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A relação entre epistemologia e educação


no contexto das tendências pedagógicas

Murilo Sérgio Vieira Silva


Universidade Estadual de Goiás - UEG

Fabiana Custódio e Silva


Universidade Estadual de Goiás - UEG

'10.37885/221211427
RESUMO

O objeto de estudo desta pesquisa é a importância da epistemologia no contexto educacional


na perspectiva das tendências pedagógicas. Este artigo tem como objetivo geral demonstrar
a relevância tanto da epistemologia quanto da educação e das tendências pedagógicas no
processo de ensino e aprendizagem. Tem como objetivo específico conceituar epistemologia,
educação e ideologia. O artigo apresenta várias concepções de educação entre estas a de
Durkheim que concebe educação como ação exercida pelos adultos em relação aos mais
jovens. Destaca, que a ideologia tanto pode ser instrumento favorável ou não a aprendizagem
do sujeito. Pois, esta depende da prática do professor. Neste artigo, enfatiza que a tendência
progressista crítico social dos conteúdos é um instrumento significativo na construção de
uma educação que possibilita o indivíduo a ser sujeito de sua história de vida. Os principais
autores consultados nesta pesquisa são: Saviani (2009), Brandão (1989), Novaes (1992),
Mesquita e Machado (2005) e Dalarosa (2008). Utiliza-se da pesquisa qualitativa, de caráter
teórico, metodológico, realizando uma análise criteriosa do método dedutivo que parte do
geral para o específico.

Palavras-chave: Epistemologia, Educação, Ideologia, Tendências Pedagógicas.


INTRODUÇÃO

A escolha em abordar esse tema deve ao fato da epistemologia ser campo de conhe-
cimento em toda a sua plenitude.
Outro fator, que despertou a análise é o fato de estar relacionado a prática profissional
do autor do artigo.
A educação foi e continuará sendo um recurso fundamental para qualquer indivíduo.
Contudo, é relevante que o professor utiliza-se em sua prática pedagógica, por exemplo,
a tendência progressista crítico social dos conteúdos pois esta não favorece os anseios
dominantes do Estado e da Elite.
No âmbito, dessas considerações no primeiro momento conceitua epistemologia, edu-
cação e ideologia. No segundo momento enfatiza a relação entre epistemologia e educação
no contexto das tendências pedagógicas de Savianni.

CONCEITUAÇÃO DE EPISTEMOLOGIA, EDUCAÇÃO E IDEOLOGIA

Epistemologia

É importante ressaltar que a Epistemologia, é concebida como a pesquisa crítica tanto


dos princípios quanto das suposições e ainda dos resultados de várias ciências, tais como a
Pedagogia, a Geografia, História, Biologia, Matemática e outras ciências. Assim entende-se
porque Salmeron (1990, p. 5) afirma que: “A Epistemologia ou Filosofia da Ciência, é o ramo
da filosofia que estuda a investigação científica e seu produto, o conhecimento científico”.
Nesse sentido, fica explícito a principal atividade da Epistemologia sem dúvida nenhuma
e elaboração racional do saber científico. Portanto, conclui que a Epistemologia é a pesquisa
sobre o conhecimento produzido pelos homens. Deste modo, Dalarosa (2008) afirma que: “A
Epistemologia tem como objeto de estudo o conhecimento científico não as particularidades
estudadas pela própria ciência. Deste modo, a Epistemologia passou a significar uma teoria
do conhecimento científico”.
Cabe destacar, que na atualidade existem algumas ciências epistemológicas que in-
terferem na elaboração do conhecimento e de como relaciona-se com a educação. Entre
essas Epistemologias destacam as seguintes: a Metafísica, o Positivismo a Fenomenologia
e o Materialismo Histórico Dialético.
Neste contexto, é relevante nortear que a metafísica considera que existe uma essên-
cia universal, que permite elaborar o conhecimento e chegar a verdade. Dalarosa (2008,
p. 345) argumenta que: “A realidade só pode ser conhecida se submetida a princípios

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universais. O método a ser utilizado é o dedutivo. A parte somente pode ser explicada se
deduzida de um priori universal. O pressuposto neste caso, idealista”.
Por sua vez, o Positivismo refere-se o entendimento da ciência que faz análise de
qualquer fenômeno partindo das leis tanto da natureza quanto físicas. Vale frisar que a visão
positivista da ciência considera de suma importância romper somente na busca da verdade
por meio da experiência científica.
Já na concepção da fenomenologia o conhecimento da verdade ou da realidade só
é possível através da interpretação que o indivíduo da à realidade do objeto de análise do
sujeito. Deste modo Dalorosa (2008, p. 346) concebe que: “A fenomenologia corresponde
a vertente idealista da crítica ao positivismo”.
Assim pode-se dizer que, o materialismo histórico dialético parte do princípio que conhe-
cem a realidade através da história, isto é, da lógica dialógica. Portanto, o método dialético
objeto da Epistemologia busca demonstrar que somente através da pesquisa crítica, que de
fato a ciência Silva (2011) irá contribuir para desenvolver no ser humano a consciência de
sua responsabilidade para transformar o mundo em que vive para melhor.
Neste contexto, pode-se dizer que no âmbito da epistemologia escolar ou acadêmica,
conforme Tesser (1995, p. 97):

A Epistemologia Pedagógica consiste em ensinar os alunos a pensar criti-


camente, ir além das interpretações literários e dos modos fragmentados de
raciocínio aprender não apenas a compreender, mais ter acima de tudo a
capacidade e competência de problematizar dialeticamente a teoria e a práxis
educacional.

Portanto, o Materialismo Histórico Dialético é um instrumento importante na


Epistemologia Pedagógica do educador que busca de fato ser um sujeito que possibilite o
educando a ser sujeito de sua história da vida, fazendo assim o ato educativo um recurso
a serviço de toda a sociedade, na medida em que favoreça os estudantes a questionar e
encontrar respostas por eles próprios pelas indagações (SAVIANI, 2007).
Enfim, não há como negar que assim como a Epistemologia a educação, igualmente,
é fruto do entendimento sobre a sociedade que é elaborada pelo conhecimento humano.

Educação

Pode-se dizer que a instituição educacional não se constitui em uma única forma e
modelo de educação. Pois, a mesma está presente em sociedades distintas, ou seja, civi-
lizadas, ou não, evoluídas e não desenvolvidas. Assim Brandão (1989, p. 9), concebe que:

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Em mundo diversos a Educação existe diferente; Em pequenas sociedades
tribais de povos caçadores, agricultores ou pastores nômades em sociedades
camponesas, em países desenvolvidos e industrializados; em mundos socais
sem classes, com este ou aquele tipos de sociedades e culturas sem Estado,
com um Estado em formação ou com ele consolidado entre e sobre as pessoas.

Neste contexto, é relevante salientar que a educação pode existir até mesmo quando
um pai corrige seu filho. Além disso, a mesma constitui uma das formas que os indivíduos
criam para tornar comum e partilhar o conhecimento, a ideia, a crença. Isto é, comunitário
como o trabalho, modo de vida e bem material.
Cabe destacar, que a educação pode ser fruto de um sistema centralizado de poder,
que utiliza o saber como instrumento imprescindível para preservação dos privilégios de
uma minoria que mantém o controle sobre a ordem vigente.
Verifica-se que a educação existe mesmo em locais onde a instituição escolar não se
faz presente, uma vez que em qualquer lugar podem haver tanto redes quanto estruturas
sociais de transferência de saber de uma geração para outra, independente de ter um mo-
delo de ensino formal e centralizado. Pois, a educação possibilita o ser humano a continuar
a atividade de vida. Nesse sentido Brandão (1989, p. 14), o autor argumenta que:

Na espécie humana a educação não continua apenas o trabalho da vida, ela


se instala dentro de um domínio propriamente humano de trocas: de símbolos,
de intenções, de padrões de cultura e de relações de poder. Mas, a seu modo,
ela continua no homem o trabalho da natureza de fazê-lo ouvir, de torná-lo
mais humano.

Constata-se que o ensino formal sem dúvida alguma constitui-se o momento em que a
educação se submete à pedagogia, ou seja, a teoria, que cria condições próprias para seu
exercício, já que esta produz seus métodos, impõem suas regras e tempos.
No entanto, pode-se afirmar que até mesmo nas sociedades primitivas quando o tra-
balho o trabalho produz os bens e reproduz a ordem vigente estabelecida e consequente-
mente irá contribuir para manter as hierarquias sociais. Assim é natural que o conhecimento
comum da tribo divide-se e ao mesmo tempo é distribuído de forma desigual e ainda poderá
ser usado pelo poder político, para sustentar a distinção, no lugar de um saber anterior, que
privilegiava a coletividade.
Nesse âmbito, é oportuno destacar que na Grécia Antiga a educação era diferenciada.
Assim, se entende porque enquanto os desfavorecidos aprenderam desde criança longe das
escolas. Isto é, nos campos de lavoura e nas oficinas, as crianças ricas a princípio também
aprenderam fora do contexto escolar, ou seja, junto de velhos educadores ou acampamentos,
Brandão (1989, p. 40) citando o legislador grego SALON define a concepção de educação
na Grécia Antiga, de que:

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As crianças devem, antes de tudo, aprender a nadar e a ler, em seguida, os
pobres devem exercitar-se na agricultura ou em uma indústria qualquer, ao
passo que os ricos devem se preocupar com a música e a equitação, e entre-
gar-se à filosofia, à caça e a frequência aos ginásios.

Já no Império Romano a educação da origem a duas vertentes distintas, isto é, a pri-


meira se destina aos trabalhadores artesãos e aos filhos dos escravos e estes são enviados
as oficinas de trânsito e a segunda a Escola Livresca estava reservada aos futuros senhores
e dirigentes livres tanto do trabalho quanto do Estado.
Cabe destacar que tal educação de escola, que os romanos elaboravam em Roma
plagiando tanto a forma quanto algo do espírito dos gregos, difundiu primeiro pela Península
Itálica e posteriormente pelo mundo.
Brandão (1989) analisando Sciacca salienta que a educação constitui o desenvolvimento
tanto consciente quanto livre das faculdades inatas do ser humano.
Analisando a concepção de educação do filósofo Kant, Brandão (1989), argumenta
que a finalidade da educação é de desenvolver em cada pessoa qualquer perfeição de que
o indivíduo seja capaz.
Ao interpretar o conceito de educação de Durkheim, Brandão (1989), concebe que a
educação é com certeza a ação exercida pelos adultos em relação aos jovens, uma vez
que estes precisam ser preparados para a vida em comunidade, assim, a educação tem por
finalidade desenvolver e suscitar o indivíduo algum número de estados físicos, intelectuais
e morais, pois, constituem uma exigência não apenas da sociedade política como também
no meio social que ela se destina.
Pode-se dizer que a função mais relevante da educação, sem dúvida alguma é prepa-
rar o sujeito, para que ele seja capaz de compreender que os anseios sociais, prevaleçam
sobre os individuais. Assim, Meksenas (1995, p. 7) explica que:

Uma das tarefas da educação nas sociedades tem sido a demostrar que os
interesses sociais. (...) a educação, ao socializar indivíduo, mostrar a este que,
sozinho, o ser humano só desenvolve potencialidades. Em contato com outras
pessoas, com o meio social.

Neste contexto, é importante destacar que a educação é com certeza o único instru-
mento capaz de ajudar a edificar uma sociedade mais justa fraterna e igualitária. Portanto,
capaz de tornar o indivíduo de fato um cidadão.

Ideologia

Do acordo com o filósofo Japiassu (1990, p. 128) a ideologia pode ser defini-
da como sendo um:

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Fenômeno de superestrutura, uma forma de pensamento opção, que por não
revelar as causas reais de certos valores e concepções e práticas sociais que
são materiais (ou seja, econômica), contribui para sua aceitação, representando
o mundo invertido e servindo aos interesses da classe dominante que apare-
cem como se fossem interesse da sociedade como um todo. Neste sentido, a
ideologia se opõe a ciência e ao pensamento crítico.

Assim fica nítido que a ideologia significa um conjunto de valores que em nossa so-
ciedade de classe reflete os interesses particulares de apenas uma classe social, ou seja,
aquela que domina os meios e as relações de produção. Esses valores, que são difundidos
por meio de diferentes veículos de inculcação ideológica como: escola, empresa, igreja e
família; são absorvidos como se representassem os anseios de toda sociedade. Portanto, a
função da ideologia é alienante, na medida que camufla que na sociedade não existe conflito,
violência, lutas de classes e desigualdades. Chaui (2009, p.174)

Por exemplo, a ideologia afirma que somos todos cidadãos e, portanto, temos
todos os mesmos direitos sociais, econômicos, políticos e culturais. No entanto,
sabemos que isso não acontece de fato: as crianças de rua não têm direitos; os
idosos não tem direitos; os direitos culturais das crianças nas escolas públicas
é inferior aos das crianças que estão em escolas particulares, pois o ensino
não é de mesma qualidade em ambas; os negros e índios são discriminados
como inferiores; os homossexuais são perseguidos como pervertidos , etc.

A ideologia em uma sociedade como a brasileira, constitui-se em um instrumento de


reprodução dos interesses do Estado e das classes dominantes. Assim, Novais (1992, p.
181), concebe que, a ideologia é um dos meios usados pelas classes dominantes para exer-
cer sua dominação sem que os dominados percebem que são realmente dominados. Fica
explícito que a ideologia dominante utiliza-se de diversos meios, entre eles a ciência, para
camuflar a realidade de um fato ou acontecimento que não convém aos seus interesses.
Desta forma, conclui-se por exemplo, que tal ideologia não irá mostrar a problemática da
crise social que afeta milhares de indivíduos em todo País, e que está associado ao modo
de organização de produção vigente. Isto é, ao sistema capitalista.
Portanto, é evidente que a ideologia dominante não possibilita aos dominados ou às
classes subalternas entenderem que em uma sociedade como a nossa, dívida em classes
sociais distintas e não esclarece que a desigualdade é a principal característica da mesma.
Para Chauí (1992, p. 161),

[...] a ideologia resulta da prática social, nasce das atividades sociais dos ho-
mens no momento em que estes representam par si mesmo esta atividade”.
No entanto continua a autora” ... as idéias dominantes de uma sociedade numa
época determinada e não são todas as ideais existente na sociedade, mas são
apenas as idéias das classes dominantes dessa sociedade, ou seja, a maneira
como ela representa para si mesmo, a sua relação com a natureza, com os
demais homens, com sobre natureza (Deus), com Estado etc.

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Em cada época a ideologia existente serve aos propósitos dos dominantes, por exem-
plo, durante o período colonial brasileiro a mesma refletia os anseios da metrópole e dos
proprietários rurais. Neste âmbito, não é de se estranhar que ainda hoje na sociedade bra-
sileira haja sequelas da ideologia desse período, como a existência do latifúndio e o poder
político ainda continuem a servir aos interesses dos privilegiados em detrimento dos anseios
das camadas populares.
Neste contexto, é natural que no Brasil a ideologia predominante propaga-se e defenda
que somente os indivíduos qualificados, ou seja, que tenham formação cultural que estão
aptos a governarem, isso não é verdade. Contudo, o povo em alienação não compreende
essa justificativa da elite. Uma vez que educação continua sendo um privilégio de poucos, tal
fato comprova que o sistema educacional é utilizado pelo Estado e elite, a fim de reproduzir
sua concepção de mundo. Assim Nidelcoff (1990, p. 19) concebe que:

Por isso, não se pode fazer uma mudança profunda na educação enquanto
não se faça uma mudança social também profunda, que proponha novos ideais
comunitários e pessoais com uma nova maneira de ver a realidade e a história
e que valorize de forma diferente a educação do povo e a cultura popular.

A noção de ideologia existente numa sociedade de classes implica na elaboração de


um discurso preferencialmente universal, na medida que a classe dominada identifica a
realidade como aquilo que as classes dominantes dizem que é, ocultando as contradições
existentes nesta sociedade que excluir a maioria do povo brasileiro. Como se vê, a ideolo-
gia no Brasil está sendo empregada com o intuito de preservar a ordem vigente, ou seja, a
estrutura socioeconômica e política. Chaui (2002, p.174)

A função principal da ideologia é ocultar e dissimular as divisões sociais e


políticas dar-lhes a aparência de indivisão e de diferenças naturais entre os
seres humanos. Indivisão: apesar da divisão social das classes, somos levados
a crer que somos iguais porque participamos da ideia de “humanidade”, ou da
ideia de “nação” e “pátria”, ou da ideia de “raça”, etc.

A classe privilegiada, visando assegurar uma unidade ideológica dentro do sistema


social, impede à classe dominada a tomada de consciência reveladora das contradições exis-
tentes. Assim, percebe-se que a ideologia dominante pretende esconder que a evolução da
humanidade não é fruto da história dos conflitos e de lutas entre os dominadores e dominados.
Novais (1992, p. 19) afirma que: “Num sistema capitalista a sociedade é rachadura de
alto a baixo pelos interesses e conflitos de classes (exploradores e explorados). A ideologia
dominante no entanto, trabalha no sentido contrário, difundindo a ideia de que os conflitos
surgem isoladamente dos indivíduos”.

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Assim, observa-se que a existência das ideologias são materiais, uma vez que elas
expressam sempre posições de classe, isso porque em uma ideologia existe sempre um
aparelho e suas práticas. A educação é um destes aparelhos, em virtude que uma formação
social deve reproduzir as relações de produção existentes. Portanto, as ideologias contri-
buem todas elas para o mesmo resultado, qual seja a reprodução das relações de produ-
ção. A educação é responsável também pelas contradições verificadas em nossa sociedade.
É importante observar que a ideologia num País como o nosso é utilizada para explicar e
justificar ações inexplicável ou absurdas. A título de ilustração, vejamos o caso do trabalhador
que, apesar de ser o responsável pela produção de toda riqueza, é o que menos desfruta do
seu trabalho. Tal fato ocorre em razão dele ser mal remunerado. Em outras palavras, seu
trabalho beneficia principalmente os donos do poder ou seja, os empresários.
Deste modo é natural constatar que o trabalho realizado pelo indivíduo não permite
ao mesmo acesso às necessidades básicas. Portanto, sequer tem uma vida digna. O pior é
que o sistema ideológico mistifica a realidade como se fosse “normal”. Uma vez que numa
sociedade de consumo como a nossa, todos deveriam ter as mesmas oportunidades de ad-
quirirem qualquer tipo de mercadoria. Assim Novais (1992, p. 19) explica que: “A ideologia é
um estabilizador. Faz com que o trabalhador, o que produziu quase tudo o que é anunciado
na televisão, não possa consumir o que produziu e se conforme com isso”.
É triste ter de admitir, que os intelectuais funcionais às vezes constituem um instrumento
precioso e indispensável a serviço do Estado e da classe dominante, na medida em que
reproduz a concepção do sistema que oprime e esmaga as classes populares.
Pode-se dizer que devido os intelectuais terem fundamentos teóricos, ou seja, co-
nhecimentos profundos sobre ideologia deveriam ser instrumentos de transformação so-
cial. No entanto, muitos deles trabalham para o sistema. Isto é, contra os anseios da maior
parte da população, não mostram à mesma que o salário mínimo sequer dá para satisfazer
as necessidades básicas. Além disso, alegam que as suas vidas privilegiadas são fruto de
sua intelectualidade e não devido eles trabalharem em prol do sistema.
Não resta a menor dúvida que o intelectual tem que se conscientizar que seu papel deve
ser de uma práxis revolucionária, que não se limite a dicotomia de classes, numa sociedade
nos moldes da nossa. Portanto, a ideologia empregada pelo intelectual deve ter uma postura
crítica e necessita de ser uma expressão do mundo material e um agente transformador da
estrutura vigente.
Pode-se dizer que somente quando a ideologia for utilizada com o propósito de denun-
ciar as contradições socioeconômicos típicas de qualquer sociedade capitalista, que poderá
ser construída uma nova sociedade onde todos tenham seus direitos básicos garantidos.

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A RELAÇÃO ENTRE EPISTEMOLOGIA E EDUCAÇÃO NO CONTEXTO
DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS

É importante salientar que as tendências pedagógicas, que se faz presente no pro-


cesso de ensino aprendizagem são classificadas em dois grupos, ou seja, as Pedagogias
Tradicionais e Pedagogias Contra Hegemônicas. Assim será realizado um breve enfoque
sobre esses dois grupos.

Pedagogia Tradicional

A Pedagogia tradicional defende a concepção que à escola tem por finalidade preparar
os indivíduos para desempenhar papéis sociais, conforme as aptidões dos indivíduos. No en-
tanto, é necessário que os mesmos aprendam a adaptar-se tanto aos valores quanto às
normas vigentes na sociedade de classes por meio do desenvolvimento da cultura de cada
um. Contudo, Saviani (2009, p. 6) alerta que: “A escola organiza-se como uma agência cen-
trada no professor o qual transmite, segundo uma graduação lógica, o acervo cultural aos
alunos. A este cabe assimilar os conhecimentos que lhe são transmitidos”.
Nesse sentido, a Pedagogia Tradicional infelizmente é um instrumento dos anseios
dominantes em detrimento dos anseios populares. Uma vez que, a Tendência da Pedagogia
Tradicional tem como peculiaridade dar ênfase tanto ao ensino humanitário quanto cul-
tural geral, pelo qual o estudante é responsável pela realização individual, ou seja, pe-
los seus méritos.
Neste contexto, não há como negar que a Tendência da Pedagogia Tradicional, vai
de encontro com os anseios opressores, pois, responsabiliza o próprio educando pelo seu
sucesso ou fracasso, não levando em consideração as condições sociais dos educandos,
que sem dúvida nenhuma interferem no processo de ensino-aprendizagem.
Em tal tendência, lamentavelmente os métodos utilizados em sala de aula, funda-
menta-se basicamente na exposição do conteúdo ou na demonstração. Na Tendência da
Pedagogia Tradicional, o relacionamento entre educador e educando é caracterizado pelo
autoritarismo, ou seja, o mestre impõe aos seus alunos, suas ideias, ocorrendo assim a
submissão dos mesmos ao professor. Deste modo, não contribui com a ascensão das clas-
ses oprimidas. Desta maneira, Mota (1995, p. 30) esclarece que: “Relações autoritárias ou
paternalistas, tendo como efeito primeiro a repressão do discurso dominado, contribuem,
em consequência, para a reprodução das relações de dominação, por isso mesmo, não
favorecem a promoção das classes subalternas”.
Assim a tendência em questão, com certeza no contexto escolar, reproduz uma apren-
dizagem mecânica, onde a criatividade e a conscientização não constitui-se metas a serem
alcançadas no processo de ensino-aprendizagem. Infelizmente, esta tendência ainda se

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faz presente no processo educativo. Assim Saviani (2009, p. 5 - 6): “Seu papel é difundir
a instrução, transmitir os conhecimentos acumulados pela humanidade e sistematizados
logicamente, o mestre escola será o artificie dessa grande obra”.
Portanto, a Pedagogia Tradicional em sua proposta, somente beneficia os favoreci-
dos pelo sistema.

Pedagogia Nova

Por sua vez, a Pedagogia Nova defendia que cabia a instituição escolar promover a
igualdade social. Deste modo, seria possível eliminar as distorções resultantes da margina-
lidade, que a escola tradicional não foi capaz de corrigir. Segundo tal Pedagogia a questão
da marginalidade não pode ser entendida através das distorções entre os indivíduos. Assim,
compreende porque conforme a Pedagogia Nova os marginalizados são as pessoas tanto
desajustadas quanto inadequadas, que a educação destes sujeitos contribuírem para eles
adequar-se a sociedade. Assim Saviani (2009, p. 8) concebe que:

A educação como fator de equalização social, será um instrumento de corre-


ção da marginalidade na medida em que cumprir a função de ajustar, adaptar
os indivíduos, à sociedade, incutindo neles o sentimento de aceitação dos
demais e pelos demais. A educação será um instrumento de correção da mar-
ginalidade na medida em que contribuir para a constituição de uma sociedade
cujos membros, não importam as diferenças de quaisquer tipos, se aceitem
mutuamente e se respeitem na sua individualidade específica.

Neste contexto, pode-se afirmar que a escola nova não foi capaz de solucionar a ques-
tão da marginalidade, pelo contrário, contribui para agravar a ainda mais, pois, ela foi um apa-
relho ideológico a serviço do Estado e da elite. Para Saviani (2009, p. 9) isso ocorreu porque:

[...] Ao enfatizar a qualidade do ensino, “ela deslocou o eixo de preocupação


de âmbito político (relativo a sociedade em seu conjunto) para o âmbito téc-
nico pedagógico (relativo ao interior da escola), cumprindo ao mesmo tempo
uma dupla função: manter a expansão da escola em limites suportáveis pelos
interesses dominantes e desenvolver um tipo de ensino adequado a esses
interesses.

Portanto, a escola nova no âmbito desta tendência pedagógica para conservar a ideo-
logia dominante e ao mesmo tempo afastar qualquer possibilidade de sucesso das classes
marginalizadas, ou menos favorecidas e o professor constitui-se um instrumento relevante
desta engrenagem, por ter colaborada com essa situação.

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Tendência Pedagógica Tecnicista

Constata-se que a Tendência da Pedagógica Tecnicista concebe que a missão ou a


finalidade da instituição escolar é proporcionar um sistema social tanto harmônico quanto
orgânico como funcional, nesta tendência fica explícito que a escola atua como instrumento
modelador do comportamento do ser humano, por meio de técnicas apropriadas.
Neste contexto, fica explícito que a ação da escola na Tendência da Pedagogia
Tecnicista contribui para aperfeiçoar a ordem social vigente, associando de forma direta
com sistema produtivo. Deste modo, é natural que utilize da ciência de transformação de
comportamento. Como se vê, objetiva qualificar o indivíduo para atender os anseios do
mercado de trabalho. Desta forma, não é surpreendente constatar que nos conteúdos de
ensino seja priorizados princípios científicos, tanto determinados quanto ordenados em uma
sequência não apenas lógica como também psicológica por especialistas. Deste modo,
Saviani (2008, p. 382) concebe que:

[..] Na Pedagogia Tecnicista o elemento principal passa a ser a organização


racional dos meios, ocupando o professor e o aluno que tem uma posição se-
cundária, relegados que são à condição de executores de um processo cuja,
a concepção, planejamento, coordenação e controle ficam a cargo de espe-
cialistas supostamente habilitados, neutros, objetivos imparcial. A organização
do processo converte-se na garantia da eficiência, compensação e corrigindo
as deficiências do professor e maximizando os efeitos de sua intervenção.

Por tanto a Pedagogia Tecnicista prepara o educando para ser um indivíduo passivo
e útil ao sistema, não questionando o modelo vigente.
É significativo ressaltar que na Tendência da Pedagogia Tecnicista, em relação aos
métodos de ensino são utilizados procedimentos e técnicas consideradas primordiais tanto
ao arranjo quanto controle das situações ambientais que garantem a transmissão e recep-
ção das informações através dos conteúdos. Assim, Saviani (2008, p. 383) afirma que no
tecnicismo pedagógico: “Cabe a educação proporcionar um eficiente treinamento para a
execução das múltiplas tarefas denominadas continuamente pelo sistema social”.
Nas instituições escolares públicas o uso da tecnologia instrucional é constatado por
meio do planejamento em moldes sistêmicos, na visão de aprendizagem como instrumento
de transformação do comportamento, objetivos entre outros.
O relacionamento educador e educando na perspectiva da tendência da Pedagogia
Tecnicista é caracterizado pela ausência dos debates, diálogos e questionamentos. Assim,
a comunicação envolvendo ambos é puramente técnica.

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As Pedagogias contra Hegemônicas

Cabe destacar que as Pedagogias Contra Hegemônicas estão agrupadas em quatro


tendências pedagógicas, ou seja, a Pedagogia da Educação Popular, Pedagogia da Pratica,
Pedagogia Crítica Social dos conteúdos e Pedagogia Histórico Crítica.

Pedagogia da Educação Popular

Em relação à Pedagogia da Educação Popular, pode-se dizer a educação popular é


concebida no âmbito dos movimentos populares. Segundo Saviani (2006, p. 415-416): “[...]
Uma educação do povo e pelo povo, para o povo e com o povo em contraposição aquela
dominante caracterizada com a da elite e pela elite, para o povo, mas contra o povo”.
Vale frisar que a educação popular é um instrumento de conscientização dos educan-
dos, já que a mesma estimula o questionamento o debate, o diálogo, contribuindo assim
com a construção de uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária.
Neste aspecto, é natural que os conteúdos de ensino prioriza temas geradores, que
são coletados da problemática do dia a dia dos alunos. Deste modo, entende-se porque
os temas e abordagens tradicionais são deixados de lado. Nesta tendência o educando é
estimulado a construir o conhecimento, o papel do educador é mediar, ele jamais impõem
seus alunos sua concepção, já que as discussões ou questionamentos é uma constante
em sala de aula. Assim, Freire (1974 apud SAVIANI, 2006, p. 315) afirma que: “A essência
pedagógica é o método ativo, dialogal, crítico e orientador, que propiciasse a modificação
do conteúdo programático da educação com base no uso de técnicas como o da redação
e da codificação”.
Portanto, a Pedagogia da Educação Popular almeja que a escola seja, capaz de exer-
cer uma mudança na personalidade dos estudantes, no contexto tanto libertário quanto
auto gestionário sendo a mesma fundamentada na participação de grupo como também
em mecanismos institucionais de transformações como exemplos conselhos e reuniões,
contrariando assim o modelo educacional vigente na medida em que concebe o sujeito
como o produto social e que o desenvolvimento pessoal só é possível no âmbito coletivo.
Como se vê, no recinto escolar é a Pedagogia da Educação Popular, é o instrumento de
resistência contra a burocracia, ou seja, eliminando a dominação estatal, dando ampla a
autonomia aos mestres etc.
Neste aspecto, é natural que apenas o experimentado e o vivido sejam não apenas
incorporado como também empregado em condições novas.
É oportuno, nortear que a Pedagogia da Educação Popular tem como seu maior ex-
poente o educador Paulo Freire, suas idéias foram aplicadas por ele em outras nações

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como exemplo o Chile, Guine Bissau e outros, suas ideias têm-se difundido principalmente
entre os movimentos populares, sua proposta está voltada em especial para a educação de
adultos. No entanto, vários educadores, têm buscado por a mesma em prática em todos os
níveis de ensino.

Pedagogia da Prática

Por sua vez, a Pedagogia da Prática, dá ênfase ao conceito de classe, uma vez que
o relevante para aprendizagem do educando é o conhecimento ou saber elaborado na vi-
vência social. Todavia, tal conhecimento não é valorizado pela instituirão escolar e deveria
ser prestigiado.
No contexto escolar, o saber deve constituiu-se a essência da prática do educador.
Deste modo, entende-se porque Saviani (2006, p. 416):

É nessa condição que cabe ao professor assumir a direção do processo, des-


colando-se o eixo da questão pedagógica do interior da relação entre profes-
sores, métodos e alunos para a prática social, recuperando-se a criatividade
de professores e alunos.

De acordo com Saviani (2006) o educador Miguel Arroyo, realiza severas críticas ao
modelo da instituição escolar vigente, pois, essa instituição em sua proposta é destinada
as classes subalternas para mantê-las alienadas, que tem como única finalidade tornar-los
sujeitos a mercê dos anseios dominantes. Deste modo, para construir uma escola para
atender as demandas da classe subalterna assim é necessário destruir o modelo idealizado
pelo Estado opressor e a elite.
Contudo, tem identificado cada vez mais que tanto professores quanto educadores
compromissados com o ensino escolar estão adotando princípios desta tendência.

Tendência da Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos

Na Tendência da Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos, a proporção de conteúdos


é atividade essencial. Contudo, isso se aplica a conteúdos tanto vivos quanto concretos.
Como se vê, a valorização da instituição escolar como aparelho de apropriação do conhe-
cimento, é um instrumento de serviço aos anseios populares. Uma vez que a mesma pode
tornar-se um recurso para combater a seletividade social e ao mesmo tempo democratiza-la.
Isto somente ocorre quando a instituição escolar assegura a todos um ensino de qualidade.
Assim, se entende porque em tal tendência não é apenas importante, que os conteú-
dos sejam bem ensinados, é imprescindíveis que eles associem, de modo indissociável a
relevância tanto humana quanto social. Neste aspecto, Saviani (2008, p. 419) afirma que:

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“Os conteúdos do ensino não outros, serão os conteúdos culturais universais que vieram a
se construir em patrimônio comum da humanidade, sendo permanente reavaliada a luz da
realidade social nos quais vivem os alunos”.
Neste âmbito, é significativo ressaltar que os métodos de ensino utilizados sejam
subordinados aos conteúdos, por exemplo, se a finalidade é dar ênfase a aquisição do
saber, é preciso que o conhecimento associado às realidades sociais, é necessário que os
métodos sejam favoráveis a correspondência dos conteúdos com os anseios do educando
e que eles sejam capazes de considerar nos conteúdos um instrumento do seu empenho
de entender a realidade.
Neste aspecto, fica nítido que a atividade docente associada à prática vivenciada pelos
educandos com os conteúdos sugeridos pelo educador, ocorrendo assim a ruptura com a
aprendizagem tradicional. Assim Saviani (2006, p. 420) afirma que.

[...] os pressupostos da aprendizagem sobre os quais se assenta essa pro-


posta pedagógica: a aprendizagem do conhecimento supõe uma estrutura
cognitiva já existente na qual se possa apoiar; caso esse requisito não esteja
dado, cabe ao professor provê-lo. A aprendizagem significativa deve partir do
que o aluno já sabe.

Nesse âmbito, acredita ser significativo frisar que a integração ocorre através de ex-
periências que tem de satisfazer, não apenas os anseios do educando como também as
exigências sociais. Deste modo, a instituição escolar deve proporcionar experiências que
possibilitam o educando a educar-se em um processo de aprendizagem tanto de edificação
quanto de reedificação do objeto. Assim, não é surpreendente constatar que os conteúdos
de ensino sejam determinados de acordo com as experiências vivenciadas pelos alunos
diante dos desafios cognitivos e condições problemáticas.
O relacionamento mestre e estudante é caracterizado pelo provimento das situações
em que educadores e educandos possam ajudar para fazer que ocorra de forma apropriada
a troca de conhecimento entre ambos e tendo o professor como mediador.
Neste contexto, o autor da pesquisa considera importante diferenciar educado-
res de professores.
Observa-se que o “educador” que não ensina não tem como meta desenvolver a po-
tencialidade e as criatividades natas do indivíduo. Para este professor o que tem importância
é o pupilo obter em uma determinada matéria o “conhecimento”. Contudo, este saber ad-
quirido não traz nenhuma mudança na vida do estudante, afinal, o mestre não tem nenhum
compromisso com a educação. Portanto, o mesmo não possui nenhuma utilidade, já que ele
não cumpre com a sua função. Deste modo, Alves (1989, p. 24) argumenta que:

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Mas professores são habitantes de um mundo diferente onde o ‘educador’
pouco importa, pois o que interessa é um ‘crédito’ cultural que o aluno adquire
numa disciplina identificada por uma sigla, sendo que, para fins institucionais,
nenhuma diferença faz aquele que a ministra. Por isso mesmo professores
são entidades ‘descartáveis’ da mesma forma como há canetas descartáveis,
coadores de café descartáveis, copinhos plásticos de café descartáveis.

Por sua vez, o educador é aquele que contribui para o desenvolvimento crítico do edu-
cando, por exemplo, o mesmo é capaz de reconhecer quando a sua aula não satisfaz e não
consegue convencer o aluno do valor do conhecimento proporcionado pela disciplina. Assim,
o mestre deve deixar de lado a mesma e ocupar-se de outra matéria, contudo, o educador
demonstrará o significado de tal disciplina no outro dia, levando o educando a descobrir por
si próprio a importância do conhecimento que era ministrado na aula anterior. Ocorre assim
o processo de ensino e aprendizagem em sua plenitude. Neste aspecto, o professor de
filosofia da UCG Guimarães (1989: 17), citando Rousseau, demonstra que:

O educador pode muito bem abandonar uma aula de Geografia, por exemplo,
se o aluno quiser naquele momento saber sua utilidade e não puder convencer-
-se plenamente disto. O mestre dirá: ‘Tendes razão. A gente se ocupa com outra
coisa, e não se pensa mais em geografia, durante o dia todo’. Esta utilidade
certamente poderá ser reconhecida no dia seguinte quando, em passeio, os
dois, professor e aluno, estiverem perdidos e desorientados, sem saberem a
direção correta para onde se movem. Um pouco de teoria sobe a disciplina
em questão, aliada a meia prática de astronomia, podem bastar para Emílio
reconhecer com entusiasmo e alegria a utilidade do que era ensinado antes.

Portanto, no âmbito da tendência pedagógica crítica dos conteúdos, constata-se que


a concepção educacional concebe o indivíduo com ser histórico. Assim, Dalarosa (2008,
p. 349) concebe que: “Considerando que a Epistemologia, a educação e a prática docente
são produtos de forças do além e nem portadoras de qualquer neutralidade. São produções
humanas e históricas, comprometidas politicamente, tenhamos ou não consciência disso”.
Enfim não há como negar que não existe uma estreita relação entre Epistemologia,
Educação em relação as tendências pedagógicas.

Pedagogia Histórico Crítica

A Pedagogia Histórico Crítica na concepção de Saviani (2004, p. 421-422):

É tributária da concepção dialética, especificamente na versão do materia-


lismo histórico, tendo fortes as finalidades no que se refere as suas bases
psicológicas, com a psicologia histórico-cultural, desenvolvida pela escola de
Vigotski. A educação é entendida como o ato de produzir, direta e intencional-
mente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica
e coletivamente pelo conjunto dos homens. Em outros termos, isso significa
que a educação é entendida como mediação no seio da prática social global. A

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prática social põe-se, portanto, como o ponto de partida e o ponto de chegada
da prática educativa.

Portanto fica explicito que a Pedagogia Histórico Crítico, sem dúvida nenhuma funda-
menta na teoria histórico cultural de Vigotski que entende o indivíduo como sendo um ser
histórico que é edificado por meio de suas relações tanto com o mundo natural quanto social.
Assim tal relação é baseada na relação dialética.
Neste contexto, é importante salientar que em tal tendência a educação é concebida
como instrumento responsável em produzir a humanidade do indivíduo. Assim, a meta da
instituição escolar sem dúvida nenhuma é buscar adequar as necessidades pessoais, ao
meio social que estar inserido os mesmos. Neste âmbito Saviani (2006, p.259).

[...] a ênfase na prática, reforça o papel do aluno, entendido como aquele que
só pode aprender na atividade prática, isto é na medida em que, tendo a ini-
ciativa da ação, expressa seu interesse quanto àquilo que é valioso aprender,
e, assim procedendo, realiza, como o auxílio do professor, os passos de sua
própria educação, que configuram o método de aprendizagem mediante o qual
ele, constrói os próprios conhecimentos.

No âmbito destas considerações é relevante nortear que em embora teoria e prática


sendo a distinta e de suma importância para a vivência humana. Todavia, ambos aspectos
estão relacionados entre se. Deste modo, a prática só tem sentido devido a teoria. Dizendo
em outras palavras, o desenvolvimento da teoria só é possível através da prática, uma vez
que as questões colocadas pela prática que tem de ser norteados pela teoria. Desta ma-
neira, entende-se porque a nova concepção de educação como instrumento consciente de
sua ação transformadora, sabe que ele pode criar condições para que durante a sua prática
educativa surjam condições para a elaboração do pensamento crítico do aluno.
Vale frisar que em tal tendência a relação envolvendo mestre e aluno, não privilegia
o educador, pois ambos (professor e aluno) são sujeitos do processo da aprendizagem já
que sua atribuição é auxiliar o desenvolvimento tanto livre quanto espontâneo do estudante,
quando ocorre a intervenção, a finalidade da mesma é dar forma ao raciocínio do mesmo.
Assim, Saviani (2008, p. 267):

Daí decorre um método pedagógico que parte da prática social em que o pro-
fessor e aluno se encontram igualmente inseridos, ocupando, porém, posições
distintas, condição para que travem uma relação fecunda na compreensão
e no encaminhamento da solução dos problemas postos pela prática social.

Desta forma o educador consciente de sua ação transformadora, sabe que ele pode
criar condições para que durante sua prática educativa, surjam condições para elaboração
do pensamento crítico do aluno. Portanto a proposta da Pedagogia Histórico Crítico busca

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romper com a passagem do professor tradicional e conteudista para educador mediador,
são muitas as questões e desafios a serem vencidos. No entanto os debates dos conteú-
dos mais significativos estão presentes e a realidade também, desta maneira tal tendência
está contribuindo pata a escola almejada que é formar o aluno consciente para o mundo
que está inserido.

CONCLUSÃO

Concluindo, esta pesquisa constatou-se que educação está presente até mesmo
quando um pai corrige seu filho. Além disso, a mesma faz-se presente inclusive em locais
que não há escola.
Destacou que a ideologia sem dúvida alguma tem sido um instrumento, utilizado em
prol de uma minoria, o mais triste é verificar que há intelectuais que colaboram com os pri-
vilegiados em detrimento da maioria do povo brasileiro, que esta situação somente trans-
formará quando os intelectuais adorarem uma postura crítica, denunciando os desmandos
da elite e do Estado.
Nesta pesquisa salientou que as tendências pedagógicas, demonstrando a relevância
das mesmas no processo de ensino-aprendizagem, entre as várias tendências constatou-se
que a Tendência Liberal Tecnicista é um instrumento a serviço dos anseios dominantes,
não contribuindo assim para a formação crítica dos educandos. Já Tendência Progressista
Crítico Social dos Conteúdos constitui-se em instrumento relevante na formação crítica do
educando, pois, ela estimula o questionamento ou debate, leva o aluno a posicionar critica-
mente diante dos acontecimentos.

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