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Universidade Estadual de Campinas

Faculdade de Educação
Nome: Laura Pazini Rolindo 245022
Disciplina: EP165 A
Docente: Dra. Luciane Muniz R. Barbosa

Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire (1968) e suas relações com a disciplina


Política Educacional

Introdução
“Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.”
A partir desse trecho, sabemos que, desde a Constituição Federal de 1988, a
educação de qualidade e para preparo do exercício da cidadania é um direito
proclamado para todos os cidadãos. Mas será que ele é atendido?
De acordo com os dados encontrados no Observatório do PNE (Plano Nacional de
Educação), em 2019, apenas 51.5% de alunos têm aprendizagem adequada (por
adequada, utiliza-se o conceito de avaliação do SAEB).
Como observado, “[...] o Estado mostrou-se refratário, em diversas esferas, a
efetivar tais direitos” (OLIVEIRA, T). Os motivos são bem controversos: uns
acreditam ser falta de recursos, falta de interesse da população na educação,
deficiência na formação de profissionais da educação, entre outros. Não é meu
objetivo aqui discutir quais são ou não são verdade, mas sim, propor a reflexão
sobre um dos motivos que, para mim, é de grande influência nesses dados: a
vontade do Estado de manter sua população sem acesso à educação,
principalmente crítica.
Desenvolvimento
Paulo Freire cria o conceito de educação bancária, e no livro Pedagogia do
Oprimido, o explora, relacionando com uma educação que ele propõe, a libertadora.
Na pedagogia tradicional, a mais frequente nas escolas de nossa sociedade, é que
a educação bancária se faz presente. “Quatro vezes quatro, dezesseis; Pará, capital
Belém” (FREIRE, 1974, p.80) O autor exemplifica, com essas duas frases, como
esse ensino conduz os educandos a uma memorização mecânica, sem realmente
pensar o motivo, o porquê.
Por isso o termo 'bancária', os educadores são os sujeitos e depositam o
conhecimento nos alunos, que por sua vez, são o objeto e servem como recipiente,
recebendo informações pacientemente, memorizando-as e repetindo-as.
“Na visão “bancária” da educação, o “saber” é uma doação dos que se julgam
sábios aos que julgam nada saber [...] A rigidez destas posições (educador e
educando) nega a educação e o conhecimento como processos de busca”
(FREIRE, 1974, p.81)
Já a educação libertadora, propõe a superação dessa desigualdade entre educador
e educando, fazendo com que ambos participem ativamente e sejam, ao mesmo
tempo, educadores e educandos, e ao invés de haver uma doação do saber, haverá
um pensar autêntico, o pensar crítico.
Como já falado, a educação bancária é a dominante em nossa sociedade, e para
Paulo Freire, há um motivo. Os alunos terem pensamento crítico não é proveitoso
para os opressores, que querem a manutenção do sistema de opressão, com a
classe oprimida apenas aceitando passivamente sua condição submissa, ao invés
de tendo consciência dela e tentando revertê-la.
Vitor Paro, em seu artigo sobre Implicações do caráter político da educação para a
administração da escola pública, analisa essa visão do interesse político dentro da
escola:
“O saber escolar, por seu conteúdo universal, estaria assim a serviço de
todos, não devendo submeter-se a interesses de grupos ou pessoas. Esta
posição, defendida principalmente pelos setores dominantes da sociedade e
do Estado, dissemina-se amplamente na mídia e entre as populações
desprovidas de uma concepção crítica da realidade social.” (PARO,
2002)
Essa crença de que a escola é um ambiente “neutro” é interessante para as classes
dominantes, que mantém pelo imaginário social essa ideia para convencer a classe
dominada de que o espaço escolar não está dentro das formas de opressão.
Com formas de opressão, busco dizer maneiras do Estado de manter o controle, a
dominação e a manutenção da desigualdade social. Às vezes, essas formas são
mais óbvias, como o abuso de poder por parte de policiais, por exemplo. Já a
escola, a partir dessa análise, faz seu papel de uma maneira mais velada, a partir
da imputação de uma concepção de mundo mais favorável para os opressores,
dentro do senso comum.
Na visão de Paulo Freire, a educação deve ser libertadora, ou seja, oprimidos ao
invés de serem tratados como inferiores e apenas receptores de conteúdo,
acabando por acreditar que não estão sendo manipulados pelos interesses dos
opressores, devem se tornar sujeitos do processo educacional, educando e sendo
educado simultaneamente.
“Já agora ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si
mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo.
Mediatizados pelos objetos cognoscíveis que, na prática “bancária”, são
possuídos pelo educador que os descreve ou os deposita nos educandos
passivos.” (FREIRE, 1974, p.96)
Mas como essa proposta pode ser aplicada, na nossa atual sociedade?
Bom, o direito à educação de qualidade já é garantido por lei, o problema se dá na
prática.
Em sua análise, Oliveira (2013, p.30) enxerga que para o Estado, a educação tem
uma importância apenas pela sua contribuição para o desenvolvimento econômico,
e não para a implicação para a cidadania, participação política e para o
estabelecimento de uma sociedade mais democrática e menos desigual. Considera
que a educação, nesse contexto, tem um “uso instrumental”.
Porém, coloca também que:
“Mesmo se tais declarações se tornam “letra morta”, o fato de serem
reconhecidas na lei cria a possibilidade de luta pela sua efetivação. As
modernas sociedades democráticas encerram, portanto, uma contradição
entre ter de declarar direitos a todos e a resistência social à sua efetivação”
(OLIVEIRA, T., 2013, p. 30)
Ou seja, a população precisa se conscientizar de seus direitos e lutar por eles, para
uma vida digna. Para Paulo Freire, a libertação dos indivíduos desse regime
opressor se dá a partir da reflexão, do reconhecimento de sua vocação de ser mais
(conceito que criou especialmente para representar essa conscientização do ser
humano perante a sociedade).
Ele ressalta a importância dessa reflexão dos oprimidos sobre suas condições
serem não apenas em nível intelectual, mas especialmente por meio da prática
(práxis), e que seja algo vindo deles mesmos, e não “depositado” neles.
“Precisamos estar convencidos de que o convencimento dos oprimidos de que
devem lutar por sua libertação não é doação que lhes faça a liderança
revolucionária, mas resultado de sua conscientização” (FREIRE, 1974, p. 74)
Freire reforça que, os oprimidos se engajarem na contestação de suas condições,
deve ocorrer de forma autêntica, a partir da própria consciência da necessidade de
uma mudança. Para que isso aconteça, não deve-se simplesmente cair na
contradição e igualar-se aos opressores, “depositando” nos oprimidos essa
necessidade de uma revolução, mas sim, dar condições para que eles enxerguem
isso sozinhos, como sujeitos, e não como objetos.
“Não há outro caminho senão o da prática de uma pedagogia humanizadora,
em que a liderança revolucionária, em lugar de se sobrepor aos oprimidos e
continuar mantendo-os como quase “coisas”, com eles estabelece uma
relação dialógica permanente.” (FREIRE, 1974, p. 77)
Conclusão
Vimos que a educação de qualidade e visando o preparo para o exercício da
cidadania é um direito a todos os cidadãos brasileiros, mas não é realmente
concedido. De acordo com a análise feita, isso se dá pelo motivo do Estado querer a
manutenção do sistema de opressão, que é feito também, por meio das instituições
escolares.
Para superar isso, os oprimidos devem tomar consciência de suas condições na
sociedade, e como propõe Paulo Freire, uma forma da realização desse objetivo é
por meio da Pedagogia Libertadora, que se difere da atual Pedagogia Tradicional,
onde os alunos são meros objetos receptores, e os professores reproduzem as
exclusões sociais por meio do despejo de informações, que são recebidas pelos
alunos de forma passiva.
Bibliografia:
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1974.

OLIVEIRA, R. L. P.; ADRIÃO, T. Os 25 anos da Constituição de 1988. In: LEITE, Y.;


MILITÃO, S.; LIMA, V. (Org.). Políticas Educacionais e qualidade da escola pública.
Curitiba: CRV, 2013, p. 29-42.)
PARO, V. H. . Implicações do caráter político da educação para a administração da
escola pública . Educação E Pesquisa, 28(2), 2002, p.11-23
BRASIL. Planejando a próxima década: conhecendo as 20 metas do Plano Nacional
de Educação. Ministério da Educação/Secretaria de Articulação com os Sistemas
de Ensino (MEC/ SASE), 2014. Disponível em:
<http://pne.mec.gov.br/images/pdf/pne_conhecendo_20_metas.pdf>.

Observatório do PNE. Disponível em: <http://www.observatoriodopne.org.br/>


Acesso em: 20/06/2022

BRASIL. Constituição Federal de 1988. CAPÍTULO III DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E


DO DESPORTO - Seção I DA EDUCAÇÃO (Art. 205 a 214). Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>

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