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Universidade Federal aa Bahia | Faculdade de Educação

EDCJ26 - Metodologia Do Ensino Das Artes Visuais


Docente: Samira da Costa Sten
Discente: Maurício Menezes de Castro

Atividade 1 – Análise do texto “Educação Após Auschwitz” em diálogo com o


documentário “Arquitetura da Destruição”

Evitar que a barbárie se repita: segundo Adorno (1995), é esta a


exigência principal para a educação. Em um mundo no qual a barbárie espreita
em todos os cantos – pois está no cerne do capitalismo – tal tarefa se torna
ainda mais urgente, e também mais árdua.

Temos um modelo educacional que não foi pensado para emancipar, e


sim para “coisificar”; uma educação, em geral, mecânica e repetitiva, que em
todos os momentos apresenta respostas e soluções pré-prontas, impostas,
como se todos – estudantes e também professores – fossem iguais; que
desconsidera subjetividades e não dá lugar a questionamentos, construções de
diferentes pontos-de-vista, ou até mesmo à criatividade. Um ensino não para
formar seres pensantes e sensíveis, mas sim operários que possam manter a
engrenagem do sistema girando, pois ser escolarizado é “um fator
determinante para o manuseio de máquinas mais sofisticadas e para melhor
enquadramento nas modernas organizações” (DUARTE JR, 1991). Mesmo
com a valorização do conhecimento através dos tempos, muito desse objetivo
original para a inserção da população nas escolas ainda se mantém nos
tempos atuais.

Uma educação “coisificadora”, que reproduz na escola os valores da


nossa sociedade – racionalidade exacerbada e trabalho incessante – não
poderia, então, se opor à barbárie, pois ela mesma a contém. Como cumprir a
exigência de não permitir que Auschwitz se repita quando tão pouca
consciência se tem sobre ela? Está aí a importância de uma formação sensível
que considere o aspecto o aspecto mais básico da nossa humanidade: a
capacidade de criar, que está intrinsecamente ligada às nossas emoções.
Criamos porque sentimos e pensamos, e a escola deveria incentivar isso, mas
tão ocupada que está nos impor conceitos pré-fabricados e nos preparar para a
força de trabalho industrial, nos retira, o tempo todo, as possibilidades de
desenvolvimento da criatividade. Daí a necessidade de uma educação
revolucionária (visto que vai na contramão do modelo vigente), daí a
necessidade de uma Arte-Educação.

Uma educação humanizante passa pela arte, pois esta tem profundo
impacto no ser humano. Não à toa foi cooptada pelo nazismo, como mostra o
documentário. A importância da arte para o Führer era imensa, sendo ele
próprio um artista frustrado, mas conhecedor do quão significativo poderia ser o
papel da arte para seus objetivos. Obras cujos elementos pudessem, de
alguma forma, contribuir para os distorcidos valores hitleristas foram
acumuladas na coleção pessoal de Hitler ou ainda expostas em mostras da
“verdadeira arte ariana”. Além disso podemos ver, nos cartazes de propaganda
do regime e no poder de domínio psicológico exercido pelo mesmo, o potencial
que a arte tem de penetrar e seduzir – ainda que em favor da barbárie. Vale
lembrar, ainda, as monstruosidades que foram cometidas em nome do “belo”
como sinônimo de saúde racial, estética e intelectual, no qual não se
encaixavam doentes, deficientes e demais “degenerados”, como judeus,
ciganos, homossexuais, comunistas, entre tantos outros grupos perseguidos
pelo nazismo. O princípio fundamental do regime era embelezar o mundo,
ameaçado pela miscigenação, e torna-lo “puro”, mesmo que para isso tivesse
que destruí-lo. E muito foi destruído; um genocídio foi levado a cabo em nome
desse ideal.

Tal estética da morte pode ser chocante quando exposta dessa maneira,
mas é necessário ressaltar que ela aconteceu, que as pessoas validaram
tamanha desumanidade. As vítimas do Holocausto têm muitos algozes, mesmo
que alguns nunca tenham sequer saído de suas casas para tomar parte direta
no genocídio. Isso por uma tendência de desagregação do indivíduo diante do
geral, do que vem “de cima”, da opinião pública, gerando uma identificação
cega com o coletivo. Como exemplo bastante atual, podemos citar o
Bolsonarismo, no contexto político brasileiro, e como as massas vão
cegamente às ruas pedir por brutalidades como intervenção militar, entre
outras. Como menciona Adorno (1995) em seu texto, “A pressão do geral
dominante sobre tudo que é particular, os homens individualmente e as
instituições singulares, tem uma tendência a destroçar o particular e individual
juntamente com seu potencial de resistência.” Quando o subjetivo é anulado,
anula-se também capacidade de reflexão, o que torna as pessoas incapazes
de perceber e se mobilizar contra a barbárie, ou até mais: capazes de
colaborar com a mesma.

A arma contra isso encontra-se na autonomia do sujeito, e tal autonomia


só pode ser alcançada através de um clima intelectual, cultural e social que
permita a elaboração de visões de mundo pelo sujeito a partir de suas
percepções e sentimentos, proporcionando assim a consciência do que levou à
desumanidade e também dos motivos pelos quais ela deve ser evitada. Se é
tarefa essencial da educação impedir que a barbárie se repita, é essencial
promover, desde o ensino infantil, uma educação emancipadora – e nesse
ponto a arte é um elemento pedagógico – pois a educação que não questiona,
sensibiliza e/ou transforma pode nos levar de volta a Auschwitz.
1. De que trata o texto"Educação após Auschwitz"?

O texto de Adorno trata-se a exigência principal para a educação:


evitar que a barbárie se repita. Porém, vivemos em um mundo no qual
a barbárie espreita em todos os cantos – pois está no cerne do
capitalismo e da civilização. Temos um modelo educacional que não
foi pensado para emancipar, e sim para “coisificar”; uma educação,
em geral, mecânica e repetitiva, que em todos os momentos
apresenta respostas e soluções pré-prontas, impostas, como se todos
– estudantes e também professores – fossem iguais; que desconsidera
subjetividades e não dá lugar a questionamentos. Uma educação que
reproduz na escola os valores da nossa sociedade – racionalidade
exacerbada e trabalho incessante – não poderia, então, se opor à
barbárie, pois ela mesma a contém. Portanto, lançar mão enquanto
educadores, de estratégias de ensino que impeçam que Auschwitz
venha a se repetir se torna ainda mais urgente, e também uma tarefa
ainda mais árdua e desesperadora.

2. Apresente, pelo menos, três conceitos trabalhados por Theodor


Adorno neste texto e desenvolva breve apreensão pessoal
destes conceitos.

Adorno traz o conceito da desagregação do sujeito diante do geral, do


que vem “de cima”, da opinião pública. Tal desagregação, como
afirma o autor, destói “o particular e individual juntamente com seu
potencial de resistência.” Quando o subjetivo é anulado, anula-se
também capacidade de reflexão, o que leva a um segundo conceito, o
de identificação cega com o coletivo. A desagregação de subjetivos
serve à manipulação de massas. As pessoas, incapazes de perceber e
se mobilizar contra a barbárie, tornam-se então capazes até de
colaborar com a mesma e com o poder de ideologias e regimes
nocivos a elas mesmas. Como exemplo bastante atual, podemos citar
o Bolsonarismo, no contexto político brasileiro, e como as massas
vão cegamente às ruas pedir por brutalidades como intervenção
militar, entre outras. Um terceiro conceito trabalhado no texto é o de
autonomia, que se contrapõe diretamente aos dois conceitos
mencionados anteriormente. O sujeito autônomo pensa por si só,
reflete sobre as coisas, e mesmo que todo um coletivo faça pressão
em direção à barbárie, ele terá a autodeterminação para seguir na
direção contrária e lutar para que não se repita.

3. Ao final do texto "Educação após Auschwitz", Theodor Adorno


lembra a pergunta, feita a ele, por seu amigo e filósofo Walter
Benjamin. "Walter Benjamin me perguntou se ali ainda havia
algozes em número suficiente para executar o que os nazistas
ordenavam"(ADORNO, 1965). Diante da resposta de Adorno.
Apresente alguma alternativa possível ao impedimento da
barbárie.

A alternativa contra a barbárie encontra-se na autonomia do sujeito, e tal


autonomia só pode ser alcançada através de um clima intelectual, cultural e
social que permita a elaboração de visões de mundo pelo sujeito a partir de
suas percepções e sentimentos, proporcionando assim a consciência do que
levou à desumanidade e também dos motivos pelos quais ela deve ser evitada.

Se é tarefa essencial da educação impedir que a barbárie se repita, é essencial


promover, desde o ensino infantil, um ensino, e nesse ponto a arte é um
elemento pedagógico fundamental ao homem por seu caráter sensível e
criativo. Para intervir em nossa realidade precisamos imaginar novas
realidades possíveis, e esse exercício de imaginação leva à criação e exige do
sujeito tomada de consciência de si e do mundo ao seu redor. Façamos,
portanto, uma educação crítica e emancipadora, pois a educação que não
questiona, sensibiliza e/ou transforma pode nos levar de volta a Auschwitz.
4. Interrelacione o documentário "Arquitetura da Destruição" à
exigência da Educação sugerida por Adorno.

A estética de morte assumida pelo nazismo, que em nome do embelezamento


do mundo e da pureza ariana provocou uma grande barbárie, pode ser
chocante quando exposta do modo como o documentário traz, mas é
necessário ressaltar que ela aconteceu e que as pessoas validaram tamanha
desumanidade. As vítimas do Holocausto têm muitos algozes, mesmo que
alguns nunca tenham sequer saído de suas casas para tomar parte direta no
genocídio, e isto por causa da já citada desagregação das subjetividades, que
torna indivíduos em massa de manobra. Daí a necessidade de uma educação
política para que Auschwitz não se repita, como Adorno repetidamente enfatiza
no texto. Mas é preciso também que tal educação prepare as pessoas para
reconhecer os sinais perigosos da barbárie no passado para que esta possa
ser cortada pela raiz no futuro; é preciso formar indivíduos alertas para
identificar os mecanismos da barbárie, cientes de que ela ainda não calou
fundo na civilização, como menciona o autor. Mas assuntos como este acabam
ficando sempre no campo da abstração, do “não-deve” e também do não-dito;
um “fantasma” que as pessoas têm medo de evocar.

5. "Arquitetura da destruição" demonstra aspectos do violento


embelezamento do mundo produzido pelo nazismo. Após assisti-
lo, disserte criticamente acerca dessa estratégia nazista e
apresente algum ponto de contato com a contemporaneidade.

A importância da arte para o Führer era imensa, sendo ele próprio um artista
frustrado mas conhecedor do quão significativo poderia ser o papel da arte
para seus objetivos, afinal a força motora do nazismo era estética. Obras cujos
elementos pudessem, de alguma forma, contribuir para os distorcidos valores
hitleristas foram acumuladas na coleção pessoal de Hitler ou ainda expostas
em mostras da “verdadeira arte ariana” – sempre remetendo à antiguidade
clássica, à pureza da beleza, ao homem ideal (física e intelectualmente). Tais
elementos também foram utilizados na arquitetura, sempre clássica,
monumental e megalomaníaca. Além disso podemos ver, nos cartazes e filmes
produzidos na época, a propaganda da ideologia nazista e o poder de domínio
psicológico exercido por ela, demonstração do potencial que a arte tem de
penetrar e seduzir – ainda que em favor da barbárie. Não à toa ela foi cooptada
pelo regime. Mas também foi perseguida pelo nazismo, em especial a arte
bolchevique e a arte moderna, consideradas decadentes e sem sentido. Vale
lembrar, ainda, as monstruosidades que foram cometidas em nome do “belo”
como sinônimo de saúde racial, estética e intelectual, no qual não se
encaixavam doentes, deficientes e demais “degenerados”, como judeus,
ciganos, homossexuais, comunistas, entre tantos outros grupos perseguidos
pelo nazismo. O princípio fundamental do regime era embelezar o mundo,
ameaçado pela miscigenação, e torna-lo “puro”, mesmo que para isso tivesse
que destruí-lo. E muito foi destruído; um genocídio foi levado a cabo em nome
desse ideal.
Podemos traçar um paralelo com a contemporaneidade ao lembrar do discurso
do ex-Secretário de Cultura do Governo Bolsonaro, Roberto Alvim, em 2020,
que imitou uma fala de Goebbels (que foi ministro da propaganda de Hitler). Ao
dizer que a arte brasileira da próxima década seria heroica, nacional e
imperativa, ou então não seria nada o ex-Secretário resgata um
ultranacionalismo nocivo e preocupante, além de demonstrar simpatia a
regimes totalitários e criminosos; e deixa clara a intenção de interferência
estatal no âmbito da arte, ditando o que é e não aceitável de acordo com as
ideologias do governo, de maneira semelhante ao que foi feito na Alemanha
nazista. Além disso, o discurso foi feito numa estética visual e simbólica cheia
de referências ao regime, e ao som do compositor favorito do führer. Com a
repercussão negativa, Roberto perdeu o cargo, mas seu ato acende um alerta
ao perigo à cultura e liberdade de expressão que ideologias como o
bolsonarismo representam.

Cooptação de símbolos nacionais (ultranacionalismo)


Ataque à arte e à cultura
MinC
Roberto Alvim

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