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Em síntese: O método Paulo Freire de alfabetização é muito mais do que uma técnica de
aprendizagem. Como o próprio autor o reconhece, é uma forma de despertar a consciência
da população simples para a dualidade de opressores e oprimidos que caracteriza a
sociedade atual, segundo P. Freire e outros pensadores. Mediante palavras geradoras o
estudioso visa a suscitar na gente oprimida a conclusão de que é necessária a luta de
classes. Assim a pedagogia se torna pregão político revolucionário. Ademais P. Freire
tenciona extinguir a diferença entre mestre e discípulos, pois “ninguém educa ninguém
nem ensina coisa alguma a alguém”. A escola passa, consequentemente, a se chamar
“círculo de cultura”. Neste a educação é libertadora, problematizadora, e não
domesticadora, bancária ou alienante.
Ora tal sistema deve ser reconhecido como politizante em sentido esquerdista. P. Freire,
exilado do Brasil, tem colaborado com Governos de tendência marxista. Além do quê, é
de notar que, embora professe não querer ensinar coisa alguma, o mestre, segundo P.
Freire, tem o objetivo predefinido de levar os educandos a posições revolucionárias. Os
textos citados no decorrer do artigo ilustrarão e desenvolverão quanto é dito nesta síntese.
A situação de conflito em que vive a sociedade, não será superada por reformas ou por
melhoramento das condições de vida dos trabalhadores; as reformas, em última análise,
atenuam as tensões e diminuem as disposições de luta por uma transformação radical.
É na base destas premissas que Paulo Freire apregoa a alfabetização; esta é, como dito,
mais do que um método de aprendizagem da leitura, pois está inseparavelmente associada
ao intuito de fazer do alfabetizando um agente revolucionário.
É isto que leva a dizer que Paulo Freire não tem apenas preocupações pedagógicas, mas
é também movido por intenções políticas. Aliás, um repórter do Jornal da República de
Recife, aos 31/08/79, interrogou Paulo Freire, de passagem pelo Brasil, a respeito de
eventual filiação a partido político; ao que respondeu o mestre: “Faço política através da
pedagogia”.
“A conscientizaçã o, associada ou não ao processo de alfabetização, ... não pode ser blá-
blá-blá alienante, mas um esforço crítico de desvelamento da realidade, que envolve
necessariamente um engajamento político” (Ação Cultural para a Liberdade, p. 109).
“A educação libertadora não pode ser a que busca libertar os educandos de quadros
negros para oferecer-lhes projetores. Pelo contrário, é a que se propõe, como prática
social, a contribuir para a libertação das classes dominadas. Por isto mesmo é uma
educação política, tão política quanto a que, servindo às classes dominantes, se proclama
contudo neutra” (ib. p. 110).
As palavras geradoras tornam-se, nos cursos mais evoluídos, temas geradores de debates
para todos os participantes do círculo de cultura. Mais importante do que a decomposição
analítica das sílabas e letras que constituem a palavra geradora, é a discussão sobre a
situação desafiadora que tal palavra exprime.
1.2.6. Revolução
O fruto dessa educação dialógica e crítica há de ser, segundo P. Freire, uma revolução
cultural, revolução que se oporá à invasão cultural. Com efeito, os opressores tendem a
impor a sua cultura aos oprimidos, praticando assim uma invasão cultural, que, aliás, os
próprios oprimidos tendem inconscientemente a aceitar; sim, os oprimidos têm, não raro,
medo da liberdade; por isto tendem a conservar os padrões culturais e os mitos que os
opressores lhes incutem.
Em conclusão, verifica-se que o método educacional de Paulo Freire está essencialmente
vinculado a uma ideologia, isto é, a uma visão filosófica que tende a transformar a
sociedade, induzindo nesta uma autêntica subversão. É o próprio Paulo Freire quem o
afirma numa entrevista publicada em “Veja” (20/06/79); o repórter aventou a hipótese de
que a educação de Freire fosse um método “assexuado”, neutro, descomprometido com
qualquer ideologia. Ao que P. Freire respondeu :
“Quem disse isso, ou não entendeu nada ou está de má-fé. Em meu método, parte-se do
conhecimento do meio em que se vai desenvolver a experiência de educação. Toma-se
em consideração o universo vocabular do grupo em questão, as palavras que são utilizadas
todos os dias e que exprimem a vida cotidianas daquelas populações. Desse universo
vocabular são escolhidas as palavras geradoras. Estas palavras encontram em si os temas
de discussão que deverão corresponder aos interesses dos alfabetizados e deverão
constituir o primeiro passo, por meio da discussão em grupo, em direção a uma tomada
de consciência individual e coletiva dos problemas discutidos. Esse aspecto puramente
mecânico poderá ser utilizado por qualquer pessoa: tirar uma palavra geradora de um
universo vocabular também pode ser feito por alguém que pretenda mistificar a realidade
e a consciência dessa realidade. De minha parte, o conhecimento de uma realidade, que
vai sendo construído pouco a pouco a partir da experiência dos alfabetizandos, está
intimamente ligado à consciência crescente da capacidade de mudar essa realidade.
Conhecer para transformar, é este o objetivo. O que ficou sendo conhecido como Método
de Alfabetização Paulo Freire, não é algo que se possa reduzir a um aprendizado
meramente lingüístico. Trata-se de aprender a ler a realidade – conhecê-la – para em
seguida poder reescrever essa realidade – transformá-la” .
1.3. Paulo Freire e a Igreja
Paulo Freire não é hostil ao Cristianismo em seus escritos. Ao contrário, apregoa a
participação da Igreja Católica no processo educacional problematizador. Para tanto,
distingue três tipos de Igreja :
1) A Igreja tradicionalista, que, segundo Freire, está associada às camadas dominantes. O
pensador pernambucano desfigura a Igreja no sentido clássico, fazendo eco, de certo
modo, aos dizeres de Karl Marx sobre “a religião ópio do povo’ Cf. Pedagogia do
Oprimido, pp. 116s.
2) A Igreja modernizante, adepta do desenvolvimento econômico. Esta, embora pareça
diferir da anterior, entretêm a dependência dos oprimidos e não se empenha pela real
libertação das massas, isto é, não colabora com os movimentos de revolução social;
defende as reformas estruturais e não a transformação radical das estruturas; fala em
“humanização do capitalismo”, e não em suta total supressão. Cf. Pedagogia do
Oprimido, pp. 118-124.
3) A Igreja profética. Esta “recusa os paliativos assistencialistas, os reformismos
amaciadores, e se compromete com as classes sociais dominadas para a transformação
radical da sociedade” (Pedagogia do Oprimido, p. 124). Rejeita toda forma estática de
pensar; sabe que, para ser, tem de estar sendo; sabe igualmente que não há um “eu sou”,
um “eu sei”, um “eu me liberto”, um “eu me salvo”, como não há um “eu te dou
conhecimento, um “eu te liberto”, um “eu te salvo”, mas pelo contrário um “nós somos”,
um “nós sabemos”, um “nós nos libertamos”, um “nós nos salvamos”. Este tipo de Igreja
propugna a chamada “teologia da libertação, profética, utópica, esperançosa”, optando
pela transformação revolucionária da sociedade e não pela conciliação dos inconciliáveis.
Para Paulo Freire, a única atitude autêntica do cristão é a profética, pois quem não se
compromete com os oprimidos se compromete com os opressores.
Perguntamo-nos agora:
2. Que dizer ?
Não podemos salientar a intenção fundamentalmente reta de Paulo Freire, que se
preocupa com as massas e o proletariado, visando à promoção dessa parte das populações
do Terceiro Mundo.
Também não desconhecemos o valor do respeito à liberdade que Paulo Freire propugna,
rechaçando qualquer tipo de sufocação da personalidade e dos direitos das pessoas mais
humildes.
A defesa de valores humanos torna certas páginas de Paulo Freire simpáticas a quem as
aborda pela primeira vez. Todavia uma leitura mais atenta dos seus escritos evidencia,
nos mesmos, traços incompatíveis com as autênticas concepções cristãs.
2.1 Os princípios de Freire
Merecem atenção especial os seguintes princípios de Paulo Freire:
1) O pensador pernambucano professa a subordinação do conhecimento e da palavra à
transformação do mundo ou à praxis:
“A mera captação dos objetos como das coisas é um puro dar-se conta deles e não ainda
conhecê-los” (Extensão ou Comunicação, p. 28).
“O homem não pode ser compreendido fora de suas relações com o mundo ... O homem
é um ser da praxis ... Não há possibilidade de dicotimizar o homem do mundo, pois que
não existe um sem o outro” (ib.)
Mas não é menos certo que a Igreja perderia sua identidade mais profunda – e, com a sua
identidade, a sua eficácia verdadeira em todos os campos – se sua legítima atenção às
questões sociais a distraísse daquela missão essencialmente religiosa que não é
primordialmente a construção de um mundo material perfeito, mas a edificação do Reino
que começa aqui para manifestar-se plenamente na Parusia ... A Igreja cometeria uma
traição ao homem se, com as melhores intenções, lhe oferecesse bem-estar social, mas
lhe sonegasse ou lhe disse escassamente aquilo a que mais aspira (por vezes até sem o
perceber), aquilo a que tem direito, que espera da Igreja e que só ela lhe pode dar”
(extraído do JORNAL DO BRASIL, 7/01/81, 1º cad. P.4).
São estas algumas ponderações que desejamos propor à margem dos escritos de Paulo
Freire, tentando evidenciar que, apesar das aparências, servem a uma ideologia não cristã
e, por isto, não são cartilha para o educador católico.