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OS ANHANGÜERAS EM GOIÁS

E OUTRAS HISTÓRIAS DA FAMÍLIA

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UBIRAJARA GALLI

OS ANHANGÜERAS EM GOIÁS
E OUTRAS HISTÓRIAS DA FAMÍLIA

EDITORA KELPS - 2007


Goiânia - GO

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Copyright © 2007 by Ubirajara Galli

Diagramação: Carlos Augusto Tavares

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CIP. Brasil. Catalogação-na-Fonte


Elaborado pela Bibliotecária Beatriz Costa Ribeiro - CRB 14-001/99-PR

Galli, Ubirajara.
Os Anhangüeras em Goiás e outras histórias da família.
Goiânia: Kelps, 2007.

140p.

1. História
CDU:           

DIREITOS RESERVADOS - É proibida a reprodução total ou parcial da obra, de qualquer forma ou


por qualquer meio, sem a autorização prévia e por escrito do autor. A violação dos Direitos Autorais
(Lei nº 9610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.

Impresso no Brasil
Printed in Brazil
2007

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Sumário

A Família dos Anhangüeras e a História de Goiás:


Temas que se Entrelaçam..................................................................................7
A Chegada do Primeiro Bueno no Brasil......................................................15
A Família Pitaluga............................................................................................53
Descendência do Primeiro Casamento de Antônio Olímpio Marques
Pitaluga..............................................................................................................67
João Leite da Silva Ortiz, Coadjuvante de Ouro...........................................81
Bartolomeu Pais de Abreu, Sócio de Anhangüera e Ortiz,
em Terras Paulistas...........................................................................................87
Um Olhar de Raymundo da Cunha Mattos Sobre os Anhangüeras no
Porto do Corumbá...........................................................................................89
Um Encontro Inesperado num Pouso do Caminho dos Goyazes.............97
Um Bueno Genocida de Quilombos – Bartolomeu Bueno do Prado – 99
A Cruz do Anhangüera?................................................................................105
Bibliografia...................................................................................................... 121

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A Família dos Anhangüeras e a História de
Goiás: Temas que se Entrelaçam
O conhecimento do passado é cativante. O conhecimento do pas-
sado de nossas famílias, mais ainda, pois fala de perto ao coração. Um es-
tremecimento atávico nos aguça na busca de nossas origens, quais foram
nossos ancestrais, de onde vieram. Esta sensação se prende ao sentido de
identidade, de conhecer a si e ao seu grupo, sem diluir-se na massa social.
Se a identidade pessoal, como escreve Maurice Halbwacs, se constrói em
referência ao outro, a identidade familiar se dá em relação às outras famíli-
as. Aos poucos esta identidade vai se construindo, surge o sentimento de
pertença a um grupo, a uma comunidade familiar, o que fortalece a coesão
grupal. Neste sentido, portanto, o passado é fonte formadora da coesão dos
grupos, possibilitando que venham à tona sentimentos tais como a unidade
e continuidade que reforçam, por sua vez, a identidade dos indivíduos e
comunidades. É este um círculo interligado com o instinto de preservação,
neste caso, da preservação da memória da família dos Anhangüeras, o
“descobridor” e o “povoador” das terras mesopotâmicas de entre o Ara-
guaia e Tocantins, hoje os atuais estados de Goiás e Tocantins.
Ainda neste sentido, a identidade de algumas famílias, devido aos
seus feitos, se confunde com a própria memória de uma sociedade. É este o
caso da história genealógica de Bartolomeu Bueno da Silva, pai e filho, cuja
memória está amalgamada à história de Goiás, da qual não a podemos sep-
arar. Homens dos séculos XVII e XVIII, suas memórias driblam a pátina
do tempo e permanecem vivas, ensejando a construção e reconstrução de
narrativas, de enredos, de “histórias” que vão contribuir para a mitização
destes dois personagens históricos.


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É fato serem ambos os responsáveis, um, pela descoberta aurífera na
região onde mais tarde seu filho fundaria o arraial de Sant’Ana, mais tarde
Vila Boa, e o outro pelo início do povoamento destas plagas, onde atuou
como o primeiro administrador do nascente arraial e sua circunscrição.
Suas figuras históricas, porém, devido à epopéia de suas vidas e feitos,
foram envoltas em uma aura que contribuiu para obnubilar suas figuras
históricas, origem da mitização que nada tem de pejorativo, por ser natural
às comunidades humanas a veneração de seus grandes homens, de seus
heróis, mesmo que a nossos olhos atuais, alguns fatos e feitos pareçam in-
justos, desmedidos, até mesmo deploráveis. É condição sine qua non para
se entender a história, contextualizá-la no tempo, localizando a sociedade,
seu estágio de evolução e progresso, seus costumes e modo de ver, agir e
sentir a vida.
Desde a segunda metade do século XVIII, os Anhangüeras, pai e
filho, tornam-se os mitos fundadores de Goiás. Aliás, voltando no tempo,
o mito já está presente desde quando Bartolomeu Bueno da Silva, o pai,
recebe dos índios goiases a alcunha de Anhangüera, episódio decantado na
história de Goiás, e que não é original, quando confrontado com a história
bandeirante.
Todo este arrazoado vem demonstrar o mérito deste trabalho de Ubi-
rajara Galli. Os Anhangüeras em Goiás e outras histórias da família vem
contribuir para que se clareie a penumbra que se abateu sobre a história
genealógica dos descendentes dos Anhangüeras. E Ubirajara não escreve
apenas sobre a descendência dos que lograram habitar as margens do Co-
rumbá, no antigo Julgado de Santa Cruz. Estes sempre foram conhecidos,
deles nos deixaram notícias Cunha Matos, Alencastre, Moisés Santana e
outros. Ubirajara dedica um capítulo aos Pitaluga, que de Pilar passaram
para a Cidade de Goiás e de lá para Pires do Rio, onde existe fecunda ger-
ação habitando a região onde seus parentes avoengos detiveram, por be-
nesse real, as passagens dos rios, em atenção aos méritos do Anhangüera
Filho. Feliz encontro da nobre linhagem. Se os séculos encobriram os laços
familiares, as circunstâncias da vida propiciaram o encontro dos descend-
entes de Bartolomeu Bueno da Silva, herdeiros de seus maiores, que mesmo
em meio aos revezes da vida, num ambiente à época hostil, não perderam

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a herança imorredoura e dignificante do trabalho honesto, da urbanidade
e fidalguia, em uma palavra, o cultivo da nobreza moral, o que realmente
vale, não é efêmero e dura para a eternidade.
Ubirajara Galli está de parabéns. Escritor conhecido e assaz profíc-
uo no campo histórico e poético adentra merecidamente os umbrais da
Academia Goiana de Letras, a Casa Maior da intelectualidade goiana. Sua
obra de estréia no campo genealógico é de fôlego e vem contribuir e muito
para o conhecimento da prosápia do Anhangüera, cujas vergônteas, como
este livro demonstra, dignificam seus antepassados e a terra goiana. Sua
contribuição à genealogia é contribuição à história de Goiás. A genealogia
como ciência auxiliar da História presta enorme serviço para o aprimor-
amento do estudo da sociedade. Isto é lógico. A célula mater da sociedade é
a família, conhecendo as famílias e sua contribuição social, estaremos con-
hecendo a história de um povo, de uma comunidade, de um estado, de uma
nação. Por isso é sempre corroborada a assertiva de Capistrano de Abreu ao
escrever que a história do Brasil, não é senão, a história de suas famílias.
Agradeço, penhorado, o honroso convite do escritor Ubirajara Galli
para apresentar Os Anhangüeras em Goiás e outras histórias da família,
permanecendo na certeza de que o novel genealogista nos brindará com
outros títulos, com a história de outras famílias, como mais uma con-
tribuição para o conhecimento da história de Goiás.

Antônio César Caldas Pinheiro

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Para
Orlando Alves Carneiro:
bandeirante das lavras contemporâneas

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Agradecimentos:

Agradeço o apoio do Sindicato das Indústrias Extrativas do Estado de


Goiás e DF-SIEEG para edição desta obra, nas pessoas do seu presidente Nel-
son Pereira dos Reis, diretor Cláudio Henrique Chini e secretária Cleidemar
de Melo.

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A Chegada do Primeiro Bueno no Brasil

O primeiro Bueno a desembarcar no Brasil foi Bartolomeu Bueno,


conhecido como o Sevilhano. Natural de Sevilha, na Espanha, veio para
o Brasil a bordo da Armada comandada por Dom Diogo Flores de Vadez,
com o ofício de carpinteiro de Ribeira. Desembarcou no Rio de Janeiro, no
dia 24 de março de 1582, cujo destino da esquadra era chegar ao Estreito
de Magalhães.
Seguindo as ordens do Rei Felipe II da Espanha e I de Portugal, Dom
Diogo rumou para Santos onde determinou erguer a Fortaleza da Barra ou
de Santo Amaro, construída entre 1583/1584. Acredito que com a vinda de
Dom Diogo para Santos, nela tenha vindo Bartolomeu Bueno, o Sevilhano,
quando ele pisa pela primeira nas terras paulistas, onde iria plantar a sua
descendência.
Morando em São Paulo, no dia 4 de agosto de 1590, casou-se com Mar-
ia Pires, filha de Salvador Pires e Maria Fernandes. Documentos históricos
paulistas revelam que ele exerceu os cargos de juiz de Ofício (1587), Carpin-
teiro Aferidor (1588), Almotacel (1591) e de vereador em 1616. Analfabeto
assinava em forma de um sinal que lembrava o numeral 8.
O genealogista Pedro Taques que viria galgar a sua descendência afir-
ma em seus estudos que Bartolomeu Bueno, o Sevilhano havia agregado ao
seu nome Ribeira, por causa do seu ofício carpinteiro de ribeira. Fato que
não é constatado em nenhum documento onde aparece seu nome. Ainda
que seu antepassado houvesse ocupado cargos públicos relevantes como
juiz Ordinário e de órfãos, em datas incompatíveis, quando esses cargos
eram exercidos por outras pessoas. Além do mais eram cargos conflitantes
com a sua condição de analfabeto.
A data provável do seu falecimento é na década de 30 do século
XVII.

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Teve o casal Bartolomeu Bueno, o Sevilhano e Maria Pires os seguin-
tes filhos:
1 - Amador Bueno de Ribeira, o Aclamado
2 - Francisco Bueno, precursor da linhagem dos Anhangüeras.
3 - Bartolomeu Bueno, o Moço
4 – Jerônimo Bueno
5 – Maria de Ribeira
6 – Messia de Ribeira
7 - Isabel de Ribeira

1- Amador Bueno de Ribeira, o Aclamado. Casou-se com Bernarda


Luiz, filha de Domingos Luiz e de Anna Camacho. Ocupou cargos impor-
tantes na Capitania de São Paulo como Capitão-Mor, Provedor e Conta-
dor da Fazenda e governador da Capitania de São Vicente, com o título
de capitão-mor. Num gesto das lideranças, principalmente, as Castelhanas
da época (1641) foi aclamado rei de São, no momento da cisão das coroas
lusitana e espanhola, com a restauração do reino de Portugal. No entanto,
demonstrando total obediência ao rei português D. João IV, recusou o ce-
tro popular que lhe fora estendido. Temendo represarias refugiou-se no
Mosteiro de São Bento, junto com portugueses e outros paulistas, leais à
coroa lusitana. Do refúgio religioso só se retiraram após a quietação dos
ânimos.

Filhos do casal:
1 - Catharina de Ribeira
2 - Amador Bueno (o moço)
3 - Antonio Bueno
4 - Izabel de Ribeira
5- Maria Bueno de Ribeira
6 - Anna de Ribeira
7 - Diogo Bueno

2 - Francisco Bueno é o precursor da linhagem dos Anhangüeras.


Casou-se em São Paulo, no dia 21 de janeiro de 1630, com Filippa Vaz, filha

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de Francisco João Branco e Anna de Cerqueira. Sertanista caçador de ín-
dios, principalmente, das missões religiosas, faleceu nessas matanças, entre
1637 e 1638. Filipa Vaz sua esposa, veio a óbito em 1647.
Filhos do casal:
1 – Anna de Cerqueira
2 – Bartolomeu Bueno da Silva

1 – Anna de Cerqueira casou-se com Jerônimo de Camargo, filho de


José Ortiz de Camargo (também conhecido como Jusepe de Camargo) e de
Leonor Domingues. Deixou descendência.

2 – Bartolomeu Bueno da Silva, Anhangüera Pai, foi casado em pri-


meiras núpcias com Isabel Cardoso, filha do capitão Domingos Leme da
Silva e Francisca Cardoso, com que teve filhos. Casado pela segunda vez,
em Parnaíba-SP, no ano de 1697, com Maria de Morais, filha de Jerônimo
de Lemos e de Leonor Domingues, não deixou sucessores. No meu livro
a História da Mineração em Goiás, narro da seguinte forma a vinda da
Bandeira de Bartolomeu Bueno da Silva, rumo às futuras terras de Goiás:
Por volta dos anos, 1670/1673, saía da Capitania de São Paulo, a Bandeira
de Bartolomeu Bueno da Silva, constituída em torno de 150 pessoas, (entre
elas, seu filho homônimo, o futuro povoador de Goiás. Bartolomeu, Filho,
teria a idade, entre 15 e 18 anos, ao contrário de 12 anos, como afirma a
maioria dos historiadores) vinham para as paragens goianas com o firme
propósito de escravizar os gentios e descobrir nas virgens terras, possíveis
lavras de ouro. A Bandeira atravessou o sul de Goiás, chegando ao Rio Ara-
guaia, onde por coincidência, encontrou a Bandeira de Antônio Pires de
Campos, descobridor das minas mato-grossenses, que também trazia seu
filho adolescente, com idade aproximada a de Bueno filho.
No encontro das Bandeiras, Antônio Pires de Campos, pede a
Bartolomeu para ajudá-lo a conduzir seus gentios aprisionados da nação
Araés, uma vez que ele tinha outra aldeia de Araés para ser conduzida, e
era-lhe impossível, conduzir duas aldeias, ao mesmo tempo. Bartolomeu
aceitou o que propunha o colega, naturalmente, depois de negociado os
valores. Bartolomeu Bueno da Silva, retornando rumo a São Paulo, em

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busca do curso das águas do Rio Vermelho, como atesta José Martins
Pereira de Alencastre, no seu livro Anais da Província de Goiás, chega
por acaso, às aldeias dos índios Goyá. Diante do clima pacífico do gentio,
manda construir barracos de palha e plantar roças, com o propósito de
armazenar gêneros alimentícios, para o retorno a São Paulo.
Enquanto as roças eram plantadas, a maior parte de seus homens se
embrenhava pelas águas Rio Vermelho e seus afluentes, mergulhando as
bateias, que davam respostas inexpressivas à busca do ouro. Observando que
muitas índias se enfeitavam com folhetas de ouro, mantinha viva a convicção
de que as jazidas seriam com mais ou menos tempo encontradas.
Porém, o tempo urgia e nada de ouro. Apesar do maquiavelismo do
Bartolomeu, disfarçando-se de gentil aos gentios, a ansiedade, batia-lhe à carne.
Certo dia, deparando-se com um grupo expressivo de índios,
reunidos às margens de um córrego, incorpora a seguinte idéia: despeja
uma porção de aguardente no interior de um vaso, aproxima-se dos índios
e os interroga a respeito da localização das minas. Não obtendo a resposta
desejada, ateia fogo na bebida que imediatamente entrou em combustão.
Colhido o propósito de espanto dos silvícolas, ameaçou o bandeirante,
atear fogo aos rios, caso eles não revelassem o local das minas.
Diante da encenação teatral, a ignorância dos índios, associada ao
medo de perderem seus mananciais, é revelada a localização das minas de
ouro, ao Bartolomeu Bueno da Silva, agora cognominado por eles de An-
hangüera, que no idioma Guarani, significa Diabo Velho ou espírito mau.
Existem várias teses de estudiosos da questão indígena no Brasil:
uns afirmam que os índios Goyá não falavam guarani e sim um dialeto
próprio e que a alcunha Anhangüera, Bartolomeu já trazia imposta pelos
índios litorâneos. Outros ponderam que apesar deles terem um dialeto
próprio, também tinham conhecimento da língua geral que era o guarani.
Entendendo-se, portanto, que os índios Goyá, são os autores da expressão
Anhangüera.
Revelado o local das jazidas de ouro, Bartolomeu Bueno da Silva - o
Anhangüera extrai todo ouro que é possível transportar, aprisiona também
os índios Goyá, deles o que pode conduzir acorrentados ou amarrados, junto
aos Araés, e marcha rumo à Vila Sant’Ana do Parnaíba, São Paulo, sua terra

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natal. A maioria deles foi vendida como escravo e alguns permaneceram
ao seu serviço. O bondoso, Anhangüera, tinha por hábito, marcar a ferro
o gentio, como forma de expressar a sua propriedade. Um quinto dos
índios aprisionados ou do valor relativo à sua venda, era repassado à coroa
portuguesa. Bueno era a cópia fiel da maldade herdada do seu pai Francisco
Bueno, no trato aos índios.
Pedro Taques, historiador e linhagista paulista, sobrinho de João Leite
da Silva Ortiz, por sua vez genro do Bartolomeu Bueno da Silva, afirma que
a expressão Anhangüera – Diabo Velho teria na verdade sido atribuída ao
sertanista Francisco Pires Ribeiro, que na presença de um cacique duma
tribo que queria escravizar, utilizou o engodo teatral com a queima da
aguardente e a promessa de queimar os rios da região, conseguindo com a
eficácia do estratagema, o propósito de aprisioná-los.
Pesquisando as poucas informações sobre a existência de Francisco
Pires Ribeiro, não foi possível confirmar o feito. Ficam em aberto quatro
vertentes para a originalidade do gesto: a primeira que a queima da
aguardente, fora originalmente encenada por Francisco Pires Ribeiro. A
Segunda que Bartolomeu Bueno da Silva, o Pai, teria copiado o ardil de
Ribeiro. A terceira seria creditar ao Bueno, a astúcia da queima da aguardente.
A quarta e última hipótese teria Ribeiro imitado posteriormente a encenação
de Bueno? Enigma em aberto para algum historiador desvendar.
Bueno, talvez, desmotivado em empreender retorno a Goiás, devido
a sua condição de sexagenário, (idade que ele tinha quando da realização
da Bandeira), não procurou bancar outra pessoa para dirigir nova uma
empreitada? Pode ser que ele não detivesse os recursos necessários ou então
não quisesse dividir as glórias do seu feito. Ainda é estranho que nenhum
outro colega paulista tenha tido a iniciativa de adentrar Goiás ou mesmo
que essa atitude pudesse partir da cúpula dirigente paulista. Situação que
Bartolomeu Bueno da Silva, não teria como evitar.
A data e o local de seu falecimento do Diabo Velho, não são
conhecidos, pelo menos foram frustrantes minhas tentativas de mapear
essas informações.
Filhos do casal Bartolomeu Bueno da Silva e Isabel Cardoso:

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1 – Francisca Cardoso
2 – João Bueno da Silva
3 – Antônio Bueno da Silva
4 – Maria Pires
5 – Simão Bueno da Silva
6 – Ana Bueno Cardoso
7 – Luzia Bueno
8 – Bartolomeu Bueno da Silva (Anhangüera, Filho)
9 – Isabel Cardoso

1 - Francisca Cardoso casou-se em Parnaíba-SP, no ano de 1670, com


Manoel Peres Calhamares (sócio da Bandeira do seu cunhado Bartolomeu,
Filho, em 1722) filho de Alonso Peres Calhamares e de Maria da Silva.
Faleceu Francisca Cardoso em 1683.

2 – João Bueno da Silva (sem informações)

3 – Antônio Bueno da Silva casou-se com Bernarda Ortiz de Camargo,


filha de José Ortiz de Camargo e Izabel Ribeira.
Filhos do Casal:

4 - Maria Pires casou-se em 1678, em Parnaíba-SP, com Antonio


Ferraz de Araújo filho de Manoel Ferraz de Araújo e de Verônica Dias
Leite.

5 - Simão Bueno da Silva casou-se em 1690, em Parnaíba-SP, com


Catharina Pedroso filha de Francisco Pedroso Xavier e de Maria Cardoso.

6 - Anna Bueno Cardoso casou-se em 1692, em Parnaíba-SP, com


João Pedroso, filho de Francisco Pedroso Xavier e de Maria Cardoso.
7 - Luzia Bueno casou-se em 1693, em Parnaíba-SP, com José de
Lemos e Moraes, filho de ? e Marianna Domingues de Camargo.

8 - Bartolomeu Bueno da Silva (Anhangüera, Filho) casou-se com

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Joanna de Gusmão, filha de Balthazar de Godoy Moreira e de Violante de
Gusmão.
Depois da odisséia dividida com seu pai pelas artérias coronárias
do Brasil Central, Bartolomeu Bueno da Silva - o filho - estabelece-se em
Sabará, depois em São João do Pará e por último em Pitangui, nas Minas
Gerais, onde foi nomeado assistente do distrito, sendo ele o encarregado
da cobrança do quinto. Após algumas décadas de exploração mineral
nestas paragens, ele volta para sua Vila natal Sant´Ana do Parnaíba, e
toma a decisão, juntamente com Bartolomeu Pais de Abreu e Domingos
Rodrigues do Prado, de retornar às terras dos índios Goyá, ao enviarem
a carta, datada de 13 de janeiro de 1720, ao Rei de Portugal, D. João V,
solicitando permissão para seu retorno às minas goyazes.
A resposta positiva veio através da carta régia de 14 de fevereiro
de 1721, que instruía D. Pedro de Almeida, Conde de Assumar, então
Governador de São Paulo, para oferecer todo apoio estratégico à constituição
da Bandeira, porém, sem nenhuma participação financeira por parte da
coroa portuguesa. Todos os custos da empreita ficariam por conta de Bueno
e seus sócios.
Em 1721 a Capitania de São Paulo desmembrou-se da Capitania das Minas
Gerais. No dia 5 de setembro de 1721, toma posse o primeiro Governador da
capitania paulista, Capitão-General Rodrigo César de Menezes e manda chamar
Bartolomeu Bueno da Silva, para confirmar apoio ao pleito da Bandeira, e no
dia 10 de setembro, encaminha carta ao rei de Portugal, dando como certa a
orquestração da Bandeira, prevista para sair no mês de junho de 1722. Ainda
assim, no ano de 1728, um documento assinado pelo Capitão-General Rodrigo
César de Menezes, intenta atribuir a sua pessoa, a idéia da realização da Bandeira
de Bueno, cujo teor transcrevo do livro, Anais da Província de Goiás, de José
Martins Pereira de Alencastre, editado no ano de 1863:

Rodrigo César de Menezes, do Conselho de S.M. Fidelíssima, etc.


– Certifico que, assim que tomei posse do governo, mandei vir à
minha presença Bartolomeu Bueno da Silva, pessoa das principais
famílias desta capitania, e dos mais inteligentes sertanistas, e, por
haver cursado o sertão de Goiás, lhe encarreguei passasse ele a
fazer o descobrimento do ouro que asseguravam haver no dito
sertão; e, sem embargo de achar-se muito adiantado na idade, não

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pôs dúvida alguma em executar as minhas ordens, desprezando os
riscos de vida e mais contratempos a que se expunha, antepondo a
tudo o serviço de S.M.E. com efeito, se aviou a sua custa deixando
a sua casa e família, e seguiu viagem no ano de 1722, levando
um regimento, que lhe mandei passar, para executar o que nele
lhe encarregava, por ser assim conveniente ao serviço de S.M.
em cujo descobrimento gastou três anos, experimentando os
maiores trabalhos e perigos, morrendo-lhe a maior parte de sua
tropa, e, restando-lhe mui poucos soldados, estes o persuadiam a
que se retirasse para povoado; este sempre resistiu, mostrando-se
contente que se o quisessem desamparar podiam fazer, que ele
não vinha à minha presença sem concluir a diligência de que fora
encarregado, e que, assim, antes perderia a vida do que deixaria
de executar as minhas ordens. À vista da sua resolução, os
companheiros se acomodaram, a não desampará-lo até que se fez
o dito descobrimento, do que me veio dar parte, trazendo mostras
de ouro, cujo serviço lhe agradeci, e da parte de S.M. lhe assegurei
seria atendido de sua real grandeza: em 1726, seguindo viagem
para o sertão de Cuiabá, lhe ordenei o fizesse também para o dos
Goiazes ... e com efeito, chegando àquele sertão, descobriu com a
sua muita atividade e inteligência muitos ribeirões com grandezas
de ouro, como acredita a que foi para Portugal dos reais quintos, e
continuaram mais avultadas remessas pelo tempo adiante ... Passo
o referido por ser verdade, o que afirmo aos Santos Evangelhos; e,
por ser pedida a presente, a mandei passar, firmada e selada com
o sinete das minhas armas. Dada e passada na cidade de S. Paulo,
aos 26 de outubro de 1728. – Rodrigo César de Menezes.”

Sem maiores comentários à tentativa do Capitão-General Rodrigo


César de Menezes, para adulterar a história da Bandeira de Bartolomeu Bue-
no da Silva - o filho - que impossibilitado de bancar o custo total da empreita,
associa-se a seu irmão Simão Bueno, seus genros João Leite da Silva Ortiz e
Domingos Rodrigues do Prado, seu cunhado Manoel Pereira Calhamares,
seu sobrinho Antônio Ferraz de Araújo, Urbano do Couto e Menezes, além
de outros mais, para atender às necessidades da dispendiosa incursão.
1722 é o ano da saída da Bandeira de São Paulo, porém o mês e o
dia da partida são contraditórios. Alguns estudiosos, afirmam que ela teria
partido no dia 30 de junho, para outros 3 de julho, alguns abrem um leque
ainda maior, ao acreditarem que ela teria ocorrido, após a comemoração

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da páscoa. Finalmente, para outros, ela teria acontecido, no transcorrer do
mês de agosto.
O número de integrantes da Bandeira é também desencontrando.
José Peixoto da Silva Braga, que fez parte dessa incursão, narrou em carta,
12 anos mais tarde, ao Padre Diogo Soares, que a Bandeira saiu de São
Paulo, com 39 cavalos, 152 armas, 20 índios, “cedidos” pelo Capitão-
General Rodrigo César de Menezes, escravos (número não revelado),
5 ou 6 paulistas, um baiano, sendo que a maioria absoluta dos brancos
era composta por portugueses. A quantidade de integrantes da Bandeira,
provavelmente ficou entre 150 a 160 homens. Ainda acompanhava o séqüito
inúmeros cachorros.
Além de Bartolomeu Bueno da Silva, historicamente é possível
catalogar outros componentes da Bandeira, como João Leite da Silva Ortiz,
Simão Bueno, Frei Antônio da Conceição, Frei Luiz de Santana, Frei George e
Frei Cosme de Santo André, José Peixoto da Silva Braga, Manoel de Oliveira,
que tinha vindo a Goiás, em outras Bandeiras (de acordo com estudos de
Americano do Brasil), Manoel Pereira Calhamares, Urbano do Couto
Menezes, Francisco Carvalho de Lordelo, Antônio Ferraz de Araújo, João da
Matta, Estevão Mascate Francês, José Alves e Luís Pedroso de Barros.
As armas e as indumentárias de defesa utilizadas pelos bandeirantes
eram as seguintes:
Arcarbuz – arma de fogo de cano curto e largo, porém de lento
recarregamento.
Arco e flecha – Bastante utilizado tanto pelos índios como pelos brancos,
pela facilidade de reposição e arremesso nos combates e na caça.
Alfante - sabre curto, usado nos combates de corpo a corpo.
Gibão - vestidura de coro grosso que cobria os homens do pescoço
até a cintura, com o propósito de proteção às flechadas.
Mosquetão - arma de fogo parecida com a espingarda, porém muito
comprido (cerca de 1,75 mt) e pesado, tanto que precisava ser apoiado num
tripé. Era utilizado com freqüência nas emboscadas e nos sitiamentos de
combate.
- Gualteira era um capacete de pele de anta que protegia a cabeça.
Elemento importantíssimo para as Entradas e Bandeiras era a

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presença dos índios, que além de serem utilizados nos combates, também
serviam de guias, batedores e cozinheiros.
Como a páscoa no ano de 1722, aconteceu no dia 05 de abril, e a maioria
dos historiadores afirma que a Bandeira de Bartolomeu Bueno da Silva - o
filho - saiu de São Paulo, após essa comemoração festiva cristã. Atento-
me ao relato de José Peixoto da Silva Braga, (encarregado oficialmente de
escrever o dia a dia da Bandeira, pelo menos até desertar-se dela, quando
do encontro com o Rio Maranhão - afluente do Rio Tocantins – momento
que resolve descê-lo, acompanhando no pleito por alguns homens, entre
eles João da Matta e Estêvão Mascate Francês, além da presença de índios.
Cinco homens, entre os quais, Silva Braga e doze índios, chegam à Belém
do Pará.) de que Bartolomeu Bueno da Silva partiu de São Paulo, no dia 03
de julho de 1722.
Silva Braga narra que “Passado Rio Theate (Tietê) fomos pousar junto
ao mato de Jundiaí, quatro léguas distantes da cidade de São Paulo. Na
Marcha seguinte entramos no Mato e gastamos nele quatro dias”. A média
de caminhada da Bandeira, era de 10 km por dia.
Um artigo publicado no Clip’s Brasil – Revista de Campinas-SP, por
Benedito Barbosa Pupo, recheia de contribuições o roteiro da Bandeira de
Anhangüera Filho, até às margens do Rio Grande, que hoje faz fronteira
com o triângulo mineiro, sobretudo ao introduzir nesse percurso a presença
oportunista do sertanista Luís Pedroso de Barros:

Para facilitar a longa caminhada do Anhangüera até as margens


do Rio Grande, onde hoje se encontra a fronteira com o Triângulo
Mineiro, era necessário abrir caminho pelo interior da densa
mata que cobria São Paulo. Essa tarefa ficou com o sertanista
Luís Pedroso de Barros, um foragido que entrou em conflito
com o governo colonial e por isso, vivia escondido na floresta.
Na realidade, Pedroso de Barros apenas se ofereceu para abrir
caminho porque era oportunista e em troca pediu perdão, uma
condecoração da Ordem de Cristo e uma pensão vitalícia.
O chamado Caminho de Goyazes começava em Jundiaí e seguia
em direção à outra antiga povoação, Mogi-Guaçu, atravessando
uma paragem conhecida pelos jundiaienses como bairro de
Mato Grosso (atual Campinas-SP), local onde se Mato Grosso
(atual Campinas-SP) local onde se abriria três clareiras ou

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campinhos na mata. Esses campinhos serviam de pouso, tanto
para o Anhangüera como para outros aventureiros e tropeiros,
que passaram a comercializar gêneros com os poucos habitantes
dos “Goyazes” e da Capitania de São Paulo. Muitos deixavam
à Capitania para fugir das freqüentes epidemias de varíola e se
estabeleciam ao longo dos caminhos abertos na vegetação.
O movimento das Bandeiras e as expedições em busca de ouro,
saindo de São Paulo, segundo a tradição, deram origem à cidade
de Campinas. No início, a população era formada por gente vinda
do Vale do Paraíba, da região de Itu e de São Paulo.

Do Rio Grande até o Rio Paranaíba, que Silva Braga, dá-lhe o nome
batismal de Meia-Ponte, não são encontradas maiores dificuldades. Próximo
aos arredores da futura cidade de Catalão, em busca de suprimentos para
saciar a fome da Bandeira, Frei Antônio da Conceição fica plantando roça
de milho e feijão. Depois a Bandeira atravessa o Rio São Marcos, dirige-se
onde estão hoje erguidas as cidades de Cristalina, Luziânia e Brasília, essa
passagem é assim narrada por Silva Braga:

Nesta ocasião demos em umas grandes chapadas faltas de todo o


necessário sem matos, nem mantimentos, só sim bastante córregos,
em que havia algum peixe, dourados, traíras, (...) que foram todo nosso
remédio, achamos também algum palmito, do que chamam jaguaroba.

Neste estágio da Bandeira, a fome, a sede, a morte advinda dos


combates com os índios e animais selvagens, picadas de cobras e de várias
doenças, que faziam parte do cotidiano dos bandeirantes, trilhando as terras
dos afluentes do Rio Paraupava (hoje Tocantins). Justamente nestas paragens,
o historiador da Bandeira, Silva Braga, junto com alguns companheiros
de martírio e escravos que lhe pertencia, toma a decisão “Rodar rio abaixo
buscando alguma terra já povoada por não parecer à fome e sede no meio
daqueles matos”.
A decisão de abandono só não foi hostilizada pelo Bueno Filho,
porque Silva Braga pagou ao Bandeirante, certa quantia de dinheiro, que ele
afirmava ser devedora ao seu genro Ortiz. Nesses momentos de fome, morte
e desistência da Bandeira, o Anhangüera filho, sempre afirmava que ele só

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voltaria para São Paulo, após o seu intento de encontrar as minas. Porém, o
próprio Silva Braga, conta uma tentativa de motim, quando dois bastardos e
um mulato mameluco, juntamente com alguns paulistas, propuseram tirar
a vida de Bueno Filho, para colocar frente à Bandeira, o seu irmão Simão
Bueno, por tratar-se de uma pessoa menos radical nas suas decisões. Neste
relato, Silva Braga, esculpiu a personalidade do Anhangüera como uma
pessoa dificílima de trato, cabeça dura e descumpridora de tratos. Deixa a
entender as linhas de Braga, que se não fosse à presença do seu genro, João
Leite da Silva Ortiz, Bueno, Filho teria perecido na empreita assassinado.
Nos anos vagando pelos sertões goianos, historicamente comprova-
se, ato da Bandeira, a descoberta de três lavras de ouro. A primeira no sul
do estado, em Palmeiras, descoberta por João Leite da Silva Ortiz. A Seg-
unda no Rio Claro, manancial que era chamado de Pasmado. A terceira e
última lavra, a de Pilões, como ficou conhecido o Rio Araguaia, além da
denominação de Araés. Dessas três lavras a Bandeira, conseguiu acumular
32/8 (oitavas) de ouro. Algo em torno de 111 gramas.
Outra divergência entre os cronistas da Bandeira de Bueno Filho, é
se ele decidira retornar a Capitania de São Paulo com a modesta amostra
de ouro, ou se teria seguido o curso do Rio Vermelho. Aí foi que ele deu
com o local da Tribo Goyá, onde na memória de alguns índios, era viva a
lembrança do seu pai, o Diabo Velho, após quarenta anos. Compreensível
lembrança: como esquecer o Diabo em pessoa?
No entanto, a localização exata, onde Bueno estivera com seu pai,
após várias décadas, somente se daria após seu retorno de São Paulo, no
ano seguinte: 1726.
Ostentando a tímida amostra de 111 gramas de ouro, a sua Bandeira
reduzida a 40 pessoas, retorna e chega a São Paulo, no dia 21 outubro de
1725, para Bueno ser recebido como herói.
Seis dias após a chegada da Bandeira, o Capitão-General Rodrigo
César de Menezes, escreve ao Rei D. João V, relatando o feito de Bueno e
seus integrantes, e solicita permissão e apoio para Bueno constituir uma
nova Bandeira e retornar à terra dos Goyazes.
A resposta veio através da carta datada de 29 de abril de 1726,
com o monarca autorizando atender todos os pedidos formulados pelos

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descobridores das Minas de Goiás. Atendido os pleitos, foi constituída
uma Bandeira, expressivamente maior do que a primeira, nomeado Bueno
a Capitão-Mor das Minas e João Leite da Silva Ortiz, Guarda-Mor das
Minas. No mês de julho de 1726, saía a Bandeira de São Paulo com destino
às minas dos Goyazes. Frente à Bandeira, Bueno, dava vida ao seu desejo
de fixar residência nas terras que ficariam sob a sua guarda. O que de fato
acontece, com as terras goianas, embalando até hoje, seus restos mortais.
Segundo o competente historiador Paulo Bertran, depois de seis
meses de caminhada, a Bandeira chega às margens do Rio Vermelho e
Bueno determina aos seus comandados que procurem o local, onde seu pai
plantara roças, havia 40 anos. Após 7 dias de procura, o local é encontrado,
justamente onde hoje está assentada a cidade Goiás, patrimônio cultural da
humanidade. O arranchamento do Diabo Velho aconteceu próximo à atual
sede da Prefeitura de Goiás, nos fundos da casa que pertenceu a Manoel
Pires Neves e posteriormente ao Padre Lucas.
O primeiro povoamento em terras goianas acontece no garimpo da
Barra, local que Bueno escolhe para morar. Rapidamente, outros centros de
garimpos e futuros arraiais se formam: Ferreiro, Anta, Ouro Fino e Santa Rita.
Retornando Bueno a cidade de São Paulo, no ano de 1728, em
busca da sua nomeação ao cargo de Superintendente das Minas de Goiás,
encontra a capitania agora administrada pelo Capitão-General Antônio da
Silva Caldeira Pimentel, que reluta em conceder-lhe as honrarias previstas,
pelo seu antecessor Rodrigo César de Menezes, acobertadas por D. João V.
Sem forças para mudar a intenção documental, Caldeira Pimentel, confere,
no dia 08 de agosto de 1728, a Bueno, os títulos de Capitão-Regente e
Superintendente Geral das Minas de Goiás, ainda detendo-lhe os poderes
cíveis, criminais, militares e direito de atribuir sesmarias. Coube a João
Leite da Silva Ortiz, o título de guarda-mor das minas. Os demais sócios de
Bueno também receberam honrarias de menor porte.
Voltando para Goiás aureolado de todos os poderes para administrar
as minas, segundo certos historiadores, Bueno adere-se ao nepotismo,
nomeando parentes para os principais cargos, a exemplo de Antônio
Ferraz de Araújo, seu sobrinho, nomeado Comandante do Arraial de
Sant’Ana. As nomeações para estes estudiosos causaram uma grande

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mal estar e desobediência entre alguns de seus companheiros e colonos
que aqui se arranchavam, estes na sua maioria, da pior espécie moral. Os
agentes encarregados da cobrança real eram expulsos pelas populações dos
povoados, e assassinatos faziam parte do cotidiano.
José Martins Pereira de Alencastre, no seu livro Anais da Província
de Goiás, repassa clima do caos que imperava nas minas goianas:

Tal era o desrespeito à” autoridade e o espírito de desordem que reina-


va, principalmente no arraial de Meia Ponte, que, indo ali o mestre de
campo Manoel Dias da Silva, por ordem de Bueno, para restabelecer a
tranqüilidade, foi obrigado a retirar-se no meio de um motim popular, a
cuja frente se colocou Manoel Rodrigues Tomaz, arrogando-se o título
de guarda-mor das minas de Meia Ponte.

O conhecimento que teve o governador dessas desordens o forçou a


tomar providências; e, entre outras, assentou ser conveniente dividir Goiás
em dois distritos.
Manoel Rodrigues, processado pelo ouvidor geral Gregório Dias da
Silva, teve afinal, por ordem do governador, de assinar termo de nunca mais
entrar em Meia Ponte.
As atribuições conferidas a Bueno foram sendo desse modo restringidas
e limitadas”.

Feita essa divisão, continuou Bueno a Administração do de Sant’Ana,


e para Meia-Ponte foram nomeados sargento-mor-regente José Sotel de
Carvalho, e superintendente-guarda-mor Antonio de Sousa Bastos, o
qual foi sucedido por Fernão Bicudo de Andrade, capitão das ordenanças,
depois coronel por nomeação de D. Luiz Mascarenhas.

No entanto, o aludido nepotismo de Bueno e a sua suposta


incapacidade administrativa, são questionáveis para não dizer vulnerável.
Vejamos alguns pontos discutíveis:
• Bueno ainda jovem tinha acompanhado o pai, na primeira incursão
às terras goianas. Essa experiência, naturalmente, fortaleceu com rigor seu
caráter.

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• Após a primeira vinda a Goiás, consta depois em seu currículo,
a passagem como assistente das minas de Pitangui – responsável pela
arrecadação do quinto – além da experiência da exploração de ouro nas
minas de Sabará e São João do Pará.
• Entre tantos sertanistas paulistas, ele é o escolhido para liderar a
Bandeira de 1722, com a aprovação do Capitão-General da Província de
São Paulo, Rodrigo César de Menezes e de D. João V.
• No comando da Bandeira que vagou perdida, por mais de três
longos anos, enfrentou revoltas, desistências de vários integrantes, doenças,
mortes, fome e sede. Apesar de toda diversidade, posicionava-se sempre
que só retornaria à província de São Paulo, após encontrar o veio dourado
que vira com seu pai.
• Os parentes nomeados eram pessoas experientes, confiáveis e de
melhor capacidade administrativa que ele poderia encontrar entre os
primeiros habitantes das terras goianas. O núcleo central da chamada
desordem, dava-se no Arraial de Meia-Ponte, onde Manuel Rodrigues
Tomar, tomou para si o título de Guarda-Mor, e não obedecia as ordens de
Bueno.
• Caldeira Pimentel era inimigo do seu antecessor Rodrigo César de
Menezes, justamente quem deu a Bueno, todo apoio às incursões goianas.
• Caldeira Pimentel, inventou uma suposta insurreição nacionalista
de Bueno e Ortiz, nas minas goianas, que teria sido arquitetada pelo sócio
deles, Bartolomeu Pais de Abreu, que ficou encarcerado na fortaleza de
Santos.
• Todas as evidências apontam para Caldeira Pimentel, como autor
intelectual do assassinato de Ortiz em Recife-PE, no ano de 1730.
• Não é sem propósito imaginar, que o prodigioso Governador da
Província de São Paulo, tivesse proposto a Bueno e Ortiz, ou mesmo a
Bartolomeu Pais de Abreu, parceria corrupta para desviar parte do ouro
produzido nas minas de Goiás. Quem sabe ainda ter exigido comissão nas
passagens dos rios concedidas aos bandeirantes.
• Sobre essas passagens ele escreve ao rei D. João V. pedindo as suas
cassações, narrando que Bueno e Ortiz, já provocavam prejuízos à fazenda
real, a partir das datas concedidas por eles a pessoas, na estrada (ainda

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em São Paulo) com destino às minas goianas. Mesmo antes da chegada
da resposta do rei, Caldeira Pimentel, havia colocado em leilão público a
arrematação das passagens dos rios.
• Caldeira Pimentel, insatisfeito com a resposta do rei, que manteve
os direitos de passagens, até que fosse ouvido o Conselho Ultramarino,
escreve-lhe novamente, relatando que encontrou falsificação no documento
(provisão de 02 de julho de 1726) do seu antecessor Rodrigo César de
Menezes, praticada por Bueno e Ortiz, que aumentava suas sesmarias. O
que de fato nunca aconteceu.
Caldeira Pimentel foi destituído do cargo de Capitão-General, devido ao
seu suposto envolvimento com estelionatário Sebastião Fernandes do Rego.

Analisando esses pontos é fácil chegar à conclusão, que a ineficácia


administrativa de Bueno, foi plantada por alguns historiadores, ou
pelo menos não foi questionada, como poderia ser. A mentira nutriu o
maquiavelismo desenfreado de Caldeira Pimentel, contra os Bandeirantes.
O golpe final contra Bueno e descendentes de Ortiz, veio em 29 de
outubro de 1733, através da carta régia que acabava com todas as concessões
a eles atribuídas. Ainda nesse ano, o ex-ouvidor da capitania de São Paulo,
Gregório Dias da Silva é nomeado Superintendente Geral das Minas de
Goiás. No dia 22 de dezembro 1733, é editada uma portaria, obrigando
Bueno e os descendentes de Ortiz, a pagarem exagerados dízimos de 1722
a 1733. A cobrança desses dízimos implicava numa soma bem superior a
todo patrimônio que o sogro Bueno e o genro Ortiz, puderam acumular.
Na carta em que D. Luis da Távora, Conde de Sarzedas comunica
a sua destituição do cargo de superintendente das Minas de Goiás,
simbolicamente o nomeia Guarda-Mor do Arraial e Coronel Regente dele.
Cargos sem importância política e benesses econômicas. Destituído dos
seus verdadeiros poderes e pobre, Bartolomeu Bueno da Silva, por volta
dos seus 85 anos, faleceu no Arraial da Barra, em 19 de setembro de 1740.
Para os últimos dias de vida, isolamento e pobreza de Bueno, o
escritor Colemar Natal e Silva, apresenta a seguinte versão:
“Bartolomeu Bueno, que poderia ter deixado aos seus uma imensa
fortuna, estava tão pobre, no quartel último de sua vida, que para se
manter obteve da grande generosidade de D. Luiz de Mascarenhas, a
dádiva de uma arroba (14,688kg) de ouro, dada por D Luiz sob sua

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responsabilidade e para esse fim retirada das rendas do Estado.

Esse gesto justíssimo e perfeitamente explicável por parte daquele


governador, beneficiando, ou melhor, salvando da miséria o descobridor dos
tesouros que explorava que tanta riqueza lhe tinham dado e continuavam
a dar em vez de ser, como devia, louvado como um gesto nobre do
reconhecimento foi desaprovado e encarado como um ato condenável.
A tal extremo chegou à ingratidão, que ordenou o soberano português
a restituição da quantia, com a expressa recomendação de que se ela não
pudesse realizar, fossem seqüestrados pelos meios ordinários os bens do
velho descobridor abandonado.
Mas a sorte fez-se piedosa para poupar a Bueno, pela morte, a angústia
última e cruel de presenciar mais essa ingratidão”.

No entanto, confere o escritor Americano do Brasil, uma visão mais


racional, a respeito da “generosidade de D. Luiz de Assis Mascarenhas”,
então Governador da Capitania:
Foi em seu governo que, no arraial da Barra, o primeiro povoado ereto
nas minas de Goiás, a 19 de setembro de 1740, faleceu o regente coronel
Bartolomeu Bueno da Silva, o infeliz descobridor das mais ricas jazidas
auríferas de Portugal. E morreu em grande pobreza, acabrunhado de
anos e fadigas, e sob a impressão dolorosa da ameaça de confiscação dos
seus bens para pagar os dízimos atrasados, de 1722 a 1733, importando
em mais de uma arroba de ouro. São unânimes os cronistas de Goiás em
afirmarem esta dívida de uma arroba de ouro, devida pelo espólio de
Bueno, adiantando ser a mesma proveniente de um empréstimo, feito
por D. Luiz ao descobridor das minas. Parece-nos entretanto descabi-
dos os dizeres dos cronistas, sendo difícil de acreditar-se que D. Luiz
efetuasse tão vultuoso empréstimo a quem caíra das graças do rei há
tanto tempo: a melhor explicação é atribuir esta dívida de uma arroba
de ouro ao importante dos dízimos atrasados do descobridor, os quais,
não sendo satisfeitos, ficaram como emprestados ao coronel regente.
Ainda para entendermos a “generosidade” de D. Luiz, vejamos o que
diz o historiador Joaquim Martins Pereira de Alencastre, no seu livro, Anais
da Província de Goiás:

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Para poder viver com alguma decência no último quartel da vida, foi
preciso que o generoso D. Luíz de Mascarenhas. Sob sua responsabilidade,
lhe mandasse dar (grifamos), em nome de el-rei, uma arroba de ouro
das rendas do Estado.

Esse ato de muinificência, levado ao conhecimento do soberano,


para ser aprovado, foi, ao contrário, severamente extranhado, e, o que
é mais extraordinário ainda, ordenou-se a restituição dessa quantia,
recomendando-se que, quando não pudesse ter ela lugar pelos meios
ordinários, fossem seqüestrados os bens do beneficiado”.
A verdade é que é D. Luiz de Assis Mascarenhas não tinha empatia
por Bueno, nenhum sentimento de humanidade, sequer reconhecimento
das fartas arrobas de ouro, extraídas das minas, por ele descobertas, e
enviadas para Portugal.
Por volta do ano de 1743, ainda no governo de D. Luiz, foi promovido
o seqüestro dos seus bens.

São filhos de Bartolomeu Bueno da Silva (Anhangüera, Filho) e


Joanna de Gusmão:
1 - Coronel Bartholomeu Bueno da Silva (Neto), casado pela primeira
vez com Maria Theresa Izabel Paes, falecida em 1752, em Itu-SP com 47 anos.
Filha do sargento-mór de batalhas, Domingos Jorge da Silva e de Margarida
de Campos Bicudo.Bartholomeu Bueno coronel do regimento de cavalaria
de Vila Boa de Goiás foi a Lisboa representar perante a corte contra as
injustiças praticadas contra seus pais e avós, e obteve da rainha uma carta
regia datada de 1746, em que lhe restaurava os direitos de passagens por
três vidas nos rios Jaguari, Atibaia, Rio Grande, Rio das Velhas e Corumbá;
e reservava as passagens dos mais rios da antiga concessão ao único filho
vivo de João Leite da Silva Ortiz, Estevão Bocarro, que faleceu sem deixar
descendentes.
Na volta da corte, Bueno Neto, na Capitania de São Paulo, gasta
demasiadamente ao formar um pequeno exército adquirindo oito peças de
artilharia, 60 escravos devidamente fardados e armados, além de contratar
profissionais para construírem barcas e quartéis. Todo esse aparato tinha
o propósito de combater os índios Caiapós, remunerado pela Capitania

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de Goiás. Não deu certo o intento do Coronel Bueno. Devedor dos bens
adquiridos de forma exagerada não teve como honrar a dívida contraída
junto aos seus credores.
Pela Segunda vez casou-se em 1767, na Vila de Meia Ponte-GO, com
Maria da Encarnação, filha de Antonio Bueno de Sousa e Luiza Martins
Bonilha. Faleceu o Coronel Bartolomeu em 1776, sendo enterrado no Porto
do Corumbá. Teve o casal Coronel Bartolomeu Bueno da Silva e Maria
Theresa Izabel Paes, os seguintes filhos:
- Bartolomeu Bueno de Campos Leme e Gusmão. Com o falecimento
do seu pai, os rendimentos das passagens dos rios, voltaram aos cofres da
Coroa Lusitana. Seguindo os passos do genitor solicitou o direito hereditário
das passagens. A pretensão foi atendida através da carta régia de 17 de julho
de 1782. Foi casado com Ana Teixeira da Mota, falecida em 1809. Teve o
casal os seguintes filhos:
I – Maria Pulcina Bueno, conhecida como Sinhazinha, nasceu no
Porto do Corumbá, no ano de 1798, onde faleceu solteira.
II – Mariana Fausta Bueno, nasceu no Porto do Corumbá, no ano de
1804. Casou-se com Antônio Joaquim de Araújo. Teve o casal as seguintes
filhas:
- Eulária Bueno de Araújo Anhangüera
- Exordina Bueno de Araújo Anhangüera
- Eulária Bueno de Araújo Anhangüera. Nasceu no Porto do Corumbá,
no ano de 1825. Casou-se com Joaquim José Alves (Álvares). Eulália Bueno
de Araújo Anhangüera faleceu no Porto do Corumbá, no ano de 1912.
Teve o casal a seguinte filha:
- Alzira Cassimira do Espírito Santo nasceu no Porto do Corumbá,
no ano de 1842. Casou-se com Manoel de Sousa Lobo.
Filhos do Casal:
I – Olintho Marçal de Souza Lobo
II – Bartolomeu Bueno Lobo
III – José Sanches de Souza Lobo

I – Olintho Marçal de Souza Lobo nasceu no Porto do Corumbá, no


ano de 1866. No dia 15 de junho de 1893, casou-se com Angélica Nunes da

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Silva, filha de Manoel Nunes da Silva e Francisca Corrêa de Sousa. Olintho
faleceu em fevereiro de 1908, na Fazenda Boa Vista, de sua propriedade,
onde foi sepultado.
Filhos do Casal:
- Bartholomeu Lobo nasceu no dia 24 de agosto de 1894. Casou-se
com Carlinda de Oliveira, filha de Pedro Lázaro de Oliveira e Amélia Pires
Barbosa.
- Maria Olinta Lobo nasceu no dia 28 de agosto de 1895. Casou-se
com Alonso Estrela.
- Altina Lobo nasceu no dia 19 de março de 1902.
- Maria Olinta nasceu em 1908.

II – Bartolomeu Bueno Lobo faleceu ainda criança.


III – José Sanches de Souza Lobo casou-se com Mariana Garcia Rosa,
filha de Francisco Rosa e Maria Libânia Garcia.
Filhos do Casal:
- Nicolau Lobo Bueno de Anhangüera nasceu em 1892. Casou-se
com Teodomira Cintra, filha de Juvêncio Cintra e Ana Rosa Garcia.
- Vicente Lobo Bueno de Anhangüera nasceu no dia 19 de julho de
1893. Casou-se com Emília Esméria da Costa, filha de Manoel Lima e Silva
e Ana Leme.
- Oliveiros Lobo Bueno de Anhangüera nasceu em 1897.

Alzira Cassimira do Espírito Santo teve também os seguintes filhos


naturais:

I – Joaquim Bueno Lobo casou-se com Cassiana Garcia Rosa, filha de


Antônio Garcia Rosa e Umbelina de Jesus. Teve o casal os seguintes filhos:
- Paulo...nasceu em 1902.
- Maria...nasceu 1908.
- João...Nasceu em 1912.
- Julieta...Nasceu em 1915.
II – Maria Laurentina do Espírito Santo faleceu sem descendentes.

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- Exordina Bueno de Araújo Anhangüera. Casou-se em Santa Cruz
(GO) com Antônio José Alves (Álvares). Faleceu o casal sem deixar filhos.

Um Pouco mais de Alzira Cassimira do Espírito Santo

Manoel de Sousa Lobo, descendente de tradicional família de


colonizadores das terras dos Goyazes desentendeu-se com a esposa no Porto
do Corumbá, reinando a desarmonia entre o casal. Insinuações históricas
apontam que Alzira mantinha um comportamento matrimonial dúbio.
O marido alimentando o desejo de voltar para a sua cidade de Santa
Cruz, a uma distância aproximada de 20 km, do aldeamento secular dos
Buenos, lá planejou montar um comércio.
Quando os tropeiros chegaram com as mercadorias, no Porto do
Corumbá, destinadas ao futuro comércio, Eulália e Alzira, acreditando que
o negócio que seria montado era para atender os desejos da amante de
Manoel Lobo, que ele mantinha em Santa Cruz, arquitetaram um plano
mortal.
Os tropeiros partiram com as mercadorias para Santa Cruz, ao passo
que Manoel resolvera permanecer no Porto para depois lá encontrá-los.
Alojado no paiol, onde inclusive dormia, por causa das divergências com
a esposa e com a sogra. Neste local em que se arranjara, na noite de 24 de
outubro de 1871, jogando truque, jogo de baralho que implica na parceria
de duas duplas, foi por um tiro disparado de fora para dentro, por uma
fresta do paiol, mortalmente atingido. O autor do disparo era Camilo de
Espíndola, que ainda a pouco fazia parte do jogo, dele se ausentando com
a desculpa de beber água, deixando em seu lugar uma pessoa que assistia
ao jogo.
Camilo de Espíndola não era possuidor de boa fama. Mesmo assim
usufruía do convívio das descendentes do Anhangüera. Os irmãos de
Manoel sabendo que a justiça seria frouxa para agir contra mãe e filha,
tomaram a iniciativa de denunciá-las ao ministério público. Apesar da
decadência econômica, a família dos Buenos ainda mantinha certo prestígio
histórico das lidas passadas.
Eulália e Alzira foram presas juntamente com outros quatro acusados.

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Num segundo momento a denúncia contra Eulália e outros dois dos seus
agregados foi retirada, indo a julgamento apenas Alzira e dois mandatários
do crime. No último e decisivo júri de Alzira foi constituído como seu
advogado de defesa, o Cel. Antônio da Silva Paranhos, chefe do Partido
Conservador em Catalão e Avô da mulher do juiz de Santa Cruz, Dr. Silva
Porto. O resultado não poderia ser outro: foi por unanimidade absolvida.
Depois de 6 meses e 12 dias de prisão retorna à vivenda dos
Anhangüeras. Algum tempo depois contraiu novas núpcias com o português
José Maria da Silva Vieira. Sua nova união a exemplo da anterior foi um
desastre matrimonial. O marido lusitano mostrou-se hábil depredador do
já minguado patrimônio da família. Novamente a segunda união oficial foi
desfeita, porém, sem morte por encomenda.
Alzira Cassimiro do Espírito Santo, que de sagrado não tinha nada,
incorre em seu sobrenome uma indagação? Sua mãe, Eulália, diante de
fartos diálogos travados com o jornalista Moisés Santana, às margens do
Porto do Corumbá, durante o período que ele residia, na cidade de Campo
Formoso, atual município de Orizona (a 40 km do Porto), demonstraram
nessas conversas o orgulho, que a patriarca nutria pela sua descendência.
No entanto, enigmaticamente Eulália não tatuou o sobrenome da filha com
as insígnias dos Buenos. Moisés perdeu a oportunidade de desvendar esse
mistério.
Faleceu Alzira, provavelmente, por volta de 1880. Como já fazia sua
mãe Eulália, ela terminou por criar no Porto do Corumbá, seus quatro
netos: dois legítimos e dois naturais.

Seqüência dos filhos do Bartolomeu Bueno de Campos Leme e


Gusmão:

III – Bartolomeu Bueno da Câmara nasceu no Porto do Corumbá, no


ano de 1806. Casou com sua prima Marianna Joaquina do Prado Duplaque,
neta de Domingos do Prado e Leonor Bueno da Silva. A união durou pouco
tempo e não houve sucessão. Antes do casamento, este Bartolomeu teve um
filho natural com o nome de José...que faleceu adulto sem descendentes.
Transcrição do termo de óbito de Bartolomeu Bueno da Câmara:

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Aos vinte e quatro de maio de mil oitocentos e trinta e três faleceu da
vida presente com os Sacramentos BARTOLOMEU BUENO DA CA-
MARA casado com Dona Marianna Joaquina e deixou seu testamento
solene. Foi encomendado solenemente e acompanhado por mim e pela
Irmandade do Santíssimo Sacramento desta Freguesia e sepultado nesta
Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Santa Cruz de Goyaz e para
constar fiz este assento. O Vigário Colado Antonio Joaquim Teixeira.

Seqüência dos filhos de Bartolomeu, Neto:

1.2 - José Joaquim de Gusmão, sem dados.


1.3 - Alexandre de Gusmão, sem dados.
1.4 - Margarida de Campos Bueno casou-se com seu sobrinho
Lourenço Cardoso de Negreiros, filho do Ten. – Cel. Antonio Cardoso de
Campos e Quitéria Leite da Silva.

Seqüência dos filhos do Anhangüera, Filho:

2 - Joanna de Gusmão foi casada com Ignacio Dias Paes, filho de José
Dias da Silva e Leonor Corrêa de Abreu. Seu esposo foi sargento-mor em
Vila Boa de Goiás, tornando-se um dos seus primeiros juizes ordinários.
Faleceu no Arraial de Tesouras.
Filhos do casal:
2.1 - José Dias Paes, mudou-se de Vila Boa para Cuiabá, onde casou
com Anna Theresa.
2.2 - Alexandre de Gusmão da Silva Leite nasceu em Vila Boa, onde
foi soldado dragão. Mudou-se Cuiabá (entre 1786 e 1787), nesta Vila casou
e deixou geração.
2.3 - Ignacio Dias Paes, também teria sido soldado Dragão em Vila Boa.
2.4 - Antônio Bueno de (Gusmão) ou (da Silva) foi soldado Dragão
em Vila Boa.
2.5 - Manuel Dias Paes era vivo em e solteiro em 1792.
2.6 - João Leite da Silva
2.7 - Francisco Dias Paes foi residir com o irmão José Dias Paes em
Cuiabá. Muda-se para o Rio de Janeiro, onde se ordena padre. Regressou à
Cuiabá, no ano de 1798.
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2.8 - Leonor Correia de Abreu foi também morar com os irmãos em
Cuiabá.
2.9 - Ana de Gusmão foi casada com o alferes João Gáudie Lei,
natural de Parati-RJ, integrante da companhia de soldados aventureiros de
Vila Boa.
Filhos do casal:
- Capitão João Gáudie Lei, nascido em Vila Boa.
- Capitão-mor André Gáudie Lei, nascido em Vila Boa.
2.10 – Violante Barbosa de Gusmão foi casada com Manoel Nunes
de Brito Leme que Ocupou o cargo de juiz ordinário em Vila Boa. Casado
novamente faleceu Manoel Nunes de Brito Leme em Cuiabá, no ano de
1794.
3 - Izabel Bueno da Silva foi casada com João Leite da Silva Ortiz,
guarda-mor das minas de Goiás, filho de Estevão Raposo Bocarro e Maria
de Abreu Pedroso Leme.
Filhos do casal:
3.1-Bartolomeu Bueno da Silva. Faleceu na travessia do Atlântico, em
direção a Coimbra, onde iria estudar.
3.2-Estevão Raposo Bocarro faleceu solteiro em Goiás, sem deixar
sucessão.
3.3 - Thereza Leite da Silva, casada em Araçariguama-SP, com
Januário Godoy Moreira. Pais de:
3.3.1-Maria Bueno, casada em 1762, em Mogi Guaçu-SP, com José
Nunes da Silva.
3.3.2 – Marcelo de Godoy Moreira, casado em 1767, em Mogi Guaçu-
SP, com Tereza Maria.
3.3.3 – Bartolomeu Bueno da Silva, casado em 1775, com Magdalena
Barbosa de Siqueira.
3.4 – Quitéria Leite da Silva, casada em Vila Boa com Ten. - Cel.
Antônio Cardoso de Campos, do Regimento de Cavalaria das Minas de
Goiás e guarda-mor do Arraial de Crixás, onde foi também Juiz Ordinário.
Pais de:
3.4.1-Lourenço Cardoso de Negreiros, casado com sua tia Margarida
de Campos Bueno, nascida no Porto do Corumbá, filha do Cel. Bartolomeu
Bueno da Silva, este por sua vez, primeiro dos nove filhos do Anhangüera,

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Filho. Lourenço Cardoso foi administrador dos rendimentos reais e agente
do julgado de Crixás, entre 1794 a 1806.
3.4.2 – João Leite da Silva Gusmão residia em Vila Boa, no ano de
1769.
4 - Balthazar de Godoy Bueno de Gusmão foi guarda-mor das minas
de Vila Boa e foi casado com Rita de Toledo, filha de João Barbosa Lara e
Joanna de Toledo Canto. Faleceu no dia 28 de novembro de 1765. Com
Joanna, sua 3ª mulher teve a seguinte geração:
4.1 – Sebastiana nasceu na Fazenda Bom Sucesso, no dia 20 de janeiro
de 1753, sendo batizada no Arraial de Anta fundado por Manuel Peres
Calhamares, a 4 de fevereiro do mesmo ano.
4.2 – Joana nasceu no Arraial de Anta, no dia 31 de maio de 1756.
4.3 – Inácio nasceu no Arraial de Anta, no dia 1º de fevereiro de
1762.
4.4 – Bartolomeu Bueno da Silva nasceu em 1764. Casado com
Josepha Mendes, faleceu em 1811.
5 - Rosa Bueno de Gusmão foi casada com Bento Paes de Oliveira,
falecido em 1753 em Goiás, filho de Francisco Paes de Oliveira d’Horta
e Marianna Paes Leme. Teve o casal 7 filhos que nasceram em Goiás. No
entanto, não consegui fazer a identificação dos descendentes.
6 - Francisco Bueno da Silva - Assim como o pai foi sertanista
atuando nas primeiras descobertas auríferas da Província de Minas Gerais.
Acompanhou o seu cunhado João Leite da Silva Ortiz, na viagem que
ele pretendia fazer a Lisboa, para reclamar das perseguições do capitão-
general Antônio da Silva Caldeira Pimentel, praticadas contra a família
Anhangüera. Na cidade de Recife-PE, enquanto Ortiz aguardava embarque
foi morto por envenenamento. Seguindo viagem à corte portuguesa,
Francisco faleceu sem conseguir o intento familiar.
7 - Leonor Bueno da Silva foi casada com Domingos Rodrigues do
Prado, filho de pai do mesmo nome e de Violante de Siqueira.
Filhos do casal:
7.1- Domingos Rodrigues da Silva, capitão-mor foi casado com Maria
Jorge de Araújo, filha de Pascoal Leite Paes e Maria Araújo.
7.2 - Bartolomeu Bueno do Prado foi casado com Isabel Bueno da
Fonseca, filha de Francisco Bueno Luiz da Fonseca e Maria Jorge Velho

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8 - Escholastica de Gusmão casada em 1726 em Parnaíba-SP, com
Luiz Pedroso Furquim, filho do capitão Antonio Furquim da Luz.
9 - ? (Não foi possível identificar o seu nome). Casada em Goiás com
Francisco Rodrigues Penteado.

Seqüência dos filhos do Anhangüera, Diabo Velho:

9-Izabel Cardoso casou-se a primeira vez, no ano de 1696, em


Parnaíba-SP, com Miguel Garcia Bernardes, filho de Manoel Garcia
Bernardes e Leonor Garcia. Seu esposo era sertanista e faleceu em Jundiaí-
SP, em 1702. No mesmo ano contraiu núpcias, pela segunda vez, em
Parnaíba-SP, com Pantaleão Pedroso, filho de pai com o mesmo nome e
Maria Rodrigues.
3-Bartolomeu Bueno, o Moço, em prováveis datas nasceu em 1585 e
morreu em 1638 (julho deste ano foi lido o seu testamento). Escrevagista
caçador de índios foi proprietário de fazendas nas aproximidades das
atuais cidades paulistas de Santana do Parnaiba e Atibaia. Ocupou diversos
cargos públicos. Casou-se pela primeira vez com Agostinha Rodrigues,
filha de Garcia Rodrigues Velho e Catharina Dias. Contraiu núpcias pela
segunda vez em 08 de janeiro de 1631, na Vila de São Paulo, com Marianna
de Camargo, f.ilha de Jusepe de Camargo e Leonor Domingues. Nasceram
deste casamento, os filhos:
1 - Francisco Bueno de Camargo
2 - Bartolomeu Bueno Cacunda

4 - Jerônimo Bueno foi sertanista caçador de índios. No posto de


capitão-mor de uma tropa em 1644, com o propósito de aprisionar nações
indígenas assentadas às margens do Rio Paraguai, domínio de Castela, foi
num destes embates foi morto com toda sua tropa. Contraiu matrimônio
com Clara Parente, filha de Manoel Preto e de Agueda Rodrigues.
Filhos do casal:

1 - Maria Bueno
2 - Bartholomeu Bueno
3 - Jerônimo Bueno – Primo em 1º grau de Bartolomeu Bueno da

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Silva (Pai), junto com o irmão Bartholomeu Bueno foram os primeiros da
família Bueno a adentrarem os sertões de Goiás, entre os anos de 1664 e
1665, fazendo parte da bandeira de Francisco Lopes Benavides. Jerônimo
Bueno tinha o apelido de “Pé-de-Pau”, por ter uma perna de postiça de
madeira. Foi assassinado com um tiro de espingarda, na Vila de São Paulo,
por volta de 1692. Quanto ao destino de Bartholomeu Bueno, não consegui
outras informações.
4 - Izabel de Ribeira
5 - Messia Bueno de Ribeira

5 - Maria de Ribeira casou-se com João Ferreira Pimentel de Távora,


falecido em 1625, filho de Vicente da Rocha Pimentel e Messia Ferreira de
Távora.
Filhos do casal:
1 - Pedro da Rocha Pimentel
2 - Messia Ferreira Pimentel de Távora
6 - Messia de Ribeira casou-se com o capitão Domingos Garcia.
7 - Izabel de Ribeira foi casada em primeiro matrimônio com Manoel
Fernandes Sardinha, falecido em 1633, filho de Gregório Fernandes e
Beatriz Gonçalves. Contraiu a segundas núpcias no ano de 1637, em S.
Paulo, com o capitão Francisco de Camargo, filho de Jusepe de Camargo e
de Leonor Domingues. Só teve um filho gerado do primeiro casamento:
1 – Manoel Fernandes Sardinha

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Galeria de Fotos e Documentos
Reprodução Reprodução

Amador Bueno, irmão de Francisco Bueno - pai Anhanguera, Pai


do Diabo Velho.

Acervo da Família Pitaluga - Foto: Ubirajara Galli

Talheres que pertenceram a Amador Bueno

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Adriana Godinho Wikipédia, a enciclopédia livre

Casa onde provavelmente residiu os Anhagüera, pai e filho,


em Santana do Parnaíba-SP
Rainha Mariana, soberana de Portugal, entre
1750 a 1777, assinou a carta régia de 18 de maio
de 1746, autorizando as passagens dos rios ao
Bartolomeu Bueno da Silva, Neto.
Wikipédia, a enciclopédia livre
Catalão, Estudo Histórico e Geográfico, de
Maria das Dores Campos

Rainha Maria I, que reinou em Portugal, entre 1777


a 1816, assinou a carta régia de 17 de julho de 1782,
autorizando as passagens dos rios ao Bartolomeu
Bueno de Campos Leme e Gusmão
Cel. Antônio da Silva Paranhos, defensor de Alzira
Cassimira do Espírito Santo, seria eleito anos mais
tarde, Senador Constituinte de 1891. Por motivos
políticos foi assassinado em Catalão-GO, em 1897.

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Certidão de Casamento de Olintho Marçal de Souza Lobo e Angélica Nunes da Silva.

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Paulo Sampaio

Olyntho Marçal de Souza Lobo

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Paulo Sampaio

Angélica Nunes da Silva

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Certidão de Nascimento de Bartholomeu Lobo, filho de Olintho Marçal de Souza Lobo e Angélica Nunes da Silva.

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Certidão de Nascimento de Maria Olinta Lobo, filha de Olintho Marçal de Souza Lobo e Angélica Nunes da Silva.

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Certidão de Nascimento de Altina Lobo, filha de Olintho Marçal de Souza Lobo e Angélica Nunes da Silva.

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Certidão de Nascimento de Vicente Lobo de Souza, filho de José Sanches de Souza Lobo e Mariana Rosa Garcia

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Maria Novaes

Jornalista e pesquisador Carlos Novaes no local do antigo embarque e desembarque do Porto dos Anhangüe-
ras, às margens do Rio Corumbá.

Carlos Novaes

No ano de 2004, os descendentes dos Anhangüeras, residentes no Estado de São Paulo, calvagando refizeram a
trilha do Anhangüera, Filho, de passagem pelo Porto dos Anhangüeras e por Pires do Rio, receberam a bênção
do Frei Juvenal Leah, missionário da Ordem de Frades Menores.

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A Família Pitaluga

Um estudo da família Pitaluga procedido na década de quarenta,


pelo genealogista Bi Galvão - Umbelino Galvão de Moura Lacerda (pai da
folclorista Regina Lacerda) norteia a descendência do Anhangüera, Filho em
um dos seus muitos troncos familiares plantados na terra que ele colonizou.
Complementando e atualizando a pesquisa de Bi Galvão, chegamos a
Feliciana de Araújo Lima, neta de Anhangüera, Filho e Joanna de Gusmão.
No entanto, da prole de nove filhos do casal, não podemos afirmar qual
deles teria gerado essa neta.

De Feliciana de Araújo Lima descende:

- Francisca Bueno da Fonseca casada com Ricardo Henrique da Silva.


- Ana Ferreira da Fonseca, morava em Pilar no ano de 1832.
- Maria Bueno da Fonseca (falecida antes de 1832), precursora da
linhagem dos Pitaluga teve com Padre João Batista Gervásio Pitaluga, a
seguinte Geração:
Filho 1 – Brigadeiro Joaquim Bueno Pitaluga, que também assinava
Caiapó, nome adotado por uma convenção de intelectuais, no tempo dos
seus estudos. Foi homem de grande projeção política e social, adquirindo
com o seu trabalho grande fortuna. Foi casado com Dona Anna Olympia
Alves Pitaluga, provavelmente filha do cônego Luiz Bartolomeu Marques,
que a criou e fez casar. Faleceu cega em 1874, com idade superior a 80 anos.
De seu casamento, ficaram dois filhos.

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Neto 1 – Dr. Luiz Bartolomeu Marques Pitaluga, formado em Direito,
casado com Dona Josefina Pitaluga. Morreram sem deixar filhos.
Neto 2 – Antônio Olímpio Marques Pitaluga, oficial da Força Pública,
casado em primeiras núpcias com Dona Antônia de Souza Pitaluga (filha
de Izidro Lourenço de Souza e Joana Maria da Conceição) e em segundas
com Dona Adelina Teixeira. Foram pais de:
(Do primeiro casamento de Antônio Olímpio Marques Pitaluga com
Dona Antônia de Souza Pitaluga teve o casal o filho Luiz Pitaluga que se
casou com Antonietta da Conceição, filha de João Manoel da Conceição e
Rufina Maria da Conceição, cuja descendência virá no próximo capítulo)
Bisneto 1 – Joaquim Marques Pitaluga, casado, com descendência;
Bisneto 2 – Adelina Marques Pitaluga, casada, com descendência;
Bisneto 3 – Rosa Marques Pitaluga, solteira;
Bisneto 4 – Violeta Marques Pitaluga, solteira, professora;
Bisneto 5 – Benedito Marques Pitaluga, casado, com descendência;
Bisneto 6 – Cônego João Olímpio Pitaluga.

Um Pouco mais do Cônego João Olímpio Pitaluga

Sem nenhuma dúvida o trabalho social do Monsenhor Pitaluga


carimbou o seu passaporte para fazer parte da história da igreja católica em
Goiás e ficar mais próximo de Deus. Nascido na Cidade de Goiás, no dia 8
de setembro de 1895, iniciou seu sacerdócio aos 23 anos de idade, em sua
terra natal. Aí atuou como secretário do Bispado e professor do seminário.
Em 1922 torna-se vigário de Bonfim (Silvânia) e Delegado Paroquial de
Campo Formoso (Orizona). Dirigiu também as paróquias das cidades de
Rio Verde, Santa Cruz, Pires do Rio e Anápolis.
Foi no município de Anápolis, no ano de 1933, que o então padre
Pitaluga iniciou a construção da atual igreja do Bom Jesus. Nomeado pelo
Arcebispo de Goiás, Dom Emanuel Gomes de Oliveira, no ano de 1935,
Pitaluga deixa a paróquia de Santana para assumir a recém criada paróquia
de Bom Jesus. Por dois períodos o futuro Cônego esteve à frente da paróquia
de Bom Jesus: de 1935 a 1938 e de 1956 a 1966.
Depois de quase 50 anos de trabalho sacro e de administrador

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que soube investir na sua atividade econômica pessoal, resolve moldar e
dar forma ao seu sonho antigo, vende seus bens, apura o resultando da
venda, e investe todo o capital, junto com doações particulares e oficiais,
constrói o Lar dos Meninos, inaugurado no dia 2 de junho de 1967. Teve
também participação na fundação da Santa Casa de Misericórdia, Centro
de Assistência Social, Ambulatório Bom Jesus e Conferência São Vicente
de Paulo, todos assentados em Anápolis.
Faleceu em Anápolis, no dia 31 de outubro de 1970. Atualmente a
sua principal obra edificada leva seu nome: Lar dos Meninos Monsenhor
Pitaluga.

Filho 2 – Anna Joaquina Bueno Pitaluga, também conhecida


Nhanhã Grande, faleceu na Cidade de Goiás, no dia 17 de abril de 1872.
Casada em primeiras núpcias com o português Domingos Pereira de
Abreu e, na segunda, com o Major Joaquim da Cunha Bastos, nascido em
Corumbá-GO, no dia 5 de março de 1794. Filho de filho de Joaquim da
Cunha Bastos e Ana Sardinha da Costa. Faleceu no dia 4 de maio de 1859.

Descendência do 1º Casamento de Anna Joaquina Bueno Pitaluga


com Domingos Pereira de Abreu:

Neto 3 – Comendador e Brigadeiro Antônio Pereira de Abreu,


Dignitário da Ordem da Rosa e de Cristo. Faleceu na Cidade de Goiás, no
dia 28 de fevereiro de 1891. Pai de:
Bisneto 7 – Desembargador Antônio Pereira de Abreu Júnior, casado,
com descendência;
Neto 4 – Vicência Pereira de Abreu, bisavó da poeta Cora Coralina,
nasceu na Cidade Goiás, no dia 17 de julho de 1823, onde faleceu no dia 19
de maio de 1923), mãe de:
Bisneto 8 – Honória Pereira de Abreu, casada com o Coronel Joaquim
Luiz do Couto Brandão, com descendentes;
Bisneto 9 – Desembargador Ramiro Pereira de Abreu, casado, com
descendência;
Neto 5 – Joana Pereira de Abreu, mãe de:
Bisneto 10 – Coronel Luiz Antônio Pereira de Abreu, casado, com
descendentes;

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Bisneto 11 – Coronel Joaquim Graciano Pereira de Abreu, casado,
com descendentes;
Bisneto 12 – Coronel Eduardo Pereira de Abreu, casado, com
descendentes;
Bisneto 13 – Augusta Pereira de Abreu, solteira.
Neto 6 – Reginaldo Pereira de Abreu, sem descendentes.

Descendência do 2º Casamento de Anna Joaquina Bueno Pitaluga


com o Major Joaquim da Cunha Bastos:

Neto 7 – Coronel Luiz da Cunha Bastos nasceu na Cidade de Goiás,


no ano de 1830. Faleceu solteiro.
Neto 8 – Coronel Eduardo da Cunha Bastos nasceu na Cidade de
Goiás, no ano de 1833, onde faleceu no dia 7 de fevereiro de 1894. Foi
casado com Olímpia Augusta Jardim. Pais de:
Bisneto 14 – Coronel Joaquim da Cunha Bastos (2º), nasceu na
Cidade de Goiás, no dia 17 de junho de 1868, faleceu em 19 de janeiro de
1945. Casado com Maria Confúcio de Bastos teve descendência.
Bisneto 15 – Coronel Artur da Cunha Bastos, casado, com
descendentes;
Bisneto 16 – Major Luiz da Cunha Bastos, casado, com
descendentes;
Bisneto 17 – Major José Augusto da Cunha Bastos, casado, com
descendentes;
Bisneto 18 – Major Joventino da Cunha Bastos, casado, com
descendentes;
Bisneto 19 – Major Leopoldo da Cunha Bastos, casado, com
descendentes;
Bisneto 20 – Maria de Bastos Freitas, casada, com descendentes;
Bisneto 21 – Ana de Bastos Guimarães, casada, com descendentes;
Bisneto 22 – Carmen de Bastos Souza, casada, com descendentes;
Bisneto 23 – Olímpia de Bastos Azeredo, casada, com descendentes;
Bisneto 24 – Clotildes de Bastos Macedo, casada, com descendentes;
Neto 9 – Coronel Francisco da Cunha Bastos, casado com Vicência
Luiza do Couto Brandão, pais de:

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Bisneto 25 – Coronel Francisco da Cunha Bastos (2º), solteiro;
Bisneto 26 – Coronel Joaquim Jacinto da Cunha Bastos, casado, com
descendentes;
Bisneto 27 – Izabel da Cunha Bastos, solteira;
Bisneto 28 – Antônia da Cunha Bastos Santarém, casada, com
descendentes;
Neto 10 – Coronel Antônio da Cunha Bastos, casado com Dona
Alzira de Assis Mascarenhas.
Filhos do casal:
Bisneto 29 – Joaquim da Cunha Bastos, casado, com descendentes;
Bisneto 30 – Firmo da Cunha Bastos, casado, com descendentes;
Bisneto 31 – Acilino da Cunha Bastos, casado, com descendentes;
Bisneto 32 – Alcebíades da Cunha Bastos, casado, com
descendentes;
Bisneto 33 – João da Cunha Bastos, casado, duas vezes, com
descendentes;
Bisneto 34 – José da Cunha Bastos, casado, com descendentes;
Bisneto 35 – Ana da Cunha Bastos Barros, casada, com
descendentes;
Bisneto 36 – Luiza Augusta da Cunha Bastos, casada com Limírio
Ribeiro Quinta, político em Morrinhos-GO e promotor público, deixaram
descendentes. Entre os quais o escritor Waldir do Espírito Santo Castro
Quinta, membro da academia Goiana de Letras, cuja cadeira nº 19, em
2007 é ocupada pelo autor deste livro.
Bisneto 37 – Josefina da Cunha Bastos Barros, casada, com
descendentes;
Bisneto38 – Adelina da Cunha Bastos Jubé, casada, com
descendentes;

Filho 3 – Josefa Bueno

Filho 4 – Pacífico Batista Pitaluga, casado com Izabel Sardinha de


Bastos.
Filho do casal:

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Neto 11 – Michelina Batista Pitaluga, casada com o comerciante
Joaquim Antônio Bueno, natural de Minas Gerais.
Filho do casal:
Bisneto 39 – Coronel Isidorio Antônio Coimbra, comerciante, casado,
com descendentes (onze filhos);
Bisneto 40 – Coronel Abel Coimbra, casado com Luiza Morais
Parassu, (casada em segundas núpcias com Severiano Rodrigues Borges).
Filhos do casal:
Trineto 01 - Abel Coimbra falecido sem geração
Trineto 02 - Sandoval Coimbra falecido sem geração
Trineto 03 - Maria Coimbra casada com João Queiroz.
Filhos do casal:
Quarto neto - 01 José Carlos Coimbra Queiroz casada com Haydea.
Filhos do casal:
Quinto neto – 01Mônica, Patrícia e José Carlos Coimbra Filho casado
com Celina Goulart.
Trineto 04 - João Paulo Coimbra Queiroz falecido sem geração
Bisneto 41 – Coronel Jerônimo Antônio Coimbra (Júnior), casado,
com descendentes;
Bisneto 42 – Maria Pitaluga Coimbra casada com Helládio Ulhoa
Cintra, pais de: Nivaldo Ulhoa Cintra casado com Lolita Procópio.
Bisneto 43 – Umbelina Coimbra Bueno, casada com o Cel. Orosimbo
de Souza Bueno.
Filhos do casal:
Trineto 05 - Jerônymo Coimbra Bueno nasceu no dia 15/5/1910, em
Rio Verde-GO, casado com Ambrosina Parassu Borges, filha de Severiano
Rodrigues Borges e Luiza Morais Parassu. Foi um dos engenheiros
construtores de Goiânia e governador de Goiás, entre 1947 e 1950.
Filhos do casal:
Quarto Neto 02 - Eduardo Coimbra Bueno (22/11/1943) casado 1ª vez
com Maria José de Figueiredo Colaço (15/2/1944), filha de Hercílio da Luz
Colaço e Maria Thereza de Figueiredo, em 27/12/1963, com quem teve 2 filhas:
Quinto Neto – 02 - Maria José Colaço Coimbra Bueno (29/9/1964),
viúva de Raul Henrique de Vincenzi Fo.

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Quinto Neto – 03 - Maria Luiza Colaço Coimbra Bueno, 9/11/1966,
casada com Robert Wagner Silva, SC, com um filho de nome Gabriel
Coimbra Bueno Silva, n. 21/10/1994.
Eduardo Coimbra Bueno casado em segundas núpcias com Angela
Pimentel Duarte (22/8/1952), Rio de Janeiro.
Filhos do casal:
Quinto Neto – 04 - Leopoldo Pimentel Duarte Coimbra Bueno, n.
7/11/1992 no Rio de Janeiro-RJ.
Quarto Neto 03 - Ana Maria Coimbra Bueno (27/12/1945), Rio de
Janeiro-RJ, casada com Luiz Carlos de Oliveira Feldman falecido em 1998.
Filhos do casal:
Quinto Neto 5-Marcelo
Quinto Neto 6-Cristiano
Quinto Neto 7-Roberto
Quinto Neto 8-Fernando
Quinto Neto 9-Maurício
Quarto Neto 4 - Luiza Maria Coimbra Bueno nasceu em maio
de 1947, em Goiânia-GO, casada com. com Mário Fernando Franco de
Uberaba, divorciada em 1972 ou 1973.
Filhos do casal:    
Quinto Neto – 10-Luciana Adriano Franco.
Quarto Neto 5 - Roberto Coimbra Bueno, solteiro, nasceu no dia
6/11/1949, em Goiânia-GO.
Pai de:
Quinto Neto11-Gabriela Coimbra Bueno, nasceu no dia. 21/12/1988,
em São João del Rei-MG.
Quarto Neto 6 - Jeronymo Coimbra Bueno Filho Nasceu no dia
22/5/1951, no Rio de Janeiro-RJ, casado com Anna Christina Arp em julho
de 1977. Filhos do casal:
Quinto Neto12-Ana Carolina Arp Coimbra Bueno (16/3/1979)
Quinto Neto13-Pedro Arp Coimbra Bueno
Quinto Neto14-Eduardo Arp Coimbra Bueno (14/6/1985)
Trineto 06-Abelardo Coimbra Bueno nasceu no dia 3/11/1911, em
Rio Verde-GO, casado com Maria Marcina de Lima Pimentel, nascida no
dia 30/1/1927, em Goiana-PE.

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Filhos do casal:
Quarto Neto 7-Abelardo Coimbra Bueno Júnior nasceu no dia
6/7/1964, casado com Simone Dutra.
Filhos do casal:
Quinto Neto 15-Camilla Bueno nascida no dia 6/1/1990
Quinto Neto 16-Daniella Coimbra Bueno nascida no dia 23/4/1991
Quarto Neto 8-Izabela Pimentel Bueno, casada com Chistophe Malik
Akli, Filhos do casal:
Quinto Neto 17-Thiago Paul Akli (1998)
Quinto Neto 18-Stéphanie Marine Akli (1988)
Trineto 07-Elisa Coimbra Bueno c.c. Paul Henry Lynch em
23/11/1943, sem geração.
Trineto 08-Lyzia Coimbra Bueno casada com Carlos Sette Gomes
Pereira, diplomata.
Filho do casal:
Quarto Neto 10-Heloisa Coimbra Bueno Pereira casada com Boris
Smolentzov.
Filho do casal:
Quinto Neto 19- Yuri Smolentzov nascido no dia 14/4/1993
Quarto Neto 11-Maria Emília Coimbra Bueno Pereira casada com
Mário Pareto em 1990.
Filhos do casal:
Quinto Neto 20- Mariana Coimbra Bueno Pareto
Quarto Neto 12-Carlos Coimbra Bueno Pareto (gêmeo da Maria
Emília Coimbra Bueno).
Trineto 08- Horaldo Coimbra Bueno casado com Belkiss Carneiro
de Mendonça.
Filhos do casal:
Quinto Neto 21-Guilherme
Quinto Neto 22-Beatriz
Quinto Neto 23-Fernando
Trineto 09-Helladio Coimbra Bueno, teve cinco filhos. Sobreviveu
com descendência:
Quarto Neto13- Maria Helena Coimbra Bueno, teve:

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Quinto Neto 24: Roberta de la Rocque
Quinto Neto 25: Jose Guilherme de la Rocque
Quinto Neto 26: Renata de la Rocque
Bisneto 44 – Perc(s)ília (Pitaluga Coimbra ou Ferreira Carvalho?)
casada em primeiras núpcias com Armante Carneiro.
Filha do casal:
Trineto 09 - Nirce Carneiro casada Luiz de freitas Bueno.
Perc(s)ília (Pitaluga Coimbra ou Ferreira Carvalho? Com o seu
segundo esposo, Cel. Narciso Ferreira de Carvalho consta descendência
que não localizei.

Filho 5 – Cel. João Batista Pitaluga, fazendeiro em Pilar (GO), casado


com Ana Bartolomeu Bueno, com descendência.
Neto 12 – Coronel Sebastião Batista Pitaluga, filho de João Batista
Pitaluga e Ana Bartolomeu Bueno, casado com sua prima (neta de
Ana Joaquina Bueno Pitaluga) Maria Isabel de Bastos morreu sem
descendentes.

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Galeria de Fotos
Acervo: Família Pitaluga.

Cônego João Olímpio Pitaluga. No rodapé, a dedicatória desta foto,


enviada ao irmão Luiz Pitaluga, morador em Pires do Rio.

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Acervo da Família Pitaluga. Estudo Genealógico da Família Bastos, de
Luiz Confúcio da Cunha Bastos

Cônego João Olímpio Pitaluga, sentado entre os meninos e funcio-


nários da instituição filantrópica que ele criou.
Coronel Luiz da Cunha Bastos, primeiro fi-
lho da união de Anna Joaquina Bueno Pita-
Estudo Genealógico da Família Bastos, luga com o Major Joaquim da Cunha Bastos,
de Luiz Confúcio da Cunha Bastos teve acentuada atuação como político, jorna-
lista e abolicionista na Cidade de Goiás.

Estudo Genealógico da Família Bastos, de


Luiz Confúcio da Cunha Bastos

Joaquim da Cunha Bastos, primeiro filho


Coronel Eduardo da Cunha Bastos, segundo do casamento do Coronel Eduardo da
filho da união de Anna Joaquina Bueno Pita- Cunha Bastos com Olímpia Augusta Jar-
luga com o Major Joaquim da Cunha Bastos foi dim Bastos, teve uma atuação política res-
chefe do Partido Conservador Monárquico na peitada até mesmo pelos seus adversários.
Cidade de Goiás. Prefeito da Cidade de Goiás, sua adminis-
tração marcou época.

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Famílias Pirenopolinas de Jarbas Jayme vol. III Dicionário do Escritor Goiano, de José Mendonça Teles

O escritor Waldir do Espírito Santo Castro Quinta é enea


neto do Anhangüera, Filho.
Luíza Augusta da Cunha Bastos, bisneta de Anna
Joaquina Bueno Pitaluga é bisavó do escritor Wal-
dir do Espírito Santo Castro Quinta Os Inquilinos da Casa Verde, de Hélio Rocha

Dicionário do Escritor Goiano


de José Mendonça Teles

Jerônymo Coimbra Bueno, hexa neto, do


Anhangüera, Filho, foi o primeiro governador
A poeta Cora Coralina é octa neta do Anhan- de Goiás, eleito democraticamente, depois da
güera, Filho. ditadura Getulista.

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Descendência do Primeiro Casamento
de Antônio Olímpio Marques Pitaluga

O sobrenome Caiapó a que se refere Bi Galvão foi agregado ao nome


do Brigadeiro Joaquim Bueno Pitaluga, por volta de 1830, quando ele ao
lado de Basílio Martins Braga, compositor, cujas canções são interpretadas
na centenária Procissão do Fogaréu, Cônego Joaquim Vicente de Azevedo,
governador do Bispado de Goiás, primeiro diretor do Correio Oficial de
Goiás, deputado, e em 5/4/1879, instalou a freguesia do Córrego das Antas,
hoje cidade de Anápolis-GO e o advogado Joaquim Gomes Machado,
que deixou em testamento seus bens à nação brasileira para que apurados
fossem revertidos ao ensino da Geometria, criaram uma instituição
filantrópica com o propósito de alforriar escravos. Numa demonstração
de humanismo (esse agrupamento de homens antecipou em mais de cinco
décadas a libertação dos escravos no Brasil) e goianidade, resolveram
agregar aos seus nomes aspectos físicos e antropológico de Goiás, passando
a assinar: Basílio Martins Braga de Serradourada, Cônego Joaquim Vicente
de AzevedoTocantins, advogado Joaquim Gomes Machado Corumbá e
Joaquim Bueno Pitaluga Caiapó. Informações essas que obtive no livro
“Memórias Históricas”, de Sebastião Fleury Curado.
Antônio Olímpio Marques Pitaluga casado com Antônia de Souza
Pitaluga, teve o casal o filho Luiz Pitaluga, nascido na cidade Goiás, no dia 10
de setembro de 1893. Luiz Pitaluga se casou com Antonietta da Conceição
(filha de João Manoel da Conceição e Rufina Maria da Conceição),
na Cidade de Goiás, no dia 17 de junho de 1922, perante o Juiz Mário
d’ Alencastro Caiado, que mais tarde durante o Estado Novo de Getúlio
Vargas seria eleito Senador da República. Mário d’ Alencastro Caiado era
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casado com Maria Aleluia de Barros Caiado, filha do Coronel Virgílio José
de Barros e Ana da Cunha Barros, sendo esta neta do casal Major Joaquim
da Cunha Bastos e Joaquina Pitaluga Caiapó. Sendo, portanto a esposa de
Mário d’ Alencastro Caiado prima de Luiz Pitaluga.
Em 1925, Luiz Pitaluga e a esposa se mudam para Pires do Rio,
cidade que nasceu das costelas da estrada de ferro. Ali Luiz se estabelece
atuando, a princípio, na área do comércio, com a abertura de um armazém
denominado de: A Indian Prince. No desempenho de funções públicas
foi nomeado Juiz Distrital, pelo então presidente do Estado de Goiás, Dr.
Brasílio de Ramos Caiado. Foi também Escrivão do Cartório do 1º e 2º
Ofício e ainda Escrivão Eleitoral. Profissão na qual se aposentou em 1963.
No dia 3 de setembro de 1979, na cidade de Pires do Rio, faltando apenas 7
dias para completar 86 anos de idade, faleceu Luiz Pitaluga.
Teve o casal os seguintes filhos, todos nascidos em Pires do Rio:

01 - Vécia Pitaluga Zoltay (1926) casada com Arpard Zoltay, pais de:
- Rosa Maria Joana Pitaluga Zoltay
- Arpad José Luis Pitaluga Zoltay
- Izabela Maria Pitaluga Zoltay

02 – Lousville Pitaluga (1928) casado com Nísia Maciel Pitaluga, pais de:
- Lousville Pitaluga Filho
- Lúcio Maciel Pitaluga
- Luiz Antônio Maciel Pitaluga

03 – Theonville Pitaluga Silva (1929) casada com Hernane Silva, pais de:
- Luis Hernane Pitaluga Silva
- Gilberto Pitaluga Silva
- Maria Antonieta Pitaluga Silva
- Eduardo Pitaluga Silva

04 – Neuvilete Pitaluga de Godoy (1931) casada com Morse Monteiro


de Godoy, pais de:
- Luine Pitaluga de Godoy
- Luiz Ilídio Pitaluga de Godoy

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- Ana Maria Pitaluga de Godoy
- Luciene Pitaluga de Godoy Rezende
- Ronnie Pitaluga de Godoy

05 – Tércia Pitaluga de Souza (1933) casada com Mozart de Souza,


pais de:
- Vera Lúcia Pitaluga de Souza Nascente
- Maria Bernardes Pitaluga Ferreira
- Maria Celeste Pitaluga de Souza Melo
- Luiz Maurílio Pitaluga de Souza

06 – Iara Caiapó Pitaluga, casada com Ilídio Monteiro de Godoy, pais de:
- Ilyara Pitaluga de Godoy
- Daniel Monteiro de Godoy
- Maria Ilyana Pitaluga de Godoy
- João Luis Monteiro de Godoy

07 – Ivo Caiapó Pitaluga (1937) casado com Petronilha Goulart


Pitaluga, pais de:
- Luiz Augusto Pitaluga
- Luiz Pitaluga Neto
- Ivana Goulart Pitaluga

08 – Luiz Pitaluga Filho (1939) casado com Ivone de Oliveira Pitaluga,


pais de:
- Luiz Waldemar Pitaluga Oliveira
- Maria Aparecida Oliveira Pitaluga
- Gislene de Oliveira Pitaluga
- Gisele de Oliveira Pitaluga
- Luiza Helena de Oliveira Pitaluga

09 - Zita Pitaluga (1940) casada com Claurício Rodrigues da Cunha,


pais de:
- Luis Eduardo Pitaluga da Cunha
- Claurício Rodrigues da Cunha

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- Carlos Alberto Pitaluga da Cunha
- Emerson Pitaluga da Cunha

10 - Lúcio Pitaluga (1941) pai de:


- Maria Margareth Rodrigo Pitaluga

11 - Maria Lúcia Pitaluga Diniz (1944) casada com Vivico Vieira


Diniz, pais de:
- João Luiz Pitaluga Diniz
- Ana Cristina Pitaluga Diniz
- Ana Paula Pitaluga Diniz

Um Pouco mais do Brigadeiro


Joaquim Bueno Pitaluga Caiapó

O Correio Oficial, ainda impresso nos prelos que deram vida à


Matutina Meiapotense (1830-1834), que circulou na Cidade Goiás no final
de novembro de 1873, trouxe num belíssimo artigo, infelizmente assinado
apocrifamente de Patrício, um resumo biográfico importante, cujo texto
traduz a trajetória de vida do Brigadeiro Joaquim Bueno Pitaluga Caiapó,
nascido em Pilar, no ano de 1796:

Recordação

A homenagem que se deve aos mortos, é uma das cousas mais sagradas
d’este mundo.
Sempre que se abre um tumulo onde se tem de esconder um homem
respeitável por este ou aquelle titulo, nosso coração se retranhe de
angústia, assim como nosso pensamento sente a necessidade de
manifestar-se para bem assignalar, aquellas pegadas, que devem servir
de exemplo aos que lhe sobrevivem.
Na tarde de 5ª feira; 27 do corrente (às 2 horas) encerrou a página limpa
de sua existência, o Brigadeiro Joaquim Bueno Pitaluga Caiapó, na idade
avançada de 77 annos e alguns dias, pois morrido no mesmo mez em
que veio ao mundo.
O fallecido era natural da freguezia do Pilar e morador d’esde moço

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n’esta capital, onde exercêo por muito tempo cargos públicos, quer de
nomeação do governo, quer de eleição popular, sendo por esta investido
muitas vezes da presidência da câmara municipal desta cidade.
Sincero nos seus tractos, activo e laborioso, soube adquirir bôa fortuna,
que hoje não sobresahe, não só pela enfermidade (cegueira) que o
perseguio durante os seis últimos annos de sua vida, como por causa da
generosidade com que elle serviu a todos que o procuravão em qualquer
lance apertado.
Alma grande, inoffensiva e generosa, ella se manifestava perfeitamente
no modo, com que estava sempre disposto a brincar e gracejar, ainda
mesmo nos últimos e dolorosos momentos de sua vida .
Verdadeiro christão presava sobre tudo aos preceitos a Igreja: e seu
último acto de caridade foi ainda no dia 3 de dezembro do anno passado,
da S. da Conceição, libertar diversos escravos seos, em louvor à Virgem
de sua especial devoção.
Descendia d’uma antiga e numerosa família dos primeiros descobridores
das terras desta província.
Deixou viúva e dous filhos menores, um collegial na cidade de S. Paulo,
onde estuda preparatórios.
Suas boas acções não pesaram desapercebidas na terra, a que soube
honrar.
No numeroso e expontaneo concurso do seu enterro notava-se um
certo recolhimento e pezar em quase todos os semblantes: uma como
manifestação de geral respeito que devia acompanha-lo até seo tumulo.
Quando, depois de ter vivido tão longos annos em uma cidade pequena,
cheia de prejuízos, se pode atravessar, como elle atravessou cadáver
conduzido nos braços dos seos amigos, cercado de attenções, de
vistas saudosas e benção...o tumulo deixa de ser pavoroso, caminha-se
tranquillo para os umbraes da eternidade.
Sua illustre família, a quem apresentamos nossos pezames, que guarde
como melhor herança, os ligeiros traços que aqui deixamos da existência
d”aquelle homem de bem.

Um patrício.

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Epitáfio do Brigadeiro Joaquim Bueno Pitaluga Caiapó

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Galeria de Fotos e Documentos
Acervo da Família Pitaluga

Joaquim Bueno Pitaluga Caiapó (trineto do Anhangüera, Filho) e sua esposa Anna Olympia Alves Pitaluga, foto
de 1869. Provavelmente a foto mais antiga de um descendente do Bandeirante colonizador de Goiás.

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Verso da foto

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Acervo da Família Pitaluga

Certidão de nascimento de Luiz Pitaluga

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Acervo da Família Pitaluga

Certidão de casamento de Luiz Pitaluga com Antonietta da Conceição

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Acervo da Família Pitaluga

Luiz Pitaluga, no final da década de 1930.

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Acervo da Família Pitaluga

Casa de comércio de Luiz Pitaluga, em Pires do Rio, no ano de 1926.

Acervo da Família Pitaluga

Sentados no centro da foto, Luiz Pitaluga e Antonietta, rodeados por filhos, noras, genros e netos, em Pires do Rio.

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Acervo da Família Pitaluga

Certidão de Óbito de Luiz Pitaluga.

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Acervo da Família Pitaluga

Mensagem de pêsames da Câmara Municipal de Pires do Rio, enviada à família de Luiz Pitaluga, quando
do seu falecimento.

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João Leite da Silva Ortiz,
Coadjuvante de Ouro

Sem dúvida, João Leite da Silva Ortiz, nascido em São Sebastião,


por volta do ano de 1672, Capitania de São Vicente, filho de Estevão
Raposo Bocarro e Maria de Abreu Pedroso Leme, teve uma vida intensa.
Considerado o fundador da cidade de Belo Horizonte, foi a primeira
pessoa que no ano de 1701, a estabelecer-se no local, onde está assentada a
capital mineira, com propósito de plantar roças para abastecer os distritos
que surgiam da exploração da lavra do ouro. Além da atividade agrícola,
ele investe também na pecuária. Empreendimentos nada ortodoxos para a
época, quando as atenções eram voltadas para a busca do ouro.
A sua visão empresarial aguçada mostrou-lhe que essas populações
precisavam ser alimentadas, e que seus grãos, carne e leite, seriam
comercializados a peso de ouro. Ortiz, também fundador da cidade de Sete
Lagoas, na grande Belo Horizonte, e participou ativamente na conhecida
Guerra dos Emboabas.
Genro de Bartolomeu Bueno da Silva, casado com Izabel da Silva
Bueno, com quem teve quatro filhos: Bartolomeu, Estevão, Tereza e
Quitéria foi um dos principais financiadores da Bandeira do sogro e fiel
companheiro de incursões. Principalmente da primeira Bandeira, quando
nos momentos mais delicados, em que imperava as situações de revolta,
desespero e morte, Ortiz era mediador e intransigente defensor de Bueno.
Ortiz, inconformado com as implicações do Capitão-General Antônio
da Silva Caldeira Pimentel, voltadas para ele e seu sogro, como vimos no
capítulo anterior, além da prisão do seu irmão e sócio deles, Bartolomeu
Pais de Abreu, resolve empreender viagem a Portugal, para queixar-se
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diretamente ao Rei D. João V. Sobre esse episódio, o escritor Americano do
Brasil, faz o seguinte relato

E aparece aqui o instinto sanguinário de Caldeira: receoso


da entrevista de Ortiz com D. João V, mandou em caminho
envenená-lo pelo padre Matias Pinto, vindo a falecer em
Pernambuco. Ortiz era um paulista ilustre e fidalgo, filho de
Estevão Raposo Bocarro e tio do autor da Nobiliarquia, o
linharista Pedro Taques. Ortiz é a primeira vítima histórica
de amor a Goiás. E para que o irmão de Ortiz, Bartolomeu
Pais, não tivesse o mesmo fim desgraçado foi preciso que
terminantes ordens régias mandassem soltá-lo da fortaleza
de Santos.

De forma mais detalhada, encontramos no livro Histórias das


Bandeiras Paulistas - Tomo II - de Affonso de Escragnolle Taunay, ao nos
revelar que Ortiz ao saber da prisão do seu irmão, dirigiu-se a São Paulo,
onde tentou de todas as formas estar com o irmão. “Cônscio da força dos
direitos calculados, requereu João Leite, da parte do real serviço, a concessão
dum encontro com o irmão, o que lhe foi negado mesmo à janela do seu
calabouço e em presença do comandante da fortaleza.
A nenhuma súplica se moveu Caldeira. Pesava sobre São Paulo
uma atmosfera de terror e ninguém ousava afrontar as iras da perversa
autoridade.
Viu João Leite que perdia tempo em insistir e partiu para Lisboa.
Ao Guarda-mor acompanhava um clérigo secular, Pe. Matias da Costa
Pinto, um destes sacerdotes detestáveis que, com tanto empenho mandavam
as cartas régias fossem expulsos das minas e recambiados presos ao Reino.

Péssima impressão causara aos parentes e amigos de João Leite suas


relações com tão mal reputado indivíduo; pediram-lhe muitos, inclusive
pessoas religiosas, que o despedisse.
Não ousou fazê-lo por condescendência ou simpatia, muito embora tal
companhia lhe pudesse trazer grandes aborrecimentos e transtornos,
pois se tornava necessário, no Rio de Janeiro, ocultar o Padre Matias,
ativamente procurado pelas justiças civil e eclesiástica.

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Bem sabia Ortiz que chegar a Lisboa sem muito dinheiro era falhar
completamente a viagem, tanto mais quanto ia empreender luta com um
Capitão-General, contenda desigual quanto possível. Assim, pois, trouxera
tudo ou quase tudo quanto lhe rendera a mineração: sete mil e quatrocentas
oitavas de ouro, soma enorme para a época (perto de vinte e seis quilos do
metal).
Na Bahia, onde significou as queixas ao Conde de Sabugosa, recebeu
o mais carinhoso acolhimento. Deu-lhe o Vice-Rei recomendações e cartas
de aviso para Pernambuco e seus amigos da Corte”.
O linhagista Pedro Taques, sobrinho de Ortiz, narra que o tio, fora
muito bem recebido pelo Capitão-General de Pernambuco, Duarte Sodré
Pereira e pelo Bispo de Olinda, Dom Frei José Fialho. No entanto, enquanto
aguardava a partida da frota, que o levaria a Lisboa, enfermou-se de bexiga.
Relata Taques:

Eram passados quarenta dias e ainda se conservava recolhido ao leito,


quando a oito de dezembro de 1730 foi visitado pelo Bispo. Retirando-se
este, pediu lhe dessem a beber um copo d’água do cozimento das sementes
de cidra, cuja potagem mandavam os médicos que usasse para temperar a
massa de sangue, ainda exaltada de enfermidade das bexiga.

O envenenamento de Ortiz teria ocorrido, segundo conta Affonso de


Escragnolle Taunay:

Ministrou-lhe esta bebida o padre Matias Pinto, antes de completar


duas horas, entrava em agonia! Chamados os médicos, não hesitaram
um segundo no diagnóstico do mal. Era veneno! Eis aí por que em S.
Paulo, a desoras e embuçado, fora ter com Caldeira Pimentel, segundo
o haviam denunciado várias pessoas ao confiante Guarda-mor!.

Por volta da madrugada de nove de dezembro de 1730, morria João


Leite da Silva Ortiz. O padre Matias da Costa Pinto, principal suspeito do
crime, evadiu-se no ar, tornando assim mais evidente o gesto de ter sido o
provocador do envenenamento do amigo.
Algumas dúvidas são pertinentes de análises: teria sido Caldeira

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Menezes, orquestrador do envenenamento? Naturalmente, ele tinha todo
interesse para que Ortiz, não se encontrasse com D. João V, em face dos
seus desmandos na província. Qual seria a compensação devida ao padre
Matias? A idéia do envenenamento não poderia ter vindo da cúpula
administrativa da Província de Pernambuco, de olhos na fortuna explícita
que Ortiz transportava? Relatos de Taunay, afirmam que após a morte do
seu tio, o foro pernambucano, teria caído como abutre sobre o seu espólio. E
o que é mais intrigante: qual seria o motivo da presença do padre Matias da
Costa Pinto, na comitiva de Ortiz? Se ele era de caráter reconhecidamente
espúrio, guando os próprios parentes e amigos de Ortiz, conclamavam a
sua distância, atentando para o bem estar social e pessoal do Guarda-mor.
A verdade que ainda não foi esclarecida, da relação Ortiz e Matias, é uma
incógnita para ser desvendada, somente algo muito forte manteria unido
um homem de prestígio e fortuna, junto a um crápula.
Com o propósito de se resguardar do futuro incerto, em virtude de
sua doença, que teimava em ornar-lhe as avessas o corpo, no dia 03 de
dezembro de 1730, João Leite da Silva Ortiz, promoveu a escritura do seu
testamento, nestes termos:

TESTAMENTO
3-12-1730

Primeiramente encomendou a alma e fez invocações pias. Rogou a


Bartolomeu Paes de Abreu, Capitão Gaspar de Mattos e Capitão José
Dias da Silva fossem seus testamenteiros em São Paulo e ao Padre José de
Almeida Lara e “a meu cunhado Francisco Bueno da Silva” em Recife.
Pediu para ser sepultado na Igreja do Corpo Santo caso falecesse em
Recife. Caso falecesse em Lisboa para onde estava de partida, que fosse
sepultado na freguesia onde morasse. Pediu ofícios e missas por sua
alma.
Declarou ser natural da Vila de São Sebastião do Bispado do Rio de
Janeiro e comarca da cidade de São Paulo, filho legítimo do capitão
Estevão Raposo Bocaro e D. Maria Pedroso naturais da mesma vila.
Declarou que foi casado na vila de Parnaíba da sobredita comarca com
Izabel da Silva Bueno já defunta, da qual teve quatro filhos – Bartolomeu,

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Estevão, Tereza e Quitéria – os quais eram seus herdeiros.
Declarou terras e casas em Araçariguama que recebeu de dote partindo
com o sitio do sogro Bartolomeu Bueno da Silva.
Declarou possuir um sítio nas minas de Goiás no lugar chamado Barra,
com varias casas e capela.
Assim mais nas mesmas minas no pé da serra outro sítio chamado do
Cabo.
Assim mais, a 1/4 de légua deste, outro sítio chamado Boa Vista.
Outro no caminho do Rio das Velhas, onde deixou o sobrinho João Leite
de Faria com contrato que estava com dois camaradas que lá deixou.
Tinham também escravos neste lugar.
Outro no Rio Grande, com casas e roças onde estava seu irmão Pedro
Dias Raposo, por ordem sua, com ajustes que entre ambos fizeram.
No mesmo Rio Grande possuía outro sítio onde estava Lucas Pinheiro
“em coliedade de meu irmão Bartolomeu Paes a qual coliedade se fez
com beneplácito meu acaba em setembro que vem e finda ela é o tal sítio
meu que só para ajudar meu irmão lhe prometi tal sociedade”.
Declarou os escravos que possuía em Araçariguama, e um que estava
em sua companhia. E outros que tinha nas demais propriedades em
Minas e Goiás.
Declarou que estava levando para Lisboa várias barras de ouro, algumas
suas outras de outras pessoas.
Declarou dever a seu irmão Estevão Raposo Bocaro, morador no Rio São
Francisco na fazenda Boa Vista, 800 oitavas de ouro livres de quintos.
Declarou contas com o irmão Bartolomeu Paes e créditos que tinha em
Goiás.
Declarou que ia à Lisboa para acertar o direito de passagem de canoas
desde a vila de Jundiaí até as minas de Goiás. Este direito pertencia ao
sogro por haver descoberto as minas e era dado por três vidas. Caso
falecesse na jornada, o direito passaria a seu filho Bartolomeu.
Declaro que levo em minha companhia para a Universidade de
Coimbra a meu filho Bartolomeu e com ele meu sobrinho Bento Paes
(caso falecesse determinou que à sua custa fosse levado e mantido em
Coimbra o dito sobrinho e o Padre José de Almeida Lara)
Vila de Santo Antonio do Recife, 3-12-1730.

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Leitura do Testamento
Abertura (cumpra-se): 9-12-1730 – Vila de Santo Antonio do Recife
– Figueiredo
Seguem os títulos de ouro e prata, bens móveis, entregues a José de
Almeida Lara. Seguem termos burocráticos de conclusão, publicação,
assentada, contagem e partilha do ouro, com certidões dos ourives, pe-
tições de pagamentos de custas, funeral, quitações.
Partilhas de valores que tinha em comum com outras pessoas, entre as
quais: Pertence ao desembargador Pedro Taques assistente em Coimbra
117$000. A Bartolomeu Bueno da Silva, sogro do defunto morador nas
minas para missas às almas 714$750 (a missa “quotediana” custava 476
e 1/2 oitavas de ouro à razão de 1$500 réis a oitava).
Herança paterna em Recife: 4:044$740
Recebeu o herdeiro Bartolomeu 1:011$185. Igual soma ficou para cada
um dos herdeiros ausentes, Estevão, Tereza e Quitéria.
Seguem termos burocráticos de data, publicação, conclusão, sentença,
certidões de missas, conferência.

No ano de 1746, o neto de Batolomeu Bueno da Silva, Diabo Velho,


Bartolomeu Bueno da Câmara Leme Gusmão, esteve em Portugal, sendo
recebido pela Rainha D. Mariana, que lhe restitui o direito de cobrar, por
três vidas (gerações), por força da carta régia de 18 de maio de 1746, as
passagens dos rios Jaguari, Atibaia, Rio Grande, Rio das Velhas e Corumbá
que faziam parte do roteiro para as minas de Goiás.
Nesta carta régia que restaurou em parte a provisão de 02 de julho
de 1726, assinada pelo então Capitão-General Rodrigo César de Menezes
devolve também à descendência de João Leite da Silva Ortiz, o direito de
passagens de outros rios. No entanto, dos seus quatro filhos, apenas Estevão
Boccaro, estava vivo à época. Morto, não deixou descendência.

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Bartolomeu Pais de Abreu,
Sócio de Anhangüera e Ortiz,
em Terras Paulistas

Representante dos sócios, Anhangüera e Ortiz, em terras paulistas,


Bartolomeu Pais de Abreu, foi o primeiro a sofrer na pele, a perseguição
do Capitão-General Caldeira Pimentel. Depois de tentar diálogo sem êxito,
com o Governador da Província de São Paulo, obter as concessões acertadas
com o seu antecessor Rodrigo César de Menezes, com o aval de João V,
para com os descobridores das minas dos Goyazes, toma a iniciativa em
julho de 1728 escrever ao rei, queixando-se do procedimento de Caldeira
Pimentel.
Sentindo-se indignado pela audácia de Pais de Abreu, o Governador
manda suspender no início de 1729, a cobrança das passagens dos rios que
demandavam às minas goianas, concedidas através de autorização real,
ao Anhangüera e Ortiz, ficando os valores cobrados, destinados à coroa
portuguesa. Novamente, Pais de Abreu reeditou uma audácia ainda maior,
ao tornar escrever ao rei, três longas cartas.
A resposta de Caldeira Pimentel veio através de um relatório falso,
enviado à corte, acusando Anhangüera e seu genro Ortiz, orientados por
Pais de Abreu, a promoverem um levante geral dos paulistas em Goiás,
tal qual tinha acontecido em Minas Gerais, na conhecida guerra dos
emboabas. A metrópole ainda embevecida na lembrança das hostilidades
travadas em os paulistas e os reinóis assegura o intento maquiavelista
de Caldeira Pimentel, ao mandar para a prisão na Fortaleza de Santos, o
arquiteto do movimento nacionalista, que nunca existiu, Bartolomeu Pais
de Abreu. Enquanto preso, ele ficaria esperando uma decisão de D. João

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V. sobre a sua execução. No entanto, o governador teve que se contentar
com a sua prisão, em função de estar sob suspeita de envolvimento com
estelionatário Sebastião Fernandes do Rego, nomeado por ele para os
cargos de Procurador da Coroa e da Real Fazenda na Capitania.
A carta régia de 15 de março de 1731, que mandava transferir Sebastião
Fernandes do Rego para Lisboa, fazia duras críticas ao comportamento
administrativo do Capitão-General e determinava também a devolução
dos direitos de passagens dos rios a Bueno e aos descendentes de Ortiz.
De imediato foi iniciado um processo pelo Ouvidor da Província de São
Paulo, para julgar Bartolomeu Pais de Abreu. Rápida foi a resposta de
absolvição do envolvido sertanista, que nunca havia incitado o irmão Ortiz
e o Anhangüera, à revolta nas terras Goyazes, que somente existira nas
armações políticas de Caldeira Pimentel.
Sabedor do resultado do julgamento mandou sua majestade, que o
pai de linhagista Pedro Taques, fosse imediatamente libertado da prisão e
que fossem atendidas as suas reclamações. Até que acontecesse destituição
de Caldeira Pimentel, substituído por Antônio Luiz de Távora, Conde de
Sarzedas, em 15 de agosto de 1732, ele continuou a receber cartas e mais
cartas, repreendendo seus atos como comandante maior da Província de
São Paulo.

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Um Olhar de Raymundo da Cunha Mattos
Sobre os Anhangüeras no Porto do Corumbá
Mentores e fundadores do Instituto Histórico: da Sociedade
Auxiliadora da Indústria Nacional que anos mais tarde seria transformado
em Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (21.10.1838), o cônego
Januário da Cunha Barbosa (1780–1846) e o brigadeiro Raimundo José
da Cunha Mattos, que foi Governador das Armas da Província de Goiás
de 1823 a 1825 é o autor de duas importantes obras que versam sobre a
história de Goiás: a “Chorographia Histórica da Província de Goyaz” e o
“Itinerário”. As páginas do último livro registram o encontro de Cunha
Mattos com os descendentes do colonizador de Goiás, Anhangüera Filho,
no Porto do Corumbá, última das Passagens (cobrança de pedágio de cargas,
animais e pessoas, de uma margem à outra do rio) que havia conquistado
o bandeirante, ao curso de três gerações.
O Porto do Corumbá localizado (2007) entre os municípios de Urutaí
(terra natal do meu pai e onde passei parte da minha infância) e Pires do
Rio (onde nasci) estão descritos córregos e lugares que me são familiares
na narrativa de Cunha Mattos, em especial a Fazenda Santo Onofre, que 80
anos depois seria administrada pelo meu avô paterno Carolino José Vieira.
Eis o texto transcrito com a sua ortografia de época:

...A’s 6 horas e 5 minutos o Rancho e Sítio ou Fazenda de Santo Onofre


(onde nasceu meu pai). A’s 6 horas e meia córrego com ponte; logo
fica huma casa pequena, e depois desta outro córrego com ponte. A’s
6 horas e 35 minutos estão algumas pequenas cabanas pertencentes a
Índios aqui postos pelo Anhangüera, o povoado de Goiaz. A’s 6 horas e
55 minutos o Ribeirão da Água tirada, nome que se lhe deu por se haver
d’aqui tirado a água de hum antigo engenho d’assucar do Anhangüera,

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que já não existe. Neste lugar estão algumas barracas, ou mais depressa
chossas de Índios, antigos servos de Anhangüera. A’s 7 horas e meia hum
córrego, o qual assim como os precedentes separados ou unidos a outros
entrão na margem esquerda do Corumbá abaixo do lugar da passagem.
A’s 7 horas e 40 minutos o magestoso Rio Corumbá, que entre barrancos
elevados corre brandamente e entregar as suas águas ao Rio Paranaíba,
ou a receber as deste, como suppoem algumas pessoas que se reputão
bem informadas. O Rio Corumbá tem neste lugar 60 braços de largura,
e 24 palmos de fundo. Nasce na Serra dos Pyreneos, pouco distante do
Arraial de Meia Ponte. Na margem esquerda tem hum pequeno rancho,
onde encontrei dez ou doze Ciganos e Ciganas, que iaô em caravana,
talvez a praticar alguns roubos como he o sua costume. Em varias
arvores altas e muito bellas havia centos de pombas do mato, e tanta era
a sua familiaridade com os homens, ou a sua verocidade para comerem
o fruto destas arvores, que eu matei 25, e meus companheiros mais de
80. São pardas, mui gordas, e tão grandes como as pombas domesticas.
No pouco tempo que estive na aprazível margem direita do Corumbá,
vi centos de tucanos pretos com o peito vermelho, e os amarellos, que
são muito mais pequenos; os papagaios, periquitos e araras voão em
bandos aos pares, e huns atraz dos outros: também vi enroscada dentro
do rancho huma jararaca assú de 8 palmos de comprimento: estava
coberta de folhas seccas, e moveu-se quando eu me assentei em hum
pão, e ella ficou entre os meus pés. Escapei a este monstro dando hum
grande salto, a tempo que já elle tinha o collo levantado para dar o bote,
e então foi morto pelo meu Official de Ordens, que lhe deu com huma
pequena vara. A quantos perigos se acha sugeito aqelle que viaja pelo
Brazil! Hontem às 9 horas da noite, achando-me no Rancho do Brito
ouvirão-se os uivos de hum lobo ou guará.
Logo que da casa do Coronel Bartholomeu Bueno Leme da Câmara
virão que eu estava na margem esquerda do rio, veio seu filho em
huma pequena canôa comprimentar-me, e conduzir-me para a margem
direita do mesmo rio. Com effeito passei, e fui por este joven recebido
na sua casa, que está na bella chapada sobranceira ao Corumbá. Qual foi
a minha magoa vendo o Principe da nobreza, o Principe da mocidade
Goianna com hum remo na mão conduzindo huma pequena canôa!
Qual foi o meu desgosto vendo duas senhoras, suas irmãs, abandonadas
e entregues unicamente à sua virtude, na margem do Corumbá,
soffrendo todas as privações, ausente de seu pai o Coronel Bueno, que
há 14 annos está vivendo em S. Paulo! A mais velha das duas irmãs
tem 25 annos de idade; a segunda, que he formosa, tem 19; e o irmão
17. Apparecêrão-me pobre mas decentemente vestidas, e ainda que
mui acanhadas, inculcão nobreza de alma, sobre tudo na resignação

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com que supportão a quase indigencia em que se achão. Assim vivem
os descendentes do ramo principal dos Anhangüeras! Assim vivem as
terceiras netas do grande Bartolomeu Bueno, primeiro descobridor de
Goiaz, e hum dos mais distinctos e nobres aventureiros da Província
de S. Paulo! Assim vivem, faltas de todas as comodidades, as bisnetas
do celebre Bartolomeu Bueno, conquistador e povoador de Goiaz, que
regorgitando em ouro, morreu em miseria, e cuja consorte foi obrigada
a vender todas as sua joias e escravos para pagar 20.000 cruzados, que se
lhe adiantarão pelo Cofre da Fazenda Real! – Sic transit gloria mundi!
Dizem que as extravagantes dissipações do Coronel Bueno, pai destas
meninas, he quem as collocou na triste posição em que se achão. A casa
em que esta família habita he térrea, de taipa e páos a pique, caiada por
dentro e por fora. A mobília he a ordinaria do sertão, a saber: mesa no
meio da sala, alguns bancos toscos, redes para descançar, catres, etc. As
senhoras preparárão hum quarto da primeira sala da casa para eu dormir,
e puseram-me huma cama decente, e comida mui aceiada à moda do
sertão: vierão fallar-me muitas vezes, e no meio de seus desgostos achei-
as mui agradáveis. A senhora mais velha mostra ter huma massa mui
grande de discernimento, e he pena que esteja tão enferma e melancólica:
a outra irmã he mais jovial, e cheia de graça naturaes. O irmão he hum
galante moço sem educação: na sua quase miseria comporta-se como
hum plebeo honesto, sem todavia se esquecer que he fidalgo, e Principe
dos fidalgos em Goiaz. Esta família he donataria de quatro passagens
de rios por três vidas, que acabão com a do actual possuidor, o qual
deixou para subsistencia das senhoras e menino que aqui se achão o
rendimento da passagem do Corumbá que a pouco monta, e não poderá
existir muitos annos na sua casa.
O Corumbá tem varias ilhas tanto acima como abaixo do lugar da
passagem, e dizem que ha nelle muitas capivaras. A passagem das
cargas faz-se em hum ajojo de duas canôas, semelhante ao da passagem
de S. Miguel do Rio de S. Francisco, de que tratei no dia 14 de Maio.
O Corumbá tem huma grande cachoeira de salto d’aqui a 10 legoas. A
respeito de cachoeiras convem informar que nem todas tem este simples
nome. Ha cachoeiras de salto, e cachoeiras de correnteza ou corredeiras.
Aquellas são as que por differença mui grande do nível do terreno talhado
a pique, ou abatido em forma de escadas ou degráos, deixão cahir a água
a prumo ou aos cachões. Estas são rarissimas vezes navegaveis, e nesse
caso, sendo possivel, abrem-se varadouros aos lados dellas, pelos quaes
se arrastrão as embarcações descarregadas. Algumas cachoeiras de
escadinhas ou pequenos saltos descem-se com as embarcações vazias,
ou com muito pouco carga, e então escorregão seguras ou correndo à
espia ou sirga de sipós mui compridos e grossos, com que as abração.

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Estas operações sempre são trabalhosas, e muitas vezes de grande risco
de soçobrar, ou de se fazer a embarcação em pedaços. As cachoeiras de
corredeiras ou correntezas são planos inclinados de fundo dos rios, onde
as águas pelo seu peso correm com maior velocidade: estas cachoeiras
raras vezes são perigosas, mas na occasião da subida das embarcações
não deixão de causar muito trabalho puxando-as à sirga ou à cópia de
sipós, ou a varas. Em algumas correntezas passão as embarcações com
toda, e às vezes em meia carga, ou absolutamente despejadas. Além das
correntezas e cachoeiras, há os remanços e os gorgulhos. Remanços
são lugares onde as águas que sahirão apertadas entre pedras, e em
redemoinho ou turbilhões, formão hum rebojo ou contra-corrente,
que em certos pontos são perigosos. O Rio S. Marcos tem remanços e
grandes redemoinhos. Estamos no remanço apartado do redemoinho,
turbilhão ou sorvedouro, não há perigo a temer. O gorgulho he hum
lugar em que a água do rio passa sobre pedras occultas, e forma na
sua superfície huma ebulição, ou pequenas mareias oppostas humas às
outras. Parecem-me muito com o phenomeno a que no mar alto chamão
– Rilheiro d’agua, - o qual he effeito de correntes oppostas, ou de ventos
em sentido contrario às correntes. A passagem do Corumbá he limpa,
e os seus barrancos (as margens elevadas) sobem-se e descem-se com
maior facilidade.
3 de junho – TERÇA FEIRA – Estou muito bem hospedado pelas
Snras. Buenas Anhangüeras: cada vez me parecem mais amáveis e mais
virtuosas, assim como dignas de commiseração. A’s 5 horas da tarde
chegou a minha bagagem que tinha ficado no Palmital; e às 6 appareceu
o Capitão, Commandante do Districto de Santa Cruz, Caetano Teixeira
de S. Paio, acompanhado de hum Capitão de Infantaria, o Escrivão do
Julgado, e hum paisano para me cumprimentarem. O Commandante,
homem o mais officioso que póde haver, e também o mais esperto, quiz
praticar a meu respeito toda a sorte de obsequios; deu ordem para se
reunirem as Milicias, e mandou postar huma porta à porta da casa.
Eu agradeci as attenções, e fiz suspender as ordens de se incomodar a
qualquer pessoa. O Commandante ficou nesta casa cujos proprietários
são seus parentes por parte da mãi; e quebrou-me a cabeça huma grande
parte da noite com a sua loquacidade. Instou comigo para ir ao arraial,
o que eu não pude fazer por ter desejos de chegar quanto antes à Cidade
de Goiaz. O Arraial de Santa Cruz fica a 4 legoas ao SO. Do porto de
Corumbá.
Engenho do Bahú, 5 legoas

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4 de junho – QUARTA FEIRA – Despedindo-me das estimadas Snras.
Buenas a quem agradeci com as mais sinceras expressões os favores com
que me tratarão, sahi da sua casa às 3 horas e ¼ da manhã, recebendo
da mais velha na mesma hora em que montei a cavallo alguns doces mui
bem feitos por ella mesma, que teve a bondade de dizer-me que não
os encontraria mlhores antes de chegar ao Engenho do Sargento Mor
Joaquim Alves d’Oliveira. O Snr. Bueno moço, e os outros Snrs. Que
vierão do Arrraial de Santa Cruz quizerão acompanhar-me apezar das
instancias que eu fiz em sentido contrário...

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Galeria de Fotos

O Brigadeiro Raymundo da Cunha Mattos, soube com precisão narrar o seu encontro com os descendentes do
Anhangüera, no lendário Porto do Corumbá.

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Acervo de Ubirajara Galli

A Fazenda Santo Onofre, vizinha e local de passagem para o Porto dos Anhangüeras, o avô do autor deste livro foi
o seu gerente por mais de 30 anos. Em foto de 1929, tirada na fazenda, seus parentes: (e) Marília de Dirceu Vieira
(tia), Carolino José Vieira e Tereza Soares Vieira (avós), Lígia Soares Vieira (tia), em pé na cadeira, Claudina
Soares Vieira (tia) e Ludgero Carolino Soares Vieira (pai)

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Um Encontro Inesperado num
Pouso do Caminho dos Goyazes
José Martins Pereira de Alencastre, Governador da Província de
Goiás, no período de 21.04.1861 a 26.06.1862, publicou em 1863, o livro
“Anais da Província de Goiás”, cujas páginas registram, entre outros assuntos
importantes da memória histórica goiana, um acontecimento acidental e
nem por isso menos significativo para os estudiosos desses torrões.
Quando Alencastre em sua viagem de retorno a São Paulo, ocorrida
provavelmente no mês de julho de 1862, num dos pontos de Pouso da
Estrada dos Goyazes, que deduzo ser o de Jundiaí, teve neste o fortuito
encontro com uma família, cuja miserabilidade humana, envolvia-os sem
piedade.
As crianças do casal, em número de três, relata o escritor, eram belíssimas,
contrastando com a pérfida miséria dos seus trajes e parcos pertences,
arrastados por três animais. Arranchados neste Pouso, onde o “luxo” não
permitia convenções sociais, acabou por suscitar diálogo entre Alencastre e
o pai dos rebentos. O miserável a cada meia palavra blasfemava contra a sua
sorte. Entre uma e outra pedrada no destino, contou que eles estavam indo
para Araraquara (futura cidade paulista) tentar uma melhor vida.
Dessa conversa, uma revelação estarrecedora fez se ouvir desse
homem: ele era nada mais, nada menos, do que filho legítimo de Bartolomeu
Bueno de Campos Leme e Gusmão. Descendente direto da quinta geração
de Bartolomeu Bueno da Silva.
Na verdade ele não era filho legítimo, e sim um filho natural. Uma
vez que ele tivera três filhos que resultaram do consórcio com Ana Teixeira
da Mota, falecida em 1809, no Porto do Corumbá. São seus filhos: Maria
Pulcina Bueno, nascida em 1798. Mariana Fausta Bueno, nascida em
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1804 e Bartolomeu Bueno da Câmara, nascido em 1806. Acometido de
impaludismo ele morreu em 1833. Esse foi seu único filho legítimo. Quanto
ao filho que narra Alencastre só pode ter sido um rebento natural. Sendo
que o Coronel Bueno, logo após a morte da sua mulher em 1809, muda-se
para a Capitania de São Paulo, onde permanece até a sua morte, por volta
de 1825. Nada de causar espanto a possibilidade dele ter constituído uma
nova família.
Certa indignação desse encontro percebe-se na narrativa do autor.
Porém, não se sabe se por humildade ou por desprendimento, ele não
menciona alguma ajuda prestada à indigente família do tetraneto do
Anhangüera.
É irreverente pensar ou quem sabe constrangedor para os confrontantes
desse encontro, principalmente para o descendente do Bueno, que passados
140 anos, nessa estrada que fora pisoteada pela pelas botas do seu tetravô,
de onde soergueriam Pousos, Arraiais, Vilas e futuras cidades, reservaria
este encontro inusitado com o nobre representante do Imperador Pedro II.
Talvez até mesmo as digitais nuas das solas dos seus pés, espraiadas no chão
batido do Pouso, sentiram-se pouco dignas e frágeis para sustentar o peso
de um nome familiar pomposo, que não provia em nada os seus.
O lado ruim dessa história do jovem Alencastre e conceituadíssimo
intelectual é que quando da sua saída do governo de Goiás, ele colocou
debaixo dos braços importantes documentos da história de Goiás que
estavam sob o cuidado do Arquivo Histórico do Estado, e os levou consigo,
para nunca mais voltarem. Tal gesto, ou seqüestro talvez tenha se dado
por falta de tempo para escrever o livro dos Anais, devido a sua curta
permanência frente ao governo goiano.

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Um Bueno Genocida de Quilombos
– Bartolomeu Bueno do Prado –
Bartolomeu Bueno do Prado, neto do Anhangüera II, e filho de
Domingos Rodrigues do Prado e Leonor Bueno da Silva, provavelmente
nasceu em Santana do Parnaíba-SP. Adolescente morava com o pai em terras
goianas onde hoje se localiza o município de Catalão, na região Sudeste de
Goiás. Foi nas futuras terras catalanas, conforme registra a história, que a
sua proeminente carreira de assassino teve início. Na história colonial do
Brasil ele é o maior exterminador de Quilombos.
O seu pai Domingos Rodrigues do Prado companheiro e sócio
do sogro, Anhangüera II, na sua Bandeira de 1722 foi um espinho que
incomodou e muito a sua administração na terra dos Goyazes, dado ao seu
Gênio irrequieto e violento. Sem dúvida, seu filho Bartolomeu Bueno do
Prado teve em quem se mirar e moldar sua índole de genocida.
Alguns historiadores, entre os quais o importante linhagista paulista
Pedro Taques conta que o primeiro assassinato que se tem notícia,
praticado por Bartolomeu Bueno do Prado teria ocorrido, quando uma
tropa comandada pelo capitão português José Morais Toledo Cabral voltava
para a Capitania de Minas Gerais, e ao passar pelas terras de Domingos
Rodrigues do Prado, dele exigiu tratamento especial para sua acomodação
e da tropa. Não havendo como o Prado atendê-lo, passou o capitão a
insultá-lo, resultando numa luta corporal de ambos. Nesse momento,
armado de arcabuz, Bartolomeu Bueno do Prado desfere um tiro mortal no
capitão. O sargento da companhia Francisco Aranha Barreto percebendo
inferioridade dos seus, determina a retirada da tropa.
Essa versão de Pedro Taques para a morte do oficial português é
bastante contestada por vários historiadores. O enredo lógico sem meias
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quimeras, depois que eu avaliei várias Hipóteses para a morte do capitão,
chega-se ao fato que Domingos não pagava ao fisco os tributos impostos
pela coroa portuguesa para exploração das minas. Em conseqüência dessa
falta de pagamento o Superintendente das Minas Gregório Dias da Silva
teria enviado a tropa para exigir de Domingos Rodrigues do Prado o
pagamento dos impostos não recolhidos.
A chegada da tropa no Sitio do Catalão para receber os impostos e
ainda para prender Domingos gerou conflito entre as partes, acabando por
culminar na morte do capitão. Diante desse embate e morte, Bartolomeu e
o pai tomam o rumo da Capitania de São Paulo para evitarem represarias.
No entanto, Domingos Rodrigues do Prado, doente e com a idade avançada,
transportado em uma rede faleceu durante a fuga, no ano de 1738.
Na Capitania de São Paulo, Bartolomeu contrai matrimônio com Isabel
Bueno da Fonseca, filha de Francisco Bueno Luiz da Fonseca e Maria Jorge
Velho, proprietários de terras às margens do Rio Grande. Estabelecendo-se
na Capitania de Minas Gerais, nas lavras de Pitangui, onde tinha muitos
parentes. Rico e irrequieto como pai, segue em 1748, em companhia de
experientes sertanistas como Agostinho Nunes de Abreu, Francisco Xavier
do Prado, José Taciano Flores, Vitoriano Pereira, Valentim Gomes, Simão
Dias e do padre Antônio Martins Chaves liderando uma grande bandeira à
procura de lavras na região do rio das Abelhas. Deparando e explorando a
bandeira fartas faisqueiras às margens desse rio foram atacados pelos índios
Caiapós, causando entre os exploradores pesadas baixas. Nesses combates
teria morrido Agostinho Nunes de Abreu. Além dos ataques dos Caiapós,
sofria a bandeira com a possibilidade de emboscadas por parte dos negros
quilombolas. Ataques que eram freqüentes por aquelas paragens.
Desistindo desta empreitada, Bartolomeu Bueno do Prado recolheu-
se na propriedade do seu sogro em solo paulista. Foi exatamente aí que o
capitão-general da Capitania de Minas Gerais José Antônio Freire de Andrade
convoca o neto de Anhangüera, Filho, para a sangrenta missão de acabar
com os quilombos assentados em terras mineiras, dando-lhe a patente de
comandante, em documento assinado em 12 de maio de 1757. A fama de
Prado em combates era conhecida nas capitanias de Minas e São Paulo.
Demorando nos preparativos da mais sanguinolenta investida

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contra quilombos da história brasileira, teve a sua portaria renovada em
duas outras ocasiões. Motivos da demora: preparativos do pleito e ter a
companhia do seu cunhado Diogo Bueno da Fonseca, seu sogro Francisco
Luiz Bueno da Fonseca, seu sobrinho Salvador Jorge Bueno (filho de Diogo
Bueno da Fonseca), experientes na arte do combate. Além do seu cunhado,
o Estado Maior do Prado contava ainda com a presença do padre capelão
João Correia de Melo, Capitão Antônio Francisco França, Marçal de Lemos
de Oliveira, Manuel Carneiro Bastos, entre outros, que compuseram sub-
divisões de combate.
O historiador Tarcísio José Martins, depois de mais de duas décadas
pesquisando a história colonial mineira, atento à barbárie praticada
contra os quilombolas, escreveu o antológico livro: Quilombo do Campo
Grande, a História de Minas Roubada do Povo. A publicação registra um
precioso relato da ação demolidora de Bartolomeu Bueno do Prado, contra
os quilombolas que, abaixo transcrevo:
“No período de setembro a novembro de 1759, Bartolomeu Bueno
do Prado, com uma tropa de cerca de 500 homens (entre brancos, índios
e capitães-do-mato), armados até com granadas e montados em cavalos,
atacou e destruiu os seguintes quilombos:
01- Quilombo ou Povoado da Marcela. Localizava-se em território
entre os atuais municípios de Campos Altos/MG e Santa Rosa da Serra/
MG ou entre Córrego Danta/MG e Luz/MG.
02 - Quilombo ou Povoado da Pernaíba, com 70 casas: localizava-se
em território do atual município de Rio Paranaíba/MG.
03 – Quilombo ou Povoado do Indaiá, com 200 casas: localizava-
se em território entre os atuais municípios de Santa Rosa da Serra/MG
(nordeste), Estrela do Indaiá/MG (noroeste) e Serra da Saudade/MG
(sudoeste).
04 – Quilombo ou Povoado de Ajuda localizava-se entre os municípios
de Medeiros/MG e Bambuí/MG, especificamente, “Fazenda D’Ajuda”,
pertencente a este último município.
05 – Quilombo ou Povoado do Mammoí, com 150 casas: localiza-
se às margens do Rio Bambuí, entre os municípios Bambuí/MG (norte),
Córrego Danta/MG (sul) e Tapiraí/MG (extremo leste).

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06 – Quilombo São Gonçalo: localizava-se em território do atual
município de São Gotardo/MG.
07 - Quilombo do Ambrósio: localizava-se em território do atual
município de Ibiá/MG.
08 - Quilombo ou Povoado do Fala, hoje município de Guapé/MG.
09 - Quilombo ou Povoado das Pedras: provavelmente se localizava
entre os territórios dos atuais municípios de Alpinópolis/MG (sudeste), ou
Carmo do Rio Claro/MG (sudoeste) e/ou Nova Resende/MG (nordeste).
10 – (Mapa: 10) Quilombo ou Povoado das Goiabeiras, com 90
casas: não pudemos localizar com precisão, porém, devia se localizar em
territórios dos atuais municípios de Franca/SP ou Capetinga/MG.
11 –Quilombo ou Povoado da Boa Vista II: sem dúvida, se localizava
em território do atual município de Capetinga/MG (sul), entre São Tomaz
de Aquino/MG e Pratápolis/MG, ao extremo norte de São Sebastião do
Paraíso/MG.
12 – (Mapa: 12) Quilombo ou Povoado da Nova Angola, com 200
casas: é provável que se localizava entre os atuais territórios dos municípios
de São Sebastião do Paraíso/MG (noroeste) e São Tomás de Aquino/MG
(sul).
13 – Quilombo ou Povoado do Cala Boca: localizava-se em território
entre os atuais municípios de Guaranésia/MG e Guaxupé/MG.
14 – Quilombo ou Povoado do Zondum: localizava-se em território
do atual município de Jacuí/MG.
15 – Quilombo ou Povoado do Pinhão: localizava-se em território do
atual município de Passos/MG (sul).
16 – Quilombo ou Povoado do Caetê: localizava-se em território do
atual município de Nova Resende/MG (sudeste).
17 – Quilombo ou Povoado do Xapeo (Chapéu): localizava-se em
território do município de Monte Belo/MG (nordeste), distrito de Santa
Cruz Aparecida/MG.
18 – Quilombo ou Povoado do Careca: localizava-se em território do
atual município de Divinolândia, no Estado de São Paulo.
O linhagista Pedro Taques que ocupou postos de trabalho na
Capitania de Goiás afirma que ao final dos combates com os quilombolas
Bartolomeu Bueno do Prado teria entregado como forma de troféu de

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caçador ao capitão-general da Capitania de Minas Gerais José Antônio
Freire de Andrade cerca de 3.900 orelhas de quilombolas abatidos. Exageros
à parte, não há nenhuma dúvida que Prado era serial killer, porém, havia o
interesse econômico em manter a vida do quilombola pelo seu bom valor
de mercado.
Uma carta escrita por José Antônio Freire de Andrade e enviada aos
oficiais da Vila do Príncipe (atual Serro-MG), relata algumas das incursões
quilombolas de Prado, cujo teor demonstra a sua preocupação em preservar
a vida dos seus habitantes, eis o texto:

O capitão Bartolomeu Bueno do Prado, que vai em quatro meses saiu


desta vila com um corpo de quatrocentos homens em direitura ao
quilombo de Campo Grande, me deu parte que havendo dado em um
quilombo, em 16 de setembro, em um sítio chamado Indaial, aonde
matou vinte e cinco negros e prendeu vinte e continuando a sua jornada
para a serra da Marcela, atacou outro quilombo, onde os que se puderam
contar foram quarenta e nove o número de presos. Até agora me parece
não passa de sessenta. O que participo a Vossas Mercês para que fiquem
na inteligência do que tem resultado desta diligência para que Vossas
Mercês concorreram com tanto zelo. Deus guarde a Vossas Mercês. São
João de El-Rei, 17 de outubro de 1759.

Depois dos combates Diogo Bueno da Fonseca, juntamente com


o capitão Antônio Francisco França, foram para o Campo Grande fazer
pesquisas auríferas nas áreas dos quilombos destruídos. No ano de 1763,
Antônio Francisco França desenhou um mapa posicionando alguns dos
quilombos dizimados sob o comando de Bartolomeu Bueno do Prado.
Segundo o historiador Francisco de Assis Carvalho Franco, Prado
teria falecido como capitão-mor ajudante das minas de Jacuí (MG), em
janeiro de 1768. A ironia fica por conta do seu sepultamento na capela do
Rosário, da freguesia de Carrancas. O exterminador de negros sepultado
na capela dos homens pretos.

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A Cruz do Anhangüera?
“E a “Cruz do Anhanguera”, com os braços pateticamente abertos, ouve, nas
horas quietas das noites de verão, o lamento dos sapos fazendo coro aos seresteiros
apaixonados”.
Regina Lacerda

Luiz Ramos de Oliveira Couto, juiz de Direito, respeitado professor


da Faculdade de Direito de Goiás e autor dos livros: Violetas (1904),
Lilazes (1913) e Moema (1927), entrou para a história de Goiás, não pelo
seu desempenho jurídico, literário, ou como co-fundador de importantes
instituições culturais (Academia Goiana de Letras e Instituto Histórico e
Geográfico de Goiás), mas sim como mentor intelectual do achado da Cruz
do Anhangüera? Luiz do Couto, como ficou conhecido nasceu na Cidade
de Goiás, no dia 6 de abril de 1884, era o 5º filho de Vicência Luiza do
Couto Brandão Bastos (1846-1933).
Depois de atuar como Juiz de Direito, na então cidade de São José
do Duro-GO, atual Dianópolis-TO, Luiz do Couto foi transferido para a
cidade de Catalão-GO, onde se dá o achado da Cruz do Anhangüera (?),
nas terras da Fazenda dos Casados. Essa fazenda pertencia ao casal Mariano
Cândido da Silva e Maria Cândida, cuja origem parece remontar a cidade
Bambuí-MG. Ainda crianças, Mariano e Maria teriam se casado, conforme o
desejo dos pais. Quando se estabeleceram na região de Catalão, na segunda
metade do século XIX, de toda terra vizinha, eles eram os únicos casados de
papel passado em cartório. Diante desse ato incomum de união à época, a
propriedade deles passou a ser conhecida como a Fazenda dos Casados.
A Cruz do Anhangüera (?) estava assentada próxima à sede da
Fazenda dos Casados, margeando o ribeirão Ouvidor, a uns seis quilômetros
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do antigo Porto Velho, cujas águas do rio Paranaíba, dividem os Estados
de Minas e Goiás. A cruz, também, fora plantada ao lado da mais antiga
picada, aberta na segunda incursão do Anhangüera, Filho, às terras goianas,
no ano de 1722. Durante décadas essa foi uma das principais entradas em
solo goiano, dos viajantes do sul do País.
Conta-se que Luiz do Couto atuando como mediador em uma divisão
de terras teria encontrado uma cruz que “considerou” como afirma seu neto
Di Lourenzzo do Couto, no livro de sua autoria, Reminiscências Maçônicas
de um Vilaboense, ter sido fincada pelo Bueno, Filho. Gravada na cruz de
aroeira foram observados os seguintes dígitos: 172. O quarto e último número
que faria parte da seqüência numeral estava apagado. Estranha coincidência
que deixou em aberto à data precisa do possível assentamento da cruz. Outra
curiosidade é que essa década (1720) corresponde plenamente à segunda
entrada ou saída do Bueno, Filho, das terras dos Goyazes.
A notícia mais remota sobre a presença da Cruz nessas paragens é o
depoimento de Amâncio Mariano (descendente do casal Mariano Cândido
da Silva e Maria Cândida) dado ao meu amigo e escritor Cornélio Ramos,
no ano de 1973, afirmando que na sua infância brincou por diversas vezes
ao pé da cruz e ouvia de familiares histórias envolvendo esse adorno cristão
com os bandeirantes. No ano de 1973 contava Amâncio Mariano com
aproximadamente 83 anos. Isso que dizer que no final do século XIX a cruz
estava lá cravada. Lamento que o sério pesquisador Cornélio Ramos não
tenha se atentado para perguntar ao Amâncio sobre a existência (na época
da sua infância) ou não dos três ou quatro números cravados na madeira.
Com o “descobrimento” da cruz foi constituída uma comissão
composta por autoridades e integrantes da Loja Maçônica Paz e Amor
III de Catalão (fundada em 27 de outubro de 1913) para providenciar o
translado da Cruz da Fazenda dos Casados para a cidade de Catalão. O livro
do escritor Cornélio Ramos (por cujas mãos adentrei a Academia Catalana
de Letras e Artes), Catalão, Poesias, Lendas e Histórias, reproduziu parte
da ata de uma seção da citada loja maçônica que trata desta questão:

Aos dez dias do mês de novembro de mil novecentos e quatorze, no


lugar denominado “Fazenda dos Casados”, do cidadão Mariano
Cândido da Silva, aí presentes os senhores Orimando de Sousa Pinto,

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José Henrique Naves, Antônio Joaquim Machado, Antônio Gonçalves
de Resende, Manoel Bello Cyríaco, José da Silva Filho, Cel. Bento X.
Garcia (agrimensor do imóvel em divisão), Capitão Joaquim Carlos de
Resende, Major Miguel José da Costa de Resende, Major Luiz Sampaio
(arbitrador), Major Miguel José da Costa (Promotor Público), teve início
a transladação da CRUZ DO ANHANGÜERA para a cidade de Catalão,
a fim de ser entregue à Loja Paz e Amor ao Oriente de Catalão”.

A cruz fora conduzida para o interior do Cine Theatro Guarany -


primeiro cinema de Catalão - de propriedade de Marcílio Aires da Silva,
que funcionava na atual Avenida 20 de Agosto. Marcílio era casado com
a sua prima conhecida por Diava. O escritor Aldair da Silveira Aires,
co-inventor ao lado, também do escritor Bariani Ortêncio, do prato
internacional, Peixe na Telha, é parente próximo do casal. Aldair me
revelou que com a morte precoce do Marcílio, sua prima Diava conduziu
por décadas o entretenimento catalano da Sétima Arte. Marcílio Aires da
Silva era também membro fundador da Loja Maçônica Paz e Amor III.
O propósito da presença da cruz, no interior do cinema, era para
ilustrar as comemorações cívicas da proclamação da República (15.11.1914),
quando o símbolo cristão anhangüerino seria apresentado à comunidade
catalana. O jornalista Mendes de Almeida, presente à solenidade, escreveu
e publicou no Jornal “Correio de Catalão, o seguinte texto:

A CRUZ DO ANHANGÜERA

Em 15 de novembro de 1914, um punhado de maçons, auxiliados


pelo que demais distinto e seleto que possui Catalão, promovia nesta
cidade uma sessão cívica, memorável reunião em que brilhantemente se
festejou a grande data da proclamação da República.
Mas, o que maior significação histórica se emprestou a essa
comemoração, foi a velha Cruz do Anhangüera, exposta em plena sala
daquela reunião, louvável e patriótica lembrança do Cel Bento Garcia,
venerável da “Loja Paz e Amor”, que a fizera transportar da estrada do
Porto Velho, Fazenda dos Casados, onde existia quase abandonada, há
mais de duzentos anos!
Eu não sei descrever a emoção que todos da assistência ao deparar aquele
vetusto madeiro, carcomido pelo tempo, os braços mutilados pelas
intempéries, a mesma cruz singela, que numa manhã de 1712, o audaz

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Bandeirante cravara no solo goiano ao pisar terras virgens impregnadas
desse mistério do desconhecido na ânsia sempre palpitante de novas
energias que aspiravam florescer...
Que todos que amam Goiás, que nele nasceram e morreram, neste
abençoado torrão, compreendam e não esqueçam nunca aqueles a quem
devem a salvação dessa relíquia histórica precioso marco plantado pela
mão piedosa do precursor da civilização de Goiás, símbolo da fé cristã
que supera montanha e significativo vestígio de uma heróica esperança
que renascia do contato de uma nova terra que toda se entregava ao
explorador Anhangüera!
A sessão cívica foi uma festa empolgante.
Os oradores Mendes de Almeida, Drs. Gastão de Deus e Luiz do Couto,
cheios de comoção, possuídos do mais ardente patriotismo evocaram
as glórias do Brasil, as suas lutas, à formação da sua nacionalidade, os
componentes da nossa raça, onde realçaram as energias indômitas do
“caboclo”, a resistência e a capacidade para o trabalho, características
dos negros bons e afetuosos e as varonis qualidades do português,
batalhador e navegante sem igual na história.
Rememorou-se as façanhas dos Bandeirantes correndo em busca da
serra verde das esmeraldas, que como um ideal, clamava em não ser
atingida. Glorificou-se a missão histórica dos cearenses, dos nortistas,
desbravando e povoando num supremo esforço, o vale opulento do
Amazonas, verdadeira odisséia que veio apurar a resistência da nossa
raça e engrandecer prodigamente o...da nação.
A nossa bandeira de ouro e esmeralda, formoso estandarte e paládio
de todos os povos que vem trabalhar pelo progresso da República
fora tecidos pelos oradores da festa,...e saudações...do mais santo
patriotismo.
Assim terminou essa sessão histórica. O hino nacional estrugia como
um cântico em louvor dos heróis, e os nossso corações guardavam a
mais grata das impressões patrióticas.
A cruz foi há muito requisitada pelo Governo do Estado. Seguiu...e
nunca mais...falar dela...
Promovam todos os meios imagináveis para que Ela tenha um
monumento condigno do seu alto valor pátrio.
Escrevam, preguem, implorem e trabalhem para solver a imensurável
dívida que os filhos de Goiás contraíram para com a história da sua
terra natal.
Catalão, 19 de abril de 1916
M. de Almeida

A segunda ata que Cornélio Ramos transcreveu trata na íntegra

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do ofício enviado por Luiz do Couto ao venerável da loja Bento Xavier
Garcia, solicitando a entrega da Cruz para que ela fosse remetida à Cidade
de Goiás. Couto utilizou a influência do seu cargo de magistrado, com o
poder judiciário do Estado para tal orquestração:

“Juízo de Direito da Comarca do Rio Paranaíba, em Catalão, 15 de


janeiro de 1915.
Ilmo. Sr. Bento Garcia, DD. Venerável da Loja Paz e Amor de Catalão.
Estando depositada na Loja Maçônica desta cidade, de que V. Sa. é
digno Venerável, a CRUZ DO ANHANGÜERA, e tendo o Governo
do Estado requisitado o seu transporte para a Capital, conforme se vê
do ofício junto (assinado pelo Major Antonio Augusto de Carvalho,
Secretário do Interior, Justiça e Segurança Pública), venho pedir a V. Sa.
entregá-la a este Juízo, em sessão pública, caso julgue conveniente ou
particularmente.
Cumpre-me agradecer a V. Sa. o real interesse que tomou por esse
monumento histórico da minha terra e apresentar a V. Sa. os meus
protesto de alta estima e sabida consideração.
Saúde e Fraternidade
– Luiz Ramos de Oliveira Couto
Juiz de Direito”

A resposta do dirigente maior da Loja Maçônica Amor e Paz III revela


nas suas entrelinhas o desejo de protelar a reivindicação do magistrado,
dado ao que parece não ter havido consenso entre os membros da Loja
para deliberarem a questão. Vejamos o documento transcrito por Cornélio
Ramos:

“Catalão, 17 de janeiro de 1915


Exmo. Sr. Dr. Luiz Ramos de Oliveira Couto
MD. Juiz de Direito desta Comarca:

Acuso com satisfação haver recebido o ofício de V. Exa. e tomado na


devida consideração o que nele se contém, cabe-me informar que,
submetido o caso à deliberação da Loja, foi, por motivos de ordem
interna, adiada a sua discussão.
Agradecendo a V. Exa. As expressões de nímia gentileza com que V.
Exa. Se refere a minha modesta iniciativa, brevemente terei a honra de
certificar qual a resolução tomada pela Loja Paz e Amor.
Saúdo a V. Exa.
Bento Xavier Garcia
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Venerável da Loja Paz e Amor”
Na verdade havia dentro e fora da maçonaria um sentimento que a
Cruz pertencia historicamente ao município de Catalão e que era um ato
despótico por parte de Couto, utilizar-se do importante cargo que exercia
para legislar em causa própria, movido por sentimentos de posse do artefato
cristão, para remetê-lo ao seu berço natal, o antigo Arraial de Sant’Anna,
fundado pelo Anhangüera, Filho.
Foi o poeta e jornalista Randolfo Campos, a voz dos poucos
descontentes públicos que manifestou de casa em casa e através de jornais,
contra a retirada da cruz da terra catalana. Muitos viam no gesto de Randolfo
Campos uma atitude política contra o governo da época, do qual ele era
realmente adversário político. Pode ser até essa adversidade política tenha
esquentado o seu sangue, no entanto, a passividade lúdica e cordeiral dos
jovens da sociedade catalana, acompanhando a Cruz do Anhangüera(?) ao
som da banda de música e foguetes, adornando o seu embarque na estação
ferroviária, rumo à capital goiana da época, é lamentável. Triste nódoa que
mancha a bela e rica história do município.
Acomodada em uma prancha a Cruz seguiu rumo à cidade de
Ipameri, então ponto terminal da Estrada de Ferro Goiás. Neste município
o monumento foi entregue ao Juiz Municipal da Comarca, conforme o
registro da ata maçônica da Loja Amor e Paz III, abaixo:

Ata nº66:
...da entrega da Cruz do Anhangüera ao Exmo. Sr. Dr. Rodolfo Luz
Vieira, Juiz de Direito de Ipameri, em virtude do pedido do Sr. Major
Antonio Augusto de Carvalho,Digno Secretário do Interior, Justiça
e Segurança Pública deste Estado, de 30 de dezembro último, pela
comissão encarregada da entrega do respectivo monumento: Aos 5 dias
de abril de 1915, nesta cidade de Ipameri e escritório do respectivo Juiz
de Direito da Comarca aí presentes; Rodolfo Luz Vieira, Coronel José
Vaz, Modesto José Barbalho, Intendente Municipal Major João Vieira
Gonçalves, Dr. Ulysses Fabiano Alves, José Rodrigues Silva, João César
Fleury e Osvaldo Cunha, membros da comissão maçônica da Loja Paz
e Amor do Oriente de Catalão e mais pessoas gradas por essa comissão
foi feita a entrega da Cruz, que de hoje em diante pertencendo ao
Estado de Goiás, que dela poderá usar como sua própria, em seguida

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a sua entrega foi pelo Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito, feito, em nome do
Estado, o agradecimento que bem mostra a satisfação do governo em
possuir aquele monumento, do que para constar lavrou-se esta ataque
será assinada pelas pessoas presentes...

É curiosa a demora de mais de um ano para que a Cruz do Anhangüera


(?) fosse enviada para a Cidade de Goiás dada à pressão arquitetada pelo
Dr. Luiz do Couto, junto aos poderes legislativo e executivo do Estado.
Depois de um ano, dois meses e dezoito dias, que a cruz fora deixada
aos cuidados do juiz Rodolfo Luz Vieira, na cidade de Ipameri, o poder
legislativo estadual tornava pública a seguinte lei:

O Congresso Legislativo do Estado de Goiás

decreta:

Art. 1º - Fica o Poder Executivo autorizado a promover o transporte


da Cruz do Anhangüera, da cidade de Catalão, ou do ponto onde ela
se encontrar, para esta Capital e aqui dar-lhe acomodação condigna
de acordo com Sr. Bispo Diocesano (Dom Prudêncio Gomes da Silva);
despendendo a quantia necessária pela verba “Obras Públicas”, não só
para o transporte, como para a acomodação.
Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrário.

Salas das Comissões do Estado de Goiás,


23 de junho de 1916.

Numa seqüência de morosidade nada compatível com a urgência


inicial de posse da Cruz, após um ano, um mês e sete dias da manifestação
do poder legislativo estadual, o então presidente do Estado de Goiás, João
Alves de Castro, editava a seguinte lei para cobrir despesas para instalação
do monumento:

LEI N. 559, DE 16 DE JULHO DE 1917

Autoriza o Governo a concorrer com a quantia de dous


contos de réis para a construcção do monumento em que
vae ser collocada a Cruz do Anhanguéra.

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O Desembargador João Alves de Castro, Presidente do Estado de Goyaz.
Faço saber que o Congresso Legislativo do Estado decretou e eu
sancciono a seguinte Lei:
Art. 1.- Fica o Governo autorizado a concorrer com a quantia de dous
contos de réis para a construção do monumento em que vae ser collocada
a Cruz do Anhanguéra.
§ Único. Esta quantia deverá ser entregue ao thesoureiro da Commissão
que nesta Capital se constituir para esse fim.
Art. 2.- O Poder Executivo abrirá o crédito necessário para o
cumprimento desta lei.
Art. 3.- Revogam-se as disposições em contrário.
Mando, portanto, a todas as autoridades a quem o conhecimento e a
execução desta lei pertencerem, que a cumpram e façam cumprir tão
inteiramente como nella se contèm.
O Secretário de Interior, Justiça e Segurança Pública a faça imprimir,
publicar e correr.
Palácio da Presidência do Estado de Goyaz, 16 de julho de 1917, 29º. da
República.
L.S. J. ALVES DE CASTRO
Dr. Agenor Alves de Castro
Sellada e publicada nesta Secretaria do Interior, Justiça e Segurança
Pública do Estado de Goyaz, em 16 de julho de 1917.
O Chefe da 1º Secção,
Antonio Augusto de Carvalho.

Ainda na seqüência da morosidade para o assentamento do


monumento, após um ano, dois meses e um dia, da edição da lei acima, a
Cruz com os olhos cravados em direção à Ponte da Lapa, era festivamente
inaugurado no dia 17 de setembro de 1918. Se a comissão encarregada
do assentamento da cruz e da sua inauguração em terras Anhagüerinas,
estivesse esperado mais dois dias para o feito, a data seria oportuna para
lembrar o falecimento do Bartolomeu, Filho, que pobre e esquecido morreu
no Arraial da Barra, no dia 19 de setembro de 1740.
Durante 83 anos a Cruz do Anhangüera (?) integrou poeticamente a
arquitetura belíssima vilaboense. Era, talvez, o mais lúdico cartão postal da
cidade, até ser tragado pela violência das águas da enchente de 31.12.2001.
Aterrada na lama, entre entulhos, a Cruz foi localizada às margens do rio
Vermelho, dois dias depois.

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Em 2007 a Cruz do Anhangüera (?) está abrigada entre as paredes
centenárias do Museu das Bandeiras, que resguarda a sua história ambígua
e inconclusa, enquanto o seu lugar de origem, ao lado do Teatro São
Joaquim, é ocupado por uma autêntica réplica.
O anúncio do assentamento da réplica provocou um manifesto
ecumênico por parte de um grupo de evangélicos e católicos, gerando uma
bucólica discussão medieval, para não dizer obscurantista. Não queriam
a reconstrução do monumento porque segundo o grupo, ele simbolizava
a chacina praticada contra as comunidades indígenas e o codinome
Anhangüera, na linguagem dos silvícolas, tem o significado de Diabo
Velho. Portanto, essa cruz seria coisa do diabo.
O prefeito da Cidade de Goiás, que sofreu à época, com duas
enchentes: 1ª – a da natureza e a 2ª da ignorância, recebeu em seu gabinete
um farto abaixo-assinado do eclético movimento sacro, cujo teor era
crucificar a cruz, tornando-a ausente da paisagem vilaboense. Cultos, rezas
e assinaturas, não impediram o retorno do belo ornamento cristão.
Assim como a Atlântida figura no imaginário universal, a Cruz do
Anhangüera (?) resguardando as devidas proporções, significa para nós
goianos, a epopéia do nosso nubente processo civilizatório ocidental.
Náufraga aroeira navega nas águas deleitosas do molhado simbolismo.
Quanto à paternidade pública da descoberta da Cruz do Anhangüera
ela é dúbia. A descoberta e associá-la ao Bueno, Filho conduzem as
evidências histórias ao primeiro Venerável da Loja Maçônica Paz e Amor
III, de Catalão, Bento Xavier Garcia, que era agrimensor e fazia um
trabalho topográfico, na área da Fazenda dos Casados, no ano de 1914, em
que a Cruz foi encontrada. Num segundo momento, quem deu toda ênfase
pública à Cruz e abraçou com vigor o propósito de levá-la para a Cidade de
Goiás, esse mérito pertence indiscutivelmente a Luiz do Couto.

Pequeno Box de Dúvidas Mirando à Cruz

1 – Por que não existe no roteiro de Alferes Peixoto da Silva Braga,


primeiro escrivão da Bandeira do Anhangüera, Filho, nenhum registro
sobre o assentamento de uma cruz nas paragens da futura cidade de Catalão
ou mesmo em qualquer outra passagem do seu relato?

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2 – A única evidência sacra nestas paragens foi a presença do Frei
Antônio da Conceição, que ali ficou por um tempo plantando roça, com
ajuda do seu sobrinho, um paulista, um mulato e dez negros (cujos nomes
Silva Braga não menciona). Pode ser que Frei da Conceição tenha sido o
autor do erguimento da cruz durante o tempo de plantio da roça?
3 - Mesmo depois que Frei da Conceição reintegra à Bandeira a quase
80 léguas de onde ficara plantando a roça, lá deixa o seu sobrinho e quase
todos os negros cuidando do plantio. Não seria louvável também reservar
a possibilidade do assentamento da cruz ao sobrinho do Frei que ali ficou
cuidando da roça durante a ausência do tio.
4 – Como uma cruz (ainda que a sua essência seja de aroeira) resistiria
por 190 anos à exposição das intempéries da natureza, tais como chuva,
vento, terra, sol e ainda à ação vandálica do homem?
5 – Se a cruz resistiu por obra divina ao longo de quase dois séculos, por
que apenas o quarto número (172...) nela inscrito teria se apagado? Quem o
teria apagado? Seria ação do homem ou das intempéries da natureza?
6 - Haveria realmente a impressão de um quarto número?
7 – Pode ser que essa cruz tenha sido assentada em anos bem
posteriores à passagem da Bandeira de Bueno, Filho?
8 – Talvez a cruz tivesse sido edificada por algum viajante da Picada
dos Goyazes ou antigos moradores da região ou do local que precederam à
Fazenda dos Casados?
9 - Causa estranhamento uma peça arqueológica exposta durante
190 anos aos olhos de todos os passantes e cravada no peito da zona rural
de Catalão, cidade notoriamente conhecida pelo trabalho intelectual e
político de seus filhos, sendo que nenhum deles tenha se atentado para a
importância desse monumento plantado a céu aberto?

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Galeria de Fotos e Documentos
Enciclopédia dos Municípios Brasileiros – IBGE - 1957

Cruz do Anhangüera arrancada de sua base e atolada às margens do Rio Vermelho, depois da enchente do
revèllion de 2001.

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Dicionário do Escritor Goiano, Gente Nossa, de Maria das Dores Campos
de José Mendonça Teles

Luiz Ramos de Oliveira Couto entrou para a his- O poeta Randolfo Campos foi a única voz intelectual
tória de Goiás com a Cruz do Anhangüera (?) dissonante contra a retirada da Cruz do Anhangüera
(?) de Catalão para a Cidade de Goiás.
Catalão Ilustrado de Antônio J. Azzi

Anúncio comercial da Fazenda dos Casados (1937), onde a Cruz do Anhangüera (?) foi encontrada.

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Catalão Ilustrado de Antônio J. Azzi

Comercial do Cine Theatro Guarany (1937), onde a Cruz do Anhangüera (?) ficou exposta.

Ipameri Histórico, de João Veiga

Atrás dos carros de bois, a Estação Ferroviária de Ipameri, onde desembarcou a Cruz do Anhangüera (?), antes
de seguir viagem para a Cidade de Goiás. Foto de 1915.

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Ata da Loja Maçônica Paz e Amor III de Catalão, que registra a entrega da Cruz do Anhangüera (?), aos cuidados
do juiz municipal de Ipameri Rodolfo Luz Vieira.

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Memória do Poder Judiciário de Goiás,
de Geraldo Coelho Vaz Ipameri Histórico, de João Veiga

José Vaz que era Intendente Municipal de Ipameri à


Rodolfo Luz Vieira foi juiz municipal
época e estava presente à sessão da entrega da Cruz
de Ipameri-GO, de 1909 a 1930
do Anhangüera.

Nelson santos

Cruz do Anhangüera arrancada de sua base e atolada às margens do Rio Vermelho, depois da enchente do
revèllion de 2001.

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BIBLIOGRAFIA

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Por: Joaquim João Mariano
Coleção das Leis do Estado de Goiás Sancionadas no Ano de 1917
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Senado Federal

Arquivos Pesquisados
Instituto Cultural José Mendonça Teles

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Instituto Histórico e Geográfico de Goiás
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
Casa de Cultura Altamiro de Moura Pacheco
Academia Goiana de Letras
Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central
Loja Maçônica Paz e Amor II de Catalão-GO
Acervo particular de Jacy Siqueira
Acervo particular do autor.

Entrevistas Básicas

Aldair da Silveira Aires


Escritor
Jacy Siqueira
Escritor
Paulo Bertran
Escritor
Antônio César Caldas Pinheiro
Escritor
José Mendonça Teles
Escritor
Paulo Sampaio
Diretor da Casa de Cultura de Pires do Rio-GO
Cláudio Henrique Chini
Secretário Municipal de Obras, prefeitura de Catalão-GO
Zita Pitaluga
Descendente dos Anhangüeras
Carlos Novaes
Jornalista e pesquisador

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