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DE IPATINGA
1
Henrique Dias Sobral Silva
1ª edição
Ipatinga – MG
2021
2
FACULDADE ÚNICA EDITORIAL
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização
escrita do Editor.
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920.
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Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo
aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles
são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um
com uma função específica, mostradas a seguir:
4
SUMÁRIO
01
1.1 O LUGAR DO ADULTO NA PEDAGOGIA ............................................................. 7
1.2 PEDAGOGIA E ANDRAGOGIA: DEBATES ........................................................... 8
1.3 ANDRAGOGIA E A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: APROXIMAÇÕES E
DIFERENÇAS ....................................................................................................... 11
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................... 14
02
2.1 COLÔNIA E IMPÉRIO (1530-1889): PORQUE ENSINAR ADULTOS? .................. 20
2.2 BRASIL REPUBLICANO (1889-1988): COMO SE ENSINAR ADULTOS? .............. 23
2.3 BRASIL DO TEMPO PRESENTE (1988-SÉCULO XXI): NA LUTA A GENTE SE
ENCONTRA ......................................................................................................... 28
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................... 30
03
3.1 A LEI COMO ESPAÇO DE DISPUTA .................................................................... 36
3.2 A EJA NAS LEIS DE EDUCAÇÃO NO BRASIL ..................................................... 38
3.3 ESPAÇOS DA SOCIEDADE CIVIL PARA DEBATE SOBRE A MODALIDADE ....... 44
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................... 46
04
4.1 CONCEPÇÃO DE ENSINO ................................................................................. 52
4.2 ANÁLISE DE CURRÍCULO .................................................................................... 54
4.3 ABORDAGENS EM SALA DE AULA ..................................................................... 56
4.4 AVALIAÇÕES ...................................................................................................... 59
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................... 61
05
5.1 O J DE JUVENTUDE NA EJA ............................................................................... 66
5.2 O M DE MULHERES NA EJA ................................................................................ 68
5.3 O I DE IDOSOS NA EJA ...................................................................................... 69
5.4 A SIGLA NA SIGLA: O PCD NA EJA .................................................................. 70
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................. 74
06
6.1 PRECARIZAÇÃO DA PROFISSÃO DOCENTE...................................................... 79
6.2 EVASÃO ESTUDANTIL ......................................................................................... 81
6.3 TERMINALIDADE ................................................................................................. 82
6.4 DESESCOLARIZAÇÃO ........................................................................................ 84
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................... 86
REFERÊNCIAS ........................................................................................... 92
5
CONFIRA NO LIVRO
6
UM PERCURSO PELA PEDAGOGIA E UNIDADE
ANDRAGOGIA: CONSIDERAÇÕES
GERAIS
7
de alunos jovens e adultos comumente das classes populares de nosso país.
Enquanto a Andragogia se detém sob a formação de grupos mais restritos em
sua quantidade, pensar a EJA hoje é discutir a situação sócio-política e econômica
de cerca de 6,6% da população analfabeta no Brasil e que ainda encontra-se
marginalizada por conta da não escolarização ou da deficiência nesse percurso
formativo (PNAD, 2019). Ademais, a EJA hoje tem 3.273.668 estudantes matriculados,
assim, o convite deste capítulo é pensar os contornos dessas modalidades de
educação para adultos (ANUÁRIO BRASILEIRO DA EDUCAÇÃO BÁSICA, 2019).
8
uma série de métodos e técnicas foram sendo incorporadas.
Sendo assim, hodiernamente, é necessário complexificar a discussão e o
entendimento de que a Pedagogia não trata-se apenas da atenção aos seus
públicos, mas é, antes de tudo, uma seara de conhecimento que congrega distintas
áreas do saber no entorno da discussão sobre ensino-aprendizagem. Em suas
referências carrega consigo um compromisso ético-político de diálogo com “[..]
saberes científicos, [...] saberes da experiência, dos saberes do senso comum
pedagógico, sob o primado da reflexão filosófica” (PINTO, 2008, p. 110).
9
De forma complementar, Knowles - que conheceu e dialogou com Lindeman
- propunha que um modelo das características do trabalho andragógico deveriam
passar pelo entendimento amplo dos adultos. Para o professor-pesquisador, o adulto
demandaria a necessidade/aplicabilidade contextualizada do saber e
independência no processo de ensino. Ademais, a Andragogia deveria estar
pautada em um forte papel das experiências, a disposição ao aprendizado e a
motivação intrínseca, ou seja, aquela advinda do próprio estudante, tal como a
melhora da vida material, avanços dos estudos, vaidade, por exemplo (NOGUEIRA,
2004).
Expostos esses contornos das duas perspectivas, é necessário pensar como a
Pedagogia e a Andragogia dialogam. Afinal, se ambas tratam de educar/conduzir,
quais as semelhanças e diferenças desses conceitos? Crianças e adultos se
apresentam de formas muito diversas no processo de ensino-aprendizagem?
Pensando nas similaridades, a Pedagogia ao passo que em seu conceito
trata-se da educação de crianças, carrega consigo estatutos e especificidades
didáticas, currículos e uma trajetória de discussões sobre a experiência de alunos e
professores. Sendo assim, é possível dizer que a Pedagogia não é alheia à
Andragogia, mas sim, é independente e está ao mesmo tempo contida nesta.
Outro tema importante que conecta as duas vertentes é a atenção à figura
do estudante/aprendiz adulto. Em cada uma dessas abordagens é possível notar a
atenção com as experiências desses sujeitos, ainda que os níveis de profundidade
dessa abordagem sejam distintas, ambas pensam no acolhimento das demandas
desses sujeitos e na bagagem cultural que carregam consigo para suas formação.
Um aspecto de destaque comum às duas é a demanda por um ambiente de
aprendizagem propício à aprendizagem. Seja com adultos ou crianças, as duas
concepções defendem a necessidade de espaços seguros e confortáveis para a
execução do processo de ensino-aprendizagem.
No campo das diferenças, o ensino e aprendizagem das crianças demanda
um exercício teórico e prático de acompanhamento mais contínuo e alargado. Por
outra parte, o trato com adultos demanda uma série de considerações específicas,
o diálogo com um cabedal bastante alargado de experiências, limitações e
características próprias ligadas ao tempo de vida.
Os modos de enunciação dos sujeitos também é distinto, dado que na
Pedagogia fala-se em professores e estudantes e em termos sinônimos que
10
identificam essas subjetividades, identidades e particularidades presentes no
processo escolar. Por outra parte, a Andragogia faz uma opção pelos termos
aprendiz adulto e auxiliar de aprendizagem. Para os pesquisadores da Andragogia
os termos empregados alteram a figura do professor e seu papel centralizador dos
conhecimentos para a de um colaborador com o processo de aprendizagem.
Há na Andragogia uma crítica marcada à uma certa Pedagogia, hoje em
desuso, que apontava uma centralidade do professor na sala de aula e no processo
de ensinar, sendo um aluno secundarizado nessas práticas (JARVIS, 1989). Todavia, a
Pedagogia mais recente se desvencilha dessa crítica assumindo uma leitura
compartilhada da sala de aula em que professores e estudantes têm seu
protagonismo demarcado, bem como suas interações e especificidades.
Decorre disso uma noção bastante presente na análise entre essas áreas que
aponta para a Pedagogia como uma “educação desde o topo”, sendo a
Andragogia uma “educação entre iguais” (JARVIS, 1989, p. 74-75). Isso se dá por
conta da postura do professor e do pedagogo frente a esses dois públicos que
precisa ser modulada, mas não necessariamente autoritária, cabendo ao profissional
realizar sua ação pedagógica conforme o perfil e as demandas do seu coletivo de
educandos.
Seja no diálogo com especificidades ou similaridades, é importante destacar
que o trabalho do pedagogo é fundamental para o entendimento mais alargado
das diferenças dos modos de ensino-aprendizagem conforme as faixas etárias
citadas. Cabe a esse profissional não só o entendimento dessas distinções, mas
também a possibilidade de troca de experiências e saberes com professores
responsáveis pelo acolhimento de crianças e adultos.
Assim, diante do quadro apresentado, pode-se dizer que só há Andragogia
porque existe Pedagogia. A educação de adultos de base andragógica é um
conjunto de ações e práticas estruturadas em termos pedagógicos, demonstrando
que elas são complementares e, por isso, devem ser reconhecidas de modo crítico
pelos pedagogos. Portanto, o convite deste capítulo é para o entendimento das
especificidades de adultos e os modos como eles e outros grupos merecem ser
tratados, com respeito e dignidade perante os seus saberes, em seu retorno à escola
e à escolarização.
11
APROXIMAÇÕES E DIFERENÇAS
12
de um ensino de qualidade, alinhado com a bagagem sócio-cultural de jovens,
adultos e idosos. Com isso, busca-se a valorização sistemática da experiência e das
visões de mundo dos estudantes ao longo do processo formativo, fomentando a
possibilidade de construção da autonomia e da cidadania (FREIRE, 1975).
13
da sociedade brasileira, sua experiência com o mundo do trabalho é estruturante
desse sujeito e, por isso, tende a conformar boa parte de suas leituras de mundo.
Desse modo, o trabalho e a condição do trabalhador tornam-se temas essenciais
para a apreensão da realidade do aluno e, por conseguinte, tende a se tornar um
fator de motivação para os estudantes.
As considerações da Andragogia, discutem pouco sobre o processo de
alfabetização e de socialização com a escola. Essa baixa discussão aponta para a
ideia de uma formação universitária ou corporativa em espaços empresariais. Nesse
sentido, nota-se que o adulto propagado pela Andragogia não conta com uma
análise sensível e sociológica proposta pela EJA que entende esse sujeito não só em
sua individualidade, mas também em suas condições sócio-políticas, econômicas e
históricas.
Portanto, para um acolhimento de um número maior de adultos é necessário
que se pense essa educação “a partir de baixo”, considerando a formação de base
desses adultos que, por questões de ordens culturais e/ou sócio-econômicas, não
tiveram a garantia de acesso ou a sua manutenção no Ensino fundamental e Médio
na idade certa. Diante do exposto, é na EJA que esse adulto tem a possibilidade de
se reconectar com a uma formação educacional pautada na construção de sua
criticidade e na sua instrumentalização no campo da luta por direitos, por meio do
exercício da cidadania.
Sendo assim, este livro discutirá ao longo dos próximos capítulos o papel e a
importância da Educação de Jovens e Adultos, dado os expressivos números de
brasileiros/as matriculados/as na modalidade e diante da necessidade de fortalecer
esse eixo de educação. Espera-se conseguir aproximar os estudantes de Pedagogia
da discussão da EJA como um campo de luta e aprendizagem em sua formação e
futura profissão.
FIXANDO O CONTEÚDO
1. Aurélio, aluno do polo Campina Grande (PB), está iniciando o curso de graduação
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em Pedagogia e tem ouvido que estará habilitado para exercer sua profissão
somente para o trabalho com crianças. Diante desta afirmação, qual alternativa
abaixo melhor identifica quem são os públicos da Pedagogia?
a) Basta que ela consulte os dados do IBGE da cidade na qual irá trabalhar.
b) Gilda deve fazer entrevistas com os adultos da cidade em que irá trabalhar,
independente se estão escolarizados ou matriculados.
c) Gilda deve focar somente no entendimento do comportamento em sala de aula,
afinal, o que está fora da escola não é do interesse da Pedagogia.
d) Gilda deve dedicar-se ao entendimento da diversidade e da trajetória de
escolarização individual e coletiva dos sujeitos que serão seus alunos, na teoria e
em sua prática pedagógica.
e) Gilda deve focar somente na prática, afinal, é ela que irá ensinar tais adultos.
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3. Responda com V ou F as seguintes alternativas ligadas à discussão sobre
Andragogia.
( ) Lunara, que tem 40 anos, é aluna do polo Quissamã (RJ) e está realizando
um curso de aperfeiçoamento de pessoal técnico na empresa na qual trabalha, com
uma metodologia voltada para adultos chamada andragogia.
( ) O conceito de andragogia é formado pelo prefixo paidos, que identifica
criança e o sufixo agoge que identifica condução, educação.
( ) Andragogia não é um método da área de educação, sendo utilizado
somente para o cuidado médico com adultos.
( ) Essa metodologia é voltada para crianças.
( ) Ricardo dá aulas sobre procedimentos técnicos em uma empresa de
segurança e utiliza métodos e técnicas voltadas para adultos, por meio da
Andragogia.
a) F - F - V - V – V.
b) F - F - V - V – F.
c) V - F - V - F – V.
d) F - F - F - V – V.
e) V - F - F - F – V.
4. Sobre o conceito de pedagogia, qual das alternativas abaixo melhor sintetiza seu
significado?
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5. Leia o trecho a seguir:
I - O aluno adulto normalmente não tem interesse pela escolarização, sendo sua
entrada na escola somente por conta da sociabilidade.
II - O aluno adulto carrega consigo uma extensa bagagem cultural e expectativas
que precisam ser pensadas e harmonizadas com o processo de escolarização.
III - O aluno adulto precisa ser entendido pela escola e seus profissionais por meio
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da ideia de diversidade e de sua trajetória de formação e trabalho.
IV - Educar um adulto é um exercício que só pode ser feito pelo mundo do
trabalho.
V - A Andragogia disputa com a Pedagogia e com a Educação de Jovens e
Adultos o público adulto.
a) III - IV – V.
b) I - II - V.
c) III – V.
d) II – III.
e) II – V.
a) A EJA e a educação popular não são formas de educação próximas e, por isso,
não mantêm qualquer diálogo em seus métodos e técnicas, não sendo possível
uma comparação.
b) A educação popular é realizada em sindicatos e partidos políticos, não sendo um
exercício de construção amplo e cidadão e, portanto, sem qualquer relação com
a modalidade de Educação de Jovens e Adultos.
c) A educação popular não tem compromissos objetivos com a EJA, seus objetivos
estão voltados somente para a expansão da sociabilidade, relações interpessoais
e a popularidade dos alunos adultos.
d) A EJA está na busca por se firmar como modalidade, condição jurídica que a
Educação popular tem desde a década de 1990.
e) A EJA e a educação popular são formas de educação próximas e que dialogam
intensamente em seus métodos e técnicas, em seu conjunto são formas de ação
política e institucional com vias à formação das classes subalternas em nosso país.
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seguida, assinale a alternativa que identifica a ordem correta dos conceitos
expostos por meio das frases abaixo:
19
HISTÓRIA DA EJA NO BRASIL UNIDADE
20
também no ensino da língua portuguesa, dado que os povos autóctones que aqui
viviam tinham uma série de idiomas próprios.
Esse processo violento de ensino era chamado de catequese e, diferente da
leitura do tempo presente, era visto como um comportamento generoso dos padres
em converter populações indígenas à fé católica, sem qualquer atenção aos saberes
e práticas dos ocupantes das terras do atual Brasil.
É importante frisar que a educação voltada para jovens e adultos, ainda que
não possuísse essa denominação, estava voltada basicamente para a formação e
integração com a cristandade católica e com o mundo do trabalho, por meio da
aprendizagem de ofícios manuais. A ideia de educar índios e não índios para o
trabalho é uma prática bastante presente no Brasil com experiências até os dias de
hoje.
Ainda sobre a catequese, há que se dizer que ela era desigualmente
distribuída na sociedade, sendo expressamente proibido o ensino às mulheres
brancas e às pessoas negras escravizadas. Parte das elites podiam desfrutar da vinda
de professores/as da Europa e, por isso, terem contato com ideias, livros e uma
formação mais alargada, alguns inclusive ingressando em universidades que, pela
falta de presença destas instituições no Brasil, encontravam-se em Portugal e em
outros países europeus. De modo geral, essas possibilidades não eram franqueadas
a maior parte da sociedade que seguia sem acesso às escolas e outros espaços
institucionais de formação.
No Brasil as primeiras escolas foram fundadas pelos padres jesuítas ainda no século XVI. E
na sua cidade, quando foi fundada a primeira escola? Ela contava com Educação para
Jovens e Adultos? Como se transformou a educação e o processo de ensino-
aprendizagem desta unidade escolar até o tempo presente?
Essa estrutura de ensino perde força quando da expulsão dos jesuítas (1759) e
o confisco de seus bens pela Coroa de Portugal, por questões de ordem econômica.
A partir desse momento a educação fica dispersa, mas ainda conectada à Igreja e
a outras ordens religiosas que, em larga medida, reforçavam os métodos já citados.
Com a chegada da família real ao Brasil (1808) esse cenário tem poucas
mudanças e se aprofunda a divisão social naquela sociedade, sendo a educação
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um privilégio para nobres e abastados, enquanto a maior parte da população
encontrava-se sem qualquer amparo nessa área. Com a independência (1822),
inicia-se o governo de D. Pedro I e, com a constituição de 1824, passou-se a acolher
a formação “primária e gratuita para todos os cidadãos”.
Como pode-se perceber essa intenção coletivizadora poderia carregar
consigo a possibilidade de formação de jovens e adultos, tal como apontaram
Haddad e Di Pierro (2000). A despeito disso, a lei esteve distante da prática e, o que
se sabe, é que ao longo de todo o século XIX o cenário de formação pública foi
pouco alterado e as diferenças de formação entre classes se aprofundaram.
Um elemento que começa a despontar ao longo do período imperial são as
iniciativas laicas (não pertencentes à Igreja) de formações voltadas para adultos, em
especial com o objetivo de inseri-los em atividades profissionais, com destaque para
iniciativas locais, provinciais e por ações de particulares (MANFREDI, 2017).
Nesse período, a noção de educação para o trabalho ganha força nos
espaços de debate sobre educação, em especial quando pensada para jovens e
adultos, notadamente homens livres pobres e das classes médias da sociedade. Esse
cenário previa a inserção no incipiente mercado de trabalho do Brasil imperial,
marcado fortemente pela experiência do trabalho de homens e mulheres
escravizados e da grande plantation.
Ainda no período imperial, a partir de 1835, iniciou-se a organização das
escolas de formação de professores, conhecidas como escolas normais. Sendo de
responsabilidade das províncias (atuais estados), suas orientações pedagógicas
respeitavam o currículo das escolas de referência do município da Corte, a cidade
do Rio de Janeiro (FERRARO, 2009). Note-se que essa centralização afetava as
especificidades locais e desmantelava a possibilidade de construções curriculares
com elementos regionais e autônomas.
Em termos quantitativos, sabe-se que em “[...] 1877 apenas 21,9% das pessoas
livres de 5 anos ou mais sabiam ler e escrever (1.563.000 sobre 7.143.000)” (FERRARO;
KREIDLOW, 2004, p. 186). Essa alarmante estatística era complementada com o
número de 170.000 crianças que não frequentavam escolas ( (FERRARO; KREIDLOW,
2004). Destacamos que nesses dados não eram quantificadas as pessoas
escravizadas o que, certamente, alteraria para mais esses números.
Em diálogo com a pergunta do subtítulo deste tópico “Porque ensinar
adultos?” É possível dizer que na colônia e no império, ensinar adultos era uma tarefa
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específica e não democrática, voltada para o fortalecimento da religião católica e
para o aprimoramento de mão de obra em setores pontuais da produção. Sendo
essas relações construídas em um cenário sócio-político extremamente desigual,
machista, rural, monocultor e com mão de obra negra escravizada.
Em linhas gerais, aos poucos que encontravam-se em um processo formal de
escolarização, restava uma educação catequizadora, acrítica e de forte estímulo à
repetição e memorização, tais elementos eram entendidos como essenciais na
educação de então. Para a maior parte da população, escravizada ou não, pode-
se dizer que já nesse momento estávamos diante de uma situação de extremo
analfabetismo, sem projetos políticos amplos e democráticos para o ensino e com a
presença de um grave déficit para o país em termos educacionais. Esse legado, sem
dúvidas, chegou até a República como veremos na seção posterior.
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da República que versavam sobre a inclusão de disciplinas nos currículos e na
organização do sistema educacional (Reforma de Benjamin Constant, 1890) ou a
inclusão de disciplinas voltadas para aspectos mais literários do saber (Código
Epitácio Pessoa, 1901). Seguida pela intenção de reforço das disciplinas de matriz
prática e a desoficialização do ensino (Reforma Rivadávia, 1911) seguidas por outras
reformas que tiveram avanços pouco simbólicos e nenhuma delas acolheu com
atenção a demanda por formação de adultos (RIBEIRO, 1981).
Nesse processo, a educação de adultos com um viés alfabetizador era
deixada de lado ou mesmo esquecida. Com isso, concorda-se aqui com as
considerações de Azevedo quando este afirma que "Do ponto de vista cultural e
pedagógico, a República [...] não teve o pensamento ou a decisão de realizar uma
transformação radical no sistema de ensino para provocar uma renovação
intelectual [...] necessárias às novas instituições democráticas” (AZEVEDO, 1953).
Diante deste cenário, é inegável o papel das elites rurais e agrárias como
elementos sociais interessados em uma não mudança da situação política e de
formação de boa parte da população, o que em outros termos, pode ser lido como
um abandono de políticas de expansão da educação. Esse descuido sistemático
com a educação de jovens e adultos nos primeiros anos da República fincaram raízes
e, na década de 1930, essas dinâmicas começaram a ser revistas.
Com a instauração do golpe de 1930 e o início do governo de Getúlio Vargas
o Brasil atinge novos cenários no contexto educacional. Medidas como a criação do
Ministério da Educação e Saúde (1930), a criação de um Conselho Nacional de
Educação que fosse capaz de organizar parâmetros e diretrizes para a Educação
Pública no Brasil e a organização de estudos estatísticos promovidos pelo Governo
Federal começaram a compor os planos do governo federal.
No bojo desses programas, encontrava-se a organização de uma
determinada elite intelectual e urbana que produziu o “Manifesto dos pioneiros da
Educação” (1932). Essa intelectualidade pleiteava a gratuidade, laicidade e
obrigatoriedade da educação pública no Brasil (ALENCAR, 2016). Entendido como
um documento crítico e moderno, o manifesto carrega consigo uma perspetiva de
responsabilização do Estado para com a educação e formação escolar do povo
brasileiro, elemento que foi recuperado em projetos posteriores.
É necessário destacarmos que o país encontrava-se frente a profundas
mudanças ocasionadas pelo crescimento das cidades, pela reorganização da
24
pauta de exportações e pelo crescimento mais expressivo da industrialização. Em
termos internacionais, o país vivia o período entreguerras e o início da Segunda
Guerra Mundial (1939-1945). Tais momentos de ebulição tiveram impactos enormes
na circulação de ideias, projetos e análises políticas sobre educação no Brasil.
No que se refere à Educação de Jovens e Adultos, uma de suas primeiras
iniciativas públicas foi organizada no período de 1947 a 1950, com a Campanha de
Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA). Com forte viés patriótico, de reforço
da política nacional, essa iniciativa foi pensada de modo a sanar o analfabetismo no
país, no campo e na cidade, prevendo a superação do analfabetismo em um curto
espaço de tempo. Dentre suas determinações encontravam-se a ideia de:
Ainda que tenham sido limitados os avanços dessa política, em especial por
conta de problemas administrativos, pode-se dizer que temos aqui uma primeira
iniciativa estruturada no sentido de pensar um modo público de como se ensinar
adultos. Apesar dos limites, essa proposta é uma das primeiras que teve jovens e
adultos como principais sujeitos de uma política educacional (VIEGAS; MORAES,
2017).
Com o avanço da década de 1950, começa a despontar o exercício de
alfabetização proposto por Paulo Reglus Neves Freire, mais conhecido como Paulo
Freire (1921-1997). Formado em Direito, Paulo Freire optou por se dedicar ao ensino
desde a juventude e, preocupado com a alfabetização de jovens e adultos, passou
a lecionar para esses públicos atingindo a marca de alfabetização de 300 cortadores
de cana em 45 dias no ano de 1963 (BRANDÃO, 1985).
Há que se dizer que naquele momento histórico, setores reformistas ocupavam
os mais altos cargos políticos no Brasil e previam a execução de uma política
coligada com a Educação. Estava contido naquele período histórico uma
preocupação com a conscientização do povo que se daria por meio da
alfabetização da população, pautada na noção de cidadania e para a
organização social desses sujeitos (GERMANO, 1997).
Seu método dispensava o uso da cartilha e a repetição, privilegiando o
25
acolhimento da experiência dos alunos e a contextualização dos saberes. Com isso,
Freire previa que o processo de ensino-aprendizagem estivesse ancorado em três
etapas complementares (VIEGAS; MORAES, 2017).
Sendo a primeira, a etapa de investigação, em que o educador conhece e
mapeia palavras e expressões próprias dos estudantes, buscando familiarizar-se com
as temáticas e questões do cotidiano destes. Em seguida, iniciava-se a etapa de
tematização, nesse momento, há um intenso debate com os alunos, buscando o
entendimento dessas experiências. Na sequência, se estabelece a etapa de
problematização, que se realiza por meio da pergunta, da crítica sobre os temas
tratados e as possibilidades de transformação. Sendo essa última etapa
acompanhada do princípio da escrita e da leitura.
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Inicialmente esse método de alfabetização recebeu acolhimento pelo então
Presidente João Goulart (1961-1964), mas, com o golpe civil-militar de 1964, Paulo
Freire teve suas ideias caçadas e os jovens e adultos tiveram, mais um revés no seu
processo formativo. Com o aprofundamento da ditadura civil-militar, no ano de 1968,
a educação para jovens e adultos ficou à cargo do Movimento Brasileiro de
Alfabetização (MOBRAL) (VIEGAS; MORAES, 2017).
Com vigência entre os anos de 1968 a 1985, tal política previa a alfabetização
de jovens e adultos entre os 15 e 35 anos a partir de uma perspectiva alinhada com
a ideologia do regime militar. Com isso, a crítica, a autonomia, o diálogo e
problematização, essenciais ao processo de ensino-aprendizagem, estavam fora dos
programas dando lugar ao autoritarismo dos processos educacionais, à
memorização e a uma forte valorização do regime político (CUNHA; XAVIER, 1984).
Se em termos de projeto pedagógico o projeto fracassou, ao que apontam as
estatísticas, o Mobral mostrou-se limitado também em seus resultados. Segundo
Cunha e Xavier, no censo de 1980 houve um “[...] aumento de 540 mil pessoas no
número absoluto de analfabetos de 15 anos e mais no decênio 1970-1980” (CUNHA;
XAVIER, 1984, p. 47). Tais elementos foram visitados ainda por sucessivas denúncias de
corrupção, demonstrando a falência desse projeto político e educacional.
Diante desse quadro, até a chegada da década de 1990, a trajetória da
educação de jovens e adultos no Brasil republicana pode ser pontuada com a
pergunta do subtítulo “Como se ensinar os adultos?”. Ao que foi possível observar o
Brasil foi de projetos que anularam essa questão, passando pelas iniciativas
modernizantes do Governo Vargas associando aprendizagem ao mundo do
trabalho; o método Paulo Freire que, a partir da década de 1960 instaura um novo
paradigma de formação para jovens e adultos pautado na liberdade, criticidade e
autonomia e, em seguida, o MOBRAL e sua política de memorização e propaganda
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política de um regime autoritário.
Isto posto, o que se quis demonstrar é que os modelos e métodos de ensino de
jovens e adultos são múltiplos e diversos e, ao longo do século XX, eles foram
disputados por grupos distintos em nome de projetos políticos e educacionais dos
mais variados. Em meio a esse cenário, em 1985 a ditadura se encerrou no Brasil e o
legado deixado é marcado por violências, abusos e, no campo da educação,
tratou-se de um retrocesso que o país ainda tenta superar. Na tentativa de rever esse
quadro, novos atores entram em cena mostrando que o caminho para a educação
no Brasil deveria ser escrito a partir da palavra democracia.
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prerrogativa do acolhimento dos educandos que, por diversos motivos sócio-
econômicos, foram excluídos da alfabetização na idade certa. Ademais, registrou-se
no documento o entendimento da EJA como um espaço no qual propostas de ordem
político-pedagógica associadas à relações de diálogo e cooperação para
execução do processo de ensino-aprendizagem devem ser realizadas.
Na sequência dessas conquistas, um novo avanço foi a inclusão da EJA na lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), anos após em 1998, a inclusão da
modalidade na lei do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério (1998). Já no contexto do século XXI, a
EJA teve sua própria lei de Diretrizes Nacionais Curriculares (2000) e também fez parte
da discussão da lei do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (2007).
Com a consciência de que cada um desses episódios legislativos não é
instaurador de uma nova realidade de sucesso e efetivação da política, esse tema
será discutido no capítulo seguinte de forma mais detida. Todavia, neste momento,
um elemento importante é notarmos os avanços ocorridos para a EJA e seus públicos
no período posterior à Constituição de 1988. Importante notarmos que esse processo
não é o resultado de um olhar sensível dos governos e nem da classe política e das
elites brasileiras, mas sim, o resultado da mobilização de professores, sindicatos, fóruns
e membros da sociedade civil organizados que lutam por direitos na EJA.
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pois, apesar do reconhecimento da modalidade seus desafios ainda são grandes no
campo político. Em especial no que compete aos seus objetivos que, para os
governos e o grande capital (lê-se a classe empresarial capitalista), tal percurso de
formação deve apenas e tão somente instrumentalizar a mão de obra brasileira de
baixo custo.
Com isso, se esquece e se distancia a EJA de um de seus objetivos principais:
garantir aos jovens e adultos brasileiros a oportunidade de uma escolarização crítica
e pautada na garantia da cidadania. Seja como for, o entendimento geral que ronda
a experiência da EJA desde os anos de 1990 e ainda encontra-se em construção até
a atualidade é o fortalecimento dos direitos conquistados e a luta contra o
fechamento de turmas. Nessa luta, uma série de sujeitos tem se levantado em favor
da educação pública e de qualidade para jovens e adultos, demonstrando que é
na luta que se constrói o futuro. Diante desses e de outras questões da EJA no tempo
presente, no próximo capítulo serão discutidos os projetos e os diferentes grupos
sociais que tentam construir - ou desconstruir - a modalidade.
FIXANDO O CONTEÚDO
30
acadêmico sobre educação de adultos no período colonial no Brasil e encontrou
cinco alternativas para se pensar sobre o tema. Qual alternativa verdadeira sobre
o tema?
a) A educação para adultos no período colonial no Brasil era voltada apenas para
estrangeiros, como por exemplo portugueses, ingleses e franceses.
b) No Brasil colonial a educação de adultos era voltada para o ensino de religiões
de matriz afro-brasileira, como uma forma de construção do respeito e pela luta
anti-racista.
c) A educação de adultos era voltada para indígenas, com o objetivo de propagar
a fé católica dos colonizadores, sendo esse tipo de educação conhecido como
catequese.
d) A educação no Brasil colônia era uma educação crítica, pautada no
acolhimento do aluno e de suas experiências.
e) A educação de adultos na América Portuguesa era o resultado de ensinamentos
aprendidos na Europa e ensinados ao povo africano aqui escravizado.
31
colônia:
“O ensino dos meninos aumenta dia a dia o que mais nos consola, os quais
vêm com gosto à Escola, sofrem os açoites [...] entre si” (ANCHIETA, 1957, p. 194).
(ANCHIETA, José de. Carta ao Padre Inácio de Loyola, Roma (São Vicente, março de
1555. In: LEITE, Serafim, S.J. Cartas dos primeiros jesuítas do Brasil. Coimbra: Tipografia da
Atlântida, 1957. v. II, p. 193-209).
32
um resumo sobre educação de adultos no período imperial no Brasil. Contudo,
Dulcina está com dúvidas sobre a educação voltada para as mulheres no
período. Sendo assim, qual das frases a seguir identifica corretamente a
educação voltada para as mulheres no período imperial?
33
CAMPANHOLE, A.; CAMPANHOLE, H. L. Constituições do Brasil. 4. ed. São Paulo: Atlas,
1986, p. 674-676.
a) Elis está diante de uma legislação que apontava para a expansão da escola e
da escolarização e que foi cumprida, tornando o Brasil uma referência em
educação até o presente momento.
b) Elis pode notar que os artigos da constituição reforçam o papel benevolente da
classe política brasileira para com o povo.
c) Elis pode notar que houve um esforço em registrar o direito à educação na
Constituição e que esse esforço se transformou em prática em especial nas áreas
mais remotas do país.
d) Elis está diante de uma legislação que apontava para a expansão da escola e
da escolarização, mas que não foi efetivada no império do Brasil. Há que se notar
que a cidadania não era estendida para mulheres, negros e indígenas, sendo eles
subalternizados e condenados ao não acesso à educação.
e) Elis está diante de uma legislação que foi aplicada somente para indígenas e
negros no Brasil imperial. A cidadania naquele momento histórico era voltada
apenas para esses grupos.
34
mulheres ingressassem no mercado de trabalho, sem qualquer compromisso com
uma formação cidadã.
V. O método de alfabetização proposto por Paulo Freire, dentre outras
características, trata-se de um conjunto de ações que objetivam dialogar com o
cotidiano e as experiências dos educandos.
a) I e II.
b) I, II, III, IV e V.
c) I, III, IV e V.
d) I, II, IV e V.
e) III, IV e V.
a) F - F - V - V – V.
b) V - V - F - V – F.
c) V - F - V - F – V.
d) F - V - V - V – F.
e) V - V - V - V – F.
35
8. Leia o trecho selecionado:
UNIDADE
Garantidos por políticas decorrentes da LDB promulgada em 1996, que instituiu
a Educação de Jovens e Adultos como modalidade da Educação Básica, avanços
foram conquistados e, ao longo dos anos 2000, por exemplo, foram consideráveis as
ações implementadas pela esfera federal de governo, além das políticas estaduais
e municipais que sedimentaram uma oferta. Não obstante, esse conjunto de ações
não têm conseguido superar as históricas desigualdades educacionais em função de
uma série de razões, dentre as quais o problemático processo de institucionalização
da EJA nas redes públicas, nem sempre acompanhado de base financeira, estrutural
e pedagógica adequada, além da tímida, ou mesmo ausente, política de formação
específica de professores, tanto inicial quanto continuada.
a) Trata-se de uma análise apressada, pois a EJA hoje está fortalecida e não
depende do financiamento público, pois tem parcerias privadas para o seu
funcionamento.
b) O trecho demonstra que os autores não concordam com os avanços da EJA.
c) Os autores realizam uma análise onde só citam pontos negativos da EJA.
d) A análise dos autores está equivocada, pois a EJA hoje não tem qualquer
problema em seu financiamento, dado que erradicou o analfabetismo no Brasil.
e) Diante do trecho exposto, nota-se que a despeito dos avanços políticos e
legislativos da EJA nas últimas décadas ainda existem diversos desafios a serem
enfrentados pela modalidade e seus sujeitos.
36
Diferente do que muitos podem pensar, a lei e a legislação importam sim ao
trabalho do pedagogo, pois, supor que as leis são criadas como elementos
“perfeitos” dentro de uma determinada sociedade seria ingênua e pouco
operacional para esse profissional. Discutir ideias e tramitações legislativas, os sujeitos
que a construíram e aqueles grupos que organizam a demanda pública, é um
exercício necessário à formação do licenciado e de todo cidadão.
Assim, será possível a construção de sua ação pedagógica crítica com base
nas determinações institucionais vigentes no país e reforçadas pelos Estados e
municípios. Afinal, leis são construídas em um ambiente de disputa. Mais do que
simplesmente segui-las, cabe ao profissional entender a sua historicidade, os sujeitos
que a construíram e os projetos que levaram o texto a ser aprovado ou não.
Essa tarefa coloca o pedagogo como investigador da realidade que o
circunda em termos profissionais e sob as modalidades com as quais dialoga.
Ingressar na EJA ou em qualquer outra modalidade de ensino requer um cuidado e
atenção com as legislações voltadas para aquele ramo da Educação (SIQUEIRA;
LOPES, 2017). Em especial os projetos que colaboraram com sua efetivação da
modalidade e os que pretendem sua extinção e, em meio a isso, o entendimento de
que esses projetos foram disputados precisa ser destacado.
Os modos de fazer esse exercício de pesquisa podem se dar por meio do
acompanhamento de notícias em veículos oficiais de informação, pelos boletins dos
sindicatos dos professores e profissionais da educação, fóruns de educação dos
Estados e municípios, por exemplo. O exame desses materiais ajuda não só a
conhecer as determinações legislativas vigentes, em construção e em desuso, mas
também a construir um olhar crítico sobre as relações entre o Estado brasileiro e a
Educação, ademais, é sempre importante reforçar que o exercício da profissão
docente e pedagógica é um exercício de posicionamento político no mundo
(SIQUEIRA; LOPES, 2017).
Diante do exposto, não pode o pedagogo contentar-se somente com o que
foi aprendido em termos legislativos em sua formação superior, ele deve estar
disposto a investigar, buscar e analisar criticamente os termos em que estão se dando
os rumos da Educação. Sua posição ativa e atuante será determinante para um
exercício cidadão e ético de sua profissão (SIQUEIRA; LOPES, 2017).
Além disso, quando falamos em disputas, estamos falando de conflitos
teóricos, divergências de pontos de vista que, em maior ou menor medida, são
37
fundantes da construção de quaisquer projetos em âmbito legislativo. No caso
específico da EJA, essa luta foi feita não só por membros do legislativo brasileiro, mas
também por componentes da sociedade civil. Alguns desses temas serão debatidos
na sequência.
O projeto vitorioso foi o dos ministros que, entre outros pontos, trouxe a EJA,
pela primeira vez, como modalidade da Educação Básica. Com isso, a Educação de
Jovens e Adultos ganhou institucionalidade, sendo seu público formado pelos sujeitos
38
que “[...] Não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e
médio na idade própria” (LDBEN n.º 9.394/96). Ademais, previa-se que a EJA deveria
promover a formação e considerar as características socioeconômicas e culturais
dos estudantes, fornecendo um ensino que dialogasse com essas circunstâncias.
Ainda na LDBEN, previa-se a manutenção de exames e cursos da categoria
de supletivo, que serviriam de suplemento da educação básica, que, mediante
aplicação do currículo da EJA, tornaria o estudante habilitado para dar sequência
aos seus estudos. A coexistência da EJA com o supletivo e com seus exames trata-se
de uma contradição e precisa ser avaliada com atenção pelo pedagogo, em
especial por conta da quantidade de casos de denúncias de vendas de certificados
e formações aligeiradas oferecidas aos estudantes (VENTURA, 2012).
No que compete a idade mínima para ingresso na EJA, tal como citado na
primeira unidade, ela é permitida a jovens maiores de 15 anos que podem acessar o
Ensino Fundamental e para o acesso ao Ensino Médio, a idade mínima é de 18 anos.
Além disso, previa-se que seria ampla e difundida a oferta de vagas para a EJA em
escolas da rede pública de forma gratuita.
39
foram criadas novas determinações para a modalidade. Construídos no contexto do
Conselho Nacional de Educação, naquele ano dois pareceres aprofundaram os
debates sobre a EJA. O primeiro deles foi o parecer CNE/CEB n.º 11, de 10 de maio
de 2000, nele a EJA assume o papel de educação continuada e é reforçado seu
papel de fomentadora da cidadania dos estudantes (SIQUEIRA; LOPES, 2017).
Ademais, começa a ser propagados os sentidos/funções da modalidade, conforme
quadro abaixo:
Função O estudante da EJA deve ter o direito fundamental assegurado por meio
Reparadora de uma nova possibilidade de retomada dos estudos. (BRASIL, 2000).
40
evasão escolar ou não escolarização, são aspectos fundamentais para o
estabelecimento do processo pedagógico a ser construído. Diante do exposto,
espera-se que a equipe pedagógica e o corpo docente trabalhem de modo
integrado para proporcionar uma experiência de acolhimento pautada em um
ensino que seja significativo para os alunos da EJA (NICODEMOS; SERRA, 2020).
Na sequência, temos o princípio da proporcionalidade que, em termos gerais,
trata-se da execução do currículo de modo que os sujeitos da EJA tenham formação
compatível com os estudantes da escolarização regular. Com isso, cabe às unidades
escolares cumprir dias letivos, cargas horárias, de modo a balancear as demandas
curriculares e da cultura escolar, com as dinâmicas de vida dos estudantes da EJA.
Com o avanço do século XXI, os espaços institucionais do debate sobre a EJA
se expandiram, em especial com a criação da Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade (SECAD), no Ministério da Educação (MEC). Com a
SECAD houve uma expansão do diálogo dos movimentos sociais pela EJA junto ao
Governo Federal. Tal secretaria colaborou com a criação e execução de propostas
e políticas voltadas para a garantia da EJA em todo o país.
Há que se dizer que nas últimas décadas, sob a orientação de dinâmicas do
neoliberalismo, o aperfeiçoamento da formação dos trabalhadores foi - e ainda tem
sido - um ponto de pauta importante no debate sócio-político e econômico
(NICODEMOS; SERRA, 2020). Tal debate foi realizado por empresários brasileiros
interessados na capacitação de mão de obra, preservando baixos salários e relações
de trabalho mais flexíveis.
Nesse contexto, foi criado no governo de Luís Inácio Lula da Silva (2003-2006),
o Programa de Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio na Modalidade
Educação de Jovens e Adultos - PROEJA. Tal iniciativa foi criada por meio do decreto
nº. 5.478, posteriormente revogado pelo Decreto nº 5.840 de julho de 2006,
atendendo a uma demanda por Educação Profissional de nível técnico para jovens
e adultos da EJA.
Com isso, previa-se que as instituições de ensino federais (IES) que ofertassem
o ensino médio e técnico, implementassem cursos e programas regulares do PROEJA
até o ano de 2007. Tais programas conteriam reservas de vagas para o público da
EJA, considerando a expansão dessas vagas nos anos subsequentes (BRASIL, 2007).
No tempo presente este e outros programas voltados para a EJA viram-se fragilizados
por conta da escassez de recursos para sua continuidade.
41
Nos últimos anos, especificamente em 2018, a Educação brasileira encontra-
se em discussão na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que, aprovada em
fevereiro de 2019, trata-se de uma revisão dos currículos escolares implementados no
país (NICODEMOS; SERRA, 2020). Logicamente, não podemos analisar sua construção
apenas sob o viés do interesse pedagógico, mas sim, como uma tentativa de setores
do empresariado brasileiro, em especial no que se refere a EJA, em formar - de forma
aligeirada e com certificação breve - a mão de obra, tal como citado anteriormente.
Na nova BNCC, a EJA foi a única modalidade que não está presente,
apagamento este que descaracteriza e fragiliza as importantes decisões tomadas
por governos e projetos políticos anteriores analisados neste tópico. Nicodemos e
Serra apontam que este é um movimento dos “[...] mais significativos [...] de
invisibilidade que a modalidade atravessa, marcada, ainda, por ações de
desresponsabilização do Estado na sua oferta” (NICODEMOS; SERRA, 2020, p. 881).
Com isso, é necessário reafirmar o lugar da EJA como modalidade e as
especificidades de seu público que não pode ser formado sem um currículo
específico que o acolha em suas particularidades e singularidades e, além disso,
cobrar o cumprimento dos órgãos responsáveis pelas políticas voltadas para a
modalidade.
Há que se ressaltar que a carência de espaço da EJA na BNCC é uma forma
de desmonte das já citadas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de
Jovens e Adultos (DCNEJA) (BRASIL , 2000).
Tal situação demonstra uma incompatibilidade dessas políticas apontando
para um cenário perigoso em que a modalidade é apagada e experimenta a
desescolarização, como será discutido na quinta unidade. Em termos
contemporâneos, hoje a EJA experimenta tentativas de estreitado e aligeirado do
currículo, a ideia de certificação se sobrepõem à formação cidadã e o fechamento
de turmas se torna uma realidade (DANTAS, 2017).
42
Nesse momento histórico, a ausência da EJA na BNCC encontra-se em debate
e os próximos passos desse debate devem ser acompanhados com atenção por
pedagogos em formação, como forma de avaliação crítica da construção da lei -
no caso específico, do currículo - no tempo presente. Com isso, se reforça a
necessidade de ampliação das análises e avaliações dos discursos e os projetos de
poder e de sociedade que encontram-se no entorno da EJA no Brasil.
Diante do exposto, todas as leis citadas foram e são de extrema importância
para o público da EJA, todavia, esses direitos são constantemente visitados por
constrangimentos por parte dos governos. Estes desejam aligeirar e/ou somente
certificar os jovens e adultos e, em situações mais contundentes, propõe o
fechamento de turmas e turnos da EJA, sem o cuidado e atenção necessárias para
o desenvolvimento autônomo, integral e cidadão desses sujeitos.
43
meio a isso, a organização da sociedade civil é de extrema relevância nesse cenário,
como pode-se acompanhar a seguir.
44
Diante disso, há a cobrança pela efetivação das leis que orientam a EJA em meio a
um diálogo com agrupamentos da sociedade civil preocupados com o avanço do
direito à Educação.
As ações desses grupos colaboram com a construção de políticas e têm
poderes para construir discursos e argumentos críticos para o desenvolvimento e
aperfeiçoamento da EJA (PAIVA, 2006). Em cada um desses espaços serão
encontradas demandas e agendas de luta específicas, mas, em todos haverá um
compromisso com a expansão da qualidade, das matrículas e da valorização dos
docentes e alunos da EJA.
45
FIXANDO O CONTEÚDO
a) A EJA tem o mesmo significado que o antigo Ensino Supletivo, regulamentado nas
leis vigentes na ditadura militar.
b) A EJA é um programa governamental voltado para a alfabetização de jovens e
adultos não escolarizados.
c) A EJA é uma modalidade, isto é, implica um modelo pedagógico próprio aos que
não tiveram acesso ao estudo ou a sua continuidade no Ensino Fundamental e
Médio na idade própria.
d) A EJA é uma modalidade voltada para os estudantes que não obtiveram bom
rendimento no ensino regular, de modo a que não atrasem seus respectivos
46
percursos escolares.
e) A EJA apresenta-se como uma forma de aperfeiçoamento dos estudos de adultos
escolarizados na primeira infância.
47
b) A LDB garantiu que a EJA seja reconhecida como modalidade, sua oferta,
determinou diretrizes para divisão seriada e as especificidades do seu público,
inclusive as faixas etárias mínimas para seu ingresso.
c) A LDB assegura o ensino aos fins de semana para adultos trabalhadores.
d) Assegurou que somente jovens menores de 21 anos podem ingressar no ensino
fundamental da EJA.
e) Garantiu o ensino confessional para adultos acima de 60 anos, além do
reconhecimento da EJA como modalidade.
48
a) É preciso considerar que esse parecer está desatualizado e, atualmente, o que
mais importa na EJA é formar trabalhadores.
b) Os princípios anunciados são uma sugestão, cada escola pode aderir ou não a
eles, afinal, não são oficiais.
c) O presente trecho deve ser uma oportunidade de aproximar os leitores dos
princípios da EJA - à equidade, à diferença, e a proporcionalidade - elementos
fundantes para a prática pedagógica na modalidade. A presença desses
elementos é de importância central para o aprofundamento das práticas da EJA.
d) Não estão presentes todos os princípios, afinal, faltou o princípio da competição,
essencial para jovens e adultos que estão no mercado de trabalho.
e) Há um erro no enunciado, afinal, equidade, diferença, proporcionalidade são as
funções da EJA e não princípios.
6. Anderson, aluno do polo de Guajará Mirim (RO), decidiu dedicar-se aos estudos
sobre as funções da EJA. Em seus estudos o graduando encontrou as seguintes
alternativas. Ajude Anderson e marque as alternativas com (V) verdadeiro ou (F)
falso:
49
a) F - V - V - V – F.
b) F - V - F - V – F.
c) V - V - V - F – V.
d) F - F - F - F – V.
e) V - V - F - F – V.
50
c) Os coletivos mencionados estão equivocados, pois deveriam primeiramente
esperar as autoridades estabelecerem debates sobre o tema com a sociedade.
d) Os coletivos mencionados estão atuando de forma a pressionar os governos por
melhores condições de execução da profissão docente e pela efetivação da
Educação como direito em tempos de pandemia.
e) Os coletivos estão executando uma tarefa que não cabe ao seu trabalho, sendo
necessário esperar pacientemente o poder público se dedicar ao tema.
51
MÉTODOS E TÉCNICAS PARA UNIDADE
ENSINO NA EJA
52
ensina. De lado a lado se aprende” (BRANDÃO, 1985, p. 10-11).
Não há aqui qualquer entendimento dessa concepção de ensino como um
lugar da tranquilidade e de uma pré-disposição de todos os envolvidos nesses
processos. Ao contrário, entendemos a escola como caixa de ressonância dos muitos
desafios que encontram-se em nossa sociedade. Desse modo, experiências de
mundo assentadas sobre a violência, em suas múltiplas apresentações, racismo,
preconceitos social, religioso, de gênero, contra a comunidade LGBTQI+, xenofobia
dentre outros, provavelmente, estarão presentes em sala de aula no contexto da EJA.
Dialogar com esses termos e não transformar os alunos da EJA em “coitados”,
“vítimas” ou em “imagens quebradas” de alunos não são os “ideais” é um exercício
que cabe a toda comunidade escolar envolvida com esse público (ARROYO, 2004).
Dado que não há “ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino” (FREIRE, 2010,
p. 29)cabe ao pedagogo se instrumentalizar em termos teórico-metodológicos,
como uma forma de lidar com as intercorrências da sala de aula, mas também com
o universo plural e desafiador apresentado pela EJA.
Ademais, a concepção de ensino aqui proposta pede à todos os envolvidos
um compromisso explícito na luta em prol do fim das opressões e, nesses termos,
encarar os estudantes, sem exceção, como sujeitos capazes de executar ações
transformadoras. Afinal, o avanço da concepção de ensino aqui descrita aponta
para a realização de um processo de ensino-aprendizagem que, antes de tudo,
valorize a autonomia do estudante da EJA e sua inclusão social.
53
apontou Freire, toda educação é política e, falar em concepção de ensino é também
discutir um programa político e um projeto de sociedade.
54
influenciado por esses processos que engendra. Uma das perspectivas teóricas e
curriculares que possibilita esse exercício é o materialismo histórico dialético que, em
termos gerais, ocupa-se de entender as formas como os homens se organizaram ao
longo da história, destacando aspectos da materialidade histórica da vida, sem
descuidar cultura e da sociedade como um todo.
55
Nesse sentido, é importante dizer que um currículo para a EJA demanda, antes
de tudo, uma preocupação com as dinâmicas histórico-sociais que afetam os alunos
da EJA enquanto coletividades subalternas, marcadas por desafios históricos que os
antecedem. Em segundo lugar, existe a experiência vivida pelo aluno, que afeta seus
modos de aprendizagem, sua relação com o ensino e os conteúdos e, em meio a
isso, está o tempo pedagógico que atravessa todas essas questões e tem por
finalidade instrumentalizar o aluno no exercício de sua cidadania e autonomia.
Diante do exposto, há que se destacar que cabe ao pedagogo negar um
preconceito que relaciona o currículo da EJA como sendo “mais fácil”. Uma adesão
consciente e crítica ao método materialista histórico dialético, com interface com a
divisão temática tende a colaborar com a condensação necessária para o período
de estudos disponível pelo estudante.
Assim, pautados em compromissos teórico-metodológicos claros e
organizados, equívocos analíticos podem ser desmantelados, uma vez que há uma
seleção de conteúdos sistemática no currículo da EJA respeitando o tempo e o
conhecimento prévio do estudante (OLIVEIRA, 2010). Na sequência, detalhes sobre a
gama de possibilidades de abordagem em sala de aula podem colaborar com o
aprofundamento dessas concepções.
Ainda em diálogo com o Método Paulo Freire, aqui alguns elementos precisam
ser expostos mais detidamente quando se fala na sala de aula. Antes de mais nada,
é necessário relembrar que uma sala de aula da EJA é antes de tudo um espaço, de
conflitos e encontro de jovens, adultos e idosos atravessados por trajetórias distintas,
particulares e, costumeiramente, marcada por uma distância bastante marcada da
escola como espaço de formação. Ademais, a diferença etária, de gênero e das
identidades individuais também são elementos que orbitam nessa sala de aula.
Esse cenário não deve preocupar o exercício de trabalho do pedagogo, mas
sim, deve mobilizar nele atenção e ferramentas adequadas no trato com essas
subjetividades. Uma vez que o profissional estará em diálogo constante entre
educadores e estudantes, algumas considerações precisam ser construídas de modo
que essa interação seja significativa e colaborativa. Nesse sentido, analisar cada um
desses grupos e suas demandas é uma possibilidade importante para a construção
56
da EJA.
Uma das primeiras análises a serem feitas refere-se ao perfil sócio-econômico,
profissional e etário do público. Tal levantamento pode ser realizado com base nas
matrículas efetuadas e deve compor um quadro diagnóstico amplo sobre o gênero,
as faixas etárias e bairros de residência. Com isso, o pedagogo e a equipe docente
podem ter noções iniciais para a execução de suas ações.
Afinal, a investigação do universo desses estudantes não se dá somente na
sala de aula, mas no diagnóstico dela também. Com esse mapeamento os
professores terão melhores possibilidades de entender as dinâmicas da turma e,
assim, poderão melhor organizar sua prática pedagógica.
Ademais, sugere-se que o pedagogo estimule os docentes ao exercício crítico
e investigativo acerca dos saberes e práticas dos estudantes. Nesse sentido, é
importante que o pedagogo esteja atento aos modos como os professores lidam
com o público da EJA.
Sabe-se que as condições de precarização docente são visíveis e bastante
presentes no ofício do professor, portanto, cabe ao pedagogo o reconhecimento
deste cenário e também a mobilização da motivação destes para o trato com os
educandos da EJA. Em especial porque, em muitos casos, os docentes não contam
com formações universitárias, de extensão e/ou aperfeiçoamento voltados para a
EJA e, portanto, caberá ao pedagogo uma iniciação deste educador com a
modalidade.
Nesse processo, recomenda-se que o pedagogo não coadune com práticas
de adultização de crianças e tampouco com a infantilização de adultos (SORDI,
1999). Esses procedimentos e adaptações - de currículo escolar, avaliação,
tratamento interpessoal - são um sinal de uma formação teórica deficitária e com
problemas analíticos que irão se transformar em desafios práticos. A educação de
adultos não deve ser baseada em improvisos e, por isso, estudar, debater e repensar
atividades, pode ser um dos caminhos possíveis para uma ação pedagógica mais
significativa.
Por ação pedagógica significativa queremos aqui recordar os momentos
anunciados por Paulo Freire quando da aproximação com os saberes dos estudantes
da EJA. Nesse contexto, um dos primeiros passos sugeridos pelo educador é a
investigação temática que precede a abordagem pedagógica de um determinado
conteúdo (FREIRE, 1975).
57
Este processo de pesquisa é baseado no recolhimento de informações acerca
do universo de vocábulos, noções e conceitos trazidos pelos alunos de seu cotidiano,
na forma de seus comentários (FREIRE, 1975). Aqui, há uma possibilidade de contato
com a realidade desses estudantes, oportunidade essa que precisa de atenção e
escuta sensível por parte dos professores e pedagogos.
Após esse exercício, em um segundo momento se dá a tematização, recurso
de seleção de temas e palavras geradoras (FREIRE, 1975). Por meio de uma reunião
dos termos e conceitos trazidos, o educador começa a construir sentidos mais
amplos, coligando os elementos da primeira etapa com sentidos científicos e
pedagógicos.
Em seguida, começa se dar o processo de problematização, pautado na
busca da superação da visão do senso comum rumo à uma visão científica
submetida ao trato pedagógico. Conforme aponta Oliveira (2007) uma das
recomendações para esse processo deve-se dar por meio do trabalho dos conteúdos
abstratos em conexão com a realidade do aluno. Com isso, o estudante passa a ver
a si próprio e as questões do seu cotidiano na sala de aula, envolvendo-se de forma
mais significativa com o processo de aprendizagem.
Outro elemento necessário é que os educadores estimulem seus alunos e
sejam eles propagadores de um ambiente de empatia e acolhimento para esses
sujeitos. Com isso, queremos dizer que, os estudantes da EJA carregam consigo
trajetórias de insucesso escolar, longas jornadas de trabalho, gavidez precoce,
violência e precarização do trabalho e das condições de vida. Nesse sentido, o
acolhimento é fundamental como forma de agregar e aproximá-los do espaço
escolar, de modo que ele não só ocupe a escola, mas possa habitá-la e trazer para
ela a pessoa que é (OLIVEIRA, 2004).
Exercer uma análise crítica sobre as posturas, modos de comunicação e
avaliação é bastante relevante para o exercício da prática pedagógica junto aos
estudantes e professores da EJA. Analisar os modos como esses discentes começam
a aperfeiçoar suas análises com o passar das aulas, o modo como suas construções
frasais e discursivas se aperfeiçoam é um dos retratos da execução de um trabalho
pautado na atenção à processos de ensino-aprendizagem significativas em sala de
aula.
58
4.4 AVALIAÇÕES
59
um questionário diagnóstico identificado e, após essa etapa, o docente terá
condições de construir avaliações individualizadas e representativas da realidade
dos estudantes.
Nesse processo, deve-se evitar avaliações em série que não passem por um
diálogo com os estudantes e que não se atentem a diversidade da turma. Do
contrário, o docente estará coadunando com um cenário de exclusão em que
métodos tradicionais e fechados não dialogam com as demandas dos estudantes e
reforçam cenários de exclusão (NASCIMENTO; BASSANI; PINEL, 2009).
Ademais, a pluralidade de avaliações é um sinal de atenção e
comprometimento pedagógico deste docente e do pedagogo que, se distanciam
das noções frágeis de “prova fácil” e “prova difícil", passando para uma tarefa
significativa com base nas demandas individuais do percurso de aprendizagem dos
sujeitos.
Após a aplicação da atividade, recomenda-se um momento da aula em que
o professor juntamente com os alunos debata a avaliação “considerando o
desenvolvimento ou as necessidades de aperfeiçoamento do estudante com base
em sua prova” (BORDIM, 2014, p. 19). Em meio a esse debate, a mobilização de
distintos métodos de avaliação tende a ser um fator de valorização da experiência
do estudante e também uma forma de mantê-lo em diálogo com os procedimentos
escolares no qual está imerso.
O mais importante é que a avaliação adquira um significado na formação do
aluno da EJA e que nela esteja presente elementos para uma análise crítica e que
esse processo seja pautado na construção da cidadania para o educando. Fazendo
com que o momento de avaliação seja não só enquadrado em uma prova, mas sim,
em um percurso de formação mais alargado e de construção compartilhada entre
docente, discente e pedagogo.
60
FIXANDO O CONTEÚDO
61
Esse processo de contato poderia ser descrito através da noção de que tal
relação é:
62
5. (COTEC - Prefeitura Municipal de São Francisco - Pedagogo - 2020 - Adaptada)
Segundo Freire (1996), “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os
homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.” Se essas tendências
forem consideradas pelo profissional pedagogo, no exercício de suas atividades
pedagógicas, serão perceptíveis, no ambiente de trabalho,
63
7. Leia o trecho abaixo:
64
teórico do campo educacional, que deixou um valioso legado para a educação
do País. A seguir, analise alguns dos fundamentos de seus estudos. Marque (V)
para as afirmativas VERDADEIRAS e (F) para as FALSAS.
a) F – V – F – V – V.
b) V – V – F – V – F.
c) F – F – V – F – F.
d) V – V – V – F – F.
e) V – F – V – V – F.
65
TODAS AS LETRAS DA EJA UNIDADE
66
“fase de transição” para a vida adulta.
Essa avaliação é hierárquica e desconsidera que a juventude é muito maior
do que pensa o senso comum e anula experiências múltiplas e diversas que estes
trazem para a sala de aula da EJA. Não é um excesso dizer que esses jovens são
predominantemente negros, periféricos e que vivem os contingenciamentos da
violência, da precarização do trabalho e, muitas vezes, são participantes, em maior
ou menor medida, da produção da renda familiar (DAYRELL, 2003).
67
5.2 O M DE MULHERES NA EJA
Você conhece casos de mulheres que não conseguiram estudar na idade certa? Ou
ainda aquelas que não completaram seus estudos da educação básica? Você conhece
suas trajetórias? Provavelmente elementos do machismo e da sobrecarga de atividades
afastaram essas mulheres da possibilidade de escolarização. Pense nisso!
É inegável os ajustes que são necessários a essas mulheres que são, muitas
vezes, arrimos de família, mães, esposas para o retorno e a manutenção na EJA. Suas
dificuldades estão associadas a uma expressiva diminuição do tempo disponível para
seus filhos, o cansaço físico e mental, somado ao “[...] descrédito da família [...] o
difícil acesso da escola até a casa, a faixa etária, assim como a incompatibilidade
entre os turnos de trabalho e escolar” (FALCÃO; CAMPOS-PRATES, 2019, p. 07).
Todavia, apesar dos pesares, as mulheres ingressam na EJA e dentre as
motivações para esse exercício está o desejo de certificação, muitas vezes para
auxílio e incentivo escolar de seus filhos, para a concretização de um projeto pessoal
de continuidade dos estudos, por exemplo. Ademais, há casos em que se pretende
acessar o ensino superior e/ou conquistar melhores postos de trabalho para expansão
da renda doméstica (RIBEIRO CRUZ; CRUZ, 2020).
Nesse sentido, quando se problematiza os aspectos da elevação da
escolarização das mulheres, está se pensando também em uma possibilidade de
melhora de sua condição de vida. Assim, pensar a inserção das mulheres na EJA é
dialogar com realidades desafiadoras, mas desejosas por respeito e independência
68
em seus projetos individuais de vida.
Dos muitos papéis que o pedagogo pode assumir no contexto da interação
com o público de mulheres na EJA está no lugar de escutante empático de suas
demandas e viabilizador de medidas que colaborem com sua manutenção na EJA.
Por exemplo, por meio da construção de redes de apoio com envio de materiais em
caso de falta às aulas e um acolhimento via redes sociais ou presencial.
Ademais, a escuta e o compartilhamento podem ser elementos de construção
de vínculo com essas estudantes e tende a fortalecer laços e evitar a sua evasão. Em
condições específicas pode-se firmar parcerias com as Secretarias municipais de
educação ou estaduais, para o acolhimento dos filhos menores dessas mulheres
quando de sua presença em sala de aula.
Essas iniciativas são formas múltiplas e diversas de relacionamento com esse
público da EJA que, historicamente subalternizado, merece atenção pública e
política em seus projetos de formação básica e na consumação de um direito que
lhes foi negado na idade certa. A busca pelo protagonismo e pela independência
são exercícios femininos e que na EJA devem encontrar estímulo e incentivo também
na ação do pedagogo.
69
afetaram diretamente os idosos (2016).
Em meio a isso, esse idoso passou a trabalhar mais, encontrar limitações
bastante presentes pela falta de uma formação escolar e segue provendo o sustento
dos seus, sem a possibilidade da esperada aposentadoria. Aqueles que alcançaram
a aposentadoria, tem ganhos modestos que não suprem a segurança financeira
desejada e os obriga a um retorno ao mundo do trabalho. Com esse acúmulo,
somado a uma trajetória de trabalho extensa e, por vezes, mal remunerada, somado
a um histórico de exclusão da escolarização na idade certa, esse idoso busca a EJA.
A EJA tem significados múltiplos para esses sujeitos idosos, seja para a
reinserção no mercado de trabalho, promoção em empregos ou até mesmo para a
socialização daqueles/as que encontram-se aposentados/as e viúvos/as que
demandam espaços de troca e aprendizagem. Ademais, em comum, essas pessoas
carregam consigo extensas bagagens culturais e vivências importantes para seu
espaço de formação que merecem acolhimento específico de pedagogos e
professores.
O pedagogo em seu trato com idosos na EJA deve considerar o espaço da
escola e da sala como um espaço potente para “[...] escolhas, afinidades,
reciprocidades, contato com outros estilos” para esses sujeitos (ALVES, 2007, p. 125-
139). Em consonância com Serra e Furtado (2016), defende-se aqui que uma
interação significativa no espaço da EJA tende a garantir para esse idoso também
elementos para a superação do estigma da velhice que, em larga medida, está
vinculado ao “[...] isolamento, incapacidade, para viverem o novo paradigma de
velhice [...]” (SERRA; FURTADO, 2013, p. 157). Ao fim e ao cabo, esses espaços podem
ser alguns dos mais seguros e tranquilos que esses idosos podem experimentar em seu
cotidiano.
As redes ativas e afetivas que podem ser geradas do contato intergeracional,
podem ainda possibilitar avanços entre estudantes com trajetórias distintas e
específicas no tempo. A colaboração e a solidariedade são ferramentas importantes
para que esse processo de ensino-aprendizagem se fortaleça e que laços de
solidariedade se criem entre os múltiplos sujeitos da EJA.
PCD é a sigla que identifica a pessoa com deficiência e ela também deve ser
70
acolhida na EJA, independente de suas condições. Por motivos diversos, esses sujeitos
têm dificuldade de inserção escolar na idade certa, experiências de preconceito e
discriminação que são reforçadas pelo despreparo, técnico e teórico, das
comunidades escolares em acolher esse público. Tais cenários de exclusão
encaminham a PCD e sua família para uma reaproximação com a escola na
experiência da EJA.
Além da possibilidade de inserção na EJA, esse público conta com toda uma
política que garante seu direito e que está registrada na Política Nacional de
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008). Suas orientações
tratam da adaptação de métodos e técnicas de ensino conforme a demanda da
PCD e institucionaliza o Atendimento Educacional Especializado (AEE), uma
organização que, com o devido aparato pedagógico “[...] identifica, elabora e
organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras para
a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades” (BRASIL, 2007, p.
16).
Essa legislação prevê a presença de salas de recursos que propiciem um
espaço de acolhimento a PCD de modo que seja viabilizado a ela a boa execução
de seus estudos, sem quaisquer prejuízos a sua formação. Sendo o processo de
educação inclusiva realizado no ambiente da sala de recursos e da sala de aula, de
forma integrada e sem sobreposição de uma a outra. Nesse contexto, é necessário
que a família seja orientada acerca dessa política e que a escola exija de sua
secretaria a efetivação desse espaço, quando da matrícula de estudantes com
deficiência.
Como o seu município constrói políticas para PCD? Você conhece PCD’s que que são
assistidos por um de Atendimento Educacional Especializado (AEE) nas escolas municipais
e estaduais do seu Estado?
71
todos sejam aproximados do modelo de Atendimento Educacional Especializado
(AEE) que será ofertado à PCD.
72
processo de ensino-aprendizagem específico e assentado em larga bibliografia
teórica e metodológica que não dialoga com processos de infantilização (SORDI,
1999; AMPARO, 2012).
Um dos desafios para as PCD, em especial para os estudantes com algum grau
de deficiência intelectual, está ligada à conclusão de sua formação na EJA,
fenômeno que é denominado na LDB n. 9394/96 como terminalidade específica. Há
uma série de dúvidas sobre os modos de avaliação de aprendizagem, certificação,
mercado de trabalho, por exemplo. Seja como for, a terminalidade é um dos desafios
contemporâneo da EJA, a será discutida no próximo capítulo, mas citá-la aqui
colabora com o aprofundamento dos desafios que estão presentes para esses
estudantes no contexto da efetivação de seu direito à educação.
73
FIXANDO O CONTEÚDO 3
a) O jovem não é um ser em si, mas sim, um sujeito de transição para a vida adulta
e deve ser entendido dessa forma.
b) Por se tratar de um jovem em situação de vulnerabilidade social, o jovem da EJA
deve receber ensino na forma de medidas repressivas e assistencialistas.
c) O jovem não é um ser em si e, por isso, quem decide o acolhimento é a escola.
d) O jovem como sujeito de direito, deve dar razão ao que o professor e demais
colegas de turma, de faixas etárias mais altas, dizem pois a sabedoria é a melhor
forma de educar.
e) O Jovem é um ser em si, portanto, deve ser respeitado e acolhido com base em
sua trajetória, percurso escolar e projetos de futuro.
74
d) Leandro deve desenvolver, junto com os professores, ações e espaços que
possibilitem aos jovens envolverem-se em atividades relacionadas à solução dos
problemas reais, atuando com autonomia, liberdade e responsabilidade.
e) A participação juvenil traduz-se em um ganho de autonomia e de construção da
sua identidade pessoal, sem ações maiores no mundo.
Com base nas discussões realizadas ao longo desta unidade, está correto o
que se afirma em:
a) I e II.
b) I e III.
c) II e III.
d) I, II e III.
e) I.
75
d) São mulheres jovens que querem fugir aos altos índices de natalidade do país.
e) São mulheres sem vontade própria que desejam se distrair na escola.
a) A mulher que chega a EJA deve ser acolhida e suas visões de mundo e limitações
de tempo devem ser consideradas no processo pedagógico.
b) A mulher que chega a EJA deve ser tratada como os idosos, ou seja, com
exercícios mais “fáceis”, afinal, ela não tem grandes projetos de futuro.
c) Essa estudante deve ser tratada como outra qualquer, uma atenção maior seria
um sinal de privilégio, atitude que não deve ocorrer em turmas de EJA.
d) A mulher que chega a EJA deve cumprir todos os protocolos da escola,
independente de suas circunstâncias e de sua trajetória.
e) A mulher que chega a EJA deve receber exercícios mais “fáceis”, afinal, ela não
tem tempo para estudar.
6. Dona Julieta tem 74 anos, vive na cidade de Olindina (BA), é viúva, sustenta dois
netos, trabalha como doméstica e deseja se matricular na EJA para aprender a
ler e a escrever. Contudo, sente o peso dos preconceitos e está em dúvidas sobre
se deve ou não realizar sua matrícula. João é pedagogo, formado no polo
daquela cidade, e deseja fazer uma defesa pela matrícula de Julieta. Das frases
abaixo, qual melhor identifica um possível discurso de acolhimento à essa idosa:
76
a) Deve-se sensibilizar Dona Julieta a esperar que seus netos cresçam e possam lhe
dar uma velhice mais confortável.
b) Deve-se sensibilizar Dona Julieta a desistir, afinal, tem muitas atividades e não
deve se sobrecarregar.
c) Deve-se sensibilizar Dona Julieta a se inserir na EJA, mas deve ser dito a ela que a
EJA tem métodos e técnicas específicas e caso não sejam entendidas podem lhe
render reprovações.
d) Deve-se sensibilizar Dona Julieta por meio de uma fala empática que valorize e
reforce a conexão de seus sonhos de aprendizagem com o papel da escola,
destacando o papel da autonomia e da independência que podem ser
construídas naquele espaço de ensino.
e) Deve-se sensibilizar Dona Julieta a se inserir na EJA, mas ela deve ser informada
que as turmas mantém públicos diversos e isso deve obrigá-la a se enquadrar
nesse contexto escolar.
7. Ilana é PCD e aluna da EJA, todavia está em uma unidade escolar que não conta
com Atendimento Educacional Especializado (AEE) e é avaliada pela
comunidade escolar como “coitadinha” e que precisa de exercícios mais
“fáceis”. Elza é a nova pedagoga, formada pelo polo Votuporanga (SP) e precisa
intervir nessa situação. Das opções abaixo, qual deve ser a postura da pedagoga
Elza frente a situação da estudante Ilana:
77
d) Elza deve buscar contato com a família de Ilana e estreitar laços com toda a
comunidade escolar, para ser melhor aceita.
e) Elza deve ser agradável com Ilana, afinal, esse é o melhor caminho para construir
uma boa relação.
8. Antônio está em seu primeiro dia como pedagogo em uma unidade escolar na
cidade de São Miguel do Iguaçu (PR) e conheceu uma turma do EJA noturno que
é composta por jovens, mulheres, adultos, uma pessoa com deficiência e idosos.
O que deve ser feito por Antônio para proporcionar uma experiência mais
acolhedora para esses estudantes?
78
DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS DA UNIDADE
MODALIDADE
Tal como apontado por Sampaio e Marin (2004)uma das questões que mais
chamam atenção à precarização do trabalho do professor e do pedagogo é a
questão da incompatibilidade de salários e tarefas exercidas. Haja vista que o tempo
de dedicação ao planejamento, atendimento de alunos e as aulas em si são muito
79
superiores aos valores pagos. Com isso, o docente tem de expandir sua carga horária
em outras unidades escolares e, com isso, a qualidade de sua ação pedagógica se
vê comprometida pelo cansaço e pela estafa física e mental (PESSANHA, 2001).
Soma-se a isso o tamanho das turmas, que impacta negativamente na ação
pedagógica. A grande quantidade de estudantes por turma termina por diluir o
contato com as especificidades dos estudantes que passa a se dar por meio de
dinâmicas frias, com pouco contato e escuta e sem uma integração significativa em
termos de aprendizagem (OLIVEIRA, 2004).
Sabe-se que a EJA historicamente têm turmas mais reduzidas, dada a baixa
divulgação dos períodos de matrícula e a situação dos estudantes já ressaltada na
unidade anterior e comumente tem suas aulas no período noturno. Todavia, o
profissional que chega à EJA, seja o professor ou pedagogo, encontra-se
comprometido em sua atenção e possibilidade de entrega de uma ação
pedagógica bem estruturada quando esteve exposto a muitas horas de trabalho,
mal remuneradas ao longo de turnos anteriores (PESSANHA, 2001).
80
aprofundamento de suas ações.
Ademais, a carência de um plano de cargos e salários para professores e
pedagogos é um fator de desestímulo ao ingresso e manutenção desses profissionais
em suas carreiras (SAMPAIO; MARIN, 2004; OLIVEIRA, 2004). Afinal, possibilidades de
incremento salarial, incentivo à formação continuada - extremamente importante,
dado que os cursos de graduação em Pedagogia e licenciaturas normalmente não
contam com disciplinas sobre a modalidade da EJA - seriam fatores de valorização
e motivação para a profissão docente.
Frente a esses elementos, cabe ao pedagogo investir em leituras, análise
crítica e organizar-se em espaços coletivos de reflexão sobre a profissão e os
elementos contemporâneos que a visitam. Afinal, somente a discussão e o
pensamento crítico poderão colaborar com a construção de outros modos de viver
a experiência docente de modo digno e não precarizado.
81
um levantamento de estudantes matriculados/frequentes (ARROYO, 2004). A partir
disso, sugere-se a comunicação, por telefone ou redes sociais, em que seja possível
sensibilizar esse estudante ao retorno e que seja possível conhecer suas motivações
para a evasão.
Seja qual for a maneira escolhida, a escuta dos sujeitos da EJA é fundamental
para evitar a evasão. Afinal, a modalidade é, antes de tudo, feita pelos estudantes
que precisam se reconhecer nos métodos e técnicas de ensino-aprendizagem e se
sentirem confortáveis para construir a prática pedagógica junto aos professores e
pedagogos. Desse modo evita-se a evasão e se constrói uma EJA que seja
acolhedora para seus públicos (ARROYO, 2004).
6.3 TERMINALIDADE
82
Com base em uma análise global dos avanços do estudante, os sujeitos
destacados executam a expedição da certificação, seguida por um histórico
detalhado em que as habilidades e competências do estudante sejam destacadas.
Sugere-se ainda que tal documentação aponte para um encaminhamento deste
estudante para espaços de educação profissional ou a inserção no mercado de
trabalho (ELIAS et al., 2012).
Esse é um tema delicado, pois envolve as expectativas do estudante com
deficiência e de sua família, que desejam o avanço deste ente no mundo do
trabalho e na independência das práticas em seu cotidiano EJA (SANTOS et al., 2020).
Por outra parte, mobiliza também a comunidade escolar, notadamente os
professores e pedagogos, que muitas vezes ainda encontram-se sem orientação
objetiva para o trato com os estudantes PCD na EJA, no que compete aos métodos
e técnicas a serem empregadas.
A noção de conclusão do processo formativo que está incluída na
terminalidade é uma forma de trazer sentidos para a etapa de formação da PCD na
EJA (SANTOS; BAZILATTO; MILANEZI, 2020). Quando pensada de forma atenta a
terminalidade tende a superar a noção de que o PCD pode “ir ficando” na EJA e
lhe aproxima da possibilidade de construir planos e perspectivas de futuro. Afinal, o
sujeito da EJA, não importam suas limitações, tem direito a construção de um futuro
e de projetos de vida mais autônomos e independentes.
Sabe-se que, conforme as condições de saúde de cada estudante, em
especial aqueles acometidos por questões de ordem mental e cognitiva, certos
conceitos e abstrações terão menos chances de uma aprendizagem significativa
(SANTOS; BAZILATTO; MILANEZI, 2020). Entretanto, somente o estudo sistemático das
condições de aprendizagem desses sujeitos e o diálogo entre professores, família e
profissionais habilitados para o AEE poderá gerar uma análise sincera sobre o
estudante PDC. Com isso, será possível construir um ambiente de análise crítica que
possibilite adaptações curriculares que viabilizem uma trajetória de aprendizagem
significativa para esse estudante.
Diante das tarefas expostas, pode o pedagogo e os professores forjarem
estímulos maiores ao campo de possibilidades que o aluno alcançar ao longo de seu
desenvolvimento educacional, por exemplo, o aperfeiçoamento da comunicação,
das operações matemáticas simples, conforme as especificidades do sujeito
(SANTOS; BAZILATTO; MILANEZI, 2020). O mais importante é construir um espaço de
83
acolhimento em que a possibilidade de desenvolvimento esteja presente e que
assim, se realize uma proposta pedagógica inclusiva e atenta a Pessoa com
Deficiência.
6.4 DESESCOLARIZAÇÃO
Qual o lugar do pedagogo no debate político recente sobre a EJA? Tendo informação e
suporte teórico-metodológico, o que cabe a esse profissional em seus espaços de estudo
e trabalho?
84
aplicada para pessoas maiores de 15 anos interessadas na conclusão de sua
formação no ensino fundamental e com o mínimo de 18 anos para o ensino médio
(CATELLI; GISI; SERRÃO, 2013).
Atualmente o exame está dividido em quatro provas objetivas, com as
temáticas de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Matemática e suas
Tecnologias, Ciências Humanas e suas Tecnologias e Ciências da Natureza e suas
Tecnologias, cada uma delas com 30 questões de múltipla escolha. Ao todo são 120
questões objetivas acompanhadas de uma redação que tem valor de 10 pontos.
Mediante a uma certa quantidade de acertos que deve somar 100 pontos, o
inscrito alcança a certificação no Ensino Fundamental ou no Ensino Médio,
dispensando o processo de escolarização. Ademais, previa-se que essa prova seria
uma maneira de avaliação da EJA no Brasil, avaliação que efetivamente não se
cumpriu (CATELLI; GISI; SERRÃO, 2013).
Nesse cenário, é importante interpretar essa discussão como um
comportamento de não responsabilização do Estado, em âmbito federal, uma vez
que “acionando esse modelo de avaliação ele se desobriga da oferta de ensino e
vagas na EJA” (CATELLI; GISI; SERRÃO, 2013, p. 275). Ademais, junto à opinião pública
a conquista do diploma fica facilitada, mas não se discute o processo de
desescolarização que está colocado de forma subliminar nesta política.
Logicamente esse processo não é analisado de forma passiva, ao contrário,
ele é parte constante das reclamações dos fóruns de EJA por todo o país e discutido
nos ambientes acadêmicos e de pesquisa em educação nas universidades e centros
de pesquisa. Sendo a principal questão desse debate: Afinal, qual será o futuro da
EJA e de seus sujeitos? A desescolarização ou a efetivação dos ganhos legislativos
da década de 1990 e dos anos 2000?
No tempo presente esses temas encontram-se em debate amplo e intenso
polarizando grupos divergentes (VENTURA; OLIVEIRA, 2020). De um lado, o grande
capital interessado em avançar sob a modalidade e, por outro, grupos de pesquisa,
militantes, pedagogos e comunidades escolares que lutam por uma EJA presencial,
formal e não mercantilizada. Este debate ainda não está concluído e ainda é um
campo de disputa de ideias e de projetos de educação e de futuro para a
modalidade.
85
FIXANDO O CONTEÚDO
a) III e V.
b) II, III, IV.
c) I, II, III.
d) II, IV, V.
e) I e V.
86
cultura, são os indivíduos que devem capitalizar recursos privados cujo rendimento
futuro será garantido pela sociedade. Essa privatização é um fenômeno que afeta,
tanto o sentido do saber, as instituições transmissoras dos valores e dos
conhecimentos quanto as próprias relações sociais” (LAVAL, 2004,p.11).
87
ineficientes para reduzi-la.
5. Diná é pedagoga em uma escola de EJA em Água Branca (PI) e tem notado que
os estudantes que são PCD na EJA não têm concluído seus estudos, o que gera
frustração para eles e suas famílias. A escola conta com suporte de profissionais
habilitados e com Atendimento Educacional Especializado (AEE) em sala de
recursos. Este questionamento tem mobilizado a comunidade escolar que, sem
discriminar, deve recorrer a:
a) Manutenção desses estudantes na escola, afinal, por serem PCD eles tem que ir a
escola somente para se distrair e socializar.
b) Expulsão esses alunos, afinal, sem um incentivo esses alunos não irão concluir sua
formação.
c) Estruturação de medidas de terminalidade específica com cada um desses
alunos. Essas ações devem ser o resultado de discussões com os profissionais da
comunidade escolar e acompanhadas da produção da documentação
específica com vistas à formação desses estudantes.
d) Um caminho que não seja a terminalidade, afinal, ela não está prescrita em
nenhuma legislação voltada para a EJA e na Política Nacional para Integração
da Pessoa com Deficiência.
e) Diminuição da participação desses estudantes, dado que sua presença tem
gerado questões desnecessárias à EJA que já vive assolada pela evasão e a
precarização docente.
88
OLIVEIRA, D. A. A reestruturação do trabalho docente: precarização e flexibilização.
Educ. Soc., Campinas, v. 25, n. 89, p. 1127-1144, 2004.
89
( )“O avanço das ações de fechamento de turmas e de escolas e, por
consequência, de contínua redução de vagas da modalidade” (VENTURA;
OLIVEIRA, 2020, p.955).
a) F - F - V - V.
b) V - V - V – F.
c) V - F - V - F.
d) F - V - V - V.
e) V - V - F – V.
90
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO
UNIDADE 01 UNIDADE 02
QUESTÃO 1 B QUESTÃO 1 C
QUESTÃO 2 D QUESTÃO 2 A
QUESTÃO 3 E QUESTÃO 3 B
QUESTÃO 4 C QUESTÃO 4 E
QUESTÃO 5 A QUESTÃO 5 D
QUESTÃO 6 D QUESTÃO 6 C
QUESTÃO 7 E QUESTÃO 7 B
QUESTÃO 8 C QUESTÃO 8 E
UNIDADE 03 UNIDADE 04
QUESTÃO 1 E QUESTÃO 1 A
QUESTÃO 2 C QUESTÃO 2 D
QUESTÃO 3 A QUESTÃO 3 B
QUESTÃO 4 B QUESTÃO 4 C
QUESTÃO 5 C QUESTÃO 5 E
QUESTÃO 6 E QUESTÃO 6 C
QUESTÃO 7 D QUESTÃO 7 A
QUESTÃO 8 A QUESTÃO 8 E
UNIDADE 05 UNIDADE 06
QUESTÃO 1 E QUESTÃO 1 C
QUESTÃO 2 D QUESTÃO 2 D
QUESTÃO 3 C QUESTÃO 3 E
QUESTÃO 4 B QUESTÃO 4 A
QUESTÃO 5 A QUESTÃO 5 C
QUESTÃO 6 D QUESTÃO 6 A
QUESTÃO 7 B QUESTÃO 7 B
QUESTÃO 8 E QUESTÃO 8 E
91
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília, DF: Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, 1996.
BRASIL. Parecer n.º 11, de 10 de maio de 2000. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 2000.
92
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CATELLI, R.; GISI, B.; SERRÃO, L. F. S. Encceja: cenário de disputas na EJA. Revista
Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, DF, v. 94, n. 238, p. 721-744, set-dez 2013.
Disponível em: https://bit.ly/3wDr7oU. Acesso em: 15 fev. 2021.
93
HADDAD, S. Novos Caminhos em Educação de Jovens e Adultos – EJA. São Paulo:
Global, 2007.
94
OLIVEIRA, I. B. D. As interfaces educação popular e EJA: exigências de formação para
a prática com esses grupos sociais. Educação, Porto Alegre, v. 33, n. 02, p. 104-110,
maio-ago 2010. Disponível em: https://bit.ly/2TDezz2. Acesso em: 01 abr. 2021.
PINTO, U. D. A. Um conceito amplo de pedagogia. Múltiplas leituras, [S. l.], v. 01, n. 01,
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2021.
95
SERRA, D. C.; FURTADO, E. D. P. Os idosos na EJA: uma política de educação inclusiva.
Olhar de Professor, Ponta Grossa, v. 19, n. 02, p. 207-221, mai-ago 2013. Disponível em:
https://bit.ly/3q60kPe. Acesso em: 20 abr. 2021.
96