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RESUMO
Freire em toda a sua obra, deixa claro sua própria posição na sociedade, na
educação, na vida, diante do outro, diante dele mesmo. Ele sempre nos
desperta para refletir sobre os limites da educação. Entretanto, destaca
fundamentalmente o papel que temos e a responsabilidade de assumi-lo bem,
na construção de uma sociedade mais democrática e humana. Nesse sentido,
Freire reconhece que o projeto de emancipação humana só será
efetivado na sociedade socialista. Freire reconhece assim como Marx, o
progresso da emancipação política, no caso de Freire, a vivencia da cidadania,
mas considera que só com a instituição do socialismo é possível a
emancipação geral da humanidade. Para Freire, o contexto atual nos
possibilita projetar novas experiências socialistas, transcendendo ao modelo
negativo do socialismo soviético, assim como o paradigma autoritário do
chamado socialismo real:
O discurso contra a utopia socialista – o discurso liberal ou neoliberal –
necessariamente e obviamente enaltece o avanço do capitalismo. Eu me
recuso a pensar que se acabou o sonho socialista porque constato que as
condições materiais e sociais que exigiram esse sonho estão aí. Estão aí a
miséria, a injustiça e a opressão. E isso o capitalismo não resolve a não ser
para uma minoria. Eu acho que nunca, nunca na nossa História, o sonho
socialista foi tão visível, tão palpável e tão necessário quanto hoje, embora,
talvez, de muito mais difícil concretização. (FREIRE, 2001, p. 209).
Nesse sentido, a emancipação humana não acontecerá por
eventualidade, por concessão, mas será uma conquista efetivada pela
práxis humana, que demanda uma luta ininterrupta. Assim, Freire não
defende uma libertação enquanto ponto ideal, fora dos homens, ao qual
inclusive eles se alienam. A liberdade é condição imprescindível ao
movimento de busca em que estão inscritos os homens como seres
inconclusos... “A libertação, por isto, é um parto[...] O homem que nasce
deste parto é um homem novo que só é viável na e pela superação da
contradição opressores-oprimidos, que é a libertação de todos” (FREIRE,
1991, p.35).
De tal modo que a superação dessa contradição é um processo que traz ao
mundo novos seres, não mais opressores, nem oprimido, mas homem
libertando-se. Nesse contexto, A pedagogia do oprimido (1991), constitui a
pedagogia dos homens e das mulheres empenhando-se na luta por sua
emancipação. A origem da pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista
e libertadora, “deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens
em processo de permanente libertação”. (FREIRE, 1991, p. 41).
Destarte, o processo de emancipação humana na perspectiva de Freire
contempla o processo de humanização tanto do oprimido quanto do opressor.
Essa luta unicamente tem sentido quando os oprimidos, ao buscarem
reconstruir sua humanidade, não se sentem idealistamente opressores, nem
se tornam, de fato, opressores dos opressores, mas restauradores da
humanidade de ambos. “E aí está a grande tarefa humanista e histórica
dos oprimidos – libertar-se a si e aos opressores.”(FREIRE, 1991, p.30):
A desumanização, que não se verifica apenas nos que têm sua humanidade
roubada, mas também, ainda que de forma diferente, nos que a roubam, é
distorção da vocação do ser mais... Na verdade, se admitíssemos que a
desumanização é vocação histórica dos homens, nada mais teríamos que
fazer, a não ser adotar uma atitude cínica ou de total desespero. A luta pela
humanização, pelo trabalho livre, pela desalienação, pela afirmação dos
homens como pessoas, como “seres para si”, não teria significação. Esta
somente é possível porque a desumanização, mesmo que um fato concreto na
história, não é, porém, destino dado, mas resultado de uma “ordem” injusta
que gera a violência dos opressores e esta, o ser menos. (FREIRE, 1987,
p.30).
Assim, emancipação na perspectiva de Freire é apropriar-se e experimentar o
poder de pronunciar o mundo, a vivência da condição humana de ser
protagonista de sua história. Freire nos possibilita um projeto de educação
popular que almeja a libertação, humanização e emancipação humana. Sua
pedagogia caminha “em torno de uma ontologia social e histórica. Ontologia
que, aceitando ou postulando a natureza humana como necessária e
inevitável, não a entende como uma a priori da História. A natureza humana se
constitui social e historicamente”. (FREIRE, 2000, p.119). A emancipação
consiste num fazer cotidiano e histórico permeado de desafios, sonhos,
utopias, resistências e possibilidades. “Vocacionado à Liberdade, o ser
humano busca responder através de sua disposição de cavar, sem cessar,
espaços de autonomia, em vista de um renovado compromisso com a causa
emancipatória, seja no plano pessoal, seja no âmbito coletivo” (CALADO,
2001, p. 55). Freire busca realizar o sonho político a favor da emancipação
humana. Esta tarefa, no entanto, “não pode ser proposta pela classe
dominante. Deve ser cumprida por aqueles que sonham com a reinvenção da
sociedade, a recriação ou reconstrução da sociedade”. (FREIRE, 2001, p.49).
Libertação e opressão, porém, não se acham inscritas, uma e outra, na
história, como algo inexorável. Da mesma forma a natureza humana, gerando-
se na história, não tem inscrita nela o ser mais, a humanização, a não ser
como vocação de que o seu contrário é distorção na história... Homens e
mulheres, ao longo da história, vimo-nos tornando animais deveras especiais:
inventamos a possibilidade de nos libertar na medida em que nos tornamos
capazes de nos perceber como seres inconclusos, limitados, condicionados,
históricos. Percebendo, sobretudo, também, que a pura percepção da
inconclusão, da limitação, da possibilidade, não basta. É preciso juntar a ela a
luta política pela transformação do mundo. A libertação dos indivíduos só
ganha profunda significação quando se alcança a transformação da sociedade.
(FREIRE, 1997, p. 100).
REFERÊNCIAS
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