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FACULDADE ÚNICA

DE IPATINGA

1
Gabriel Romagnose Fortunato de Freitas Monteiro
Doutorando em Geografia pelo pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Mestre em
Geografia pelo mesma instituição (2017). Graduado no curso de Geografia pela Universi-
dade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) (2014). Coordenador do Núcleo de Estudos Afri-
canos e Afro-brasileiros (NEAB) da U Universidade Estadual de Minas Gerais – Carangola,
onde também atua como professor. Membro pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Ter-
ritório, Ações Coletivas e Justiça - NETAJ da UFF. Tem experiência na área de Geografia,
com ênfase em Geografia Humana, atuando nos temas de Movimentos Sociais e Geogra-
fia; Territorialidades Negras e Quilombos, Ações afirmativas no ensino superior; Educação
Popular; Ensino de Geografia; Racismo e Anti-Racismo; Relações Raciais e Educação e
Ensino de Geografia. Associado a Associação de Geógrafos Brasileiros (AGB) - Seção Local
Niterói e da Associação Brasileira de Pesquisadores/as negros/as (ABPN).

José Tadeu de Almeida

Pós-Doutorando em Ciência da Religião pelo Instituto de Ciências Humanas da Universidade


Federal de Juiz de Fora (ICH-UFJF). Doutor em História Econômica pela Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) (2015), mestre em Desenvolvi-
mento Econômico (2010) e graduado em Ciências Econômicas (2007) pelo Instituto de Eco-
nomia da Universidade Estadual de Campinas (IE-UNICAMP) (2010). Professor elaborador (con-
teudista) para as áreas de Ciências Humanas, Ciências Exatas e Ciências Sociais Aplicadas, e
membro da Associação Brasileira de Educação à Distância (ABED). Pesquisador e docente
nas áreas de Ciências Econômicas, História do Brasil e Ciências da Religião.

PESQUISA E PRÁTICA INTERDISCIPLINAR:


GEOGRAFIA POLÍTICA E ECONÔMICA

Gabriel Romagnose Fortunato de Freitas


Monteiro José Tadeu de Almeida

1ª edição
Ipatinga – MG
2021

2
FACULDADE ÚNICA EDITORIAL

Diretor Geral: Valdir Henrique Valério


Diretor Executivo: William José Ferreira
Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos
Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira
Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa
Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva
Carla Jordânia G. de Souza
Rubens Henrique L. de Oliveira
Design: Brayan Lazarino Santos
Élen Cristina Teixeira Oliveira
Maria Luiza Filgueiras

© 2021, Faculdade Única.

Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização
escrita do Editor.

T314i Teodoro, Jorge Benedito de Freitas, 1986 - .


Introdução à filosofia / Jorge Benedito de Freitas Teodoro. – 1. ed. Ipatinga, MG:
Editora Única, 2020.
113 p. il.

Inclui referências.

ISBN: 978-65-990786-0-6

1. Filosofia. 2. Racionalidade. I. Teodoro, Jorge Benedito de Freitas. II. Título.

CDD: 100
CDU: 101
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920.

NEaD – Núcleo de Educação as Distancia FACULDADE ÚNICA


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Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG
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cado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são
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uma função específica, mostradas a seguir:

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fico (artigos, monografias, dissertações e teses), sites ou
links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e Biblio-
teca Pearson) relacionados com o conteúdo abor-
dado.
Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações im-
portantes nas quais você deve ter um maior grau de
atenção!

São exercícios de fixação do conteúdo abordado em


cada unidade do livro.

São para o esclarecimento do significado de determi-


nados termos/palavras mostradas ao longo do livro.

Este espaço é destinado para a reflexão sobre ques-


tões citadas em cada unidade, associando-o a suas
ações, seja no ambiente profissional ou em seu cotidi-
ano.

4
SUMÁRIO

UNIDADE ORIGEM E EVOLUÇÃO DA GEOGRAFIA POLÍTICA ................................. 8

01
1.1 POLÍTICA, GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA.................................... 8
1.2 GEOGRAFIA POLÍTICA CLÁSSICA...............................................................12
1.3 GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA ...............................................14
FIXANDO O CONTEÚDO...............................................................................17

UNIDADE CONCEITOS-CHAVES DA GEOGRAFIA POLÍTICA ........................22

02
2.1 PODER, TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADES ................................................22
2.2 FRONTEIRAS: ANTIGOS E NOVOS SIGNIFICADOS ....................................28
2.3 SOBRE ESTADO; NAÇÃO E ESTADOS-NACIONAIS ...................................31
FIXANDO O CONTEÚDO...............................................................................17

GLOBALIZAÇÃO, REGIONALIZAÇÃO E FRAGMENTAÇÃO DO


UNIDADE MUNDO CONTEMPORÂNEO .................................................................43

03
3.1 GLOBALIZAÇÃO COMO QUESTÃO ............................................................43
3.2 O ESTADO E TERRITÓRIO NA NOVA ORDEM MUNDIAL ...........................46
3.3 NOVA ORDEM MUNDIAL: REGIONALIZAÇÃO E FORMAÇÃO DOS
BLOCOS ECONÔMICOS...............................................................................48
FIXANDO O CONTEÚDO...............................................................................57

QUESTÕES POLÍTICAS E ECONÔMICAS NA ESCALA


UNIDADE
REGIONAL/MUNDO........................................................................59

04
4.1 A QUESTÃO DA HEGEMONIA MUNDIAL ....................................................59
4.2 O PAPEL DOS EUA NA GEOPOLÍTICA MUNDIAL .......................................64
4.3 A ARTICULAÇÃO DOS BRICS E SEU PAPEL NA ECONOMIA-MUNDO....68
FIXANDO O CONTEÚDO .......................................................................... 72

UNIDADE CONFLITOS, DINÂMICAS ECONÔMICAS E REGIONALISMO .......77

05
5.1 PANORAMA GEOPOLÍTICO DOS CONFLITOS MUNDIAIS ........................77
5.2 ÁREAS DE CONFLITOS NA AMÉRICA LATINA ............................................80
5.3 A GEOPOLÍTICA DO BRASIL NA AMÉRICA DO SUL: O CASO DA IIRSA 84
FIXANDO O CONTEÚDO .......................................................................... 92

UNIDADE (RE) CONFIGURAÇÕES DO PODER MUNDIAL E OS RECORTES

06
ESPACIAIS DA REALIDADE CONTEMPORÂNEA ................................ 94

6.1 OS NOVOS ESPAÇOS DE PODER NA (DES) ORDEM POLÍTICA MUNDIAL


..........................................................................................................................94
6.2 RELAÇÃO CENTRO-PERIFERIA E A NOVA DIVISÃO INTERNACIONAL DO
TRABALHO.......................................................................................................99

5
6.3 A NOVA REGIONALIZAÇÃO DO MUNDO CONTEMPORÂNEO:
TERRITÓRIO, REDE E AGLOMERADOS DE EXCLUSÃO. ............................103

UNIDADE GEOGRAFIA ECONÔMICA E DA POPULAÇÃO ..........................114

07
7.1 INTRODUÇÃO...............................................................................................114
7.2 UMA INTRODUÇÃO À GEOGRAFIA ECONÔMICA.................................114
7.3 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL E SEU ESPAÇO
GEOGRÁFICO ..............................................................................................118
7.4 CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO E DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO ...124
7.4.1 A Realidade Do Crescimento Demográfico ................................ 124
7.4.2 Teorias Do Desenvolvimento Econômico E A Divisão Social Do
Trabalho ............................................................................................................ 128
FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................ 132

UNIDADE GEOGRAFIA ECONÔMICA E INDICADORES DE

08
DESENVOLVIMENTO .....................................................................138

8.1 INTRODUÇÃO...............................................................................................138
8.2 TEORIAS DEMOGRÁFICAS EM PERSPECTIVA HISTÓRICA ......................138
8.2.1 O Liberalismo Pessimista ..................................................................... 140
8.3 RECENSEAMENTO POPULACIONAL E PESQUISAS AMOSTRAIS.............142
8.4 ÍNDICES DE ATIVIDADE ECONÔMICA E DESENVOLVIMENTO ..............145
FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................ 151

UNIDADE GEOGRAFIA ECONÔMICA E GLOBALIZAÇÃO ..........................157

09
9.1 INTRODUÇÃO...............................................................................................157
9.2 A EVOLUÇÃO DA ATIVIDADE INDUSTRIAL E A ESTRUTURAÇÃO DO
ESPAÇO.........................................................................................................157
9.3 O PROCESSO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA E A GLOBALIZAÇÃO
ECONÔMICA ...............................................................................................160
9.3.1 Os Efeitos Da Globalização ........................................................... 161
9.4 A INDÚSTRIA MODERNA E SUA DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA .............164
9.4.1 A Guerra Fiscal.............................................................................. 165
FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................ 167

UNIDADE DINÂMICAS DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E A

10
GEOGRAFIA URBANA...................................................................173

10.1 INTRODUÇÃO...............................................................................................173
10.2 OS MEIOS DE TRANSPORTES E O COMÉRCIO .........................................173
10.2.1 Geografia Dos Transportes........................................................... 174
10.2.2 Relações Comerciais Nos Centros UrbanoS............................. 181
10.3 ÊXODO RURAL E A URBANIZAÇÃO DAS METRÓPOLES ..........................183
10.3.1 Considerações Sobre A Dinâmica Do Agronegócio No Brasil
....................................................................................................................... 183
10.3.2 Êxodo Rural...................................................................................... 187
10.4 ECONOMIA DAS CIDADES E OS DESAFIOS DA SUSTENTABILIDADE ....189
10.4.1 Arranjos Produtivos Locais (Apls)................................................. 189
10.4.2 Dimensões Do Empreendedorismo Urbano: As Startups ....... 191
10.4.3 O Desenvolvimento Sob A Esfera Local .................................... 192
FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................ 194

6
UNIDADE GEOGRAFIA ECONÔMICA E MATRIZES ENERGÉTICAS ..............201

11
11.1 INTRODUÇÃO...............................................................................................201
11.2 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS FORMAS DE UTILIZAÇÃO DA ENERGIA
........................................................................................................................201
11.3 FONTES E FORMAS DE ENERGIA E MODOS DE REGULAÇÃO................202
11.4 PROBLEMAS ENERGÉTICOS CONTEMPORÂNEOS ...................................206
FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................ 211

UNIDADE ASPECTOS DE ECONOMIA INTERNACIONAL E GEOPOLÍTICA

12
CONTEMPORÂNEA ................................................................................ 217

12.1.INTRODUÇÃO ..............................................................................................217
12.2. A INSERÇÃO DO BRASIL NA GEOGRAFIA ECONÔMICA MUNDIAL E AS
ORGANIZAÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS ..............................217
12.2.1análise Da Balança Comercial Brasileira ................................. 219
12.3.INTEGRAÇÃO ECONÔMICA NA AMÉRICA LATINA...............................223
12.3.1 Substituição De Importações ...................................................... 223
6.4 BLOCOS ECONÔMICOS: ASPECTOS DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
DOS PAÍSES ASIÁTICOS ..............................................................................225
FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................ 230

RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ....................................236

REFERÊNCIAS.................................................................................238

7
ORIGEM E EVOLUÇÃO DA UNIDADE

01
GEOGRAFIA POLÍTICA

1.1 POLÍTICA, GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA

Para aprofundar o debate na geografia política é necessário compreender o


significado que o termo política tem sido atribuído pelo campo disciplinar, pois é im-
possível debater geografia política sem a incorporação da política. Segundo o Dici-
onário Michaelis o significado de política aparece como: arte ou ciência de gover-
nar, assim como arte ou ciência da organização, direção e administração de nações
ou Estados e aplicada nos negócios internos da nação (política interna) ou nos ne-
gócios externos (política externa); inclusive, no sentido mais extenso, pode significar
uma série de ações a fim de obter algo.
À vista disso, o termo política no seu sentido mais restrito está relacionado a
ação institucional do Estado e no sentido mais abrangente compreende os propósi-
tos e as ações de outros atores sociais. Castro (2005) aponta que a política enquanto
ação das instituições do Estado é social e territorialmente ampla, ao passo que a
ação dos outros atores sociais é estrita, pois atinge somente áreas e grupos direta-
mente associados.
Para Arendt (2002) a política é fundamentada na pluralidade dos homens e
ela deve amparar a convivência dos diferentes, não dos semelhantes. Nossa socie-
dade é organizada por grupos e classes sociais com distintos interesses e muitas vezes
conflitantes, neste sentido, cabe a política a capacidade de organizar esses conflitos
de interesses de modo pacífico para que todos alcancem seus projetos. Dessa forma,
a política constitui-se numa instituição que pertence a sociedades díspares e com-
plexas.
Castro (2005) aponta que o conceito tem sido utilizado a partir de três pers-
pectivas: i) a sociológica que desloca o poder do Estado como centralidade na sua
análise e incorpora cada vez mais a sociedade; ii) a da economia política que parte
do entendimento do domínio estrutural da infraestrutura sobre a política e, iii) a ciên-

8
cia política que procura assimilar as motivações das ações e decisões dos atores so-
ciais normalizadas por meio do aparato Estatal. A geografia política clássica incorpo-
rou as ideias da ciência política, contudo sofreu fortes críticas da geografia política
contemporânea que busca alinhar as duas primeiras perspectivas nos seus estudos.
Os estudos da Geografia Política têm origem no final do século XIX através da
publicação da obra de Friedrich Ratzel, em 1887, intitulada Politische Geographie.
Naquele momento, o ator principal que exercia poder sobre os territórios era o Es-
tado, portanto a centralidade dos estudos da Geografia Política era o Estado.
Atualmente, o campo de estudo da geografia política caracteriza-se na aná-
lise da “relação entre política – expressão e modo de controle dos conflitos sociais –
e o território – base material e simbólica da sociedade” (CASTRO, 2005, p. 15-16).
A geografia política pode ser entendida como um arcabouço de noções po-
líticas e acadêmicas acerca das relações da geografia com a política e vice-versa.
Dessa maneira ela analisa de que forma “os fenômenos políticos se territorializam e
recortam espaços significativos das relações sociais, dos seus interesses, solidarieda-
des, conflitos, controle, dominação e poder” (CASTRO, 2005, p. 53).
Sendo assim, os estudos da Geografia Política pontuam além das análises das
relações políticas e de poder um profundo diagnóstico do fenômeno político e suas
ações no espaço geográfico. Compreendida como um subcampo da Geografia,
ela vem requalificando sua temática de pesquisa nos últimos anos:

Os temas que compõem a gestão administrativa interna dos espaços


nacionais em seus vários níveis são problemáticas presentes nas discus-
sões: a organização do poder público, o problema da autonomia re-
gional e local, o comportamento político eleitoral das diversas regiões,
os fenômenos políticos e os modos como eles se territorializam, respon-
dendo aos desafios dos fenômenos em escalas múltiplas e as novas
formas de lutas e constatações, lutas sociais, etc (COSTA, 1992, p. 496).

Então, nos dias de hoje, as reflexões produzidas e as diversas questões coloca-


das pela Geografia Política necessitam da ampliação do seu escopo analítico – as
relações entre política e território – a fim de evidenciar certos fenômenos e permitir
que os novos atores sociais não fiquem limitados aos limites institucionais do Estado
(CASTRO, 2005).
A geopolítica durante muitos anos passou por uma confusão conceitual e ter-
minológica, para Costa (1992), geógrafo que discute geopolítica, ela é considerada
um subproduto e um reducionismo técnico e pragmático da Geografia Política, pois
se apodera das suas premissas gerais e as aplica nos seus estudos de casos concretos

9
ao jogo das forças estatais sobre o espaço. O autor ainda afirma que a “Geopolítica
representa um inquestionável empobrecimento teórico em relação à análise geo-
gráfico-política de Ratzel e tantos outros” (COSTA, 1992, p. 65).
O sueco Rudolf Kjéllen foi o pioneiro desses estudos pelo fato de ter utilizado o
termo geopolítica para expor as relações entre Estado e Território da sua “nova ciên-
cia” direcionada aos “estados maiores” dos impérios centrais da Europa, principal-
mente a Alemanha. O autor “não escondia sua admiração pelo Estado Maior ale-
mão e seu desejo de que a Europa viesse a ser unificada sob um imenso império ger-
mânico” (COSTA, 1992, p. 57). Para ele caberia a geopolítica a formulação de estra-
tégias de domínio e conquista voltadas à aquisição de poder sobre territórios. O mo-
mento histórico de ascensão e surgimento da geopolítica, do século XIX até o século
XX, era caracterizado pela emergência de potências mundiais e o imperialismo
como modo de relacionamento internacional que apontava estratégias de domina-
ção dos territórios em escala global.
Nesse contexto, os EUA se consolidam como uma nova potência mundial, sur-
gindo com A. T. Mahan a teoria geopolítica sobre o poder marítimo, publicada em
1890, A influência do poder marinho sobre a história. De acordo com o autor o se-
gredo para a hegemonia mundial era no domínio das rotas marinhas com uma polí-
tica voltada para a construção de um poder marítimo. De acordo com o mapa
abaixo é possível perceber a capacidade dos EUA de dominação de outros territórios
em várias direções.

Figura 1: A Teoria do Poder Marítimo de Mahan (1890)

Fonte: Bonfim (2005, p. 57)

Ainda nesta abordagem, aparece o geógrafo inglês H. Mackinder que defen-


dia a importância do “poder terrestre” para a disputa da hegemonia global. Diante

10
das mudanças socioeconômicas mobilizadas pelo desenvolvimento do transporte
terrestre e meios de comunicação - ferrovias e telégrafos -, Mackinder acreditava
que quem controlasse a Eurásia, intitulada de Ilha Mundial pelo autor, tendo como
Estado-pivô ou hearthland o território da Rússia, exerceria hegemonia mundial.

Figura 2: O heartland (terra-coração) de Mackinder.

Fonte: Vesentini (2012, p. 22)

Portanto, a geopolítica clássica, tinham uma perspectiva militar de domínio


territorial, estava intrinsecamente associada às propostas e ações do poder político
representando a visão do Estado nacional e apresenta-se como um “instrumento da
dominação, como saber e técnica de ação política apropriada ao exercício do po-
der (via espaço) dos grupos ou da classe que detém a hegemonia no conjunto do
Estado”.
Neste sentido:

É sem sombra de dúvida que o surgimento da Geografia Política e so-


bretudo da Geopolítica são um produto de contexto europeu na vi-
rada do século XIX para o XX, com F. Ratzel e R. Kjéllen, respectiva-
mente. Num plano mais geral, entretanto, não se pode esquecer que
o interesse pelos fatores referentes à relação entre espaço e poder
também manifesta um momento histórico que envolvia o mundo em
escala global, caracterizado pela emergência das potências mundi-
ais e, com elas, o imperialismo como forma histórica de relaciona-
mento internacional. Em outros termos, as estratégias dessas potências
tornaram-se antes de tudo globais, isto é, “projetos nacionais‟ tende-
ram a assumir cada vez mais um conteúdo necessariamente interna-
cional (COSTA, 1992, p. 58).

Uma nova concepção de geopolítica surge com Yves Lacoste em 1976 com
o lançamento do livro A Geografia - isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra
e da revista trimestral Hérodote. O autor afirma que o Estado-nação não é mais a

11
única representação geopolítica - o único com poder a controlar o espaço geográ-
fico -, as relações entre poder-território podem ser analisadas por vastas representa-
ções e diversos atores sociais.

1.2 GEOGRAFIA POLÍTICA CLÁSSICA

É unanimidade entre os geógrafos que o período compreendido como geo-


grafia política clássica – momento pioneiro em que autores e estudiosos elaboraram
as primeiras obras, sistematizações e reflexões sobre as teorias e fundamentações
deste subcampo – a importância do alemão Friedrich Ratzel no que tange a totali-
dade dos seus trabalhos, principalmente a de maior relevância para a temática, pu-
blicada em 1897 intitulada, primeiramente, Geografia Política. Na sua segunda edi-
ção em 1902 apresentou-se com o subtítulo de “Uma geografia dos Estados, do co-
mércio e da guerra”. Assim como a obra do geógrafo francês Camille Vallaux, O solo
e o Estado, de 1910, com uma abrangência menor que a do Ratzel, mas de grande
valor no debate da geografia política.
Antes de avançar no debate a respeito da obra de Ratzel, para Costa (1992),
é fundamental compreender o contexto intelectual e político em que o autor estava
inserido. Sua formação acadêmica foi em Zoologia na universidade alemã de Heil-
deberg, fato que possibilita estabelecer a influência das ciências naturais no decorrer
do seu pensamento.
Uma questão importante abordada na obra do autor é que o Estado deve ser
essencialmente territorial, ou seja, a ideia de um “Estado como organismo territorial”:

A ideia de organismo foi emprestada por Ratzel à biogeografia, para


a qual o solo condiciona as formas elementares e complexas de vida.
Nesse sentido, o Estado, como forma de vida, tenderia a comportar-
se (por analogia) segundo as leis que regem os seres vivos na terra, isto

12
é, nascer, avançar, recuar, estabelecer relações, declinar, etc
(COSTA, 1992, p.33).

A noção de Estado como organismo está relacionada a sua característica de


agente articulador entre o povo e o solo, segundo Ratzel, o povo participa com o
seu sentimento territorial (ligação permanente com o solo) e o solo um elemento de
permanência frente ao Estado (COSTA, 1992). Para ele, o elemento formador do Es-
tado foi “o enraizamento no solo de comunidades que exploram as potencialidades
territoriais” (RAFFESTIN, 1993, p. 13). A ideia de um Estado centralizador parte da uni-
dade do Estado que estava sujeita a unidade territorial, ou seja, o elo entre os habi-
tantes, o solo e o Estado.

O Estado é um conceito central na sua obra sobre geografia política e assume


um papel de único centro do poder:

Para Ratzel, tudo se desenvolve como se o Estado fosse o único núcleo


de poder, como se todo o poder estivesse concentrado nele: "É pre-
ciso dissipar a frequente confusão entre Estado e poder. O poder
nasce muito cedo, junto com a história que contribui para fazer"(LEFE-
BVRE, 1976, p. 4, apud RAFFESTIN, 1993, p.15).

“Dessa forma, Ratzel introduziu todos os seus ‘herdeiros’ na via de uma geo-
grafia política que só levou em consideração o Estado ou os grupos de Estados”
(RAFFESTIN, 1993, p. 15).
Sendo assim, a geografia política elaborada por Ratzel é uma geografia do
Estado, pois o autor parte da ideia de um Estado todo-poderoso, no qual só existe o
poder do Estado, ignorando outras formas e espaços legítimos de poder. Desse
modo, a escala é dada pelo Estado, sendo assim, o autor construiu uma geografia

13
unidimensional, ao não aceitar os múltiplos poderes que atuam nas diversas escalas
(RAFFESTIN, 1993).

1.3 GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA

Neste tópico você irá estudar acerca do desenvolvimento e transformações


teórico-conceituais da Geografia política na contemporaneidade. Conforme visto
anteriormente, a Geografia política clássica, desenvolvida no século XIX, preocu-
pava-se em construir um arcabouço conceitual que legitimasse a dominação territo-
rial do Estado, diferentemente da Geografia política contemporânea elaborada no
contexto espaço-temporal do século XXI que irá abordar, além do Estado, outros ato-
res que participam da constituição dos territórios (CASTRO, 2005).
De acordo com Castro et al. (2005) o campo da Geografia política se estabe-
lece na relação entre política e território no qual as questões e os conflitos de interesse
da sociedade motivam “[...] disputas e tensões que se materializam em arranjos terri-
toriais adequados aos interesses que conseguem se impor em momentos diferencia-
dos” (CASTRO, 2005, p. 79).
Atualmente a sociedade é comandada por atores individuais e institucionais
e, por isso, possuem novas complexidades. Essa característica do tempo atual, vai
dificultar a delimitação do campo da Geografia política, pois abre um leque de pos-
sibilidades analíticas, já que a sociedade existe em múltiplas escalas, desde a local
até a global, obrigando os territórios demarcados e fixos espacialmente a coexistirem
com múltiplas espacialidades dos diversos atores sociais.
O que diferencia os estudos da Geografia política contemporânea é o espaço
político enquanto ferramenta metodológica para analisar as condições que o dife-
renciam de outros espaços, para compor essa discussão se faz necessário compre-
ender as escalas territoriais dos fenômenos políticos e identificar o campo da disci-
plina (CASTRO, 2005).
O conceito de escala nos estudos dos fenômenos políticos da Geografia polí-
tica contemporânea tornou-se uma problemática, uma vez que, com a intensifica-
ção do processo de globalização os fenômenos ocorrem em múltiplas escalas (local,
regional, nacional e/ou global). Ao contrário da Geografia política clássica que prio-
rizava a escala territorial dos Estados nacionais e as disputas entre eles. Por isso, se-

14
gundo Castro (2005), para uma análise efetiva da realidade é preciso priorizar as múl-
tiplas escalas, visto que os fenômenos políticos não se restringem a uma única escala.
A escala na Geografia política é “à medida que confere visibilidade aos fenômenos”
(CASTRO, 2005, p. 123), é uma escolha para melhor observar, dimensionar e mensurar
o fenômeno.
Ao investigar o campo da Geografia política na atualidade, Castro (2005) en-
fatiza que ele precisa integrar os fenômenos políticos apontando como eles se terri-
torializam e recortam os espaços das relações sociais dos seus “[...] interesses, solida-
riedades, conflitos, controle, dominação e poder" (CASTRO, 2005, p. 90).
A respeito da discussão levantada sobre a mudança de escala na análise dos
fenômenos políticos e a delimitação do campo da geografia política contemporâ-
nea, o espaço político emerge como um objeto que precisa de atenção. Castro
(2005; 2012; 2016; 2018) aponta uma reflexão, as múltiplas possibilidades e um diálogo
da geografia política com as demais ciências sociais para a discussão do conceito
nas pesquisas da disciplina.

A perspectiva proposta por Castro (2018) identifica três tipologias do espaço


político, tendo em vista os lugares privilegiados da ação política em cada um deles:
os exclusivos, os limitados e os abertos.
Os espaços políticos exclusivos são os Parlamentos, as Assembleias ou as Câ-
maras Legislativas, pois são elaborados e organizados exclusivamente para as refle-
xões e decisões políticas. Esses espaços formais de deliberação discutem interesses
gerais conflitantes e suas consequências atingem os cidadãos que representam os

15
recortes territoriais da sua jurisdição. Já os espaços políticos limitados são os espaços
de debates e validação de interesses específicos da sociedade, institucionalizados e
viabilizados por regras participativas em distintos modelos democráticos - conselhos
ou fóruns temáticos, associações de moradores entre outros. Os efeitos das ações
nesses espaços podem atingir diversas escalas, contudo são restritos às suas agendas
temáticas. E, por último, os espaços políticos abertos ocorrem nos lugares de luta so-
cial, como as praças e as ruas, que investidos politicamente se transformam em are-
nas de demandas, ações e conflitos. Suas consequências são variáveis e instáveis,
mas tem o poder de mudar decisões políticas de longo prazo, construindo um elo
entre a sociedade e os governantes (CASTRO, 2018). Esses são os espaços onde ocor-
rem as manifestações, protestos, ocupações, passeatas entre outras formas de lutas
sociais e quanto maior for o reconhecimento desse espaço político aberto maior será
a participação e organização da sociedade para atingir seus interesses.
A partir do panorama delineado até aqui é possível compreender que no mo-
mento atual a disciplina aponta para uma multiplicidade de possibilidades temáticas
e escalares. Ela vem passando por uma revitalização e ganhando novos traçados
com estudos que procuram entender os rebatimentos espaciais dos fenômenos polí-
ticos na sociedade e a respeito dos atores que agem sobre ela - o Estado, igreja,
exército, sociedade civil, partidos políticos, ONGs, mercado financeiro entre outros.
Logo, é possível verificar uma variedade de temas na sua produção científica, com
estudos sobre organização política, política eleitoral, movimentos ecológicos, cons-
trução de políticas públicas, contraste geográfico dos votos, luta por emancipação,
democracia, cidadania entre outras coisas (CASTRO, 2005).

16
FIXANDO O CONTEÚDO

1. Sobre a temática da geopolítica clássica, assinale a alternativa correta.

a) Haushofer formulou que a chave para a hegemonia mundial estaria no controle


das rotas marítimas.
b) O pensamento de Ratzel destacava o poder das conquistas territoriais continen-
tais, apresentando uma maior preocupação com a ocupação da Europa Centro-
Oriental.
c) O saber geopolítico apontaria para o Estado como centralizador de decisões es-
tratégicas, o que legitimou as ações imperialistas da Alemanha.
d) Mahan ajudou a criar uma Geografia Alemã que se prontificou em justificar as
conquistas territoriais da Alemanha.
e) Em oposição aos postulados de Ratzel, podemos citar o geógrafo britânico Halford
Mackinder, que criou outra abordagem, conhecida como Possibilismo.

2. O fragmento a seguir trata de um dos clássicos da Geopolítica.

“A chave para a hegemonia mundial estaria no controle das rotas marítimas essas
‘vias por onde circulam os fluxos do comércio internacional’. A posse de grande
poder marinho, dessa forma, seria indispensável para um Estado que almejasse
tornar‐se importante potência mundial”.
(VESENTINI, José William. Novas Geopolíticas. As representações do século XXI. 4ª ed. São Paulo: Contexto, 2007, p. 17.)

O teórico clássico da Geopolítica que defende a tese anterior é

a) Mahan.
b) Spykman.
c) Haushofer.
d) Mackinder.
e) Vallaux.

3. A geopolítica sempre se caracterizou pela presença de pressões de todo tipo, in-


tervenções no cenário internacional desde as mais brandas até guerras e conquis-

17
tas de territórios. Inicialmente, essas ações tinham como sujeito fundamental o Es-
tado, pois ele era entendido como a única fonte de poder, a única representação
da política e as disputas eram analisadas apenas entre os Estados.

(Becker, Bertha. Geopolítica da Amazônia. Estudos Avançados, (1953) São Paulo, 2005).

As alternativas a seguir apresentam características da Geopolítica Contemporâ-


nea. Assinale a correta.

a) A Geopolítica Contemporânea, impedida pelo desenvolvimento de técnicas sur-


gidas com a ampliação das comunicações e da circulação, se processa graças
aos fluxos e às redes.
b) A Geopolítica Contemporânea se dá por meio de redes desenvolvidas nos países
ricos, onde se situam os centros do poder, graças ao avanço das tecnologias de
informação.
c) A Geopolítica Contemporânea se dá, notadamente, por redes que geram movi-
mentos sociais e tendem a se nacionalizar.
d) A Geopolítica Contemporânea se dá por meio das corporações e dos movimentos
sociais que têm suas próprias territorialidades, mas o Estado continua como ator
principal na globalização.
e) A Geopolítica Contemporânea se dá por meio de conflitos interestatais que pos-
sam garantir a conquista de novos territórios e ampliar os fluxos de capital.

4. (UFPEL 2013 – adaptada) Segundo Iná Elias de Castro em seu livro a Geografia e
Política, pode-se afirmar que espaço político se refere

a) às instituições políticas, que por sua vez, são aquelas cujas decisões e ações, apoi-
adas por normas, leis e regulamentos, afetam amplamente diferentes instâncias
da vida social.
b) àquele que é circunscrito pelas ações das instituições políticas, que lhe conferem
um limite, dentro do qual há efeitos identificáveis e mensuráveis.
c) às forças instituintes que são aquelas exercidas por atores sociais que se organizam
para lutar pelas suas demandas não recorrendo às instituições políticas, agindo
apenas na esfera local.

18
d) às regras delimitadas e estratégias da política; é um espaço dos interesses e dos
conflitos, da lei, do controle, mas sem coerção.
e) àquele espaço circunscrito pelas ações das forças instituintes, que lhe conferem
um limite global ou local, dentro do qual há efeitos identificáveis e mensuráveis.

5. (UFPEL 2013 – adaptada) Segundo Raffestin, no seu livro Por uma Geografia do
Poder (1993), a frase “Aquele que detém o World Islan (Europa, Ásia, África) co-
manda o mundo” é de autoria de
a) Ratzel.
b) Gottmann.
c) Mackinder.
d) Camille Vallaux.
e) Haushofer.

6. Em 1904, o geógrafo inglês Halford J. Mackinder, em uma conferência na Real So-


ciedade Geográfica de Londres, defendeu a tese de que o controle dos mares
não mais representava a chave do poderio das nações marítimas. O artigo “The
Geographical Pivot of History”, publicado por Halford John Mackinder, desenvol-
veu um conceito para caracterizar a “ilha-mundo”. O conceito criado por Mackin-
der a que se refere o enunciado é o

a) “match points”, que determinava a circulação terrestre.


b) “castex”, que sustenta a importância do domínio das comunicações continental
como sustentáculo do poder nacional.
c) “rimland”, que afirma que as redes de comunicação, em especial à rede mundial
de computadores, objetivam ampliar o poder do Estado no cenário internacional.
d) “heartland”, literalmente “coração da terra”, um vasto território, com amplo po-
tencial para a agricultura, pecuária, extrativismo ou assentamento de grupos hu-
manos.
e) “mahan”, que considera essencial desenvolver o poder marítimo, ou seja, dispor
de um forte poder naval, uma grande marinha mercante e bases navais, estaleiros
e portos eficientes.

7. (UFPEL 2013 – adaptada) Qual dessas afirmativas pode ser atribuída à Iná Elias de

19
Castro, dentro do discutido em seu livro “Geografia e Política: território, escalas de
ação e instituições”?

a) Hobbies, teórico do Estado absolutista do século XIII, e Ratzel, cuja obra foi desen-
volvida durante o século XIX, podem ser considerados os pais da Geografia Política
contemporânea.
b) A escala de análise da Geografia Política deixou de ser, exclusivamente, a estatal
e a global, incluindo questões relativas à cidadania, às diásporas e à exclusão.
c) Foi a institucionalização da Geografia pelas elites europeias que permitiu a cen-
tralização política característica do Estado territorial moderno.
d) Um território sempre expressa uma política do Estado-Nação.
e) Há uma guerra pós-colonial entre a flexibilidade e a rigidez burocrática estatal.

8. (UERJ 2015 – adaptada) Os mapas constituem uma representação da realidade.


Observe, na imagem abaixo, dois mapas presentes na reportagem intitulada “Um
estudo sobre impérios”, publicada em 1940.

O uso da cartografia nessa reportagem evidencia uma interpretação acerca da


Segunda Guerra Mundial.

Naquele contexto é possível reconhecer que essa representação cartográfica ti-


nha como finalidade
a) criticar o nacionalismo alemão.

20
b) enfraquecer o colonialismo britânico.
c) justificar o expansionismo alemão.
d) destacar o multiculturalismo britânico.
e) apontar a soberania alemã.

21
CONCEITOS-CHAVES DA UNIDADE

02
GEOGRAFIA POLÍTICA

2.1 PODER, TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADES

Nesta unidade, iremos trabalhar com os conceitos-chaves da Geografia Polí-


tica, a começar pelos importantes conceitos de Poder, Território e Territorialidades.
Importante ressaltar que cada conceito corresponde a uma e/ou a um conjunto de
problemáticas a serem estudadas diante dos fenômenos da sociedade. No campo
da Geografia Política, enquanto uma subárea da Geografia Humana, o estudo dos
fenômenos políticos, da produção e organização territorial efetivadas pelo Estado-
Nação e por outros atores sociais e suas relações de poder são fundamentais en-
quanto objetos de estudo, análise e interpretação dos diferentes contextos sociopo-
líticos. Sendo assim, começaremos pela seguinte questão: O que é Poder? E como
compreendê-lo como chave da Geografia Política?
De antemão, acrescentamos que este conceito é suficientemente abran-
gente e polissêmico, envolto de indeterminações, tensões e muitas contradições, o
que aponta sua riqueza nas possibilidades de interpretação da realidade (CASTRO,
2005). É estudado em diferentes áreas do conhecimento científico, sobretudo no
campo da Filosofia, Sociologia, Ciência Política, Relações Internacionais, História e, o
que mais nos interessa, a Geografia. Logo, há múltiplas correntes teóricas e metodo-
lógicas acerca da discussão sobre o “Poder” e o “poder”, bem como múltiplas defi-
nições e aproximações sucessivas na tentativa de explicá-lo.
Segundo Raffestin (1993), inspirado em Foucault (1988), o termo poder possui
uma ambiguidade, uma vez que há o “Poder”, nome próprio e o “poder”, nome co-
mum. “Mas o primeiro é mais fácil de cercar porque se manifesta por intermédio dos
aparelhos complexos que encerram o território, controlam a população e dominam
os recursos” (FOUCAULT, 1988 apud RAFFESTIN, 1993 p. 52). Ou seja, há o “Poder” ‘vi-
sível’, identificável e explícito e o “poder” invisível, mas que está presente em todas
as relações sociais.
Nesta esteira, Foucault (1988) assevera: “Parece-me que é preciso compreen-
der por poder primeiro a multiplicidade das relações de força que são imanentes ao

22
domínio em que elas se exercem e são constitutivas de sua organização […]”. Des-
tarte, o poder é imanente e multidimensional, intrínseco a todas as relações
(RAFFESTIN, 1993).
Justamente por ter as características de imanência e multidimensionalidade,
o “poder está em todo lugar, não que englobe tudo, mas vem de todos os lugares”
(FOUCAULT, 1988, p. 89). Ao dialogarmos com os referidos autores, podemos afirmar
que toda relação social (e política!) será mediada por relações de poder, desde que
haja um componente de relações e situações assimétricas (CASTRO, 2005). Dito isto,
como o poder se manifesta?
Tomemos novamente as palavras de Raffestin (RAFFESTIN, 1993, p. 53).

O poder se manifesta por ocasião da relação. É um processo de troca


ou de comunicação quando, na relação que se estabelece, os dois
pólos fazem face um ao outro ou se confrontam. As forças de que dis-
põem os dois parceiros (caso mais simples) criam um campo: o campo
do poder […]. O campo da relação é um campo de poder que orga-
niza os elementos e as configurações.

Na perspectiva geográfica, as relações de poder revelam os rebatimentos ter-


ritoriais da organização espacial, ou seja, ao falarmos de ordenamento territorial há
uma (ou múltiplas) intencionalidade(s), uma projeção do/sobre o espaço por meio
do qual o poder se manifesta. Outrossim, a emergência da noção de poder para
compreensão dos conflitos territoriais tornou-se uma centralidade na Geografia Polí-
tica (CASTRO, 2005), uma vez que o poder se territorializa por meio das práticas soci-
ais.
Na tentativa de precisar o poder, Foucault (1988) introduz as seguintes propo-
sições:

1. O poder não é algo que se adquire, arrebate ou compartilhe, algo que se


guarde ou deixe escapar; o poder se exerce a partir de inúmeros pontos e
em meio a relações desiguais e móveis;
2. As relações de poder não se encontram em posição de exterioridade a
outros tipos de relações (econômicas, de conhecimentos etc.), mas lhe são
imanentes; efeitos imediatos das partilhas, desigualdade e desequilíbrios
que se produzem nas mesmas e, reciprocamente, são as condições inter-
nas destas diferenciações;

23
3. O poder vem de baixo; isto é, não há, no princípio das relações de poder
uma oposição binária e global entre dominadores e dominados. Deve-se,
ao contrário, supor que as correlações de força múltiplas se formam e
atuam nos aparelhos de produção, nas famílias, nos grupos e nas institui-
ções;
4. As relações de poder são, ao mesmo tempo, intencionais e não subjetivas.
Atravessadas de fora a fora por um cálculo: não há poder que se exerce
sem uma série de miras e objetivos;
5. Onde há poder há resistência e, por isso mesmo, esta nunca se encontra
em posição de exterioridade em relação ao poder. Elas não podem existir
senão em função de uma multiplicidade de pontos de resistência que re-
presentam, nas relações de poder, o papel de adversário, de alvo, de
apoio. Esses pontos de resistência estão presentes em toda a rede de po-
der. As resistências são outro termo nas relações de poder (grifos nossos).

Este conjunto de proposições reflete a complexidade das relações de poder


e sua afinidade com a Geografia Política, uma vez que o poder político é o elemento
que media as relações entre Estado e Território. Neste sentido, na perspectiva de Ra-
ffestin (1993), o poder visa o controle e a dominação sobre os humanos e as coisas e
se utiliza de meios para visar os trunfos.
Podemos falar em trunfos do poder a partir da divisão tripartida da Geografia
Política: a população, o território e os recursos propostos pelo referido autor. Os trun-
fos, em grande parte, se combinam em uma dada situação e raramente são únicos;
em diferentes graus são mobilizados simultaneamente, daí a expressão “trunfo com-
plexo” apontada pelo autor. Entretanto, dependendo da relação (quase sempre
conflituosa) que se estabeleça poderá privilegiar um dos trunfos supracitados.
Deste modo, a população “está na origem de todo o poder”, nela residem
“[...] as capacidades virtuais de transformação; ela constitui o elemento dinâmico de
onde se procede a ação” (RAFFESTIN, 1993, p. 58). Nesta passagem há um ponto de
convergência ao que Arendt (2013) afirma sobre o potencial de poder, uma vez que
este sempre age em grupo e nunca isoladamente: “[…] o poder passa a existir entre
os homens quando eles agem juntos e desaparece no instante que eles dispersam”
(ARENDT, 2013, p. 250), o poder age em uníssono. Este elemento também está pre-
sente no dispositivo constitucional brasileiro quando se remete a categoria jurídico-

24
político de povo, ao versar que: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”
(BRASIL, 1988).
O território é “a cena do poder e lugar de todas as relações” (RAFFESTIN, 1993,
p. 58), mas que não pode ser visto sem a população e seus processos de territoriali-
zação. Ainda acerca do território, afirma-se que este é “um trunfo particular, recurso
e entrave, continente e conteúdo, tudo ao mesmo tempo. O território é o espaço
político por excelência, o campo de ação dos trunfos” (RAFFESTIN, 1993, p. 59-60). Por
fim, os recursos “determinam os horizontes possíveis da ação e […] condicionam o
alcance da ação” (RAFFESTIN, 1993, p. 58).
Das acepções propostas até aqui podemos extrair, em concordância com
(CASTRO, 2005, p. 97-98) que:

[...] o poder é considerado como a manifestação de uma possibili-


dade de dispor de um instrumento para se chegar a um fim (a vanta-
gem ou o efeito desejado), mas a possibilidade de chegar a este fim
supõe a existência de uma relação necessariamente assimétrica, ou
seja, a possibilidade de que uma das partes disponha de mais meios
ou de maior capacidade de obter o efeito desejado através da prer-
rogativa de aplicar algum tipo de sanção (CASTRO, 2005, p. 97-98).

Após este breve percurso na compreensão do poder, daremos sequência no


estudo sobre os outros dois conceitos-chaves que estão intrinsecamente ligados ao
poder. Estes são o território e as territorialidades, ambos da mesma “família” de con-
ceitos, como diria o destacado geógrafo Milton Santos.
Assim como o conceito de Poder, o Território possui uma polissemia e uma mul-
tiplicidade a partir de inúmeras perspectivas e tradições, internas e externas à Geo-
grafia, aplicado nas diferentes áreas do conhecimento científico.
Como dito anteriormente, na Geografia Política, o território é a categoria cen-
tral, tanto enquanto categoria de análise, ferramenta acionada para compreensão
da realidade, quanto categoria da prática: um instrumento político e dispositivo es-
tratégico, presente nos rebatimentos das ações hegemônicas do Estado (por execu-
ção das políticas públicas territoriais e da administração territorial), das Empresas e
Indústrias. E também uma prática existente na resistência de diferentes grupos sociais
que lutam “por territórios” (HAESBAERT, 1999).
Enquanto formas de apropriação política do espaço, o território é um dos te-
mas clássicos da Geografia política, como aponta Becker (2009):

25
Concebido como espaço geográfico sob controle do Estado,
originalmente o território ganha prestígio entre geógrafos políticos jus-
tamente por essa relação atávica com a figura do Estado. Mesmo fora
do âmbito dessa disciplina acadêmica, quando se discute a origem
do poder do Estado, é comum encontrar-se uma clara referência à
centralidade territorial do Estado como um dos trunfos do poder que,
inclusive, diferencia o Estado de outras instituições e agrupamentos
(BECKER, 2009, p. 153).

Com efeito, afirma-se, enquanto primeira aproximação que, o território é “fun-


damentalmente um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de po-
der” (SOUZA, 2009, p. 78).Isso implica dizer que direcionamos o olhar para a compre-
ensão das relações e práticas de poder presentes no espaço geográfico. Em outras
palavras: o território é a espacialização das relações de poder e o que determina o
seu “perfil” será a dimensão política do espaço (SOUZA, 2009).
Neste caminho, Souza (2013, p. 87) coloca uma questão primordial para com-
plexificar o debate: “quem domina, governa ou influencia quem nesse espaço, e
como? ”. Esta questão nos faz refletir, tanto acerca do “governo” na perspectiva es-
tatal (heterônomo), quanto na perspectiva do “autogoverno” (autônomo) na socie-
dade em que vivemos. Assim, as relações acerca da influência, dominação, consen-
timento e controle sobre um espaço se apresentam.
Através das amplas pesquisas realizadas a respeito do debate do território, Ha-
esbaert (2010) analisou diferentes perspectivas e formulações sobre o conceito em
diferentes matrizes disciplinares. A partir daí, produziu uma “cartografia conceitual”,
agrupando em três (na verdade quatro) vertentes básicas ou dimensões aos quais o
território é usualmente focalizado. Entre as quais estão:

Política (referente às relações espaço-poder em geral) ou jurídico po-


lítica (relativa também a todas as relações espaço-poder instituciona-
lizadas): a mais difundida, em que o território é visto como um espaço
delimitado e controlado, através do qual se exerce um determinado
poder, na maioria das vezes – mas não exclusivamente relacionado
ao poder político do Estado.
Cultural (muitas vezes, culturalista) ou simbólico-cultural: prioriza a di-
mensão simbólica e mais subjetiva, em que o território é visto, sobre-
tudo, como o produto da apropriação/valorização simbólica de um
grupo em relação ao seu espaço vivido.
Econômica (muitas vezes, economicista): menos difundida, enfatiza a
dimensão espacial das relações econômicas, o território como fonte
de recursos e/ou incorporado no embate entre classes sociais e na
relação capital-trabalho como produto da divisão "territorial" do tra-
balho, por exemplo.
“Natural” [muitas vezes naturalista]: mais antiga e pouco veiculada
hoje nas Ciências Sociais, que se utiliza de uma noção de território com
base nas relações entre sociedade e natureza, especialmente no que

26
se refere ao comportamento “natural” dos “homens” em relação ao
seu ambiente físico (HAESBAERT, 2010, p. 40).

Há importantes formulações e contribuições de autores(as) nessas quatro ver-


tentes teórico-metodológicas. Entretanto, elas não possuem o mesmo ‘peso’ e des-
taque na produção dos(as) geógrafos(as). A concepção “que tem o foco na dimen-
são mais política do espaço é, de longe, a mais desenvolvida e a mais usada pelos
geógrafos[as] (mesmo com bastante nuances e variações entre os autores[as]”
(CRUZ, 2015, p. grifo nosso).
Na esteira da compreensão do território, a territorialidade é imanente a este,
mediado por relações de poder. Para Raffestin (1993) “[...] a territorialidade adquire
um valor bem particular, pois reflete a multidimensionalidade do “vivido” territorial
pelos membros de uma coletividade, pelas sociedades em geral”, ao qual a figura
do Estado-nacional também está presente.
De uma perspectiva próxima, a territorialidade está na compreensão dos efei-
tos dos fenômenos sociais
que acionam estratégias espaciais e definem territórios. São as ações práticas de
apropriação que geram “marcas” no espaço e definem territórios. O referido autor
enfatiza que a ideia de territorialidade está diretamente vinculada ao controle de
uma área geográfica, aos limites delimitados pelo poder, buscando disciplinar, mol-
dar, influenciar ou controlar o comportamento pelo controle do acesso (CRUZ, 2015).
Em linhas gerais, para este autor, a territorialidade pode ser definida como “[...]
a tentativa, por indivíduo ou grupo, de afetar, influenciar, ou controlar pessoas, fenô-
menos e relações, ao delimitar, e assegurar seu controle sobre certa área geográ-
fica” (SACK, 2011, p. 76). A compreensão das relações sociais estão presentes neste
processo, uma vez que a territorialidade é “[...] uma expressão geográfica primária
de poder social. É o meio pelo qual espaço e sociedade estão inter-relacionados”
(SACK, 2011, p. 63).
Do mesmo modo, a territorialidade envolve a dimensão das relações huma-
nas, dos atores sociais e das instituições, cujo Estado é uma figura de destaque e
desdobra ações. Desta forma, a partir dessas reflexões, podemos sintetizar o signifi-
cado territorialidade da seguinte forma: (a) envolve uma forma de definição ou clas-
sificação por área; (b) deve conter uma forma de comunicação; e (c) envolve uma
tentativa de imposição ao acesso das coisas e relações (SACK, 2011, p. 81).
Nas formulações conceituais e nas análises históricas de casos e situações que

27
revelam mutações históricas nas territorialidades de diferentes sociedades, Cruz
(2015) identifica em Sack (2011) três aspectos ou chaves metodológicas para a leitura
do território que estão interligados e que compõem as suas principais contribuições
analíticas. Neste sentido, compreender uma territorialidade (estratégia), uma territo-
rialização (processos) e um território (produto) implica em considerar:

1) O controle do acesso (disciplina, vigilância, segurança, defesa de


uma área); 2) As formas de uso do território, ou seja, os usos econômi-
cos, ecológicos, políticos e culturais que os diferentes grupos ou indiví-
duos dão para o espaço (a terra, os recursos, os meios de produção e
trabalho, a habitação, os espaços sagrados de culto etc.) 3) As nor-
mas territoriais, ou seja, os arranjos normativos que definem o caráter
normativo do exercício de uma territorialidade e que regulam o con-
trole e o uso do território (normatizações, regulamentos, regras sociais,
as formas de direitos etc.) (CRUZ, 2015, p. 9, grifo nossos).

Compreender os conceitos e categorias de poder, território e territorialidades,


separadas e associadas, é fundamental, pois permite entender, refletir e complexifi-
car as chaves e os desdobramentos teóricos e empíricos na Geografia Política. O
caminho percorrido até aqui nos prepara para compreender outros importantes con-
ceitos, tão significativos quanto aos que foram apresentados: as fronteiras, o Estado
e a nação.

2.2 FRONTEIRAS: ANTIGOS E NOVOS SIGNIFICADOS

Outra categoria que está presente nos estudos da Ciência Geográfica, com
destaque à Geografia Política são as Fronteiras, imprescindível para a compreensão
das relações entre Estado e Território e nas relações políticas interestatais. Represen-
tam áreas de interesse dos Estados que estão em jogo, ao envolver a segurança na-
cional, a soberania, os conflitos territoriais, os processos migratórios (clandestinos ou
legais), os litígios territoriais, a territorialização de empresas, controle fiscal, entre ou-
tros.
Assim como os conceitos e categorias trabalhados anteriormente, as fronteiras
geográficas são fruto de um processo de construção das atividades humanas, um
processo socioespacial e histórico que congrega a representação, organização,
controle e domínio do espaço. Portanto, as fronteiras não são “naturais” e não devem
ser naturalizadas, subtraídas de processos históricos (assim caracterizada por muitos
séculos).
A literatura que discute as concepções de fronteira em diferentes contextos é

28
suficientemente ampla e profunda, apontando convergências e divergências nos
mais variados pontos.
Na maioria das vezes, as fronteiras são confundidas com a noção de limites,
ou mesmo associadas entre si, gerando maior confusão interpretativa do que enten-
dimentos. Fronteiras e limites possuem sentidos distintos e sofreram modificações a
partir dos contextos de reordenamentos geopolíticos, econômicos e culturais e dos
avanços das técnicas de produção. As fronteiras são mais dinâmicas, enquanto uma
zona de inter-relações nos diferentes meios, com seus problemas (trans)fronteiriços,
zonas de articulação e de tensão (COSTA, 1992).
A fronteira como lugar de interação, de comunicação, de encontro, de con-
flito, está fundamentada no fato de que estamos na presença de sistemas territoriais
e sistemas estatais diferentes dentro do sistema capitalista e de nacionalidades dis-
tintas (MACHADO, 2002). Nas palavras da autora:

Podemos afirmar, assim, que no âmbito do sistema interestatal e do


sistema capitalista, o limite internacional é um princípio organizador do
intercâmbio, seja qual for sua natureza, não só para os territórios que
delimita como para o sistema interestatal em seu conjunto. É no
mesmo sentido que vários autores atribuem ao limite internacional o
papel de regulador das relações interestatais (MACHADO, 2002, p. 3).

Com efeito, as fronteiras não devem ser vistas apenas como uma “linha divisó-
ria entre países e territórios”, ou uma “região que está lado a lado ou próximas”, como
consta nos dicionários e outras literaturas. Ferrari (2014) corrobora que as fronteiras
não são apenas “[...] uma linha de demarcação em determinado espaço geográ-
fico ou lugar unidimensional da vida política, onde um Estado-nação acaba e outro
começa”. Seu entendimento deve assumir um caráter mais amplo e dinâmico na
compreensão do espaço multifacetado. “O velho significado “imperialista” das fron-
teiras […], perdeu-se quase por completo”, uma vez que “à força do movimento eco-
nômico […] pouco tem respeitado os rígidos limites (fronteiriços) (COSTA, 1992, p. 292).
Importante ressaltar que a palavra e ideia de fronteira e limite, bem como seus
desdobramentos conceituais, possui um longo histórico. Ferrari (2014) nos mostra que
desde as primeiras sociedades, nas populações da Ásia, África, América e Europa,
havia uma noção de fronteira e limite perante os contextos sociais das diferentes or-
ganizações socioespaciais, ainda que nem todas assumissem um sentido estrita-
mente político de Estado para seu uso. Assim, na periodização histórica do que se

29
convencionou a chamar, na perspectiva eurocêntrica, de “pré-história”, “idade an-
tiga”, “idade média” e “idade moderna”, estavam presentes estas noções. O Império
Romano e o Império Chinês costumam ser frequentemente usados como exemplos
de casos paradigmáticos nas origens da concepção de fronteira (MACHADO, 2002).
Na mesma direção, Machado (1998) aponta:

A origem histórica da palavra mostra que seu uso não estava associ-
ado a nenhum conceito legal e que não era um conceito essencial-
mente político ou intelectual. Nasceu como um fenômeno da vida so-
cial espontânea, indicando a margem do mundo habitado. Na me-
dida em que os padrões de civilização foram se desenvolvendo acima
do nível de subsistência, as fronteiras entre ecúmenos tornaram-se lu-
gares de comunicação e, por conseguinte, adquiriram um caráter po-
lítico (MACHADO, 1998, p. 41).

Com o advento do Estado Moderno, a partir do período Renascentista, as fron-


teiras passam a ser um instrumento de poder e passam a representar simbolicamente
a apropriação do espaço territorial (FERRARI, 2014).“O mapa é o instrumento ideal
para definir, delimitar e demarcar a fronteira […]”, passando de uma delimitação
“vaga” para uma delimitação mais “precisa”, inscrita no território (RAFFESTIN, 1993, p.
167).
Diante do avanço das ciências e o advento da Cartografia moderna, ocorreu
uma modificação profunda na percepção sobre a noção de fronteira. A ideia de
“fronteira linear”, associada ao limite político territorial do Estado, neste período, pas-
sou a ter destaque.

No contexto atual, desde finais do século XX e início do século XXI, com as


transformações em curso na fase do capitalismo informacional, que impõe mudan-

30
ças nos âmbitos político, econômico e cultural: o advento da globalização, a rees-
truturação de ordem multipolar, a formação e o desdobramento dos blocos econô-
micos, sobretudo relacionado aos processos de integração regional, colocam novas
reflexões sobre as fronteiras, que incorpora novos elementos e significados.
Deste modo, as fronteiras tradicionais vão sendo completamente modificadas
na geopolítica atual, tanto na escala das organizações multilaterais e comerciais, na
tentativa da mundialização econômica imposta – a exemplo da Organização Mun-
dial do Comércio (OMC), do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial
(BM) –, quanto das articulações, acordos, alianças e integrações entre os blocos
econômicos regionais (RODRIGUES, 2015; NEVES, 2000).
No período geopolítico atual, Cataia (2007) traz reflexões pertinentes acerca
das fronteiras. Segundo o autor, “a unificação técnica do mundo não implica em sua
união política. Quanto maior é a unificação técnica do mundo, maior é a sua com-
partimentação com a relevância das fronteiras internacionais” (CATAIA, 2007, p. 1).
Assim, no mundo globalizado, são apontadas duas facetas contraditórias e solidárias:

Por um lado, as fronteiras devem delimitar com clareza o território na-


cional que consagra à sociedade que nele vive seu abrigo, este é o
princípio da soberania internacional, mas por outro lado a economia
transnacionalizada opera fluxos financeiros e normativos que atraves-
sam as fronteiras, promovendo um enfraquecimento de suas funções
destinadas à proteção (CATAIA, 2007, p. 2).

2.3 SOBRE ESTADO; NAÇÃO E ESTADOS-NACIONAIS

Em continuidade ao exercício de compreensão dos conceitos-chaves da Ge-


ografia Política, estudaremos o Estado, a Nação e suas relações imbricadas na com-
preensão dos Estados-Nacionais modernos.
O Estado se coloca enquanto uma categoria fundamental no estudo da dis-
ciplina, pois é uma instituição política e territorial, composta por complexos órgãos e
outras instituições que o representa, organizado nos três poderes que conhecemos
hoje: Executivo, Legislativo e Judiciário. Deste modo, é responsável pelas políticas de
administração territorial e organização socioespacial, tanto na constituição de um
amplo sistema estatal, denominado como “sistema-mundo moderno-colonial”
quanto na esfera nacional, (HAESBAERT; GONÇALVES, 2006). Parafraseando Raffestin
(1993), o Estado é um organismo geográfico em constante movimento.
De antemão, destacamos que a formação e os desdobramentos dos Estados

31
e da Nação, por conseguinte, Estados-nacionais modernos, são fruto de um longo
processo geohistórico, conflituoso e contraditório, não sendo, de modo algum, uma
tabula rasa e um processo “natural”. Ao contrário, trata-se de invenção histórica eu-
ropeia.
Segundo Muir (1975, p. 29) apud Raffestin (1993, p. 22), “O Estado existe
quando uma população instalada num território exerce sua própria soberania”. Por-
tanto, nesta linha de raciocínio, o referido autor, na mesma esteira de outros autores,
a exemplo de Hobsbawm (1990) apontam os três sinais referentes a mobilização e
caracterização do Estado, são eles: 1) a população, 2) o território e 3) autoridade
(soberania). Na perspectiva do autor, “[...] toda geografia do Estado deriva dessa
tríade” (RAFFESTIN, 1993, p. 23).
O Estado exerce, portanto, sua soberania sobre o território e detém o mono-
pólio: das Leis, das tributações, da força e, em alguns casos, do uso da violência –
quando se trata das questões de “segurança nacional”. Ademais, a imposição de
uma moeda nacional e seus planos monetários são estabelecidos. Em alguns casos,
os aspectos que envolvem a exploração de determinados recursos, o fornecimento
de determinados produtos e/ou serviços também são levados em consideração.
A prerrogativa da soberania da sociedade é o que marca sua diferença de
outras instituições de Estados ao longo da história, ao passo que procura “definir as
normas e leis comuns para todos que vivem naquele território (espaço político) […] e
as sanções legítimas aplicadas aos que dela desobedecerem” (CASTRO, 2005, p.
112).
O nascimento do Estado moderno remete ao contexto histórico e institucional
do projeto de modernidade, inicialmente de alguns países europeus, que se expan-
diu para todos os continentes, enquanto modelo imposto de organização do sistema
político e econômico. Este serviu de base para a formação dos atuais governos e
Estados-nacionais ao qual concebemos hoje. Nesta premissa, Castro (2005) afirma:

No campo político, o nascimento do Estado moderno definiu o marco


da centralidade territorial e institucional do poder político. Esta é cer-
tamente a instituição política mais importante da modernidade, res-
ponsável pela delimitação do território para o exercício do mando e
da obediência, segundo normas e leis estabelecidas e reconhecidas
como legítimas, sendo possível legalmente a coerção física em caso
de desobediência (CASTRO, 2005, p. 111).

O marco histórico desta consolidação se deu a partir da Paz da Vestefália


(também denominado Westfália; ou ainda Vestfália) em 1648, definido a partir de um

32
conjunto de tratados assinados que encerram uma série de conflitos e guerras no
continente europeu. Este se firmou enquanto um modelo jurídico-político que passou
a consolidar o surgimento do Estado-Nação, inicialmente no contexto intra-europeu
e, posteriormente, com a expansão do capitalismo imperialista do século XIX e sua
expressão global, começa a se difundir em todas as partes do globo.
Assim, o Estado moderno foi consolidando progressivamente um espaço polí-
tico, “lócus de uma vontade comum, de um poder moral, aceito contratualmente
por todos a partir dos instrumentos de legitimação que ele dispunha” (CASTRO, 2005,
p. 112). No espaço nacional, “define, pois, o limite de extensão da validade de um
certo contrato social em vigor […]” cujo “compromisso maior está concentrado no
respeito à lei” (GOMES, 2002, p. 85).

Na base dos Estados territoriais modernos está a revitalização do direito ro-


mano com sua centralização do poder, com base na propriedade privada da terra
em oposição ao direito consuetudinário, direito dos costumes, dos homens e mulheres
comuns, direito local, não-universal. Este, permanece enquanto uma herança na ju-
risprudência dos Estados e de suas instituições contemporâneas.
Segundo Gomes (GOMES, 2002, p. 84).

As leis que deram origem aos Estados modernos seguem globalmente


duas lógicas e dois regimes na atribuição da nacionalidade. Por um
lado, no primeiro regime, são reconhecidos como nacionais todos
aqueles que nasceram no território controlado pelo Estado e que não
foram, por punição ou vontade, excluídos dos direitos e deveres con-
feridos a essa nacionalidade. Por outro lado, o segundo regime prevê
que dispõem da mesma nacionalidade todos aqueles que, tendo ou
não nascido sobre um mesmo território, compartilhem de uma he-
rança comum própria àquela nacionalidade.

O processo de consolidação dos Estados-nacionais decorre de duas dimen-


sões, ainda presentes no contexto atual, e são apontadas por Castro (2005): a) ex-
terna: “de disputas territoriais com outros Estados”, presente na geografia clássica; e

33
b) interna: “de centralização do poder, controle social e estratégia territorial, […] ob-
jeto da geografia política contemporânea”.
Essa característica básica está presente na organização política dos estados
(neo) liberais, democráticos e comunistas. Todos, ou quase todos, possuem, em dife-
rentes graus de estrutura e organização, um exército (e suas forças armadas), um
território, um hino, uma bandeira e o sentimento de pertencimento das pessoas que
ali vivem.
Na mesma direção, enquanto desdobramento, podemos citar os dois modelos
básicos de Estado-nação, segundo (CASTRO, 2005).

1. O Estado unitário e centralizado: a exemplo da França, cuja administração


se exerce a partir da capital e possui maior grau de homogeneidade e co-
esão;
2. O Estado federalista: a exemplo dos Estados Unidos da América, garan-
tindo a desconcentração espacial de parte do poder político e sustentado
na governabilidade democrática. Possui pacto de coexistência e adminis-
tração descentralizada.

Outra vez, ressalta-se, na mesma perspectiva, que há diferentes graus de cen-


tralização (unitarismo) e descentralização (federalismo), conforme as experiências
espaço-temporais e não há um único modelo aplicável a todos os países (CASTRO,
2005).
No que tange a questão da nação e da nacionalidade, é fato que estas são
elementos centrais na formação e consolidação dos Estados modernos, diretamente
ligada à modernidade, ao surgimento do capitalismo e ao fortalecimento político
dos Estados. Este se usa da nação para promover a unificação do povo e consolidar
o controle territorial e a soberania através de inúmeros dispositivos, servindo para in-
culcar ao povo aspectos de consciência coletiva, de valores e de tradições históricas
e culturais. Não à toa, coube a Geografia do Estado (e, sobretudo, a Geografia es-
colar), e o ensino de História, a edificação e difusão da ideologia indenitária do sen-
timento nacional (LACOSTE, 2011). O nacionalismo como legitimação simbólica:

[…] constituiu o fundamento do Estado-nação, que progressivamente


se superpôs ao Estado moderno. Esta ideologia, elaborada com o au-
xílio da história e geografia como disciplinas, tornou-se então um re-
curso simbólico necessário à consolidação do Estado como instituição

34
política territorializada e legitimada pela sociedade. O recurso à iden-
tidade do passado histórico, à identidade cultural e à identidade lin-
guística é condição essencial do nacionalismo. Deve ser observado
que a substância da nação, no sentido de comunidade de destino,
resultou da estratégia política de apropriar-se do sentido identitário
contido na ideia de povo e colá-lo à organização política coman-
dada pelo Estado. O povo passou a ser o corpo da nação e, portanto,
confundido com ela e submetido à centralidade territorial do poder
político (CASTRO, 2005, p. 114).

Portanto, desde sua origem ao final do século XVIII, fruto das revoluções bur-
guesas, a ideia de nação foi sendo construída e ressignificada a partir do Estado e
vice-versa, sob aspectos de uma “identidade territorial, cultural e política […] elemen-
tos essenciais ao nacionalismo” (CASTRO, 2005, p. 113).
Ao refletirmos sobre o conceito de nação, fica nítido que este está repleto de
uma complexidade teórica, metodológica e com desdobramentos empíricos, ha-
vendo inúmeros estudos e perspectivas pertinentes. Presente nos mais variados dicio-
nários e enciclopédias, a Nação costuma ser conceituada como:

Grupo social com autonomia política que ocupa um território definido


e está ligado por tradições culturais e históricas, geralmente com uma
língua comum, porém não necessariamente com a mesma etnia ou
religião, tendo governo, Constituição nacional e leis compartilhadas
(Dicionário Michaelis, 2020)

Já, na Enciclopédia Brasileira Mérito (1964) a Nação aparece da seguinte


forma:

a comunidade de cidadãos de um Estado, vivendo sob o regime ou


governo e tendo uma comunhão de interesses; a coletividade de ha-
bitantes de um território com tradições, aspirações e interesses co-
muns, subordinadas a um poder central que encarrega de manter a
unidade do grupo; o povo de um Estado, excluindo o poder governa-
mental (Enciclopédia Brasileira Mérito, 1964, p. 581)

A ideia de tradição política, histórica e cultural, hábitos comuns, interesses, sen-


timentos de pertencimento, sentido de comunidade, coletividades compartilhadas
a um determinado povo, estão presentes nestas definições.
Hobsbawm (1990) apresenta uma abordagem com atenção particular às mu-
danças e transformações do conceito, principalmente a partir do século XIX. Desta
forma, o autor sumariza sua posição metodológica da seguinte forma:

1. O nacionalismo moderno se distingue de outras formas, menos exigentes,


de identificação grupal ou nacional;

35
2. Não considera a “nação” como uma entidade social originária ou imutá-
vel. A “nação” pertence exclusivamente a um período particular e histori-
camente recente. Ela é uma entidade social apenas quando relacionada
a uma certa forma de Estado territorial moderno, o “Estado-nação”; e não
faz sentido discutir a nação e nacionalidade fora desta relação;
3. A “questão nacional” está situada na interseção da política, da tecnologia
e da transformação social. As nações e seus fenômenos associados de-
vem, portanto, ser analisados em termos das condições econômicas, ad-
ministrativas, técnicas, políticas e outras exigências;
4. As nações são fenômenos duais, construídos essencialmente pelo alto, mas
que, no entanto, não podem ser compreendidas sem ser analisadas de-
baixo, ou seja, em termos de suposições, esperanças, necessidades, aspi-
rações e interesses das pessoas comuns;

Destarte, esta noção está diretamente vinculada ao poder político, a valoriza-


ção do povo e sua vinculação territorial. Neste sentido, Hobsbawm (1990) afirma: “A
equação nação=Estado=povo e, especialmente, povo soberano, vinculou indubita-
velmente a nação ao território, pois a estrutura e a definição dos Estados eram agora
essencialmente territoriais”.
Ademais acerca do “princípio da nacionalidade” no final do século XX, o ci-
tado autor afirma:
Hoje, todos Estados do planeta, pelo menos oficialmente, são “na-
ções”; todos os movimentos de libertação tendem a ser movimentos
de libertação “nacional”. As agitações “nacionais” produzem rupturas
nos Estados-nações mais antigos da Europa […]; também afetam os
regimes socialistas do Leste, os novos Estados do Terceiro mundo liber-
tos do colonialismo e, inclusive, as federações do Novo Mundo […]
permanece dividido (HOBSBAWM, 1990, p. 195).

Por fim, corroboramos com Castro (2005) que a língua e o solo são valores sim-
bólicos identitários das nações, posteriormente assimilados pelo aparato institucional,
tornando-se um patrimônio comum da nacionalidade. São o “cimento simbólico da
solidariedade nacional e ajudam a legitimar socialmente o poder moral e o querer
comum como fundamento de poder político e o domínio do Estado, como instituição
sobre o território” (CASTRO, 2005, p. 107).

36
37
FIXANDO O CONTEÚDO

1. Embora a origem dos primeiros Estados seja muito antiga, sua formação e seus ob-
jetivos variaram ao longo dos séculos. Sobre a criação dessa instituição de controle
do território é possível afirmar:
(UEPB 2011 – adaptada).

a) O Estado moderno, tal como o conhecemos hoje e cujo berço foi a Europa orien-
tal, teve sua origem com a centralização de poder através das monarquias abso-
lutistas e do apoio dado pela burguesia.
b) A globalização proporcionou a crise do Estado-nação e sua destruição frente a
uma nova organização territorial do mundo em blocos econômicos, os quais reú-
nem vários países em um só bloco.
c) O fim da Segunda Guerra Mundial possibilitou o reaquecimento dos sentimentos
nacionalistas e a formação de novos Estados nacionais o que mostra que o mapa-
múndi ainda pode ser redesenhado.
d) A unificação dos Estados-nacionais se processou em meio à diversidade étnica e
cultural dos territórios, o que exigiu dos poderes constituídos a construção do sen-
timento de pertencimento e de identidade nacional.
e) Um Estado-nação é formado por um contingente populacional que se considera
parte da mesma nação, porém pode ocorrer conflitos internos devido seus cida-
dãos possuírem a mesma cultura.

2. O conceito de nação, por levar em conta aspectos considerados subjetivos, como


identidade e sensação de pertencimento, possui uma variedade de análises, com
enfoques e características distintas. A respeito da concepção de nação, assinale
a alternativa correta.

a) As nações antecedem o Estado e têm um caráter mais subjetivo e humano. Um


Estado pode ser formado por diversas nações, assim como uma nação pode es-
tar dividida em diversos Estados.
b) Uma nação equivale a um Estado ou a um país ou, até mesmo, a um território,
podendo haver, então, muitas nações sem território e sem uma soberania territo-
rial constituída.
c) A nação tem seu conceito desarticulado à identidade, à cultura e aos aspectos

38
históricos. Por isso, pode ser entendida como ou organização de uma sociedade
que partilha dos mesmos costumes, características, idioma e cultura.
d) As nações que não possuem território soberano delimitado, como os curdos e os
bascos, não almejam o reconhecimento de territórios. Historicamente foram
construindo uma trajetória de identificação e pertencimento ao Estado que os
acolheu.
e) O conceito de nação foi utilizado muitas vezes como estratégia ideológica de
manipulação de uma população. Exemplo disso é a tentativa de construção
do nacionalismo, em que governos tentam retirar dos seus habitantes um senti-
mento nacional.

3. Leia este trecho:

“[...] Num sentido mais restrito, _______ é um nome político para o espaço de um
país. Em outras palavras, a existência de um país supõe um território. Mas a existên-
cia de _______ nem sempre é acompanhada da posse de um território e nem sem-
pre supõe a existência de _______. Pode-se falar, portanto, de _______ sem Estado,
mas é praticamente impossível nos referirmos a um Estado sem território. [...]".
(IFSP 2014 – adaptada).

Assinale a alternativa que apresenta, respectivamente, terminologia empregada


nos estudos geográficos que tornam esse trecho verdadeiro.

a) Territorialidade; um Estado; uma nação; território


b) Território; uma nação; um Estado; territorialidade
c) Uma nação; territorialidade; um Estado; território
d) Um Estado; territorialidade; uma nação; território
e) Território; uma nação; territorialidade; um Estado
4. Sobre a problemática relativa aos termos delimitação, demarcação, limite e fron-
teira assinale a alternativa correta.
(UFPEL 2013 – adaptada)

a) Para o demarcador um rio pode ser considerado um bom limite natural. Para o
delimitador, entretanto, nem sempre, já que se o rio servir de eixo civilizatório,
como o Nilo, ele agirá como elemento de integração e não de separação.

39
b) Limite é uma linha, fronteira é uma faixa, que apesar de serem demarcadas po-
dem ser habitadas.
c) Limite é uma linha, fronteira é uma faixa, a divisa é o aspecto visível do limite e o
marco o aspecto visível da fronteira. Todos podem ser habitados, salvo com es-
pecificações do Estado-Nação.
d) A designação dos limites é a demarcação. E para a fronteira é a delimitação.
e) A fronteira natural se apoia em obstáculos naturais que representam verdadeiras
barreiras de contato e não precisam ser demarcadas ou delimitadas.

5. Leia o texto abaixo.

“[...] surge, na tradicional Geografia Política, como o espaço concreto em si (com


seus atributos naturais e socialmente construídos), que é apropriado, ocupado por
um grupo social. Sua ocupação é vista como algo gerador de raízes e identidade:
um grupo não pode ser mais compreendido sem esse espaço, no sentido de que a
identidade sociocultural das pessoas estaria inarredavelmente ligada aos atributos
do espaço concreto”.
(Castro, Iná Elias et al. Geografia: Conceitos e Temas. UFPEL, 2013 - Adaptado)

O texto faz referência

a) à territorialidade.
b) ao território.
c) ao poder.
d) ao lugar.
e) à região.

6. Ao observar o mapa-múndi político acima, percebemos que as áreas continentais


e insulares de nosso planeta estão divididas em diversos países. O que separa esses
países uns dos outros são os limites existentes entre seus territórios nacionais.

40
Território nacional é

a) parte do espaço terrestre sobre a qual determinadas empresas exercem poder ou


domínio, desenvolvendo atividades políticas e sociais com autonomia e organi-
zando esse espaço de acordo com suas necessidades e interesses.
b) parte do espaço terrestre sobre a qual determinado povo exerce poder ou domí-
nio, desenvolvendo atividades políticas, econômicas e sociais com autonomia e
organizando esse espaço de acordo com suas necessidades e interesses.
c) parte do espaço terrestre sobre a qual determinado povo exerce poder ou domí-
nio, desenvolvendo atividades apenas de cunho esportivo com autonomia e or-
ganizando esse espaço de acordo com suas necessidades e interesses.
d) parte do espaço terrestre sobre a qual determinado povo exerce poder ou domí-
nio, desenvolvendo atividades políticas, econômicas e sociais com autonomia e
organizando esse espaço de acordo com as necessidades e interesses de outros
povos amigos.
e) parte do espaço terrestre sobre a qual a nação hegemônica mundial exerce po-
der ou domínio, desenvolvendo atividades políticas, econômicas e sociais com au-
tonomia e organizando esse espaço de acordo com suas necessidades e interes-
ses.

7. Analise os trechos a seguir:

I. Formas de poder exercidas pelos sujeitos dominantes sem a ação física direta,
mas pela imposição de uma visão de mundo, dos papéis sociais, das categorias

41
cognitivas, das estruturas mentais por meio das quais o mundo é percebido e
pensado.
II. Mecanismo de poder no qual técnicas disciplinares de controle concorrem para
o estabelecimento de um padrão de normalidade que é, ao mesmo tempo, um
dispositivo de poder e uma forma de saber.
FGV-2016 (ADAPTADA).

Os trechos citados descrevem, respectivamente, dois conceitos sociológicos defini-


dos como

a) naturalização e coerção social.


b) ideologia e subordinação.
c) violência simbólica e disciplina.
d) mais repressão e punição.
e) habitus e normalização.

8. Observe a descrição abaixo e assinale a opção adequada: “Conjunto de pessoas


com língua e tradições comuns, que possuem um território com governo e leis pró-
prias. Possui um sentido mais amplo de um vínculo que une os indivíduos por meio
de uma identidade nacional”.

a) Povo.
b) Sociedade.
c) Território.
d) Nação.
e) Estado.

42
GLOBALIZAÇÃO, UNIDADE

03
REGIONALIZAÇÃO E
FRAGMENTAÇÃO DO MUNDO
CONTEMPORÂNEO

3.1 GLOBALIZAÇÃO COMO QUESTÃO

O termo “globalização” tornou-se uma palavra da moda, originado através


do discurso jornalístico de viés econômico, prontamente passou a ser difundido pelas
bases teóricas de diversos campos do conhecimento. A noção de globalização mais
propagada foi aquela que indica “[...] a disseminação em escala planetária de pro-
cessos gerais concernentes às relações de trabalho, difusão de informações e unifor-
mização cultural” (HAESBAERT; LIMONAD, 1999, p. 7).
A globalização não é um fato acabado, mas um processo em curso, não
aconteceu de modo linear e sem resistências, sofreu interrupções, atravessou mo-
mentos de aceleração e de crises, desenvolvimento tecnológico e contenções polí-
tica e, atualmente, encontra-se submetido ao capital financeiro e dos fluxos das
grandes corporações transnacionais. Não cabe a esta unidade uma análise deta-
lhada da globalização, mas sim assinalar as implicações desse processo com a geo-
grafia política.
Algumas formulações de Santos (2011)a respeito da globalização apontaram
para o que o autor chamou de “a globalização como fábula”, ou seja, quando um
certo número de inverdades, reproduzidas repetidamente se tornam uma base sólida
de veracidade. Ianni (2001)nos seus estudos a respeito das metáforas da globaliza-
ção, aprofundou sobre a “aldeia global”, ideia de que a difusão instantânea de no-
tícias realmente informa as pessoas. A vinculação das informações é mediada por
objetos através da mídia, no qual a transmissão da informação é baseada numa in-
terpretação interessada, quando não interesseira, dos fatos (SANTOS, 2003).

43
Outra fábula é a sensação de compressão do espaço e do tempo proporcio-
nada pela velocidade. Conforme aponta a figura abaixo, ocorreu um rápido e pro-
gressivo desenvolvimento dos meios de transporte que proporcionou um encurta-
mento de distâncias entre os lugares. Contudo, somente um número limitado de pes-
soas possuem acesso e de acordo com a viabilidade de cada sujeito “as distâncias
têm significações e efeitos diversos e o uso do mesmo relógio não permite igual eco-
nomia do tempo” (SANTOS, 2003, p. 41).

Figura 3: Compressão tempo-espaço

Fonte: (HARVEY, 2006)

Neste contexto, a ideia de globalização nos projeta a formação de uma ten-


dência de homogeneização sociocultural, econômica e espacial, proporcionada

44
pelo desenvolvimento das técnicas de comunicação, informação e ciência. Con-
tudo esta é uma falsa percepção, por mais que esteja em curso uma homogeneiza-
ção ela não chega igualmente para todos os segmentos socioespaciais. Como con-
sequência, na medida que a globalização se desenvolve, ela progressivamente pro-
voca segregação socioespacial. Esses exemplos tratados até aqui fazem parte de
uma extensa lista de falsas verdades a respeito do processo de globalização.
Na ideia de “globalização como perversidade”, Santos (2003) expõe as atro-
cidades que a globalização tem gerado para a maior parte da humanidade, como
exemplo: crescente desemprego, aumento da pobreza, fome, diminuição da média
salarial, novas enfermidades, velhas doenças que supostamente tinham sido erradi-
cadas, apesar dos avanços na medicina e informação a mortalidade infantil ainda
permanece, educação de qualidade cada vez mais acessível para uma pequena
parcela da população, entre outras. Todas essas problemáticas são diretas ou indire-
tamente atribuídas ao processo de globalização.
No que tange a globalização econômica ou mundialização do capital, os
grandes atores econômicos capitalistas são as corporações transnacionais, elas são
responsáveis pela movimentação de riquezas entre os países e possuem a capaci-
dade de influenciar culturas, políticas e economias de um determinado país. Esse
processo possibilitou o desenvolvimento de grupos econômicos com poder de atua-
ção no campo político-financeiro internacional e desenvolveu a formação de oli-
gopólios.
As empresas transnacionais propagam-se pelo mundo com intuito de maximi-
zação dos lucros por meio da redução dos custos de produção. Para tanto o capital
vai procurar lugares que lhe ofereçam condições de ampliação dos lucros, tais
como: força de trabalho mais barata e abundante, governos que ofereçam incenti-
vos fiscais, leis ambientais e legislações trabalhistas mais flexíveis, sindicatos mais fra-
cos, entre outras.
Dessa forma, as empresas se organizam seguindo a nova divisão territorial e
social do trabalho.

45
3.2 O ESTADO E TERRITÓRIO NA NOVA ORDEM MUNDIAL

Nas últimas décadas, falou-se muito sobre o papel do Estado-nação na cons-


tituição da nova ordem mundial. Alguns autores acreditam que a fragilização dos
Estados irá culminar na sua ameaça ou até mesmo na morte dos Estados, outros pon-
tuam que está ocorrendo uma nova reestruturação dos estados pautada na “socie-
dade do controle” ou da “segurança” (HAESBAERT; GONÇALVES, 2006). De todo jeito,
os Estados estão passando por significativas transformações, desde o fim da fase do
capitalismo chamada de Estado de bem-estar social, em alguns países instaurou o
período denominado de capitalismo neoliberal, no qual o Estado diminuiu sua atua-
ção em detrimento das transnacionais.
A globalização através da informação e do dinheiro tornou o mundo mais flu-
ido e impactou diretamente nas fronteiras que ficaram mais porosas. Outrossim, os
territórios deixaram de ter fronteiras mais rígidas o que ocasionou no enfraquecimento
dos Estados nacionais. A grande questão dessa porosidade é que as grandes corpo-
rações – atores econômicos capitalistas transnacionais – necessitam de um Estado
mais flexível para atender os seus interesses, afetando diretamente o poder dos Esta-
dos.
Com isso, algumas hipóteses podem ser pautadas para explicar a emergência
desse novo contexto. A primeira delas é o movimento de privatização baseado nos
ideais do neoliberalismo, que promoveu a privatização das empresas estatais nos pa-
íses capitalistas assim como dos países do bloco socialista (tanto pela queda dos re-
gimes centralizados quanto pela abertura do mercado). O Estado capitalista deixou
de exercer poder no setor industrial, comercial, de serviços e no campo da pesquisa

46
e inovação tecnológica.
A música composta por Raul Seixas e Cláudio Roberto Andrade de Azevedo,
lançada em 1980 no álbum Abre-te Sésamo, retrata a realidade do processo de pri-
vatização no Brasil, onde as empresas estatais foram vendidas com valor muito
abaixo do preço de mercado para o capital privado estrangeiro.

Aluga-se – (Raul Seixas)

A solução pro nosso povo


Eu vou dá
Negócio bom assim
Ninguém nunca viu
Tá tudo pronto aqui

É só vim pegar
A solução é alugar o Brasil!...
Nós não vamos paga nada
Lalalalá!
Nós não vamos paga nada
É tudo free!
Tá na hora agora é free
Vamos embora
Dá lugar pros gringo entrar
Que esse imóvel tá pra alugar
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!...
Os estrangeiros
Eu sei que eles vão gostar
Tem o Atlântico
Tem vista pro mar
A Amazônia
É o jardim do quintal
E o dólar deles

Paga o nosso mingau... Neste sentido, o que observamos é um fortalecimento


do Estado para atender as demandas e os grandes interesses dos organismos finan-
ceiros internacionais em detrimento das necessidades da população que tem sua
vida cada vez mais precarizada. O discurso difundido a respeito da flexibilização do
Estado era que isso melhoraria a vida da população, pois permitiria a autonomia da
produção, do consumo e da vida (SANTOS, 2003).
A ampliação do terceiro setor vem da ideia de que as empresas privadas as-
sumiram a função de assistência social antes prestado pelo poder público, assim
como na criação de infraestruturas básicas (transporte, rede de esgoto, saneamento
e água). Mas, na realidade, a sociedade econômica é cada vez mais beneficiada

47
com a diminuição da atuação do Estado e a sociedade civil experimenta a amplia-
ção da desigualdade entre os indivíduos e o sucateamento dos serviços essenciais.
Outra questão importante levantada por Haesbaert e Porto-Gonçalves (2006)
é a terceirização de funções tidas como essencialmente “estatais”, como o “mono-
pólio da violência legítima”, que “com a contratação de milícias e seguranças priva-
dos, é uma realidade cada vez mais comum”. A inserção de novas tecnologias tam-
bém passou a exercer influência na perda de poder dos Estados, neste caso as téc-
nicas proporcionam a flexibilidade locacional das empresas e, com isso, vieram as
políticas de flexibilização das leis trabalhistas e das leis ambientais, diminuição do pa-
pel do Estado, entre outros.
A globalização também tem mudado o papel das fronteiras político-adminis-
trativas e, em alguns casos, mudando a escala de atuação, como no cenário de
criação dos blocos econômicos mundiais. O surgimento desses blocos econômicos é
mais um exemplo relevante da reestruturação do poder dos Estados nacionais, con-
tudo, neste caso é possível verificar as contradições da reprodução capitalista que
se fortalece com a expansão do neoliberalismo assim como do surgimento de blocos
econômicos ou mercados comuns (HAESBAERT; GONÇALVES, 2006).
É importante notar que os Estados ainda exercem funções de extrema impor-
tância:

Mesmo no âmbito econômico, onde perde poder para as grandes


corporações nos níveis local e global, o aparato estatal continua com
uma função relevante na medida em que procura exercer controle
(bastante variável segundo o país) sobre a moeda, os juros e as taxas
de câmbio, a jurisdição da propriedade da terra (além de possuir vas-
tas áreas sob sua gestão direta, sobretudo áreas militares), a manuten-
ção de subsídios em setores estratégicos (ou com lobbies muito fortes)
e o controle, direto ou indireto, de recursos estratégicos [...]
(HAESBAERT; GONÇALVES, 2006, p. 59)

3.3 NOVA ORDEM MUNDIAL: REGIONALIZAÇÃO E FORMAÇÃO DOS BLOCOS


ECONÔMICOS

Para compreender as relações estabelecidas entre as nações no sistema ca-


pitalista mundial é preciso analisar as questões que envolvem o processo de integra-
ção regional sob o contexto da globalização econômica, ou seja, promover um es-
tudo histórico das consequências da globalização no processo de formação dos blo-
cos econômicos.

48
Na nova ordem mundial os países que estão, geograficamente, próximos, e
alguns destes com perspectivas políticas desarmônicas, se juntam para buscar alter-
nativas e saídas econômicas e sociais causadas pelo processo de globalização finan-
ceira. Por isso, a integração econômica deve ser entendida como um processo his-
tórico e econômico simultâneo ao processo de globalização econômica difundido
pela expansão do Estado neoliberal a partir de 1980, que provocou o aumento da
competitividade e pressão entre os Estados e entre os organismos financeiros interna-
cionais (SARAVIA, 2007).

A propensão de organização dos Estados em blocos econômicos inicia-se a


partir do final da Segunda Guerra Mundial, quando surgiram vários acordos regionais
com o intuito de expandir a cooperação e a integração entre os países pelo viés
econômico, político e social. Assim como pela urgência de reconstrução da Europa
que foi palco das duas grandes guerras mundiais. A emergência de acordos regio-
nais alavancados pelo movimento de integração e cooperação socioeconômica no
período pós-guerra caracteriza-se como o primeiro momento de criação de acordos
regionais e o segundo momento, no pós-Guerra Fria, que corresponde a ampliação
de acordos comerciais e a constituição de blocos econômicos regionais.
De acordo com Celli Jr. (2006), os blocos regionais podem ser diferenciados a
partir do ponto de vista da integração e da cooperação. A partir da ótica de inte-
gração o propósito dos blocos regionais se manifestam pela unificação, uniformiza-
ção e harmonização das políticas (econômicas, monetárias e comerciais), com a
transferência de parte da soberania para empresas de cunho supranacional – insti-
tuições com poder de comando superior aos Estados -, ao passo que os blocos regi-
onais de cooperação possuem desígnios mais moderados, no qual sua criação pro-
põe a perda parcial ou total da soberania, cria instrumentos de cooperação, como

49
por exemplo a redução de tarifas alfandegárias.
Nas décadas de 1960 e 1970 que surgiu a primeira explosão dos acordos regi-
onais, baseados pelo GATT (Acordo Geral das Tarifas de Comércio) – criado para
retomar o comércio internacional pós-guerra –, os acordos pretendiam a formação
de zonas de livre-comércio ou de união aduaneira a fim de ampliar os mercados.
Nesta conjuntura, ocorreu a criação da Associação Latino Americana de Livre Co-
mércio (ALALC), em 1960, no cerne do processo de industrialização da América La-
tina. Contudo, a Alalc não atingiu seus objetivos e, em 1980, se tornou a Associação
Latino-Americana de Desenvolvimento e Intercâmbio (ALADI). Esse momento foi ca-
racterizado pela tentativa de redução de tarifa ao comércio de bens.
O segundo momento de efervescência de unificação dos Estados em Blocos
Econômicos Regionais se iniciou da virada do século XX para o século XXI atrelado
ao crescimento no processo de globalização, intitulado de mundialização do capital
(nova etapa do capitalismo mundial que surge na virada a década de 1970 para
1980, que com a reestruturação produtiva e a ofensiva do neoliberalismo, o capital
industrial e financeiro constituem a verdadeira mundialização do capital) (ALVES,
1999).
Os blocos regionais podem ser classificados de acordo com a tipologia de in-
tegração, e de acordo com o quadro abaixo, seguindo a ordem crescente de remo-
ção de barreiras frente a integração econômica: acordo preferencial de comércio,
área de livre-comércio, união aduaneira, mercado comum, união econômica e in-
tegração econômica total.

Quadro 1: Tipologia da integração econômica


Tipo Características Exemplos
Acordo Preferencial de Redução ou eliminação de tarifas e restri- Aladi; Merco-
Comércio ções quantitativas de um grupo de produ- sul-Índia; GSTP
tos entre os países signatários do acordo. etc.
Área de Livre-comércio Eliminação de tarifas e restrições quantitati- Nafta; EFTA
vas a todos, ou quase todos os produtos etc.
com origem nos países da área, com ado-
ção de tarifas externas de cada país a ter-
ceiros países.
União Aduaneira Liberalização do comércio entre os países Mercosul;
que fazem parte do acordo e adoção de Sacu etc.
uma tarifa externa comum. Implica na har-
monização de políticas econômicas (cam-
bial, fiscal e monetária), a estruturação de

50
Tipo Características Exemplos
uma autoridade aduaneira regional e a de-
finição de regras de repartição de impostos
aduaneiros.
Mercado Comum Trata-se de uma união aduaneira com libe- Comunidades
ralização do movimento de fatores de pro- Europeias (an-
dução (capitais e pessoas). Exige um nível tes da UE)
ampliado de harmonização de políticas
econômicas, inclusive no campo social e
de previdência.
União Econômica Caracteriza-se como um Mercado Comum UE
com harmonização muito avançada de
políticas econômicas e estruturação de
uma moeda única.
Integração Econômica To- Unificação de políticas econômicas com UE
tal moeda única e autoridade supranacional.
Fonte: (OLIVEIRA, 2012, p. 9)

No mapa abaixo é possível verificar espacialmente os principais blocos econô-


micos, o Nafta (Estados Unidos, Canadá e México), a União Europeia (atualmente
formada por 27 países, que em janeiro de 2020 contou com a saída do Reino Unido),
o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Venezuela e Chile), a Comunidade
dos Estados Independentes (formada pelos antigos países socialistas), a Comunidade
para o Desenvolvimento da África Austral (África do Sul, Angola, Botswana, Repú-
blica Democrática do Congo, Lesoto, Madagascar, Malaui, Maurícia, Moçambique,
Namíbia, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia, Zimbábue), entre outros.

51
Figura 4: Blocos econômicos (2018)

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2018).

Muitos autores acreditam que a integração (econômica, social e cultural), por


meio da constituição de blocos econômicos, ocorreu como uma tática dos países
para sobreviverem das questões negativas geradas pelo processo de globalização.
A expansão de uma economia integrada funciona como uma possibilidade para
amenizar os efeitos da globalização, cujos países membros buscam princípios co-
muns, mas, sempre, considerando a diversidade econômica, cultural e social, a fim
de diminuir a exclusão e desenvolver os setores econômicos já consolidados.
O contexto de formação dos blocos regionais se dá em meio a sistemas de
forças antagônicas que prevê a eliminação de fronteiras, assim como, a sua conser-
vação. Então, há os autores que acreditam na formação dos blocos como um pro-
cesso de eliminação das fronteiras, sobretudo as econômicas, e aqueles que acredi-
tam na preservação das fronteiras, no sentido de proteção do Estado Nacional.
Neste caso, os blocos regionais seriam um modo de fortalecimento em conjunto dos
países membros frente à concorrência econômica internacional.
A dialética globalização versus regionalização, internacionalização versus so-
berania nacional, noções controversas e ao mesmo tempo complementares, estão
presentes no âmago da formação dos blocos ao constituírem acordos comerciais
entre si, favorecem a acumulação e fortalecimento em escala nacional e, ainda,
consolidam os novos atores econômicos da globalização.

52
53
fixando o conteúdo

1. Leia atentamente o seguinte excerto sobre globalização:

“A fábrica global instala-se além de toda e qualquer fronteira, articulando capital,


tecnologia, força de trabalho, divisão do trabalho social e outras forças produtivas.
Acompanhada pela publicidade, a mídia impressa e eletrônica, a indústria cultu-
ral, misturadas em jornais, revistas, livros, programas de rádio, emissões de televisão,
videoclipes, fax, redes de computadores e outros meios de comunicação, infor-
mação e fabulação dissolve fronteiras, agiliza os mercados, generaliza o consu-
mismo”.
IANNI, Octavio. Teorias da Globalização. Rio de Janeiro: Editora Civilização, 2002. p. 19.

Considerando o processo de globalização, assinale a alternativa correta.

a) A tecnologia de ponta é apontada como um dos principais fatores responsáveis


pela consolidação da globalização no século XIX.
b) Trata-se de uma fase avançada de expansão capitalista no espaço mundial mar-
cada pela aceleração dos fluxos de mercadorias, capitais, pessoas e informações.
c) A produção pelas estatais permite explorar vantagens como incentivos fiscais,
mão de obra barata, matérias-primas e logística de transportes.
d) As transnacionais são as principais agentes da globalização, uma vez que mantêm
lucratividade através da diminuição da produção, circulação e consumo.
e) No mundo globalizado, os trabalhadores perderam espaço para as máquinas de-
vido à necessidade de produzir-se mais e de forma mais eficiente a um custo mais
baixo.

3. Leia o fragmento de texto abaixo:

UM MOMENTO DE DESORDEM MUNDIAL

“Neste começo de século, assistimos a uma reformulação de fronteiras e influên-


cias político-econômicas no mundo. Essa nova forma de organização mundial, ba-
seada na existência de redes, fluxos e conexões, exige mudanças no método [...]
de agrupar e separar territórios [...]. Essa nova era é marcada pelo advento da

54
globalização e da internet, que permitiu maior integração internacional e criou um
novo espaço [...], o “território-mundo”, composto de uma sociedade mundial que
compartilha os mesmos valores. A integração cada vez maior dos Estados e a so-
berania de um país através de um grupo [...] são demonstradas pela força dos
blocos econômicos, que estabelecem uma concorrência acirrada entre si para
manter a influência sobre seus parceiros comerciais. [...]”.
Adaptado de Ciência Hoje On-line. In: http://cienciahoje.uol.com.br/resenhas/um-momento-de-desor-
dem-mundial. Acesso em: 23/08/14.

Conforme o texto, o estabelecimento de uma nova ordem geopolítica que, na


etapa contemporânea, caracteriza-se pelo(a)

a) eliminação das fronteiras nacionais com a fusão de países em blocos econômicos


regionais e o surgimento do domínio das tecnologias de ponta pelos novos países
industrializados e subdesenvolvidos.
b) surgimento de áreas de livre comércio como reservas de mercado para multinaci-
onais, disputadas entre os países centrais, representados pelos EUA, e pelos países
periféricos, representados pela União Europeia.
c) regionalização dos países em blocos econômicos que evidenciou antigos centros
de poder, como o Japão e a União Europeia, e amenizou tensões entre interesses
políticos e econômicos dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos.
d) reorganização dos países do mundo em região Central, onde se agrupam os paí-
ses desenvolvidos que constituem a área de influência dos Estados Unidos e a re-
gião Periférica, que reúne países sob a influência da União Europeia devido à in-
tensa disputa por territórios.
e) O capitalismo globalizado estimulou a formação de blocos econômicos nas últi-
mas décadas como NAFTA, Mercosul e APEC, além do poderio da tradicional
União Europeia. Os blocos facilitam o intercâmbio comercial entre os países de
uma determinada região do mundo.

3. O processo de mundialização do sistema capitalista sempre esteve apoiado na


difusão de políticas econômicas e na constituição de determinadas lógicas geo-
políticas e geoeconômicas de organização do espaço mundial. Constituem-se

55
em política econômica e em lógica capitalista de ordenamento do espaço mun-
dial no período atual:

a) o colonialismo e o imperialismo.
b) a globalização e o neocolonialismo.
c) o neoliberalismo e a globalização.
d) o mercantilismo e a descolonização.
e) o neoliberalismo e o imperialismo.

4. A ideia da “globalização como fábula” proposta por Milton Santos, torna-se ainda
mais expressiva, se levarmos em conta certas definições de fábula, apresentadas
no dicionário: mitologia, lenda, narração de coisas imaginárias. Não resta dúvida
de que se lida com a imagem de um mundo cada vez mais interconectado, mas
de forma alguma “sem fronteiras”. Essa imagem, difundida nos tempos atuais, en-
contra seu principal fundamento no aspecto
(UFF 2010 – Adaptada)

a) político, com o triunfo de regimes democráticos em continentes inteiros.


b) socioeconômico, com a redução das desigualdades entre os povos da Terra.
c) sanitário, com o êxito alcançado na prevenção das pan-epidemias.
d) cultural, com a crescente unificação das crenças religiosas no mundo.
e) financeiro, com a intensa circulação de capitais em nível planetário.

5. Os seus conhecimentos sobre o Estado-Nação, na contemporaneidade, permitem


afirmar:
UESC 2011 – adaptada

a) A globalização tirou dos Estados-Nação a capacidade de controlar os instrumen-


tos de economia política, tendo como suporte o neoliberalismo.
b) O Estado-Nação, na contemporaneidade, amplia a concorrência de qualquer
outra esfera de poder e vem diminuindo seu papel na economia.
c) Os limites territoriais dos Estados-Nação estão ganhando importância, devido ao
processo de globalização econômica.
d) Os conflitos armados, nos países de regime totalitário e ditatorial, projetam-se
como solução, diante da concreta dissolução dos Estados-Nação.
e) A inserção dos Estados nacionais emergentes na nova ordem multipolar está

56
sendo dificultada, em razão da baixa competitividade na atual fase da transna-
cionalização do capitalismo planetário.

6. Um dos traços marcantes do atual período histórico é, pois, o papel verdadeira-


mente despótico da informação. Conforme já vimos, as novas condições técni-
cas deveriam permitir a ampliação do conhecimento do planeta, dos objetos que
o formam, das sociedades que o habitam e dos homens em sua realidade intrín-
seca. Todavia, nas condições atuais, as técnicas da informação são principal-
mente utilizadas por um punhado de atores em função de seus objetivos particu-
lares [...] aprofundando assim os processos de criação de desigualdades.
SANTOS, Milton. "Por uma outra globalização". Rio de Janeiro: Record, 2000.)

As redes informacionais criadas pela globalização são criticadas pelo autor, elas
agirem no sentido de

a) ampliar a acumulação capitalista, difundindo a ideologia dominante.


b) reforçar interesses políticos, contrapondo objetivos econômicos.
c) romper com a barreira espaço-tempo, contrariando a massificação do con-
sumo.
d) favorecer os interesses da grande mídia, criando contradições entre as elites eco-
nômicas.
e) proteger as classes mais abastadas sem criar disparidades entre as elites e as clas-
ses inferiores.

7. Analise o texto sobre a nova ordem mundial:

Na nova ordem mundial, as multinacionais detêm um imenso poder econômico e


exercem uma influência política decisiva. A falta de coordenação entre regimes
fiscais dos Estados lhes permite minimizar sua subordinação ao imposto, muitas ve-
zes em detrimento dos países em que operam. Essa vantagem é ampliada tam-
bém pelos paraísos fiscais – como a Irlanda – e pelos centros financeiros offshore –
como as Bermudas –, que permitem dissimular os fundos transfronteiriços, assim
como a identidade dos diretores de empresas globais e de particulares que dela
se beneficiam.

57
NDIKUMANA, L. Como fazer as multinacionais pagarem o que devem aos países do Sul. Le Monde Di-
plomatique Brasil, Ano 12, n. 138, jan. 2019, p. 27. Adaptado.

Com base no texto, as características do atual processo de globalização encon-


tram-se em:

a) Eliminação das fronteiras nacionais / Favorecimento dos executivos de firmas glo-


bais.
b) Avanço da financeirização da economia / Empoderamento dos países do Sul
Global.
c) Redução da tributação de bens e serviços/ Restrição dos centros financeiros
offshore.
d) Expansão da ideologia política neoliberal / Enfraquecimento relativo dos Estados
e) Ampliação das empresas transnacionais / Proteção dos Estados nacionais

8. Os blocos econômicos podem se diferenciar conforme os acordos estabelecidos


pelos países integrantes, podendo ser Zona de livre comércio, União aduaneira,
Mercado comum, União econômica e monetária. Nesse sentido, assinale a alter-
nativa que contém as características verdadeiras das vertentes dos blocos
econômicos.

a) Na União aduaneira é permitida a livre circulação de pessoas entre os países


membros, como por exemplo, na União Europeia.
b) A Zona de livre comércio é o tipo de bloco mais abrangente, estabelecendo a
redução e/ou eliminação das barreiras fiscais e permitindo a livre circulação de
pessoas. Exemplo: Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA).
c) A União econômica e monetária consiste no estágio mais avançado dos blocos
econômicos, se caracterizando pela eliminação das tarifas alfandegárias, livre cir-
culação de capitais, serviços e pessoas, além da utilização de uma moeda única.
d) O Mercado comum se caracteriza pela redução e/ou eliminação das barreiras
alfandegárias, mas impede a livre circulação de pessoas e capitais. Não é utili-
zada a moeda única entre os países integrantes.
e) A União econômica e monetária se limita à redução de barreiras fiscais, não per-
mitindo a livre circulação de capitais.

58
QUESTÕES POLÍTICAS E UNIDADE

04
ECONÔMICAS NA ESCALA
REGIONAL/MUNDO

4.1 A QUESTÃO DA HEGEMONIA MUNDIAL

A hegemonia sempre foi fruto de extensos períodos de expansão competitiva


que culminou no acúmulo de poder econômico e político de um determinado Es-
tado. A vantagem econômica estabelecida em todos os contextos históricos ocorreu
primeiramente na produção, posteriormente no comércio e, finalmente nas finanças,
pois os Estados que buscavam se tornar hegemônicos estavam ampliando seus inves-
timentos em tecnologia produtiva mais que seus adversários. A concretização das
hegemonias ocorreu após a participação de cada nação hegemônica em uma
“Guerra de Trinta Anos” – a Guerra dos Trinta Anos de 1618 a 1648, as Guerras Napo-
leônicas de 1792 a 1815, as longas guerras eurasianas de 1914 e 1945 – que consoli-
daram a Holanda, Inglaterra e EUA, respectivamente, segundo Wallerstein (2003)
apud Arighi e Silver (2001). O desenvolvimento da vantagem econômica da nação
vencedora ocorria no próprio processo da guerra e um acordo após-guerra entre os
Estados consolidava e protegida do desgaste essa vantagem:

Este acordo do após-guerra consiste em uma ou outra forma de “libe-


ralismo global” que pretende impor “o princípio da livre circulação dos
fatores produtivos (bens, capital e trabalho) por toda a economia
mundial”. O liberalismo global atende à dupla finalidade de respaldar
a dominação baseada na vantagem competitiva da potência hege-
mônica e “deslegitimar os esforços das outras máquinas estatais no
sentido de agir contra a superioridade econômica da nação hege-
mônica”. Mas o liberalismo global também “gera seu próprio declínio”,
pois torna mais difícil para a nação hegemônica adiar “a dissemina-
ção da capacidade tecnológica” entre as nações rivais. Além disso,
manter “a produção ininterrupta em uma dada época de máxima
acumulação global” implica “a elevação furtiva da renda real das
camadas trabalhadoras e dos quadros dirigentes situados na nação
hegemônica”. Com o correr do tempo, essas duas tendências sola-
pam a vantagem competitiva das empresas da nação hegemônica
na produção, no comércio e, por fim, nas finanças. Com isso, o sistema
retorna a um novo longo período de expansão competitiva, até que
um outro Estado consiga conquistar a tríplice vantagem competitiva –
na produção, no comércio e nas finanças [...] (WALLERSTEIN, 1984,
p.41-45 apud ARRIGHI; SILVER, 2001, p. 33).

59
A Figura abaixo representa o modelo dos ciclos hegemônicos proposto por
Wallerstein. Esses ciclos tiveram duração entre 100 e 150 anos e as hegemonias per-
duraram em torno de 25 a 50 anos, quando entraram num lento processo de deca-
dência, pois para se manterem na hegemonia era necessário cada vez mais investi-
mentos no setor militar – o que resultou numa perda de competitividade econômica
e legitimidade política e ideológica.

Figura 5: Modelo de ciclo hegemônico de Wallerstein

Fonte: (ARRIGHI; SILVER, 2001, p. 34).

Gramsci (1971) apud Arrighi (1994) ao desenvolver o conceito de hegemonia


abriu lacunas para o surgimento de várias interpretações ao usar o conceito de forma
dúbia. Em alguns momentos o termo se refere ao poder político operado somente
através da liderança e o consentimento dos governados, em contraposição ao po-
der político operado na forma de dominação via coerção. Em outros momentos,
aponta para a combinação de coerção e consentimento para o exercício o poder
político:

A supremacia de um grupo social manifesta-se de duas maneiras,


como “dominação” e como “liderança intelectual e moral”. Um
grupo social domina os grupos antagônicos, que ele tende a “liquidar”
ou subjugar, talvez até pela força das armas, e lidera os grupos afins
ou aliados. Um grupo social pode e, a rigor, já deve exercer a “lide-
rança” antes de conquistar o poder governamental (essa é, de fato,
uma das principais condições para conquistar tal poder); posterior-
mente, ele se torna dominante ao exercer o poder, mas, ainda que o
detenha firmemente nas mãos, também tem que continuar a “liderar”
GRAMSCI (1971 apud ARRIGHI, (1994, p. 57-58).

60
Seguindo essa concepção, Arrighi (1994), realiza uma adaptação do conceito
de hegemonia para analisar as relações interestatais. Enquanto a dominação é exer-
cida primordialmente através da coerção, a liderança associada a hegemonia, por
sua vez, é mais do que a dominação pura e simples, é um poder adicional conferido
a um grupo dominante.
Contudo, a concepção de liderar a sociedade ao ponto que essa liderança
aumente o poder do grupo soberano, num contexto internacional como expõe Arri-
ghi (diferentemente da proposta de Gramsci que aponta para um contexto nacio-
nal) evidencia duas problemáticas: a primeira é que ao discorrer sobre liderança em
nível internacional, a expressão é utilizada para designar duas situações distintas; a
segunda problemática diz respeito à dificuldade de definir um interesse comum ao
nível do sistema interestatal, do que se considerados os Estados nacionais individual-
mente (ARRIGHI; SILVER, 2001).
Em relação à primeira problemática, a liderança se apresenta quando um de-
terminado Estado dominante se torna o “modelo” a ser reproduzido por outros Esta-
dos. Nesta circunstância, pode-se aumentar o prestígio e o poder do Estado modelo
num primeiro momento, entretanto, na medida que ele atinge um grau de sucesso,
este poder é enfraquecido devido ao fortalecimento dos Estados que tentaram o
imitar conseguiram algum sucesso. Por outra perspectiva, a liderança designa na ca-
pacidade de um Estado dominante guiar a sociedade “em uma direção que não
apenas atende aos interesses desse grupo dominante, mas é também percebida pe-
los grupos subalternos como servindo a um interesse mais geral” (ARRIGHI; SILVER,
2001, p. 36). A liderança por esse ponto de vista aumenta o poder do Estado domi-
nante.
A segunda problemática, de apontar um interesse geral no nível do sistema
interestatal, é preciso considerar que na esfera individual dos Estados, a ampliação
do poder do Estado em relação a outros Estados simboliza um bom resultado na
busca de um “interesse nacional”. Todavia, esse poder não pode aumentar para o
sistema de Estados de forma geral, mas sim, para “um grupo de nações à custa de
outras, mas a hegemonia do líder desse grupo é, quando muito, ‘regional’ ou de ‘co-
alizão’, e não uma verdadeira hegemonia mundial” (ARRIGHI, 1994, p. 29).
O conceito de “hegemonia mundial” desenvolvido por Arrighi (1994) refere-se
à habilidade de um Estado em desempenhar papéis de liderança e governo no to-

61
cante de um sistema de nações soberanas e o surgimento de uma hegemonia mun-
dial ocorre:
[...] quando a busca do poder pelos Estados inter-relacionados não é
o único objetivo da ação estatal. Na verdade, a busca do poder no
sistema interestatal é apenas um lado da moeda que define, conjun-
tamente, a estratégia e a estrutura dos Estados enquanto organiza-
ções. O outro lado é a maximização do poder perante os cidadãos.
Portanto, um Estado pode tornar-se mundialmente hegemônico por
estar apto a alegar, com credibilidade, que é a força motriz de uma
expansão geral do poder coletivo dos governantes perante os indiví-
duos. Ou, inversamente, pode tornar-se mundialmente hegemônico
por ser capaz de afirmar, com credibilidade, que a expansão de seu
poder em relação a um ou até a todos os outros Estados é do interesse
geral dos cidadãos de todos eles (ARRIGHI, 1994, p. 29-30).

Ainda de acordo com o autor, existem duas circunstâncias para que um Es-
tado hegemônico consiga servir ao interesse geral na esfera do sistema internacional.
Em primeiro lugar, é necessária uma “oferta” eficaz da capacidade de governabili-
dade mundial e, em segundo lugar, as soluções apresentadas pela nação hegemô-
nica devem dirigir-se aos problemas de nível sistêmico, ao ponto de criar uma “de-
manda” de gestão sistêmica entre os grupos dominantes emergentes ou vigentes do
sistema. A partir do momento em que as condições de oferta e demanda são aten-
didas concomitantemente a nação hegemônica consegue organizar, administrar e
expandir o poder coletivo dos grupos dominantes do sistema (ARRIGHI; SILVER, 2001).
Nos períodos de “caos sistêmico”, os grupos dominantes emergentes ou vigen-
tes demandam de uma gestão sistêmica, neste sentido, qualquer Estado ou grupo
de Estados que oferecerem uma governabilidade mundial está em condições de
tornar-se hegemônico.

62
Com o passar do tempo, a liderança do Estado hegemônico entra em deca-
dência e o sistema é conduzido para um período de crise. As crises hegemônicas
apresentam três processos diferentes, mas relacionados: 1) aumento da concorrên-
cia interestatal e interempresarial, 2) o surgimento de conflitos sociais e 3) de novas
configurações de poder. Neste contexto, a forma e a relação entre esses processos
não foram os mesmos nos diferentes momentos de crise hegemônica, mas todos os
processos estavam associados ao fenômeno de “expansão financeira” (ARRIGHI;
SILVER, 2001). A figura abaixo é possível observar o modelo de ciclo hegemônico do
referido autor:

63
Figura 6: O ciclo hegemônico de Arrighi

Fonte: (ARRIGHI; SILVER, 2001, p. 39)

Como foi visto até aqui, no modelo proposto por Wallerstein (2003) a mudança
do poder de uma nação não apontou transformações ao funcionamento do sistema
mundial, enquanto que para Arrighi (2001), o sistema mundial moderno se forjou e se
expandiu apoiado nas sucessivas reestruturações sistêmicas, chefiadas e governadas
pelos subsequentes Estados hegemônicos que direcionaram o sistema para novos
caminhos.

4.2 O PAPEL DOS EUA NA GEOPOLÍTICA MUNDIAL

É incontestável o caráter marcante dos Estados Unidos no cenário geopolítico


internacional. Em várias frentes de atuação a nação estadunidense se projeta en-
quanto liderança ou integrante de grupos hegemônicos. A partir do final da Segunda
Guerra Mundial que o país eclodiu no cenário internacional e seu caminho se des-
taca, principalmente, nos setores financeiros, comerciais, tecnológicos e militares.
A partir das categorias de coerção e consenso debatidas no tópico anterior,
vamos refletir como elas têm funcionado para os Estados Unidos nos últimos setenta
anos. Segundo Harvey (2012) os Estados Unidos têm investido com certa frequência
na dominação e coerção a fim de liquidar seus opositores, mesmo quando se trata
do seu território interno, demonstrando que não tem apego com a Constituição nem
com o regime de direitos. O macarthismo, a prisão e assassinato de lideranças dos
Panteras Negras, os campos de concentração para os japoneses durante a Segunda
Guerra Mundial, foram algumas ações dentro do país. Já no exterior, eles foram/são

64
ainda mais violentos, ao patrocinarem golpes no Irã, no Iraque, no Chile, no Brasil, na
Guatemala, na Indonésia, no Vietnã – e mais alguns outros – no qual provocaram
milhares de mortes. Assim como, apoiam o terrorismo de Estado em vários países em
que for conveniente para suas políticas (ressalta-se que a CIA e as Forças Especiais
atuam em inúmeras regiões). As formas de aniquilamento podem ocorrer por vários
meios, por exemplo, através do poder econômico: o embargo comercial ao Iraque
e a Cuba, os programas de austeridade do FMI através do Tesouro Norte-Americano
(quando as instituições norte-americanas e do Tesouro Norte-Americano, assegura-
dos pelo FMI, provocaram uma desvalorização dos ativos no Leste e Sudeste asiático,
na geração de desemprego em massa e na reversão de décadas de progresso eco-
nômico e social daquela região).
Mas, de acordo com as análises de Harvey (2012), muitos autores se fixam so-
mente no comportamento dos Estados Unidos por meio da coerção e da liquidação
do inimigo, sendo que eles são apenas uma base parcial do seu poder. O consenti-
mento e a cooperação também possuem uma relevância fundamental:

Os Estados Unidos têm pelo menos de agir de modo a tornar plausível


para outros a alegação de que agem em favor do interesse geral
mesmo quando, como muitas pessoas suspeitam, sua ação é moti-
vada pelo interesse próprio. Essa é a essência do exercício da lide-
rança por meio do consentimento (HARVEY, 2012, p. 41).

O período da Guerra Fria propiciou aos Estados Unidos uma grande oportuni-
dade de exercer essa liderança, pois empenhados na acumulação ilimitada do ca-
pital planejavam acumular poder político e militar a fim de defender e promover suas
propostas no mundo todo em objeção à ameaça comunista. A esse período de 1945-
1967, Wallerstein (2003) intitulou de “apogeu pós-guerra da hegemonia dos Estados
Unidos” – inquestionavelmente eles eram a potência hegemônica mundial com su-
perioridade econômica, militar, política e cultural sobre todas as outras potências
mundiais. Os principais pilares da hegemonia estadunidense no âmbito do sistema
capitalista eram o dólar, a capacidade produtiva e o Pentágono, ou seja, sua mo-
eda, sua produção e soberania militar.
Além disso, neste momento, Nova York coloca-se como centro da cultura mun-
dial num processo em que a cultura popular no mundo todo foi “americanizada”. O
American way of life foi um importante produto vendido por Hollywood, lançando
para o globo os “valores norte-americanos”, suas formas culturais e inclusive movi-
mentos políticos, como o caso dos direitos civis. Desse modo, o imperialismo cultural

65
tornou-se uma ferramenta significativa para afirmar sua hegemonia e promover o
desejo dos países de copiar o jeito americano de ser. Esse é um ponto fundamental
que diferencia a hegemonia dos Estados Unidos da hegemonia britânica – o fortale-
cimento dos elementos de consenso em relação aos de dominação (SADER, 2005).
Os Estados Unidos aproveitaram esse período de reconstrução dos países eu-
ropeus e asiáticos e usaram seu poderio econômico para edificar economias fortes
embasadas nos princípios capitalistas. Na Europa ficou conhecido como Plano Mars-
hall (Programa de Recuperação Europeia), no qual os Estados Unidos financiaram a
recuperação dos países aliados europeus após a Segunda Guerra Mundial.
Os norte-americanos eram vistos como o principal aparelho de acumulação
de capital, capazes de alavancar o restante do mundo nos seus eixos. Para coorde-
nar o crescimento econômico entre as potências capitalistas e conduzir o estilo ca-
pitalista para as outras nações não comunistas, eles instauraram o Acordo de Bretton
Woods (regras para as relações comerciais e financeiras entre os países) com o intuito
de estabilizar o sistema financeiro.
Assim, o acompanhamento se deu através de diversas instituições, tais como:
Banco Mundial, FMI (Fundo Monetário Internacional), Banco Internacional de Com-
pensações, o GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) e a OCDE (Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) (HARVEY, 2012). A acumulação
do capital ocorreu pelas vias da “reprodução expandida”, onde os lucros eram rein-
vestidos no crescimento econômico – novas tecnologias, capital fixo e melhorias na
infraestrutura. Em resumo:

[...] o período que vai de 1945 a 1970 foi a etapa do regime político da
burguesia funcionando sob a égide do domínio e da hegemonia glo-
bal norte-americanos, que promoveram uma época de notável cres-
cimento econômico consistente nos países capitalistas avançados. Es-
tabeleceu-se um coeso grupo global tácito envolvendo todas as gran-
des potências capitalistas, com os Estados Unidos num claro papel de
liderança, a fim de evitar guerras intestinais e partilhar os benefícios de
uma intensificação de um capitalismo integrado nas regiões nuclea-
res. A expansão geográfica da acumulação do capital foi garantida
mediante a descolonização e o “desenvolvimentismo” como meta
generalizada para o resto do mundo (HARVEY, 2012, p. 55).

Entretanto, o posto dos Estados Unidos de ocuparem o topo do mundo durou


cerca de vinte cinco anos, ou seja, por volta de 1970. E os problemas eram diversos:
perderam sua vantagem econômica (a Europa ocidental e o Japão se recuperaram

66
e conseguiram defender seus próprios mercados e concorrer no mercado internaci-
onal), alto custo para a contenção do comunismo, a derrota na Guerra do Vietnã
(que trouxe muitos gastos militares), as revoluções mundiais de 1968, entre outras pro-
blemáticas. Esses acontecimentos moldaram o panorama geopolítico mundial e fize-
ram os líderes norte-americanos adotarem medidas diferentes.
Segundo Wallerstein (2003), os Estados Unidos procuraram convencer a Europa
Ocidental, Japão e outros para serem cooperativos com os Estados Unidos, a fim de
formarem uma aliança, mas sob sua “liderança”. Isso ficou conhecido como a Co-
missão Trilateral e o Grupo dos Sete. Num segundo momento, formaram o “Consenso
de Washington” na década de 1980, em contraponto ao “desenvolvimentismo” pro-
clamado entre os anos de 1950 e 1970. Foi inaugurado, então, a hegemonia neolibe-
ral. O Consenso de Washington veio para substituir o desenvolvimentismo que se ca-
racterizava basicamente em abrir todas as fronteiras e remover as barreiras comerci-
ais. E ainda, seguindo essa linha de cooperação, elaboraram a construção de um
consenso ideológico em Davos. Foi uma tentativa de construir um ponto em comum
para as potências mundiais, inclusive as do terceiro mundo, a fim de aproximá-las e
combinar suas atividades políticas.
Quando se voltam as análises para a década de 1990 sob a perspectiva do
projeto estadunidense de estruturação de uma soberania financeira mundial é que
se compreende o sentido da expansão da política de desregulação, privatização e
globalização financeira.
No início do século XXI, ocorreu um acontecimento que mostrou que os Esta-
dos Unidos eram vulneráveis, o ataque de 11 de setembro de 2001. O terrorismo passa
a ser o assunto principal da agenda de segurança internacional, sendo assim, há
uma transformação no próprio conceito de segurança – deixa de ser centrado no
Estado-nação – e abrange temas como o meio ambiente, tráfico de drogas e o crime
organizado. Nesta leitura, passamos de uma “sociedade disciplinar” apresentada por
Foucault (2013) para uma “sociedade de controle”, anunciada por Deleuze (1992).
Neste sentido, os Estados Unidos iniciam uma política de “Guerra ao Terror”, cujas
bases se fundam numa guerra ao mundo árabe e islâmico. As ideias de Huntington
(1994) sobre o conceito de “choque das civilizações” ganharam força nesse contexto
em que as guerras atuais teriam motivações culturais e não econômicas e ideológi-
cas.

67
A vitória dos Estados Unidos no Afeganistão contribuiu para fortalecer o unila-
teralismo e como resultado a construção de uma nova concepção das relações in-
ternacionais norte-americanas, conhecida como “Doutrina Bush”. O alvo imediato
resultou na Guerra no Iraque em 2003 e a destituição do ditador Saddam Hussein.

4.3 A ARTICULAÇÃO DOS BRICS E SEU PAPEL NA ECONOMIA-MUNDO

Como foi apresentado no decorrer desta unidade, sistematicamente a partir


do novo milênio, observa-se um movimento de transformações no sistema internaci-
onal – um processo gradativo de reordenamento global – no qual o surgimento do
grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) apareceu como um impor-
tante agente no cenário político-econômico internacional. A respeito dos BRICS en-
quanto uma categoria conceitual há uma divergência em relação ao seu signifi-
cado. Alguns autores consideram um bloco econômico, já outros apontam que é
uma iniciativa geopolítica do Sul contra o Norte, contudo sem grandes sucessos de-
vido às diferenças profundas entre os países membros.
Em 2001, o economista Jim O’Neill antecipou que Brasil, Rússia, Índia e China
(BRIC) – ainda sem a presença da África do Sul - iriam assumir grande parte do cres-
cimento da demanda global, por conta de dois aspectos: o tamanho populacional
e a presença de economias potencialmente dinâmicas.
No plano demográfico, apresenta-se dois dos países mais populosos do mundo
e outros com números populacionais consideráveis. Em 2018, a população total do

68
bloco correspondia a 3,18 bilhões de habitantes (China: 1,42 bilhão, Índia: 1,35 bilhão,
Brasil: 211 milhões, Rússia: 144 milhões e África do Sul: 57 milhões), esse número repre-
senta 41,7% da população mundial.
No aspecto econômico, essa teoria foi submetida a prova na crise de 2008-
2009 dos países do Atlântico Norte e intensificada nos anos de 2011-2012. Neste caso,
os países do bloco vivenciaram momentos de desaceleração econômica e afetou
cada um de distintas formas e com diversos ritmos, comprometendo de alguma
forma a ideia de que suas economias estariam “desassociadas” dos países do Atlân-
tico Norte.
É possível observar na Figura 5 abaixo o crescimento econômico do Produto
Interno Bruto (PIB) de cada país do BRICS durante o intervalo de 2008-2018:

Figura 7: Gráfico de crescimento econômico dos BRICS (2008-2018)

Fonte: (BAZZO, 2019, p. 48)

O gráfico apresenta o comportamento dos países do BRICS, no qual é possível


perceber uma queda considerável de todos os membros do bloco no período pós-
crise de 2008, pontuando que suas economias ainda estavam ligadas aos países do
Norte. A África do Sul e a Índia tiveram uma queda do crescimento, mas a partir do
ano de 2010 começaram a apresentar efeitos positivos. O Brasil também sofreu com
a recessão econômica em 2008, contudo conseguiu recuperar seu crescimento em
2010 e o declínio do seu Produto Interno Bruto (PIB) também ocorreu nos anos de 2015

69
e 2016. A China por sua vez, embora afetada pela crise econômica, a partir de 2009
já apresentou sinais de crescimento, se manteve estável e com notoriedade em re-
lação às demais nações do BRICS.
A articulação entre as nações do BRIC passou a ocorrer formalmente a partir
da década de 2000, primeiramente sem a África do Sul. Em 2006, aconteceu a pri-
meira reunião informal paralela à Assembleia Geral da ONU e, em 2008, no meio à
recessão econômica mundial, posteriormente à primeira reunião de chanceleres do
grupo, surgiu o BRIC - nome da nova entidade político-diplomática. Desde esse mo-
mento, ocorrem cúpulas anuais a fim de avançar o sistema de cooperação entre os
países. Em 2011, após a III Cúpula, incluíram a África do Sul no grupo.
A matriz econômica que abrange o conceito dos BRICS, devido sua estreita
compreensão que coloca todos os países no mesmo patamar analítico, não permite
um diagnóstico profundo das diversas complexidades das estruturas econômicas e
sociais ao qual caracterizam esses países. Ao sobrepor à China as demais nações
essa concepção:

[...] perde-se de vista que esta nação-continente leva a uma reconfi-


guração das estruturas espaciais de acumulação capitalista no pró-
prio centro, na semi-periferia dinamizadas, da qual fazem parte Brasil,
Rússia e Índia e outras nações, além de reintegrar de maneira subordi-
nada os países da periferia tradicional. Paralelamente, joga-se para
debaixo do tapete a heterogeneidade das estruturas econômicas e
sociais destas variedades de capitalismo, que possuem mercados de
trabalho profundamente segmentados, e que tendem a ampliar a de-
sigualdade junto com a ativação das forças produtivas capitalistas
(BARBOSA; TEPASSÊ, 2014, p. 35).

Entretanto, mesmo com a limitação do conceito nos termos econômicos, os


autores Barbosa e Tepassê (2014), afirmam que sua ideia foi apossada pelos países
membros na intenção de lhe conferir um sentido geopolítico. Pois as nações enten-
deram a potencialidade de formação de uma nova coalizão no meio de uma reces-
são econômica mundial que reforçasse seus interesses econômicos em comum.
O grupo dos BRICS podem ser compreendidos sob dois pontos de vista: i) para
a China e Rússia, as duas grandes potências do grupo, como uma arena que junta
esforços nas temáticas que possuem interesses em comum frente aos Estados Unidos
e, ii) para os outros três países a cooperação com as grandes potências emergentes
significa ganhar força para seus anseios regiões e que não estejam vinculados à obe-
diência aos Estados Unidos (OPPERMANN; MENGER; MÜLLER, 2015).

70
Desse modo, os objetivos da criação dos BRICS estão relacionados a diminui-
ção das assimetrias entre as regras do sistema capitalista mundial e os artifícios de
poder obtidos por eles, principalmente pela China. Por essa razão, a maioria da
agenda do grupo era elaborada nos encontros simultâneos ou anteriormente às Cú-
pulas do G-20, FMI e do Banco Mundial, para alinhar possíveis convergências e fazer
frente aos países do antigo G-7. Mais recentemente, além de estabelecer uma sim-
ples ajuda mútua entre os membros, em 2014, durante a 6ª Cúpula dos BRICS, foi cri-
ado o “Novo Banco de Desenvolvimento” (NBD) dos BRICS com o intuito de estimular
recursos para projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nesses países.

71
FIXANDO O CONTEÚDO

1. O BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – vem negociando cuidadosa-
mente o estabelecimento de mecanismos independentes de financiamento e es-
tabilização, como o Arranjo Contingente de Reservas e o Novo Banco de Desen-
volvimento. O primeiro será um fundo de estabilização entre os cinco países; o se-
gundo, um banco para financiamento de projetos de investimento no BRICS e ou-
tros países em desenvolvimento.
Fonte: www.cartamaior.com.br. (Adaptado).

O Novo Banco de Desenvolvimento procura suprir a escassez de recursos e finan-


ciar projetos de infraestruturas nas economias emergentes. Tal iniciativa constitui uma
alternativa:

a) Às instituições de crédito privadas, encerrando a sujeição econômica dos países


emergentes e evitando a assinatura de termos regulatórios coercitivos sobre as
práticas de produção.
b) Aos bancos centrais dos países do BRICS, reduzindo os problemas econômicos de
curto prazo e maximizando o poder de negociação do grupo.
c) Ao Banco Mundial, instituição criada após a Conferência de Bretton Woods (1944)
que também possibilitou a criação do FMI.
d) Ao norte-americano Plano Marshall, elegendo com autonomia o destino da ajuda
econômica e os investimentos públicos em áreas estratégicas.
e) À hegemonia do Banco Nacional, deslocando o centro do sistema capitalista e os
fluxos de informação para os países em desenvolvimento.

2. Leia o trecho abaixo:


“Alguma coisa
Está fora da ordem
Fora da nova ordem mundial”
(Caetano Veloso – Fora de Ordem)
Em termos gerais, uma ordem geopolítica mundial representa

72
a) o contexto bélico do mundo.
b) a disposição de equilíbrio de forças entre países.
c) a relação da diplomacia internacional.
d) um conceito teórico sobre as soberanias ditatoriais.
e) a divisão do mundo entre desenvolvidos e subdesenvolvidos.

3. O processo de expansão das características multilaterais do sistema ocidental nas


diversas áreas do mundo conheceu crescente impasse a partir do início do novo
século. A sustentabilidade de um sistema substancialmente unipolar mostrou-se
cada vez mais crítica, precisamente em face das transformações estruturais, liga-
das, antes de mais nada, ao crescimento econômico da Ásia, que pareciam com-
plementar e sustentar a ordem mundial do pós-Guerra Fria. A ameaça do funda-
mentalismo islâmico e do terrorismo internacional dividiu o Ocidente. O papel de
pilar dos Estados Unidos oscilou entre um unilateralismo imperial, tendendo a rene-
gar as próprias características da hegemonia, e um novo multilateralismo, ainda a
ser pensado e definido.

PONS, Silvio. A revolução global: história do comunismo internacional (1917-1991). Rio de Janeiro: Con-
traponto, 2014.

O texto propõe uma interpretação do cenário internacional no princípio do século


XXI e afirma a necessidade de se

a) valorizar a liderança norte-americana sobre o Ocidente, pois os Estados Unidos dis-


põem de recursos militares para assegurar a Nova Ordem Mundial.
b) reconhecer a vitória do modelo comunista, hegemônico durante a Guerra Fria, e
aceitar a vitória do capitalismo e da lógica multilateral.
c) reavaliar o sentido da chamada globalização, pois a hegemonia política e finan-
ceira norte-americana tem enfrentado impasses e resistências.
d) combater o terrorismo islâmico, pois ele representa a principal ameaça à estabili-
dade e à harmonia econômica e política entre os Estados nacionais.
e) identificar o crescimento vertiginoso da China e reconhecer o atual predomínio
econômico e financeiro dos países do Oriente na Nova Ordem Mundial.

73
4. Em 1944, foram lançados os fundamentos da “economia do dólar”, ou seja, a
transformação do dólar na moeda do mundo, conhecida como Conferência de
Bretton Woods. Realizada nos Estados Unidos, definiu uma nova ordem econômica
entre os países capitalistas, com o objetivo de ampliar a integração da economia
mundial. Para efetivação dessa nova ordem econômica foram criadas as seguin-
tes instituições, exceto:

a) O Banco Mundial, para prover recursos correspondentes à geração de infraestru-


tura em vários países.
b) O FMI, com o objetivo de estimular o comércio internacional.
c) O GATT, com o objetivo de regulamentar o comércio mundial.
d) A OMC, que posteriormente substituiu o GATT.
e) O COMECOM, criado para auxiliar o desenvolvimento dos países que adotavam
a economia socialista.

5. A expressão BRIC foi lançada em 2001, em referência ao conjunto de países for-


mado por Brasil, Rússia, Índia e China, que assumiu um papel importante na eco-
nomia mundial durante os cinquenta anos seguintes. O grupo foi formalizado em
2006 e sua primeira cúpula ocorreu em 2009, e, desde então, além de ter recebido
a África do Sul como mais um novo membro, lançou um banco de desenvolvi-
mento — The New Development Bank — e um fundo de reservas denominado
BRICS Contingent Reserve Arrangement, passando a ser conhecido no cenário ge-
oeconômico internacional como BRICS.

O principal objetivo dos países participantes do BRICS é

a) criar espaços de discussão para elaborar planos de ação política e econômica


entre os países integrantes.
b) fortalecer o papel econômico organizador dos Estados Unidos no cenário interna-
cional.
c) corroborar para manutenção da bipolaridade mundial em função do crescimento
das economias emergentes.
d) garantir a centralização da elaboração de políticas internacionais sobre produ-
ção e venda de petróleo dos países integrantes.

74
e) oferecer ajuda mútua militar entre os países membros.

6. No caso do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, a ênfase está posta no


traçado de uma estratégia geral de desarticulação, não só dos inimigos reais
como dos potenciais, inserida na concepção preventiva que supõe que a mínima
dissidência é um sinal de perigo e de guerra futura. Deve-se ter capacidade para
responder a uma guerra convencional tanto quanto para enfrentar um inimigo di-
fuso, atentando simultaneamente para todas as áreas geográficas do planeta.
Trata-se, sem dúvida, da estratégia com pretensões mais abrangentes que se de-
senvolveu até agora.

CECERA, A E. Hegemonias e emancipações no século XXI Buenos Aires Clacso. 2005 (adaptado)

Tomando o texto como parâmetro, qual tendência contemporânea impulsiona a


formulação de estratégias mais abrangentes por parte do Estado americano?

a) Eliminação das diferenças regionais.


b) Ampliação do modelo democrático.
c) Erradicação dos conflitos em territórios.
d) Propagação de organizações em rede.
e) Projeção da diplomacia mundial.

7. A América se tornara a maior força política e financeira do mundo capitalista. Ha-


via se transformado de país devedor em país que emprestava dinheiro. Era agora
uma nação credora.
HUBERMAN, L. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1962.

Em 1948, os EUA lançaram o Plano Marshall, que consistiu no empréstimo de 17


bilhões de dólares para que os países europeus reconstruíssem suas economias.

Um dos resultados desse plano, para os EUA, foi

a) o aumento dos investimentos europeus em indústrias sediadas nos EUA.


b) a redução da demanda dos países europeus por produtos e insumos agrícolas.

75
c) o crescimento da compra de máquinas e veículos estadunidenses pelos europeus.
d) a criação de organismos que visavam regulamentar todas as operações de cré-
dito.
e) o declínio dos empréstimos estadunidenses aos países da América Latina e da Ásia.

8. O conceito de hegemonia refere-se à capacidade de generalização de uma vi-


são de mundo, capacidade que se nutre tanto da pertinência argumentativa do
discurso, como das manifestações de força que provêm das condições objetivas
nas quais têm lugar as relações sociais. Sobre o conceito de hegemonia, é correto
afirmar que

a) o conceito de hegemonia não se reduz à dominação militar ou a superioridade


econômica, mas articula o conjunto de fatores que levam uma potência a ser do-
minante e dirigente.
b) o conceito de hegemonia é unilateral, bastando a observação dos esforços da
potência militar, política, econômica e cultural para a sua compreensão. Assim, a
contra-hegemonia não interfere nas configurações apresentadas durante as dis-
putas de posições para a construção da hegemonia.
c) a constante demonstração de força dos Estados Unidos no Oriente Médio confi-
gura-se como um ato isolado, não podendo ser entendido ou explicado por meio
da compreensão dos processos de construção da hegemonia.
d) os pilares fundamentais da hegemonia é o poder militar e a superioridade econô-
mica. A cultura e a indústria cultural não interferem no processo de legitimação da
potência hegemônica.
e) com o processo de globalização e de multiculturalismo, o conceito de hegemonia
perdeu sua capacidade analítica.

76
CONFLITOS, DINÂMICAS UNIDADE

05
ECONÔMICAS E REGIONALISMO

5.1 PANORAMA GEOPOLÍTICO DOS CONFLITOS MUNDIAIS

Após o fim da Guerra Fria (1945-1991) os conflitos mundiais deixaram de ter


motivações baseadas na rivalidade capitalismo versus comunismo e passaram a as-
sumir causas muito mais diversas e complexas, isso não significa dizer que no período
da guerra fria existissem somente conflitos de base ideológicas, mas na contempora-
neidade as razões ficaram mais amplas. O objetivo deste tópico é abordar de forma
mais abrangente quais as principais motivações dos conflitos atualmente e quais as
consequências para os estudos de geografia política.
De forma genérica a maior parte dos conflitos mundiais contemporâneos en-
volvem disputa por territórios e os principais motores são:

I. Culturais e religiosos;
II. Controle dos recursos naturais (petróleo, água, minérios, etc.);
III. Aprofundamento das clivagens étnicas interestaduais;
IV. Grupos terroristas e terrorismo de Estado;
V. Nacionalismo e separatismo;
VI. Crime organizado internacional (narcotráfico, tráfico de seres humanos,
biopirataria, etc.);
VII. Conflitos socioambientais, entre outros.

Os fatores acima listados compreendem alguns exemplos mais emblemáticos


dos principais tipos de conflitos, porém, em muitos casos, eles aparecem conjugados
entre si, aumentando ainda mais a periculosidade e a dimensão mais complexa dos
conflitos daí resultantes. Embora os grandes defensores de que a intensificação do
processo de globalização geraria a diluição das barreiras econômicas entre as na-
ções, promoveria a democratização do acesso à informação, a aproximação dos
povos e das diversas culturas, assim como diminuiria as tensões históricas motivadas

77
por aspectos culturais e territoriais, apontando para um horizonte de cidadania mun-
dializada, a prática nos apresenta ao contrário. Para esta unidade iremos expandir a
análise dos seguintes conflitos: culturais e religiosos e os conflitos socioambientais.
Segundo Huntington (1994) parte de uma teoria que os conflitos mundiais na
contemporaneidade não são necessariamente ideológicos ou de ordem econô-
mica, mas sim de origem cultural e religiosa. Para ele os Estados-nações ainda conti-
nuam sendo os atores de maior poder sobre os acontecimentos globais, porém en-
fatiza que os conflitos internacionais passariam cada vez mais a envolver distintos po-
vos e civilizações. A fissura entre as civilizações, de acordo com o autor, seriam o
palco de batalhas, até mesmo no interior dos países tensionados por questões étnico-
religiosas. Sobretudo após o final da Guerra Fria, a política internacional deixou de se
concentrar no seio da civilização ocidental e passou a evidenciar especialmente a
relação entre a civilização ocidental e as não-ocidentais, assim como as relações
das não-ocidentais entre si.
A identidade cultural é formada por vários elementos culturais (valores sociais,
modos de pensar, estilo de vida, costumes, instituições, entre outros) que podem pos-
suir distintos significados para cada indivíduo ou grupo social. Apoiados nesses ele-
mentos, o indivíduo ou grupo social formam e compartilham uma cultura. As obser-
vações de Huntington partem da ideia de que o nível mais amplo da identidade
cultural são as civilizações, no qual ele aponta nove grandes civilizações mundiais:
ocidental, confuciana, islâmica, hindu, japonesa, eslava ortodoxa, sínica, latino-ame-
ricana e africana. Diante disso, os conflitos ocorreriam nas chamadas “linhas de fra-
tura” entre as grandes civilizações planetárias.
Contudo, existe uma teoria oposta à de Samuel Huntington a tese do hibri-
dismo cultural. Os defensores dessa proposta apontam que o mundo não estaria am-
pliando sua diferenciação no que tange grupos e áreas de identidades culturais niti-
damente definidas, mas estaria sofrendo um gradual processo de desenraizamento,
miscigenação e trocas culturais que culminaria em processos “híbridos, ou seja, não
seriam passíveis de delimitação.
Para Haesbaert e Porto-Gonçalves (2006), a grande questão sobre o hibridismo
cultural e o “choque de civilizações” está na armadilha de cair num culturalismo, cujo
vetor político e econômico são subvalorizados ou negligenciados. Desse modo, para
os autores, o que existe cultural e geograficamente falando “é o convívio entre múl-
tiplos tipos de território, desde os territórios mais fechados em termos de identidade

78
cultural [...], até aqueles mais abertos e ‘híbridos’, onde convivem lado a lado os mais
diversos grupos socioculturais” (HAESBAERT; GONÇALVES, 2006, p. 91). Os grandes mo-
vimentos migratórios e, principalmente, as diásporas que anunciariam essa nova e
complexa (multi)territorialidade:

Na qual convivem os mais diferentes tipos de des-ordenamento terri-


torial [...]. As diásporas não são, automaticamente, sinônimos de “hi-
bridismo cultural”. Apesar da sua forma “multiterritorial” de organiza-
ção, elas podem tanto estimular o diálogo inter ou transcultural como
envolver-se em novas formas de preconceito e segregação socioes-
pacial (HAESBAERT; GONÇALVES, 2006, p. 102).

Sobre os conflitos socioambientais, nas últimas décadas, a problemática am-


biental vem sendo alvo de discussões que envolvem os rumos da economia e da
política internacional, refletindo-se em todas as esferas da vida contemporânea, en-
contrando rebatimento em boa parte das atividades humanas. Nos anos de 1960 e
70 – quando as preocupações ecológicas passaram a marcar o panorama mundial
– aprofundaram as reflexões da ideia de que a natureza é uma fonte inesgotável de
recursos. Uma característica decorrente deste processo é a chamada crise ambien-
tal, na qual promove a necessidade de novas maneiras de relacionamento com a
natureza, provocando inclusive transformações na dinâmica política e na organiza-
ção do espaço em diversas escalas, além de repercutir nos estilos de vida, na ética
e na cultura da sociedade.
De acordo com Leff (2006), a crise ambiental não implica, necessariamente,
em uma tragédia ecológica, mas sim, nas metamorfoses do pensamento no qual
construímos e destruímos o mundo, denominando-se de uma “crise civilizatória”, e o
alcance que a questão ambiental atingiu, na segunda metade do século XX, trouxe
para o debate um enfoque proeminentemente sociológico, que voltaram as refle-
xões sobre os processos de constituição dos conflitos entre os grupos sociais no em-
bate pelo uso dos recursos.

79
Para Little (2001) os conflitos socioambientais são disputas entre os grupos soci-
ais provenientes dos diferentes tipos de relação que eles mantêm com os meios soci-
ais e naturais, que por sua vez, englobam três dimensões diferentes: a política, a social
e a jurídica. A dimensão política está relacionada ao campo de disputa sobre a dis-
tribuição dos recursos naturais, a social diz respeito à disputa sobre o acesso aos re-
cursos naturais, e por último, a jurídica que corresponde à disputa sobre o controle
formal sobre os recursos.
Com isso, a problemática socioambiental representa uma forma de conflito
de interesses coletivos e individuais, que passam pela relação que a sociedade esta-
belece com a natureza, resultando no confronto entre atores sociais inseridos em dis-
tintas lógicas de gestão dos bens coletivos, que giram em torno dos embates de apro-
priação e uso dos recursos. Neste aspecto, o que engendram esses conflitos estão
relacionados a apropriação e uso dos recursos naturais e dos territórios, a desigual
distribuição e acesso aos recursos, a dissonante disposição dos riscos e contamina-
ção do meio ambiente a específicas parcelas da sociedade, além do processo de
construção de significados e relação identitária dado àquele local. Desse modo, no
que tange os conflitos socioambientais pela redistribuição dos recursos naturais, um
aspecto fundamental que envolve este processo é a sua dimensão territorial.

5.2 ÁREAS DE CONFLITOS NA AMÉRICA LATINA

Desde meados do século XX a história da República da Colômbia é permeada

80
por embates entre o governo e grupos guerrilheiros, ficando conhecida internacio-
nalmente por seus conflitos internos com as guerrilhas armadas e, também, pelo nar-
cotráfico. Entre 1948 e 1958 os principais partidos da Colômbia vivenciaram um perí-
odo conhecido como “a violência” ao utilizarem como tática de embate a forma-
ção de grupos guerrilheiros armados, inspirados nos ideais políticos revolucionários
oriundos da Revolução Cubana e devido a conjuntura interna do país, (MEDINA,
2001).
Segundo Medina (2001), o estabelecimento do acordo de repartição do po-
der governamental entre liberais e conservadores e o cessar dessas disputas, conhe-
cido como Frente Nacional (1958 – 1974) fortaleceram as guerrilhas. Como conse-
quência desse acordo, houve a exclusão de todos os outros partidos que não foram
contemplados e com isso foram impossibilitados dos cargos da administração pú-
blica do país. Além de instaurar uma oligarquia, enfatizou a exploração do trabalha-
dor do campo que não era beneficiado pelas riquezas que vinham das exportações
dos recursos naturais.
Como os trabalhadores camponeses foram marginalizados pelo governo vi-
gente frente aos grandes latifundiários, iniciaram uma nova forma de luta e resistên-
cia, a guerrilha armada com ideais marxistas, originando as Forças Armadas Revolu-
cionárias da Colômbia (FARC), em 1964 (PEREIRA, 2015). A partir da década de 1970,
segundo Oliveira (2008), as o as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia expan-
diram seu poder de autofinanciamento a partir da associação com o narcotráfico e
a utilização de sequestros. Em vista disso, o grupo foi se distanciando da população,
aos poucos perdendo seu apoio e se afastando dos ideais socialistas – principal motor
da sua origem. No âmbito internacional também foi construída essa imagem nega-
tiva, a tal ponto de serem considerados um grupo terrorista pelos Estados Unidos, Ca-
nadá, União Europeia e o próprio governo da Colômbia.
A relação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia com o governo
foi atravessada por várias tentativas de acordos frustradas, no qual resultava em mo-
mentos alternados de relativa paz e violência (PEREIRA, 2015). A autora aponta duas
tentativas de negociação em que os objetivos almejados não foram alcançados. A
primeira experiência de negociação foi em 1980, quando as FARC colaboraram para
a criação do partido político nomeado de União Patriótica. O fracasso, na concep-
ção do governo, foi porque o grupo usava o ativismo político para se fortalecer mili-

81
tarmente. Já para as FARC o governo não queria reintegrar os guerrilheiros na socie-
dade. A segunda tentativa foi em 1998, quando o então presidente Andrés Pestrana,
concedeu uma área desmilitarizada ao sul do país para os guerrilheiros. Contudo, o
grupo utilizou esse território para se fortalecer militarmente e, mais uma vez, a paz
fracassou.
Em 2013 iniciou-se o processo de acordo de paz entre as FARC e o governo,
com o presidente Juan Manuel Santos. Os diálogos foram encabeçados em Havana,
no final de 2012, a partir da instauração de uma agenda temática de negociações:
i) desenvolvimento da reforma agrária; ii) participação política dos guerrilheiros; iii)
desmobilização das forças de guerrilha; iv) fim do narcotráfico; e v) políticas de repa-
ração para as vítimas (PEREIRA, 2015). Em 26 de setembro de 2016 o histórico acordo
de paz foi assinado entre o governo e as FARC, simbolizando a esperança e o fim de
uma guerra interna. Durante o processo, parte da população colombiana não acei-
tou o acordo, assim como, setores das FARC se recusaram a se desmobilizar. Apesar
disso, o processo de paz é dado como finalizado e o principal grupo de guerrilha
colombiano foi convertido em partido político – Força Alternativa Revolucionária do
Comum.
Agora, o Movimento Zapatista surgiu para o mundo em 1º de janeiro de 1994,
quando a mídia revelou o levante que aconteceu no extremo sul do México. Mulhe-
res e homens armados e com o rosto coberto ocuparam durante a madrugada, mu-
nicípios do Estado de Chiapas. Na cidade de San Cristobal de Las Casas, tomaram a
sede do governo local e se apresentaram como membros do Exército Zapatista de
Libertação Nacional (EZLN). Disseminaram para a população mexicana e a imprensa
internacional uma declaração, na qual apontavam para o início de uma luta pela
terra, trabalho, alimentação, educação, democracia, saúde, independência, de-
mocracia, justiça, paz e liberdade (CASTELLS, 2000).
O levante zapatista ocorreu concomitantemente com a vigência do NAFTA
(North America Free Trade Agreement), cujo objetivo principal era um acordo de livre
comércio entre Estados Unidos, Canadá e México. Elaborado em 1992, ele pressupõe
a criação de uma zona de livre comércio e no qual esta área está fundamentada
na livre circulação de mercadorias e serviços entre os países membros. Tal situação
decorre da eliminação das barreiras comerciais e das tarifas alfandegárias, neste
sentido, restrito somente à área comercial. O resultado que se buscava com o acordo
era a ampliação do mercado e a maximização da produtividade interna dos países

82
membros.
Depois de doze dias de conflito entre o exército federal e os Zapatistas, o Bispo
de San Cristóbal – Dom Samuel Ruiz -, foi eleito como mediador pelo exército Zapa-
tista para dialogar com o governo. Os membros do movimento refugiaram-se na Flo-
resta Lacandona, contudo ainda mantiveram diálogo com a sociedade civil interna-
cional e mexicana. O cessar-fogo foi assinado em 27 de janeiro e instaurou um pro-
cesso de negociação sobre: reforma política, direitos indígenas e demandas sociais
(CASTELLS, 2000).
A ascensão do movimento zapatista veio como resposta às perversas mudan-
ças ocorridas no país e, principalmente, com as comunidades indígenas desde os
anos de 1940, quando os povos originários e os camponeses foram deixados de lado
para privilegiar os proprietários de terra e o grande capital. Assim que o North Ame-
rica Free Trade Agreement entrou em vigor esses povos foram os mais afetados, pois
o acordo trouxe mudanças na Constituição Mexicana - alterava o artigo que
previa a regulamentação agrária e trazia como proposta a destruição da proprie-
dade coletiva da terra (Ejidos).
Há vinte e sete anos os povos indígenas se organizam enquanto comunidades
autônomas ao sul do México, no estado de Chiapas. Ao todo, somam-se quarenta e
três territórios autogovernados (sem o controle do Estado Mexicano ou de partidos
políticos) que englobam sete novos caracóis e quatro municípios. O movimento in-
surgente zapatista surge pela reivindicação de territórios através da luta armada no
contexto de ascensão do modelo neoliberal, além de uma resistência a ordem signi-
ficou um horizonte para os povos originários garantirem sua sobrevivência, auto-or-
ganização e resistência.
No mapa a seguir com os novos territórios do governo autônomo do Exército
Zapatista de Libertação Nacional (EZLN). As áreas em vermelho são as zonas originais,
as áreas em amarelo são as novas localidades e as áreas listradas são os locais para
onde ampliaram sua influência.

83
Figura 8: Expansão do território Zapatista

Disponível em: https://bit.ly/2OiB09T. Acesso em: 20 dez. 2020.

5.3 A GEOPOLÍTICA DO BRASIL NA AMÉRICA DO SUL: O CASO DA IIRSA

A Iniciativa para Integração Regional Sul-Americana (IIRSA) foi projetada em


agosto do ano 2000 no Primeiro Encontro de Presidentes da América do Sul sediado
em Brasília, onde estavam presentes os representantes dos dozes países da região:
Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname,
Uruguai e Venezuela. Simbolizando um empenho conjunto dos países sul-americanos
para promover a implementação de infraestruturas que projetarão efetivamente a
integração regional.

84
De acordo com Souza (2013), é importante destacar que a tentativa de me-
lhorar a cooperação da América do Sul remete-se desde do século XIX, primeira-
mente com Simon Bolívar, posteriormente aos processos de independência dos paí-
ses sul-americanos. Desde então, a diplomacia brasileira trabalha para efetivar acor-
dos para melhor a integração, tais como: i) o relatório do Ministério das Relações
Exteriores de 1927 apontava a intenção de estimular as exportações e facilitar o tu-
rismo e o comércio através da melhoria na infraestrutura; ii) em 1960, após a assina-
tura do Tratado de criação da Associação Latino-Americana de Livre-Comércio
(ALALC), o Brasil expressa a expectativa de aumentar as trocas comerciais com a
região e gradativamente os Estados membros eliminarem os entraves comerciais; iii)
em 1980, os debates ocorreram em torno da Associação Latino-Americana de Inte-
gração (ALADI) e iv) na década de 1990, verifica-se a criação do Mercado Comum
do Sul (Mercosul) e a Comunidade Andina das Nações (CAN), numa fase de desre-
gulamentação e liberação das suas economias e uma tentativa de fortalecer os pa-
íses membros frente a globalização econômica (FERNANDES; DINIZ FILHO, 2017).
No contexto da virada do milênio, alguns autores mencionam um desgaste
das políticas neoliberais e uma movimentação de governos de caráter mais progres-
sista direcionando suas políticas com desenhos neodesenvolvimentistas. A subida
desse novo governo no poder em 2003 no que diz respeito às relações multilaterais,
continuou acordos com países desenvolvidos, mas buscou uma reaproximação com
países em desenvolvimento. Na esfera das relações bilaterais, focou na aproximação
com a África do Sul, China, Índia e Rússia. Por fim, nas relações regionais, deu prefe-
rência para o Mercosul e com a integração sul-americana a fim de lançar o Brasil no
cenário internacional como potência média (SILVA, 2013).
O surgimento da IIRSA, como estratégia de integração dos países da América
do Sul com intuito de possibilitar a inserção da região na economia mundial, vem
desde a década de 1990, quando elaboraram no Brasil os Eixos Nacionais de Integra-
ção e Desenvolvimento (ENID). Esses eixos tinham como objetivos: a construção de
um sistema integrado de logística que viabilizasse a concorrência dos produtos brasi-
leiros; a anexação de novas áreas comerciais do país e o fortalecimento da hege-
monia política e econômica do Brasil na América do Sul (QUENTAL, 2013). Desse
modo, os Planos Plurianuais (PPA) do Governo Federal a partir da ideia do ENID foram
estabelecidos em programas como: Brasil em Ação (1996-1999), Avança Brasil (2000-

85
2003) e Brasil para Todos (2004-2007), no qual as obras de infraestrutura para a inte-
gração do país (construção de rodovias, hidrovias, gasodutos, etc.) tiveram grande
relevância.
Em vista disso, a elaboração da IIRSA foi inspirada na experiência do Brasil dos
ENID, com o objetivo de solucionar a questão da fragmentação da infraestrutura fí-
sica dos países sul-americanos, posto que esse seria um dos obstáculos centrais para
a entrada da região no cenário econômico internacional. A causa dessa desagre-
gação da infraestrutura física estaria associada, especialmente, a falta de uma visão
ampla de América do Sul, que por sua vez estaria sendo assimilada como um con-
junto de países separados do que como uma unidade geoeconômica (QUENTAL,
2013).
Dado esse contexto, a IIRSA é embasada em seis princípios norteadores: Regi-
onalismo aberto; Eixos de Integração e Desenvolvimento; Sustentabilidade Econô-
mica, Social, Ambiental e Político-Institucional; Aumento do Valor Agregado da Pro-
dução; Tecnologias de Informação e Coordenação Público-Privada (SILVEIRA, 2013).
Contudo, os princípios estruturantes dentro da iniciativa são os de regionalismo aberto
e os eixos de integração e desenvolvimento.
O conceito de Regionalismo Aberto surge na década de 1990 com a Comis-
são para América Latina e o Caribe (CEPAL), num contexto de ampliação das dou-
trinas neoliberais:

Denomina-se “regionalismo aberto” o processo que surge ao serem


conciliados dois fenômenos: a interdependência nascida de acordos
especiais de caráter preferencial e a que é basicamente impulsio-
nada pelos sinais do mercado, resultantes da liberalização comercial
em geral. O que se busca com o regionalismo aberto é que as políticas
explícitas de integração sejam compatíveis com as políticas tendentes
a elevar a competitividade internacional, além de complementares a
elas. O que diferencia o regionalismo aberto da abertura e da promo-
ção indiscriminada das exportações é que ele inclui um ingrediente
preferencial, refletido nos acordos de integração e reforçado pela
proximidade geográfica e pela afinidade cultural dos países da região
(CEPAL, 1994, p. 945 – 946).

De acordo com Oliveira (2012), essa proposta de regionalismo aberto é guiada


pela diminuição das barreiras comerciais pelos países latino-americanos, ou seja,
compreendida como sinônimo de liberalização comercial. A integração regional ba-
seada somente pelo âmbito comercial fez com que a Iniciativa para a Integração
da Infraestrutura Regional privilegiasse projetos de infraestrutura direcionado a expor-
tação de produtos primários, perdurando a dependência aos países industrializados

86
e especializados em tecnologia. Com isso, evidenciou a disputa de dois modelos de
desenvolvimento na região: o primário-exportador de baixo valor agregado apoiado
nos produtos agrícolas e minerais e o modelo desenvolvimentista baseado nas ativi-
dades intensivas em tecnologia e conhecimento.
A Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional possui 10 Eixos de de-
senvolvimento e o principal objetivo é a criação de corredores de desenvolvimento
articulando a América do Sul através da construção de estradas, hidrovias, ferrovias,
aeroportos, portos, redes de comunicação, hidrelétricas e interação energética. Os
eixos de desenvolvimento são:

[...] o Eixo Andino, que atravessa e interliga Venezuela, Colômbia,


Equador, Peru e Bolívia; o Eixo Andino do Sul, localizado na fronteira da
Argentina com o Chile; o Eixo de Capricórnio, ligando Chile, Argentina,
Paraguai e Brasil; o Eixo da Hidrovia Paraguai-Paraná, ligando Brasil,
Uruguai, Argentina e Paraguai; o Eixo do Amazonas, interconectando
Colômbia, Peru, Equador e Brasil; o Eixo dos Escudos das Guianas, co-
nectando Venezuela, Guiana, Suriname e o extremo norte do Brasil; o
Eixo do Sul, que corresponde a um corredor de integração conec-
tando o Sul do Chile e da Argentina; o Eixo Interoceânico 5 Central,
ligando o sudeste brasileiro, Paraguai Bolívia, norte do Chile e sul do
Peru; o Eixo Mercosul-Chile, conectando Brasil, Argentina, Uruguai e
Chile; e o Eixo Brasil-Peru-Bolívia (QUENTAL, 2013, p. 4-5).

Os principais agentes financiadores das obras e projetos da IIRSA são: o


Banco Interamericanos de Desenvolvimento (BID), a Corporação Andina de Fomento
(CAF), O Fundo Financeiro para Desenvolvimento da Bacia do Prata (FONPLATA) e o
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

87
Figura 9: Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional – eixos de integração e de-
senvolvimento

Disponível em: https://bit.ly/3raeHSl. Acesso em: 20 dez. 2020.

Os desafios e contradições que perpassam a implementação das obras e pro-


jetos de infraestrutura da IIRSA estão relacionados à concepção racional e estraté-
gico-funcional do espaço, no qual os grupos políticos, as grandes corporações de
engenharia, construção civil, mineração e os grupos oligárquicos atuam nos países
sul-americanos com o intuito de atingir o mercado global. Essas concepções dos gru-
pos hegemônicos priorizam sua atuação numa escala regional-continental e que ig-
nora e invisibiliza um grande número de territorialidades e grupos sociais locais no qual
são diretamente afetados pelos seus empreendimentos.

88
FIXANDO CONTEÚDO

1. Uma crítica ao modelo tradicional de desenvolvimento proposto pela Integração


da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA no continente sul americano re-
fere-se à

a) ampliação do poder das agências norte-americanas como o FMI.


b) limitação de circulação de pessoas entre as fronteiras dos países.
c) acumulação de poder na mão das potências tradicionais: Brasil e Argentina.
d) redução das soberanias nacionais devido à abertura das fronteiras nacionais.
e) flexibilização das leis ambientais, afetando agricultores, indígenas e quilombolas.

2. “[...] À alteração das relações de conflitualidade, não foram também alheias as


reorientações verificadas ao nível das políticas internas dos grandes atores interna-
cionais, a partir do momento em que passaram a vocacionar os seus interesses
nacionais num sentido centrípeto e isolacionista, ao mesmo tempo que os seus
compromissos externos assumiram um carácter crescentemente seletivo[...].”
Disponível em: https://bit.ly/3056nrj

Entre os fatos que contribuem para a instabilidade política mundial e potenciali-


zam a possibilidade de novos conflitos bélicos e catástrofes humanitárias, estão:

a) A distribuição equitativa de alimentos, de água potável, de terras agricultáveis e


o limite na proliferação de armas de destruição em massa.
b) O aumento da tolerância religiosa, a diminuição da xenofobia e do racismo, o fim
da interferência das grandes potências em conflitos internos de outros países.
c) O incremento da indústria e do comércio de armas de destruição em massa, o
racismo, a intolerância religiosa, a disputa por terras agricultáveis e água potável,
a contínua concentração de capital, renda e riquezas.
d) O fim da política de combate ao terrorismo, representada pelos novos acordos da
OTAN, que se reflete na retirada imediata de todas as tropas do Iraque, da Síria e
do Afeganistão.

89
e) A aceitação pacífica, por parte da Europa e dos EUA, da circulação de pessoas
entre as diferentes fronteiras internacionais, como migrantes sírios, albaneses, tur-
cos, entre outros.

3. Nas últimas décadas, os governos dos países da América do Sul vêm se compro-
metendo politicamente com iniciativas para interligar o continente, mas poucos
resultados concretos são observados. Programas como a Integração da Estrutura
Regional Sul-Americana (IIRSA e o Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Pla-
nejamento (Cosiplan) estruturaram uma lista de projetos prioritários.
Disponível em: https://bit.ly/3057k2R.

Além de obstáculos naturais, como a Cordilheira dos Andes e a Floresta Amazô-


nica, é preciso levar em conta o fato de os países sul-americanos terem

a) péssimas infraestruturas, fatores determinantes para o surgimento de diversas ten-


tativas de integração econômica no Pós-Segunda Guerra.
b) buscado, ao longo de sua história, conexões com a Europa e, posteriormente, com
os Estados Unidos, o que fez com que as conexões internas ficassem reduzidas.
c) sido colonizados pelo sistema de plantation, o que acabou contribuindo para o
fortalecimento dos laços político-econômicos internos.
d) sofrido o processo de colonização de povoamento, facilitando a dispersão demo-
gráfica nas zonas costeiras e a atual integração econômica.
e) os sistemas de cultivo mecanizados voltados para o abastecimento do mercado
interno, fator que contribui para a atual integração econômica.

4. Sobre o movimento de guerrilha Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN),


organizado em 1994, no estado de Chiapas, um dos mais pobres do México, assi-
nale a alternativa correta.

a) A relação entre as comunidades do Chiapas e as lideranças políticas de cunho


marxista manteve-se livre de divergências e tensões, o que fortaleceu a luta anti-
imperialista e democrática empreendida pelo movimento.

90
b) O movimento conseguiu estabelecer negociações diplomáticas com o governo
mexicano, evitando confrontos armados diretos, o que possibilitou a coesão naci-
onal em torno da luta por melhores salários para os índios.
c) O movimento surgiu da junção do movimento de guerrilha urbano com o movi-
mento indígena e camponês, no contexto de emergência do neoliberalismo e do
grande empobrecimento da população agrária do Chiapas.
d) A liderança do movimento é exercida pelos chefes indígenas, que preservam a
vida em aldeia em seu estado primitivo e mantêm-se distantes dos meios de co-
municação, como forma de preservar a independência política e econômica da
região.
e) O movimento organizado por um grupo de camponeses inspirado na antiga luta
empreendida pelo líder revolucionário Che Guevara, fundaram o chamado Exér-
cito Zapatista de Libertação Nacional (EZLN).

5. Quanto ao “choque de civilizações”, é bom lembrar a carta de uma menina ame-


ricana de sete anos cujo pai era piloto na Guerra do Afeganistão: ela escreveu
que — embora amasse muito seu pai — estava pronta a deixá-lo morrer, a sacri-
ficá-lo pelo seu país. Quando o presidente Bush citou suas palavras, elas foram en-
tendidas como manifestação “normal” de patriotismo americano; vamos conduzir
uma experiência mental simples e imaginar uma menina árabe maometana pa-
teticamente lendo para as câmeras as mesmas palavras a respeito do pai que
lutava pelo Talibã — não é necessário pensar muito sobre qual teria sido nossa
reação:
IZEK, S. Bem-vindo ao deserto do real. São Paulo: Bom Tempo, 2003.

A situação imaginária proposta pelo autor explicita o desafio cultural do(a)

a) prática da diplomacia.
b) exercício da alteridade.
c) expansão da democracia.
d) universalização do progresso.
e) conquista da autodeterminação.

6. O compromisso brasileiro com a integração regional da América do Sul tem sido

91
prioridade a muitas décadas. Esse contexto justifica-se em:

a) Com exceção de Venezuela e Cuba, a Unasul surge como o principal fórum de


resoluções políticas do cone sul da América.
b) O “olhar” ao qual se refere o autor diz respeito à homogeneidade étnica e natural
da América do Sul, um fator facilitador da integração regional.
c) O Brasil faz fronteira com quase todos os países sul-americanos e esse é um aspecto
que justifica a prioridade à integração regional que tem no Mercosul o principal
bloco econômico.
d) A Associação Latino-Americana de Integração (Aladi) configura-se como a mais
importante iniciativa de integração regional das Américas nos últimos anos e inte-
gra todos os países do continente.
e) O fato de o Brasil fazer fronteiras com todos os países sul-americanos justifica a pre-
ocupação dos governos citados, especialmente com a prioridade dada ao Mer-
cosul, a partir da assinatura do Tratado de Assunção.

7. Mostrengo enviado para punir o povo de Tebas por ter afrontado os deuses, a Es-
finge tinha cabeça e seios de mulher, corpo e patas de leoa, e asas de águia.
Instalada às portas da cidade, ela exigia que seus melhores jovens a enfrentassem.
Todos eram impiedosamente trucidados porque não conseguiam responder ao
enigma que ela lhes propunha. Desgraça que só terminou quando apareceu um
esperto rapaz, vindo de Corinto e chamado Édipo. Ele matou a charada, provo-
cando o suicídio da fera. O resto da lenda é bem conhecido. Pois bem, o “desen-
volvimento sustentável” também é um enigma à espera do seu Édipo [....]

VEIGA, José Eli da. Desenvolvimento Sustentável: o desafio do século XXI. 3a edição. Rio de Janeiro:
Garamond, 2008, p.3.

O desenvolvimento sustentável se define de forma enigmática por constituir-se en-


quanto o desafio do Século XXI. Nesta perspectiva, pode-se afirmar:

a) A privatização da água proposta pelo Banco Mundial é uma medida de uso e


apropriação racional da natureza com vistas à sustentabilidade socioeconômica
e ambiental.

92
b) O Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), proposto pelo governo federal,
tem como projeto estruturante a criação de reservas e parques nacionais para a
promoção do desenvolvimento sustentável na Amazônia.
c) A regulação da biodiversidade pela Organização das Nações Unidas (ONU), en-
quanto patrimônio da humanidade, vem garantindo o cumprimento legal da po-
lítica ambiental brasileira.
d) Os conflitos socioambientais evidenciam as contradições da relação estabelecida
entre a sociedade e a natureza no modelo de desenvolvimento capitalista.
e) A conservação natural dos ecossistemas terrestres para a reprodução social da
vida torna evidente o desenvolvimento sustentável no capitalismo.

8. As tentativas de integração regional na América Latina não são recentes e o Brasil


sempre esteve presente. Em 1960, foi criada a Alalc, substituída pela Aladi na dé-
cada de 1980. Já na década de 1990, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai cria-
ram o Mercosul, com a expectativa de que esse bloco, considerado um dos mai-
ores do mundo, pudesse dar resultados favoráveis.

Sobre essas organizações, destaca-se que

a) representaram uma opção estratégica de sair da influência dos Estados Unidos e


uma forma de inserir a América Latina na economia mundial.
b) reforçaram o papel dos países latino-americanos como fornecedores de matérias-
primas industriais para as grandes potências do mundo capitalista.
c) foram geradas na expectativa de frear a disputa entre os Estados Unidos e a ex-
União Soviética pelo domínio político e econômico sobre a América Latina.
d) tradicionalmente, sempre objetivaram aumentar as relações comerciais com os
Estados Unidos e, desse modo, reforçar a ajuda norte-americana destinada ao
continente.
e) foram incentivadas pelos Estados Unidos, como estratégia para reduzir o avanço
das negociações comerciais entre o Mercado Comum Europeu e a América La-
tina.

93
(RE) CONFIGURAÇÕES DO PODER UNIDADE

06
MUNDIAL E OS RECORTES
ESPACIAIS DA REALIDADE
CONTEMPORÂNEA

6.1 OS NOVOS ESPAÇOS DE PODER NA (DES) ORDEM POLÍTICA MUNDIAL

Nesta unidade, seguimos na mesma esteira dos debates teóricos-metodológi-


cos e empíricos da Geografia Política e Regional. Após aprofundarmos suas múltiplas
temáticas, damos continuidade a compreensão dos novos espaços de poder na
nova (des) ordem política mundial. Ressalta-se que estas novas e múltiplas espaciali-
dades, territorialidades e territorialização do poder emergem no “novo” desenho po-
lítico-econômico-cultural e ideológico do sistema-mundo moderno-colonial capita-
lista contemporâneo, ou seja, o capitalismo neoliberal e informacional.
Sendo assim, levantamos as seguintes questões, a saber: quais são os novos
espaços (e seus atores) de poder e como estes se mantém na nova (des) ordem
mundial? Em que medida reordenam e reestruturam os territórios na política mundial?
Estas questões orientarão a construção dos raciocínios espaciais a serem desenvolvi-
dos nesta unidade.
Tomamos como ponto de partida o contexto da crise do modelo de produção
capitalista (fordista) na década de 1970, a queda da ordem bipolar e emergência
de uma nova ordem (uni)multipolar e a dissolução da antiga União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS). Simultaneamente, ocorreu a formação de novos Esta-
dos-nacionais, dos novos blocos econômicos e de poder internacionais (como men-
cionado na unidade 3), de uma rede mundial de controle corporativo das empresas
transnacionais e de um oligopólio sistêmico financeiro (DOWBOR, 2017). Estes, se afir-
maram enquanto novos espaços de poder no contexto do capitalismo informacio-
nal, da sociedade em rede, da globalização e da reestruturação produtiva, como
também especulativa do capital.
Desde meados dos anos 1970, principalmente após a crise do petróleo em
1973, já se anunciava o fim da Guerra Fria devido ao aumento das adversidades en-

94
tre EUA e a URSS, caracterizando um período de instabilidade e o surgimento de no-
vos desafios à nova ordem instituída (HOBSBAWM, 1990). Alguns acontecimentos mar-
caram os vinte anos posteriores a década de 1970 que foram fundamentais para o
desfecho da Guerra Fria, tais como: crise do petróleo (1973), derrota os EUA na Guerra
do Vietnã (1955-1975), a Revolução Iraniana (1979), a pioneira experiência neoliberal
inaugurada pelo Chile com Augusto Pinochet (1973), a recuperação dos ideais libe-
rais com Ronald Reagan nos EUA e Margaret Tatcher na Grã-Bretanha, a recessão
econômica na década de 1980 nos países do Terceiro Mundo, as reformas (Glas-
nost e Perestroika) promovidas por Gorbatchev em 1985 e a queda da URSS em 1991.
Em vista disso, os Estados Unidos ergueram-se como a grande potência vitori-
osa da Guerra Fria, demonstrando-se mais forte tanto no plano econômico quanto
militar. A vitória do sistema capitalista não significou que o sistema internacional tenha
criado uma nova ordem já consolidada em longo prazo, pelo contrário, foram déca-
das a fio nesta empreitada, ao qual deixou de ser uma competição intersistêmica
(capitalismo x comunismo) para dar espaço a uma competição intrassistêmica, mar-
cado por um novo paradigma e na busca por liderança internacional (VESENTINI,
2012).
Ao passo que aprofundaram-se as políticas neoliberais no âmbito dos Estados,
dos governos e da vida cotidiana da sociedade, ficava evidente a estruturação da
nova des-ordem neoliberal e toda sua parafernália de pacotes de medidas a fim de
promover uma disciplina orçamentária com reformas fiscais para incentivar agentes
econômicos (ANDERSON, 1995). O Estado passa a “encolher”, o Estado mínimo e o
mercado máximo passam a ser regras, e as grandes corporações transnacionais –
modernas, competitivas, com redução de custos e fusões – ganham destaque, in-
fluência e poder no mundo globalizado (HAESBAERT; GONÇALVES, 2006).
Nesta configuração, os vários pólos ou centros de poder são comandados por
três grandes potências mundiais no que refere ao poderio econômico, tecnológico
e político-diplomático sobre suas respectivas áreas de influência (mapa 5). As dispu-
tas intercapitalistas por hegemonia se colocam a partir dos Estados Unidos da Amé-
rica (EUA), da União Européia (UE) e do Japão. Concordamos com Haesbaert e Porto-
Gonçalves (2006) ao citar o caráter ambivalente e contraditório do capitalismo.

É interessante verificar, como mais uma prova do caráter ambivalente


e contraditório da reprodução capitalista, que, ao mesmo tempo em

95
que se fortalecia o neoliberalismo econômico, estruturam-se os gran-
des blocos econômicos ou mercados comuns continentais. (HAESBA-
ERT; PORTO-GONÇALVES, 2006, p.57-58).

Figura 10: Nova configuração mundial após os anos 90.

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2008)

O processo de desregulamentação (financeira) da economia foi acompa-


nhada da maior contenção com os gastos sociais – antes amparado pelo Estado de
Bem-estar social –, pela restauração das taxas de desemprego (vista como saudável
e com a finalidade de formar um exército de reserva do trabalho para quebrar os
sindicatos) e pelas reformas fiscais, com reduções de impostos sobre os maiores ren-
dimentos e rendas, com efeito, menor taxação dos lucros das empresas (ANDERSON,
1995).
Deste modo, o processo de desregulamentação criou, por uma lado, as con-
dições propícias para a dominação dos intermediários financeiros, centrados nos
grandes investimentos das bolsas de valores e seus fluxos especulativos, sobre os fluxos
produtivos (DOWBOR, 2017). Estes organismos de controle financeiro produziram “[…]
uma verdadeira explosão dos mercados de câmbio internacionais, cujas transações,
puramente monetárias, acabaram por diminuir o comércio mundial de mercadorias
reais” (ANDERSON, 1995, p. 7). Por outro lado, as empresas transnacionais reposicio-
naram suas relações de poder com o Estado, passando, até mesmo, a dominar e
desempenhar papéis que antes cabiam à própria entidade, tais como infraestrutura
básica, serviços públicos e segurança. Com efeito, passaram a comandar circuitos
financeiros, decisivos na definição dos novos arranjos políticos nacionais (HAESBAERT;
GONÇALVES, 2006).
Ademais, as empresas transnacionais são a principal força da globalização,

96
responsáveis por grande parte do comércio internacional, articuladas em redes e ter-
ritórios-rede e possuem destaques no desenvolvimento de novas tecnologias de in-
formação e comunicação (TIC’s), através dos maciços investimentos voltadas para
área de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Países investem bilhões de dólares anu-
almente para o desenvolvimento de ciência e tecnologia, resultado da competição
internacional, a qual obriga as empresas a serem cada vez mais inovadoras, essas
que, por vezes, tem se organizado em parques tecnológicos, como o Vale do Silício
na região da Califórnia (EUA). Atualmente, as empresas de tecnologia são as mais
valiosas do mercado: Apple, Google, Microsoft, Amazon e Facebook (FORBES, 2020).
De acordo com Santos (2012) todo esse processo marca a produção de um
novo meio, o meio técnico-científico-informacional, relacionada com a revolução
técnico-científica-informacional e a magnitude que o capitalismo financeiro adquiriu
na atualidade. Foi o “casamento” perfeito entre a técnica com a ciência que permi-
tiu a descentralização da atividade produtiva, descentralização essa que não repre-
sentou desconcentração do capital. Ao contrário, a formação de estruturas mono-
polistas e oligopolistas, tais como trustes, cartéis e holdings é uma marca da evolução
capitalista recente.

97
A figura 6 abaixo, sintetiza a relação de poder entre Estados-nacionais e os
grandes conglomerados econômicos globais, uma vez que estes suplantam os Esta-
dos e definem as regras de produção, consumo e acumulação, posicionando-se
como um destacado agente na organização sócio-espacial. Salienta-se, portanto,
que, no atual período, um reduzido número de empresas comandam toda a estru-
tura produtiva dos setores econômicos em escala global e, consequentemente im-
põem habitus, novos comportamentos e dinâmicas à sociedade de consumo
(BOURDIEU, 1989).

98
Figura 11: Estados Nacionais frente ao poder das grandes corporações globais

Disponível em: https://bit.ly/3sWIUoX. Acesso em: 01 jan. 2021.

6.2 RELAÇÃO CENTRO-PERIFERIA E A NOVA DIVISÃO INTERNACIONAL DO


TRABALHO

A conformação do espaço mundial contemporâneo é resultado dos inúmeros


processos que remetem à origem e evolução do desenvolvimento do sistema capi-
talista que, desde sua construção e instituição do moderno sistema colonial (séc. XVI)
vêm definindo na geopolítica mundial a estruturação do espaço por meio das rela-
ções entre, pelo menos, dois blocos de nações – as Metrópoles e as colônias, ou seja,
“[…] aquelas que figuravam no centro dinâmico da economia mundial e aquelas
regiões que se encontravam na periferia da mesma (PIRES, 2012, p. 213). Concorda-
mos com o referido autor que, passados cinco séculos, tal hierarquização ainda per-
siste, com novas designações e características.
Como discutido nas unidades e tópicos anteriores, a contemporaneidade é
atravessada por um conjunto de elementos: i) marcada pelo meio técnico-científico-
informacional, ii) pelo capitalismo informacional, iii) pelo fenômeno da globalização,
iv) pelo neoliberalismo, entre muitos outros aspectos (SANTOS, 2010; 2012). Neste con-
texto, estamos diante de uma nova (des) ordem mundial, um novo jogo de poder
que, assentado na nova divisão internacional (territorial para os geógrafos/as) do tra-
balho, reorienta questões econômicas, políticas e sociais a partir do paradigma da
flexibilização em todos os âmbitos e níveis da sociedade, tanto na produção quanto
no mundo do trabalho. Harvey (2006) vai caracterizar este novo regime de acumula-
ção capitalista como um regime de “acumulação flexível”.

99
Uma nova ordem mundial (ou internacional), ainda que essa defini-
ção privilegie uma estruturação no nível político, aparece intima-
mente articulada a uma nova divisão internacional do trabalho, que
abrange a reestruturação econômica do espaço mundial. A crise que
vivenciamos nas duas ou três décadas [hoje, quatro a cinco décadas]
evidencia bem a profundidade das mudanças de natureza política e
econômica que levam a propor a formação de uma nova des-ordem
mundial (HAESBAERT; PORTO-GONÇALVES, 2006, p. 31)

Este paradigma está presente em quase todas as estruturas e relações con-


temporâneas, firmando uma condição pós-moderna no/do espaço – vigente na re-
estruturação produtiva e nas práticas do trabalho (HARVEY, 2006).
Constata-se que este novo mapa econômico mundial reordena as relações
entre o centro e a periferia à medida que produz processos de desindustrialização,
subcontratação, emprego temporário, atividades autônomas, aprofundamento das
precarizações, das desigualdades, entre outros impactos sociais e ambientais. De
modo efetivo, tem como marco inicial o conjunto das transformações após a dé-
cada de 1970/80, ao qual sucede a passagem do modelo de desenvolvimento, an-
tes fordista, para a especialização flexível. Neste contexto, a terceirização, enquanto
projeto imposto, emergiu como um horizonte possível na relação entre empresas-em-
presas (business to business) e empresas-trabalhadores, tornando as relações de tra-
balho mais flexíveis, especializadas, ágeis e eficientes entre empresas e trabalhado-
res, com o objetivo de reduzir os custos e aumentar lucros (das empresas).
Este instrumento está presente em várias legislações vigentes dos países perifé-
ricos, aos quais passaram por reformas trabalhistas flexíveis e leis que instituem a “ter-
ceirização” como elemento corrente, sobretudo para atender às lógicas do capital
neoliberal. No caso do Brasil, a Lei nº 13.429/17 alterou a lei anterior (Lei nº 6.019/74),
“[…] que dispõe sobre o trabalho temporário nas empresas urbanas e dá outras pro-
vidências; e dispõe sobre as relações de trabalho na empresa de prestação de ser-
viços a terceiros” (BRASIL, 2017). Neste sentido, a presente legislação versa desde as
atividades-meio às atividades-fim: “O contrato de trabalho temporário pode versar
sobre o desenvolvimento de atividades-meio e atividades-fim a serem executadas
na empresa tomadora de serviços.” (BRASIL, 2017).
Na leitura dos críticos a este projeto, as possíveis “vantagens” da terceirização
(voltadas para as empresas, no que tange aos custos e benefícios), são acompanha-
das à revelia da maior precarização nas relações de trabalho e do próprio trabalha-
dor (dos homens e mulheres que trabalham como seres humanos genéricos); ou seja,
“[…] o desmonte de formas reguladas de exploração da força de trabalho como

100
mercadoria” (ALVES, 2011, p. 1).
Nesta perspectiva, “as novas modalidades de contratação salarial, desregu-
lação da jornada de trabalho e instauração de novos modos da remuneração flexí-
vel, seriam consideradas formas de precarização do trabalho” (ALVES, 2011, p. 1).
Estas reconfiguram os espaços-tempo da vida e do trabalho. Da mesma forma, há os
críticos que chamam a atenção para o fenômeno da uberização, pois configura
uma nova onda do trabalho precarizado que se expande e invade múltiplas áreas,
principalmente a partir da disseminação das tecnologias digitais (SLEE, 2019).
A atual divisão territorial/internacional do trabalho é pautada tanto nos níveis
tecnológicos da produção, como nos níveis de qualificação e exploração da força
de trabalho (HAESBAERT; GONÇALVES, 2006). Deste modo, é possível identificar, nesta
lógica, uma diferenciação do espaço mundial, identificando:

[...] espaços que detêm o domínio do capital financeiro e dos investi-


mentos na produção e/ou o controle das tecnologias mais avançadas
e da difusão de informações, com a correspondente oferta de mão
de obra altamente qualificada, como ocorre nos chamados países
centrais capitalistas e, dentro deles, nas grandes “cidades globais”;
espaços com certa independência financeira, em que predominam
atividades econômicas com níveis intermediários de tecnologia e
mão de obra mais ou menos qualificada;
espaços com grande dependência do capital financeiro internacio-
nal, em que a produção é de baixo nível tecnológico ou está voltada
basicamente para a simples reprodução de tecnologias externas,
como indústrias de montagem de produtos, exigindo força de traba-
lho pouco qualificada e com altos níveis de exploração” (HAESBAERT;
PORTO-GONÇALVES, 2006, p. 44, grifo nosso).

A diferenciação espacial supracitada aponta parte de uma miríade de com-


binações possíveis presentes na geopolítica econômica mundial, que reproduz a hi-
erarquização entre países centrais (leia-se “(des) envolvidos”) e países periféricos
(leia-se subdesenvolvidos e emergentes).
Por conseguinte, na concepção de Alves (2011), há duas dimensões da pre-
carização do trabalho: 1) a precarização do(s) trabalho(s) – o trabalho vivo equivale
a força de trabalho como mercadoria e; 2) a precarização do(s) homem(ns) (e mu-
lheres) que trabalham – o trabalho vivo equivale ao ser humano-genérico.

Quadro 2: Dimensões da Precarização do Trabalho


Precarização do trabalho Trabalho vivo = força de trabalho como
mercadoria

101
Precarização do homem (e mulheres) que Trabalho vivo = ser humano-genérico
trabalham

Fonte: Adaptado (ALVES, 2011)

Nesta via, no contexto de globalização econômica e cultural, de busca por


produtos mais diversificados, de melhor qualidade e de tentativas de redução de
custos através de métodos de gerenciamento mais eficazes, como o just in time (mé-
todo de gerenciamento da produção que consiste na eliminação ou redução de
estoque mediante a produção, comercialização e distribuição no tempo certo), a
produção em massa estandardizada fordista, realizada em grandes estruturas indus-
triais com tecnologias intensivas em capital, parecia não mais atender às exigências
do mercado. Daí a necessidade de flexibilizar segundo a lógica dos agentes do ca-
pital (por exemplo, com a utilização de máquinas mais flexíveis à demanda e varia-
ção de modelos, divisão do trabalho entre empresas e utilização de mão de obra
temporária, como citado anteriormente).

A fragmentação da produção em cadeias globais de valor foi possível, entre

102
outros fatores, pela revolução técnico-científico-informacional. Na “era da informa-
ção” (CASTELLS; CARDOSO, 2005), tempo e espaço são categorias que transmutaram
radicalmente à medida que a superação das distâncias pelo avanço dos meios de
transporte pressiona para que o tempo de circulação do capital ocorra em veloci-
dades cada vez mais céleres. Deste modo, uma nova Geografia econômica mundial
se criou e, por sua vez, alijou países e continentes ao novo desenho, caso da América
Latina, cujas inúmeras mudanças radicais foram germinadas.
Portanto, na era da Globalização a relação entre países centrais e periféricos
demonstra, por sua vez, a relação entre importação/exportação de produção, tec-
nologias, capitais produtivos e especulativos, no contexto de uma desconcentração
e deslocalização industrial; e produzem uma nova regionalização do mundo con-
temporâneo, que veremos a seguir.

Figura 12: Nova divisão internacional do trabalho

Fonte: (SENE, 2003) MOREIRA. J. C. (1998). (adaptado)

6.3 A NOVA REGIONALIZAÇÃO DO MUNDO CONTEMPORÂNEO: TERRITÓRIO,


REDE E AGLOMERADOS DE EXCLUSÃO.

Este tópico representa a continuidade e culminância das questões que nos


propomos a discutir nesta unidade. Desta forma, no contexto da globalização eco-
nômica e cultural e da nova des-ordem mundial, cabe-nos refletir acerca dos pro-
cessos que envolvem a retomada e pertinência da questão regional no mundo con-

103
temporâneo, através das diversidades geográficas, heterogeneidades e/ou frag-
mentação dos espaços por meio das velhas-novas desigualdades (a nível global e
intranacional), da recriação da diferença, dos regionalismos e das identidades regi-
onais (HAESBAERT; 1999; 2010). Por conseguinte, a relevância e valorização da ques-
tão regional ressignificada marca o espaço geográfico, tanto no âmbito acadêmico
(através da “nova geografia regional”), quanto na proliferação das “geografias regi-
onais populares” (na esfera das experiências e singularidades) (HAESBAERT; 1999;
2010), presentes na ótica dos movimentos regionais.
Atualmente, as relações sociais de produção e da vida cotidiana são muito
diferentes do que já o foram, devido a recentes revoluções (tecnológica, informaci-
onal, genética, energética); que, entre outras coisas, ajudaram na formação de uma
economia globalizada e na constituição de redes de interações que atuam nas for-
mas de produção e gerenciamento (LIMONAD, 2015).
Estas transformações mexem profundamente com a capacidade de diagnos-
ticar o mundo globalizado à medida que impõe desafios cotidianos para sua análise.
A Geografia não está fora desse panorama, e ocupa um lugar cativo na compreen-
são das novas dinâmicas uma vez que tem “abordagem integradora que permite
compreensão do espaço através do processo histórico” (LIMONAD, 2015, p. 55). Em
outras palavras: buscar compreender as novas formas de relações sociais e do viver
através da Geografia é compreender o espaço indissociável do tempo e do mo-
mento. Outrossim, é procurar identificar os processos e fluxos diversos que se impri-
mem no espaço em determinado momento, compreendendo a articulação destes
e diagnosticando os principais agentes atuantes.

Fica evidente então que o espaço mundial sob a “nova des-ordem”


é um emaranhado de zona, redes e “aglomerados”, espaços hege-
mônicos e contra-hegemônicos que se cruzam de forma complexa na
face da Terra. Fica clara, de saída, a polêmica que envolve uma nova
regionalização mundial. Como regionalizar um espaço tão heterogê-
neo e, em parte, fluido, como é o espaço mundial contemporâneo?
(HAESBAERT; PORTO-GONÇALVES, 2006, p. 134, grifo nosso).

A pergunta supracitada possibilita reflexões acerca dos processos que envol-


vem as relações local-global baseado na nova relação espaço-tempo, bem como
nos aspectos das propriedades objetivas e subjetivas, das identidades e diferenças
(possibilidade real – jurídica e política desta), da representação e do discurso (BOUR-
DIEU, 1989). Nesta esteira, a compreensão dos componentes econômicos, políticos,

104
culturais e ambientais em seu conjunto e suas dinâmicas, são fundamentais para pen-
sarmos as questões regionais.
De antemão, é necessário salientar que hoje, dentro e fora da perspectiva ge-
ográfica, há uma multiplicidade de interpretações sobre região e regionalização.
Uma vez que toda “[…] regionalização, assim, é na verdade um jogo que envolve os
interesses e instrumentos genéricos do pesquisador (ou planejador), […] para efetivar
determinado entendimento e […] ação “regionalizadora” (HAESBAERT; PORTO-GON-
ÇALVES, 2006, p. 135).
Região pode ser pensada como fato na visão do realismo científico, algo
concreto, uma evidência empírica; ou então como algo construído intelectualmente
a fim de orientar estudos realizados, como artifício; ou então como um instrumento
de ação, tomando um caráter idealizador, a fim de intervir concretamente no es-
paço (e, para isso, o espaço há de ser idealizado). Haesbaert (2010) defende uma
região como “artefato”, que consiga romper com as dualidades realistas/idealistas,
ideal simbólica/material-funcional.
Segundo HAESBAERT, (2010, p. 16): “realidade persiste como construção socie-
tária, mas igualmente um agente ativo, com alguma autonomia dos sujeitos”. Assim,
a região como artefato trata de olhar para o espaço indissociável do tempo, sem se
ater a uma finalidade específica. Ela é artifício, instrumento de pesquisa, mas é tam-
bém a impressão de relações sociais de produção e de vivência no espaço-mo-
mento, e continua sendo utilizada como forma de intervenção no espaço concreto.
Portanto, deve-se atentar aos novos paradigmas da regionalização, que repensam
a continuidade espacial, o caráter de mesoescala, a coesão e a singularidade regi-
onal.

A regionalização, ao propor identificar parcelas do espaço articula-


das ou dotadas de relativa coerência que sirvam como instrumento
para nossas pesquisas, revela ao mesmo tempo articulações ligadas,
indissociavelmente, à ação concreta de controle, produção e signifi-
cação do espaço pelos sujeitos sociais que as constroem, no entrecru-
zamento de múltiplas dimensões (econômica, política, cultural...) –
ainda que uma delas, variável de acordo com o contexto geográfico
e histórico, se possa impor e, de algum modo, "amalgamar" as demais
(HAESBAERT, 2010, p. 171, grifo do autor).

Regionalizar, portanto, é enfatizar as particularidades encontradas no espaço,


suas descontinuidades, fragmentação, articulação e desarticulação, a produção de

105
desigualdades. A impressão contínua no espaço não se coloca mais como prerroga-
tiva, podendo ser reticular e descontínua. Sua escala não é pré-definida, mas se vê
fora da ideia de escala “intermediária”, propondo agora uma visão local/global,
onde o nível regional não mais é subordinado ao nacional, mas sim ao global; como
demonstram os neologismos de Swyngedouw e Robertson, “glocal” e “glocalização”
(SWYNGEDOUW, 1992; ROBERTSON,1995 apud HAESBAERT, 2010).
Ademais, ao discutir sobre diversidade territorial e regionalização, no que
tange às mutações diante da abordagem teórico-filosófica, Haesbaert (1999) sinte-
tiza e indaga duas questões fundamentais:

- para entender a diversidade territorial devemos priorizar a diferença


em sentido estrito ou a desigualdade, o par singular/universal ou parti-
cular/geral?
- a regionalização seria aplicável apenas a alguns espaços, ligada a
fenômenos sociais específicos, ou seria referida ao espaço geográfico
no seu conjunto? (HAESBAERT, 1999, p. 22)

Estas questões orientam e possibilitam a pensar nas reformulações da nova ge-


ografia regional, que consiga articular processos e relacionar fenômenos no/do es-
paço em suas múltiplas facetas e mutações.
Nesta premissa, Haesbaert e Porto-Gonçalves (2006, p. 138; 146) propuseram
uma nova regionalização do mundo a partir da combinação de três lógicas espaci-
ais:
A primeira, de caráter “zonal” – “[…] que inclui os Estados-nações e os grandes
blocos econômicos, mediante o controle de áreas ou zonas delimitadas por “frontei-
ras” […]”;
A segunda, de caráter “reticular” – “[…] que prioriza a consolidação e o con-
trole do espaço através de redes (fluxos e pólos), como as grandes redes do capital
financeiro […]”;
E a terceira, fora da lógica dominante, denominada "aglomerados" – “[...] es-
paços pouco estruturados onde vigora a instabilidade e a territorialização precária,
especialmente entre os grupos sociais mais afetados pelas dinâmicas de exclusão
[…]” (HAESBAERT; PORTO-GONÇALVES, 2006, p. 138).
Estás lógicas apontam para a interpretação do mapa a seguir, marcado por
uma rede de influência das grandes potências econômicas no eixo Nova York – Lon-
dres – Tóquio, cidades estas que controlam os fluxos financeiros da economia mundial
e polarizam as demais regiões do mundo. Nesta premissa, é visível a dimensão dos

106
“territórios” e das “redes”, bem como dos fluxos financeiros em torno do “oligopólio
mundial” de grandes potências – Estados Unidos, União Européia e Japão (destaca-
se ainda a emergência da China).

Figura 13: A nova des-ordem geográfica mundial

Fonte: HAESBAERT; PORTO-GONÇALVES (2006)

107
1. (UERJ 2009 - Adaptado) A estrutura desse sistema internacional de circulação al-
cançou tal grau de complexidade que ultrapassa a compreensão da maioria das
pessoas. As fronteiras entre funções diferentes como as de bancos, corretoras, ser-
viços financeiros, financiamento habitacional, crédito ao consumidor etc. torna-
ram-se cada vez mais porosas, ao mesmo tempo em que novas transações futuras
de mercadorias, de ações, de moedas ou de dívidas surgiram em toda parte, in-
troduzindo o tempo futuro no tempo presente de maneiras estarrecedoras.
DAVID HARVEY – Adaptado de Condição pós-moderna. São Paulo: Edições Loyola, 1992.

O texto faz referência a características de um dos mais importantes aspectos do


atual estágio do capitalismo. Dois fatores que contribuem para o fenômeno des-
tacado pelo autor do fragmento estão apontados em

a) aumento da especulação financeira - maior eficiência das redes de transportes.


b) controle do Banco Mundial sobre o sistema financeiro - formação da União Mone-
tária Mundial.
c) desregulamentação dos mercados financeiros - disseminação das tecnologias da
informação.
d) padronização dos horários de funcionamento dos centros financeiros - surgimento
dos bancos globais.
e) regulamentação dos mercados - estatização dos bancos nacionais.

2. (ENEM 2009) O intercâmbio de ideias, informações e culturas, através dos meios de


comunicação, imprimem mudanças profundas no espaço geográfico e na cons-
trução da vida social, na medida em que transformam os padrões culturais e os
sistemas de consumo e de produção, podendo ser responsáveis pelo desenvolvi-
mento de uma região.

(HAESBAERT, R. Globalização e fragmentação do mundo contemporâneo. Rio de Janeiro: EdUFF,


1998.)

Muitos meios de comunicação, frutos de experiências e da evolução científica


acumuladas, foram inventados ou aperfeiçoados durante o século XX e provoca-
ram mudanças radicais nos modos de vida, como por exemplo:

108
a) a diferenciação regional da identidade social por meio de hábitos de consumo.
b) o maior fortalecimento de informações, hábitos e técnicas locais.
c) a universalização do acesso a computadores e a Internet em todos os países.
d) a melhor distribuição de renda entre os países do sul favorecendo o acesso a pro-
dutos originários da Europa.
e) a criação de novas referências culturais para a identidade social por meio da dis-
seminação das redes de fast-food.

3. (ENEM 2013) Um trabalhador em tempo flexível controla o local do trabalho, mas


não adquire maior controle sobre o processo em si. A essa altura, vários estudos
sugerem que a supervisão do trabalho é muitas vezes maior para os ausentes do
escritório do que para os presentes. O trabalho é fisicamente descentralizado e o
poder sobre o trabalhador, mais direto.

SENNETT R. A corrosão do caráter, consequências pessoais do novo capitalismo. Rio de Janeiro: Re-
cord, 1999 (adaptado).

Comparada à organização do trabalho característica do taylorismo e do fordismo,


a concepção de tempo analisada no texto pressupõe que

a) as tecnologias de informação são usadas para democratizar as relações laborais.


b) as estruturas burocráticas sejam transferidas da empresa para o espaço domés-
tico.
c) os procedimentos de terceirização sejam aprimorados pela qualificação profissio-
nal.
d) as organizações sindicais sejam fortalecidas com a valorização da especialização
funcional.
e) os mecanismos de controle são deslocados dos processos para os resultados do
trabalho.

4. (UERJ 2012 - Adaptado) Os fatores locacionais da indústria passaram por grandes


modificações, desde o século XVIII, alterando as decisões estratégicas das empre-
sas acerca da escolha do local mais rentável para seu empreendimento.

109
O esquema abaixo apresenta alguns modelos de localização da siderurgia, consi-
derando os fatores locacionais mais importantes para esse tipo de indústria: miné-
rio de ferro, carvão mineral, mercado e sucata.

No caso dos modelos C e D, as mudanças socioeconômicas que justificam as es-


colhas de novos locais para instalação de usinas siderúrgicas nas últimas décadas
são, respectivamente

a) dispersão dos mercados consumidores – revalorização das economias de aglome-


ração.
b) eliminação dos encargos com a mão de obra – generalização das redes de tele-
comunicação.
c) diminuição dos preços das matérias-primas – substituição de fontes de energia tra-
dicionais.
d) redução dos custos com transporte – ampliação das práticas de sustentabilidade
ambiental.
e) aumentos dos custos com mão de obra qualificada - substituição das fontes de
energia tradicionais.

5. (Enem) Estamos testemunhando o reverso da tendência histórica da assalariação


do trabalho e socialização da produção, que foi característica predominante na
era industrial. A nova organização social e econômica baseada nas tecnologias
da informação visa à administração descentralizadora, ao trabalho individuali-
zante e aos mercados personalizados. As novas tecnologias da informação possi-
bilitam, ao mesmo tempo, a descentralização das tarefas e sua coordenação em

110
uma rede interativa de comunicação em tempo real, seja entre continentes, seja
entre os andares de um mesmo edifício.

CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2006 (adaptado).

No contexto descrito, as sociedades vivenciam mudanças constantes nas ferra-


mentas de comunicação que afetam os processos produtivos nas empresas. Na
esfera do trabalho, tais mudanças têm provocado

a) o avanço do trabalho flexível e da terceirização como respostas às demandas por


inovação e com vistas à mobilidade dos investimentos.
b) o aprofundamento dos vínculos dos operários com as linhas de montagem sob
influência dos modelos orientais de gestão.
c) o aumento das formas de teletrabalho como solução de larga escala para o pro-
blema do desemprego crônico.
d) a autonomização crescente das máquinas e computadores em substituição ao
trabalho dos especialistas técnicos e gestores.
e) o fortalecimento do diálogo entre operários, gerentes, executivos e clientes com
a garantia de harmonização das relações de trabalho.

6. (Enem)
Disneylândia
Multinacionais japonesas instalam empresas em Hong-Kong
E produzem com matéria-prima brasileira
Para competir no mercado americano
[...]
Pilhas americanas alimentam eletrodomésticos ingleses na Nova Guiné
Gasolina árabe alimenta automóveis americanos na África do Sul
[...]
Crianças iraquianas fugidas da guerra
Não obtêm visto no consulado americano do Egito
Para entrarem na Disneylândia

ANTUNES, A. Disponível em: www.radio.uol.com.br. Acesso em: 3 fev. 2013 (fragmento).

Na canção, ressalta-se a coexistência, no contexto internacional atual, das seguin-


tes situações:
a) Acirramento do controle alfandegário e estímulo ao capital especulativo.
b) Ampliação das trocas econômicas e seletividade dos fluxos populacionais.
c) Intensificação do controle informacional e adoção de barreiras fitossanitárias.

111
d) Aumento da circulação mercantil e desregulamentação do sistema financeiro.
e) Expansão do protecionismo comercial e descaracterização de identidades naci-
onais.

7. (UERJ) O modelo de desenvolvimento do capitalismo e o correspondente ele-


mento da organização da produção industrial representados neste trabalho de
Warhol estão apontados em:

a) taylorismo - produção flexível.


b) toyotismo - fragmentação da produção.
c) fordismo - produção em série.
d) neofordismo - terceirização da produção.
e) fordismo – produção flexível.

8. “A industrialização ampliou a divisão do trabalho dentro da unidade de produção


(a fábrica) e no interior da sociedade de cada país. Ao mesmo tempo, estabele-
ceu a Divisão Internacional do Trabalho entre os países industriais e as regiões for-
necedoras de produtos agrícolas e minerais”.

(LUCCI, E. A. et. al. Território e sociedade no mundo globalizado: Geografia Geral e do Brasil. Ensino
Médio. Editora Saraiva, 2005. p.56).

Assinale a alternativa que NÃO expressa uma característica da Divisão Internacio-


nal do Trabalho (DIT).

112
a) Os países desenvolvidos exportam produtos tecnológicos e os países subdesenvol-
vidos exportam matérias-primas.
b) A formação da DIT está relacionada, principalmente, com os eventos ligados ao
colonialismo.
c) A Divisão Internacional do Trabalho envolve, entre outras questões, as relações
desiguais entre o norte desenvolvido e o sul subdesenvolvido nos campos político
e econômico.
d) Conferências internacionais são realizadas anualmente para se definir qual tipo de
produto cada país produzirá no contexto do comércio internacional.
e) Na nova DIT, as relações se dão entre metrópoles e colônias na organização do
espaço mundial, estabelecendo um pacto.

113
GEOGRAFIA ECONÔMICA E DA
POPULAÇÃO

7.1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno, esta unidade tem o objetivo de apresentar-lhe uma contextu-


alização geral a respeito dos temas que compõem o campo de estudos da Geogra-
fia Econômica. De acordo com o que você irá estudar durante este capítulo, será
possível perceber que o Desenvolvimento Econômico e das relações comerciais e
produtivas está intrinsecamente conectado com a dinâmica geográfica e social dos
países, cuja interação forma processos bem delimitados de divisão do trabalho e es-
pecialização produtiva em função de competências estratégicas e vantagens com-
petitivas no século XXI.
Desta forma, conceitos econômicos, tais como ‘Termos de Troca’ e ‘Divisão do
Trabalho’ podem ser diretamente aplicados ao contexto desta disciplina, ofere-
cendo a você as condições objetivas necessárias para entender a Geografia Econô-
mica sob uma perspectiva interdisciplinar.

7.2 UMA INTRODUÇÃO À GEOGRAFIA ECONÔMICA

A Geografia apresenta, enquanto área do conhecimento, diferentes ramifica-


ções que se estabelecem em torno de elementos de natureza física (como a Geolo-
gia e a Climatologia, por exemplo), e também ao redor de elementos sociais, cultu-
rais e, particularmente, econômicos. Ou seja, há diversos aspectos que convergem,
dentro da Geografia Humana, para a compreensão dos fatos econômicos que for-
mam a sociedade.

114
Figura 14: Aspectos da Geografia Humana e suas determinações

Fonte: Adaptado de Santos Jr. (2016)

No entanto, entender a Geografia Econômica apenas por ‘aspectos econô-


micos’ seria um tanto limitado; em outras palavras, seria apenas entender o conceito
a partir do que ele não é. Em particular, diferentes autores estabelecem uma com-
preensão da Geografia Econômica a partir das atividades econômicas criadas pelo
homem em determinados espaços e ambientes, observando os deslocamentos po-
pulacionais, a variação das relações comerciais e produtivas, a migração para es-
paços urbanos, entre outras possibilidades.
Desta forma, é possível entender a Geografia Econômica como um segmento
específico da Geografia Humana (a qual observa as relações entre sociedade e es-
paço); enquanto segmento, a Geografia Econômica enfoca os fenômenos e proces-
sos econômicos, enquanto estejam distribuídos em diferentes espaços e territórios
(SANTOS JR., 2016).
Esta dispersão espacial repercute em elementos econômicos como os custos
de produção, os lucros das empresas, bem como suas receitas e despesas, por exem-
plo, determinando os processos produtivos, de logística e articulação econômica
nesses ambientes.
A Geografia Econômica enfatiza, portanto, a velocidade e a dinâmica das
transformações econômicas em escala mundial, bem como a determinação histó-
rica e social destas transformações e as implicações destes processos sobre o modo
de vida dos indivíduos, através de suas relações de consumo, padrões de vida, perfis
de crescimento populacional e demográfico, ocupação do território, entre outras
manifestações (MORAES; FRANCO, 2010).
Deve-se ter atenção, ainda, ao fato de que esta disciplina não deve ser vista

115
apenas como uma fusão, ou um somatório, entre a Geografia e as Ciências Econô-
micas; esta leitura, embora não seja de todo incorreta, acaba por enfatizar excessi-
vamente algumas relações específicas de formação econômica de diferentes espa-
ços, como por exemplo, a distribuição da agricultura nas regiões geográficas brasi-
leiras.
Com efeito, embora estas determinações sejam importantes para a compre-
ensão dos fatos correntes da Economia contemporânea, podem ser insuficientes
para compreender os aspectos sociais e culturais, como mencionamos, que são
igualmente fundamentais para o desenvolvimento humano (MORMUL, 2013).
Neste mesmo tema, ainda podemos destacar mais dois aspectos para uma
conceituação adequada a respeito da Geografia Econômica.
O primeiro deles ressalta que a Geografia Econômica é particularmente rele-
vante para entender a dinâmica das relações sociais contemporâneas: a área co-
nhecida tradicionalmente no Ensino Médio como Geopolítica abrange dimensões
sociais diversas. Porém, a evolução recente da Geografia Econômica está baseada
também nas influências das instituições humanas sobre o território, tais como as em-
presas, organizações não-governamentais (ONGs), grupos religiosos e outros agentes
físicos e jurídicos com alguma capacidade de articulação. Assim, por meio das ações
econômicas, pode-se também entender a realidade social e suas implicações
(HERNÁNDEZ, 2003).

A linguagem empresarial denomina as instituições destacadas no parágrafo anterior


como stakeholders. Este conceito pode ser explicado a partir da expressão ‘grupos de
interesse’; isto é, um stakeholder é um agente diretamente interessado nos resultados e
objetivos relacionados a uma empresa ou instituição pública/privada, e que é influenci-
ada por suas políticas. Por exemplo, uma Organização Social (OS) é um stakeholder do
poder público, á medida que as decisões do Estado interferem e determinam as suas con-
dições de desenvolvimento.

O segundo ponto a destacar é a importância da Geografia Econômica para


a compreensão das diferentes disparidades e desigualdades que estão presentes na
sociedade contemporânea.

116
Efetivamente, o pesquisador na área do conhecimento proposta por esta dis-
ciplina não poderá conceber estas desigualdades como um fato circunstancial, isto
é, que pode ser atribuído a alguma razão não-específica ou relacionada à realidade
do indivíduo. Deve-se, assim, entender melhor os condicionantes econômicos e soci-
ais que estão presentes em uma população geograficamente distribuída.
Por exemplo, a falta de empregos qualificados em uma determinada área não
pode ser atribuída apenas à baixa qualificação dos indivíduos, mas sim, a elementos
históricos (ausência de políticas públicas, desigualdade de renda, etc) que conver-
gem para uma determinação econômica (desemprego) com implicações sociais
(padrões de consumo, disparidades de renda, violência, pobreza, entre outras possi-
bilidades) (SPOSITO, 2017).

Figura 15: Elementos estruturais na Geografia Humana

Fonte: Adaptado de SPOSITO (2017)

Verifique, por fim, que a Geografia Econômica abrange aspectos da Econo-


mia que viabilizaram a assimilação de teorias econômicas importantes. Dentre estas
abordagens, podemos mencionar a Teoria da Dependência, a qual será destacada
nos próximos tópicos.

117
7.3 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL E SEU ESPAÇO GEOGRÁ-
FICO

Neste tópico, você poderá analisar, ainda que resumidamente, diferentes as-
pectos relacionados ao desenvolvimento econômico do Brasil em perspectiva histó-
rica. Você poderá observar que as etapas deste desenvolvimento se estabelecem a
partir do período colonial, desde a criação das capitanias hereditárias e da criação
de circuitos comerciais baseados no extrativismo vegetal. Estas fases históricas foram
condicionadas pela distribuição geográfica e ambiental no território, criando rela-
ções entre a colônia brasileira e a metrópole portuguesa que foram reelaboradas a
partir dos períodos imperial e republicano.
A formação econômica do Brasil na era colonial apresenta suas raízes na con-
solidação do Império Português no período das ‘Grandes Navegações’, no século
XV, onde as monarquias ibéricas passaram a disputar espaços inexplorados a fim de
estabelecer rotas comerciais privilegiadas para a região das Índias, bem como para
construir relações monopolistas de comércio e complexos produtores voltados à ex-
portação (MORAES; FRANCO, 2010).
Assim, ao refletir com maior especificidade sobre a formação social e histórica
da nação brasileira, é necessário resgatar as formas de exploração estabelecidas
durante os primeiros séculos da dominação portuguesa, dentro de um modelo teó-
rico que é conhecido como ‘Antigo Sistema Colonial’.
De acordo com os pressupostos deste modelo, a organização da produção
econômica da colônia, desde o século XVI, estava destinada a dar sustentação à
criação de lucros e excedentes financeiros para a metrópole, não apenas a partir do
comércio de bens, mas também, por meio do apresamento e escravização de ne-
gros e indígenas. Neste contexto histórico, foram criadas as primeiras povoações,
ocupando o território a partir das regiões litorâneas de modo a favorecer os processos
comerciais e de extração de recursos naturais na colônia recém-descoberta
(ARRUDA, 2003).
Por sua vez, o uso de mão-de-obra cativa foi sendo desenvolvido desde o sé-
culo XVI, como um modo básico e fundamental de regime de trabalho na Colônia
e, posteriormente, durante quase todo o período Imperial. O trabalho escravo foi uma
das características mais fundamentais do Antigo Sistema Colonial, uma vez que era

118
formador de lucros extraordinários a partir da exploração de contingentes populaci-
onais e do tráfico ultramarino de escravos.
Esta mão-de-obra escrava era particularmente demandada para o trabalho
rural, nas lavouras de cana-de-açúcar (que formavam complexos exportadores im-
portantes, especialmente na região Nordeste, nos quais a Coroa portuguesa tinha o
domínio do comércio e o controle completo das compras da produção) e na extra-
ção mineral, em ouro e pedras preciosas, especialmente, na região das Minas Gerais,
a partir da segunda metade do século XVII.
Em relação ao trabalho rural, estes complexos foram desenvolvidos com base
no modelo de plantation, no qual articulam-se as seguintes variáveis: o uso de mão-
de-obra escrava; a formação de grandes propriedades rurais, organizadas por ho-
mens que, em momento posterior, formarão a pequena nobreza brasileira; a mono-
cultura como meio de produção; a exportação dos recursos produzidos; e as rela-
ções de exclusividade forçada no comércio com a metrópole (CAMPOS; MIRANDA,
2000).

Figura 16: modelo de plantation

Fonte: Adaptado de Campos e Miranda (2000)

Houve, ainda, o chamado ‘ciclo minerador’, mais evidente nas capitanias de

119
Minas Gerais e Goiás, ao longo do século XVIII – sem que outras culturas de exporta-
ção, como a cana-de-açúcar, tenham perdido sua influência na estrutura econô-
mica colonial – onde as áreas produtoras de minérios e metais preciosos criaram um
importante espaço de circulação financeira na Colônia.
Deste modo, a descoberta de lavras de ouro e de metais preciosos viabilizou
a formação de um aparato administrativo da Coroa portuguesa na região das Minas
Gerais, de modo que a circulação monetária e a riqueza gerada na colônia permitiu
o desenvolvimento de núcleos urbanos e redes de abastecimento interno, que dina-
mizaram todo o território a partir de uma dinâmica eminentemente comercial, cal-
cado, vale lembrar, sobre o trabalho escravo (MORAES; FRANCO, 2010).
O século XIX é caracterizado pela ascensão da cultura do café, que encon-
trou na região Sudeste uma importante área de expansão, com disponibilidade de
terras férteis e condições climatológicas adequadas; esta expansão marcou-se a
partir do Rio de Janeiro, espalhando-se depois para o Vale do Paraíba e para a re-
gião do Oeste Paulista.
O chamado ‘ouro verde’, como o café era conhecido, foi responsável direta-
mente pelo desenvolvimento da base econômica da nação recém-independente
(em 1822), e viabilizou a criação de algumas proto-indústrias, que tinham o objetivo
de suprir este mercado com produtos indispensáveis ao cultivo do café (LUNA; KLEIN,
2016).

No canal da TV Senado no Youtube, você poderá conhecer mais a respeito da composi-


ção da mão-de-obra imigrante e sua importância decisiva para a consolidação da la-
voura cafeeira no Brasil, por meio do vídeo “Histórias do Brasil - Os imigrantes e o ciclo do
café”. Acesse: https://bit.ly/3uAljvK. (Acesso em: 11. Fev. 2021).

Assim sendo, é possível questionar: de que maneira se estabeleceu esta rela-


ção intrínseca entre o desenvolvimento da economia cafeeira e o crescimento das
forças produtivas, que culminariam, posteriormente, na criação de uma malha indus-
trial, sob as suas mais diferentes dimensões?
Na segunda metade do Século XIX, dois regimes de trabalho conviviam no
Brasil: a mão-de-obra escrava, lastreada especialmente sobre o comércio clandes-
tino e sobre o tráfico interprovincial, em um contexto de aperto das legislações do

120
Estado e pressões internacionais para o fim do regime de trabalho cativo. Ao mesmo
tempo, levas de imigrantes adentravam o território, estabelecendo núcleos popula-
cionais e povoamentos em diferentes pontos do território, a fim de ocupa-lo e pro-
mover a expansão demográfica sob bases ‘europeias’, de acordo com as doutrinas
raciais daquele tempo (CAMPOS; MIRANDA, 2000).
Da mesma forma, as relações de trabalho são um exemplo de uma série de
importantes contrastes na transição entre os séculos XIX e XX; coexistiam, ainda, di-
versos grupos monarquistas e republicanos radicais, e ainda, grupos políticos ligados
aos estados, que tentavam assumir uma presença política mais efetiva na máquina
pública. Deste modo, no século XX, o café era praticamente hegemônico na pauta
exportadora, embora disputasse espaço com outros produtos igualmente importan-
tes na pauta de exportação, produtos estes criados através de complexos exporta-
dores, como a borracha, por exemplo (LUNA; KLEIN, 2016).

Tabela 1: Pauta comercial dividida por províncias


Importações Exportações
Estados 1852/57 (média) 1919 1852/57 (média) 1919
AM, GO, MT 0,1 1,1 0,1 3,1
PA, MA, PI, CE 7,6 3,6 7,2 6,5
RN, PB, PE, AL, SE, BA 31,9 13,5 31,2 13,3
ES, RJ, MG, SP, GB 55,2 72,3 54,5 68,1
SC, PR, RS 5,2 9,5 7,0 9,0
Fonte: Cano (1998)

Você pode observar, com base na Tabela 1, que os estados da região Sudeste
eram responsáveis pela maioria das importações e exportações no período entre
1850 e 1920: estas exportações estavam essencialmente embasadas no café, ao
passo que as importações eram baseadas na compra de bens de consumo duráveis
e outros insumos necessários ao desenvolvimento da região cafeeira, como maqui-
nários, equipamentos e implementos para o desenvolvimento de ferrovias (CAMPOS;
MIRANDA, 2000).
Em uma próxima etapa histórica, na qual se desenvolvem as mudanças ocor-
ridas no Estado brasileiro durante o século XX, é preciso compreender os anos da
chamada ‘Era Vargas’, entre 1930 e 1945; este é um período marcado pela liderança
política de Getúlio Vargas, desde a Revolução de 1930, passando pela fase de go-
verno constitucional, entre 1934 e 1937, e por fim, pelo regime ditatorial do ‘Estado
Novo’, entre 1937 e 1945.

121
A expressão ‘Revolução de 1930’ diz respeito ao movimento político e militar,
liderado por Vargas, que derruba o presidente Washington Luís e impede a posse do
presidente eleito, Júlio Prestes, rompendo com o modelo de alternância política na
chefia do Executivo federal que era dividido entre as oligarquias de São Paulo e Minas
Gerais, modelo este que era conhecido como a ‘Política do Café-com-Leite’. Com
o apoio de outros estados com menor representação política no cenário nacional,
como o Rio Grande do Sul e Paraíba, Vargas marcha sobre o Rio de Janeiro e assume
o poder, derrubando o presidente Washington Luís (LUNA; KLEIN, 2016).
Em novembro de 1937, na sequência de eventos críticos como a Intentona
Comunista, Vargas decreta o fechamento do Congresso, suspende o funcionamento
dos partidos políticos e outorga uma nova Constituição: começava o período do Es-
tado Novo, a fase ditatorial da ‘Era Vargas’ que se estenderia até 1945.

Os manuais de História Econômica apresentam abordagens e visões importantes a res-


peito das fases e processos relativos à construção da nação brasileira. No livro “História
Econômica e Social do Brasil – O Brasil desde a República” (2016), de Francisco Vidal Luna
e Herbert Klein, você poderá compreender mais a respeito do desenvolvimento econô-
mico brasileiro na década de 1930. Disponível em: https://bit.ly/3qSgGL7. Acesso em: 11
Fev. 2021.

Neste período, a propaganda política buscou criar uma imagem popular do


presidente, de modo a reforçar sua vinculação direta com as massas, dispensando o
funcionamento do Poder Legislativo como fonte de representação dos interesses do
povo. Após o fim da ditadura do ‘Estado Novo’, em 1945, Getúlio Vargas é afastado
do poder e, em 1946, o marechal Eurico Gaspar Dutra vence as eleições, reformu-
lando a Constituição e viabilizando uma fase de continuidade democrática que se
estenderia até 1964 (MORAES; FRANCO, 2010).
Esta fase é marcada, particularmente, pelo governo de Juscelino Kubitschek,
também conhecido como JK, o qual iria instaurar um ambicioso programa de desen-
volvimento econômico que ficou conhecido como Plano de Metas. Com o objetivo
de fazer o Brasil avançar ‘cinquenta anos em cinco’, ou seja, na vigência de seu
mandato (na época a reeleição era proibida), JK incentivou a instalação de empre-

122
sas industriais estrangeiras para a fabricação de bens de consumo duráveis, em par-
ticular, a indústria automobilística; investiu em obras públicas, através da abertura e
melhoria de estradas e portos.
Juscelino financiou estes projetos através do ‘tripé econômico’, que conju-
gava o capital privado nacional (em setores paralelos e de suporte à indústria pe-
sada), o capital do governo (em infraestrutura e através das empresas estatais) e o
capital privado externo (especialmente através da entrada de empresas multinacio-
nais). A ‘meta-síntese’ do governo era a mudança da capital da República para o
Planalto Central, com a construção de Brasília (CAMPOS; MIRANDA, 2000).
Cumprindo seu governo de acordo com os preceitos democráticos, JK en-
trega seu governo ao sucessor eleito, Jânio Quadros, em 1961. Renunciando ao
cargo meses depois, Jânio dá lugar a João Goulart, o vice reeleito. A plataforma
política de Jango, inclinada à esquerda política, e associada a projetos de reforma
agrária e no setor urbano, conhecidas como ‘Reformas de Base’, atraíram forte opo-
sição da classe média e de segmentos importantes das Forças Armadas. Em 30 de
Março de 1964, Goulart é deposto mediante um golpe militar, que instaurou um re-
gime de exceção que perduraria por vinte e um anos.
Pelo lado da economia, o regime militar caracterizou-se por uma fase de in-
tenso crescimento das bases produtivas e da economia, que ficou conhecido como
o período do ‘Milagre Econômico’, entre 1968 e 1973. No entanto, na sequência da
etapa do ‘Milagre’, estas taxas de crescimento decaíram e a inflação voltou a cres-
cer, comprometendo os limites ao desenvolvimento do Estado. O regime já dava si-
nais de enfraquecimento interno quando o processo de abertura política ganhou fô-
lego, a partir de 1979, com o movimento da Anistia e a luta pela redemocratização
do país (MORAES; FRANCO, 2010).
Esta luta se estenderia ao longo de toda a metade da década de 1980, com
o retorno dos exilados políticos e o fim dos governos militares com a eleição de Tan-
credo Neves em 1985. Morto antes de assumir a presidência, Tancredo dá lugar ao
vice, José Sarney, que implementa reformas econômicas e viabiliza a promulgação
da nova Constituição, em 1988, vigente até os dias atuais. No entanto, pelo lado da
economia, a inflação atingiu patamares superiores a 1.000% ao ano, desorganizando
a base produtiva até a reforma monetária que lançou o Real, em Julho de 1994.

123
7.4 CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO E DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO

A contextualização apresentada no tópico anterior permitiu compreender as


transformações econômicas e sociais que condicionaram o desenvolvimento da so-
ciedade brasileira no século XXI. Assim, partindo destas premissas históricas, é possível
compreender a dinâmica da divisão social e territorial do trabalho na realidade bra-
sileira.
Este tópico, portanto, será dividido em dois subtópicos, que irão referenciar,
primeiramente, a realidade do crescimento demográfico, e na sequência, os proces-
sos teóricos que permitem entender a realidade da divisão do trabalho no país, à luz
dos referenciais teóricos da ‘Dinâmica Centro-Periferia’ e da ‘Teoria da Dependên-
cia’.

7.4.1 A realidade do crescimento demográfico

Para entender a dinâmica do crescimento demográfico no Brasil e no mundo,


é necessário recuperar alguns outros conceitos importantes, como o crescimento ve-
getativo e as taxas de natalidade, fecundidade e mortalidade, de modo a observar
os fatores históricos, econômicos e sociais que determinam a variação da popula-
ção.
Em primeiro lugar, podemos destacar o conceito de crescimento vegetativo
(também conhecido por crescimento natural), que é formado pela diferença entre
o número de indivíduos nascidos em um certo período de tempo, e o número de
óbitos neste mesmo período, em uma determinada região, de modo que um valor
positivo implica em um aumento do crescimento vegetativo, podendo-se ainda ob-
servar valores negativos, ou mesmo nulos.
O crescimento demográfico, por sua vez, refere-se a um processo onde há um
resultado decorrente da soma entre o crescimento vegetativo, e o saldo líquido de
migrações (também conhecido como crescimento horizontal) que ocorreram em
uma determinada região, de acordo com a equação (1) (MORAES; FRANCO, 2010):

á =( − )+( − ) (1)

Estas variáveis, como você pode observar, dependem não apenas de fatores
físicos (como o número de mortes naturais), mas também dizem respeito a variáveis

124
sociais e econômicas, como a violência (que pode elevar o número de mortes), o
nível de renda (que pode aumentar a expetativa de vida e, consequentemente, re-
duzir o número de mortes e, eventualmente, reduzir o número de nascimentos) e di-
ferentes políticas públicas que levam ao aumento do bem-estar e, consequente-
mente, ao aumento dos fluxos migratórios de entrada (imigrações) para um país ou
região.

Há muitas variáveis socioeconômicas que implicam em resultados integrados em relação


ao crescimento demográfico: a criação de um sistema de saúde público e de acesso
universal, por exemplo, será importante para viabilizar a redução da taxa de mortalidade,
ao mesmo tempo que pode gerar algum volume de fluxo migratório para acesso a trata-
mentos, medicações específicas, etc.

Da mesma forma, os países podem implementar políticas que favoreçam, ou


desfavoreçam, a ocorrência de movimentos migratórios; tal prática é exemplificada
pelos sistemas de controle de entrada de cidadãos estrangeiros nos Estados Unidos,
cujo visto permanente para imigrantes, conhecido como green card, é objeto de
uma intensa demanda e somente pode ser conseguido mediante condições especí-
ficas, como a efetivação de investimentos no país, ou por casamento, trabalho qua-
lificado (em setores econômicos que apresentem baixa disponibilidade de mão-de-
obra) ou indicação familiar.
Outro exemplo recorrente ao longo da década de 2010 pode ser observado
em relação às restrições à migração de árabes e africanos para nações europeias,
como forma de sobrevivência e fuga de conflitos étnicos e guerras civis. Na América
Latina, estas restrições são visíveis nos Estados Unidos, e também no Brasil, em relação
à migração de haitianos (sobretudo para o estado de São Paulo) e venezuelanos, na
região norte do país (BAENINGER; PERES, 2017).

125
Figura 17: Crescimento demográfico da população brasileira (milhões hab)

215

205

195

185

175

165

155

145
1992
1993
1994
1995
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2008
2009
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
Fonte: Elaborado pelo Autor com dados do IBGE (2020). Disponível em: https://bit.ly/2ZQIdRl.
Acesso em: 11 fev. 2021.

Observe, pelo Gráfico 1, que até o ano de 2020, houve um incremento positivo
na população brasileira na ordem de 42,3% em relação a 1992: em 1º de julho deste
ano, a população estimada era de 149.236.984 habitantes; em 16 de dezembro de
2020, o IBGE estimava a existência de 212.443.851 residentes no território brasileiro.
Este número esperado de habitantes, vale dizer, já é superior às projeções do
IBGE para o ano de 2020, elaboradas em abril deste ano, e que estimavam uma po-
pulação de aproximadamente 211.755.000 pessoas ao final de 2020.
De acordo com as informações do Censo Demográfico de 1970, a população
brasileira era estimada em aproximadamente noventa milhões de pessoas; logo, em
aproximadamente cinquenta anos, a população aumentou em quase 150%, ou seja,
mais que dobrou ao longo deste período.
No entanto, para o mesmo órgão de pesquisa, as projeções de crescimento

126
da população para os anos seguintes apontam para uma redução progressiva deste
montante de habitantes, de acordo com o que se observa pelo Gráfico 2, que se
segue:

Figura 18: Gráfico de Projeções demográficas para a população brasileira (milhões hab).

240
230
220
210
200
190
180
170
160
150
140
1992
1994
1997
1999
2001
2003
2005
2008
2011
2013
2015
2017
2019
2021
2023
2025
2027
2029
2031
2033
2035
2037
2039
2041
2043
2045
2047
2049
2051
2053
2055
2057
2059
Fonte: Elaborado pelo Autor com dados do IBGE (2020). Disponível em: https://bit.ly/3krCAST.
Acesso em: 11 fev. 2021.

É possível observar que o governo brasileiro acredita na existência de uma re-


versão do padrão de crescimento da população ao redor da década de 2040, com
uma queda progressiva a partir deste momento. Tal situação, evidentemente, não
incorpora variáveis desconhecidas como migrações motivadas por crises humanitá-
rias e econômicas (como no caso venezuelano), desastres naturais, guerras, epide-
mias e outros eventos cuja probabilidade de ocorrência é significativamente aleató-
ria.
No entanto, tais estimativas permitem pensar em situações socioeconomica-
mente importantes, como o envelhecimento progressivo da população – que traz
impacto importante sobre os sistemas de saúde e de previdência – e as políticas de
emprego e qualificação para estes grupos populacionais. A mudança demográfica,
portanto, interfere na dinâmica da divisão social do trabalho, a qual será melhor ava-
liada no próximo subtópico.

127
7.4.2 Teorias do desenvolvimento econômico e a divisão social do traba-
lho

Os padrões demográficos condicionam, pela via do aumento ou redução da


população, as condições de oferta absoluta de mão-de-obra, isto é, a disponibili-
dade de pessoas aptas a desenvolver alguma atividade laboral. Para entender esta
dinâmica, é pertinente retomar os conceitos de População Economicamente Ativa
(PEA) e População em Idade Ativa (PIA).
A População Economicamente Ativa é formada pelo somatório de indivíduos
que trabalham, ou que têm um trabalho mas não o desempenharam por alguma
razão específica (férias, licenças remuneradas, folgas, banco de horas, etc), em um
período de tempo normalmente igual a trinta dias; estas são as pessoas ocupadas
(PO). Dentro da PEA, são também incluídas as pessoas que não tinham um trabalho,
mas que procuraram obter um trabalho, ou seja, são pessoas desocupadas (PD)
(SIMÕES; ALVES; SILVA, 2016).

Um fenômeno recente na economia brasileira é o aumento do número de desalentados,


isto é, das pessoas que tinham alguma atividade de trabalho ou o buscavam ativamente,
(ou seja, faziam parte da PEA), mas, pela impossibilidade de encontrar alguma ocupação,
ou pelos custos envolvidos (impressão de currículos, deslocamentos, etc) desistiram de pro-
curar e se retiraram do mercado de trabalho, integrando a PNEA.

Por sua vez, a população em Idade Ativa compreende, segundo o IBGE, o


número de indivíduos com mais de dez anos de idade. Por fim, todos os indivíduos
dentro da PIA que não fazem parte da PEA (ou seja, que não podem ser qualificadas
como empregadas ou desempregadas, como estudantes, presidiários, aposentados,
etc) são denominados como População não-economicamente ativa (PNEA). Por-
tanto, em uma formulação algébrica, tem-se a equação (2):

PIA = PEA + PNEA = (PO + PD) + PNEA (2)

A Figura 6 sintetiza estas variáveis e os seus significados:

128
Figura 19: Configurações de atividade e ocupação da população

Fonte: Elaborado pelo Autor (2021)

Este perfil da população determina, também, as condições da chamada divi-


são social do trabalho, que é um conceito que determina os modos pelos quais a
sociedade e seus agentes (pessoas, empresas e instituições) se articulam com o ob-
jetivo de elaborar diferentes projetos econômicos, sejam eles na forma de serviços ou
produtos, destinados ao mercado interno e/ou externo (SIMÕES; ALVES; SILVA, 2016)
Deste modo, esta divisão do trabalho condiciona padrões de especialização
dos trabalhadores e, consequentemente, da própria estrutura produtiva na econo-
mia, a partir do modo capitalista de produção, de modo que o trabalhador acaba
progressivamente focado apenas em tarefas específicas ao invés de mobilizar e arti-
cular as diferentes etapas da produção. Esta especialização, por um lado, gera maior
produtividade, embora não necessariamente tal situação se reverta em melhora de
salários e ascensão profissional (SILVA, 2003).
Há diferentes linhas teóricas que procuram explicar a divisão social do trabalho
na sociedade contemporânea. Nesta Unidade, vamos explorar o modelo conhecido
como ‘Dinâmica Centro-Periferia’, ligado aos pensadores da Comissão Econômica
para a América Latina (CEPAL).
Segundo os autores ligados ao ‘paradigma cepalino’, o processo de ocupa-
ção territorial e econômica das colônias latino-americanas havia se dado sob os mol-
des de uma ocupação exploratória, na qual a possibilidade de um desenvolvimento
econômico sob bases autônomas – ou seja, na qual a concentração de capital via-

129
bilizasse o crescimento da estrutura produtiva local, sobretudo, da indústria de trans-
formação – seria bastante remota (BARBOSA, 2004). Na verdade, a dinâmica de ex-
ploração das colônias não haveria auxiliado em nada para o seu desenvolvimento
econômico futuro.
As consequências naturais deste processo estariam materializadas pela de-
pendência econômica dos países da América Latina em relação a outras economias
de natureza ‘central’, desenvolvidas e com base industrial fortalecida, de modo que,
no paradigma cepalino, as nações latino-americanas haviam mantido o seu caráter
inerente ao período colonial, tornando-se produtoras e exportadoras de gêneros pri-
mários, de menor valor agregado, e recebendo, na forma de importações, produtos
manufaturados com inovações e tecnologias adicionadas (respeitando-se, claro, os
padrões de cada época) (BARBOSA, 2004).
Esta relação de desigualdade é um dos pilares da chamada ‘dinâmica cen-
tro-periferia’; consequentemente, esta desigualdade se refletiria também no mer-
cado de trabalho, de modo que os países periféricos tornam-se exportadores de
mão-de-obra com baixa qualificação e/ou especializam-se na produção de itens de
baixo valor agregado, empobrecendo, consequentemente, o mercado de trabalho
local.
Outro ponto fundamental da dinâmica centro-periferia diz respeito a uma in-
serção ‘subordinada’ das economias latino-americanas nos fluxos do comércio inter-
nacional. Os produtos gerados nestas economias, essencialmente primários (minerais,
e gêneros do agronegócio) são produtos padronizados, sem um grau de diferencia-
ção profundo entre si, e cujo preço não é determinado diretamente pelo produtor,
mas sim, estabelecido no mercado internacional, mediante as determinações de
oferta e demanda dos chamados ‘países centrais’ (FONSECA, 2012).
Deste modo, o paradigma cepalino enfatiza a ‘dinâmica centro-periferia’ a
partir da limitada inserção dos países da América Latina nos fluxos de capital que
condicionaram o desenvolvimento e a criação de malhas industriais fortes nos países
desenvolvidos (FURTADO, 1983).
A partir deste processo de desigualdade nos fluxos comerciais e seu impacto
na estrutura produtiva e social, é possível pontuar um segundo elemento na questão
do desenvolvimento da América Latina: a tendência latente destas economias a
apresentarem um processo de ‘deterioração de termos de troca’, ou de ‘termos de
intercâmbio’ (SILVA, 2003).

130
Os termos de troca (TT) consistem, basicamente, na relação entre o valor das
exportações (VE) e o valor das importações (VI) de um país, ou uma economia (em
suas diferentes escalas e expressões, de nacionais a locais).
Pode-se apresentar resumidamente o conceito segundo a equação (3):

VE
TT = (3)
VI

Pelas características da fórmula, é possível avaliar que os termos de troca ma-


terializam condições específicas que condicionam a mencionada inserção dos paí-
ses no comércio internacional. Neste sentido, observa-se que um eventual encareci-
mento das importações, ou a queda do preço das exportações, irá reduzir os termos
de troca de uma nação (MARÇAL, 2006).
Para os países da América Latina, segundo o modelo da CEPAL, haveria uma
tendência constante a uma baixa nos termos de troca destes países, ou seja, uma
tendência à sua deterioração: com efeito, os bens importados das economias cen-
trais apresentam valor agregado por suas características de manufatura, ou seja, seu
valor tem uma tendência de aumento, ao passo que as características intrínsecas
aos bens exportados (commodities baseadas em baixa ou nenhuma diferenciação,
preços determinados externamente e pouco conteúdo tecnológico agregado) fa-
zem com que o seu valor apresente uma tendência consequente de redução (SILVA,
2003).

131
FIXANDO O CONTEÚDO

1. Os temas relativos a Geografia Econômica devem ser estruturados a fim de permitir


uma compreensão ao estudante sob uma perspectiva holística, isto é, que integre
aspectos estruturais de diferentes áreas do conhecimento para a construção de
um saber pautado em questões contemporâneas.

Deste modo, considerando o conteúdo apresentado pelo texto-base, associe as


colunas a seguir:

1. Geografia Humana
2. Stakeholder
3. Geopolítica
4. Geografia Econômica

(X) Diz respeito à classificação de agentes institucionais que apresentem relações


de interesse em relação a um agente econômico.
(X) Menciona um conceito tradicional pelo qual se estruturam as relações da Ge-
ografia Econômica nos espaços educacionais.
(X) Conceitua uma dimensão ampla de relações sociais, políticas e econômicas
que estruturam as condições de vida da população.
(X) Diz respeito às relações de natureza econômica estruturadas a partir de um
determinado espaço.

Agora, assinale a opção que corresponde à sequência correta

a) 1 – 4 – 3 – 2.
b) 2 – 1 – 4 – 3.
c) 3 – 2 – 1 – 4.
d) 4 – 3 – 2 – 1.
e) 2 – 3 – 1 – 4.

2. A temática do desemprego é enfocada pela Geografia Econômica como um fa-

132
tor de discussão, de modo a permitir um conhecimento mais amplo sobre o im-
pacto desta variável nas condições específicas de vida e reprodução material de
uma população.

A partir do conteúdo apresentado, analise as seguintes afirmações:

I. As limitações na qualificação individual podem ser apontados como parte de


um conjunto de fatores circunstanciais.
II. Dentre o conjunto de elementos circunstanciais que são condicionantes do de-
semprego, deve-se mencionar a limitação das políticas públicas.
III. O processo econômico de empobrecimento da população (queda na renda)
é associado a uma dimensão estrutural.

É correto o que se afirma em

a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) I e III, apenas.
e) II e III, apenas.

3. A dinâmica histórica e a formação econômica do Brasil constituem-se em aspec-


tos fundamentais para a compreensão dos fatores de estudo da Geografia Eco-
nômica; desta forma, é importante refletir sobre os elementos primitivos da história
brasileira como parte de um processo de consolidação de padrões sociais.

Considerando a dinâmica proposta pelo texto-base, analise as seguintes afirma-


ções, julgando-as como (V) Verdadeiras ou (F) Falsas.

I. (X) A consolidação do Império Português se deu no século XIV, a partir da cria-


ção de possessões ultramarinas (em outros territórios à beira do mar).
II. (X) Um dos grandes objetivos do processo conhecido como ‘Grandes Navega-
ções’ era a abertura de novos mercados e rotas comerciais.
III. (X) As monarquias ibéricas lançaram-se inicialmente em um processo de disputa

133
pela conquista de novos territórios ultramarinos.

Agora, assinale a opção que corresponde à sequência correta

a) F – V – V.
b) V – F – V.
c) V – V – F.
d) F – V – F.
e) V – F – F.

4. A Geografia Econômica beneficia-se das simbioses com a História Econômica, vi-


abilizando discussões sobre a formação social e política da população brasileira
em uma perspectiva de longo prazo, consolidando elementos institucionais que
orientavam a realidade da população.

Neste sentido, de acordo com as colocações efetivadas, avalie as opções que se


seguem e assinale a correta.

a) Um dos enfoques do processo de exploração comercial das rotas marítimas nas ‘


‘Grandes Navegações’ era a promoção da livre concorrência nos mercados.
b) A produção para consumo interno era uma das motivações específicas para a
formação de colônias nas monarquias ibéricas.
c) O ‘Antigo Sistema Colonial’ é um elemento teórico que consolidava a formação
de zonas de comércio colonial onde o Estado tinha prejuízos decorrentes de prá-
ticas de investimento.
d) O elemento motivador da criação de redes comerciais e mercados locais era a
exploração monopolística de bens de oferta limitada no Ocidente.
e) A formação das primeiras povoações no território brasileiro se deu a partir do inte-
rior do território, a fim de consolidar a dominação regional das terras.

5. Uma discussão abrangente sobre a Geografia Econômica beneficia-se do pro-


cesso de formação das relações históricas, construindo narrativas sociais e políticas
que figuram contemporaneamente como aspectos sociais na população brasi-
leira.

134
A partir da contextualização efetivada pelo texto-base, analise as seguintes afir-
mações, julgando-as como (V) Verdadeiras ou (F) Falsas.

I. (X) O objetivo principal do modelo econômico relativo ao ‘Antigo Sistema Co-


lonial’ era a promoção de lucros nos territórios controlados pelas monarquias
ibéricas.
II. (X) A ocupação do território brasileiro ocorreu a partir das regiões litorâneas, a
fim de consolidar uma colonização progressiva das terras recém-descobertas.
III. (X) O eixo laboral do ‘Antigo Sistema Colonial’ era a promoção do trabalho livre
como fonte de maior lucratividade à elite local.

Agora, assinale a opção que corresponde à sequência correta.

a) V – V – F.
b) V – F – V.
c) V – V – F.
d) F – V – F.
e) F – F- V.

6. Um estudo abrangente sobre os temas do Desenvolvimento Econômico permite


observar os elementos políticos e institucionais que viabilizaram a construção histó-
rica da sociedade brasileira, demandando assim uma reflexão apropriada sobre
os modelos de exploração econômica do país em sua fase colonial.

A partir das dimensões propostas pelo texto-base, analise as seguintes afirmações:

I. A principal demanda para o trabalho escravo no século XVII era para o extrati-
vismo de recursos vegetais, notoriamente para o corte do pau-brasil.
II. No Antigo Sistema Colonial, o sistema de trabalho baseado na imigração euro-
peia foi incentivado como parte de uma política de ocupação do território.
III. O trabalho escravo era um elemento gerador de lucros extraordinários, criando
uma ‘justificação’ econômica para a sua exploração no período colonial.

135
É correto o que se afirma em

a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas.

7. Uma das características do chamado ‘Antigo Sistema Colonial’ era baseada na


criação de um modelo econômico que ficou conhecido como modelo de plan-
tation, associado intrinsecamente à exploração de propriedades agrárias no am-
biente colonial brasileiro.

Neste sentido, a partir da contextualização apresentada pelo texto, é correto afir-


mar que o modelo de plantation era baseado na seguinte premissa:

a) Desenvolvimento de lavouras em regime de multicultura.


b) Presença de minifúndios para a exploração com alta produtividade.
c) Regime de trabalho baseado em mão-de-obra de indígenas contratados.
d) Exploração de regimes de livre comércio e ampla concorrência em mercados eu-
ropeus.
e) Criação de lavouras focadas na exportação exclusiva para o mercado português.

8. Uma discussão sobre o Desenvolvimento Econômico no Brasil deve considerar,


como parte da Geografia Econômica, o processo conhecido como ‘ciclo minera-
dor’, a partir de suas características e aspectos mais essenciais, que consolidaram
um referencial econômico importante no período colonial.

De acordo com o conteúdo apresentado pelo texto-base, leia o trecho com la-
cunas que se segue:
O ciclo minerador está intrinsecamente associado às capitanias de __________ e
__________, durante o século __________. Este ciclo de extrativismo mineral, no en-
tanto, desenvolveu-se paralelamente à exploração de outras culturas, notoria-
mente a __________.

136
Agora, assinale a opção que contempla a sequência correta para o texto apre-
sentado.

a) Goiás – Minas Gerais – XVIII – cana-de-açúcar.


b) Itamaracá – Goiás – XIX – carne bovina.
c) Minas Gerais – São Vicente – XVII – cana-de-açúcar.
d) Pernambuco – Minas Gerais – XVIII – carne bovina.
e) São Vicente – Goiás – XIX – cana-de-açúcar.

137
GEOGRAFIA ECONÔMICA E
INDICADORES DE
DESENVOLVIMENTO

8.1 INTRODUÇÃO

Nesta Unidade, será feito um aprofundamento a respeito das relações entre a


Geografia Econômica e o Desenvolvimento Econômico, observando, em particular,
os elementos teóricos relacionados à compreensão da dinâmica demográfica e da
ocupação do território. Assim, teorias demográficas clássicas, como o malthusia-
nismo, serão entendidos a partir do pensamento econômico e social de seu tempo,
associando a realidade da produção econômica de Estados e nações e o seu cres-
cimento populacional.
Além disto, você também poderá entender um pouco mais a respeito dos mé-
todos contemporâneos de levantamento das características da população e ele-
mentos para a criação de censos e pesquisas amostrais, efetivadas pelo poder pú-
blico. Por fim, serão destacados alguns indicadores de maior relevância para o es-
tudo das características socioeconômicas de uma população, tais como o Índice de
Desenvolvimento Humano, o IDH.

8.2 TEORIAS DEMOGRÁFICAS EM PERSPECTIVA HISTÓRICA

Thomas Malthus (1766 – 1834) é considerado um estudioso da Demografia mo-


derna. Sua abordagem procura entender as correlações existentes entre oferta e de-
manda de alimentos na sociedade, em paralelo com o aumento constante da po-
pulação. Para isto, Malthus adapta os referenciais teóricos de outros economistas de
seu tempo, como Adam Smith (1723 – 1790) e David Ricardo (1772 – 1823), enfati-
zando um conceito particular a estas teorias: a Lei dos Rendimentos Decrescentes.
Esta lei determina, de um modo geral, que a aplicação constante de recursos
produtivos pode, com o tempo, derrubar a produtividade de uma certa mercadoria,
ou mesmo, no limite, inviabilizar a sua produção real (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ,
2015).
Tal situação, de acordo com Malthus, ocorreria em relação ao crescimento da
população perante o estoque constante de recursos da terra. Haveria, segundo esse

138
autor, uma tendência irreversível de choque entre estas duas situações, uma vez que
a população humana tende a crescer em escala geométrica, e a oferta de alimen-
tos, em escala aritmética, como você pode observar pela Figura 5, que se segue:

Figura 20: Teoria Malthusiana

Fonte: Adaptado de Kishtainy (2013)

Assim, se em uma geração essa relação é de 1:1, na segunda geração é de


2:2; na terceira, de 4:3. Na quarta, o descompasso é ainda maior, 8:4; na quinta, 16:5,
seguindo-se por 32:6, por 64:7, por 128:8, e assim por diante. Ocorreria, portanto, um
excesso importante de população frente ao crescimento do volume de recursos dis-
poníveis (KISHTAINY, 2013).
Vale destacar que, no momento em que a disponibilidade de recursos é infe-
rior às dimensões da população, estabelece-se o ponto da crise, no qual a escassez
de alimentos começaria a se manifestar, gerando problemas sociais diversos, como
carestia, alta de preços, violência, saques e outros desajustes na estrutura socioeco-
nômica de uma nação.

Figura 21: Desafios da superpopulação

139
Disponível em: https://bit.ly/3krcNdz. Acesso em: 11 fev. 2021

As consequências gerais do pensamento malthusiano giravam em torno de


uma relação importante entre crescimento populacional e empobrecimento, de
acordo com as características socioeconômicas do seu tempo, de acordo com o
que será apresentado na próxima subseção.

8.2.1 O liberalismo pessimista

A partir da publicação do Ensaio sobre o Princípio da População, Malthus de-


senvolveu uma corrente com expressões pessimistas no liberalismo, contrastando
com o otimismo de diversos economistas clássicos em relação à possibilidade de
crescimento econômico e neutralização de conflitos, de modo que a restrição cres-
cente de alimentos poderia trazer uma tendência natural ao conflito.
E, nesse ponto, esses economistas entravam no terreno da Psicologia, da Sa-
úde Pública e da sexualidade para entender os fluxos econômicos: a tendência de
crescimento populacional gera a carestia (falta de recursos alimentares) e aumenta
a mortalidade; ao mesmo tempo, o empobrecimento e a queda do padrão de vida
levariam a uma queda na taxa de natalidade, reequilibrando o sistema econômico
(KISHTAINY, 2013).

140
E é neste ponto que se estabelece um conceito importante, a armadilha mal-
thusiana: no momento em que o padrão de vida sobe, em função da exploração de
mais terras, aumento da riqueza, pilhagem de recursos ou outra situação qualquer, a
tendência de aumento da população volta a se manifestar. Assim, a perspectiva de
melhora no padrão de vida é sempre inviabilizada pelo aumento da população.
Dessa forma, de acordo com Malthus, qualquer medida de apoio à popula-
ção empobrecida seria benéfica para melhorar suas condições de vida, mas traria
como consequência inevitável o incentivo ao aumento da fecundidade (SOUZA;
PREVIDELLI, 2017). Observe o diagrama a seguir:

Figura 22: Armadilha Malthusiana

Fonte: Adaptado de Kishtainy (2013)

No entanto, a corrente malthusiana não considerava o fator da tecnologia


como forma de solucionar este descompasso entre recursos e população. De fato,
as inovações da Primeira e Segunda Revoluções Industriais acabaram beneficiando
diretamente a agricultura, de modo que a oferta de alimentos disparou na mesma
proporção do aumento populacional.

141
Desse modo, é tarefa importante entender um pouco mais a Revolução Indus-
trial e seus impactos sobre a estrutura social do Ocidente; faremos esta reflexão ao
longo desta disciplina.

8.3 RECENSEAMENTO POPULACIONAL E PESQUISAS AMOSTRAIS

As principais técnicas de levantamento de dados a respeito da população


brasileira, correlacionando dados a respeito do número de habitantes, padrões de
vida e modos de consumo, são obtidos por meio do recenseamento, ou Censo, que
é realizado a cada dez anos. No Censo, é possível entender mais claramente as for-
mas de reprodução social e material da população brasileira, desenvolvendo políti-
cas públicas consistentes em relação aos resultados obtidos neste levantamento.
Efetivado pelo IBGE, o Censo procura conhecer a realidade de todos os habi-
tantes, embora nem todos sejam submetidos à entrevista completa; assim, procura-
se observar, com o maior grau de precisão possível, as condições específicas de vida,
habitação, saúde e educação dos indivíduos em seus espaços de moradia.
O Censo já é realizado desde a época imperial, ainda que com muitas limita-
ções. Até a metade do século XX, as principais bases de dados sobre a população
eram arroladas nos Anuários Estatísticos do Brasil, que trazem informações sociais im-
portantes em perspectiva histórica.
Para exemplificar, observe, por meio da figura 10, a evolução do número de
pessoas que ingressaram no país por meio da imigração, em anos selecionados:

142
Figura 23: Movimento migracional (1845 – 1960), em milhares de pessoas

200

150

100

50

0
1845
1849
1853
1857
1861
1865
1869
1873
1877
1881
1885
1889
1893
1897
1901
1905
1909
1913
1917
1921
1925
1929
1933
1937
1941
1945
1949
1953
1957
Fonte: Anuário Estatístico do Brasil, vários anos.

É possível observar que as ondas migratórias começam a se consolidar a partir


da década de 1870, embasadas principalmente na migração de europeus (italianos
e alemães), como parte de uma política pública de incentivo à ocupação do terri-
tório (CAMPOS; MIRANDA, 2000).
Em períodos de crise econômica e/ou política nestes países, os fluxos migrató-
rios tornavam-se ainda mais significativos, como em 1891 – na esteira de uma grave
crise econômica na Europa que levou bancos fortes como o Baring Brothers à con-
cordata – e no início da década de 1910, antes da Primeira Guerra Mundial (com o
início da migração de japoneses a partir de 1908). E, ainda, cabe destacar uma onda
importante a partir de 1945, após o fim da Segunda Guerra Mundial e a destruição
das estruturas físicas e econômicas da Europa (EICHENGREEN, 2000).
O Censo permite avaliar, ainda, outras situações socioeconômicas relaciona-
das aos estados. Por exemplo, para entender a dinâmica do êxodo rural (a migração
de indivíduos das áreas rurais, aumentando a parcela da população urbana), pode-
se recorrer às informações estatísticas dos recenseamentos no país. Observe, por
meio Figura 11, as diferenças na composição da população de Minas Gerais em di-
ferentes anos:

143
Figura 24: População rural e urbana em Minas Gerais (1950 – 2010), em milhões de hab.

20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010

Rural Urbana Total

Fonte: Elaborado pelo Autor com Dados do IBGE (2010). Dispoível em: https://bit.ly/3kptQwG.
Acesso em: 11 fev. 2021.

A elaboração do Censo, embora fundamental para a compreensão da Geo-


grafia da População e o planejamento de políticas públicas, é uma tarefa dispendi-
osa e que envolve um grande número de profissionais, concursados e contratados;
em particular, são necessários milhares de agentes recenseadores que normalmente
devem participar de um processo seletivo.
Assim, para orientar em tempo real as políticas que demandam um conheci-
mento mais pontual a respeito dos atributos gerais da população brasileira, o IBGE
efetiva levantamentos de dados a partir de grupos menores da população, ou seja,
por meio de pesquisas amostrais, das quais pode-se destacar a PNAD (Pesquisa Na-
cional por Amostra de Domicílios). A PNAD é elaborada continuamente, por meio de
levantamentos em grupos menores; assim, por meio da Inferência Estatística, é possí-
vel estimar a situação geral da população em relação a diferentes variáveis.
Na Figura 12, você poderá observar um exemplo de aplicação da PNAD, apre-
sentando o número de pessoas desocupadas no estado de Minas Gerais, entre o
primeiro trimestre de 2012 e o primeiro trimestre de 2020:

144
Figura 25: População desocupada em Minas Gerais, em milhares de pessoas

1500

1300

1100

900

700

500

Fonte: Elaborado pelo Autor com Dados do IBGE (2020). Dispoível em: https://bit.ly/2ZW8D3Y.
Acesso em: 11 fev. 2021.

É pertinente observar que o número de pessoas desocupadas aumentou de


forma significativa a partir de 2016, no contexto da crise econômica associada à crise
política do impeachment da presidente Dilma Rousseff; esta crise prenunciou-se a
partir de 2015, quando foram divulgadas as falhas na contabilidade do governo de-
correntes do processo de reelaboração das contas públicas, conhecidas como ‘pe-
daladas fiscais’ (DWECK; TEIXEIRA, 2017). Apesar de ter havido uma queda importante
a partir de 2018, a tendência de alta se retomou no contexto da crise da pandemia
de Covid-19, já no primeiro trimestre de 2020.
Assim, você pode observar que estas séries de dados geram informações im-
portantes para a compreensão da geopolítica nacional e global. Da mesma forma,
é possível utilizar estas informações, convertendo-as em índices que permitem avaliar
padrões de desenvolvimento socioeconômico em diferentes aplicações, de acordo
com os elementos apresentados no tópico seguinte.

8.4 ÍNDICES DE ATIVIDADE ECONÔMICA E DESENVOLVIMENTO

Uma das formas de avaliação da atividade econômica de um país é o cálculo


do Produto Interno Bruto (PIB), a soma do valor de todos os bens e serviços produzidos
nesta economia ao longo de um determinado período de tempo. Trata-se de um
indicador consistente e bastante tradicional, que permite demonstrar a dinâmica de

145
crescimento do produto em uma perspectiva histórica.
No entanto, após a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) e, especialmente,
a partir da década de 1950, a teoria econômica passou a reconsiderar a importância
do cálculo do PIB para a mensuração do desenvolvimento econômico dos países.
Com efeito, alguns fatores como estoque de capital e criação de produto passaram
a ser entendidos como elementos geradores de riqueza, mas não necessariamente
de melhorias importantes na área social (SIEDENBERG, 2003).
A economia brasileira, por exemplo, experimentou um processo relevante de
crescimento econômico após a Segunda Guerra, e que se acelerou ainda mais du-
rante a etapa do ‘Milagre Econômico’, entre 1968 e 1973, no auge do regime militar
(HERMANN, 2011). A Figura 13 apresenta os dados relativos a este período:

Figura 26: Taxas de crescimento do PIB 1964 – 1983

15,0 14,0

13,0 11,9
11,3
10,4 10,3
11,0 9,8 9,5
9,2
8,2
9,0
6,7 6,8
7,0 5,2 4,9 5,0
4,2
5,0 3,4
2,4
3,0
0,8
1,0
-1,0 -2,9
-3,0
-4,3
-5,0

Fonte: Adaptado de Giambiagi et al., (2011)

No entanto, a despeito deste processo de crescimento da base econômica


do país, continuaram a persistir as questões e tensões sociais geradas pelas dispari-
dades de renda entre a população rica e pobre; tensões estas que fizeram do Brasil
um dos países com a maior desigualdade de renda ao longo do século XX
(GIAMBIAGI, 2011).
Deste modo, torna-se cabível ‘confiar’ apenas em índices econômicos e fór-
mulas de cálculo da atividade produtiva para avaliar aspectos qualitativos que este-
jam relacionados ao bem-estar da população, na perspectiva do seu desenvolvi-
mento? Evidentemente, a resposta a este questionamento é negativa; a estrutura

146
econômica é multifacetada, e possui diferentes expressões regionais, e mesmo locais,
que condicionam distintos comportamentos e padrões relativos à qualidade de vida,
bem como à Educação, à infraestrutura urbana e condições de moradia, à estrutura
de saúde pública e seus impactos na longevidade da população, entre outros
(SOUZA, 2012).
Assim sendo, os indicadores econômicos ‘puros’, como o cálculo do PIB, foram
aos poucos dando lugar a fórmulas mais apropriadas para a avaliação das condi-
ções de vida da população e seu desenvolvimento.
Ao se realizar uma discussão a respeito de indicadores econômicos e suas ca-
racterísticas, bem como sobre os indicadores sociais, chega-se a um momento de
síntese, através de um dos índices mais utilizados por organismos internacionais como
a ONU (Organização das Nações Unidas), o IDH – Índice de Desenvolvimento Hu-
mano. O IDH é um indicador confiável para entender o desenvolvimento social dos
países, avaliando aspectos relativos à estrutura macroeconômica, bem como aos
aspectos sociais (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO,
2014).
No tocante à dimensão social, utilizam-se dois indicadores. O primeiro destes
indicadores é a expectativa de vida ao nascer, que consiste no número esperado de
anos de vida para uma determinada quantidade de pessoas nascida em uma re-
gião, dentro de um mesmo ano. O segundo indicador correlaciona variáveis relativas
à Educação, através do exame da média de anos de estudo da população a ser
examinada. Por fim, a dimensão econômica é contemplada no cálculo do IDH atra-
vés da renda per capita.

A Renda per capita de uma economia diz respeito à média da remuneração dos recursos
usados na produção, por habitante. Embora sejam agregados macroeconômicos seme-
lhantes, há uma nuance que difere Renda e Produto: enquanto este corresponde ao valor
total dos bens e serviços gerados, a Renda mede o total de pagamentos por estes produ-
tos, na forma de alugueis, salários, juros e lucros, por exemplo (PAULINI; BRAGA, 2013).

Para o cálculo do IDH, é feita uma média geométrica destas três variáveis, de
modo que os valores finais são distribuídos em um intervalo entre zero e 1. À medida

147
que o IDH de uma nação se aproxima de 1, maior é o seu grau de desenvolvimento
humano, expresso pelas variáveis analisadas (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS
PARA O DESENVOLVIMENTO, 2014).

Figura 27: Composição do IDH

Fonte: Adptado de Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2014)

Observe, em uma síntese, que o IDH absorve variáveis econômicas e é um im-


portante indicador de desenvolvimento econômico, no entanto, não é um indicador
puro de desenvolvimento econômico, mas de desenvolvimento humano, ao agregar
variáveis sociais ao processo analítico.
A aplicação do IDH pode ser realizada não apenas no comparativo entre pa-
íses, mas também, para avaliar os estágios de desenvolvimento humano de estados
e municípios, além de outras entidades e expressões de grupos populacionais
(PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 2014). Em grandes
cidades, por exemplo, é possível avaliar o IDH bairro a bairro, entendendo cada um
destes logradouros como um espaço específico, com suas nuances e características.

Na cidade de São Paulo, bairros de alto padrão como Moema e Pinheiros, apresentam
IDH elevado, e regiões afastadas do centro, como os distritos de Marsilac e Parelheiros,
apresentam valores, em média, 37%% menores do que os bairros com maior IDH.

A partir do cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano, é possível realizar

148
algumas análises e estudos que permitam verificar conexões entre o crescimento da
economia e a melhora dos indicadores de desenvolvimento social, que incidam di-
retamente sobre a população.
Como já enfatizado, através do Produto Interno Bruto (PIB) é possível mensurar
a riqueza que é gerada por uma nação a partir de sua estrutura produtiva. Este so-
matório da riqueza produzida, no entanto, correlaciona-se adequadamente com a
avaliação do bem-estar da sociedade? Através da Tabela 2, que se segue, você
pode comparar os valores referentes ao IDH, ao PIB e à Renda per capita de diferen-
tes nações, para o ano de 2018:

Tabela 2: Comparativo do IDH (vários países)


Posição IDH País IDH PIB Bilhões Renda Per Capita
1 Noruega 0,953 398,83 68.012
2 Suíça 0,944 678,89 57.625
3 Austrália 0,939 1.323,42 43.560
4 Irlanda 0,938 333,73 53.754
5 Alemanha 0,936 3.677,44 46.136
6 Islândia 0,935 23,91 45.810
7 Hong Kong 0,933 341,45 58.420
7 Suécia 0,933 538,04 47.766
9 Singapura 0,932 323,91 82.503
10 Holanda 0,931 826,20 47.900
11 Dinamarca 0,929 324,87 47.918
12 Canadá 0,926 1.653,04 43.433
13 Estados Unidos 0,924 19.390,60 54.941
14 Reino Unido 0,922 2.622,43 39.116
44 Chile 0,843 277,08 21.910
47 Argentina 0,825 637,43 18.461
63 Costa Rica 0,794 57,29 14.636
77 Bósnia-Herzegovina 0,768 18,05 11.716
78 Venezuela (est.) 0,761 - 10.672
79 BRASIL 0,759 2.055,41 13.755
Fonte: Adaptado do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (2018)

As economias que apresentam o maior Produto Interno Bruto apresentam índi-


ces de Desenvolvimento Humano bastante avançados, porém, não necessaria-
mente correspondem aos maiores índices. Observe, por exemplo, os Estados Unidos,
que embora tenham o maior PIB, estavam em 13º lugar no ranking do IDH no ano de
2017; vale dizer, em 2014 este país estava em oitavo no mesmo ranking, o que de-
monstra uma perda importante de posições e uma desestruturação dos aparatos de
proteção social. O Brasil encontra-se na 79ª posição, atrás de países como Costa

149
Rica, da Argentina e do Chile.

Vale destacar que a Argentina encontra-se em um grave contexto de crise econômica


ao longo dos governos de Maurício Macri e seu sucessor, Alberto Fernández. Mesmo assim,
seu IDH é superior ao do Brasil, que por sinal, encontrava-se, neste ano, atrás inclusive da
Bósnia-Herzegovina, que foi praticamente destruída em sua infraestrutura durante a guerra
da Iugoslávia, nas décadas de 1980 e 1990 (ARRUDA, 2003).

Os investimentos nestes aparatos costumam redundar em uma escalada efe-


tiva do IDH em uma perspectiva de médio e longo prazos: as nações que apresentam
os maiores resultados no IDH aplicam maciçamente, nas últimas décadas, capitais
arrecadados em impostos como o Imposto de Renda e o imposto sobre heranças,
em instituições de proteção social, tais como a Noruega, a Suíça, a Suécia e a Dina-
marca, por exemplo (ESPING-ANDERSEN, 1991).

Consulte o texto de Angelo Guimarães Simão et al.,, denominado “Indicadores, políticas


públicas e sustentabilidade”, que faz parte do livro organizado por Christian Luiz da Silva e
José Edmilson de Souza-Lima denominado “Políticas Públicas e indicadores para o Desen-
volvimento Sustentável” (2010). Neste texto, os autores fazem uma descrição mais objetiva
do Índice de Desenvolvimento Humano, enfocando seus usos para a avaliação do desen-
volvimento de estados e municípios. Disponível em: https://bit.ly/2ZVUG64. Acesso em: 11.
fev. 2021.

150
FIXANDO O CONTEÚDO

1. A teoria demográfica proposta por Thomas Malthus (1766 – 1834) constituiu-se


como um dos referenciais importantes no âmbito do Desenvolvimento Econômico
e da Geografia Econômica, devendo assim ser analisada a partir de seus compo-
nentes estruturais.

A partir do conteúdo destacado pelo texto-base, avalie as opções que se seguem


e assinale a correta.

a) A abordagem de Malthus definia que a economia tinha uma tendência crescente


de oferta de recursos para consumo da população, em escala geométrica.
b) Malthus contestava a Lei dos Rendimentos Decrescentes, que afirmava que a apli-
cação de recursos produtivos aumenta a produtividade de uma mercadoria, re-
duzindo seu preço.
c) De acordo com Malthus, havia um descompasso importante, e negativo, entre o
crescimento da população e a disponibilidade de recursos naturais para consumo
da população.
d) O ‘ponto da crise’, definido na teoria de Malthus, definia uma situação na qual a
disponibilidade de alimentos chega a um nível igual a zero, em decorrência do
esgotamento de recursos naturais.
e) O modelo de Malthus define a ocorrência de problemas sociais graves em decor-
rência do crescimento da disponibilidade de alimentos para além do ‘ponto da
crise’.

2. Como decorrência natural da teoria de Thomas Malthus, encontra-se o conceito


de ‘armadilha malthusiana’, o qual deve ser entendido a partir da relação latente
entre o crescimento populacional e o desenvolvimento da oferta de recursos para
consumo e reprodução material da sociedade.

Considerando o conteúdo apresentado pelo texto, analise as seguintes afirmações:

I. A armadilha malthusiana define a existência de um aumento populacional a


cada momento em que ocorre uma melhoria efetiva no padrão de vida da

151
sociedade.
II. Este conceito destaca que o apoio à população empobrecida e carente de
recursos deveria ser evitada, a fim de gerar um aumento na taxa de fecundi-
dade média neste estrato social.
III. O conceito de ‘armadilha malthusiana’ pretende enfatizar que o aumento da
população inviabiliza os resultados positivos que possam ser gerados pela explo-
ração de recursos naturais.

É correto o que se afirma em

a) II, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) I e III, apenas.
e) II e III, apenas.

3. Na discussão recorrente entre padrões de desenvolvimento econômico, é conve-


niente ressaltar os desdobramentos da teoria de Malthus para a composição da
relação de forças produtivas e criação de recursos à disposição da sociedade.

Neste sentido, a partir das proposições do texto-base, analise as seguintes afirma-


ções, julgando-as como (V) Verdadeiras ou (F) Falsas.

I. (X) A proposição de Malthus destacava a tecnologia como chave interpreta-


tiva para a criação do ‘ponto da crise’, onde as pessoas deixariam de guerrear
por recursos.
II. (X) O modelo malthusiano subestimou a importância do aumento da produtivi-
dade da terra como solução para o descompasso entre crescimento populaci-
onal e de recursos.
III. (X) Malthus defendeu as Revoluções Industriais como elementos de superação
da ‘armadilha malthusiana’ e do ‘ponto da crise’, por meio da criação de solu-
ções produtivas.
Agora, assinale a opção que corresponde à sequência correta.

152
a) F – V – F.
b) F – V – V.
c) F – F – V.
d) V – F – V.
e) V – V – F.

4. O processo de recenseamento populacional destina-se, no âmbito da Geografia


Econômica, a compreender os processos de reprodução material e social de um
determinado grupo, a partir da extração de dados e informações concernentes a
estes grupos.

Neste sentido, de acordo com o seu conhecimento sobre o tema proposto, é cor-
reto mencionar que:

a) O Censo brasileiro aplica entrevistas e questionários completos a todos os indiví-


duos nascidos no território.
b) A proposta do Censo reside em criar um protocolo de pesquisa que elabora en-
trevistas mais aprofundadas apenas em um grupo amostral.
c) Os aspectos relativos à Educação e Saúde estão ausentes do Censo Demográfico,
pois são coletados por meio de amostragens específicas.
d) A criação do Censo Demográfico remonta ao início do período Republicano, no
qual o governo brasileiro desejava estimar as condições de vida na população.
e) Por meio de procedimentos amostrais como a criação dos Anuários Estatísticos, foi
possível perceber a tendência de declínio no ingresso de imigrantes ao final do
século XIX.

5. O contexto da migração internacional para o Brasil consolidou padrões específi-


cos de ocupação do território e tendências de consumo e reprodução material
que podem ser visualizadas nos dias atuais, como parte de um processo de fusão
cultural.

Assim sendo, de acordo com o tema apontado pelo texto-base, avalie as opções
que se seguem e assinale a correta.

153
a) A fase histórica de maior ingresso de imigrantes manifestou-se após a 2ª Guerra
Mundial.
b) Houve um fluxo migratório progressivo que se acentuou ao final do século XIX.
c) A migração acelerou-se apenas a partir da década de 1920, após a Primeira
Guerra Mundial.
d) O pico dos fluxos migratórios ocorreu na década de 1870, após os distúrbios políti-
cos na Europa.
e) o período histórico de maior fluxo de migrantes ocorreu após a crise econômica
de 1929.

6. A construção de um conhecimento sobre a dinâmica populacional deve contem-


plar os aspectos regionais e locais na formação e desenvolvimento de grupos so-
ciais em diferentes partes do Brasil, em uma perspectiva histórica.

Assim sendo, mediante a dinâmica apontada pelo texto-base, analise as seguintes


afirmações:

I. Houve um aumento progressivo da população de Minas Gerais ao longo do


século XIX, com uma queda no valor absoluto da população rural.
II. A apuração da PNAD, que ocorre a cada dez anos, permite perceber a inver-
são da participação predominante da população, que tornou-se mais urbana
em Minas Gerais no século XX.
III. Pode-se verificar que, no estado de Minas Gerais, houve uma manutenção da
parcela da população rural em relação à população total.

É correto o que se afirma em

a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas.

7. Os indicadores de atividade econômica e desenvolvimento permitem observar a

154
dinâmica populacional e as consequências econômicas e sociais de uma popu-
lação. Portanto, é necessário compreender os aspectos subjacentes e relaciona-
dos à formação destes indicadores.

Desta forma, mediante as dinâmicas apontadas pelo texto, analise as seguintes


afirmações, julgando-as como (V) Verdadeiras ou (F) Falsas.

I. (X) A formação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é formado a partir


da combinação de índices de saúde, segurança pública e educação.
II. (X) Para a composição do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) o indica-
dor ligado à saúde é dado pela expectativa de vida ao nascer.
III. (X) A evolução positiva do PIB per capita impacta em um aumento proporcio-
nal no IDH, como resultado de um aquecimento da atividade econômica.

Agora, assinale a opção que corresponde à sequência correta.

a) F – F – V.
b) F – V – V.
c) V – V – F.
d) V – F – F.
e) F – V – V.

8. O estudo das relações de Desenvolvimento Econômico depende, intrinseca-


mente, da avaliação de indicadores como o crescimento do Produto Interno Bruto
(PIB), a fim de observar os efeitos decorrentes de períodos de aceleração e crise
econômica e os seus impactos sociais.

Deste modo, considerando o conteúdo apresentado e a taxa de crescimento do


PIB na economia brasileira, é possível verificar que o período correspondente ao
‘Milagre Econômico’ terá ocorrido no intervalo entre os anos

a) 1964 a 1967.
b) 1968 a 1973.

155
c) 1974 a 1977.
d) 1978 a 1980.
e) 1981 a 1983.

156
GEOGRAFIA ECONÔMICA E
GLOBALIZAÇÃO

9.1 INTRODUÇÃO

Esta unidade irá enfatizar alguns aspectos relacionados à dispersão das ativi-
dades econômicas em relação à realidade territorial do país. Efetivamente, você po-
derá compreender a realidade da industrialização brasileira em perspectiva histórica,
efetuando, ainda, uma correlação com os padrões de Desenvolvimento Econômico
e configuração da realidade geopolítica a partir das atividades econômicas, no âm-
bito do capitalismo contemporâneo.
A palavra-chave para esta unidade, portanto, é globalização: sob esta ex-
pressão, articulam-se os padrões de crescimento econômico e seus efeitos sociais,
em termos de renda, emprego e padrões de vida. Serão destacados, ainda, outros
conceitos como o da guerra fiscal no país, e seus efeitos sobre a economia de cida-
des e estados.

9.2 A EVOLUÇÃO DA ATIVIDADE INDUSTRIAL E A ESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO

Para entender a importância da indústria no modo de produção capitalista, é


necessário efetivar uma recapitulação histórica. Com a Revolução Industrial, as for-
mas de produção de bens foram drasticamente alteradas, abrindo espaço para a
especialização produtiva e a perda de domínio do processo criador pelos operários,
estabelecendo novas relações econômicas.
Embora tradicionalmente se use o conceito ‘Revolução Industrial’, este pro-
cesso de reorganização da atividade produtiva se estabeleceu mais como uma
‘evolução’, pois diferentes tecnologias e processos sociais foram sendo combinados
para gerar novas soluções de aumento na produtividade dos trabalhadores e au-
mento nos fluxos de oferta de bens (ARRUDA, 2003).
Dentre estes processos, surgidos principalmente na Inglaterra a partir dos sécu-
los XVII – XVIII, é importante destacar:

157
 O início do aproveitamento da energia a vapor, com a criação de sistemas hi-
dráulicos e caldeiras para a alimentação de máquinas e navios;
 O desenvolvimento de maquinários apropriados para a indústria têxtil, substi-
tuindo o tear manual e aumentando a oferta de produtos;
 A disponibilidade de mão-de-obra barata, que incluía mulheres e crianças em
jornadas exaustivas, de até dezesseis horas diárias;
 A expansão marítima da Inglaterra, abrindo novos mercados consumidores em
outros continentes;
 O processo de reorganização fundiária na Inglaterra, que expulsou os pequenos
camponeses de suas terras, cercando-as (daí o termo cercamentos) para a cri-
ação de grandes fazendas de criação de ovinos para o cultivo da lã;
 O desenvolvimento de lavouras de algodão em territórios coloniais, especial-
mente na América.

Na Figura 9 você pode observar uma síntese destas variáveis:

Figura 28: Elementos da primeira Revolução Industrial

Fonte: Adaptado de Arruda (2003)

158
Assim, em uma perspectiva histórica, a indústria moderna surgiu na Inglaterra,
a qual se tornou a ‘oficina do mundo’, exportando produtos manufaturados para
todas as suas possessões e nações parceiras. Neste contexto, cabe lembrar a impor-
tância da relação comercial entre ingleses e portugueses, consolidada pelo Tratado
de Methuen, em 1703, no qual a Inglaterra teria exclusividade para fornecer tecidos
aos portugueses, e em troca, estes teriam condições alfandegárias preferenciais para
os vinhos a serem exportados para os ingleses (CAMPOS; MIRANDA, 2000).

Figura 29: Antiga caldeira a vapor

Disponível em: https://bit.ly/2ZTpqET.


Acesso em: 22 fev. 2021

A segunda fase da Revolução Industrial foi desencadeada a partir da segunda


metade do século XIX. Neste momento, outras nações se integraram ao processo de
desenvolvimento de plantas industriais, aproveitando inovações importantes que sur-
giram naquele período, como por exemplo, a pesquisa no setor de petroquímica, as
inovações na malha de transportes (com o surgimento das ferrovias), o desenvolvi-
mento da indústria de fertilizantes e da siderurgia.
Desta forma, países como Estados Unidos, Alemanha, França e Rússia integra-
ram-se mais efetivamente nos fluxos do comércio internacional, sobretudo, por meio

159
da criação de bens industrializados de alta demanda, como o aço e seus produtos
derivados (locomotivas, trilhos, vergalhões para construção civil), cabos de energia
e telégrafo, entre outros (ARRUDA, 2003).
Na terceira fase de transformações da atividade industrial, observa-se um in-
cremento importante da produtividade a partir da adoção de técnicas produtivas
de redução de estoques (just-in-time) e administração do tempo e fluxos produtivos
no interior das fábricas (como o método kanban). A tecnologia de comunicações
favoreceu, ainda, a internacionalização da produção, com a difusão das indústrias
e sua consequente migração para mercados consumidores mais ativos e locais de
mão-de-obra a preços competitivos, especialmente na Ásia (BORGHI, 2011).
Por fim, a ‘Indústria 4.0’ é marcada pela automação da produção, no âmbito
da ‘internet das coisas’, integrando produção e consumo em mercados globaliza-
dos. Neste contexto, a criação de produtos é baseada intrinsecamente em ativos
com tecnologia embarcada, oferecendo soluções específicas a cada nicho de mer-
cado e perfil de consumidor (renda, preferências de produto e marca, etc). Esta re-
lação de globalização será melhor discutida no próximo tópico.

9.3 O PROCESSO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA E A GLOBALIZAÇÃO ECONÔ-


MICA

A evolução da economia e dos padrões tecnológicos viabilizou novos meios


de integração entre empresas e países, na perspectiva da globalização. Este pro-
cesso deve ser analisado a partir de uma concepção de política econômica neoli-
beral, na qual se retomam alguns pressupostos da economia clássica, como o laissez-
faire (a defesa do livre mercado) e o afastamento do Estado da esfera de decisões
e ações econômicas, por meio de um desmonte progressivo de sua estrutura (em
especial, a partir das privatizações de bens públicos).
Assim sendo, a política neoliberal precisa ser entendida a partir de diferentes
elementos, de natureza produtiva e financeira, com profundas implicações sociais,
em termos de desemprego e concentração de renda, por exemplo. Estas conse-
quências ficaram nitidamente evidentes no contexto da crise financeira de 2008, nos
Estados Unidos.

160
9.3.1 Os efeitos da globalização

O conceito de globalização começou a ser difundido a partir da década de


1980, como parte de um processo de integração de mercados e padrões de con-
sumo, e que está ligado a três situações importantes que ocorreram naquele período
(HOBSBAWM, 1995):

 A consolidação do modelo econômico neoliberal, a partir dos Estados Unidos


(na administração Ronald Reagan) e Inglaterra (Margaret Thatcher), e de países
periféricos como o Chile (sob a ditadura de Augusto Pinochet);
 A derrocada prática do modelo nacionalista (de ação estatal como indutora
de investimento, em moldes keynesianos) nos países da América Latina, esma-
gados por uma dívida externa crescente;
 O fim da União Soviética (1991) e a integração dos países que a compunham
aos fluxos internacionais de comércio e recursos financeiros.

Observe, por meio do mapa conceitual a seguir, os aspectos gerais da globa-


lização em suas dimensões políticas e econômicas:

Figura 30: Mapa conceitual relativo ao processo de globalização

Fonte: Adaptado de Hobsbawm (1995)

A globalização pode ser entendida sob diferentes vias, entre as quais é neces-
sário destacar (BORGHI, 2011):

161
Globalização produtiva: está associada à difusão de métodos de criação e
elaboração de bens, por meio da mecanização da produção e formação de com-
plexos industriais em países emergentes, de modo a aproveitar vantagens competiti-
vas como a presença de recursos naturais e matérias-primas, impostos reduzidos e
mão de obra barata.

Globalização financeira: remete à unificação dos mercados financeiros em


escala global, gerando fluxos de capital entre economias com o intuito de gerar lucro
a investidores e grupos internacionais, aproveitando diferenciais de juros – isto é, paí-
ses que mantêm taxas de juro mais altas acabam atraindo capitais de investidores
interessados na especulação e na geração de ganhos extraordinários nestas regiões.

Difusão de padrões de consumo: a combinação entre globalização produtiva,


integração de mercados e difusão de tecnologia de comunicações permitiu que as
pessoas alterassem seus padrões de consumo, adaptando-os para o modelo dos pa-
íses desenvolvidos, especialmente em relação ao uso de bens de consumo duráveis
com valor agregado (como smartphones, computadores, televisores etc.). Mas não
apenas, os bens não-duráveis (alimentos, roupas etc.) também são parte de um ar-
senal cuja aquisição passa a ser prioritária aos indivíduos, em particular, de renda
média e baixa, de modo a integrá-los no processo cultural e no mercado consumidor.

162
Uma das consequências diretas do processo globalizador é a disseminação da desigual-
dade econômica, isto é, a diferença de renda entre famílias e grupos sociais, bem como
a diferença entra a renda percebida pelos trabalhadores, na forma de salários, e a riqueza
gerada no país em um determinado momento no tempo. O conceito de Desigualdade
Econômica é trabalhado pelo Prof. Dr. Cassiano J.B.M. Trovão no vídeo “Verbete de ‘De-
sigualdade Econômica’”. Acesse: https://bit.ly/3pZGhQS. (Acesso em 11. Fev. 2021).

Para ajudar você a observar este processo de migração de indústrias e reela-


boração dos padrões de consumo de bens industrializados, observe as informações
da Figura 18:

Figura 31: Participação (em % do total) de exportações de bens industrializados

18,00
16,00
14,00
12,00
10,00
8,00
6,00
4,00
2,00
0,00

Brasil China Estados Unidos

Fonte: Elaborada pelo autor (2021), baseado no dados da Confederação Nacional da In-
dústrias. Disponível em: https://bit.ly/3aXA4AX. Acesso em: 21 fev. 2021.

Por meio da Figura 18, é possível perceber a escalada maciça da China


como uma ‘oficina global’ a partir do ano 2000; sua participação na produção de
produtos industrializados superou os Estados Unidos e se consolidou em uma liderança
significativa em relação a outros países.
O Brasil manteve uma participação quase estável neste quadro, ainda que os
fluxos comerciais tenham passado por incrementos importantes desde a década de
1990: na verdade, as exportações brasileiras saíram de uma posição equivalente a

163
1,02% dos fluxos globais em 1992, para aproximadamente 0,88% em 2019, em uma
trajetória de relativa queda no cenário externo.

A China consolidou uma posição de liderança na produção de bens, e a qualidade de


seus produtos vem sendo melhorada à medida que empresas de alta tecnologia são cri-
adas ou se instalam neste país. Em sua opinião, este processo de liderança chinesa é irre-
versível? A pandemia do coronavírus, em 2020, terá contribuído para uma revisão desta
possível dependência dos produtos fabricados pela China?

Como podemos perceber, o processo de integração de mercados é uma das


bases fundamentais do capitalismo contemporâneo. Desta forma, é importante ana-
lisar algumas estatísticas e séries de dados para compreender de que modo este pro-
cesso de articulação de forças produtivas e financeiras impacta na sua vida e nas
suas formas de reprodução material e social.

9.4 A INDÚSTRIA MODERNA E SUA DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA

Tendo observado as principais características da industrialização e o processo


de difusão de plantas industriais ao redor do mundo, é importante efetivar uma ‘regi-
onalização’ deste processo de análise, entendendo as contribuições do estado de
Minas Gerais e da Região Sudeste em relação a diferentes variáveis relacionadas à
indústria brasileira. O objetivo desta análise é o de demonstrar os efeitos objetivos do
processo de globalização produtiva para a sua vida pessoal e profissional, a partir do
seu ambiente de atuação.
Para consolidar estas informações, observe a Tabela 3:

Tabela 3: Informações sobre a indústria em áreas selecionadas


Minas Gerais Região Sudeste Brasil
População (milhares hab.) 21.292,7 89.012,2 211.755,7
Trabalhadores da indústria 1.141.944 4.819.786 9.723.509
Exportações de industrializados (US$ milhões) 10.538,2 63.703,8 105.354,6
Salário médio na indústria (R$) 2.421,9 3.242,8 2.792,1
Trab. Indust. com ao menos o Ensino Médio
62,7 69,5 65,7
(% total)
Arrecadação do IPI (R$ milhões) 7.009,4 36.426,3 56.782,3
Fonte: Elaborada pelo autor (2021), baseado no dados da Confederação Nacional da In-
dústrias. Disponível em: https://bit.ly/3aXA4AX. Acesso em: 21 fev. 2021.

164
Observe que os trabalhadores da indústria, em 2019, representavam aproxi-
madamente 4,6% do total da população brasileira. Deste grupo de indivíduos, que
formam a força de trabalho industrial no país, 11,7% estão concentrados em Minas
Gerais, sendo que a Região Sudeste concentra 49,6% dos trabalhadores da indústria.
O salário médio dos industriários mineiros é inferior à média brasileira, que por
sua vez é inferior à média da Região Sudeste. Em parte, isso pode ser explicado pela
menor escolarização da força de trabalho em Minas Gerais. Pode-se, também des-
tacar que o estado gera 10,9% dos resultados econômicos da indústria (PIB Industrial),
e 12,3% da arrecadação nacional do Imposto sobre Produtos Industrializados, o IPI.
Assim, por meio de suas indústrias, das quais pode-se destacar a área siderúrgica, de
cimento e de extração mineral, Minas Gerais consolida uma posição-chave no ce-
nário da indústria brasileira.

9.4.1 A guerra fiscal

Os processos de regionalização das indústrias têm por objetivo não apenas


atender os mercados consumidores de modo a reduzir custos, mas ainda, maximizar
lucros por meio de vantagens competitivas em determinadas regiões, aproveitando
os potenciais econômicos, políticos, físicos e estruturais destas áreas para gerar mai-
ores receitas e resultados às empresas.
Este processo de reconcentração espacial da indústria desencadeou-se,
como vimos, a partir da segunda metade do século XX; no Brasil, a implementação
de parques industriais modernos remonta à década de 1990, no contexto da aber-
tura econômica e comercial do governo Collor, destacada anteriormente. Neste pe-
ríodo, diversas multinacionais instalaram-se em território brasileiro.
No entanto, para atrair estrategicamente estas empresas – e suas receitas e
empregos qualificados, bem como a mão-de-obra indireta e a circulação de recur-
sos gerada pelo pagamento de salários – muitas prefeituras e governos passaram a
oferecer vantagens e contrapartidas importantes para favorecer a instalação das
plantas industriais (NASCIMENTO, 2008).
Dentre estas vantagens, pode-se mencionar a renúncia de impostos munici-
pais, a realização de investimentos em infraestrutura (canalização, eletricidade, as-
falto, criação de linhas de transporte, etc), a oferta de cursos de qualificação profis-
sional e práticas de atração de mão-de-obra, a criação de escritórios de apoio à

165
exportação, a atração de empresas de suporte (prestando serviços e comerciali-
zando insumos para a empresa principal), entre outras possibilidades.
Quando estas práticas tornam-se disseminadas a ponto de desencadear um
processo de concorrência direta entre organismos do poder público (especialmente,
entre prefeituras), observa-se um movimento conhecido como guerra fiscal, na qual
estes entes públicos disputam, a possibilidade de implementação de empresas ofe-
recendo o maior número de vantagens possíveis, na falta de uma regulamentação
mais ativa do Estado para incentivar o desenvolvimento de determinadas regiões,
por exemplo, através da criação de pólos industriais e zonas francas de comércio,
como a de Manaus (AM) (ORAIR; GOBETTI, 2019).

Para conhecer melhor o contexto da guerra fiscal e os seus elementos determinantes, não
deixe de consultar o terceiro capítulo (Geografia da Indústria e Globalização) do livro de
Washington Ramos dos Santos Junior (2016) , “Geografia II – Geografa Econômica”. Neste
texto, o autor explora o processo de atração de indústrias por estados e municípios, desa-
gregando os pactos regionais e dando início a conflitos fiscais entre as instituições políticas
no país. Acesse: https://bit.ly/2P7hbTu. (Acesso em: 11 fev. 2021)

166
FIXANDO O CONTEÚDO

1. Os fundamentos da Geografia Econômica consolidam-se, em parte, sobre os as-


pectos da formação econômica e produtiva dos países e sociedades. Assim
sendo, torna-se fundamental o estudo dos processos de globalização.

Deste modo, considerando o conteúdo apresentado pelo texto-base, associe as


colunas a seguir:

1. Globalização produtiva
2. Guerra Fiscal
3. Globalização financeira
4. Revolução Industrial

(X) Marca um processo de disputa política e econômica entre governos pela im-
plementação de empresas.
(X) Diz respeito à difusão de investimentos em escala mundial, para obter lucrativi-
dade acentuada por meio de oscilações positivas de juros.
(X) É um período histórico no qual são desenvolvidas diferentes soluções e inova-
ções destinadas a aumentar a produtividade dos agentes econômicos;
(X) Diz respeito à unificação de mercados e indústrias em diferentes locais, com o
objetivo de aproveitar vantagens locais ligadas à mão de obra e à produção.

Agora, assinale a opção que corresponde à sequência correta.

a) 1 – 3 – 2 – 4.
b) 3 – 4 – 2 – 1.
c) 2 – 3 – 4 – 1.
d) 4 – 1 – 3 – 2.
e) 4 – 2 – 1 – 3;

2. A atividade econômica está estruturalmente ligada à dinâmica populacional e à


distribuição do espaço, de modo que os processos econômicos que desencade-
aram eventos importantes, como a Revolução Industrial, devem ser observados

167
em perspectiva histórica.

A partir do conteúdo apresentado, analise as seguintes afirmações:

I. A primeira Revolução Industrial marca o uso do carvão mineral como elemento


energético-chave para a expansão das plantas industriais.
II. O eixo de desenvolvimento da primeira Revolução Industrial foi a indústria têxtil,
que se beneficiou das inovações tecnológicas surgidas naquele momento his-
tórico.
III. Um dos aspectos positivos da primeira revolução Industrial foi a abolição do tra-
balho de crianças nas áreas produtivas, tal como ocorria no período feudal.

É correto o que se afirma em

a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas.

3. Ao estudar diferentes processos econômicos, tais como as Revoluções Industriais,


o pesquisador em Geografia Econômica pode compreender os processos de de-
senvolvimento sob uma abordagem histórica.

Considerando a dinâmica proposta pelo texto-base, analise as seguintes afirma-


ções, julgando-as como (V) Verdadeiras ou (F) Falsas.

I. (X) A Inglaterra foi a nação que mais se beneficiou dos resultados da Primeira
Revolução Industrial, abrindo e desenvolvendo mercados para a exportação
de produtos.
II. (X) No contexto da segunda Revolução Industrial, os cercamentos foram funda-
mentais para a criação de zonas de extração de minério.
III. (X) O aumento na oferta de matéria-prima (algodão), a partir das colônias in-
glesas na América, favoreceu diretamente a primeira Revolução Industrial.

168
Agora, assinale a opção que corresponde à sequência correta.

a) V – V – F.
b) V – F – F.
c) V – F – V.
d) F – V – F.
e) F – V – V.

4. As expressões do desenvolvimento industrial devem ser captadas pelo pesquisador


em Geografia Econômica como elementos de desenvolvimento e criação de no-
vos mercados produtores e consumidores, integrando economias a partir de ele-
mentos sociais e culturais.

Neste sentido, de acordo com as colocações efetivadas, avalie as opções que se


seguem e assinale a correta.

a) A ‘Indústria 4.0’ está baseada na globalização produtiva e financeira, consoli-


dando a integração de tecnologias de automação e redes de dados.
b) O método just in time é recorrente na Segunda Revolução Industrial, desencade-
ada a partir do século XX na Europa.
c) Na ‘Indústria 4.0’ observa-se o fechamento dos mercados consumidores, com a
independência produtiva atingida pelos países pobres.
d) A terceira Revolução Industrial é pautada pelo desenvolvimento da indústria pe-
troquímica e pelo desenvolvimento das ferrovias como meio de escoamento de
mercadorias.
e) A terceira Revolução Industrial é pautada pela ‘internet das coisas’, consolidando
sistemas produtivos baseados na automação e na comunicação entre agentes.

5. A dinâmica da globalização produtiva deve ser compreendida a partir de seus


aspectos econômicos e sociais em perspectiva histórica, a fim de consolidar uma
compreensão a respeito dos efeitos geopolíticos inerentes à aceleração da pro-
dução.

169
A partir da contextualização efetivada pelo texto-base, analise as seguintes afir-
mações, julgando-as como (V) Verdadeiras ou (F) Falsas.

I. (X) Este movimento refere-se ao processo de migração de empresas para os


chamados ‘mercados emergentes’.
II. (X) Na globalização produtiva, há um interesse das empresas em buscar merca-
dos com mão-de-obra mais dispendiosa e qualificada.
III. (X) Observa-se um processo de deslocamento preferencial das organizações
multinacionais para países do Sudeste Asiático.

Agora, assinale a opção que corresponde à sequência correta.

a) F – V – V.
b) F – V – F.
c) V – F – F.
d) V – F – V.
e) V – V – F.

6. O processo de globalização financeira possui elementos determinantes específi-


cos, os quais devem ser entendidos para facilitar uma compreensão mais ampla
do processo de integração de mercados na atualidade.

A partir das dimensões propostas pelo texto-base, analise as seguintes afirmações:

I. A globalização financeira é um movimento de integração baseado intrinseca-


mente em fluxos de capitais e recursos financeiros entre países.
II. Neste processo integrador, há um interesse estratégico de alocação de recursos
em nações que apresentem menores taxas de juros.
III. O interesse objetivo do processo de globalização financeira é a valorização do
capital, baseada no aproveitamento de vantagens competitivas que sejam
oferecidas pelas nações.

É correto o que se afirma em

170
a) II, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) I e III, apenas.
e) II e III, apenas.

7. Uma das expressões significativas do capitalismo contemporâneo é a guerra fiscal;


suas características devem ser compreendidas a fim de observar a dinâmica entre
agentes econômicos que é capaz de formar uma concorrência estratégica entre
mercados.

Neste sentido, a partir da contextualização apresentada pelo texto, é correto afir-


mar que

a) o conceito enfatiza o processo de rivalidade entre Estados para afastar empresas


que apresentem maior potencial de poluição a ecossistemas.
b) por meio do conceito de guerra fiscal, explica-se o processo de concorrência en-
tre agentes políticos para a implementação de empresas em um certo território.
c) a guerra fiscal é benéfica para os agentes envolvidos, que se apropriam de um
diferencial de lucros decorrente da exploração comercial de um recurso natural.
d) por meio da guerra fiscal, os entes federados (estados e municípios) tentam obter
vantagens tributárias do governo central para a criação de investimentos.
e) o conceito de guerra fiscal destaca a rivalidade existente entre empresas para
evitar o pagamento de impostos ao governo central, por meio da evasão de divi-
sas.

8. Uma síntese explicativa sobre os problemas do capitalismo contemporâneo deve


observar, a partir da Geografia Econômica, os fatores ligados ao processo de in-
tegração de mercados e da globalização, sob diferentes aspectos e característi-
cas.

De acordo com o conteúdo apresentado pelo texto-base, analise as afirmações


que se seguem e assinale a correta.

171
a) A guerra fiscal é um processo essencialmente benéfico à economia, pois gera im-
pactos positivos no saldo comercial e na arrecadação tributária dos governos.
b) A globalização financeira é um elemento integrador de mercados de consumo, e
baseia-se na migração de recursos na forma de capital e mão de obra para países
de maior renda individual.
c) A participação da China como mercado produtor de bens em escala mundial
consolidou-se a partir da década de 2000, quando os Estados Unidos perderam a
liderança no cenário produtivo.
d) O Brasil perdeu influência na dinâmica de exportação de bens industrializados a
partir da década de 1990, quando exportava 6% do total de bens, chegando a
apenas 2,5% na década de 2010.
e) A globalização produtiva está baseada intrinsecamente na migração de traba-
lhadores pobres e de baixa qualificação para os países europeus, gerando um
fluxo de mão de obra barata.

172
DINÂMICAS DO
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
E A GEOGRAFIA URBANA

10.1 INTRODUÇÃO

A Geografia Econômica menciona enfaticamente a importância das cidades


como um espaço de reprodução material e social. Efetivamente, as áreas urbanas
passaram por um processo de expansão acelerada a partir do século XX, paralela-
mente à migração de pessoas das zonas rurais, fenômeno este conhecido como
‘êxodo rural’.
Assim sendo, torna-se necessário fazer algumas pontes entre a Geografia Eco-
nômica, que enfatiza a dinâmica geopolítica da ocupação dos espaços urbanos e
os desafios inerentes a esta situação, com o Desenvolvimento Econômico, o qual,
enquanto área de conhecimento, enfatiza as medidas de apoio a pessoas e empre-
sas por parte do poder público, a fim de garantir melhor qualidade de vida e condi-
ções objetivas de emprego e renda para esta população.
Deste modo, o objetivo geral desta unidade reside em enfatizar conceitos ge-
opolíticos que conectam-se à Economia Regional e Urbana, apontando tendências
e possibilidades efetivas de melhora das condições de existência humana nos espa-
ços das cidades, especialmente no Brasil, recordando ainda os desafios ao Meio Am-
biente que são inerentes à ocupação intensiva dos centros urbanos.

10.2 OS MEIOS DE TRANSPORTES E O COMÉRCIO

Ao mencionar o conceito de ‘transportes’, a primeira questão que pode ser


pensada é a dos meios de transporte; ou seja, certamente você deverá se lembrar
das soluções de deslocamento de passageiros entre diferentes áreas, como os siste-
mas públicos de transporte sobre rodas, na forma de ônibus convencionais e ônibus
de trânsito rápido, igualmente conhecidos como BRT (bus rapid transit), que circulam
por grandes e pequenas cidades. Da mesma forma, o ‘comércio’ está associado
intrinsecamente às empresas prestadoras de serviços de venda de mercadorias, e
que são comuns nas cidades, independentemente de seu porte.

173
Entretanto, é conveniente ir um pouco além desta classificação baseada no
senso comum, a fim de compreendermos como a Geografia dos Transportes e a Ge-
ografia Econômica compreendem as atividades humanas no âmbito das cidades,
de modo a favorecer a produção e a circulação econômica nestes espaços. Assim,
a divisão proposta a este tópico reforça estas duas dimensões da Economia Regional
e Urbana e suas características gerais.

10.2.1 Geografia dos Transportes

Como destacamos, a dimensão do ‘transporte’ evoca, em termos gerais, a


prática de conduzir indivíduos e objetos por diferentes distâncias, a fim de se obter
um fim específico a estes agentes. Uma das definições oferecidas pelo dicionário Mi-
chaelis (p. online) pode ser apropriada à definição comum: ‘deslocamento sucessivo
de passageiro ou carga por diferentes meios’
A definição não está de todo incorreta, mas pode ser melhor elaborada a par-
tir da Geografia Econômica. Neste sentido, o grande desafio do século XXI não está
essencialmente na criação de soluções de deslocamento para favorecer o cresci-
mento econômico, abrangendo a maior parte do globo, mas sim, na organização
destes fluxos de transporte, a fim de atender, da melhor forma possível, as demandas
cada vez mais complexas dos agentes econômicos.
Assim sendo, os desafios comuns à Geografia Econômica para a questão dos
transportes passam pela compreensão destes meios como recursos indispensáveis ao
desenvolvimento econômico de regiões distintas, e que podem beneficiar-se direta-
mente das soluções de transporte como canais de crescimento econômico regional.
Da mesma forma, o desenvolvimento destas redes de transporte viabiliza não apenas
a importação e exportação de bens, mas a incorporação de produtos e serviços
para o consumo que podem melhorar significativamente a qualidade de vida das
pessoas, ao mesmo tempo que esta são inseridas em fluxos internacionais de circula-
ção de bens (GOMES, 2013).
Como ponto de partida à discussão da Geografia dos Transportes, é necessá-
rio compreender as suas dimensões e áreas de interesse, integrando-a à Geografia
Econômica e à Geografia Humana e introjetando-a como referencial teórico para
entender os desafios a serem enfrentados nas grandes cidades. Dentre estas áreas,
de acordo com Santos e Souza (2010), é importante destacar:

174
 Dimensionamento dos meios de transportes, a fim de integrar pessoas e empre-
sas de acordo com as características do espaço e os perfis de ocupação das
empresas e famílias nos centros urbanos;
 Características e perfil dos sistemas viários, para compreender e estruturar as
soluções mais estratégicas e apropriadas a cada área urbana e setor econô-
mico predominante nestes espaços, como a indústria, prestação de serviços,
apoio a atividades vinculadas ao agronegócio, ao extrativismo vegetal e mine-
ral, etc;
 Processos de deslocamento e circulação de pessoas, de modo a oferecer me-
canismos que facilitem o fluxo de indivíduos, oferecendo não apenas qualidade
de vida, mas segurança e proteção à vida durante estes deslocamentos. Neste
caso, a Geografia dos Transportes integra-se à Segurança Pública e à Estatística,
para entender a interação e a movimentação de pedestres e evitar conflitos e
crises decorrentes a espaços confinados, comuns a situações de evacuação
ou pânico.

Figura 32: Dimensões estratégicas da Geografia dos Transportes

Fonte: Adaptado de Santos e Souza (2010)

A Geografia dos Transportes objetiva, essencialmente, descrever e compreen-


der a localização e os perfis de desenvolvimento das soluções de deslocamento
apropriadas aos ambientes rurais e urbanos, a fim de estruturar os impactos reais e
potenciais à atividade econômica nestes espaços e a integração com outras áreas
de desenvolvimento regional e nas esferas transnacionais (SANTOS; SOUZA, 2010).

175
Observe, portanto, que esta dimensão da Geografia Humana deve ser consi-
derada a partir de seu enfoque social: certamente, as soluções de transporte devem
ser compreendidas, paralelamente aos estudos de Engenharia Civil, para o desen-
volvimento de estudos e construção de modais de deslocamento que aumentem as
condições de reprodução material.
No entanto, a Geografia Humana irá enfatizar a conexão existente entre estes
modais e as políticas públicas voltadas à infraestrutura, de modo a oferecer soluções
que abranjam o planejamento do crescimento do setor urbano paralelamente à sus-
tentabilidade ambiental (com o desenvolvimento de ciclovias, de estudos de polui-
ção do ar em áreas específicas, etc) (GOMES, 2013).
Resumidamente, é necessário verificar que a Geografia Econômica gera uma
possibilidade efetiva de compreender as mutações e transformações que se desen-
volvem nos espaços geográficos a partir da ação antrópica, isto é, por meio da in-
tervenção humana, gerando espaços modificados conforme as demandas individu-
ais e necessidades sociais.
Deste modo, os métodos de transporte implicam em uma alteração impor-
tante da relação entre tempo e espaço, simbolicamente reduzindo distâncias e co-
nectando áreas de modo a facilitar o intercâmbio de informações e a síntese de
referências sociais e culturais, como resultado do aumento da interação humana,
sobretudo nos espaços urbanos (GOMES, 1996).

Um exemplo importante de um processo de redimensionamento do espaço e reordena-


mento da geografia local ocorre em São Paulo, onde a maior parte dos rios e córregos da
área urbana foi canalizada para dar lugar a avenidas e eixos de circulação de veículos.
No canal da Editora Contexto no Youtube, você poderá acompanhar uma discussão
abrangente sobre esta temática com o documentário ‘ENTRE RIOS - a urbanização de São
Paulo’. Acesse: https://bit.ly/3aYyBug. (Acesso em: 11 fev, 2021)

Tendo delimitado as características básicas desta área de discussão, é perti-


nente avaliar algumas estatísticas sobre os meios de transporte no Brasil, compreen-
dendo suas características e contribuições ao processo de geração de riqueza na
economia. Para compreender este contexto, pode-se recorrer a um conjunto vasto
de informações disponíveis em bases de dados públicos, no entanto, vamos observar

176
com maior atenção as estatísticas que remetem mais diretamente às diferentes rea-
lidades do intercâmbio cultural e das relações econômicas.
Em primeiro lugar, observe a dinâmica do transporte aéreo no Brasil, em uma
janela de aproximadamente noventa anos, de acordo com Gráfico 8, que se segue:

Figura 33: Passageiros transportados por via aérea

120.000.000

100.000.000

80.000.000

60.000.000

40.000.000

20.000.000

0
1927
1931
1935
1939
1943
1947
1951
1955
1959
1963
1967
1971
1975
1979
1983
1987
1991
1995
1999
2003
2007
2011
2015
2019
Fonte: IPEADATA (2021). Disponível em: https://bit.ly/3pVIrRx. Acesso em: 11 fev. 2021

Observe que a expansão do transporte aéreo no Brasil, embora tenha passado


por uma aceleração a partir da década de 1970 (com o desenvolvimento de solu-
ções específicas como os aviões a jato com maior capacidade de transporte), real-
mente cresceu a partir da década de 2000. Neste momento, ocorreu a reconfigura-
ção do mercado decorrente do desaparecimento das companhias tradicionais, en-
dividadas e com altos custos de operação, e a consequente consolidação de com-
panhias baseadas em soluções otimizadas de custo, como a Gol, a TAM, a Avianca
e outras de porte regional (SOUZA; SILVA, 2013).
Tal situação permitiu, consequentemente, que a demanda de passa-
geiros sofresse um incremento importante, saindo de 20 milhões de passageiros em
1999 para 37 milhões no ano 2000, dobrando esta demanda em 2010 (85 milhões) e
atingindo um pico em 2019, com 120 milhões de passageiros transportados, frente aos

177
1.000 indivíduos transportados em 1927, quando começam a ser agregadas as esta-
tísticas do Departamento de Aviação Civil (DAC), órgão público de supervisão hoje
substituído pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Em relação ao transporte aquaviário, é preciso considerar a existência de
cinco principais modais de deslocamento (AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES
AQUAVIÁRIOS, 2021):

 Navegação de longo curso, que envolve o transporte oceânico entre continen-


tes, nações ou áreas de um mesmo continente mas separadas por distâncias
significativas, demandando, inclusive, a passagem por canais intercontinentais
(Panamá e Suez, por exemplo);
 Navegação de cabotagem: é efetuada entre portos e/ou pontos distintos do
território nacional, incluindo-se as vias interiores e portos fluviais;
 Navegação interior: é realizada exclusivamente em hidrovias localizadas no in-
terior de uma região geográfica, e apresentam abrangência nacional ou inter-
nacional (como a série de hidrovias que desembocam no estuário do Rio da
Prata, entre Argentina e Uruguai). Nestas hidrovias, é comum o recurso a solu-
ções como eclusas e sistemas elevatórios.
 Apoio marítimo: é a modalidade que presta suporte a embarcações envolvidas
em transporte de cabotagem ou longo curso, fora das áreas portuárias, ou seja,
em mar aberto,
 Apoio portuário: envolve o apoio a embarcações no ambiente de porto, em
atividades de manobra, atracação e reboque, por exemplo.

A partir destes modais, é possível observar algumas estatísticas relativas ao


transporte aquaviário, de acordo com a Tabela 4:

Tabela 4: Movimentação portuária por perfil de navegação (milhões ton.)


Cabotagem Interior Longo curso
2010 149 25 517
2011 160 27 545
2012 164 27 556
2013 170 30 568
2014 175 33 592
2015 175 32 626
2016 177 36 623
2017 184 47 671
2018 191 51 680

178
2019 198 57 663
2020 222 59 670
Fonte: Agência Nacional de Transportes Aquaviários (2019).

Você pode observar que as soluções de transporte ferroviário vêm passando


por um aumento constante nos últimos anos, com ênfase para a navegação interior,
que mais que dobrou sua capacidade no período. Mesmo em situações econômicas
e sociais críticas, como a crise econômica de 2016 e a pandemia da Covid-19 em
2020, esta modalidade de transporte manteve-se como solução econômica estraté-
gica, sobretudo para o escoamento de grãos e de minério (AGÊNCIA NACIONAL DE
TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS, 2021).
Por fim, é necessário observar a dinâmica dos transportes terrestres, especifica-
mente pelas vias ferroviária e rodoviária. Em relação aos transportes ferroviários, é
importante destacar que o setor passou por uma reestruturação profunda após sua
privatização e concessão na década de 1990: o transporte por ferrovias havia pas-
sado por um sucateamento importante nas mãos do poder público, que concentrou
este segmento em uma única empresa estatal, a rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA)
(FREIRE; LACERDA, 2017).
Assim, a concessão de ferrovias à iniciativa privada permitiu que as empresas
efetivassem investimentos importantes para aumento da produtividade e rentabili-
dade por carga transportada, utilizando a capacidade instalada do setor e a malha
pré-existente. Consequentemente, este setor também registrou crescimento impor-
tante em suas operações, como pode-se observar pela Figura 21, que relaciona o
volume de carga transportada pelo setor ferroviário:

Figura 34: Volume transportado (em bilhões de toneladas)

450
400
350
300
250
200
150
100
1997 2000 2005 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

Carga total Minério de Ferro

Fonte: Adaptado da Agência Nacional de Transportes Ferroviários (2020). Disponível em:


https://bit.ly/3b1Xk0u. Acesso em: 11 fev. 2021.

179
Por fim, é importante destacar o setor rodoviário, que conecta os centros ur-
banos, sobretudo os de menor porte, e agiliza o deslocamento de mercadorias e
pessoas entre estas áreas. Desde a década de 1950, com o Plano de Metas do pre-
sidente Juscelino Kubitschek, o transporte rodoviário consolidou-se como uma estra-
tégia de governo, para favorecer o desenvolvimento do setor automobilístico e ex-
pandir a rede de estradas pelo país (YOUNG, 2013).
Os demais governos posteriores continuaram a focar, igualmente, no setor ro-
doviário como solução específica para o desenvolvimento econômico e social do
país, inclusive com a criação de obras de vulto, como a Ponte Rio-Niterói e a Rodovia
Transamazônica. Consequentemente, houve um aumento importante na extensão
de rodovias pavimentadas no país, cuja extensão passou de 170.000 km em 2001
para 213.000 km em 2017, como se observa pela Tabela 5:

Tabela 5: Distribuição do modal rodoviário (pavimentado/não-pavimentado), em km


Ano Não pavimentadas Pavimentadas Total
2001 1.427.394 170.902 1.598.296
2002 1.425.945 172.879 1.598.824
2003 1.415.612 181.762 1.597.374
2004 1.413.982 196.093 1.610.075
2005 1.391.868 205.706 1.597.574
2006 1.392.005 205.698 1.597.703
2007 1.389.222 208.463 1.597.685
2008 1.422.391 211.678 1.634.069
2009 1.368.368 212.491 1.580.859
2010 1.368.226 212.738 1.580.964
2011 1.364.242 219.089 1.583.331
2012 1.359.060 202.389 1.561.449
2013 1.358.829 203.598 1.562.427
2014 1.353.184 213.229 1.566.413
2015 1.352.463 210.618 1.563.081
2016 1.350.784 212.818 1.563.602
2017 1.349.938 213.452 1.563.390
Fonte: Agência Nacional de Transportes Terrestres, Anuário CTN do Transporte (2018). Disponí-
vel em: https://bit.ly/3b1H67M. Acesso em: 11 fev. 2021

Você pode compreender, com o acesso a estes dados, a relevância


da Geografia dos Transportes para o progresso econômico e o desenvolvimento de
nações e regiões. Além de favorecer o intercâmbio de mercadorias e pessoas, tais
sistemas de deslocamento viabilizam um incremento importante nas relações comer-
ciais, de acordo com a discussão a ser realizada no próximo subtópico.

180
10.2.2 Relações comerciais nos centros urbanos

A Geografia Econômica deve igualmente considerar a importância das ativi-


dades comerciais para o desenvolvimento dos centros urbanos. É nas cidades que o
comércio acontece, por meio das atividades de troca de bens, desde tempos ime-
moriais.
Embora as relações econômicas estejam fortemente ligadas ao setor rural – e,
vale dizer, o surgimento da Economia está associado à administração dos recursos
limitados à disposição das pessoas e suas necessidades virtualmente ilimitadas – é nas
cidades que os negócios e transações comerciais acontecem, ou ainda, nos territó-
rios ligados aos centros urbanos, como os distritos industriais e comerciais que com-
põem as zonas suburbanas (KISHTAINY, 2013).
As relações de comércio são regidas e dependentes de diferentes variáveis,
como a disponibilidade já mencionada de recursos de transporte para provisão de
mercadorias; a disponibilidade de renda (salários e lucros) que favoreça as ativida-
des de consumo; a oferta de bens e serviços; a ausência de barreiras ao consumo e
outros estrangulamentos à produção; a existência de empregos remunerados e qua-
lificados; entre outros (ARRUDA, 2003)
Em vista destas dimensões, é possível observar que atividade comercial está
ligada a elementos econômicos e sociais; consequentemente, o comércio beneficia-
se diretamente de fases e momentos específicos de alta na demanda por produtos
(sobretudo em datas comemorativas como o Natal) e sofre uma retração importante
em tempos de crise econômica ou social (com problemas de saúde pública, desem-
prego, queda na renda, etc).
Para entender um pouco sobre esta dinâmica, você pode observar a Tabela
6:

181
Tabela 6: Índices de variação do comércio varejista (2020)
jan/20 fev/20 mar/20 abr/20 mai/20 jun/20 jul/20 ago/20 set/20 out/20 nov/20 dez/20
Comércio Varejista (1) 76,97 73,69 74,39 62,3 70,93 74,26 80,93 83,95 82,63 89,68 93,39 109,19
1. Combustíveis e lubrificantes 94,99 90,3 83,86 62,4 63,91 69,63 80,92 82,67 85,77 91,81 88,24 93,16
2. Hipermercados, supermerca-
dos, produtos alimentícios bebi- 81,38 81,94 92,15 87,36 91,53 87,48 92,03 92,96 90,6 99,81 97,32 118,49
das e fumo
2.1. Hipermercados e supermer-
81,01 81,68 92,32 87,83 92,13 87,77 92,44 93,36 90,6 100,12 97,91 119,55
cados

3. Tecidos, vestuário e calçados 45,48 41,67 26,77 8,55 19,78 30,7 36,99 46,67 43,06 49,52 55,86 88,87

4. Móveis e eletrodomésticos 78,02 66,87 55,19 38,62 63,24 76,32 85,76 90,56 90,17 89,71 110,53 110,84
4.1. Móveis 77,53 67,5 56,35 37,48 59,09 75,21 88,42 91,77 87,82 88,16 103,09 107,8
4.2. Eletrodomésticos 78,08 65,47 54,74 39,08 64,95 76,66 84,64 90,16 89,93 90,38 113,42 112,3
5. Artigos farmacêuticos, médi-
cos, ortopédicos, de perfumaria 88,49 84,88 97,12 74,06 84,6 88,44 99,55 96,5 96,45 101,75 103,61 112,86
e cosméticos
6. Livros, jornais, revistas e pa-
121,62 87,01 42,64 18,48 20,71 33,5 49,95 36,45 33,5 37,06 47,51 62,84
pelaria
7. Equipamentos e materiais
para escritório, informática e 78,87 79,56 70,38 46,5 58,78 74,97 84,96 83,58 84,16 90,82 99,54 99,77
comunicação
8. Outros artigos de uso pessoal
64,85 56,6 47,12 33,01 47,68 60,26 65,66 74,33 74,07 80,9 97,61 104,74
e doméstico
Comércio Varejista Ampliado 83,05 77,42 75,07 59,69 70,51 77,71 86,32 89,39 89,67 96,51 99,07 110,9
9. Veículos, motocicletas, par-
101,29 87,7 72,32 40,87 57,84 77,08 90,67 93,85 98,81 104,27 105,06 108,33
tes e peças
10. Material de construção 103,77 93,01 89,42 79,02 98,71 117,66 135,14 138,64 144,89 153,27 146,55 136,61
Fonte: IBGE (2021). Disponível em: https://bit.ly/3uFr7nv. Acesso em: 11 fev. 2021

182
Na Tabela 6, os dados de receita no comércio varejista estão ponderados
para uma base igual a 100 que é relativa ao mês de dezembro de 2019. Ou seja, o
valor ‘76,97’ relativo ao mês de Janeiro de 2020 destaca que o volume de comércio
das oito primeiras categorias agregadas durante aquele mês correspondeu a apenas
77% do total de vendas do mês 12/2019.
A partir desta informação, é possível perceber de que modo a pandemia de
Covid-19 afetou a dinâmica do comércio no país: com o fechamento de escolas e
universidades, o setor de papelaria sofreu uma retração forte, de modo que em abril
de 2020 as vendas corresponderam a apenas 18,5% udo total vendido em dezembro
de 2019. O setor de tecidos, igualmente, caiu em 92% no volume de vendas em Abril,
em relação ao período-base.
Embora lenta, a recuperação econômica vem se processando gradualmente,
à medida que setores no comércio varejista fecharam o mês de dezembro com um
desempenho superior em 10% em relação ao ano anterior, puxado especialmente
pelo setor farmacêutico e pelo de supermercados e hipermercados.
Deve-se mencionar, ainda, o crescimento significativo das vendas de material
de construção, viabilizadas em parte pelas medidas do governo brasileiro de conten-
ção à crise do coronavírus, na forma de financiamentos a micro e pequenas empre-
sas, e pela cessão direta de recursos a pessoas físicas por meio do auxílio emergencial
(CHIARA, 2020).

10.3 ÊXODO RURAL E A URBANIZAÇÃO DAS METRÓPOLES

No estudo da Economia das Cidades, é importante pensar nas relações com-


plementares que a atividade urbana efetua com o universo rural. Vale dizer, o setor
urbano é intrinsecamente dependente dos alimentos e produtos gerados nas áreas
rurais, que consolidam hoje uma dimensão ampliada: no Brasil, o mundo rural assume
características de uma agroindústria em crescente expansão, ofertando mercado-
rias indispensáveis à alimentação humana e animal em escala global.

10.3.1 Considerações sobre a dinâmica do Agronegócio no Brasil

Nos livros de Geografia que circulavam até o início da década de 2000 (e

183
mesmo posteriormente), era muito comum encontrar referências que apontavam a
divisão de economia em três setores distintos: o setor primário, formado pela agricul-
tura (criadora de matérias-primas) e pelas atividades de extrativismo vegetal (extra-
ção de látex, corte de madeira, etc) e extrativismo mineral. O setor secundário com-
preendia a atividade de transformação, isto é, a conversão de matérias-primas em
produtos industrializados; e o setor terciário abrangia as atividades de comercializa-
ção, distribuição e prestação de serviços aos consumidores finais.
Embora ainda seja utilizada por alguns autores, esta definição tradicional pode
ser entendida hoje como praticamente obsoleta: na verdade, os diferentes setores
econômicos são interligados e, consequentemente, são interdependentes, de modo
que estes setores compartilham informações, tecnologias e técnicas produtivas es-
pecializadas. A agricultura, em particular, evoluiu drasticamente em sua produtivi-
dade – atendendo assim às necessidades da crescente população mundial – ao in-
corporar as práticas inovadoras da indústria (MORAES; FRANCO, 2010).
Foi possível, desta forma, mecanizar a produção e adicionar sistemas de auto-
mação e controle da produção que aumentaram não apenas a capacidade pro-
dutiva, mas a previsibilidade desta produção – isto é, o planejamento dos resultados
esperados em cada colheita ou turno de criação de produtos. Esta previsibilidade
favorece diretamente as decisões produtivas e gera condições mais objetivas para
que um proprietário rural possa definir suas necessidades futuras de crédito para in-
vestimento e ampliação de sua própria produção.
Deste modo, é importante enfatizar que o conceito tradicional de ‘produção
agrícola’ – a criação de matérias-primas com baixo incremento de tecnologia e uso
intensivo de mão-de-obra, direcionado ao consumo animal e humano e à atividade
de transformação na indústria – precisa ser ‘revisitado’, haja visto que as transforma-
ções da economia e da produção de bens e serviços tornaram esta definição sobre
a ‘agricultura’ mais abrangente e, por consequência, mais complexa em suas carac-
terísticas (ARAÚJO, 2018).
Como referência desta discussão, observe a Figura 22:

184
Figura 35: Produtividade no cultivo de cereais (kg/ha), Brasil, 1961 – 2017

4500,0

4000,0

3500,0

3000,0

2500,0

2000,0

1500,0

1000,0
1961
1963
1965
1967
1969
1971
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
2011
2013
2015
2017
Fonte: Elaborado pelo Autor com dados do Banco Mundial (2021).

Observe que, no ano de 1961, a produção média de cereais no mundo (milho,


soja, feijão, etc) era de aproximadamente 1,5 tonelada por hectare. Neste período,
ainda havia um uso intenso de mão-de-obra humana e baixa mecanização na pro-
dução, ainda que algumas mudanças nesta mecanização já se observassem, em
particular, a partir do chamado Plano de Metas no Brasil, entre 1956 e 1961, como
veremos adiante (LUNA; KLEIN, 2016).
As limitações de produção também podiam ser atribuídas à quase ausência
de um segmento forte de produção de implementos e defensivos agrícolas.

O livro “Primavera Silenciosa” (1962), de Rachel Carson, denunciou os riscos e prejuízos


ambientais causados pela aplicação massiva de um dos primeiros pesticidas de uso co-
mercial, o diclorodifeniltricloroetano (DDT). O movimento social de preservação da biodi-
versidade desenvolveu-se a partir deste contexto histórico. Você pode conhecer mais so-
bre a obra (que está disponível em sites na internet) com o artigo de Ramón Stock Bonzi,
“Meio século de Primavera silenciosa: um livro que mudou o mundo” (2013). Acesse:
https://bit.ly/3r7jQdZ. (Acesso em: 11 fev. 2021).

185
Nos anos seguintes, houve um aumento contínuo e sustentado desta produti-
vidade, que aumentou em quase três vezes em pouco menos de sessenta anos, ape-
nas na produção de cereais. Tal raciocínio pode ser expandido, naturalmente, para
outros setores na própria agropecuária, como a produção de leite, por exemplo,
onde a produtividade litros/vaca ao ano cresceu 3,87 vezes entre 1970 e 2017. Assim,
um plantel de vacas ordenhadas que era apenas 23,7% superior em número ao total
de vacas em 1970 conseguiu produzir 378% mais leite, em valores agregados, atin-
gindo um total de 30,1 bilhões de litros em 2017 (CABRAL; BARBOSA, 2019).
O momento atual do setor agropecuário, portanto, precisa ser pensado a par-
tir das fortes integrações que este setor estabeleceu com outros ramos econômicos,
que complementam a atividade criadora e reforçam as suas condições produtivas.
Deve-se, portanto, observar este setor não apenas como um agregado de fazendas,
granjas e outros estabelecimentos baseados no uso de mão-de-obra de baixa quali-
ficação, mas sim, como um setor econômico forte, capaz de articular sinergias com
outras áreas da indústria e prestadores de serviços em diferentes segmentos, dentro
e fora das propriedades rurais.
Esta ampliação de relações é a base do chamado ‘Agronegócio’, que arti-
cula diferentes agentes econômicos e cria uma atividade renovada de criação de
bens; a própria produção agropecuária assume moldes de uma produção industrial,
com foco na produtividade e no uso de tecnologia e mão-de-obra especializada
(agrônomos, engenheiros, biólogos e outros pesquisadores), reduzindo, portanto, a
demanda por trabalhadores menos qualificados (CHADDAD, 2017).

O primeiro capítulo do livro “Fundamentos de Agronegócios” (2018) de Massilon Araujo


realiza uma discussão abrangente a respeito dos conceitos e dimensões relacionadas aos
complexos agroindustriais no Brasil. O autor procura demonstrar a importância d entender
este setor não como algo ‘nocivo’ à economia, mas como um setor forte e responsável
por uma parte importante do desenvolvimento do país. Acesse: https://bit.ly/307kADX.
(Acesso em: 11 fev. 2021).

186
10.3.2 Êxodo rural

À medida do que observamos neste tópico, é importante observar a situação


do setor rural na economia brasileira, como parte de um processo de Geografia Hu-
mana que observe o deslocamento das populações e a criação de soluções e pro-
cessos de Desenvolvimento Econômico que integrem pessoas e empresas. Como de-
corrência desta análise, é preciso entender de que modo a reestruturação produtiva
e o desenvolvimento das forças industriais, observadas na unidade 3, repercutiram
na relação entre os setores rural e urbano e suas populações.
Inicialmente, observe que o valor agregado da produção agropecuária apre-
sentou um aumento importante; a partir da década de 2000, houve um aumento de
US$ 1 trilhão para US$ 3,5 trilhões em 2019. No entanto, ao pensar o movimento de
êxodo rural – a migração de indivíduos para as áreas urbanas – é importante desta-
car que a população total que está radicada (instalada) no campo oscilou de 2,0
bilhões de habitantes em 1960, para 3,4 bilhões em 2018, como se observa pelo Figura
23:

Figura 36: população rural global (bilhões de habitantes)

3,6

3,4

3,2

3,0

2,8

2,6

2,4

2,2

2,0
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
2012
2014
2016
2018

Fonte: Elaborado pelo Autor com dados do Banco Mundial (2021).

Vale destacar que este aumento, conforme apresentado na Figura 23, não foi
integralmente suficiente para manter a relação entre população rural e população

187
urbana. Efetivamente, em 1960, havia 66,4% dos moradores da Terra vivendo no
campo; em 2018, este montante era de aproximadamente 44,3%. Tal situação de-
monstra uma presença progressivamente menor de pessoas vivendo, e exercendo
atividades produtivas, no meio rural, refletindo mudanças no mercado de trabalho e
nas próprias condições de produção no setor agropecuário.

Em sua opinião, o processo de migração do campo para a cidade pode efetivamente ser
pensado como uma oportunidade de melhora na qualidade de vida das pessoas? As ci-
dades dispõem de soluções de emprego e renda que sejam efetivamente superiores ao
que se apresenta nos complexos produtivos do Agronegócio?

Esta situação se comprova pela redução percentual do número de empregos


no agronegócio, que reduziu entre 1961 (44% dos empregos totais) para aproxima-
damente 26% do volume de empregos em 2020. Verifique esta tendência por meio
da Figura 24:

Figura 37: Empregos no agronegócio (% total)

45,0
43,0
41,0
39,0
37,0
35,0
33,0
31,0
29,0
27,0
25,0
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020

Fonte: Elaborado pelo Autor com dados do Banco Mundial (2021).

Como consequência imediata desta retração na oferta de empregos – e da


mudança no perfil da mão-de-obra na direção de uma demanda maior por empre-
gos mais qualificados – tem-se que o êxodo rural se ampliou, gerando uma pressão

188
maior nos centros urbanos, cujas soluções de desenvolvimento passam pelo controle
da degradação ambiental e pela oferta de emprego e renda em espaços geogra-
ficamente limitados, de acordo com a reflexão a ser realizada no tópico seguinte.

10.4 ECONOMIA DAS CIDADES E OS DESAFIOS DA SUSTENTABILIDADE

As políticas de Desenvolvimento Econômico geralmente consideram incenti-


vos à produção de diferentes entes federados. Ou seja, não apenas a dimensão na-
cional é privilegiada por estas ações de política econômicas, em um aspecto mais
abrangente. Com efeito, a realidade dos estados e municípios enquanto espaços
econômicos, dotados, portanto, de características próprias e peculiaridades, deve
ser considerada a fim de se torne possível eleger zonas-alvo de políticas voltadas para
a melhoria das condições de emprego, renda e geração de riqueza no âmbito da
sociedade (SOUZA, 2012).
A partir deste cenário macroeconômico, a Economia Regional e Urbana de-
dica-se ao estudo das condições e aspectos de desenvolvimento local, em uma pers-
pectiva histórica, a fim de identificar eventuais falhas e atrasos no processo de de-
senvolvimento local, e apontar soluções e medidas adequadas para a superação
deste quadro de desigualdade. Nesta seção, será dada ênfase a algumas destas
políticas de incentivo em âmbito local, tais como os Arranjos Produtivos Locais, tam-
bém conhecidos por APLs.

10.4.1 Arranjos Produtivos Locais (APLs)

Os Arranjos Produtivos Locais são dispositivos econômicos alocados em um


mesmo território, e que unificam empresas que realizam atividades produtivas as
quais apresentam alguma forma de paralelismo entre si. Estas empresas acabam por
estabelecer, portanto, vinculações efetivas que são positivas para todas as organiza-
ções ali instaladas, como atração de mão-de-obra qualificada, redução de custos
logísticos e de transporte, oferta de empregos, eventuais isenções tributárias, entre
outras (QUEIROZ, 2013).

189
Os APLs se estabelecem em uma dimensão regional, e realizam um processo
de integração econômica entre empresas que elaboram produtos finais para con-
sumo, empresas produtoras de insumos e matérias-primas, empresas de manutenção
e suporte, prestadoras de serviços, atendimento a clientes, transportadoras e formas
de logística, etc. Podem, ainda, estar presentes escolas e instituições de ensino volta-
das à formação de um corpo técnico apropriado para o desempenho de atividades
profissionais nestas áreas (JULIEN, 2010).

Dentro dos APLs, pode-se observar que as sinergias que são geradas acabam
por favorecer o setor-chave como um todo (através da difusão de técnicas produti-
vas, concentração de capital e mão-de-obra qualificada), reduzindo custos e viabi-
lizando importantes vantagens competitivas decorrentes da concentração de em-
presas e melhoria das condições de competitividade (BARBOSA, 2016).

Um outro exemplo de sinergia entre empresas é dado pelo conceito de cluster, que é uma
região geográfica na qual diferentes firmas se unem para realizar suas atividades-fim, so-
bretudo, na comercialização de produtos ou prestação de serviços. A cidade de São
Paulo apresenta diversos clusters, como a Rua Santa Ifigênia (no comércio de eletroeletrô-
nicos), a Rua José Paulino (roupas), a Rua Paula Sousa (artigos para restaurantes e hotéis),
a Rua da Consolação (lustres e itens de iluminação), a rua Teodoro Sampaio (instrumentos
musicais), entre outros. O texto de Renato Telles et a.l, (2013) “Atratividade em clusters co-
merciais: um estudo comparativo de dois clusters da cidade de São Paulo”, discute este
conceito através de estudos de caso. Acesse: https://bit.ly/37WC8Hx. (Acesso em: 11 fev.
2021)

190
Todas as empresas incluídas em um APL, deste modo, acabam por tornar-se
mais eficientes nos seus processos produtivos e de gestão.

10.4.2 Dimensões do empreendedorismo urbano: as startups

A dinâmica do empreendedorismo alterou-se drasticamente nos últimos vinte


ou trinta anos. Até este momento, os esforços inovadores, a partir de pequenas em-
presas ou sujeitos individuais, concentravam-se especialmente sobre a criação de
processos de suporte e apoio à indústria, com o desenvolvimento de equipamentos
e serviços dedicados que permitissem ampliar a produtividade de empresas já con-
solidadas no mercado, ou explorar eventuais nichos e espaços não ocupados pelas
grandes empresas (JULIEN, 2010).
Atualmente, os esforços do empreendedorismo deslocaram-se para a forma-
ção de empresas e organizações que atuam com recursos tecnológicos de ponta, e
estão voltadas para os novos nichos de desenvolvimento da indústria no século XXI,
como a automação, a inteligência artificial, a iteração homem-máquina, a comuni-
cação através de aplicativos, dentre outros.
As chamadas startups vêm ocupando estes espaços de ‘ponta’ na dinâmica
do empreendedorismo. Entre as suas características mais importantes, cabe destacar
o incentivo à criatividade dos seus colaboradores, para a identificação de potenciais
necessidades dos clientes, a capacidade de trabalho em ambientes coletivos, e a
atração de mão-de-obra qualificada para atuar em áreas dinâmicas da realidade
econômica, que ainda estejam em processo de maturação (SCHREIBER et al., 2016).
Ainda que as startups não necessariamente concentrem-se todas sobre o setor
de informática e o uso de plataformas digitais, tem-se que sua característica principal
é a busca constante pela inovação: estes empreendimentos operam em ambientes
de incerteza, ou seja, em segmentos que não estão desenvolvidos plenamente, iden-
tificando oportunidades de crescimento e aceitando riscos proporcionais ao retorno
gerado.

191
As empresas que são denominadas startups apresentam algumas característi-
cas em comum, que permitem defini-las desta forma (MOREIRA, 2018):

 Operar em ambientes de incerteza;


 Capacidade de gerar valor, ou seja, gerar retornos na forma de receita, através
da exploração de suas competências (como por exemplo, através de vídeos
monetizados em plataformas digitais);
 Ter capacidade de reprodução ilimitada, entregando o mesmo produto a to-
dos os clientes que o demandarem;
 Ser escalável, ou seja, poder ampliar sua capacidade de geração de receitas
sem que os custos se ampliem na mesma velocidade, de modo a criar maiores
margens de lucro.

Na atualidade, as startups vêm recebendo aportes de capital de fundos de


investimentos e grandes empresas, interessadas nas inovações que são geradas por
estas iniciativas, e pela oportunidade de rápida multiplicação do capital, sobretudo
dentro de redes sociais e outros espaços virtuais.

10.4.3 O Desenvolvimento sob a esfera local

Como você vem analisando nesta seção, a realidade do desenvolvimento, e


as ações voltadas à promoção do bem-estar social, estendem-se também às esferas
estaduais, regionais e locais, atingindo pequenas empresas e grupos mediante ações
de incentivo à produtividade e ao empreendedorismo local. Neste sentido, estes en-
tes federados (estados e municípios) também organizam iniciativas de promoção ao

192
desenvolvimento.
As secretarias estaduais de Desenvolvimento Econômico, por exemplo, mobili-
zam esforços no sentido de promover a melhoria da estrutura produtiva através do
incentivo à inovação e ao empreendedorismo, seja através de medidas de apoio
(como implementação de cursos e plataformas de oferta de postos de trabalho, por
exemplo), bem como através de iniciativas de financiamento a empreendedores in-
dividuais e microempresas (microcrédito), a fim de viabilizar o crescimento de suas
atividades (MARTINELLI; JOYAL, 2004).

A Secretaria de Desenvolvimento Econômico do estado de São Paulo integra centros de


pesquisa como o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), o IPEN (Instituto de Pesquisas
Energéticas e Nucleares) e as universidades estaduais (USP, Unicamp, Unesp, Univesp);
centros de ensino técnico como o Centro Paula Souza (que administra as escolas e facul-
dades técnicas); órgãos de fomento e financiamento como a Fundação de Amparo à
Pesquisa (FAPESP), e órgãos voltados ao setor empresarial, como agências de financia-
mento (Investe SP) e a Junta Comercial do estado (Jucesp).

No âmbito das cidades, há um enfoque importante das secretarias municipais


de Desenvolvimento para a geração de empregos no comércio e na indústria, me-
diante incentivos municipais e oferta de formação técnica. A Prefeitura de Bragança
Paulista (SP), por exemplo, organizou sua secretaria de Desenvolvimento Econômico
a partir de divisões de apoio ao comércio, apoio à indústria, inclusão digital (através
de cursos e formação a indivíduos desempregados em especial) e incentivos a micro
e pequenas empresas, através de parcerias com o Banco do Povo Paulista (uma
agência de microcrédito) e com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (SEBRAE).
As cidades procuram, deste modo, viabilizar a circulação de renda no seu es-
paço municipal, favorecendo a melhoria dos indicadores econômicos e sociais, bem
como o incentivo a atividades como o turismo, o agronegócio e a inovação, em
esfera local (MARTINELLI; JOYAL, 2004).

193
FIXANDO O CONTEÚDO

1. A Geografia Econômica enfatiza a dinâmica dos transportes como fator-chave no


processo de concentração populacional e desenvolvimento econômico. Desta
forma, torna-se necessário estruturar uma compreensão mais abrangente a res-
peito das características deste setor, a fim de verificar os seus determinantes políti-
cos e sociais.

A partir do conteúdo destacado pelo texto-base, avalie as opções que se seguem


e assinale a correta.

a) O desafio primordial ao contexto atual passa pelo desenvolvimento de soluções


de deslocamento que gerem melhoria efetiva nos fluxos de mercadorias.
b) As demandas dos agentes econômicos tornam-se progressivamente menos com-
plexa, de modo que os modais de transporte adaptam-se às circunstâncias de
desenvolvimento global.
c) De acordo com as referências da Geografia dos Transportes, é necessário integrar
os mecanismos de Segurança pública para impedir a livre movimentação de pe-
destres.
d) Os sistemas viários devem privilegiar a criação de soluções de deslocamento rá-
pido, como ferrovias e aeroportos, em quaisquer ambientes, para fomentar o de-
senvolvimento econômico.
e) A Geografia dos Transportes envolve a criação de soluções voltadas à circulação
de indivíduos, a fim de evitar incidentes de gravidade em espaços e locais sujeitos
a confinamento.

2. O conceito de ‘transporte’ deve ser compreendido como uma dimensão mais am-
pla do que um processo de criação de soluções de deslocamento de indivíduos e
mercadorias. Assim sendo, estas soluções devem ser integradas ao pensamento
econômico e aos processos geopolíticos que ordenam a sociedade contemporâ-
nea.

194
Considerando o conteúdo apresentado pelo texto, analise as seguintes afirma-
ções:

I. De acordo com os referenciais da Geografia dos Transportes, o efeito da cria-


ção de soluções de deslocamento nos ambientes urbanos é nulo em termos de
sustentabilidade ambiental.
II. A Geografia de Transportes está inserida no âmbito da Geografia Humana, es-
tendendo relações de análise para elementos da Engenharia e da Estatística.
III. A Sustentabilidade Ambiental é um processo secundário na Geografia Humana,
haja visto que os meios de transporte modernos são baseados em baixa emissão
de gases poluentes.

É correto o que se afirma em

a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) I e III, apenas.

3. Ao observar os processos ligados ao setor de transportes, é pertinente avaliar al-


guns indicadores contemporâneos, sobretudo para a realidade brasileira, a fim de
identificar tendências e movimentos que devem orientar as políticas públicas vol-
tadas a este setor.

Neste sentido, a partir das proposições do texto-base, analise as seguintes afirma-


ções, julgando-as como (V) Verdadeiras ou (F) Falsas.

I. (X) Houve um movimento de estabilização do número de passageiros transpor-


tados por via aérea ao final da década de 2010, refletindo um processo de for-
mação de gargalos de oferta neste setor.
II. (X) A variação negativa no volume de passageiros transportados por via aérea
entre os anos de 1997 e 2007 deve-se à variação cambial, que onerou o preço

195
das passagens.
III. (X) A navegação de longo curso é caracterizada quando os navios demandam
portos em diferentes nações, incluindo-se também a possibilidade de passagem
por canais intercontinentais.

Agora, assinale a opção que corresponde à sequência correta.

a) V – V – F.
b) V – F – F.
c) V – F – V.
d) F – V – F.
e) F – F – V.

4. A atividade comercial é um termômetro da realidade econômica de um país;


deste modo, deve-se articular indicadores e elementos contábeis que permitem
avaliar as condições de crescimento econômico que se refletem no desempenho
do setor de comércio em suas diferentes variáveis.

Neste sentido, de acordo com o seu conhecimento sobre o tema proposto, é cor-
reto mencionar, para o ano de 2020, que

a) a variação negativa na demanda de produtos ligados à indústria farmacêutica


pode ser explicada a partir da variação cambial, que encareceu o custo das
matérias-primas.
b) o comércio varejista experimentou um crescimento real durante todo o ano de
2020, apesar da conjuntura social desfavorável, refletindo os resultados do pro-
cesso de integração de mercados.
c) o setor de livros e papelaria apresentou uma expansão no ano de 2020, em vista
da queda nos preços de venda de matérias-primas e aceleração da demanda
por materiais escolares.
d) houve uma variação positiva de movimento no comércio varejista em hipermer-
cados e supermercados ao final de 2020, em comparação com o mesmo período
no ano anterior.

196
e) o setor de eletrodomésticos manteve-se preservado dos efeitos sociais da crise sa-
nitária de 2020, registrando aumento de comércio em vista das exportações para
mercados emergentes.

5. A realidade econômica nas cidades está baseada em um processo no qual agen-


tes econômicos se integram ao redor de relações de produção e consumo, deter-
minando as condições objetivas de crescimento da renda e dos padrões de re-
produção material.

Assim sendo, de acordo com o tema apontado pelo texto-base, avalie as opções
que se seguem e assinale a correta.

a) Uma startup é uma empresa que opera em segmentos estabelecidos/consolida-


dos da economia, de modo a explorar competências fundamentadas em tecno-
logias pré-existentes.
b) Em uma startup, a busca pela inovação é colocada em um plano secundário, em
detrimento da necessidade de valorização do capital dos acionistas.
c) Os arranjos produtivos locais (APLs) são formados por empresas de setores relacio-
nados que articulam suas atividades em um mesmo espaço territorial.
d) É fundamental que uma startup seja escalável; ou seja, a empresa deve ter uma
capacidade de reprodução limitada, evitando fusões e cisões que possam reduzir
seu capital produtivo.
e) A particularidade dos Arranjos Produtivos Locais (APLs) é fomentar a concorrência
entre setores divergentes em uma área, a fim de incentivar a queda de preços ao
consumidor.

6. A realidade do Agronegócio, no Brasil, está baseada em relações econômicas em


torno de um setor fundamental para a geração de renda, emprego e tributos para
o Estado brasileiro. Deste modo, é importante entender as características deste
setor para a sociedade em suas diferentes dimensões.

Assim sendo, mediante a dinâmica apontada pelo texto-base, analise as seguintes


afirmações:

197
I. Uma das principais características do agronegócio brasileiro é a sua limitação
em termos da exploração intensiva dos recursos naturais, situação esta que se
reflete em uma estabilidade eno rendimento da produção de cereais por hec-
tare.
II. um aumento importante na produtividade de diferentes setores do Agronegó-
cio, especialmente o gado leiteiro, cujas condições de crescimento permitem
atender à demanda populacional.
III. A dinâmica do Agronegócio na economia brasileira é ligada à consolidação
de padrões de exploração de tecnologias que permitem extrair um maior po-
tencial de lucratividade em relação à aplicação de recursos produtivos.

É correto o que se afirma em

a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) I e III, apenas.
e) II e III, apenas.

7. O processo de êxodo rural deve ser compreendido a partir das determinações his-
tóricas, geopolíticas e econômicas que orientam a relação entre os espaços ur-
bano e rural; na realidade brasileira, esta realidade do êxodo rural precisa ser ob-
servada, essencialmente, a partir de suas implicações sociais.

Desta forma, mediante as dinâmicas apontadas pelo texto, analise as seguintes


afirmações, julgando-as como (V) Verdadeiras ou (F) Falsas.

I. (X) O chamado ‘êxodo rural’ diz respeito ao processo de migração de recursos


(capital), que deixa o agronegócio para concentrar-se em atividades gerado-
res de maior rendimento financeiro.
II. (X) Na realidade brasileira, observa-se uma tendência no século XIX de ‘êxodo

198
rural às avessas’, á medida que os fluxos migratórios condicionaram a ocupa-
ção progressiva do espaço territorial.
III. (X) Entende-se o ‘êxodo rural’ como um processo migratório da população rural
para os espaços urbanos, situação que se acentuou na economia mundial com
a queda relativa na porcentagem de empregos no setor rural.

Agora, assinale a opção que corresponde à sequência correta


a) V – V – F.
b) V – F – V.
c) V – F – F.
d) F – V – V.
e) F – F – V.

8. Ao elaborar uma síntese a respeito da Geografia Humana, é necessário avaliar as


relações que condicionam a realidade de diferentes setores econômicos, como o
Agronegócio e os modais de transporte, que implicam no desenvolvimento de ele-
mentos logísticos e econômicos e afetam as condições de reprodução social da
população.

Assim sendo, de acordo com o conteúdo apresentado pelo texto-base, analise as


seguintes afirmações, julgando-as como (V) Verdadeiras ou (F) Falsas.

I. (X) Observa-se uma tendência de estabilidade na composição da população


rural em escala mundial, paralelamente ao aumento populacional, gerando
uma queda na oferta de empregos no setor.
II. (X) A produtividade da mão de obra no Agronegócio, em escala mundial, pode
ser observada a partir da multiplicação dos resultados gerados no campo, pa-
ralelamente ao aumento menos que proporcional da população rural.
III. (X) O modal de transporte marítimo destaca a navegação de cabotagem
como um instrumento de suporte às operações de navios de longo curso para
a realização de procedimentos de atracagem em portos.

Agora, assinale a opção que corresponde à sequência correta.

199
a) V – V – F.
b) V – F – V.
c) V – F – F.
d) F – V – V.
e) F – F – V.

200
GEOGRAFIA ECONÔMICA E
MATRIZES ENERGÉTICAS

11.1 INTRODUÇÃO

Nesta unidade, vamos discutir um tema de grande relevância no atual estágio


de desenvolvimento da sociedade, trabalhando as formas de aproveitamento sus-
tentável das fontes energéticas disponíveis, e suas diferentes matrizes. Assim, ao pen-
sar em temas conectados à infraestrutura e planejamento energético, você, en-
quanto estudante, poderá obter maiores conhecimentos sobre o tema da utilização
da energia, acumulando competências para a sua realidade profissional na área da
Geografia Econômica.

11.2 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS FORMAS DE UTILIZAÇÃO DA ENERGIA

A energia é conceituada, de um modo mais abrangente, segundo o dicioná-


rio Michaelis da língua portuguesa como a “capacidade que um corpo, um sistema
de corpos ou uma substância têm de realizar trabalho, entendendo-se por trabalho
a deslocação do ponto de aplicação de uma força” (2021). Logo, a demanda por
energia visa, sobretudo, criar mecanismos que permitam substituir o trabalho humano
e promover o seu bem-estar por meio do aproveitamento de recursos naturais, com
uma manipulação efetiva destes recursos para que eles minimizem a carga laboral
dos indivíduos e facilitem a criação e utilização plena de outros objetos e soluções
estratégicas.
Para a sustentação da vida humana, a primeira fonte energética sempre foi a
alimentação, que é necessária para a sustentação e sobrevivência do homem, para
a manutenção do equilíbrio térmico e para resistir contra as adversidades do meio,
como o frio e o ataque de animais ferozes. Posteriormente, o homem controlou o
fogo, isto é, a energia na forma de calor, para cumprir diferentes finalidades, como
o preparo e conservação de seus alimentos, a defesa contra predadores e o provi-
mento de sua qualidade de vida em ambientes isolados.
Na sequência do uso da lenha, foram sendo desenvolvidas outras soluções,

201
como o uso limitado de combustíveis fósseis (petróleo e carvão), e em particular, de
óleos vegetais e animais, sem esquecer, igualmente, o uso da tração animal para o
trabalho e para o deslocamento de cargas (CAMPOS; MIRANDA, 2000).
Uma consequência natural do uso do calor se desdobrou para a energia a
vapor. Os gregos já conheciam o recurso por meio da eolípila – uma esfera de metal
que girava ao expelir vapor de água aquecido em seu interior – no entanto, este
método somente foi desenvolvido em sua plenitude no século XVIII, com a criação
do motor a vapor por James Watt, que aprimorou algumas soluções que vinham
sendo desenvolvidas desde a década de 1690 para a criação de maquinários que
impulsionassem navios e veículos, substituindo a força dos ventos e a tração animal
(ARRUDA, 2003).
No século XIX, a energia elétrica – que também era conhecida pelos gregos,
a partir de experimentos de energia estática realizados por Tales de Mileto – come-
çou a ser utilizada com a criação de pequenas centrais hidroelétricas e termelétricas,
com mecanismos de distribuição que utilizam cabos condutores. Por fim, o século XX
viu surgir a energia nuclear, que utiliza a fissão do átomo como instrumento de libe-
ração de grandes quantidades de energia.

11.3 FONTES E FORMAS DE ENERGIA E MODOS DE REGULAÇÃO

Antes de classificar as formas de criação e distribuição de energia, é impor-


tante recordar que estas fontes dividem-se em Renováveis e Não-Renováveis. Estes
recursos foram fundamentais para o desenvolvimento da economia contemporâ-
nea, em particular, para o crescimento da indústria.
No entanto, algumas destas fontes não têm uma capacidade efetiva de se-
rem regeneradas para uma nova utilização em um tempo economicamente hábil –
basta lembrar que o carvão mineral leva milhões de anos para se formar. Assim, tais
recursos foram denominados como sendo fontes de energia não-renováveis. Por ou-
tro lado, as formas sustentáveis de geração de energia, que lançam mão de recursos
com rápido potencial de reposição, como o calor do Sol, a água e os ventos, são
denominados como fontes renováveis.
Estas fontes devem ser compreendidas a partir de um conceito mais amplo,

202
que é o de matriz energética. Uma matriz energética diz respeito ao complexo res-
ponsável por representar, de forma ordenada e quantitativa, a utilização das quan-
tidades de energia geradas por um determinado recurso, desde a sua extração até
o consumo final. Deste modo, o Estado, por meio de suas instituições de investimento
e regulação, deve desenvolver soluções de planejamento, implementação e distri-
buição da energia gerada em um horizonte futuro e de longo prazo, estendendo-se
por décadas à frente das etapas iniciais (REIS; FADIGAS; CARVALHO, 2012).
Em relação às chamadas fontes não-renováveis, é importante destacar as se-
guintes:
Petróleo: é um recurso-chave para a indústria, em vista do seu potencial para
a geração e energia e obtenção de produtos derivados (gás, gasolina, óleo diesel,
asfalto, querosene, óleos lubrificantes, polímeros plásticos, etc).
Gás natural: é obtido a grandes profundidades a partir de combustíveis fósseis
ou de biomassa em decomposição; a queima desta biomassa, ou a exploração de
jazidas, viabiliza a extração de energia. Seu uso é favorecido pelo fato de causar um
impacto ao meio ambiente relativamente menor do que o gás de petróleo (GLP),
além de apresentar um custo de exploração menor.
Carvão mineral: utilizada em usinas termelétricas, o carvão mineral é um re-
curso com eficiência energética (capacidade de geração de calor e energia) muito
maior que o carvão vegetal; sua extração em minas é simplificada em relação à
exploração de poços profundos de petróleo, mas tem um impacto ambiental muito
significativo, em vista da poluição atmosférica que é gerada pela combustão deste
material.
Energia nuclear: é obtida pela fissão (quebra) de átomos de urânio enrique-
cido, que é purificado e centrifugado para a obtenção de formas instáveis deste
elemento que se desdobram mais facilmente em energia consumível. A energia nu-
clear foi melhor conhecida a partir do século XX, com o desenvolvimento de artefatos
atômicos cujo potencial destrutivo foi redirecionado para o aproveitamento da ener-
gia para fins ditos ‘pacíficos’. Sob este pressuposto, as usinas nucleares foram cons-
truídas em grande número ao redor do mundo, inclusive no Brasil, com as plantas de
Angra I e II. No entanto, os riscos ambientais desta matriz energética haviam sido su-
bestimados, e se tornaram evidentes após incidentes e acidentes graves, como os

203
ocorridos nas usinas de Three Mile Island (EUA, 1978), Chernobyl (Ucrânia, 1986) e Fu-
kushima (Japão, 2011).

A energia nuclear é concebida como uma solução estratégica para o desenvolvimento


de artefatos atômicos. Países latino-americanos como a Argentina e o Brasil já procuraram
desenvolver o ciclo de enriquecimento de urânio para a fabricação de uma bomba atô-
mica, que alteraria dramaticamente o equilíbrio militar na região. Este debate sobre a
posse destas bombas foi retomado ao final da década de 2010. Em termos geopolíticos,
você acredita que o Brasil seria de alguma forma beneficiado se dominasse o ciclo de
produção de artefatos nucleares? Como seu ponto de vista poderia ser justificado?

Por sua vez, as fontes compreendidas como renováveis que podem ser desta-
cadas são as seguintes:
Energia solar: aproveita o calor gerado pelo Sol para a produção de energia,
com o uso de painéis solares que atuam como geradores. Este método tem a vanta-
gem de utilizar uma fonte com potencial virtualmente infinito e a custo zero, mas a
tecnologia requerida ainda tem um custo alto de implantação e depende de outros
segmentos industriais para a sua produção, o que acaba gerando um impacto am-
biental na fabricação destes componentes (ainda que muito menor do que o im-
pacto gerado por outras fontes). Uma outra desvantagem é a dependência de gran-
des espaços para a sua implementação, o que gera uma produtividade por área
menor do que as outras fontes, especialmente as não-renováveis.
Energia hidráulica: aproveita o potencial energético da água para a movi-
mentação de turbinas e geradores em usinas hidrelétricas. Este recurso é utilizado
desde a Antiguidade, lançado mão da água para a realização de trabalhos em ele-
vadores e moinhos. Este método tem a vantagem de ter um custo baixo comparati-
vamente aos métodos não-renováveis, e ser conhecido como uma forma ‘limpa de
energia. No entanto, esta abordagem vem sendo questionada em vista dos impac-
tos ambientais gerados pela inundação de áreas de floresta para a fauna e a flora,
bem como pelos efeitos sociais do deslocamento forçado de pessoas para a cons-
trução de usinas e represas.

204
O Movimento dos Atingidos por Barragens, criado em 1992, é uma associação popular
que procura pressionar o poder público a reparar economicamente a desagregação fa-
miliar e social causada pelo deslocamento de indivíduos para a construção de represas.
Você pode conhecer sobre este movimento com o artigo de Ribeiro e Morais (2019), de-
nominado “Classe social, identidade e luta por Direitos Humanos no Movimento de Atingi-
dos por Barragens – Brasil”. Acesse: https://bit.ly/304krkV. (Acesso em: 11 fev. 2021).

Energia eólica: utiliza a força dos ventos para a movimentação de geradores


e moinhos; tem a vantagem de ser absolutamente limpa e não produzir gases polu-
entes; no entanto, sua produtividade por área também é considerada baixa, oque
demanda grandes espaços para uma implementação e utilização mais efetiva.
Biomassa: utiliza materiais orgânicos de diferentes origens para a geração de
calor e energia; no caso brasileiro, é particularmente utilizado o bagaço de cana-de-
açúcar. Seu potencial ainda é progressivamente conhecido, mas os resultados obti-
dos são bastante promissores, sobretudo por permitir um reaproveitamento eficiente
de recursos que de outro modo seriam desperdiçados ou depositados em aterros,
reduzindo assim o seu impacto ambiental.
Energia oceânica: capta a energia gerada pelas ondas marítimas, conver-
tendo-as em energia elétrica. É um método preferencial pelo fato de não gerar cus-
tos amplos ou impactos ambientais, no entanto ainda não está suficientemente de-
senvolvida para gerar uma exploração comercial viável.
Energia à base de Hidrogênio: pode ser considerada como uma das matrizes
energéticas do futuro, consistindo em uma autêntica ‘bala de prata’ para os plane-
jadores nesta área. O hidrogênio tem uma abundância significativa na superfície ter-
restre, tem uma eficiência alta na geração de energia, e seu uso como combustível
não produz gases poluentes como as soluções da petroquímica e do setor carboní-
fero. Assim, o seu potencial atóxico permite a utilização como combustível renovável.
Entretanto, atualmente (2021) seu uso também é limitado pela falta de tecnologia
disponível para exploração comercial viável, sobretudo pelas dificuldades recorren-
tes para o armazenamento de hidrogênio na forma líquida, que exige baixas tempe-
raturas e alta pressão.

205
Os riscos inerentes ao uso do hidrogênio passam, ainda, pelo fato de ser um composto
altamente suscetível à combustão. Efetivamente, o hidrogênio pode ser manipulado para
a fabricação de bombas nucleares de poder explosivo maior do que os elementos físseis,
como o urânio e o plutônio.

Energia geotérmica: utiliza o calor do interior da terra para a geração de ener-


gia e para usos efetivos como o aquecimento de residências, estufas e plantas co-
merciais, com um impacto ambiental relativamente baixo. No entanto, ainda é um
método de utilização limitada, e restrita a algumas aplicações mais práticas, como o
aproveitamento de fontes de água quente em estâncias termais, por exemplo.

Nossa sociedade está adaptada ao uso da energia elétrica como solução para diferentes
sistemas, como a comunicação e os transportes, por exemplo. Mas, é preciso compreen-
der que estes sistemas produtivos dependem dos sistemas de obntenção de energia, que
dependem de recursos progressivamente mais escassos. Esta discussão é realizada pelo
capítulo ‘O futuro da energia elétrica’ do livro de Ayres & Ayres (2012), denominado “Cru-
zando a fronteira da energia: dos combustíveis fósseis para um futuro de energia limpa”.
Acesse: https://bit.ly/2ZYX8cf. (Acesso em: 11 fev. 2020).

No Brasil, a regulamentação da produção e distribuição de energia ocorre a


partir da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). Este órgão é uma autarquia
pública, responsável pela fiscalização e inspeção periódica das plantas responsáveis
pela geração de energia, e atua como órgão de ouvidoria para o atendimento de
demandas da população geral e das empresas e outras instituições consumidoras de
energia.

11.4 PROBLEMAS ENERGÉTICOS CONTEMPORÂNEOS

Tendo observado um pouco mais a respeito das principais matrizes energéticas


e sua utilização ao longo da história, é conveniente observar alguns aspectos mais

206
relevantes a respeito dos métodos de captação e consumo destas fontes; tais aspec-
tos conjugam-se na atualidade como dimensões estratégicas do Desenvolvimento
Sustentável, e devem ser entendidas pelo especialista em Geografia Econômica
como partes fundamentais da Geografia Humana e dos processos de geração de
condições de bem-estar e qualidade de vida na sociedade.
Antes de observar as dimensões mencionadas, é oportuno observar algumas
estatísticas mais relevantes do setor energético brasileiro, comparativamente ao seu
desempenho em relação ao resto do mundo. Para isto, em um esforço de síntese,
observe a Tabela 7, que se segue:

Tabela 7: Produção mundial de energia em terawatts-hora, por matriz energética


Fonte 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Nuclear 2.345 2.364 2.409 2.441 2.469 2.484
Térmica 14.490 14.844 14.973 15.168 15.385 15.627
Hidrelétrica 3.607 3.737 3.807 3.819 3.962 3.965
Alternativas 1.131 1.342 1.509 1.719 1.972 2.267
Total 21.572 22.287 22.699 23.147 23.787 24.344
Fonte: Empresa de Pesquisa Energética (2020). Disponível em: https://bit.ly/3dW3b9s. Acesso
em: 11 fev. 2021

A partir dos dados da Tabela 7, você pode verificar que a energia térmica
ainda é o grande motor da sociedade contemporânea, ainda que outras formas de
energia venham crescendo em utilização, especialmente as que são geradas por
fontes alternativas. Neste sentido, a China é o grande mercado de energia mundial,
tanto em produção quanto em consumo, seguida pelos Estados Unidos, como você
pode observar pela Tabela 8:

Tabela 8: Maiores produtores de energia entre países, em terawats-hora


2012 2013 2014 2015 2016 2017
Mundo 21.572 22.287 22.699 23.147 23.787 24.344
China 4.736 5.171 5.388 5.562 5.884 6.266
Estados Unidos 4.054 4.074 4.105 4.092 4.095 4.058
Índia 1.053 1.117 1.214 1.288 1.367 1.438
Rússia 1.012 1.002 1.006 1.008 1.031 1.034
Japão 989 1.044 1.016 995 992 987
Canadá 616 640 640 648 649 641

207
Alemanha 593 603 593 612 615 618
Brasil 542 559 577 569 568 578
França 538 551 543 551 537 534
Coreia do Sul 500 507 514 518 527 531
Outros 6.938 7.020 7.104 7.305 7.522 7.658
Fonte: Empresa de Pesquisa Energética (2020). Disponível em: https://bit.ly/3dW3b9s. Acesso
em: 11 fev. 2021

Neste contexto, é importante observar a realidade brasileira. Ainda que o Brasil


sempre figure no senso comum como um grande produtor de energia a partir de sua
matriz energética e seu potencial de geração por fontes renováveis, há uma perda
progressiva de protagonismo neste cenário. Em outras palavras, os investimentos na
geração de energia no país são menos expressivos comparativamente ao resto do
mundo, de modo que a participação brasileira nas estatísticas relacionadas ao setor
progressivamente torna-se reduzida, com exceção das fontes renováveis, como
você pode observar nos dados da Tabela 9:

Tabela 9: Participação brasileira na geração de energia elétrica mundial


2012 2013 2014 2015 2016 2017
Total 2,51 2,51 2,54 2,46 2,39 2,37
Nuclear 0,65 0,62 0,60 0,57 0,61 0,60
Térmica 0,52 0,74 0,90 0,84 0,60 0,64
Hidrelétrica 11,40 10,36 9,71 9,32 9,52 9,26
Renováveis 3,56 3,50 3,86 4,10 4,27 4,21
Fonte: Empresa de Pesquisa Energética (2020). Disponível em: https://bit.ly/3dW3b9s. Acesso
em: 11 fev. 2021

Observando agora a geração de energia no Brasil, geograficamente dividido


por regiões, observe a Tabela 10:

Tabela 10: Geração de energia por região, em % do total


2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Brasil 552.498,3 570.834,7 590.542,3 581.486,1 578.898,3 587.961,7 601.396,5 626.324,4
Norte 12,7 12,6 13,7 15,0 12,5 16,1 18,7 19,3
Nordeste 13,8 14,0 16,3 16,2 16,1 16,3 16,0 17,3
Sudeste 37,1 34,0 30,7 28,9 31,2 31,2 28,6 29,1
Minas 13,0 9,5 7,8 6,5 8,1 7,6 7,4 8,5
Gerais (%
total)

208
Sul 23,1 27,4 27,5 28,7 29,6 25,2 24,4 21,8
Centro- 13,4 12,1 11,8 11,2 10,7 11,1 12,3 12,6
Oeste
Fonte: Empresa de Pesquisa Energética (2020). Disponível em: https://bit.ly/3dW3b9s. Acesso
em: 11 fev. 2021
A Tabela 10 mostra que a geração de energia é fortemente concentrada no
eixo centro-sul do território brasileiro, especialmente pelo fato de localizarem-se ali os
maiores mercados consumidores. Nesta área, o estado de Minas gerais concentra
aproximadamente 8,5% da produção nacional. De todo modo, a Região Norte teve
um aumento expressivo nesta participação, por meio da criação de usinas como a
de Belo Monte e a integração do sistema elétrico e suas redes de distribuição.
Passando agora aos desafios relacionados às matrizes energéticas, é possível
destacar:
Consumo de petróleo: apesar do avanço do uso das fontes renováveis de
energia, o petróleo ainda é a chave não apenas para o setor energético, mas para
a produção de bens em escala global. Neste sentido, o rápido consumo das reservas
mundiais, e que não são renováveis, precisa sempre ser considerado. No ano de 2018,
de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, as reservas existentes no mundo
eram de aproximadamente 1,7 trilhão de barris. No entanto, o consumo neste mesmo
período foi de aproximadamente 94,7 milhões de barris/dia, montante que corres-
ponde a aproximadamente 34 bilhões de barris; tal volume corresponde a 2,1% das
reservas mundiais, em um único ano.
Consequentemente, à medida que se amplia o consumo, os custos de extra-
ção e refino aumentam e a oferta se reduz, encarecendo os produtos criados frente
a uma demanda crescente. O equilíbrio desta relação, embora desloque-se na dire-
ção de fontes renováveis de energia, ainda precisa ser equacionado para todos os
demais produtos (combustíveis, lubrificantes, polímeros) que demandam o petróleo
para a sua elaboração.
Consumo de fontes alternativas: de acordo com o conteúdo apresentado, o
crescimento da oferta de fontes renováveis de energia é uma opção potencial para
o futuro; no entanto, ainda é preciso ajustar as dimensões de uso comercial destas
fontes, permitindo a sua utilização efetiva, especialmente em países pobres e áreas
onde a demanda por estes recursos é mais latente (REIS; FADIGAS; CARVALHO, 2012)
Poluição: a produção de energia, juntamente com a produção industrial, é
um dos grandes responsáveis pela emissão de gases poluentes, especialmente para

209
o setor da energia térmica. Desta forma, é importante observar o crescimento desta
variável, como descrito no Gráfico 13:
Figura 38: Emissão de dióxido de carbono, em milhares de toneladas

40000

35000

30000

25000

20000

15000

10000

5000

0
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
2012
2014
2016
Fonte: Elaborado pelo Autor com dados do Banco Mundial (2021).

Observe que apesar da emissão de gases poluentes ter reduzido a sua taxa de
crescimento a partir da década de 2010, esta emissão ainda é mais do que o triplo
do observado em 1960. As consequências deste processo passam pelo aquecimento
global, o aumento da temperatura média da terra e a consequente degradação de
ecossistemas, sobretudo na fauna e na flora marinha (REIS; FADIGAS; CARVALHO,
2012).

210
FIXANDO O CONTEÚDO

1. O uso das fontes energéticas deve ser entendido a partir de seus determinantes
históricos, a fim de conceituar os modos de desenvolvimento econômico que são
estabelecidos a partir da utilização ativa destas fontes, cujo uso acentuou-se nos
últimos séculos.

A partir do conteúdo destacado pelo texto-base, avalie as opções que se seguem


e assinale a correta.

a) A descoberta da energia elétrica, no século XIX, viabilizou a construção de solu-


ções produtivas que substituíam a tração animal e a energia eólica para a opera-
ção de maquinários industriais e equipamentos produtivos.
b) A energia do petróleo foi intrinsecamente utilizada a partir das soluções propostas
por James Watt, que revolucionou as formas de criação de bens com a invenção
do motor a explosão, no século XVII.
c) A primeira forma de energia efetivamente dominada pelo homem foi o fogo, por
meio da utilização de combustíveis fósseis em estado bruto, como o petróleo e o
carvão mineral, para obter aquecimento e conservação de alimentos.
d) A energia dos ventos e a tração animal substituíram o uso do vapor nas plantas
produtivas, reduzindo os custos de produção e permitindo a queda nos preços e
o aumento na demanda por diferentes produtos.
e) A utilização efetiva da energia elétrica, embora fosse conhecida desde a Antigui-
dade, expandiu-se mais significativamente a partir do Século XIX, com a criação
de usinas e sistemas de distribuição.

2. Para a compreensão das dimensões do setor energético para a Geografia Econô-


mica, torna-se necessário compreender algumas distinções e conceitos analíticos
que estão correlacionados às formas de geração e distribuição de energia às em-
presas e famílias.

Considerando o conteúdo apresentado pelo texto, analise as seguintes afirma-


ções:

211
I. As fontes denominadas ‘alternativas’ dizem respeito às soluções capazes de ge-
rar diferentes subprodutos com a sua exploração, tal como ocorre com o petró-
leo e a criação de combustíveis e solventes.
II. O conceito de matriz energética denomina um sistema de soluções produtivas
que envolve o processo de geração, captação e distribuição da energia ge-
rada desde as usinas até os seus consumidores finais.
III. O enfoque do Estado em relação à regulação do setor energético passa pela
criação de soluções de planejamento de curto prazo que permitam otimizar o
processo de difusão de fontes limpas de energia.

É correto o que se afirma em

a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) I e III, apenas.

3. As fontes energéticas estão ligadas ao cotidiano de empresas e famílias; efetiva-


mente, estas fontes baseiam-se em sistemas de geração de energia que atendem
às necessidades de desenvolvimento econômico e social, para a produção e con-
sumo de bens e serviços.

Neste sentido, a partir das proposições do texto-base, analise as seguintes afirma-


ções, julgando-as como (V) Verdadeiras ou (F) Falsas.

I. (X) O petróleo é considerado como uma fonte não-renovável de energia, dado


o seu potencial de exaustão.
II. (X) As concepções modernas de energias não-renováveis baseiam-se em ma-
trizes como a hidroelétrica e a termelétrica.
III. (X) A biomassa é uma solução sustentável de energia, em vista da possibilidade
de reutilização de resíduos e materiais renováveis.

212
Agora, assinale a opção que corresponde a sequência correta.
a) V – V – F.
b) V – F – F.
c) V – F – V.
d) F – V – F.
e) F – F – V.

4. As fontes renováveis de energia devem ser compreendidas a partir de sua contri-


buição ao crescimento econômico sustentável, enfocando processos de geração
e distribuição cujo potencial de desenvolvimento pode ser estimado a partir das
contribuições ao meio ambiente e à sobrevivência das espécies.

Neste sentido, de acordo com o seu conhecimento sobre o tema proposto, é cor-
reto mencionar que, dentre as fontes que se seguem, uma que não é considerada
renovável é

a) Energia geotérmica.
b) Energia por biomassa.
c) Energia hidrelétrica.
d) Energia nuclear.
e) Energia eólica.

5. As dimensões relacionadas aos processos de geração e distribuição de energia


ensejam uma reflexão acerca dos principais problemas ligados às matrizes ener-
géticas e seu potencial de utilização nas economias contemporâneas.

Assim sendo, de acordo com o tema apontado pelo texto-base, avalie as opções
que se seguem e assinale a correta.

a) Há uma tendência de declínio dos preços médios do petróleo com a sua explora-
ção intensiva, situação que pode demandar uma superoferta no setor nos próxi-
mos anos.

213
b) Há uma tendência de declínio na emissão de gases poluentes após a assinatura
dos tratados ambientais na década de 1990, como resultado de políticas de ex-
ploração de fontes renováveis.
c) Uma das maiores limitações à exploração comercial das fontes alternativas de
energia é o seu custo de implementação, especialmente para países em vias de
desenvolvimento.
d) A regulação do fornecimento e distribuição de energia elétrica no Brasil é reali-
zado por agências privadas como a ANEEL, que atuam como órgãos de gestão e
ouvidoria de demandas do setor energético.
e) A utilização da energia geotérmica apresenta um potencial importante de utiliza-
ção, no entanto, uma restrição ao setor é o seu elevado impacto ambiental de-
corrente do aquecimento da atmosfera.

12. A Geografia Econômica prioriza o estudo das fontes energéticas a partir de


sua distribuição espacial, permitindo avaliar de que modo os países desenvolvidos
e em desenvolvimento beneficiam-se da disponibilidade destas fontes em seus es-
paços territoriais.

Assim sendo, mediante a dinâmica apontada pelo texto-base, analise as seguintes


afirmações:

I. O principal fator de incentivo à exploração da energia à base de hidrogênio é


a disponibilidade de tecnologia e armazenamento deste combustível em con-
dições comerciais, de modo que seus custos apresentam redução progressiva
ao longo do tempo.
II. A energia oceânica baseia-se no aproveitamento da energia das ondas para
conversão em energia elétrica, no entanto, este método ainda é carente de
um desenvolvimento comercialmente viável.
III. O potencial de utilização da biomassa como recurso energético na economia
brasileira baseia-se intrinsecamente na utilização intensiva de resíduos decor-
rentes da exploração comercial de commodities agrícolas como a cana-de-
açúcar.

214
É correto o que se afirma em

a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) I e III, apenas.
e) II e III, apenas.

13. As políticas setoriais voltadas ao setor energético, na realidade brasileira, permi-


tem perceber processos de concentração e utilização de fontes energéticas es-
pecíficas, focando uma distribuição espacial que priorize elementos ligados ao
desenvolvimento econômico regional.

Desta forma, mediante as dinâmicas apontadas pelo texto, analise as seguintes


afirmações, julgando-as como (V) Verdadeiras ou (F) Falsas.

I. (X) Há uma tendência de crescimento do uso de energia nuclear no cenário


mundial, cuja oferta mais que dobrou ao longo da década de 2010.
II. (X) O uso de fontes de energia renováveis vem passando por uma estagnação
decorrente da sua limitação de uso comercial.
III. (X) Há um predomínio importante das plantas termeléricas como matriz energé-
tica no contexto mundial, seguindo-se a matriz hidrelétrica.

Agora, assinale a opção que corresponde a sequência correta.

a) V – V – F.
b) V – F – V.
c) V – F – F.
d) F – V – V.
e) F – F – V.

14. Uma abordagem de síntese a respeito do setor energético permite desenvolver


reflexões que integram este setor à Geografia Econômica e, consequentemente,

215
à Geografia Humana, por meio de políticas setoriais e de desenvolvimento que
impactam os processos de reprodução da vida material de empresas e famílias.

Assim sendo, de acordo com o conteúdo apresentado pelo texto-base, analise as


seguintes afirmações, julgando-as como (V) Verdadeiras ou (F) Falsas.

I. (X) A China consolidou-se como um mercado de alta demanda por recursos ener-
géticos, ocupando a liderança na produção de energia.
II. (X) O Brasil vem perdendo posições na liderança de produção de energia ao
longo da década de 2010, refletindo políticas pouco robustas de investimento no
setor.
III. (X) A maior parte da energia gerada no Brasil localiza-se na calha norte-nordeste,
com o aproveitamento de áreas alagadas e de regiões de cerrado para a insta-
lação de usinas hidrelétricas e eólicas.

Agora, assinale a opção que corresponde a sequência correta:

a) V – V – F.
b) V – F – V.
c) V – F – F.
d) F – V – V.
e) F – F – V.

216
ASPECTOS DE ECONOMIA
INTERNACIONAL E GEOPOLÍTICA
CONTEMPORÂNEA
12.1. INTRODUÇÃO

O noticiário econômico sempre apresenta dados relativos à movimentação


comercial da economia mundial. Em 2018, por exemplo, os portais de notícias de-
monstraram os efeitos negativos da guerra comercial desencadeada entre Estados
Unidos e China, com o primeiro país aplicando tarifas às importações chinesas, uma
situação que acabaria por afetar as relações comerciais em escala global; em 2020,
esta tensão ficou ainda mais latente com a crise sanitária decorrente da pandemia
de Covid-19, que escancarou a dependência de produtos chineses em áreas estra-
tégicas, como equipamentos de proteção individual (EPIs) e suprimentos para o mer-
cado hospitalar (máscaras, respiradores e outros insumos).
Neste caso, é possível efetuar alguns questionamentos: qual a ligação entre o
crescimento econômico de um país, e as suas articulações no âmbito do comércio?
A abertura de uma economia às relações comerciais com o resto do mundo apre-
senta somente efeitos positivos, ou também negativos? Quais as relações comerciais
que o Brasil mantém com o resto do mundo? Estas questões, a seu modo, serão tra-
balhadas e discutidas ao longo desta Unidade.

12.2. A INSERÇÃO DO BRASIL NA GEOGRAFIA ECONÔMICA MUNDIAL E AS OR-


GANIZAÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS

Na segunda metade do Século XX, a economia brasileira buscou integrar-se


aos circuitos do capital internacional, através da atração de investimento estrangeiro
direto e do estabelecimento de empresas multinacionais para os setores de bens e
de capital e bens de consumo, aderindo ainda a espaços de comércio comum
(CERVO, 1997).
A partir da década de 1960, o Brasil buscou reforçar os aspectos comerciais
com os países sul-americanos. Neste contexto, foram criadas instituições multilaterais
como a ALALC (Associação Latinoamericana de Livre Comércio), em 1960, e a ALADI

217
(Associação Latinoamericana de Integração), através do Tratado de Montevidéu,
em 1980, e que está vigente ainda hoje. As graves crises econômicas vivenciadas
pela economia brasileira na década de 1980 e início da década de 1990 impediram,
porém, concretizações mais efetivas das iniciativas de criação de mercados comuns.
Nesta época, o governo ainda mantinha medidas restritivas ao comércio em
diferentes setores, como o automotivo e no setor de informática, restringindo forte-
mente, até 1990, a entrada de carros e computadores no país, o que atrasou sensi-
velmente o desenvolvimento do setor de telecomunicações, com efeitos gerais no
setor de serviços (CERVO, 1997).
Em 2004, durante o governo Lula, foi lançada a PITCE (Política Industrial, Tec-
nológica e de Comércio Exterior), para dar fomento ao setor industrial como chave
para a política comercial, que foi diretamente afetada pela crise política interna
(com escândalos como o ‘mensalão) e pela conjuntura econômica externa, à beira
da crise de 2008.
Desde aquele período, o governo brasileiro substituiu sua política comercial no
âmbito setorial, por um processo de apoio a empresas ‘campeãs’ em seus setores
(como telecomunicações, petroquímica e agronegócio), a serem apoiadas por
grandes empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), subsi-
diadas a juros baixos.

A estratégia de eleição de ‘campeãs nacionais’ a partir da década de 2000 como líderes


do comércio exterior é discutida pelo artigo de Leandro Bruno Santos denominado ‘Políti-
cas públicas e internacionalização de empresas brasileiras’ (2015). Acesse:
https://bit.ly/37XJLgN. (Acesso em: 11 fev. 2021)

A política comercial deixou de relevar o desenvolvimento integrado da base


industrial brasileira; com a crise econômica e política desencadeada a partir de 2015,
esta falha ficou clara, mediante a sucessiva quebra de empresas e aumento do de-
semprego. Os desdobramentos políticos da Operação Lava Jato, aliás, acabaram
por tornar públicas as relações espúrias efetivadas por diversas empresas que antes
haviam sido eleitas como ‘campeãs nacionais’, especialmente na construção civil
pesada (como as construtoras Odebrecht e OAS, por exemplo) e no Agronegócio,

218
favorecendo o grupo JBS. Estas empresas passaram por uma profunda reestruturação
contemporânea, ou acabaram por sucumbir aos resultados claros de suas ações es-
púrias no mercado (DOMINGUES, 2017).

12.2.1 Análise da Balança Comercial Brasileira

Uma vez que você pôde compreender a importância das políticas de Estado
para a promoção do comércio internacional, vamos agora aprofundar o conheci-
mento a respeito dos efeitos práticos da política comercial brasileira, através do en-
tendimento dos seus acordos de comércio preferencial, de modo a verificar como
eles apresentam impacto sobre sua estrutura da balança comercial.

Para entender com mais amplitude os protocolos que regem a política comercial entre
países, você pode estudar o quarto capítulo (Relações econômicas internacionais) do livro
de Reinaldo Gonçalves, ‘Economia Política Internacional’ (2016). Neste capítulo, o autor
detalha aspectos do comércio de bens e serviços no mundo, bem como os fluxos de tran-
sações financeiras em escala internacional. Acesse: https://bit.ly/3q3F37d. (Acesso em: 11
fev. 2021).

O Brasil possui mais de vinte acordos preferenciais de comércio exterior e ne-


gociações internacionais, de acordo com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior
e Serviços (MDIC), que abrangem milhares de produtos diferentes na pauta de ex-
portações e importações. Em primeiro lugar, é importante mencionar a Argentina,
que sempre foi um dos parceiros comerciais preferenciais do Brasil, em uma perspec-
tiva histórica. Na década de 1980, estes países assinaram uma primeira declaração
para a criação de um mercado comum, que estruturou as bases para o Tratado de
Assunção, que criou o Mercosul (CERVO, 1997).
No entanto, o Brasil ainda mantém relações comerciais com a Argentina que
são regidas através de instruções normativas específicas, como o Acordo de Com-
plementação Econômica (ACE) Brasil – Argentina (ACE-14), que estabelece subsídios
tarifários em diversos produtos, dos quais cabe destacar, particularmente, o setor au-
tomotivo.

219
Apesar do intenso comércio estabelecido entre o Brasil e as ‘nações platinas’ (Paraguai,
Uruguai e Argentina), tensões políticas sempre permearam esta região, com a ocorrência
de vários conflitos armados no Século XIX, como a Guerra da Cisplatina na década de
1820, e, em especial, a Guerra do Paraguai (1864-1870) (CAMPOS; MIRANDA, 2000).

Os demais acordos estabelecidos individualmente pelo Brasil foram realizados


com os seguintes países (BUENO, 2021):

 Uruguai (ACE-02);
 México (ACE-53);
 Venezuela (ACE-89);
 Suriname (ACE-41), (parcial) que estabelece isenção tarifária para uma quota
anual de arroz importado do Suriname;
 Acordo parcial entre Brasil, Guiana e São Cristóvão e Névis, voltado para o co-
mércio de gêneros de origem vegetal (incluso papel) e minério (AAP.A25TM 38);
 Acordo de Ampliação econômico-comercial entre Brasil e Peru (sem vigência).

No âmbito do Mercosul, estão vigentes os seguintes acordos:

 Operações comerciais entre os próprios países do Mercosul (ACE-18)


 Chile (ACE-35)
 Bolívia (ACE-36)
 México (ACE 54)
 Acordo Mercosul-México para o setor automotivo (ACE-55)
 Peru (ACE-58)
 Colômbia, Equador e Venezuela (ACE-59)
 Colômbia (ACE-72)
 Cuba (ACE-62)
 Acordo de Comércio Preferencial (ACP) Mercosul-Índia
 Acordo de Livre Comércio (ALC) Mercosul – Israel

220
 ACP Mercosul – SACU (grupo de países que engloba África do Sul, Namíbia,
Botswana, Lesoto e Suazilândia)
 ALC Mercosul – Egito
 ALC Mercosul – Palestina (em tramitação)

Além destes acordos bilaterais, o Brasil também integra instituições multilate-


rais, como demonstra a Figura 26:

Figura 39: Mapa mental dos acordos de comércio estabelecidos pelo Brasil

Fonte: Elaborado pelo Autor (2021)

Dentre os organismos os quais o Brasil faz parte, estão a Organização das Na-
ções Unidas (ONU), a Organização Mundial do Comércio (OMC), o G20 – O grupo
das dezenove maiores economias do mundo, mais a União Europeia – e está pleite-
ando o acesso à OCDE, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Eco-

221
nômico, que reúne os países que apresentam maior Índice de Desenvolvimento Hu-
mano (IDH), sendo assim considerados como países desenvolvidos.

Agora, vamos observar com mais atenção os resultados da Balança Comer-


cial brasileira para um ano selecionado, especificamente em 2018, cujas estatísticas
estão melhor consolidadas. Entre os meses de Janeiro e Novembro daquele ano, a
economia brasileira registrou exportações no montante igual a US$ 219,97 bilhões, e
importou o equivalente a US$ 168,3 bilhões. O saldo comercial, portanto, foi positivo
(superávit) em 51,6 bilhões de dólares.
Através da Figura 27, podemos acompanhar todos os fluxos de comércio do
Brasil, de modo a evidenciar a importância da China como parceira comercial:

Figura 40: Fluxos de exportação da economia brasileira entre jan/nov 2018

Disponível em: https://bit.ly/3kBOh9C. Acesso em: 13 fev. 2021

222
As exportações para a China atingiram US$ 58,77 bilhões no período de Janeiro
a Novembro de 2018, mais do que o dobro das exportações para os Estados Unidos
(US$ 26,25 bilhões). Argentina e Países Baixos seguem em terceiro e quarto lugares,
com US$ 14,25 bilhões e US$ 12,32 bilhões, respectivamente. Do montante exportado
de US$ 219,97 bilhões, tem-se que os principais produtos são ‘produtos básicos’, ge-
rados pelo agronegócio ou por extrativismo de minerais e combustíveis fósseis.

A influência importante dos Países Baixos (Holanda, Bélgica e Luxemburgo) deve-se em


grande parte ao envio de minério de ferro para a Europa através do porto de Roterdã
(Holanda).

12.3. INTEGRAÇÃO ECONÔMICA NA AMÉRICA LATINA

O que leva um país a promover o crescimento econômico através da industri-


alização? Naturalmente, respostas possíveis giram em torno da melhoria da renda per
capita, do aumento das exportações e da promoção de empregos e demanda por
mão-de-obra qualificada. Para entender esta questão, vamos entender um referen-
cial teórico sobre os processos de industrialização a partir do conceito de ‘Processo
de substituição de importações’ (PSI), o qual foi fundamental para a promoção do
desenvolvimento econômico nos países latino-americanos.

12.3.1 Substituição de importações

Nações realizam processos de comércio entre si de forma sistemática, para


obterem os bens e serviços necessários à sua reprodução social. Neste sentido, me-
didas de proteção à indústria nacional, aplicadas historicamente em países em de-
senvolvimento, podem gerar distorções importantes em função da criação de reser-
vas de mercado e ineficiências à produção industrial. Estas relações de comércio,
portanto, são organizadas de acordo com modelos específicos e têm impacto sobre
a estrutura macroeconômica destas nações, de uma forma sistêmica.

223
Neste sentido, deve-se compreender que o Processo de Substituição de Impor-
tações (PSI) configura-se em um modelo econômico no qual um país passa a produzir
internamente produtos que tradicionalmente constavam de sua pauta de importa-
ções, que passam a ser restringidas através de barreiras à importação.
Vale aqui destacar que estas barreiras são normalmente operadas de duas
formas: através de medidas tarifárias (como impostos alfandegários, por exemplo) ou
não-tarifárias (como a definição de cotas à importação ou a restrição direta ao co-
mércio de importação de certos produtos). Historicamente, muitos países aplicaram
tais medidas protecionistas de comércio, a fim de favorecer a produção no âmbito
do mercado interno, sobretudo nos chamados ‘países em desenvolvimento’, como
na América Latina (FONSECA, 2012). O protecionismo à indústria é operado, deste
modo, como uma forma de promover o aumento do consumo de bens internos atra-
vés da restrição às importações.
Uma justificativa para esta postura é um conceito explorado na História do
Pensamento Econômico denominado como Argumento da Indústria Nascente. Em
linhas gerais, este argumento menciona que um país deve manter, no limite de suas
possibilidades, uma proteção comercial à sua base industrial no período de sua im-
plementação, de modo a ‘aquecer’ a produção industrial através da garantia de
consumo no mercado interno (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
Muitas economias em desenvolvimento na América Latina promoveram sua
industrialização usando, em parte, o referencial teórico do Argumento da Indústria
Nascente. No caso brasileiro, em especial, a estratégia utilizada, em linhas gerais,
passou pela industrialização da economia voltada essencialmente para o mercado
interno, através de limitação de importações, além de criar uma indústria comple-
mentar para atender as necessidades da economia em crescimento na sua dimen-
são agrário-exportadora (como a criação de fábricas de maquinário para o benefi-
ciamento de café, por exemplo) (CANO, 1998).
Observe, porém, que o PSI apresenta algumas nuances: O modelo envolve a
criação de um setor industrial que fosse responsável pela dinamização da economia,
determinando os seus níveis de emprego e renda, superando antigos gargalos gera-
dos por uma base econômica ineficiente, assentada sobre a produção agrícola. E,
da mesma forma, o PSI é favorecido quando choques externos ocorrem de modo a
deprimir o comércio nacional – o que ocorreu, para a realidade da América Latina,

224
nos anos da Grande Depressão na década de 1930 e durante o período da Segunda
Guerra Mundial, entre 1939 e 1945 (EICHENGREEN, 2000).
Este modelo de substituição de importações apresenta, porém, algumas limi-
tações que podem ser destacadas. A primeira delas está ligada à questão da indús-
tria nascente: a proteção à indústria não necessariamente irá geral uma base indus-
trial nacional que seja realmente competitiva; a proteção ao setor industrial pode
criar uma indústria pouco eficiente, ou focada em produtos de baixo conteúdo tec-
nológico, que apresentam valores agregados relativamente reduzidos em relação a
bens de alta tecnologia.
Uma outra limitação se dá em função da disponibilidade de capitais: a inexis-
tência, nos países em desenvolvimento, de um mercado financeiro eficiente, com
bancos de fomento e/ou instituições financeiras sólidas e capazes de oferecer finan-
ciamento a juros baixos, acaba por condicionar oportunidades de investimento das
empresas apenas à sua margem de lucro. Lucros baixos, portanto, significaram pos-
sibilidades nulas para investimento.
Uma terceira razão reside sobre o problema do timing: uma economia que
aplique barreiras ao comércio para promover a indústria pode perder momentum a
respeito do ponto onde estas restrições devem ser abandonadas para que a indústria
nacional esteja pronta a enfrentar a competição estrangeira; este atraso pode aca-
bar por gerar ineficiências diversas, como uma base tecnológica atrasada, e/ou es-
trangulamento de demanda pelos bens atingidos pelas restrições, como ocorreu no
caso do mercado brasileiro em informática (FONSECA, 2012).
Há que mencionar, por fim, a orientação do processo industrializante: a dinâ-
mica do PSI está assentado na criação de um setor industrial através do mercado
interno, como afirmado anteriormente. O modelo não abrange, neste sentido, expe-
riências de industrialização do século XX que fossem claramente orientadas para o
mercado externo, como no caso das economias asiáticas, que estudaremos no pró-
ximo tópico.

6.4 BLOCOS ECONÔMICOS: ASPECTOS DO CRESCIMENTO ECONÔMICO DOS


PAÍSES ASIÁTICOS

Neste subtópico, vamos observar rapidamente alguns aspectos relativos às

225
economias dos países asiáticos, sobretudo China e Índia, cujo desempenho nos mer-
cados internacionais acaba por conferir-lhes um papel determinante na
Geografia Econômica.
O crescimento da China no comércio internacional e em sua economia deve-
se, principalmente, a uma série de reformas implementadas a partir do final da dé-
cada de 1970 por Deng Xiaoping. Neste período, a China deixa de ser uma república
isolacionista, com poucas relações internacionais, e passa a se abrir à economia de
mercado, liderando os fluxos de exportação de mercadorias em âmbito mundial.

Deng Xiaoping (1904 – 1997) foi um líder político que implementou um novo regime eco-
nômico na China; ao expandir a abertura de seu mercado a partir de regiões específicas
e com o apoio de empresas estatais, permitiu que o regime de governo fosse mantido, em
uma estrutura conhecida como ‘economia de mercado socialista’.

Há diferentes fatores, de natureza econômica, histórica, política e geográfica


que competiram para a criação deste quadro relativo ao crescimento da economia
chinesa. Vamos analisar oito destes fatores, de acordo com a matriz interpretativa de
Nonnemberg (2010):

 Liberalização progressiva de preços, abandonando a política de fixação de


preços pelo Estado, o que elevou a produtividade sobretudo no setor rural.
 Liberalização do comércio exterior, com o fim do planejamento estatal e das
exportações realizadas apenas por empresas públicas. As importações, por sua
vez, eram controladas por barreiras tarifárias e não-tarifárias, que foram progres-
sivamente abolidas com a adesão da China à Organização Mundial do Comér-
cio (OMC).
 Criação de áreas específicas de promoção à indústria e ao investimento estran-
geiro, as Zonas Econômicas Especiais (ZEEs).
 Presença maciça de mão-de-obra no setor rural que foi deslocada para as ci-
dades, a salários igualmente defasados perante o seu aumento de produtivi-
dade com o incremento tecnológico na indústria, de modo que o custo unitário
do trabalho manteve-se baixo.

226
 Ausência de mecanismos de proteção à propriedade intelectual, de modo que
empresas multinacionais têm seu conteúdo tecnológico sistemática e ilegal-
mente apropriado por sócios locais que passam a produzir bens semelhantes a
preços inferiores.
 A dimensão da população, que favorece economias de escala através do con-
sumo maciço de bens e serviços.
 O crescimento do investimento direto estrangeiro (IDE), que cresceu mais de
quinhentas vezes entre 1981 (US$ 265 mi) e 2007 (US$ 138 bi).
 Compromissos de transferência de tecnologia e agrupamento das indústrias,
permitindo desenvolvimento de conteúdo tecnológico e alterando a pauta de
exportações.

Em 1975, a economia chinesa estava em nono lugar entre as maiores econo-


mias do mundo, e seu produto interno bruto (PIB) representava 13% do PIB norteame-
ricano naquele período. Em 2001, a China já era a segunda economia global, e em
2006, seu PIB representava 46% do PIB dos Estados Unidos – valor este que já saltou
para 63,1% no ano de 2017 (NONNENBERG, 2010).
O caso chinês é um exemplo bem-sucedido de desenvolvimento econômico
lastreado sobre a produção industrial. Segundo Rodrik (2011), trata-se de um país que
conseguiu realizar uma rápida transição na sua estrutura econômica, priorizando se-
tores modernos e de alta produtividade, com grande conteúdo tecnológico inte-
grado. Estes produtos, de acordo com o autor, são comercializáveis, promovendo
exportações, acelerando a produtividade da mão-de-obra e gerando crescimento
econômico acentuado.
Este processo de crescimento está atualmente ocorrendo na China, porém a
taxas relativamente decrescentes – ou seja, o crescimento chinês está passando por
uma fase de desaceleração por diferentes razões, podendo-se citar a guerra comer-
cial estabelecida com os Estados Unidos em torno da tarifação de importações.
Neste sentido, análises já vêm apontando que a China irá ‘passar o bastão’ para a
Índia no quesito do crescimento econômico (CALEIRO, 2017).
A economia indiana apresenta algumas peculiaridades e sinergias em relação
à economia chinesa: vem realizando mudança da sua base de produtos comercia-

227
lizáveis, incorporando bens de conteúdo tecnológico na indústria química, automo-
tiva e eletroeletrônica; possui um mercado interno gigantesco, que fomenta econo-
mias de escala no quesito do consumo; alto grau de informalidade nas relações de
trabalho, o que reduz o custo de mão-de-obra; entre outros (BANIK; PADOVANI, 2014).
O crescimento econômico indiano também vem se processando em um ritmo
acelerado, com taxas anuais elevadas; estimativas indicam que a Índia ultrapassará,
em meados deste século, os Estados Unidos em termos do PIB por paridade de com-
pra, consolidando uma posição de superpotência econômica.
Há que destacar que no caso indiano, persistem graves déficits de infraestru-
tura que comprometem o escoamento da produção, que está mais concentrada
junto às megalópoles. Além disso, destacam-se a alta burocracia estatal que reduz o
horizonte de confiança dos investidores; a inflação relativamente elevada, com en-
dividamento do Estado, além de fatores de natureza cultural (divisão da sociedade
em castas, organizando grupos que vivem no limite da extrema pobreza) (SILVA;
BREDA, 2009)
Podemos analisar estes fatores relativos ao crescimento econômico dos países
mencionados sob uma perspectiva comparada, de acordo com a Tabela 11, que se
segue:

Tabela 11: Indicadores econômicos e comerciais para países selecionados


Fed. África do
EUA U. Europ. Brasil Índia China
Russa Sul
2.055 2.611 12.01
PIB (2017), US$ Bilhões 19.390,6 17.308,9 1.527,5 349,3
,0 ,0 4,6
PIB Per capita 2015-2017 57.831 32.935 9.135 9.673 1.792 8.309 5.768
% comércio sobre PIB 13,4 17,1 12 24 20,5 19,1 30
Ranking de comércio
(exceto EU)
Exportação 3 2 19 11 14 1 25
Importação 1 2 20 14 7 3 23
Balanço de Serviços
(ranking exceto EU)
Exportação 2 1 22 14 4 3 31
Importação 2 1 14 10 6 3 31

Balança Comercial, em
US$ bilhões (2017)
2.263,
Valor das exportações 1.546,7 2.122,5 217,8 353,1 298,4 89,0
3

228
1.841,
Valor das importações 2.409,5 2.096,6 157,5 237,8 447,2 101,3
9

% exportações mundiais 8,72 15,22 1,23 1,99 1,68 12,77 0,5


% importações mundiais 13,37 14,72 0,87 1,32 2,48 10,22 0,56

Perfil das exportações


(% 2016)
Produtos agrícolas 11,1 8,2 41,5 8,8 12,8 3,6 13,7
Combustíveis fósseis e
8,7 6,3 17,7 62,9 13,8 2,4 31,5
mineração
Manufaturas 74,9 81,8 37,9 21,5 70,5 93,7 47,7
Outros 5,2 3,7 2,9 6,5 2,9 0,3 7,1

Perfil das importações


(% 2016)
Produtos agrícolas 7,1 8,8 8,7 13,5 8,1 9,8 9,3
Combustíveis fósseis e
9,2 19,1 14,1 2,9 30 20,5 16,1
mineração
Manufaturas 79 67,4 77,1 75,2 51,7 64,9 66,4
Outros 4,8 4,8 0,1 8,3 10,2 4,8 8,2
Fonte: Organização Mundial do Comércio (OMC) (2018)

Podemos perceber a importância da China na dimensão do comércio inter-


nacional (a partir dos dados do ano de 2016), e de como estes dados são indicativos
de uma estrutura econômica consolidada e em crescimento: é o principal mercado
exportador, e o terceiro maior importador de mercadorias. Cabe, ainda, destacar a
Índia no comércio do setor de serviços (sendo o quarto maior mercado exportador
nesta categoria).

229
FIXANDO O CONTEÚDO

1. Ao observar os aspectos relacionados à geopolítica contemporânea, é necessário


entender os processos que condicionaram a inserção política e econômica do
Brasil nas Relações Internacionais, como parte de uma dinâmica de desenvolvi-
mento que abrange aspectos comerciais, industriais e culturais em perspectiva his-
tórica.

Deste modo, considerando o conteúdo apresentado pelo texto-base, associe as


colunas a seguir:

1. ALALC
2. PITCE
3. ALADI
4. ACE

(X) Configura-se como um conjunto de ações e medidas voltadas à promoção da


competitividade da indústria brasileira na década de 2000.
(X) Trata-se de uma agência intergovernamental que preconiza a criação de áreas
de comércio livre na América Latina.
(X) É um instrumento de negociação entre o Brasil e outros países do mundo para a
promoção do comércio com tarifas privilegiadas.
(X) É uma instituição multilateral de fomento ao desenvolvimento econômico por
meio da integração comercial dos países latino-americanos.

Agora, assinale a opção que corresponde à sequência correta.

a) 3 – 4 – 1 – 2.
b) 2 – 1 – 3 – 4.
c) 1 – 2 – 4 – 3.
d) 4 – 1 – 2 – 3.
e) 4 – 3 – 1 – 2.

230
2. A evolução da política internacional brasileira precisa ser compreendida por
conta de suas implicações na geopolítica regional, denotando a criação de acor-
dos e tratados de promoção ao desenvolvimento econômico por meio de institui-
ções multilaterais.

A partir do conteúdo apresentado, analise as seguintes afirmações:

I. O enfoque da inserção brasileira na economia internacional no século XX iniciou-


se pelo privilégio às empresas nacionais e sua internacionalização, de modo a re-
patriar lucros acumulados.
II. O apoio ao investimento estrangeiro direto em meados do século XX esteve base-
ado na indústria de bens de consumo duráveis e em um distanciamento dos países
latino-americanos.
III. O desenvolvimento da política de empresas ‘campeãs nacionais’ no século XXI
procurou privilegiar empresas líderes em seus segmentos de mercado com apoios
e financiamentos à sua internacionalização.

É correto o que se afirma em

a) III, apenas.
b) I e II, apenas.
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.

3. As políticas comerciais e de inserção nos fluxos internacionais de comércio deve


ser estruturada a fim de compreender os mecanismos geopolíticos e de desenvol-
vimento que atuam no sentido de gerar renda e emprego nas economias nacio-
nais.

Considerando a dinâmica proposta pelo texto-base, analise as seguintes afirma-


ções, julgando-as como (V) Verdadeiras ou (F) Falsas.

231
I. (X) A criação do Mercosul permitiu o desenvolvimento de diferentes acordos
preferenciais de comércio que viabilizaram a integração dos países sul-ameri-
canos.
II. (X) A entrada do Brasil na OCDE viabilizou a liberação de linhas de crédito e
acordos comerciais com os países mais ricos do mundo, em condições privilegi-
adas.
III. (X) O Brasil é um países membros do G20, um organismo multilateral que reúne
as nações com maior Produto Interno Bruto (PIB) no mundo.

Agora, assinale a opção que corresponde a sequência correta.

a) F – V – F.
b) V – F – F.
c) V – F – V.
d) V – V – F.
e) F – F – V.

4. O estudo da balança comercial brasileira deve ser estruturado a partir de medidas


de apoio e incentivo à integração internacional das empresas brasileiras, viabili-
zando o processo de geração de produtividade e de desenvolvimento da econo-
mia nacional.

Neste sentido, de acordo com as colocações efetivadas, avalie as opções que se


seguem e assinale a correta.

a) No ano de 2018, o parceiro preferencial das relações comerciais foi a União Euro-
peia, demonstrando a importância dos acordos preferenciais.
b) Os países da África detêm a maior parte dos fluxos comerciais brasileiros, em um
processo de integração regional.
c) A Argentina mantém-se como principal parceiro comercial da economia brasi-
leira, estabelecendo fluxos comerciais de longa duração.
d) Há um predomínio de bens industrializados na pauta de exportação brasileira, de-
monstrando o desenvolvimento da indústria nacional.

232
e) É possível perceber a consolidação da China como parceiro comercial preferen-
cial do Brasil, em detrimento de outros parceiros tradicionais.

5. As medidas de desenvolvimento econômico devem ser observadas a partir de


seus aspectos teóricos, a fim de demonstrar as dinâmicas associadas à formação
econômica do Brasil em seus diferentes elementos e determinações.

Assim sendo, a partir da contextualização efetivada pelo texto-base, analise as


seguintes afirmações, julgando-as como (V) Verdadeiras ou (F) Falsas.

I. (X) O processo de substituição de importações foi verificado particularmente


nas economias em desenvolvimento na América Latina.
II. (X) Os acordos de complementação econômica (ACEs) são formados a partir
de tarifas aumentadas de comércio entre países, para incentivar a indústria na-
cional.
III. (X) A criação de setores econômicos focados no livre comércio, como na área
de informática, viabilizou uma liderança do Brasil nestes mercados globais até
a década de 1980.

Agora, assinale a opção que corresponde a sequência correta.

a) F – V – F.
b) V – F – F.
c) V – F – V.
d) V – V – F.
e) F – F – V.

6. Os conceitos relativos ao Desenvolvimento Econômico, tais como o ‘argumento


da indústria nascente’ e o processo de substituição de importações, devem ser
observados para compreender a realidade social dos países latino-americanos e
as suas implicações geopolíticas.

233
Neste sentido, a partir das dimensões propostas pelo texto-base, analise as seguin-
tes afirmações:

I. O argumento da indústria nascente demonstra que uma nação deve proteger


sua base industrial na etapa de sua implementação por meio de práticas de
reserva de mercado.
II. O processo de substituição de importações tem por objetivo privilegiar a indús-
tria nacional por meio de restrições efetivas à importação de produtos similares
produzidos internacionalmente.
III. O principal enfoque do argumento da indústria nascente é a promoção do livre
comércio, estabelecida a partir do apoio à competitividade das indústrias re-
cém-criadas.

É correto o que se afirma em

a) III, apenas.
b) I e II, apenas.
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.

7. O crescimento das nações e blocos do continente asiático interfere diretamente


nos fluxos econômicos globais, ensejando assim uma abordagem a respeito de
seus aspectos políticos e sociais, em uma perspectiva integrada e focada em ho-
rizontes de longo prazo.

Neste sentido, a partir da contextualização apresentada pelo texto, é correto afir-


mar que

a) as reformas econômicas promovidas por Mao Tsé-Tung na década de 1960 viabi-


lizaram a abertura do mercado chinês ao comércio internacional.
b) o enfoque da economia chinesa é o livre mercado regido por princípios políticos

234
capitalistas e democráticos, a fim de garantir uma posição predominante no co-
mércio global.
c) o desenvolvimento das ZEEs, as Zonas Econômicas Especiais, viabilizou a criação
de áreas de fomento ao investimento estrangeiro e à implementação de plantas
industriais a custo baixo.
d) a economia indiana é baseada em produtos primários de exportação, em vista
das sinergias criadas no agronegócio e no alto preço da mão de obra urbana.
e) há uma tendência de desaceleração econômica na Índia, o que se reflete em
uma tendência de queda no PIB per capita em relação a países-líderes como os
Estados Unidos.

8. As dinâmicas do comércio internacional são formalizadas com base em acordos


e tratados que determinam a abertura ou o fechamento de mercados a parceiros
preferenciais, condicionando, assim, os fluxos de mercadorias e capital entre as
nações.

De acordo com o conteúdo apresentado pelo texto-base, leia o trecho com la-
cunas que se segue:

Na América Latina, a promulgação do __________ na década de 1980 viabilizou a


formação do bloco conhecido pela sigla __________. O intuito deste bloco residia
em criar __________ para promover o desenvolvimento econômico em esfera regi-
onal com a consequente integração de mercados.

Agora, assinale a opção que contempla a sequência correta para o texto apre-
sentado

a) Tratado de Assunção – Mercosul – reserva de mercado.


b) Tratado de Montevidéu – Aladi – áreas de livre comércio.
c) Tratado de Entre Rios – Alalc – reserva de mercado.
d) Tratado de San Juan – Mercosul – áreas de livre comércio.
TRATADO DO PANAMÁ – ALALC – RESERVA DE MERCADO

235
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO

UNIDADE 01 UNIDADE 02

QUESTÃO 1 C QUESTÃO 1 A
QUESTÃO 2 A QUESTÃO 2 C
QUESTÃO 3 B QUESTÃO 3 D
QUESTÃO 4 A QUESTÃO 4 A
QUESTÃO 5 E QUESTÃO 5 B
QUESTÃO 6 D QUESTÃO 6 B
QUESTÃO 7 B QUESTÃO 7 C
QUESTÃO 8 C QUESTÃO 8 E

UNIDADE 03 UNIDADE 04

QUESTÃO 1 C QUESTÃO 1 B
QUESTÃO 2 D QUESTÃO 2 A
QUESTÃO 3 B QUESTÃO 3 C
QUESTÃO 4 E QUESTÃO 4 E
QUESTÃO 5 D QUESTÃO 5 C
QUESTÃO 6 B QUESTÃO 6 D
QUESTÃO 7 A QUESTÃO 7 E
QUESTÃO 8 C QUESTÃO 8 B

UNIDADE 05 UNIDADE 06

QUESTÃO 1 E QUESTÃO 1 C
QUESTÃO 2 C QUESTÃO 2 E
QUESTÃO 3 B QUESTÃO 3 E
QUESTÃO 4 D QUESTÃO 4 D
QUESTÃO 5 B QUESTÃO 5 A
QUESTÃO 6 C QUESTÃO 6 B
QUESTÃO 7 D QUESTÃO 7 C
QUESTÃO 8 A QUESTÃO 8 D

236
UNIDADE 07 UNIDADE 08

QUESTÃO 1 E QUESTÃO 1 C
QUESTÃO 2 C QUESTÃO 2 D
QUESTÃO 3 A QUESTÃO 3 A
QUESTÃO 4 D QUESTÃO 4 B
QUESTÃO 5 C QUESTÃO 5 B
QUESTÃO 6 C QUESTÃO 6 A
QUESTÃO 7 E QUESTÃO 7 E
QUESTÃO 8 A QUESTÃO 8 B

UNIDADE 09 UNIDADE 10

QUESTÃO 1 C QUESTÃO 1 E
QUESTÃO 2 B QUESTÃO 2 B
QUESTÃO 3 C QUESTÃO 3 C
QUESTÃO 4 A QUESTÃO 4 D
QUESTÃO 5 D QUESTÃO 5 C
QUESTÃO 6 D QUESTÃO 6 E
QUESTÃO 7 B QUESTÃO 7 E
QUESTÃO 8 C QUESTÃO 8 A

UNIDADE 11 UNIDADE 12

QUESTÃO 1 E QUESTÃO 1 B
QUESTÃO 2 B QUESTÃO 2 A
QUESTÃO 3 C QUESTÃO 3 C
QUESTÃO 4 D QUESTÃO 4 E
QUESTÃO 5 C QUESTÃO 5 B
QUESTÃO 6 E QUESTÃO 6 B
QUESTÃO 7 E QUESTÃO 7 C
QUESTÃO 8 A QUESTÃO 8 B

237
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