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ESTUDO DO TEXTO

O que seria educação popular nesse contexto? A Educação Popular defende


que só pode haver uma sociedade justa e democrática se as classes oprimidas e
discriminadas tomarem consciência de suas condições de vida e das raízes dos
problemas que as afetam. Ou seja, a educação popular oferece oportunidade do
sujeito se reconhecer como um sujeito critico e que pode entender seu próprio
contexto a fim de muda-lo se visse que fosse necessário. Portanto, fica
subentendido que é uma educação que oferece portas e novos olhares acerca da
sociedade e do papel do cidadão na própria, fazendo com que se torne uma
ameaça para um sistema que desvaloriza a emancipação popular e a consciência
de classe. “A Educação popular tem como princípio a participação popular, a
solidariedade rumo à construção de um projeto político de sociedade mais justo,
mais humano e mais fraterno. A Educação popular acompanha, apoia e inspira
ações de transformação social. Nela, o processo educativo se dá na ação de
mudar padrões de conduta, modos de vida, atitudes e reações sociais. Portanto,
se a realidade social é ponto de partida do processo educativo, este volta a ela
para transformá-la. (WERTHEIN, 1985, p. 22)” (p. 2)

Acreditamos que a Educação popular pode contribuir para reacender “a chama


da esperança” das classes populares, pois propõe uma relação educativa que vai
além do trabalho com conteúdos escolares, vai em busca da formação do
homem-pessoa, ao invés do homem-coisa, do homem como um ser social
comprometido com as causas de seu tempo, insatisfeito, curioso, sonhador,
esperançoso e fundamentalmente transformador.

A educação popular nasceu fora do Brasil, e com sua identidade


emancipatória e inclusiva, abrangeu-se para diversos lugares fora do contexto
escolar; como por exemplo: Sindicatos, nas ONGs, Associações de Moradores,
Reuniões do Orçamento Participativo (OP), nos conselhos populares etc. Todo
espaço que trabalhe as relações humanas teve participação da educação popular.

“A forma como a sociedade capitalista organiza-se hoje é bem diferente do


período em que os debates sobre Educação popular iniciaram-se. O mundo
mudou. As formas de controle e de poder mudaram; estão mais complexas e
sofisticadas e, portanto, difíceis de ser identificadas por olhos menos
atentos. Nunca foi tão contrastante a distância entre os saberes produzidos
pela humanidade e a precariedade da vida.” (p. 2)

Isso significa que teremos que considerar a forma de controle da sociedade atual
para podermos compreender mais a fundo a maneira em que há o controle e
dominação das classes oprimidas. E também, entender que para cada época,
tem-se formas diversas de controle.

A distância mencionada se refere a distinção dos saberes que são produzidos


pela própria humanidade, como por exemplo, os saberes disciplinares, para com
os saberes que são proporcionados por condições de vidas precárias, evento que
ocorre nas classes mais exploradas.

“Cada vez mais, o capitalismo se “[...] constitui um excelente ambiente para


dinamizar a produção, mas não soube até hoje criar mecanismos eficientes de
distribuição. Na realidade, a própria estrutura de poder gerada pelos privilégios e
pelo enriquecimento de minorias torna inviável a distribuição equilibrada”
(DOWBOR, 1995, p. 10).Esse contexto provoca-nos inquietações, indignação e
inconformismo. Temos motivos de sobra para retomar o debate sobre a
Educação popular, pois entendemos que este é um território que ainda não foi
totalmente colonizado pelo modelo neoliberal. É justamente em uma situação
como a que vivemos hoje que o trabalho, em uma perspectiva popular, ganha
novas dimensões. A Educação popular apresenta-se como um movimento de
resistência, de “descolonização dos horizontes”, como uma possibilidade de
“abrir janelas” (p. 2)
“O que possibilita à Educação popular ser um território de reinvenção do modo
como estamos vivendo e, portanto, de transformação do mundo é o fato de estar
organicamente vinculada aos princípios da educação dialógica proposta por
Paulo Freire (1987); nesse sentido, jamais dicotomiza o homem do mundo,
respeita a vocação ontológica do homem de ser mais, estimula a criatividade
humana, ama a vida em seu devir (é biófila), valoriza a relação educador-
educando e educando-educando, reconhece o homem como um ser histórico, da
práxis, e tem do saber uma visão crítica, pois este encontra-se submetido a
condicionamentos históricos-sociológicos, uma vez que não há saber sem busca
inquieta, sem a aventura do risco de criar.” (p. 3)

 Com a segunda guerra mundial, a conjuntura internacional sobre os temas


sobre democracia proporcionou que houvesse um interesse nacional
voltada para a educação da massa, principalmente do homem do campo,
visto que era um sujeito que apenas conhecia o empírico, ou seja, tudo
aquilo que ele vivenciava no campo, sem que houvesse uma extensão
desse conhecimento de vida para noções acerca de leitura, escrita, higiene
e convivência social com diferentes grupos.
 Discussão acerca do EJA, educação bancaria e uma reformulação do
ensino para que não houvesse educação bancária. Esse período (final da
década de 50) foi marcado por mobilizações em favor da Educação
popular. Nele se iniciou uma luta para que se mudasse a visão
preconceituosa que se tem sobre o analfabeto, como um ser incapaz,
deficiente.
 Para Freire, a Educação não poderia ser vista apenas como ferramenta
para a transmissão de conhecimentos e reprodução das relações de poder
instituídas no capitalismo, como acontecia na Educação bancária (cf.
FREIRE, 1987), mas, sim, como uma ação capaz de libertação e
emancipação das pessoas. “Uma prática cultural libertadora deveria
envolver um trabalho intelectual de reelaboração dos elementos
ideológicos da tradição de um povo”
 Na primeira metade dos anos 60, os movimentos voltaram-se à promoção
da cultura popular, questionando-se não apenas sobre a “[...] forma
ingênua e folclórica” (FÁVERO, 1983) como se pensava a cultura do
povo brasileiro, mas também, e principalmente, sobre os usos políticos de
dominação e alienação da consciência das classes populares. Começaram
a brotar, no Brasil, movimentos voltados para a promoção da cultura
popular, dos quais Freire participou. Juntamente com outras pessoas,
fundou e participou do Movimento de Cultura Popular de Recife
(MCP)7 . Esse movimento tinha a intenção de levar a todas as pessoas a
cultura produzida pelo povo. O MCP pretendia trabalhar com educação e
cultura popular. Mais do que levar a cultura8 , pretendiam resgatar, nas
pessoas, o seu potencial criador. Reafirmavam, na prática, que todo ser
humano produz cultura na sua relação com o outro e com o mundo.
 Nessa educação para a liberdade, a partir da participação no círculo de
cultura10 , os homens e as mulheres se redescobririam como produtores
de cultura, compreenderiam a relação do ser humano com a natureza e a
possibilidade de transformarem o mundo por seu potencial criador.
Perceberiam que a Educação não é algo distante da vida, mas, sim, a
possibilidade de recriá-la e, assim, vivê-la melhor. Freire propunha a
conscientização11 , não a transmissão ou memorização das letras. Essa
experiência de alfabetização, a partir dos princípios da educação para a
liberdade, procurava superar a educação domesticadora, ou Educação
bancária como assim denominou. Para Freire, a Educação popular seria
um espaço em que o homem ultrapassaria sua situação de homem-objeto a
homem sujeito-histórico transformador.
 Com a ditadura, o poder que o povo poderia ter foi cessado, pois a
censura controlava a mídia, o voto era restringindo a somente
determinadas situações, a educação popular era caçada, e todo possível
agrupamento da massa era desfeito para que o regime não fosse
ameaçado.
 Com objetivos políticos de silenciamento dos movimentos de Educação
popular, em 1967, o governo militar cria o Movimento Brasileiro de
Alfabetização (Mobral). O Mobral fazia restrições claras à concepção
político-filosófica de Paulo Freire. Esse movimento estimulava o
individualismo e a adaptação à vida moderna, enfatizando a
responsabilidade pessoal pelo êxito ou fracasso e tentando afastar a
possibilidade de resistência ao modelo instalado.
 Movimentos populares iam surgindo, possibilitando que a massa pudesse
ser ouvida, mesmo com a censura e opressão. Dito isso, a época em que
esses movimentos surgiram, fora chamada de época não perdida, pois foi
uma época de bastante luta. Esses movimentos lutavam pela liberdade do
povo, e de uma melhor vida social para aqueles que eram menos
favorecidos.
 Com o processo de democratização, novas manifestações encheram as
praças e ruas do Brasil. Em 1984, a luta pelas “Diretas” foi o maior
movimento de massas que o Brasil já viveu. Outra grande mobilização
popular foi em defesa da Assembleia Nacional Constituinte, que resultou,
em 1988, na nova Constituição Nacional, conhecida como “constituição
cidadã”, por trazer em seu bojo algumas conquistas da classe
trabalhadora, dentre elas, o direito ao voto do analfabeto e a
obrigatoriedade, juntamente com a gratuidade do ensino fundamental,
independente da idade de quem o procure.
 A nova onda do neoliberalismo proposta por Fernando Collor de Melo e
FHC e fatalidade.
 Acabar com a esperança de que um outro mundo é possível parece ser o
intento do neoliberalismo.
 Cair na desesperança, no sentimento de impotência é se entregar ao
fatalismo, e nele “[...] não é possível juntar forças indispensáveis para o
embate recriador do mundo” (FREIRE, 1992, p. 10), além do que esse
sentimento de impotência é reflexo da forma como as forças de poder
atuam em nossa subjetividade.
 A razão indolente busca desmoralizar o presente, tendo como foco o
futuro. O presente, nessa perspectiva, se configura apenas como um meio
entre o passado e futuro, e que as experiencias sociais vividas no presente
não apresentam valor algum. Ao reduzir o presente, a razão indolente
produz nas subjetividades o sentimento da não-existência 18, reforçando a
ideia de que nada está acontecendo ou vai acontecer e, por isso, não temos
nada a fazer, uma vez que o futuro já está definido. A partir dessa lógica
nasce o desânimo, a descrença, a falta de esperança, o pensamento
fatalista de fim da história.
 Boaventura de Sousa Santos (2001) detecta dois grandes movimentos de
globalização: a “globalização hegemônica”, liderada pelas empresas
transnacionais, pelos organismos financeiros internacionais e capitalistas
dos países centrais, e a “globalização contra-hegemônica”, representada
pelos movimentos sociais, ONGs progressistas e que vem se articulando
nos Fóruns Sociais Mundiais. Esses movimentos ocorrem a partir das três
principais contradições vistas por esse autor no período atual: entre o
global e o local; entre o Estado-Nação e o não-Estado transnacional; e
entre os que veem a globalização neoliberal como inexorável e os que
apontam um caminho alternativo de caráter anticapitalista.
 Após a grande resistência dos movimentos populares na década de 80,
podemos reafirmar, a partir de Freire (2000), que essa concepção de
Educação e metodologia (educação popular) tem muito a contribuir na
resistência das classes populares no jogo de disputas de forças, às vezes
invisíveis, que sustenta o capitalismo neoliberal.
 A Educação popular é um território de denúncias e anúncios de que a
história não chegou ao final; por isso é importante ressaltar que: Nenhuma
realidade é porque tem que ser. A realidade pode e deve ser mutável, deve
ser transformável. Mas, para justificar os interesses que obstaculizam a
mudança, é preciso dizer que “é assim mesmo”. O discurso da
impossibilidade é, portanto, um discurso ideológico e reacionário. Para
confrontar o discurso ideológico da impossibilidade de mudar, tem-se de
fazer um discurso também ideológico de que tudo pode mudar. Eu não
aceito, eu recuso completamente essa afirmação, profundamente
pessimista, de que não é possível mudar. (FREIRE)

Falar em Educação popular, hoje, é falar do conflito que move a humanidade; é


falar dos sonhos e ao mesmo tempo dos sofrimentos humanos. É falar de uma
perspectiva de Educação cujo ponto de partida é a realidade social, que tem
como objetivo reacender “a chama da esperança”, a crença de que “um outro
mundo é possível”, por meio de novas formas de participação social, rumo à
construção de uma sociedade mais justa e mais humana. É por essa
experimentação do homem no mundo, e vice-versa, que se adquire
conhecimento e se cria o inédito viável, motivo pelo qual a Educação popular,
desde seu nascimento, não concebe o educando como “recipiente vazio”
(FREIRE, 1974), mas como um ser pensante, curioso e criativo. A Educação
popular procura construir uma relação dialógica entre educador e educando. O
diálogo é o caminho para o conhecimento, pois, por meio dele, inicia-se a
construção de vínculos mais verdadeiros entre as pessoas envolvidas. O
educador busca problematizar a situação em questão, estimulando o educando a
observar pontos que não havia percebido, a olhar um mesmo tema por outro
ângulo, a comparar situações semelhantes ou divergentes.

“o futuro não é, por exemplo, a pura repetição de um presente de insatisfações.


O futuro é algo que vai ‘se dando’, significa que o futuro existe na medida em
que eu ou nós mudamos o presente. E é mudando o presente que a gente fabrica
o futuro; por isso, então a história é possibilidade e não determinação. (FREIRE,
1995, p. 90)” (p. 14)

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