
K›U 1 Eis aqui a navalha (K›URIKÓ) que é a fixação da mente, praticada para
realizar o YOGA (união). O yogue que o atingir certamente não renascerá
novamente.
2 Essa é a razão de ser e o fim de todos os escritos vêdicos, como disse o próprio
Senhor auto-existente (SVAYA»BHU).
K›U 21 Tendo dominado sua mente graças ao ardor do seu YOGA, tendo
rejeitado toda atração, conhecendo a fundo o YOGA, o praticante obtém o
isolamento (KAIVALYA) e se torna livre de desejos.
22 Como um pássaro, prisioneiro de uma rede, voaria para o céu após haver
cortado os cordões, o espírito do yogue, liberto dos cordões do desejo pela
navalha do YOGA, escapa para sempre da prisão do SA»SÓRA...
25 Livre de todo desejo, ele se torna imortal. Livre das atrações, tendo cortado a
rede do mundo, ele não está mais preso à transmigração.
“Significado e bases do RÓJA-YOGA” 16
...
18 Então NACIKETAS, tendo adquirido esse conhecimento declarado por
YAMA e todo o domínio do YOGA, tornou-se livre das paixões e da morte.
MU VI.34 ... Assim como o fogo se extingue sem combustível, da mesma forma
a mente se extingue pela cessação das atividades (VÙTTI). Mesmo em uma
mente que busca a realidade e que se acalmou, surgem falsas idéias, pela ilusão
dos sentidos, devidas ao KARMA renascente. O pensamento, de fato, é o
processo de renascimento (SA»SÓRA). Ele deve ser purificado pelo esforço.
Tornamo-nos aquilo que pensamos, pelo poder do pensamento. Este é o segredo
eterno.
... A mente tem dois estados, pura e impura. É pura quando livre de desejos e
impura pelo contacto com o desejo.
... A mente deve ser controlada dentro do coração, até atingir seu fim, que é a
sabedoria, que é a libertação; todo o restante é apenas uma continuação dos nós
que nos prendem a esta vida.
CAPÍTULO 4
YS I.15 A ausência de paixão é estar livre do desejo por qualquer objeto, visto
ou ouvido.
16 Ela é mais elevada quando se atinge a indiferença em relação aos poderes
(GUÔA) através do conhecimento do ser humano (PURU›A).
Aqui surgem dois novos conceitos que ainda não foram esclarecidos: GUÔA e
PURU›A. Mas o sentido geral é claro: conhecendo-se a verdadeira natureza da própria
pessoa, ela se liberta do desejo.
Outros trechos dos YOGA-SÚTRA mostram que a confusão entre o verdadeiro
eu (a consciência, o “observador”) e aquilo que ele vê ou com o próprio poder da visão
(os sentidos e as sensações) é o que precisa ser rompido:
YS IV-5 A mente [do yogue] dirige muitas outras em suas várias ações.
6 A mente obtida pela meditação (DHYANA) não produz impressões latentes.
Ou seja: o yogue não planeja racionalmente suas ações. Ele age, baseado naquilo
que percebe por sua meditação, porém sem desejo nem intenção – o que faz com que ele
não acumule resíduos ou impressões latentes (SA»SKÓRA, VÓSANÓ).
As “impressões latentes” são os efeitos do KARMA que, por sua vez, produzem
os frutos das ações. Os frutos das ações “brancas” são agradáveis e os das ações
“negras” são desagradáveis. Essas impressões latentes não se apagam com o tempo, nem
com a morte e o renascimento. Não é possível fugir delas indo para outro lugar ou para
outra vida. Vamos recordar um texto dos YOGA-SÚTRA que já foi citado:
YS II.12 Deve-se saber que a raiz do KARMA (das ações) são as perturbações
(KLE›A) e ele produz nascimentos visíveis e invisíveis.
13 Ele (o KARMA) resulta em alegria ou dor, conforme causado por virtude ou
vício.
YS II.17 A união (fusão) do observador com aquilo que ele vê é a causa daquilo
que deve ser evitado.
18 Aquilo que pode ser visto (sentido) possui a natureza de SATTVA (luz),
RAJAS (atividade) ou TAMAS (inércia) e existe nos seres e nos órgãos, para
experiência e libertação do ÓTMAN.
19 Esses GUÔA se apresentam determinados e não-determinados, possuidores
de característica ou sem característica.
YS II.20 O observador, que é apenas aquele que conhece, embora puro, é tingido
por aquilo que observa.
21 O objetivo daquilo que é observado é o benefício do eu (ÓTMAN).
22 Embora isso tenha cessado para aquele que realizou o objetivo, ele
permanece, pois é comum aos outros.23 O conhecedor e o conhecido estão
unidos para que se manifeste a natureza de cada um deles.
24 O motivo disso [dessa união] é a ignorância (AVIDYÓ).
25 Sem isso, não há fusão, e o observador atinge a independência
(KÓIVALYA).
26 O discernimento rompe a ligação e o observador se torna independente.
Ou seja: de certa forma, o observador pode ser visto como puramente passivo.
Ele apenas recebe aquilo que se passa nos órgãos, os quais são movidos pelos GUÔA.
Quando o observador (o eu, o ÓTMAN, o PURU›A) percebe que ele não é aquilo que
ele vê (o produto dos GUÔA), então há a libertação.
Vejamos outros trechos do YOGA-SÚTRA que completam essa visão.
YS I.15 A ausência de paixão é estar livre do desejo por qualquer objeto visto ou
ouvido.
16 Ela é mais elevada quando a visão do PURU›A elimina o desejo pelos
GUÔA.
YS II.15 Para aquele que tem discernimento, tudo é apenas dor, pois pela
oposição das atividades dos poderes (GUÔA) surgem sofrimentos, mudanças e
impressões residuais.
CAPÍTULO 5
Como se pode observar, é muito difícil captar a concepção que está por trás do
RÓJA-YOGA utilizando apenas o YOGA-SÚTRA. Para esclarecer as idéias básicas da
visão sobre o ser humano e sobre o mundo que são utilizadas por PATAÑJALI, é
necessário recorrer ao SÓ»KHYA. Ele irá complementar essas concepções e, como se
verá, encaixa-se muito bem com tudo o que PATAÑJALI afirma. Como já foi dito, a
diferença básica entre SÓ»KHYA e YOGA é que o primeiro é mais teórico enquanto o
segundo é mais prático. Há também vários detalhes em que eles diferem, embora a
concordância seja bastante forte.
Vamos então ver como o SÓ»KHYA descreve a estrutura do ser humano e da
natureza. Vamos utilizar o texto clássico denominado SÓ»KHYA-KÓRIKÓ, escrito
por ÁÍVARAKÙ›ÔA.
Os dois conceitos básicos do SÓ»KHYA são a natureza (PRAKÙTI) e a
essência do ser humano (PURU›A). A PRAKÙTI é considerada como um princípio
feminino ativo e PURU›A como um princípio masculino passivo (ao contrário do que
estamos acostumados a pensar, na tradição ocidental). Da Natureza se originam todos os
outros princípios ativos. PURU›A, por sua vez, é o “conhecedor” (JÑA) e não atua.
Na Natureza, há um princípio básico, inobservável (não manifesto) que é, às
vezes, chamado de PRADHÓNA. Dele se originam outros 23 princípios que constituem
o universo e as camadas externas do ser humano.
O texto do SÓ»KHYA-KÓRIKÓ começa falando sobre o problema básico a ser
resolvido, que é o mesmo já visto acima: o sofrimento.
SK 17 PURU›A existe, pois os agregados (as coisas da natureza) não são auto-
suficientes [não possuem sentido em si mesmos] e devem servir a algo inverso
aos três poderes. Assim, deve haver um sentido e um que desfrute da
experiência, havendo atividade dirigida para a libertação (KAIVALYA).
...
21 O propósito da união entre PURU›A e o pré-formado (PRADHÓNA) é levar
à visão (DARÍANA) e à libertação (KAIVALYA). Ela é comparável à união
entre um cego e um aleijado e ela produz a criação.
De certa forma, pode-se dizer que há uma parte “material” do homem que
transmigra, de acordo com o SÓ»KHYA. Apenas a matéria grosseira é deixada para
trás (aquilo que foi recebido dos pais e, depois, cresceu pela alimentação). Os órgãos
internos guardam neles as disposições, os resíduos das ações e das sensações e
pensamentos do passado, levando-os para a vida seguinte. Durante a transmigração, o
texto afirma ser impossível a experiência, ou seja, a pessoa não pode agir nem receber
informações do mundo material, pois está desligada da matéria grosseira. Assim, os
órgãos externos (as “portas”) não podem agir.
Na parte do homem que transmigra há uma estrutura (os órgãos) que é
permanente e que é igual em todos os seres humanos; e uma parte característica que vai
ser diferente não só de uma pessoa para outra como também em diferentes etapas de
vida de um mesmo indivíduo – ao longo de sua vida e ao longo das transmigrações.
SK 41 Assim como uma pintura não existe sem um suporte, nem uma sombra
existe sem uma parede ou algo semelhante, da mesma forma o corpo
característico (LI‹GAM) não subsiste sem o suporte de algo não-específico.
42 Tendo em vista a finalidade do PURU›A e graças à conexão entre causas e
efeitos, o corpo característico age como um ator, vestindo diferentes formas
(VIBHUTI) pelo poder da Natureza (PRAKÙTI).
43 As perfeições (ou poderes = SIDDHI), as disposições (BHÓVA) e outros
[resíduos] são originais, adquiridos ou gerados pela virtude (DHARMA). Estão
ligados à causa. O embrião e o restante são efeitos.
44 Pela ação da virtude (DHARMA) se produz um impulso para o alto; pela
disposição ao vício (ADHARMA), produz-se um impulso para baixo. A
sabedoria (ou conhecimento = JÑANA) liberta e seu contrário prende.
Nas transmigrações, aquilo que permanece de uma vida para outra é a causa da
nova forma de vida (da nova roupagem). O embrião é o efeito do corpo sutil
característico. O acúmulo de ações virtuosas (as que são prescritas pelos textos
sagrados) leva a uma evolução a formas cada vez mais puras; porém, a ação contrária à
virtude leva à decadência. A pessoa pode, assim, atravessar vários tipos diferentes de
vidas, para cima e para baixo, até encontrar a libertação.
Como se vê, a transmigração pode ocorrer tanto de uma vida humana para outra
como passando a uma vida animal ou vegetal (pelo vício) ou, pelo contrário, adotando
uma vida de um ser espiritual (que também nasce e morre, de acordo com a tradição
indiana). O homem está no meio (dominado por RAJAS). Por fim, depois de muitas
transmigrações, pode surgir a libertação. É interessante notar que quem é libertado é
PURU›A, mas quem produz a libertação é a própria atividade da natureza (PRAKÙTI),
que existe apenas para isso.
CAPÍTULO 6
Há uma certa variabilidade no desenho das letras indianas, como de qualquer outra
letra. No DEVANAGARI, as partes mais finas e mais grossas do traço das letras são
produzidas porque se utiliza um tipo de caneta com ponta larga e se escreve com essa
ponta em posição inclinada, de tal forma que os traços se tornam mais finos na direção \ e
mais grossos na direção /.
ÍU IV.5 Existe aquela que não nasceu (AJÓ), vermelha, branca e negra, que
produz múltiplos produtos semelhantes a ela. Junto está um não-nascido se
deliciando. Outro não-nascido a abandonou, já havendo desfrutado dela.
6 Dois pássaros, sempre unidos, estão sobre a mesma árvore. Dos dois, um come
o doce fruto. O outro olha, sem comer.
7 Na mesma árvore, um homem (PURU›A), preso, se ilude e sofre, incapaz.
Quando ele vê o outro, o Senhor (ÁÍA) que é cultuado e sua grandeza, ele se
liberta do sofrimento.
ÍU IV.11 Ele é o Uno que domina todas as fontes dos seres (YONI = útero), no
qual tudo se dissolve e se reune. Ele é o Senhor (ÁÍÓNA), aquele que concede as
bençãos, o deus (DEVA); contemplando-o, atinge-se essa paz eterna.
...
15 Ele é realmente o protetor do mundo temporal, o Senhor de tudo, oculto
dentro de todas as coisas, no qual estão unidos os DEVA e os que contemplam
BRAHMAN. Conhecendo-o, corta-se as amarras da morte.
...
17 Esse deus (DEVA), o que produz todas as ações (VIÍVA-KARMA), o grande
eu (MAHÓTMA), sempre sentado no coração das criaturas, está envolto pelo
coração, pelo pensamento, pela mente. Quem sabe isso, torna-se imortal.
ÍU IV.20 Sua aparência (RÚPA) não pode ser vista: ninguém o contempla com
os olhos. Aqueles que pela mente e pelo coração o encontram dentro do coração,
esses se tornam imortais.
AU 1 Diz-se que a mente (MANAS) humana pode ter dois aspectos: pura ou
impura. Impura, se é escrava do desejo. Pura, se está livre do desejo. Ora, é a
própria mente que é a única causa tanto da prisão quanto da libertação humana.
Quando está ligada aos bens deste mundo, conduz à prisão; mas, se rompe essas
amarras, conduz à libertação.
...
3 É apenas quando a mente, livre de toda ligação, conquista o domínio interno,
destruindo assim a si própria, que se atingirá o estado supremo.
4 Quanto mais a instabilidade tiver se instalado no coração, tanto mais longos
serão os esforços necessários para libertar a mente. Esses esforços são o
conhecimento e a meditação. Todo o resto não passa de discussões vãs e de mera
argúcia.
5 Mas isso não significa que seja necessário se recusar a pensar, assim como não
se deve dedicar-se apenas ao prazer de pensar. De fato, deve-se refletir, mas não
se prender ao pensamento, pois BRAHMAN só será reconhecido quando a
mente estiver livre de todas as concepções preconcebidas.
6 Deve-se combinar a prática do YOGA com a repetição da sílaba , embora o
silêncio possa produzir um benefício maior. Pois quando se está em silêncio, não
é a aniquilação que se busca, procura-se o ÓTMAN (o eu interno).
7 É isso, isso apenas, o BRAHMAN sem divisão, sem distinções nem atributos.
E quando o yogue conhece que ele próprio é BRAHMAN, ele se torna
BRAHMAN para sempre.
8 Sim, ele se libertou, o yogue que soube reconhecer o que é o BRAHMAN sem
distinções, sem limite, o BRAHMAN que não se pode provar, nem explicar, nem
demonstrar, o BRAHMAN sem começo nem fim.
...
22 Esse mistério, indiviso, imóvel, é o fim supremo para o qual o yogue se
dirige. Ele o atingiu quando pode dizer: “Eu sou esse BRAHMAN”.
“Significado e bases do RÓJA-YOGA” 33
CAPÍTULO 7
Note-se que essa divisão em oito membros ou braços não se refere a práticas que
tenham que ser realizadas uma depois da outra. Não é preciso dominar um desses
membros para passar ao seguinte. Por isso é inadequado falar em “etapas” ou “degraus”
do YOGA. A palavra “A‹GA” significa apenas membro, sem a conotação de uma
sucessão obrigatória. Uma pessoa pode, realmente, iniciar o seu caminho no YOGA
através de um SAMÓDHI espontâneo ou produzido pela graça do seu GURU (mestre).
Desses oito membros, os dois primeiros são de caráter ético ou moral: referem-se
ao comportamento prático da pessoa no seu dia-a-dia, em todos os instantes. Os dois
seguintes referem-se a atividades ligadas ao corpo físico: controle da atitude corporal e
da respiração. Os outros quatro utilizam os órgãos internos.
AHI»SÓ
Não ferir = AHI»SÓ – é não ferir ou não praticar violência em relação a nenhum ser,
seja por pensamentos, palavra ou ação externa. Se for praticado sempre, levará os outros
seres a não serem violentos contra o yogue, igualmente (YS II.35). Não se deve, no
entanto, pensar que o objetivo dessa abstenção seja ter segurança física; isso não é
importante, para o yogue.
SATYA
Não mentir = SATYA – é a correspondência entre os fatos, o pensamento, a palavra e a
ação. Pode ser traduzido por autenticidade. Significa não só não mentir, mas também
não ocultar a verdade, não fingir (por ações), não fugir à verdade. Não se deve, por
respeito (ou usando como desculpa) a SATYA agredir as pessoas por palavras. A
verdade deve ser dita sem violência, para o benefício dos outros seres. Quando a
autenticidade está plenamente estabelecida, há completa correspondência entre a fala e a
realidade; e aquilo que o yogue disser se transformará em realidade (YS II.36).
Novamente, é preciso notar que o objetivo de SATYA não é a obtenção desse poder.
ASTEYA
Não roubar = ASTEYA – é o controle do desejo, do pensamento e da ação de retirar
algo que pertence a outrem ou de privar alguém de algo, mesmo sem tomá-lo para si.
Quando “não roubar” está estabelecido, nada de importante falta à pessoa (YS II.37),
pois ela tem tudo o que cabe a ela.
“Significado e bases do RÓJA-YOGA” 36
BRAHMACARYA
Não ser sensual = BRAHMACARYA – este termo representa uma fase da vida dos
homens, no período vêdico, na qual a pessoa se tornava um estudante religioso e devia
restringir todo tipo de sensualidade – não só a sexualidade mas também sendo proibido
de utilizar perfumes e enfeites, de comer mel, carne, usar temperos, dormir em leitos
macios, de buscar diversões, de falar sem necessidade, etc. Posteriormente, o termo
“BRAHMACARYA” passou a refletir principalmente o aspecto de continência sexual,
mas é muito mais amplo. Descreve a idéia de uma vida simples e rigorosa, dormindo
pouco, alimentando-se apenas do necessário, sem beber bebidas alcoólicas ou sucos de
frutas, etc. Quando BRAHMACARYA se estabelece, o yogue atinge poderes (YS II.38).
Esses poderes não são, como alguns autores indicam, um “aumento de virilidade” (para
que o yogue usaria isso?) e sim força, resistência e, às vezes, alguns poderes
supranormais (de acordo com o comentário de VYÓSA).
APARIGRAHA
Não cobiçar = APARIGRAHA – significa, além de não procurar obter mais do que se
precisa, também recusar presentes e favores de outras pessoas (de acordo com o
comentário de BHOJA-VÙTTI). É a eliminação total da cobiça e da avareza. A sua
perfeição leva ao conhecimento das vidas passadas e futuras (YS II.39).
ÍAUCA
Purificações = ÍAUCA – são purificações internas e externas, do corpo e da mente. As
purificações do corpo incluem os rituais de banhar-se e de transferir as impurezas à água
pelo toque (um ritual védico), assim como os processos de purificação do interior do
corpo através de suas aberturas (práticas que são descritas em detalhe nos tratados de
HAÈHA-YOGA). A purificação da mente consiste em contrapor os pensamentos
negativos pelos seus opostos (YS II.33-34). Em todas essas práticas, o yogue deve se
concentrar na percepção dos aspectos sujos ou impuros, externos e internos, físicos ou
mentais, o que leva a um desgosto em relação a suas camadas mais externas. Deve
surgir um tipo de aversão pelo contato com o próprio corpo e também em relação ao
corpo dos outros (YS II.40 – ver especialmente o comentário de VYÓSA). Deve-se
também desenvolver um desgosto pela constante impureza da mente (da própria
pessoa). No entanto, isso não deve levar à falta de cuidados com o corpo. Purificar o
próprio corpo torna-se uma tarefa como lavar um doente ou um cadáver. A purificação
do corpo e a da mente levam à concentração, controle dos sentidos e contribuem para a
capacidade de contemplar o seu eu interior, o ÓTMAN (YS II.41).
SAMTO›A
Contentamento = SAMTO›A – refere-se ao estado mental de satisfação por aquilo que
existe no presente, sem reclamações (nem internas, nem externas), sem saudades do
passado, sem concentrar no futuro sua vida, atenção e energia. Quando se consegue isso,
surge a mais elevada forma de felicidade (YS II.42).
TAPAS
Ascetismo = TAPAS – as austeridades ou ascetimos, juntamente com os dois NIYAMA
seguintes, constitui o KRIYA-YOGA, ou prática purificadora (YS II.1). O ascetismo é o
“Significado e bases do RÓJA-YOGA” 37
SVÓDHYÓYA
Estudo próprio = SVÓDHYÓYA – este termo, que significa literalmente “estudo
próprio”, é o nome de uma obrigação védica que exigia que o BRÓHMANA, ants do
nascer do Sol, todos os dias, se dedicasse ao estudo dos textos sagrados e à repetição de
MANTRA. Exigia-se também o estudo e prática dos rituais descritos nos textos
sagrados, sem nenhum objetivo prático (apenas como estudo obrigatório). As preces e
os rituais eram, em parte, invocações a divindades (DEVA). O praticante escolhia
especialmente textos e cerimônias relacionados a uma divindade de sua predileção
(I›ÈA-DEVATÓ). De acordo com PATAÑJALI, o SVÓDHYÓYA bem praticado (de
forma não mecânica) leva a um contato direto com o DEVA escolhido (YS II.44).
ÁÍVARAPRAÔIDHÓNA
Devoção a ÁÍVARA = ÁÍVARAPRAÔIDHÓNA – é uma obrigação às vezes traduzida
como “devoção ao Senhor”. A palavra PRAÔIDHÓNA representa concentração,
fixação da atenção e não propriamente homenagem – que é o que se costuma entender
por devoção. Por isso, os comentadores variam muito na interpretação deste NIYAMA:
meditação sobre ÁÍVARA, ou oferecimento (DHÓNA) a ÁÍVARA de todas as ações da
pessoa, ou pensar constantemente em ÁÍVARA e procurar vê-lo em tudo, etc. De
qualquer forma, trata-se de uma atividade de tipo devocional (BHAKTI-YOGA),
meditativa ou prática (KARMA-YOGA) relacionada a ÁÍVARA. Mas como em outro
ponto dos YOGA-SÚTRA se fala que a invocação a ÁÍVARA é a sílaba sagrada OO
(PRAÔAVA) e que ele deve ser repetido refletindo-se sobre o seu significado (YS I.27-
28), pode ser que ÁÍVARAPRAÔIDHÓNA, que é essencialmente uma preparação e
purificação (KRIYA-YOGA), seja a própria repetição do OO, refletindo-se sobre seu
significado. O efeito de ÁÍVARAPRAÔIDHÓNA, segundo PATAÑJALI (YS II.45), é o
poder da perfeição do SAMÓDHI e não a visão de ÁÍVARA (como no caso anterior).
12
Por exemplo: ficar de pé, sem se mover, durante muitas horas.
“Significado e bases do RÓJA-YOGA” 38
YS II.49 Após isso [após haver adotado uma postura firme e confortável], deve-
se cortar a inspiração e a expiração pelo PRÓÔÓYÓMA.
Note-se que, nesse enumeração dos seis membros do YOGA (ao invés de oito,
como no YOGA-SÚTRA), estão excluídos YAMA, NIYAMA e ÓSANA. A falta de
menção de YAMA e NIYAMA em várias UPANI›AD parece indicar apenas que a parte
moral do YOGA era tão evidente e natural que não precisava ser colocada
explicitamente como parte especial do YOGA. No caso desta UPANI›AD, em
particular, isso é bastante claro. Ela começa se referindo à história do rei
BÙHADRATHA, o qual, colocando seu filho no trono e tendo refletido que seu corpo
era mortal, e atingindo o desprendimento das coisas do mundo, foi para a floresta
praticar ascetismo (TAPAS). Então, surge diante dele um ser iluminado que pergunta o
“Significado e bases do RÓJA-YOGA” 40
que ele quer. O rei responde que quer conhecer o ÓTMAN, sendo então instruído. Esse
início mostra que a purificação moral já havia sido atingida, em grande parte, pelo rei.
Não era necessário falar sobre isso, na UPANI›AD.
A ausência de menção de ÓSANA, na MAITRÁ-UPANI›AD, tem outro motivo:
de forma geral, as UPANI›AD dão tão pouca importância a ÓSANA quanto o próprio
YOGA-SÚTRA. Por exemplo, em uma das UPANI›AD clássicas, a
ÍVETÓÍVATARA (da qual já falamos), encontra-se a seguinte descrição:
ÍU II.8 Mantendo o corpo parado com as três partes [peito, pescoço, cabeça]
eretos, fazendo entrar no coração os sentidos e a mente, o sábio deve atravessar
no barco de BRAHMAN todas as correntezas atemorizantes.
9 Reprimindo o alento (PRÓÔA), tendo controlado todos os movimentos, que
ele respire levemente pelas narinas. O sábio deve restringir sua mente de modo
vigilante, como se fosse uma carruagem atada (YUKTA) a cavalos rebeldes.
10 Em um local limpo e plano, livre de pedras, fogo e buracos, favorável ao
pensamento pelo som da água e outros aspectos, sem nada ofensivo à visão, em
um local oculto protegido do vento, ele deve praticar YOGA.
Como se vê por essa citação, fala-se apenas em manter o corpo parado e ereto,
tendo controlado os movimentos. ÓSANA e PRÓÔÓYÓMA são vistos simplesmente
como auxiliares dos membros mais internos; e o controle da respiração serve para
controlar a mente.
Muitas UPANI›AD e textos de HAÈHA-YOGA descrevem como deve ser o
local para a prática do YOGA e também a alimentação adequada para uma prática
intensa (destinada à libertação); mas nenhum desses textos considera a preparação do
local e o controle da alimentação como membros do YOGA. São simples condições
auxiliares. Tal parece também ser a visão de ÓSANA, em vários textos.
Vamos citar uma UPANI›AD do YOGA, posterior a PATAÑJALI, que também
não fala em 8 membros do YOGA, concordando bastante com a MAITRÁ-UPANI›AD.
É a AMÙTA-NÓDA-UPANI›AD.
HYP II.2 Quando o PRÓÔA está agitado, a mente se agita. Quando o PRÓÔA
está imóvel, a mente se imobiliza e o yogue atinge a estabilidade. É por isso que
se deve paralizar a respiração.
...
71 O PRÓÔÓYÓMA se divide em três partes: RECAKA (expiração), PÚRAKA
(inspiração) e KUMBHAKA (retenção). Considera-se que há dois tipos de
retenção: acompanhada (SAHITA) ou isolada (KEVALA).
72 Deve-se praticar a retenção acompanhada até se obter sucesso na retenção
isolada, que é a retenção fácil do PRÓÔA, sem inspiração nem expiração.
“Significado e bases do RÓJA-YOGA” 42
CAPÍTULO 8
YTU 68 Quanto ao quinto membro do YOGA, que consiste em uma retração dos
órgãos de sensação e de ação, com a finalidade de abolir todos os desejos, o
adepto do HAÈHA-YOGA o realiza quando pratica o controle da respiração.
GHS IV.1 GHERANDA disse: Agora eu lhe direi o melhor modo de controle
dos sentidos (PRATYÓHÓRA), cujo conhecimento ajuda a superar todas as
paixões como o desejo e os outros.
2 Quando a mente (CITTA) vaguear pelos objetos de visão, retire-a e controle-a.
3 Censura ou elogio, palavras doces ou amargas – retire o pensamento de tudo
isso e mantenha a mente controlada.
4 Odores agradáveis ou desagradáveis, se a mente for atraída por eles, retire
deles o pensamento e mantenha a mente controlada.
“Significado e bases do RÓJA-YOGA” 44
5 Sabores doces, ácidos ou amargos, se a mente for atraída por eles, retire deles o
pensamento e mantenha a mente controlada.
6 Um yogue que se dedica sistematicamente a PRATYÓHÓRA controla todos
os seus sentidos de visão, audição, etc., e os obriga a seguirem a mente.
7 Pelo domínio completo dos sentidos ativos, o yogue controla e não é
controlado por esses sentidos.
GHS IV.10 Assente-se sobre uma superfície plana, com as pernas unidas sob as
coxas e com os pés envolvendo os órgãos genitais.
11 Erga levemente a face e, sem deixar os dois conjuntos de dentes se tocarem,
fixe o olhar na ponta do nariz, não observando nada em volta.
12 Então, domine TAMAS na mente, através de RAJAS; e depois domine
[RAJAS] com SATTVA.
13 Assim, coberta de brancura e tornada indiferente, separando os sentidos de
seus objetos, a mente se unirá ao PRÓÔA.
14 Aquele que assim recolhe todos os seus desejos pelo PRATYÓHÓRA, como
a tartaruga recolhe seus membros dentro de sua casca,
15 torna-se equilibrado, vê o seu ÓTMAN interno, tendo se tornado puro interna
e externamente pelo PRATYÓHÓRA.
16 Assim, não necessitando mais de outras práticas de YOGA, ele se torna seu
próprio ÓTMAN imortal.
Esses três membros estão intimamente relacionados entre si. Devem ser
exercitados juntos, já que se pode dizer que a concentração, quando dominada e
prolongada, leva a DHYÓNA; e a meditação, quando controlada, prolongada e dirigida,
leva ao SAMÓDHI. No entanto, pode ocorrer que a pessoa entre em DHYÓNA sem
haver se esforçado para obter concentração, ou até que ela entre diretamente em
SAMÓDHI.
A mente, em seu estado normal, passa de uma sensação para outra ou de um
pensamento para outro com grande rapidez. Ela é instável, sem controle. A concentração
(DHÓRANA) consiste em parar a mente em um estado determinado (um objeto externo,
ou uma idéia, ou algo determinado), sem deixar que a mente se distraia ou se desvie. É
diferente de pensar sobre uma só coisa, pois o pensamento é um processo contínuo de
sucessão de idéias diferentes.
Exemplos simples de concentração são os de trazer à mente uma imagem (um
rosto, uma figura, uma cor, etc.) e mantê-la na mente, sem se deixar desviar e distrair,
durante um longo tempo. Se, no entanto, ao mesmo tempo em que a pessoa mantem
algo “mecanicamente” na mente, ela está pensando sobre isso ou sobre outra coisa, a
concentração está sendo falha. A mesma coisa ocorre se alguem repete mecanicamente
um MANTRA mas deixa sua mente livre. É preciso trazer o pensamento continuamente
de volta ao objeto de concentração.
Os comentadores do YOGA-SÚTRA afirmam que a concentração pode ter por
objeto tanto coisas externas à pessoa, quanto coisas internas de vários níveis (sensações
físicas, sensações associadas ao PRÓÔA, às NÓflÁ, aos CAKRA, ao NÓDA;
lembranças, imagens mentais ou mesmo pensamentos abstratos).
Quando a concentração (DHÓRANA) leva a um fluxo ininterrupto de
estabilidade da mente sobre o mesmo ponto, chega-se a DHYÓNA. Já não é necessário
ficar controlando a mente, pois ela está totalmente envolvida e estabilizada por seu
objeto. Esse estado não tem semelhança com a atividade racional de pensar sobre um
objeto: isso seria apenas TARKA – reflexão.
Durante a meditação, ainda há a sensação de se estar fazendo alguma coisa, de
modo ativo; e há uma diferença entre o ego (AHÓ‹KARA) e aquilo que é objeto da
meditação. Ainda há atividade mental, embora surjam pequenos e rápidos vislumbres
simbólicos e intuitivos que indicam que o funcionamento da razão está sendo
ultrapassado. Por exemplo: está sendo feita uma meditação sobre uma figura de uma
divindade e, de repente, vê-se que a figura sorri ou pisca um olho. Esses são sinais
positivos de que a meditação está se aprofundando, porém podem levar a pessoa a
pensar sobre o que ocorreu, e isso destrói a meditação. No entanto, se a pessoa souber
“Significado e bases do RÓJA-YOGA” 46
manter a meditação e aceitar esses vislumbres como positivos, eles podem se abrir como
portas, ampliando-se; então, pode-se chegar aos vários tipos de SAMÓDHI.
Os SAMÓDHI que resultam de DHYÓNA surgem quando o objeto passa a ser
percebido diretamente, em sua realidade, sem a intervenção da reflexão mental. O
conhecedor se funde e penetra naquilo que está sendo conhecido. Por causa dessa fusão,
pode-se chamar o SAMÓDHI de “união”. Surge, então, um tipo de conhecimento
especial, ou sabedoria (PRAJÑA) que é diferente do conhecimento obtido pelos
sentidos, ou pelo ensino, pela leitura ou pela reflexão. Diante da sabedoria que pode ser
obtida assim, os livros se tornam desnecessários.
Podem também ser obtidos muitos poderes extraordinários através da aplicação
do “controle” (SA»YAMA) sobre diferentes objetos, idéias, etc. A terceira parte do
YOGA-SÚTRA está repleta de exemplos. Além disso, há diferentes tipos ou níveis de
SAMÓDHI. Eles são explicados na primeira parte do livro de PATAÑJALI.
Pelo objetivo central do RÓJA-YOGA, o tipo mais importante de SAMÓDHI é
o que leva ao conhecimento de PURU›A (ÓTMAN-BRAHMAN) e a diferenciá-lo da
Natureza e de seus produtos. É, também, o mais difícil de se obter. Em vários níveis de
SAMÓDHI, restam conteúdos psíquicos conhecidos: conceitos, formas, luzes, emoções,
etc. Mas, ao se chegar ao centro do ÓTMAN, tudo é diferente. Nossa linguagem foi feita
para descrever aquilo que é observável por todos nós. Não é adequada para descrever o
ÓTMAN. O yogue pode ser conduzido até perto desse SAMÓDHI com o auxílio de
imagens ou por um MANTRA (como o OO); mas mesmo isso deve ser abandonado no
passo final.
Uma UPANI›AD do YOGA (AMÙTABINDU) afirma:
MU VI.38 ... Tendo vencido a confusão, ele não aceita a violência. Meditando
sobre o desejo, ele atravessa as quatro camadas de BRAHMÓ. Então ele atinge o
espaço mais elevado. Tendo atravessado as esferas do Sol, da Lua, do fogo e de
SATTVA, ele, então, estando purificado, vê a consciência que reside em
SATTVA, imóvel, imortal, indestrutível... onisciente, livre, que se sustenta em
sua própria grandeza. Sobre isso, está escrito: “No meio do Sol está a Lua; no
meio da Lua está o fogo; no meio do fogo está SATTVA; e no meio de
SATTVA está o indestrutível”. Tendo meditado sobre aquele que é do tamanho
de um polegar dentro do coração, que é menor do que a menor coisa, atinge-se a
condição suprema.
NS 1 .
Não sou a mente, nem o pensamento, nem a memória, nem o ego,
nem os ouvidos, nem a língua, nem os sentidos da visão e olfato.
Nem éter, nem ar, nem fogo, água ou terra.
Eu sou consciência e unidade eterna. (CIDÓNANDARÚPA)
Eu sou ÍIVA ! Eu sou ÍIVA ! (ÍIVOHAM)
Obras Citadas
1 AGGARWAL, Hans Raj. A short history of sanskrit literature. 2. ed. Delhi: Munshi
Ram Manohar Lal, 1963.
2 ÓRAÔYA, SVÓMI HARIHARÓNANDA. YOGA philosophy of PATAÑJALI.
Calcutta: University of Calcutta, 1977.
3 DEUSSEN, Paul. The philosophy of the UPANI›ADs. New York: Dover,1966.
4 ELIADE, Mircea. Le yoga, immortalité et liberté. Paris, Payot, 1975.
5 GHERAÔflA-SA»HITÓ. Delhi: Oriental Books, 1980.
6 GHOSH, Shyam. The original yoga. Delhi: Munshiram Manoharlal,1980.
7 ÁÍVARAKÙ›NA. Les strophes de SÓ‹KHYA (SÓ‹KHIA-KÓRIKÓ) avec le
commentaire de GAUflAPÓDA. Paris: Belles Lettres, 1964.
8 MACDONELL, Arthur A. A history of Sanskrit literature. Delhi: Motilal
Banarsidass, 1971.
9 MONIER-WILLIAMS, Monier. A Sanskrit-English dictionary. Oxford: Clarendon
Press, 1979.
10 RADHAKRISHAN, S. The principal upanisads. London: Allen & Unwin,1953.
11 ÍA‹KARÓCÓRYA. ÓTMABODHAfi. Madras: Sri Ramakrishna Math, 1987.
12 ÍIVA-SA»HITÓ. Delhi: Oriental Books, 1979.
13 SVÓTMÓRÓMA. HAÈHAYOGAPRADÁPIKÓ. Madras: Adyar, 1972.
14 SVÓTMÓRÓMA. HAÈHAYOGAPRADÁPIKÓ. Paris: Fayard, 1974.
15 VARENNE, Jean. Le yoga et la tradition hindoue. Paris, Culture, Art, Loisirs, 1973.
16 VARENNE, Jean. Upanishads du yoga. Paris: Gallimard, 1971.
17 WOODS, James Haughton. The yoga system of PATAÑJALI. Delhi: Motilal
Banarsidass, 1977.
18 WOODS, James Haughton. The YOGA-SÚTRAs of PATAÑJALI as illustrated by
the comment entitled “The jewel’s lustre” or MAÔIPRABHA. Journal of the
American Oriental Society 34: 1-114, 1914.
“Significado e bases do RÓJA-YOGA” 50
APÊNDICE 1
PATAÑJALI
YOGA-SÚTRA
[O FIO DA CONJUNÇÃO]
I – A UNIÃO
PRATAMAfi SAMÓDHI-PÓDAfi
1. Agora, a instrução da conjunção [YOGA].
ATHA YOGA-ANUÍÓSANAM
8. O engano é uma concepção falsa que se estabelece contrariamente à natureza [do seu
objeto].
VIPARYAYO MITHYÓ-JÑÓNAM ATADRÚPA-PRATI›ÈHAM
ANUBHÚTA-VI›AYA-ASAMPRAMO›Afi SMÙTIfi
12. A restrição [NIRODHA] delas vem pelo esforço [ABHYÓSA] e pela ausência de
paixão [VAIRÓGYAM].
ABHYÓSA-VAIRÓGYÓBHYÓ» TAN-NIRODHAfi
16. Seu nível mais elevado é quando a visão da Pessoa [PURU›A] elimina o desejo dos
poderes [GUÔA].
TAT PARA» PURU›A-KHYÓTER GUÔA-VÓITÙ›ÔYAM
18. No outro caso, ocorrem apenas os resíduos do passado [SA»SKÓRA]; surge pelo
esforço de interrupção.
VIRÓMA-PRATYAYA-ABHYÓSA-PÚRVAfi SA»SKÓRA-ÍE›O'NYAfi
19. Isso é atingido pelos sem corpo [VIDEHA] ou que se dissolveram na natureza
[PRAKÙTI-LAY A].
BHAVA-PRATYAYO VIDEHA-PRAKÙTI-LAYÓNÓM
20. Isso também é obtido pela fé, pela força, pela recordação [ou tradição], pela União
[SAMÓDHI] e pela sabedoria [PRAJÑÓ].
ÍRADDHÓ-VIRYÓ-SMÙTI-SAMÓDHI-PRAJÑA-PÚRVAKA ITARE›ÓM
22. Seu tipo é determinado por ele [o impulso] ser fraco, médio ou forte.
MÙDHU-MADHYA-ADHIMÓTRATVÓT TATO'PI VIÍE›Afi
24. ÁÍVÓRA é uma Pessoa [PURU›A] individual que não é atingido pelas fontes de
perturbação [KLEÍA], pelas ações [KARMA] e suas conseqüências e pelos depósitos
[ÓÍAYA].
KLEÍA-KARMA-VIPÓKA-ÓÍAYÓIfi APARÓMÙ›TAfi PURU›A-VIÍE›A
ÁÍVARAfi
26. Foi também o mestre [GURU] dos antigos, pois o tempo não o limita.
SA PÚRVE›ÓM API GURUfi KÓLENA-ANAVACCHEDÓT
31. São acompanhados por sofrimento, nervosismo, tremor dos membros, irregularidade
da inspiração e da expiração.
DUfiKHA-DÓURMANASYA ANGA MEJAYATVA ÍVÓSA-PRAÍVÓSA
VIK›EPA- SAHABHUVAfi
33. A mente [CITTA] se estabiliza pela disposição a ser amigo dos alegres, piedoso para
com os sofredores, alegre com os virtuosos [PUNYA] e indiferente em relação aos maus
[APUNYA].
MÓITRÁ-KARUNÓ-MUDITÓ-UPEK›ÓNÓM SUKHA-DUfiKHA-PUNYA-
APUNYA VI›AYÓNÓM BHÓVANÓTÓÍ CITTA-PRASÓDANAM
40. Assim ele domina desde a menor partícula até o maior princípio.
PARAMÓNU-PARAMA-MAHATTVA-ANTAfi ASYA VAÍÁKÓRAH
45. Quando o sutil é ultrapassado, atinge-se aquilo que não tem sinais distintivos [A-
LÁ‹GA].
SÚK›MA-VI›AYATVAM CA ALÁ‹GA-PARYAVASÓNAM
51. Quando mesmo isso foi restringido, resulta a restrição total [SARVA-NIRODHA], e
a União sem semente [NÁRBÁJA SAMÓDHI].
TASYA-API NIRODHE SARVA-NIRODHÓN NÁRBÁJAfi SAMÓDHIfi
II – A PROCURA
DVITÁYAfi SÓDHANA-PÓDAfi
1. O YOGA ativo [KRIYÓ-YOGA] inclui o ascetismo [TAPAS], o estudo próprio
[SVADHYÓYA] e a introjeção de ÁÍVARA [ÁÍVARA-PRANIDHÓNA].
TAPAfi-SVADHYÓYA-ÁÍVARA-PRANIDHÓNÓNI KRIYÓ-YOGAfi
4. A ignorância é o campo de onde brotam todas as outras, sejam elas latentes ou vivas,
bloqueadas ou vigorosas.
AVIDYÓ K›ETRAM UTTARE›A» PRASUPTA-TANU-VICCHINA-UDÓRÓÔÓM
9. O apego [ABHINIVEÍA] se baseia no desejo de viver, que flui por si mesmo e que
está enraizado mesmo nas pessoas instruídas.
SVARASAVÓHÁ VIDU›O'PI TATHÓ RÚDHO'BHINIVEÍAfi
10. Quando sutis [SÚK›MÓ], [as perturbações] podem ser superadas pelo movimento
oposto [PRATIPRASAVA].
TE PRATIPRASAVA-HEYÓfi SÚK›MÓfi
13. Enquanto existir essa raiz, haverá desfrute de nascimentos, vidas, experiências.
SATI MÚLE TAD VIPÓKO JÓTY-ÓYUR-BHOGÓfi
14. Isso resulta em alegria ou dor, conforme causado por virtude [PUÔYA] ou demérito
[APUÔYA].
TE HLÓDA-PARITÓPA PHALÓH PUÔYA-APUÔYA-HETUTVÓT
15. Para aquele que distingue, tudo é apenas sofrimento [DUfiKHAM EVA
SARVA»], pois as transformações dos GUÔAs produzem sofrimentos, resíduos e
mudanças.
PARIÔÓMA-TÓPA-SA»SKÓRA-DUfiKHAIH GUÔA-VÙTTI-VIRODHÓC CA
DUfiKHAM EVA SARVA» VIVEKINAfi
17. A causa do que deve ser evitado é a fusão [SA»YOGA] entre o observador
[DRA›ÈÙ] e a visão [DÙÍYA].
DRA›ÈÙ-DÙÍYAYOfi SA»YOGO HEYA-HETUfi
18. A visão [DRA›ÈÙ] existe para ter vivência da luz [PRAKÓÍA], da atividade
[KRIYÓ], da inércia [STHITI], dos objetos, dos órgãos, do Eu [ÓTMÓ].
PRAKÓÍA-KRIYÓ-STHITI-ÍÁLAM BHÚTA-INDRIYA-ÓTMAKA BHOGA-
APAVARGA ARTHA» DÙÍYAM
20. Embora puro, o observador é tingido por aquilo que ele observa.
DRA›ÈA DÙÍIMÓTRAfi ÍUDHO'PI PRATYAYA-ANUPAÍYAfi
22. Embora isso tenha cessado para aquele que atingiu a meta, não desaparece, pois é
comum aos outros.
KÙTA-ARTHA» PRATI NA›ÈAM APY-ANA›ÈA» TAD-ANYA-
SÓDHÓRAÔATVÓT
23. Ele próprio e o seu poder estão fundidos [SA»YOGA] para que se manifeste a
natureza própria de cada um.
SVA-SVÓMI-ÍAKTYOfi SVARÚPA-UPALABDHI-HETUfi-SA»YOGAfi
28. Pela prática dos membros do YOGA [YOGÓNGA] elimina-se a impureza e obtém-
se o brilho do conhecimento discriminativo.
YOGA-ÓNGA ANU›ÈHÓNÓD AÍUDDHI-K›AYA JÑÓNA-DÁPTIR ÓVIVEKA-
KHYÓTEfi
30. As abstenções [YAMA] são: não ferir [AHI»SÓ], ser verdadeiro [SATYA], não
roubar [ASTEYA], não ser sensual [BRAHMACARYA], só ter o necessário
[APARIGRAHA].
AHI»SÓ-SATYA-ASTEYA-BRAHMACARYA-APARIGRAHÓ YAMÓfi
31. Este é o grande voto [MAHÓVRATA], que se aplica a todos os seres, sem
distinções de nascimento, lugar, tempo ou circunstâncias.
ETE JATI-DEÍA-KÓLA-SAMAYA-ANAVACCHINNÓfi SÓRVA-BHAUMÓ
MAHÓVRATAM
34. Considerar uma violência [HI»SÓ], seja ela realizada, estimulada, concebida ou
aprovada, seja proveniente da cobiça, cólera ou desejo, seja ela fraca, média ou forte,
leva a sofrimento, ignorância e traz erros sem fim. Isso é refletir sobre os opostos.
VITARKA HI»SÓDAYAfi KÙTA-KÓRITA-ANUMODITÓfi LOBHA-KRODHA-
MOHA- PÚRVAKÓfi MÙDU-MADHYA-ADHIMÓTRA DUfiKHA-AJÑÓNA-
ANANTA-PHALÓfi ITI PRATIPAK›A-BHÓVANAM
35. Aquele que se estabeleceu na não-violência afasta toda a animosidade por sua
presença.
AHI»SÓ-PRATÁ›ÈHÓYAM TAT-SA»NIDHÓU VAIRA-TYÓGAfi
40. Pela pureza vem a proteção de seus próprios membros e o afastamento dos outros.
ÍÓUCÓT SVA-ÓNGA-JUGUPSÓ PARÓIR ASA»SARGAfi
41. Por esta prática obtém-se também a pureza de SATTVA, contentamento da mente,
atenção concentrada, domínio dos órgãos e a faculdade de observar o Eu [ÓTMA-
DARÍANA].
SATTVA-ÍUDDHI-SÓUMANASYA-EKÓGRYA-INDRIYA-JAYA-ÓTMA-
DARÍANA YOGYATVÓNI CA
47. Pela renúncia a todo esforço e pelo encontro [SAMÓPATTI] com o infinito
[ANANTA].
PRAYATNA-ÍAITHILYA ANANTA-SAMÓPATTIBHYÓM
III – AS MANIFESTAÇÕES
TÙTÁYAfi VIBHÚTI-PÓDAfi
1. A concentração [DHÓRAÔA] é prender a consciência [CITTA] em um lugar.
DEÍA-BANDHAÍ-CITTASYA DHÓRAÔÓ
21. Praticando o domínio [SA»YAMA] sobre a forma do corpo, separa-se a luz dos
olhos, e há suspensão de sua visibilidade para os outros.
KÓYA-RÚPA-SA»YAMÓT TAD-GRÓHYA-ÍAKTI-STAMBHE CAK›Ufi-
PRAKÓÍA- ASA»PRAYOGE ANTARDHÓNAM
BALE›U HASTI-BALA-ÓDÁNI
37. Disso vêm uma inteligência, uma audição, um tato, uma visão, um olfato e um
paladar superiores.
TATAfi PRÓTIBHA-ÍRÓVAÔA VEDANÓ-ÓDARÍA-ÓSVÓDA-VÓRTÓ
JÓYANTE
38. Esses poderes [SIDDHI] são prejudiciais à União [SAMÓDHI] em uma pessoa
difusa.
TE SAMÓDHÓV UPASARGÓfi VYUTTHÓNE SIDDHAYAfi
40. Pelo alento ascendente [UDÓNA] vem a libertação do contato com a água, da lama,
dos espinhos e outros, e também o poder de levitação.
UDÓNA-JAYÓT JALA-PA‹KA-KAÔÈAKA-ÓDI›U ASA‹GA UTKRÓNTIÍ CA
44. A atividade [VÙTTI] externa sem pensamento é a grande saída do corpo [MAHÓ-
VIDEHÓ]. Por ela, afasta-se aquilo que recobre a luz.
BAHIR-AKALPITÓ VÙTTIfi MAHÓ-VIDEHÓ TATTAfi PRAKÓÍA-ÓVARAÔA-
K›AYAfi
46. Daí vem o poder de adquirir qualquer forma, grande ou pequena, e uma estrutura
indestrutível.
TATO'ÔIMÓDI PRÓDUR-BHÓVAfi KÓYA-SA»PAT TAD DHARMA-
ANABHIGHÓTAÍ CA
48. O controle dos órgãos vem pelo domínio [SA»YAMA] sobre suas funções, suas
características, sua individualidade, suas conexões e finalidades.
GRAHAÔA-SVARUPA-ASMITÓ-ANVAYA-ARTHAVATTVA SA»YAMÓT
INDRIYA- JAYAfi
49. Daí vêm a rapidez da mente, a faculdade de sentir sem órgãos, e o controle das
substâncias.
TATO MANO-JAVITVAM VIKARAÔA-BHÓVAfi PRADHÓNA-JAYAÍ CA
“Significado e bases do RÓJA-YOGA” 64
50. Aquele que captou a diferença entre SATTVA e PURU›A, possui poder sobre
todos os campos de existência, e um conhecimento de tudo.
SATTVA-PURU›A ANYATÓ-KHYÓTI-MÓTRASYA SARVA-BHÓVA-AflHI-
›ÈHÓTÙTVAM SARVA-JÑATÙTVA» CA
52. Se surgir um convite de seres espirituais, evite o orgulhe e o apego, pois isso é uma
conexão com o indesejável.
STHÓNI-UPANIMANTRAÔE SA‹GA-SMAYA-AKARAÔAM PUNAR ANI›ÈA-
PRASA‹GÓT
54. Daí provém a capacidade de distinguir entre duas coisas semelhantes, que não
oferecem diferença de categoria, posição e características.
JÓTI-LAK›AÔA-DEÍAIR ANYATÓ-ANAVACCHEDÓT TULYAYOS TATAfi
PRATI- PATTIfi
IV – A LIBERTAÇÃO
CATURTHAfi KAIVALYA-PÓDAfi
1. As perfeições [SIDDHI] são obtidas pelo nascimento, por plantas [O›ADHI], por
MANTRA, pelo ascetismo [TAPAS] e pelo SAMÓDHI.
JANMA-O›ADHI-MANTRA-TAPAfi-SAMÓDHI-JÓfi SIDDHAYAfi
3. A causa instrumental [NIMITTA] não dirige a natureza, mas dela provém a seleção
de possibilidades, como faz o cultivador no campo.
NIMITTAM APRAYOJAKAM PRAKÙTÁNÓ» VARAÔA-BHEDAS TU TATAfi
K›ETRIKA-VAT
11. Eles desaparecem quando se eliminam as relações entre causa e efeito, substância e
fenômeno.
HETU-PHALA-ÓÍRAYA-ÓLAMBANAIfi SA»GÙHÁTATVÓT E›ÓM ABHÓVE
TADÓBHÓ- VAfi
12. O passado e o futuro existem em suas formas próprias, pela distinção entre os
caminhos dos deveres [DHARMA].
“Significado e bases do RÓJA-YOGA” 66
15. Embora o objeto seja único, diferentes mentes o percebem de modos diversos.
VASTU-SÓMYE CITTA-BHEDÓT TAYOR VIBHAKTAfi PANTHÓfi
16. Se um objeto dependesse apenas de uma mente e não fosse conhecido por ela, como
ele poderia existir?
NA CA EKA-CITTA-TANTRA» VASTU TAD APRAMÓÔAKAM TADÓ KIM
SYÓT
17. Um objeto pode ser conhecido ou desconhecido pela mente [CITTA], dependendo
de ser colorida por ele.
TAD-UPARÓGA-APEK›ATVÓT CITTASYA VASTU JÑÓTA-AJÑÓTAM
19. Ela não brilha por si mesma, porque tem a natureza do que é visto.
NA TAT SVA-ÓBHÓSA» DÙÍYATVÓT
23. A mente [CITTA] reflete aquele que vê e aquilo que é visto, e atinge tudo.
DRA›ÈÙ-DÙÍYOfi UPARAKTA» CITTAM SARVÓRTHAM
24. Embora a mente [CITTA] tenha inúmeras tendências [VÓSANÓ], ela existe para o
proveito de um outro ao qual está unida.
TAD ASA»KHYEYA-VÓSANÓBHIÍ CITTAM API PARÓRTHAM SA»HATYA-
KÓRITVÓT
“Significado e bases do RÓJA-YOGA” 67
27. Nos seus intervalos, ainda aparecem outros conteúdos, devido aos resíduos
[SA»SKÓRA].
TAC-CHIDRE›U PRATYAYA-ANTARÓÔI SA»SKÓREBHYAfi
28. A sua eliminação foi descrita com a das outras perturbações [KLEÍA].
HÓNAM E›ÓM KLEÍA-VAD UKTAM
29. Para aquele que discerne tudo e não é mais perturbado por nenhum interesse, resta o
SAMÓDHI da nuvem do dever [DHARMA-MEGHA].
PRASA»KHYÓNE'PI AKUSÁDASYA SARVATHÓ VIVEKA-KHYÓTER
DHARMA-MEGHAfi SAMÓDHIfi
30. Para ele, as fontes de perturbação [KLEÍA] e o KARMA não agem mais.
TATAfi KLEÍA-KARMA-NIVÙTTIfi
31. Para aquele que se libertou de todas as impurezas e obstáculos, aquilo que pode ser
conhecido se torna insignificante diante do conhecimento infinito.
TADÓ SARVA-ÓVARANA-MALA-APETASYA JÑÓNASYA-ÓNANTYÓT
JÑEYAM ALPAM
32. E assim terminam as transformações dos GUÔAs, que realizaram seu propósito.
TATAfi KÙTA-ARTHA-NÓM PARIÔÓMA-KRAMA-SAMÓPTIR GUÔÓNÓM
34. Na libertação [KAIVALYA], os GUÔAs retornam à sua origem, já não tendo mais
utilidade para PURU›A. O poder da consciência [CITI-ÍAKTI] se estabelece na sua
forma própria.
PURU›A-ARTHA ÍÚNYÓNÓ» GUÔÓNÓM PRATIPRASAVAfi-KAIVALYA»
SVARÚPA-PRATI›ÈHÓ VÓ CITI-ÍAKTIfi ITI
APÊNDICE 2
SÓMKHYA-KÓRIKÓ / ÁÍVARAKÙ›ÔA
1. Do tormento pelo sofrimento trípilice [DUfiKHA-TRAYÓ] vem a procura do meio
de destruí-lo. Será essa procura inútil, será [o meio] evidente? Não, pois [o resultado
obtido pelos meios comuns] não traz segurança e não é definitivo.
Observação: sofrimento tríplice = o que vem de si próprio, o que vem dos outros seres
terrestres e o que vem dos DEVAS.
6. O conhecimento dos objetos que escapam aos sentidos é atingido por inferência
analógica. O que não é perceptível e não pode ser atingido assim, é obtido pelo
testemunho válido.
9. O não-ser [ASAT] não é uma causa material [KARAÔA]. Pode-se apreender a causa
[UPÓDÓNA]. Nem tudo pode ser produzido. Cada poder [ÍAKTI] só produz os efeitos
de que é capaz; o efeito é como a causa.
10. O manifesto [VYAKTA] tem uma causa lógica [HETU], é impermanente, limitado
[espacialmente], móvel, múltiplo, contingente; é formado por características [LI‹GA]
que brotam e se dissolvem; é composto, obedece a leis externas. O não-manifesto
[AVYAKTA] é o contrário.
PRÁTY-A-PRÁTI-VI›ÓDÓ`TMAKÓfi PRAKÓÍA-PRAVÙTTI-NIYAMÓ’RTHÓfi
ANYO.ANYÓ’BHIBHAVÓ`ÍRAYA- JANANA-MITHUNA-VÙTTAYAÍ CA
GUÔÓfi.
15. O não-manifesto existe, pela limitação dos objetos particulares, por sua união,
porque cada produto vem de um poder específico e porque neste mundo múltiplo
existem o surgimento e a dissolução dos efeitos por suas causas.
16. O não-manifesto é esta causa. Ele age pela combinação dos três GUÔA e por
modificações, como a água – pela diversidade de características de cada GUÔA.
17. O espírito [PURU›A] existe, pois os agregados não são auto-suficientes e devem
[servir para] algo inverso aos três poderes; assim, deve haver um direcionamento e
aquele que desfrute da experiência, já que há atividade dirigida para a libertação
[KAIVALYA].
20. Por sua união [SAMYOGA] o corpo característico [LI‹GAM] inconsciente aparece
como consciente; e pela atividade dos GUÔAS, aquele que está afastado [o espírito]
parece agir.
22. Da natureza [PRAKÙTI] provém o grande princípio [MAHAT]; dele vem o ego
[AHÓMKARA], deste o grupo de dezesseis e de cinco desses [os cinco elementos
sutis], os cinco elementos grosseiros [BHÚTA].
25. O grupo dos onze, da natureza de SATTVA, nasce do ego criador [VAIKÙTA]. Do
ego elemental [BHÚTÓDI] procedem os elementos sutis, da natureza de TAMAS.
Ambos procedem da forma ardente [TAIJASA] do Ego.
27. A mente [MANAS] está entre eles e participa da natureza de ambos [os grupos]. Ela
é coordenadora e é ao mesmo tempo um órgão, por sua semelhança. A diversidade [dos
órgãos] e as diferenças de seus objetos nascem da variação dos GUÔAS.
28. A função dos cinco [órgãos do conhecimento] é apenas perceber o som, etc. A dos
outros cinco é: a fala, a apreensão, a locomoção, a excreção e o prazer [ÓNANDA].
30. A função dos quatro agrupados [três órgãos internos e um dos sentidos externos]
é descrita como simultânea ou sucessiva. Da mesma forma, no que se refere ao que não
é perceptível, a função do grupo dos três [órgãos internos] é precedida por aquela
atividade [de percepção].
31. [Os órgãos] preenchem suas atividades por impulsos mútuos. A única causa [HETU]
é o benefício do espírito [PURU›A]; nenhum instrumento atua por outro motivo.
“Significado e bases do RÓJA-YOGA” 73
32. Os instrumentos são de treze tipos. Eles atuam captando, retendo e manifestando.
Seus efeitos, aquilo que é captado, retido e manifesto, são de dez tipos.
33. Os órgãos internos são de três tipos; os externos, que são objetos dos três, são de dez
tipos. Os órgãos externos funcionam no presente, os internos nos três tempos.
36. Estes são modificações específicas distintas dos GUÔAS. Comparáveis a uma
lâmpada, eles apresentam à sabedoria tudo o que é apreciado pelo espírito [PURU›A].
37. A sabedoria traz todas as coisas para o desfrute do espírito. É ela mesma quem
revela a sutil diferença entre a natureza primal ou pré-formada [PRADHÓNA] e o
espírito.
39. Os três tipos de objetos específicos [VIÍE›A] são o sutil [SÚK›MA], aquilo que
nasce dos progenitores [MÓTÓPITÙJÓ], e o corpo grosseiro [PRABHÚTA]. Dentre
eles, o sutil é permanente, enquanto que aquilo que vem dos pais é perecível.
41. Assim como uma pintura não existe sem um suporte, ou uma sombra sem um muro
ou algo semelhante, da mesma forma, sem o suporte de algo não-específico, o corpo
característico [LI‹GAM] não subsiste.
44. Pela ação da virtude [DHARMA] produz-se um impulso para o alto; pela disposição
ao vício [ADHARMA] produz-se um impulso para baixo. A sabedoria [JÑÓNA] liberta
e seu inverso prende.
48. Há oito tipos de obscuridade e [8] de engano; dez tipos de engano extremo; as trevas
são de 18 tipos e também a cegueira completa.
49. As falhas dos 11 órgãos mais as falhas da sabedoria são chamadas de incapacidades.
Há 17 falhas da sabedoria [BUDDHI], resultando do inverso [dos 9 tipos de]
complacência e [dos 8 tipos de] perfeição.
52. Sem disposições [BHÓVA] não há corpo característico [LI‹GAM] e sem corpo
característico as disposições não podem atuar. Portanto, há uma dupla criação: de
disposições e de um corpo característico.
53. Existem 8 espécies divinas [DAIVA], cinco tipos de seres terrestres e um de seres
humanos. Tal é, em resumo, a tríplice criação. [8 tipos divinos: BRAHMAN,
PRÓJÓPATI, SOMA, INDRA, GANDHARVA, YAK›A, RÓK›ASA, PIÍACA. 5
tipos de seres terrestres: gado, feras, pássaros, répteis, seres imóveis – vegetais e pedras]
56. Essa é a ação da natureza [PRAKÙTI]. Desde o grande princípio [MAHAT] até os
elementos grosseiros determinados, ela se destina à libertação [MOK›A] de todos os
espíritos [PURU›A]. Sua atividade se produz para o benefício de um outro, embora
pareça para ela própria.
57. Assim como o leite inconsciente atua para o crescimento do bezerro, assim atua a
natureza primordial [PRADHÓNA] para a libertação do espírito.
58. Assim como as pessoas agem para libertar-se dos desejos, da mesma forma o não-
manifesto [AVYAKTA] age para libertar o espírito.
“Significado e bases do RÓJA-YOGA” 77
59. Como uma dançarina cessa de dançar, após se exibir ao público, assim a natureza
[PRAKÙTI] cessa de evoluir, após exibir-se ao espírito [PURU›A].
60. Ela, que não recebe nada em troca, beneficia de vários modos o princípio masculino.
Ela, que é dotada de poderes [GUÔA], auxilia sem qualquer benefício próprio aquele
que não tem poderes.
61. Ninguém é mais modesto do que a natureza que, dizendo “Eu fui vista”, desaparece
da visão do espírito.
62. Por isso ninguém está preso, nem se liberta, nem transmigra. É a natureza que,
vestida de formas variadas, é presa, liberta e transmigra.
63. A natureza se prende a si própria de sete formas e ela se liberta de uma só forma
para o benefício do espírito.
64. Assim, pelo estudo dos princípios [TATTVA], resulta que “eu não existo, nada é
meu, não há um eu”. Esta sabedoria [JÑÓNA] é absoluta, pura e sem dualidade.
65. Assim o espírito, em repouso como um espectador em seu lugar, observa a natureza,
que cessou de produzir e que se retirou das sete formas por ter atingido o objetivo.
66. O indiferente diz: “Eu vi a magia”. A outra se retira: “Eu fui vista”. Apesar de seu
contato, não há mais motivo para a criação.
“Significado e bases do RÓJA-YOGA” 78
68. Após a cessação das atividades da natureza primordial [PRADHÓNA] que atingiu
seu fim, [o espírito] separando-se do corpo, obtém a libertação [KAIVALYA] certeira e
definitiva.
70. Esta sabedoria secreta e purificadora foi comunicada pelo sábio [MUNI]
inicialmente a ÓSURI; e ÓSURI a PAÑCAÍIKHA, que desenvolveu a doutrina
[TANTRA].
71. Transmitida por tradição pelos discípulos [ÍI›YA], esta [doutrina] foi resumida em
versos nobres [ÓRYÓ] por ÁÍVARAKÙ›ÔA, cujo nobre espírito havia compreendido
plenamente a verdade perfeita.
73. Este breve tratado não apresenta falhas de conteúdo. É como uma imagem, refletida
no espelho, do TANTRA de grande extensão.
==================================================
Anexo:
Os 25 princípios do SÓ‹KHYA
1. O espírito: PURU›A
2. A natureza primordial: PRADHÓNA ou PRAKÙTI
3. O poder intelectual: BUDDHI ou MAHAT
4. O ego: AHAMKÓRA
Os 5 elementos sutis [TANMÓTRAS]:
5. Som: ÍABDA
6. Toque: SPARÍA
7. Cor ou forma: RÚPA
8. Sabor: RASA
9. Odor: GANDHA
Os 5 órgãos dos sentidos [JÑÓNENDRIYAS] e o órgão interno central
10. Audição: ÍROTRA
11. Tato: SPARÍANA
12. Visão: CAK›US
13. Paladar: RASANA
14. Olfato: GHRÓÔA
15. A mente: MANAS
Os 5 órgãos da ação [KARMENDRIYAS]
16. Voz: VÓK
17. Mãos: PÓNI
18. Pés: PÓDA
19. Órgão de excreção: PÓYU
20. Órgão de reprodução: UPASTHA
Os 5 elementos grosseiros [MAHÓBHÚTAS]
21. Éter: ÓKÓÍA
22. Ar: VÓYU
23. Fogo ou luz: TEJAS
24. Água: ÓPAfi
25. Terra: PÙTHIVI