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Análise Psicológica (2004), 2 (XXII): 377-386

Ser pai: Transformações intergeracionais


na paternidade

LEONOR SEGURADO FALÉ BALANCHO (*)

Desde o final do século XIX que o conceito inter e multidisciplinar, onde a psicologia e a edu-
de paternidade e a sua vivência concreta têm si- cação, a lei e a jurisprudência, a sociologia e a
do alvo de reflexões e debates. No entanto, só biologia genética têm assento.
desde o início dos anos setenta os estudiosos in- Apesar dos acentuados investimentos teóricos
vestiram intensamente na temática, construindo e empíricos de todas estas ciências e domínios e
teorias, especulando, mas sobretudo investigan- das suas reflexões e implicações conjuntas e par-
do, de formas progressivamente mais abrangen- celares, a dúvida paira hoje sobre se as mudan-
tes e prolíferas (Lamb, 2000). Nos anos oitenta e ças são insignificantes, superficiais e mínimas,
noventa os estudos dedicaram-se essencialmente sem impacte real, ou se há de facto mudanças no
à identificação e caracterização de eventuais mu- papel do pai, oscilando-se entre um discurso aca-
danças nos comportamentos e atitudes do pai na démico dominante e um discurso social inovador
relação com os filhos e na vida familiar – em in- e abrangente (Le Camus, 1997; Coney & Mackey,
terface com as mudanças no papel desempenha- 1998; Lamb, 1992).
do pelas mães, o crescimento das famílias de Com efeito, foram já muitos os autores que
duas carreiras, a consequente educação da prole assumiram que as mudanças estruturais na famí-
em instituições exteriores à família e os impactes lia e na sociedade impuseram inevitáveis mudan-
dos novos formatos de família (Le Camus, 1995; ças e trouxeram “um novo pai” (Belo & Macedo,
Lamb, 1997, 2000). Os avanços da biologia da 1996; Gottman & DeClaire, 1997). Contudo, não
reprodução provocaram igualmente novos olha- existe consonância nesta perspectiva, e são inú-
res sobre as dimensões biológica, social e psico- meras as dúvidas quanto à existência de diferen-
lógica da paternidade (Belo & Macedo, 1996; ças reais e concretas, quantitativas e qualitativas,
Sullerot, 1993). Estudar o papel do pai na actual nos seus comportamentos enquanto progenitores
sociedade ocidental transformou-se, assim, numa (Cherlin, 1998).
tarefa só entendível através de uma perspectiva A visão de um possível “pai reconstruído” é
entendida por alguns como não mais do que uma
esperança do mundo ocidental e industrializado
– quer dos grupos científicos e dos activistas so-
ciais, quer das próprias mulheres desejosas em
(*) Universidade Lusíada e Escola Superior de Edu- partilhar uma função que as sobrecarrega – e
cação João de Deus. bem longe de uma realidade objectiva (Sullerot,

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1993). Para esses autores, o fenómeno a que assis- insustentável, mais do que como duas formas
timos é o da “nova mulher”, entendendo que após complementares de ser homem (Mackey, 1985).
a entrada no mundo do trabalho na década de Os dados empíricos mais recentes parecem
sessenta, com uma sobrecarga de tarefas conse- indiciar, no entanto, a complementaridade das
quente à acumulação das responsabilidades do- funções, comportamentos e atitudes de pai e
mésticas, e ao ver-se mãe só – por escolha bio- mãe, justificando a importância central de ambos
lógica, imposição ou divórcio – a mulher dese- no processo de desenvolvimento dos filhos e a
jou, idealizou e tentou construir um novo par- sua especificidade funcional (Lamb, 1997). A
ceiro, transformado nas suas funções familiares, percepção subjectiva que os pais actuais têm da
e mais apoiante e interveniente na educação dos sua função – a par da mãe e da sociedade em ge-
filhos. ral – é claramente determinante do seu compor-
Descrentes num pai transformado, muitos de- tamento e atitudes (Fthenakis & Kalicki, 1999;
fendem mesmo que, nos últimos anos, em vez de Smetana, 1994). Em consequência, e a nosso ver,
se tornar mais próximo dos filhos e envolvido na a comparação dessas percepções com a concep-
sua vida e formação, foi sendo excluído e foi-se ção e o entendimento que a anterior geração teve
excluindo do papel de educador, em consequên- sobre essa função pode ajudar a compreender se
cia do divórcio ou das situações de “gravidez há evolução e transformação, e em que sentido
sem pai” – sejam as provenientes da fertilização caminha.
in vitro ou as inerentes aos casos de mães soltei- Face a estes pressupostos, foi realizada uma
ras, cada vez mais frequentes nas actuais socie- investigação que pretendeu caracterizar as per-
dades ocidentalizadas (Amato, 1994, 1998; Got- cepções relativas aos significados, funções e
tman & DeClaire, 1997). valorações inerentes à actual paternidade, na
sociedade portuguesa e num grupo social e eco-
Mantém-se a certeza de que, ainda que pos-
nómico específico, comparativamente com as
sam ter acontecido algumas mudanças discretas
significados, funções e valorações dos seus as-
no papel do pai nas últimas duas décadas, quan-
cendentes e dos seus descendentes. A partir des-
do comparado com a mãe ele continua a ter uma
sas percepções avaliou-se como cada um vê, vi-
função de menor envolvimento na socialização
vencia, experimenta, experimentou ou imagina
das suas crianças, nas tarefas diárias que dizem
experimentará o papel desempenhado pelo pai,
respeito, não só à sua educação, quanto à sua so-
para depois se identificarem e particularizarem
brevivência. Por todas estas razões, os pais fo- eventuais mudanças nessas percepções e vivên-
ram já largamente conotados de forma negativa: cias ao longo das últimas quatro décadas.
como inacessíveis, insensíveis, inadequados, in-
competentes e inconsistentes na percepção des-
critiva de que desfrutam, nas expectativas que PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
criam e no comportamento que desempenham
(Belsky, 1984; Mackey, 1985). Foi realizada uma investigação de tipo quali-
Neste debate surgiram ainda aqueles que con- tativo, de estilo fenomenográfico (Marton & Booth,
sideram que a ausência ou a presença de diferen- 1997; Richardson, 1999).
ciações entre o pai das últimas gerações está Conhecer a variação na consciência sobre o
essencialmente dependente das metodologias e mundo e na forma de entender a experiência,
opções de investigação utilizadas, que impedem através das representações pessoais e colectivas
as adequadas comparações (Lamb, 1998). dos fenómenos, tem sido um dos principais
Com toda esta rede entrelaçada de posiciona- objectivos da fenomenografia (Kroksmark, 1987,
mentos e vivências, é certo que muitos pais ain- cit. in Marton & Booth, 1997). Ela usa-se de pro-
da se vêem como tendo meramente um papel de cessos analíticos que se tentam afastar de algu-
suporte e apoio na educação dos filhos (Kelley, mas das críticas feitas às metodologias qualita-
1997; Kelley et al., 1998), não se vislumbrando tivas e associa a busca da compreensão profunda
como actores principais na formação da prole. da experiência com o rigor científico (Richard-
Ser soldado e ama de crianças pode ainda surgir son, op. cit.). É uma abordagem apoiada empiri-
no imaginário masculino como uma contradição camente, que tem como intenção identificar as

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formas qualitativamente diferentes com que as em discussão com psicólogos treinados, refor-
pessoas entendem, conceptualizam, e vivenciam mular e aperfeiçoar o fraseado ou a linguagem.
as suas experiências. A perspectiva é assim in- Foram finalmente concluídas as versões finais
terior, de dentro daquele que a experimenta. das três entrevistas semi-estruturadas: uma para
Não se estuda o fenómeno como ele é, mas sim aplicar a pais, outra a avós e outra para aplicar às
como ele parece a quem o vê ou vive, pelo que crianças. A dos pais e dos avós é quase coinci-
não faz sentido ter uma atitude crítica ou céptica dente, com pequenas diferenças que se prendem
relativamente à perspectiva que dele tem o com a centração no presente ou simultaneamente
sujeito avaliado. Este descreve o que pensa, e no presente e no passado. Globalmente, a entre-
essa descrição é aceite no seu valor factual, dado vista das crianças era simplificada na formulação
que expressa o seu conhecimento e o sentido que de algumas das questões, colocando menos des-
ele dá às acções pessoais ou sociais (Bligh, 1993, dobramentos ou usando uma linguagem mais fá-
cit. in Richardson, 1999). O que está em jogo cil, e omitia uma questão (relativa a eventuais
não é descrever o mundo, mas sim descobrir a diferenças entre passado e presente), tendo no
perspectiva das pessoas sobre esse mundo. É por entanto outra em substituição (questionando so-
isso uma abordagem à investigação com caracte- bre o futuro). Por estas razões, nos dados agora
rísticas relacionais, experienciais, conceptuais e aqui em análise apenas analisaremos questões
orientada para os conteúdos (Marton, 1986). O apresentadas aos pais e aos avós.
presente estudo, assim realizado de acordo com a As entrevistas aos pais e avós focalizaram-se
fenomenografia, é eminentemente exploratório, sobre a percepção destes dois grupos relativa-
com um formato de análise de casos múltiplos e mente às características da paternidade em ter-
de investigação não experimental. O objectivo e
mos (a) da sua caracterização; (b) da interacção,
o design são, como referimos, descritivos (Sprenkle
formato comunicacional e tarefas educativas
& Moon, 1996).
realizadas pelo pai no dia a dia; (c) das emoções
A entrevista semi-directiva foi o instrumento
associadas à paternidade e relevância que lhe é
de excelência escolhido, pela análise indutiva de
atribuída; (d) da presença e responsabilidade na
discurso que possibilita. Como referia Richard-
interacção com os filhos; (e) da identificação das
son (1999, p. 14) «o que é necessário é uma abor-
actividades de prazer no processo relacional
dagem reflexiva que leva em linha de conta a re-
lação social entre investigadores e os seus infor- pais-filhos; (f) da comparação da paternidade
mantes, e a natureza construída da entrevista de com as funções da maternidade; (g) da compara-
investigação (...) chamada por Bourdieu objecti- ção do entendimento e concretização da paterni-
vação participante.» dade na actual geração e na anterior.
As entrevistas variam no grau de estrutura e Relativamente à amostra de avós, era nossa
formalidade, e incluem um leque de perguntas expectativa encontrar um grupo recém-aposen-
que pode ser classificado num contínuo de sen- tado (dado o leque etário dos filhos e o facto dos
sibilidade (Gay, 1996). Num dos extremos do con- netos se encontrarem ainda na segunda infância),
tínuo, e de acordo com o instrumento desenvol- com uma capacidade de elaboração em redor das
vido expressamente para este trabalho, temos ques- questões que fosse adequada ao tempo disponí-
tões de natureza factual e caracterial, do tipo vel e aos anos em que a reflexão, sobre a vida e
«Quantos filhos tem»; no outro extremo do con- o passado é, pressupostamente, já uma constante
tínuo estão questões que lidam com práticas («O do pensamento.
que gosta mais de fazer com o seu filho?») e com As entrevistas tiveram lugar, na sua maioria,
valores, sentimentos, crenças, opiniões («Sente nas escolas donde provinham as crianças, mas
que foi um bom Pai?» ou «Porque é que o Pai é muitas foram realizadas nas casas ou empregos
importante?»). dos entrevistados, em particular no caso dos avós
Após a construção das entrevistas, que depen- e de alguns pais mais arredados da instituição
deram da compreensão e conhecimento da litera- escolar frequentada pelos seus filhos. Todas fo-
tura sobre o tema da paternidade, foram feitas ram realizadas pela autora deste trabalho, que
seis entrevistas-teste (duas a pais, duas a avós e possui treino específico em procedimentos de in-
duas a crianças) que permitiram, pela prática e vestigação e já participou, como entrevistadora,

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noutros estudos qualitativos. Foram todas grava- dade. As famílias eram oriundas de um extracto
das em áudio com autorização do entrevistado. social médio alto e a amostra foi construída a
Cada entrevista feita a adultos, pais ou avós, partir dos alunos de escolas privadas da região
durou em média cerca de uma hora e meia. da grande Lisboa.
Nas entrevistas realizadas identificámos seis A determinação do envolvimento de sujeitos
grandes temáticas categoriais, surgidas a partir oriundos deste tipo de escolas facilitava a homo-
das respostas às questões colocadas: (1) conceito geneização da população do ponto de vista das
de pai; (2) prazer de ser pai; (3) satisfação com a idades e dos níveis socio-económicos. Partimos
percepção do pai; (4) importância da paternida- do pressuposto que os pais das famílias de classe
de; (5) definição das funções de pai e de mãe e média-alta são por excelência indivíduos com
(6) diferenças e semelhanças entre duas gerações vidas profissionalmente bem sucedidas, e por-
de pais. No presente artigo apresentam-se os da- tanto intensas e absorventes, com tudo o que isso
dos específicos a este último ponto. As questões implica relativamente ao tempo para dedicar à
de entrevista respectivas colocadas foram as se- família. Tolson (1977) defende que aquilo que
guintes: distingue os homens da classe trabalhadora e da
classe média são os tipos de masculinidade pos-
Guião de pais (2.ª geração): síveis quando um homem ganha uma jorna
– «Acha que o seu pai foi um pai diferente da- versus um salário, trabalha pelo relógio em vez
quilo que o senhor é hoje ou foi semelhante? Se de trabalhar por marcação de reuniões, tem
foi diferente, qual a diferença? A que a atribui?» insegurança laboral e medo de se acidentar em
vez de segurança no trabalho. Diz ainda que há
Guião de pais (1.ª geração): um tipo diferente de homem e de masculinidade
– «Acha que o seu filho é um pai diferente da- que advém da vida profissional em corredores
quilo que o senhor foi ou é semelhante? Se é di- com escritórios ou salas pessoais de trabalho,
ferente, qual a diferença? A que a atribui?» reuniões, telefones, nomes na porta, comparada
com a masculinidade surgida das relações de fra-
ternidade a comer o almoço em qualquer canto
da fábrica ou do estar confinado a espaços pe-
CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA quenos, desagradáveis e comunitários. É seu en-
tendimento, ainda, que os homens de classe mé-
A amostra incluiu doze pais nascidos entre dia estão mais isolados que os da classe baixa,
1958 e 1967, doze pais nascidos entre 1919 e 1934 mais enredados em lutas individuais para o su-
e doze crianças (7 rapazes e 5 raparigas) nasci- cesso e têm, eventualmente, um trabalho mais
das entre 1990 e 1994. Ao longo do estudo e da envolvente, em termos de tempo e de identidade
apresentação dos resultados referir-nos-emos à pessoal. Afirma Seidler (1994) que a criação e
amostra de avós como a 1.ª Geração, à dos pais manutenção de uma carreira de sucesso nos ho-
como 2.ª Geração e à das crianças como 3.ª Ge- mens da classe média e alta exige deles que a sua
ração, para facilitar a diferenciação entre as sub- personalidade, carácter e competências sociais,
-amostras. juntamente com conhecimento e experiência,
Tratou-se de uma amostra com critérios pré- sejam postas a soldo no mercado de trabalho, e
definidos. Muitas das investigações em ciências trocadas por tensões, stress e exaustão. É igual-
humanas apoiam-se em amostragens de sujeitos mente sua opinião que os homens da classe tra-
“propositadas” ou “teóricas” (Newfield et al., 1996). balhadora se podem tornar mais patriarcais e au-
Há uma intencionalidade apriorística que leva à toritários para fazer contraponto a uma experi-
selecção daqueles que se pretendem estudar, pe- ência profissional em que são subordinados e
lo que se definem critérios, mais ou menos destituídos de poder. A necessidade de dominar é
objectivos e claros, ou listas de atributos que a assim concretizada em casa, na família, a qual
amostra tem de possuir (LeCompte & Preissle, pode ser experimentada como um fardo caso a
1994). E orientou-se pelas seguintes directrizes: única obrigação do homem seja sustentá-la, jus-
família nuclear intacta, avô presente e disponível tificando assim a sua inevitável imersão no mun-
e filhos a frequentarem o 1.º ciclo de escolari- do do trabalho.

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Em contrapartida, o mesmo autor considera impactes de pais e colegas no comportamento
que os homens de classe média e alta tendem a das crianças (Lamb, 2000). Tal não espelha a im-
ser mais poderosos na vida profissional, o que portância dos pais neste período da vida, que em
lhes permite ser, pelo menos em teoria, mais nada diminuiu nem se reduziu, em comparação
igualitários na vida familiar e envolverem-se com anteriores ou posteriores momentos do de-
em posturas de partilha de tarefas e, portanto, de senvolvimento. Se bem que os colegas se tornem
poder. Acedem assim a uma concepção da rela- mais importantes à medida que a criança avança
ção conjugal como uma parceria, mas precisam para a adolescência, os pais não perdem a sua re-
das ajudas da esposa ou companheira dentro da levância: o seu papel transfigura-se mas não en-
família para conseguirem manter o elevado e fraquece. Ainda, a segunda infância é uma etapa
desgastante nível de actividade profissional. da vida marcada por um importantíssimo factor:
A haver veracidade nestes entendimentos, os a entrada na escolaridade formal obrigatória.
homens da 2.ª geração que entrevistámos pode- Este factor traz consigo o abrir de um conjunto
rão ter uma forma de percepcionar a paternidade, de áreas de socialização, estimulação e apoio a
e de a compatibilizar com a sua masculinidade, nível intelectual, o acesso a uma nova área da
bem diferente daquela que obteríamos se tivés- linguagem (a escrita), e o desejo de sucesso es-
semos escolhido estudar pais de classe socio- colar, que colocam à família exigências e postu-
-económica desfavorecida. ras diferenciadas das até aí vividas. Estas par-
Da mesma forma se antecipou que, na sequên- ticularidades e desafios colocam-se mesmo que
cia da feminilização do mercado de trabalho, as as crianças já tivessem estado em instituições pré-
mães da classe social média-alta teriam, tal como -escolares, e portanto a experiência da introdu-
os homens da amostra, carreiras profissionais de ção no mundo social já tivesse acontecido antes.
sucesso e, em consequência, seriam igualmente Por estas razões, a amostra deste estudo centra-
envolvidas de forma absorvente na vida profis- se na faixa etária entre os seis e os dez anos, em
sional. Estes dois factores – o de família com crianças do primeiro ciclo do ensino básico, pre-
dupla carreira e o sucesso e extensa participação tendendo colmatar com materiais empíricos um
em actividades profissionais fora da família – interessante momento do desenvolvimento que
pareceram-nos indicar condições interessantes não tem sido explorado na relação privilegiada
para analisar as eventuais mudanças dos papéis com o pai.
dos pais. O facto de, como veremos, nalgumas O facto de termos escolhido avós ainda pre-
dessas famílias a geração anterior ter vivido com sentes e mais ou menos intervenientes na vida de
um desafogo socio-económico muitíssimo infe- filhos e netos foi igualmente um factor a ter em
rior ao da actual geração, poderia auxiliar-nos a conta para nos permitir as percepções das três
entender uma possível evolução de papéis e fun- gerações diferentes. Avaliar avós desgarrados,
ções associadas a grandes alterações do compor- sem o cuidado de fazerem parte do mesmo siste-
tamento e da presença do pai e da mãe na famí- ma familiar dos filhos, pareceu-nos poder vir a
lia. empobrecer uma caracterização que se desejava
De acordo com Lamb e colaboradores (Lamb, enquadrada contextualmente. Finalmente, foram
Hwang, Ketterlinus & Fracasso, 2001) poucas excluídas da amostra as famílias de pais separa-
investigações têm explorado as características dos, tendo-se estudado apenas agregados fami-
das relações pais-filhos envolvendo crianças liares em que ambos o pai e a mãe co-habitavam
entre os 6 e os 12 anos de idade. Os estudos exis- com os filhos. Ficámos assim com pais que são,
tentes com crianças destas idades preocuparam- pelo menos em teoria, diariamente presentes na
-se mais, até ao momento, em perceber as influ- vida da sua prole.
ências de colegas, professores e instituições edu-
cativas no ajustamento e desenvolvimento infan-
til. Mesmo no caso de estudos com pais de crian- RESULTADOS
ças nestas idades, o aprofundamento tem sido em
redor da influência dos progenitores masculinos As categorias base de análise relativas às res-
no desempenho dos filhos e na motivação para postas encontradas para as questões referidas, di-
esse desempenho, ou ainda na comparação dos videm-se em duas – a caracterização do pai do

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passado e a caracterização do pai do presente – e racterização do pai do passado feita pelo pai do
cada uma delas se subdivide em subcategorias: o presente são, com igualdade de resultados (16.7%),
pai do passado em nove e o pai do presente em o ser compreensivo/dialogante e o ser descon-
sete. Algumas dessas subdivisões são coinciden- traído/lúdico. Nestas duas dimensões o número
tes nas duas categorias, outras não. de ocorrências é muito baixo (2). Esta caracteri-
zação é assim feita pela negativa, indiciando
Comecemos por reflectir sobre como o nosso aquilo que o pai do passado não foi, e comple-
pai actual (2.ª geração) caracteriza o nosso pai menta-se com os resultados da subcategoria in-
do passado (correspondendo, por isso, à repre- titulada não compreensivo/não dialogante, que
sentação que ele tem do pai de 1.ª geração, a tem apenas 33.3% de sujeitos a referi-la. Afir-
partir da experiência que teve com o seu próprio mava um pai: «Eu senti falta de diálogo.» Ou ou-
pai). tro: «O meu pai nem deixava discutir ou opinar
Verifica-se que as subcategorias mais frequen- sobre as situações.»
temente referidas (83.3%) e com um claro nú- Analisemos agora aquilo que os pais do passa-
mero de ocorrências superior (17) são, com re- do pensam dos pais do passado. Presumimos que
sultados equitativos, a característica da prepotên- estes sujeitos, aqui intitulados avós, irão falar da
cia/imposição de autoridade, e a da ausência na representação que possuem para caracterizar a
vida dos filhos. Os resultados estão de acordo sua forma de actuar, como pais, quando os seus
com a percepção social do pai da anterior gera- filhos eram pequenos, eventualmente generali-
ção, não envolvido directamente com as crianças zando para a concepção e percepção colectiva do
(esse papel era da mãe) e fazendo valer da sua pai da anterior geração.
autoridade de chefe de família (Pleck, 1997). Diz Aqui os dados mostram que o aspecto mais
um pai: «Havia uma grande distância com o meu saliente (com 75%) é o da prepotência, confir-
pai... não me lembro de o ver presente.» mando o que os pais haviam dito. Refere um avô:
Também relevantes como subcategorias, com «Eu era mais autoritário do que o meu filho é.»
66.7% de sujeitos a mencionarem-nas, são as ca- Em seguida surge como caracterizador o facto
racterísticas da distância emocional e da acção de ser um disciplinador (66.7%), aspecto que
disciplinadora. Ambas completam o quadro an- surgira igualmente importante junto dos pais de
teriormente feito em relação às subcategorias 2.ª geração. Os avós dão menos relevância que
mais salientes, pois um pai autoritário tende a ter os pais, nesta caracterização, à ausência na vida
como função importante disciplinar, definir e im- dos filhos (58.3%), pondo ao mesmo nível e com
por regras e limites, e um pai ausente da vida dos a mesma percentagem deste aspecto descritivo, o
filhos será um pai emocionalmente distante. A facto do pai do passado não ser compreensivo/
falta de presença física traz como marca a falta /não dialogante e de ser emocionalmente distan-
de intimidade e proximidade afectiva. Dizia um te. Atentemos nesta afirmação de um avô: «Não
pai: «Ele (o meu pai) não aceitava ceder, era uma tinha jeito para meiguices nem mariquices des-
espécie de patriarca.» sas. Hoje o meu filho é todo melado com o meu
A subcategoria que surge como oposta da re- neto.» Referia outro: «Eu era mais distante e mais
ferida ausência é a presença na vida dos filhos, a duro com os meus filhos do que ele (o meu filho)
qual tem um resultado mediano (50%), indici- é com os dele.»
ando que, se bem que a larga maioria considere o Com os resultados mais baixos encontramos o
pai do passado arredado da vida dos filhos (10 ser compreensivo/dialogante, o ser descontraído/
pais), há seis pais que acham que ele era uma fi- /lúdico e o ser inflexível/acomodado (todos com
gura presente. Referia a propósito um pai: «Ele 16.7%). De uma maneira geral, portanto, há coin-
conseguia estar presente, estava lá nos momen- cidência nas imagens de pais e avós sobre o pai
tos cruciais.» do passado, à excepção deste último aspecto, con-
Tentando dar sentido a um aparente paradoxo, siderado relativamente caracterizador do pai do
podemos concluir que na cabeça de alguns pais passado, aos olhos do pais do presente, mas que,
ambas as descrições, num misto de ausência e para os avós, não se enquadra na percepção que
presença, são passíveis de coexistirem. têm da paternidade da anterior geração.
As subcategorias menos referidas, nesta ca- A análise global da categoria, com os dados

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de avós e pais, evidencia a prepotência/imposi- Globalmente, o ser compreensivo/dialogante
ção de autoridade, a ausência da vida dos filhos, (83.3%) e o estar presente na vida dos filhos
a função disciplinadora e a distância emocional, (70.8%) são as características mais marcantes
por esta mesma ordem, como os aspectos mais percepcionadas no nosso pai de 2.ª geração.
relevantes do pai do passado (respectivamente
79.2% , 70.8%, 66.7% e 62.5%).
Ao atendermos à caracterização do pai do pre- CONCLUSÕES
sente, no olhar do próprio pai de 2.ª geração que
estudámos, damo-nos conta de que o aspecto que Os papéis que os pais desempenham na vida
aparece como mais importante é a sua capacida- dos filhos mudaram nas últimas décadas nalguns
de de ser compreensivo/dialogante (83.3%), se- parâmetros (Hwang & Lamb, 2002). Os estudos
guido de estar presente na vida dos filhos (75.0%) qualitativos e quantitativos assim o têm indicia-
e de, em paridade, partilhar o poder conquistan- do (Fthenakis & Kalicki, 1999). Os pais contem-
do a autoridade, e ser descontraído e lúdico (66.7%). porâneos (especialmente aqueles com crianças
Oiçamos alguns pais, a este propósito: «Ao fim pequenas) têm de si mesmos a percepção de pos-
de semana não perco nem um bocadinho para suírem uma maior responsabilidade pelo cuidado
brincar com eles»; «Eles (os filhos) só nos res- diário dos filhos, e a evidência empírica demons-
peitam se os soubermos respeitar. Se fossemos tra que passam mais tempo com eles do que pas-
autoritários, eles tinham medo de nós. Essa não é savam os pais de gerações anteriores (Lamb, 1997;
a maneira certa de educar.» Pleck, 1997). Ainda que muitos refiram que a
De forma geral, tende a ser a antítese do pai quantidade de tempo investido pelos pais nas
do passado, já que a autoridade que exerce não é actividades relativas à paternidade não aumentou
imposta mas suave e discretamente conseguida, substancialmente, mas apenas de forma discreta
é uma figura viva no dia a dia dos filhos em vez e modesta, há indicadores de uma maior flexibi-
de estar distanciado dessa vida, e tem a capaci- lidade nos tipos de actividades em que os pais se
dade de compreender e dialogar em vez de dis- envolvem com os filhos (Lamb, 1997). As res-
ciplinar cegamente, e de se descontrair e brincar postas às nossas entrevistas, na comparação
com os filhos, em vez de se manter distante para entre gerações quanto à definição de funções en-
reinar na sua posição de força. tre pai e mãe, e tendo em atenção as especifici-
Os avós apresentam resultados muito seme- dades da nossa amostra, sustentam estes dados.
lhantes aos dos pais, quando caracterizam o pai De acordo com a literatura, apesar da evidên-
da actualidade. Assim, consideram como o seu cia consistente de modestos aumentos nos níveis
aspecto mais saliente que seja compreensivo/dia- de envolvimento, não é ainda clara a consistên-
logante (83.3%, dados iguais aos dos pais), achan- cia generalizada dessa mudança, nem o seu alar-
do que ele é um ser presente na vida dos filhos gamento a todas as culturas e níveis socio-eco-
(66.7%). Diz um avô: «Eles têm muito maior co- nómicos e culturais. Segundo os resultados aqui
municação.» Refere outro: «Agora já têm mais apresentados, os pais e os avós da nossa amostra
abertura para falar de outros temas.» Enquanto apoiam a visão de mudança; na representação
os pais haviam feito sobressair, em seguida a es- que têm do pai consideram que há uma clara trans-
tes dois aspectos mais relevantes, a partilha do formação na forma de definir, conceptualizar e
poder/conquista da autoridade e a capacidade de descrever o pai das duas últimas gerações. Ainda
descontrair/ser lúdico, os avós salientam, ao in- que o tempo de envolvimento ou o grau de res-
vés, um outro aspecto: a sensibilidade/expressão ponsabilidade com os filhos não tenha sido ava-
afectiva (58,3%). É interessante como os avós liado neste trabalho, a perspectiva e concepção
sublinham esta área da capacidade afectiva e ex- de todos os entrevistados é de que há uma mu-
pressiva, que é uma característica que não surge, dança qualitativa, e que essa mudança é no sen-
nem pela positiva, nem pela negativa, na caracte- tido daquele a que aqui chamámos o pai actual
rização do pai do passado. Diz um avô: «Os pais ser percepcionado como mais sensível, mais
de hoje não têm vergonha de dar mimos. O meu presente, mais próximo afectivamente e mais
filho farta-se de dizer ao João (neto) que gosta compreensivo, ou seja, indiciando uma mudança
dele.» para melhor.

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Muitas das diferenças intergeracionais encon- a uma visão de mudança. Se não pudermos falar
tradas entre os pais nos poucos estudos realiza- com certeza, ainda, de mudança de prática, po-
dos foram interpretadas, sobretudo, como dife- demos mais seguramente falar de mudanças de
renças atribuíveis a factores culturais e subcul- crenças e expectativas, e de representações sobre
turais. No entanto, as características individuais o pai (Smetana, 1994). Os pais da nossa amostra
dos pais parecem dever ser uma justificação tão parecem ter sido tocados e expostos, ou cons-
aceitável quanto aquela para explicar essas dife- 'truído, novos entendimentos, actualizados e re-
renças. Assim, tal como refere Lamb (1986, p. 6) formulados, sobre o papel do pai. A socialização
«muitos homens estabelecem objectivos que de- dos avós já ocorreu há cerca de sessenta anos,
pendem das memórias da sua infância, escolhen- tendo eles mesmos sido influenciados pelos pais
do, ora compensar as deficiências dos seus pró- que tiveram. Terão mudado menos em relação a
prios pais, ora emulá-las». esses modelos do que os seus filhos mudaram
Para melhor entendermos o próprio conceito agora em relação a eles? Relembremos que as
de mudança, podemos falar de famílias “tradi- mudanças sociais, familiares, culturais, o claro
cionais” – nas quais os pais estão empregados a acesso à educação e os conhecimentos acessíveis
tempo inteiro e as mães, com ou sem carreira ao grande público sobre psicologia infantil po-
profissional, são quem trata inequivocamente dem ser alguns dos factores justificativos das di-
dos cuidados primários dos filhos, e de famílias ferenças intergeracionais na representação do
com “partilha educativa” – nas quais os pais pai. As próprias expectativas individuais sobre o
dividem, ou assumem na totalidade, a responsa- papel de pai podem ter a força de profecias que
bilidade pelo cuidado diário dos filhos. Há al- se auto-realizam, carregando consigo implica-
guns indicadores pessimistas de que as primeiras ções importantes para o desenvolvimento e a
tendem a manter o formato ao longo do tempo, mudança pessoal (Nsamenang & Lamb, 1995).
enquanto as segundas tendem a progressiva- Este estudo tem naturalmente algumas limi-
mente caminhar para um formato mais tradicio- tações. Uma primeira prende-se com a metodo-
nal (Radin, 1994). As divisões não tradicionais logia de avaliação que se baseia em informação
da responsabilidade educativa parecem assim retrospectiva. Ainda que em si mesma ela possa
ser menos estáveis no tempo que as tradicionais, ser criticável por permitir enviesamentos de in-
facto confirmado por Hwang e Lamb (2002), que formação consequentes ao esquecimento e à re-
justificam este facto: segundo os seus dados em- construção, ao longo do tempo, das memórias,
píricos, o envolvimento parental é uma dimensão neste caso ela está ainda apoiada em situações
relativamente estável, excepto quando os pais vividas actualmente pelos sujeitos. Com efeito,
estão envolvidos de forma intensa por razões que quando aos nossos pais de 2.ª geração se pede
não as suas preferências pessoais e que, portanto, que reflictam sobre a sua experiência enquanto
estão fora do seu controlo. Na nossa amostra, os filhos, eles vão relembrar o passado, mas fazem-
pais que referimos como actuais, ou de 2.ª gera- no no contexto do presente, já que os seus pró-
ção, mostram percepcionar-se como tendo esco- prios pais ainda são vivos e portanto eles ainda
lhido intencionalmente, ou desejar ser, pais mais convivem com a experiência de serem filhos.
presentes e envolvidos, o que nos poderá fazer Quando aos avós (os nossos pais de 1.ª geração)
supor que esta mudança virá a indiciar alterações se lhes pede que analisem a sua experiência
nas práticas, quanto mais não seja porque auto- enquanto pais, eles irão buscar as suas imagens
motivada. Evidentemente que as mudanças asso- da altura em que os filhos eram pequenos, mas
ciadas com o próprio processo de desenvolvi- tendo presente a sua função e relação na actua-
mento e maturação dos filhos tem igualmente lidade, uma vez que estes pais continuam ainda
um peso importante nas mudanças ao longo do hoje, mesmo que diferentemente, a ser pais. Pa-
tempo, dado que as necessidades das crianças, ra a comparação intergeracional que pretende-
em termos de atenção e cuidados, tendem a di- mos atingir, esta metodologia de inquérito com
minuir à medida que eles se independentizam. um pendor retrospectivo pareceu-nos ser a mais
A existência de diferenças nas representações adequada, e ter mais vantagens que dificuldades.
entre os valores e as práticas dos avós e dos pais Uma segunda limitação tem a ver com a dimen-
da nossa amostra vai efectivamente de encontro são da amostra. No entanto, uma investigação

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qualitativa e fenomenográfica como a presente, Coney, N., & Mackey, W. C. (1998). Motivations
deve ser entendida como um estudo de caso, ilus- toward fathering: Two minority profiles within
trativo e inspirador de percepções e representa- the majority’s context. The Journal of Men’s Stu-
dies, 6 (2), 169-188.
ções, mais do que de caracterização representa- Fthenakis, W., & Kalicki, B. (1999). Subjective concep-
tiva de uma população ou de práticas. tions of fatherhood: An expanded approach. Paper
Finalmente, poderemos considerar que a amos- presented at the IXth European Conference on
tra, ao provir de pais voluntários e portanto in- Developmental Psychology, Spetses, September.
trinsecamente motivados, à partida, para o tema Gay, L. R. (1996). Educational research: competencies
da paternidade, que se dispuseram a falar sobre a for analysis and application (5.ª ed.). New Jersey:
Englewood Cliffs.
sua experiência e concepções, particularizou as Gottman, J., & DeClaire, J. (1997). Los mejores padres:
respostas obtidas, trazendo-nos a reflexão de ho- Como desarrollar la inteligencia emocional de sus
mens que já dão suficiente importância à sua hiros. Argentina: Javier Vergara Editor.
paternidade para se disponibilizarem para um es- Hwang, C. P., & Lamb, M. (2002). Father involvement
tudo deste tipo. Este factor, contrariando algu- in Sweden: A longitudinal study of its stability and
mas raras situações empíricas em que os sujeitos correlates. International Journal of Developmental
Psychology, 32, 391-416.
são por alguma razão obrigados a participar no
Kelley, M. L. (1997). The division of family work among
estudo, é no entanto uma quase necessidade a low-income african-americans. Journal of African
que é difícil fugir. American Men, 3, 87-102.
Em termos futuros, cremos que poderá vir a Kelley, M. L., Smith, T., Green, A., Berndt, A., & Ro-
ser interessante analisar se em amostras oriundas gers, M. (1998). Importance of father’s parenting
de níveis socio-culturais diferentes, bem como de to african-american toddler’s social and cognitive
development. Infant Behavior & Development, 21
outras etnias e envolvendo pais, crianças e avós
(4), 733-744.
encontrando-se noutras faixas etárias, confirma- Lamb, M. E. (1986). The changing roles of fathers. In
rão os dados aqui obtidos. A integração das per- M. E. Lamb (Ed.), The father’s role: applied
cepções da população feminina sobre o fenóme- perspectives (pp. 3-27). New York: Wiley.
no da eventual transformação da paternidade, Lamb, M. E. (1992). O papel do pai em mudança. Aná-
poderá ainda ser uma mais valia para trazer luz lise Psicológica, 10 (1), 19-34.
Lamb, M. E. (1997). The role of the father in child de-
sobre esta tão pertinente e actual temática.
velopment (3.ª ed.). New York: Wiley.
Lamb, M. E. (2000). Fathering. In Encyclopedia of Psy-
chology (Vol. 3, pp. 338-341). Oxford: American
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385
Nsamemang, A., & Lamb, M. (1993). Acquisition of educação dos filhos. Perante a ausência, em Portugal,
socio-cognitive competence by NSO children in de investigações neste domínio, o estudo aqui apresen-
the bamenda GR assfields of northwest cameroon. tado, realizado com uma amostra de pais, avós e fi-
International Journal of Behavioral Development, lhos, foi avaliar a eventual transformação das percep-
16, 429-441. ções subjectivas relativas ao papel do pai no decurso
Pleck, J. H. (1997). Paternal involvement: levels, sour- de três gerações. As conclusões vão no sentido de es-
ces, and consequences. In M. E. Lamb (Ed.), The tarmos perante um conjunto de percepções que apon-
role of the father in child development (pp. 66- tam para a concepção de um pai renovado, indiciando
-103). New York: Wiley. uma base estrutural cognitiva que venha a poder ser
Radin, N. (1994). Primary-caregiving fathers in intact suporte de novas expectativas e práticas na relação do
families. In A. E. Gottfried, & A. W. Gottfried pai com a prole.
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dren`s development (pp. 11-54). New York: Ple- cional, percepção.
num.
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phenomenographic research. Review of Educatio-
nal Research, 69 (1), 11-23. ABSTRACT
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Tavistock. other infirming that the father is more intervenient or
present in the child’s life, mainly due to separation and
divorce and excessive work hours. These particular
RESUMO situations have been responsible, some say, for the
separation between father and children. In Portugal,
O estudo psicológico da paternidade e dos seus im- we have no studies whatsoever on the topic. Accor-
pactos em pais e filhos ganhou uma incidência inter- dingly, this article presents part of a research involving
nacional crescente desde os anos setenta. A concepção fathers, grandfathers and children, studying their sub-
de mudança associada à forma de concretizar a pater- jective perceptions on the concept of fathering along
nidade nas últimas gerações tem sido polémica, com three generations. Conclusions highlight subjective
estudos demonstrando mudanças nalgumas das di- perceptions of a renewed father, sustaining possible
mensões da relação pai-filhos, e outros indiciando que tendencies for shifts in expectancies and practices in
os novos formatos de família, muito em particular a the traditional role of the father.
separação e divórcio, e o excesso de horas laborais, Key words: Fatherhood, change, generations, per-
vieram afastar o pai – mais do que aproximar – da ceptions.

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