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DE IPATINGA
1
Gabriel Romagnose Fortunato de Freitas Monteiro
Doutorando em Geografia pelo pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Mestre em
Geografia pelo mesma instituição (2017). Graduado no curso de Geografia pela Universi-
dade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) (2014). Coordenador do Núcleo de Estudos Afri-
canos e Afro-brasileiros (NEAB) da U Universidade Estadual de Minas Gerais – Carangola,
onde também atua como professor. Membro pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Ter-
ritório, Ações Coletivas e Justiça - NETAJ da UFF. Tem experiência na área de Geografia,
com ênfase em Geografia Humana, atuando nos temas de Movimentos Sociais e Geogra-
fia; Territorialidades Negras e Quilombos, Ações afirmativas no ensino superior; Educação
Popular; Ensino de Geografia; Racismo e Anti-Racismo; Relações Raciais e Educação e
Ensino de Geografia. Associado a Associação de Geógrafos Brasileiros (AGB) - Seção Local
Niterói e da Associação Brasileira de Pesquisadores/as negros/as (ABPN).
1ª edição
Ipatinga – MG
2021
2
FACULDADE ÚNICA EDITORIAL
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização
escrita do Editor.
Inclui referências.
ISBN: 978-65-990786-0-6
CDD: 100
CDU: 101
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920.
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Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo apli-
cado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são
para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com
uma função específica, mostradas a seguir:
4
SUMÁRIO
01
1.1 POLÍTICA, GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA.................................... 8
1.2 GEOGRAFIA POLÍTICA CLÁSSICA...............................................................12
1.3 GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA ...............................................14
FIXANDO O CONTEÚDO...............................................................................17
02
2.1 PODER, TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADES ................................................22
2.2 FRONTEIRAS: ANTIGOS E NOVOS SIGNIFICADOS ....................................28
2.3 SOBRE ESTADO; NAÇÃO E ESTADOS-NACIONAIS ...................................31
FIXANDO O CONTEÚDO...............................................................................17
03
3.1 GLOBALIZAÇÃO COMO QUESTÃO ............................................................43
3.2 O ESTADO E TERRITÓRIO NA NOVA ORDEM MUNDIAL ...........................46
3.3 NOVA ORDEM MUNDIAL: REGIONALIZAÇÃO E FORMAÇÃO DOS
BLOCOS ECONÔMICOS...............................................................................48
FIXANDO O CONTEÚDO...............................................................................57
04
4.1 A QUESTÃO DA HEGEMONIA MUNDIAL ....................................................59
4.2 O PAPEL DOS EUA NA GEOPOLÍTICA MUNDIAL .......................................64
4.3 A ARTICULAÇÃO DOS BRICS E SEU PAPEL NA ECONOMIA-MUNDO....68
FIXANDO O CONTEÚDO .......................................................................... 72
05
5.1 PANORAMA GEOPOLÍTICO DOS CONFLITOS MUNDIAIS ........................77
5.2 ÁREAS DE CONFLITOS NA AMÉRICA LATINA ............................................80
5.3 A GEOPOLÍTICA DO BRASIL NA AMÉRICA DO SUL: O CASO DA IIRSA 84
FIXANDO O CONTEÚDO .......................................................................... 92
06
ESPACIAIS DA REALIDADE CONTEMPORÂNEA ................................ 94
5
6.3 A NOVA REGIONALIZAÇÃO DO MUNDO CONTEMPORÂNEO:
TERRITÓRIO, REDE E AGLOMERADOS DE EXCLUSÃO. ............................103
07
7.1 INTRODUÇÃO...............................................................................................114
7.2 UMA INTRODUÇÃO À GEOGRAFIA ECONÔMICA.................................114
7.3 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL E SEU ESPAÇO
GEOGRÁFICO ..............................................................................................118
7.4 CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO E DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO ...124
7.4.1 A Realidade Do Crescimento Demográfico ................................ 124
7.4.2 Teorias Do Desenvolvimento Econômico E A Divisão Social Do
Trabalho ............................................................................................................ 128
FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................ 132
08
DESENVOLVIMENTO .....................................................................138
8.1 INTRODUÇÃO...............................................................................................138
8.2 TEORIAS DEMOGRÁFICAS EM PERSPECTIVA HISTÓRICA ......................138
8.2.1 O Liberalismo Pessimista ..................................................................... 140
8.3 RECENSEAMENTO POPULACIONAL E PESQUISAS AMOSTRAIS.............142
8.4 ÍNDICES DE ATIVIDADE ECONÔMICA E DESENVOLVIMENTO ..............145
FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................ 151
09
9.1 INTRODUÇÃO...............................................................................................157
9.2 A EVOLUÇÃO DA ATIVIDADE INDUSTRIAL E A ESTRUTURAÇÃO DO
ESPAÇO.........................................................................................................157
9.3 O PROCESSO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA E A GLOBALIZAÇÃO
ECONÔMICA ...............................................................................................160
9.3.1 Os Efeitos Da Globalização ........................................................... 161
9.4 A INDÚSTRIA MODERNA E SUA DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA .............164
9.4.1 A Guerra Fiscal.............................................................................. 165
FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................ 167
10
GEOGRAFIA URBANA...................................................................173
10.1 INTRODUÇÃO...............................................................................................173
10.2 OS MEIOS DE TRANSPORTES E O COMÉRCIO .........................................173
10.2.1 Geografia Dos Transportes........................................................... 174
10.2.2 Relações Comerciais Nos Centros UrbanoS............................. 181
10.3 ÊXODO RURAL E A URBANIZAÇÃO DAS METRÓPOLES ..........................183
10.3.1 Considerações Sobre A Dinâmica Do Agronegócio No Brasil
....................................................................................................................... 183
10.3.2 Êxodo Rural...................................................................................... 187
10.4 ECONOMIA DAS CIDADES E OS DESAFIOS DA SUSTENTABILIDADE ....189
10.4.1 Arranjos Produtivos Locais (Apls)................................................. 189
10.4.2 Dimensões Do Empreendedorismo Urbano: As Startups ....... 191
10.4.3 O Desenvolvimento Sob A Esfera Local .................................... 192
FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................ 194
6
UNIDADE GEOGRAFIA ECONÔMICA E MATRIZES ENERGÉTICAS ..............201
11
11.1 INTRODUÇÃO...............................................................................................201
11.2 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS FORMAS DE UTILIZAÇÃO DA ENERGIA
........................................................................................................................201
11.3 FONTES E FORMAS DE ENERGIA E MODOS DE REGULAÇÃO................202
11.4 PROBLEMAS ENERGÉTICOS CONTEMPORÂNEOS ...................................206
FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................ 211
12
CONTEMPORÂNEA ................................................................................ 217
12.1.INTRODUÇÃO ..............................................................................................217
12.2. A INSERÇÃO DO BRASIL NA GEOGRAFIA ECONÔMICA MUNDIAL E AS
ORGANIZAÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS ..............................217
12.2.1análise Da Balança Comercial Brasileira ................................. 219
12.3.INTEGRAÇÃO ECONÔMICA NA AMÉRICA LATINA...............................223
12.3.1 Substituição De Importações ...................................................... 223
6.4 BLOCOS ECONÔMICOS: ASPECTOS DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
DOS PAÍSES ASIÁTICOS ..............................................................................225
FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................ 230
REFERÊNCIAS.................................................................................238
7
ORIGEM E EVOLUÇÃO DA UNIDADE
01
GEOGRAFIA POLÍTICA
8
cia política que procura assimilar as motivações das ações e decisões dos atores so-
ciais normalizadas por meio do aparato Estatal. A geografia política clássica incorpo-
rou as ideias da ciência política, contudo sofreu fortes críticas da geografia política
contemporânea que busca alinhar as duas primeiras perspectivas nos seus estudos.
Os estudos da Geografia Política têm origem no final do século XIX através da
publicação da obra de Friedrich Ratzel, em 1887, intitulada Politische Geographie.
Naquele momento, o ator principal que exercia poder sobre os territórios era o Es-
tado, portanto a centralidade dos estudos da Geografia Política era o Estado.
Atualmente, o campo de estudo da geografia política caracteriza-se na aná-
lise da “relação entre política – expressão e modo de controle dos conflitos sociais –
e o território – base material e simbólica da sociedade” (CASTRO, 2005, p. 15-16).
A geografia política pode ser entendida como um arcabouço de noções po-
líticas e acadêmicas acerca das relações da geografia com a política e vice-versa.
Dessa maneira ela analisa de que forma “os fenômenos políticos se territorializam e
recortam espaços significativos das relações sociais, dos seus interesses, solidarieda-
des, conflitos, controle, dominação e poder” (CASTRO, 2005, p. 53).
Sendo assim, os estudos da Geografia Política pontuam além das análises das
relações políticas e de poder um profundo diagnóstico do fenômeno político e suas
ações no espaço geográfico. Compreendida como um subcampo da Geografia,
ela vem requalificando sua temática de pesquisa nos últimos anos:
9
ao jogo das forças estatais sobre o espaço. O autor ainda afirma que a “Geopolítica
representa um inquestionável empobrecimento teórico em relação à análise geo-
gráfico-política de Ratzel e tantos outros” (COSTA, 1992, p. 65).
O sueco Rudolf Kjéllen foi o pioneiro desses estudos pelo fato de ter utilizado o
termo geopolítica para expor as relações entre Estado e Território da sua “nova ciên-
cia” direcionada aos “estados maiores” dos impérios centrais da Europa, principal-
mente a Alemanha. O autor “não escondia sua admiração pelo Estado Maior ale-
mão e seu desejo de que a Europa viesse a ser unificada sob um imenso império ger-
mânico” (COSTA, 1992, p. 57). Para ele caberia a geopolítica a formulação de estra-
tégias de domínio e conquista voltadas à aquisição de poder sobre territórios. O mo-
mento histórico de ascensão e surgimento da geopolítica, do século XIX até o século
XX, era caracterizado pela emergência de potências mundiais e o imperialismo
como modo de relacionamento internacional que apontava estratégias de domina-
ção dos territórios em escala global.
Nesse contexto, os EUA se consolidam como uma nova potência mundial, sur-
gindo com A. T. Mahan a teoria geopolítica sobre o poder marítimo, publicada em
1890, A influência do poder marinho sobre a história. De acordo com o autor o se-
gredo para a hegemonia mundial era no domínio das rotas marinhas com uma polí-
tica voltada para a construção de um poder marítimo. De acordo com o mapa
abaixo é possível perceber a capacidade dos EUA de dominação de outros territórios
em várias direções.
10
das mudanças socioeconômicas mobilizadas pelo desenvolvimento do transporte
terrestre e meios de comunicação - ferrovias e telégrafos -, Mackinder acreditava
que quem controlasse a Eurásia, intitulada de Ilha Mundial pelo autor, tendo como
Estado-pivô ou hearthland o território da Rússia, exerceria hegemonia mundial.
Uma nova concepção de geopolítica surge com Yves Lacoste em 1976 com
o lançamento do livro A Geografia - isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra
e da revista trimestral Hérodote. O autor afirma que o Estado-nação não é mais a
11
única representação geopolítica - o único com poder a controlar o espaço geográ-
fico -, as relações entre poder-território podem ser analisadas por vastas representa-
ções e diversos atores sociais.
12
é, nascer, avançar, recuar, estabelecer relações, declinar, etc
(COSTA, 1992, p.33).
“Dessa forma, Ratzel introduziu todos os seus ‘herdeiros’ na via de uma geo-
grafia política que só levou em consideração o Estado ou os grupos de Estados”
(RAFFESTIN, 1993, p. 15).
Sendo assim, a geografia política elaborada por Ratzel é uma geografia do
Estado, pois o autor parte da ideia de um Estado todo-poderoso, no qual só existe o
poder do Estado, ignorando outras formas e espaços legítimos de poder. Desse
modo, a escala é dada pelo Estado, sendo assim, o autor construiu uma geografia
13
unidimensional, ao não aceitar os múltiplos poderes que atuam nas diversas escalas
(RAFFESTIN, 1993).
14
gundo Castro (2005), para uma análise efetiva da realidade é preciso priorizar as múl-
tiplas escalas, visto que os fenômenos políticos não se restringem a uma única escala.
A escala na Geografia política é “à medida que confere visibilidade aos fenômenos”
(CASTRO, 2005, p. 123), é uma escolha para melhor observar, dimensionar e mensurar
o fenômeno.
Ao investigar o campo da Geografia política na atualidade, Castro (2005) en-
fatiza que ele precisa integrar os fenômenos políticos apontando como eles se terri-
torializam e recortam os espaços das relações sociais dos seus “[...] interesses, solida-
riedades, conflitos, controle, dominação e poder" (CASTRO, 2005, p. 90).
A respeito da discussão levantada sobre a mudança de escala na análise dos
fenômenos políticos e a delimitação do campo da geografia política contemporâ-
nea, o espaço político emerge como um objeto que precisa de atenção. Castro
(2005; 2012; 2016; 2018) aponta uma reflexão, as múltiplas possibilidades e um diálogo
da geografia política com as demais ciências sociais para a discussão do conceito
nas pesquisas da disciplina.
15
recortes territoriais da sua jurisdição. Já os espaços políticos limitados são os espaços
de debates e validação de interesses específicos da sociedade, institucionalizados e
viabilizados por regras participativas em distintos modelos democráticos - conselhos
ou fóruns temáticos, associações de moradores entre outros. Os efeitos das ações
nesses espaços podem atingir diversas escalas, contudo são restritos às suas agendas
temáticas. E, por último, os espaços políticos abertos ocorrem nos lugares de luta so-
cial, como as praças e as ruas, que investidos politicamente se transformam em are-
nas de demandas, ações e conflitos. Suas consequências são variáveis e instáveis,
mas tem o poder de mudar decisões políticas de longo prazo, construindo um elo
entre a sociedade e os governantes (CASTRO, 2018). Esses são os espaços onde ocor-
rem as manifestações, protestos, ocupações, passeatas entre outras formas de lutas
sociais e quanto maior for o reconhecimento desse espaço político aberto maior será
a participação e organização da sociedade para atingir seus interesses.
A partir do panorama delineado até aqui é possível compreender que no mo-
mento atual a disciplina aponta para uma multiplicidade de possibilidades temáticas
e escalares. Ela vem passando por uma revitalização e ganhando novos traçados
com estudos que procuram entender os rebatimentos espaciais dos fenômenos polí-
ticos na sociedade e a respeito dos atores que agem sobre ela - o Estado, igreja,
exército, sociedade civil, partidos políticos, ONGs, mercado financeiro entre outros.
Logo, é possível verificar uma variedade de temas na sua produção científica, com
estudos sobre organização política, política eleitoral, movimentos ecológicos, cons-
trução de políticas públicas, contraste geográfico dos votos, luta por emancipação,
democracia, cidadania entre outras coisas (CASTRO, 2005).
16
FIXANDO O CONTEÚDO
“A chave para a hegemonia mundial estaria no controle das rotas marítimas essas
‘vias por onde circulam os fluxos do comércio internacional’. A posse de grande
poder marinho, dessa forma, seria indispensável para um Estado que almejasse
tornar‐se importante potência mundial”.
(VESENTINI, José William. Novas Geopolíticas. As representações do século XXI. 4ª ed. São Paulo: Contexto, 2007, p. 17.)
a) Mahan.
b) Spykman.
c) Haushofer.
d) Mackinder.
e) Vallaux.
17
tas de territórios. Inicialmente, essas ações tinham como sujeito fundamental o Es-
tado, pois ele era entendido como a única fonte de poder, a única representação
da política e as disputas eram analisadas apenas entre os Estados.
(Becker, Bertha. Geopolítica da Amazônia. Estudos Avançados, (1953) São Paulo, 2005).
4. (UFPEL 2013 – adaptada) Segundo Iná Elias de Castro em seu livro a Geografia e
Política, pode-se afirmar que espaço político se refere
a) às instituições políticas, que por sua vez, são aquelas cujas decisões e ações, apoi-
adas por normas, leis e regulamentos, afetam amplamente diferentes instâncias
da vida social.
b) àquele que é circunscrito pelas ações das instituições políticas, que lhe conferem
um limite, dentro do qual há efeitos identificáveis e mensuráveis.
c) às forças instituintes que são aquelas exercidas por atores sociais que se organizam
para lutar pelas suas demandas não recorrendo às instituições políticas, agindo
apenas na esfera local.
18
d) às regras delimitadas e estratégias da política; é um espaço dos interesses e dos
conflitos, da lei, do controle, mas sem coerção.
e) àquele espaço circunscrito pelas ações das forças instituintes, que lhe conferem
um limite global ou local, dentro do qual há efeitos identificáveis e mensuráveis.
5. (UFPEL 2013 – adaptada) Segundo Raffestin, no seu livro Por uma Geografia do
Poder (1993), a frase “Aquele que detém o World Islan (Europa, Ásia, África) co-
manda o mundo” é de autoria de
a) Ratzel.
b) Gottmann.
c) Mackinder.
d) Camille Vallaux.
e) Haushofer.
7. (UFPEL 2013 – adaptada) Qual dessas afirmativas pode ser atribuída à Iná Elias de
19
Castro, dentro do discutido em seu livro “Geografia e Política: território, escalas de
ação e instituições”?
a) Hobbies, teórico do Estado absolutista do século XIII, e Ratzel, cuja obra foi desen-
volvida durante o século XIX, podem ser considerados os pais da Geografia Política
contemporânea.
b) A escala de análise da Geografia Política deixou de ser, exclusivamente, a estatal
e a global, incluindo questões relativas à cidadania, às diásporas e à exclusão.
c) Foi a institucionalização da Geografia pelas elites europeias que permitiu a cen-
tralização política característica do Estado territorial moderno.
d) Um território sempre expressa uma política do Estado-Nação.
e) Há uma guerra pós-colonial entre a flexibilidade e a rigidez burocrática estatal.
20
b) enfraquecer o colonialismo britânico.
c) justificar o expansionismo alemão.
d) destacar o multiculturalismo britânico.
e) apontar a soberania alemã.
21
CONCEITOS-CHAVES DA UNIDADE
02
GEOGRAFIA POLÍTICA
22
domínio em que elas se exercem e são constitutivas de sua organização […]”. Des-
tarte, o poder é imanente e multidimensional, intrínseco a todas as relações
(RAFFESTIN, 1993).
Justamente por ter as características de imanência e multidimensionalidade,
o “poder está em todo lugar, não que englobe tudo, mas vem de todos os lugares”
(FOUCAULT, 1988, p. 89). Ao dialogarmos com os referidos autores, podemos afirmar
que toda relação social (e política!) será mediada por relações de poder, desde que
haja um componente de relações e situações assimétricas (CASTRO, 2005). Dito isto,
como o poder se manifesta?
Tomemos novamente as palavras de Raffestin (RAFFESTIN, 1993, p. 53).
23
3. O poder vem de baixo; isto é, não há, no princípio das relações de poder
uma oposição binária e global entre dominadores e dominados. Deve-se,
ao contrário, supor que as correlações de força múltiplas se formam e
atuam nos aparelhos de produção, nas famílias, nos grupos e nas institui-
ções;
4. As relações de poder são, ao mesmo tempo, intencionais e não subjetivas.
Atravessadas de fora a fora por um cálculo: não há poder que se exerce
sem uma série de miras e objetivos;
5. Onde há poder há resistência e, por isso mesmo, esta nunca se encontra
em posição de exterioridade em relação ao poder. Elas não podem existir
senão em função de uma multiplicidade de pontos de resistência que re-
presentam, nas relações de poder, o papel de adversário, de alvo, de
apoio. Esses pontos de resistência estão presentes em toda a rede de po-
der. As resistências são outro termo nas relações de poder (grifos nossos).
24
político de povo, ao versar que: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”
(BRASIL, 1988).
O território é “a cena do poder e lugar de todas as relações” (RAFFESTIN, 1993,
p. 58), mas que não pode ser visto sem a população e seus processos de territoriali-
zação. Ainda acerca do território, afirma-se que este é “um trunfo particular, recurso
e entrave, continente e conteúdo, tudo ao mesmo tempo. O território é o espaço
político por excelência, o campo de ação dos trunfos” (RAFFESTIN, 1993, p. 59-60). Por
fim, os recursos “determinam os horizontes possíveis da ação e […] condicionam o
alcance da ação” (RAFFESTIN, 1993, p. 58).
Das acepções propostas até aqui podemos extrair, em concordância com
(CASTRO, 2005, p. 97-98) que:
25
Concebido como espaço geográfico sob controle do Estado,
originalmente o território ganha prestígio entre geógrafos políticos jus-
tamente por essa relação atávica com a figura do Estado. Mesmo fora
do âmbito dessa disciplina acadêmica, quando se discute a origem
do poder do Estado, é comum encontrar-se uma clara referência à
centralidade territorial do Estado como um dos trunfos do poder que,
inclusive, diferencia o Estado de outras instituições e agrupamentos
(BECKER, 2009, p. 153).
26
se refere ao comportamento “natural” dos “homens” em relação ao
seu ambiente físico (HAESBAERT, 2010, p. 40).
27
revelam mutações históricas nas territorialidades de diferentes sociedades, Cruz
(2015) identifica em Sack (2011) três aspectos ou chaves metodológicas para a leitura
do território que estão interligados e que compõem as suas principais contribuições
analíticas. Neste sentido, compreender uma territorialidade (estratégia), uma territo-
rialização (processos) e um território (produto) implica em considerar:
Outra categoria que está presente nos estudos da Ciência Geográfica, com
destaque à Geografia Política são as Fronteiras, imprescindível para a compreensão
das relações entre Estado e Território e nas relações políticas interestatais. Represen-
tam áreas de interesse dos Estados que estão em jogo, ao envolver a segurança na-
cional, a soberania, os conflitos territoriais, os processos migratórios (clandestinos ou
legais), os litígios territoriais, a territorialização de empresas, controle fiscal, entre ou-
tros.
Assim como os conceitos e categorias trabalhados anteriormente, as fronteiras
geográficas são fruto de um processo de construção das atividades humanas, um
processo socioespacial e histórico que congrega a representação, organização,
controle e domínio do espaço. Portanto, as fronteiras não são “naturais” e não devem
ser naturalizadas, subtraídas de processos históricos (assim caracterizada por muitos
séculos).
A literatura que discute as concepções de fronteira em diferentes contextos é
28
suficientemente ampla e profunda, apontando convergências e divergências nos
mais variados pontos.
Na maioria das vezes, as fronteiras são confundidas com a noção de limites,
ou mesmo associadas entre si, gerando maior confusão interpretativa do que enten-
dimentos. Fronteiras e limites possuem sentidos distintos e sofreram modificações a
partir dos contextos de reordenamentos geopolíticos, econômicos e culturais e dos
avanços das técnicas de produção. As fronteiras são mais dinâmicas, enquanto uma
zona de inter-relações nos diferentes meios, com seus problemas (trans)fronteiriços,
zonas de articulação e de tensão (COSTA, 1992).
A fronteira como lugar de interação, de comunicação, de encontro, de con-
flito, está fundamentada no fato de que estamos na presença de sistemas territoriais
e sistemas estatais diferentes dentro do sistema capitalista e de nacionalidades dis-
tintas (MACHADO, 2002). Nas palavras da autora:
Com efeito, as fronteiras não devem ser vistas apenas como uma “linha divisó-
ria entre países e territórios”, ou uma “região que está lado a lado ou próximas”, como
consta nos dicionários e outras literaturas. Ferrari (2014) corrobora que as fronteiras
não são apenas “[...] uma linha de demarcação em determinado espaço geográ-
fico ou lugar unidimensional da vida política, onde um Estado-nação acaba e outro
começa”. Seu entendimento deve assumir um caráter mais amplo e dinâmico na
compreensão do espaço multifacetado. “O velho significado “imperialista” das fron-
teiras […], perdeu-se quase por completo”, uma vez que “à força do movimento eco-
nômico […] pouco tem respeitado os rígidos limites (fronteiriços) (COSTA, 1992, p. 292).
Importante ressaltar que a palavra e ideia de fronteira e limite, bem como seus
desdobramentos conceituais, possui um longo histórico. Ferrari (2014) nos mostra que
desde as primeiras sociedades, nas populações da Ásia, África, América e Europa,
havia uma noção de fronteira e limite perante os contextos sociais das diferentes or-
ganizações socioespaciais, ainda que nem todas assumissem um sentido estrita-
mente político de Estado para seu uso. Assim, na periodização histórica do que se
29
convencionou a chamar, na perspectiva eurocêntrica, de “pré-história”, “idade an-
tiga”, “idade média” e “idade moderna”, estavam presentes estas noções. O Império
Romano e o Império Chinês costumam ser frequentemente usados como exemplos
de casos paradigmáticos nas origens da concepção de fronteira (MACHADO, 2002).
Na mesma direção, Machado (1998) aponta:
A origem histórica da palavra mostra que seu uso não estava associ-
ado a nenhum conceito legal e que não era um conceito essencial-
mente político ou intelectual. Nasceu como um fenômeno da vida so-
cial espontânea, indicando a margem do mundo habitado. Na me-
dida em que os padrões de civilização foram se desenvolvendo acima
do nível de subsistência, as fronteiras entre ecúmenos tornaram-se lu-
gares de comunicação e, por conseguinte, adquiriram um caráter po-
lítico (MACHADO, 1998, p. 41).
30
ças nos âmbitos político, econômico e cultural: o advento da globalização, a rees-
truturação de ordem multipolar, a formação e o desdobramento dos blocos econô-
micos, sobretudo relacionado aos processos de integração regional, colocam novas
reflexões sobre as fronteiras, que incorpora novos elementos e significados.
Deste modo, as fronteiras tradicionais vão sendo completamente modificadas
na geopolítica atual, tanto na escala das organizações multilaterais e comerciais, na
tentativa da mundialização econômica imposta – a exemplo da Organização Mun-
dial do Comércio (OMC), do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial
(BM) –, quanto das articulações, acordos, alianças e integrações entre os blocos
econômicos regionais (RODRIGUES, 2015; NEVES, 2000).
No período geopolítico atual, Cataia (2007) traz reflexões pertinentes acerca
das fronteiras. Segundo o autor, “a unificação técnica do mundo não implica em sua
união política. Quanto maior é a unificação técnica do mundo, maior é a sua com-
partimentação com a relevância das fronteiras internacionais” (CATAIA, 2007, p. 1).
Assim, no mundo globalizado, são apontadas duas facetas contraditórias e solidárias:
31
e da Nação, por conseguinte, Estados-nacionais modernos, são fruto de um longo
processo geohistórico, conflituoso e contraditório, não sendo, de modo algum, uma
tabula rasa e um processo “natural”. Ao contrário, trata-se de invenção histórica eu-
ropeia.
Segundo Muir (1975, p. 29) apud Raffestin (1993, p. 22), “O Estado existe
quando uma população instalada num território exerce sua própria soberania”. Por-
tanto, nesta linha de raciocínio, o referido autor, na mesma esteira de outros autores,
a exemplo de Hobsbawm (1990) apontam os três sinais referentes a mobilização e
caracterização do Estado, são eles: 1) a população, 2) o território e 3) autoridade
(soberania). Na perspectiva do autor, “[...] toda geografia do Estado deriva dessa
tríade” (RAFFESTIN, 1993, p. 23).
O Estado exerce, portanto, sua soberania sobre o território e detém o mono-
pólio: das Leis, das tributações, da força e, em alguns casos, do uso da violência –
quando se trata das questões de “segurança nacional”. Ademais, a imposição de
uma moeda nacional e seus planos monetários são estabelecidos. Em alguns casos,
os aspectos que envolvem a exploração de determinados recursos, o fornecimento
de determinados produtos e/ou serviços também são levados em consideração.
A prerrogativa da soberania da sociedade é o que marca sua diferença de
outras instituições de Estados ao longo da história, ao passo que procura “definir as
normas e leis comuns para todos que vivem naquele território (espaço político) […] e
as sanções legítimas aplicadas aos que dela desobedecerem” (CASTRO, 2005, p.
112).
O nascimento do Estado moderno remete ao contexto histórico e institucional
do projeto de modernidade, inicialmente de alguns países europeus, que se expan-
diu para todos os continentes, enquanto modelo imposto de organização do sistema
político e econômico. Este serviu de base para a formação dos atuais governos e
Estados-nacionais ao qual concebemos hoje. Nesta premissa, Castro (2005) afirma:
32
conjunto de tratados assinados que encerram uma série de conflitos e guerras no
continente europeu. Este se firmou enquanto um modelo jurídico-político que passou
a consolidar o surgimento do Estado-Nação, inicialmente no contexto intra-europeu
e, posteriormente, com a expansão do capitalismo imperialista do século XIX e sua
expressão global, começa a se difundir em todas as partes do globo.
Assim, o Estado moderno foi consolidando progressivamente um espaço polí-
tico, “lócus de uma vontade comum, de um poder moral, aceito contratualmente
por todos a partir dos instrumentos de legitimação que ele dispunha” (CASTRO, 2005,
p. 112). No espaço nacional, “define, pois, o limite de extensão da validade de um
certo contrato social em vigor […]” cujo “compromisso maior está concentrado no
respeito à lei” (GOMES, 2002, p. 85).
33
b) interna: “de centralização do poder, controle social e estratégia territorial, […] ob-
jeto da geografia política contemporânea”.
Essa característica básica está presente na organização política dos estados
(neo) liberais, democráticos e comunistas. Todos, ou quase todos, possuem, em dife-
rentes graus de estrutura e organização, um exército (e suas forças armadas), um
território, um hino, uma bandeira e o sentimento de pertencimento das pessoas que
ali vivem.
Na mesma direção, enquanto desdobramento, podemos citar os dois modelos
básicos de Estado-nação, segundo (CASTRO, 2005).
34
política territorializada e legitimada pela sociedade. O recurso à iden-
tidade do passado histórico, à identidade cultural e à identidade lin-
guística é condição essencial do nacionalismo. Deve ser observado
que a substância da nação, no sentido de comunidade de destino,
resultou da estratégia política de apropriar-se do sentido identitário
contido na ideia de povo e colá-lo à organização política coman-
dada pelo Estado. O povo passou a ser o corpo da nação e, portanto,
confundido com ela e submetido à centralidade territorial do poder
político (CASTRO, 2005, p. 114).
Portanto, desde sua origem ao final do século XVIII, fruto das revoluções bur-
guesas, a ideia de nação foi sendo construída e ressignificada a partir do Estado e
vice-versa, sob aspectos de uma “identidade territorial, cultural e política […] elemen-
tos essenciais ao nacionalismo” (CASTRO, 2005, p. 113).
Ao refletirmos sobre o conceito de nação, fica nítido que este está repleto de
uma complexidade teórica, metodológica e com desdobramentos empíricos, ha-
vendo inúmeros estudos e perspectivas pertinentes. Presente nos mais variados dicio-
nários e enciclopédias, a Nação costuma ser conceituada como:
35
2. Não considera a “nação” como uma entidade social originária ou imutá-
vel. A “nação” pertence exclusivamente a um período particular e histori-
camente recente. Ela é uma entidade social apenas quando relacionada
a uma certa forma de Estado territorial moderno, o “Estado-nação”; e não
faz sentido discutir a nação e nacionalidade fora desta relação;
3. A “questão nacional” está situada na interseção da política, da tecnologia
e da transformação social. As nações e seus fenômenos associados de-
vem, portanto, ser analisados em termos das condições econômicas, ad-
ministrativas, técnicas, políticas e outras exigências;
4. As nações são fenômenos duais, construídos essencialmente pelo alto, mas
que, no entanto, não podem ser compreendidas sem ser analisadas de-
baixo, ou seja, em termos de suposições, esperanças, necessidades, aspi-
rações e interesses das pessoas comuns;
Por fim, corroboramos com Castro (2005) que a língua e o solo são valores sim-
bólicos identitários das nações, posteriormente assimilados pelo aparato institucional,
tornando-se um patrimônio comum da nacionalidade. São o “cimento simbólico da
solidariedade nacional e ajudam a legitimar socialmente o poder moral e o querer
comum como fundamento de poder político e o domínio do Estado, como instituição
sobre o território” (CASTRO, 2005, p. 107).
36
37
FIXANDO O CONTEÚDO
1. Embora a origem dos primeiros Estados seja muito antiga, sua formação e seus ob-
jetivos variaram ao longo dos séculos. Sobre a criação dessa instituição de controle
do território é possível afirmar:
(UEPB 2011 – adaptada).
a) O Estado moderno, tal como o conhecemos hoje e cujo berço foi a Europa orien-
tal, teve sua origem com a centralização de poder através das monarquias abso-
lutistas e do apoio dado pela burguesia.
b) A globalização proporcionou a crise do Estado-nação e sua destruição frente a
uma nova organização territorial do mundo em blocos econômicos, os quais reú-
nem vários países em um só bloco.
c) O fim da Segunda Guerra Mundial possibilitou o reaquecimento dos sentimentos
nacionalistas e a formação de novos Estados nacionais o que mostra que o mapa-
múndi ainda pode ser redesenhado.
d) A unificação dos Estados-nacionais se processou em meio à diversidade étnica e
cultural dos territórios, o que exigiu dos poderes constituídos a construção do sen-
timento de pertencimento e de identidade nacional.
e) Um Estado-nação é formado por um contingente populacional que se considera
parte da mesma nação, porém pode ocorrer conflitos internos devido seus cida-
dãos possuírem a mesma cultura.
38
históricos. Por isso, pode ser entendida como ou organização de uma sociedade
que partilha dos mesmos costumes, características, idioma e cultura.
d) As nações que não possuem território soberano delimitado, como os curdos e os
bascos, não almejam o reconhecimento de territórios. Historicamente foram
construindo uma trajetória de identificação e pertencimento ao Estado que os
acolheu.
e) O conceito de nação foi utilizado muitas vezes como estratégia ideológica de
manipulação de uma população. Exemplo disso é a tentativa de construção
do nacionalismo, em que governos tentam retirar dos seus habitantes um senti-
mento nacional.
“[...] Num sentido mais restrito, _______ é um nome político para o espaço de um
país. Em outras palavras, a existência de um país supõe um território. Mas a existên-
cia de _______ nem sempre é acompanhada da posse de um território e nem sem-
pre supõe a existência de _______. Pode-se falar, portanto, de _______ sem Estado,
mas é praticamente impossível nos referirmos a um Estado sem território. [...]".
(IFSP 2014 – adaptada).
a) Para o demarcador um rio pode ser considerado um bom limite natural. Para o
delimitador, entretanto, nem sempre, já que se o rio servir de eixo civilizatório,
como o Nilo, ele agirá como elemento de integração e não de separação.
39
b) Limite é uma linha, fronteira é uma faixa, que apesar de serem demarcadas po-
dem ser habitadas.
c) Limite é uma linha, fronteira é uma faixa, a divisa é o aspecto visível do limite e o
marco o aspecto visível da fronteira. Todos podem ser habitados, salvo com es-
pecificações do Estado-Nação.
d) A designação dos limites é a demarcação. E para a fronteira é a delimitação.
e) A fronteira natural se apoia em obstáculos naturais que representam verdadeiras
barreiras de contato e não precisam ser demarcadas ou delimitadas.
a) à territorialidade.
b) ao território.
c) ao poder.
d) ao lugar.
e) à região.
40
Território nacional é
I. Formas de poder exercidas pelos sujeitos dominantes sem a ação física direta,
mas pela imposição de uma visão de mundo, dos papéis sociais, das categorias
41
cognitivas, das estruturas mentais por meio das quais o mundo é percebido e
pensado.
II. Mecanismo de poder no qual técnicas disciplinares de controle concorrem para
o estabelecimento de um padrão de normalidade que é, ao mesmo tempo, um
dispositivo de poder e uma forma de saber.
FGV-2016 (ADAPTADA).
a) Povo.
b) Sociedade.
c) Território.
d) Nação.
e) Estado.
42
GLOBALIZAÇÃO, UNIDADE
03
REGIONALIZAÇÃO E
FRAGMENTAÇÃO DO MUNDO
CONTEMPORÂNEO
43
Outra fábula é a sensação de compressão do espaço e do tempo proporcio-
nada pela velocidade. Conforme aponta a figura abaixo, ocorreu um rápido e pro-
gressivo desenvolvimento dos meios de transporte que proporcionou um encurta-
mento de distâncias entre os lugares. Contudo, somente um número limitado de pes-
soas possuem acesso e de acordo com a viabilidade de cada sujeito “as distâncias
têm significações e efeitos diversos e o uso do mesmo relógio não permite igual eco-
nomia do tempo” (SANTOS, 2003, p. 41).
44
pelo desenvolvimento das técnicas de comunicação, informação e ciência. Con-
tudo esta é uma falsa percepção, por mais que esteja em curso uma homogeneiza-
ção ela não chega igualmente para todos os segmentos socioespaciais. Como con-
sequência, na medida que a globalização se desenvolve, ela progressivamente pro-
voca segregação socioespacial. Esses exemplos tratados até aqui fazem parte de
uma extensa lista de falsas verdades a respeito do processo de globalização.
Na ideia de “globalização como perversidade”, Santos (2003) expõe as atro-
cidades que a globalização tem gerado para a maior parte da humanidade, como
exemplo: crescente desemprego, aumento da pobreza, fome, diminuição da média
salarial, novas enfermidades, velhas doenças que supostamente tinham sido erradi-
cadas, apesar dos avanços na medicina e informação a mortalidade infantil ainda
permanece, educação de qualidade cada vez mais acessível para uma pequena
parcela da população, entre outras. Todas essas problemáticas são diretas ou indire-
tamente atribuídas ao processo de globalização.
No que tange a globalização econômica ou mundialização do capital, os
grandes atores econômicos capitalistas são as corporações transnacionais, elas são
responsáveis pela movimentação de riquezas entre os países e possuem a capaci-
dade de influenciar culturas, políticas e economias de um determinado país. Esse
processo possibilitou o desenvolvimento de grupos econômicos com poder de atua-
ção no campo político-financeiro internacional e desenvolveu a formação de oli-
gopólios.
As empresas transnacionais propagam-se pelo mundo com intuito de maximi-
zação dos lucros por meio da redução dos custos de produção. Para tanto o capital
vai procurar lugares que lhe ofereçam condições de ampliação dos lucros, tais
como: força de trabalho mais barata e abundante, governos que ofereçam incenti-
vos fiscais, leis ambientais e legislações trabalhistas mais flexíveis, sindicatos mais fra-
cos, entre outras.
Dessa forma, as empresas se organizam seguindo a nova divisão territorial e
social do trabalho.
45
3.2 O ESTADO E TERRITÓRIO NA NOVA ORDEM MUNDIAL
46
e inovação tecnológica.
A música composta por Raul Seixas e Cláudio Roberto Andrade de Azevedo,
lançada em 1980 no álbum Abre-te Sésamo, retrata a realidade do processo de pri-
vatização no Brasil, onde as empresas estatais foram vendidas com valor muito
abaixo do preço de mercado para o capital privado estrangeiro.
É só vim pegar
A solução é alugar o Brasil!...
Nós não vamos paga nada
Lalalalá!
Nós não vamos paga nada
É tudo free!
Tá na hora agora é free
Vamos embora
Dá lugar pros gringo entrar
Que esse imóvel tá pra alugar
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!...
Os estrangeiros
Eu sei que eles vão gostar
Tem o Atlântico
Tem vista pro mar
A Amazônia
É o jardim do quintal
E o dólar deles
47
com a diminuição da atuação do Estado e a sociedade civil experimenta a amplia-
ção da desigualdade entre os indivíduos e o sucateamento dos serviços essenciais.
Outra questão importante levantada por Haesbaert e Porto-Gonçalves (2006)
é a terceirização de funções tidas como essencialmente “estatais”, como o “mono-
pólio da violência legítima”, que “com a contratação de milícias e seguranças priva-
dos, é uma realidade cada vez mais comum”. A inserção de novas tecnologias tam-
bém passou a exercer influência na perda de poder dos Estados, neste caso as téc-
nicas proporcionam a flexibilidade locacional das empresas e, com isso, vieram as
políticas de flexibilização das leis trabalhistas e das leis ambientais, diminuição do pa-
pel do Estado, entre outros.
A globalização também tem mudado o papel das fronteiras político-adminis-
trativas e, em alguns casos, mudando a escala de atuação, como no cenário de
criação dos blocos econômicos mundiais. O surgimento desses blocos econômicos é
mais um exemplo relevante da reestruturação do poder dos Estados nacionais, con-
tudo, neste caso é possível verificar as contradições da reprodução capitalista que
se fortalece com a expansão do neoliberalismo assim como do surgimento de blocos
econômicos ou mercados comuns (HAESBAERT; GONÇALVES, 2006).
É importante notar que os Estados ainda exercem funções de extrema impor-
tância:
48
Na nova ordem mundial os países que estão, geograficamente, próximos, e
alguns destes com perspectivas políticas desarmônicas, se juntam para buscar alter-
nativas e saídas econômicas e sociais causadas pelo processo de globalização finan-
ceira. Por isso, a integração econômica deve ser entendida como um processo his-
tórico e econômico simultâneo ao processo de globalização econômica difundido
pela expansão do Estado neoliberal a partir de 1980, que provocou o aumento da
competitividade e pressão entre os Estados e entre os organismos financeiros interna-
cionais (SARAVIA, 2007).
49
por exemplo a redução de tarifas alfandegárias.
Nas décadas de 1960 e 1970 que surgiu a primeira explosão dos acordos regi-
onais, baseados pelo GATT (Acordo Geral das Tarifas de Comércio) – criado para
retomar o comércio internacional pós-guerra –, os acordos pretendiam a formação
de zonas de livre-comércio ou de união aduaneira a fim de ampliar os mercados.
Nesta conjuntura, ocorreu a criação da Associação Latino Americana de Livre Co-
mércio (ALALC), em 1960, no cerne do processo de industrialização da América La-
tina. Contudo, a Alalc não atingiu seus objetivos e, em 1980, se tornou a Associação
Latino-Americana de Desenvolvimento e Intercâmbio (ALADI). Esse momento foi ca-
racterizado pela tentativa de redução de tarifa ao comércio de bens.
O segundo momento de efervescência de unificação dos Estados em Blocos
Econômicos Regionais se iniciou da virada do século XX para o século XXI atrelado
ao crescimento no processo de globalização, intitulado de mundialização do capital
(nova etapa do capitalismo mundial que surge na virada a década de 1970 para
1980, que com a reestruturação produtiva e a ofensiva do neoliberalismo, o capital
industrial e financeiro constituem a verdadeira mundialização do capital) (ALVES,
1999).
Os blocos regionais podem ser classificados de acordo com a tipologia de in-
tegração, e de acordo com o quadro abaixo, seguindo a ordem crescente de remo-
ção de barreiras frente a integração econômica: acordo preferencial de comércio,
área de livre-comércio, união aduaneira, mercado comum, união econômica e in-
tegração econômica total.
50
Tipo Características Exemplos
uma autoridade aduaneira regional e a de-
finição de regras de repartição de impostos
aduaneiros.
Mercado Comum Trata-se de uma união aduaneira com libe- Comunidades
ralização do movimento de fatores de pro- Europeias (an-
dução (capitais e pessoas). Exige um nível tes da UE)
ampliado de harmonização de políticas
econômicas, inclusive no campo social e
de previdência.
União Econômica Caracteriza-se como um Mercado Comum UE
com harmonização muito avançada de
políticas econômicas e estruturação de
uma moeda única.
Integração Econômica To- Unificação de políticas econômicas com UE
tal moeda única e autoridade supranacional.
Fonte: (OLIVEIRA, 2012, p. 9)
51
Figura 4: Blocos econômicos (2018)
52
53
fixando o conteúdo
54
globalização e da internet, que permitiu maior integração internacional e criou um
novo espaço [...], o “território-mundo”, composto de uma sociedade mundial que
compartilha os mesmos valores. A integração cada vez maior dos Estados e a so-
berania de um país através de um grupo [...] são demonstradas pela força dos
blocos econômicos, que estabelecem uma concorrência acirrada entre si para
manter a influência sobre seus parceiros comerciais. [...]”.
Adaptado de Ciência Hoje On-line. In: http://cienciahoje.uol.com.br/resenhas/um-momento-de-desor-
dem-mundial. Acesso em: 23/08/14.
55
em política econômica e em lógica capitalista de ordenamento do espaço mun-
dial no período atual:
a) o colonialismo e o imperialismo.
b) a globalização e o neocolonialismo.
c) o neoliberalismo e a globalização.
d) o mercantilismo e a descolonização.
e) o neoliberalismo e o imperialismo.
4. A ideia da “globalização como fábula” proposta por Milton Santos, torna-se ainda
mais expressiva, se levarmos em conta certas definições de fábula, apresentadas
no dicionário: mitologia, lenda, narração de coisas imaginárias. Não resta dúvida
de que se lida com a imagem de um mundo cada vez mais interconectado, mas
de forma alguma “sem fronteiras”. Essa imagem, difundida nos tempos atuais, en-
contra seu principal fundamento no aspecto
(UFF 2010 – Adaptada)
56
sendo dificultada, em razão da baixa competitividade na atual fase da transna-
cionalização do capitalismo planetário.
As redes informacionais criadas pela globalização são criticadas pelo autor, elas
agirem no sentido de
57
NDIKUMANA, L. Como fazer as multinacionais pagarem o que devem aos países do Sul. Le Monde Di-
plomatique Brasil, Ano 12, n. 138, jan. 2019, p. 27. Adaptado.
58
QUESTÕES POLÍTICAS E UNIDADE
04
ECONÔMICAS NA ESCALA
REGIONAL/MUNDO
59
A Figura abaixo representa o modelo dos ciclos hegemônicos proposto por
Wallerstein. Esses ciclos tiveram duração entre 100 e 150 anos e as hegemonias per-
duraram em torno de 25 a 50 anos, quando entraram num lento processo de deca-
dência, pois para se manterem na hegemonia era necessário cada vez mais investi-
mentos no setor militar – o que resultou numa perda de competitividade econômica
e legitimidade política e ideológica.
60
Seguindo essa concepção, Arrighi (1994), realiza uma adaptação do conceito
de hegemonia para analisar as relações interestatais. Enquanto a dominação é exer-
cida primordialmente através da coerção, a liderança associada a hegemonia, por
sua vez, é mais do que a dominação pura e simples, é um poder adicional conferido
a um grupo dominante.
Contudo, a concepção de liderar a sociedade ao ponto que essa liderança
aumente o poder do grupo soberano, num contexto internacional como expõe Arri-
ghi (diferentemente da proposta de Gramsci que aponta para um contexto nacio-
nal) evidencia duas problemáticas: a primeira é que ao discorrer sobre liderança em
nível internacional, a expressão é utilizada para designar duas situações distintas; a
segunda problemática diz respeito à dificuldade de definir um interesse comum ao
nível do sistema interestatal, do que se considerados os Estados nacionais individual-
mente (ARRIGHI; SILVER, 2001).
Em relação à primeira problemática, a liderança se apresenta quando um de-
terminado Estado dominante se torna o “modelo” a ser reproduzido por outros Esta-
dos. Nesta circunstância, pode-se aumentar o prestígio e o poder do Estado modelo
num primeiro momento, entretanto, na medida que ele atinge um grau de sucesso,
este poder é enfraquecido devido ao fortalecimento dos Estados que tentaram o
imitar conseguiram algum sucesso. Por outra perspectiva, a liderança designa na ca-
pacidade de um Estado dominante guiar a sociedade “em uma direção que não
apenas atende aos interesses desse grupo dominante, mas é também percebida pe-
los grupos subalternos como servindo a um interesse mais geral” (ARRIGHI; SILVER,
2001, p. 36). A liderança por esse ponto de vista aumenta o poder do Estado domi-
nante.
A segunda problemática, de apontar um interesse geral no nível do sistema
interestatal, é preciso considerar que na esfera individual dos Estados, a ampliação
do poder do Estado em relação a outros Estados simboliza um bom resultado na
busca de um “interesse nacional”. Todavia, esse poder não pode aumentar para o
sistema de Estados de forma geral, mas sim, para “um grupo de nações à custa de
outras, mas a hegemonia do líder desse grupo é, quando muito, ‘regional’ ou de ‘co-
alizão’, e não uma verdadeira hegemonia mundial” (ARRIGHI, 1994, p. 29).
O conceito de “hegemonia mundial” desenvolvido por Arrighi (1994) refere-se
à habilidade de um Estado em desempenhar papéis de liderança e governo no to-
61
cante de um sistema de nações soberanas e o surgimento de uma hegemonia mun-
dial ocorre:
[...] quando a busca do poder pelos Estados inter-relacionados não é
o único objetivo da ação estatal. Na verdade, a busca do poder no
sistema interestatal é apenas um lado da moeda que define, conjun-
tamente, a estratégia e a estrutura dos Estados enquanto organiza-
ções. O outro lado é a maximização do poder perante os cidadãos.
Portanto, um Estado pode tornar-se mundialmente hegemônico por
estar apto a alegar, com credibilidade, que é a força motriz de uma
expansão geral do poder coletivo dos governantes perante os indiví-
duos. Ou, inversamente, pode tornar-se mundialmente hegemônico
por ser capaz de afirmar, com credibilidade, que a expansão de seu
poder em relação a um ou até a todos os outros Estados é do interesse
geral dos cidadãos de todos eles (ARRIGHI, 1994, p. 29-30).
Ainda de acordo com o autor, existem duas circunstâncias para que um Es-
tado hegemônico consiga servir ao interesse geral na esfera do sistema internacional.
Em primeiro lugar, é necessária uma “oferta” eficaz da capacidade de governabili-
dade mundial e, em segundo lugar, as soluções apresentadas pela nação hegemô-
nica devem dirigir-se aos problemas de nível sistêmico, ao ponto de criar uma “de-
manda” de gestão sistêmica entre os grupos dominantes emergentes ou vigentes do
sistema. A partir do momento em que as condições de oferta e demanda são aten-
didas concomitantemente a nação hegemônica consegue organizar, administrar e
expandir o poder coletivo dos grupos dominantes do sistema (ARRIGHI; SILVER, 2001).
Nos períodos de “caos sistêmico”, os grupos dominantes emergentes ou vigen-
tes demandam de uma gestão sistêmica, neste sentido, qualquer Estado ou grupo
de Estados que oferecerem uma governabilidade mundial está em condições de
tornar-se hegemônico.
62
Com o passar do tempo, a liderança do Estado hegemônico entra em deca-
dência e o sistema é conduzido para um período de crise. As crises hegemônicas
apresentam três processos diferentes, mas relacionados: 1) aumento da concorrên-
cia interestatal e interempresarial, 2) o surgimento de conflitos sociais e 3) de novas
configurações de poder. Neste contexto, a forma e a relação entre esses processos
não foram os mesmos nos diferentes momentos de crise hegemônica, mas todos os
processos estavam associados ao fenômeno de “expansão financeira” (ARRIGHI;
SILVER, 2001). A figura abaixo é possível observar o modelo de ciclo hegemônico do
referido autor:
63
Figura 6: O ciclo hegemônico de Arrighi
Como foi visto até aqui, no modelo proposto por Wallerstein (2003) a mudança
do poder de uma nação não apontou transformações ao funcionamento do sistema
mundial, enquanto que para Arrighi (2001), o sistema mundial moderno se forjou e se
expandiu apoiado nas sucessivas reestruturações sistêmicas, chefiadas e governadas
pelos subsequentes Estados hegemônicos que direcionaram o sistema para novos
caminhos.
64
ainda mais violentos, ao patrocinarem golpes no Irã, no Iraque, no Chile, no Brasil, na
Guatemala, na Indonésia, no Vietnã – e mais alguns outros – no qual provocaram
milhares de mortes. Assim como, apoiam o terrorismo de Estado em vários países em
que for conveniente para suas políticas (ressalta-se que a CIA e as Forças Especiais
atuam em inúmeras regiões). As formas de aniquilamento podem ocorrer por vários
meios, por exemplo, através do poder econômico: o embargo comercial ao Iraque
e a Cuba, os programas de austeridade do FMI através do Tesouro Norte-Americano
(quando as instituições norte-americanas e do Tesouro Norte-Americano, assegura-
dos pelo FMI, provocaram uma desvalorização dos ativos no Leste e Sudeste asiático,
na geração de desemprego em massa e na reversão de décadas de progresso eco-
nômico e social daquela região).
Mas, de acordo com as análises de Harvey (2012), muitos autores se fixam so-
mente no comportamento dos Estados Unidos por meio da coerção e da liquidação
do inimigo, sendo que eles são apenas uma base parcial do seu poder. O consenti-
mento e a cooperação também possuem uma relevância fundamental:
O período da Guerra Fria propiciou aos Estados Unidos uma grande oportuni-
dade de exercer essa liderança, pois empenhados na acumulação ilimitada do ca-
pital planejavam acumular poder político e militar a fim de defender e promover suas
propostas no mundo todo em objeção à ameaça comunista. A esse período de 1945-
1967, Wallerstein (2003) intitulou de “apogeu pós-guerra da hegemonia dos Estados
Unidos” – inquestionavelmente eles eram a potência hegemônica mundial com su-
perioridade econômica, militar, política e cultural sobre todas as outras potências
mundiais. Os principais pilares da hegemonia estadunidense no âmbito do sistema
capitalista eram o dólar, a capacidade produtiva e o Pentágono, ou seja, sua mo-
eda, sua produção e soberania militar.
Além disso, neste momento, Nova York coloca-se como centro da cultura mun-
dial num processo em que a cultura popular no mundo todo foi “americanizada”. O
American way of life foi um importante produto vendido por Hollywood, lançando
para o globo os “valores norte-americanos”, suas formas culturais e inclusive movi-
mentos políticos, como o caso dos direitos civis. Desse modo, o imperialismo cultural
65
tornou-se uma ferramenta significativa para afirmar sua hegemonia e promover o
desejo dos países de copiar o jeito americano de ser. Esse é um ponto fundamental
que diferencia a hegemonia dos Estados Unidos da hegemonia britânica – o fortale-
cimento dos elementos de consenso em relação aos de dominação (SADER, 2005).
Os Estados Unidos aproveitaram esse período de reconstrução dos países eu-
ropeus e asiáticos e usaram seu poderio econômico para edificar economias fortes
embasadas nos princípios capitalistas. Na Europa ficou conhecido como Plano Mars-
hall (Programa de Recuperação Europeia), no qual os Estados Unidos financiaram a
recuperação dos países aliados europeus após a Segunda Guerra Mundial.
Os norte-americanos eram vistos como o principal aparelho de acumulação
de capital, capazes de alavancar o restante do mundo nos seus eixos. Para coorde-
nar o crescimento econômico entre as potências capitalistas e conduzir o estilo ca-
pitalista para as outras nações não comunistas, eles instauraram o Acordo de Bretton
Woods (regras para as relações comerciais e financeiras entre os países) com o intuito
de estabilizar o sistema financeiro.
Assim, o acompanhamento se deu através de diversas instituições, tais como:
Banco Mundial, FMI (Fundo Monetário Internacional), Banco Internacional de Com-
pensações, o GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) e a OCDE (Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) (HARVEY, 2012). A acumulação
do capital ocorreu pelas vias da “reprodução expandida”, onde os lucros eram rein-
vestidos no crescimento econômico – novas tecnologias, capital fixo e melhorias na
infraestrutura. Em resumo:
[...] o período que vai de 1945 a 1970 foi a etapa do regime político da
burguesia funcionando sob a égide do domínio e da hegemonia glo-
bal norte-americanos, que promoveram uma época de notável cres-
cimento econômico consistente nos países capitalistas avançados. Es-
tabeleceu-se um coeso grupo global tácito envolvendo todas as gran-
des potências capitalistas, com os Estados Unidos num claro papel de
liderança, a fim de evitar guerras intestinais e partilhar os benefícios de
uma intensificação de um capitalismo integrado nas regiões nuclea-
res. A expansão geográfica da acumulação do capital foi garantida
mediante a descolonização e o “desenvolvimentismo” como meta
generalizada para o resto do mundo (HARVEY, 2012, p. 55).
66
e conseguiram defender seus próprios mercados e concorrer no mercado internaci-
onal), alto custo para a contenção do comunismo, a derrota na Guerra do Vietnã
(que trouxe muitos gastos militares), as revoluções mundiais de 1968, entre outras pro-
blemáticas. Esses acontecimentos moldaram o panorama geopolítico mundial e fize-
ram os líderes norte-americanos adotarem medidas diferentes.
Segundo Wallerstein (2003), os Estados Unidos procuraram convencer a Europa
Ocidental, Japão e outros para serem cooperativos com os Estados Unidos, a fim de
formarem uma aliança, mas sob sua “liderança”. Isso ficou conhecido como a Co-
missão Trilateral e o Grupo dos Sete. Num segundo momento, formaram o “Consenso
de Washington” na década de 1980, em contraponto ao “desenvolvimentismo” pro-
clamado entre os anos de 1950 e 1970. Foi inaugurado, então, a hegemonia neolibe-
ral. O Consenso de Washington veio para substituir o desenvolvimentismo que se ca-
racterizava basicamente em abrir todas as fronteiras e remover as barreiras comerci-
ais. E ainda, seguindo essa linha de cooperação, elaboraram a construção de um
consenso ideológico em Davos. Foi uma tentativa de construir um ponto em comum
para as potências mundiais, inclusive as do terceiro mundo, a fim de aproximá-las e
combinar suas atividades políticas.
Quando se voltam as análises para a década de 1990 sob a perspectiva do
projeto estadunidense de estruturação de uma soberania financeira mundial é que
se compreende o sentido da expansão da política de desregulação, privatização e
globalização financeira.
No início do século XXI, ocorreu um acontecimento que mostrou que os Esta-
dos Unidos eram vulneráveis, o ataque de 11 de setembro de 2001. O terrorismo passa
a ser o assunto principal da agenda de segurança internacional, sendo assim, há
uma transformação no próprio conceito de segurança – deixa de ser centrado no
Estado-nação – e abrange temas como o meio ambiente, tráfico de drogas e o crime
organizado. Nesta leitura, passamos de uma “sociedade disciplinar” apresentada por
Foucault (2013) para uma “sociedade de controle”, anunciada por Deleuze (1992).
Neste sentido, os Estados Unidos iniciam uma política de “Guerra ao Terror”, cujas
bases se fundam numa guerra ao mundo árabe e islâmico. As ideias de Huntington
(1994) sobre o conceito de “choque das civilizações” ganharam força nesse contexto
em que as guerras atuais teriam motivações culturais e não econômicas e ideológi-
cas.
67
A vitória dos Estados Unidos no Afeganistão contribuiu para fortalecer o unila-
teralismo e como resultado a construção de uma nova concepção das relações in-
ternacionais norte-americanas, conhecida como “Doutrina Bush”. O alvo imediato
resultou na Guerra no Iraque em 2003 e a destituição do ditador Saddam Hussein.
68
bloco correspondia a 3,18 bilhões de habitantes (China: 1,42 bilhão, Índia: 1,35 bilhão,
Brasil: 211 milhões, Rússia: 144 milhões e África do Sul: 57 milhões), esse número repre-
senta 41,7% da população mundial.
No aspecto econômico, essa teoria foi submetida a prova na crise de 2008-
2009 dos países do Atlântico Norte e intensificada nos anos de 2011-2012. Neste caso,
os países do bloco vivenciaram momentos de desaceleração econômica e afetou
cada um de distintas formas e com diversos ritmos, comprometendo de alguma
forma a ideia de que suas economias estariam “desassociadas” dos países do Atlân-
tico Norte.
É possível observar na Figura 5 abaixo o crescimento econômico do Produto
Interno Bruto (PIB) de cada país do BRICS durante o intervalo de 2008-2018:
69
e 2016. A China por sua vez, embora afetada pela crise econômica, a partir de 2009
já apresentou sinais de crescimento, se manteve estável e com notoriedade em re-
lação às demais nações do BRICS.
A articulação entre as nações do BRIC passou a ocorrer formalmente a partir
da década de 2000, primeiramente sem a África do Sul. Em 2006, aconteceu a pri-
meira reunião informal paralela à Assembleia Geral da ONU e, em 2008, no meio à
recessão econômica mundial, posteriormente à primeira reunião de chanceleres do
grupo, surgiu o BRIC - nome da nova entidade político-diplomática. Desde esse mo-
mento, ocorrem cúpulas anuais a fim de avançar o sistema de cooperação entre os
países. Em 2011, após a III Cúpula, incluíram a África do Sul no grupo.
A matriz econômica que abrange o conceito dos BRICS, devido sua estreita
compreensão que coloca todos os países no mesmo patamar analítico, não permite
um diagnóstico profundo das diversas complexidades das estruturas econômicas e
sociais ao qual caracterizam esses países. Ao sobrepor à China as demais nações
essa concepção:
70
Desse modo, os objetivos da criação dos BRICS estão relacionados a diminui-
ção das assimetrias entre as regras do sistema capitalista mundial e os artifícios de
poder obtidos por eles, principalmente pela China. Por essa razão, a maioria da
agenda do grupo era elaborada nos encontros simultâneos ou anteriormente às Cú-
pulas do G-20, FMI e do Banco Mundial, para alinhar possíveis convergências e fazer
frente aos países do antigo G-7. Mais recentemente, além de estabelecer uma sim-
ples ajuda mútua entre os membros, em 2014, durante a 6ª Cúpula dos BRICS, foi cri-
ado o “Novo Banco de Desenvolvimento” (NBD) dos BRICS com o intuito de estimular
recursos para projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nesses países.
71
FIXANDO O CONTEÚDO
1. O BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – vem negociando cuidadosa-
mente o estabelecimento de mecanismos independentes de financiamento e es-
tabilização, como o Arranjo Contingente de Reservas e o Novo Banco de Desen-
volvimento. O primeiro será um fundo de estabilização entre os cinco países; o se-
gundo, um banco para financiamento de projetos de investimento no BRICS e ou-
tros países em desenvolvimento.
Fonte: www.cartamaior.com.br. (Adaptado).
72
a) o contexto bélico do mundo.
b) a disposição de equilíbrio de forças entre países.
c) a relação da diplomacia internacional.
d) um conceito teórico sobre as soberanias ditatoriais.
e) a divisão do mundo entre desenvolvidos e subdesenvolvidos.
PONS, Silvio. A revolução global: história do comunismo internacional (1917-1991). Rio de Janeiro: Con-
traponto, 2014.
73
4. Em 1944, foram lançados os fundamentos da “economia do dólar”, ou seja, a
transformação do dólar na moeda do mundo, conhecida como Conferência de
Bretton Woods. Realizada nos Estados Unidos, definiu uma nova ordem econômica
entre os países capitalistas, com o objetivo de ampliar a integração da economia
mundial. Para efetivação dessa nova ordem econômica foram criadas as seguin-
tes instituições, exceto:
74
e) oferecer ajuda mútua militar entre os países membros.
CECERA, A E. Hegemonias e emancipações no século XXI Buenos Aires Clacso. 2005 (adaptado)
75
c) o crescimento da compra de máquinas e veículos estadunidenses pelos europeus.
d) a criação de organismos que visavam regulamentar todas as operações de cré-
dito.
e) o declínio dos empréstimos estadunidenses aos países da América Latina e da Ásia.
76
CONFLITOS, DINÂMICAS UNIDADE
05
ECONÔMICAS E REGIONALISMO
I. Culturais e religiosos;
II. Controle dos recursos naturais (petróleo, água, minérios, etc.);
III. Aprofundamento das clivagens étnicas interestaduais;
IV. Grupos terroristas e terrorismo de Estado;
V. Nacionalismo e separatismo;
VI. Crime organizado internacional (narcotráfico, tráfico de seres humanos,
biopirataria, etc.);
VII. Conflitos socioambientais, entre outros.
77
por aspectos culturais e territoriais, apontando para um horizonte de cidadania mun-
dializada, a prática nos apresenta ao contrário. Para esta unidade iremos expandir a
análise dos seguintes conflitos: culturais e religiosos e os conflitos socioambientais.
Segundo Huntington (1994) parte de uma teoria que os conflitos mundiais na
contemporaneidade não são necessariamente ideológicos ou de ordem econô-
mica, mas sim de origem cultural e religiosa. Para ele os Estados-nações ainda conti-
nuam sendo os atores de maior poder sobre os acontecimentos globais, porém en-
fatiza que os conflitos internacionais passariam cada vez mais a envolver distintos po-
vos e civilizações. A fissura entre as civilizações, de acordo com o autor, seriam o
palco de batalhas, até mesmo no interior dos países tensionados por questões étnico-
religiosas. Sobretudo após o final da Guerra Fria, a política internacional deixou de se
concentrar no seio da civilização ocidental e passou a evidenciar especialmente a
relação entre a civilização ocidental e as não-ocidentais, assim como as relações
das não-ocidentais entre si.
A identidade cultural é formada por vários elementos culturais (valores sociais,
modos de pensar, estilo de vida, costumes, instituições, entre outros) que podem pos-
suir distintos significados para cada indivíduo ou grupo social. Apoiados nesses ele-
mentos, o indivíduo ou grupo social formam e compartilham uma cultura. As obser-
vações de Huntington partem da ideia de que o nível mais amplo da identidade
cultural são as civilizações, no qual ele aponta nove grandes civilizações mundiais:
ocidental, confuciana, islâmica, hindu, japonesa, eslava ortodoxa, sínica, latino-ame-
ricana e africana. Diante disso, os conflitos ocorreriam nas chamadas “linhas de fra-
tura” entre as grandes civilizações planetárias.
Contudo, existe uma teoria oposta à de Samuel Huntington a tese do hibri-
dismo cultural. Os defensores dessa proposta apontam que o mundo não estaria am-
pliando sua diferenciação no que tange grupos e áreas de identidades culturais niti-
damente definidas, mas estaria sofrendo um gradual processo de desenraizamento,
miscigenação e trocas culturais que culminaria em processos “híbridos, ou seja, não
seriam passíveis de delimitação.
Para Haesbaert e Porto-Gonçalves (2006), a grande questão sobre o hibridismo
cultural e o “choque de civilizações” está na armadilha de cair num culturalismo, cujo
vetor político e econômico são subvalorizados ou negligenciados. Desse modo, para
os autores, o que existe cultural e geograficamente falando “é o convívio entre múl-
tiplos tipos de território, desde os territórios mais fechados em termos de identidade
78
cultural [...], até aqueles mais abertos e ‘híbridos’, onde convivem lado a lado os mais
diversos grupos socioculturais” (HAESBAERT; GONÇALVES, 2006, p. 91). Os grandes mo-
vimentos migratórios e, principalmente, as diásporas que anunciariam essa nova e
complexa (multi)territorialidade:
79
Para Little (2001) os conflitos socioambientais são disputas entre os grupos soci-
ais provenientes dos diferentes tipos de relação que eles mantêm com os meios soci-
ais e naturais, que por sua vez, englobam três dimensões diferentes: a política, a social
e a jurídica. A dimensão política está relacionada ao campo de disputa sobre a dis-
tribuição dos recursos naturais, a social diz respeito à disputa sobre o acesso aos re-
cursos naturais, e por último, a jurídica que corresponde à disputa sobre o controle
formal sobre os recursos.
Com isso, a problemática socioambiental representa uma forma de conflito
de interesses coletivos e individuais, que passam pela relação que a sociedade esta-
belece com a natureza, resultando no confronto entre atores sociais inseridos em dis-
tintas lógicas de gestão dos bens coletivos, que giram em torno dos embates de apro-
priação e uso dos recursos. Neste aspecto, o que engendram esses conflitos estão
relacionados a apropriação e uso dos recursos naturais e dos territórios, a desigual
distribuição e acesso aos recursos, a dissonante disposição dos riscos e contamina-
ção do meio ambiente a específicas parcelas da sociedade, além do processo de
construção de significados e relação identitária dado àquele local. Desse modo, no
que tange os conflitos socioambientais pela redistribuição dos recursos naturais, um
aspecto fundamental que envolve este processo é a sua dimensão territorial.
80
por embates entre o governo e grupos guerrilheiros, ficando conhecida internacio-
nalmente por seus conflitos internos com as guerrilhas armadas e, também, pelo nar-
cotráfico. Entre 1948 e 1958 os principais partidos da Colômbia vivenciaram um perí-
odo conhecido como “a violência” ao utilizarem como tática de embate a forma-
ção de grupos guerrilheiros armados, inspirados nos ideais políticos revolucionários
oriundos da Revolução Cubana e devido a conjuntura interna do país, (MEDINA,
2001).
Segundo Medina (2001), o estabelecimento do acordo de repartição do po-
der governamental entre liberais e conservadores e o cessar dessas disputas, conhe-
cido como Frente Nacional (1958 – 1974) fortaleceram as guerrilhas. Como conse-
quência desse acordo, houve a exclusão de todos os outros partidos que não foram
contemplados e com isso foram impossibilitados dos cargos da administração pú-
blica do país. Além de instaurar uma oligarquia, enfatizou a exploração do trabalha-
dor do campo que não era beneficiado pelas riquezas que vinham das exportações
dos recursos naturais.
Como os trabalhadores camponeses foram marginalizados pelo governo vi-
gente frente aos grandes latifundiários, iniciaram uma nova forma de luta e resistên-
cia, a guerrilha armada com ideais marxistas, originando as Forças Armadas Revolu-
cionárias da Colômbia (FARC), em 1964 (PEREIRA, 2015). A partir da década de 1970,
segundo Oliveira (2008), as o as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia expan-
diram seu poder de autofinanciamento a partir da associação com o narcotráfico e
a utilização de sequestros. Em vista disso, o grupo foi se distanciando da população,
aos poucos perdendo seu apoio e se afastando dos ideais socialistas – principal motor
da sua origem. No âmbito internacional também foi construída essa imagem nega-
tiva, a tal ponto de serem considerados um grupo terrorista pelos Estados Unidos, Ca-
nadá, União Europeia e o próprio governo da Colômbia.
A relação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia com o governo
foi atravessada por várias tentativas de acordos frustradas, no qual resultava em mo-
mentos alternados de relativa paz e violência (PEREIRA, 2015). A autora aponta duas
tentativas de negociação em que os objetivos almejados não foram alcançados. A
primeira experiência de negociação foi em 1980, quando as FARC colaboraram para
a criação do partido político nomeado de União Patriótica. O fracasso, na concep-
ção do governo, foi porque o grupo usava o ativismo político para se fortalecer mili-
81
tarmente. Já para as FARC o governo não queria reintegrar os guerrilheiros na socie-
dade. A segunda tentativa foi em 1998, quando o então presidente Andrés Pestrana,
concedeu uma área desmilitarizada ao sul do país para os guerrilheiros. Contudo, o
grupo utilizou esse território para se fortalecer militarmente e, mais uma vez, a paz
fracassou.
Em 2013 iniciou-se o processo de acordo de paz entre as FARC e o governo,
com o presidente Juan Manuel Santos. Os diálogos foram encabeçados em Havana,
no final de 2012, a partir da instauração de uma agenda temática de negociações:
i) desenvolvimento da reforma agrária; ii) participação política dos guerrilheiros; iii)
desmobilização das forças de guerrilha; iv) fim do narcotráfico; e v) políticas de repa-
ração para as vítimas (PEREIRA, 2015). Em 26 de setembro de 2016 o histórico acordo
de paz foi assinado entre o governo e as FARC, simbolizando a esperança e o fim de
uma guerra interna. Durante o processo, parte da população colombiana não acei-
tou o acordo, assim como, setores das FARC se recusaram a se desmobilizar. Apesar
disso, o processo de paz é dado como finalizado e o principal grupo de guerrilha
colombiano foi convertido em partido político – Força Alternativa Revolucionária do
Comum.
Agora, o Movimento Zapatista surgiu para o mundo em 1º de janeiro de 1994,
quando a mídia revelou o levante que aconteceu no extremo sul do México. Mulhe-
res e homens armados e com o rosto coberto ocuparam durante a madrugada, mu-
nicípios do Estado de Chiapas. Na cidade de San Cristobal de Las Casas, tomaram a
sede do governo local e se apresentaram como membros do Exército Zapatista de
Libertação Nacional (EZLN). Disseminaram para a população mexicana e a imprensa
internacional uma declaração, na qual apontavam para o início de uma luta pela
terra, trabalho, alimentação, educação, democracia, saúde, independência, de-
mocracia, justiça, paz e liberdade (CASTELLS, 2000).
O levante zapatista ocorreu concomitantemente com a vigência do NAFTA
(North America Free Trade Agreement), cujo objetivo principal era um acordo de livre
comércio entre Estados Unidos, Canadá e México. Elaborado em 1992, ele pressupõe
a criação de uma zona de livre comércio e no qual esta área está fundamentada
na livre circulação de mercadorias e serviços entre os países membros. Tal situação
decorre da eliminação das barreiras comerciais e das tarifas alfandegárias, neste
sentido, restrito somente à área comercial. O resultado que se buscava com o acordo
era a ampliação do mercado e a maximização da produtividade interna dos países
82
membros.
Depois de doze dias de conflito entre o exército federal e os Zapatistas, o Bispo
de San Cristóbal – Dom Samuel Ruiz -, foi eleito como mediador pelo exército Zapa-
tista para dialogar com o governo. Os membros do movimento refugiaram-se na Flo-
resta Lacandona, contudo ainda mantiveram diálogo com a sociedade civil interna-
cional e mexicana. O cessar-fogo foi assinado em 27 de janeiro e instaurou um pro-
cesso de negociação sobre: reforma política, direitos indígenas e demandas sociais
(CASTELLS, 2000).
A ascensão do movimento zapatista veio como resposta às perversas mudan-
ças ocorridas no país e, principalmente, com as comunidades indígenas desde os
anos de 1940, quando os povos originários e os camponeses foram deixados de lado
para privilegiar os proprietários de terra e o grande capital. Assim que o North Ame-
rica Free Trade Agreement entrou em vigor esses povos foram os mais afetados, pois
o acordo trouxe mudanças na Constituição Mexicana - alterava o artigo que
previa a regulamentação agrária e trazia como proposta a destruição da proprie-
dade coletiva da terra (Ejidos).
Há vinte e sete anos os povos indígenas se organizam enquanto comunidades
autônomas ao sul do México, no estado de Chiapas. Ao todo, somam-se quarenta e
três territórios autogovernados (sem o controle do Estado Mexicano ou de partidos
políticos) que englobam sete novos caracóis e quatro municípios. O movimento in-
surgente zapatista surge pela reivindicação de territórios através da luta armada no
contexto de ascensão do modelo neoliberal, além de uma resistência a ordem signi-
ficou um horizonte para os povos originários garantirem sua sobrevivência, auto-or-
ganização e resistência.
No mapa a seguir com os novos territórios do governo autônomo do Exército
Zapatista de Libertação Nacional (EZLN). As áreas em vermelho são as zonas originais,
as áreas em amarelo são as novas localidades e as áreas listradas são os locais para
onde ampliaram sua influência.
83
Figura 8: Expansão do território Zapatista
84
De acordo com Souza (2013), é importante destacar que a tentativa de me-
lhorar a cooperação da América do Sul remete-se desde do século XIX, primeira-
mente com Simon Bolívar, posteriormente aos processos de independência dos paí-
ses sul-americanos. Desde então, a diplomacia brasileira trabalha para efetivar acor-
dos para melhor a integração, tais como: i) o relatório do Ministério das Relações
Exteriores de 1927 apontava a intenção de estimular as exportações e facilitar o tu-
rismo e o comércio através da melhoria na infraestrutura; ii) em 1960, após a assina-
tura do Tratado de criação da Associação Latino-Americana de Livre-Comércio
(ALALC), o Brasil expressa a expectativa de aumentar as trocas comerciais com a
região e gradativamente os Estados membros eliminarem os entraves comerciais; iii)
em 1980, os debates ocorreram em torno da Associação Latino-Americana de Inte-
gração (ALADI) e iv) na década de 1990, verifica-se a criação do Mercado Comum
do Sul (Mercosul) e a Comunidade Andina das Nações (CAN), numa fase de desre-
gulamentação e liberação das suas economias e uma tentativa de fortalecer os pa-
íses membros frente a globalização econômica (FERNANDES; DINIZ FILHO, 2017).
No contexto da virada do milênio, alguns autores mencionam um desgaste
das políticas neoliberais e uma movimentação de governos de caráter mais progres-
sista direcionando suas políticas com desenhos neodesenvolvimentistas. A subida
desse novo governo no poder em 2003 no que diz respeito às relações multilaterais,
continuou acordos com países desenvolvidos, mas buscou uma reaproximação com
países em desenvolvimento. Na esfera das relações bilaterais, focou na aproximação
com a África do Sul, China, Índia e Rússia. Por fim, nas relações regionais, deu prefe-
rência para o Mercosul e com a integração sul-americana a fim de lançar o Brasil no
cenário internacional como potência média (SILVA, 2013).
O surgimento da IIRSA, como estratégia de integração dos países da América
do Sul com intuito de possibilitar a inserção da região na economia mundial, vem
desde a década de 1990, quando elaboraram no Brasil os Eixos Nacionais de Integra-
ção e Desenvolvimento (ENID). Esses eixos tinham como objetivos: a construção de
um sistema integrado de logística que viabilizasse a concorrência dos produtos brasi-
leiros; a anexação de novas áreas comerciais do país e o fortalecimento da hege-
monia política e econômica do Brasil na América do Sul (QUENTAL, 2013). Desse
modo, os Planos Plurianuais (PPA) do Governo Federal a partir da ideia do ENID foram
estabelecidos em programas como: Brasil em Ação (1996-1999), Avança Brasil (2000-
85
2003) e Brasil para Todos (2004-2007), no qual as obras de infraestrutura para a inte-
gração do país (construção de rodovias, hidrovias, gasodutos, etc.) tiveram grande
relevância.
Em vista disso, a elaboração da IIRSA foi inspirada na experiência do Brasil dos
ENID, com o objetivo de solucionar a questão da fragmentação da infraestrutura fí-
sica dos países sul-americanos, posto que esse seria um dos obstáculos centrais para
a entrada da região no cenário econômico internacional. A causa dessa desagre-
gação da infraestrutura física estaria associada, especialmente, a falta de uma visão
ampla de América do Sul, que por sua vez estaria sendo assimilada como um con-
junto de países separados do que como uma unidade geoeconômica (QUENTAL,
2013).
Dado esse contexto, a IIRSA é embasada em seis princípios norteadores: Regi-
onalismo aberto; Eixos de Integração e Desenvolvimento; Sustentabilidade Econô-
mica, Social, Ambiental e Político-Institucional; Aumento do Valor Agregado da Pro-
dução; Tecnologias de Informação e Coordenação Público-Privada (SILVEIRA, 2013).
Contudo, os princípios estruturantes dentro da iniciativa são os de regionalismo aberto
e os eixos de integração e desenvolvimento.
O conceito de Regionalismo Aberto surge na década de 1990 com a Comis-
são para América Latina e o Caribe (CEPAL), num contexto de ampliação das dou-
trinas neoliberais:
86
e especializados em tecnologia. Com isso, evidenciou a disputa de dois modelos de
desenvolvimento na região: o primário-exportador de baixo valor agregado apoiado
nos produtos agrícolas e minerais e o modelo desenvolvimentista baseado nas ativi-
dades intensivas em tecnologia e conhecimento.
A Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional possui 10 Eixos de de-
senvolvimento e o principal objetivo é a criação de corredores de desenvolvimento
articulando a América do Sul através da construção de estradas, hidrovias, ferrovias,
aeroportos, portos, redes de comunicação, hidrelétricas e interação energética. Os
eixos de desenvolvimento são:
87
Figura 9: Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional – eixos de integração e de-
senvolvimento
88
FIXANDO CONTEÚDO
89
e) A aceitação pacífica, por parte da Europa e dos EUA, da circulação de pessoas
entre as diferentes fronteiras internacionais, como migrantes sírios, albaneses, tur-
cos, entre outros.
3. Nas últimas décadas, os governos dos países da América do Sul vêm se compro-
metendo politicamente com iniciativas para interligar o continente, mas poucos
resultados concretos são observados. Programas como a Integração da Estrutura
Regional Sul-Americana (IIRSA e o Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Pla-
nejamento (Cosiplan) estruturaram uma lista de projetos prioritários.
Disponível em: https://bit.ly/3057k2R.
90
b) O movimento conseguiu estabelecer negociações diplomáticas com o governo
mexicano, evitando confrontos armados diretos, o que possibilitou a coesão naci-
onal em torno da luta por melhores salários para os índios.
c) O movimento surgiu da junção do movimento de guerrilha urbano com o movi-
mento indígena e camponês, no contexto de emergência do neoliberalismo e do
grande empobrecimento da população agrária do Chiapas.
d) A liderança do movimento é exercida pelos chefes indígenas, que preservam a
vida em aldeia em seu estado primitivo e mantêm-se distantes dos meios de co-
municação, como forma de preservar a independência política e econômica da
região.
e) O movimento organizado por um grupo de camponeses inspirado na antiga luta
empreendida pelo líder revolucionário Che Guevara, fundaram o chamado Exér-
cito Zapatista de Libertação Nacional (EZLN).
a) prática da diplomacia.
b) exercício da alteridade.
c) expansão da democracia.
d) universalização do progresso.
e) conquista da autodeterminação.
91
prioridade a muitas décadas. Esse contexto justifica-se em:
7. Mostrengo enviado para punir o povo de Tebas por ter afrontado os deuses, a Es-
finge tinha cabeça e seios de mulher, corpo e patas de leoa, e asas de águia.
Instalada às portas da cidade, ela exigia que seus melhores jovens a enfrentassem.
Todos eram impiedosamente trucidados porque não conseguiam responder ao
enigma que ela lhes propunha. Desgraça que só terminou quando apareceu um
esperto rapaz, vindo de Corinto e chamado Édipo. Ele matou a charada, provo-
cando o suicídio da fera. O resto da lenda é bem conhecido. Pois bem, o “desen-
volvimento sustentável” também é um enigma à espera do seu Édipo [....]
VEIGA, José Eli da. Desenvolvimento Sustentável: o desafio do século XXI. 3a edição. Rio de Janeiro:
Garamond, 2008, p.3.
92
b) O Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), proposto pelo governo federal,
tem como projeto estruturante a criação de reservas e parques nacionais para a
promoção do desenvolvimento sustentável na Amazônia.
c) A regulação da biodiversidade pela Organização das Nações Unidas (ONU), en-
quanto patrimônio da humanidade, vem garantindo o cumprimento legal da po-
lítica ambiental brasileira.
d) Os conflitos socioambientais evidenciam as contradições da relação estabelecida
entre a sociedade e a natureza no modelo de desenvolvimento capitalista.
e) A conservação natural dos ecossistemas terrestres para a reprodução social da
vida torna evidente o desenvolvimento sustentável no capitalismo.
93
(RE) CONFIGURAÇÕES DO PODER UNIDADE
06
MUNDIAL E OS RECORTES
ESPACIAIS DA REALIDADE
CONTEMPORÂNEA
94
tre EUA e a URSS, caracterizando um período de instabilidade e o surgimento de no-
vos desafios à nova ordem instituída (HOBSBAWM, 1990). Alguns acontecimentos mar-
caram os vinte anos posteriores a década de 1970 que foram fundamentais para o
desfecho da Guerra Fria, tais como: crise do petróleo (1973), derrota os EUA na Guerra
do Vietnã (1955-1975), a Revolução Iraniana (1979), a pioneira experiência neoliberal
inaugurada pelo Chile com Augusto Pinochet (1973), a recuperação dos ideais libe-
rais com Ronald Reagan nos EUA e Margaret Tatcher na Grã-Bretanha, a recessão
econômica na década de 1980 nos países do Terceiro Mundo, as reformas (Glas-
nost e Perestroika) promovidas por Gorbatchev em 1985 e a queda da URSS em 1991.
Em vista disso, os Estados Unidos ergueram-se como a grande potência vitori-
osa da Guerra Fria, demonstrando-se mais forte tanto no plano econômico quanto
militar. A vitória do sistema capitalista não significou que o sistema internacional tenha
criado uma nova ordem já consolidada em longo prazo, pelo contrário, foram déca-
das a fio nesta empreitada, ao qual deixou de ser uma competição intersistêmica
(capitalismo x comunismo) para dar espaço a uma competição intrassistêmica, mar-
cado por um novo paradigma e na busca por liderança internacional (VESENTINI,
2012).
Ao passo que aprofundaram-se as políticas neoliberais no âmbito dos Estados,
dos governos e da vida cotidiana da sociedade, ficava evidente a estruturação da
nova des-ordem neoliberal e toda sua parafernália de pacotes de medidas a fim de
promover uma disciplina orçamentária com reformas fiscais para incentivar agentes
econômicos (ANDERSON, 1995). O Estado passa a “encolher”, o Estado mínimo e o
mercado máximo passam a ser regras, e as grandes corporações transnacionais –
modernas, competitivas, com redução de custos e fusões – ganham destaque, in-
fluência e poder no mundo globalizado (HAESBAERT; GONÇALVES, 2006).
Nesta configuração, os vários pólos ou centros de poder são comandados por
três grandes potências mundiais no que refere ao poderio econômico, tecnológico
e político-diplomático sobre suas respectivas áreas de influência (mapa 5). As dispu-
tas intercapitalistas por hegemonia se colocam a partir dos Estados Unidos da Amé-
rica (EUA), da União Européia (UE) e do Japão. Concordamos com Haesbaert e Porto-
Gonçalves (2006) ao citar o caráter ambivalente e contraditório do capitalismo.
95
que se fortalecia o neoliberalismo econômico, estruturam-se os gran-
des blocos econômicos ou mercados comuns continentais. (HAESBA-
ERT; PORTO-GONÇALVES, 2006, p.57-58).
96
responsáveis por grande parte do comércio internacional, articuladas em redes e ter-
ritórios-rede e possuem destaques no desenvolvimento de novas tecnologias de in-
formação e comunicação (TIC’s), através dos maciços investimentos voltadas para
área de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Países investem bilhões de dólares anu-
almente para o desenvolvimento de ciência e tecnologia, resultado da competição
internacional, a qual obriga as empresas a serem cada vez mais inovadoras, essas
que, por vezes, tem se organizado em parques tecnológicos, como o Vale do Silício
na região da Califórnia (EUA). Atualmente, as empresas de tecnologia são as mais
valiosas do mercado: Apple, Google, Microsoft, Amazon e Facebook (FORBES, 2020).
De acordo com Santos (2012) todo esse processo marca a produção de um
novo meio, o meio técnico-científico-informacional, relacionada com a revolução
técnico-científica-informacional e a magnitude que o capitalismo financeiro adquiriu
na atualidade. Foi o “casamento” perfeito entre a técnica com a ciência que permi-
tiu a descentralização da atividade produtiva, descentralização essa que não repre-
sentou desconcentração do capital. Ao contrário, a formação de estruturas mono-
polistas e oligopolistas, tais como trustes, cartéis e holdings é uma marca da evolução
capitalista recente.
97
A figura 6 abaixo, sintetiza a relação de poder entre Estados-nacionais e os
grandes conglomerados econômicos globais, uma vez que estes suplantam os Esta-
dos e definem as regras de produção, consumo e acumulação, posicionando-se
como um destacado agente na organização sócio-espacial. Salienta-se, portanto,
que, no atual período, um reduzido número de empresas comandam toda a estru-
tura produtiva dos setores econômicos em escala global e, consequentemente im-
põem habitus, novos comportamentos e dinâmicas à sociedade de consumo
(BOURDIEU, 1989).
98
Figura 11: Estados Nacionais frente ao poder das grandes corporações globais
99
Uma nova ordem mundial (ou internacional), ainda que essa defini-
ção privilegie uma estruturação no nível político, aparece intima-
mente articulada a uma nova divisão internacional do trabalho, que
abrange a reestruturação econômica do espaço mundial. A crise que
vivenciamos nas duas ou três décadas [hoje, quatro a cinco décadas]
evidencia bem a profundidade das mudanças de natureza política e
econômica que levam a propor a formação de uma nova des-ordem
mundial (HAESBAERT; PORTO-GONÇALVES, 2006, p. 31)
100
mercadoria” (ALVES, 2011, p. 1).
Nesta perspectiva, “as novas modalidades de contratação salarial, desregu-
lação da jornada de trabalho e instauração de novos modos da remuneração flexí-
vel, seriam consideradas formas de precarização do trabalho” (ALVES, 2011, p. 1).
Estas reconfiguram os espaços-tempo da vida e do trabalho. Da mesma forma, há os
críticos que chamam a atenção para o fenômeno da uberização, pois configura
uma nova onda do trabalho precarizado que se expande e invade múltiplas áreas,
principalmente a partir da disseminação das tecnologias digitais (SLEE, 2019).
A atual divisão territorial/internacional do trabalho é pautada tanto nos níveis
tecnológicos da produção, como nos níveis de qualificação e exploração da força
de trabalho (HAESBAERT; GONÇALVES, 2006). Deste modo, é possível identificar, nesta
lógica, uma diferenciação do espaço mundial, identificando:
101
Precarização do homem (e mulheres) que Trabalho vivo = ser humano-genérico
trabalham
102
outros fatores, pela revolução técnico-científico-informacional. Na “era da informa-
ção” (CASTELLS; CARDOSO, 2005), tempo e espaço são categorias que transmutaram
radicalmente à medida que a superação das distâncias pelo avanço dos meios de
transporte pressiona para que o tempo de circulação do capital ocorra em veloci-
dades cada vez mais céleres. Deste modo, uma nova Geografia econômica mundial
se criou e, por sua vez, alijou países e continentes ao novo desenho, caso da América
Latina, cujas inúmeras mudanças radicais foram germinadas.
Portanto, na era da Globalização a relação entre países centrais e periféricos
demonstra, por sua vez, a relação entre importação/exportação de produção, tec-
nologias, capitais produtivos e especulativos, no contexto de uma desconcentração
e deslocalização industrial; e produzem uma nova regionalização do mundo con-
temporâneo, que veremos a seguir.
103
temporâneo, através das diversidades geográficas, heterogeneidades e/ou frag-
mentação dos espaços por meio das velhas-novas desigualdades (a nível global e
intranacional), da recriação da diferença, dos regionalismos e das identidades regi-
onais (HAESBAERT; 1999; 2010). Por conseguinte, a relevância e valorização da ques-
tão regional ressignificada marca o espaço geográfico, tanto no âmbito acadêmico
(através da “nova geografia regional”), quanto na proliferação das “geografias regi-
onais populares” (na esfera das experiências e singularidades) (HAESBAERT; 1999;
2010), presentes na ótica dos movimentos regionais.
Atualmente, as relações sociais de produção e da vida cotidiana são muito
diferentes do que já o foram, devido a recentes revoluções (tecnológica, informaci-
onal, genética, energética); que, entre outras coisas, ajudaram na formação de uma
economia globalizada e na constituição de redes de interações que atuam nas for-
mas de produção e gerenciamento (LIMONAD, 2015).
Estas transformações mexem profundamente com a capacidade de diagnos-
ticar o mundo globalizado à medida que impõe desafios cotidianos para sua análise.
A Geografia não está fora desse panorama, e ocupa um lugar cativo na compreen-
são das novas dinâmicas uma vez que tem “abordagem integradora que permite
compreensão do espaço através do processo histórico” (LIMONAD, 2015, p. 55). Em
outras palavras: buscar compreender as novas formas de relações sociais e do viver
através da Geografia é compreender o espaço indissociável do tempo e do mo-
mento. Outrossim, é procurar identificar os processos e fluxos diversos que se impri-
mem no espaço em determinado momento, compreendendo a articulação destes
e diagnosticando os principais agentes atuantes.
104
culturais e ambientais em seu conjunto e suas dinâmicas, são fundamentais para pen-
sarmos as questões regionais.
De antemão, é necessário salientar que hoje, dentro e fora da perspectiva ge-
ográfica, há uma multiplicidade de interpretações sobre região e regionalização.
Uma vez que toda “[…] regionalização, assim, é na verdade um jogo que envolve os
interesses e instrumentos genéricos do pesquisador (ou planejador), […] para efetivar
determinado entendimento e […] ação “regionalizadora” (HAESBAERT; PORTO-GON-
ÇALVES, 2006, p. 135).
Região pode ser pensada como fato na visão do realismo científico, algo
concreto, uma evidência empírica; ou então como algo construído intelectualmente
a fim de orientar estudos realizados, como artifício; ou então como um instrumento
de ação, tomando um caráter idealizador, a fim de intervir concretamente no es-
paço (e, para isso, o espaço há de ser idealizado). Haesbaert (2010) defende uma
região como “artefato”, que consiga romper com as dualidades realistas/idealistas,
ideal simbólica/material-funcional.
Segundo HAESBAERT, (2010, p. 16): “realidade persiste como construção socie-
tária, mas igualmente um agente ativo, com alguma autonomia dos sujeitos”. Assim,
a região como artefato trata de olhar para o espaço indissociável do tempo, sem se
ater a uma finalidade específica. Ela é artifício, instrumento de pesquisa, mas é tam-
bém a impressão de relações sociais de produção e de vivência no espaço-mo-
mento, e continua sendo utilizada como forma de intervenção no espaço concreto.
Portanto, deve-se atentar aos novos paradigmas da regionalização, que repensam
a continuidade espacial, o caráter de mesoescala, a coesão e a singularidade regi-
onal.
105
desigualdades. A impressão contínua no espaço não se coloca mais como prerroga-
tiva, podendo ser reticular e descontínua. Sua escala não é pré-definida, mas se vê
fora da ideia de escala “intermediária”, propondo agora uma visão local/global,
onde o nível regional não mais é subordinado ao nacional, mas sim ao global; como
demonstram os neologismos de Swyngedouw e Robertson, “glocal” e “glocalização”
(SWYNGEDOUW, 1992; ROBERTSON,1995 apud HAESBAERT, 2010).
Ademais, ao discutir sobre diversidade territorial e regionalização, no que
tange às mutações diante da abordagem teórico-filosófica, Haesbaert (1999) sinte-
tiza e indaga duas questões fundamentais:
106
“territórios” e das “redes”, bem como dos fluxos financeiros em torno do “oligopólio
mundial” de grandes potências – Estados Unidos, União Européia e Japão (destaca-
se ainda a emergência da China).
107
1. (UERJ 2009 - Adaptado) A estrutura desse sistema internacional de circulação al-
cançou tal grau de complexidade que ultrapassa a compreensão da maioria das
pessoas. As fronteiras entre funções diferentes como as de bancos, corretoras, ser-
viços financeiros, financiamento habitacional, crédito ao consumidor etc. torna-
ram-se cada vez mais porosas, ao mesmo tempo em que novas transações futuras
de mercadorias, de ações, de moedas ou de dívidas surgiram em toda parte, in-
troduzindo o tempo futuro no tempo presente de maneiras estarrecedoras.
DAVID HARVEY – Adaptado de Condição pós-moderna. São Paulo: Edições Loyola, 1992.
108
a) a diferenciação regional da identidade social por meio de hábitos de consumo.
b) o maior fortalecimento de informações, hábitos e técnicas locais.
c) a universalização do acesso a computadores e a Internet em todos os países.
d) a melhor distribuição de renda entre os países do sul favorecendo o acesso a pro-
dutos originários da Europa.
e) a criação de novas referências culturais para a identidade social por meio da dis-
seminação das redes de fast-food.
SENNETT R. A corrosão do caráter, consequências pessoais do novo capitalismo. Rio de Janeiro: Re-
cord, 1999 (adaptado).
109
O esquema abaixo apresenta alguns modelos de localização da siderurgia, consi-
derando os fatores locacionais mais importantes para esse tipo de indústria: miné-
rio de ferro, carvão mineral, mercado e sucata.
110
uma rede interativa de comunicação em tempo real, seja entre continentes, seja
entre os andares de um mesmo edifício.
6. (Enem)
Disneylândia
Multinacionais japonesas instalam empresas em Hong-Kong
E produzem com matéria-prima brasileira
Para competir no mercado americano
[...]
Pilhas americanas alimentam eletrodomésticos ingleses na Nova Guiné
Gasolina árabe alimenta automóveis americanos na África do Sul
[...]
Crianças iraquianas fugidas da guerra
Não obtêm visto no consulado americano do Egito
Para entrarem na Disneylândia
111
d) Aumento da circulação mercantil e desregulamentação do sistema financeiro.
e) Expansão do protecionismo comercial e descaracterização de identidades naci-
onais.
(LUCCI, E. A. et. al. Território e sociedade no mundo globalizado: Geografia Geral e do Brasil. Ensino
Médio. Editora Saraiva, 2005. p.56).
112
a) Os países desenvolvidos exportam produtos tecnológicos e os países subdesenvol-
vidos exportam matérias-primas.
b) A formação da DIT está relacionada, principalmente, com os eventos ligados ao
colonialismo.
c) A Divisão Internacional do Trabalho envolve, entre outras questões, as relações
desiguais entre o norte desenvolvido e o sul subdesenvolvido nos campos político
e econômico.
d) Conferências internacionais são realizadas anualmente para se definir qual tipo de
produto cada país produzirá no contexto do comércio internacional.
e) Na nova DIT, as relações se dão entre metrópoles e colônias na organização do
espaço mundial, estabelecendo um pacto.
113
GEOGRAFIA ECONÔMICA E DA
POPULAÇÃO
7.1 INTRODUÇÃO
114
Figura 14: Aspectos da Geografia Humana e suas determinações
115
apenas como uma fusão, ou um somatório, entre a Geografia e as Ciências Econô-
micas; esta leitura, embora não seja de todo incorreta, acaba por enfatizar excessi-
vamente algumas relações específicas de formação econômica de diferentes espa-
ços, como por exemplo, a distribuição da agricultura nas regiões geográficas brasi-
leiras.
Com efeito, embora estas determinações sejam importantes para a compre-
ensão dos fatos correntes da Economia contemporânea, podem ser insuficientes
para compreender os aspectos sociais e culturais, como mencionamos, que são
igualmente fundamentais para o desenvolvimento humano (MORMUL, 2013).
Neste mesmo tema, ainda podemos destacar mais dois aspectos para uma
conceituação adequada a respeito da Geografia Econômica.
O primeiro deles ressalta que a Geografia Econômica é particularmente rele-
vante para entender a dinâmica das relações sociais contemporâneas: a área co-
nhecida tradicionalmente no Ensino Médio como Geopolítica abrange dimensões
sociais diversas. Porém, a evolução recente da Geografia Econômica está baseada
também nas influências das instituições humanas sobre o território, tais como as em-
presas, organizações não-governamentais (ONGs), grupos religiosos e outros agentes
físicos e jurídicos com alguma capacidade de articulação. Assim, por meio das ações
econômicas, pode-se também entender a realidade social e suas implicações
(HERNÁNDEZ, 2003).
116
Efetivamente, o pesquisador na área do conhecimento proposta por esta dis-
ciplina não poderá conceber estas desigualdades como um fato circunstancial, isto
é, que pode ser atribuído a alguma razão não-específica ou relacionada à realidade
do indivíduo. Deve-se, assim, entender melhor os condicionantes econômicos e soci-
ais que estão presentes em uma população geograficamente distribuída.
Por exemplo, a falta de empregos qualificados em uma determinada área não
pode ser atribuída apenas à baixa qualificação dos indivíduos, mas sim, a elementos
históricos (ausência de políticas públicas, desigualdade de renda, etc) que conver-
gem para uma determinação econômica (desemprego) com implicações sociais
(padrões de consumo, disparidades de renda, violência, pobreza, entre outras possi-
bilidades) (SPOSITO, 2017).
117
7.3 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL E SEU ESPAÇO GEOGRÁ-
FICO
Neste tópico, você poderá analisar, ainda que resumidamente, diferentes as-
pectos relacionados ao desenvolvimento econômico do Brasil em perspectiva histó-
rica. Você poderá observar que as etapas deste desenvolvimento se estabelecem a
partir do período colonial, desde a criação das capitanias hereditárias e da criação
de circuitos comerciais baseados no extrativismo vegetal. Estas fases históricas foram
condicionadas pela distribuição geográfica e ambiental no território, criando rela-
ções entre a colônia brasileira e a metrópole portuguesa que foram reelaboradas a
partir dos períodos imperial e republicano.
A formação econômica do Brasil na era colonial apresenta suas raízes na con-
solidação do Império Português no período das ‘Grandes Navegações’, no século
XV, onde as monarquias ibéricas passaram a disputar espaços inexplorados a fim de
estabelecer rotas comerciais privilegiadas para a região das Índias, bem como para
construir relações monopolistas de comércio e complexos produtores voltados à ex-
portação (MORAES; FRANCO, 2010).
Assim, ao refletir com maior especificidade sobre a formação social e histórica
da nação brasileira, é necessário resgatar as formas de exploração estabelecidas
durante os primeiros séculos da dominação portuguesa, dentro de um modelo teó-
rico que é conhecido como ‘Antigo Sistema Colonial’.
De acordo com os pressupostos deste modelo, a organização da produção
econômica da colônia, desde o século XVI, estava destinada a dar sustentação à
criação de lucros e excedentes financeiros para a metrópole, não apenas a partir do
comércio de bens, mas também, por meio do apresamento e escravização de ne-
gros e indígenas. Neste contexto histórico, foram criadas as primeiras povoações,
ocupando o território a partir das regiões litorâneas de modo a favorecer os processos
comerciais e de extração de recursos naturais na colônia recém-descoberta
(ARRUDA, 2003).
Por sua vez, o uso de mão-de-obra cativa foi sendo desenvolvido desde o sé-
culo XVI, como um modo básico e fundamental de regime de trabalho na Colônia
e, posteriormente, durante quase todo o período Imperial. O trabalho escravo foi uma
das características mais fundamentais do Antigo Sistema Colonial, uma vez que era
118
formador de lucros extraordinários a partir da exploração de contingentes populaci-
onais e do tráfico ultramarino de escravos.
Esta mão-de-obra escrava era particularmente demandada para o trabalho
rural, nas lavouras de cana-de-açúcar (que formavam complexos exportadores im-
portantes, especialmente na região Nordeste, nos quais a Coroa portuguesa tinha o
domínio do comércio e o controle completo das compras da produção) e na extra-
ção mineral, em ouro e pedras preciosas, especialmente, na região das Minas Gerais,
a partir da segunda metade do século XVII.
Em relação ao trabalho rural, estes complexos foram desenvolvidos com base
no modelo de plantation, no qual articulam-se as seguintes variáveis: o uso de mão-
de-obra escrava; a formação de grandes propriedades rurais, organizadas por ho-
mens que, em momento posterior, formarão a pequena nobreza brasileira; a mono-
cultura como meio de produção; a exportação dos recursos produzidos; e as rela-
ções de exclusividade forçada no comércio com a metrópole (CAMPOS; MIRANDA,
2000).
119
Minas Gerais e Goiás, ao longo do século XVIII – sem que outras culturas de exporta-
ção, como a cana-de-açúcar, tenham perdido sua influência na estrutura econô-
mica colonial – onde as áreas produtoras de minérios e metais preciosos criaram um
importante espaço de circulação financeira na Colônia.
Deste modo, a descoberta de lavras de ouro e de metais preciosos viabilizou
a formação de um aparato administrativo da Coroa portuguesa na região das Minas
Gerais, de modo que a circulação monetária e a riqueza gerada na colônia permitiu
o desenvolvimento de núcleos urbanos e redes de abastecimento interno, que dina-
mizaram todo o território a partir de uma dinâmica eminentemente comercial, cal-
cado, vale lembrar, sobre o trabalho escravo (MORAES; FRANCO, 2010).
O século XIX é caracterizado pela ascensão da cultura do café, que encon-
trou na região Sudeste uma importante área de expansão, com disponibilidade de
terras férteis e condições climatológicas adequadas; esta expansão marcou-se a
partir do Rio de Janeiro, espalhando-se depois para o Vale do Paraíba e para a re-
gião do Oeste Paulista.
O chamado ‘ouro verde’, como o café era conhecido, foi responsável direta-
mente pelo desenvolvimento da base econômica da nação recém-independente
(em 1822), e viabilizou a criação de algumas proto-indústrias, que tinham o objetivo
de suprir este mercado com produtos indispensáveis ao cultivo do café (LUNA; KLEIN,
2016).
120
Estado e pressões internacionais para o fim do regime de trabalho cativo. Ao mesmo
tempo, levas de imigrantes adentravam o território, estabelecendo núcleos popula-
cionais e povoamentos em diferentes pontos do território, a fim de ocupa-lo e pro-
mover a expansão demográfica sob bases ‘europeias’, de acordo com as doutrinas
raciais daquele tempo (CAMPOS; MIRANDA, 2000).
Da mesma forma, as relações de trabalho são um exemplo de uma série de
importantes contrastes na transição entre os séculos XIX e XX; coexistiam, ainda, di-
versos grupos monarquistas e republicanos radicais, e ainda, grupos políticos ligados
aos estados, que tentavam assumir uma presença política mais efetiva na máquina
pública. Deste modo, no século XX, o café era praticamente hegemônico na pauta
exportadora, embora disputasse espaço com outros produtos igualmente importan-
tes na pauta de exportação, produtos estes criados através de complexos exporta-
dores, como a borracha, por exemplo (LUNA; KLEIN, 2016).
Você pode observar, com base na Tabela 1, que os estados da região Sudeste
eram responsáveis pela maioria das importações e exportações no período entre
1850 e 1920: estas exportações estavam essencialmente embasadas no café, ao
passo que as importações eram baseadas na compra de bens de consumo duráveis
e outros insumos necessários ao desenvolvimento da região cafeeira, como maqui-
nários, equipamentos e implementos para o desenvolvimento de ferrovias (CAMPOS;
MIRANDA, 2000).
Em uma próxima etapa histórica, na qual se desenvolvem as mudanças ocor-
ridas no Estado brasileiro durante o século XX, é preciso compreender os anos da
chamada ‘Era Vargas’, entre 1930 e 1945; este é um período marcado pela liderança
política de Getúlio Vargas, desde a Revolução de 1930, passando pela fase de go-
verno constitucional, entre 1934 e 1937, e por fim, pelo regime ditatorial do ‘Estado
Novo’, entre 1937 e 1945.
121
A expressão ‘Revolução de 1930’ diz respeito ao movimento político e militar,
liderado por Vargas, que derruba o presidente Washington Luís e impede a posse do
presidente eleito, Júlio Prestes, rompendo com o modelo de alternância política na
chefia do Executivo federal que era dividido entre as oligarquias de São Paulo e Minas
Gerais, modelo este que era conhecido como a ‘Política do Café-com-Leite’. Com
o apoio de outros estados com menor representação política no cenário nacional,
como o Rio Grande do Sul e Paraíba, Vargas marcha sobre o Rio de Janeiro e assume
o poder, derrubando o presidente Washington Luís (LUNA; KLEIN, 2016).
Em novembro de 1937, na sequência de eventos críticos como a Intentona
Comunista, Vargas decreta o fechamento do Congresso, suspende o funcionamento
dos partidos políticos e outorga uma nova Constituição: começava o período do Es-
tado Novo, a fase ditatorial da ‘Era Vargas’ que se estenderia até 1945.
122
sas industriais estrangeiras para a fabricação de bens de consumo duráveis, em par-
ticular, a indústria automobilística; investiu em obras públicas, através da abertura e
melhoria de estradas e portos.
Juscelino financiou estes projetos através do ‘tripé econômico’, que conju-
gava o capital privado nacional (em setores paralelos e de suporte à indústria pe-
sada), o capital do governo (em infraestrutura e através das empresas estatais) e o
capital privado externo (especialmente através da entrada de empresas multinacio-
nais). A ‘meta-síntese’ do governo era a mudança da capital da República para o
Planalto Central, com a construção de Brasília (CAMPOS; MIRANDA, 2000).
Cumprindo seu governo de acordo com os preceitos democráticos, JK en-
trega seu governo ao sucessor eleito, Jânio Quadros, em 1961. Renunciando ao
cargo meses depois, Jânio dá lugar a João Goulart, o vice reeleito. A plataforma
política de Jango, inclinada à esquerda política, e associada a projetos de reforma
agrária e no setor urbano, conhecidas como ‘Reformas de Base’, atraíram forte opo-
sição da classe média e de segmentos importantes das Forças Armadas. Em 30 de
Março de 1964, Goulart é deposto mediante um golpe militar, que instaurou um re-
gime de exceção que perduraria por vinte e um anos.
Pelo lado da economia, o regime militar caracterizou-se por uma fase de in-
tenso crescimento das bases produtivas e da economia, que ficou conhecido como
o período do ‘Milagre Econômico’, entre 1968 e 1973. No entanto, na sequência da
etapa do ‘Milagre’, estas taxas de crescimento decaíram e a inflação voltou a cres-
cer, comprometendo os limites ao desenvolvimento do Estado. O regime já dava si-
nais de enfraquecimento interno quando o processo de abertura política ganhou fô-
lego, a partir de 1979, com o movimento da Anistia e a luta pela redemocratização
do país (MORAES; FRANCO, 2010).
Esta luta se estenderia ao longo de toda a metade da década de 1980, com
o retorno dos exilados políticos e o fim dos governos militares com a eleição de Tan-
credo Neves em 1985. Morto antes de assumir a presidência, Tancredo dá lugar ao
vice, José Sarney, que implementa reformas econômicas e viabiliza a promulgação
da nova Constituição, em 1988, vigente até os dias atuais. No entanto, pelo lado da
economia, a inflação atingiu patamares superiores a 1.000% ao ano, desorganizando
a base produtiva até a reforma monetária que lançou o Real, em Julho de 1994.
123
7.4 CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO E DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO
á =( − )+( − ) (1)
Estas variáveis, como você pode observar, dependem não apenas de fatores
físicos (como o número de mortes naturais), mas também dizem respeito a variáveis
124
sociais e econômicas, como a violência (que pode elevar o número de mortes), o
nível de renda (que pode aumentar a expetativa de vida e, consequentemente, re-
duzir o número de mortes e, eventualmente, reduzir o número de nascimentos) e di-
ferentes políticas públicas que levam ao aumento do bem-estar e, consequente-
mente, ao aumento dos fluxos migratórios de entrada (imigrações) para um país ou
região.
125
Figura 17: Crescimento demográfico da população brasileira (milhões hab)
215
205
195
185
175
165
155
145
1992
1993
1994
1995
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2008
2009
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
Fonte: Elaborado pelo Autor com dados do IBGE (2020). Disponível em: https://bit.ly/2ZQIdRl.
Acesso em: 11 fev. 2021.
Observe, pelo Gráfico 1, que até o ano de 2020, houve um incremento positivo
na população brasileira na ordem de 42,3% em relação a 1992: em 1º de julho deste
ano, a população estimada era de 149.236.984 habitantes; em 16 de dezembro de
2020, o IBGE estimava a existência de 212.443.851 residentes no território brasileiro.
Este número esperado de habitantes, vale dizer, já é superior às projeções do
IBGE para o ano de 2020, elaboradas em abril deste ano, e que estimavam uma po-
pulação de aproximadamente 211.755.000 pessoas ao final de 2020.
De acordo com as informações do Censo Demográfico de 1970, a população
brasileira era estimada em aproximadamente noventa milhões de pessoas; logo, em
aproximadamente cinquenta anos, a população aumentou em quase 150%, ou seja,
mais que dobrou ao longo deste período.
No entanto, para o mesmo órgão de pesquisa, as projeções de crescimento
126
da população para os anos seguintes apontam para uma redução progressiva deste
montante de habitantes, de acordo com o que se observa pelo Gráfico 2, que se
segue:
Figura 18: Gráfico de Projeções demográficas para a população brasileira (milhões hab).
240
230
220
210
200
190
180
170
160
150
140
1992
1994
1997
1999
2001
2003
2005
2008
2011
2013
2015
2017
2019
2021
2023
2025
2027
2029
2031
2033
2035
2037
2039
2041
2043
2045
2047
2049
2051
2053
2055
2057
2059
Fonte: Elaborado pelo Autor com dados do IBGE (2020). Disponível em: https://bit.ly/3krCAST.
Acesso em: 11 fev. 2021.
127
7.4.2 Teorias do desenvolvimento econômico e a divisão social do traba-
lho
128
Figura 19: Configurações de atividade e ocupação da população
129
bilizasse o crescimento da estrutura produtiva local, sobretudo, da indústria de trans-
formação – seria bastante remota (BARBOSA, 2004). Na verdade, a dinâmica de ex-
ploração das colônias não haveria auxiliado em nada para o seu desenvolvimento
econômico futuro.
As consequências naturais deste processo estariam materializadas pela de-
pendência econômica dos países da América Latina em relação a outras economias
de natureza ‘central’, desenvolvidas e com base industrial fortalecida, de modo que,
no paradigma cepalino, as nações latino-americanas haviam mantido o seu caráter
inerente ao período colonial, tornando-se produtoras e exportadoras de gêneros pri-
mários, de menor valor agregado, e recebendo, na forma de importações, produtos
manufaturados com inovações e tecnologias adicionadas (respeitando-se, claro, os
padrões de cada época) (BARBOSA, 2004).
Esta relação de desigualdade é um dos pilares da chamada ‘dinâmica cen-
tro-periferia’; consequentemente, esta desigualdade se refletiria também no mer-
cado de trabalho, de modo que os países periféricos tornam-se exportadores de
mão-de-obra com baixa qualificação e/ou especializam-se na produção de itens de
baixo valor agregado, empobrecendo, consequentemente, o mercado de trabalho
local.
Outro ponto fundamental da dinâmica centro-periferia diz respeito a uma in-
serção ‘subordinada’ das economias latino-americanas nos fluxos do comércio inter-
nacional. Os produtos gerados nestas economias, essencialmente primários (minerais,
e gêneros do agronegócio) são produtos padronizados, sem um grau de diferencia-
ção profundo entre si, e cujo preço não é determinado diretamente pelo produtor,
mas sim, estabelecido no mercado internacional, mediante as determinações de
oferta e demanda dos chamados ‘países centrais’ (FONSECA, 2012).
Deste modo, o paradigma cepalino enfatiza a ‘dinâmica centro-periferia’ a
partir da limitada inserção dos países da América Latina nos fluxos de capital que
condicionaram o desenvolvimento e a criação de malhas industriais fortes nos países
desenvolvidos (FURTADO, 1983).
A partir deste processo de desigualdade nos fluxos comerciais e seu impacto
na estrutura produtiva e social, é possível pontuar um segundo elemento na questão
do desenvolvimento da América Latina: a tendência latente destas economias a
apresentarem um processo de ‘deterioração de termos de troca’, ou de ‘termos de
intercâmbio’ (SILVA, 2003).
130
Os termos de troca (TT) consistem, basicamente, na relação entre o valor das
exportações (VE) e o valor das importações (VI) de um país, ou uma economia (em
suas diferentes escalas e expressões, de nacionais a locais).
Pode-se apresentar resumidamente o conceito segundo a equação (3):
VE
TT = (3)
VI
131
FIXANDO O CONTEÚDO
1. Geografia Humana
2. Stakeholder
3. Geopolítica
4. Geografia Econômica
a) 1 – 4 – 3 – 2.
b) 2 – 1 – 4 – 3.
c) 3 – 2 – 1 – 4.
d) 4 – 3 – 2 – 1.
e) 2 – 3 – 1 – 4.
132
tor de discussão, de modo a permitir um conhecimento mais amplo sobre o im-
pacto desta variável nas condições específicas de vida e reprodução material de
uma população.
a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) I e III, apenas.
e) II e III, apenas.
133
pela conquista de novos territórios ultramarinos.
a) F – V – V.
b) V – F – V.
c) V – V – F.
d) F – V – F.
e) V – F – F.
134
A partir da contextualização efetivada pelo texto-base, analise as seguintes afir-
mações, julgando-as como (V) Verdadeiras ou (F) Falsas.
a) V – V – F.
b) V – F – V.
c) V – V – F.
d) F – V – F.
e) F – F- V.
I. A principal demanda para o trabalho escravo no século XVII era para o extrati-
vismo de recursos vegetais, notoriamente para o corte do pau-brasil.
II. No Antigo Sistema Colonial, o sistema de trabalho baseado na imigração euro-
peia foi incentivado como parte de uma política de ocupação do território.
III. O trabalho escravo era um elemento gerador de lucros extraordinários, criando
uma ‘justificação’ econômica para a sua exploração no período colonial.
135
É correto o que se afirma em
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas.
De acordo com o conteúdo apresentado pelo texto-base, leia o trecho com la-
cunas que se segue:
O ciclo minerador está intrinsecamente associado às capitanias de __________ e
__________, durante o século __________. Este ciclo de extrativismo mineral, no en-
tanto, desenvolveu-se paralelamente à exploração de outras culturas, notoria-
mente a __________.
136
Agora, assinale a opção que contempla a sequência correta para o texto apre-
sentado.
137
GEOGRAFIA ECONÔMICA E
INDICADORES DE
DESENVOLVIMENTO
8.1 INTRODUÇÃO
138
autor, uma tendência irreversível de choque entre estas duas situações, uma vez que
a população humana tende a crescer em escala geométrica, e a oferta de alimen-
tos, em escala aritmética, como você pode observar pela Figura 5, que se segue:
139
Disponível em: https://bit.ly/3krcNdz. Acesso em: 11 fev. 2021
140
E é neste ponto que se estabelece um conceito importante, a armadilha mal-
thusiana: no momento em que o padrão de vida sobe, em função da exploração de
mais terras, aumento da riqueza, pilhagem de recursos ou outra situação qualquer, a
tendência de aumento da população volta a se manifestar. Assim, a perspectiva de
melhora no padrão de vida é sempre inviabilizada pelo aumento da população.
Dessa forma, de acordo com Malthus, qualquer medida de apoio à popula-
ção empobrecida seria benéfica para melhorar suas condições de vida, mas traria
como consequência inevitável o incentivo ao aumento da fecundidade (SOUZA;
PREVIDELLI, 2017). Observe o diagrama a seguir:
141
Desse modo, é tarefa importante entender um pouco mais a Revolução Indus-
trial e seus impactos sobre a estrutura social do Ocidente; faremos esta reflexão ao
longo desta disciplina.
142
Figura 23: Movimento migracional (1845 – 1960), em milhares de pessoas
200
150
100
50
0
1845
1849
1853
1857
1861
1865
1869
1873
1877
1881
1885
1889
1893
1897
1901
1905
1909
1913
1917
1921
1925
1929
1933
1937
1941
1945
1949
1953
1957
Fonte: Anuário Estatístico do Brasil, vários anos.
143
Figura 24: População rural e urbana em Minas Gerais (1950 – 2010), em milhões de hab.
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010
Fonte: Elaborado pelo Autor com Dados do IBGE (2010). Dispoível em: https://bit.ly/3kptQwG.
Acesso em: 11 fev. 2021.
144
Figura 25: População desocupada em Minas Gerais, em milhares de pessoas
1500
1300
1100
900
700
500
Fonte: Elaborado pelo Autor com Dados do IBGE (2020). Dispoível em: https://bit.ly/2ZW8D3Y.
Acesso em: 11 fev. 2021.
145
crescimento do produto em uma perspectiva histórica.
No entanto, após a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) e, especialmente,
a partir da década de 1950, a teoria econômica passou a reconsiderar a importância
do cálculo do PIB para a mensuração do desenvolvimento econômico dos países.
Com efeito, alguns fatores como estoque de capital e criação de produto passaram
a ser entendidos como elementos geradores de riqueza, mas não necessariamente
de melhorias importantes na área social (SIEDENBERG, 2003).
A economia brasileira, por exemplo, experimentou um processo relevante de
crescimento econômico após a Segunda Guerra, e que se acelerou ainda mais du-
rante a etapa do ‘Milagre Econômico’, entre 1968 e 1973, no auge do regime militar
(HERMANN, 2011). A Figura 13 apresenta os dados relativos a este período:
15,0 14,0
13,0 11,9
11,3
10,4 10,3
11,0 9,8 9,5
9,2
8,2
9,0
6,7 6,8
7,0 5,2 4,9 5,0
4,2
5,0 3,4
2,4
3,0
0,8
1,0
-1,0 -2,9
-3,0
-4,3
-5,0
146
econômica é multifacetada, e possui diferentes expressões regionais, e mesmo locais,
que condicionam distintos comportamentos e padrões relativos à qualidade de vida,
bem como à Educação, à infraestrutura urbana e condições de moradia, à estrutura
de saúde pública e seus impactos na longevidade da população, entre outros
(SOUZA, 2012).
Assim sendo, os indicadores econômicos ‘puros’, como o cálculo do PIB, foram
aos poucos dando lugar a fórmulas mais apropriadas para a avaliação das condi-
ções de vida da população e seu desenvolvimento.
Ao se realizar uma discussão a respeito de indicadores econômicos e suas ca-
racterísticas, bem como sobre os indicadores sociais, chega-se a um momento de
síntese, através de um dos índices mais utilizados por organismos internacionais como
a ONU (Organização das Nações Unidas), o IDH – Índice de Desenvolvimento Hu-
mano. O IDH é um indicador confiável para entender o desenvolvimento social dos
países, avaliando aspectos relativos à estrutura macroeconômica, bem como aos
aspectos sociais (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO,
2014).
No tocante à dimensão social, utilizam-se dois indicadores. O primeiro destes
indicadores é a expectativa de vida ao nascer, que consiste no número esperado de
anos de vida para uma determinada quantidade de pessoas nascida em uma re-
gião, dentro de um mesmo ano. O segundo indicador correlaciona variáveis relativas
à Educação, através do exame da média de anos de estudo da população a ser
examinada. Por fim, a dimensão econômica é contemplada no cálculo do IDH atra-
vés da renda per capita.
A Renda per capita de uma economia diz respeito à média da remuneração dos recursos
usados na produção, por habitante. Embora sejam agregados macroeconômicos seme-
lhantes, há uma nuance que difere Renda e Produto: enquanto este corresponde ao valor
total dos bens e serviços gerados, a Renda mede o total de pagamentos por estes produ-
tos, na forma de alugueis, salários, juros e lucros, por exemplo (PAULINI; BRAGA, 2013).
Para o cálculo do IDH, é feita uma média geométrica destas três variáveis, de
modo que os valores finais são distribuídos em um intervalo entre zero e 1. À medida
147
que o IDH de uma nação se aproxima de 1, maior é o seu grau de desenvolvimento
humano, expresso pelas variáveis analisadas (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS
PARA O DESENVOLVIMENTO, 2014).
Na cidade de São Paulo, bairros de alto padrão como Moema e Pinheiros, apresentam
IDH elevado, e regiões afastadas do centro, como os distritos de Marsilac e Parelheiros,
apresentam valores, em média, 37%% menores do que os bairros com maior IDH.
148
algumas análises e estudos que permitam verificar conexões entre o crescimento da
economia e a melhora dos indicadores de desenvolvimento social, que incidam di-
retamente sobre a população.
Como já enfatizado, através do Produto Interno Bruto (PIB) é possível mensurar
a riqueza que é gerada por uma nação a partir de sua estrutura produtiva. Este so-
matório da riqueza produzida, no entanto, correlaciona-se adequadamente com a
avaliação do bem-estar da sociedade? Através da Tabela 2, que se segue, você
pode comparar os valores referentes ao IDH, ao PIB e à Renda per capita de diferen-
tes nações, para o ano de 2018:
149
Rica, da Argentina e do Chile.
150
FIXANDO O CONTEÚDO
151
sociedade.
II. Este conceito destaca que o apoio à população empobrecida e carente de
recursos deveria ser evitada, a fim de gerar um aumento na taxa de fecundi-
dade média neste estrato social.
III. O conceito de ‘armadilha malthusiana’ pretende enfatizar que o aumento da
população inviabiliza os resultados positivos que possam ser gerados pela explo-
ração de recursos naturais.
a) II, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) I e III, apenas.
e) II e III, apenas.
152
a) F – V – F.
b) F – V – V.
c) F – F – V.
d) V – F – V.
e) V – V – F.
Neste sentido, de acordo com o seu conhecimento sobre o tema proposto, é cor-
reto mencionar que:
Assim sendo, de acordo com o tema apontado pelo texto-base, avalie as opções
que se seguem e assinale a correta.
153
a) A fase histórica de maior ingresso de imigrantes manifestou-se após a 2ª Guerra
Mundial.
b) Houve um fluxo migratório progressivo que se acentuou ao final do século XIX.
c) A migração acelerou-se apenas a partir da década de 1920, após a Primeira
Guerra Mundial.
d) O pico dos fluxos migratórios ocorreu na década de 1870, após os distúrbios políti-
cos na Europa.
e) o período histórico de maior fluxo de migrantes ocorreu após a crise econômica
de 1929.
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas.
154
dinâmica populacional e as consequências econômicas e sociais de uma popu-
lação. Portanto, é necessário compreender os aspectos subjacentes e relaciona-
dos à formação destes indicadores.
a) F – F – V.
b) F – V – V.
c) V – V – F.
d) V – F – F.
e) F – V – V.
a) 1964 a 1967.
b) 1968 a 1973.
155
c) 1974 a 1977.
d) 1978 a 1980.
e) 1981 a 1983.
156
GEOGRAFIA ECONÔMICA E
GLOBALIZAÇÃO
9.1 INTRODUÇÃO
Esta unidade irá enfatizar alguns aspectos relacionados à dispersão das ativi-
dades econômicas em relação à realidade territorial do país. Efetivamente, você po-
derá compreender a realidade da industrialização brasileira em perspectiva histórica,
efetuando, ainda, uma correlação com os padrões de Desenvolvimento Econômico
e configuração da realidade geopolítica a partir das atividades econômicas, no âm-
bito do capitalismo contemporâneo.
A palavra-chave para esta unidade, portanto, é globalização: sob esta ex-
pressão, articulam-se os padrões de crescimento econômico e seus efeitos sociais,
em termos de renda, emprego e padrões de vida. Serão destacados, ainda, outros
conceitos como o da guerra fiscal no país, e seus efeitos sobre a economia de cida-
des e estados.
157
O início do aproveitamento da energia a vapor, com a criação de sistemas hi-
dráulicos e caldeiras para a alimentação de máquinas e navios;
O desenvolvimento de maquinários apropriados para a indústria têxtil, substi-
tuindo o tear manual e aumentando a oferta de produtos;
A disponibilidade de mão-de-obra barata, que incluía mulheres e crianças em
jornadas exaustivas, de até dezesseis horas diárias;
A expansão marítima da Inglaterra, abrindo novos mercados consumidores em
outros continentes;
O processo de reorganização fundiária na Inglaterra, que expulsou os pequenos
camponeses de suas terras, cercando-as (daí o termo cercamentos) para a cri-
ação de grandes fazendas de criação de ovinos para o cultivo da lã;
O desenvolvimento de lavouras de algodão em territórios coloniais, especial-
mente na América.
158
Assim, em uma perspectiva histórica, a indústria moderna surgiu na Inglaterra,
a qual se tornou a ‘oficina do mundo’, exportando produtos manufaturados para
todas as suas possessões e nações parceiras. Neste contexto, cabe lembrar a impor-
tância da relação comercial entre ingleses e portugueses, consolidada pelo Tratado
de Methuen, em 1703, no qual a Inglaterra teria exclusividade para fornecer tecidos
aos portugueses, e em troca, estes teriam condições alfandegárias preferenciais para
os vinhos a serem exportados para os ingleses (CAMPOS; MIRANDA, 2000).
159
da criação de bens industrializados de alta demanda, como o aço e seus produtos
derivados (locomotivas, trilhos, vergalhões para construção civil), cabos de energia
e telégrafo, entre outros (ARRUDA, 2003).
Na terceira fase de transformações da atividade industrial, observa-se um in-
cremento importante da produtividade a partir da adoção de técnicas produtivas
de redução de estoques (just-in-time) e administração do tempo e fluxos produtivos
no interior das fábricas (como o método kanban). A tecnologia de comunicações
favoreceu, ainda, a internacionalização da produção, com a difusão das indústrias
e sua consequente migração para mercados consumidores mais ativos e locais de
mão-de-obra a preços competitivos, especialmente na Ásia (BORGHI, 2011).
Por fim, a ‘Indústria 4.0’ é marcada pela automação da produção, no âmbito
da ‘internet das coisas’, integrando produção e consumo em mercados globaliza-
dos. Neste contexto, a criação de produtos é baseada intrinsecamente em ativos
com tecnologia embarcada, oferecendo soluções específicas a cada nicho de mer-
cado e perfil de consumidor (renda, preferências de produto e marca, etc). Esta re-
lação de globalização será melhor discutida no próximo tópico.
160
9.3.1 Os efeitos da globalização
A globalização pode ser entendida sob diferentes vias, entre as quais é neces-
sário destacar (BORGHI, 2011):
161
Globalização produtiva: está associada à difusão de métodos de criação e
elaboração de bens, por meio da mecanização da produção e formação de com-
plexos industriais em países emergentes, de modo a aproveitar vantagens competiti-
vas como a presença de recursos naturais e matérias-primas, impostos reduzidos e
mão de obra barata.
162
Uma das consequências diretas do processo globalizador é a disseminação da desigual-
dade econômica, isto é, a diferença de renda entre famílias e grupos sociais, bem como
a diferença entra a renda percebida pelos trabalhadores, na forma de salários, e a riqueza
gerada no país em um determinado momento no tempo. O conceito de Desigualdade
Econômica é trabalhado pelo Prof. Dr. Cassiano J.B.M. Trovão no vídeo “Verbete de ‘De-
sigualdade Econômica’”. Acesse: https://bit.ly/3pZGhQS. (Acesso em 11. Fev. 2021).
18,00
16,00
14,00
12,00
10,00
8,00
6,00
4,00
2,00
0,00
Fonte: Elaborada pelo autor (2021), baseado no dados da Confederação Nacional da In-
dústrias. Disponível em: https://bit.ly/3aXA4AX. Acesso em: 21 fev. 2021.
163
1,02% dos fluxos globais em 1992, para aproximadamente 0,88% em 2019, em uma
trajetória de relativa queda no cenário externo.
164
Observe que os trabalhadores da indústria, em 2019, representavam aproxi-
madamente 4,6% do total da população brasileira. Deste grupo de indivíduos, que
formam a força de trabalho industrial no país, 11,7% estão concentrados em Minas
Gerais, sendo que a Região Sudeste concentra 49,6% dos trabalhadores da indústria.
O salário médio dos industriários mineiros é inferior à média brasileira, que por
sua vez é inferior à média da Região Sudeste. Em parte, isso pode ser explicado pela
menor escolarização da força de trabalho em Minas Gerais. Pode-se, também des-
tacar que o estado gera 10,9% dos resultados econômicos da indústria (PIB Industrial),
e 12,3% da arrecadação nacional do Imposto sobre Produtos Industrializados, o IPI.
Assim, por meio de suas indústrias, das quais pode-se destacar a área siderúrgica, de
cimento e de extração mineral, Minas Gerais consolida uma posição-chave no ce-
nário da indústria brasileira.
165
exportação, a atração de empresas de suporte (prestando serviços e comerciali-
zando insumos para a empresa principal), entre outras possibilidades.
Quando estas práticas tornam-se disseminadas a ponto de desencadear um
processo de concorrência direta entre organismos do poder público (especialmente,
entre prefeituras), observa-se um movimento conhecido como guerra fiscal, na qual
estes entes públicos disputam, a possibilidade de implementação de empresas ofe-
recendo o maior número de vantagens possíveis, na falta de uma regulamentação
mais ativa do Estado para incentivar o desenvolvimento de determinadas regiões,
por exemplo, através da criação de pólos industriais e zonas francas de comércio,
como a de Manaus (AM) (ORAIR; GOBETTI, 2019).
Para conhecer melhor o contexto da guerra fiscal e os seus elementos determinantes, não
deixe de consultar o terceiro capítulo (Geografia da Indústria e Globalização) do livro de
Washington Ramos dos Santos Junior (2016) , “Geografia II – Geografa Econômica”. Neste
texto, o autor explora o processo de atração de indústrias por estados e municípios, desa-
gregando os pactos regionais e dando início a conflitos fiscais entre as instituições políticas
no país. Acesse: https://bit.ly/2P7hbTu. (Acesso em: 11 fev. 2021)
166
FIXANDO O CONTEÚDO
1. Globalização produtiva
2. Guerra Fiscal
3. Globalização financeira
4. Revolução Industrial
(X) Marca um processo de disputa política e econômica entre governos pela im-
plementação de empresas.
(X) Diz respeito à difusão de investimentos em escala mundial, para obter lucrativi-
dade acentuada por meio de oscilações positivas de juros.
(X) É um período histórico no qual são desenvolvidas diferentes soluções e inova-
ções destinadas a aumentar a produtividade dos agentes econômicos;
(X) Diz respeito à unificação de mercados e indústrias em diferentes locais, com o
objetivo de aproveitar vantagens locais ligadas à mão de obra e à produção.
a) 1 – 3 – 2 – 4.
b) 3 – 4 – 2 – 1.
c) 2 – 3 – 4 – 1.
d) 4 – 1 – 3 – 2.
e) 4 – 2 – 1 – 3;
167
em perspectiva histórica.
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas.
I. (X) A Inglaterra foi a nação que mais se beneficiou dos resultados da Primeira
Revolução Industrial, abrindo e desenvolvendo mercados para a exportação
de produtos.
II. (X) No contexto da segunda Revolução Industrial, os cercamentos foram funda-
mentais para a criação de zonas de extração de minério.
III. (X) O aumento na oferta de matéria-prima (algodão), a partir das colônias in-
glesas na América, favoreceu diretamente a primeira Revolução Industrial.
168
Agora, assinale a opção que corresponde à sequência correta.
a) V – V – F.
b) V – F – F.
c) V – F – V.
d) F – V – F.
e) F – V – V.
169
A partir da contextualização efetivada pelo texto-base, analise as seguintes afir-
mações, julgando-as como (V) Verdadeiras ou (F) Falsas.
a) F – V – V.
b) F – V – F.
c) V – F – F.
d) V – F – V.
e) V – V – F.
170
a) II, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) I e III, apenas.
e) II e III, apenas.
171
a) A guerra fiscal é um processo essencialmente benéfico à economia, pois gera im-
pactos positivos no saldo comercial e na arrecadação tributária dos governos.
b) A globalização financeira é um elemento integrador de mercados de consumo, e
baseia-se na migração de recursos na forma de capital e mão de obra para países
de maior renda individual.
c) A participação da China como mercado produtor de bens em escala mundial
consolidou-se a partir da década de 2000, quando os Estados Unidos perderam a
liderança no cenário produtivo.
d) O Brasil perdeu influência na dinâmica de exportação de bens industrializados a
partir da década de 1990, quando exportava 6% do total de bens, chegando a
apenas 2,5% na década de 2010.
e) A globalização produtiva está baseada intrinsecamente na migração de traba-
lhadores pobres e de baixa qualificação para os países europeus, gerando um
fluxo de mão de obra barata.
172
DINÂMICAS DO
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
E A GEOGRAFIA URBANA
10.1 INTRODUÇÃO
173
Entretanto, é conveniente ir um pouco além desta classificação baseada no
senso comum, a fim de compreendermos como a Geografia dos Transportes e a Ge-
ografia Econômica compreendem as atividades humanas no âmbito das cidades,
de modo a favorecer a produção e a circulação econômica nestes espaços. Assim,
a divisão proposta a este tópico reforça estas duas dimensões da Economia Regional
e Urbana e suas características gerais.
174
Dimensionamento dos meios de transportes, a fim de integrar pessoas e empre-
sas de acordo com as características do espaço e os perfis de ocupação das
empresas e famílias nos centros urbanos;
Características e perfil dos sistemas viários, para compreender e estruturar as
soluções mais estratégicas e apropriadas a cada área urbana e setor econô-
mico predominante nestes espaços, como a indústria, prestação de serviços,
apoio a atividades vinculadas ao agronegócio, ao extrativismo vegetal e mine-
ral, etc;
Processos de deslocamento e circulação de pessoas, de modo a oferecer me-
canismos que facilitem o fluxo de indivíduos, oferecendo não apenas qualidade
de vida, mas segurança e proteção à vida durante estes deslocamentos. Neste
caso, a Geografia dos Transportes integra-se à Segurança Pública e à Estatística,
para entender a interação e a movimentação de pedestres e evitar conflitos e
crises decorrentes a espaços confinados, comuns a situações de evacuação
ou pânico.
175
Observe, portanto, que esta dimensão da Geografia Humana deve ser consi-
derada a partir de seu enfoque social: certamente, as soluções de transporte devem
ser compreendidas, paralelamente aos estudos de Engenharia Civil, para o desen-
volvimento de estudos e construção de modais de deslocamento que aumentem as
condições de reprodução material.
No entanto, a Geografia Humana irá enfatizar a conexão existente entre estes
modais e as políticas públicas voltadas à infraestrutura, de modo a oferecer soluções
que abranjam o planejamento do crescimento do setor urbano paralelamente à sus-
tentabilidade ambiental (com o desenvolvimento de ciclovias, de estudos de polui-
ção do ar em áreas específicas, etc) (GOMES, 2013).
Resumidamente, é necessário verificar que a Geografia Econômica gera uma
possibilidade efetiva de compreender as mutações e transformações que se desen-
volvem nos espaços geográficos a partir da ação antrópica, isto é, por meio da in-
tervenção humana, gerando espaços modificados conforme as demandas individu-
ais e necessidades sociais.
Deste modo, os métodos de transporte implicam em uma alteração impor-
tante da relação entre tempo e espaço, simbolicamente reduzindo distâncias e co-
nectando áreas de modo a facilitar o intercâmbio de informações e a síntese de
referências sociais e culturais, como resultado do aumento da interação humana,
sobretudo nos espaços urbanos (GOMES, 1996).
176
com maior atenção as estatísticas que remetem mais diretamente às diferentes rea-
lidades do intercâmbio cultural e das relações econômicas.
Em primeiro lugar, observe a dinâmica do transporte aéreo no Brasil, em uma
janela de aproximadamente noventa anos, de acordo com Gráfico 8, que se segue:
120.000.000
100.000.000
80.000.000
60.000.000
40.000.000
20.000.000
0
1927
1931
1935
1939
1943
1947
1951
1955
1959
1963
1967
1971
1975
1979
1983
1987
1991
1995
1999
2003
2007
2011
2015
2019
Fonte: IPEADATA (2021). Disponível em: https://bit.ly/3pVIrRx. Acesso em: 11 fev. 2021
177
1.000 indivíduos transportados em 1927, quando começam a ser agregadas as esta-
tísticas do Departamento de Aviação Civil (DAC), órgão público de supervisão hoje
substituído pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Em relação ao transporte aquaviário, é preciso considerar a existência de
cinco principais modais de deslocamento (AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES
AQUAVIÁRIOS, 2021):
178
2019 198 57 663
2020 222 59 670
Fonte: Agência Nacional de Transportes Aquaviários (2019).
450
400
350
300
250
200
150
100
1997 2000 2005 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
179
Por fim, é importante destacar o setor rodoviário, que conecta os centros ur-
banos, sobretudo os de menor porte, e agiliza o deslocamento de mercadorias e
pessoas entre estas áreas. Desde a década de 1950, com o Plano de Metas do pre-
sidente Juscelino Kubitschek, o transporte rodoviário consolidou-se como uma estra-
tégia de governo, para favorecer o desenvolvimento do setor automobilístico e ex-
pandir a rede de estradas pelo país (YOUNG, 2013).
Os demais governos posteriores continuaram a focar, igualmente, no setor ro-
doviário como solução específica para o desenvolvimento econômico e social do
país, inclusive com a criação de obras de vulto, como a Ponte Rio-Niterói e a Rodovia
Transamazônica. Consequentemente, houve um aumento importante na extensão
de rodovias pavimentadas no país, cuja extensão passou de 170.000 km em 2001
para 213.000 km em 2017, como se observa pela Tabela 5:
180
10.2.2 Relações comerciais nos centros urbanos
181
Tabela 6: Índices de variação do comércio varejista (2020)
jan/20 fev/20 mar/20 abr/20 mai/20 jun/20 jul/20 ago/20 set/20 out/20 nov/20 dez/20
Comércio Varejista (1) 76,97 73,69 74,39 62,3 70,93 74,26 80,93 83,95 82,63 89,68 93,39 109,19
1. Combustíveis e lubrificantes 94,99 90,3 83,86 62,4 63,91 69,63 80,92 82,67 85,77 91,81 88,24 93,16
2. Hipermercados, supermerca-
dos, produtos alimentícios bebi- 81,38 81,94 92,15 87,36 91,53 87,48 92,03 92,96 90,6 99,81 97,32 118,49
das e fumo
2.1. Hipermercados e supermer-
81,01 81,68 92,32 87,83 92,13 87,77 92,44 93,36 90,6 100,12 97,91 119,55
cados
3. Tecidos, vestuário e calçados 45,48 41,67 26,77 8,55 19,78 30,7 36,99 46,67 43,06 49,52 55,86 88,87
4. Móveis e eletrodomésticos 78,02 66,87 55,19 38,62 63,24 76,32 85,76 90,56 90,17 89,71 110,53 110,84
4.1. Móveis 77,53 67,5 56,35 37,48 59,09 75,21 88,42 91,77 87,82 88,16 103,09 107,8
4.2. Eletrodomésticos 78,08 65,47 54,74 39,08 64,95 76,66 84,64 90,16 89,93 90,38 113,42 112,3
5. Artigos farmacêuticos, médi-
cos, ortopédicos, de perfumaria 88,49 84,88 97,12 74,06 84,6 88,44 99,55 96,5 96,45 101,75 103,61 112,86
e cosméticos
6. Livros, jornais, revistas e pa-
121,62 87,01 42,64 18,48 20,71 33,5 49,95 36,45 33,5 37,06 47,51 62,84
pelaria
7. Equipamentos e materiais
para escritório, informática e 78,87 79,56 70,38 46,5 58,78 74,97 84,96 83,58 84,16 90,82 99,54 99,77
comunicação
8. Outros artigos de uso pessoal
64,85 56,6 47,12 33,01 47,68 60,26 65,66 74,33 74,07 80,9 97,61 104,74
e doméstico
Comércio Varejista Ampliado 83,05 77,42 75,07 59,69 70,51 77,71 86,32 89,39 89,67 96,51 99,07 110,9
9. Veículos, motocicletas, par-
101,29 87,7 72,32 40,87 57,84 77,08 90,67 93,85 98,81 104,27 105,06 108,33
tes e peças
10. Material de construção 103,77 93,01 89,42 79,02 98,71 117,66 135,14 138,64 144,89 153,27 146,55 136,61
Fonte: IBGE (2021). Disponível em: https://bit.ly/3uFr7nv. Acesso em: 11 fev. 2021
182
Na Tabela 6, os dados de receita no comércio varejista estão ponderados
para uma base igual a 100 que é relativa ao mês de dezembro de 2019. Ou seja, o
valor ‘76,97’ relativo ao mês de Janeiro de 2020 destaca que o volume de comércio
das oito primeiras categorias agregadas durante aquele mês correspondeu a apenas
77% do total de vendas do mês 12/2019.
A partir desta informação, é possível perceber de que modo a pandemia de
Covid-19 afetou a dinâmica do comércio no país: com o fechamento de escolas e
universidades, o setor de papelaria sofreu uma retração forte, de modo que em abril
de 2020 as vendas corresponderam a apenas 18,5% udo total vendido em dezembro
de 2019. O setor de tecidos, igualmente, caiu em 92% no volume de vendas em Abril,
em relação ao período-base.
Embora lenta, a recuperação econômica vem se processando gradualmente,
à medida que setores no comércio varejista fecharam o mês de dezembro com um
desempenho superior em 10% em relação ao ano anterior, puxado especialmente
pelo setor farmacêutico e pelo de supermercados e hipermercados.
Deve-se mencionar, ainda, o crescimento significativo das vendas de material
de construção, viabilizadas em parte pelas medidas do governo brasileiro de conten-
ção à crise do coronavírus, na forma de financiamentos a micro e pequenas empre-
sas, e pela cessão direta de recursos a pessoas físicas por meio do auxílio emergencial
(CHIARA, 2020).
183
mesmo posteriormente), era muito comum encontrar referências que apontavam a
divisão de economia em três setores distintos: o setor primário, formado pela agricul-
tura (criadora de matérias-primas) e pelas atividades de extrativismo vegetal (extra-
ção de látex, corte de madeira, etc) e extrativismo mineral. O setor secundário com-
preendia a atividade de transformação, isto é, a conversão de matérias-primas em
produtos industrializados; e o setor terciário abrangia as atividades de comercializa-
ção, distribuição e prestação de serviços aos consumidores finais.
Embora ainda seja utilizada por alguns autores, esta definição tradicional pode
ser entendida hoje como praticamente obsoleta: na verdade, os diferentes setores
econômicos são interligados e, consequentemente, são interdependentes, de modo
que estes setores compartilham informações, tecnologias e técnicas produtivas es-
pecializadas. A agricultura, em particular, evoluiu drasticamente em sua produtivi-
dade – atendendo assim às necessidades da crescente população mundial – ao in-
corporar as práticas inovadoras da indústria (MORAES; FRANCO, 2010).
Foi possível, desta forma, mecanizar a produção e adicionar sistemas de auto-
mação e controle da produção que aumentaram não apenas a capacidade pro-
dutiva, mas a previsibilidade desta produção – isto é, o planejamento dos resultados
esperados em cada colheita ou turno de criação de produtos. Esta previsibilidade
favorece diretamente as decisões produtivas e gera condições mais objetivas para
que um proprietário rural possa definir suas necessidades futuras de crédito para in-
vestimento e ampliação de sua própria produção.
Deste modo, é importante enfatizar que o conceito tradicional de ‘produção
agrícola’ – a criação de matérias-primas com baixo incremento de tecnologia e uso
intensivo de mão-de-obra, direcionado ao consumo animal e humano e à atividade
de transformação na indústria – precisa ser ‘revisitado’, haja visto que as transforma-
ções da economia e da produção de bens e serviços tornaram esta definição sobre
a ‘agricultura’ mais abrangente e, por consequência, mais complexa em suas carac-
terísticas (ARAÚJO, 2018).
Como referência desta discussão, observe a Figura 22:
184
Figura 35: Produtividade no cultivo de cereais (kg/ha), Brasil, 1961 – 2017
4500,0
4000,0
3500,0
3000,0
2500,0
2000,0
1500,0
1000,0
1961
1963
1965
1967
1969
1971
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
2011
2013
2015
2017
Fonte: Elaborado pelo Autor com dados do Banco Mundial (2021).
185
Nos anos seguintes, houve um aumento contínuo e sustentado desta produti-
vidade, que aumentou em quase três vezes em pouco menos de sessenta anos, ape-
nas na produção de cereais. Tal raciocínio pode ser expandido, naturalmente, para
outros setores na própria agropecuária, como a produção de leite, por exemplo,
onde a produtividade litros/vaca ao ano cresceu 3,87 vezes entre 1970 e 2017. Assim,
um plantel de vacas ordenhadas que era apenas 23,7% superior em número ao total
de vacas em 1970 conseguiu produzir 378% mais leite, em valores agregados, atin-
gindo um total de 30,1 bilhões de litros em 2017 (CABRAL; BARBOSA, 2019).
O momento atual do setor agropecuário, portanto, precisa ser pensado a par-
tir das fortes integrações que este setor estabeleceu com outros ramos econômicos,
que complementam a atividade criadora e reforçam as suas condições produtivas.
Deve-se, portanto, observar este setor não apenas como um agregado de fazendas,
granjas e outros estabelecimentos baseados no uso de mão-de-obra de baixa quali-
ficação, mas sim, como um setor econômico forte, capaz de articular sinergias com
outras áreas da indústria e prestadores de serviços em diferentes segmentos, dentro
e fora das propriedades rurais.
Esta ampliação de relações é a base do chamado ‘Agronegócio’, que arti-
cula diferentes agentes econômicos e cria uma atividade renovada de criação de
bens; a própria produção agropecuária assume moldes de uma produção industrial,
com foco na produtividade e no uso de tecnologia e mão-de-obra especializada
(agrônomos, engenheiros, biólogos e outros pesquisadores), reduzindo, portanto, a
demanda por trabalhadores menos qualificados (CHADDAD, 2017).
186
10.3.2 Êxodo rural
3,6
3,4
3,2
3,0
2,8
2,6
2,4
2,2
2,0
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
2012
2014
2016
2018
Vale destacar que este aumento, conforme apresentado na Figura 23, não foi
integralmente suficiente para manter a relação entre população rural e população
187
urbana. Efetivamente, em 1960, havia 66,4% dos moradores da Terra vivendo no
campo; em 2018, este montante era de aproximadamente 44,3%. Tal situação de-
monstra uma presença progressivamente menor de pessoas vivendo, e exercendo
atividades produtivas, no meio rural, refletindo mudanças no mercado de trabalho e
nas próprias condições de produção no setor agropecuário.
Em sua opinião, o processo de migração do campo para a cidade pode efetivamente ser
pensado como uma oportunidade de melhora na qualidade de vida das pessoas? As ci-
dades dispõem de soluções de emprego e renda que sejam efetivamente superiores ao
que se apresenta nos complexos produtivos do Agronegócio?
45,0
43,0
41,0
39,0
37,0
35,0
33,0
31,0
29,0
27,0
25,0
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
188
maior nos centros urbanos, cujas soluções de desenvolvimento passam pelo controle
da degradação ambiental e pela oferta de emprego e renda em espaços geogra-
ficamente limitados, de acordo com a reflexão a ser realizada no tópico seguinte.
189
Os APLs se estabelecem em uma dimensão regional, e realizam um processo
de integração econômica entre empresas que elaboram produtos finais para con-
sumo, empresas produtoras de insumos e matérias-primas, empresas de manutenção
e suporte, prestadoras de serviços, atendimento a clientes, transportadoras e formas
de logística, etc. Podem, ainda, estar presentes escolas e instituições de ensino volta-
das à formação de um corpo técnico apropriado para o desempenho de atividades
profissionais nestas áreas (JULIEN, 2010).
Dentro dos APLs, pode-se observar que as sinergias que são geradas acabam
por favorecer o setor-chave como um todo (através da difusão de técnicas produti-
vas, concentração de capital e mão-de-obra qualificada), reduzindo custos e viabi-
lizando importantes vantagens competitivas decorrentes da concentração de em-
presas e melhoria das condições de competitividade (BARBOSA, 2016).
Um outro exemplo de sinergia entre empresas é dado pelo conceito de cluster, que é uma
região geográfica na qual diferentes firmas se unem para realizar suas atividades-fim, so-
bretudo, na comercialização de produtos ou prestação de serviços. A cidade de São
Paulo apresenta diversos clusters, como a Rua Santa Ifigênia (no comércio de eletroeletrô-
nicos), a Rua José Paulino (roupas), a Rua Paula Sousa (artigos para restaurantes e hotéis),
a Rua da Consolação (lustres e itens de iluminação), a rua Teodoro Sampaio (instrumentos
musicais), entre outros. O texto de Renato Telles et a.l, (2013) “Atratividade em clusters co-
merciais: um estudo comparativo de dois clusters da cidade de São Paulo”, discute este
conceito através de estudos de caso. Acesse: https://bit.ly/37WC8Hx. (Acesso em: 11 fev.
2021)
190
Todas as empresas incluídas em um APL, deste modo, acabam por tornar-se
mais eficientes nos seus processos produtivos e de gestão.
191
As empresas que são denominadas startups apresentam algumas característi-
cas em comum, que permitem defini-las desta forma (MOREIRA, 2018):
192
desenvolvimento.
As secretarias estaduais de Desenvolvimento Econômico, por exemplo, mobili-
zam esforços no sentido de promover a melhoria da estrutura produtiva através do
incentivo à inovação e ao empreendedorismo, seja através de medidas de apoio
(como implementação de cursos e plataformas de oferta de postos de trabalho, por
exemplo), bem como através de iniciativas de financiamento a empreendedores in-
dividuais e microempresas (microcrédito), a fim de viabilizar o crescimento de suas
atividades (MARTINELLI; JOYAL, 2004).
193
FIXANDO O CONTEÚDO
2. O conceito de ‘transporte’ deve ser compreendido como uma dimensão mais am-
pla do que um processo de criação de soluções de deslocamento de indivíduos e
mercadorias. Assim sendo, estas soluções devem ser integradas ao pensamento
econômico e aos processos geopolíticos que ordenam a sociedade contemporâ-
nea.
194
Considerando o conteúdo apresentado pelo texto, analise as seguintes afirma-
ções:
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) I e III, apenas.
195
das passagens.
III. (X) A navegação de longo curso é caracterizada quando os navios demandam
portos em diferentes nações, incluindo-se também a possibilidade de passagem
por canais intercontinentais.
a) V – V – F.
b) V – F – F.
c) V – F – V.
d) F – V – F.
e) F – F – V.
Neste sentido, de acordo com o seu conhecimento sobre o tema proposto, é cor-
reto mencionar, para o ano de 2020, que
196
e) o setor de eletrodomésticos manteve-se preservado dos efeitos sociais da crise sa-
nitária de 2020, registrando aumento de comércio em vista das exportações para
mercados emergentes.
Assim sendo, de acordo com o tema apontado pelo texto-base, avalie as opções
que se seguem e assinale a correta.
197
I. Uma das principais características do agronegócio brasileiro é a sua limitação
em termos da exploração intensiva dos recursos naturais, situação esta que se
reflete em uma estabilidade eno rendimento da produção de cereais por hec-
tare.
II. um aumento importante na produtividade de diferentes setores do Agronegó-
cio, especialmente o gado leiteiro, cujas condições de crescimento permitem
atender à demanda populacional.
III. A dinâmica do Agronegócio na economia brasileira é ligada à consolidação
de padrões de exploração de tecnologias que permitem extrair um maior po-
tencial de lucratividade em relação à aplicação de recursos produtivos.
a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) I e III, apenas.
e) II e III, apenas.
7. O processo de êxodo rural deve ser compreendido a partir das determinações his-
tóricas, geopolíticas e econômicas que orientam a relação entre os espaços ur-
bano e rural; na realidade brasileira, esta realidade do êxodo rural precisa ser ob-
servada, essencialmente, a partir de suas implicações sociais.
198
rural às avessas’, á medida que os fluxos migratórios condicionaram a ocupa-
ção progressiva do espaço territorial.
III. (X) Entende-se o ‘êxodo rural’ como um processo migratório da população rural
para os espaços urbanos, situação que se acentuou na economia mundial com
a queda relativa na porcentagem de empregos no setor rural.
199
a) V – V – F.
b) V – F – V.
c) V – F – F.
d) F – V – V.
e) F – F – V.
200
GEOGRAFIA ECONÔMICA E
MATRIZES ENERGÉTICAS
11.1 INTRODUÇÃO
201
como o uso limitado de combustíveis fósseis (petróleo e carvão), e em particular, de
óleos vegetais e animais, sem esquecer, igualmente, o uso da tração animal para o
trabalho e para o deslocamento de cargas (CAMPOS; MIRANDA, 2000).
Uma consequência natural do uso do calor se desdobrou para a energia a
vapor. Os gregos já conheciam o recurso por meio da eolípila – uma esfera de metal
que girava ao expelir vapor de água aquecido em seu interior – no entanto, este
método somente foi desenvolvido em sua plenitude no século XVIII, com a criação
do motor a vapor por James Watt, que aprimorou algumas soluções que vinham
sendo desenvolvidas desde a década de 1690 para a criação de maquinários que
impulsionassem navios e veículos, substituindo a força dos ventos e a tração animal
(ARRUDA, 2003).
No século XIX, a energia elétrica – que também era conhecida pelos gregos,
a partir de experimentos de energia estática realizados por Tales de Mileto – come-
çou a ser utilizada com a criação de pequenas centrais hidroelétricas e termelétricas,
com mecanismos de distribuição que utilizam cabos condutores. Por fim, o século XX
viu surgir a energia nuclear, que utiliza a fissão do átomo como instrumento de libe-
ração de grandes quantidades de energia.
202
que é o de matriz energética. Uma matriz energética diz respeito ao complexo res-
ponsável por representar, de forma ordenada e quantitativa, a utilização das quan-
tidades de energia geradas por um determinado recurso, desde a sua extração até
o consumo final. Deste modo, o Estado, por meio de suas instituições de investimento
e regulação, deve desenvolver soluções de planejamento, implementação e distri-
buição da energia gerada em um horizonte futuro e de longo prazo, estendendo-se
por décadas à frente das etapas iniciais (REIS; FADIGAS; CARVALHO, 2012).
Em relação às chamadas fontes não-renováveis, é importante destacar as se-
guintes:
Petróleo: é um recurso-chave para a indústria, em vista do seu potencial para
a geração e energia e obtenção de produtos derivados (gás, gasolina, óleo diesel,
asfalto, querosene, óleos lubrificantes, polímeros plásticos, etc).
Gás natural: é obtido a grandes profundidades a partir de combustíveis fósseis
ou de biomassa em decomposição; a queima desta biomassa, ou a exploração de
jazidas, viabiliza a extração de energia. Seu uso é favorecido pelo fato de causar um
impacto ao meio ambiente relativamente menor do que o gás de petróleo (GLP),
além de apresentar um custo de exploração menor.
Carvão mineral: utilizada em usinas termelétricas, o carvão mineral é um re-
curso com eficiência energética (capacidade de geração de calor e energia) muito
maior que o carvão vegetal; sua extração em minas é simplificada em relação à
exploração de poços profundos de petróleo, mas tem um impacto ambiental muito
significativo, em vista da poluição atmosférica que é gerada pela combustão deste
material.
Energia nuclear: é obtida pela fissão (quebra) de átomos de urânio enrique-
cido, que é purificado e centrifugado para a obtenção de formas instáveis deste
elemento que se desdobram mais facilmente em energia consumível. A energia nu-
clear foi melhor conhecida a partir do século XX, com o desenvolvimento de artefatos
atômicos cujo potencial destrutivo foi redirecionado para o aproveitamento da ener-
gia para fins ditos ‘pacíficos’. Sob este pressuposto, as usinas nucleares foram cons-
truídas em grande número ao redor do mundo, inclusive no Brasil, com as plantas de
Angra I e II. No entanto, os riscos ambientais desta matriz energética haviam sido su-
bestimados, e se tornaram evidentes após incidentes e acidentes graves, como os
203
ocorridos nas usinas de Three Mile Island (EUA, 1978), Chernobyl (Ucrânia, 1986) e Fu-
kushima (Japão, 2011).
Por sua vez, as fontes compreendidas como renováveis que podem ser desta-
cadas são as seguintes:
Energia solar: aproveita o calor gerado pelo Sol para a produção de energia,
com o uso de painéis solares que atuam como geradores. Este método tem a vanta-
gem de utilizar uma fonte com potencial virtualmente infinito e a custo zero, mas a
tecnologia requerida ainda tem um custo alto de implantação e depende de outros
segmentos industriais para a sua produção, o que acaba gerando um impacto am-
biental na fabricação destes componentes (ainda que muito menor do que o im-
pacto gerado por outras fontes). Uma outra desvantagem é a dependência de gran-
des espaços para a sua implementação, o que gera uma produtividade por área
menor do que as outras fontes, especialmente as não-renováveis.
Energia hidráulica: aproveita o potencial energético da água para a movi-
mentação de turbinas e geradores em usinas hidrelétricas. Este recurso é utilizado
desde a Antiguidade, lançado mão da água para a realização de trabalhos em ele-
vadores e moinhos. Este método tem a vantagem de ter um custo baixo comparati-
vamente aos métodos não-renováveis, e ser conhecido como uma forma ‘limpa de
energia. No entanto, esta abordagem vem sendo questionada em vista dos impac-
tos ambientais gerados pela inundação de áreas de floresta para a fauna e a flora,
bem como pelos efeitos sociais do deslocamento forçado de pessoas para a cons-
trução de usinas e represas.
204
O Movimento dos Atingidos por Barragens, criado em 1992, é uma associação popular
que procura pressionar o poder público a reparar economicamente a desagregação fa-
miliar e social causada pelo deslocamento de indivíduos para a construção de represas.
Você pode conhecer sobre este movimento com o artigo de Ribeiro e Morais (2019), de-
nominado “Classe social, identidade e luta por Direitos Humanos no Movimento de Atingi-
dos por Barragens – Brasil”. Acesse: https://bit.ly/304krkV. (Acesso em: 11 fev. 2021).
205
Os riscos inerentes ao uso do hidrogênio passam, ainda, pelo fato de ser um composto
altamente suscetível à combustão. Efetivamente, o hidrogênio pode ser manipulado para
a fabricação de bombas nucleares de poder explosivo maior do que os elementos físseis,
como o urânio e o plutônio.
Nossa sociedade está adaptada ao uso da energia elétrica como solução para diferentes
sistemas, como a comunicação e os transportes, por exemplo. Mas, é preciso compreen-
der que estes sistemas produtivos dependem dos sistemas de obntenção de energia, que
dependem de recursos progressivamente mais escassos. Esta discussão é realizada pelo
capítulo ‘O futuro da energia elétrica’ do livro de Ayres & Ayres (2012), denominado “Cru-
zando a fronteira da energia: dos combustíveis fósseis para um futuro de energia limpa”.
Acesse: https://bit.ly/2ZYX8cf. (Acesso em: 11 fev. 2020).
206
relevantes a respeito dos métodos de captação e consumo destas fontes; tais aspec-
tos conjugam-se na atualidade como dimensões estratégicas do Desenvolvimento
Sustentável, e devem ser entendidas pelo especialista em Geografia Econômica
como partes fundamentais da Geografia Humana e dos processos de geração de
condições de bem-estar e qualidade de vida na sociedade.
Antes de observar as dimensões mencionadas, é oportuno observar algumas
estatísticas mais relevantes do setor energético brasileiro, comparativamente ao seu
desempenho em relação ao resto do mundo. Para isto, em um esforço de síntese,
observe a Tabela 7, que se segue:
A partir dos dados da Tabela 7, você pode verificar que a energia térmica
ainda é o grande motor da sociedade contemporânea, ainda que outras formas de
energia venham crescendo em utilização, especialmente as que são geradas por
fontes alternativas. Neste sentido, a China é o grande mercado de energia mundial,
tanto em produção quanto em consumo, seguida pelos Estados Unidos, como você
pode observar pela Tabela 8:
207
Alemanha 593 603 593 612 615 618
Brasil 542 559 577 569 568 578
França 538 551 543 551 537 534
Coreia do Sul 500 507 514 518 527 531
Outros 6.938 7.020 7.104 7.305 7.522 7.658
Fonte: Empresa de Pesquisa Energética (2020). Disponível em: https://bit.ly/3dW3b9s. Acesso
em: 11 fev. 2021
208
Sul 23,1 27,4 27,5 28,7 29,6 25,2 24,4 21,8
Centro- 13,4 12,1 11,8 11,2 10,7 11,1 12,3 12,6
Oeste
Fonte: Empresa de Pesquisa Energética (2020). Disponível em: https://bit.ly/3dW3b9s. Acesso
em: 11 fev. 2021
A Tabela 10 mostra que a geração de energia é fortemente concentrada no
eixo centro-sul do território brasileiro, especialmente pelo fato de localizarem-se ali os
maiores mercados consumidores. Nesta área, o estado de Minas gerais concentra
aproximadamente 8,5% da produção nacional. De todo modo, a Região Norte teve
um aumento expressivo nesta participação, por meio da criação de usinas como a
de Belo Monte e a integração do sistema elétrico e suas redes de distribuição.
Passando agora aos desafios relacionados às matrizes energéticas, é possível
destacar:
Consumo de petróleo: apesar do avanço do uso das fontes renováveis de
energia, o petróleo ainda é a chave não apenas para o setor energético, mas para
a produção de bens em escala global. Neste sentido, o rápido consumo das reservas
mundiais, e que não são renováveis, precisa sempre ser considerado. No ano de 2018,
de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, as reservas existentes no mundo
eram de aproximadamente 1,7 trilhão de barris. No entanto, o consumo neste mesmo
período foi de aproximadamente 94,7 milhões de barris/dia, montante que corres-
ponde a aproximadamente 34 bilhões de barris; tal volume corresponde a 2,1% das
reservas mundiais, em um único ano.
Consequentemente, à medida que se amplia o consumo, os custos de extra-
ção e refino aumentam e a oferta se reduz, encarecendo os produtos criados frente
a uma demanda crescente. O equilíbrio desta relação, embora desloque-se na dire-
ção de fontes renováveis de energia, ainda precisa ser equacionado para todos os
demais produtos (combustíveis, lubrificantes, polímeros) que demandam o petróleo
para a sua elaboração.
Consumo de fontes alternativas: de acordo com o conteúdo apresentado, o
crescimento da oferta de fontes renováveis de energia é uma opção potencial para
o futuro; no entanto, ainda é preciso ajustar as dimensões de uso comercial destas
fontes, permitindo a sua utilização efetiva, especialmente em países pobres e áreas
onde a demanda por estes recursos é mais latente (REIS; FADIGAS; CARVALHO, 2012)
Poluição: a produção de energia, juntamente com a produção industrial, é
um dos grandes responsáveis pela emissão de gases poluentes, especialmente para
209
o setor da energia térmica. Desta forma, é importante observar o crescimento desta
variável, como descrito no Gráfico 13:
Figura 38: Emissão de dióxido de carbono, em milhares de toneladas
40000
35000
30000
25000
20000
15000
10000
5000
0
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
2012
2014
2016
Fonte: Elaborado pelo Autor com dados do Banco Mundial (2021).
Observe que apesar da emissão de gases poluentes ter reduzido a sua taxa de
crescimento a partir da década de 2010, esta emissão ainda é mais do que o triplo
do observado em 1960. As consequências deste processo passam pelo aquecimento
global, o aumento da temperatura média da terra e a consequente degradação de
ecossistemas, sobretudo na fauna e na flora marinha (REIS; FADIGAS; CARVALHO,
2012).
210
FIXANDO O CONTEÚDO
1. O uso das fontes energéticas deve ser entendido a partir de seus determinantes
históricos, a fim de conceituar os modos de desenvolvimento econômico que são
estabelecidos a partir da utilização ativa destas fontes, cujo uso acentuou-se nos
últimos séculos.
211
I. As fontes denominadas ‘alternativas’ dizem respeito às soluções capazes de ge-
rar diferentes subprodutos com a sua exploração, tal como ocorre com o petró-
leo e a criação de combustíveis e solventes.
II. O conceito de matriz energética denomina um sistema de soluções produtivas
que envolve o processo de geração, captação e distribuição da energia ge-
rada desde as usinas até os seus consumidores finais.
III. O enfoque do Estado em relação à regulação do setor energético passa pela
criação de soluções de planejamento de curto prazo que permitam otimizar o
processo de difusão de fontes limpas de energia.
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) I e III, apenas.
212
Agora, assinale a opção que corresponde a sequência correta.
a) V – V – F.
b) V – F – F.
c) V – F – V.
d) F – V – F.
e) F – F – V.
Neste sentido, de acordo com o seu conhecimento sobre o tema proposto, é cor-
reto mencionar que, dentre as fontes que se seguem, uma que não é considerada
renovável é
a) Energia geotérmica.
b) Energia por biomassa.
c) Energia hidrelétrica.
d) Energia nuclear.
e) Energia eólica.
Assim sendo, de acordo com o tema apontado pelo texto-base, avalie as opções
que se seguem e assinale a correta.
a) Há uma tendência de declínio dos preços médios do petróleo com a sua explora-
ção intensiva, situação que pode demandar uma superoferta no setor nos próxi-
mos anos.
213
b) Há uma tendência de declínio na emissão de gases poluentes após a assinatura
dos tratados ambientais na década de 1990, como resultado de políticas de ex-
ploração de fontes renováveis.
c) Uma das maiores limitações à exploração comercial das fontes alternativas de
energia é o seu custo de implementação, especialmente para países em vias de
desenvolvimento.
d) A regulação do fornecimento e distribuição de energia elétrica no Brasil é reali-
zado por agências privadas como a ANEEL, que atuam como órgãos de gestão e
ouvidoria de demandas do setor energético.
e) A utilização da energia geotérmica apresenta um potencial importante de utiliza-
ção, no entanto, uma restrição ao setor é o seu elevado impacto ambiental de-
corrente do aquecimento da atmosfera.
214
É correto o que se afirma em
a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) I e III, apenas.
e) II e III, apenas.
a) V – V – F.
b) V – F – V.
c) V – F – F.
d) F – V – V.
e) F – F – V.
215
à Geografia Humana, por meio de políticas setoriais e de desenvolvimento que
impactam os processos de reprodução da vida material de empresas e famílias.
I. (X) A China consolidou-se como um mercado de alta demanda por recursos ener-
géticos, ocupando a liderança na produção de energia.
II. (X) O Brasil vem perdendo posições na liderança de produção de energia ao
longo da década de 2010, refletindo políticas pouco robustas de investimento no
setor.
III. (X) A maior parte da energia gerada no Brasil localiza-se na calha norte-nordeste,
com o aproveitamento de áreas alagadas e de regiões de cerrado para a insta-
lação de usinas hidrelétricas e eólicas.
a) V – V – F.
b) V – F – V.
c) V – F – F.
d) F – V – V.
e) F – F – V.
216
ASPECTOS DE ECONOMIA
INTERNACIONAL E GEOPOLÍTICA
CONTEMPORÂNEA
12.1. INTRODUÇÃO
217
(Associação Latinoamericana de Integração), através do Tratado de Montevidéu,
em 1980, e que está vigente ainda hoje. As graves crises econômicas vivenciadas
pela economia brasileira na década de 1980 e início da década de 1990 impediram,
porém, concretizações mais efetivas das iniciativas de criação de mercados comuns.
Nesta época, o governo ainda mantinha medidas restritivas ao comércio em
diferentes setores, como o automotivo e no setor de informática, restringindo forte-
mente, até 1990, a entrada de carros e computadores no país, o que atrasou sensi-
velmente o desenvolvimento do setor de telecomunicações, com efeitos gerais no
setor de serviços (CERVO, 1997).
Em 2004, durante o governo Lula, foi lançada a PITCE (Política Industrial, Tec-
nológica e de Comércio Exterior), para dar fomento ao setor industrial como chave
para a política comercial, que foi diretamente afetada pela crise política interna
(com escândalos como o ‘mensalão) e pela conjuntura econômica externa, à beira
da crise de 2008.
Desde aquele período, o governo brasileiro substituiu sua política comercial no
âmbito setorial, por um processo de apoio a empresas ‘campeãs’ em seus setores
(como telecomunicações, petroquímica e agronegócio), a serem apoiadas por
grandes empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), subsi-
diadas a juros baixos.
218
favorecendo o grupo JBS. Estas empresas passaram por uma profunda reestruturação
contemporânea, ou acabaram por sucumbir aos resultados claros de suas ações es-
púrias no mercado (DOMINGUES, 2017).
Uma vez que você pôde compreender a importância das políticas de Estado
para a promoção do comércio internacional, vamos agora aprofundar o conheci-
mento a respeito dos efeitos práticos da política comercial brasileira, através do en-
tendimento dos seus acordos de comércio preferencial, de modo a verificar como
eles apresentam impacto sobre sua estrutura da balança comercial.
Para entender com mais amplitude os protocolos que regem a política comercial entre
países, você pode estudar o quarto capítulo (Relações econômicas internacionais) do livro
de Reinaldo Gonçalves, ‘Economia Política Internacional’ (2016). Neste capítulo, o autor
detalha aspectos do comércio de bens e serviços no mundo, bem como os fluxos de tran-
sações financeiras em escala internacional. Acesse: https://bit.ly/3q3F37d. (Acesso em: 11
fev. 2021).
219
Apesar do intenso comércio estabelecido entre o Brasil e as ‘nações platinas’ (Paraguai,
Uruguai e Argentina), tensões políticas sempre permearam esta região, com a ocorrência
de vários conflitos armados no Século XIX, como a Guerra da Cisplatina na década de
1820, e, em especial, a Guerra do Paraguai (1864-1870) (CAMPOS; MIRANDA, 2000).
Uruguai (ACE-02);
México (ACE-53);
Venezuela (ACE-89);
Suriname (ACE-41), (parcial) que estabelece isenção tarifária para uma quota
anual de arroz importado do Suriname;
Acordo parcial entre Brasil, Guiana e São Cristóvão e Névis, voltado para o co-
mércio de gêneros de origem vegetal (incluso papel) e minério (AAP.A25TM 38);
Acordo de Ampliação econômico-comercial entre Brasil e Peru (sem vigência).
220
ACP Mercosul – SACU (grupo de países que engloba África do Sul, Namíbia,
Botswana, Lesoto e Suazilândia)
ALC Mercosul – Egito
ALC Mercosul – Palestina (em tramitação)
Figura 39: Mapa mental dos acordos de comércio estabelecidos pelo Brasil
Dentre os organismos os quais o Brasil faz parte, estão a Organização das Na-
ções Unidas (ONU), a Organização Mundial do Comércio (OMC), o G20 – O grupo
das dezenove maiores economias do mundo, mais a União Europeia – e está pleite-
ando o acesso à OCDE, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Eco-
221
nômico, que reúne os países que apresentam maior Índice de Desenvolvimento Hu-
mano (IDH), sendo assim considerados como países desenvolvidos.
222
As exportações para a China atingiram US$ 58,77 bilhões no período de Janeiro
a Novembro de 2018, mais do que o dobro das exportações para os Estados Unidos
(US$ 26,25 bilhões). Argentina e Países Baixos seguem em terceiro e quarto lugares,
com US$ 14,25 bilhões e US$ 12,32 bilhões, respectivamente. Do montante exportado
de US$ 219,97 bilhões, tem-se que os principais produtos são ‘produtos básicos’, ge-
rados pelo agronegócio ou por extrativismo de minerais e combustíveis fósseis.
223
Neste sentido, deve-se compreender que o Processo de Substituição de Impor-
tações (PSI) configura-se em um modelo econômico no qual um país passa a produzir
internamente produtos que tradicionalmente constavam de sua pauta de importa-
ções, que passam a ser restringidas através de barreiras à importação.
Vale aqui destacar que estas barreiras são normalmente operadas de duas
formas: através de medidas tarifárias (como impostos alfandegários, por exemplo) ou
não-tarifárias (como a definição de cotas à importação ou a restrição direta ao co-
mércio de importação de certos produtos). Historicamente, muitos países aplicaram
tais medidas protecionistas de comércio, a fim de favorecer a produção no âmbito
do mercado interno, sobretudo nos chamados ‘países em desenvolvimento’, como
na América Latina (FONSECA, 2012). O protecionismo à indústria é operado, deste
modo, como uma forma de promover o aumento do consumo de bens internos atra-
vés da restrição às importações.
Uma justificativa para esta postura é um conceito explorado na História do
Pensamento Econômico denominado como Argumento da Indústria Nascente. Em
linhas gerais, este argumento menciona que um país deve manter, no limite de suas
possibilidades, uma proteção comercial à sua base industrial no período de sua im-
plementação, de modo a ‘aquecer’ a produção industrial através da garantia de
consumo no mercado interno (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
Muitas economias em desenvolvimento na América Latina promoveram sua
industrialização usando, em parte, o referencial teórico do Argumento da Indústria
Nascente. No caso brasileiro, em especial, a estratégia utilizada, em linhas gerais,
passou pela industrialização da economia voltada essencialmente para o mercado
interno, através de limitação de importações, além de criar uma indústria comple-
mentar para atender as necessidades da economia em crescimento na sua dimen-
são agrário-exportadora (como a criação de fábricas de maquinário para o benefi-
ciamento de café, por exemplo) (CANO, 1998).
Observe, porém, que o PSI apresenta algumas nuances: O modelo envolve a
criação de um setor industrial que fosse responsável pela dinamização da economia,
determinando os seus níveis de emprego e renda, superando antigos gargalos gera-
dos por uma base econômica ineficiente, assentada sobre a produção agrícola. E,
da mesma forma, o PSI é favorecido quando choques externos ocorrem de modo a
deprimir o comércio nacional – o que ocorreu, para a realidade da América Latina,
224
nos anos da Grande Depressão na década de 1930 e durante o período da Segunda
Guerra Mundial, entre 1939 e 1945 (EICHENGREEN, 2000).
Este modelo de substituição de importações apresenta, porém, algumas limi-
tações que podem ser destacadas. A primeira delas está ligada à questão da indús-
tria nascente: a proteção à indústria não necessariamente irá geral uma base indus-
trial nacional que seja realmente competitiva; a proteção ao setor industrial pode
criar uma indústria pouco eficiente, ou focada em produtos de baixo conteúdo tec-
nológico, que apresentam valores agregados relativamente reduzidos em relação a
bens de alta tecnologia.
Uma outra limitação se dá em função da disponibilidade de capitais: a inexis-
tência, nos países em desenvolvimento, de um mercado financeiro eficiente, com
bancos de fomento e/ou instituições financeiras sólidas e capazes de oferecer finan-
ciamento a juros baixos, acaba por condicionar oportunidades de investimento das
empresas apenas à sua margem de lucro. Lucros baixos, portanto, significaram pos-
sibilidades nulas para investimento.
Uma terceira razão reside sobre o problema do timing: uma economia que
aplique barreiras ao comércio para promover a indústria pode perder momentum a
respeito do ponto onde estas restrições devem ser abandonadas para que a indústria
nacional esteja pronta a enfrentar a competição estrangeira; este atraso pode aca-
bar por gerar ineficiências diversas, como uma base tecnológica atrasada, e/ou es-
trangulamento de demanda pelos bens atingidos pelas restrições, como ocorreu no
caso do mercado brasileiro em informática (FONSECA, 2012).
Há que mencionar, por fim, a orientação do processo industrializante: a dinâ-
mica do PSI está assentado na criação de um setor industrial através do mercado
interno, como afirmado anteriormente. O modelo não abrange, neste sentido, expe-
riências de industrialização do século XX que fossem claramente orientadas para o
mercado externo, como no caso das economias asiáticas, que estudaremos no pró-
ximo tópico.
225
economias dos países asiáticos, sobretudo China e Índia, cujo desempenho nos mer-
cados internacionais acaba por conferir-lhes um papel determinante na
Geografia Econômica.
O crescimento da China no comércio internacional e em sua economia deve-
se, principalmente, a uma série de reformas implementadas a partir do final da dé-
cada de 1970 por Deng Xiaoping. Neste período, a China deixa de ser uma república
isolacionista, com poucas relações internacionais, e passa a se abrir à economia de
mercado, liderando os fluxos de exportação de mercadorias em âmbito mundial.
Deng Xiaoping (1904 – 1997) foi um líder político que implementou um novo regime eco-
nômico na China; ao expandir a abertura de seu mercado a partir de regiões específicas
e com o apoio de empresas estatais, permitiu que o regime de governo fosse mantido, em
uma estrutura conhecida como ‘economia de mercado socialista’.
226
Ausência de mecanismos de proteção à propriedade intelectual, de modo que
empresas multinacionais têm seu conteúdo tecnológico sistemática e ilegal-
mente apropriado por sócios locais que passam a produzir bens semelhantes a
preços inferiores.
A dimensão da população, que favorece economias de escala através do con-
sumo maciço de bens e serviços.
O crescimento do investimento direto estrangeiro (IDE), que cresceu mais de
quinhentas vezes entre 1981 (US$ 265 mi) e 2007 (US$ 138 bi).
Compromissos de transferência de tecnologia e agrupamento das indústrias,
permitindo desenvolvimento de conteúdo tecnológico e alterando a pauta de
exportações.
227
lizáveis, incorporando bens de conteúdo tecnológico na indústria química, automo-
tiva e eletroeletrônica; possui um mercado interno gigantesco, que fomenta econo-
mias de escala no quesito do consumo; alto grau de informalidade nas relações de
trabalho, o que reduz o custo de mão-de-obra; entre outros (BANIK; PADOVANI, 2014).
O crescimento econômico indiano também vem se processando em um ritmo
acelerado, com taxas anuais elevadas; estimativas indicam que a Índia ultrapassará,
em meados deste século, os Estados Unidos em termos do PIB por paridade de com-
pra, consolidando uma posição de superpotência econômica.
Há que destacar que no caso indiano, persistem graves déficits de infraestru-
tura que comprometem o escoamento da produção, que está mais concentrada
junto às megalópoles. Além disso, destacam-se a alta burocracia estatal que reduz o
horizonte de confiança dos investidores; a inflação relativamente elevada, com en-
dividamento do Estado, além de fatores de natureza cultural (divisão da sociedade
em castas, organizando grupos que vivem no limite da extrema pobreza) (SILVA;
BREDA, 2009)
Podemos analisar estes fatores relativos ao crescimento econômico dos países
mencionados sob uma perspectiva comparada, de acordo com a Tabela 11, que se
segue:
Balança Comercial, em
US$ bilhões (2017)
2.263,
Valor das exportações 1.546,7 2.122,5 217,8 353,1 298,4 89,0
3
228
1.841,
Valor das importações 2.409,5 2.096,6 157,5 237,8 447,2 101,3
9
229
FIXANDO O CONTEÚDO
1. ALALC
2. PITCE
3. ALADI
4. ACE
a) 3 – 4 – 1 – 2.
b) 2 – 1 – 3 – 4.
c) 1 – 2 – 4 – 3.
d) 4 – 1 – 2 – 3.
e) 4 – 3 – 1 – 2.
230
2. A evolução da política internacional brasileira precisa ser compreendida por
conta de suas implicações na geopolítica regional, denotando a criação de acor-
dos e tratados de promoção ao desenvolvimento econômico por meio de institui-
ções multilaterais.
a) III, apenas.
b) I e II, apenas.
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
231
I. (X) A criação do Mercosul permitiu o desenvolvimento de diferentes acordos
preferenciais de comércio que viabilizaram a integração dos países sul-ameri-
canos.
II. (X) A entrada do Brasil na OCDE viabilizou a liberação de linhas de crédito e
acordos comerciais com os países mais ricos do mundo, em condições privilegi-
adas.
III. (X) O Brasil é um países membros do G20, um organismo multilateral que reúne
as nações com maior Produto Interno Bruto (PIB) no mundo.
a) F – V – F.
b) V – F – F.
c) V – F – V.
d) V – V – F.
e) F – F – V.
a) No ano de 2018, o parceiro preferencial das relações comerciais foi a União Euro-
peia, demonstrando a importância dos acordos preferenciais.
b) Os países da África detêm a maior parte dos fluxos comerciais brasileiros, em um
processo de integração regional.
c) A Argentina mantém-se como principal parceiro comercial da economia brasi-
leira, estabelecendo fluxos comerciais de longa duração.
d) Há um predomínio de bens industrializados na pauta de exportação brasileira, de-
monstrando o desenvolvimento da indústria nacional.
232
e) É possível perceber a consolidação da China como parceiro comercial preferen-
cial do Brasil, em detrimento de outros parceiros tradicionais.
a) F – V – F.
b) V – F – F.
c) V – F – V.
d) V – V – F.
e) F – F – V.
233
Neste sentido, a partir das dimensões propostas pelo texto-base, analise as seguin-
tes afirmações:
a) III, apenas.
b) I e II, apenas.
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
234
capitalistas e democráticos, a fim de garantir uma posição predominante no co-
mércio global.
c) o desenvolvimento das ZEEs, as Zonas Econômicas Especiais, viabilizou a criação
de áreas de fomento ao investimento estrangeiro e à implementação de plantas
industriais a custo baixo.
d) a economia indiana é baseada em produtos primários de exportação, em vista
das sinergias criadas no agronegócio e no alto preço da mão de obra urbana.
e) há uma tendência de desaceleração econômica na Índia, o que se reflete em
uma tendência de queda no PIB per capita em relação a países-líderes como os
Estados Unidos.
De acordo com o conteúdo apresentado pelo texto-base, leia o trecho com la-
cunas que se segue:
Agora, assinale a opção que contempla a sequência correta para o texto apre-
sentado
235
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO
UNIDADE 01 UNIDADE 02
QUESTÃO 1 C QUESTÃO 1 A
QUESTÃO 2 A QUESTÃO 2 C
QUESTÃO 3 B QUESTÃO 3 D
QUESTÃO 4 A QUESTÃO 4 A
QUESTÃO 5 E QUESTÃO 5 B
QUESTÃO 6 D QUESTÃO 6 B
QUESTÃO 7 B QUESTÃO 7 C
QUESTÃO 8 C QUESTÃO 8 E
UNIDADE 03 UNIDADE 04
QUESTÃO 1 C QUESTÃO 1 B
QUESTÃO 2 D QUESTÃO 2 A
QUESTÃO 3 B QUESTÃO 3 C
QUESTÃO 4 E QUESTÃO 4 E
QUESTÃO 5 D QUESTÃO 5 C
QUESTÃO 6 B QUESTÃO 6 D
QUESTÃO 7 A QUESTÃO 7 E
QUESTÃO 8 C QUESTÃO 8 B
UNIDADE 05 UNIDADE 06
QUESTÃO 1 E QUESTÃO 1 C
QUESTÃO 2 C QUESTÃO 2 E
QUESTÃO 3 B QUESTÃO 3 E
QUESTÃO 4 D QUESTÃO 4 D
QUESTÃO 5 B QUESTÃO 5 A
QUESTÃO 6 C QUESTÃO 6 B
QUESTÃO 7 D QUESTÃO 7 C
QUESTÃO 8 A QUESTÃO 8 D
236
UNIDADE 07 UNIDADE 08
QUESTÃO 1 E QUESTÃO 1 C
QUESTÃO 2 C QUESTÃO 2 D
QUESTÃO 3 A QUESTÃO 3 A
QUESTÃO 4 D QUESTÃO 4 B
QUESTÃO 5 C QUESTÃO 5 B
QUESTÃO 6 C QUESTÃO 6 A
QUESTÃO 7 E QUESTÃO 7 E
QUESTÃO 8 A QUESTÃO 8 B
UNIDADE 09 UNIDADE 10
QUESTÃO 1 C QUESTÃO 1 E
QUESTÃO 2 B QUESTÃO 2 B
QUESTÃO 3 C QUESTÃO 3 C
QUESTÃO 4 A QUESTÃO 4 D
QUESTÃO 5 D QUESTÃO 5 C
QUESTÃO 6 D QUESTÃO 6 E
QUESTÃO 7 B QUESTÃO 7 E
QUESTÃO 8 C QUESTÃO 8 A
UNIDADE 11 UNIDADE 12
QUESTÃO 1 E QUESTÃO 1 B
QUESTÃO 2 B QUESTÃO 2 A
QUESTÃO 3 C QUESTÃO 3 C
QUESTÃO 4 D QUESTÃO 4 E
QUESTÃO 5 C QUESTÃO 5 B
QUESTÃO 6 E QUESTÃO 6 B
QUESTÃO 7 E QUESTÃO 7 C
QUESTÃO 8 A QUESTÃO 8 B
237
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