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1. Tema .......................................................................................................................................... 3
2. Justificativa ............................................................................................................................... 5
3. Metodologia .............................................................................................................................. 6
4. Fundamentação Teórica .......................................................................................................... 11
5. Objetivos ................................................................................................................................. 16
5.1 Objetivo Geral ....................................................................................................................... 16
5.2 Objetivos Específicos ............................................................................................................ 17
6. Estado da arte .......................................................................................................................... 17
7. Proposta sumário qualificação ................................................................................................ 23
8. Proposta sumário tese .............................................................................................................. 24
9. Análise exemplo de curta-metragem ....................................................................................... 25
10. Referências Bibliográficas .................................................................................................... 31
1. Tema
Nesse sentido, duas soluções serão propostas para que as questões supracitadas
sejam resolvidas. Inicialmente, para que a duração dos curta-metragens analisados
obedeça a um critério específico, optou-se por utilizar a Medida provisória Nº 2.228-1
de 06 de setembro de 2001 que, como apontam Rossini e Renner (2015): a lei define
três formatos para a produção audiovisual no Brasoç: o curta-metragem é aquele com
duração igual ou inferior a 15 minutos; o média-metragem possui duração superior a 15
minutos e igual ou inferior a 70 minutos; e o longa-metragem aquele cura duração é
superior a 70 minutos”. Portanto, entende-se que, dos filmes que compõe a lista, serão
tratados como curta-metragens apenas aqueles que não ultrapassem quinze minutos de
duração. No caso dos documentários, optou-se por não considerá-los como parte do
corpous da pesquisa uma vez que a estrutura narrativa desse gênero cinematográfico
obedece a lógicas próprias que, por si só, renderiam uma investigação à parte. Ou seja,
essa pesquisa observará apenas filmes de ficção.
Para que essa pesquisa se faça possível, optou-se por dividir os curtas-metragens
em alguns grupos que unem as obras em uma estrutura narrativa comum. Cada grupo
será analisado em conjunto, através de métodos de análise fílmica, sendo amparados por
diferentes propostas teóricas que embasem a estrutura narrativa em questão. Os grupos
são: o curta-conto; a personagem no curta-metragem; o curta-metragem pós-dramático;
e o mini-longa. Esses grupos terão para si diferentes abordagens teóricas que serão
comentadas no segmento Fundamentação Teórica. Já o critério que originou essas
quatro categorias de análise será comentado em metodologia.
2. Justificativa
3. Metodologia
Nesse trecho, o autor afirma que, no que se refere ao cinema, há apenas dois
tipos temporais. Poderíamos entendê-los, como define Christian Metz (2019), como o
tempo da coisa-contada e o tempo da narrativa. Ou seja, há o tempo do significado e o
tempo do significante. E é essa a dualidade que torna possível realizar distorções
temporais, como mostrar anos da vida de um personagem em duas frases de um
romance ou em alguns planos de uma montagem cinematográfica. Nesse sentido, é
possível afirmar que a diferença mais evidente entre o curta o longa metragem diz
respeito a duração da obra, ou seja, o tempo de significante. Mas, no que diz respeito às
possibilidades de se distorcer o tempo do significado, a partir de elipses temporais e idas
e voltas no tempo, há alguma diferença entre ambos? Para responder essa pergunta, é
necessário compreendermos mais a fundo quais as principais caracteristicas estruturais
de uma narrativa. Isto é, que tipo de acontecimentos ocorrem nessa sequência temporal
que nos leva de um inicio a um fim?
Em sua Poética, Aristóeles (2008), afirma que a imitação existe a partir dos atos
das personagens. É sua construção que possibilita que as obras tenham contorno e se
desenvolvam. Segundo o filósofo, é a partir da semelhança com o homem que as
melhores personagens se constorem. Campbell (1989), afirma que o herói é o sujeito
que se transforma ao longo da narrativa, é ele que a guia. Ao longo desse percurso, o
herói revê sua visão de mundo e passa por um renascimento. Ou, como afirma o autor:
Para que seja possível responder a essa questão, iremos analisar alguns dos
curtas a partir de uma bibliografia que discorre a respeito do tema. Usaremos o livro A
personagem de ficção (2017), dando foco aos textos de Paulo Emílio Salles Gomes e
Antonio Candido. Ademais, trabalharemos com o livro A personagem (1985), de Beth
Brait. Dessa forma, será possível identificar a quais caracterísiticas da construção de
uma personagem o curta-metragem se filia e em quais aspectos ele se diferencia.
Por fim, nosso último critério de análise observará os filmes que não se
aproximam de nosso critério essencial, que é a construção de conflito. Ou seja,
analisaremos as obras que possuem uma ausência de conflito, demoniando esse critério
de “curta pós-dramático”. A teoria do pós-dramático foi desenvolvida por Hans Thies
Lehmann (1999), quando discorreu sobre uma transformação da dramaturgia teatral que
abria mão da construção de um conflito. A partir desse novo fenômeno, iniciado nos
anos sessenta, o autor buscou observar as características estruturais dessas obras para
identificar quais suas particularidades e de que maneira elas se diferenciavam da
dramaturgia tradicional. A partir de suas reflexões, uma série de outros pensadores
também expuseram suas visões dessa temática e uma bibliografia se constituiu. Nesse
sentido, iremos nos servir dessa bibliografia para observar se esse fenômeno também
está presente no curta-metragem brasileiro e de que maneira ele se coloca. Além dos
textos de Lehmann, utilizaremos “A poética do drama moderno” (2017), de Jean-Pierre
Sarrazac, “Por um novo romance” (1969), de Alain Robbe-Grillet e “O pós-dramático”
(2019), organizado por J.Guisburg e Sílvia Fernandes.
A partir desses quatro critérios, os curtas foram divididos. Assistindo aos filmes,
observou-se que cada tantos se aproximam mais de um dos critérios e, por fim, chegou-
se a esse resultado:
Mini-longa
A velha a fiar (1964), de Humberto Mauro; Meow
(1981), de Marcos Magalhães; “Os óculos da vovó
(1913), de Francisco Santos; Exemplo Regenerador
(1919), de José Medina; Frankenstein Punk (1986) de de
Cao Hamburguer e Eliana Fonseca.
Curta pós-dramático
Alma no Olho (1974), de Zózimo Bulbul; Texas Hotel
(1999), de Cláudio Assis; O ataque das araras (1975), de
Jairo Freitas; Carolina (2013), de Jeferson De;
Animando (1983), de Marcos Magalhães; H.O (1979),
de Ivan Cardoso.
4. Fundamentação Teórica
Para esse tópico, irei demonstrar brevemente alguns dos conceitos que serão
propostos para que se observem os dois primeiros critérios de análise. São eles: o conto-
curta e o conto pós-dramático.
Nesse trecho, o autor afirma que, para que a construção narrativa do conto seja
bem sucedida, o importante é que as camadas sobrepostas nessa linha de tempo vertical
evoquem elementos da história que não estão contidos em seu curto espaço de tempo,
mas presentes no passado e no interior das personagens. Isso significa que a narrativa
curta tem a missão de dar conta de uma totalidade de elementos muito mais amplos do
que a história narrada entre a primeira e a última página. Ou, no caso do curta, entre o
primeiro e o último minuto de filme.
Essas reflexões de Cortázar relacionam-se diretamente com as “Teses sobre o
conto” de Ricardo Piglia (2004). Em suas reflexões, o autor postula que nem tudo o que
é contado em um conto está em sua superfície mais acessível. É possível, portanto,
identificarmos na própria narrativa indícios de que há outras camadas de compreensão
da história.
É importante atentar para o fato de que não estamos falando da mera
interpretação de um texto narrativo. Ou seja, “as teses” de Piglia não dizem que um
conto pode sugerir múltiplas interpretações que o encaixem em um contexto social, em
uma crítica política, ou em uma metáfora. Ele fala da possibilidade de identificarmos
mais de uma camada de histórias a serem contadas dentro de um texto literário. Nas
palavras de Piglia (2004, p. 89):
Num dos seus cadernos de notas, Tchekhov registra essa anedota: “Um
homem em Monte Carlo vai a um cassino, ganha um milhão, volta para casa
e suicida-se”. A forma clássica do conto está condensada no núcleo desse
relato futuro e não escrito.
Contra o previsível e o convencional (jogar-perder-suicidar), a intriga se
oferece como um paradoxo. A anedota tende a desvincular a história do jogo
e a história do suicídio. Essa cisão é a chave para definirmos o caráter duplo
da forma do conto.
Primeira tese: um conto sempre conta duas histórias.
Com isso, torna-se mais compreensível a tese que Piglia está defendendo. Para
ele, sempre haverá uma história submersa enquanto a história visível estiver sendo
narrada. Cabe ao texto apresentar indícios cifrados ao longo da narrativa para que
venhamos a entender que história secreta é essa.
Uma analogia possível para a tese de Ricardo Piglia é a imagem do iceberg.
Aquilo que é narrado explicitamente é a parte superior do iceberg, mas aquilo que está
por trás da história (uma história secreta) é a parte submersa daquela narrativa:
Aqui, fica claro que, além da segunda história não ter relação com uma
interpretação do conto, ela é imprescindível para que ele exista. Piglia define conto
como aquele tipo de narrativa que consegue efetivar essa mistura de uma história visível
e outra secreta. E infere que a grande questão a ser debatida diz respeito aos recursos
técnicos utilizados pelos autores para que essa história submersa apareça
esporadicamente na história visível.
Por fim, diz Piglia (2004, p. 94): “o conto é construído para revelar
artificialmente algo que estava oculto. Reproduz a busca sempre renovada de uma
experiência única que nos permite ver, sob a superfície opaca da vida, uma verdade
secreta”.
Os estudos a respeito do teatro pós-dramático já não são de hoje. O crítico e
professor Hans-Thies Lehmann, responsável por cunhar o termo, publicou seu primeiro
livro a respeito do assunto em 1999. A necessidade de discutir essa ideia, partiu de uma
reflexão de Lehman a respeito de uma tipo de teatro que estava se produzindo desde os
anos 70 e que, segundo ele, abordavam a dramaturgia de uma maneira diferente.
Lehman aponta:
O adjetivo “pós-dramático” designa um termo que se vê impelido a operar
para além do drama, em um tempo após a configuração do paradigma do
drama no teatro. Ele não quer dizer negação abstrata, mero desvio de olhar
em relação à tradição do drama. Após o drama significa que esse continua a
existir como estrutura – mesmo que enfraquecida, falida – do “teatro normal”
(…) Pode-se então descrever assim o teatro pós-dramático: os membros ou
ramos do organismo dramático, embora como um material morto, ainda estão
presentes e constituem um espaço de uma lembrança “em irrupção”.
(LEHMAN,2007, p. 33-34)
Ou seja, o teatro pós-dramático não nega o drama, ele compreende sua tradição e
busca uma reapropriação de seus dispositivos. Porém, é importante compreendermos
um pouco mais quais são as características específicas do teatro pós-dramático para
pensarmos sua relação com o cinema.
O autor afirma:
Sarrazac também discorre a respeito da ideia de “ação”. Segundo ele, uma dos
principais argumentos daqueles que falam a respeito da morte do drama é de que o
teatro contemporâneo já não contém mais ações como no teatro dramático. Porém, o
autor propõe um alargamento da ideia de “ação”. Para ele, a ação não necessariamente
consiste no gesto do ator que determina a cena, mas poderia dizer respeito a uma ação
mais contida, uma ação interna ou uma ação desdramatizada.
5. Objetivos
6. Estado da arte
1
Artigo publicado no site da Casa de Cinema de Porto Alegre em 2001. Disponível em:
http://www.casacinepoa.com.br/as-conex%C3%B5es/textos-sobre-cinema/por-que-curta-metragem.
Acessado em 08/10/2018. Todas as citações de Giba Assis Brasil são referentes a esse artigo.
Entre as décadas de 20 e 30, Walt Disney e outros pioneiros definem 6 a 8
minutos como o tempo ideal para os filmes de animação. Ainda que o próprio
Disney vá mais tarde constituir um verdadeiro império com seus longas
animados, foi com os curtas que ele ganhou a maior parte dos seus mais de
30 Oscars. E foi também a partir do curta de animação, de seu ritmo e forma
de utilização da linguagem, de sua evolução em termos de capacidade de
síntese e impacto visual (ASSIS BRASIL, 2001)
Mesmo que nos anos seguintes Disney viesse a construir seu império em cima de
longas de muito sucesso, a empresa nunca deixou de produzir curtas, mantendo esse
costume até os dias de hoje.
O último momento de grande importância do curta-metragem foi a difusão de
sua produção no Brasil. Isso ocorreu a partir dos anos oitenta fazendo com que o curtas
brasileiros viessem a ganhar prêmios no mundo inteiro e se tornassem respeitados ao
redor do globo.
In a short film, the set-up functions much the same as in a feature film. Its
goal is to orient the audience to the characters, backdrop, time frame, mood,
as well as give them a clue as to the direction of the film and theme, and
present the conflict [...] But instead of taking ten or fifteen pages (minutes) to
set the tone, characters and action, the short film must accomplish all this
right up front (COWGILL, 2005, p. 125)
SILVA, DENISE TAVARES DA. Vida longa ao curta' 01/09/1999 187 f. Mestrado em MULTIMEIOS
Instituição de Ensino: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, CAMPINAS Biblioteca
Depositária: Bibliotecas: Central e do Instituto de Artes da UNICAMP
1. Introdução
2. Estado da arte
3. Metodologia de análise
4. Fundamentação teórica
5. O curta-metragem: definições preliminares
6. Os 100 maiores curtas do cinema brasileiro: acepções possíveis
7. O curta-conto
7.1 A narrativa aparente e a narrativa secreta
7.2 As temporalidades verticais
7.3 O efeito único
7.4 Fragmentação, velocidade, intensidade
1. Introdução
1.1 Justificativa e problema de pesquisa
1.2 Objetivos
1.3 Metodologia de análise
2. O curta-metragem: definições preliminares
3. Os 100 maiores curtas do cinema brasileiro: acepções possíveis
4. O curta-conto
4.1 A narrativa aparente e a narrativa secreta
4.2 As temporalidades verticais
4.3 O efeito único
4.4 Fragmentação, velocidade, intensidade
5. O mini-longa
5.1 A pequena jornada do herói
5.2 Os atos
5.3 Os usos da faca
6. O curta de personagem
6.1 O sujeito em apresentação
6.2 O sujeito em desenvolvimento
6.3 O sujeito em transformação
7. O curta pós-dramático
7.1 O drama recusado no cinema
7.2 A forma e o conteúdo
7.3 A personagem sem caráter
8. Considerações
9. Referências Bibliográficas
3 Minutos conta a história de uma mulher, dona de casa, que cogita abandonar o
marido e buscar uma vida nova. No ato de cozinhar uma galinha para o almoço, essa
mulher é tomada pelo impulso de ir embora e, já fora de casa, deixa um recado para o
marido explicando sua motivação de fugir. Essa seria a sinopse do filme. Inicialmente,
algo importante que podemos observar sobre o gênero curta de modo geral é que uma
sinopse da obra mostra-se, muitas vezes, pouco eficiente ou imprecisa. Como afirma
Cowgill (2009), a história que é contada em um curta-metragem nem sempre é exposta
como um todo no tempo que lhe é reservada e, algumas das informações importantes
sobre os personagens e seus conflitos não são necessariamente apresentadas na ordem
cronológica em que a história acontece.
3 Minutos inicia com um close em uma mão feminina fazendo uma ligação em
um telefone público. Não é possível ver o rosto da personagem, nem onde ela está, mas
apenas que faz um telefonema. Logo em seguida, somos levados à casa onde um
telefone toca, na qual vemos uma televisão exibindo uma corrida e uma jarra com água
fervendo (Figura 1).
Figura 1: imagens iniciais do filme 3 minutos
Até esse ponto, apenas informações visuais e sonoras nos são apresentadas,
todas em close e sem nenhuma relação aparente entre si, à exceção de que o telefonema
realizado no orelhão provavelmente é direcionado à casa em que há a televisão e a jarra.
Ou seja, pelo uso dos closes, que nos dão pouca informação, nada ainda é claro, pouco
sabemos sobre a narrativa.
Na sequência, a ligação cai na caixa postal e uma voz masculina gravada diz a
seguinte frase: “Nem mesmo eu posso estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Por
favor, deixe seu recado depois do sinal”. Em seguida, uma voz feminina começa a
gravar um recado. Ela se identifica como Marília e, ao longo de uma extensa fala,
explica ao homem, seu marido, que está indo embora, pois quer uma vida nova.
Conforme ela fala, um travelling, sem nenhum corte, passeia pela casa, exibindo uma
série de elementos que nos ajudam a compreender quem são os dois personagens.
Isso nos leva à tese sobre o conto de Ricardo Piglia (2004). Como visto
anteriormente, o autor defende que toda narrativa curta conta duas histórias, a história
aparente e a história secreta. No caso do curta de Ana Luiza Azevedo, poderíamos
afirmar que isso ocorre, pois, de início, somos levados a crer que o filme narra a
trajetória de uma mulher em fuga, mas, ao fim, descobrimos que ele conta a história de
uma mulher que não consegue fugir. Nesse sentido, é notório que a forma como o filme
se estrutura compõe significativamente a realização do filme, pois, como afirma Piglia
(2004), o que causa a surpresa do desfecho de um conto é o encontro entre a história
aparente e a história secreta. Em 3 Minutos (1999), descobrimos apenas no trecho final
que a personagem ainda não decidiu se realmente vai fugir e, assim, sofremos o choque
do encerramento da narrativa.
CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Ed. Pensamento, 1989
COWGILL, Linda J. Writing short films: structure and content for screenwriters.
Flemmington: Lone Eagle, 2005
MOLETTA, Alex. Criação do curta metragem em vídeo digital: uma proposta de produções
de baixo custo. São Paulo: Summus Editorial, 2009
PIGLIA, Ricardo. Formas Breves. São Paulo: Companhia das Letras. 2004.
ROBBE-GRILLET, Alain. Por um novo romance. São Paulo: Nova critica, 1969
ROSSINI, Miriam; RENNER, Aline. A produção audiovisual ficcional para web: formas e
formatos. Revista brasileira de economia criativa e cultura. Porto Alegre, v. 1, n.1, p.29-46,
09/2018
SARRAZAC, Jean-Pierre. Poética do drama moderno. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2017
Filmografia: