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FILOSOFIA E MITOLOGIA

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Na antiguidade antes dos livros escritos os homens cantavam, recitavam e
contavam as histórias de seus antepassados e seus deuses.
É assim que os mitos surgem, sobrevivem, crescem e transformam todas as
pessoas em todos os tempos que gostam de contar e ouvir histórias.
Os mitos expressam sua sabedoria, seu significado interno e misterioso e tanto
contador quanto ouvinte, quando compartilham um mito, compartilham também um
segredo que enriquece a ambos.
Através de um mito podemos a aprender a vencer obstáculos para atingir um ideal e
um crescimento superando e vencendo nossas limitações o que nos torna mais que
um homem, um herói divino nos aproximando cada vez mais da perfeição. Todas as
mitologias começam por contar a criação do mundo, comparando as histórias de
todos os povos, um padrão fascinante emerge.
"Os mitos são mais que histórias e tocam o coração e a alma de quem ouve. Eles
são profundamente estranhos e espantosamente familiares."

O consciente não entende totalmente mas o inconsciente sabe.

Desde o começo cada povo recebeu seu próprio designo sobrenatural, comunicando
a seus heróis e provado diariamente na vida e experiência de seus membros.

As diversas tradições religiosas revelam que todas elas foram criadas de único
fundo de motivos mitológicos, organizados, selecionados, interpretados e
ritualizados de modo diferente, de acordo com as necessidades dessa sociedade,
mas venerados por todos os povos da terra.

Dependendo das nossas crenças o que é uma religião e filosofia verdadeira para
alguns é mitologia para outros.

Mitologia Indiana
As figuras e mitos atravessam o tempo estando sempre presentes. Eles
permanecem vivos nas cerimônias religiosas, canções, danças e na arte dos
templos. A mitologia indiana teve origem nos livros sagrados - os VEDAS onde o
universo inteiro é considerado sagrado. Os deuses principais são: BRAHMA,
VISHNU, SHIVA e a DEUSA - MÃE com todas suas representações. Os deuses
estão sempre acompanhados de um animal, que é a sua montaria. Os dois grandes
poemas épicos MAHABHARATA E RAMAYANA são um verdadeiro tesouro da
mitologia indiana. Os mitos são encontrados nos PURANAS " HISTÓRIAS
SAGRADAS". A mitologia procura nos dizer que o universo é ilimitadamente variado,
que todas as coisas se passam ao mesmo tempo, e portanto, tudo é possível de
acontecer. Os mitos dizem que todos os seres criados por deuses têm dois lados:

BONS E MAUS
BONITOS E FEIOS
GENTIS E CRUÉIS
VERDADEIROS E FALSOS
CORAJOSOS E COVARDES
HERÓIS E ANTI-HERÓIS
Segundo Joseph Campbell:
"A mitologia nos faz ver a história cultural da humanidade como uma unidade; pois
achamos que temas como"o roubo" o "dilúvio", a "terra dos mortos", o "nascido de
uma virgem" e o "herói ressucitado" estão presentes no mundo todo. Além do mais,
enquanto nas histórias contadas para entretenimento tais temas míticos são
tomados como contos, quando aparecem em contextos religiosos, eles são aceitos
não apenas como absolutamente verídicos, mas mesmo como revelações das
verdades das quais toda cultura é uma testemunha viva e de onde derivam tanto sua
autoridade espiritual quanto seu poder temporal. Não foi encontreda ainda nenhuma
sociedade humana na qual tais motivos mitológicos não tenham sido repetidos em
liturgias, interpretados por profetas, poetas, teólogos ou filósofos; representados na
arte; exaltados em hinos e experimentados com êxtase em visões vivificadoras."

O mito é a grande representação do mistério, o princípio da vida, a ordem eterna, a


fórmula sagrada para a aqual a vida flui quando se prejeta para fora do inconsciente
e que e esta além da faculdade racional e do tempo e espaço.

Nos mitos populares da Índia, três preeminentes personificações masculinas da


cabeça Divina mantêm o equilíbrio do universo.

VISHNU, SHIVA e BRAHMA

O primeiro repousando em uma solidão que apesar de transmundana sustenta toda


a história do mundo, assegurando-lhe a continuação e periodicamente descendo até
o túmulo para na qualidade de salvador e redentor, restabelecer a justiça e a ordem.

O segundo, em contraste, é o divino em estado de absoluta e distante imobilidade.


Com o olhar voltado para seu interior, absorto no vazio do seu próprio ser, mantém
sua consciência afastada da perpétua confusão do espetáculo do mundo,
recusando-se a dirigir o olhar para essa roda de prazeres e angústias que gera a si
mesma, até que chegue o momento de dissolve-la.

Quanto a BRAHMA, é a fase criativa da totalidade divina. Em exaltado labor, ele


desdobra o jogo do mundo retirando-o do calor interno de sua absorvente
contemplação.
VISHNU pode ser considerado como aspecto que abrange a totalidade,
tranquilamente mantendo tudo dentro de si mesmo, como alguém que ao dormir
calmamente sustenta os espantosos incidentes de um sonho, enquanto que as
outras duas figuras divinas denotam os dramáticos momentos opostos da dissolução
e da Criação.

SHIVA ------------------> DISSOLUÇÃO

BRAHMA ---------------> CRIAÇÃO

Porém os três, que são aspectos ou manifestações de um único INSONDÁVEL, são


afinal, produzidos por:
MAYA

Unos em substância, são tríplices, e formas e funções, devido ao artifício que divide
o Todo em Múltiplo.

Maya é Mãe. Maya é o encanto pelo qual a vida está perpetuamente seduzindo a si
própria. Maya é o ventre, seio que alimenta, e a sepultura.

Uma biografia hindu dessa GRANDE MÃE, tecedora do mundo, consta no KALILA
PURANA, documento relativamente tardio de tradiçÃo hindu. O termo PURANA
significa "contos e ensinamentos antigos transmitidos desde tempos imemoriais".
Existem vários PURANAS. São livros sagrados compostos de material que veio
flutuando na ampla e poderosa correnteza de sabedoria hindu, desde os séculos
primordiais por cantores e videntes védicos, mitos veneráveis e ensinamentos
oraculares levados ao caudal do rio por muitos tributários. O título, KALILA
PURANA, é derivado de KALI "A Senhora OBSCURA" suprema manifestação da
DEUSA MÃE. A grande MAYA é sabedoria e incremento, estabilidade e pronto
auxílio, compaixão e serenidade, rainha do mundo, ela vive em cada nuança de
sentimento e percepção; sentimentos e percepções são seus gestos. Sua natureza
pode ser sentida apenaspor quem tenha compreendido que elaé unidade dos
opostos. É a rainha que produza roda da ilusão mortal, entretantopor esse mesmo
poder, abre caminho à libertação. Todas as mulheres são sua auto manifestação,
especialmente as duas grandes deusas:

· LAKSHIMI: consorte de VISHNU, padroeira da fortura.

· SARASWASTI: deusa das palavras resplandescentes da sabedoria, da revelação e


tradição divina. ESPOSA DE BRAHMA.

O MITO DE SHIVA

BRAHMA em solidão ora a Grande Deusa : Ela surge esbelta, cabelos soltos,
estática, vinha sobre o dorso de um leão, com sua voz tempestuosa: " Por que me
chamaste? Quer que eu conheça teus desejos?"

BRAHMA respondeu: " O Senhor do mundo, o Senhor dos Espíritos, Shiva


permaneca solitário. Não há nele anseio por uma esposa. Assim como sob a forma
de Lakshimi vós constituís a alegria de Vishnu. Extasiai também Shiva, pela solidão
do mundo. Se ele não tomar uma esposa como poderá a criação do mundo seguir
curso?

A Grande Deusa aceitou o apelo de BRAHMA e lhe respondeu: "sob a forma de uma
bela mulher, sob a aparência da filha de DAKSHA, vou a procura de SHIVA e o farei
meu. Quando Shiva em sua meditação fender o núcleo mais íntimo de seu coração,
vai encontrar-me ali, fundida a ele."

Então a GRANDE MAYA surgiu perante o rei DAKSHA e disse: "Pelo bem da
criação vou converter-me em tua para consquistar o amor de SHIVA, mas se, pela
mínima coisa me faltar o respeito que me é devido, abandonarei meu corpo
imediatamente, esteja ou não contente com ele."
" Seduzirei SHIVA. Eu o farei para que ele possa ser incorporado à trama do
romance do mundo."

Ouvindo as palavras da DEUSA, DAKSHA tomou para si uma esposa, seu nome era
Virani que era a bela filha da perfumada erva chamada VIRANA. Quando a primeira
visão-desejo de DAKSHA, emanada de sua alma, caiu sobre ela, VIRANI concebeu,
e sua filha foi a DEUSA MAYA. No dia de seu nascimento, tombou do céu uma
chuva de flores, águas límpidas fluíram do firmamento claro, e os deuses fizeram
retumbar seus tambores de trovão.

A pequenina deusa cresceu rapidamente, sobre ela afluíam todas as virtudes; era
como a foice de jovem lua crescente que cada noite perceptivelmente se expande
buscando plenitude. Seu grande prazer ao brincar com os amiguinhos era desenhar-
lhes o retrato de SHIVA, dia após dia, e ao cantar músicas infantis, as letras sempre
se referiam a ele, ditadas pela devoção de seu coração.

DAKSHA chamou sua filha de SATI: "Aquela que é".

BRAHMA sua consorte SARASWASTI, VISHNU e LAKSHIMI fora até Shiva.


Milagrosamente., quando o Deus asceta tomou conhecimento da presença dos dois
radiantes casais, nosse instante, levíssimo vestígio de um sinal de desejo por uma
mulher e pelo próprio estado conjugal faz-se perceptívelno espírito solitário e sem
idade de SHIVA. Saudou-os e indagou-lhes a razão da visita.

BRAHMA replicou: "Viemos pelo bem das divindades, pelo bem de toda a criação.
Eu sou a causa criadora do mundo, VISHNU, a causa de sua continuação quanto a
VÓS, provocais a transformação e o aniquilamento de todos os seres. Em união
conosco, sou capaz de, sem interrupção consumar o ato criador, assim como
VISHNU encontra em mi o fundamento e a sustentação para sua função
conservadora. Da mesma forma , sem nós jamais estareis em condições de realizar
o fim. Portanto para o equilíbrio de nossos poderes dependemos um do outro
mutuamente, se não o fizermos não haverá mundo. Há muitos gigantes e antideuses
que de modo permanente disputam com as deleidades o controle do cosmos,
ameaçando vetar vossa ordem celeste, terei que os matar, alguns deverão ser
vitimados por VISHNU, outros por vós. Porém se permanecedespara todo o sempre
distante do curso da história, submisso à sua meditação, isento de toda alegria e
dor, não podereis cumprir vossa parte. Somos um na essência primordial de nosso
ser, apenas separados pelo contexto da nossa ação. Tomai como esposa uma
mulher para que ela possa ajudá-lo."
Um sorriso moveu os lábios de Shiva e ele respondeu: " Tudo é como dizeis. Porém
tivesse eu que retirar-me não por mim mas pela sauvação do universo dseta minha
comtemplação onde encontraria a mulher capaz de absorver meu poder
incandescente?
Mostrai-ma tal mulher consagrada ao meu trabalho e que copartilhe de minha mais
elevada visão".

Sorrindo BRAHMA responde: " A mulher que pedes existe; é SATI, filha de
DAKSHA." Neste momento Shiva avistou SATI. Estremeceu e esqueceu a visão
espiritual do Ser Celestial. Estava amando e antes que SATI pronunciasse alguma
palavra disse-lhe: " Sê minha esposa". Ela ouviu e com o coração intensamente
tumultuado pela alegria só conseguiu sorrir. O saudou com um gesto de devoção
que revelou seus sentimentos e seus desejos. Estavam os dois emocionados e
impregnados de amor. Cumpriram-se os ritos. A face da lua nova pousara nos
cabelos de Shiva que resplandecia. Todos os Deuses estavam em desfile festivo. O
Deus do Amor fez-se visível: ele e seu acólito. Sentimentos encantaram e
alucinaram Shiva. Em todo firmamento alegre e brilhante sopravam brisas
perfumadas; as árvores floriram, o ar espargiu saúde sobre todas as criaturas.
Aleijados e doentes curaram-se, cisnes, gansos selvagens, pavões, lançando doces
gritos de júbilo.

E assim cumpriram-se os ritos matrimoniais. Shiva ergueu Sati, radiante de alegria,


às costas de seu touro poderoso e partiu em viagem.

O casal chegou à ermida de deus, lá enttre inatingíveis píncaros do Himalaia. O


Deus e a Deusa consumaram a festa na intimidade de sua solidão, namorando-se
longamente em recíproco amor, noites e dias.

Shiva apanhava flores silvestres para Sati e engrinaldava-lhe com elas a cabeça.
quando a Deusa mirava-se no espelho, o Deus colocava-se atrás dela e os dois
rostos refletidos mesclavam-se em um.

Ele soltava-lhe os cabelos negros como a noite, deixava-os dançar e ondear à


vontade, tomando-os depois em alegre brincadeira. Shiva não conseguia se separar
de Sati.

Em tal gama de deleites o casal divino passou dezenove anos celestes e cinco mais
(nove mil e duzentos e quarenta anos humanos) na remota solidão do Himalaia,
conhecendo apenas o êxtase do amor.

Até que um dia DAKSHA, pai de Sati, deu início aos preparativos de uma prodigiosa
cerimônia sacrificial que resultaria no bem estar de todos os mundos e criaturas.
Foram convudados todos os seres vivos, dos mais distantes confins do espaço:
deuses, profetas, homens, pássaros. Houve apenas um ser que Daksha deixou de
convidar: Shiva; seu genro. Também pôs de lado Sati, a filha amada. Não foram
convidados por serem julgados impuros.
Disse Daksha: " Ele é um asceta mendicante, não é digno de participar, medita entre
cadáveres e sua tigela de esmolas é um crânio. Tampouco Sati, está qualificada
como sua esposa, esta ligação contaminou-a."

Quando Sati soube do ritual sentiu uma ira invadir-lhe. Pensou em reduzir Daksha a
cinzas com sua maldição, mas lembrou-se do que dissera a seu pai:

"Se apenas subitamente por um instante me faltar com o devido respeito,


abandonarei meu corpo imediatamente...". Foi até a festa e assim deixou a cólera
apossar-se dela. Com a Yoga, cerrou os nove portais dos sentidos, interrompeu a
respiração e reteve todas as faculdades sensoriais.

O sopro vital rasgou-lhe a sotura-coronal do crânio escapando pelo décimo portal e


enrolando-se acima de sua cabeça. O corpo caiu inanimado no chão. No mesmo
momento Shiva em sua meditação vê o que acontece e assim converteu-se em uma
arrasadora conflagração interior: chamas principiaram a sair-lhe da boca, orelhas,
nariz, e olhos: meteoros partiram dele; num isntante tranportou-se ao local da festa
de Daksha. Shiva vendo-os reunidos tão solenes, acompanhando o desenrolar da
cerimônia deixou escapar de dentro de si um monstro horrível, nascido da explosão
da sua cólera, o apavorante ser tinha cabeça de leão e corpo de homem de nome
VIRABHADRA, que com suas armas e cólera acabou com o ritual.

Um feixe de setas em duas mãos, um pesado arco na outra, uma clava na terceira e
uma lança na quarta mão.

Como VIRABHADRA iria matar todos os deuses, VISHNU levantou-se e pôs-se a


lutar com ele VISHNU agarrou o servo guerreiro com as mãos nuas, girou-o no ar,
atirou-o ao chão e pisoteou-o com os pés descalços até que o sangue jorrou da
cabeça e sangrando, VIRABHADRA retornou para junto de Shiva.

Shiva já ia pôr-se em combate com Vishnu quando viu o corpo de Sati jogado no
chão. Ficou absolutamente imóvel. Então um enorme grito de dor lhe explodiu pela
garganta. Depois com um doce olhar chamou:

" SATI, SATI, SATI, SATI; volta deste lugar onde ocultas teu mau humor, SATI, SATI
! ".

Shiva a tomou em seus braços e enlouquecido de dor caminhou sem rumo em


diração ao Oriente, lágrimas corriam-lhe pelos olhos, murmurando, em incoerente
solilóquio. Os Deuses o observavam-no e se preocuparam. Consultavam-se um ao
outro, alternativamente. " O cadáver de Sati jamais se decomporá", clamavam,
"enquanto em contato com o corpo de Shiva". BRAHMA e VISHNU invisíveis com a
arte de MAYA introduziram-se no corpo de Sati. Enquanto Shiva cambaleava a
esmo, em cega confusão, desmembraram o corpo, deitando os pedaçosao solo, um
a um. Todo percurso de Shiva foi pontilhado pelos despojos do corpo abençoado;
essa estrada de sua tristeza é considerada como solo sagrado pelos povos dessas
terras orientais.

Em cada lugar onde tombou um pedaço do corpo ergueu-se um santuário a


reverenciar Sati caiu em si e avistou VISHNU e BRAHMA no momento que isso
aconteceu sentiu-se tão envergonhado que transformou-se em um "ligam de pedra",
rígido e prodigioso, na tortura de seu amor.

Após um tempo, Shiva recobrou sua forma habitual e com a ajuda dos Deuses
retornou seu equilíbrio original e pôs-se mais uma vez a meditar.

Muito tempo se passou até que Sati renasceu como PARVATI e o Deus e sua
consorte voltaram a se encontrar.

Shiva criou e ensinou o YOGA a PARVATI e mais uma vez envolvido nas teias do
amor pode deleitar-se com a Deusa MAYA, aquela que a tudo seduz e liberta.

Texto extraído e adaptado por "João Carlos Soares" do livro "A Conquiata
psicológica do mal" de Heinrich Zimmer. Editora Palas Atenas

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