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ELISANGELA PAVANELLO
(organizadoras)
Vol. 3
2020
Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho”
Realização
PROGRAD
Pró-Reitoria de Graduação
Unesp – Reitoria - São Paulo
Rua Quirino de Andrade, 215 - Centro
São Paulo/SP - CEP 01049-010
Tel. PABX (11) 5627-0233
Reitor
Sandro Roberto Valentini
Pró-reitor de Planejamento Estratégico e Gestão
Leonardo Theodoro Bull
Pró-Reitora de Extensão Universitária
Cleopatra da Silva Planeta
Pró-Reitora de Graduação
Gladis Massini-Cagliari
Pró-reitor de Pós-graduação
Telma Teresinha Berchielli
Pró-Reitora de Pesquisa
Carlos Frederico de Oliveira Graeff
Chefe de Gabinete
Carlos Eduardo Vergani
Secretário Geral
Arnaldo Cortina
Chefe da Assessoria de Comunicação e Imprensa
Fabio Mazzitelli de Almeida
ISBN 978-65-5954-047-1
Está disponível online:
https://www2.unesp.br/portal#!/prograd/programas/nucleo-
de-ensino/apresentacao/
Inclui bibliografia
ORGANIZAÇÃO DO VOLUME
Rosa Monteiro Paulo (Universidade Estadual Paulista - SP)
Elisangela Pavanelo (Universidade Estadual Paulista - SP)
CONSELHO EDITORIAL
Aguinaldo Robinson de Souza (Universidade Estadual Paulista - SP)
Andreia Pereira Mendonça (Instituto Federal do Amazonas - AM)
Idalise Bernardo Bagé (Instituto Federal de São Paulo - SP)
Ketilin Mayra Pedro (Centro Universitário Sagrado Coração - SP)
Maria Ednéia Martins Salandim (Universidade Estadual Paulista - SP)
Maria Teresa Zampieri (Universidade Federal de São Carlos - SP)
Miliam Juliana Alves Ferreira (Secretaria de Estado da Educação de São Paulo - SP)
Nelem Orlovski (Secretaria Municipal de Educação de Curitiba - PR)
Raissa Samara Sampaio (Instituto São José de Educação - SP)
Tiago Giorgetti Chinellato (Faculdade de Administração e Arte de Limeira - SP).
Virgínia Cardia Cardoso (Universidade Federal do ABC - SP)
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Gustavo da Silva Andrade (Universidade Estadual Paulista -SP)
Claudia Inácio de Araujo (Universidade Estadual Paulista - SP)
EQUIPE DE REVISÃO
Gabriel Henrique Galvão Passetti (Universidade Estadual Paulista - SP)
Letícia de Almeida Barbosa Santos (Universidade Estadual Paulista - SP)
Lua Camilo Nogueira (Universidade Estadual Paulista - SP)
EQUIPE DE NORMATIZAÇÃO
Camila Elídia Messias dos Santos (Universidade Estadual Paulista - SP)
Lurian Dionízio Mendonça (Universidade Estadual Paulista - SP)
Maria Beatriz Campos de Lara B. Marins Peixoto (Universidade Estadual Paulista - SP)
Marina Ramos Coiado (Universidade Estadual Paulista - SP)
Verônica Reis Lima (Universidade Estadual Paulista - SP)
Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
SUMÁRIO
PREFÁCIO
Maria Aparecida Viggiani Bicudo
APRESENTAÇÃO
Rosa Monteiro Paulo e Elisangela Pavanelo
16
ALFABETIZAÇÃO EM TEMPOS DIGITAIS
Dagoberto Buim Arena
Ellen Felício dos Santos
Gusmão e Lima (2017, p. 152) afirmam que para pensar a educação é inevitável
nos voltarmos para a “tríade fundamental ‘eu’, ‘outro’ e ‘mundo’” que, muitas vezes,
escapa ao discurso científico, mas sem o que não somos capazes de compreender a
complexidade do processo educativo. Iniciamos a apresentação deste volume da
coletânea dos Núcleos de Ensino visando dar destaque ao objetivo desse Programa da
Unesp.
O Programa Núcleos de Ensino da Unesp potencializa esse pensar a educação ao
dar a possibilidade de estabelecer uma parceria entre a Universidade e a Escola de
Educação Básica para o desenvolvimento de ações que integrem os três grandes pilares
da Universidade: ensino, pesquisa e extensão.
Em decorrência disso, entendemos que a tríade mencionada por Gusmão e Lima
(2017) - eu, outro, mundo - está sempre presente nos projetos que são desenvolvidos no
âmbito desse Programa, na pessoa do coordenador do projeto, dos professores
colaboradores e bolsistas que, junto a ele, pensam o ensino. No entanto, esse pensar não
se fecha na subjetividade dessas pessoas que, como membros da comunidade científica,
tivessem a pretensão de levar propostas à Educação Básica. É um pensar que objetiva
abrir-se ao diálogo com o outro - professor da Educação Básica, equipe gestora, alunos
do ensino fundamental e médio - entendendo expectativas e possibilidades de ensino que
potencializam o conhecimento. Logo, o eu que se volta para o outro, deixa e esfera
subjetiva e abre-se à intersubjetividade, no mundo.
Mundo das ações diárias que se concretizam na experiência vivida de pessoas
que, juntas, pensam a educação, analisando práticas pedagógicas que oportunizem o
conhecimento e tenham significado para o aluno. Assim, os textos que compõem este
volume da coletânea, mais do que expor técnicas educativas, volta-se para um
humanismo da prática pedagógica no qual as tecnologias digitais estão permeando as
ações de modo a potencializar a educação, entendida como “uma atualização do próprio
ser do homem no mundo com o outro” (GUSMÃO; LIMA, 2017, p. 156).
De modo a dar especificidade às ações desenvolvidas com tecnologias digitais
explícitas nos sete textos que compõem este volume, os organizamos em duas seções:
na primeira, composta por quatro artigos, destacam-se os desafios e as potencialidades
das tecnologias digitais nos anos iniciais, focando temas relacionados à alfabetização
de crianças, à aprendizagem de língua estrangeira, aos modos de trabalhar conteúdos
curriculares com tecnologias e o desenvolvimento de habilidades em alunos com
deficiência intelectual.
O primeiro artigo desta seção, Alfabetização em tempos digitais, considera as
mudanças provocadas pela era digital e discute a alfabetização de crianças por meio do
aplicativo WhatsApp. Na análise da experiência vivida com as crianças enfatizam o
aspecto visual das letras mais do que o sonoro, pois são consideradas caracteres
presentes no mundo tipográfico e digital em que a escrita ganha autonomia.
O segundo texto, Objetos de Aprendizagem: novas possibilidades de trabalhar
conteúdos curriculares, relata uma experiência vivida junto a professores de uma escola
pública paulista, que se dispuseram a entender o que são Objetos de Aprendizagem e
analisar suas potencialidades para trabalhar com alunos dos anos iniciais. No decorrer de
dois anos do projeto puderam trabalhar com os alunos, por meio de Objetos de
Aprendizagem, por exemplo, contagem e operações numéricas, produção de texto,
alimentação saudável, sistema respiratório.
O terceiro texto desta seção, Rede de Apoio a professores de Línguas
estrangeiras: uma plataforma virtual para disponibilizar insumos didáticos, expõe o projeto
desenvolvido que culmina na criação de uma plataforma para o professor de língua
estrangeira na qual se divulgam conteúdos digitais - objetos de aprendizagem - para o
ensino de inglês e alemão, além da sugestão de planos de aula, indicação de filmes,
música, sites e programas variados.
O último texto desta seção, O uso da informática pelos estudantes com deficiência
intelectual, expõe o trabalho desenvolvido em um Centro de Educação Especial no qual
procurou-se favorecer a inclusão digital dos alunos desenvolvendo atividades para a
melhora das habilidades sensoriais, funcionais, viso-motoras e espaciais como apoio às
atividades de sala de aula.
Na segunda seção, os três textos que a compõem, enfatizam a presença das
tecnologias digitais no ensino de conteúdos curriculares específicos, como
matemática, química e física.
O texto A aprendizagem geométrica mediada por tecnologias digitais: análise da
experiência vivida apresenta e discute o modo pelo qual alunos do sexto ano do ensino
fundamental se envolvem em atividades investigativas e, por meio do software GeoGebra,
exploram conteúdos de geometria plana, como área de triângulos e quadriláteros e de
geometria espacial, estabelecendo relação entre faces, vértices e aresta de um poliedro e
construindo a ideia de volume de um prisma.
O segundo texto, Realidade Virtual e holografia no ensino de Nanotecnologia:
pesquisa no Núcleo de Ensino da Unesp realizada com alunos da Educação Básica, os
autores descrevem uma visita de alunos do ensino médio de uma escola da rede pública
estadual a um Instituto Federal que promoveu diversas atividades utilizando aplicativos de
realidade virtual e de realidade aumentada para investigar conceitos de ciências, como a
nanociência. Relatam o modo pelo qual os alunos foram capazes de construir pirâmides
holográficas 3D e representar as nanoestruturas.
O último texto, Modelos Mentais sobre estados físicos construídos com o auxílio de
simulações computacionais, relata a experiência com um simulador computacional que
apresenta os estados físicos da matéria, em atividades desenvolvidas com alunos do
terceiro ano do ensino médio. Conclui que, pelo simulador, foi possível aos alunos
visualizar o comportamento de diferentes substâncias, em nível atômico molecular, no
estado sólido, líquido e gasoso.
Com esses artigos que compõem o Volume 3, Tecnologias Digitais da
Informação e Comunicação na Educação, convidamos o leitor a pensar o sentido das
tecnologias para o ensino e a aprendizagem, considerando-se que
REFERÊNCIAS
GUSMÃO, José Lucas Omena; LIMA, Wlater Matias. Pedagogia da “presença”: uma
aproximação da “analítica existencial” de Martin Heidegger e suas consequências no
processo educativo. Refilo. Revista Digital de Ensino de Filosofia. Santa Maria, v. 3, n. 2,
2017, p. 150-165
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INTRODUÇÃO
Este artigo tem seu nascimento marcado em 2019, ano em que as políticas
educacionais sofrem alterações decorrentes das mudanças no cenário político com a
eleição de um governo que assume posições conservadoras e impositivas, notadamente
na alfabetização, com a recomendação de métodos ultraconservadores. Este artigo,
todavia, almeja se projetar para muito além dessas amarras institucionais e políticas para
dialogar com outras pesquisas, com visões mais alargadas, mais oxigenadas, com um
olhar dirigido para um futuro pleno de liberdade.
Por essa razão, apoia-se em três princípios: (1) A linguagem escrita não mantém
intocado, nos tempos que correm, o seu princípio alfabético de origem. Não é, portanto,
exclusivamente alfabética. (2) O uso da linguagem escrita nos dispositivos e aplicativos
digitais faz dela um instrumento cultural híbrido, a afasta do princípio alfabético e a lança
nos braços de princípios figurativos, tipográficos, semióticos, de ressignificação dos
espaços brancos e das experiências visuais em que, mais do que as letras, são os
caracteres as unidades de composição das palavras e dos enunciados. (3) A linguagem
escrita luta por ganhar autonomia em relação à linguagem oral desde o processo de
alfabetização. Com isso, princípios dogmáticos como os de necessidade de
desenvolvimento da consciência fonológica para a alfabetização resvalam para a periferia
das discussões.
Orientado por esses princípios, o artigo expõe inicialmente o contexto de realização
de geração de dados de um trabalho de extensão e de pesquisa; em seguida, anuncia
autores e estudos de referência para o desenvolvimento do trabalho de geração e de
análise dos dados; por fim, esboça apontamentos conclusivos a respeito das
possibilidades de alfabetização para as crianças nascidas nos últimos cinco anos e as
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que vão nascer nos próximos cinco. Não é, portanto, um artigo atemporal ou geográfica e
politicamente desenraizado.
Se formos analisar minuciosamente a história da escrita e sua evolução, muito
provavelmente, nunca chegaremos a um fim. O caminho percorrido pela humanidade, no
que se refere à escrita, é cheio de ondulações produzidas conforme a necessidade
histórica, e, ao mesmo tempo, esse caminho que influencia essas ondulações é por ela
influenciado. Pode-se afirmar que, historicamente, a escrita, em seu percurso longo, está
sempre à procura de inusitados suportes, gestos, instrumentos e gêneros.
Na atualidade, a tela dos dispositivos digitais arranhou a hegemonia de outros
suportes, como o papel e outras velhas telas, como a do cinema e a da televisão, e
também modificou o mundo da comunicação e do diálogo instantâneo. Todos os suportes
inventados pelo homem continuam a desempenhar seu papel constitutivo na objetivação
dos enunciados em uma sociedade dialógica. A ideia nascente agora, todavia, é a de que
o suporte porta sentidos, em vez de ser considerado apenas um objeto passivo, simples
receptor de inscrições. Quer dizer, o suporte e os seus espaços, reconfigurados e
recortados, também significam. Em suma, todos os caracteres significam. As letras já
tinham perdido a exclusividade como unidades únicas no ato de escrever e de ler, mas,
no mundo digital da linguagem escrita, elas passam a ocupar destacada função visual no
conjunto já existente e mutante de caracteres. É por esse universo, abundantemente
visual, que transitam crianças curiosas.
Ainda que, na escola, as crianças demonstrem certa apatia em relação às
atividades de leitura e escrita, quando inseridas no mundo da cultura escrita, elas sentem
a necessidade de aprender a escrever e a ler. Nesse sentido, são orientadas na busca por
recursos que as ajudem a compreender a linguagem escrita e os seus usos nestes
tempos desconcertantes.
Crianças pequenas (ainda na educação infantil), que não se comunicam
convencionalmente através da escrita, percebem os diálogos se manifestando por meio
das telas de smartphones nas mãos dos adultos e quando têm essas telas em suas
mãos, e os teclados para escrita acionados, escrevem, a seu modo, mensagens para
avós, amiguinhos, primos etc., misturam letras, números e emojis, demonstrando que
compreendem que os caracteres disponíveis, quando unidos de determinada forma, se
transformam na mensagem que comunicará algo ao interlocutor escolhido.
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ASPECTOS METODOLÓGICOS
homem intervir no mundo. (b) Se a linguagem escrita tenta ser autônoma em relação à
oralidade, sua unidade poderia igualmente ser autônoma e ser definida em seu próprio
campo, isto é, o caractere pertence ao mundo do escrito e, deste modo, o grafema pode
ter autonomia em relação ao fonema. O grafema se remete, por isso, não ao fonema do
oral, mas à própria escrita. (c) Em lugar de pensar em grafema, podemos pensar como o
professor francês Freinet (2001) pensava a tipografia em sala de aula. Com Freinet, os
alunos usavam a imprensa, montando as páginas a serem impressas, escolhendo os
caracteres visuais e os colocando no componedor, porque a impressão é “um dos
trabalhos comuns que constituem, por assim dizer, o centro da vida de nossa escola: o
texto impresso.” (FREINET, 2001, p. 85). As crianças de Freinet manipulavam caracteres.
Em Marília, as unidades de escrita nos smartphones substituem a imprensa e os
caracteres virtuais repousavam silenciosos nos teclados, também virtuais, à espera da
escolha pelas crianças. Elas poderiam constituir, com a ajuda dos teclados e da tela, uma
espécie de escrita tipográfica. (d) Os caracteres não são compostos unicamente por
letras, mas por um conjunto de sinais utilizados para inscrever a escrita nos suportes.
É importante salientar que os diálogos estabelecidos pelos interlocutores por meio
do aplicativo durante a realização do projeto não seguem um critério em relação aos
assuntos abordados. Ou seja, as crianças falam sobre os assuntos que interessam a elas
naquele momento, espaço e condições específicas. Busca-se, por esse motivo, criar com
elas a necessidade de escrever e de enunciar o que pensam, sentem e desejam.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
[...] a letra dos antigos é uma noção complexa – razão pela qual ela é,
aliás, um modelo privilegiado de reflexão sobre a combinatória, a memória,
a representação, a encarnação... É certo que só raras vezes ela é
concebida como um simples desenho que se poderia comparar com um
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som previamente definido fora dela. Mas isso acontece porque vemos nela
antes uma entidade de duas faces, o menor constituinte do significante
articulado e suscetível de ter um sentido, articulação essa que se realiza
igualmente na voz e na linha da escrita. Enquanto desenho, a letra é uma
marca (character, typos) na qual o elemento se revela e se torna
concebível: nunca será demais acentuar a que ponto o conhecimento em
geral, para os antigos, está ligado à visualização.
Mas em latim, pelo menos até o século II de nossa era, a separação das
palavras escritas era um uso, se não universal, muito difundido. Os latinos
percebiam, por essa razão, uma espécie de ‘fisionomia’ da palavra, que
não queriam alterar em função de suas modificações orais, ocasionadas
pela vizinhança.
É preciso destacar aqui a afirmação de que “o fato de ver a letra contribuía muito”
para ser percebida e portar sentido. É essa perspectiva desenvolvida no interior da
civilização, certamente não hegemônica, que pode sustentar a combinação de caracteres
nos aplicativos e a criação de sentidos. A criança que não ouve (a surda) se alfabetiza
sem recorrer à relação entre elementos sonoros e gráficos. Ela se apega à visibilidade
dos caracteres e à combinação gráfica relacionada com os conceitos criados na
linguagem sinalizada, próprias de sua comunidade. A ortografia para essa criança, como
para as crianças que ouvem, guarda importância porque porta sentidos.
Não somente Desbordes (1995), como também Sampson (1996), revelam a
importância da estabilidade da ortografia para a escrita e para leitura nos tempos
medievais, seguramente a mesma importância aplicada aos dias de hoje, mas dificultada
pela insistência na alfabetização pelo princípio alfabético que relega a ortografia a um
papel secundário e posterior ao domínio do princípio alfabético.
Sampson (1996) vê a escrita inglesa como logográfica 1, ao invés de alfabética. É
nessa perspectiva que seria possível entender a escrita construída silenciosamente pelas
crianças diante dos teclados visuais dos celulares. Ele contesta o domínio do princípio
fonográfico, vinculado ao alfabético no inglês nos tempos de hoje, porque vê a figura, o
logo, como um princípio nessa arena de disputa, desde os latinos, como via Desbordes
(1995, p.38):
Mas podemos vislumbrar outro tipo de método na aparente insanidade da
ortografia inglesa, se evitarmos a obsessão pelas origens fonográficas do
alfabeto latino e pensarmos nela como, no mínimo, parcialmente
logográfica. O fato de as letras latinas originalmente representarem sons
segmentais em princípio não constituiria qualquer empecilho para o
estabelecimento de uma escrita puramente logográfica que as
empregasse.
Para concluir este tópico teórico, convocamos Sampson (1996) para se manifestar
a respeito da natureza da língua alfabética, no caso a inglesa, na qual as palavras
poderiam ser vistas do mesmo modo como os japoneses veem e compreendem os
kanjis2:
Mas a escrita inglesa pode ser descrita como uma conciliação entre os
princípios fonográfico e logográfico – na verdade, de maneira aparentada
com a escrita japonesa, embora com uma proporção muito maior de
fonografia e, correspondentemente, menos logografia que esta, e sem a
complicação das leituras alternativas para formas escritas únicas. [...]
Como a grafia das palavras inglesas não é previsível a partir de sua
pronúncia, temos de aprendê-la caso a caso, da mesma forma que os
japoneses têm de aprender os kanji individualmente. (SAMPSON, 1996, p.
221, grifo nosso).
Se isso pode ocorrer na língua inglesa, por que não se daria na aprendizagem da
língua portuguesa, filha do latim?
Para Bajard (2014), a linguagem escrita é uma linguagem autônoma, que não se
alinha aos elementos ou unidades constitutivas da linguagem oral, que desembocam na
ligação fonema-grafema. Para ele, essa autonomia pode ser explicitada de várias
maneiras, tal qual o exemplo da linguagem de sinais que, a partir de 1950, adquiriu o
estatuto de língua e as pessoas surdas passaram a aprendem a linguagem escrita, como
vimos, sem ter acesso aos elementos acústicos.
Além disso, historicamente as diferentes culturas e povos se utilizaram dos mais
variados e distintos suportes. Cada suporte exerceu uma função distinta e importante para
seu período histórico. De acordo com Arena (2015), é na história da escrita e na sua
relação com os suportes que a natureza humana olha para as marcas para vê-las e a elas
atribuir sentido.
É, também, numa linha histórica que percebemos que a tela sempre foi suporte
para a inscrição da escrita. Paredes de cavernas, pedras de todos os formatos, tabletes
de argila, cascos de tartaruga, folhas secas, papiros enrolados, pergaminhos cortados,
papel A4, pele humana, tudo isso é tela, como também é tela o suporte onde são inscritos
estes caracteres no monitor, ou onde crianças veem os enunciados a elas endereçados e
os que elas criam nas relações com seus interlocutores, em diálogos, em trocas verbais. A
tela do celular expôs todas as telas. Os códigos de escrita que se escondem nos
aplicativos permitem a inscrição de caracteres e de palavras que emergem do subsolo
para a tela. É nesse universo que vamos nos encontrar com Lívia em seus primeiros
embates para compreender e se fazer compreender pelos caracteres herdados dos
antigos, mas revitalizados pelas tecnologias que os redimensionam. Lívia frequenta o
primeiro ano em uma escola municipal e, no período subsequente ao da escola,
2 Na escrita japonesa a maioria das palavras são escritas em Kanji. Cada Kanji possui formas que lhe dão
características únicas. Sendo assim, dentro das palavras os Kanjis assumem características diversas,
sendo lidos em acordo com as palavras com que se relacionam.
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Aos seis anos, Lívia começa a compreender que as letras de seu nome são
caracteres; nota que í não é i; que não pode usar um ou outro caractere indistintamente.
São diferentes, são imagens diferentes, portanto não se equivalem graficamente. Logo
depois de um caractere chamado L, maiúsculo, deve vir o caractere í e não apenas i. Se
houver troca entre eles, a palavra deixa de ser seu nome e ela perde a identificação.
Portanto, í é portador de sentido, distinção que não é dada pela oralidade, mas somente
pelo registro visual desse caractere. Essa consciência de que essas duas letras não se
equivalem não é ensinada pela escola, nem concedida pela consciência fonológica. Essa
consciência é obtida pela manipulação dos caracteres gráficos, portanto, dá origem a um
embrião, por meio do nome próprio, ao nascimento de uma consciência gráfica, a mesma
de que falava Desbordes (1995) sobre os latinos. Bajard (2014) dá ao nome gráfico
grande importância, considerado por ele como um segundo batismo e o mais importante,
porque é ele que dá identidade à criança. Os caracteres h, n, y, tão comuns em nomes
como Thiago, Tathianne e Yngryd definem quem é quem na sala de aula, porque o nome
oral não consegue estabelecer distinções. Nas telas do aplicativo WhatsApp, do grupo
formado pelos interlocutores, Lívia verá seu nome e de seus interlocutores no alto da tela,
insistentemente. Em contrapartida, esses interlocutores entendem que ela está feliz. Ela
não escreve, mas escolhe o signo semiótico de um emoji que se funde a seu nome.
Na Figura 1, ao trocar mensagens com sua interlocutora, apoiada pela bolsista,
toca nas teclas que inserem na tela os caracteres e fazem emergir palavras inteiras do
fundo do banco de palavras já ali depositadas ou realimentadas pelos próprios usuários. A
configuração Mgli, olhada pelo viés construtivista, indicaria sua tentativa de corresponder
uma letra a uma sílaba oral, influenciada pelas informações que recebe em sua escola de
origem. Mas outro olhar pode ver o emprego da maiúscula inicial seguida de minúsculas.
Ela escapa assim das recomendações de uso exclusivo de caixa alta dadas pela escola
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de base construtivista. Na tela, orientada pela bolsista, são os caracteres minúsculos que
estão à disposição da aluna. Os caracteres assim dispostos fazem surgir a palavra Mogli
do banco de dados, distante de Magali, que ela desejava escrever. Como ela e a bolsista
sabem que essa palavra sugerida não corresponde ao que ela deseja, é o momento de
trocarem informações pelo ato de ensinar. Novas escolhas são feitas e orientadas pela
intenção de escrever algo a ser endereçado para a interlocutora que quer compreender o
enunciado em processo instantâneo de construção, que vai gerar um novo enunciado. As
duas telas em sequência registram esse processo de construção feito com caracteres do
tipo: ê , ? ô. No nome Mônica, a interlocutora destaca a escrita com o caractere ô, não
usado por Lívia em seu enunciado. Com isso, ela vai desenvolver a consciência gráfica
de que há distinções de caracteres que dão identidade a alguém, como o í em seu nome.
Esta segunda tela (Figura 2), com o nome de Magali, gera nova pergunta, cuja
resposta deverá ser dada por Lívia. A tela seguinte (Figura 3) indica que a palavra-
enunciado a ser escrita seria melancia, mas Lívia tateia caracteres, toca em teclas, olha o
resultado, consulta o banco de dados, mas as informações não permitem a escolha
definitiva. Isso será possível novamente com o ensino feito pela bolsista. Não está em
jogo a relação som/letra ou fonema/grafema, mas a combinação de caracteres portadores
de sentido, que vão criar uma palavra gráfica, cujo sentido existe na linguagem oral.
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CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
DESBORDES, F. Concepções sobre a escrita na Roma Antiga. São Paulo: Ática, 1995.
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FREINET, C. Para uma escola do povo: guia prático para a organização material,
técnica e pedagógica da escola popular. Tradução Eduardo Brandão. São Paulo: Martins
Fontes, 2001.
JAKUBINSKIJ, L. Sur la parole dialogale. In: IVANOVA, I. (org.) Lev Jakubinskij une
linguistique de la parole (URSS, années 1920-1930). Traductions d’Irina Ivanova et
Patrick Sériot. Limoges: Lambert Lucas, 2012.
INTRODUÇÃO
Após analisar os dados da avaliação anual de 2014 sobre vários aspectos que
englobam o cotidiano escolar, a gestão de uma escola pública estadual de uma cidade de
porte médio do interior do estado de São Paulo nos procurou para o desenvolvimento de
ações relacionadas ao uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC)
no processo de ensino e aprendizagem. Os professores apontaram pouco uso e, algumas
vezes, até inadequado e precário do laboratório de informática, ou seja, sem articulação
com os conteúdos curriculares.
Desta forma, optamos por construir um projeto vinculado ao Programa Núcleos de
Ensino da Pró-Reitoria de Graduação da Unesp, o qual envolve ensino, pesquisa e
extensão, com o objetivo geral de trabalhar os conteúdos curriculares por meio de objetos
de aprendizagem com alunos dos anos iniciais do ensino fundamental, considerados
nativos digitais, proporcionando o acesso às TDIC, o qual foi realizado com o apoio de
duas bolsistas durante os anos de 2015 e 2016.
E, como objetivos específicos, elencamos realizar atividades com alunos dos anos
iniciais do ensino fundamental de uma escola pública por meio de objetos de
aprendizagem e, desta forma, proporcionar o aprendizado dos conteúdos curriculares;
trabalhar por meio de objetos de aprendizagem os conteúdos curriculares e, desta forma,
contribuir para o processo de ensino e aprendizagem; pesquisar as necessidades
emergentes de conteúdos curriculares a serem trabalhados e adequar os objetos de
aprendizagem disponíveis; levantar dados sobre a articulação das tecnologias ao
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A questão crítica é mudar para o aprendizado de aprender, uma vez que a maior
parte da informação estará on-line e o que realmente será necessário é a
habilidade para decidir o que procurar, como obter isso, como processá-lo e como
usá-lo para a tarefa específica que provocou a busca de informação. Em outras
palavras, o novo aprendizado é orientado para o desenvolvimento da capacidade
educacional de transformar informação e conhecimento em ação.
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[…] a educação não é mais vista como transmissão de conhecimentos, mas como
um processo permanente que se desenrola no ser humano e o leva a apresentar-
se a si mesmo, a comunicar-se com outros, a questionar o mundo com base em
experiências próprias.
currículo escolar, visto que este é envolvido por múltiplos agentes, com compreensões
diversas, peculiaridades e singulares.
Ao ter como pressuposto que a educação escolar contribua para a formação de
cidadãos argumentativos, que reflitam e contextualizem sua realidade cotidiana, deve-se
investir num projeto de formação que supere a dicotomia entre teoria e prática, tendo
como eixo o desenvolvimento de novas competências, que se definem como a
capacidade de mobilizar múltiplos recursos numa mesma situação para responder às
diferentes demandas da atualidade.
Quem são os atuais alunos dos anos iniciais do ensino fundamental? Estudos
realizados por Presnsky (2001) e Palfrey e Gasser (2011) apontam mudanças de
comportamento dos alunos, articuladas também a mudanças de valores e atitudes
sociais. Para esses estudiosos, os denominados nativos digitais se caracterizam pelo uso
constante das TDIC por meio de dispositivos móveis.
Para Presnsky (2001, p. 1), esses alunos se caracterizam por terem nascido a
partir de 1990 e por estarem rodeados pelas TDIC. O universo digital é parte integrante de
suas vidas, assim, “o grande volume de interação com a tecnologia, os alunos de hoje
pensam e processam as informações bem diferentes das gerações anteriores”.
Nos estudos de Palfrey e Gasser (2011, p. 13), os nativos digitais são aqueles que
possuem habilidades com as TDIC em vários contextos, como nos relacionamentos
(redes sociais), busca de informações, novas formas de comunicação, possibilidade de
aprender. Podemos afirmar, portanto, que "o mais incrível, no entanto, é a maneira em
que a era digital transformou o modo como as pessoas vivem e se relacionam umas com
as outras e com o mundo que as cerca".
Os nativos digitais apresentam familiaridade com o uso de computadores, games e
vídeo games conectados ao ciberespaço. É nesse contexto também, que ocorrem os
relacionamentos sociais, pois, por meio das redes sociais, compartilham com o mundo
suas ideias, fotos, vídeos, com pessoas que fazem parte do seu convívio social real e
também com pessoas que apenas mantém contato virtualmente. São capazes de
pesquisar informações e processar o recebimento de tudo isso com rapidez, realizam
inúmeras atividades ao mesmo tempo.
“Os nativos digitais estão acostumados a receber informações muito rapidamente.
Eles gostam de processar mais de uma coisa por vez e realizar múltiplas tarefas”
(PRESNSKY, 2001, p. 2).
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Para Presnsky (2001), os que não nasceram no mundo digital, mas que vivem com
as TDIC e que adotam posturas de abertura para as possibilidades do ciberespaço, são
considerados imigrantes digitais. Assim, podemos considerar que os nativos digitais são
aqueles que “nasceram e cresceram na era da tecnologia digital, enquanto os imigrantes
digitais nasceram na era analógica, tendo migrado posteriormente para o mundo digital”
(MATTAR, 2014, p. 4).
Como consequência disso, nativos e imigrantes digitais pensariam e processariam
informações de formas diferentes, assim:
[…] o único e maior problema que a educação enfrenta hoje é que os nossos
instrutores Imigrantes Digitais, que usam uma linguagem ultrapassada (da era pré-
digital), estão lutando para ensinar uma população que fala uma linguagem
totalmente nova e aprendem com o uso de Objetos de Aprendizagem (PRESNKY,
2001, p. 2).
Mas o que são objetos de aprendizagem? Conforme Hay e Knaack (2007, p. 6),
objetos de aprendizagem são todas as ferramentas interativas baseadas na web que apoiam o
aprendizado de conceitos específicos incrementando, ampliando, ou guiando o processo cognitivo
dos aprendizes.
Objetos de Aprendizagem são considerados “qualquer recurso digital que possa ser
reutilizado para o suporte ao ensino” (WILEY, 2000, p. 3). Estes podem ser criados em
qualquer mídia ou formato, podendo ser simples, como uma animação ou uma
apresentação de slides, ou complexos, como uma simulação. Atualmente, existem
inúmeros objetos de aprendizagem disponíveis na internet ou em CD-ROM.
Eles se utilizam de imagens, animações e têm um propósito educacional definido,
um elemento que estimule a reflexão do estudante e que sua aplicação não se restrinja a
um único contexto (BETTIO; MARTINS, 2004).
Já Tarouco (2004) afirma que os Objetos Educacionais são recursos que facilitem a
aprendizagem.
Pesquisadores indicam vários fatores que favorecem o trabalho dos conteúdos
curriculares por meio dos objetos de aprendizagem (LONGMIRE, 2001; SÁ FILHO;
MACHADO, 2004). Podemos, então, elencar aspectos como:
a) Flexibilidade: os objetos de aprendizagem são construídos de forma simples e, por
isso, já nascem flexíveis, de forma que podem ser reutilizáveis sem nenhum custo
com manutenção.
Coletânea Núcleos de Ensino – vol 3______________________________________________________35
http://gaviastudio.com.br/sustencity/
http://www.atividadeseducativas.com.br/atividades/0550_ortografia_m_n.swf
http://www.soportugues.com.br/secoes/jogoOrto/jogoOrtografia3.php
http://www.jogosdaescola.com.br/play/index.php/escrita/257-ortografia-x-e-ch
http://licaonaweb.50webs.com/atividades/portugues.html
http://www.atividadeseducativas.com.br/index.php?id=2266
http://educarparacrescer.abril.com.br/100-erros/
http://www.sol.eti.br/infantil/alfabeto_vogais_consoantes.html
http://www.amyrklink.com.br/
http://www.irmasklink.com.br/
https://phet.colorado.edu/sims/html/fraction-matcher/latest/fraction-
matcher_pt_BR.html
http://portal.ludoeducativo.com.br/pt/play/manda-letra
http://chc.org.br/
https://sed.educacao.sp.gov.br/
http://educarparacrescer.abril.com.br/folclore/
Destacamos aqui a frequência dos alunos nas atividades, para isso elaboramos
dois Gráficos (1 e 2), sendo que o primeiro representa a frequência dos anos na sala de
informática, local onde realizamos as atividades durante o ano de 2015 e o segundo, o
ano de 2016.
Fonte:
Elaborado pelos autores
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
HAY, R. H.; KNAACK, L. Evaluating the learning in learning objects. Open Learning: The
Journal of Open and Distance Education, London, v. 22, n. 1, p. 5-28, 2007. Disponível
em: http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/0268051060. Acesso em: 30 out. 2016.
Coletânea Núcleos de Ensino – vol 3______________________________________________________42
LONGMIRE, W. A primer on learning objects. Virginia: American Society for Training &
Development, 2001.
MATTAR, J. Games em educação. São Paulo: USP, 2014. Apostila para o curso de Pós-
Graduação em Inovação e Gestão em EaD.
PALFREY, J.; GASSER, U. Nascidos na era digital: entendendo a primeira geração dos
nativos digitais. Porto Alegre: Artmed, 2011.
INTRODUÇÃO
o fato de que, para que essas tecnologias sejam utilizadas de maneira adequada na
aprendizagem e possam alcançar seus objetivos, é necessário que seu uso seja feito de
maneira adequada. Não basta fazer uso da tecnologia por si só, apenas com o intuito de
dar uma cara nova a procedimentos tradicionais, sem considerar premissas didático-
pedagógicas para uma prática contemporânea e significativa de sala de aula.
Dessa forma, este trabalho tem como objetivo apresentar a plataforma Rede de
Apoio a Professores de Línguas Estrangeiras (doravante apenas REDE), desenvolvido
com base na noção de Objetos de Aprendizagem (OA) e com o intuito de auxiliar
professores de línguas a partir da indicação de materiais digitais relevantes para uso em
sala de aula.
O trabalho se justifica, na medida em que verificamos haver uma carência de OA
para o ensino de Língua Estrangeira (LE) em repositórios públicos (OLIVEIRA, 2019),
pela pertinência de se elaborar uma plataforma de apoio a professores vinculados à
nossa Instituição de Ensino Superior (IES) e pela relevância de auxiliar professores de
línguas na busca por insumos significativos.
Para tanto, discutimos, na próxima seção, o arcabouço teórico que dá
sustentação ao trabalho e, na sequência, a metodologia utilizada durante o
desenvolvimento da proposta. Por fim, apresentamos uma descrição do processo de
constituição da REDE, pontuando as reflexões que foram suscitadas para a organização e
desenvolvimento do material, bem como para a constituição do ambiente.
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
o ensino de línguas, “busca inserir essa nova ferramenta nas práticas pedagógicas em
uma tentativa de melhorar a mediação entre o aprendiz e a língua estrangeira”.
Na atualidade, os OA são exemplos de materiais digitais usados para o ensino.
Leffa (2006) afirma que há definições de diferentes autores e instituições para o conceito,
dentre elas “qualquer coisa”, “qualquer coisa digital”, “qualquer coisa com objetivo
educacional” e “qualquer coisa digital com objetivo educacional”. Apesar de todas as
conceitualizações terem sido necessárias para se compreender o termo, essas formas
propostas poderiam ser atribuídas tanto para “um livro, um computador, um céu estrelado
ou algo extremamente prosaico” (LEFFA, 2006, p. 19) como para “uma calculadora, um
microscópio, um programa de computador” (LEFFA, 2006, p. 20).
Sendo assim, tomamos como definição para OA, no âmbito deste trabalho,
qualquer coisa digital que pode ser utilizada com objetivo educacional e que tenha sido
sistematizada e organizada para fins didático-pedagógicos.
Partindo desse pressuposto, concordamos que são características dos OA
aquelas propostas por Wiley (2000), a saber: recuperabilidade; granularidade; e
interoperabilidade.
A granularidade refere-se ao que Wiley (2000), metaforicamente, relaciona a
peças de Lego. Os OA funcionam como peças isoladas, que podem ser utilizadas juntas
ou separadas de outras peças, adequando-se às necessidades de cada usuário e
situação, assim como no jogo de plástico. No entanto, o autor chama a atenção para o
fato de que não podemos tratar os OA da mesma forma como tratamos as peças de Lego,
pois aquelas, diferentemente destas, não podem ser “montadas” de forma aleatória. O
autor prioriza a metáfora de formação de átomos, na medida em que cada “peça” tem
uma predisposição em sua estrutura, não aceitando ligar-se a outra qualquer.
Como a construção de um OA demanda tempo e esforço, o conceito de
reusabilidade, por sua vez, está relacionado à possibilidade de se reaproveitar os objetos
já criados, sendo possível se fazer modificações para adaptar o material para outros
contextos. Segundo Leffa (2006, p. 24), “para que a reusabilidade ocorra é também
necessário que um objeto evolua e se adapte a todas essas mudanças constantes no
meio digital”. Ainda segundo esse autor, “a evolução do objeto leva à interoperabilidade.
Essa característica torna um OA não apenas um objeto adaptado, mas também
adaptável” (LEFFA, 2006, p. 25). O conceito de interoperabilidade, assim entendido,
abrange a ideia de que um OA deve ser adaptável ao seu meio, podendo sofrer
Coletânea Núcleos de Ensino – vol 3______________________________________________________47
alterações na sua estrutura interna, caso necessário. Por exemplo: um vídeo usado como
meio de aprendizagem deve poder rodar em diferentes servidores, ficando acessível para
as pessoas, independentemente do sistema operacional.
A última característica de um OA, a recuperabilidade, refere-se a sua catalogação,
de modo que o professor que procura uma atividade para seus alunos consigam localizá-
la no menor intervalo de tempo possível. Alguns descritores que permitem a
recuperabilidade são, conforme sugerido por Leffa (2006), o nível de adiantamento, a
habilidade que se pretende desenvolver, o tipo de atividade, o campo semântico, entre
outros.
Já os repositórios, outro importante conceito no âmbito deste trabalho, funcionam
como uma biblioteca em relação aos livros, na medida em que armazenam e preservam
os OA, disponibilizando-os para outros usuários/professores. Colocar os OA em um
repositório é, assim, de extrema importância, de forma que eles não sejam perdidos ou
não aproveitados em sua totalidade. Exemplos de alguns repositórios brasileiros criados
por instituições públicas são:
http://curriculomais.educacao.sp.gov.br/ (criado pela Secretaria de Educação
Especial do Ministério da Educação - SEESP)
http://rived.mec.gov.br/site_objeto_lis.php (criado pelo Ministério da Educação -
MEC)
http://www.cinted.ufrgs.br/CESTA/ (criado pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul - UFFRGS)
http://www.proativa.virtual.ufc.br/index.php?
option=com_content&view=article&id=68&Itemid=64 (criado pela UFC)
Nesse sentido, destaca-se a relevância de criação de um repositório também na
unidade da IES dos autores do trabalho.
Outro conceito relevante para o desenvolvimento da REDE foi a noção de Design
Instrucional, que será tratada na próxima seção.
ASPECTOS METODOLÓGICOS
Lembramos que o projeto, aprovado pelo Núcleo de Ensino, tem como foco a
criação e customização de uma plataforma (REDE) de apoio a professores de línguas
estrangeiras, que consiste em um repositório de OA e material digital para auxiliar
professores, de diferentes idiomas, inseridos em contextos diversos, com sugestão de
materiais relevantes. A REDE é vinculada ao Centro de Ensino de Línguas (CEL) da IES
da proponente do projeto.
Para alcançarmos esse objetivo, o processo de elaboração do repositório se deu
em duas etapas. Na primeira etapa, foi criado um ambiente virtual capaz de organizar e
disponibilizar os conteúdos selecionados e/ou desenvolvidos pela docente coordenadora
do projeto, processo que foi resultado da parceria da docente com um especialista em
comunicação e mídias, designer instrucional, Assistente de Suporte Acadêmico de seu
Câmpus e, também, autor deste trabalho. Já nessa primeira etapa, iniciou-se a
customização do site por meio da criação da página geral do CEL, a que a REDE é
vinculada. Partiu-se, então, para a construção da aba alemão, que foi foco dos trabalhos
iniciais na segunda etapa.
Na segunda etapa, uma discente, primeira autora do trabalho e atual bolsista do
Núcleo de Ensino, desenvolveu uma pesquisa de iniciação científica, a fim de constituir a
REDE e torná-la público. Porém, foi a partir da concessão da bolsa do Núcleo de Ensino
que a discente passou a dedicar mais tempo para aprender a lidar com as ferramentas,
com o objetivo de ter um domínio básico do desenvolvimento do site e de customizar a
plataforma, sob orientação e supervisão do designer e da docente coordenadora.
Nessa fase, foram inseridos planos de aula, músicas, dicas de filmes (longas,
curtas e trailers) e atividades de warm-up e de tradução pedagógica; criou-se também
uma lincoteca com links interessantes para o professor. Cada um desses temas constitui
uma aba diferente do site.
Após a inserção de material suficiente na aba alemão, a plataforma foi, então,
disponibilizada para acesso aberto ao público, sendo iniciado, tão logo, o trabalho de
customização da aba da língua inglesa. Esse processo se deu de forma similar ao da aba
da língua alemã. O projeto encontra-se, no momento da publicação deste trabalho, no
início de sua terceira fase, na qual ampliaremos a interação entre professores de línguas
de diferentes contextos, por meio da criação de páginas nas redes sociais Facebook e
Instagram, e divulgação nas escolas, bem como criar as abas para os idiomas espanhol e
PLE.
Coletânea Núcleos de Ensino – vol 3______________________________________________________50
1 “O Quadro Europeu Comum de Referência (QECR) fornece uma base comum para a elaboração de
programas de línguas, linhas de orientação curriculares, exames, manuais, etc., na Europa. Descreve
exaustivamente aquilo que os aprendentes de uma língua têm de aprender para serem capazes de
comunicar nessa língua e quais os conhecimentos e capacidades que têm de desenvolver para serem
eficazes na sua actuação” (CONSELHO DA EUROPA, 2001).
Coletânea Núcleos de Ensino – vol 3______________________________________________________51
B1, até o momento); (2) uma Filmoteca, dividida entre curtas, longas e séries; (3) uma aba
denominada Músicas alemãs, dividida entre os estilos Oldies, Hip-Hop, Eletronic,
Pop/Ballads e Rock/Heavy Metal; (4) uma Lincoteca, constituída de links úteis de
dicionários, jornais, plataformas para treino de fonética e pronúncia, rádios famosas na
Alemanha e algumas plataformas; (5) atividades de warm-up; (6) atividades de tradução
de LE; e, finalmente, (7) a página Sobre, com os links das páginas no Facebook e no
Instagram e o endereço de e-mail para contato.
As diferentes abas possuem aspectos de conteúdo e design. No que diz respeito
ao conteúdo, os planos de aula (sugestões de aulas) seguem uma estrutura geral de
antes, durante e depois. O antes diz respeito a atividades de warm-up e de preparação
para o conteúdo (Fases 1 e 2, conforme Rozenfeld e Viana, (2019)). Já o durante se
refere à introdução do conteúdo digital a ser apresentado (vídeo, música, texto, etc.,
destacando-se a Fase 3) e, depois de tal apresentação, são feitas atividades de caráter
mais dirigido para que o aluno possa praticar o conteúdo apresentado. Essa última fase
(correspondente à Fase 4, segundo Rozenfeld e Viana, (2019)) é finalizada com uma
discussão acerca da temática abordada.
Os planos de aula disponibilizados na REDE foram enviados por docentes da
Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara (FCLAr), integrantes da equipe do CEL e
mestrandos. No entanto, conforme mencionamos, espera-se que outros
professores/usuários possam contribuir com envio de aulas didatizadas e outros
materiais.
O propósito desses planos é responder à natureza e às características de um OA,
ou seja, priorizou-se a elaboração de programas de ensino que utilizam materiais digitais
que se encontram dispersos na rede e que foram didatizados por professores, de acordo
com objetivos didático-pedagógicos específicos.
Em relação ao design da plataforma, buscou-se organizar os conteúdos de
acordo com as orientações do Designer Instrucional, no momento de se adicionar links,
vídeos, etc., para garantir, assim, que diferentes tipos de materiais pudessem ser
adicionados à página, mas mantendo a característica de usabilidade 2 da REDE. Ainda no
que diz respeito ao design e customização do ambiente, considerou-se a importância de o
site ter uma divisão clara para o usuário, bem como de disponibilizar material relevante
2 A usabilidade é um termo utilizado para definir a facilidade com que as pessoas empregam uma
ferramenta ou mesmo um objeto para realizar uma tarefa. (Cf. https://blog.teclogica.com.br/o-que-e-
usabilidade/. Acesso em 13/09/2019)
Coletânea Núcleos de Ensino – vol 3______________________________________________________52
O projeto do Portal foi concebido a partir de uma abordagem que tem como
premissa o desenvolvimento descentralizado, sustentável e colaborativo de sites, ao
optarmos pela construção coletiva de conteúdos, o uso de ferramentas de código aberto,
gratuitas e bastante disseminadas entre os usuários e colaboradores que o constroem.
A REDE já conta com conteúdo significativo para as áreas de alemão e inglês e já
vem sendo divulgado em eventos científicos entre os docentes do Departamento de
Letras Modernas da FCLAr e entre os professores do CEL, bem como para docentes de
outras universidades. Essas abas se encontram relativamente prontas; porém, em
decorrência de sua natureza colaborativa, outros insumos ainda poderão/deverão ser
inseridos futuramente, a partir de sugestões de professores/usuários.
As aulas e os conteúdos disponíveis podem ser fácil e rapidamente acessados e
utilizados em sua forma original ou serem adaptados, atendendo às características de
acessibilidade e reusabililidade dos OA. O site se mostra, assim, adequado para o
aumento de repertório metodológico e para a possibilidade de atualização de professores.
Nos eventos científicos em que houve divulgação do projeto, notamos um grande
interesse pelo material, bem como obtivemos algumas sinalizações de possíveis parcerias
(por exemplo, com docentes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Espera-se,
portanto, em projetos futuros, ser possível dar continuidade à ampliação da REDE e
investir mais forças em técnicas de divulgação e comunicação para conseguirmos maior
colaboração.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
LEFFA, V. J. Nem tudo que balança cai: objetos de aprendizagem no ensino de línguas.
Polifonia, Cuiabá, v.12, n. 2, p. 15-45, 2006. Acesso: 11 fev. 2019.
INTRODUÇÃO
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para sustentar este trabalho, buscou-se, nas plataformas digitais, estudos que
abordassem relatos de experiências, bem como o desenvolvimento de projetos sobre o
uso do computador por pessoas com deficiência intelectual.
Dentre os materiais encontrados, selecionaram-se a Revista Brasileira de
Educação Especial, a Revista da Pontifícia Universidade Católica, e a plataforma de
extensão da Universidade Federal da Paraíba dos últimos dez anos, que serviu de
subsídio para o projeto desenvolvido na cidade de Araraquara, localizada no interior do
estado de São Paulo. Segundo dados do Censo Demográfico de 2019 (IBGE, 2019), a
cidade conta com população estimada de 236.072 habitantes.
Nossa opção por um trabalho com recursos tecnológicos leva em consideração
estudos, como o de Rocha e Couto (2008), em que se afirma que é preciso pensar na
importância da apropriação dos recursos tecnológicos e na capacidade dos computadores
em promoverem o desenvolvimento cognitivo, especialmente em pessoas com
deficiência. Para esses autores:
O projeto foi realizado com moradores da cidade de Areia e da vizinhança que ali
reside. Entre o público participante, encontravam-se donas de casa, moradores de zona
rural e urbana e alguns deficientes físicos, que utilizam cadeira de rodas para se
locomover. Com parceria da Secretaria de Ação Social do município, a proposta foi
realizada em um período de três meses, com a presença de duas turmas com 25 vagas
cada uma e com carga horária de 40 horas. Durante o curso, as aulas envolviam teoria e
prática, conteúdos apostilados, listas de exercícios e provas, todos elaborados para o
projeto. No momento das atividades, foram apresentados conteúdos ligados a digitação,
aos sistemas operacionais e editor de texto e acesso à internet, visando orientar os
alunos em relação à execução de trabalhos comuns, associados ao atual mercado de
trabalho.
Após a conclusão do projeto, foi constatado pelos autores que o acesso ao
computador contribuiu para a vida dos alunos, visto que alguns ainda não tinham contato
com esse instrumento e nem conhecimento de suas funcionalidades.
Acerca dos deficientes que realizaram o curso, a maioria apresentava dificuldades
motoras que foram superadas ao longo do curso, isto é, eles foram acompanhando
gradualmente as atividades propostas. A atenção a esses alunos foi redobrada tanto na
didática utilizada pelos formadores quanto em relação ao manuseio do teclado e do
mouse, possibilitando que eles superassem suas dificuldades e desenvolvessem uma
nova perspectiva frente à sociedade o que veio a contribuir com sua autoestima, para a
relação pessoal e incentivo à busca por uma vaga no mercado de trabalho.
Sobre o cuidado com a proposta didática, Pedro e Chacon (2013) enfatizam que as
atividades para alunos deficientes devem ser elaboradas respeitando cada aluno, suas
potencialidades e conhecimentos prévios. Para os autores:
que irá trabalhar, tendo sempre clareza dos objetivos de aprendizagem. Pedro e Chacon
(2013) discorrem sobre a teoria histórico crítica e afirmam que a zona de desenvolvimento
proximal permite que o educador assuma o papel de mediador. Sabe-se que esse
processo pode ser desenvolvido pelo professor a partir do uso das TIC, tomadas como
recurso pedagógico.
O estudo desenvolvido por Pedro e Chacon (2013), foi com alunos com deficiência
intelectual, frequentantes do ensino fundamental I do 1º ao 5º ano de uma escola do
interior de São Paulo com auxílio da Secretaria Municipal de Educação.
A pesquisa envolveu alunos de duas escolas e, para o seu desenvolvimento, os
pesquisadores realizaram buscas por softwares educativos, especificamente por aqueles
que pudessem despertar a criatividade, favorecer a interatividade e fornecer feedback. As
atividades realizadas com os alunos eram planejadas semanalmente. De acordo com o
desempenho na intervenção anterior e com o conteúdo pedagógico trabalhado em sala de
aula, seja língua portuguesa, matemática, ciências ou outro, as ações eram planejadas.
Os resultados destacam as dificuldades dos alunos em manusear o teclado e o
mouse, decorrente da falta de experiência e não por incapacidade motora dos alunos.
Nesse contexto, o computador foi usado como um estímulo para pesquisa, estudo,
aquisição de conhecimento, resolução de problemas, gerenciamento de informações e,
sobretudo, na criação e produção dos saberes e práticas.
Para Freire e Valente (2001, p. 39)
educando possa superar tais dificuldades, melhorar suas habilidades e adquirir autonomia
para lidar com a ferramenta computacional em seu cotidiano.
ASPECTOS METODOLÓGICOS
No decorrer das aulas na sala de informática, algumas rotinas foram criadas para
facilitar a convivência e organização do ambiente. Combinou-se, por exemplo, sentar no
mesmo lugar, utilizar a ficha de nomes caso fosse preciso - em todas as atividades eram
solicitados o nome e a data para que os alunos aprendessem a escrever o nome
completo - zelar pelos aparelhos que estavam usando, organizar a sala ao sair; respeitar
os colegas; pedir ajuda em caso de dúvidas, esperar a vez de falar, prestar atenção nas
explicações.
No início, as dificuldades foram movimentar o mouse, apertar duas teclas ao
mesmo tempo, abrir e fechar as janelas de atividades, o que interpretamos como
dificuldades comuns, devido a falta de experiência e contato que os alunos tinham com o
computador. Ao longo do ano, essas dificuldades persistiram, no entanto, em menor
profundidade, pois os alunos procuravam se superar, se esforçando para terem mais
autonomia em suas ações.
Observou-se que o computador com acesso à internet estimulou os alunos a
realizarem pesquisas nas atividades solicitadas, sanar as dúvidas que traziam de casa e
utilizar o tempo livre para ouvir música ou acessar conteúdos de diversão e distração.
Os resultados foram positivos, embora a maioria dos alunos, durante as primeiras
aulas do semestre, não apresentassem interesse pelos conteúdos. Isso nos fez
questioná-los sobre quais conteúdos eles gostariam de aprender. Além disso, passamos a
frequentar as aulas das professoras procurando observar quais as maiores dificuldades
de cada aluno.
A partir da demanda dos alunos - e às vezes das professoras - eram
desenvolvidas aulas com conteúdos sistematizados e relacionados a conhecimentos
cotidianos, sempre visando o desenvolvimento pedagógico dos alunos. Com isso, os
alunos se envolviam mais nas aulas, participavam das atividades e, como consequência,
começaram a aprender mais e a ter mais interesse para frequentar às aulas de
informática.
Notou-se que, no decorrer das atividades, os alunos passaram a compreender
melhor os conteúdos que estavam sendo trabalhados. Em alguns momentos, era preciso
retomar o que havia sido trabalhado, pois alguns esqueciam com facilidade, e também
porque as aulas eram realizadas duas vezes na semana. Quando os alunos ficavam
desanimados ou agitados, utilizamos algumas atividades extras envolvendo música,
desenhos, pesquisas e outras até que fosse possível retomar ao planejado.
Coletânea Núcleos de Ensino – vol 3______________________________________________________65
RESULTADOS DO TRABALHO
durante o ano letivo de 2017, houve alguma menção advinda de pais e familiares. Uma
professora disse ter recebido comentários e a outra afirmou ter tido feedback, mas não
justificou ou explicitou o que os pais ou responsáveis pelos alunos disseram, outras duas
disseram não ter recebido comentários de pais.
A penúltima pergunta foi referente às atividades pedagógicas realizadas no ano de
2017, visto que em 2016 não foram todos que puderam participar. Uma professora
respondeu que houve todos os alunos tiveram melhoras de desempenho e as demais
afirmaram que somente alguns alunos demonstravam mudança ou progresso em termos
de conhecimento.
A décima e última pergunta foi aberta para que as professoras pudessem pontuar
os principais aspectos positivos e negativos referentes às atividades na sala de
informática. Elas responderam que não houve aspectos negativos, pois a informática
proporciona bastante interação com o mundo da tecnologia. Uma professora destacou
que a informática é um excelente recurso para a escola, pois permite aos alunos
acessarem inúmeras informações por meio do computador, colaborando na sua
aprendizagem pedagógica.
Com base nas respostas das professoras, foi possível conhecer seus pontos de
vista em relação às aulas de informática, e a percepção delas acerca do desenvolvimento
e mudança no comportamento dos alunos. Os resultados foram bons, segundo o modo
pelo qual acompanhamos o desempenho dos alunos no projeto, mas isso pode não ter
tido reflexo imediato na sala de aula. Ainda, pôde-se notar que os alunos que tiveram
mais dificuldade para se desenvolver nas aulas de informática, foram os alunos com
dificuldades de comunicação e outros comprometimentos causados pela deficiência.
Para conhecer a visão dos alunos também os entrevistamos. Embora tivéssemos
13 alunos participantes, apenas 11 alunos estavam presente na entrevista. Notamos que
alguns alunos possuíam dificuldades na fala e, devido a isso, não era possível
compreender com nitidez o que estavam dizendo. Optamos por gravar as entrevistas com
os alunos por meio de um aplicativo de voz, com o consentimento deles, dos professores
e da direção.
A partir das respostas dos alunos pudemos concluir que a maioria gostou das aulas
de informática. Porém, percebeu-se que os alunos não conseguiram recordar as
temáticas (conteúdos específicos) das aulas dadas no início do ano. Alguns se lembraram
das atividades realizadas no período das entrevistas e outros de atividades relacionadas
Coletânea Núcleos de Ensino – vol 3______________________________________________________68
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto aqui apresentado, como mencionado desde o início do texto, foi realizado
em um Centro de Educação Especial da cidade de Araraquara, interior de São Paulo, e foi
desenvolvido com a participação de duas alunas do curso de Licenciatura em Pedagogia
da Unesp de Araraquara em parceria com quatro professoras e a diretora da escola, sob a
coordenação de um professor da Universidade.
O projeto consistiu em orientar a educação de crianças, jovens e adultos do Centro
de Educação Especial, tendo como principal objetivo melhorar o desempenho de alunos
com deficiências intelectuais por meio de atividades na sala de informática da escola.
Nesse sentido, as aulas de informática eram dedicadas aos alunos, e as pedagogas
utilizavam os computadores como meio para o ensino, considerando que, através do uso
da informática, seria possível avançar em termos de novos conhecimentos.
As aulas eram presenciais e realizadas duas vezes por semana. Nos outros dias,
as pedagogas não iam ao Centro de Educação Especial, mas tinham outras atividades
pedagógicas a cumprir durante a semana como realizar os planejamentos e participar do
grupo de estudos. Para o planejamento era reservado um dia da semana e outro dia para
as reuniões do grupo. Tais reuniões tinham o objetivo de contribuir para a formação
acadêmica e pessoal das bolsistas, possibilitando aprofundamento teórico,
compartilhamento das ações vivenciadas e desenvolvimento de um trabalho em conjunto.
As bolsistas não apresentaram dificuldades na execução do projeto, mas foi-lhes
solicitado que acompanhassem as disciplinas do curso que abrangiam a Educação
Especial de modo que pudessem se familiarizar com o tema da deficiência intelectual.
Elas também passaram a frequentar palestras e cursos voltados para Educação Especial.
No período de execução do projeto foram realizadas reuniões com a orientadora do
projeto, as professoras da escola, a diretora e as bolsistas para diálogo acerca das
dificuldades encontradas e o planejamento de ações.
Coletânea Núcleos de Ensino – vol 3______________________________________________________69
outras culturas e permitindo que eles sejam capazes de acessar o mundo por meio de um
recurso tecnológico, utilizando a tecnologia em favor de sua socialização.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
escrita deste texto, propusemos um caminho em que, por meio de diversas atividades,
incluindo as que utilizam tecnologias digitais, os alunos pudessem explorar ideias
geométricas.
A experiência vivida, na turma do sexto ano do Ensino Fundamental, com as
bolsistas do projeto, alunas do curso de Licenciatura em Matemática, e com os
professores de matemática das escolas parceiras se constituíram em dados que foram
registrados, mediante filmagem, e transcritos para serem analisados. Descrevemos, na
sequência deste texto, o que compreendemos acerca das possibilidades geradas pelo
uso de tecnologias e fazemos uma análise da experiência vivida com os alunos, elegendo
duas tarefas para destacar o que foi possível entender.
Falar sobre método assumido não é tarefa simples. Desse modo, algumas opções
devem ser feitas na escrita. Optamos por considerar o método como Heidegger (1979) o
considera: o caminho que se assume para chegar à verdade, entendida como liberdade
para pensar e não como conformidade, como um caminho em que se busca a
compreensão, em que se deseja saber, em que se interroga, um caminho cujas “fases da
interrogação constituem em si o caminho de um pensamento que, em vez de oferecer
representações e conceitos, se experimenta e confirma com a revolução da relação com o
ser” (HEIDEGGER, 1979, p. 343).
Essa é a opção feita. Assumimos um método para o fazer matemática na sala de
aula em que as ações podem oferecer oportunidades de investigação, de descobertas, de
diálogo e compartilhamento de ansiedades. Assumimos, na escrita deste texto, um
método em que é possível destacar o compreendido, o que foi feito e o diálogo e
compartilhar a ansiedade vivida. Assumimos, ainda, uma postura, a qualitativa
fenomenológica, prezando pela descrição da experiência vivida. Além disso, fomos além
ao trazer modos de agir, de analisar e de refletir sobre o vivido.
Para expor esse procedimento, exemplificamos algumas das ações
desenvolvidas, focando uma turma do sexto ano do Ensino Fundamental de uma das
escolas parceiras. Como já dito, as ações objetivaram explorar conteúdos de geometria
por meio de uma postura investigativa com uso de um software, RIEDER o GeoGebra.
Com base em nossa compreensão de Husserl (2006), vimos que, pela exploração, o
sentido originário da descoberta pode ser reativado e as ideias, constituídas, ao invés de
serem decoradas e repetidas. Isso, para nós, no trabalho em sala de aula, em tese, daria
indícios da aprendizagem geométrica dos alunos e revelaria o sentido que, para eles,
alunos do sexto ano do Ensino Fundamental, têm os conteúdos investigados.
O caminho escolhido para trabalhar com os alunos na sala de aula foi o da
investigação, pois o objetivo foi a construção do pensamento, uma construção que exige
um constante caminhar por uma estrada onde se interroga, experimenta, constrói,
confirma, refuta, volta atrás e refaz, um caminho que não se esgota porque é trilhado pela
Coletânea Núcleos de Ensino – vol 3______________________________________________________77
pessoa humana, pelo aluno, pelo professor, pela pesquisadora e pelas bolsistas que,
juntos, envolvem-se com um processo contínuo de busca do saber.
É um caminho para a investigação que, segundo Ponte, Brocardo e Oliveira
(2006, p. 13), permite ao aluno seguir um processo semelhante ao do matemático,
podendo “descobrir relações entre objetos matemáticos conhecidos ou desconhecidos,
procurando identificar as respectivas propriedades”. O caminho da investigação
matemática, como entendido por esses autores, envolve um processo com três momentos
– ou fases – distintos.
Na primeira fase, o professor deve apresentar, aos alunos, com detalhes, a tarefa
que desenvolverão. Para isso, sugerem os autores que o enunciado das questões seja
lido com a turma, que algumas possibilidades de encaminhamento sejam destacadas e
que seja explicitado o plano de trabalho idealizado, destacando detalhes, como o número
de integrantes dos grupos, os modos de formação desses grupos, se eles devem fazer
anotações escritas, se haverá exposição oral das conclusões (descobertas) ou do
processo de investigação e como podem organizar-se.
A segunda fase, por sua vez, é o desenvolvimento do trabalho propriamente dito,
ou seja, é a fase do processo em que os alunos deverão dedicar-se à investigação,
preferencialmente em grupos, para que haja diálogo. Ao professor, caberá acompanhar o
envolvimento dos grupos e dar-lhes apoio quando solicitado ou quando perceber que o
grupo está se direcionando para um processo investigativo que irá fracassar. Isso significa
que, ao perceber que os grupos estão em um caminho que não lhes permitirá chegar a
conclusões coerentes com o proposto, o professor deverá intervir, fazendo questões que
permitam ao grupo olhar para outra direção. Essa fase, segundo os autores, pode ser
angustiante para o professor, uma vez que ele poderá ter a impressão de que nada está
acontecendo ou de que tudo é muito demorado. Porém, essa é uma fase em que “os
alunos são levados a começar a gerar dados e a organizá-los e só depois começam a
conseguir formular questões” (PONTE, BROCARDO, OLIVEIRA, 2006, p. 31). Para nós,
essa é a fase do pensar que exige dedicação, teste de hipóteses, argumentação e
expressão. Um pensar que, de acordo com Heidegger (2002), é um manter e guardar, o
que, no processo investigativo, faz sentido para o sujeito.
A terceira e última fase do processo de investigação é quando os alunos expõem
descobertas. Trata-se, de acordo com Ponte, Brocardo e Oliveira (2006), de uma fase
muito importante, não apenas porque permite o desenvolvimento da competência
Coletânea Núcleos de Ensino – vol 3______________________________________________________78
argumentativa (ou da exposição propriamente dita), mas porque permite ao grupo analisar
o processo, dar um passo atrás e pensar sobre o que foi feito, buscando perceber se há
coerência e clareza no que é exposto e correção acerca do concluído.
Segundo interpretamos, o trabalho com a investigação na aula de matemática
permite, aos alunos, o pensar, envolve-nos e exige, do professor, uma participação ativa
em todo o processo de seleção, organização, proposta e desenvolvimento das atividades.
As tarefas que expomos aqui, que exemplificam a vivência no projeto, foram
elaboradas para serem investigadas com o uso do software GeoGebra, escolhido em
decorrência de sua potencialidade para explorar conteúdos de geometria, mais
especificamente a ideia de volume. Também se considerou esse software porque ele está
disponível nos computadores do laboratório de informática da escola.
6 Trata-se de uma tarefa pronta e disponível no site do GeoGebra Tube. Seu objetivo é que o
aluno, manipulando os controles deslizantes, investigue o que se altera mediante o movimento. A tarefa está
disponível em https://www.geogebra.org/m/yDfseap4. É denominada “volume d’un pavê” e assinada por
Nicola Erdrich.
Coletânea Núcleos de Ensino – vol 3______________________________________________________80
Para que os alunos pudessem analisar o investigado, foi sugerido que eles
construíssem uma tabela em que poderiam registrar a área da base do prisma, a medida
da altura do prisma e o seu volume. A maioria anotou valores para prismas de base
triangular, quadrangular, pentagonal e hexagonal e concluíram a tarefa (Figura 4).
originário acima mencionado e destacado por Husserl (2006). Porém, só o fez mediante o
planejamento das ações e a interação que foi favorecida entre os sujeitos envolvidos,
dando abertura para o dizer e o ouvir.
REFERÊNCIAS
NACARATO, A. M.; PASSOS, C. L. B. A geometria nas séries iniciais: uma análise sob
a perspectiva da prática pedagógica e da formação de professores. São Carlos:
EdUFSCar, 2003.
INTRODUÇÃO
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Quando falamos sobre a realidade virtual pensamos que se trata de algo novo e
revolucionário, possível graças ao emprego da tecnologia. No entanto, os conceitos
básicos da realidade virtual remontam ao passado. Os artistas já utilizavam alguns
métodos e estratégias (como as de imersão) em fotografias, quadros, esculturas, pinturas
de igrejas (principalmente as barrocas), etc. Tal cenário mudou alguma a forma como a
imagem tem sido produzida, pois devido as mídias e as tecnologias, tem sido possível
criar imagens tão envolventes na esfera visual e sensorial, que nós não conseguimos
distinguir a ficção da realidade (GRAU, 2007).
A realidade virtual permite que o usuário tenha uma visão panorâmica e observe
“o mundo” 3D em tempo real. Para isso, o computador e a mente humana trabalham de
forma integrada. Essa técnica está associada à exploração sensório-motora (estímulos
ilusórios dirigidos ao nosso sentido) que produz a impressão de um ambiente “vivo”,
provocando efeitos sobre a nossa consciência que “enganam” os nossos sentidos,
inibindo a noção de realidade. Assim, o observador age e sente de acordo com a cena ou
lógica proposta pelas imagens, vivendo em um mundo virtual e ilusório. Imagens em salas
360°, cinemas 3D e simuladores de voo ativam os sentidos humanos e produzem um
sentimento de imersão (a impressão de “estar lá”) que são realçadas com ambientes em
tempo real (VALÉRIO NETTO; MACHADO; OLIVEIRA, 2002).
Já a técnica da Holografia foi introduzida, em 1948, por Dennis Gabor. Segundo
Belendez (2009), baseia-se na óptica moderna e, também, relaciona-se com a
comunicação visual e a arte. Para Toledo et al. (2009), trata-se de um método de
recuperação integral da informação relativa ao campo de irradiação difundido por um
objeto real, ou seja, é uma técnica de registro de padrões de interferência de luz, que
permite obter imagens ópticas tridimensionais dos objetos desejados.
A realidade virtual pode ser considerada imersiva, quando o usuário é
transportado para o domínio da aplicação, através de dispositivos multissensoriais, que
capturam o movimento e o comportamento do usuário e reagem a eles, utilizando
Coletânea Núcleos de Ensino – vol 3______________________________________________________88
dispositivos como óculos, capacetes ou luvas. A ideia de imersão está ligada a ideia de
fazer parte do ambiente.
Assim, embora a percepção seja considerada, nosso sentido primário pode ser
estimulado e proporcionar a imersão completa (VALÉRIO NETTO; MACHADO;
OLIVEIRA, 2002). Para os autores, podemos ter o vídeo-capacete, óculos de
visualização, dispositivos concebidos para permitir movimentos táteis e de força, luvas de
dados, sensores biológicos, de movimento, dentre outros.
O conceito de Realidade Aumentada (RA), transporta o ambiente virtual para o
espaço do usuário, permitindo sua interação de maneira natural. As técnicas de realidade
aumentada podem colocar elementos reais, como as mãos, para interagir com o ambiente
virtual e pegar objetos. Podemos, ainda, decorar um apartamento vazio (real) com
mobiliário virtual, capturados por câmeras de vídeo e projetados sobre o ambiente
(KIRNER; TORI, 2006).
A própria holografia pode ser considerada uma forma de realidade aumentada,
pois trata da projeção de objetos virtuais em um ambiente real. Na holografia projetada, a
projeção de imagens virtuais realmente acontece no mundo real e estas imagens podem
ser visualizadas sem o uso de dispositivos que permitam isso (BRUM; RIEDER, 2014).
Devido às limitações tecnológicas, a projeção produzida pela computação gráfica
ainda não consegue reproduzir exatamente as sensações proporcionadas pelo cérebro.
Por isso, há uma distinção clara entre o real e o virtual, mas a ciência está avançando
nessa direção (RIVOLTELLA, 2008). Além disso, em geral, tal sistema não é intuitivo e
suas representações pictóricas para propostas educacionais são muito simplificadas e
reducionistas e, muitas vezes, não condizem com o objeto de estudo tratado em
ambientes de pesquisa. Com o advento da realidade virtual com imersão, a transposição
didática ganha um passo significativo para abordagens educacionais.
A realidade virtual tem o potencial de desempenhar um importante papel no
ensino, embora esteja distante da realidade brasileira e da ausência desta inovação nos
currículos. A partir do momento em que os educadores aprenderem mais sobre as novas
tecnologias e perceberem como as pessoas aprendem com o processo interativo,
Coletânea Núcleos de Ensino – vol 3______________________________________________________89
ASPECTOS METODOLÓGICOS
Ainda no período da manhã (Figura 2), os alunos puderam visitar algumas salas
onde estavam ocorrendo feira de ciências, apresentação sobre a “história do rock”, sala
que tratava sobre a história de equipamentos tecnológicos, atividades relacionadas a
astronomia, etc. No período da tarde, os alunos fizeram a visitação a sala de microscopia
eletrônica de varredura, que dispõe do MEV, um importante instrumento para observar o
micromundo, e fizeram uma oficina para produzirem a imagem holográfica por meio do
smartphone e por meio de um dispositivo produzido por eles como materiais acessíveis.
RESULTADOS DO TRABALHO
Por outro lado, vemos algumas ações que visam apresentar essas técnicas a
esses alunos, que é o caso do Instituto Federal de São Paulo que “abriu suas portas” para
a comunidade escolar, promovendo visitas, palestras, oficinas e minicursos as escolas da
região.
Durante a visita, foi aplicado um questionário aos alunos de duas escolas
públicas. Os dados e os resultados da análise desta investigação, se pautaram nas as
três técnicas: impressão 3D de modelos físicos de nanoestruturas, a holografia uma
técnica interessante de representar essas nanoestruturas e a realidade virtual.
Como já discutimos, essas técnicas não são utilizadas na educação básica,
porém os alunos gostariam que elas fossem utilizadas. Eles apontaram que as atividades
auxiliaram na aprendizagem de conceitos e, a experiência propiciada pela visita ao IFSP
possibilitou a interação com as novas tecnologias.
Os estudantes gostariam de saber mais a respeito deste assunto, apontando
aplicações do cotidiano, fundamentos científicos, produtos e aplicações tecnológicas e os
impactos (econômicos, ecológicos, etc.).
Como perspectivas futuras pretende-se propiciar nos cursos de formação de
professores uma experiência inovadora e significativa voltada para a elaboração de aulas
baseadas em metodologias ativas de aprendizagem, mediadas pelas novas tecnologias
digitais da informação e comunicação, como um caminho profícuo a serviço das novas
demandas voltadas a inovação no contexto escolar.
Observou-se um grande interesse dos estudantes e do público em geral sobre a
concepção tridimensional das nanoestruturas apresentadas por meio da realidade virtual
e das projeções holográficas. Neste sentido, buscou-se proporcionar uma concepção
diferenciada para se aprender ciência, harmonizando aspectos motivacionais e interativos
com a aprendizagem significativa de conceitos voltados a nanociência. Ações como esta
não irá resolver todos os problemas educacionais, mas certamente vão plantar “uma
semente” no espírito de cada aluno, para perspectivas profissionais e pessoais.
Esperamos que, em um período próximo, essa semente possa florescer e contribuir para
o futuro destes jovens.
Coletânea Núcleos de Ensino – vol 3______________________________________________________98
REFERÊNCIAS
GRAU, O. Arte virtual: da ilusão à imersão. Tradução Cristina Pescador, Flávia Cristina
Saretta e Jussânia Costamilan. São Paulo: Editora Unesp: Senac São Paulo, 2007.
RIBEIRO, A. V.; GHIRARDELLO, D.; AMARANTE, L. C.; BRUNO ALFONSO, A.; SOUZA
FILHO, M. P. El juego caza-nano y la enseñanza de nanoconceptos: actividades lúdicas
en la educación secundarias. Momento - Revista de Física, Bogotá, n. 54E, p. 79-89,
2017.
SOUZA FILHO, M. P.; RIBEIRO, A. V.; RAMINELLI, U. J.; RAMINELLI, C. M. P.; SILVA, F.
B. Participación de estudiantes de la escuela secundaria en la investigación y difusión de
la nanotecnología. Momento - Revista de Física, Bogotá, n. 54E, p. 67-78, 2016.
TOMA, H. O mundo nanométrico: a dimensão do novo século. 2. ed. São Paulo: Oficina
de Textos, 2009.
INTRODUÇÃO
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
ASPECTOS METODOLÓGICOS
Este trabalho faz parte de um projeto do Núcleo de Ensino da Unesp, com ações
desenvolvidas por alunas do curso de licenciatura em Química. O objetivo foi analisar os
modelos mentais sobre conceitos químicos dos alunos da 3ª série do ensino médio de
uma escola pública de Presidente Prudente – SP. Por meio de questionários procurou-se
analisar a evolução de seus modelos ao utilizar simuladores computacionais.
Metodologicamente, optou-se por uma pesquisa de natureza qualiquantitativa,
pois, além de apresentar as concepções das pessoas e explorar os significados
expressos de acordo com os contextos que foram apresentados, também há a indicação
numérica, em forma percentual, que permite verificar a frequência e realizar comparações
dos conteúdos dos dados coletados (DALFOVO; LANA; SILVEIRA, 2008).
Ao longo do ano letivo de 2016 foram lecionadas aulas teóricas sobre conceitos
químicos e, para auxiliar no desenvolvimento do modelo mental dos alunos essas aulas
foram ministradas com o uso de simuladores, juntamente com questionários que já
continham as instruções de manuseio do simulador. No encerramento da pesquisa, foi
Coletânea Núcleos de Ensino – vol 3______________________________________________________103
Quadro 1– Elementos analisados nos modelos expressos sobre estados físicos da matéria.
Alunos que apresentaram o elemento analisado adequadamente
Elemento analisado Atividade I (%) Atividade II (%)
Distância entre átomo/molécula 100,0 83,3
Energia cinética 11,7 0,9
Raio atômico 60,3 45,3
Monoatômica, diatômica e triatômica 99,1 87,0
Modelo totalmente adequado 0,9 0,9
Não atendeu nenhum modelo adequado 0,0 2,7
Em branco 0,0 15,7
Fonte: Elaborado pelos autores.
Figura 2 – Modelo adequado expresso pelo Aluno X sobre estados físicos da matéria.
Por meio das representações do aluno, foi possível observar que ele ilustrou, de
forma clara, as diferentes distâncias em cada estado físico, respeitou os diferentes raios
atômicos de cada elemento e ilustrou adequadamente as moléculas monoatômicas,
diatômicas e triatômicas. A energia cinética foi representada de forma simples, por meio
de traços. Apesar de existir energia cinética também nos estados sólido e líquido,
presume-se que o aluno representou somente no estado gasoso, apenas para destacar
que a energia cinética é maior.
Na atividade I, não houve modelos inadequados, porém, na atividade II, 2,7% dos
alunos, apresentou um modelo sem correspondência. Na Figura 3, é apresentado o
modelo do Aluno Y:
Coletânea Núcleos de Ensino – vol 3______________________________________________________107
Resultados do trabalho
Apesar dos estudantes conseguirem expressar seus modelos, houve algumas
dificuldades, especificamente em relação ao que ocorre no nível submicroscópico, que
consiste nos detalhes que aperfeiçoam os modelos mentais sem a ajuda de ferramentas
que ilustram o conceito de estados físicos. Pode-se notar que os alunos, mesmo com o
uso dos simuladores, possuem dificuldades de apresentar o modelo mental completo
sobre o conceito, visto que a mesma quantidade de alunos que atendeu completamente o
esperado na atividade I manteve-se na atividade II.
O aumento significativo dos alunos que não representaram os estados físicos da
matéria sem o auxílio do simulador computacional pode evidenciar a necessidade do
emprego de uma ferramenta de visualização molecular para que ocorra a construção do
modelo mental sobre o conceito de estados físicos da matéria, fato que pode servir de
análise em estudos posteriores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
SOBRE AS ORGANIZADORAS
Elisangela Pavanelo
Universidade Estadual Paulista, Unesp. Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá.
Doutora em Educação, linha de pesquisa em Ensino de Ciências e Matemática, pela Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo (USP)/SP. Docente da Universidade Estadual Paulista, Unesp,
Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá (FEG), atuando junto ao Departamento de Matemática.
Pesquisadora do grupo de pesquisa Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Matemática (GEPEM) da
FEG e Pesquisadora do Grupo Fenomenologia em Educação Matemática (FEM) vinculado a Unesp,
campus de Rio Claro. Tem coordenado projetos do Núcleo de Ensino e é colaboradora do Programa
Institucional de Iniciação a Docência (PIBID). Tem experiência na área de Educação Matemática, com
ênfase em disciplinas semipresenciais, Educação a Distância, TDIC (Tecnologias Digitais da Informação e
Comunicação) e formação de professores de Matemática.
https://orcid.org/0000-0003-2926-5793
Contato: elisangela.pavanelo@unesp.br
SOBRE OS AUTORES
Allan Victor Ribeiro
Instituto Federal São Paulo, Birigui
Doutor em Ciência e Tecnologia de Materiais pela Universidade Estadual Unesp.
Docente do Instituto Federal São Paulo, Birigui. Coordenador do Curso de Licenciatura em Física do IFSP
campus Birigui. Pesquisador na área de modelagem e simulação de materiais é líder do grupo de pesquisa
SCaM - Grupo de Síntese, Caracterização e Modelagem de Materiais. Na área de ensino de física atua na
formação de educadores e coordena o sub-projeto PIBID/Física do IFSP campus Birigui.
http://lattes.cnpq.br/7942817040167282
Contato: allanvrb@ifsp.edu.br
Josiana Jesus
Universidade Estadual Paulista, Unesp, Araraquara
Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual Paulista, Unesp, Araraquara. Atualmente cursa Pós-
Graduação Lato Sensu em Educação: Ciência, Tecnologia e sociedade e atua na Educação Infantil como
docente na rede particular de ensino no munícipio de Ibaté.
https://orcid.org/0000-0002-4708-8164