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Universidade Federal do Pampa

Letras Português Licenciatura, modalidade a distância/UAB


Contextualização da Disciplina1

A partir de agora, e ao longo do desenvolvimento dessa disciplina, você vai


começar a trilhar os caminhos dos grandes educadores da história humana. Vai se
defrontar com um mundo de ideias, conceitos e tentativas de soluções para os
problemas. O conhecimento oferecido pela História da Educação será útil para
fundamentar a sua prática como educador, respaldando o seu fazer pedagógico. E
poderá se constituir em importante instrumento de transformação, conquistas e
compromisso. Pois, como você sabe, conhecimento é poder. Sem ele todo o poder se
perde, tornando-se em vão.
A História da Educação tem início no final do século XIX. E a partir de 1880
surgem publicações e cursos em Universidades e Escolas Normais da Europa. No
Brasil, a disciplina História da Educação aparece em 1927, a partir da reorganização do
ensino proposta por Francisco Campos. Sendo uma das disciplinas básicas do curso
de Pedagogia, sua importância é indiscutível na medida em que fundamenta a prática e
fornece subsídios às discussões em torno da problemática educacional, transformando-
se no alicerce da formação do futuro pedagogo.
O estudo dessa disciplina revela-se como indispensável à análise das situações
do presente, pois trata do desenvolvimento das ideias a respeito da educação nas
sociedades. No entanto, a história descrita na maioria dos livros refere-se ao que
podemos considerar como “história oficial”, visto que relata apenas a ação do Estado, a
ação ou pensamento das elites educacionais e ainda a ação das reformas
pedagógicas. Atualmente, podemos registrar a existência de uma incipiente tendência,
presente em teses de doutoramento e em dissertações de mestrado, que pretende dar
conta das experiências de educação popular em nosso país. Através de uma visão de
conjunto da História da Educação, objetiva-se conduzir os educandos à aquisição de
conhecimentos e modos de entendimento da realidade educacional, possibilitando uma
forma permanente de vivência e de atenção ao fenômeno educativo e à prática
docente.

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Apostila organizada pela Prof. Drª Mara Lucia Teixeira Brum.
Todas as imagens foram retiradas da internet.
Conteudista Liliana Lúcia da S. Barbosa
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UNIDADE I

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

1.1 – Introdução aos Vários Conceitos de Educação

A palavra EDUCAÇÃO tem sua origem nos verbos latinos Educare e Edurece.
Educare tem o significado de alimentar, transmitir informações a alguém. Edurece tem
o significado de extrair, desabrochar, desenvolver algo que está no indivíduo. Licurgo,
personagem tido por muitos como lendário, afirmava que a educação espartana
deveria ser a primeira e fundamental função pública a ser cumprida não somente pelo
governo, mas também pela própria sociedade. Seu objetivo era estritamente militarista,
devido a sua característica guerreira.
Procure lembrar-se das aulas de filosofia. Assim, você poderá entender melhor
esses dois verbos latinos. A máxima socrática “conheça-te a ti mesmo” concebe a
educação como Educere, pois Sócrates pregava a introspecção, através da maiêutica.
O seu ideal educativo consistia na felicidade humana, obtido através da alegria
espiritual, mediante o domínio completo da alma sobre o corpo.
Já no Cristianismo, Santo Tomás preconizava a
importância da participação ativa do aluno na
aprendizagem, bem antes de Pestalozzi e da “escola
nova”. Seu método fazia um apelo à faculdade de
pensar e de raciocinar dos alunos e leitores. Segundo
Santo Tomás de Aquino, “só Deus é o verdadeiro
agente da educação, da mesma forma que é a causa

principal do ensino, pois a doutrina humana, que o


mestre procura comunicar, não pode ser
compreendida pelo aluno senão em virtude da luz
da razão que Deus infunde na sua mente”.
Durante o Iluminismo, a chamada “época
das luzes”, o filósofo Rousseau escreveu um
clássico da pedagogia Emílio, no qual expunha suas ideias e estabelecia as normas
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ideais para a educação da criança, desde o nascimento até a juventude. Segundo ele,
a educação é essencialmente um processo com que se estimula o desabrochar e o
desenvolvimento das capacidades e virtudes humanas.

Já Pestalozzi surgiu como reformador das teorias educacionais


de Rousseau, as quais teriam como objetivo a aquisição de
ideias precisas e a capacidade de exprimi-las de forma
adequada e sintética.Influenciados pelos iluministas, a “escola
nova” floresce em 1889, com Adolphe Ferrière. Sua
característica fundamental refere-se à filosofia naturalista,
visando fins meramente terrenos, e acentuadamente práticos e

utilitários, nos quais os interesses sociais quase sempre prevalecem sobre os pessoais.

John Dewey, filósofo americano, afirmava que educação é


uma reconstrução ou reorganização da experiência, que
esclarece e aumenta o sentido desta e também nossa
aptidão para dirigirmos o curso das experiências
subsequentes.
Luzuriaga (2001), educador
espanhol, afirmava ser a
educação “uma influência intencional e sistemática sobre
o ser juvenil, com o propósito de formá-lo e desenvolvê-lo.
Mas significa, também, a ação genérica, ampla, de uma
sociedade sobre as gerações jovens, com o fim de
conservar e transmitir a existência coletiva” (LUZURIAGA,
2001: 1). Hoje, o mundo vive o que se chama educação
pós-moderna e multicultural.
A invasão da tecnologia eletrônica, da automação e da
informação “causam certa perda de identidade nos indivíduos e o pós-moderno
surge como crítica ao modernismo, diante da desilusão causada pela racionalização
que levou o homem moderno à tragédia das guerras e da desumanização” (GADOTTI,
1998: 311). A educação pós-moderna trabalha mais com o significado do que com o
conteúdo, muito mais com a intersubjetividade e a pluralidade do que com a igualdade
e a unidade. Não nega os conteúdos. Pelo contrário, trabalha para uma profunda

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mudança deles na educação, para torná-los essencialmente significativos para o
estudante” (Ibidem: 312).
Acredito que você já tenha percebido como o conceito de educação varia, de
época para época. E que os ideais educativos são determinados pelos fatores
históricos, políticos e sociais de seu tempo. As mudanças que ocorrem nas relações
sociais, pressionadas pelo aumento demográfico e a transformação nas áreas
econômica e tecnológica indicam novas técnicas que deverão promover a evolução do
processo educacional.

Em síntese, você deve lembrar que:

• A educação é o reflexo de uma sociedade. Ela procura transmitir os desejos de um


povo. Está intrinsecamente relacionada aos fatores sociais, econômicos e políticos
de seu tempo;
• Existe uma preocupação permanente com os ideais educativos que a sociedade
enseja;
• Muitos educadores, cientistas e filósofos têm procurado alternativas e soluções
criadoras para o problema educacional de seu tempo.

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1.2 - O Estudo da História da Educação e Sua Importância

A educação não é algo isolado, abstrato, mas está relacionada estreitamente


com a sociedade e a cultura de cada época, as quais produzem ideais e tipos
humanos que a educação trata de realizar. É necessário, portanto, relacionar a
educação e as concepções sociais e culturais de cada momento histórico. A
educação não nasce com o homem. E sim é adquirida no decorrer de sua vida. Ela pode,
como processo social, reforçar a coesão social, atuando como força conservadora;
ou, então, estimular ou libertar as possibilidades individuais de autodireção e escolha
entre alternativas divergentes, em determinados momentos em que se afrouxam os
meios sociais coercitivos. Entre esses dois extremos há, portanto, um meio-termo que
deve ser, do ponto de vista da sociedade e do
indivíduo, a meta ideal de todo processo
educacional. Durante o período medieval, os
jesuítas, como Inácio de Loyola, conceberam,
sob a influência da doutrina cristã-católica, fins
bem definidos para a vida humana: educacionais.
Ou seja, aqueles relativos à preparação do
homem para cumprir os fins próprios da vida humana, os quais foram localizados em
outra vida, supra terrena ou de além-túmulo, que consistiria numa bem-aventurança pela
contemplação de Deus.
Com a Renascença, começa, no século XV, a nova fase da educação. Uma nova
forma de vida, uma nova concepção do homem e do mundo baseada na personalidade
humana livre e na realidade presente. Vai possibilitar uma educação mais despojada,
mais prazerosa e criativa, dando início a um domínio da natureza, desenvolvendo
técnicas, artes e estudos. Percorrendo as diversas épocas da história do homem e do
mundo, você passará pelo Iluminismo, estilo de época que procurará libertar o
pensamento da repressão dos monarcas terrenos e do despotismo sobrenatural do clero.
A Revolução Francesa tentou plasmar o educando a partir da consciência de classe, que
era o centro do conteúdo programático.

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Educadores como Fröebel, Rousseau, Locke, Herbart e
outros desenvolveram
grandes ideias a respeito da
educação e inovadoras
pedagogias, a fim de resolver
os problemas educacionais.
Procure conhecê-las e
encontrará um valioso
subsídio para seu estudo e aprendizado. Compreendendo como os homens construíram
sua história no passado, você poderá contribuir para construir a história do futuro.

Herbart

Resumindo:

• O domínio do conhecimento sobre a História da Educação possibilitará um


questionamento sobre a problemática educacional dos dias de hoje;
• Ordenando e sistematizando as ideias de educadores e seus momentos históricos,
desde a Antiguidade até nossos dias, você poderá contextualizar esses conhecimentos
e trilhar caminhos novos para a educação.
Você entendeu todo o conteúdo até aqui? Lembre-se de que cada unidade é a base
para a próxima.

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UNIDADE II

EDUCAÇÃO NA ANTIGÜIDADE

2.1 – Características

Na unidade I, você pôde perceber as múltiplas inferências do processo histórico na área


educacional, e ter uma visão panorâmica das ideias de educação de alguns brilhantes
educadores. Agora você não precisa se sentir sozinho, pois encontrará as ideias de
centenas de pessoas que, como você, um dia, estiveram ansiosas para conhecer melhor
o mundo que as cercava. Venha se inteirar um pouco da cultura e educação antigas; esse
conhecimento vai oferecer a você oportunidades de relacionar e identificar fatores que
influenciam a educação nos nossos tempos. Essas civilizações antigas têm como
fundamento educacional a religiosidade. A educação oriental afirmou principalmente os
valores da tradição, da meditação, destacando-se o taoísmo, o budismo, o hinduísmo e
o judaísmo.
A educação no Oriente antigo, apesar de
diversificada em relação a cada povo, ainda
mantinha determinadas afinidades com a
educação primitiva, como o sentido místico dos
povos primitivos. A educação, portanto, era
identificada com a atividade religiosa, sendo
considerada um desdobramento da função
sacerdotal. Outra característica da educação
primitiva era o sentido rigidamente tradicionalista, considerando a atividade educativa, não
como instrumento de progresso, mas como um processo de adaptação passiva das
novas gerações ao tradicional e imutável estilo de vida dos grupos sociais a que
pertenciam.
A doutrina pedagógica mais antiga é o
taoísmo, que é uma espécie de panteísmo,
cujos princípios recomendam uma vida
tranquila, pacífica, sossegada, quieta.
Baseando-se no taoísmo, Confúcio (551- 479
a.C.) criou um sistema moral que exaltava a tradição e o culto aos mortos (GADOTTI,
1998: 22).

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Nos sistemas chinês, hindu, egípcio e hebreu, a educação centralizou-se no
conhecimento de uma linguagem tecnicamente complexa, de difícil dominação, e na
posse da sabedoria do passado contida em sua literatura. A conduta das massas, na
maioria dos povos orientais, ficava a cargo da classe educada do sacerdócio.
Ao indivíduo não se permite nenhuma variação das formas estabelecidas. A conduta é
prescrita nos mais minuciosos detalhes. O resultado desse domínio de autoridade é uma
sociedade estável, porém estacionária. A civilização, material e espiritualmente, não é
progressiva. A educação simplesmente procura recapitular o passado, resumir no
indivíduo a vida do passado, de modo que ele não a possa modificar nem avançar além
dela.

Resumindo:
• A educação oriental apresentava afinidades com a educação primitiva, no que tange
ao sentido místico, o tradicionalismo e o caráter informal. Porém apresentando sinais de
progresso.
• Suas principais características eram o domínio de línguas, tecnicamente difíceis; o
domínio de formas de conduta aprovadas e incorporadas na literatura sagrada e a
imposição desses modelos de conduta a todo o povo.

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2.2 - Chineses, Egípcios e Hebraicos

Na primeira parte desta unidade, você conheceu as principais características da


educação antiga e realizou incursões pela literatura indicada pelo seu tutor. Acredito
também que tenha tido curiosidade em ler as leituras complementares, cuidadosamente
escolhidas para você.
Agora, é necessário que
você preste ainda mais
atenção a esta lição, pois ela
oferecerá mais
oportunidades de conhecer diferentes culturas e sua educação. Não desanime! Tudo tem
seu preço em termos de dedicação e tempo!

O que você sabe sobre a educação chinesa?

Passe a prestar mais atenção aos filmes que retratam a cultura chinesa. Não é
verdade que a educação no período agrícola era determinada pelo regime matriarcal? A
mãe iniciava os filhos no trabalho agrícola e nas tarefas domésticas. Já no período dos
príncipes feudais, a educação se fazia, até os sete anos, na casa paterna e depois o
indivíduo passava a viver com um nobre que lhe ensinava as artes da guerra e as
maneiras da paz. Ao contrário do que preconizava a teoria, os adolescentes terminavam
sua educação nos rituais de iniciação, com a tomada do barrete, que facilitava sua
entrada na vida pública.
Na época imperial, com a constituição de um
Estado forte e unitário, a educação tomou novos
rumos. A doutrina de Confúcio, grande pensador e
reformador, trouxe para esse período contribuições
notáveis. Suas ideias foram de caráter
profundamente humano e regulavam todos os
pormenores da vida, a qual tratava de conduzir do
modo mais elevado possível.
Nesta época imperial, a educação chinesa era constituída por dois grandes setores:
a da massa do povo e a dos funcionários mandarins. A primeira, de caráter elementar,

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dada no lar, e a segunda, de tipo superior, constituía uma preparação para os exames de
mandarim.
E o que você diria da educação egípcia?
A civilização egípcia, uma das mais antigas
do mundo, desenvolve-se no vale do rio
Nilo, onde se fixaram os primeiros
povoadores, os camitas, originários da Ásia.
A vida social dos egípcios obedecia ao
sistema de classes. A classe privilegiada era
a dos sacerdotes, detentores da riqueza e
do saber, e, indiretamente, do poder político, que estava sob sua dependência. Em
seguida, por ordem decrescente, havia os escribas, os soldados e, depois, os
trabalhadores, agricultores e operários.
A educação egípcia era muito influenciada por esse sistema de classes sociais,
constituindo, praticamente, privilégio dos sacerdotes e das classes letradas, entre as
quais se incluíam os médicos, os arquitetos e os escribas. Toda a educação era
dominada pelo espírito de religião e misticismo. E os hebreus? Foram os que mais
conservaram as informações sobre sua história. A educação hebraica era rígida,
minuciosa desde a infância; pregava o temor a Deus e a obediência aos pais. O método
que utilizava era a repetição e a revisão: O Catecismo. Foi principalmente através do
Cristianismo que os métodos educacionais dos hebreus influenciaram a cultura ocidental.
Como você pôde perceber, a educação hebraica tem em comum com as outras culturas o
fundamento religioso.
Nisso se encontram sua força e debilidade. Força, porque deu a esse povo unidade
e permanência que não tiveram as anteriores; debilidade, porque lhe fechou o horizonte
para outras atividades e manifestações da vida e da cultura, embora depois nela se
destacassem, individualmente seus membros (LUZURIAGA, 2001: 32). A educação
hebraica pode ser compreendida a partir de duas fases históricas: a bíblica, com a
participação na vida da comunidade familiar, constando do ensino religioso e doméstico e
a outra fase, a talmúdica, ensinada nas sinagogas e, mais tarde, nas escolas religiosas.

Em síntese, você acabou de ver que:

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• A educação antiga é predominantemente religiosa e vem, até os dias de hoje,
influenciando nossa educação, seja ela formal ou informal.
• A educação tradicional utilizada em muitas escolas é a prova de que os ideais
educativos propostos pelas culturas chinesa, egípcia e hebraica, mesmo diante dessa
diversidade, ainda permanecem vivos, quer em nossas salas de aula, quer em muitos
lares. Alguns valores são universais e tornam-se orientadores de conduta dos seres
humanos, segundo alguns pensadores.

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UNIDADE III

EDUCAÇÃO DOS POVOS CLÁSSICOS

3.1 – Os Gregos

Esperamos que você tenha compreendido bem as lições anteriores. Caso tenha
encontrado alguma dificuldade, não fique receoso de se comunicar com seu tutor. Ele
terá toda a boa vontade em orientá-lo e ajudá-lo a sanar suas dúvidas. Use as novas
tecnologias disponíveis. Retornando à unidade anterior, você deve se lembrar das
principais características da educação oriental: era predominantemente religiosa e tentava
reproduzir e conservar o passado mediante a supressão da individualidade. Os métodos
de ensino eram memorísticos. E os gregos? Recorda-se da filosofia grega? Os fatores
sociais, políticos e econômicos da época influenciaram a educação, propiciando um
florescimento cultural jamais visto anteriormente. A introdução de novidades como a
escrita, a moeda, a lei e a polis (cidade) transformaram a visão que o homem tem de si. A
descoberta da individualidade liberta o homem dos desígnios divinos e o torna capaz de
construir o seu próprio caminho e, no debate público, de gerir os destinos comuns da
cidade. Com a culminação da nova organização política, a polis, aparecerão,
concomitantemente, os filósofos-educadores. Para facilitar a compreensão desse
conteúdo, faremos um breve quadro que identifica os acontecimentos culturais, políticos e
científicos, na tentativa de superar fragmentação do conhecimento.

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É com os gregos que a escola se configurará tal como a conhecemos hoje. E os
primeiros educadores surgiram com os sofistas, mestres ambulantes, os quais, mais tarde,
agruparam os alunos e formaram as primeiras escolas de Retórica. Ensinavam a arte de
discutir e de falar como meio de vencer na política ou na advocacia. O ideal educativo não
era a virtude, mas a habilidade. Céticos, uma vez que não acreditavam na existência de
uma verdade objetiva, individualistas e utilitaristas. Essa mentalidade não agradava a seus
contemporâneos e por isso não gozavam de boa reputação como educadores.
Surge um filósofo preocupado com o conhecimento da verdade e do bem:
Sócrates. Ele afirmava que a obrigação que o
homem deve assumir é a de conhecer-se a si
mesmo. O ideal educativo era a felicidade uma na
que só poderia ser alcançada pela prática da
virtude, o mesmo que sabedoria. Sócrates se
utilizava da maiêutica (em grego significa parto),
método que consistia em duas partes: a primeira,
a ironia (em grego significa perguntar), que é destrutiva, pois conclui pela descoberta da
própria ignorância, destruindo certos conceitos; a segunda, dar à luz, a maiêutica –
propriamente dita – é o “dar à luz” a novas ideias é, portanto, construtiva. E assim, através
de seu famoso preceito “conhece-te a ti mesmo”, poderá o indivíduo chegar à sabedoria, o
que vale dizer, à virtude e à felicidade.
Acompanhando seu mestre, Platão discorre
pelo mundo das ideias: o mundo inteligível,
que só é alcançado pelo conhecimento e o
mundo sensível, o mundo dos sentidos, das
aparências e dos erros. Você se lembra do
“Mito da Caverna”? Se não se lembra,
procure conhecer esta preciosidade escrita por
Platão, lendo o capítulo abandonando as trevas da caverna, do livro O mundo de Sofia, de
Gaarder (1995), que consta na bibliografia indicada para este curso.
Platão idealizou suas teorias educacionais através dessa filosofia. A sua pedagogia
era aristocrática, pois fazia da educação um privilégio de duas classes: a dos racionais e a
dos sentimentais. É função da educação determinar o que cada indivíduo está apto por
natureza a fazer, e, então, prepará-lo para esse serviço. Platão expõe sua filosofia no livro
A República, o mais importante tratado de educação.

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O fim da educação para Platão é a formação do homem moral, e o meio é a
educação do Estado, na medida em que este representa a ideia de justiça. O Estado não
é, pois, fim em si, antes meio de realizar a justiça e a educação conforme a justiça
(LUZURIAGA, 2001: 52).
A finalidade da educação para Sócrates, tanto quanto para Platão, era o
conhecimento. Enquanto, para Aristóteles, a virtude estava na conquista da felicidade ou
do bem. Ele procurava a verdade nos fatos objetivos da natureza e da vida social, tanto
quanto na alma do homem. Aristóteles afirmava que todos os cidadãos têm de participar
igualmente da educação, embora os escravos e os artífices não possam conquistar a
cidadania. E, por intermédio das atividades prática e teórica, chegariam aos objetivos
puramente intelectuais e seguidamente ao sacerdócio. Assim, a vida prática se
transformaria na vida especulativa, a vida perfeita. Você verá mais adiante como a teoria
aristotélica irá influenciar a “Escolástica” no período medieval. Aristóteles será reconhecido
universalmente como o maior dos antigos filósofos, até o advento do Renascimento, no
século XV.
Resumindo os principais tópicos desta aula

Os objetivos da educação espartana eram militaristas e estatais, devido às guerras


constantes. A princípio, Atenas assemelhava-se à Esparta, mas com as
transformações ocorridas pelo governo de Péricles passaram de estatais para
individuais. Foram introduzidas novas disciplinas e apareceram os sofistas pregando
o ceticismo, o individualismo e o utilitarismo;
Após os sofistas, surge Sócrates, desenvolvendo suas teorias educacionais através
do método maiêutico, e Platão, prosseguindo as ideias de seu mestre através do
método dialético;
Finalmente surgirá Aristóteles, afirmando que a finalidade da educação é o bem
moral, no qual consiste a felicidade, a plenitude da realização do humano no
homem.
Você acha que tem condição de seguir adiante? Você tem sob domínio todo o
conteúdo desta unidade? No caso de respostas afirmativas, prossiga os seus
estudos, caso contrário, entre em contato com o seu tutor.

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3.2 – Os Romanos

Agora que você já conheceu um pouco da cultura e da educação grega, vamos passar
para a cultura romana, que exerceu muita influência no mundo ocidental. Além das
semelhanças com o mundo grego, você verá também certas características próprias,
como acentuação do poder volitivo – aquele que parte da própria vontade –, do hábito e do
exercício, com atitude realista ante a intelectual e idealista grega. Durante a primeira fase
de sua história, o conteúdo da educação romana era a aprendizagem prática para os
deveres da vida agrícola e pastoril, visto que, os romanos formavam ainda uma
comunidade campestre. A aprendizagem tinha, assim, um sentido inteiramente familiar. O
lugar da escola era ocupado pelo lar. O poder paterno, enaltecido nas suas funções,
tornou a família a unidade social, mesmo em muitos aspectos legais. Deu grande
importância à moral do lar bem como à legal e social. Nenhum outro povo usou tão
eficazmente o exemplo das personalidades de importância de sua história para a formação
do caráter da juventude de cada geração. Assim, a característica fundamental do método
da educação romana era a imitação.
Após a helenização2 de Roma, a influência dos gregos helênicos sistematiza o
ensino escolar. Este período coincidiu com o período de expansão nacional fora da
Península Itálica, assumindo uma cultura cosmopolita. Começaram as traduções do grego
para o latim com publicações introduzidas nas escolas romanas, o acolhimento das
escolas de retórica e o envio de jovens à Grécia para estudos de retórica. A cultura e a
literatura gregas seduziram principalmente as classes superiores, não se estendendo às
grandes massas do povo. Para essa classe privilegiada, fundaram-se bibliotecas e
universidades. Porém, aos poucos, essas influências gregas foram se perdendo e a
educação se tornou formal e irreal. Consequentemente, a vida romana tornou-se corrupta,
o governo despótico e a nova educação ministrada pela primeira Igreja Cristã vieram,
gradualmente, substituir a velha. A história da Educação registra alguns ilustres
educadores: Catão, pedagogo nacionalista, notabilizou-se pela reação que opôs à
influência grega na cultura romana; Cícero, inspirado em Platão, estabelecia que o fim da
educação era formar o homem e o profissional, isto é, o orador, baseando-se, para isso,
nas peculiaridades individuais. O seu ideal de formação geral era humanista, que era a
tradução de Paidéia.

2
Helenização é um termo usado para descrever a difusão da cultura da Grécia Antiga e, em menor escala, de seu
idioma. É usado principalmente para descrever a difusão da civilização helenística durante o período homônimo,
que se seguiu às campanhas de Alexandre, o Grande, rei da Macedônia. Wikipédia
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[...] a ideia da humanitas reduziu-se, de início, a uma educação bilíngue (grego e
latim). A isso se deve que ainda recebam o nome de humanidades os estudos literários,
em face da formação que fornecem às ciências reais. Mas, entre os romanos, já se havia
ampliado o sentido das humanistas como aquela cultura geral que transcendia aos
interesses locais e nacionais e incluía não somente as línguas estrangeiras, mas também
os conhecimentos de toda ordem [...] (GADOTTI, 1998:42).
Quintiliano foi o primeiro professor oficial de Roma.
Estabeleceu as normas da formação do orador. Preferiu o
ensino público ao familiar. Aconselhou que o ensino se
fundamentasse no interesse do aluno, cujas peculiaridades
psíquicas o mestre deveria conhecer.

Em síntese, você viu que:


A educação romana não consagrou muitos pedagogos, por ter característica mais
familiar do que pública. Seus teóricos têm caráter mais pragmático que idealista, mais
retórico que filosófico;
Através das conquistas, os romanos impuseram o latim a numerosas províncias e, ao
conquistar a Grécia, esta transmitiu sua filosofia da educação;
A educação romana era utilitária e militarista, organizada pela disciplina e pela justiça.
Começava pela fidelidade administrativa: educação para a pátria.
Paz só com vitórias e escravidão aos vencidos. Aos rebeldes, a pena capital. Procure
saber um pouco mais a respeito da participação de Sócrates e Platão na História da
Educação. Recorra ao seu tutor, ele certamente lhe indicará bibliografia adicional
relacionada com estes dois importantes pensadores e o conteúdo da disciplina.

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Unidade IV
EDUCAÇÃO MEDIEVAL

4.1 – Educação Cristã e Não-Cristã

Na unidade III, você conheceu um pouco sobre os grandes pensadores gregos e romanos
que até hoje exercem influências na educação. Antes de prosseguir, leia o quadro
panorâmico dos fatores históricos, sociais e culturais que influenciaram a educação.

Século Contexto Histórico

IV V Começo da alquimia; Cristianismo.


VI Queda do Império Romano.
VII Mosteiros Beneditinos.
VIII Surgimento do Islamismo.
XII Fundação do Império do Ocidente: Carlos
XIV Magno. Cruzadas; Universidades.
Início da Guerra dos Cem Anos; pré-
renascimento;
tomada de Constantinopla pelos turcos.

A civilização ocidental vem sempre buscando os teóricos gregos, na tentativa de


explicações do mundo e do homem. Isso ocorreu na Renascença, no século XIII e em
nossos dias. A educação grega preconizava como fim último a virtude, o bem supremo.
Predominava o ensino intelectualizado, enquanto os romanos primavam pelo poder volitivo
do hábito e do exercício. Nesta Unidade, você perceberá como os ideais gregos,
principalmente através de Platão e Aristóteles, com a Patrística e a Escolástica,
modificaram o cenário medieval. O Cristianismo se desenvolverá intelectualmente e
institucionalmente até alcançar o apogeu com a Escolástica e o surgimento das primeiras
Universidades.
“PATRÍSTICA - designação genérica da filosofia cristã nos primeiros séculos logo
após o seu surgimento. Era a filosofia dos padres da Igreja, da qual se originaria, mais
tarde, a escolástica. A Patrística surge quando o Cristianismo se difunde e consolida como
religião filosófica da doutrina cristã, especialmente na medida em que está se opõe ao
paganismo e às heresias que ameaçam sua própria unidade interna” (JAPIASSU
MARCONDES, 1991: 191).
18
“ESCOLÁSTICA - termo que significa originariamente doutrina da escola e que designa os
ensinamentos de filosofia e teologia ministradas nas escolas eclesiásticas e universidades
na Europa durante o período medieval, sobretudo entre os séculos IX e XVII” (IBIDEM:
84).
As sucessivas invasões bárbaras comprometeram significativamente a educação
no período medieval (Idade Média). Sua restauração só foi possível após a queda do
Império do Ocidente e o controle político de Carlos Magno em 800 d.C. Com o domínio do
Cristianismo, a educação tomou novos rumos e a instrução da doutrina da Igreja e a
prática do culto substituíram o elemento intelectual. Uma disciplina rígida de conduta
substituiu o treino físico e retórico.
O Cristianismo ofereceu soluções para o problema social e educativo grego,
aplicando o princípio de amor ou caridade cristã, em que se harmonizavam o indivíduo e
os fatores sociais. Nos primeiros momentos do Cristianismo, a educação esteve reduzida
ao ensino catequista, convertendo-se no mais importante centro de cultura religiosa e
sacerdotal da época. Em seguida, surgiram as escolas episcopais, sendo a mais famosa a
de Santo Agostinho (354 - 430 d.C.), bispo de Hipona, da qual fazia parte o ensino de
teologia e serviço eclesiástico. Após as invasões bárbaras, surgiram as escolas paroquiais
ou presbiterais, as escolas das igrejas rurais. O seu objetivo era receber jovens na
qualidade de leitores e ensinar-lhes os salmos e as lições da Escritura. O mais
surpreendente educador desse período primitivo da Igreja foi Santo Agostinho.
Influenciado pelo neoplatonismo e pelo estoicismo, a sua pedagogia teve um acentuado
valor na formação humanística e na formação ascética. Segundo Santo Agostinho, o fim
supremo a que se deve aspirar é o reino dos valores éticos, aos quais podem ascender
também os ignorantes e humildes que tenham pureza no coração, amor e boa vontade.
No final da Idade Média, surge a Escolástica. Seu objetivo principal era a
sistematização do saber num todo harmonioso e orgânico. Contribuiu muito para a criação
das universidades e dominou o trabalho destas instituições durante três ou quatro séculos.
A Escolástica procurava apoiar a fé na razão; revigorar a vida religiosa e a Igreja pelo
desenvolvimento intelectual. A educação escolástica visava desenvolver o poder de
formular as crenças num sistema lógico e de expor e defender tais definições de crenças
contra todos os argumentos que pudessem ser levantados contra ela. Ao mesmo tempo,
empenhou-se em evitar o desenvolvimento de uma crítica de espírito perante os princípios
fundamentais já estabelecidos pela autoridade. Seu principal representante foi Santo
Tomás de Aquino. Segundo este filósofo-educador, só Deus é o verdadeiro agente da
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educação, da mesma forma que é a causa principal do ensino, pois sua doutrina humana,
que o mestre procura comunicar, não pode ser compreendida pelo aluno senão em virtude
da luz da razão que Deus infunde na sua mente.

Em síntese:

• Este período caracterizou-se pela doutrina do Cristianismo. Durante o tempo das


invasões bárbaras, a educação monástica foi predominante e grandes educadores
como Boécio, Beda e Alcuíno se destacaram;
• Com o poder político de Carlos Magno, a educação alcança uma evolução
surpreendente e, finalmente, com a Escolástica, a Idade Média vai resgatar a vida
intelectual perdida durante o Cristianismo primitivo;
• Santo Tomás de Aquino aborda o problema da educabilidade humana e valoriza o
papel do educando na aprendizagem.

Lembre-se:
Sempre que encontrar uma referência a um personagem que você não conheça, no texto
ou no instrucional, procure se informar melhor sobre ele. Nestes casos, é bom procurar
uma Biblioteca ou mesmo solicitar a ajuda do professor da disciplina, que terá uma grande
satisfação em auxiliá-lo.

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4.2 – As Universidades Medievais

O surgimento das universidades deu-se no


século XII. E não foi uniforme, mas
espontâneo, e por várias formas. A primeira
das universidades medievais, as quais pela
sua configuração social e jurídica eram
essencialmente diferentes das
universidades antigas, foi a de Paris,
constituída no início do século XIII, pelo
desenvolvimento da Escola Catedralícia de
Notre Dame. Nessa época, foi fundada também a Universidade de Bolonha, originada de
uma escola catedralícia e de outras escolas municipais e monásticas. Os professores e os
alunos formavam corporações, “universitas”, expressão que passou a designar a escola
por eles constituída, gozando essas corporações de vários privilégios, com direito a foro
especial, a isenção de impostos e do serviço militar. Os alunos residiam em “colégios” e
formavam “nações”, de acordo com a sua naturalidade. Os estudos se iniciavam nas
Faculdades das Artes e se completavam nas outras Faculdades de Teologia, de Direito
Canônico, de Medicina etc.
As universidades e as escolas humanistas, embora nominalmente sob a
organização do Estado, ou independentes, estavam realmente sob o controle da Igreja.
A partir da criação das Universidades de Paris (Notre Dame) e da Itália (Bolonha),
surgiram outras nelas inspiradas, como a Montpellier, na França; em Oxford, na Inglaterra;
em Salermo, Pádua e Nápoles, na Itália; em Coimbra, em Portugal; em Salamanca, na
Espanha e em muitos outros lugares.

Não esqueça:
Em seus momentos de folga, procure recapitular o conteúdo das unidades anteriores, já
estudadas, o que certamente ajudará você a compreender melhor o conteúdo das unidades
futuras.

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Referencial
ARANHA, M. L. de A. e M. H. P. Filosofando: Introdução à Filosofia. 2. ed. rev. atual.
São Paulo: Moderna, 1993.
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paz. Rio de Janeiro: Sharpe, 2006.
CERIZARA, Beatriz. Rousseau: A educação na infância. São Paulo: Scipione, 1990.
DIAS, Rosa Maria. Nietszche educador. São Paulo: Scipione, 1991.
EBY, Frederick. História da educação moderna. Trad. Maria Angela de Vinagre
Almeida, Nelly Aleotti Maia e Malvina Cohen Zaide, 2. ed. Porto Alegre: Globo, 1976.
GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. São Paulo: Cia das Letras, 1995.
GADOTTI, Moacir. História das idéias pedagógicas. São Paulo: Ática, 1998.
JAPIASSU, H. e MARCONDES, D. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro:
Zahar, 1991.
LIBÂNEO, J.C. e SANTOS, A. (org.). Educação na era do conhecimento em rede e
transdisciplinaridade. Campinas, São Paulo: Alínea, 2005.
LUZURIAGA, Lorenzo. História da educação e da pedagogia. Trad. Luiz Damasco
Penna e J.B. Damasco Penna, 18. ed. São Paulo: Nacional, 1990.
MANACORDA, M. A. História da educação. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2006.
MASCARENHAS, S. Desafios para um novo milênio. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ea/v14n40/ v14n40a15.pdf .Acesso em 01, mar. 2007.
MONROE, Paul. História da educação. Trad. Idel Becker, 14. ed. São Paulo:
Nacional, 1979. Revista Viver Mente e Cérebro. Coleção Memória da Pedagogia, N.6,
Rio de Janeiro: Relume Dumar, 2006.

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