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Resumo: O uso das Tecnologias Digitais pode ser um diferencial para o ensino, principalmente
para o de Ciências, visto a interação e possibilidades de utilização deste instrumento em sala de
aula. Dessa forma, este artigo visa identificar as percepções e desafios para o uso das tecnologias
digitais no ensino de Ciências, principalmente na Educação Básica pública brasileira, a partir da
visão de estudantes de um curso de pós-graduação stricto sensu na área de Ensino de uma
universidade pública do norte do Estado do Paraná, Brasil. O encaminhamento metodológico
utilizado foi o da pesquisa qualitativa, e como instrumento de coleta de dados utilizou-se um
questionário semiestruturado e para a análise dos resultados, a Análise Textual Discursiva. Como
resultado identificou-se que a utilização dos recursos pode ser um diferencial para o ensino de
Ciências, porém, essa utilização ainda é um desafio nas escolas públicas no Brasil, na visão dos
participantes desta pesquisa, em função da capacitação dos professores e da disponibilidade e
manutenção dos equipamentos.
Palavras-chave: tecnologias digitais, ensino de ciências, análise textual discursiva.
Abstract: The use of Digital Technologies may be a differential for teaching, especially for
Science´s teaching, due to the interaction and possibilities of the using of this digital instrument
in the classroom. Thus, this paper aims to identify the perceptions and possibilities of the use of
digital technologies for teaching science, especially in the Free Basic Brazilian Education, from
the view of students of a Master's level postgraduate course in the area of Teaching of a public
university in the north of the State of Paraná, Brazil. The methodological guidance used was the
qualitative research, and as a data collection instrument was used a semi-structured
questionnaire and for the analysis of the results, Discursive Textual Analysis. As preliminary
results, it was identified that the use of resources may be a differential for the teaching of
Sciences, however, this use is still a defiance in public schools in Brazil, in the view of the
participants of this research, due to the training of teachers and the availability and maintenance
of equipment.
Keywords: digital technologies, science teaching, discursive textual analysis.
joaocoelho@uenp.edu.br
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Ensino de Ciências e Tecnologia em Revista Vol. 9, n.2. mai./ago. 2019.
1. Introdução
O uso das tecnologias digitais para o processo de ensino e de aprendizagem pode ser
um instrumento auxiliador no âmbito escolar. Essa visão também é apreciada por Kenski (2003,
p.4), que aponta que:
[...] as tecnologias digitais oferecem novos desafios. As novas possibilidades de acesso à
informação, interação e de comunicação, proporcionadas pelos computadores (e todos os
seus periféricos, as redes virtuais e todas as mídias), dão origem a novas formas de
aprendizagem. São comportamentos, valores e atitudes requeridas socialmente neste novo
estágio de desenvolvimento da sociedade.
O uso das tecnologias nos processos de ensino e aprendizagem de Ciências tem sido
bastante valorizado nos últimos anos, em função da facilidade que a tecnologia, principalmente
a digital, proporciona, seja por meio de vídeos, softwares, simulações e adequações midiáticas
e didáticas que podem ser explorados pelo professor no contexto educacional. Tal uso relaciona-
se ao desenvolvimento de procedimentos midiáticos alternativos em sala de aula e inovação na
formação e utilização de novas ferramentas tecnológicas educacionais no contexto educacional.
Costa e Oliveira (2012) dissertam que:
A inovação é a implementação sistemática de uma mudança com vista a atingir-se
determinados resultados. Enquanto a mudança é uma modificação de procedimentos, a
condução de novas práticas e que pode ter as mais diversas origens, a inovação deve ser a
implementação de mudanças que resultam da crença do inovador de que essas mudanças
serão benéficas. Assim, a inovação deve iniciar-se com uma mudança interior de crença do
interveniente implementador da inovação. Por outro lado, a inovação não pode ser
implementada ao acaso, sem fundamento, esta tem o objetivo conciso de conseguir
melhores resultados para uma determinada situação (COSTA; OLIVEIRA, 2012, p. 1768).
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2. Aporte Teórico
O ensino de Ciências tem por objetivo possibilitar a compreensão do mundo natural nas
relações sociais, com vistas a garantir ao estudante a análise concreta da realidade por meio da
apropriação do conhecimento científico. É preciso considerar o processo histórico no qual se dá
a produção deste conhecimento, pois assim se entende o como e o porquê de sua produção
(BASTOS, 1998).
O ensino de Ciências Naturais, portanto, possibilitará a compreensão da natureza e das
relações entre as ciências, a tecnologia e a sociedade; da visão científica do mundo, da sua
criatividade; da sua autonomia intelectual e da sua preparação para o trabalho e para o exercício
de cidadania (GERALDO, 2009).
O ensino de Ciências pode ser articulado ao uso de: (1) recursos pedagógicos-
tecnológicos que enriquecem a prática docente: livro didático, textos de jornal e revistas
científicas, figuras, revista em quadrinhos, música, mapa (geográficos, sistemas biológicos, entre
outros), globo, modelo didático, microscópio, lupa, jogo, telescópio, televisor, computador,
retroprojetor, entre outros; (2) recursos instrucionais, como organogramas, mapas conceituais,
gráficos, tabelas e infográficos, entre outros; (3) espaços de pertinência pedagógica, dentre eles,
feiras, museus, laboratórios, exposições de ciência, seminários e debates (PARANÁ, 2008).
Evidencia-se que o ensino mediado pelas tecnologias digitais pode ser um diferencial a
ser utilizado em sala de aula, visto possibilitar e integrar ações em um contexto educacional,
pela sua diversidade de utilização. Porém, segundo Bastos et al. (2010, p. 295) a tecnologia “[...]
não se torna educacional devido a sua utilização, como define o legislador, mas, sim, por sua
intencionalidade ainda no âmbito de sua criação (modelagem, como conceituam os
tecnólogos)”.
Coelho Neto et al. (2011, p.989) também definem que:
O uso dos recursos midiáticos, tais como sítios e softwares educacionais, como meio
auxiliador no processo de ensino e de aprendizagem é bastante estimulante, tendo que ser
planejado e direcionado para o seu bom uso. Entendê-los e dominá-los é o primeiro passo
para utilizá-los com sucesso. Além de que, conhecendo-os, pode-se explorá-los em todas as
suas potencialidades, o que implica na necessidade de uma formação efetiva do professor
com tais recursos.
Portanto, o uso das tecnologias digitais em sala de aula deve ser planejado, estruturado
e adaptado ao contexto educacional a ser aplicado, e não somente utilizar o instrumento como
mero recurso adaptativo e repetidor de conteúdos em sala de aula. Matinho e Pombo (2009, p.
528) afirmam que:
As tecnologias de informação e de comunicação (TIC) podem constituir um elemento
valorizador das práticas pedagógicas, já que acrescentam, em termos de acesso à
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Além do planejamento e adaptação para o contexto educacional, Lima (2016) faz uma
colocação para o uso de materiais e formação contínua para o ensino de Química, porém, em
nossa opinião se enquadra em qualquer tipo de ensino, visto que a melhoria na qualidade do
ensino deve passar:
[..] por uma adequada formação inicial dos professores, aliada a uma formação contínua e
permanente, bem como substanciais melhorias nas condições de trabalho e de
remuneração. A tudo isso, somam-se também os recursos pedagógicos alternativos e
variados, que devem ser postos à disposição dos professores e dos sujeitos mais implicados
em todo esse processo: os alunos (LIMA, 2016, p.3).
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Frente às alterações e possibilidades que vem emergindo no ensino com o decorrer dos
anos, Machado e Scheffer (2012) apontam a questão da diversidade que as TIC podem
evidenciar nos mais diferentes moldes da sociedade, como pode ser observado que:
O uso das tecnologias de informação está modificando o modelo da atual sociedade e, em
particular, as escolas. Novas formas de organização, de produção de bens, de comércio, de
lazer, de ensino e de aprendizagem estão surgindo. As diversidades tanto culturais e sociais
quanto econômicas estão evidentes e as exigências para formar cidadãos capazes de atuar
criticamente na sociedade também se modificaram (MACHADO; SCHEFFER, 2012, p.1).
3. Encaminhamento Metodológico
No desenvolvimento desta pesquisa, utilizou-se a pesquisa qualitativa, pois conforme
Flick (2009, p. 130):
O processo da pesquisa qualitativa pode ser descrito como uma sequência de decisões. Ao
iniciar uma pesquisa e impulsionar seu projeto, o pesquisador pode optar por inúmeras
alternativas em vários pontos ao longo do processo – das questões de coleta e de análise
dos dados à apresentação dos resultados.
Para a coleta das informações mais detalhadas acerca do cenário estudado, visando
obter o máximo de informações em curto período, optou-se pela utilização de um questionário
de apoio, desenvolvido no Google Docs, conforme Tabela 1, e encaminhado aos participantes
da pesquisa. Esse meio de coleta de dados possibilitou vislumbrar, de forma breve e concisa, o
objetivo geral deste trabalho que é: identificar as percepções e desafios para o uso das
tecnologias digitais no ensino de Ciências, principalmente na Educação Básica pública no Brasil,
a partir da visão de estudantes de um curso de pós-graduação stricto sensu, Mestrado, na área
de Ensino, de uma universidade pública do norte do Estado do Paraná, Brasil.
Tabela 1 – Questionário submetido
Número Questão
Questão
1 Dados do Participante: Nome
2 Dados do Participante: Idade
3 Dados Acadêmicos: Graduação (se houver mais do que 1, colocar todas)
4 Dados Acadêmicos: Ano de Término
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CATEGORIA UNIDADES
FERRAMENTAS
ENSINO PERCEPÇÃO
DESAFIOS
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atualidade, visto que as crianças estão inseridas no mundo digital desde cedo. Mencionam,
também, que a utilização de diferentes recursos digitais, como vídeos e pesquisas na internet,
pode tornar a aprendizagem mais efetiva.
Nesse contexto, os recursos digitais educacionais têm se ampliado cada vez mais, haja
vista a inserção das novas tecnologias. Há que se considerar que os estudantes da Educação
Básica têm acesso a estas antes mesmo da entrada na instituição escola. No entanto, não as
utilizam como fonte de conhecimento, e sim de entretenimento. Desta forma, cabe ao professor
utilizar tais instrumentos a favor da aprendizagem do estudante, haja vista que não há relevância
no uso da tecnologia se esta não contribuir no âmbito educacional; o que acaba caracterizando-
se, também, como um desafio.
Essa ampliação também pode ser vislumbrada por Dias e Cavalcante (2017, p. 163) ao
mencionarem que:
O ambiente digital surge como uma nova perspectiva no contexto escolar, abrindo espaço
para uma maior interação humana mediada pelos gêneros eletrônicos, através da
interdisciplinaridade. A linguagem universal e compartilhada no mundo inteiro, transforma
o aprendizado do aluno, inserindo-o como sujeito social no contexto educacional e na
tecnologia simultaneamente.
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tecnologias em sala de aula trouxe consigo grandes desafios para o professor, que podem
entender o seu uso como um obstáculo.
Logo, a unidade “Desafios” possui dois desdobramentos: (1) estrutura, que é da
responsabilidade do mantenedor e (2) formação docente; esta por sua vez, não só da
competência do mantenedor, mas também de cada um dos envolvidos. Há que se superar
dificuldades pessoais para que o uso das tecnologias seja incorporado na prática pedagógica
docente.
Generoso et al. (2013, p. 238) mencionam que há desafios em sala de aula, pois:
[...] ao utilizar as TDIC em qualquer aspecto pedagógico, faz-se necessário que os
professores conheçam de fato os instrumentos, pois no seu planejamento estes
podem organizar-se de modo a promover ambientes interativos, dinâmicos,
problematizadores e significativos, fazendo a diferença no processo de formação
em qualquer área do conhecimento.
Cabe ressaltar que, mesmo os participantes sendo estudantes de um Programa de Pós-
Graduação em Ensino, nível de Mestrado, os quais acredita-se fazerem uso de tecnologias
digitais com frequência, estes apontaram apenas o computador, datashow, TV, vídeos, celular
e redes sociais como ferramentas utilizadas, quando já é sabido da existência de softwares
educacionais, jogos eletrônicos educacionais, objetos digitais de aprendizagem, vários destes
disponíveis gratuitamente na internet. Ainda, apenas um participante (M1) mencionou o uso do
microscópio acoplado a TV. Os apontamentos indicam que a inserção das novas tecnologias
digitais ainda dá-se de forma restrita, sendo a oferta de cursos de capacitação continuada ou
em serviço uma das possibilidades para a ampliação desse uso.
Ao considerar os excertos dos envolvidos, evidenciou-se que estes não recorrem aos
estudos desenvolvidos na área no que tange à utilização das TIC no processo de ensino. O livro
didático é, muitas vezes, o único instrumento utilizado em sala. E, ainda, utilizado parcialmente,
já que os experimentos propostos nem sempre são realizados. Assim, mesmo com grande
arcabouço teórico produzido nos últimos anos, o docente desenvolve sua prática pedagógica de
forma restrita, desenvolvida essencialmente em aulas expositivas.
Há que se considerar que a oferta de programas Stricto Sensu, na área de Ensino, por
sua característica translacional, pode contribuir – por meio de seus produtos e processos
educativos – para a melhoria do ensino ofertado na rede pública. Neste aspecto, as políticas
públicas voltadas para a formação continuada, principalmente, devem ser priorizadas.
Segundo o documento de Área de Ensino, divulgado pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), [...] é característica específica – e das
mais importantes – da Área, o foco na integração entre conteúdo disciplinar e conhecimento
pedagógico ou o que se denomina “conhecimento pedagógico do conteúdo” (BRASIL, 2013).
Assim, reitera-se o apresentado por Matinho e Pombo (2009) de que as tecnologias
podem valorizar a prática pedagógica, permitindo acesso à informação e flexibilização da
aprendizagem, associando diferentes representações desde textos, imagens, vídeo e som. No
entanto, uma atenção diferenciada deve ser dada a formação docente inicial e, sobretudo,
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continuada, para o uso dessas tecnologias, que deve ser planejado, visando a melhoria da
qualidade social do ensino.
5. Considerações Finais
Considerando os excertos dos participantes, bem como o objetivo do presente estudo,
foram identificados quais as são as percepções e desafios para o uso das tecnologias digitais no
ensino de Ciências, principalmente na Educação Básica gratuita no Brasil, a partir da visão de
mestrandos de um curso de pós-graduação stricto sensu na área de Ensino, de uma universidade
pública do norte do Estado do Paraná, Brasil.
Neste contexto, verificou-se por meio dos excertos aqui expostos, que o uso das
tecnologias da informação e comunicação para o ensino de Ciências pode ser um diferencial em
sala de aula, e como desafios para a escola pública brasileira, pelo menos para o público
analisado, há ainda vários aspectos que podem dificultar o uso desses recursos, como a
capacitação dos professores, disponibilidade e manutenção dos equipamentos.
Além do objetivo geral vislumbrado, os objetivos específicos delineados a fim de
identificar quais são as ferramentas e instrumentos tecnológicos utilizados, identificou-se que a
TV, vídeos, equipamentos como datashow e redes sociais são as ferramentas mais utilizadas;
porém, há outros tipos de recursos que também podem ser utilizados, tais como: softwares
educacionais, jogos eletrônicos educacionais, objetos digitais de aprendizagem, estando vários
destes disponíveis gratuitamente na internet, que podem ser uma poderosa ferramenta
auxiliadora no processo de ensino e de aprendizagem, principalmente para o ensino de Ciências,
pelo trabalho com os conteúdos de forma mais dinâmica e interativa.
Além disso, percebeu-se que, também, há vários desafios que as escolas, principalmente
as públicas brasileiras precisam enfrentar como: falta de domínio do uso das tecnologias e de
capacitação dos professores, disponibilidade dos equipamentos ou falta de manutenção destes,
as condições de trabalho e a disponibilidade do professor em mudar suas estratégias de ensino.
Esses são fatores que ainda precisam ser superados para atender as possíveis demandas
educacionais para o ensino na contemporaneidade, vislumbrando assim, possibilidades
concretas para a utilização e formação para o uso das tecnologias digitais no ensino público
brasileiro.
Como trabalho futuro, pretende-se ampliar esta pesquisa com professores da rede
estadual de ensino na cidade foco de pesquisa, a fim de mapear quais são as tecnologias da
informação e comunicação que estão sendo utilizadas nas aulas de Ciências e quais são os meios
de capacitação que estão sendo oferecidos.
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