Você está na página 1de 6

Concentração e Incorporação

1
Tsara Hernandez

Concentração e Incorporação
Acredito que a concentração é o ponto chave para uma boa incorporação.
Uma das dificuldades dos integrantes das reuniões mediúnicas diz respeito a
concentração.

A capacidade de controlar, direcionar e manter o pensamento dentro das


finalidades da reunião é, para a maioria, um esforço muito grande e que nem
sempre dá bons resultados. Não raro os pensamentos se dispersam, fixam-se em
fatos do dia-a-dia e acabam por tornar alguns sonolentos, enquanto outros estão
distraídos e longe dos objetivos propostos para um trabalho sério. Alguns
poucos, então, conseguem uma boa concentração e estes sustentarão os
trabalhos programados, porém, como é obvio, sem alcançar melhor
produtividade devido aos bloqueios vibratórios existentes no ambiente.

A nossa cultura ocidental não da ênfase a necessidade do controle mental,


pois é fundamentada em uma mentalidade racional, extremamente prática,
extrovertida e imediatista valorizando a horizontalidade da vida terrestre,
exatamente oposta ao Oriente, cuja mentalidade se estrutura de forma intuitiva,
mística e introvertida e que realça a essência espiritual do ser humano,
incentivando a busca da verticalidade. Nos últimos tempos tem-se notado um
sensível aumento no interesse por algumas práticas orientais, ressaltando se a
meditação, cujos benefícios estão sendo procurados pelos ocidentais, que
despertaram para a necessidade de uma busca interior, ou seja, o
autoconhecimento.

A concentração que é praticada nas reuniões mediúnicas, evidentemente,


tem conotações próprias e não deve ser tomada aqui como as realizadas nas
práticas orientais, embora os aspectos semelhantes nas suas bases, quais sejam
a disciplina mental, o controle e equilíbrio dos pensamentos. Exatamente por
terem estes mesmos fundamentos é que citaremos algumas definições de
autores do Oriente, visto que a sabedoria oriental é multimilenar e pode
beneficiar-nos sobremaneira através desses pontos comuns.

Concentração – Conceito: Concentrar, segundo o dicionário Aurélio, significa


”fazer convergir para um centro ou para um mesmo ponto. Aplicar a atenção a
algum assunto”.

Um autor oriental, Mouni Sadhu, esclarece que o poder de concentração


consiste na ”habilidade para manter inabalavelmente sua percepção sobre um
Concentração e Incorporação
2
Tsara Hernandez

tema escolhido, pelo tempo que você decidir continuar com ele” (do livro
“Meditação”).

É exatamente essa capacidade de concentrar nos objetivos da reunião


mediúnica que irá favorecer a realização dos trabalhos.

Leon Denis, em sua magistral obra “No Invisível”, alerta: “Conforme o seu
estado psíquico, as assistentes favorecem ou embaraçam a ação dos Espíritos”.

Dificuldades de Concentração

Deixamos a palavra com Leon Denis, que assinala o motivo principal da


dificuldade de concentrar. ”Na maior parte dos homens os pensamentos flutuam
sem cessar. Sua mobilidade constante e sua variedade infinita pequeno acesso
oferecem as influências superiores. É preciso saber concentrar-se, por o pensamento
acorde com o pensamento divino(..)” (“O Problema do Ser, do Destino e da Dor”,
cap. XX).

A reunião mediúnica apresenta ainda outras conotações que são


peculiares ao tipo de atividade que ali se desenvolve. Assim, a dificuldade de
concentrar-se nos objetivas elevadas que o exercício da mediunidade requer é
resultado da pouca prática que a maioria das pessoas têm de fixarem seus
pensamentos em assuntos edificantes, em ideais e ideias nobres durante a seu
dia-a-dia. Estão com a mente sempre ocupada pelas problemas e questões do
cotidiano, por coisas supérfluas e interesses imediatistas, pelo noticiário e
programa da TV, por literatura e músicas teor inferior, por conversações
extremamente banais e irresponsáveis, e não conseguem esvazia-la desses
assuntos para dar campo as influências benéficas das Espíritos Superiores, dos
Mentores que assessoram as trabalhos.

Ensina Leon Denis: “As preocupações de ordem material criam correntes


vibratórias horizontais, que põem obstáculo as radiações etéreas e restringem
nossas percepções. Ao contrário, a meditação, a contemplação e a esforço constante
para o bem e o belo formam correntes ascensionais, que estabelecem as relações
com os planos superiores e facilitam a penetração em nós dos eflúvios divinos”.
Concentração e Incorporação
3
Tsara Hernandez

A importância da Concentração Mediúnica

“Nesse sentido, consideremos a concentração mental de modo diversa das


que a camparam a interruptor, de fácil manejo que, acionada, oferece passagem a
energia comunicante, sem mais cuidados... A concentração, por isso mesmo, deve
ser um estado habitual da mente em Cristo e não uma situação passageira junto
ao Cristo”. Nossos pensamentos têm determinado teor vibratório, de acordo com
os sentimentos que os tipificam.

É imprescindível compreendermos que o pensamento é energia viva


”construindo paisagens ou formas e criando centros magnéticos ou ondas, com os
quais emitimos a nossa atuação ou recebemos a atuação das outros” (Emmanuel –
“Roteiro”, cap.28).

Este é o processo natural de sintonia e que predomina no curso de nossa


existência. Nas tarefas mediúnicas esta sintonia apresenta peculiaridades
próprias. É essencial que exista uma afinização, uma sintonia entre os
participantes para que se estabeleça uma sincronia de forças, a conhecida
“corrente vibratória”.

Pode-se inferir, desde agora, o quanto é importante a concentração


individual, vista que a qualidade dos trabalhos de intercâmbio depende
fundamentalmente da participação consciente e responsável de cada um.

Recordemos Leon Denis, quando leciona a respeito: “São favoráveis as


condições de experimentação quando o médium e as assistentes constituem um
grupo harmônico, isto é, quando pensam e vibram em uníssono. No caso
contrário, os pensamentos emitidos e as forças exteriorizadas se embaraçam e
anulam reciprocamente...” (No Invisível). Ele acrescenta ainda que o médium em
meio a essas correntes contrárias fica bloqueado, sem condições de atuar
mediunicamente ou bastante prejudicado na filtragem das mensagens.

Em “O livro das Médiuns”, o codificador ressalta a necessidade da


concentração ao referir-se a reunião como um ser coletiva, resultante das
qualidades e propriedades de seus membros e esta tanto mais força terá quanta
maior homogeneidade vibratória houver. Ele afirma que o poder de associação
dos pensamentos de todas é que contribuirá para a comunicação dos Espíritos,
“mas a fim de que todos esses pensamentos concorram para o mesmo fim, preciso
é que vibrem em uníssono; que se confundam, por assim dizer em um só, o que não
pode dar-se sem a concentração” (Item 331).

Portanto, cada participante precisa estar consciente de sua contribuição


para que haja êxito nas atividades programadas pela Espiritualidade Maior. João
Cleofas (Espírito), em seu excelente livro ”Intercambio Mediúnico”, desenvolve o
Concentração e Incorporação
4
Tsara Hernandez

pensamento de Kardec e Denis, em linguagem moderna: “A média que resulta das


fixações mentais dos membros que constituem o esforço da sessão mediúnica
oferece os recursos para as realizações programadas. A concentração individual,
portanto é de alta relevância, porque a mente que sintoniza com as ideias
superiores vibra em frequências elevadas”.

Como Obter Uma Boa Concentração

A concentração não requer um esforço físico. Pessoas que tentam


concentrar franzindo a testa, fechando os olhos com força ou denotando
qualquer outro tipo de tensão muscular não alcançarão a finalidade a que se
propõem. Ao contrário do que imaginam, a concentração exige um relaxamento
e passa por alguns estágios, quais sejam:

1. Relaxamento – O relaxamento do corpo físico serve para preparar e


favorecer a calma, a tranquilidade interior;
2. Abstração – Abstrair-se do mundo exterior, de tudo ao seu redor;
3. Interiorização – Fazer silêncio interior, abstraindo-se também dos
conteúdos psicológicos (emoções, pensamentos, imagens, lembranças,
etc);
4. Fixar a mente – A mente se fixa e a atenção volta-se exclusivamente para
o objetivo da reunião;
5. Aquietar a mente – Neste ponto a mente se aquieta e, no caso dos
médiuns, oferece espaço para a sintonia mental com o Espírito que irá
transmitir a comunicação.

Afirma João de Cleofas: “A concentração, é, pois, a fixação da mente numa


ideia positiva, idealista, ou na repetição meditada da oração que edifica, e que,
elevando o pensamento as fontes geradoras da vida, dá e recebe, em reciprocidade,
descargas positivas de alto teor de energias santificadoras” (Intercâmbio
Mediúnico).

Pensamentos Intrusos

Todos os que se iniciam nos exercícios de concentração ou de meditação


percebem que é difícil controlar os pensamentos e que, com frequência, veem-
se assaltados por pensamentos intrusos, inconvenientes e inoportunos.

Deixemos a lição a respeito com um dos mestres orientais: “No início toda
a sorte de maus pensamentos podem ocorrer, se levantarão na sua mente. Você se
Concentração e Incorporação
5
Tsara Hernandez

sobressaltará. Ficará atormentado. Isto é um bom sinal. É sinal de progresso


espiritual. Você está evoluindo espiritualmente. Esses pensamentos, com a
continuidade (dos exercícios), morrerão com o tempo” (trechos do livro
“Concentração e Meditação", de Swami Sivananda).

Ele também aconselha que a pessoa não lute contra a sua mente durante
a concentração. O mais acertado é aceitar com tranquilidade e estabelecer o
hábito de retorno, isto é, retornar aos objetivos propostos.

No livro de Mira y Lopes, “Curso Prático de Concentração Mental” o autor


refere-se ao “hábito de retorno”, para disciplinar a mente. André Luiz, sintetizando
o esforço que os integrantes dos grupos mediúnicos devem realizar, anota em
seu livro “Os Mensageiros” a palavra de Aniceto, relativa ao nosso tema:

“Boa concentração exige vida reta. Para que os nossos pensamentos


se congreguem uns aos outros, fornecendo o potencial, de nobre união para
o bem, é indispensável o trabalho preparatório de atividades mentais na
meditação de ordem superior. A atitude íntima de relaxamento (este termo
tem neste contexto o significado de descaso), ante as lições evangélicas
recebidas, não pode conferir ao crente, ou ao cooperador, a concentração de
forças espirituais no serviço de elevação tão-só porque estes se entreguem
apenas por alguns minutos na semana, a pensamentos compulsórios de
amor cristão(...)” (Cap. 47).

A Doutrina Espírita é um convite permanente a transformação moral,


levando a um processo natural de autodescobrimento e propiciando condições
para a realização desse encontro pessoal. Toda essa mudança, quando ocorre
naquele que já interiorizou os princípios espíritas, denota um amadurecimento
que favorece a uma nova compreensão da vida e a uma necessidade premente
da busca da verticalidade. Quando existe essa conscientização o indivíduo torna-
se cônscio de usas responsabilidades procurando, então, adquirir hábitos
equilibrados, o que irá favorecer a sua concentração enquanto integrante de um
grupo mediúnico.

Deixemos com Emmanuel a palavra final:

”Receberás, portanto, variados apelos, nascidos do campo mental de


todas as inteligências encarnadas e desencarnadas que se afinam contigo,
tentando influenciar-te através de ondas inúmeras em que se revela a gama
infinita dos pensamentos da Humanidade, mas se buscas o Crista, não
ignoras em que altura lhe brilha a faixa”.
Concentração e Incorporação
6
Tsara Hernandez

Dúvidas sobre Incorporação

Incorporação: Estado alterado de consciência onde atualmente menos de


1% dos médiuns são inconscientes. A maioria das incorporações é consciente ou
semiconscientes, por isso a necessidade de desenvolver a passividade dos
médiuns. O guia espera a sua confiança. Incorporar é dar passagem para que
outra personalidade se manifeste. 70% das incorporações não são mecânicas, isto
é, apenas o mental é tomado, portanto, quando incorporado, seu corpo pode
tossir, espirrar, limpar os olhos, o nariz, pois trata-se do corpo do médium com
todas as suas necessidades fisiológicas.

Nosso corpo é o veículo do guia, como um carro, que ele usará para se
manifestar. Nascemos dentro deste carro e a afinidade com o nosso veículo é tão
grande que não fazemos nada sem ele, olhamos pela sua janela (olhos), andamos
(pernas), não imaginamos que esse carro possa ter dois lugares ou que alguém
possa “dirigi-lo” sem causar um desastre.

A primeira coisa que o guia nos mostra é que não somos este carro, apenas
vivemos dentro dele, e vai querer mostrar que alguém mais pode “dirigi-lo” para
você. A nossa dificuldade inicial é “entregar a direção” para ele.

Nas reuniões de desenvolvimentos poderemos sentir muitos ”trancos” e


sentir uma presença ao nosso lado (é o guia que sentou no banco do passageiro
e está pisando no freio, mostrando que está lá).

Com o tempo, vamos “soltando” o volante e deixando ele dirigir, no início


deixamos um pouquinho mas ficamos tão apreensivos que tomamos a direção
de volta, depois... deixamos mais um pouquinho, mas como ele dirige diferente
de nós, ficamos com a mão no volante... quando ele faz uma curva, a gente mete
o pé no freio.

Aí ficamos na dúvida, quem está dirigindo? Eu ou ele? Com o tempo


começamos a pegar confiança nele e a soltar a mão da direção e vemos que ele
dirige bem melhor do que a gente e começamos a ”apreciar” a paisagem.

Para que ele dirija, temos que dar passividade, confiança, dar a direção
para ele. Ele conhece outros caminhos, outros lugares, nunca se perde e sabe
sempre pra onde está indo.

Você também pode gostar