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estudos marxistas 4

'

Entrevista: João Pedro Stedile

Robert Kurz
Existe vida após a economia de mercado?
Francisco de Oliveira
Vanguarda do atraso e atraso da vanguarda
Paul Singer
FH Cardoso x FH Cardoso
.

Leda Pau/ani
Desventuras do Real no cassino global
Anselm Jappe
A democracia, que arapuca!

1

Otília e Paulo Arantes


O sentido da formação hoje

•t

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praga
estudos marxistas
n. 0 4 dezembro 1997

conselho editorial:
Ana Maria Martinez Corrêa, Caio Navarro de Toledo,
Carlos Guilherme Mota, Carlos Nelson Coutinho, 1

Celso Frederico, Emir Sader, Fernando Novais, lsmail Xavier,


José Castilho Marques Neto, Leandro Konder, Marilena Chauí, •
Modesto Carone, Otília Fiori Arantes, Paulo Eduardo Arantes,
Ricardo Antunes, Zenir Campos Reis.

comissão executiva:
1.
Carlos Eduardo Jordão Machado, Cilaine Alves Cunha,
Fernando Haddad, Francisco Alambert, lná Camargo Costa,
Isabel Maria Loureiro, Leda Paulani, Maria Elisa Cevasco,
Ricardo Musse, Roseli Martins Coelho.

capa:
Elyeser Szturm
-
projeto gráfico:
Mariana Fix e Pedro Arantes

editoração:
Tera Dorea

impressão e acabamento:
Provo Gráfica •

© Direitos de bl ' - ·
_ pu icaçao reservados pela Editora Hucitec Ltda., Rua Gil Eanes, 713 -
04601 042
- ~ª? Paulo, Brasil. Telefones: (01 1)240-9318 e 543-0653. Vendas: (011)530-
4532 . Fac-s1m1le: (011 )530-593 .
8

E-mail: hucitec@mandic.com.br

ISBN 85 .27 1.0424-5


.
Foi f eito o Depósit o Legal. '•

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internacional

Alfred Sohn-Rethel

PARA A ABOLIÇÃO CRÍTICA DO


APRIORISMO

Apresentação

A necessida_de de .explicitação das bases materiais do pensamento abs-


trato sempre foi considerada um dos principais temas da refiexão marxis-
ta. Entr~ os poucos autores que foram capazes de tratar do problema com a
profundidade que a questão exige, Alfred Sohn-Rethel se destaca não ape-
nas por sua abordagem original da teoria do conhecimento, mas também
pela paixão e insistência com que tratou do assunto, apesar de todas as
dificuldades que enfrentou.
Ao contrário de outros intelectuais ameaçados pelo nazismo, Sohn-
Rethel não teve o suporte institucional necessário para manter suas pes-
quisas no exílio, o que explica em grande parte o fato de sua obra permane-
cer pouco conhecida até hoje, apesar da i1nportância atribuída a ela por
Adorno em sua Dialética Negativa: ''Alfr·ed Sohn-Rethel foi o primeiro a
chamar atenção para o fato de que no princípio transcendental, a ativida- !t
de universal e necessária do espírito, encerra-se indiscutível trabalho soei- r
al'' (Adorno, G. S. 6, Suhrkamp, 1990, p. 178).
Nascido em 1899, Sohn-Rethel doutorou-se aos 29 anos em Heidelberg,
com uma tese de ''epistemologia econômica'' na qual discutia a obra ~e
Schumpeter e a lógica do marginalismo. A partir de 1932, corn a _ascensao
do nazismo militou em diversas organizações socialistas clandestinas. Per-
seguido pel~ Gestapo, foi obrigado a emigrar para a Suíça em 1~36, ~nd,e
' · ·t l d O "Tl r a sociolo-
retomou suas pesquisas escrevendo um expose inti u a eo i
gica do conhecimento", ~ue enviou aHorkheimer, Benjamin, Adorno, Bloch

e L u k,acs. . L dou-se com a fiami'l.ia para
Sem condições de se manter em ucerna, mu .
Paris, onde em outubro de 1936 encontrou Adorno e Benj~m_ind. Colmte_ntotr-
. R h l ,·ou a a1uda o ns i u o
mes dificuldades financeiras, Sohn- et e procu· to ou a uma bol sa que
Pesquisa Social visando a b lh
d e , . ... . , . o, con1un
um tra a • d interessante corres-
pudesse lhe garantir a sobrevivencia. E o inicio e uma
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pondência com Adorno, reunid~ ~publicadas~~ a organização de Christoph
Godde em 1991 (Munique, Edition Text + Kritik).
Trabalhando em Oxford no livro sobre Husserl, Adorno escreve a
Horkheimer, que dirigia de Nova York os trabalhos dos colaboradores do
Instituto de Pesquisa Social, . buscando convencê-lo da importância do tex-
to: ''Encontrei Alfred Sohn-Rethel em Paris, e ele me deu seu grande traba-
lho, novamente intulado Exposé... Ainda não pude ler o texto, que é extre-
mamente difícil, mas em tod_o caso presumo que seja melhor do que diz
Tillich e deva ser visto com atenção. Se o senhor quiser, eu lhe escreverei de
bom grado um parecer''(Adorno a Horkheimer, 12.10.36).
Como Horkheimer aceita a idéia do parecer, Adorno escreve algumas
semanas depois a Sohn-Rethel, p edindo desculpas por estar extremamente
ocupado e p edi,ido-lhe para que escreva algumas páginas sobre o texto,
explicitando alguns pontos e ressaltando o fio condutor do trabalho, para •

auxiliá-lo na redação do parecer. Sohn-Rethel envia então uma longa carta


a Adorno, publicada posteriormente com o título Exposé zur Theorie der
funktionalen Vergesellschaftung. Ein Brief an Theodor Adorno.
O entusiasmo de Adorno é enorme, como demonstram algumas passa-
gens da carta a Sohn-Rethel de 17.11.36: ''Caro Alfred, penso não estar
exagerando quando digo que sua carta significou o maior abalo intelectual
que eu experimentei na filosofia desde meu primeiro encontro com o traba-
lho de Benjamin, e isso foi em 1923! Este abalo mostra a grandeza e a força
de sua concepção - e também a profundidade de uma concordância que vai
muito mais longe do que você pode supor e do que eu mesmo poderia imagi-
nar. .. apenas esta enorme e comprovada concordância entre nossas idéias
me impede de chamar o seu trabalho de genial - o receio de que afinal
esteja me referindo também a meu próprio trabalho''.
Em dezembro de 1936 ambos se e,icontram na Inglaterra, onde discu-
tem pormenorizadamente o texto. Adorno convence Sohn-Rethel a resumir
suas idéias em um novo ensaio a ser enviado a Horkheimer e a Walter
Adams, secretário geral do Academic Assistance Council, fundação criada
para auxiliar intelectuais no exílio. Adorno acha que só um novo texto po-
deria fazer Horkheimer reconsiderar a péssima impressão que teve do exposé
de Lucerna, explicitada com dureza em uma carta de 8.12.36: ''Infelizmen-
te temos opiniões diferentes sobre o trabalho de Sohn-Rethel. Marcuse e eu
lemo_s apenas pacialmente o esboço, mas mesmo assim acreditamos Já ter
um Juízo a respeito .... O que pudemos achar de correto 11,0 trabalho são
pontos de vista teóricos comuns a nós todos já há muito tempo, mas apre-
sentados em uma linguagem bombástica e academicamente vaidosa.···
Parece-me
. _ ~u: ~oce" ,oi+-, • •
contaminado pela mania de Sohn-Retliel d ai·den-
tifi,caçao ~ialetica, ou antes, não-dialética para ter ficado cego diante da
enorme d +-, ' d ;
. i, erença entre seu modo de pensar e o dele . ... O pior de tu O e ª
maneira como a t · · l das
. eoria marxista aparece no texto Afirmo que no ugar
categorias marxi t d · · ' nte
t . s as po eriam estar cateaorias comteanas ou certame
ca egorias sp · º ' E ez
. encerianas, sem que nada se modificasse E tem mais! ,n v ;
de Categorias e " · · h · to-
conomicas poderiam ter sido introduzidas categorias is

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rico-filosóficas, biológicas ou psicológicas e se O ensai·o na~o t d
. . ··· se mos rar e
uma qualidade
. diferente do que o esboço es+'orçar ,, -me -ei· ser·iamen t e em d'is-
suadi-lo do pensamento de um trabalho conjunto com SR''.
E_m prec~ria situação econômica, Sohn-Rethel tem dificuldades para
termiri:ar ~apidar:iente o n~vo texto. Os prazos vão acabando, e Adorno pede
a Ben1a7::.in, entao em Paris, para ~uxiliá-lo no que for possível. Após vári-
as reunioes com Sohn-Rethel, BenJamin escreve a Adorno (16 J3 / 37) con-
tando que também é culpado pelo atraso do texto, já que as conversas ha-
viam levantado novos problemas. Nessa mesma carta, Benjamin pede a
Adorno que exija de Horkheimer o apoio a Sohn-Rethel, deixando claro que
sem o auxílio de uma bolsa este não poderá terminar o trabalho.
Passando por Paris em di,·eção à Alemanha, Adorno discute o ensaio
com Sohn-Rethel. Insatisfeito com a primeira versão do texto, mas acredi-
tando na importância da proposta e reconhecendo as dificuldades do pro-
jeto, Adorno escreve de Paris a Horkheimer em 23.3.37: ''Benjamin também
está convencido da fecundidade da concepção, que repousa sob um monte
de entulhos. Por isso peço que o senhor leia o texto com bons olhos... Seria
também muito gentil se o senhor pudesse enviar logo a quantia correspon-
dente ao trabalho ... ele trabalhou, e com muito esforço, os últimos três me-
ses no exposé que lhe pedimos, e sua situação é muito ruim. Ainda ontem
repassei criticamente com ele grande parte do texto''.
O chamado exposé de Paris ficou pronto no final de abril de 1937. O
texto, aqui reproduzido, só seria publicado em 1971, com o título Para a
abolição crítica do apriorismo. Uma investigação materialista. Apesar dos
argumentos de Adorno e Benjamin, Horkheimer não concede~ ~ bolsa_ª
Sohn-Rethel, justificando-se em carta de 24.5.1937 a Ador1:o: ~i~da nao
cheguei a uma posição final sobre o assunto. Uma das maiores dificulda-
des, ao meu ver, é o fato de que SR sempre apresenta suas teses como col~-
cações de problemas a serem pesquisados no futuro, o que faz com 9ue udo f
o que ele diz apareça como algo carente de uma autêntica base ci~nt~fica,
como se tudo não passasse de hipoteses · ,, pre l'iminares
· ''· Adorno insiste. .e
consegue o pagamento de 1000 firancos pel o exp ºse,, e a promessa . de partici-
.
· t fiOr the Protect1on of Sc1ence
l
pação do Instituto em uma bo sa a ocie Y d S fi 'l'
and Learning. Em outubro de 19 , o n- e37 S h R thel muda-se com a ami ia
para a Inglaterra. . z interrompi-
Mas os planos de estudo de Sohn-Re thel são mais u7:1-a ve_ .
. tar serviço militar em uma
dos pela escalada da guerra, que O O briga pres ª d •sionei,·os de guer-
fábrica inglesa e desenvolver atividades n.os campos u~~riara Birmingham,
ra alemães. Em 1946, com o final do confiito, elle sde m n. cpe"s e alemão. Isola-
,, · dá au as e fra
onde retoma seus trabalhos teoricos e uscri· to Intellectual
l . m 1952 o man .
do da academia, Sohn-Rethel cone ui ~ . E . t logy sua obra mais
d · · f Id al1st1c P18 emo ' ·
an Manual Labour, Cnt1que o e . d sob título Geistl1che
1970 O
ª
importante, que no entanto só seria 1:ublica ~rchaftlichen Synthesis, gra-
und korperliche Arbeit. Zur Theone der ges e ; livro é republicado,_com
19 20
Ças novamente à indicação de Adorno. Em . •nares aqui menciona-
. ,, ,, . d textos pre1imi
inumeras revisões e o acrescimo os
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dos. A edição brasileira de Trabalho intelectual e trabalho manual, pela
coleção Teoria da Editora H ucitec, coni tradução de Cesare Giuseppe Galvan
e ,·euisão técnica de Elvis Bonassa está prevista para o primeiro semestre
de 1998.
Escrevendo a Adorno em 1964, Sohn-Rethel faz um balanço de seu
traballio teórico: ''M eus esforços estiveram senipre orientados para a am-
pliação e o desenvolvimerz.to da ariáli,c;e ,narxista da mercadoria, e niesmo
que tenha podido trabalhar ,iisso aperia.s espo,·adica,n.ente, com longas in-
terrupções, cheguei firialm erite a, i1,11ia certa clareza sobre o assunto''. A tra-
dução do exposé de Paris é portarito u11ia boa oportunidade para o leitor
ent,·ar e,n contato co111, uma, obra poz1,co conliecida, mas ambiciosa e polê-
mica, cuja leitura é capaz d e ge,·a,· airida hoje tanto o desdém quanto 0
entusiasmo de 60 anos atrás.

Jorge Mattos Brito de Almeida


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para a abolição crítica do apriorismo.
uma investigação materialista*

1. O intento da investigação
O significado da formulação sistemática definitiva do idealismo filosó-
fico deve-se, a nosso ver, ao apriorismo e a seu aperfeiçoamento na filosofia
transcende~tal. _A re~utação crítica do apriorismo deveria, por isso, atingir
o ponto de vista 1deal1sta em seu centro de fundamentação. Esta refutação
requer a prova de que o pensamento é socialmente condicionado e histo-
ricamente constituído exatamente no mesmo sentido em que o idealismo
afirma sua aprioridade frente ao ser e sua transcendentalidade. Deve-se
tentar opor a explicação materialista do pensamento racional à sua inter-
pretação idealista, pois a fetichização da ratio se resolveria, caso fosse pro-
vado que a ratio tem origem no ser social. Com isso, pode-se esclarecer o
pensamento racional, procedente do ser social, no sentido em que o pensa-
mento efetivamente proporciona conhecimento - e conhecimento aqui sig-
nifica poder julgar acerca da verdade e da falsidade de proposições. O con-
teúdo da fetichização idealista da ratio é a absolutização do conceito de
verdade. Assim, a tarefa de uma explicação materialista do pensamento
racional consiste, mais exatamente, em provar que o conceito de verdade
constitui-se historicamente no ser social. Esta tarefa também pode ser for- 1
mulada de outro modo: é preciso esclarecer a gênese do conhecimento,
uma vez que este possua validade objetiva. Se fosse provado que as con~-
ções de validade do conhecimento são genéticas em vez de t1·anscendentais,
então com isso seria provado que a verdade é historicamente condicionada
ou vinculada a seu tempo, e não atemporalme11te absoluta ..
Uma tal contra-investigação sobre a estrutura sistemática da filosofia
transcendental não deveria ser considerada como um projeto prepo e- nd
rantemente acadêmico. Pois ela se tor11a necessária, já que a tendê_ncia ~e
· t · ~ b · , ·
s1s emat1zaçao forçosamente o r1gato1'"la, propna , · ao pensamento 1deal1s-
ta, é a expressão do cerrado nexo geral de culpa da sociedade b~rguesa. A
compulsão sistêmica idealista corresponde de fato a uma totalidade, ~-ats
~ , t t anscendental do suJe1 o
nao a uma totalidade procedente de uma s1n ese r _ 1
autônomo ou da liberdade mas de seu contr·ário, da explor~çao. .sso ~e
t
relaciona analogamente c~m o caráter formalista que uma inveS igaçao
eria por sua vez, causar
como .a nossa deve apresentar' e pelo qua 1el ª po d ' . • , d._
. d ento idealista e con I
uma impressão idealista. O formal1smo o pensam

"' E . . nsultor do Instituto de Pesquisa


~te manuscrito foi submetido a Walter BenJamin como_co 'd O
notas de rodapé. Tra-
Soc1al · As notas marcnna1s
. . . . - · reconst1tu1 as com
de Ben1am1n sao aqui
du - b· "
çao de Soraya Abdul-Nour.

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Alfred Sohn-Rehtel

. d ali· enação provocada nas relações sociais entre os homens


c1ona O pe1a
ão A '
reíficaçao
_ ·a
é nesse senti o, uma mera determinação
·
pela exp1oraÇ · ' . - d 1 - A · ·
c uanto serve à formal1 zaçao a exp oraçao. tnbu1r genetica-
1orma1, enq 'd . t , 1 _ .
formalismo do pensamento 1 ea11s a a exp oraçao contribui para
ment e o 1 d - · 1· d
seu enfraquecimento. Entreta_nto, ta re uçao m~ter1a 1st~ o formalismo
pode enfi·entá-lo em seu própno terreno, ~er~egu1-lo atraves de sua ~arma-
ção interior ou enredá-lo segundo suas propnas re~as (as do formalismo).
Contudo, apenas na aplicação do método sobre obJetos concretos pode-se
mostrar claran1ente se esse esforço de superação tem ou não sucesso para
o próprio pensamento.
A i11vestigação que se segue, projetada em suas linhas fundamentais,
resulta da convicção de que a pesquisa histórica materialista necessita da
análise crítica prelimi11ar da reificação. O pensamento próprio de cada um
liga-se - por meio do ser social no qual vive, do grau e do tipo das reificações
- a formas que são indispensáveis para se comportar de maneira pragma-
ticamente correta conforme as relações dominantes de produção. Todos
vivem dentro - e de acordo com as medidas - do contexto dominante de
ofuscamento. Nenhuma das formas de pensamento assim dadas pode ser
postulada na pesquisa histórica materialista de maneira ingênua e a-crí-
tica, para não se tornar a forma ideológica de ocultar o ser social, a cuja
coesão ela serve. O comportamento crítico frente às próprias categorias é
contudo tanto mais difícil quanto mais alto é o grau de universalidade das
categorias, quanto mais formais e "puras" elas são. Assim, de maneira mais
ampla e indispensável, funda-se nelas a lógica de nosso pensamento. Tan-
to maior, do ponto de vista genético, é comumente também sua idade his-
tórica1. Não podemos mais, imediatamente, prescindir de tais conceitos,
como por exemplo o de unidade. Contudo, certas formas sociais do ser e
relações sociais de produção, antigas mas ainda hoje ativamente efetivas,
que primeiramente os co11dicionaram de modo genético, também seriam
fetichizadas em seu uso a-crítico. A essência do método materialista exi-
ge2 que nele não se empregue nenhuma categoria da qual não se saiba por
quais relações de produção é condicionada. É comum, portanto, ao método
materialista e ao método "crítico" do idealismo propor para cada categoria
a. q~estão prévia sobre o que nela está pressuposto e implícito como con-
1
diçoes de sua própria "possibilidade". Mas no idealismo, a ratio é sempre
P?sta en:1 questão, apenas sobre seu próprio terreno, o terreno de sua
hipostasiação. Portanto, a questão originária, inicial e autêntica, atrofia-
se em Kant 11 ª execução da tarefa de mera "dissecação" interna "da nossa
1
11

faculdade de conhecimento"; e Hegel desenvolve a dialética, dedutivamen-


te: c~mo O sistema absoluto da verdade, sob a mesma proscrição da ~~a-
nencia, posto que ele considera que as relações lógicas de pressuposiçao,

1 1
S Idade
. do s coilcei· t os ou dos modos de conhecimento aos quais os conceitos se re fierern ·
2 er1a este último? (Nota de Walter Benjamin - WB). ,
Torna desejável. (Nota de WB).

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PARA A ABOLIÇÃO CRÍTICA DO APRIORISMO

dentro da estrutura do pensamento, são ao mesm t


tico de constituição do pensamento, fingindo ass·º empo ~ contexto gené-
~ • • ,, •
nós que a questao onginana, abandonada é resíd d . im para s1 mesmo
" . e Para
No matena . 1·ismo, a ana- 1·ise cntica
, . da reificação
' uot a imanenc1a·
do conhecimento. Tal análise deve ser realizada s1·sºtma ºt:Ugar 1 da teoria
apenas para manter o controle preciso . sobre condi •ema 1camente' ,, nã . 0
O
de nossas categonas . d e pensamento até seus últimos press c1onamento t genet1co
, .
b ,, 1 . ºfi d . .
mas tam em pe o s1gni ca o positivo e metodolómco devi·d upos os
t 1ogicos
,, . '
. ~ . . , . 0 .. o a es a ana11se
da reificaçao para a pesquisa histonca materialista. Na figu d
ções geneticas,, · entre a fiorma mercadoria e a fonna do pensam rat as re1a-
. . en o, com as
quais ela se depara em seu procedimento conclusivo, a análise da reifi -
fi 1 _ "t' d caçao
forn:ce a ormu ~çao cn ica ~ quest~~ como hipóteses, com as quais é
poss1vel se aproximar do matenal emp1nco disponível para O estudo mate-
rialista da históri':. ~ análise _crítica preliminar da reificação retira por
uma parte a aparencia de validade atemporal das categorias lógicas de
nosso pensamento e, por outra, o caráter de faticidade da empiria histó-
rica. De acordo com ambas as partes, inseparáveis, vemos na análise da
reificação uma preparação indispensável para a pesquisa histórica mate-
rialista. A investigação esboçada aqui em projeto quer servir exclusiva-
mente a este trabalho preparatório. Nela não se faz ainda nenhuma análi-
se histórica materialista, nem se põe ela própria em seu lugar- com o que
ela recairia nas trilhas do idealismo e da construção histórico-filosófica-
mas a análise histórica empírica deve antes sucedê-la. Isto não exclui que
um certo contato indutivo com o material histórico seja aí eficaz.
Talvez seja conveniente dizer ainda uma palavra sobre a suspeita de
irracionalismo, à qual se expõe uma investigação que aspira a um~ redu-
ção da ratio. Porém, o que lhe importa não é uma negação da ratio mas,
muito pelo contrário, sua verdadeira realização. Isto é demonstrado pela
atitude diante do problema da reificação. Temos em comum cor,n _Georg
Lukács a aplicação do conceito marxiano de fetichismo sobre a logica e_ª
teoria do conhecimento. Por outro lado, o que nos distingue dele ~ que _nao
•.... ~ .
11.uenmos . .
do condicionamento do pensament o raci·onal pela . ,. re1ficaçao
. e
pe1a exploração que este pensamento e, apenas ca1sa 1• consc1enc1a. Em. nos- d
sa opinião . nem a lógica nem a reiºfi caçao . - desaparecer por meio a
- irao
e1.1nunação
. ' da exploração ou seJa, . em uma socie . dade sem classes, .se e1as A
também se modificarem ' de um modo que nao - Passamos antecipar. endidas
re1'fi cação e a ratio e não menos a exp1oraçao, - devem ser compre - mas a
' . - ,, da exp1oraça0 ,
em sua natureza dialética. A reificaçao provem b t do homem o
·fi
rei cação traz simultaneamente consigoª au - · to desco er aerar a explora- '
qu_ e const1tu1. . o pressuposto para que os h omens possam sup
Çao. . rio considerar a natureza
O materialismo contesta que seJa necessá ,, As i·m como o ideal1s-

razao~ ·
como transcendental, se não se quiser n ega-.1a. s ,
nsamento teologi- ·
rno transcendental acredita na aprioridade da r~tdio,t~ pedas ciências natu-
co .dª Id ade Média acreditava, antes d o me"tOdo1n
.
uivo b
ensarnentos so re
tais t er sido
· encontrado, que se devena · renunciar aos P

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Alfred Sohn-Rehtel

. d t
a lei a na ure , za quando se negava terem eles
d sua origem
.d a1· na vontad d
e e
O Sa rnento inat erialista começa on e o 1 e ismo deixa O pen
Deus. pen d , . di . sa-
t aplicar a ,·atio no exame e su a propna con cionalidade3
men o, ao . 1 . t·fi t ,. . .0
pensament o materialista é raciona e,, c1en ,, 1 camen e cnt1co ' Já que - e
d ·da em que_ esta aplicação e poss1vel; portanto, pode-se explica
na me 1 . t·t "d r
racionalmente que a ratio é histoncamente con_s 1 u1 a no próprio ser 80_
• 1 Esta possibilidade não é postulada dogmaticamente, a fim de se fazer
eia . ~ d ·
dela um sistema dedutivo; ela é uma questao a pesquisa a ser realizada
praticamente. O materialismo, segundo est,,a _concepção, não~ uma visão
de mundo mas sim um postulado metodologico. Em sua realização _ e
mais uma' vez, não a priori - o comportamento racional torna-se mate~
rialmente diferente do comportamento idealista. Renunciar ao ideal con-
clusivo de verdade e, conseqüentemente, evitar as antinomias do pensa-
mento idealista - atadas à absolutização do conceito de verdade - per-
tencem ' certamente ' a seus traços característicos. .
O objeto da investigação é questionar se a doutrina do apriorismo é
verdadeira ou não. Ela não tem portanto nada a ver com a explicação do
apriorismo como uma certa ideologia da burguesia. Porém, deve ser inici-
ada com uma tentativa - que seja crítica da ideologia - de interpretação
da doutrina kantiana do conhecimento, a fim de conduzir indutivamente à
tese principal, que se tenta então fundar analiticamente.

2. Analogia ou conexão de fundamentação?


A interpretação apriorística do conhecimento surge historicamente no
momento em que o mecanismo de concorrência do modo capitalista de pro-
dução forma-se como um sistema coe1·ente em si e aparentemente espon-
tâneo; portanto, um sistema que não mais funciona apenas de modo inter-
mitente e dependente de ajuda estatal, mas cuja legitimidade específica
começa a se efetivar plenamente mediante a determinação de preços for-
mada de acordo com a bolsa nos mercados e mediante a subsunção do
, / tr~balho ~o~ a maquinaria nos ~ocais de p~~duç~o. Ao a~quirir,, s_ua autono-
rma ~cono~1ca, consegue tambem a emanc1paçao extenor, pol1t1ca, da bur-
gue~ia, cuJa fundamentação ideológica é oferecida pela filosofia de Kant.
A sociedade capitalista dife1·encia-se de outras formas sociais também
basea_d as na troca de mercadorias pela razão de que, nela, a troca de mer-
cadonas não é necessária apenas para trazer os produtos das mãos dos
P_ro~utores para as dos consumidores, mas antes porque, além disso, cons-
t1tu1 a d. ~ d mo
~on içao e que tarnbém a produção de qualquer objeto de consu
se_realize. Pois se antes os homens estavam separados apenas como consu-
midores dos produtos de que precisavam aqui eles estão até mesmo como
pro~ut?res separados dos meios para pr~duzir um produto qualquer. No
capitalismo entã0 . .. ~ d de que
' , mesmo a poss1b1l1dade de produçao depen e

ª Aqu1. são aprese t d d .


n ª os ois conceitos distintos de ratio. (Nota de WB).

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rAHA A ABOLIÇÃO CRÍTICA DO A
PRIORISMO

eus fatores fundamentais, isto é, a forç~ humana d t halh .


ms ateriais
. d e pro duçao, - a mat ena-pnma
,, . . e a terra reue ra o, os meios.
dorias a cam1n · h o d o mercad o, e de que a produção' possa nam-se como . merca-
do leis das mercadonas. . A forma mercadoria e a lei de trse cumpnr d segun-
· e,
rias isto ., a forma e a Iei· d a reificaçao,
· - tornam-se no capi·tal·oca as mercado- . .
' _ . ismo oa priori
da pro_duçao, portanto,~ lei fundamental constitutiva para a estabilidade
da sociedade, que se desintegra em um caos de diversidade disfo
. ) _ d t d
do (nas cnses a conexao a roca as mercadorias não funciona rme quan-
· A •
· · d. t d d . mais. ,
existência ime 1a a as merca or1as depende contudo da produça-
·b ·1·d d d 0 , e as
condições . e,.. po~s1. 1 1 ~ e a produção são portanto as leis segundo as
d
quais a ex1s~enc1a 1med1~ta,..da~ ~erca~orias torna-se primeiramente pos-
sível na sociedade. A ex1stenc1a 1med1ata das mercadorias torna-se sua
existência imediata segundo leis, e a existência imediata das mercadorias
aparece como a consistência total da sociedade, que por si mesma não tem
mais nenhuma substância.
A ordem social de produção e consumo no capitalismo não se realiza
nem por direção planejada, nem por cooperação direta, nem por regula-
mentação tradicional, mas antes apenas enquanto função de ações indivi-
duais, independentes umas das outras, de pessoas privadas autônomas.
Ela é, portanto, uma ordem completamente funcional. Apenas a lei fun-
cional de troca das mercadorias decide aqui também sobre a realidade ob-
jetiva do valor de uso e sobre a validade social do valor das mercadorias.
Uma mercadoria não vendável é semelhante a uma impressão subjetiva
dos sentidos e, em sentido social, não é mais coisa alguma. Se tal mercado-
ria encontra novamente compradores, então a aparência de sentido facil-
mente adquire, repentinamente, valor objetivamente real de uso, e o tra-
balho há muito depreciado, validade atual e social de va!or.. ~ma coisa ~ão !
é o que se produz, mas apenas o que se troca. Sua const1twçao como coisa
é funcional.
Portanto ocorre realmente uma ''revolução copernicana" para a ma-
nutenção da 'sociedade, desde a simples produção de m~rcadorias até_a
for1nação acabada do modo capitalista de produção. Na simples pr~duçao
de mercadorias, a divisão da posse dos produtos é função da produçao pos-
sível, que ocorre por si, isto é, independentemente da troca de m~rcado-
. portanto é função tambem
nas· ., d a exis · t"'enc1a
· dada das mercadonas. No
'
capitalismo '
entretanto a produção e a existenc1a · ,.. · ime
· diata das. mercado-
. são, inversamente,
nas ' '
função das relaçoes - d e posse Pré-deter1n1nadas nos
meios de produção. . ue aqui cons-
Contudo, como é que as leis de troca de merca~o1:as,_ q. ai· ata das
t1·t · · ·a d da existenc1a 1me
uem o a priori da produção, a legitimi ª e ~ · e: rmadas?
mercadorias e a ordem de manutençao - d socie . dade ' sao emMarx
ª s1 io compro-.
1
Elas são as leis da reificação meramente enq_'.lª~!ºu:cÍ.;;: da forma equi-
vou se concentrarem completamente na funçao , ei·s em sua quali-
1 · 1·ncomensurav
va ente das mercadorias. As merca d onas, tr a comensuração
da de de valor de uso expenmentam
· noª t 0 de.
sua oca
t segundo a forma,
corno valores, na qual' são determina
. d as 1'dent1camen e

127
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Alfred Sohn-Rehtel

' ,
,
para so se Ull .J.:cerenciarem
1 enquanto

quantidade. E então

uma "sínte ,,
se em
t
sen 1 o .d precisamente kantiano que funda a troca
. . _ e socialmente desenv o1vi-.
da de m ercadorias, de aco1·do com a const1tmçao 1ormal desta troca e t
.d d . , es a
,
s1n tese fUI1 da-se sobre o dinheiro d na uni a e supenor
_ que
. as mercadon· as
têm em_ e mesmo em virtude e - sua r e 1aça_o reativa 1 e geral de valor
com a forma equivalente que lhes é comum, socialmente universal. As lei
fundamentais da troca de m ercadorias, que no capitalismo constituem 0 ~
prior·i da possibilidade da produção, derivam com isso de uma síntese ori-
ginária, fundada apenas na troca, puramente formal, de todas as merca-
dorias, segundo funções da unidade idêntica de sua relação geral com 0
dinheiro.
Esta síntese é constitutiva para a produção e dita as leis para a exis-
tência imediata das mercadorias, contanto que o dinheiro funcione como
capital, a saber, compre no mercado os fatores produtivos (ou os porta-
dores efetivos dos mesmos) e una cada um segundo a lei de sua natureza
específica no todo esponta11eamente processual da produção. Mas a esta
função constitutiva segue-se logo a função reguladora do dinheiro como
meio de circulação das mercadorias assim produzidas, ou seja, a função
que serve à realização dos valores nelas ocultos em virtude das leis das
mercadorias e, mediante sua correção, ao proporcionamento geral de esta-
bilidade do capital. Quase ocorre aqui o uso derivado e apenas julgador
(retificador) das determinações formais da síntese, uso que, contudo, pres-
supõe O uso constitutivo na produção, e que é por sua vez o pressuposto
para que os efeitos do modo capitalista de produção ''pudessem" estar de
rd
a~o o com suas condições, acordo este conveniente à 1·eprodução progres-
siva da sociedade, isto é, quase racional. "Poderiam" se este mero sistema
form ª 1 e funcional · '
fosse ao mesmo tempo a realidade em s1 mesma ª · d
o~de?1. nele determinada, o que ela justamente não é a saber, a realidade
h1stonca efetiv ~ • . ' - ·ta-
1. a, e nao meramente a lei de re1ficação da p1·oduçao capi
i~ta de_mercadorias. Mas aqui começa1n agora as contradições. A produ-
çao cap tal· t d . ' ' • -
· t . i is ª
in e1ramente po , 1 ·
e mercadonas é enquanto tal dentro das leis de reificaçao,
' · "" • a de
t b lh ssive , pois o trabalho está contido na mercadona ioiç
ra a o como mer 1·d • nto a
le·1 d .
e necessidade do
ª 1
causa ade da produção de mercadonas, enqua
d d . ,. · e como
nada · mun ° as me1·cadorias em sua 1manenc1a,
ao m mais. Enquanto ele nesta causalidade só cria valor mercantil, pro_duz
esmo tempo O , · l1da-
de. Cons proprio capital, que ele transforma naquela causa .·
equentement 0 . l , d talp1·a.xis,
pois esta e, capita e originariamente trabalho e
apenas serve p . . - e portan-
to, aquela cau 1.d ara reproduzir seu oposto, a re1ficaçao, , mo
sa i ade A t· b lho co
praxís originári "' ·. par ir desta contradição entre o tra ª .dade
da imanência co~ inteligível", por um lado, e o trabalho como causa11 ren-
de, conforme a pr:~~;an_iente_ reificada por outro - contradiç_ão que s;incia
suprema, aparent mat1ca interna da própria reificação, a sua in passo
Para pôr o própriOeme~te absoluta, o capital - estamos a apenas urn saro
rnu~do real como capital como sua realidade prática efetiva e ~eiizado
ern espírito do min~:~,o-desenvolvimento dialético do capital fetic

1ia
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PARA A ABOLIÇÃO CRÍTICA DO APRIO
RISMO

Esta descrição muito breve do sistema ·t . .


pletamente exata em tudo que se orienta capi ª a de re1ficação é com- 11st
.d N 1 d para o 6im de demon t ~
segui o. e a, contu o, é preciso apenas 8 b t·t . " . s raçao per-
. d ." 1 .d u s I u1r a unidade d . ,
ênc1a e s1 pe a uni ade idêntica do dinheiro " .d d . . a _consc1- !:
. ' t· d , a uni a e onginana '
te-s1nte 1ca a apercepção" pela função sintétic d d' h . men- f
d d ,, a o 1n e1ro para a soe·
da e e troca, o puro entendimento'' pelo signifi d . . ie- 1

- d - . . 1ca o const1tut1vo de tal 1


funçao para a pro uçao cap1tal1sta a "razão" pelo p , · · l ['
·,. · " 1 d '. ropno capita , a "expe-
nenc1a pe o mu11 o das mercadonas e a "existência · d' t d ·
d 1 . ,, 1me 1a a as coisas
segun o eis , portanto a ''natureza'', pela troca de mercad · d
1eis· d d0 · 1. d onas segun o ,
?mo _ capi~a I~ta e produção, a fim de poder, com base na análise /
da re1ficaçao
. cap1tal1sta, reco11strui1 toda a filosofia do conhecimento de
4

Kant Juntamente com suas contradições inter11as necessárias· contanto


que se considere ao mesmo tempo o postulado conforme o Har'monismus
de Adam Smith ''de que a sí11tese a priori" deveria se desfazer sem crise.
Com efeito, a analogia pode prosseguir, caso se queira ter o trabalho, até os
pormenores, e tor11ar a metafísica de Kant, como também seu desenvolvi-
mento posterior, passando pelo assim chamado idealismo transcendental
até o idealismo absoluto de Hegel, de modo materialista, completamente
transparente. Todavia, o que nos importa é a questão: se é sobretudo ape-
nas de uma analogia que se trata e não talvez de uma verdadeira conexão
de fundamentação! Não são talvez a unidade da consciência de si e o sujei-
to de conhecimento efetivamente desde a origem apena,s um inevitável
reflexo intelectual da unidade do dinheiro, o pensamento discursivo uma
forma da consciência f 01"Ina esta devida à função do dinheiro para a socie-
dade mediada por m~rcadorias, e o conhecimento racional do º?jeto ape-
nas a reproduçao - ideal
. da maneira • pe1a qual a pi·odução se realiza . _ em tal
sociedade segundo leis da troca de mercadorias? E st a su~~siç_ao Pdi~fire~le
. .
pnmeiramente uma h1potese . , ousa d a , que conduz a consequenc1as . ci_ -
. ,. 1 pois acreditamos que sao
mente previsíveis. Queremos todaVIa expo- as, d ·e"nci·a que 1
d . as formas e consc1 , :
demonstráveis. A hipótese leva a izer que " h • ento" provêm da . <
h .d . 1 de formas do co11 ec1m '
e amamos em senti o raciona . Ti s ortanto que nos deter
reificação presente na troca de mercadorias. emo p a hipótese.
'l' a fundamentar noss
na reificação e em sua ana ise par , absolutização idealista
.
Contudo uma 111ves 1gaçao . t · - que que1 · opor-se a nhecimento no senti 0 .d
' . da a ver com o co .
do conhecimento não t_em mais na ,, A ergunta pelas condições soci-
a-histórico de ''conhecimento em geral · ph . ento também chamado
• al de con ec1m , . . ·
ais de constituição do mo d o racion . t forma do espínto pnmei-
. .
de pensamento discursivo, po e · d se ref er1r a es ª 1
Ivimento no qual e a se ap re-
ramente apenas no nível histórico de desenvo
sentou pela primeira vez na Antiguidade grega.
- hecimento racional
. . st ·t içao do con
3. As condições soc1a1s de con • u ser conhecida em
eguir pressupomos . l no escrito
Para as teses apresentad as s
. .e •
ª
,,t' lo inicial do Capita e
Marx no cap1 u
d etalhe a análise 1eita por . lítica.
anterior Para a crítica da economia po ·
129
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•mples de mercadoria por mercadoria, a forma relat·


Na troca s1 _ . d . 1va de
e. ma equivalente estao liga as a uma mercadona apenas d.
valor e a 1or . _ - d 1 . _ _ me 1-
, ua disposiçao na expressao o va or, nao sao port
ante a cont 1n . ,, . d . O ,, . ' anto,
. . nte diferenciave1s na merca ona. carater social da eq .
emp1ncame d . . uiva-
,. . d mercadorias apresenta-se na merca ona singular não como al
lenc1a as . go
·c. te de seu valor de uso. Isto ocorre apenas mediante o desdobram _
d11eren . d. h . t . en
to da mercadoria em mercadona ~ 1n e1ro, por ant~, mediante a separa-
ção absoluta entr·e uma ~ercadona com? forma equ1valen:e, ~ocialmente
niversal e as mercadonas r·estantes, situadas, com referencia a ela em
~elação r:lativa de valor. ''Uma mercadoria, o linho [ou o ouro -ASRj en-
contra-se na forma de permutabilidade direta com todas as outras merca-
dorias, ou em forma diretamente social, porque - e contanto que - todas
4
as outras mercadorias não se encontram nesta forma" • No dinheiro apa-
rece o caráter social de troca de mercadorias.
O cereal pode servir como alimento para pessoas assim como para ani-
mais, o ouro só pode significar dinheiro para as pessoas. No dinheiro, o
caráter humano distingue-se do caráter natural dos seres vivos, o vínculo
social entre as pessoas é indicado como oposição ao processo material de
metabolismo com a natureza na produção e no consumo. O dinheiro vale
apenas entre homem e homem, não entre homem e natureza, e a relação
entre homem e homem pressupõe no dinheiro um caráter irredutivelmente
oposto à relação dos homens com a natureza. Ao gastar e receber dinheiro,
o homem não age mais como ser natural5 • Nossa afi1·1nação é de que a
formação e o estabelecimento do pensamento conceitua! ou discursivo tem
~ a ver com a separação das relações sociais de equivalência das mercado-
i rias, por um lado, do condicionamento praticamente material de vida dos
i homens, por outro.

Veremos mais tarde que a constituição da forma dinheiro do valor da


~ercadoria, portanto de dinheiro em forma moeda, pressupõe a explo~a-
çao e, de fato, uma forma avançada de exploração. A partir de uma análise
f?rn:ial detalhada da troca de mei·cadorias, convencemo-11os de que a cons-
tituição da forma dinheiro - por volta de 680 a.C. na Jônia - pressupõe
uma ~spécie de produção de mercadorias, na qual os proprietários de mer-
ca~o_nas, agentes de troca, não se encontram mais em qualquer relação
pr~tica e pessoal com a produção de suas mercadorias não põem mais as
maos em nenh um processo de trabalho de produção. Defendemos ' · 't
a hipo ~-
de que a cunha
se
t •~ gem d a fiorma d1nhe1ro
. . deve ter sido VJncula
. d a a' const1-
.
u1rtçao do tr~ba!ho especializado de escravos. Com dinheiro teriam sido,
Po anto pnme1ram t d ·rpro- .
dut ' en e comprados escravos que tinham de pro uzi
os para o mercado 1. t 0 , , b. to de uso
que tem : ~ e, mercadorias. O escravo é um o ~e ,., de
POr caractenstica existir para o trabalho. Onde a produçao
----MEW
" "Kapital" I 23
5 "Justamen~ '82 (Nota de Alfred Sohn-Rethel -ASR). do·
. e ao contrário da Ob. . . d s rnerca
nas, não entra nenh á ~etiVIdade sensivelmente grosseira do corpo ª
'd p 62),
(Nota de ASR). um tomo de matéria natural na sua objetivação·de valor" (Ibi ., ·

130

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mc,r~:.t<J<)rÍ Ufi (! f,, jt,;J C;<>':I trtll),J Í~l(J (;Hc;r;.tVf, , fj r,.,: JfJÇf (j ,J,, J>rtifJrJiifr{,rj,1 (jJ) (Jf
n hr;tr<> <: ,J,.-H rr,,,r,;t1<Jt,rJf•~t ,;,,rr, fJ JJr,,cJ,,çi ,, (~rtl'!<Ji:t,J f.1 r,,:J:J 11,,;r;, ,.,~f;1,;r,,, 1j,;
t,r<>Cf..l .
l1~Ht1 <; m<><Jc, cl<! rn<!CÍÍ;J \;;1c, cJ;1 r>rc,,iuçflc, e<,n,Jícj,,n;J tJ Tflfi r,~t1,~¼fJ1, t,1;/,rí1:o
fi(;p}1r,1tl,1 cl S:J. / Jf"(J,Xit--: cJu ,,,.,,,iu <;f ,, ;). ,~ uu.J'! J;J H( ! r,~r,~r<!. (>f>T'(J(:,t;;~,~(J ,J:, f1f'(JtJ11-
çã<, cJ ,;V<! f~(! r p_r<~-c;c,n Htr1Jf,Jc, jn1J:l,;c:ttJ,Jlrr,,~rtU; ,~,rr,,> r,,;Y.t>,;1,,~r,;r1t)~, r-J fí rt1 ,j,~
tjU<! HIJ f.i prrLXl H p<>HHil HC~r <>rf~'fJn jz ;_tcl ,t ,1,: rn,,,J,,(~Jíl \/f ~n i,~r tf)!, s-, ;J,. ;Jt,,~r, (')1({t (J
c~g<JncJ rtt_m•~r) lc, <l<, vul,,r H<,ci rtl rr, f; r l 1'f! vúl í,J,1. A r r1c,,,r1;1Jí,J tJrJ<j ,J;; 1,r,,,J1J,;~1;
H1tu:-,t-HU f<>ru ,J,!la, nrt <~Hf,~rf1 í)lJrf.t rn,!n f,.c; H<,c:j~I , nr.t ,4tJ:,J ,,i! r,r<J(J11t,1Jí! tí":tn
vr1l,,r C! o OtJr<, HÍf{nífi,;a ,Jir1h,~ir<,; a r>r<,<Ju çi1<,, rJfJ uu,11Jrr1,xi11, n?1 ,, tJ.~rr• r4 11~I,
q ucr raci <>n ai icJ;-1<J e, n, !m pr.t r,t <)HcHcr::t v<JH ,~ u <! tr r, },,_J l h;, rr1 , f JrJ ffj <J~~ '1 ' J :, i;~ ,~J,_:j
não tem H<.!nli,Jo, nem pnrrJ e, Mcnh,,r c4ue <1éL.erm ir1;1 <> tirr, , r,;~r1:J <41J<~rr, ,~J;J
n ão 6 tral)a )ho. JJara <>rgan í1/.a r a pr,,cJ·uç;J ,> c_;.<,m <> g,~ruçi;,J ,J,~rn,:r,;Í11J1,ri(JJ~
com valor mon etá rio, ,-; ua cc,c ré.,ncía ,le ve 8,:r c;.r,n Hf_,r t; f,J;j ,J.r>,;r>íJf~ t,.1;1,ricá•
m ente . ERl a cc)n Hlru<;ã o, r eal ir.a<Ja puramcn U! <.;rn r,<,:r,~,Jrr,,~nf,1j~, ~A~fJ;j rwJa
c.J a prax i .'I do t,ra ha lh o, rcc1ucr tl rcfl (;xã,, H<,t>rC <, pr~n HafrJtJnf,[J 1:nr~ tJij r,t1, 1~J
e Aohrc a f'un<lamcniação interna de H(;U <Jfeít<>. Ji~Ja <!~tá S{-<>Y> rJ ,;(1r,trfJJ<; JI,-.
gico d a vc rcJ a de e n ã o HotJ ,, C(Jntr,,Jc! prátíe<,, e t.er,1 prjmr~írarri1~11t,J; ;, (>':n11~
o conceito de uma vcrc]ac]c a-tempora l f'uncJamenta,J~. c;rr1 ijJ. A fl~f rí;; ,J1;'1'3
ser rac-ion a l, poi Aa pr<>d ução, cm Hua praxi H, nãr, m aí~ ,, 6. () p,;n~arr, ,;nW
logicamente rcflcxi vo R<,brc a C-OnHt,ruçãc, racírJn:-J J ,Ja pr<Jd uçãt,, ÍHU1 (;., o
conhec..--imcni<> racional <la naturc1,a, Hcría aRHi m um r11,~0 ~,,ci ;-1 lrn1;-nU; incJiPI"
pcn Báve l para c,rgan í1,a·r a produçã<> e](! mc;rcadc}rí aB c;<)m trat,~Jh<, r~;,,,.<;;r av<,1;.
A c.;,onexào entre o mod<J raciona) de e<,nhccím,;nt.t, é,,
tr6f,.;g,, m,~rc.:w.lt>-
ri aR-cJinhcjr(> nf1R inter eHHa prímcira mcnt!Ü, c~,,ntu,Jn, ap(;nan <1<.; um p<nrt.lJ
de yj At a f"<>t·rnal, Hem que HC cc,nHic]<.!rC;;cu c,,nU!úcl<>hí Ht6rjco, a ,;xpJ<Jração.
Acrc <lita moB pc,dcr t<>rnar cv jcJcntA~ que a d,; t<; rrní n('JÇÜ<.1 l(J1,.,ríC11-f<1nnal do f
p en i:;ament<> raci<>nal é diretamen te ccJncJicicJnftcJa pel,t <Í<!tcrr11jnfJt;i1<, f'r,r-
mal da troca mcrca,Jorj a-<Jinh cir<, 7 • •Já que um d ef¾!r1 v,,Jvjro entt, p a.8Hf, a
pa.RAO dcAt a <leterminaçã,, f'<>rm aJ Hcgun cJ,1 Hua8 mcdiaçl,cH n ãc, é r,,,~ffivel
aquj, r eHumim<>H Huafi car actcriHticaH m aiA ímr,,,rtanU.!H ~ara _n<ft4f',(> u-rna
em poucaHp alavraH, na aua fonn a acabada e,-unh ada n,, d,nhwro, para d.0-
poi1& clí8BO determinar maiR de perto apenaH o ponto cen tra l.

4. Para a análise da forma mercadoria ,

O djnh ej ro é um a m erca<Jori a ,],;Atinada a ~crvír ap~nM como ~qu>•


valente par a outr a mercadori a e, com i 11H1J, como mero mew di, troca. rodo
uao de se u m a tcri ai, produtivo ou <lc con11 u mo, é expre ~m1,n ~ i,xd_~í~"
1111
·n heJ·r<> po 1·'"' (•la c<,m ta l u~<J, de1xa r1 a 1rne-cJ1a,ta-
cm seu car áte r com<> d 1 , n ,, ,
mente de ser djnh eiro. No dinhcjro, porta nto, 0 qut transforma<> ,mr,, em

131
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C omo oposição ao que é seu material, o ouro mas t


.
d1n eirh · 0 de fin e-se . ' am.
. 1 de qualquer outra mercadona ou a todo material deu
bém ao matena ,. . d d . ma
. C m isso a equivalencia as merca onas tem no dinhe·
mercadona. o ' iro
mero caráter· funcional. . . . .
- de equivalência das mercadorias em dinheiro firma a aça~
A expressa 0 _ _ o
Opo sição às açoes de produçao e consumo. A troca das mer
de troca com O ~ -
cadorias exclui para O tempo de sua duraçao t~da transformação material
adorias que possa afetar suas relaçoes de valor. Sua relação de
das merc .d 'd d . 1
equivalência é possível .apen~s par~ a i enti a e 11:_a terada e m_aterial
das mercadorias. Esta identidade e forma de negaçao da produçao e do
consumo. Ela significa que as mercadorias, 110 mercado, só trocam de
mãos enquanto a produção e o consumo permanecem nelas paralisados.
P~r outro lado, a ação de troca exige esta paralisação da praxi.'> produ-
tiva e de consumo com as mercadorias, pois ela faz a mediação entre pro-
dução e consumo. Portanto, ela não os nega realmente, mas ao contrário os
pressupõe e trata de que eles ocorram. A identidade é determinação for-
mal das mercadorias, contanto que estas, pela troca, passem da produção
ao consumo, e que produção e consumo valham enquanto ligados às mer-
cadorias. A troca implica positivamente que a mesma coisa, tal como foi
produzida, passe a outra mão para seu consumo. A identidade é a forma
real de vínculo entre produção e consumo e, vice-versa, o portador idên-
tico desse vínculo, a mercadoria é coisa mesmo quanto a isso. A coisidade
é a determinação formal das mercadorias e a forma fundamental da "rei-
ficação''.
Já que as mercadorias em sua troca apenas passam de sua produção
para seu consumo, são consideradas na troca, ou para a função de equiva-
lência do dinheiro, sempre como dadas. Este dado é realidade das merca-
dorias de acordo com a realidade da ação de troca, que com elas ocorre. Ela
é a mera existência imediata das coisas entre pessoas, em oposição à pro-
dução, na qual ela é engendrada apenas para sua existência imediata na
troca, e a seu consumo, ao qual se dirige sua existência imediata, a partir
da trocaª. A existência imediata é a determinação formal das mercadorias
e_º. modo de realidade da reificação. Uma maio1ia de pessoas sempre par-
t1c1pa
_ da exis · t"enc1a
· 1me · d.iata, de tal modo que o contrário ocorre na refle-
xao sobre a existência imediata .
. A mercadoria é coisa identicamente existente. No dinheiro, esta deter-
minação
as f orm 1 t ,, d fi · ·
. ª es a e in1t1vamente firmada. O dinheiro se relaciona com
.dmderca~o:1as na forma de sua existência imediata real e idêntica. lden-
t i a e coisidade · t" · · • ·
' . e exis encia imediata são de acordo com sua gênese atri-
butos formais so · · d .
. · ciais as mercadorias e formas de vínculo entre as pes-
soas. - A 1dentid d ' e
. ª e e ª iorma de vínculo entre produção e consumo, si-
·
tuad t
os en re diversas pessoas, d e uma mesma mercadoria. Do mesmo mod0

s Que nova determinação é l . . . "?


(Nota de WB). rea mente atingida com a "existência" diante da "identidade ·

132
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PARA A ABOLIÇÃO CRÍTICA DO APRIORISMO

é a co~sidade_ ligação entre p~odução e consumo nas mercadorias, pois a


conexao prática entre produçao e consumo entre as pessoas é socialmente
cindida. Coisa é um produto do qual, por razões sociais, um só tem a pro-
dução e o outro só o consumo9 • Sua identidade é a face de contato de uma
cisão social entre produção e consumo. Uma coisa tem existência imediata
quando nessa coisa produção e consumo, devido a sua separação social, ·
ficam em estado de paralisação. A existência imediata tem a medida de
sua realidade na realidade dessa separação. É, portanto, existência de coi-
sas entre pessoas, realidade de coisas socialmente válida socialmente con-
'
dicionada e limitada. Identidade, coisidade e existência imediata consti-
tuem-se primeiro devido a uma certa separação social entre produção e
consumo como forma de vínculo do separado. Ainda será mostrado de que
tipo é esta separação à qual a reificação se remete.
As coisas-mercadorias, identicamente existentes, encontram-se sob a
ordem espacial e temporal da ação de troca, e não sob as ações produtivas
e de consumo, que devido às relações de equivalência
., das mercadorias com
estas justamente não poderiam acontecer. E a ordem-tempo-espaço da
faticidade em oposição à ordem da "da atividade humana sensível, praxis"1º.
Temporalmente, a equivalência de mercadorias da troca pressupõe a pro-
dução como passado contido nas mercadorias no presente e o consumo
como futuro não começado nelas presente, entre os quais as mercadorias
têm na troca sua presença idêntica e real. Produção e consumo estão liga-
dos, na ação de troca, à presença idêntica das mercadorias nesta, como
ponto de referência de sua conseqüência, como passado e futuro, portanto
como o que não é mais real e como o que não é ainda real. A medida da
realidade de produção e consumo é aqui a pr·esença das mercadorias na
troca, contanto que esta presença seja a ausência de produção e consumo.
O dinheiro se refere à praxis mate1;a1 de consumo e produção apenas com
a medida da faticidade como ocorrido ou não ocorrido, ocorrendo ou não
'
ocorrendo, surgindo ou n ão surgindo.
Por outro lado, na mercadoria, a produção, da qual ela provém, e o
consumo, ao qual ela se di1;ge, são sujeitos à coisidade idêntica das ~er-
cadorias, são portanto justamente, na troca, o presente das mercadonas e 1
de sua realidade. Mas produção e consumo são reais e presentes para a
ação de troca em seu estado de paralisação, isto é, em suspens~o temporal,
como a identidade inalterada e material das coisas-mercadonas no mero
espaço. Como acontecimento temporal, a ação de troca suspende a pro-
dução e o consumo temporalmente ou remete, de acordo com O tempo, para
· d a nao
o passado não mais real e para o futuro a1n - rea1, n o único presente
A •

real dela mesma (da ação de troca). Produção e consumo tem realidade ~o
acontecimento temporal da troca na forma reificada da realidade matenal

9 A ·one O conceito de exploração.


separação não pode ser determinada sem que se menci
(Nota de WB).
10
Marx, primeira Tese sobre Feuerbach (Nota de ASR).

133

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Alfred Sohn-Rehtel

das coisas-mercadorias no espaço. O ouro se refere às mercadoria


- na rea lid a d e espaço-mat enal
coisas que fazem a me cli açao, . de acords como
. .
funções de sua 1dent1dade . altera d a no t empo, entre produção e o corn
1n
d
mo. N dinheiro está firma o serem a re
O alid d
a e d a troca no tempconsu-
função de equivalênci~ _da~ mercadorias ~ncul~das à real~dade da ;a~~
ria no espaço. A materia e a forma de re1ficaçao da praxis da produ -
e d' - t . .
passada, pela qual esta 1az ~ ~~ 1açao en re a pr~1s soc1~lmente separa- Çao
da do consumo futuro. - A 1de1a de que tudo que e espacial é preenchido
por matéria poderia surgir, como primeiramente a Tales, apenas onde a
produção se encontra s~b a l~i ?ªs merca~orias. A frase: tudo é água, sig-
nifica tanto como: tudo e matena mercantil, ou: de tudo pode-se fazer mer-
cadoria - contanto que, mais precisamente, o trabalho seja atributo de
escravos comprados e nesta forma tudo o que ele produz, seja produzido
como mercadoria.
Devo aqui me contentar com estas breves indicações do ponto de vista
por mim pretendido para a análise formal da reificação. Que seja, contudo,
expressamente acrescentado que nenhum momento da reificação pode ser
completa e claramente determinado, enquanto a reificação for considera-
da fora de sua conexão com a exploração.
O ponto central de nosso tema é a afirmação de que a identidade é um
atributo formal historicamente condicionado das mercadorias e uma for-
ma de vínculo social entre as pessoas. Por esta afirmação, se ela pode ser
comprovada, o apriorismo do conhecimento é fundamentalmente modifi-
cado. Ela exige, portanto, comentários mais precisos.
As características fundamentais da reificação, da identidade, da for-
ma real e da existência imediata das mercadorias são, necessariamente,
ligadas à relação de equivalência das mercadorias na troca. Pela nossa
experiência atual, completamente reificada, estes atributos formais pode-
riam aparecer originariamente ligados às coisas igualmente em qualquer
outra conexão, como também na de produção e consumo. Contudo, isto
depende de compreender a diferença específica da ação de troca perante
outras ações. As coisas, certamente, têm também alguma constância, quan-
d~ temporariamente afastadas, por exemplo, em uma execução de produ-
çao e de consumo, a fim de mais tarde novamente se voltar para elas, e de
modo algum afirmamos também ser a identidade das mercadorias O único
modo da identidade ou a constância das coisas semelhante à identidad~.
Mas ela é ª f0 rma de identidade deter1ninante para o modo de conheci-
men~o _racional u e sua constituição lógica. a
oisas postas de lado deixadas onde estão afastadas guardadas par
uso ~ · ~ ' ' ' ,. · tên-
. pr~pno sao entregues a seu próprio desígnio e enquanto tem exis -
eia, a tem en t - ' . as sao
°
quan nao nos ocupamos com elas. Mas na troca as cois

ll o que aqui é chamadO d" Ih intelectual


que surge a e modo de conhecimento racional" é parte do traba O balho
penas pelos qu . . • to do tra
manual (nota d ASR e possuem dinheiro irreconciliavelmente d1st1n
e em 1970). '

134
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PARA A ABOLIÇÃO CRÍTICA DO APRIORISMO

idênticas, contanto_q~e sejam justamente o o~jeto da ocupação e estejam


no centr~ da aten_çao ,. , e_ mesmo_esta ocupaçao e esta atenção as firmam
na relaç~o de equ1valenc1a como 1mutavelmente idênticas 13 • Na troca, faz-
se matenalmente algo com as coisas, mas esta ação é, contraditoriamente,
ligada à condição de que nada nelas ocorra materialmente. A ação de troca
é uma atividade física e material e é enquanto tal negação exercida positi-
vamente de toda ação que transfor1na os objetos de troca, tanto produtivos
como de consumo, enquanto a equivalência dever valer. A existência real e
idêntica das mercadorias na equivalência é uma positivação ativamente
efetuada pela ação de troca, ela não é de modo algum, nas lacunas entre
ações humanas, uma mera falta pura e passivamente existente de trans-
formação de coisas. Ela também vale contra toda falsidade material de sua
suposição, como em transações que se estendem por um longo tempo e no
interior das quais os objetos se transfor1nam inquestionavelmente sem
participação humana. Ela vale, sendo breve, não pelas coisas, ou pelas
pessoas, ou pela natureza universal da ação humana, mas sim é uma fic-
ção necessariamente condicionada por razões sociais.
Quais são, contudo, estas razões? Pode-se inferir tanto sobre isso da
troca, que a produção e o consumo deveriam de um certo modo ser separa-
dos para os homens, já que a troca é ação que faz a mediação entre eles. De
que modo é esta separação e no que ela se funda, é uma questão que não
pode ser deduzida da troca além da referência geral à divisão do trabalho.
Pois a troca de mercadorias é já ela própria, justamente pela equivalência
que a caracteriza, forma de ocultamento de seu conteúdo histórico e ver-
dadeiro. Detenhemo-nos contudo primeiro no reflexo ilusório que disso se 1
espelha na troca de mercadorias e em sua relação de equival~n~ia. _
Primeiramente mostra-se que se deve estabelecer uma distinçao fun-
damental entre a t;oca desenvolvida de mercadorias, isto é, a troca funda-
da na produção de mercadorias e portanto a troe~ de "valores", e a troca
primitiva no sentido de relações de t roca com obJetos de uso, -sob~etudo
entre comunidades naturais 14 • O traço definidor da troca desenvol~da de
mercadorias é a equivalência dos objetos trocados, e esta pressupoe ~a
- social
certa separaçao · entre pro d uçao- e consumo , cuJ· a origem
. e verdadeiro
conteúdo devem ser encontrados na exploração (ver abaixo). Ap~nas ª tro- : i
ca desenvolvida de mercadorias é ligada à reificação caractenz':da p:la
identidade pela forma real e pela existência imediata: Contudo, nao po el
mos decidi; como definir a troca primitiva e se o conceito de troca em gera

12
E quando leio um livro? (nota de WB). _ d 'd t "d d ·ntacta do
1a . •d b se a conservaçao a 1 en 1 a e 1
A diferença decisiva foi aqui esqueci a,ª sa erd, postulado social que pode ser
. t d · divi ua1 ou a um
ob~eto de uso corresponde a uma von ª e in di'da com a questão sobre onde
e d , · · - d B · min deve ser respon .
1orça o pela pol1c1a. A obJeçao e enJa t a se ai' sem dificuldade como uma
1e 10
· o livro,
. . . ou em casa. A 1'd ent'1dade rea1mos r -
na l1vrar1a
função da propriedade. (Nota de ASR em 1970).
1
" Vide Marx, "Das Kapital", Bd.I, MEW 23, 102. (Nota de ASR).

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Alfred Sohn-Rehtel

t
pode ser orna do P elas relações pensadas
_ sob
d esta troca primitivais E
· set
t S m odos de "troca'' estao fora e nosso campo de visãois
d
mo o, ou es e 'b ~ ...... • ·
Nota-se, em segundo lugar, ~ue os atr1 utos or11_1a1s específicos das
mercadorias não podem ser suficientemente apree11d1dos quando funda-
t dos meramente no fato de deve1·em as pessoas ganhar seus meios de
men a · d 'd -
vida elo trabalho, de tal modo que estes m eios e vi a sao exclusivamen-
p de consumo e pro d u t o, e, a~enas po1· 1·sso, ''v a 1or d e uso" e "valor".
te objeto
Não O condiciona1nento natural da vida para as pessoas pelo trabalho, nem
a mei·a diferença empí1ica e11tre atividades de consumo e produtivas, mas
que entre ambos estes lados da existência ~mediata, nece~sariamente rela-
cionados, srn·ge uma oposição do modo social, de tal maneira que os objetos
trocados tornam-se para uma pa1·te das pessoas apenas produtos e para
uma out1·a parte apenas objetos de consumo, constitui a pressuposição fun-
damental para a troca destes objetos como ''valores" e, portanto, a ambi-
güidade própria das mercadorias. A pressuposição da sociedade de troca
de mercadorias não é um dado natural, mas uma for1na alterada e histó-
rica de sociedade.
A partir deste fundamento histórico, a troca de mercadorias é apenas
a forma dialética de reflexão. Seus pressupostos se escondem sob a apa-
rência de sua imediatidade. "O movimento mediador desaparece em seu
resultado e não deixa rasto at1·ás de si" 17 • A reificação pode ser constatada
na troca de mercadorias e em suas formas, mas é impossível explicá-la
pela troca. Sua causa e sua fonte estão na exploração, e somente a partir
dela a própria troca de mercadorias [a síntese inerentemente social pela
troca de mercadorias -AS em 1970] exige explicação.

~
5

8 0
me~os deveria ser provado que na troca primitiva não h á equivalê ncia. (Not; de WB).
st
e á inteiramente provado desde Marcel 1'1 auss e Lévy-Str auss (Nota de ASR em 1970).
16
A diferença entre dois d d t áJ' d
- m o os e r oca é uma das características essenciais da an ise e
ent ao e também perma e . l' - . . -
. n ceu mais a em. Mas a razao de diferenc1açao torn ou-se clara para
mim apenas gradualment • t- · · · · t ·
se a t d
roca e mercadona , O , 1O d ,
ª
. e e ei en ao, para mim, ainda obscura. Ela consiste no segum e.
. - ·
te em d 't- . se veicu a s1ntese inerentemente social ou não, ela nao consis-
uma t1erenc1ação dos . t 11 ··b t .e .
ce m ina· 1terados nos difi ª t 111, tl os
. LOrma1s da troca de mercadorias ' que antes permane- , .
cas forma·t ere~ es veis de desenvolvimento da sociedade. Estas caractensti-
1s, cer an1ente e ist0 81. 1. fi b
enquanto a t fi .' gn ica so retudo a forma de equivalência, não apareceni,
roca or a inda ess · l t'l·
ela ainda - ' encia mente, forma de relação meramente extra-mercan 1 ,
nao mostra nestes , · . . d·
· nheiro significa . d niveis ª forma dinheiro do valor. A constituição da fonna 1 •
ª
, momento no qual O t .b
guina a para a fu - ·
nçao inerentemente social da troca. E apenas a parwr
h do
1 se possível que l s a n . utos fiorm ais
1 · . ·
da troca de mercadorias aparecem no dinheiro, toriia_
-
e as SeJam comun· d , · da e
Portanto possível q b _ Ica as a co nsciên cia. Apenas a partir desta guina
st
tua} da forma d ue ª .ª raçao real da "forn1a-mercadoria" se torn e a abstração int.elec-
o conceito _ N d · ho
correto, mas era in d. ª ver ade, eu me sentia então à fre n te sobre o canun
mente também nã~azd ~ r~futar_as objeções levantadas por Benjamin e Adorno. Cer~-
mento • e eixei desVIar d • Jarec1-
mais preciso d b e ineu caminho por estas censuras (um es c
1970). o pro lema será tentado no posfácio deste texto). (Nota de ASR em
11 M
arx, "Das Kapita)" I M
. ' EW 23 , l07. (Nota de ASR).
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oraqa 4 1 qq7 Scanned by TapScanner

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